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i Universidade Federal do Rio de Janeiro Escola Politécnica Departamento de Engenharia Industrial Engenharia de Produção STARTUPS: ESTUDO DE CASO SOBRE O DESENVOLVIMENTO DE UMA EMPRESA DA ÁREA DA SAÚDE Gustavo Mariozzi Tavares Barbalho Karla de Oliveira Brazil Projeto de Graduação apresentado ao Curso de Engenharia de Produção da Escola Politécnica, Universidade Federal do Rio de Janeiro, como parte dos requisitos necessários à obtenção do título de Engenheiro de Produção. Orientadora: Maria Alice Ferruccio da Rocha, D. Sc. Rio de Janeiro Fevereiro de 2017

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i

Universidade Federal do Rio de Janeiro

Escola Politécnica

Departamento de Engenharia Industrial

Engenharia de Produção

STARTUPS: ESTUDO DE CASO SOBRE O DESENVOLVIMENTO DE UMA

EMPRESA DA ÁREA DA SAÚDE

Gustavo Mariozzi Tavares Barbalho

Karla de Oliveira Brazil

Projeto de Graduação apresentado ao Curso

de Engenharia de Produção da Escola

Politécnica, Universidade Federal do Rio de

Janeiro, como parte dos requisitos

necessários à obtenção do título de

Engenheiro de Produção.

Orientadora: Maria Alice Ferruccio da Rocha,

D. Sc.

Rio de Janeiro

Fevereiro de 2017

ii

STARTUPS: ESTUDO DE CASO SOBRE O DESENVOLVIMENTO DE UMA

EMPRESA DA ÁREA DA SAÚDE

Gustavo Mariozzi Tavares Barbalho

Karla de Oliveira Brazil

PROJETO DE GRADUAÇÃO SUBMETIDO AO CORPO DOCENTE DO CURSO DE

ENGENHARIA DE PRODUÇÃO DA ESCOLA POLITÉCNICA DA UNIVERSIDADE

FEDERAL DO RIO DE JANEIRO COMO PARTE DOS REQUISITOS

NECESSÁRIOS PARA OBTENÇÃO DO GRAU DE ENGENHEIRO DE PRODUÇÃO.

Examinado por:

___________________________________

Profª. Maria Alice Ferruccio da Rocha, D. Sc.

___________________________________

Samuel Jurkiewicz

___________________________________

Felipe Addor

Rio de Janeiro

Fevereiro de 2017

iii

Barbalho, Gustavo Mariozzi Tavares

Brazil, Karla de Oliveira

Startups: estudo de caso sobre o desenvolvimento de uma

empresa da área da saúde/ Gustavo Mariozzi Tavares Barbalho e

Karla de Oliveira Brazil – Rio de Janeiro: UFRJ/ Escola Politécnica,

2017

XI, 74 p.: il.; 29,7 cm

Orientadora: Maria Alice Ferruccio da Rocha, D. Sc.

Projeto de Graduação – UFRJ/ Escola Politécnica/ Curso de

Engenharia de Produção, 2017

Referências Bibliográficas: p. 70 – 73

1. A saúde e a recessão econômica no Brasil 2. Inovações

tecnológicas e a área de saúde 3. Design Thinking na criação e

desenvolvimento de startups 4. Estudo de caso: empresa Beep Saúde

5. A implementação do Design Thinking na empresa

I. Rocha, Maria Alice Ferruccio. II. Universidade Federal do Rio de

Janeiro, Escola Politécnica, Curso de Engenharia de Produção. III.

Startups: estudo de caso em uma empresa da área da saúde com

foco no seu desenvolvimento

iv

AGRADECIMENTOS

Primeiramente, agradecemos às nossas famílias, especialmente aos nossos

pais, sem os quais não teria sido possível alcançar tudo que conquistamos até aqui.

Agradecemos também aos nossos amigos, que nos apoiaram nessa jornada, e aos

profissionais da empresa Beep Saúde que nos receberam de portas abertas para

que pudéssemos aprofundar nossa pesquisa.

Agradecemos também a todos da UFRJ, cujo trabalho diário nos permitiu

estudar nessa instituição e crescer como pessoas e profissionais.

Agradecemos, principalmente, à nossa orientadora Maria Alice Ferruccio da

Rocha, que ao longo de nossa jornada pela graduação esteve ao nosso lado,

sempre disposta a nos ajudar com muita generosidade.

v

Resumo do Projeto de Graduação apresentado à Escola Politécnica / UFRJ como

parte dos requisitos necessários para a obtenção do grau de Engenheiro de

Produção.

STARTUPS: ESTUDO DE CASO SOBRE O DESENVOLVIMENTO DE UMA

EMPRESA DA ÁREA DA SAÚDE

Gustavo Mariozzi Tavares Barbalho

Karla de Oliveira Brazil

Fevereiro de 2017

Orientadora: Maria Alice Ferruccio da Rocha, D. Sc

Curso: Engenharia de Produção

Este trabalho analisa o cenário econômico no Brasil, focando no mercado de saúde

privado e público do país e apresentando um background teórico para compreender

a recessão econômica atual e as maiores necessidades dessa área. Nesse

contexto, devido à maior demanda por melhores serviços de saúde, cresce o

número de inovações tecnológicas, principalmente no que se refere à Internet das

Coisas (IoT), como forma de otimizar os atendimentos e tratamentos médicos. Em

um segundo momento, é realizado um estudo sobre as principais metodologias de

estruturação de empresas e novas ideias, principalmente no que se refere ao Design

Thinking como forma de compreender sua aplicabilidade para tais inovações na área

de saúde. Por fim, foi desenvolvido um estudo de caso para analisar na prática o uso

de tal metodologia em uma empresa que liga inovação com saúde.

Palavras-Chave: Design thinking, saúde, inovações

vi

Abstract of the graduation presented to POLI/UFRJ as a partial fulfillment of the

requirements for the degree of Industrial Engineer.

STARTUPS: A CASE STUDY ABOUT THE DEVELOPMENT OF A

TECHNOLOGICAL HEALTH COMPANY

Gustavo Mariozzi Tavares Barbalho

Karla de Oliveira Brazil

February, 2017

Advisor: Maria Alice Ferruccio Da Rocha, D.Sc.

Course: Industrial Engineering

This study presents an analyze about the economic scenario in Brazil, focusing on

the private and public health market of the country and presenting a theoretical

background to understand the current economic recession and the greater needs of

the health area in the country. In this context, due to the current greater demand for

better health services, the number of technological innovations has increased,

especially in relation to the Internet of Things (IoT), as a way to optimize medical

care, diagnoses and treatments. Secondly, a study is carried out on the main

methodologies of structuring of companies and new ideas, mainly, in relation to the

Design Thinking as a way to understand its applicability for such innovations in the

health area. Finally, a case study was developed to analyze in practice the use of

such methodology in a company that links innovation with health.

Keywords: Design thinking, health, innovations

vii

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ........................................................................................................... 1

1. A SAÚDE E A RECESSÃO ECONÔMICA NO BRASIL ....................................... 3

1.1 O COLAPSO ECONÔMICO DO SETOR PÚBLICO E PRIVADO DE SAÚDE

NO BRASIL ........................................................................................................... 4

1.1.1 A Crise dos Planos de Saúde .................................................................... 5

1.1.2 Insatisfação na Relação Médicos x Planos de Saúde ................................ 6

1.1.3 Insatisfação na Relação Pacientes x Planos de Saúde .............................. 7

2. INOVAÇÕES TECNOLÓGICAS E A ÁREA DE SAÚDE ..................................... 10

2.1 INOVAÇÕES TECNOLÓGICAS: A INTERNET DAS COISAS (IoT) .............. 10

2.1.1 IoT e a Evolução da Internet ..................................................................... 10

2.1.2 Impactos da IoT para o mundo e sociedade ............................................. 12

2.1.3 Impactos da IoT nos negócios e processos .............................................. 14

2.2 A REVOLUÇÃO TECNOLÓGICA NO MERCADO DE SAÚDE ...................... 19

2.2.1 Atuais inovações tecnológicas na área da saúde ..................................... 19

2.2.2 Perspectivas e tendências do mercado .................................................... 20

2.2.3 Benefícios do uso da tecnologia na área de saúde ................................... 22

2.2.4 Principais riscos do uso da tecnologia na área de saúde .......................... 23

3. DESIGN THINKING NA CRIAÇÃO E DESENVOLVIMENTO DE STARTUPS ..... 24

3.1 A METODOLODIA DESIGN THINKING ......................................................... 25

3.1.1 Definição e Surgimento ............................................................................ 25

3.1.2 Diferenciais e Importância do Design Thinking ......................................... 25

3.1.3 Etapas do Design Thinking ....................................................................... 26

3.1.4 O Design Thinking e a Área da Saúde ...................................................... 29

3.2 LEAN STARTUP (LS) vs. DESIGN THINKING (DT) ...................................... 30

3.2.1 Lean Startup ............................................................................................. 30

3.2.2 Comparação entre as duas metodologias................................................. 31

viii

3.2.3 Perspectivas futuras ................................................................................. 35

4. ESTUDO DE CASO: EMPRESA BEEP SAÚDE ........................................................ 36

4.1 DESCRIÇÃO DA EMPRESA .......................................................................... 36

4.2 PROCESSOS DA EMPRESA E A UTILIZAÇÃO DA INTERNET ................... 37

4.3 ANÁLISE DO ATUAL CONTEXTO DA EMPRESA ........................................ 41

4.3.1 Análise da Competitividade ...................................................................... 41

4.3.2 Análise CAMGPEST ................................................................................. 45

4.3.3 Matriz SWOT ............................................................................................ 49

4.3.4 Cinco forças de Porter .............................................................................. 51

5. A IMPLEMENTAÇÃO DO DESIGN THINKING NA EMPRESA .............................. 55

5.1 ETAPAS DA IMPLEMENTAÇÃO ................................................................... 55

5.1.1 Etapa I: Imersão ....................................................................................... 55

5.1.2 Etapa II: Ideação ...................................................................................... 56

5.1.3 Etapa III: Prototipação .............................................................................. 57

5.2 RESULTADOS DA APLICAÇÃO DO DESIGN THINKING NA EMPRESA .... 58

5.2.1 Resultados para o ambiente corporativo................................................... 58

5.2.2 Resultados em relação à visão do paciente .............................................. 58

5.2.3 Resultados em relação à visão do médico ................................................ 59

5.2.2 Resultados para o crescimento da empresa ............................................ 60

5.3 POSSÍVEIS MUDANÇAS E MELHORIAS PARA A GESTÃO DO NEGÓCIO

............................................................................................................................. 61

5.3.1 Alteração do modelo de negócio .............................................................. 61

5.3.2 Otimização de fluxos e processos ............................................................ 63

5.3.3 Expansão para outras áreas de saúde ..................................................... 65

5.3.2 Mudança da sede da empresa para um ambiente tecnológico ................ 66

CONCLUSÃO ....................................................................................................... 68

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .................................................................... 70

ix

APÊNDICE A – FLUXOGRAMA COMPLETO ..................................................... 74

x

ÍNDICE DE FIGURAS

Figura 1 – Número de beneficiários de planos de saúde.............................................6

Figura 2 – Percentual da população idosa no Brasil nas próximas décadas...............9

Figura 3 – Evolução da integração IoT-BPM..............................................................18

Figura 4 – Modelo de processo abstrato usado no Design Thinking.........................32

Figura 5 – Modelo de processo abstrato usado no Lean Startup..............................32

Figura 6 – As 4 primeiras etapas do processo de atendimento aos pacientes pelo

aplicativo Beep Saúde................................................................................................38

Figura 7 - As 3 últimas etapas do processo de atendimento aos pacientes pelo

aplicativo do Beep Saúde...........................................................................................39

Figura 8 – Esquema simplificado do processo de atendimento aos pacientes pelo

aplicativo Beep Saúde................................................................................................39

Figura 9 – Análise SWOT da startup Beep Saúde.....................................................50

Figura 10 - Radar da Avaliação por Nota das Cinco Forças de Porter......................51

Figura 11 - Esquema das Cinco Forças de Porter.....................................................52

Figura 12 - Modelo de Implementação do Fluxograma..............................................64

Figura 13 – Fluxograma Completo Proposta para o Beep Saúde.............................74

xi

ÍNDICE DE TABELAS

Tabela 1 – Análise FCS Comparativo........................................................................44

Tabela 2 – Análise CAMGPEST................................................................................49

1

INTRODUÇÃO

No mundo dos negócios, copiar um modelo de sucesso é visto como uma

decisão a ser tomada mais fácil do que criar algo do zero. O ato da criação envolve

uma série de características necessárias a um empreendedor, mas que ainda geram

receio em uma grande parcela da população. E os números mostram que tal

preocupação não é desprovida de razão. De acordo com uma pesquisa de Shikar

Gosh (2012), na Harvard Business School, 75% das startups fracassam nos

primeiros anos de vida.

Entretanto, o crescimento acelerado da Internet e a democratização da

tecnologia tem transformado a maneira de fazer negócios e redefinido a forma como

os seres humanos praticam tarefas do seu dia a dia como assistir um filme ou

solicitar um carro particular para realizar seu transporte. Através do

empreendedorismo e inovação, estas atividades sofreram verdadeiras

transformações na forma como são realizadas.

No entanto, quando se trata da área da Saúde, as opções ainda são

escassas e antiquadas, além de proporcionarem uma experiência ruim à população

em grande parte dos atendimentos. Relatos de emergências públicas precárias ou

da baixa qualidade dos planos de saúde não são raros e podem ser comprovados

por uma pesquisa de 2016 do Conselho Federal de Medicina (CFM) que afirma que

93% da população brasileira estão insatisfeitos com o SUS e Saúde Privada no país.

Entretanto, há uma grande oportunidade para reinvenção dos serviços de

saúde no país utilizando a tecnologia da Internet em benefício da população. Isso

porque existem cinquenta milhões de brasileiros portadores de smartphones

realizando consultas médicas pelo menos uma vez ao ano e a previsão é de que,

até 2020, 72% da população brasileira terá acesso a um dispositivo desse tipo.

Assim, este trabalho trata das possibilidades de otimização da área da

saúde através da aplicação das atuais ferramentas de tecnologia e tem como

objetivo geral ilustrar a aplicação do método Design Thinking na criação e

desenvolvimento de startups com foco na ilustração e estruturação do modelo de

negócio da empresa Beep Saúde.

Como objetivos específicos, o projeto tem por finalidade:

Apresentar o conceito relacionado à metodologia Design Thinking,

2

abordando também semelhanças e diferenças com outras metodologias

existentes;

Aplicar a metodologia para o desenvolvimento da empresa Beep

Saúde;

Avaliar os efeitos da aplicação da metodologia, compreendendo os

resultados positivos e negativos para a empresa;

Avaliar possíveis mudanças e melhorias para a gestão do negócio a

partir dos pontos apresentados.

Para atingir tais objetivos, o trabalho aborda, inicialmente, sobre a crise

econômica no país e a necessidade de realizar ajustes nas contas públicas para que

se compreenda o colapso econômico que ocorre no setor privado e público de saúde

no Brasil. Já no capítulo 2, verificam-se as aplicações tecnológicas que contribuiriam

para a melhoria da área de saúde. Posteriormente, a metodologia do Design

Thinking é analisada para possível implementação das inovações, principalmente,

no que tange a área de saúde. Finalmente, no Capítulo 4, verifica-se eficiência da

inovação tecnológica para melhorar a forma como os atendimentos médicos são

realizados através do estudo de caso do Beep Saúde e seu desenvolvimento com

base no Design Thinking.

Este projeto, por meio da análise de uma startup que utiliza a tecnologia

para promover a saúde para a sociedade, contribui com elementos para estruturar e

entender como é o desenvolvimento da empresa, o que consequentemente acarreta

em benefícios para a promoção da saúde para a população e consolidação de uma

nova forma de serviço nessa área.

A metodologia do trabalho consiste em uma pesquisa bibliográfica das

principais referências relacionadas à metodologia Design Thinking. Em seguida, foi

realizada uma pesquisa exploratória do tipo estudo de caso baseado na metodologia

do Design Thinking na startup Beep Saúde e, assim, os resultados deste método no

desenvolvimento da empresa foram analisados para posterior sugestão de melhorias

e possível consolidação das vantagens de sua aplicação.

Entretanto, este projeto não fará análises dos cinco elementos do plano de

negócio, como análise financeira, jurídica e operacional. Além disso, não será

analisado o cenário brasileiro e mundial de startups.

3

1. A SAÚDE E A RECESSÃO ECONÔMICA NO BRASIL

O mercado de saúde no Brasil corresponde a 10% do Produto Interno Bruto

(PIB) no Brasil (Confederação Brasileira de Saúde, 2015). Desse total, 44% advêm

de gastos governamentais (nos níveis federal, estadual e municipal) no Sistema

Único de Saúde (SUS), enquanto 56% são provenientes do setor privado

(Marketwatch, 2014). Diante deste dado, vale mencionar que França, Suécia,

Inglaterra e Canadá gastam percentuais semelhantes, mas seus sistemas são mais

eficazes; os americanos consomem 17%, mas estão classificados em último lugar

entre os onze países mais desenvolvidos (Guarischi, 2017).

