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Universidade Federal do Paraná Setor de Ciências Humanas, Letras e Artes - SCHLA Curso de Ciências Sociais Bernardo Paim Cunha Masson As lutas sindicais no terreno da luta de classes: avanços e retrocessos da Central Única dos Trabalhadores. Curitiba, 2010. 1

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Universidade Federal do ParanáSetor de Ciências Humanas, Letras e Artes - SCHLA

Curso de Ciências Sociais

Bernardo Paim Cunha Masson

As lutas sindicais no terreno da luta de classes: avanços e retrocessos da Central Única dos Trabalhadores.

Curitiba, 2010.1

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Bernardo Paim Cunha Masson

As lutas sindicais no terreno da luta de classes: avanços e retrocessos da Central Única dos Trabalhadores.

Monografia apresentada no âmbito da disciplina Orientação Monográfica, área de Sociologia, como requisito parcial para a obtenção do Grau de Bacharel no Curso de Ciências Sociais, Setor de Ciências Humanas, Letras e Artes da Universidade Federal do Paraná.Orientadora: Profa. Dra. Benilde M. Lenzi Motim

Curitiba, 2010.2

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À Classe trabalhadora internacional, que construiu seus próprios instrumentos de emancipação.

À classe operária brasileira, em particular, pela sua árdua luta entre caminhos e descaminhos para a superação da sociedade de classes.

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Agradecimentos

Quando homenageio a classe trabalhadora, já estão inseridos todos aqueles a quem quero agradecer, porém se faz necessário listar alguns membros desta classe em particular que foram muito importantes nessa trajetória.

Minha grande companheira, Priscilla, que vem ao longo de alguns anos sendo minha família (junto com o Zeus), e que me ajudou a crescer muito com sua paciência e irritação, com choros e risos (as vezes ao mesmo

tempo) e, principalmente, com sua dedicação militante digna de toda a história de luta do operariado.

Orientadora Benilde Motim, pelo auxílio na elaboração deste projeto visando uma boa construção acadêmica.

À minha mãe, meu pai e a Betty, que privadamente cumpriram a função do setor público, financiando minha permanência na universidade. E, principalmente, por terem sido tão compreensivos em minha trajetória de vida

longe de suas asas.

Minha segunda mãe, Marcia, que com um carinho sempre muito especial, ajudou em meu desenvolvimento, sendo muito mais que irmã. E agora ao novo membro da família, o Pedrinho e seu marido Marcio. Ao meu

Irmão, Rafa, meu sobrinho Vitor e sua nova família. A Aline e Michel, por quem sempre nutri um carinho muito especial.

Ao velho amigo, Renan (ao citá-lo estendo aos vários grandes amigos e amigas do Rio que guardo recordações tão especiais), que sempre foi um membro da família por opção.

Ao Espaço Marx de Curitiba e seus membros, o 13 de Maio, em especial ao companheiro Scapi, espaços fundamentais para o aprendizado do marxismo sob a ótica da luta do proletariado. Ao recente Espaço Marx de

Campinas e o inicial GEST

Aos bons e velhos camaradas do movimento estudantil, que me ensinaram muitas coisas da vida, citando alguns poucos militantes de cada período espero que todos aqueles envolvidos sintam-se homenageados: Rogério, Rafa, Mel, Luiz e Luis, Thomas, Kaue, Emyly, Thaise, Harethon, Pati, a toda a nova geração e felizmente

muitos outros!

Aos companheiros do movimento sindical, em especial a ASS e a Frente Química, que me aproximaram um pouco mais do cotidiano operário, fazendo eu perceber ainda mais a importância da nossa luta.

Ao velho capitão, Armenes.

Aos operários e seus mais destacados militantes que possuem um objetivo e dedicam ou dedicaram sua vida a conquistá-lo, não para si, mas para sua classe.

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SUMÁRIOSUMÁRIO...............................................................................................................................................................5Lista de siglas..........................................................................................................................................................6INTRODUÇÃO.......................................................................................................................................................7CAPÍTULO 1 – AS CLASSES EM CONFRONTO. SURGEM AS ORGANIZAÇÕES DOS TRABALHADORES NA SOCIEDADE CAPITALISTA...................................................................................11CAPÍTULO 2 – UM NOVO CICLO HISTÓRICO SE ABRE: O PROTAGONISMO DA CUT.......................20CAPÍTULO 3 – SINDICATO DOS METALÚRGICOS DO ABC.....................................................................39SINDICATO DOS METALÚRGICOS DE CAMPINAS E REGIÃO.................................................................49CONSIDERAÇÕES FINAIS................................................................................................................................62REFERÊNCIAS....................................................................................................................................................64ANEXOS...............................................................................................................................................................67

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Lista de siglas

ABC – Região de Santo André, São Bernardo e São Caetano no estado de São Paulo.ArtSind – Articulação SindicalASS – Alternativa Sindical SocialistaCIOSL – Confederação Internacional das Organizações Sindicais LivresCONCLAT – Congresso da Classe TrabalhadoraCONLUTAS – Coordenação Nacional de LutasCONTAG – Confederação Nacional dos Trabalhadores da Agricultura CTB – Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do BrasilCUT – Central Única dos TrabalhadoresDOPS – Departamento de Ordem e Política SocialFIESP – Federação das Indústrias de São PauloFS – Força SindicalMOSM-SP – Movimento de Oposição Sindical Metalúrgico de São PauloMOMSP – Movimento de Oposição Metalúrgica de São PauloMST – Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem TerraMTST – Movimento dos Trabalhadores Sem TetoOSM-SP – Oposição Sindical Metalúrgica de São PauloPCB – Partido Comunista BrasileiroPCdoB – Partido Comunista do BrasilPOLOP – Política OperáriaPLR – Participação nos Lucros e ResultadosPSOL – Partido Socialismo e LiberdadePSTU – Partido Socialista dos Trabalhadores UnificadosSBC – São Bernardo do CampoSMABC – Sindicato dos Metalúrgicos de Santo André, São Bernardo do Campo e DiademaSMC – Sindicato dos Metalúrgicos de Curitiba e RegiãoSMCR – Sindicato dos Metalúrgicos de Campinas e Região

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INTRODUÇÃO

“Os filósofos têm apenas interpretado o mundo de maneiras diferentes; a questão, porém, é transformá-lo.”

Karl Marx

Por meio da atuação no movimento estudantil, e posteriormente na participação de algumas

movimentações sindicais como eleições, congressos, cursos, etc1 tive a possibilidade de interagir mais com as

diferentes correntes políticas presentes no movimento sindical e observar que a Central Única dos

Trabalhadores (CUT), enquanto entidade nacional e a ampla maioria dos sindicatos filiados a ela, modificaram-

se ao longo de toda sua trajetória: entidade combativa, que teve outrora já não existe mais. Tal fato propiciou o

surgimento de novas correntes, que assumem para si a tarefa de encampar as lutas ao lado dos trabalhadores.

À partir da eleição de Lula para presidente da República e sua política de conciliação de classe e

continuação do neoliberalismo no Brasil (BOITO, 2003), potencializa-se um processo de fragmentação das

organizações de esquerda que antes estavam reunidas nestes instrumentos sindicais e partidários. Tendo em

vista que os anarquistas protagonizaram o primeiro do período industrial, o PCB também dirigiu os operários a

partir de sua estratégia política e na ditadura foram vários pequenos agrupamentos na luta armada, na década de

1970 se inicia o ciclo protagonizado pelo PT, que se encerra, segundo análise de IASI em 2002, justamente na

vitória eleitoral para a presidência da república (2006). Portanto, tanto o Partido dos Trabalhadores (PT) sofre

com cisões internas, quanto a própria CUT sofre com a desfiliação de sindicatos e com a ruptura política de

correntes sindicais.

Este trabalho procura identificar os sinais da ocorrência do movimento acima referido, o fim de um

ciclo petista e, para tanto, busca analisar algumas das razões que levaram os Sindicatos dos Metalúrgicos do

ABC paulista, um dos principais sindicatos filiados à Central Única dos Trabalhadores, a concordarem com a

proposta feita pelos “patrões”: aumento de 6% nos salários durante a campanha salarial de 2009, tendo em vista

que não buscaram fazer mobilizações na categoria dando-se por satisfeito com esta proposta, enquanto o

Sindicato dos Metalúrgicos de Campinas e Região (Indaiatuba, Valinhos, Americana, Nova Odessa,

Hortolândia, Monte Mor, Sumaré e Paulínia), assumiram uma postura oposta, e por meio de mobilizações e

greves conseguiram um aumento salarial entre 8% e 10%.

A campanha salarial promovida por estes sindicatos não pode ser analisada “um raio em céu azul”, uma

surpresa repentina ou uma guinada política de última hora, pelo contrário, é parte de um processo histórico e

pela síntese de múltiplas determinações – tanto no que se refere a questões objetivas, como o crescimento ou

crises econômicas, aumento ou redução do emprego, quanto questões subjetivas, as propostas políticas

empregadas pelos dirigentes – que culminaram numa determinada política para as centrais no final da primeira

década do ano 2000.

1A participação nos fóruns da Intersindical foram muito valiosas, assim como os estudos juntos ao Núcleo de Educação Popular 13 de maio, local em que atuo como monitor.7

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Além disso, a construção das lutas economicistas2 podem servir tanto para objetivos reformistas, os

quais buscam apenas conseguir as reivindicações, como podem fazer parte de um processo de lutas que vise o

desenvolvimento da consciência de classe para revolucionar a sociedade. Esta polêmica já está presente no

movimento operário há muito tempo, em 1848 Marx dizia no Manifesto do Partido Comunista que: “De tempos

em tempos os operários triunfam, mas é um triunfo efêmero. O verdadeiro resultado de suas lutas não é o êxito

imediato, mas a união cada vez mais ampla dos operários.” (MARX, p.54, 2006a), o que reflete exatamente esta

concepção na atuação prática e a sutileza de construir as lutas, alçando vitórias parciais, porém tendo como

objetivo a organização dos operários como classe em contraposição àqueles que simplesmente buscam

melhorias dentro do capitalismo.

Conseguir pequenas vitórias na sociedade capitalista não passa de uma regulação no preço que será

vendida a força de trabalho, portanto um pressuposto desta sociedade, em que toda mercadoria passa por

flutuações em seu preço decorrente de ciclos periódicos de crescimento e crises econômicas, e como “Dentro

do sistema atual, o trabalho não passa de uma mercadoria como outra qualquer. Impõe-se, por conseguinte, que

atravesse as mesmas flutuações para atingir um preço médio correspondente ao seu valor” (MARX, p. 50,

1981), e a forma peculiar de flutuações presente na venda desta mercadoria particular é a tensão entre as duas

principais classes da sociedade capitalista, em que os trabalhadores se movimentam com greves e outras formas

de luta para elevar o preço que vendem sua força de trabalho, e os burgueses reprimem estes trabalhadores,

utilizando-se, usualmente, da polícia do Estado, para forçar os salários para baixo a fim de aumentar seus lucros

(MARX, 1981). A escolha destes dois sindicatos em particular se deve a importância política que eles

construíram durante sua trajetória de existência, e a diferença política que possuem desde o início da formação

da CUT. A Articulação Sindical (Artisind), tem no sindicato dos metalúrgicos do ABC um dos seus principais e

mais poderosos sindicatos desde o início da formação da central, e os dirigentes deste sindicato sempre

ocuparam os principais cargos da CUT. Por outro lado, as correntes de esquerda também dirigem sindicatos

importantes, mas com base social heterogênea sendo principalmente alguns metalúrgicos em cidades médias do

interior de São Paulo e funcionalismo público. (BOITO, 1991a)

À partir destes sintomas, buscarei analisar se o instrumento de lutas sindicais criado pela classe

trabalhadora brasileira no de defender seus interesses hoje se mantêm na mesma posição combativa, ou se agora

se coloca no lado oposto, ou seja, refreia as lutas e prioriza os acordos de cúpula, as negociações ao invés do

enfrentamento. Ou, dito de outra forma, se apenas assume a defesa dos interesses dos “cidadãos”,

genericamente colocados e nega a divisão de classes da sociedade capitalista por passar a defender o chamado

“sindicalismo cidadão”3 isto é, a defesa de pequenas reformas dentro da ordem capitalista, abandonando o

projeto de superação desta sociedade. (COIMBRA, 2008).

2 No sentido que Lenin coloca no “Que fazer?”, luta por melhororias nas condições de existência do trabalhador dentro do capitalismo, não sendo, portanto, uma luta diretamente contra a ordem social vigente, apesar de ter um papel fundamental.3“O Sindicato dos Metalúrgicos do ABC tem sido uma das mais importantes lideranças na constituição das políticas e das estruturas regionais e se consolidou como Sindicato Cidadão.” (Tese SMABC, p.44, 2009)8

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Para fazer estas análises será necessário observar também a estrutura da instituição em que estes

movimentos estão inseridos. Portanto, a análise do sindicalismo de Estado se faz muito importante para o

desenvolvimento deste trabalho. Porém como o método de análise utilizado está vinculado a lógica dialética,

não podemos cair no erro de tratar estas estruturas com a lógica formal, em que uma forma de atuação seria

“boa” contra outra “ruim”. A leitura deve ser feita tendo como base as estruturas que são mais ou menos

adequadas a tais finalidades, entendendo que todas as estruturas possuem potencialidades e elementos que

dificultam alcançar tais objetivos, como polos de contradição em eterno movimento (GERMER, 2003;

LEFEBVRE, 1979).

É importante frisar também que quando o sindicato foi atrelado ao Estado pela ditadura Vargas, em

contraposição as movimentações de massas dos trabalhadores ocorridas nas primeiras décadas do século XX,

este acabou por refrear as lutas do proletariado, ao mesmo tempo que tirava o protagonismo dos trabalhadores

de base, delegando a tarefa para os dirigentes sindicais (BOITO, 1991a), porém existem contradições presentes

nesta estrutura que podem possibilitar a utilização dos sindicatos para as lutas dos trabalhadores e uni-los em

prol dos interesses comuns, tanto imediatos quanto históricos.

Por outro lado, fica evidente que a construção de espaços autônomos de organização dos operários como

sindicatos livres e comissões de fábrica, possuem muito mais vantagens, apesar das imensas dificuldades em se

colocar em prática, para atingir os objetivos de unir os trabalhadores e colocá-los como protagonistas das lutas

sociais. Não negando que também possuem contradições importantes, como fica claro no posicionamento da

FIESP sobre as comissões de fábrica transcrito no artigo de Iram Jácome Rodrigues “(...) que os empresários

tem de se acostumar a conviver com esses problemas [de criar as comissões de fábrica], se realmente desejam o

entendimento entre capital e trabalho.” (I. J. RODRIGUES, p.140, 1991). Abordando a questão, mas a partir

das colocações feitas pelo ministro do trabalho de 1982, o autor coloca que: “E quando esses poderes4 são

exercidos ao máximo, a tensão leva inevitavelmente ao conflito. Sendo assim, 'precisamos de instrumentos

amortecedores, até por que a nossa legislação não favorece a negociação, o acordo'.” (I. J. RODRIGUES,

p.141, 1991), e esses amortecedores seriam justamente as comissões de fábrica, reafirmando a colocação de que

não caminhos bons e outros ruins, mas sim formas de se organizar com mais potencialidades ou menos e ainda,

uma forma que contribuiu para as lutas num determinado momento, pode refreá-las num momento posterior,

como aconteceu com os sindicatos, e como pode acontecer com sindicatos livres e comissões de fábrica.

Entender o caminho percorrido por esta Central nos permite também identificar os mecanismos teóricos

e práticos que serviram de alicerce para os trabalhadores consolidarem a política vigente na entidade e assumir

posturas frente ao resultado tanto no sentido de superação desta política quando para reafirmá-la, para que neste

movimento constante da classe operária em criar e recriar formas de lutas e organização, sejam forjadas

entidades que acumulem o conhecimento produzido não só pelas vitórias, mas também pelas suas derrotas.

A escolha da CUT como central se faz por esta ainda ser a que agrega o maior número de trabalhadores

do país e da América Latina em sua base social oficial/legal, por ter sedimentado seu nome na história brasileira 4Dos trabalhadores de parar de trabalhar, e dos empregadores de não contratar.9

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país, sendo protagonista das greves gerais, de vitórias importantes para os trabalhadores e principalmente, pela

construção política de militantes ao longo de toda a sua trajetória. A escolha do setor metalúrgico se deu pela

importância política que este setor teve na construção da CUT, no número de filiados e a combatividade que

teve e tem,pois é um setor que influencia muito a dinâmica de lutas das outras categorias.

A metodologia de análise se fundamente no materialismo histórico e por isso a ênfase empregada para

conhecer a trajetória das principais correntes no interior da CUT, tendo em vista que estas foram fruto de

condições objetivas anteriores a elas e, no decurso de seu próprio movimento, consolidaram-se na forma com

que se expressaram e tendem a dar importantes contribuições no devir. Para isso, usamos vários documentos

históricos encontrados na internet, principalmente sobre o Movimento de Oposição Sindical Metalúrgica de São

Paulo (MOSM-SP), e do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC (SMABC). Soma-se a isso a intenção, por mais

que ainda limitada por meus parcos conhecimentos, de usar a dialética, entendendo que seu eixo fundamental é

o movimento existente no interior de cada processo, estimulado pelas contradições existentes nas fases do

movimento, além da relação entre forma e conteúdo, fundamental para sinalizar a possibilidade ou não de uma

coisa voltar a ser o que já foi outrora, isso é, quando a forma permite ou não o pleno desenvolvimento do

conteúdo anterior. (GERMER, 2003; LEFEBVRE, 1979).

Para observar a expressão do fenômeno nos dias atuais, inúmeros boletins do SMABC e do Sindicato

dos Metalúrgicos de Campinas e Região (SMCR) foram consultados para termos conhecimento acerca da

comunicação entre o sindicato e os trabalhadores, neste pudemos perceber que no ABC a tiragem é muito maior

do que de Campinas, quase diária, e o conteúdo também é mais abrangente, expõe desde as negociações do

sindicato com os patrões, até trabalhadores que obtêm vitórias com seus hobbies e uma coluna permanente

sobre o futebol, com notícias dos jogadores do campeonato brasileiro, o desempenho dos times. Já em

Campinas os boletins gerais possuem uma frequência bem menor entre quinzenal e mensal, sempre dando

ênfase as lutas e conquistas obtidas pelos trabalhadores e pelo sindicato, ao mesmo tempo sem deixar de

divulgar eventos de integração como festa do dia das crianças, feira do livro, ganhos jurídicos e outras.

Gostaríamos também de efetuar entrevistas com os sindicalistas, porém não foi possível devido a

dificuldades com a organização do tempo para este trabalho, o que foi suprido, no geral, com a utilização da

tese dos congressos feitas recentemente pelos dois sindicatos, o que gerou um resultado bastante satisfatório,

uma vez que expõe com clareza a síntese política feita por cada um deles acerca do momento histórico em que

vivemos, as principais políticas que defendem como atuam no dia a dia. As referencias bibliográficas também

contribuíram para o enriquecimento do trabalho uma vez que o tema gera bastante controvérsia e várias versão

existem na análise do mesmo problema. Por fim, as entrevistas e depoimentos dos sindicalistas para seus jornais

e da grande mídia também serviram como importante referência.

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CAPÍTULO 1 – AS CLASSES EM CONFRONTO. SURGEM AS ORGANIZAÇÕES DOS

TRABALHADORES NA SOCIEDADE CAPITALISTA

“Onde existe então (…) a possibilidade positiva de emancipação? Eis nossa resposta: Na formação de uma classe que tenha cadeias radicais, de uma classe na sociedade civil que não seja uma classe da

sociedade civil, uma classe que seja a dissolução de todas a s classes.” Karl Marx

Marx e Engels expressavam no Manifesto do Partido Comunista que “A história de todas as sociedades

que existiram até hoje, é a história da luta de classes” (p. 4, 2006a), e que, portanto, a partir do momento que a

sociedade se cindiu em classes antagônicas, estas travaram lutas mais ou menos intensas buscando a superação

desta contradição e quando o fazem constroem organizações para atingir este objetivo.

Na sociedade capitalista, portanto, não foi diferente, e suas particularidades intensificam ainda mais este

antagonismo. Tendo em vista que a nova forma de organização da produção, baseada na propriedade privada

dos meios de produção, e a remuneração assalariada com extração de mais-valia, perpetua-se a exploração de

uma classe sobre outra. Este antagonismo entre as classes é intensificado pelo constante aumento da exploração

do trabalhador pelo capitalista (seja pelo aumento do ritmo de trabalho, seja pela redução salarial, ou as tantas

outras formas que foram inventadas para este fim), já que isso é um pressuposto para o aumento de seus lucros.

Mas essa atitude é fundada em condições objetivas de existência do capitalista, e não em escolhas individuais,

já que a estrutura concorrencial desta sociedade elimina, por meio de falência, aqueles empresários que não se

submetem a esta lógica.

Remontando esse processo histórico, Marx coloca que:

“A luta entre o capitalista e o trabalhador remonta à própria origem do capital. Mas só a partir da introdução da máquina passa o trabalhador a combater o próprio instrumento de trabalho, a configuração material do capital. Revolta-se contra essa forma determinada dos meios de produção, vendo nela o fundamento material do modo capitalista de produção.” (MARX, p.488, 2004)

Este trecho sinaliza que os trabalhadores sentem a opressão a que estão submetidos, porém, não

conseguem entender que a causa de suas angústias está nas relações de produção da sociedade, atacam a

aparência, o que eles acham que os está oprimindo imediatamente, neste caso, a máquina. Estas lhes impõem

um ritmo intenso e retirou muitos postos de trabalho, colocando inúmeros trabalhadores na ociosidade e,

principalmente, sem salário, dificultando e até mesmo impossibilitando sua sobrevivência (MARX, 2004).

O movimento de quebra das máquinas foi muito importante na história das lutas dos trabalhadores, pois

passaram a expressar seu descontentamento de forma autônoma e buscava melhorias nas condições de trabalho

e vida, constituindo-se como embrião das futuras e diversas formas de organização da classe operária. Um dos

movimentos mais importantes foi o que ficou conhecido como Luddista fundado na Inglaterra no início do

século XIX. Mas este movimento, assim como muitas outras tentativas de manifestação dos trabalhadores, foi

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duramente reprimido pelo Estado e seu braço armado, os militares e as leis5 qual passou a punir com pena de

morte os operários envolvidos nas quebras de máquinas. (GENARI, 2010) .

Todo este movimento gera, portanto, um grande embate entre a classe trabalhadora e os capitalistas

recentemente surgidos e o Estado, que serve aos interesses dos proprietários (LENIN, 2007). Porém, nesta luta

os trabalhadores elegeram os inimigos errados, as máquinas. Estas deveriam facilitar o trabalho,

potencializando as forças humanas sobre a natureza, mas na sociedade capitalista o que se percebe é o inverso,

o prolongamento da jornada e intensificação do trabalho o que, coloca os reais produtores em situações cada

vez mais precarizadas.(MARX, 2004)

É o modo de produção capitalista que pauperiza e coloca os trabalhadores numa posição de opressão,

por mais que seja a máquina o objeto no qual o trabalhador veja esta piora em sua qualidade de vida. Apesar

disso são os meios de produção que irão possibilitar a vida, já que com o aumento da produtividade promovida

por estas e pelo trabalho, irá a ser possível a manutenção e reprodução, tanto do trabalhador assalariado, quanto

de toda a humanidade que necessita das mercadorias produzidas por estes.

