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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO FACULDADE DE LETRAS MESTRADO EM LETRAS NEOLATINAS OS ESTEREÓTIPOS COMO ESTRATÉGIA DE SEDUÇÃO NOS GUIAS TURÍSTICOS: PARIS E OS PARISIENSES Bianca Brito de Carvalho Araújo RIO DE JANEIRO 2014

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO

FACULDADE DE LETRAS

MESTRADO EM LETRAS NEOLATINAS

OS ESTEREÓTIPOS COMO ESTRATÉGIA DE SEDUÇÃO NOS

GUIAS TURÍSTICOS: PARIS E OS PARISIENSES

Bianca Brito de Carvalho Araújo

RIO DE JANEIRO

2014

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OS ESTEREÓTIPOS COMO ESTRATÉGIA DE SEDUÇÃO NOS

GUIAS TURÍSTICOS: PARIS E OS PARISIENSES

Bianca Brito de Carvalho Araújo

Dissertação de Mestrado submetida ao Programa de Pós-Graduação em Letras Neolatinas (Estudos Linguísticos Neolatinos – Opção Língua Francesa) da Universidade Federal do Rio de Janeiro – UFRJ, como parte dos requisitos necessários para a obtenção do título de Mestre em Letras Neolatinas.

Orientadora: Profa. Doutora Angela Maria da Silva Corrêa

FACULDADE DE LETRAS – UFRJ Rio de Janeiro

2014

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FICHA CATALOGRÁFICA

ARAÚJO, Bianca Brito de Carvalho Os estereótipos como estratégia de sedução nos guias turísticos: Paris e os parisienses / Bianca Brito de Carvalho Araújo. – Rio de Janeiro: UFRJ/ FL, 2014. 134 f : il., 30 cm.

Orientadora: Angela Maria da Silva Corrêa Dissertação (mestrado) – UFRJ / FL/ Programa de Pós – Graduação em Letras Neolatinas, 2014. Referências Bibliográficas : f. 112 – 113.

1. Estereótipos, 2. Representação social, 3. Guias turísticos. I. Corrêa, Angela Maria da Silva II. Universidade Federal do Rio de Janeiro, Faculdade de Letras, Programa de Pós- graduação em Letras Neolatinas – Estudos Linguísticos. III. Título.

4

Dedico este trabalho

a Deus, que está sempre presente em

minha vida.

aos meus pais,Celso de Araújo e Nilceia

Brito de Carvalho Araújo , por todo

apoio e paciência nesse momento que

tanto precisei.

5

AGRADECIMENTOS

À professora Angela Maria da Silva Corrêa, minha orientadora que tanto me ajudou

para a realização deste trabalho.

Ao financiamento que me foi dado para realizar esse estudo pela CAPES (Coordenação

de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior).

Aos professores de Letras Neolatinas, pelas orientações que me deram ao longo desses

dois anos.

Ao Colégio Pedro II pela ajuda quanto aos horários e algumas ausências, em especial

aos professores Miguel Villardi, Diva Rocha e Daniel Vilaça.

Aos amigos Ligia Fernandes, Diego da Silva Vargas, Juliana Castro, Vanessa Laga e

todos que sempre me acompanharam, aos amigos que estudaram comigo no colégio

Pedro II e sempre me deram força.

Agradeço as palavras e a ajuda dada por Elisa Cunha e José Antônio Nunes.

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Bianca Brito de Carvalho Araújo

OS ESTEREÓTIPOS COMO ESTRATÉGIA DE SEDUÇÃO NOS

GUIAS TURÍSTICOS: PARIS E OS PARISIENSES

Dissertação de Mestrado submetida ao Programa de Pós-Graduação em Letras Neolatinas (Estudos Linguísticos Neolatinos – Opção Língua Francesa) da Universidade Federal do Rio de Janeiro – UFRJ, como parte dos requisitos necessários para a obtenção do título de Mestre em Letras Neolatinas.

Aprovada em

__________________________________________________

Orientadora: Profa. Dra. Angela Maria da Silva Corrêa

Universidade Federal do Rio de Janeiro

_______________________________________________________________

Prof. Dr. Luiz Carlos Balga Rodrigues

Universidade Federal do Rio de Janeiro

_________________________________________________________________

Profa. Dra. Telma Cristina de Almeida Silva Pereira

Universidade Federal Fluminense

_________________________________________________________________

Prof. Dr. Pierre François Georges Guisan - suplente

Universidade Federal do Rio de Janeiro

__________________________________________________________________

Prof. Dr. Jorge de Azevedo Moreira – suplente

Colégio Pedro II

7

RESUMO

ARAÚJO,Bianca Brito de Carvalho. Os estereótipos como estratégia de sedução nos

guias turísticos: Paris e os Parisienses. Rio de Janeiro, 2014. Dissertação (Mestrado

em Letras Neolatinas) – Faculdade de Letras, Universidade Federal do Rio de Janeiro,

Rio de Janeiro, 2014.

Esta pesquisa propõe-se a analisar e classificar os estereótipos (Amossy,2007) acerca de

Paris e dos parisienses presentes nos guias turísticos Destination Paris (2013), Paris

shopping – book (2013-2014), Paris gourmand (2013-2014), Le guide du routard –

Paris (2012), Le routard des amoureux à Paris (2013-2014), Paris balades (2013-

2014), Guia da cidade: Paris (2011). Para essa classificação, recorre-se aos domínios

de estético (belo) e hedônico (prazer) segundo Patrick Charaudeau (2008). Este autor

trata os discursos publicitários e propagandistas como um ato comunicacional onde o

redator utiliza estratégias de sedução para incitar e persuadir o seu leitor. A sedução e a

persuasão ocorrem por meio do reforço das representações sociais acerca dos

parisienses quanto à sua cultura, moda e gastronomia (Jodelet,1991). As conclusões

mostram que os guias, mesmo sendo destinados a públicos distintos, não deixam de

propor o encantamento através da representação da Paris, fonte de beleza e prazer.

Palavras-chave:Estratégias de persuasão, Representação social, Guias turísticos,

Estereótipos, Paris e os Parisienses, Igualdade e alteridade, Domínio do Hedônico e

Domínio do Estético.

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RÉSUMÉ

ARAÚJO,Bianca Brito de Carvalho. Les stéréotypes comme stratégie de séduction

dans les guides tourisques : Paris et les parisiens. Rio de Janeiro, 2014. Dissertation

(Master en Lettres Néolatines) – Faculté de Lettres, à l’Université Fédérale de Rio de

Janeiro, Rio de Janeiro, 2014.

Cette recherche se propose à analyser et classer les stéréotypes (Amossy,2007) à propos

de Paris et des parisiens présentés dans les guides touristiques Destination Paris (2013),

Paris shopping-book (2013-2014), Paris gourmand (2013-2014), Le guide du Routard –

Paris (2012), Le routard des amoureux à Paris (2013-2014), Paris balades (2013-

2014), Guia da cidade : Paris (2011). Pour réaliser ce classement, on a recouru aux

domaines de l’esthétique (la beauté) et de l’hédonique (le plaisir) selon Patrick

Charaudeau (2008). Cet auteur traite les discours publicitaires et propagandistes comme

un acte communicationnel où le rédacteur utilise des stratégies de séduction pour inciter

et persuader son lecteur. La séduction et la persuasion se passent par le renfort des

imaginaires sociaux des Parisiens à propos de leur culture, mode et gastronomie

(Jodelet, 1991). Les conclusions montrent que les guides, même s’ils visent un public

diversifié, continuent à proposer l’expérience de l’ enchantement par la représentation

de Paris, source de beauté et de plaisir.

Mots-clés : Stratégies de persuasion, Représentation social, Guides touristiques,

Stéréotypes, Paris et les parisiens, Égalité et alterité, Domaine du Esthétique et du

Hédonique.

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ABSTRACT

ARAÚJO,Bianca Brito de Carvalho. The stereotypes used as an seduction’s strategy

in the travelers guide: Paris and Parisians. Rio de Janeiro, 2014. Dissertation

(Master in Neolatin Languages) – Letters faculty, Federal University of Rio de Janeiro,

Rio de Janeiro, 2014.

This research analyses and classifies the stereotypes (Amossy, 2007) about Paris treated

in the travelers guide Destination Paris (2013), Paris shopping-book (2013-2014),

Paris gourmand (2013-2014), Le guide du Routard – Paris (2012), Le routard des

amoureux à Paris (2013-2014), Paris balades (2013-2014), Guia da cidade : Paris

(2011). For this classification, one uses the aesthetic and hedonic values according to

Patrick Charaudeau (2008). This author treats the publicity and propagandists

discourses as a communicative act in which the writer uses a seduction strategy to

persuade and incite his reader.The seduction and persuasion ocurred by strengthening

the social imaginaries about Parisians as their culture, fashion and cuisine (Jodelet,

1991). The conclusions show that the guides even with different types of readers,

continue to propose the seduction through the representation of the beautiful and

pleasant Paris.

Key-Words: Persuasion strategies, Social Representation, Travelers guides,

Stereotypes, Paris and the Parisians, Equality and alterity, Aesthetic and Hedonic

values.

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LISTA DE ILUSTRAÇÕES

TABELA 1 As motivações para os turistas escolherem Paris .................................. 40

TABELA 2 Densidade demográfica de Paris ............................................................. 41

TABELA 3 A porcentagem dos turistas de lazer e dos turistas de negócios de acordo

com cada atividade turística .......................................................................................... 41

TABELA 4 O detalhe de cada atividade realizada pelos países estrangeiros em Paris em

2011 ............................................................................................................................... 42

11

LISTA DE ABREVIATURAS

GDR Le guide du routard

LP Lonely Planet

12

Sumário

1. INTRODUÇÃO ............................................................................. 13

2. PRESSUPOSTOS TEÓRICOS .................................................... 21

2.1. Representação social e Identidade ................................................... 21

2.2. Os estereótipos: seu conceito em questão ........................................ 28

2.3. Os guias turísticos como gênero promocional ................................. 33

2.4. As categorias dos estereótipos e os domínios do Estético e do

Hedônico ................................................................................................... 35

3. METODOLOGIA ......................................................................... 36

3.1. A seleção dos critérios para análise dos guias turísticos................... 36

3.2. Tipos dos guias turísticos.................................................................... 38

3.2.1. Office du tourisme ........................................................................... 38

3.2.2.Guia da cidade: Paris (Lonely Planet)............................................... 45

3.2.3. Le guide du Routard........................................................................ 46

4. ANÁLISE DO CORPUS............................................................... 47

4.1. Análise dos guias do Office du tourisme ......................................... 49

4.1.1. Destination Paris (2012) ou guia de Paris ...................................... 49

4.1.2. Paris shopping-book (2013 – 2014) ou guia da moda ..................... 54

4.1.3. Paris gourmand (2013 – 2014) ou guia da gastronomia .................. 60

13

4.2. Le guide du routard ............................................................................ 78

4.2.1. Le guide du routard – Paris (2012) .................................................. 79

4.2.2. Le routard des amoureux à Paris (2013 – 2014) ............................ 88

4.2.3. Paris balades – Le routard (2013 – 2014) ....................................... 90

4.3. Análise do guia Paris : guia da cidade ............................................ 101

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS ...................................................... 108

6. REFERÊNCIAS .......................................................................... 112

ANEXO A .............................................................................................. 114

ANEXO B ............................................................................................... 127

ANEXO C ............................................................................................... 129

14

1. INTRODUÇÃO

Esse trabalho se inicia a partir dos discursos em sala de aula proferidos pelos alunos do

ensino fundamental da rede pública e de cursos de língua do Rio de Janeiro. No

primeiro dia de aula de francês, é comum fazermos as seguintes perguntas: O que você

pensa sobre a França e seu povo? Qual é a sua opinião sobre a língua francesa?

Percebemos que a maioria das respostas é ligada aos clichês, como: Paris é a cidade da

moda, cidade luz, é romântica, onde há os croissants e baguettes. Ideias reforçadas nos

discursos a seguir:

Gostaria sim de viajar para França porque lá tem a torre Eiffel e aprenderia

mais francês e cultura, além de comer croissants ótimos.

(aluno A)

Gostaria de ir para França, ainda mais se fosse uma viagem para Paris, a cidade

romântica, porque sempre quis ver a torre Eiffel e comer um verdadeiro

croissant.

(aluno B)

É um lugar onde vende perfumes muito bons.Eu acho os francesesestranhos,

principalmente o bigode. Não sei se existem esses bigodes,não tive a

oportunidade de conhecê-los.

(aluno C)

Com isso, observamos uma grande incidência de imagens a respeito da França e dos

franceses. Mesmo com a facilidade de acesso às informações e à troca entre culturas,

ainda estão presentes essas representações sociais enraizadas nas representações dos

brasileiros em relação aos franceses e acreditamos que o mesmo ocorre com os

franceses em relação aos brasileiros.

Através dessa motivação, foi iniciado esse trabalho com a pesquisa em blogues e sites

de relacionamento a fim de encontrar discursos de brasileiros e franceses sobre as

representações sociais, para verificar como seria a representação dos brasileiros sobre os

franceses e como seria a representação dos franceses sobre os brasileiros. Por este

caminho, foram encontrados os estereótipos nesses sítios que coincidiam com os ecos

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que circulavam em sala de aula. Então, esse ponto de partida objetivava encontrar as

representações mútuas de brasileiros e franceses assim como detectar os estereótipos

entre essas comunidades.

Em seguida, tratamos essas representações como sendo reforçadas pela mídia,

principalmente pela publicidade. Ao examinar as propagandas televisivas e de revistas,

vemos que esses meios reforçam essas representações, ao utilizar elementos

estereotipados para representar não só os brasileiros como os franceses. No caso do

Brasil, por exemplo, encontramos as mulheres de biquíni correndo na praia com sol

forte, uma das imagens vendidas no exterior relacionada ao brasileiro. O francês, por

sua vez, é um chef de cozinha que produz as baguetes, os pães, os croissants.

Por esse viés, recorremos aos sites e guias turísticos com o intuito de investigar como o

turismo não só francês como brasileiro mostrava a imagem de seu país. Por esse

material, vimos as representações estereotipadas sendo reforçadas e utilizadas como

atrativos, auxiliando o desenvolvimento turístico desses países, tornando-se este o tema

de nosso trabalho, ou seja, como circulam as representações sociais dos franceses nos

guias e sites turísticos à luz da análise do discurso, visando analisá-los como textos

persuasivos.

No presente trabalho, focamos somente em guias turísticos e sites de agências de

viagem, uma vez que nas comunidades e blogues não podemos confiar inteiramente se o

sujeito que ali se apresenta é de fato um brasileiro ou francês, por isso optamos em

concentrar essa pesquisa nos guias turísticos.

Partindo para a seleção dos guias, começamos pela França, particularmente por Paris,

uma vez que é a capital do país e onde há um grande número de turistas semelhante à

cidade do Rio de Janeiro, no Brasil. Desta maneira, analisamos os guias dessa cidade,

visando os estereótipos que aparecem como elementos atrativos, sedutores para os

aspirantes a viajar para Paris, sendo, desta forma, reforçadas as representações acerca

dessa cidade e de seus habitantes, uma vez que essas representações passam a ser

associadas não só aos parisienses como ao francês de forma geral, ou seja, essas

representações são construídas de forma genérica.

Assim, propomo-nos a confrontar os prefácios e alguns temas dos guias turísticos –

monumentos, gastronomia e moda -, objetivando verificar como aparecem os

estereótipos nesses textos, por meio de estratégias para persuadir o leitor.

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Para começar, recorremos ao site do Office du Tourisme de Paris. Considerado como

organismo encarregado da promoção do turismo, o Office du Tourisme é de fácil acesso

pela internet ou pelo seu escritório em Paris. Voltado para os turistas de todas as

nacionalidades, é por esse meio que se tem acesso às informações e esclarecimentos

sobre aquela região, ou seja, é nesse espaço que há informações sobre alojamentos,

diversões, monumentos, transportes, restaurantes, lojas de Paris. A escolha do Office du

Tourisme ocorreu pelo fato de ser ligado aos interesses das autoridades. No editorial de

uma brochura chamada 40 ans de tourisme à Paris (2011), temos expostos os objetivos

das autoridades em melhorar o turismo em Paris e a importância desse órgão turístico:

Paris, une chance pour le tourisme Paris est la première destination touristique mondiale, avec 28 millions de visiteurs par an, dont 17 millions d’étrangers. Notre ville est connue et reconnue pour son patrimoine exceptionnel, son excellence dans des secteurs comme la gastronomie, la mode et la haute couture... Par son action, l’Office du Tourisme et des Congrès de Paris n’a eu de cesse de s’adapter et de participer aux évolutions rapides de notre capitale. Le tourisme représente aujourd’hui 160 700 emplois salariés directs et 13 % de l’emploi total de la ville. Il contribue fortement au développement des ressources et des investissements, et améliore ainsi la qualité de vie des Parisiens. Partenaire essentiel de la vitalité de notre ville, l’Office a permis, ces dix dernières années, d’opérer un maillage judicieux des points d’information, d’organiser l’opération saisonnière des « Ambassadeurs de l’accueil », tout en portant une attention particulière aux personnes en situation de handicap et au tourisme durable. De « Soldes by Paris » à « Paris romantique », la Ville encourage toutes les actions de l’Office destinées à promouvoir une capitale créative, attractive et solidaire... [...] Quarante ans que l’Office s’adapte à la demande des visiteurs et aux évolutions technologiques, sociales et urbaines de la capitale. Merci donc à l’Office et à ses adhérents de savoir valoriser cette destination aux multiples facettes, en restant à l’avant-garde d’une politique touristique ambitieuse, innovante, profitable à tous, créatrice de richesses et respectueuse du cadre de vie des Parisiens.

Bertrand Delanoë Maire de Paris.

Na citação acima, vemos o discurso proferido pelo prefeito de Paris Bertrand Delanoë,

que destaca a importância do turismo parisiense já que a cidade possui um destaque

mundial por ser reconhecida na gastronomia, na moda e alta costura. O turismo propicia

oferta de empregos e melhoria na qualidade de vida do parisiense por buscar se

aprimorar em hotelaria, transportes, tecnologia e conservação de seu patrimônio. Com

isso, o Office du Tourisme procura atender da melhor maneira todos os tipos de turistas,

partindo dos deficientes ao turismo sustentável, sendo criativo, atrativo e solidário.

Desta maneira, procuramos no site do Office du Tourisme de Paris se eles possuem

disponível um guia turístico. Não só no site como também nos escritórios, eles oferecem

uma brochura intitulada Destination Paris 2012 que apresenta informações sobre hotéis,

transportes, lazer, cultura. Esse foi um dos guias escolhidos para nossa pesquisa, pois é

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um material que apresenta elementos representacionais ligados à temática de nosso

trabalho e ao mesmo tempo está atrelado aos interesses das autoridades em desenvolver

o turismo. Por este motivo, lançaram em seguida dois outros guias: o Paris shopping-

book (2013-2014) que seria um guia só voltado para as compras e a moda parisiense e o

Paris gourmand que corresponderia ao guia da gastronomia com informações sobre

onde comer em Paris, capital mundial da gastronomia. Então, queremos ver nesse

material como a França e suas autoridades estão se servindo dos clichês reforçando as

representações do turista, seduzindo-o a visitar a cidade parisiense.

No entanto, de acordo com Moirand (2004), há uma diferença entre turistas, viajantes e

mochileiros, uma vez que cada grupo adquire hábitos e objetivos diferentes. Para a

autora, os turistas não demonstram uma preocupação com a história e cultura do local,

diferentemente do viajante, que já procura apreender esses hábitos culturais e históricos.

O mochileiro, por sua vez, tem como objetivo um passeio diferente, visando uma

viagem ligada à aventura. Por essa lógica, mesmo sabendo que o Office du Tourisme

busca de maneira multifacetada atender a vários públicos, resolvemos adotar outros

guias. Dessa vez, não amarrados aos discursos de autoridade, adotamos o Guide du

Routard que se encontra no idioma francês assim como as brochuras do Office du

Tourisme que visam atender todo público mochileiro do mundo.

O livro Le guide du routard (GDR) preocupa-se em atender às necessidades de seu

leitor, no caso o mochileiro, e divide-se por distritos informando, por exemplo, sobre

onde se alojar, comer, escutar música destacando os pontos turísticos ao redor. O guia

não apresenta imagens, e faz uso de descrições dos lugares de maneira bem detalhada

com o intuito de aguçar todas as necessidades daquele público alvo. Nesse caso, nossa

proposta é de realizar a análise em três guias da linha Routard: Le guide du routard:

Paris 2012, Le Routard des amoureux à Paris 2013-2014 e Paris balades 2013.

Outro guia adotado é o Paris – guia da cidade da Lonely Planet (LP). No ano de 2011, a

editora Globo publicou guias da Lonely Planet, ganhando edição nacional. Esses guias,

em idioma português, são voltados para o viajante brasileiro e, por fornecer informações

com base em especialistas, visa mostrar o contato do habitante local com o viajante,

mostrando regiões, curiosidades sobre o local, procurando assim como os demais guias,

atender a necessidade de seu público. O guia traz informações sobre alojamento,

restaurantes, monumentos e reforça o imaginário de seu público não só através de

descrições, informações, críticas e conselhos, como também pelo uso de fotos e imagens

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dos pontos principais, pressupondo já a existência do encantamento desse público com

certos pontos turísticos. Também encontramos no guia do Office du Tourisme esse efeito

da imagem relacionada com o clichê, aguçando o imaginário do leitor brasileiro, sendo

dessa vez, a venda do turismo parisiense para o público brasileiro.

Devido à extensão dos guias e dos seus conteúdos, concentramos nossas análises nesses

materiais supracitados, com a preocupação de analisar os clichês apresentados, que são

usados estrategicamente para seduzir e atrair o leitor aspirante a viajar para França, mais

especificamente, para Paris. Com isso, ele ativa o imaginário preexistente a respeito de

outro povo e sua cultura. Se ele associa Paris à moda, pessoas elegantes, a nomes de alta

costura e se depara com fotos e imagens nos guias, descrevendo as grifes famosas, o

luxo, a elegância, o leitor se vê envolvido pelo encantamento proporcionado por esta

associação.

Essa ideia está ligada a Jodelet (1991), ao dizer que as representações são valores

variáveis de acordo com os grupos sociais que lhe atribuem significado a partir de

saberes anteriores preexistentes, ou seja, ela quer dizer que o processo de elaboração

representativa consiste em reativar esses saberes anteriores preexistentes por meio de

uma situação social particular. Então, podemos associar esse processo representativo

pela interação entre os indivíduos que partilham experiências particulares e afetivas

diante de condições sociais e científicas nas quais estão inseridos.

Esse pensamento em nossa pesquisa é pertinente, pois tratamos de um confronto entre

duas comunidades, no caso a brasileira e a francesa, e os guias turísticos, ao fazerem uso

dos clichês, reforçam esses pensamentos representacionais que os brasileiros possuem

em relação aos franceses e os próprios franceses também usariam algumas de suas

imagens estereotipadas para o mundo objetivando desenvolver e melhorar o seu

turismo, fixando mais ainda os clichês já preexistentes na mente dos estrangeiros.

Trazemos esta ideia, uma vez que a representação se realiza através do processo da

influência e da manipulação social, difundidos pelas esferas institucionais e pelos

espaços midiáticos. Por esta razão, temos as representações atreladas aos sistemas que

promovem versões da realidade por meio de imagens carregadas de significados

compartilhados pelos membros de uma determinada sociedade, isto é, os objetos que

nos cercam recebem definições específicas representando o mesmo ponto de vista dos

indivíduos inseridos no grupo, assim constituindo o que seria uma visão consensual da

realidade.

19

Nosso corpus escolhido foram os guias turísticos e através deles, queremos analisar

como manipulam e influenciam o leitor brasileiro, de maneira a persuadi-lo,

promovendo uma visão consensual de como seria a França, especificamente Paris. De

acordo com a leitura de Kerbrat-Orecchioni (2004), podemos dizer que os guias

turísticos são considerados como gênero híbrido, já que seus discursos se assemelham

aos gêneros descritivos, aos discursos procedurais, críticos e promocionais. Para esta

autora, o discurso promocional se aproxima do enunciado publicitário por suas

características de ser incitativo, avaliativo e laudativo.

Desta forma, a presente pesquisa focaliza os guias turísticos mais ligados a essa

característica do discurso publicitário. Para Charaudeau (2009b), o discurso

propagandista tem como objetivo a incitação, que se caracteriza pelos seguintes

elementos:

O sujeito quer fazer fazer, fazer dizer ou fazer pensar alguma coisa no

outro;

O sujeito falante não se posiciona como autoridade, e sim tem que fazer o

outro acreditar, executando o papel daquele que faz acreditar;

O destinatário da enunciação, sabendo que o sujeito falante não está em

posição de autoridade, se coloca na posição de um dever acreditar que ele será

beneficiado por aquilo que lhe é oferecido.

Essas características supracitadas são vistas no discurso publicitário, promocional e de

propaganda comercial. Como pretendemos analisar os guias turísticos atrelados a esse

discurso promocional, publicitário, precisamos considerar que esses discursos são

caracterizados pela incitação, em que o enunciador, ao apresentar o produto para o co-

enunciador, tenta convencê-lo, persuadi-lo dos benefícios que, no caso do nosso

trabalho, o leitor pode ter. Os guias, em sua estrutura de promocionais, usam os clichês

para convencer o leitor a viajar para Paris, tendo como a publicidade, características de

manipulação, de incitação.

No entanto, para que a incitação ocorra é preciso considerar a interação dos sujeitos no

ato discursivo. Por tratarmos dos guias turísticos, temos que pensá-los em seu ato

interacional, em que Moirand diz que há três tipos de representações: os redatores que

exercem a função de pesquisadores e informantes; os leitores que são os aspirantes a

viagem ou que possuem essa prática de viajar e os habitantes de contato.

20

Então, em nosso trabalho, propomo-nos a analisar as representações apresentadas pelos

discursos dos guias turísticos em formato de texto, mas não descartando os sujeitos que

estão presentes nos discursos destes guias, uma vez que os leitores brasileiros, ao ter

contato com esse material, são persuadidos a visitar ou a desejar visitar Paris, por serem

envolvidos por esse discurso sedutor que se serve não só de descrições e imagens, mas

de elementos apresentados pelos clichês.