Essa relação entre sistema público e particular difere de muitos países, já

que, segundo Francisco Balestrin (2015), presidente da Associação Nacional de

Hospitais Privados (Anahp), entre as dez maiores economias do mundo, só no Brasil

a despesa privada em saúde supera a pública. Essa constatação demonstra que,

embora o sistema particular seja consideravelmente caro para grande parte da

população, muitos recorrem a esse gasto pela necessidade de garantir melhor

qualidade de vida para a família. Entretanto, a saúde suplementar atende apenas a

cerca de 25% da população brasileira (PwC, 2014) que também pode recorrer ao

sistema público para obter medicamentos e realizar procedimentos de alta

complexidade.

Não bastasse o paradoxo de o sistema público contar com menos recursos

do que o privado e atender a mais pacientes, a cadeia de saúde no Brasil enfrenta

outros problemas, como a baixa qualidade assistencial, a dificuldade das operadoras

de planos de saúde em administrar custos, o baixo investimento governamental na

formação de mão de obra e um rigor crescente do órgão regulador, a Agência

Nacional de Saúde Suplementar (ANS), ao estabelecer quais devem ser as

atribuições das operadoras. Além disso, também há necessidades de melhoria no

sistema de armazenamento de dados, como os registros médicos e prontuários

eletrônicos.

Governo, operadoras e usuários do sistema devem enfrentar esses

problemas e, ao mesmo tempo, tentar equacionar questões relacionadas ao

financiamento da saúde. Isso implica em uma maior capacidade de administração

governamental e no aumento das receitas do SUS, e também na necessidade de

4

alterações no regime da saúde privada e nos modelos de remuneração dos

prestadores de serviço. Os custos em alta no setor de saúde, um fenômeno global,

são um desafio a mais a ser considerado nesse contexto.

Uma análise do futuro do setor precisa levar em conta, ainda, o ciclo de

envelhecimento populacional e as dificuldades de acesso ao sistema por motivos

econômicos, por exemplo. Esses fatores podem impactar nas receitas do setor e

provocar o aumento das despesas. Por isso, ações como programas de promoção

da saúde e prevenção de doenças, nas esferas pública e privada, são cada vez mais

necessários para conter a expansão dos gastos.

1.1. O COLAPSO ECONÔMICO DO SETOR PÚBLICO E PRIVADO DE SAÚDE

NO BRASIL

Apesar de o impacto do setor de saúde na economia do país, é quase

unânime que há muito a ser feito para que as pessoas possam ter um serviço de

qualidade e eficaz. Relatos de atendimentos precários em emergências públicas e

de insatisfação com os planos de saúde não são raros e podem ser comprovados

por uma pesquisa realizada pelo Conselho Federal de Medicina (CFM) em 2016 no

qual afirma que 93% da população brasileira estão insatisfeitos tanto com o SUS

quanto com a Saúde Privada no país. Entre os usuários somente do Sistema Único

de Saúde (SUS), 87% dos entrevistados declararam insatisfação com os serviços

oferecidos.

Outro dado relevante que confirma o cenário crítico da saúde advém do

Instituto Datafolha (2015) que divulgou que a saúde é apontada como o principal

problema dos brasileiros não só para os que dependem do serviço público, mas

também por aqueles que possuem plano de saúde. Entretanto, não é somente a

qualidade dos atendimentos que tem deixado a desejar. Também de acordo com o

Instituto Datafolha (2015), o Brasil tem déficit aproximado de 407 milhões de

consultas, o que é facilmente observado através das grandes filas para atendimento

em diversos municípios, sejam eles de grandes cidades ou não, demonstrando que

há um gap considerável de produtividade entre o realizado e o que a população

demanda.

5

Além disso, o setor também influencia na disparidade socioeconômica

existente entre as regiões do país. Quando se analisa pelo número de habitantes,

percebe-se que 70% dos brasileiros não são atendidos por empresas privadas de

seguros-saúde, principalmente nas regiões Norte e Nordeste (Marketwatch, 2014). E

ao avaliar pelo número de médicos disponíveis no mercado, constata-se que, apesar

de existirem dois profissionais para cada mil habitantes no Brasil, sendo o mínimo

recomendado pela Organização Mundial de Saúde (OMS) um por mil, 72% deles

atuam nas regiões Sul e Sudeste, principalmente nas capitais e grandes cidades

(FEHOESP, 2013).

Conclui-se, portanto, que o colapso do sistema de saúde parece ser

iminente, já que todos os players desse mercado (médicos, operadoras de saúde e

pacientes) estão insatisfeitos com a forma como ele é organizado atualmente.

1.1.1. A Crise dos Planos de Saúde

A crise econômica, explicada anteriormente e que já dura quase três anos

no país, tem dificultado o acesso do brasileiro a planos de saúde. Dados da ANS

(Agência Nacional de Saúde Suplementar) mostram que somente durante o ano de

2016, o número de beneficiários de planos caiu 2,78%, o que significa que quase 1,4

milhão de pessoas deixaram de ter plano de saúde neste ano. A redução no número

de usuários coincide com o momento em que o governo atravessa problemas de

caixa e tenta controlar despesas.

A dificuldade no acesso a planos privados de assistência médica não

começou em 2016. Depois de atingir o ápice de mais de 50 milhões de usuários no

final de 2014, o número vem diminuindo mês após mês, como pode ser visto na

figura 1. De lá até o fim de 2016, cerca de 2,5 milhões de pessoas perderam o

acesso a planos privados de assistência (ANS, 2016). Essa significativa quantidade

de pessoas que perderam a assistência médica no ano passado engrossam a fila do

Sistema Único de Saúde - e demandam ainda mais do, já limitado, orçamento do

governo.

6

Figura 1 – Número de beneficiários de planos de saúde

Fonte: Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) - 2016

Em nota, o IESS (Instituto de Estudos de Saúde Suplementar) disse

acreditar que a queda só não foi maior graças à cultura do brasileiro de dar

prioridade aos gastos com saúde. Segundo o Instituto, mesmo quando o cidadão

perde renda, a saúde é uma das despesas que ele mais evita cortar.

Esse cenário evidencia que, apesar das dificuldades e dos altos custos, a

necessidade da população por saúde é constante, abrindo espaço para

possibilidades de entrada de serviços que geram melhor custo benefício para a

sociedade.

1.1.2. Insatisfação na Relação Médicos x Planos de Saúde

A população médica brasileira é composta de 432 mil profissionais.

Desse total, 40% (cerca de 170 mil médicos) trabalham em consultórios próprios e

25% deles atendem apenas pacientes particulares e não tem interesse em

atualmente trabalhar pelos planos de saúde (Demografia Médica, 2015). Outro dado

ainda mais relevante é que o percentual de médicos restante que ainda atende pelos

planos de saúde, cada vez mais reserva menos tempo de sua agenda para receber

os usuários dos convênios de assistência médica, priorizando o atendimento em

consultórios particulares (Demografia Médica, 2015).

7

Essa tendência tem a ver, principalmente, com os valores dos

honorários repassados aos médicos pelas operadoras de saúde, que pagam, em

média, R$ 53 por uma consulta (Demografia Médica, 2015). Além disso, os médicos

criticam uma relação desgastada com os convênios: ações reiteradas de glosa, ou

seja, o não pagamento por parte dos planos de saúde, de valores referentes a

atendimentos, a rejeição de prescrições médicas, o não pagamento de determinados

procedimentos terapêuticos, ou a limitação do número de exames laboratoriais a

alguns procedimentos específicos. As operadoras são acusadas de interferir em

várias ordens, restringindo determinadas coberturas, fazendo auditorias excessivas

e limitando a aprovação de alguns atos médicos mediante aprovação de auditores

externos.

1.1.3. Insatisfação na Relação Pacientes x Planos de Saúde

Na relação entre pacientes e planos de saúde, existe também uma

série de questões e insatisfações de ambas as partes. Segundo o índice geral de

reclamações da ANS (Agência Nacional de Saúde Suplementar), mensalmente são

registradas, em média, 13 mil reclamações de consumidores. A maioria delas

(37,7%) por negar ou adiar um atendimento (não autorizar um exame ou uma

cirurgia sem dar justificativa, por exemplo).

As causas principais dessas reclamações são aumentos de preços,

problemas com internação hospitalar, atendimento de urgência e emergência e

reclamações com a não concessão de próteses e órteses ou home care completam

o quadro de ações do escritório. Além desses problemas, outro grande motivo de

queixas são o descredenciamento de hospitais, clínicas e médicos e demora na

marcação de consultas e exames (ANS, 2017).

A maioria dos planos de saúde acaba oferecendo um produto de baixa

qualidade a um preço caro. No entanto, mesmo com essa suposta cobrança abusiva

de preço, muitos deles estão falindo ou em crise financeira. Essa situação pode ser

explicada porque, após a expansão dos planos de saúde no século passado, uma

série de regulamentações foi criada pelo governo, tanto na relação entre pacientes e

planos de saúde como entre prestadores de serviço e planos de saúde.

8

Por um lado, priorizou-se o atendimento dos interesses do segmento mais

exposto às imperfeições do mercado, com a finalidade de equilibrar as relações dos

usuários de saúde com as operadoras. Essa priorização teve como objetivo criar

uma ruptura no desequilíbrio sistêmico que desfavoreceu o cliente, demonstrado

pelos abusos cometidos ao longo do processo de expansão desse mercado.

Por outro, elencou algumas regulamentações que desfavoreceram a antiga

sustentação econômico-financeira das Operadoras como:

Ampliação das coberturas assistenciais, não admitindo qualquer tipo

de exclusão ou de exceção, mesmo em planos exclusivamente

ambulatoriais. Naturalmente que essa regra levou ao atendimento de uma

demanda maior por procedimentos de complexidade, antes realizados no

setor público;

Expansão dos direitos dos usuários e proibição de rompimento

unilateral dos contratos nos planos individuais, proibição da recontagem dos

prazos de carência, da seleção de risco e da exclusão indiscriminada de

usuários. Mesmo os contratos antigos não podem ser rescindidos

unilateralmente;

Rigoroso monitoramento de preços e das condições de reajuste, com

regras de proteção ao consumidor. Retiram-se, então, as possibilidades de

recuperação do equilíbrio econômico nas bases antes realizadas, ou seja,

utilizando o realinhamento da receita através dos reajustes por desequilíbrio

ou por sinistralidade, redução da massa de expostos, exclusão dos contratos

deficitários e de maiores controles de acesso e cobertura assistencial;

Estabelecimento do pagamento de multas pelo não cumprimento

contratual e pela desobediência da legislação regulamentadora;

Integração do sistema de saúde suplementar ao SUS, estabelecendo

as normas de ressarcimento pela utilização dos recursos públicos;

Exigências de solidez empresarial, impedindo Operadoras de recorrer

à concordata e de seus credores pedirem falência. As Operadoras somente

podem ser liquidadas a pedido da ANS e, também estão sujeitas a

constituição de reservas e garantias de capacidade econômico-financeira

para cumprimento dos contratos.

9

Essa série de medidas produziu um aumento considerável na espiral

de custos, gerando uma expressiva inadequação econômica. E somou-se a outras

ameaças e riscos relevantes, como os patrocinados pela pirâmide populacional

brasileira, que apontando um acelerado envelhecimento da população, e aliado ao

aumento da expectativa de vida, em especial junto à população que possui acesso

aos planos de saúde, consubstancia uma preocupação com custos adicionais que

terão impacto na solidez das operadoras. A figura 2 mostra essa tendência,

apontando, para os próximos anos, um crescimento significativo da população com

mais de sessenta e cinco anos.

Figura 2 – Percentual da população idosa no Brasil nas próximas décadas

Fonte: Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) – 2013

10

2. INOVAÇÕES TECNOLÓGICAS E A ÁREA DE SAÚDE

Assim como foi abordado no capítulo 1, o setor de saúde está carente de

serviços de qualidade que consigam atender a população de forma eficiente, como

deveria ser a obrigação do governo e dos planos de saúde. Por conta disso, esse

setor é considerado um dos mais abertos às novas tecnologias, pois estas permitem

a informatização e automação de seus processos, gerando dados confiáveis para

análise, além de tornar mais eficazes os atendimentos aos pacientes. Esse cenário

abre espaço para empreendedores que vislumbram, nesse mercado, uma

oportunidade para inovações e novos tipos de serviço que contribuam para melhorar

os tratamentos médicos.

Os principais desafios atualmente desse setor englobam conseguir

disponibilizar recursos da saúde para a crescente população e reunir todas as

informações necessárias dos pacientes que ficam normalmente dispersas em

diferentes sistemas que não possuem conectividade entre si. Entretanto, problemas

desse tipo vêm sendo solucionados através da chamada Internet das Coisas,

também conhecida como IoT (Internet of Things), uma das principais novas

tecnologias que está transformando o dia a dia das pessoas e das empresas.

Dessa forma, devido ao potencial apresentado da Internet das Coisas na

área da saúde, foi elaborado um estudo detalhado sobre tal inovação. Contudo,

como há outros tipos de tecnologia entrando nesse mercado, também foram

analisadas as principais tendências inovadoras para o setor.

2.1 INOVAÇÕES TECNOLÓGICAS: A INTERNET DAS COISAS (IoT)

2.1.1. IoT e a Evolução da Internet

Desde a sua criação, a Internet vem apresentando impacto significativo e até

revolucionário em diversas áreas, sejam elas voltadas para educação, negócios ou

até mesmo relacionado às questões mais subjetivas, como a humanidade. Não à

toa, é considerada uma das invenções mais importantes e com maior poder de

transformação da história.

11

Dentre as principais funcionalidades da Internet encontra-se a possibilidade

de coletar, analisar e compartilhar informações que podem ser transformadas em

conhecimento e, posteriormente, em sabedoria. E é nesse contexto que a Internet

das Coisas está inserida, se tornando cada vez mais essencial para aumentar a

conectividade e distribuição de dados através da Internet.

Em 2003, a população do planeta era em torno de 6,3 bilhões de pessoas e

existiam 500 milhões de dispositivos conectados à Internet (EVANS, 2011). Embora

tal número dê a impressão de ser significativo, é bem pouco comparado com os dias

atuais. Devido ao crescimento vertiginoso de smartphones e tablets nos últimos

anos, o número de dispositivos conectados à Internet chegou a 12,5 bilhões em

2010, apresentando aumento de 2400% em comparação a 2003, enquanto a

população humana cresceu somente 8%. Inclusive, em 2010, foi constatado que

pela primeira vez na história o número de dispositivos conectados à Internet por

pessoa foi maior do que 1 (1,84) (EVANS, 2011).

Entretanto, vale ressaltar que tal número não engloba toda a população,

dado que nem todos possuem acesso a esse tipo de tecnologia e dispositivos.

Embora haja uma grande disseminação não só no Brasil como no mundo do uso de

smartphones e tablets, ainda existem casos de desigualdade de inclusão digital seja

por aspectos territoriais ou de renda.

Durante esse momento de crescimento explosivo do uso da Internet que

nasceu o conceito de IoT. A Internet das Coisas é uma recente tecnologia que surgiu

no momento exato em que foram conectados à Internet mais ―coisas e objetos‖ do

que pessoas (EVANS, 2011). Assim, estima-se que a IoT foi criada em torno de

2008 e 2009.

Embora, atualmente, o uso da IoT seja extremamente amplo, no início sua

utilização teve como principal foco o controle de inventário e sistemas de gestão de

cadeia de suprimentos com o objetivo de identificar, armazenar e rastrear seus

produtos de forma mais eficiente e alinhado com o tempo real. E dentre os principais

investidores iniciais dessa tecnologia, destaca-se a indústria de transportes que se

beneficiou largamente através de uma logística mais efetiva e melhor controle da

qualidade. Exemplo disso está em suas operações que são automaticamente

interrompidas, caso algum veículo apresente qualquer tipo de defeito. Além disso, o

setor de veículos foi um dos primeiros a utilizar a IoT para inovações em seus

12

produtos. Em 2012, 10% dos carros dos Estados Unidos estavam conectados à

Internet, porém estima-se que 90% dos veículos estejam conectados até 2020

(HARRIS, 2015).

Apesar de todo o crescimento do uso da IoT, seu potencial máximo ainda

não foi atingido, pois a maior parte dos dados dessa tecnologia não são usados

atualmente. Um bom exemplo disso advém do setor petroleiro, no qual apenas 1%

dos dados de uma plataforma de petróleo com 30.000 sensores são examinados e

estes são usados somente para detecção e controle de anomalias, desconsiderando

utilidades com maior valor agregado como otimização e previsão (MANYIKA et al.,

2015).

A projeção é de que, em 2020, 50 bilhões de objetos devem estar

conectadas por meio de sensores e redes de comunicação, sendo em grande parte

por redes sem fio (EVANS, 2011). Esse cenário futuro mostra que os dados serão

transmitidos e compartilhados em tempo real de forma cada vez mais rápida e

simplificada para o usuário. Isso porque com a rede atingindo alcances maiores e

mais profundos, as transformações das informações serão extremamente dinâmicas,

permitindo análises mais detalhadas que vão além da capacidade atual.

