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UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ INSTITUTO DE TECNOLOGIA DA UFPA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ENGENHARIA CIVIL MESTRADO ACADÊMICO EM ENGENHARIA CIVIL RAFAEL CALDEIRA MAGALHÃES CENÁRIOS ESTRATÉGICOS EM RECURSOS HÍDRICOS: Estudo da bacia do rio Ararandeua. Belém-PA, Maio de 2009

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ

INSTITUTO DE TECNOLOGIA DA UFPA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ENGENHARIA CIVIL

MESTRADO ACADÊMICO EM ENGENHARIA CIVIL

RAFAEL CALDEIRA MAGALHÃES

CENÁRIOS ESTRATÉGICOS EM RECURSOS HÍDRICOS:

Estudo da bacia do rio Ararandeua.

Belém-PA, Maio de 2009

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RAFAEL CALDEIRA MAGALHÃES

CENÁRIOS ESTRATÉGICOS EM RECURSOS HÍDRICOS:

Estudo da bacia do rio Ararandeua.

Dissertação aprovada no Programa de Pós-Graduação em Engenharia Civil, do Instituto Tecnológico da Universidade Federal do Pará, na obtenção do título de Mestre em Engenharia Civil.

Orientadora: Profª. Drª. Ana Rosa Baganha Barp

Belém-PA, Maio de 2009

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Dados Internacionais de Catalogação-na-Publicação (CIP) Biblioteca Central da Universidade Federal do Pará, Belém-PA

Magalhães, Rafael Caldeira, 1981-

Cenários estratégicos em recursos hídricos: estudo da bacia do rio

Ararandeua/ Rafael Caldeira Magalhães; orientadora, Ana Rosa

Baganha Barp. — 2009.

Dissertação (Mestrado) - Universidade Federal do Pará, Instituto de Tecnologia, Programa de Pós-Graduação em Engenharia Civil, Belém, 2009.

1. Recursos hídricos 2. Ararandeua, Rio, Bacia (PA). I. Título.

CDD - 22. ed. 333.91

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RAFAEL CALDEIRA MAGALHÃES

CENÁRIOS ESTRATÉGICOS EM RECURSOS HÍDRICOS:

Estudo da bacia do rio Ararandeua.

Dissertação aprovada no Programa de Pós-Graduação em Engenharia Civil, do Instituto Tecnológico da Universidade Federal do Pará, na obtenção do título de Mestre em Engenharia Civil.

Aprovado em 13 / 05 / 2009.

BANCA EXAMINADORA

___________________________________________________________________

Profª. Drª. Ana Rosa Baganha Barp (Orientadora) UFPA – FAESA

___________________________________________________________________

Profº.Dr. Lindemberg Lima Fernandes UFPA – FAESA

___________________________________________________________________

Profº. Dr. Durbens Martins Nascimento UFPA – NAEA

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AGRADECIMENTOS

Agradeço primeiramente a Deus, pela proteção e companhia; À minha família, minha esposa Alci, meus filhos, Daniel e Débora, carinhosamente Dan Dan e Dedé, assim como minha mãe Rosa e meu pai Magalhães; À minha orientadora, professora, incentivadora Ana Rosa Baganha Barp. A convivência nesses anos enriqueceu muito a minha vida; Aos amigos e professores do Grupo de Pesquisa em Recursos Hídricos da Amazônia, principalmente Francisco Cacela pela parceria na pesquisa e no trabalho cotidiano, Aline Louzada pelo incentivo e amizade e ao profº Lindemberg Fernandes pelos diálogos científicos, acompanhamento e participação na banca; Aos moradores, lideranças e instituições de Rondon do Pará pelo apoio no trabalho de campo; Aos colegas da ong Argonautas Ambientalistas da Amazônia; Aos colegas da Paróquia Evangélica de Confissão Luterana; À CAPES – Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior, pelo apoio financeiro da bolsa de mestrado durante o período regular do curso; Ao CNPq – Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico, especialmente aos Fundos Setoriais de Recursos Hídricos e Agronegócio pelo apoio financeiro do Projeto Água e Cidadania em Rondon do Pará;

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RESUMO

CENÁRIOS ESTRATÉGICOS EM RECURSOS HÍDRICOS: Estudo da bacia do rio Ararandeua.

A questão central desta pesquisa é investigar a teoria e metodologia de

criação e simulação de cenários estratégicos dos recursos hídricos em bacia hidrográfica. Esta teoria está baseada em três elementos da álgebra linear, sendo as teorias de matrizes, dos grafos e dos jogos. A integração de tais teorias foi utilizada através de métodos de análise estrutural, análise de atores sociais e análise morfológica, voltados para o planejamento e gestão da água. Para facilitar a compreensão, a modelagem computacional trouxe contribuições importantes através de três softwares: MICMAC (matriz de impacto cruzado-multiplicação aplicado à classificação), MACTOR (atores, objetivos e relações de força) e MORPHOL (matriz morfológica). A área de estudo é a bacia hidrográfica do Rio Ararandeua, caracterizada predominantemente pela prática do desmatamento na Amazônia brasileira, com grande incidência de conflitos pelo uso da água. Este trabalho demonstra a necessidade de que o planejamento do uso da água deve considerar as dinâmicas sociais, econômicas e ambientais do território na visão de desenvolvimento sustentável. A partir do trabalho de campo realizado no âmbito da pesquisa, foi possível criar e simular os cenários da bacia do Rio Ararandeua. Entre os cenários criados, destacam-se duas alternativas de gestão de recursos hídricos: o cenário sustentável e o cenário tendencial de exploração de recursos naturais. O cenário estratégico escolhido para orientar o planejamento da bacia foi o cenário sustentável, no qual os setores produtivos estão mais conscientes da responsabilidade de recuperação da bacia como forma de diversificar a produção. No meio urbano, a análise mostrou a necessidade de investimentos em saneamento para diminuir os impactos como erosão, sedimentação e destinação inadequada de resíduos sólidos e efluentes domésticos e industriais nos córregos. Neste caso, há a necessidade de consolidar o sistema de gerenciamento de recursos hídricos na região para possibilitar uma ruptura no modelo de gestão ambiental e hídrica. A principal contribuição deste trabalho é de orientar o processo decisório dos investimentos públicos e privados em recursos hídricos em bacias hidrográficas. Palavras-chave: cenários, bacia hidrográfica, gestão da água e sustentabilidade.

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ABSTRACT STRATEGIC SCENARIOS IN WATER: study of the Ararandeua River basin.

The central question in this survey is to investigate the theory and methodology of creation and simulation strategic scenarios of water resources in basin. This theory is based on three elements of linear algebra: matrices, graph and games theory. The integration was used by methods of structural, of social actors and morphological analysis for planning and water management. To facilitate the understanding, the simulation brought important contributions through three software: MICMAC (matrix of impact Cross - multiplication applied to the classification), MACTOR (actors, objectives and ratios) and MORPHOL (morphological matrix). The field of study is the river basin Ararandeua, characterized by predominantly practice deforestation in the Amazon, with high incidence of conflicts by use of water. The work demonstrates the need for water use planning should consider the dynamic social, economic and environmental territory on the vision of sustainable development. From the field work carried out under the search could create and simulate scenarios river basin Ararandeua. Between scenarios created are two alternative for management of water resources: the scenario sustainable and scenario trend of exploitation of natural resources. The scenario strategic of basin planning was sustainable, in which sectors are more aware of the responsibility of recovery basin as a way to diversify production. In urban areas, the analysis has shown that investments in sanitation to reduce the impacts as erosion, sedimentation and appropriation of inadequate solid waste and household and industrial effluent streams. In this case, there is the need to consolidate the system of water resource management in the region to enable a break in the model of environmental management and water. The main contribution of this work is to guide the decision-making process of public and private investment in water resources in river basins.

Key-words: scenarios, river basin, water management and sustainability.

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LISTAS DE ILUSTRAÇÕES

LISTA DE FIGURAS página

FIGURA 1 Exploração do futuro em cenários múltiplos 40

FIGURA 2 Método de construção de cenários descrito por Godet 47

FIGURA 3 Produto cartesiano linear da análise estrutural 50

FIGURA 4 Grafos de relações de causa-efeito 51

FIGURA 5 Exemplo de grafos de influência direta 53

FIGURA 6 Diagrama de classificação das variáveis 60

FIGURA 7 Diagrama de influência-dependência dos atores 62

FIGURA 8 Espaço morfológico 65

FIGURA 9 Representação lógica do processo de construção de cenários em recursos hídricos

67

FIGURA 10 Resultado da análise morfológica realizada no âmbito da elaboração do Plano Nacional de Recursos Hídricos

69

FIGURA 11 Localização da bacia do rio Ararandeua no Estado do Pará – Brasil

70

FIGURA 12 Localização da Bacia do Rio Ararandeua: (A) Divisão Hidrográfica Nacional; (B) Localização da Região Hidrográfica Atlântico Nordeste Ocidental com as sub-divisões; (C) Bacia Hidrográfica do Rio Ararandeua localizada na sub-bacia 31; e (D) Bacia do Rio Ararandeua.

71

FIGURA 13 Mapa da Região Hidrográfica Costa Atlântica-Nordeste 71

FIGURA 14 Representação gráfica da Bacia Hidrográfica do Rio Ararandeua

72

FIGURA 15 Principais afluentes do rio Ararandeua 73

FIGURA 16 Localização de Rondon do Pará 74

FIGURA 17 Arco do Desmatamento na Amazônia e localização do Município de Rondon do Pará

90

FIGURA 18 Evolução do desflorestamento no município de Rondon do Pará (PA) para os anos de 1992, 1997, 2000, 2002, e 2004 e a localização das áreas de carvoejamento

91

FIGURA 19 Estrutura de construção de cenários adotados nesta pesquisa 94

FIGURA 20 Matriz de influência direta e indireta das variáveis do sistema 97

FIGURA 21 Mapa de influência direta e dependência 98

FIGURA 22 Gráfico de forte influência entre as variáveis com apenas 30% das relações em ordem de importância para o sistema

99

FIGURA 23 Gráfico de forte e relativa influência indireta 100

FIGURA 24 Mapa de influência e dependência entre os atores sociais 105

FIGURA 25 Histograma de competitividade entre atores da bacia 105

FIGURA 26 Gráfico de convergência entre os atores sociais da bacia 106

FIGURA 27 Mapa de distância entre objetivos 107

FIGURA 28 Balança entre atores e objetivo de crescimento econômico 107

FIGURA 29 Balança entre atores e objetivo de promoção de turismo 108

FIGURA 30 Balança entre atores e objetivo de organização social 108

FIGURA 31 Gráfico de distância entre os objetivos 109

FIGURA 32 Mapa de escala de distância entre os atores sociais. 110

FIGURA 33 Espaço morfológico com preferências e restrições do cenário estratégico sustentável

112

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FIGURA 34 Espaço morfológico com preferências e restrições do cenário tendencial negativo

113

LISTA DE QUADROS

QUADRO 1 Comparação dos Períodos de desenvolvimento dos recursos hídricos

16-17

QUADRO 2 Classificação de ações de gestão no âmbito de bacias hidrográficas

29

LISTA DE FOTOGRAFIAS

FOTO 1 Exemplo comum de queimadas e desmatamento na bacia do rio Ararandeua

76

FOTO 2 Imagem de desflorestamento na bacia do rio Ararandeua 77

FOTO 3 Indústria de mineração na bacia do rio Ararandeua 78

FOTO 4 Processo de extração mineral na bacia do rio Ararandeua 78

FOTO 5 Processos erosivos na área urbana da bacia do rio Ararandeua

79

FOTO 6 Uso industrial da água no laticínio 80

FOTO 7 Uso da água para produção agrícola 80

FOTO 8 Uso da água para atividade de piscicultura 80

FOTO 9 Comunidade que utiliza a água para o consumo doméstico 81

FOTO 10 Disposição inadequada de resíduos sólidos na área urbana 81

FOTO 11 Problemas na rede de drenagem de água pluviais na área urbana

82

FOTO 12 Despejo inadequado de efluentes industriais (matadouro) na área urbana

82

FOTO 13 Balneário da cidade de Rondon do Pará 82

FOTO 14 Utilização do rio Ararandeua para atividade de lazer 83

FOTO 15 Atividade de carvoarias na bacia 83

FOTO 16 Degradação ambiental devido efluentes domésticos no rio Ararandeua

86

FOTO 17 Fornos destinados a carbonização de biomassa originária de floresta primaria em Rondon do Pará

90

LISTA DE TABELAS

TABELA 1 Relação entre as Metas do Milênio e a gestão da água 24

TABELA 2 Matriz de análise estrutural com elementos genéricos 50

TABELA 3 Matriz de exemplificação da teoria dos jogos 56

TABELA 4 Relação entre variáveis da análise estrutura 59

TABELA 5 Municípios Integrados à Bacia Hidrográfica do Rio Ararandeua

72

TABELA 6 Principais produtos da extração vegetal do município de Rondon do Pará (PA)

88

TABELA 7 Principais produtos da extração vegetal do município de Rondon do Pará (PA)

89

TABELA 8 Principais produtos da extração vegetal do município de Rondon do Pará (PA)

89

TABELA 9 Principais Rebanhos Existentes 2001-2005 em Rondon do Pará (PA)

89

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TABELA 10 Representação das variáveis do sistema estudado. 96

TABELA 11 Somatória de linha e colunas para cada variável 97

TABELA 12 Rank das variáveis de maior influenciação 101

TABELA 13 Rank das variáveis de maior dependência 101

TABELA 14 Descrição dos atores sociais da bacia 103

TABELA 15 Descrição dos objetivos dos atores da bacia 104

TABELA 16 Matriz de interação entre atores e objetivos 104

TABELA 17 Definição do espaço morfológico 111

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO.......................................................................................................12 Delimitação da pesquisa 14

Capítulo I – Gestão Integrada de Recursos Hídricos 21

1.1 - A interface da gestão da água e o desenvolvimento sustentável...........21

1.2 - A bacia hidrográfica: elemento de integração e gestão...........................26

1.3 - Aspectos legais e institucionais da gestão dos recursos hídricos.........30

1.4 - O plano de bacia hidrográfica.....................................................................33

Capítulo II – Prospectiva Estratégica e construção de cenários.................... 37

2.1 - Diferenças entre planejamento, prospectiva e estratégia........................37

2.2 - Elementos teórico-metodológicos..............................................................40

2.3 - Teorias Matemáticas aplicada à construção de cenários.........................47

2.3.1 - Teoria das Matrizes............................................................................... 47

2.3.2 - Teoria dos Grafos...................................................................................51

2.3.3 - Teoria dos Jogos....................................................................................55

2.4 - Metodologias informacionais de apoio à construção de cenários..........57

2.5 - Exemplo do Plano Nacional de Recursos Hídricos...................................65

Capítulo III – Estudo da bacia hidrográfica do rio Ararandeua........................70

3.1 - Localização Geográfica................................................................................70

3.2 - Características Socioambientais......................................................... ......74

3.3 - Atividades Econômicas...............................................................................88

Capítulo IV – Construção dos Cenários de recursos hídricos da bacia.........92

4.1 – Análise Estrutural........................................................................................95

4.2 – Análise dos Atores Sociais.......................................................................101

4.3 – Análise Morfológica e Cenário Estratégico da Bacia.............................110

Capítulo V – Considerações Finais...................................................................116

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 125

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Introdução

A gestão integrada de bacias hidrográficas, em particular a gestão da água,

se sustenta especialmente na capacidade das organizações públicas e privadas de

tomar decisões e desenhar estratégias para alcançar objetivos pré-determinados por

e para um grupo relativamente grande de atores que dependem e compartilham um

mesmo recurso e território. As decisões do grupo de gestão, materializadas em

estratégias de ação, se apresentam na forma de planos.

Os planos de recursos hídricos de uma bacia hidrográfica se formulam tendo

como marco regulatório a Lei nº. 9.433/97 que é a Política Nacional de Recursos

Hídricos, estabelece que tais planos visam fundamentar e orientar a implementação

da política e o gerenciamento dos recursos hídricos.

O reconhecimento e a avaliação dos principais problemas referentes à água

que afetam a sociedade e sua relação com os recursos naturais podem resultar em

uma ação gradual e progressiva focalizada no planejamento, gestão e

desenvolvimento sustentável de recursos hídricos.

A questão central desta pesquisa é investigar o planejamento estratégico de

bacia hidrográfica, tendo como base a teoria preconizada por Godet (1993) de

construção de cenários prospectivos, e o método de análise estratégica,

materializadas através dos instrumentos computacionais: os softwares MICMAC,

MACTOR e MORPHOL© (LIPSOR, 2004), que simulam a interação entre as

variáveis e tendências do planejamento num território.

Pretende-se contribuir com a implementação dos instrumentos da gestão de

recursos hídricos, no âmbito de bacia hidrográfica e com isso avaliar a efetividade de

utilização dessas técnicas aplicadas às dinâmicas sociais, econômicas, ambientais e

territoriais da bacia hidrográfica do rio Ararandeua, que foi a área estudada.

Nesta pesquisa priorizou-se utilizar como elemento de modelagem e

simulação, a análise matemática da teoria das matrizes, teoria dos grafos e teoria

dos jogos, que trata do desenvolvimento e da aplicação da prática de métodos que

permitam descobrir e analisar as inter-relações estruturais e morfológicas entre

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objetos, fenômenos ou conceitos e explorar os resultados obtidos na constituição de

realidades plausíveis.

A área de estudo da pesquisa é a Bacia Hidrográfica do Rio Ararandeua, que

é um território com característica predominantemente amazônica. Localiza-se na

região sudeste do Estado do Pará, fazendo parte da Região Hidrográfica Costa

Atlântica - Nordeste, conforme divisão estadual do Pará; e da Região Hidrográfica

Atlântico Nordeste Ocidental, segundo divisão federal definida pelo Conselho

Nacional de Recursos Hídricos - Resolução do CNRH nº 32, de 15 de outubro de

2003. Com uma área total 10.742,62 km², desta 95,22 % estão no Estado do Pará e

4,78% no Estado do Maranhão.

O município de Rondon do Pará reúne os principais elementos dentro do

contexto da bacia hidrográfica do Rio Ararandeua que possibilitam o

estabelecimento de análises consistentes para a construção de cenários

estratégicos em recursos hídricos. A Lei das Águas é clara e objetiva na definição

das diretrizes gerais de ação, às quais se referem à indispensável integração da

gestão da águas com a gestão ambiental. Com isso, fortalece-se o princípio da

gestão integrada entre duas políticas públicas, sendo a bacia hidrográfica do Rio

Ararandeua como lócus de estudo da política de recursos hídricos e o município de

Rondon do Pará, como lócus para a política ambiental.

O estudo da Bacia Hidrográfica do Rio Ararandeua justifica-se por duas

razões: é uma região que possui um dos maiores índices de desmatamento em todo

território brasileiro; e se encontra a sede administrativa do Município de Rondon do

Pará, o que possibilitou atribuir uma escala político-administrativo necessária para

agregar dimensões econômicas, sociais e ambientais.

A economia local do município de Rondon do Pará é sustentada basicamente

pela indústria extrativa de madeira e pela pecuária. A madeira é um produto cada

vez mais escasso, fato que tem ocasionado a desativação de várias serrarias, ou

seu deslocamento para outras cidades, contrapondo com a pecuária, que cresce

cada vez mais. Aqui cabe ressaltar que modelo de pecuária adotado na região,

como em toda a Amazônia, é o extensivo, sem controle de desmatamento, de

queimadas ou respeito aos limites legais de desmatamento, gerando além da

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destruição dos recursos florestais à contaminação, erosão e assoreamento dos

cursos d‘água na região.

A hipótese balizadora desta pesquisa é de que a utilização de técnicas de

construção de cenários de recursos hídricos constitui importante ferramenta para a

elaboração do planejamento estratégico da bacia hidrográfica do rio Ararandeua,

possibilitando, a partir da análise de dimensões sociais, econômicas, ambientais e

territoriais, reduzir incertezas e definir qual o melhor caminho a seguir na gestão da

água em regiões com alto índice de desmatamento e degradação ambiental.

Como principais variáveis consideradas neste estudo, priorizou-se:

i. Atividades produtivas (agricultura, pecuária, mineração, indústria e outros) e

sua influência nas alterações do sistema hídrico.

ii. Modelo de gestão pública institucional adotada nos âmbitos nacional, estadual

e local e sua relação com os marcos regulatórios tanto de recursos hídricos,

quanto de meio ambiente.

iii. Interesses dos atores sociais envolvidos nos processos decisórios relacionados

com a gestão de recursos hídricos na bacia hidrográfica do Rio Ararandeua.

É oportuno esclarecer que as atividades de campo, como coleta de

informações sobre a bacia e análise de atores sociais foram inseridas no âmbito do

Projeto ―Água e Cidadania para o Desenvolvimento Local Sustentável das Bacias

Hidrográficas de Rondon do Pará‖ que é coordenado pelo Grupo de Pesquisa em

Recursos Hídricos da Amazônia/UFPA, parcerias da organização não

governamental Argonautas Ambientalistas da Amazônia e Prefeitura Municipal de

Rondon do Pará e apoio financeiro do Fundo Setorial de Recursos Hídricos (CT-

HIDRO) e Fundo Setorial de Agronegócio (CT-AGRONEGÓCIO) do Conselho

Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico – CNPq.

Uma característica marcante deste trabalho é o diálogo interdisciplinar com a

inserção de três inovações científicas: um novo paradigma (sustentabilidade pautada

na água e floresta na Amazônia), um novo conceito (o planejamento baseado na

gestão integrada de recursos hídricos) e um novo modelo (os cenários como forma

de reduzir as incertezas no processo decisório).

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É importante perceber que esta transversalidade científica é própria da

ciência ambiental, sendo indissociável de outras ciências como a ciência política,

administração, sociologia. No entanto, a orientação geral do trabalho faz parte da

engenharia no qual o centro do trabalho é definido.

A pesquisa foi realizada durante três anos, de 2006 à 2009, onde foram

colhidas informações tanto de bases secundárias, quanto em trabalhos de campo,

no qual foi criado um banco de dados, inclusive com a criação de mapas que

possibilitaram a visualização gráfica das informações.

Delimitação do Tema e Justificativa

Segundo Barth (2002), a Conferência Internacional sobre Água e o Meio

Ambiente, em janeiro de 1992 realizada na cidade de Dublin, Irlanda, aprovou em

sua declaração1 princípios que deram origem a várias reformas no setor de recursos

hídricos, estabelecendo que a escassez e o desperdício de água representam séria

e crescente ameaça ao desenvolvimento sustentável e à proteção do meio

ambiente. A saúde e bem-estar do homem, a garantia de alimentos, o

desenvolvimento industrial e o equilíbrio dos ecossistemas estarão sob risco se a

gestão da água e do solo não se tornar realidade, na presente década, de forma

bem mais efetiva do que tem sido no passado.

Outro documento que contribuiu de forma positiva para as grandes mudanças

ocorridas para o desenvolvimento dos recursos hídricos foi a Agenda 21,

consolidada com a realização da Conferência das Nações Unidas para o Meio

Ambiente e Desenvolvimento Sustentável, ocorrida no ano de 1992 na cidade do Rio

de Janeiro.

Em seu capítulo 18, inserido na Seção II (Conservação e gerenciamento dos

recursos para o desenvolvimento) que versa sobre a ―Proteção da qualidade e do

abastecimento dos recursos hídricos: aplicação de critérios integrados no

1 Princípios da Declaração de Dublin: i. A água doce é um recurso finito e vulnerável, essencial para a

conservação da vida, a manutenção do desenvolvimento e do meio ambiente; ii. O desenvolvimento e a gestão da água devem ser baseados em participação dos usuários, dos planejadores e dos decisores políticos, em todos os níveis; iii. As mulheres devem assumir papel essencial na conservação e gestão da água; e iv. A água tem valor econômico em todos os seus usos competitivos e deve-se promover sua conservação e proteção.

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16

desenvolvimento, manejo e uso dos recursos hídricos‖, a Agenda 21 agrega os

princípios de Dublin e estabelece o objetivo de assegurar que se mantenha uma

oferta adequada de água de boa qualidade para toda a população do planeta, ao

mesmo tempo em que se preservem as funções hidrológicas, biológicas e químicas

dos ecossistemas, adaptando as atividades humanas aos limites da capacidade da

natureza, reconhecendo a água em caráter multissetorial, bem como os interesses

múltiplos na utilização desses recursos.

O QUADRO 1 mostra uma comparação sobre os períodos de

desenvolvimento do setor de recursos hídricos entre os países desenvolvidos e o

Brasil no período da década de 1940 aos dias atuais.

QUADRO 1 – Comparação dos Períodos de desenvolvimento dos recursos hídricos. Período Países Desenvolvidos Brasil

1945-60 Crescimento industrial e populacional

• Uso dos recursos hídricos: abastecimento, navegação, energia, etc • Qualidade da água dos rios • Controle das enchentes com obras

• Inventário dos recursos hídricos; • Início dos empreendimentos hidrelétricos e planos de grandes sistemas.

