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396 UNIVERSIDADE FEDERAL DO PAMPA PRÓ-REITORIA DE EXTENSÃO CURSO DE CIÊNCIAS HUMANAS LICENCIATURA ANAIS DO II CONGRESSO INTERNACIONAL INTERDISCIPLINAR DE CIÊNCIAS HUMANAS - COINTER

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396

UNIVERSIDADE FEDERAL DO PAMPA

PRÓ-REITORIA DE EXTENSÃO

CURSO DE CIÊNCIAS HUMANAS – LICENCIATURA

ANAIS DO II CONGRESSO INTERNACIONAL INTERDISCIPLINAR

DE CIÊNCIAS HUMANAS - COINTER

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ORGANIZAÇÃO

APOIADORES

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398

C

COORDENADORA GERAL DO EVENTO

Prof.ª Dra. Andrea Becker Narvaes

COMISSÃO ORGANIZADORA

PROFESSORES

Dr. Ronaldo Bernadino Colvero

Me. Anderson Romário Perreira Côrrea

Me. Camila Almeida

ACADÊMICOS

Ewerton da Silva Ferreira

Danilo Pedro Jovino

Hermogenes Cerqueira Filho

Letícia Olveira Chaves de Oliveira

Tiara Cristiana Pimentel dos Santos

Valeska Avila

Vitória Silveira

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COMITÊ CIENTÍFICO

Me. Alisson Machado

Dra. Adriana Hartemink Cantani

Dra. Andrea Bekcer Narvaes

Me. Anderson Romário Pereira Côrrea

Dra. Carmen Regina Dorneles

Nogueira

Dr. Edson Romário Monteiro Paniágua

Dr. Gerson Oliveira

Me. Gilvane Belém Correia

Danilo Pedro Jovino

Dra. Jaqueline Carvalho Quadrado

Dra. Monique Soares Vieira

Dra. Lauren de Lacerda Nunes

Lucas Giovan Gomes Acosta

Dra. Lisianne Sabreda Ceolin

Me. Rodrigo Maurer

Sandro da Silva

Dr. Sergio Ricardo Gacki

Dra. Susana Cesco

Dra. Nola Patrícia Gamalho

Dr. Muriel Pinto

Dr. Victor Oliveira

DIAGRAMAÇÃO

Ewerton da Silva Ferreira

Secretário Geral do II COINTER

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400

A CORREÇÃO E ADEQUAÇÃO AS NORMAS DA

ABNT DOS RESUMOS AQUI APRESENTADOS SÃO

DE RESPONSABILIDADE EXCLUSIVA DOS

AUTORES E AUTORAS.

TRABALHOS APRESENTADOS NO GRUPO DE

TRABALHOS EDUCAÇÃO, COMUNICAÇÃO E

MÍDIA, SOB COORDENAÇÃO DA PROFª. Me.

CAMILA ALMEIDA E DO PROFª DR. DOMINGOS

SÁVIO CAMPOS DE AZEVEDO.

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401

SUMÁRIO TRABALHOS APRESENTADOS NO GRUPO DE TRABALHO

EDUCAÇÃO, COMUNICAÇÃO E MÍDIA

COMUNICAÇÃO NÃO VIOLENTA UMA ABORDAGEM ORGANICA, NA INTERVENÇÃO PROFISSIONAL 402

COMUNICAÇÃO NÃO-VIOLENTA: FERRAMENTA EFICAZ NA MATERIALIZAÇÃO DA CULTURA DE PAZ.

.............................................................................................................................................................. 418

EDUCAÇÃO AMBIENTAL: CRIANDO ANIMAÇÕES DO POWTOON NOS ANOS INICIAIS DO ENSINO

FUNDAMENTAL .................................................................................................................................... 432

DEMOCRATIZANDO A INFORMAÇÃO: EXPRESSÕES DA QUESTÃO SOCIAL NA PAUTA DA RÁDIO

UNIVERSIDADE 800 AM ........................................................................................................................ 445

DESAFIOS E POSSIBILIDADES DO USO DE JORNAIS E REVISTAS PARA A PESQUISA EM HISTÓRIA:

IMPRENSA ENQUANTO PARTIDO POLÍTICO ......................................................................................... 453

VIOLÊNCIA NO JORNALISMO LOCAL: UMA ANÁLISE SOBRE O DISCURSO CONTRA AS MULHERES .... 467

PERFIL DOS EGRESSOS DO CURSO DE JORNALISMO DA UNIVERSIDADE FEDERAL DO PAMPA. ......... 497

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402

COMUNICAÇÃO NÃO VIOLENTA UMA ABORDAGEM ORGANICA, NA

INTERVENÇÃO PROFISSIONAL 1

Simone Barros de Oliveira2

Renan Mendonça Alves3

RESUMO: A elaboração do artigo deu-se a partir da experiência teórico pratica junto ao Grupo

de Pesquisa: Educação, Direitos Humanos e Fronteira, que está vinculado à Universidade

Federal do Pampa-UNIPAMPA, Campus São Borja-RS. O trabalho tem por objetivo abordar a

Comunicação Não Violenta e sua interface com a realidade social, a fim de analisar a

Comunicação Não Violenta-CNV como meio de trabalho, com a intencionalidade de

sensibilização quanto as potencialidades inovadoras dessa forma de intervenção. O citado

Grupo de Pesquisa proporciona estudos, pesquisas e formação na área da educação, cultura,

direitos humanos e família na tríplice fronteira. Desenvolve interfaces com a educação e

formação profissional no âmbito do Mercosul, bem como identifica, capacita e potencializa

profissionais e comunidade acadêmica para materialização da cultura de paz por meio da

educação na região de fronteira entre Brasil, Uruguai e Argentina. Nesta perspectiva, o artigo

encaminha três pautas importantes: a abordagem das categorias constitutivas e relacionadas a

CNV; A metodologia implementada nessa forma de abordagem viva e orgânica; A dinâmica da

CNV como meio para resolução de conflitos, a partir da experiência vivenciada na Disciplina

Complementar de Graduação: Comunicação, Cultura de Paz e Violência no Curso de Serviço

Social, Campus São Borja/RS. A fundamentação do trabalho é bibliográfica, a partir do método

dialético critico que tem como categorias centrais a totalidade, a historicidade e a contradição.

A relevância do presente estudo é a sistematização da Comunicação Não Violenta-CNV como

meio inovador a serviço da instrumentalidade profissional; bem como subsidiar novas pesquisas

sobre o tema, na perspectiva de ampliação desta forma de abordagem na resolutividade de

conflitos.

Palavras-Chaves: Comunicação Não Violenta; Intervenção e Instrumentalidade; Cultura de

Paz;

1 Trabalho executado pelo Grupo de Pesquisa: Educação Direitos Humanos e Fronteira, vinculado a Universidade

Federal do Pampa, campus São Borja/RS. 2 Professora Adjunta da Universidade Federal do Pampa/UNIPAMPA, Mestre e Doutora em Serviço Social, pela

Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul/PUCRS, líder do Grupo de Pesquisa Educação, Direitos

Humanos e Fronteira. E-mail: [email protected] 3 Acadêmico do 6º semestre do Curso de Serviço Social da Universidade Federal do Pampa, Campus São Borja/RS.

Pesquisador do Grupo de Pesquisa: Educação Direitos Humanos e Fronteira. E-mail [email protected]

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INTRODUÇÃO

Ao estudar o conceito Comunicação Não Violenta importante é a compreensão das

categorias centrais como: comunicação, violência, cultura, paz e sociedade. Nesse é necessário

resgatar a origem das mesmas, de forma a ter maior precisão quanto ao sentido do que se quer

enfatizar. O artigo em sua primeira seção resgata conceitos e conceituadores das categorias

citadas, promove já no seu início a análise de suas bases e significados para que se introduza a

reflexão do objeto estudado, a Comunicação Não Violenta-CNV Rosenberg (2006).

O presente trabalho elucida as categorias com a intencionalidade exploratória dos

conceitos para delimita-los, a fim de se apreender os elementos constitutivos da Comunicação

Não Violenta-CNV. Assim imprimindo a análise da práxis comunicacional. Como forma de

articular a abordagem viva e orgânica da intervenção Interpessoal as demandas que emergem

do diálogo com a realidade social em suas formas multifacetadas de desigualdades social no

contexto social moderno. O artigo apresenta-se como subsídio técnico tanto para crítica ou para

o endossamento dessa forma de abordagem semântica e hermenêutica da linguagem, isto é, da

Comunicação Não Violenta-CNV. No trabalho estuda-se sobre os sistemas de linguagens que

guardam em si um sentido técnico, ético e político a respeito da visão de homem e de mundo

em que se relaciona pelos códigos de sinais. Nesse sentido servindo tanto para a manutenção

de uma determinada natureza de poder do estatus quo4, ou para seu enfrentamento em forma de

microrevoluções, isto é, em forma de resistência; na passagem do estado em Si para um estado

para Si5.

O artigo apresenta os elementos constitutivos da comunicação tradicional e da

Comunicação Não Violenta – CNV MARSHALL (2006) o que propicia análise do sistema de

linguagem, seja no modelo tradicional ou do modelo empático com a CNV. Serão abordados

os elementos que potencializam a resolutividade de conflitos a partir da metodologia de

abordagem orgânica viva de intervenção na realidade social, com o objetivo de responder as

demandas sociais, cada vez mais metamorfoseadas no contexto social político e ideológico da

sociedade moderna.

A partir dos resultados da revisão bibliográfica problematizam-se os mesmos, na

perspectiva da Comunicação Não Violenta-CNV, a fim de ir ao encontro da instrumentalidade,

4“status quo” quer dizer estado atual de acumulação de capital, manutenção das relações sociais vigentes

burguesas; 5 Para “SI” quer dizer, um momento histórico em que se toma a consciência de classe trabalhadora.

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a partir do conceito de Guerra (2000) como possibilidade de resposta a demanda do conflito

interpessoal. Com a conclusão aponta-se para as potencialidades dessa forma de abordagem

orgânica, que se utiliza de uma práxis comunicacional no caminho da educação permanente,

para uma cultura que vá para além do capital.

METODOLOGIA

O método utilizado é o materialista dialético critico que tem como categorias centrais a

historicidade, a totalidade e a contradição; A fundamentação teórica é a partir de recursos

bibliográficos, com base no acumulo teórico nos mementos de leituras no Grupo de Pesquisa:

Educação Direitos Humanos e Fronteira, vinculado a Universidade Federal do Pampa, campus

São Borja/RS Para a análise da realidade optou-se pelo Método Dialético-Crítico, que busca

mais do que fatos isolados, a sua busca consiste na conexão entre os múltiplos fatores que

condicionam uma realidade. O desvendamento da realidade acontece por meio de suas

contradições, reconhecendo a historicidade e buscando a totalidade, uma vez que leva em conta

o contexto social, cultural, econômico e histórico dos sujeitos envolvidos na investigação.

Segundo o autor, como lê-se:

[...] Pode-se definir método como caminho para se chegar a determinado fim. E

método científico como o conjunto de procedimentos intelectuais e técnicos adotados

para se atingir o conhecimento. (GIL, 2008, p. 27)

O autor afirma que todo o conjunto de ações previamente planejadas com um rigor

metodológico e instrumental a serviço de uma finalidade, que investigar e apreender as

categorias, particularidades, sistemas de mediações do objeto que se propõe a estudar e intervir.

Nesse caminho o que se observa são as categorias utilizadas nesse processo, a historicidade, a

contradição e a totalidade. Segundo Turck (2012, p. 12) apreende-se as categorias do método

como se lê:

[...] Historicidade - como um processo que compreende a processsualidade dos fatos,

sua provisoriedade e seu movimento permanente de superações. Totalidade - como

um todo articulado por conexões que permite a apropriação do cotidiano a partir da

compreensão histórica econômica e política como constituintes da construção da

sociedade capitalista ocidental. Contradição – é a força motriz (C x W) que provoca

o movimento de transformação instigando a partir da luta dos contraditórios, os

processos de mudança, devir na realidade dos sujeitos.

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Nessa dinâmica do método que se apreende a realidade aparente e com sucessivas

aproximações com o objeto, no movimento dialético nega-se a positividade do objeto e introduz

a negatividade para se aproximar da essência do objeto, no movimento de tese, antítese e

síntese. Outra categoria que se introduz ao método é a categoria mediação, que se encontra no

campo entre o universal e o singular como afirma Pontes (1995) é nas particularidades que se

encontra a medição. A mediação como categoria, serve no campo da pesquisa, pois oportuniza

o articulação das contradições, pela elaboração dos sistemas de mediações que viabilizam

construção na perspectiva da totalidade do objeto.

O presente trabalho utilizou como referência pra pesquisa Gil (2008) a pesquisa é do

tipo qualitativo exploratória com análise bibliográfica em livros, tese, artigos, que abrangem o

processo fundamentação teórica de apreensão e elaboração da sistematização dos achados a

partir de estudos já contemplados no momentos de pesquisa. A delimitação da análise em

documentos e bibliografias deu-se a partir da temática Comunicação Não Violenta-CNV

FUNDAMENTOS HISTÓRICOS: um debate epistemológico necessário.

A humanidade devido a sua necessidade genérica de se comunicar, sempre utilizou um

sistema de signos como instrumento de comunicação. Como afirma Magalhães (2003; p. 22)

onde se lê:

[...] O homem se comunica através de signos, e estes são organizados através de sinais

e linguagens. Pelo processo socializador, ele desenvolve e amplia suas aptidões de

comunicação, utilizando os modos e usos de fala que estão configurados no contexto

sociocultural dos diferentes grupos sociais dos quais faz parte.

Observa-se que a atividade de se comunicar é humano genérica, e tal exercício advêm

da práxis social como resultado de vivencias e processos sócias que se transformam em

processos particulares e se objetivam em uma determinada forma de se comunicar que se traduz

na forma, nos e sinais dos sistemas de comunicação das sociedades.

Ao introduzir a Comunicação Não Violenta – CNV como sendo uma abordagem

orgânica no processo de intervenção interpessoal, propõem-se em primeiro lugar o resgate do

conceito de violência de Hannah Arendt, que é amplo se levado em consideração o conceito de

violência tradicional que se restringe a violência física. Arendt refere que:

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[...] Se nos voltarmos para os debates sobre o fenômeno do poder, descobriremos logo

que existe um consenso entre os teóricos políticos da esquerda e da direita de que a

violência nada mais é do que a mais flagrante manifestação de poder. (ARENDT

2004, p. 22)

Nessa perspectiva a violência deve ser entendida como o exercício do poder sobre

alguém, que pelo poder do outro sobre si é oprimido e dominado. Dessa forma as relações de

poder perpassam as relações interpessoais ou nas relações de poder Estado Nação e sociedade

civil; que sempre se encontram sobre a tensão, isto é, numa relação oprimida pelo poder

jurídico, ideopolitico e econômico, que domina na lógica da reprodução da relação patrocínio

e dominância.

[...] o poder nela exercido não seja concebido como uma propriedade, mas como uma

estratégia, que seus efeitos de dominação não sejam atribuídos a uma “apropriação”,

mas a disposições, a manobras, a táticas, a técnicas, a funcionamentos; (FOUCAULT

1979, p. 30)

Nesse sentido pensar o poder é pensar em algo, para além do tangível mas fruto de

relações de forças opostas que disputam uma sobre a outra, sem mesmo utilizar-se tensão, mas

antes com a manipulação e até mesmo com a concessão por parte de quem se deixa influenciar.

A partir do sentido ampliado da violência, que supera o ato físico, e introduz-se a

discussão da dimensão político ideológica da comunicação frente às desigualdades sociais

vivenciadas no modo societário moderno, a análise da estrutura no qual os discursos de uma

determinada forma de linguagem se colam ou não é prerrogativa básica para se desmistificar as

formas abstratas e classistas do sistema de comunicação modero que estigmatizam

determinados modos e condições de vida. Chauí refere comunicação como:

[...] Um conjunto de mecanismos visíveis e invisíveis que vem do alto para baixo da

sociedade, unificando verticalmente e espalhando-se no interior das relações sociais,

numa existência horizontal que vai da família à escola, dos locais de trabalho às

instituições públicas, retornando ao aparelho do Estado. (CHAUÍ 1998, p. 16)

A autora desnuda o sistema linguístico tradicional, enseja a análise da violência

presente no código comunicacional da cultura moderna. Em Bourdieu (2004) entende-se esse

sistema linguístico como um aparelho ideológico na reprodução da ordem do modo de produção

capitalista, que se faz hegemônico, e que atinge seu modo mais agressivo no Estado Neoliberal.

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Logo desvelar a contradição do sistema linguístico burguês é necessário para que possamos

avançar na construção de um sistema de linguagem que analise criticamente a realidade.

Ao indicar análise sistema linguístico, isto é, dos signos vigentes em nossa sociedade,

provoca-se o olhar para a realidade social. Nesse sentido os signos como: liberdade, direito,

consciência, trabalho escondem em si a subsunção da alienação burguesa em detrimento da

meritocracia e da moral. Pois trazem em si toda a carga subjetiva dos processos particulares e

dos processos sociais que produzem e se reproduzem no modo de falar e escrever. Dá-se

exemplo do termo “vagabundo”; que muitas vezes é empregado por trabalhadores no juízo de

valor na relação interpessoal com outros que estão em situação de desemprego.

Com isso se entende como a cultura perpassa valores, princípios e modo de vida dos

sujeitos e das relações interpessoais, onde se estabelece comunicação seja violenta ou não.

Segundo a Organização das Nações Unidas:

[...]a cultura deve ser considerada como o conjunto dos traços distintivos espirituais e

materiais, intelectuais e afetivos que caracterizam uma sociedade ou um grupo social

e que abrange, além das artes e das letras, os modos de vida, as maneiras de viver

juntos, os sistemas de valores, as tradições e as crenças. (UNESCO 2002, p. 2)

Cultura é um produto social, construído por um modo de vida coletivizado que prima

por um sistema de comunicação onde os símbolos dialogam com todos os membros da

comunidade. Nesse momento é fundante se pensar o modelo de sociedade que se deseja ter para

se decodificar e se codificar a linguagem com signos que traduzam a vontade social, e não

apenas de parte desta.

Outra categoria que emerge dentro desse sistema de linguagem é a categoria que se

refere paz, mas não a paz liberal burguesa; mas a paz que não permite-se lesar pelo silencio,

inércia, passividade mas que rompe com toda a lógica de opressão e dominação e exclusão

promovida nesse sistema de injustiça social, e que é personificado no capital; esse estado paz é

referido por Galtung, como paz negativa. Silva (2002, p.1) afirma que:

[...] A paz negativa, segundo esse ilustre professor, é a mera ausência da guerra, o que

não elimina a predisposição para ela ou a violência estrutural da sociedade. A paz

positiva, por outro lado, implica ajuda mútua, educação e interdependência dos povos.

A paz positiva vem a ser não somente uma forma de prevenção contra a guerra, mas

a construção de uma sociedade melhor, na qual mais pessoas comungam do espaço

social.

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Para Kant o estado de grerra é inerente ao ser humano, que apenas deixaria de viver o

conflito, se seus conflitos fossem mediados. Esse estado de não gerra seria o estado de paz

negativa como Galtung (2005) define em sua análise. Kant entende que:

[...] Kant a pre-ocupação em mostrar a conexão entre a eclosão de uma luta armada e

as atitudes comuns e cotidianas dos cidadãos e de seus governantes. Serve também

para pensar em como, talvez, gerenciar conflitos na ou através dela, a Educação.

(GERHARDT 2005, p. 153)

Já o signo “paz positiva” emerge como um elemento da comunicação a partir de uma

dimensão ética-política, na práxis da fala como conceito que está cheio de significado e

compromisso com a justiça social. A partir dessa análise que surge como uma forma de

enfretamento a violência estrutural e institucional que se personifica na figura do Estado

Moderno, paz positiva é o resultado da superação das injustiças sociais e de um processo

educativo como meio para se chegar a um estado de paz positiva Galtung (2005).

Nesse cenário de disputa e tentativa de se avançar em proposições que proporcione a

resolutividade das demandas sociais, surge a CNV-Comunicação Não Violenta, em uma

abordagem viva e orgânica no intuir de oportunizar como afirma Freire ao se referir a Cultura

de Paz:

[...] A paz é fundamental, indispensável, mas paz implica lutar por ela. A paz se cria,

se constrói na e pela superação das realidades sociais perversas. A paz se cria, se

constrói na construção incessante da justiça social. por isso, não creio em nenhum

esforço chamado de educação para a paz que, em lugar de desvelar o mundo das

injustiças, o torna opaco e tenta miopisar suas vítimas. (FREIRE, apud,

GUIMARÃES, 2005, p. 74).

O grande mestre da educação deixa claro que a paz que nasce da justiça social é perene

e nos provoca, para que se pense em uma educação que transborde o conceito de paz tradicional

ou paz negativa. Coadunando nessa direção dialoga-se com Constantino apud Mészáros (2008,

p.57) que afirma:

[...] Em outras palavras, a abordagem educacional defendida por ele tinha de adotar a

totalidade das práticas políticas – educacionais -culturais na mais ampla concepção

do que seja uma transformadora emancipação. É desse modo que uma

contraconciencia, estrategicamente concebida como alternativa necessária a

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internalização dominada colonialmente, poderia realizar uma grandiosa missão

educativa.

Em um movimento contracorrente, que visa resistir e superar a lógica tradicional da

comunicação, se abre a perspectiva para uma nova educação, uma educação que vá para além

do capital que promova o Ser Social para além dos limites de uma educação continuada e

introduza a educação permanente. Nesse sentido o autor apresenta um ideia que desafia todo a

ordem vigente, no que tange a escola tradicional, segundo Marx apud Mészáros (2008, p. 59)

“os seres humanos devem mudar completamente a condição industrial e política, e,

consequentemente, toda sua maneira de ser”.

