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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS APLICADAS DEPARTAMENTO DE SERVIÇO SOCIAL CURSO DE GRADUAÇÃO EM SERVIÇO SOCIAL AMANDA PEREIRA SOARES LIMA A INCLUSÃO NA EDUCAÇÃO SUPERIOR: UMA ANÁLISE DAS QUESTÕES RELATIVAS AO ACESSO E PERMANÊNCIA DE PESSOAS COM DEFICIÊNCIA NA UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE NATAL/RN 2018

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE

CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS APLICADAS

DEPARTAMENTO DE SERVIÇO SOCIAL

CURSO DE GRADUAÇÃO EM SERVIÇO SOCIAL

AMANDA PEREIRA SOARES LIMA

A INCLUSÃO NA EDUCAÇÃO SUPERIOR:

UMA ANÁLISE DAS QUESTÕES RELATIVAS AO ACESSO E PERMANÊNCIA DE

PESSOAS COM DEFICIÊNCIA NA UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO

NORTE

NATAL/RN

2018

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AMANDA PEREIRA SOARES LIMA

A INCLUSÃO NA EDUCAÇÃO SUPERIOR:

UMA ANÁLISE DAS QUESTÕES RELATIVAS AO ACESSO E PERMANÊNCIA DE

PESSOAS COM DEFICIÊNCIA NA UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO

NORTE

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao

curso de Serviço Social da Universidade Federal

do Rio Grande do Norte, como requisito parcial

para obtenção do título de Bacharel em Serviço

Social.

Orientadora: Profª. Drª. Carla Montefusco de

Oliveira.

NATAL/RN

2018

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Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN

Sistema de Bibliotecas - SISBI

Catalogação de Publicação na Fonte. UFRN - Biblioteca Setorial do Centro Ciências Sociais Aplicadas - CCSA

Lima, Amanda Pereira Soares.

A inclusão na educação superior: uma análise das questões

relativas ao acesso e permanência de pessoas com deficiência na

Universidade Federal do Rio Grande do Norte / Amanda Pereira

Soares Lima. - Natal, 2018.

89f.: il.

Monografia (Graduação em Serviço Social) - Universidade

Federal do Rio Grande do Norte. Centro Ciências Sociais

Aplicadas. Departamento de Serviço Social.

Orientadora: Profa. Dra. Carla Montefusco de Oliveira.

1. Serviço Social - Monografia. 2. Acesso - Educação superior

- Monografia. 3. Inclusão social - Educação superior -

Monografia. 4. Permanência estudantil - Educação superior -

Monografia. 5. Pessoas com deficiência - Monografia. I.

Oliveira, Carla Montefusco de. II. Título.

RN/UF/CCSA CDU 364.67

Elaborado por Shirley de Carvalho Guedes - CRB-15/404

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Dedico este trabalho a Deus e à minha família,

especialmente aos meus pais, Flávia Luciana

Pereira Soares e José Geraldo Bezerra de Lima

Júnior, pela dedicação e confiança em mim

depositadas, proporcionando-me a realização de

tal feito.

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AGRADECIMENTOS

À minha mãe, Flávia Luciana Pereira Soares, por acreditar nos meus sonhos e pelo

amor que me impulsiona a ser uma pessoa sempre melhor.

Ao meu pai, José Geraldo Bezerra de Lima Júnior, responsável por toda dedicação e

trabalho para manter meus estudos e por sempre mostrar disposição e força para trabalhar.

À minha irmã, Juliana Pereira Soares Lima, responsável pelos meus sorrisos em meio

aos momentos difíceis.

À minha avó, Sineide Pereira Soares, sempre dedicada a manter minha qualidade de

vida e por me amar diariamente.

À minha orientadora, Carla Montefusco de Oliveira, pelos valiosos ensinamentos,

além do carinho e zelo dedicados a mim. Sempre serei grata.

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"Porque em verdade vos afirmo que, se alguém

disser a este monte: Ergue-te e lança-te no mar, e

não duvidar no seu coração, mas crer que se fará

o que diz, assim será com ele.” (Marcos 11:23)

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RESUMO

O presente estudo tem como objeto de pesquisa a inclusão de pessoas com deficiência

física na Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), objetivando, nessa

perspectiva, apreender o processo de inclusão de pessoas com deficiência física na educação

superior na universidade supracitada. Para o desenvolvimento dessa reflexão, os objetivos

específicos a que este trabalho se propôs consistiram em caracterizar as políticas de inclusão

na realidade brasileira; verificar os mecanismos de ingresso e permanência das pessoas com

deficiência na educação superior na Universidade Federal do Rio Grande do Norte; e inferir as

barreiras enfrentadas pelas pessoas com deficiência física no que se refere às formas de acesso

e permanência na educação superior. A pesquisa foi fruto do trabalho de conclusão de curso

apresentado ao curso de Serviço Social da UFRN como requisito parcial para obtenção do

título de bacharel em Serviço Social. A opção teórico-metodológica do estudo primou pelo

método materialista histórico-dialético para a sua condução, fazendo uso da análise

bibliográfica e documental, além da utilização de entrevista semiestruturada realizada com três

discentes com deficiência física e uma assistente social lotada na Comissão de Apoio a

Estudantes com Necessidades Educacionais Especiais (CAENE). Foi escolhida ainda como

recurso metodológico a análise de conteúdo. Pode-se concluir através do referido estudo que,

apesar de a UFRN desde 2010 possuir um órgão responsável pela eliminação das barreiras

existentes em torno das pessoas com necessidades especiais, visando garantir a sua inclusão

no espaço universitário, ainda existem barreiras reais ao se tratar do acesso e da permanência

desse público no ensino superior, especificamente barreiras atitudinais e arquitetônicas, as

quais suprimem condições necessárias dos sujeitos para a plena e independente fruição de

suas potencialidades e do convívio social.

Palavras-chave: Educação Superior. Inclusão. Pessoas com Deficiência.

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ABSTRACT

The present study has as its object the inclusion of people with disabilities at

Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), intending, in this perspective, to

understand the inclusion process of people with disabilities in higher education at the

university mentioned above. To development this reflection, the specific objectives of this

work are characterize the inclusion policies in brazilian reality; check the access and

permanence mechanisms of people with disabilities in higher education at Universidade

Federal do Rio Grande do Norte; and infer the barriers faced by people with disabilities in the

aspects of access and permanence in higher education. The survey was the result of the final

project presented to Social Service graduate course as a partial requirement to obtain the social

work degree. The study theoretical and methodological option is the historical – dialectical

materialist method, using the bibliographic and documentary analysis, besides was used the

semi-structured interview conducted with three students with physical disabilities and the

social worker that belongs to the Comissão de Apoio a Estudantes com Necessidades

Educacionais Especiais (CAENE). Was also chosen as a methodological resource the content

analysis. It’s possible to concluded, through this study, that although the UFRN, since 2010,

has a sector responsible for the elimination of the barriers around the people with special

needs, intending to guarantee their inclusion in the University space, still exists real barriers to

the access and permanence of this public in higher education, specifically attitudinal and

architectural barriers, which suppress necessary conditions to the full and independent

enjoyment of their potential and social conviviality.

Keywords: Higher Education. Inclusion. Disabled person.

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LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Gráfico 1 – Prevalência das deficiências no Brasil no ano de 2010.......................................

Gráfico 2 – Proporção da população com pelo menos uma das deficiências

investigadas por grandes Regiões do Brasil/2010....................................................................

Figura 1 – Tipos de deficiência................................................................................................

Gráfico 3 – Número total de matrículas de alunos com deficiência física no estado do

Rio Grande do Norte nas universidades federais, no Ensino Superior 2011-2016...................

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LISTA DE TABELAS

Tabela 1 – Número total de matrícula de alunos com necessidades especiais

e número de alunos com deficiência física, por categoria administrativa no

Ensino Superior 2011-2016.........................................................................................

Tabela 2 – Número total de matrícula de alunos com necessidades especiais

e número de alunos com deficiência física no estado do Rio Grande do Norte,

por categoria administrativa no Ensino Superior 2011-2016.......................................

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LISTA DE QUADROS

Quadro 1 – Comparativo 2016/2017 de alunos com NEE atendidos

pela CAENE, por tipo de NEE.................................................................................

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LISTA DE SIGLAS

AACD Associação de Assistência à Criança Deficiente

ABNT Associação Brasileira de Normas Técnicas

APABB Associação de Pais, Amigos e Pessoas com Deficiência de Funcionários do

Banco do Brasil e da Comunidade

CAENE Comissão de Apoio a Estudantes com Necessidades Educacionais Especiais

CEP Comitê de Ética em Pesquisa

COMPERVE Comissão Permanente de Vestibular

ECT Escola de Ciências e Tecnologia

ENEM Exame Nacional do Ensino Médio

FIES Financiamento Estudantil

HUOL Hospital Universitário Onofre Lopes

IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

IES Instituições de Ensino Superior

IFES Instituições Federais de Ensino Superior

INEP Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais

INFRA Superintendência de Infraestrutura

LA Laboratório de Acessibilidade

LABCOM Laboratório de Comunicação

LDBN Lei de Diretrizes e Bases Nacionais

LIBRAS Língua Brasileira de Sinais

MEC Ministério da Educação

NEE Necessidades Especiais

ONU Organização das Nações Unidas

PDI Planos de Desenvolvimento Institucional

P-FIES Programa de Financiamento Estudantil

POTI Programa de Orientação de Tutoria Inclusiva

PROAE Pró-Reitoria de Assuntos Estudantis

PROUNI Programa Universidade para Todos

RN Rio Grande do Norte

SIGAA Sistema Integrado de Gestão e Atividades Acadêmicas

SINFO Superintendência de Informática

SiSU Sistema de Seleção Unificada

UFRN Universidade Federal do Rio Grande do Norte

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO

2 UM POUCO DE HISTÓRIA: A CONSTRUÇÃO SOCIAL DA

DEFICIÊNCIA

2.1 Um olhar histórico sobre as pessoas com deficiência: da Antiguidade à

Contemporaneidade

2.2 Aspectos relativos às legislações direcionadas às pessoas com deficiência

2.3 O Ensino Superior no Brasil

2.3.1 A inclusão de pessoas com deficiência física no Ensino Superior

3 LÓCUS DA PESQUISA: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO

GRANDE DO NORTE (UFRN)

3.1 As possibilidades de ingresso na UFRN

3.2 Ações de permanência direcionadas às pessoas com deficiência

3.2.1 Ações desenvolvidas pela CAENE

3.3 Barreiras arquitetônicas e atitudinais

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS

REFERÊNCIAS

APÊNDICE A - Roteiro de entrevista semiestruturada

APÊNDICE B - Roteiro de entrevista semiestruturada

APÊNDICE C - Termo de Consentimento Livre e Esclarecido

APÊNDICE D - Termo de autorização para gravação de voz

ANEXO A - Parecer Consubstanciado do Comitê de Ética – CEP/UFRN

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1 INTRODUÇÃO

O debate acerca da inclusão de pessoas com deficiência insere-se, na atualidade, nas

novas requisições que demandam uma resposta da nossa sociedade. Englobada nessas

requisições encontra-se a discussão em torno da inclusão desses sujeitos no Ensino Superior,

que emerge tanto em virtude do significativo número de pessoas com deficiência no país

como, de modo consequente, devido à ampliação da garantia dos direitos direcionados a esses

sujeitos.

Atualmente, apesar de o Brasil ter avançado na implementação de apoios necessários

ao pleno e efetivo exercício da capacidade legal das pessoas com deficiência – ao empenhar-

se, por exemplo, na equiparação de oportunidades para que a deficiência não venha a ser

utilizada como impedimento à realização de capacidades, valorizando o protagonismo e a

escolha dos sujeitos –, ainda encontram-se barreiras para a sua inclusão plena. Nessa

perspectiva, é importante enfatizar a existência real de obstáculos e barreiras ao se tratar do

acesso e da permanência desse público no Ensino Superior.

Nesse sentido, o principal objetivo do presente estudo consiste em analisar o processo

de inclusão de pessoas com deficiência física na educação superior na Universidade Federal

do Rio Grande do Norte (UFRN). Para essa análise, a pesquisa teve como horizonte os

seguintes objetivos específicos: 1) Caracterizar as políticas de inclusão na realidade brasileira;

2) Verificar os mecanismos de ingresso e permanência das pessoas com deficiência na

educação superior na Universidade Federal do Rio Grande do Norte; 3) Inferir as barreiras

enfrentadas pelas pessoas com deficiência física no que se refere às formas de acesso e

permanência na educação superior.

A aproximação com a temática ocorreu a partir da experiência de estágio não

obrigatório realizado no período de junho de 2015 a março de 2016 no setor de Serviço Social

da Associação de Pais, Amigos e Pessoas com Deficiência de Funcionários do Banco do

Brasil e da Comunidade (APABB) – Núcleo Regional RN. Essa experiência permitiu, dessa

forma, uma proximidade diária com a temática da inclusão de pessoas com deficiência, dadas

as atividades realizadas no campo de estágio.

Com relação à realidade da Universidade Federal do Rio Grande do Norte – Campus

Central, observam-se dificuldades enfrentadas pelos discentes para a permanência no Ensino

Superior, as quais justificam a necessidade de ações que visem apoiar o acesso, a permanência

e o término da graduação com qualidade por parte desses sujeitos. Essas dificuldades

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apresentam-se manifestadas pela ausência de acessibilidade no Campus, assim como pelas

barreiras atitudinais, principalmente no que diz respeito à relação professor-estudante.

A pesquisa, portanto, como já elucidada em seu objetivo geral, teve como público alvo

os graduandos com deficiência matriculados na UFRN. Nesses aspectos, considerando a

centralidade e a importância da inclusão no Ensino Superior, se faz necessário problematizar a

questão dos estudantes com deficiência física matriculados em cursos de graduação na

modalidade presencial e lotados na UFRN – Campus Central, por considerar que há um

número expressivo de alunos que apresentam essa deficiência matriculados na referida

universidade, bem como a necessidade de compreender a política de inclusão por ela

direcionada a esses sujeitos.

Igualmente, tem sido necessário discutir acerca do trabalho desenvolvido junto à

comunidade acadêmica pela Comissão de Apoio a Estudantes com Necessidades

Educacionais Especiais (CAENE), órgão criado pela UFRN em 2011 que objetiva apoiar e

orientar tanto os estudantes como os profissionais que trabalham na instituição a respeito do

processo de inclusão de discentes com necessidades especiais no que se refere ao ingresso e

permanência na referida universidade, consistindo no setor responsável pela

institucionalização da Política de Acessibilidade.

Segundo o Relatório de Gestão do Exercício de 2017 da CAENE, foram identificados

317 estudantes com necessidades especiais matriculados na universidade. Tendo em vista o

elevado número, optou-se por entrevistar1 uma amostra de três graduandos

2 que apresentam

deficiência física, com o intuito de compreender o processo de acesso e permanência.

Destaca-se que os sujeitos entrevistados tinham, na ocasião da entrevista, uma idade superior

a 18 anos.

Foi realizada, ainda, uma entrevista com uma assistente social da CAENE3,

objetivando apreender as configurações das ações desenvolvidas no âmbito da UFRN com

vistas ao acesso e permanência dos alunos com deficiência matriculados na referida

universidade, assim como a contribuição do Serviço Social no referido processo. A coleta de

dados foi realizada na instituição durante os meses de fevereiro a abril de 2018.

1 A seleção dos entrevistados ocorreu a partir de um convite enviado por meio do sistema informacional da

CAENE, ocasião essa em que os estudantes puderam demonstrar o interesse em participar da referida pesquisa. 2 Os entrevistados não serão identificados em virtude de questões éticas da pesquisa, aparecendo no decorrer do

estudo como Entrevistado 1, Entrevistada 2 e Entrevistada 3.

Perfil dos entrevistados (idade/ ano de ingresso/ curso/ semestre):

Entrevistado 1 – 30 anos/ 2015/ Geografia/ 7º

Entrevistada 2 – 24 anos/ 2014/ Publicidade/ 8º

Entrevistada 3 – 24 anos/ 2013/ Ciências e Tecnologia/ 10º 3 Assistente Social que atua na CAENE desde 2011.

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Acerca do número amostral da pesquisa, destaca-se a realização de uma pesquisa

qualitativa, em que os significados, crenças, motivações e valores foram considerados em sua

totalidade, questões essas que não podem se reduzir à operacionalização de variáveis, posto

que tais questões não são trabalhadas “objetivamente” através de equações e estatísticas. A

escolha do método qualitativo foi realizada sem, no entanto, desconsiderar a

complementaridade dos dados quantitativos e qualitativos no decorrer de uma pesquisa, uma

vez que compreende-se que eles interagem entre si (MINAYO, 1996).

A opção teórico-metodológica deste estudo prima pelo materialismo histórico

dialético. A escolha desse método se deu em virtude da compreensão de que ele possibilita,

por meio do movimento de construção e reconstrução do real, aproximações sucessivas com o

objeto pesquisado e a sua essência estrutural. Dessa forma, o método dialético se constrói a

partir de uma perspectiva crítica por tomar a realidade da forma em que ela se apresenta à

primeira vista e proceder à sua análise a partir de variadas dimensões, isto é, em sua

complexidade.

Com base no exposto, o caminho de cunho qualitativo para apreender o movimento do

nosso objeto fez uso de fontes bibliográficas e documentais, com o objetivo de embasar as

categorias teóricas que balizam este estudo, a saber: “inclusão”, “pessoa com deficiência”,

“acesso e permanência” e “ensino superior”. Essas categorias, portanto, nortearam

teoricamente os caminhos percorridos, visando alcançar os objetivos propostos.

Além disso, utilizou-se de entrevista semiestruturada, a qual consistiu em questões

semiabertas que foram aplicadas com os entrevistados (Apêndices A e B). A escolha por esse

recurso se justifica pela possibilidade da criação de diálogos entre o pesquisador e os

entrevistados, permitindo dessa forma que o entrevistado utilize-se do seu campo reflexivo,

não limitando a sua resposta a uma pergunta fechada. As entrevistas foram gravadas e

transcritas, a fim de assegurar a melhor transmissão dos dados coletados.

Referente à análise, optou-se pela análise de conteúdo, pois apresenta-se como uma

técnica de estudo das comunicações que possibilita realizar uma análise a partir do que foi

exposto pelo sujeito entrevistado. Para este estudo, esta etapa de análise contemplou o

explicitado por Bardin (1977), que define como etapas da análise de conteúdo: “a pré-análise,

a exploração do material, o tratamento dos resultados, a inferência e a interpretação.”

(BARDIN, 1977 apud PRATES, 2003, p. 139).

Para o Serviço Social a referida temática possui grande relevância, uma vez que busca

trabalhar a garantia do direito e a democratização do ensino para todos, independentemente

das diferenças dos sujeitos. Além disso, consiste em uma temática ainda pouco discutida,

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havendo poucas publicações acerca da inclusão de pessoas com deficiência oriundas do

Serviço Social, o que permite evidenciar a importância de novas investigações que envolvam,

em caráter interdisciplinar, o debate acerca da inclusão da pessoa com deficiência no Ensino

Superior.

Através dos caminhos percorridos por este estudo, foram obtidos alguns resultados, os

quais estão apresentados no decorrer do trabalho, que está estruturado da seguinte maneira: o

primeiro capítulo diz respeito à introdução do estudo, apresentando inicialmente a discussão a

ser realizada, assim como a sua estrutura.

O segundo capítulo traz um resgate histórico da construção social da deficiência,

levando em consideração o percurso histórico relativo à educação das pessoas com

deficiência. Logo após prossegue-se para uma discussão das legislações direcionadas às

pessoas com deficiência e para um resgate histórico e crítico das nomenclaturas utilizadas no

decorrer dos anos para referir-se às pessoas com deficiência. O capítulo é finalizado com um

resgate acerca do percurso da educação superior no Brasil, bem como da inclusão das pessoas

com deficiência nesse nível de ensino no País. Em virtude do panorama situado, o terceiro e

último capítulo buscou trazer uma análise das questões relativas ao acesso e permanência de

pessoas com deficiência física na UFRN.

Salienta-se que este estudo foi submetido e aprovado pelo Comitê de Ética em

Pesquisa do Hospital Universitário Onofre Lopes (CEP/HUOL), conforme consta no parecer

emitido pelo referido órgão (Anexo A). Dessa maneira, este trabalho, ao longo de sua

realização, prezou primordialmente pelos cuidados éticos.