1960-70 Início da pressão ambiental

• Controle de efluentes; • Medidas não estruturais para Enchentes; • Legislação para qualidade da água dos rios.

• Início da construção de grandes empreendimentos hidrelétricos; • Deterioração da qualidade da água de rios e lagos próximos a centros urbanos.

1970-1980 Início do Controle ambiental

• Legislação ambiental • Contaminação de aqüíferos; • Deterioração ambiental de grandes áreas metropolitanas; • Controle na fonte da drenagem urbana, da poluição doméstica e industrial;

• Ênfase em hidrelétricas e abastecimento de água; • Início da pressão ambiental; • Deterioração da qualidade da água dos rios devido ao aumento da produção industrial e concentração urbana.

1980-90 Interações do Ambiente Global

• Impactos Climáticos Globais; • Preocupação com conservação das florestas; • Prevenção de desastres; • Fontes pontuais e não pontuais; • Poluição rural; • Controle dos impactos da urbanização sobre o ambiente • Contaminação de aqüíferos

• Redução do investimento em hidrelétricas; • Piora das condições urbanas: enchentes, qualidade da água; • Fortes impactos das secas do Nordeste; • Aumento de investimentos em irrigação; • Legislação ambiental

1990-2000 Desenvolvimento Sustentável

• Desenvolvimento Sustentável; • Aumento do conhecimento sobre o comportamento ambiental causado pelas atividades humanas; • Controle ambiental das grandes metrópoles; • Pressão para controle da emissão de gases, preservação da camada de ozônio; • Controle da contaminação dos

• Legislação de recursos hídricos • Investimento no controle sanitário das grandes cidades; • Aumento do impacto das enchentes urbanas; • Programas de conservação dos biomas nacionais: Amazônia, Pantanal, Cerrado e Costeiro; • Início da privatização dos serviços de energia e saneamento;

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17

aqüíferos das fontes não-pontuais; 2000- Ênfase na água: metas do Milênio das Nações Unidas

• Desenvolvimento da Visão Mundial da Água; • Uso integrado dos Recursos Hídricos; • Melhora da qualidade da água das fontes difusas: rural e urbana; • Busca de solução para os conflitos transfronteriços; • Desenvolvimento do gerenciamento dos recursos hídricos dentro de bases Sustentáveis

• Avanço do desenvolvimento dos aspectos institucionais da água; • Privatização do setor energético e de saneamento; • Diversificação da matriz energética; • Aumento da disponibilidade de água no Nordeste; • Planos de Drenagem urbana para as cidades.

FONTE: adaptado de TUCCI, et al, 2000

O quadro 1 enfatiza a falta de preocupação mundial com os impactos

ambientais até o período de 1990 e o início do enfoque do desenvolvimento

sustentável e gestão integrada de recursos hídricos. Já Clarke e King (2004), em

contra-argumento da visão otimista de Tucci (2000), alerta que a situação dos

recursos hídricos vem piorando, e não melhorando, pois, apesar dos Planos

Grandiosos empenhados pelas Nações Unidas e por outros organismos

internacionais desde a década de 1970, as questões básicas precisam ser atacadas,

em termos práticos e a situação continuará a piorar até que seja tomada alguma

atitude efetiva de amplitude mundial. Clarke e King prosseguem seus estudos

considerando que no ano de 2000, o mundo todo, usou duas vezes mais água do

que em 1960; somente no ano de 2000, 500 milhões de pessoas viviam em países

com escassez crônica de água; e finalmente, a previsão mais alarmante, de que as

guerras deste século serão por água.

Segundo Barp (2004), a gestão da água é concebida através de métodos

organizados, cujo objetivo principal é solucionar os problemas concernentes ao uso

e ao controle dos recursos hídricos, atendendo, dentro de suas limitações

econômicas e ambientais e considerando os princípios de justiça social, à demanda

de água pela sociedade, a partir das disponibilidades limitadas, previstas em

estudos de investigação e diagnóstico.

Várias são as ferramentas e métodos utilizados no campo do planejamento e

gestão de recursos hídricos, como instrumentos de suporte à tomada de decisão,

orientadas para a gestão contínua e integrada e o uso racional desses recursos.

Vários são, também, os atores e agentes que, de uma forma ou de outra, estão

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envolvidos nessa questão e que atuam no processo de decisão, uma vez que a

utilização de recursos hídricos envolve interesses múltiplos.

A gestão de recursos hídricos tem passado por um período de reformulação

de seus procedimentos de avaliação e de desenvolvimento de técnicas matemáticas

de suporte à decisão. Observa-se que há certa diferença entre uma abordagem

tradicional de seleção de alternativas, baseada na análise custo-benefício, e uma

análise mais abrangente, que considera múltiplos objetivos. Trata-se da análise

multiobjetivo, cujas técnicas têm-se revelado de grande apoio à decisão,

particularmente em problemas de interesse público. Esse tipo de análise consiste na

otimização de vários aspectos e interesses de diferentes grupos, cada um com

objetivos e valores próprios, freqüentemente conflitantes (BARBOSA, 1997).

Os cenários inserem-se nesta perspectiva de análise, pois buscam construir

representações do futuro, assim como rotas que levam até essas representações.

Com essas representações é possível analisar as tendências dominantes e as

possibilidades de ruptura no ambiente em que estão localizadas as organizações,

instituições, atores sociais.

Os estudos sobre o futuro constituem um vasto conjunto de atividades e

abordagens tendo o futuro como objeto de análise. Segundo Godet (1993, p: 44):

prospectiva exploratória é um panorama dos futuros possíveis, isto é, dos cenários não improváveis, tendo em conta o peso dos determinismos do passado e da confrontação dos projectos dos actores. Cada cenário (jogo de hipóteses coerente) pode ser objecto de uma apreciação cifrada, isto é, de uma previsão.

Para Buarque (2000), dentre os estudos prospectivos, a técnica de cenários

tem se consolidado como o principal recurso metodológico, tendo sido incorporado

nos processos de planejamento estratégico, tanto empresarial quanto social

governamental. Como todo estudo prospectivo, os cenários procuram descrever

futuros alternativos – lidando com eventos e processos incertos – para apoiar a

decisão e a escolha de alternativas, destacando-se, portanto, como ferramenta do

planejamento numa realidade carregada de riscos, surpresas e imprevisibilidades.

Baseado na tese do indeterminismo, os cenários não podem nem pretendem

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eliminar a incerteza, predizer o que vai acontecer e oferecer segurança e

tranqüilidade aos agentes econômicos. Mas, se trabalham e convivem com a

incerteza, os cenários procuram analisar e sistematizar as diversas probabilidades

dos eventos e processos, explorando-os pontos de mudança das grandes

tendências, de modo a antecipar as alternativas mais prováveis.

A partir da compreensão dos estudos sobre futuros, prospectiva exploratória e

cenários, é possível, com a identificação de certas variáveis, criar modelos

computacionais ou sistemas, nas quais pode-se visualizar a interação entre as

variáveis ao longo do tempo, através de simulações.

Segundo Godet (2000), o objetivo desta da análise é explorar de forma

sistemática os futuros possíveis a partir do estudo de todas as combinações

resultantes da decomposição de um sistema.

A análise estrutural é utilizada com base no software MICMAC. A análise de

atores é utilizada com base no software MACTOR e a análise morfológica é utilizada

como base metodológica do software MORPHOL. Tais aplicativos foram

desenvolvidos pelo Laboratório de Investigação em Prospectiva Estratégica e

Organizacional - LIPSOR, instituto francês, que representa uma referência teórico-

metodológica da pesquisa em foco.

Existem algumas experiências de construção de cenários como base do

planejamento estratégico de recursos hídricos, na qual se destaca a elaboração do

Plano Nacional de Recursos Hídricos, que, segundo MMA (2006, p: 19):

Com um intuito de imprimir um enfoque mais estratégico ao processo de elaboração do Plano Nacional de Recursos Hídricos, empregou-se a metodologia de prospectiva exploratória para a construção de cenários, de maneira que fosse explicitados futuros alternativos prováveis para os recursos hídricos nacionais, considerando o

período de 2005 à 2020.

O Plano Nacional de Recursos Hídricos, aprovado pelo Conselho Nacional de

Recursos Hídricos no ano de 2006, representa um marco na gestão das águas no

Brasil, devido ao fato de se constituir num dos principais instrumentos previstos na

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legislação para a definição de objetivos estratégicos a melhoria da disponibilidade

hídrica, em quantidade e qualidade, a redução dos conflitos pelo uso da água e a

percepção da conservação da água como valor socioambiental relevante.

Um elemento inovador desta pesquisa é reconhecer o município como ator

social importante na gestão da água, ou seja, os municípios, além de usuários

institucionais dos recursos hídricos, são promotores, orientadores e administradores

do desenvolvimento sócio-econômico em nível local, cujas decisões têm efeitos

significativos sobre os sistemas natural e social e, por conseguinte sobre a água,

seus usos e usuários.

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I – GESTÃO INTEGRADA DE RECURSOS HÍDRICOS

1.1 - A interface da gestão da água e o desenvolvimento sustentável

O planejamento e gestão dos recursos hídricos levantam, necessariamente,

problemas de natureza intersetorial e multidisciplinar. Tratando-se a água de um

recurso partilhado pelos mais diversos setores de atividades, não pode deixar de

estar sujeita a um regime complexo de utilização e jurisdição que tem evoluído ao

longo do tempo. No Brasil, até os anos de 1970, centrava-se grande ênfase nos

aspectos estritamente técnicos relacionados com os aproveitamentos hidráulicos.

Durante a década de 1980, a ênfase derivou para os problemas da engenharia de

recursos hídricos e para a elaboração de projetos. Já na década de 1990 e início do

século XXI, uma parte importante dos esforços concentra-se sobre o contexto da

utilização do recurso, isto é, sobre o conjunto de condicionantes ambientais,

econômico-sociais e institucionais que envolvem e circunscrevem os usos e as

funções da água e os processos de decisão a eles relacionados (BANCO MUNDIAL,

2003).

Dentro da perspectiva de abordagem da gestão integrada de recursos

hídricos, é necessário ter a compreensão sobre o enfoque do desenvolvimento

sustentável. Este conceito do desenvolvimento sustentável nasceu tendo como

objetivo a busca do equilíbrio entre o desenvolvimento socioeconômico e a

sustentabilidade do ambiente no qual a população se desenvolve. Em 1987, a

Comissão Mundial da Organização das Nações Unidas - ONU sobre o Meio

Ambiente e Desenvolvimento, apresentou um documento denominado ―Our

Common Future‖, mais conhecido por relatório de Brundtland. O relatório expõe que

―desenvolvimento sustentável é o desenvolvimento que satisfaz as necessidades do

presente sem comprometer a capacidade de as futuras gerações satisfazerem suas

próprias necessidades‖ (MMA, 2006, pg. 34).

O conceito adotado na Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente

e Desenvolvimento – CNUMAD/92, realizada na cidade do Rio de Janeiro, no Brasil,

envolvia mudanças de comportamento no plano pessoal, social e transformações

nos mecanismos de produção e hábitos de consumo. Segundo Tucci (2006), este

conceito evoluiu para a incorporação de várias dimensões na relação entre o homem

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e a natureza, como: ambiental, a capacidade de suporte do ecossistema; ecológico,

limite de uso dos recursos naturais; social, impactos sobre a qualidade de vida;

político, atitudes da população e cidadania; econômico, investimento em eficiência;

demográfico, capacidade do território quanto aos recursos naturais à população;

cultural, manutenção das culturas regionais; institucionais, arranjos legais e de

gestão para sustentabilidade; espacial, busca da eqüidade nas relações inter-

regionais.

No entanto, Leff (2003, p. 5), considera que o referencial teórico da

abordagem sobre o desenvolvimento sustentável tem sua origem a partir da

racionalidade econômica, onde

A geopolítica da sustentabilidade se configura no contexto de uma globalização econômica, que, enquanto leva à desnaturalização da natureza – a transgenese que invade e transmuta tecnologicamente a vida –, com o discurso do desenvolvimento sustentável, promove uma estratégia de apropriação que busca ―naturalizar‖ a mercantilização da natureza. Nessa corrupção do ―natural‖ negociam-se as controvérsias entre a economização na natureza e a ecologização da economia.

Para Postel (1997) uma nova ética para a água deve ser considerada que

deve estar acima das questões da água como fator econômico. Chapin et al. (1997)

revelam que a nova ética da água, que inclui a conservação, deve considerar os

aspectos fundamentais da biodiversidade dos ecossistemas aquáticos e de sua

proteção e manutenção. É esta biodiversidade que mantém os sistemas

funcionando, que supre o homem com alimento e remédios e que pode, por fim,

manter o planeta funcionando ainda por um longo tempo.

De acordo com Correia et al (1997) existe três eixos que conformam a

sustentabilidade: o ecológico, o ético e o econômico. O eixo ecológico da

sustentabilidade refere-se ao imperativo de uma visão compreensiva dos problemas.

A formulação geral que orienta as abordagens pertinentes a esse eixo é de que a

problemática ambiental (nela inserida a de recursos hídricos) é suscitada quando se

pensa nas relações entre as sociedades e seus respectivos espaços geográficos

(binômio padrões de apropriação dos recursos naturais versus capacidade de

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suporte do meio ambiente, que impõe limites à reprodução do antropo-social, do

biológico e do físico). O eixo econômico da sustentabilidade implica na identificação

e na avaliação dos custos e benefícios, econômicos e sociais, envolvidos nos

processos de apropriação dos recursos naturais disponíveis nas unidades territoriais

de análise. Implica, também, em considerações sobre eqüidade na distribuição de

tais benefícios e custos entre os diferentes atores sociais afetados, direta ou

indiretamente, pelos referidos processos. Finalmente, o eixo ético da

sustentabilidade refere-se aos acordos sociais e à representatividade dos múltiplos

interesses relacionados à gestão do meio ambiente em geral, e dos recursos

hídricos em particular. Inscrevem-se, nesse campo, variáveis associadas à

organização formal (instituições e aparato legal) e informal (organizações civis,

interesses difusos, hábitos e costumes decorrentes de tradição e cultura) da

sociedade.

Em função das características dos debates sobre o desenvolvimento

sustentável durante a década de 1990, as Nações Unidas referendou em 2000 os

objetivos e metas para serem atingidas no âmbito internacional até 2015,

denominados Metas de Desenvolvimento do Milênio, no qual possuem relação direta

com a água, conforme pode ser constatada na tabela 1.

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Tabela 1 – Relação entre as Metas do Milênio e a gestão da água. Metas do Milênio para 2015 Gestão da água para atingir as metas

Erradicar a pobreza A água é um fator de produção na agricultura, indústria e atividades econômicas; Os investimentos em infra-estrutura de água são catalisadores para o desenvolvimento local e regional; A redução da vulnerabilidade relacionada com a água reduz os riscos de investimentos e na produção; A redução da degradação dos ecossistemas melhora a subsistência; Melhorar a saúde aumenta a produtividade em todos os aspectos.

Erradicar a fome A água é o insumo para a irrigação aumentar a produção de grãos; A água sustenta animais, colheitas e jardins; Produção sustentável da pesca, cultivos e outros alimentos; A população sã está mais disposta a absorver os nutrientes dos alimentos que têm contato com a água.

Obter o ensino primário universal

Aumentar a freqüência escolar e acesso à água para melhora da saúde; Ter banheiros separados para meninos e meninas nas escolas.

Promover a igualdade de gênero e a autonomia da mulher

As organizações baseadas na comunidade para o manejo da água enriquecem o capital social das mulheres; Redução da carga para a mulher pela melhora dos serviços de água, aumentando o tempo para atividades produtivas e educação; Serviços de água e esgotamento sanitário reduzem o risco de ataques sexuais às mulheres; O aumento da sobrevivência das crianças são precursores da transição demográfica para taxas menores de fertilidade.

Reduzir a mortalidade infantil

Aumento de água potável e sane amento doméstico reduzem a mortalidade infantil; O incremento da nutrição e a segurança dos alimentos reduzem a susceptibilidade de doenças; O incremento da saúde e a redução da carga poluente na água reduzem o risco de mortalidade infantil;

Melhorar a saúde materna O Incremento de saúde e nutrição reduz a possibilidade de anemias e outras condições que afetam a mortalidade maternal; Quantidade suficiente de água limpa para asseio pré e pós-nascimento reduzem a ameaça de infecções.

Combater a AIDS, a malária e outras doenças

Um melhor manejo da água reduz os habitats dos mosquitos; Um melhor manejo da água reduz o risco para várias doenças de origem e de veiculação hídrica; A melhor saúde e nutrição reduzem a suscetibilidade a severidade da AIDS e outras doenças.

Garantir a sustentabilidade do meio ambiente

A melhora do manejo da água, incluindo o controle da poluição e a conservação da água, são fatores chaves na preservação da integridade dos ecossistemas; O desenvolvimento do manejo integrado na bacia permite a sustentabilidade dos ecossistemas e resolve os conflitos de montante para jusante; O bom manejo da água fomenta a conservação da biodiversidade e o combate à desertificação.

FONTE: Adaptado de Cabezas, 2004.

Clarke e King (2005) alertam que a menos que sejam tomadas medidas

radicais para modificar o modo como as águas são manipuladas, as perspectivas

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são desanimadoras. Por volta de 2025, o mundo pode enfrentar uma grave falta de

água e como conseqüência haverá queda na produção de alimentos, o que levará à

desnutrição, às doenças e a um desastre ecológico. Eles acrescentam que se o

mundo quiser atingir as Metas do Milênio, da ONU, que consistem em reduzir pela

metade a parcela da população sem acesso ao abastecimento de água tratada e ao

saneamento, serão necessários, aproximadamente, 150 bilhões de dólares para a

instalação de tubulações, de sistemas de esgoto e de usinas de tratamento de água.

No entanto, existem dois princípios básicos para atingir tais metas: administração

das águas e participação pública.

É importante destacar os fundamentos da gestão da água, onde a visão

sistêmica das funções gerenciais (planejamento, organização, direção e avaliação)

integra uma visão mais abrangente, sendo, segundo GWP (2000), o processo que

promove o desenvolvimento coordenado e o gerenciamento dos recursos hídricos

para maximizar o resultado econômico e social de forma eqüitativa sem

comprometer a sustentabilidade vital dos ecossistemas. Ela é integrada, pois, une a

terra e a água; bacia hidrográfica e ambiente costeiro; águas superficiais e

subterrâneas; quantidade e qualidade da água; montante e jusante;

desenvolvimento econômico, social, humano e institucional; todos os elementos da

água no meio urbano e visão integrada dos efeitos econômicos da cadeia produtiva

da água; engenharia, economia, meio ambiente, aspecto social e eficiência.

Segundo CEPAL (1994), o desenvolvimento sustentável é função do

crescimento econômico, da sustentabilidade ambiental e da equidade social. Os

processos de gestão integrada de bacias hidrográficas, por definição, devem, pelo

menos, alcançar metas de aproveitamento dos recursos da bacia (crescimento

econômico) e de manejo dos recursos com a finalidade de preservá-los, conservá-

los e proteger-los (sustentabilidade ambiental). A equidade social se alcançará na

medida em que os sistemas de gestão sejam participativos e democráticos.

Tundisi (2003) ressalta que os principais problemas referentes à quantidade e

à qualidade dos recursos hídricos no Brasil mostram uma situação diversificada e

complexa que exige avanços institucionais e tecnológicos para recuperação e

proteção, além de novas visões para a gestão preventiva, integrada e adaptativa,

tendo como princípios gerais: a consideração da dinâmica do ecossistema; a

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consideração da sensibilidade das bacias hidrográficas às entradas externas de

material; a utilização do conhecimento dos fatores abióticos e bióticos, retendo as

estruturas naturais e protegendo a biodiversidade, respeitando a sustentabilidade do

desenvolvimento; o gerenciamento da bacia hidrográfica como parte de um todo,

adotando uma visão sistêmica; a avaliação das opções de longo prazo e os efeitos

globais do gerenciamento; confrontação dos usos conflitantes; e determinação da

capacidade assimilativa do ecossistema e não excedê-la.

Para tomar decisões adequadas com a finalidade de alcançar metas de

gestão integrada da água, é necessário harmonizar os interesses e a dinâmica das

populações com as condições e a dinâmica própria do entorno de onde habitam

essas populações, em particular com relação às bacias hidrográficas e o ciclo

hidrológico. Isto significa que as decisões devem integrar conhecimentos das

características com comportamento humano com as características do ambiente.

Segundo Roling (2000), a tecnologia e a economia podem ajudar a construir uma

sociedade sustentável somente se se aplicam dentro de um marco de pensamento e

ação coletiva superior a limitada racionalidade instrumental e econômica.

Por fim, o desenvolvimento sustentável prevê manutenção dos recursos

naturais e sua disponibilização às próximas gerações. A água ocupa papel central

nesse desenvolvimento sustentável dando condições para a renovação dos ciclos e

para a sustentabilidade da vida no planeta.

1.2 - A bacia hidrográfica: elemento de integração e gestão

A bacia hidrográfica é um território que é delimitado pela própria natureza,

essencialmente pelos limites de escoamento das águas superficiais que convergem

para um mesmo leito de rio. A bacia, seus recursos naturais e seus habitantes

impõem condições físicas, biológicas, econômicas, sociais e culturais que conferem

características que são particulares a cada uma.

A bacia hidrográfica estabelece os limites geográficos da ocorrência dos

efeitos hidrológicos e da sinergia dos impactos. Ela caracteriza os efeitos de

montante para jusante, porém grande parte das reações causa-efeito extrapolam os

limites da bacia, criando conflitos com a administração social, econômica e política.

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A bacia hidrográfica pode ser entendida também como uma área definida

topograficamente, drenada por um curso d‘água ou um sistema conectado de cursos

d‘água tal que toda vazão efluente seja descarregada através de uma saída (VILELA

e MATTOS, 1975); ou um conjunto das áreas com caimento superficial para

determinada secção transversal de um curso d‘água, medidas em áreas de projeção

horizontal (GARCEZ, 1967). Observa-se que essa definição considera somente as

águas superficiais. Para as águas subterrâneas defini-se a bacia hidrogeológica

como aquela que contém pelo menos um aqüífero de extensão significativa. Essas

bacias, normalmente interligadas, não são coincidentes fisicamente podendo ocorrer

diferenças significativas nos seus divisores de água (COELHO et al, 2008). É

importante esclarecer que o presente trabalho está considerando apenas as águas

superficiais

Os conceitos de bacia e sub-bacias se relacionam a ordens hierárquicas

dentro de uma determinada malha hídrica (FERNANDES & SILVA, 1994). Cada

bacia hidrográfica se interliga com outra de ordem hierárquica superior, constituindo,

em relação à última, uma sub-bacia. Portanto, os termos bacia e sub-bacias

hidrográficas são relativos.

As bacias hidrográficas possuem expressividade espacial, constituindo

sistemas ambientais complexos em sua estrutura, funcionamento e evolução. As

bacias de drenagem são unidades fundamentais para mensuração dos indicadores

geomorfológicos, para a análise da sustentabilidade ambiental baseadas nas

características do geossistema e o elemento sócio-econômico (CHRISTOFOLETTI,

1999, p. 173).

O território da bacia facilita a relação entre seus habitantes

independentemente das delimitações político-administrativas, mas principalmente

sua dependência comum a um sistema hídrico compartilhado. Devido esta

interdependência, devem existir sistemas de conciliação de interesses entre os

diferentes atores que dependem de uma mesma bacia. É por esta razão que a bacia

hidrográfica é uma unidade natural que serve de base como território para articular

processos de gestão que tendem ao desenvolvimento sustentável.

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A Política Nacional de Recursos Hídricos, Lei nº. 9.433, de 8 de Janeiro de

1997, baseia-se no fundamento que a bacia hidrográfica é a unidade territorial de

planejamento.

Segundo Silva e Pruski (2000), a adoção da bacia hidrográfica como unidade

de planejamento tem um aspecto positivo, pois a maioria dos problemas de causa-

efeito aí gerados correlaciona-se ao uso dos recursos hídricos, cuja rede de

drenagem se conforma a estes problemas.

Para Braga (2001, pg.33), o conceito da bacia hidrográfica como sistema

facilita o entendimento da gestão de recursos hídricos:

De forma geral acredita-se que o motivo pelo qual a bacia hidrográfica deva ser a base de trabalho para gestão de recursos hídricos se deva à interconexão existente entre o sistema de drenagem e ao escoamento da água que corre sempre de montante para jusante, relacionando fisicamente os usuários da bacia, sendo que sempre o usuário de jusante vai sofrer impacto (quantitativo e/ou

qualitativo) das ações que ocorrem a montante.