Todos essas movimentações são expressão de uma tensão ocasionada por uma característica particular

deste modo de produção, em que por mais que a produção seja social, a apropriação da maior parte das riquezas

se faz por um pequeno grupo, uma classe, a burguesia. Com isso, o conflito entre as classes aumenta cada vez

mais, e esta intensificação promove, pedagogicamente, o afastamento entre a classe trabalhadora e a classe

capitalista, e o entendimento, por parte dos trabalhadores, que só podem contar com sua própria organização,

sem contar nem com os patrões, nem com o Estado. O resultado inicial é quando os operários fundam

sociedades de ajuda mútua, depois constroem resistência frente aos abusos sofridos, e disso as cooperativas, que

em 1833 são 400 e em 1880 já chegam a 1.000, tendo 550.000 sócios na Inglaterra, sendo embriões do que

viriam a constituir-se os sindicato (GENNARI, 2010)

À partir destas lutas e enfrentamentos, o Estado burguês se vê obrigado a permitir a organização e

associação dos trabalhadores “As leis cruéis contra as coligações dos trabalhadores foram abolidas em 1825,

ante a atitude ameaçadora do proletariado. Mas apenas em parte” (Marx, p.854, 2004), e quando abre este

precedente, os sindicatos oficiais passam a finalmente poder surgir, não como um estímulo por parte da classe

dominante para que os trabalhadores tenham voz, pelo contrário, as elites precisam se conformar em aceitar a

constituição de sindicatos uma vez que os trabalhadores já estavam organizados na informalidade e na

clandestinidade forjado à partir do trabalho de base de militantes da época. Portanto é a legalização de um

processo que já estava sendo gestado num momento anterior a oficialização, é a radicalidade e a não aceitação

das normas legais que permitem esta classe forjar seu novo instrumento de organização coletiva (GENNARI,

5“Foram declarados nulos de pleno direito todas as combinações, os contratos, os juramentos etc. pelos pedreiros e carpinteiros estabelecessem normas comuns obrigatórias para o exercício de suas profissões. A coligação dos trabalhadores é considerada crime grave, desde o século XIV até 1825, ano em que foram abolidas as leis contra a coligação ou associação dos trabalhadores. O espírito do Estatuto dos Trabalhadores de 1349 e de seus rebentos posteriores se patenteia na circunstancia de o Estado editar um máximo para os salários, mas nunca um mínimo.” (MARX, 2004, p.852)12

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2010) como o próprio termo já sugere: “Ser sindicato significa justamente exercer coletivamente a função de

síndico, ou seja, daquele que é o defensor (syn, em grego) da justiça (diké).” (GENNARI, 2010, p.13)

No Brasil o processo foi semelhante, como não poderia deixar de ser, já que a sociedade a qual gera

estas tensões é a mesma. De forma geral, mas não exclusiva, primeiro os trabalhadores começaram a se

relacionar pelas associações de mútuo socorro, em que se constituía uma relação de solidariedade: os

trabalhadores se auxiliavam em trabalhos fora do horário de serviço, como na construção de casas, na

arrecadação financeira para suprir uma demanda específica e em várias outras situações. O que esta construção

tinha de comum, era o fato de existir um laço forte entre os proletários, mas não existia reivindicações à aqueles

que os explorava. Da metade para o final do século XVIII várias dessas organizações surgiram paralelamente

ao crescimento no número de operários, e para cada uma foi dado diversos nomes – que pode ser entendido

também como decorrência da falta de articulação entre elas – como: União Mútua, Liga Operária, Associação

Beneficente, Caixa de Auxílio, etc. (GIANNOTTI, 1988)

Paulatinamente, estes organismos começam a fazer reivindicações como: melhores salários, condições

de trabalho aos seus empregadores. Dando início assim a um período reivindicativo, em que não buscam mais

superar seus problemas apenas com a ajuda mútua, mas sim exigindo da outra classe. (GIANOTTI, 1988)

Neste período a forma predominante de concepção política era o anarquismo, ou o chamado anarco-

sindicalismo, que totalmente autônomos frente ao Estado, se baseavam nos trabalhadores para conseguir suas

reivindicações e tinham como norte estratégico a greve geral revolucionária: um grande movimento insurgente

de massas iriam derrubar o Estado e construir uma sociedade anarquista (GIANNOTTI, 1988). Em 1906 foi

realizado um congresso, que, em linhas gerais deliberou:“a) a organização operária deve ser federativa e não centralizada;b) o sindicalismo deve ser de resistências e não assistencialista;c) antiparlamentarismo: o importante é a ação direta da classe operária;d) contra as visões reformistas dos agentes do governo e da igreja”(GIANNOTTI, 1988, P.20, grifos originais)

Esse movimento se mostrou insuficiente, e quando na greve geral de 1917, tiveram grande parte de suas

reivindicações atendidas, o movimento se desmantelou, o que enfraqueceu este norte estratégico. Paralelamente

ao movimento no Brasil, na Rússia os comunistas Bolcheviques lideravam a revolução dos trabalhadores para a

constituição do primeiro Estado Operário, a União das Repúblicas Socialistas Soviéticas e o reflexo disso no

Brasil, foi a constituição do primeiro partido de base nacional o Partido Comunista Brasileiro, em 1922.

(GIANNOTTI, 1988)

Além destes projetos estratégicos, outro setor atua de forma organizada entre os trabalhadores, a igreja

católica. atuando no mundo todo para refrear os avanços do anarquismo, socialismo e do comunismo. Não é

mero acaso que se identificaram com a bandeira amarela para se diferenciar dos vermelhos (socialistas e

comunistas) e da bandeira preta do anarquismo (GIANNOTTI, 1988)

Agora a direção do movimento estava em franca disputa entre estes três grupos, mas aos poucos os

comunistas vão crescendo e tomando o lugar daqueles que outrora dirigiram os trabalhadores. E dentro deste

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processo, de construção das lutas operárias para a superação desta sociedade, seja para o anarquismo, seja para

o socialismo, a burguesia também foi se armando utilizou-se desta disputa dos trabalhadores. “A revolução de

1930 encontrou o movimento operário esmagado por longos anos de repressão e dividido entre si. Isso facilitará

a implantação do sindicalismo oficial por Getúlio Varga.” (GIANNOTTI, 1988, P.25)

A república do café-com-leite, como era chamado a república velha no Brasil, que vai até 1930, é

substituída, por um golpe de Estado liderado por Getúlio Vargas, pela ditadura burguesa, mais nos moldes de

consolidação do capitalismo moderno, mas sem romper totalmente os laços com as velhas oligarquias. Neste

novo momento vivido, paulatinamente vai superando o período meramente de produtor agrícola para se

industrializar, e o êxodo rural começa a se intensificar, tudo isso demandava uma nova forma de combater o

movimento dos trabalhadores. (GIANNOTTI, 1988)

Com muito mais astúcia, ao invés de apenas bater de frente e acirrar o confronto entre as classes, Vargas

adota medidas que visam construir uma ideologia a qual não exista o conflito, seu partido passa a disputar parte

do movimento sindical, assumindo a bandeira amarela, e principalmente, atrela o sindicato ao Estado

capitalista. Inspirado pela “Carta del Lavoro” de Mussolini, transforma os sindicatos em meras agências

reguladoras da aplicação das leis burguesas para os trabalhadores em um órgão de conciliação de classe para

superar o antigo enfrentamento e o acirramento da luta, perigosa para a manutenção da sociedade capitalista.

(BOITO, 1991b) Como veremos no capítulo seguinte.

Porém, por mais que este movimento espontâneo da classe operária tenha gerado formas de organização

própria, os trabalhadores não conseguem chegar espontaneamente a leitura da sociedade dividida em classes, já

que fica apenas na aparência, nos sentimentos imediatos, e para se entender a relação destas reivindicações

imediatas com a sociedade em que se vive é necessário um estudo aprofundado, em que se busca analisar, para

além da aparência, a essência do que produz estas contradições, nesse sentido é fundamental uma teoria, que irá

buscar, a partir de análises da realidade, da história e diversos fatores entender os elementos concretos nos seus

diversos aspectos, como propõe Lenin nesta passagem do Que Fazer?:

“Dissemos que os operários nem sequer podiam ter consciência social-democrata6. Esta só podia ser introduzida de fora. A história de todos os países testemunha que a classe operária, exclusivamente com suas próprias forças, só é capaz de desenvolver uma consciência sindical, quer dizer, a convicção de que é necessário agrupar-se em sindicatos, lutar contra os patrões, exigir do governo estas e aquelas leis necessárias aos operários, etc. Quanto a doutrina socialista, nasceu das teorias filosóficas, históricas, econômicas elaboradas por representantes instruídos das classes possidentes, por intelectuais. Os próprios fundadores do socialismo científico moderno, Marx e Engels, pertenciam, pela sua situação social, à intelectualidade burguesa.” (LENIN, 2006, p. 101)

Assim termina por englobar o movimento completo da consciência da classe operária nesta sociedade,

desde o momento em que está inserido na produção, para um posterior momento de revolta espontânea contra

as máquinas e posteriormente, a partir da incorporação de teorias formuladas a ter a compreensão da totalidade

da sociedade e que sua luta busca a superação da sociedade de classes enquanto tal, e não apenas para melhorar 6 Para Lenin, neste período, a consciência social-democrata significa ter consciência da necessidade do processo revolucionário para a superação da sociedade divida em classes. Num segundo momento, pós revolução Russa, ele irá usar o termo comunista, e ambos refletia o nome do partido internacional dos trabalhadores da época.14

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as condições de vida no capitalismo. Ou, Segundo Tumolo: “Isso significa que o potencial pedagógico máximo

da prática é a construção do que se pode chamar de consciência sindical, ou melhor, de consciência

reivindicativa” (2002, p. 245, grifos originais).

As lutas econômicas se apresentam como um momento do desenvolvimento da consciência de classe, e

quando os objetivos das lutas não são apenas a reforma imediata, e sim um projeto histórico de uma classe, é

necessário reafirmar a necessidade de manutenção das mobilizações enquanto forma de se conseguir as vitórias.

(ALMEIDA, 2008; TUMOLO, 2002; IASI, 2006)

Portanto a luta sindical, isto é por reformas, para melhorias imediatas para a classe trabalhadora, é

fundamental para que estes saiam de um momento da consciência alienada em que se encontram (ALMEIDA,

2008; IASI, 2006), onde assumem as ideias da classe dominante como sua (MARX, 1982), e passem a se

entender enquanto uma categoria em luta por seus direitos, em contraposição aos seus patrões imediatos.

Este é um patamar necessário para que, num segundo momento, estes operários, agora militantes, se

apropriem da teoria marxista para uma militância que vise a superação da sociedade de classes, portanto pode

se dividir o processo de consciência de classe em um movimento incessantes variações quantitativas e alguns

saltos qualitativos, que usualmente são separados em três grandes fases:

“a) A consciência da massa operária é uma consciência desarticulada que não consegue apreender o sentido do movimento da totalidade; ela apenas visualiza os aspectos isolados e externos dos fenômenos sem se aperceber das oposições e contradições que mantêm a realidade “unida”. O conhecimento que a incipiente prática da massa operária permite ter não vai além da “sensação” e da “impressão”.b)Num segundo momento a continuação da prática social leva a um acúmulo de experiência dos setores do operariado que destas participaram. Isto é, ao se acumular quantitativamente, o conhecimento empírico se transforma qualitativamente: a consciência operária perde seu caráter fragmentário e começa a perceber a relação entre os fenômenos; o conhecimento deixa de ser sensitivo e passa a ser racional. Diferencia-se, assim, dentro da massa, o grupo de operários avançados.c)Mas a consciência dos operários avançados é insuficiente para dar conta da totalidade social: para tanto seria preciso ir além do conhecimento racional e pragmático produzido pela experiência e se chegar a um conhecimento teórico que apreenda as leis internas que regem o desenvolvimento da totalidade e das oposições e contradições que articulam a realidade social. Essa consciência teórica só poderá testar a validade de suas descobertas se reconciliando com a prática.” (FREDERICO, Apud, TUMOLO, 2006, p. 246 e 247)

Portanto, se o objetivo final da luta empregada pelos trabalhadores é o socialismo, é fundamental que as

organizações estejam juntas a classe operária e estimulem os trabalhadores a defender seus direitos nas ruas, em

mobilizações, greves, operações tartaruga e as diversas formas de resistência construída pela classe operária ao

longo de sua história, já que, pedagogicamente, estes aprenderão que juntos possuem força suficiente para

alterar partes da sociedade, melhorar sua condição de vida através da sua atuação autônoma, e, num segundo

momento, quando entrarem em contato com a teoria marxista, passarão a entender a necessidade de superação

da sociedade de classes, isto é conhecer o modo de produção capitalista em sua totalidade, tanto das questões

conjunturais quanto estruturais. (TUMOLO, 2002)

Sindicalismo de Estado

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Os sindicatos foram vinculados ao aparelho de Estado pela ditadura Vargas de forma proposital para

refrear as lutas dos trabalhadores para um nível “seguro” para a manutenção da sociedade capitalista, isto é,

para que estas lutas não levassem os trabalhadores a construir uma revolução social. Como fica claro nesse

pronunciamento de Lindolfo Collor, ministro do trabalho do governo Vargas:

“ Incorporar o sindicalismo no Estado e nas leis da república, essa deve ser e está sendo, para a honra de V. Excia., uma das tarefas mais altas, mais nobres e mais justas da revolução brasileira. Nesta hora de profundas transformações do mundo social, uma revolução que não forjasse novas regras de direito seria um movimento retrogrado e absurdo em face da humanidade. (…) Com a criação dos sindicatos profissionais, moldados em regras uniformes e precisas, dará às aspirações dos trabalhadores e às necessidades dos patrões expressão legal, normal e autorizada. O arbítrio, tanto de uns quanto de outros, gera desconfiança é causa de descontentamento, produz atritos que estalam em greves e lock outs. Os sindicatos, ou associações de classe, serão os para-choques destas tendencias antagônicas. Os salários mínimos, os regimes e as horas de trabalho serão assuntos de sua prerrogativa imediata, sob as vistas cautelosas do Estado. A solução de conflitos de trabalho será também da sua alçada, com assistência de pessoas alheias às competições de classe e com recurso a tribunal superior. Além disto, de um modo geral, tudo quanto seja pertinente à defesa dos interesses de uma classe ou profissão encontrará, no respectivo sindicato, o porta-voz autorizado e competente.” (In COSTA, 1986, p.9, grifos meus)

Condizentes com o movimento que estavam fazendo de introduzir o Brasil na sociedade capitalista

moderna visando superar o modelo agrário-exportador, o “problema” do conflitos urbanos se acentuou, e

rapidamente teve como “solução” a institucionalização das lutas. Podemos perceber neste discurso que a grande

movimentação feita foi no sentido de legalizar e dar poder ao Estado de tutelar estes conflito, uma vez que já

não seria mais o trabalhador autonomamente organizado que buscaria conquistar seus direitos, mas sim os

sindicatos, como representante dos trabalhadores – portanto fazendo por eles como um porta-voz – outorgados

pelo Estado, evitando “excessos” e precisando se submeter aos limites legais exigidos.

A posição dos três principais grupos de esquerda (anarquistas, comunistas e socialistas) da época eram

claramente contrários a estes decretos, e assim se mantiveram até que o governo Vargas praticamente obrigou

os sindicatos a se vincular ao Ministério do Trabalho Indústria e Comércio fazendo com que os trabalhadores só

tivessem acesso aos seus direitos caso o sindicato se submetesse ao ministério, com o estatuto padrão e as leis

da época, vale ressaltar a tentativa dos anarquistas em não se ceder a institucionalização do movimento nos

sindicatos oficiais, o que gerou seu afastamento do movimento de base. (COSTA, 1986, p.25)

E esta política se mantêm por muito tempo e até os dias de hoje. Como exemplo de outras organizações

que faziam esta mesma leitura anos depois, como podemos observar a Política Operária (POLOP) que existiu

no Brasil de 1962 até o início da década de 1980 e trazia algumas elaborações que seguiam neste sentido:

“Antes de tudo, temos de deixar claro e acima de qualquer dúvida, que os nossos sindicatos foram criados e

estruturados pelo Estado burguês-latifundiário para que a classe dominante pudesse controlar e dominar o

proletariado.” (SACHS, 1994, p.126)

Mecanismos da estrutura sindical que definem sua relação com o Estado

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As leis que regulamentam os sindicatos, promovidas por Vargas, tornam essas entidades dependentes do

aparelho ao Estado, primeiro no que tange ao seu financiamento onde isso se apresenta de forma mais clara e

acintosa. A contribuição financeira dos trabalhadores para o sindicato não depende da aceitação dos

trabalhadores, não é uma opção destes para a manutenção financeira da sua entidade representativa, mas sim

um imposto compulsório, pago por todos os trabalhadores, sindicalizados ou não. O que faz com que as

entidades não tenham necessidade de aumentar o quadro de filiados, isso quer dizer, independente de se

relacionar com a categoria para o seu financiamento, ou, nas palavras do Boito: “O monopólio legal da

representação sindical dispensa o sindicato oficial da luta pela ampliação e organização consistente do quadro

de associados. Os impostos sindicais assegurando a entrada regular de fundos financeiros independentemente

da sindicalização”. (BOITO 1991b, p.238)

O que por outro lado, será ressaltado por Leôncio Martins Rodrigues, é que esta verba possibilitou, logo

após a abertura da ditadura militar “o financiamento de inúmeras greves, encontros, reuniões, conferências,

publicações e outras atividades políticas sindicais” (L. M. RODRIGUES, 1991, p.14) e ainda ressalta que o

aparelho sindical pode ir contra a política defendida pelo governo (L. M. RODRIGUES, 1991), o que de fato

tem razão, porém, por outro lado quem pode controlar, em última análise, se o sindicato irá receber seu

financiamento é o Estado, que pode cortar esse aporte financeiro, na medida em que ache necessário, seja por

corte de gastos, seja por posicionamento político. O que faz com que os sindicatos vinculados ao Estado

estejam sempre a mercê de seus interesses, e como vimos anteriormente, os interesses do Estado estão

vinculados aos dos proprietários e não dos trabalhadores, portanto, basta uma movimentação, greve, ou alguma

outra forma de luta onde queiram punir esta entidade, que ela poderá ficar sem financiamento. Por outro lado o

aporte contínuo de impostos sindicais faz com que os sindicatos necessitem desta verba, ficando dependentes de

uma receita tão alta que não conseguiriam substituí-la com facilidade. (BOITO, 1991b) Quando o objetivo da

intervenção militante não transcende a ordem social vivida – isto é, reformista – é possível aceitar com mais

tranquilidade estes mecanismos, mas quando se almeja a superação da sociedade, estes atrelamentos ao Estado

passam a ser muito mais perigosos.

Outra forma de subjugar os sindicatos aos desmantes do Estado é a unicidade sindical que determina,

através do Ministério do Trabalho, que apenas um sindicato pode atuar numa determinada base territorial, e este

é o principal mecanismo de outorga, por meio do Estado, de definir qual sindicato existe legalmente ou não

(BOITO, 1991b; COSTA, 1986). “O que o Estado outorga aos sindicatos oficiais é, fundamentalmente, o poder

de representar os trabalhadores, frente ao patronato e ao próprio Estado, no processo de negociação coletiva dos

salários e das condições de trabalho.” (BOITO, 1991b, p.47).

Estes mecanismos permitem que o Estado burguês possa definir quem é o legítimo representante dos

trabalhadores, logo, permite também que troque as diretorias quando lhe convém. Isso só é possível por causa

desta carta sindical. Por outro lado, se esses representantes se baseassem apenas nos próprios trabalhadores, o

Estado não poderia fazer isso, ainda mais usando apenas sua estrutura jurídica (justiça do trabalho), precisaria

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acabar fisicamente com o movimento, através de coação. Para entender isso com exatidão basta observar a

relação do Estado com os movimentos sociais, como as Ligas Camponesas, o MST, o MTST, por exemplo,

onde não dá pra mudar a diretoria conforme a vontade do governo, pois este não tutela as atividades dos

mesmos. (BOITO, 1991b)

A mesma estrutura assume o papel de regulamentar as formas de mobilização da classe operária,

definindo datas-base de cada categoria e, portanto, a data em que irão fazer suas reivindicações, sendo

previsível, para os governos e patrões, o momento em que irão ocorrer as lutas, além disso o fato de cada

categoria – mesmo que habite o mesmo local de trabalho – possuir um período diferente para as mobilizações

impede campanhas salariais unificadas. (BOITO, 1991b)

A forma que ocorrem hoje as eleições sindicais também se transforma num mecanismo de controle do

sindicato. O processo vem se tornando cada vez mais custoso, o que privilegia aqueles que possuem mais

recurso a se perpetuarem na estrutura. As disputas sendo acirradas, leva, em muitas das vezes, a conflitos

físicos e a contratação de “seguranças” para a manutenção do processo, o que, por si só já afasta a disputa dos

trabalhadores não sindicalistas, mas o mais grave é a necessidade constante de recorrer ao auxilio de força

policial comum, isto é, do Estado. Não é raro também que, por conta dos fatores supramencionados, a chapa

vencedora seja definida na Justiça do Trabalho, logo, um juiz decide quem é a gestão que irá representar os

trabalhadores no mandato que segue. Com tudo isso percebemos o atrelamento que existe entre sindicato e o

Estado. E se não bastassem todas estas características, o fato das chapas precisarem expor todos os seus

candidatos no no momento de inscrição da chapa e nos materiais de campanha, torna uma atividade muito

perigosa tendo em vista o número de demissões que ocorrem simplesmente pelo fato de um trabalhador ter

participado e se exposto em uma disputa sindical. (BOITO, 1991b)

Uma característica importante do sindicato, é o fato dos sindicalistas possuírem direitos não extensíveis

a toda a categoria, além de aparatos próprios para o trabalho sindical, como a estabilidade no emprego, acesso a

carros e combustível, telefones e a liberação sindical, além de não ser raros encontrar sindicatos que

complementam o salário dos sindicalistas, mas a quantidade de militantes que ficarão resguardados com estes

direitos são definidas pelo Estado, portanto um número limitado. A consequência disso é que, em vários casos,

aqueles que saem dos seus locais de trabalho para ter como única atividade política, se acomoda com a nova

vida e tem medo de perder esse “privilégio”, e a renovação sindical, isto é, a formação de novos militantes que

venham a ocupar estes cargos através do trabalho no sindicato, fica reduzido pelo simples fato daqueles que

estão na máquina não quererem “largar o osso”, como se diz corriqueiramente. (BOITO, 1991b)

Portanto fica evidente que, por mais que seja possível fazer um trabalho nos sindicatos que visem

aproximar mais trabalhadores da militância sindical e política, esta tarefa deve ser entendida como indo na

contra-mão dos objetivos destes sindicatos, pois, como diz Sachs (que usa o pseudônimo de Ernesto Martins), a

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tendencia deste aparelho é terceirizar a luta para instrumentos institucionais7, como a justiça do trabalho ou o

ministério:

“ Os sindicatos desempenham esse papel não só em virtude das coações que pesam sobre eles, em forma de estatutos padrões, comissões de enquadramento, tutela financeira, etc., mas, igualmente, em virtude de todo o um sistema legislativo da Justiça do Trabalho, dissídios, etc. que visam a neutralizar todos os conflitos entre capital e trabalho, à base de “acordos” e soluções jurídicas. Foi o conjunto desse sistema que, durante mais de uma geração, ajudou a atrasar a formação de uma consciência de classe no proletariado.” (SACHS, p.126, 1994)

Ao mesmo tempo que o Estado influencia cada vez mais a militância política, mais os sindicalistas

acham que possuem poder por causa da sua representatividade formal. “O sindicalista vive a ilusão do poder.

(…) Todo sindicalista apresenta a base legal do seu sindicato como se tratasse do contingente de trabalhadores

que ele, efetivamente, representa.”. (BOITO, p. 239, 1991b, grifos originais) A capacidade de mobilização dos

trabalhadores vai se reduzindo cada vez mais, uma vez que estes são educados que não devem ser o

protagonista das lutas, mas, por outro lado, devem delegá-la a outro, nesse caso o sindicalista. O que está em

perfeita conformidade com a estrutura da sociedade burguesa, onde os cidadãos, independente da classe a que

pertencem, elegem seus representantes de dois em dois anos, e nunca mais interferem na vida pública, no

sindicato os trabalhadores elegem seus representantes a cada 3 ou 4 anos, e entre uma eleição e outra não

interferem nos rumos do sindicato. (BOITO, 1991b)

7“A relação sindicato-trabalhador é mediada por diversos setores do aparelho do Estado – o Ministério do Trabalho que arrecada os impostos sindicais, a Justiça do Trabalho, que tutela a ação reivindicativa, etc. - e pelas próprias direções das empresas. Ao se associar ao sindicato, o trabalhador subscreve uma ficha-padrão, pela qual autoriza o desconto em sua folha de pagamento da mensalidade devida, como sócio, ao sindicato.” (BOITO, p.2401991b)19

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CAPÍTULO 2 – UM NOVO CICLO HISTÓRICO SE ABRE: O PROTAGONISMO DA CUT

“Os vencidos de agora serão os vencedores de amanhã.E o 'hoje' nascerá do 'jamais'”

Bertolt Brecht

No final da década de 1970, o Brasil foi marcado por intensas mobilizações da classe trabalhadora, pelo

enfraquecimento da ditadura militar e pela reorganização de instituições políticas e sindicais brasileiras. Foram

criados, o Partido dos Trabalhadores (PT) em 1981, que assumia claramente um política classista (IASI, 2006),

a CUT em 1983 com muitas greves e lutas (GIANNOTTI, 1991) e o MST em 1984 que mesmo sem a

institucionalização burocrática, conseguiu organizar os trabalhadores rurais no país (RIDENTI, 2006). Porém

este é o início de mais um dos ciclos na história de luta e organização dos trabalhadores, Ridenti irá descrever

outros quatro ciclos anteriores: 1) anarquista, no final do século XX, junto ao surgimento do capitalismo

industrial no Brasil, 2) ciclo das vanguardas, de 1930 até meados de 1970, período de desenvolvimento

econômico nacional, 3) ciclo das bases, com duração de mais ou menos 30 anos e tem como principal

característica a atuação priorizando os trabalhadores e não suas direções, isso é, de baixo para cima, 4) o ciclo

que se inaugura e que o autor sugere uma denominação de “institucionalização defensiva” onde seria reflexo da

“consolidação institucional da democracia”, junto a crise do trabalho e a crescente dificuldade de organização

das classes trabalhadoras. (RIDENTI, 2006)

Com esta apresentação de Ridenti facilita a visualização dos períodos, porém peca, pela excesso de

simplificação, no homogenização de algumas passagens consideravelmente diferentes. O ciclo das vanguardas,

poderia ser separado em pelo menos dois, como descrevemos anteriormente, tendo como principal protagonista

o PCB, que vai de 1922 até 1945, outro desta data até 1964, onde parte considerável dos trabalhadores

assumem a tática da luta armada, ao mesmo tempo que muitas oposições sindicais são gestadas, o que nos

permite entender de onde surge o período que o autor chama de ciclo das bases.

Mas na caracterização do ciclo no início dos anos 2000, ainda é cedo para uma classificação definitiva,

por hora podemos aventar que passamos por um processo de transição, onde os trabalhadores tiveram seu

projeto político incorporado pela institucionalidade burguesa (IASI, 2006), e que, com isso, muitos daqueles

que foram protagonistas no início do ciclo, agora defendem o a ordem social vigente, propondo apenas

reformas, e não mais a ruptura desta sociedade, como o PT e a CUT. Este trabalho buscará achar estas

evidencia no estudo do sindicato dos metalúrgicos do ABC, já que este é um dos principais desta Central. E

pensando a superação deste ciclo, e entendendo que um dos elementos centrais de conformação a ordem foi a

institucionalização do movimento e a substituição do protagonismo operário pelas suas representações, pode-se

aventar que a superação precisa dar conta destes elementos, isso é, voltar a ter os trabalhadores como

protagonistas de suas lutas e organizações.