Toda essa revolução da Internet e da IoT, adicionado aos investimentos

cada vez maiores nessa tecnologia tanto por parte de novos empreendimentos como

pelas empresas já consolidadas no mercado, demonstra o quão importante é pensar

e compreender o formato e impacto da Internet das Coisas no mundo, sociedade e

também, mais especificamente, nos processos.

2.1.2. Impactos da IoT para o mundo e sociedade

Assim como já mencionado, a Internet das Coisas está gerando impactos

grandes no mundo através da conectividade dos objetos que é capaz de transformar

completamente a forma como as pessoas consomem, produzem, vendem, entregam

e difundem seus produtos.

Um dos propósitos do seu uso é diminuir a preocupação humana com

tarefas corriqueiras e monótonas, automatizando todas as atividades possíveis e

permitindo que haja mais tempo para as pessoas focarem nas análises que de fato

13

agregam valor. Nesse sentido, a IoT se beneficia da comunicação denominada

machine to machine (M2M) que envolve praticamente todas as áreas das ações

humanas, incluindo infraestrutura até questões como privacidade e segurança, que

envolvem indagações éticas que vão além da compreensão humana. A IoT alinhada

ao M2M permite que a conectividade entre pessoas, processos, dados e objetos

garanta, por exemplo, que as empresas consigam acumular e acessar informações

sobre o movimento dos corpos e hábitos de consumo da sociedade com grande

precisão, levando à redução, otimização e economia de recursos e ampliando a

produtividade.

Nesse contexto, um dos grandes impactos da IoT para o mundo e a

sociedade é na maior possibilidade da existência de ―cidades inteligentes‖, onde os

meios de transporte público, fluxo do tráfego e o uso da energia são atividades

realizadas de forma mais eficaz e isso já é uma realidade, inclusive, no Brasil. Em

Petrópolis, o monitoramento dos pluviômetros para detecção de calamidades é um

exemplo da utilização da Internet das Coisas, assim como no funcionamento dos

radares de trânsito de São Paulo que transmitem informações sobre os veículos

diretamente para a polícia. O Estado do Paraná também tem consciência da

importância dessa tecnologia, utilizando-a em suas lixeiras que emitem avisos a uma

central de gerenciamento quando estão cheias, evitando o acúmulo de lixo e

reduzindo o risco de enchentes em regiões vulneráveis.

Além das cidades como um todo, a IoT também poderá ser visto no interior

dos lares. Dentro das moradias, a Internet das Coisas permitirá maior conforto e

automação, além de maior segurança. Futuramente, a casa será capaz de perceber

a aproximação do morador, regulando a temperatura e acendendo as luzes

antecipadamente, por exemplo. Ou até mesmo a cafeteira terá a capacidade de

preparar o café pouco antes do despertar das pessoas e a geladeira poderá informar

quando se torna necessário ir ao supermercado. O objetivo é ir além da

conectividade entre dispositivos, tornando estes inteligentes o suficiente para

compreender dados e atuar a partir dessas análises.

Em 2015, algumas empresas chegaram a anunciar investimentos para

utilização da Internet das Coisas em seus produtos, comprovando que essa

tecnologia dentro das casas pode se tornar algo mais cotidiano dentro de algum

tempo. A Samsung, que está entre essas empresas, informou o planejamento para

14

que todos os seus televisores em 2017 sejam dispositivos da Internet das Coisas e

que, em cinco anos (2020), todo o seu hardware venha pronto para IoT. A empresa

Lucis Technologies também pretende ter lançamentos com essa tecnologia, como o

dispositivo inteligente de iluminação NuBryte que será capaz de aprender o

comportamento humano da casa, ligando a luz da noite se o morador acordar de

madrugada, ou acender luz mais forte durante o dia.

Assim, fica evidente que a Internet das Coisas veio para revolucionar o

mundo e o dia a dia de todos. Seu impacto já está sendo percebido em todas as

áreas, desde as atividades mais simples como dentro dos lares até as mais

complexas como nos processos de indústrias. E a tendência é que sua influência

seja cada vez maior, tornando-se, no futuro, essencial para todos.

2.1.3. Impactos da IoT nos negócios e processos

Além do potencial de revolucionar a forma como o homem se relaciona com

o mundo de maneira geral, grande parte do impacto e do valor gerado pela

tecnologia se situa nas empresas, mais especificamente nos ganhos de

disponibilidade, produtividade e geração de dados para tomada de decisões.

DUNBRACK (2016) argumenta que o uso da tecnologia de IoT, quando mais

disseminado, terá aplicações específicas em cada indústria e categoriza as

aplicações futuras e atuais em três grupos genéricos:

Gestão estratégica de ativos: monitorar ativos isolados ou grupos de

ativos físicos da empresa a partir dos dados fornecidos pelo próprio ativo em

uso da tecnologia, como seu estado de funcionamento, sua localização e

movimentação, de modo a aumentar seu desempenho, eficiência e

segurança. No que tange o impacto da IoT sobre os processos

organizacionais, esta categoria de aplicação é a de maior relevância;

Experiência de consumo: fornecer ao cliente uma experiência de

consumo contextualizada e personalizada, a partir das informações

coletadas do próprio cliente, seja este um consumidor como pessoa (B2C)

ou como empresa (B2B);

Experiência do produto ou serviço: melhoria do produto ofertado ou do

15

serviço prestado, baseada nas funcionalidades de conectividade da IoT de

produtos e sistemas. O monitoramento do desempenho de determinado

produto ou serviço pode indicar ao fabricante ou prestador oportunidades de

revisão de design, por exemplo.

De forma geral, em todos os casos há implícita uma transição também de

modelos de gestão, com uma visão baseada em dados, o que exige profundas

transformações das empresas, desde a infraestrutura técnica complementar para

lidar com tamanha quantidade e variedade de dados em tempo hábil até a

capacitação de pessoas com as competências analíticas necessárias.

Além disso, a transformação digital é essencialmente um compromisso por

parte das organizações como forma de inovar a experiência que oferecem aos

clientes. Portanto, há uma forte urgência entre os executivos, pois a ameaça de

concorrentes já habilitados digitalmente é forte. A pesquisa da empresa IDC mostra

que 33% dos líderes das industriais perderão o cargo por esse motivo até 2018

(DUNBRACK, 2016). Esta mesma pesquisa também aponta que 58% das

organizações em todo o mundo veem a Internet das Coisas como estratégica para

seus negócios.

Nesse sentido, a Internet das Coisas está no centro de uma nova era de

inovação das indústrias. O fenômeno chamado de Indústria 4.0 descreve a completa

digitalização dos processos de produção, fundindo o mundo físico e digital em uma

única perspectiva dentro das fábricas. Assim como o vapor e a eletricidade, que

propiciaram, no passado, novas aplicabilidades, promovendo revoluções industriais

pelos grandes saltos de produtividade alcançados, a IoT ocupa papel fundamental

nesse processo ao monitorar e controlar as ferramentas de produção e utilizar os

dados obtidos para melhorar a produtividade e qualidade dos processos.

Entre as indústrias de maior potencial de geração de valor por suas

aplicações de IoT, pode-se citar, em ordem decrescente de potencial estimado por

MANYIKA et al. (2015):

Fábricas (produção em massa): manutenção preditiva, otimização de

operações, otimização de estoques, saúde e segurança no trabalho;

Saúde: monitoramento de condições corporais, prevenção e

tratamento de doenças, aumento do bem-estar físico;

16

Varejo: pagamentos automáticas, otimização de estoques, promoções

personalizadas, otimização de layout;

Mobilidade urbana: controle de tráfego, veículos autônomos, redução

de seguros, maior segurança;

MANYIKA et al. (2015) também exemplifica algum casos conhecidos de

empregabilidade da tecnologia, como a indústria da mineração. Em relação ao

maquinário caro e pesado utilizado, é possível determinar quando será necessária a

realização de manutenções pelo monitoramento contínuo (manutenção preditiva),

evitando falhas e interrupções inesperadas na produção e reduzindo os custos

associados. Enquanto isso, as operações podem ser planejadas, administradas e

otimizadas em posse do vasto volume de informações extraídas dos status de

funcionamento dos processos. No que diz respeito às pessoas, o rastreamento em

tempo real de trabalhadores pode emitir alertas para sinalizar quando estes se

aproximam de áreas de perigo.

Outro exemplo são as possibilidades para grandes lojas de varejo, como

supermercados e lojas de departamento, onde existem intensos e complexos fluxos

de pessoas e produtos. É possível automatizar completamente o pagamento pelos

produtos na saída da loja, identificando o conteúdo das compras por etiquetas

eletrônicas, cobrando o valor diretamente no celular dos clientes e eliminando por

completo a existência de filas e operadores de caixa. Os clientes, ao circularem pela

loja, podem ser avisados de promoções e receber ofertas de produtos de interesse

do seu perfil via celular, além de mostrarem para as lojas como melhor distribuir e

posicionar seus produtos, prateleiras e gôndolas ao redor do espaço da loja para

aumentar suas vendas e privilegiar sua lucratividade. A necessidade de reposição

de produtos nas prateleiras também pode ser automaticamente indicada para o

estoque da loja, que por sua vez pode acionar controles de abastecimento

automático dos centros de distribuição da empresa.

Nos últimos anos, a IoT vem progressivamente penetrando outros mercados

por se reconhecer o valor potencial de se combinar a tecnologia com o

Gerenciamento de Processo de Negócios (BPM – Business Process Management).

Segundo SOTO (2015), essa integração possibilita principalmente o envolvimento de

novas dimensões como parâmetros para os processos, podendo trazer mais

17

agilidade, flexibilidade, eficiência e reatividade para processos críticos para a

organização. Outros benefícios dessa integração também incluem:

Acesso mais rápido à informação de qualquer dispositivo ou ambiente

centrado em pessoas ou clientes;

Maior aproveitamento de feedbacks dos usuários, trazendo melhorias

para o ciclo de vida dos processos, desde a concepção e implantação até a

análise e gerenciamento;

Aceleração da implantação de soluções, operações simplificadas e

melhoria contínua dos processos.

Assim, são observados grandes benefícios em potencial pela introdução de

tecnologia de IoT nos processos organizacionais.

CÂNDIDO (2013) também ressalta esses benefícios a partir da utilização de

―informações de contexto‖ relevantes na execução dos processos. O contexto é

descrito como um estado do ambiente, que é externo ao processo, e cujo valor é

alterado de forma independente do ciclo de vida do processo e de modo que a

medição possa influenciar sua execução. Tais informações, colhidas por meio de

sensores nos dispositivos de IoT, podem traduzir uma grande variedade de atributos

do ambiente e do objeto, como umidade, luminosidade, temperatura, velocidade,

localização, força de tração/compressão, entre uma infinidade de possibilidades,

dependendo do que se pretenda condicionar. Em posse dessas informações, é

possível otimizar a execução de um processo e permitir sua adaptação às mudanças

no ambiente, promovendo processos de negócio mais reativos.

SOTO (2015) também descreve os próximos passos para a evolução

conjunta de IoT e de BPM. O primeiro estágio de maturidade seria a formação do

Gerenciamento Inteligente de Processos de Negócios (iBPM – Intelligent Business

Process Management) por essa fusão. Adicionando a capacidade analítica aos

processos operacionais, as empresas podem tomar decisões melhores e mais

rápidas. A seguir, para a evolução para um nível mais sofisticado de tecnologia, o

iBPM deve se integrar às Tecnologias de Colaboração, que permitem maior

interatividade dos usuários para trabalho conjunto e solução de problemas.

A partir deste ponto, um fator limitante que começa a se destacar é a

necessidade de comunicação e processamento uma enorme massa de dados entre

18

os dispositivos IoT e a incorporação ao software de BPM. Para uma maior eficácia

dessa solução, os resultados colhidos devem ser analisados e comunicados aos

tomadores de decisão em praticamente tempo real. A existência de um atraso

significativo para a realização dessa análise e transmissão dos dados pode assim

limitar os benefícios do iBPM. Como solução, as plataformas e sistemas de Big Data

devem também evoluir para se integrar ao conjunto IoT-BPM e acompanhar as

transformações. A figura a seguir ilustra essa evolução:

Figura 3 – Evolução da integração IoT-BPM

Fonte: SOTO, Carlos. BPM and IOT: The Signal of True Disruption (2015)

Dessa forma, observa-se que as possibilidades já conquistadas ainda se

encontram em um estágio inicial de um processo de expansão com muito espaço

pela frente. A fim de alcançar fronteiras ainda mais distantes, é fundamental a

integração da IoT com outros tipos de tecnologia, no contexto de processos

organizacionais.

19

2.2 A REVOLUÇÃO TECNOLÓGICA NO MERCADO DE SAÚDE

2.2.1. Atuais inovações tecnológicas na área da saúde

A revolução da Internet não poderia deixar de fora o setor da saúde, tanto

pela sua importância na sociedade como pelo impacto financeiro que esta área

representa em nível mundial. Segundo o Dr. Gladman, chefe do Departamento de

Informação Médica na Mackenzie Health (2008), ―talvez nenhuma indústria detenha

tantas promessas para o uso da Internet das Coisas quanto à saúde. Na verdade,

alguns veem como a força rompedora que irá revolucionar os tratamentos e

melhorar a saúde do paciente do século XXI‖.

Os dispositivos médicos conectados pela tecnologia são capazes de

melhorar a saúde, qualidade de vida do paciente e a eficácia dos resultados

médicos. Atualmente, inovações como dispositivos vestíveis, dispositivos ingeridos

temporariamente ou até introduzidos ao corpo já são uma realidade em certos

tratamentos.

Os dispositivos vestíveis, também chamado de wearables são ferramentas

digitais para vestir, sendo facilmente acoplados ao corpo, como pulseiras, relógios e

óculos. Possuem hardware cuja tecnologia tem capacidade para coletar dados

através do contato com a pele e transmitir as informações para smartphones e

outros dispositivos. Informações de saúde como batimentos cardíacos, calorias,

passos dados em um trajeto e tempo de atividade física podem ser captados em

tempo real e, alinhado ao tratamento médico, podem auxiliar tanto o profissional de

medicina na sua prescrição, como o próprio paciente para atingir seus objetivos de

saúde.

De acordo com uma pesquisa realizada pela empresa PwC (2016), embora

os dispositivos vestíveis tenham iniciado com o público-alvo de jovens do sexo

masculino em torno de 18 a 24 anos de idade, o interesse da população está

aumentando rapidamente. Esse cenário faz com que as empresas criadoras já

tenham começado a pensar em produtos focados no público feminino e para outras

faixas etárias.

Além disso, a mesma pesquisa constatou que os dados que os

consumidores mais gostariam de receber através desse tipo de tecnologia advêm do

mercado de saúde. 77% dos participantes indicaram que desejam receber informes

20

sobre exercícios enquanto 75% comentaram que seu interesse era nas informações

sobre saúde e 67% sinalizaram a opção ―Melhoria na alimentação‖ (PwC, 2016).

Já o ingestible sensor é uma tecnologia nos quais sensores minúsculos são

ingeridos pelo paciente. O ácido do estômago ativa o dispositivo que é capaz de

transmitir informações para um adesivo de pele descartável, chamado de patch

disposable, que, por sua vez, é habilitado com banda larga, sem bateria, para poder

passar os dados para aplicativos de celular. Tal tecnologia permite, por exemplo,

medir batimento cardíaco e inspiração e expiração dos pulmões, auxiliando na

avaliação de estados fisiológicos como fadiga e taquicardia, e também possibilita

avaliar reações a medicamentos. Assim, tem-se uma inovação que, embora ainda

rara no mercado, se torna alternativa aos estereoscópios, demonstrando os

resultados de forma mais rápida e acessível para médicos e pacientes.

Quanto aos dispositivos introduzidos (embeddables), há grande expectativa

quanto a sua aplicação no monitoramento do nível de açúcar do sangue de forma

confiável e automática, descartando a necessidade de tirar sangue por pacientes

diabéticos. Essa tecnologia costuma ser em tamanho minúsculo e é inserida sob a

pele ou até em certos órgãos e tecidos para avaliar alguma informação requerida.

Com a nanotecnologia, no futuro, será possível diminuir mais a dimensão desse

dispositivo, expandindo a possibilidade de uso em todo o organismo.

Todos esses ganhos da Internet e da tecnologia na área da saúde não

passaram despercebidos também para grandes empreendedores. Muitas empresas

entraram nesse setor nos últimos anos com o intuito de explorar essa nova

revolução e fazer parte do desenvolvimento da tecnologia nesse setor. Este é o caso

de conhecidas organizações como Apple, Samsung e Microsoft que, embora não

façam parte do ramo de saúde, constataram a forte demanda e estão se

beneficiando de seus recursos e tecnologias para possibilitar ao consumidor

inovações voltadas a diversos ramos.

