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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS, LETRAS E ARTES PROGRAMA DE PÓS- GRADUAÇÃO E PESQUISA EM GEOGRAFIA DISSERTAÇÃO DE MESTRADO ADRIANO EDUARDO LÍVIO ALVES MONITORAMENTO DA QUALIDADE DAS ÁGUAS DE CHUVAS CONFORME A ATUAÇÃO DOS SISTEMAS SINÓTICOS NA CIDADE DE NATAL/RN NATAL/RN 2009

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  • UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE

    CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS, LETRAS E ARTES

    PROGRAMA DE PÓS- GRADUAÇÃO E PESQUISA EM GEOGRAFIA

    DISSERTAÇÃO DE MESTRADO

    ADRIANO EDUARDO LÍVIO ALVES

    MONITORAMENTO DA QUALIDADE DAS ÁGUAS DE

    CHUVAS CONFORME A ATUAÇÃO DOS SISTEMAS

    SINÓTICOS NA CIDADE DE NATAL/RN

    NATAL/RN

    2009

  • Monitoramento da Qualidade das Águas de Chuva Conforme a Atuação dos Sistemas Sinóticos na Cidade de Natal/RN. Programa de Pós-Graduação e Pesquisa em Geografia - PPGe – UFRN, 2009.

    ALVES, Adriano Eduardo Lívio.

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    _____________________________________________________________________________

    ADRIANO EDUARDO LÍVIO ALVES

    MONITORAMENTO DA QUALIDADE DAS ÁGUAS DE

    CHUVAS CONFORME A ATUAÇÃO DOS SISTEMAS

    SINÓTICOS NA CIDADE DE NATAL/RN

    Dissertação de Mestrado apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Geografia da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, como parte dos pré-requisitos para a obtenção do titulo de mestre na área de atuação Estudo do Ambiente Urbano e Rural

    FERNANDO MOREIRA DA SILVA

    ORIENTADOR

    NATAL/RN

    2009

  • Monitoramento da Qualidade das Águas de Chuva Conforme a Atuação dos Sistemas Sinóticos na Cidade de Natal/RN. Programa de Pós-Graduação e Pesquisa em Geografia - PPGe – UFRN, 2009.

    ALVES, Adriano Eduardo Lívio.

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    _____________________________________________________________________________

    ADRIANO EDUARDO LÍVIO ALVES

    MONITORAMENTO DA QUALIDADE DAS ÁGUAS DE CHUVAS CONFORME ATUAÇÃO

    DOS SISTEMAS SINÓTICOS NA CIDADE DE NATAL/RN

    Dissertação apresentada ao Programa de Pós-

    Graduação em Geografia da Universidade Federal

    do Rio Grande do Norte, para obtenção do título de

    Mestre em Geografia.

    Natal _30_/_04_/_2009_.

    BANCA EXAMINADORA

    __________________________________________________ Prof. Dr. Fernando Moreira da Silva

    Orientador

    __________________________________________________ Profa. Dra. Zuleide Maria Carvalho Lima

    Examinadora Interna

    _________________________________________________ Profa. Dra. Cilene Gomes

    Examinadora Externa

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    ALVES, Adriano Eduardo Lívio.

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    _____________________________________________________________________________

    Catalogação da Publicação na Fonte. Universidade Federal do Rio Grande do Norte.

    Biblioteca Setorial do Centro de Ciências Humanas, Letras e Artes (CCHLA).

    Alves, Adriano Eduardo Lívio. Monitoramento da qualidade das águas de chuvas conforme a atuação

    dos sistemas sinóticos na cidade de Natal/RN / Adriano Eduardo Lívio Alves, 2009.

    115 f.

    Dissertação (Mestrado em Geografia) – Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Centro de Ciências Humanas, Letras e Artes. Programa de Pós-Graduação e Pesquisa em Geografia. Orientador: Prof. Dr. Fernando Moreira da Silva.

    1. Água da chuva – Qualidade – Dissertação. 2. Chuva ácida –

    Dissertação. 3. Nefanálise – Dissertação. 4. Sistemas sinóticos – Dissertação. I. Silva, Fernando Moreira da (Orient.). II. Universidade Federal do Rio Grande do Norte. III. Título.

    RN/BSE-CCHLA CDU 911.2:556(813.2)

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    ALVES, Adriano Eduardo Lívio.

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    AGRADECIMENTOS

    À Estação Climatológica do Departamento de Geografia da UFRN, pelo apoio e

    aprendizagem durante todo o período da pesquisa, em especial ao coordenador Sávio Prado, e

    aos técnicos Clodoaldo Rego e a Paulo Sales.

    Ao meu orientador, Fernando Moreira da Silva, pela dedicação e paciência em todos os

    momentos no decorrer da pesquisa, mesmo estando ocupado com outras atividades.

    À Professora Liana Maria Nobre Teixeira, pela sua orientação quanto às normas

    bibliográficas.

    Meu agradecimento especial vai à minha família que me deu suporte e dedicação para a

    realização desse estudo: minha mãe Vera Lúcia Alves, a minha tia Miriam Alves Barros, a

    minha avó Olívia Barbosa Alves (In Memorian) e a minha esposa Karina Messias da Silva

    Alves pelo auxilio nas horas mais difíceis.

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    ALVES, Adriano Eduardo Lívio.

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    _____________________________________________________________________________

    “Embora a cada dia aprendemos mais sobre a

    natureza, tudo que conhecemos será finito. O

    desconhecido nunca deixará de ser infinito. E

    quanto mais aprendemos, mais infinito nos

    parece o desconhecido”.

    Mahatma Gandhi

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    _____________________________________________________________________________ ALVES, Adriano Eduardo Lívio. Monitoramento da Qualidade das Águas de Chuvas conforme

    Atuação dos Sistemas Sinóticos na Cidade de Natal/RN. 115 f. Dissertação de Mestrado –

    Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Programa de Pós-Graduação em Geografia, Natal,

    2009. Orientador: Prof. Dr. Fernando Moreira da Silva

    RESUMO

    As chuvas ácidas são uma das principais agressões ao meio ambiente, conseqüência da queima de combustíveis fósseis e de poluentes industriais a base de dióxido de enxofre lançados na atmosfera. O objetivo da pesquisa foi monitorar e analisar a variação da qualidade da água de chuva na cidade de Natal, procurando investigar a influência dessa qualidade nas escalas local, regional e global, além de procurar possíveis efeitos dessa qualidade na paisagem local. A coleta de dados foi feita no período de dezembro de 2005 a dezembro de 2007. Utilizou-se de técnicas de nefanálise na identificação de sistemas sinóticos, pesquisa de campo na procura de possíveis efeitos na paisagem da chuva ácida, além de coleta e analise de dados de precipitação e seu grau de acidez. Estatística descritiva utilizada (desvio padrão e coeficiente de variação) serviu para monitorar o comportamento químico da precipitação, além do monitoramento dos erros nas medições de pH, nível de confiança, distribuição de Gauss Normalizada, intervalo de confiança, Análise de Variância – ANOVA foram também utilizadas. Apresenta como principais resultados uma variação de pH entre 5,021 e 6,836, com uma média de 5,958 e desvio padrão de 0,402, demonstrando que a média pode representar a amostra. Assim, pode-se inferir que, segundo a Resolução do CONAMA 357 (águas doces o índice de acidez deverá ficar entre 6,0 e 9,0), a precipitação de Natal/RN é pouco ácida. Constata-se que a Zona de Convergência Intertropical apresentou os valores mais ácidos entre os sistemas sinóticos analisados, tendo em sua média o valor de pH de 5,617, o que significa um valor já ácido, com um desvio padrão de 0,235 e com o coeficiente de variação de 4,183% o que demonstra que a média pode representar a amostra. Já na pesquisa de campo, foram localizados vários locais que sofrem fortemente a ação da chuva ácida. Contudo, os resultados são iniciais e necessitam de maiores investigações, inclusive com o uso de novas metodologias.

    Palavras-chave: Chuvas Ácidas, Nefanálise, Sistemas Sinóticos, Paisagem.

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    _____________________________________________________________________________ ALVES, Adriano Eduardo Lívio. Monitoring of water quality of rain as Practice Systems

    Sinóticos in the city of Natal / RN. 115 f. Dissertation of Masters - University Federal of Rio Grande

    do Norte, the Graduate Program in Geography, Natal, 2009. Advisor: Prof.. Dr. Fernando Moreira da

    Silva

    ABSTRACT

    Acid rain is a major assault on the environment, a consequence of burning fossil fuels and industrial pollutants the basis of sulfur dioxide released into the atmosphere. The objective of this research was to monitor and analyze changes in water quality of rain in the city of Natal, seeking to investigate the influence of quality on a local, regional and global, in addition to possible effects of this quality in the local landscape. Data collection was performed from December 2005 to December 2007. We used techniques of nefanálise in identifying systems sinóticos, field research in the search for possible effects of acid rain on the landscape, and collect and analyze data of precipitation and its degree of acidity. Used descriptive statistics (standard deviation and coefficient of variation) used to monitor the behavior of chemical precipitation, and monitoring of errors in measurements of pH, level of confidence, Normalized distribution of Gauss, confidence intervals, analysis of variance - ANOVA were also used. Main results presented as a variation of pH between 5,021 and 6,836, with an average standard deviation of 5,958 and 0,402, showing that the average may represent the sample. Thus, we can infer that, according to the CONAMA Resolution 357 (the index for fresh water acidity should be between 6.0 and 9.0), the precipitation of Natal / RN is slightly acidic. It appears that the intertropical convergence zone figures showed the most acidic among the systems analyzed sinóticos, taking its average value of pH of 5,617, which means an acid value now, with a standard deviation of 0,235 and the coefficient of variation of 4,183% which shows that the average may represent the sample. Already in field research and found several places that suffer strongly the action of acid rain. However, the results are original and need further investigation, including the use of new methodologies.