Pelo fato de tratarmos em nossa análise sobre os clichês e estereótipos, recorremos à

autora Amossy (2007) que conceitua o estereótipo como sendo uma crença, opinião,

uma representação referente ao seu grupo e seus membros. Este conceito, então,

corresponde a uma construção imaginária resultante de uma interpretação do real. “De

acordo com Lippmann, o estereótipo é um termo que está ligado na nossa mente que

mediatiza a relação com o real, tratando-se de esquemas culturais preexistentes

presentes nesse imaginário social.” (AMOSSY, 2007, p. 26)1

Charaudeau (2009a), reitera essa ideia ao dizer que os estereótipos seriam traços em

comum que se promovem de maneira repetitiva para se fixar. Eles possuem uma

característica simplificadora e generalizante e estabelecem uma ligação social (função

identitária) e essa generalização pode ser tida de maneira negativa, sendo julgada muitas

vezes como falsa em relação ao real.

Após essa discussão, acreditamos que os estereótipos são distintos nos guias turísticos,

variando de acordo com os interesses e necessidades de cada público leitor. Assim,

nosso trabalho visa analisar as tipologias dos estereótipos usados nos guias selecionados

– Destination Paris 2012, Paris shopping-book, Paris gourmand, Le guide du routard:

Paris (2012), Le routard des amoureux à Paris, Paris balades e Guia da cidade:Paris –

usando os conceitos de domínios de hedônico e de estético de Patrick Charaudeau

(2008).

1 Tradução nossa, bem como as demais referências à obra citada.

21

2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

2.1 Representação social e identidade

Verifica-se, nesse capítulo, que a representação social é construída a partir da

necessidade que os indivíduos possuem de querer saber sobre o mundo que os envolve,

os sustenta. É por este motivo, de acordo com Jodelet (1991), que são fabricadas as

representações. Isto é, as representações servem para nos orientar à medida que

nomeamos e definimos os diferentes aspectos de nossa realidade.

O processo de elaboração representativa passa por um pensamento ideológico, uma vez

que os indivíduos constroem valores através de significados pertencentes aos saberes

anteriores preexistentes, presentes nas esferas culturais de uma determinada

comunidade, ou seja, os indivíduos vivenciam e dividem suas experiências por estarem

inseridos em uma mesma esfera social.

Interessante notar que esse processo representativo se realiza por meio da influência e

da manipulação social, difundidos pelas esferas institucionais e espaços midiáticos.

Com isso, as representações estão atreladas aos sistemas que promovem versões da

realidade a partir de imagens carregadas de significados, compartilhadas por indivíduos

pertencentes a uma mesma comunidade, que manifestam uma visão consensual da

realidade na qual estão inseridos, com valores reforçados pela mídia. Desta maneira,

podemos dizer que as representações promovem a difusão e assimilação dos

conhecimentos, tanto no aspecto coletivo quanto no individual, e também auxiliam na

definição de identidade não só individual como coletiva, interferindo assim nas

transformações sociais dos grupos.

No entanto, o ato representativo é formado por uma dinâmica social, que ocorre pelo

conflito entre sujeitos de culturas e comunidades diferentes. Como já foi dito, uma

determinada sociedade compartilha valores, crenças, construindo uma visão consensual

da realidade. Entretanto, é importante ressaltar que há uma interação entre os grupos,

gerando um conflito de ideias e valores, contribuindo para ação e trocas quotidianas, o

que faz esse ato ser visto por sua dinamicidade, uma vez que essas trocas entre grupos

alteram a construção dos símbolos pertencentes a uma comunidade.

22

Nesse trabalho, pretendemos analisar os guias turísticos com objetivo de verificarmos

como a França se autopromove por meio de estereótipos e clichês, selecionando os

setores da moda e da gastronomia, por exemplo. Nesse caso, também observaremos

como Paris é mostrada para os brasileiros, quais as representações estereotipadas e

como foram usadas de maneira a seduzir o viajante brasileiro. Sob essa ótica, cruzamos

esta interface de culturas que se distanciam geograficamente e que possuem histórias e

memórias constituídas de maneira diferente e que apesar desses universos distintos,

apresentam essa dinamicidade entre os povos contribuindo para a simbologia e

imaginário consensual, adotados pelos membros das duas comunidades aqui estudadas.

Logo, precisamos considerar que, para um indivíduo estar inserido em sua comunidade,

é preciso que ele seja partidário daquele ponto de vista que é formado pelos membros

que dela fazem parte, ou seja, para que este ato representacional ocorra é necessário que

haja um processo de adesão e de participação próximos à crença. Este conceito está

intrínseco à ideia do que é tratado como verdade, acarretando regras, valores e condutas

comuns a todos os membros de uma comunidade, que para serem aceitos precisam não

só adotar essas atitudes como também acreditar, tê-las como verdade. O fragmento a

seguir aborda como Bauman (2001) apresenta a crença interferindo na relação dos

membros de uma comunidade: “Numa comunidade, todos nos entendemos bem,

podemos confiar no que ouvimos, estamos seguros a maior parte do tempo e

raramente ficamos desconcentrados ou somos surpreendidos. Nunca somos estranhos

entre nós.” (BAUMAN,2001, p.8)

A citação acima retoma a verdade, a crença como elementos importantes no processo

formador de uma comunidade imaginada, pois representam o bem-estar dessa

sociedade, que cria aspectos comportamentais comuns a seus membros que podem ter

uma estranheza ao terem contato com indivíduos que apresentam outra crença e

verdade. Então, afirmamos que a representação de uma cultura está atrelada ao fato de

os sujeitos de uma mesma comunidade, ao dividirem uma mesma condição social na

qual estão embutidos os valores do mundo, os modelos de vida, as regras ou desejos

específicos, produzem assim o efeito de como se concebe uma cultura. Seguindo esta

lógica, compartilhar uma ideia, uma língua, é também estabelecer, afirmar uma

identidade e uma ligação social.

Entretanto, é importante ressaltar que, segundo Jodelet (1991), essa divisão é orientada

por determinações que têm como base a estrutura e as relações sociais. Os lugares e as

23

posições sociais são determinadas por instituições que definem também regras e

modelos a serem obedecidos. Assim, para o indivíduo ser aceito em sociedade, ele

precisa atender às necessidades e às regras que lhe são estipuladas.

Ainda segundo Jodelet, para que estes valores sejam implementados e legitimados, é

necessário considerar o processo de simbolização e representação de uma comunidade,

recorrendo às seguintes ideias:

Para que ocorra a representação social é necessária a interação entre um sujeito e

um objeto, por tratar-se de alguém que quer definir o objeto que ele encontra em sua

realidade;

A representação social deve ser estudada não somente nos aspectos afetivos,

mentais e sociais ligados à cognição, à língua e à comunicação, deve-se considerar

também as relações sociais que influenciam as representações da realidade material e

ideal.

A representação social está ligada aos interesses de um grupo influenciando um

outro, enraizando verdades e crenças pelo que Charaudeau (2008) chama de

manipulação social. Essa influência é vista, por exemplo, com o uso de mídias e

comunicação.

Segundo Moscovici (1991), a comunicação executa uma função importante em relação

às trocas e interações sociais, pois promove a visão consensual que influencia e define

quem faz parte ou não dos moldes de uma determinada sociedade. Para o autor, a

incidência da comunicação é vista em três níveis, mas o que interessa para o nosso

presente trabalho, é o terceiro nível conhecido como o nível das dimensões de

representações, focando na construção da conduta onde a opinião, a atitude e o

estereótipo aparecem nos sistemas de comunicação midiáticos.

Esses sistemas de comunicação midiáticos, de acordo com Doise (1991), provocam

efeito sobre as opiniões, atitudes e condutas do sujeito, uma vez que apresentam as

seguintes propriedades: a difusão relacionada com a formação de opinião; a propagação

correspondendo às atitudes; e a propaganda concernente aos estereótipos, sendo esta

última, tema de nosso trabalho.

A difusão seria, então, distanciada na relação entre a fonte e os receptores. Seu objetivo

principal é a criação de um saber comum, adaptando a informação à realidade de seu

público. Já a propagação tem por finalidade estabelecer uma visão de mundo bem

24

organizada de maneira que possa promover uma crença, uma verdade. A propaganda

funciona através das relações sociais de conflito, opondo os saberes entre o verdadeiro e

o falso. Essas três propriedades auxiliam na construção das atitudes, opiniões e

estereótipos entre os atores sociais, por atuarem no processo do ato representativo.

Então, essas três esferas acarretam as formações imaginárias que ocorrem por meio das

interações entre os atores sociais. Essas formações se manifestam como formadoras de

opinião simbólica, que se organiza de maneira diferente, dependendo das culturas e do

processo de significação que varia de grupo para grupo: “As representações sociais são

sempre tomadas de posição simbólicas, organizadas de maneiras diferentes, por

exemplo, como opiniões, atitudes ou estereótipos, de acordo com suas interferências

nas relações sociais diferentes.” (DOISE, 1991, p. 229).2

Como vimos anteriormente, a simbolização implica esse acordo entre os atores sociais

em que um indivíduo, ao compartilhar o mesmo pensamento e comportamento de um

determinado grupo, passa a ser aceito por este grupo ou mais de um grupo e pode não

ser aceito e aspirar fazer parte de outro grupo na medida em que ainda não possui como

mesmo valor suas atitudes e crenças. Sob este aspecto, trazemos aqui o conceito da

ancoragem que intervém na formação das representações, pois ela serve para fixar a

representação e seu objeto na rede de significações situando o que seria aceito como

valores sociais, se tornando eficaz e pertinente, garantindo a aceitabilidade do grupo.

O processo de formação do simbolismo cultural (cf. Bartelett, 1923, 1932, 1958) se refere à maneira cujas formas e significações culturais nascem e são moldadas pela transmissão, e com as quais elas modelam e são modeladas pelo pensamento humano. Isso recai sobre o que pode ser chamado: “memória simbólica” (cf. Edwards et Middleton, 1986), a saber o emprego da língua para estabelecer os modos de compreensão para que sejam acessíveis e comunicáveis, graças ao código compartilhado (ou seja símbolos convencionais, regras gramaticais e regras de interpretação). (SEMIN, 1991, p.248).

Quanto à simbolização cultural, Moscovici (apud SEMIN,1991, p.242) diz que se trata

de um modelo de pensamento elaborado e transmitido pelos atores sociais no seu

momento de interação. Logo, esses códigos de compreensão e interpretação são

condensados nas formas de expressão do sujeito, sendo realizadas de maneira

convencional. E é esse fator que caracteriza uma sociedade em relação a outra, é o

código determinado e seguido que formata e orienta um grupo social.

2 Tradução nossa.

25

Esses fatores intrínsecos ao ato representativo, para que sejam realizados, precisam da

interação social entre os indivíduos, que é onde ocorrem a transmissão e fixação dos

saberes. Para que isso ocorra, são designados, para um determinado grupo, os

fenômenos conhecidos como generalização, já que na visão psicológica, as situações de

interação social desencadeiam uma forma de pensamento que reflete uma realidade

vista de maneira geral. Isso nos mostra que, em contextos de elaboração de um

pensamento coletivo, ocorre um processamento de simbolização e categorização

genérico não específico, em que se reduzem traços, visões e características sobre uma

determinada coisa e que gera uma verdade comum a todos quando se trata daquele

objeto definido pelos participantes daquela comunidade.

Desta maneira, esse processo de categorização exige a participação entre os sujeitos

pertencentes a um grupo que, ao determinar suas crenças e valores, ao interagir entre si,

estabelecem como serão representados, e formam, por este viés, sua identidade coletiva.

Porém, estes indivíduos, ao entrarem em conflito com outros grupos diferenciados em

termos de valores e culturas, envolvidos por suas crenças, passam a julgar as condutas e

os comportamentos do outro, aquele que é visto como diferente. Deste modo, a

representação social está sempre em movimento, pois ao ser construída pela interação

entre o sujeito e o objeto, entre grupos, está suscetível a julgamentos e valores que não

são estáticos e sim, mutáveis, propensos a mudanças quando o coletivo admite novas

verdades, crenças e valores que se fixam por um determinado momento.

Assim, as representações sociais contribuem para que um indivíduo ou um grupo

construam uma posição ou uma perspectiva a partir do momento em que observam e

interpretam as situações e os fatos que ocorrem e que favorecem uma comunicação com

o outro, permitindo que se situem e situem o seu mundo. Este pensamento nos direciona

a Charaudeau (2009a, 2009c), ao dizer que um sujeito se identifica quando adquire uma

consciência de si, de seu corpo, de seu espaço e de seus julgamentos. Porém, conforme

já mencionamos anteriormente, essa consciência se constrói por meio da diferença,

quando um sujeito percebe o outro. De acordo com o autor, é essa dinâmica interacional

entre eu e o outro que possibilita essa consciência identitária.

Essa consciência do outro é muito forte no processo construtivo da consciência de si,

sendo esse o fenômeno conhecido como princípio de alteridade, onde há trocas entre os

sujeitos que se reconhecem pela semelhança ou diferença. Isto porque a identidade é

26

formada pelo nosso olhar e o olhar do outro em que descobrimos o que é ser a partir do

momento em que julgamos e percebemos o que é ser aquilo que não é o outro.

A alteridade viabiliza, por sua vez, essa consciência identitária obtida pela diferença

percebida pelo sujeito, que, ao passar por esse processo identitário, desenvolve dois

processos: o de atração e de rejeição em relação ao outro. A ideia de atração está ligada

ao desejo, ao fascínio pelo outro, em que questionamos e se eu fosse como ele? e se ele

fosse como eu?, ou seja, o descobrir-se diferente de si é se descobrir incompleto,

imperfeito, inacabado, ideia que encontramos em Bauman (2004), ao dizer que a

identidade pessoal só é construída a partir da junção das peças de um quebra-cabeça,

mas que não se trata de um quebra-cabeça concluído e sim aquele em que faltam ainda

muitas peças para ser completado.

No entanto, a rejeição para Charaudeau (2009a, 2009b, 2009c) ocorre quando o outro é

visto como uma ameaça, já que sua aceitabilidade acarretaria em adotar outras normas,

valores, outros hábitos. Logo, esta diferença, nesse caso, vem acompanhada de um

julgamento negativo, pois há um medo de a cultura do outro ser considerada como

melhor. Nesta questão, formam-se os estereótipos, pois esses julgamentos negativos que

criamos sobre o outro, soam de maneira a nos proteger dessa identidade diferenciada.

É assim que em contato com o estrangeiro, se julgará que este é muito racional, frio ou agressivo, convencido de que eu mesmo sou sensível, caloroso, acolhedor e respeitoso em relação ao outro. Ou, ao contrário, se julgará o outro como anárquico, extrovertido, pouco confiável, convencido de que se é racional, seguro, direto, franco, confiável [1]. Logo, cada um é levado a julgar tanto mais negativamente o outro quanto mais estiver convencido que suas normas de comportamento e seus valores são os únicos possíveis.(CHARAUDEAU,

2009c, p. 2)3

Esse conflito nos mostra que, ao mesmo tempo, necessitamos do outro para nos

identificar, e esse contato nos vem em forma de ameaça, desconfiança. Partindo dessa

ideia, temos aqui apresentados os processos de afinidade e rejeição e por consequência,

a valorização e/ou desvalorização do outro. No entanto, apesar de estar presente essa

problemática, vemos que a construção identitária se baseia nessa interação do mesmo e

do outro.

É importante notar que a construção identitária se fundamenta nos deslocamentos entre

grupos, interações entre indivíduos com outros pertencentes a uma comunidade

diferente. E é por meio desse confronto de universos que se estabelece ora uma

3 Tradução nossa, bem como as demais referências às obras desse autor, exceto o livro Linguagem e

discurso, de 2008.

27

eliminação ora uma assimilação, porém esses encontros de ideologias são transmitidos

por uma relação de dominação. Isto é, uma parte do grupo, quando interage com outro,

passa a impor sua visão de mundo, seus valores e hábitos onde há, assim, o cruzamento

de etnias e culturas. A identidade diz respeito então a essa formação do querer ser e não

querer ser outro, ser parecido e diferente, que corresponde a traços e características de

um povo, determinando suas verdades, suas ilusões, suas essências.

É no século XVIII que nasce a ideia que a cultura é como uma “essência” que cola nos povos, uma essência que é expressa pelas obras de arte; é assim que cada povo se caracteriza por seu “génie”. Mais racional, na França (é o século do Iluminismo e o triunfo da razão sobre a barbárie), mais irracional na Alemanha (é o século de uma filosofia anti-cientista e o triunfo do romantismo). (CHARAUDEAU, 2009c, p.3)

De acordo com essa citação, a ideia de cultura começa a aparecer no campo das artes

por volta do século XVIII na Europa, e se manifesta por meio das obras de arte, em que

cada lugar e povo manifesta seus ideais, pensamentos e verdades de formas distintas.

No século XIX, é que temos essa cultura enraizando o homem em sociedade,

implicando em seu comportamento. É nesse período que se desenvolve o conceito de

que cada grupo tem sua própria cultura que é transmitida hereditariamente. Dessa

maneira, vemos nessa época as formações de fronteiras nacionais, a ideia de nação, de

língua e de Estado postas em vigor, que estão presentes nas identidades culturais de

cada grupo.

Por esta razão, recorremos ao autor Ballibar (2007), que, ao escrever o texto De l’État

“pré-national’’ à l’État-nation, apresenta a visão protecionista, ao dizer que um povo é

constituído a partir de diversas populações submetidas a uma lei comum e que o

processo de unificação é realizado pela comunicação entre os indivíduos e os grupos

sociais, não apagando as diferenças, e sim subordinando, de modo que se estabeleça

essa diferença simbólica entre o nós e eles. Isto é, esse autor aqui tratado traz uma

concepção segundo a qual a questão de identidade está atrelada à proteção de uma

fronteira, de uma nação. No entanto, não há como manter essa homogeneização de

cultura, já que há um contato entre sujeitos de culturas distintas acarretando mudanças

nos valores e aspectos identitários. Só que um meio encontrado a essa proteção de

identidade social é a criação de uma visão simplificada, reduzida e genérica, os

estereótipos, pois é por meio deles que se fixam ideias e imagens do outro de forma

consensual.

28

2.2. Os estereótipos: seu conceito em questão

Os estereótipos, de acordo com Amossy (2007), são vistos sob essa ótica social por

volta do século XX, uma vez que só aparecem como esquema ou forma cristalizada, em

1920 no ramo das ciências sociais. Segundo essa autora (ibidem, p.26), o publicitário

americano Walter Lippman foi o primeiro a introduzir a definição de estereótipo como

uma expressão da língua que mediatiza as imagens de nossa mente designando nossa

relação com o real. Lippmann defende que essa noção nada mais é que representações

de esquemas culturais preexistentes que permitem ao indivíduo compreender o real, lhe

atribuindo sentido.

Para Amossy (ibidem, p.27), esse processo de estereotipização ocorre quando há uma

categorização e uma generalização, que simplifica e estende o real. Desta maneira,

como apontam os psicólogos sociais, os estereótipos podem propiciar uma visão

esquemática e deformada do outro, gerando assim os preconceitos: “Maneiras de pensar

através dos clichês, é o que designam as categorias descritivas simplificadas baseadas

em crenças e imagens reduzidas pelas quais nós qualificamos outras pessoas ou outros

grupos sociais, objetos de preconceitos” (Fischer 1996: 133, apud AMOSSY, 2007, p.27).

A citação acima remete à ideia de que Amossy trata ao dizer que os estereótipos são

expressões cristalizadas que fazem parte de uma crença compartilhada entre os

indivíduos de uma mesma comunidade. Essas crenças são atribuídas a traços de

personalidade, interferindo nos comportamentos desses grupos que passam a generalizar

e simplificar uma representação. Segundo a autora, isso ocorre devido à uma

necessidade que os seres humanos possuem em buscar uma interação com o objeto que

faz parte de seu campo de visão, de sua realidade possibilitando compreendê-la e prevê-

la, permitindo assim a construção de normas e condutas de uma sociedade: “Crenças

compartilhadas concernentes aos atributos de um grupo humano, geralmente aos

traços de personalidade, mas frequentemente também aos comportamentos”.

(AMOSSY, 2007, p. 28).

Essa ideia é estudada pela área da psicologia social, que realiza o estudo das relações e

o processo da vida social ou ainda como a ciência da interação e das relações em todos

os sentidos, como nos mostra Amossy. Esse campo tem por objetivo teorizar o conceito

de estereótipo ao tratá-lo como mediador das relações sociais, ou seja, a psicologia

social, por meio dos estereótipos, propõe analisar a imagem que os membros de um

grupo fazem deles mesmos e dos outros.

29

É importante ressaltar que essa interação entre grupos proporciona a formação de uma

identidade coletiva que, ao se representar, acaba construindo estereótipos, generalizando

traços e características, passando assim a criar imagens que simbolizariam o real.

A autora nos mostra que, atualmente em nossa sociedade, essa representação coletiva é

fixada pelas mídias, imprensa e literatura de massa. A televisão e a publicidade, nesse

caso, apresentariam para o seu público, uma outra realidade, a de uma outra comunidade

nacional, mostrando valores e símbolos representacionais diferentes, que ao serem

exibidos podem criar um julgamento de estranheza, já que aparecem somente

representações vistas de modo simplificado ou até deturpadas. “Nota-se claramente que

a visão que se tem de um grupo é o resultado de um contato repetido com

representações ora totalmente construídas ora filtradas pelo discurso das mídias. O

estereótipo seria principalmente o resultado de uma aprendizagem social.” (AMOSSY,

2007, p.37).

Isso significa que a mídia desempenha, por meio de esquemas, formas de representar o

outro (conhecimentos, crenças, opiniões), destacando assim a representação que

pretende mostrar de si. Apoiando-nos em Moirand (2004), dizemos que a mídia

reforçaria essas representações coletivas de um grupo, utilizando, como um dos

recursos, o estereótipo de outra identidade nacional para auxiliar na manutenção dos

valores representacionais daquela comunidade social, garantindo dessa maneira, a

formação da conduta dos indivíduos inseridos nos grupos daquela comunidade nacional.

Os tipos de questões que se imaginam, sejam ou não « mostradas » servem então para desencadear configurações explicativas dos saberes a explicar, a maneira de esquematizações elaboradas em resposta a essas respostas e em função das representações que se tem do outro (conhecimentos, crenças, opiniões), das representações que se quer apresentar de si mesmo e das representações que se tem do que se explica.(MOIRAND, 2004, p.121).4

Nesse caso, a estereotipização colabora com a formação identitária de uma comunidade,

pelo fato de essa ação entre os indivíduos designar os status sociais e as funções que

cada um nela exercerá, por meio de um esquema de organização representacional que se

consolida pela interação com outro, que é tratado nessa visão categórica e genérica, por

vezes apresentada e reforçada pelos espaços midiáticos.

A mídia contribui, então, para a manutenção da memória individual e coletiva de uma

comunidade por utilizar discursos já preexistentes em uma cultura de uma comunidade,

4 Tradução nossa, bem como as demais referências a esta obra.

30

que são compartilhados por seus integrantes. O indivíduo, para ser aceito em seu grupo,

precisa ser partidário dos mesmos valores e opiniões que dele fazem parte, assumindo

traços e características coletivas, dentre elas, os estereótipos. Estes elementos vão sendo

agregados, não só através da interação social como também pela contribuição dos

veículos midiáticos (televisão, rádio, propaganda, internet) que se servem dos discursos

do senso comum, das fórmulas comuns, fortalecendo assim a união e a construção

identitária coletiva. Como nos cita a autora Amossy (2007, p.43):

A adesão a uma opinião confirmada, uma imagem compartilhada, permite ao indivíduo proclamar indiretamente sua fidelidade ao grupo do qual deseja fazer parte. Ele expressa de algum modo, simbolicamente, sua identificação a uma coletividade assumindo seus modelos estereotipados. Com isso, substitui o exercício de seu próprio julgamento pelas maneiras de ver do grupo no qual procura se integrar. Reivindica implicitamente, em contrapartida, o reconhecimento de seu pertencimento. É nesse sentido que o estereótipo favorece a integração social do indivíduo. Ao mesmo tempo, assegura a coesão do grupo cujos membros aderem majoritariamente aos estereótipos dominantes. O estereótipo não se limita a assinalar um pertencimento, ele o autoriza e garante (Fishman 1956: 40).

Reiterando o discurso acima, dizemos que os indivíduos adotam uma maneira de ver o

mundo em nome do coletivo, tornando-se adeptos dos pontos de vista, dos símbolos,

regras e condutas do grupo do qual pretendem fazer parte. Dessa forma, é preciso se

criar elementos e imagens que sejam comuns a todos, que sejam elo entre esses

indivíduos consolidando essa identidade nacional, como é o caso dos estereótipos.

Assim, os estereótipos, para Amossy, contribuem para a elaboração da identidade social,

garantindo ao indivíduo o seu pertencimento a um grupo, permitindo que ele se defina,

se situe. Essa construção identitária é formada, conforme diz a psicologia social, a partir

de uma personalidade singular, e também das características do grupo.

Nessa construção identitária, é importante considerar que cada indivíduo possui

diferentes identidades sociais e pertence a vários grupos, classes sociais. E o estereótipo

participa desses grupos para a sua construção de verdade e para designar a função de

cada participante que nessa classe se encontra. Os estereótipos funcionam não só na

distribuição de cada função social do sujeito, como também reforçam a estima de si,

caracterizando uma autoavaliação do indivíduo, já que são instrumentos de

categorização, permitindo dessa forma a distinção do “nós” e do “eles”.

Amossy, ao se apoiar nos estudos da psicologia social, diz que temos uma tendência a

acentuar as semelhanças entre os sujeitos que pertencem ao mesmo grupo (endogrupo) e

essa prática ocorre para nos valorizar em detrimento dos outros (exogrupo). A autora

(ibidem,p.45) faz alusão à teoria de identidade social de Henri Tajfel, que se refere à

31

unificação de um grupo sendo feita para confrontar com a de outro, contribuindo para o

sujeito aumentar o sentimento que tem de seu próprio valor.