2.2.2. Perspectivas e tendências do mercado

Como já abordado, a internet vem revolucionando o mundo e os modelos de

negócio, e a área de saúde não está imune a tais mudanças. Dito os vários

21

problemas na área de saúde no Brasil, a inserção de novas tecnologias pode trazer

muitos benefícios aos cidadãos e o surgimento de novos serviços e produtos

voltados a esse setor está em constante crescimento.

Assim, as tendências de inovação para a saúde são inúmeras, mas, devido

às necessidades de médicos e pacientes, duas se destacam: amadurecimento dos

aplicativos e serviço de dados médicos e a telemedicina (Singularity University,

2016).

Os aplicativos médicos e de saúde não são mais novidades, devido a sua

facilidade de criação e de distribuição. Os aplicativos possuem objetivos que vão

desde auxiliar na alimentação até a marcar consultas médicas. Eles podem ajudar

na área de saúde e, hoje em dia, a maioria é direcionada para consumidores e

pacientes. A tendência do mercado é criar mais aplicativos que tenham como alvo o

uso clínico. Como, por exemplo, um aplicativo que organize e controle os dados

médicos do paciente. Em vez das informações dos pacientes ficarem isoladas em

consultórios e laboratórios, um aplicativo que una todas essas informações é uma

grande tendência no mercado. Ele seria como um grande banco de dados que

unificaria todas as informações de diferentes plataformas e, a partir dele, seria

possível extrair possíveis soluções para prevenir problemas e doenças reais.

Outra tendência na área da saúde é a telemedicina que nada mais é do que

ter uma consulta por teleconferência. É possível usar a telemedicina para que um

paciente possa tirar dúvidas com um profissional especializado que esteja a grandes

distâncias geográficas. O especialista teria acesso aos exames do paciente por meio

da internet e daria as instruções necessárias e mais urgentes. Com esse tipo de

serviço seria possível utilizar a tecnologia para evitar deslocamentos desnecessários

e diminuir o tempo de espera para uma consulta.

Essas tendências aliadas à inserção cada vez maior do uso de smartphones

no país, no qual se prevê que, entre 2014 e 2020, o percentual da população

brasileira com acesso a esse tipo de dispositivo subirá de 38% para 72% (PAIVA,

2015), demonstram que existe espaço significativo para reinvenções dos serviços de

saúde no Brasil com o uso da tecnologia.

Dessa forma, como todo mercado em crescimento, haverá a entrada de

concorrentes no mercado e, daqui a algum tempo, esses tipos de serviço serão mais

comuns. Esse cenário leva à necessidade de constante busca por inovações para

22

que a empresa continue a se destacar e ter bons resultados. Por isso, as

organizações devem ficar atentas a essas tendências do mercado e tentar inserir,

em seu plano estratégico, mudanças que inovarão o seu processo e o mercado.

2.2.3. Benefícios do uso da tecnologia na área de saúde

O uso de inovações tecnológicas para o setor de saúde beneficia o

tratamento dos pacientes seja pela possibilidade de obter informações médicas

como batimento cardíaco de forma mais eficaz através do uso de dispositivos e

sensores ou pela maior facilidade de organizar as consultas médicas, prescrições e

horários dos medicamentos.

Isso significa dizer que a medicina diagnóstica tem evoluído com a união

desta com a tecnologia, oferecendo serviços cada vez melhores para os pacientes

ao reduzir o tempo de recuperação, diminuir a necessidade de procedimentos

invasivos e agilizar exames e resultados. Além disso, não só o processo se tornou

mais rápido como a qualidade dos diagnósticos também evoluiu, levando a menores

riscos de erro e maior eficácia na escolha do método mais adequado.

Entretanto, os benefícios do uso da Internet na área da saúde vão além de

um melhor tratamento aos pacientes, trazendo vantagens também para os próprios

médicos. As novas tecnologias permitem que os profissionais da área médica

gerenciem melhor seu tempo e seus consultórios através de sistemas e aplicativos

que organizam o agendamento das consultas, os dados de todos os pacientes e até

mesmo as questões financeiras. Assim, os médicos conseguem atender com mais

qualidade e em menor tempo seus pacientes, garantindo maior produtividade ao

final do expediente.

Essa melhor gestão através da tecnologia é aplicável também aos hospitais

que, ao inserir as atuais inovações em seu processo, conseguem administrar de

forma mais eficaz seu quadro médico, oferecendo melhores tratamentos médicos e

atendendo mais pacientes. Inclusive, estima-se que essas novas tecnologias podem

gerar economia de US$ 63 bilhões em custos de assistência médica ao longo de 15

anos, com redução entre 15 a 30% das despesas com equipamentos hospitalares

(HEALEY, 2015).

23

Assim, os benefícios vão além da relação médico e paciente, chegando ao

patamar de contribuir para a crise existente no setor público e privado da área de

saúde que, atualmente, não possuem capacidade para atender e dar os melhores

tratamentos para a alta demanda.

2.2.4. Principais riscos do uso da tecnologia na área de saúde

Os riscos relacionados ao uso da tecnologia nos serviços de saúde estão na

questão da segurança dos dados dos pacientes. Ao usar e baixar o aplicativo, por

exemplo, o paciente insere dados importantes e privados, como sua localização,

dados pessoais e até dados de cartão crédito.

A segurança e privacidade são pontos importantes na inserção da

tecnologia, pois haverá informações importantes dos consumidores que devem ser

restritas apenas aos interessados, como aos médicos. Quando criminosos

cibernéticos conseguem acessar os aparelhos e, assim, os dados contidos ali, terão

conhecimento de dados pessoais e médicos que servirão para prejuízo do usuário.

Assim, donos dos serviços médicos que utilizam a internet devem ter forte

preocupação quanto à segurança dos seus dispositivos e aplicativos, sendo uma

característica essencial e que deve ser garantida para seus clientes.

24

3. DESIGN THINKING NA CRIAÇÃO E DESENVOLVIMENTO DE STARTUPS

Atualmente, há uma dualidade interessante no mundo dos negócios. De um

lado, empresas que não estão habituadas a abordar novas ideias e acabam

restringindo-se a modelos de negócios já existentes, apenas copiando e

incrementando o que já foi feito anteriormente com sucesso por outras pessoas. Do

outro, empresas que buscam inovar, enfrentando alguns riscos no crescimento do

negócio, mas que, quando bem-sucedidos, geram um produto diferenciado para a

sociedade.

É comum ouvir falar sobre a importância da criatividade e da adoção de um

comportamento inovador no dia a dia de uma startup. De fato, a inovação é uma das

características essenciais deste modelo de negócio, mas a verdade é que nem todos

empreendedores conhecem abordagens que possam tornar sua empresa mais

inovadora.

A metodologia tradicional de Plano de Negócios é amplamente utilizada para

a estruturação de uma organização, entretanto, nem sempre é a ideal para novas

empresas, principalmente, para aquelas que estão voltadas para a inovação. Isso

porque, muitas vezes, é necessário aliar uma ideia inovadora a uma ferramenta

inovadora, de forma que esta sincronia contribua para uma maior cultura inovadora

na companhia.

A metodologia chamada Design Thinking é capaz de revolucionar a

realidade de qualquer organização e o próprio modo como os negócios são geridos.

Este modelo rompe com as metodologias e os procedimentos convencionais para

desenvolver produtos, gerenciar projetos e solucionar problemas de modo geral.

Muitas vezes, a principal barreira para uma atitude inovadora se encontra

justamente na repetição contínua desses processos. Entretanto, o Design Thinking é

o oposto disso, e tem como intuito solucionar os problemas por meio da atenção às

reais necessidades do público-consumidor, levando também em consideração a

bagagem cultural e a visão de mundo dos envolvidos no projeto, bem como as

práticas que favoreçam uma interação mais colaborativa.

Por conta de tais características, o Design Thinking é considerado uma

metodologia com grande potencial de utilização nas empresas de inovação da área

de saúde, cujas tecnologias foram abordadas no Capítulo 2. E, portanto, tal

25

ferramenta foi o foco do estudo em questão.

3.1 A METODOLODIA DESIGN THINKING

3.1.1. Definição e Surgimento

Tim Brown, presidente da empresa de consultoria IDEO que é especializada

em design e inovação, criou o termo Design Thinking com o intuito de expressar a

diferença entre ser designer e pensar como um por volta da década de 90 (BROWN,

T., 2008). Ele coloca a metodologia no campo da reengenharia, da mudança

organizacional e da reestruturação e aborda a transferência das abordagens de nível

tático e operacional para as mais estratégicas, assumindo que os profissionais –

sejam estes de qualquer nível hierárquico – devem pensar como designers para que

a organização consiga, de fato, ser inovadora.

3.1.2. Diferenciais e Importância do Design Thinking

A metodologia do Design Thinking permite que a visão, antes focada no

problema e em solucionar as restrições, esteja voltada para o projeto em si

(BROWN, T., 2008). Isso determina a importante evolução de pensamento:

inicialmente, criava-se para as pessoas, passando para a criação com as pessoas e,

posteriormente, as pessoas criando por si próprias.

O principal diferencial é que as ideias são geradas em conjunto com os

usuários que são os mais impactados pelas propostas a serem implementadas.

Assim, os protótipos são elaborados e, inclusive, testados ainda durante o processo

de desenvolvimento. Não há necessidade de encontrar rapidamente uma solução

perfeita e insubstituível, mas de estabelecer o percurso mais satisfatório que levará

à melhor forma de garantir uma experiência significativa e relevante (BROWN, T.,

2008).

Além disso, sua vantagem também é estabelecer e enaltecer profissionais

no mercado que possuam pensamento integrativo – princípio de que as tomadas de

26

decisão não precisam ser do tipo trade-off, sendo possível escolher duas opções

aparentemente opostas, desde que saiba combiná-las de forma criativa e original

(Martin, Roger., 2008). Isso porque estes possuem maior facilidade para o uso da

criatividade na solução de problemas e costumam ter uma visão do todo que permite

assimilar e aceitar diferentes ideias que, em conjunto, podem se tornar úteis para a

organização.

De forma geral, esta metodologia é considerada importante não só para o

mercado como também para a sociedade como um todo, pois traz a inovação para a

visão de quem irá utilizá-la. E essa relevância é ainda potencializada quando se

percebe que o Design Thinking não é útil somente para organizações, mas também

para o estudo de questões sociais e econômicas do mundo por ser aplicável a

qualquer área.

3.1.3. Etapas do Design Thinking

De acordo com Tim Brown (2008), o Design Thinking apresenta três

importantes etapas para sua implementação e uso: Imersão, Ideação e Prototipação.

Entretanto, estas não precisam ser consideradas como fases lineares, pois a

natureza desta metodologia é versátil, o que permite à empresa ajustar tais etapas

de acordo com as necessidades do projeto ou do problema.

3.1.3.1. Inspiração/Imersão

Nesta etapa busca-se, idealmente, aproximar o máximo possível do contexto

do problema, tanto do ponto de vista da empresa quanto do usuário final, pois,

normalmente, a equipe responsável não conhece tão bem o tema. Consiste em uma

imersão que tem por finalidade definir o escopo do projeto e suas fronteiras, além de

identificar os perfis de usuários e outros atores-chave que deverão ser abordados. É

o estágio em que se encontra a origem do problema e são identificados e coletados

insights através de pesquisas como entrevistas, observação pessoal ou busca por

tendências.

27

Pode ser classificada em duas fases: Preliminar e de Profundidade. A

primeira é quando há um primeiro contato com o problema e tem como objetivo o

entendimento inicial deste. Já o segundo é focado no levantamento das

necessidades e oportunidades que guiarão até as soluções de forma que se possa

entender o negócio pelos olhos do consumidor e estabelecer uma proposta de valor.

Na Fase Preliminar, algumas ferramentas como Pesquisa Exploratória e

Pesquisa Desk são amplamente utilizadas, iniciando-se com reuniões de

alinhamento estratégico entre os profissionais responsáveis pelo processo de

Design Thinking e aqueles que serão mais influenciados pela solução. Nesse caso,

a pesquisa exploratória permite um estudo de campo preliminar que contribui para o

entendimento do contexto do problema e na identificação de comportamentos

externos que poderão ajudar na resolução. Já a pesquisa desk facilita a

compreensão acerca das tendências da área em questão seja no Brasil ou no

exterior, o que também favorece a busca pela solução final.

Posteriormente, na fase de profundidade, ocorre a elaboração de um Plano

de Pesquisa, no qual são incluídas as pesquisas primárias, os perfis dos usuários e

dos atores-chaves, além do mapeamento dos contextos que serão estudados.

Com todas as informações coletadas e devidamente organizadas, os

responsáveis pela implementação devem cruzar os dados relevantes, analisando os

padrões e as oportunidades existentes, o que dará insumo para a próxima etapa.

3.1.3.2. Ideação

Nesta etapa, ocorre o chamado brainstorming, quando as ideias são

apresentadas pelos colaboradores. Nesse momento, os participantes não devem

agir com nenhum tipo de preconceito ou julgamento em relação ao que é sugerido,

pois o ideal é que todos consigam pensar fora da caixa, propondo soluções

diversas para os problemas, desde as mais simples até as mais elaboradas.

Nesse estágio, costuma-se adotar práticas que estimulem a criatividade para

que não haja limite de ideias novas. Além disso, recomenda-se a realização de

Workshops que possibilitem que profissionais de perfis diversos participem desta

etapa, incluindo também aqueles que serão usuários da solução final e pessoas

28

que entendem bem do assunto em estudo. Dessa forma, será possível garantir

uma variedade maior de pensamentos que, em conjunto, podem chegar a

resultados melhores.

Todas as ideias geradas nesta etapa costumam ser anotadas para uma

constante validação nas reuniões através de ferramentas como Matriz de

Posicionamento e Prototipações para que, então, se possa combinar, adaptar e

transformar tais ideias em busca da melhor solução possível.

3.1.3.3. Prototipagem

Um protótipo pode ser definido como algo para transformar uma ideia em

alguma coisa tangível, mesmo que de forma simples, para facilitar uma validação

antes de seu uso real. Assim, a última etapa da metodologia consiste na aprovação

final das ideias geradas na fase anterior. Neste momento, a equipe foca em ver o

que mais se encaixa no projeto, juntando as propostas dadas para coloca-las em

prática.

Os protótipos realizados podem ser considerados de baixa fidelidade,

quando são apenas representações conceituais, média fidelidade, quando se

demonstra aspectos da ideia em questão, ou de alta fidelidade, quando se constrói

algo bem próximo da solução final. Independentemente desse nível, estes

permitem avaliar a proposta sob a visão da equipe do projeto.

Já para observar o ponto de vista do usuário, deve-se testar o modelo com o

cliente em diferentes contextos para que se possam obter insumos para evolução e

aperfeiçoamento. De forma geral, a junção da construção dos protótipos com os

testes realizados é o resumo da etapa de prototipação.

Apesar de ser visto como o estágio final, este pode ocorrer em paralelo com

as outras fases apresentadas. Ideias novas podem surgir ao longo do processo,

sendo prototipadas, testadas e, muitas vezes, implementadas em definitivo, mesmo

após outras propostas terem entrado em teste anteriormente.

29

3.1.4. O Design Thinking e a Área da Saúde

A ferramenta Design Thinking é passível de uso em todas as áreas, o que

engloba também a possibilidade de utilização em empresas de todos os portes dado

que aborda questões de gestão e resolução de problemas de qualquer natureza.

Entretanto, como abordado no capítulo 2, o mercado de saúde é um dos que

mais vem sendo beneficiados com inovações e tecnologias que são capazes de

revolucionar a forma como os serviços desse setor são realizados. Isso demonstra

que novas ideias para a área estão surgindo a todo o momento e, para que estas

sejam bem elaboradas e tenham sucesso na prática, boas metodologias de

estruturação devem ser utilizadas. Nesse contexto, o Design Thinking passa a ser

considerada uma das principais opções para as empresas que atuam ou pretendem

atuar nesse mercado.

Além de esta metodologia estar alinhada com as inovações do mercado de

saúde, também condiz com a necessidade de baixo custo das empresas que

pretendem disponibilizar seus serviços para a maioria da população, incluindo as

classes mais desfavorecidas. Isso porque seu custo de implementação não é

significativo, não necessitando de altos investimentos, já que a filosofia é simples.

Geração de ideias, experimentação, prototipagem rápida e barata e, principalmente,

interação com os clientes nas etapas do processo são atividades que não requerem

muitos recursos. Assim, o maior custo vinculado à implantação do Design Thinking é

o de treinamento dos profissionais para que estes se adequem aos princípios da

metodologia e consigam fazer uso das ferramentas que viabilizam a utilização da

criatividade no processo produtivo.

O que deve ficar claro é que, embora esses conceitos sejam benéficos para

grande parte das organizações, não é um processo milagroso. O Design Thinking

precisa estar alinhado com a cultura da empresa e contar com um bom trabalho para

que o uso de suas técnicas seja algo natural e parte do dia a dia dos profissionais.