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2 UM POUCO DE HISTÓRIA: A CONSTRUÇÃO SOCIAL DA DEFICIÊNCIA

Para compreender a construção social da deficiência é imprescindível conhecer a

respeito do processo histórico das pessoas com deficiência, ou seja, as concepções existentes

nas diferentes épocas - Antiguidade à Contemporaneidade -, posto que tais concepções, em

cada período, direcionam as ações de instituições, do poder público e dos sujeitos presentes na

sociedade. Portanto, analisar como as pessoas com deficiência foram percebidas e tratadas ao

longo da história da humanidade, visando entender o curso das práticas sociais atuais, é de

suma importância, haja vista que essas práticas acompanham as mudanças existentes acerca

dos valores e visões em torno da questão.

Dessa forma, a finalidade deste capítulo é expor o percurso histórico relativo à

educação das pessoas com deficiência, resgatando os conceitos atribuídos ao longo do tempo

a esses sujeitos e o seu movimento político.

2.1 Um olhar histórico sobre as pessoas com deficiência: da Antiguidade à

Contemporaneidade

Desde o mundo primitivo até a época atual sempre existiram na história pessoas que

nasceram com algum tipo de limitação, seja ela de ordem física, sensorial ou cognitiva. Esses

sujeitos por muito tempo foram ignorados e tratados com rejeição, não tendo inicialmente

nenhum direito assegurado. As conquistas relacionadas à garantia de direitos no que se refere

às pessoas com deficiência ocorreram de forma gradativa ao longo dos diferentes períodos

históricos – Antiguidade, Idade Média, Idade Moderna e Contemporânea –, sendo possível

perceber as diferentes concepções de deficiência existentes nesse lastro temporal.

Na Antiguidade, especificamente na Grécia Antiga (4.000 a.C. - 476 d.C.),

predominava-se o pensamento mítico-religioso, isto é, as explicações utilizavam-se de

variáveis significativas de caráter sobrenatural, sendo o destino regido pela força dos deuses e

dos espíritos. Devido ao receio da população em relação à defesa militar e à obtenção de

sustento para a manutenção da vida, havia uma grande preocupação dos gregos em garantir as

habilidades físicas e intelectuais dos homens, de maneira que aqueles que não conseguiam

produzir eram considerados uma ameaça para o seu povo (CARVALHO, 2005). Conforme

aponta Carvalho-Freitas (2007, p. 40), para os gregos, “um corpo disforme ou sem as funções

que garantiriam o vigor e a força pouco contribuiria para a agricultura ou para a guerra”.

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Perante a ausência de potencial produtivo por parte das pessoas com deficiência,

ameaçando assim a sobrevivência de sua comunidade, os gregos e romanos sacrificavam,

ainda quando recém-nascidos, os bebês que eram vistos como fracos ou “defeituosos”. Dessa

maneira, eram comuns práticas como jogar ao mar ou em precipícios crianças e pessoas que

ao longo da vida adquiriram alguma deficiência, bem como abandoná-las em lugares sagrados

ou à beira de estradas (SILVA, 2009).

Ainda segundo Silva (2009), quanto à legalidade de tais ações, o patriarca da família

possuía o direito, ordenado pela Lei das Tábuas (450 – 449 a.C.), de exterminar seu

descendente em decorrência de alguma deformidade, com a condição de primeiramente exibir

a criança a cinco vizinhos para que estes pudessem constatar a anomalia ou a mutilação. Tal

prática, nos dias de hoje, apresenta-se como desumana; contudo é necessário compreender a

realidade histórica e social do momento, período em que os indivíduos deveriam guerrear para

garantir a sobrevivência dos seus iguais.

Com vistas a compreender como se dava a educação na Grécia Antiga, Carvalho

(2005) destaca que naquele lapso temporal a educação era direcionada aos homens que não se

ocupavam com questões relativas à sobrevivência. Em outras palavras, apenas os homens

livres tinham acesso à educação, estando os guerreiros e escravos excluídos desse processo.

Nessa perspectiva, as pessoas com deficiência eram também excluídas do processo

educacional.

Tratando-se da Idade Média (476 d.C. – 1453 d.C.), sabe-se que esse período foi

circunscrito por débeis condições de vida dos indivíduos, havendo também na sociedade o fim

do pensamento mítico outrora existente na Antiguidade e uma grande influência do

Cristianismo, que tinha como alguns de seus princípios fundantes a caridade e o amor ao

próximo.

Nesse momento histórico, as pessoas com deficiência passam a ser alvo de “caridade”

por parte dos cristãos, que tinham as “boas ações” destinadas a esse público como um modo

de expor a sua bondade pelo próximo. Nesse período, os “bons cristãos” passaram a isolar, ou

seja, segregar esses sujeitos em instituições destituídas de cunho profissional, como asilos,

hospícios, conventos e igrejas, sob a justificativa de estar protegendo-os (CARVALHO-

FREITAS, 2007).

Ao mesmo tempo em que os cristãos visualizam as pessoas com deficiência como

“instrumentos de Deus”, e o seu trabalho com elas como “eleição divina”, essas eram também

entendidas como “danação de Deus” ou sob a perspectiva da “possessão diabólica”, tendo

sido durante o período da Inquisição, por vezes, torturadas e queimadas, quando identificadas

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como uma “encarnação do mal” (CARVALHO-FREITAS, 2007; PESSOTTI, 1984). Martins

(2011) expõe ainda que aqueles sujeitos que não eram segregados nos asilos, hospícios,

conventos e igrejas, serviam de divertimento, assim como na Antiguidade, nos palácios,

circos e espaços públicos, sendo uma fonte de renda para aqueles que detinham a sua posse.

Tratando-se do processo educacional na Idade Média, vale salientar que a Igreja

aparece como a única e quase exclusiva instituição responsável pela educação e pela cultura.

Nesse período há o surgimento dos mosteiros e universidades, contudo o acesso à educação

era limitado, sendo ao clero e à nobreza destinado o ensino das línguas clássicas e da lógica, e

aos pobres o ensino dos ofícios, os quais eram aprendidos através da tradição oral, visto que

esses indivíduos não tinham acesso ao mundo letrado e culto (CARVALHO, 2005;

MARCONDES, 2002). A despeito dos ideais cristãos de amor ao próximo, a segregação das

pessoas com deficiência e dos pobres era admitida com naturalidade.

A história da Educação Especial ou das pessoas com necessidades especiais, da

Antigüidade até a Idade Média, mostra que o extermínio, a discriminação e o

preconceito marcaram profundamente a vida dessas pessoas que, quando

sobreviviam, não tinham outra alternativa senão a vida à margem da sociedade.

Mesmo que isso acontecesse sob o véu do abrigo e da caridade, a exclusão era o

caminho naturalmente praticado naquela época. (CORRÊA, 2010, p. 16).

Na Idade Moderna (1453 d.C. – 1789 d.C.) tem-se um avanço em relação à

Antiguidade e à Idade Média, posto que as pessoas com deficiência que antes viviam à

margem da sociedade, com os novos avanços científicos, especificamente o desenvolvimento

da medicina, passam a ser visualizadas como pessoas que possuíam uma doença que

necessitava ser tratada (PESSOTTI, 1984). Através desse novo olhar direcionado para as

pessoas com deficiência há o surgimento de variadas instituições voltadas para o atendimento

desses sujeitos, como abrigos e hospitais, conforme assinala Maranhão (2005).

No tocante à educação, registra-se um significativo avanço quando comparada aos

períodos sucedidos, pois é na Idade Moderna que tem-se o início do ensino e a fundação da

primeira escola para surdos, bem como da primeira escola para deficientes visuais, emergindo

também a contribuição de médicos e educadores em torno dos estudos relativos à deficiência

e o desenvolvimento de métodos de comunicação para pessoas surdas (CORRÊA, 2010).

Charles-Michel de l’Épée (1712-1789) foi o fundador da primeira escola voltada para

o ensino de surdos na França e o criador do método de sinais. Influenciados por Épée, Samuel

Hernecke (1729-1790) e Thomas Braidwood (1715-1806) fundaram institutos para a

educação de “surdos-mudos” nos países em que viviam (Alemanha e Inglaterra,

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respectivamente). Opondo-se ao método de sinais criado por Épée, Hernecke instituiu o

método oral, que, a partir do movimento dos lábios, a chamada “leitura labial”, ensinava os

“surdos-mudos” a ler e a falar (CORRÊA, 2010).

Ainda segundo a autora, no que diz respeito aos métodos direcionados às pessoas

cegas, Valetin Haüy foi o fundador da primeira escola de educação de pessoas cegas,

intitulada “Institut National des Jeunes Aveugles”, tendo também desenvolvido um método de

ensino para cegos a partir da utilização de letras em alto relevo. Como uma aprimoração dessa

técnica, Louis Braille4 (1809-1852) cria, em 1825, um método de leitura e escrita através de

um sistema de pontos em relevo que poderia ser lido e reproduzido com simplicidade pelos

cegos.

Mendes (2006) destaca que as instituições especializadas nas pessoas com deficiência

emergem e ganham maior visibilidade na Europa após a I e II Guerra Mundial, posto que, em

decorrência das batalhas, diversos sujeitos retornaram com mutilações e outras condições de

excepcionalidade. Conforme aponta Carvalho-Freitas (2007), o capital financeiro e a posição

social dos ex-combatentes justificaram o surgimento dessas instituições cujo objetivo

consistia em reabilitar esses sujeitos a fim de reintegrá-los ao mercado de trabalho.

Foi denominado “era da integração” esse momento em que tem-se uma preocupação

de reintegrar socialmente esses sujeitos após ser reabilitados, de maneira que há, no Ocidente,

nas décadas de 1960 e 1970, a busca pela “integração” da pessoa com deficiência, tanto no

que diz respeito à inserção no ensino regular quanto no mercado de trabalho, com o propósito

de adaptar o sujeito com deficiência às necessidades postas pela sociedade (SANTOS, 1995;

SASSAKI, 1999).

A perspectiva da integração social surge com o objetivo de romper com as práticas da

exclusão social, concretizando-se através da inserção parcial e condicional do sujeito, ao

passo em que integra socialmente aqueles considerados aptos, tendo o indivíduo, portanto,

que adaptar-se ao meio social, e não o inverso (SASSAKI, 2005). Dessa maneira, não é

imposta a necessidade de mudanças na estrutura social existente, diferentemente da chamada

“era da inclusão”, que irá emergir na atualidade.

No que diz respeito à educação direcionada às pessoas com deficiência no Brasil, tem-

se ao fim do século XIX – Idade Contemporânea (de 1789 até os dias atuais) – barreiras que

dificultavam a sua execução, tais como o alto índice de analfabetismo e a pequena quantidade

4 Louis Braille nasceu no dia 4 de janeiro de 1809 em Coupvray, na França, e foi o criador do sistema de leitura

para cegos que recebeu seu nome. Ainda na infância, Braille, em decorrência de uma infecção, perdeu totalmente

a visão. O seu interesse pela criação de um método eficiente de leitura para cegos surgiu após conhecer um

sistema de comunicação chamado de escrita noturna, o qual não considerava eficaz.

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de escolas existentes no País naquele período. Contudo, Corrêa (2010) destaca que é ainda no

fim do século XIX que surgem as primeiras organizações de serviços direcionados às pessoas

com deficiência, as quais tiveram inspiração em experiências implantadas na Europa e nos

Estados Unidos.

Com relação às instituições voltadas ao atendimento às pessoas com deficiência física,

as primeiras iniciativas brasileiras datam entre 1931 e 1932, a partir do surgimento de uma

classe especial na Santa Casa de Misericórdia, localizada na cidade de São Paulo. Nos anos

posteriores foram criadas outras classes especiais, tendo ao final de 1982 o montante de dez

dessas classes. Elas desenvolviam uma programação de atendimento individualizado aos

alunos que eram pacientes do hospital, configurando-se na modalidade ensino-hospitalar

(MAZZOTTA, 2001).

Ainda direcionada aos deficientes físicos, Maria Hecilda Campos Salgado5 funda em

1943, na cidade de São Paulo, o Lar Escola São Francisco, instituição especializada na

reabilitação de deficientes físicos que surgiu com o objetivo tanto de dar um lar para aquelas

crianças que nunca haviam tido como também uma escola, com o intuito de abrir um caminho

para serem cidadãos úteis e independentes, visto que Maria Hecilda constatou que diversas

crianças, após receberem alta da Santa Casa de Misericórdia, abandonavam o tratamento, pois

algumas iam morar nas ruas, já que não possuíam famílias, e os que possuíam, devido aos

onerosos custos do tratamento, não tinham condições de dar continuidade (MAZZOTTA,

2001).

Apesar da valorização da pessoa com deficiência na Idade Contemporânea, Maranhão

(2005) aponta que, em virtude da ausência de oportunidades de emprego, práticas como furtos

eram comuns entre os sujeitos com deficiência, numa tentativa de garantir sua sobrevivência.

De acordo com Kassar (1999, p. 4), “aparece uma extensa população de pobres, mendigos e

pessoas com deficiência, que se reuniam para mendigar”, colocando em pauta a necessidade

de adoção de estratégias para o enfrentamento da pobreza.

Em 14 de setembro de 1950 surge, em São Paulo, a Associação de Assistência à

Criança Deficiente (AACD), mantendo um dos mais prestigiosos Centros de Reabilitação do

País. A instituição realizava o atendimento de estudantes de duas escolas estaduais

conveniadas que dispunham de unidades de classes especiais para deficientes físicos

(MAZZOTTA, 2001). Desde 2012, o Lar São Francisco foi incorporado à AACD,

beneficiando no aumento da cobertura da instituição no que diz respeito ao atendimento às

5 Maria Hecilda Campos Salgado nasceu em 1899 na cidade de Pindamonhangaba. Foi uma fazendeira e

filantropa, tendo sido a fundadora do Lar Escola São Francisco em 1943.

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pessoas com deficiência. Atualmente, a AACD encontra-se entre os melhores hospitais na

área de ortopedia.

Além do atendimento educacional direcionado aos deficientes físicos, houve, no

Brasil, no período de 1854 a 1956, diversas iniciativas oficiais e particulares isoladas voltadas

ao atendimento de deficientes visuais, auditivos e mentais. Anteriormente a isso, constata-se

que, devido às concepções acerca da deficiência existentes e à falta de acesso às informações,

a maior parte dos sujeitos com deficiência não tinha acesso à escolarização. Em decorrência

da ideia de que as pessoas com deficiência eram “defeituosas” e “inválidas”, por bastante

tempo esses sujeitos foram tratados com omissão pela sociedade em geral, visualizando-se

somente a partir do final do século XIX iniciativas que tinham como objetivo o atendimento

às pessoas com deficiência.

Em face desse panorama exposto anteriormente, pode-se depreender, portanto, que o

tratamento direcionado às pessoas com deficiência foi se alterando ao longo da história da

humanidade, isto é, as práticas sociais foram perpassadas por diversos estágios, dentre os

quais destacam-se o paradigma da integração e o da inclusão, que correspondem a formas

distintas de se perceber a deficiência. Em relação às práticas sociais direcionadas às pessoas

com deficiência, Sassaki (2003, p. 16) aponta:

A sociedade, em todas as culturas, atravessou diversas fases no que se refere às

práticas sociais. Ela começou praticando a exclusão social de pessoas que por causa

das condições atípicas não lhe pareciam pertencer à maioria da população. Em

seguida desenvolveu o atendimento segregado dentro de instituições, passou para a

prática da integração social e recentemente adotou a filosofia da inclusão social para

modificar os sistemas sociais gerais.

Portanto, inicialmente tem-se o paradigma da exclusão, ocasião em que as pessoas

com deficiência eram totalmente negligenciadas. Esse período compreende a época pré-cristã,

imperando, por motivos econômicos e/ou de ordem religiosa, uma rejeição frente às pessoas

com deficiência. O paradigma da institucionalização, por sua vez, emerge na Idade Média,

momento em que a medicina desenvolve a concepção de que esses sujeitos possuíam uma

patologia. Nessa fase, inicia-se, sob uma ótica caritativa, a execução de ações de proteção e

cuidado.

No tocante ao paradigma da integração, observa-se sua emergência em meados do ano

de 1970, a partir do surgimento das classes especiais educacionais dirigidas às pessoas com

deficiência. Tais iniciativas, porém, acabavam por segregar esses sujeitos, uma vez que os

isolavam dos demais indivíduos considerados “normais”.

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Por fim, o paradigma da inclusão é aquele que surge recentemente e tem como

prerrogativa a inclusão de pessoas com deficiência nos espaços sociais, havendo, para isso,

uma adequação nos sistemas sociais presentes na sociedade, objetivando extinguir os

elementos existentes nesses espaços que mantêm afastados ou retiram os sujeitos do meio

social. Essas barreiras podem ser atitudinais, arquitetônicas, culturais, tecnológicas, nos

transportes, como também aquelas presentes na própria mentalidade das pessoas. Sassaki

(2005) aponta que essa eliminação ocorre de maneira gradativa e contínua, e que para sua

efetivação é indispensável a participação direta tanto da sociedade em geral quanto do sujeito

que se via retirado ou afastado do espaço social.

Corroborando com o conceito de inclusão trazido por Sassaki (2005), Werneck (1997)

reconhece que a inclusão surge com o objetivo de quebrar as barreiras existentes em torno dos

grupos estigmatizados, a fim de fazer com que todos exerçam o direito de participar de forma

efetiva da sociedade. Nessa perspectiva, a sociedade inclusiva tem um compromisso não

apenas com as pessoas com deficiência, mas com a inserção total e incondicional dos sujeitos,

sejam eles homo afetivos, idosos, imigrantes, negros, índios etc., salientando a relevância da

participação direta da população na vida social e da luta pela garantia dos direitos individuais

e coletivos (MORENO, 2009).

Dessa forma, faz-se fundamental haver modificações nas estruturas sociais que

possibilitem receber esses indivíduos, pois a partir do momento em que os sistemas sociais

adotam a prática inclusiva, se constrói gradativamente uma sociedade inclusiva, a qual

garante espaços para todas as pessoas, valorizando-as nas suas diversidades. Atualmente

visualiza-se uma mudança de consciência da sociedade frente a esses grupos populacionais,

havendo um progresso em relação à temática referente à cidadania e direitos humanos,

fazendo com que haja um novo olhar para as pessoas com deficiência. Tal avanço é percebido

mesmo frente às dificuldades enfrentadas por esses sujeitos em suas vivências diárias.

A perspectiva da educação inclusiva possibilita a criação de diversos métodos

destinados a auxiliar na evolução do desenvolvimento escolar das pessoas com deficiência.

Inicialmente, por imaginar-se que esses indivíduos não eram capazes de aprenderem em sala

de aula, foram separados das escolas regulares e barrados de desenvolver-se intelectualmente

assim como os outros sujeitos. É a partir de um movimento criado pelos familiares e de um

grupo em defesa dos direitos humanos que tem-se a emergência de ações com base na

educação inclusiva, além de diversas outras conquistas das pessoas com deficiência em

diferentes áreas.

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2.2 Aspectos relativos às legislações direcionadas às pessoas com deficiência

O percurso empreendido pelas pessoas com deficiência para o seu reconhecimento

enquanto sujeitos de direitos foi bastante laborioso, e apesar de atualmente terem seus direitos

de cidadãos garantidos, ainda luta-se para tornar absoluto o acesso à educação, à saúde, à

segurança e ao emprego para esses sujeitos. Nessa perspectiva, ressaltam-se nesse processo

alguns marcos significativos no que corresponde às conquistas voltadas às pessoas com

deficiência.

Um desses marcos consiste no surgimento da Declaração Universal dos Direitos

Humanos em 1948, adotada pela Organização das Nações Unidas (ONU) e uma referência

ética que determina os direitos de todos os seres humanos. Em seus artigos, a referida

declaração preconiza:

Artigo VII – Todos são iguais perante a lei e têm direito, sem qualquer distinção, a

igual proteção da lei. Todos têm direito a igual proteção contra qualquer

discriminação que viole a presente Declaração e contra qualquer incitamento a tal

discriminação.

Artigo XXVI – Todo ser humano tem direito à instrução. A instrução será gratuita,

pelo menos nos graus elementares e fundamentais. A instrução elementar será

obrigatória. A instrução técnico-profissional será acessível a todos, bem como a

instrução superior, esta baseada no mérito. (DECLARAÇÃO UNIVERSAL DOS

DIREITOS HUMANOS, 1948, p. 7, 14).

