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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO
O USO DO DIMINUTIVO EM UMA INTERAÇÃO FACE A FACE:
ANÁLISE COMPARATIVA EM CORPORA ORAIS DAS VARIANTES
MADRILENA E CARIOCA
Camilla Guimarães Santero
Dissertação de Mestrado apresentada ao Pro-
grama de Pós-Graduação em Letras Neolatinas
da Universidade Federal do Rio de Janeiro co-
mo quesito para a obtenção do Título de Mestre
em Letras Neolatinas (Estudos Linguísticos
Neolatinos, opção: Língua Espanhola)
Orientadora: Profª. Drª. Leticia Rebollo Couto
Rio de Janeiro
Fevereiro de 2011
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O USO DO DIMINUTIVO EM UMA INTERAÇÃO FACE A FACE:
ANÁLISE COMPARATIVA EM CORPORA ORAIS DAS VARIANTES
MADRILENA E CARIOCA
Camilla Guimarães Santero
Orientadora: Leticia Rebollo Couto
Dissertação de Mestrado submetida ao Programa de Pós-Graduação em Letras
Neolatinas da Universidade Federal do Rio de Janeiro – UFRJ, como parte dos
requisitos mínimos para a obtenção do Título de Mestre em Letras Neolatinas (Es-
tudos Linguísticos Neolatinos, opção: Língua Espanhola)
Aprovada por:
______________________________________________________________________
Presidente, Profª. Doutora Leticia Rebollo Couto
______________________________________________________________________
Prof. Doutor Carlos Alexandre Gonçalves - UFRJ
______________________________________________________________________
Profª. Doutora Maria do Carmo Leite de Oliveira – PUC-RJ
______________________________________________________________________
Profª. Doutora Maria Mercedes Riveiro Quintans Sebold, Suplente
______________________________________________________________________
Profª. Doutora Célia Regina dos Santos Lopes, Suplente
Rio de Janeiro
Fevereiro de 2011
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Santero, Camilla Guimarães.
O uso do Diminutivo em uma interação face a face: análise comparativa em cor-
pora orais das variantes madrilena e carioca/ Camilla Guimarães Santero. – Rio
de Janeiro: UFRJ/FL, 2011.
xviii, 82f.: Il.; 31 cm.
Orientadora: Leticia Rebollo Couto.
Dissertação (mestrado) – UFRJ/ FL/ Programa de Pós-Graduação em Letras
Neolatinas (Língua Espanhola), 2011.
Referências Bibliográficas: f. 80- 82.
1. Diminutivo. 2. Morfopragmática. 3. Trabalho de face. I. Couto, Leticia Rebo
llo. II. Universidade Federal do Rio de Janeiro, Faculdade de Letras, Programa de
Pós-Graduação em Letras Neolatinas. III. Título.
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AGRADECIMENTOS
No decorrer desses dois longos anos da minha vida, dos quais dediquei grande
parte no desenvolvimento da minha dissertação, pude contar com o trabalho, o conhe-
cimento e a paciência de muitas pessoas. É a elas que dedico essas linhas expressando a
minha mais profunda gratidão.
Em primeiro lugar agradeço a Deus a graça da vida e todas as bênçãos que Ele
derrama diariamente sobre mim, incluindo o meu mestrado.
Agradeço aos meus pais porque são meu porto seguro. Dois pilares que me man-
têm firme e não me deixam esmorecer. Agradeço a minha mãe pelas inúmeras vezes em
que se ofereceu para me ajudar a fichar um texto e ao meu pai que todas as vezes que
me via um dia inteiro no computador vinha com um chocolate para “adoçar” o meu dia.
A minha irmã pelo infinito amor. Por ser sempre ouvidos mesmo sem entender
uma palavra sobre as questões da minha dissertação.
Ao meu noivo, por se abdicar de tantas coisas em função dos meus afazeres, por
compreender minha ausência e me amar sem restrições.
A todos os meus amigos que sempre me deram uma palavra de ânimo, modifica-
ram datas em função dos meus horários e aguentaram conversar sobre o único assunto
que eu tinha: minha dissertação.
Aos amigos da faculdade, em especial a Carolina Parrini e o Leonardo Lennertz,
por todo o tempo cedido, por todas as bibliografias, por me fazerem companhia no
mundo acadêmico e compartilharem todos os sentimentos que envolvem a feitura de
uma dissertação.
À Professora Leticia Rebollo Couto, que me despertou o interesse pela Língua
Espanhola ainda na graduação. Agradeço-lhe por ter me aceitado como orientanda e ter
me ensinado tantas coisas.
À Professora Maria do Carmo Leite de Oliveira, por ter me proporcionado gran-
des prazeres com a Pragmática e a Polidez Linguística. Agradeço-lhe por ser o exemplo
da professora que eu quero me tornar.
Aos Professores Carlos Alexandre Gonçalves e Maria Mercedes Sebold tão solí-
citos sempre.
À Faculdade de Letras da UFRJ, por ser meu lugar do saber.
Ao CNPQ pelo auxílio financeiro.
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RESUMO
O USO DO DIMINUTIVO EM UMA INTERAÇÃO FACE A FACE:
ANÁLISE COMPARATIVA EM CORPORA ORAIS DAS VARIANTES
MADRILENA E CARIOCA
Camilla Guimarães Santero
Orientadora: Leticia Rebollo Couto
Resumo da Dissertação de Mestrado submetida ao Programa de Pós-Graduação
em Letras Neolatinas da Universidade Federal do Rio de Janeiro – UFRJ, como parte
dos requisitos necessários para a obtenção do título de Mestre em Letras Neolatinas
(Estudos Linguísticos Neolatinos, opção: Língua Espanhola).
Este trabalho descritivo-contrastivo tem por objetivo identificar quais as funções mor-
fopragmáticas dos diminutivos de base substantiva concreta que aparecem na atividade
entrevista sociolinguística e observar se as formações diminutivas estão a serviço da
construção de face do entrevistado para confrontar seus usos na variante carioca do por-
tuguês e na variante madrilena do espanhol. Para tanto foram analisadas doze entrevis-
tas, sendo seis do projeto NURC-RJ e seis do projeto PRESEEA. Foram selecionados
três homens e três mulheres de cada variante, todos com nível superior completo, com
idade entre 23 e 32 anos. Os dados foram analisados com base nos pressupostos teóricos
da Morfopragmática e da Teoria de elaboração de faces. Os resultados mostraram que
os diminutivos não são apenas um atenuador de atos de ameaça (um recurso de polidez),
mas também um recurso a serviço do trabalho de construção de face. Enquanto os dimi-
nutivos do corpus carioca aparecem majoritariamente com função pragmática, o que há
no corpus madrileno é ainda um uso canônico dos diminutivos indicando dimensão.
Palavras-chave: Diminutivos, Morfopragmática e Trabalho de Face.
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RESUMEN
O USO DO DIMINUTIVO EM UMA INTERAÇÃO FACE A FACE: ANÁLISE
COMPARATIVA EM CORPORA ORAIS DAS VARIANTES
MADRILENA E CARIOCA
Camilla Guimarães Santero
Orientadora: Leticia Rebollo Couto
Resumen da Dissertação de Mestrado submetida ao Programa de Pós-Graduação
em Letras Neolatinas da Universidade Federal do Rio de Janeiro – UFRJ, como parte
dos requisitos necessários para a obtenção do título de Mestre em Letras Neolatinas
(Estudos Linguísticos Neolatinos, opção: Língua Espanhola).
El propósito de este trabajo es identificar cuáles son las funciones morfopragmá-
ticas de los diminutivos de base sustantiva concreta y observar si las formaciones dimi-
nutivas están al servicio de la construcción de imagen de los entrevistados para confron-
tar los usos en la variante carioca del portugués y la variante madrileña del español. Para
ello, han sido analizadas doce entrevistas – seis del proyecto NURC-RJ y seis del pro-
yecto PRESEEA. Han sido seleccionados tres hombres y tres mujeres de cada variante,
todos con escolaridad superior completa y con edad entre 23 y 32 años. Los datos han
sido analizados según los presupuestos teóricos de la Morfopragmática y la Teoría de la
Actividad de Imágenes. Los resultados demostraron que los diminutivos no son única-
mente un atenuante de los actos de amenaza (un recurso de la cortesía), sino que están al
servicio de la construcción de imagen. Mientras los diminutivos del corpus carioca apa-
recieron con función mayoritariamente pragmática, lo que hay en el corpus madrileño
es, todavía, un uso canónico de los diminutivos señalando dimensión.
Palabras clave: Diminutivos, Morfopragmática y Actividad de Imágenes.
Rio de Janeiro
Fevereiro de 2011
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LISTA DE ILUSTRAÇÕES
Página
Quadro 1 – Sufixos do português por Cunha e Cintra (2001, p. 90-91)........................14
Quadro 2 – Sufixos do espanhol por Bosque e Ignacio (1999 , p.4645-4682)..............14
Quadro 3 – Relação de Atenuação e Distância Interpessoal proposta por Juana Puga
(1997, p.113)....................................................................................................................24
Quadro 4 – Síntese da proposta de modelo contextual para a análise morfopragmática
deste trabalho...................................................................................................................32
Tabela 1- Número de palavras das entrevistas para o NURC-RJ e PRESEEA-Alcalá de
Henares............................................................................................................................36
Tabela 2- Total de diminutivos em cada entrevista sociolingüística..............................37
Gráfico 1- Variante Carioca (total de diminutivos presente no corpus versus diminuti-
vos de base substantiva concreta)....................................................................................38
Gráfico 2- Variante Madrilena total de diminutivos presente no corpus versus diminuti-
vos de base substantiva concreta.....................................................................................39
Quadro 5 – Diminutivos de classe gramatical ≠ de substantivo concreto......................40
Quadro 6 – Formações diminutivas com sufixos em Espanhol que não -ito e –illo......41
Quadro 7 – Proposta comparativa de ethos nas variantes culturais analisadas..............44
Gráfico 3 – Resultado das categorias morfopragmáticas no corpus carioca..................58
Gráfico 4 – Resultado das categorias morfopragmáticas no corpus madrileno.............76
Gráfico 5 – Resultado dos usos subjetivos e referenciais nas variantes madrilena e cari-
oca....................................................................................................................................78
8
SUMÁRIO
Página
INTRODUÇÃO.............................................................................................................10
1 PRESSUPOSTOS TEÓRICOS..............................................................................14
1.1 A Multifuncionalidade Pragmática dos Diminutivos................................................17
1.2 O Uso do Diminutivo como Fator de Interação Social.............................................21
1.2.1 A Face.....................................................................................................................22
1.2.2 A Atenuação...........................................................................................................24
1.3 Considerações Teóricas.............................................................................................26
2 PRESSUPOSTOS METODOLÓGICOS............................................................31
2.1 Modelo de Análise: Uma categorização morfopragmática.......................................31
2.2 Os diminutivos nos corpora......................................................................................35
2.3 O Ethos das Variantes Madrilena e Carioca..............................................................42
3 OS USOS DO DIMINUTIVO NA VARIANTE CARIOCA...............................46
3.1 O Diminutivo no corpus das Mulheres da Variante Carioca.....................................46
3.1.1 Afeto Negativo....................................................................................................49
3.1.2 Afeto Positivo......................................................................................................52
3.2 O Diminutivo no corpus dos Homens da Variante Carioca......................................56
4 OS USOS DO DIMINUTIVO NA VARIANTE MADRILENA.........................59
4.1 O Diminutivo no corpus das Mulheres da Variante Madrilena.................................59
4.1.1 Usos Referenciais................................................................................................62
4.1.2 Afeto Negativo....................................................................................................64
4.1.3 Afeto Positivo......................................................................................................67
4.1.4 Atenuantes...........................................................................................................68
4.2 O Diminutivo no corpus dos Homens da Variante Madrilena..................................69
4.2.1 Usos Referenciais................................................................................................71
4.2.2 Afeto Positivo......................................................................................................72
9
4.2.3 Atenuantes...........................................................................................................74
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS ...................................................................................77
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .......................................................................80
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INTRODUÇÃO
A literatura sobre o diminutivo tem contemplado tradicionalmente uma questão
mais morfológica e semântica; quando fazem alguma diferenciação entre os usos refe-
renciais e subjetivos, as gramáticas portuguesa e espanhola não vão além do que prevê a
semântica.
Atualmente, o que se assinala sobre os diminutivos é que muitas vezes aparecem
como minimizadores (atenuantes) e que, tanto em português quanto em espanhol, nem
sempre aparecem com valor de dimensão podendo associar-se a conotações afetivas,
irônicas e até mesmo realizações cristalizadas (lexicalizações). No entanto esse fenôme-
no de variação morfopragmática ainda não está totalmente descrito.
Em linhas gerais, as Gramáticas da Língua Portuguesa tratam os diminutivos
como expressão do grau; Gonçalves (2005) salienta que as variações formais do grau
diminutivo são as mais controversas na literatura linguística sobre o português, pois as
abordagens não se mostram coerentes tanto na sua categorização como processo morfo-
lógico quanto na determinação dos significados que veiculam.
Já as Gramáticas da Língua Espanhola, além da idéia de redução de tamanho,
consideram uma conotação afetiva, bem como a possibilidade do diminutivo vir associ-
ado a um valor depreciativo; no entanto, tais caracterizações são apresentadas como
fixas e isoladas, ou seja, como se cada sufixo diminutivo carregasse um valor intrínseco,
o que se desconstrói na prática linguística.
As gramáticas de ambas as línguas consideram os valores afetivos, pejorativos,
apreciativos etc., como secundários. Contrariamente à atenção que as gramáticas norma-
tivas dão a esses valores dos diminutivos, os falantes de ambos os sistemas não só usam
tais formações nas mais variadas situações, como também as relacionam a outros valo-
res que não a mera diminuição daquilo a que se referem.
A análise da função que os diminutivos assumem numa interação específica é
ainda pouco explorada; para Brown e Levinson (1987), os diminutivos funcionam como
estratégia da polidez linguística porque atenuam, mitigam um ato de ameaça; numa ati-
vidade de entrevista sociolingüística, o diminutivo não seria apenas um atenuador de
atos de ameaça (uma estratégia de polidez), mas também um recurso a serviço do traba-
lho de construção de face (relacionado ao ethos interacional do falante).
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Estudos recentes buscam relatar os usos desses sufixos na interação social, ob-
servando quais funções os diminutivos assumem nas diversas comunidades de fala
(BRAVO, 2005); logo, uma análise pragmática dos diminutivos permitem não só des-
crever o uso que os falantes fazem dos diminutivos, mas também reconhecer traços ca-
racterísticos de suas variantes, afinal as escolhas lexicais são intrínsecas à comunidade
da qual fazem parte.
Em sua forma sintética, o uso dos diminutivos é um recurso morfológico muito
produtivo tanto em português quanto em espanhol; mais que expressar a redução de
tamanho, a formação de diminutivos, por sufixação, revela um potencial de significação
que extrapola a palavra base. Portanto, tratar dos diminutivos sem considerar sua di-
mensão pragmática significaria perder parte do seu potencial discursivo.
Segundo Reynoso Noverón (2005), a natureza pragmática dos diminutivos ex-
plica, dentre outras coisas, a essência polissêmica dos afixos em termos das necessida-
des comunicativas do falante; isto porque tais afixos revelam a maneira como o falante
representa seu referente, seu interlocutor e ele próprio.
Assim, as formas diminutivas podem funcionar como mecanismos de dêixis so-
cial, desempenhando um papel importante para marcar e construir as relações interpes-
soais; isto porque tais formas podem constituir a codificação linguística dos papéis soci-
ais dos interactantes e da relação que existe entre eles, revelando muitas vezes as hierar-
quias sociais de uma dada comunidade.
Tanto em espanhol como em português, o diminutivo é um marcador pragmático
altamente flexível e, em muitos contextos, com força de polidez em interações face a
face; a realização diminutiva em ambos os sistemas apresenta um condicionamento
pragmático ao revelar-se cultural e situacionalmente determinado.
Além do(s) significado(s) que possa(m) ser atribuído(s) aos morfemas diminuti-
vos, o uso desta marcação também indica um tipo especial de relação que o falante esta-
belece com o mundo ao seu redor, com seu(s) interlocutor(es) e com a entidade diminu-
ída. Por este motivo é importante estudar os diminutivos a partir das realizações do fa-
lante, observando em que situações de uso e com que finalidade esses afixos aparecem
nas entrevistas sociolinguísticas.
Neste trabalho serão considerados apenas o sufixo -inho/a para o português e os
sufixos –ito/a, -illo/a para o espanhol dado que, de um ponto de vista sincrônico, esses
são os sufixos diminutivos mais produtivos nas variantes carioca e madrilena, conforme
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Beinhauer (in MORTON, 1985), Alonso (1967), Koike (1992) e Soler Espianuba
(1996), além de serem os mais frequentes nas entrevistas sociolingüísticas.
A visão morfopragmática sobre os diminutivos não é inovadora, embora ainda
seja pouco explorada, principalmente quando se trata de corpus oral, de um recorte es-
pecífico do objeto a ser investigado, nesse caso os substantivos concretos, e de análise
contrastiva entre as variantes do espanhol e do português; assim, este estudo descritivo-
contrastivo visa analisar como a dimensão pragmática dos diminutivos emerge em en-
trevistas sociolinguísticas em português e em espanhol, e até que ponto os usos conver-
gem.
A pesquisa justifica-se por faltarem estudos contrastivos que possam contribuir
para um maior conhecimento sobre como os diminutivos funcionam em variantes lin-
guísticas do português e espanhol, com respeito aos seus usos e valores, principalmente
porque a opção é investigar somente as formações de base substantiva concreta, o que
permitirá uma contraposição entre os usos subjetivos e referenciais.
A hipótese é que os diminutivos, cuja base é um substantivo concreto, são um
mecanismo de derivação que funciona pragmaticamente como pistas contextuais
(GUMPERZ, in GARCEZ, RIBEIRO, 2002) dos interactantes na construção de ima-
gens nas variantes carioca do português e madrilena do espanhol.
Para identificar e descrever a função dos diminutivos nos corpora orais foram
investigados como seis homens e seis mulheres das variantes carioca e madrilena, entre
23 e 32 anos, se valem das formações diminutivas no trabalho de face desenvolvido na
atividade em questão – a entrevista sociolinguística.
Tendo em vista que tanto o falante do espanhol como o do português pode usar
os diminutivos sintéticos para referir-se à dimensão da entidade e/ou à valoração de sua
subjetividade (REYNOSO NOVERÓN, op. cit.), o estudo tem por objetivo analisar e
comparar os usos referenciais e subjetivos da formação diminutiva em ambas as varian-
tes, para saber como funcionam dentro de uma interação e se estão a serviço da elabora-
ção de face dos participantes.
Neste trabalho a morfopragmática embasa, sob uma perspectiva funcional, as
ocorrências dos afixos de grau diminutivo motivados por elementos contextuais, forne-
cendo ferramentas para que sejam analisados os mecanismos e motivações que subja-
zem às escolhas feitas pelos interactantes; foram adaptados alguns conceitos do método
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de análise utilizado por Ezarani (1989) e Turunem (2009), para que se tornassem apli-
cáveis à presente pesquisa.
Sobre a organização didática do trabalho, o primeiro capítulo enfoca os pressu-
postos teóricos; o segundo capítulo trata de questões metodológicas; o terceiro capítulo
apresenta a análise e os resultados da pesquisa em português; o quarto capítulo apresen-
ta a análise e os resultados da pesquisa em espanhol. A título de conclusão seguem bre-
ves considerações finais.
14
1 PRESSUPOSTOS TEÓRICOS
Neste capítulo serão descritos os morfemas diminutivos do português e do espa-
nhol que, em isolado, não revelam todo o potencial que possuem em uma interação;
com ênfase à morfopragmática e ao trabalho de elaboração de face, passando pelos sufi-
xos diminutivos de ambas as variantes madrilena e carioca, é explorado o potencial sig-
nificativo que os sufixos -ito, -illo e -inho assumem ao serem usados pelos falantes nas
entrevistas sociolinguísticas
Embora inexista Gramática que não aborde os diminutivos, em geral as gramáti-
cas não ultrapassam a mera listagem dos sufixos diminutivos com breves comentários
dos aspectos semânticos, quando há, e nenhuma consideração dos pragmáticos; essa
afirmação vale para ambas as línguas, portuguesa e espanhola.
A gramática da Língua Portuguesa de Cunha e Cintra (2001) apresenta os 21
principais sufixos diminutivos empregados no português e associa o -inho /a ao sufixo -
inus do latim.
Quadro 1 – Sufixos do português por Cunha e Cintra (2001, p. 90-91).