Para tanto, é ideal que um funcionário seja o responsável pela gestão, tendo a

responsabilidade de ir atrás de informações e elaborar um plano de implementação

na rotina da empresa. Dessa forma, será mais fácil compartilhar tal conhecimento

com todos os colaboradores da empresa, muitas vezes através de palestras ou

cursos, fazendo com que todos possam contribuir para a inserção do Design

30

Thinking na cultura da organização e tornar o processo de inovação mais habitual.

Entretanto, não é necessário que a empresa utilize todas as técnicas dessa

metodologia. O importante é que esta conheça seus conceitos e utilize as técnicas

que considerar ideais para o desenvolvimento de seus novos produtos ou serviços e

até mesmo para a melhoria dos que já existem. É possível inovar mesmo com ideias

simples e, portanto, o sucesso da sua implementação está ligada mais ao ambiente

da empresa ser inovador, que se arrisca e é aberto ao novo, do que somente à área

de atuação desta.

3.2 LEAN STARTUP (LS) vs. DESIGN THINKING (DT)

Dentro do contexto das abordagens utilizadas para estruturação de

empresas e que estão envolvidas com o tema inovação, muito se fala do Design

Thinking, mas também do Lean Startup. Através das pesquisas realizadas,

observou-se que, por terem certas similaridades, confusões e más interpretações

acerca do que é exatamente cada metodologia são comuns. Devido a esse cenário,

decidiu-se explicitar, de forma geral, o que ambas tem em comum, assim como as

suas principais diferenças.

3.2.1 Lean Startup

Os princípios Lean foram desenvolvidos em torno dos anos 70 pela empresa

Toyota no Japão com o objetivo de otimizar os processos produtivos (Womack,

2003). A ideia desta metodologia é tornar os processos mais eficientes através da

redução de desperdícios, seja esta pela diminuição dos recursos humanos ou de

material ou até pela exclusão de atividades que não agregavam valor ao produto

final (Womack, 2003).

Inicialmente, essa estratégia foi utilizada basicamente para os processos

produtivos da indústria automobilista e, posteriormente, para outros tipos de fábrica.

Entretanto, nos dias atuais, seu uso tornou-se amplo, sendo adaptado para muitas

áreas no qual não há fabricação de produtos, como desenvolvimento tecnológico

31

(Ries, 2011).

Nesse sentido de adequar os princípios Lean a novos tipos de empresa,

surgiu o termo Lean Startup. De forma geral, este é considerado um método de

inovação para startups – instituição humana designada para criar novos produtos e

serviços sob condições de extrema incerteza (Ries, 2011) - no qual se afirma que a

inovação mais eficiente é aquela para a qual realmente existe demanda, o que

significa que a criação de produtos ou serviços que ninguém necessita é o principal

tipo de desperdício para estas organizações.

Assim, as startups não devem atuar focadas somente no desenvolvimento de

seus produtos ou serviços, mas principalmente, no desenvolvimento de usuários.

Esse processo é possível através de atividades que encontrem e entendam os

clientes, levando a uma visão centrada no consumidor com soluções que se

adaptam às suas necessidades (Ries, 2011).

Dessa forma, através de um feedback contínuo construído entre empresa e

cliente e a contribuição deste durante o ciclo de desenvolvimento do produto, a

startup terá embasamento suficiente para conseguir elaborar sua criação de forma

mais eficiente, conseguindo, de certa forma, testar suas premissas e ideias, às

vezes, antes mesmo de coloca-las no mercado.

3.2.2 Comparação entre as duas metodologias

3.2.2.1 Comparação entre os Modelos de Processos

Tanto o Design Thinking quanto o Lean Startup não apresentam um modelo

definido de processo. Entretanto, através das pesquisas realizadas, decidiu-se

comparar dois modelos abstratos usuais para as duas metodologias: Modelo de

Design Thinking por Plattner et al. (2009) e o ―Lean Learning Cycle‖ (Ries, 2011).

32

Figura 4 – Modelo de processo abstrato usado no Design Thinking

Fonte: Plattner et al., 2009

Figura 5 – Modelo de processo abstrato usado no Lean Startup

Fonte: Ries, 2011

Analisando as figuras 4 e 5, percebe-se que a maior diferença entre as duas

abordagens se dá a partir da linearidade processual do Design Thinking enquanto há

um arranjo circular no Lean Startup. Isso permite concluir que enquanto o primeiro

dá a ideia de que as etapas devem ser feitas de forma sequencial, com início e fim,

o segundo é mais flexível sem começos e términos pré-determinados.

A análise dos dois processos também permite identificar que o Design

Thinking é um modelo aplicado para resolução do problema como um todo,

enquanto o Lean Startup pode ser utilizado para detalhes mais específicos, em

menores níveis da questão estudada.

33

Entretanto, quando se analisa individualmente cada etapa dos modelos,

percebe-se que há similaridade nos significados. Os dois possuem fases de

aprendizados (DT: Understand e Point of View; LS: Learn), de criação (DT:

Prototype; LS: Build) e de teste após a criação (DT: Observe e Test; LS: Measure).

3.2.2.2 Similaridades entre as duas metodologias

O Design Thinking e o Lean Startup possuem quatro aspectos similares que

estão diretamente ligados, de forma que um contribui para atingir o objetivo do outro:

foco em inovação, visão sob a perspectiva do usuário, testes dos protótipos e rápida

iteração (MUELLER, 2012).

Em relação ao primeiro, ambas as metodologias buscam por inovações de

forma geral, transmitindo a ideia de que algo inovador vai além de ser apenas uma

novidade para a sociedade. Deve-se ir atrás de uma ideia que seja tanto

economicamente quanto tecnicamente viável, com grandes chances de ser um

sucesso no mercado por ser desejado pela demanda.

Quanto à visão centrada no usuário, as duas abordagens levam em conta a

perspectiva do cliente (interno e externo) e fazem uso de testes práticos com estes

para que possam avaliar o produto ou serviço oferecido. Assim, as melhorias

apontadas têm como foco garantir uma experiência para o usuário cada vez melhor.

Já os testes dos protótipos são uma forma de garantir o feedback dos

clientes antes mesmo de colocar a ideia em prática para que não seja necessário o

uso de recursos desnecessários para a criação de algo que os usuários não

desejam.

O quarto conceito similar, a rápida iteração, traduz o contexto das duas

metodologias quanto ao problema e solução serem incertos. Inicialmente, aqueles

que estão trabalhando no processo não possuem total certeza do que precisam

fazer, entretanto, estas abordagens acreditam que quanto mais cedo uma ideia for

colocada em prática e não funcionar, mais rápido será possível melhorá-la,

economizando tanto dinheiro quanto tempo.

34

3.2.2.3 Diferenças entre as duas metodologias

Apesar das similaridades apontadas anteriormente, diversas divergências

podem ser identificadas entre o Design Thinking e o Lean Startup. Dentre as

principais, podem-se destacar: iniciação do projeto, pesquisa de usuários, iteração e

avaliação qualitativa (MUELLER, 2012).

Para o Lean Startup, a ideia inicial do negócio já existe desde o começo. O

processo dá continuidade através dos testes para validá-la, podendo ser alterada

significativamente ao longo do projeto. Já para o Design Thinking, dá-se inicio com

um desafio em vez de uma ideia formada. O problema fica indefinido, assim com as

suas possíveis soluções, até que haja contato com os usuários e pesquisas diversas

para melhor entendimento do tema e, assim, as ideias vão sendo geradas ao longo

do processo.

Quanto à pesquisa de usuário, essa é um dos principais focos iniciais para o

Design Thinking para que se possa compreender o público-alvo e os atores-chaves

em questão. Entretanto, no Lean Startup, o projeto, por começar com uma visão do

produto ou serviço pensado pelos criadores da empresa, não apresenta técnicas

elaboradas de pesquisa qualitativa dos clientes.

Embora a iteração tenha sido um fator dito similar por sua rapidez, também

há particularidades de cada metodologia quanto a esse conceito. Enquanto o DT

começa as suas iterações após o período de testes, próximo ao final de todo

processo através dos protótipos, o LS acredita que as iterações podem ser

realizadas mais cedo, testando, inclusive, as hipóteses pré-determinadas.

A quarta diferença entre as duas metodologias se trata da abordagem

qualitativa e quantitativa. O Design Thinking possui uma abordagem qualitativa,

utilizando-se de diversas técnicas para testes e feedbacks como entrevistas para

avaliar seu projeto. Entretanto, o Lean Startup, apesar de, muitas vezes, também

utilizar métodos de pesquisa, possui um foco maior nas informações quantitativas

para avaliação.

35

3.2.3 Perspectivas futuras

Principalmente por conta das diferenças existentes entre o Design Thinking

e o Lean Startup, por muito tempo, entendeu-se que tais métodos significavam

caminhos alternativos para o desenvolvimento das empresas e suas ideias.

Enquanto o primeiro busca encontrar insights e tentar reduzir as incertezas de um

novo produto ou serviço acelerando a aprendizagem com a prototipação, o segundo

se inicia com a oportunidade de um produto já idealizado que precisa de constantes

melhorias para que seja colocado no mercado.

Entretanto, nos últimos anos, a tendência para esse cenário está mudando.

Em vez de entender as duas metodologias como duas opções distintas, cada vez

mais se tem uma visão integrada das duas abordagens (Pereira, Guilherme., 2016).

Isso está ocorrendo por conta do grande crescimento de startups no

mercado, com constantes competições desse tipo de empresa e busca por

aceleradoras e investidores. Esse cenário faz com que a qualidade do que está

sendo proposto seja fator decisivo para se investir em um startup, o que acarreta em

maior necessidade de se elaborar uma boa estratégia e utilizar uma metodologia

eficaz para o desenvolvimento das ideias geradas pela startup.

Assim, algumas empresas estão decidindo aliar os benefícios do Design

Thinking e do Lean Startup para que possam atingir resultados mais satisfatórios.

Isso é possível pela diferença de abordagem de cada metodologia. Enquanto o DT

trabalha no espaço dos problemas – utilizando técnicas para entender melhor os

atores-chaves como os usuários e definindo uma proposta de valor -, o LS age no

espaço das soluções – visando um ciclo de aperfeiçoamento da proposta de valor.

Pode-se dizer que os dois métodos são, na verdade, complementares.

Utilizando-se ambos, as empresas estão identificando uma estratégia inteligente de

conseguir focar tanto no desenvolvimento do problema quanto no fit de mercado da

solução proposta.

Entretanto, essa tendência é algo recente para o mercado e ainda há o que

ser analisado para que as startups não percam a qualidade nos seus processos de

criação e inovação por tentarem dar foco ao mesmo tempo no problema e na

solução.

36

4. ESTUDO DE CASO: EMPRESA BEEP SAÚDE

A startup Beep Saúde foi escolhida para estudo de caso pela disponibilidade

de dados, facilidade no acesso e, principalmente, pela aderência da cultura

organizacional à vertente tecnológica, disposta a utilizar processos criativos e

inovadores em suas atividades. Tem-se assim uma possibilidade de análise de

aplicação da metodologia do Design Thinking, que pode ser visualizada com clareza

na empresa, pois foi possível obter informações tanto do momento anterior quanto

posterior a sua aplicação, permitindo ter uma noção real dos resultados dessa

implementação.

4.1 DESCRIÇÃO DA EMPRESA

A startup denominada Beep Saúde nasceu a partir da percepção sobre as

transformações que estavam ocorrendo em diversos setores, com a criação de

empresas como Uber, Ifood e Netflix que apresentaram às pessoas novas formas de

consumo dos serviços e produtos através da conectividade. Entretanto, não havia

ainda serviço desse tipo na área da saúde, embora fosse um setor que precisasse

urgentemente de uma boa alternativa para redefinir o nível de serviço oferecido.

Um bom exemplo dessa necessidade se dá ao constatar que uma mãe ao

ver seu filho com febre e dor de garganta costuma medicá-lo por conta própria para

ser mais rápido, mandar mensagem para um amigo médico que não saberá

diagnosticar com precisão a criança ou leva-lo à emergência de um hospital,

esperando muito tempo para ser atendida. A verdade é que nenhuma dessas

opções é a melhor escolha, pois ou haverá demora no atendimento, prejudicando a

saúde da criança, ou a solução para a doença não será feita da forma mais eficaz. E

este é um cenário extremamente comum no dia a dia de uma família.

Com o intuito de melhorar esse tipo de serviço, criou-se o Beep Saúde que

possui como missão oferecer uma experiência melhor tanto para médicos quanto

para os pacientes através do lema ―Atendimento médico quando e onde você

precisar‖. A empresa se utiliza do aplicativo para disponibilizar o serviço aos

pacientes e poder fazer a conectividade entre estes e os médicos.

37

Embora seja uma empresa ainda recente no mercado, criada em março de

2016, esta conta com um investimento de mais de um milhão de reais, atuando nos

estados do Rio de Janeiro e São Paulo, embora tenha planos de expansão gradual

para outras cidades, como Belo Horizonte, Brasília e Porto Alegre (BEEP SAÚDE,

2016).

Atualmente, a startup possui mais de 1.400 médicos cadastrados,

disponibilizando serviço de cerca de 40 especialidades diferentes cujo ticket médio

do atendimento é de R$380,00 (BEEP SAÚDE, 2016). O grande portfólio de

médicos em pouco tempo de atuação no mercado deve-se, principalmente, à

possibilidade de jornada de trabalho flexível, liberdade para estipular o preço e o fato

do seu dono também ser médico, e entender os principais pontos necessários para

um expediente produtivo.

Analisando a parte dos clientes, já foram realizados mais de 8.000

downloads do aplicativo (60% Iphone e 40% Android) com alto percentual de

feedbacks positivos (BEEP SAÚDE, 2016). Isso porque o serviço disponibiliza

profissionais de extrema qualificação, que passam por seleção minuciosa, o

atendimento é possível durante 24 horas em todos os dias da semana, garantindo

rapidez, qualidade e disponibilidade.

4.2 PROCESSOS DA EMPRESA E A UTILIZAÇÃO DA INTERNET

O Beep Saúde é considerado uma empresa inserida no contexto da Internet

das Coisas (IoT), pois permite a conectividade entre pessoas, dados, dispositivos e

serviços. Para tanto, a comunicação é referente ao conceito P2M (Person to

Machine), no qual o intuito é utilizar os dispositivos e a tecnologia para conectar as

pessoas, no caso, pacientes e médicos. Nesse sentido, a empresa atua com o

conceito de ―Plug & Play‖ com prestação de serviços sem peso de burocracias e

grandes contratos para o médico.

A conectividade da empresa se dá através do uso do aplicativo disponível

para todos os tipos de smartphones e o processo da prestação do serviço na visão

do consumidor começa pelo download do aplicativo no qual permite que o paciente

escolha o local da consulta (própria casa, locais públicos, estabelecimento de

38

trabalho), a especialidade necessária, e a seguir, o sistema mostra os profissionais

disponíveis que se encontram a um raio de 10 km do local de atendimento,

disponibilizando informações como nome, currículo, tempo e distância que se

encontra do local de atendimento, preço da consulta, além de nota e avaliações de

atendimentos passados (quando existirem). Após a escolha do médico, o paciente

recebe a confirmação do pedido, com lista de orientações que são pré-solicitadas

por este. Ao término da consulta, é possível avaliar o atendimento como forma de

feedback para o médico e empresa. As figuras 6 e 7 demonstram as etapas de tal

processo através das telas que aparecem no aplicativo.

Figura 6 – As 4 primeiras etapas do processo de atendimento aos pacientes pelo

aplicativo Beep Saúde

Fonte: Beep Saúde (2016)

39

Figura 7 - As 3 últimas etapas do processo de atendimento aos pacientes pelo

aplicativo do Beep Saúde

Fonte: Beep Saúde (2016)

De forma simplificada, e observando o processo de consulta através da visão

de paciente e médico, as etapas são as apresentadas na figura 8.

Figura 8 – Esquema simplificado do processo de atendimento aos pacientes pelo

aplicativo Beep Saúde

Fonte: Beep Saúde (2016)

40

Uma parte do serviço do Beep Saúde inclui a conectividade com outro

aplicativo referência em IoT: Uber. Essa parceria garante transparência no processo,

pois calcula automaticamente o valor de transporte necessário para realizar a

consulta no local determinado pelo paciente, sem que o médico tenha receio de

arcar com esse custo e de forma que o cliente consiga separar o valor da consulta

entre o valor de transporte e o preço do atendimento. Além disso, o tempo de espera

pela chegada do médico, que é indicado no sistema, se torna um indicativo mais

confiável, pois é o tempo estimado pelo aplicativo do Uber. Assim, a empresa não só

consegue conectar pessoas, dispositivo e seu serviço, como também outros serviços

disponíveis através da Internet das Coisas.