O território que define uma bacia hidrográfica não é, certamente, o único

dentro do qual se pode dirigir e coordenar ações de desenvolvimento, considerando

a dimensão ambiental. Porém a consideração dos limites de uma bacia é uma

condição necessária para considerar os aspectos ambientais, sobretudo a água e

seus recursos associados. Neste sentido é fundamental que toda proposta de

gestão no âmbito de bacia se faça tendo em conta sua relação com os sistemas de

gestão que funcionam com outros limites, inclusive com os limites político-

administrativos, entre os quais os municípios são prioritários. Ou seja, os municípios,

além de usuários institucionais dos recursos hídricos, são promotores, orientadores

e administradores do desenvolvimento sócio-econômico no âmbito local, cujas

decisões têm efeitos significativos sobre os sistemas natural e social e, por

conseguinte sobre a água, seus usos e usuários.

A gestão integrada de bacias, em particular a gestão da água, se sustenta

especialmente na capacidade de organizações públicas e privadas para tomar

decisões e desenhar estratégias para alcançar objetivos pré-determinados por e

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para um grupo relativamente grande de atores que dependem e compartilham um

mesmo recurso e território. As decisões do grupo de gestão, materializadas em

estratégias de ação se apresentam usualmente na forma de planos e marcos

regulatórios (CEPAL, 1995).

Quando se considera uma bacia hidrográfica para a gestão das águas é

necessário atentar a duas condições fundamentais: a garantia da disponibilidade

hídrica e o atendimento qualitativo e quantitativo às demandas de água naquele

território.

O quadro 2 sintetiza os diversos enfoques de gestão no âmbito de bacias

hidrográficas. É uma matriz que relaciona os grupos de fatores, as etapas do

processo de gestão de bacias e os objetivos do processo.

QUADRO 2 – Classificação de ações de gestão no âmbito de bacias hidrográficas

Fonte: Dourojeanni (1994, p.18)

É apresentado no Quadro 2 uma diferenciação clara entre as etapas do

processo de gestão e os recursos naturais que são considerados na bacia

hidrográfica. O mesmo autor afirma que a etapa prévia do processo de gestão é

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composta por estudos, formulação de planos e projetos; a etapa intermediária

constitui-se pela habilitação da bacia para aproveitamento de seus recursos

naturais; e a etapa permanente configura-se como uma etapa de operação e

manutenção das obras construídas, gestão e conservação dos recursos naturais. Já

os recursos naturais que são considerados na bacia apresentam-se em quatro

grupos. No primeiro grupo são considerados todos os recursos naturais e infra-

estrutura na bacia; o segundo grupo são todos os recursos naturais existentes na

bacia; o terceiro grupo é representado pelos usos múltiplos da água; e finalmente o

quarto grupo são os usos setoriais da água.

A proteção das águas superficiais é promovida, principalmente, pela proteção

dos ecossistemas naturais e pela regulação do uso do solo, tanto nas áreas urbanas

quanto nas áreas rurais. As águas subterrâneas são fortemente afetadas pelo

cuidado dispensado às áreas de recarga dos aqüíferos, bem como quanto às

disposições de poluentes que podem contaminá-las e pela impermeabilização das

camadas drenantes que alimentam os lençóis. Ademais, a manutenção dos

ecossistemas aquáticos, parte importante no equilíbrio geral do meio ambiente,

necessita de aporte de água com quantidade e qualidade suficiente, devendo ser

garantida no balanço hídrico da bacia.

Dessa forma, as áreas de proteção ambiental e as políticas de uso e

ocupação do solo contribuem fundamentalmente para a definição dos limites a

serem considerados para uma unidade de planejamento e gestão, além de

representar um passo adiante em direção à articulação e integração com a Política

de Meio Ambiente.

1.3 - Aspectos legais e institucionais da gestão dos recursos hídricos

A relação existente entre a administração pública brasileira e a gestão dos

recursos hídricos tem sido considerada por alguns autores como historicamente

centralizada e setorial (VICTORINO, 2003; MACHADO, MIRANDA e PINHEIRO,

2004; GARJULLI, RODRIGUES e OLIVEIRA, 2004; ABERS & JORGE, 2005;

SAMPAIO, 2004; NOVAES & JACOBI, 2002). Uma série de trabalhos científicos

aborda a evolução da legislação do setor a partir, principalmente, do Código de

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Águas de 1934, bem como a sua pouca efetividade no avanço de uma gestão que

compatibilizasse suas múltiplas dimensões.

Assunção (2000) revela que não só a gestão das águas no Brasil

desenvolveu-se de forma setorizada e privilegiada de grupos de interesse, como

padeceu da dispersão de seu ordenamento por uma série de instrumentos legais

(decretos e outras políticas que tratavam de diferentes aspectos da gestão de

águas) que se seguiram principalmente a partir do Código de Águas de 1934. Esta

dispersão, segundo a autora, foi acompanhada, ainda, por uma multiplicidade de

agentes reguladores de diferentes aspectos dos recursos hídricos – seu uso na

agricultura, mineração, energia elétrica, saneamento, pesca, abastecimento,

navegação, etc.

Segundo Lanna (1999), o período que se segue ao Código de Águas até

finais da década de 1940 está marcado pelo modelo ―burocrático‖ de gestão da

água, fundamentado no cumprimento de instrumentos legais; e, a partir da década

de 50 até o processo de revisão da política de águas, na década de 80, a gestão

fundamenta-se no modelo ―econômico-financeiro‖, em que são aplicadas medidas

econômicas e financeiras para o controle do uso dos recursos hídricos e o estímulo

do seu gerenciamento adequado dentro do processo de desenvolvimento regional.

Após o modelo econômico-financeiro, a gestão das águas transita para o modelo

―sistêmico de integração participativa‖ onde a água é considerada como bem público

e, segundo Freitas (2000, p.81):

se empregam quatro tipos de negociação social (econômico, político-direto, político-representativo e jurídico) e três instrumentos de trabalho (planejamento estratégico por bacia hidrográfica, tomada de decisão por deliberações multilaterais e descentralizadas e

estabelecimento de instrumentos legais e financeiros).

Com a Política Nacional de Recursos Hídricos, de 8 de janeiro de 1997, o

Brasil inaugura um novo modelo de gestão da água, considerando, de forma

prioritária, a participação da sociedade na tomada de decisões acerca do

gerenciamento dos recursos hídricos. A Lei das Águas é clara e objetiva na definição

das diretrizes gerais de ação, às quais se referem à indispensável integração da

gestão da águas com a gestão ambiental. Outros avanços confirmam o caráter de

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bem essencial à vida, eis que, em situações de escassez, o uso prioritário é o

consumo humano e de animais, devendo a gestão dos recursos hídricos

proporcionar sempre o uso múltiplo das águas.

Com relação ao aspecto institucional, Silva & Pruski, 2000, colocam que:

um processo de gestão de recursos hídricos, deve ser constituído por uma política que estabeleça as diretrizes gerais, por um modelo de gerenciamento, que estabeleça a organização (ou configuração) administrativa e funcional necessária para tal e por um sistema de gerenciamento, constituído pelo conjunto de organismos, agências e

instalações governamentais e privadas, para execução da política, por meio do modelo adotado e tendo por instrumento o planejamento

Ambiental.

A Política é definida como ―conjunto de princípios e medidas postos em

prática por instituições governamentais e outras, para solução de certos problemas

da sociedade‖ (CAMPOS & STUDART, 2001).

O modelo institucional deve ser concebido visando à eficiência no

cumprimento das atividades a ele atribuídas, ou seja, é necessário o conhecimento

das funções atribuídas (gestão, oferta, uso, preservação e complementares) e a

serem desempenhadas na utilização racional dos corpos d‘água.

O sistema de gestão é formado pelas instituições que realizam as funções da

gestão (planejamento, administração e a regulamentação), representada pelo órgão

gestor (BARP, 2004).

Segundo Barth (1987), a condição fundamental para que a gestão de

recursos hídricos seja efetivamente implantada é a motivação política, que faz

prevalecer os interesses públicos sobre os interesses particulares e corporativistas.

Havendo decisão política, motivada pela escassez relativa de tais recursos, é

possível planejar o seu aproveitamento e controle mediante a implantação de obras

e medidas recomendadas.

A Lei nº. 9.433/97 cria o Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos

Hídricos objetivando coordenar a gestão integrada das águas; arbitrar

administrativamente os conflitos relacionados com os recursos hídricos; implementar

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33

a Política Nacional de Recursos Hídricos; planejar, regular e controlar o uso, a

preservação e a recuperação dos recursos hídricos; e promover a cobrança pelo uso

de recursos hídricos. Integram o Sistema: o Conselho Nacional de Recursos

Hídricos (CNRH), a Secretaria Executiva do CNRH, a Agência Nacional de Águas,

os Conselhos de Recursos Hídricos dos Estados e do Distrito Federal, os Comitês

de Bacia Hidrográfica e os órgãos dos poderes públicos federal, estaduais, do

Distrito Federal e municipais cujas competências se relacionem com a gestão de

recursos hídricos.

São instrumentos da Política Nacional de Recursos Hídricos os Planos de

Recursos Hídricos; o enquadramento dos corpos de água em classes, segundo os

usos preponderantes da água; a outorga dos direitos de uso de recursos hídricos; a

cobrança pelo uso dos recursos hídricos; a compensação aos municípios e; o

Sistema de Informações sobre Recursos Hídricos.

A Lei n° 9.984/2000 estabelece a criação da Agência Nacional de Águas e

regulamenta alguns artigos da PNRH e a Lei n° 10.881/2004 regulamenta a

delegação de funções de Agências de Águas referentes aos recursos hídricos de

domínio da União a entidades reconhecidas pelo Conselho Nacional de Recursos

Hídricos.

1.4 - O plano de bacia hidrográfica

Segundo Van Acker (2000) apud Meguins (2007), a gestão de recursos

hídricos depende de planejamento institucionalizado não podendo o uso das águas

ser condicionado apenas a planos setoriais e, à decisão de cada caso concreto, sem

vinculação com o planejamento do uso dos recursos hídricos da bacia.

Em geral, o planejamento como instrumento de gestão opera melhor em

escalas relativamente pequenas e manejáveis, pois se conta com melhor

informação, capacidade de coordenação e, sobretudo, de execução.

O planejamento, segundo Silva (1997; 37), ―é um processo técnico

instrumentado para transformar a realidade existente no sentido de objetivos

previamente estabelecidos‖. O processo de planejamento instrumentaliza-se

mediante a elaboração do plano. O plano é, assim, o instrumento formal que

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34

consubstancia e materializa as determinações e os objetivos previstos no

planejamento.

Os Planos de Recursos Hídricos são planos diretores que visam a

fundamentar e orientar a implementação da Política Nacional de Recursos Hídricos

e o gerenciamento dos recursos hídricos. Devem conter diagnóstico da situação

atual dos recursos hídricos, análises sócio-econômicas, balanços entre

disponibilidade e demandas futuras, metas, prioridades para outorgas, critérios para

cobrança pelo uso da água, propostas para criação de áreas sujeitas à restrição de

uso.

Os planos de recursos hídricos se constituem no primeiro instrumento da

Política Nacional de Recursos Hídricos. Neste contexto, aliado à responsabilidade

legal e como parte dos desafios impostos pelos compromissos internacionais

assumidos, foi elaborado o Plano Nacional de Recursos Hídricos (PNRH), aprovado

pelo Conselho Nacional de Recursos Hídricos em 30 de Janeiro de 2006. A

construção deste plano estabeleceu um caráter participativo e descentralizado,

permitindo estabelecer, para um horizonte temporal até 2020, diretrizes, programas

e metas, pactuados social e politicamente por meio de um amplo processo de

discussão, que contaram com uma base técnica consistente para subsidiar a

elaboração de propostas (MMA, 2006). É importante destacar a utilização da

metodologia de prospectiva exploratória (PROSPEX), testada em diversas

organizações públicas e privadas, porém inovadora no âmbito do planejamento de

recursos hídricos, permitiu a definição e três cenários sobre recursos hídricos no

Brasil para 2020: ―Água para Todos‖, ―Água para Alguns‖ e ―Águas para Poucos‖

(MMA,2006).

O objetivo geral do Plano de Bacia Hidrográfica juntamente com os demais

planos de recursos hídricos, vem inscrito no art 6°, da Lei n° 9.433/97, que é

fundamentar e orientar a implementação da Política Nacional de Recursos Hídricos

e o gerenciamento de recursos hídricos. Isso significa que, embora devam ser

identificados objetivos específicos de acordo com as necessidades da unidade de

planejamento de recursos hídricos na qual se deseja intervir, fato é, que tais

objetivos devem estar em sintonia com os objetivos da própria política, ou seja: a)

assegurar a atual e futuras gerações a necessária disponibilidade de água em

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padrões de qualidade adequados aos respectivos usos; b) a utilização racional e

integrada dos recursos hídricos, incluindo o transporte hidroviário, com vistas ao

desenvolvimento sustentável; e, c) a prevenção e a defesa contra eventos

hidrológicos críticos de origem natural ou decorrentes do uso inadequado dos

recursos naturais.

Para a condução de um bom planejamento é crucial a clareza de objetivos.

Os objetivos que irão nortear o planejamento podem ser fixados a partir da

identificação dos conflitos relativos a utilização dos recursos hídricos existentes no

âmbito da bacia hidrográfica, tais como, direitos de alocação de água, usuário a

jusante e poluidores a montante do rio, controle de inundações, construção de

reservatórios, alocação de investimentos.

Tomando como exemplo o contexto europeu, onde se verifica uma

considerável experiência com processos de planejamento de recursos hídricos, a

Diretiva-Quadro da Água (Diretiva 2000/60/CE) enfatiza dois aspectos importantes

para o futuro da gestão integrada de recursos hídricos em bacias hidrográficas: a

necessidade de planejamento de longo prazo e da adoção de processos

participativos. O uso desses conceitos não é novidade, no entanto, a sua utilização

de forma integrada, ou seja, o desenvolvimento de processos de planejamento de

longo prazo de recursos hídricos de forma participativa é algo recente (HELM, 2003).

A prospectiva, metodologia de planejamento de longo prazo por cenários, vem

ganhando adeptos no planejamento de recursos hídricos, sendo, no entanto, já

consagrada em outras áreas da ciência, como prospecção tecnológica.

Outro aspecto que merece atenção no âmbito de processos de planejamento

de recursos hídricos, relaciona-se à questão da participação e da aprendizagem

social. Para Gomes (2001) há uma mudança em curso, relacionada à busca de

formas de diálogo para minimizar o abismo entre o planejamento técnico e a

execução social, política, cultural e econômica das propostas de planos, invocando

as relações entre as partes envolvidas e contrapondo-se à concepção dos atores

sociais como receptáculos passivos de intervenções bem-intencionadas e

―tecnicamente perfeitas‖. Além disso, o aprendizado social decorrente dessa

participação pró-ativa, só pode funcionar no sentido social/institucional se as

pessoas participarem em conjunto, trocarem idéias a respeito de novos padrões

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36

resultantes de reflexões sobre experiências, construírem uma teoria comum,

planejarem e agirem em conjunto (HEIJDEN, 2004).

Diante deste quadro do referencial teórico da gestão integrada de recursos

hídricos a partir da abordagem do desenvolvimento sustentável, da bacia

hidrográfica, dos aspectos institucionais do gerenciamento dos recursos hídricos,

aprofundar-se-á, na segunda parte deste capítulo, o processo de elaboração do

planejamento com base na construção de cenários prospectivos, no intuito de

buscar modelos capazes de responder às demandas complexas de promover a

sustentabilidade dos sistemas hídricos no território delimitado pela bacia

hidrográfica, tendo como pano de fundo os interesses dos atores sociais.

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37

2 – PROSPECTIVA ESTRATÉGICA E CONSTRUÇÃO DE CENÁRIOS

2.1 - Diferenças entre planejamento, prospectiva e estratégia

Para Buarque (2003) o futuro tem sido uma preocupação permanente dos

seres humanos com o seu destino, mesmo quando predominava a convicção de que

esse era um desejo da natureza, ou, ainda, quando o ciclo da vida parecia

apresentar uma grande regularidade. Atualmente, com a descoberta do risco e com

a menor sujeição da humanidade aos desejos da natureza, a expectativa em relação

ao futuro assume um papel importante como referência para as decisões e escolhas,

tanto individuais quanto coletivas.

A história da humanidade está diretamente ligada ao planejamento, porém as

experiências de planificação se intensificaram nas sociedades capitalistas após a 2ª

Guerra Mundial.

Os governos, as empresas, os grupos organizados e até mesmo os

indivíduos, para desempenharem suas atribuições, devem lançar mão de

instrumentos de diversas naturezas de forma eficaz, no sentido de maximizar os

retornos sociais e econômicos que visam tanto o bem estar da sociedade como de si

próprios. Todavia, para que isso ocorra, o processo de tomada de decisões deve ser

coordenado através de técnicas que permitam eleger e relacionar as melhores

alternativas de ação tendo como referência a melhor relação entre custo e benefício.

Holanda (1975, p. 112), procurou comentar algumas características do

planejamento, principalmente sob a ótica econômica, que é bem mais freqüente na

bibliografia existente até o final dos anos de 1980:

Todo e qualquer tipo de planejamento (...) apresenta algumas características básicas: procurar estabelecer uma relação entre presente, passado e futuro; definir cursos alternativos de ação para anos vindouros; analisar critérios para uma escolha entre as alternativas disponíveis; antecipar soluções para problemas previsíveis e especificar as medidas de política econômica

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necessárias para remover os obstáculos que limitam o crescimento

da renda e a mudança estrutural da economia.

No entanto, segundo Buarque (2001), o planejamento é sempre um processo

político. É também um processo ordenado e sistemático de decisão, o que lhe

confere uma conotação técnica e racional de formulação e suporte para as escolhas

da sociedade. Desta forma, o planejamento incorpora e combina uma dimensão

política e uma dimensão técnica, constituindo uma síntese técnico-política. Técnico,

porque ordenado e sistemático e porque deve utilizar instrumentos de organização,

sistematização e hierarquização da realidade e das variáveis do processo e um

esforço de produção e organização de informações sobre o objeto e os instrumentos

de intervenção. Político porque toda decisão e definição de objetivos passa por

interesses e negociações entre atores sociais.

Já para Ackoff (1981, p. 17), que definiu planejamento de forma imparcial, ou

seja, sem limitar-se ao aspecto econômico ou social ou ambiental, conceitua

planejamento como

um processo que envolve tomada e avaliação de cada decisão de um conjunto de decisões inter-relacionadas, antes que seja necessário agir, numa situação na qual se acredita que, a menos que se faça alguma coisa, um estado futuro desejado não deverá ocorrer e que, se tomadas as atitudes apropriadas, pode-se aumentar a

probabilidade de um resultado favorável.

Para Chiavenato e Sapiro (2003), estratégia significa o comportamento global

da organização em relação ao ambiente que a circunda. A estratégia é quase

sempre uma resposta organizacional às demandas ambientais. O planejamento

estratégico é a maneira pela qual a estratégia é articulada e preparada. Contudo, ele

não é descontínuo. Quanto maior for a mudança ambiental, mais deverá ser feito e

refeito de maneira contínua o planejamento estratégico.

O processo de planejamento enfrenta uma série de dificuldades para alcançar

seus objetivos. Esses obstáculos podem estar relacionados com diversos fatores,

gerados principalmente, pelo mau entendimento do processo de planejamento; pela

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compreensão que o plano é apenas uma reunião de previsões (muito comum em

formulações tradicionais); por obstáculos conjunturais (inclusive internacional); pela

falta de preocupação com a preparação ao longo do tempo, de pessoal capacitado

para efetivar o processo de planejamento, para a elaboração e avaliação do plano e

para gerar informações atualizadas; pela instabilidade política; pela exclusão da

sociedade no processo de planejamento; e pela falta de informações atualizadas, o

que compromete a qualidade do acompanhamento, das previsões do

comportamento dos sistemas e a análise da estrutura e da conjuntura da sociedade

em geral.

Arguin (1988) e Matus (1997) comentam a importância da construção de

cenários como uma ferramenta para reduzir incertezas no contexto do planejamento

estratégico. Diz Matus que o conteúdo propositivo do plano ―é o TEXTO e o cenário

é o contexto‖, ou seja, o conjunto de condições ou pressupostos históricos em que

se situa o plano. A construção do cenário de um plano baseia-se em conhecimento.

Não se trata de adivinhar o futuro. Trata-se de identificar tendências, explorar o

movimento da realidade, avaliar possibilidades, descobrindo ameaças e

oportunidades do plano, quer no ambiente interno, quer no ambiente externo.

Na realidade, nem é tanto o ‗planejamento‘ que está em causa, mas a

maneira como ele é posto em prática. A complementação ‗estratégico‘ ao termo

planejamento corresponde às possibilidades de interações entre o ambiente interno

e externo das organizações, com a identificação de variáveis responsáveis pela

mudança de rumos, e, principalmente, pela apropriação das informações que irão

nortear as ações individuais e coletivas.

De acordo com autores clássicos, como Poirier (1987) e Ansoff (1965), a

noção de estratégia remete para a ação de uma organização com o meio envolvente

e para a reflexão para essa ação. Embora as noções ‗estratégia‘ e ‗prospectiva‘

sejam frequentemente associadas, elas representam conceitos distintos. Roubelat

(1996) sustenta a idéia de que certas prospectivas sejam estratégicas e outras não,

pois a decisão estratégica é aquela suscetível de por em definição a existência da

organização, a sua independência, as suas missões, o campo das suas atividades

principais. Para Godet (1993) não se deve confundir os cenários prospectivos (que

projetam os desejos e as angústias face ao futuro) com a escolha das opções

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estratégicas (onde a ambição da vontade se inscreve no princípio da realidade das

evoluções previsíveis do ambiente da organização).

Para facilitar o entendimento e possibilitar a definição desses conceitos são

formuladas cinco questões: q1. O que pode acontecer no futuro?; q2. O que posso

fazer?; q3. O que vou fazer?; q4. Como vou fazê-lo?; e uma pergunta prévia

essencial, q5. Quem sou eu? A prospectiva, em sentido estrito, ocupa-se apenas na

questão q1.‖O que pode acontecer?‖. Ela torna-se estratégica quando uma

organização se interroga sobre q2. ―Que posso fazer‖. Uma vez tratadas essas duas

questões, a estratégia parte do q3. ―Que vou fazer‖ para q4. ―Como vou fazê-lo‖.

2.2 - Planejamento com base em cenários: elementos teórico-metodológicos

Cenários representam uma descrição de uma situação futura e do conjunto de

eventos que permitirão que se passe da situação original para a situação futura. O

futuro é múltiplo e diversos futuros potenciais são possíveis (Figura 1): o caminho

que leva a um futuro ou outro não é necessariamente único.

Figura 1 – Exploração do futuro em cenários múltiplos

FONTE: Macroplan, 2004.

Variações

Canônicas

Cenário de Referência

(mais Provável)

Futuro Alternativo

A

Futuro

Alternativo N

Futuro Alternativo

B

Situação

Atual

Extrapolação da Tendência

Situação Futuro Livre

de Surpresas

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A descrição de um futuro potencial e a progressão em direção à ele

representam um cenário (GODET & ROUBELAT, 1996). Godet (2000, p. 26)

acrescenta:

Para ser fecundo, ou seja, portador de futuro, o casamento entre Prospectiva e a Estratégia deve-se encarnar-se na realidade quotidiana e dar origem, através da apropriação (por todos os actores envolvidos, do topo à base da hierarquia), a uma verdadeira mobilização da inteligência colectiva. Embora o encontro entre a Prospectiva e a Estratégia fosse inevitável, de facto, ele não conseguiu apagar a confusão de gêneros e conceitos que ainda existe. Estes últimos são bastante mais próximos do que geralmente se admite.

Ribeiro (2001) salienta que, quando se utiliza o planejamento por cenários, é

dado um passo à frente das tradicionais metodologias de planejamento, visto que é

integrado às incertezas na construção do futuro, bem como capta a riqueza e a

variedade de possibilidades, organizando-as em narrativas de fácil visualização e

entendimento – ao invés de armazenar somente grandes volumes de dados

estatísticos sobre o assunto em discussão. Além de levar em conta essas

características, o autor refere-se à utilização do planejamento por cenários para:

identificar possíveis oportunidades de atuação; testar a estratégia em múltiplos

cenários; monitorar a execução da estratégia; pesquisar mudanças no ambiente

para determinar as estratégias que deverão ser adaptadas ou alteradas para a

sobrevivência da organização; reduzir as incertezas com relação à capacidade da

liderança em promover ajustes; incrementar a qualidade do pensamento estratégico

(reduzindo pensamentos rotineiros).

