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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO ALESSANDRA SÁ SIMÕES DOURADO A UTILIZAÇÃO DO ENSINO BASEADO EM SIMULAÇÃO NA EDUCAÇÃO CONTINUADA DE MÉDICOS RIO DE JANEIRO 2014

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO

ALESSANDRA SÁ SIMÕES DOURADO

A UTILIZAÇÃO DO ENSINO BASEADO EM SIMULAÇÃO NA EDUCAÇÃO

CONTINUADA DE MÉDICOS

RIO DE JANEIRO

2014

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Alessandra Sá Simões Dourado

A UTILIZAÇÃO DO ENSINO BASEADO EM SIMULAÇÃO NA EDUCAÇÃO CONTINUADA DE

MÉDICOS

Dissertação de Mestrado apresentada ao

Programa de Pós-Graduação em Educação em

Ciências e Saúde, Universidade Federal do Rio

de Janeiro

ORIENTADORA: Taís Giannella

Rio de Janeiro

2014

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D739u Dourado, Alessandra Sá Simões.

A utilização do ensino baseado em simulação na educação continuada de médicos / Alessandra Sá Simões Dourado. Rio de Janeiro: UFRJ/NUTES, 2014.

95 f.; 30 cm. Orientadora: Taís Giannella. Dissertação (Mestrado) Universidade Federal do Rio de Janeiro,

Núcleo de Tecnologia Educacional para a Saúde, Rio de Janeiro, 2014.

Referências bibliográficas: f. 89-95. 1. Educação médica continuada. 2. Simulação. 3. Tecnologia

educacional em saúde – Tese. I. Giannella, Taís. II. Universidade Federal do Rio de Janeiro, Núcleo de Tecnologia Educacional para a Saúde. III. Título.

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Alessandra Sá Simões Dourado

A UTILIZAÇÃO DO ENSINO BASEADO EM SIMULAÇÃO NA EDUCAÇÃO CONTINUADA DE MÉDICOS

Dissertação de Mestrado apresentada ao Programa de Pós-Graduação Educação em Ciências e Saúde, Núcleo de Tecnologia Educacional para a Saúde, Universidade Federal do Rio de Janeiro, como requisito parcial à obtenção do Título de Mestre em Educação em Ciências e Saúde.

Aprovado em:

______________________________________________________

Profa. Dra. Taís Rabetti Giannella – UFRJ

______________________________________________________

Prof. Dr. Marcos Antônio Gomes Brandão – UFRJ

______________________________________________________

Profa. Dra. Miriam Struchiner – UFRJ

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À minha tão amada mãe, Maria de Fátima, que

mesmo deixando a vida tão cedo e

inesperadamente, plantou em mim um sonho

que hoje se materializa, me fazendo crer que

era possível chegar até aqui. Obrigada por tudo

que fez por mim. Essa vitória também é sua.

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Agradecimentos

A Deus, minha fonte de força e sabedoria.

Ao meu pai, Jarbas Simões, que por tantas vezes assumiu cuidar da minha filha em meu lugar para que eu pudesse desenvolver este trabalho. Sem o seu apoio eu não teria concluído.

À minha filha, Amanda Dourado, meu bem mais precioso, pela paciência e pela compreensão de minha ausência.

Ao meu namorado, Alessandro Moreira, pelo carinho, pelo amor, pela compreensão, pela motivação nos momentos difíceis, pelo estímulo para continuar e pela grande e fundamental ajuda na fase final da construção da dissertação.

Ao meu chefe, João Pantoja, pelo apoio e estimulo desde o primeiro momento em que soube do meu ingresso no mestrado.

As doutoras Miriam Struchiner e Tais Giannella, por terem me acolhido de forma tão carinhosa no Laboratório de Tecnologias Cognitivas do NUTES desde o inicio, mesmo antes do processo de seleção do mestrado. Obrigada pelo apoio e por sempre acreditarem em mim.

Ao meu amigo, Daniel Aragão, que, após o falecimento de minha mãe, não permitiu que eu esmorecesse e desistisse de participar do processo de seleção para o mestrado. Sua ajuda foi fundamental na elaboração do pré-projeto enviado ao NUTES.

Ao meu amigo doutorando Rodrigo Carvalho, por sua amizade e auxílio quando mais precisei. Obrigada por compartilhar seus conhecimentos comigo.

Aos instrutores do curso de Ressuscitação Cardiopulmonar, Mario Bueno, Ana Paula Mendes e Ronaldo Gismondi, e ao Coordenador do curso, Werner Scheinpflug, por aceitarem participar deste trabalho e partilhar comigo suas opiniões e experiências a cerca do tema.

Aos doutores Marcos Brandão, Miriam Struchiner e Lys Cameron, pelas colaborações importantes ao trabalho, apresentadas no exame de qualificação do mestrado.

A todas as pessoas que direta ou indiretamente participaram desta caminhada e que contribuíram para que esta dissertação se tornasse realidade.

A todos,

Muito Obrigada!

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“O que eu escuto, eu esqueço. O que eu vejo,

eu lembro. O que eu pratico, eu entendo.”

Confúcio

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Resumo

Dourado, Alessandra Sá Simões. A utilização do ensino baseado em

simulação na educação continuada de médicos. XXf., 2014. Dissertação

(Mestrado em Educação em Ciências e Saúde) Núcleo de Tecnologia

Educacional para a Saúde, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de

Janeiro, 2014.

Nos últimos anos, o ensino baseado em simulação (EBS) tem sido cada

vez mais utilizado na educação em saúde e especialmente na educação

médica. Este estudo teve como objetivo investigar as potencialidades e os

desafios do EBS a partir do contexto de um curso de formação continuada de

médicos: Curso em Ressuscitação Cardiopulmonar (RCP) Avançado. A coleta

de dados foi realizada por meio de observação de campo, entrevistas com

professores e aplicação de questionários aos alunos do curso. Para análise

das percepções dos participantes, adotou-se a análise de conteúdo temática.

Os resultados apontaram quatro principais potencialidades e desafios do EBS

para a formação médica: articulação entre teoria e prática, o erro como

oportunidade de aprendizagem, a relação entre mundo virtual e mundo real e o

fortalecimento do trabalho em equipe. Acredita-se que este trabalho possa

contribuir com a discussão a cerca da utilização do EBS na educação médica,

assim como indicar pontos favoráveis e desafios de sua implementação,

revelando com isso, a importância de pesquisas que aprofundem as questões

pedagógicas envolvidas no percurso de aplicação desta metodologia.

Palavras-chave: Tecnologia educacional. Ensino baseado em simulação.

Educação médica.

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Abstract

Dourado, Alessandra Sá Simões. A utilização do ensino baseado em

simulação na educação continuada de médicos. XXf., 2014. Dissertação

(Mestrado em Educação em Ciências e Saúde) Núcleo de Tecnologia

Educacional para a Saúde, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de

Janeiro, 2014.

In recent years, the teaching based on simulation ( EBS ) has been increasingly

used in health education and especially in medical education. This study aimed

to investigate the potential and challenges of the EBS from the context of a

course of continuing education of physicians : Advanced Course in

Cardiopulmonary Resuscitation. Data collection was conducted through field

observations , interviews with teachers and questionnaires to students in the

course . For analysis of the perceptions of the participants adopted the thematic

content analysis. The results indicated four main potentialities and challenges of

medical training EBS: Linking theory and practice, The error as a learning

opportunity, Relation between virtual world and real world and Strengthening of

teamwork. It is believed that this work can contribute to the discussion about the

use of EBS in medical education, as well as indicate favorable aspects and

challenges of its implementation, thereby revealing the importance of research

that furthers the pedagogical issues involved in the application path this

methodology.

Keywords: Educational technology. Simulation-based education. Medical

education.

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SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO 11 2 REFERENCIAL TEÓRICO 16 2.1 EDUCAÇÃO MÉDICA: DESAFIOS DA FORMAÇÃO 16 2.2 ENSINO BAESEADO EM SIMULAÇÃO: TEORIAS E

PRINCÍPIOS PEDAGÓGICOS 21 2.3 ENSINO BASEADO EM SIMULAÇÃO NA EDUCAÇÃO

MÉDICA 23 3 METODOLOGIA 34 3.1 CONTEXTO DO ESTUDO 34 3.2 RELEVÂNCIA DOS CURSOS DE SUPORTE DE VIDA (LIFE

SUPPORT) 34 3.3 METODOLOGIA DO CURSO DE RESSUSCITAÇÃO

CARDIOPULMONAR OFERECIDO PELO CENTRO DE TREINAMENTO AVANÇADO REDE D’OR 37

3.4 MATERIAIS E MÉTODOS 38 3.4.1 Método de análise dos questionários e das entrevistas 40 4 RESULTADOS 45 4.1 RESULTADOS OBTIDOS ATRAVÉS DAS OBSERVAÇÕES

DE CAMPO 45 4.1.1 Primeiro dia 45 4.1.2 Segundo dia 50 4.2 RESULTADOS OBTIDOS POR MEIO DE QUESTIONÁRIO

ELETRÔNICO COM O COORDENADOR DO CURSO 50 4.2.1 Planejamento do curso, etapas de realização e objetivos a

serem alcançados 51 4.2.2 Dificuldades encontradas na condução das estações

práticas 52 4.2.3 Vantagens e desvantagens do ensino baseado em

simulação 53 4.3 RESULTADOS OBTIDOS COM A REALIZAÇÃO DAS

ENTREVISTAS COM INSTRUTORES DO CURSO 53 4.3.1 Utilização de manequins no curso de ressuscitação

cardiopulmonar 54 4.3.2 Vantagens e desvantagens do ensino baseado em

simulação 54 4.3.3 Dificuldades encontradas na condução das estações

práticas 55 4.3.4 Conhecimentos mobilizados durante as aulas 56 4.3.5 Importância do ensino baseado em simulação na

educação médica 57 4.4 RESULTADOS OBTIDOS COM A APLICAÇÃO DO

QUESTIONÁRIO COM OS ALUNOS DO CURSO 58 4.4.1 Perfil e expectativas dos alunos participantes 58 4.4.2 Potencialidades e desafios do ensino baseado em

simulação 59

4.4.3 Avaliação do curso 61 5 DISCUSSÃO 62

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5.1 REUNINDO OS ACHADOS: OBSERVAÇÕES SOBRE O CURSO ACOMPANHADO, PERCEPÇÕES DA EQUIPE DOCENTE E DOS ALUNOS SOBRE O ENSINOBASEADO EM SIMULAÇÃO 62

5.2 DESAFIOS E POTENCIALIDADES PEDAGÓGICAS DO ENSINO BASEADO EM SIMULAÇÃO: ARTICULANDO TEORIA E PRÁTICA, APROVEITANDO O ERRO COMO OPORTUNIDADE DE APRENDIZAGEM, EXPLORANDO AS RELAÇÕES ENTRE MUNDO REAL E MUNDO VIRTUAL E FORTALECENDO O TRABALHO EM EQUIPE 66

5.2.1 Articulando teoria a prática na formação médica 66 5.2.2 Aproveitando o erro como oportunidade de aprendizagem 72 5.2.3 Explorando as relações entre o mundo real e o virtual 74 5.2.4 Fortalecendo o trabalho em equipe 79 6 CONCLUSÕES 82 7 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 87 8 ANEXOS 94

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1 INTRODUÇÃO

Este trabalho teve como motivação a prática pedagógica que venho

desenvolvendo como coordenadora de Enfermagem do programa de atualização

dos profissionais de saúde, no Centro de Treinamento Avançado Rede D’Or São

Luiz e surgiu da necessidade de analisar as potencialidades e os desafios da

implementação do ensino baseado em simulação com uso de manequins na

educação médica, sob o ponto de vista daqueles que utilizam e participam desta

prática: os professores e alunos.

Como se pode observar na literatura, o Ensino Baseado em Simulação (EBS)

já é bastante utilizado na área da saúde e, especiamente, na formação médica. De

uma maneira geral, percebe-se que a maioria dos estudos tem como principal

objetivo buscar evidências da eficácia do uso da simulação com o uso de manequins

no que diz respeito à aprendizagem dos alunos, por meio da aplicação de pré e pós

testes com os estudantes. Embora este corpo de estudos venha reforçando os

pontos positivos do uso de manequins na formação médica, poucos discutem os

aspectos cognitivos e de aprendizagem que fundamentam sua aplicação. Além

disso, como apontam Gomez et al (2011), o avanço tecnológico na área da

simulação nem sempre tem sido acompanhado de reflexões sobre as propostas

didático-pedagógicas de sua implementação como metodologia de esino-

aprendizagem.

Buscando compreender os desafios e as potencialidades do EBS com o uso

de manequins na formação médica e partindo da visão de que o uso de tecnolgias

educacionais é um processo que depende dos contextos e atores de sua aplicação,

este trabalho se concentrará em um caso particular: o curso de atualização em

ressuscitação cardiopulmonar avançado aplicado a médicos da Rede D’Or São Luiz.

Trata-se de uma instituição hospitalar reconhecida pela formação continuada de

seus profissionais e constitui a maior operadora independente de hospitais do Brasil,

estando presente em 4 capitais do país: Rio de Janeiro (8 hospitais da Rede e 4

hospitais Associados), São Paulo (6 hospitais da Rede e 2 Associados),

Pernambuco (2 hospitais em Recife e 1 hospital em Olinda) e Distrito Federal (2

hospitais). Os hospitais que compõem a Rede são Acreditados, ou estão no

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processo de Acreditação, por instituições certificadoras internacionais de qualidade

hospitalar que primam pela qualidade do serviço prestado e pela segurança do

paciente. Por isso, uma das preocupações da Rede é investir na educação

continuada de seus profissionais de saúde.

Com o objetivo de manter atualizados os profissionais de saúde, foi criado em

2009 o Centro de Treinamento Avançado que utiliza a metodologia de Ensino

Baseado em Simulação (EBS) com a utilização de manequins que simulam

pacientes. Com o intuito de criar cenários próximos à realidade desses profissionais,

o EBS tem sido utilizado em cursos de atualização em temas onde a teoria deve

estar diretamente aliada à prática com aplicação na resolução de situações críticas

ou emergenciais que ocorrem no ambiente hospitalar, assim como na obtenção de

habilidades práticas específicas nesta área (PAZIN FILHO et al, 2007).

Assim, embora se concentre em um caso particular de aplicação do EBS,

tendo como foco o acompanhamento de um curso e a análise das percepções dos

docentes e alunos envolvidos, acredita-se que este estudo poderá contribuir com a

construção de conhecimento sobre as questões pedagógicas que permeiam o

desenvolvimento desta metodologia, principalmente em processos de educação

médica continuada.

Como discutem diversos autores, a educação continuada é uma modalidade

de ensino fundamental para o profissional do século 21, especialmente na área da

saúde, onde o volume de informações científicas e avanço tecnológico crescem de

maneira exponencial (LEITE et al, 2010). Além disso, como de uma maneira geral os

médicos foram sujeitos durante sua formação profissional a processos educativos

essencialmente baseados na transmissão e reprodução de informações e não na

construção reflexiva do conhecimento, faz-se necessário integrar abordagens

pedagógicas que procurem “desenvolver no estudante o potencial intelectual, a

capacidade de análise, julgamento e avaliação crítica, a habilidade para resolver

problemas, o raciocínio crítico, a abordagem criativa e inquidora” (MAMED et al,

2001).

Historicamente, o ensino médico tem sido pioneiro na adoção de novas

metodologias e tecnologias educacionais (STRUCHINER & GIANNELLA, 2005).

Considerando que a atuação do médico requer domínio de habilidades específicas,

como a comunicação com o paciente, o exame físico, o raciocínio clínico e a

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execução de medidas diagnósticas e terapêuticas (TRONCON, 2007), e que possui

a peculiaridade de ocorrer em contextos que exigem integração de diferentes

saberes (AGUIAR, 2010), os processos de formação têm incorporado o uso

metodologias ativas de ensino e a prática em serviço como elemento básico da

aprendizagem.

Diante desses desafios, o EBS tem sido utilizado como uma metodologia que

se caracteriza pelo aprendizado ativo em ambiente livre de risco, no qual se pode

construir o conhecimento, a habilidade técnica, a comunicação, a liderança e o

trabalho em equipe (FLATO & GUIMARÃES, 2011). Neste contexto, a simulação

médica apresenta-se como uma estratégia de ensino potencial, por permitir que a

aprendizagem ocorra em ambiente seguro e de forma sistematizada, possibilitando a

demonstração de múltiplas patologias, facilitando que o conteúdo seja reproduzido

tal qual a prática clínica, favorecendo a projeção de eventos críticos e evitando

processos legais contra o erro médico (BERKENSTADT et al, 2006).

Gaba (2004, p. i2) define a simulação no ensino em saúde como um

“processo educativo que substitui o encontro com o paciente real por modelos

artificiais, atores ou pacientes virtuais”. Desta forma, o EBS ajuda os estudantes a

desenvolverem a habilidade em reconhecer suas próprias limitações e as lacunas

em seu processo de aprendizagem sem colocar o paciente em risco (OKUDA et al,

2009, p. 331).

A Educação Médica Baseada em Simulação (EMBS) já faz parte do currículo

educacional de muitas universidades no mundo inteiro, principalmente nos EUA e na

Europa. Ela não é uma proposta recente de ensino, porém com o avanço

tecnológico computacional e a evolução dos conhecimentos sobre a fisiologia e

farmacologia tornou-se possível a elaboração de modelos complexos que deram

origem a simuladores capazes de responder a intervenções em cenário previamente

estabelecidos (COOPER & TAQUETI, 2004).

O avanço da tecnologia dos simuladores como uma ferramenta para o

aprendizado é uma forma de pensar no ensino de profissionais de saúde, de

maneira que a evolução tecnológica seja parte efetiva do processo de construção de

conhecimento.

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Nesta perspectiva, o presente trabalho teve como objetivo geral investigar o

processo de implementação do ensino baseado em simulação em um curso de

atualização na educação continuada de médicos.

Especificamente, os objetivos deste trabalho foram:

a) acompanhar o processo de implementação do curso, buscando

identificar as potencialidades do uso do EBS, como a integração dos

alunos e o trabalho em equipe, a comunicação, o desenvolvimento de

habilidades e do raciocínio clínico, entre outras;

b) analisar as percepções da equipe que planeja e implementa esta

metodologia de ensino em relação a utilização de manequins no curso

de Ressuscitação Cardiopulmonar, as vantagens e desvantagens do

EBS, as dificuldades encontradas na condução das estações práticas,

aos conhecimentos mobilizados durante as aulas e a importância do

EBS na Educação Médica;

c) analisar as percepções dos alunos/médicos participantes do curso em

relação às dificuldades práticas experimentadas, ao conhecimento e

habilidades adquiridos e aplicabilidade dos conhecimentos adquiridos

em ambiente real.

Diante da diversidade de simuladores utilizados no ensino médico, este

estudo teve como objeto o EBS com a utilização do simulador artificial de paciente,

por este ser o tipo de simulador empregado na construção de cenários realísticos

com o objetivo de integrar conhecimentos e desenvolver o raciocínio clínico para a

resolução de casos, otimizar o trabalho em equipe, melhorar a comunicação e

aprimorar habilidades.

Dentre os cursos oferecidos pelo Centro de Treinamento Avançado Rede

D’Or, o Curso de Atualização em Ressuscitação Cardiopulmonar Avançado foi o

alvo desta pesquisa por preconizar o desenvolvimento do raciocínio clínico através

da resolução de casos em ambiente simulado com uso de manequins em

substituição ao paciente. Sua implementação teve início em 2010, tendo como

público alvo médicos, prioritariamente, e enfermeiros da Rede D’Or. A partir de

2013, apenas os médicos passaram a ser inscritos no curso, já que estes são os

profissionais que têm autonomia legal para colocar em prática em ambiente real os

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conhecimentos e habilidades adquiridas no curso. Por esta razão, os médicos

constituíram a população desta pesquisa.

É crítica a necessidade de ampliar as informações sobre o uso de

simuladores de pacientes como metodologia de ensino-aprendizagem. Poucos

trabalhos articulam as visões de professores e alunos a fim de evidenciar as

dificuldades e os desafios desta metodologia de ensino. Pretendemos, desta forma,

incentivar novas pesquisas sobre a utilização do ensino baseado em simulação na

área da saúde de maneira a estender seu lastro de aplicação.

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2 REFERENCIAL TEÓRICO

2.1 EDUCAÇÃO MÉDICA: DESAFIOS DA FORMAÇÃO

A educação médica encontra-se pautada no modelo flexneriano, desde 1910,

com a publicação do estudo Medical Education in the United States and Canada – A

Report to the Carnegie Foundation for the Advancement of Teaching, que ficou

conhecido como o Relatório Flexner (Flexner Report) e é considerado o grande

responsável pela mais importante reforma das escolas médicas de todos os tempos

nos Estados Unidos da América (EUA), com profundas implicações para a formação

médica e a medicina mundial (PAGLIOSA; DA ROS, 2008, p. 495), introduzindo

critérios de cientificidade e institucionalidade para regulação da formação acadêmica

e profissional no campo da saúde (ALMEIDA FILHO, 2010, p. 2239) e contribuindo

para a formação profissional de médicos com uma preparação científica que, até

então, era empírica e anárquica (RODRIGUEZ et al, 2004, p.237).

Porém, no modelo de ensino médico proposto por Abraham Flexner, o

currículo apresenta uma divisão clara entre o ciclo inicial de disciplinas básicas

(ensinado nas faculdades) e o ciclo dedicado aos estudos clínicos (ensinado nos

hospitais). O processo de ensino-aprendizagem é centrado no professor, que deve

transmitir ao aluno o conteúdo curricular de forma objetiva e sistemática; há estímulo

à especialização excessiva e precoce, além de promoção da tecnificação do cuidado

(GOMES et al, 2009, p. 436). Este modelo de ensino tem sido questionado, e sobre

os cursos de medicina têm recaído críticas, como a de formar “profissionais carentes

de mentes questionadoras, sem o desejo e a curiosidade de compreender os

fenômenos com os quais se defrontam, incapazes de refletir sobre suas práticas e

adequá-las às necessidades de suas comunidades” (MAMED & PENAFORTE,

2001).