-inho/a; -zinho/a; -ino/a; -im; -acho/a; -icho/a; -ucho/a; -ebre; -eco/a; -ico/a; -ela;
-elho/a; -ejo; -ilho/a, -ete; -eto/a; -ito/a, -zito/a; -ote/a; -isco/a; -usco/a; -ola
Na gramática da Língua Espanhola de Bosque e Ignacio (1999) os sete sufixos
diminutivos elencados são:
Quadro 2 – Sufixos do espanhol por Bosque e Ignacio (1999 , p.4645-4682).
-ito/a; -ico/a; -illo/a; -ete/a; -ín/a; -ejo/a; uelo/a
Em seu ensaio sobre a expressão afetiva no espanhol coloquial, Beinhauer (op.
cit.) afirma que os sufixos diminutivos são o quebra cabeça de todas as gramáticas e
métodos do espanhol.
Segundo Beinhauer (1985), La Gramática de La Real Academia traz como sufi-
xos diminutivos: -ito, -ita, -ete, -eto, -ote, -cito, -ecito, -ececito, -illo, -cillo, -ecillo, -
ececillo, -ico, -cico, -ecico, -uelo, -olo, -ezuelo, -zuelo, -ichuelo, -achuelo, -ecezuelo. E
acrescenta à lista como sufixos depreciativos: -ajo, -ejo, -ijo, -acuajo, -arajo, -istrajo;
além dos sufixos regionais: -ín para Asturias, -ino para Extremadura, e -iño para Gali-
15
cia. A lista de sufixos da gramática da Real Academia se mostra muito mais extensa que
a de Bosque e Ignacio (1999) porque considera os infixos como parte integrante dos
sufixos.
Com ênfase à frequência de uso em detrimento das inúmeras regras sobre a for-
mação desses derivados, Beinhauer (op. cit.), afirma que só assim será possível uma
sistematização para o estudo dos mesmos; e, ao tratar de cada sufixo diminutivo em
espanhol, deixa de lado os sufixos depreciativos porque, no seu entendimento, não têm
vida própria, já que estão quase sempre em palavras invariáveis (comistrajo = comida
ruim), com ressalva ao sufixo –ejo, que mantém sua vitalidade, como no exemplo: un
libro medianejo = livro ruim , que possui uma qualidade inferior.
Muitos diminutivos são ligados à base por meio de infixos como -c- ou -ec- em
terminações como -ito, -illo, -ico e -uelo. Os sufixos -ete, -eto e -ote, que são apresenta-
dos pela Gramática da Real Academia Espanhola como sufixos diminutivos, são usados
com valor depreciativo. Já o sufixo -eta, feminino de -ete, aparece em palavras indepen-
dentes, sem qualquer relação com a base cuna ≠ cuneta. Há ainda o sufixo -olo, que
caiu em desuso por não desempenhar uma função expressiva, sua freqüente aparição dá
origem a outros nomes Manuel – Manolo.
Segundo Beinhauer (op. cit.), restam os sufixos -ito, -illo, -ico, -uelo, sendo -ico
uma variante popular regional de –ito; sobre o sufixo -uelo, afirma que, atualmente, é
muito mais frequente sua função depreciativa (mujerzuela) que diminutiva, sendo muito
rara sua aparição se comparada aos sufixos -illo e –ito; para ele, -ito desempenha uma
função majoritariamente diminutiva (un librito = um livro pequeno), assim como -illo,
que, além da função dimensional, pode comportar com freqüência um valor subjetivo
(pobrecillo = digno de compaixão).
Sobre os sufixos do espanhol, Alonso (op. cit.) comenta que -illo parece ser mais
usado por classes sociais de menos prestígio enquanto que -ito é preferido pelas classes
mais prestigiadas; contudo, revela não haver uma definição tão rígida quanto às classes
ou valores que cada sufixo representa; segundo ele, o sufixo -illo ora funciona como
expressão de afeto negativo, ora como afeto positivo; conclui que o que vai determinar a
função que cada sufixo assume é o falante e sua subjetividade, que reflete a tensão exis-
tente entre o sujeito e o objeto.
Quanto às gramáticas normativas da Língua Portuguesa, essas não vão além de
uma classificação estrutural que contrapõe as formas sintéticas (base + afixo = casinha)
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às analíticas (construções sintáticas como casa pequena); algumas gramáticas (ROCHA
LIMA, 2006; BECHARA, 2005) destacam o fato de os afixos diminutivos não expres-
sarem unicamente tamanho, no entanto, não detalham essa afirmação apresentando os
outros usos do sufixo diminutivo.
Para Rocha (apud GONÇALVES, op. cit.), a afetividade está sempre presente na
sufixação gradual, porém a idéia de diminuição pode estar presente ou não, como o caso
de timinho que tende a veicular conteúdos pejorativos; Loures (apud GONÇALVES, op.
cit.) também destaca a função afetiva como particular valor subjetivo dos sufixos dimi-
nutivos, não expressando necessariamente a sua dimensão, mas a afetividade positiva
cachorrinho ou negativa leizinha do falante.
Dito de outra maneira, os morfólogos vêem como a principal função dos afixos
diminutivos a de realçar qualidade e/ou quantidade, segundo os padrões individuais e
subjetivos do falante; as pesquisas linguísticas indicam que os diminutivos apresentam
função atitudinal e, por isso, tendem a atuar na interface morfologia-pragmática. Assim,
os diminutivos:
[...] dependem de fatores como (a) o nível de envolvimento entre falante e ou-
vinte; (b) os propósitos comunicativos do emissor diante da audiência; e (c) o
grau de formalidade do discurso. Dependentes da situação comunicativa, os
significados dos afixos de grau, utilizando as palavras de Levinson (1983,
p.23) “são negociáveis na transação conversacional. (GONÇALVES, op. cit.,
p.165)
Alonso (op. cit., p. 198) ressalta o caráter predominantemente afetivo dos afixos
diminutivos em espanhol, que se dá através da representação afetivo-imaginativa do
objeto; quando o sentido central é realmente diminuição, a idéia de redução de tamanho
se faz por outros recursos.
cajita pequeña; una cosita de nada
[caixinha pequena; uma coisinha de nada]
Em seu artigo Noción, emoción y fantasía en los diminutivos, Alonso (1951) a-
firma que os diminutivos sintéticos não são por sua natureza dimensionais, mas indivi-
dualizações destacadas. Ou seja, o papel desses sufixos é especializar, personificar o
dito. Segundo Alonso (1951), o diminutivo dá destaque ao objeto não através da mera
referência semântica, mas através da representação afetivo-imaginativa do objeto, ou
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seja, não é tanto uma relação entre significado e significante, mas é o juízo de valor do
falante sobre o objeto referido. E continua seu argumento a favor da preponderância das
representações da fantasia que, para ele, está intimamente ligada à emoção através do
afeto e da valorização do objeto.
A classificação que Alonso (op. cit) propunha para os diminutivos sintéticos era
dividida em três grandes grupos: (i) Hacia el objeto nombrado o lo dicho (estético-
valorativo, nocionales, emocionales, de frase), (ii) Hacia el interlocutor (de cortesía,
afectivo-activo, efusivo) e (iii) Hacia ambos a la vez (representacionales elocuentes).
Uma aproximação desta classificação em português seria como: (i) formação diminutiva
voltada ao referente, (ii) formação diminutiva voltada ao interlocutor e (iii) formação
diminutiva voltada a ambos ao mesmo tempo.
Os diminutivos nocionais de Alonso (op. cit), ou seja, os voltados ao objeto refe-
rido, dizem sobre o que nos afeta – visão subjetiva (Entre usted despacito.), os emocio-
nais compreendem o domínio da estima e do intelectual, ainda que não exista um valor
sem sua correspondente emoção nem emoção que não suponha um valor (Teatrillo, no,
teatrito.). Os diminutivos de frase expressam um estado de ânimo – o falante joga com
as palavras (Ya tendremos que aguardar unos añitos.), os estético-valorativos contem-
plam o objeto (Quiero la calle mansa com las balaustraditas repartiéndose el cielo.).
Com os sufixos voltados para o interlocutor, Amado Alonso apresenta os afeti-
vo-ativos, que são os vocativos (São Cristobalito), os de polidez, que o conteúdo se
dirige ao ouvinte, porém ao invés de pressionar com uma manifestação de afeto, se trata
de uma atenuação polida (¿Por qué eres tan arrisquilla conmigo?). Os efusivos exclu-
em os diminutivos intencionalmente ativos (No me tires con piedritas que me vas a las-
timar.). E por último os representacionais eloquentes que são diminutivos de ação, em
que a emoção é substituída pela fantasia, possuem um forte caráter representacional
(Entre de rodillitas.)
Alonso (op. cit.) adverte que, apesar da denominação “diminutivos”, esta é a
função menos frequente tanto na língua escrita quanto na oral.
1.1 A Multifuncionalidade Pragmática dos Diminutivos
Qualquer olhar mais atento reconhece um uso mais abundante das funções emo-
tiva, representacional e afetiva para os diminutivos. A ponderação das qualidades ou
ações é expressa por diminutivos, refletindo uma ênfase ao afeto e à representação.
18
Segundo Alonso (1951), os exemplos abaixo não significam mais velocidade ou
menos velocidade, mas polidez; são mais recomendados, voltados ao interlocutor.
Entre usted despacito.
[Entre devagarzinho.]
Vaya deprisita. (ALONSO, op. cit., p.164 e 165)
[Vá depressinha.]
Os sufixos diminutivos que contribuem à polidez podem envolver afeto, de mo-
do que a intenção estratégica e a afetividade se interpenetrem. Mas podem também apa-
recer quando não há afeto entre os interactantes, trata-se de um uso com um fim estraté-
gico, que atende às questões sociais de determinada cultura.
En efecto: hay que entender que no se pretende presentar conceptualmente
disminuído el pensamiento, como si se quisiera rebajar objetivamente lo
declarado (...) Lo que se logra es desdibujar un poco la nitidez de perfiles de la
expresión , lo achicado es la expresión, como quien achica la voz y se encoge
un poco al decir una cosa demasiado clara. Se ensordina la expresión por me-
ra cortesía, no porque se modifique el concepto ni la situación objetiva. Su ofi-
cio es, pues, de relación interpersonal y activo. (ALONSO, op. cit., p.213)
Na citação acima Alonso (op. cit.) explica que muitas vezes o diminutivos não
reduz conceitualmente nada, mas reduz a força do que foi dito, quase como se reduzisse
o tom da voz por mera cortesia, trata-se portanto de uma formação diminutiva voltada
ao interlocutor, e ativa por ter sido intencional, refletindo um uso estratégico. O autor
conclui seu comentário dizendo que os valores mais frequentes desses sufixos são os de
afeto e polidez. A escolha por uma forma diminutiva denuncia ainda o que Alonso cha-
ma de caráter cultural, ou seja, um comportamento característico nas relações sociais.
A ocorrência abaixo não se refere a uma sopa muito quente, porém afetiva e re-
presentacionalmente valoriza a temperatura e o gosto da mesma, referindo-se não a uma
intensificação do objeto, mas ao que nos afeta – visão particular e subjetiva do falante.
Me gusta la sopa calentita. (ALONSO, op. cit., p. 165)
[Eu gosto da sopa quentinha.]
Segundo Alonso (op. cit.), muitas vezes o diminutivo pode afetar toda a expres-
são enunciada denunciando assim a subjetividade do falante:
19
-¿Y cuándo esperan ustedes conseguir una cátedra?
[E quando vocês pensam conseguir uma cátedra?]
-Ya tendremos que esperar unos añitos. (ALONSO, op. cit., p. 167)
[Teremos que esperar uns aninhos.]
O diminutivo revela uma visão subjetiva das alunas, não com relação aos anos,
mas ao fato de ter que aguardar uns anos. Para o autor espanhol, muitas vezes os dimi-
nutivos de frase, como o demonstrado acima que afeta toda a expressão, funcionam co-
mo forças que pressionam o ouvinte. Esses últimos direcionados ao interlocutor se sub-
dividem em meramente afetivos e intencionalmente ativos. Os diminutivos como estra-
tégia da polidez linguística estariam no segundo grupo, o que não significa que os as-
pectos ativos e afetivos se oponham ou se excluam; ao contrário, eles coexistem.
Embora o autor em questão não reconheça os sufixos diminutivos como um re-
curso pragmático em potencial, ele deu início a uma trajetória que parecia caminhar
para a descoberta da função dos diminutivos numa troca interpessoal; de acordo com
ele, deve ser levado em conta “ La finalidad activa del lenguaje, su intención de efica-
cia, el propósito necesario de influir, sobre la inteligencia, la sensibilidad y la voluntad
del oyente” (ALONSO, op. cit.); acrescenta que é preciso superar a idéia de que a noção
afetiva tem origem na idéia reducional que lhe é atribuída.
Para Cisneros (1959), os sufixos diminutivos conferem valor à palavra que ex-
ploram. Bally, Alonso, Diez (apud CISNEROS, 2010), dentre outros, viam nos diminu-
tivos um valor semântico e um valor expressivo que dão destaque a determinados con-
ceitos, que ponderam, que atenuam, que ironizam, hostilizam, fantasiam etc, diferente e
independente da idéia de dimensão. Já autores como Zuluaga Ospina e Wagner (apud
CISNEROS, op. cit.), vão de encontro ao grupo anterior defendendo o aspecto central
dos diminutivos como referente à dimensão.
Tal discussão se dá pelo fato de a semântica não dar conta do potencial dos afi-
xos diminutivos em uso. As gramáticas da língua se limitam a listar os afixos mais fre-
quentes e a designar valores semânticos fixos e isolados a cada diminutivo. Como é o
caso dos afixos -illo/ -ito e -ico associados à afetividade e diminuição de tamanho, -ete à
humor e burla e -uelo à intensidade e menosprezo em muitas gramáticas.
20
Considerar os afixos diminutivos a partir de uma perspectiva meramente semân-
tico-morfológica significa fechar os olhos à maior motivação que resultou em determi-
nada forma diminutiva, isto é, o contexto de uso, a língua em funcionamento numa inte-
ração. São poucos os estudos que abordam a multifuncionalidade pragmática dos dimi-
nutivos; dentre eles, Mariottini e D’Angellis (2006) que aplicam a morfopragmática na
análise de um corpus composto por bate-papos virtuais em italiano e espanhol.
Ou ainda Gascón (2008) que analisa os diminutivos como estratégia da polidez
verbal em corpora orais de mulheres das variantes madrilena e mexicana e conclui em
seu artigo que na fala mexicana os diminutivos são usados em todos os tipos de atos
polidos e impolidos enquanto na fala madrilena os diminutivos somente aparecem para
atenuar o caráter ameaçador de uma opinião.
Tudo o que extrapola ao dito compete à pragmática; segundo Briz (in BRAVO,
2005, p.54), uma análise pragmática considera, além do conteúdo comunicado, um fa-
lante que comunica e que manifesta uma atitude diante do comunicado, e um ouvinte
que interpreta o codificado em determinadas circunstâncias comunicativas. Ao definir
os estudos pragmalinguísticos como centrados na investigação das formas linguísticas
entendidas como estratégias adequadas para se alcançar uma meta, ressalta que os mor-
femas diminutivos são uma forma linguística que pode funcionar como pista contextual
em uma atividade específica.
De acordo com Dressler e Kiefer (apud GONÇALVES, 2006), como os afixos
de grau diminutivo podem desempenhar função atitudinal (função expressiva de avalia-
ção do falante em relação à entidade referida) e função indexical (sinalização dos traços
da identidade do falante), tendem a atuar na interface morfologia-pragmática.
Para Kiefer (in SPENCER, ZWICKY, 2001), a morfopragmática é um estudo
que relaciona morfologia e pragmática, sendo a morfologia pragmaticamente relevante
na medida em que os afixos podem funcionar como indicadores da situação e/ou evento
discursivo.
Vale ressaltar que situação discursiva é entendida como o papel desempenhado
pelos participantes em dada atividade de fala; e evento discursivo como as ações e inte-
rações verbais e não verbais dos participantes.
No estudo de Dressler e Merlini Barbaresi (apud TURUNEM, 2009) é ressaltada
a necessidade de ser considerada a dimensão pragmática na análise do diminutivo, já
21
que os afixos diminutivos parecem ser mais produtivos no âmbito pragmático graças ao
seu caráter avaliativo.
Em suma, tanto no português quanto no espanhol, as formas analíticas são as
mais usadas quando se quer expressar dimensão, cabendo às formas sintéticas uma vari-
edade de funções avaliativas, subjetivas e interacionais, pois podem funcionar como
modalizadores e são empregados para determinar o caráter (de colaboração ou de anta-
gonismo) da interação e para regular o uso dos diferentes fatores pragmáticos que ope-
ram nos atos de fala. Esses casos incidem sobre a relação do falante com a entidade re-
ferida, com o interlocutor ou com a atividade como um todo.
O termo “atividade” é entendido neste trabalho como qualquer atividade social-
mente constituída e culturalmente reconhecida, orientada para uma meta. Segundo Sa-
rangi (2000), o tipo de atividade caracteriza o encontro social; para Levinson (1992),
um tipo de atividade determina, em parte, o papel da linguagem em termos de estraté-
gias ou procedimentos cabíveis; por exemplo, as perguntas feitas dentro da atividade
entrevista sociolingüística, possuem especificidades moldadas pela própria atividade, ou
seja, as interpretações são balizadas pelo tipo de atividade.
1.2 O Uso do Diminutivo como Fator de Interação Social
Se, aparentemente, o uso dos diminutivos responde exclusivamente a necessida-
des semânticas e estilísticas, a análise do uso dos diminutivos permite observar regula-
ridades na adequação ao contexto discursivo no qual estas formas funcionam como in-
dicadores do footing (GOFFMAN, in GARCEZ, RIBEIRO, 2002) do falante, ou seja,
indicadores da projeção pessoal do falante na fala em interação. Através dos diminuti-
vos, o falante codifica sua idiossincrasia cultural e revela o modo como enquadrou de-
terminada atividade; por esta razão é um importante fenômeno pragmático de comuni-
cação.
Como este estudo está baseado nas teorias da morfopragmática e do trabalho de
face, abordamos alguns conceitos que podem emergir em dados de fala reais, afinal co-
mo diz Bravo ([2001] 2005) “una muestra de habla tiene su propia personalidad”. Por-
tanto tratamos de discorrer algumas linhas sobre as contribuições de Brown e Levinson
(1980) e seus contemporâneos e a possibilidade de os sufixos diminutivos funcionarem
como atenuantes na interação.
22
Como será discutido, os diminutivos podem atenuar com o fim de gerar uma a-
proximação entre os interlocutores (atenuante polido) ou ainda com outros fins que não
o da polidez. Estes últimos são fins estratégicos para se alcançar um objetivo comunica-
tivo – o falante faz um distanciamento linguístico para favorecer a aceitação do ouvinte.
No entanto, a atividade entrevista sociolinguística pode retratar usos diminutivos
que não atenuem atos de ameaça, como defendido por Brown e Levinson (op. cit.), mas
que servem ao trabalho de construção de face dos entrevistados, revelando suas opini-
ões, qualidades e, consequentemente, delineando a face dos mesmos através de narra-
ções, descrições e argumentações. Ainda que os diminutivos possam desempenhar a
função de atenuantes, nas entrevistas sociolinguísticas eles praticamente não aparecem
devido a baixa incidência de atos diretivos na atividade em questão.
1.2.1 A Face
O uso do morfema diminutivo é pragmaticamente relevante, porque ao expressar
julgamentos é seguido, normalmente, pela aprovação ou rejeição do interactante. Logo,
enunciar juízos de valor envolve certo risco – de ter sua opinião confirmada ou não pelo
interlocutor – e, consequentemente, implica o trabalho de faces (GOFFMAN, in
FIGUEIRA, 1980).
Segundo Tannen e Wallat (in GARCEZ, RIBEIRO, 2002), numa interação cada in-
terlocutor traz um esquema de conhecimento, ou seja, uma expectativa acerca das pes-
soas, objetos, eventos e demais elementos envolvidos na troca comunicativa, bem como
as informações buscadas ao longo desse processo; quando informados a respeito de seu
interactante, escolhem o que julgam ser o melhor modo de interagir para atingirem
qualquer que seja seu objetivo comunicativo, seja ele interpessoal (troca mais informal,
com uma finalidade menos definida) ou transacional, em que a finalidade comunicativa
está bem definida o que eleva a troca a um nível mais formal (BRIZ, 1998).