O planejamento por cenários, observadas as suas características, seus

enfoques e respectivas tipologias, direciona a busca constante por sinais de

mudança, o que requer coragem intelectual para revelar evidências que não estão

adequadas aos modelos mentais, principalmente quando significam uma ameaça à

própria existência organizacional. Esse processo, respeitando os seus passos

permite mais do que projetar cenários satisfatórios, na medida em que conduz a

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uma transformação quase revolucionária na organização, tão importante quanto o

desenvolvimento dos próprios cenários.

Como forma de contornar a complexidade de interpretação da realidade e

evitar um grande esforço teórico – estudos de longo prazo que buscam descrever

dinâmicas de decisões estratégicas em processos – se utiliza uma abordagem

sistêmica2, representando a totalidade complexa por um conjunto de variáveis

centrais e procurando compreender a lógica da interação entre as mesmas e a

lógica de determinação do sistema. Os macro-sistemas podem, por outro lado, ser

agrupadas em grandes dimensões (ou sub-sistemas) com um corte aproximado de

disciplinas de conhecimento, como econômica, sócio-cultural, ambiental,

tecnológica, político-institucional, etc., procurando compreender o sistema-objeto e

seu contexto. Embora a construção de cenários não possa nem deva se perder num

embate acadêmico e científico, e apesar das dificuldades de abordagem de sistemas

complexos e multi-disciplinares, não há como escapar do recurso, implícito ou

explícito, de um referencial teórico.

Como o futuro é uma construção social, segundo a definição de Michel Godet,

os atores sociais devem ocupar uma posição central na construção de cenários. De

um modo geral, cada cenário configura e expressa um determinado quadro

hegemônico com o predomínio de uma aliança de atores em torno de um dado

projeto. É este projeto político que oferece e assegura a sustentação política dos

cenários, especialmente importante quando se trata de cenários de macro-sistemas

para o planejamento intersetorial. O futuro depende fortemente da capacidade dos

atores constituírem um projeto dominante, assumindo a condução do Estado e

conferindo a ele capacidade de intervenção e, principalmente, definindo suas

prioridades e formas de atuação nas áreas social, econômica, ambiental, regional,

diplomática ou científico e tecnológica.

2Segundo a teoria de sistemas, cada objeto de análise constitui ―... um todo integrado cujas

propriedades essenciais surgem das relações entre suas partes‖, (CAPRA, 1996, pg. 39); de modo que as suas características só podem ser entendidas pela organização do todo, da mesma forma que o conjunto será apreendido apenas como resultado das múltiplas e complexas interações das suas partes. Como indica Capra, nenhuma parte de um sistema (sub-sistema) possui as propriedades do todo que decorre, precisamente dos controles mútuos que cada uma delas exerce sobre as outras gerando a síntese integradora da totalidade. Na abordagem sistêmica, as propriedades de um organismo ―... são destruídas quando o sistema é dissecado, física ou teoricamente, em elementos isolados. Embora possamos discernir partes individuais em qualquer sistema, essas partes não são isoladas, e a natureza do todo é sempre diferente da mera soma das suas partes.‖ (CAPRA, 1996, p. 40 e 41).

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Quando se trata da construção do cenário normativo, a análise dos atores se

torna mais importante ainda, não tanto para verificar quais cenários teriam uma base

política, mas sim para interpretar o futuro desejado pela sociedade. Neste caso, o

trabalho se concentra em formas diferenciadas de consulta aos atores sociais para

apreender os seus desejos em relação ao futuro, formulando o futuro desejado, base

para a construção do cenário normativo. Esta consulta deve permitir a definição de

uma vontade dominante na sociedade sobre o futuro desejado (desejo dominante)

com base em um tratamento técnico que identifica as convergências e interpreta os

interesses diferenciados com seus distintos pesos na estrutura de poder. Apenas

quando expressa os desejos dominantes na sociedade, o cenário normativo terá

força e legitimidade política para orientar as ações, políticas e estratégias de

desenvolvimento.

Como referido antes, os estudos de cenários utilizam a abordagem sistêmica

para a interpretação das interações entre os sub-sistemas (variáveis centrais),

situando o objeto de análise no contexto mais amplo, com o qual interage e,

sobretudo, do qual recebe influências com maior ou menor poder de determinação

do futuro. Assim, a região deve ser sempre observada e analisada como um sub-

sistema do sistema nacional e mundial mais complexo, no qual está inserido e do

qual recebe múltiplas e diferenciadas influências; que tendem a ser maior ou menor,

dependendo das características da região e seu grau de interdependência em

relação ao contexto. Balizado neste contexto, Durance e Godet (2007, p.10),

apresentaram a ―prospectiva territorial‖ da seguinte maneira:

L‘idée centrale inhérente à la prospective est que l'avenir n'est pas une fatalité, qu‘il se construit pas à pas, qu‘il est moins à découvrir qu'à inventer. Pour pouvoir le construire, il faut faire preuve d'anticipation. Sans anticipation, reste les seules urgences qui ne laissent guère de marges de manoeuvre. Dans une phase exploratoire, la prospective s‘efforce donc de réduire l‘incertitude face à l‘avenir, de décrypter et de conjecturer collectivement des futurs possibles. Puis, dans une phase plus normative, elle permet de faire émerger la vision d‘un futur souhaitable, ainsi que la trajectoire pour y parvenir, en se donnant les marges de manoeuvre nécessaires, même si ces dernières se réduisent, peu à peu, compte tenu de l‘importance croissante des variables externes qui pèsent de plus en plus sur le devenir des territoires.

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Planejar com cenários prospectivos significa elaborar estratégias que vão

definir o futuro do sistema e, para tanto, os estudos de cenários recorrem a um

conjunto de metodologias, técnicas, processos de sistematização e organização das

informações e hipóteses, as quais buscam analisar e prospectar o macroambiente, a

organização e a sua visão de futuro. Neste sentido, os cenários para fins de

planejamento e gestão estratégica podem ser projetados a partir da combinação de

diferentes técnicas3, passíveis de ser utilizadas pelos gestores para prever eventos e

tendências futuras.

Grumbach e Marcial (2002) citam técnicas de criatividade, tais como

brainstorming, sinética, análise morfológica, questionário e entrevista; técnicas de

avaliação, tais como o método Delphi, impactos cruzados, modelagem e simulação;

e técnicas de análise multicritério, tais como exámenes, Pattern, Electre, AHP e

Macbeth.

De acordo com a literatura pesquisada, Bethlem (2002) sistematizou os

métodos de elaboração de cenários que possuem base conceitual, passos definidos

e filosofia4:

a) Método descrito por Michel Godet (1993);

b) Método descrito por Peter Schwartz (1988) ou da Global Business Network

(GBN);

c) Método descrito por Michael Porter (1998);

d) Método descrito por Grumbach (2005).

É importante reforçar que o presente trabalho se propõe a aprofundar

somente o referencial da teoria, metodologia e técnicas preconizadas por Godet.

3Segundo Kato (2005), as técnicas auxiliares de previsão são utilizadas amplamente na elaboração

de cenários, sem, contudo, que haja unanimidade em sua forma de apresentação e classificação entre os autores. 4Apesar do presente trabalho se preocupar-se somente com a descrição do método de Godet (1993),

é de valiosa a contribuição que outros métodos possuem na construção de cenários.

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O método de elaboração de cenários exploratórios, descrito por Michel Godet

(1993) em Manual de prospectiva estratégica: da antecipação à ação, compõe-se

basicamente de seis etapas:

1. Delimitação do sistema e do ambiente: é a primeira fase do método,

quando o sistema é delimitado pelo objeto de estudo, o horizonte temporal e a área

geográfica. O ambiente é o contexto mais amplo onde está inserido o sistema, com

um e outro se influenciando mutuamente.

2. Análise estrutural do sistema e do ambiente: delimitado o sistema, inicia-se

a fase da análise estrutural, que consiste na elaboração de uma lista preliminar, a

mais completa possível, das variáveis relevantes do sistema e de seus principais

atores. Realiza-se também a análise da situação passada para destacar os

mecanismos e os atores determinantes da evolução passada. Posteriormente,

processa-se a análise da situação atual, que permite identificar mudanças ou fatos

portadores de futuro na evolução das variáveis essenciais, bem como as estratégias

dos atores que dão origem a essa evolução e suas alianças.

Após, retorna-se à análise estrutural para rever a lista preliminar de variáveis

e atores. Ao final da revisão, as variáveis são cruzadas para identificar a influência

de uma sobre as outras, através da formação da matriz de análise estrutural das

variáveis. As variáveis são, então, analisadas quanto a sua motricidade e

dependência e classificadas em variáveis-chave: explicativas, de ligação, de

resultado e autônomas.

O próximo passo é a análise das estratégias dos atores, identificando os seus

projetos e motivações, seus meios de ação e seus desafios estratégicos. A

identificação dos atores mais influentes no sistema é realizada mediante o

cruzamento atores x variáveis a fim de verificar a motricidade de cada um.

3. Seleção das condicionantes do futuro: com base nessas análises obtêm-se

como resultado as condicionantes do futuro. Podem-se listar as tendências de peso,

os fatos portadores de futuro, os fatores predeterminados, as variantes e as alianças

existentes entre os atores. A análise de estratégia dos atores é muito importante,

pois muitas rupturas de tendências são causadas em função do movimento desses

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atores. Os atores são capazes de fazer com que o sistema evolua segundo suas

ações. Caso o comportamento de uma variável esteja em desacordo com a

estratégia de um ator, certamente esse comportamento será alterado em função das

ações desencadeadas pelo ator com o intuito de realizar o seu projeto.

A identificação dos atores mais influentes no sistema é realizada através do

cruzamento atores x variáveis para verificar a motricidade de cada ator. Apenas os

atores que apresentarem grande motricidade serão analisados no quadro ―estratégia

dos atores‖. Este quadro é composto pelo cruzamento (ator x ator) das estratégias

desses atores. A diagonal do quadro é composta pelos objetivos, problemas e meios

utilizados pelo ator envolvido. Os demais cruzamentos são preenchidos pelos

meios/ações utilizados por cada ator sobre os demais, com o objetivo de realizar o

seu projeto.

4. Geração de cenários alternativos: após a análise de todas as

condicionantes do futuro, passa-se a realizar a análise morfológica, que constitui a

base para a geração dos cenários alternativos. Essa análise é realizada

decompondo-se cada variável explicativa em seus possíveis comportamentos ou

estados futuros, segundo as estratégias dos atores. O passo seguinte é a

elaboração dos cenários propriamente ditos, levando-se em conta as variáveis-

chave, as tendências de peso, as estratégias dos atores e os fatos portadores de

futuro já identificados.

5. Testes de consistência, ajustes e disseminação: com o objetivo de

assegurar a coerência dos encaminhamentos entre as diferentes imagens, realizam-

se testes de consistência para verificar se, durante a descrição dos cenários, alguma

variável ou ator está se comportando de forma não-coerente ou não-consistente com

a lógica estabelecida para cada cenário.

6. Opções e planos de monitoração estratégica: os cenários revisados devem

ser utilizados pela cúpula da organização na elaboração das opções e dos planos

estratégicos. Devem ser analisados os pontos fortes e fracos da organização em

relação aos ambientes futuros. A integração entre a seqüência das seis etapas pode

ser constatada na figura 2.

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47

Figura 2 – Método de construção de cenários descrito por Godet (1993)

Marcial e Grumbach (2005) recomendam a implantação de um sistema de

monitoração a fim de avaliar as opções estratégicas desenvolvidas, quaisquer que

sejam as adotadas e os planos descritos.

2.3 – Teorias Matemáticas aplicada à construção de cenários

Esta abordagem da matemática situa-se no estudo da álgebra linear, ou seja,

buscou-se uma resposta de elementos matemáticos, neste caso de sistemas

lineares, para explicar problemas de outras ciências, como administração aplicada

ao planejamento e gestão de recursos hídricos.

2.3.1 - Teoria das Matrizes

Segundo Yamane (1974), Lancaster e Timenetsky (1985), uma matriz A, m x n é uma tabela de mn números dispostos em m linhas e n colunas

A = a11 a12 .... a1n

a21 a22...... a2n

am1 am2.....amn

A partir desta abordagem é possível definir operações com matrizes, assim

como provar propriedades que são válidas para essas operações. Para este trabalho

de pesquisa interessa apenas descrever quatro definições de operações com

4. Geração de Cenários

CENÁRIO

1. Delimitação do sistema e do ambiente

2. Análise estrutural do sistema e do ambiente

2. Análise retrospectiva

e da situação atual

3. Seleção de condicionantes do futuro

5. Teses de consistência, ajustes e disseminação

6. Opções

estratégicas e planos/

monitoração estratégica

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matrizes: soma, multiplicação de matriz por um escalar, multiplicação entre matrizes

e transposta de uma matriz.

A soma de duas matrizes de mesmo tamanho A = (aij) mxn e B = (bij)mxn é

definida como sendo a matriz m x n

C = A + B

obtida somando-se os elementos correspondentes de A e B, ou seja, cij = aij + bij;

para i = 1,...,m e j = 1,..., n. Escreve-se também [A + B]ij = aij + bij .

A multiplicação de uma matriz A = (aij)mxn por um escalar (número) α é

definida pela matriz m x n

B = α . A

obtida multiplicando-se cada elemento da matriz A pelo escalar α, ou seja,

bij = α aij ;

para i = 1,..., m e j = 1,..., n. Escrevemos também [α A]ij = α aij . Diz-se que a matriz

B é um múltiplo escalar da matriz A.

O produto de duas matrizes, tais que o número de colunas da primeira matriz

é igual ao número de linhas da segunda, A = (aij)mxp e B = (bij)pxn é definido pela

matriz m x n

C = A . B

obtida da seguinte forma:

cij = ai1 b1j + ai2 b2j + ... + aip bpj;

para i = 1,.., m e j = 1,.., n. Escreve-se também [AB]ij= ai1 b1j + ai2 b2j + ... + aip bpj.

A transposta de uma matriz A = (aij)mxn é definida pela matriz n x m

B = At

obtida trocando-se as linhas com as colunas, ou seja,

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bij = aji ;

para i = 1,..., n e j = 1,..., m. Escrevemos também [At]ij = aji.

Tais operações matriciais inserem-se no âmbito de sistema de equações

lineares. Uma equação linear em n variáveis x1, x2,..., xn é uma equação da forma

a1x1 + a2x2 +....+ anxn = b,

em que a1, a2,..., an e b são constantes reais.

Um sistema de equações lineares ou simplesmente sistema linear é um

conjunto de equações lineares, ou seja, é um conjunto de equações na forma

a11x1 + a12x2 + : : : + a1nxn = b1 a21x1 + a22x2 + : : : + a2nxn = b2 : am1x1 + am2x2 + : : : + amnxn = bm

Esta abordagem possibilita uma série de proposições no campo das

ferramentas metodológicas de gestão e planejamento. No caso do estudo de

cenários, existe uma forma de construir, simular e avaliar análises estruturais de um

sistema linear. Além disso, é possível simular influências diretas ou indiretas, definir

restrições, enfatizar determinadas variáveis utilizando operações matriciais.

Outra aplicação importante para o estudo dos cenários é a possibilidade de

representação das análises de operações da álgebra matricial em planos

cartesianos, com a plotagem dos pontos das equações lineares em quadrantes, no

qual representam respostas metodológicas às demandas de cada pesquisa.

O cruzamento entre linhas e colunas das matrizes é o principal fundamento

da metodologia integrada da análise estrutural, análise de atores sociais e análise

morfológica, pois fornece a interação das variáveis de um sistema entre si, isto é,

atribuindo pesos escalares para as interações entre as variáveis, possibilita gerar

uma classificação de importância para tais variáveis e com isso identificar os

principais elementos de análise do sistema.

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50

Para exemplificar a matriz de impactos cruzados, tem-se que as equações

lineares genéricas

( i ) aX+bY+cZ=d ( ii ) fX+gY+hZ=k ( iii) mX+nY+pZ=q,

sendo X, Y e Z como variáveis do sistema, pode-se visualizar a seguinte matriz

representada na TABELA 2:

TABELA 2 – Matriz de análise estrutural com elementos genéricos

Variável X Variável Y Variável Z linha

Variável X a b C d

Variável Y f g H k

Variável Z m n P q

coluna d‘ k‘ q‘

As letras a, b, c, f, g, h, m, n, e p denotam parâmetros que caracterizam o

mapeamento do sistema.

Se desconsiderarmos as relações entre as mesmas variáveis (XX‘, YY‘, ZZ‘),

obtém-se as seguintes interações: X.Y ; X.Z ; Y.Z ; Com a atribuição de pesos de

importância para cada variável das três equações lineares pode-se obter sua

somatória entre as linhas e as colunas da cada variável. No caso das linhas este

somatório pode ser representado pelas letras d, k e q. Para o caso das colunas este

somatório pode ser representado por d‘, k‘ e q‘, resultando no produto cartesiano

linear como mostra a FIGURA 3:

Coluna (Máximo de d‘, k‘ e q‘)

a n

PM COLUNA k

f

c

B m

g

q h

Linha (Maximo de d, k e q)

PM LINHA FIGURA 3 – Produto cartesiano linear da análise estrutural

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A partir desta abordagem é possível definir pontos médios (PM) para linhas e

colunas, definido pela média entre o maior e menor valor entre as linhas ou colunas.

Com a plotagem de cada variável no plano é definida uma classificação, resultando

em análises de maior ou menor importância para o sistema estudado.

Outro aspecto necessário da análise de cruzamento de variáveis de matrizes

são as relações de influenciação, que podem ser de ordem direta ou indireta. Perlis

(1958) conceitua relações de dependência e independência linear. Um conjunto de

vetores (x1, x2, ..., xk), xi Є Rn , i = 1,...., k, é linearmente dependente se existem

escalares α1, α2,..., αk, não todos nulos, tais que

Caso o contrário, o conjunto (x1, x2,..., xk) é linearmente independente.

2.3.2 - Teoria dos Grafos

A Teoria dos Grafos é o ramo da matemática que estuda as propriedades de

grafos. Um grafo é um conjunto de pontos, chamados vértices (nós), conectados por

linhas, chamadas de arestas (ou arcos). Dependendo da aplicação, arestas podem

ou não ter direção, pode ser permitido ou não arestas ligarem um vértice a ele

próprio e vértices e/ou arestas podem ter um peso (numérico) associado. A teoria

de grafos dirigidos pode ser usada para modelar, matematicamente, diversos tipos

de relações. Dentre os autores pesquisados, destacam-se Feofiloff et al (2005) e

Biggs et al (1976).

Para qualquer conjunto V, aqui denotado por V(2) o conjunto de todos os

pares não ordenados de elementos de V tem n elementos, então V(2) tem [n (n – 1)

/2] elementos. Os elementos de V(2) serão identificados com os subconjuntos de V

que têm cardinalidade 2. Assim, cada elemento de V(2) terá a forma {v,w}, sendo v e

w dois elementos distintos de V.

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Um grafo é um par (V,A) em que V é um conjunto arbitrário e A é um

subconjunto de V(2) . Os elementos de V são chamados vértices e os de A são

chamados arestas. Este trabalho se restringiu a grafos em que o conjunto de

vértices é finito

Uma aresta como {v , w} será denotada simplesmente por v w ou por w v.

Define-se que a aresta v w incide em v e em w e que v e w são as pontas da aresta.

Se v w é uma aresta, diremos que os vértices v e w são vizinhos ou adjacentes.

De acordo com esta definição, um grafo não pode ter duas arestas diferentes

com o mesmo par de pontas (ou seja, não pode ter arestas ―paralelas‖). Também

não pode ter uma aresta com pontas coincidentes (ou seja, não pode ter ―laços‖).

Para Feofiloff et al (2005), um caminho é qualquer grafo da forma ({v1, v2, . . .

, vn} , {vivi+1 : 1 ≤ i < n}). Em outras palavras, um caminho é um grafo C cujo

conjunto de vértices admite uma permutação (v1, v2, . . . , vn) tal que {v1v2, v2v3, . .

. , vn−1vn} = A(C) .

Os vértices v1 e vn são os extremos do caminho. O caminho descrito pode

ser denotado simplesmente por v1v2 · · · vn . Por exemplo, o grafo ({u, v,w, z}, {wz,

vz, uw}) é um caminho, que pode ser denotado por uwzv .

O comprimento de um caminho ou circuito é o número de arestas do grafo.

Evidentemente, um caminho de comprimento k tem k + 1 vértices, e um circuito de

comprimento k têm k vértices.

Duas arestas de um grafo G são adjacentes se têm uma ponta comum. Um

emparelhamento num grafo é um conjunto de arestas duas a duas não-adjacentes.

Uma coloração do conjunto das arestas de um grafo é uma atribuição de

cores às arestas tal que arestas adjacentes recebem cores diferentes. É conveniente

formalizar a definição da seguinte maneira: uma coloração das arestas de um grafo

G é uma partição de A(G) em emparelhamentos. Se {E1, . . . ,Ek} é uma tal partição,

diz-se que cada emparelhamento Ei é uma cor e k é o número de cores.

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Uma coloração de arestas é um tipo particular de coloração de vértices. De

fato, qualquer coloração das arestas de um grafo G é uma coloração dos vértices do

grafo das arestas de G.

Com esta base conceitual sobre a teoria dos grafos é possível estabelecer

análises contundentes sobre a relação entre variáveis de um sistema linear, apoiada

na teoria de mapeamento cognitivo, no qual se identifica relações de causa e efeito

através de setas direcionadas (figura 4), bi-direcionadas ou multi-direcionadas, como

por exemplo:

FIGURA 4 – Grafos de relações de causa-efeito.

Neste caso, M é um conjunto de variáveis que impulsionam o sistema

(também chamadas de variáveis motrizes); L é um conjunto de variáveis de ligação

do sistema; D é um conjunto de variáveis dependentes do sistema; e I é um conjunto

de variáveis independentes. Estas relações matemáticas foram demonstradas por

Lucchesi (1979).

Cabe ressaltar a necessidade de conceituar elementos teóricos do

mapeamento cognitivo, como apoio às análises dos grafos no processo de

planejamento e de construção de cenários.

Segundo Baganha (2005), o mapeamento cognitivo insere-se no âmbito dos

métodos de mapeamento para estruturação de dados qualitativos. Este método foi

descrito por Éden e Ackermann (2002), como um processo composto por uma série

de transformações psicológicas pelas quais um indivíduo adquire, armazena e

decodifica informações sobre as localizações e o atributo relativo aos fenômenos em

seu ambiente espacial diário.

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Para esta pesquisa específica estão sendo utilizados mapas causais, pois

revela influência, causalidade, dinâmica do sistema e argumentação. Ou seja, esses

mapas assumem diferentes graus de complexidade e variadas formas de

representação, sendo, sem dúvida, a mais apelativa, aquela que recorre ao

diagrama baseados na estrutura de grafos.

Quanto à complexidade, esta incide na quantidade de tipos disponíveis de

interligação entre construtos. Outras variantes prevêem a inclusão de níveis de

incerteza nas relações entre construtos e de pesos de influência (BAGANHA, 2005).

O exemplo da figura 5 está relacionado com esta pesquisa e demonstra a

complexidade dos grafos para a análise estrutural, fase preliminar e necessária à

construção de cenários. É possível visualizar os grafos demonstrando relações

causais, pesos entre as relações, além de arestas de cores diferentes para explicar

diferentes graus de influência.

FIGURA 5 – Exemplo de grafos de influência direta

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2.3.3 - Teoria dos Jogos

Para Abrantes (2004), jogo é um conjunto de regras que governam o

comportamento de dado número de indivíduos ou grupo de indivíduos, dominados

jogadores. Em geral, as regras do jogo consistem numa sucessão finita de lances

realizados segundo determinada ordem. Os lances são elementos componentes do

jogo e podem ser de dois tipos: pessoais ou aleatórios.

Lance pessoal é o ato através do qual o jogador escolhe entre várias

alternativas que se lhe oferecem. A decisão tomada designa-se por escolha. No

lance aleatório, a escolha é feita a partir de uma seleção de alternativas. Resumindo:

jogo é uma sucessão de lances e a partida uma sucessão de escolhas.

Há vários critérios de classificação:

i) Atendendo ao número de jogadores que nele participam, temos os jogos de

2 (duas) pessoas, jogos de 3 (três) pessoas, jogos de n- pessoas. No entanto, dizer-

se que um jogo é de n- pessoas, não significa dizer, que nele tomam parte

necessàriamente n- pessoas, mas, que as regras do jogo são tais, que os

participantes se podem dividir em grupos exclusivos, tendo as pessoas dentro de

cada grupo, interesses comuns. Na estrutura do jogo, cada grupo é considerado

uma pessoa.

ii) Atendendo ao número de lances, os jogos podem ser finitos e infinitos. Os

primeiros têm um número finito de lances e de alternativas. Os segundos têm um

número infinito de lances e de alternativas. Quando tem em cada lance completo

conhecimento das escolhas efetuadas até essa altura, os jogadores entram num

jogo com informação perfeita ou completa. Caso contrário, a informação é

imperfeita.