No Brasil, com a finalidade de propor inovações na formação do profissional

de saúde, o Ministério da Educação, por meio do Conselho Nacional de Educação,

instituiu, em 2001, as Diretrizes Curriculares Nacionais (DCN) do Curso de

Graduação em Medicina. As DCN definem o perfil do médico egresso, descrevem

suas competências e habilidades, determinam os conteúdos curriculares, assim

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como a organização do curso, estágios e atividades complementares e orientam o

acompanhamento e avaliação do processo de ensino-aprendizagem e do próprio

curso. (ALMEIDA, 2007).

Segundo as DCN, o médico deve ter formação generalista, humanista, crítica

e reflexiva e deve estar capacitado a atuar pautado em princípios éticos, no

processo de saúde-doença em seus diferentes níveis de atenção, com ações de

promoção, prevenção, recuperação e reabilitação à saúde, na perspectiva da

integralidade da assistência, com senso de responsabilidade social e compromisso

com a cidadania, como promotor da saúde integral do ser humano. Os conteúdos do

curso devem guardar estreita relação com as necessidades de saúde mais

frequentes referidas pela comunidade e identificadas pelo setor saúde. Deve haver

um projeto pedagógico, construído coletivamente, centrado no aluno como sujeito da

aprendizagem e apoiado no professor como facilitador e mediador do processo

ensino-aprendizagem (RESOLUÇÃO CNE/CES 4/2001).

A literatura refere-se com insistência à necessidade de formar um médico

capaz de conduzir, de forma autônoma, seu processo de aprendizagem ao longo da

vida profissional, de adaptar-se e participar das mudanças, com aptidão para

raciocinar criticamente, para analisar sistemática e logicamente os problemas e

tomar decisões fundamentadas em sua própria avaliação (COSTA, 2007).

Na perspectiva desenvolvida por Cunha et al (2001), inovações no ensino

devem contribuir para a “ruptura com o paradigma dominante, fazendo avançar em

diferentes âmbitos, formas alternativas de trabalhos que quebrem com a estrutura

tradicional”. Porém, os autores observam que uma inovação não se caracteriza

simplesmente pelo uso de novos elementos tecnológicos no ensino, “a menos que

estes representem novas formas de pensar e ensinar e o aprender numa

perspectiva emancipatória”. Neste contexto, Ventureli (2004), destaca a necessidade

de romper com a postura de transmissão de informações, na qual os alunos

assumem o papel de indivíduos passivos, preocupados apenas em recuperar tais

informações quando solicitados.

Sobre o processo de mudança na educação em saúde, Cyrino & Pereira

(2004) destacam inúmeros desafios, entre os quais, o de romper com estruturas

cristalizadas e modelos de ensino tradicional e de formar profissionais de saúde com

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competências que lhes permitam recuperar a dimensão essencial do cuidado: a

relação entre humanos.

Em oposição a essa educação tradicional, denominada por Paulo Freire

(2001) de “bancária”, na qual o educando recebe passivamente os conhecimentos,

tornando-se um depósito de informações fornecidas pelo educador (PEREIRA,

2003), temos a abordagem construtivista que questiona o ensino pautado pelo

processo de memorização e de transferência fragmentada de informação do

professor para o aluno (VARGA et al, 2008, p. 292). Na concepção construtivista, o

conhecimento é uma construção do aluno sobre conceitos prévios e desenvolve-se

no contexto onde será utilizado enquanto o professor passa a ter um papel facilitador

no processo de ensino-aprendizagem do aluno. Sobre esse aspecto, Paulo Freire

refere que a educação de adultos não pode ser uma prática de depósito de

conteúdos apoiada numa concepção de homens como seres vazios, mas de

problematização dos homens em suas relações com o mundo (CYRINO &

PEREIRA, 2004).

Na formação em saúde, diferentes metodologias vêm sendo utilizadas, tendo

como enfoque a abordagem construtivista do conhecimento. No âmbito das teorias

construtivistas, a problematização e a Aprendizagem Baseada em Problemas (ABP)

são duas propostas distintas que “trabalham intencionalmente com problemas para o

desenvolvimento dos processos de ensinar e aprender”. Apoiadas na aprendizagem

por descoberta e significativa, ambas valorizam o aprender a aprender

(VENTURELI, 2004).

Na Metodologia da Problematização, enquanto alternativa de metodologia de

ensino, os problemas são extraídos da realidade pela observação realizada pelos

alunos e na Aprendizagem Baseada em Problemas, enquanto proposta curricular, os

problemas de ensino são elaborados por uma equipe de especialistas para cobrir

todos os conhecimentos essenciais do currículo (BERBEL, 1998).

Na ABP, o aluno começa o estudo assumindo que o paciente tem um

problema e que sua tarefa será encontrar a causa do mesmo procurando enfrentá-lo

por diferentes caminhos de estudo. Cabe a ele exercer um papel ativo no processo

de ensino-aprendizagem, enquanto ao professor/instrutor, o de facilitador deste

processo. Busca-se, principalmente, fornecer ao estudante condições de

desenvolver habilidades técnicas, cognitivas e de atitudes aplicáveis tanto para o

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cuidado dos pacientes, quanto para a manutenção da postura de estudar para

aprender pelo resto da vida profissional (GOMES et al 2009, p. 434).

Ainda no âmbito construtivista, encontramos a aprendizagem baseada em

casos definida como uma estratégia a ser utilizada no processo de ensino

aprendizagem que tem como finalidade oferecer aos alunos a oportunidade de

compreender os conceitos aplicados à prática profissional através da resolução de

casos, ou seja, de problemas baseados em situações reais encontrados no cotidiano

do trabalho. Assim como a problematização e a aprendizagem baseada em

problemas, têm como princípio “a formação de um aluno autônomo, capaz de

relacionar teoria e prática, de buscar informações e utilizá-las no processo de

tomada de decisão nas mais diversas áreas do conhecimento” (STRUCHINER &

GIANNELLA, 2005).

Para que esta estratégia pedagógica tenha sucesso, deve-se respeitar as

características de aprendizagem do adulto, resgatando o seu conhecimento teórico-

prático sobre o assunto (PEREIRA, 2003), pois os mesmos sentem-se motivados a

aprender quando entendem as vantagens e benefícios deste, bem como as

consequências negativas de seu desconhecimento (SMITH, 2002).

É fundamental que o profissional aprenda ao longo da vida, que adquira

novas competências, que seja capaz de se adaptar e que esteja sempre aberto a

novas possibilidades. Assim surge a necessidade de encontrar novas formas de

aprendizagem para o adulto, não só na escola, mas, sobretudo no ambiente de

trabalho (OXMAN et al, 1995).

Zarifian (1999) define competência como a inteligência prática para situações

que se apoiam sobre os conhecimentos adquiridos e os transformam de acordo com

a complexidade das situações. Implica em saber mobilizar, integrar e transferir os

conhecimentos, recursos e habilidades, num contexto profissional determinado (LE

BOTERF, 1995).

A fim de contribuir para o desenvolvimento de novas competências, surge na

área da saúde a Educação Permanente (EP), considerada como a educação no

trabalho, pelo trabalho e para o trabalho, capaz de se remodelar frente às

incessáveis mudanças ocorridas nas ações e nos serviços de saúde com a

finalidade de atualizar práticas cotidianas, segundo os mais recentes aportes

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teóricos, metodológicos, científicos e tecnológicos disponíveis, tornando o serviço

mais qualificado (CECCIM, 2004, p. 166).

A renovação tecnológica e o avanço científico ocorrido nos últimos anos na

área médica determinaram a necessidade de atualização permanente dos

conteúdos do aprendizado assim como da formação dos profissionais (AMORETTI,

2005, p. 144). Assim, a Educação Permanente em Saúde apresenta-se como uma

proposta de ação estratégica capaz de contribuir para a transformação dos

processos formativos, das práticas pedagógicas e de saúde e adota como

pressuposto pedagógico a aprendizagem significativa (MINISTÉRIO DA SAÚDE,

2004), possibilitando o desenvolvimento pessoal e profissional daqueles que

trabalham na saúde (ARRUDA et al, 2008, p. 519).

A educação permanente, descrita pelo Ministério da Saúde (2006), prioriza

metodologias de ensino que contribuam para o aprendizado de adultos no contexto

da prática, partindo do pressuposto que conhecimento não se transmite, mas se

constrói a partir das dúvidas e do questionamento das práticas vigentes à luz dos

problemas contextuais e inclui a busca de formação no trabalho de equipe,

integração das dimensões cognitivas, de atitudes e competências práticas,

priorizando os processos de longo prazo.

Tendo em vista o avanço tecnológico e a sua presença nas diversas

atividades de nosso cotidiano, diversos autores destacam as potencialidades da

educação permanente para os processos pedagógicos, não apenas por já fazerem

parte das atividades dos profissionais de saúde, mas por oferecerem diferentes

canais de comunicação/colaboração e múltiplas formas de representação da

informação (FORNAZIERO; GIL, 2003, p.142).

A introdução das novas tecnologias de informação e comunicação no

contexto educacional só pode ser considerada como um avanço neste campo desde

que a tecnologia esteja subjulgada aos objetivos pedagógicos, isto é, a

implementação da tecnologia na educação deve estar alinhada às necessidades dos

alunos e dos professores (REZENDE, 2002, p. 5). Desta forma, a tecnologia deve

provocar mudanças na abordagem pedagógica vigente, ao invés de colaborar com o

professor para tornar mais eficiente o processo de transmissão de conhecimento

(VALENTE, 1993).

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Há que se atentar para que a implementação da tecnologia educacional não

passe a ser uma apenas uma “inovação conservadora”, como observa Cysneiros

(1999, p. 15), quando é utilizada uma ferramenta tecnológica com a finalidade de

realizar tarefas que poderiam ser feitas de modo satisfatório por equipamentos mais

simples, não apresentando mudanças significativas no modelo ou na melhoria da

qualidade de ensino.

Segundo Struchiner et al (2005), as práticas educativas ainda oferecem aos

estudantes e profissionais da área da saúde pouca oportunidade de vivenciar

ativamente a aprendizagem como construção do conhecimento, através da reflexão

sobre suas próprias experiências e da participação ativa em estudos, investigações

e fóruns de debate.

As tecnologias devem ser exploradas a fim de permitir que os estudantes

possam interagir e trabalhar juntos em problemas e projetos significativos

(JONASSEN, 1996, p. 76). Assim, para que as metodologias de ensino que utilizam

como ferramenta a tecnologia sejam capazes de atribuir características inovadoras

no ensino em saúde são necessárias mudanças nas concepções e métodos de

ensino e aprendizagem.

2.2 ENSINO BASEADO EM SIMULAÇÃO: TEORIAS E PRINCÍPIOS PEDAGÓGICOS

De uma maneira geral, as estratégias do ensino baseado em simulação estão

ancoradas em propostas construtivistas que enfocam a postura ativa e reflexiva dos

alunos.

Na seção anterior foram descritas algumas características do EBS, dentre

elas a possibilidade do aluno cometer erros durante o processo de ensino

aprendizagem sem trazer riscos ao paciente. A teoria construtivista fundamenta a

perspectiva positiva do erro cometido pelo indivíduo, autor da ação, como mais

produtivo do que um acerto imediato. Assim, a concepção de bons profissionais

depende da formação de pessoas capazes de evoluir, de aprender de acordo com a

experiência, refletindo sobre o que gostariam de fazer, sobre o que realmente

fizeram e sobre os resultados de tudo isso (VARGA et al, 2008, p. 293).

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Outro aspecto do EBS é a prática reflexiva desenvolvida através da resolução

de casos clínicos apresentados aos alunos e do debriefing. Sobre esse aspecto,

Litto (2006) destaca que a melhor aprendizagem vem da experiência prática

baseada na solução de problemas, no pensamento crítico e na interatividade entre

os alunos enquanto Dewey ressalta a importância de possuir esquemas de solução

de problemas, afirmando que o conhecimento que resolve problemas é o

conhecimento do conhecimento de resolver problemas (BERBEL, 1998). Para

Jonassen (1996, p. 78) a experiência sozinha não é suficiente para aprendizagem e

por isso deve estar acompanhada de reflexão sobre as decisões tomadas, as

estratégias utilizadas para a resolução dos problemas e as respostas encontradas a

fim aumentar a capacidade de transferência do conhecimento construído.

O problema, apresentado em forma de caso clínico ao aluno pode ser

utilizado pelo EBS como disparador principal do processo de ensino aprendizagem,

através do qual o discente é motivado a buscar uma solução, apoiando-se assim na

Aprendizagem baseada em Problemas.

Através da vivência de situações simuladas o discente mobiliza

conhecimentos prévios para a resolução de casos clínicos que lhe são apresentados

contribuindo, desta forma, para a tomada de decisão.

O EBS tem sido amplamente utilizada no treinamento de equipes de saúde,

pois favorece a reflexão sobre o processo em desenvolvimento em conjunto com os

pares, o desenvolvimento da interaprendizagem, a competência de resolver

problemas em grupo e a autonomia em relação à busca, ao fazer e compreender.

Estas características encontram-se embasadas na aprendizagem cooperativa,

definida por Smyser (1993) como “uma técnica através da qual os estudantes se

ajudam no processo de aprendizagem, atuando como parceiros entre si e com o

professor, visando adquirir conhecimento sobre um dado objeto”.

Ao refletirmos sobre a educação médica é necessário levarmos em conta a

andragogia, definida por Knowles como “arte e ciência de ajudar adultos a

aprenderem” (SMITH, 2002). De acordo com Bryan et al (2008) há 5 princípios da

andragogia aplicados ao aluno médico e abordados pelo EBS: a necessidade do

aluno em saber porque está aprendendo, a motivação do aluno pela necessidade de

resolver problemas, a construção do novo conhecimento a partir de experiências

prévias, a prática educativa aplicada deve corresponder a diversidade e ao

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conhecimento dos alunos adultos e a necessidade do aluno em estar envolvido

ativamente no processo de aprendizagem.

Em relação à utilização de manequins de alta fidelidade na educação médica,

Issenberg et al (2005) destaca 10 características que considera importantes para a

aprendizagem: o mecanismo de ensino que favorece a prática repetitiva e que

possibilita alterar o grau de dificuldade da tarefa proposta; a capacidade de ser

integrado ao curriculo, de capturar a variação clínica e de promover a prática em

ambiente controlado; a promoção da aprendizagem ativa; a adaptabilidade a

múltiplas estratégias de aprendizagem; a existência de resultados mensuráveis e

tangíveis; a utilização do mecanismo de feedback e a aproximação da prática

clínica.

Assim, o EBS pode ser considerada uma metodologia de ensino atraente para

a educação médica por abordar princípios pedagógicos que ressaltam a

aprendizagem ativa, reflexiva, sem deixar de lado características importantes do

ensino de adultos.

2.3 ENSINO BASEADO EM SIMULAÇÃO NA EDUCAÇÃO MÉDICA

A simulação surge no cenário educacional da área da saúde como uma

ferramenta para a educação de profissionais de saúde, ancorada em metodologias

ativas de ensino, com a finalidade de aproximar o aluno das situações reais

vivenciadas na prática sem trazer riscos ao paciente (CEZAR et al, 2010).

Gaba (2004, p. i2) define simulação médica como um processo de instrução

que substitui o encontro com pacientes reais em troca de modelos artificiais como

atores reais ou realidade virtual, replicando cenários de cuidados ao paciente em um

ambiente próximo da realidade com o objetivo de analisar e refletir as ações

realizadas de forma segura.

Assim, o ensino baseado em simulação (EBS) pode ser definida como uma

metodologia de ensino que utiliza um simulador no processo de ensino-

aprendizagem, podendo este ser um objeto ou uma representação parcial ou total de

uma tarefa a ser replicada (COOPER & TAQUETI, 2004).

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A simulação aplicada ao ensino médico não é uma prática inovadora. O

primeiro manequim, Ressucie-Anne, foi desenvolvido no início dos anos 60, por

Asmund Laerdal, um norueguês fabricante de brinquedos, encorajado pelo Dr. Bjorn

Lind e outros anestesistas noruegueses, com o objetivo de treinar manobras de

ressuscitação cardiopulmonar, baseado nas descobertas do Dr. Peter Safar sobre as

vantagens da ventilação boca-a-boca. Mais tarde, baseado nas evidências sobre a

eficácia da massagem cardíaca, Safar pediu a Laerdal que incluísse um dispositivo

na parede torácica do manequim que permitisse a realização de compressões

cardíacas. Assim, nasceu a possibilidade de treinar o ABC (airway, breathing,

circulation) da ressuscitação cardiopulmonar (CPR). No final dos anos 60, foi criado

pelo engenheiro Dr. Stephen Abrahamson e pelo médico Dr. Judson Denson, o

primeiro manequim interativo controlado por computador: o Sim One, com o objetivo

de simular um paciente como um todo. Este modelo não teve aceitação no mercado

devido seu alto custo para comercialização. Nesta mesma época, foi concebido pelo

Dr. Michael Gordon o primeiro “Cardiology Patient Simulator”, chamado Harvy, que

simulava 27 diferentes condições cardíacas. Em meados dos anos 90, foi

desenvolvido pela Laerdal, um simulador de alta fidelidade chamado SimMan, uma

evolução de um modelo precursor desenvolvido pelos médicos Dr. Rene Gonzales e

John Schaefer, da Universidade de Pittsburgh e fabricado pela Medical Plastics

Corporation (MPL) do Texas, adquirida mais tarde pela Laerdal (COOPER &

TAQUETI, 2004; OKUDA et al, 2009).

Desde então, vários modelos têm sido criados a fim de atender aos diversos

objetivos pedagógicos na área da educação em saúde. Hoje, há disponíveis no

mercado manequins simuladores de alta fidelidade capazes de recriar sensações

fisiológicas como suor e lágrimas, sons pulmonares e batimentos cardíacos normais

e patológicos, alterações do diâmetro pupilar, cianose, mudanças na pressão

sanguínea, no ritmo cardíaco e na respiração (OKUDA et al, 2009, p. 331).

Na área da saúde, a escolha do simulador a ser utilizado como estratégia de

ensino deve estar de acordo com a complexidade da tarefa que será executada,

podendo ser classificado em simulador de baixa tecnologia, também chamado de

skill trainers, pacientes-padrão (atores), simuladores artificiais de pacientes e

simuladores de alta tecnologia ou programas de simulação virtual (ZIV et al, 2003,

p.785).

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Os simuladores de baixa tecnologia ou skill trainers são modelos anatômicos

utilizados quando o objetivo pedagógico é o treinamento de habilidades motoras

necessárias à realização de procedimentos médicos e de enfermagem e para isso

requerem prática repetitiva. Para treinamentos que envolvam relacionamento

interpessoal podem ser utilizados atores que reproduzirão um script a fim de

desenvolver habilidades de comunicação em situações adversas. Quando o objetivo

está centrado no desenvolvimento do raciocínio clínico em situações emergenciais

são utilizados os simuladores artificiais de pacientes, pois estes são capazes de

reproduzir respostas sonoras e visuais similares ao paciente real, porém de forma

passível de ser controlada e modificada pelo professor (também chamado instrutor).

Por fim, a simulação virtual é um recurso que pode ser utilizado para criar ambientes

clínicos como Unidades de Terapia Intensiva (UTI), Unidade de Emergência ou

Centro Cirúrgico (CC) quando o objetivo é preparar o aluno para a tomada de

decisão frente a situações do dia a dia (PAZIN FILHO & SCARPELINI, 2007; PAZIN

FILHO & ROMANO, 2007).

De uma forma geral, os simuladores têm sido utilizados como uma maneira

de melhorar o desempenho clínico e habilidades dos profissionais de saúde

tornando-se uma excelente ferramenta para o aprendizado antes do contato com o

paciente real (TURK et al, 2007), pois através da simulação o aluno pode cometer

erros e corrigi-los e assim, adquirir capacidades e competências garantindo a

segurança do paciente em situações reais futuras (AMARAL, 2010).

O uso do simulador artificial de paciente como ferramenta de ensino requer a

construção de um cenário, o qual representará o ambiente real. Durante a

simulação, é apresentado ao aluno um problema (caso) a partir do qual ele obtém

dados, formula hipóteses e toma decisões. A partir de perguntas, para as quais o

aluno possui alternativas de respostas, e das consequências das decisões tomadas,

ele tem a oportunidade de testar a sua capacidade de julgamento frente a um

conjunto de dados. As consequências das decisões são imediatamente simuladas

pelo programa, propiciando experiência clínica em tempo relativamente curto

(REZENDE, 2002, p. 7).

Após a experiência prática do aluno na resolução de casos em ambiente

controlado, ocorre o debriefing, termo utilizado para reflexão em grupo conduzida

pelo professor/instrutor a cerca da experiência vivida dentro da simulação com o

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objetivo de analisar de forma construtiva o contexto e as ações realizadas dentro

dela (FLATO & GUIMARÃES, 2011).

Assim, a simulação é “aluno-dependente”, ou seja, requer total envolvimento

e participação do indivíduo para que os objetivos pedagógicos sejam alcançados

(OKUDA et al, 2009, p. 334).

Nesta perspectiva, Reynolds et al (2008, p. 2) destaca que a satisfação do

estudante é um fator importante no processo de aprendizagem, pois está

diretamente relacionado a motivação. Sobre esse aspecto, diversos estudos

identificaram que o ensino com uso de simulação na educação em saúde aumenta

significativamente a satisfação e autoconfiança dos estudantes (RAYNOLDS at al,

2008; ALLAN et al, 2010; LAREAU et al, 2010; SEARL et al, 2012; PIKE &

O’DONNELL, 2010).

Dentre as potencialidades da educação médica baseada em simulação

(EMBS) podemos destacar: a estruturação e organização sistematizada dos

conteúdos programáticos, aprendizagem mais ativa, padronização de

procedimentos, repetição da experiência educativa, auto-avaliação de competências

e a oportunidade de cometer erros sem colocar em risco a saúde dos doentes

(REYNOLDS et al, 2011); a melhora no relacionamento interpessoal, resolução de

problemas e análise e síntese de informações clínicas, mesmo sem a utilização de

pacientes reais pois a aprendizagem clínica passa a ser centrada no paciente

(HOWLEY & MARTINDALE, 2004); o auxilio aos estudantes a desenvolver a

habilidade em reconhecer suas próprias limitações e as lacunas em seu processo de

aprendizagem e ainda fornecer a eles ferramentas para que cheguem aos objetivos

sem colocar o paciente em risco (OKUDA et al, 2009, p. 333); ambiente seguro para

a aprendizagem, possibilitando a demonstração de problemas múltiplos, a simulação

de eventos críticos (BERKENSTADT et al, 2006) e o treinamento de equipes

multidisciplinares (MASIELLO, 2011).