Mas além das diversas formas que os trabalhadores construíram para potencializar suas lutas, a história

brasileira é marcada por uma intensa alternância à forma de gestão do Estado capitalista, notoriamente,

passagens de ditadura e democracia, duas faces de uma mesma moeda, que busca a manutenção da sociedade

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capitalista para a exploração do proletariado. Fazendo um recorte no século XX, pós república velha, temos um

golpe de Estado feito por Vargas, e este mesmo político sendo posteriormente eleito para governar o Brasil

democraticamente. Depois de seu suicídio, em 1954, passamos por mais um período de democracia burguesa e

em 1964, mais um golpe de Estado, desta vez protagonizado pelos militares, com apoio dos Estados Unidos da

América, da burguesia brasileira e da chamada classe-média e suas “Marcha da Família com Deus e pela

Liberdade” (GIANNOTTI, 1988).

O período da ditadura, que vai de 64 até 89 – usaremos esta data como referência já que a partir de 89

volta a ter eleições diretas para presidente – teve certa heterogeneidade quanto ao grau de acirramento da luta

de classes, porém algumas características foram comuns ao longo de todo o período, principalmente a repressão

sobre o movimento dos trabalhadores – seja partidário, na forma de movimentos ou sindicais – que fica

paulatinamente mais branda a partir de 79, ano que começam algumas anistias de exilados políticos que voltam

a morar no Brasil (GIANNOTTI, 1988).

Dois protagonistas da CUT: Oposição Sindical Metalúrgica de São Paulo (OSM-SP) e o Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo

Durante a ditadura militar a única forma de atuação da esquerda foi a clandestina, uma vez que a

repressão se intensificou neste período, e assim muitos grupos optam pela luta armada enquanto outros pela

atuação dentro das fábricas criando comissões que passam a ser a principal forma de organização daqueles que

tentavam manter as lutas sindicais, dentre esses, a oposição sindical metalúrgica é um dos mais importantes, e

que participam desta construção desde um pouco antes do golpe. É importante observar também seus principais

objetivos com a militância: 1) conquistar vitórias para os trabalhadores 2) organizar o maior número possível de

operários 3) ampliar a luta 4) desenvolver a consciência de classe entre os trabalhadores. Como podemos ver

abaixo no documento deles:

“Esta oposição tem suas raízes em algumas experiências realizadas em fabricas da GSP8 a partir de 1961. Fruto de uma analise do movimento sindical brasileiro, decidiu-se pelo movimento de um trabalho de nucleação dentro da fábrica buscando aglutinar companheiros dispostos a debater problemas ocorridos nas empresas. Através disso buscar possíveis saídas que permitissem: conquistar algumas reivindicações e organizar o maior número possível de operários para ampliar a luta. Um dos objetivos centrais era através de discussões e lutas desenvolver a consciência de classe entre os operários.” (OSM-SP, s.d., HOSM, p. 1, grifos originais).

Como o espaço de produção de mercadoria é o principal palco da luta de classes da sociedade

capitalista, o fortalecimento do movimento dentro das fábricas foi acompanhado de perto pelo Estado e sua

polícia, assim, a ditadura também buscava entrar nas fábricas: “Isto se deu frente ao 'ostensivo sistema de

repressão contra qualquer forma de organização e resistência operária nas empresas' (Sader, 1988, p. 73),

chegando a ter o DOPS9 uma sala em certas fábricas para interrogar e descobrir autores de boletins e panfletos.”

(In TIBLE, p. 294, 2008)

8GSP – Grande São Paulo9 DOPS – Departamento de Ordem e Política Social21

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A consequência de todo esse movimento é que a OSM-SP passa a ter uma relação muito grande com os

trabalhadores no chão de fábrica, característica essa que faz com que Ridenti (2006) denomine este ciclo de

“ciclo das bases”, além disso podemos perceber que o objetivo da Oposição não é meramente conseguir vitórias

parciais e melhoras na vida cotidiana para os operários, mas sim formar novos militantes, com consciência de

classe. Essa concepção política fez com que fossem protagonistas de importantes movimentos nacionais, como

na fundação da CUT, e, mesmo sem estarem nas direções sindicais, nos primeiros 10 anos da entidade, eles

possuem membros na diretoria, além de construir o Movimento Nacional Contra a Estrutura Sindical

Brasileira10 (GIANNOTTI, 1991).

A leitura política que este movimento faz sobre a realidade brasileira, somado a prática de luta que

constroem, forja importantes críticas ao sindicalismo de Estado, já que este vai na contra-mão da política

adotada por este grupo. Esta formulação está presente em vários de seus documentos, onde se reivindicam

como uma frente de trabalhadores, com programa político próprio buscam “um sindicalismo livre, democrático

e de massa e pela auto-organização dos trabalhadores nas fábricas, através de grupos e comissões orientados

pela perspectiva de uma independência política e ideológica dos organismos operários.” (BATISTONI, p.2,

2001)

Este movimento recoloca na ordem do dia as antigas críticas ao aparelho sindical atrelado, e isto se

traduzirá em importantes bandeiras por parte deste grupo na fundação da CUT, e assume como pauta central o

reconhecimento da organização presente dentro de cada fábrica:

“Em 1967, por ocasião das eleições Sindicais em vários sindicatos, surgiram muitas chapas de oposição (algumas já em 65). Entre elas as de Osasco e S. Paulo (ambas metalúrgicas) tinham um cunho bem mais político. Em S. Paulo decidiu-se por uma chapa de oposição que fosse o núcleo de um "Movimento de Oposição à Estrutura Sindical Brasileira" e não apenas uma chapa de oposição a diretoria. Assim em seu Manifesto a CHAPA VERDE Enfatizava: "Queremos sim, unidades de trabalhadores nas fábricas e no sindicato ..." E no seu programa de lutas: Lutar pela aplicação efetiva do contrato coletivo de trabalho e pelo pleno reconhecimento dos Conselhos de empresas eleitas livremente pelos trabalhadores em cada empresa. Com a devida orientação do sindicato.” (OSM-SP, HOSM, p.1, s.d., grifos originais).

Na configuração original da Oposição três correntes tiveram muita importância: a esquerda da igreja

católica, que agora já não reflete o caráter conservador que possuiu outrora, vários pequenos grupos marxistas,

e o sindicalismo (TIBLE, 2008). A política que eles adotaram, de radicalidade, não atrelamento ao Estado e aos

patrões e de atuar junto as bases11, somado a ampla penetração da igreja nas massas, conduzirá este movimento

a desdobramentos importantes durante os períodos que seguem.

“Com a onda grevista de 78-79, a Oposição tornou-se um movimento de massas. Em sua maioria, os grevistas repudiavam a direção do Sindicato e apoiavam a Oposição. Formaram-se comissões de fábrica

10Trecho da tese aprovada no I Congresso da Oposição Sindical Metalúrgica de São Paulo, em 1979: “O papel da oposição sindical é o de desmantelar a atual estrutura e construir uma nova, independente dos patrões e do governo, a partir da organização da fábrica.” (GIANNOTTI, p.16, 1991).11 “Finalmente, a oposição precisa ter, claro que a libertação dos sindicatos do atrelamento só pode vir dentro de um poderoso movimento das fábricas. E esse movimento se cria encima de reivindicações concretas (econômicas ou sindicais na sua origem: salário, condições de trabalho, regime interno opressivo, etc). A quebra da estrutura sindical será um dos efeitos desse movimento. Os sindicatos surgidos dessa quebra só terão em comum com atuais sindicatos o nome, "Sindicato". Tudo ou mais será diferente: funções, atuação, liderança, estrutura.” (OSM-SP, PPOS, p. 3, s.d.)22

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e parte destas comissões conquistou reconhecimento das empresas, como no caso da Toshiba. Tornaram-se praticamente as únicas interlocutoras do patronato, já que o Sindicato não tinha representatividade e os patrões, naquele momento e em alguns casos, passam a legitimá-las.” (TIBLE, p.298 e 299, 2008)

O movimento de oposição se apresenta em grande ascensão, e seus meios de luta parecem dar certo. As

reivindicações são atendidas e conseguem, inclusive, deslegitimar o sindicato juridicamente responsável pelas

negociações, passando agora a assumir esse posto em algumas fábricas através das lutas que constroem. Essa

experiência pode ser analisada como um embrião do sindicalismo livre, já que não almejam a outorga do Estado

para fazer negociações, mas sim as lutas, ancoradas nos próprios trabalhadores ao invés das legislações

(BOITO, 1991b).

Em 1975 a Oposição Sindical já havia criado uma forma de organização onde os trabalhadores como um

todo – e não apenas seus representantes – eram chamados a ser protagonistas, e esta prática permitia que o

movimento atingisse alguns de seus objetivos e formasse novos militantes ao mesmo tempo que estimulava a

organização dentro de cada indústria:

“A estruturação da OS12 atingiu 8 setores. Desenvolveu-se a pratica da democracia interna com os principais problemas sendo discutidos a partir dos setores e decididas em assembléias constituídas de delegados (representatividade). Nestas assembléias se decidia da orientação, programas e táticas de luta. Outras questões eram resolvidas na coordenação com propostas de setores. Foi a época em que a oposição mais se desenvolveu nas fábricas, nos setores e na participação sindical.” (OSM-SP, HOSM, p.3, s.d., grifos originais).

Com esta passagem podemos perceber a diferença sobre a representatividade da oposição, baseada nas

assembleias de fábrica, onde cada trabalhador conhecia as políticas que estavam sendo debatidas e o que seria

feito em seu nome, podendo, inclusive, revogar tal representante caso este desviasse do que precisava fazer, ao

contrário da relação com o sindicalista, onde este representa uma base mais ampla do que a primeira, dando a

impressão de que podem contar com um contingente grande de trabalhadores, porém esta representação é

apenas formal, definida pela legalidade burguesa, e não pelos próprios trabalhadores, como ressalta Boito

(1991b).

A Oposição, em 1975, ressalta a intenção de construir um sindicato livre, porém avaliam que não

possuem capacidade no período: “Criar o sindicato livre é o que todos queremos. Mas é isso o objetivo atual? Também passado essa falta de clareza nos marcou e por isso hoje a oposição não é xisto (sic), está dispersa, sem diretriz. (...)Então a participação nas eleições e campanhas serve para ampliar a nossa atuação, mesmo com um calendário imposto pelos patrões, e mesmo com o atrelamento e esvaziamento dos sindicatos.” (OSM-SP, p.1, 1975)

A POLOP, que também participava da OSM-SP, defendia que era necessário a criação dos sindicatos

livres, mas avaliacam que: “um boicote dos sindicatos, no presente momento13, não levaria à fundação de

sindicatos clandestinos, mas deixaria um vácuo.” (SACHS, p. 128, 1994). Além disso defendem expressamente,

que é necessário construir uma oposição sistemática a estrutura sindical, em contraposição a oposições a esta ou

aquela diretoria. Portanto a luta pela organização autônoma dos trabalhadores era fundamental, sendo pois um 12Oposição Sindical13Texto escrito em junho de 1968.23

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objetivo a ser conquistado uma vez que a classe operária estaria se formando politicamente neste processo,

portanto não se baseava apenas no interesse momentâneo de atingir a reivindicação, apesar de buscarem

também esses êxitos, mas sim construir um processo pedagógico através das lutas e das várias formas de se

organizar os trabalhadores. (SACHS, 1994)

Com tudo isso as diferenças entre a construção política da Oposição e os sindicalistas autênticos, que

possuem como principal liderança o sindicato de São Bernardo, já aparecem. Como podemos observar neste

documento, em que a OSM-SP criticam a ilusão de entrar nos sindicatos e, por não serem “pelegos”, o sindicato

já seria combativo:

“A oposição deve ter uma política definida de intervenção nos sindicatos pelegos, visando combater sua atuação desmobilizadora e desorganizadora. Como?

1. apresentando propostas próprias para encaminhamento dos trabalhos (nas campanhas e acontecimentos sindicais). 2. denunciando a estrutura antidemocrática e atrelada dos sindicatos, inclusive cortando as ilusões de reformar o sindicato com simples eleições de companheiros "autênticos" 3. divulgado sua "carta-programa" aos operários, com os seus pontos reivindicativos explicados e com uma plataforma de iniciativas (orientações para o trabalho).” (OSM-SP, PPOS, p. 2 e 3, s.d.)

Vemos também a preocupação deles com o projeto histórico da classe operária, e em algumas passagens

ressaltam a necessidade de se construir uma vanguarda do proletariado, conscientes das relações de classe

existentes na sociedade:

“Todo movimento precisa de uma vanguarda política assim como um corpo precisa de uma cabeça. Os operários mais conscientes esclarecem os companheiros não só sobre as necessidades mais urgentes dos trabalhadores mais também sobre os interesses e reivindicações políticas que representam as sociedades mais gerais na luta contra a ditadura.” (OSM-SP, PPAOSC, p.3, s.d.)

Estas intervenções dentro das fábricas, e as lutas interfábricas, tiveram uma importância única para os

trabalhadores, pois nesses períodos, apesar de não ser muito propagandeado, inúmeras conquistas foram obtidas

e o número de militantes estava em amplo crescimento:

“As inúmeras polêmicas sobre a luta grevista do período 1978-1980, a quase totalidade dos sindicalistas e estudiosos admitia que o movimento grevista poderia ser dividido em duas fases. A primeira, que se estendeu até o final de 1978, caracterizou-se pela vitória das greves. Os grevistas tinham o essencial de suas reivindicações atendidas e, em muitos casos, a vitória era obtida até com certa facilidade, bastando greves curtas para vencer a resistência dos patrões. A segunda fase, cujo marco inicial mais importante é a greve dos metalúrgicos paulistanos de novembro de 1978, foi marcada por dificuldades crescentes e passou a predominar a derrota na luta reivindicativa.” (BOITO, p.265, 1991b).

Contudo ainda se percebiam muito reféns da atuação no sindicato, e por mais que existisse muitas lutas

concretas sendo feitas, e a consolidação de várias atuações nas fábricas, a única forma que conseguiam enxergar

de atuação era dentro do sindicalismo de Estado, não percebendo, portanto, que o embrião do sindicato livre já

estava presente quando construíam a Oposição Metalúrgica, com isso acabam por ficar amarrados à atuação

dentro da ordem:

“O sindicato apesar de todo o atrelamento e o peleguismo é a única forma de organização existente no meio do operário. Por isso seria umas (sic) erro criar uma alternativa que ocupe o lugar do sindicato,

24

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atuando somente nas fábricas de forma clandestina. Isso seria impossível no momento em que o movimento de massas está paralisado e os trabalhadores não estão organizados nas fábricas. Por outro lado, seria também um erro atuar como Oposição só no Sindicato praticamente nos momentos de campanhas salariais e eleições sindicais. Permaneceríamos afastados do movimento sem intervir ativamente nos conflitos de luta de fábrica.” (OSM-SP, PPAOSC, p. 1, s.d., grifos originais)

Mas ao mesmo tempo tinham receio de criar uma estrutura paralela14, que talvez tenha sido um dos

principais fatores para que não construíssem um sindicato livre, já que estavam presos a velha forma do

sindicato: “Qualquer iniciativa de luta contra a estrutura sindical vigente teria que passar também pela luta do

interior da estrutura sindical oficial, na medida em que não se cogitava de criar um sindicalismo paralelo, mas

sim uma alternativa para estrutura sindical existente.”. (OSM-SP, QUOS, p.2, s.d.).

Esta leitura passa a ser tão contundente, que, por volta de 1979, neste documento a OSM-SP faz questão

de enumerar várias positividades do sindicalismo de Estado, apesar de não deixar de assinalar o atrelamento ao

ministério do trabalho, fato que não é recorrente nos documentos anteriores, o que sinaliza que existe neste

momento uma alteração política, mesmo que embrionária, importante para este movimento:

“O sindicato é reconhecido pela massa, e é preciso valorizar o sindicato enquanto o organismo de massa da classe operária. Mas ao mesmo tempo é preciso saber trabalhar sobre as contradições do sindicato atual, resultantes da atual estrutura sindical. Dentre essas contradições do sindicato atual, resultantes da atual estrutura sindical dentre essas contradições à (sic) duas a se destacar:

a. o sindicalismo é um organismo de massas da classe operária cujo o comando está nas mãos do Ministério do Trabalho, o que significa dizer que está nas mãos do Estado e das classes que controlam o Estado. b. o sindicato oficial é um organismo de massas da classe operária mas a sua direção, nos diversos níveis (sindicato, federações, confederações) não representa democraticamente os operários e nem é responsável perante os operários. Na verdade, hoje as direções sindicais são responsáveis perante as Delegacias do Trabalho, perante o Ministério do Trabalho, mas não são responsáveis perante suas respectivas categorias.” (OSM-SP, QUOS, p.13 e 14, s.d.)

Nesta passagem podemos perceber que as críticas agora são voltadas aqueles que estão no aparelho, e o

sindicato oficial é entendido como sendo “um organismo de massas da classe operária”, e que as direções que

estão neles é que são “pelegas”. Ao mesmo tempo em que estimulam a criação da CUT, num momento em que

as centrais sindicais ainda estão proibidas: “Central Sindical Única dos Trabalhadores deverá se tornar a

expressão mais geral na unidade dos trabalhadores no plano de luta sindical.” (OSM-SP, QUOS, p.13, s.d.)

Após o período que o documento A Questão da Unidade da Oposição Sindical, a Oposição Sindical

Metalúrgica de São Paulo, passa a se chamar de Movimento de Oposição Metalúrgica de São Paulo, e faz seu

primeiro congresso em 1979, e passa a construir os novos instrumentos que estão sendo criados no momento, o

PT e a CUT. Não é mera coincidência o fato de Boito ressaltar o marco das lutas sindicais vitoriosas como

sendo o ano de 1978, pois até este período as lutas foram principalmente dentro das fábricas, enquanto daí em

diante as lutas passam a ser construídas do lado de fora das empresas, nos sindicatos.

14“Fica claro, então, que o caminho para a superação da distância que separa a Oposição Sindical da grande massa de trabalhadores não passa pela ilusão de um sindicato paralelo. A superação dessa distância passa isso sim, pelo trabalho paciente da organização no dia a dia da fábrica passa pela capacidade de consolidar ações unitárias, passa pela capacidade de organizar, planejar e propor ações que a massa compreenda e reconheça como de seu interesse e, finalmente passa pela capacidade de conduzir o conjunto dos trabalhadores a ocuparem a prática o seu organismo representativo de luta de massas que é o sindicato sem perder de vista, em nenhum momento, que o objetivo é a criação de um sindicalismo autônomo em relação ao estado, democrático profundamente enraizado nas bases.” (OSM-SP, QUOS, p.16, s.d.)25

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Em 1986, no documento apresentado no III congresso do MOSM-SP, a questão do sindicalismo de

Estado aparece desta forma:

“Para nós as decisões do nosso 1.° CONGRESSO em março de 1979 se constituíram num marco importante de nossa trajetória. Desde aquela época a Oposição se definiu- como uma frente de trabalhadores permanentemente organizada que atua dentro e fora da estrutura sindical oficial com o objetivo de destruí-la e de criar uma nova estrutura a partir de organização nos locais de trabalho.” (MOSM-SP, p.1, 1986)

Com isso acho que podemos resgatar as principais características da Oposição Sindical Metalúrgica de

São Paulo e o movimento que possuiu nestes períodos. Cabendo fazer um pequeno balanço de que, mesmo com

todas as dificuldades e repressão vividas, estes conseguiram, durante muitos anos, encampar vários de seus

objetivos, imprimindo lutas e conseguindo vitórias, mas principalmente formando militantes. Muitos destes

participam até hoje do movimento sindical, seja como dirigente sindical, como formador, assessor, militantes de

base, ou elaborando teoricamente, como podemos observar na extensa produção literária feita por aqueles

operários que estavam no dia a dia deste movimento, como os textos usados neste trabalho escritos por

GIANNOTTI, GENNARI e outros.

Os sindicatos no período da ditadura militar, serviam como um aparelho assistencialista e que cumpria

funções burocráticas, longe de ser um instrumento para potencializar as lutas dos trabalhadores. No Sindicato

de São Bernardo, que no geral seguia esta mesma trajetória, porém tinha um importante diferencial, alguns

militantes em seu interior passaram a ter uma postura mais crítica e encampar as lutas e mobilizações operárias,

buscando uma transformação por dentro do aparelho, aquela estrutura inicial de pacificação dos trabalhadores,

passou a construir importantes lutas na categoria. (TIBLE, 2008). Porém isso não foi sem resistência por parte

da ditadura, segundo o site, ABC da luta, a diretoria sofreu 4 intervenções da ditadura até o ano de 1984.

Ao mesmo tempo, não podemos deixar de observar a diferença existente entre o movimento do

Sindicalismo Autêntico, e a Oposição Sindical Metalúrgica, no que tange a interpretação sobre o sindicato de

Estado. Se os primeiros apresentavam duras críticas a este, o movimento protagonizado por São Bernardo

parecia não fazer uma leitura tão profunda sobre esta estrutura, pelo contrário, se adaptaram a ela, buscavam

apenas alterações pontuais. Segundo TIBLE, baseado na tese do II congresso do Sindicato, de 1976, os

dirigentes do SMABC temiam o “paralelismo sindical” e por isso receavam a construção de comissões de

fábrica aventando a possibilidade que viessem a substituir ou enfraquecer a entidade sindical, o que era

observado como um apreço excessivo a estrutura sindical. (2008) Alguns autores chegam a, inclusive, aventar a

possibilidade de superação do sindicalismo de Estado em determinados momentos, mas que não aproveitado,

deixaram passar a oportunidade: “Marco Aurélio Garcia (1982) interroga a este respeito se 'não teria sido

oportuno, por exemplo, aproveitar a intervenção do Ministério do Trabalho no sindicato para romper de vez

com esta estrutura atrelada, criar um sindicato livre, convocando os trabalhadores de todo o país a fazer o

mesmo'.” (TIBLE. p.303. 2008)

26

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Mas percebemos também que eles são legitimados a partir das lutas típicas do sindicalismo de Estado,

como, por exemplo, conquistas obtidas por ações judiciais, em que, por volta 1972 conseguiram, por este meio,

o pagamento de adicional de insalubridade na Ford, a limitação das horas-extras, conquista de um dia de

descanso semanal. (TIBLE, 2008) Vitórias importantes para os trabalhadores, porém o meio que foram obtidas

importa para o desenvolvimento da consciência uma vez que reafirmam que é a partir da justiça burguesa que

os trabalhadores obtêm suas conquistas. Ao mesmo tempo que esta esfera da luta não pode ser abandonada, mas

precisa ser conduzida conjuntamente as duras críticas formadas acerca da justiça do trabalho e ao aparelho de

Estado burguês para não cair no engôdo de achar que estes são espaço legítimos dos trabalhadores numa

sociedade dividida em classes, o que não percebemos nos relatos da época.

As diferenças de concepção também podem ser percebidas nos discurso do Lula em sua posse como

presidente do sindicato em 1975, já que durante esse mesmo período, enquanto o OSM-SP apresentava uma

leitura classista, buscando formar uma vanguarda operária, tendo vários agrupamentos marxistas participando

ativamente do processo, Lula fazia críticas ferrenhas a esta postura política, como se pode observar no seu

discurso de posse como presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo:

“ 'O momento da história que estamos vivendo apresenta-se, apesar dos desmentidos em contrário, como dos mais negros para os destinos individuais e coletivos do ser humano. De um lado vemos o homem esmagado pelo Estado, escravizado pela ideologia marxista, tolhido nos seus mais comezinhos ideais de liberdade, limitando em sua capacidade de pensar e se manifestar. E no reverso da situação, encontramos o homem escravizado pelo poder econômico explorado por outros homens, privados da dignidade que o trabalho proporciona, tangidos pela febre do lucro, jungidos ao ritmo louco da produção, condicionados por leis bonitas, mas inaplicáveis, equiparados às maquinas e ferramentas.' Discurso de Lula na sua posse como presidente do Sindicato” (RAINHO Apud IASI, p.363, 2006)

É importante ressaltar a prática adotada em tempos “tão remotos”, pois isto se configurou como o germe

que posteriormente veio a tomar conta da política da CUT e do PT. Esta fase caracteriza a fase inicial da

militância do Lula, onde, por exemplo, criticava a organização em partidos políticos, posição que depois irá

rever e defender a criação de um partido dos trabalhadores, porém a postura frente ao marxismo não parece se

alterar substancialmente. No famoso debate presidencial de 1989 e nos programas políticos assumidos pelo

partido, o marxismo não aparece claramente, ao invés disso ficam generalidades acerca do socialismo

democrático, onde busca se diferenciar tanto do socialismo real quanto da economia de mercado capitalista.

(IASI, 2006)

Pouco anos após a posse do novo presidente, aconteceu a famosa greve de 1978, que terminou com uma

dupla derrota para a classe operária, onde, apesar de conseguirem uma ampla mobilização de massas, que é o

pressuposto para a formação de novos militantes com consciência de classes, não conseguiram as

reivindicações almejadas pois precisariam aumentar as tensões com o Estado e os patrões, ao invés disso

aceitaram acordos sem ganhos para os trabalhadores, mas que para os sindicalistas foi muito vantajoso, uma vez

que parte da diretoria estava presa e foi solta após os acertos, assim reforçou o sindicalismo de Estado e

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aumentou as tensões entre a diretoria e a base só sindicato, percebida pelas vaias e esvaziamento das

assembleias. (TIBLE, 2008)

Se faz relevante observar estes dois espaços de atuação em particular, o MOSM-SP e o SMABC, pois

acabaram por constituir os dois principais grupos, por vezes antagônicos como dois polos de contradição

presentes na mesma entidade, a CUT. Além disso, a diferença de concepções políticas são visíveis desde o

início do processo de formação da central (ANTUNES, 1991). A relação que possuem frente ao sindicalismo

atrelado também são marcantes, como pudemos observar nas passagens anteriores. Com isso cada uma será

caracterizada de uma forma diferente: “Se o Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo é um exemplo típico

do novo sindicalismo, a Oposição Metalúrgica de São Paulo talvez seja o melhor exemplo da segunda corrente,

a das oposições sindicais.” (ANTUNES, p.44 e 45, 1991).