Entretanto, a empresa tem consciência de que apenas o serviço de consulta

à domicílio através do aplicativo, embora seja uma ideia inovadora, ainda é pouco

para o que a revolução da IoT pode oferecer. Por isso, os planos futuros do Beep

Saúde têm como objetivo explorar todos os serviços possíveis da área de saúde que

a alta conectividade permite. Entre os projetos de curto prazo estão incluídos a

possibilidade de marcar vacinação em domicílio, sejam de vacinas pagas ou as que

estão disponíveis nos postos de saúde, além da opção de solicitar remoção por

ambulância com serviço prestado de forma muito mais rápida do que ocorre

atualmente. Já entre os planos que ainda necessitam de parcerias para virar

realidade estão a possibilidade de atendimento imediato nos consultórios – o famoso

―encaixe‖, mas feito de forma automática no momento em que é solicitado -, pois, às

vezes, a estrutura do consultório torna o atendimento mais qualificado, dependendo

da enfermidade e da especialidade do médico, além da criação de um canal com

conteúdo de saúde tanto para os médicos como para os pacientes.

Assim, o Beep Saúde se utiliza da tecnologia da Internet das Coisas para

revolucionar a área da saúde, tendo como meta garantir um serviço diferenciado,

com alta qualidade e que facilite a vida de seus clientes. A conectividade que este

tipo de sistema garante traz benefícios para todos os envolvidos, sejam eles a

própria empresa, os médicos ou os pacientes.

41

4.3 ANÁLISE DO ATUAL CONTEXTO DA EMPRESA

Como forma de demonstrar esquematicamente o contexto atual do Beep

Saúde, englobando fatores externos e internos de gestão, foram elaboradas quatro

análises: Análise da Competitividade, Análise CAMGPEST, Matriz SWOT e Cinco

Forças de Porter.

Entende-se que, por se tratar de uma empresa nova, com apenas um tipo de

serviço prestado e que está em fase inicial de crescimento, essas ferramentas

estariam mais alinhadas ao panorama da empresa, trazendo análises com maiores

retornos. Entretanto, é impossível ressaltar que tais análises foram refletidas pelos

autores, sem colaboração direta dos funcionários da startup.

4.3.1. Análise da Competitividade

Vários elementos promovem a complexidade e a criticidade no que se refere

à gestão de um sistema (HAYES et al., 2008) e, associado a esse conjunto de

elementos, encontram-se diversos aspectos do ambiente externo da organização:

relação entre demanda e oferta, nível de concorrência, aspectos ligados ao

fornecimento de materiais e potenciais entrantes com capital nacional e

internacional.

Para que seja possível a definição e concepção da estratégia da empresa,

seus representantes precisam considerar de forma conjunta todos os arranjos e

possibilidades, o que acaba por incluir também a competitividade.

4.3.1.1. Principais Concorrentes

A prestação de serviço na área de saúde através da tecnologia é algo

recente, que está começando a ser difundido entre a população brasileira. Por conta

disso, o Beep Saúde não encontra uma grande quantidade de concorrentes no

mercado nacional, embora já existam outras empresas prestando tal serviço. Dentre

essas, as três principais são: Docway, Dokter e Dr. Vem, classificadas, então, como

42

as concorrentes diretas da startup estudada.

Como forma de padronizar a análise comparativa entre as empresas,

decidiu-se avaliar seis critérios: preço, praça, produtos, tempo de mercado, número

de profissionais atuantes e número de downloads do aplicativo. Demais parâmetros

não foram analisados, pois não há disponibilidade de dados de todas as empresas

escolhidas.

4.3.1.1.1. Docway

A Docway é uma startup criada em setembro de 2015 que tem como

localidade principal a cidade de Curitiba, Paraná. Assim como o Beep Saúde, seu

principal serviço é o atendimento médico 24 horas à domicílio, de forma rápida e

sem burocracias, cujo preço médio de R$ 250,00 (Tiepolo, Fábio., 2016). Entretanto,

a empresa também presta outros serviços como a solicitação de vacinas,

agendamento de consultas no consultório e agendamento de coletas de exames.

A organização, que começou suas atividades somente em Curitiba, já se

expandiu para São Paulo e Rio de Janeiro e, recentemente, lançou seu sistema para

as cidades de Belo Horizonte e Manaus. Tal abrangência contribuiu para que o

aplicativo atingisse, de acordo com Fábio Tiepolo (2016), CEO do Docway, a marca

de 10.000 (dez mil) downloads feitos, contando, atualmente, com cerca de 750

profissionais cadastrados de diversas especialidades.

4.3.1.1.2. Dokter

A empresa, lançada em fevereiro de 2016, foi criada por um cirurgião em

Brasília e, atualmente, presta o serviço de atendimento médico domiciliar 24 horas

através da solicitação pelo aplicativo em Brasília, Goiânia e São Paulo. Assim como

as demais empresas do mercado, é possível tanto solicitar atendimento imediato

como agendar para um horário específico cujo preço médio praticado é de R$

350,00 (Venturini, Marco., 2016).

Além da funcionalidade principal, o aplicativo também atua como alarme

43

para os remédios de forma a auxiliar o usuário a lembrar dos medicamentos tanto

prescritos pelo médico solicitado como outros necessários.

Atualmente, segundo o Dr. Marco Antônio Venturini (2016), CEO da Dokter,

a empresa já teve mais de 5.000 (cinco mil) downloads e conta com um portfólio de

médicos ainda baixo, em torno de 30 (trinta) profissionais, cujas especialidades são

clínica geral e pediatria.

4.3.1.1.3. Dr. Vem

A empresa Dr. Vem foi criada em fevereiro de 2016 e tem como intuito o

atendimento médico domiciliar para auxiliar em casos de procedimentos de baixa

complexidade como otite, viroses e gripe, por não exigirem pronto-socorro, e pratica

o preço médio para a consulta de R$ 350,00 (Lindenberg, Daniel, 2016).

Atualmente, a empresa ainda está em fase inicial, atendendo somente em

algumas localidades da cidade de São Paulo. Além disso, diferente das outras

plataformas, há um horário de atendimento específico: 13h às 23h nos dias de

semana e de 7h às 18h aos finais de semana e feriado. Embora seja possível

solicitar o atendimento a qualquer momento, o médico escolhido só comparecerá no

lugar dentro do horário estipulado.

Quanto aos profissionais disponíveis, de acordo com o economista Daniel

Lindenberg (2016), co-fundador da Dr. Vem, a empresa conta com cerca de 50

médicos e seu aplicativo apresenta o número de 1.000 (mil) downloads realizados.

4.3.1.2. Análise Comparativa entre as Empresas do Mercado

Para que fosse possível a realização de uma análise consistente entre o

Beep Saúde e os concorrentes diretos, de forma qualitativa, decidiu-se utilizar a

ferramenta FCS Comparativo que se trata dos Fatores Críticos de Sucesso (FCS)

que permite comparar os aspectos do negócio que garantem competitividade,

eficácia e eficiência de forma que a empresa possa entender seu posicionamento no

mercado.

44

Critérios de

ComparaçãoPeso Nota Desempenho Nota Desempenho Nota Desempenho Nota Desempenho

Praça (+) 0,225 9,0 2,0 10,0 2,3 9,0 2,0 6,0 1,4

Nº de

profissionais 0,225 10,0 2,3 9,0 2,0 7,0 1,6 7,5 1,7

Nº de

downloads (+)0,065 9,0 0,6 10,0 0,7 8,0 0,5 7,0 0,5

Produtos (-) 0,225 8,0 1,8 10,0 2,3 8,5 1,9 7,5 1,7

Tempo no

mercado (-)0,060 8,0 0,5 10,0 0,6 8,0 0,5 8,0 0,5

Preço (-) 0,200 7,5 1,5 10,0 2,0 8,0 1,6 8,0 1,6

Total 1,000 8,6 9,8 8,1 7,3

Diagnóstico Beep Saúde Docway Dokter Dr. Vem

Nesse caso, tais critérios são os abordados anteriormente para descrever

cada concorrente direto devido à disponibilidade dos dados. Além disso, a decisão

dos pesos gerados para cada um foi tomada por análise subjetiva quanto aos

aspectos de maior relevância para a empresa. Tal comparação se encontra na

Tabela 1 a seguir.

Tabela 1 – Análise FCS Comparativo

Fonte: Elaboração Própria

Através do FCS Comparativo, conclui-se que a empresa está à frente dos

seus concorrentes no critério voltado para o número de profissionais disponível no

aplicativo por apresentar uma maior quantidade de médicos em seu portfólio, o que

é um fator primordial para a acessibilidade do serviço por parte de seus usuários.

Quanto às dimensões Praça, que se refere à abrangência de atendimento, o

que inclui a quantidade de cidades em operação e o horário de funcionamento, e

Número de downloads, que está relacionado a uma possível estimativa da

quantidade de clientes da empresa, o Beep Saúde está bem colocado, apesar de

ainda estar atrás da startup Docway.

Porém, o aspecto de Produto é um fator importante que impede a

organização estudada de estar em uma posição ainda melhor no mercado, por

disponibilizar apenas um tipo de serviço. Já em relação à precificação, embora esse

45

seja um fator aquém para o Beep Saúde, não se torna algo primordial de ser

modificado, dado que o objetivo da empresa é a qualidade, com foco no

custo/benefício proporcionado ao cliente.

A dimensão Tempo de Mercado é considerada a menos relevante, pois,

apesar de poder indicar uma possível maturidade e consolidação das empresas no

mercado, não indica como está seu desenvolvimento. Dado que o Beep Saúde é a

organização mais nova dentre as analisadas, sua avaliação foi abaixo das demais.

Dessa maneira, a análise realizada dos concorrentes do mercado em que a

startup estudada está inserida permite concluir que a empresa mais consolidada é a

Docway. Entretanto, logo em seguida está o Beep Saúde, demonstrando que,

apesar de certos fatores apresentarem oportunidades de melhoria, a organização se

encontra em uma posição favorável nesse setor.

4.3.2 Análise CAMGPEST

A análise PEST é a sigla para "Análise Política, Económica, Social e

Tecnológica" que consiste num enquadramento de fatores macroambientais

utilizados na componente de pesquisa do meio da gestão estratégica de empresas.

A ferramenta foi posteriormente complementada pela professora Maria Alice Ferrucio

Da Rocha, D.Sc., com a agregação de fatores Culturais, Ambientais, Mercadológicos

e Geográficos, expandindo assim a sigla para CAMGPEST.

4.3.2.1. Análise Cultural

A saúde é um fator crucial para a vida de qualquer cidadão. A população,

seja ela de qualquer classe financeiro ou faixa etária, necessita de cuidados

médicos, seja para prevenção de doenças ou tratamento dessas, com o objetivo de

terem uma maior qualidade de vida.

Entretanto, o tipo de serviço prestado pelo Beep Saúde ainda não é

disseminado na cultura da sociedade brasileira, fazendo com que uma parte da

população apresente desconfiança inicial em termos de segurança e confiabilidade.

46

4.3.2.2. Análise Ambiental

Apesar de não ser um assunto muito abordado, dado que o uso cada vez

mais comum da internet gera inúmeros benefícios e facilidades para a população, o

uso frequente dessa tecnologia impacta negativamente o meio ambiente. Para que

um site ou aplicativo funcione, por exemplo, é necessário hospedar as informações

em enormes servidores e, para tal, se utilizam comumente fontes altamente

poluentes de energia, como a termelétrica e a nuclear. E quanto mais internet é

usada, maior a demanda por esses tipos de equipamentos.

De acordo com uma pesquisa realizada pela ONG Greenpeace (2015), a

menos que as companhias líderes dessa tecnologia encontrem um modo de trocar

as fontes tradicionais, poluentes de energia, a tecnologia de smartphones, nuvem,

IoT, por exemplo, podem levar a um cenário crítico quanto à emissão de gás

carbônico.

4.3.2.3. Análise Mercadológica

Graças à alta demanda por bons serviços médicos, o mercado no qual o

Beep Saúde está inserido está crescendo, o que acarreta no aumento do interesse

de outras empresas em investir nesse meio.

Além disso, não há grandes barreiras para a entrada de concorrentes,

aumentando a possibilidade de a empresa ter que se preocupar com novos players

que disputarão pelo marketshare.

4.3.2.4. Análise Geográfica

Apesar de ser um mercado voltado para tecnologia que, teoricamente,

permitiria seu acesso de qualquer localização, há empecilhos por conta da

necessidade de atendimento presencial. Dessa forma, mesmo que alguém do

interior tenha acesso ao aplicativo, se não houver médicos cadastrados em um raio

de distância próximo, o usuário não será capaz de usufruir do serviço prestado.

47

Em termos demográficos, pode-se considerar como um ponto positivo o

crescimento do uso de aplicativos por parte da população jovem urbana, levando a

um interesse maior desse grupo pelo tipo de serviço prestado pelo Beep Saúde. Em

contrapartida, a população mais velha, que seria uma das mais beneficiadas por

essa inovação, possui, em sua maioria, limitações tecnológicas que dificultam sua

aderência.

4.3.2.5. Análise Política

A regulamentação do setor de saúde, principalmente, no que se refere às

burocracias para a prestação de serviço médico de forma legal podem gerar certas

dificuldades para as empresas desse mercado. Toda organização deve estar atenta

se está operando de acordo com as leis, que são inúmeras, e de acordo com as

normas do conselho médico.

Um exemplo importante desse tipo de empecilho está no fato de que, apesar

dos usuários do aplicativo poderem avaliar os médicos que lhes atenderam,

deixando notas e comentários, tais observações não podem ser vistas pelo outros

clientes por questões éticas do conselho médico. Assim, apenas a empresa pode ter

acesso a esses feedbacks como forma de avaliar se os profissionais estão de

acordo com o nível de qualidade desejado ou não.

4.3.2.6. Análise Econômica

O tipo de serviço prestado pelo Beep Saúde permite que os médicos

trabalhem para a empresa como uma fonte de renda extra, que é muitas vezes

necessária para que tenham uma vida econômica mais estável. Isso porque muitos

consultórios operam em horário comercial, sobrando um tempo que poderia estar lhe

dando retornos financeiros. Tal cenário aumenta o interesse desses profissionais em

fazer parte de empresas desse ramo.

De certa maneira, os atendimentos à domicilio através do aplicativo se

tornam uma forma rápida e fácil de procedimentos simples, como tratamento de

48

virose ou gripe em crianças e idosos, serem realizados. Assim, o número de

pessoas nos hospitais para casos não emergenciais ou graves diminui, gerando uma

redução de custos por parte do setor de saúde.

4.3.2.7. Análise Social

Em termos sociais, esse mercado encontra oportunidades no que se trata da

tendência cada vez maior do uso de smartphones por parte da população, assim

como, em relação à difusão de outros tipos de aplicativos com o mesmo esquema,

como é o caso do Uber e Ifood.

Entretanto, tais ferramentas digitais fomentam a precariedade das relações

de trabalho, já que os profissionais (sejam eles motoristas, no caso do Uber, ou

médicos, se tratando do Beep Saúde) não possuem qualquer vínculo empregatício,

acarretando na não remuneração fixa, férias, 13º salário ou garantias em caso de

doença, gravidez ou outro imprevisto.

Dessa forma, apesar de ainda ser algo considerado inovador, a lógica é que

os atendimentos médicos solicitados através dos celulares se tornarão algo mais

comum pela sociedade com o passar do tempo, o que também levará a uma

diminuição dos direitos trabalhistas desses profissionais.

4.3.2.8. Análise Tecnológica

Em relação à tecnologia, o tipo de serviço prestado pelo Beep Saúde

esbarra em um das suas principais ameaças: a dependência tecnológica. Para que

seja possível o uso do aplicativo, o usuário necessita de um celular que permita

baixá-lo e, no momento da necessidade do chamado médico, o cliente precisa ter

acesso à Internet. Caso contrário, não conseguirá ter permissão para localizar os

médicos próximos à área de atendimento.

49

4.3.2.9. Análise Final

Englobando todas as análises apresentadas e considerando que cada

conclusão do entorno se refere às ameaças ou oportunidades da empresa frente ao

seu mercado, encontra-se na Tabela 2, a seguir, o resumo da avaliação

CAMGPEST. Importante ressaltar que foi realizada também uma avaliação do

impacto para cada aspecto analisado, considerando notas de 1 (menor impacto) a 3

(maior impacto).

Tabela 2 – Análise CAMGPEST

Fonte: Elaboração Própria

4.3.3 Matriz SWOT

Para fazer uma análise mais detalhada dos ambientes internos e externos

do negócio em estudo decidiu-se utilizar a análise SWOT na qual serão destacadas

as forças e fraquezas referentes aos ambientes interno e as oportunidades e

ameaças que compõem o ambiente externo. Cabe comentar que o ambiente externo

Aspecto Ameaça Nota Oportunidade Nota

CulturalNovo tipo de serviço gera desconfiança

por parte da população2

Saúde é primordial para a qualidade de

vida da população3

AmbientalUso massivo da internet gera maior

demanda por fontes de energia poluentes1 -

Mercadológico Interesse de novos players no mercado 2 -

Necessidade de proximidade física entre

médicos e pacientes2

Crescimento do uso de aplicativos pela

população jovem urbana2

Limitação tecnológica da população mais

idosa1 -

PolíticoBurocracia do setor de saúde e normas do

conselho médico1 -

-Interesse dos médicos para garantia de

renda extra2

- Redução de custos dos hospitais 1

Fomenta a precariedade das relações de

trabalho1 Tendência do uso de smartphones 3

-Difusão de outras empresas que utilizam

aplicativos para prestação de serviços2

Tecnológico Dependência tecnológica 3

Geográfico

Econômico

Social

50

foi detalhadamente avaliado na Análise CAMPGPEST, assim como alguns pontos

internos fortes e fracos já foram analisados no FCS Comparativo.