    Keywords: Acid Rain, Nefanálise, Sinóticos Systems, Landscape.

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    LISTA DE ILUSTRAÇÕES

    Páginas

    CROQUIS

    01 – Principais focos de emissão de dióxido de enxofre e de compostos acidificantes

    no Brasil 59

    02 – Média anual de temperatura no Nordeste 72

    DESENHOS

    01 – Esquema da acidificação das chuvas 57

    02 – Escala de comparação de Ph 58

    03 – Esquema do transporte de poluentes na atmosfera 61

    04 – Esquema da influência da poluição originada nas cidades no meio ambiente 63

    05 - Os Efeitos da Chuva Ácida no Organismo Humano 64

    06 - Circulação Geral da Atmosfera Terrestre 68

    07 – Regime climático do Nordeste 71

    ESQUEMAS

    01- Projeto de Abastecimento de Água de Natal, Idealizado pelo Escritório Saturnino de Brito

    31

    FOTOGRAFIA

    01 - Fotos Comparando a Ação da Chuva Ácida em uma Estátua na Europa 47

    02 - Pluviômetro Ville de Paris 86

    03 – Modelo de Phgâmetro 330i 86

    GRÁFICOS

    01 - Evolução na Frota de Veículos em Natal/RN 38

    02 – Série temporal do pH de Natal/RN no período de 14/12/2005 a 19/12/2007 94

    03 - Vórtice Ciclônico do Ar Superior 95

    04 - Zona de Convergência Intertropical 96

    05 - Ondas de Leste 97

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    _____________________________________________________________________________ 06 - Convecção Cúmulos 97

    07 - Frente Fria 98

    IMAGENS DE SATÉLITES

    01 – Atuação da ZCIT na Região Nordeste do Brasil 76

    02 – Atuação de uma Onda de Leste no Litoral do RN 77

    03 – Presença de um Vórtice Ciclônico da Alta Troposfera sobre a Região Nordeste 79

    04 – Atuação da Convecção cúmulus no litoral do RN 81

    05 - Atuação da Frente Fria no litoral do RN 82

    MAPA

    01 – Localização da área de estudo 18

    02 - Plano Polidrelli 26

    03 - Plano Palumbo 30

    04- Plano Geral de Obras de 1939, Elaborado pelo Escritório de Saturnino de Brito 31

    ORGANOGRAMA

    01 - Modelo da Metodologia da Dissertação 83

    PLANTA

    01- Planta da Cidade do Natal Confeccionada em 1958, Encartada no “Guia da Cidade do

    Natal-1958/59” 32

    TABELA

    01 - Evolução da População de Natal/RN entre 1970 a 2007 23

    02- Padrão de Potabilidade para Substâncias Químicas que Representam Risco à Saúde 53

    03- Padrão de Aceitação para Consumo Humano 54

    04 – Intervalos de confiança associados a uma amostra de medidas de uma grandeza X e os

    correspondentes níveis de confiança 91

    05 - Médias por Sistemas Sinóticos 93

    06 – Resultados da ANOVA 95

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    QUADRO

    01- Ocorrência das Chuvas Ácidas no Plano Mundial 49

    02 - Análise da Variância 92

    BLOCO DE FOTOS

    01 – Estátua Augusto Severo 99

    02 - Estátua Escolares 100

    03 - Estátua Escolares 2 101

    04 - Prédio da Secretaria Estadual de Saúde 102

    05 - Prédio em Capim Macio 103

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    SUMÁRIO

    INTRODUÇÃO 14

    1- CONHECENDO A CIDADE DE NATAL /RN 17 1.1 - Caracterização Fisica da Cidade 17

    1.1.1 - Localização da Área de Estudo 17

    1.1.2 – Rochas 18

    1.1.3 – Relevo 18

    1.1.4 – Solos 19

    1.1.5 – Hidrografia 19

    1.1.6 – Vegetação 19

    1.1.7 – Clima 20

    1.2 - Evolução Urbana de Natal 20

    1.3 - Dos Planos Urbanísticos aos Planos Diretores 25

    2- O CONCEITO DE PAISAGEM SOB A ÓTICA DAS CHUVAS ÁCIDAS 42

    2.1 - A Paisagem e as Chuvas Ácidas 42

    3- UM ENFOQUE SOBRE O TEMA DA QUALIDADE DA ÁGUA E SOBRE AS

    CHUVAS ÁCIDAS 51 3.1 - Qualidade da Água 51

    3.2 - Considerações Acerca das Chuvas Ácidas 55

    4- CIRCULAÇÃO GERAL DA ATMOSFERA 66

    4.1 – Circulação Geral da Atmosfera Terrestre 66

    4.2 - Climatologia do Nordeste do Brasil 70

    4.3 - Sistemas Sinóticos Atuantes na Cidade de Natal/RN 74

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    5- METODOLOGIA 83

    5.1 – Detalhamento da metodologia 83

    5.2 – Coleta dos dados 85

    5.3 – Fundamentação metrológica das chuvas ácidas 87

    5.4 – Fundamentação Geossistêmica 87

    5.5 - Fundamentação estatística 89

    6- RESULTADOS E DISCUSSÕES 93

    6.1 – Resultados 93

    6.2 – Discussões 104

    CONSIDERAÇÕES FINAIS 106

    REFERÊNCIAS 108

    ANEXO A 113

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    INTRODUÇÃO

    Com o aumento da população mundial, têm-se cada vez mais problemas ligados ao

    desequilíbrio natural e também problemas de manutenção das crescentes cidades no Brasil e

    no mundo. Um dos problemas principais que mais preocupam as autoridades é o

    abastecimento de água potável, e esse fenômeno ao passar do tempo vem piorando cada vez

    mais, com isso os estudiosos do mundo estão procurando novas formas de abastecimento,

    sendo uma delas a água de chuva.

    Desde os primórdios da civilização, o homem utiliza a técnica de captação das águas

    de chuvas como fonte de abastecimento quando não existe uma fonte perene de água na

    região. Com a evolução das técnicas de abastecimento de água com utilização de aquedutos e

    outros equipamentos de coleta e transporte de água captados de rios e lagos, foi-se diminuindo

    o uso da água de chuva, criando assim ao passar do tempo, um certo preconceito em relação

    ao custo do armazenamento e captação da água de chuva e sua qualidade.

    Conforme Vaitsman e Vaitsman (2005), esse preconceito se originou a partir do

    momento em que os construtores diminuíram a atenção na forma de captação e no seu

    armazenamento, pois encarecia a obra criando artifícios na construção para esses fins, saindo

    mais fácil, barato e seguro uma fonte perene de abastecimento coletivo, pois com o aumento

    da população tinha-se que ter um maior volume de água.

    Outro preconceito relativo ao consumo da água de chuva é a falta de qualidade, pois

    com o surgimento da revolução industrial, criou-se um estigma que a poluição originária das

    fabricas iria comprometer a qualidade significativamente, pois era uma chuva ácida,

    inutilizando-a para qualquer fim.

    Nos dias atuais esses preconceitos têm se diminuindo com estudos realizados no

    mundo inteiro, pois tanto a viabilidade econômica (com a água sendo um bem cada vez mais

    caro) e o preconceito da qualidade da água de chuva, através de estudos que comprovam que a

    contaminação da atmosfera não atinge imediatamente concentrações suficientes capazes de

    comprometer a qualidade da chuva, pois os efeitos como, por exemplo, da chuva ácida é

    sentida na paisagem de uma cidade depois de um espaço de tempo significativo. Mostrando

    também mesmo em locais altamente poluídos, a água apresenta uma boa qualidade para

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    _____________________________________________________________________________ utilização na irrigação, nas indústrias, nos banheiros, aguar jardins e etc. Sendo assim a água

    de chuva é uma ótima alternativa para o crescimento desenfreado das cidades.

    Com o processo de urbanização na cidade de Natal, têm-se uma maior preocupação

    na qualidade da água para consumo humano, pois com aumento da densidade populacional e,

    o pouco investimento no saneamento na cidade, causou um problema sério que foi o aumento

    de nitrato na água subterrânea, causando assim a inviabilização para o consumo humano em

    alguns pontos da cidade. Com isso a preocupação dos gestores locais em procurar novas

    soluções para o abastecimento de água.