Quando um indivíduo desempenha um papel, implicitamente solicita a seus
observadores que levem a sério a impressão sustentada perante eles. Pede-
lhes para acreditarem que o personagem que veem no momento possui os a-
tributos que aparenta possuir, que o papel que representa terá as consequên-
cias implicitamente pretendidas por ele, e que, de um modo geral, as coisas
são o que parecem ser. (GOFFMAN, 2009, p.25)
Para Goffman (1980), optar por um comportamento em dada interação significa
adotar uma linha, ou um padrão, de atos verbais e não verbais para expressar opinião
23
sobre a situação, por conseguinte, submetendo o outro e a si próprio à avaliação. Essa
linha afeta o outro que, por seu turno, atribuirá ao interlocutor uma imagem pública,
uma face coerente com o que ele presume ser a linha tomada por seu interlocutor; logo,
a face é um atributo social constantemente negociado no fluxo dos eventos de um en-
contro específico, que só se torna manifesto quando estes eventos são interpretados a
partir das avaliações que neles se expressam (GOFFMAN, op. cit.).
Deste modo, o trabalho de face é uma ação realizada (linha) para sustentar a fa-
ce: mantê-la implica ter adotado uma linha coerente com a anterior; perdê-la significa
não conseguir integrar à face que estava sendo sustentada a nova informação sobre seu
valor social. A possibilidade de ameaça a uma das faces envolvidas na interação gera o
trabalho de face que, nesse caso, está a serviço da polidez; no entanto, o trabalho de face
pode extrapolar a polidez e ser desenvolvido com a finalidade de construção da imagem
pública do falante.
Para os participantes de uma interação, muitas informações são explicitadas por
diferentes elementos verbais, não-verbais, paraverbais, etc, servindo à polidez ou à pró-
pria construção de face do interlocutor. Os diminutivos são elementos verbais que po-
dem funcionar como pistas de contextualização (GUMPERZ (1982) in GARCEZ e
RIBEIRO, 2002), sinalizando pressuposições contextuais que influirão na interpretação
do interlocutor.
As pistas contextuais, como os diminutivos por exemplo, só assumem significa-
ção dentro de um contexto. Ou seja, um diminutivo pode funcionar como marca de afe-
tividade e informalidade interpessoal em uma conversa entre amigos, mas a mesma
formação pode desempenhar a função de um atenuante em outro contexto.
As pistas de contextualização são coerentes com o alinhamento tomado pelo
falante em sua relação com o outro. O footing (GOFFMAN (1979) in GARCEZ e
RIBEIRO, op. cit) ou alinhamento é a projeção pessoal do participante em uma dada
interação. Uma mudança de footing implica a mudança de todos os participantes, ex-
pressa no modo como se produz ou recebe uma elocução. Segundo Goffman (in
GARCEZ e RIBEIRO, op. cit.), o conceito de footing é um desdobramento da noção de
enquadre, afinal a partir da maneira como os interactantes enquadram a situação intera-
cional eles decidem como se projetar, logo mudar de footing significa mudar o enquadre
do evento, isto é, interpretar de outro modo o que está acontecendo em determinado
momento.
24
A mudança de footing pode vir vinculada à linguagem, de modo que o uso de
um diminutivo pode indicar a mudança de uma postura mais formal [+ distante] a um
posicionamento menos formal [+ íntimo], por exemplo, como é o caso do diminutivo
quando funciona como um atenuante polido (Briz (2003) in BRAVO, op. cit.) visando à
aproximação entre falante e ouvinte.
1.2.2 A Atenuação
A atenuação como uma estratégia conversacional distancia ao mesmo tempo que
aproxima socialmente, ou seja, distancia o falante da mensagem e pode aproximá-lo de
seu interlocutor. Para Puga (1997, p. 113), esse recurso permite que os interlocutores
tomem certa distância dos demais em dada situação comunicativa; como quanto menor
a distância interpessoal maior o perigo de ser invadido, isso justifica um uso mais fre-
quente da atenuação; já numa troca formal não é necessário recorrer à atenuação, pois
os participantes estão mais protegidos de ameaças.
Quadro 3 – Relação de Atenuação e Distância Interpessoal proposta por Juana Puga (1997, p.113)
- formalidade = - distância = + atenuação
+ formalidade = + distância = - atenuação
De acordo com Briz (in BRAVO, op. cit.), como uma categoria pragmalinguísti-
ca, a atenuação utiliza uma forma linguística, no caso o diminutivo, como estratégia de
minimização do que foi dito para ser atingida uma meta, o que evidencia que esse recur-
so está vinculado a uma atividade argumentativa, de negociação. A atenuação, portanto,
está ligada à eficácia e eficiência pragmáticas, tendo uma relação muito maior com a
face que com a polidez propriamente dita.
No que implica ao ouvinte, Briz (in BRAVO, op. cit.) afirma que nestes casos
também se vela pela imagem do interlocutor, buscando um equilíbrio estratégico que
envolva, ou não, a polidez. O concreto é a minimização da força ilocucional em prol do
prosseguimento da interação sem maiores tensões, conforme o exemplo abaixo.
Alguna cosita haréis que no está bien. (BRIZ, in BRAVO, op. cit. p. 57).
[Alguma coisinha vocês fizeram...]
25
Este autor também afirma que a função mais linguística dos atenuantes é a miti-
gação estratégica: se reduz o benefício de quem fala, sua contribuição e, consequente-
mente, um possível desacordo. O fato de evitar desacordos está associado ao trabalho de
elaboração de face, porém, não necessariamente à polidez. Um exemplo dado por ele
reflete bem o uso de um diminutivo como atenuante que vela pela face do falante, mas
que não se refere à polidez.
¡Mamá! Me he hecho un rotito en el pantalón. (BRIZ, in BRAVO,op. cit.,p. 58).
[Mamãe, fiz um rasguinho na minha calça.]
No exemplo acima há uma tentativa de amenizar o ocorrido de modo a não gerar
ao falante a perda de sua face através de uma possível recriminação por parte de sua
mãe. É um atenuante que tem como objetivo comunicativo argumentar de modo a con-
seguir a aceitação do ouvinte, no caso apresentado o diminutivo aumenta a eficácia e
eficiência da mensagem. No entanto, em algumas situações a eficácia linguística depen-
de da eficácia social, e é aí que entra em jogo o que o autor chama de atividade atenua-
dora estrategicamente polida.
Briz (in BRAVO, op. cit.) pontua as seguintes questões sobre atenuação: (a) os
atenuantes estão vinculados às identidades socioculturais e às normas sociais regionais;
(b) os atenuantes podem funcionar como estratégias à polidez buscando uma aproxima-
ção e equilíbrio entre os interlocutores. Acrescenta que o uso dos atenuantes como estra-
tégia de polidez não é frequente nas interações coloquiais espanholas. Já para Albelda
Marco (in BRAVO, op. cit.), a função mais frequente da atenuação é a polidez. Logo,
se pode concluir que a atenuação não é um fenômeno recorrente no espanhol peninsular.
Segundo Briz (in BRAVO, op. cit.), a maior ou menor presença de atenuantes
em uma interação é proporcional ao grau de desacordo existente na mesma; acrescenta
ainda que os atenuantes se condicionam às variedades situacionais (conhecimento com-
partilhado entre os interlocutores) e socioculturais (idade, gênero, nível de instrução,
etc.). Contudo, enquanto para ele alguns atenuantes podem ser usados para outros fins
que não o da polidez, Kerbrat-Orecchioni (2005) e Brown e Levinson (1987) entendem
o trabalho de face por polidez, porque crêem que a maioria dos atos de linguagem pro-
duzidos é potencialmente ameaçador para alguma face. Logo, pode-se notar que estes
autores não reconhecem a divisão feita por Briz entre a atenuação polida e aquela que
26
protege a face do falante para convencer o ouvinte e não aproximá-los socialmente –
atenuação estratégica.
Em consonância ao afirmado por Briz (apud BRAVO, op. cit.) sobre atenuação,
o trabalho de face também pode aparecer em outro contexto que não o da polidez. Ou
seja, há situações em que o interlocutor pode desenvolver o trabalho de face devido à
iminência de uma ameaça a alguma das faces envolvidas na interação e, nesse caso,
pode usar um atenuante para evitar ou mitigar a ameaça ou, ainda, pode dar início ao
trabalho de face para a elaborar a mesma durante a interação. Nesse contexto, não há
relação direta com a polidez, mas com a construção da imagem pública do falante.
1.3 Considerações Teóricas
Por considerarem que todo contexto interacional deixa as faces vulneráveis,
Brown e Levinson (1987) identificaram uma série de estratégias utilizadas para minimi-
zar o grau da ameaça de um FTA (Face Threatening Acts). Para tanto levaram em conta
três desejos básicos, são eles: o desejo de comunicar o conteúdo do FTA, o desejo de
manter a face dos envolvidos na interação e o desejo de ser eficiente e/ou urgente. É
bem verdade que quando há um ato que afeta a face do ouvinte entram em jogo questões
de polidez, porém não acreditamos que todos os atos sejam ameaçadores e mesmo aque-
les que funcionam como tal em determinado contexto podem não o ser em outros. Os
atenuantes têm sempre um valor contextual.
Enquanto a teoria clássica da polidez interpreta a relação entre os interlocutores
como um desejo genuíno de cooperar, linguistas pós Brown e Levinson (1987) legiti-
mam as trocas conflituais e antagônicas de modo a reconhecer que nem sempre o geren-
ciamento da interação favorece a harmonia, ou seja, é possível gerenciar a relação para a
desarmonia.
Os posteriores à Brown e Levinson concluem que não há mais um padrão do que
é mais polido ou menos polido. A polidez ganha um caráter dinâmico e situado. O fa-
lante será polido ou rude dependendo menos do que ele diz, e mais da avaliação que o
ouvinte faz do falante. A polidez é tida como um julgamento social no qual as elocuções
são meras aberturas para a interpretação da mesma.
27
Para Terkourafi (2005), a polidez não é um cálculo racional de atenuação à ame-
aça da face como a viam Brown e Levinson (1987), mas é habitus1 (esquema de conhe-
cimentos que orienta sua prática) e frame (estruturas de dados de uma base de conheci-
mentos para a representação de situações estereotipadas). Segundo a autora, a polidez
não reside na expressão linguística propriamente dita, mas na regularidade de sua co-
ocorrência.
Na área da (im)polidez não é viável fazer generalizações; o que se pode buscar é
regularidades dentro de cada atividade. Os teóricos ditos pós modernos consideram as
normas sociais como ferramentas argumentativas altamente versáteis que precisam ser
analisadas mais detidamente antes de serem conceitualizadas – cada caso é um caso,
cada atividade desenvolve suas normas. De acordo com Terkourafi (2005) há as normas
que ditam o que o indivíduo deve fazer e as normas que são o que o indivíduo gostaria
de fazer.
Enquanto na visão de Brown e Levinson (op. cit.) o conceito de racionalidade é
limitado à dimensão individual, para os pós modernos existe a racionalidade da socie-
dade que, junto com a constituição da face, gera o comportamento polido. A Polidez da
pragmática linguística é definida como todo comportamento linguístico que constitui a
face do interlocutor. Assim, o foco da visão pós moderna apresentada por Terkourafi
(op. cit.) é a tentativa de se estabelecer regularidades de co-ocorrência entre expressões
linguísticas e extralinguísticas.
Em consonância aos questionamentos levantados por Terkourafi (op. cit.), Sara
Mills (2009) discute em seu artigo a “fixidez” e universalidade da natureza da polidez,
apontando que um “sinto muito” nem sempre será visto como desculpas, podendo apa-
recer como uma forma impolida. Segundo ela, os atos não possuem forma nem função
fixas.
Sobre o conceito de polidez, têm-se, na atualidade, diferentes sentidos e funções
para o mesmo em diferentes culturas. Os pós Brown e Levinson não focam a polidez no
nível da frase ou sentença e não assumem que a polidez seja inerente à palavra usada na
interação – o foco está no contexto, nas forças sociais, no discurso propriamente dito.
1 A noção de habitus, retomada de Bourdieu (apud Mills, 2009), significa as disposições que geram as
práticas, as percepções e atitudes sendo freqüentes, porém não conscientes. Este set de atitudes ou práti-
cas constitui as normas negociadas pelos indivíduos.
28
Não existe nenhuma conceitualização antes ou depois do discurso; o indivíduo é consti-
tuinte do mesmo e é no discurso que surgem as normas sociais.
O modelo construído por Brown e Levinson (op. cit.) trata o conceito de face
como uma categoria pré-concebida; já os pós modernos, incluindo Spencer Oatey
(2000), encaram a face como um construto dinâmico negociado na interação. A autora
acredita, assim como Brown e Levinson, que o conceito de face é universal. No entanto,
reconhece que as diferenças culturais afetam, por exemplo, na escolha da estratégia
mais apropriada ao gerenciamento da face.
Spencer Oatey (op. cit.) propõe a teoria do rapport, que foca o gerenciamento da
harmonia-desarmonia entre as pessoas envolvendo dois principais componentes: o ge-
renciamento da face (dos desejos da face) e o gerenciamento dos direitos sociais (das
expectativas sociais). Em outras palavras, a face está associada aos valores pesso-
ais/sociais enquanto os direitos sociais dizem respeito às expectativas pessoais/sociais.
Sobre a face, a autora destaca dois aspectos, (a) a face da qualidade, que é o de-
sejo que temos de sermos avaliados positivamente em termos de nossas qualidades pes-
soais, como nossas competências e habilidades; e (b) a face da identidade, que é o dese-
jo que temos de sermos reconhecidos por nossa identidade social, nosso papel social,
como a tendência a sempre ser líder no grupo.
Quanto aos direitos sociais, ela também sugere dois principais aspectos são eles,
(a) os direitos à equidade, que é a crença que temos de que os outros devem ter conside-
ração por nós; e (b) os direitos à associação – acreditamos ter o direito de nos associar-
mos a grupos ou indivíduos.
Como pode ser visto, o gerenciamento da face e dos direitos sociais têm um
componente pessoal (a face da qualidade e os direitos à equidade) e um componente
social (a face da identidade e os direitos à associação, respectivamente). Diferente de
Brown e Levinson (op. cit.), que conceitualiza a face a partir de um modelo individual,
Spencer Oatey (op. cit.) incorpora o social a partir de uma perspectiva interdependente
para o gerenciamento das relações.
A face é tida como um fenômeno coletivo e, por conseguinte, vulnerável, asso-
ciado às reações emocionais. Se a face reivindica a avaliação do outro, ela precisa ser
analisada como um fenômeno interacional (SPENCER OATEY, 2007).
A pragmática como o uso da língua em contexto estuda a configuração das rela-
ções sociais através da língua. E a polidez na interação face a face define e constrói a
29
relação social entre os participantes recorrendo às convenções que fazem parte do con-
texto sociocultural, o qual não é necessariamente compartilhado em outras comunida-
des, podendo gerar mal-entendidos interculturais. Deste modo a polidez lingüística é
objeto de interesse para a pragmática posto que trata das relações entre língua, cultura e
sociedade.
Conforme Goffman (op. cit.), Brown e Levinson (op. cit.), qualquer participante
de uma interação tem desejos de face, ou seja, deseja ser respeitado e reconhecido e,
para isso, recorre ao comportamento socialmente aprovado pelos integrantes do grupo
do qual faz parte através de ações verbais e não-verbais, dentre estas a polidez, que
também é um tipo de trabalho de face.
O trabalho de face realizado durante uma interação pode funcionar como polido
– quando realizado pelo falante em prol de seu interlocutor, porém a polidez não inclui
todas as possibilidades de elaboração de face (Hernádez Flores, 2002), afinal há casos
em que o trabalho de face realizado pelo falante é voltado a sua própria imagem, não
porque se sinta ameaçado, mas porque temos a necessidade de construir face na intera-
ção.
Em consonância à visão de Brown e Levinson (op. cit.) que afirmam ser a poli-
dez uma ferramenta usada principalmente para mitigar ou suavizar uma ameaça à face
na interação, porém com o acréscimo de um conceito, Kerbrat Orecchioni (op. cit.) pro-
põe que a polidez serve também para valorizar as relações sociais. Para Carrasco Santa-
na (1999) apud (IGLESIAS RECUERO, 2007) a função da polidez não é somente repa-
rar possíveis danos causados ao interlocutor durante a interação, mas também aproximar
o falante e seu interlocutor.
A avaliação de um enunciado como polido ou impolido depende do contexto.
Diferentes parâmetros da comunicação podem atuar como filtros que contribuem a essa
avaliação, como a relação entre os interlocutores, o objetivo comunicativo, os valores
sócio-culturais de dada comunidade, a relevância do tópico na interação, etc.
(IGLESIAS RECUERO, 2007).
Estudiosos do espanhol peninsular como Herrero Moreno (2000, 2002) apud
(IGLESIAS RECUERO, 2007), Martín Rojo (2000) apud (IGLESIAS RECUERO,
2007), Blas Arroyo (2001, 2003) apud (IGLESIAS RECUERO, 2007), entre outros,
observaram que algumas atividades não exigem proteção à face, como uma sessão de
terapia, um debate político etc. Tendo em vista que toda interação, umas atividades mais
30
que as outras, nos leva à elaboração de face e, consequentemente, à exposição da mes-
ma, diríamos que todas geram um trabalho de face.
Os mecanismos de atenuação que costumam acompanhar os pedidos diretos e os
convencionalmente indiretos são inúmeros. A essa lista podemos acrescentar os diminu-
tivos; afinal, segundo Curcó e De Fina (2002) apud (IGLESIAS RECUERO, 2007) ava-
liar um diminutivo como polido ou impolido depende do elemento que ele modifica.
Acrescentaríamos a situação comunicativa, como é o caso de uma entrevista, e os parti-
cipantes da mesma e não simplesmente a base que o sufixo diminutivo modifica.
Segundo Sarangi (2000), o tipo de atividade caracteriza o encontro social. A en-
trevista sociolinguística se constitui de diferentes tipos de discurso como a narração, a
descrição e a argumentação, visando à construção de face do entrevistado, o que exclui-
ria sequências exortativas – mais favoráveis à atenuação.
Alguns autores afirmam que as entrevistas não são representativas da fala natu-
ral; segundo Briz (in BRAVO, op. cit.), a entrevista é um discurso (a) oral, uma modali-
dade produzida e recebida pelo canal fônico, (b) dialogal, devido a sucessão de turnos,
(c) imediata, já que se desenvolve na coordenada espaço-temporal do aqui e agora, (d)
cooperativa, porque é co-construída e (e) dinâmica, pela contínua mudança de papéis
entre os interlocutores (ora um interlocutor é falante, ora é ouvinte). No entanto, a en-
trevista não pode ser considerada uma conversa, porque, dentre outros fatores, possui
certo controle na alternância de turnos.
Kerbrat-Orecchioni (op. cit.) acrescenta que a conversa “natural” é menos for-
mal, mais espontânea do que a entrevista. A diferença fundamental entre uma conversa
coloquial e a entrevista pode ser entendida a partir do controle de turnos, onde a conver-
sa estaria no eixo de menos controle de turno e a entrevista no eixo de mais controle de
turno.
No entanto, para os fins de nossa pesquisa, uma entrevista semi-formal com tó-
picos pré-estabelecidos, alternância de turno mais controlada e objetivo bem definido
(servir de material para pesquisas linguísticas), nos favorece, pois pode suscitar estraté-
gias de trabalho de face, o que aumenta as chances de encontrarmos material para o es-
tudo.
31
2 PRESSUPOSTOS METODOLÓGICOS
Nesse capítulo abordamos a metodologia de análise dos diminutivos nos corpo-
ra, ou seja, a fonte dos dados, os próprios dados, a atividade entrevista sociolinguística,
o ethos das comunidades envolvidas, o procedimento de seleção dos sufixos diminuti-
vos, as variáveis sociológicas consideradas para este estudo etc.
Serão, portanto, discutidos alguns critérios elencados para tratar dos diminuti-
vos. A análise deste trabalho consiste no levantamento das 42 ocorrências de formações
diminutivas de sufixo -illo, -ito e -inho, cuja base é um substantivo concreto, em doze
entrevistas sociolingüísticas realizadas na década de 90.
2.1 Modelo de Análise: Uma categorização morfopragmática
As formações diminutivas se encontram em um continuum funcional que vai do pó-
lo referencial ao subjetivo, tendo no meio deste trajeto sobreposições de funções, ou
seja, podemos encontrar diminutivos que, ao mesmo tempo que apresentam uma idéia
de pequenez, também contribuem à expressão da subjetividade do falante, interferindo
assim na interação com seu interlocutor. Tendo em vista que o uso subjetivo de uma
formação diminutiva provoca uma reação no ouvinte que vai além do enunciado, pode-
mos afirmar que a semântica está a serviço da pragmática.