A Educação para Paz como plano de fundo para a CNV- Comunicação Não Violenta

Rosenberg (2006) que oportuniza pensar como no Capitalismo inserir a forma de abordagem

viva e orgânica na tentativa de se avançar na discussão; avançar em uma educação que premie

o Ser Social o Ser Humano.

COMUNICAÇÃO NÃO VIOLENTA: Uma abordagem viva e orgânica

A partir do grande educador brasileiro Paulo Freire enfatiza-se a comunicação e sua

relevância para as relações interpessoais seja em família, comunidade ou sociedade. Nesse

sentido toma-se o conceito de Freire para dialogarmos com a comunicação:

[...] Comunicar é comunicar-se em torno do significado significante. Desta forma, na

comunicação, não há sujeitos passivos. Os sujeitos co-intencionados ao objeto de seu

pensar se comunicam seu conteúdo. O que caracteriza a comunicação enquanto este

comunicar comunicando-se, é que ela é diálogo, assim como o diálogo é

comunicativo. Em relação dialógica-comunicativa, os sujeitos interlocutores se

expressam, como já vimos, através de um mesmo sistema de signos linguísticos. É

então indispensável ao ato comunicativo, para que este seja eficiente, o acordo entre

os sujeitos, reciprocamente comunicantes. Isto é, a expressão verbal de um dos

sujeitos tem que ser percebida dentro de um quadro significativo comum ao outro

sujeito. (FREIRE 1983, p.45)

Pensar a comunicação é necessário para apreender o sentido semântico e hermenêutico

da palavra comunicação, isto é, de seu sentido na origem: comum + ação = comunicação. Essa

ação comum tem um reforço quando, parte-se da origem no latin, isto é, “communicatio” que

tem significa encarregado de. Dessa maneira podemos aferir que a comunicação pode ser imersa

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na logica alienante da subjetividade tecnicista - mecanicista que está alienada de sua dimensão

social, restringindo-se em sua condição em Si, alienada de uma proposição para Si. Para Souza

(2008, p.125) lê-se que:

[...] Indo mais além, a autora afirma que as linguagens construídas são produtos do

processo de socialização dos seres humanos, o que remete a uma concepção social das

diferentes linguagens existentes em uma mesma sociedade: elas (as linguagens)

indicam modos de ser e de viver de classes e grupos sociais diferentes entre si. Em

outras palavras, a linguagem possibilita a construção da identidade de um determinado

grupo social.

Tomada a comunicação como trabalho humano genérico, introduz a essa discussão a

práxis na comunicação, como expressão de processo dialético e dialógico com o meio em que

se desenvolve. Como forma de interação do ser social com seus pares, de forma politizada

comprometida com a proposição de um status que sai do estado em Si, para um estado para SI.

O homem genérico, isto é, o Ser social entendendo comunicação como práxis social, rompe

com a alienação simbólica, semântica e hermenêutica e ressignifica sua relação com seu signos

para enfrentamento político, ético e técnico em favor da configuração semântica e hermenêutica

emancipatória.

Pensar em Comunicação Não Violenta-(CNV) é se reportar a figura que cunhou esse

instrumento como meio para a resolução de conflitos Marchall Rosberg (2006) que ao longo

mais de 40 anos atuou em mais de 50 países, com facilitador na resolução de conflitos nas mais

diversas áreas Marchall Rosenberg ao apresentar a CNV resgata o que já temos, como podemos

ver em sua afirmação:

[...] A CNV se baseia em habilidades de linguagem e comunicação que fortalecem a

capacidade de continuarmos humanos, mesmo em condições adversas. Ela não tem

nada de novo: tudo que foi integrado à CNV já era conhecido havia séculos. O objetivo

é nos lembrar do que já sabemos - de como nós, humanos, deveríamos nos relacionar

uns com os outros - e nos ajudar a viver de modo que se manifeste concretamente esse

conhecimento. (ROSENBERG 2006 p.21)

Como podemos verificar ao utilizar a CNV, que ela não se limita a um instrumento mas

antes tem alinhamento com a totalidade do ser social, que é um todo social, emocional,

biológico, psicológico e espiritual. Ao buscar o instrumento dentro de Si, encontra-se logo o

coração como lócus para a Comunicação Não Violenta e no movimento de ouvir e falar é que

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se estabelece um canal da empatia, do acesso e atendimento das necessidades coletivas na

resolução de conflitos. Conforme citação, o autor apresenta uma abordagem nova das relações

interpessoais pela comunicação, como se vê:

[...] Desde então, identifiquei uma abordagem específica da comunicação – falar e

ouvir - que nos leva a nos entregarmos de coração, ligando-nos a nós mesmos e aos

outros de maneira tal que permite que nossa compaixão natural floresça. Denomino

essa abordagem Comunicação Não-Violenta, usando o termo "não-violência" na

mesma acepção que lhe atribuía Gandhi -referindo-se a nosso estado compassivo

natural quando a violência houver se afastado do coração. (ROSENBERG, 2006, p.

21)

Para além de uma forma de se comunicar a CNV se apresenta de maneira a oportunizar

um diálogo franco aberto na resolução de conflitos, o que gera uma expectativa, devido um

contexto cheio de contradições e desafios em uma sociedade de classes. O quadro nº 1

explicitará a dinâmica na logica dialógica e dialética que se imprime a CNV.

Quadro nº 1

Fonte: Autor

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Nesse caminho se destacam duas posições a do que fala e a do ouve em um movimento

de troca, sempre tendo como fim a resolutividade coletiva dos conflitos interpessoais. A partir

da abordagem segue- se quatro etapas: 1) Observação; 2) Sentimentos; 3) Necessidades; 4)

Pedido; sendo essas etapas um conjunto que compõe o todo das sucessivas aproximações para

a construção orgânica e viva de uma resposta a necessidade comum.

A partir da Obra de Marchall Rosenberg (2006) e seus seguidores de sua abordagem,

apresenta-nos os elementos constitutivos, para que apreendamos a CNV e seus elementos que

tem na “Empatia” o fundamento para as outras etapas.

[...] Nossas palavras, em vez de serem reações repetitivas e automáticas, tornam-se

respostas conscientes, firmemente baseadas na consciência do que estamos

percebendo, sentindo e desejando. Somos levados a nos expressar com honestidade e

clareza, ao mesmo tempo que damos aos outros uma atenção respeitosa e empática.

(ROSENBERG, 2006, p. 21-22)

Nesse momento em que se decide por uma postura empática para se estabelecer a

comunicação como meio para a resolutividade de conflitos, explora-se cada etapa em uma via

dialógica e dialética. A dialógica rompe com toda pré-disposição para o conflito, pois se desloca

ao diálogo do campo minado do conflito e da culpa, para a resolução e para as necessidades

humanas que devem em primeiro lugar serem atendidas. E para que esse objetivo comum se

realize é compromisso das partes envolvidas investir energia nesse movimento humano

genérico.

Quanto a dialética, esta não é subalterna à dialógica e nem imperiosa, antes é

componente orgânico da análise e intervenção na realidade social, atravessada pela luta de

classes. Fundamentalmente conecta em um movimento de ir do singular para o universal e vice

versa, na apreensão das particularidades da investigação e intervenção na realidade. Modo

garante o processo de reflexão a partir das categorias teóricas do método como a totalidade, a

contradição, a historicidade e a mediação, identificando como os processos sociais se

apresentam no cotidiano das vivencias das relações interpessoais. De acordo com Turck 2012,

p.13, entende-se:

[...] Historicidade – como um processo que compreende a processualiade dos fatos,

sua provisoriedade e seu movimento permanente de superações. [...] Totalidade –

como um articulado por conexões que permite a apropriação do cotidiano a partir da

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compreensão histórica, econômica e política como constituintes da construção da

sociedade capitalista ocidental.

A partir dessa pontuação quanto a dialógica e a dialética, entra-se no primeiro elemento

constitutivo da CNV, o da “Observação” que exige do observador intensidade, dedicação para

que a consciência seja capaz de apreender, capitar, abstrair da comunicação verbal, e não verbal

os componentes da mensagem que expressão a necessidade humana genérica. Nesse sentido é

necessário que se rompa com qualquer tipo de pré-conceito e que os envolvidos não se deixem

afetar por instintos, emoções, sentimentos no processo da observação do outro.

[...] O primeiro componente da CNV acarreta necessariamente separar observação de

avaliação. Precisamos observar claramente, sem acrescentar nenhuma avaliação, o

que vemos, ouvimos ou tocamos que afeta nossa sensação de bem-estar.

(ROSENBERG 2006, p. 50)

Segundo o autor, é importante o compromisso das partes envolvidas na CNV com a

“Observação” pois dela é que se desenvolvem os demais como forma de oportunizar a relações

orgânicas interpessoal. Ao evitar avaliação preconceituosa se premia a realização empática da

comunicação não violenta. Nesse momento priorizasse a criação das condições necessárias,

para que se estabeleça a comunicação sem ruídos, isto é, limpa onde as partes envolvidas

dialoguem.

Já no segundo elemento o do “Sentimento” trabalhasse com o conjunto real de

possibilidades humanas quanto a dimensão emocional que são sentir, entender o que se sente e

se responsabilizar pelo seu sentimento ao ponto da autogestão, rompendo com a alienação de

Si mesmo. O autor apresenta-nos um exemplo que premia a análise desse importante elemento

da CNV, Rosenberg (2006, p. 55) refere-se:

[...] Ouço regularmente afirmações como: "Não me interprete mal, sou casada com

um homem maravilhoso, mas nunca sei o que ele está sentindo". Uma dessas mulheres

insatisfeitas trouxe o marido a um seminário, durante o qual ela lhe disse: "Sinto como

se estivesse casada com uma parede". O marido então fez uma excelente imitação de

parede: ficou sentado, calado e imóvel. Exasperada, ela se virou para mim e exclamou:

"Veja! É isso que acontece o tempo todo. Ele fica sentado e não diz nada. É

exatamente como se eu estivesse vivendo com uma parede".

Nesse exemplo podemos verificar que a comunicação dos sentimentos não ocorre, o que

impossibilita a dialogia do casal. Desvelando a esterilidade da comunicação sem vida, sem

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sentimento, sem significado. O silencio também comunica a fragilidade da comunicação e de

processos objetivos e subjetivos da relação. Feita a exemplificação, o autor traz uma afirmação:

[...] Os benefícios de enriquecer o vocabulário de nossos sentimentos são evidentes

não apenas em relacionamentos íntimos, mas também no mundo profissional. (ROSENBERG 2006, p. 66)

O que fica evidente todo o esforço de se demostrar que a dimensão emocional, é o que

nos revela humanos é com ela que sentimos amor, ódio, raiva, carinho, é com ela que nossa

existência se mostra intensa cheia de vida. E nesse momento de expressão dos nosso sentimento

é o momento de realização existencial que possibilita sermos verdadeiros, únicos e humanos.

Segundo Rosenberg (2006, p.79) “Quando alguém nos dá uma mensagem negativa, seja verbal,

seja não verbal, temos quatro opções de como recebê-la.” Entre elas: a) Como algo pessoal com

foco na crítica e na acusação; b) Culpando o interlocutor; c) abrimo-nos para nossos sentimentos

e necessidades; d) invertendo o foco, abrirmo-nos a necessidades e sentimentos do outro;

Nesse momento observa-se que nas três primeiras posições frente a uma mensagem

negativa nos isentamos de qualquer espécie de compromisso com o outro, antes o enxergamos

como algoz, culpado quando não nos fechamos em nossas necessidades. O que nos é

apresentado na quarta possibilidade é outro como humano digno como eu e cheio de

necessidades como as minhas. É por isso que se reconhecem as responsabilidades pelo

sentimento do outro, como fonte de reconhecimento das próprias necessidades humano

genéricas e não de uma pessoa em especifico.

Outra importante abordagem quanto aos sentimentos é o da escravidão emocional à

libertação emocional, que se realiza quando se leva em consideração a sério na CNV, fator

segundo Rosenberg (2006, p. 94):

[...] envolve afirmar claramente o que necessitamos de uma maneira que deixe óbvio

que estamos igualmente empenhados em que as necessidades dos outros sejam

satisfeitas.

O compromisso com o outro é o motivo de ser da CNV, por esse motivo é que se faz

necessário abordar ao elemento “Sentimento”, pois nele na gestão dos sentimentos que se abre

a capacidade de acolher as necessidades do outro em relação com as minhas. Mesmo em

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discordância ou em consonância o que importa e o atendimento da necessidade humana. Com

relação ao terceiro elemento se dialoga com a “Necessidade”, não com a minha ou com a do

outro em especifico, mas a partir das necessidades do outro reconhecer a minha para

dialogicamente verificar nossas necessidades humanas e construirmos estratégias para supri-

las.

Por fim chega-se ao elemento do “Pedido”, que após os da Observação, Sentimento e

Necessidade se apresenta como caminho para respostas mais empáticas aos pedidos. Como

afirmado por Rosenberg (2006, p.103), quando afirma:

[...] quarto e último componente desse processo aborda a questão do que gostaríamos

de pedir aos outros para enriquecer nossa vida. Quando nossas necessidades não estão

sendo atendidas, depois de expressarmos o que estamos observando, sentindo e

precisando, fazemos então um pedido específico: pedimos que sejam feitas ações que

possam satisfazer nossas necessidades.

O pedido só é expresso após a vivencia de todo o processo coletivo e dialógico entre

ambas as partes; Com o amadurecimento humano é que se criam as condições necessárias ao

pedido comum, assim, esperando uma resposta mais natural a necessidade humana. Nesse

caminho da resolução não há intervenção perfeita definida, acabada, por isso a negativa de

entender a CNV como formula, instrumento, que normaliza, configura, formata. O que se tenta

subsidiar é a intervenção interpessoal com uma abordagem orgânica e viva privilegiando as

necessidades humanas no caminho de viver com dignidade social.

CONCLUSÕES

O artigo a partir dos os elementos da Comunicação Não Violenta-CNV aponta para os

profissionais das mais diversas áreas de atuação a potencialidade dessa abordagem orgânica, o

que sensibiliza e estabelece uma nova perspectiva objetiva na resolução de conflitos. Como

afirma Rosenberg (2006, p.21) “a CNV nos ajuda a reformular a maneira pela qual nos

expressamos e ouvimos os outros”. Nessa reformulação abre-se a possibilidade inovadora em

que se valoriza a escuta e olhar sensível, como humanos que somos, rompendo a subjetividade

atribuída pelo modo de produção capitalista.

A decisão pela empatia é antes de tudo uma posição que visa a primazia pela condição

humano genéricas e suas necessidades que advém de qualquer contexto social econômico ou

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ideopolitico. Para além da modernidade o trabalho demarca a posição da humanidade na

resolução de dilemas de qualquer ordem para garantia o desenvolvimento da vida.

E por fim a contribuição do presente trabalho de pesquisa, está fundamentado na iniciação

a pratica de pesquisa cientifica, que se configura como espaço privilegiado para o aprendizado

e aprimoramentos das técnicas de pesquisa, bem como de sistematização e a posteriores de

apresentação dos resultados e discussão sobre os mesmo. A partir desse trabalho pode-se

constatar a relevância do instrumento CNV como meio de mediação para conflitos, se

constituindo como elemento importante para o trabalho na resolução de problemáticas quanto

as relações interpessoais.

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COMUNICAÇÃO NÃO-VIOLENTA: FERRAMENTA EFICAZ NA

MATERIALIZAÇÃO DA CULTURA DE PAZ.

Leticia Souza Brum6

Simone Barros de Oliveira7

RESUMO: O trabalho tem sua gênese a partir do projeto de trabalho de conclusão de curso e

expõe uma perspectiva de possibilidade prática e não ideológica para o intuito de aproximar-se

de uma Cultura de paz. Essa possibilidade prática se materializa através da metodologia dos

Círculos de Construção de Paz, que juntamente com o os fundamentos teóricos da Comunicação

Não-Violenta e do Peace Research (estudos de paz), alicerçam e tornam palpáveis a

transformação de uma cultura tradicional para uma Cultura de Paz. Os Círculos de Construção

de paz utilizam- se da dimensão dialógica das relações humanas e dos conflitos, ambos vistos

como positivamente saudáveis. A comunicação não violenta é a forma pela qual os

componentes do círculo se expressam entre si e a qual requer uma alfabetização em sentimentos

em que objetiva não mudar as pessoas a fim de que supram as necessidades alheias, e sim, gerar

relações honestas e empáticas que consequentemente poderão atender às necessidades dos

envolvidos. Os círculos de construção de paz são uma ferramenta para passar de uma sociedade

de exclusão para uma de pertença e auxiliam no que tange a encontrar os aspectos da vida que

mais importam. No Círculo as diferenças emergem como conflitos e a Cultura de paz é

concomitantemente utilizada enquanto prática e construída como uma necessidade e uma

possibilidade para equilibrar essas diferenças manifestadas.

Palavras-Chaves: Cultura de paz, Círculos de construção de paz, comunicação não-violenta.

INTRODUÇÃO

Os crescentes índices de violência trazidos pelas estatísticas a cada ano são

estarrecedores. Esses fatos evidenciam que o modo de vida atual do humano em sociedade,

inserido em um contexto em que o capital perpassa as relações sociais, é de certa maneira tóxico

6Estudante do curso de Serviço Social da Universidade Federal do Pampa (UNIPAMPA) campus São Borja- RS;

e-mail: [email protected] 7Professora Adjunta da Universidade Federal do Pampa/UNIPAMPA, Mestre e Doutora em Serviço Social, pela

Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul/PUCRS, líder do Grupo de Pesquisa Educação, Direitos

Humanos e Fronteira. Email: [email protected]

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e danoso na medida em que a violência torna- se algo banal. A partir disso, o contato com os

Círculos de Construção de Paz realizado pela docente do curso de Serviço Social em uma

disciplina (coautora deste trabalho e orientadora do trabalho de conclusão de curso), fez com

que despertasse a curiosidade sobre o tema, assim como culminasse na redação de monografia

da graduação, tamanho o encantamento que a temática trouxe a partir desse contato.

Diante desse contexto de violência banalizada, é importante que se busquem valores e

formas alternativas não destrutivas de relacionamento em sociedade e uma resolução de

conflitos não violenta, assim como propõem os círculos de construção de paz, herança dos

antepassados indígenas.

Focaliza uma proposta de comunicação e abordagem não violenta no que diz respeito não

só à resolução de conflitos, mas também de uma forma de se relacionar em sociedade não

destrutiva, com maior qualidade e humanização na convivência cotidiana dos sujeitos através

dos círculos de construção de paz e da comunicação não- violenta.

Os objetivos do presente artigo buscam identificar se os círculos de construção de paz são

uma estratégia eficaz para a modificação de uma cultura tradicional para uma cultura de paz e

também como a comunicação não violenta pode impactar a cultura.

METODOLOGIA

O trabalho desenvolvido é bibliográfico e documental. Bibliográfico, uma vez que é

desenvolvido a partir de material já elaborado, sobretudo embasado em fontes científicas como

livros e artigos acadêmicos (GIL,1987). E é documental na medida em que utiliza-se de

documento como material de apoio como Declaração e Programa de Ação sobre uma Cultura

de Paz como o Relatório mundial de cultura de paz. É qualitativo, uma vez que abrange a área

da ciências sociais aplicadas.

A análise e interpretação dos dados são tratados conforme MINAYO (2012) nas etapas

de pré-análise, exploração do material ou e tratamento dos resultados obtidos/ interpretação.

RESULTADO E DISCUSSÃO

A origem dos círculos de construção de paz tem sua descendência ligada de forma

bastante direta aos ancestrais indígenas norte-americanos. Esses realizavam e ainda realizam os

Círculos de Diálogo, os quais consistem na realização da reunião dos membros tribais na

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formatação de uma roda, com o intuito de discutir questões relevantes para a comunidade. Tal

ação faz parte das raízes tribais de grande parte dos povos. (PRANIS,2010).

Os círculos de construção de paz iniciam nos Estados Unidos dentro da esfera da justiça

restaurativa, em que fazia-se a inclusão tanto da vítima de um crime quanto o causador e a

comunidade. Essas partes estando em parceria com o poder judiciário, determinavam

conjuntamente a melhor reação em relação ao crime a fim de se gerar bem-estar e segurança de

todos. A prática dos Círculos de construção de paz vêm sendo utilizada por mais de trinta anos

e é uma forma de reunir as pessoas de maneira que todos sejam respeitados; todos tenham igual

oportunidade de falar sem interrupções ao explicar- se contando a sua história dentro de um

preceito de igualdade e que acolhe aspectos emocionais das experiências individuais. (PRANIS,

2010)

A metodologia do círculo de construção de paz consiste em um encontro em que as

pessoas dispõem-se em roda sentadas em cadeiras, onde ao centro, coloca-se apenas algum

objeto que tenha um significado comum ao grupo. O formato circular remete à “liderança

partilhada, igualdade, conexão, inclusão e também promove foco, responsabilidade e

participação de todos” (PRANIS, p.25, 2010)

Nos círculos, utilizam-se elementos estruturais intencionais a fim de se gerar um espaço

em que os participantes sintam-se seguros para serem autênticos mesmo em situações de

conflito, dano ou dificuldade. São eles: A cerimonia, o bastão de fala, o facilitador ou guardião,

as orientações e o processo decisório consensual. (PRANIS,2010). A cerimonia marca o início

e o fechamento de um Círculo como um espaço sagrado, buscando estabelecer um centramento

por parte dos participantes no sentido de que haja uma qualidade nas suas presenças dentro do

círculo, diferenciando-se da presença dos encontros corriqueiros das atividades do cotidiano.

O bastão da fala ou também objeto da palavra, demarca a cada participante no momento que o

detêm em mãos, a oportunidade de fala sem ser interrompido, viabilizando a expressão plena

das emoções que causa uma escuta qualificada e um espaço seguro para falar verdades difíceis,

e também ficar em silêncio se assim optar.