4

Figura 9 – Análise SWOT da startup Beep Saúde

Fonte: Elaboração Própria

FORÇAS

Praça (abrangência de atendimento)

Número de profissionais disponíveis no

aplicativo

Número de downloads do aplicativo (número

de clientes)

FRAQUEZAS

Baixa variedade de produtos/serviços

ofertados

Pouco tempo inserido no mercado

Preço relativamente mais alto do que dos

concorrentes

OPORTUNIDADES

Saúde é primordial para a qualidade de vida

da população

Crescimento do uso de aplicativos pelos

jovens urbanos

Interesse dos médicos para garantia de

renda extra

Redução de custo dos hospitais

Tendência do uso de smartphones

Difusão de outras empresas que utilizam

aplicativos para prestação de serviços

AMEAÇAS

Gera desconfiança por parte da população

Uso massivo da internet gera maior demanda

por fontes de energia poluentes

Interesse de novos players no mercado

Necessidade de proximidade física entre

médicos e pacientes

Limitação tecnológica da população mais

idosa

Burocracia do setor de saúde

Fomenta a precariedade das relações de

trabalho

Dependência tecnológica

51

4.3.4 Cinco forças de Porter

Como parte do processo de Planejamento Estratégico de uma Organização,

recomenda-se que seja analisado o ambiente de negócios onde ela atua. Para isso,

uma das técnicas mais utilizadas é a análise das Cinco Forças de Porter, que

permite enxergar esse ambiente por diferentes ângulos e, mais importante,

possibilita identificar ações que possam contribuir para a sua melhoria.

Para materializar essa análise, foi utilizado um gráfico do tipo radar, onde

cada um dos eixos representa uma das forças de Porter, utilizando uma escala de

valores de 1 a 5 e identificando a intensidade de cada força da seguinte forma:

Notas menores denotam forças menos intensas, de maior tranquilidade

para a empresa;

Notas maiores representam maiores ameaças, um mercado altamente

competitivo e de margens apertadas.

Figura 10 - Radar da Avaliação por Nota das Cinco Forças de Porter

Fonte: Elaboração Própria

Entretanto, a análise das Cinco Forças de Porter não se resume apenas às

notas de intensidade de cada força, mas também à avaliação mais detalhada de

52

cada uma, principalmente, porque há interligações entre as forças.

Figura 11 - Esquema das Cinco Forças de Porter

Fonte: Elaboração Própria

4.3.4.1. Poder de barganha dos clientes

Definiu-se como médio o poder de barganha dos pacientes, pois o Beep

Saúde oferece um dos mais altos preços do mercado e os custos de mudança para

outro aplicativo que ofereça serviço semelhante é irrelevante, porém o portfólio de

médicos é selecionado e de alta qualidade, garantindo um melhor serviço prestado,

além do relacionamento com o consumidor ser rápido e de excelência.

Poder de

Barganha dos

Fornecedores

Poder de Barganha dos

Clientes

Ameaça de Novos

Entrantes

Ameaça de Produtos

Substitutos

Rivalidade entre

Concorrentes Médio

Médio

Baixo

Alto Alto

53

4.3.4.2. Poder de barganha dos fornecedores

Neste caso, consideram-se os médicos como os fornecedores. Os

benefícios oferecidos pelo Beep Saúde, como a flexibilização da jornada de trabalho,

a liberdade para estipulação do preço e reembolso do transporte fazem com que os

médicos prefiram atender pela startup e, consequentemente, ofereçam baixo poder

de barganha.

4.3.4.3. Ameaça de produtos substitutos

Entendem-se como substitutos os atendimentos tradicionais em consultórios.

O antigo e comum hábito de recorrer aos consultórios, aliado ao menor custo,

possibilidade de utilizar planos de saúde e baixa propensão do consumidor a

substituir fazem com que a ameaça de substitutos seja alta. Buscar atendimento

domiciliar via aplicativo está longe de ser a primeira opção da maioria de pacientes e

requer forte e atípica estratégia de marketing.

4.3.4.4. Rivalidade entre concorrentes

O Beep Saúde se encontra em uma posição de certa forma favorável em

relação aos seus concorrentes. Como pontos positivos a seu favor estão a grande

quantidade e qualidade de médicos disponíveis, a presença em grandes capitais do

país, a tecnologia do aplicativo mais desenvolvida e os benefícios oferecidos aos

médicos (que fazem com que queiram atender pelo Beep Saúde). Como pontos

negativos, existe o alto preço médio das consultas, a menor oferta de serviços em

comparação a alguns concorrentes e a dificuldade de se expandir para cidades

menores, pois como os critérios de seleção são rigorosos, poucos médicos nessas

regiões preenchem os pré-requisitos necessários.

54

4.3.4.5. Ameaça de novos entrantes

Sob o ponto de vista de novos entrantes, classificou-se como baixa a força

do Beep Saúde devido à pequena exigência de capital para ingressar no negócio.

Um ponto a favor é que, por estar mais consolidada e possuir boa parcela do

marketshare, se não houver alta diferenciação aliada à forte estratégia de marketing

destes novos entrantes em relação ao serviço oferecido pela empresa, esta ameaça

se torna menos expressiva.

55

5. A IMPLEMENTAÇÃO DO DESIGN THINKING NA EMPRESA

Antes de o Beep Saúde crescer no mercado, definir sua estratégia e se

posicionar entre seus concorrentes de forma a atingir um bom market share, a

startup teve que decidir como iria iniciar seu processo, avaliando, primeiramente,

qual metodologia utilizaria para contribuir para seu desenvolvimento. Assim, foi

escolhido o método do Design Thinking por entender que se tratava da abordagem

mais alinhada aos objetivos do seu criador.

5.1. ETAPAS DA IMPLEMENTAÇÃO

A empresa, inicialmente, optou por seguir em ordem as etapas, que já foram

abordadas neste estudo, embora novas ideias surjam a todo o momento para

garantir a ampliação dos serviços e melhoria constante, fazendo com que o ciclo das

fases se torne um processo contínuo. Assim, será explicitado a seguir como tais

fases foram abordadas, assim como as ferramentas utilizadas.

5.1.1 Etapa I: Imersão

A primeira etapa do Design Thinking, como já comentado, apresenta duas

fases: Preliminar e de Profundidade. Para a fase preliminar, foi entendido pela

empresa que era importante compreender quem participaria do projeto e qual o

contexto em que a startup e a sua ideia estava inserida. Já para a de profundidade,

o principal objetivo era entender de forma mais detalhada o público-alvo.

Por ser uma empresa pequena, todos os quatro funcionários foram

envolvidos no projeto, pois todos possuem a responsabilidade de contribuir para o

crescimento da startup, independente do cargo envolvido. Além disso, o dono do

Beep Saúde é médico e se transformou no representante do lado de um dos clientes

do serviço, enquanto os demais caracterizam a visão dos pacientes que também são

usuários do aplicativo.

Assim, foi conduzido uma Pesquisa Exploratória sobre o mercado de saúde

e o uso da tecnologia no país e, principalmente, dentro desse setor para que se

56

pudesse compreender o ritmo em que as inovações estavam sendo inseridas e

utilizadas pela população e o quanto estas vinham contribuindo para o

fortalecimento da área de saúde no Brasil. Também através dessa ferramenta, foram

analisados todos os tipos de possíveis usuários para a ideia da empresa, assim

como os principais players que se tornariam os concorrentes diretos do Beep Saúde.

Para aprofundar mais estas análises primárias, foram realizadas entrevistas

com os clientes em potencial que se tornariam o público-alvo da startup para que

fosse possível entender melhor quais eram as principais necessidades dessas

pessoas e seus desejos quanto aos atendimentos médicos.

Após a captura de todas as informações e dados necessários para dar

andamento à ideia da empresa, chegou-se na necessidade de sintetizar e analisar

todos os pontos coletados. Para tal e pela importância dos clientes na definição do

processo da empresa, decidiu-se focar nos atores-chaves e nos diversos tipos de

clientes do serviço, utilizando-se da ferramenta denominada Personas. Este

instrumento trata-se de arquétipos concebidos a partir dos comportamentos

observados entre os diferentes perfis de usuários, representando suas motivações,

desejos e expectativas. Importante destacar que o foco no uso dessa ferramenta foi

a diferenciação do serviço que deveria ser prestado na visão dos médicos e na dos

pacientes, ambos sendo clientes determinantes para o sucesso da ideia.

5.1.2 Etapa II: Ideação

A principal ferramenta utilizada pela empresa na segunda etapa do processo

de Design Thinking foi o Brainstorming com as pessoas envolvidas no projeto. Tal

técnica teve como objetivo estimular o maior número de ideias em um curto espaço

de tempo com base nas informações capturadas e sintetizadas na etapa anterior.

Assim, com o objetivo de garantir maior organização, as propostas foram

sendo anotadas para que todos pudessem opinar e, inclusive, para averiguar se a

combinação de ideias não poderia surtir efeitos mais significativos do que uma

sozinha. Tal ordenação foi realizada através do chamado Cardápio de Ideias no qual

se encontra a síntese das propostas, assim como os comentários e possíveis

oportunidades para a empresa.

57

Dentre as questões abordadas nessas reuniões, focou-se na determinação

da estratégia da startup e, consequentemente, em como seria a abordagem frente

aos seus dois tipos de clientes: médicos e pacientes, cujas características foram

estudadas e amplamente analisadas na primeira etapa.

Dessa forma, pode-se chegar a soluções que dessem continuidade à ideia

central da empresa e contribuíssem para seu desenvolvimento, de forma que o Beep

Saúde entrasse no mercado e se fortalecesse de forma rápida e consistente.

5.1.3 Etapa III: Prototipação

Para a validação das ideias geradas na etapa anterior, determinou-se que

estas seriam postas em prática para uso de possíveis usuários que são próximos

dos participantes do projeto com o objetivo da empresa obter um feedback fidedigno

dos clientes que possuem perfil próximo dos usuários finais.

Quanto aos testes em relação aos médicos, a startup entrou em contato com

alguns profissionais da área que possuíam conhecimento sobre a ideia inicial gerada

pelo dono do Beep Saúde. Dessa forma, foi passada para eles a estratégia quanto

ao relacionamento entre médico e empresa, demonstrando o processo, o preço pré-

estipulado para a consulta, os benefícios que seriam gerados para os médicos e

permitiu também que estes utilizassem a versão beta do aplicativo desenvolvido

para que vissem na prática como seriam realizados os chamados.

Já em relação aos testes em relação aos pacientes, assim como foi feito

com os médicos, foi posto à disposição daqueles que possuem smartphones uma

versão beta do aplicativo para que já pudesse utilizar o serviço da empresa.

Entretanto, foi pedido que pessoas conhecidas dos funcionários baixassem o

aplicativo e realizassem um chamado médico – mesmo que não ocorresse de fato -

para que o sistema e o processo fossem testados e avaliados por estes.

Dessa maneira, foi possível obter retornos mais fiéis dos possíveis clientes

da empresa, o que é chamado de nível total de contextualidade no qual os testes

são realizados com os usuários finais no ambiente final. Assim, o Beep Saúde pode

realizar ajustes tanto na ideia do processo, quanto em preços e no próprio aplicativo

antes de começar uma campanha de marketing para divulgação da startup e das

58

negociações para contratação dos profissionais da área de saúde.

5.2. RESULTADOS DA APLICAÇÃO DO DESIGN THINKING NA EMPRESA

As análises apresentadas no tópico anterior já demonstram algumas das

consequências da aplicação do Design Thinking para o posicionamento da empresa

frente aos seus concorrentes, assim como ao mercado de saúde e aos clientes.

Entretanto, para real avaliação dos benefícios ou desvantagens que esta

metodologia resultou para a startup, um maior detalhamento será realizado a seguir.

5.2.1. Resultados para o ambiente corporativo

Apesar de a análise sobre o ambiente corporativo parecer indiferente para o

sucesso da companhia em termos financeiros e de market share, é algo que foi

pontuado pelos profissionais da empresa como um dos resultados positivos. O

processo de implementação do Design Thinking, por incluir todos os funcionários,

contribuiu para que estes se sentissem donos daquelas ideias, trabalhando com o

pensamento de que o sucesso da empresa significaria também o êxito de si mesmo,

além de colaborar para que esses profissionais trabalhassem em equipe antes

mesmo da empresa começar a operar.

Dessa forma, a startup, desde o início, trabalha com o conceito de que todos

fazem parte de um time e que devem se ajudar e contribuir para que a empresa

cresça, pois os profissionais possuem valor frente a cada objetivo atingido. E esse

cenário colabora para que a empresa, de fato, possa obter sucesso no mercado.

5.2.2. Resultados em relação à visão do paciente

Assim como já comentado anteriormente, o aplicativo da empresa permite

que os pacientes possam avaliar a companhia e o sistema, além dos médicos que

lhes atenderam. Dessa forma, foi possível estudar as avaliações desses clientes em

59

relação à empresa e fazer a conexão dos comentários com o que foi desenvolvido

no processo de Design Thinking.

A maior parte dos feedbacks apresentados pontuou a questão do custo

benefício, da praticidade e comodidade do serviço e da qualidade dos médicos, além

da acessibilidade do aplicativo. Tais pontos foram alcançados pela empresa devido

ao seu objetivo de garantir a satisfação do cliente final que veio decorrente do

estudo minucioso sobre os interesses e necessidades do seu público e também dos

testes realizados com possíveis usuários que possibilitaram fazer os ajustes antes

do início real da operação.

Entretanto, através do estudo sobre a startup, percebeu-se que, embora os

clientes atendidos estejam satisfeitos com o serviço, há uma defasagem quanto a

quantidade de potenciais usuários – que é alta – e a real adesão e experimentação

desse novo método de atendimento médico. Esse cenário demonstra que ainda há

que se analisar ações para a mudança de cultura da população quanto a essa nova

modalidade.

5.2.3. Resultados em relação à visão do médico

O resultado do uso do Design Thinking em relação aos médicos foi

considerado o maior diferencial da empresa quanto aos seus concorrentes. Isso

porque a metodologia implementada permitiu que houvesse um estudo detalhado

sobre as necessidades dos médicos, transformando-os também em clientes da

empresa.

Esses profissionais costumam ser tratados como a mão-de-obra do sistema,

tendo que aceitar diversas condições impostas pela companhia, como preço e

horário de trabalho. Entretanto, o Design Thinking permitiu uma abordagem

diferenciada, no qual estes possuem a mesma importância dos pacientes, pois

ambos são usuários do serviço e sua satisfação também deve ser garantida.

Um dos principais motivos para isso ocorrer deve-se ao fato de que, no

processo de implementação, estava presente um médico, dono do Beep Saúde, que

possui conhecimento dos problemas e desejos dessa classe. Além do contato com

outros profissionais na última etapa para testar se a forma de trabalho pré-

60

determinada no processo do Design Thinking estava satisfatória, permitindo ajustes

para atingir a aprovação destes.

Assim, foi possível que a startup atingisse um nível de referência não só

para os pacientes, mas também para os médicos, contribuindo para a retenção e

contratação de profissionais de qualidade.

5.2.4. Resultados para o crescimento da empresa

As análises abordadas anteriormente já permitem esboçar um cenário para a

avaliação do crescimento da empresa perante o uso do Design Thinking. Entretanto,

outros detalhes identificados interferem nesse progresso.

O bom ambiente de trabalho gerado, a grande satisfação dos usuários e dos

médicos foram fatores determinantes para que a empresa alcançasse o atual

marketshare e se tornasse visível para novos investidores. Porém, a metodologia

utilizada não foi suficiente para garantir o sucesso como um todo da empresa.

Apesar dos atuais clientes estarem, como já foi abordado, satisfeitos com o

serviço prestado, dentre as metas da empresa para o primeiro ano de operação

definiu-se um número maior de usuários ativos do que o que vem sendo

apresentado. Muito disso advém da inovação proposta ser algo que interfere na

cultura da população quanto às possíveis formas de atendimento médico. Embora

as necessidades dos pacientes tenha sido algo estudado no início, a forma como

esse serviço seria apresentado – e nisto, inclui-se a abordagem de marketing – não

foi amplamente analisado, o que interferiu nos resultados da empresa.

Além disso, identificou-se que a utilização do Design Thinking foi focada na

ideia do atendimento médico domiciliar através do aplicativo e, a partir do momento

que esta foi desenhada e aplicada, não retomou-se o processo da metodologia para

demais ideias. Assim, a empresa estagnou em disponibilizar apenas um tipo de

serviço de saúde para a população.