Em um extremo dessa linha pela qual os diminutivos transitam tem-se o pólo
referencial, que trata exclusivamente da redução de tamanho do objeto referido em ter-
mos concretos. No outro extremo encontra-se o pólo subjetivo, que engloba os usos
afetivo positivo, afetivo negativo voltados ao referente, seja ele um objeto – neste caso o
que fica reduzida é a distância entre o falante e o objeto ao qual se refere, ou ainda seu
interlocutor – neste caso o diminutivo opera diretamente sobre a relação entre os parti-
cipantes, ou ainda um uso atenuante da formação diminutiva.
É certo que, independente do valor afetivo estar direcionado ao objeto referido
ou ao participante da interação, qualquer juízo de valor que o falante expresse por meio
do diminutivo gera um efeito pragmático, afinal tudo o que emerge na interação reper-
cute na mesma.
Os sufixos derivacionais –inho, para o português, e -ito e –illo, para o espanhol,
podem veicular a subjetividade do falante, sua avaliação sobre seu interlocutor ou sobre
o objeto referido. Esses elementos mórficos podem conter mais de um valor, função e
noção gramatical, de acordo com o contexto sócio-interacional em que se inserem.
32
Por serem os sufixos -illo e -ito os mais frequentes quanto à função diminutiva,
unimos a eles o sufixo -inho do português para contrapor a função referencial à subjeti-
va nas formações de base substantiva concreta. E observamos em que estágio de lexica-
lização se encontram as formas diminutivas cuja base é um substantivo concreto.
Para os fins desta pesquisa, consideramos em estágio avançado de lexicalização
as formações que não são mais sentidas coletivamente como derivações, embora possu-
am base livre e o autêntico sufixo, estas formações não são intercambiáveis com o grau
normal. Em estágio médio de lexicalização consideramos as formações que ainda se
alternam com o grau normal, sendo interpretadas ora como derivadas, ora como não
derivadas por diversos falantes em diferentes contextos (ex. nego versus neguinho). Por
último estão as formações em estágio baixo de lexicalização sentidas como derivações
reais. Para o presente trabalho investigamos somente as ocorrências em estágio médio e
baixo de lexicalização, posto que as em estágio avançado não são mais uma formação
diminutiva
Aplicamos o esquema construído a partir dos modelos de análise presentes nos
trabalhos sobre diminutivos de Turunem (2009) e Ezarani (1989). Tal categorização foi
implantada de modo a classificar as ocorrências diminutivas que apareceram nas entre-
vistas sociolinguísticas – corpora deste estudo. Foi a partir da observação dos dados que
a metodologia tomou forma, ou seja, não aplicamos uma metodologia já existente aos
dados, antes observamos o que os dados demonstravam, para posteriormente pensar em
um modelo de análise que se encaixasse aos corpora.
Quadro 4 – Síntese da proposta de modelo contextual para a análise morfopragmática deste trabalho.
Diminutivo
Uso Referencial Uso Subjetivo
Afetivo Positivo Afetivo Negativo Atenuação
33
No modelo contextual acima, o uso referencial é interpretado como “X é peque-
no”. Os diminutivos classificados como tal são aqueles cuja função é principalmente
dimensional. Já o pólo subjetivo se divide entre os usos afetivo positivo – que estabele-
ce uma relação de afetividade com seu referente, afetivo negativo – que marca uma re-
lação de insatisfação, crítica, pejoratividade no que diz respeito a seu referente, e de
atenuação – que diz exclusivamente sobre a relação com o interlocutor, podendo ser
interpretado como uma aproximação social e/ou um distanciamento linguístico. Este
recurso pode favorecer a face do falante ou ambas as faces envolvidas na interação.
Como será demonstrado, muitas vezes há sobreposição de funções dentro do pólo subje-
tivo.
Os critérios co-textuais foram desenvolvidos por Ezarani (1989) com o objetivo
de fornecer maiores subsídios à análise contextual de uma determinada ocorrência di-
minutiva a partir dos elementos circundantes2.
Os critérios co-textuais especificados a seguir favorecem a classificação de uma
ocorrência com função referencial (dimensional):
1) O referente da palavra base é passível de redução de tamanho;
2) Há possibilidade de substituição da forma sintética pela analítica (casita – casa
pequeña);
3) Há possibilidade de co-ocorrência do adjetivo pequeno com a forma diminutiva
…aunque sea un pueblecillo pequeñajo/// que tenga una cosa así que-/ bonita
[...ainda que seja um povoadinho pequenino.] (PRESEEA, entrevista 5);
4) O referente da palavra base traz em si a idéia de pequenez (un trocito de algo/
um pedacinho de algo)
No que concerne aos usos subjetivos, os seguintes critérios co-textuais contri-
buem à definição de uma ocorrência como de afeto positivo:
2 Ezarani lança ainda uma última lista de critérios que favorecem a interpretação de uma ocorrência como
sendo usada para estratégias interacionais, são elas uma situação de comunicação formal, assimetria hie-
rárquica, situação de comunicação com crianças e ato de fala diretivo ou comissivo. No entanto optamos
por não abordar esses critérios em nossa análise, porque (a) acreditamos que as listas anteriores também
podem ser usadas como estratégias interacionais, (b) as entrevistas socilinguísticas investigadas são semi-
formais, não há assimetria hierárquica e não envolve crianças. Quanto aos atos de fala, dois motivos justi-
ficam o fato de não os utilizarmos na análise, (i) não consideramos os atos de fala como unidades de aná-
lise na presente pesquisa, (ii) no tipo de atividade analisado (entrevista sociolinguístca) não aparecem
muitos atos diretivos e comissivos, que nos permitam desenvolver uma análise.
34
1) O referente da palavra base não é passível de redução em termos concretos (lei-
te, namorado);
2) Presença de referenciadores de primeira pessoa
…mientras siga en- en mi pisito// (risa = 2) estar contenta con los muebles…
[…enquanto eu ficar no meu apartamentinho, contente com os móveis...] (PRESEEA, entrevis-
ta 6);
3) Presença de estruturas reiteradoras de apreciação positiva
...ves// la casita del: lector// es una maravilla…[ta vendo, a casinha do leitor é uma
maravilha...] (PRESEEA, entrevista 6);
4) Repetição do objeto de afeto
...Às vezes tem o velhinho que senta na praça e você já... E, o velho vai encos-
tar! Não sei o quê, de repente o velho tem uma cabeça super aberta, super jo-
vem... (NURC-RJ, entrevista 8).
E ainda, no que concerne aos critérios co-textuais que favorecem a interpretação
de uma ocorrência como sendo de afeto negativo:
1- O referente da palavra base não é passível de redução em termos concretos;
2- Presença de dêiticos de segunda e terceira pessoas
...mas aquelas ruazinhas, todas de terra batida, levanta poeira e alaga quando
chove mas... (NURC-RJ, entrevista 8);
3- Presença de indefinidor acompanhado de dêiticos
...qualquer joguinho mesmo... desses de imaginação... ficar fazend isso...
(NURC-RJ, entrevista 7);
4- Presença de estruturas reiteradoras da pejoratividade
...tão de namoradinho firme, sabe, pô, fumam maconha, fazem o diabo...
(NURC-RJ, entrevista 9).
Baseados nas teorias que exploram o conceito de elaboração de face nas intera-
ções, buscamos corroborar duas noções, a da função pragmática como central3 e a dos
3 É bem verdade que o fato dos sufixos diminutivos apresentarem funções de ordem pragmática não eli-
mina sua possibilidade de veicular aspectos semânticos. No entanto minha proposta é olhar o lado que
permanece obscuro, ou seja, analisar a função pragmática que os diminutivos desempenham nas entrevis-
tas sociolinguísticas, tendo em vista que a análise dos diminutivos sob uma abordagem semântica já foi
realizada por diversos pesquisadores como Simões (2005) que investiga o valor semântico dos diminuti-
vos -inho e -zinho e Bergareche (1997) que estuda os diminutivos em espanhol sob uma perspectiva mor-
fossemântica.
35
usos diminutivos à serviço da construção de face, traçando um paralelo quanto ao uso
dos mesmos nas duas variantes em questão.
2.2 Os diminutivos nos corpora
Depois de levantar todos os sufixos de base substantiva concreta das doze entre-
vistas analisadas (-ito (a) / -illo (a) em espanhol e -inho (a) em português), definir seu
nível de lexicalização e classificá-los como de função referencial ou subjetiva segundo
os critérios contextuais e co-textuais, nos perguntamos – do ponto de vista morfoprag-
mático – se há divergências no uso entre as variantes do português e do espanhol estu-
dadas.
Foram excluídas as formações cuja base é um substantivo abstrato, um adjetivo
ou um advérbio, as ocorrências em estágio avançado de lexicalização e as formações
diminutivas com outros sufixos. Das doze entrevistas, seis são do projeto PRESEEA, de
Alcalá de Henares, e seis do projeto NURC-RJ; em cada variante foram analisados três
homens entre 28 e 33 anos e três mulheres entre 23 e 31 anos, todos com ensino superi-
or completo. A escolha das variantes deve-se ao fato de o Rio de Janeiro e Alcalá de
Henares terem um papel importante no modelo normativo.
As entrevistas sociolinguísticas que compõem os corpora foram selecionadas em
meio a uma série de entrevistas coletadas para o projeto PRESEEA (Projeto para o Es-
tudo Sociolinguístico do Espanhol da Espanha e da América) de Alcalá de Henares –
Espanha e para o NURC-RJ (Projeto da Norma Linguística Urbana Culta) – Brasil.
O projeto PRESEEA é um corpus oral da língua espanhola representativo do
mundo hispânico em sua variedade geográfica e social. O corpus de Alcalá de Henares
– membro da comunidade autônoma de Madrid – foi compilado em 1998 para contribu-
ir a estudos comparativos entre as cidades hispano-falantes do mundo. As províncias
que são membros da comunidade autônoma de Madrid possuem uma vida socioeconô-
mica totalmente articulada à capital hegemônica – Madrid. A variante linguística de
Alcalá de Henares está vinculada à norma culta de Madrid, que orienta os usos dos fa-
lantes desse território. A variante madrilena constitui o canon da norma culta do centro
peninsular.
O NURC foi criado em 1992 para construir um banco de dados de oralidade ur-
bana culta de cinco capitais brasileiras, dentre elas o Rio de Janeiro. Ambos os projetos
pré-estabeleceram os temas a serem tratados nas entrevistas, como família, trabalho e
36
cidade, e foram criados por motivos outros de investigação, nada relacionado ao objeto
de nossa pesquisa – os diminutivos. A importância histórica e socioeconômica do Rio
de Janeiro justifica a difusão e importância nacional da variante carioca.
O primeiro ponto a ser tratado é a escolha pela atividade entrevista sociolinguís-
tica. Por atividade, é entendida toda situação comunicativa socialmente constituída e
culturalmente reconhecida, orientada para uma meta, podendo envolver diferentes graus
de padronização (LEVINSON, op. cit.).
Os graus de padronização estão relacionados aos tipos de contribuições permiti-
das como participantes, local, duração da atividade, o que é dito e como é dito, etc. No
caso das entrevistas investigadas, há a limitação de participantes na atividade propria-
mente dita, há um local pré-estabelecido assim como a hora de começar a entrevista e
uma previsão da hora que deve terminar.
O tamanho das entrevistas sociolinguísticas analisadas em número absoluto de
palavras é bastante desigual como pode ser observado na tabela abaixo, na qual os códi-
gos que identificam as entrevistas se refere à variante linguística (português ou espa-
nhol), ao gênero (homem ou mulher) e à idade, respectivamente.
Tabela 1- Número de palavras das entrevistas
para o NURC-RJ e PRESEEA-Alcalá de Henares
ENTREVISTAS Rio de Janeiro
nº de palavras
de cada entrevista
Alcalá de Henares
nº de palavras
de cada entrevista
MULHER1(PM27) / (EM30) 2.905 9.379
MULHER2(PM27) / (EM31) 3.940 9.221
MULHER3(PM27) / (EM23) 4.466 5.642
HOMEM 1 (PH33) / (EH30) 2.583 10.991
HOMEM 2 (PH32) / (EH28) 4.617 8.130
HOMEM 3 (PH28) / (EH32) 3.728 5.526
TOTAL DE PALAVRAS 22.239 48.889
Fonte: Própria.
Tendo em vista o tamanho das entrevistas – o corpus carioca tem um total de
22.239 palavras e o corpus madrileno apresenta 48.889 palavras – foi necessário calcu-
lar a frequência relativa dos diminutivos com o objetivo de descrever e comparar as
formações diminutivas selecionadas segundo os critérios de lexicalização, classe grama-
tical (substantivo concreto) e sufixos -ito, -illo e -inho.
37
No que diz respeito à frequência de uso dos diminutivos em ambos os corpora,
com o intuito de comparar as amostras de tamanhos diferentes, calculamos a freqüência
relativa de diminutivos nos corpora, o que possibilitou visualizar a distribuição dos
mesmos nos gráficos a seguir. Ainda que os números sejam diferentes, consideramos a
unidade entrevista sociolinguística e normalizamos o número de diminutivos levando
em conta o número de entrevistados, o grau de escolaridade e a idade dos mesmos. A
tabela a seguir apresenta o total de todos os sufixos diminutivos que aparecem em cada
entrevista sociolinguística, seja de base substantiva concreta ou não.
Tabela 2- Total de diminutivos em cada entrevista sociolinguística
ENTREVISTAS RIO DE JANEIRO ALCALÁ DE HENARES
MULHER(PM27) / (EM30) 10 20
MULHER(PM27) / (EM31) 12 26
MULHER(PM27) / (EM23) 10 0
HOMEM (PH33) / (EH30) 2 18
HOMEM (PH32) / (EH28) 3 20
HOMEM (PH28) / (EH32) 3 2
TOTAL DE DIMINUTIVOS 40 86 Fonte: Própria.
Portanto, dividimos o número de diminutivos totais de cada corpus pelo número
de palavras de cada entrevista e multiplicamos por cem. Em seguida dividimos o núme-
ro de diminutivos de base substantiva concreta pelo número de palavras de cada entre-
vista, visando um resultado mais normalizado.
Dessa forma, foi possível chegar a uma estimativa de quantos diminutivos de ba-
se substantiva concreta há em cada corpus a cada 100 palavras (torre vermelha dos grá-
ficos), podendo-se assim comparar os corpora a partir de um mesmo parâmetro.
A seguir apresentamos os gráficos separados por gênero e variante com os resul-
tados desta normalização.
38
Gráfico 1- Variante Carioca (total de diminutivos presente no corpus
versus diminutivos de base substantiva concreta)
Fonte: Própria.
A cada cem palavras do corpus das mulheres, foram encontradas 0,2 formações
diminutivas e 0,1 diminutivos de base substantiva concreta. Já no corpus dos homens,
foram encontrados 0,07 formações diminutivas e 0,009 diminutivos de base substantiva
a cada cem palavras.
As formações sintéticas foram mais produtivas em outras classes gramaticais
tanto para as mulheres quanto para os homens; sendo que no corpus feminino a dispari-
dade entre os usos de outras bases e os de base substantiva foi bem superior à do corpus
masculino.
Tal constatação nos permite pensar que as formações sintéticas de base substan-
tiva concreta são pouco produtivas porque os sufixos diminutivos talvez não sejam usa-
dos para a expressão de tamanho, mas para expressar a subjetividade do falante.
39
Gráfico 2- Variante Madrilena
(total de diminutivos presente no corpus versus
diminutivos de base substantiva concreta)
Fonte: Própria.
O gráfico acima revela que a cada cem palavras do corpus das mulheres
madrilenas, 0,18 são formações diminutivas e 0,06 são diminutivos de base substantiva
concreta. Já no corpus dos homens, foram encontradas 0,16 formações diminutivas e
0,03 diminutivos de base substantiva a cada cem palavras; enquanto no corpus carioca
todos os entrevistados realizaram formações diminutivas, no corpus madrileno a entre-
vistada mais nova (mulher de 23 anos) e um homem de 32 anos não realizaram nenhu-
ma formação diminutiva de base substantiva concreta.
Tendo em vista que para alcançar o objetivo do presente trabalho devem ser con-
trapostas as funções dimensionais e pragmáticas em uma formação que seja passível de
desempenhar ambas as funções, foram excluídas todas as ocorrências cuja base não é
um substantivo concreto. O quadro seguinte revela em números a quantidade de diminu-
tivos -inho, -ito e -illo não analisáveis, ou seja, formações de base adjetiva, adverbial e
verbal.
Não é fácil classificar as ocorrências diminutivas;, pois, como levanta Turunem
(op. cit.), não se sabe ao certo se os diminutivos formados a partir de bases outras (ad-
verbiais, pronominais, verbais, etc.) que não as nominais devem ser legitimadas como
diminutivos “verdadeiros” ou lexicalizações em estágio avançado. Cunha e Cintra (op.
cit.) tentam resolver essa questão admitindo que os sufixos diminutivos podem criar
novos substantivos, advérbios etc.
40
Embora seja possível formar diminutivos a partir de outras categorias lexicais, a
possibilidade de uma formação diminutiva apresentar noção reducional se limita às ba-
ses nominais, mais especificamente aos substantivos concretos. Por esse motivo, foram
excluídas da análise as seguintes ocorrências.
Quadro 5 – Diminutivos de classe gramatical ≠ de substantivo concreto
ENTREVISTAS RIO DE JANEIRO
adjetivos, advérbios e subst. abstrato (nº de ocorrências)
ALCALÁ DE HENARES
adjetivos e advérbios (nº de
ocorrências)
MULHERES certinho (1)
baixinho (1)
pequenininha(2)
novinha (1)
fininho (1)
velhinha (1)
bonitinha (2)
briguinha (1)
normalito(1)
pequeñito (4)
escapadilla(2)
bajito (1)
cerquita (1)
tranquilillo(2)
tranquilito (1)
cuidadito (1)
paradilla(1)
delgadita (1)
fresquito (1)
poquito (9)
HOMENS pouquinho (3)
igualzinho (1)
calminho(1)
iniciozinho (1)
quietinho (2)
finalzinho (1)
certinho (1)
viejito(1)
bajito(2)
tranquilito (1)
ratito (1)
cerquita (1)
delgadito(1) normali-
to(1)
facilito (1)
famosillo (1)
fresquito (1)
poquillo (1)
poquito (10)
ladito (1)
pequeñito (6)
TOTAL DE
DIMINUTIVOS
DE OUTRAS
CLASSES
20
54
Fonte: Própria.
Desconsideramos ainda os diminutivos formados por outros sufixos, posto que a
partir de um ponto de vista sincrônico o sufixo –inho/a se apresenta como o mais produ-
41
tivo no corpus carioca (KOIKE, op. cit.). Já no corpus madrileno optamos pelos sufixos
–ito e –illo, visto que a região espanhola investigada realiza formações diminutivas com
–ito (SOLER ESPIANUBA, op. cit.) e o sufixo –illo foi acrescentado à pesquisa devido
a dois fatores: (a) sua produtividade no corpus e (b) o afirmado por Beinhauer (1985) de
que tal sufixo compreende os valores dimensional e subjetivo – relevantes ao presente
trabalho. Desse modo, o quadro a seguir apresenta os outros sufixos encontrados nas
entrevistas madrilenas, que não são analisáveis segundo nossa proposta.
Quadro 6 – Formações diminutivas com sufixos em Espanhol que não -ito e -illo
ENTREVISTAS
ALCALÁ DE HENARES
MULHER1/ (EM30) Ø
MULHER2/ (EM31) Pequeñajo, chiquitajo
MULHER3/ (EM23) Agujetas, serieta
HOMEM 1/ (EH30) Regordeta
HOMEM 2/ (EH28) Ø
HOMEM/ (EH32) Ø Fonte: Própria.
A seguir serão analisados todos os diminutivos de base substantiva concreta que
apareceram no corpus. Nas entrevistas sociolinguísticas foram encontrados diminutivos
de base adjetiva, adverbial e substantivo abstrato. No entanto, optamos por substantivos
concretos por serem intercambiáveis, ou seja, as entidades a que se referem são passí-
veis de redução e podem desempenhar um comportamento pragmático dentro da intera-
ção. Essa intercambiabilidade contribui com idéia de que os diminutivos são marcado-
res polissêmicos altamente flexíveis, podendo ir muito além da expressão dimensional
atingindo todo o ato comunicativo. No material do NURC, <loc> é o entrevistado, o
locutor; no PRESEEA, <1> é o entrevistado.