Porém, apesar dos benefícios pedagógicos apontados no emprego desta

metodologia de ensino, a simulação por si só não pode ser considerada a solução

para os desafios da educação médica na atualidade, mas uma ferramenta que,

conjuntamente com outras variáveis, tem o potencial de auxiliar na formação e

atualização de profissionais médicos utilizando princípios educativos pautados no

construtivismo.

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Um levantamento realizado no Portal de Periódicos da CAPES, com o

objetivo de identificar e analisar artigos que descrevessem e analisassem

experiências de aplicação de atividades pedagógicas baseadas no uso de simulação

com manequins, apontou um posicionamento favorável em relação ao uso de

simulação com uso de manequins na educação em saúde e salientou a necessidade

de investigar questões como a retenção do conhecimento e habilidades técnicas em

longo prazo, assim como a melhoria da atuação em cenário clínico real,

evidenciando a importância de novas pesquisas no campo da educação na área da

saúde.

Nos artigos analisados, foram identificados, especificamente, os níveis de

ensino em que o EBS foi adotado, a área temática e o foco da atividade formativa, o

público-alvo da aprendizagem e os tipos e modelos dos manequins utilizados. Foram

mapeados, também, os objetivos, as metodologias de pesquisa e os principais

resultados descritos pelos trabalhos.

Os estudos foram desenvolvidos em hospitais, centros de treinamento,

institutos de pesquisa, ou universidades norte-americanas (ALLAN et al, 2010;

GETTMAN et al, 2009; HENNEMAN et al, 2010; HUNT et al, 2009; LAREAU et al,

2010; MCCOY et al, 2011; NGUYEN at al, 2009; SOHN et al, 2007; WALLACE et al,

2010), australianas (OWEN et al, 2006; SEARL et al, 2012), indiana (DELASOBERA

et al, 2010, p. 217) e no Reino Unido (PIKE; O’DONNELL et al, 2010, p. 405).

A maioria desses estudos foi realizada na área de medicina (n=7), seguido de

enfermagem (n=3), equipe multidisciplinar (n=2) e profissional paramédico (n=1).

O nível de ensino que mais realizou estudo com simulador na prática

pedagógica foi a graduação (4), sendo dois estudos desenvolvidos na graduação de

enfermagem e 2 na graduação de medicina. O EBS também foi utilizado nos cursos

de atualização (n=3), pós-graduação (n=3) e na educação continuada (n=2). Nos

artigos, considera-se educação continuada quando o treinamento é realizado pela

instituição na qual o profissional trabalha como parte de um programa de

desenvolvimento e atualização. O curso de atualização é assim definido quando o

profissional o realiza por opção, em instituições fora do seu ambiente de trabalho.

A área temática variou de acordo com o público-alvo e o foco do treinamento.

O tema mais encontrado nos estudos foi “ressuscitação cardiopulmonar” (6), nos

cursos Pediatric Advanced Life Support (PALS) (ALLAN et al, 2010; HUNT et al,

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2009), Advanced Cardiology Life Support (ACLS) (DELASOBERA et al, 2010, p.

217), Adavnced Wilderness Life Support (AWLS) (LAREAU et al, 2010, p. 167),

Emergências Médicas (OWEN et al, 2006, p. 205) e Advanced Trauma Life Support

(ATLS) (SOHN et al, 2007, p. 199).

Historicamente, os primeiros simuladores foram desenvolvidos no início dos

anos 60 para treinamento de manobras de ressuscitação cardiopulmonar (COOPER

& TAQUETI, 2004) e até hoje os cursos que visam o desenvolvimento e a prática

desta manobra utilizam manequins a fim de que os alunos possam exercitar, com

segurança, previamente a uma parada cardiorrespiratória em paciente real.

Os outros temas ministrados através do EBS foram: laparoscopia renal

(GETTMAN et al, 2009, p. 1289), cuidados de enfermagem ao paciente crítico

(HENNEMAN et al, 2010, p. 11), avaliação e tratamento do infarto do miocárdio e

anafilaxia (MCCOY et al, 2011, p. 449), tratamento de sepse e choque séptico

(NGUYEN et al, 2009, p. 675), pandemia por influenza (WALLACE et al, 2010, p.

873). Em dois artigos não foi informado o tema dos cenários desenvolvidos (PIKE &

O’DONNELL, 2010; SEARL et al, 2012).

Os treinamentos tiveram como foco: aquisição de conhecimento clínico (n=6),

aquisição e desenvolvimento de habilidades técnicas (n=6), tais como: compressões

torácicas e ventilação de suporte, intubação e técnicas laparoscópicas, dentre

outras; trabalho em equipe, hierarquia e comunicação em equipe (n=3); e

comunicação com o paciente (n=2).

O tipo de simulador utilizado na maioria dos estudos (n=11) foi o simulador de

alta fidelidade. Segundo Amaral (2010), tais manequins robotizados, de corpo inteiro

e assistidos por computador, permitem reproduzir quase uma centena de situações

clínicas com fisiopatologia diversa, executam movimentos de expansão e retração

torácica, cianose, palidez, sons e sopros cardíacos, pestanejo, voz, tosse, etc e

reagem em função de determinadas intervenções terapêuticas ou procedimentos

corretos ou incorretos. Dentre os simuladores de alta fidelidade disponíveis no

mercado, o modelo mais utilizado nos estudos foi o SimManR (ALLAN et al, 2010;

GETTMAN et al, 2009; HUNT et al, 2009; LAREAU et al, 2010; MCCOY et al, 2011;

NGUYEN et al, 2009; SOHN et al, 2007) da Laerdal Medical Corporation. Essa

empresa é a mais antiga na fabricação de manequins. Outros simuladores de alta

tecnologia foram utilizados: ECS, iStan e babySim da Medical Education

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Technologies Incorporeted (WALLACE et al, 2010, p. 874), SimBabyR (ALLAN et al,

2010, p.647) e ALS Simulator (DELASOBERA et al, 2010, p. 218) da Laerdal

Medical Corporation. Em quatro artigos (HENNEMAN et al, 2010; OWEN et al, 2006;

PIKE, O’DONNELL, 2010; SEARL et al, 2012) não foi relatado o tipo ou o modelo do

manequim utilizado.

Quatro artigos tiveram como objetivo obter a opinião dos participantes quanto

ao ensino baseado em simulação com a utilização de manequins de alta fidelidade

(ALLAN et al, 2010; LAREAU et al, 2010; PIKE & O’DONNELL, 2010; SEARL et al,

2012).

Allan et al (2010, p. 647-648) realizou um estudo comparativo com aplicação

de questionários antes e após o curso e gravação do debriefing (discussão após a

atuação dos participantes em cenário clínico a partir da visualização do desempenho

dos mesmos durante o cenário), a fim de determinar se após o curso os

participantes sentiram-se mais confiantes para atuar em eventos de PCR futuros. A

maioria dos participantes achou o curso muito útil, os cenários realísticos, sentiram-

se melhor preparados para liderar ou atuar em RCP, além de reportarem um maior

grau de confiança e menor nível de ansiedade.

Lareau et al (2010, p. 167) teve como objetivo determinar se os participantes

do curso Advanced Wilderness Life Support (AWLS) acreditam que o simulador de

alta fidelidade é uma ferramenta efetiva para a aprendizagem de habilidades

médicas e se esse tipo de simulador deveria ser usado com mais frequência nesse

curso. Para isso foi aplicado um questionário após a intervenção. Os participantes

definiram o simulador de alta fidelidade como uma ferramenta efetiva de ensino e

gostariam que fosse utilizado com mais frequência em cursos futuros.

Pike & O’Donnell (2010, p. 406-407) realizaram um estudo comparativo com

aplicação de um questionário antes e após a intervenção e entrevista a fim de

investigar o impacto da simulação clínica na educação de enfermeiras. As

estudantes que participaram do estudo descreveram baixo nível de auto-eficácia

com relação a habilidades de comunicação e destacaram a necessidade de

aprender com experiências dentro da simulação clínica por esta ser autentica e por

melhorar a lacuna entre a prática e a teoria.

Searl at al (2012, p. 78-79) realizou um estudo qualitativo exploratório através

de entrevista semi-estruturada para levantamento de percepções e opiniões a cerca

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da experiência de estudantes de enfermagem com o simulador de alta tecnologia.

Foi relatado pelos participantes do estudo que esta técnica de ensino tem potencial

para aumentar a confiança na experiência clínica e reduzir o impacto negativo do

medo e apreensão.

Três artigos objetivaram verificar a efetividade do EBS com a utilização de

manequins de alta fidelidade (GETTMAN et al, 2009; NGUYEN et al, 2009) ou do

curso que utilizou essa metodologia de ensino (SOHN et al, 2007, p. 200).

Gettman et al (2009, p. 1290) realizou um estudo comparativo com aplicação

de pré-teste e pós-teste (com cenários diferentes), avaliação de desempenho

através de instrumentos validados durante os cenários, questionários pós-

intervenção e análise de gravações do cenário e do debriefing com objetivo de

avaliar a efetividade do ensino baseado em simulação com a utilização de simulador

de paciente no treinamento de trabalho em equipe, comunicação e habilidades

técnicas. Neste estudo foi evidenciada melhora significativa no trabalho em equipe,

na comunicação e nas habilidades técnicas durante o curso de simulação de alta

fidelidade o que denotou efetividade deste tipo de simulação para o ensino e

avaliação de competências relacionadas ao trabalho em equipe, comunicação e

habilidades técnicas.

Nguyen et al (2009, p. 675) realizou um estudo comparativo com aplicação de

pré-teste, pós-teste imediato e após duas semanas, questionário e um checklist

preenchido durante a simulação com o objetivo de avaliar se o uso do treinamento

baseado em simulação contribui para a melhoria do conhecimento médico. Os

temas escolhidos para os cenários foram sepse e choque séptico. Os resultados

evidenciaram que a Simulação Médica é um método efetivo para treinamento do

tema abordado durante a graduação médica.

Sohn et al (2007, p. 200) realizou um estudo comparativo através da

aplicação de testes de competência, exames e comentários pré e pós-simulação a

fim de avaliar a efetividade de um curso de reciclagem para médicos em zona de

combate. Os resultados demonstraram que o curso melhorou significativamente o

conhecimento e a confiança dos médicos em lidar com lesões de batalha.

E por fim, três artigos tiveram como objetivo comparar diferentes

metodologias de ensino e/ou tipos de manequins (DELASOBERA et al, 2010;

MCCOY et al, 2011; OWEN et al, 2006).

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Delasobera et al (2010, p. 218) realizou um estudo comparativo entre

diferentes metodologias de ensino (leitura, simulação e jogos multimídia) com

aplicação de pré-teste, pós-teste imediato e três semanas após a intervenção

(múltipla escolha e cenários clínicos simulados), questionário (pesquisa de opinião)

a fim de avaliar a efetividade do simulador de paciente e de ferramentas

educacionais de multimídia e obter a opinião dos estudantes a respeito da

implementação dessas inovações no currículo. De acordo com os resultados do

estudo, o simulador de alta fidelidade produziu melhor desempenho prático no

manejo do cenário de PCR, enquanto os vídeos e jogos de computador estão mais

relacionados à aquisição de conhecimento em longo prazo. Os estudantes

apreciaram as modalidades de ensino com simulação e multimídia e gostariam de

tê-las incorporadas no currículo.

McCoy et al (2011, p. 449-451) realizou um estudo comparativo entre

diferentes metodologias de ensino através de avaliação pós-intervenção em cenário

simulado com a finalidade de verificar se o treinamento com uso de simulador de

paciente ou a leitura didática tradicional é mais eficaz no ensino de médicos. O

treinamento com uso de simulador mostrou-se superior à leitura para ensinar os

estudantes de medicina do 4º ano no tema abordado.

Owen et al (2006, p. 205) realizou um estudo comparativo entre a utilização

de diferentes tipos de manequins com aplicação de pré-teste (questionário) e

avaliação prática em cenários pré-treinamento e avaliação pós-treinamento através

de questionário e análise de vídeo para testar a hipótese de que o ensino com a

utilização de simuladores de diferentes níveis tecnológicos tem resultados similares.

Os resultados demonstraram que houve aquisição de conhecimento nos cuidados

em emergências médicas, em habilidades clínicas e no comportamento dos

participantes do estudo independente do tipo de manequim utilizado no cenário

simulado.

Henneman et al (2010, p. 11) utilizou a simulação a fim de investigar os erros

ou quase erros cometidos por estudantes de enfermagem em ambiente simulado

através de um estudo retrospectivo. Os dados para análise foram extraídos de

gravações realizadas durante a simulação e categorizados em erro e quase erro. Os

tipos de erros foram codificados de acordo com cada categoria. Os resultados

mostraram que 100% dos estudantes cometeram pelo menos um erro durante os

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cenários clínicos simulados. Os erros foram categorizados em coordenação, quando

relacionados à comunicação; verificação, relacionados à identificação do paciente e

registro de informação de alergia; monitoração, relacionados à monitoração do

paciente crítico e reconhecimento dos achados anormais e intervenção,

relacionados ao tratamento (omissão, administração incorreta). Foi identificada baixa

habilidade dos estudantes em identificar o quase erro.

Hunt et al (2009, p. 819) utilizou a simulação como método avaliativo a fim de

determinar se residentes em pediatria do 1º e 3º ano conheciam o protocolo de

ressuscitação cardiopulmonar da AHA e se demonstravam diferença no nível de

desempenho durante os cenários simulados. Os resultados demonstraram que

poucos residentes em pediatria conheciam o protocolo de ressuscitação

cardiopulmonar da AHA e que não houve diferença significativa de desempenho

entre os residentes do 1º e 3º ano.

Wallace et al (2010, p. 874) utilizou a simulação para quantificar a divergência

entre o tempo necessário para ressuscitar simuladores de pacientes em cenário

simulado e o tempo necessário para realizar procedimentos em pacientes reais e

verificou que o tempo para ressuscitação em simuladores é o mesmo publicado para

ressuscitação de pacientes reais.

Tendo em vista a perspectiva de encontrar artigos que descrevessem a

elaboração de atividades pedagógicas que utilizassem a metodologia da simulação

com uso de manequins na área da saúde e que discutissem experiências educativas

nesta área, os artigos analisados mostraram que esta metodologia vem sendo

aplicada em diversos níveis de ensino, como na graduação, na pós-graduação e em

cursos de atualização (dentro ou fora do ambiente de trabalho) e em áreas temáticas

diversas que tem como foco o treinamento de equipes multidisciplinares, aquisição

de conhecimento clínico e de habilidades técnicas e não técnicas.

Quanto à identificação das potencialidades da simulação com manequim na

educação na área da saúde e dos desafios para sua implementação, os artigos

revelaram que o EBS possibilita ao estudante aprender e pôr em prática o que foi

aprendido em ambiente livre de riscos (cenário), aumentando a confiança do

profissional antes do atendimento ao paciente real. O principal desafio encontrado é

o custo que envolve o local, os manequins e os equipamentos necessários ao

treinamento.

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Os artigos selecionados para elaboração desta revisão identificaram como

principais potencialidades do uso da simulação no ensino na área da saúde: o

desenvolvimento e/ou aprimoramento de habilidades técnicas e não técnicas

(comunicação), avaliação de conhecimento e habilidades e o treinamento de

equipes multidisciplinares. Além disso, destacaram aspectos como a oportunidade

para os alunos aprenderem com os erros sem colocar em risco pacientes reais,

aumentando a confiança do profissional e a possibilidade do professor simular o

manejo de patologias incomuns, casos críticos e procedimentos invasivos em

ambiente livre de risco.

A principal limitação nessa área de estudo é a verificação da aquisição do

conhecimento e/ou habilidades e melhora no desempenho, realizada apenas em

cenários simulados, através da comparação entre pré e pós-teste, não sendo

desenvolvido estudo posterior com o profissional treinado em situação real a fim de

acompanhar integralmente o percurso de aplicação dessa metodologia. Além disso,

os artigos evidenciam os benefícios do EBS, mas não discutem os aspectos

cognitivos e de aprendizagem que fundamentam sua aplicação.

Desta forma, torna-se necessário o desenvolvimento de estudos que foquem

na busca de bases teóricas do campo da educação e da aprendizagem para

fundamentar e analisar esta prática pedagógica, sob o ponto de vista de suas

potencialidades e desafios de implementação.

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3 METODOLOGIA

3.1 CONTEXTO DO ESTUDO

O estudo foi realizado no Centro de Treinamento Avançado Rede D’Or São

Luiz, localizado no Rio de Janeiro e vinculado a uma rede de hospitais privados, e

teve início após aprovação do Comitê de Ética em Pesquisa institucional assim

como determina a Resolução 196/96, do Conselho Nacional de Saúde, do Ministério

da Saúde, para a realização de pesquisa com seres humanos.

Dentre os cursos oferecidos pelo Centro de Treinamento Avançado, foi

escolhido para desenvolver o estudo, o Curso de Atualização em Ressuscitação

Cardiopulmonar Avançado por utilizar cenários com discussão de casos clínicos

envolvendo conhecimento clínico e trabalho em equipe.

Este curso teve início em 2010 e desde então tem sido oferecido pela

instituição como parte do programa de atualização de médicos que trabalham na

Rede D’Or, treinando em média 370 médicos ao ano. É realizado ao menos uma vez

no mês e é de caráter obrigatório para os hospitais Acreditados assim como para os

hospitais que ainda estão em processo de Acreditação, já que é uma determinação

institucional que as equipes médicas estejam treinadas em ressuscitação

cardiopulmonar.

3.2 RELEVÂNCIA DOS CURSOS DE SUPORTE DE VIDA (LIFE SUPPORT)

A ressuscitação cardiopulmonar (RCP) é uma situação emergencial que

requer habilidades práticas e conhecimento científico. Porém, a tensão gerada em

uma situação de parada cardiorrespiratória, independentemente da experiência que

se tenha, inibe e dificulta o desempenho profissional e a aprendizagem durante os

procedimentos exigidos (SASSO & SOUZA, 2006), fazendo-se necessário que os

profissionais de saúde busquem qualificação contínua para desenvolver

competências e obter conhecimento.

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Além disso, as Doenças Crônicas Não Transmissíveis (DCNT) são as

principais causas de morte no mundo (63%), sendo a maioria delas atribuíveis às

doenças cardiovasculares, seguidas de neoplasia, diabetes e doenças respiratórias

crônicas (MS, 2011). No Brasil, as DCNT concentram 72,4% do total de óbitos,

sendo 31,2% referentes às doenças cardiovasculares, 16,2% às neoplasias, 5,8% às

doenças respiratórias e 5,2% às diabetes mellitus, segundo dados de 2009 do

Sistema de Informação de Mortalidade descritos na Apresentação do Plano de

Ações para enfrentamento das DCNT (MS, 2011). Diante desses números torna-se

imperativo a atualização constante dos profissionais de saúde em suporte de vida.

Os cursos de suporte de vida (Life Support) divulgados mundialmente são:

Suporte Básico de Vida (SBV) – Basic Life Support (BLS), Suporte de Vida

Avançado em Cardiologia (SAVC) – Advanced Cardiac Life Support (ACLS), Suporte

Avançado de Vida em Pediatria (SAVP) – Pediatric Advanced Life Support (PALS).

Foram introduzidos no Brasil há mais de 14 anos, como resultado da iniciativa

pioneira da Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC) por meio da Fundação do

Coração (FunCor) (PAZIN FILHO, 2007). Hoje, são oferecidos por centros de

treinamento de modo independente, porém vinculados a American Heart Association

(AHA), com sede nos Estados Unidos (TIMERMAN et al, 2006).

A AHA é uma organização norte-americana sem fins lucrativos, com sede em

Dallas, Texas, que tem como objetivo a promoção de cuidados ao sistema

cardiovascular para a redução da incapacidade e morte causada por doenças

cardiovasculares. Faz parte do Comitê Internacional de Ressuscitação (ILCOR),

fundado em 1992, juntamente com outras 6 instituições, a saber: European

Resuscitation Council (ERC), Heart and Stroke Foundation of Canada (HSFC),

Australian and New Zealand Committee on Resuscitation (ANZCOR), Resuscitation

Council of Southern Africa (RCSA), Inter-American Heart Foundation (IAHF), and the

Resuscitation Council of Asia (RCA). O Comitê tem a missão de identificar e revisar

o conhecimento científico internacional relacionado a ressuscitação cardiopulmonar

(CPR) e aos cuidados cardiovasculares emergenciais e oferecer recomendações de

tratamento consensuais. A cada 5 anos são realizadas conferências internacionais

para determinar os protocolos de atendimento a parada cardiorrespiratória (PCR) e

às emergenciais cardiovasculares (HAZINSKI et al, 2010). Essas recomendações

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são publicadas pela AHA e difundidas através dos cursos de suporte de vida

realizados por Centros de Treinamento espalhados pelo mundo.

Os cursos de suporte de vida são descritos de acordo com seus objetivos e

público-alvo, conforme quadro abaixo.

Quadro 1 – Descrição dos Objetivos e Respectivo Público-Alvo dos Cursos de Suporte de Vida

Tipo de Curso de

Suporte de Vida Objetivos Público-alvo

Suporte Básico de

Vida

“Basic Life Support”

SBV/ BLS

- Massagem cardíaca externa e

respiração substitutiva (todas as faixas

etárias)

- Desfibrilação externa automática

- Manuseio de situações de corpo

estranho

- população leiga em

geral

- profissionais da área

de saúde

Suporte Avançado

de Vida em

Cardiologia

“Advanced Life

Support”

(SAVC/ ACLS)

- Massagem cardiaca externa e

respiração substitutiva (adultos)

- Manutenção invasiva de via aérea

(intubação)

- Desfibrilação externa automática e

manual

- Situações emergenciais que podem

evoluir para parada cardíaca

- Situações emergenciais que requerem

diagnóstico e intervenção rápidos

(Síndromes Coronarianas Agudas e

Acidente Vascular Encefálico

- profissionais da área

de saúde *

Suporte Avançado

de Vida em

Pediatria

“ Advanced

Pediatric Life

Support”

(SAVP/ PALS)

- Massagem cardiaca externa e

respiração substitutiva

- Manuseio invasivo de via aérea

- Desfibrilação automática e manual

- profissionais da área

de saúde1

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1 No Brasil, por definição do Conselho Federal de Medicina, os procedimentos de desfibrilação

manual e manuseio de vias aéreas são exclusivos do profissional médico. Aos outros profissionais da área da saúde, é facultada a participação no curso e o ensino de princípios de utilização destas técnicas, mas é vetada sua execução (PAZIN FILHO et al, 2007).