    Uma dessas soluções seria a utilização da água de chuva para uso humano, mas para

    que isso ocorra, tem-se que se saber a qualidade dessa água através de um monitoramento

    para avaliar o comportamento de forma preliminar da qualidade físico-química desta água

    (através do pH) e é neste sentido que esse trabalho vem contribuir para uma analise

    quantitativa dessa qualidade, além também de investigar espacialmente as influências que a

    atmosfera local, regional e global afetam, visando assim com esse estudo, contribuir de forma

    cientifica e técnica no monitoramento para detecção das alterações ambientais.

    Para que isso ocorra temos que delimitar o objetivo geral do estudo, que é monitorar e

    analisar a variação da qualidade da água de chuva na cidade de Natal, procurando investigar a

    influência dessa qualidade nas escalas local, regional e global através dos sistemas sinóticos,

    além de procurar possíveis efeitos dessa qualidade na paisagem local.

    Já os objetivos específicos são respectivamente:

    1) Monitorar e analisar a qualidade das águas de chuvas;

    2) Procurar padrões que mostrem em que escala a qualidade das águas de chuvas

    é mais influenciada;

    3) Investigar através da paisagem da cidade, possíveis efeitos da influência da

    poluição oriunda localmente;

    Os capítulos desse trabalho foram montados de forma a responder aos objetivos acima

    descritos, além de dar uma contribuição teórica para os futuros estudos sobre a temática. O

    primeiro capítulo serviu para entendermos como se originou a organização espacial da cidade,

    mostrando aspectos físicos e urbanísticos da cidade, para que tenhamos um panorama geral

    dos problemas locais e assim compreendermos como se organiza a paisagem local.

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    _____________________________________________________________________________ Já o segundo capitulo, discutimos sobre a paisagem, pois é nela que acontecem os

    principais efeitos da má qualidade das águas de chuvas, dando assim uma contribuição teórica

    sobre esse conceito importantíssimo para a Geografia, e pouco explorado por estudos sobre a

    chuva ácida.

    No terceiro capitulo discutiremos de forma prática sobre a temática da qualidade das

    águas, mostrando os padrões para consumo humano e em seguida iremos discutir sobre o

    fenômeno das chuvas ácidas.

    O quarto capítulo serve para entendermos como se dá a dinâmica da atmosfera a níveis

    global, regional e local, mostrando seus principais elementos. Já o capitulo quinto mostra a

    metodologia do trabalho, onde foi separado em subtítulos para uma maior compreensão do

    estudo. No ultimo capitulo mostraremos os resultados encontrados e iremos realizar uma

    breve discussão sobre a temática.

    Por fim tentaremos nesse trabalho dar uma contribuição importante a ciência

    geográfica na análise ambiental de fenômenos climáticos e urbanos, mostrando uma nova

    visão de investigação aos futuros cientistas que estudam a Paisagem e os problemas do Clima

    Urbano.

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    _____________________________________________________________________________

    I - CONHECENDO A CIDADE DE NATAL /RN

    Este capítulo tem o propósito de, no primeiro momento, realizar um prévio

    levantamento geo-ambiental sobre a Cidade de Natal com o intuito de entender-mos como se

    precessou, ao longo da evolução da cidade, a sua configuração física. O interesse por esse

    breve resgate histórico sobre o crescimento da Cidade, visa compreender como a Cidade,

    através da figura do Poder Público, vêm lidando ao longo da evolução da Cidade, com os

    problemas decorrentes do crescimento do seu espaço urbano e a atuação recente do Poder

    Público para com os novos desafios para uma Natal no século XXI, que enfrenta os mesmos

    probelmas urbanos das demais cidades brasileiras. Por isso, apartir do segundo momento,

    iremos resgatar, em breves palavras, o histórico do crescimento da Cidade de Natal/RN, no

    intuito de enfocar as primeiras intervenções urbanisticas na cidade, que ocorreram por volta

    do início do seculo XX, perfazendo aos dias atuais, como as intervenções incluidas na recente

    revisão do Plano Diretor de 2007.

    1.1- Caracterização Fisica da Cidade

    1.1.1 - Localização da Área de Estudo

    O universo de referência a ser estudado é constituído pela cidade de Natal, capital do

    estado do Rio Grande do Norte. Está localizada na região Nordeste do Brasil, mais

    precisamente entre as latitudes de 5°43' S e 5°54' S e entre as longitudes 35°09' W e 35°17' W

    (Mapa 01) e uma altitude média de quarenta metros acima do nível do mar, segundo as cartas

    altimétricas 1:10000 da Secretaria de Planejamento do Rio Grande do Norte.

    CAPÍTULO

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    _____________________________________________________________________________

    Fonte: Autor (2009)

    Mapa 01 - Localização da Área de Estudo

    1.1.2 - Rochas

    Conforme Nunes (2000), a cidade de Natal possui uma estratigrafia constituída por

    rochas cristalinas do embasamento pré-cambriano, arenitos e calcários mesozóicos aflorantes,

    sedimentos areno-argilosos terciários atribuídos na Formação Barreiras. Ainda segundo

    Nunes (2000), as rochas sedimentares cenozóicas estão sobrepostas ao embasamento

    cristalino, constituído pelo Complexo Caicó e pelo Grupo Seridó de idade arqueana e

    proterozóica, respectivamente.

    1.1.3 - Relevo

    O relevo da cidade de Natal se caracteriza pela integração e interação entre os

    elementos tectônicos, litológicos e climáticos, onde conforme Medeiros (2001), estende-se

    sobre o tabuleiro costeiro, contornado por depósitos eólicos quaternários, constituindo

    verdadeiro campo de dunas fixas e móveis que emolduram seu espaço urbano e empresta-lhe

    feição topográfica peculiar. Segundo Nunes (2000), a Cidade de Natal apresenta também

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    ALVES, Adriano Eduardo Lívio.

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    _____________________________________________________________________________ estuários, planícies de mangues, praias, terraços fluviais, cujos vales são largos e de fundo

    chato, com rios pouco entalhados, formando terraços de 15-16 m, 7-8 m, 2-3 m, acima do

    leito atual dos rios.

    1.1.4 - Solos

    Segundo Medeiros (2001) e Nunes (2000), os solos da cidade de Natal estão

    caracterizados nas seguintes unidades originárias de dois períodos distintos: Quaternário e

    Terciário, onde no Quaternário se deu origem às dunas, formadas pelas areias quartzosas

    marinhas, solo aluvial, solo glei e solo de mangue. Já no Terciário teve a origem da Formação

    Barreiras que está relacionado com as planícies sedimentares costeiras que tem como seus

    principais solos: latossolos, areias quartzosas distróficas, podzólicos, além das colinas

    cristalinas que estão sobre o embasamento cristalino, que dão origem aos litossolos, bruno-

    não-cálcicos e aos podzólicos.

    1.1.5 - Hidrografia

    Conforme Medeiros (2001), a hidrografia da área de estudo está representada pelo

    estuário Potengi/Jundiaí, e pelos rios: Doce, Pirangi, tendo como afluente o Pitimbu e os

    riachos do Baldo, das Quintas, Ouro e Prata, cuja perenização é atribuída ao índice

    pluviométrico da área e águas subterrâneas liberadas pelos aluviões e dunas.

    1.1.6 - Vegetação

    A vegetação na cidade de Natal está associada às feições morfológicas da região,

    compreendidos por campos dunares, mangues e praias, fazendo assim parte do domínio da

    Mata Atlântica, que conforme Medeiros (2001), ocorre os seguintes tipos: Floresta Ombrófila

    Densa/Aberta (matas de dunas/tabuleiros denso/ralo e mata ciliar); Floresta Estacional

    Semicaducifólia Densa/Rala sobre os tabuleiros); associa-se também aos ecossistemas

    Manguezal e à Formação Vegetal Tabuleiro litorâneo, cuja fisionomia assemelha-se ao

    cerrado.

    Segundo Medeiros (2001), nas praias e nas dunas recentes são encontradas

    formações rasteiras instaladas sobre sedimentos areno-quartzosas recentes de origem marinha.

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    _____________________________________________________________________________ Apresentam-se como espécies herbáceas: Ipomea pescaprae (salsa de praia), Panicum

    racemosun (capimde-areia), Sporobolus virginicus (capim barba-de-bode) e Iresine

    portucaloides (pirrixiu). Já a vegetação nas dunas antigas ora se apresenta de porte baixo,

    destacando-se o Hymenaea sp. (jatobá), Cecropia sp. (imbaúba), Caesalpina sp. (pau-dárco),

    entre outros.

    1.1.7 - Clima

    Segundo Nunes (2000), o clima de Natal é classificado como As’ de acordo com o

    sistema de Koppen, que é caracterizado como tropical chuvoso (quente e úmido), com verão

    seco e inverno bastante intenso.

    Segundo dados da Estação Climatológica da UFRN, a temperatura média anual é de

    25,4 °C com uma temperatura máxima na média mensal de 30,3 °C e as temperaturas médias

    das mínimas de 24,1 °C, enquanto a media da amplitude térmica é de 6,2 °C, caracterizando

    uma maior uniformidade comparando com outras capitais. A insolação média anual é de

    2.986 horas e a umidade relativa do ar com uma média anual de 77%, sendo os meses mais

    úmidos de fevereiro a agosto e os menos úmidos de setembro a janeiro.