Em todas as amostras, as ocorrências de diminutivos analisáveis foram classifi-
cadas segundo a tipologia morfopragmátca descrita anteriormente, além dos conceitos
que envolvem um processo de elaboração de face (GOFFMAN, [1959] 2002). O tama-
nho dos corpora possibilitou apresentar todas as ocorrências no corpo do trabalho.
Em todos os 42 dados buscamos identificar as causas promotoras das formações
diminutivas, atentando para o contexto e o co-texto, fornecido através do todo transcrito
em cada entrevista, além do conhecimento do ethos de cada comunidade de fala. Os
corpora investigados apresentam um repertório limitado de atos de fala que, em princí-
42
pio, se deve à atividade entrevista sociolingüística. A atividade em questão restringe a
ocorrência de uma infinidade de atos de fala, porém favorece as sequências textuais
narrativas, descritivas e argumentativas que propiciam a observação do trabalho de face
desenvolvido pelos entrevistados.
Dada a quantidade de diminutivos de base substantiva concreta analisada, as
conclusões serão de ordem qualitativa. Para melhor compreensão dos elementos consti-
tuintes das cenas destacadas para análise, sugerimos a consulta das doze entrevistas que
se encontram no CD em anexo ao trabalho.
2.3 O Ethos das Variantes Madrilena e Carioca
Os participantes de uma dada interação refletem a cultura da qual são membros.
As especificidades de cada cultura influem diretamente na análise dos dados, afinal a
escolha por uma formação diminutiva diz muito sobre aquela comunidade de fala, se é
uma cultura de ethos + afiliativo ou não, por exemplo. Um mesmo contexto pode justi-
ficar uma estratégia de polidez para determinada cultura e para outra não. Por esse mo-
tivo, é necessário discorrer algumas linhas sobre o ethos das variantes estudadas.
Perfil comunicativo ou o ethos é como Kerbrat-Orecchioni (op. cit.) denomina a
maneira de um falante se comportar no discurso para alcançar seu objetivo. É a maneira
de se apresentar na interação – mais ou menos calorosa ou fria, mais ou menos próxima
etc. Segundo essa autora, outros autores definem o ethos como um estilo comunicativo
ou conversacional; buscando uma tipologia das sociedades, ela contrapõe os seguintes
elementos:
1) Povos menos comunicativos x sociedades mais falantes;
2) Ethos de proximidade x de distância;
3) Ethos hierárquico x igualitário;
4) Ethos consensual x conflitual;
5) Sociedades mais ritualizadas x menos ritualizadas.
Kerbrat-Orecchioni (op. cit.) acrescenta, ainda, os conceitos de polidez negativa
e polidez positiva em que o primeiro é voltado para o distanciamento entre os interlocu-
tores enquanto o segundo busca a aproximação através de convites, elogios etc. A defi-
nição de Brown e Levinson (1987) para ethos também é focada na interação, pois o de-
43
finem como a qualidade da interação, caracterizando, assim, um determinado grupo
social.4 Neste trabalho foi adotado o conceito de ethos interacional.
Sobre o conceito de imagen social (face), Bravo ([2001] 2005) lança duas cate-
gorias vazias de face que tomam forma em cada cultura de acordo com o conhecimento
compartilhado entre os participantes de cada sociedade. São elas o desejo de autonomia
e afiliação: o primeiro, alude ao fato de que a pessoa quer ser reconhecida individual-
mente em meio ao grupo; o segundo, refere-se a tudo aquilo que a permite identificar-se
como pertencente ao grupo.
Segundo Bravo (op. cit.), os conceitos de afiliação e autonomia podem coincidir
com as noções de imagem positiva e negativa para as sociedades inglesas, entretanto
isso não acontece com sociedades como a espanhola, e acrescentamos a brasileira, onde
a autonomia não é vista como um desejo de não ser “invadido”, mas de ser original e
assim diferenciar-se do grupo; em relação ao espanhol da Espanha, a autora pontua as
seguintes premissas culturais:
1) É valorizado aquele que é original e consciente das próprias qualidades;
2) A imagem que o indivíduo tem de si mesmo e o apreço dos outros confirmam
suas qualidades positivas;
3) Tolera-se a expressão de opiniões;
4) Realizam-se grandes esforços para comprometer-se com o dito: isso supõe um
poder de convencimento sobre seu interlocutor;
5) Os conflitos não implicam comprometimento da relação social, pelo contrário,
muitas vezes contribui ao laço interpessoal;
6) A relação social se estabelece por graus de confiança. Em função dessa confian-
ça, existem situações em que se pode falar sem temer a ofensa.
Flores (2002) retoma esses conceitos ao tratar da imagem dos espanhóis e diz
que o desejo de autonomia está relacionado à expressão da autoafirmação, mostrando-se
original e consciente de suas qualidades; sobre o desejo de afiliação, ela menciona o
ideal de confiança.
A imagem de autonomia espanhola pode ser vista na firmeza e no caráter persu-
asivo com que expressam suas opiniões carregadas de emoção. Já a de afiliação, marca
4 No dicionário de Análise do Discurso, Charaudeau e Maingueneau (2004) definem ethos como a ima-
gem que o locutor constrói de si num dado discurso para exercer uma influência sobre seu interlocutor.
44
uma proximidade, um tom mais familiar ao que é dito. Segundo Bravo (2005), a autoa-
firmação pode causar conflitos, ainda que seja condição para obter apreço, pois ao
mesmo tempo em que enfatiza as qualidades do eu, pode ir de encontro ao eu do inter-
locutor.
A autoafirmação é um valor socialmente aprovado na cultura espanhola, como
se observa na tolerância por opiniões contrárias à defendida pelo falante. Outro valor
aprovado é a confiança, que está relacionada à auto-afirmação, afinal, quando o falante
se afirma é porque tem confiança no grupo ao qual se dirige, e este por sua vez, renova a
confiança no falante mediante sua auto-afirmação (Bravo, op. cit.). Tendo em vista a
inexistência de autores que tratem sobre o ethos carioca, é propomos um quadro compa-
rativo contrastando traços do suposto ethos carioca aos já descritos pela bibliografia
para o ethos do espanhol peninsular.
Quadro 7 – Proposta comparativa de ethos nas variantes culturais analisadas
Espanha Brasil
+ valorizado aquele que é original + valorizado aquele que é original
+ valorizado aquele que se mostra consci-
ente das próprias qualidades.
+ valorizado aquele que embora conscien-
te de suas próprias qualidades não se mos-
tre como tal aos outros.
A imagem que o indivíduo tem de si
mesmo e o apreço dos outros confirmam
suas qualidades positivas.
A imagem que o indivíduo tem de si não
confirma suas qualidades positivas, ape-
nas o apreço alheio pode fazê-lo.
+ valorizada a expressão direta de
opiniões
- valorizada a expressão atenuada de opi-
niões
+ comprometimento com o dito. - comprometimento com o dito.
Os conflitos não implicam comprometi-
mento da relação social, pelo contrário,
muitas vezes contribuem ao laço interpes-
soal.
Os conflitos implicam comprometimento
da relação social
+ confiança = opinião contrária + confiança ≠ opinião contrária
+ confronto + consensual
Fonte: Própria.
45
O quadro comparativo é relevante, pois contribui à investigação da hipótese de
que o ethos dos entrevistados cariocas revela um maior cuidado com a expressão de
opiniões, ou seja, no corpus carioca haveria um uso frequente de diminutivos para ex-
pressar julgamentos negativos.
Em seu trabalho sobre o script cultural de simpatia, Triandis (1984) compara os
hispano-americanos aos não hispânicos nos Estados Unidos e observa que a simpatia é o
padrão de interação social que caracteriza os latinoamericanos como um todo; segundo
o autor, a simpatia é uma qualidade pessoal permanente; o individuo “simpático” é per-
cebido como agradável, fácil de lidar, com habilidade para expressar sentimentos e con-
formidade.
Para Triandis (op. cit.), o indivíduo que é simpático se comporta com dignidade,
respeita os outros e contribui com a harmonia nas relações interpessoais, rejeitando o
conflito e enfatizando comportamentos positivos. A rejeição a comportamentos negati-
vos estaria baseada nos valores culturais latinoamericanos como o respeito e a dignida-
de. Os comportamentos que são interpretados culturalmente como crítica ou insulto são
percebidos pelos latinoamericanos como uma agressão, violação à dignidade do outro e
a seu respeito próprio.
Logo, pode se pensar que cordialidade e a afabilidade emergem como uma im-
portante característica no modelo de comportamento social dos latinoamericanos. A
preferência pelas relações harmoniosas entre os hispânicos e o “ser simpático”, como
um tratamento pessoal valorizado, constituem um importante passo na definição dos
padrões preferidos pelos latinos em relações interpessoais.
A partir das considerações de Triandis (op. cit.) para o grupo cultural dos latino-
americanos, como um grupo alocêntrico, que presta atenção nos desejos, objetivos, va-
lores e pontos de vista alheios, poderíamos esboçar um paralelo entre esse grupo e o
grupo peninsular; nesse caso, o “rótulo” de simpatia atribuído aos latinoamericanos (e,
por quê não aos cariocas?), justificaria o uso mais frequente dos diminutivos para ex-
pressar afeto negativo, enquanto a comunidade madrilena o faria de forma direta por
valorizar a crítica e a expressão de opiniões de uma forma geral.
Levando em conta os traços característicos de cada comunidade de fala, o obje-
tivo é identificar se os diminutivos usados aparecem como recurso a serviço da constru-
ção de face dos entrevistados; quanto ao trabalho de face, observaremos se os diminuti-
vos projetam alguns valores dos falantes e/ou funcionam como atenuantes.
46
3 OS USOS DO DIMINUTIVO NA VARIANTE CARIOCA
Neste capítulo será apresentada a análise e os resultados obtidos no corpus cari-
oca; para tanto, foi identificada a função morfopragmática que os diminutivos desempe-
nham na interação, ou seja, se estão no pólo referencial ou no subjetivo, bem como se os
diminutivos contribuem com a expressão do que sejam os atributos aprovados pelos
entrevistados, atenuando uma possível ameaça ou a serviço da construção de face do
falante. A análise das ocorrências é apresentada a partir de uma divisão dos entrevista-
dos por gênero com a finalidade de no final deste capítulo traçar um paralelo entre os
resultados das mulheres cariocas e dos homens dessa mesma variante.
Foram selecionados homens e mulheres da mesma faixa etária e o mesmo grau
de escolaridade; todas as entrevistas giraram em torno da vida dos entrevistados. Nesta
análise qualitativa, foram levantadas dezesseis formações diminutivas para o corpus
feminino (oito ocorrências com afeto negativo, seis com afeto positivo e três com fun-
ções sobrepostas) e uma para o corpus masculino (função referencial). Do total de 32
diminutivos no corpus das mulheres cariocas, 16 são analisáveis e do total de oito dimi-
nutivos presentes no corpus dos homens, um é analisável segundo os critérios de sele-
ção elencados para este estudo.
3.1 O Diminutivo no corpus das Mulheres da Variante Carioca
Nenhuma das ocorrências de formação diminutiva no corpus das mulheres apareceu
com função unicamente referencial; as três formações a seguir aparecem com funções
sobrepostas. A primeira ocorrência que apresentamos a seguir em estágio baixo de lexi-
calização (derivação real), sobrepõe a função referencial à subjetiva de afeto negativo.
Porém a formação está muito mais próxima do pólo referencial que do pólo subjetivo.
(1) <loc>E, achei as cidades, assim, legais. Conheci o lado francês, né, de Montre-
al, ali, algumas cidadezinhas, por ali, e o lado inglês, também.
Quando o entrevistador, a partir das viagens que a entrevistada fez, lhe pergunta
qual o melhor lugar para se morar, ela responde através de um texto descritivo-
argumentativo e faz uso de uma formação diminutiva para dar às cidades do lado de
Montreal uma função dimensional – uso referencial, que se justifica pelo fato de o refe-
rente da palavra base ser passível de redução de tamanho (cidade-cidadezinha), além da
47
possibilidade de se substituir a forma sintética pela analítica (cidadezinha-cidade peque-
na) sem comprometimento de sentido.
Mas a entrevistada também atribui ao referente uma função de menos valor, res-
tando-lhe importância – a presença de indefinidor acompanhado por dêitico corrobora a
classificação de afeto negativo – algumas cidadezinhas ali. A realização revela funções
sobrepostas, sendo a referencial mais relevante na interação posto que mais à frente ela
diz que a cidade ao norte de Montreal era pequenininha.
Tal diminutivo tem um papel funcional motivado na própria formação revelando
a avaliação do falante frente à entidade referida, o que contribui à construção de sua
imagem pública, afinal a escolha lexical da entrevistada é motivada não só pela descri-
ção do país que ela conheceu, mas para demonstrar que essas cidades não tiveram muita
importância para ela, pois ela prefere os grandes centros.
A segunda ocorrência de funções sobreposta é o diminutivo plantinha. Trata-se
de uma formação em estágio baixo de lexicalização (derivação real), com função refe-
rencial e de afeto positivo.
(2) <loc>...só japonês também pra conseguir fazer de pedra, um jardim bonito né. E
realmente o negócio ficou bonito, aquela água correndo num canto, plantinha,
paciência que eles têm pra, cuidar da planta, fazer aqueles, é, banzai né, aque-
las árvores miniaturas, e têm anos.
A função de afeto positivo é confirmada não só pelo contexto como na repetição
do objeto de afeto – plantinha, planta e nas estruturas reiteradoras de apreciação positi-
va – paciência, cuidado, bonito.
O uso referencial é confirmado através de estruturas co-textuais como o fato de o
referente da palavra base ser passível de redução de tamanho, a forma sintética planti-
nha pode ser substituída pela forma analítica sem modificar o sentido do que foi enun-
ciado e a presença de elementos de dimensão reduzida como banzai e árvores em minia-
tura co-ocorrendo com o diminutivo plantinha.
Esta formação diminutiva está a serviço da construção de face da entrevistada,
pois é coerente com a imagem que ela vem projetando ao longo da interação – uma i-
magem que prioriza valores como o respeito ao próximo e à natureza.
48
A terceira ocorrência em estágio baixo de lexicalização (derivação real) é um
exemplo de sobreposição de funções no pólo subjetivo; logo não há a interferência da
função referencial. Trata-se de uma formação que expressa afeto negativo com a finali-
dade maior de funcionar como atenuante.
(3) <loc>não... TER nunca tinha... mas a gente sempre dava um jeito de criar al-
guma coisa... no... no mínimo ficava em casa vendo televisão... comendo pipo-
ca... assistia até jogo na televisão por falta do que fazer na cidade né? mas
sempre... sempre se reunindo com alguém ...eu ia pra casa de alguém que tinha
piscina... ou totó... qualquer joguinho mesmo... desses de imaginação... ficar fa-
zend isso...
Minimizando a importância do objeto, a entrevistada contribui ao argumento de
que embora não houvesse muito entretenimento em Cambuquira eles sempre arruma-
vam algo para fazer. O uso subjetivo de afeto negativo pode ser evidenciado pela pre-
sença de um indefinidor acompanhado de dêitico – qualquer joguinho mesmo desses.
Há ainda o uso atenuante que aparece em um contexto em que a entrevistada
reduz a afetividade por algo que era importante para ela naquela época em que morava
em Cambuquira, ou seja, ela se distancia da mensagem. Tentar atenuar sua opinião so-
bre os jogos pode ser visto dentro do trabalho de face como uma atenção ao outro e a ela
mesma, afinal, ela já observou que no Rio as diversões são outras, logo as chances de
seu interlocutor compartilhar o prazer pelo jogo é diminuta, assim, para não se tornar
desinteressante para seu interlocutor, nem se mostrar pertencente a um outro grupo que
não o dele – o dos cariocas, ela recorre à formação diminutiva joguinho.
Defender seu ponto de vista parece, em um primeiro momento, só favorecer a
face da entrevistada; entretanto, observamos ao longo da entrevista que o atenuante jo-
guinho aparece com uma função tática de promover a afiliação da entrevistada ao grupo
carioca ou não desvinculá-la por completo do grupo, o que classifica tal ocorrência co-
mo um atenuante que serve à polidez (aproximação social) e à eficácia de seu argumen-
to (sobre não ter o que fazer) simultaneamente. O uso estratégico do diminutivo jogui-
nho ao responder sobre entretenimento em Cambuquira serve à construção da imagem
pública da entrevistada com um caráter de + afiliação, + proximidade e consenso.
49
3.1.1 Afeto Negativo
A seguir, apresentamos as oito ocorrências diminutivas com função de afeto ne-
gativo no corpus das mulheres cariocas. A primeira formação com função puramente de
afeto negativo aparece logo no início da entrevista e se encontra entre o estágio médio e
avançado de lexicalização, porque, embora possua um sufixo autêntico, está deixando
de se alternar com o grau normal nego. Pouco a pouco a forma básica e a sintética vão
se distanciando e assumindo usos partuculares.
(4) <loc>Agora, eu gosto da Tijuca tem tem pontos bons, tem tem pontos que são,
meio perigosos como em qualquer lugar do mundo, eu acho que isso não, muda
muito pra lá. O pessoal fala que o, Rio de Janeiro é uma cidade violenta mas, a
diferença é que a gente fala o que acontece aqui, e em outros lugares por exem-
plo, Nova York, em determinados pontos é tão, violento quanto o Rio ou, de re-
pente, até mais, e neguinho aí nem comenta isso né.
Trata-se de um uso subjetivo de afeto negativo, porque, dentre outros fatores, o
referente da palavra base (nego) não é passível de redução em termos concretos. Após
narrar sobre seu bairro no RJ ela argumenta a favor da idéia de que na Tijuca há pontos
perigosos como em qualquer outro lugar do mundo, e quando vai inserir sua crítica aos
que não comentam que a violência é no mundo inteiro, ela faz uso de uma formação
que, ao mesmo tempo que impessoaliza seu referente, uma outra pessoa, marca uma
avaliação afetivo- negativa.
Tendendo mais ao estágio avançado de lexicalização (denominador de entida-
des), porém com uma função subjetiva de afeto negativo, visto que neguinho se refere a
um pessoal, do qual ela não faz parte, tal ocorrência reflete um distanciamento afetivo
do falante frente à entidade referida. A formação diminutiva aparece a serviço da cons-
trução da imagem pública da entrevistada, neste caso a face de carioca, que marca o
grupo do “eu” e o grupo do “outro” (do neguinho), que não assume os problemas de sua
cidade.
O diminutivo acima é recorrente na fala da entrevistada de 27 anos como estra-
tégia de indeterminação do sujeito, ela o usa mais três vezes na entrevista sempre mar-
cando o grupo do neguinho como aquele no qual ela não se inclui. As ocorrências 5, 6 e
7 se situam no pólo afetivo negativo, como pode ser observado mais adiante através das
50
estruturas reiteradoras de pejoratividade – na base da malandragem, já quer te passar
pra trás.
(5) <loc>Primeiro, o respeito com as pessoas, tá. Aqui no Rio, de repente a gente
já tem um um preconceito contra isso, é tipo, assim: Ah não, aqui no Rio nada
funciona! Ou neguinho já vai na base da malandragem, já quer te passar pra
trás, de repente alguns lugares até funciona porque você, muitas vezes encontra
boas pessoas por aí, tá. Agora, cê já tá com o pé atrás, né, e lá, até de repente
porque por você não conhecer, de repente lá tem tem tanta malandragem, quan-
to aqui, até que acho que não mas, tem bastante, ou seja, muito mais malandra-
gem do que você imagina, não é, você, ou os caras ficam com cerimônia com
você ou ou você não percebe, não sei...
(6) <loc>Eu sei que por exemplo, respeito a leis, nem que seja lei de trânsito, res-
peito com pessoas mais velhas sabe isso tem muito no Japão, muito, é. Aqui no
Brasil, neguinho, muitas vezes na família o cara vai ficando mais velho e, a fa-
mília não quer saber, larga, você você não...
(7) <loc>À vezes, um pouco de ... respeito pela própria, pelo próprio país, sabe,
você vê, às vezes, numa olimpíada, o orgulho que, os caras carregam a bandei-
ra americana, não sei o quê. Os atletas brasileiros também têm esse orgulho,
mas o povo mas, entendeu, o povo, só em época de Copa do Mundo que negui-
nho se junta mesmo, porque se não.
Ao comparar uma cidade do Canadá com o Rio, a entrevistada diz que o diferen-
cial é o respeito pelo outro que se tem no Canadá. Ela usa o diminutivo neguinho como
uma crítica àqueles que não respeitam ao próximo julgando-os como malandro que que-
rem sempre aproveitar-se do outro.