Para Zugman (2005), Jogo é toda a situação em que existem duas ou mais

entidades em uma posição em que as ações de um interferem nos resultados de

outro. A Teoria dos Jogos também é conhecida como a ciência do conflito.

Estratégia é algo que um jogador faz para alcançar seu objetivo. Um jogador

sempre procura uma estratégia que aumente seus ganhos ou diminua as perdas.

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No equilíbrio de Nash ou equilíbrio não-cooperativo, nenhum jogador se

arrepende de sua estratégia, dadas as posições de todos os outros. Ou seja, um

jogador não está necessariamente feliz com as estratégias dos outros jogadores,

apenas está feliz com a estratégia que escolheu em face das escolhas dos outros.

Situações de conflito, tomada de decisão e desenvolvimento de estratégias reúnem-

se nesse campo de estudo.

Yamane (1977) exemplifica matematicamente a teoria dos jogos supondo que

um jogador P1 tenha que escolher um número pertencente ao conjunto {1, 2} = {α1,

α2} e que o jogador P2 tenha que escolher um número do conjunto {1, 2} = {β1, β2}.

Segundo certas regras pré-determinadas P1 ou P2 podem ganhar. O exemplo pode

ser representado na matriz da tabela 3:

TABELA 3 – Matriz de exemplificação da teoria dos jogos

P2

β1=1 β2=2

P1 α1=1 a11= $1 a12= $ - 4

α2=2 a21= $3 a22= $4

Esta matriz pode ser assim interpretada: Se P1 escolhe α2=2 e P2 escolhe

β2=2, então P1 receberá de P2 $4. Se P1 escolher α1=1 e P2 escolher β2=2, então

P1 receberá de P2 $ (- 4), isto é, P1 pagará a P2 $4. Ou seja, o jogo necessita de

estratégia para desencadear uma vantagem para determinado lado. Tais valores

podem ser expressos em atores e a ação do jogador pode ser expressa em

objetivos de determinado ator social.

Esta abordagem integra-se com o método utilizado nesta pesquisa através da

matriz de análise de atores sociais e relações de força. Neste caso, há a

necessidade de relacionar pesos de dominância, dependência e de ligação, tanto

para atores sociais, quanto para seus objetivos.

Nesta pesquisa, como já foi observado no texto, é utilizado um aplicativo

MACTOR, no qual utiliza como apoio tanto a teoria das matrizes, quanto a teoria dos

grafos. No entanto, o principal fundamento teórico, especialmente na matemática, é

a teoria dos jogos, pois possibilita uma análise concreta de definição sobre quais as

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decisões que se deve tomar para o planejamento com base em cenários dos

recursos hídricos na bacia hidrográfica estudada.

2.4 - Metodologias informacionais de apoio à construção de cenários

Segundo Levy (1999) apud Barp (2007), metodologias informacionais são

tecnologias que amplificam, exteriorizam e modificam numerosas funções cognitivas

humanas como: memória (banco de dados, hiperdocumentos, arquivos digitais),

imaginação (simulação), percepção (sensores digitais, telepresença, realidade

virtual) e raciocínio (inteligência artificial, modelagem de sistemas complexos).

Serão apresentadas, neste tópico, algumas ferramentas utilizadas no âmbito

da construção de cenários prospectivos preconizada pela metodologia de Michel

Godet, centrando atenção em três módulos, que serão utilizadas e aplicadas nesta

pesquisa: análise estrutural (MICMAC), análise de atores (MACTOR) e análise

morfológica (MORPHOL). Todas essas ferramentas foram desenvolvidas no

Laboratory for Investigacion in Prospective and Strategy – LIPSOR, Paris-França.

a) Análise Estrutural

A análise estrutural, através da utilização do método MICMAC (Matrice

d’Impacts Croisés – Multiplicacion Appliqué à um Classement / Matriz de Impactos

Cruzados – Multiplicação Aplicada a uma Classificação), tem como objetivos: reduzir

a complexidade do sistema (pois a prospectiva parte do complexo para o simples),

detectar as variáveis-chaves (hierarquizando-as) e detectar os atores na origem da

evolução das variáveis-chave. Em síntese, consiste em elaborar uma imagem do

estado atual do sistema, constituído pelo ambiente (político, econômico, ambiental,

etc) que o envolve. Segundo Alvarenga e Carvalho (2007) esta delimitação do

sistema e a subseqüente determinação das variáveis-chave permite colocar em

evidência uma hierarquia das variáveis (motrizes e dependentes), confirmar (ou não)

as intuições iniciais e eventualmente levantar, para outras variáveis, questões que,

de outra forma, não teriam sido colocadas.

Foram identificadas três fases fundamentais da análise estrutural:

Recenseamento das variáveis que intervêm no sistema; construção de uma matriz

de análise estrutural com a identificação das relações diretas entre as variáveis; e

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hierarquização das variáveis por ordem de motricidade e dependência indiretas e

seleção das variáveis-chave.

A primeira etapa consiste em recensear o conjunto das variáveis que

caracterizam o sistema estudado e o seu ambiente (externo e interno). Segundo

Godet (1993), é desejável alimentar a recolha das variáveis por meio de entrevistas,

não estruturadas, com representantes dos atores sociais do sistema estudado. Com

relação à fase intermediária (descrição das relações entre as variáveis), dentro de

uma abordagem sistêmica5, uma variável só existe através das relações que

mantém com as outras variáveis. Assim, a análise estrutural procura identificar as

relações existentes entre as variáveis, utilizando um quadro de dupla entrada

denominado matriz de análise estrutural. A fase que finaliza o método (identificação

das variáveis-chave) consiste em identificar as variáveis essenciais à evolução do

sistema através de classificações diretas e indiretas. Neste último caso, é possível

utilizar o software MICMAC para facilitar as análises.

Utilizando uma matriz quadrada (variável-variável) – cruzando todas as

variáveis entre si – é possível dar pesos de influenciação de cada uma sobre todas

as outras, expressando, aproximadamente, a intensidade diferenciada de influência

das mesmas e as relações de causalidade. Somando as linhas – adição de todas as

influências individualizadas de cada variável – chega-se a um resultado final que

representa o poder de influenciação das mesmas sobre o sistema. Por outro lado, a

soma das colunas apresenta uma hierarquia representativa do grau de dependência

das variáveis em relação ao sistema. A relação entre as variáveis pode ser

exemplificada na tabela 4.

5 Segundo Perin Filho (1995), sistema é um conjunto de componentes que interagem de modo

regular entre si e com o meio ambiente, satisfazendo à certas restrições ambientais provenientes da escassez de recursos, para atingir determinados objetivos.

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Tabela 4 – Relação entre variáveis da análise estrutural.

VARIÁVEL

A

B

C

D ...

Poder

de Influência

A

B

C

D :

Grau de

Dependência

Outra informação gerada pelo MICMAC é a classificação de variáveis, que

podem ser: Motrizes: são variáveis de força, que regem os acontecimentos futuros;

Dependentes: são aquelas que sofrem influência das variáveis motrizes; seu

comportamento vai depender do desempenho das motrizes; de Ligação: variáveis

que, ao mesmo tempo, têm alta motricidade e alta dependência, ou seja, têm ao

mesmo tempo capacidade de influenciar e serem influenciadas pelo sistema6;

Independentes: são aquelas de baixa motricidade e baixa dependência, que acabam

por não influenciar o sistema. Em certos casos, podem até ser desconsideradas da

análise. A classificação das variáveis em motrizes, dependentes, de ligação ou

independente é feita por meio da figura 6, onde as variáveis localizadas no

quadrante I são consideradas motrizes, no quadrante II são consideradas de ligação,

no quadrante III são as independentes e no quadrante IV são consideradas

dependentes.

6Sistemas com um grande número de variáveis de ligação tendem a serem instáveis.

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FIGURA 6 – Diagrama de classificação das variáveis

As forças motrizes são o insumo para a realização da análise estrutural, e

devem advir da análise das variáveis relevantes levantadas na etapa anterior. A

metodologia consiste em realizar a análise das relações existentes entre essas

variáveis, por meio da matriz de relacionamentos, obtendo como um dos resultados

o conhecimento daquelas variáveis que mais afetam o sistema (variáveis motrizes).

Uma vez conhecendo como as variáveis (ou aspectos) relacionadas aos

recursos hídricos se comportam no sistema, parte-se para a definição das Incertezas

Críticas. Essa definição é qualitativa, realizada com os atores sociais locais. As

Incertezas Críticas são aspectos que afetam muito os recursos hídricos na bacia

hidrográfica estudada e que apresentam alta incerteza quanto ao seu

comportamento futuro.

b) Análise dos Atores7

É um método de análise dos jogos de atores sociais. Procura avaliar as

relações de força entre esses e estuda suas convergências e divergências dada

7Está sendo considerado, neste trabalho, ―ator‖ como sendo todo aquele que participa, direta ou

indiretamente, do processo decisório. Na literatura de língua inglesa, é chamado de stakeholder. Cada ator tem um sistema de valores que defende e que o representa.

I

II

III

IV

M

O

T

R

I

C

I

D

A

D

E

DEPENDÊNCIA

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uma configuração de um conjunto de objetivos estratégicos, os quais descrevem ou

determinam essa situação de futuro. Constitui-se como uma ferramenta importante

dentro da perspectiva da metodologia integrada de Godet (1993). A metodologia

―Matriz de atores, objetivos e relações de força‖ – MACTOR – configura-se em dois

elementos principais: relação entre ator-ator e relação ator-objetivos. É importante

ressaltar que essas análises são bastante relativas, pois o resultado do jogo de

forças é indeterminado, dependendo precisamente do objeto de análise, isto é, do

poder e das posições dos atores. Segue uma seqüência da análise estrutural.

A percepção dos conflitos e alianças deve ser uma preocupação constante. O

processo pode também contribuir para uma maior participação e reflexão estratégica

por parte dos diferentes atores, sendo desejável a realização de entrevistas a esses

atores objeto de análise.

Godet (1993) define os elementos de maior importância para o

encaminhamento do método, nas quais serão priorizados nesta pesquisa através de

aplicação de entrevistas com os atores e posteriormente sistematização da relação

entre ator-ator e ator-objetivo.

A primeira fase do método é construir o quadro das estratégias dos atores. A

construção deste quadro diz respeito aos atores que comandam as variáveis-chave

obtidas na análise estrutural: é justamente o jogo destes atores ‗motores‘ que explica

a evolução das variáveis comandadas. As informações recolhidas sobre os atores

devem contemplar as finalidades, objetivos, projetos em desenvolvimento (e de

intenção futura), suas motivações políticas e meios de atuação.

A segunda fase identifica os desafios estratégicos e os objetivos associados.

Pode ser realizada uma reunião com esses atores ou através da aplicação de

entrevista com questionário qualitativo, onde possibilita revelar os atores que

possuem objetivos convergentes ou divergentes.

A terceira fase se preocupa em posicionar os atores em função dos objetivos

e identificar as convergências e divergências. Trata-se de descrever, através de uma

matriz ―atores x objetivos‖ a atitude de cada ator, na atualidade, em relação a cada

objetivo, indicando seu acordo (+), desacordo (-1) ou neutralidade (0), da mesma

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forma como no exemplo da matriz de análise estrutural. Esta matriz permite

visualizar grupos de atores em convergência de interesses, identificar atores

potencialmente ameaçados e analisar a estabilidade do sistema. É possível

estabelecer grafos para representar tais relações.

A quarta fase serve para hierarquizar para cada ator as suas prioridades de

objetivos. Para aproximar o modelo à realidade, convém ter em consideração

igualmente a hierarquia dos objetivos para cada ator. Avalia-se, assim, a intensidade

do posicionamento de cada ator por meio de uma escala específica.

A quinta etapa consiste em avaliar as relações de força dos atores. Constrói-

se uma matriz das influências diretas entre atores a partir do quadro estratégico dos

atores, valorizando os meios de ação de cada ator. O software MACTOR pode

ajudar no cálculo das relações de força, tendo em conta, simultaneamente, as

influências diretas e indiretas. Seguidamente, constrói-se um diagrama de influência-

dependência dos atores, conforme a figura 7.

FIGURA 7 – Diagrama de influência-dependência dos atores.

A sexta fase integra as relações de força na análise das convergências e

divergências entre os atores permitindo observar a deformação das alianças e

Influência

Dependência

Atores

dominantes

Atores autônomos

Atores de

ligação

Atores dominados

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conflitos potenciais, tendo em conta as hierarquias dos objetivos e das relações de

força entre os atores.

A última fase do MACTOR serve para formular as recomendações

estratégicas e as questões-chave para o futuro. Ajuda, por exemplo, a testar

possibilidades de evolução das relações entre atores, a emergência e o

desaparecimento de atores, as mudanças de papéis, etc.

c) Análise Morfológica

A análise morfológica (metodologia na base do software MORPHOL) clarifica

e simplifica e elaboração de cenários a partir das evoluções possíveis/prováveis das

variáveis-chave (identificadas na análise estrutural), refletindo o comportamento dos

atores (estudado na análise de jogos dos atores). O princípio fundamental é a

decomposição do sistema estudado em subsistemas ou componentes, sendo que as

componentes devem ser as mais independentes possíveis e cobrir a totalidade do

sistema estudado. Cada componente pode ter diferentes configurações, existindo

tantas soluções possíveis quanto combinações de configurações. Por exemplo, num

sistema de quatro componentes, com quatro configurações cada, existem

4x4x4x4=256 possibilidades de combinações. Este espaço dos possíveis também se

denomina ―espaço morfológico‖.

Segundo Godet (1993) e Ritchey (2006), a análise morfológica foi idealizada

por, Fritz Zwicky do Instituto de Tecnologia da Califórnia entre os anos de 1930/40

para estabelecer estratégias militares na Segunda Guerra Mundial. Durante os

últimos 10 anos, vêm sido computadorizada e estendida para estruturação e

análises políticas complexas, desenvolvendo cenários futuros e modelando

estratégias alternativas.

A Sociedade Sueca de Análise Morfológica foi identificada como um dos

principais centros mundiais de estudos e práticas sobre este método. No entanto, a

LIPSOR tem apresentado um longo histórico de trabalhos científicos, na qual se

destaca a criação do software MORPHOL.

Segundo Ritchey (2006), a estruturação e a análise de sistemas sócio-técnico

complexos apresentam-se como numerosos problemas metodológicos e isto

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64

acontece devido o envolvimento de fatores não mensuráveis quantitativamente,

além de conter dimensões sociais, políticos, cognitivos. Até os anos de 1940, o

termo morfológico era bastante utilizado somente para descrever elementos

biológicos. A partir daí, Zwicky (1969, p. 34) apud Ritchey (2006, p. 3) delimitou uma

abrangência mais generalista para o termo, no qual

Attention has been called to the fact that the term morphology has long been used in many fields of science to designate research on structural interrelations - for instance in anatomy, geology, botany and biology... I have proposed to generalize and systematize the concept of morphological research and include not only the study of the shapes of geometrical, geological, biological, and generally material structures, but also to study the more abstract structural interrelations among phenomena, concepts, and ideas, whatever their character might be.

A análise morfológica tem sido empregada para desenvolver cenários e

modelar cenários em laboratório; desenvolver estratégias alternativas; análise de

risco; relacionar entradas e saídas em sistemas políticos complexos; desenvolver

modelos para analisar posições dos stakeholders; avaliar diferentes estruturas

organizacionais; apresentar e compreender sistemas complexos através de modelos

visuais.

A análise morfológica comporta duas etapas metodológicas: construção do

espaço morfológico e redução do espaço morfológico. Na primeira etapa,

decompõe-se o sistema ou a função estudada. No entanto, deve-se ter o cuidado (a

partir de uma reflexão aprofundada) com a escolha desta decomposição. Convém,

em primeiro lugar, dispor de componentes o mais independente possível. Estes

componentes devem também dar conta da totalidade do sistema estudado. Porém,

demasiados componentes, rapidamente tornarão impossível a análise do sistema,

do mesmo modo que um número muito restrito de componentes, certamente a

empobrecerão. Na segunda etapa, referente à redução do espaço morfológico,

consiste em introduzir condicionalismos de exclusão, de critérios de seleção, a partir

do qual as combinações pertinentes poderão ser examinadas.

A análise morfológica permite um varrimento sistemático do campo dos

possíveis. Para não ser submerso pela combinatória, é necessário aprender a

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65

navegar no interior do espaço morfológico, graças a critérios de preferências ou

restrições de escolha permitidos pelo software MORPHOL. No caso da construção

de cenários, a partir das etapas anteriores do método integrado (análise estrutural e

análise de jogos de atores), são definidas as incertezas críticas e as hipóteses do

sistema estudado. A representação pode ser visualizada na figura 8.

INCERTEZAS

CRÍTICAS

HIPÓTESES

INCERTEZA ―A‖

A1

(Hipótese 1 da incerteza A)

A2

(Hipótese 2 da incerteza A)

INCERTEZA ―B‖

B1

(Hipótese 1 da incerteza B)

B2

(Hipótese 2 da incerteza B)

INCERTEZA ―C‖

C1

(Hipótese 1 da incerteza C)

C2

(Hipótese 2 da incerteza C)

Idéia

Força 1

Idéia

Força 2

Idéia

Força 3

Idéia

Força 4

Figura 8 – Espaço morfológico.

2.5 – Exemplo do Plano Nacional de Recursos Hídricos

O Plano Nacional de Recursos Hídricos (PNRH), aprovado em dezembro de

2005, é um bom exemplo do uso dos cenários prospectivos nessa área, tendo sido

desenvolvido de forma participativa. Nesse estudo, em que a Secretaria de

Recursos Hídricos do Ministério do Meio Ambiente esteve à frente, consultaram-se

os mais variados setores da sociedade das diferentes regiões hidrográficas

brasileiras, tendo lhes sido facultado espaço para explicitar seus anseios e temores

com relação à gestão dos recursos hídricos.

O PNRH (MMA, 2006) definiu que os cenários de recursos hídricos no Brasil

sofrem influência em primeiro lugar, dos possíveis desdobramentos futuros do

mundo e do País em seu conjunto. No mundo, alguns condicionantes são vitais e é

importante explicitá-los.

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Em primeiro lugar, está o aumento da demanda de alimentos; em segundo, o

desenvolvimento científico e tecnológico, particularmente nos processos de inovação

que impactam o consumo e a conservação das águas; a dinâmica econômica, em

geral, também contribui para influenciar os cenários de recursos hídricos no Brasil,

na medida em que oferece oportunidades de crescimento econômico para o País,

incidindo em expansão de atividades econômicas que impactam o acesso, o

consumo e a conservação das águas.

O condicionante mais fundamental, em termos internacionais, é o leque de

oportunidades que ele pode oferecer ao Brasil em função de sua maior ou menor

dinâmica econômica. O mundo pode manter o ritmo de crescimento observado nos

últimos anos ou pode arrefecer em função de diversos fatores, sejam eles

econômicos (crises), tecnológicos (esgotamento) ou políticos (guerras e rupturas).

O contexto nacional possui também condicionantes que influenciam de

maneira decisiva o uso e a gestão dos recursos hídricos nos próximos anos: a

organização político-ideológica hegemônica no âmbito das forças políticas, com

reflexo sobre a governança e governabilidade do Estado; o grau de modernização

que alcançará o Estado brasileiro, ampliando ou não sua capacidade de gestão, de

formulação e implementação das políticas públicas; a superação ou não de gargalos

infra-estruturais e institucionais ao desenvolvimento econômico; o grau de abertura

da economia brasileira e sua exposição à concorrência internacional; o ritmo da

inovação tecnológica na indústria e na agroindústria nacional; a concentração ou

desconcentração regional; os indicadores de desenvolvimento humano.

A Figura 9 mostra a lógica de construção de cenários, em que ficam claras as

relações das condicionantes, assim como a dependência do desempenho dos

recursos hídricos em relação à um contexto Nacional e Mundial.

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67

FIGURA 9 – Representação lógica do processo de construção de cenários em recursos

hídricos. Fonte: MMA, 2006

Neste contexto, foi possível construir três cenários plausíveis para o Brasil do

ano de 2020. O cenário 1 ―Água para todos ou a água como bem comum‖. Em um

mundo que cresce de maneira contínua, o Brasil adota modelo de desenvolvimento

redutor da pobreza e das desigualdades sociais, com bom índice de crescimento

econômico e políticas sociais consistentes e integradas. Impulsionado, em parte,

pelos freqüentes conflitos, o País encontra uma forma mais eficaz no uso das águas,

incluindo o uso múltiplo.

O cenário 2 ―Água para alguns ou água com bem econômico‖ parte do

argumento de que o mundo e o Brasil são regidos por forte dinamismo excludente,

com expansão das atividades econômicas no País, fortes impactos sobre os

recursos hídricos e aumento da desigualdade social. A degradação dos recursos

hídricos é notória, com uma gestão liberal, planos inoperantes, participação social

formal e pouca regulamentação e fiscalização no uso das águas. Assim, os conflitos

crescem e a degradação compromete a qualidade dos recursos hídricos,sobretudo

nas regiões em expansão. O uso múltiplo das águas é parcialmente resolvido,

apenas, nas áreas de exportação.

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O cenário 3 ―Água para poucos ou a água com bem secundário‖ acredita que

o Brasil não aproveita as poucas oportunidades de um mundo instável e

fragmentado, e tem pequeno crescimento das atividades econômicas e da infra-

estrutura urbana, com manutenção dos índices de pobreza e desigualdade social.

Não há expansão significativa no fornecimento de energia hidrelétrica. Os

investimentos em proteção de recursos hídricos são pequenos, seletivos e

corretivos, sob uma gestão burocrática. Os conflitos e problemas em torno dos

recursos hídricos crescem, particularmente nas regiões hidrológicas já deficientes e

localidades já problemáticas.

A complexidade do processo de elaboração do planejamento estratégico com

base em cenários dos recursos hídricos na Região Hidrográfica Amazônica exige

uma análise detalhada de cada elemento metodológico, onde permitirão definir as

variáveis e atores relacionados com os aspectos institucionais da gestão da água.

Descreve-se, aqui, de maneira extremamente sucinta a metodologia utilizada

na construção de cenários utilizada na elaboração do Plano Nacional de Recursos

Hídricos-PNRH, onde se destacam sete passos: a seguir anunciados:

Estudo retrospectivo do sistema a ser cenarizado. A finalidade desse

procedimento é de definir quais as variáveis de mudança e permanência no

sistema de recursos hídricos que prevaleceu nas últimas duas décadas.

Descrição da situação desse sistema. Serve para identificar a natureza e as

principais características do sistema de recursos hídricos, possibilitando

identificar suas principais variáveis e atores.

Identificação dos seus condicionantes de futuro. Processo de identificação no

sistema de recursos hídricos de suas invariáveis e incertezas críticas, assim

como seus atores mais relevantes e as incertezas críticas, fundamentais no

processo de geração de cenários.

Investigação morfológica. Técnica que permite, a partir de uma matriz

construída com as incertezas críticas, e suas hipóteses plausíveis,

articulando-as de forma racional e coerente, gerar a filosofia e a lógica dos

cenários plausíveis, sempre seguida da análise de coerência dos cenários

construídos.

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Testes de plausibilidade dos cenários gerados. Aplicação de técnicas que

permitem examinar a plausibilidade dos cenários gerados. Entre essas

técnicas encontra-se a matriz de sustentação política, utilizada no PNRH.

Desenvolvimento dos cenários. Com os cenários gerados e selecionados em

função de sua factibilidade, é o momento de seu desenvolvimento segundo

dimensões definidas previamente.

Comparação e quantificação dos cenários. Trabalho de analisar,

comparativamente, os cenários selecionados e desenvolvidos, que são em

seguida quantificados com indicadores previamente escolhidos, de forma não

determinística, mas indicativa.

Especificamente ao resultado da análise morfológica é apresentada a figura

10, onde, como se pode observar, foram utilizados sete componentes (cenários

mundiais e nacionais, ocupação e uso do solo, usinas hidrelétricas, saneamento,

gestão, investimentos e despesas públicas), com, no máximo, quatro configurações

(neste caso foram utilizados critérios que variam com cada componente

especificamente).

Figura 10 – Resultado da análise morfológica realizada no âmbito da elaboração do Plano

Nacional de Recursos Hídricos. Fonte: MMA (2006).

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3 - ESTUDO DA BACIA HIDROGRÁFICA DO RIO ARARANDEUA

3.1 – Localização Geográfica

A área de estudo é a bacia hidrográfica do Rio Ararandeua (Figura 11) no

município de Rondon do Pará, localizado na mesorregião Sudeste Paraense, Brasil ,

afluente à bacia hidrográfica do Rio Capim.

FIGURA 11 – Localização da bacia do rio Ararandeua no Estado do Pará – Brasil

Fonte: CACELA FILHO, 2008.