O facilitador ou guardião do círculo de construção de paz ajuda a criar um espaço

coletivo em que os participantes sintam-se seguros para expressarem-se. Ele supervisiona a

qualidade do processo e estimula as reflexões através de perguntas ou pautas. O guardião não

controla ou direciona as conclusões, mas pode intervir para garantia de uma interação grupal

de qualidade.

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As orientações consistem em compromissos que os participantes assumem entre si a fim de

estabelecer condutas claras e mútuas que serão esperadas durante o processo e que ocasionará

um ambiente respeitoso e seguro para todos. As orientações são adotadas por consenso do

grupo.

Já o processo decisório consensual traz o compromisso de compreender as necessidades

e interesses de todos. “Nem sempre o consenso é possível, mas é uma raridade não chegar a um

consenso quando tenha sido alocado ao processo Circular tempo suficiente para a escuta

integral de todos os pontos de vista.” (PRANIS, p.54, 2010)

Os cinco elementos estruturais supracitados facilitam a criação de um ambiente em que

seja possível aos participantes darem o melhor de si na relação com os outros e estabelecerem

vínculos profundos a partir da partilha de histórias pessoais, fortalecendo assim, a conexão entre

si próprios e com os demais membros do círculo.

Existe, nos círculos de construção de paz, a junção da antiga sabedoria comunitária e o

valor contemporâneo do respeito pelos dons, necessidades e diferenças individuais na medida

em que (PRANIS,2010): “respeita a presença e dignidade de cada participante, valoriza as

contribuições de todos os participantes, salienta a conexão entre todas as coisas, oferece apoio

para a expressão emocional e espiritual e dá voz igual para todos” (PRANIS,2010, p. 18)

Segundo (FURTADO, p. 11, 2012):

Esta metodologia pode ser associada ao Círculo de Cultura de Freire, em que o diálogo

em círculo, em colaboração, permite a reelaboração do mundo, emergindo uma

consciência crítica, onde os participantes extrojetam, pela força catártica da

metodologia, seus sentimentos, suas opiniões: de si, dos outros e do mundo.

De acordo com WATSON E PRANIS (2011), “o uso de círculos de construção de paz

desenvolvem a inteligência emocional, promovem a cura e constroem relacionamentos

saudáveis”.

Os Círculos de Construção de Paz podem ser utilizados em situações em que duas ou mais

pessoas:

Precisam tomar decisões conjuntas; discordam; precisam tratar de uma experiência

que resultou em danos para alguém; querem trabalhar em conjunto como uma equipe,

desejam celebrar; querem partilhar dificuldades; desejam aprender uns com os outros.

(PRANIS, 2010, p. 21)

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A criadora dos Círculos de construção de paz afirma que para que haja uma cultura de

paz, existe a exigência de mudanças profundas das compreensões, e para isso, os círculos são

uma ferramenta prática para proporcionarem essas mudanças e sustenta-las. A autora aponta

que na sociedade atual há um buraco no que se refere ao sentimento de pertença e o significado,

o que segundo ela, são necessidades humanas profundas. Em uma cultura de paz todos devem

ter o sentimento de pertença e serem valorizados como são. O significado, seria uma

necessidade em relação a vida, o qual o ser humano está cada vez mais desconectado, uma vez

que contemporaneamente, o ritmo é acelerado e automático, existem muitas distrações no

materialismo que regem a existência humana e que nas quais não emerge a significação de que

se necessita. A consequência dessa carência de significado é a de que as inquietudes internas

vêm a tona por meio de conflitos com os outros. Logo, os círculos de construção de paz são

uma ferramenta para passar de uma sociedade de exclusão para uma de pertença e auxiliam no

que tange a encontrar os aspectos da vida que mais importam. Uma cultura de paz também

demanda da habilidade de acomodar a diferença no sentido em haja o encontro de valores

comuns, e diante disso, perceber as diferenças como algo enriquecedor e não ameaçador,

gerando interesse ao invés de temor. No Círculo as diferenças emergem como conflitos e a

Cultura de paz é necessária para equilibrar essas diferenças manifestadas. (PRANIS,2017)

DIÁLOGO

CHRISPINO E CHRISPINO (2002) atentam para o fato da ausência de diálogo e uma

comunicação eficaz estar intimamente ligada aos obstáculos que originam os conflitos, os quais

muitas vezes suscitam a violência, evidenciando o papel primordial da comunicação para a

construção de uma atmosfera preventiva perante as diversidades culturais e sociais.

A humanidade está acostumada a um modo básico de pensamento que acabou sendo

enraizado intrinsecamente como algo natural à condição do ser social. Esse modo vem a ser um

padrão mental da separação e da exclusão ao qual estamos condicionados em que impera o

modelo ou/ou: “ou isso ou aquilo; ou amigo ou inimigo; ou bem ou mal; ou eu ou o outro; ou

você está comigo ou está contra mim. As demais possibilidades – a reflexão, o diálogo, a

negociação, a criatividade, a descoberta de outros modos de convivência- ficam desde logo

excluídas.” (THOT, 2001, p.1)

Na cultura do senso comum o diálogo nada mais é que uma interação verbal que

ocasionalmente gera acordos ou conclusões. Para Humberto MARIOTTI (2001), o diálogo é

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uma metodologia de conversação que almeja os efeitos da melhoria da comunicação entre os

interlocutores, a observação compartilhada da experiência e a produção de novas ideias e

percepções. O diálogo expande a percepção cooperativa da experiência assim como reflexão

conjunta, sendo sua principal característica a fertilização mútua. Diferentemente da intenção da

discussão e do debate, que têm por objetivo as sínteses e tomadas de decisões a interação

dialógica propõe o novos modos de ver e a criação de significados em conjunto sem ter que

analisa-los e julgá-los instantaneamente a fim de não fragmentar, imediatizar e simplificar,

opondo-se ao que preconiza o atual modelo mental de percepção de mundo, inclusive na

ciência, tecnologia e consequentemente na cultura. No organograma seguinte, o autor faz uma

sinopse que clarifica as principais diferenças entre o diálogo e a discussão/debate.

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Diálogo

Visa abrir questões

Visa mostrar

Visa estabelecer

relações

Visa compartilhar

ideias

Visa questionar e

aprender

Visa compreender

Vê a interação

partes/todo

Faz emergir ideias

Busca a pluralidade de ideias

Discussão/Debate

Visa fechar questões

Visa convencer

Visa demarcar posições

Visa defender

ideias

Visa persuadir e

ensinar

Visa explicar

Visa as partes em separado

Descarta as idéias

"vencidas"

Busca acordos

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Diante de tal diferenciação, cabem algumas observações do autor que pontua que o

diálogo não é melhor ou pior que o debate ou a discussão, pois são maneiras diferentes, porém

complementares de conversar. A separação das colunas não é estanque, já que em muitos casos

de conversação há alternação de discussão e debate para o diálogo e vice-versa. Não existe

normas de postura rígidas para o diálogo, uma vez que isso quebraria a naturalidade do

processo. O que existe são algumas regras operacionais.

É bastante comum que durante um diálogo haja a tendência do automatismo concordo-

discordo, dada a dificuldade que o ser humano tem de ouvir o outro na ânsia de emitir juízos

instantâneos, concordando ou discordando de quem fala e recaindo então no condicionamento

na lógica binária do “ou/ou, sim/não”. MARIOTTI (2001) propõe que para um diálogo

eficiente, seja feito algo equivalente a Epoché husserliana que preconiza a suspensão

momentânea das certezas humanas a fim de se modificar as perspectivas de percepção para um

mesmo problema dando vasão a quebra de convicções e pré-julgamentos internalizados que

anulam a possibilidade de agir-se defensivamente, compreender e aprender com o outro.

Comunicação Não-Violenta-CNV

A Comunicação Não- Violenta foi desenvolvida pelo psicólogo americano Marshall

Rosemberg que vivenciou a segregação racial dos anos 60, inclusive sendo agredido por ser

judeu. Desde pequeno, Marshall perguntava-se o porquê de algumas pessoas serem mais

violentas e outras, diante de circunstancias praticamente insuportáveis, manterem-se em estados

compassivos. A Comunicação não Violenta ou CNV é uma ferramenta que estimula que a

compaixão natural humana aflore.

O objetivo da Comunicação não-violenta é o das pessoas reaprenderem a se doar em

cada interação com o outro, e isso foi esquecido por fatores como a educação, por

exemplo, pois a conexão com o outro passa a ser secundária em razão do ser humano ser

treinado ao que Marshall chama de “jogo de quem tem razão”. Esse jogo envolve punição, uma

vez que se estiverem errados, são castigados, tornando a educação e consequentemente a cultura

violenta e se estiverem certos, são recompensados e isso induz as pessoas a sentirem culpa e

vergonha. Essa cultura violenta expressa-se também na linguagem, o que Marshall refere-se

como “linguagem chacal” a qual nos desconecta do estado natural compassivo facilitando a

violência. O autor ressalta que em culturas de dominação existe o condicionamento para as

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pessoas acharem a violência agradável como quando duas horas por noite entre 19 e 21h no

horário em que as crianças mais assistem televisão, em 75% dos programas que elas assistem,

o herói mata alguém ou lhe dá uma surra, e isso acontece no clímax do programa. Somos

educados há algum tempo a sentir prazer com a violência.

A linguagem chacal é constituída de julgamentos moralistas em termos de quem está

certo/errado, bom/mau, normal/anormal. A linguagem chacal também é constituída do

“Amtssprache,” uma linguagem que nega a escolha e que nega a responsabilidade sobre as

próprias ações. Ao ler a obra de Hannah Arendt sobre um prisioneiro de guerra nazista

(Eichmann em Jerusalém), Rosemberg identifica essa linguagem quando no julgamento de

Adolph Eichmann foi lhe perguntado se foi difícil conduzir dezenas de milhares de pessoas à

morte (ele organizava as deportações para encaminhar as pessoas para as campos de

extermínio), quando ele responde que foi fácil porque a linguagem facilitou. Relatou que ele e

seus colegas tinham uma linguagem própria a “Amtssprache”, que seria equivalente a

linguagem burocrática ou de escritório. Essa linguagem nega a própria responsabilidade, uma

vez que a resposta para a motivação do ato, encontra-se no outro: “não tinha alternativa, fui

obrigado, são ordens superiores”. Marshall enfatiza que a “Amtssprache”, é uma linguagem

muito perigosa.

Para a Comunicação não violenta, Rosemberg traz a “linguagem girafa” que a

linguagem do coração. Ele utiliza a girafa como símbolo da não violência porque o animal

possui o maior coração de todos os animai terrestres e portanto, a girafa requer estar sempre

consciente das próprias escolhas.

A Comunicação não violenta é um guia que contribui para a reformulação de como ser

humano expressa-se e ouve o outro, focalizando quatro componentes essenciais da CNV:

observação, sentimento, necessidade e pedido.

O primeiro elemento da CNV consiste em observar sem julgar. Deve apenas observar

sem realizar algum tipo de avaliação ou inferência. Quando há julgamento e avaliação a

tendência é que soe ao interlocutor como crítica e isso gera reação, podendo ser resistência,

atitudes defensivas e /ou agressivas ou ainda o afastamento, justamente o contrário do que a

CNV almeja, que é a aproximação.

As palavras :sempre, nunca e jamais geralmente estão associadas a exageros de

linguagem e trazem um caráter avaliativo às observações, fator que provoca reações defensivas.

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427

(ROSEMBERG, 2006) Segue abaixo alguns exemplos de observações com avaliações e

aquelas livres de julgamentos.

Comunicação Exemplo de observação

com avaliação associada

Exemplo de observação

isenta de avaliação

1. Usar o verbo ser sem

indicar que a pessoa

que avalia aceita a

responsabilidade pela

avaliação.

Você é generoso demais Quando vejo você dar

para os outros todo o

dinheiro do almoço, acho

que está sendo generoso

demais.

2. Usar verbos de

conotação avaliatória

João vive deixando as

coisas para depois.

João só estuda na véspera

das provas

3. Implicar que as

inferências de uma

pessoa sobre os

pensamentos,

sentimentos, intenções

ou desejos de outra são

as únicas possíveis.

O trabalho dela não será

aceito.

Acho que o trabalho dela

não será aceito. Ou: Ela

disse que o trabalho dela

não seria aceito.

Confundir previsão com

Certeza

Se você não fizer refeições

balanceadas, sua saúde

ficará

prejudicada

Se você não fizer refeições

balanceadas, temo que

sua saúde fique

prejudicada.

Não ser específico a

respeito das pessoas a

quem se refere

Os estrangeiros não

cuidam da própria casa.

Não vi aquela família

estrangeira

da outra rua

limpar a calçada

Usar palavras que

denotam habilidade

sem indicar que se está

Fazendo uma avaliação.

Zequinha é péssimo

jogador de futebol.

Em vinte partidas,

Zequinha não marcou

nenhum gol.

Usar advérbios e Carlos é feio. A aparência de Carlos não

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428

adjetivos de maneiras

que não indicam que

se está fazendo uma

avaliação.

me atrai.

Palavras generalistas Você raramente faz o que

eu quero.

Nas últimas três vezes em

que comecei

alguma atividade, você

disse que não

queria fazê-la.

Palavras generalistas Ele aparece aqui com

frequência.

Ele aparece aqui pelo

menos três vezes

por semana.

O autor evidencia que as comparações bloqueiam a compaixão, podendo ser tanto em

relação aos outro quanto a nós mesmos e também são uma forma de julgamento. Outro fator

que deve ser observado é o da negação de responsabilidade. A negação de responsabilidade

pessoal por nossos sentimentos e pensamentos fica evidente quando alguém diz “Você me faz

sentir culpado”, pois é atribuído ao outro a responsabilidade pelo estado de alguém.

ROSEMBERG aponta que “O que os outros fazem pode ser o estímulo para nossos sentimentos,

mas não a causa.” (2006, p.79) Quando a observação é feita sem a avaliação as generalizações

são desestimuladas, sendo feita de forma específica para um tempo e contexto bem

determinado.

O segundo componente fundamental da CNV é a expressão dos sentimentos e por detrás

de todo o sentimento há uma necessidade. Expressar-se de acordo com o que se sente de forma

fidedigna não é comum, pelo fato do ser humano não sentir-se a vontade expondo- se como

vulnerável quando exterioriza seus sentimentos. De acordo com a CNV, saber identificar e

nomear os sentimentos de forma clara e diferenciá-los de pensamentos, avaliações e

interpretações, facilita a conexão entre as pessoas, auxiliando na resolução de conflitos.

O terceiro item básico da CNV é reconhecer as necessidades que estão por trás dos

sentimentos, tantos os próprios como o dos outros. Quando alguém comunica-se de maneira

negativa, existem as opções para acolher essa mensagem: “1.culpar a nós mesmos; 2. Culpar os

outros; 3.perceber nossos próprios sentimentos e necessidades; 4. Perceber os sentimentos e

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necessidades escondidos por trás da mensagem negativa da outra pessoa.”

(ROSEMBERG,2006, p.95) Quanto mais diretamente conectarem-se os sentimentos às

necessidades humanas, haverá mais facilidade para o outro reagir compassivamente. O autor

frisa que para as mulheres torna-se ainda mais complicado a prática de percepção das

necessidades e os sentimentos ligados a elas, uma vez que são ensinadas socialmente a ignorar

as próprias necessidades a fim de dedicar cuidado aos demais. Através do desenvolvimento da

responsabilidade emocional, Marshall apresenta os três estágios comuns ao decorrer desse

processo:1. a "escravidão emocional" - acreditar que somos responsáveis pelos sentimentos

alheios; 2. o "estágio ranzinza" - no qual nos recusamos a admitir que nos importamos com os

sentimentos e necessidades de qualquer outra pessoa; 3. a "libertação emocional". A libertação

emocional consiste na total aceitação da responsabilidade pelos próprios sentimentos, sem

atribuí-los aos outros, na medida em que a responsabilização pelos sentimentos alheios é

eliminada. Não é necessário que o interlocutor conheça os conceitos da CNV, pois ao modificar

a maneira de comunicar implicará em uma reação também diferente.

O quarto componente da CNV é o pedido. O pedido é utilizado para atender as

necessidades próprias humanas e “enriquecer a vida” (p.103). O pedido constitui em “solicitar

ações e comportamentos que possam satisfazer as suas necessidades” (p.104), e para isso é

necessário que o pedido seja claro, especifico e afirmativo, visto que é bastante comum começar

um pedido com uma palavra ou frase negativa como “Não quero que você vá” e o “não”,

segundo o autor, bloqueia a dinâmica da escuta e outro não compreenderá a proposição do

pedido. Além de que se há dúvidas de que o interlocutor entendeu o pedido, existe a

possibilidade de perguntar a sua compreensão em relação ao que foi demandado.

A comunicação não violenta requer uma alfabetização em sentimentos em que objetiva

não mudar as pessoas a fim de que supram as necessidades alheias, e sim, gerar relações

honestas e empáticas que consequentemente poderão atender às necessidades dos envolvidos.

CONCLUSÕES

Ao final da presente reflexão aponta-se que os Círculo de Construção de paz e a

Comunicação não violenta são ferramentas estratégicas para a modificação de uma cultura

tradicional para uma cultura de paz, uma vez que promovem uma transformação do senso-

comum estabelecido pela cultura atual na medida em que fomentam e reconhecem o

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protagonismo humano, preconizando o senso de cooperação ao invés da competição, em que

desenvolve-se a horizontalidade do diálogo e desenvolvimento da auto-gestão de conflitos

A comunicação não violenta é uma alternativa pacífica de linguagem, além de ser um

processo que inspira conexões e ações compassivas, pois disponibiliza uma estrutura básica

para a abordar os problemas humanos, desde os relacionamentos mais íntimos até conflitos

políticos globais, evitando e também solucionando-os de maneira pacífica.

A comunicação não violenta concentra- se nos sentimentos e necessidades humanas ao

invés de padrões rotuladores que desumanizam e contribuem para o espraiamento da violência

contra si e contra os outros. Com a comunicação não violenta há uma capacitação das pessoas

para o diálogo criativo e consequentemente impacta nas relações sociais e que proporciona um

efeito de transformação da cultura tradicional para uma cultura de paz.

REFERÊNCIAS

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círculos de construção da paz para desenvolver a inteligência emocional, promover a cura

e construir relacionamentos saudáveis / Carolyn Boyes-Watson, Kay Pranis; tradução:

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Departamento de Artes Gráficas], c2011]

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de mediação. Ensaio: aval.pol.públ.Educ. Rio de Janeiro, v. 15, n. 54, p. 11-28, Mar. 2007 .

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GUIMARÃES, Marcelo Rezende. Educação para a Paz: Sentidos e Dilemas. Educs, 2005.

FURTADO, Flávia Vasato. Círculo de construção da paz como alternativa de prevenção

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MARIOTTI, Humberto. Diálogo: a competência do conviver em Cultura de paz em ação.

Balanço da Década Internacional da Promoção da Cultura de Paz e Não Violência em

Benefício das Crianças do Mundo. Brasília, 2010.

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MINAYO, Maria Cecília de Souza. Pesquisa Social Teoria, método e criatividade.

Petrópolis, RJ, Vozes, 1994. SORIANO, Raúl Rojas. Manual de pesquisa social. Petrópolis,

RJ: Vozes, 2004.

PRANIS, Kay. Processos circulares. SP: Palas Athena, 2010.

ROSENBERG, Marshall B. Comunicação Não- Violenta violenta: técnicas para aprimorar

relacionamentos pessoais e profissionais I Marshall B. Rosenberg; [tradução Mário Vilela]. -

São Paulo: Ágora, 2006.

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EDUCAÇÃO AMBIENTAL: CRIANDO ANIMAÇÕES DO POWTOON NOS ANOS

INICIAIS DO ENSINO FUNDAMENTAL

Ricardo Goulart Caporal Filho8

Maicon Quevedo Fontela9

Ariane Ferreira Caporal10

RESUMO: O presente trabalho constitui uma proposta didática de criação e utilização de

vídeos animados como ferramenta auxiliar educacional. As criações das animações foram feitas

através do software PowToon, realizada na oficina de Educação Ambiental, pelos alunos dos

quintos anos na Escola Municipal de Ensino Fundamental Sagrado Coração de Jesus em São

Borja/RS. Essa prática elaborada possui o objetivo de inserir uma metodologia de ensino

significativa do ponto de vista do aluno. Inicialmente os alunos conheceram o programa

PowToon como ferramenta de criação on-line de animações de curta duração, a seguir, os

alunos pesquisaram e produziram as animações dos fenômenos estudados, compreendendo

sobre o ciclo da água, por fim elencaram dicas de redução e consumo consciente desse recurso

natural. Portanto, o trabalho pedagógico se mostra significativo quando o educador se apropria

das ferramentas digitais existentes para criar algo que traga benefícios para a sociedade. Nesse

caso, o PowToon é uma ferramenta para expor o conteúdo de uma forma mais atraente para o

aluno. Pois, além de ser algo incomum nas salas de aula, o uso de vídeos como organizador

prévio dos conteúdos é uma forma de tornar a aula mais dinâmica e interativa. Segundo a Teoria

da Aprendizagem Significativa proposta por Ausubel (1978) em sua obra Educational

psychology: a cognitive view, quando apresentamos um organizador prévio, esse serve de ponte

entre o que o aluno já sabe e o que ele deve saber, a fim de que o material que o professor

pretende ensinar possa ser aprendido de forma significativa, ou seja, os organizadores prévios

são uteis para facilitar a aprendizagem na medida em que funcionam como “pontes cognitivas”.

Enfim, após essa aplicação, observamos que a metodologia se apresenta como uma alternativa

viável de estudo e produção de mídias pelos alunos, o qual possibilita aporte significativo ao

processo de ensino-aprendizagem nas séries iniciais.

Palavras-Chaves: Mídia Educacional, PowToon, Aprendizagem Significativa, Educação

Ambiental, Anos Iniciais.