Essas duas vertentes, que possuíam diferenças políticas desde o início, mas só se expressa na forma de

corrente sindicais a partir de 1986, quando se consolida a Articulação Sindical (ArtSind), como o bloco

majoritário, e a CUT Pela Base como uma importante corrente a esquerda. No terceiro congresso da Central A

Artsind chega a 60,4% dos votos, expressando essa maioria (ANTUNES, 1991) Este setor majoritário possuía

grande vinculação com os trabalhadores, a base dos sindicatos, porém a política variava entre uma postura mais

crítica e valores sociais-democratas. E neste momento já era possível observar sua vinculação com as

negociações com o empresariado, perdendo a visão classista inicial. E a relação com o Estado ficava cada vez

mais estreita: “Setores dentro da Articulação Sindical têm sido fortes defensores de uma ação voltada cada vez

mais para a negociação com o Estado e o capital. E isso ao preço de se subordinar a uma discussão

rigorosamente dentro da ordem econômica e política vigente.” (ANTUNES, p.55, 1991).

Por outro lado, a CUT pela Base fazia o contraponto, aglutinando os setores da esquerda, como o

MOMSP e a Democracia Socialista, e reafirmando um posicionamento classista no interior da entidade, somado

a ela, a Convergência Socialista fazia coro na defesa do caráter socialista que a Central deveria assumir. No

terceiro congresso essas correntes tiveram, respectivamente, 23,4% e 16,3% dos votos, totalizando praticamente

40% de votos nos setores da esquerda. (ANTUNES, 1991)

Os conflitos entre as duas correntes são expressos também nas disputas sindicais, e não apenas da

direção da Central, como no caso da eleição do sindicato dos metalúrgicos de São Paulo quando: “Em 87, mais

um revés, os metalúrgicos do ABC apoiam outra chapa e não a da Oposição, dividindo os sindicalistas mais

combativos e favorecendo a vitória dos pelegos.” (TIBLE, p.299, 2008), nesse momento as disputas no interior

da CUT já se acirravam, e a Oposição era a principal força que poderia se contrapor a nascente Articulação

Sindical, cujo protagonista estava na direção do Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo.

A base destes dois sindicatos também oferecem alguns motivos possíveis desta diferença política, a

materialidade a que estavam submetidos estes dois sindicatos. Na capital eram muitas fábricas pequenas e

médias espalhadas por uma grande cidade, favorecendo a disputa por aqueles que já estão na máquina sindical,

e uma atuação mais assistencialista e menos combativa, uma vez que a condição de trabalho são piores, e as

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mobilizações são mais dispersas, com isso o MOSMSP se concentrava nas maiores fábricas tendo menos acesso

ao conjunto da categoria. Já no ABC existe uma concentração de grandes indústrias, chegando ao ponto de dez

fábricas perfazerem metade da base sindicalizada potencializando as ações sindicais. (TIBLE, 2008)

As diferenças políticas apresentadas por estas correntes também ficam expressas no depoimento de uma

militante que conheceu os dois movimentos, e apesar de minimizar as diferenças existentes entre eles, é

possível perceber o que estava em discussão entre estas duas correntes naquele período:

“Enquanto a Oposição via no sindicalismo de São Bernardo uma luta puramente economicista, que acabava reforçando a estrutura sindical vigente, os militantes e dirigentes de São Bernardo viam no trabalho da Oposição de São Paulo um perigo do ‘sindicalismo paralelo’. Claro que nem um nem outro estavam certos nessa visão (p. 28).” (TIBLE, p.304, 2008)

E apesar da conclusão desta militante, de que nem um nem outro estavam corretos, podemos perceber,

no rumo do movimento, que este acirramento inicial, se reafirmou, polarizando ainda mais as políticas adotadas

pelos dois grupos, reafirmando assim que o embrião de diferença existente entre esses dois blocos sinalizavam

uma divergência profunda.

E Surge a CUT

A CUT surge, então, da confluência destes dois movimentos, o chamado novo sindicalismo e das

oposições sindicais, protagonizado, em grande medida, pelo Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo e a

Oposição Sindical Metalúrgica de São Paulo, como veremos a seguir, além de ter grande influência de vertentes

políticas como: sindicalismo independente (que buscavam superar as velhas formas de sindicalismo de Estado),

esquerda da igreja católica, dissidentes da esquerda tradicional (principalmente os partidos comunistas) e

grupos trotskistas (ANTUNES, 1991)

Na abertura de um novo ciclo político no país que protagonizou a formação desta central sindical, forjou

também o Partido dos Trabalhadores como organização partidária em 1981, que, segundo Antunes (1991),

estava intimamente vinculado a CUT. O MST em 1984, se constitui como um importante movimento dos

trabalhadores rurais e a UNE é reorganizada (RIDENTI, 2006).

No primeiro CONCLAT, Congresso da Classe Trabalhadora, em que se iniciava a construção da CUT

através do “pré-CUT” que foi feito em agosto de 1981 em Praia Grande (SP), segundo Antunes, “o mais

expressivo encontro sindical que, até então, se tivera notícia” (ANTUNES, p.44, 1991) e os números do

congresso expressam o tamanho e a importância do acontecimento: 5.036 delegados e 1.091 entidades sindicais

(ANTUNES, 1991). Mas a Central só foi fundada formalmente em 1983, já que neste primeiro encontro as

correntes sindicais ligadas ao PCB (Partido Comunista Brasileiro) e ao PCdoB (Partido Comunista do Brasil)

entravaram o processo de fundação da central por divergências políticas (GIANNOTTI, 1991).

No período de nascimento da Central, de 1984 até 1986, TUMOLO afirma que: “a formação sindical

cutista buscou se construir sobre uma base de contorno classista, com perspectiva anti-capitalista e socialista,

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que se expressou naquelas primeiras atividades que visavam estabelecer a articulação entre a formação sindical

com a formação de quadros políticos” (p. 218, 2002). Além disso, as lutas construídas neste período não

deixam dúvida a base de radicalidade em que estavam inseridos, construção de greves gerais, defesa de

bandeiras próprias dos trabalhadores em contraposição aos da burguesia, se diferenciando assim dos

sindicalistas advindos da ditadura, os chamados “pelegos” e também dos comunistas15 o que demonstrava

inclusive importantes contradições com o sindicato de Estado, porém isso não fazia com que rompessem com a

ideologia da atuação nos marcos legais (BOITO, 1991b).

Apesar da intencionalidade dos protagonistas deste movimento, os meios no qual se inseriram para

construir as lutas acabam por refreá-las, na medida que afasta os militantes do local de trabalho não permite a

construção junto aos trabalhadores, como era preconizada no início. Boito (1991b) coloca ainda que a

institucionalização das lutas foi um fator fundamental para que não houvesse uma revolução no Brasil no final

da década de 1970 e início dos anos 80:

“Na conjuntura de crise do regime militar, a situação é mais complexa. Ressurgem as greves de massa e as correntes sindicais antipelegas aglutinam-se na CUT. Dentro dessa nova conjuntura, o sindicalismo de Estado desempenhou três funções: a) disciplinou e conteve um movimento grevista que surgira todo ele fora do sindicalismo de Estado e que nem esse aparelho, nem a ditadura tinham condições de suprimir; b) bloqueou a unificação, na base e no topo, de um movimento sindical de massa contra a ditadura no momento mais crítico da crise política; c) reduziu a CUT a um grupo de pressão antigoverno, impedindo a sua conversão numa central sindical de massa em oposição ao regime político e ao bloco no poder. O desempenho dessas três funções pelo sindicalismo de Estado foi um fator importante para viabilizar a política de auto-reforma do regime militar.” (BOITO, p.265, 1991b)

Além disso, o mesmo autor, coloca de que forma setores da burguesia, portanto contrários a política da

CUT na sua fundação, ajudaram nesta construção uma vez que as movimentações do MDB e de parte da

grande imprensa contra a ditadura, facilitou a luta de massas no ABC paulista que confluíram para a abertura

política.

Portanto podemos concluir que a fundação da Central Única dos Trabalhadores sintetizava um

movimento combativo, surgido das bases, com críticas ao sindicalismo atrelado ao Estado e que buscavam

construir, no seio deste próprio sindicato uma nova forma de atuar, e sindicalistas combativos que buscavam

superar a atuação dos pelegos e suas direções conservadoras. Ao mesmo tempo em que grande parte dos

militantes cutistas já incorporavam, na prática do dia a dia, a estrutura do sindicato de Estado, causando certa

tensão desde e o início da formação da CUT.

Além disso é importante ressaltar que se o primeiro CONCLAT contou com tamanha quantidade de

militantes, é um sinal de que existia muita luta e organização dos trabalhadores durante o período da ditadura

militar, contrariando a leitura comum, de que a esquerda atuou apenas na luta armada e estudantil, percebemos

que existiam importantes resistências nos diversos locais de trabalho, por mais que não houvesse grande

divulgação de tais fatos. Além disso, cabe ressaltar que, segundo GIANNOTTI (1991), os 3 primeiros

15 Os comunistas, membros do PCB e do PCdoB, entraram tardiamente na CUT e tinham posições políticas mais vinculadas com os pelegos, do que com os militantes combativos, haja visto que compunham, por exemplo, a diretoria do sindicato dos metalúrgicos de São Paulo, com o famoso “Joaquinzão”.30

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congressos da CUT tiveram a maioria dos participantes de base, isso é, menos do que 50% dos participantes

eram sindicalistas, apesar de todos serem militantes da classe trabalhadora. O que inclusive coadunava com o

nome da Central, Central Única dos Trabalhadores, e não dos sindicalistas, fato esse que se altera

profundamente no quarto congresso da central onde o número de delegados cai bruscamente, de um número

superior a 6.000 para 1.555 (GIANNOTTI, 1991), por causa de uma política adotada pela central, e não pelo

fato de não conseguirem levar tantos trabalhadores quanto antes.

A CUT em movimento: Avanços e retrocessos na política da Central.

“Por mais que olhes o rioque corre pesadamente diante de ti

nunca verás as mesmas águas.Nunca regressa a água que passa.

Nem uma só gota volta à sua nascente.”Bertolt Brecht

Segundo a tradição marxista, tudo que nasce traz em si o germe de sua própria contradição, a dualidade

de contrários que, por um lado, a coloca em movimento, por outro, ao se movimentar se transforma tanto no

sentido de potencializar as ações anteriores, quanto para entravar o processo que antes ajudou a estimular

(GERMER, 2003; LEFEBVRE, 1979). Com a CUT não foi diferente, no bojo da negação da ditadura, da

repressão aos trabalhadores, da radicalidade das greves, vinha também a reafirmação da necessidade do

diálogo, a falta de clareza acerca do marxismo, a democracia como bandeira central, a atuação dentro dos

sindicatos de Estado, as representações e institucionalização do movimento operário. Este pode ser um conjunto

de fatores internos a CUT que construíram os rumos que veio a tomar.

Não podemos esquecer que vários outros fatores também estavam presentes, inclusive muitos externos a

própria central, como a queda do muro de Berlim e a derrota do Leste Europeu comunista, a reestruturação

produtiva do capital, a redução do crescimento econômico e o acirramento das tensões contra os capitalistas

onde estes passaram a ofensiva contra os trabalhadores e implementando o neoliberalismo no país, como

reflexo da política que estava sendo adotada em grande parte do mundo.

Influencia do sindicalismo de Estado na política da CUT

Pudemos observar que no surgimento da CUT estava presente tanto as formulações políticas com duras

críticas a estrutura sindical atrelada ao Estado, quanto a setores que utilizavam destas entidades para construir o

chamado Sindicalismo Autêntico com críticas mais leves ao sindicato oficial. E é visível alguns progressos

políticos na tentativa de construção da autonomia da Central frente ao Estado como, por exemplo, oposições

sindicais com direito a voz e voto – que teve restrições a partir do 3º congresso – e a participação de cerca de

60% de delegados de base nos congressos – que se reduziu drasticamente a partir do 4º congresso

(GIANNOTTI, 1991) mas por outro lado, não foi aprovada a filiação de comissões de fábrica ou a filiação

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direta de trabalhadores na Central, proposta encampada pela CUT pela Base em 1983 como um mecanismo de

ruptura com o sindicalismo de Estado, saindo vitoriosa a proposta de São Bernardo que proibia expressamente a

filiação individual e por consequência, as comissões. (BOITO, 1991b)

Não é a toa que a CUT, em seu 3° congresso, rejeita a proposta de delegações que não sejam de

sindicatos oficiais, isso é, oposições sindicais, já que seu principal oponente interno passou a ser a MOSM-SP,

que nunca conseguiu alcançar o status de sindicato oficial. Com esta proposta, a Articulação Sindical (ArtSind)

consegue se manter como corrente hegemônica dentro da CUT e elimina a possibilidade de ser superada por

algum outro agrupamento político. (GIANNOTTI, 1991)

Agravando ainda mais a situação de atrelamento da nascente central com o Estado capitalista, o

financiamento desta se baseou nos impostos sindicais e dos repasses dos sindicatos de base, que por sua vez,

eram financiados majoritariamente por estes impostos compulsórios seja direta ou indiretamente, além de que

sua forma de se estruturar não rompe com os limites impostos pela unicidade sindical, o que faz com que não

avance para organizar a classe trabalhadora como um todo. (BOITO, 1991b)

Esta influência do sindicato de Estado na política adotada por uma diretoria independe da vontade dos

dirigentes – apesar de importantes diferenças entre as diretorias combativas e as pelegas – pois esta influência

possui elementos gerais comuns como a dificuldade em conseguir manter a proximidade com a base quando se

está na diretoria, ou precisar dispender muito tempo com as burocracias internas, próprias da máquina sindical,

e com isso usar menos tempo para atuar junto aos trabalhadores. Como podemos perceber nessa passagem com

uma entrevista com Leonildo Ferreira da Silva, secretário do sindicato dos metalúrgicos de Campinas, realizada

por Elaine Moreira, em 23 de fevereiro de 1988: “Um sindicalista, depois de responsabilizar os operários e sua passividade pela ausência de organização nas fábricas, declarou: 'Eles não estão entendendo o que nós queremos. Por mais que a gente faça boletins explicando o que é o sindicato e tudo o mais, sempre sobra aquele que quer o médico, quer o dentista, quer o assistencialismo clássico que aí está.' Os sindicalistas dão o exemplo, mas depois querem apagar com boletins, aliás financiados pelos impostos sindicais, os efeitos ideológicos da prática do sindicalismo de Estado” (BOITO, p. 167, 1991b)

A atuação nos aparelhos sindicais afastam a militância do interior das fábricas16, e a consequência deste

afastamento é perder o que tinham de mais precioso antes de participar das entidades, a sustentação política

feita pelos próprios trabalhadores. BOITO cita alguns exemplos em sua tese de doutorado onde mesmo as

correntes ditas a esquerda da majoritária, não conseguiram manter as comissões dentro das empresas, e não por

posição política ou por algum entrave jurídico importante, mas pelo afastamento dos militantes do dia a dia do

trabalho17 e da ideologia sindical que tende a levar as soluções dos conflitos para dentro do Estado. (BOITO,

1991b)

16 “Aos poucos, o sindicato entendido como 'trabalhador organizado no local de trabalho' foi substituído pelo sindicato 'maquina sindical' ou pelo 'grupo de diretores sindicais combativos' que, no máximo chegavam a desenvolver um trabalho de agitação e sindicalização nas portas das empresas. A curiosa coincidência foi que, à diminuição do número de militantes correspondeu um aumento de potência do carro de som e da tiragem de boletins e informativos de todos os tipo.” (GENNARI, p. 52, 1994)17“ A relação frouxa entre os sindicatos e os trabalhadores repercute nos objetivos e nos métodos da ação sindical. Os sindicalistas não conhecem suficientemente as necessidade sentidas pelos trabalhadores – ignoram o que se passa nos locais de trabalho – e a prática da greve de adesão passiva acaba se impondo espontaneamente.” (BOITO, p.248, 1991b)32

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Boito, ao analisar uma entrevista feita por Elaine Moreira com Durval Aparecido Carvalho, presidente

do sindicato dos metalúrgicos de Campinas, vinculado a CUT pela Base, agrupamento da esquerda da corrente

majoritária da CUT conclui que:

“Três aspectos devem ser destacados nesses depoimentos. A mudança de atitude na luta pela organização após o ingresso no sindicato oficial, a manifestação de estranheza diante do (aparente) paradoxo da atitude militante e seus resultados terem regredido exatamente quando se dispõe de mais recursos materiais para o trabalho sindical e a clareza de que o aparelho sindical infunde uma ilusão de força que desvia os sindicalistas da luta pela organização dos trabalhadores.” (BOITO, p.244, 1991b)

Com isso o número de militantes se reduz depois de ingressarem no sindicalismo de Estado “estagnação

ou redução do coletivo de ativistas, e perda de antigos núcleos organizados no interior das fábricas”. (BOITO,

p. 244, 1991b), portanto se compararmos aos resultados obtidos, com a intenção dos militantes do OSM-SP,

percebe-se que não alcançaram seus principais objetivos uma vez que buscavam: “Um dos objetivos centrais

era através de discussões e lutas desenvolver a consciência de classe nos operários” (OSM-SP, HOSM, p. 1,

s.d.).

Quando, no terceiro congresso, as oposições sindicais passam a ter um peso menor nos congressos da

CUT, o que se desarticula, na verdade, são os agrupamentos da esquerda, que tinham menor peso dentro dos

sindicatos de Estado, favorecendo assim a corrente Articulação Sindical, que já tendia a uma política social-

democrata: “A esquerda da CUT – especialmente a CUT pela Base – na defesa de valores socialistas, tem

obstado e dificultado uma definição maior de alguns setores, no sentido de social-democratizar a CUT”

(ANTUNES, p.56 e 57, 1991)

Tendo em vista toda a análise feita acerca do sindicalismo de Estado, a conclusão que chega Boito, já

em 1991, é que se a central continuasse e aumentasse sua relação com o sindicalismo de Estado, isto é,

participar deste aceitando as regras do jogo, as consequências seriam incontornáveis, ficando a mercê da

estrutura oficial, e sendo impelidos a “dançar conforme a música”, reivindicando ações do Estado nas eleições

sindicais e compor diretorias junto com seus antigos inimigos. Como solução para esta problemática, o autor

sugere que é necessário criar sindicatos livres “paralelos”, de fato autônomos ao Estado burguês (1991b).

Vale ressaltar também que esta análise foi feita quando a CUT ainda estava presente na maioria das

lutas pelo país, e se apresentava como o polo de aglutinação da esquerda nacional, e os germes de sua própria

contradição já estavam presentes ao ponto desta ousada avaliação, que com o passar dos anos se mostrou muito

coerente, portanto podemos afirmar que “No essencial, a CUT aderiu ao sindicato de Estado.” (BOITO, p.148,

1991b).

Outras determinações da nova política da CUT

Apesar da possibilidade de se encontrar elementos que perpassem todo o processo de adequação da

CUT à ordem capitalista, não podemos negar que é uma síntese de múltiplas determinações, portanto diversos

fatores contribuíram de forma determinante, porém sem deixar de ser determinado pelo movimento geral da

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CUT, para que ela se transformasse no que hoje é. O desenvolvimento histórico, o novo padrão de acumulação

flexível, a reestruturação produtiva, o distanciamento dos líderes sindicais da leitura da sociedade enquanto

dividida em classes e o aumento dos cargos públicos assumidos pelos dirigentes, fez com que a antiga

combatividade se transformasse no seu contrário e passasse a acomodação a ordem vigente (TUMOLO, 2002).

Um dos fatores centrais que TUMOLO (2002) ressalta em seu livro é a nova forma de organização do

capital, que se convencionou chamar de reestruturação produtiva, onde aumentando o grau de exploração dos

trabalhadores o capital precisa se contrapor as movimentações sindicais, principalmente aquelas combativas,

mas também os sociais-democrata. E para o autor, os capitalistas estão conseguindo obter exito em sua política

no Brasil uma vez que: “vem resultando num processo de adequação da CUT à ordem capitalista, mesmo

considerando que esta continua a desenvolver ações sindicais pontuais de oposição a vários aspectos da

reestruturação produtiva (…) basicamente àquilo que se convencionou chamar de neoliberalismo.” (TUMOLO,

p. 130, 2002 , grifos do autor), e quando passam a assumir a luta contra o neoliberalismo, deixam de lado a luta

contra o capitalismo enquanto regime social, como veremos adiante.

Esta causa é central para o autor, mas irá também listar vários destes fatores vinculados a luta de classes

no plano internacional e nacional como sendo determinantes para que a CUT chegasse onde chegou, como a

derrocada da URSS, a derrota da revolução Sandinista e as derrotas eleitorais de Lula para a presidência de

república, principalmente de 1989. (TUMOLO, 2002)

Além desses fatores, a própria dinâmica da Central aprofundou estas questões, já que internamente

assumiram um posicionamento social-democrata, se vinculando a uma central sindical mundial social-

democrata, a CIOSL, se afastando paulatinamente da base e assumindo os espaços de negociação, ao invés do

embate, criando uma dinâmica própria que aprofundava cada ver mais a linha política reformista em detrimento

dos setores mais a esquerda. Com isso a democracia interna da central é prejudicada, acentuando a

burocratização, a não superação da estrutura do sindicalismo de Estado, e a câmaras setoriais que passa a ser

um importante eixo da política da CUT. (TUMOLO, 2002)

Tumolo (2002) inclusive consegue fazer a leitura deste processo a partir da formação política praticada

pela central, onde no início, entre 84 e 87, debatia tanto a prática do sindicalismo, oferecendo cursos quase

técnicos sobre a questão, quanto cursos de formação política de economia básica, referenciado no marxismo e

fazendo claramente a divisão da sociedade dividida em classes. No período seguinte, de 87 até 91, o curso de

economia política se manteve no quadro de cursos oferecidos, porém não foi feito, em 4 anos, nenhuma vez! E

no período posterior, quando a corrente Articulação Sindical passa a ser majoritária, este curso é excluído e

incorporam outros que ensinam ao trabalhador individualmente, alguma profissão para que não fique

desempregado.

E quando comparada ao movimento político que experimentou a CUT, percebemos que, conforme

aumenta seu amoldamento a ordem capitalista, os cursos que ressaltam a divisão de classes da sociedade, e a

política autônoma dos trabalhadores ficam para segundo plano, dando lugar a cursos técnicos que almejam dar

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soluções aos problemas enfrentados pela classe trabalhadora de forma individual, e não enquanto classe tendo

em vista a ruptura da sociedade capitalista. Não resta dúvidas que esta determinação determinada influencia nos

rumos da CUT, como podemos ver em TUMOLO: “a concepção política da formação sindical do período

1987-1993, principalmente dos últimos anos, está para a estratégia política da CUT, da mesma época, assim

como a concepção política da formação sindical do período que vai de 1984 a 1986 está para a estratégia

política da CUT daquela fase inicial.”(p.181, 2002, grifos originais). E isso pode ser facilmente percebido na

tese do congresso dos Metalúrgicos do ABC18 onde o problema do desemprego deixa de ser um fator inerente a

sociedade capitalista, para ser algo que buscará ser resolvido nesta sociedade através de cursos de capacitação

profissional: “Estudar a possibilidade de criar cursos profissionalizantes na Regional de SBC19 semelhantes aos

da Regional de Diadema.” (Tese SMABC, p.32, 2009)

Dando consequência a esta análise, o autor divide a CUT em 3 fases distintas, onde fica claro um início

de combatividade e resistência, de 1978-1983 até 1988, a segunda, de 1988 até 1991, com um momento de

transição, e desta data em diante, de coalizão de classes, reformista, onde propõe políticas para pequenas

melhoras no capitalismo isto é, sem defender a política autônoma da classe trabalhadora frente a burguesia,

passando a não mais organizar os trabalhadores enquanto classe, mas sim enquanto cidadãos. (TUMOLO,

2006) Mas esta avaliação não é homogênea entre os pesquisadores da questão, assim como não é única no seio

do movimento operário, para Iram Jácome Rodrigues, quando a CUT passa a entender que o trabalhador não

apenas como produtor de mercadorias, mas também como cidadão, passa também a ampliar os ganhos na

sociedade, uma vez que alarga as conquistas democráticas, isso é, o trabalhador passa a ter voz na sociedade em

que é o principal protagonista, (1991) mas quando atingem este objetivo a curto prazo, a consequência geral é

perder os de longo prazo, isso é, não mais buscar a ruptura do capitalismo.

Por sua vez, Ferraz (2006) ressalta que no surgimento da Central, todas as vertentes políticas, que

depois se consolidaram em corrente, possuíam um inimigo em comum, a ditadura militar, mas que quando esta

deixa de ser o principal embate, transparece a falta de coesão interna frente aos objetivos. Isso é, se mantinham

coesas quando existia um inimigo em comum, porém quando precisaram formular quais caminhos deveriam

seguir, as diferenças internas se sobrepuseram.