Segundo a Divisão Hidrográfica Nacional8, a bacia do rio Ararandeua pertence

à Região Hidrográfica Atlântico Nordeste Ocidental (figura 12). Já para a Divisão

Hidrográfica Estadual do Pará, a referida bacia encontra-se inserida, segundo

SECTAM (2007), na bacia do rio Capim, que por sua vez é localizada na sub-região

Guamá-Mojú da Região Hidrográfica Costa-Atlântica Nordeste, conforme a figura 13.

8Resolução 032 de 15 de outubro de 2003 – Conselho Nacional de Recursos Hídricos.

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FIGURA 12 – Localização da Bacia do Rio Ararandeua: (A) Divisão Hidrgráfica

Nacional; (B) Localização da Região Hidrográfica Atlântico Nordeste Ocidental com as sub-divisões; (C) Bacia Hidrográfica do Rio Ararandeua localizada na sub-bacia 31; e (D) Bacia do Rio Ararandeua. FONTE: CACELA FILHO (2008).

FIGURA 13 – Mapa da Região Hidrográfica Costa Atlântica-Nordeste.

Fonte: SECTAM, 2007.

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A bacia do Ararandeua possui uma área total de 10.742,62 km² , sendo que

9.714,08 km², correspondendo 90 % da bacia, localizam-se no estado do Pará e

1028,54 km², correspondendo a 10% da bacia hidrográfica, estão no estado do

Maranhão (MA), conforme a figura 14.

FIGURA 14 - Representação gráfica da Bacia Hidrográfica do Rio Ararandeua.

FONTE: CACELA FILHO (2007).

O rio Ararandeua nasce no estado do Maranhão no município de Açailândia a

uma altitude aproximada de 400 metros. A tabela 5 discrimina a divisão político-

administrativa dos municípios e respectivas áreas que ocupam dentro da bacia.

TABELA 5 - Municípios Integrados à Bacia Hidrográfica do Rio Ararandeua

ESTADO

NOME DO MUNICÍPIO

ÁREA DO MUNICIPIO EM KM² (IBGE)

PERCENTUAL DA ÁREA INTEGRADA TOTAL PARCIAL

INTEGRADA À BACIA

01 PARÁ GOIANESIA DO PARÁ

6.958,80 2.118,61 30,44 (%)

02 PARÁ RONDON DO PARÁ

8.277,30 7.595,47 91,76 (%)

03 MARANHÃO AÇAILANDIA 6.354,60 1.028,54 16.18 (%) Fonte: CACELA FILHO, 2008.

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Os principais afluentes do rio Ararandeua são pela direita o rio Santa Lúcia e

rio do Ouro e, pela esquerda, os maiores e mais numerosos, que são os rios Água

Azul, Pitinga, Surubiju e Dourado, além dos igarapés Garrafão e Sete Voltas (figura

15).

FIGURA 15 – Principais afluentes do rio Ararandeua. Fonte: CACELA FILHO, 2008.

O município de Rondon do Pará reúne as principais características

econômicas, administrativas, políticas, sociais e ambientais da bacia hidrográfica do

rio Ararandeua. Ressalta-se que os municípios de Goianésia do Pará e Açailândia-

MA possuem importância relativa para o presente estudo, haja vista que pouco

abrangem da área total da bacia, não configurando elementos suficientes para o

estabelecimento das análises para a construção de cenários.

Entretanto, deve-se ter atenção para o fato do município de Açailândia conter

fragmentos de nascentes da referida bacia hidrográfica. Além disso, a sede

administrativa do município de Rondon do Pará é banhada pelo rio Ararandeua. A

partir desta constatação, tal estudo versará importantes descrições sobre a dinâmica

municipal, aproximando reflexões entre a gestão de recursos hídricos com a gestão

ambiental, onde priorizar-se-á a descrição dos elementos ambientais, das atividades

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produtivas e a relação com as alterações no sistema hídricos e finalmente a análise

dos interesses dos atores sociais, constituídos como variáveis do processo

metodológico.

Com uma extensão territorial de 8.296,30 km2, o município de Rondon do

Pará está localizado na mesorregião sudeste paraense 06 e microrregião

Paragominas 017, tendo como coordenadas geográficas 04º47‘04‘‘ de Latitude Sul e

48º04‘49‘‘ de Longitude Oeste de Greenwich, limitando-se ao norte com os

municípios de Moju, São Domingos do Capim, Paragominas e Dom Elizeu; ao sul

com Abel Figueiredo, Bom Jesus do Tocantins e Marabá; à leste com Dom Elizeu e

Estado do Maranhão; e a oeste com Jacundá, Goianésia e Moju. A sede municipal

dista 532 km‘s da capital do Estado do Pará e 136 km‘s de Marabá, principal pólo

econômico da mesorregião, com o acesso pela BR-222, rodovia federal totalmente

asfaltada ver figura 16.

Figura 16 – Localização de Rondon do Pará

3.2 – Características socioambientais

O rio Ararandeua é o principal rio do Município de Rondon do Pará, o qual

nasce em terras do Estado do Maranhão, mas tem todo o seu curso atravessando o

município na direção Sudeste-Noroeste-Norte.

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Esta região é produto do modelo desordenado de ocupação da Amazônia nas

décadas de 60-70, uma vez que os primeiros migrantes, vindos do sudeste e do

nordeste, chegaram nesta região no final dos anos 60 quando as estradas estavam

sendo abertas e a Belém-Brasília asfaltada. Resultante de um processo migratório

intenso e de exploração predatória dos recursos naturais, o município que, em 1986,

possuía 27,8% da cobertura vegetal de sua área alterada, hoje possui menos de

40% de sua área inalterada, estando localizado na área denominada de Arco do

Desmatamento9, conforme mostra a Figura 17, onde estão situados os 50

municípios responsáveis por 70% do desmatamento ocorrido no período de 2000-

2006 na Amazônia, com uma taxa de 3,6% de incremento no período

(MMA/SCA/SPRN, 2007).

FIGURA 17: Arco do Desmatamento na Amazônia e localização do Município de Rondon do

Pará. Fonte: Base cartográfica do IBGE. Adaptado de Monteiro, et al (1998).

9 Uma das características principais do desmatamento da Amazônia é a concentração geográfica, isto

é, A maior parte do desmatamento na região tem se concentrado ao longo de um ―Arco‖ que se estende entre o sudeste do Maranhão, o norte do Tocantins, sul do Pará, norte de Mato Grosso, Rondônia, sul do Amazonas e o sudeste do Acre. No período de 2000-2001, aproximadamente 70% do desmatamento na Amazônia Legal ocorreram em cerca de cinqüenta municípios nos estados de Mato Grosso, Pará e Rondônia, que representam em torno de 15,7% da área total da região. Entre alguns municípios desses estados, a área desmatada chega aos 80-90% de sua superfície total.

Para Becker (2002), a região do Arco do Desmatamento é uma área onde as atividades econômicas e a estrutura social e política já estão consolidadas; por isso, não cabe mais falar de "fronteira" ou de "desmatamento" para essas áreas. Ou seja, se a Amazônia é efetivamente uma região, então há que se substituir a política de ocupação por uma política de consolidação do desenvolvimento. Uma política de ocupação não tem mais cabimento, porque a região já está ocupada. As florestas que restaram devem permanecer com seus habitantes. É necessário articular os diferentes projetos e os diversos interesses e conflitos que incidem na região.

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Nas últimas décadas a região amazônica vem sendo amplamente alterada

pela crescente presença humana e seus modos de exploração de recursos naturais,

principalmente na sua vertente sul onde se localiza o arco do desmatamento. Esta

forma geográfica de arco é decorrente da expansão da zona de fronteira agrícola

nas periferias da Amazônia, tendo a pecuária e posteriormente a soja como formas

predominantes de uso da terra (FEARNSIDE,1999).

A cobertura vegetal da área de estudo é vocacionada para a atividade

madeireira e está composta por duas formações florestais bem distintas, a floresta

equatorial subperenifólia e a floresta equatorial higrófila de várzea. O primeiro tipo

(subperenifólia) cobre a maior parte da região do município. Todavia, em

determinadas áreas, esta formação tem sido substituída através de processos

antrópicos por revestimento florístico do tipo ―capoeiras latifoliadas‖ com várias

idades, resultante do processo da exploração extrativista madeireira. Já o segundo

tipo de formação florestal (higrófila), regionalmente conhecida como ―mata da

várzea‖ é pouco representativa na área estudada.

Grande parte do município configura-se como área de desmatamento,

resultante das atividades de pecuária e de carvoaria, conforme pode ser visualizado

nas fotos 1 e 2.

FOTO 1 – Exemplo comum de queimadas e desmatamento na bacia do rio Ararandeua.

Os dados do DETER – Detecção do desmatamento em tempo real (MMA,

2008) confirmam que o município de Rondon do Pará (e consequentemente a bacia

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hidrográfica do rio Ararandeua), está na lista dos 36 municípios que respondem por

50% do desmatamento do bioma amazônico. Entre agosto de 2006 e julho de 2007,

o município de Rondon do Pará foi o 9º município que mais desmatou no Estado do

Pará. A metodologia utilizada neste estudo foi o Sistema PRODES, que usa imagens

de satélite com resolução espacial entre 20 e 30 m (satélites LANDSAT e CEBERS).

Foto 2 – Imagem de desflorestamento na bacia do rio Ararandeua.

Em vários pontos das nascentes do rio Ararandeua a mata ciliar encontra-se

suprimida devido atividades em desacordo com a legislação ambiental, como

atividades de carvoarias e agropecuária.

A geologia do município é representada, em sua maior expressão, pela

Formação Barreiras (60% da área), constituída por sedimentos clásticos, mal

selecionados, variando de siltitos a conglomerados, com amarelo e vermelho como

cores predominantes, compondo os materiais formadores dos solos latossolo

amarelo distrófico e argissolo amarelo; e pela formação Itapecurú (35% da área),

constituída quase que exclusivamente por arenitos de cores diversas, predominando

cinza, róseo e vermelho, finos, argilosos, com estratificação cruzada e silicificações,

formadores dos argissolos vermelho amarelo e gleissolo hápico, com presença de

cascalhos e pedras localizados em relevo ondulado e forte ondulado.

Percebe-se a importância desta caracterização geológica neste estudo, na

qual agrava-se a relação existente com o nível de impactos de erosão e

sedimentação na bacia hidrográfica, além de favorecer a atividade de exploração

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mineral, principalmente para a construção civil. Esta realidade por ser observada nos

registros fotográficos 3, 4 e 5.

FOTO 3 – Indústria de mineração na bacia do rio Ararandeua

FOTO 4 – Processo de extração mineral na bacia do rio Ararandeua

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FOTO 5 – Processos erosivos na área urbana da bacia do rio Ararandeua.

O IDH-M – Índice de Desenvolvimento Humano Municipal - de Rondon do

Pará em 1991 estava em 0.615, tendo aumentado para 0.685 em 2000, índices

inferiores à taxa estadual, que estava em 0.663 e 0.720 nos respectivos anos. O

município ocupava o 43º lugar no ranking estadual em 1991, tendo caído para a 55ª

posição em 2000. Os dados do ano 2000 apontam para uma taxa de 75,70% de

alfabetização de adultos; 71,38% de freqüência escolar; 66,78 anos de esperança

de vida ao nascer; e índices de 0.696 de longevidade, 0.743 de educação e de 0.617

de renda, com R$ 156,81 de renda per capta. A perda do poder aquisitivo da

população e a diminuição de sua renda per capta são contrastantes com todos os

investimentos sociais feitos pelo Poder Público nos últimos anos, que geraram a

melhoria dos índices sociais e educacionais que compõem o IDH e o IDH-M.

Nas áreas de cabeceira da bacia, o conflito pelo uso da água e a falta de

fiscalização do órgão gestor é uma realidade. A comunidade local utiliza água para a

subsistência familiar (criação de gado e suínos, micro – sistemas de abastecimento

e cacimbas) e se opõem as indústrias locais, que utilizam o solo e a rede hídrica

com exploração irracional e desenfreada dos recursos naturais sem a preocupação

ambiental.

Observou-se o conflito pelo uso da água na principal nascente do Rio

Ararandeua, no município de Açailância-MA, envolvendo quatro atores sociais

importantes da bacia:

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1. uso industrial da água no laticínio (foto 6),

2. uso da água para produção agrícola (foto 7) ,

3. uso da água para atividade de piscicultura (foto 8),

4. comunidade que utiliza a água para o consumo doméstico (foto 9).

FOTO 6 – Uso industrial da água no laticínio.

FOTO 7 – Uso da água para produção agrícola.

FOTO 8 – Uso da água para atividade de piscicultura.

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FOTO 9 – Comunidade que utiliza a água para o consumo doméstico.

Na área urbana da bacia localiza-se a sede municipal do município de

Rondon do Pará. Configura-se como uma área de crescimento urbano desordenado,

principalmente com relação ao saneamento ambiental, com a identificação de

problemas de abastecimento de água, coleta e tratamento de esgoto, problemas na

rede de drenagem de águas pluviais e destinação final de resíduos sólidos (fotos 10,

11 e 12).

FOTO 10 – Disposição inadequada de resíduos sólidos na área urbana

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FOTO 11 – Problemas na rede de drenagem de água pluviais na área urbana.

FOTO 12 – Despejo inadequado de efluentes industriais (matadouro) na área urbana.

Tanto os rejeitos domésticos e industriais, quanto à poluição por resíduos

sólidos escoam ao rio Ararandeua, prejudicando atividades de pesca, uso da água

para o consumo humano, atividades turísticas (foto 13) e de recreação (foto 14),

além de contribuir para o sério problema social de saúde pública no município.

FOTO 13 – Balneário da cidade de Rondon do Pará.

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FOTO 14 – Utilização do rio Ararandeua para atividade de lazer.

Além disso, a atividade de carvoarias não respeita os limites de conservação

dos recursos hídricos, provocando assoreamento do rio Ararandeua (foto 15).

FOTO 15 – Atividade de carvoarias na bacia.

O município de Rondon do Pará foi criado através da Lei Estadual 5.027, de

13 de maio de 1982, tendo sido desmembrado do município de São Domingos do

Capim, no momento de criação de novos municípios no Estado do Pará devido à

construção da Hidrelétrica de Tucuruí, em 1984.

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Através de convênios e parcerias com o Governo Federal e Governo

Estadual, o poder público municipal implementa diversos programas e projetos,

dentre os quais destacam-se os que possuem relação com a questão ambiental:

a) ―Rondon e sua Agenda 21, financiado pelo MMA - Ministério do Meio

Ambiente desde julho 2004;

b) ―Fortalecimento da Gestão Ambiental Municipal‖ financiado pelo FNMA -

Fundo Nacional do Meio Ambiente;

c) Para promoção do saneamento ambiental, o município elaborou convênio

com o Banco Interamericano de Desenvolvimento - BID visando estender o

abastecimento de água potável para 90% da população (o índice atual é de 60%

pelo sistema municipal de abastecimento e 25% por microssistemas comunitários

e 15% sem qualquer cobertura).

d) Em parceria com o Sistema de Proteção da Amazônia – SIPAM, através de

Termo de Cooperação Técnica, o intercâmbio de informações, documentos,

pesquisas e base de dados, tendo esse órgão já repassado informações

cartográficas e imagens de satélite para elaboração da Agenda 21 Local e do

Plano Diretor Municipal.

O Projeto de Fortalecimento da Gestão Ambiental, em conjunto com a

Agenda 21 Local e o Plano Diretor Municipal possibilitaram um momento propício

para promoção do capital social da comunidade, suprindo a carência de

capacitação, planejamento coletivo e junção de esforços comunitários em torno de

uma estratégia comum para mudar a realidade de devastação ambiental e pobreza

predominante na Amazônia. É importante ressaltar e identificar, entre os atores

sociais locais, o papel relevante que aqueles que compõem o Fórum de

Desenvolvimento Sustentável têm cumprido na promoção da participação, da

democratização e do desenvolvimento do município. São esses atores, em conjunto

com o CONSEMA - Conselho Municipal do Meio Ambiente - e com a Administração

Pública Municipal que serão inseridos na perspectiva de realização de entrevistas

qualitativas para complementar o processo metodológico desta pesquisa.

Outro ator social relevante no processo de gestão de recursos hídricos é o

CIDES - Consórcio Intermunicipal de Desenvolvimento Sustentável da BR-222,

composto pelos municípios de Rondon do Pará, Abel Figueiredo, Bom Jesus do

Page 85: UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ INSTITUTO DE … Magalhaes.pdf · A partir do trabalho de campo realizado no âmbito da pesquisa, ... waste and household and industrial effluent streams

85

Tocantins e Dom Elizeu, é um potencial influenciador na criação de espaços de

gerenciamento da bacia do rio Ararandeua, pois agrega decisores fundamentais, ou

seja, os prefeitos, para impulsionar a integração entre a gestão ambiental e a gestão

de recursos hídricos nesta região.

O município de Rondon do Pará tem uma população de 46.311 habitantes

(IBGE, 2006), dos quais 34.917 domiciliados em área urbana e 11.394 em área

rural; composta por 49,19% de mulheres e 50,81% de homens, sendo

preponderantemente jovem, pois, 60,4% têm menos de 24 anos de idade. Esse fator

torna-se especialmente agravante, pois o município passa por uma crise social que

se agrava a cada dia, com a diminuição das oportunidades de trabalho e a queda da

renda da população, originada pela ―migração‖ da indústria madeireira para novas

frentes de expansão, uma vez que a matéria-prima por ela utilizada encontra-se

escassa, graças ao modelo exploratório irracional e predatório.

O abastecimento de água na sede é administrado pela Prefeitura através da

autarquia municipal Serviço Autônomo de Água e Esgoto - SAAE, existente desde

1984, que gerencia o fornecimento e manutenção do sistema, assim como também

administra suas receitas. O sistema de abastecimento do SAAE atende 70% da

população. Do restante da população, 25% são supridos por microssistemas

comunitários e 15% não têm cobertura de serviço. A rede de distribuição, no geral, é

incompatível com as normas técnicas. Um problema sério é o racionamento do uso

da água para consumo doméstico. Segundo informações colhidas no trabalho de

campo, constatou-se deficiência de reservatório de água no sistema de

abastecimento além do déficit de 55Km de rede de abastecimento. A captação é de

água subterrânea.

Na zona rural, o abastecimento de água é através de cinco microssistemas

de abastecimento de água administrados pela Prefeitura e pelas próprias

comunidades, sendo que não há recolhimento de taxas e a manutenção do sistema

é encargo do Poder Público Executivo. Esta cobertura é estendida à cerca de 30%

da população. Nos últimos anos, houve investimentos já concluídos nas localidades

de Santa Helena, Vila Palestina e estão em fase de conclusão os projetos do Km 56

e 69 da BR 222.

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86

Inexiste o esgotamento sanitário tanto na zona urbana, quanto na rural. A

pequena rede de drenagem de águas pluviais existente não coleta água de todas as

bacias existentes, restringindo-se à coleta dos pontos críticos de linhas d‘água, que

são sete: seis no centro da cidade, e um, no bairro Gusmão.

Por falta de rigor na fiscalização, muitos moradores acabam canalizando as

fossas domésticas para essas galerias de redes de drenagem, o que resulta na

poluição do rio Ararandeua, que margeia a sede do Município, conforme pode ser

observado na foto 16.

FOTO 16 – Degradação ambiental devido efluentes domésticos no rio Ararandeua.

Fonte: Rondon do Pará (2007).

A Política Estadual de Recursos Hídricos do Pará, Lei nº 6.381/2001 ainda

não se tornou uma realidade na bacia do rio Ararandeua. Nenhum dos instrumentos

da Política foi implementado na bacia. O Governo do Estado têm realizado ações

limitadas de fiscalização ambiental. No entanto, o Governo Federal vêm

implementando, através do IBAMA – Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos

Recursos Naturais Renováveis, e a Polícia Federal, ações de combate à exploração

ilegal das florestas, com a Operação ―Arco do Fogo‖. No entanto, esta iniciativa não

vem possuindo êxito, principalmente com a atividade de carvoarias ilegais.

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87

Os principais problemas socioambientais na bacia hidrográfica decorrentes

das atividades produtivas são:

I. o desmatamento descontrolado, inclusive das áreas de reserva legal e

preservação permanente;

II. a deposição de resíduos de serrarias (pó de serragem e restos de madeira)

em locais inadequados, como margens de rios e na área urbana;

III. a poluição do ar causada pela atividade de carvoarias e queima de

resíduos de madeiras em área urbana;

IV. a poluição dos rios, na área urbana, por lixos e dejetos lançados pelo

matadouro, por empreendimentos e atividades comerciais e industriais

poluidores e a canalização de fossas domésticas para os canais de águas

pluviais; e na área rural, pelo desmatamento da mata ciliar;

V. as queimadas indiscriminadas durante o verão, gerando poluição do ar e

destruição dos recursos florestais;

VI. a extração desordenada de minérios utilizados na construção civil, como o

seixo e areia, provocando assoreamento e poluição dos rios;

VII. a deposição de lixo em locais públicos inadequados, contribuindo para a

proliferação de insetos, roedores e doenças, assim como a ausência de

tratamento do lixo;

IX. a baixa capacidade do poder público em planejar estrategicamente o

desenvolvimento sustentável do município;

X. a baixa qualificação técnica dos quadros da administração pública e da

sociedade civil local, redundando num baixo capital social;

XI. a poluição urbana provocada pelas oficinas, postos de lavagem, lava-jatos,

laticínios, assim como por pequenos empreendimentos comerciais que não

acondicionam adequadamente seus resíduos;

Page 88: UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ INSTITUTO DE … Magalhaes.pdf · A partir do trabalho de campo realizado no âmbito da pesquisa, ... waste and household and industrial effluent streams

88

XII. a ocupação urbana irregular.

3.3 – Atividades econômicas

A economia local ainda é sustentada basicamente pela indústria extrativa de

madeira e pela pecuária. Este setor agropecuário representa 49,3% do Produto

Interno Bruto Municipal. A agricultura é incipiente, constatando-se a produção de

culturas anuais, cujos principais produtos são: arroz, feijão e milho; e culturas

permanentes, tendo como principais produtos a pimenta-do-reino, o coco, o café e o

cupuaçu. Foi a partir da necessidade de estimular alternativas econômicas que a

administração municipal implantou o viveiro para reposição florestal, com uma

produção média de 70.000 mudas de espécies florestais e frutíferas ao ano,

distribuídas gratuitamente a produtores rurais e utilizadas para plantio e reposição

na área urbana.

A madeira, que mantém em atividade 24 serrarias, 08 fábricas de

compensados e 27 movelarias, é um produto cada vez mais escasso, fato que tem

ocasionado a desativação de vários estabelecimentos, ou seu deslocamento para

outras cidades, contrapondo com a pecuária, que cresce cada vez mais. No ano de

1996, a quantidade produzida de madeira em tora (m³) foi de 993.600 toneladas. Já

o carvão vegetal, para o mesmo período, teve uma quantidade produzida de 10.800

toneladas. No ano 2000, a quantidade de madeira em tora produzida foi de 349.580

toneladas. Por sua vez, o carvão vegetal contribuiu com 29.600 toneladas. Para o

ano de 2005, a quantidade produzida de madeira em tora foi de 218.869 toneladas.

Essas informações podem ser constatadas pelas tabelas 6, 7 e 8.

Tabela 6 – Principais produtos da extração vegetal do município de Rondon do Pará (PA).

Produtos Quantidade Produzida (t) Valor (Mil R$) 1994 1995 1996 1994 1995 1996

Carvão vegetal 44 52 10.800 9 16 2.160 Lenha (m³) 3.850 4.042 - 15 24 -

Madeira em tora (m³) 434.715 456.451 993.600 19.562 22.823 24.840 Fonte: IBGE/PEVS (2007).

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89

Tabela 7 – Principais produtos da extração vegetal do município de Rondon do Pará (PA).

Produtos Quantidade Produzida (t) Valor (Mil R$)

1998 1999 2000 1998 1999 2000

Carvão vegetal 28.700 28.190 29.600 5.740 5.638 ... Lenha (m³) 5.100 5.860 5.485 41 53 ...

Madeira em tora (m³) 381.500 368.700 349.580 19.838 22.122 ... Fonte: IBGE/PEVS (2007).

Tabela 8 – Principais produtos da extração vegetal do município de Rondon do Pará (PA).

Produtos Quantidade Produzida (t) Valor (Mil R$)

2003 2004 2005 2003 2004 2005

Carvão vegetal 44.982 8 - 13.495 5 - Lenha (m³) 11.205 4.850 43.385 247 136 1.215

Madeira em tora (m³) 220.100 206.355 218.869 23.771 26.826 28.891 Fonte: IBGE/PEVS (2007).

Segundo PARÁ (2007), Em 2005, o rebanho bovino contava 360.598

cabeças, em mais de 900 propriedades cadastradas. Existe, ainda, um rebanho

considerável de 6.645 eqüinos, 11.290 suínos, 2.491 caprinos, 4.527 ovinos,

conforme pode ser observado na tabela 9 com a respectiva evolução recente.