    Segundo Medeiros (2001), a cidade de Natal caracteriza-se por apresentar um alto

    grau de heterogeneidade espacial e temporal do seu regime pluviométrico, ocasionando com

    isso anos com excesso de precipitação, contrastando com anos de elevado déficit

    pluviométrico. Quanto à precipitação média em Natal no período de 1997 a 2003 foi de 2.248

    mm. A estação chuvosa em Natal estende-se de fevereiro a agosto, quando os totais mensais,

    em média, excedem os 110 mm, e de outubro a dezembro têm-se os meses mais secos, com o

    total de precipitação em média, abaixo de 40 mm.

    Em um quadro geral, os ventos apresentam uma notável constância, os Alísios de

    sudeste apresentando valores elevados na intensidade 5m/s, soprando durante 211 dias por

    ano. Ventos de leste são predominantes durante 102 dias por ano e os ventos de sul, 37 dias.

    1.2- Evolução Urbana de Natal

    No Brasil, as cidades foram construídas segundo um padrão litorâneo, não só pela

    função das áreas, repassadores dos produtos de exportação, como também pela divisão social

    do trabalho Natal, capital do Rio Grande do Norte, não foge à regra, situada na Zona

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    _____________________________________________________________________________ fisiográfica do litoral oriental, fundada em 1599, está estrategicamente localizada na região

    Nordeste.

    No final do século XVI realizou-se a expedição que viria a construir o Forte dos Reis

    Magos e fundar a cidade de Natal. Seu capitão-mor era Francisco de Barros Rego. A frota

    partiu de Pernambuco e velejou para o norte, enquanto que pôr terra iam três companhias

    comandadas pôr Jerônimo de Albuquerque. Em 06 de janeiro de 1598 foi iniciada a edificação

    do Forte dos Reis Magos, data que justifica sua denominação. Esta constituiu fator marcante

    na penetração para o interior da área onde seria fundada a cidade. Deu-se, então, inicio a um

    povoado, a uma légua de distância do forte, a que chamaram de cidade dos reis.

    No decorrer do século XVII iniciou-se o processo de ocupação e produção do espaço

    de Natal. Este processo obedecia a uma política de Portugal, que procurava conquistar e

    explorar o litoral brasileiro visando à criação de pequenos povoados que lhes

    proporcionassem novas mercadorias para serem comercializadas no mercado europeu.

    Com referência a este processo, Costa (1980, p. 33) ressalta que, compondo uma

    quadra estruturada com características próprias decorrentes do tipo de economia local, a rede

    urbana brasileira teve, até certa época, seu crescimento condicionado à ocupação de novas

    terras, político-administrativo.

    Segundo Serra (1988, p. 123), na descrição do ouvidor da Paraíba citada pôr Cascudo

    constatou-se que a cidade teve um crescimento lento. “Cerca de 150 anos após a fundação, a

    cidade tinha apenas 118 casas, distribuídas linearmente em uma faixa com pouco mais de 100

    metros de largura 800 de comprimento. No inicio do século XIX a população total da cidade

    era de apenas seis mil habitantes, aproximadamente. Cem anos mais tarde, Natal contava 23

    mil habitantes.

    Portanto, o crescimento da cidade pode ser justificado, como afirma Andrade (1981,

    p.26) “... a dependência em que a capitania vivia em relação á Paraíba e Pernambuco, e isso

    lhe trazia sérios problemas, que asfixiaram a economia e o desenvolvimento do Rio Grande

    do Norte”.

    O Bairro da Ribeira, onde se localizava o porto da cidade, era o principal centro

    comercial de Natal, que “não tinha indústrias e seu porto valia como escoadouro legal, sempre

    preterido pela sonegação de pontos de embarque clandestino para Pernambuco” (Cascudo,

    1972, p.217). A Ribeira fixou e liderou o comércio durante longos anos, os armazéns se

    erguiam na rua do comércio (atual Rua Chile) para receber o algodão, pau-brasil, açúcar,

    peixe seco, etc.

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    _____________________________________________________________________________ Somente no fim do século XIX é que teve inicio a industrialização em Natal, voltada

    ao comércio externo. A instalação das primeiras fábricas, o equipamento do porto, infra-

    estrutura urbana e setores de transportes ferroviários e marítimos. Nesse sentido, reafirmamos

    as colocações de Cascudo (1980, p.227) referentes às modificações advindas das tendências

    expansionistas das cidades:

    Ao aparelhamento do porto, a fiscalização, com programas complexos, empregando operários de varias especialidades, mergulhadores, ferreiros, carpinteiros, calafates, pedreiros, armadores de botes e de pontões, todos com salários regulares e tendo necessidade de viver próximo as obras, impulsionaram as Rocas.

    Natal sempre atraiu imigrantes advindos especialmente do interior do Estado,

    formando pequenos aglomerados que se constituíram mais tarde, em bairros da cidade.

    O Alecrim foi um destes bairros que abrigavam esta população imigrante, atraída

    pelas recentes transformações que aqui se operavam. A abertura de novas vias de circulação, a

    ampliação da estrada de ferro, dos trilhos de bonde, evidentemente muito contribuíram para o

    crescimento e para a expansão do povoamento.

    Sabemos que esta população oriunda do campo tanto atua indiretamente na economia

    urbana (operários da construção civil, setor informal, etc.) e é elemento fundamental de mão-

    de-obra disponível e abundante para a reprodução do capital. Certamente encaixam-se neste

    raciocínio as palavras de Singer (1987, p.123), quando ele afirma que o desenvolvimento

    capitalista da economia brasileira foi profundamente marcado por esta ampla mobilização do

    exército industrial de reserva que deu lugar a um abundante suprimento de força de trabalho

    pouco qualificada, mas dócil e de aspirações modestas.

    No decorrer da segunda guerra, Natal teve um impulso expressivo, sobretudo porque

    foi o período em que passou a sediar uma base aérea norte-americana de apoio às operações

    bélicas no Atlântico e no norte da África. Neste período, a atuação do Estado na

    implementação de serviços urbanos foi bem expressiva. Isto condiz com a assertiva de

    Peruzzo (1984, p.84):

    Com o crescimento urbano e industrial, aumentam a acumulação de capital e a exploração da força de trabalho, ao mesmo tempo em que crescem os conflitos entre capital e trabalho. O capital aciona o estado para controlar a força de trabalho; codificar a legislação trabalhista (CLT); assumir a criação das condições gerais urbanas (transportes, comunicação, água, energia, saúde pública, educação, etc.), criando condições para reprodução da força de trabalho, liberando o capital de tais encargos, de sorte a elevar a acumulação.

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    _____________________________________________________________________________ Natal tem acompanhado o aumento populacional verificado nas cidades brasileiras

    nas últimas décadas. Ela passou a atrair correntes migratórios provenientes das áreas rurais, de

    outras regiões e até de outros países e que intensificou a concentração urbana. Este fenômeno

    acentuou-se em Natal, especialmente no período pós 40, quando a cidade atingiu um

    crescimento de quase 9% ao ano.

    Enquanto as relações capitalistas se reproduziam na cidade, no campo, a

    concentração de terras também liberava a mão de obra, que se dirigia aos centros urbanos,

    aumentando assim o número de seus habitantes.

    A cidade continuou o seu processo de urbanização com a expansão do comércio e

    ampliando o setor terciário. Na década de 50, Natal definia-se com três centros comerciais

    como a Ribeira, Cidade Alta e Alecrim, e com o surgimento de novos bairros, como: Lagoa

    Nova, Nova Descoberta, Cidade da Esperança entre outros. Por conseguinte, Natal atingiu, em

    1960, um contingente populacional com cerca de Cento e Sessenta e Dois Mil e Quinhentos e

    Trinta e Sete 162.537- habitantes.

    No período de 1960-1980, percebeu-se que foi exatamente porque este crescimento

    foi expressivo, com o surgimento de cerca de dezenove novos bairros. A tabela 1 traz a

    evolução populacional da cidade, no período que compreende o ano de 1970 a 2007. Sendo

    que em 2007 foi realizada a última contagem populacional da cidade, feito pelo Instituto

    Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE:

    Tabela 1 - Evolução da População de Natal/RN entre 1970 a 2007

    Ano Número de habitantes

    1970 264.379

    1980 416.898

    1991 606.887

    1996 656.037

    2000 712.317

    2007 774. 230

    Fonte: OLIVEIRA (2002); IBGE (2009).

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    _____________________________________________________________________________ Singer (1987, p.32) ressalta que o “crescimento demográfico da cidade torna-a, por

    sua vez, um mercado cada vez mais importante para bens e serviços de consumo, o que passa

    a constituir um fator adicional de atração de atividades produtivas que, pela sua natureza,

    usufrui de vantagens quando se localizam junto ao mercado de seus produtos.

    Natal encontra-se no ano de 2009, como uma cidade de porte médio, tendo sua

    economia baseada na exploração do setor terciário, com atuação marcante para as áreas do

    comércio e da prestação de serviços, seus principais segmentos econômicos. Dados extraídos

    da Prefeitura do Natal reforçam a importância desses dois segmentos para a dinâmica

    econômica da cidade, representado no número de empresas pertencentes a esses dois

    segmentos, respectivamente: Comercio (17.594) e Serviços (12.051) (NATAL, 2008). Sendo

    que, o Alecrim, é o bairro que concentra o maior número de estabelecimentos comerciais na

    cidade, devido a sua função tradicional, enquanto Centro Comercial.