Por todas essas características, a CUT escreve em sua história uma alteração profunda na linha política

adotada. Surgindo com uma ampla gama de setores políticos que encontravam na entidade um espaço para

unificar e potencializar as ações dos trabalhadores, não perdendo de vista as diferenças, pelo contrário,

reafirmando-as na exata medida que conseguiam manter a unidade de ação, para um segundo momento, no

qual, diversos fatores supra mencionados, passam a ter uma atitude diferente frente a sociedade bem como nas

relações internas da central, os trabalhadores passam a ter menos espaço do que os sindicalistas, a corrente

18“A formação profissional dos(as) metalúrgicos(as). Deverá envolver relações de cooperação com entidades que atuam na área (Senai, Fundação Florestan Fernandes, Escolas Técnicas), ampliando as alternativas de qualificação profissional para a categoria. Deverá resgatar, neste processo, as experiências de qualificação profissional desenvolvidas pelo Programa Integrar.” (Tese SMABC, p. 31 e 32, 2009)19 São Bernardo do Campo35

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majoritária mantinha as minoritárias controladas para que estas não alterassem a linha política da central. O

aprofundamento desta atitude implica em menos combatividade por parte da central, e o aumento da disputas

entre os setores da CUT e com mais agressividade entre as chapas cutistas para ganhar sindicatos

(GIANNOTTI, 1991) resulta no aumento do descontentamento dos setores mais radicalizados, até o momento

em que estes deixam a central.

Para Galvão (2004), a CUT na década de 1990 seguiu uma política que variou desde o Sindicalismo

propositivo que foi de 1990 à 1995, acentuando sua política de conciliação com o sindicalismo cidadão entre

1995 e 1999 e que de 1999 até 2001 passa por um dilema entre resistir ou ceder aos ditames do capital. Neste

último período a autora destaca algumas movimentações importantes por parte da CUT no sentido de se

apresentar de forma mais combativa do que os períodos passados, enfrentando o apagão (crise no sistema de

eletricidade do governo FHC) e a corrupção na “marcha contra o apagão e a corrupção”, propondo a suspensão

e revisão das privatizações do setor elétrico, e em outras áreas discutia a proibição de horas extra e do trabalho

no comércio no domingo. Como forma de pressionar o governo Fernando Henrique Cardoso a Central propôs

uma paralisação nacional de um dia em 21 de março de 2002, mas que segundo a esquerda da CUT, a tendencia

majoritária (Artsind) não construiu efetivamente esta mobilização em suas bases. Com isso a autora abre a

discussão da possibilidade da CUT voltar a ser uma central combativa, apesar de não afirmar isso

categoricamente – uma vez que são momentos pontuais dentro de uma trajetória em direção ao sindicalismo

cidadão muito forte. A despeito desta possibilidade, Galvão ressalta também que no ano de 2002 teve eleição

presidencial, e as mobilizações feitas pela CUT ajudaram a desgastar o governo de FHC, ajudando, portanto,

Lula para a presidência (2004). Desta forma, mais uma vez, a CUT submete as movimentação concretas a sua

linha política mais geral, de adentrar nos espaços institucionais, e no decorrer do governo Lula podemos

perceber, pela acentuação das críticas feitas por vários sindicatos, inclusive com o rompimento de vários com a

Central, que esta não voltou a combatividade de outrora.

Tendo em vista estes fatores não podemos entender que esta variação na política da CUT seja

conjuntural, em decorrência da eleição do Lula para presidente, por exemplo. Como podemos observar, já em

1975, Lula proclamava contra o marxismo, o que é reafirmado na central em idos de 1987, quando os cursos de

formação marxistas são “engavetados”, portanto 12 anos após este pronunciamento persiste a leitura de que não

é necessário propagar esta teoria para os trabalhadores, contrariamente o que defendiam correntes minoritárias,

e que, segundo TUMOLO (2006), continuaram a fazer estes cursos independente da Central. Desde o início

deste processo, a relação com o sindicato de Estado é polêmico, enquanto o setor minoritário cobra para que se

supere a estrutura do sindicalismo atrelado, o majoritário demonstra grande apego a ela, e no primeiro

congresso da Central, barram a filiação individual e das comissões de fábrica, proposto pela CUT pela Base.

Apesar de permitir a filiação de oposições sindicais, o que demonstra um avanço político, mas que também não

dura muito, no terceiro congresso esta política é alterada e antes da década de 1990 uma das mais importantes

contribuições da CUT, era perdida (BOITO, 199b). Além disso vimos que em 1991, ANTUNES já explicitava

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claramente que a corrente Articulação Sindical priorizavam as negociações ao confronto e já possuíam

contornos sociais-democratas que eram impedidos de ganhar corpo na central pelas correntes a esquerda. Por

fim, podemos ressaltar que no quarto congresso, o número de delegados, e o fato de se basearem quase a

totalidade em sindicalistas, foi a cartada final para que estas mudanças ocorridas no interior da Central não

pudessem ser revertidas, uma vez que seria necessário ganhar muitos sindicatos, no geral, sem apoio da CUT,

como aconteceu nos Metalúrgicos de São Paulo, para que a oposição tivesse uma representatividade no mesmo,

fato que consolida de vez a ArtSind na direção da CUT (GIANNOTTI, 1991). Deste momento para frente, o

que fica evidente são os sintomas desta política que vão paulatinamente se acentuando, mas suas causas não

foram conformadas quando sua expressão fica mais clara, pelo contrário, quando a aparência expõe

deformações políticas, as razões destas podem ser identificadas em momentos muito anteriores.

CUT perdendo setores importantes

Em 2003 Lula toma posse como presidente do Brasil, e para os movimentos sociais, estudantis e

sindicais ficou posta uma grande questão, quais políticas o PT iria assumir no governo, e qual a postura dos

movimentos frente a este novo cenário, até que ponto conseguiriam se manter autônomos frente ao governo

dirigido pelo partido que a maioria deles faziam ou fazem parte.

Oliveira (2004) afirma que a vitória eleitoral de Lula contribuiu para a superação de uma tradição

brasileira de preconceito contra a classe operária, e que a ascensão de um militante do Partido dos

Trabalhadores, protagonista de diversas greves contribuiu muito para a consolidação da democracia no país. Ao

mesmo tempo o autor afirma não perder de vista o amplo arco de alianças políticas feitas com partidos

burgueses, tendo, inclusive, um grande empresário como vice, portanto, neste cenário tumultuado é aonde iriam

se desenvolver as políticas do governo. Sobre estas, afirma que variaram, no primeiro governo, desde a

nomeação do banqueiro Henrique Meirelles para o Banco Central, representando o grande capital, “da adoção

de uma política fiscal e monetária ortodoxa, da aceitação dos termos do acordo com o FMI (geração de

superávit primário, metas de inflação, autonomia do Banco Central etc)” (OLIVEIRA, p.16, 2004), por outro

lado, assume como uma vantagem o fato do governo ter implementado o Fome Zero e outros programas de

caráter de contenção imediata de situações de extrema miséria, e conclui indicando que o governo tende a uma

redução da dependência do capital financeiro mundial.

Em contrapartida BOITO afirma que “O novo governo [Lula], de modo surpreendente para muitos

observadores, não só está mantendo os pilares do modelo capitalista neoliberal dependente, como está

aprofundando alguns de aspectos desse modelo.” (2003), reafirmando esta tese, ao analisar a “carta aos

brasileiros” afirmando que assumiria todos os contratos existentes, IASI (2006) reafirma que o governo assume

o lado dos empresários em detrimento dos trabalhadores. Depois destes fatos, ainda implementou a reforma da

previdência, aumentando a idade da aposentadoria, fato que já dividiu o movimento sindical. A CUT enquanto

entidade, não se mobiliza contra esse ataque do governo, enquanto os setores da esquerda da CUT fazem

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manifestações em Brasília, capital federal, greves e lutas contra o projeto. Na publicação de uma revista dos

metalúrgicos de Campinas de 2009, eles descrevem o governo desta forma: “Lula tomou posse e deu

continuidade à política econômica de FHC, que atacou nossa aposentadoria com o fator previdenciário, instituiu

a alta programada20 e não fez a reforma agrária” (p.63, 2009) E sobre a postura da CUT revelam:

“A CUT, que nasceu das intensas lutas da classe trabalhadora, foi ao pacto com o governo Collor, criou a Câmara Setorial na década de 90 para atender as montadoras e no governo FHC aceitou a Reforma da Previdência que substituía o tempo de serviço por tempo de contribuição para a aposentadoria. No governo Lula, apoiou ou se calou diante de todas as medidas que foram tomadas contra a classe trabalhadora.” (Revista MCR, p.93, 2009)

Não é coincidência o fato de um ano depois, em março de 2004, um setor de dentro da CUT construir o

embrião da ruptura com a central para a criação da Coordenação Nacional de Lutas (CONLUTAS), que foi

oficialmente formada apenas em maio de 2006, central dirigida principalmente por militantes que participam do

Partido Socialista dos Trabalhadores Unificados (PSTU). Em junho 2006 nasce a Intersindical, que não se

pretende uma central sindical institucionalizada, mas que cumpre papel de organização de setores da classe

trabalhadora brasileira, e congregava militantes do Partido Socialismo e Liberdade (P-SOL), Partido Comunista

Brasileiro (PCB), e a corrente sindical, Alternativa Sindical e Socialista (ASS), que neste mesmo ano a maioria

de seus militantes rompe com a filiação petista. Além disso, em dezembro de 2007, a corrente ligada ao Partido

Comunista do Brasil (PCdoB) também rompe com a CUT formando a Central dos Trabalhadores e

Trabalhadoras do Brasil (CTB).21 (BOITO, GALVÃO, MARCELINO, 2009)

Com isso os sindicatos de base filiados a estas novas centrais, além de alguns que apenas romperam,

mas não entraram oficialmente em lugar nenhum fizeram com que a CUT perdesse força nacionalmente, dentre

esses a Confederação Nacional dos Trabalhadores da Agricultura CONTAG, que organiza os trabalhadores do

campo foi um dos maiores sindicatos a romper, além do Sindicato dos Metalúrgicos de Campinas e Região,

Metalúrgicos de São José dos Campos, ANDES-SN (Associação dos Docentes do Ensino Superior – Sindicato

Nacional), Sindicato dos Químicos Unificados (Osasco, Vinhedo e Campinas), dentre vários outros,

fragilizando a Central, apesar de não chegar perto de fazer com que deixasse de ser a maior central sindical do

país. (BOITO, GALVÃO, MARCELINO, 2009)

20 Alta programada é quando cada tipo de doença passou a ter um tempo padrão de afastamento. Passado este período, sem uma reconsulta com o médico, o trabalhador precisava voltar ao trabalho independente da recuperação do enfermo.21“A CUT sofreu um processo de cisão interna e perdeu alguns sindicatos importantes, como o dos metalúrgicos de São José dos Campos e Região e o Andes (Sindicato Nacional de Docentes do Ensino Superior). (…) A Frente de Esquerda Socialista (FES), por sua vez, cujos principais dirigentes são ligados ao Partido Socialismo e Liberdade (PSOL), criou a corrente denominada Intersindical, por entender que a CUT deixou de ser um instrumento de organização e unificação do movimento sindical para ser um instrumento de colaboração e conciliação de classes. Porém, nem todos os dirigentes e sindicatos que integram essa nova corrente deixaram a CUT (Intersindical, 2006).” (BOITO, GALVÃO, MARCELINO, p.48, 2009)38

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CAPÍTULO 3 – SINDICATO DOS METALÚRGICOS DO ABC

“A esquerda precisa abandonar a ideia maniqueista da luta de classes e de que a luta principal é entre o capital e o trabalho. Para mim a luta atual é pela cidadania.”

Gilmar Carneiro, presidente do sindicato dos bancários de São Paulo, 1991, no IV congresso da CUT

“já é hora de substituir o velho e negativo conceito de luta de classes pelo conceito novo, construtivo e orgânico de colaboração de classes.”

Lindolfo Collor em 1931, ministro do trabalho de Getúlio Vargas.

A concepção política expressa pelo sindicato dos metalúrgicos do ABC paulista não pode ser analisada

como sendo exclusivamente deles, ou construídas por estes sindicalistas sem influencia de outros militantes.

Pelo contrário, desde o início da formação da CUT fica evidente diferenças políticas em seu interior, e a

corrente denominada Articulação Sindical é uma das principais protagonistas da linha política imprimida pelo

sindicato aqui referido22.

A colocação de Gilmar Carneiro, de que é necessário superar a leitura da luta de classes para uma

concepção de que a luta é pela cidadania, expressa uma das posições internas da corrente majoritária da CUT, e

mesmo que esta política não tenha sido colocada totalmente em prática em 1991, quando foi proferida, hoje

podemos perceber que a ArtSind como um todo adota esta política, e, portanto, a Central Única dos

Trabalhadores enquanto central.

O reflexo disso na política dos sindicatos de base é priorizarem a negociação ao invés do confronto,

como observamos nesta entrevista concedida pelo presidente do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, Sérgio

Nobre, para a TV do próprio sindicato, onde não deixa dúvidas sobre o posicionamento da entidade acerca

desta questão:

“Espero que façam isso [as empresas negociarem com o sindicato] hoje, hoje é sábado amanhã é domingo, o sindicato está a disposição. Pra nós, nos queremos resolver o problema. A greve é um instrumento legítimo, mas nós não queremos usá-la, nós queremos paz nós queremos fazer acordo, a mesa de negociação é o melhor lugar de resolver esse tipo de controvérsias. Então, agora, se nós formos forçados, a partir de quarta-feira podemos tomar uma decisão de ter greve geral. Agora, não queremos, nós queremos que as montadoras reconheçam o bom momento que estão vivendo. Se nós estamos reivindicando 9% é por que nós estamos conscientes que eles podem pagar. Tanto é que setores de industria nacional conseguiram fazer acordo de 9%. Se a indústria nacional pode, por que não pode as grandes multinacionais? Estamos convencidos disso. Se estão vivendo esse momento maravilhoso de bater recorde de produção e vendas se deve ao envolvimento e ao trabalho dos companheiros que estão nas fábricas. Então tem que reconhecer isso. E é o que eu espero das montadoras, que reconheça isso e façam o acordo com a gente, sem necessidade de paralisação.”23 NOBRE, Sérgio (presidente do SMABC)

Para o sindicato não se trata mais de encampar as lutas como uma pedagogia para os trabalhadores, onde

estes aprendam que sua posição de classe na sociedade é diferente do patrão, e que, a partir destas lutas

22“As resoluções dos CONCUT´s onde as questões de cidadania e proposição começaram a surgir e a se consolidar, refletiam as posições da tendência majoritária da central – a Articulação Sindical. Significava a instauração de um novo contrato social entre capital e trabalho assalariado, com intermediação do Estado, de cariz socialdemocrata. Tanto o aspecto político organizativo, quanto o aspecto político ideológico estariam circunscritos, conforme denomina Alves (2005), no âmbito da 'concertação social'”. (COIMBRA, p. 10, 2008)23 Entrevista com Sérgio Nobre, presidente do sindicato dos metalúrgicos de São Bernardo, realizada por Elson Calinovski para o sindicato dos metalúrgicos do ABC.39

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busquem a teoria marxista e façam a leitura da sociedade dividida em classes, como vimos ser o caminho do

processo de consciência expresso nos primeiros capítulos deste trabalho. Pelo contrário, buscam a negociação

fugindo do confronto e na formação política fogem do marxismo (TUMOLO, 2002).

O objetivo deste sindicato é conseguir os pequenos acordos, os reajustes salariais como resultado do

processo de negociação, e, se for necessário, paralisar e fazer greve. Admitem fazer greves por que a legislação

brasileira permite, e não por que a radicalidade operária passa por cima da estrutura burguesa para impor suas

necessidades. Nesta entrevista o sindicato, representado pelo seu presidente é muito claro, só fazem greve se

forem forçados. Ao mesmo tempo em que afirmam na tese aprovada no congresso dos metalúrgicos do ABC

em 2010 que: “A campanha salarial é um momento particularmente importante da ação sindical e da luta de

[sic] dos trabalhadores por um processo mais justo de distribuição de renda e um maior equilíbrio nas relações

capital-trabalho.” (Tese SMABC, p.51, 2009) portanto, coerente com a leitura do presidente do SMABC

expresso em sua entrevista, isso é, greves com o único fim de obter as conquistas imediatas e não para o

avançar da consciência de classe. Muito diferente da postura do sindicato dos metalúrgicos de Campinas e

Região, que assumem as greves, isto é, o processo de lutas em si, como vitórias, reafirmando também que não

fazem lutas apenas no período de campanha salarial, mas sim durante todo o ano: “Como pode ser visto pelos

jornais do Sindicato, as lutas são constantes e não ocorrem só durante as Campanhas Salariais.” (Boletim Geral

SMCR, p.2, 2010a) e essa afirmação é feita de várias formas diferentes num sem número de boletins, como por

exemplo: “As paralisações nessas quatro empresas que garantiu várias conquistas aos trabalhadores

demonstram, mais uma vez, que nossa única saída é a luta constante. Os patrões só negociam com máquinas

paradas.” (Boletim Geral SMCR, 2010b, p.4) . Precisamos ter em mente que estas colocações foram feitas para

a base do sindicato, e quando afirmam que as negociações só acontecem com greve, são aquelas nos moldes

propostos pelo sindicato, já que, como veremos a seguir, os empresários se dispõe a manter uma mesa de

negociação constante nos fóruns tripartites, como meio de obter consensos com os sindicalistas, proposta essa

rejeitada pelo SMCR e assumida como vitória pelo SMABC.

A primeira diferença decorrente desta postura mais passiva ou mais agressiva que podemos perceber

entre os dois sindicatos, são os acordos firmados. Aqueles que promovem greves e lutas conseguem mais

vitórias e os acordos são mais vantajosos para os trabalhadores. No ano de 2009 essa diferença ficou clara,

enquanto em Campinas o sindicato buscou aumentar as conquistas, em São Bernardo os acordos foram “dentro

das possibilidades” patronais. Esta passagem do boletim de Campinas reflete algumas diferenças das conquistas

e da postura dos dois sindicatos.

“Desde a entrega da nossa pauta de reivindicações, em julho, foram inúmeras negociações e greves, que já envolveram 35 mil metalúrgicos da nossa região [Campinas].Enquanto em outras regiões, como no ABC, o sindicato aceitou 6,5% de reajuste, as greves na Honda, Toyota e Mercedes garantiram reajuste de 10%. Depois destes acordos, as paralisações que aconteceram em outras empresas, sejam do setor eletroeletrônico ou de autopeças, garantiram reajustes com aumento real de salários, superiores às propostas dos sindicatos patronais.” [sic] (Boletim Geral SMCR, p.2, 2009c)

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Na tese do congresso dos metalúrgicos do ABC, aparece que tiveram dificuldades em construir a

mobilização por ser um ano de crise econômica, portanto dificultando os ganhos nas mobilizações. Porém,

como pudemos observar, na região de São Bernardo conseguiram reivindicações salariais com mais ou menos

2%24 acima da inflação, enquanto outros sindicatos conseguiram entre 6,5% a 8% de aumento real:

“As negociações realizadas pelos metalúrgicos entre 2004 e 2008 aconteceram numa conjuntura de crescimento da economia e de desempenho excepcional da indústria automobilística, cenário que favoreceu a ampliação das conquistas. O quadro mudou substancialmente com a crise internacional que atinge a economia brasileira, desde o setembro do ano passado, colocando no centro da agenda sindical a luta pela manutenção do emprego e contra a precarização das relações de trabalho. Podemos esperar, neste cenário, um duro confronto com os empresários para manter e ampliar conquistas salariais e sociais.” (Tese SMABC, p. 49, 2009)

Mas o sindicato de Campinas expõe que no ABC, eles optaram por não compor uma mobilização

nacional conjunta, ao mesmo tempo que trabalhadores de várias regiões se mostraram dispostos a lutar e

pressionar os patrões por reajustes mais altos 25. Os enfrentamentos foram articulados em 4 sindicatos de São

Paulo, e houve greve em alguns outros sindicatos pelo país:

“Na luta garantimos reajustes que variaram entre 7,0 a 10%. Enquanto isso as centrais sindicais pelegas aceitaram a primeira proposta dos patrões de 6,5%. A campanha salarial de 2009 mostrou a possibilidade de uma greve nacional no ramo metalúrgico que há muito tempo não tínhamos, com as greves em Campinas, Vale do Paraíba e Paraná. Isso só não aconteceu por conta do papel cumprido pela CUT, Força Sindical e CTB que rapidamente aceitaram a proposta dos patrões e frearam a luta que os trabalhadores estavam dispostos a fazer. Tanto é isso que os trabalhadores na Volks e na Ford em Taubaté/SP pararam a produção depois dos índices garantidos em Campinas e São José dos Campos.” (Tese SMCR, p.19, 2010)

A outra diferença é que quando se aprofunda essa política de conciliação e institucionalização da

negociação, os trabalhadores também são cobrados a ceder, isso é, vender direitos como moeda de troca. Como

consequência desta política, 3 sindicatos dos metalúrgicos de São Paulo, mesmo filiados a CUT em 1997, se

desfiliam da Confederação Metalúrgica de São Paulo, assumindo a postura de negociar autonomamente com os

patrões, não se baseando mais na política adotada pela Federação:

“Por isso, em 1997, nosso Sindicato [Metalúrgicos de Campinas], junto com os Sindicatos de Metalúrgicos de Limeira e São José dos Campos romperam com a Federação dos Metalúrgicos da CUT/SP, pois a FEM/CUT entregou aos patrões a cláusula da Convenção Coletiva que garantia estabilidade no emprego até a aposentadoria a todo trabalhador vítima de acidente e doença provocados pelo trabalho com sequela permanente. Além disso, aceitaram a redução do adicional noturno de 50% para 35% no setor eletroeletrônico.” (Revista SMCR, p.93, 2009)

Esta política de evitar as lutas buscando a conciliação e entregando direitos está expressa no artigo feito

por Luiz Marinho, presidente do sindicato dos metalúrgicos na época, onde expressa que precisam mudar a

24 “Depois de muita negociação, a data-base do Grupo 10 foi antecipada de 1º de novembro para 1º de setembro já neste ano. O reajuste salarial ficou em 5,83%, sendo 2% de aumento real e 3,75% referentes à reposição da inflação na nova data-base, calculada sobre dez meses (de 1º de novembro de 2008 a 1º de agosto de 2009). O mesmo reajuste foi aplicado aos pisos.” (Boletim SMABC, p.2, 2009C)25“A experiência pratica garantiu na luta a melhor convenção coletiva do país, enquanto CUT, Força Sindical e CTB seguem reduzindo direitos e salários. No ano passado a partir das greves iniciadas por esse bloco tivemos a possibilidade real de uma greve geral dos metalúrgicos, não fosse mais uma vez as centrais pelegas terem abortado esse processo onde ainda estão na direção.” (Tese SMCR, p.30, 2010)41

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imagem do ABC: “Acreditamos construir, a curto prazo, uma nova imagem do ABC para o Brasil, por meio de

ações conjuntas, criando condições objetivas para tornar a região atraente para novos investimentos.” (s.d.). Se

defende uma nova imagem, significa que busca superar uma imagem anterior, neste caso a única possível é

aquela construída no final da ditadura e na década de 1980, qual seja, de um movimento sindical radicalizado e

construindo muitas lutas. A superação desta imagem passa a ser a negação da mesma, é ser visto como um

sindicato responsável, que não faz greve “excessivas”, que priorizam as negociações ao confronto, como

pudemos observar na entrevista do atual presidente do sindicato. Além disso ser atraente para novos

investimentos, significa ser atraentes para o capital, isso é, aceitar e incorporar reivindicações da burguesia para

que eles escolham aquela região para colocar suas indústrias, e reduzir os custos de produção da região no

intuito de promover o desenvolvimento econômico, não dos trabalhadores, mas da localidade:

“Sabemos também que precisamos enfrentar com coragem e ousadia a discussão do chamado 'custo ABC' e o papel dos sindicatos verdadeiramente interessados em resolver essa polêmica.Há, ainda, os problemas do trânsito, das enchentes, do meio ambiente, do transporte, as traumáticas vias de acesso a região, a nova pista da Imigrantes no trecho da serra e a modernização do porto de Santos, a criminalidade, entre tantos transtornos inerentes ao 'custo ABC'.” (MARINHO, s.d.)

Tendo em vista que o Marinho escreveu quando foi eleito presidente do sindicato dos metalúrgicos do

ABC, que aconteceu em 1996, muito próximo a data que o sindicato abriam mão de alguns direitos, descritos

acima, podemos perceber que reduzir os custos do ABC, significa também, reduzir os custos com a força de

trabalho.

O que está de acordo com a nova postura do sindicato, já que este agora inicia de forma mais veemente

e disposição de atuar enquanto um sindicato-cidadão, buscando gerir os problemas produzidos pela sociedade

capitalista, nos moldes desta sociedade, e não mais travar lutas sindicais buscando o amadurecimento da classe

operária para a ruptura com esta formação social:

“O sindicato-cidadão, que queremos pressupõe a inegociável tarefa política de organizar a categoria para as suas grandes lutas, mas, ao mesmo tempo, se abre aos setores que se reivindicam do campo democrático, para a negociação e formação de parcerias para a solução dos graves problemas sociais que a região e o país enfrentam.” (MARINHO, s.d.)

Com esta passagem fica marcada a leitura política que o sindicato vai assumir a partir de então e

aprofundando até os dias atuais. Esta atuação política que visa o diálogo entre capital e trabalho26, dando aos

trabalhadores a postura de cidadãos está fortemente vinculada aos princípios e objetivos que esta entidade

possui frente a sociedade como um todo. No ABC ele busca reafirmar a sociedade democrática, e os

instrumentos que potencializam esta concepção, portanto precisam aprofundar os elementos de negociação.