A mesma autora apresenta inúmeras vezes em sua obra que os estereótipos são definidos

como uma generalização, ressaltando dessa forma a sua utilidade assim como o seu lado

prejudicial devido às condições de seu uso. Ao mesmo tempo em que colaboram com a

formação da unificação identitária de um grupo, podem também ser aplicados para

estigmatizar outro grupo, gerando os preconceitos.

O preconceito é uma atitude adotada pelos membros de um grupo ao avaliar

negativamente as características de outro grupo, é uma imagem coletiva que circula em

uma sociedade, designando valores depreciativos sobre o outro. Então, de acordo com a

mesma autora, essa avaliação negativa nada mais é do que uma posição que o indivíduo

ou o coletivo tomam em relação ao objeto, que é retomada pelos sintomas e regras de

conduta. Por essa razão, Amossy cita o autor Harding, reforçando esta ideia da avaliação

negativa ser realizada devido ao valor de conduta:

Harding vê no preconceito “uma atitude para com os membros de um grupo exterior na qual predominam as tendências à avaliação negativa, outros falam de atitude negativa injustificável. Lembremos que a atitude se define como a posição adotada por um agente individual ou coletivo para com um dado objeto, posição que se exprime por sintomas e que motivs condutas.” (AMOSSY, 2007, p.35)

Harding vê no preconceito uma atitude em relação aos membros de um grupo exterior

onde as tendências de uma avaliação negativa predominam, outros falam de atitude

negativa injustificável. Lembremos que a atitude se define como a posição de um agente

individual ou coletivo em relação ao objeto dado, posição que se expressa por sintomas

e que condiciona as condutas.

Em todo caso, os estereótipos são imagens e representações comuns a uma comunidade,

condicionando as atitudes, os valores e as normas de seus membros. Quanto à

representação, Amossy (ibidem,p.50) recorre ao autor Moscovici, já citado em nosso

trabalho. Segundo o autor, assim como o estereótipo, a representação social relaciona o

objeto com a realidade sociocultural do sujeito. Nesse caso, o estereótipo é construído

por meio de um senso comum, entendido como conhecimento espontâneo, inocente ou

como pensamento natural em oposição ao científico.

Outro autor já citado e que retorna na obra de Amossy é Jodelet (apud AMOSSY, 2007,

p.50), que se especializa nesse campo representacional. Para ela, a representação social

é definida como uma forma de conhecimento, socialmente elaborada e compartilhada,

32

tendo uma visão prática e concorrendo à construção de uma realidade comum de um

conjunto social. Se formos designar a diferença entre representação social e estereótipo,

é que a primeira é um universo de opiniões e a segunda já é a cristalização de um

elemento, isto é, o estereótipo seria uma forma de fixar as opiniões e representações

identitárias.

Os estereótipos, conforme Amossy, configuram uma maneira de uso condizente à norma

social e cultural. Ele é, portanto, uma ideia convencional associada a uma palavra de

uma cultura já estabelecida. A autora recorre à teoria do estereótipo de Marandin (apud

AMOSSY, 2007, p.90), em que este recurso é usado visando fornecer uma significação

que permite empregar a palavra em um discurso e compreendê-lo, garantindo o bom uso

da comunicação em uma determinada sociedade. Eles descrevem, então, as convenções

sociais, os protótipos, os princípios básicos da economia conceitual, influenciando

assim, a categorização semântica.

A teoria do estereótipo, segundo Putnam, por outro lado, se fundamenta numa representação sociolinguística ideal, a de uma comunidade linguística e social homogênea, cooperando para “estabelecer os meios de uma comunicação ótima e transparente” (Fradin-Marandin 1979 : 82), unida pelo reconhecimento de uma norma comum. Bernard Fradin e Jean-Marie Marandin destacam que o efeito da « verdade imediata » das frases enciclopédicas associadas ao substantivo, sua aparente universalidade, procedem de um apagamento das condições de sua enunciação. O estereótipo funciona como uma evidência sem história que se relaciona ao pré-construído... (AMOSSY, 2007, p.95).

Então, o estereótipo é estabelecido a partir de uma sociedade formada por uma

representação já estabelecida, estabelecendo uma comunicação mais eficiente entre seus

membros, fixando valores e normas presentes nessa comunidade. Em termos

comunicacionais, Amossy diz que a estereotipia se dispõe no bom funcionamento da

argumentação, servindo de base do discurso em uma visada persuasiva, já que, de

acordo com Aristóteles, a argumentação se apoia na formação de opinião comum, na

construção da verdade. Dessa forma, a estereotipia apresenta elementos que buscam a

garantia do funcionamento argumentativo a partir da construção de opiniões por meio

de uma manifestação social e ideológica (ideias recebidas, evidências compartilhadas e

estereótipos) que cruza com a manifestação linguística.

Finalizando, retomamos as ideias de estereotipia empregadas por Amossy. Para a autora,

as funções dos estereótipos são empregadas de maneira a fixar as opiniões e verdades

construídas pela dinâmica sociointeracional. Essa cristalização ocorre com o intuito de

condensar os discursos que retomam e trabalham as situações com informações

preexistentes.

33

Após serem apresentados os estereótipos sob a visão de Amossy, vemos que os guias

turísticos são construídos com o intuito de provocar e instigar seu leitor de forma que

este passe a ter o lugar, no caso a cidade de Paris, como um sonho, um desejo. Este

âmbito de desejo é um dos recursos utilizados pelo gênero argumentativo, à medida que

o convencimento e a persuasão ocorram por meio desse discurso do belo e do prazeroso.

2.3 Os guias turísticos como gênero promocional

Charaudeau (2008, p. 231), através de seu trabalho sobre o gênero argumentativo, fala a

respeito de encenação discursiva que seria o momento do discurso em que o sujeito que

argumenta se vale de procedimentos e estratégias para cooperar com o seu propósito

comunicacional e dessa forma, persuadir seu interlocutor. Esses procedimentos

funcionam com o objetivo de validar uma argumentação por meio do que o autor chama

de procedimentos semânticos. Eles se consolidam em um consenso social, ou seja, são

valores compartilhados por um determinado grupo sociocultural que determinam assim

o que seriam os domínios de avaliação.

Segundo o autor, são cinco os domínios de avaliação: O domínio da Verdade; O domínio

do Estético; O domínio do Hedônico; O domínio do Ético e O domínio do Pragmático.

No caso de nosso estudo, nos concentramos no domínio do Estético e no domínio do

Hedônico. O primeiro termo está relacionado à definição dos conceitos de belo e feio,

ou seja, o valor é representado pelo belo. O segundo termo, por sua vez, refere-se aos

conceitos de agradável e desagradável em que as ações humanas são realizadas devido à

busca do prazer.

Os guias turísticos, portanto, estabelecem essa interação entre o enunciador e o co-

enunciador. Para Moirand (2004), o enunciador seria o redator- investigador e o co-

enunciador, seria o leitor – viajante. Então, o redator exerceria a função de pesquisador

e o leitor seria o consumidor. Com isso, o enunciador, ao transmitir a mensagem para o

seu co-enunciador, precisa utilizar recursos para atrair e convencer esse leitor,

recorrendo aos estereótipos acerca de Paris, toda simbologia que desperta no seu

público a busca pelo prazer e pelo que é belo.

A mesma autora mostra que a interação entre os redatores e leitores depende da relação

do mesmo e do outro. Ao se utilizar do termo “mesmo”, Moirand(2004, p.152) explica

que o autor tenta se aproximar do leitor, se posiciona no lugar de leitor no momento em

que redige o guia, para entender as necessidades desse público alvo. Quando usa o

termo “outro”, ela trata não só das diferenças culturais entre o leitor viajante e os

34

habitantes da região, como também mostra o momento em que o redator se distancia do

seu co-enunciador, já que a diferença entre estes ocorre pelo primeiro já ter tido a

experiência de vivenciar a cultura daquele local desconhecido pelo segundo, no caso, o

leitor.

Deste modo, reiteramos que essas interações nos guias turísticos são expressas por meio

das representações de redatores como pesquisadores, isto é, são aqueles que transmitem

as informações e apreciações sobre os lugares que visitaram, oferecendo também

conselhos; os leitores como viajantes; e os habitantes das regiões de contato. Apoiados

sobre esta autora, mostraremos a seguir, como essas interações representadas entre o

redator (A) e o leitor (B) podem ser esquematizadas:

A faz conhecer alguma coisa a B

A faz ver alguma coisa a B

A (des)aconselha alguma coisa a B

Logo, ao passar as informações e apreciações sobre o destino tratado no guia, o redator

precisa saber as necessidades, gostos e curiosidades do seu público alvo. Para isso, ele

precisa se colocar no lugar do leitor, refletir sobre o que seu leitor busca encontrar ao

comprar o guia e ao mesmo tempo, esse mesmo precisa se distanciar desse co-

enunciador para legitimar sua posição de conhecedor daquele universo, ter

credibilidade. Por este motivo, a ideia desse trabalho é analisar o prefácio e os temas

monumentos, gastronomia e moda dos guias turísticos escolhidos que apresentam a

cidade Paris e neles verificar os estereótipos utilizados e se houve alguma mudança de

acordo com a mudança de público, de acordo com a análise de cada guia selecionado.

Quanto aos guias, apoiando-nos em Catherine Kerbrat-Orecchioni (2004), podemos

dizer que eles são considerados como gêneros híbridos, pois possuem características

tanto dos discursos descritivos como dos procedurais, críticos e promocionais. Os

discursos descritivos correspondem às narrativas de viagem que possuem um objetivo

prático e informacional; os discursos procedurais, já são os mesmo das receitas

culinárias com recomendações práticas ou condicionais para atingir um determinado

objetivo. Nesse contexto, o enunciador se apresenta como se estivesse certo de tudo; os

discursos críticos são os que apresentam avaliações e julgamentos; e os discursos

promocionais apresentam duas ideias: (1) o turista viaja por seu prazer, então só é

necessário descrever e indicar os lugares que lhe agradam, e, atualmente, (2) o turismo é

35

uma indústria e os guias formam essas redes complexas de instituições e organismos

tendo como finalidade promover a atividade turística.

Para Kerbrat-Orecchioni (2004), este último discurso, o promocional, engloba os

demais discursos: descritivo, procedural e crítico, pois, ao querer realizar um convite

para viagem, ele se aproxima do enunciado publicitário onde há uma mistura desses

discursos, buscando, ao mesmo tempo, incitar e avaliar, características correspondentes

a eles.

2.4. As categorias dos estereótipos e os domínios do Estético e do Hedônico.

Para analisar os diferentes estereótipos presentes nos guias turísticos Destination Paris,

Paris shopping-book, Paris gourmand, Le guide du Routard, Le routard des amoureux à

Paris, Paris balades e Paris- guia da cidade, a dissertação buscará os conceitos do

domínio do estético e do hedônico apresentados no capítulo sobre modo argumentativo

do autor Patrick Charaudeau (2008).

Como já foi dito anteriormente, essas visadas fazem parte de uma estratégia

argumentativa, uma vez que os guias turísticos apresentam como uma de suas

características o seu aspecto promocional. De acordo com Charaudeau, a prática

discursiva se fundamenta num jogo de influência sobre o outro, até que esse passa a

aderir a uma posição e é nessa relação que há a persuasão.

Relacionado a esse processo de persuasão do outro, é preciso que o enunciador pense

como deve tocar, sensibilizar o outro, de maneira a mobilizá-lo, direcioná-lo para essa

verdade que lhe é transmitida já que a finalidade da persuasão consiste no fazer

acreditar. E, para isso, são produzidas as estratégias do discurso com o intuito de seduzir

e incitar o outro.

36

3. METODOLOGIA

3.1. A seleção dos critérios para análise dos guias turísticos

Conforme afirmamos no capítulo anterior, o guia turístico é um gênero híbrido por

descrever, informar e criticar, mas o discurso que se destaca em relação aos demais é o

promocional que se aproxima do publicitário (Kerbrat-Orecchioni, 2004, p.135) tendo

por objetivo a incitação. O discurso promocional, entretanto, engloba o domínio do

ético, pois exige uma responsabilidade para com o público alvo, enquanto no

publicitário as estratégias predominantes se situam nos domínios do estético e do

hedônico.

Na nossa análise, procuramos revelar como as categorias dos estereótipos podem ser

inseridas nesta visão do estético e do hedônico (Charaudeau, 2008, p. 232), já que estas,

por pertencerem às representações cristalizadas e compartilhadas por um grupo em

comum, são exploradas com o intuito de despertar o interesse por meio do belo e por

meio daquilo que é prazeroso, conseguindo assim vender o “sonho” de viajar com

destino a Paris.

Em nosso trabalho, selecionamos sete guias para confrontarmos as categorias de

estereótipos que são recorrentes através da análise dos prefácios e das informações

propostas por cada seção, uma vez que, de acordo com Moirand (2004, p.169), os guias

são construídos de forma didática, de modo que ele possa colaborar com os saberes,

sendo, no caso, o saber fazer e o saber ser. Com isso, ao ser subentendido o que estaria

atrelado ao desejo e gosto do seu leitor, o guia é dividido em seções concernentes à

gastronomia, às compras, ao alojamento, à diversão, entre outros. Então, é a partir dos

prefácios e das seções ligadas à cultura e à história, ao shopping e à gastronomia

parisiense que vamos efetuar nossa análise em relação aos estereótipos.

Moirand (2004, p.151) estuda a representação dos sujeitos no guia turístico, em que há

os redatores-investigadores e os leitores-viajantes não deixando de relacionar os

habitantes das regiões que são apresentadas. Com isso, os guias são construídos por

meio de imagens que são elaboradas de acordo com as ideias de Grize (apud

MOIRAND, 2004, p.111) em que coloca que:

O discurso é construído em forma de microuniverso direcionado ao seu

auditório, por meio de uma esquematização;

37

Esta esquematização exige de seu autor que disponha de certas representações da

situação e de seu auditório: as representações aparecem a partir dos índices e das linhas

de pensamento postas em palavras através do discurso;

Ela propõe três tipos de imagem: as que englobam um locutor, o destinatário e o

assunto que é tratado.

Então, seguindo esse quadro representacional, escolhemos três guias turísticos que

visam público – leitor distinto:

a) Destination Paris 2012 (guia do Office du Tourisme): esse guia encontra-se

disponível no site (documento digitalizado) e/ou nos estabelecimentos do Office du

Tourisme por meio de uma brochura, uma instituição do governo que visa a melhoria do

turismo francês. Então, esse guia está atrelado também à autoridade francesa e

utilizaremos o que está redigido no idioma francês. Além do prefácio com o discurso da

autoridade francesa, temos também as seções: se informar, se divertir e se arejar.

b) Paris shopping-book 2013-2014 (guia do Office du Tourisme): esse guia

encontra-se também disponível no site (documento digitalizado) e/ou nos

estabelecimentos do Office du Tourisme por meio de uma brochura. Este guia será

analisado no idioma francês – o mesmo que se encontra em sua versão original

(francês/inglês) e dividimos a análise em: prefácio e chique (onde aparecem as maiores

grifes).

c) Paris gourmand 2013-2014 (guia do Office du Tourisme): esse guia assim como

o Destination Paris e Paris shopping-book encontra-se disponível na internet e nos

estabelecimentos do Office du Tourisme. Ele tem como objetivo orientar o leitor-

viajante em realizar passeios e explorar a cidade parisiense pela perspectiva da

gastronomia.

d) Guia da cidade: Paris (2011): traduzido do inglês da marca Lonely Planet para o

português pela editora Globo, este guia tem um sumário que apresenta os destaques de

Paris e as seções ligadas a informações úteis, artes e arquitetura, compras, onde comer,

onde beber, onde dormir, vida noturna, esportes e atividades, excursões, idioma,

transportes, etc.

e) Le guide du Routard – Paris (2012): esse guia visa um público mochileiro que

objetiva uma viagem mais aventureira, exótica, por conta própria. Esse guia é da editora

Hachette, no idioma francês, e iremos analisar o ano de 2012. A análise deste guia será

feita por meio do início das seções de cada bairro de Paris em que se encontram as

38

seções onde dormir? onde comer? onde sair? onde dançar?e as especifidades de cada

bairro.

f) Le Routard des amoureux à Paris(2013-2014) : Este guia está também em sua

versão original em francês e é publicado pela editora Hachette. Ele tem por objetivo

orientar aqueles que pretendem explorar a Paris romântica, informando os restaurantes

íntimos, os jardins secretos, os hotéis românticos e os bancos públicos situados em cada

bairro parisiense.

g) Le Routard – Paris baldades (2013-2014):Este guia visa também o público

mochileiro. Ele está em francês e é publicado pela editora Hachette. Sua proposta é

orientar em passeios por temas na cidade parisiense, resgatando história e civilização até

a Paris boêmia.

3.2. Tipos dos guias turísticos

3.2.1. Office du Tourisme

De acordo com a Lei de desenvolvimento e de modernização dos serviços turísticos de

22 de julho de 2009: para modernizar com sustentabilidade o setor de turismo, este seria

o fator crucial para a economia e também para o emprego na França. Em 2007, o país

foi a primeira destinação mundial, recebendo 82 milhões de turistas estrangeiros.

Devido a isso surgiu, em 2008, uma necessidade de desenvolver e melhorar a oferta

turística francesa.

O Office du Tourisme é a instituição que destacamos em nossa análise. Em seu site

encontramos um guia turístico atrelado aos discursos e interesses das autoridades que

visa essa melhoria na economia através do turismo. Por isso, não só analisamos a

brochura como também investigamos o que está prescrito no código de turismo francês

acerca desse guia tratado.

Este guia é formado com o intuito de informar e descrever sobre os lugares parisienses,

os hábitos comportamentais e sobre as visitas a monumentos e museus, com o auxílio de

mapas e imagens sobre os pontos turísticos de Paris: “Une commune peut, par

délibération du conseil municipal, instituer un organisme chargé de la promotion du

tourisme, dénommé office de tourisme, dans les conditions prévues aux articles L. 133-2

à L. 133-10 du présent code ” (LEGIFRANCE, lei 2009 – 888).

39

Então, reforçamos esta ideia com o artigo L 133-3, modificado pela lei n0 2009-888 de

22 de julho 2009 – art. 6, que apresenta a função do Office du Tourisme que é assegurar

a recepção e a informação dos turistas assim como promover a cidade ou conjunto de

cidades em coordenação com o comitê departamental e o comitê regional de turismo.

Segundo a lei, o Office du Tourisme é encarregado pelo Conselho Municipal da

elaboração da política local de turismo e dos programas locais de desenvolvimento

turístico, notoriamente nos domínios de serviços turísticos, de exploração de instalações

turísticas de lazer, estudos, entretenimento, de organização de festas e manifestações

culturais.

Então, vemos que, em função de promover o turismo francês, o Office du Tourisme

serve para auxiliar esta atividade por meio de descrições e informações sobre cada

cidade. Já que há essa divisão por cada cidade, focamos nosso trabalho sobre a cidade

parisiense, onde há um forte apelo a turistas. Pelo site do Office du Tourisme parisiense,

encontramos disponível uma brochura estruturada como um guia turístico. Em seu

prefácio, encontramos um discurso de autoridade apresentando a função do guia

chamado Destination Paris 2012.

Conçu à l’attention des journalistes, Destination Paris livre un instantané de la capitale. Il donne les clés de la ville, décrypte les tendances, rappelle les dernières innovations en date et fait le point sur les grands projets structurants en cours. Un état des lieux qui, comme chaque année, témoigne de la vitalité inoxydable de Paris, à la fois ville musée et ville monde, enjôleuse et frondeuse, multiple et unique. De cette alchimie est née l’extraordinaire aura d’une capitale romantique qui fait rêver le monde [...]

Por esse discurso já abordado em nossa introdução, podemos prever que esse guia tem

por objetivo atrair os viajantes do mundo, através de descrições e informações de Paris

que encanta, uma cidade única, romântica, múltipla, histórica, com tendências. Esses

elementos apresentados são imagens em comum com os demais guias turísticos. Ao

fazer uso das representações estereotipadas, os monumentos, a moda e a gastronomia,

os guias envolvem seus leitores através de um discurso sedutor, convencendo-os a

visitarem o local, os museus. Dessa maneira, o Destination Paris antecipa, como todos

os guias fazem, as necessidades e perguntas dos seus leitores, por meio das divisões de

cada assunto tratado, tais como: Onde dormir? Onde comer? Onde se divertir?

Podemos dizer que, em cada seção desta brochura, estão presentes essas representações

e que há a promoção de eventos, manifestações da cidade. Como vemos no exemplo

abaixo:

40

En 2011, une programmation particulièrement attrayante est venue stimuler la fréquentation des sites parisiens : plus de 10,6 millions d’entrées ont été comptabilisées pour les 100 manifestations recensées par l’Office. 9 d’entre elles ont même reçu plus de 250 000 participants chacune. L’année a notamment été marquée par le grand succès de l’exposition : « Matisse, Cézanne, Picasso, l’aventure des Stein », au Grand Palais, qui a accueilli 515 000 visiteurs.

De acordo com este exemplo, há nesse trecho um resultado estatístico obtido no ano de

2011, em que os eventos e pontos turísticos promovidos pelo Office receberam um

grande contingente de visitantes, legitimando então a importância dessa instituição.

Logo, oferecer entretenimentos culturais é uma das características que contribuem para

uma cidade turística ser classificada como posto de turismo com base no artigo L.133-

13(LEGIFRANCE, lei 2009 – 888). Mas, para que essa classificação ocorra é preciso

não somente oferecer esse tipo de serviços e atividades como também, oferecer tipos

variados de alojamento; comércios próximos atendendo às necessidades do viajante;

organizar informações em vários idiomas relacionadas a todas as atividades e ofertas no

momento; melhorar infraestrutura e acesso aos meios de transporte. Essas características

são apresentadas no artigo da forma que apresentamos, a seguir, no idioma original:

a) Offrir des hébergements touristiques de nature et de catégories variées ;

b) Offrir des créations et animations culturelles, faciliter les activités physiques et

sportives utilisant et respectant leurs ressources patrimoniales, naturelles ou bâties

ainsi que, le cas échéant, celles du territoire environnant, pour tous les publics et

pendant les périodes touristiques, et mettre notamment en valeur les savoir-faire

professionnels ayant un caractère traditionnel, historique, gastronomique ou

régional;

c) Offrir à toutes les catégories de touristes des commerces de proximité et des

structures de soins, adaptées notamment aux activités touristiques pratiquées, soit

dans la commune, soit peu éloignés;

d) Disposer d'un document d'urbanisme et d'un plan de zonage d'assainissement

collectif et non collectif, et s'engager à mettre en œuvre des actions en matière

d'environnement, d'embellissement du cadre de vie, de conservation des sites et

monuments, d'hygiène publique, d'assainissement et de traitement des déchets;

e) Organiser l'information, en plusieurs langues, des touristes sur les activités et

facilités offertes, ainsi que sur les lieux d'intérêt touristique de la commune et de ses

environs, et leur assurer l'accès à cette information;

f) Faciliter l'accès à la commune et la circulation à l'intérieur de celle-ci pour tous

publics par l'amélioration des infrastructures et de l'offre de transport, assurer

l'entretien et la sécurité des équipements, la mise en place d'une signalisation

appropriée de l'office de tourisme et des principaux lieux d'intérêt touristique.

41

Com base nesses dados apresentados, percebemos que há um interesse forte do governo

francês em estimular o turismo em seu país, sobretudo em Paris onde há um forte apelo

de viajantes. Nesta cidade, encontramos uma melhoria de oferta de serviços

gastronômicos, hotelaria, segurança, meios de transporte e entretenimento para atender

melhor às necessidades do turista. Dessa forma, analisamos os guias lançados pela

prefeitura de Paris, no caso, o Destination Paris (2012), o Paris shopping - book(2013

– 2014) e o Paris gourmand (2013 – 2014), destinados estes dois últimos à moda e à

gastronomia da cidade. Devido ao aumento a cada ano de turistas no local, passou-se a

criar melhorias para atender esse público, por isso, não só estão disponíveis as

brochuras dos guias turísticos nos estabelecimentos do Office du Tourisme como

também disponíveis on-line onde há a possibilidade também de encontrá-los com

informações sobre todas as categorias: moda, gastronomia e cultura, assim como é

possível encontrar guias de acordo com cada categoria apresentada.

Através do site do Office du Tourisme, encontramos disponível uma brochura com o

título Le tourisme à Paris- chiffres clés (2012), em que se fornecem estatísticas a

respeito do turismo em Paris – essa avaliação é feita desde o ano de 2002 e a cada ano é

analisado o crescimento turístico da cidade, seguindo os números e dados de cada

atividade executada naquele ano. No caso do nosso estudo, trouxemos aqui as análises

do ano de 2012, a serem apresentadas a seguir:

42

(A planilha acima foi extraída da brochura Le tourisme à Paris – chiffres clés 2012 do Office du Tourisme

p.28)

Esse estudo aponta os turistas de diversas nacionalidades e a motivação sobre

escolherem essa viagem. No caso do Brasil, os maiores interesses se concentram em

descobrir a cidade, sendo em torno de 76 % e visita aos museus e os monumentos, por

volta de 75 %, sendo assim os critérios para selecionarmos os estereótipos ligados à

cultura. Não podemos descartar que mesmo sendo menor o número de brasileiros que

buscam as compras 5,9 % e a gastronomia 8,9 % são também motivações para esses

turistas, tornando-se critério de nossa análise também.

43

(A planilha acima foi extraída de Le tourisme à Paris – chiffres clés 2012 p. 6)

A planilha acima nos mostra a densidade demográfica de Paris com uma população

correspondente a 2.243.833 habitantes até a data de 1 de janeiro de 2013, ocupando a

superfície de 105 km2. Outro dado importante a ser considerado aqui são as motivações

que atraem os turistas a escolherem como destino esta cidade.

A terceira planilha a seguir apresenta as atividades feitas pelos turistas de lazer e os

turistas de negócios, sendo elas: visitas de museus e monumentos, descoberta da cidade,

shopping, parques e jardins, gastronomia, visitas de mercados, saídas da noite,

descoberta dos bairros, parques de atrações, espetáculos, eventos culturais.