A oitava ocorrência é o diminutivo barraquinha em estágio médio de lexicaliza-
ção, pois ainda alterna com o grau normal, sendo interpretada ora como derivada, ora
como não derivada por falantes em diferentes contextos. Tal afirmação foi testada em
oito mulheres cariocas entre 20 e 30 anos.
(8) <loc>não... ãh... a minha faculdade... a... a minha faculdade era uma continua-
ção do exército... porque lá tem a (?) né... e o... presidente da minha faculdade
era militar e o coordenador do meu curso era militar... os meus professores e-
ram militares... então o único evento que eles permitiam que a faculdade parti-
cipasse era da feira de exposições que era em agosto... feira de gado né... expo-
sição rural... feira... feira rura/ rural, que era em agosto... aí... a faculdade ti-
51
nha uma barraquinha lá... mas mesmo assim era super controlado pelo... coor-
denador do curso...
A formação diminutiva aparece com um uso afetivo negativo, que se confirma
através de alguns elementos co-textuais como o uso do dêitico lá e da estrutura super
controlado que reitera o valor de pejoratividade. Já o contextual aparece através da ex-
periência trazida por ela de que a barraca era a única coisa permitida pela faculdade e
ainda assim não era grande coisa devido ao controle excessivo. Esta formação não inter-
fere de maneira direta na imagem pública veiculada pela entrevistada.
A nona ocorrência é o diminutivo namoradinho, em estágio baixo de lexicaliza-
ção (derivações reais) e que aparece dentro de uma construção mais ou menos fixa na
língua oral dos jovens cariocas – estar de namoradinho.
(9) <loc>por exemplo eu vejo que, eu na minha geração e tal, fui muito mais livre
do que essas meninas, o que não quer dizer, que isso seja uma regra, porque tem
umas meninas aqui, aqui na rua mesmo que, com treze anos, pô, tão de namora-
dinho firme, sabe, pô, fumam maconha, fazem o diabo, entendeu, e as garotas
são pequenas, eu olho e fico assim: Meu Deus!
Muitas vezes a formação namoradinho representa na fala carioca um relaciona-
mento que não é sério, no entanto, o caso acima retrata um namoro firme, como a entre-
vistada mesmo diz. A ocorrência diminutiva marca o afeto negativo da entrevistada pelo
referente, pois ela reprova o fato de meninas de treze anos estarem namorando; tal ava-
liação é confirmada quando ela acrescenta que essas meninas fumam maconha, fazem o
diabo – estrutura reiteradora de pejoratividade.
Esta realização opera na relação do falante com seu referente, mas, principal-
mente, revela um juízo de valor da entrevistada sobre o fato de meninas de treze anos
começarem a namorar nessa idade. Tal escolha serve à construção de face da entrevista-
da, pois diz sobre seus valores, sobre o que ela aprova ou não na sociedade em que vive,
marca o grupo do qual ela faz parte (as que têm liberdade e são “boas meninas”) e o
grupo do outro (as que têm namorado precocemente, se drogam etc.).
A décima ocorrência é a palavra pracinha que, em outro contexto, poderia ter
outro significado, mas a entrevistada o usa no sentido de praça, logo a consideramos
52
como uma realização em estágio médio de lexicalização, ainda alternando com a forma
básica.
(10) <doc>você sente muita diferença nas atividades de lá e daqui? (?)
<loc>é... o ideal é que houvesse um pouquinho dos dois né... por que por... lá
por exemplo eu me sentia... aqui é bom... eu gosto muito porque aqui tem cine-
ma... tem teatro né... eu adoro teatro... e lá não tinha... lá tinha ... teatro era
pracinha de colégio uma vez por ano... final do ano... alguma coisa assim desse
tipo né...normalmente não tinha nada... mas... por outro lado... aqui a gente não
tem aquele convívio que a gente tinha com as pessoas lá né?
A questão é por que pracinha e não praça. Quando a entrevistada diz que teatro
era pracinha de colégio, tal formação funciona dentro de uma expressão motivada por
um papel específico construído juntamente com o complemento de colégio.
O diminutivo pracinha nesta construção opera como um afetivo negativo, mais
especificamente na relação entre o locutor e o referente teatro. Tal expressão é usada
para construir uma imagem do que era o teatro em Cambuquira, a alusão é feita através
de uma forma mais ou menos fixa que contribui à expressão do que ela não gostava em
Cambuquira.
Essa parte da interação trata das coisas que ela gostaria de trazer de Cambuquira
para implantar no Rio e vice-versa. Ao expressar sua opinião sobre o que lhe parece
agradável ou não em cada cidade, ela vai delineando seus gostos e, consequentemente,
sua face.
A avaliação negativa feita pela entrevistada se confirma quando o entrevistador
pergunta em seguida se não há cinema e teatro em Cambuquira, ou seja, ele demonstra
não ter reconhecido a pracinha de colégio como teatro, justamente o que pareceu ser o
papel da formação diminutiva na expressão pracinha de colégio.
3.1.2 Afeto Positivo
Neste subitem, tratamos das seis ocorrências encontradas no pólo subjetivo com
função de afeto positivo. A primeira ocorrência (a décima primeira do corpus das mu-
lheres cariocas) é a formação velhinho, em estágio baixo de lexicalização – derivação
real).
53
(11) <loc>Às vezes tem o velhinho que senta na praça e você já... E, o velho vai en-
costar! Não sei o quê, de repente o velho tem uma cabeça super aberta, super jo-
vem. Deixa eu ver, o que mais. Ah, não posso falar muito de horários, porque eu
sou super ... ( risos ) Pontualidade não é comigo.
Sua função de afeto positivo pode ser confirmada pelo fato de o referente da
palavra base não ser passível de redução em termos concretos (velho) e haver a repeti-
ção do objeto de afeto velhinho – velho – velho.
Sobre o tema de respeitar ao próximo a entrevistada faz uso da formação dimi-
nutiva velhinho argumentando a favor do respeito ao outro e utiliza em sua argumenta-
ção o sufixo diminutivo como instrumento à expressão de seu juízo de valor. Trata-se de
um uso que está a serviço da construção de face da entrevistada, pois projeta valores
pessoais como o carinho e respeito pelos idosos.
A décima segunda ocorrência é o diminutivo gramadinho em estágio baixo de
lexicalização (derivação real).
(12) <loc>Não sei, eu acho que, primeiro pelo, lance de espaço. Imagina uma casa
com gramadinho, na frente e tal. Gostaria de ter gramado sem muro, que nem
aqueles subúrbios americanos de cidades pequenas né, porque grande não dá,
ah, tudo bem, na hora de sonhar, a gente sonha alto.
Elementos co-textuais, como o referenciador de primeira pessoa – gostaria/ a
gente, e a estrutura reiteradora de apreciação positiva – sonho, corroboram a classifica-
ção de afeto positivo.
Ao ser questionada porque casa é melhor que apartamento, a entrevistada se vale
de um recurso afetivo para defender sua opinião de que casa é melhor. Tal escolha pro-
jeta alguns valores da entrevistada, como a visão romântica de casa com gramadinho na
frente e sem muro marcando uma oposição ao cenário urbano de hoje com grandes edi-
fícios e casas com muros altos; logo, trata-se de uma formação a serviço da construção
de face da entrevistada.
Consideramos a décima terceira ocorrência, a realização barzinho, entre o está-
gio médio e avançado de lexicalização, pois ainda se alterna com o grau normal dentro
do contexto retratado, embora esteja em processo de assumir um referente específico,
diferente do significado da forma bar.
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(13) <loc>ah... Cambuqui/ era difícil sair só... só duas pessoas... lá em Cambuquira
não tinha muito porque... eu acho que é porque a cidade é muito pequena e não
tinha nada pra fazer... então pra aparecer alguma coisa... as pessoas tinham que
se reunir em qualquer lugar de alguma forma né? então dificilmente saíam só
duas pessoas... normalmente era em grupo... que a gente... ia pra barzinho em
grupo ou então ia pra outra cidade... ia pra um show... mas normalmente sempre
em grupo...
O diminutivo barzinho acima aparece em um contexto de afeto positivo, porque
aparece como elemento constitutivo do cenário de recordação da entrevistada que mo-
rou algum tempo no interior de Minas Gerais. A escolha por barzinho e não bar é coe-
rente com sua avaliação frente ao referente maior, que neste caso são as recordações de
Cambuquira.
Esta entrevistada apresenta uma imagem de que é muito feliz vivendo no Rio,
porque, segundo ela, o Rio é melhor em muitos aspectos como, opções de diversão,
proximidade entre os lugares, etc., no entanto não consegue sustentar essa imagem
quando, por exemplo, se associa ao grupo Rotary para fazer amizades e frequentar mais
festas. Tal realização aparece como pista contextual de sua imagem pública, no que se
refere à visão nostálgica de Cambuquira.
A décima quarta ocorrência no pólo subjetivo com função de afeto positivo em
estágio baixo de lexicalização (derivação real) é o diminutivo festinha.
(14) <doc>hum... mas só vai quem bebe?
<loc>não... vai quem quer. Só que eu não gosto de uísque, eles ficam lá beben-
do uísque... bebendo uísque... bebendo uísque... daqui a pouco está todo mundo
bêbado. Aí eu não vou. Eu prefiro ir no... nos outros. Mas fora isso, a gente às
vezes se reúne pra ir à cinema... junta dois ou três vai pro cinema. Ou tem uma
festinha, aí chama vai também entendeu? Eventos assim de... de shows... tipo no
Metropolitan. Aí junta todo mundo e vai pra lá...(?)... ahã... vai pra lá.
Por se tratar de uma entrevista, o trabalho de face que se desenrola tem uma ori-
entação mais defensiva à própria face que protetora à face do outro, afinal não há o ob-
jetivo por parte da entrevistada de investir na troca interpessoal; sua preocupação é em
manter sua face nesta troca transacional.
55
Quando ela é taxativa em expressar o que pensa sobre o clube do uísque, o faz
por saber que a atividade permite tal manifestação além de ter se esclarecido, ao res-
ponder o entrevistador, de que vai quem quer e ela não vai porque não quer, porque não
gosta. Ela traz a responsabilidade para si, protegendo e ao mesmo tempo defendendo
ambas as faces. À continuidade, se vale de outros recursos para assegurar que não cau-
sou a perda de sua própria face com tal afirmação e diz que prefere outros eventos e as
festinhas extras que ocorrem.
Vale observar que a formação diminutiva festinha serve à manutenção de sua
face visto que ela desconstrói uma imagem que poderia ter sido construída de pessoa
intransigente e pouco sociável. A realização festinha contribui a seu argumento de que
ela curte outros eventos até mesmo festinhas mais simples. É importante ressaltar que,
embora a entrevistada possa diminuir o caráter do evento ao denominá-lo como uma
festinha, no contexto acima ela inclui a formação diminutiva no grupo de eventos que
aprecia. Como não analisamos a formação isolada, mas em contexto, festinha é usada
com afeto positivo.
A décima quinta formação diminutiva de afeto positivo no corpus das mulheres
cariocas é a realização olhinho em estágio baixo de lexicalização (derivação real).
(15) <doc>e shows... tipo de música?
<loc>ah... música tem um...um gosto bem eclético né... tem aqui desde o Renato
até Nelson Gonçalves... então com relação... tirando funk eu não gosto de funk...
não tem muito problema não... normalmente quando eu vou a show olha... eh...
showassim ... bem popular mesmo... tipo Lulu Santos...eh... Engenheiros do Ha-
vaí... Titãs... os outros shows... das músicas que... dos cantores que eu gosto... já
é mais difícil ter... ter aqui no Rio... lá em Minas gerais era mais fácil eu ir... por
exemplo... à show de ... agora esqueci o nome dele... aquele de olhinho azul...
A presença de referenciadores de primeira pessoa – eu ir..., esqueci... – colabora
à expressão do afeto. Quando vai falar dos shows que costuma ir, faz uma ressalva de
modo a não suscitar em seu interlocutor uma desaprovação a respeito de seu gosto para
música e afirma que os shows que ela realmente gosta são mais difíceis de acontecer no
Rio.
A formação diminutiva que aparece contribui à construção de imagem da entre-
vistada que se projeta como eclética, que gosta de quase todos os tipos de música Tal
uso reflete um afeto positivo do locutor por seu referente (Flávio Venturini). O entrevis-
56
tador, por sua vez, reage positivamente à face projetada pela entrevistada, completando
sua enunciação com o nome do cantor de olhinho azul.
O último diminutivo (o décimo sexto) que aparece com afeto positivo no corpus
das mulheres é a formação turminha em estágio baixo de lexicalização (derivação real).
(16) <loc> pô, eu vinha em casa, almoçava e voltava pra praia, era o dia inteiro
praia, aí começava a época de, matinê de discoteca, né, quando você tem uns tre-
ze anos, doze, mais ou menos, aí também, tinha turminha, era tudo com turminha
... Brinquei muito de pular elástico, pique ... Mas tudo aqui na rua mesmo, né, na
rua, na praia, não tinha muito pra onde correr, né ... Aqui em Copacabana é
meio ...
O fator contextual que corrobora a classificação subjetiva é o fato de ela se refe-
rir à turma de sua juventude, grupo este que ela guarda um afeto. Já os elementos co-
textuais são a estrutura reiteradora de apreciação positiva – pular elástico e o referenci-
ador de primeira pessoa – brinquei.
Segundo a entrevistada, sua infância foi muito saudável, ela brincou muito, tinha
muitos amigos, etc. O papel do diminutivo na formação turminha projeta uma imagem
nostálgica, porque valoriza esse tempo da infância. Tal ocorrência contribui à constru-
ção do que a entrevistada julga ser uma imagem de infância aprovada socialmente.
Em síntese, com relação às mulheres cariocas, observamos que as formações
diminutivas estiveram muito mais a serviço da subjetividade do falante que do uso me-
ramente referencial. Dentro do pólo subjetivo, a função mais frequente foi a de afeto
negativo, o que demonstra por parte das entrevistadas um maior cuidado ao expressarem
juízos de valores negativos.
3.2 O Diminutivo no corpus dos Homens da Variante Carioca
Os resultados no corpus dos homens surpreendem pela baixa incidência de formações
diminutivas de base substantiva concreta que não estejam em estágio avançado de lexi-
calização. A seguir, tratamos do único diminutivo que apareceu atendendo aos critérios
elencados para esta análise.
Dos três entrevistados apenas um realizou uma formação diminutiva analisável.
O entrevistado de 33 anos só usou dois diminutivos de base substantiva, porém estavam
em estágio avançado de lexicalização – carrinho de rolimã e parquinhos. Já o entrevis-
57
tado de 32 anos não apresentou nenhuma ocorrência diminutiva de base substantiva;
todas foram de base adjetiva ou adverbial como – quietinho, finalzinho, certinho.
O entrevistado de 28 anos, ao descrever sobre o comércio existente em seu bair-
ro, faz uso de uma formação diminutiva em estágio baixo de lexicalização (derivação
real) com função referencial.
(17) <LOC.> Comércio tem, toda, entre as quadras tem um comércio a nível
de, coisas essenciais né, um mercadinho, uma padaria, né, tem uma quadra e
outra quadra e no meio dessas duas quadras passa uma rua , é que eu não me
lembro qual o nome que eles chamam, mas tem todo, um nome, então entre es-
sas quadras tem um comércio, da quadra 209 210, entre essas duas quadras tem
um comércio. Aí em algumas até tem bons comércios, pizzaria, restaurante, né,
espaços culturais, galerias e tal, mas normalmente é, mercado, padaria, farmá-
cia, questões básicas, né, e tem, nos centros comerciais, que aí são os grandes
comércios, você vai pegar coisas mais, vestuário, alimentações mais, variadas,
os grandes mercados.
O diminutivo mercadinho aparece como constituinte do cenário “de coisas es-
senciais” que compõem o comércio de seu bairro. Na entrevista, ele faz uma compara-
ção entre os centros comerciais que possuem grandes mercados e seu bairro com mer-
cadinhos.
Outras evidências que corroboram a classificação referencial são o fato de o re-
ferente da palavra base ser passível de redução de tamanho (mercado-mercadinho) e a
possibilidade de se substituir a forma sintética pela analítica (mercadinho-mercado pe-
queno) sem comprometer o sentido do todo enunciado. Neste exemplo, o uso diminuti-
vo não interfere na construção de face do entrevistado.
As outras três ocorrências diminutivas que aparecem segundo os critérios estabe-
lecidos estão em estágio avançado de lexicalização, são elas – parquinhos, pracinha e
fusquinha. É importante destacar que o homem de 28 anos usa a ocorrência pracinha
com um referente específico, logo sua realização não alterna com a forma básica – esses
parquinhos que tem pracinha...
Enquanto o uso de diminutivos de base substantiva no corpus dos homens foi
quase nulo (mercadinho), no das mulheres mostrou-se bastante produtivo (16 ocorrên-
cias). Em todo o corpus carioca, só apareceu um uso atenuante (joguinho) e três refe-
renciais (cidadezinhas, plantinhas e mercadinho), já os usos de afeto positivo (6 ocor-
58
rências) e negativo (8 ocorrências) tiveram resultados equilibrados e mais significativos
em número.
Embora as formações de base substantiva tenham sido inexpressivas no corpus
dos homens cariocas, os diminutivos de base adjetiva e adverbial se mostraram mais
freqüentes através das realizações – quietinho, finalzinho, certinho e iniciozinho. Sobre
o resultado para atenuação, a baixa ocorrência se deve às limitações do corpus – entre-
vista sociolinguística – porque não há incidência de atos diretivos.
Gráfico 3 – Resultado das categorias morfopragmáticas no corpus carioca.
Os resultados apresentados no gráfico acima dizem sobre os valores absolutos de
cada categoria morfopragmática, ou seja, as ocorrências com funções sobrepostas foram
desmembradas de modo a possibilitar a visualização e posterior comparação de cada
função no corpus. Desse modo, das 16 ocorrências encontradas no corpus feminino,
chegamos aos resultados de 2 usos referenciais, 9 usos de afeto negativo, 7 de afeto po-
sitivo e 1 uso atenuante. Já para o corpus masculino, a única realização diminutiva ana-
lisável foi usada pelos entrevistado com função referencial.
Quanto ao uso de diminutivos a serviço da face dos entrevistados, a maioria das
ocorrências contribuiu à projeção de algum aspecto da face do entrevistado, o que revela
uma outra função do diminutivo que não só extrapola a relação falante – objeto, como
põe em evidência uma outra função pragmática do diminutivo que não é a de atenuar
atos de ameaça à face.
59
4 OS USOS DO DIMINUTIVO NA VARIANTE MADRILENA
Este capítulo apresenta as formações diminutivas que apareceram nas entrevistas
espanholas atendendo aos critérios especificados. As primeiras dezesseis ocorrências
(quatro referenciais, cinco com funções sobrepostas, quatro de afeto negativo, três de
afeto positivo e uma com função atenuante) foram as encontradas no corpus das mulhe-
res em meio a um total de 46 diminutivos.
O segundo item tratará dos nove diminutivos analisáveis ( três usos referenciais,
dois usos com funções sobrepostas, três de afeto positivo e um atenuante) para o corpus
dos homens desta comunidade de fala em meio a um total de 40 diminutivos.
4.1 O Diminutivo no corpus das Mulheres da Variante Madrilena
As primeiras cinco ocorrências dizem sobre os usos com funções sobrepostas, estando
todas entre o pólo referencial e o subjetivo de afeto positivo. O diminutivo saloncito (o
décimo nono exemplo) aparece em estágio baixo de lexicalização (derivação real).
(18) <1>¿I otro?/ exactamente/// pues que ya era hora ¿no?/// un piso/ un
apartamento// hombre/ una habitación/// bueno una habitación y el:- el salonci-
to ¿no?/// pero yo feliz de la vida
É afetivo positivo, pois apresenta estrutura reiteradora de apreciação positiva –
feliz de la vida, quando se refere ao objeto salón. A conjunção adversativa pero usada
pela entrevistada funciona no âmbito enunciativo, pois contribui à função afetiva que a
entrevistada transfere a seu referente.
Podemos observar que há certa relutância por parte do entrevistador com a idéia
de a entrevistada ter comprado um apartamento, a elocução onde aparece a formação
diminutiva funciona como argumentativa e, por quê não persuasiva, pois a entrevistada
quer convencer seu interlocutor de que não há nenhum mal nisso e de que foi uma atitu-
de acertada.
Para isso ela se vale do argumento de que já era hora de comprar um apartamen-
to e de que não é nada grande, é apenas um quarto e sala... A manobra para convencer
seu interlocutor revela o trabalho de face realizado pela entrevistada. Ela reclama para si
60
mesma o valor social de uma pessoa de atitude e independente que, coerente com os
atributos sociais aprovados em sua comunidade de fala, busca sua independência.