3.3 METODOLOGIA DO CURSO DE RESSUSCITAÇÃO CARDIOPULMONAR OFERECIDO PELO CENTRO DE TREINAMENTO AVANÇADO REDE D’OR

O curso de Atualização em Ressuscitação Cardiopulmonar, oferecido pelo

Centro de Treinamento Avançado Rede D’Or, segue o modelo do curso ACLS

(Advanced Cardiac Life Support), desenvolvido pela American Heart Association

(AHA) e reconhecido como referência mundial na abordagem avançada de situações

de emergência cardiológica e ventilatória e da parada cardiopulmonar (PCR).

Tem como público-alvo médicos e enfermeiros que trabalham nos hospitais

da Rede D’Or e objetiva que cada participante, ao final do curso, seja capaz de:

aplicar eficientemente a reanimação cardiopulmonar básica e avançada, reconhecer

e abordar precocemente condições de pré-parada cardiorrespiratória, coordenar

eficientemente uma equipe multidisciplinar de atendimento a situações de parada

cardiorrespiratória, identificar e tratar inicialmente os principais ritmos cardíacos

potencialmente graves ou fatais, utilizar adequadamente o desfibrilador manual e

aplicar adequadamente as técnicas de ventilação através dos seguintes dispositivos:

ventilação bolsa-máscara, entubação orotraqueal, máscara laríngea e combitubo.

Previamente a realização do curso, é disponibilizada uma apostila com o

conteúdo que será abordado, a fim de que o aluno adquira o conhecimento

necessário à sua atuação junto ao cenário prático, durante a resolução de casos

clínicos.

O curso é realizado em dois dias consecutivos e tem duração total de treze

horas (programa do curso apresentado no (ANEXO 1). Metodologicamente está

composto por um pré-teste (aplicado antes do início das atividades teórico-práticas),

uma parte teórica (apresentação de um vídeo com as diretrizes da AHA para este

tema), uma parte prática (desenvolvimento de estações práticas com uso de

manequins onde são implementados casos clínicos) seguida de debriefing

(discussão dos casos abordados nas estações práticas) e um pós-teste (aplicado ao

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final do curso e contém as mesmas questões do pré-teste objetivando medir a

fixação dos conhecimentos adquiridos pelo aluno durante o curso). É certificado o

aluno que obtém nota maior ou igual a oito no pós-teste e atinge a proficiência na

avaliação prática. De acordo com a AHA, o certificado tem validade de dois anos,

sendo necessário curso de reciclagem após esse período para recertificação.

3.4 MATERIAIS E MÉTODOS

A população foi constituída por 13 médicos da Rede D’Or, que participaram

do curso de Ressuscitação Cardiopulmonar realizado nos dias 4 e 5 de maio de

2013, no qual foi utilizado o simulador artificial de paciente. As habilidades

desenvolvidas durante o curso (intubação, prescrição de medicamentos,

toracocentese) são de responsabilidade e competência do médico, por isso esse

profissional foi escolhido para constituir a população desta pesquisa.

Participaram do estudo o coordenador do curso, 40 anos, sexo masculino,

formado em medicina há 18 anos e instrutor de ACLS há 12 anos, três

instrutores/professores, dois do sexo masculino e uma do sexo feminino, com idades

entre 33 a 58 anos, formados em medicina no período entre 12 e 33 anos e

instrutores de ACLS no período entre 3 e 15 anos, e treze alunos, da mesma turma,

que, mediante assinatura prévia do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido

(TCLE), (ANEXO 2), aceitaram fazer parte da pesquisa. Foram realizadas

entrevistas com os instrutores e aplicados questionários aos alunos e ao

coordenador com a intenção de atender os objetivos propostos no estudo. O

questionário foi enviado ao coordenador por e-mail, devido a dificuldade de

agendamento de uma data para a realização de entrevista.

O questionário enviado por email ao coordenador foi composto de 8

perguntas abertas que tinham como objetivo conhecer o processo de planejamento

do curso e as dificuldades encontradas em sua operacionalização, assim como suas

visões a respeito das vantagens e desvantagens do EBS (ANEXO 3).

As entrevistas realizadas com os professores/instrutores tiveram como base

um roteiro composto por 5 perguntas abertas que tinham como objetivo obter suas

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visões sobre as potencialidades (vantagens) e desafios (limitações) do EBS,

especialmente no que diz respeito ao curso analisado, captar informações a respeito

das dificuldades encontradas na condução das estações práticas, conhecimentos

mobilizados durante a aula para a aquisição dos objetivos específicos do curso e

importância dessa metodologia de ensino-aprendizagem na educação médica

(ANEXO 4).

Junto aos alunos, o questionário semiaberto aplicado continha 12 questões

que tinham como objetivo saber qual a motivação que os levaram a fazer o curso,

conhecer as expectativas a cerca do curso e se estas foram atendidas, conhecer as

dificuldades encontradas durante o curso, conhecer a opinião dos alunos a cerca da

utilização de simuladores de pacientes e atuação em cenários práticos, saber se

conhecimentos e habilidades foram adquiridos ou aprimorados durante o curso,

saber se na opinião dos alunos o ensino com auxílio de manequins apresenta

alguma vantagem sobre o ensino tradicional, saber se eles acreditam ser possível a

aplicação dos conhecimentos adquiridos durante o curso em ambiente real,

conhecer quais os elementos do curso eles julgam terem sido favoráveis para a

aprendizagem. (ANEXO 5).

A autora acompanhou o processo de condução do curso a fim de relacionar o

que foi observado durante as aulas com as perspectivas do coordenador, dos

instrutores/professores e dos alunos e, sobre tudo, analisar o processo de

implementação do curso, buscando identificar as potencialidades do uso do EBS,

como a integração dos alunos e o trabalho em equipe, a comunicação, o

desenvolvimento de habilidades e do raciocínio clínico, entre ouras. Para isso, será

utilizado um roteiro de observação (ANEXO 6) contendo os aspectos pedagógicos

do EBS relacionados neste trabalho.

Esta pesquisa encontra-se aprovada pelo Comitê de Ética em Pesquisa da

Rede D’Or São Luiz S.A. e inscrito na Plataforma Brasil (CAAE:

11840712.5.0000.5249; parecer 178.662).

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3.4.1 Método de análise dos questionários e das entrevistas

O procedimento metodológico que orientou a análise das falas dos

participantes envolvidos no estudo (coordenador, professores e alunos) foi a análise

de conteúdo. Segundo Espíndola (2010), com base em autores como Bardin (2004),

Franco (2007) e Macedo (2006), este método:

consiste num meio para estudar a comunicação entre atores sociais que parte do que está escrito ou falado nas mensagens, seja explícito ou latente, reunindo um conjunto de recursos procedimentais, mas que não dispensa a inspiração filosófica e teórico-epistemológica. (ESPÍNDOLA, 2010, p. 86).

Embora tradicionalmente a análise de conteúdo tenha se originado de uma

vertente filiada a pressupostos positivistas (ESPÍNDOLA, 2010), alguns autores

(BARDIN, 2004; FRANCO, 2007; MACEDO, 2006; MINAYO, 2003) a re-situam no

contexto da pesquisa qualitativa, incorporando técnicas de inspiração lingüística,

além da tradicional categorização para tratamentos estatísticos. Em todo o processo

de análise de uma ação comunicativa, temos que considerar a complexidade do

contexto de manifestação de percepções através de falas em uma entrevista. Esse

contexto envolve a interação entre o pesquisador e os sujeitos da pesquisa, a

influência ideológica e idealizada provável nesta interação e os impactos que

provocam (ESPÍNDOLA, 2010). Muitas vezes, por exemplo, os participantes

esperam do pesquisador determinadas concepções ou podem vê-lo como detentor

de maior sabedoria no assunto e ficarem intimidados em expressar suas opiniões.

Pode ser também que o entrevistado veja esse momento como uma oportunidade

de falar e ser ouvido, como uma deferência ao seu trabalho. A forma como o

entrevistado percebe o momento da entrevista pode definir como ele estabelece a

relação com o pesquisador e consequentemente sua narrativa sobre o objeto de

pesquisa (SZYMANSKI, 2008).

Concordamos com Macedo (2006) quando discute que os resultados da

análise de conteúdo devem refletir os objetivos da pesquisa e ter como apoio

indícios manifestos e capturáveis no âmbito do corpus em estudo, sem assumirmos

que os resultados expressam todas as percepções dos entrevistados sobre suas

experiências.

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As entrevistas realizadas foram gravadas, transcritas e analisadas com base

no método de análise de conteúdo do tipo “análise temática” (FRANCO 2007;

MACEDO, 2006; MINAYO, 2003, 2008). Segundo Bardin (2004), o tema é a unidade

de significação que pode ser identificada no texto analisado segundo critérios

relativos à teoria que serve de guia à leitura. Dessa forma, fazer uma análise

temática consiste em descobrir os núcleos de sentido que compõem uma

comunicação, cuja presença signifique alguma coisa para o objeto analítico visado.

Operacionalmente a análise dos dados seguiu as etapas básicas: pré-análise;

descrição, exploração e interpretação dos dados (BARDIN, 2004; FRANCO, 2007;

MACEDO 2006; MINAYO 2003, 2008).

Durante a pré-análise, foram transcritas as entrevistas realizadas com os

instrutores/professores e digitalizadas as respostas abertas coletadas com os

questionários dos alunos. As respostas do coordenador foram coletadas já em

arquivo digital. Após as transcrições, iniciou-se o processo de “leitura flutuante” para

tomar contato “direto e intenso” (BARDIN, 2004) com o material de análise. A partir

dessas leituras foi possível ter uma visão do conjunto do corpus e suas

particularidades, retomar os objetivos e iniciar a identificação dos temas.

Com a etapa de exploração do material, optou-se, inicialmente, por

estabelecer e organizar os temas de acordo com os objetivos que orientaram os

roteiros das entrevistas e as perguntas dos questionários (Quadros 2, 3 e 4). A

interpretação e análise dos temas resultou em subtemas (Quadro 2, 3 e 4), os quais

buscamos ilustrar com falas representativas, como pode ser observado no Capítulo

de Resultados.

Quadro 2: Relação de temas e subtemas analisados com o questionário aplicado ao coordenador do curso

Temas Subtemas

Objetivos e

Etapas do curso

Dificuldades de

operacionalização

- Em relação à infraestrutura (espaço inadequado, a baixa

fidelidade dos manequins ou do próprio ambiente)

- Em relação aos alunos (heterogeneidade, desmotivação,

ausência de preparo teórico prévio)

- Em relação aos professores/instrutor (deficiência de

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Temas Subtemas

conhecimento teórico, dificuldade em conduzir grupos de

alunos ou de criar um ambiente realista e motivador)

Vantagens do

EBS

- Segurança da aprendizagem sem trazer danos ao paciente

- Possibilidade de repetir situações até que se consiga atingir

a qualidade na execução dos procedimentos

- Capacidade de criar cenários raros

Desvantagens do

EBS

- Baixa fidelidade dos manequins,

- Custo elevado dos equipamentos

Quadro3: Relação de temas e subtemas analisados com as entrevistas realizadas com os instrutores/professores

Temas Subtemas

Motivação para

a utilização de

manequins no

curso

- Necessidade em articular teoria e prática

- Dificuldade em ensinar no paciente real

- Importância em criar um ambiente de aprendizagem o mais

similar possível com o cenário real

Vantagens do

EBS

- Reprodução de um cenário da vida real

- Transformação do conhecimento teórico em atitudes reais

Desvantagens

do EBS

- Dedependência de conhecimentos prévios dos alunos

- Dificuldade de abordar casos de exceção

Dificuldades

encontradas na

Condução das

Estações

Práticas

- Em relação à infra-estrutura (qualidade dos manequins, o

material hospitalar disponível e o ambiente adequado ao

ensino)

- Dependência do conhecimento prévio do aluno

- Dificuldade dos alunos em vivenciar a simulação como uma

situação clínica real

Conhecimentos

Mobilizados ao

longo do curso

- Conhecimentos sobre Algoritmos do suporte avançado de

vida, Eletrocardiograma, Anatomia, Fisiologia e farmacologia

- Habilidades práticas como compressões torácicas e

ventilações, manuseio de vias aéreas e do desfibrilador

Importância do - Articulação entre teoria e prática

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Temas Subtemas

EBS para a

Educação

Médica

- Ensino de situações pouco frequentes ou urgentes

- Permite ao aluno aprender com os erros sem trazer

malefícios ao paciente real

Quadro 4: Relação de temas e subtemas analisados com os questionários aplicados aos alunos

Temas Subtemas

Motivação para

a realização do

curso

- Aprimoramento dos conhecimentos acerca do tema em

geral

- Atualização sobre as diretrizes do AHA para o suporte

avançado de vida em cardiologia

- Aprimoramento de habilidades para realização correta de

compressões torácicas e/ou ventilações de resgate com e

sem via aérea avançada

- Aquisição de novos conhecimentos

Conhecimentos

Mobilizados ao

longo do curso

-Sequência do suporte básico de vida e protocolo de drogas

utilizadas no suporte avançado de vida

-Infusão das drogas durante a parada cardiorrespiratória e

diferença entre desfibrilação e cardioversão elétrica

sincronizada

-Algoritmos do suporte avançado de vida

-Interpretação de ritmos de parada e arritmias cardíacas

-Trabalho em equipe e comunicação em alça fechada

-Compressões torácicas

-Reconhecimento dos ritmos cardíacos

-Habilidades específicas do protocolo de reanimação

cardiopulmonar

Vantagens do

EBS em

relação às

aulas

expositivas

-Redução de erros médicos

-Apoio na atuação do profissional em emergências médicas

-Treinamento em equipe.

- Possibilidade de vivencia prática

-Aulas didáticas e dinâmicas (facilitam fixação dos conteúdos

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Temas Subtemas

e aperfeiçoamento das habilidades)

Elementos do

curso

favoráveis a

aprendizagem

-Qualificação dos instrutores

-Simulação com utilização de manequins e de traçados

eletrocardiográficos representativos de ritmos críticos

-Discussão de casos clínicos reais e atuais

Dificuldades

encontradas na

realização do

curso

-Manuseio das drogas

-Sistematização do atendimento

-Ansiedade perante o grupo

-Memorização dos protocolos

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4 RESULTADOS

Este capítulo tem como objetivo apresentar os resultados obtidos através das

observações de campo realizadas pela autora, durante o curso de Atualização em

Ressuscitação Cardiopulmonar, oferecido pelo Centro de Treinamento Avançado

Rede D’Or, do questionário preenchido pelos alunos após o término do curso e das

entrevistas realizadas com os instrutores que ministram esse curso.

4.1 RESULTADOS OBTIDOS ATRAVÉS DAS OBSERVAÇÕES DE CAMPO

O acompanhamento do curso foi realizado em maio de 2013 com o intuito de

observar a dinâmica de sua implementação, buscando identificar as reações dos

alunos frente os cenários de simulação, o desenvolvimento de habilidades e do

raciocínio clínico, o desempenho do trabalho em equipe e a interação entre alunos e

instrutores.

4.1.1 Primeiro dia

Inicialmente, o instrutor apresentou o curso, introduzindo o tema e informou

os objetivos a serem alcançados. Em seguida, os alunos realizaram um pré-teste

composto por vinte e cinco questões de múltipla escolha, sendo cinco relacionadas

ao suporte básico de vida (BLS), duas relacionadas ao manuseio das vias aéreas,

uma relacionada aos ritmos cardíacos, duas relacionadas a conceitos de trabalho

em equipe e quinze relacionadas aos algoritmos do suporte avançado de vida. Após

o teste, os alunos assistiram um vídeo, com as diretrizes da AHA sobre o tema.

A seguir, a turma composta por dezoito pessoas foi dividida em dois grupos

de nove alunos cada. Um grupo foi direcionado à estação prática de BLS (Basic Life

Support) e o outro à estação prática de Vias Aéreas. Mais tarde, os grupos trocaram

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de estação a fim de que todos os alunos tivessem contato com os conteúdos

apresentados em ambas as estações.

A estação prática de BLS tem como objetivos: reconhecimento da parada

cardiorrespiratória através da avaliação do nível de consciência, verificação da

respiração e checagem do pulso; administração eficiente de ventilações de resgate

(com a utilização de ambú) e aplicação de compressões torácicas eficazes e

manuseio do desfibrilador externo automático. Nesta estação, é utilizado o simulador

MegaCode Kelly (Laerdal ®) e o desfibrilador monofásico CodeMaster (HP).

O instrutor iniciou a estação com uma demonstração prática do algoritmo do

suporte básico de vida no manequim (identificação da parada, solicitação de ajuda,

compressões torácicas, ventilação de resgate e desfibrilação) e em seguida os

alunos praticaram em dupla as habilidades demonstradas no manequim.

Esse foi o primeiro contato dos alunos com o cenário prático. O instrutor

narrou um caso clínico, no qual o paciente, representado pelo manequim,

apresentava uma parada cardiorrespiratória. Nesse momento, um aluno, escolhido

previamente, iniciou o algoritmo do suporte básico de vida, através da checagem da

responsividade e movimentos respiratórios do paciente/manequim e solicitou ajuda.

Enquanto outro aluno encaminhava-se ao cenário para ajudá-lo, o primeiro checou o

pulso carotídeo e, em seguida, iniciou as compressões cardíacas. Então, o segundo

aluno dirigiu-se à cabeceira da maca a fim de ventilar o paciente com auxílio da

bolsa-valva-máscara. Ao terminar o ciclo de ressuscitação cardiorrespiratória,

realizaram a checagem do pulso e trocaram de posição para reiniciar as

compressões. Ao final de mais um ciclo, foi finalizado o atendimento, com êxito na

ressuscitação.

Foi observado empenho dos alunos em tentar realizar as manobras como

ventilação e compressões cardíacas de forma correta. Quando necessário, o

instrutor interferiu corrigindo o posicionamento do médico socorrista, a colocação

das mãos sobre o tórax do paciente de forma adequada, a intensidade e frequência

das compressões e as interrupções para a ventilação com a bolsa-valva-máscara a

fim de que executassem o procedimento corretamente.

Em seguida, o instrutor ensinou aos alunos sobre o manuseio do desfibrilador

manual e mostrou, no monitor, os ritmos eletrocardiográficos de situações de parada

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e de pré-parada, a fim de prepará-los para as estações práticas de casos clínicos

abrangidos pelo ACLS.

Concomitantemente à estação de BLS, ocorria, em outra sala, a estação

prática de vias aéreas que tem como objetivo treinar habilidades práticas de

entubação orotraqueal com dispositivos diversos tais como: o tubo endotraqueal, a

máscara laríngea e o combitubo. Nesta estação, o manequim utilizado é o Airway

Management Trainer (Laerdal ®).

Primeiramente, o instrutor apresentou aos alunos os dispositivos para

manuseio de vias aéreas, demonstrando em seguida, a técnica de intubação no

manequim. Depois, cada aluno praticou o procedimento no manequim utilizando os

diversos dispositivos disponíveis.

Todos os alunos demonstraram interesse em manusear os materiais e

praticar a habilidade. De forma geral, os alunos apresentaram graus de dificuldade

diferentes. Os acadêmicos de medicina, por exemplo, não sabiam montar um

laringoscópio, outros médicos não sabiam manusear uma máscara laríngea, ou um

combitubo ou um tubo infra glótico, mas todos tiveram oportunidade de praticar os

procedimentos nos manequins repetidas vezes com a orientação do instrutor e

adquirir essas habilidades.

Ambas as estações práticas descritas tem como finalidade o treinamento de

habilidades motoras, apesar da estação de BLS envolver casos clínicos simples,

onde o paciente encontra-se em parada cardiorrespiratória, a fim de ambientar o

aluno no cenário hospitalar.

Ao final das duas estações, houve um intervalo para o almoço. Ao retornar, os

grupos passaram por mais duas estações práticas, ambas envolvendo a resolução

de casos clínicos iniciados por pré-parada e que evoluíam para parada

cardiorrespiratória com base nos algoritmos (protocolos) descritos pela AHA. Uma

estação prática abordou casos de fibrilação ventricular (FV), taquicardia ventricular

sem pulso (TV sem pulso), assistolia e atividade elétrica sem pulso e a outra

abordou casos de bradicardia e taquicardias estáveis e instáveis. Nas estações

foram utilizados os manequins MegaCode Kelly (Laerdal ®) e ALS Simulator

(Laerdal ®), desfibrilador monofásico CodeMaster (HP) e dispositivos de intubação e

ventilação (ambú, máscara de Venturi, tubo orotraqueal, guia de entubação,

laringoscópio e lâmina).

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O instrutor explicou o funcionamento das estações práticas e revisou os

algoritmos. Depois, indicou um aluno para desempenhar cada função da equipe de

ressuscitação (um para liderança, um para administração de medicamentos e

desfibrilação, um para ventilação e dois para alternar as compressões torácicas) e

em seguida apresentou um caso clínico para que fosse desenvolvido pela equipe em

questão:

“Você está de plantão na emergência e chega um homem de

65 anos referindo palpitação.”

Diante do caso clínico exposto, o aluno líder iniciou a avaliação do “paciente”

através da anamnese:

“O que o senhor está sentindo? O senhor tem doença do

coração?”

O instrutor respondeu como se fosse o paciente:

“Estou sentindo palpitação e falta de ar, tenho doença do

coração, coloquei um stent no ano passado.”

Então o aluno solicitou à equipe que monitorizasse o paciente, instalasse o

oxigênio e obtivesse acesso venoso. Os sinais vitais eram: FC= 170, PA= 110 x 70 e

FR= 16. O aluno identificou o ritmo presente no monitor como uma taquicardia

regular com complexos estreitos. Frente a esses parâmetros, foi necessário que

fizesse o diagnóstico corretamente a fim de iniciar o tratamento com base no

algoritmo da AHA para taquicardia ventricular estável.