Os turistas de lazer vão a Paris mais motivados pelos museus e monumentos (91,9 %),

pela descoberta da cidade (79,8 %), pelo shopping (50,1 %), parques e jardins (39,7 %)

e a gastronomia (36,4 %). Os turistas de negócios buscam descoberta da cidade

(60,8%), museus e monumentos (58,2 %), shopping (36,3 %), parques e jardins (26,7%)

e gastronomia(31,1 %).

44

(Esta planilha foi extraída da brochura Le tourisme à Paris – chiffres clés 2012 p. 28)

Esses dados nos auxiliaram para a escolha das categorias que analisamos nos guias

selecionados para nosso estudo, ou seja, focamos a nossa análise nas categorias culturais

onde englobamos os museus e monumentos e a exploração da cidade parisiense; nas

categorias de shopping e moda, onde trataremos os assuntos sobre compras e as grifes

famosas de Paris e as categorias gastronômicas, já que são tratadas como um forte

atrativo turístico.

(Esta planilha foi extraída de Le tourisme à Paris- chiffres clés 2012 p. 29)

Acima, a planilha faz um balanço sobre as atividades realizadas pelos países

estrangeiros que visitam a cidade parisiense, são eles: Alemanha, Austrália, Brasil,

Canadá, China, Estados Unidos, Reino Unido e Rússia. O país que destacamos aqui é o

Brasil, por ser um dos elementos de nosso estudo, pois são guias usados por brasileiros

e tem a ver com os critérios motivacionais usados no ensino de francês língua

estrangeira, quando os alunos brasileiros procuram estudar francês devido a esse

encanto proporcionado pelo guia turístico.

45

Segundo a estatística, as atividades turísticas mais realizadas pelos brasileiros são os

museus e monumentos ficando em 97,5 % , seguida de descobrir a cidade (84,2 %),

shopping (53,5 %) e gastronomia (55,2 %), endossando ainda mais nosso estudo.

Desta forma, dizemos que como guias adotados para nosso estudo, selecionamos as

brochuras do Office du Tourisme, já que é visto pelo código de turismo como um órgão

importante para o desenvolvimento do turismo francês e que visa atender o turista

informando sobre suas necessidades e atrações das cidades francesas.Também é uma

maneira de vermos como a França constrói sua representação não só para os franceses

como também para os estrangeiros, quais são os seus atrativos e suas motivações para

desenvolver seu turismo e atrair os turistas.

3.2.2. Guia da cidade: Paris (Lonely Planet)

A primeira tradução deste guia para o português foi realizada em 2011 e a editora

Lonely Planet autorizou somente para a editora Globo. Os autores da Lonely Planet são

apresentados no início do guia, mostrando as suas especializações e as seções que

escreveram no guia.

Este guia tem como propósito não só levar ao seu público as informações comuns sobre

o destino apresentado, ou seja, aquela informação que encontraríamos em qualquer guia,

como também oferecer detalhes que só mesmo um habitante local poderia fornecer,

sendo este seu diferencial.

OS AUTORES DA LONELY PLANET Por que nossas informações de viagem são as melhores do mundo? É simples: nossos autores são viajantes dedicados e apaixonados. Não aceitam presentes em troca de cobertura favorável, portanto, você pode ter certeza de que as recomendações que recebeu são imparciais.Viajam muito para todos os lugares, mas também fora dos roteiros habituais. Não pesquisam só pela internet ou por telefone. Eles descobrem novos lugares, que não constam em nenhum outro guia. Visitam pessoalmente milhares de hotéis, restaurantes, palácios, trilhas, galerias, templos e mais. Conversam com dezenas de pessoas do local todo dia para se certificarem de que você vai receber aquele tipo de informação que só um habitante do local poderia dar. Orgulham-se de saber todos os detalhes e de contar como funciona(...) p. 15

Então, como vemos, o guia da LP tem um discurso voltado para o leitor mais popular,

com informações mais habituais e sobre o que se espera encontrar em um guia. Por

outro lado, ele propõe este distanciamento da popularidade, tendo como destaque o

papel de exploração do local feito pelos seus guias autores, apresentando um

detalhamento sobre Paris, sendo assim um refinamento do material.

46

3.2.3. Guide du Routard

Este guia visa um público leitor aventureiro, que tem por objetivo explorar o lugar

escolhido, nem sempre traçando os roteiros comuns que o turista costuma realizar,

Moirand (2004,p.109), faz em seu artigo uma distinção entre viajante, turista, visitante e

mochileiro. Segundo ela, essas palavras não possuem a mesma história nem a mesma

memória.

Ora, viajante, turista, visitante, veranista, mochileiro, não são palavras portadoras da mesma história, se adotamos a tese do dialogismo das denominações (Siblot 1998). Os redatores dos guias analisados parecem, aliás, navegar entre a inclusão dessas designações sob o hiperônimo « turista » e a exclusão de algumas dessas designações do paradigma dominado por essa denominação (que implica, para os profissionais, uma atividade a “ser assumida”, como se mencionou acima): “você é um viajante”, “responsável”, diz Lonely Planet ; “independente”, diz o mochileiro; um partidário de uma viagem individual e inteligente, que não quer “passar suas férias num ônibus de turistas lotado”, diz o Let’s go planet. (Moirand, 2004, p.109).

Então, há uma diferença entre os tipos de turistas. Apesar de os guias utilizarem o nome

turista para aquele que realizará uma determinada viagem, há em seu discurso

elementos que condizem com aquele determinado público leitor. No caso do Guide du

routard, o seu público leitor busca uma viagem de caráter mais exótico e aventureiro.

Geralmente, eles não procuram uma viagem de luxo e de muito gasto. Por essa

característica, as informações e as motivações devem ser feitas de acordo com esse

público, buscando atender as suas necessidades.

O Guide du routard reúne em sua equipe pessoas que viajam com uma mochila e um

caderno de anotações e que ao viajarem para um determinado destino, aí ficam até

cumprir a missão para qual foram designados. Ele também é construído pelo viajante

que envia relatos de viagem com dicas e informações sobre o local.

O próprio guia adverte seu leitor sobre seus redatores que estão em anonimato para

provar ao seu público que não há nenhum elo ou desconto com as hotelarias ou

restaurantes e que todos os entrevistados nesse estabelecimento também são anônimos

pelo mesmo motivo.

Quanto ao seu tempo, este guia não pretende só a venda, ele quer ir ao mercado na sua

versão atualizada, com as informações que coincidam com o momento em que o seu

público irá para o seu destino.

47

4. ANÁLISE DO CORPUS

Acreditamos que nossa análise busca validar a seguinte premissa: Ir a Paris tem valor

porque...proporciona o belo e o prazer. Assim, veremos a seguir os corpus retirados dos

guias do Office du Tourisme (Destination Paris 2012, Paris shopping-book 2013-2014 e

Paris Gourmand 2013-2014), Guia da cidade: Paris (2011) e Le Guide du routard

(Paris – 2012, Le Routard des amoureux à Paris, Paris balades), detectando os

estereótipos parisienses que classificamos em domínios estético ou hedônico.

Quanto à nossa análise, salientamos que compreende somente o discurso textual, sendo

as imagens, ou seja, o estudo semiótico acerca da estereotipização dos guias, um assunto

que se pretende abordar futuramente, em uma outra pesquisa.

A começar pelos guias do Office du Tourisme, onde o primeiro guia a ser abordado é o

Destination Paris (2012) em cujo prefácio está presente o discurso da autoridade, no

caso, o prefeito, ao apresentar Paris como cidade que dita tendências, como cidade da

inovação e que ao mesmo tempo é cercada de museus e monumentos, carregando uma

história e cultura. Ele também se refere a Paris como cidade romântica que encanta o

mundo. Então para explorarmos mais este guia, selecionamos as seções se informar, se

divertir e se arejar, já que são os assuntos onde há maior circulação de estereótipos.

O mesmo critério levamos em consideração quando fomos analisar o segundo guia do

Office du Tourisme que é o Paris shopping-book (2013-2014) chamado por nós, como

Guia da moda parisiense. Após o seu prefácio, esse guia compreende as seguintes

seções:

Editorial

Os itinerários do shopping:

LES SÉLECTS: serve para aqueles que gostam de moda e refinamento. No caso

deste guia, é essa seção que analisarei pois trata-se dos grandes nomes da alta costura,

as marcas de luxo e das grandes boutiques parisienses.

LES TRENDYS: orienta aqueles que gostam de seguir as tendências, a moda do

momento.

LES CRÉATIFS: orienta aqueles que gostam de compor o próprio estilo.

48

LES BOBOS CHICS: serve para as pessoas que são atemporais, ou seja, aqueles

que misturam o moderno e o clássico, sem perder o toque de elegância parisiense.

LES ETHIC ETHNIC: onde há a mistura das etnias e o trabalho dos artesãos

parisienses.

LES ASTUCIEUX : são aqueles que gostam de realizar uma boa compra,

quando compram os artigos da moda ou de luxo em um bom preço.

Livro de endereços

Conforme já mencionamos anteriormente, concentraremos a análise somente na parte

Les sélects selecionando algumas marcas de luxo já que há várias maisons e boutiques

famosas e a maioria com discurso semelhante.

O terceiro guia a ser trabalhado é o Paris Gourmand (2013-2014) que após seu prefácio

apresenta um sumário dividido em:

Informations pratiques

L’Office du tourisme et des Congrès de Paris

Centrales de réservation

Restaurants :

Paris : compreende do 10 ao 20 0arrondissement.

Île-de-France: Seine-et-Marne, Yvelines, Essonne, Hauts-de-Seine, Seine – Saint-

Denis, Val-de-Marne, Val-d’Oise.

Tourisme et Gastronomie : Scènes et Seine, Boutiques et salons de thé, En

savoir plus, Marchés alimentaires parisiens

Index

Acima, pode-se observar que o sumário realizou uma divisão respeitando as regiões

parisienses. No entanto, ao seguir com o guia nos deparamos com a divisão de acordo

com os tipos de gastronomia que se encontram em Paris, tais como:

Haute gastronomie: culinária dos chefs renomados

Cuisine française: culinária tradicional e decoração clássica

Brasseries et bistrots: carte classique, ambiance conviviale

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Tendance et inventif : culinária criativa, original

Cuisine du monde : especialidades estrangeiras, ambiente exótico

Pour tous les goûts : pratos variados, serviço rápido, preços moderados

Por tratarmos a respeito dos estereótipos, escolhemos as seções Haute gastronomie

(Alta gastronomia), Cuisine française (Culinária francesa), Brasseries et Bistrots

(Brasseries5 e Bistrôs) e os Salons de thé (Salões de chá).

4.1. Análise dos guias do Office du Tourisme

4.1.1.Destination Paris (2012) ou Guia de Paris

Na seção Se informar, selecionamos alguns trechos e descrições com informações sobre

a cidade parisiense:

1. PREMIÈRE VILLE TOURISTIQUE DU MONDE Auréolée de romantisme, Paris est la première ville touristique de la planète, porte d’entrée d’un pays champion du monde en matière de fréquentation étrangère avec 76,8 millions de visiteurs en 2010.

2. UNE IMAGE CULTURELLE ET GLAMOUR Selon l’étude Country Brand Index 2011 (CBI), la France figure parmi les pays ayant la meilleure image de marque dans le monde. Réalisée depuis six ans auprès de 3 500 touristes d’affaires et de loisirs, l’étude brasse des critères allant de la culture à la gastronomie en passant par l’histoire. Occupant la 9e place du palmarès, la France est plébiscitée pour «son art et sa culture » et pour ses grandes enseignes de luxe, de Chanel à Louis Vuitton, vitrines du style français.

3. Romantique, culturelle, glamour et tendance, Paris fait rêver les touristes du monde

5Brasserie: manteremos a palavra em francês mesmo, devido a existência de estabelecimentos brasileiros

que utilizam a versão francesa. A palavra indica um local que as pessoas costumam frequentar bem

vestidas e degustam bebidas produzidas por levedo.

50

entier. La capitale est régulièrement primée pour la qualité de son accueil.6

No caso do primeiro exemplo, temos ligadas a Paris as palavras turística, romantismo,

estrangeiros. O apelo para a realização desta viagem ocorre através do estereótipo de

uma Paris romântica, sendo o hedônico, o valor predominante. O estereótipo atinge o

leitor pelo apelo ao prazer por meio de um romance, amor e encantamento nessa cidade.

No segundo caso, tem-se a cidade parisiense sendo apresentada pela imagem de cultura,

gastronomia, vitrines, glamour. Esses três argumentos são utilizados para valorizar a

cidade e atrair o turista para realizar sua viagem, em busca de diversão e prazer. Ao ir

para Paris ele encontrará prazer tendo acesso aos monumentos e a historicidade, assim

como passeará pelas ruas vendo o luxo, o glamour, a elegância das vitrines dos

costureiros franceses famosos como Vuitton e Chanel, assim como provarão os pratos

refinados franceses feitos pelos chefs, os doces, as baguetes, os queijos franceses e os

vinhos.

A seção Se divertir inicia com o estereótipo da gastronomia, colocando a cidade de Paris

como referência nesse critério que é visto como um lugar de destaque em relação aos

outros quanto à culinária.

4. LA GASTRONOMIE EN POINTE. Le classement du repas gastronomique des Français au patrimoine de l’Unesco en atteste : manger est un art de vivre. À Paris plus que nulle part ailleurs !

6 Para melhor compreensão de nosso leitor, resolvemos traduzir o corpus a ser tratado em nossa análise que se encontra em língua francesa na versão original.

PRIMEIRA CIDADE TURÍSTICA DO MUNDO. Aureolada de romantismo, Paris é a primeira cidade turística do planeta, porta de entrada de um país campeão do mundo em matéria de visita estrangeira com 76,8 milhões de visitantes em 2010.

UMA IMAGEM CULTURAL E GLAMOUR Segundo o estudo Country Brand Index 2011 (CBI), a França aparece dentre os países como tendo a melhor imagem de marca no mundo ... o estudo utiliza critérios que vão da cultura à gastronomia passando pela história. Ocupando o nono lugar da lista, a França é considerada pela « sua arte e sua cultura » e por suas grandes marcas de luxo, de Chanel à Louis Vuitton, vitrines de estilo francês.

Romântica, cultural, glamour et tendência, Paris faz sonhar os turistas do mundo todo. A capital é geralmente reconhecida pela sua qualidade de anfitriã.

51

5. SO FASHION! Paris endosse avec élégance son statut de capitale de la mode, du luxe, de la création… et du shopping !7

Nesta parte, destacamos a gastronomia e a moda sendo tratadas como estereótipos que

argumentam o valor do prazer, do hedônico. Ao ativar esse imaginário do leitor

estrangeiro em relação a Paris, o enunciador se serve desses estereótipos para

argumentar sobre o por quê é válido viajar para Paris, tendo como prazer a culinária

francesa, famosa e conhecida, não existindo nenhum outro lugar melhor que Paris para

se desfrutar de uma boa comida, de qualidade, tendo assim um discurso subentendido

que seria: quem não gostaria de comer um pão francês e vinho francês, provar os doces

como: os macarons, as madeleines? Outro encantamento ao seu leitor seria feito pelo

prazer pela moda, despertando o imaginário dos parisienses sempre elegantes e bem

vestidos, refletindo suas vitrines e os grandes nomes dos costureiros franceses e suas

grifes ali encontradas.

6. LA VILLE LUMIÈRE BRILLE DE MILLE FEUX Paris, Ville Lumière, n’est pas une vaine expression! Les monuments de la capitale dévoilent des charmes secrets sous leurs éclairages nocturnes. Il y a bien sûr la tour Eiffel qui scintille toutes les heures, mais aussi tous les ponts parisiens, à découvrir depuis les berges ou en bateau. 8

Este fragmento nos traz o estereótipo, Paris – Cidade Luz, que transmite ao leitor o

sonho de visitar essa cidade iluminada, reforçando a beleza de ver o rio Sena, os

monumentos como a torre Eiffel, ressaltados pela Luz e o prazer que é conseguido por

meio dessa visualização.

7A GASTRONOMIA DE PRIMEIRA. A classificação dos pratos gastronômicos dos franceses como

patrimônio da UNESCO atesta: comer é uma arte de viver. Em Paris mais que nenhum outro lugar. SO FASHION! Paris assume com elegância seu status de capital da moda, do luxo, da criação...e do shopping.

8A CIDADE LUZ BRILHA EM TODO ESPLENDOR. Paris, cidade Luz, não é uma expressão à toa.

Os monumentos da capital revelam os charmes secretos sob seu brilho noturno. Não há somente a Torre Eiffel que cintila todo momento, mas também todas as pontes parisienses, a serem vistas de suas margens ou de barco.

52

A seção Se arejar traz os parisienses, os habitantes da região, desperta a curiosidade do

estrangeiro ao se sentir como um parisiense, ter contato com esse povo, e experimentar

essa rotina. Sendo o estereótipo, aqui, o imaginário do parisiense visto pelo estrangeiro,

visto de maneira quase que mítica.

7. LE PARIS DES PARISIENS

Qui mieux que ses habitants peuvent faire découvrir

le « vrai » Paris aux touristes ? Le tourisme

participatif est dans l’air du temps9

Assim, vemos que os estereótipos aplicados nesse contexto, ora serão classificados

como argumentos no domínio do estético ora serão abordados como argumentos no

domínio hedônico. O primeiro será valorado com a seguinte ideia: Viajar a Paris tem

valor porque é belo e o segundo, terá: Viajar a Paris permite o prazer pela sua

civilização e cultura, pela degustação de sua culinária e pela elegância e luxo, presentes

em sua moda.

Nesse primeiro momento de análise, construímos um esquema dos fragmentos

destacados desse primeiro guia escolhido, afim de exemplificar e classificar esses

estereótipos de Paris e seu uso quanto à estratégia publicitária:

Destination Paris 2012

Domínio do Estético

Domínio do Hedônico

Cultura

A beleza de ver os monumentos

reluzirem em Paris.

Argumentos estereotipados:

La Ville Lumière brille de mille

feux Paris, Ville Lumière la tour

Eiffel scintille toutes les heures

Paris endosse avec élégance son

statut de capitale de la mode, du

O prazer é a busca da história,

dacivilização, dos monumentos e

de seus habitantes.

Argumentos estereotipados:

La France est plébiscitée « pour

son art et sa culture ». Ser como

parisiense.

(Imagem cultural de Paris)

9PARIS DOS PARISIENSES. Quem melhor que seus habitantes para conduzir os turistas a conhecer a“ verdadeira” Paris? O turismo participativo está em alta no momento.

53

luxe, de la création… et du

shopping !

Ser belo e elegante como um

parisiense

Gastronomia

Manger est un art de vivre. A

gastronomia não só é uma arte

de viver por proporcionar o

prazer em contemplar os

requintes culinários franceses,

como são atrelados a arte.

Argumentos estereotipados:

Paris da etiqueta e dos

restaurantes de luxo.

A gastronomia como formadora

dos chefs.

A gastronomia que exige uma

elaboração e esteticidade que é

cada vez mais aprimorada e que

se aproxima a função de um

pintor ou escultor ao criar sua

obra de arte.

O prazer é desfrutar da

gastronomia de excelência, de

referência mundial.

Argumentos estereotipados:

Paris dos vinhos, cafés, queijos,

doces e bistrôs.

Moda

Paris endosse avec élégance son

statut de capitale de la mode, du

luxe, de la création… et du

shopping

A beleza das vitrines francesas,

que ditam luxo, glamour e as

O prazer é proporcionado em

fazer compras e se vestir daquelas

marcas francesas, ser elegante

como um parisiense.

Argumentos estereotipados:

Paris do luxo, da moda, do

54

grifes famosas francesas.

Argumentos estereotipados:

Paris do luxo, da moda e das

vitrines das grandes grifes.

glamour, da elegância e das

grandes grifes.

Dessa forma, ao passarmos pelas três seções desse guia: se informar, se divertir e se

arejar, analisamos os estereótipos sob a ótica da representação social de Jodelet (1991)

pois o leitor-viajante, ao realizar sua leitura, constrói um imaginário em relação à

França e aos franceses, através das representações que este guia lhe apresenta.

Neste caso, o leitor é um estrangeiro que, ao ter acesso às informações de Paris passa a

imaginá-la como: Ville Lumière (Cidade Luz), Paris romântica (auréolée du

romantisme), e como capital da moda e do luxo. O guia, então é um gênero textual que

utiliza os estereótipos através dos critérios: cultura, gastronomia e moda. Segundo

Charaudeau (1991), é por meio desses estereótipos que o co-enunciador cria um valor

de verdade, estabelecendo uma distinção entre nós e eles. Com isso, a cidade parisiense

passa a ter uma valoração para o estrangeiro, por meio desses reforços estereotipados

que são constituídos sobre uma cultura já preexistente.

4.1.2. Paris Shopping-Book (2013-2014) ou Guia da moda

Este guia tem como tema central a moda mas oferece dicas dos monumentos e

restaurantes parisienses. Ele divide-se em: les sélects, les trendys, les créatifs, les bobos

chics, les ethic ethnic et les astucieux.

A primeira parte, citamos abaixo, compreende os discursos estereotipados que

aparecem no prefácio e no discurso do prefeito de Paris presente nesta brochura:

1. PARIS, CAPITALE MONDIALE DE LA MODE ET DE LA CRÉATION, vous convie à une balade sous le signe du plaisir et de l’élégance. Est-ce parce qu’elle demeure l’écrin des plus belles marques de luxe ? Depuis toujours, Paris attire créateurs et stylistes, dont le talent s’expose de vitrine en vitrine. 10

10

PARIS, CAPITAL MUNDIAL DA MODA E DA CRIAÇÃO, vos convida ao passeio sob o signo de

prazer e elegância. Seria porque permanece como a exposição das mais belas marcas de luxo? Desde

sempre, Paris atrai criadores e estilistas, cujo talento se expõe de vitrine em vitrine.

55

2. À PARIS, LA CRÉATION EST UN ART DE VIVRE. La mode, dans tout ce qu’elle a d’éternel, d’éphémère et de vivant, en a fait la capitale du style.11

Nesses dois exemplos, temos um apelo propagandista no que diz respeito à moda

parisiense. No primeiro caso, temos como palavras a destacar Paris sendo atrelada

imediatamente à ideia de capital mundial da moda e da criação, sendo uma estratégia

para atrair os turistas a visitarem essa cidade. Esse exemplo indica o que esta cidade tem

para oferecer quando o assunto é moda, ou seja, ela proporciona prazer, elegância, as

marcas de luxo, os grandes estilistas e as vitrines. No segundo caso, ela mostra que na

capital do estilo, Paris reúne o eterno e o efêmero, dita as tendências e por isso fica na

história.

Esses exemplos, conforme já foi dito anteriormente, encontram-se no prefácio do Paris

shopping – book. No entanto, nessa brochura, selecionamos também os exemplos de

estereótipos presentes na seção les séléctifs (os chiques), que são os fragmentos

apresentados a seguir:

1.Vous aimez le luxe et le raffinement à la française. Vous fréquentez les grandes maisons qui ont fait la réputation de Paris dans les domaines de la mode haute couture, de l’accessoire, de la joaillerie… Pour vous, la mode est intemporelle. 12 2. CARTIER. Depuis 1847, Cartier s’impose comme le maître de l’horlogerie-joaillerie française. Inventeur de la montre-bracelet, cette grande maison fait rimer tradition avec innovation, avec des créations alliant savoir-faire et raffinement.13

3. GUERLAIN. Depuis sa création en 1828, Guerlain fait de la beauté un véritable art de

11 EM PARIS, A CRIAÇÃO É UMA ARTE DE VIVER. A moda, em tudo aquilo que tem de eterno,

de efêmero e devida,tornou-a capital do estilo.

12 Você gosta do luxo e o refinamento à francesa. Você visita as grandes lojas que fizeram a reputação

de Paris nos domínios da moda alta costura, de acessório e de joalheria ... Para você, a moda é

atemporal.

13 CARTIER. Desde 1847, Cartier se impõe como o mestre de relojoaria-joalheria francesa. Inventor

do relógio de pulso, esta loja rima tradição com inovação, com criações aliando o saber fazer e o

refinamento.

56

vivre. Les parfums subtils et intemporels et les cosmétiques de la maison ont leurs inconditionnelles...14. 4. JEAN PAUL GAULTIER. Tenues de scène pour chanteurs ou danseurs, costumes de films, prêt-à-porter masculin et féminin, cosmétique, haute couture, parfums… l’homme à la marinière déborde de créativité, pour notre plus grand plaisir.15

5. GIVENCHY. Symbole du luxe et de la tradition classique à la française, Givenchy conçoit vêtements, parfums, bijoux et maroquinerie avec talent et grâce. Audrey Hepburn, muse et amie d'Hubert de Givenchy, fut la plus élégante ambassadrice dont puisse rêver une maison de haute couture.

16

6. CHANEL. Entrer dans la boutique de la rue Cambon, c’est découvrir un peu de l’histoire de la mode. Créée par Coco Chanel dans les années 1910, la marque au camélia blanc reste l’un des emblèmes du luxe à la française, grâce à des artisans hors pair et au génie de son directeur artistique Karl Lagerfeld. 17

14 GUERLAIN. Desde sua criação em 1828, Guerlain faz da beleza uma verdadeira arte de viver. As

fragrâncias sutis e atemporais e os cosméticos da loja tem suas incondicionais...

15 Jean- Paul Gaultier. Figurinos de cena para cantores ou dançarinos, figurinos de filmes, pret a

porter masculino e feminino, alta costura, perfumes... homem da estampa navy, cheio de

criatividade, para nosso grande prazer.

16 Givenchy. Símbolo de luxo e da tradição clássica à francesa, Givenchy produz roupas, perfumes,

bijuteria e artigos de couro com talento e graça. Audrey Hepburn, musa e amiga de Hubert de

Givenchy foi a mais elegante embaixatriz com que poderia sonhar uma maison de alta costura.

17 Chanel. Entrar em uma boutique da rua Cambon, é descobrir um pouco de história da moda.

Criada por Coco Chanel nos anos 1910, a marca da camélia branca é um dos emblemas de luxo à

francesa, graças aos artesãos inigualáveis e ao gênio de seu diretor artístico Karl Lagerfield.

57

Domínio do Estético Domínio do Hedônico

À PARIS, LA CRÉATION EST UN

ART DE VIVRE.

O leitor ao se deparar com essa

frase em um guia específico de

moda parisiense, cria um

imaginário dos desfiles, dos

grandes nomes da alta costura,

onde se tem a elegância e onde são

anunciadas as novas tendências.