Portanto, a Declaração Universal dos Direitos Humanos consistiu em um dos marcos

no que se refere à equiparação dos variados sujeitos, visto que declara que os seres humanos

são idênticos em relação à sua dignidade e direito, não havendo distinção alguma,

independentemente de sua cultura, religião, condição física ou financeira. Ademais, em

relação à educação, também é disposto acerca do direito ao acesso gratuito, ao menos durante

o ensino básico, a todos os cidadãos. Desse modo, a partir da promulgação dessa Declaração,

as pessoas com deficiência não deveriam mais ser vistas com distinção, sendo,

consequentemente, reconhecidas como sujeitos de direitos, e passando, portanto, a possuir,

dentre outros, o direito à educação, assim como os demais indivíduos da sociedade.

A Convenção sobre os Direitos das Crianças, realizada em 1989, também possuiu

grande relevância nesse processo, uma vez que estimulou a sociedade a pensar o sujeito com

deficiência como ser social, posto que reconhece que as crianças “portadoras de deficiências

físicas ou mentais” devem usufruir de uma vida plena, dispondo de condições para que a sua

dignidade, autonomia e participação ativa na comunidade sejam garantidas (BRASIL, 1990).

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Outro marco consistiu na Declaração de Salamanca, elaborada na Conferência

Mundial sobre Necessidades Educativas Especiais, realizada em Salamanca, na Espanha, em

1994. Dessa conferência participaram 92 países e 25 organizações internacionais, tendo sido,

na ocasião, ratificado o comprometimento dos países participantes com uma educação

direcionada para todos e assegurado o acesso das crianças, jovens e adultos com necessidades

educativas especiais ao sistema regular de educação vigente.

Ferreira (2016) aponta que, em meados dos anos de 1980, se intensificaram, tanto no

mundo quanto no Brasil, lutas populares que reivindicavam a garantia de direitos plenos a

todos os cidadãos. Segundo a autora, essas lutas populares fizeram surgir a intitulada

“Constituição Cidadã” de 1988, a qual preconiza em seus artigos iniciais o dever do Estado

brasileiro em promover a dignidade da pessoa humana – abarcando, assim, a garantia na

promoção da dignidade da pessoa com deficiência –, assim como garantir o exercício de sua

cidadania, visando a redução das desigualdades sociais e a eliminação de quaisquer

preconceitos:

Art. 1º A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel dos

Estados e Municípios e do Distrito Federal, constitui-se em Estado Democrático de

Direito e tem como fundamentos:

I - a soberania;

II - a cidadania;

II - a dignidade da pessoa humana;

IV - os valores sociais do trabalho e da livre iniciativa;

V - o pluralismo político.

Art. 3º Constituem objetivos fundamentais da República Federativa do Brasil:

I- construir uma sociedade livre, justa e solidária;

II - garantir o desenvolvimento nacional;

III - erradicar a pobreza e a marginalização e reduzir as desigualdades sociais e

regionais;

IV - promover o bem de todos, sem preconceito de origem, raça, sexo, cor, idade e

quaisquer outras formas de discriminação. (BRASIL, 1988).

A Constituição de 1988, no que tange aos Direitos e Garantias Fundamentais, garante

ainda o direito à igualdade sem que haja distinções entre os sujeitos, assim como o acesso

igualitário à saúde, à alimentação, ao trabalho, à moradia, ao transporte, ao lazer, à segurança,

à previdência social, à proteção à maternidade e à infância e à assistência.

Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza,

garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade

do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade.

Art. 6º São direitos sociais a educação, a saúde, a alimentação, o trabalho, a moradia,

o transporte, o lazer, a segurança, a previdência social, a proteção à maternidade e à

infância, a assistência aos desamparados, na forma desta Constituição. (BRASIL,

1988).

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Concernente à educação, a Constituição a entende como direito de todos e dever do

Estado e da família, com vistas ao pleno desenvolvimento do sujeito, assim como seu preparo

para o exercício da cidadania e qualificação profissional. É através da Lei nº 9.394/1996, a

chamada Lei de Diretrizes e Bases Nacionais (LDBN), que tem-se a implantação da educação

inclusiva nos sistemas educacionais brasileiros, abarcando da Educação Básica à Educação

Superior.

O Brasil conta com um extenso aparato legislativo pós-Constituição que abarca as

pessoas com deficiência, a saber: a Convenção Internacional sobre os Direitos das Pessoas

com Deficiência e seu Protocolo Facultativo (ONU, Nova York, 30 de março de 2007,

promulgados no Brasil pelo Decreto nº 6.949, de 25 agosto de 2009), a qual consiste em um

documento que afirma o valor de cada sujeito para além de sua funcionalidade, assim como

expõe as linhas de ação que possibilitam que os países participantes atinjam o propósito de

todas as pessoas alcançarem seu potencial; a Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa com

Deficiência (Lei nº 13.146, de 6 de julho de 2015), mais conhecida como Estatuto da Pessoa

com Deficiência, assim como diversos decretos, convenções, programas e planos dirigidos a

esse público.

A Convenção e a legislação supracitadas conceituam pessoas com deficiência como

“aquelas que têm impedimento de longo prazo de natureza física, mental, intelectual ou

sensorial, os quais, em interação com diversas barreiras, podem obstruir sua participação

plena e efetiva na sociedade em igualdades de condições com as demais pessoas.” (BRASIL,

2009).

De acordo com o Censo Demográfico de 2010, realizado pelo Instituto Brasileiro de

Geografia e Estatística (IBGE), naquele mesmo ano o País possuía 45.606.048 de brasileiros,

23,9% da população total, detentores de pelo menos algum tipo de deficiência dentre aquelas

investigadas pela pesquisa (auditiva, visual, motora, mental ou intelectual), sendo 8,3% da

população brasileira possuidora de deficiência severa. Desse quantitativo, 25.800.681 são

mulheres e 19.805.367 são homens, vivendo 38.473.702 em áreas urbanas e 7.132.347 em

áreas rurais. No que diz respeito à prevalência das deficiências (Gráfico 1), se verificou que a

deficiência visual apresentou a maior ocorrência, afetando 18,6% da população brasileira. Em

segundo lugar está a deficiência motora, ocorrendo em 7% da população, seguida da

deficiência auditiva (5,10%) e da deficiência mental ou intelectual (1,40%).

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Gráfico 1 – Prevalência das deficiências no Brasil no ano de 2010

Fonte: IBGE (2010).

Outro dado importante trazido pelo Censo Demográfico de 2010 diz respeito à

incidência de pessoas com deficiência entre os estados e regiões brasileiras. Tal dado é de

grande relevância, posto que cada local dispõe de condições de vida diferenciadas para os

seus habitantes. De acordo com o Censo (2010), a região Nordeste possui a maior prevalência

(26,63%) de pessoas com pelo menos uma das deficiências. As menores incidências foram

visualizadas nas regiões Sul (22,5%) e Centro Oeste (22,51%).

Gráfico 2 – Proporção da população com pelo menos uma das deficiências

investigadas por grandes Regiões do Brasil/2010

Fonte: IBGE (2010).

No que diz respeito ao quantitativo por estados brasileiros, a maior incidência ocorreu

no estado do Rio Grande do Norte (27,76%), seguido da Paraíba (27,58%), apresentando

esses dois estados um quantitativo acima da média nacional posta (23,9%). As menores

incidências estiveram presentes no Distrito Federal e em São Paulo, com 22,3% e 22,6%

respectivamente.

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Tais dados nos levam a refletir que o Brasil possui um alto quantitativo de pessoas

com deficiência, demandando, portanto, políticas direcionadas a esse público. Como

demonstrado inicialmente, o País conta com um grande aparato legislativo que visa abarcar os

direitos garantidos pelas pessoas com deficiência. Contudo, ainda existem diversos obstáculos

práticos que impedem a efetivação plena desses direitos. A ausência de tais garantias não é

resultado, desse modo, da inexistência de políticas.

É uma realidade, por exemplo, a dificuldade ao acesso à educação inclusiva por parte

das pessoas com deficiência, visto que, apesar de ser um direito constituído em lei,

permanecem visíveis as dificuldades de acesso e permanência desses sujeitos nos espaços

educacionais, tanto no que se refere à Educação Básica quanto ao Ensino Superior,

resultando, dessa forma, em uma barreira para a participação plena das pessoas com

deficiência na sociedade.

Além dos diversos direitos conquistados pelas pessoas com deficiências, é de grande

importância destacar que as terminologias utilizadas para se referir a esses sujeitos

consistiram também em um direito conquistado, tendo sido há cerca de oito anos aprovada a

nomenclatura “pessoa com deficiência”, a qual valoriza o sujeito para além de sua condição.

As terminologias utilizadas ao longo dos anos para referir-se às pessoas com

deficiência seguem as práticas sociais em evidência no período histórico, sofrendo diversas

alterações em decorrência das transformações existentes em torno do reconhecimento das

pessoas com deficiência como sujeitos de direitos ao longo dos anos, assim como, mais

recentemente, a terminologia que as próprias pessoas com deficiência reconheceram ser

adequada para a elas se dirigir. Sassaki (2003) discute, em seu artigo intitulado “Como

chamar as pessoas que têm deficiência?”, questões relativas à trajetória dos termos utilizados.

O questionamento utilizado como título, segundo ele, esteve presente em diversas épocas e

localidades, sendo ainda comum em pleno século XXI devido à falta de conhecimento por

parte de diversos segmentos da sociedade acerca da terminologia a ser utilizada, embora

exista uma maior disseminação de informações.

Inicialmente, Sassaki (2003) destaca que jamais existiu uma nomenclatura correta para

referir-se às pessoas com deficiência, visto que, como citado anteriormente, os termos

utilizados foram sendo modificados de acordo com os valores vigentes em cada sociedade. O

autor, em seu artigo, historiciza o processo de evolução dos conceitos utilizados no Brasil ao

longo dos anos para dirigir-se às pessoas com deficiência, e é a esse processo que nos

deteremos brevemente a seguir.

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Do século XX até meados de 1960, inicialmente eram utilizados os termos

“incapacitados” ou “incapazes”, ou seja, “indivíduos sem capacidade”, para referir-se às

pessoas com deficiência. Tal terminologia evoluiu ao longo do tempo, passando a significar

“indivíduo com capacidade residual”, o que foi um avanço, segundo o autor, uma vez que

considerava que o sujeito poderia ter capacidades, mesmo que estas fossem reduzidas.

De meados de 1960 a 1980, as pessoas com deficiência eram tratadas como “as

defeituosas”, “as excepcionais” e “as deficientes”. Para Sassaki (2003), as terminologias ora

apresentadas tinham como centro a deficiência em si, não evidenciando aspectos referentes às

limitações ocasionadas a esses sujeitos em decorrência da deficiência apresentada. A partir de

1981, após pressão das organizações das pessoas com deficiência, passou-se a utilizar

“pessoas deficientes”. A utilização do substantivo “pessoa” foi considerada um marco no que

diz respeito à garantia de direitos e dignidade das pessoas com deficiência.

Aproximadamente em 1988 foi-se empregado “pessoas portadoras de deficiência”,

sendo esse termo inserido na Constituição Federal, nas leis e nas políticas direcionadas às

pessoas com deficiência. A utilização do termo “portador” reforçava a segregação e a

exclusão do sujeito, uma vez que, ao referir-se a algo que o sujeito portava, acabava por

expressar que seria uma circunstância da qual a pessoa pudesse desprender-se, aludindo,

assim, a uma situação temporária, fato que não corresponde à realidade, visto que, na grande

maioria das vezes, a deficiência é uma condição permanente na vida do sujeito, não sendo,

portanto, apropriada a utilização da referida terminologia.

Nas últimas duas décadas, inicialmente houve a adoção do termo “pessoas com

necessidades especiais” para referir-se tanto às pessoas com deficiência quanto àquelas que

apresentavam dificuldades de aprendizagem, isto é, pessoas que necessitavam de um auxílio

para aprender. Nesse mesmo período surgiram as expressões “alunos especiais”, “pessoas

especiais” e “crianças especiais”, como uma forma de reduzir a expressão utilizada

inicialmente.

Sassaki (1999) pontua que a terminologia “necessidades especiais” possui um

significado mais amplo do que se imagina, não devendo ser utilizada como um sinônimo para

o termo “deficiência”. Ela abarca os sujeitos que possuem deficiências mental, física,

auditiva, visual e múltipla; autismo; dificuldade de aprendizagem; insuficiências orgânicas;

superdotação; problemas de conduta; distúrbio de déficit de atenção com hiperatividade;

distúrbio obsessivo compulsivo; distúrbios emocionais; e transtornos mentais. Em virtude

dessa vasta gama, o seu uso deve ser cuidadoso, sob o risco de se recair na possibilidade de

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ocorrer uma exclusão simbólica e de direitos, em face da dificuldade de definição daquilo que

seria uma necessidade especial.

É somente aproximadamente a partir de 1994 que os termos “pessoas com deficiência”

e “pessoa com deficiência” passam a ser utilizados. O termo surgiu a partir do texto da

Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência, em 13 de dezembro de 2006,

fixado no Brasil pela Portaria nº 2.344, de 3 de novembro de 2010, que, dentre outras

alterações, define e adota o uso da terminologia adequada, oficializando a expressão “pessoa

com deficiência”. Dentre os tipos de deficiência existentes, identifica-se:

Figura 1 – Tipos de deficiência

Fonte: Elaborada pela autora (2018).

Evidencia-se que a utilização do referido termo valoriza o sujeito independentemente

da sua condição diferenciada – uma vez que não esconde ou camufla a deficiência –, assim

como combate a diluição das diferenças, posto que, ao mesmo tempo em que as pessoas com

deficiência possuem, em termos de direitos e dignidade, igualdade em relação às demais

pessoas, também requerem a equiparação de oportunidades, tendo em vista que as suas

deficiências não devem ser ignoradas.

A entrevistada 3 aponta ter vivenciado uma situação desagradável em relação à

nomenclatura utilizada por um professor para dirigir-se à sua deficiência. Contou que, certa

vez, solicitou a um professor na universidade tempo adicional para a realização de uma

avaliação. No entanto, o docente justificou o tempo adicional como um direito de pessoas

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“menos capacitadas”, fazendo supor, em razão da nomenclatura utilizada, uma menor

capacidade do aluno em relação aos demais:

“Ele falou que era direito de pessoas que não eram capacitadas e isso foi um pouco

ofensivo… Eu acho que ele tentou usar outra palavra, porque as pessoas têm

dificuldade de usar a palavra ‘deficiente’ ou ‘deficiência’, porque acham que é

pejorativo.” (Entrevistada 3).

No entanto, a Entrevistada 3 salienta que pode ter havido uma confusão em relação ao

termo escolhido pelo professor para a ela se referir, em virtude da palavra “deficiente” ou

“deficiência” ser vista por algumas pessoas como um termo pejorativo/desagradável ou até

mesmo discriminatório. Conceitos obsoletos e ideias equivocadas são perpetuadas de maneira

constante em nossa sociedade sem que haja advertência, causando dificuldade na utilização de

terminologias corretas para referir-se às pessoas com deficiência.

Apesar das diversas nomenclaturas existentes para referir-se às pessoas com

deficiência – o que acaba por gerar nos indivíduos uma confusão em relação à forma de

dirigir-se a esses sujeitos –, elas são de suma importância, pois a construção de uma sociedade

inclusiva perpassa também pela questão da linguagem, isto é, pelas formas de se expressar

dos sujeitos.

Neste trabalho será utilizada a expressão “pessoa com deficiência”, pois compreende-

se que esse termo, assim como exposto anteriormente, valoriza o sujeito independentemente

da sua condição diferenciada, além de ser atualmente a terminologia adotada no Brasil,

conforme explicitado anteriormente.

Reconhece-se como pessoa com deficiência “aquela que tem impedimento de longo

prazo de natureza física, mental, intelectual ou sensorial, o qual, em interação com uma ou

mais barreiras, pode obstruir sua participação plena e efetiva na sociedade em igualdade de

condições com as demais pessoas” (BRASIL, 2015), conforme preconizado pela Lei nº

13.146, de 6 de julho de 2015, que visa assegurar e promover condições de igualdade,

objetivando a inclusão social e a cidadania.

Já se observa na sociedade contemporânea uma maior preocupação no que diz respeito

à inclusão de pessoas com deficiência, realidade essa acentuada pela existência de legislações

e documentos internacionais que regem sob esse viés. Entretanto, é importante salientar que

essa maior preocupação não significa que o pleno acesso das pessoas com deficiência às

esferas da vida social se constitui como uma realidade concreta, tendo em vista que diversos

fatores culturais, políticos e sociais exercem influência nesse processo.

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No próximo item entenderemos como a inclusão de pessoas com deficiência vem

ocorrendo no Ensino Superior brasileiro, haja vista que, com o desenvolvimento industrial e a

consolidação do sistema capitalista, tem-se como consequência uma sociedade competitiva,

surgindo a obrigatoriedade do ensino e a maximização do número de unidades escolares

existentes. Essa nova requisição traz consigo grupos heterogêneos tanto para as escolas

quanto para as Instituições de Ensino Superior (IES), encontrando-se nessa heterogeneidade

os sujeitos com deficiência, que em sua maioria necessitará de um auxílio durante a trajetória

escolar/acadêmica. Isso posto, passa a haver uma preocupação em torno da educação

direcionada a esses sujeitos.

2.3 O Ensino Superior no Brasil

No que tange às formas de reprodução do ser social, a educação possui uma

importante função social, visto que se constitui como um instrumento de emancipação dos

sujeitos, posto que é através dela que há o desenvolvimento de potencialidades e a

apropriação do saber social. Nessa perspectiva, assim como o trabalho consiste em um

fundamento ontológico para o ser social, a educação assume uma função transformadora, uma

vez que o sujeito se constrói no conjunto das relações, sendo o caráter educativo de grande

importância na sua construção (GRYZYBOWSKI apud FRIGOTTO, 1999; SOUSA JR,

2010).

No entanto, na lógica do capital, em razão de o capital depender diretamente do

processo de alienação – ou seja, de mediações alienantes – para perdurar, é atribuída à

educação uma outra função, a saber:

A de assegurar a reprodução dos contextos sociais, das formas de apreensão do real,

do conjunto de habilidades técnicas, das formas de produção e de socialização do

conhecimento científico que reponham contínua e ampliadamente as desigualdades

entre as classes fundamentais e as condições necessárias à acumulação incessante.

(CFESS, 2013, p. 16).

Portanto, a educação, segundo a ótica dominante, possui uma grande significância

para as dimensões econômicas e sociais, posto que contribui para os processos de distribuição

de renda e para o desenvolvimento tecnológico do País, objetivando habilitar os sujeitos para

servir ao mundo do trabalho. Para Frigotto (1999, p. 26), “trata-se de subordinar a função

social da educação de forma controlada para responder às demandas do capital”. Nessa lógica,

a educação passa a não mais ter a função de desenvolvimento de potencialidades e de

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apropriação do conhecimento por parte dos sujeitos, mas a de atender às demandas do capital

no seu processo de expansão e acumulação ampliada.

Hoje, na sociedade brasileira, o acesso ao Ensino Superior consiste em um dos

caminhos para o crescimento da economia, obtenção de melhores empregos e salários, bem

como para a qualificação dos trabalhadores às novas demandas do mercado. Contudo, o

acesso a esse nível de ensino é restrito a poucos sujeitos sociais, especialmente o acesso ao

ensino superior público e gratuito – em virtude das configurações econômicas e sociais postas

–, estando o ingresso aos outros níveis de ensino público e gratuito mais acessível ao corpo

social, assim como também mais assegurado pelas legislações vigentes no País. A

Constituição Federal de 1988 traz, em seu Capítulo III – Da Educação, da Cultura e do

Desporto:

Art. 208. O dever do Estado com a educação será efetivado mediante a garantia de:

I – educação básica obrigatória e gratuita dos 4 (quatro) aos 17 (dezessete) anos de

idade, assegurada inclusive sua oferta gratuita para todos os que a ela não tiveram

acesso na idade própria;

V – acesso aos níveis mais elevados do ensino, da pesquisa e da criação artística,

segundo a capacidade de cada um. (BRASIL, 1988).

A referida legislação não especifica, portanto, o Ensino Superior como dever a ser

cumprido pelo Estado, posto que aponta apenas o Ensino Fundamental a nível obrigatório e

gratuito, e prevê no que concerne ao Ensino Médio a sua progressiva universalização. O

Ensino Superior, por sua vez, não é citado como um dever a ser efetivado pelo Estado,

apresentando significativa diferenciação em relação aos outro níveis de ensino, sequela do seu

desenvolvimento tardio no Brasil. Nesse contexto, é de fundamental importância apreender

esse percurso de criação do Ensino Superior, com vistas a compreender como foi sendo

configurado esse nível de ensino e como hoje ele está posto para a sociedade brasileira.