    O Turismo insere-se nesta análise, pois se constitui com um segmento econômico,

    voltado para a prestação de serviços de lazer e do entretenimento de grande importância

    econômica para a cidade, além de mobilizar vários setores que tem por base, a exploração na

    prestação de serviços. Por conseguinte, o Turismo começou a se desenvolver na cidade a

    partir do final da década de 1970, através de Políticas Públicas de Turismo, no intuito de

    dinamizar a economia local. Sendo assim, o Turismo em Natal vem se constituindo como uma

    atividade econômica de significativa relevância para a economia da cidade.

    Com relação ao setor industrial, este por sua vez, segundo dados estatísticos de Natal

    (2008), percebe-se, certa representatividade, com relação ao número de empresas pertencentes

    a esse setor, que possui a quantidade de 4.119 unidades industriais espalhados por entre as

    quatro regiões da cidade. Dentre as atividades industriais desenvolvidas, os segmentos que

    mais se destacam são: o alimentício e o têxtil.

    Por tanto, a cidade de Natal apresenta-se com um dinamismo econômico

    significativo, notadamente nos setores do comércio e dos serviços. Por conseguinte, a cidade

    apresenta um crescimento populacional, pouco expressivo, se comparado com as demais

    cidades brasileiras (Recife, Fortaleza, Rio de Janeiro, etc), mas ao analisarmos os dois últimos

    censos realizados pelo IBGE, no ano de 2000 (a cidade possuía uma população de Setecentos

    e Doze Mil e Trezentos e Dezessete habitantes – 712.317), e no ano de 2007 (a população já

    contava com o número de Setecentos e Setenta e Quatro Mil e Duzentos e Trinta habitantes –

    774.230), sendo um acréscimo de 61.913 habitantes. No entanto, verifica-se que a cidade vem

    apresentando um crescimento populacional considerável, além de se verificar também o

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    _____________________________________________________________________________ crescimento territorial, com a criação de novos bairros, se comparado os dezenove existentes

    entre o período entre 1960 e 1980, e no ano de 2009, onde a cidade possui trinta e seis bairros.

    Por conseguinte, o processo de urbanização da cidade, verificado pelo seu aumento

    do número de habitantes, bem como o seu crescimento urbano, tem se revertido em problemas

    ambientais e sociais, uma vez que o crescimento da cidade, através de fatores anteriormente

    explicitados, reflete no crescimento pela demanda e investimentos em serviços públicos

    (hospitais, postos de saúde, estabelecimentos escolares, segurança, etc,), como também na

    criação e a ampliação da infra-estrutura existente na cidade, como: estradas, rodovias,

    complexos viários, entre outros. A deficiência em obras ligadas a malha viária na cidade,

    tende a gerar problemas de congestionamentos, que, atrelado ao crescimento da cidade,

    conseqüentemente também se verifica, o crescimento na frota de veículos e, que Natal,

    demonstra não acompanhar a ampliação da malha viária da cidade. Por conseguinte,

    problemas diários como os congestionamentos são uma constate nas principais avenidas da

    cidade, que por sua vez, repercutem na concentração de veículos por entre as Vias mais

    movimentadas da cidade, e que tem contribuindo para a poluição do ar nesses espaços.

    Problema este, que será abordado no decorrer do estudo.

    No entanto, essa breve exposição sobre o crescimento econômico e populacional da

    cidade, visa trazer à tona problemas decorrentes desse crescimento urbano, que faz parte do

    processo de urbanização, que interfere diretamente sobre o meio ambiente na cidade,

    notadamente sobre a qualidade do ar em algumas áreas em Natal, e que pode ser um fator

    agravante, para a aparição do fenômeno da chuva ácida.

    Portanto, o planejamento do espaço urbano da cidade, através da execução das ações

    contidas no Plano Diretor, se torna uma ferramenta importante para que a cidade cresça de

    forma organizada, além de conter possíveis problemas ambientais, econômicos e sociais.

    1.3 - Dos Planos Urbanísticos aos Planos Diretores

    Foi a partir do inicio do século XX que a cidade de Natal passou por um novo

    momento rumo a sua expansão urbana. Fato este, devido ao Plano urbanístico idealizado pelo

    Presidente da Intendência de Natal, Joaquim Manuel Teixeira, e executado pelo italiano

    Antônio Polidrelli (NATAL, 2008).

    O Plano Polidrelli (1901 – 1904) é considerado um marco, em se tratando de ensaios

    sobre planejamento urbano, uma vez que naquela época a concepção e a prática de um

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    _____________________________________________________________________________ planejamento urbano eram desconhecidas pelos administradores da cidade, ocorrendo apenas,

    intervenções urbanas a fim de conter os problemas que emergiam decorrentes de seu

    crescimento natural, notadamente os de ordem sanitária na parte antiga da cidade.

    O referido plano Polidrelli, segue um modelo idealizado e que atenderia aos anseios

    da elite local, que pretendia viver num ambiente livre das precárias condições ambientais tal

    qual vivenciavam os moradores da Ribeira e da Cidade Alta, longe das classes populares. Tal

    atitude revela o lado segregacionista do Plano Urbanístico (FURTADO, 2005).

    O plano Polidrelli previa a construção de um terceiro bairro na cidade de Natal, antes

    resumida apenas aos bairros – Cidade Alta e Ribeira. A cidade teria a partir do século XX

    seus limites para além dos seus bairros históricos, ganhando uma nova área, denominada de

    Cidade Nova, que posteriormente foi desmembrada e que constituem os atuais bairros de

    Petrópolis e Tirol, localizados na Região Leste da Cidade.

    O projeto urbanístico para a Cidade Nova consistia em seguir um modelo que

    privilegiaria a criação de avenidas largas (Mapa 2), além da preocupação na “definição do

    parcelamento do solo e de seu arruamento, estabelecido como um tabuleiro de xadrez”

    (FURTADO, 2005, p.99).

    Fonte: Prefeitura Municipal de Natal, 2007.

    Mapa 2 - Plano Polidrelli

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    _____________________________________________________________________________ O modelo de Polidrelli (1901-1904), não se constituía em um modelo de

    planejamento urbano propriamente dito, mas sua importância surge no fato de que, suas idéias

    serviram de inspiração para as futuras intervenções urbanísticas na cidade. Uma descrição do

    comentado Plano, feita por Cascudo (1999, p.354) apud Natal (2008, p.39), trazem as

    principais ações urbanísticas contidas nas obras do Plano de Polidrelli:

    Em 1904, o master-plan da Cidade Nova estava concluído, ampliando as medidas de Joaquim Manuel, em fins de 1901. O relatório do secretário do Governo, H. Castriciano, datado de 14 de junho de 1904, já fixa os dois bairros quase no aspecto dos nossos dias. Oito avenidas paralelas, com 30 metros de largura, comprimento entre 650 (Avenida Alberto Maranhão) a 5.261 (a Avenida Oitava) e quatorze ruas enxadrezando a Cidade Nova. A superfície aproximada ia a 1.648.510 metros quadrados, com sessenta quarteirões.

    Dada a grande importância para a Cidade, o Plano Polidrelli serviu de referência para

    os futuros administradores públicos intervirem no espaço urbano de Natal, buscando o

    aprimoramento do referido Plano para as intervenções posteriores, a qual a cidade conheceu.

    Ainda sobre o referido Plano de Polidrelli, também denominado de Cidade Nova,

    nasceu num contexto econômico e político favorável, com ares e com aspiração de

    modernidade, pois Natal passava por uma tendência de modernização do espaço urbano, a

    exemplo das principais cidades do país, que já havia iniciado o seu processo de modernização

    de seus Centros Urbanos, como São Paulo e Rio de Janeiro. O Plano Polidrelli, segundo Natal

    (2008, p.40) assume um caráter meramente estético do que funcional, como assim segue:

    É interessante observar que a preocupação do poder público não era o de fazer uma ordenação do espaço urbano. Na verdade, a finalidade era de embelezar a cidade, acompanhando a tendência dos grandes centros como, por exemplo, São Paulo e Rio de Janeiro.

    No entanto, o Plano Polidrelli se desdobrou em uma intervenção urbanística com fins

    de expandir a cidade, na tentativa de criar um ambiente favorável para a elite local, o bairro da

    Cidade Nova. Porém, o citado Plano, além de revelar a atitude do Poder Público em beneficiar

    a classe dominante e de reverter suas ações no embelezamento desse bairro, com obras de

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    _____________________________________________________________________________ paisagismo, o plano de obras de Polidrelli tem seu mérito e não deve ser menosprezado por tal

    atitude governamental, pois ele é uma referência em se tratando de práticas de planejamento

    urbano.