8Professor Municipal de Ciências; São Borja, RS; [email protected]; 9Estudante do 6o semestre de licenciatura em Matemática; Bolsista do PIBID; Instituto Federal Farroupilha; São

Borja, RS; [email protected]; 10Mestranda do Programa de Pós-Graduação em Letras; Universidade de Passo Fundo; Passo Fundo. RS;

[email protected].

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433

INTRODUÇÃO

O presente trabalho constitui o desenvolvimento e a aplicação de proposta didática com

a criação e a utilização de vídeos animados como ferramenta auxiliar educacional nos Anos

Finais do Ensino Fundamental. A criação das animações foi feita através do programa

PowToon, realizada pelos alunos dos quintos anos da Escola Municipal de Ensino Fundamental

Sagrado Coração de Jesus em São Borja/RS em uma oficina de Educação Ambiental.

O PowToon é uma ferramenta de criação de vídeos animados on-line que possui a opção

de conta gratuita desde 2012, podendo ser salvos e exportados para o YouTube. Porém, devido

ao fato de ser um programa recente, existe apenas a versão em inglês disponível, sendo

necessária uma noção básica de língua inglesa para manipular as funções das ferramentas do

software.

A essência do processo de Aprendizagem Significativa proposto por Ausubel (1978) são

as ideias, simbolicamente expressas, ainda que sejam relacionadas de maneira substantiva (não-

literal) e não arbitrária com o que o aluno já sabe, ou seja, a algum aspecto de sua estrutura

cognitiva especificamente relevante para a aprendizagem dessas ideias. Para facilitar a

aprendizagem significativa, recomenda-se o uso de organizadores prévios, que são materiais a

serem propostos antes da utilização do material de aprendizagem propriamente dito, servindo

de ponte entre o conhecimento prévio e os assuntos que se pretende ensinar.

Segundo Ausubel (1978, p.41), ao apresentarmos um organizador prévio, esse serve de

ponte entre o que o aluno já sabe e o que ele deve saber, a fim de que o material que o professor

pretende ensinar possa ser aprendido de forma significativa, ou seja, os organizadores prévios

são uteis para facilitar a aprendizagem na medida em que funcionam como “pontes cognitivas”.

Nessa abordagem, o PowToon é uma ferramenta que pode ser utilizada para fins didáticos por

exibir o conteúdo de uma forma mais atraente para os alunos dos Anos Finais do Ensino

Fundamental. Pois, além de ser algo viável nas salas de aula, o uso de vídeos animados

(desenhos) como organizador prévio dos conteúdos é uma maneira de tornar a aula mais

dinâmica e atrativa para as crianças.

Para Ausubel (1978, p.41) o material deve ser potencialmente significativo, do ponto de

vista do aluno, e o aprendiz deve manifestar disposição para que ocorra a aprendizagem. Pois,

uma nova informação precisa ser relacionada com algo que o indivíduo já sabe, sendo assim, o

organizador prévio utiliza certos materiais que são introdutórios, antes de se aplicar o conteúdo

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434

a ser aprendido. Do mesmo modo o vídeo se encaixa como um dispositivo de aprendizagem,

pois prepara no aluno uma noção do que vai ser apresentado em aula e resulta facilitando o seu

estudo. Desse modo, esperamos contribuir com essa metodologia diretamente relacionada ao

cognitivismo do aluno, organizada como alternativa de estudo e produção de material de

divulgação, a fim de possibilitar aporte significativo ao processo de ensino-aprendizagem.

De acordo com Gouveia (2003, p. 257) as novas tecnologias digitais instaladas na

sociedade provocaram profundas mudanças no campo social e individual, visto que

influenciaram drasticamente a vida humana, o tempo e o espaço. Desse modo, observamos que

provocaram uma urgente mudança metodológica e conceitual do espaço de aquisição do

conhecimento pela sociedade, inclusive no papel desempenhado pelo professor. Resultando em

uma pressão que acomete aos professores para a utilização do computador como recurso

educacional na sala de aula face as diversas contribuições que impacta no processo de ensino

aprendizagem significativamente (MORAES, 1998, p.13).

O advento das tecnologias digitais surgiu como uma ferramenta, uma opção de

facilidade na realização de tarefas. Mas o que iniciou como uma possibilidade de aplicação

didática logo se transformou em uma necessidade de inserção na sala de aula, visto que já existe

na sociedade, sendo assim, a escola precisa acompanhar e estar inserida na sociedade.

De acordo com Alonso (1998, p. 88) a escola ainda se encontra despreparada para suprir

essa necessidade de adotar tecnologias digitais no processo de ensino aprendizagem. O autor

constata que há uma “defasagem do sistema escolar em relação aos demais setores da vida

social” e risco de tamanha defasagem provoca no estudante a nítida disfunção entre o conteúdo

escolar e o que vivenciam como cidadão nos diferentes cenários da sociedade. Tal cenário,

dificulta o progresso na aprendizagem dos alunos, pois torna a escola menos atraente.

Desse modo, dentro da sala de aula o aluno não encontra total acesso à informação, a

qual já possui em casa por meio de celulares, tablets e computadores. Tal condição demanda

que a escola concentre mais atenção nesse aspecto, relacionando as práticas pedagógicas ao

interesse dos estudantes.

Por sua vez, a tradicional aprendizagem mecânica de memorização contrasta com a

aprendizagem significativa, pois envolve novas informações com pouca, ou nenhuma, interação

com conceitos relevantes existentes na estrutura cognitiva. Nela não há interação entre a nova

informação e aquela já armazenada. Enquanto que o uso de organizadores prévios, faz a

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conexão entre os conhecimentos anteriores do aluno com o assunto o qual o professor se propõe

ensinar.

Entendemos a necessidade de transformar as práticas pedagógicas tradicionais nas

escolas, evidenciamos que o papel do professor é imprescindível e insubstituível no processo

de mudança social (DELICOIZOV, ANGOTTI, & PERNANBUCO, 2009, p.12), pois são os

profissionais essenciais no processo de mudança do ensino, contribuem com seus saberes, seus

valores, suas experiências nessa complexa tarefa de melhorar a qualidade do ensino.

Assim, a presente proposta de ensino possui o objetivo de introduzir uma prática

pedagógica de ensino significativa, do ponto de vista do aluno, através do uso de tecnologias

digitais (com produção de vídeos) e contribuir com a melhoria do processo de aquisição de

conhecimentos pelos estudantes.

METODOLOGIA

Inicialmente os alunos conheceram o programa PowToon como ferramenta de criação on-

line de animações de curta duração, a seguir, os alunos pesquisaram e produziram as animações

dos fenômenos estudados, compreendendo sobre o ciclo da água, por fim elencaram dicas de

redução e consumo consciente desse recurso natural.

As tecnologias de livre acesso (denominados softwares de código aberto) e sua

possibilidade de contribuição pedagógica no processo de ensino-aprendizagem constituem essa

proposta didática. Sendo realizado em três etapas, com duração de uma hora cada aula, em

quatro turmas do quinto ano dos anos iniciais do Ensino Fundamental na Escola Municipal de

Ensino Fundamental Sagrado Coração de Jesus no município de São Borja/RS:

Etapa A: Inicialmente foi exibida a proposta da oficina aos alunos participantes. Em

seguida aplicamos um questionário Google de forma individual sobre o perfil dos participantes

(Turma, idade, conhecimento ambiental e interesse tecnológico). Por fim foi apresentado

software PowToon (https://www.powtoon.com/home/), que possibilita a criação on-line de

vídeos animados de curta duração. Assim, permite aos usuários criarem apresentações animadas

com a manipulação de objetos pré-criados (imagens importadas, música e até narrações do

usuário). Após a criação do vídeo o PowToon gera um arquivo XML que pode ser reproduzido

no visualizador online PowToon ou exportado para o canal YouTube (na modalidade gratuita

do programa), funcionando nas plataformas Windows e Linux, com a necessidade de conexão

com a internet e não necessita de instalação no computador.

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FIGURA 1: Tela do computador mostrando o programa on line Powtoon.

Fonte: Disponível em <https://www.powtoon.com/home/>.

Segundo Lévy (1996, p. 41) não devemos tratar as Tecnologias Digitais apenas como

recursos, artefatos, ferramentas, entre outros, mas como incorporadas ao mundo humano. Visto

que, estamos conectados o tempo todo, por computadores, notebooks, celulares, tablets, etc. As

Tecnologias da Informação e da Comunicação fazem parte de nossa vida, como itens essenciais

para a manutenção de uma sociedade civilizada e globalizada. O computador é, portanto, antes

de tudo um potencializador da informação de contribuições significativas ao processo de

ensino-aprendizagem.

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Etapa B: Na segunda aula os alunos participantes realizaram uma pesquisa sobre o ciclo da

água, listando dez dicas de redução e consumo consciente desse recurso natural. Ainda

pesquisaram imagens e sons na internet utilizados na organização de um roteiro (Storyboard),

o qual permite visualizar o planejamento do projeto a ser executado.

Etapa C: Na terceira aula os alunos realizaram a criação das animações de acordo com a feita

anteriormente pesquisa e seguindo o roteiro organizado. Após a conclusão do vídeo animado

cada uma das quatro turmas publicou o mesmo no canal Youtube. Por fim, aplicamos um

questionário Google de forma individual sobre a oficina aos participantes (Interesse por

Animações, Criação da Storyboard e conhecimento tecnológico).

RESULTADO E DISCUSSÃO

A análise dos resultados obtidos nessa pesquisa realizada em quatro turmas do quinto

ano dos anos iniciais do Ensino Fundamental observou as respostas dos questionários Google

e os vídeos animados criados pelos alunos.

Na análise do questionário individual (Figura 2) sobre o perfil dos participantes,

observamos as respostas da pergunta número três sobre a idade dos alunos participantes, a qual

evidenciou uma proporção de 79,4% com dez anos de idade, 17,6% com onze anos de idade e

3% com 12 anos de idade.

FIGURA 2: Questionário inicial do perfil dos participantes. Gráfico da resposta número três

sobre a idade dos alunos participantes da oficina de educação Ambiental.

Fonte: a pesquisa, 2016.

3%

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Na análise da pergunta número um do questionário individual sobre o uso de novas

tecnologias (Figura 3), ao serem questionados do seu Interesse por Animações, observamos

uma porcentagem de 100% afirmativo nas respostas dos alunos participantes.

FIGURA 3: Questionário final sobre o uso de novas tecnologias na educação Ambiental.

Gráfico da resposta número um dos alunos sobre o seu interesse em vídeos animados.

Fonte: a pesquisa, 2016.

Na análise da pergunta número dois do questionário individual a cerca do uso de novas

tecnologias (Figura 4), questionamos sobre o seu êxito na criação da Storyboard, onde

encontramos uma porcentagem de 66,7% afirmativo e 33,3% negativo nas respostas dos alunos

participantes.

FIGURA 4: Questionário final sobre o uso de novas tecnologias na Educação Ambiental.

Gráfico da resposta número dois dos alunos sobre o êxito na criação da Storyboard.

Fonte: a pesquisa, 2016.

Os vídeos animados foram criados pelos alunos na oficina de Educação Ambiental nas

quatro turmas do quinto ano dos anos iniciais do Ensino Fundamental (Figuras 5 a 8) e

caracterizam-se como Mídia educacional. Encontram-se disponíveis no canal Youtube e podem

ser acessados por outros estudantes interessados no assunto.

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FIGURA 5: Imagem inicial do vídeo animado criado pela turma do quinto ano A na oficina.

Fonte: Disponível em <https://goo.gl/yzxvz3>.

FIGURA 6: Imagem inicial do vídeo animado criado pela turma do quinto ano B na oficina.

Fonte: Disponível em <https://goo.gl/ccrmft>.

FIGURA 7: Imagem inicial do vídeo animado criado pela turma do quinto ano C na oficina.

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Fonte: Disponível em <https://goo.gl/Wu2rqb>.

FIGURA 8: Imagem inicial do vídeo animado criado pela turma do quinto ano D na oficina.

Fonte: Disponível em <https://goo.gl/lrbPyJ>.

Por sua vez, a aprendizagem significativa envolvendo novas tecnologias permite uma

nova forma de interação com as informações, com aquisição de conceitos relevantes e o

desenvolvimento de novas habilidade e competências na estrutura cognitiva dos alunos.

Desse modo, percebemos que a internet possibilita um leque de informações que podem

contribuir no planejamento das aulas pelo professor.

Assim sendo, as ferramentas digitais disponíveis na Internet necessitam serem

conhecidas pelos professores, para Tajra (2000, p. 114), tais ferramentas tecnológicas fornecem

aos alunos oportunidades animadoras para acessar e interpretar o mundo ao redor deles. De

acordo com Borges (2000, p. 28) o conhecimento recorrente na rede on-line possibilita o ensino

de forma dinâmica, interativa e multimídia, pois amplia as potencialidades humanas, criando

novas relações, novos conhecimentos, novas maneiras de aprender e de pensar.

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No desafio de educar na sociedade contemporânea com seus avanços tecnológicos, de

rápidas transformações, tal configuração moderna do mundo virtual incide fortemente sobre a

escola. Porém, o professor não precisa competir por atenção com os computadores, tablets,

celulares, notebooks, ou demais dispositivos eletrônicos, mas se apropriar desses recursos

disponíveis e, desta maneira, estimular o interesse e a participação da turma nas tarefas

propostas. Segundo Tajra (2000, P.114) os estudantes gostam de novidades, de tecnologia e da

iniciação à pesquisa científica, sendo estas atividades aceitas pelos participantes facilmente.

Segundo Srivastava (2005) o telefone celular se apresenta, atualmente, como uma

ferramenta difundida, de modo que se tornou um aspecto tão importante na vida diária do

usuário que passou de ser um mero "objeto tecnológico" para um "objeto social" chave. Para

Caporal Filho (2017, p. 67) a proximidade e interesse dos alunos nessa geração de jovens no

aparelho celular se destacaram, superando o aparelho de televisão, o computador pessoal (PC)

e os games, na comparação com o aparelho celular. O qual possibilita ao estudante na tela do

computador criar, visualizar e interagir por meio de animações virtuais sobre diferentes temas,

nessa proposta serão relativos a preservação ambiental.

Para Lima et al (2012, p.4), é possível utilizar ferramentas de vídeo para que o conteúdo

seja assimilado pelos alunos nas instituições de ensino, sendo uma estratégia integra da

exposição de conteúdo e de fácil assimilação do mesmo, associando estes elementos com

estímulos visual e auditivo exigindo uma maior concentração dos alunos. A fim de transmitir o

conteúdo, e evitar o desinteresse do aluno ao método tradicional de ensino (leitura e escrita).

CONCLUSÕES

Na intencionalidade de contribuir com o processo educacional essa pesquisa respondeu

ao questionamento e indicou a viabilidade da criação e utilização de vídeos animados no

processo de ensino-aprendizagem.

Os dados obtidos permitiram avaliar a possibilidade de aplicação e desenvolvimento

dessa técnica com alunos a partir dos dez anos de idade (Conforme Figura 2). Destacamos o

interesse em vídeos animados de 100% dos participantes (Figura 3), ainda registramos o êxito

na criação das Storyboards (Figura 4), na finalização das animações e exportação para o canal

YouTube, na qual as quatro turmas participantes concluíram satisfatoriamente (Quintos Anos

A, B, C e D).

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O poder do professor foi consumido pela internet, perdeu o seu monopólio intelectual e

não fascina mais com seus discursos expositivos. Além disso, acessando via rede mundial de

computadores, por meio de tablets, smartphones, notebooks, ou demais dispositivos eletrônicos

que surgem diariamente, o aluno pode pesquisar e sanar parte de suas dúvidas sem a necessidade

do professor.

Desse modo, para que ocorra uma Aprendizagem Significativa deve acontecer uma

inserção de tecnologias relacionadas a internet e canais de vídeos no youtube. Visto que, aulas

meramente expositivas não fascinam mais, no entanto, o professor não precisa competir por

atenção com os computadores, tablets, smartphones, notebooks, ou demais dispositivos

eletrônicos, mas utilizar desses recursos disponíveis para o aluno pesquisar e estimular o

interesse da turma.

Espera-se que a combinação das formações continuadas aliadas a capacitação no uso de

tecnologias computacionais venham colaborar com a melhoria do ensino. Permitindo a

reciclagem dos professores ao repensar a educação por meios alternativos à aprendizagem

mecânica tradicional, incentivando a capacidade de aprender de maneira ativa e tecnológica,

desligando-se do modelo de ensino voltado à memorização, à exposição verbal e ao quadro-

negro e ao giz. Permitindo a reciclagem dos professores ao repensar a educação por meios

alternativos à aprendizagem mecânica tradicional, incentivando a capacidade de aprender de

maneira ativa e tecnológica, desligando-se do modelo de ensino voltado à memorização, à

exposição verbal e ao quadro-negro e ao giz (ROSA & ROSA, 2014, p.12). Nas práticas

construtivistas devemos deixar espaço extra e possibilitar a descoberta na construção de seus

conhecimentos pelo estudante. Nessa proposta o uso de recursos digitais de acesso livre, assume

uma metodologia dialógica de aquisição de conhecimentos.

Nessa oficina investigamos a habilidade dos alunos ao criarem vídeos animados sobre

o ciclo da água com dicas de redução e consumo consciente desse recurso natural. Essa pesquisa

buscou responder ao questionamento da viabilidade de criação e utilização de vídeos animados

no processo de ensino-aprendizagem com os alunos do quinto ano dos anos iniciais do Ensino

Fundamental. Desenvolvemos na Escola Municipal de Ensino Fundamental Sagrado Coração

de Jesus no município de São Borja/RS, na busca de uma alternativa de estudo e produção de

material informativo.

Para Ausubel (1978, p.41) o material deve ser potencialmente significativo, do ponto de

vista do aluno, e o aprendiz deve manifestar disposição para que ocorra a aprendizagem. Como

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443

estratégia de investigação foi utilizado o programa PowToon, a fim de possibilitar aos alunos

criarem no computador novas animações dos conteúdos estudados. Visto que a dificuldade de

aprendizagem dos alunos sofre as perturbações de práticas docentes do tipo tradicional, nas

quais constatamos o professor protagonista do processo, enquanto o aluno adquire

posicionamento passivo.

Além disso, a aprendizagem mecânica (tradicional) envolve novas informações com

pouca, ou nenhuma, interação com conceitos relevantes existentes na estrutura cognitiva do

aluno e contrasta com a Aprendizagem Significativa de Ausubel (1978), que propõe

organizadores prévios na interação entre a nova informação e aquela já armazenada. Esse uso

de organizadores prévios procura fazer a conexão entre os conhecimentos anteriores do aluno

com o assunto o qual o professor se propõe ensinar.

A virtualização do conhecimento como consequência da internet se configura como

abstração da realidade, sendo observada de forma dinâmica interativa e multimídia. Pois,

segundo Borges (2000, p. 28), quando são utilizados permitem um processo de interpretação,

de interligação, de complementaridade, promovendo um ato de criação e invenção. Nesse uso

da virtualização, cada vez mais presente no nosso cotidiano, são ampliadas as potencialidades

humanas, pois criamos novas relações, adquirimos novos conhecimentos e desenvolvemos

novas maneiras de aprender e pensar.

Enfim, após essa aplicação, observamos que a metodologia se apresenta como uma

alternativa viável de estudo e produção de mídias pelos alunos, o qual possibilita aporte

significativo ao processo de ensino-aprendizagem nas séries iniciais.

Ao repensar a própria prática pedagógica, almejando uma real efetivação, se fazem

necessárias novas habilidades nos professores. As quais podem ser procuradas nas formações

continuadas, oferecendo os requisitos básicos para a inserção de novas tecnologias na sala de

aula. Consideramos que a ampliação dos conhecimentos de informática seja necessária para o

professor se apoderar das tecnologias como suporte pedagógico, adquirindo os conhecimentos

básicos, para posterior desenvolvimento das ferramentas tecnológicas na sua prática com os

alunos.

Portanto, no ensino das disciplinas com os conteúdos de difícil compreensão,

recomendamos o uso do software PowToon a fim de facilitar a sua compreensão e estimular o

interesse dos alunos sobre o conteúdo. Com o desenvolvimento dessa pesquisa pretendemos

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444

que o produto educacional possa contribuir de forma expressiva no processo de ensino-

aprendizagem. Neste contexto, ainda buscamos incentivar o uso de tecnologias computacionais

na melhoria do ensino, e dessa forma, permitir aos professores repensarem a educação por

meios alternativos.

REFERÊNCIAS

ALONSO, Angel San Martin. O método e as decisões sobre os meios didáticos. In: SANCHO,

Juana M (org.). Para uma tecnologia educacional. Porto Alegre: Artmed, 1998.

AUSUBEL, D.P.: NOVAK, J.D. & HANESIAN, H. Educational psychology: a cognitive

view.(2ª ed) Nova York, Holt, Rinehart and Winston, 1978.

BORGES, Maria Alice Guimarães. A compreensão da sociedade da informação. Disponível

em <http://goo.gl/vvLgzN> Acesso em 30 jun. 2015.

CAPORAL FILHO, R. G. Potencialidades e limitações do enfoque Ciência, Tecnologia e

Sociedade no ensino de eletricidade nos Anos Finais do Ensino Fundamental. Passo fundo:

UPF, Dissertação de Mestrado, Universidade de Passo Fundo, 2017.

DELICOIZOV, Demétrio; ANGOTTI, J. A. & PERNANBUCO, M.M. Ensino de Ciências:

Fundamentos e Métodos. São Paulo: Cortez, 2009.

GOUVEIA, L. B. Cidades e Regiões Digitais: impacte nas cidades e nas pessoas. Lisboa:

Edições Universidade Fernando Pessoa, 2003.

LÉVY, P. O Que é Virtual?. São Paulo: Editora 34, 1996.

LIMA, E. C. A. et al. A importância da utilização de vídeos didáticos em Educação

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http://propi.ifto.edu.br/ocs/index.php/connepi/vii/paper/viewFile/4848/2785 >. Acesso em 10

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MORAES, M. C. Novas Tendências para o Uso das Tecnologias da Informação na

Educação. Brasília: MEC, 1998.