E os conceitos utilizados não são simples palavras, possuem um conteúdo profundo que reflete uma

política adotada. Quando afirmam, na tese do congresso, o conceito de cidadania, mais de 50 vezes e acentuam

26“O SMABC, coerente com esta visão, tem lutado para, nas duas últimas décadas, construir uma nova cultura nas relações capital-trabalho, baseada no diálogo, na negociação, na luta e, fundamentalmente, no princípio da responsabilidade social das empresas. Acredita que esta cultura deve prevalecer em momentos de bonança, assim como nos períodos de crise.” (Tese SMABC, p. 24, 2009)42

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o tempo todo o papel cidadão dos trabalhadores e das empresas, colocando-os num mesmo patamar – cidadãos

com direitos iguais perante a lei e sem diferença de classes – reafirmam a ideologia burguesa:

“CidadaniaOs trabalhadores, ao conquistarem um espaço próprio de organização no interior da fábrica, ampliaram as fronteiras da cidadania. Conseguiram ter voz, expressar suas demandas e ter na representação sindical um canal de negociação com a empresa. Tudo isto lhes conferiu uma nova identidade: saíram de uma situação de negação da cidadania, onde não lhes eram reconhecidos direitos fundamentais, para uma situação de sujeitos de direitos (condição em que os trabalhadores se organizam e lutam para conquistar novos direitos), com espaço reivindicá-los e de transformá-los em objeto de negociação com os patrões. Trouxeram, assim, a cidadania para dentro da empresa, democratizando as relações de trabalho." (Tese SMABC, p. 20, 2009)

A contradição entre o termo e a postura de classe é tão profunda, que é possível conseguir atingir seus

objetivos maiores dentro da sociedade capitalista, isso é, transformam os trabalhadores de chão de fábrica em

cidadãos, com direitos respeitados e vida digna, inclusive “democratizando as relações de trabalho”, mantendo

a exploração do capitalista sobre o trabalhador, não colocando em questão o fato dos empresários enriquecerem

extraindo mais-valia dos operários. Isso está coerente com a política daqueles que se limitam a atuar nos moldes

da sociedade capitalista. Como analisa COIMBRA:

“A cidadania é um atributo a que todos reivindicam posse. Baseia-se no interesse de cada um e de todos, e para isso é necessário o trabalho pelo bem comum. Incorporada conjuntamente por sindicatos, empresários e governos, significa dizer que todos podem trabalhar juntos, unindo esforços para o bem coletivo. A cidadania unificaria a todos, por meio do 'pacto pelo bem comum', portanto, abandonando a clivagem da classe social. Significa ainda dizer que para buscar o bem de todos os cidadãos, a unidade de classe contra a exploração é um contrassenso (WELMOWICKI, 2004). A ação sindical baseada neste suporte ideológico certamente traz riscos para a construção da consciência de classe, que considero uma das funções primordiais dos sindicatos.” (p.10, 2008).

Quando comparamos esta postura, com aquelas defendidas pela central nos seus primeiros congressos, a

transformação da central fica ainda mais evidente, já que afirmava nos primórdios que: “A CUT tem como

tarefa avançar na unidade da classe trabalhadora e não na cooperação entre as classes sociais (exploradores e

explorados), lutando por sua independência econômica, política e organizativa” (GIANNOTTI, NETO, p.40,

1991)

Apesar disso tudo, o sindicato do ABC não deixou de lado a organização dos trabalhadores, pelo

contrário, coerentemente, eles buscam aprofundar a organização em cada local de trabalho em defesa de suas

políticas: “Um dos principais marcos da história e da identidade dos metalúrgicos do ABC foi a conquista da organização no local de trabalho, apesar das restrições impostas pela legislação que regula, desde a promulgação da CLT em 1943, o direito sindical e do trabalho no Brasil. O que distingue nossa experiência de outras experiências do passado, assim como de outras categorias, é o fato de termos conseguido avanços na organização no local de trabalho, através das Comissões de Fábrica, do Sistema Único de Representação (SUR) e, mais recentemente, através dos Comitês Sindicais de Empresa. Atualmente, cerca de 70% dos metalúrgicos do ABC têm representação sindical no local de trabalho." (Tese SMABC, p. 19, 2009)

Porém o fato de envolverem trabalhadores nas fábricas, não significa que estes estejam atuando em prol

de sua categoria, ou, ainda menos da sua classe, pelo contrário, por vezes usam esta inserção para retirar

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direitos, como expõe o sindicato dos Metalúrgicos de Campinas e Região:

“Infelizmente as comissões de fabrica na base dos metalúrgicos do ABC, cumprem a função de serem os 'capatazes modernos' do Capital, tem farta estrutura da empresa à sua disposição para controlarem os trabalhadores, negociar e fazer cumprir as metas de produtividade, absenteísmo27 impostos pelas empresas para o pagamento do PLR28, chegando ao limite do que não é fácil se imaginar: participam da escolha dos trabalhadores que serão demitidos.” (Tese SMCR, p.35, 2010)

E essa atuação é reivindicada pelo sindicato como um aumento da democracia no chão de fábrica. "Ao

transpormos os portões da fábrica e instituirmos no seu interior a organização dos trabalhadores e sua

representação sindical, rompemos, de fato, com um dos mecanismos da velha estrutura corporativa, que nega

este direito, e demos um passo fundamental no processo de democratização das relações de trabalho." (Tese

SMABC, p.19, 2009) e mais uma vez podemos perceber a coerência política do sindicato, nem no momento em

que organizam os trabalhadores no chão da fábrica, perdem a noção dos objetivos que possuem, isso é,

aprofundar a democracia no capitalismo.

Essa postura de abrir mão de direitos dos trabalhadores pode ser observada quando, por exemplo,

Marinho defende o banco de horas assumindo a postura de que o SMABC foram os pioneiros a implementá-lo

visando reduzir a o número de demissões29. Para MARTINS e RODRIGUES, a política do banco de horas é um

retrocesso para os trabalhadores, já que visa a redução dos gastos patronais com a força de trabalho uma vez

que adapta a jornada de trabalho as demandas da produção de mercadoria, sem levar em conta que a

manutenção da vida do trabalhador independe desta flutuação. (2000)

Inclusive quando fazem a leitura acerca da crise econômica a posição do sindicato acaba por reafirmar a

sociedade capitalista quando coloca que é necessário defender o “dinamismo produtivo”, isso é, desvalorizar o

setor da burguesia que enriquece com a especulação, para contribuir com o setor produtivo, aquele que investe

na produção de mercadorias. Mas quando propõe isso, não esquecem o lado do trabalhador, e o reafirmam

defendendo salários dignos, trabalho decente! Omitindo o fato de que mesmo com um trabalho decente – o que

seria difícil de definir e também de encontrar numa fábrica – contribui para o enriquecimento alheio numa

sociedade em que uns são explorados para que outros acumulem capital. Além de creditar toda a “culpa” da

crise no capital especulativo colocando o produtivo como um aliado: "A crise permitiu escancarar o grave

equívoco da política de juros sustentada teimosamente pelo Banco Central, à revelia das denúncias que o

movimento sindical e todo o seguimento produtivo sustentaram." (Tese SMABC, p. 10 e 11, 2009, grifos meus),

ou ainda:

27 Absenteísmo significa ir ao trabalho sem estar em condições de saúde, uma vez que mesmo os trabalhadores que justificam a ausência com atestado médico, tem o PLR reduzido, pressionando-os a ir trabalhar em situações adversas.28 Participação nos Lucros e resultados29 “A posição favorável ao banco de horas dentro dessa mesma corrente [ArtSind] é expressa por Luiz Marinho, presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo do Campo. Segundo este sindicalista, os metalúrgicos do ABC foram os pioneiros no Brasil na implantação do banco de horas, com experiências realizadas desde 1995. Paralelamente à conquista da redução da jornada de trabalho – importante reivindicação sindical desde a década de 80 – os trabalhadores viram o avanço das propostas de flexibilização. Entretanto, na Ford, apesar da criação do banco de horas, dois mil trabalhadores foram demitidos. Mas, na avaliação do sindicato, a flexibilização conseguiu manter o emprego de 800 trabalhadores, na mesma empresa. Para Marinho, “o banco de horas não é remédio para todos os males” (Folha de S. Paulo, 27/09/1998, p. 2-1).” (MARTINS, RODRIGUES, p.173, 2000)44

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"À especulação desenfreada que jogou o mundo na crise, cabe contrapor um novo dinamismo produtivo, que valorize a pessoa humana como sujeito de direitos plurais, incluindo emprego, toda a agenda do trabalho decente, salário digno, educação de qualidade, previdência segura, saúde, habitação, segurança pública, atividades culturais, acesso democrático ao mundo das comunicações de massa e ampla participação política em todas as tomadas de decisão. Um modelo, em suma, que interrompa os danosos processos de degradação ambiental sintetizados" (tese SMABC, p.6, 2009)

Na contra-mão desta análise, na tese do congresso de Campinas a crise aparece como sendo resultado do

próprio desenvolvimento do capitalismo, e não um elemento externo a este. E o Estado quando incide sobre a

crise é para resgatar o capital, independente se é produtivo ou especulativo, já que para os trabalhadores tanto

uns quanto os outros estão em oposição a sua classe: “O Estado entra em ação se ausentando, ou seja, garante as

demandas do Capital e não garante as mínimas condições de moradia, saneamento básico e saúde à população

trabalhadora. Esse é seu papel como comitê de negócios da classe economicamente dominante ” (Tese SMCR,

p.9, 2010).

Se no terreno da luta de classes os operários do ABC deixaram de ser trabalhadores para “virar”

cidadãos em defesa dos direitos, nada mais lógico que o norte deixe de ser a sociedade socialista, uma vez que

não objetivam formar militantes com consciência de classe, como insiste os metalúrgicos de Campinas30, e

assumam agora a defesa da sociedade democrática como objetivo final da sociedade que almejam:

“A intervenção dos metalúrgicos no plano nacional: a sociedade que queremos construirA grande questão a ser colocada em debate neste congresso é o papel que cabe aos metalúrgicos do ABC na formulação, proposição e desenvolvimento de iniciativas que contribuam para o fortalecimento da democracia e promovam desenvolvimento sustentável, processo mediado pelos interesses dos trabalhadores e dos setores populares com os quais compartilhamos, em linha geral, o mesmo projeto de sociedade.” (Tese SMABC, p. 39, 2009)

Neste momento o sindicato define quais são seus objetivos, o que almejam construir com os

trabalhadores, o fortalecimento da democracia 31, o que significa neste período histórico, em outros termos,

reafirmar a importância do processo eleitoral, como fica claro no decorrer da tese, e buscar espaços de diálogo e

entendimento com a burguesia, já que numa sociedade democrática o que deve ser ressaltado são os “espaços

de consenso”32, ignorando a impossibilidade disso ocorrer, sem que uma das partes saia prejudicada, quando

existem interesses antagônicos, como são os das classes sociais. Portanto, como explicita IASI, os objetivos

30 “ESTAMOS AQUI PELA HUMANIDADE! DESTRUIR O CAPITAL E SEU ESTADO E CONSTRUIR A NOVA SOCIEDADE SOCIALISTA. (sic)” (Revista SMCR, p.94, 2009)31“Ela [democracia] ultrapassa os seus muros e avança pelo espaço da cidade, da região e do país, através de processos que democratizam as relações de poder, ampliam a participação dos cidadãos, criam novos espaços institucionais onde diferentes atores políticos se encontram para debater e propor soluções para as grandes questões envolvendo a construção de um novo modelo de desenvolvimento.” (Tese SMABC, p. 40, 2009)32“A segunda questão diz respeito ao modelo de desenvolvimento e à maneira de se fazer a mediação entre sociedade civil e Estado. No primeiro caso (Câmara Setorial), democratizou-se o exercício da política, com atores da sociedade civil (empresários e trabalhadores) atuando em condições de igualdade e em espaço público (fórum tripartite) na formulação de propostas para a indústria automobilística, rompendo com uma tradição em que a política industrial para o setor ou era definida unilateralmente pelo Estado, ou construída nos seus bastidores com os empresários.

No segundo caso (desenvolvimento regional), assistimos a um processo em que se inverte a lógica da tradição política autoritária brasileira. É a sociedade civil que se organiza e intervém na formulação de propostas de desenvolvimento junto com o poder público. Os trabalhadores, os moradores da cidade, deixam de ser meros expectadores para participarem ativamente na elaboração de projetos e de políticas que alteram a fisionomia da cidade e influenciam a dinâmica da região.” (Tese SMABC, p. 36, 2009)45

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políticos desta corrente política sofre uma transformação que se inicia com a defesa da ruptura revolucionária

da sociedade capitalista, passando pela democratização e terminando no alargamento das esferas de consenso, e

a sua leitura do sociedade que almejam vai do socialismo, passa para socialismo democrático e termina em

democracia sem o socialismo (2006).

Mas além da democracia frente ao Estado burguês, este sindicato buscou fazer isso também na

militância cotidiana, estabelecendo fóruns onde os diversos setores da sociedade civil (centralmente: sindicato

dos trabalhadores, sindicato patronal, representantes do Estado) estejam presentes, isso é, buscar um

entendimento comum pra projetos também comuns. Esta conciliação só foi possível quando movimento

assumiu a cidadania como norte estratégico, e deixou de ser a construção autônoma dos operários contra os

patrões. E assim surgem os diversos fóruns tripartites.

Quando o próprio sindicato discute sobre estes fóruns, eles não deixam de lado a importância do

empresariado, pelo contrário, os fóruns só existem com a presença destes e dos trabalhadores, e que, por mais

contraditório que possa parecer, a estrutura criada para reafirmar o conceito de cidadania em contraposição a

luta de classes, acaba por reafirmá-la na exata medida em que não funciona caso uma destas deixarem de estar

no acordo, e, além disso, ceder nas negociações 33.

“Foi neste contexto que surgiu no ABC uma das mais significativas experiências de articulação regional envolvendo o poder público, empresários, sindicatos e movimentos populares. Foram criados vários novos espaços institucionais para debater a crise e buscar alternativas: o Consórcio Intermunicipal de Prefeitos, em 1990; o Fórum da Cidadania, em 1994; a Câmara Regional do ABC, em 1997; e a Agência de Desenvolvimento Econômico, em 1998. Nesses espaços foram definidas diretrizes políticas e gestados acordos inovadores visando a revitalização da economia regional e a construção de um novo modelo de desenvolvimento, no qual a sociedade civil passou a ter voz e vez. Os sindicatos, ao lado de outros atores, como os movimentos populares e os empresários, tiveram participação ativa neste processo.” (Tese SMABC, p. 35, 2009)

Com essa passagem termina por colocar o sindicato ao lado dos empresários, em prol de seus interesses

comuns. Não é mais possível pensar em construir as lutas dos trabalhadores no sentido de promover a

consciência de classe, uma vez que a busca é pelo entendimento. Não é mais possível pensar em construir um

movimento sindical combativo, uma vez que seria contra um novo aliado34. Mas como não são todas as

indústrias que assumem essa postura, o sindicato busca valorizar aqueles que cumprem um papel de

“responsabilidade social” 35, e se algumas empresas assumem esta postura e estão ao lado do sindicato, não será

de se estranhar, caso o sindicato não venha a bater de frente com estas, ou, ainda mais, defendam seus

33 “Nos espaços institucionais, é impossível que ocorra um diálogo “desinteressado” diante de assuntos comuns. A modelação dos conflitos a partir do diálogo entre diferentes, que possuem preocupações comuns, de fato é algo que não se sustenta. Há que se considerar a luta pelo poder. E não se trata do poder de persuasão, conforme indica Leher (2001).” (COIMBRA, p.14, 2008)34 “O evento estimulou a reativação da Câmara Regional, espaço institucional onde os GTs deverão atuar. Retomou-se a tradição de buscar soluções articuladas para os desafios regionais através do diálogo e do consenso.” (Tese SMABC, p.39, 2009)35“Para o Sindicato uma empresa passa a ter responsabilidade social quando incorpora em seu projeto e em suas práticas gerenciais temas da agenda do trabalho decente, como a valorização do diálogo, o respeito aos direitos sindicais e trabalhistas, o combate à discriminação racial, a promoção da igualdade de gênero nas relações de trabalho, a valorização do jovem e do deficiente, o investimento na qualificação profissional, o respeito e a contratação de pessoas com mais de 40 anos. Uma empresa responsável reconhece a livre organização dos trabalhadores, inclusive dos prestadores de serviços. Reconhece, ainda, direitos iguais aos trabalhadores terceirizados.” (Tese SMABC, P.24, 2009)46

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interesses: “Não podemos perder a oportunidade de propor, nos espaços públicos que estão sendo revigorados

na região para encontrar soluções para a crise e para o desemprego, o debate de uma nova cultura empresarial

focada na responsabilidade social e na valorização do trabalhador.” (Tese SMABC, 2009, p. 25). Além disso,

podemos perceber que o sindicato busca construir uma cultura empresarial não sendo empresários!

Para Coimbra, este movimento de atuar acriticamente nos sindicatos e, além disso, fomentarem os

fóruns tripartites gera uma institucionalização no movimento cutista:

“Em cenário de crise, o movimento sindical cutista vem aderindo à institucionalidade, por meio das instâncias de participação criadas no pós-88. Se na sua gênese, a CUT incorporava a crítica à estrutura oficial, a central não somente vem se adequando a esta estrutura (à medida que se submeteu aos princípios formais da legislação corporativista), quanto passou a se limitar nos marcos da democracia representativa, sustentando um arcabouço ideológico que justifica a sua inserção nos espaços institucionais.” (COIMBRA, p.14, 2008)

O passo seguinte é buscar, a partir dos sindicatos, gerir a cidade, transformando o que de início foi o

apoio aos movimentos sociais urbanos nas suas lutas em defesa de direitos e contra os gestores do capital, para

assumir para si a responsabilidade de resolver os problemas. Como podemos perceber na tese do congresso. Em

outras palavras, deixaram de entender que a responsabilidade pela falta de acesso a moradia, e outras demandas

populares, era da sociedade capitalista, que coloca o lucro acima das necessidades dos seres humanos, para uma

conclusão de que a falta de moradia seria um problema de má gestão do Estado, ou falta de cooperação entre os

diversos “atores” sociais:

“Os atores locais (empresários, trabalhadores, organizações não-governamentais, academia) devem estar atentos e participar da elaboração de planos diretores das cidades que observem o Estatuto das Cidades, aprovado em 2001, e que recomenda o uso e ocupação do espaço urbano compatibilizando inclusão social, competitividade, sustentabilidade ambiental e acessibilidade. Falta ainda conferir aos planos diretores a dimensão e integração regional.” (Tese SMABC, p.38 e 39, 2009)

Seguindo neste caminho, não demora para que as bandeiras de setores da burguesia sejam incorporados

diretamente pelo sindicato, o desenvolvimento econômico, como já abordamos, não passa da implementação de

capitalistas numa determinada região, para que estes tenham lucros exorbitantes a partir da extração da mais-

valia dos trabalhadores, enquanto para estes, só resta vender sua força de trabalho. E o SMABC reconhece a

responsabilidade social das empresas como um ganho dos trabalhadores, sem colocar um contraponto, onde

busque elucidar que o empresariado conduz essa política para lucrar mais a partir da propaganda que possui

com tais medidas. E concluem diferenciando as pequenas empresas das grandes, elemento que será desdobrado

na forma de defesa das primeiras em relação as outras.

“Os atores regionais, entre eles os Sindicatos, devem colocar em debate o próprio modelo de desenvolvimento que se quer para a região, cujos elementos básicos devem ressaltados: aquele que, primeiro, combina crescimento econômico com inclusão social e proteção ao meio ambiente; segundo, que promove uma nova cultura empresarial, baseada na democratização das relações capital-trabalho e na responsabilidade social das empresas; terceiro, que estimula formas inovadoras de mobilização dos recursos econômicos através de redes de pequenas empresas, cuja sustentabilidade (social, técnica e institucional) é assegurada a partir dos efeitos sistêmicos (aglomeração e proximidade) proporcionados pelos territórios em que as redes operam.” (Tese SMABC, p. 39, grifos meus, 2009)

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Em decorrência desta política, assumem, inclusive, bandeiras da burguesia, isso é, passam reivindicar as

bandeiras da classe que antes eram antagônicos: “Nosso sindicato deve discutir política junto ao governo

federal para financiar empréstimos as micro e pequena empresas.” (Tese SMABC, p. 43, 2009) e essa

reivindicação não aparece apenas uma vez: “A criação de mecanismos voltados para o fortalecimento das

pequenas e médias empresas” (Tese SMABC, p.25, 2009), ignorando o fato de que estas empresas também

exploram os trabalhadores, e usualmente são as que mais adoecem os operários, pagam os piores salários, dão

os menores aumentos salariais, etc. (BOITO, 1991b) Tendo em vista tudo isso não é de se estranhar a CUT ter

se aproximado da FIESP, entidade empresarial que defende os interesses de sua classe no estado de São Paulo.

E passa a entender a relação com a burguesia como sendo um amadurecimento da democracia entre patrões e

empregados, como foi expresso na matéria da Revista da Indústria, imprensa dirigida principalmente pela

Federação das Indústrias de São Paulo (FIESP), em setembro de 2008:

“Na opinião de Oliveira36, a aproximação decorre da consolidação da democracia brasileira e de uma visão estratégica compartilhada pelos dois lados “Vivemos momentos delicados na construção da nossa democracia e foi graças ao amadurecimento das duas entidades37 que conseguimos criar um ambiente tranqüilo de diálogo e uma agenda de desenvolvimento do País”.” (Revista da FIESP, p.18, 2008, grifos meus)

A “visão estratégica compartilhada” define muito bem a proximidade política que passam a ter estas

duas entidades, que anos antes tinham em comum apenas as tensões das negociações feitas depois de muita

luta. Lutas estas que deram lugar para um “ambiente tranquilo de diálogo”, sem conflitos de classe, mas apenas

tensões pontuais caso alguma das partes não esteja cumprindo determinados acordos. Esta passagem, bem como

o trecho da entrevista concedida coloca em questão inclusive partes da tese dos metalúrgicos do ABC, onde

tentam recuperar a leitura da sociedade dividida em classes:

“Como já foi apontado acima, a OLT tem na sua origem um caráter classista. É a compreensão desta dimensão que permite aos trabalhadores distinguir seus interesses históricos dos interesses dos empresários.A falta de clareza (ou de firmeza) em relação a este princípio pode levar a OLT a defender e a estabelecer relações de parceria com a empresa.Os exemplos históricos mostram que em todos casos onde isto ocorreu a organização dos trabalhadores perdeu legitimidade e força." (Tese SMABC, p.21, 2009)

Se, ao longo de todo o texto o eixo político da tese é a defesa da democracia, e ampliação da esfera de

consenso, busca do diálogo, a defesa de que o governo invista nas pequenas e médias empresas, culminando

com a leitura de que existe uma proximidade estratégica com o empresariado, é incoerente reafirmarem de

forma tão contundente existir interesses históricos diferentes entre patrões e trabalhadores.

Os capitalistas reafirmam a aproximação com o SMABC nesta entrevista para o jornal Valor

Econômico, o presidente da Volkswagen afirma a diferença existente entre alguns sindicatos, e,

surpreendentemente, comparando o Sindicato dos Metalúrgicos do ABC com o Sindicato dos Metalúrgicos do

36 Presidente da CUT37 CUT e FIESP48

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PR, dirigido pela Força Sindical, conhecida como uma central neoliberal (GALVÃO, 2004) afirma que é mais

fácil negociar com o de São Paulo, e apesar de justificar a diferença pelo fato de uns serem mais “jovens” que

outros, podemos contra argumentar que a diferença é por conta de posturas políticas empregadas por cada um.

Se fosse comparar com os metalúrgicos de Campinas e Região, a “idade” do sindicato é grande, mas não

expressa a posição politica conciliadora do ABC.

“Na Volkswagen, maior produtora de automóveis do país, as principais fábricas têm data-base em setembro - ABC, Taubaté e Paraná. O presidente da Volkswagen, Thomas Schmall, diz que é mais fácil negociar hoje com a direção do ABC do que com a do Paraná. "No Paraná eles são muito jovens", afirma. O vice-presidente de Recursos Humanos da Volks, Josef-Fidelis Senn, concorda com Schmall e diz que houve um amadurecimento nas relações trabalhistas com a direção dos metalúrgicos do ABC.” (OLMOS, 2009).

Em síntese podemos afirmar que o sindicato dos metalúrgicos assumiu um posicionamento circunscrito

a ordem capitalista, expressando isso em seus materiais de divulgação e documentos programáticos, como a

tese do congresso dos Metalúrgicos do ABC. O que infelizmente os coloca reféns desta sociedade, buscando a

conciliação com os antigos inimigos de classe, e resolver os sintomas dos problemas acarretados por esta

sociedade, ao invés de fazer uma construção de longo prazo para a superação da sociedade de classes.

SINDICATO DOS METALÚRGICOS DE CAMPINAS E REGIÃO

“Greves que têm a marca de resistência contra os ataques dos patrões e dos governos, mas que se ampliam e se radicalizam. O que falta agora é romper as cercas das nações e avançarmos para uma luta

que é comum a toda a nossa classe trabalhadora.”Tese aprovada no congresso dos metalúrgicos de 2010.

“A greve ensina os operários a compreender onde repousa a força dos patrões e onde a dos operários; ensina a pensarem não só em seu patrão e em seus companheiros mais próximos, mas em todos os

patrões, em toda a classe capitalista e em toda a classe operária.”Lenin, Sobre as greves

O Sindicato dos Metalúrgicos de Campinas e Região tem sua história marcada pela unidade política

com a corrente denominada Cut Pela Base, e, tendo em vista a história da CUT, que expusemos em linhas

gerais neste trabalho, podemos perceber que desde a década de 1980, já possui posicionamentos diferenciados

da corrente Articulação Sindical, que por sua vez dirige o Sindicato dos Metalúrgicos do ABC.