Ao longo do atendimento, o paciente evoluiu para uma fibrilação ventricular

súbita, fazendo com que o aluno identificasse o novo ritmo no monitor e passasse

para o novo algoritmo de tratamento. Após chocar o paciente, este desenvolveu uma

atividade elétrica sem pulso (AESP), exigindo do aluno a identificação ao monitor do

novo ritmo para implementação do algoritmo correto. Ao final do cenário o paciente

sobreviveu, pois o aluno identificou os ritmos cardíacos corretamente e aplicou os

algoritmos adequados a cada situação. Antes de encerrar o cenário o aluno indicou

os cuidados pós-parada segundo o algoritmo da AHA.

O aluno líder foi o responsável pela condução das ações dos outros alunos,

membros da equipe, e pela resolução do caso clínico exposto, enquanto os outros

membros puderam treinar habilidades específicas às suas funções (ventilação,

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entubação, compressões torácicas, desfibrilação e administração de medicamentos)

e tiveram oportunidade de fazer intervenções construtivas durante o

desenvolvimento dos casos.

Todos os alunos passaram por todos os papéis dentro da equipe de

ressuscitação. Para cada caso clínico, um aluno era escolhido líder, e os membros

da equipe trocavam de função. Ao final de cada caso foi realizado um debriefing com

o objetivo de revisar o cenário clínico e discutir as condutas tomadas pelo líder com

base nos algoritmos. Nesse momento, os alunos refletiram sobre o caso,

identificando seus erros e acertos. Da mesma forma que anteriormente, os grupos

trocaram de estação a fim de que todos os alunos tivessem contato com os

conteúdos apresentados em ambas as estações.

Esse tipo de cenário prático envolveu efetivamente a resolução de casos

clínicos, assim como o trabalho em equipe. Para isso, foi necessário que os alunos

elaborassem um raciocínio com base em aprendizagem prévia (conceitos de

anatomia, farmacologia, fisiologia e algoritmos da AHA) e buscassem informações

sobre o paciente para que pudessem obter êxito na realização dos esforços em

mantê-lo “vivo”.

Alguns alunos apresentaram dificuldade em participar da simulação como se

esta fosse um fato real e por isso fizeram brincadeiras ao longo do desenvolvimento

da atividade. Mesmo assim, foi percebido empenho de todos os alunos em cumprir

as tarefas determinadas pelo instrutor, como desempenhar as habilidades práticas e

concluir com êxito os casos clínicos propostos. Além disso, todos trabalharam em

equipe, e tiveram boa interação durante os cenários práticos.

Em alguns momentos, durante as estações práticas, foi necessário que o

instrutor revisse conceitos de farmacologia, fisiologia e anatomia a fim de que os

alunos pudessem resolver o caso clínico proposto, através da implementação de

ações terapêuticas junto ao manequim. Um desses momentos aconteceu durante a

exposição de um caso em que o paciente apresentou uma parada cardiorrespiratória

com o ritmo de AESP por pneumotórax. Os alunos envolvidos no caso não

conseguiram diagnosticar a causa da parada (penumotórax) e consequentemente

não obtiveram êxito no tratamento, levando o paciente a “morte”. Frente a isso, o

instrutor interrompeu o cenário e iniciou o debriefing. Neste momento foi possível

resgatar conceitos prévios necessários à identificação da causa primária da parada.

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4.1.2 Segundo dia

Aconteceram duas estações práticas, denominadas “juntando tudo”, cada

uma acompanhada por um instrutor, com objetivo de realizar cenários que

abordassem todos os conceitos estudados durante o curso, preparando os alunos

para a avaliação prática. Em seguida, foi realizado o pós-teste e por fim a avaliação

prática.

Na avaliação prática, o aluno a ser avaliado foi o líder da equipe de

ressuscitação. Por isso, teve que ser capaz de tomar decisões baseadas no

algoritmo do suporte avançado de vida a fim de resolver os casos clínicos propostos

pelo instrutor. Este, por sua vez, acompanhou o aluno preenchendo um checklist de

ações que precisavam ser realizadas pelo aluno líder. Durante a prova, os outros

membros da equipe, que executaram as tarefas determinadas pelo líder, não

puderam fazer intervenções construtivas.

Diferente do clima vivenciado nas estações práticas, durante a prova prática,

os alunos ficaram muito nervosos por estarem sendo avaliados. Houve silêncio e

concentração. Os membros da equipe apenas executaram o que o líder solicitou e

em alguns momentos o instrutor fez algumas perguntas a fim de guiar o raciocínio

do aluno-líder na resolução do caso clínico proposto.

4.2 RESULTADOS OBTIDOS POR MEIO DE QUESTIONÁRIO ELETRÔNICO COM O COORDENADOR DO CURSO

O questionário, composto por questões abertas, foi respondido pelo

coordenador do curso de Atualização em Reanimação Cardiopulmonar em agosto

de 2013 e buscou conhecer o processo de planejamento de um curso que utiliza o

EBS e levantar sua opinião a cerca do uso dessa metodologia na Educação Médica.

O questionário foi enviado ao coordenador por e-mail, devido a dificuldade de

agendamento de uma data para a realização de entrevista.

Os temas abordados no questionário (ANEXO 3) foram: planejamento do

curso de Ressuscitação Cardiopulmonar, etapas de realização e objetivos,

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dificuldades encontradas na condução das estações práticas e vantagens e

desvantagens do ensino baseado em simulação. A seguir apresenta-se a análise da

entrevista exemplificada pela fala do coordenador do curso.

4.2.1 Planejamento do curso, etapas de realização e objetivos a serem alcançados

O coordenador explicou que o modelo utilizado no curso de Ressuscitação

Cardiopulmonar é padronizado e vastamente conhecido pelos instrutores, não

oferecendo dificuldades para o planejamento nem para sua implementação:

“Nesse modelo, as estações práticas são conduzidas através da utilização de manequins de alta fidelidade em cenários que procuram recriar um ambiente o mais fiel possível à realidade que o profissional irá encontrar no seu dia-a-dia. Ao final de cada cenário ocorre um debriefing técnico do caso em questão permitindo a auto-análise do aluno líder e dos outros alunos envolvidos sobre as ações tomadas no decorrer daquele cenário. Ao final do curso, cada aluno é avaliado individualmente através de um cenário exclusivo, chamado megacode, onde deverá apresentar proficiência nos cenários trabalhados ao longo do curso.”

Para ele, é importante que os alunos assumam, ao longo das estações

práticas, o papel de líder do atendimento nos cenários de parada cardiopulmonar

propostos:

“Enfatiza-se muito atualmente a questão da liderança dentro da equipe de atendimento como um elemento fundamental na organização e otimização da dinâmica de equipe e dos diversos componentes que compõe um atendimento bem sucedido.”

O entrevistado elencou como principal objetivo do curso a capacitação de

profissionais na prestação de um atendimento de alto desempenho em situações de

parada cardiorrespiratória, assim como em situações de “pré-parada”, que incluem

ritmos taquicárdicos ou bradicárdicos. Como alto desempenho, definiu:

“(...) a identificação rápida do cenário e o acionamento de suporte (equipe, carrinho de parada, desfibrilador), a execução de massagem cardíaca de alta qualidade, com a técnica correta e o mínimo de interrupções possíveis, passando pela desfibrilação precoce e pelo uso correto das drogas, até os cuidados pós-retorno da circulação espontânea, que incluem a indicação da angioplastia primária e da hipotermia.”

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Para que esse objetivo seja alcançado, ressaltou a importância do aluno

estudar previamente o material disponibilizado, a fim de adquirir conceitos teóricos

que serão utilizados no momento da prática junto ao manequim:

“É necessário que os conceitos teóricos já estejam mais sedimentados, permitindo que o tempo de curso seja utilizado basicamente com estações práticas e checagem de dúvidas.”

4.2.2 Dificuldades encontradas na condução das estações práticas

Sobre as dificuldades encontradas na condução das estações práticas

relacionou três questões distintas:

a) Quanto ao ambiente: espaço inadequado, a baixa fidelidade dos

manequins ou do próprio ambiente;

b) Quanto aos alunos: heterogeneidade, desmotivação, ausência de

preparo teórico prévio;

c) Quanto ao instrutor: deficiência de conhecimento teórico, dificuldade

em conduzir grupos de alunos ou de criar um ambiente realista e

motivador:

“O momento que exige maior maturidade é lidar com a extrema diversidade de conhecimento e experiência dos alunos, muitas vezes formando grupos extremamente heterogêneos e que demandam uma grande flexibilidade do instrutor para adequar cenários e discussões atingindo um patamar mínimo de expertise para todos.”

“(...) existem algumas características que julgo necessárias ao instrutor como: o domínio teórico do conteúdo, o domínio de técnicas de criação de cenários realistas, o domínio da condução de grupos, identificando situações que precisam ser corrigidas de imediato (alunos dominadores, apáticos, estrela, dissipativos, com carências conceituais, etc) e o domínio na condução de técnicas de debriefing.”

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4.2.3 Vantagens e desvantagens do ensino baseado em simulação

A respeito das vantagens do ensino baseado em simulação, o entrevistado

citou: a segurança da aprendizagem sem trazer danos ao paciente, a possibilidade

de repetir situações até que se consiga atingir a qualidade na execução dos

procedimentos e capacidade de criar cenários raros. E quanto as desvantagens

dessa metodologia, destacou a baixa fidelidade dos manequins, apesar da

progressiva melhoria e evolução tecnológica destes e o custo ainda elevado destes

equipamentos.

4.3 RESULTADOS OBTIDOS COM A REALIZAÇÃO DAS ENTREVISTAS COM INSTRUTORES DO CURSO

As entrevistas foram realizadas em maio de 2013 com três instrutores do

curso de Atualização em Reanimação Cardiopulmonar, credenciados pela American

Heart Association. A entrevista seguiu um roteiro de perguntas abertas que

buscaram levantar a percepção dos instrutores a cerca das potencialidades e

desafios do EBS na Educação Médica.

As perguntas que compunham a entrevista (ANEXO 4) foram organizadas em

temas a fim de sistematizar a apresentação: utilização de manequins no curso de

Ressuscitação Cardiopulmonar, vantagens e desvantagens do ensino baseado em

simulação, dificuldades encontradas na condução das estações práticas,

conhecimentos mobilizados durante as aulas e importância do EBS na educação

médica. A seguir apresenta-se a análise das entrevistas exemplificada pelas falas

dos instrutores.

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4.3.1 Motivação para a utilização de manequins no curso de ressuscitação cardiopulmonar

Ao serem questionados sobre a razão de utilizar a simulação com manequins

no ensino deste tema, os entrevistados pontuaram a necessidade em associar a

teoria à prática de habilidades específicas (n=1; 33%), a dificuldade em ensinar no

paciente real (n=1; 33%) e a importância em criar um ambiente de aprendizagem o

mais similar possível com o cenário real (n=1; 33%):

“(...) Não adianta ter apenas o conhecimento teórico do que fazer se não há possibilidade de treinar a manobra para que ela seja efetiva para se chegar ao objetivo final que é a ressuscitação do paciente”. (I2)

“(...) É difícil ensinar isso no paciente, uma vez que os conhecimentos têm que ser sedimentados na forma de algoritmos, guidelines muito bem definidos, e ensinar isso a beira do leito, seria impossível porque implicaria em passear por todas essas situações (...)”. (I1)

“(...) A gente treina aqui cenários de emergência médica, talvez aquele que mexe mais com as pessoas porque envolve parada cardíaca ou iminência de parada e quanto mais conseguirmos nos aproximar desse cenário, que é um cenário estressante, no qual as pessoas ficam nervosas e preocupadas, mais chance tem da pessoa na vida real conseguir desempenhar aquilo que propõe o modelo teórico(...)”. (I3)

4.3.2 Vantagens e desvantagens do ensino baseado em simulação

Sobre as vantagens do ensino baseado em simulação, tendo o curso de

Ressuscitação Cardiopulmonar como exemplo, os entrevistados destacaram: a

reprodução de um cenário da vida real com diversas possibilidades de abordagem

dentro do tema e transformação do conhecimento teórico em atitudes reais (n=3;

100%):

“(...) Você tenta criar um ambiente, o estilo de um paciente, uma patologia que a pessoa vá ver no dia-a-dia e isso torna a simulação muito interessante (...)”. (I3)

“(...) O manequim, na grande maioria das vezes, simula com perfeição a situação que você está propondo e o aluno se vê diante dessa situação a

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qual é obrigado a resolver baseado no guideline que já tem como conhecimento prévio e, em cima disso, consegue desenvolver o raciocínio clínico de maneira clara, modificando as situações de acordo com a necessidade (...)”. (I1)

“(...) Por mais que eu tenha o conhecimento teórico, durante a simulação eu tenho a possibilidade de vivenciar todas as vantagens e desvantagens de qualquer intervenção, simulando casos reais que permitem estar mais perto da realidade que vou encontrar (...)”. (I2)

A respeito das desvantagens do ensino baseado em simulação, tendo o curso

de Ressuscitação Cardiopulmonar como exemplo, os entrevistados citaram: a

dependência de conhecimentos prévios do aluno para aplicação prática (n=1; 33%),

a dificuldade em vivenciar a simulação como um ambiente real (n=1; 33%) e da

abordagem de todos os casos de exceção (n=1; 33%):

“(...) A proposta desse modelo não é que se dê aula daquele assunto (...) Eu dependo do conhecimento prévio do aluno para que o modelo renda, porque se não sou obrigada a parar, engessada na explicação do guideline, sem conseguir progredir nas diversas possibilidades de aprendizado que ele poderia ter se já viesse com esse conhecimento sedimentado (...)”. (I1)

“(...) Infelizmente esse ensino ainda está muito restrito aos cursos de suporte de vida, não fazendo parte do ensino do profissional da área de saúde. Então quando o aluno vem para a simulação, geralmente, não tem o hábito e encontra dificuldade em tentar fazer daquele momento a simulação de um momento real da vida profissional dele e, por isso, sente-se muito distanciado do fato real. Ele percebe aquilo muito mais como uma encenação do que um replicar do que ele encontrará no seu dia-a-dia”. (I2)

“(...) Por estar em área de treinamento, a pessoa fica relaxada, se desconcentra, brinca, e, às vezes, não tem o mesmo desempenho que teria na vida real (...) outro problema é que nem sempre conseguimos abordar todas as exceções (...) Nas situações de exceção, você depende do ensino teórico para poder saber o que faria em situações extra usuais (...)”. (I3)

4.3.3 Dificuldades encontradas na condução das estações práticas

Em relação às dificuldades encontradas na condução das estações práticas

do curso de Ressuscitação Cardiopulmonar, os entrevistados relataram: questões

estruturais, como a qualidade dos manequins, o material hospitalar disponível e o

ambiente adequado ao ensino (n=1; 33%); dependência do conhecimento prévio do

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aluno (n=1; 33%) e da capacidade que ele tem em vivenciar a simulação como uma

situação clínica real (n=1; 33%):

“(...) Ele pode adquirir dois comportamentos críticos: um, ele não se envolve porque encara aquilo como uma brincadeira, desprezando o aprendizado que aquilo dali poderia trazer a ele. E o outro extremo seria o aluno impactar tanto com o manequim e não querer manuseá-lo (...)”. (I1)

“(...) A falta de conteúdo do aluno atrapalha o andamento da atividade. Quanto mais conteúdo um aluno tem, se o grupo estudou bastante, melhor fluirá o ensinamento (...)”. (I3)

“(...) Deve-se criar espaços que tenham a maior semelhança possível com o ambiente de trabalho do profissional, porque isso o coloca num contexto mais próximo do dia-a-dia e certamente permite que ele vença a dificuldade de entrar no clima da simulação (...)”. (I2)

4.3.4 Conhecimentos mobilizados durante as aulas

Segundo os entrevistados, os conhecimentos mobilizados durante o curso de

Ressuscitação Cardiopulmonar são basicamente os algoritmos do suporte avançado

de vida (n=3; 100%). Porém, para que os alunos consigam aplicá-los durante a

simulação são necessários conhecimentos sobre eletrocardiograma, anatomia,

fisiologia e farmacologia (n=1; 33%). Além disso, estão envolvidas habilidades

práticas como compressões torácicas e ventilações, manuseio de vias aéreas e do

desfibrilador (n=1; 33%):

“(...) Na verdade, quando você vai simulando e criando casos, vão surgindo dúvidas, você vai aguçando o questionamento sobre coisas que começam na própria fisiologia (...) Na verdade, a simulação tem um contexto bastante completo, que gera discussão acerca do doente como um todo, sobre o processo patológico, o processo fisiológico (...) Na verdade, você mobiliza conhecimento bem maior do que apenas aqueles que estão contidos no guideline”. (I2)

“(...) Os cursos baseados em simulação oferecem ao aluno um manual ou um link para que ele estude o conteúdo proposto e aplique às situações clínicas que serão abordadas durante a simulação (...) se a turma é tão boa que detém um conhecimento mais amplo, eu consigo elevar o nível do curso e explorar situações especiais, também contidas no material enviado, aumentando o raciocínio clínico e a visão dos alunos em relação aos doentes críticos (...)”. (I1)

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“(...) A gente precisa que eles reconheçam uma parada ou um ritmo pré-parada (...) Ele precisa ter conhecimento de várias pequenas áreas da medicina (...) abrange eletro, abordagem ao paciente, reconhecimento de sinais vitais, manuseio de vias aéreas, massagem cardíaca externa e drogas que serão utilizadas nos diversos cenários”. (I3)

4.3.5 Importância do ensino baseado em simulação na educação médica

Na opinião dos instrutores entrevistados, o ensino baseado em simulação tem

uma grande importância na educação médica: aproxima a teoria à prática (n=1;

33%), possibilita o ensino e a prática de situações pouco frequentes ou urgentes

(n=2; 66%), favorece o surgimento de dúvidas e permite ao aluno aprender com os

erros sem trazer malefícios ao paciente real (n=1; 33%).

“(...) Eu acho que até o terceiro ano, a faculdade de medicina é muito parecida com um colégio (...) acho que o aluno perde muito tempo assistindo aula teórica (...) aí quando ele vai para a enfermaria ver o doente, não sabe o que prescrever, não sabe que perguntas fazer na anamnese, que dados procurar no exame físico (...) ele assiste aula, faz prova, mas aquilo se perde (...) em determinadas situações que são pouco comuns ou tão urgentes que não podemos ensinar na hora em que ocorrem, podemos utilizar o manequim como forma de recriar o ambiente”. (I3)

“(...) Sem a simulação fica muito difícil a gente conseguir levar o profissional, depois da sua formação básica, sem nenhum treinamento prático e colocá-lo diante do fato real, de um doente, de uma situação onde ele não terá a oportunidade de ter dúvidas, de perguntar, de errar, de corrigir uma manobra. Não há cabimento com a tecnologia que se tem hoje na simulação treinarmos no mundo real com os pacientes”. (I2)

“(...) Nem todo mundo vive situações críticas todos os dias (...) a gente sabe que o conhecimento necessita de prática e que a prática se perde se você não a coloca, em um curto espaço de tempo, em evidência. Então é como se fosse um recall do médico para aquela situação crítica que ele não vivencia todos os dias (...)”. (I1)

Um dos instrutores destaca ainda que a prática em manequins pode tornar a

assistência menos tecnicista e mais humanista:

“Quando é oferecido ao aluno o conhecimento técnico no ambiente de simulação, ele já não busca mais avidamente, naquele contato com o doente, o conhecimento técnico. Ele aplica o conhecimento técnico e elabora o conhecimento humanitário... Eu tiro da relação aluno-paciente o peso do aspecto técnico e atribuo mais peso à aplicação do que ele

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conheceu e do aprimoramento da relação médico-paciente, que na minha opinião, são duas coisas que tem que caminhar juntas.” (I1)

4.4 RESULTADOS OBTIDOS COM A APLICAÇÃO DO QUESTIONÁRIO COM OS ALUNOS DO CURSO

O questionário, composto por questões fechadas e abertas, foi respondido

pelos alunos em maio de 2013 após o término do curso e objetivou conhecer as

percepções dos alunos/médicos participantes do curso em relação ao ensino

baseado em simulação: as dificuldades práticas experimentadas, o conhecimento e

as habilidades adquiridas, assim como a aplicabilidade em ambiente real. Existiam

também perguntas que focavam o perfil profissional do médico e experiências

relacionadas ao tema desenvolvido durante o curso.

A partir da análise dos questionários (ANEXO 5), alguns temas chave foram

extraídos, com o objetivo de sistematizar sua apresentação: perfil e expectativas dos

alunos, potencialidades e desafios do ensino baseado em simulação e avaliação do

curso. Foram incluídos no texto, alguns exemplos de comentários dos alunos

participantes.

Dos dezoito alunos que participaram do curso, apenas treze responderam ao

questionário, uma vez que, dois eram acadêmicos de medicina e três eram

enfermeiros.

4.4.1 Perfil e expectativas dos alunos participantes

Dentre os médicos que responderam o questionário, seis eram homens e sete

mulheres. A maioria (n=11, 85%) tinha idade entre 24 a 35 anos; um tinha 41 e

outro, 62 anos. Em relação ao tempo de formação, 11 alunos tinham de um a nove

anos, um tinha 20 anos e um tinha 38 anos. Destes, quatro eram anestesistas, um

psiquiatra, três clínicos, um gastroenterologista, um neurologista e dois clínicos e

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gastroenterologistas. Sete alunos nunca haviam feito esse curso e seis já haviam

feito esse curso no período entre cinco e dois anos atrás.

De acordo com os alunos, a principal motivação para a realização do curso foi

o aprimoramento dos conhecimentos acerca do tema (n=5, 38%) e todas as opções

relacionadas (n=5, 38%), seguido de atualização sobre as diretrizes do AHA para o

suporte avançado de vida em cardiologia (n=4, 31%) e por fim o aprimoramento de

habilidades para realização correta de compressões torácicas e/ou ventilações de

resgate com e sem via aérea avançada (n=1, 8%) e aquisição de conhecimentos

específicos relacionados aos conceitos que serão abordados durante o curso (n=1,

8%).

Todos os alunos mencionaram que suas expectativas a cerca do curso foram

atendidas, dentre elas: aquisição de conhecimentos atualizados e desenvolvimento

de habilidades práticas (n=2, 15%), aprendizagem dos algoritmos do ACLS (n=2,

15%), segurança para atuação na vida real (n=1, 8%), esclarecimento de dúvidas

(n=2, 15%), atualização e treinamento sistematizado no cuidado e reanimação

cardiopulmonar (n=1, 8%) e compreensão e retenção do conteúdo ministrado (n=2,

15%).