Tabela 9 – Principais Rebanhos Existentes 2001-2005 em Rondon do Pará (PA).

Rebanhos Efetivo

2001 2002 2003 2004 2005

Bovinos 234.090 290.430 292.290 288.105 360.598

Suínos 8.771 17.590 16.777 13.932 11.290

Eqüinos 5.193 6.577 6.682 6.650 6.645

Asininos 728 847 877 1.600 1.610

Muares 2.217 2.866 2.895 2.708 3.187

Bubalinos - - 360 340 515

Ovinos 2.033 3.546 3.575 3.508 4.527

Galinhas 13.318 19.520 19.850 19.328 19.320

Galos, Frangos e Pintos

19.978

25.080

25.588

25.222

24.180

Caprinos 2.606 2.639 2.685 2.573 2.491

Vacas Ordenhadas

17.906 23.640 25.100 25.008 28.958

Fonte: IBGE/PEVS (2007).

Aqui cabe ressaltar que modelo de pecuária adotado na região, como em toda

a Amazônia, é o extensivo, sem controle de desmatamento, de queimadas ou

respeito aos limites legais de desmatamento, gerando além da destruição dos

recursos florestais à contaminação, erosão e assoreamento dos cursos d‘água na

região. Além disso, esses dados mostram que, longe de representar uma diminuição

Page 90: UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ INSTITUTO DE … Magalhaes.pdf · A partir do trabalho de campo realizado no âmbito da pesquisa, ... waste and household and industrial effluent streams

90

da pressão sobre os recursos naturais, o que tem ocorrido é o avanço da pecuária

extensiva e o agravamento da crise social nas áreas urbanas.

Apesar da diminuição da quantidade de madeira produzida, uma atividade de

grande expressividade na bacia do rio Ararandeua e o carvoejamento, conforme

pode ser observado da foto 17.

Foto

: M

ayk

a A

mara

l

FOTO 17: Fornos destinados a carbonização de biomassa originaria de floresta primaria em Rondon do Pará (PA), 2005. Fonte: Monteiro et al. (2006).

É importante fazer um destaque para a localização das áreas de

carvoejamento na área do município, no qual percebe-se a degradação das

nascentes do Rio Ararandeua, conforme pode ser observado na figura 18.

Page 91: UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ INSTITUTO DE … Magalhaes.pdf · A partir do trabalho de campo realizado no âmbito da pesquisa, ... waste and household and industrial effluent streams

91

FIGURA 18 - Evolução do desflorestamento no município de Rondon do Pará (PA) para os

anos de 1992, 1997, 2000, 2002, e 2004 e a localização das áreas de carvoejamento. Fonte: Monteiro et al. (2006)

O matadouro municipal registra uma média mensal de 470 bovinos e 170

suínos abatidos. O abate de animais ovinos e caprinos é informal, constatando-se,

também, que existe em larga escala o abate informal de bovinos, em desrespeito às

normas sanitárias. A estrutura física e higiênica desse logradouro público é precária,

contribui para a degradação ambiental do rio Ararandeua e não segue os padrões

sanitários legais.

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92

IV – CONSTRUÇÃO DOS CENÁRIOS DE RECURSOS HÍDRICOS DA

BACIA

O componente metodológico desta pesquisa está fundamentado em quatro

elementos principais: i. construção da base de dados sobre as variáveis escolhidas;

ii. Aplicação de técnicas qualitativas e informacionais de construção de cenários

como base de planejamento de recursos hídricos em bacia hidrográfica; e iii.

sistematização, interpretação das informações e apresentação dos resultados.

Com relação ao primeiro elemento, optou-se escolher as seguintes variáveis,

de acordo com a caracterização da área de estudo, que constam em um banco de

informações sintetizadas neste trabalho:

a) Atividades produtivas:

Extração Vegetal

Agro-Pecuária

Mineração

Carvoaria

b) Alterações ambientais no sistema hídrico da bacia

Desmatamento

Erosão e sedimentação

Impactos devido à urbanização

Degradação das nascentes

c) Gestão pública para recursos hídricos e meio ambiente

Âmbito nacional

Âmbito estadual

Âmbito local

Este estudo das variáveis do sistema foi realizado in loco, de forma conjunta

com o Projeto ―Água e cidadania para o desenvolvimento local sustentável das

baças hidrográficas de Rondon do Pará‖. Foram realizadas duas missões de estudo

de campo, a primeira no mês de maio de 2008 e a segunda no mês de dezembro de

Page 93: UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ INSTITUTO DE … Magalhaes.pdf · A partir do trabalho de campo realizado no âmbito da pesquisa, ... waste and household and industrial effluent streams

93

2008. Cada trabalho de campo durou sete dias e objetivou realizar as seguintes

atividades de pesquisa:

observações sistemáticas sobre a situação do município quanto às

variáveis,

levantamento de informações junto aos órgãos locais de interesse da

pesquisa,

realização de entrevistas com os atores sociais,

apoio ao mapeamento físico da bacia,

identificação das principais atividades produtivas,

apoio à realização de diagnóstico da qualidade da água da bacia,

identificação e caracterização de conflitos pelo uso da água,

apoio à medição da vazão do rio Ararandeua.

No que se refere ao segundo elemento metodológico, foi aplicado um caso de

simulação restrita às ferramentas integradas de construção de cenários: análise

estrutural, análise do jogo de atores e análise morfológica, conforme a figura 19.

Page 94: UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ INSTITUTO DE … Magalhaes.pdf · A partir do trabalho de campo realizado no âmbito da pesquisa, ... waste and household and industrial effluent streams

94

FIGURA 19 – Estrutura de construção de cenários adotado nesta pesquisa.

Delimitação do Sistema

e pesquisa das variáveis chave

Variáveis Externas Motrizes

Variáveis Internas Dependentes

Meio Geral

(Variáveis Externas)

Fenômenos Estudados

(Variáveis Internas)

Estratégia dos Atores

Jogos de hipóteses probabilizados sobre questões chave para o futuro

Cenários 1- Encaminhamentos 2- Imagens 3- Planejamento

4- Estratégias

Análise Estrutural

MICMAC

Análise de

Atores

MACTOR

Retrospectiva Mecanismos Tendências Atores Motores

Situação Atual Germes de Mudança

Projeto dos Atores

Análise Morfológica

(MORPHOL)

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95

4.1 – Análise Estrutural

A análise estrutural inicia-se com a delimitação das variáveis mais

importantes do sistema, na qual já estão definidas pelo item anterior. Constrói-se a

matriz de influência entre as variáveis no sentido de identificar quais são as variáveis

motrizes, dependentes, de ligação e independentes. Neste estudo, para o

preenchimento da matriz de influência, adotou-se valores de zero a três, sendo:

Zero – não existe influência

1 – influência fraca

2 – influência moderada

3 – influência forte

A matriz é preenchida da linha para a coluna em que é indicada a influência

que a variável da linha exerce nas variáveis da coluna. A diagonal principal é sempre

nula uma vez que não considera a influência da variável nela mesma.

Após o preenchimento da matriz, somam-se os valores das linhas e das

colunas. O valor das linhas indica a força que essa exerce no sistema, ou seja,

quanto maior o valor, maior é a motricidade da variável. O valor das colunas indica o

grau de dependência da variável, quanto maior o valor, maior é a influência que essa

variável recebe do sistema.

Define-se, então, os pontos médios de motricidade (PM), dado pela média

entre os maior valor de motricidade (VM) e o menor valor de motricidade (vM), como

indicado na equação 1. Da mesma forma, é determinado o ponto médio de

dependência (PD) dado pela média do maior valor de dependência (VD) e pelo

menor valor de dependência (vD), como indicado na equação 2.

PM = [(VM) + (vM)] / 2 equação 1

PD = [(VD) + (vD)] / 2 equação 2

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96

Variáveis com valores de motricidade acima de PM são consideradas de alta

motricidade e variáveis com valores abaixo de PM são consideradas de baixa

motricidade. Da mesma forma, variáveis com dependência acima de PD são

consideradas de alta dependência e abaixo desse valor são consideradas de baixa

dependência. Com esses valores das variáveis e dos pontos médios, é possível

plotar o mapa de motricidade e dependência. Neste sentido, foi construída a tabela

10 para representar as variáveis do sistema.

Tabela 10 – Representação das variáveis do sistema estudado.

Domínio da Variáveis Variáveis Representação da variáveis

Atividades produtivas Exploração Madeireira Exp_Mad

Agro-Pecuária Agro-Pec

Mineração Carvoaria

Min Carv

Alterações ambientais Desmatamento Desm

no sistema hídrico da Erosão e sedimentação Ers_Sdm

Bacia Degradação de nascentes Deg_nas

Impactos da Urbanização Imp_Urb

Gestão Hídrica e âmbito Nacional Gha_Nac

Ambiental âmbito Estadual Gha_Est

âmbito Local ges_mun

O preenchimento da matriz é possível por meio das informações coletadas

pelo diagnóstico, reconhecimento do sistema e o estudo aprofundado da área,

sendo realizado pelo próprio analista. A partir deste ponto, utilizou-se o aplicativo de

livre acesso MICMAC®, desenvolvido pelo Laboratório de Prospectiva Estratégica e

Organizacional (LIPSOR).

A Matriz de Influência Direta – MDI relaciona a influência direta entre as

variáveis que definem o sistema pode ser analisada na figura 20. A tabela 11 mostra

a somatória de cada variável tanto para linhas quanto para colunas, no sentido de

subsidiar a construção dos pontos médios com a intenção de delimitar as variáveis

motrizes e dependentes, que está apresentado na figura 21.

Page 97: UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ INSTITUTO DE … Magalhaes.pdf · A partir do trabalho de campo realizado no âmbito da pesquisa, ... waste and household and industrial effluent streams

97

1 : e

xp_m

ad

2 : a

gro

_pec

3 : m

in

4 : c

arv

5 : d

esm

6 : e

rs_sed

7 : d

eg_nas

8 : im

p_urb

9 : g

ah_nac

10 : g

ah_est

11 : g

es_m

un

1 : Exploração Madeireira

2 : Agro-Pecuária

3 : Mineração

4 : Coavoarias

5 : Desmatamento

6 : Erosão e Sedimentação

7 : Degradação de Nascentes

8 : Impactos da Urbanização

9 : Gestão Ambiental e Hídrica no Âmbito Nacional

10 : Gestão Ambiental e Hídrica no Âmbito Estadual

11 : Gestão Pública Municipal

0 1 0 3 3 3 1 2 2 2 2

3 0 2 3 3 3 2 2 3 2 2

0 0 0 1 2 3 1 2 1 2 1

3 0 1 0 3 2 0 3 2 1 1

2 2 2 2 0 3 2 1 1 2 2

2 1 2 2 3 0 1 1 1 1 1

2 1 1 1 1 0 0 2 3 2 1

3 1 0 2 1 1 2 0 2 2 3

2 1 2 2 2 2 3 2 0 3 2

1 1 2 1 1 1 2 1 2 0 2

1 1 0 1 1 2 2 3 1 1 0

© L

IPS

OR

-EP

ITA

-MIC

MA

C

FIGURA 20 – Matriz de influência direta e indireta das variáveis do sistema

TABELA 11 – Somatória de linha e colunas para cada variável. N° V A R I A B L E TO T A L N U M B E R

O F R O W S TO T A L N U M B E R O F

C O L U M N S

1 Exploração Madeireira 19 19

2 Agro-Pecuária 25 9

3 Mineração 13 12

4 Carvoarias 16 18

5 Desmatamento 19 20

6 Erosão e Sedimentação 15 20

7 Degradação de Nascentes 14 16

8 Impactos da Urbanização 17 19

9 Gestão Ambiental e Hídrica no Âmbito Nacional

21 18

10 Gestão Ambiental e Hídrica no Âmbito Estadual

14 18

11 Gestão Pública Municipal 13 17

Totals 186 186

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98

FIGURA 21 – Mapa de influência direta e dependência.

Pode-se observar no mapa de influência direta e dependência que a variável

motriz principal do sistema é a agropecuária, responsável pela situação atual da

bacia do rio Ararandeua. Gestão ambiental e hídrica no âmbito nacional,

desmatamento e exploração madeireira são variáveis de ligação do sistema.

Observa-se que cada uma dessas três variáveis representa questões de

administração da bacia, alterações ambientais no sistema hídrico e atividade

produtiva, respectivamente.

A gestão ambiental e hídrica no âmbito nacional é uma variável de ligação

devido a capacidade de influenciar outras variáveis como a gestão ambiental e

hídrica nos âmbito estadual e local. No caso do desmatamento, a classificação desta

variável em ligação deve a possibilidade de influenciação sobre outras variáveis

como erosão e sedimentação e degradação das nascentes. Já para a exploração

madeireira, é também considerada de ligação, pois agrega outras atividades

produtivas como a carvoaria. Mineração é considerada uma variável independente

relaciona com as outras, porém é importante explicar que o aplicativo MICMAC

apresenta os mapas com os limites das variáveis para formar o plano cartesiano.

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99

A figura 22 mostra o gráfico de influência direta entre as variáveis do sistema.

Novamente é possível integrar as análises matemática dos grafos, indicando

relações causais com pesos de influenciação. Neste caso, são utilizados pesos de

influenciação forte (peso 2) e muito forte (peso 3) entre as variáveis. Tais análises

gráficas permites apresentar todos os tipos de relação de influenciação, no entanto,

priorizou-se mostrar apenas as principais ênfases do programa computacional para

facilitar o entendimento da pesquisa científica.

FIGURA 22 – Gráfico de forte influência entre as variáveis com apenas 30% das relações

em ordem de importância para o sistema.

Para verificação de influência indireta, o MICMAC realiza multiplicações

sucessivas da matriz de influência direta por ela mesma até a seqüência de

ordenamento das variáveis (classificação por motricidade e dependência)

permaneça estável, ou seja, não se alterar mais. A classificação das variáveis segue

o mesmo procedimento utilizado na influência direta. Finalmente a figura 23

demonstra o gráfico de influência indireta.

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100

FIGURA 23 – Gráfico de forte e relativa influência indireta.

Uma das principais contribuições metodológicas da análise estrutural de apoio

à construção cenários é a classificação das variáveis em critérios de motricidade e

dependência no sistema. Com base nas tabelas 12 e 13, é possível perceber que a

variável de maior motricidade é a agropecuária. Já a variável de maior dependência

é o desmatamento. Esta análise apenas contribui para o diagnóstico identificado nas

matrizes, gráficos e mapas mostrados na pesquisa. As ligações entre as duas

colunas de variáveis mostra a proximidade de motricidade (mineração e gestão

pública municipal) e de dependência no sistema (gestão ambiental e hídrica nos

âmbitos nacional e estadual).

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101

TABELA 12 – Rank das variáveis de maior influenciação.

TABELA 13 – Rank das variáveis de maior dependência.

4.2 – Análise de atores

Para a compreensão do comportamento dos atores dentro do sistema-objeto,

Godet (1993) apresenta a metodologia MACTOR, (Método de Atores, Objetivos e

Fatores de Força). Por ter sido julgado o mais pertinente, esse método será usado

no suporte metodológico deste trabalho para caracterizar o comportamento dos

atores envolvidos. Dispõe-se, também, de um aplicativo de livre acesso para a sua

aplicação, MACTOR®, desenvolvido pelo Laboratório de Pesquisa em Estratégia

Prospectiva e Organizacional (LIPSOR, 2004b).

Esse método tem por objetivo analisar o comportamento de um determinado

grupo de atores com relação a uma situação futura, dada uma configuração de um

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102

conjunto de objetivos estratégicos, os quais descrevem ou determinam essa

situação de futuro. Para esse suporte metodológico, os objetivos estratégicos

analisados são aqueles que o sistema de gestão dos recursos hídricos considera

mais pertinentes para alcançar uma gestão adequada.

Como o desfecho e o rumo da maioria dos condicionantes de futuro

dependem diretamente das posições e das ações que esses atores podem vir a

tomar, é necessário avaliar seu comportamento, assim como seus interesses dentro

do sistema analisado e sua capacidade de influenciar outros atores envolvidos.

No caso específico da análise dos jogos de atores, foram realizadas

entrevistas qualitativas com o objetivo de aproximar a simulação computacional com

realidade da bacia hidrográfica. Tais entrevistas tiveram como foco os diversos

representantes dos atores sociais envolvidos nos processo decisórios relacionados à

questão hídrica e ambiental. Os principais pontos a serem desenvolvidos nesta

entrevista estão relacionados com as seguintes questões norteadoras:

quais os principais objetivos de sua organização com relação aos

recursos hídricos na bacia do rio Ararandeua;

como sua organização se relaciona com outros segmentos socais e

setores econômicos para atingir tais objetivos;

quais as estratégias desenvolvidas para atingir tais objetivos;

qual a influência social que sua organização possui com relação aos

outros atores sociais.

Após as informações sistematizadas a partir do trabalho de campo, foi

definida a matriz de forças entre atores, matriz de influência direta (MDI). Essa

matriz estabelece o nível de influência que cada ator tem com relação aos outros.

Para isso, deve-se conhecer bem a dinâmica e o comportamento desses atores

dentro do sistema estudado. Nesse caso, também são definidos pesos para indicar o

nível de influência que um ator exerce em outro. Para isso, também é necessário

conhecer bem o comportamento dos atores e ter um histórico das ações que esses

atores têm tomado com relação aos recursos hídricos.

Esses pesos seguem os seguintes critérios:

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103

0: O ator i não influencia o ator j;

1: O ator i influencia temporariamente algumas ações do ator j;

2: O ator i influencia na definição de projetos (ou pretensões) do ator j;

3: O ator i influencia os objetivos estratégicos do ator j;

4: O ator i influencia a própria existência do ator j.

O método MACTOR funciona da mesma forma que o MICMAC. A partir de

interações entre os atores x atores e atores x objetivos, é possível estabelecer

matrizes de influência direta e indireta, gráficos de motricidade e dependência. O

aplicativo MACTOR® apresenta relações de aliança e conflitos para cada objetivo, na

forma de um histograma que, quando apresentado em ordem decrescente de

possíveis conflitos, são consideradas as menores diferenças em módulo entre os

valores a favor e em contrário para cada objetivo. Esse histograma é chamado de

histograma de posicionamento dos atores.

Para a situação deste caso de estudo, são definidos como atores de maior

relevância para a gestão de recursos hídricos do Rio Ararandeua, conforme a tabela

14.

TABELA 14 – Descrição dos atores sociais da bacia.

N° Long label Short label

1 Poder Público (âmbitos nacional, estadual e municipal) Pod_Pub

2 Madeireiros Mad

3 Laticínio e Matadouro Lat_Mat

4 Agro-Pecuaristas Agro_Pec

5 Mineradores Min

6 Organizações Não-Governamentais ong

7 Representantes das comunidades não organizadas formalmente comun

8 Agricultores da nascente agri_nasc

9 Produtor de Peixe (piscicultura) piscic

10 Pescadores pesc

11 Donos de carvoaria carvao

12 Donos de balneários turísticos tur

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104

Foram definidos os objetivos de acordo com a pesquisa de campo e através

de entrevistas junto aos atores sociais (tabela 15).

TABELA 15 – Descrição dos objetivos dos atores da bacia

N° Long label Short label

1 Crescimento Econômico Cres. Ec

2 Organização social OS

3 Fiscalização Ambiental Fisc. Amb.

4 Adequação às normas ambientais e sanitárias ambsanit

5 Desenvolvimento Sustentável desen_sust

6 Acesso à água aces_água

7 Preservação das nascentes do rio pres_nasc

8 Recomposição das matas ciliares rec_matcil

9 Promoção do Turismo prom_tur

A tabela 16 mostra a matriz de influencia direta entre atores sociais.

TABELA 16 – Matriz de interação entre atores e objetivos.

Pod_Pub Mad Lat_Mat Agro_Pec Min ong comun agri_nasc piscic pesc carvao tur

Pod_Pub 0 3 2 2 2 2 3 1 1 0 1 1

Mad 2 0 0 4 1 3 3 2 1 3 3 2

Lat_Mat 1 2 0 1 0 0 2 3 1 2 0 1

Agro_Pec 3 3 3 0 0 2 2 2 1 1 2 0

Min 1 0 0 0 0 3 2 0 0 4 0 1

Ong 2 1 2 2 1 0 2 2 1 1 1 1

Comum 2 1 0 0 1 3 0 2 1 1 0 1

agri_nasc 1 0 0 1 0 2 2 0 2 1 0 0

Piscic 1 0 0 0 0 2 1 1 0 2 0 0

Pesc 1 0 0 0 0 2 1 1 1 0 0 1

Carvão 2 2 0 1 0 2 1 0 0 2 0 1

Tur 1 0 0 0 0 1 1 0 0 2 0 0

O mapa de influencia e dependência entre os atores sociais (figura 24) mostra

como funciona o ciclo de interesses. No primeiro quadrante observa-se os atores

que estão diretamente relacionados com a exploração de recursos florestais e

agropecuária. No segundo quadrante, observa-se atores de diretamente

relacionados com o desenvolvimento social da bacia. No terceiro quadrante vê-se

atores que iniciam uma atividade produtiva alternativa da madeira e do gado, por

isso são consideradas independentes no sistema. Já no quarto quadrante observa-

se atores dependentes, ou seja, são atores que são diretamente influenciados pelas

decisões dos atores motrizes.

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105

FIGURA 24 - Mapa de influencia e dependência entre os atores sociais.

O histograma de competitividade (figura 25) mostra o poder de influencia

indireta entre os atores sociais, que condiz com a realidade local no qual o poder

econômico exerce influencia fundamental no sistema estudado.

FIGURA 25 - Histograma de competitividade entre atores da bacia.

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106

O gráfico de convergência entre os atores sociais da bacia (figura 26) mostra

a relação direta dos objetivos de interesse público para os governos e a sociedade

civil. Isto pode ser explicado pelo fato de um histórico de participação social,

principalmente no caso de agricultores familiares da região. No entanto, com o apoio

das cores e pesos de influência é possível perceber que mesmos atores muito

distintos podem ter objetivos convergentes os principais atores que influenciam o

sistema: poder público e agro-pecuária.

FIGURA 26 - Gráfico de convergência entre os atores sociais da bacia.

O mapa de distância entre objetivos (figura 27) mostra claramente a

aglutinação importante e que pode influenciar diretamente o sistema da bacia. São

os objetivos que focam a sustentabilidade do sistema. Isto significa um elemento de

grande importância estratégica da construção do cenário da bacia, pois possibilitará

a mudança de modelo de exploração madeireira para o uso sustentável dos

recursos naturais da bacia, resolução de conflitos sociais e ambientais, recuperação

de áreas degradadas com acesso à água em qualidade e quantidade necessária ao

desenvolvimento humano e econômico com respeito aos limites de conservação dos

recursos hídricos.

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107

FIGURA 27 – Mapa de distância entre objetivos.

O aplicativo MACTOR possibilita análise de equilíbrio dos atores sociais com

relação a determinado objetivo. Na figura 28 percebe-se a relação entre atores

sociais com relação ao objetivo de crescimento econômico. É possível analisar que

os atores motrizes deste objetivo são os pecuaristas, madeireiros e donos de

carvoaria.

FIGURA 28 – Balança entre atores e objetivo de crescimento econômico.

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108

A mesma análise pode ser observada com outros objetivos. Na figura 29

mostra que a bacia pouco influencia na promoção de turismo, apesar do potencial da

região para o ecoturismo e turismo rural. No caso da figura 30, é mostrada a

importância do trabalho das organizações não governamentais, das comunidades

para a elevação da organização social na bacia do rio Ararandeua.

FIGURA 29 – Balança entre atores e objetivo de promoção de turismo.

FIGURA 30 – Balança entre atores e objetivo de organização social.

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109

FIGURA 31 – Gráfico de distância entre os objetivos.

O gráfico de distância entre os objetivos (figura 31) mostra que há uma

relação de grande importância do sistema estudado entre crescimento econômico e

fiscalização ambiental. Isto pode ser explicado pelo fato de que as principais

atividades produtivas (carvoarias, pecuária e exploração madeireira) serem

realizadas sem critérios de sustentabilidade social e ambiental. Atualmente a região

passa por um colapso ambiental no tange ao desmatamento. Como conseqüência

percebe-se diversos conflitos que integram tanto à disputa pela terra, quanto à

disponibilidade hídrica da bacia do rio Ararandeua, como foi mostrado no capítulo

referente ao estudo da bacia.

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FIGURA 32 – Mapa de escala de distância entre os atores sociais.