A iniciar pelo período do Brasil Colonial, tem-se inicialmente a cristianização dos

nativos e a difusão do catolicismo sob responsabilidade dos jesuítas, religiosos da Igreja

Católica que faziam parte da Companhia de Jesus. Em virtude da maneira subordinada e

dependente em que o Brasil e Portugal se inseriam na lógica capitalista mundial, esses sujeitos

alteraram as suas finalidades educacionais, passando a educar os filhos dos colonos

brasileiros. Nesse contexto, os nativos eram ignorados pela missão educacional da Companhia

de Jesus, tomando o seu lugar os filhos dos grandes proprietários agrários. Nesse momento, a

formação torna-se acessível apenas a uma pequena parcela do estrato social, sendo

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direcionada por uma educação elitista e excludente, marca da educação brasileira por um

longo período (FERREIRA JÚNIOR e BITTAR, 2008).

As primeiras experiências de Ensino Superior no Brasil iniciam-se apenas em 1808,

308 anos após a chegada dos colonizadores, com a vinda da corte portuguesa para o Brasil.

Nesse período foram fundadas as primeiras escolas profissionalizantes no País – as quais

concentravam a sua educação no ensino da medicina, engenharia, Direito, agricultura e artes –

devido à necessidade imediata da profissionalização de pessoal para servir à nova população

que estava chegando de Portugal, em virtude de o Brasil, naquele período, consistir na nova

sede do reino de Portugal (GHIRALDELLI JUNIOR, 2008).

De acordo com Ghiraldelli Júnior (2008), o Ensino Superior no período imperial deu

continuidade à tradição aristocrática excludente já presente no Brasil Colonial. Uma das

novidades em torno da educação durante o período consistiu na estruturação da educação,

garantida pela Constituição de 1824, em três níveis de ensino: primário, secundário e superior.

No entanto, tais disposições não foram cumpridas na época, de maneira que as mudanças

existentes se sustentaram em torno da criação de cursos jurídicos, inexistindo, portanto, a

sistematização do Ensino Médio e Superior e a criação do curso primário completo.

Os exames para o ingresso em cursos de Ensino Superior ocorriam no interior das

escolas secundárias, fato que atestava a educação elitista e excludente do período colonial,

visto que essas escolas eram propriedades de particulares, tendo consequentemente acesso a

esse nível de ensino apenas aqueles sujeitos cujas famílias possuíssem recursos financeiros

para custear os seus estudos (CARNEIRO, 1998).

Portanto, referente às políticas educacionais existentes no Brasil Império, é notório seu

caráter elitista e excludente, sem o rompimento com os mecanismos de exclusão

predominantes, posto que limitava o acesso ao nível superior de ensino pela população que

não possuía condições financeiras, assim como não abria novos cursos, apenas dando

continuidade àqueles já existentes. Logo, em razão do exposto, compreende-se que não houve

a instauração de universidades no decorrer do período Imperial no Brasil, mas sim de cursos

profissionalizantes de nível superior com traços elitistas e funcionais aos interesses

dominantes, em razão do seu surgimento tardio e elitizado (FREIRE, 1993).

No decorrer do período compreendido entre 1808 a 1889, o desenvolvimento do

Ensino Superior acompanhou o vagaroso processo de transformações sociais e econômicas do

País, não alcançando avanços significativos. Em contrapartida, o fim do século XIX na

sociedade brasileira é marcado pelo término do Império e início da República, bem como por

uma considerável urbanização brasileira, em virtude da troca do regime político, da abolição

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da escravatura e do primeiro surto industrial. Para o Ensino Superior considera-se esse

período da Primeira República como de grandes avanços, posto que há a expansão desse nível

de ensino e o surgimento, apesar de tardio, das universidades no Brasil (MOROSINI, 2005).

Sguissardi (2004) aponta esse tardio surgimento das universidades no País, dado que a

primeira universidade brasileira - Universidade do Rio de Janeiro - surgiu apenas em 1920. A

criação das universidades é considerada um avanço para o Ensino Superior na época; contudo,

esse nível de ensino permanecia a ser direcionado pela herança jesuítica, consistindo em uma

educação alienada e sem vinculação com o mundo do trabalho (MOROSINI, 2005).

O período compreendido entre 1945 a 1963 é marcado por um momento de

reivindicações e de tendências modernizantes para o Ensino Superior. Essas reivindicações

aconteceram em virtude das particularidades do Ensino Superior do período, que mantinha

seu caráter elitista, atendendo a uma pequena parcela da população que fazia parte das

camadas privilegiadas detentoras de recursos financeiros. Já as tendências modernizantes se

deram devido ao Ensino Superior ter passado a ser buscado como uma estratégia para

ascensão social, a qual antes era visualizada apenas através do empreendedorismo ou da

reprodução de capital. Com a instauração do regime militar em 1964, ocorre uma reforma

universitária objetivando a formação de uma força de trabalho que possuísse nível superior,

intentando com isso tornar sólido o projeto de desenvolvimento do País, e cooperando, assim,

com os interesses da burguesia (MOROSINI, 2005).

Apreende-se, portanto, que do período colonial à ditadura as políticas e reformas que

emergiram tiveram como foco os interesses da elite brasileira. Somente no século XX tem-se

uma parcial modificação na predominância do público ingressante, destinando-se também à

massa e não mais exclusivamente à elite.

Essa modificação na predominância do público ingressante passa a ocorrer também

em virtude do repasse dos gastos sociais para o setor privado, resultando em uma

mercantilização de serviços que eram para ser ofertados pelo Estado, a partir de um discurso

ideológico da ausência de possibilidades do Estado em custear tais despesas (ALVES, 2011).

Dessa maneira, a partir do momento em que se tem uma privatização da educação, há a

expansão das instituições de ensino, e consequentemente um maior acesso por parte da massa

da população, uma vez que irá depender das possibilidades financeiras dos sujeitos em custear

a educação, e não mais do bom desempenho nos processos seletivos.

Do mesmo modo que se expande a quantidade de instituições direcionadas para

qualificar e formar profissionais, responsabiliza-se os sujeitos pelo sucesso profissional, não

entrando no mérito dos aspectos macrossociais que influem e determinam diretamente o

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processo de formação do sujeito. Essa estratégia utilizada pelo capital de responsabilização do

indivíduo objetiva a adesão por parte da classe trabalhadora aos interesses hegemônicos

(NEGREIROS, 2014).

Nessa perspectiva de crescimento quantitativo das universidades, se tem um maior

contingente populacional inserido nos cursos de graduação e em outras modalidades de

ensino, estando a maior parte desses sujeitos inserida nas instituições privadas. Essa mesma

dinâmica ocorre com os estudantes com deficiência física, posto que há o aumento do seu

ingresso no Ensino Superior após a ampliação das vagas existentes na rede pública de ensino,

conforme será apontado no item a seguir.

2.3.1 A inclusão de pessoas com deficiência física no Ensino Superior

Ao se tratar da educação direcionada às pessoas com deficiência, identifica-se um

percurso demarcado por diversos desafios, posto que a exclusão, a integração e a segregação

consistiram nos modelos presentes no decorrer da trajetória social e educacional desses

sujeitos. Como visto inicialmente, os diferentes períodos históricos possuem peculiaridades

em relação à educação direcionada às pessoas com deficiência, reflexo da organização social

e do conhecimento científico predominante no período. Atualmente, se tratando do Ensino

Superior, em face da criação gradativa de diversos marcos legais, que são fruto de pressões da

sociedade civil, tem-se o crescente número de matrículas nesse âmbito de ensino por parte

desses sujeitos.

Esse quadro de crescimento é identificado a partir de dados expostos pelo Instituto

Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais - Ministério da Educação (INEP/MEC), que

anualmente através do Censo da Educação Superior reúne informações acerca das instituições

de Ensino Superior, objetivando proporcionar à comunidade acadêmica e à sociedade

informações sobre o setor. Fundamentando-se nessas informações, foi possível identificar o

crescimento apontado anteriormente, assim como o aumento de matrículas especificamente de

pessoas com deficiência física nesse nível de ensino.

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Tabela 1 – Número total de matrícula de alunos com necessidades especiais e número de

alunos com deficiência física, por categoria administrativa no Ensino Superior 2011-2016

TM = TOTAL DE MATRÍCULAS – ALUNOS COM NECESSIDADES ESPECIAIS

DF = TOTAL DE MATRÍCULAS – ALUNOS COM DEFICIÊNCIA FÍSICA

Fonte: Elaboração própria a partir dos microdados Censo Educação Superior (MEC/INEP 2011, 2012, 2013,

2014, 2015 e 2016).

Em 2011, os referidos dados demonstram que havia 23.250 alunos com necessidades

especiais matriculados no Ensino Superior no Brasil. Dessas matrículas, 6.531 encontravam-

se na rede pública, estando a maioria vinculada à esfera federal, com 4.437 matrículas. Já no

ano de 2015, verifica-se que há 37.927 alunos com necessidades especiais matriculados no

Ensino Superior no Brasil. Pertencendo 15.752 à rede pública, 12.889 vinculavam-se ao

sistema público federal. No ano de 2016, visualiza-se um decréscimo do número de alunos

com necessidades especiais matriculados no País para 35.891. Desses, 14.558 se encontravam

na rede pública de ensino, sendo 11.650 na rede federal.

Nos seis anos analisados, comparando o quantitativo total de matrículas no Ensino

Superior no Brasil, nas instituições de ensino públicas e nas instituições de ensino federal,

identifica-se um aumento no número de matrículas de 2011 a 2015, saltando de 23.250 para

37.927, o que representa um aumento de 63,20%. Há, entretanto, um decréscimo do ano de

2015 (37.927) para 2016 (35.891), representando uma queda de 5,37%. No que tange ao

número de matrículas nas instituições públicas federais, depreende-se também um aumento

entre os anos de 2011 a 2015 e um decréscimo entre os anos de 2015 a 2016. Tratando-se,

especificamente, das matrículas dos estudantes com deficiência física, essas seguem a mesma

tendência apontada anteriormente.

Igualmente, os dados demonstram que menos de 40% das matrículas (mais

especificamente, 36,14%) ao longo dos seis anos analisados fazem parte da esfera pública de

ensino, estando a grande maioria associada à rede privada de ensino, em virtude,

principalmente, da disponibilização de crédito por meio do Programa de Financiamento

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Estudantil (P-FIES), posto que, por meio do financiamento, os sujeitos que possuem renda

limitada e que, consequentemente, não têm condições financeiras de frequentar a instituição

de Ensino Superior privada podem optar pelo crédito universitário. Apesar do consignamento

do referido crédito, assim como as IES públicas, as IES privadas apresentaram um

decréscimo6 no número de matrículas entre os anos de 2015 a 2016.

O referido decréscimo que é possível constatar tanto na rede pública quanto na privada

é explicado em entrevista pelo Ministro da Educação, Mendonça Filho, que alega que ele

ocorreu em virtude do início da crise financeira no País e do aumento do número de

desemprego, ocasionando em uma queda repentina no número de ingressantes no Ensino

Superior. O restringimento do acesso ao P-FIES, que instituiu nota mínima de 450 pontos no

Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM) e teto de renda para os candidatos que desejam ter

acesso ao financiamento, também é colocado sob questionamento, objetivando explicar a

queda do número de matrículas.

Partindo para o nível local, é imprescindível identificar o curso das matrículas de

alunos com necessidades especiais no estado do Rio Grande do Norte, posto que a

Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), locus de estudo deste trabalho,

localiza-se no referido estado.

Tabela 2 – Número total de matrícula de alunos com necessidades especiais e número de

alunos com deficiência física no estado do Rio Grande do Norte, por categoria administrativa

no Ensino Superior 2011-2016

TM = TOTAL DE MATRÍCULAS – ALUNOS COM NECESSIDADES ESPECIAIS

DF = TOTAL DE MATRÍCULAS – ALUNOS COM DEFICIÊNCIA FÍSICA

Fonte: Elaboração própria a partir dos microdados Censo Educação Superior (MEC/INEP 2011, 2012, 2013,

2014, 2015 e 2016).

6 FOLHA DE SÃO PAULO. Total de matrículas no ensino superior tem estagnação inédita em 2016.

Disponível em: <http://www1.folha.uol.com.br/educacao/2017/08/1914492-total-de-matriculas-no-ensino-

superior-tem-estagnacao-inedita-em-2016.shtml>. Acesso em: 24 abr. 2018.

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Ao analisarmos o número total matrículas de alunos com necessidades especiais no

Estado do Rio Grande do Norte, conforme disposto na Tabela 2, verifica-se que em 2011

existiam 264 alunos matriculados, aumentando expressivamente esse quantitativo em 2013

para 508, e decrescendo em 2016 para 336. Referente a esse quantitativo, nas IES federais,

destaca-se um número oscilante de alunos com deficiência matriculados entre os anos de 2011

e 2016, variando entre 92 a 211 matrículas ao longo desses seis anos.

Fazendo uma análise comparativa entre a Tabela 1 e a Tabela 2, identifica-se que

pertence ao estado do Rio Grande do Norte uma pequena parcela do número total de

matrículas de alunos com necessidades especiais no Brasil. Face a isso, o Nordeste, de acordo

com o Censo 2010 do IBGE, apresenta, em relação às outras regiões brasileiras, o menor

percentual das pessoas de 15 anos ou mais de idade com o nível superior completo.

Gráfico 3 – Número total de matrículas de alunos com deficiência física no estado do Rio

Grande do Norte nas universidades federais, no Ensino Superior 2011-2016

Fonte: Elaboração própria a partir dos microdados Censo Educação Superior (MEC/INEP 2011, 2012, 2013,

2014, 2015 e 2016).

No que concerne à quantidade de matrículas de alunos com deficiência física nas

instituições de Ensino Superior públicas federais do estado do Rio Grande do Norte,

identifica-se um número oscilante, porém mantendo-se entre o quantitativo de 26 a 39

matrículas entre os anos de 2011 a 2016. Ainda, de acordo com os Censos dos anos

analisados, infere-se que o predomínio do número de matrículas de estudantes com

deficiência física é considerável em relação ao quantitativo de matrículas de estudantes que

apresentam outras deficiências.

Tendo em vista os dados apresentados, identifica-se que o acesso ao Ensino Superior é

direcionado ao longo dos anos para as elites econômicas e intelectuais, sendo destinado,

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portanto, a grupos sociais privilegiados e a um modelo de aluno estabelecido, a saber, aquele

dotado de condições físicas e intelectuais, de maneira que as estruturas arquitetônica,

atitudinal e pedagógica do Ensino Superior são a ele direcionadas. Contudo, a partir do século

XXI há uma expressiva expansão desse nível educacional, abarcando assim outros grupos

sociais, dentre os quais destaca-se a participação das pessoas com deficiência. Nessa

perspectiva, é necessário voltar o olhar para a efetiva democratização do acesso ao ensino,

para que ela não ocorra de forma marginal, mas sim envolta a uma lógica inclusiva, em que os

direitos do sujeito sejam abarcados por meio de políticas públicas de acesso e permanência na

universidade (VIEGAS e ANGELUCCI, 2006; BRASIL, 2013).

Caso contrário, a ampliação do número de alunos matriculados resultará no fracasso

educacional daquele estudante, posto que não terá suas necessidades abarcadas, haja vista a

omissão institucional em face desse aluno, que depende de mecanismos que vão além da

ocupação da vaga na instituição de ensino. O ingresso legítimo do educando através dos

processos seletivos vigentes lhe garante o direito de lhe serem oferecidas condições de

permanência e conclusão do curso que perpassem desde as estruturas físicas da instituição até

a metodologia utilizada pelo professor.

León (1994) aponta que, se por um lado a conduta do professor é de grande relevância

no processo educacional, por outro não são todos os profissionais que estão propensos a

realizar um trabalho favorável com vistas à inclusão dos estudantes com deficiência, sendo as

atitudes paternalistas, protetoras e de menosprezo assumidas por alguns professores. Esse

panorama torna imprescindível a capacitação desses profissionais diante da temática da

inclusão, assim como um apoio institucional capaz de apoiar os docentes nas alterações e

flexibilizações necessárias, uma vez que os currículos e os modos de avaliação devem ser

alterados tendo em vista essa nova demanda, consistindo em um processo marcado por

atitudes de acolhimento e de transformação da cultura posta, fatores de grande valia quando se

trata do processo educacional que visa a educação inclusiva fundamentada em uma educação

direcionada para a emancipação.

Essa reflexão de León (1994) pode ser verificada na fala da assistente social da

CAENE, que expôs que já necessitou intervir em situações em que alguns professores

universitários não estavam dispostos a garantir o direito do aluno com deficiência. Explicou

que são comuns situações em que é necessário o professor adaptar sua metodologia para

garantir a inclusão do aluno, mas que nesse processo de mudança é corriqueiro encontrar

barreiras atitudinais por parte dos docentes que se negam a adaptar a metodologia utilizada.

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Apesar das diversas legislações que abarcam os direitos das pessoas com deficiência,

ainda é comum o seu desconhecimento por alguns profissionais, sendo recorrentes

questionamentos acerca da legitimidade do direito garantido ao aluno com deficiência. A

profissional esclareceu que quando essa demanda em que o direito do aluno está sendo

negado chega à CAENE, os profissionais do setor interferem diretamente por meio de

reuniões com o profissional ou com o setor em que esteja ocorrendo o fato, e nesse momento

os sujeitos são instruídos acerca dos direitos garantidos às pessoas com deficiência, sendo

dadas as possibilidades para que de fato o aluno com deficiência seja incluído. De acordo com

a assistente social do setor:

“A CAENE entra em cena, conversa com a equipe, com os professores, para ver qual

adaptação a ser feita para que o aluno não se prejudique… É dever da sociedade se

adaptar àquele aluno com deficiência, e não ao contrário…” (Assistente social).

Portanto, a barreira atitudinal apresenta-se como uma questão presente no cotidiano

universitário, trazendo consigo uma perspectiva ultrapassada em relação à deficiência, a

saber, a da integração, segundo a qual o sujeito tem que se adaptar ao meio; a perspectiva da

inclusão, por sua vez, compreende que o meio é que deve se adaptar para recebê-lo. Assim, a

CAENE atua com vistas a disseminar a política inclusiva no interior da universidade,

trabalhando através de ações e projetos que visam eliminar as barreiras, buscando garantir,

assim, o acesso, a permanência e a conclusão desses estudantes na universidade.

Ao se tratar de propostas inclusivas nas instituições de Ensino Superior, percebe-se

que são ainda bastante iniciais e perpassadas por diversas dificuldades. Para Castro e Almeida

(2014), os seguintes fatores dificultam o êxito na qualidade do ensino inclusivo no âmbito da

universidade: as especificidades das diversas deficiências frente às diferenciadas condições de

locomoção, comunicação, manuseio e aprendizado dos alunos com deficiência; a exigência

dos professores universitários por alunos autônomos; a falta de recursos tecnológicos, posto o

quantitativo reduzido de profissionais; e a falta de acessibilidade física nos campi

universitários. Esse cenário demonstra a necessidade do rompimento com padrões

socialmente instituídos, objetivando com isso a adaptação do meio.

Fraser (2007) conceitua essas mudanças necessárias para a igualdade de condições de

acesso como paridade participativa, a qual relaciona-se ao provimento de condições

igualitárias de participação, sejam essas materiais ou ideológicas, para as pessoas com

deficiência em relação às pessoas sem deficiência, com vistas a garantir a acessibilidade desse

sujeito. De acordo com a Lei nº 13.146/2015, considera-se acessibilidade:

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Possibilidade e condição de alcance para utilização, com segurança e autonomia, de

espaços, mobiliários, equipamentos urbanos, edificações, transportes, informação e

comunicação, inclusive seus sistemas e tecnologias, bem como de outros serviços e

instalações abertos ao público, de uso público ou privados de uso coletivo, tanto na

zona urbana como na rural, por pessoa com deficiência ou com mobilidade reduzida.

(BRASIL, 2015).