Então, a moda e seus estilistas

aparecem como obra de arte, onde

há um destaque, uma inovação e

uma notoriedade.

Argumentos estereotipados:

Venha a Paris e veja a beleza da

moda, da criação, dos desfiles.

Afinal, Paris é a capital da moda.

PARIS, CAPITALE MONDIALE

DE LA MODE ET DE LA

CRÉATION, vous convie à une

balade sous le signe du plaisir et de

l’élégance.

Por tratar-se de um trecho do

prefácio, é importante considerar

que já se inicia resgatando a

imagem de Paris capital mundial da

moda e da criação. Em seguida, o

enunciador coloca o leitor na

posição de convidado e Paris de

anfitriã que lhe proporciona através

da moda o prazer e a elegância.

Argumentos estereotipados:

Venha a Paris, a capital da moda e

você terá acesso ao prazer e à

elegância.

58

Vous aimez le luxe et le

raffinement à la française. Vous

fréquentez les grandes maisons qui

ont fait la réputation de Paris dans

les domaines de la mode haute

couture.

Argumentos estereotipados :

Se você aprecia o luxo e

refinamento à francesa, venha a

Paris e visite as grandes lojas

parisienses de alta costura e você

testumunhará com os olhos, o que

há de belo nessa alta costura de

luxo e refinamento parisiense.

Vous aimez le luxe et le raffinement

à la française. Vous fréquentez les

grandes maisons qui ont fait la

réputation de Paris dans les

domaines de la mode haute

couture.

Argumentos estereotipados :

Se você aprecia o luxo e o

refinamento à francesa, venha a

Paris e divirta-se ao visitar essa

cidade, capital da moda. Você

visita as grandes lojas de alta

costura, tendo prazer ao ter contato

com a moda parisiense, que oferece

luxo e refinamento.

Guerlain fait de la beauté un

véritable art de vivre.

Argumentos estereotipados :

Se você é apaixonado pela moda,

venha a Paris e na grife Guerlain,

você tem conceito de moda

atrelada à beleza sendo uma arte de

viver. Então, tem-se não só o

argumento de Paris como capital

da moda por oferecer através das

grifes e lojas de alta costura o que

é belo.

59

Nessa seção, começamos destacando dois trechos em que o locutor opta pelo uso do

pronome (vous) em Vous aimez le luxe et le raffinement à la françaisee, Vous

fréquentez les grandes maisons qui ont fait la réputation de Paris. Nesse caso,

recorrendo a Moirand (2004), vemos que, ao mesmo tempo em que o enunciador opta

por este pronome para se distanciar de seu co-enunciador, o utiliza também para chamar

atenção deste para o assunto que está apresentando, que no caso é a promoção do sonho

da ida a Paris.

Os outros exemplos que selecionamos referem-se aos grandes nomes da alta costura

francesa, suas lojas e os produtos de destaque em cada uma delas. No caso de nossa

pesquisa, não procuramos focar na história da moda, mas vemos aqui que os guias

turísticos apoiam-se sobre essa notoriedade da moda francesa e para construir o discurso

GIVENCHY.Symbole du luxe et

de la tradition classique à la

française, Givenchy conçoit

vêtements, parfums, bijoux et

maroquinerie avec talent et

grâce.

Argumentos estereotipados :

Venha a Paris e confira a vitrine da

Givenchy, que recupera a tradição

e é símbolo do luxo e da moda

francesa. Venha a Paris e veja as

roupas, os perfumes, as joias e os

artigos de couro da Givenchy.

Entrer dans la boutique de la

rue Cambon, c’est découvrir un

peu de l’histoire de la mode.

Argumentos estereotipados :

Venha a Paris, capital da moda e

contemple a história da moda, a

criação, a arte e a beleza.

Entrer dans la boutique de la

rue Cambon, c’est découvrir un

peu de l’histoire de la mode.

Argumentos estereotipados :

Venha a Paris e tenha prazer ao

descobrir a história da moda

francesa.

60

promocional, atrelando o imaginário Paris, capital da moda aos argumentos de valores

do estético e do hedônico.

No esquema acima, temos frases que nos levam ao imaginário da cidade parisiense

conhecida como capital da moda, onde há os famosos nomes da alta costura – Gaultier,

Cartier, Givenchy, Chanel – os perfumes, as joias, os desfiles, as tendências. Estas

marcas e produtos são usados pelo turismo francês para atingir os estrangeiros que se

sentem atraídos por essa representação, ou seja, os leitores-viajantes fascinados por este

universo do luxo, da elegância e do refinamento. Esses símbolos fazem parte de uma

cultura de outro povo, no caso, dos franceses, sobretudo, dos parisienses. Com isso, os

estrangeiros passam a ter um imaginário estereotipado de que os parisienses andam bem

vestidos e elegantes e ao ir a Paris pode-se ter acesso à beleza e ao prazer

proporcionados pela moda parisiense.

Mas, como já dissemos, não é só a moda que serve para atrair os turistas estrangeiros, a

destacar os brasileiros, a querer viajar para Paris, também há a gastronomia parisiense

que também se tornou referência mundial e veremos alguns exemplos a seguir:

4.1.3.Paris gourmand 2013-2014 ou Guia da gastronomia

Este guia também encontra-se disponível nos estabelecimentos do Office du tourisme

parisiense e no site do mesmo, tem-se em formato de brochura, para download em pdf,

mesma forma em que manuseamos os outros dois primeiros: Destination Paris e Paris

shopping-book.

O primeiro apresenta as informações de maneira mais abrangente, passando pelos

aspectos culturais – monumentos, museus, moda – pelas acomodações, pelos

restaurantes e bistrôs, passeios ecológicos, etc. No entanto, o segundo já trata de um

assunto mais específico, a moda parisiense, voltado assim para o público que já idealiza

e sonha com a Paris: capital da moda.

Este terceiro também possui uma abordagem específica, uma vez que apresentará como

explorar a Paris, lugar dos chefs, vinhos, doces, ou seja, cidade que é reconhecida

mundialmente pela sua gastronomia. Conforme já foi dito anteriormente, este guia é

dividido em seu prefácio, informações práticas, as centrais de reserva, os restaurantes

sendo apresentados por bairros em Paris e departamentos em Île-de-France, cenas e

Sena, salões do chá, Saber mais e passeios alimentares parisienses. Os restaurantes são

61

classificados em: alta gastronomia, gastronomia francesa, bares e bistrôs, tendência e

criação, gastronomia do mundo e para todos os gostos.

Para construir nosso corpus, destacamos trechos do prefácio, da gastronomia francesa,

da alta gastronomia, dos bares e bistrôs, dos cabarés e espetáculos inclusos em cenas no

Sena, salões do chá com as lojas de especiarias finas.

O guia Paris Gourmand está voltado para o leitor que é amante da gastronomia e seu

discurso procura convencer e atrair esse co-enunciador pelos atrativos da culinária

francesa, que é reconhecida mundialmente. Tida como referência, Paris é a cidade onde

há as famosas escolas de culinária francesas, que formam os chefs e onde há a

gastronomia vista como uma arte. Por este motivo, os guias são estruturados com essa

simbologia gastronômica estereotipada: Paris: cidade da gastronomia, com os grandes

chefs, os vinhos de alta categoria, queijos, baguettes e as belas e apetitosas confeitarias.

A seguir, começaremos a apresentação de nosso corpus dividido pelas seções citadas, e

no prefácio. Estão presentes os objetivos do guia, o porquê de ser voltado para a

gastronomia, envolvendo e convencendo o leitor aspirante a viajar para Paris para ter os

contatos com esse tipo de culinária que lhe proporciona o prazer em saborear, que no

caso seria o hedônico e o agradar visualmente, que seria o estético.

Prefácio (Bienvenue – Bem vindo)

1. Visiter Paris, c’est bien sûr découvrir ses monuments, ses musées, ses parcs ; c’est également s’imprégner des ambiances variées de ses quartiers, s’étonner de l’activité incessante de ses habitants, ou encore profiter de ce qui fait la réputation de la France dans le monde entier : la gastronomie.18

2. Selon vos envies et votre budget, vous trouverez assurément dans ces pages un restaurant qui répondra à vos attentes. Et parce que les plaisirs culinaires ne sont pas l’apanage des cafés et restaurants, ce guide recense également les lieux de spectacle, bateaux, boutiques et salons de thé,

18

Visitar Paris, claro é conhecer seus monumentos, seus museus e seus parques: é se impregnar de

ambientes variados dos bairros e se surpreender com a atividade incessante de seus habitantes, ou ainda,

aproveitar daquilo que faz a reputação da França no mundo todo: a gastronomia.

62

écoles et marchés où vous pourrez les retrouver. Bon appétit ! 19

A seção da gastronomia francesa se dedica a informar os restaurantes parisienses que

oferecem uma culinária francesa tradicional, são decorados refinadamente e são

charmosos. Buscando incitar os leitores-viajantes por meio de uma imagem de Paris,

chique e elegante onde há uma gastronomia fina, que exige um saber fazer, uma

habilidade dos chefs.

Cuisine française (Culinária francesa)

3. Cuisine française... depuis 1832. Quatre salons magnifiquement décorés et une terrasse entourée de haies ajoutent au charme de ce lieu classé monument historique.20

4. Réputé pour sa rôtisserie, Chez Clément vous accueille dans un décor original et plein de charme. Cuisine française authentique.21

5. Cinq salons haussmanniens, décorés de hauts miroirs et de gravures d’époque. Cuisine classique, élaborée avec savoir-faire.22

Esses três exemplos nos evidenciam que a culinária francesa é representada pela

construção simbólica do requinte, do charme e do luxo. E que, no caso de um

estrangeiro, se pensarmos por exemplo em um leitor brasileiro, ao ter contato com esse

discurso, constrói uma imagem acerca não só do parisiense mas atribui essa imagem do

parisiense ao francês. Como se todo o tipo de comida que se comesse em Paris fosse

original, refinada e todos os franceses soubessem cozinhar bem, fossem verdadeiros

chefs.

19 Conforme o desejo e o orçamento de vocês, certamente encontrarão nestas páginas um restaurante que

atenderá as suas expectativas. E pelo fato de os prazes culinários não serem exclusividade dos cafés e

restaurantes, este guia apresenta igualmente os lugares de espetáculo, barcos, lojas e salões de chá,

escolas e mercados onde poderá encontrá-los. Bon appétit!

20 Culinária francesa... desde 1832. Quatro salões magnificamente decorados e um terraço cercado de

sebes realçam o charme deste lugar classificado como monumento histórico.

21 Reputado por seus grelhados, Chez Clément vos acolhe em uma decoração original e cheia de charme.

Culinária francesa autêntica.

22 Cinco salões haussmanianos, decorados com grandes espelhos e gravuras de época. Culinária

clássica que exige um saber-fazer.

63

Essa questão dos grandes chefs e as escolas de culinária francesas de reconhecimento

mundial, nos motivaram a selecionar o corpus da próxima seção, a alta gastronomia,

pois é onde o co-enunciador encontra informações sobre os locais onde não há somente

a gastronomia de requinte e bem elaborada, como também exige um nível de

originalidade e inovação, o que seria visto como a diferenciação da gastronomia

francesa e seu reconhecimento mundial.

Haute gastronomie (Alta gastronomia)

6. En profitant de la vue du 2e étage de la tour Eiffel, on déguste la cuisine innovante de ce haut lieu de la gastronomie française. Carte imaginée par Alain Ducasse.23

7. Rendez-vous chic des gourmets. On y déguste des mets raffinés et originaux. Également salon de thé, école de cuisine et comptoir culinaire24

8. Haut lieu de la gastronomie française sis sur l’avenue des Champs-Élysées, la célèbre brasserie du Fouquet’s propose une cuisine française raffinée. un lieu prisé par les stars.25

9. Ce haut lieu de la gastronomie française, situé au-dessus du théâtre des Champs-Élysées, propose une cuisine raffinée à déguster en contemplant la vue sur Paris.C’est l’adresse incontournable des amoureux du diamant noir. dans un décor raffiné, le chef révèle toutes les subtilités de la truffe dans des recettes créatives. L’adresse fait également épicerie fine.26

A próxima seção se refere aos bares e bistrôs franceses onde há uma tradição com

vinhos e queijos franceses e onde há um clima mais harmônico. Essa ideia configura

23

Aproveitando a vista do segundo andar da torre Eiffel, pode-se degustar a culinária inovadora deste

lugar de escol da gastronomia francesa. Menu imaginado por Alain Ducasse.

24 Encontro chique dos gourmets, onde se degustam os pratos refinados e originais. Igualmente salão

de chá, escola de gastronomia e balcão culinário.

25 Lugar de escol da gastronomia francesa. Situado na avenida dos Champs-Élysées, a célebre brasserie de

Fouquet propõe uma culinária francesa refinada, um lugar frequentado pelos grandes astros.

26 Este lugar de escol de gastronomia francesa, situado acima do teatro da Champs-Élysées, propõe

uma culinária refinada para degustar contemplando a vista de Paris. É o endereço incontornável dos

amantes do diamante negro, em uma decoração refinada, o chef revela todas as sutilezas da trufa em

receitas criativas. O endereço tem também delicatessen.

64

uma visualização de Paris com os bistrôs ao ar livre compondo o cenário da cidade onde

a culinária tradicional se reúne para completá-lo. Com isso, o argumento Vem a Paris

para contemplar o belo e ter o prazer, se fortifica ao ter esses emblemas e símbolos

apresentados ao leitor.

Brasseries et Bistrots (Brasseries e Bistrôs)

10. Brasserie typiquement parisienne depuis 1876, cette institution sert une inventive et savoureuse cuisine traditionnelle. Ce petit bistrot typiquement parisien propose une cuisine française traditionnelle à savourer dans une ambiance conviviale.27

11. Une quinzaine de vins sont en permanence mis en avant. Vous pouvez les commander au verre ou à la bouteille et les déguster avec de savoureuses assiettes de charcuterie, de fromages ou de cuisine traditionnelle.28

12. Classée monument historique, cette brasserie à l’ancienne propose une cuisine française traditionnelle de qualité.29

Após vermos o lado refinado e autêntico e o tradicional da gastronomia francesa, não

deixamos de selecionar, para o nosso estudo, a gastronomia atrelada a outro estereótipo:

França, a terra dos cabarés e do cancã. Sendo esta prática mais pertencente à história do

país, ela é mantida para visita e atração turística. E ao abrirmos os guias turísticos e o

guia gastronômico de Paris, o Paris Gourmand, encontramos endereços e nomes de

estabelecimentos parisienses onde podemos ter jantares atrelados aos espetáculos de

cabarés.

Outro espetáculo oferecido é o passeio de barco (bateaux-mouches) que oferece um

passeio panorâmico por Paris, tendo a companhia dos monumentos parisienses nas

refeições, despertando assim todo um encantamento e deslumbramento para o

estrangeiro.

27

Brasserie tipicamente parisiense desde 1876, esta instituição serve uma inventiva e saborosa cozinha

tradicional. Este pequeno bistrô tipicamente parisiense propõe uma culinária francesa tradicional

para saborear em um ambiente amigável.

28 Uma quinzena de vinhos estão constantemente em destaque. Você pode pedir em taça ou garrafa e

degustar com saborosos pratos de frios, de queijos ou culinária tradicional.

29 Classificado monumento histórico, essa brasserie à antiga propõe uma culinária francesa

tradicional de qualidade.

65

Cabarets et spectacles (Cabarés e espetáculos)

13. Un dîner-spectacle sans couverts, ni assiette. Chaque menu se compose d’un assortiment de bouchées sucrées et salées, brochettes, petits fours, etc.30

14. Doyen des cabarets français, ce « paradis» fut construit par Gustave Eiffel. Le restaurant sert des produits nobles, sélectionnés avec exigence.31

15. Un dîner-croisière pour profiter d’une vue exceptionnelle sur les monuments de Paris tout en dégustant une cuisine française de qualité.32

16. Le temps d’une croisière sur la Seine, on se restaure (croque-monsieur, pasta box, crêpe) et se rafraîchit au bar du bateau tout en admirant la vue splendide.33

17. Venez admirer la tour Eiffel depuis les deux terrasses ou à travers de larges baies vitrées, tout en goûtant une cuisine française traditionnelle. Au choix, service au comptoir au déjeuner ou service à table « tout en cocotte » le soir.34

Outra maneira de encantar o leitor por meio da gastronomia, seriam as boutiques, lojas

de especiarias finas, onde há os doces franceses como os macarons, os chocolates,

marron glacê que ganham fama ao lado de grandes marcas como Ladurée, Fauchon.

Essa foi a última seção que selecionamos o corpus do guia Paris Gourmand.

Boutiques et épiceries fines (Lojas e especiarias finas)

18. Les grands noms de la gastronomie (Ladurée, La Maison du chocolat, Nespresso, Fauchon, Mariage frères, etc.) proposent aux

30 Um jantar – espetáculo sem talheres, nem prato. Cada menu é composto de tipos de aperitivos

doces e salgados, brochettes, petits fours, etc.

31 O mais antigos dos cabarés franceses, este “paraíso” foi construído por Gustave Eiffel. O

restaurante serve produtos nobres selecionados com exigência.

32 Um jantar-cruzeiro para aproveitar uma vista excepcional dos monumentos de Paris sempre

degustando uma culinária francesa de qualidade.

33 Tempo de um cruzeiro no Sena, se recupera (croque monsieur, pasta box, crepe) e se refresca no bar

do barco sempre admirando a vista esplêndida.

34 Venha admirar a torre Eiffel pelos dois terraços ou através das janelas de vidro, sempre saboreando

a culinária francesa tradicional. À escolha, serviço no balcão no almoço ou à mesa servido à noite.

66

voyageurs des produits raffinés et gourmands, à emporter dans le monde entier.35

19. La boutique propose une pause gourmande en Champagne : délicieux produits régionaux, chocolats, objets de la table et bien entendu la gamme des champagnes Arlaux. Sur réservation, la boutique se transforme en atelier de dégustation pour les groupes.36

20. Foie gras, macarons, pains d’épices, marrons glacés, chocolats… Dans cette épicerie fine des Champs-Élysées, les produits sont régionaux, français et médaillés !37

35 Os grandes nomes da gastronomia (Ladurée, La Maison du chocolate, Nespresso, Fauchon,

Mariage frères, etc) proporcionam aos turistas produtos refinados e gourmands para levar para o

mundo todo.

36 A loja oferece uma pausa degustativa de Champagne : deliciosos produtos regionais, objetos de

mesa e, naturalmente, uma gama de champagnes Arlaux. Por meio de reserva, a loja se transforma

em ateliê de degustação para grupos.

37 Foie gras, macarons, pain d’épices, marrons glacés, chocolates ... Nesta especiaria fina da

Champs-Élysées , os produtos são regionais, franceses e medalhistas.

Domínio do Estético Domínio do Hedônico

Prefácio

Visiter Paris, c’est bien sûr découvrir ses

monuments, ses musées, ses parcs... ou

encore profiter de ce qui fait la réputation

de la France dans le monde entier : la

gastronomie.

Argumentos estereotipados

Venha visitar Paris lugar que tem boa

reputação gastronômica no mundo

inteiro, venha aproveite este lugar,

divirta-se e descubra essa gastronomia

assim como os seus museus, parques e

monumentos.

67

Bon appétit !

Essa expressão ao ser utilizada no final

do discurso do guia ativa na mente do

leitor essa expressão da língua francesa,

resgatando a fala dos garçons, chefs, os

lugares, ou seja, ela ativa essa identidade

parisiense de capital gastronômica notória

e junto vem o argumento estereotipado do

prazer.

Gastronomia

francesa

(cuisine

française)

Cuisine française... depuis

1832. Quatre salons

magnifiquement décorés et

une terrasse entourée de haies

ajoutent au charme de ce lieu

classé monument historique.

Argumentos estereotipados :

Venha à cidade parisiense e

veja os belos restaurantes, as

decorações e o charme da

Paris gastronômica. Aqui, no

caso, o apelo é a Paris

gastronômica se manifestando

pelo belo

68

Depois de termos apresentado cada seção e o corpus selecionados neste guia,

apresentaremos, em seguida, um esquema onde classificamos esses trechos de acordo

com os argumentos que fazem parte do domínio do Estético e do domínio do Hedônico.

Conforme já dissemos, no prefácio há o objetivo do guia e nessas intenções,

encontramos como apelo a ir para Paris não somente por seus monumentos, museus e

jardins, uma vez que esses elementos já estão presentes no imaginário do estrangeiro,

mas outro símbolo que é posto e somente ele é tratado nesse guia é a gastronomia

francesa, que seria um atrativo a mais, através de sua fama mundial devido às escolas de

gastronomia renomadas, os vinhos, as baguetes, os cardápios refinados e bem

elaborados. O Bon appétit é uma expressão que faz alusão aos discursos do maître, chef

e garçon que estão presentes nesse universo tratado. Então, o prefácio já traz

informações que contribuem para essa diferenciação representacional entre o eu e outro.

Ao passarmos pela segunda análise, vemos que essa estratégia usa os seguintes

argumentos: (1) Vou a Paris porque (x) é belo, agrada visualmente, sendo este um valor

argumentativo pertencente ao domínio do estético e; (2) Vou a Paris porque (x) me

oferece prazer, sendo já um domínio do hedônico. Esses valores argumentativos nos

guias turísticos são apresentados através dos estereótipos que dialogam nesse jogo

Réputé pour sa rôtisserie, Chez

Clément vous accueille dans

un décor original et plein de

charme. Cuisine française

authentique.

Argumentos estereotipados :

Nesse caso, a Paris

gastronômica também é

apresentada pela promoção do

estético, do belo, do visual que

seria produzido pelo charme

da decoração.

Réputé pour sa rôtisserie,

Chez Clément vous accueille

dans un décor original et plein

de charme. Cuisine française

authentique.

Argumentos estereotipados :

Neste ambiente proporcionado

em Paris, cidade da

gastronomia reconhecida

mundialmente. Lá, você terá o

prazer de experimentar a

culinária francesa autêntica,

verdadeira.

69

interacional entre “eu” e “o outro”. De acordo com Charaudeau (2009a, 2009b, 2009c),

ao ser fascinado e encantado pela cultura, regras e valores do outro, o co-enunciador

passa a ser atraído por essa outra identidade, o que atende aos objetivos do guia já que

pretende desenvolver o turismo parisiense. Uma forma de atração do outro, ao se tratar

de Paris, pode ser pelo setor gastronômico, como já vimos no prefácio, até por já ter

construído um reconhecimento mundial.

Então, nessa segunda seção que seria a da gastronomia , estão presentes esses elementos

que encantam o outro. No aspecto estético que se insere no campo da beleza e do visual,

temos a gastronomia francesa sendo explorada pela decoração, resgatando o charme e o

aspecto histórico. No aspecto hedônico, tem o experimentar e o degustar uma culinária

verdadeiramente francesa, de primeira, autêntica e original.

Domínio do Estético Domínio do Hedônico

Alta gastronomia

(Haute

gastronomie)

En profitant de la vue du 2e

étage de la tour Eiffel, on

déguste la cuisine

innovante de ce haut lieu de

la gastronomie française.

Carte imaginée par Alain

Ducasse.

Argumentos estereotipados:

Venha a Paris e aproveite o

segundo andar da torre

Eiffel, degustando a

gastronomia francesa e

tendo a bela vista da

cidade.

En profitant de la vue du 2e

étage de la tour Eiffel, on

déguste la cuisine innovante de

ce haut lieu de la gastronomie

française. Carte imaginée par

Alain Ducasse.

Argumentos estereotipados:

Venha a Paris e aproveite, tenha

o prazer em desgustar a

gastronomia inovadora do

segundo andar da torre Eiffel,

elaborada por Alain Ducasse.

Rendez-vous chic des gourmets.

On y déguste des mets raffinés

et originaux. Également salon

de thé, école de cuisine et

70

Os bares e bistrôs são elementos que já fazem parte de nosso imaginário, quando

ativamos Paris em nossas mentes. E é por esse motivo que, a seguir, é apresentado o

esquema que fizemos em nossa análise onde há o prazer em degustar a culinária

francesa, os vinhos, os queijos franceses.

Veja-se ainda:

comptoir culinaire.

Argumentos estereotipados :

Venha a Paris e tenha o prazer

em degustar os pratos refinados

e originais. Tenha o prazer

também em conhecer os salões

de chá, as escolas de

gastronomia.

Haut lieu de la gastronomie

française sis sur l’avenue des

Champs-Élysées, la célèbre

brasserie du Fouquet’s propose

une cuisine française raffinée.

Un lieu prisé par les stars.

Argumentos estereotipados:

Venha a Paris e tenha o prazer

em experimentar a gastronomia

francesa na refinada avenida

Champs-Élysées onde há uma

brasserie frequentada pelos

astros, venha e divirta-se.

71

Domínio do Estético Domínio do Hedônico

Brasseries et

Bistrots

(Bares e

Bistrôs)

Brasserie typiquement parisienne

depuis 1876, cette institution sert

une inventive et savoureuse

cuisine traditionnelle. Ce petit

bistrot typiquement parisien

propose une cuisine française

traditionnelle à savourer dans une

ambiance conviviale.

Argumentos estereotipados:

Venha a Paris e visite uma

brasserie parisiense, autêntica,

tenha o prazer de desfrutar da

culinária tradicional parisiense.

Une quinzaine de vins sont en

permanence mis en avant. Vous

pouvez les commander au verre

ou à la bouteille et les déguster

avec de savoureuses assiettes de

charcuterie, de fromages ou de

cuisine traditionnelle.

Argumentos estereotipados:

Venha a Paris e tenha o prazer de

experimentar os vinhos e os

queijos franceses.

Classée monument historique,

cette brasserie à l’ancienne

propose une cuisine française

traditionnelle de qualité.

Argumentos estereotipados:

Venha e se deslumbre com

uma brasserie à moda antiga,

que é decorada de modo que se

torna um monumento histórico.

Classée monument historique,

cette brasserie à l’ancienne

propose une cuisine française

traditionnelle de qualité.

Argumentos estereotipados:

Venha a Paris e desguste da

cozinha francesa tradicional e de

qualidade.