Hoje o sindicato de Campinas está vinculado a uma corrente sindical chamada Alternativa Sindical

Socialista, que reivindica a história da Cut Pela Base, como fica expresso na tese aprovada no último congresso.

Até 2007, este sindicato encontrava-se filiado a CUT, mas no congresso daquele ano a categoria decidiu pela

desfiliação por uma ampla margem de votos (este fato recente explica um pouco da insistência na crítica que o

sindicato faz a CUT e ao sindicato do ABC) decidindo, no mesmo congresso, construir a Intersindical. Esta, por

sua vez, não é uma central sindical registrada no Ministério do Trabalho, mas atua como se fosse uma,

articulando vários sindicatos para promover lutas sindicais e políticas.

49

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Ao longo de sua história, a corrente Cut Pela Base, bem como o Sindicato dos Metalúrgicos de

Campinas e Região, tem como política buscar a luta dos trabalhadores contra os patrões, como expõe SANTOS,

almejando construir e aprofundar a autonomia de sua classe tendo em vista o objetivo de formar militantes com

consciência de classe para si38 (2010) – termo usado por Marx (2006b) na Miséria da Filosofia para designar os

trabalhadores que assumem o projeto histórico da classe operária, isso é, a revolução socialista. Em resumo,

podemos observar sua política neste trecho da tese do congresso dos Metalúrgicos de Campinas de 2010:

“Somos um dos principais Sindicatos que constrói a intersindical, que se organiza pela base e não em nome dela. Um Sindicato que através dos espaços de organização com a base não é uma entidade que só se movimenta em Campanhas Salariais, mas que no dia a dia está em luta pela redução de jornada, sem redução salarial, por melhores condições de trabalho, por mais e mesmo direitos para as metalúrgicas e metalúrgicos. Uma direção que vai além das demandas da categoria e como classe está na luta geral da classe trabalhadora. Destruir essa sociedade de classes, construir uma outra sociedade onde os trabalhadores e trabalhadoras possam usufruir do fruto do seu trabalho. Sem mais para alguns e menos para tantos. Uma sociedade onde ser diferente não signifique ser desigual. Uma sociedade socialista.” (Tese SMCR, p. 46 e 47, 2010)

Aqui podemos ressaltar vários aspectos. O primeiro deles é a importância que dão para a construção da

Intersindical, e o fazem, como dá a entender ao longo de toda a tese, pelo fato de afirmarem que o ciclo

histórico (político) da CUT se findou, e que portanto é necessário construir outras formas de organização da

classe trabalhadora. Segundo é que, buscando se diferenciar da maioria das outras correntes sindicais, envolve

os trabalhadores nas decisões e lutas e não apenas como representantes legais destes, isto é, quem deve

promover as lutas são aqueles que a vivem no cotidiano, este é o único meio de novos militantes se formarem.

Terceiro, a prática de manter os trabalhadores em luta durante todo o ano, não apenas nas campanhas salarias,

mas também nelas, ensinando aos operários como um todo, que é na luta que se conquista as vitórias, como é

repetido inúmeras vezes nos boletins. Quarto, que o fato de buscarem garantir e ampliar direitos para os

trabalhadores como um todo, e para a categoria metalúrgica em especial, não significa que deixam de lado as

lutas específicas, como das mulheres. Quinto, que busca não se restringir as lutas econômicas da categoria, mas

extrapolar elas para uma luta da classe trabalhadora, contra a classe capitalista, reafirmando assim a sociedade

dividida em classes diametralmente opostas e inconciliáveis, e que portanto, ambas as classes possuem uma

política própria em contraposição a outra. Por último, mas não menos importantes, assumem como principal

objetivo construir a sociedade socialista.

Mesmo sendo curta, esta citação se apresenta muito densa, e apesar de na tese do congresso do SMCR

ser o fechamento da mesma, poderia ser a abertura das discussões. Isso por que define claramente qual eixo de

análise irá seguir: da sociedade divida em classes, e de que forma entendem ser necessário construir o

movimento sindical. Muito diferente do eixo geral que apresenta o Sindicato dos Metalúrgicos ABC, que

ressaltam a cidadania, a negociação, o desenvolvimento regional e, como norte estratégico, a democracia.

38 “A central sindical necessária será fruto da ação que fizermos a partir da base da classe, que não se pauta no espontaneísmo e nem espera pelo ascenso, mas se prepara e trabalha para que o mesmo se recoloque em lutas que avancem para além da consciência em si e dêem o salto de qualidade da consciência para si.” (Tese SMCR, p.28, 2010)50

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A análise marxista está presente em cada passagem da tese do congresso dos Metalúrgicos de Campinas

e Região, e assim como o ABC se manteve coerente em toda sua análise com a prática que possuem, o mesmo

pode ser vinculado com o grupo de Campinas.

Em sua análise de conjuntura econômica, expressam detidamente que a crise não se dá fora dos marcos

da produção capitalista, pelo contrário, afirmam que estas são inerentes a esta sociedade, como está expresso no

O Capital do Marx (2005), e são produzidas no mesmo lugar que se produz a mais-valia, isto é, nas relações de

produção. Colocam que com o processo de desenvolvimento do capitalismo, a relação entre capital constante e

variável se altera, aumentando o primeiro sobre o segundo, e com isso se reduz a taxa de mais-valia, isso é, o

lucro presente em cada unidade de mercadoria, obrigando os proprietários dos meios de produção a produzir e

vender cada vez mais para manter e aumentar seus lucros, apesar de reduzida a taxa de mais-valia. Isso

conduziria a sociedade para a crise econômica que passamos recentemente, além de que a crise, nesta análise, é

quando a produção de mercadorias está no auge, quando os capitalistas começam a demitir e as mercadorias

acumulam nas fábricas, já é a resposta dos empresários para a crise, isso é, a saída dela.

“Quando falamos em crise de superprodução estamos falando que os capitalistas para vencerem a concorrência entre si investem cada vez mais na parte constante do seu capital, maquinas, equipamentos, novas tecnologias e cada vez menos em seu capital variável, que é justamente a força de trabalho dos trabalhadores aquela que gera o valor de todas as mercadorias. Só o trabalho produz valor e mais valor do que ele mesmo vale.” (Tese MCR, p.5 e 6, 2010)

Ao chegarem a essa conclusão, se diferenciam muito da análise feita pelo sindicato do ABC, que na

crise culpam um setor do capital, o especulativo, criticando a taxa de juros do governo federal e concluindo que

para sair da crise é necessário estimular o capital produtivo, ou seja, a instalação de fábricas: “O SMABC

entrou em cena, articulando as forças políticas regionais e nacionais, assim como o empresariado e outros

segmentos do movimento sindical, para aprofundarem o diagnóstico da crise e elaborarem propostas em

relação ao crédito, ao acesso a mercados, ao desemprego, às relações de trabalho e ao trabalho decente.” (Tese

SMABC, p. 36 e 37, 2009, grifos meus). Já em Campinas, esta visão é tida como uma forma de esconder que a

crise é fruto da própria sociedade já que, se a crise for apenas de um setor do capital, bastaria que este setor não

fosse priorizado por governos, ou mesmo tolido, para que a sociedade não tivesse mais crises econômicas, além

de rearranjar as lutas para apenas um setor da burguesia ao invés de toda ela (Tese MCR, 2010).

Além disso, segundo o SMCR, na última crise, mas o que não foi diferente nas outras, os diversos

governos foram ágeis para salvar as empresas da falência, injetando vultuosos recursos, em contrapartida, os

trabalhadores tiveram sua condição de vida muito prejudicada, sem contar aqueles que morrem pela precária

condição de vida a que estão submetidos. A falta de investimentos no setor público que atende a população

debilita os trabalhadores, já que dependem da esfera pública para a manutenção da saúde, ensino, e estes são

cada vez mais sucateados: “Também [o governo Lula] injetou recursos diretos do Orçamento para ajudar as

empresas, cortou gastos com políticas públicas como saúde, educação, reforma agrária, saneamento.” (Tese

SMCR, p.16, 2010) As demissões no período da crise chegaram num patamar altíssimo, só na Embraer foram

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4200 trabalhadores demitidos de uma só vez, no setor de autopeças foram demitidos 50 mil nos três primeiros

meses de 2009, além de muitas outras demissões nos diversos outros setores (Tese SMCR, 2010).

“O ano de 2009 fechou com quase 200 mil demissões no país e o governo se gabando em conseguir rapidamente conter os efeitos da crise no Brasil. O que fez foi agilmente colocar a estrutura do Estado para atender as necessidades dos patrões, que no momento atual mostram a utilidade que tiveram. O investimento pesado do Estado e principalmente o aumento da exploração sob a classe trabalhadora é que dão a impressão do Brasil estar blindado contra o ciclo da crise que ainda não se fechou no mundo. Mais uma vez a aparência carregada de muita propaganda ideológica do governo tenta ocultar a realidade.” (Tese SMCR, p.17, 2010)

E quando abordam sobre o Brasil, fazem uma avaliação sobre o governo Lula. Mesmo afirmando que o

Estado é controlado por uma classe, afirmam na tese que existiram governos que promoveram reformas e,

principalmente, reforçaram a luta dos trabalhadores39, e afirmam não ser o caso do governo Lula, pelo contrário,

são categóricos quando colocam este governo como estando ao lado do capital. E sobre os investimentos deste

governo explicitam que disponibilizou mais de R$80 bilhões ao BNDES em dezembro 2009 para financiar

projetos de empresas privadas, e com a redução de IPI deixou de arrecadar R$3,2 bilhões, e a disponibilização

de verbas do BNDES para as empresas subiu de R$100 bilhões para R$180 bilhões. O que indicaria os lugares

prioritários de investimento do governo: as empresas. Para os trabalhadores apenas “uma prorrogação

minúscula do seguro desemprego. Nada mais” (Tese SMCR, p.16, 2010). Em síntese avaliam que não só o

governo Lula, mas o Partido dos Trabalhadores não estão mais junto a classe trabalhadora, mas sim contra ela:

“O PT chega ao governo no encerramento do ciclo de um partido que nasceu com a classe, para depois fazer

contra a classe, isso não se deu com a chegada à presidência da república, mas foi construído ao longo das 2

últimas décadas.” (Tese SMCR, p.20, 2010)

Os desdobramentos políticos da análise sobre a crise e sobre o PT dos dois sindicatos são antagônicos, o

SMABC estava com a Dilma durante toda sua campanha, em comícios e propagandas no site do sindicato, além

de se colocarem a tarefa de, ao lado do governo Lula/PT resolver os problemas da crise conjuntamente com os

empresários. Enquanto a análise do outro sindicato é que o Estado, no Brasil impulsionado pelo governo Lula,

interfere na crise para salvar os capitalistas, e atacar os trabalhadores:

“O Estado na sociedade capitalista funciona exclusivamente para atender as necessidades de concentração de lucro e para garantir as saídas das crises cíclicas e periódicas produzidas pelo Capital. Além desse importante instrumento outros se colocam em movimento para administrar os problemas dos patrões que para se recuperarem vão intensificar o ataque ao conjunto da classe trabalhadora.” (Tese SMCR, p.6, 2010)

Com isso outra diferença importante se apresenta, na concepção de Estado. Para o SMABC este

representa uma esfera em disputa, onde o alargamento democrático e o avanço na eleição de militantes do

39 “Nada melhor que a realidade para desvelar o que tentam a todo momento ocultar da classe trabalhadora. Independente de quem se sentar à cadeira de presidente da República, vivemos numa sociedade onde sua base, sua estrutura econômica é capitalista, portanto a superestrutura tem um Estado que responde aos interesses dessa classe economicamente dominante. Ao afirmar isso não estamos negando que alguns governos podem e de fato já se chocaram com os os interesses dessa classe economicamente dominante, o que ajuda no fortalecimento das lutas dos trabalhadores, mas são extremamente limitados dentro da sociedade capitalista em que vivemos.” (Tese SMCR, p. 22, 2010)52

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partido político que tem referência, PT, faz com que atenda cada vez mais os interesses dos cidadãos. Em

contrapartida, a outra análise coloca este Estado como sendo um “Comitê de negócios da classe

economicamente dominante” (tese SMCR, p.9, 2010), e que portanto não é naquela esfera que os trabalhadores

conseguirão as significativas melhoras que necessita, e, não é com eleições de representantes e na reafirmação

da democracia burguesa que deve estar centrado a luta: “No Brasil estamos num ano eleitoral, onde se acentua a

ideologia dominante de que esse é o espaço onde os trabalhadores devem depositar sua confiança e esperança

para que seus problemas sejam resolvidos. Como se a luta de classes parasse para assistir ao espetáculo da

democracia.” (Tese SMCR, p.20, 2010). Na negação deste forma de luta, afirma por outro lado a necessidade

de forjar a militância de forma autônoma frente a a institucionalidade:

“Os metalúrgicos de Campinas junto com a Intersindical não sucumbiram à parceria com os patrões e nem se pautaram pelas ações institucionais que reivindicam do Estado, que esse se volte para os trabalhadores. O mesmo Estado que serve para atender os interesses da classe economicamente dominante.” (Tese SMCR, p.15, 2010)

Essa diferença de análise, tanto na questão da crise, quanto na análise do Estado e acerca do governo

Lula, pode ser considerado um desdobramento de quem elegem como principal inimigo. Para o SMABC é o

neoliberalismo, que privatiza as empresas estatais, e reduz a atuação do Estado, portanto uma luta das pessoas

por mais direitos dentro desta sociedade. Para o grupo de Campinas, é o Capital/Capitalismo o principal

oponente, centrando as discussões na luta de classes, e o Estado um órgão deste para potencializar suas

políticas, apesar de fazerem sérias críticas a política de privatizações, não se utilizam disso para tentar eleger o

grupo que estará em defesa do capital produtivo contra o grupo dos privatistas, como aparece comummente no

site do SMABC.

Tendo em vista esta postura frente ao Estado, ao empresariado e a sociedade capitalista, o Sindicato dos

Metalúrgicos de Campinas e Região se consideram independentes frente a estes, o que parece impulsionar as

lutas e ajudar a conseguir melhores aumentos salariais, manter greves mesmo nos momentos de crise, e

coerência entre a análise que fazem acerca da sociedade, e a prática cotidiana das lutas (Tese SMCR, 2010).

Como exemplo, a campanha de salarial de 2009 é um marco, uma vez que conseguiram os maiores

reajustes da categoria naquele ano, de crise econômica, por conta das muitas mobilizações que fizeram. Nas

duas empresas MABE, os trabalhadores pararam por 48h, na Samsung por 24h, Arcellor Mittal mais de 4 dias,

(Boletim Geral SMCR, p.3, 2009b). Em outubro de 2009, 25 mil trabalhadores do ramo metalúrgicos de

Campinas e Região já haviam paralisado suas atividades:

“Por enquanto, nossa mobilização já parou a produção na Honda, Toyota, Mercedes-Benz, Samsung, Costech, Cellcom, Villares, Eaton, TMD, Mahle, Valeo, Mabe, Foxconn, Benteler, Marelli, Villares, Asociated Spring e Filtros Mann. Mas com as propostas dos sindicatos patronais dos grupos 3 (Sindipeças), 9 (Sicetel) e 9.2 (Sinaees) deverá se estender por várias outras fábricas.” (Boletim Geral SMCR, p.2, 2009a)

Alguns meses depois, o sindicato já contabilizava mais de 35 mil trabalhadores em luta. O que

demonstra que as conquistas expostas na tabela abaixo são fruto desta tensão entre capital e trabalho. E a 53

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disposição para encampar essas mobilizações são decorrência da política proposta pelo sindicato: “Não

aceitamos a redução de salários e direitos e mesmo num ano onde os patrões ainda buscavam recuperar seus

lucros conseguimos na luta da categoria onde mais de 35 mil metalúrgicos pararam a produção de diversas

fabricas, a melhor campanha salarial do ano de 2009.” (Tese SMCR, p.19, 2010)

Num boletim especial do fim de ano de 2009, logo após a maioria das manifestações da campanha

salarial, colocavam que “Nosso desafio para o próximo ano é aprofundar a organização por local de trabalho

nas empresas de nossa região e junto com a Intersindical, levar esse debate para todas as regiões do país”

(Boletim Geral SMCR, p.1, 2009), e ainda disparam “Já vimos nesse ano como os acordos rebaixados feitos

pelos sindicatos parceiros dos patrões prejudicaram a nossa Campanha Salarial.”(Boletim Geral SMCR, p.1,

2009). No editorial deste mesmo boletim expressam claramente quem estão criticando:

“Algumas centrais sindicais, como a Força Sindical, CUT, CTB entre outras atenderam as exigências dos patrões e aceitaram a redução salarial, dizendo que isso evitaria mais demissões. A realidade desmascarou essa política. Salários foram reduzidos, as demissões continuaram e para quem ficou sobrou o aumento do ritmo e da jornada de trabalho.” (Boletim Geral SMCR, p.3, 2009)

Os acordos foram fechados por fábrica, mas na maioria percebemos que superou os 8%:

Reajustes Fábricas

10,00% Honda, Toyota, Mercedes-Benz, Yammar , Casco, Filoauto, Fundituba, Agritech, Cebi, Mahle, Servidox, Rosebem, Carthom's, Santofer, Esfer, Tecnoplac, Ascamp, Dispan, GQPS, High-End, NM Cardans, P&E Indústria e Comércio, Recrom, MMP Estamparia, Ikall Estamparia e Pintura

9,50% Borg Warner

9,00% Tecnometal, Mônaco, Isofer Ferramentaria e Usinagem, Íbis Distribuidora de Peças

8,50% Eccostecno, E-Driver, Metalrezende

8,45% SPI (10% no piso), Letaflex (10% no piso), Letandé (10% no piso), Metalúrgica Fujii, Associated Spring, GKN, KS PG, KS, Magal, Valeo, Wabco

8,43% Mabe Campinas (10% no piso), Mabe Hortolândia (10% no piso), Dell (10% no piso), Samsung (10% no piso), Cellcom (10% no piso), Costech (10% no piso), Foxconn (10% no piso), CAF, Coopersteel, Ad Tech, Amsted Maxion, Asa Alumínio, MGE Equipamentos, Manfer, Hewitt Equipamentos, Ad Tech, Andritz Hydro, Anhanguera, Ricardo Faccina, Sonabyte

8,30% Benteler (+ abono R$ 1.500), Filtros Mann, TMD

8,03% Arneg

8,00% CCI (+ 1,85% em jan/2010), Bosch, Tecnometal, Multi, Eagleburgmann, CCPM, J.B. Comércio e Manutenção, Kalfio Ind. Com, Kelly Elaine Basso Aleixo, Lapemfac, M.R. de Oliveira Santos Canalle, Ângulo Ferramentas, Alves e Mendonça Usinagem, Copafor, Cegelec, Comau, S.B. de Castro, Sata Brasil, Serralheria Ianelli, Singer do Brasil, Supertrat, Urtado e Urtado, Valbormida, Z.L. Nunes,

7,00% Metax Escoramentos (+1,45% em jan/2010), Metax Andaimes (+1,45% em jan/2010), Rodofort (+1,3% em fev/2010), Denesfer (+ 1% em jan/2010), Refaço (+ 1% em jan/2010), Resol (+ 1% em jan/2010), Asvotec, Perfilumi Esquadrias

6,66% Villares Metals (+1% jan/2010)

6,53% Startec (+ 1,38% - dez/2009).Tabela elaborada pelo próprio autor, usando dados de um boletim do Sindicato dos Metalúrgicos de Campinas e Região

Portanto a prática construída no sindicato dos Metalúrgicos do Campinas e Região está de acordo com a

leitura que fazem da realidade. Nos marcos teóricos e nos encaminhamentos do congresso assumem a divisão

da sociedade em classes antagônicas, e quando observamos sua prática, esta leitura fica ainda mais evidente.

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Afirmam também que o Estado pertence a uma classe desta sociedade, e nisso também atuam conforme

verbalizam, uma vez que não busca soluções por dentro do Estado capitalista, mesmo sabendo que existem

contradições em seu interior.

Apesar disso, não estão imunes aos limites legais impostos pelo sindicalismo de Estado e menos ainda

aos ataques patronais contra a organização dos trabalhadores. Como quando Marx, discutindo acerca das leis

reguladoras dos salários no período de transição da manufatura para a consolidação do capitalismo, ressalta

que, por mais que tenham deixado de usar as velhas leis, sempre as tiveram a disposição para uma possível

retomada: “Entretanto, guardaram-se as armas do velho arsenal, para o caso de necessidade” (p. 853, 2005).

Nas mobilizações ocorridas em 2009, por exemplo, o sindicato de Estado revelou algumas de suas

armas, quando algumas empresas não pagaram a taxa assistencial ao sindicato quando ambos os lados não

assinaram o acordo coletivo do respectivo ano40. Gerando uma dificuldade financeira que foi compensada pelas

contribuições dos associados ao sindicato:

“É esse aumento de sindicalização que garantiu que mesmo sem acordos assinados nos principais grupos patronais, como ocorreu ano passado [2009], portanto com significativa redução da contribuição assistencial, nosso sindicato não reduziu as lutas e ainda investiu em melhorias na estrutura com a construção da nova sede em Indaiatuba e reformou várias sedes regionais.” (Tese SMCR, P. 46, 2010)

Concluímos, portanto, que como política financeira, o sindicato defende que deverão se basear na

contribuição dos associados, nas mensalidades que estes pagam espontaneamente para a entidade quando se

filiam a ela. Pelo que podemos perceber, em parte já conseguem manter as lutas e gastos com pequenas

retaliações patronais (apenas alguns setores deixando de pagar a taxa assistencial) e devolvendo o imposto

sindical, porém não podemos prever quais seriam as consequências se o corte abrupto de verbas fosse maior,

tendo em vista o tamanho da máquina sindical a ser sustentada, que conta com inúmeros funcionários, um

prédio de vários andares próximo ao centro de Campinas, uma gráfica própria, etc. Vale a pena atentar também

que as contribuições dos associados, usualmente é feita em folha de pagamento, o que potencialmente pode ser

um problema de vinculação entre o sindicato e seu inimigo de classe (BOITO, 1991b).

Além disso, outras facetas do sindicato de Estado também estão presentes, como o reconhecimento do

sindicato por parte do Ministério do Trabalho (carta sindical) e as liberações sindicais. Cientes deste fato, o

sindicato busca ter grande referência na base, para que não se estruture apenas na legalidade burguesa, mas que

tenha respaldo e reconhecimento dos trabalhadores, tanto para formar novos militantes, quanto para sustentação

política dos dirigentes. Em contrapartida das liberações, reafirmam a construção de organização por local de

trabalho, mobilizam os trabalhadores para assembleias e organizam os ciperos41, desta forma buscam construir

40“Sem mudanças nas propostas feitas pelos patrões, com exceção da Fundição, continuamos sem acordos com os sindicatos patronais.

Até agora mais de 100 acordos foram fechados por empresas, além de outras que, fruto da nossa luta, foram obrigadas a anunciar antecipações superiores às propostas dos sindicatos patronais para evitar novas paralisações.

Portanto, nossa Campanha Salarial não está fechada e continuamos a mobilização em todas as empresas que ainda estão sem acordo. Nos próximos jornais, informaremos sobre uma nova assembléia ainda neste ano.” (Boletim Geral SMCR, p.2, 2009d)41“o sindicato vem optando pela organização das CIPAs como meio de aumentar a sua presença dentro das empresas e, além disso, 'aproveitar' a estabilidade dos cipeiros, (neste caso, denominados “cipistas”) com o objetivo de que eles sejam a “linha de frente” da 55

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uma divisão de trabalho dentro do sindicato, onde os liberados constroem as articulações políticas fora das

fábricas e os militantes não-liberados, o constroem dentro delas. Soma-se a isso o fato de haver apenas 11

liberações políticas dentro do sindicato dentre os 40 diretores que gerem a entidade, e tendo em vista o grande

número de trabalhadores de base, a construção das lutas necessariamente precisam passar por militantes nas

fábricas (FIGUEIREDO, 2007). Mas não é uma tarefa fácil, como ressalta Boito nesta passagem:

“... sindicalismo de Estado bloqueia a implantação sindical nos locais de trabalho, não estamos pensando em normas legais que proíbam essa implantação. (…) O bloqueio resulta de um processo mais profundo e complexo: a estrutura e a ideologia do sindicalismo de Estado desviam os sindicalistas e uma parcela dos trabalhadores de luta pela organização nos locais de trabalho.” (BOITO, p.237, 1991b)

É importante observar também que este não é um entrave jurídico, mas sim ideológico, sendo, portanto

passível de ser contrariado, a partir da construção de uma outra concepção, mas que possui contra ela toda a

construção ideológica já a muitos anos reafirmada. No caso específico do Sindicato dos Metalúrgicos de

Campinas podemos perceber, a partir da análise dos boletins e da tese do congresso, que foi criado uma “moral”

própria, de combatividade, um estímulo do trabalho de base, etc. Fazendo com que se construísse, ao menos

parcialmente, um combate as dificuldades impostas pelo sindicalismo de Estado.