4.4.2 Potencialidades e desafios do ensino baseado em simulação

Na opinião de todos os alunos, a utilização de simuladores de paciente e

atuação em cenários práticos facilitou a aprendizagem do suporte avançado de vida

em cardiologia. Eles acreditam que a simulação é essencial para reduzir os erros

médicos (n=1, 8%), auxilia na atuação do profissional em emergências médicas

(n=1, 8%), é fundamental para o treinamento em equipe e proporciona prática

realística (n=1, 8%).

“Os simuladores nos dão uma ótima prática, quase real, nos

colocando de frente com as dificuldades diárias que temos com

os pacientes”. (A8)

“Ajuda a imaginar um cenário real”. (A13)

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“A simulação torna a prática bem realista e representativa das

situações reais”. (A5)

“O treinamento em bonecos é essencial para reduzir os erros

médicos/profissionais de saúde.” (A7)

“O treinamento com os simuladores são fundamentais para mimetizar essas situações de emergência e ajuda a compreender que os algoritmos devem estar bem compreendidos para poderem ser aplicados”. (A3)

Os alunos foram unânimes em relatar que adquiriram ou aprimoraram

conceitos e habilidades durante o curso. Dentre os conceitos, destacaram: a

sequência do suporte básico de vida e protocolo de drogas utilizadas no suporte

avançado de vida (n=1, 8%), o momento de infusão das drogas durante a parada

cardiorrespiratória (n=1, 8%), a diferença entre desfibrilação e cardioversão elétrica

sincronizada (n=1, 8%), os algoritmos do suporte avançado de vida (n=2, 15%), a

interpretação de ritmos de parada e arritmias cardíacas (n=2, 15%). Dentre as

habilidades, citaram: o trabalho em equipe e comunicação em alça fechada (n=1,

8%), as compressões torácicas (n=2, 15%), o reconhecimento dos ritmos cardíacos

(n=2, 15%) e o aprimoramento de habilidades específicas do protocolo de

reanimação cardiopulmonar (n=1, 8%).

Todos os alunos indicaram que o curso ministrado com auxílio de manequim

apresenta vantagem sobre o curso ministrado através de aula expositiva. Para eles

o simulador possibilita a prática e torna a aula mais didática e dinâmica (n=1, 8%),

proporcionando melhor fixação do conteúdo e aperfeiçoando as habilidades

estudadas (n=1, 8%).

“Na prática aprende-se com mais didática, é mais dinâmico e o

conteúdo é mais bem fixado”. (A8)

“A maioria das dúvidas surge quando tentamos exercer”. (A7)

“A situação fica mais prática e real”. (A10)

“A prática ajuda na memorização da teoria”. (A4)

Todos relataram ter vivenciado alguma intercorrência aguda de emergência

cardiorrespiratória grave e/ou PCR e acreditam ser possível aplicar os

conhecimentos adquiridos durante o curso em ambiente real, pois segundo eles, as

situações abordadas durante o curso são semelhantes àquelas vivenciadas na vida

real (n=2, 15%) e, além disso, a simulação com manequins treina de forma

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realística a execução do protocolo de atendimento a PCR (n=1, 8%).

Eventualmente, porém pode haver dificuldade em conseguir o material utilizado no

curso (n=1, 8%).

“Situações críticas mais comuns na prática clínica são

abordadas no curso”. (A13)

Como elementos do curso favoráveis a aprendizagem foram destacados: a

qualificação dos instrutores (n=1, 8%), a simulação com utilização de manequins e

de traçados eletrocardiográficos representativos de ritmos críticos (n=1, 8%) e a

discussão de casos clínicos reais e atuais (n=1, 8%).

Cinco alunos relaram dificuldades encontradas durante o curso, dentre elas:

o manuseio das drogas (n=1, 8%), a sistematização do atendimento (n=1, 8%), a

ansiedade perante o grupo (n=1, 8%) e a memorização dos protocolos (n=1, 8%).

Porém, para a maioria dos alunos não houve dificuldades (n=6, 46%).

4.4.3 Avaliação do curso

Quanto à avaliação do curso, dez participantes julgaram o curso excelente,

dois julgaram bom e um julgou regular. Como pontos fortes do curso, foi destacado:

material didático (n=2, 15%), participação em grupo (n=1, 8%), didática (n=1, 8%) e

qualidade técnica dos instrutores (n=2, 15%), desenvolvimento de habilidades em

situações de risco (n=1, 8%), equipamentos de simulação adequados (n=1, 8%),

identificação de casos de urgência e implementação de condutas terapêuticas (n=1,

8%). Um aluno destacou como ponto fraco o material da aula prática e poucas

estações práticas.

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5 DISCUSSÃO

5.1 REUNINDO OS ACHADOS: OBSERVAÇÕES SOBRE O CURSO ACOMPANHADO, PERCEPÇÕES DA EQUIPE DOCENTE E DOS ALUNOS SOBRE O ENSINO BASEADO EM SIMULAÇÃO

Como foi discutido no capítulo de revisão da literatura, o Ensino Baseado em

Simulação (EBS) é uma metodologia já bastante utilizada na área da saúde,

especialmente na formação continuada de médicos (OKUDA et al, 2009, p.338).

Verificou-se que a literatura analisada, em sua maioria, busca apresentar evidências

da efetividade do EBS, com enfoque em estudos comparativos e centrados na

analise dos ganhos em termos de aquisição de conceitos e habilidades, por meio de

pré e pós-testes (WENK et al, 2007; TRIOLA et al, 2006; GETTMAN et al, 2009;

NGUYEN et al, 2009). São poucos os trabalhos, como o de Searl et al (2012), que,

tendo como enfoque a análise das opiniões de professores e alunos sobre o EBS,

buscam caracterizar os diferentes elementos e fatores envolvidos em experiências

educativas orientadas por esta metodologia.

Partindo da compreensão de que não é o meio ou a metodologia de ensino

em si que determinará a melhoria do processo de aprendizagem, mas a integração

de uma série de fatores (institucionais, interpessoais, de conteúdo, de

visões/concepções) (REEVES, 1986; STRUCHINER e GIANNELLA, 2005), este

trabalho buscou compreender as potencialidades e os desafios envolvidos na

implementação de um curso orientado pelo EBS, a partir da observação de uma

experiência real e das percepções dos atores envolvidos: professores e alunos.

Com o acompanhamento do curso de “Ressuscitação Cardiopulmonar” e a

análise das observações realizadas, foi possível não apenas identificar os diversos

pontos positivos do EBS ressaltados na literatura, mas situá-los no que diz respeito

aos diferentes elementos educativos que os permeiam. Estes elementos observados

foram reiterados e complementados com as análises das entrevistas realizadas com

equipe docente e questionários aplicados aos alunos. É oportuno ressaltar que as

falas dos professores sobre o EBS suscitou a discussão de importantes desafios

relacionados ao EBS que envolvem questões tais como o papel do professor, visões

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sobre o que é ensinar e aprender e sobre a necessária renovação da prática

docente e do atual modelo de formação médica. Como aponta Giannella (2007),

esta característica da pesquisa sobre ambientes educativos mediados por

tecnologias realizada em contextos reais reforça sua contribuição para a construção

do conhecimento neste campo. As falas dos alunos reforçaram pontos ligados aos

benefícios deste tipo de metodologia para seus processos de aprendizagem,

destacando especialmente a possibilidade de atualização, mas também, o de

construção de novos conhecimentos na área de emergência, a partir da projeção de

situações ainda não vivenciadas por eles. Assim como em outros trabalhos (ALLAN

et al, 2010; SEARL et al, 2012), houve reconhecimento por parte dos alunos do

potencial do EBS como metodologia alternativa às habituais aulas expositivas, que

permite maior dinâmica e aprendizado situado. Percebe-se, no entanto, que o

caráter de memorização e fixação de conteúdos ainda é visto como importante sinal

de aprendizagem. Tanto professores como alunos, chamaram a atenção sobre os

desafios deste tipo de metodologia, que demanda dos instrutores abertura para lidar

com alunos com níveis de conhecimento e prática diferenciados. Os professores

teceram oportunos comentários sobre a necessidade de se repensar modelos de

formação em saúde que demandem uma postura mais crítica e ativa dos alunos,

ressaltando, no entanto, como discutem diversos autores (BATISTA et al, 2005;

CEZAR et al, 2009, CYRINO et al, 2004; REZENDE, 2002) ser uma atividade

complexa e que demanda mudanças nas atitudes docente e discente.

Com a análise dos registros de campo, verificou-se que o potencial da

simulação no que diz respeito à articulação entre teoria e prática pôde ser

caracterizado em diferentes situações observadas. Foi possível observar, por

exemplo, como conceitos relacionados a diferentes áreas de conhecimento,

usualmente ensinadas isoladamente (PAGLIOSA & ROS, 2007; ALMEIDA et al,

2007; NETO et al, 2006, BRIANI, 2001), puderam ser resgatados e integrados no

momento de resolver os problemas vivenciados. Além disso, o fato de os alunos

poderem integrar diferentes conhecimentos e habilidades, dependendo do cenário

exposto, representou mais do que uma repetição ou simples aplicação de

protocolos, à medida que estes puderam rever, refletir e debater com o grupo cada

situação. Isto parece reforçar o potencial do EBS para o ensino-aprendizagem dos

processos de diagnóstico e raciocínio clínico Professores e alunos também

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reforçaram este potencial, apontando não apenas a oportunidade de colocar

diferentes conceitos em ação, mas ressaltando que o aprendizado sobre o processo

de ressuscitação cardiopulmonar demanda articular teorias e habilidades práticas.

Percebe-se, também, principalmente na fala dos alunos, certa ênfase nos benefícios

desta metodologia no que se refere a oportunidade de repetição e memorização dos

protocolos. Se por um lado isso pode ressaltar uma visão de aprendizado mecânico,

não se pode negar, como discutem Vieira e Caverni (2011), a complexidade

envolvida nesta atividade que requer rápido e preciso processo de raciocínio e

tomada de decisão.

Outra característica do EBS observada ao longo do curso diz respeito ao fato

de seu potencial promover o contato com situações de emergência sem trazer riscos

ao paciente (FLATO & GUIMARÃES, 2011; MCGAGHIE et al, 2009, GABA, 2007),

envolvendo não apenas a prática de repetição e reforço de procedimentos, mas a

oportunidade de vivenciar, em um relativo curto período de tempo, casos variados e

que envolvem raciocínios e atitudes diferentes. Envolve, também, a possibilidade de

receber um retorno imediato ao erro, seja por parte do professor ou da equipe.

Como é discutido na literatura, estas estratégias trazem não apenas maior confiança

e segurança para os profissionais em formação, como estimulam a reflexão sobre

suas atividades (VARGA et al, 2009, p.291). Estes processos observados na

experiência analisada reforçam uma perspectiva de oportunidade de aprender

com o erro. Esta perspectiva foi encontrada, também, nas falas de professores e

alunos. Além dos pontos observados ao longo do curso, os professores ressaltaram

a oportunidade de simularem casos raros e que abrangem conhecimentos e

habilidades muitas vezes pouco praticados pelos alunos. Nas falas dos alunos,

percebeu-se uma valorização desta oportunidade de errar, por trazer maior

segurança para a futura ou atual prática profissional. Com a rápida evolução do

conhecimento e as constantes mudanças dos procedimentos relacionados à área

estudada, o EBS configura-se como uma oportuna estratégia de atualização para os

profissionais da área da saúde (OKUDA et al, 2009, p.336-337).

Aproveitar o erro como oportunidade de aprendizagem, além de favorecer a

visualização, manipulação e interpretação de situações complexas de serem

vivenciadas cotidianamente são algumas das potencialidades do EBS (ZIV et al,

2003; FLATO & GUIMARÃES, 2011; OKUDA et al, 2009) que podem ser exploradas

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na relação entre mundo virtual e real. No caso específico, este potencial é

resultado do uso de manequins (simuladores artificiais de pacientes capazes de

reproduzir respostas sonoras e visuais do paciente real graças aos sistemas de

computação) associados a casos clínicos, na construção de cenários que se

assemelhem a situações do cotidiano da prática médica. Ao vivenciarem os cenários

simulados e manipularem os manequins, os alunos puderam resgatar, reforçar e

corrigir conhecimentos/habilidades previamente já aprendidos e, ao mesmo tempo,

projetar novas situações. Isto foi confirmado, também, pelas falas de alguns

respondentes. Ainda no que diz respeito a esta relação – mundo real/cotidiano e

mundo simulado/virtual – destaca-se a reflexão feita por um dos professores

participantes que traz um contraponto ao que muitos autores reforçam sobre a

possibilidade do EBS trazer frieza e tecnicidade aos processos educativos (LOPES,

1998, p.167). Na visão desta professora, a oportunidade da execução e repetição

mecânica de muitos dos procedimentos pode satisfazer a necessidade dos alunos

de vivenciar estas práticas, fazendo que os mesmos se atentem para questões mais

afetivas e interpessoais da relação médico-paciente nos futuros ambientes reais.

Além disso, como se discute na literatura, apesar do uso de manequins,

principalmente os de alta fidelidade, ser uma metodologia ainda cara, seu custo

torna-se relativo, diante do crescente número de formandos na área da saúde e da

escassez de cenários reais (e pacientes) para o treinamento em serviço

(REYNOLDS et al, 2011, p.224). Assim, pode-se aproveitar a sinergia entre

atividades simuladas/virtuais de forma a:

(...) poupar o paciente de exposição desnecessária a erros iatrogênicos e melhorar o aproveitamento do tempo de contato entre ele e o estudante, deixando para o campo clínico o aprendizado das habilidades impossíveis de serem trabalhadas com o manequim tais como reações fisiológicas complexas, habilidade de comunicação e tratamento humanizado (VIEIRA e CAVERNI, 2011, p.108-109).

Como foi apresentado no relato das observações de campo, os alunos

trabalharam em grupos durante todo o curso, o que indica o potencial do EBS para o

fortalecimento do trabalho em equipe. Todos os alunos passaram por todos os

papéis dentro da equipe de ressuscitação, sendo que para cada caso clínico, um

aluno era escolhido líder, e os membros da equipe trocavam de função. Desta

forma, além dos conhecimentos e habilidades específicas de cada função

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(ventilação, entubação, compressões torácicas, desfibrilação e administração de

medicamentos), os alunos puderam exercitar o papel de liderança, responsável pela

condução das ações e integração de todos os membros da equipe, e pela resolução

do caso clínico exposto. Tanto professores como alunos destacaram as vantagens

da metodologia de EBS como oportunidade de vivenciar a dinâmica de trabalho em

equipe, um tipo de conhecimento difícil de ser aprendido sem a experiência prática

(SIASSAKOS et al, 2001; MURRAY & FOSTER, 2000). Além da oportunidade de

vivenciar a troca de papeis, houve destaque para o momento de discussão

(debriefing) em que a turma toda pôde rever as situações vivenciadas, compreender

os erros, compartilhar experiências e tirar dúvidas.

5.2 DESAFIOS E POTENCIALIDADES PEDAGÓGICAS DO ENSINO BASEADO EM SIMULAÇÃO: ARTICULANDO TEORIA E PRÁTICA, APROVEITANDO O ERRO COMO OPORTUNIDADE DE APRENDIZAGEM, EXPLORANDO AS RELAÇÕES ENTRE MUNDO REAL E MUNDO VIRTUAL E FORTALECENDO O TRABALHO EM EQUIPE

5.2.1 Articulando teoria a prática na formação médica

A literatura destaca a necessidade de formar um médico capaz de raciocinar

criticamente a fim de analisar os problemas e tomar decisões fundamentadas em

sua própria avaliação (COSTA, 2007). Entender o processo de pensamento

envolvido no raciocínio clínico a fim de promover uma prática efetiva tem sido

assunto de interesse há quase um século (STAMN, 2007). Apesar disso, conforme

discute Lopez (2001), a maior parte das escolas médicas não tem dado a devida

atenção ao aprendizado do raciocínio e diagnostico médico, ignorando que essas

habilidades cognitivas específicas, que são essenciais na formação médica, possam

ser ensinadas, mesmo que a literatura das últimas décadas demonstre o contrário.

Durante o curso de Ressuscitação Cardiopulmonar, foi possível entender que

o ensino baseado em simulação permite que os alunos se deparem com um

problema, criem hipóteses a partir dos dados clínicos apresentados pelo instrutor e

baseados em conhecimentos prévios tentem chegar ao diagnóstico a fim de

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escolher a melhor conduta a ser tomada. Nesse caminho, vão tomando decisões e,

por meio do feedback do manequim, e também dos professores, às suas

intervenções, podem verificar a cada passo se estão indo pelo caminho correto ou

não. Desta forma, esta metodologia pode auxiliar o aluno a aprender a raciocinar

clinicamente.

Segundo Fornazieiro et al (2011), um dos aspectos mais relevantes nas

atuais discussões sobre ensino, e de grande impacto na prática clínica, é a forma

como os médicos elaboram o raciocínio clínico. O diagnóstico depende da

transformação dos dados do paciente em hipóteses acerca dos problemas de sua

saúde, o que do ponto de vista conceitual, pode ser referido em duas condições

distintas: a decisão alcançada ou produto e o processo para alcançá-la (LÓPEZ,

2001). Nesse processo para chegar ao diagnóstico, é necessário o desenvolvimento

do raciocínio clínico, atividade mental do médico, processo cognitivo, que parte do

efeito (sinais e/ou sintomas) apresentado pelo paciente, para se chegar a(s)

causa(s) que o(s) determina(m) (síndromes e/ou doenças), embasada no exame

clínico (história clínica ou anamnese e exame físico) (MONTMOLLIN,1990; LÓPEZ,

2001; PORTO, 2001).

O processo cognitivo – no qual está implícito uma das atividades mentais que

é raciocinar – e as estratégias de raciocínio clínico, na resolução do problema

(diagnóstico médico), que é uma das competências atribuídas ao “ser médico”,

precisa ter espaço no processo de ensinagem (termo adotado por Anastasiou (2003)

para uma situação de ensino na qual decorra a aprendizagem) (FIALHO, 2001;

ELSTEIN; SCHWARZ, 2002; CFM, 2003).

Essa construção do conhecimento é possível na medida em que ele tem a

prática, a ação própria; e, também, na medida em que ele se apropria de teoria(s)

suficientemente crítica(s) para dar conta das qualidades e dos limites de sua prática.

Essas duas condições são absolutamente indispensáveis para o avanço do

conhecimento e consequente ruptura com o senso comum na explicação do

conhecimento. Assim, o conhecimento não é dado nem nos objetos (empirismo)

nem na bagagem hereditária (apriorismo), mas construído (BECKER, 1994).

Nas entrevistas, os professores/instrutores reforçaram o potencial do EBS

como estratégia para desenvolvimento e discussão sobre o processo de raciocínio

clínico dos médicos em formação:

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“(...) O aluno se vê diante dessa situação a qual é obrigado a resolver baseado no guideline que já tem como conhecimento prévio e, em cima disso, consegue desenvolver o raciocínio clínico de maneira clara, modificando as situações de acordo com a necessidade (...)”. (I1)

Além disso, ressaltando a necessidade de renovar currículos e estratégias de

ensino-aprendizagem buscando maior articulação entre teoria e prática, um dos

instrutores criticou o ainda predominante modelo de formação médica:

“Eu acho que até o terceiro ano, a faculdade é muito parecida com m colégio. Você tem aula básica, no primeiro e segundo ano. Mas no quarto ano, e principalmente no quinto e sexto, que é um internato, você tem uma formação prática. Ele senta, tem aula de hipertensão, diabetes... Aí quando vai para a enfermaria ver o doente, não sabe o que tem que prescrever, não sabe que perguntas tem que fazer na anamnese, que dados tem que procurar no exame físico, não é?!” (I3)

Como discutem Franco et al (2012), de acordo com as Diretrizes Curriculares

Nacionais (DCN), os cursos de medicina devem apresentar um currículo baseado

em competências, que tem por objetivo formar profissionais com prática eficaz e

capazes não somente de solucionar problemas, mas também melhorar os contextos

sociais, por meio de uma gestão responsável e uso eficiente dos recursos. Para

isso, o ensino médico deve visar o aprendizado não só de conhecimentos, mas de

habilidades e atitudes. Sobre esse aspecto tem sido demonstrado que o processo de

aprendizado em Medicina é mais eficaz quando o estudante se defronta com

problemas a serem resolvidos (SCHMIDT et al, 1989).

Porém, a maioria dos cursos de medicina no Brasil ainda não implementou as

novas diretrizes em seus cursos de maneira efetiva. Assim, o currículo continua

mantendo uma discrepância muito grande entre os conteúdos ministrados nos dois

primeiros anos (ciclo básico) e aqueles do ciclo profissional, mantendo pouca ou

nenhuma relação com as atividades profissionais futuras. Além disso, os conteúdos

ainda privilegiam a memorização de nomes e fenômenos sem que as desejáveis

correlações com a futura prática clínica sejam feitas (REGO, 2003, p.33).

Nesse sentido, existem várias metodologias de ensino que procuram tornar

esse processo de ensino-aprendizagem mais integrado e mais adequado ao perfil

profissional que se quer formar. Dentre elas, a aprendizagem baseada em

problemas (ABP) é a proposta metodológica que mais vem se destacando nesse

âmbito, sendo avaliada por estudos e pesquisas em vários países (GOMES et al,

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2009, p.434). Sobre essa questão, um dos instrutores entrevistado acredita que a

ABP pode auxiliar na integração do conhecimento e na formação do raciocínio

clínico:

“(...) Então, eu acho que depois da formação básica, do meio para o fim da faculdade, a abordagem devia ser “Problem-Based Learning” que já está sendo montado em algumas faculdades. O interno vem, vê o doente, tem que olhar a anamnese, entrevistar o doente, examinar e montar um raciocínio em cima daquilo. Montar os problemas que o paciente tem, as alterações que foram encontradas e como vai interpretá-las. A gente chama de como ele vai raciocinar aquilo e traçar um plano... Isso permite a ele, com base em um paciente, estudar vários assuntos diferentes, desde a fisiologia, passando pelo diagnóstico até a terapêutica. (I3)

Para este instrutor, o cenário da simulação permite que haja integração dos

conteúdos aprendidos com prática, tornando o EBS uma ferramenta importante na

educação médica.