72

Veja-se que os dois primeiros exemplos estão voltados para o prazer, ao sentar no bistrô

e degustar um vinho, um queijo. Então esse experimentar a bebida e as especiarias da

gastronomia francesa, nos bares e bistrôs, em um ambiente mais leve, em Paris,

proporciona esse prazer. O terceiro caso, nos remete ao estético ao comparar a brasserie

ao monumento histórico, pois o bar tem uma decoração à antiga, histórica de qualidade,

feita para ser contemplada.

E mais:

Domínio do Estético Domínio do Hedônico

Spectacles et

Cabarets

(Espetáculos e

Cabarés)

Argumentos estereotipados:

Un dîner-spectacle sans

couverts, ni assiette. Chaque

menu se compose d’un

assortiment de bouchées

sucrées et salées, brochettes,

petits fours, etc.

Venha a Paris e tenha o prazer

de desfrutar um jantar junto ao

espetáculo.

Doyen des cabarets français, ce

« paradis » fut construit par

Gustave Eiffel. Le restaurant

sert des produits nobles,

sélectionnés avec exigence.

Argumentos estereotipados:

Realize a viagem a Paris e se

deslumbre com os jantares em

um cabaré francês, construído

por Gustave Eiffel. Venha e

Doyen des cabarets français,

ce « paradis » fut construit

par Gustave Eiffel. Le

restaurant sert des produits

nobles, sélectionnés avec

exigence.

Argumentos estereotipados:

Divirta-se com um jantar em

um dos cabarés parisienses, o

73

contemple esse espetáculo. paradis.

Argumentos estereotipados:

Un dîner-croisière pour profiter

d’une vue exceptionnelle sur

les monuments de Paris tout en

dégustant une cuisine française

de qualité

Venha a Paris e tenha um belo

jantar tipicamente francês em

um cruzeiro contemplando os

monumentos parisienses.

Argumentos estereotipados:

Un dîner-croisière pour

profiter d’une vue

exceptionnelle sur les

monuments de Paris tout en

dégustant une cuisine

française de qualité.

Venha a Paris e divirta-se

jantando em um cruzeiro

tendo a vista dos monumentos

parisienses.

Le temps d’une croisière sur la

Seine, on se restaure (croque-

monsieur, pasta box, crêpe) et

se rafraîchit au bar du bateau

tout en admirant la vue

splendide.

Argumentos estereotipados:

Venha a Paris e faça um

cruzeiro no rio Sena,

admirando a vista esplendida

dessa cidade. Venha e

contemple a vista da bela Paris.

Le temps d’une croisière sur la

Seine, on se restaure (croque-

monsieur, pasta box, crêpe) et

se rafraîchit au bar du bateau

tout en admirant la vue

splendide.

Argumentos estereotipados:

Venha a Paris e se divirta em

um passeio de barco no Sena,

com a vista bela de Paris.

Venez admirer la tour Eiffel

depuis les deux terrasses ou à

travers de larges baies vitrées,

tout en goûtant une cuisine

française traditionnelle. Au

choix, service au comptoir au

déjeuner ou service à table «

Venez admirer la tour Eiffel

depuis les deux terrasses ou à

travers de larges baies vitrées,

tout en goûtant une cuisine

française traditionnelle. Au

choix, service au comptoir au

déjeuner ou service à table «

74

tout en cocotte » le soir.

Argumentos estereotipados:

Venha a Paris e jante em um

dos terraços dos restaurantes

parisienses, deslumbrando a

torre Eiffel.

tout en cocotte » le soir.

Argumentos estereotipados:

Venha a Paris e desfrute de

um jantar tipicamente francês

tendo a vista da torre Eiffel.

O espetáculo também se insere nesse quesito da gastronomia, onde há os jantares

oferecidos pelos cabarés com o cancã francês, que recupera a historicidade e promove a

diversão por meio da comida, da música e da dança, onde o estrangeiro se sente levado

a um ambiente francês e que atinge também o seu campo visual, ao se agradar pela

visão, ao ver a luz, o brilho. Outra diversão é o jantar no cruzeiro ou no passeio de

barco, onde se prova por exemplo, os crepes ao contemplar os monumentos parisienses.

Domínio do Estético Domínio do Hedônico

Boutiques et

épiceries fines

(Lojas e

especiarias finas)

Les grands noms de la gastronomie

(Ladurée, La Maison du chocolat,

Nespresso, Fauchon, Mariage

frères, etc) proposent aux

voyageurs des produits raffinés et

gourmands, à emporter dans le

monde entier.

Argumentos estereotipados:

Venha a Paris e desfrute os doces

finos que são famosos no mundo

inteiro.

La boutique propose une pause

gourmande en Champagne:

délicieux produits régionaux,

75

Por fim, temos as marcas e lojas dos doces finos como Ladurée, Fauchon, La Maison

du chocolat, que são conhecidas mundialmente. Então, o guia apresenta uma ideia como

quem não quer ir a Paris e provar um doce da Ladurée? Não é um doce qualquer, é um

doce francês da Ladurée, e que ao passar pela sua vitrine em Paris, dá uma sensação de

encantamento, de fascínio. O mesmo ocorre ao provar o champagne Arlaux junto aos

doces regionais franceses, isso proporciona um desejo, uma realização. Nesta seção,

conclui-se que o ir a Paris seria provar o “verdadeiro” doce francês, o “verdadeiro”

macaron, marrom glacê.

Então, vemos como a estereotipização funciona para cristalizar e condensar uma

verdade, uma crença. As marcas e os tipos de doces vistos acima já fazem parte da

cultura, da construção identitária francesa. O estrangeiro só reconhece o “valor” daquele

doce por ele possuir a marca, o nome, a referência francesa e parisiense e ao ter uma

chocolats, objets de la table et bien

entendu la gamme des champagnes

Arlaux. Sur réservation, la boutique

se transforme en atelier de

dégustation pour les groupes.

Argumentos estereotipados:

Venha a Paris e deguste dos

chocolates e champagnes franceses

regionais. Tenha esse prazer!

Foie gras, macarons, pains

d’épices, marrons glacés,

chocolats… Dans cette épicerie fine

des Champs-Élysées, les produits

sont régionaux, français et

médaillés.

Argumentos estereotipados:

Venha a Paris e tenha prazer em

desfrutar seus inúmeros doces.

76

aceitação a esse diferente, é que ele dá um valor positivo e chega ao sonho, ao

deslumbramento e o associa ao prazer.

Esses elementos estão presentes nos guias turísticos onde o enunciador, no caso, o

redator-investigador, para seduzir e encantar o co-enunciador, o leitor-viajante, usa de

estratégias que nesse caso serão os estereótipos. Isto é, quando um leitor se depara com

as páginas do Destination Paris, com as frases: Auréolée du romantisme, Paris est la

première ville touristique de la planète et la France est plébiscitée pour « son art et sa

culture » et pour ses grandes enseignes de luxe, ou no guia Paris shopping-book com a

frase: Paris ... son statut de capitale mondiale de la mode, du luxe et de la création ou

em Paris gourmand com a frase Venez admirer la tour Eiffel ... Sempre provando a

culinária francesa, ele ativa esse seu imaginário preexistente acerca da representação da

França e dos franceses, construindo as representações sobre os monumentos e museus, o

resgate histórico, no caso, a torre Eiffel, a decoração antiga dos restaurantes, os

espetáculos de cabaré, ou sobre a moda, imaginando os desfiles, as vitrines, os grandes

nomes da alta costura e os perfumes – Chanel, Givenchy, Gaultier e a sua gastronomia,

os chefs, os doces, as baguettes, os queijos e vinhos. Outra maneira de persuadir o seu

leitor, é quando o redator trata esses elementos mostrando sua apreciação, quando

mostra sua admiração e encantamento por todos esses símbolos que representam Paris e

seus habitantes.

Logo, essa estratégia é feita de maneira tão sedutora que é usado no prefácio a

expressão Bon appétit, servindo como alusão ao idioma, à fala dos chefs, criando todo

um ambiente e envolvimento para convencer o leitor através do sonho, a viajar de fato

para a cidade parisiense.

Conforme vimos com Jodelet (1991), esses valores e símbolos condizentes a uma

determinada sociedade são reforçados pela mídia. Em nosso trabalho, quem executa

essa tarefa é o guia turístico. Como o turismo francês tem por objetivo se autopromover,

melhor promover o turismo, principalmente, o parisiense, ele fará o que Charaudeau

(2008) chama de manipulação social, pois através do guia, as representações sociais

parisienses são enraizadas no outro – estrangeiro que passa a ver o outro-habitante de

maneira consensual. É por isso que os brasileiros veem Paris como capital da moda,

onde há a torre Eiffel, os perfumes, os queijos, pães e vinhos, onde todos os parisienses

são elegantes e andam bem vestidos. Esses elementos fazem parte de uma simbolização

onde um indivíduo, ao fazer parte de um grupo, passa a adotar crenças, valores e

77

comportamentos daquela comunidade. Com isso ocorre o que Moscovici (1991)

considera como generalização, já que os estrangeiros reduzem os traços e os valores

acerca dos parisienses, como se Paris se reduzisse às grandes marcas, aos restaurantes

chiques e com pratos refinados, bebessem champagne Arlaux, tivesse sempre o ar

romântico devido aos jardins e parques e reluzente devido a sua historicidade, arte e os

seus museus e monumentos.

É por isso que são usados esses estereótipos como uma forma de estratégia da

propaganda em que, sob o aspecto de argumentos relacionados aos domínios semânticos

do Hedônico e Estético, esse imaginário sobre Paris é construído através de um sentido

daquilo que transmite o prazer e o belo, respectivamente. É através dessa visualização e

imaginação que se constrói o encantamento, a sedução e, posteriormente, a persuasão,

uma vez que, como iniciamos nosso trabalho, o discurso propagandista para Charaudeau

(2008) tem como objetivo a incitação que consiste em provocar no outro uma crença,

um fazer acreditar e que ele terá um benefício com aquilo. É por este motivo que vemos

presente, no guia turístico, o uso da estereotipização justamente para influenciar este

outro, leitor – viajante, a sonhar com o local que lhe é apresentado e querer viajar para

experimentar e visualizar esses elementos, as maisons de alta costura, entrar em uma

loja Chanel, comprar um perfume Givenchy, degustar de um prato feito por um chef

autêntico parisiense, visualizar os monumentos reluzentes de Paris, como a torre Eiffel

iluminada à noite. Esses símbolos proporcionam ao co-enunciador um encantamento ao

querer realizar essa viagem para satisfazer seu prazer, um prazer também proporcionado

pela apreciação estética.

Então, o guia funciona como gênero híbrido uma vez que, de acordo com Kerbrat-

Orecchioni (2004), ele produz os discursos descritivos, críticos, procedurais e

promocionais. Para a autora, é considerado como gênero descritivo por ter um conteúdo

com narrativas de viagem ou com informações sobre o local. No exemplo acima,

quando tem-se Cuisine française... depuis 1832. Quatre salons magnifiquement décorés

et une terrasse entourée de haies ajoutent au charme de ce lieu classé monument

historique, o eu redator – investigador informa ao outro leitor – viajante sobre o

restaurante, sua decoração, localização, historicidade e tipo de culinária. O discurso

procedural já intervém quando há receitas e recomendações ao leitor. No trecho Vous

aimez le luxe et le raffinement à la française, Vous fréquentez les grandes maisons qui

ont fait la réputation de Paris dans les domaines de la mode haute couture, de

l’accessoire, de la joaillerie…Pour vous, la mode est intemporelle, - nessa frase o

78

enunciador recomenda e sugere ao leitor para vir a Paris e visitar as maisons e lojas da

moda de alta costura. No caso de discurso crítico, citamos a frase por ela fazer uma

avaliação a respeito da culinária francesa, classificando-a como cozinha de qualidade.:

Un dîner-croisière pour profiter d’une vue exceptionnelle sur les monuments de Paris

tout en dégustant une cuisine française de qualité. Por último tem-se o discurso

promocional onde se encontra a informação, a recomendação e a avaliação e, sobretudo,

sua característica principal que é a incitação, ou seja, o objetivo dos guias é incitar,

seduzir o leitor a querer viajar para o local apresentado, no nosso estudo é a cidade de

Paris. Essa característica o aproxima do discurso propagandista pelo fato de envolver o

co-enunciador em seu discurso de sedução.

Sobre essa questão, Moirand (2004) salienta a importância de estudar a interação entre o

redator-investigador, o leitor-viajante e os habitantes, uma vez que o redator, ao ter que

criar estratégias para seduzir e encantar o leitor-viajante, tem que buscar maneiras de

atingir o imaginário desse seu co-enunciador se aproximando de seu universo e se

afastando. No momento em que se afasta, ele mostra as experiências e oferece as dicas,

os conselhos e as informações como vemos nos trechos destacados anteriormente e

quando se coloca na posição de leitor-viajante, busca constituir todo esse imaginário,

essa representação de como seria esse contato do estrangeiro com os monumentos, as

atividades que o local oferece com os seus habitantes locais como vemos em Le Paris

des parisiens, sendo uma maneira de chamar a atenção para descobrir como os

parisienses se divertem e passam seu tempo.

Podemos dizer que toda essa dinâmica social ocorre por esse jogo interacional entre o

enunciador e co-enunciador, onde há uma manipulação social reforçando o imaginário

desse leitor – viajante, que passa a formar crenças e valores, isto é, uma representação

sobre o outro, estabelecendo essa dialética entre identidade/alteridade. É por isso que os

estereótipos são usados com força pois é uma maneira de fixar as generalizações que

não fazem parte da cultura do leitor e que podem ser aceitas com o sentimento de

encantamento, prazeroso e belo.

4.2. Le guide du routard

Conforme já foi dito anteriormente, os três guias a seguir, por serem da linha Routard ,

têm por objetivo orientar o leitor classificado como mochileiro. Nesta pesquisa,

estudamos os seguintes guias: Paris 2012, Le routard des amoureux à Paris

79

(2013/2014) e Paris balades (2013/2014) onde trataremos cada um em sua

particularidade a começar pelo Paris 2012.

4.2.1.Le guide du routard – Paris 2012

Após as informações principais sobre Paris, como as datas festivas, endereços e

telefones úteis, o guia se divide por arrondissement que se inicia com um prefácio,

seguido de Où dormir?, Où manger?, Bars à vins, Cuisine, Où boire un verre?, Où

sortir?, Où danser?, Où écouter de la musique? ora aparecem Salons de thé e por fim,

os monumentos ou atrações pertencentes a cada lugar.

Para facilitar nosso manuseio, foram selecionados alguns trechos de prefácios e

dividimos nos temas: cultura, moda e gastronomia.

1. Qui n’a jamais rêvé devant les vitrines de Noël des grands magasins, en regardant la classe des lapins ou la ronde des lapins?38

2. Et pour « partager » quoi de mieux qu’un bon vieux bistrot parisien (c’est-à-dire... auvergnat, il existe encore) où la baguette est craquante, le sauscisson et la charcuterie à l’ancienne, le fromage fleuri et odorant , le vin gouleyant à souhait ?39

3. « Paris, oui, c’est la tour Eiffel qui monte, qui monte, qui monte au ciel » (air connu), « J’ai deux amours... » (air connu). Paris connaît la chanson : ville amoureuse de l’amour...40

4.Toutes ces images, toutes ces icônes ont nourri le mythe. Mais celui-ci avait déjà rêvetu de spectacles autour : Notre-Dame, le Louvre, écrin de La Joconde, ...Immédiatement reconnus, identifiés, ces « monuments » sont désirées, courus et... fort fréquentés...41

38 Quem nunca sonhou diante das vitrines de Natal das grandes lojas, vendo os tipos ou o círculo de

coelhos?

39 E para “compartilhar” o quê de melhor que um bom velho bistrô parisiense (ou melhor... do

Auvergne, que ainda existe) onde a baguete é crocante, a salsicha e os frios à antiga, o queijo

temperado e cheiroso, vinho fresco a sonhar?

40 “ Paris, sim , é a torre Eiffel que sobe, que sobe até o céu” (canção conhecida), “ Eu tenho dois

amores...” (canção conhecida). Paris conhece a música: cidade romântica do amor...

41 Todas essas imagens, todos esses ícones alimentam o mito. Mas que já tinha sido coberto de

espetáculos ao redor: Notre-Dame, o Louvre, a tela da Gioconda, ... Imediatamente reconhecidos,

identificados, estes “monumentos” são desejados, olhados... e muito visitados.

80

5. Quant au Moulin-Rouge, il continue avec le french cancan, à symboliser pour les touristes étrangers la grande tradition montmartroise.42

6. En parcourant le menu, chaque jour différent, du chef Thierry Bourbonnais, on commence déjà à saliver.43

7. Vous pourrez, au mieux, vous offrir un verre dans le minuscule et superbe Bar Hemingway, en face de la fameuse maison de couture de Coco Chanel, rue Cambon.44

8. LE JARDIN DU LUXEMBOURG

Appartenant au Sénat, c’est l’un des plus beaux jardins parisiens, romantique à souhait avec ses allées ombragées, ses pelouses et ses parterres à la française. En plein milieu du Quartier latin, le Luxembourg (le Luco, pour les anciens) a toujours été un lieu privilegié pour les écrivains, les étudiants et... les amoureux.45

10. LA TOUR EN HABIT DE LUMIÈRE

Tous les soirs, dès la nuit tombée et jusqu’à 1 h du matin, la Tour scintille les cinq premières minutes de chaque heure. Paris sera toujours Paris !46

11. LADURÉE

Parisiens et touristes se pressent aux comptoirs des douceurs pour faire provision de petits-fours ou de pâtisseries (de qualité inégale d’ailleurs). Ne manquez pas de goûter l’incomparable macaron (16 variétés différentes), fierté de la maison.47

12.Bateaux-mouches

Le soir, rien de plus romantique que de dîner sur un bateau-mouche en traversant la Ville Lumière.48

42 Quanto ao Moulin Rouge, ele continua com o cancã francês, a simbolizar para os turistas

estrangeiros a grande tradição de Montmartre.

43 Percorrendo o menu, cada dia diferente, com o chef Thierry Bourbonnais, a gente já começa a

salivar.

44 Você poderá, melhor, beber um copo no minúsculo e formidável Bar Hemingway, em frente à

maison de costura de Coco Chanel, na rua Cambon.

45 Pertencente ao Senado, é um dos mais belos jardins parisienses , romântico a sonhar com seus

caminhos na sombra, suas gramas e seus canteiros à francesa. Em pleno Quartier Latin, o

Luxemburgo (o “Luco” para os antigos) sempre foi um lugar privilegiado para os escritores, os

estudantes e ... os apaixonados.

46 Todas as noites, desde o cair da noite e até 1h da manhã , a Torre cintila os primeiros cinco minutos

de cada hora. Paris sempre será Paris!

47 Parisienses e turistas se acotovelam nos balcões dos doceiros para comprar os petits-fours ou os

doces (por sinal de qualidade inigualável). Não esqueça de experimentar o incomparável macaron (16

variedades diferentes), orgulho da casa.

48 À noite, nada mais romântico que um jantar em um bateau-mouche atravessando a Cidade Luz.

81

Cultura Domínio do Estético Domínio do

Hedônico

1.. « Paris, oui, c’est la tour

Eiffel qui monte, qui monte, qui

monte au ciel » (air connu),

« J’ai deux amours... »(air

connu). Paris connaît la

chanson : ville amoureuse de

l’amour...

Argumentos

estereotipados:

Venha ver essa cidade

bela com sua torre Eiffel,

nela você subirá e lá terá a

visão da bela Paris.

Venha ver a cidade do

amor onde os amantes

passeiam por ela. Venha e

confira!

Argumentos

estereotipados:

Venha e tenha o

prazer de subir na

torre Eifel para ver

Paris, cidade-luz e

cidade dos

apaixonados. Venha e

se apaixone por esta

cidade cultural e

romântica.

2. Toutes ces images, toutes ces

icônes ont nourri le mythe.

Mais celui-ci avait déjà rêvetu

de spectacles atours : Notre-

Dame, le Louvre, écrin de La

Joconde, ...Immédiatement

reconnus, identifiés, ces «

monuments » sont désirées,

courus et... fort fréquentés...

Argumentos

estereotipados:

Venha a Paris e veja todos

esses monumentos,

museus e obras de arte,

venha e aprecie não só os

monumentos como os

museus como também as

obras de arte.

Argumentos

estereotipados:

Venha a Paris e visite

os monumentos mais

desejados do mundo,

como é o caso do

museu do Louvre com

a obra da Monalisa e

tenha o prazer por essa

contemplação da arte.

3. ... c’est l’un des plus beaux

jardins parisiens, romantique à

souhait avec ses allées

ombragées, ses pelousses et ses

parterres à la française

Argumentos

estereotipados:

Venha e veja os belos

jardins de Paris que são

lugares românticos. Venha

e veja a Paris romântica.

Argumentos

estereotipados:

Venha e se encante

com Paris, apaixone-

se passeando nos

jardins parisienses e

românticos dessa

cidade. Venha e

82

apaixone-se em Paris.

4. Quant au Moulin-Rouge, il

continue avec le french cancan,

à symboliser pour les touristes

étrangers la grande tradition

montmartroise.

Argumentos

estereotipados:

Com o forte apelo aos

turistas, venha à Paris e

veja os cabarés e suas

dançarinas com

performance do cancã

tradicional.

Argumentos

estereotipados:

Venha e divirta-se

com a música e a

dança tradicional

parisiense. Venha a

Paris e tenha o prazer

em assistir um cancã

no famoso Moulin

rouge.

5. LE JARDIN DU

LUXEMBOURG

Appartenant au Sénat, c’est l’un

des plus beaux jardins parisiens,

romantique à souhait avec ses

allées ombragées, ses pelouses

et ses parterres à la française.En

plein milieu du Quartier latin, le

Luxembourg (le Luco, pour les

anciens) a toujours été un lieu

privilegié pour les écrivains, les

étudiants et... les amoureux

Argumentos

estereotipados:

Venha a Paris e veja a

beleza de seus jardins que

dão o tom romântico.

Afinal, Paris é a cidade do

amor e dos apaixonados.

Argumentos

estereotipados:

Venha a Paris e tenha

prazer em passear por

seus jardins que são

belos e lugares dos

apaixonados, venha e

divirta-se ao conhecer

Paris, a cidade do

amor.

6. LA TOUR EN HABIT DE

LUMIÈRE

Tous les soirs, dès la nuit

tombée et jusqu’à 1 h du matin,

la Tour scintille les cinq

premières minutes de chaque

heure. Paris sera toujours Paris !

Argumentos

estereotipados:

Viaje para Paris e

contemple a torre Eiffel

iluminando a bela Paris, a

Paris eterna. Então, esse

argumento visa o belo, o

estético.

83

Moda Domínio do Estético Domínio do Hedônico

1.Qui n’a jamais rêvé

devant les vitrines de

Noël des grands

magasins, en regardant

la classe des lapins ou

la ronde des lapins ?

Argumentos estereotipados:

Venha a Paris e veja as belas

ornamentações de Natal das

grandes lojas.

Argumentos

estereotipados:

Venha e divirta-se na

época de Natal passeando

pelas vitrines das grandes

lojas parisienses.

2. Vous pourrez, au

mieux, vous offrir un

verre dans le

minuscule et superbe

Bar Hemingway, en

face de la fameuse

maison de couture de

Coco Chanel, rue

Cambon.

Argumentos estereotipados:

Venha a Paris e contemple as

famosas grifes e suas vitrines

como é o caso da marca

Chanel.

Argumentos

estereotipados:

Venha a Paris e divirta-se

ao visitar as grandes

maison de alta costura,

afinal Paris é a capital da

moda.

Gastronomia Domínio do Estético Domínio do Hedônico

1. Et pour « partager »

quoi de mieux qu’un

bon vieux bistrot

parisien (c’est-à-dire...

auvergnat, il existe

encore) où la baguette

est craquante, le

sauscisson et la

charcuterie à

l’ancienne, le fromage

fleuri et odorant , le

vin gouleyant à

souhait ?

Argumentos

estereotipados:

Venha e desfrute dos

vinhos, dos queijos e das

baguetes em um bistrô

parisiense.

84

2. En parcourant le

menu, chaque jour

différent, du chef

Thierry Bourbonnais,

on commence déjà à

saliver.

Argumentos

estereotipados:

Viaje para Paris e tenha o

prazer em degustar o

menu preparado por um

chef francês, já que Paris

é referência da

gastronomia mundial.

3. LADURÉE

Parisiens et touristes

se pressent aux

comptoirs des

douceurs pour faire

provision de petits-

fours ou de pâtisseries

(de qualité inégale

d’ailleurs). Ne

manquez pas de goûter

l’incomparable

macaron (16 variétés

différentes), fierté de

la maison.

Argumentos estereotipados:

Ao viajar para Paris, você verá

as belas vitrines e balcões das

docerias, com os típicos doces

franceses (petits-fours,

macarons).

Argumentos

estereotipados:

O prazer em degustar os

doces franceses.

4. Le soir, rien de plus

romantique que de

dîner sur un bateau-

mouche en traversant

la Ville Lumière.

Argumentos estereotipados:

Venha a Paris e veja o belo da

Cidade Luz através de um

jantar no bateau-mouche.

Argumentos

estereotipados:

Venha a Paris e divirta-se

em um jantar no bateau-

mouche atravessando a

Cidade Luz

Nesse guia, apesar de ter os estereótipos, os traços comuns, a simbologia que os turistas

possuem em relação aos parisienses, esses não aparecem de maneira tão direta, pois

85

essas representações aparecem junto a outras informações, ora históricas ora de

aventuras, trechos de música, de poema, não perdendo o foco de seu público que busca

explorar Paris sob uma outra ótica, por sua aventura ou com outras propostas de

passeios, não sendo tão característico como passeio de turista, não estão interessados

muito em luxo, preferem o que há de exótico no lugar até então desconhecido por eles.

Só que esse guia nos mostra que mesmo com uma abordagem um pouco diferente do

guia do Office du Tourisme, ele também é popular, então o luxo, o elegante, os

estereótipos parisienses aparecem de uma maneira mais escondida entre as informações

históricas, culturais, junto com as curiosidades de Paris.