Portanto, a efetiva concretização de um ambiente acessível prescinde do rompimento

de entraves, obstáculos, atitudes e/ou comportamentos que venham a limitar ou impedir a

participação das pessoas com deficiência nos espaços sociais, assim como no exercício de

seus direitos. Relativo a esses entraves, o Estatuto da Pessoa com Deficiência classifica

algumas barreiras que consistem em obstáculos para a efetivação da acessibilidade, quais

sejam:

a) barreiras urbanísticas: as existentes nas vias e nos espaços públicos e privados

abertos ao público ou de uso coletivo;

b) barreiras arquitetônicas: as existentes nos edifícios públicos e privados;

c) barreiras nos transportes: as existentes nos sistemas e meios de transportes;

d) barreiras nas comunicações e na informação: qualquer entrave, obstáculo, atitude

ou comportamento que dificulte ou impossibilite a expressão ou o recebimento de

mensagens e de informações por intermédio de sistemas de comunicação e de

tecnologia da informação;

e) barreiras atitudinais: atitudes ou comportamentos que impeçam ou prejudiquem a

participação social da pessoa com deficiência em igualdade de condições e

oportunidades com as demais pessoas;

f) barreiras tecnológicas: as que dificultam ou impedem o acesso da pessoa com

deficiência às tecnologias. (BRASIL, 2015).

As barreiras apontadas surgem à medida que a sociedade se transforma, isto é,

emergem a partir do surgimento de novos contextos sociais. Como citado, elas dificultam a

plena participação da pessoa com deficiência nos espaços sociais, e a sua superação, a partir

da superação da resistência do modelo social posto, possibilitará a minimização do processo

de exclusão social e consequentemente um avanço quanto ao acesso e a permanência das

pessoas com deficiência nas instituições de Ensino Superior. Torna-se, portanto,

imprescindível compreender quais estratégias estão sendo lançadas pela UFRN visando a

superação das barreiras urbanísticas, arquitetônicas, nas comunicações, atitudinais e

tecnológicas, em favor da garantia dos direitos dos discentes com deficiência, através da

paridade participativa.

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3 LÓCUS DA PESQUISA: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO

NORTE (UFRN)

A Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) foi criada em 25 de junho de

1958 por meio de uma lei estadual. Federalizada em 18 de dezembro de 1960, formou-se

através do conjunto de faculdades e escolas de nível superior presentes na capital potiguar,

dentre as quais destacam-se a Faculdade de Farmácia e Odontologia, a Faculdade de Direito, a

Faculdade de Medicina e a Escola de Engenharia. O grupamento dos variados departamentos,

a depender da natureza dos cursos e disciplinas, aconteceu apenas em 1968 por meio da

reforma universitária, que foi realizada em todo o País e configurou-se como um momento em

que houve o encerramento das faculdades e o estabelecimento da atual estrutura de

organização por Centros Acadêmicos7.

A criação do Campus Central da UFRN8 iniciou-se nos anos de 1970 em uma área de

123 hectares, e desde esse período teve a sua estrutura modificada ao longo dos anos com

vistas à melhoria da estrutura acadêmica, tanto em relação à criação de novos prédios como

reformas na estrutura já existente. Nos dias de hoje, a UFRN – Campus Central abriga um

avançado complexo arquitetônico circundado por um anel viário que compõe a malha urbana

da cidade de Natal9.

A UFRN conta com um amplo leque de serviços no Campus Central objetivando

garantir o processo de ensino-aprendizagem por meio do ensino, da pesquisa e da extensão.

Dispõe ainda de serviços que destinam-se a assegurar o apoio e a permanência do estudante

universitário, como bibliotecas, restaurantes universitários, sistemas integrados de

informática, áreas de convivência, laboratórios e residências universitárias.

3.1 As possibilidades de ingresso na UFRN

Para tornar os processos seletivos de ingresso nas Instituições de Ensino Superior

(IES) mais inclusivos para as pessoas com deficiência é indispensável que sejam

7 UFRN. Sobre a UFRN. Disponível em: <http://www.ufrn.br/institucional/sobre-a-ufrn>. Acesso em: 05 mar.

2018. 8 Endereço: Avenida Senador Salgado Filho, nº 3000 – Campus Universitário. Natal/Rio Grande do Norte –

59078-970. 9 UFRN. Sobre a UFRN. Disponível em: <http://www.ufrn.br/institucional/sobre-a-ufrn>. Acesso em: 05 mar.

2018.

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45

proporcionados os recursos e apoios necessários para a realização das provas de seleção. No

que se refere ao ingresso dos estudantes com deficiência nas IES, em 08 de maio de 1996

foram asseguradas, a partir do Aviso Circular nº. 277/MEC/GM, condições para que as

pessoas com necessidades especiais realizassem as provas de ingresso ao Ensino Superior

com maior segurança e igualdade de oportunidade.

Através desse aviso foram dadas algumas sugestões às instituições para promover o

acesso das pessoas com deficiência ao Ensino Superior, como: a utilização por partes dos

candidatos a textos ampliados, lupas ou outros recursos ópticos especiais para as pessoas com

visão subnormal/reduzida; adaptação de espaços físicos, mobiliários e equipamentos para

candidatos portadores de deficiência física; ampliação do tempo determinado para a execução

das provas, entre outros.

O ingresso nos cursos superiores ofertados pela UFRN até o ano de 2014 ocorria por

meio do vestibular tradicional. O vestibular consistiu em um tipo de seleção para se obter o

ingresso no Ensino Superior, apresentando-se como um momento de expectativa para o

vestibulando e seus familiares que desejam o ingresso em uma universidade federal. Contudo,

salienta-se o acesso restrito a esse nível de ensino, de maneira que milhares de candidatos não

aprovados anualmente são privados de adentrar em um curso de nível superior no Brasil,

apesar do sistemático crescimento ao longo dos anos existente em torno dessa oferta.

O respectivo processo seletivo era realizado anualmente e ocorria em três dias: no

primeiro dia, os candidatos realizavam provas objetivas das Ciências da Natureza, Matemática

e suas Tecnologias (Física, Química, Biologia e Matemática) e Linguagens, Códigos e suas

Tecnologias (Língua Estrangeira); no segundo dia, realizavam provas objetivas de

Linguagens, Códigos e suas Tecnologias (Português e Literatura) e Ciências Humanas e suas

tecnologias (História e Geografia); e, por fim, o terceiro dia destinava-se às provas discursivas

de três disciplinas selecionadas a depender da área do curso escolhida pelo candidato.

Visando garantir concursos e processos seletivos em condições de equidade, a

Comissão Permanente de Vestibular (COMPERVE) disponibilizava, quando solicitados

através de requerimentos pelos candidatos com deficiência ou outras condições especiais, os

seguintes serviços e recursos de acessibilidade, indo de acordo com as sugestões instituídas

pelo Aviso Circular nº. 277/MEC/GM: ampliação do tempo de realização das provas (1 hora);

auxílio para transcrição das respostas das provas Objetiva e Discursiva; auxílio na leitura da

prova (ledor); provas com fonte ampliada; lupa; provas em braille; acessibilidade ao local de

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realização das provas; mobiliário adequado; intérprete de Língua Brasileira de Sinais

(LIBRAS)/Língua Portuguesa; e flexibilização na correção das provas escritas.

Foi questionado aos entrevistados da pesquisa que haviam ingressado na UFRN pelo

Vestibular acerca da utilização de serviços e recursos de acessibilidade no momento da prova.

O Entrevistado 1 mencionou não ter solicitado nenhum recurso diferenciado, apontando

também que não encontrou nenhuma dificuldade durante a realização do processo seletivo.

A Entrevistada 2, por sua vez, comentou ter solicitado uma cadeira mais baixa em

razão da sua deficiência, mas que não havia notado diferença entre a cadeira que havia

recebido e as dos demais candidatos, o que a fez presumir que a sua solicitação não havia sido

atendida:

“Eu pedi uma cadeira um pouco mais baixa, mas não notei diferença. Só que eu não

notei muita diferença não, eu acredito que o meu pedido não tenha sido atendido.”

(Entrevistada 2).

O Sistema de Reserva de Vagas do Vestibular, instituído no Vestibular 2006,

possibilitou que os alunos da Rede Pública do Estado do Rio Grande do Norte se

beneficiassem do Argumento de Inclusão10

. A ampliação desse Sistema de Reserva de Vagas

ocorreu no Vestibular 2012 a partir do que foi instituído pela Lei 12.711, de 29 de agosto de

2012, a qual foi regulamentada pelo Decreto nº 7.824, de 11 de outubro de 2012, e

normatizada pela Portaria Normativa nº 18 do Ministério da Educação, de 11 de outubro de

2012.

Ao longo dos anos houve alterações nos requisitos para gozar do Argumento de

Inclusão, sendo uma mudança significativa aquela ocorrida a partir do Vestibular 2013 com a

adesão da UFRN à Lei de Cotas, instituindo a reserva de 12,5% das vagas por curso e turno

aos candidatos que cursaram integralmente o Ensino Médio em escola pública. A adesão à Lei

de Cotas ocorreu de forma gradativa no decorrer de quatro anos até atingir a porcentagem de

50% de suas vagas ofertadas a candidatos cotistas, período esse em que houve a transição para

o Sistema de Seleção Unificada (SiSU). Destaca-se que no período em que o processo de

seleção para o ingresso na UFRN ocorria por meio do vestibular unificado, os Editais que

regulamentavam os certames não possuíam reserva de vagas para candidatos com deficiência.

O processo de seleção por meio de vestibular unificado deixou de ser oferecido no

primeiro semestre de 2014, ano em que a instituição decidiu adotar como principal forma de

10

O Argumento de Inclusão consiste em um sistema de pontuação adicional, diferenciado, que toma como

referência critérios socioeconômicos e de desempenho, ampliando as chances de aprovação de candidatos

oriundos da rede pública em cursos mais concorridos.

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ingresso o SiSU, sistema informatizado do Ministério da Educação (MEC), no qual

instituições públicas de Ensino Superior oferecem vagas para candidatos participantes do

Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM). O referido exame visa avaliar o desempenho dos

estudantes concluintes do ensino médio, podendo o resultado servir tanto de acesso, por meio

do SiSU, ao Ensino Superior nas universidades públicas, como também ao Programa

Universidade para Todos (PROUNI), a Instituições Portuguesas, a processos seletivos nos

programas de bolsas existentes em faculdades particulares e ao Financiamento Estudantil

(FIES).

Logo, o ENEM e o SiSU possibilitaram a unificação dos processos seletivos existentes

no Brasil por meio da adesão das Instituições Federais de Ensino Superior (IFES) ao novo

processo de seleção. Segundo Backes (2014), a razão para a implementação do novo processo

parte da prerrogativa de que independentemente de os vestibulares possuírem uma seleção

pautada na qualidade, também estabelecem obstáculos aos candidatos que não possuem

condições de deslocar-se para outros locais devido a questões econômico-financeiras,

limitando, portanto, a concorrência e o contingente seletivo nas instituições periféricas.

Dessa forma, o ENEM dá início à quebra dos padrões impostos pelo vestibular

tradicional, que, além de criar obstáculos aos estudantes que não possuíam condições

econômico-financeiras para se locomover, compreende o processo ensino-aprendizagem

como uma transferência de conhecimento do professor para o aluno com vistas à

memorização dos conteúdos das variadas disciplinas que constituem a Educação Básica. Por

intermédio do ENEM, a avaliação torna-se ampla, posto que passa-se a considerar o domínio

de competências e habilidades do candidato na resolução de problemas, através da utilização

de conhecimentos adquiridos ao longo da vida escolar e experiências vividas, valorizando

assim a capacidade de raciocínio do candidato (BARROS, 2014).

Atualmente, as provas do ENEM ocorrem em dois domingos consecutivos, sendo no

primeiro dia as provas de Linguagens, Códigos e suas Tecnologias, Ciências Humanas e suas

Tecnologias e a prova de redação. No segundo dia, são realizadas as provas de Ciências da

Natureza e suas Tecnologias e Matemática e suas Tecnologias. Após a divulgação do

resultado, o candidato pode optar por até duas opções de curso, sendo possível alterar suas

opções durante as inscrições.

O ENEM conta com um atendimento especializado destinado aos candidatos que

possuem autismo, baixa visão, cegueira, deficiência auditiva, deficiência física, deficiência

intelectual (mental), déficit de atenção, discalculia, dislexia, surdez, surdo cegueira e visão

monocular. A solicitação do atendimento especializado é informada no ato da inscrição,

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momento em que o candidato informa sua deficiência e/ou condição específica, além dos

recursos necessários para realização da prova. O candidato pode solicitar os seguintes

recursos ofertados pelo MEC: prova em braille; tradutor-intérprete de Língua Brasileira de

Sinais (LIBRAS); prova com letra ampliada; prova com letra super ampliada; guia-intérprete

para pessoa com surdo cegueira; auxílio para leitura; auxílio para transcrição; leitura labial;

tempo adicional; sala de fácil acesso; e mobiliário acessível11

.

Dentre os discentes entrevistados nesta pesquisa, apenas a Entrevistada 3 ingressou na

UFRN através do ENEM. Quando questionada acerca da solicitação de atendimento

especializado, afirmou que no momento da inscrição não tinha conhecimento sobre a

possibilidade das pessoas com deficiência solicitarem o tempo adicional, não realizando, em

razão desse fato, o requerimento. Em virtude de outro candidato ter solicitado o tempo

adicional, ela acabou usufruindo do atendimento especializado, visto que necessitavam ficar

dois candidatos na sala onde seria realizada a prova com tempo adicional:

“Eu não sabia que a pessoa com deficiência tinha direito de ter tempo adicional, por

sorte uma pessoa havia pedido e eu acabei ficando na sala com tempo adicional.”

(Entrevistada 3).

Assim, ainda que não tenha solicitado o tempo adicional por motivo de

desconhecimento, a Entrevistada 3 conseguiu usufruir do direito a ela garantido, em virtude

de um acaso na sala em que realizou a prova. Apesar do ocorrido, afirmou que na primeira

vez em que realizou a prova do ENEM, ao ter informado que era deficiente, foi alocada em

uma escola mais acessível.

Para além do exposto, a partir da edição de 2017, o Instituto Nacional de Estudos e

Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (INEP) passou a divulgar os cadernos de provas com

acessibilidade (ampliada, super ampliada, ledor e vídeo prova em Libras), além da divulgação

do conteúdo da vídeo prova no YouTube, possibilitando que candidatos surdos e com

deficiência auditiva possam estudar para as futuras edições do exame.

Como Políticas de Ações Afirmativas destinadas a esse público, algumas instituições

oferecem ainda vagas reservadas e outras adotam bônus na nota do candidato. No que

concerne ao acesso das pessoas com deficiência ao Ensino Superior por meio dessas políticas,

o Decreto n° 9.034/2017 altera o Decreto nº 7.824/2012, que regulamenta o ingresso por cotas

11

INEP. Atendimento especializado e específico deve ser solicitado durante inscrição do Enem 2018.

Disponível em: <http://portal.inep.gov.br/artigo/-/asset_publisher/B4AQV9zFY7Bv/content/atendimento-

especializado-e-especifico-deve-ser-solicitado-durante-inscricao-do-enem-2018/21206>. Acesso em: 12 jun.

2018.

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nas instituições federais, inclusive para estudantes pretos, pardos e indígenas, instituindo que

a reserva de vaga deverá ser em número proporcional à presença total de pessoas com

deficiência na unidade federativa em que está a instituição de ensino, de acordo com o último

Censo do IBGE, tendo as instituições o prazo de 90 dias para se adaptar à nova normativa.

Podem concorrer às vagas destinadas às pessoas com deficiência – de acordo com a

Lei nº 12.711/2012, que dispõe sobre o ingresso nas universidades federais e nas instituições

federais de ensino técnico de Nível Médio e dá outras providências – aqueles estudantes

egressos de escolas públicas que possuem deficiência que se enquadre no art. 2º da Lei nº

13.146/2015 e nas categorias discriminadas no art. 4º do Decreto nº 3.298/1999, com redações

dadas, respectivamente, pela Lei no 13.146/2015 e pelo Decreto Federal nº 5.296/2004.

Acerca da reserva de vagas destinada às pessoas com deficiência, a assistente social da

CAENE apontou um aumento em relação aos anos anteriores no número de matrículas de

estudantes com deficiência em virtude da alteração do Decreto nº 7.824/2012 pelo Decreto n°

9.034/2017:

“Houve um aumento bastante expressivo, cerca de 100 estudantes ingressaram no

ano de este semestre (2018.1)... A Lei de Cotas trouxe uma democratização do

acesso ao Ensino Superior, porque foi uma forma das pessoas com deficiência serem

inseridos no processo, uma vez que é claro que se trata de uma modalidade de ensino

elitizada.” (Assistente social).

Para além da democratização do ensino, a entrevistada atenta acerca do perfil dos

estudantes com deficiência que estão ingressando na universidade:

“É importante se atentar ao perfil desses estudantes, o segmento etário é algo que

tem chamado atenção. Percebemos que não é o primeiro processo seletivo que eles

vêm tentando.” (Assistente social).

A verdade é que mesmo com a existência das Políticas de Ações Afirmativas,

identifica-se a matrícula de estudantes com o segmento etário avançado, fazendo supor não

ser esse o primeiro processo seletivo realizado pelo estudante. E o grande problema encontra-

se justamente na desigualdade histórica de oportunidades vivenciada por esses sujeitos que os

impossibilita de enfrentar o processo em condições de igualdade com os outros sujeitos.

Para Santos (1999, p. 25), as Políticas de Ações Afirmativas possuem como finalidade

“eliminar desigualdades historicamente acumuladas, garantindo a igualdade de oportunidades

e tratamento, bem como compensar perdas provocadas pela discriminação e marginalização,

decorrentes de motivos raciais, étnicos, religiosos, de gênero e outros”. Destinam-se, assim, a

garantir oportunidades igualitárias para sujeitos discriminados, fazendo com que venham a

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possuir de forma efetiva posição no mercado de trabalho, em serviços educacionais ou em

outros espaços sociais.

Corroborando com a perspectiva de Santos (1999), Oliven (2007, p. 30) caracteriza as

Políticas de Ações Afirmativas como sendo:

Um sistema de políticas públicas para proteger minorias e grupos que, em uma

determinada sociedade, tenham sido discriminados no passado. A ação afirmativa

visa remover barreiras, formais e informais, que impeçam o acesso de certos grupos

ao mercado de trabalho, universidades e posições de liderança.

As Políticas de Ações Afirmativas tiveram origem nos Estados Unidos em meados dos

anos 1960, momento em que o País vivenciava um período de reivindicações democráticas

internas com vistas à extensão da oportunidade de igualdade para todos. Nesse período, as leis

segregacionistas vigentes no País começam a ser extintas, emergindo como força atuante o

movimento negro, apoiado por liberais e progressistas brancos. Ainda hoje os Estados Unidos

são referência na discussão em torno das Políticas de Ações Afirmativas, tendo regiões como

Europa Ocidental, Índia, Malásia, Austrália, Canadá, Nigéria, África do Sul, Argentina e

Cuba vivenciado experiências semelhantes, possuindo formas e público-alvo diversificados,

que variam de acordo com o contexto tido em cada País (MOEHLECKE, 2002).

De acordo com o autor, no Brasil a primeira iniciativa surge em 1983 no Congresso

Nacional a partir do projeto de Lei nº 1.332, que objetivava adotar medidas compensatórias

com o propósito de proporcionar maior participação dos negros12

no mercado de trabalho

(público ou privado), assim como sua maior inserção no sistema educacional, sendo-lhes

reservadas bolsas de estudos do Estado e vagas no Instituto Rio Branco.

As Políticas de Ações Afirmativas direcionadas às pessoas com deficiência partem do

pressuposto de que esses sujeitos ao longo de suas trajetórias enfrentam obstáculos para a sua

inclusão nas mais variadas esferas da vida social, sendo-lhes negado, geralmente, a título de

exemplo, o acesso à educação, em virtude do despreparo das instituições de ensino para

receber pessoas com deficiência; ao lazer, devido às barreiras arquitetônicas, urbanísticas e

nos transportes; e ao trabalho, em razão de barreiras atitudinais.

A julgar pelo exposto, é possível inferir que, no que diz respeito ao ingresso de

estudantes com deficiência na UFRN, com a implementação do ENEM tem-se uma maior

inclusão desses sujeitos nos processos seletivos, abarcando desde os recursos disponíveis para

12

Eram considerados negros, para efeito da lei, os sujeitos que se enquadravam como pretos ou pardos,

conforme classificação do IBGE.

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a realização das provas até as Políticas de Ações Afirmativas, que visam instituir a reserva de

vagas para pessoas com deficiência na IES, sendo essa conquista fruto da luta constante dos

indivíduos que fazem parte desse grupo em prol de oportunidades igualitárias.

Contudo, no momento em se há uma democratização do acesso ao Ensino Superior

para as pessoas com deficiência, necessita haver uma ampliação no serviço e na estrutura

física ofertada pela instituição de ensino. No entanto, conforme a assistente social da CAENE:

“Houve a ampliação do número de estudantes com deficiência matriculados, mas o

serviço não acompanhou... Nem os serviços, nem a estrutura física.” (Assistente

social).