“(...) Isso funciona melhor no cenário da simulação, não é? A gente usa exemplos reais. Um doente e os alunos entrevistando. Além disso, podemos utilizar situações pouco comuns ou tão urgentes que você não pode ensinar na hora, mas com o manequim é possível criar esse ambiente. Por isso acho importante a utilização do EBS na educação médica.” (I3)

Além disso, outro ponto ressaltado pelos instrutores diz respeito ao potencial

do EBS para a integração de diferentes conhecimentos e habilidades relacionados a

diferentes áreas de conhecimento, usualmente ensinadas isoladamente:

“(...) A gente precisa que eles reconheçam uma parada ou um ritmo pré-parada (...) Ele precisa ter conhecimento de várias pequenas áreas da medicina (...) abrange eletro, abordagem ao paciente, reconhecimento de sinais vitais, manuseio de vias aéreas, massagem cardíaca externa e drogas que serão utilizadas nos diversos cenários”. (I3)

A aproximação da teoria à prática foi citada pelos professores e alunos como

um fator vantajoso do ensino baseado em simulação por proporcionar a

transformação do conhecimento teórico em atitudes reais. Porém, em seu trabalho

de revisão, Teteris et al (2011) lembra que o desempenho do aluno no simulador

não é prerrogativa de melhora na assistência ao paciente. Segundo esse estudo,

mais de 30 anos de pesquisas têm demonstrado que a aprendizagem adquirida com

a simulação não é transferida facilmente para o cenário clínico e quando transferida,

não efetivamente melhora o desempenho. Os autores acreditam que haja um grande

potencial para a simulação na área da educação médica e de profissionais de

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saúde, porém ressaltam a necessidade de estudos futuros com a finalidade de

identificar se e em quais circunstâncias o treinamento através de simulação traz

benefícios ao paciente real.

Porém, para dois professores entrevistados, a dependência de

conhecimentos prévios para a resolução dos casos clínicos propostos pode ser um

desafio na implementação do EBS. Segundo eles, o sucesso da aprendizagem

nesta metodologia está diretamente relacionado à bagagem de conhecimentos que

o aluno possui e caso haja déficit nesse campo, o aluno fica impedido de avançar

durante os cenários propostos, obrigando o professor a revisar conteúdos anteriores

como conceitos teóricos sobre farmacologia, fisiologia e anatomia.

“(...) Na verdade, quando você vai simulando e criando casos, vão surgindo dúvidas, você vai aguçando o questionamento sobre coisas que começam na própria fisiologia (...) Na verdade, a simulação tem um contexto bastante completo, que gera discussão acerca do doente como um todo, sobre o processo patológico, o processo fisiológico (...) Na verdade, você mobiliza conhecimento bem maior do que apenas aqueles que estão contidos no guideline”. (I2)

“Ele precisa ter conhecimento em várias pequenas áreas da medicina”. (I3)

Okuda (2009, p.335) também faz referência em seu trabalho, sobre essa

dependência citada pelos instrutores, afirmando que esse é o principal fator limitante

dessa metodologia, já que para que ocorra a aprendizagem é necessário total

envolvimento e participação do aluno.

Professores e alunos foram unânimes em afirmar que o EBS favorece a

aquisição e o aprimoramento de conceitos e habilidades práticas. Entretanto, a

literatura aponta que não é possível fazer essa afirmação, pautada apenas na

comparação entre pré e pós-teste ou na avaliação do aluno através de um check list

de ações realizadas no manequim, ressaltando a importância de que sejam

desenvolvidos estudos posteriores com o profissional treinado, em situação real, a

fim de acompanhar integralmente o percurso de aplicação do conhecimento e

habilidades adquiridas através da implementação dessa metodologia. Desta forma,

alguns autores consideram que apenas a verificação da aquisição do conhecimento

e/ou habilidades e a melhora no desempenho são insuficientes para este processo

de aprendizagem.

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Em contrapartida, a literatura mostra que os estudantes que têm contato o

mais cedo possível com a prática simulada conseguem adquirir um arcabouço sólido

de habilidades fundamentais em semiotécnica e comunicação, por se tratar de uma

aprendizagem mais realista e significativa (DORNAN et al, 2006). Apesar disso, no

Brasil, o EBS tem sido mais amplamente utilizado em cursos de atualização em

emergências médicas, tendo sido introduzido no país através dos cursos de suporte

de vida há mais de 14 anos (PAZIN FILHO et al, 2007), encontrando-se poucos

relatos de universidades que empregam a simulação no processo de ensino-

aprendizagem em seus cursos de graduação em medicina (VARGA et al, 2008;

FLATO & GUIMARÃES, 2011). Para os participantes do estudo, coordenador,

professores e alunos, o EBS favorece a aprendizagem de situações emergenciais,

auxiliando na atuação do profissional em emergências médicas.

“(...) A gente treina aqui cenários de emergência médica, talvez aquele que mexe mais com as pessoas porque envolve parada cardíaca ou iminência de parada e quanto mais conseguirmos nos aproximar desse cenário, que é um cenário estressante, no qual as pessoas ficam nervosas e preocupadas, mais chance tem da pessoa na vida real conseguir desempenhar aquilo que propõe o modelo teórico(...)”. (I3)

Sobre o uso da simulação em emergência, Okuda et al (2009, p. 331)

destacam que este tem se expandido desde os anos 90 e tem sido empregado,

principalmente no treinamento de habilidades como intubação e ensino de

algoritmos como os utilizados em ressuscitação cardiopulmonar por se tratarem de

situações de alto risco acarretando altos níveis de estresse aos profissionais

médicos.

Em relação ao contexto do aprendizado, um grupo de estudiosos (GESSEL et

al, 2003) sugere que deveria ser ministrado aos alunos cursos que favorecessem o

processo do raciocínio clínico com o emprego de problemas específicos e exemplos,

antes que eles encontrassem com pacientes reais, pois as dificuldades percebidas

pelos estudantes, em sua pesquisa, residiam em como conseguir os dados,

interpretar e escolher os mais relevantes, sintetizar a informação e organizá-la

hierarquicamente. Este tipo de estratégia pode minimizar a insegurança do

estudante em seu processo de aprendizagem (FORNAZIERO et al, 2011, p.251).

Com base na análise dos registros de campo e das entrevistas com

professores e alunos, observou-se que o EBS parece favorecer a articulação teoria-

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prática e o desenvolvimento do raciocínio clínico, uma vez que faz com que o aluno

busque diagnosticar os sinais e sintomas apresentados pelo paciente durante o

cenário elaborado pelos professores para que consiga traçar uma conduta efetiva de

tratamento. Durante esse processo, é necessário que o aluno passe por algumas

etapas para que chegue ao desfecho do cenário. Essas etapas são: a coleta de

dados, a interpretação dos dados relevantes, a realização do diagnóstico e a tomada

de decisão (conduta).

5.2.2 Aproveitando o erro como oportunidade de aprendizagem

Refletindo sobre o EBS, o coordenador, os professores e os alunos

apontaram, dentre as vantagens desta metodologia, a possibilidade de cometer

erros sem riscos para o paciente, reduzindo a ocorrência de eventuais falhas no

futuro do profissional.

“O treinamento em bonecos é essencial para reduzir os erros médicos/profissionais de saúde.” (A7)

“(...) o aluno pode errar um número ilimitado de vezes sem que isso resulte em efeitos deletérios para um paciente real.” (Coordenador)

“Não há nenhum cabimento, com a tecnologia de simulação que se tem hoje, de treinarmos no mundo real com pacientes.” (I2)

Como discute Romão (1998), ao se deparar com situações simuladas, o

estudante tem a oportunidade de aprender fazendo, errando e aprendendo com os

próprios erros. Refletindo sobre o erro, constrói seu aprendizado por meio da

identificação de lacunas de conhecimento e fundamenta cognitivamente suas

capacidades.

No campo da educação, é possível perceber que, ao longo dos anos, houve

uma grande mudança em relação ao significado do erro (MOTTA e AMORIM, 2011).

Em geral, o erro era observado pelo professor como um indicador do mau

desempenho do aluno, sem jamais ser utilizado para o redimensionamento do

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ensino. O que permeava o ensino era uma “pedagogia da resposta” em que o erro

era o sintoma visível do fracasso do aluno, assim como o acerto era o sinal mais

evidente de seu sucesso. (PINTO, 2000, p. 8). Hoje, o erro pode ser visto como um

processo de maturidade e oportunidade para o aluno desenvolver sua capacidade

de pensar e resolver situações-problema, criar hipóteses e assim chegar a um novo

conhecimento, alcançando o objetivo final. Neste aspecto, o professor possui o

papel fundamental de instigar os alunos a refletirem sobre seus erros, estimulando

os mesmos a raciocinarem de forma mais eficaz, onde estará participando

ativamente do processo de aquisição de novos conhecimentos (MOTTA & AMORIM,

2011).

Foi possível observar, durante o curso de Ressuscitação Cardiopulmonar, que

o EBS oferece aos discentes a oportunidade de cometer erros, sem que exista

perigo para a saúde dos doentes, contribuindo potencialmente para um ambiente

pedagógico mais favorável do que o clínico, beneficiando a assimilação de

conhecimentos, procedimentos e atitudes. Os alunos puderam praticar os

procedimentos nos manequins repetidas vezes com a orientação do instrutor a fim

de adquirir as habilidades inerentes ao assunto.

No ambiente simulado, os erros permitem ensinar sobre suas implicações e

corrigir desvios, pois não causam danos a pacientes reais e podem ser expostos e

discutidos, diferentemente da aprendizagem em cenário clínico real, no qual o

professor interfere para evitar o erro do aluno e prevenir danos ao paciente (ZIV et

al, 2003, p.785). Ao término de cada cenário, o erro é discutido em forma de

debriefing. Para Flato e Guimarães (2011), esse é o momento chave para a

efetividade da simulação como ferramenta pedagógica, pois estimula a reflexão dos

alunos envolvidos no cenário assim como daqueles que estão observando, uma vez

que o erro pode ser revisado abertamente, sem preocupação com responsabilidade,

culpa ou culpado, mesmo quando as decisões tomadas resultam em morte do

paciente simulado (ZIV et al, 2003, p.785):

“Ao final de cada cenário, ocorre um debriefing técnico do caso em questão, permitindo-se a autoanálise do líder e dos envolvidos, a discussão entre eles, a participação ativa de todos com o processamento da informação gerada dentro do ajustamento do raciocínio lógico de atendimento.” (Coordenador)

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Nesta fala do coordenador, observa-se a valorização dos momentos de

discussão e análise dos casos vivenciados, onde os conhecimentos e habilidades

mobilizados podem ser resgatados e possíveis erros debatidos. Isto é reforçado por

um dos alunos que aponta para a importância de se aprender no momento da ação,

quando as dúvidas surgem a partir da vivencia:

“A maioria das dúvidas surge quando tentamos exercer”. (A7)

A perspectiva de “aprender fazendo” ou de “aprendizagem orientada pela

atividade” (GIANNELLA, 2003; JONASSEN, 1999) é amplamente discutida no

campo educacional que compreende que os processos de “aprender” e “fazer” são

inseparáveis e são motivados por intenções. Tal perspectiva, que também está

relacionada a necessária articulação teoria-prática discutida no tópico anterior, leva

em consideração que o processo de construção de conhecimento está ancorado nas

experiências prévias dos alunos e é orientado por metas específicas que devem ser

incorporadas à atividade educativa. Além disso, reforça que a construção do

conhecimento se dá em uma relação dinâmica e interdependente entre

conhecimentos internalizados e ações concretas, internalização-extenalização

(JONASSEN, 1999), “ ...processo pelo qual os indivíduos transformam seus

entendimentos sobre e a responsabilidade para com as atividades por meio de suas

participações” (GIANNELLA, 2003; p.74).

Assim, um dos instrutores reforça o potencial do EBS:

“(...) Na verdade, quando você vai simulando e criando casos, vão surgindo dúvidas, você vai aguçando o questionamento sobre coisas que começam na própria fisiologia (...) Na verdade, a simulação tem um contexto bastante completo, que gera discussão acerca do doente como um todo, sobre o processo patológico, o processo fisiológico” (I2).

5.2.3 Explorando as relações entre o mundo real e o virtual

Com a análise da literatura, observou-se que, de uma maneira geral, o

referencial adotado para fundamentar os princípios pedagógicos do EBS está

ancorado na concepção construtivista da aprendizagem e parte da premissa de que

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aprender não é reproduzir a realidade, mas ser capaz de elaborar uma

representação pessoal sobre esta e seus conteúdos. Assim, a partir da vivência de

situações simuladas, os estudantes são estimulados a resignificar seus

conhecimentos construindo novos saberes (VARGA et al, 2009, p.291).

Em seu livro Tecnologias da Inteligência, Pierre Lévy (1996, p.124) ressalta

que a capacidade de simular o ambiente e suas reações pode desempenhar um

papel fundamental na aprendizagem e que por isso, podemos considerar a

simulação como uma ferramenta potente de ajuda ao raciocínio, já que a

manipulação dos parâmetros e a simulação das diversas circunstâncias envolvidas

proporcionam uma espécie de intuição sobre as relações de causa e efeito

presentes no modelo.

Neste sentido, os sujeitos da pesquisa consideram que o EBS pode favorecer

o desenvolvimento do raciocínio clínico para resolução dos casos propostos.

“O manequim, na grande maioria das vezes, simula com perfeição a situação a qual você está propondo e o aluno se vê diante dessa situação que ele é obrigado a resolver, baseado no guideline que ele já tem como conhecimento prévio e, em cima disso, ele consegue desenvolver o raciocínio clínico dele de maneira clara.” (I1)

Segundo Lévy (1996, p.103) o virtual não se opõe ao real, mas ao atual.

Sendo assim, o virtual é de certa forma uma projeção/uma antecipação possível do

real. Com origem no latim, significando força ou potência, o virtual é o que existe em

potência, não em ato (RAMOS, 2013). Assim, ao aproximar-se da realidade, o virtual

agrega características e cenários que permitem aos alunos identificarem-se com

esse espaço.

Sobre esse aspecto, um dos instrutores cita a importância em tentar criar um

cenário que se aproxime ao máximo possível daquele que os profissionais

encontram na vida cotidiana:

“Você tenta criar um ambiente, um estilo de paciente, uma patologia que o aluno vá ver no dia a dia, então a simulação é muito interessante nesse sentido.” (I3)

O virtual é fonte indefinida de atualizações, o que traz para o processo de

ensino-aprendizagem a liberdade de experimentação, manipulação de diferentes

ações/situações sem os riscos da vida real (RAMOS, 2013). Para os instrutores, a

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liberdade de abordagens e escolhas sem trazer riscos ao paciente real

experimentada pelo virtual facilita a aprendizagem:

“(...) passeando pelos guidelines, modificando as situações de acordo com a necessidade de abordar o conhecimento, de uma maneira isolada ou conjunta, você cria um ambiente realístico e ao mesmo tempo amplo, dentro do assunto que você quer abordar.” (I1)

“(...) durante a simulação, eu tenho a capacidade de vivenciar todas as vantagens e desvantagens de qualquer manobra, simulando casos reais que me permitem estar mais perto da realidade que vou encontrar.” (I2)

Se por um lado o virtual auxilia a elaboração do raciocínio, por outro nos

deparamos com a dificuldade dos alunos em vivenciar a simulação como um

ambiente real, podendo levá-los a assumir dois comportamentos críticos. No

primeiro, o aluno não se envolve por ver a sua frente um “boneco” e por isso não

consegue fazer daquele momento de simulação uma chance de aprendizagem a ser

replicada em uma situação real.

“(...) por estar numa área de treinamento, o aluno fica relaxado, se desconcentra, brinca, e as vezes, não tem o mesmo desempenho que teria se fosse na vida real. Não se esforça porque sabe que aquilo é um treinamento.” (I3)

No segundo, ele sente-se impactado pelo cenário e pela presença do

manequim, por não estar habituado a esse tipo de metodologia e, nesse caso,

também não consegue participar de maneira efetiva.

“(...) o aluno impacta tanto com o boneco que chega a não querer tocar, manusear numa situação crítica.” (I1)

Segundo um dos instrutores, esse fato está relacionado a não utilização

dessa metodologia em nível da graduação:

“(...) quando o aluno vem pra simulação, geralmente não tem o hábito de participar de simulações e por isso, encontra dificuldade em tentar fazer daquele momento de simulação um momento real de vida profissional dele. Ele se sente muito distanciado do fato real. Ele vê aquilo muito mais como uma encenação do que na verdade um replicar do que ele vai encontrar no dia a dia da profissão dele.” (I2)

Sobre esse aspecto, o coordenador do curso destacou o desafio do instrutor

frente à diversidade de conhecimento e de experiência dos alunos. Segundo ele,

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esses grupos heterogêneos demandam flexibilidade dos instrutores para adequar os

cenários e as discussões a fim de que todos possam aprender durante as estações

práticas. Além disso, pontuou a necessidade do instrutor ter o domínio da condução

de grupos, identificando situações que precisam ser corrigidas de imediato para que

não haja prejuízo na aprendizagem:

“(...) existem algumas características que julgo necessárias ao instrutor como: o domínio teórico do conteúdo, o domínio de técnicas de criação de cenários realistas, o domínio da condução de grupos, identificando situações que precisam ser corrigidas de imediato (alunos dominadores, apáticos, estrela, dissipativos, com carências conceituais, etc.) e o domínio na condução de técnicas de debriefing.”

Sobre a condução de grupos, Pazin Filho et al (2007) aponta a importância do

instrutor em identificar os alunos com características especiais como, o aluno com

conhecimento avançado, o aluno dominador, o aluno que divaga, o aluno tímido e o

aluno com prática antiga e viciada, e sugere atitudes para cada situação a fim de

que estes alunos não comprometam o desenvolvimento das estações. Em seu

trabalho, Vázquez et al (2007), destaca ainda que os instrutores devem ter

habilidade de simultaneamente interagir com os estudantes e o simulador e que para

se obter essa expertise são necessárias muitas horas de trabalho.

Na tentativa de aproximar a prática da simulação da prática em ambiente real,

os professores acreditam na importância do preparo do ambiente simulado para que

esse seja o mais próximo possível do ambiente real no qual o profissional está ou

estará inserido.

“(...) Você tenta criar um ambiente, o estilo de um paciente, uma patologia que a pessoa vá ver no dia-a-dia e isso torna a simulação muito interessante (...)”. (I3)

“(...) Deve-se criar espaços que tenham a maior semelhança possível com o ambiente de trabalho do profissional, porque isso o coloca num contexto mais próximo do dia-a-dia e certamente permite que ele vença a dificuldade de entrar no clima da simulação (...)”. (I2)

Diante desse desafio, a literatura ressalta a preocupação na escolha de um

ambiente adequado para o trabalho confortável de um grupo pequeno de alunos,

com espaço suficiente para o desempenho das tarefas, com boa ventilação, acústica

e iluminação (ROMANO & PAZIN FILHO, 2007, p. 172).

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A adequação do material à proposta de ensino foi apontada como mais um

fator a ser observado no preparo da estação prática da simulação para que esta

obtenha sucesso, lembrando que devem estar disponíveis todos os materiais

necessários à abrangência dos casos clínicos que serão propostos. Sobre isso, a

literatura sugere a elaboração de uma lista de material para cada estação, que

deverá ser conferida no momento da montagem dos cenários e pelo instrutor antes

de iniciar a estação prática (ROMANO & PAZIN FILHO, 2007, p. 175).

Um dos professores entrevistados foi mais longe ao sugerir que a simulação

pode tornar a assistência menos tecnicista e mais humanista, uma vez que o aluno

já possui o conhecimento técnico, obtido no ambiente de simulação, ele passa a

enfatizar a relação médico-paciente e menos o aspecto técnico:

“Eles não aproveitam a oportunidade que eles têm no contato com o doente para o aprendizado humanitário, para o aprendizado maior. É olhar para o doente não como uma doença, mas como um ser humano amplo, holístico, completo, no qual você tem que abordar aspectos biopsicossociais. Quando você oferece à ele esse conhecimento técnico no ambiente de simulação, ele já não busca mais avidamente, naquele contato com o doente, o conhecimento técnico. Ele aplica o conhecimento técnico e elabora e trabalha o conhecimento humanitário, que eu não consigo fazer no manequim, porque eu dependo de uma interação.” (I1)

Se por um lado há autores que criticam o uso de tecnologias no ensino por

poderem tornar os espaços menos humanizados (Schwonke et al, 2012) e distantes

da realidade, ou que acreditam que o uso de simulações pode simplificar

demasiadamente situações complexas do dia a dia (Medeiros & Medeiros, 2002),

por outro, este comentário da professora indica uma possível direção alternativa.

A professora chama à atenção para o fato de o EBS com uso de manequins

poder suprir a necessidade e o entusiasmo dos alunos por treinar as habilidades

técnicas, fazendo com que, no atendimento cotidiano, possam se dedicar ao

desenvolvimento de um cuidado ampliado.

Como discute Ramos (2013, p.108):

O virtual, ao aproximar-se da realidade, agrega características e cenários que permitem aos jogadores identificarem-se com esse espaço; ao mesmo tempo, as regras e valores podem ser diferentes daqueles que temos na vida cotidiana, e as consequências também ficam resguardadas ao mundo virtual, o que pode ser deixado de lado ou trocado, a partir da vontade do jogador.

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Assim, levando em consideração a visão da docente, se os alunos aproveitam

o aprendizado com manequins para desenvolver e aprofundar seus conhecimentos

e habildidades técnicas isto não quer dizer que esta atitude reforçará um futuro

comportamento profissional pautado em um atendimento procedimental.

Esta discussão pode ser corroborada por duas questões fundamentais

relacionadas ao uso de tecnologias na educação: 1) não é a tecnologia em si que

levará a um aprendizado crítico, ou futura atuação profissional em saúde ampliada e

integral (GIANNELLA, 2007); 2) o ensino baseado em tecnologias é mediado e,

portanto, a visão dos docentes e o seu papel no planejamento e implementação do

processo educativo terão forte implicação na contribuição desta atividade para a

formação dos alunos (ESPÍNDOLA, 2010).

5.2.4 Fortalecendo o trabalho em equipe

O treinamento em equipe é uma preocupação quando se trata de educação

médica, uma vez que métodos tradicionais de ensino, através de aulas expositivas e

avaliação de conhecimento por testes escritos, não são suficientes para garantir

competência, qualidade e segurança aos pacientes críticos (FLACTO &

GUIMARÃES, 2011, p.360). Ambientes de medicina de urgência e emergência

apresentam algumas características específicas, exigindo que os profissionais

tenham agilidade e competência de atender às necessidades identificadas a fim de

afastar os pacientes do risco de morte iminente (OLIVEIRA et al, 2004, p.181).