Nossa análise neste guia, consistiu em passar pelos arrondissements buscando o que

estaria ligado aos estereótipos parisienses de acordo com os monumentos, classificados

como no domínio cultural, com as informações de moda e grifes, sendo classificada

essa parte como moda e os restaurantes tradicionais franceses e elegantes, os tipos de

comidas, os doces, os vinhos, os queijos, todas essas informações classificadas como

gastronomia.

O aspecto cultural faz alusão aos monumentos a começar pela torre Eiffel e sua

grandiosidade e o estereótipo da cidade apaixonante, do amor. Essa expressão Paris,

c’est la tour Eiffel qui monte, qui monte au ciel é um trecho de uma música Paris – tour

Eiffel, sendo expressa pelo guia como algo já conhecido pelo leitor. Então, começa

abordando esse monumento pela sua altura, propiciando ao seu público alvo esse prazer

pelo estético, pelo que é visto, à beleza da grandiosa torre Eiffel. Continuando pelo

aspecto musical, ressaltando um imaginário estabelecido por essas canções referentes a

beleza da cidade parisiense, pelos seus monumentos, o guia também destaca canções de

Paris romântica, já que uma das representações de Paris é essa, a cidade do amor,

suscitando ao leitor um desejo de conhecer essa cidade que proporciona o prazer de

vivenciar o sentimento do estar apaixonado.

Em seguida, o próximo fragmento que selecionamos tem presente uma referência à

Catedral de Notre-Dame, ao museu do Louvre onde há a famosa obra Monalisa, tratados

como ícones, símbolos que marcam a representação francesa, mais precisamente,

parisiense. O guia reforça a importância histórica de cada um desses monumentos

citados, reforçando o porquê destes serem tão aclamados, visitados e importantes para

cultura francesa, consequentemente, para o turismo francês também.

86

Outro corpus que tratamos acima é sobre o Moulin Rouge, um famoso cabaré onde os

turistas vão para se divertir e visualizar uma dança conhecida como cancã. Essa dança já

foi tida na cultura francesa como representação do profano contra a moral da sociedade,

e para os turistas, é somente uma dança tradicional onde as dançarinas levantam uma

parte das saias, mostrando uma de suas pernas jogadas no ar. Essa dança é um atrativo

turístico suscitado pelo espetáculo, na ambientação da época dos cabarés, e proporciona

uma diversão para este público que pretende se deslumbrar neste ambiente resgatando

um momento cultural e histórico de Paris.

Outra imagem reforçada pelo guia são os jardins parisienses, no caso, selecionamos o

jardim de Luxemburgo, que tem as gramas, os canteiros com sombra e os caminhos à

francesa, ou seja, um jardim florido e colorido que encanta os escritores, os estudantes e

os apaixonados. Então, esse toque delicado, florido e romântico é que simboliza a Paris

cidade do amor, tornando- se também um apelo para o estrangeiro que anseia viajar para

esta cidade em busca de vislumbrar esse panorama e desfrutar do que este ambiente

proporciona.

No tema moda, temos nesse guia a vitrine das grifes na época de Natal que ficam

decoradas com alusão aos bichos de pelúcia, dados de presente às crianças no Natal e

que se torna sensação e atrativo turístico. As próprias maisons de alta costura, a destacar

no guia a marca da famosa costureira Coco Chanel, atraem o turista por esse discurso do

estético, ver o que é tendência, o que está sendo dito pela alta costura no momento, e

também o atrai para passear e ter o prazer de conhecer essas grifes conhecidas

mundialmente, sendo prazeroso contemplar o estético, o belo pelas roupas, acessórios

criados, ao realizar o passeio até a maison dessa grife referência da moda e da alta

costura, uma vez que Paris é representada como símbolo da moda mundial.

No tema gastronomia, ressaltamos em nosso corpus escolhido os elementos que

incorporam a representação da gastronomia francesa para o estrangeiro, sendo eles o

vinho, os queijos com aquele cheiro forte, as baguetes que enfeitam as padarias e

docerias parisienses, como citada a famosa marca de doces Ladurée, que proporcionam

o prazer através de seus sabores, ou seja, é o sabor fornecido pelo vinho e pelo queijo

franceses, por isso ganham uma valoração e uma legitimação pelo outro, pelo

estrangeiro.

Nesse aspecto também são abordados nesse guia os tipos de jantares, do menor ao maior

preço, de elegante e tradicional ao de cozinha estrangeira. O leitor não só é informado

87

quanto a esses quesitos como também tem a descrição sobre o ambiente desses

restaurantes. Como tratamento dado a nossa análise temos o corpus que trabalha o

encantamento por meio do jantar em um cruzeiro em um barco parisiense, o bateau-

mouche, que à noite realiza esses jantares cruzando o rio Sena passando pela torre Eiffel

que ilumina e eterniza Paris – vendendo o sonho de estar desfrutando o prato de um chef

francês com a luz do monumento belo que enfeita toda Paris, a torre Eiffel.

Conforme já foi dito anteriormente, em relação aos guias tratados pelo Office du

Tourisme, esse guia routard aborda os estereótipos não tão diretamente se comparado

com os guias de autoridade, uma vez que o governo francês tem como objetivo

desenvolver, aumentar o turismo francês, principalmente o cartão de visita de seu país

que é a cidade de Paris, por isso ele busca melhoria em acomodações, em informações

instalando postos do Office du Tourisme nos aeroportos e na cidade, para acolher e

orientar melhor o estrangeiro, o turista. Logo, os guias do Office du Tourisme

apresentam a Paris moderna, atual, tecnológica e ecológica, mas também reforça as

representações e os estereótipos sobre os parisienses já que, geralmente é um forte apelo

para o outro, no caso leitor-viajante que embarca nesse imaginário que

consequentemente, gera um encantamento. Por este motivo, encontramos mais

diretamente os estereótipos nos guias do Office du Tourisme, diferentemente do que

iniciamos em nossa análise do guide du routard, que já trata os estereótipos

constratando com informações históricas e culturais, pois o público alvo deste guia

tende a realizar uma viagem procurando ter um contato com o local e seus habitantes,

compreendendo melhor traços e aspectos daquela região.

Como vimos no Office du Tourisme, este abordava Paris de forma mais ampla, não

apresentando uma especificidade. Tratando de monumentos, moda, gastronomia entre

outros temas. Os outros dois guias já eram mais específicos: um tratava somente de

gastronomia e outro de moda, para visualizarmos se possuíam também uma grande

quantidade de estereótipos. Por isso, ao vermos que o guide du routard também

apresentava outros guias mais específicos, selecionamos dois, um com os passeios

românticos em Paris e o segundo seriam os passeios temáticos de Paris, para vermos se

há a presença de estereótipos e se continua essa proposta de um guia voltado para a

informação histórica e cultural assim como foi verificado no primeiro guia Le guide du

routard :Paris (2012) analisado acima.

88

4.2.2.Le routard des amoureux à Paris (2013/2014)

1) C’est à la faveur d’une passion que l’on découvre vraiment les charmes de la Ville Lumière49 ;

2) Paris est une ville amoureuse : elle regorge de statues de Maillol et Rodin aux formes voluptueuses, de petits hôtels charmants acceptant à bras ouverts les touristes de l’amour buissonnier50 ;

3) S’il pleut, c’est le quartier idéal pour aller se promener, bras dessus, bras dessous : le 2e arrondissement est un labyrinthe de passages secrets, aux boutiques bien sages, aux vitrines joliment décorées, au charme cossu et légérement désuet.51

4) Une adresse pour les amoureux de Montmartre et pour les amoureux tout court.Ambiance bucolique et charmante avec des chambres à la déco fleurie et rafinée (même le minibar a été recouvert de tissus coordonnés, ceux qui ont le sens du détail apprécieront !). Si vous en avez les moyens, ne ratez pas cette belle adresse de charme. Excellentes présentations, accueil charmant.52

5) Petit itinéraire romantique

Bateaux-mouches : Idéal pour les amoureux qui souhaitent toucher ensemble le coeur de la Ville Lumière.53

49 É seguindo uma paixão que realmente se descobre os charmes da Cidade Luz;

50 Paris é uma cidade romântica: ela tem inúmeras estátuas de Maillol e Rodin em formas voluptuosas,

pequenos hotéis charmosos, que aceitam de braços abertos os turistas com amores passageiros;

51 Se chove, é o bairro ideal para passear de braços dados: o segundo arrondissement é um labirinto

de passagens secretas, com lojas bem antigas, vitrines lindamente decoradas, com charme luxuoso e

levemente retrógrado;

52 Um endereço para os apaixonados por Montmartre e para os demais apaixonados. Ambiente

bucólico e charmoso com os quartos com decoração florida e refinada (até o minibar foi coberto com

tecidos combinados, aqueles que gostam de detalhes apreciarão!). Se você tem os meios, não perca este

belo endereço de charme. Excelentes apresentações, acolhedor, charmoso.

53 Pequeno itinerário romântico.

Bateaux-mouches: Ideal para os amantes que sonham conhecer juntos a Cidade Luz.

89

Domínio do Estético Domínio do Hedônico

1.On découvre les charmes

de la Ville Lumière

Argumentos

estereotipados:

O estereótipo de Paris é

Cidade Luz e a estética é

proposta pelo conceito de

charme, pelo deslumbre de

conhecer a iluminada Paris

que tem charme e

elegância reunidos pelos

seus monumentos, bistrôs,

lojas e pelos seus

habitantes

Argumentos

estereotipados:

Venha para Paris e se

divirta ao passar e

testemunhar o charme que

caracteriza essa Cidade

Luz.

2.Paris est une ville

amoureuse

Venha e veja os encantos

da cidade do amor, Paris.

Venha e tenha o prazer em

se apaixonar por Paris.

Afinal é uma cidade

apaixonante.

3. (...) passages secrets, aux

boutiques bien sages, aux

vitrines joliment décorées,

au charme cossu et

légérement désuet.

Essa parte apresenta um

hotel e atrai o turista pelas

lojas, vitrines e pelo

charme de Paris antigo,

sendo aqui um apelo ao

estético.

4.Petit itinéraire romantique

Bateaux-mouches : Idéal

pour les amoureux qui

souhaitent toucher ensemble

le coeur de la Ville

Lumière.

Viaje para Paris e tenha

prazer de passear pela

embarcação bateau-mouche

que propicia um momento

romântico, pela Paris

Cidade Luz.

90

Este guia Le Routard des amoureux à Paris tem em sua contracapa uma informação a

respeito do conteúdo que seu leitor – viajante encontrará a respeito de passeios

românticos em Paris, sendo ela:

Paris, capitale des amoureux. Ils sont toujours à la recherche des chemins tranquilles et devant les bancs publics. Le Routard se devait d’explorer l’intimité d’un Paris romantique. Venelles, passages, îlots de verdure et cités d’artistes. Mais également, hôtels croquignolets, restaurants où le cadre intime incite aux confidences, lieux bucoliques pour piqueniquer ou se prélasser en plen air.( P. 21)

Logo, a partir dessa ideia, podemos dizer que este guia parte do estereótipo Paris:

cidade dos apaixonados (capitale des amoureux) e através dos arrondissements, o seu

leitor encontra informações sobre onde comer, onde dormir, onde beber ou salões de

chá, passear de mãos dadas, pequeno itinerário romântico e onde fazer um pique nique

na cidade parisiense (où manger?, où dormir?, où boire um verre?, salons de thé,

brunch, où manger une glace?, où se détendre à deux?, main dans la main, petit

itineraire romantique où pique-niquer?)

Por esta razão, buscamos analisar os trechos que fizessem alusão à Paris, cidade do

amor e que transmitiriam ao leitor-viajantea sedução pelo discurso do estético e pelo

hedônico. Por isso, foram abordados os monumentos, passeios de barco e os jardins

parisienses pois reforçam esse imaginário do outro, no caso do estrangeiro, em relação

ao parisiense sendo esses os símbolos usados para condensar e formar os argumentos

que seduzem este público alvo, uma vez que despertam o encantamento pelo estético e

pelo prazer de algo que não vivenciaram por não estar inseridos em sua identidade

social.

4.2.3 Paris balades – Le Routard (2013-2014)

Este guia propõe passeios temáticos pela cidade de Paris, passando das revoluções até a

boemia, por locais que inspiraram os escritores. Por este motivo, Paris balades divide-

se em:

Introduction

Le Paris Gallo-Romain

Le Paris Médiéval: île de la Cité et Rive Gauche

Le Paris Médiéval : Rive Droite

Le Paris Insulaire : Du pont de Sully au Pont-Neuf

91

Le Paris de l’Alchimie et de l’Ésotérisme

La prise de la Bastille et la Révolution dans le Marais

La Révolution Française au Quartier Latin

La Révolution Française au Palais Royal

La Révolution Française autour du Louvre et des Tuileries

Le Paris Égyptien

La Commune de Paris à Montmartre

Le Paris des écrivains : Les quartiers du Luxembourg et de l’Odéon

Le Paris coquin et libertin : Rive Droite

Le Paris coquin et libertin : Des Tuileries à Montparnasse

Le Paris des passages :Les plus insolites et mystérieux

Le Paris criminel, Glauque et Morbide du Square Louvois à la Place Maubert

Le Paris criminel, Glauque et Morbide : Du Louvre au Marais

Le Paris existentialiste : Saint-Germain-Des-Près

Le Paris de la Bohème à Montparnasse

À travers l’architecture contemporaine : Autour du Bassin de la Villette

À travers l’architecture contemporaine : Cité des sciences – Parc de la Villette

– Archives de Paris

À travers l’architecture contemporaine : Bellevilloe – Ménilmontant

À travers l’architecture contemporaine : Opéra – Bastille – Bercy – Tolbiac –

Masséna

Le Paris Asiatique : Le « Chinatown » du 13 e

Mai 68 au Quartier Latin

Paris et le cinéma : Montmartre

92

Então, esse guia, devido à sua proposta, não apresenta os estereótipos tão

explicitamente, já que esses aparecem ligados a uma informação histórica. Por isso,

escolhemos os trechos que fazem alusão a essas representações estereotipadas de Paris,

não sendo possível seguir a divisão do guia, então, nos concentramos somente nos

temas :

Cultura: Paris antiga, venha à Paris dos museus e dos monumentos,

Cidade Luz

Gastronomia: Paris dos chefs, dos doces, das escolas famosas de

culinária

Moda: a alta costura, os desfiles e as grifes de luxo

Então, abaixo, mostramos nosso corpus que faz alusão a esses temas já apresentados:

1) Ville des Lumières, Ville Éternelle, Paris restera le paradis de piétons ! 54 2) Les promenades que nous proposons n’ont pas la prétention de l’érudiction scientifique, juste celle de donner à voir, d’inciter à explorer – de faire rêver aussi : les vestiges ont quelque chose de romantique, les traces du passé au milieu du tissu urbain sont une fenêtre ouverte sur la ville avant la ville, un voyage dans le temps ...55

3) Un bistrot authentique, avec ses vieilles chaises, son lustre seventies et son horloge de grand-mère ... Carte des vins variée et adorable.56

4) Brasserie et salon de thé plus que chalet à fondues. Parfait pour un grignotage en terrasse. Ne vous emballez pas, vous n’êtes pas là pour bien manger, mais pour prendre l’air. 57

54

Cidade-luz, Cidade eterna, Paris continuará sendo o paraíso dos pedestres.

55 Os passeios que propomos não têm a pretensão de erudição científica, apenas a de mostrar, a de incitar

a explorar – de fazer sonhar também : os vestígios têm algum toque romântico, os traços do passado no

meio de um tecido urbano são uma janela aberta para uma cidade antes da cidade, uma viagem no

tempo...

56 Um bistrô autêntico, com suas velhas cadeiras, seu lustre 70’s e seu relógio da avó... Carta de

vinhos variada e adorável.

57 Brasserie e salão de chá mais que um chalé com fondues. Perfeito para aperitivo no terraço. Não se

preocupe, você não vai lá para comer bem e sim para tomar ar.

93

5) La 1 ere vitrine parisienne de cette célèbre enseigne bruxelloise. Boulanger réputé au départ pour sa boule au levain, moelleuse et au goût de blé. La baguette, les viennoiseries et les gâteaux valent aussi l’empiette. Grosses tartines et assiettes de charcuterie-fromage, à déguster sur place, sur les tables d’hôtes à l’intérieur en bois blond, ou en terrasse.58

6) ...l’une des entrées du jardin du Luxembourg. Décrit par Victor Hugo, Flaubert (dans l’Éducation sentimentale) et Jules Vallès (« s’il y avait des perroquets dans les arbres, ils parlaient latin »), le plus grand jardin de Paris a su remercier la littérature en l’honorant à travers une multitude de buste d’écrivains, parmi lesquels ceux de Baudelaire, Stendhal, George Sand et Théodore de Banville (que Verlaine décrivait comme « le buste aux nichons »). De nos jours, étudiants romantiques et apprentis continuent d’y flâner ou d’y lire, sur les chaises des allées...59

7) Chahut et cancan, menés de manière endiablée, étaient sans ambiguité – le cancan surtout, dansé une jambe en l’air, l’index de la danse désignant, à l’insu du sergent de ville chargé de faire regner la décence (le « père la pudeur », ça ne s’invente pas), un entrejambe qui se laissait deviner...60

8) Le jardin des Tuileries : retrouvons-nous, sans autre préliminaire, dans le jardin des Tuileries. Ah, les Tuileries ! Déjà, vers 1640, n’était-ce pas « le rendez-vous du beau monde et des galanteries » ? Le jardin n’avait pas la même apparence et les allées isolées, les bosquets, la pâle lueur de la lune...61

58

A primeira vitrine parisiense desta marca famosa de Bruxelas. Padeiro conhecido pela sua massa de

fermento, suave e com sabor de trigo. A baguete, os pastéis e os bolos também vale experimentar.

Grandes torradas e pratos de frios e queijos, para degustar no local, nas grandes mesas coletivas

em madeira clara ou no terraço.

59 Tem uma das entradas do Jardim de Luxemburgo. Descrito por Victor Hugo, Flaubert (em Educação

Sentimental) e Jules Vallès (“se havia papagaios nas árvores, eles falavam latim”), o maior jardim de

Paris soube agradecer à literatura honrando-a através de uma infinidade de bustos de escritores, entre os

quais estão os de Baudelaire, Stendhal, George Sand e Théodore de Banville (que Verlaine descrevia

como “ o busto dos seios”). Atualmente, estudantes românticos e aprendizes continuam a flanar ou a ler

por ali, nas cadeiras dos caminhos...

60 Zaragata e cancã, conduzidos de maneira endiabrada, eram sem ambiguidade – principalmente o cancã,

pernas no ar, índice de dança sem conhecimento do oficial encarregado de fazer reinar a decência ( “ o pai

do pudor” que não se inventa), um encaixe de pernas que se deixava adivinhar...

61 O jardim de Tulherias : achemo-nos, sem outra preliminar, no jardim das Tulherias. Ah, as

Tulherias! Já por volta de 1640, não era o lugar de encontro mais belo do mundo e de paqueras? O

jardim não tinha a mesma aparência e os becos isolados, os bosques, a pálida luz da lua...

94

9) Pourquoi Montmartre ? Parce que la Butte porte fièrement les deux marmelles du cinéma que sont la peinture et le spectacle vivant.62

10) Montmartre a aussi été foyer des premiers cafés-concerts, les fameux caf’- conc’. C’est cette ambiance qu’a voulu recréer Jean Renoir, dans son film French Cancan, qu’il résumait lui-même comme « un hommage à notre métier, le métier du spectacle ». Le cinéma trouve ses racines dans le cabaret ; comme lui, il est affaire de rythme, de mouvement (kinema, en grec, justement...). Et n’oublions pas que les premières projections, à la Belle Époque, ont été organisées dans des cafés-concerts, bientôt imités par d’autres établissements de variétés. 63

11) Le Bal du Moulin Rouge : On ne présente plus le célèbre cabaret, immortalisé par son client le plus fidèle et le plus génial, Toulouse-Lautrec. C’était au temps du cancan, de la Goulue et de Valentin le Désossé... 64

62 Por que Montmartre? Porque a colina traz fielmente os dois encantos do cinema que são a

pintura e o espetáculo ao vivo.

63 Montmartre foi também lugar dos primeiros café-concertos, os famosos caf’-conc’. Foi este

ambiente que Jean Renoir quis recriar em seu filme French Cancan , que ele mesmo resumia como “uma

homenagem ao nosso trabalho, o trabalho do espetáculo”. O cinema encontra suas raízes no cabaré;

como ele, envolve ritmo, movimentos (kinema, em grego, justamente...). E não esqueçamos que as

primeiras projeções, na Belle Époque, foram organizadas nos cafés-concertos, logo imitados por inúmeros

estabelecimentos.

64 O baile do Moulin Rouge: Não se apresenta mais o famoso cabaré, imortalizado pelo seu cliente mais

fiel e mais genial, Toulouse-Lautrec. Era no tempo do cancã, de Goulue e de Valentin o sem ossos.

Os nomes citados: Toulouse-Lautrec era um pintor da Art nouveau e grande frequentador do Moulin

Rouge, Goulue era uma dançarina e Valentin era o seu parceiro.

Domínio do Estético Domínio do Hedônico

1.Ville des Lumières, Ville

Éternelle, Paris restera le

paradis de piétons !

Argumentos estereotipados

A viagem para Paris é bela

afinal é a cidade luz e a

cidade eterna, com seus

belos monumentos que são

cheios de historicidade.

Argumentos

estereotipados

Venha se divertir nos

passeios a pé e conhecerá

a cidade luz e os

monumentos, as pedras,

cada pedaço que eterniza

Paris em sua historicidade.

95

2. Les promenades que nous

proposons... juste celle de

donner à voir, d’inciter à

explorer – de faire rêver

aussi : les vestiges ont

quelque chose de

romantique, les traces du

passé au milieu du tissu

urbain sont une fenêtre

ouverte sur la ville avant la

ville, un voyage dans le

temps ...

Argumentos estereotipados

A estética é pelo antigo,

pelo medieval onde há um

passeio de sonho pelo

romantismo e pela história

de Paris.

Argumentos

estereotipados

O prazer é proposto pelos

passeios à Paris medieval

e romântica misturada no

meio urbano e moderno.

3. Un bistrot authentique,

avec ses vieilles chaises,

son lustre seventies et son

horloge de grand-mère ...

Carte des vins variée et

adorable.

Argumentos estereotipados

O argumento seria ir a Paris

e ao frequentar um bistrô

teria a estética do antigo nos

móveis como as cadeiras e

os objetos como o relógio.

Tendo a bela Paris pelo seu

lado antigo, monumental e

histórico.

Argumentos

estereotipados

O prazer seria o passeio

nesse bistrô parisiense que

é ambientado pelo estilo

vintage e que oferece

variedades de vinho.

Venha a Paris e divirta-se

ao degustar uma taça de

vinho em um bistrô

autêntico.

4. Brasserie et salon de thé

plus que chalet à fondues.

Parfait pour un grignotage

en terrasse...

Argumentos estereotipados

Venha a Paris e aproveite a

bela vista nos terraços da

brasserie e salão de chá

dessa cidade.

Argumentos

estereotipados

Venha a Paris e desfrute

dos chás e fondues

acompanhados de uma

bela vista.

5. La 1 ere vitrine parisienne

de cette célèbre enseigne

bruxelloise. Boulanger

réputé au départ pour sa

Argumentos estereotipados

A Paris, capital

gastronômica, tendo as

Argumentos

estereotipados

Venha a Paris e tenha o

96

boule au levain, moelleuse

et au goût de blé. La

baguette, les viennoiseries

et les gâteaux valent aussi

l’empiette. Grosses tartines

et assiettes de charcuterie-

fromage.

vitrines de suas padarias

sendo enfeitadas pelos

doces, tortas e a sua famosa

baguette.

prazer em degustar os

doces e as baguetes

francesas não esquecendo

de seus famosos queijos.

6.... l’une des entrées du

jardin du Luxembourg.

Décrit par Victor Hugo,

Flaubert (dans l’Éducation

sentimentale) et Jules

Vallès... le plus grand jardin

de Paris a su remercier la

littérature en l’honorant à

travers une multitude de

buste d’écrivains...De nos

jours, étudiants romantiques

et apprentis continuent d’y

flâner ou d’y lire, sur les

chaises des allées...

Argumentos estereotipados

O turista admira os bustos

dos grandes escritores

franceses no jardim de

Luxemburgo.

Argumentos

estereotipados

O prazer daqueles que

estudam e gostam de

literatura ao passearem e

lerem no jardim de

Luxemburgo, que fora

descrito em muitas obras

literárias francesas.

7. Chahut et cancan, menés

de manière endiablée,

étaient sans ambiguité – le

cancan surtout, dansé une

jambe en l’air, l’index de la

danse désignant, à l’insu du

sergent de ville chargé de

faire regner la décence (le

« père la pudeur », ça ne

s’invente pas), un

entrejambe qui se laissait

deviner.

Argumentos estereotipados

Aqui é realçado o

movimento da dança que

representa a França, o

cancã. Atualmente, os

cabarés funcionam como

espetáculos para os

estrangeiros terem acesso ao

passado e a beleza que se

tinha na decoração e na

dança que representou a

França no século XIX e que

Argumentos

estereotipados

Venha a Paris e se divirta

nos cabarés, com dança

típica o cancã. Viaje nesse

espetáculo que leva a

Paris do século XIX onde

tinha o pecado e a

diversão da cidade.

97

hoje encanta os estrangeiros

no imaginário da

vestimenta, do movimento e

do ambiente dos cabarés

parisienses.

7. Le jardin des Tuileries :

retrouvons-nous, sans autre

préliminaire, dans le jardin

des Tuileries. Ah, les

Tuileries ! Déjà, vers 1640,

n’était-ce pas « le rendez-

vous du beau monde et des

galanteries » ? Le jardin

n’avait pas la même

apparence et les allées

isolées, les bosquets, la pâle

lueur de la lune...

Argumentos estereotipados

Como já foi dito nos guias

anteriores, os jardins

parisienses possuem a

beleza e a estética que

reforçam essa representação

de Paris como cidade

romântica.

8. Pourquoi Montmartre ?

Parce que la Butte porte

fièrement les deux

marmelles du cinéma que

sont la peinture et le

spectacle vivant.