Nessa lógica, a UFRN passa a receber o estudante em condições diferenciadas, seja

em relação à sua condição física, econômica ou social, sem no entanto haver uma estrutura

que abarque as necessidades dos sujeitos e garanta uma inclusão efetiva no espaço

educacional.

A ausência dessa ampliação é em parte explicada pela assistente social entrevistada,

que traz que esse fato ocorre em virtude dos

“Problemas de ordem econômica e política presentes na sociedade, que tem uma

representação direta na universidade.” (Assistente social).

É de conhecimento comum que essa discussão é perpassada diretamente por questões

econômicas e políticas, como asseverado pela entrevistada. Um dos exemplos clássicos para

elucidar essa questão se trata dos cortes nos orçamentos enfrentados pelas universidades

federais, ocasião em que houve a diminuição no repasse das verbas. Sem o recurso financeiro,

as instituições passam a demitir funcionários, reduzir o consumo, cortar auxílios financeiros e

paralisar as suas obras. Essa situação soma-se ainda ao processo de burocratização da

administração pública, que acaba por delongar a aquisição de materiais e serviços.

No entanto, o não investimento nas questões estruturais e nos serviços

disponibilizados pela universidade não impediu o aumento no número de estudantes com

necessidades especiais a ingressarem na universidade federal, como citado anteriormente.

Tem feito, entretanto, que não sejam atendidas em sua totalidade as necessidades dos

discentes ingressantes, em virtude da inexistência da progressiva criação de condições de

acesso e permanência desses sujeitos.

Para além de processos inclusivos no percurso de ingresso do candidato com

deficiência nas IES, é de grande relevância, portanto, refletir acerca das formas de

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permanência desses estudantes ao longo da vida acadêmica, posto que é indispensável a oferta

de condições adequadas que garantam essa permanência, através de um suporte social,

estrutural e pedagógico. A não existência desses mecanismos acaba por elevar o índice de

evasão das pessoas com deficiência nos estabelecimentos de ensino, posto que contribui para

esse processo a ausência de um suporte institucional com vistas a atenuar as dificuldades

particulares dos estudantes, a qual se atrela às demais limitações institucionais.

3.2 Ações de permanência direcionadas às pessoas com deficiência

De acordo com o Relatório de Gestão referente ao exercício do ano de 2017 da

CAENE, foram identificadas 314 matrículas de estudantes com necessidades especiais

cadastradas no módulo NEE/SIGAA. Com relação ao tipo de necessidade especial

apresentada, constavam, aproximadamente13

, no período da análise: 04 alunos com altas

habilidades/superdotação; 18 com surdez; 12 com deficiência auditiva; 33 com deficiência

física; 10 com deficiência intelectual; 29 com deficiência visual – baixa visão; 03 com

deficiência visual – cegueira; 08 com Transtorno do Espectro do Autismo; 44 com/TDH/H; e

153 com outras necessidades específicas.

Segundo o relatório, no ano de 2017 houve um aumento total de 16,3% no número de

estudantes com NEE registrados pela CAENE em comparação a 2016, com aumento relativo

no número de estudantes com Altas Habilidades/superdotação (200%), Surdez (6,66%),

Deficiência Física (38,8%), Deficiência Intelectual (37,5%), Deficiência Múltipla (100%),

Transtorno do Espectro do Autismo (80%), Transtornos de Aprendizagem/TDH/H (43,2%) e

com outras necessidades (10,6%). Houve um decréscimo no quantitativo de estudantes com

deficiência visual – baixa visão (9,3%) e deficiência visual – cegueira (66,6%), sendo essa

redução explicada no relatório em razão da conclusão do curso por parte dos discentes que

apresentavam baixa visão e cegueira.

13

O Relatório de Gestão destaca que as informações acerca do quantitativo de pessoas com NEE matriculadas

na instituição pode não corresponder aos dados reais, em razão da possível existência de falhas de registros junto

à Superintendência de Informática (SINFO).

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Quadro 1 - Comparativo 2016/2017 de alunos com NEE atendidos pela CAENE, por tipo de

NEE

Fonte: Relatório de Gestão do Exercício de 2017 – CAENE/UFRN.

Concernente à matrícula desses estudantes, 237 estão matriculados no Ensino Superior

(sendo 229 na graduação, 1 na pós-graduação lato sensu e 7 na pós-graduação stricto sensu),

10 no Ensino Técnico e 22 na Educação Básica (sendo 12 na Educação Infantil e 10 no

Ensino Fundamental). Há, ainda, um estudante em formação complementar/curso de idiomas.

Quanto à modalidade de ensino, 15 estão matriculados no ensino à distância e 255 na

modalidade presencial.

De acordo com o documento, o Campus Central possuía no ano de 2017

aproximadamente 220 estudantes com NEE matriculados. Tal realidade aponta a necessidade

de uma política de inclusão efetiva que consiga garantir um espaço acadêmico inclusivo, por

mais diversas que sejam as deficiências apresentadas pelos discentes, e consequentemente

suas necessidades, a fim de possibilitar às pessoas com deficiência fazer parte desse espaço de

forma independente e plena, com igualdade de oportunidades com as demais pessoas, tendo

acesso ao meio físico, ao transporte, à informação e comunicação, inclusive aos sistemas e

tecnologias de informação e comunicação disponíveis, bem como a outros serviços e

instalações.

Em virtude do exposto, tem-se a necessidade que, para além dos recursos e apoio

necessários no momento em que o candidato com deficiência está participando da seleção

para o ingresso na IES, a atenção em relação à inclusão do estudante com deficiência também

permeie a sua vivência diária no âmbito universitário através da disponibilização de recursos e

apoio que possibilitem a sua plena participação e a sua permanência no curso escolhido

(MELO e GONÇALVES, 2013).

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Diversas IES no País já possuem programas de apoio e orientação voltados para esse

público, dentre elas destaca-se a Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), que

possui desde março de 2010 uma comissão nomeada Comissão Permanente de Apoio a

Estudantes com Necessidades Especiais (CAENE), cujo objetivo principal consiste em apoiar

e orientar tanto os estudantes como os profissionais que trabalham na instituição a respeito do

processo de inclusão de estudantes com necessidades especiais no que se refere ao ingresso e

permanência na referida universidade, consistindo no setor responsável pela

institucionalização da Política de Acessibilidade14

.

A referida comissão foi instituída a partir da Portaria nº 203/10-R e surgiu em

decorrência de inquietações dos profissionais lotados na instituição, como gestores, docentes e

técnicos, que ansiavam por um setor que ofertasse, principalmente aos estudantes com

necessidades especiais, orientação e apoio relativos ao ingresso e permanência no contexto

universitário, em prol da qualidade do atendimento ofertado a esses sujeitos. Nessa

perspectiva, a missão da CAENE consiste na eliminação de barreiras arquitetônicas,

atitudinais, de comunicação e pedagógicas, objetivando garantir o acesso, a permanência e a

conclusão de curso com sucesso aos estudantes com NEE.

A CAENE, almejando atingir o propósito de eliminar as barreiras existentes em torno

das pessoas com NEE, traçou alguns objetivos, dentre os quais destaca-se: intervir e

acompanhar a trajetória do estudante com NEE da UFRN, através de um suporte educacional

para o desenvolvimento de seu processo de ensino-aprendizagem; articular e implementar

ações com serviços, setores e profissionais da UFRN, com vista à melhoria do atendimento

educacional aos estudantes com NEE; atuar em conjunto com a COMPERVE, oportunizando

igualdade nas condições de acesso aos candidatos com NEE nos processos seletivos; e

acompanhar a política de inclusão do estudante com NEE na UFRN, visando contribuir para a

tomada de decisões e fortalecimento desse política em nível institucional. Essa informação é

reiterada na fala da assistente social entrevistada:

“A CAENE tem como objetivo maior apoiar, orientar e acompanhar a política de

inclusão dentro da universidade. Esse consiste no maior objetivo direcionado aos

alunos com necessidades educacionais especiais... A CAENE acompanha os

estudantes com necessidades educacionais especiais em todas as modalidades de

ensino.” (Assistente social).

14

Essas informações e as dos dois parágrafos seguintes foram retiradas de: CAENE. CAENE. Disponível em:

<http://www.caene.ufrn.br/caene.php>. Acesso em: 11 set. 2017.

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55

Com vistas a atender sujeitos que possuem variadas condições – estudantes com

deficiência, transtornos globais de desenvolvimento, altas habilidades e distúrbios de

aprendizagem –, segundo relato da entrevistada, o quadro da CAENE é composto por uma

equipe multidisciplinar, contando com: 2 assistentes sociais; 7 pedagogos; 1 assistente

administrativo; 18 intérpretes de Libras; 1 revisor de Braille; 2 bibliotecários; 1 fisioterapeuta;

1 coordenador; 1 designer gráfico; 1 auxiliar administrativo; e 12 bolsistas. Devido à

realidade social atualmente necessitar de uma abordagem integral, a assistente social afirmou

que os respectivos profissionais de disciplinas heterogêneas trabalham em conjunto,

almejando atingir os objetivos anteriormente apontados junto à comunidade acadêmica.

Esses profissionais atuam, então, em conjunto, com vistas a: acompanhar, orientar e

encaminhar os estudantes com NEE que necessitem de apoio aos diversos serviços e setores

da instituição; orientar gestores, professores, servidores e discentes acerca do processo de

inclusão de estudantes com NEE; desenvolver ações com base nos Planos de

Desenvolvimento Institucional (PDI) e de Gestão objetivando garantir o acesso, a

permanência e a conclusão de curso com sucesso aos estudantes com NEE; articular com

serviços e setores de diferentes áreas de formação e atuação da instituição e para além dela,

em favor do desenvolvimento e consolidação das ações a serem desenvolvidas; e

promover/participar de eventos acerca da inclusão de estudantes com NEE no Ensino

Superior.

O acesso aos serviços ofertados pela CAENE para o estudante com NEE deve ser

solicitado via chamado no Sistema Integrado de Gestão e Atividades Acadêmicas (SIGAA).

Em seguida, a coordenação do curso ao qual o estudante é vinculado é notificada, através do

próprio sistema, sobre a solicitação do estudante. Após isso, a coordenação do curso realiza

um requerimento à CAENE, que irá submeter o estudante a uma triagem, visando levantar as

necessidades e as formas de intervenção necessárias ao sujeito solicitante. O

acompanhamento desses estudantes, assim como o atendimento aos demais públicos que

integram a comunidade acadêmica, pode ocorrer por meio de demanda espontânea ou de

atendimentos previamente agendados (FERREIRA, 2016).

Entre as possibilidades de requisições/apoio que podem ser solicitadas pelos discentes,

a Resolução nº 193/2010 (CONSEPE/UFRN), que dispõe sobre o atendimento educacional a

estudantes com necessidades educacionais especiais na Universidade Federal do Rio Grande

do Norte, traz as seguintes possibilidades:

I - Adaptação das atividades avaliativas;

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II - tempo adicional de (01) uma hora, ou mais para a realização das atividades

avaliativas;

III - adaptação de recursos instrucionais: material pedagógico e equipamento;

IV - adaptação de recursos físicos: eliminação de barreiras arquitetônicas e

adequação de ambiente de comunicação;

V - apoio especializado necessário: intérprete de língua de sinais e ledor, conforme

necessidade educacional apresentada. (UFRN, 2010b).

Ainda, a referida Resolução, objetivando apoiar a permanência do aluno na

universidade, institui:

Art. 8º Ao estudante com necessidade educacional especial poderá ser concedida

prorrogação no prazo máximo de permanência nos cursos, de até 50% (cinquenta por

cento) do limite máximo fixado para conclusão do curso que importe na redução da

capacidade de aprendizagem, mediante avaliação da Junta Médica da UFRN;

Art. 9º As unidades acadêmicas da UFRN priorizarão a matrícula em componentes

curriculares e alocação de espaço físico de fácil acesso para os estudantes com

necessidades educacionais especiais, especialmente para aqueles que fazem o uso de

órteses ou próteses que auxiliam na deambulação ou que possuem mobilidade

reduzida;

Art. 10º O plano de ensino de componentes curriculares deverá ser adaptado

contemplando formas alternativas de avaliação que permita flexibilizar as correções

de provas, visando a real apreciação do desempenho acadêmico do aluno;

Art. 11º O estudante com necessidade educacional especial poderá ser beneficiado

com exercícios domiciliares, como compensação da ausência às aulas, sempre que

compatível com seu estado de saúde e devidamente comprovado por laudo médico

emitido pela Junta Médica da UFRN. (UFRN, 2010b).

Além do suporte garantido aos alunos com necessidades especiais, a referida

Resolução, em seu art. 12º, garante ações de formação continuada direcionadas aos docentes,

técnicos e gestores, com o objetivo de avanço no atendimento a esses sujeitos, uma vez que

entende-se que para que o processo de inclusão seja de fato efetivo é necessária a participação

de toda a comunidade acadêmica (UFRN, 2010b).

Ressalta-se que algumas das requisições que estão à disposição dos estudantes com

NEE não necessariamente devem ser solicitadas juntamente à CAENE. A título de exemplo,

as adaptações das atividades avaliativas, como também o tempo adicional de uma hora ou

mais para a realização das atividades acadêmicas, podem ser demandados diretamente aos

docentes e à coordenação do curso ao qual o estudante está vinculado. Tal atitude caminha

para a formação de uma responsabilidade inclusiva nos diversos profissionais e setores da

universidade, com vistas a comprometê-los na garantia do acesso dos estudantes com NEE aos

direitos a eles assegurados.

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3.2.1 Ações desenvolvidas pela CAENE

A CAENE, objetivando eliminar as barreiras arquitetônicas, atitudinais, de

comunicação e pedagógicas, desenvolve diversas ações, por intermédio dos profissionais que

a compõem, com vistas a assegurar a exitosa permanência e término do curso por parte das

pessoas com deficiência. Dentre essas ações, destacam-se: o apoio social; o Programa de

Orientação de Tutoria Inclusiva (POTI); o Laboratório de Acessibilidade (LA); os projetos de

pesquisa e extensão; as publicações e produções acadêmicas realizadas com profissionais da

CAENE; e a participação em concursos públicos e processos seletivos.

Segundo relatos da assistente social entrevistada, o trabalho do Serviço Social na

CAENE inicialmente enfrentou dificuldades em virtude do desconhecimento da importância

do trabalho desenvolvido pelos profissionais do Serviço Social no âmbito da garantia dos

direitos das pessoas com necessidades especiais, bem como pelo reduzido número de

profissionais lotados no setor. Contudo, afirmou que desde 2011, ano em que passou a atuar

na CAENE, vem lutando pela ampliação e reconhecimento do trabalho desenvolvido pela

profissão, havendo uma conquista no ano de 2017 através do aumento do quadro institucional,

momento em que foi incorporado mais um profissional de Serviço Social ao órgão:

“Para mim foi muito complicado atuar sozinha, eu tive algumas dificuldades para

desenvolver esse trabalho... Eu mostrava a importância do trabalho do Serviço

Social, mas havia o desconhecimento do trabalho desenvolvido...” (Assistente

social).

O trabalho dos profissionais de Serviço Social no setor é perpassado por ações como o

encaminhamento dos discentes com NEE em situação de vulnerabilidade econômica para as

ações de assistência estudantil operacionalizadas pela Pró-Reitoria de Assuntos Estudantis

(PROAE), pois, uma vez que a universidade consiste em um espaço de construção do

conhecimento e da cidadania, é de suma importância que ela seja comprometida com a

realidade social do estudante, sobretudo daqueles que estão em situação de hipossuficiência,

seja essa associada ou não a outras formas de expressão da “questão social”. Dessa forma,

consiste em uma atribuição dessa equipe o conhecimento acerca das condições objetivas e

sociais dos estudantes acompanhados pela CAENE, objetivando realizar os encaminhamentos

necessários.

Com o intuito de favorecer a acessibilidade, permanência e conclusão do curso dos

estudantes com NEE que possuem vulnerabilidade socioeconômica, foi instituída, a partir da

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Resolução nº 163/2014 (CONSEPE/UFRN), a Bolsa Acessibilidade, a qual é vinculada à

PROAE e operacionalizada pelo Serviço Social da CAENE, no valor de R$ 400,00 mensal.

Essa bolsa visa apoiar o aluno a arcar com as despesas referentes ao deslocamento e à

aquisição de instrumentos pessoais indispensáveis e de apoio aos estudos, com o intuito maior

de garantir a autonomia e a participação plena desses sujeitos, sem, no entanto, isentar a

universidade de prover outros recursos que garantam a acessibilidade (UFRN, 2014).

A assistente social entrevistada considera a Bolsa Acessibilidade uma conquista para o

Serviço Social, pois inicialmente o estudante com deficiência teria que trabalhar 4h na

universidade para ter direito ao auxílio financeiro, contudo, após discussões acerca da

viabilidade da prestação do serviço por parte dos discentes, a contrapartida para permanecer

no programa fixou-se na deficiência, na vulnerabilidade social e no desempenho acadêmico

do graduando.

A profissional afirma não ser justa a prestação de serviço por parte do estudante para

receber o auxílio financeiro, em virtude de outras questões que se somam à questão da

deficiência, como questões econômicas, de moradia e de transporte:

“Quer dizer que um aluno de graduação, desempregado, a família em situações

precárias, sofrendo para chegar até aqui diariamente, e além disso ainda vai ter que

trabalhar no contra turno porque ele é deficiente? Não, isso não é justo.” (Assistente

social).

Todavia, a profissional deixa claro que a Bolsa Acessibilidade não consegue abarcar

todos os estudantes, devendo esses, como citado anteriormente, atender aos critérios de

elegibilidade, em virtude de a instituição não possuir condições financeiras de atender toda a

demanda:

“Infelizmente eu não tenho vaga para todos... Analiso as situações criticamente, pois

cada sujeito tem sua particularidade.” (Assistente social).

Em relação aos estudantes entrevistados, apenas a Entrevistada 3 recebe a Bolsa

Acessibilidade. No que diz respeito ao auxílio recebido, ela afirmou que possui a bolsa desde

2014 e que, em contrapartida ao auxílio financeiro que recebe para custear despesas

provenientes da vida acadêmica, os estudantes participam de atividades mensais em grupo na

CAENE, momento em que discutem acerca de variados temas escolhidos previamente pelos

participantes:

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“Eu faço parte da Bolsa Acessibilidade desde 2014. A gente faz atividades mensais

em grupo, onde debatemos vários temas, em contrapartida recebemos o valor da

bolsa que ajuda na nossa vida acadêmica.” (Entrevistada 3).

No tocante à avaliação da Bolsa Acessibilidade, declarou:

“Eu acho bom, porque de certa maneira incentiva a pessoa a vir para universidade,

porque durante o percurso da vida acadêmica passamos por muitas pressões ruins e

tem as questões estruturais que são um caso à parte, aí a pessoa tem uma certa

motivação que é a bolsa (auxílio financeiro).” (Entrevistada 3).

Nessa perspectiva, a UFRN conta também com o Programa de Orientação de Tutoria

Inclusiva (POTI), que teve início no final do ano de 2014 a partir da disponibilização de

bolsas para tutores, objetivando o acompanhamento e apoio nos aspectos acadêmicos e sociais

aos estudantes com NEE, com o intuito de reduzir as dificuldades advindas de transtornos

específicos de aprendizagem ou de outras necessidades, desenvolver a autonomia e promover

o empoderamento desses discentes, visando com isso garantir a permanência e a conclusão do

curso dos estudantes com NEE.

A UFRN conta ainda com um Laboratório de Acessibilidade (LA) que objetiva

promover a inclusão informacional por meio do gerenciamento e da oferta de produtos de

informação acessível no atendimento das demandas dos usuários com NEE. Dentre os

serviços de informação acessível oferecidos pelo LA e que integra, possivelmente, as

necessidades de uma pessoa com deficiência física, encontra-se o treinamento e empréstimo

de tecnologia assistiva. Quanto aos empréstimos das tecnologias assistivas, há a possibilidade

de o estudante realizar a solicitação de notebooks, lupas manuais ou eletrônicas, bengalas e

gravador. A referida solicitação é analisada pela CAENE, que irá verificar o tipo de NEE e a

condição social e econômica do estudante.

Segundo a assistente social da CAENE, após a ampliação do número de estudantes

com deficiência na universidade, houve a necessidade de se adotar critérios com vistas a

garantir o empréstimo àqueles alunos que não dispunham de condições financeiras de adquirir

seu próprio material de tecnologia assistiva. Contudo, anteriormente a essa ampliação, o

material que a universidade dispunha conseguia abarcar a necessidade dos discentes

matriculados:

“Com a ampliação teve-se que adotar critérios, olhando as condições sociais do

aluno.” (Assistente social).