Site oficial do PowToon. Disponível em <https://www.powtoon.com/home/>. Acesso em 18

mai. 2017.

SRIVASTAVA, L. Mobile phones and the evolution of social behaviour. Volume 24, Number

2. Londres:Taylor and Francis ltd, 2005. p. 112-129.

TAJRA, S. F. Informática na Educação: novas ferramentas para o professor da atualidade.

2ª ed. São Paulo: Érica, 2000.

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DEMOCRATIZANDO A INFORMAÇÃO: EXPRESSÕES DA QUESTÃO SOCIAL

NA PAUTA DA RÁDIO UNIVERSIDADE 800 AM 11

Zaida Castro de Siqueira12,

Eliana Mourgues Cogoy13,

Jean Corrêa dos Santos14

RESUMO: O Núcleo de Estudo, Pesquisa e Extensão em Serviço Social, Mídia, Cultura e

Questão Social (NEPMQS) do Departamento de Serviço Social - UFSM possui como uma das

suas atividades principais, a coordenação do programa radiofônico ‘Social em Questão’,

desenvolvido junto à Radio Universidade 800AM. Trata-se de um projeto de extensão originado

para a valorização das atividades de graduação em Serviço Social, fomentando a

interdisciplinaridade e também democratizando os núcleos de estudo, pesquisa e extensão deste

curso na Universidade Federal de Santa Maria (UFSM). Diante da diversidade de assuntos e da

compreensão da transversalidade dos temas, o Social em Questão se consolidou por um

universo de possibilidades que prezam pela cidadania, a garantia de direitos e o acesso à

informação voltada para a sociedade como um todo. O projeto desenvolve-se por meio de

entrevistas com um público diversificado, que busca ir além do ambiente acadêmico e

utilizando-se, também, das redes sociais para promover informações. As pautas abordam as

diferentes expressões da questão social e temas cotidianos. Compreendendo a importância da

democratização das mídias e o seu papel na sociedade, considera-se extremamente favorável os

ganhos que o projeto tem apresentado até o momento, tanto no âmbito acadêmico, como no

papel de cumprir uma função social da universidade, ultrapassando esses limites. Trabalhar a

interdisciplinaridade, impulsionando a democratização da comunicação e o seu acesso de forma

ampla, são objetivos desse projeto de extensão enquanto programa radiofônico. Dentre os

desafios e possibilidades do uso das mídias, o rádio é um dos meios de comunicação de grande

acesso, de mobilização de massas, o mais antigo e o que pode ser “levado” consigo. Através

dele é possível aproximar-se do projeto de democratização da comunicação, de forma a sair do

grande nicho de mídias dominado por uma pequena parcela da sociedade que detém o poder da

informação.

11 Trabalho executado com recursos do Edital Fundo de Incentivo à Extensão (FIEX) da Pró Reitoria de Extensão

(PRE) da Universidade Federal de Santa Maria - UFSM. 12 Pesquisadora e acadêmica do Curso de Serviço Social da Universidade Federal de Santa Maria, Bolsista FIEX

no Núcleo de Estudos, Pesquisa e Extensão em Serviço Social, Mídia, Cultura e Questão Social (NEPMQS), Santa

Maria - RS, e-mail: [email protected] 13 Pesquisadora, mestre e docente do Curso de Serviço Social da Universidade Federal de Santa Maria, Santa Maria

– RS, e-mail: [email protected] 14 Pesquisador e acadêmico do Curso de Serviço Social da Universidade Federal de Santa Maria, Bolsista PRAE

no Núcleo de Estudos, Pesquisa e Extensão em Serviço Social, Mídia, Cultura e Questão Social (NEPMQS), Santa

Maria - RS, e-mail: [email protected]

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Palavras-Chaves: Serviço Social, Mídia, Rádio, Interdisciplinaridade, Comunicação.

INTRODUÇÃO

O presente artigo consiste em um projeto de extensão integrante do Núcleo de Estudos,

Pesquisa e Extensão em Serviço Social, Mídia, Cultura e Questão Social (NEPMQS) vinculado

ao Departamento de Serviço Social da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM).

Denominado “Serviço Social e mídia: novas possibilidades através da interlocução na rádio

universidade”, trata-se de um programa radiofônico em parceria com a rádio Universidade

800AM da UFSM, e já está consolidado estando no ar pelo seu terceiro ano consecutivo, sendo

transmitido semanalmente, as segundas feiras, as 13h10, horário de Brasília. Ultrapassando

limites e nos desafiando cotidianamente na busca por uma participação mais popular, confiamos

na importância do Social em Questão como ferramenta de informação e extensão dos saberes

[...] a mídia é o espelho que reflete o real, o imaginário e o simbólico social, estes

padrões de comportamento logo passam a ser considerados pela massa como uma via

alternativa para a conquista de voz e vez no discurso social. (ATAÍDE, 2000, p. 12).

O Social em Questão tem o objetivo de transmitir informação de qualidade e priorizar

assuntos de cunho valorativo ao dia a dia e que fomentem as relações e emancipação dos

sujeitos de direito. Visa ir ao encontro da valorização da extensão universitária, não deixando

de fortalecer essa via de duas mãos, onde a Universidade transmite conhecimento à comunidade

e também aprende com o saber dessa comunidade, materializando essa troca na gravação dos

programas.

Entendendo o poder do rádio, como difusor de comunicação e informação a longo

alcance, buscou-se a construção do programa inicialmente para abarcar questões referentes a

demanda de visibilidade do curso de Serviço Social da UFSM e dos seus núcleos de estudos,

pesquisa e extensão. Com o passar do tempo compreendeu-se a importância de discutir e

fomentar a informação acerca das expressões da questão social, objeto de trabalho do/a

profissional Assistente Social. Nisso, justifica-se que, pela contínua construção e luta, deve-se

caminhar rumo a democratizando da informação em diversos meios. Através do rádio e da

extensão, faz-se essa trajetória que busca a aproximação da comunidade externa da academia

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e, assim, contribui-se para a o papel social da Universidade nessa comunidade. A leitura de

democratização da informação vai além de transmitir, ela está transversalmente relacionada

com informação de qualidade e com conteúdo que vá ao encontro das demandas da sociedade

e do público ouvinte.

METODOLOGIA

A metodologia do programa consiste na produção, edição e divulgação das entrevistas

na mídia, sendo elas rádio e internet. O Social em Questão é gravado em dois blocos de

aproximadamente vinte minutos cada, a construção da pauta é desenvolvida em conjunto com

as/os convidadas/os. A pauta de cada programa é oriunda de temas próximos ao Serviço Social

e a classe trabalhadora, tais como assistência social, saúde, comunicação, educação,

movimentos sociais, cultura, acessibilidade, controle social, violência, gênero, políticas sociais,

gerontologia, eventos acadêmicos e eventos da comunidade, temas que envolvam a população

em situação de rua, divulgação de pesquisas e trabalhos para a sociedade, dentre outras.

O projeto dispõe-se a fomentar e promover um espaço de informações que serão úteis a

sociedade, como uma estratégia democrática, que permita debater os direitos, como a defesa

central da liberdade, para alcançar a cidadania plena. O Serviço Social nesse espaço

interdisciplinar com a comunicação, vem ao encontro de desenvolver habilidades e atuar num

mercado que está em constante transformação. O projeto de extensão radiofônico programa

Social em Questão, cumpre o papel social de levar o conhecimento para além da universidade,

fazendo uma conexão com a sociedade não acadêmica e transpondo barreiras e estigmas

relativos a produção de conhecimento apenas para o ambiente acadêmico.

O programa está no terceiro ano de atividades consecutivas, consolidando-se como

projeto de extensão tanto com o público, como com a proposta de transmitir informação de

qualidade e valor para o cotidiano. Com temas atuais, perpassando a totalidade do Serviço

Social e demais demandas diárias, o programa aproxima-se do seu público pedindo sugestões

de pautas e fazendo a troca de ideias nas mídias de divulgação. Na página do facebook são

divulgados os programas que irão ao ar e os que já foram transmitidos. Na radiotube15, uma

plataforma online que abriga audições de programas radiofônicos de todo o Brasil, ficam

hospedados para acesso ilimitado, e possibilidade de download em formato mp3, os programas

15 A radiotube consiste numa plataforma online que abriga audições de programas radiofônicos de todo o Brasil,

as gravações ficam hospedadas para acesso ilimitado e download dos programas já veiculados.

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já veiculados. Esse é um meio de produzir conteúdo e de fato proporcionar acesso amplo,

inclusive para aqueles e aquelas que não tiveram a oportunidade de acompanhar a transmissão

na Rádio Universidade e interessam-se pelas pautas. Considerando a importância da

comunicação popular, o programa se desenvolve através de entrevistas com a comunidade não

acadêmica, fomentando o pertencimento no espaço e com pessoas que venham a agregar

conhecimento valorativo para a vida dos e das ouvintes. Vale ressaltar que essa emissora

caracteriza-se como pública e vem destacando-se com sua finalidade educativa e cultural e que

tem alcance em mais de 150 municípios, correspondendo a quase toda a região central e

fronteira oeste do Rio Grande do Sul. Dessa forma, o Social em Questão não só ultrapassa os

limites geográficos da Universidade Federal de Santa Maria, como também ultrapassa os limites

municipais, levando cultura, informação e conhecimento para um público de diversas idades e

recortes socioeconômicos, alicerçando seu papel de projeto de extensão.

RESULTADO E DISCUSSÃO

Através da interdisciplinaridade, o Serviço Social, enquanto formação e trabalho é

chamado para incluir-se no debate da mídia, trazendo o viés de uma profissão crítica, reflexiva,

realizando um contraponto com a realidade posta pela mídia hegemônica, entendida aqui como

mídia dominante. E é nesse processo que o Social em Questão desenvolve seus programas, se

colocando como ferramenta na defesa da democratização da informação e da comunicação

social.

Refletir sobre o processo de comunicação no exercício profissional do assistente

social deve, portanto, se construir num ponto importante de análise e de intervenção

junto às diversas expressões da questão social [...] (ESPÍNDOLA; 2011, p. 228)

Para além de colocar a profissão diante dos meios de comunicação, é importante chamar

a população para construir estes espaços de maneira democrática, compreendendo seu papel na

sociedade, no âmbito do controle social, na construção de políticas públicas e sociais e se

colocando como atores e atrizes fundamentais no processo de construção de uma sociedade

mais justa e igualitária.

A comunicação deve ser compreendida não como um território e um único setor em

uma instituição. Ela deve ser realizada por todos que integram a área pública, de

maneira autônoma e descentralizada e de acordo com suas características e

necessidades. (FIGUEIREDO, 2009, p. 328)

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Nas palavras de Figueiredo (2009), a comunicação transcende os espaços e deve ser

explorada por todas as áreas do conhecimento. Sendo ela utilizada pelo Serviço Social, serve

como ferramenta de trabalho do fazer profissional direto com os/as usuários/as ou, como no

Programa Social em Questão, de maneira indireta levando informação de qualidade.

Gráfico 01: Perfil das/os convidadas/os no 1º semestre de 2017.

Fonte: sistematização dos/as autores/as (2017).

No Gráfico 01 temos o levantamento de dados referente ao perfil dos/as convidados/as

para as gravações no primeiro semestre de 2017. Dentre as 52 pessoas convidadas desse

período, temos 06 professores/as, 12 estudantes, 13 profissionais da área de Serviço Social e 21

pessoas classificadas como sociedade civil. Por sociedade civil somou-se todas as pessoas

convidadas e que não estão ligadas ao meio acadêmico, tais como: vinculadas a movimentos

sociais, grupos ativistas, profissionais de outras áreas do conhecimento, pessoas em situação de

população de rua e demais ações que estejam relacionadas às temáticas do NEPMQS, que são

Serviço Social, Mídia, Cultura e Questão Social.

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Gráfico 02: Curtidas na página do facebook no 1º semestre de 2017

Fonte: sistematização dos/as autores/as (2017).

Em relação às mídias de divulgação e replicação de conteúdo, temos dados da página

no facebook intitulada Programa Social em Questão que mostra um crescimento nas suas

curtidas, como exposto no Gráfico 02 que faz um levantamento do primeiro semestre do ano

corrente, de 510 em janeiro de 2017 para 641 curtidas em julho de 2017. Nenhuma das

publicações da página foram patrocinadas, todas as curtidas e seguidores são resultados de

post’s orgânicos, ou seja, sem patrocínio e com conteúdo de criação oriundo dos e das

integrantes do NEPMQS. Outra forma de avaliação do alcance do projeto é a plataforma

radiotube, desenvolvida em 2007 através da Criar Brasil.

Dessa plataforma extraímos dados representados na Tabela 01 que traz informações de

que foram disponibilizados 29 programas, de janeiro de 2017 até 30 de julho de 2017, tendo

um total de 1.248 acessos, com uma média de 43 acessos por programa, proporcionando assim,

alcance às pessoas de várias partes do país e levando informação para os/as ouvintes da Rádio

e também àqueles/as que acompanham o programa através da internet. Outra vantagem de

utilizar a plataforma Radiotube, é a possibilidade de disponibilizar o Social em Questão para as

pessoas que não conseguem acompanhar a transmissão nas segundas feiras pela Rádio

Universidade 800AM.

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Tabela 01 – Dados do Social em Questão na Radiotube no 1º semestre de 2017

Dados Social em Questão na Radiotube no 1º semestre de 2017

Número de Programas disponibilizados 29 programas

Número de acesso aos programas 1.248 acessos

Média de acessos por programa 43 acessos por programa

Fonte: sistematização dos/as autores/as (2017).

Para Iamamoto (2008) o acesso à informação engloba uma relação democrática aberta

a reflexões e críticas entre o os/as assistentes sociais e aos sujeitos que demandam seus direitos

e serviços a eles correspondentes. Nesse sentido o Social em Questão vem como uma

ferramenta que articula suas bases teórico-metodológicas e suas competências técnico-

operativas, viabilizando conteúdo de qualidade e informações que agregam ao cotidiano. Prova

disso são os números em constante ascendente que demonstram o crescimento ininterrupto do

acompanhamento do Social em Questão. E esses resultados caminham ao encontro da

democratização da mídia e da comunicação como direito humano, resguardadas suas devidas

proporções de veiculação, acesso e território.

CONCLUSÕES

Atualmente, a interface com a mídia abre possibilidades para os espaços sócio

ocupacionais dos/as assistentes sociais, e a experiência junto a Rádio Universidade aponta para

o Serviço Social uma ferramenta que agrega para o trabalho de empoderamento dos/as

usuários/as, no acesso à informação e, consequentemente, na qualificação da cidadania.

Considerando princípios éticos defendidos pela categoria de assistentes sociais, explícitos

dentre os princípios fundamentais do Código de Ética profissional, compreende-se que só é

possível concretizar esses princípios na medida em que há a liberdade e o fortalecimento dos

usuários e usuárias, quando bem informados/as e caminhando para sua autonomia e

emancipação.

Logo, conclui-se que, em se tratando de um projeto de extensão, o Social em Questão

se reafirma como um processo acadêmico que aproxima a comunidade ouvinte da Rádio

Universidade 800AM e vice versa. O Programa leva o conhecimento sobre as manifestações

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das expressões questão social, da categoria profissional do Serviço Social e também pensa a

comunicação como um direito humano e democrático.

REFERÊNCIAS

ATAÍDE, Y. D.B. A educação e a cultura de paz. Revista da FAEEBA. Salvador: UNEB. Ano

9, no. 14(Jul/dez), 2000.

CHAUÍ, Marilena. Simulacro e poder: uma análise da mídia. São Paulo: Fundação Perseu

Abramo, 2006.

ESPÍNDOLA, Nelma R. S. Em defesa do diálogo entre a mídia rádio e o Serviço Social. In:

Sales, M. A.; Ruiz, J. S. R..(Org.). Mídia, questão social e Serviço Social. São Paulo: Cortez

Editora, 2009, v. 1, p. 214-234.

FIGUEIREDO, Kênia A. O assistente social na era das comunicações. In: Sales, M. A.; Ruiz,

J. S. R..(Org.). Mídia, questão social e Serviço Social. São Paulo: Cortez Editora, 2009, v. 1.

GUARESCHI, Pedrinho A.; BIZ, Osvaldo. Mídia, educação e cidadania: para uma leitura

crítica da mídia. Porto Alegre. Evangraf, 2017.

IAMAMOTO, Marilda Villela. Serviço Social em tempo de capital fetiche: capital financeiro,

trabalho e questão social. 2. ed. São Paulo: Cortez, 2008.

RADIOTUBE. Disponível em https://www.radiotube.org.br/sobre.php. Acessado em outubro

de 2017.

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DESAFIOS E POSSIBILIDADES DO USO DE JORNAIS E REVISTAS PARA A

PESQUISA EM HISTÓRIA: IMPRENSA ENQUANTO PARTIDO POLÍTICO

Camila de Almeida Silva16

RESUMO: Este trabalho busca refletir sobre as possibilidades e os desafios para o uso de

jornais e revistas como fontes para a pesquisa em História. Destacando para isso que há

inúmeras formas de utilização dessas fontes, e essa variedade está relacionada ao referencial

teórico e metodológico adotado pelos pesquisadores. O referencial adotado nessa pesquisa recaí

sobre o entendimento de Gramsci sobre a sociedade, segundo ele, uma sociedade não se mantém

coesa apenas pela coerção, é necessário também o consentimento, ou seja, que parte da

sociedade esteja em concordância com a ideologia, instituições, etc. O jornalismo atua como

um meio na busca desse consentimento e sua atuação ao longo da História permite aos

pesquisadores compreender de forma mais holística os interesses envolvidos nas relações

políticas, econômicas e sociais que estabelecem. Após 1950, as empresas jornalísticas sofrem

grandes transformações, todas elas relacionadas com a entrada de capital multinacional e

internacional, o anterior ideal partidário se esvaí dos jornais e a noção de neutralidade começa

a integrar o fazer da grande imprensa, ocultando assim seu caráter de classe e consecutivamente

seus interesses. Nesse sentido, esse trabalho coloca-se frente à uma demanda necessária ao

historiador, problematizar a imprensa enquanto um sujeito político, com interesses, e que para

tanto, veicula notícias de acordo com as formas de ver o mundo de seus proprietários são meios

de organizar e difundir cultura. E podem ser também entendidos e analisados como um partido

político, que pretendendo ser hegemônico, precisam criar uma nova ideologia que represente

os interesses de classe que defendem.

Palavras-Chaves: Imprensa; Gramsci; História; Estado ampliado.

INTRODUÇÃO

Em todas as áreas do conhecimento é preciso atentar-se para os procedimentos

metodológico e teóricos adotados para o desenvolvimento da pesquisa. Mas é oportuno

elucidar, o que o que são esses procedimentos? No que consistem? São “uma postura frente à

16 Professora substituta na Universidade Federal do Pampa – UNIPAMPA, Campus São Borja, Rio Grande do Sul,

e-mail: [email protected]

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realidade e à prática social”, ou seja, é como entendemos a realidade empírica e o mundo de

forma geral. A partir das indagações e das ponderações o sujeito pesquisador se torna uma

problematizador do real (LEME, 1988, p. 97).

Partindo dessas diferentes concepções da realidade é que se formam as diferentes

pesquisas sobre o mesmo objeto, a distinção está no entendimento da realidade. No entanto,

junto aos procedimentos metodológicos adotados estão as teorias para compreensão do objeto

de pesquisa. Há uma relação intrínseca entre as duas, teoria e metodologia. As teorias são as

bases para o entendimento da realidade e a metodologia são as técnicas e instrumentos

utilizados para realizar uma investigação.

Nem todas as abordagens metodológicas dão ênfase à historicidade das fontes e do

próprio método, mas para os objetivos aqui propostos e sob o entendimento aqui exposto, as

fontes jornalísticas serão sempre analisadas a partir de sua história e de sua relação com o

entorno. Destacando que tais relações são importantes para explicar o próprio objeto de

conhecimento, neste caso, a imprensa.

É comum nos diversos campos das Ciências Humanas e Sociais observar pesquisas cada

vez mais compartimentalizadas e sem o estabelecimento de relação entre teoria e prática. Por

isso que para o sentido aqui proposto, entendemos a imprensa enquanto uma entidade de classe,

representante dos interesses de uma minoria, por isso esses interesses e sua condição de classe

devem ser evidenciadas de modo que essas relações juntamente com o jornal em si forneçam

as explicações para os problemas de pesquisa.

Um debate conceitual: classe social

O conceito de classe social, fruto das considerações acerca do materialismo histórico,

encontradas, principalmente nas obras de Marx e Engels, tem enfrentado dificuldades frente ao

debate acadêmico. A fim de contrariar a perspectiva que sustenta a inadequação da

teoria/método marxista, este ensaio se sustentará nas contribuições de Marcelo Badaró Matos,

no que tange o aporte explicativo do materialismo histórico, no intento de demonstrar a

pertinência do conceito em questão. Tomando o cuidado — como salienta Matos (2007) —, em

buscar sempre adequá-lo as novas demandas da historiografia, porém, sem negar a importância

do conceito para entender a vida social do passado e do presente.

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O aporte utilizado tanto para a compreensão de classe, mas também sobre a ação

política da sociedade civil, é o militante e intelectual sardo Antonio Gramsci, teórico

pertencente à tradição crítica do materialismo histórico, que fez avançar o debate conceitual

sobre o tema a partir da inserção de novos elementos para sua compreensão, elementos estes

ainda não evidentes nas análises de Karl Marx.

O autor acrescenta na análise uma “complexificação”, o conceito de hegemonia, que

rompe como uma perspectiva que percebe o materialismo histórico dialético apenas como

economicismo, passando a valorizar a política, a cultura e a ideologia como elementos

essenciais para o entendimento da realidade social. E como nasce a hegemonia?