As metodologias de ensino atuais, mais ativas, têm privilegiado espaços de

colaboração e compartilhamento de saberes, encorajando os estudantes a

trabalharem juntos em atividades educativas, onde o professor ou orientador, não é

a única fonte de conhecimento. Os estudantes são estimulados a desenvolver uma

postura ativa em relação à sua aprendizagem que, por sua vez, se dá a partir de

sucessivas interações e o papel do professor não é mais apenas transferir

conhecimento aos estudantes, mas também auxilia-los a construírem coletivamente

seu próprio conhecimento (BRUM, 2006, p.55).

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No intuito de minimizar eventos adversos sérios e de alta complexidade, o

ensino baseado em simulação (EBS) vem de encontro com o aprendizado ativo em

ambiente livre de risco (simulação), na qual se pode melhorar o conhecimento, as

habilidades técnica e não técnicas, a liderança e a comunicação dos profissionais de

saúde envolvidos (FLACTO & GUIMARÃES, 2011, p.360).

Durante o curso de Ressuscitação Cardiopulmonar foi possível perceber que,

ao expor um caso clínico, o professor oferece ao aluno líder do cenário prático a

chance de buscar conhecimentos prévios para que possa, de maneira autônoma,

empregá-los na resolução do problema e, ao mesmo tempo, permite que os outros

alunos envolvidos no cenário colaborem na construção desse novo conhecimento

necessário à tomada de decisão para a finalização do caso clínico.

Vários trabalhos evidenciam a relevância da utilização do EBS para o

treinamento de equipes (GARRET et al, 2010; ALLAN et al, 2010; TURK et al, 2007).

Em um estudo realizado por Garret et al (2010) os alunos apontaram o trabalho em

grupo na prática diária como confuso e difícil e disseram que por isso preferem

trabalhar sozinhos ou com um parceiro apenas. Na opinião dos autores, a simulação

auxilia na conscientização dos profissionais sobre a importância da equipe

interdisciplinar na assistência ao paciente.

Segundo Masielo (2011), esse fato ocorre por que a composição das equipes

de saúde muda constantemente, de forma que um grupo de profissionais que

usualmente não trabalham juntos precisa em algum momento trabalhar em equipe

em favor do paciente em ambientes complexos e situações dinâmicas extremas.

Além disso, lembra que os profissionais de saúde vêm sendo treinados por muitos

anos a atuarem como profissionais individuais, enquanto que o cuidado ao paciente

demanda colaboração entre profissionais.

Em outro trabalho, Allan et al (2010, p. 646) afirma, baseado em estudos

recentes, que a falha na comunicação e a deficiência no trabalho em equipe

contribui para erros médicos importantes e ressalta que por isso é necessário que os

profissionais de saúde sejam capazes de comunicar-se de maneira eficaz além de

desempenhar habilidades técnicas e cognitivas. Para Turk et al (2007), a segurança

do paciente depende das habilidades individuais dos profissionais treinados

trabalhando como membros de uma equipe.

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Especificamente em casos de parada cardiorrespiratória, o atendimento ideal

é que, além de ênfase na RCP de boa qualidade, deve-se atentar também ao papel

de cada um na equipe de ressuscitação. Os dois princípios fundamentais do bom

trabalho em equipe são: liderança e comunicação efetiva (MURRAY et al, 2000,

p.635). Assim, a cada atendimento, deve haver um profissional que assuma o papel

de líder na condução do caso. Esse profissional deve garantir que todas as tarefas

sejam compreendidas e executadas pelos diferentes membros da equipe, incorporar

novas informações, reavaliar o caso, centralizar a comunicação entre os membros

da equipe e avaliar o desempenho de seus colegas, garantindo RCP de boa

qualidade, controle adequado da via aérea e segurança na manipulação do

desfibrilador (GONZALES et al, 2012, p.108). Para o coordenador do curso de

ressuscitação cardiopulmonar avançado, para um atendimento bem sucedido é

fundamental o treinamento em equipe com destaque para o papel da liderança:

“Dentro do contexto emergencial, enfatiza-se muito atualmente a questão da liderança dentro da equipe de atendimento como um elemento fundamental na organização e otimização da dinâmica de equipe e dos diversos componentes que compõe um atendimento bem sucedido”. (Coordenador)

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6 Conclusão

Nos últimos anos, o ensino baseado em simulação tem se tornado uma opção

cada vez mais utilizada na educação em saúde e especialmente na educação

médica, principalmente por promover condições necessárias ao ensino-

aprendizagem nessa área.

Muitos estudos ressaltam as potencialidades dessa metodologia de ensino-

aprendizagem, porém poucos trabalhos buscam aprofundar o conhecimento sobre o

processo de implementação dessa metodologia e sua articulação com as

abordagens pedagógicas, assim como as dificuldades e desafios encontrados

durante esse processo.

A trajetória percorrida nesta investigação permitiu analisar o processo de

implementação do ensino baseado em simulação em um curso de atualização em

ressuscitação cardiopulmonar avançado aplicado a médicos, buscando identificar as

principais potencialidades e desafios dessa metodologia.

A escolha do curso de ressuscitação cardiopulmonar avançado como campo

de coleta de dados foi motivado pelo fato deste ser um curso que preconiza o

desenvolvimento do raciocínio clínico através da resolução de casos em ambiente

simulado com uso de manequins em substituição ao paciente. Os médicos

constituíram a população alvo desta pesquisa por serem eles os profissionais que

participam do curso.

A utilização da observação como técnica para a coleta de dados permitiu

acompanhar e registrar a aplicação prática dessa metodologia pelos instrutores,

assim como as ações e reações dos alunos, facilitando a identificação de vantagens

e desvantagens do método.

Os dados da entrevista realizada com os instrutores e dos questionários

aplicados aos alunos e ao coordenador do curso foram utilizados para completar o

material obtido por meio da observação, com o intuito de evidenciar a percepção de

docentes e discentes quanto à utilização dessa metodologia na educação médica.

Assim, essa pesquisa buscou entender o ensino baseado em simulação como

uma metodologia de ensino a ser utilizada na educação continuada de médicos,

comparando a visão dos participantes do Curso de Atualização em Ressuscitação

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Cardiopulmonar, sendo eles coordenador, professores e alunos, com a observação

de campo realizada pela autora.

Para isso, inicialmente procuramos, através do referencial teórico,

contextualizar a educação médica. Identificamos alguns desafios na busca de uma

formação comprometida com o processo de construção de um novo paradigma em

saúde, fundamentado na formação técnica e humanística desse profissional de

maneira integrada às necessidades básicas de saúde, dentre eles, a adoção de

novas metodologias de ensino-aprendizagem centradas no aluno (LAMPERT, 2001,

p. 12). Nesse momento, encontramos a abordagem construtivista como um papel de

destaque nas reformulações curriculares de Medicina em oposição às concepções

tradicionais da aprendizagem, como uma forma de atender as novas necessidades

de formação médica.

A partir desta compreensão, buscamos revisar estudos que nos auxiliassem a

entender essas metodologias com abordagem construtivista com a finalidade de

verificar se as teorias e princípios pedagógicos descritos por elas seriam

encontradas no ensino baseado em simulação. Nesse percurso, encontramos as

metodologias ativas de aprendizagem, orientadas para a autonomia do aluno no

processo de aprendizagem (ABDALLA et al, 2009; MITRE et al, 2008). Dentre elas,

destacamos a metodologia da aprendizagem baseada em casos que têm como

principal fundamento a formação de um aluno autônomo, capaz de relacionar teoria

e prática e de buscar informações para utilizá-las na resolução de problemas

(STRUCHINER & GIANNELLA, 2005). Desta forma, os problemas são empregados

como base para o desenvolvimento dos processos de ensinar e aprender

(VENTURELI, 2004). Assim, entendemos que a aprendizagem baseada em casos

favorece a reflexão e análise dos alunos sobre suas próprias experiências

(JONASSEN, 1996, p. 71) e a colaboração no processo de aprendizagem, onde

cada aluno é responsável por sua aprendizagem e através de suas contribuições

também intervém na construção do conhecimento dos seus colegas (ISHITANI,

2000; JONASSEN, 1996).

Com base no referencial teórico, entendemos o EBS como uma prática

educativa metodologicamente fundamentada no referencial construtivista, centrada

no aluno como sujeito da aprendizagem e apoiado no professor/instrutor como

facilitador e mediador do processo de ensino-aprendizagem, que permite o

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acompanhamento do crescimento individual e coletivo, a detecção precoce das

dificuldades de aprendizagem e a criação de estratégias imediatas para minimizá-

las.

Quanto à identificação das potencialidades da simulação com manequim na

educação médica e dos desafios para sua implementação, a literatura revela que o

EBS possibilita ao estudante aprender e pôr em prática o que foi aprendido em

ambiente livre de riscos (cenário), aumentando a confiança do profissional antes do

atendimento ao paciente real, favorece o desenvolvimento e/ou aprimoramento de

habilidades técnicas e não técnicas (comunicação), possibilita a avaliação de

conhecimento e habilidades, o treinamento de equipes multidisciplinares e

proporciona ao aluno a oportunidade aprender e praticar o manejo de patologias

incomuns, casos críticos e procedimentos invasivos em ambiente livre de risco. O

principal desafio citado pela literatura é o custo que envolve o ambiente no qual é

desenvolvido o cenário, os manequins e os equipamentos necessários ao

treinamento.

A principal limitação nessa área de estudo, identificada através do

levantamento bibliográfico, é a verificação da aquisição do conhecimento e/ou

habilidades e melhora no desempenho, realizada apenas em cenários simulados,

através da comparação entre pré e pós-teste, não sendo desenvolvido estudo

posterior com o profissional treinado em situação real a fim de acompanhar

integralmente o percurso de aplicação dessa metodologia. Além disso, os artigos

evidenciam os benefícios do EBS, mas não discutem os aspectos cognitivos e de

aprendizagem que fundamentam sua aplicação.

Com base na análise dos resultados obtidos através da observação de

campo, entrevistas realizadas com os instrutores e questionários aplicados aos

alunos e ao coordenador do curso, destacamos quatro principais aspectos do EBS:

articulação da teoria e prática, o erro como possibilidade de aprendizagem, relação

entre virtual e real e trabalho em equipe.

De acordo com a análise dos registros de campo e das entrevistas com

professores e alunos, observou-se que o EBS parece favorecer a articulação teoria-

prática e o desenvolvimento do raciocínio clínico, uma vez que faz com que o aluno

busque diagnosticar os sinais e sintomas apresentados pelo paciente durante o

cenário elaborado pelos professores para que consiga traçar uma conduta efetiva de

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tratamento. Durante esse processo, é necessário que o aluno passe por algumas

etapas para que chegue ao desfecho do cenário. Essas etapas são: a coleta de

dados, a interpretação dos dados relevantes, a realização do diagnóstico e a tomada

de decisão (conduta). Porém, foi observado que a dependência do conhecimento

prévio do aluno para a resolução dos casos clínicos propostos pode ser um fator

limitante, uma vez que o sucesso da aprendizagem está diretamente relacionado à

bagagem de conhecimentos que o aluno possui.

A possibilidade de cometer erros e de repetir os procedimentos inúmeras

vezes a fim de adquirir habilidades sem gerar riscos para os pacientes foram

questões apontadas como vantajosas no uso do EBS. Além disso, através do

debriefing, o erro se transforma em uma oportunidade de aprendizagem, na medida

em que o professor estimula os alunos a refletirem sobre seus erros e, desta forma,

adquirirem novos conhecimentos.

Os sujeitos da pesquisa consideram que o EBS favorece o desenvolvimento

do raciocínio clínico para resolução dos casos propostos uma vez que o manequim é

capaz de simular situações que são vivenciadas na vida real. Assim, ao aproximar-

se da realidade, o virtual agrega características e cenários que permitem aos alunos

identificarem-se com esse espaço. Porém, muitas vezes, apesar dessa aproximação

do virtual com o real, podem ocorrer dificuldades, por parte dos alunos, em vivenciar

o virtual como se realmente estivessem no cenário real e acaba fazendo com que o

aluno não participe de forma efetiva do processo de ensino-aprendizagem.

Durante a observação de campo, foi possível perceber que o EBS facilita o

treinamento de equipes, uma vez que os casos clínicos expostos pelo professor

envolvem um grupo de alunos que devem trabalhar juntos durante o

desenvolvimento do cenário para que cheguem a um desfecho favorável ao

paciente. Desta forma, são ensinados conceitos de liderança e comunicação efetiva

dentro da equipe de ressuscitação, onde um aluno, denominado pelo professor

como “líder do cenário” tem a chance de buscar conhecimentos prévios para

empregá-los na resolução do problema, além de exercer liderança sobre os outros

alunos envolvidos no cenário. Ao mesmo tempo, os outros alunos, participantes da

equipe, tem a chance de colaborarem na construção desse novo conhecimento

necessário à tomada de decisão para a finalização do caso clínico.

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Apesar de serem muitas as vantagens da utilização do EBS apontadas neste

trabalho, é necessário destacar que esta estratégia pedagógica requer um

planejamento cuidadoso e um custo que envolve, inclusive, capacitação de

docentes, constituindo esse um dos grandes desafios de sua implementação na

atualidade.

Acredita-se que este estudo ampliou a discussão a cerca da utilização do

EBS na educação médica, assim como indicou pontos favoráveis e desafios de sua

implementação, revelando com isso, a importância de estudos que aprofundem mais

as questões pedagógicas envolvidas no percurso de aplicação desta metodologia.

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7 Referências Bibliográficas

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ANEXO 1 PROGRAMA DO CURSO

Sábado:

9h – 9h45 Abertura:

Apresentação

Vídeos:

Visão Geral dos Aspectos Científicos do SAVC

Avaliação Primária em SBV e Avaliação Secundária em SAVC

9h45 – 10h45 Estações Práticas

Grupo A – BLS

Grupo B – Manuseio de Vias Aéreas

10h45 – 11h Coffe Break

11h – 12h Estações Práticas

Grupo A – Manuseio de Vias Aéreas

Grupo B – BLS

12h15- 13h Vídeo: Megacode e o Conceito de Equipe de Ressuscitação

13h – 14h Almoço

14h – 15h Estações Práticas

Grupo A – Megacode FV/TV

` Grupo B – Megacode FV/TV

15h – 16h Estações Práticas

Grupo A – Megacode Bradicardia/AESP/Assistolia

Grupo B – Megacode Taquicardias Estáveis e Instáveis

16h – 17h Estações Práticas

Grupo A – Megacode Taquicardias Estáveis e Instáveis

Grupo B – Megacode Bradicardia/AESP/Assistolia

Domingo:

8h – 9h Estações Práticas

Grupo A – Juntando Tudo

Grupo B – Juntando Tudo

9h – 9h15 Coffe Break

9h15 – 10h15 Avaliação Teórica

10h30 – 12h Avaliação Prática

12h – 13h Discussão da Prova e Encerramento

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ANEXO 2 TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO

Você está sendo convidado a participar de um estudo cujo título é: “A UTILIZAÇÃO DO ENSINO

BASEADO EM SIMULAÇÃO NA EDUCAÇÃO CONTINUADA DE MÉDICOS”, que será desenvolvido no

Centro de Treinamento Avançado da Rede D’Or.

Os ojetivos do estudo são: 1) analisar as percepções da equipe que planeja e implementa

esta metodologia de ensino no curso de Atualização em Ressuscitação Cardiopulmonar

Avançado realizado pelo Centro de Treinamento Avançado da Rede D’Or a cerca das

potencialidades e desafios da EBS na Educação Médica; 2) analisar o processo de

implementação do curso, buscando identificar as potencialidades do uso do EBS, como a

integração dos alunos e o trabalho em equipe, a comunicação, o desenvolvimento de habilidades

e do raciocínio clínico, entre ouras; 3) analisar as percepções dos alunos/médicos participantes

do curso em relação às dificuldades práticas experimentadas, ao conhecimento e habilidades

adquiridos e aplicabilidade dos conhecimentos adquiridos em ambiente real.

Participarão do estudo o coordenador do curso, os instrutores/professores e os alunos

que, mediante assinatura prévia do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE),

aceitarem fazer parte da pesquisa. Aos mesmo serão aplicados questionários com a intenção de

atender os objetivos propostos no estudo.

A investigadora acompanhará o processo de condução do curso a fim de relacionar o

que foi observado durante as aulas com as perspectivas dos instrutores/professores e dos alunos

e, sobre tudo, analisar o processo de implementação do curso, buscando identificar as

potencialidades do uso do Ensino Baseado em Simulação (EBS), como a integração dos alunos

e o trabalho em equipe, a comunicação, o desenvolvimento de habilidades e do raciocínio

clínico, entre ouras. Para isso, será utilizado um checklist contendo os aspectos pedagógicos do

EBS relacionados neste trabalho.

Caso você tenha alguma dúvida em relação aos aspectos éticos dessa pesquisa entre em

contato com o Comitê de Ética em Pesquisa (CEP) que o aprovou através dos contatos que se

encontram no rodapé deste termo.

Eu,................................................................................. ciente das informações recebidas,

concordo voluntariamente em participar da pesquisa que será realizada sob responsabilidade de

Alessandra Dourado, aluna do curso de Mestrado em Educação em Ciências e Saúde do

NUTES/UFRJ, pois, fui informado(a) que em nenhum momento eu serei exposto(a) a riscos

devido a participação no estudo e que poderei a qualquer momento recusar ou anular o

consentimento por mim assinado, sem nenhum prejuízo para minha pessoa.

Estou ciente também que os resultados encontrados no estudo serão usados apenas para fins

científicos. Fui informado (a) que não terei nenhum tipo de despesa ou gratificação pela

participação nesta pesquisa, e que poderei ter acesso aos resultados publicados em periódicos

científicos. Informo ainda que tive a oportunidade de ler este termo de consentimento e todas as

minhas dúvidas foram resolvidas. Recebi explicações sobre os objetivos da pesquisa, os

procedimentos de estudo e que serei submetido a possíveis desconfortos, assim como

benefícios, portanto concordo voluntariamente em fornecer meu consentimento para participar

deste estudo.

__________________________________ ___________ ____:____

Assinatura do Médico Data Hora

__________________________________ ___________ ____:____

Assinatura da Investigadora Data Hora

Alessandra Sá Simões Dourado – Coordenadora de Enfermagem do Centro de Treinamento Avançado

Rede D’Or - Telefones: (21) 2545-3444 ; (21) 77333590/ ID: 8283* 1335; E-mail:

[email protected]

Comitê de Ética e PesquisaHospital Copa D’Or – Telefone: (21) 2545-3792 – E-mail:

[email protected]

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ANEXO 3 QUESTIONÁRIO PARA O COORDENADOR

1)Quais os objetivos do curso de suporte avançado de vida em cardiologia?

2)Quais as etapas de realização do curso (metodologias e ferramentas utilizadas)?

3)Quais as dificuldades encontradas durante o processo de planejamento do curso?

4)Por que utilizar a simulação com manequins no ensino deste tema?

5)O que você julga vantagens e desvantagens do ensino baseado em simulação?

6)Quais as dificuldades encontradas na condução das estações práticas?

7)No seu ponto de vista, qual a importância do ensino baseado em simulação na

educação médica?

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ANEXO 4 ROTEIRO DE ENTREVISTA PARA OS INSTRUTORES/PROFESSORES

1)Por que utilizar a simulação com manequins no ensino deste tema?

2)O que você julga vantagens e desvantagens do ensino baseado em simulação?

3)Quais as dificuldades encontradas na condução das estações práticas?

4)Quais os conhecimentos mobilizados durante a aula para a aquisição dos objetivos

específicos do curso?

5) No seu ponto de vista, qual a importância do ensino baseado em simulação na

educação médica?

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ANEXO 5 QUESTIONÁRIO PARA OS ALUNOS

Idade: _____________ Sexo: ( ) M ( ) F

Ano de formatura: ________________

Especialização: _________________________

1) Já havia realizado esse curso antes? Sim ( ) Não ( ). Em que ano? __________

2) Como avalia o curso ACLS que você realizou? Ruim ( ) Regular ( ) Bom ( )

Excelente ( )

Justifique:

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

3) O que o motivou a fazer esse curso?

( ) atualização sobre as diretrizes do AHA para o suporte avançado de vida em

cardiologia.

( ) aprimoramento de habilidades para realização correta de compressões torácicas e/ou

ventilações de resgate com e sem via aérea avançada.

( ) adquirir conhecimentos específicos relacionados aos conceitos que serão abordados

durante o curso.

( ) aprimorar os conhecimentos acerca do tema.

4) Suas expectativas sobre o curso foram atendidas?

Justifique:

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

4) Quais as dificuldades encontradas durante o curso?

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

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5) Você julga que a utilização de simuladores de pacientes e atuação em cenários

práticos facilitou sua aprendizagem sobre o suporte de vida avançado em cardiologia?

Sim ( ) Não ( ). Justifique:

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

6) Você adquiriu ou aprimorou conceitos com a realização deste curso? Sim( )

Não( )

Quais?

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

7) Você adquiriu ou aprimorou habilidades com a realização deste curso? Sim ( )

Não ( )

Quais?

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

8) Você acredita que o curso ministrado com auxílio de manequins apresenta alguma

vantagem sobre o curso ministrado de maneira tradicional, ou seja, através de aula

expositiva?

Sim ( ) Qual (is)?

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

Não ( ) Por quê?

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

9) Já vivenciou uma intercorrência aguda de Emergência Cardiorrespiratória Grave e/

ou PCR? Sim ( ) Não ( )

10) Acredita ser possível aplicar os conhecimentos adquiridos durante o curso em

ambiente real? Sim ( ) Não ( )

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Por quê?

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

11) Quais os elementos do curso você julga terem sido favoráveis para sua

aprendizagem?

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12) Sugestão e outros comentários:

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Page 102: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO - nutes.ufrj.br Sa Simoes... · Miriam Struchiner – UFRJ . À minha tão amada mãe, Maria de Fátima, que mesmo deixando a vida tão cedo

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ANEXO 6 ROTEIRO DE OBSERVAÇÃO

Integração entre os alunos

Integração entre alunos e instrutor

Trabalho em equipe

Comunicação

Desenvolvimento de habilidades práticas

Desenvolvimento do raciocínio clínico

Condução das estações práticas pelo instrutor