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Outra ação desenvolvida pelo setor, que é considerada uma ação prioritária na política

de inclusão da CAENE, consiste na formação continuada sobre inclusão e acessibilidade,

traduzindo-se em ações voltadas à formação continuada de discentes e de servidores docentes

e técnico-administrativos, sendo a capacitação dos docentes um eixo considerado fundamental

no percurso para um atendimento e ensino de qualidade.

A assistente social entrevistada esclarece que as referidas atividades baseiam-se na

perspectiva de que a inclusão dos alunos com necessidades especiais é de responsabilidade de

toda a universidade, não se restringindo apenas à CAENE. Dessa maneira, a formação

continuada dos servidores que compõem o quadro de funcionários da UFRN objetiva

justamente compartilhar essa responsabilidade:

“A comunidade acadêmica acha que os alunos com deficiência é de responsabilidade

da CAENE. Não! Esse aluno é de responsabilidade da instituição, devendo, portanto,

todos ter um olhar inclusivo... A CAENE estimula e visa disseminar a Política

Inclusiva dentro da universidade, a qual é de responsabilidade da CAENE.”

(Assistente social).

Segundo o Relatório de Gestão da CAENE, no ano de 2017 foram realizadas 45 ações

direcionadas para a formação continuada desse público, sendo: 5 cursos, 8 oficinas, 31

palestras e 1 Congresso Nacional. A abordagem da temática da inclusão e da acessibilidade,

com vistas a atingir os mais diversos públicos que compõem a academia, caminha para

alcançar uma nova forma de enxergar os sujeitos com NEE e romper com barreiras atitudinais

que venham a existir e cercear o direito desses sujeitos, contribuindo para a construção de um

espaço inclusivo. Segundo a profissional entrevistada,

“A CAENE presta orientação aos docentes, acompanha os discentes e ainda

contribui para a formação continuada desses docentes na instituição, em virtude de

muitos deles não saberem lidar com o aluno com deficiência... As formações, os

cursos, são justamente para preparar os professores para receberem o aluno com

deficiência e tornar a metodologia acessível aquele sujeito, visando o acesso

igualitário.” (Assistente social).

Há profissionais que possuem dificuldades de modificar a metodologia utilizada,

assim como há profissionais que estão dispostos a modificar/ajustar sua metodologia em prol

da inclusão do aluno com deficiência, estando propensos a assumir uma postura colaborativa,

de acordo com a assistente social da CAENE, aqueles professores que têm ou já tiveram

contato com pessoas com deficiência:

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“Existem professores que possuem dificuldade de modificar a metodologia deles…

Às vezes a gente conta com a sensibilidade de alguns professores que têm ou

tiveram contato com pessoas com deficiência, porque enquanto eles não têm contato,

eles não se colocam no lugar do outro.” (Assistente social).

No que se refere à visão dos discentes entrevistados a respeito da relação existente

com os professores, as opiniões convergiram. As Entrevistadas 2 e 3 apontaram não ter

enfrentado obstáculos com relação aos professores, uma vez que eles sempre se mostraram

dispostos a apoiar as mudanças necessárias na dinâmica das aulas para garantir a inclusão das

alunas:

“Eu enfrentei obstáculos em relação à coordenação, pois os professores sempre me

apoiaram.” (Entrevistada 2).

“Os professores os quais eu estou lidando são bem tranquilos em relação às

mudanças necessárias.” (Entrevistada 3).

A assistente social expôs que, por apresentarem uma visão distorcida do trabalho

desenvolvido, alguns docentes visualizam a CAENE como um órgão punitivo dos

professores, visto que acreditam que ela está ali para proteger o aluno. Todavia, a entrevistada

afirmou que os alunos têm direitos e também deveres, não sendo isentados das suas

responsabilidades e obrigações no âmbito universitário, de maneira que, a depender da

necessidade da situação, podem ser apoiados tanto discentes como professores.

“Alguns professores dizem para os alunos: ‘não vá lá na CAENE não, viu? Como se

a CAENE fosse um órgão punitivo daquele professor. As vezes, de maneira

equivocada/distorcida, eles consentem que estamos só protegendo o aluno. Nós

também protegemos os professores, quando os professores estão certos, nós

chamamos o aluno e dizemos ‘você tem que entrar em cena, mostre o seu

desempenho, agora é a sua vez de mostrar ao professor que está fazendo a sua parte’.

O aluno tem direitos, mas tem deveres a serem cumpridos.” (Assistente social).

A formação continuada sobre inclusão e acessibilidade visa, desse modo, fomentar

uma cultura inclusiva no interior da instituição, visto que, segundo a assistente social,

anteriormente à criação da CAENE a Política de Inclusão encontrava-se na invisibilidade na

UFRN, e atualmente, após diversos avanços posteriores à sua criação, busca-se a

implementação de uma política transversal, em que todas as áreas e questões estejam

interligadas, no intuito de responsabilizar a comunidade acadêmica pelo processo de

permanência das pessoas com deficiência na UFRN:

“A CAENE foi criada em 2010 e muitos avanços vêm ocorrendo, isso é inegável. A

Política de Inclusão estava na invisibilidade dentro da instituição… As pessoas

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acham que os alunos com deficiência é de responsabilidade da CAENE. Não! Eles

não precisam só do serviço da CAENE, nossa bandeira de luta é que todos sejam

corresponsáveis pelo processo de permanência na instituição.” (Assistente social).

As perspectivas da profissional são de avanços, de forma que ela espera que

futuramente, a partir do trabalho desenvolvido, a CAENE venha a ser extinta, ocasião em que

a Política de Inclusão estará disseminada por toda comunidade acadêmica, não necessitando,

assim, da atuação de um órgão específico para garantir o direito do aluno com deficiência,

visto que a referida política já estará submersa no trabalho realizado pelos servidores nos

diferentes espaços da universidade:

“A partir dessa política que a gente está tentando disseminar, eu espero que a

CAENE seja extinta.” (Assistente social).

No entanto, para que isso ocorra, é necessário que as barreiras ainda existentes no

espaço universitário venham a ser superadas, haja vista que, conforme afirmado pelos

discentes entrevistados, as barreiras arquitetônicas e atitudinais ainda são bastante acentuadas

na universidade, limitando a fruição dos direitos a eles garantidos.

3.3 Barreiras arquitetônicas e atitudinais

É inegável que a acessibilidade – dos/aos espaços, do meio físico, do transporte, da

informação e da comunicação, dos sistemas e tecnologias da informação, bem como dos

serviços e instalações abertas ao público ou de uso público – é um atributo essencial que visa

garantir a qualidade de vida dos sujeitos, provocando frutos diretos para o desenvolvimento

inclusivo. Nesse sentido, a acessibilidade é um instrumento de suma importância para a

eliminação de barreiras sociais que impedem o pleno exercício de direitos pelas pessoas com

deficiência, sendo através dela que os sujeitos se inserem nas diferentes áreas da vida social.

Conforme Prado (2003, apud BEZERRA, 2007, p. 278),

[...] o objetivo da acessibilidade é proporcionar a todos um ganho de autonomia e

mobilidade, principalmente àquelas pessoas que tem sua mobilidade reduzida ou

dificuldade de comunicação, para que possam usufruir dos espaços e das relações

com mais segurança, confiança e comodidade.

Atualmente, o direito à acessibilidade da pessoa com deficiência tem como base os

direitos humanos e de cidadania, sendo garantida pela Lei nº 10.098/2000 (Lei da

Acessibilidade), a qual estabelece normas gerais e critérios básicos para a promoção da

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acessibilidade das pessoas com deficiência ou com mobilidade reduzida, mediante a supressão

de barreiras e de obstáculos nas vias e espaços públicos, no mobiliário urbano, na construção

e reforma de edifícios e nos meios de transporte e de comunicação. Essa percepção é

reafirmada em alguns artigos da Lei 13.146/15 (Estatuto da Pessoa com Deficiência):

Art. 53. A acessibilidade é direito que garante à pessoa com deficiência ou com

mobilidade reduzida viver de forma independente e exercer seus direitos de

cidadania e de participação social.

Art. 57. As edificações públicas e privadas de uso coletivo já existentes devem

garantir acessibilidade à pessoa com deficiência em todas as suas dependências e

serviços, tendo como referência as normas de acessibilidade vigentes. (BRASIL,

2015, grifo nosso).

As normas de acessibilidade às quais o artigo 57 do Estatuto da Pessoa com

Deficiência se refere dizem respeito às Normas Brasileira da Associação Brasileira de Normas

Técnicas (ABNT), que visam a normalização no campo da acessibilidade, atendendo aos

preceitos de desenho universal através do estabelecimento de requisitos para serem adotados

em locais e serviços, com vistas a garantir que a pessoa com deficiência viva de forma

independente e possa participar de maneira plena de todos os aspectos da vida social,

assegurando-lhe uma isonomia de oportunidades sociais no trabalho, na educação e no lazer

(CANOTILHO, 2000).

Para Barcellos e Campante (2012), a garantia do acesso ao direito de acessibilidade

interfere positivamente nas barreiras sociais presentes, em razão de a acessibilidade consistir

em uma

Adoção de um conjunto de medidas capazes de eliminar todas as barreiras sociais -

não apenas físicas, mas também de informação, serviços, transporte, entre outras -

de modo a assegurar às pessoas com deficiência o acesso, em igualdade de

oportunidades com as demais pessoas, às condições necessárias para a plena e

independente fruição de suas potencialidades e do convívio social. (BARCELLOS e

CAMPANTE, 2012, p. 177).

É responsabilidade governamental impulsionar – através de decisões e de políticas

públicas – maneiras de agir, de comunicar e de fazer a utilização de recursos públicos, com a

finalidade de garantir os direitos e a cidadania dos sujeitos sociais, visando romper as

barreiras à acessibilidade e disseminar o conceito de desenho universal:

Desenho universal: concepção de produtos, ambientes, programas e serviços a serem

usados por todas as pessoas, sem necessidade de adaptação ou de projeto específico,

incluindo os recursos de tecnologia assistiva. (BRASIL, 2015)

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Nesse sentido, o desenho universal consiste na criação dos produtos, ambientes,

programas ou serviços que visa abarcar a necessidade do maior número de sujeitos possíveis,

favorecendo tanto as pessoas com deficiência, que passarão a conviver em um ambiente mais

acessível, como o próprio empreendedor ou Poder Público, que não necessitará de adaptar o

local ou o serviço que oferta, visto que já possuirá um desenho que irá abranger um grande

número de pessoas, devendo, portanto, na criação dos produtos e serviços seguir as

legislações de acessibilidade, a fim de garantir a utilização de todos os sujeitos que deles

necessitarem.

Todavia, apesar da existência de legislações que visam garantir a acessibilidade nos

mais variados espaços e meios, a materialização desse direito não acontece em todos os

espaços sociais devido a questões estruturais e culturais postas. A ausência de mudanças

arquitetônicas – a título de exemplo: demarcação de degraus, construção de rampas de acesso,

portas amplas e corredores largos – acaba por gerar limitações na realização das atividades

diárias e práticas dos sujeitos com deficiência, podendo afetar a sua autoestima e o seu

desenvolvimento intelectual, social e cultural.

No que diz respeito à acessibilidade na UFRN, a assistente social da CAENE afirma

ser de ordem arquitetônica (aquelas encontradas na edificação da universidade) as maiores

barreiras enfrentadas atualmente pelos estudantes com deficiência física:

“As maiores barreiras que os estudantes com deficiência física têm enfrentado são

de ordem arquitetônica, ainda que a Copa do Mundo de 2014 tenha realizado

algumas benfeitorias para que os alunos com deficiência pudessem transpor essas

barreiras.” (Assistente social).

Em relação à acessibilidade, a Entrevistada 2 afirmou que no prédio em que assiste

aulas, o Laboratório de Comunicação (LABCOM), a acessibilidade é bastante ruim em

virtude da ausência de plataformas elevatórias. Em razão disso, relatou que necessitou que

todas as suas aulas fossem transferidas para o térreo, mas que havia encontrado barreiras na

solicitação dessa mudança no que concerne à coordenação do curso, tendo conseguido abarcar

o seu pleito somente após o apoio da CAENE:

“No prédio em que eu estudo a acessibilidade é péssima, não tem plataforma, nem

rampa, só escada. Todas as minhas aulas tiveram que ser transferidas para o térreo, e

somente após o apoio da CAENE que consegui que as turmas mudassem de andar.”

(Entrevistada 2).

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Em virtude da coordenação do curso ter se negado a transferir as aulas para o térreo, a

entrevistada esclareceu que deixou de frequentar as aulas que aconteciam no LABCOM por

dois meses seguidos. A mesma situação ocorreu na época em que a discente assistia aulas no

Setor 2, tendo afirmado ter sido o período em que passou mais tempo sem frequentar as aulas,

em razão do elevador do setor encontrar-se quebrado, restando apenas as escadas à disposição

dos estudantes:

“No LABCOM eu passei dois meses sem frequentar as aulas, no decorrer de um

semestre, porque não queriam mudar as turmas para o térreo, sempre era esse

transtorno, sempre era a mesma coisa, eu tentava subir as escadas e ficava

quebrada... Quando eu tinha aula no setor 2 foi o período em que eu passei mais

tempo sem ir para aula, porque o elevador estava quebrado, aí só tinha as escadas.”

(Entrevistada 2)

Apesar do exposto, a entrevistada deixou claro que esse obstáculo é encontrado apenas

na sua relação com a coordenação do curso, posto que os professores sempre a apoiaram:

“Os professores sempre me apoiaram, inclusive eu estou pagando uma matéria de

fotografia que o professor vai descer o estúdio que é no terceiro andar para o térreo,

só para eu poder ter aula. Os professores sempre foram extremamente

compreensíveis.” (Entrevistada 2)

Situação semelhante à ocorrida com a Entrevistada 2 foi vivenciada pelo Entrevistado

1, que apontou ter tido a necessidade da mudança das suas aulas para o térreo. No entanto, na

ocasião, o seu pleito não havia sido bem aceito pelos docentes:

“A sala era no andar superior e eu solicitei que fosse no térreo, houve alguns

professores que não gostaram.” (Entrevistado 1).

Com base no relato dos Entrevistados 1 e 2, pode-se depreender que a ausência de

recursos que possibilitem a acessibilidade dos discentes com deficiência aos espaços físicos

da universidade, bem como barreiras atitudinais por parte da coordenação do curso e

professores, acabam por limitar a participação plena desses sujeitos no ambiente universitário,

visto que por algumas vezes tiveram que se ausentar das atividades acadêmicas por não terem

o direito de acessibilidade garantido nesse espaço, razão pela qual necessitaram recorrer a

uma instância maior, a CAENE, para interferir no processo.

As barreiras atitudinais dizem respeito ao próprio comportamento humano, sendo

caracterizadas por ações e pelo desinteresse pela eliminação de demais barreiras que venham

a existir. A realidade mencionada anteriormente é um exemplo claro de barreiras atitudinais

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vivenciadas pelos estudantes entrevistados, em virtude dos professores/coordenação do curso

não demonstrarem interesse pela superação da barreira arquitetônica existente na

universidade.

Acerca do apoio ofertado pela CAENE, a Entrevistada 2 mencionou ter um bom

acompanhamento, mas afirmou que em relação à melhoria do LABCOM seria necessária a

intervenção de um órgão maior para resolver as questões que tolhem os direitos dos

estudantes com deficiência no setor em que estuda:

“Eu apoio tudo o que a CAENE fizer... Eu já tive bastante apoio e tenho um

acompanhamento maravilhoso, tudo o que eu preciso eles me ajudam, por mais que

eu saiba que infelizmente seria necessário a intervenção de um órgão maior para

resolver a situação do LABCOM.” (Entrevistada 2).

Em contrapartida à situação vivenciada pelo Entrevistado 1 e pela Entrevistada 2, a

Entrevistada 3 afirmou não ter sofrido com a questão da acessibilidade após ingressar na

UFRN, uma vez que o prédio em que assiste aulas – Escola de Ciências e Tecnologia (ECT) –

é um edifício moderno, diferentemente da maior parte dos outros prédios que compõem o

Campus. A discente apenas encontrou dificuldade em razão do elevador do prédio, por

algumas vezes, achar-se quebrado:

“Quando eu entrei na UFRN eu não sofri com questão de acessibilidade porque eu

fui para ECT, e lá é um edifício mais novo, então tem elevadores. Tudo é mais novo,

diferente dos prédios mais antigos, que são todos bem inacessíveis... O máximo de

complicação na ECT é quando o elevador quebra... Dá para fazer tudo na ECT

porque é bem acessível.” (Entrevistada 3).

Na ocasião em que o elevador se encontrava com problemas, contou que inicialmente

subia até o andar em que as aulas ocorriam, mas que, após certo tempo, percebeu que era um

direito seu que as aulas fossem transferidas para o térreo, melhorando assim a sua

acessibilidade ao local das aulas.

“Às vezes eu subia, mas depois de um tempo eu percebi que eu não precisava subir,

porque se fosse para se mover, tinha que se mover para mim. Eu não era muito

ligada na época.” (Entrevistada 3).

Pelo exposto, infere-se que há diferenças e convergências nas vivências dos

entrevistados no que diz respeito à acessibilidade da universidade. A referida diferença

encontra-se justamente no fato de a Entrevistada 3 frequentar um setor de aulas cujo prédio

foi recém construído, possivelmente seguindo as regulamentações das normas da ABNT –

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que, do ponto de vista das técnicas de engenharia e arquitetura, garantem as condições para

assegurar a acessibilidade das pessoas com deficiência –, diferentemente dos Entrevistados 1

e 2, que regularmente frequentam setores de aulas cujos prédios foram construídos há

décadas, e cujas adaptações que visam abarcar a acessibilidade das pessoas com deficiência

são realizadas conforme a necessidade e a demanda institucional, muitas vezes sem as

adequações exigidas pelas normas regulamentadoras.

Esse fato foi também exposto pela assistente social da CAENE, que apontou que

atualmente não são todas as salas da universidade, por exemplo, que portam rampas de

acesso, e as que possuem foram conquistadas por intermédio da CAENE. Afirmou ainda que,

de acordo com a regulamentação, as rampas devem ser de concreto; no entanto,

provisoriamente foram postas rampas de madeira, fato que preocupa a profissional:

“Nem todas as salas possuem rampas de acesso, as que já foram conquistadas, foram

todas a CAENE. Tem que ser de concreto, mas provisoriamente são as de madeira.

O problema é que às vezes o provisório acaba ficando fixo… E também entra as

questões de licitações e burocracias, que acabam por dificultar o processo.”

(Assistente social).

A questão das vagas especiais nos estacionamentos destinadas às pessoas com

deficiência ou com comprometimento de mobilidade consistiu também em um ponto

levantado pelos entrevistados. Apesar de ser um direito regulamentado em lei, os discentes

apontaram a inexistência de vagas especiais em alguns setores da universidade, bem como a

utilização inapropriada das vagas existentes, seja por falta de conhecimento, educação ou

cidadania de quem está fazendo o uso.

A Entrevistada 2 apontou que no setor onde estuda não há vagas especiais para

pessoas com deficiência. Em virtude disso, afirmou ter feito a solicitação, que levou, no

entanto, um ano e meio para ser atendida. Apesar do atendimento do seu pleito, a discente

declarou ainda encontrar dificuldades para estacionar no setor onde suas aulas ocorrem em

virtude das vagas existentes estarem sendo utilizadas indevidamente, além da ausência da

devida sinalização:

“Não tinha vagas para deficientes... Depois de um ano e meio de pedidos eu

consegui que eles colocassem uma vaga, mas as motos passaram a estacionar lá.

Além de que a vaga não tem placa, só tem o desenho no chão que já está apagado.

Eu chego lá e tem várias motos, sempre.” (Entrevistada 2).

Essa circunstância faz com que a aluna tenha que estacionar o seu veículo em um local

mais distante, de difícil acesso, com calçada irregular e com ausência de rampas, o que faz a

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discente, nas ocasiões em que necessita realizar esse deslocamento, sentir dores, em virtude

do esforço físico que precisa realizar para poder chegar até o local de aulas:

“Como só tem essa vaga, e como sempre, as motos estacionam lá, eu tenho que

estacionar no setor I, porque o LABCOM de fato, não tem estacionamento. Do

estacionamento para o LABCOM o acesso é difícil, porque a calçada é desregular, e

para subir na calçada tem degraus, eu sinto dor para subir degraus.” (Entrevistada 2).