Em A ideologia alemã (1845), Marx dizia que as idéias [sic] dominantes numa

sociedade são as da classe dominante, isto é, a classe no poder difunde suas idéias

[sic], sua cultura, sua ideologia em toda a sociedade. No prefácio de 1859 à

Contribuição para a crítica da Economia Política, Marx concluiu que são as relações

de produção (isto é, a forma de propriedade dominante) são as que determinam não

só as instituições políticas e estatais, mas a própria maneira de pensar, a consciência.

Porém o modo de produção (as relações de produção e sua ligação com as forças

produtivas) é contraditório. Portanto essa contradição – por exemplo, no modo de

produção capitalista, a contradição entre classe operária e capitalista – coloca em

discussão não só a política econômica, as questões sindicais imediatas, mas também

as políticas e a cultura das idéias [sic] da classe dominante. (GRUPPI, 1980, p. 81)

Tal contradição exposta acima é para Gramsci o momento que define uma revolução,

quando uma sociedade não consegue se manter coesa em sua hegemonia, cabe então a

exploração de um terreno cultural e ideológico, no sentido de,

Antes de se tomar o aparelho de Estado, uma cidadela vazia para ele, fundamental era

se construir a hegemonia na sociedade, ocupando postos de luta importantes e

produzindo novo conjunto de valores que rivalizem e disputem a direção da sociedade

com os valores dominantes. (SANTANA, 2007, p. 224)

Com Gramsci, temos a partir da valorização da cultura e da ideologia, uma ampliação

da noção de dominação, abre-se espaço para entender a dominação afastada das relações

econômicas com único definidor de tal condição. A ideologia é o que mantem unida uma

sociedade, ela que mantem coesa classes sociais distintas e com interesses opostos e até mesmos

antagônicos.

Abre-se espaço para pensar a noção de dominação enquanto, força mais consenso. E

como argumenta Santana, “não há consenso imposto. Só a força é impositiva. O consenso

precisa ser construído, portanto com aceitação das partes” (SANTANA, 2007, p. 223). A partir

desta concepção Gramsci percebe que é imprescindível para analisar uma sociedade de classe

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a ideia de negociação, de perdas e de ganhos nas relações entre os detentores dos meios de

produção e aqueles que possuem a força de trabalho como meio de subsistência.

Se para Marx e Engels o ponto de partida para o conceito de classe social foi perceber

que o proletariado era uma nova força política em oposição a classe burguesa moderna, e que

seria imprescindível na luta pela emancipação e pelo fim da exploração. Nesse sentido, na obra

“Ideologia Alemã”, nota-se:

Os indivíduos isolados só formam uma classe na medida em que têm que manter uma

luta comum contra outra classe; no restante, eles mesmos defrontam-se uns com

outros na concorrência. Por outro lado, a classe autonomiza-se em face dos indivíduos,

de sorte que esses últimos encontram suas condições de vida preestabelecida e têm,

assim, sua posição na vida e seu desenvolvimento pessoal determinados pela classe,

tornam-se subsumidos a ela. Trata-se do mesmo fenômeno que o da subordinação dos

indivíduos isolados à divisão do trabalho, e tal fenômeno não pode ser suprimido se

não se superarem a propriedade privada e o próprio trabalho. (MATTOS, 2007, p. 35)

Gramsci não nega essa subsunção do indivíduo à classe, porém, determina que para

superar as contradições do sistema é necessário que antes se conquiste a hegemonia. Sendo a

sua conquista essencial para a conquista do poder. Novamente cultura e ideologia são

evidenciadas no processo de superação e de construção de uma cultura nova.

Inverte-se o caminho originalmente proposto, “antes de tomar o aparelho de estado,

uma cidadela vazia para ele [Gramsci], fundamental era se construir a hegemonia na sociedade,

ocupando postos de luta importantes e produzindo um novo conjunto de valores” (SANTANA,

2007, p. 224). As classes trabalhadoras possuem uma filosofia real, que é a sua ação, tem

também uma filosofia declarada, sua consciência, que está em contradição com sua ação.

Partindo de um processo de transformação, é preciso juntar esses dois elementos para

que sua política se torne uma filosofia consciente, a fim de chegar à uma nova cultura e a partir

disso “tomar” o aparelho de estado (GRUPPI, 1980, p. 81).

Como campos em disputa, as classes sociais com seus distintos projetos de sociedade

rivalizam-se com intuito de “impor” para a sociedade seu modo de ver o mundo e atuam em

diversos campos, mas o que se destaca nesta proposta é a atuação da imprensa e modo como é

possível perceber nela tais projetos e como uma possibilidade de entender as “revistas e jornais

como meios para organizar e difundir determinados tipos de cultura” (GRAMSCI, 2014A, p.

33).

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457

A imprensa enquanto partido: desafios e possibilidades

Gramsci aponta os meios de comunicação como um dos principais construtores de

hegemonia. Essa hegemonia, é a capacidade de uma classe dominante ou pretensa ao domínio,

de construir o consenso e/ou consentimento, tornando-se classe dirigente e capaz de se

encarregar da direção moral e intelectual de uma grande maioria.

É oportuno destacar a possibilidade de compreender a imprensa no seu sentido

extraclasse, como um “organizador de uma nova cultura [...] tendo em vista a necessidade de

criar as condições mais favoráveis à expansão da própria classe” (GRASMCI, 2014A, p. 15).

Articulada sob a perspectiva de jornalismo integral, que pretende além de suprir as necessidades

do leitor, também criar novas demandas.

O desafio para esta forma de entender a fonte jornalística está em romper com a visão

de uma imprensa liberal, que ainda está presente em nossa sociedade, que sendo liberal a

tornaria livre para julgar e opinar sobre os fatos, pois à mercê dos interesses de classe existentes

poderia sob os pressupostos da neutralidade julgar os eventos e narrar os fatos.

A ideia de jornalismo integral, também está presente na obra “Los imaginários sociales”

de Bronislaw Baczko (1999), de modo que, nos meios de comunicação se misturam imaginação

e informação numa junção que torna difícil em determinados momentos separar um do outro.

Dos meios de comunicação de massa que se fabricam as necessidades que abrem

inéditas possibilidade para a propaganda, e que se ocupam eles mesmos de satisfazê-

las. Em efeito, o que os meios de comunicação fabricam e emitem, está mais além das

informações centradas na atualidade, posta como espetáculo, são os imaginários

sociais as representações globais da vida social, de seus agentes, instancias e

autoridade, os mitos políticos, os modelos formadores de mentalidade e de

comportamentos, as imagens dos líderes, etc. (BACZKO, 1999, p. 32)

Nesse sentido, as possibilidades de pesquisa estão no poder de observar a imprensa

como um partido político no sentido gramsciano, a fim de perceber os interesses de classes

defendidos pelos periódicos e revistas. Bem como pela possibilidade de observar suas

aspirações, como abordam os eventos.

A partir do entendimento da imprensa enquanto um partido político e enquanto

construtora de hegemonia, pode-se realizar inúmeras perguntas para esta fonte: como o jornal

constrói o seu discurso? Quais mecanismos utiliza para conquistar a opinião pública? A quem

pertence a empresa? Que relações estabelece com o capital? Que frações de classe representes?

É portador de um projeto social ou reproduz um projeto alheio?

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458

O exercício ‘normal’ da hegemonia, no terreno clássico do regime parlamentar,

caracteriza-se pela combinação da força e do consenso, que se equilibram de modo

variado, sem que a força suplante em muito o consenso, mas, ao contrário, tentando

fazer com que a força pareça apoiada no consenso da maioria, expresso pelos

chamados órgãos da opinião pública – jornais e associações –, os quais, por isso, em

certas situações, são artificialmente multiplicados. (GRAMSCI, 2014B. p. 95)

Com este autor, surgem discussões no campo político que nos auxiliam a perceber, que

“tanto nos regimes democráticos, onde existe uma relação equilibrada entre coerção e consenso,

até as mais rudimentares ditaduras, nenhum regime político foi capaz de sobreviver sem o

estabelecimento de bases sociais e elementos de hegemonia” (MELLO, 2012, p. 33). Nesse

sentido, hegemonia é “construção de mundo” (BRANDÃO, 2007. p. 5.), ou seja, são os meios

para a elaboração e/ou manutenção de determinada ideologia que historicamente encontram-se

em disputa.

Com o intuito aqui apresentado, se entende os meios de comunicação como meios e

“instrumentos de manipulação de interesses e de intervenção na vida social” (CAPELATTO,

1980, p. XIX). Embora o termo manipulação pareça maniqueísta refere-se à necessidade do

bloco hegemônico manter-se dominante frente as outras classes, e esta dominação não ocorre

apenas a partir do controle do aparelho repressivo do Estado. Desse modo, tanto para Marx

quanto para Gramsci, um tipo qualquer de associação que tomasse parte de alguma ação política

consciente, de organização de “vontades coletivas”, dotada de um princípio político invocador

de um projeto de sociedade, pode ser encarado como partido político (SANTOS, 2007, p. 30).

O que Gramsci propõe é algo como uma baliza metodológica, um meio para que o

pesquisador perceba a capacidade do sistema privado de hegemonia (meios de comunicação,

sistema educacional, religião) de realizar seu programa, de transpor um planejamento em ação

política. Nesse sentido, a questão primordial para esta compreensão é afastar-se das disputas

internas de um partido para buscar compreender sua “eficiência real” (SANTOS, 2007), para

aproximar-se daquilo que o partido conseguiu construir. Ou seja, uma ideologia política que se

apresenta não fria como utopia, nem como raciocínio doutrinário, mas como uma criação da

fantasia concreta que atua sobre um povo disperso e pulverizado para despertar e organizar a

vontade coletiva” (GRAMSCI, 2014B, p. 13).

Desta forma, o partido é “um mecanismo que realiza na sociedade civil a mesma função

desempenhada pelo Estado”, é também “o modo próprio de elaborar sua categoria de

intelectuais orgânicos” (GRAMSCI, 2014A, p. 24). Os intelectuais “são os “prepostos” do

grupo dominante para o exercício das funções subalternas da hegemonia social e do governo

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político” (GRAMSCI, 2014A p. 21). Eles se formam segundo processos históricos e em relação

com o mundo produtivo, mediados pelo conjunto das superestruturas (ideologia instituições,

sistema de ideias), dos quais “os intelectuais são precisamente os funcionários” (GRAMSCI,

2014A p. 20).

Como qualquer organização, seu objetivo é “elaborar os próprios componentes,

elementos de um grupo social nascido e desenvolvido como ‘econômico’ até transformá-lo em

intelectuais políticos qualificados, dirigentes, organizadores de todas as atividades e funções

inerentes ao desenvolvimento orgânico de uma sociedade integra, civil e política” (GRAMSCI,

2014A p. 24).

Jornalismo no Rio Grande do Sul: O Correio do Povo

Para elucidar os desafios da pesquisa historiográfica usando a imprensa como fonte, é

importante ao pesquisador buscar as principais discussões sobre a temática. A partir dos anos

1980 ocorreram transformações no que tange ao uso de fontes jornalísticas, e elas

proporcionaram um aumento nas produções que utilizam como fonte de pesquisa os jornais. A

antiga tendência em percebê-los como uma fonte secundária tem se tornado menos recorrente,

colaborando assim para desmistificar os paradigmas da historiografia tradicional que os

considera como fontes não confiáveis, pois, estariam envolvidos em subjetividades, tanto

daqueles que a produziram, como do leitor/pesquisar.

Segundo Luca, os jornais enquanto “‘enciclopédias do cotidiano’ contêm registros

fragmentários do presente”, por esse motivo foram considerados fontes de pesquisa

inadequadas, seus registros se compõem de fragmentos do presente, “realizados sob o influxo

de interesses, compromissos e paixões” (LUCA, 2005, p. 112). Porém, para a proposição deste

ensaio, tais paixões e interesses não são vistas como meras distorções subjetivas e sim a partir

das reflexões de Gramsci sobre jornais e revistas, como mecanismos difusores de ideias e de

cultura.

No entanto, não significa negar cuidados metodológicos intrínsecos à profissão de

historiador. É necessário sempre contextualizar a fonte de análise, na tentativa de compreender

as condições vigentes durante a sua produção, a fim de realizar uma leitura detalhada e

meticulosa.

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Para isso se tornar elucidativo destaca-se a história e a trajetória de uma nas empresas

jornalísticas mais consolidas no Rio Grande do Sul, o jornal Correio do Povo, fundada em 1895

por Francisco Antônio Vieira Caldas Júnior, dois meses após o fim da Revolução Federalista,

que opôs Republicanos e Federalistas no Rio Grande do Sul. O jornal, procurando se manter

distante das disputas partidárias, declarava em sua primeira publicação ser independente e livre

de disputas, foi precursor em distanciar as orientações políticas do fazer jornalístico, que

anteriormente, conduzia e determinava o conteúdo dos folhetins. Segundo Galvani,

quando o Estado [do Rio Grande do Sul] radicalizou-se entre maragatos e pica-paus,

era possível sentir com muita clareza de que lado estavam os jornais e os jornalistas.

Todos eles tinham suas posições políticas e todos os veículos demonstravam na

linguagem e na política sua ideologia. (GALVANI, 1995, p. 45)

Embora a adoção de uma postura distante dos acontecimentos político, o objetivo de

Caldas Júnior era “representar os interesses das chamadas classes conservadoras”, mantendo

fortes relações com as “elites agrárias”, o Correio do Povo “era o jornal lido pelos estancieiros

– e seria interpretado posteriormente pelo jornalista João Antônio Mesplé como uma prova do

interesse exclusivo do jornal pelas questões pertinentes às classes produtoras” (DILLENBURG,

p. 4).

A vinculação da vida política dos partidos à imprensa é chamada de jornalismo de cunho

político-partidário, e está vinculado ao processo em que dirigentes fazem da imprensa um

“agente orgânico da vida partidária” (RÜDIGER, 1993, p. 28). A criação pelos partidos de seus

próprios periódicos acabou estabelecendo nesse período uma concepção de que a natureza do

jornalismo é fundamentalmente opinativa, que caberia a ele dirigir a opinião pública.

O afastamento efetivo entre política e jornalismo ocorreu paulatinamente. Caldas Júnior

percebe o campo fértil para a sua atuação. Mantendo seu jornal sempre vinculado a laços

políticos, porém, essa conexão se dá de forma bastante sutil em comparação com a antiga

proposta de jornalismo. O Correio do Povo, surge em um contexto conflituoso, no entanto,

diferencia-se do modelo existente, enquanto o jornalismo político-partidário sempre nutriu

“sonho de formar e também dirigir a opinião pública” (RÜDIGER, 1993, p. 50), o novo

jornalismo informativo moderno buscava afastar-se desse papel.

A emergência do jornalismo informativo ocorreu juntamente a entrada de capitais

estrangeiros, e se “desenvolveu com o apoio e a serviço [de uma] estrutura transnacional de

poder” (SILVA, 2006, p. 45). No entanto não se pode afirmar que anteriormente os jornais não

possuíam vínculos com a capital, mas o que os caracterizava em grande parte era seu forte

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vínculo com os partidos políticos em si, ou seja, “esse jornalismo político partidário, está ligado

ao processo pelo qual a classe política transformou a imprensa em agente orgânico da vida

partidária (RÜDIGER, 1993, p. 28).

Esse novo jornalismo que é característico dos jornais que são fonte e objeto dessa

pesquisa, surgem ligados a dois elementos, o primeiro deles é o padrão tecnológico e

consecutiva dependência externa com financiamentos e patrocínios e o segundo é a “relação

com órgãos estatais dadas por interesses mútuos, pois os jornais e revistas colocam-se como

neutros, possibilitando a sua atuação partidária na defesa dos interesses de ambos” (SILVA,

2006, p. 45).

O jornalismo informativo moderno supera progressivamente o antigo, em grande

medida devido ao processo de transformação da estrutura econômica da sociedade. A partir da

Revolução de 1930, há uma diversificação das camadas sociais, que se encontram cada vez

mais inseridas na lógica da industrialização. Esse fenômeno gerou uma ascensão das camadas

médias, possibilitando não apenas uma mudança na estrutura social e econômica, mas, também

novas necessidades culturais que o jornalismo de cunho político-partidário não dava conta de

suprir (RÜDIGER, 1993, p. 43-44).

Paulatinamente, o modelo de jornalismo em que o jornal Correio do Povo se enquadrava

demonstrou que soube aproveitar do crescimento econômico e da expansão do público leitor.

Associando-se a comerciantes, que progressivamente somariam forças para formar um

jornalismo independente como alternativa às novas necessidades da sociedade.

O sucesso do jornal Correio do Povo encontrava-se também na postura empresarial

assumida, que permitiu que o jornalismo informativo moderno se afastasse das disputas

políticas que anteriormente eram o grande financiador dos periódicos para apresentar-se ao

público, como “órgão de nenhuma facção, que não se escraviza a cogitações de ordem

subalterna” (RÜDIGER, 1993, p. 64).

No início do século XX, Caldas Júnior estabeleceu com o Correio do Povo um

predomínio frente ao mercado de periódicos. O segredo para isto, foi a afinada percepção das

mudanças culturais, sociais e econômicas da época e o refinamento no processo de produção

dos jornais, que proporcionou a redução dos custos, permitindo maiores espaços para anúncios

e investidores. O jornalismo ligava-se cada vez mais às condições determinadas pelo avanço do

capitalismo. Conforme Rüdiger,

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A transição para um novo regime jornalístico não foi progressista; o mercado não

comportava, como não comporta até hoje, grande concorrência: o público leitor era

limitado por fatores econômicos e educacionais, e o número de anunciantes não era

suficiente para sustentar várias empresas. Por isso, as tendências jornalísticas que vêm

se consolidando desde essa época têm se caracterizado pela concorrência monopolista

entre poucos jornais. (RÜDIGER, 1993, p. 61).

Gradativamente, essa concorrência parou de ser exercida entre os jornais espalhados

pelo Rio Grande do Sul. Ainda segundo Francisco Rüdiger, o Correio do Povo e O Diário de

Notícias — ambos localizados em Porto Alegre —, representaram a vanguarda do nosso

jornalismo. Tanto por sua organização nos moldes capitalistas, como por sua “imparcialidade”.

Nesse sentido, a ação monopolista de alguns jornais garantiu a predominância no mercado,

fazendo com que o Correio de Povo e em segundo lugar o Diário de Notícias17 tornassem-se

os maiores jornais do Estado no início do século XX.

A partir de 18 de dezembro de 1935, o jornal passa a ser dirigido por Breno Caldas, filho

de Caldas Júnior. O novo diretor sempre procurou manter a linha inaugurada por seu pai,

mantendo-se a proposta, que buscava um “afastamento” dos conflitos intrínsecos à sociedade.

Contudo, o desenvolvimento desse jornalismo informativo “livre” das disputas políticas

sofreu para a sua manutenção, isso porque, a política era essencialmente uma forma de sustento

do jornalismo e também uma prática muito presente. Embora o jornal sempre tenha cultivado

uma “imagem de distanciamento das discussões políticas, não abria mão de sua influência,

expressa ao longo do século XX” (SPERANZA, 2007, p. 57-58). Podemos citar o episódio em

que Breno Caldas, se envolve em um conflito com o governo Flores da Cunha quando decide

apoiar o “projeto Varguista de desenvolvimento capitalista para o País, cujos termos

centralizadores haviam gerado uma dissidência com Flores [da Cunha]” (RÜDIGER, 1993, p.

70).

As transformações ocorridas no jornalismo não retiraram de cena a natureza política do

seu fazer. Mas garantiram uma mudança na forma de fazê-lo, “o caráter político do jornalismo

foi se dissimulando ainda mais, traduzindo-se em “políticas noticiosas” extremamente sutis,

mas eficazes no processo de modelagem da opinião pública” (RÜDIGER, 1993, p. 71).

Diante alguns empasses na política, o Correio do Povo seguiu exercendo sua influência

e publicando suas anuências. Durante o governo de Eurico Gaspar Dutra, “apoiou a cassação

do Partido Comunista Brasileiro em 1947”. E também em 1950 quando “deu seu apoio a Getúlio

17 O jornal Diário de Notícias foi fundado apenas em 1º de março de 1925. Mas graças a sua adaptação ao novo

modelo de jornalismo obteve grande sucesso.

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Vargas, embora olhasse com desconfiança algumas das teses de seu programa, caracterizado

por um extremo nacionalismo e por restrições à entrada do capital estrangeiro no Brasil”

(DILLENBURG, p. 5).

Ao início dos debates em torno da sucessão presidencial, após a renúncia de Jânio

Quadros em 1961 “o jornal não aprovou a posse do vice-presidente João Goulart” e com a

implantação da ditadura civil-militar, sempre fez questão de evidenciar sua percepção sobre a

política de João Goulart, Breno Caldas, afirma que “a Revolução de 64 foi para nós benvinda”

(DILLENBURG, p. 5).

Com isso, salientamos o envolvimento do diretor Breno Caldas nas disputas políticas

durante a ditadura civil-militar. Em entrevista cedida à José Antonio Pinheiro Machado, Breno

Caldas afirma que,

A Revolução de 1964, de um certo modo, contou com a nossa participação, ou pelo

menos com a nossa simpatia. O pessoal que foi ao poder em 1964... né é que fosse

ligado a nós – nós não tínhamos ligações políticas com ninguém -, mas eram pessoas

afinadas conosco, estávamos no mesmo caminho. Quando houve a tal conspiração do

Castelo Branco, eu não sabia de nada oficialmente. Até que o general Adalberto

Pereira dos Santos, que comandou o movimento por aqui, fez um contato comigo, me

disse que a situação era crítica, que iria acontecer alguma coisa: “Fique atento a uma

manifestação do general Castelo Branco. (MACHADO, 1987, p. 54)

Não se trata de afirmar que a direção do jornal estivesse a serviço da ditadura, mas, de

observar a influência política que o diretor do Correio do Povo exercia no Rio Grande do Sul.