Argumentos estereotipados

Esse cenário de Montmartre

dos espetáculos de cabaré e

de seus pintores foram

reproduzidos no cinema o

que reforça mais ainda esse

encanto pela Paris, como

uma cidade bela e de sonho.

9. Montmartre a aussi été

foyer des premiers cafés-

concerts, les fameux caf’-

conc’. C’est cette ambiance

qu’a voulu recréer Jean

Renoir, dans son film

French Cancan, qu’il

résumait lui-même comme

Argumentos estereotipados

Esse corpus endossa o que

foi dito anteriormente, a

paisagem de Montmartre e

de seus cabarés se

transformam em temas de

filmes, o que leva o

encantamento dos

98

Por ter essa característica temática e ser da linha Routard, continuamos a ter pouca

incidência de estereótipos, que são misturados aos conteúdos históricos e que forçam

mais o leitor-viajante a construir as representações de Paris e dos parisienses o que

ocorreu diferentemente com os guias da prefeitura parisiense, que se expressam de

forma mais direta.

Como exemplo dessa historicidade podemos recorrer aos casos como o fragmento

Chahut et cancan, menés de manière endiablée, étaient sans ambiguité – le cancan

surtout, dansé une jambe en l’air, l’index de la danse désignant, à l’insu du sergent de

ville chargé de faire regner la décence (le « père la pudeur », ça ne s’invente pas), un

entrejambe qui se laissait deviner... onde há uma nota destacada em vermelho com o

título Vade Retro Satanas onde informa o leitor que o cancã francês foi um símbolo de

provocação à moral e à Igreja católica (p.114)

VADE RETRO SATANAS

Le french cancan, symbole de la folie parisienne, provoque un véritable tollé de la part de défenseurs de la morale et de l’Église. Effectivement, les défenseurs n’étaient pas des oies

« un hommage à notre

métier, le métier du

spectacle ». Le cinéma

trouve ses racines dans le

cabaret.

estrangeiros.

10. Le Bal du Moulin

Rouge : On ne présente plus

le célèbre cabaret,

immortalisé par son client

le plus fidèle et le plus

génial, Toulouse-Lautrec.

C’était au temps du cancan,

de la Goulue et de Valentin

le Désossé...

Argumentos estereotipados

Aqui é apresentado o

Moulin Rouge, que é tratado

como um monumento e

entretenimento com os

espetáculos de cabarés,

colorido e bem

ornamentado. O Moulin

Rouge é um cabaré

consagrado e que ganha

atenção dos turistas

atualmente.

Argumentos

estereotipados

Visite Paris e seu bairro

Montmartre, onde há os

cabarés, vivencie essa

época, com música e o

famoso cancã.

99

blanches et travaillaient parfois à l’horizontale vers Pigalle. D’ailleurs, on a oublié qu’au début, leurs culottes était fendues. (p.114)

Então, segundo Moirand (2004, p.115), geralmente, o leitor do guide du Routard é um

viajante que investiga as culturas e a história daquele lugar, às vezes, não

correspondendo à sua própria cultura e identidade. Esse encontro entre fronteiras

provoca a interação entre o eu e o outro (Jodelet, 1991), ocorrendo assim, o

reconhecimento daquilo que pertence ou não à sua própria cultura e identidade, gerando

aceitação e estranheza dos valores e símbolos que compõem essa realidade e

representação. Por isso, nesse caso, ao mesmo tempo que há a Paris dos cabarés e do

cancã apresentados como espetáculos para os estrangeiros, o guia também busca

encantar mais o seu público alvo através dessa explicação histórica sobre o cancã

objetivando encantar e incitar o seu co-enunciador por meio das curisiodades e as

repercussões que esta atividade causou em sua época.

Por isso, se formos comparar os guias do Office du Tourisme e os Routard, podemos

dizer que os estereótipos, tema de nosso trabalho, aparecem sob a mesma tipologia, ou

seja, são de valores dos domínios estético e hedônico, nos possibilitando de chama-los

de estereótipo estético e estereótipo hedônico. Segundo Kerbrat-Orecchioni (2004) o

guia tem um discurso promocional que visa incitar seu leitor a viajar para o destino

apresentado, e os estereótipos auxiliam a seduzir e encantar esse público. No entanto,

vimos nos guias do Office duTourisme que os estereótipos aparecem mais diretamente e

há uma explicação histórica que é menor e sem tanta ênfase, sendo o destaque dado para

as imagens e para as expressões cristalizadas; e os guias Routard apresentam os

estereótipos mas enfatizam mais as informações históricas e culturais como também

apresentam as curiosidades.

O enunciador ou redator do GDR aparece na transmissão das informações e nos

comentários, às vezes, usando um tom irônico ou de humor tornando-se mais leve a

leitura do seu co-enunciador. Através dessa construção discursiva, ele também se

legitima mostrando ao seu leitor que ao viajar para esses lugares, ele passa a adquirir o

conhecimento sobre a cultura de uma outra identidade, de um outro povo. Esse

conhecimento interacional é uma construção identitária que Charaudeau (2009a, 2009c),

diz ocorrer por meio da dialética da identidade/alteridade, isto é, o descobrir sobre o que

eu sou/nós somos é formado pelo conhecimento do outro, do que é diferente e é nisso

que GDR, em seu discurso textual, usa os estereótipos e as informações do local de

maneira a atrair o seu público para o diferente, desvendar o local e os habitantes que

100

possuem outros valores e representações, sendo que os estereótipos não são tão

presentes nesse guia, pois o seu público tem como objetivo viajar para descobrir a

cultura do local, sendo os estereótipos colocados junto a essas outras informações não

sendo o que podemos dizer de protagonistas do Routard o que é diferente com o Office

du Tourisme, em que o estereótipo é posto em destaque, reforçando já as representações

que os estrangeiros possuem em relação a Paris e aos seus habitantes.

Logo, o guide du Routard possui um discurso que leva o leitor ao encantamento através

dos domínios do estético e do hedônico segundo Charaudeau (2008). Porém,

observamos que os estereótipos aparecem e ao serem apresentados, sofrem uma ruptura,

um corte com um mas, porém uma vez que o leitor do Routard apresenta maior

interesse pela cultura e a história da cidade, realizando uma viagem mais para

contemplar e vivenciar a cidade parisiense.

Como exemplo, demonstramos como é feita essa quebra do estereótipo pelo primeiro

guia, Le guide du routard: Paris (2012) onde temos o seguinte trecho:

Toutes ces images, toutes ces icônes ont nourri le mythe. Mais celui-ci avait déjà revêtu de spectaculaires atouts : Notre-Dame, le Louvre, écrin de la Joconde, les Invalides, qui abritent les cendres de Napoléon, la place de la Concorde, l’Arc de Triomphe, l’Opéra, le Sacre-Coeur sur la butte Montmartre... Immmédiatement reconnus, identifiés, ces « monuments » sont

désirés, courus et... fort fréquentés.

Nesse caso, o enunciador utiliza os monumentos parisienses para encantar o seu co-

enunciador só que, ao mesmo tempo, ele precisa direcionar esses estereótipos para a

função de encantamento do seu leitor que se caracteriza como mochileiro, portanto, esse

público alvo não vai a Paris para uma viagem de ostentação e de luxo e sim só para

apreciar esta cidade. Dessa maneira, os estereótipos aparecem seguidos de uma quebra

por um mais, um cependant, desmistificando o seu valor com um conteúdo histórico,

cultural e até com humor, advertindo o seu leitor para certos perigos ou curiosidades a

respeito da cidade. O caso do exemplo acima, ele utiliza os monumentos para provocar

encantamento, e a frase que o segue realiza essa quebra, pois quando o leitor cria o

deslumbramento, o enunciador interrompe e diz não é bem assim, você pode explorar

Paris por esse lado belo, contemplá-la mas ela não é só isso, você pode conhecer muito

mais dela, pela frase: Ils sont Paris, mais Paris, bien sûr, ne se limite pas à eux.

Conforme já foram analisados, os guias franceses que apresentam Paris para o mundo,

evidenciando como os franceses se autorrepresentam, já que analisamos os discursos

dos guias atrelados à autoridade, então os guias servem para mostrar como Paris é

101

representada e como os franceses se autorrepresentam, os seus símbolos, os seus valores

e seus comportamentos. Devido a essa informação, buscamos um guia que fosse popular

no Brasil e estivesse escrito em português. Neste caso, selecionamos o guia da Lonely

Planet (LP) chamado Guia da cidade: Paris que apesar de ser original em língua

inglesa, a editora Globo se encarregou da versão portuguesa e voltada para o público

brasileiro. E este é o guia que analisaremos a seguir.

4.3 Análise do guia Guia da Cidade: Paris

O guia Guia da Cidade: Parisé um guia popular que abrange o público mais geral. Ele

apresenta algumas imagens da cidade, mas que não analisamos neste trabalho e ele

divide-se da seguinte maneira:

Aqui está Paris

Destaques

Os autores

Programe sua viagem

Informações básicas: História, Meio Ambiente e Planejamento, Governo

e Política, Mídia, Moda, Idioma

Artes e Arquitetura

Regiões

Les quartiers

Compras

Onde comer

Onde beber

Vida noturna e artes

Esportes e atividades

Paris para gays e lésbicas

Onde dormir

Excursões

Transportes

Informações úteis

Idioma

Bastidores

Índice

102

Legendas do mapa

Acima, apresentamos as seções do guia da Lonely Planet para orientar uma melhor

leitura e acompanhar como selecionamos o que destacamos para análise deste trabalho.

De acordo com a nossa proposta de estudo que é voltado para os estereótipos,

escolhemos a seção Destaques, regiões e Les quartiers (os bairros) uma vez que há uma

maior incidência de informações sobre os monumentos, a gastronomia e a moda com a

presença de estereótipos.

1. CULINÁRIA E VINHO

Dizem que os franceses pensam principalmente em duas coisas: no que comem e no que bebem. E que na França se passa um tempo incomum, pensando, falando e desfrutando do almoço e do jantar – combinados com o vinho certo, bien sûr.

2. Comida tradicional

Os parisienses são leais no que se refere à alimentação, e os pratos tradicionais nunca saem da moda.

3. Boulangeries

Dizem que os parisienses comem pão com pão, e não faltam opções para isso na maioria das padarias.

4. Queijo

A variedade nas fromageries (lojas de queijo) de Paris é prodigiosa.

5. Pâtisseries

Os parisienses adoram sucreries (doces), e os macarons de cores brilhantes são a sensação do momento.

6. PARIS À LA MODE

Os parisienses parecem estar sempre bem vestidos - no trabalho, quando se divertem, na hora do descanso. E isso se deve ao senso inerente a eles. Quando vir o que há nas butiques, nas passarelas e à noite, você vai poder se sentir um pouco como eles.

7. Grifes clássicas

Chanel, Louis Vuitton, Agnès B, Jean-Paul Gaultier – Paris está repleta de étiquettes

8. Com suas luzinhas que iluminam o céu de Paris a cada hora, a torre Eiffel nem precisa de introdução

103

9. LES QUARTIERS

Não é exagero dizer que Paris é a cidade mais bonita e romântica do mundo... Espie as lojas das ruas de menor movimento, ou relaxe na varanda de um café e veja os parisienses passar. Afinal, a cidade deles é para ser descoberta.

10. Arco do Triunfo

Suba ao topo do arco símbolo de Paris (p. 124) e deslumbre-se : que vista de 3600, de tirar o fôlego, do Axe Historique (Eixo Histórico), do Louvre a La Défense!

Nesse guia aqui, retiramos esses fragmentos ligados à culinária, à moda e aos

monumentos parisienses. Nos cinco primeiros casos, destacamos os estereótipos como o

vinho francês e a culinária francesa, ligando os franceses aos habitantes que se

preocupam muito com o que comem. É notável também a alusão feita à língua francesa

quando apresenta o termo “bien sûr”, reforçando esse imaginário ao leitor não só para a

visualização dos bistrôs e cafés como também a pronúncia, a língua francesa sendo dita

pelos parisienses. A gastronomia francesa é conhecida pelos seus doces, baguetes e

pelos seus queijos.

No entanto, temos também exemplos que enaltecem Paris através das grifes conhecidas

como Chanel, Louis Vuitton, Agnès B e Jean – Paul Gaultier entre outros nomes de

destaque da alta costura, ou seja, Paris como capital da moda, da tendência e da

elegância. E, também não podemos esquecer a Paris dos pintores, dos museus e dos

monumentos representados pela torre Eiffel, o Arco do Triunfo e o Louvre que geram

esse encantamento para o leitor. Esse encantamento foi avaliado no argumento do

domínio do estético, obedecendo ao campo do visual e da contemplação, e pelo domínio

do hedônico, em que ocorre pelo prazer, detalhado na tabela adiante:

104

Guia da cidade: Paris (2011)

Domínio do Estético Domínio do Hedônico

Cultura Com suas luzinhas que

iluminam o céu de Paris a

cada hora, a torre Eiffel nem

precisa de introdução.

Argumentos estereotipados

Venha a Paris e veja os seus

monumentos como a torre

Eiffel iluminada, afinal é a

cidade Luz.

Arco do Triunfo

Suba ao topo do arco símbolo

de Paris (p. 124) e deslumbre-

se : que vista de 360 0, de tirar

o fôlego, do Axe Historique

(Eixo Histórico), do Louvre a

La Défense!

Argumentos estereotipados

A vista do arco do Triunfo

para os outros monumentos

se torna um encantamento aos

olhos do leitor.

Arco do Triunfo

Suba ao topo do arco símbolo

de Paris (p. 124) e deslumbre-

se : que vista de 360 0, de tirar

o fôlego, do Axe Historique

(Eixo Histórico), do Louvre a

La Défense!

Argumentos estereotipados

O prazer é dado pelo

deslumbramento e

encantamento da vista do

monumento, o arco do triunfo

de 3600 da bela arquitetura de

Paris e de todo o seu conjunto

arquitetônico.

105

Através desse quadro esquemático podemos aproximar o guia da LP aos guias do Office

du Tourisme, principalmente, ao Destination Paris, uma vez que nele, geralmente, a

Gastronomia E que na França se passa um

tempo em incomum,

pensando, falando e

desfrutando do almoço e do

jantar - combinados com o

vinho certo, bien sûr.

Argumentos estereotipados

Venha a Paris e desfrute dos

pratos franceses,

acompanhados de um vinho

adequado.

Moda Os parisienses parecem estar

sempre bem vestidos - no

trabalho, quando se divertem,

na hora do descanso. E isso se

deve ao senso inerente a eles.

Quando vir o que há nas

butiques, nas passarelas e à

noite ...

Argumentos estereotipados

Venha a Paris e veja os

parisienses elegantes e bem

vestidos.

Venha a Paris e veja as

vitrines das grandes lojas,

grifes renomadas e os desfiles

de moda.

Quando vir o que há nas

butiques, nas passarelas e à

noite, você vai poder se sentir

um pouco como eles.

Argumentos estereotipados

Venha a Paris e tenha o

prazer de se vestir

elegantemente e de se sentir

como um verdadeiro

parisiense.

106

presença dos estereótipos ocorre de maneira mais direta não tendo uma ruptura da

construção do imaginário do leitor por intermédio de um mas e um porém de forma tão

maciça como é o caso dos GDR.

Em Guia da cidade:Paris há a venda do encantamento e do deslumbramento por meio

do uso dos clichês e dos estereótipos que são formas estratégicas de convencimento e de

sedução utilizadas do enunciador para atrair o seu co-enunciador.

Os estereótipos seriam argumentos que atingiriam o campo visual e do prazer como

quando há as lojas, butiques, passarelas parisienses. Todos esses elementos são

apresentados para o leitor para produzir um deslumbramento, um prazer propiciado pela

beleza, pela estética das roupas, da arrumação das famosas vitrines e do espetáculo das

passarelas. No imaginário do leitor, as passarelas são construídas não só como espaço

onde ocorrem os desfiles dos grandes nomes da alta costura, sendo alguns deles

parisienses, como também ir a Paris seria como se fosse um desfile ao ar livre pois na

concepção dos estrangeiros, os verdadeiros parisienses transitam pelas ruas e largas

avenidas com elegância não só no comportamento como também na maneira que se

vestem

Veja-se que nesse exemplo que selecionamos da moda, encontramos a interação entre

duas identidades sociais distintas mas que,ao confrontarmos com Amossy (2007, p.27),

percebemos que há, por intermédio dos estereótipos, uma depreciação de uma sociedade

e uma valoração de outra, quando o leitor se depara com a informação de que ao ir a

Paris se sentirá bem vestido e belo como um parisiense e adota, aceita essa visão com

um encantamento, passa a valorizar o outro, uma outra identidade social e que nem

sempre condiz de fato com a realidade social do local, uma vez que os estereótipos são

expressões cristalizadas e consensuais fazendo até uso de generalizações.

Essas formações de opinião e de construção imaginária são reforçadas pelos guias na

medida em que estes se caracterizam por um discurso promocional, tendo por finalidade

incitar, persuadir o seu leitor vendendo a ideia de sonho, encantamento das

representações parisienses. Por isso, inserimos os guias turísticos nos sistemas de

comunicação midiáticos (Doise, 1991) – a difusão, a propagação e a propaganda – ,

pois eles executam essas três funções ao provocar efeito sobre as opiniões, atitudes e os

estereótipos no ato representacional dos seus co-enunciadores.

107

Assim, os leitores, ao se depararem com as imagens estereotipadas de Paris, passam a

criar opiniões quanto à representação e identidade desta sociedade, e como no guia há

um reforço positivo quanto à representação parisiense, os estereótipos são construídos

de modo a valorizar a cidade e seus habitantes, provocando o encantamento, o sonho e o

desejo do seu leitor.

108

5.CONSIDERAÇÕES FINAIS

Nosso trabalho teve como objeto de análise os estereótipos presentes nos guias

turísticos, sendo eles: Destination Paris, Paris shopping-book, Paris gourmand, Le

guide du routard: Paris, Le routard des amoureux à Paris, Paris balades e Guia da

cidade:Paris.

Para classificarmos os estereótipos, adotamos como critério os valores do domínio do

estético e do domínio do hedônico tratados por Charaudeau (2008). No capítulo

dedicado ao modo argumentativo, o autor diz que nesse modo discursivo há um jogo de

influência sobre o outro, com base na sedução e na persuasão. Então, no guia turístico,

ao ter uma característica de gênero híbrido por estar construído por algumas estruturas

discursivas, destaca-se o discurso promocional, que para Kerbrat-Orecchioni (2004), é

um ato discursivo que se aproxima do discurso publicitário pois ele incita o seu leitor.

Conforme já mencionamos anteriormente, essa pesquisa teve seu início quando

observamos em sala de aula as motivações dos alunos brasileiros em querer aprender a

língua francesa. Desde então nos foram apresentadas as representações que cabiam não

somente à língua francesa como também à sua cultura, principalmente no que diz

respeito à cidade de Paris e dos parisienses, com as representações voltadas para a

cultura, a gastronomia e a moda, apresentando os estereótipos como: Paris - cidade do

amor, Cidade Luz, onde tem luxo e é chique, lugar onde tem o Louvre, a torre Eiffel,

onde tem as baguettes e os chefs, grandes marcas e onde há os perfumes famosos.

Com o desejo de realizar um trabalho voltado para o estudo dos estereótipos e das

representações parisienses, passamos a observar os sites e blogs de viagem já que um

dos fortes argumentos dos alunos para o aprendizado do francês é o turismo, é o sonho

de falar francês e ter acesso à cultura.

No entanto, ao passarmos por esses sites encontramos o site do Office du Tourisme

parisiense, um estabelecimento que tem a função de um melhor atendimento ao turista e

que representa a prefeitura local. Nesse site, está disponível a brochura dos guias

parisienses e encontram-se as estatísticas da melhoria do turismo parisiense nos anos

mais recentes.

Ao começarmos pelo guia Destination Paris percebemos a apresentação de uma Paris

moderna e inovadora mas também uma forte tendência em atrair os turistas através do

109

uso dos estereótipos e das representações que levam à sedução e ao encantamento do

estrangeiro.

Com isso, elencamos mais dois guias que foram Le guide du routard: Paris e Guia da

cidade: Paris e, posteriormente, selecionamos variações de mais dois guias do Office du

Tourisme que foram Paris: shopping-book e Paris gourmand por abordarem temas que

adotamos como critérios de análise e seleção do corpus: a moda e a gastronomia

parisiense. Outro guia que apresenta também variações seria o Le routard sendo

selecionados um ligado aos passeios românticos de Paris, onde reforçaríamos o

estereótipo de Paris: cidade do amor e outro seria um de passeios temáticos, onde

passaríamos pela cultura parisiense, visando seu símbolo e representações. Esses guias

apontados são Le routard des amoureux à Paris e Paris balades.

Quanto à representação, nos apoiamos em Jodelet (1991), que se refere a esse ato como

uma simbolização que os indíviduos de uma mesma comunidade partilham como crença

e verdade, são os valores e maneiras de comportamento que eles colocam a respeito de

como eles são e serão representados para o mundo e como eles verão o outro. E daí

temos as representações que podem ser tratadas de maneira cristalizada e generalizada,

chegando aos estereótipos.

Para Amossy (2007), os estereótipos são formados a partir de uma sociedade como sua

representação já construída, fixando suas normas e valores. É através desse pensamento

que trouxemos os estereótipos atrelados ao discurso argumentativo, pois através desse

embasamento teórico, passamos a compreendê-los atuando nos guias turísticos com o

objetivo de encantar e seduzir o leitor-viajante.

Essa sedução e esse encantamento se iniciam já através de seu enunciador que, no papel

de crítico, apresenta ao seu co-enunciador essa Paris encantadora, ou seja, o enunciador

mostra sua própria opinião quanto a esse deslumbramento, influenciando e manipulando

dessa forma, a opinião de seu leitor.

Essa manipulação ocorre pois o enunciador compartilha com seu co-enunciador a visão

de uma Paris encantadora através de sua cultura, moda e gastronomia. O leitor é

persuadido por esse discurso feito pelo redator que é um especialista, um crítico deste

gênero discursivo, e na medida em que ele se revela encantado e seduzido também por

este lugar, passa a convencer o seu público alvo.

110

Em nossas análises percebemos essa ideia do encantamento sendo vendida pelo

enunciador. Ao compartilhar desse sonho com seu co-enunciador, ele passa a incitá-lo,a

persuadi-lo, a convencê-lo a querer viajar para esse local.

De acordo com esses sete guias observados, podemos dizer que são de característica

popular e os Routard atendem ao popular e ao mochileiro. E, como resultado de nosso

estudo, ressaltamos que o encantamento por meio da cultura, da moda e da gastronomia

é usado como estratégia de persuasão, ou seja, havia uma forte presença desses

elementos representacionais de Paris apresentados para o leitor com finalidade de incitá-

lo, persuadi-lo por meio dessa sedução.

Nessa pesquisa, atrelamos os estereótipos a essa característica persuasiva em que eles

são expressões e construções que reforçam o imaginário do leitor, reforçando a

representação da cidade parisiense e de seus habitantes. Quanto aos estereótipos, os

classificamos em domínios do estético e do hedônico, dividindo aqueles que encantam o

leitor através do apelo ao belo e ao que transmite prazer. Dentre os guias verificados,

afirmamos que os guias do Office du Tourisme e da Lonely Planet se aproximam por

apresentarem os estereótipos em maior quantidade e de forma mais explícita.

Entretanto, os guias Routard possuem também os estereótipos mas não em tanta

quantidade que os demais guias supracitados e ocorrem de maneira mais implícita. Eles

também apresentam esse encantamento ao leitor porém o que diferencia os Routard é

que essa sedução é sempre interrompida por uma oração opositiva, com um mas, porém

injetando uma informação histórica ou cultural que quebra o imaginário pré-construido

do co-enunciador.

Logo, os guias analisados apresentam esses resultados também devido a esse jogo

interacional que há entre o enunciador e o seu co-enunciador, no material aqui

escolhido. Por se tratar de um guia turístico, temos na função de enunciador, o redator-

investigador que, por ser um especialista, idealiza as expectativas de seu co-enunciador,

o leitor-viajante. E ao se aproximar desse público alvo, o redator busca através desse

discurso do belo e do prazer convencer esse leitor, iniciando esse processo por meio de

sua própria opinião em relação à cidade parisiense, como uma cidade que encanta,

seduz. O leitor, ao ver que o seu enunciador, um crítico, também tem um

deslumbramento pela cidade, passa a confiar mais nesse discurso, passando a se

deslumbrar também. É importante ressaltar que ao mesmo tempo que esse enunciador se

aproxima de seu co-enunciador, ele também se afast a afim de legitimar seu discurso, se

111

posicionando como um conhecedor e um crítico daquela cidade, porém sempre

mostrando uma Paris sedutora e encantadora e essa representação aparece reforçada

pelos estereótipos.

Finalizando, propomos como projetos futuros um estudo semiótico dos guias turísticos,

uma vez que não foram verificados nessa pesquisa e/ou um projeto voltado para o

estudo do ethos do parisiense construído através dos guias turísticos.

112

6. REFERÊNCIAS

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Tourisme, 2012.

______Paris gourmand. Paris: Office du Tourisme, 2013.

______Paris shopping-book. Paris: Office du Tourisme, 2013.

PLANET, Lonely. Paris : guia da cidade. São Paulo : Globo, 2011.

SEMIN, Gun R. Prototypes et représentations sociales. In: JODELET, Denise. Les

représentations sociales. Paris : Puf, 1991, p. 239 – 251.

114

ANEXOS Em nossa pesquisa, não tratamos as ilustrações presentes nos guias turísticos, sendo essa

uma ideia de um trabalho futuro. No entanto, com a finalidade de reforçar a visualização

deste trabalho, colocamos abaixo as capas e as páginas de onde retiramos o nosso

corpus. Por isso, colocamos em ordem sendo os de anexo A , os guias que estão

atrelados ao Office du tourisme, os de anexo B os que concernem ao Guide du routard,

no caso só a capa, por não ser um guia formado com muitas ilustrações e os de anexo C

seria o guia da Lonely Planet.

ANEXO A

Ilustrações do Office du Tourisme

115

116

117

118

119

120

121

122

123

124

125

126

127

128

ANEXO B

Capas do guia Routard

129

130

131

ANEXO C

Ilustrações do Guia da cidade: Paris

132

133

134

135