Por sua vez, a burguesia também tem seus métodos de confrontar o sindicato, quando o acirramento da

luta se apresenta, esta pode colocar a vida dos trabalhadores em risco tomando uma simples decisão, demitir os

trabalhadores mais combativos. Esta prática é comum em todo o setor privado, como podemos perceber neste

relato da história do Sindicato dos Metalúrgicos de Campinas e Região:

“Porém, embora a categoria tenha conquistado a redução da jornada de trabalho de 48 para 44hs semanais – uma conquista econômica de grande valia – politicamente o movimento grevista fracassou diante das perseguições e demissões que se sucederam. As demissões seguiram critérios políticos, sendo dispensados os militantes dedurados pelos serviços de espionagem das empresas. Ou seja, ao final da jornada grevista de abril-maio de 1985 mais 400 militantes cuidadosamente selecionados foram demitidos (muitos por justa causa), deixando nos meses seguintes a categoria órfã de muitos dos ativistas responsáveis por equilibrar as forças com as chefias truculentas e denunciar as práticas abusivas.” (SANTOS, p.11, 2009)

Portanto quando juntamos as dificuldades impostas pelo Estado capitalista e pelas empresas é nítido que

estas conseguem restringir o aparecimento de novos militantes, já que o primeiro concede estabilidade apenas a

alguns poucos sindicalistas e aos cipeiros, os outros trabalhadores que se envolverem em chapas derrotadas para

o sindicato, greves ou organização de fábrica está suscetível a ser demitido. Isso coloca o sindicato numa

situação delicada, entre optar pela segurança e atuar apenas com aqueles que possuem estabilidade garantida,

ou tentar organizar os trabalhadores que não possuem estabilidade correndo sérios riscos de demissão.

Isso demonstra que é frágil a luta a longo prazo quando se está baseado apenas nos sindicatos

vinculados ao Estado, mesmo que combativos, mas ao mesmo tempo precisamos ter claro que são estes

luta dos trabalhadores no chão de fábrica. Portanto, segundo os dirigentes sindicais, a CIPA é vista como um locus privilegiado de ação sindical e de organização, havendo um grande incentivo para que os militantes sindicais dela façam parte.” (FIGUEIREDO, p.226, 2007)56

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aparelhos, ao mesmo tempo sem esquecer os movimentos sociais, que atualmente tem conseguido reforçar as

fileiras com seus militantes no embate na luta de classes.

Comparação entre os dois sindicatos

Tendo em vista a história das correntes no interior da CUT, e a postura que possuem no presente, ao

analisarmos dois importantes sindicatos de ambas as correntes, podemos arriscar análises com alguns contornos

um pouco mais precisos. O Sindicato dos Metalúrgicos do ABC paulista hoje se baseiam principalmente na

disputa institucional, não que tenham abandonado as lutas dentro das fábricas, elas ainda existem, porém estão

submetidas ao eixo político do sindicato, que é a conquista de direitos para os cidadãos, e com isso, as greves

passam a ser a última medida a ser tomada, “A maior expressão dessa mudança é a proposta do Sindicato dos

Metalúrgicos do ABC de redução do número de greves em sua base.” (MARTINS, RODRIGUES, p.161, 2000)

já que a conciliação e o consenso são dois eixos fundamentais para esta nova concepção, a cidadã42. Muito

diferente do que é proposto pelo Sindicato dos Metalúrgicos de Campinas e Região, onde a luta constante é

enaltecida e estimulada como parte de um processo onde os trabalhadores venham a se entender enquanto

classe em luta contra uma classe antagônica a sua, a burguesia. A consequência imediata desta política é a

diferença nas conquistas imediatas para os trabalhadores. Tendo em vista apenas a campanha salarial dos

últimos 10 anos, percebemos que no ABC os trabalhadores, apesar de, no geral, serem pequenas diferenças,

tiveram reajustes menores do que os alcançados em Campinas:

Índices INPC Campinas INPC ABC

2009 4,28% 9% à 10,00% 6,00% 5,83% à 6,75%

2008 7,15% 11,00% à 14,57% 7,15% 8,00% à 11,01%

2007 4,82% 6,8% à 8,5% 4,82% 6,80% à 7,44%

2006 2,85% 4,90% à 7% 4,90% 1,99% (aumento real negociado no ano anterior)

2005 5,01% 7,25% à 10% 4,66% 7,80% à 8,20%

2004 6,64% 9,57% à 10% 9,57% à 10,00%

2003 16,15% 16,15% à 18,01% 6,37%

2002 10,26% 10,26% Usaram o acordo do ano anterior

2001 Sem acordo 8,16%

2000 Sem acordo 8,00%Tabela elaborada pelo autor com base em dados do SMCR, site: http://www.abcdeluta.org.br/secao.asp?id_SEC=4 .

Ao analisar os ganhos referentes aos acordos coletivos como um todo (salarial e cláusulas sociais),

Figueiredo conclui que não há uma disparidade tão grande entre os obtidos pela FEM-CUT e o Bloco do

42 “A estratégia do Sindicalismo Cidadão não nega as greves, mas as considera formas secundárias de luta, a serem usadas – com último recurso – para melhorar a 'barganha'. A linha de ação principal passa a ser pautada pela negociação. Nas palavras do Sr. Vicentinho, presidente da CUT nos anos 90, a orientação genial foi explicada: 'antes fazíamos greve por qualquer coisa. Hoje passamos por um estágio de negociar até a exaustão'. Dessa década até os dias atuais esta estratégia vem sendo precisamente seguida.” (Revista da Intersindical, p.31 grifos originais, 2010)57

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Interior43, apesar da retórica destes ressaltar muito essa diferença. No entanto a mesma autora afirma que a

FEM-CUT abriu mão de direitos dos trabalhadores, e isso prejudicou a negociação dos sindicatos que não

optaram por este caminho, e além disso:

“(...)Também é evidente que o pragmatismo das decisões dos demais sindicatos da FEM/CUT-SP não foi suficiente para garantir maiores ganhos para os trabalhadores enquanto coletivo, demonstrando que mesmo em termos pragmáticos, a ação classista trouxe resultados mais positivos na defesa dos direitos dos trabalhadores da base dos sindicatos em questão.” (FIGUEIREDO, p.286, 2007).

Ferraz (2006) busca uma boa saída para discutir a polarização entre negociação e confronto, o autor

compreende que esta seria uma falsa polêmica uma vez que a falta de mobilização não decorre apenas do

sindicalismo propositivo, mas sim também do objetivo democrático assumido pela central. Tal argumento é

uma valorosa contribuição para a análise, porém precisamos acrescentar a isso o fato de que, por mais que a

democracia sempre tenha constado nos objetivos da central antes possuíam como marco a luta pelo socialismo

e a divisão de classes da sociedade (GIANNOTTI, 1991), e que, portanto, utilizar a discussão acerca das

mobilizações nos permite observar a diferença na postura frente a este objetivo, uma vez que as mobilizações

dos trabalhadores influenciam no processo de consciência (ALMEIDA, 2008; IASI, 2006) para ruptura da

sociedade capitalista. Mas por se tratar de uma movimentação que vai além dos dirigentes sindicais, dependem

de condições objetivas para se concretizar, e estas variam independente da vontade dos sindicalistas. Para além

dessa questão, Boito (2005) defende que a corrente majoritária da CUT, Artsind, no momento em que o

neoliberalismo colocou o movimento sindical na defensiva, defendeu que mudassem de postura, passando não a

combatividade, mas a proposição, atuando em conjunto com setores do capital para o desenvolvimento da

sociedade.

Mas esta é apenas uma faceta da diferença causada pela política de cada sindicato. Outra consequência

muito relevante é o fato de que quando o SMABC prioriza as negociações ao invés do confronto acabam por

também deseducar a classe operária para a luta, uma vez que quando estas são encampadas visando o acúmulo

de forças pelo proletariado para a ruptura desta sociedade contribuem no processo de consciência destes rumo a

uma consciência revolucionária.

“(...) o proletariado, não só não deve abandonar a luta por reformas cada vez mais profundas, como, ao contrário, deve intensificá-la, não com a ilusão de conquistar tais reformas, mas com o intuito de transformá-la numa tática indispensável que sirva como instrumento de criação e desenvolvimento da consciência e organização da classe (condições subjetivas) com vistas à transformação revolucionária do capitalismo.” (TUMOLO, p.245, 2006)

Mas como vimos ao longo deste trabalho, não foi apenas priorizar as negociações ao invés das lutas o

que o SMABC fez, mas também deslocou a esfera da crítica que fazem. Antes criticavam o capitalismo e a luta

de classes, e visavam o socialismo, hoje defendem a o desenvolvimento da sociedade com investimentos no

capital produtivo, as negociações nos fóruns tripartites visando a ampliação de direitos cidadãos. Enquanto no

43 Bloco do Interior são os 3 sindicatos do interior de São Paulo (Campinas, São José dos Campos e Limeira) que romperam com a Federação dos Metalúrgicos da CUT em 1997 e negociam em separado desde então.58

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extremo oposto, Campinas irá denunciar esta prática como sendo a reafirmação da sociedade capitalista que

vivemos, além de ressaltar e reafirmar termos como: classe trabalhadora, força de trabalho, mais-valia, etc.

forjadas pela classe operária ao longo de sua história no intuito de construir uma prática militante que contribua

com a ruptura revolucionária da sociedade. Iasi, em sua análise sobre o ciclo PT aborda essa questão e resgata o

processo de definhamento que essas categorias tiveram ao longo da história deste partido. Não é por acaso que

os mesmos termos vão se modificando no Partido dos Trabalhadores, e na Central Única dos Trabalhadores, e,

como consequência, no Sindicato dos Metalúrgicos do ABC:

“As mudanças que se verificam não se operam aleatoriamente, mas no sentido de recolocar a consciência que se emancipava de volta nos trilhos da ideologia. Não é, em absoluto, casual que certas palavras-chaves vão substituindo, pouco a pouco, alguns dos termos centrais das formulações: ruptura revolucionária por ruptura, depois por democratização radical, depois por democratização e finalmente chegamos ao 'alargamento das esferas de consenso'; socialismo por socialismo democrático, depois por democracia sem socialismo; socialização dos meios de produção por controle social do mercado; classe trabalhadora, por trabalhadores, por povo, por cidadãos; e eis que palavras como revolução, socialismo, capitalismo, classes, vão dando lugar cada vez mais marcante para democracia, liberdade, igualdade, justiça, cidadania, desenvolvimento com distribuição de renda.” (IASI, p. 535, 2006, grifos meus)

Estas alterações, que na história são muito paulatinas, mas que o resultados podemos observar

claramente hoje, nos faz concluir que a CUT passou por importantes alterações ao longo de sua trajetória.

Quando observamos os números dos delegados dos primeiros congressos podemos perceber que em seu início,

primava por uma construção coletiva e de base, enquanto anos depois, passou a se basear nas representações:

Tabela 2 – composição dos delegados nos congressos nacionais

Congressos Delegados de base Delegados de diretoria Total

Nº % Nº % Nº %

1983 - fundação SI SI SI SI 5044 100

1984 – 1 Concut 3440 65,9 1782 34,1 5222 100

1986 – 2 Concut 3923 70,5 1641 29,5 5564 100

1988 – 3 Concut 3178 50,8 3065 49,2 6243 100

1991 – 4 Concut 264** 17* 1291** 83* 1555 100(GIANNOTTI, 1991, p.84)

* (RODRIGUEZ, apud FERRAZ, p.67, 2006)

** Calculado baseado no percentual de (RODRIGUEZ, apud FERRAZ, p.67, 2006)

Esta tabela, organizada no livro do Giannotti (1991), expressa uma importante alteração política na vida

da CUT, onde já em 1991, decide por reduzir o tamanho do congresso sob o pretexto de que seria para uma

melhor organização do mesmo, segundo a corrente que defendia esta política, mas o que foi percebido é que

existiu uma priorização dos sindicalistas em detrimento dos trabalhadores de base, isso é, deixar de ser uma

Central da classe trabalhadora para ser uma central pela classe trabalhadora. No SMABC existe um movimento

similar onde estimulam que os trabalhadores se organizem nas fábricas da categoria, passando a ser o

representante do seu local de trabalho para o sindicato, e no encaminhamento da política do sindicato é

construída pelas representações, no geral nos diversos fóruns tripartites. Com isso o papel dos trabalhadores de 59

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base é como expectador e votar nos seus representantes. Em Campinas, apesar de também reafirmarem a

representação no sindicato e no cipeiro, tentam fazer uma contra-tendencia deste movimento colocando os

trabalhadores em luta, reivindicando seus direitos diretamente através do enfrentamento com o patrão, portanto

numa tensão entre representação e ação direta que pode vir a gerar as mesmas dificuldades do ABC, porém o

fato dos trabalhadores estarem em mobilizações constantes coloca essa relação num outro patamar.

O resultado geral que chegou esta política foi da CUT hoje se aliar com os empresários contra a classe,

num movimento onde o o instrumento de luta e organização dos trabalhadores se torna o seu próprio contrário.

Em São Bernardo não foi diferente, abriu mão de direitos como a cláusula que garantia estabilidade para casos

de acidente de trabalho, e reduzindo o adicional noturno do setor eletroeletrônico e fazendo acordos com os

patrões em busca de uma sociedade (capitalista) mais desenvolvida.

Esta transformação não pode ser imputada como sendo exclusivamente por causa da conjuntura em que

vivemos, já que, como podemos perceber ao longo deste trabalho, o embrião de contradição da CUT estava nela

desde o início de sua formação, ao longo da década de 1980, algumas dessas características se reafirmam, como

a luta pelos trabalhadores, o sindicalismo de Estado, culminando em algumas disputas sindicais onde 2 chapas

da CUT se enfrentavam. Na década de 1990, este movimento apenas se acentuou, aumentando as tensões

dentro da Central, acirrando o conflito das correntes e suas práticas e formulações também se polarizavam. A

formação política que faziam já não eram as mesmas, a postura no movimento também não. Com a eleição do

Lula para a presidência da república é possível que esta situação tenha se acentuado, mas como não foi

explorado neste trabalho, é importante apenas pontuar essa questão. Em todo o caso, a maior parte das

bibliografias usadas neste trabalho data do início da década de 1990, onde já se apresentava os sinais de que a

CUT não mais potencializava as ações da classe trabalhadora, apesar de existir importantes exceções. Hoje não

estamos num momento de acirramento da luta de classes, o número de greves e manifestações dos

trabalhadores se reduziu (BOITO, GALVÃO, MARCELINO, 2009), porém a estrutura da CUT está amoldada

para o sindicalismo cidadão que construiu, e não é possível que volte a se tornar um instrumento de lutas para a

classe trabalhadora, uma vez que já não possui os mesmos objetivos de outrora, as práticas mudaram. Enfim, o

ciclo histórico se encerra, junto com o ciclo do PT.

Podemos avaliar que o ciclo histórico protagonizado pelo PT e pela CUT está no fim, quando estes não

conduzem mais os trabalhadores para a superação desta sociedade. O que não quer dizer que estes irão perder

seus registros legais ou que rapidamente irão diminuir, pelo contrário, o ciclo se encerra no exato momento que

o PT atinge a maioria dos parlamentares eleitos. Ou como seguindo a leitura marxiana, a luta dos trabalhadores

por direitos dentro do capitalismo é muito importante, mas de nada servirão se estas não tiverem acumulando

para a superação da sociedade capitalista, já que vitórias efêmeras contribuirão apenas para melhorar o preço de

venda da mercadoria força de trabalho, enquanto o fundamental é a superação da sociedade de classes, e

portanto, essas pequenas lutas devem contribuir para a coesão do operariado numa grande preparação para a

luta que se apresenta por vir, a revolução socialista:

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“Os ‘Sindicatos’ atuam com utilidade como centros de resistência às usurpações do capital. Deixam, em parte, de atingir o seu objetivo quando utilizam a sua força de forma pouco inteligente. No entanto, deixam inteiramente de o atingir, quando se limitam a uma guerra de escaramuças, contra os efeitos do regime existente, em vez de trabalharem, ao mesmo tempo, para a sua transformação e servirem-se da sua força organizada como de uma alavanca para a emancipação definitiva da classe trabalhadora, isto é, para abolição definitiva do sistema de trabalho assalariado.” (MARX, p.56, 1981)

Quando os sindicatos perdem o objetivo do socialismo, perdem também as potencialidades e quando

abrem mão do confronto para assumirem a negociação, significa que já não conduz sua política para a

superação desta sociedade. E se aqueles que não mais dirigem os trabalhadores enquanto classe, para analisar

que devem centrar sua análise nos cidadãos em prol de direitos, Brecht faz uma pequena provocação dando a

entender que os inimigos da classe trabalhadora não fazem esta leitura da sociedade capitalista, pelo contrário,

estão o tempo inteiro preparados para um possível confronto de classe, uma revolução:

Têm tanques e canhões,metralhadoras e granadas.

(não falemos das gomas de mascar!)Têm polícias e soldados

que recebem muito dinheiroe estão dispostos a tudo.

Bem! E pra que?Têm por acaso inimigos tão poderosos?

Crêem que devem ter uma muletapara apoiar-se, pois estão caindo.

Bertolt Brecht

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

“A força é o parteiro de toda sociedade velha que traz a nova em suas entranhas”Karl Marx

Como podemos observar ao longo deste trabalho, a sociedade desde que foi dividida em classes gera o

conflito entre elas, e por conta da contradição existente entre estes dois polos opostos gera o movimento de

manutenção e superação das sociedades (MARX 2006a). No desenvolvimento deste processo, as classes se

organizaram, ao longo da história de diversas maneiras diferentes. Sob o capitalismo, a classe trabalhadora em

particular, criou desde associações de ajuda mútua, até partido operários que conduziram sua classe para

importantes processos revolucionários, como na Rússia, em Cuba, China, etc.

Centrando a análise num destes instrumentos criados, percebemos que os sindicatos vieram da

insubordinação dos trabalhadores frente a exploração que sofrem, e constituíram, assim, importantes

associações que lutavam por seus interesses imediatos e coordenavam suas ações para efetivar melhor suas

reivindicações. (MARX, 2005; GENNARI, 2010) O que conseguiam não era simplesmente conquistas

imediatas, mas muito além, os operários se identificaram como classe em si mesma, que poderia lutar por seus

direitos de forma autônoma as outras classes (MARX, 2006b). Como resposta a isso, alguns países, dentre eles

o Brasil, além de legalizar esta entidade, a vinculou ao Estado, definindo limites claros de atuação tendo em

vista tolher as movimentações mais radicalizadas, a fim de chegar numa ideologia de paz social, onde a

concepção acerca da luta de classes fosse suplantada pela visão de conciliação de classes. (GIANNOTTI, 1988)

Mas os trabalhadores não se submeteram totalmente a esta imposição, e por mais que o PCB (COSTA,

1986) e o PT/CUT (BOITO 1991b) tenham aderido ao sindicato de Estado, fazendo importantes ressalvas para

o momento de formação de ambos que lutavam contra, e, em especial ao PT/CUT, que ainda afirmam ser

contrários a alguns aspectos do sindicato de Estado, esta não é uma questão consolidada no movimento sindical.

Na história da CUT vimos as diversas tentativas de superar este aparelho vinculado ao Estado, principalmente

por parte do MOSM-SP. (BATISTONI, 2001) Portanto uma das principais correntes na fundação da CUT

promoviam o embate direto a movimentação de conduzir para dentro do Estado (seja via parlamento ou

sindicato) os embates da classe trabalhadora. Por outro lado, a Articulação Sindical já fazia críticas menos

severas a esta estrutura, porém com as grandes mobilizações que protagonizaram, o conflito com esta foi

inevitável, o que gerou destituições de diretorias, prisões, cortes financeiros e outras retaliações, mas que aos

poucos foram sendo dirimidas na medida em que acertavam acordos com os patrões e seu Estado e

caminhavam para a institucionalidade (ANTUNES, 1991).

Portanto a história da CUT enquanto Central Sindical oficial começa em 1983, porém podemos perceber

que ela faz parte da história da luta e organização dos trabalhadores como um todo, em especial no Brasil. Seus

processos de transformações não se deram repentinamente, mas sim como parte de um movimento histórico que

passaram os trabalhadores brasileiros e mundiais. Este movimento é uma síntese de múltiplas determinações,

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mas que possuem como resultado a pacificação, ou melhor, impondo limites “aceitáveis” dentro da ordem, das

organizações que antes buscavam superá-la.

Como negação desta conduta de amoldamento, surgem outras entidades sindicais que reivindicam a

história que construíram no interior da CUT, porém, hoje, fora dela. Com a vontade de construir o novo, podem

acabar por reconstruir o velho sob novos aspectos. Os elementos que ruíram com a CUT muitos anos depois,

estavam presentes desde o início de sua formação, podendo ser percebido com mais facilidade depois de ser

observada sua trajetória, porém já existiam em sua formação.

Ousadamente o Sindicato dos Metalúrgicos de Campinas afirmam que a Intersindical é o embrião desta

construção de superação da Central Única dos Trabalhadores, e que sua postura política junto ao proletariado

será a marca verificada neste novo instrumento sindical que, negando aspectos da institucionalidade, busca

superá-la com mobilizações e lutas constante sem abrir mão de direitos e na tentativa de avançar em conquistas

e ganhos para a classe trabalhadora (Tese SMCR, 2010). Não podemos afirmar que a expectativa deste

sindicato irá se consolidar, já que é uma movimentação ainda inicial, mas o que podemos perceber é que a

postura dele comparada ao SMABC é muito diferente, refletindo a leitura que fazem acerca da sociedade e das

tarefas políticas dos trabalhadores.

O ciclo histórico do Partido dos Trabalhadores termina com a chegada do Lula a presidência da

república, não que este seja o fator mais importante, mas como o símbolo de uma trajetória que já não mais

serve para a classe trabalhadora superar a sociedade do capital (IASI, 2006). A Central Única dos

Trabalhadores, que está vinculada politicamente a este partido, acompanha todo o seu movimento, tanto no

auge e crescimento, quanto na institucionalização de suas práticas e seu amoldamento as possibilidades traçadas

pelas leis burguesas (TUMOLO, 2002). E o Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, como um dos principais

protagonistas desta central, é um daqueles que melhor reflete esta política em sua atuação de base.

Portanto ao mesmo tempo que o período é de negação, é também de construção, de subsunção de uma

Central que foi construída arduamente pelos trabalhadores ao longo de muitos anos, agora precisa ser

cuidadosamente avaliado almejando definir o que devemos incorporar desta importante experiência ao mesmo

tempo saber o que precisamos superar, numa grande tarefa de mais uma vez se apresenta a classe trabalhadora,

reconstruir seus instrumentos de luta e organização.

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REFERÊNCIAS

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ANEXOS

A nova imagem do ABC paulistaLuiz Marinho, Pres. Sind. Met. ABC

Inédita no país, a Câmara Regional do Grande ABC está dando os seus primeiros passos rumo à solução dos problemas vitais que estrangulam o desenvolvimento da mais industrializada região do Brasil.

Composta pelos principais agentes econômicos, políticos e sociais do ABC paulista - governo do Estado, prefeituras, Legislativo, organizações representativas dos setores produtivos e sindicatos - , a câmara nasceu do sentimento comum de que já estava na hora de a sociedade assumir, conjuntamente, a responsabilidade sobre o destino de uma parte importante do país.

Já em sua concepção, a câmara nos mostrou o papel efetivo a ser desempenhado pela sociedade: tradicionalmente espectadores, os diversos segmentos que compõem o nosso tecido social passam a ter que refletir e formular políticas, funções até então exclusivas dos poderes públicos constituídos.

Essa nova e moderna forma de construção de idéias e propostas concretas para uma região vai nos obrigar ainda a repensar o nosso limite de “mundo de atuação”, até aqui restrito a um município, a um setor da economia e até mesmo a uma só categoria profissional.

Os atores envolvidos com a câmara assumiram o compromisso de elaborar um planejamento estratégico para o desenvolvimento regional, com o pressuposto da geração de empregos, rendas e bem-estar-social.

Acreditamos construir, a curto prazo, uma nova imagem do ABC para o Brasil, por meio de ações conjuntas, criando condições objetivas para tornar a região atraente para novos investimentos.

Por que a Câmara Regional do Grande ABC interessa aos trabalhadores ? Em primeiro lugar, porque acreditamos na viabilidade da nova instituição, de composição pluralista e democrática ( já estabelecida em seu regimento de funcionamento), que permitirá à classe trabalhadora, representada por seus sindicatos, influir, pela primeira vez, no planejamento da região em que trabalha e reside.

Depois, porque é do interesse de todos, principalmente dos trabalhadores, o desenvolvimento econômico do ABC com a justa contrapartida de uma política de geração de emprego, rendas e conforto social.

Por fim, nós, metalúrgicos do ABC, especificamente assumimos, na posse da atual diretoria da entidade, o compromisso de consolidar a nova concepção sindical, em que entendemos o sindicato como agente para a ampliação dos direitos sociais dos trabalhadores.

O sindicato-cidadão, que queremos pressupõe a inegociável tarefa política de organizar a categoria para as suas grandes lutas, mas, ao mesmo tempo, se abre aos setores que se reivindicam do campo democrático, para a negociação e formação de parcerias para a solução dos graves problemas sociais que a região e o país enfrentam.

Foi com esse espírito que procuramos os atuais prefeitos, quando ainda eram candidatos, para expor nossas propostas, entre elas a possibilidade de criarmos 10 mil empregos a médio prazo e abraçarmos a idéia de erradicar o analfabetismo no ABC.

Sabemos tambem que precisamos enfrentar com coragem e ousadia a discussão do chamado “custo ABC” e o papel dos sindicatos verdadeiramente interessados em resolver essa polêmica.

Há, ainda, os problemas do trânsito, das enchentes, do meio ambiente, do transporte, as traumáticas vias de acesso a região, a nova pista da Imigrantes no trecho da serra e a modernização do porto de Santos, a criminalidade, entre tantos transtornos inerentes ao “custo ABC”.

Estas são algumas tarefas que todos, comprometidos com a câmara, devemos discutir e ponderar, antes de arregaçar as mangas para trabalhar na criação e execução do planejamento estratégico regional do ABC paulista.

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