Pinheiro Machado, ao perguntar à Breno Caldas como era sua relação com os presidentes

militares. Breno responde: “Em geral, boas. O Costa e Silva, que sucedeu o Castelo Branco, era

um terrível jogador, adorava corridas de cavalo” (MACHADO, 1987, p. 77). Conta também

que seu filho, ao servir nas Forças Armadas foi convidado por Costa e Silva para ser seu

motorista. Segundo ele, “um soldado que almoçava na mesa do general, Breno acreditava que

a ideia de Costa e Silva “não era se aproximar do Correio do Povo, que era um jornal muito

influente, mas sim ter por perto alguém ligado ao turfe!”” (MACHADO, 1987, p. 79).

Exercer uma posição de importância perante a sociedade sempre foi a realidade de

Breno. A Pinheiro Machado, conta que deveria ter ido à Brasília a fim de receber uma medalha,

mas não gostava dessas coisas e mandou seu filho Francisco Antônio, gerando um incidente. A

medalha devia ser entregue em mãos, no entanto, Francisco Antônio se encontra com Médici

em uma cerimônia não oficial, em um ato de quebra de protocolo, e recebe a medalha de seu

pai” (MACHADO, 1987, p. 79-80).

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Esses fatos descritos aqui, no auxiliam a perceber que mesmo seguindo a linha de

“neutralidade” assumida nos primórdios da fundação do jornal Correio do Povo, a família

Caldas, sempre exerceu grande influência nos espaços que conviveu. Tornando difícil afastar

seus interesses enquanto produtor rural e proprietário de terras juntamente com a função de

direção dos rumos do periódico.

Conclusão

Em vista das questões acima apontadas, as novas técnicas jornalísticas proporcionadas

pelo refinamento dos meios de produção a partir dos anos 1950, mas também pelo ingresso de

capitais internacionais nos meios de comunicação colaboraram para a compreensão da imprensa

como um órgão capaz de objetivamente julgar a realidade, no entanto, para os fins dessa

pesquisa a imprensa é entendida como um agente partidário, e faz necessário observar as

“relações de poder das quais a mídia faz parte, não podemos tomá-la como um sujeito à parte,

mas como integrante da própria engrenagem de reprodução do sistema do capital” (SILVA,

2005, p. 30).

Outro ponto bastante relevante para essa proposta, é pensar que os jornais podem ser

entendidos como fonte e objeto de pesquisa, os jornais “não são inertes folhas de papel, mas

folhas de papel que representam, são voz e calam a sujeitos sociais concretos. Tudo isso,

problematizado permite propor um jornal ou revista como um objeto de estudo” (SILVA, 2014.

p. 121).

Sob essa perspectiva a obra de Beatriz Kushnir nos aponta algo bastante oportuno, “as

práxis jornalísticas contemporâneas podem ser observadas, grosso modo, como uma mise-em-

scène – encenação – das regras sociais, uma suposta vigia ao poder e a utopia da liberdade de

expressão absoluta” (2012, p. 55). Nesse sentido, observar a imprensa afastada das relações

burguesas que estabelece é negligenciar seu próprio surgimento.

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VIOLÊNCIA NO JORNALISMO LOCAL: UMA ANÁLISE SOBRE O DISCURSO

CONTRA AS MULHERES

Sandra Barbosa Parzianello18,

Adriana Hartemink Cantini19,

Simone Barros de Oliveira20,

Waleska Belloc Barbosa21.

RESUMO: O artigo busca analisar de forma interdisciplinar as marcas discursivas existentes

sobre a violência contra as mulheres nos textos do jornal impresso “Folha de São Borja”.

Partimos do pressuposto de que o jornal de maior circulação no município de São Borja/RS

publica uma visão depreciativa em torno do gênero feminino e de que suas marcas discursivas

revelam, inclusive, a banalização da violência contra a mulher. A pesquisa busca mostrar, a

partir de alguns elementos textuais e contextuais, a representação discursiva do valor da mulher

e em que medida esta prática de narrativa na mídia ameaça seus direitos e conquistas. A

proposta é de uma análise qualitativa das matérias impressas buscando evidenciar essa

construção violenta contra a mulher. Neste sentido, a pergunta de pesquisa: como a violência

de gênero está representada na mídia impressa “Folha de São Borja”? nos conduzirá ao

desenvolvimento da pesquisa documental, via levantamento de textos jornalísticos que, por

amostragem, ao longo do ano de 2017, representem a forma como a temática é apresentada no

jornal. À luz dos teóricos que nos fundamentam na análise, veremos se os enunciados

jornalísticos se mostram de forma conotativa, pejorativa e depreciativa em relação à mulher. A

abordagem teórica contará com a contribuição de autores como Heleieth Saffioti nas questões

de gênero e machismo, com o pensamento do psicólogo americano Marshall Rosenberg e sua

compreensão sobre a relação não-violenta, além dos pressupostos da filósofa alemã Hannah

Arendt e dos cânones do campo do conhecimento do Jornalismo. A partir dos textos

jornalísticos e à luz da teoria do discurso desenvolvida por Ernesto Laclau e Chantal Mouffe

(2015), fundadores da Escola de Essex de Análise do Discurso, pretendemos inferir sobre as

18 Jornalista e Cientista Política. Líder do Grupo de Pesquisa Diálogos do Pampa, Unipampa/ CNPq. Mestra em

Ciência Política – UFPel – Universidade Federal de [email protected] 19 Advogada. Professora Adjunta da Unipampa. Vice-líder do Grupo de Pesquisa Educação, Direitos Humanos e

Fronteira, Unipampa/CNPq. Pesquisadora do Grupo Diálogos do Pampa/ Unipampa/CNPq Doutora em Direito.

[email protected] 20 Assistente Social.e Professora Adjunta da Unipampa, Líder do Grupo de Pesquisa Educação, Direitos Humanos

e Fronteira, Unipampa/CNPq. Pesquisadora do Grupo Diálogos do Pampa/ Unipampa/CNPq .Doutora em Serviço

Social. [email protected] 21 Advogada, doutoranda em Ciências Sociais, pesquisadora do Grupo Diálogos do Pampa/ Unipampa/CNPq e do

Grupo de Pesquisa Educação Direitos Humanos e Fronteira/UnipampaqCNPq. [email protected]

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práticas jornalísticas novos elementos para a compreensão das semânticas que se fazem sentir

quando os jornais dizem o que dizem.

Palavras Chaves: Violência, Mulher, Mídia, Discurso.

INTRODUÇÃO

Este artigo tem como objetivo analisar de forma interdisciplinar as marcas discursivas

existentes sobre a violência contra as mulheres a partir dos textos do jornal impresso “Folha de

São Borja”. A violência contra as mulheres é um tema que tem ocupado um espaço diferenciado

e mais expressivo ao longo do tempo. As pesquisas nas áreas das ciências humanas e sociais

marcam posicionamentos teóricos que resultam em complexas análises e fundamentações

nascidas de modo que precisam ser enfrentados em torno de seus objetos.

O século XX foi marcado por desafios e conquistas a partir dos movimentos sociais, como

no caso o feminismo. Esta forma de articulação social e política foi, principalmente, um

momento de lucidez em meio à precariedade e a banalização da violência contra a mulher que

se instalou ao longo de séculos na nossa história. A luta foi gradativa, as limitações foram

numerosas, mas os recursos e o avanço tecnológico na contemporaneidade forma

determinantes. Atualmente, há uma multiplicação de posicionamentos em diversas frentes que

invocam, em proporções significativas, discursos pulverizados e fortalecem a identidade

feminina e a gama de direitos que às envolvem.

Levando em consideração esse cenário é que questionamos: como a violência de gênero

está representada na mídia impressa “Folha de São Borja”? Partimos do pressuposto de que o

jornal de maior circulação no município de São Borja/RS publica uma visão depreciativa em

torno do gênero feminino. As marcas discursivas revelam, inclusive, a banalização da violência

contra a mulher. Neste sentido, este meio de comunicação pode estar contribuindo para que,

antigas concepções de valor e socioculturais, possam naturalizar uma forma banal de subjugar

as mulheres.

A pesquisa aponta o que o referido jornal destaca ao abordar temas ligados às mulheres e

os direitos humanos em suas narrativas, a partir das matérias impressas que evidenciam uma

construção violenta e depreciativa contra a mulher conforme a proposta de análise teórico-

qualitativa. Vimos que ao narrar cria-se um acontecimento, que dá vida e sentido tanto aos

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objetos envolvidos, como aos sujeitos a quem os textos se referem, segundo a pesquisa

documental e de conteúdo que envolveu o levantamento de textos jornalísticos que, por

amostragem, ao longo de 2017, espelhou a forma como a temática é apresentada no jornal.

A pesquisa revelou, a partir de alguns elementos textuais e contextuais, a representação

discursiva do valor da mulher e em que medida esta prática de narrativa na mídia ameaça seus

direitos e conquistas. Portanto, se justifica pela observação dos casos impressos e

compartilhados com o público que se fundamenta na análise da percepção pessoal sobre a

realidade do tema em que o jornalismo constrói uma narrativa hegemônica sobre outras

construções da verdade imediata e, por consequência, do senso comum.

O artigo estabeleceu premissas teóricas sobre violência de gênero e dos direitos humanos,

a (re) leitura do trabalho e da cobertura jornalística, além da análise das matérias conforme

elementos que fundamentaram esta proposta e os enunciados jornalísticos que se revelaram

como discursos conotativos, pejorativos e mesmo depreciativos em relação à mulher.

A análise nos levou a inferir sobre as práticas jornalísticas e um tipo de discurso que pode

levar o leitor a normalizar a ideia de que a forma depreciativa e pejorativa sobre as mulheres

não passa de um simples uso retórico, mas que na realidade se configuram enquanto fenômeno

de violência contra a mulher. Nossas considerações, agregam valor a abertura de um debate

sempre atual, e trazem um caráter contingente que destaca, ainda na contemporaneidade, o

sentido baseado na cultura do machismo, demonstrando que a mulher continua sendo dominada

e submissa.

A Violência e suas manifestações diversas

A violência está na agenda do dia, atualmente é uma expressão que virou moda pelo terror

cotidiano que causa à vida das pessoas. A violência tem sido o tema de muitos estudos e

pesquisas, é uma temática que causa polêmica, se expressa de diferentes formas e vem se

tornando fenômeno complexo, que tem preocupado a sociedade de um modo geral. No contexto

contemporâneo, raramente alguém ousaria afirmar que não se sente ameaçado pelo risco de ser

atingido pelos efeitos devastadores de algum tipo de ato violento. Exatamente, por isso, abordar

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violência exige desvelar seu caráter dúbio, polêmico, complexo e multifacetado. A violência

nasce, enquanto vocábulo, do latim vis que significa força. Essa significação pode lançar bases

para uma definição do fenômeno, pois o mesmo, em suas diferentes gamas e categorizações,

sempre tem, em seu eixo, algum sobreuso da coerção, seja física, emocional ou psicológica.

Dessa forma, a violência, em geral se opõe a ética e aos valores de uma sociedade.

A abordagem da violência é de propriedade da alçada comum, uma vez que os repetidos

atos violentos são democráticos, não escolhem gênero, faixa etária, estrato social, etnia ou grau

de escolaridade. Assim,

A violência possui uma fecundidade própria, ela se engendra a si mesma. É preciso

então sempre analisá-la em rede, em entrelaçamento. Suas formas e aparências mais

atrozes e às vezes mais condenáveis, frequentemente ocultam, entre outras situações

de violência menos escandalosas, por encontrarem-se prolongadas no tempo e

protegidas, pelas ideologias ou pelas instituições de aparência respeitável. (COSTA e

GOMES,1999, p. 159).

No contexto urbano a violência está presente em todos os espaços sociais. Ela se veicula

nos meios de comunicação e entre a própria população, sob diferentes aspectos e expressões.

Ouve-se falar da violência referente ao crime, à marginalidade, à miséria, à corrupção do

Estado, de lideranças políticas que usam do poder público para negligenciar o povo, entre

outras, de forma que ganha variadas faces e olhares de pessoas, grupos e sociedades

diferenciadas. A violência no Brasil está enraizada na cultura e na sociedade, no entanto, deve

ser percebida com estranhamento, mas o sensacionalismo com que a imprensa trata a violência,

reforça os atos. Ouve-se e enxerga-se a violência retratada nas diferentes formas de se referir à

mulher na sociedade que podem ser identificadas nos processos de comunicação social. Mas,

se por um lado, a noção de violência tem amplo acesso popular, por outro a sua definição não

é considerada pelos estudiosos como tarefa fácil, e muito menos unívoca, entretanto também

não significa que a “[...] violência seja indefinível porque implica divergências de pontos de

vista radicais.” (MICHAUD, 2001, p. 14). De qualquer forma, a violência passou a ser um

problema social que afeta a sociedade como um todo. Estudar e pensar a violência, implica

estudar e pensar a sociedade.

Nesta perspectiva, Boulding (1981), vem fundamentar que a violência estrutural marca a

violência do comportamento. Sendo assim, pode-se pensar a violência perpetuada em diversas

ramificações da sociedade, como uma rede, na qual é possível reconhecer que a violência

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estrutural. Berguer e Luckmann (2011) no que se refere à “construção da realidade”, refletem a

forma como o conhecimento é apreendido e a relevância do “social” nas suas construções

individuais. Em tal abordagem, os autores reforçam que a sociabilidade é atingida através da

interação dos grupos de indivíduos. Essa interação permite que o homem tenha a percepção do

mundo à sua volta, visto que é somente a partir dela que lhe é permitido atribuir sentidos e

significações às coisas. Ou seja, a “construção social da realidade” se dá na medida em que o

processo de socialização ocorre, quando os indivíduos passam a representar e atribuir

significados ao mundo que os cerca. Neste sentido, de acordo com os autores, o mundo é o

resultado das representações geradas durante a socialização. Esse processo trata-se de um

conjunto complexificado de interações e mediações socioculturais que delineia o modo do ser

social perceber o mundo e representá-lo.

O desafio da contemporaneidade é a de uma comunicação compromissada, que desvie os

seus rumos da conveniência discursiva Citelli, (2001), e que seja realmente consciente do seu

papel formador de opinião e conhecimento. Lippman (2008) defendia que as mídias são a

principal ligação entre os acontecimentos no mundo e as imagens que as pessoas têm na cabeça

acerca desses acontecimentos. Nesse sentido, os contornos dados pela mídia à violência são

necessários para a compreensão do fenômeno em relação a sua realidade local. Os meios de

comunicação operaram, à grosso modo, uma transformação no mundo simbólico, isto é, nas

maneiras de se transmitir e absorver uma produção de sentido. Isto implicou uma dupla

funcionalidade aos meios: eles, enquanto condutores de informação, não somente

representavam a sociedade, mas, também, intervinham para a construção da realidade social a

partir dessa própria representação. Para além disso, os meios de comunicação asseguram um

outro processo que é prioritário para a formação de sentido e significado dos seres humanos: a

interpretação. Toda e qualquer notícia veiculada gera individualmente uma interpretação. Nesta

perspectiva, pode-se inferir que os meios de comunicação contribuem para a construção da

realidade social, pois “[...] a vida cotidiana apresenta-se como uma realidade interpretada pelos

homens e subjetivamente dotada de sentido para eles na medida em que forma um mundo

coerente” (BERGUER E LUCKMANN, 2011, p. 35). Estando presentes nesse processo ativo

de contribuintes para a geração de interpretação na humanidade, as mídias são importantes

construtoras da realidade social na atualidade.

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A violência contra a mulher no discurso impresso: uma análise do Jornal A Folha de São

Borja

Tendo em vista o caráter prioritário que os meios de comunicação desempenham na

sociedade, é necessário realizar um recorte dessa importância do ponto de vista da mídia

jornalística, já que o objeto desse estudo são as representações da violência contra a mulher no

Jornal. Tendo em vista a problematização do tema frente aos meios de comunicação, o problema

da banalização da violência faz-se importante a realização de um estudo sobre a realidade da

Fronteira Oeste do Estado do Rio Grande do Sul e suas características histórico-culturais no

que se refere ao fenômeno da violência simbólica. Na análise a seguir, serão apresentados os

resultados pesquisa realizada no Jornal a Folha de São Borja, onde analisamos 07 edições

escolhidas aleatoriamente dos meses de janeiro a julho e todas as edições dos meses de agosto

e setembro, considerando que o jornal circula duas vezes na semana: nos sábados e nas quartas-

feiras. As inferências sobre mulheres, foram, encontradas de maneira mais frequente na coluna

policial e na coluna social. Nas sessões destinadas as notícias, encontramos apenas três

inferências durante o período analisado.

A opção pelo jornal impresso se dá justamente pela sua popularização, sendo que esse

está presente em todos os segmentos e classes sociais. Considerando que o direito à informação

é previsto em lei e o acesso a essa informação é típico das democracias, analisar tais

informações à título de pesquisa e esclarecimento, também se constitui no direito das

pesquisadoras e pode, em última instância contribuir para a construção e uma comunicação

menos violenta e mais prospectiva em relação mulher sãoborjense. Citamos a mulher

sãoborjense, porque ignoramos todas as notícias que se referiam as mulheres que, mesmo

sãoborjenses residiam em outros municípios. Dines (2009, p. 88) argumenta que “[...] o cidadão

que tem acesso às informações e condições de escolhê-las, sem perigo, está apto a sobreviver

intelectualmente como homem”. Nesse ponto, as escolhas do veículo impresso justificam-se

por ser o jornal de maior acesso pela população de São Borja e, assim, buscamos descortinar

aspectos arraigados na sociedade local em relação à temática da violência contra a mulher e da

sua representação nessa mídia impressa.

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A mídia jornalística interage entre si própria, de acordo com suas visões de mundo e

percepções culturais e acaba contribuindo para o processo de (re) produção de valores e

representações. Nesse sentido, Alsina (2009) refere que,

Dentro da perspectiva da construção social da realidade, posso conceber a construção

da notícia como algo especial e pertencente a realidade: é uma realidade simbólica,

pública e quotidiana. Desse ponto de vista, deveríamos falar sobre a construção da

realidade social. Os jornalistas são, como todo mundo, construtores da realidade ao

seu redor. Mas também conferem estilo narrativo a essa realidade divulgando-a, a

tornam uma realidade pública sobre o dia-a-dia. (ALSINA, 2009, p. 11).

Para além disso, por meio dos produtos gerados pelo meio de comunicação do jornal

pesquisado, pode-se conhecer certos hábitos instituídos na sociedade local, nas suas diversas

manifestações. Dado o grau de relevância desse meio jornalístico como partícipe na construção

da realidade da sociedade sãoborjense, é necessário salientar o papel que este veículo de

informação tem em contribuir para o enfrentamento das problemáticas sociais com a difusão de

matérias que possam promover mudanças nas representações estigmatizadas, ou até mesmo na

promoção de discussões sobre temas pertinentes junto a sociedade. No entanto, é possível

observar que esse veículo se nivela, de acordo com interesses internos ou externos, geralmente

girando em torno da lógica de mercado vigente. Essa conveniência discursiva é necessária para

pensar todas as representações que os meios de comunicação e notícias, em geral, podem

oferecer. (CITELLI, 2001, p. 37). Faz-se pertinente compreender que as lógicas dos jornais da

atualidade são influenciadas pelo contexto ao qual se inserem, bem como à concorrência a qual

fazem parte, o que pode gerar discursos ambíguos e descompromissados com a ética e com o

bom senso, mascarando determinados fatos em detrimento de outros.

As representações sobre a mulher na coluna policial

Em todas as edições analisadas do jornal A Folha e São Borja, encontramos notícias na

página policial sobre violência contra a mulher. Dentre elas a maioria é de violência física

praticada por companheiro, ex-companheiro, filho, vizinho ou namorado. Apenas um caso de

violência registrado foi praticado por outra mulher, designada de vizinha.

Nesses registros o que mais chama atenção são as ações que revelam “domínio e posse”

sobre a mulher, como no caso: “[...] foi ameaçada pelo ex-companheiro. A vítima informou que

possui medida protetiva da Lei Maria da Penha, que o homem não obedece. Ele usa o celular

de sua mãe e liga para ex-companheira ameaçando colocar fogo na casa.” (FOLHA POLÍCIA,

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30 de setembro de 2017, p. 14). Nesse mesmo sentido e na mesma coluna, porém no dia 14 de

outubro, p. 15, outra manifestação de domínio e posse, desta vez entre um homem e uma mulher

que vivem juntos e de forma violenta e criminosa,

Homem tenta estuprar sua companheira. Na segunda-feira, dia 9, por volta das

21h20min, um homem tentou estuprar a sua companheira, que sofreu lesões no rosto,

braço direito e nádegas. Como não conseguiu, ele saiu da casa do casal antes da

chegada da Brigada Militar que havia sido acionada. (Folha de São Borja, Polícia, 14

de outubro de 2017, p. 15).

Ainda foi possível identificar um outro tipo de violência criminosa, não menos prejudicial

a mulher que é o uso de imagens de fotos íntimas suas repassadas via WhatsApp que estavam

armazenadas em um telefone que era de sua propriedade. (Folha de São Borja, Polícia, 30 de

setembro de 2017, p.14).

O crime de ameaça às mulheres por homens também aparece com frequência nas páginas

policiais do jornal, ora com o uso de faca, ora com palavras e ofensas. Outro informe analisado

revela que uma jovem mulher de 25 anos foi agredida pelo namorado com tapas e pontapés

(Folha de São Borja, Polícia, 18 de fevereiro de 2017, p.18).

Também se percebe a violência praticada por mulheres contra mulheres. É o caso da

“mulher agredida com golpe de faca no rosto pela vizinha, que, segundo informa é usuária de

drogas e decorreu de um desentendimento em virtude de negócios”. (Folha de São Borja,

Polícia, 16 de agosto de 2017, p. 15). Aqui é possível perceber a perpetuação da violência,

muitas vezes já sofrida, sobre outras mulheres.