A realização saloncito é referencial, pois o referente da palavra base é passível
de redução de tamanho em termos concretos, há a possibilidade de substituir a forma
sintética pela analítica sem comprometer o sentido expresso e há ainda o contexto que
nos traz o fato de que a entrevistada mudou de uma casa de 120 metros para uma de
quarenta metros quadrados.
Como um efeito em cadeia, o uso referencial está a serviço de seu argumento
afetivo positivo que por sua vez serve à construção de face da entrevistada como ser que
valoriza sua independência.
A vigésima ocorrência dos corpora é o diminutivo pisito em estágio baixo de
lexicalização (derivação real), também com funções sobrepostas.
(19)<2>(hm) (hm) ¿estás contenta?
<1>mientras siga en- en mi pisito// (risa = 2) estar contenta con los muebles
<2>¿estás contenta con el piso?
<1>sí:// lo estaré/ más aún/ cuando me vaya
A entrevistada usa a formação diminutiva pisito para expressar um afeto positi-
vo, que se justifica não só pelo contexto, mas por marcas linguísticas como o referenci-
ador de primeira pessoa – mi, além da estrutura – estar contenta – que reitera uma apre-
ciação positiva da entrevistada por seu apartamento.
Quando ela diz que seu apartamento tem quarenta metros e brinca dizendo que é
um super apartamento, expressa sua avaliação acerca do tamanho do mesmo. Entretanto
afirma também que o tamanho não é problema para ela, pelo contrário está muito feliz
por ter sua casa própria. Dentro desse contexto de realização pessoal, tal formação apa-
rece com função afetiva, pois diz respeito à relação entre o enunciador e seu referente.
É também de função referencial porque a palavra piso é passível de redução em
termos concretos e a alternância entre pisito e piso pequeño não modifica o sentido da
elocução. O enquadre que a entrevistada dá ao discurso sobre seu apartamento faz com
que o foco de atenção esteja no fato de ser próprio; a idéia de ter um apartamento é mais
importante que o tamanho do mesmo.
A vigésima ocorrência é o diminutivo casitas em estágio baixo de lexicalização
(derivação real), também usado com funções sobrepostas.
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(20) <1>ahora la verdad es que-// la verdad es que construcciones últimas no están
muy bien/ pensadas// porque ahí tienes el:- el edificio ese de la calle: Nueva// yo
no sé qué tendrá/ veinticinco treinta a- treinta años/ yo que sé// que es una mole
blanca y negra// de cuatro: plantas o algo así/// la calle Nueva// una bocacalle de
la calle Mayor/// de repente se levanta: un bloque ahí espantoso// bueno/ claro//
desde mi casa es que se ve perfectamente// todo// casitas de:-// de:/ máximo dos
(m:)- dos plantas/ y de repente// éste edificio ¿no?// tendrá cuatro o cinco/ no sé/
pero:/// es un monstruo ahí// blanco/ y negro (risa = todos)
A função referencial do diminutivo acima se justifica pela comparação que a
entrevistada faz entre as casinhas e o edifício branco e preto; enquanto as casinhas têm
no máximo dois andares, o edifício tem quatro ou cinco, reiterando, assim, a idéia di-
mensional.
A função de afeto positivo com a entidade referida se deve ao fato de a entrevis-
tada defender que escolheu seu apartamento, dentre outras coisas, devido ao bairro que
é bonito e tem uma boa vizinhança. Tal valor se evidencia na oposição que ela faz entre
um bloco espantoso = feio e as casinhas. Outra marca da oposição que ela estabelece
entre algo que para ela tem um valor negativo e algo de valor positivo é o indefinidor un
+ dêitico ahí + a estrutura reiteradora de pejoratividade espantoso versus casitas, como
poderá ser observado no exemplo seguinte.
Ao argumentar contra um edifício muito grande em seu bairro que, segundo ela,
é desproporcional às casas que já existem, ela faz uso da formação diminutiva expres-
sando, além da noção de pequenez, uma avaliação positiva. Assim, ela estabelece com o
referente casa uma relação de afetividade. Esta formação serve à face da entrevistada
porque projeta sua opinião sobre grandes construções em bairros residenciais.
A vigésima primeira ocorrência é outro diminutivo casita em estágio baixo de
lexicalização (derivação real) e sucede a ocorrência acima, confirmando as funções so-
brepostas.
(21) <2>bueno me imagino sí/
<2>donde vivía el lector de sueco: (?)
<1>al lado// sí/ ahí mismo/ en esa calle
<2>en esa calle
<1>ves// la casita del: lector// es una maravilla
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A função de afeto positivo se justifica através do adjetivo maravilha – reiterador
da apreciação positiva que a entrevistada dá ao objeto referido (casa). Já a função refe-
rencial se justifica no contexto explicitado acima, em que ela compara o edifício às ca-
sinhas.
Tendo em vista que o diminutivo casitas faz parte do argumento da entrevistada
sobre o despropósito de se ter grandes construções em bairros residenciais de casas an-
tigas e pequenas, pode-se dizer que a formação está a serviço da construção de sua ima-
gem pública, pois contribui à expressão de sua opinião sobre o que ela aprova e desa-
prova na comunidade em que vive. Os valores projetados pela entrevistada por meios
lingüísticos, como os diminutivos, delineia sua face na interação.
4.1.1 Usos Referenciais
A seguir, apresentamos os usos exclusivamente referenciais, ou seja, aqueles que
marcam a dimensão do objeto referido. A primeira ocorrência referencial (a vigésima
segunda dos corpora) é o diminutivo barrita em estágio médio de lexicalização, posto
que alterna com a forma barra neste contexto, em outros contextos barrita pode apare-
cer com um referente específico – barrinha de cereais.
(22) <2>comida basura
<1>o lo que sea// comida basura/// porque ya te digo que pagué el pato/// me
compré una barrita de chorizo también/// y claro eso allí es que es exquisito
<2>sí (?)
<1> porque// lo que me costó era exagerado/
A formação acima aparece em um contexto de que qualquer comida na Inglater-
ra é muito cara.Trata-se de um uso referencial porque a entrevistada destaca sua surpre-
sa ao ver quanto lhe cobraram pela barrinha de linguiça, além dos elementos co-textuais
como o fato de o referente da palavra base ser passível de redução e a possibilidade de
substituição da forma sintética pela analítica sem comprometimento de sentido. Esta
realização não serve de forma direta à construção de face da entrevistada, talvez o con-
texto limite a incidência de tal recurso, afinal ela está narrando alguns sufocos que pas-
sou na Inglaterra
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A vigésima terceira ocorrência – pueblecillo – encontra-se em estágio baixo de
lexicalização (derivação real) e aparece com um uso referencial.
(23) <1>fenomenal vamos/ una preciosidad/ a mí eso de-/ de irme: a andar por ahí/
a ver cosas/// aunque sea un pueblecillo pequeñajo/// que tenga una cosa así que-
/ bonita/ aunque sea un riachuelo o una cosa así// ya me encanta (lapso = 2) no
soy muy de ver muchas iglesias/ porque para ver una iglesia hay que verla a fon-
do y esas cosas// por lo menos yo/// pero:/ me gusta sali:r a:-/ a sitios así que se-
pas que// vas a verlos bien/
A função referencial do diminutivo acima é confirmada, dentre outras coisas,
pela possibilidade de se fazer a correspondência entre as formas sintética e analítica
(pueblecillo - pueblo pequeño). Há ainda a co-ocorrência do adjetivo pequeñajo e a es-
colha de uma base cujo conteúdo semântico já contém por si só o traço de redução –
pueblo.
A realização pueblecillo contribui à construção de face da entrevistada, pois pro-
jeta alguns valores como o interesse por conhecer lugares novos. Segundo ela, não im-
porta se são grandes cidades ou pequenos povoados, para a entrevistada é sempre feno-
menal conhecer coisas novas.
A vigésima quarta ocorrência – trocitos – em estágio baixo de lexicalização (de-
rivação real) se situa no pólo referencial.
(24) <1.> y luego pue:s// los trocitos de: chorizo y de panceta me parece que/ o se
juntan o se separan// depende// mi madre lo hace separado//
Ao ser questionada sobre seu doce preferido, a entrevistada de 31 anos começa a
falar como se faz o doce e, em meio a descrição do passo a passo da receita ela usa al-
guns diminutivos para referir-se ao tamanho do objeto referido, como é o caso da ocor-
rência trocitos.
É uma realização com função dimensional devido ao contexto, e ao co-texto com
a possibilidade de se fazer a correspondência entre as formas sintética e analítica (troci-
tos - trozos pequeños), além de se tratar de uma base cujo conteúdo semântico já con-
tém por si só o traço de redução. Neste caso a ocorrência do sufixo destaca o valor de
pequenez e compõe o cenário descritivo de determinado prato típico de Alcalá.
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A vigésima quinta ocorrência é o diminutivo botecito em estágio baixo de lexi-
calização (derivação real).
(25) <1>a la:s once// y claro esta señora era tan puntual que había que estar allí a
las once y si no te cerraba la puerta/// y:-// y estaba yo preparándome la cena//
tenía un hornillo allí/ chiquitajo// yo me compré unas salchichas de esas de:-// ir-
landesa o no sé qué// y un botecito de aceite que me clavaron//
Dentro de um contexto em que a entrevistada foi morar na Inglaterra e achou
tudo muito caro, ela reclama que lhe cobraram caríssimo por uma latinha de azeite. A
avaliação que a entrevistada faz da discrepância entre a latinha e o preço cobrado é con-
firmada pelo entrevistador que mais adiante a sugere que da próxima vez leve um garra-
fão de azeite da Espanha para a Inglaterra.
Além do contexto, o fato de o referente da palavra base ser passível de redução
em termos concretos (bote - botecito), juntamente com a possibilidade de se substituir a
forma sintética pela analítica (botecito - bote pequeño), corroboram a classificação refe-
rencial da realização botecito. Tal ocorrência não apresenta contribuição à construção de
face da entrevistada.
4.1.2 Afeto Negativo
Sobre as formações diminutivas que se situam no pólo subjetivo e desempenham
a função de afeto negativo, encontramos as quatro ocorrências a seguir. A primeira de
afeto negativo (a vigésima sexta dos corpora) é a realização pueblecillo em estágio bai-
xo de lexicalização, porque é tida como uma derivação real.
(26) <2>¿y qué es pequeño/ grande:// cómo es Meco?/
<1>ha crecido mucho pero: es un pueblecillo (lapso = 2) normal tampoco e:s/
grande/ grande// un pueblo
A formação acima aparece na entrevista de uma mulher de 31 anos que mora
com seus pais. Segundo a entrevistada, enquanto seu pai lecionou na faculdade teve
uma ótima casa no centro da cidade, agora que se aposentou terá que mudar para a casa
que tem em um povoado chamado Meco.
65
Pouco antes de o entrevistado fazer a pergunta sobre Meco, a entrevistada revela
não estar feliz em mudar; ela afirma que a idéia de ir para lá é péssima, mas não há o
que fazer. Então o entrevistador pergunta-lhe sobre o povoado em si, tentando descobrir
o porquê de ela não querer ir para lá.
Quando questionada sobre o tamanho de Meco, ela diz que cresceu muito, mas
não é grande nem pequeno. No entanto, ainda nessa elocução ela sinaliza o que talvez
seja o motivo de sua relutância em morar lá – a formação diminutiva pueblecillo fun-
ciona como pista contextual de sua avaliação negativa sobre o “povoado de Meco”.
É interessante observar que a entrevista, como a atividade em questão, não de-
termina a função da ocorrência pueblecillo, mas limita e condiciona as interpretações e
as inferências. Afinal, ela poderia se valer de uma série de adjetivos para deixar claro o
que pensa sobre Meco, mas a atividade entrevista sociolingüística exige alguma seleção
estrutural e vocabular, por isso ela se expressa por meio de pistas contextuais como a
formação diminutiva.
A escolha por uma formação diminutiva e não a forma básica contribui à cons-
trução de imagem da entrevistada porque revela o grupo ao qual ela se identifica. Não
importa o quanto cresça Meco; para ela não deixará de ser um povoado, para viver ela
prefere a cidade. Ela, que já morou na Inglaterra, gosta de visitar esses povos, mas não
se vê morando lá.
A vigésima sétima ocorrência é a formação vidilla em estágio baixo de lexicali-
zação (derivação real) e com função de afeto negativo.
(27) <2>¿qué fiestas son/ las que hay allí?//
<1>pues allí son en verano// aquí es en septiembre (lapso = 2) y las fiestas es
que duran me parece que muchos días/ una semana o:// más de una semana: y
allí pues eso/// (hh) lo que hay mucho es: la vidilla ésta que le dan las peñas
(lapso = 2) entonces como la gente allí se conoce: la mayoría// pues organizan
peñas los: pequeños los mayores los jóvenes los menos jóvenes/ ¿sabes?// y allí
pues:/ digamos que la gente hace la vida en las peñas/ en las fiesta:s/
Coerente com sua avaliação sobre o povoado de Meco, a entrevistada usa a for-
mação diminutiva vidilla para manter o enquadre feito ao lugarejo. Logo, a realização
acima também serve à construção da imagem pública da entrevistada.
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A vigésima oitava ocorrência também é usada pela entrevistada de 31 anos. O
diminutivo jovencillo em estágio baixo de lexicalização (derivação real) desempenha
uma função de afeto negativo na interação.
(28) <1>(hh) es que me pierdo// que:/ las peñas son/ en las fiestas// organizan
pue:s/ actividades/ lúdicas/ para divertir a la gente// entonces se unen/// por
ejemplo un grupo de jovencillos pues se unen/ organizan una peña// y allí diga-
mos que: desde allí// ellos organizan/ actividades para/ la gente// de Alcalá/ en
las fiestas// por ejemplo:/// carreras de sacos o: .../// lo que es ahora aquí en Al-
calá muy conocido es la:-/ el nombramiento esto del-/ del míster// guapo/ del/
míster Alcalá
A formação acima também é usada pela entrevistada ao descrever como são as
festas em Meco. O diminutivo jovencillo aparece com afeto negativo, o que se evidencia
não só pelo contexto, mas pelo indefinidor un grupo seguido do dêitico espacial allí que
diferente do português não se refere a uma distância reduzida, mas a uma distância mar-
cada.
Tal realização estabelece uma relação de afetividade negativa entre o falante e o
referente como um todo, neste caso as associações que promovem eventos em Meco.
Como os jovens fazem parte dessas associações, ela os inclui na avaliação negativa. Por
se tratar de uma entrevista sociolinguística, as opiniões são, em geral, bem aceitas não
desencadeando uma discordância.
Esse tipo de discurso descritivo do que são as “peñas” faz parte do argumento
maior da entrevistada sobre não gostar da idéia de ir viver em Meco. Esta ocorrência
diminutiva se integra perfeitamente à linha tomada pela entrevistada para essa atividade
– uma linha de que prefere cidades como Alcalá a povoados como Meco para viver.
A vigésima nona ocorrência é diminutivo monedita em estágio baixo de lexica-
lização (derivação real) e com função de afeto negativo.
(29) <2>¿gallega?//
<1>no es por nada pero// tienen fama/// y ¿qué te iba contar?/// ¡ah! pues que no
me avisó que la luz iba po:r-// había que echar una monedita// cuando se apaga-
ra/ o sea cuando:///
no me digas
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A ocorrência acima aparece em uma narrativa de quando a entrevistada de 31
anos morou na Inglaterra e alugou um quarto cuja dona era uma galega. Segundo a en-
trevistada, a espanhola não só cobrou caro como a fez pagar adiantado pelo quarto. O
diminutivo monedita é usado com afeto negativo, pois aparece imerso a uma reclama-
ção. A entrevistada achou um absurdo ter de pôr uma moeda para não ficar sem luz no
quarto.
A avaliação feita pela falante do ocorrido é negativa e ela atribui a anedota à
origem galega da proprietária do imóvel. Nenhuma das faces é ameaçada ao se falar da
fama dos galegos, pois tal julgamento é confirmado por ambos os interactantes, afinal é
o entrevistador quem pergunta sobre a origem da senhora e quando a entrevistada diz
que a proprietária é da Galícia, o entrevistador repete o termo galego através de uma
pergunta de confirmação.
A escolha por uma formação diminutiva projeta os valores da entrevistada, visto
que contribui à expressão de sua indignação ao ficar sem luz se não colocasse uma mo-
eda.
4.1.3 Afeto Positivo
Quanto aos usos que apresentaram como única função o afeto positivo, tem-se
três ocorrências que apareceram no mesmo contexto em que a entrevistada descreve a
receita de seu doce preferido. As ocorrências 30, 31 e 32 – cremita e almendrita – estão
em estágio baixo de lexicalização (derivação real) .
(30) <1.> pero yo por mí-/ tuviera más cremita más:-/ algo un poco más// esponjoso
<2.> (hm:)/ sí
(…)
(31) <1.> ¡ah! (risa = 1)// eso son almendritas con:-// que las hacen las clarisas las
monjas de aquí//
<2.> (s:)
(32) <1.> y: son: almendritas con-/// con cobertura de:/ me parece que miel o algo
así no sé/// una capa de algo///
No caso da realização 30 – cremita, o uso subjetivo de afeto positivo se justifica
não só pelo contexto, mas através do co-texto com a presença de um referenciador de
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primeira pessoa – yo por mí... – e de uma estrutura reiteradora de apreciação positiva –
esponjoso.
No que diz respeito à classificação das realizações 31 e 32 – almendritas, além
do contexto de descrição de seu doce preferido, a entrevistada faz uso de uma base lexi-
cal que não é passível de redução em termos concretos, pois almendras e almendritas
possuem o mesmo tamanho. As três formações acima interferem na construção de face
da entrevistada, pois embora não impliquem um atributo relacionado a crenças e valo-
res, refletem uma afetividade que não é propriamente pelo doce, mas pela memória que
o doce suscita.
4.1.4 Atenuantes
Por fim, no âmbito da atenuação temos uma única ocorrência – o diminutivo
cosilla – em estágio baixo de lexicalização (derivação real), que apareceu em uma con-
versa sobre trabalho.
(33) <2>¿te gustaría segui:r historia de la lengua o no?
<1>sí/// no es/ no lo sé/ son las dos cosas/ sigo/ es que de hecho/ sigo// ¿me en-
tiendes?/ me gano la vida con// esto pero:// algunas cosillas sigo haciendo en
historia de la lengua// al menos transcribir documentos// (uf:)// nada
A entrevistada deixa claro que gosta de trabalhar com a gramática do espanhol e
não com a literatura. Quando questionada sobre trabalhar com a área que ela investigou
em sua tese (História da Língua), sua resposta é vaga no sentido de não ser comprome-
tedora.
Ou seja, ela não quer ser taxativa ao afirmar que gostaria de abandonar as aulas
de espanhol para estrangeiros para trabalhar com História da Língua, tampouco quer
afirmar o contrário; ela busca não eliminar nenhuma das possibilidades em sua resposta
e faz isso por meio de um atenuante, que promove o distanciamento do falante com o
dito diminuindo seu comprometimento com o mesmo. Essa manobra protege a imagem
da entrevistada, visto que ela está sendo entrevistada na universidade em que ambos os
interlocutores trabalham, embora em departamentos diferentes, e a entrevista estava
sendo gravada para posteriormente ser escutada por alguns estudiosos da universidade.
69
No papel de professora, ela não poderia demonstrar vontade de abandonar sua
atual ocupação e enquanto pesquisadora ela não poderia recusar uma proposta para tra-
balhar com o que investigou em sua tese. Tendo que dar conta desse esquema de conhe-
cimento – comum a ambos os interlocutores e que, inevitavelmente gera uma expectati-
va por parte de seu interlocutor quanto à resposta que ela daria – a entrevistada opta por
uma resposta atenuada. Dentro desse enquadre, para não comprometer sua face, ela se
vale, dentre outras coisas, da formação diminutiva cosilla.
Esse diminutivo funciona como um subjetivo atenuante, pois opera sobre a rela-
ção do locutor e seu interlocutor: a entrevistada não quer afirmar que não tem feito nada
na área de História da Língua, pois não quer eliminar a possibilidade de um dia fazê-lo.
A proteção de sua própria imagem favorece sua relação com o entrevistador. Tal ocor-
rência contribui à construção da imagem pública da entrevistada, pois diz sobre o grupo
ao qual ela quer se ver ou se manter inserida.
No corpus das mulheres madrilenas, o uso referencial dos diminutivos é o mais
frequente, ainda que seja sobreposto à função de afeto positivo. No pólo subjetivo, se
consideramos as formações com funções sobrepostas, os usos afetivo positivo foram
mais expressivos que os de afeto negativo.