    Após a execução do Plano, elaborado por Polidrelli para o bairro de Cidade Nova,

    Natal entra na década de 1920 necessitando de um novo ordenamento urbano para a cidade

    como um todo. Assim, problemas relacionados ao crescimento da cidade, como o

    abastecimento de água e o saneamento básico, exigiam ações imediatas, pois a saúde da

    população corria o risco de contaminação pelo uso das águas advindas de fontes espalhadas

    pela cidade. A figura do Dr. Januario Cicco, que na época ocupava o cargo de inspetor de

    água e do saneamento da cidade, foi primordial para defender a idéia de se elaborar uma

    intervenção urbana voltada para a questão sanitária.

    A preocupação com a higienização da cidade, proposta por Januario Cicco, colocava

    a cidade diante de problemas básicos em infra-estrutura sanitária, que envolviam uma

    problemática comum à cidade, pois Natal carecia de obras que contemplassem o

    abastecimento e o saneamento de água. Tais carências evidenciavam uma nova visão sobre a

    elaboração e execução de obras voltadas para o crescimento e o ordenamento de Natal.

    Diante da problemática do abastecimento de água e do saneamento que a cidade

    carecia, foi então que tal situação foi considerada uma prioridade para o Poder Público

    naquele período da década de 1920. Mediante este fato, Natal (2008, p.42) mostra que:

    A comissão de saneamento de Natal foi a primeira iniciativa de intervenção planejada, na elaboração e execução de um projeto especifico para o saneamento e abastecimento de Natal. À frente desta Comissão estava o engenheiro Henrique Novaes, responsável pela elaboração do Plano Geral de Obras de Saneamento de Natal.

    O Plano Geral de Obras de Natal – (1929) teve suas preocupações voltadas para o

    ordenamento das ruas da cidade, no intuito de adequá-la para o tráfego dos meios de

    transportes, como o bonde e da recém-inaugurada rede de transporte público, com a

    circulação de ônibus e do incipiente fluxo de veículos no ano de 1929 (NATAL, 2008). As

    mudanças no traçado urbano da cidade foram vistas a partir da implementação do transporte

    público. Esse evento mostra a preocupação do governo da época em proporcionar a melhoria

    na qualidade de vida dos moradores da Cidade através da autorização para a circulação do

    transporte público pelas ruas da cidade. Devido a este fato, o então prefeito de Natal, “Omar

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    _____________________________________________________________________________ O’Grady, contrata o arquiteto Giácomo Palumbo para desenvolver um plano de urbanização”(

    NATAL, 2008, p.43).

    O referido plano Palumbo, continha uma visão moderna de planejamento, uma vez

    que o mesmo tinha o intuito de ordenar a cidade para um número superior de habitantes, ou

    seja, Natal nesse período possuía uma população de 35 mil habitantes e o Plano Palumbo

    projetou a cidade para uma população de cem mil habitantes. O Plano pretendia planejar a

    cidade olhando-a para o futuro.

    Este plano geral de sistematização de Natal “projetava” uma cidade de cem mil habitantes, número alcançado apenas a partir de 1950. Esta visão de futuro deve ser destacada porque demonstra uma sensibilidade em fazer da cidade um lugar melhor de se viver (NATAL, 2008, p.43).

    Ainda sobre a administração do prefeito de Natal na década de 20, no governo de

    Omar O’Grady foi importante, pois dispôs de instrumentos legais na forma de Leis, fazendo

    com que o poder municipal fosse dotado de funções de controle e de fiscalização da cidade,

    controlando assim, o seu crescimento. De acordo com Furtado (2005, p.99), o Plano Palumbo

    foi responsável por estabelecer “o zoneamento da cidade, definindo espaços específicos para a

    administração, o comércio, a indústria e a moradia, dentre outros”. Propondo para a cidade

    espaços divididos por suas funções, e por classes sociais, como mostra no mapa 3:

  • Monitoramento da Qualidade das Águas de Chuva Conforme a Atuação dos Sistemas Sinóticos na Cidade de Natal/RN. Programa de Pós-Graduação e Pesquisa em Geografia - PPGe – UFRN, 2009.

    ALVES, Adriano Eduardo Lívio.

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    _____________________________________________________________________________

    Fonte: Prefeitura Municipal de Natal, 2007.

    Mapa 3 - Plano Palumbo

    Outro elemento merece menção e que esteve contido no Plano Palumbo, diz respeito

    à referência da questão do lazer, contemplava ações que visava à destinação de espaços na

    cidade para a construção de praças e demais áreas de lazer.

    Em meio a um contexto político um tanto que agitado, o ano de 1935 foi marcado

    pela elaboração de mais um plano de melhorias para a cidade, essas intervenções urbanísticas

    foram denominadas de “Plano de Obras”. Para a execução do referido plano, foi contratado o

    escritório Saturnino de Brito, ao qual foi entregue o projeto para o inicio das obras na cidade.

    O plano de Obras caracterizou por melhorias no espaço urbano, continuando com as ações em

    intervenções urbanas que antecederam tal Plano, como mostra o mapa 4:

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    _____________________________________________________________________________

    Fonte: Prefeitura Municipal de Natal, 2007

    Mapa 4- Plano Geral de Obras de 1939, elaborado pelo Escritório de Saturnino

    de Brito

    O Plano de Expansão de Natal trouxe a preocupação com o abastecimento de água,

    desde o processo de captação a sua conseqüente distribuição, através da construção de

    reservatórios d’água e com a criação de estações de esgotos. A seguir, tem-se a imagem do

    referido Plano de Expansão, no esquema 1.

    Fonte: Prefeitura Municipal de Natal, 2007.

    Esquema 1- Projeto de Abastecimento de Água de Natal, idealizado pelo Escritório Saturnino de Brito

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    _____________________________________________________________________________

    No final da década de 1960, Natal conheceu o seu quarto Plano de obras, no ano de

    1968. O referido plano surgiu trinta e três anos após a criação do Plano de Expansão de Natal

    de 1935. Durante esse período, compreendido entre 1935 e 1968, a cidade passou por

    significativas mudanças, com relação ao aumento em seu número de habitantes como também

    pelo crescimento do seu espaço urbano. Na planta 1 é mostrado essa expansão territorial da

    cidade:

    Fonte: Prefeitura Municipal de Natal, 2007.

    Planta 1- Planta da Cidade do Natal Confeccionada em 1958, Encartada no “Guia da Cidade do Natal-1958/59”

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    _____________________________________________________________________________ Foi durante o governo do Prefeito Agnelo Alves, que o Plano Urbanístico e de

    Desenvolvimento de Natal, foi entregue aos cidadãos natalenses. O então plano, foi

    considerado por muitos urbanistas e estudiosos em planejamento urbano, como sendo

    considerado, o primeiro Plano Diretor da cidade, mesmo não sendo oficializado, pelo fato do

    mesmo possuir, em suas propostas de intervenção urbana, a concepção de planejamento

    urbano, uma vez que planejava a cidade para suportar o seu crescimento natural.

    O referido Plano foi elaborado por Wilheim Arquitetos Associados/Escritório Serete

    S.A Engenharia. Tal atitude, em contratar técnicos especializados em planejamento

    urbanístico, trouxera benefícios para a cidade, uma vez que permitiu que profissionais

    qualificados elaborassem o Plano Diretor de Natal em conjunto com os técnicos locais. Por

    conseguinte, a contratação de um corpo técnico especializado possibilitou a criação de:

    Dois instrumentos utilizados na elaboração do Plano Serete destacam-se: a pesquisa de campo e a coleta de dados em diversos órgãos da municipalidade. Estes instrumentos contribuíram para a formação de um arquivo com informações sobre o município (NATAL, 2008, p.52)

    A contribuição desses profissionais foi significativa, uma vez que, os mesmos

    utilizaram-se de técnicas importantes para o conhecimento da cidade, que possibilitou a

    elaboração de uma base de dados, com informações preciosas sobre a cidade, chegando ao

    término do estudo, com o seguinte resultado: “O estudo apresentou como um dos produtos

    finais um diagnóstico da realidade urbana, já identificando grandes vazios urbanos e as

    tendências de crescimento da cidade” (OLIVEIRA, 2002, p.16).

    O primeiro Plano Diretor de Natal nasceu no inicio dos anos Setenta, no Governo de

    Jorge Ivan Cascudo e elaborado a partir do Plano Urbanístico e de Desenvolvimento de Natal

    de 1968. O citado Plano foi coordenado pelo arquiteto Moacir Gomes, contando com a

    participação de técnicos da Prefeitura da cidade. O Plano Diretor foi então, “Concluído em

    Setembro de 1973, foi transformado, em Junho de 1974, pela Câmara dos Vereadores na Lei

    2-217/74 – Plano Diretor do Município do Natal” (LIMA, 2001, p.109, APUD NATAL,

    2008, p.54).

    O Plano Diretor trouxe benefícios no que diz respeito às ações voltadas para o

    planejamento da cidade. Uma dessas ações foi à institucionalização do planejamento urbano,

    com a participação de dois órgãos: a Secretária Municipal de Planejamento e Coordenação

    Geral- SEMPLA e o Conselho de Planejamento Urbano do Município de Natal - COMPLAN,

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    _____________________________________________________________________________ ambos contribuíram para o planejamento da cidade. Assim, a Prefeitura pôde contar com uma

    estrutura administrativa especializada na atuação de obras e intervenções urbanas, capacitadas

    para o estudo de como se planejar bem a cidade.