O mapa de escala de distância entre os atores sociais (figura 32) mostra o

isolamento de três grupos: donos de carvoaria, mineradores e pescadores. Isto pode

ser explicado a partir de um contexto social de mudança do modelo de exploração

madeireira, trabalho infantil nas carvoarias do Estado do Pará. Os pescadores da

bacia do rio Ararandeua são cada vez mais escassos e não-organizados não têm

acesso à financiamento. No caso dos mineradores, seus objetivos são claramente

definidos como extração mineral. No entanto, foram identificados potenciais

impactos ambientais da atividade, o que aproxima do grupo de atores sociais

principal (pecuaristas, do sistema de cenarização dos recursos hídricos da bacia do

rio Ararandeua, madeireiros, poder público, comunidades, agricultores da nascentes,

ongs) na construção dos cenários estratégicos da bacia do rio Ararandeua.

4.3 – Análise Morfológica

A primeira fase da análise morfológica consiste em decompor o conjunto de

variáveis evoluídas da análise estrutural e análise de atores. É importante

esclarecer, novamente, que o presente trabalho, propõe-se a construir um cenário

estratégico da bacia, ou seja, com base na gestão integrada de recursos hídricos e o

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111

desenvolvimento sustentável. Na tabela 17 o sistema estudado é decomposto em

hipóteses plausíveis com o objetivo de simular a criação de cenários

TABELA 17 – Definição do espaço morfológico.

Domínios Variáveis Hipótese 1 Hipótese 2 Hipótese 3

Atividades produtivas

Exploração madeireira

Incremento estagnação Adequação ambiental

Agro-Pecuária Verticalização da

produção Recuperação de

áreas degradadas maior conflito

socioambiental

Mineração Identificação de

novas áreas Adequação ambiental

assoreamento e contaminação

Carvoarias Diminuição drástica aumento da produção

maior ficalização ambiental

Alterações ambientais no sistema hídrico da

bacia

Desmatamento Aumento Estagnação agricultura sem

uso do fogo

Erosão e sedimentação

reabilitação do solo assoreamento dos

corpos d'água

Degradação de nascentes

proteção ambiental fiscalização ambiental

diminuição de água à jusante

Impactos da Urbanização

controlado investimento em

saneamento falta de água e de

esgotamento

Gestão Hídrica e

Ambiental

âmbito Nacional Descentralizada e

participativa inoperante

âmbito Estadual gestão integrada mais fiscalização

ambiental estagnada

âmbito Local consciente do

problema social dependente do

poder econômico paternalista

Atores sociais

Setor Produtivo comprometido com

a bacia

conivente c/ as questões

ambientais

Sociedade Civil capacitada atuante cooptada pelo coronelismo

político

Como o objetivo desta pesquisa é de criar um cenário estratégico para a

bacia do rio Ararandeua, priorizou-se utilizar o método de restrições e preferências

de variáveis no sentido de possibilitar uma escolha necessária para o caminho a se

seguir na gestão de recursos hídricos da bacia.

A simulação morfológica propõe estabelecer restrições para que não haja

superposição de cenários. Um exemplo disso é a impossibilidade de haver forte

impacto ambiental (desmatamento, erosão, degradação de nascentes) com um setor

produtivo consciente sobre as causas de tal impacto ambiental. Ou mesmo, haver

forte impacto ambiental na bacia com uma gestão hídrica e ambiental bem

estruturada e atuante. Todo cenário que conter essas restrições é excluído. Da

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112

mesma forma, podem-se estabelecer preferências, onde são considerados todos os

cenários que tiverem uma determinada combinação de hipóteses.

Neste sentido, optou-se por definir somente dois cenários: um sustentável e

outro cenário de crise socioambiental e econômica. A figura 33 mostra o espaço

morfológico com as preferências de hipóteses do cenário sustentável, enquanto que

na figura 34 vê-se o cenário de crise no setor agropecuário no que se refere à

estagnação das atividades produtivas e o ciclo de desmatamento na região.

FIGURA 33 – Espaço morfológico com preferências e restrições do cenário estratégico

sustentável.

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113

FIGURA 34 – Espaço morfológico com preferências e restrições do cenário tendencial negativo.

Desta forma, são apresentados os seguintes cenários da bacia:

CENÁRIO TENDENCIAL DE CRISE ECONÔMICA SOCIOAMBIENTAL

Com o histórico de estagnação do setor florestal na região do arco do fogo da

Amazônia, muitas madeireiras e serrarias funcionam de forma precária e ilegal. A

pecuária acirra o ciclo de desmatamento e o uso improdutivo das fazendas. Como

conseqüência, aumenta os conflitos pela terra e pela disponibilidade hídrica. Sem a

fiscalização ambiental necessária, a atividade de carvoaria ganha destaque como

um dos elementos de maior impacto social e ambiental, pois aumenta o

desmatamento e a degradação das áreas de preservação permanente. A exploração

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114

mineral na bacia intensifica-se sem o controle ambiental, o que prejudica a tanto a

qualidade da água, quanto o assoreamento do rio.

Devido à falta de controle ambiental, os laticínios e matadouros localizados

nas áreas de cabeceira da bacia, despejam seus efluentes industriais in natura nos

corpos d‘água, fato que tem diminuído a produção de água para jusante da bacia,

além de prejudicar outras atividades produtivas (como agricultura familiar, criação de

peixes, turismo e pesca) e a comunidade que necessita de água de qualidade

suficiente para a satisfação das necessidades domésticas. Tais impactos colaboram

com a falta de planejamento urbano, sem infra-estrutura de saneamento básico para

população urbana e rural, o que agrava a situação ambiental da bacia e prejudica a

população, que fica sem acesso à água potável.

Com a Gestão Pública Municipal dependente do poder econômico e político

dos donos de carvoarias, pecuaristas e atores sociais conservadores da região,

pratica o paternalismo histórico com os munícipes. De forma isolada, a gestão

ambiental e hídrica no âmbito do Estado do Pará e Maranhão é conivente com os

problemas ambientais da região. E no âmbito federal a Política de Recursos hídricos

torna-se inoperante, pois os mecanismos de gestão não se aplicam à realidade

regional. Além disso, a sociedade civil está desorganizada para o desafio de

promover o desenvolvimento da bacia do Rio Ararandeua.

CENÁRIO ESTRATÉGICO DE SUSTENTABILIDADE DA BACIA DO RIO

ARARANDEUA

O modelo de desenvolvimento adotado na bacia hidrográfica da bacia do rio

Ararandeua visa a sustentabilidade dos recursos hídricos. As atividades produtivas

agregam valor ambiental aos seus produtos, com a extração vegetal diversificada

através de projetos de reflorestamento e recuperação de áreas degradadas pela

pecuária. Com isso há diminuição gradual da atividade de carvoejamento na região,

possibilitada pelas alternativas econômicas de turismo, agroecologia e piscicultura. A

mineração destinada para construção civil impulsiona a economia local, adequada

às normas de licenciamento ambiental. Entretanto, preocupa a possibilidade de

contaminação e de impactos desta atividade.

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115

Com a diminuição das alterações ambientais na bacia, novas práticas

agrícolas sem o uso do fogo e manejo florestal substituem o desmatamento e as

queimadas. A reversão de processos erosivos na área urbana e rural foi

possibilitada pela reabilitação do solo, dando nova vida aos corpos d‘água da bacia

com a diminuição do assoreamento. As principais nascentes da bacia, localizadas

no Estado do Maranhão, estão protegidas e a fiscalização ambiental se faz presente

no sentido de controlar a qualidade dos efluentes industriais dos laticínios e

matadouros que são despejados à montante do rio Ararandeua. Na área urbana,

grande investimentos são realizados em infra-estrutura de saneamento com o

objetivo de fornecer água em qualidade e quantidade suficiente para população do

município de Rondon do Pará. Além disso, o déficit de esgotamento sanitário diminui

e a cidade possui mais qualidade de vida e oportunidade de trabalho e renda.

Um sistema de gestão ambiental e hídrica no âmbito nacional bem

estruturado e atuante consegue, junto com os Estados do Pará e Maranhão,

gerenciar a bacia do rio Ararandeua de forma integrada com os usuários e

sociedade civil. Os municípios de Rondon do Pará, Goianesia do Pará e Açailância,

conscientes dos problemas ambientais unem-se para proteger a bacia do rio

Ararandeua, dirimindo conflitos pelo uso da água e fortalecendo o papel do

município como orientador do desenvolvimento local, com atores sociais

comprometidos com a região e organizações não-governamentais atuantes no

processo de gestão ambiental e hídrica.

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116

V – CONSIDERAÇÕES FINAIS

Na presente pesquisa, foi proposta a elaboração de um suporte metodológico

para o planejamento em recursos hídricos no âmbito da bacia hidrográfica utilizando

prospecção de informações para a construção de cenários estratégicos. Formulou-

se, nesse caso, a hipótese, segundo a qual, a metodologia integrada preconizada

por Godet (1993) pudesse ajudar a construir cenários de recursos hídricos em um

determinado território delimitado por uma bacia hidrográfica, incorporando

dimensões sociais, ambientais e econômicas e com isso contribuir com o processo

decisório relativo à gestão de recursos hídricos e de meio ambiente.

Para a base deste processo metodológico, buscaram-se metodologias que

ajudassem a mudar a percepção do decisor e que pudessem levá-lo a reconhecer a

situação futura, para tomar decisões no presente, com vistas à amadurecer o

processo de planejamento e gestão de recursos hídricos numa bacia hidrográfica.

Neste sentido, optou-se por utilizar uma adaptação do suporte metodológico

integrado da prospectiva estratégica, da seguinte maneira:

a) Construção da base de dados sobre as variáveis escolhidas;

b) Aplicação de técnicas qualitativas e informacionais de construção de

cenários como base de planejamento de recursos hídricos em bacia hidrográfica; e

c) Sistematização, interpretação das informações e apresentação dos

resultados.

Para tanto, foi desenvolvido este processo metodológico para um caso de

estudo na bacia hidrográfica do rio Ararandeua. A escolha da bacia se deve a dois

fatores principais: é uma das bacias hidrográficas mais desmatadas de toda região

do bioma amazônico devido à extração vegetal e a pecuária; e o segundo motivo

está relacionado ao desenvolvimento do projeto ―Água e Cidadania para o

Desenvolvimento Local Sustentável das Bacias Hidrográficas de Rondon do Pará‖,

no qual foram realizados processos de desenvolvimento de capacidades, avaliação

do sistema hídricos, diagnóstico da qualidade da água e estudo de indicadores de

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117

recursos hídricos. Isto facilitou o financiamento da pesquisa para a construção da

base de dados sobre as variáveis escolhidas.

Como principal elemento de análise da bacia hidrográfica do rio Ararandeua,

delimitou-se o município de Rondon do Pará, tanto por sua extensão territorial na

bacia, como pelo conjunto de informações disponibilizadas sobre dimensões

ambientais, sociais, econômicas e políticas.

Objetivando propiciar um melhor entendimento das discussões apresentadas

neste último capítulo, o mesmo foi estruturado em quatro etapas:

1. Metodologia utilizada: é avaliado o procedimento metodológico

adotado;

2. Objeto da pesquisa: refere-se à aplicabilidade da metodologia proposta

e pertinência como instrumento de apoio ao planejamento e gestão dos

recursos hídricos;

3. Abordagem empregada no suporte metodológico proposto: análise da

concepção da ferramenta apresentada, assim como suas limitações e

possíveis recomendações para melhoria na continuidade da pesquisa;

4. Caso de estudo – a bacia do rio Ararandeua: discussão sobre os

resultados encontrados no exercício de simulação de construção de

cenários para a bacia de estudo.

Metodologia utilizada

Adotou-se para este trabalho uma abordagem metodológica de natureza

exploratória, o que levou, em um primeiro momento, à construção de uma referencial

teórico focado em dois pontos:

Gestão Integrada de Recursos Hídricos: Aqui se realizou uma abordagem

sobre a fundamentação das bases conceituais acerca do desenvolvimento

sustentável e a relação com os recursos hídricos, com informações consistentes das

diversas escolas de pensamento filosófico e histórico desta concepção até os dias

atuais com as Metas de Desenvolvimento do Milênio da ONU. Caracterizou-se a

importância da bacia hidrográfica como base de gestão de recursos hídricos.

Mostrou-se a importância dos marcos regulatórios da gestão, com a Lei n°9.433/97,

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118

seus fundamentos, objetivos, instrumentos e sistema de gerenciamento. Finalmente,

focou no planejamento em recursos hídricos, trazendo elementos suficientes para

abordar processos metodológicos frente ao desafio de compatibilizar os diversos

interesses sociais presentes nos usos múltiplos da água.

Prospectiva Estratégica e Construção de Cenários: o primeiro ponto a ser

abordado foi estabelecer diferenças claras e objetivas entre planejamento,

prospectiva e estratégia. A partir de estudos bibliográficos, percebeu-se que há

muitas dúvidas sobre este trinômio, o que pode dificultar o processo decisório em

recursos hídricos. Em decorrência de tais definições conceituais, partiu-se para o

estudo do planejamento estratégico com base em cenários, trazendo diversas

escolas do planejamento, porém focando na metodologia preconizada por Godet

(1993; 1997; 2000; 2007), dentro de uma visão sistêmica, territorial e qualitativa,

onde se aprofundou o referencial metodológico no que se refere à análise estrutural,

análise dos jogos de atores sociais e análise morfológica, sendo as ferramentas

integradas para a construção de cenários. Como apoio teórico utilizou-se elementos

matemáticos, especificamente da álgebra linear para explicar como funciona a

análise estrutural, análise de atore sociais e a análise morfológica. Tais teorias são

fundamentais para simular as situações na forma matricial e gráfica. Por fim, foi

necessário estabelecer uma análise prática da aplicação da metodologia e o caso

escolhido para fazer tal demonstração foi a elaboração do Plano Nacional de

Recursos Hídricos do Brasil, onde percebeu-se a importância de haver participação

para chegar num resultado mais próximo da realidade.

No entanto, para a construção da base de dados sobre as variáveis

escolhidas, realizaram-se estudos bibliográficos, coletas de informações in loco e

conversas presenciais com determinados atores sociais locais. Para a validação das

informações, foi necessário realizar duas viagens com objetivo de trabalho de

campo, que propiciou uma base sólida de dados para estabelecer resultados mais

próximos da realidade.

No capítulo que trata do método propriamente dito, foi possível realizar

simulações de análise estrutural, análise de atores e análise morfológica. Tais

simulações constituíram-se de exercícios práticos que posteriormente as variáveis

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119

foram recenseadas e calibradas com as informações colhidas em trabalho de

campo.

Objeto de pesquisa

É importante compreender o que pode vir a acontecer no futuro a partir de

eventos e decisões ocorridas no presente. A construção de uma visão de futuro,

para estabelecer uma relação de causa e efeito, pode não só auxiliar no processo de

tomada de decisão como levar a um maior conhecimento atual do sistema hídrico

em estudo, já que se promove a definição das variáveis que buscam explicar o

funcionamento do sistema, assim como aquelas variáveis, externas ao sistema, mas

que com ele interagem fortemente.

Adicionalmente, o conhecimento dos atores envolvidos, assim como a análise

de seu comportamento com relação ao sistema hídrico, ajuda a construir programas,

estratégias e ações mais efetivas e com mais apoio dos mesmos, uma vez que eles

podem ser consultados sobre como seria a melhor forma de implementar essas

ações por parte do órgão gestor, podendo favorecer a gestão participativa, como

previsto na lei 9433/97.

A estratégia de gestão, proposta pelo suporte possibilita, também, identificar

as questões para as quais os gestores de recursos hídricos podem potencializar

suas ações (postura pró-ativa) e prevenir-se, da melhor forma possível, com relação

a ameaças externas, sobre as quais não têm influência (postura pré-ativa). Esse

conhecimento é de grande valia para alocar recursos escassos de forma mais

eficiente e obter o máximo de desempenho possível do Sistema de Gestão dos

Recursos Hídricos.

Abordagem empregada no suporte metodológico proposto

Quanto à escolha da abordagem adotada no suporte metodológico, verifica-se

que a construção de cenários mostrou-se ser uma ferramenta adequada para lidar

com problemas semi-estruturados e não-estruturados em gestão dos recursos

hídricos, ainda mais no âmbito estratégico proposto para este trabalho.

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120

A análise estrutural fornece uma boa noção do comportamento das variáveis

que fazem parte do sistema hídrico em estudo e das variáveis externas que

influenciam esse sistema, ao prescrever a classificação em variáveis motrizes,

dependentes, de ligação ou independentes. O aplicativo MICMAC classifica as

variáveis de acordo com a sua importância no sistema, possibilitando o

detalhamento do relacionamento de influencia entre as variáveis.

A análise de atores se apresenta como uma metodologia que busca não só

descrever o comportamento dos atores considerados relevantes para o sistema

hídrico, como também indicar estratégias para que esses atores possam fazer valer

seus interesses e objetivos. O comportamento é analisado a partir de um conjunto

de objetivos específicos que o ator que realiza o exercício prospectivo, no caso em

questão, o órgão gestor de recursos hídricos, considera estratégicos para

consecução de seu objetivo geral a gestão sustentável dos recursos hídricos. Nessa

análise, puderam-se detectar possíveis relações de conflito, quando outros atores

têm interesses contrários com relação a esses objetivos, além de possíveis relações

de aliança quando atores têm o mesmo posicionamento pela realização, ou não, de

algum desses objetivos. Essa informação pode auxiliar o órgão gestor na escolha da

estratégia ou da ação que tenha menos resistência dos opositores e maior apoio por

parte dos atores que são favoráveis, aumentando assim a sua efetividade.

A análise morfológica se apresentou como uma ferramenta adequada para

organizar o campo morfológico dos cenários possíveis, permitindo sua construção,

uma vez definidas as hipóteses para cada variável pertinente. No entanto, para a

construção dos cenários finais, o aplicativo MORPHOL não se demonstrou tão

eficiente, já que apresentou limitações para definir as restrições necessárias à

redução do número de cenários possíveis. Além disso, o aplicativo computacional

mostrou-se inoperante para tarefas de simulação computacional.

Esses tipos de abordagens requerem alto grau de atenção e sensibilidade por

parte do analista que está aplicando o suporte metodológico proposto a um caso de

estudo. Parte-se do princípio de que esse analista tem um alto grau de

conhecimento do sistema hídrico em estudo, ou que, pelo menos, esteja muito bem

assessorado, para garantir a verossimilhança dos cenários gerados ao final.

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Caso de estudo – a bacia do rio Ararandeua

A bacia do rio Ararandeua possui características sócio-econômicas na qual

duas atividades produtivas predominam: a pecuária e a exploração madeireira. No

entanto, ao analisar o período retrospectivo de 15 anos para a atualidade, percebeu-

se que as madeireiras diminuíram relativamente sua produção, enquanto que a

pecuária aumentou fortemente. Este modelo de desenvolvimento provocou grandes

problemas socioambientais, entre os quais se destaca o desmatamento (é, inclusive,

uma área situada no arco do desmatamento), a degradação das nascentes e

assoreamento dos córregos.

O município de Rondon do Pará constituiu-se como um elemento de base das

análises econômicas, ambientais, sociais, administrativas (que se refere à gestão

dos recursos hídricos). Neste sentido, foi priorizado o estudo de quatro variáveis

relacionadas com as atividades produtivas e suas alterações no sistema hídrico da

bacia, assim como a análise da gestão (de meio ambiente e recursos hídricos) e os

interesses dos atores sociais locais. Tais variáveis foram subdivididas em treze

outras variáveis.

A análise estrutural, com o apoio informacional do software MICMAC,

possibilitou a classificação das variáveis que possuem mais força de influência sobre

as outras, que são: agropecuária; a gestão hídrica e ambiental no âmbito nacional e

a exploração madeireira. A única variável autônoma é a mineração e a variável mais

dependente é a gestão hídrica e ambiental no âmbito local. As variáveis

relacionadas com o impacto da urbanização e a degradação das nascentes

possuem um grau elevado para causar maiores problemas ambientais e influenciar

nas atividades produtivas no futuro.

O método possibilitou analisar a relação entre determinadas variáveis. Como

exemplos, gráficos mostram as influências entre o modelo de gestão com as

atividades produtivas. Neste caso, a pecuária foi bastante incentivada durante os

anos 90 e reforçada pelo modelo de gestão no âmbito estadual, que a partir do

zoneamento ecológico-econômico, definiu tais áreas como prioritárias para a

atividade agropecuária.

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122

Por outro lado, aplicou-se restrições de exclusão da variável sobre gestão e

observou-se que existe maior influência da pecuária sobre o desmatamento, a

extração madeireira e a erosão e sedimentação.

Exclui-se, em outra simulação, a variável atividade produtiva. Neste caso,

houve maior influência do desmatamento com a gestão pública no âmbito nacional,

haja vista que esta última variável é a responsável por propor políticas mais amplas

de controle e redução ao desflorestamento. Já os impactos da urbanização tiveram

maior influência da gestão pública estadual, pois é esta última que possui a

responsabilidade legal de controlar os efluentes domésticos.

O resultado da análise de atores sociais mostrou que as forças motrizes do

sistema são exatamente aquelas ligadas à exploração de recursos naturais. Além

disso, a análise possibilitou agregar os atores de acordo com seus objetivos

comuns. Gráficos mostraram a preocupação do setor produtivo em gerar novas

alternativas econômicas como o turismo, piscicultura e mineração. Outro ponto

abordado com a simulação de atores sociais foi o estado de dependência que

pescadores, agricultores das nascentes do rio Ararandeua e as comunidades têm

com relação às atividades produtivas tradicionais. Foi possível visualizar claramente

a oposição de objetivos que atores sociais possuem no caso dos conflitos pelo uso

da água nas nascentes do Ararandeua.

Através dos mapas de distância entre objetivos foi possível visualizar que

apesar da situação histórica de exploração dos recursos naturais na região, existe

um grupo de atores que convergem para ampliar o acesso à água, para

recomposição de matas ciliares, organização social, preservação das nascentes e

ao desenvolvimento sustentável da bacia.

O aplicativo MACTOR amplia sua capacidade de utilização em gestão de

recursos hídricos quando permite balancear objetivos de acordo com grupos de

atores sociais. Foi mostrado que a balança para o objetivo de crescimento

econômico fica estabilizada com o peso que possui a atividade de agropecuária,

madeireira e de carvoaria. Isto foi comprovado no item do estudo da bacia referente

à descrição das atividades econômicas da bacia.

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A análise morfológica foi o método de maior dificuldade de se estudar, pois foi

necessário decompor todo o sistema-objeto para simular hipóteses e

condicionantes. Além disso, houve certa dificuldade no manuseio do programa

informacional MORPHOL. A partir de tal constatação, optou-se por realizar uma

simulação simples para facilitar o entendimento da ferramenta. O resultado

fundamentou-se em duas visões totalmente distintas: um cenário bastante promissor

e outro cenário tendencial.

O cenário tendencial mostra o histórico de estagnação do setor madeireiro

paraense, numa região da Amazônia de contrastes de fronteira agrícola, onde o ciclo

do desmatamento está presente com a exploração florestal sem critérios ambientais,

com a pecuária forte e o acirramento dos conflitos socioambientais.

Já o cenário estratégico trouxe uma visão de sustentabilidade do sistema, no

qual os setores produtivos estão mais conscientes da responsabilidade de

recuperação da bacia como forma de diversificar a produção. No meio urbano, a

análise mostrou a necessidade de investimentos em saneamento para diminuir os

impactos como erosão, sedimentação e destinação inadequada de resíduos sólidos

e efluentes domésticos e industriais nos córregos. Neste caso, há a necessidade de

consolidar o sistema de gerenciamento de recursos hídricos na região para

possibilitar uma ruptura no modelo de gestão ambiental e hídrica.

Com este trabalho, verificou-se a importância da aplicação de uma visão

estratégica à gestão dos recursos hídricos, indicando-se uma série de vantagens

advindas de uma postura antecipatória com relação à gestão da água e do meio

ambiente.

Esta pesquisa reforça a necessidade de integrar as análises de planejamento

com base em cenários utilizando o método integrado (análise estrutural, análise de

atores e análise morfológica) em conjunto com mapas de caracterização da bacia

para as situações dadas. Isto significa realizar projeções em mapas, constituindo

uma compreensão mais concreta para a situação projetada. Neste caso, há a

necessidade de integrar o mapeamento estratégico, abordado neste trabalho, com o

mapeamento físico da bacia, para posteriormente criar mapas das situações futuras.

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Com relação ao caso de estudo apresentado, acredita-se que o suporte

metodológico proposto pôde apresentar outras perspectivas para a gestão dos

recursos hídricos nesse território, propiciando uma visão mais ampla do sistema

hídrico em estudo e uma possibilidade de elaborar estratégias e ações eficazes e

mais eficientes. Neste sentido, existe a oportunidade de os gestores deixarem uma

postura puramente reativa (bombeiro), para passar a adotar posturas preventivas

(prevenido) e aproveitar oportunidades em que possa ter uma postura pró-ativa

(conspirador), com respeito à gestão dos recursos hídricos.

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