É bem verdade que os temas abordados assim como o tipo de atividade influen-
ciam no resultado encontrado por exemplo para os usos atenuantes, no entanto, dentro
do recorte feito para ambas as variantes, os resultados são comparáveis e nos permitem
fazer algumas observações quanto ao uso dos mesmos.
4.2 O Diminutivo no corpus dos Homens da Variante Madrilena
O item a seguir trata dos diminutivos encontrados no corpus dos homens madri-
lenos. Considerando o gênero masculino de ambas as variantes, o corpus madrileno se
revelou muito mais expressivo (nove ocorrências) no que diz respeito ao uso de diminu-
tivos de base substantiva concreta que o corpus dos homens da variante carioca (uma
ocorrência analisável).
Dos três entrevistados apenas o de 32 anos não realizou formações diminutivas
de base substantiva concreta. Mas todos apresentaram diminutivos de base adjetiva ou
adverbial – poquillo, tranquilito, poquito, ladito, pequeñito, fresquito, famosillo, vieji-
tos, bajitos, ratito, cerquita, delgadito, normalito, facilito. Quanto ao uso referencial, o
70
mais recorrente no corpus das mulheres madrilenas, só o entrevistado de 28 anos reali-
zou diminutivos com esta função.
A trigésima quarta ocorrência é a formação diminutiva abriguito em estágio
baixo de lexicalização (derivação real) e com funções sobrepostas, neste caso função
referencial e de afeto positivo.
(34) <1.> mi hermana mayor/ que me lleva tres años se llama N// porque el año que
nació ellos esperaban un niño claro// y nació una niña y la llamaron N porque se
había tirado:// todo el invierno nevando// o sea que ...// y lo de este año/ que ha
nevado un poquito creo que fue este año// en: navidades nevó un día pues// antes
yo me acuerdo que nevaba más// más que nevar granizaba más hacía: más frío/ y
llovía más era- era-/ era diferente// ahora va con un abriguito/ pasas frío un día
o dos y ya está// pero yo creo que también tenía que ver con la ropa era peor/ o/
que/ vivíamos peor/ o no sé// o que no había calefacciones en las casas eran ca-
lefactores// puede ser que: sea así
O diminutivo abriguito se encontra entre o pólo referencial e o pólo subjetivo de
afeto positivo, posto que o entrevistado está comparando o inverno de antigamente com
o inverno dos dias de hoje na Espanha. Segundo ele, hoje em dia é possível passar o
inverno com um casaco mais leve – uso referencial, que interfere na espessura do casa-
co, a base abrigo permite redução de tamanho em termos concretos.
Quanto ao uso subjetivo de afeto positivo, o entrevistado o faz por referir-se à
qualidade do casaco que, embora mais fino, é possivelmente melhor que as roupas que
ele usava antigamente. Esta última classificação pode ser confirmada no fato de ele con-
trapor uma estrutura reiteradora de pejoratividade – La ropa era peor, à formação dimi-
nutiva – abriguito.
Pode-se dizer que tal ocorrência está a serviço da construção de face do entrevis-
tado, visto que a mesma aparece em uma comparação que ele faz aos tempos em que era
mais novo e que vivia com menos renda, o que o impossibilitava adquirir um casaco de
mais qualidade (que o aquecesse mais).
Já a trigésima quinta ocorrência sobrepõe a função referencial à de afeto negati-
vo. Diferentemente dos parquinhos em português que, em geral, aparecem em estágio
avançado de lexicalização, a formação parquecillos em espanhol está em estágio médio
de lexicalização porque ainda alterna com a forma básica.
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(35) <1.> yo// no/ yo creo que no// creo que no hay mucha// además// suelen ir a ca-
feterías/ y las cafeterías además cerca del centro o darse una vuelta por el centro
o sea lo de la plaza el domingo// que- que vas por la calle Libreros y ves como un
mar de gente por la calle Mayor// eso es una tradición/ aquí// como ciudad caste-
llana más que:-/ que del sur/ y esa tradición sigue// y luego la gente de más de
sesenta también se pasean pero a lo mejor se quedan más en casa// o se quedan
por el barrio// o en: los parquecillos// eso es lo que yo veo// pero mis padres tie-
nen más de sesenta y van por allí o sea que no sé
O próprio entrevistado intercala as formas; quando trata dos entretenimentos
para crianças usa a forma simples, já quando fala sobre os idosos utiliza a formação
diminutiva. Há sobreposição de funções, afinal a função referencial está presente.
No entanto, não é esta a função sobressalente. O uso subjetivo afetivo negativo é
o que mais se destaca quando, ao falar sobre o que os idosos de mais de sessenta fazem,
ele diz que quando não estão em casa, estão pelo bairro ou nos parquinhos. Mais adiante
ele usa uma conjunção adversativa para dizer que, embora seus pais tenham mais de
sessenta, eles continuam freqüentando os mesmos lugares que os mais jovens entre trin-
ta e sessenta costumam ir.
Tal uso contribui à construção da imagem do entrevistado, visto que revela seus
valores, quanto ao que é aprovado ou não por ele. Neste caso ele deixa claro que não é
favorável que seus pais fiquem muito tempo em casa ou se limitem às mediações do
bairro. Podemos pensar que o entrevistado zela pelo bem-estar e saúde mental de seus
pais.
4.2.1 Usos Referenciais
As ocorrências 36, 37 e 38 se referem à formação casita em estágio baixo de
lexicalização (derivações reais), as três são usadas em um mesmo contexto, pois fazem
parte da descrição de um bairro determinado em Alcalá, e aparecem com função refe-
rencial.
(36) <1.> o sea es// Cuatro Caños:// sí es un sitio de- de negocios ¿no? ahí
no vive nadie realmente/ son/ pues oficinas/ pequeños negocios empresas/ pero
luego yendo hacia lo que te digo hacia el cuartel militar/ pues empieza un ba-
rrio de casitas bajas// que llega prácticamente hasta ahí/ hasta ...
(…)
<2.> ¿qué es/ un barrio antiguo o un barrio (?)?
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(37) <1.> ¡uf:!// barrio de a lo mejor del año:- del año sesenta y: cinco o por
ahí/// mis viviendas son del año cincuenta y nueve// son un poco más antiguas
pero vamos/// hay casitas bajas/ que son bastante antiguas también// que pueden
ser del año cincuenta// el año cincuenta/ sí
(…)
<2.> ese era el más antiguo
(38) <1.> el más antiguo/// entonces te digo que es una zona antigua donde hay casi-
tas también// casitas de construcción barata/ ¿sabes?///
Esta classificação pode ser comprovada pelo fato de a palavra base ser passível
de redução de tamanho (casa - casita) em termos concretos e a possibilidade de se subs-
tituir a forma sintética pela analítica (casita - casa pequeña), sem comprometer o senti-
do do todo enunciado. Há ainda os adjetivos baixas e baratas, que, neste contexto, con-
tribuem à imagem dimensional das casas.
Os usos referenciais acima compõem um cenário de descrição de um bairro de-
terminado em Alcalá, logo não contribuem à construção de face do entrevistado que,
certamente o faz por outros meios ao longo da interação.
4.2.2 Afeto Positivo
As três formações diminutivas a seguir são usadas com afeto positivo. A primei-
ra ocorrência com função exclusivamente de afeto positivo (a trigésima nona dos corpo-
ra) é o diminutivo cerrito em estágio baixo de lexicalização (derivação real).
(39) <1.> pues/ la primera operación era subir el cerrito ése donde están-/ había
como un estanque allí/ con peces de colores/ íbamos a ver los peces// y después a
los columpios// a ti-/ primero/ pasando: la comida a los patos// y después a los
columpios a los peces no les echábamos comida//
Ao ser questionado sobre o que fazia no parque O’donell quando criança, o en-
trevistado de 30 anos usa a formação diminutiva para compor o cenário de onde ele
brincava. A recordação de sua infância justifica o uso afetivo positivo.
O diminutivo usado com afeto positivo contribui à construção da imagem do
entrevistado, pois aparece na composição de um lugar que lhe é agradável ainda hoje,
visto que atualmente ele leva seus sobrinhos. Tal escolha projeta a imagem de um ho-
mem que aprova determinadas atividades voltadas às crianças; tanto é assim que ele não
73
só se recorda de quando frequentava o parque como também proporciona a mesma ati-
vidade a seus sobrinhos.
A quadragésima ocorrência é o diminutivo ancianitos em estágio baixo de lexi-
calização (derivação real).
(40) <2.> ¿tratas de tú a la gente normalmente?
<1.> yo hasta a los ancianitos (risa = 1)
No início da entrevista, em meio a negociação de qual forma de tratamento usar,
o entrevistado de 28 anos encerra essa discussão afirmando que até os idosos ele trata
por tu, logo não há porque, ainda que não se conheçam, tratarem-se de maneira formal.
Tal ocorrência revela um uso afetivo positivo voltado ao referente ancianos, que retrata
o juízo de valor do entrevistado, logo interfere na construção de sua imagem pública.
Esta formação diminutiva contribui à veiculação da idéia de que o entrevistado
tem dos mais idosos e isso contribui à formação de sua face nesta interação. Mais adian-
te o entrevistado diz que alguns idosos não gostam desse tratamento, mas que sempre
tenta tratar a todos da mesma maneira.
Consideramos a quadragésima primeira ocorrência em estágio baixo de lexicali-
zação (derivação real), embora a formação diminutiva já remeta o entrevistado a um
referente específico, neste caso o hospital.
(41) <1> (…) íbamos (m:) mis padres y los cinco/ y si estaban mis abuelos también
mis abuelos/ de iglesia en iglesia empezábamos en el Cristo de los Doctrinos// y
íbamos luego al: convento de Santa Úrsula/ a las Agustinas a la Magistral// a las
Bernardas/// luego a la calle de La Imagen el convento que hay ahí el de Santa
Clara// a:l hospital de altez-/ bueno al hospitalillo que le llamamos aquí// y luego
a Santa María//
Ao falar sobre as coisas que ele fazia em família quando era criança, o entrevis-
tado relata que na Semana Santa visitava com seus pais e seus irmãos monumentos his-
tóricos e dentre eles estava o hospital, que o entrevistado opta por mencioná-lo em di-
minutivo. Durante o discurso o entrevistado substitui a forma básica pela diminutiva,
porque segundo ele é assim que chamam o hospital onde ele mora.
74
Muito provavelmente a formação diminutiva foi motivada pelo tamannho do
hospital, no entanto, a questão que o entrevistado faz em se corrigir e se referir ao hospi-
tal por sua forma sintética revelam seu afeto positivo frente o objeto mencionado.
O entrevistado parece fazer questão em chamar o hospital pela forma diminutiva
para marcar um valor subjetivo que remonta os tempos de sua infância. Desde este pon-
to vista, a ocorrência é usada com um valor afetivo positivo, coerente com o que ele
apresenta como uma infância feliz. A formação diminutiva serve à construção da ima-
gem do entrevistado como alguém que teve uma infância saudável, sem luxo, porém em
família, com brincadeiras de criança e passeios a monumentos públicos.
4.2.3 Atenuante
No que concerne ao âmbito da atenuação, a quadragésima segunda ocorrência –
cosillas – é a única no corpus dos homens madrilenos com esta função. Consideramos a
formação em estágio baixo de lexicalização, porque se trata de uma derivação real, com
a forma básica cosa acrescida do sufixo –illo.
(42) <1.> pues hice: ima- imagen y sonido///
<2.> ¿y qué pasa no encuentras ...?
<1.> hombre sí he hecho cosillas pero (m:)-// pero no me centro en nada concre-
to
O entrevistado de 28 anos, ao ser indagado sobre seu trabalho, parece evitar di-
zer que não trabalha na área que se formou e responde fazendo uso de uma formação
diminutiva. No entanto, mais adiante ele acaba explicando que o mercado de trabalho
em sua área é muito concorrido e especializar-se custa muito caro.
Deste modo o diminutivo aparece no pólo subjetivo, porém estabelecendo uma
relação não com o referente, mas com o interlocutor. Nesse caso, o entrevistado se dis-
tancia do enunciado, para não se comprometer com o dito e, consequentemente, não
comprometer sua face. Esta formação aparece como um atenuante para proteger a face
do entrevistado diante de seu interlocutor.
Em síntese o que se pode afirmar é que os diminutivos nos corpora apareceram
muito mais no pólo subjetivo que no referencial. O uso dos diminutivos para expressar
afeto negativo não é um recurso produtivo na variante madrilena, afinal não houve ne-
nhuma sobreposição de funções com afeto negativo no corpus das mulheres e não apa-
75
receu nenhum diminutivo com função apenas de afeto negativo no corpus do homens.
Ou seja, no primeiro só foram realizadas quatro ocorrências com afeto negativo enquan-
to no segundo houve apenas a ocorrência de um diminutivo sobrepondo as funções de
afeto negativo e dimensão.
O corpus madrileno confirma, de certa forma, a tese de Amado Alonso (1951)
de que os diminutivos sintéticos em espanhol são usados para expressar afetividade (a-
feto positivo), visto que esta é a segunda função mais frequente no corpus. Porém, vai
de encontro ao afirmado por Alonso (op. cit.) de que a função afetiva é a mais recorren-
te para os diminutivos sintéticos; afinal, o corpus revelou a função referencial como a
mais frequente nas entrevistas madrilenas.
Considerando as funções sobrepostas, em um total de 25 ocorrências no corpus
madrileno, 11 desempenharam a função de afeto positivo, somente os usos referenciais
superaram os de afeto positivo – 14 ocorrências referenciais. O que vai de encontro à
afirmação de Alonso (op. cit) de que para expressar pequenez em espanhol o falante
utiliza a forma analítica.
No corpus investigado, mesmo que sobreposta a outras funções, a marca refe-
rencial esteve presente em mais da metade das ocorrências, revelando um vínculo ainda
bastante forte entre o traço de dimensão e os diminutivos sintéticos.
Quanto à função de atenuante, só houve duas ocorrências, sendo uma no corpus
das mulheres (cosillas) e a outra no corpus dos homens (cosillas). O resultado para a
atenuação reflete a atividade entrevista sociolingüística, que baliza os tipos de ato que
possam surgir. O uso quase nulo de atos exortativos nas entrevistas pode justificar a
baixa incidência de atenuantes.
Porém não influi no trabalho de elaboração de face dos entrevistados. Em ambos
os corpora, os diminutivos se mostraram ativos contribuindo não só com a construção
de face dos falantes, mas com a construção de identidades, ou seja, em um total de 25
ocorrências, 19 estiveram à serviço da construção de face do interlocutor.
76
Gráfico 4 – Resultado das categorias morfopragmáticas no corpus madrileno.
O gráfico acima retrata a distribuição das funções subjetivas e referencial no
corpus madrileno. Os sete diminutivos com funções sobrepostas aparecem com suas
funções desmembradas, com o intuito de tornar os usos comparáveis entre si. Para o
corpus feminino encontramos 9 usos referenciais, 7 usos com afeto positivo, 4 com afe-
to negativo e 1 atenuante. Já no corpus masculino, houve 5 usos referenciais, 4 com
afeto positivo, 1 com afeto negativo e 1 atenuante. Desse modo, podemos observar que
a função referencial foi predominante no corpus das mulheres e dos homens, o que indi-
ca a permanência de um uso mais canônico do diminutivo no corpus madrileno.
77
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
De acordo com os resultados, que indicaram um uso predominante de diminuti-
vos com funções subjetivas, confirmamos a hipótese de que, em uma atividade como a
entrevista sociolinguística, o falante utiliza o diminutivo em contextos em que esse uso
serve para projetar aspectos da face do entrevistado.
Logo, o diminutivo não seria apenas um atenuador de ameaças à face, como a-
firmam Brown e Levinson (op. cit.), mas também pista contextual que contribui ao tra-
balho de construção de face.
Quanto aos valores projetados por cada comunidade de fala, as entrevistadas do
corpus carioca usam os diminutivos em contextos em que querem marcar o grupo do
qual não fazem parte, atribuindo ao grupo do outro um afeto negativo por meio, dentre
outros elementos, das formações diminutivas.
Coerente com o ethos mais consensual desta comunidade de fala, as entrevista-
das evitam ser taxativas, diretas na expressão de sua opinião e optam por construções
como algumas cidadezinhas por ali, qualquer joguinho mesmo, etc.
Os homens cariocas não usaram os diminutivos para a construção de sua face.
Os usos diminutivos, inclusive os de outra classe gramatical, apareceram em descrições
e narrativas, o que provavelmente influenciou no resultado de uma única ocorrência
diminutiva, sendo ela de função referencial.
Para o corpus madrileno, os diminutivos contribuem à projeção de uma comuni-
dade de fala que valoriza a autonomia, não só para expressar seus juízos de valores, mas
para marcar uma independência que vai do concreto (financeiro) ao mais abstrato (as
idéias).
Homens e mulheres usam os diminutivos para marcar afeto positivo por seu re-
ferente e assim construir seus argumentos (mientras siga em mi pisito) ou ainda constru-
ir seus discursos descritivo-narrativos (la primera operación era subir el cerrito).
Porém, se focamos os homens de ambas as variantes, observamos que os dimi-
nutivos não são tidos como um recurso produtivo para a expressão de subjetividade –
são muito mais marcadores de dimensão.
O gráfico a seguir demonstra a distribuição dos diminutivos com função referen-
cial e subjetiva nas variantes madrilena e carioca. As formações com funções sobrepos-
tas, sete para o espanhol e três para o português, foram desmembradas de modo a tornar
comparável o pólo referencial e o subjetivo.
78
Gráfico 5 – Resultado dos usos subjetivos e referenciais
nas variantes madrilena e carioca
Fonte: Própria.
Os três diminutivos (joguinho e as duas ocorrências de cosilla) que funcionaram
como atenuantes marcaram um distanciamento entre o falante e o enunciado e, conse-
quentemente, a proteção da face do entrevistado. A proteção da própria face por parte
dos entrevistados está condicionada à atividade entrevista sociolinguística que, ao ser
gravada e focada nas informações dos entrevistados, gera um maior cuidado com a ima-
gem que está sendo veiculada – exposta. A ameaça ao entrevistador não se concretiza
porque, dentre outras coisas, os papéis dos participantes estão muito bem definidos den-
tro dessa atividade. No entanto, o resultado para os diminutivos que funcionam como
atenuantes pode refletir as limitações que um corpus composto por entrevistas sociolin-
guísticas apresenta, afinal tal atividade baliza os atos de fala que possam surgir na inte-
ração.
A alta incidência do uso de diminutivos com afeto negativo no corpus das mu-
lheres cariocas e a baixa incidência do mesmo no corpus das mulheres madrilenas está
relacionado ao ethos dessas duas comunidades de fala, já que as cariocas se valem do
caráter polissêmico do sufixo diminutivo para expressar uma crítica ou atribuir um valor
pejorativo a seu referente e as madrilenas o fazem por meio de adjetivos, ou seja, de
forma direta. Quanto ao resultado morfopragmático para os homens, os diminutivos de
base não substantiva se mostraram muito mais produtivos que os de base substantiva
concreta.
79
Diferente do corpus carioca e contrário ao que afirmava Alonso (op. cit.) sobre o
aspecto marginal de dimensão nos diminutivos sintéticos do espanhol, o corpus madri-
leno revelou a permanência do traço dimensional em quase todas as ocorrências, ainda
que houvesse uma função sobreposta. Porém, confirmou a alta frequência de uso dimi-
nutivo com afeto positivo por meio dos sufixos -illo (a) / -ito (a).
Logo, pode ser afirmado que os usos morfopragmáticos dos diminutivos diver-
gem nas entrevistas cariocas e madrilenas – afinal, enquanto o caráter referencial per-
manece atrelado ao sufixo diminutivo em espanhol para ambos os gêneros, em portu-
guês a expressão da subjetividade por meio dos diminutivos é preponderante no corpus
feminino.
Já o corpus dos homens da variante carioca se mostra inexpressivo tanto para a
função referencial quanto para a subjetiva, o que pode indicar que os diminutivos sinté-
ticos são uma característica do gênero feminino na variante carioca e que os homens se
valem de outros recursos linguísticos para expressar subjetividade e fazem uso dos di-
minutivos analíticos para expressarem tamanho.
Em suma, corroboramos a noção de que os diminutivos não só atenuam ameaças
à face, mas servem à construção da mesma. As formações diminutivas contribuem com
a projeção do valor de autonomia para os madrilenos e da conformidade e habilidade
dos cariocas para expressar sua subjetividade.
80
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