A Entrevistada 3 corroborou com esse fato ao afirmar que é comum se deparar com

automóveis utilizando-se inapropriadamente das vagas especiais. Declarou, apesar disso, em

virtude de não possuir veículo próprio e diariamente seu pai realizar o seu transporte casa-

universidade, não encontrar dificuldades nesse sentido:

“Eu venho com meu pai para a faculdade, mas um dia desses eu vi um caminhão que

estacionou cruzando as duas vagas especiais e as duas rampas, não tinha como

ninguém passar.” (Entrevistada 3).

Em relação às vagas especiais, a assistente social da CAENE disse já ter realizado uma

campanha intitulada “Essa vaga não é sua nem por um minuto!” para orientar a comunidade

acadêmica no que diz respeito à utilização das vagas. No entanto, fica clara, ao analisar a fala

dos entrevistados, a necessidade de fomentar mais amplamente essa discussão no espaço

universitário, bem como a devida reserva e sinalização das vagas, com o intuito de evitar tal

prática e romper essa barreira atitudinal.

Apesar das inadequações apontadas ao longo deste capítulo, em relação à arquitetura

do Campus a profissional salientou que a CAENE possui uma parceria com a

Superintendência de Infraestrutura (INFRA) da UFRN, que é responsável pelas obras

institucionais. Além disso, faz parte da equipe da Comissão um arquiteto responsável por

fiscalizar as obras da universidade a fim de garantir o atendimento às normas de

acessibilidade:

“Nós temos uma parceria com a Superintendência de Infraestrutura, que é

responsável pelas construções… Também temos um arquiteto, que fiscaliza esse

trabalho para ver se está atendendo as normatizações de acessibilidade.” (Assistente

social).

Frente ao exposto, compreende-se que a acessibilidade consiste em um dos maiores

direitos das pessoas com deficiência, logo após os direitos fundamentais garantidos a todos os

indivíduos, uma vez que dela depende a realização dos seus demais direitos, revelando, assim,

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o seu valor na vida das pessoas com deficiência. Atualmente, as barreiras são o motivo central

para que as pessoas com deficiência não exerçam os seus direitos.

Acredita-se, portanto, que as entrevistadas realizadas com os discentes com

deficiência e com a assistente social lotada na CAENE enriqueceram este estudo a partir do

compartilhamento de suas experiências e concepções, acrescentando qualitativamente na

discussão empreendida. As vivências partilhadas permitiram ainda uma análise singularizada

no que diz respeito à inclusão de pessoas com deficiência no Ensino Superior, e mais

especificamente no âmbito da UFRN. Em vista disso, este estudo buscou contemplar, no

interior das condições e dimensões exequíveis, aspectos relativos ao objeto da pesquisa.

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4 CONSIDERAÇÕES FINAIS

A inclusão de pessoas com deficiência propõe a efetivação desses sujeitos como seres

de direitos e deveres que possuem igualdade de acesso ao espaço comum da vida em

sociedade, partindo do binômio do desenvolvimento do sujeito e desenvolvimento de

condições que visam assegurar a participação plena das pessoas com deficiência na vida

comunitária (SASSAKI, 1999). De acordo com o exposto no decorrer deste estudo, a

discussão em torno da inclusão de pessoas com deficiência é considerada recente e vem nas

últimas décadas ganhando uma maior visibilidade, sendo pensada e analisada por diversos

autores.

Sassaki (1999, 2003, 2005) apresenta-se como um dos autores críticos que realizam

essa discussão, já tendo realizado algumas publicações acerca dessa temática. Foi a partir das

questões levantadas pelo autor, bem como em virtude das demandas sociais interpeladas pela

temática, que o presente estudo começou a ser desenvolvido, abordando o percurso histórico

da pessoa com deficiência; as legislações que abarcam os direitos desses sujeitos e as

nomenclaturas utilizadas no decorrer dos anos para referir-se às pessoas com deficiência;

assim como buscando resgatar historicamente o percurso da educação superior no Brasil, e

especificamente a inclusão de pessoas com deficiência nesse nível de ensino, trazendo essa

discussão para os dias atuais, especificamente na UFRN.

Considerando os aspectos abordados no decorrer deste trabalho, compreende-se que a

inclusão de pessoas com deficiência nos dias de hoje – apesar da sua importância para a

sociedade brasileira e dos avanços ocorridos nos últimos anos – ainda é permeada por

diversas barreiras (urbanísticas, arquitetônicas, nos transportes, nas comunicações e na

informação, atitudinais e tecnológicas), as quais se encontram presentes no contexto de

inclusão desses sujeitos no Ensino Superior brasileiro.

Por considerar a discussão da inclusão no Ensino Superior de suma importância, em

razão do elevado número de pessoas com deficiência no Rio Grande do Norte, bem como do

elevado índice de pessoas com deficiência que não possuem Ensino Superior, essa pesquisa se

deteve a analisar o processo de inclusão de discentes com deficiência física na universidade

supracitada, tendo essa análise como seu objetivo principal.

A análise proposta foi desenvolvida mais profundamente no terceiro capítulo deste

estudo, momento em que foi discorrido inicialmente sobre o lócus da pesquisa, seguido pela

problematização acerca do ingresso na referida universidade, apresentando discussões acerca

das Políticas de Ações Afirmativas em termos de produção teórica. Por fim, foi travada a

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discussão sobre os mecanismos de permanência disponibilizados pela UFRN e o papel da

CAENE nesse contexto de acesso e permanência dos estudantes com deficiência no Ensino

Superior.

Assim, esse trabalho buscou compreender como se proccessualiza essa discussão no

âmbito da UFRN – Campus Central, tendo como público alvo alguns discentes com

deficiência física matriculados na modalidade de graduação presencial. Para a progressão da

discussão, a fim de atingir os objetivos específicos aos quais este trabalho se propôs, foram

identificadas as vivências dos discentes entrevistados acerca do acesso e permanência na

UFRN, enquanto estudantes com deficiência física.

Dessa análise desenvolvida, pode-se concluir que apesar de a UFRN desde 2010

possuir um órgão responsável pela eliminação das barreiras existentes em torno das pessoas

com necessidades especiais, visando garantir a sua inclusão no espaço universitário, ainda

existem barreiras reais ao se tratar do acesso e da permanência desse público no Ensino

Superior, especificamente barreiras atitudinais e arquitetônicas, as quais suprimem condições

necessárias dos sujeitos para a plena e independente fruição de suas potencialidades e do

convívio social.

Desse modo, os sujeitos passam a lançar mão de estratégias individuais a fim de

garantir o seu lugar no espaço acadêmico, colocando em evidência, portanto, a necessidade de

avançar nas ações e projetos que visem a ampliação da noção dos direitos garantidos às

pessoas com deficiência.

Nesse sentido, destaca-se também a relevância do Serviço Social ampliar os estudos

acerca do tema, tendo em vista que a inclusão das pessoas com deficiência perpassa o debate

dos direitos humanos, bem como se coloca como uma forma de enfrentamento a expressões

da “questão social” que demanda da profissão um olhar crítico. Além disso, vale destacar o

número escasso de publicações acerca da inclusão de pessoas com deficiência que sejam

oriundas do Serviço Social, afirmando a necessidade dessa discussão no interior da categoria

profissional, uma vez que ela também perpassa todos os espaços ocupacionais nos quais os

profissionais de Serviço Social estão inseridos ou venham a se inserir.

Destaca-se que este estudo não buscou esgotar o debate no que diz respeito à inclusão

de pessoas com deficiência física no Ensino Superior, configurando-se, por outro lado, como

um ensaio teórico que tem como finalidade contribuir com essa discussão e com os sujeitos

que fazem parte da comunidade acadêmica, considerando que os fatores relativos à inclusão

de pessoas com deficiência ultrapassam a relação aluno-professor, requerendo um olhar de

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todos os setores e sujeitos, em razão da pessoa com deficiência ter o direito de acessar todos

os espaços.

Este estudo suscitou ainda outras questões que podem ser aprofundadas

posteriormente, como: a realização do referido estudo em outros níveis educacionais (a título

de exemplo, Ensino Fundamental e Ensino Médio); o aumento da amostra para a realização

do estudo; e a análise da inclusão desses sujeitos com deficiência física no mercado de

trabalho.

Considera-se, portanto, que, dentro dos limites e possibilidades de alcance, este

trabalho atingiu os objetivos propostos inicialmente, fazendo uso das perspectivas do método

escolhido, prezando pelas questões éticas de pesquisa e apresentando contribuições para a

temática ora apresentada.

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______. Portaria n. 203/10-R, de 15 de março de 2010. Natal, 2010a.

______. Resolução nº 163/2014 – CONSEPE, de 19 de agosto de 2014. Dispõe sobre a

concessão de Bolsa Acessibilidade para Estudantes com Deficiência na Universidade Federal

do Rio Grande do Norte. Natal, 2014.

______. Resolução nº 193/2010 - CONSEPE, de 21 de setembro de 2010. Dispõe sobre o

atendimento educacional a estudantes com necessidades educacionais especiais na

Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Natal, 2010b.

VIEGAS, L.S.; ANGELUCCI, C.B. (orgs.). Políticas Públicas em Educação: uma Análise

Crítica a Partir da Psicologia Escolar. São Paulo: Casa do Psicólogo, 2006.

WERNECK, C. Ninguém mais vai ser bonzinho na sociedade inclusiva. Rio de Janeiro:

WVA, 1997.

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APÊNDICES

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APÊNDICE A - Roteiro de entrevista semiestruturada

ROTEIRO DE ENTREVISTA SEMIESTRUTURADA PARA OS(AS) ALUNOS(AS)

COM DEFICIÊNCIA FÍSICA - UFRN CAMPUS CENTRAL

1. DADOS GERAIS

Data da entrevista: ____/____/____

Sexo: ( ) Feminino ( ) Masculino

Data de nascimento: __/__/__

Raça/etnia: ( ) Branca ( ) Amarelo ( ) Negra ( ) Indígena ( ) Parda ( ) Não sabe responder

( ) Outras: _____________________

Estado Civil: ____________________

Deficiência: ______________________

2. DADOS SOBRE O INGRESSO NA UFRN

Forma de Ingresso: ______________

Período de ingresso: _____________

Curso: _________________________

Período: ( ) 1º ( ) 2º ( ) 3º ( ) 4º ( ) 5º ( ) 6º ( ) 7° ( ) 8° ( ) 9° ( ) 10° ( ) 11° ( ) 12°

Turno: ( ) Matutino ( ) Vespertino ( ) Noturno

3. DADOS SOBRE O ACESSO E A PERMANÊNCIA NA UFRN

a) Como foi o seu percurso na educação básica?

b) Como se deu o processo de acesso à universidade? Foram encontradas dificuldades?

c) Na sua opinião, quais os principais desafios que um estudante com deficiência

encontra para a realização das atividades acadêmicas?

d) Que serviços acessa? Qual é a sua avaliação acerca dos serviços de apoio a inclusão na

universidade?

e) Quais as perspectivas profissionais e pessoais após a finalização do curso de

graduação?

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APÊNDICE B - Roteiro de entrevista semiestruturada

ROTEIRO DE ENTREVISTA SEMIESTRUTURADA PARA ASSISTENTE SOCIAL

DA CAENE - UFRN CAMPUS CENTRAL

1 . DADOS GERAIS

Data da entrevista:____/____/____

Formação: __________________________

Tempo de Trabalho na instituição: __________________________

2. DADOS SOBRE AS CONFIGURAÇÕES DAS AÇÕES DESENVOLVIDAS PELA

CAENE

a) Atualmente por quais e quantos profissionais a CAENE é formada?

b) Quais são os principais projetos e ações desenvolvidas pelo setor?

c) Quais legislações amparam esses projetos e ações?

d) Quais são as principais demandas existentes na CAENE?

e) Como são estabelecidas as condições de acesso aos programas e ações desenvolvidas?

f) Como você avalia a contribuição da CAENE hoje para a Universidade Federal do Rio

Grande do Norte?

g) Quais são as contribuições do Serviço Social nesse processo de acesso e permanência

dos alunos com deficiência na UFRN?

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APÊNDICE C - Termo de Consentimento Livre e Esclarecido

TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO – TCLE

(Para maiores de idade)

Esclarecimentos

Este é um convite para você participar da pesquisa: A inclusão na educação

superior: uma análise das questões relativas ao acesso e permanência de pessoas com

deficiência na Universidade Federal do Rio Grande do Norte, que tem como pesquisador

responsável a Profª. Drª. Carla Montefusco de Oliveira.

Esta pesquisa pretende analisar o processo de inclusão de pessoas com deficiência na

educação superior na Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Assim como, mais

especificamente, caracterizar as políticas de inclusão na realidade brasileira; verificar os

mecanismos de ingresso e permanência das pessoas com deficiência na educação superior na

Universidade Federal do Rio Grande do Norte; e inferir as barreiras enfrentadas pelas pessoas

com deficiência física, no que se refere às formas de acesso e permanência na educação

superior.

O motivo que nos leva a fazer este estudo é: considerando a centralidade e a

importância da inclusão da pessoa com deficiência no ensino superior, dá-se a necessidade de

se problematizar as questões do acesso e permanência das pessoas com deficiência na

Universidade Federal do Rio Grande do Norte, por considerar, entre outro aspectos, que ainda

hoje, no Brasil, e mais fortemente no Nordeste, há uma baixa porcentagem de pessoas com

deficiência que possuem ensino superior completo. Tal dados nos leva a refletir sobre a

efetivação de políticas de inclusão na sociedade brasileira, assim como os mecanismo de

ingresso e permanência existentes garantidos para esses sujeitos.

Além, da possibilidade de contribuir, sobremaneira, com o aprimoramento

profissional dos assistentes sociais, por meio da aproximação com o debate; com o exercício

profissional no enfrentamento da problemática, nos vários campos de atuação; e com os

futuros estudos das diversas ciências, uma vez que a inclusão de pessoas com deficiência é

um assunto amplo, abrangente e de abordagem interdisciplinar.

Caso você decida participar, você será submetido(a) a uma entrevista semiestruturada,

que durará cerca de 30 minutos, que será registrada com o auxílio de um gravador de voz para

viabilizar a integridade das respostas durante a transcrição, respeitando os direitos dos

entrevistados conforme “Termo de autorização para gravação de voz”, assinado pelo

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participante e pelo pesquisador responsável. Tal entrevista requerem informações básicas

dos/das discentes, bem como aquelas relacionadas a sua vivência e percepção no que

concerne à inclusão no ensino superior.

Durante a realização das etapas dessa pesquisa, você estará livre para interromper a

sua participação a qualquer momento e/ou solicitar a posse da gravação e transcrição da

entrevista, logo identificamos mínimos riscos e/ou danos à dimensão física, psíquica, moral,

intelectual, social, cultural ou espiritual do ser humano, a partir do desenvolvimento dessas,

considerando que os participantes não serão diretamente identificados e a sua dignidade e

autonomia serão respeitadas.

Assim, caso aconteça um desconforto ou risco do constrangimento em alguma das

etapas da entrevista, o participante poderá solicitar, imediatamente, a interrupção da entrevista

e/ou o não uso de alguns trechos da sua fala. Para minimizar as possibilidades de

constrangimento, as entrevistas serão realizadas em ambiente que permitam garantir o sigilo

das informações.

Ao participar da pesquisa, você terá como benefício participar da construção desse

estudo, que visa contribuir com as discussões em torna da questão da inclusão da pessoa com

deficiência no Ensino Superior.

Em caso de algum problema que você possa ter, relacionado com a pesquisa, você terá

direito a assistência gratuita que será prestada mediante o compromisso dos pesquisadores

envolvidos de ressarcimento de qualquer prejuízo que ocorra decorrente da execução desta

pesquisa.

Durante todo o período da pesquisa você poderá tirar suas dúvidas com a Profª. Drª.

Carla Montefusco de Oliveira, através do e-mail [email protected], e com a

pesquisadora participante Amanda Pereira Soares Lima, através do e-mail

[email protected].

Você tem o direito de se recusar a participar ou retirar seu consentimento, em qualquer

fase da pesquisa, sem nenhum prejuízo para você.

Os dados que você irá nos fornecer serão confidenciais e serão divulgados apenas em

congressos ou publicações científicas, não havendo divulgação de nenhum dado que possa lhe

identificar.

Esses dados serão guardados pelo pesquisador responsável por essa pesquisa em local

seguro e por um período de 5 anos.

Se você tiver algum gasto pela sua participação nessa pesquisa, ele será assumido pelo

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pesquisador e reembolsado para você. Se você sofrer algum dano comprovadamente

decorrente desta pesquisa, você será indenizado

Qualquer dúvida sobre a ética dessa pesquisa você deverá ligar para o Comitê de Ética

em Pesquisa da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, telefone 3215-3135, e-mail:

[email protected], Endereço: Av. Nilo Peçanha, 620 – Petrópolis – CEP 59.012-

300, Natal/RN

Este documento foi impresso em duas vias. Uma ficará com você e a outra com o

pesquisador responsável, a Profª. Drª. Carla Montefusco de Oliveira.

Consentimento Livre e Esclarecido

Após ter sido esclarecido sobre os objetivos, importância e o modo como os dados

serão coletados nessa pesquisa, além de conhecer os riscos, desconfortos e benefícios que ela

trará para mim e ter ficado ciente de todos os meus direitos, concordo em participar da

pesquisa “A inclusão na educação superior: uma análise das questões relativas ao acesso e

permanência de pessoas com deficiência na Universidade Federal do Rio Grande do Norte”, e

autorizo a divulgação das informações por mim fornecidas em congressos e/ou publicações

científicas desde que nenhum dado possa me identificar.

Natal, _____/ _______/ ______.

__________________________________________________

Assinatura do participante da pesquisa

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Declaração do pesquisador responsável

Como pesquisador responsável pelo estudo “A inclusão na educação superior: uma

análise das questões relativas ao acesso e permanência de pessoas com deficiência na

Universidade Federal do Rio Grande do Norte”, declaro que assumo a inteira responsabilidade

de cumprir fielmente os procedimentos metodologicamente e direitos que foram esclarecidos

e assegurados ao participante desse estudo, assim como manter sigilo e confidencialidade

sobre a identidade do mesmo.

Declaro ainda estar ciente que na inobservância do compromisso ora assumido estarei

infringindo as normas e diretrizes propostas pela Resolução 466/12 do Conselho Nacional de

Saúde – CNS, que regulamenta as pesquisas envolvendo o ser humano.

Natal, _____/ _______/ ______.

__________________________________________________

Assinatura do pesquisador responsável

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APÊNDICE D - Termo de autorização para gravação de voz

TERMO DE AUTORIZAÇÃO PARA GRAVAÇÃO DE VOZ

Eu,_________________________________, depois de entender os riscos e benefícios

que a pesquisa intitulada A inclusão na educação superior: uma análise das questões

relativas ao acesso e permanência de pessoas com deficiência na Universidade Federal

do Rio Grande do Norte poderá trazer e, entender especialmente os métodos que serão

usados para a coleta de dados, assim como, estar ciente da necessidade da gravação de minha

entrevista, AUTORIZO, por meio deste termo, os pesquisadores, a Profº Drª. Carla

Montefusco de Oliveira e a graduanda Amanda Pereira Soares Lima a realizar a gravação

de minha entrevista sem custos financeiros a nenhuma parte.

Esta AUTORIZAÇÃO foi concedida mediante o compromisso dos pesquisadores

acima citados em garantir-me os seguintes direitos:

1. poderei ler a transcrição de minha gravação;

2. os dados coletados serão usados exclusivamente para gerar informações para a

pesquisa aqui relatada e outras publicações dela decorrentes, quais sejam: revistas científicas,

congressos e jornais;

3. minha identificação não será revelada em nenhuma das vias de publicação das

informações geradas;

4. qualquer outra forma de utilização dessas informações somente poderá ser feita

mediante minha autorização;

5. os dados coletados serão guardados por 5 anos, sob a responsabilidade da

pesquisadora coordenadora da pesquisa a Profª. Drª. Carla Montefusco de Oliveira, e após

esse período, serão destruídos;

6. serei livre para interromper minha participação na pesquisa a qualquer momento

e/ou solicitar a posse da gravação e transcrição de minha entrevista.

Natal, _____/ _____/ _____.

____________________________________________________

Assinatura do participante da pesquisa

____________________________________________________

Assinatura do pesquisador responsável

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ANEXOS

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ANEXO A - Parecer Consubstanciado do Comitê de Ética – CEP/UFRN

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