Dessa forma, percebe-se que não ocorreu um uso mais amplo e contínuo da

metodologia, fazendo com que esta tenha gerado bons resultados, mas que, em

longo prazo, podem não ser o suficiente para a sustentabilidade e sucesso da

companhia no mercado.

61

5.3. POSSÍVEIS MUDANÇAS E MELHORIAS PARA A GESTÃO DO NEGÓCIO

Em um ambiente de competição intensa e em constante mudança, as

estratégias de produção requerem mais do que uma simples escolha de qual técnica

de melhoria, dentre as que estão mais na moda, deve ser adotada, ou a tentativa de

copiar as ―melhores práticas‖ de outras empresas. Sucesso de longa duração requer

que a empresa se diferencie dos outros concorrentes ao oferecer algo exclusivo e

valioso ao cliente – seja um serviço especializado especialmente rápido, com alta

confiabilidade, baixo custo ou produtos inovadores (HAYES et al., 2008).

Analisando a situação desse novo nicho do mercado, o posicionamento atual

da empresa, assim como os resultados analisados da implementação do Design

Thinking, é possível buscar algumas soluções de melhoria.

Para que isso seja possível, deve-se partir da identificação de pontos de

alavancagem, que são os aspectos nos quais uma intervenção, pelo princípio da

causalidade, pode gerar benefícios em cadeia para a empresa. Assim, serão

apresentadas solução de implementação e complexidade coerente, consideradas

possíveis para encarar os desafios estratégicos inerentes à empresa.

5.3.1. Alteração do modelo de negócio

O Beep Saúde atualmente se caracteriza por ser uma plataforma que busca

solucionar os problemas de saúde da população de acordo com a demanda

específica de um paciente. Assim, concluiu-se que um dos pontos de alavancagem

poderia ser uma alteração do modelo de negócio do aplicativo.

Em termos de mercado, vale ressaltar que por ser um marketplace que

envolve oferta de profissionais de saúde, trata-se de um conceito novo para a

população que ainda é acostumada ao tradicional atendimento no qual precisam se

dirigir aos consultórios ou às emergências médicas.

Para buscar a sustentabilidade do negócio, em um primeiro momento, optou-

se por campanhas de marketing intensas, com o objetivo de introduzir uma cultura

mais moderna e tecnológica de saúde, seguindo uma tendência do mercado em

vários setores. Dessa forma, seria possível fazer com que o paciente se

62

conscientizasse que, atualmente, existe uma opção por um preço justo e com maior

comodidade para atender às suas demandas, o que se esperava que pudesse levar

a um aumento exponencial do número de consultas.

No entanto, ao focar nessas ações de marketing, acaba-se tendo um custo

muito elevado e um retorno em conversão de atendimentos abaixo do esperado.

Isso ocorre porque, diferentemente de outros tipos de serviços por aplicativo, a área

médica tem características peculiares que requerem estratégias de divulgação e

publicidade por vezes difíceis de serem mensuradas e implantadas.

Para ocorrer essa mudança de cultura que contribuiria para a retenção do

usuário, o Beep Saúde deve se tornar um tipo de serviço buscado de forma

automática pelos clientes quando houver necessidade. Assim, o primeiro

pensamento do paciente deve ser checar a disponibilidade no aplicativo e não

buscar outra solução mais tradicional. Do contrário, ele vai apenas fazer o download

do aplicativo e mantê-lo por um tempo em seu smartphone, mas ao não existir a real

necessidade de utilização em um curto espaço de tempo, este cliente esquecerá a

possibilidade do serviço pelo aplicativo, e assim, quando apresentar a necessidade

de atendimento médico, algum tempo depois, não pensará no Beep Saúde como

sua primeira opção.

Logo, diante dessa dificuldade financeira e logística para realizar a difusão

do conceito para o maior número de pacientes, sugere-se a mudança do modelo de

negócio. Pode-se buscar uma alternativa inteligente oferecendo o serviço para

planos de saúde e seguradoras, que possuem milhares de vida sobre sua custódia e

podem ver a startup como uma ótima ferramenta para encontrar médicos para

atender seus segurados de forma rápida e eficiente.

Conceitualmente falando, essa troca seria representada pelo acréscimo do

modelo B2B (Business-to-Business), além do atual B2C (Business-to-Costumer). O

Beep Saúde tem como estratégia ser o único agente do negócio, lidando

diretamente com o paciente. Nesse novo modelo, ele poderia funcionar também

como um intermediador entre as seguradoras e seus segurados, com a sua vasta

disponibilidade de médicos disponíveis, ofertando um serviço mais barato e de

melhor qualidade do que essas empresas conseguem atualmente.

Essa tese começou a ser validada após algumas discussões com esse tipo

de seguradora. Atualmente, quando elas precisam contatar um médico para realizar

63

esse tipo de serviço, elas o fazem da maneira mais primitiva possível, tendo que

ligar para uma lista de médicos e ir verificando um por um sua disponibilidade de

realizar o atendimento. Isso gera um trabalho ineficiente e um gasto excessivo com

uma equipe de atendimento.

A possibilidade de ter uma plataforma tecnológica que possua essa vasta

quantidade de médicos de boa qualidade, informando local onde ele se encontra,

valor da consulta e disponibilidade para atendimento enche os olhos destas

empresas. Primeiro, pela facilidade de não necessitar mais de uma equipe de

atendimento, terceirizando o serviço. Segundo, pela possibilidade de ter médicos

praticando preços mais acessíveis do que os cobrados fora do Beep Saúde para

realizar visitas domiciliares. E por último, pois garante que o atendimento será

realizado em um tempo mais rápido do que anteriormente, gerando maior satisfação

dos seus clientes.

5.3.2. Otimização de fluxos e processos

Outra questão importante observada pelo grupo é que, por se tratar de uma

startup, muitos dos fluxos e processos da empresa não foram montados da melhor

forma possível. Mais do que isso, existem diversas atividades que não possuem um

fluxo a ser seguido ou até mesmo uma verificação por parte dos funcionários em

relação à forma de execução.

Isso acaba afetando desde as atividades mais simples da empresa como as

de operações e contabilidade, que poderiam ser realizadas de uma maneira mais

eficiente caso houvesse essa montagem de fluxogramas das atividades para cada

área, até questões que dizem respeito ao real funcionamento do aplicativo e sua

relação com médico e paciente.

É imprescindível que qualquer empresa em crescimento tenha processos

bem definidos - principalmente seus processos-chave -, pois, com o ganho de

escala, os problemas decorrentes de processos mal elaborados (ou inexistentes) e

falta de alinhamento/cumprimento dos fluxos desenhados tendem a aumentar de

forma exponencial.

Dessa forma, foi criada uma sugestão de fluxograma dos processos do Beep

64

Saúde a partir das informações passadas pela empresa para que esta pudesse

colocar em prática a melhoria adquirida com os processos bem definidos. A seguir,

consta um recorte do fluxograma no qual o processo detalhado envolve desde o

cadastro do médico no site até o momento em que ele é aprovado ou reprovado pela

equipe médica especializada responsável pelo aplicativo. O fluxograma completo

encontra-se no Apêndice A.

Figura 12 - Modelo de Implementação do Fluxograma

Fonte: Elaboração Própria

Então, a proposta passa por garantir o funcionamento do aplicativo da

melhor maneira possível, otimizando o processo e evitando qualquer erro que possa

gerar uma má experiência ao usuário ou levar à necessidade da intervenção de um

funcionário para que o atendimento ocorra. Em um universo de aumento das

consultas mensais em larga escala, essa necessidade de auxílio externo tornaria o

negócio insustentável.

Essa melhoria no processo começa pela instrução correta aos médicos,

evitando que eles se coloquem como disponíveis para atendimento em momentos

que de fato não estão. Também passa por um desenvolvimento melhor da

ferramenta de tecnologia do aplicativo, evitando que, por exemplo, por conta de

alguma falha seja apresentado algum médico como online quando ele não está

disponível ou algum erro na determinação da localização do médico, informando

uma posição errada, o que atrasaria ou inviabilizaria o atendimento.

Esses processos, se implementados da maneira correta, devem garantir que

tanto médico quanto paciente seja capaz de utilizar a plataforma de uma maneira

intuitiva. Se a quantidade de médicos ou pacientes com dificuldade para operar o

aplicativo for grande, fazendo com que haja diversas intervenções externas, e o

fluxo do processo não for contínuo, com uma necessidade de auxílio grande, o

65

negócio não é escalável.

Fazendo isso, mais do que garantir uma melhor fluidez desses processos,

seria possível otimizar recursos, já que, com os fluxogramas bem preparados,

haveria uma menor necessidade de contratação de funcionários para trabalhar no

setor de operações. As dúvidas de médicos e pacientes seriam menos recorrentes e

a necessidade de intervenção externa diminuiria, como já citado, reduzindo a

necessidade de aumento de equipe operacional.

5.3.3. Expansão para outras áreas de saúde

Outra sugestão de melhoria que permite garantir a sustentabilidade do

negócio é a possibilidade de expansão para outras áreas dentro da saúde no país.

Aumentar o mix de produtos/serviços, oferecendo uma maior variedade de opções

para o usuário é algo que pode diferenciar o aplicativo e fazê-lo dar um salto de

qualidade.

Nesse sentido, deve-se buscar a implantação do conceito de ―one-stop-

shop‖ de saúde no país, o que significa dizer que ao se pensar em um problema

relativo a essa área, a pessoa deve associar a solução automaticamente à imagem

do Beep Saúde.

Isso passa por uma alteração da missão da empresa para um conceito mais

amplo. Originalmente, a empresa possuía um ideal mais específico e limitado que

era o de "atendimento médico de qualidade onde e quando você precisar". A

sugestão de ampliação da gama de produtos levaria a empresa a não mais se limitar

a atendimentos médicos, mas também a buscar uma revolução tecnológica em

todas as áreas de saúde.

O sistema de saúde é falho em diversos aspectos como visto anteriormente.

Existe uma infinidade de opções para tentar fazer uso da tecnologia em prol de

melhorias não só em atendimentos médicos como em outros serviços de saúde.

Então, identificou-se que a missão da empresa deveria ser alterada para "Utilizar a

tecnologia para tornar o sistema de saúde mais eficiente", expandindo os horizontes

da startup.

As opções, nesse sentido, são inúmeras como introdução de outros tipos de

66

profissionais de saúde, exames, vacinação, atendimentos em consultório, podendo

garantir a sustentabilidade do negócio, pois não o deixam refém de apenas uma

modalidade de atendimento.

Além disso, se destacam por serem melhorias acessíveis de baixo grau de

dificuldade, visto que a empresa já possui o modelo preparado para o atendimento

domiciliar de médicos. Não seriam necessárias complexas e extensas alterações na

interface do aplicativo ou grandes investimentos em programação e

desenvolvimento, apenas adaptações do modelo já exercido para suportar novas

modalidades de atendimento.

Uma importante funcionalidade que apresenta a possibilidade de aumentar a

lucratividade da empresa e fazer com que o aplicativo ganhe marketshare é a

inclusão da opção de marcar ―encaixes‖ pelo aplicativo. Esta função consiste na

viabilidade de agendar um atendimento em consultório nos horários vagos dos

médicos nas próximas 24 horas a preços mais acessíveis. Como, hoje em dia,

existem diversos consultórios com períodos ociosos, seria possível que tanto o

paciente quanto o médico ficassem satisfeitos com o recurso.

Assim, entende-se que a expansão do mix de produtos e serviços oferecidos

pela empresa é um fator determinante para a retenção e aumento do número médio

de usuários ativos por dia, visto que o aplicativo deixará de ter uma funcionalidade

apenas pontual (que é o caso atual, onde só se tem utilidade quando há

necessidade de consulta médica) e passará a ser um centro agregador de serviços e

de informação sobre saúde.

5.3.4. Mudança da sede da empresa para um ambiente tecnológico

A empresa, por ser uma startup de tecnologia, precisa se cercar de outras

empresas que se encontram na mesma situação e podem trocar experiências de

crescimento, expertise, networking e formar um ecossistema de startups. Tal

ambiente é composto por vários agentes diferentes, sendo um conjunto enorme de

pessoas e entidades diferentes, com mentalidades e focos diversos.

Criar uma startup em um ecossistema empreendedor, seja no Vale do

Silício, na ―Nação Startup‖ de Israel e no San Pedro Valley em Belo Horizonte, não

67

significa garantia de sucesso, mas, se bem utilizado, possibilita um maior suporte

para um impacto no mercado mais significativo. Conhecer os atores que estão à sua

volta, utilizar da abertura e do valor compartilhado de colaboração dos

empreendedores pode ser estratégico para empresas desse tipo.

Foi assim que alguns países em desenvolvimento, como Taiwan e Coreia do

Sul, conseguiram dar grandes passos: eles tornaram o pensamento criativo uma das

principais bandeiras de seu desenvolvimento econômico. Favorecer a formação de

hubs — como, por exemplo, design e moda em São Paulo, games e TI em Recife,

design de produtos em Belo Horizonte – é uma forma inteligente de partilhar

expertise e incentivar a competitividade, isto é, a excelência de cada negócio.

Um exemplo maior é o Vale do Silício original, que se estende por algumas

cidades da Califórnia, e começou sua trajetória nos 1940, quando professores de

negócios da Universidade de Stanford – que fica na região – começaram a incentivar

os alunos a criar suas próprias empresas. A pesquisa acadêmica em áreas como

ciências, tecnologia, engenharia e matemática foi, aliás, um dos principais

propulsores da ebulição em que se transformaria aquela área nas décadas

seguintes.

Nesse sentido, surge o Nex Coworking na Glória, um polo que vem sendo

criado para empresas no Rio de Janeiro e tem como objetivo essa troca de

experiências e conhecimento. A fixação da sede nesse local poderia trazer algumas

vantagens para a startup que passaria a vivenciar e se incluir nesse "ecossistema"

de organizações que estão em uma situação parecida com a sua. Além disso,

possibilitaria que a empresa não se preocupasse mais com a estrutura e focasse o

tempo em seu produto e no que realmente importa.

Outra possibilidade interessante nesse contexto é a participação do Beep

Saúde na "Associação Brasileira de Startups de Saúde", associação criada em 2016,

visando justamente essa troca de experiências entre novas empresas do mesmo

setor. Apesar de não ser um espaço físico nesse momento, a participação em

reuniões desse grupo pode trazer um networking positivo para a empresa,

aprendendo com os erros que já foram cometidos e vislumbrando novas

possibilidades coletivas.

68

CONCLUSÃO

A crise econômica do país é uma realidade e as consequências são cada

vez mais visíveis à população e tal situação não pode ser ignorada nem pelo poder

público e nem por iniciativas privadas. O ajuste fiscal e o consequente corte de

verbas tornam urgente e necessário que soluções para esses problemas sejam

implementadas o mais rápido possível e, preferencialmente, de uma maneira

inovadora e criativa, pois a manutenção e repetição de velhas práticas não serão

suficientes neste momento.

Dentre os pilares básicos que sustentam uma sociedade, a saúde se

encontra como um dos principais por ser primordial para a garantia da vida do

indivíduo, além de ser um setor no qual a gama de opções inovadoras e

tecnológicas ainda é mal explorada no Brasil. Nesse sentido, existe não só a

possibilidade de inovações em procedimentos médicos e através dos dispositivos

revolucionários, que permitem um melhor atendimento ao paciente, como na

utilização de novas metodologias como o Lean Startup e o Design Thinking para o

desenvolvimento de ideias para a área médica em empresas que pretendem

revolucionar a forma como o sistema de saúde é organizado.

Ao longo do trabalho, discutiu-se a implementação do Design Thinking,

focando, principalmente, em suas aplicações. Tal pesquisa pôde comprovar que o

uso total ou parcial desta metodologia pode ser de muita valia ao sistema de saúde,

dado que esta área necessita de propostas criativas e novas abordagens para a

solução de seus problemas. O Design Thinking permite, justamente, que as

empresas e os envolvidos no projeto troquem ideias com foco nos usuários do

sistema, que são os mais prejudicados pela crise do setor de saúde, e não somente

no processo.

Nesse contexto, foi de grande valia utilizar uma empresa como o Beep

Saúde para analisar o cenário de implementação do Design Thinking, pois permitiu

avaliar os prós e contras da utilização dessa metodologia não só para a startup

como também para o setor de saúde, alinhado à aderência da organização aos

conceitos tecnológicos e de inovação.

Dessa forma, foi possível concluir que as inovações tecnológicas, de fato,

podem ser importantes para solucionar os problemas de saúde no país e que a

69

utilização de novas metodologias para a estruturação de ideias e empresas, como o

Design Thinking, possibilita que o sucesso e desenvolvimento dessas inovações

sejam atingidos mais facilmente.

Entretanto, cabe ressaltar que a implementação dessas abordagens mais

inovadoras pode enfrentar dificuldades e limitações, se estas foram utilizadas em

organizações mais antiquadas, cuja estrutura e cultura organizacional são mais

engessadas e tradicionais.

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APÊNDICE A – FLUXOGRAMA COMPLETO

Figura 13 – Fluxograma Completo Proposta para o Beep Saúde

Fonte: Elaboração Própria