    Foi durante a década de 1980, que o segundo Plano Diretor de Natal começou a ser

    elaborado. Tal ação surgiu num período de transição política, na qual a cidade e o país

    compartilhavam. Essa transição refere-se ao fim do regime ditatorial dos militares (iniciada na

    década de Sessenta e finalizada em meados nos anos 1980) e inicio da retomada da

    democracia (meados dos anos 1980), que fora perdida durante o período da ditadura, a qual o

    país esteve submetido. O Plano Diretor de Natal de 1984 foi elaborado no Governo do

    Prefeito Marcos Formiga, e aprovado pela Câmara de Vereadores, na forma de Lei 3.175/84

    (NATAL, 2008).

    A contribuição do Plano Diretor – 1984, para o planejamento da cidade, foi na

    criação de uma estrutura administrativa voltada exclusivamente para a elaboração do

    planejamento urbano. Outro fato importante contido neste Plano Diretor, diz respeito à

    participação popular na elaboração da proposta do citado Plano.

    Outro elemento que também merece ser destacado e que estava contido no Plano

    Diretor, foi à regularização dos espaços urbanos ou a sua tentativa, que se constituem uma das

    características do Plano Diretor, para controlar ou definir o crescimento da cidade, sendo

    assim o seu objetivo consistia na utilização de instrumentos legais a fim de garantir um

    zoneamento funcional para a cidade.

    Por conseguinte, o Plano Diretor de Natal de 1984 foi elaborado dentro de exigências

    que fizeram parte dos debates da constituição de 1988, sendo que uma delas se refere à

    exigência de que, todos os municípios com mais de Vinte Mil habitantes, deve elaborar seu

    Plano Diretor. Como Natal, já possuía uma população que ultrapassava a soma de Vinte Mil

    habitantes, apresentando assim, a quantia de mais de Seiscentos Mil habitantes.

    Assim, uma década após a elaboração do Plano Físico-Territorial de Natal de 1984,

    no ano de 1994, que foi criado outro Plano Diretor de Natal. Este Plano contou com a

    participação de profissionais do Instituto de Planejamento Urbano de Natal (IPLANAT), se

    constituindo como “um importante instrumento de ordenamento urbano, que aprovado pela

    Câmara Municipal e sancionado pelo Prefeito Aldo Tinôco nascia a Lei Complementar no 07,

    ganhava caráter legal de plano diretor”(NATAL, 2008, p.60).

    O último Plano Diretor, que a cidade de Natal conheceu, foi no ano de 2007. Onde o

    mesmo foi revisado, envolvendo a criação de leis que visavam à proteção de áreas com frágil

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    _____________________________________________________________________________ caráter ambiental e da forte especulação imobiliária. O caráter participativo de segmentos da

    população no decorrer do processo de elaboração e termino do plano Diretor, se fez de forma

    marcante, através da realização de debates e reuniões entre o Poder Público, políticos,

    ambientalistas e a segmentos da população.

    O atual Plano Diretor de Natal trouxe para debates, os anseios da população, que

    defendiam questões ambientais, uma vez que a cidade estava crescendo em direção as áreas

    ambientalmente frágeis. Tal crescimento urbano, veio associado a forte especulação

    imobiliária, que não estava respeitando os interesses da população nem do meio ambiente, nas

    localidades onde estava ocorrendo as intervenções imobiliárias. Foi a partir desse quadro, que

    integrantes da sociedade, bem como os movimentos sociais, liderados por ambientalistas,

    reivindicarem, junto a poder Público, por a medidas urgentes para a proteção do meio

    ambiente.

    Sendo assim, a Sociedade Civil organizada pedia a revisão do Plano Diretor de 1994,

    ainda vigente. Em meio a esse quadro reivindicatório, em 2005, “a Prefeitura de Natal, através

    da Secretária Municipal de Urbanismo e Meio ambiente - SEMURB, convocou a Conferência

    de Revisão do Plano Diretor Participativo da Cidade de Natal” (NATAL, 2008, p.64).

    A característica marcante desse novo Plano Diretor foi à significativa participação

    popular, desde a reivindicação para a revisão do antigo plano até as etapas finais da

    elaboração do novo plano, perpassando por debates, reuniões, que participaram, junto com os

    técnicos, da elaboração do referido Plano. Além da forte presença da população na revisão do

    Plano Diretor- 1994 outros pontos podem ser destacados, e, que foram inseridos, através da

    conquista popular, na revisão, como por exemplo: “Política de Habitação de Interesse Social,

    a Regularização Fundiária e a Questão Ambiental” (NATAL, 2008, p.64).

    Avanços e conquistas, fruto das reivindicações e preocupações da Sociedade Civil,

    atribui um caráter popular ao Plano Diretor de 2007. Tais conquistas se tornam importantes,

    pois abriram horizontes, no que se refere a uma aproximação entre o Poder Público e a

    população, quando os direitos da população se encontram diante dos interesses capitalistas,

    que tendem a negligenciar os direitos de parte da população e, ao mesmo tempo, de não

    respeitarem questões ambientais vitais para o desenvolvimento sustentável da cidade.

    Os embates e discussões, que culminaram com a elaboração do Plano Diretor, em

    2007, convergiram para a defesa do meio ambiente que estavam sendo ameaçados pela

    especulação imobiliária, em determinada parte da cidade – o Bairro de Ponta Negra, região

    Sul, onde essa especulação estava ao mesmo tempo agredindo o meio ambiente natural, como

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    _____________________________________________________________________________ poderia se reverter em um problema social, ocasionando a saída gradual de moradores de

    classe baixa, devido ao aumento no valor do solo nas áreas de interesse dos agentes

    imobiliários.

    Essa reação popular, manifestada na luta por mudanças do Plano Diretor da cidade,

    com relação a determinadas questões de âmbito social e ambiental, são apenas uns, dos

    diversos problemas urbanos enfrentados pela cidade, que compartilha com problemas urbanos

    comuns às demais cidades brasileiras (Rio de Janeiro, São Paulo, Recife, etc.), como: o

    congestionamento de veículos, poluição do ar, violência, especulação imobiliária,

    desemprego, poluição dos mananciais utilizados, principalmente, para o abastecimento da

    cidade, entre outros.

    Diante de toda essa problemática ambiental, a qual a Cidade de Natal e os seus

    habitantes estão inseridos, é justificável o interesse e a inquietação a qual a população reagiu e

    se fez presente no recente Plano Diretor da Cidade de Natal-2007.

    Mas diante de tantos problemas de ordem ambiental a qual a cidade enfrenta, acima

    citados, é significante a questão da poluição atmosférica, causada pela emissão de gases,

    provenientes dos veículos. Problemas ambientais, a qual o estudo pretende se debruçar, uma

    vez que, um dos fatores responsáveis pelo aparecimento da chuva ácida na cidade – objeto de

    investigação da pesquisa-, provém das emissões do dióxido de carbono e demais poluentes,

    pelos automóveis que transitam pela cidade.

    Evidencias de que tal fenômeno vem ocorrendo na cidade – a poluição do ar, foi

    citado em reportagem feita por um dos principais jornais de grande circulação no Estado, “A

    Tribuna do Norte”, em 30/09/2007 pela repórter Mariana Cremonini, e intitulada “Poluição

    em Natal cresce sem controle de qualidade do ar”, onde traz o assunto, ainda pouco estudado,

    sobre a poluição do ar na cidade de Natal.

    A referida reportagem mostra os principais sinais no aumento da poluição do ar, nos

    locais mais movimentados da cidade, a saber, os bairros do Alecrim e da Cidade Alta,

    localizados na região leste. Através de fatos relatados por alguns entrevistados, revela indícios

    visíveis de um aumento significativo de poluentes em suspensão no ar ocasionados pela

    queima de combustíveis emitidos pelos veículos. Em uma das entrevistas, ocorreram relatos

    de pessoas que transitam por esses dois bairros, mostrando que os efeitos da poluição, como

    por exemplo, a incidência de problemas respiratórios em parte da população que transita pelas

    áreas mais movimentadas da cidade, e da sujeira impregnada nas roupas e em partes expostas

    no corpo dos entrevistados.

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    _____________________________________________________________________________ Somado às evidências da poluição do ar, percebidas por alguns transeuntes, o estudo

    verificou a ocorrência de indícios da poluição do ar em prédios públicos e em monumentos

    localizados em áreas consideradas como concentradora da circulação de veículos, como os

    bairros da Ribeira e da Cidade Alta.

    Tal observação pôde ser constatada devido às características deixadas na paisagem

    que evidência a ocorrência do fenômeno das chuvas ácidas na cidade de Natal. Em síntese, a

    análise das paisagens foi possível devido ás marcas deixadas nas construções e monumentos

    públicos pelas chuvas ácidas, pois “quando o seu pH se torna baixo (condições ácidas),

    provoca corrosividade onde a chuva ácida toca e, quando o pH é alto (condições básicas) pode

    provocar incrustações” (...) (MELO, 2007, p.13)

    O estudo observou e constatou a ocorrência da chuva ácida na cidade, através da

    análise da paisagem, notadamente sobre os prédios e monumentos localizados na Ribeira e na

    Cidade Alta. Os resultados e as figuras dessa análise serão expostos com mais detalhes no

    capítulo referente aos resultados finais da pesquisa.

    Todos os sinais descritos e percebidos pelas pessoas na reportagem citada e pelo

    material colhido na pesquisa de campo do presente estudo reúnem evidências do aumento da

    poluição do ar nas principais áreas da cidade, e que estão diretamente correlacionados com o

    aumento na frota de veículos que circulam por entre as principais avenidas de grande

    circulação. De acordo com dados do Departamento Nacional de Transito – DETRAN/RN,

    sobre a evolução da frota de veículos, verifica-se que do ano de 1987 (14.792 veículos) até o

    ano de 2008 (263.687), a frota de veículos na Cidade teve um aumento de 1.782%.

    O gráfico a seguir, mostra essa evolução na frota de veículos na cidade entre os anos

    de 1987 e 2008:

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    _____________________________________________________________________________

    Fonte: DETRAN/RN, 2008

    Gráfico 1 - Evolução na Frota de Veículos em Natal/RN

    O gráfico acima evidência um aumento considerável no número de veículos na

    cidade, fato esse que comprova os índices significativos da poluição do ar em partes da cidade

    e que está paulatinamente afetando a saúde dos transeuntes que circulam pelas avenidas de

    maior fluxo de veículos na cidade.

    Além das áreas na cidade (Alecrim e Cidade Alta) anteriormente mencionadas por

    apresentarem um grau considerado de poluição do ar, outros locais na cidade também

    merecem atenção, por serem potencialmente vulneráveis a apresentar um grau de poluição do

    ar, devido à emissão de poluentes dos veículos. Como por exemplo, as localidades turísticas e

    os seus entornos, como a Praia de Ponta Negra, principal espaço turístico da cidade, onde

    recebe nos períodos de alta estação, um grande fluxo de turistas. A chegada de um número

    significante de turistas nessa parte da cidade pode vir a acarretar o aumento no número de

    veículos que transitam por essa parte da cidade.

    A justificativa, para a menção da atividade turística, se deve ao seguinte aspecto: que

    o seu crescimento do fluxo turístico, demanda um aumento de veículos circulando por entre

    os espaços turísticos da cidade, que conseqüentemente, elevará a quantidade de gases que são

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    _____________________________________________________________________________ eliminados dos veículos, contribuindo dessa forma, para a poluição do ar, que pode vir a

    culminar com a ocorrência do fenômeno das chuvas ácidas.

    É comum a existência de trabalhos acadêmicos sobre a associação da atividade

    turística com o agravamento de problemas ambientais, decorrentes do aumento do fluxo de

    turistas junto aos espaços turísticos. Um desses problemas se relaciona com a poluição do ar

    nas áreas e entornos turísticos, principalmente nos períodos de alta estação, através de uma

    maior circulação de transportes, como cita a Organização Mundial do Turismo – OMT (2003)

    explicitando que: “A poluição é outro impacto negativo importante do turismo. O transporte é

    uma grande fonte de poluição sonora e do ar”.

    A incidência das chuvas ácidas se encontra relacionada com as atividades humanas

    sobre o meio ambiente, através do intenso crescimento das cidades e das atividades

    econômicas, como as atividades indústrias, agrícolas, minerais, etc. Na cidade de Natal a

    poluição do ar está relacionada ao seu crescimento urbano, como principalmente, pelo

    aumento na frota de veículos, que tende a se concentrar em certos pontos da cidade, atrelado a

    uma malha viária deficitária, gerando um ambiente propício a formação de áreas com

    significativo grau de poluição veicular, e, na existência de pontos onde os efeitos das chuvas

    ácidas são aparentes.

    Estudo, feito por Melo (2007), sobre a análise da qualidade das águas das chuvas de

    Natal para fins de aproveitamento, com amostras coletadas em certos pontos da cidade,

    evidencia que das áreas onde o autor coletou as amostras das águas das chuvas, o ponto

    localizado no Bairro da Cidade Alta, foi o que apresentou alterações na qualidade das águas

    precipitadas no local conforme parâmetros utilizados pelo autor, com relação à Condutividade

    Elétrica1. Tal fato se deve, segundo o referido autor, pela área ser a mais poluída dentre as

    demais áreas estudadas, e por a Cidade Alta apresentar uma considerável concentração

    urbana, contribuindo para uma poluição do ar, causada pelos gases expelidos pelos

    automóveis e demais fontes poluidoras, como das cozinhas e de pequenas fábricas (MELO,

    2007, p.76).

    Outros fatores se encontram interligados a uma estatística crescente na frota de

    veículos na cidade, como: aumento do poder aquisitivo da população. Este fato possibilitou

    que quantidade significativa dos residentes realizasse a aquisição do automóvel próprio. Essa

    1 Segundo o autor, a análise da condutividade elétrica é “utilizada para indicar a presença de íons, acusando assim possíveis impactos ambientais na massa d’água, ocasionados por lançamentos de resíduos industriais, mineração, esgotos, etc. Como há uma relação de proporcionalidade entre o teor de sais dissolvidos e a condutividade elétrica, podemos estimar o teor de sais pela medida de condutividade de uma água” (MELO, 2007, p.13).

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    _____________________________________________________________________________ tendência de uma parcela da população, em adquirir carros novos, tende a ser crescente, como

    indaga a reportagem feita pela “Tribuna do Norte”, em 12/08/2008 pelo repórter Wagner

    Lopes intitulado “Aumento da frota de veículos é uma preocupação em Natal”, dizendo que:“

    a expectativa é de acréscimo nesse número, já que as facilidades de compra do automóvel

    próprio incentiva a troca do transporte público pelo individual”.

    Esse fato vem a corroborar com a elevação da poluição do ar, como também, a

    deficiência na malha viária da cidade, que não permite a um escoamento rápido da frota de

    veículos em circulação, notadamente nos horários de grande movimento (inicio da manhã e ao

    final da tarde) em alguns pontos da cidade, a conseqüência direta dessa concentração de

    veículos acaba por culminar na formação de congestionamentos constantes por entre as

    principais avenidas da cidade, principalmente em alguns trechos como em direção as áreas

    centrais de Natal, como: Cidade Alta, Alecrim e nas avenidas da Hermes da Fonseca,

    Prudente de Moraes, Salgado Filho, Engenheiro Roberto Freire, todas localizadas na Região

    Sul da cidade, como também em trechos que ligam a Região Norte ás demais regiões da

    cidade.

    Um estudo realizado por Macêdo (2004) faz um balanço da quantidade de gases

    lançados para a atmosfera, como o CO2 , provenientes da queima de combustíveis fosseis,

    como a gasolina e o diesel, pelos veículos no estado. O resultado do referido estudo foi o

    seguinte: que a gasolina é o principal combustível utilizado pelos veículos considerados leves,

    que inclui os carros de passeios. O autor chama a atenção para o uso intenso desse

    combustível, que traz grandes prejuízos ao meio ambiente, pois é altamente poluente, por

    apresentar um grande teor na emissão de gases poluentes.

    Macedo (2004) também faz referência ao uso do diesel, mostrando que tal

    combustível é considerado mais poluente, em comparação a gasolina, e mais barato do que a

    mesma. Tal fato é preocupante, uma vez que o diesel é um combustível que tem incentivos do

    governo federal para a sua ampla utilização em substituição da gasolina, que é

    economicamente mais cara. Ainda sobre o autor, o mesmo considera que é necessário que

    sejam adotadas medidas para evitar uma intensa poluição atmosférica, devido aos efeitos

    negativos da utilização maciça do diesel nos meios de transportes. O autor sugere a utilização

    do transporte público nos grandes centros urbanos para que haja um desuso do diesel como

    combustível.

    Melo (2007) também lança algumas propostas objetivando a redução das chuvas

    ácidas, como reduzindo a queima de combustíveis fósseis, utilizados nos automóveis e na

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    _____________________________________________________________________________ utilização de transportes menos poluidores, como é o caso do metrô. Outra solução sugerida

    pelo autor seria através da utilização de: “fontes de energia menos poluentes, com a

    implantação de filtros nos escapamentos e chaminés e, quando for o caso, utilização de

    combustíveis com baixo teor de enxofre (MELO, 2007, p.44).

    No entanto, essa referência aos problemas da poluição atmosférica com a emissão de

    gases poluentes no ar, bem como se apresenta o trânsito da cidade, se faz oportuna, pois são

    elementos importantes no estudo das chuvas ácidas em Natal, uma vez que a poluição do ar,

    causado pelas emissões de gases emitidos pelos veículos, favorecem ao aparecimento desse

    fenômeno aqui estudado e que vem a somar-se a outros fatores que juntos, corroboram para a

    incidência das chuvas ácidas na cidade. Além de propiciar uma reflexão e discussão a respeito

    de medidas preventivas para que os efeitos das chuvas ácidas não se tornem prejudiciais a

    saúde da cidade.

    Planejar uma cidade pensando no bem estar do cidadão, media