Tantas manifestações de poder sobre o outro, em especial sobre a mulher que se noticiam,

podem ser decorrência do comportamento social e da educação que, culturalmente repetimos

sem questionar, sejamos pais, mães, professores ou profissionais outros que acompanham essas

crianças no processo de desenvolvimento. Ao nascer uma criança, o que se pode identificar

inicialmente é seu sexo, ou seja, se é masculino ou feminino. A partir disso, elas vão sendo

educadas conforme regras específicas que uma determinada sociedade entende correta para o

comportamento de meninas e meninos, variando segundo a época e padrões culturais,

demonstrando o conceito de gênero. É fato que as relações de gênero no Brasil, tal como em

outros países da América Latina, se estabelecem predominantemente através da dominação do

considerado “sexo forte” (masculino) sobre o “sexo frágil” (feminino), o que decorre de todo

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um processo social e de uma construção histórica. A partir de então, construiu-se uma sociedade

em que os lugares estão previamente definidos: o da mulher: um lugar de submissão, devendo

obediência, primeiramente, ao pai e, depois do casamento, ao marido, não sendo reconhecida

na prática como um sujeito de direitos, sem a intervenção de um homem que por ela seja

responsável.

Diante dessa sociedade assim organizada, a mulher é considerada um inferior, sem

vontade própria que deve submeter-se aos caprichos e desmandos de algum homem

(pai/marido/irmão) que por ela seja responsável. No entanto, mesmo que muito se discuta e se

proponham políticas públicas e normativas capazes de tentar frear essa violência, fruto de uma

concepção machista de sociedade, essa realidade ainda se mostra diferente do ideal, segundo

CORIA,

Quiero señalar algo que me parece de fundamental importancia: en este contexto,

decir que la mujer ocupaba el lugar de objeto significa claramente ser objeto del deseo

de otro. Esto supone, entre otras muchas cosas, que ellas quedaban instaladas en el

lugar de espectadoras dependientes de las necesidades de otros, convencidas de que

el deseo es matrimonio ajeno. En mi criterio, esta convicción, reforzada culturalmente

por siglos de marginación, es el eslabón clave que uniendo la cadena de los siglos

respecto de los comportamientos femeninos en los vínculos amorosos (CORIA, 2005,

p. 18).

Estruturalmente, nessas sociedades, a mulher é percebida como um ser frágil, dependente,

e que durante muitos séculos essa forma de organização foi a única possível, tanto para

mulheres quanto para homens. Tal forma de organização social possibilitou ao homem tanto

poder perante a mulher que alguns passaram a considerá-las criaturas inferiores que vieram ao

mundo para servi-los. Percebemos que os meios de comunicação (cada um deles) promovem

diferentes tipos de representação ativando signos múltiplos na sua linguagem e forma de

comunicar. É importante advertir sobre a potencialidade dos meios de comunicação no seu

discurso e na sua linguagem, para que interpretações menos contextualizadas não sejam feitas,

afastando-se do sentido ético, compromissado e em consonância com a verdade. De maneira

geral, pode-se observar que os meios de comunicação, enquanto socializadores de sentidos e

significações nas mais largas escalas por meio da notícia, do texto e de suas linguagens

específicas são objetos inclusos na construção da realidade social dos indivíduos. Dizer isto é

validar que um veículo jornal pode oferecer contornos, através do mapeamento de suas notícias

e seu discurso, das mais variadas formas de problemáticas sociais na atualidade, neste caso, da

violência simbólica contra a mulher.

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As representações sobre a mulher na coluna social

Nas páginas destinadas à coluna social os adjetivos utilizados para informar o que as

mulheres sãoborjenses estão fazendo de suas vidas, ficam, em sua maioria no campo da

meiguice e da aparência. Em alguns casos, a própria mulher, ao se definir utiliza termos

depreciativos em relação a ela mesma, talvez repetindo, sem pensar a cultura machista imposta

e o preconceito a que sempre esteve submetida. Esse é o caso de uma notícia inserida na coluna

intitulada Crônicas da Cidade de 16 de setembro de 2017, p. 8, onde a protagonista assim se

define, “Tô amassada, judiadinha, mas velhice não conheço! [...] 92 anos de idade. E segue

reforçando com orgulho que não abre mão de atender as rotinas domésticas [...]. Tô sempre

fazendo a lida, salienta.

Em outro sentido aparecem fotos de mulheres em eventos sociais e com a família com

adjetivos que procuram defini-las, tais como: “chique e elegante; iluminada e belíssima como

sempre; figura descontraída e de bons papos quando o assunto é sociedade; bem simpática e

querida; com belo sorriso; em grande estilo; não disfarça sua faceirice, charmosa como sempre;

a beleza exótica de Fulana de tal”, etc.”. Mesmo quando há notícia de mulheres que estão

atuando profissionalmente, os adjetivos aparecem de forma desmedida, como no caso de, “A

estrela sobe. A sãoborjense [...] apresentou seus trabalhos sobre sua pesquisa de doutorado [...]

durante a Reunião Anual da Sociedade para Estudos Sociais da Ciência no Shereaton Boston,

reunindo mais de 1,5 mil pesquisadores de todos continentes”. (Folha de São Borja, Social, 16

de setembro de 2017, p.4).

Observamos, dessa vez na coluna social, o destaque dado ao trabalho de duas

profissionais, porém não se comentou nada a respeito do trabalho propriamente dito que

desenvolvem, voltando a destacar adjetivos para conceitua-las, “Olha só de linda e simpática a

pediatra [...]. Foi clicada no seu bem orquestrado consultório [...], agenda concorrida de

atendimentos”. (Folha de São Borja, Fim de Semana, Social, 24 de junho de 2017, p.5).

Igualmente, ao noticiar o trabalho de uma defensora pública o título “descolada” aparece em

destaque, utilizando também os adjetivos “ bonita, descolada e sarada, extremamente

agradável”. (Folha de São Borja, Caderno IN, Social, 04 de maio de 2017, p.5.

Uma notícia interessante encontramos na Coluna Social do dia 5 de abril no Caderno IN,

p. 4 que traz como título “Evidência Feminina”. É sobre um evento que ocorreu em um clube

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recreativo da cidade, onde algumas mulheres receberam troféus. Há várias fotos, uma lista de

nomes das homenageadas, mas nada se sabe sobre elas. O que ficou em “evidência” mesmo foi

a imagem, para utilizar as palavras do próprio jornal “chique e elegante” das mulheres sendo

“clicadas”.

As dúvidas que surgem após essa breve análise são muitas e dariam espaço para outra

pesquisa a ser construída, onde poderíamos questionar alguns leitores do jornal sobre como as

mulheres sãoborjenses são percebidas e, de modo mais incisivo, se a maneira como as mulheres

da cidade são descritas nessas notícias revelam que elas (poderiam não ter) uma atuação

relevante na vida política, econômica e nos demais setores importantes do município.

Entendemos que,

Al igual que los hombres, las mujeres son y han sido siempre, actoras y agentes em la

historia. Ya que las mujeres son la mitad o más de la mitad de la humanidade, siempre

han compartido el mundo y sus trabajos em iguales partes com los hombres. Las

mujeres on y han sido parte central, no marginal, de la formación de la sociedade y de

la construcción de la civilización. (FACIO y FRIES, 1999, p.55).

Porém, apesar da afirmação acima, percebemos que a mulher continua sendo dominada

mas, hoje quem as dominam não são mais os homens, personificados em maridos,

companheiros, ex-companheiros, filhos, irmãos ou namorados, mas a própria sociedade

revelando que ela deve assumir vários papéis e enaltecendo isso, como trabalhadora, dona de

casa e mãe. Não obstante deve ainda, seguir os padrões da moda imposto pela mídia, ser

“querida, simpática, chique” e obedecer a uma série de adjetivos necessários para ser notícia,

ou, pior ainda, sofrer algum tipo de violência sexista. Assim, ou ela é retratada nas colunas

sociais como dona de uma “beleza exótica” e com outros atributos relacionados a sua aparência

ou comportamento social, ou na pior das hipóteses, como vítima da violência sexista, ainda

muito presente em nosso cotidiano.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

É necessário, como uma alternativa à problemática da conveniência discursiva das

notícias, educar para o acesso aos conteúdos informativos presentes nos meios de comunicação.

O jornal tem papel fundamental na construção da realidade social e precisa ter ciência do seu

papel contributivo na formação de cidadãos. Por isso, não atender a lógica do mercado e da

concorrência no que tange aos contornos da violência é de extrema importância. É preciso

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desvelar com cautela e não esconder, a partir de um criticismo ético, as práticas de violência

contra a mulher nos discursos do jornal, incentivando a tolerância com o diferente, o espírito

de justiça e a solidariedade.

É preciso ter em vista que, enquanto partícipe na construção da realidade, a mídia, em

particular o jornal, pode também ser considerada uma instância pedagógica que forma

conhecimento sobre os mais variados assuntos. As abordagens jornalísticas, muitas vezes de

forte conteúdo denunciativo, acabam por se tornarem simplificadoras, o que tende por prolongar

práticas de incentivo à violência e autenticar processos de opressão que deveria, no seu objetivo

original, combater. A mulher precisa ser retratada como sujeito de direito que participa

ativamente da vida social, política e econômica da cidade, e não apenas como alguém que

merece adjetivos capazes de defini-la fisicamente. Faz-se necessário que o próprio discurso dos

meios de comunicação não seja de violência e que, à longo prazo, as representações desse tema

no jornal pesquisado promovam sentidos e interpretações que influam para a construção de uma

cultura não sexista ou machista, onde as mulheres são retratadas como objetos, mas onde

possam ser reconhecidas como sujeitos e protagonistas da sua própria história.

REFERÊNCIAS

ALSINA, Miguel Rodrigo. A construção da notícia. Tradução de Jacob A. Pierce. Petrópolis,

RJ: Vozes, 2009.

BERGER, Peter. & LUCKMANN, Thomas. A construção social da realidade. 33 Ed.

Tradução de Floriano de Souza Fernandes. Petrópolis: Vozes, 2011.

BOULDING, Elise. La Violencia y suas causas. Paris França: Editorial UNESCO,1981

CITELLI, Adilson. Linguagem Verbal e Meios de Comunicação. Sobre palavras e (inter) ditos.

REVISTA USP. São Paulo, n.48, dezembro/janeiro 2000-2001.

CORIA, Clara. El Amor, nos es como nos contaron ni como lo inventamos. Buenos Aires:

Paidós, 2005.

COSTA, Eloísa de Campos, GOMES, Carlos Minayo. Superar a cultura da violência: Um

desafio para a escola. São Paulo: Papirus Editora, 1999.

DINES, Alberto. O papel do jornal e a profissão de jornalista. 9.ed. São Paulo: Summus,

2009.

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FACIO, Alda; FRIES, Lorena. Género y Derecho. Santiago de chile: LOM Ediciones/La

Morada, 1999.

LIPPMAN, Walter. Opinião pública. Petrópolis: Vozes, 2008.

MICHAUD, Yves. A violência. Tradução de L. Garcia. São Paulo: Ática, 2001.

NICOLAU, Marcos. MetaCiência na prática: como lidar com a pesquisa científica. João

Pessoa, PB: Ideia, 2016.

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COMUNICAÇÃO DIGITAL: PANORAMA DAS EMPRESAS FRONTEIRIÇAS22

Henrique Esper23

Cristóvão Domingos de Almeida24

RESUMO: O objetivo deste trabalho é apresentar os resultados obtidos a partir da pesquisa

realizada no projeto de extensão Comunicação Digital nas Organizações de São Borja. O estudo

realizado no desenvolvimento do projeto, visa compreender o cenário atual das empresas

localizadas em São Borja, na fronteira oeste do estado do Rio Grande do Sul. Com foco nos

usos e apropriações das fanpages do site Facebook. O estudo está fundamentado em mídias

sociais, estratégias de comunicação e organização como espaço de fortalecimento das

atividades comerciais no município. Com base em pesquisa documental e mapeamento das

páginas de 310 empresas entre os anos de 2015 e 2016, destacando pontos positivos e negativos

das respectivas instituições e as formas de aproximação com seus públicos. Evidencia-se que

as redes sociais podem servir como potencialidade ao desenvolver o empreendimento e nas

aproximações com os diferentes públicos.

Palavras-Chaves: Comunicação Digital, Mídias Sociais, Cultura Organizacional, Estratégias

Comunicacionais.

INTRODUÇÃO

O objetivo deste artigo é apresentar pesquisas realizadas em 2015 e 2016, identificando

como as empresas de São Borja usam e se relacionam com seus públicos através de estratégias

de comunicação digital, tendo em vista o município localizado na fronteira Oeste do estado do

Rio Grande do Sul, interiorano, com 335 anos de história e possui cerca de 60 mil habitantes.

O artigo se apoia no argumento que nos dias atuais as empresas precisam usar e se apropriar

das redes sociais, pois a partir desses espaços digitais as organizações conseguem manter

22 Trabalho desenvolvido no projeto de extensão: Comunicação Digital nas empresas de São Borja 23 Graduando do curso de Relações Públicas da Universidade Federal do Pampa - UNIPAMPA; São Borja, Rio

Grande do Sul; [email protected]. 24 Pós-doutor em Comunicação e Práticas de Consumo e professor na Universidade Federal do Pampa; São Borja,

Rio grande do sul; [email protected].

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diálogo com seus públicos, aproximação e estabelecer processos de fidelização.

Nos últimos anos 20 anos os indivíduos estão adquirindo novos hábitos e formas de

raciocínio, com a presença da internet, intensificaram-se esses processos e de modo dinâmico

auxiliam a era informatizada para que cada indivíduo tenha de forma democrática acesso às

informações disponíveis. Os dispositivos utilizados para acessar a rede mundial de

computadores avançaram, e muito, dentre estas variáveis, estão os incentivos por partes dos

governos e o valor que era pago para adquirir os equipamentos e custear o manuseio. Esta

facilidade no acesso, trouxe consigo novas formas de se comunicar. As organizações se

atentaram a esta disponibilidade de acesso e buscam as oportunidades para garantir resultados

positivos.

Este estudo traz as questões da comunicação organizacional digital no município de São

Borja, com intuito de dar visibilidade às estratégias de comunicação digital das empresas no

Facebook e se estão sendo feitas, auxiliando administradores locais, apresentando dados

consistentes para reflexão.

A abordagem metodológica deste estudo é de cunho qualitativo. Para coletar as

informações utilizamos os seguintes instrumentos: levantamento documental dos

empreendimentos empresariais da cidade. Identificamos 310 empreendimentos comerciais no

município (ACISB, 201525). Realizamos também mapeamento da presença das empresas no

Facebook; entrevistas em profundidade com os administradores, para saber se as empresas de

São Borja estão inseridas na rede social Facebook. Para realizar o tratamento desses dados,

trabalharemos com a análise focada no “grau da conexão de uma rede ego” (RECUERO, 2011,

p. 71) que se traduz em: analisar a popularidade de uma página através de suas conexões com

seus seguidores, por curtidas, comentários dentre outras interações entre os usuários.

Evidencia-se que as redes sociais podem servir como potencialidade de desenvolver o

empreendimento e aproximar os diferentes públicos, quando usadas a partir de estratégias

tomadas para melhor desempenho, e, com isso, o surgimento de novas identidades, nova cultura

organizacional e resultados satisfatórios às organizações.

Transformações da comunicação digital no ambiente empresarial

A inserção das redes sociais na internet causa transformações. Essas mudanças estão sendo

objetos de estudos de diversos autores ao redor do mundo. Castells (2008) diz que a formação

25 Associação Comercial Industrial de Prestação de Serviços e Agropecuária de São Borja.

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de redes e à flexibilidade: tornam praticamente indistintas as fronteiras de participação e de

envolvimento, individualizam as relações sociais de produção e provocam instabilidade

estrutural do trabalho, do tempo e do espaço. Essas dimensões também recebem atenção de

Santaella (2010) e Terra (2011), como ruptura das variáveis clássicas da comunicação e das

bases materiais da vida (CASTELLS, 2008), possibilitando as mensagens serem registradas por

longos períodos e a presença em lugares onde não se está fisicamente, para além das fronteiras

geográficas.

Ao tratar de estratégia e, conectando com a comunicação digital, é importante ressaltar

que essas informações, com auxílio da tecnologia e profissionais capacitados, compreendendo

e adaptando-se às novas tecnologias vêm para somar a resultados positivos à organização.

Castells (2001, p. 8) observou que:

Essas tecnologias permitem a coordenação de tarefas e a administração da

complexidade. Isso resulta numa combinação sem precedentes de flexibilidade e

desempenho de tarefas, de tomada de decisão coordenada e execução descentralizada,

de expressão individualizada e comunicação global, horizontal, que fornece uma

forma organizacional superior para ação humana.

As tecnologias atualizam-se a cada dia. Dentro das empresas não é diferente, elas

precisam estar sempre se reciclando, renovando, necessitam de tecnologias avançadas para

conseguirem melhor desempenho e produtividade. Com profissionais qualificados,

identificando qual tecnologia é a melhor para exercer a atividade, desta forma, articula com os

preceitos elencados por Castells (2001) principalmente no que diz respeito a flexibilização e os

trabalhos descentralizados.

A comunicação digital se insere nessas dimensões porque traz diversas opções para as

corporações trabalharem diretamente com seus públicos. Dentre elas estão as redes sociais da

internet, web sites, televisão, programas radiofônicos, entre outras. Uma das opções mais

usadas pelos empreendedores são as redes sociais da internet, vêm sendo usadas por empresas

e indivíduos, para auxiliar na divulgação das ações e os empreendimentos, criando uma nova

cultura organizacional. Para Schuler criar uma nova cultura organizacional significa:

Todo processo de mudança organizacional desejado, trazendo novas formas de

organização e de administração, implica, essencialmente, um processo de mudança

cultural. A intervenção cultural é, basicamente, um processo de comunicação, em que

as novas informações e as novas vivências funcionam como força transformadora, que

necessita, contudo, de tempo, de sustentação e de perseverança para se manifestar como

transformação efetiva. (SCHULER, 2009, p. 269)

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Conectando com o pensamento de Kunsch (2009), as redes sociais estão em constante

evolução e as organizações devem aproveitar as ferramentas para ampliar seu campo de atuação

e obter feedback26, divulgação de seus produtos. Desse modo, cada empresa deve utilizar as

informações para redimensionar ações ou fortalecer as melhores práticas.

Recuero (2011, p. 102) conceitua redes sociais como “espaços utilizados para a

expressão das redes sociais na internet”, ou seja, a autora faz a diferenciação entre redes sociais

mobilizadas pela sociedade civil e aquelas utilizadas pelas pessoas no mundo digital. Nesse

sentido, as redes sociais passaram a ser centrais no relacionamento virtual, usando de sites e

outras plataformas.

Desde os primeiros sites de redes sociais, os brasileiros se destacam pela quantidade de

usuários inseridos. Com tamanha relevância, as ferramentas geram o seguinte questionamento:

como as empresas podem utilizar a comunicação digital e obter resultados satisfatórios?

Esta questão vem sendo desmistificada no dia a dia, pois em um país em que 96% das

empresas têm acesso à internet e 36% das empresas instaladas no país já utilizam as redes

sociais digitais (CETIC, 2013)27, demonstra que muitos administradores não conseguiriam

visualizá-las como uma ferramenta eficaz para seus negócios.

Se, em 2013, mais de 36% dos administradores brasileiros estão nas redes sociais

digitais, entendemos que elas são fundamentais para ampliar seus negócios e promover a

interação com os públicos. Essas informações revelam a importância de estarem inseridas nas

tecnologias atuais. As empresas ao compreenderem esse fator como relevante na promoção da

nova cultura organizacional também podem agir e conquistar resultados, pois, podem passar a

ampliar o uso e apropriar com mais intensidade dessas plataformas.

O contexto das empresas de São Borja

A cidade de São Borja, com mais de 330 anos de história, fundada em 1682, é uma das

cidades mais antigas do Brasil. Está a cerca de 600 quilômetros de distância da Capital do estado

e faz fronteira com a Argentina, cidade de Santo Tomé. É reconhecida como a Terra dos

Presidentes. Pois foi o local de nascimento dos ex-presidentes Getúlio Vargas e João Goulart.

26 Retorno/resposta de determinada ação praticada pela empresa. 27 Centro Regional de Estudos para o Desenvolvimento da Sociedade da Informação (Cetic.br).

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Além disso, a cidade é conhecida também pelo seu tradicionalismo regional ainda presente em

CTGs (Centro de Tradições Gaúchas), com intensa organização durante a semana farroupilha

e, as marcas da tradição são visto no cotidiano, uma vez que as pessoas usam as vestimentas

gauchescas.

De acordo com a Associação Comercial Industrial de Prestação de Serviços e

Agropecuária de São Borja (ACISB), no município existem 310 empreendimentos em plena

atividade. Interpretaremos a partir das metodologias utilizadas para análise do cenário,

compreendendo como estão sendo utilizadas as tecnologias para comunicação digital das

empresas para os públicos e os impasses que os administradores locais estão desenvolvendo

com a vasta possibilidade de tecnologias comunicacionais disponíveis no mercado.

Tomamos como foco para nosso levantamento os sites de redes sociais. Justificamos a

escolha por se tratar de uma plataforma mais acessada pelo público brasileiro, segundo a

pesquisa brasileira mídia 2015. O estudo realizado, buscou as redes sociais, Facebook,

Whatsapp, Youtube, Instagram, Google+, Twitter, Skype e Linkedin entre outras para

evidenciar qual os brasileiros utilizam mais. As três mais usadas foram Facebook (83%),

Whatsapp (58%) e Youtube (17%). Com este resultado focamos no Facebook para começar as

indagações sobre o uso da comunicação digital pelas empresas de São Borja.

A partir deste levantamento, selecionamos cinco empresas para realizarmos entrevistas

buscando compreender a realidade sobre a inserção delas na rede social digital. Essas

informações são relevantes para entendermos como são elaboradas as estratégias de

comunicação digital a partir do Facebook, ou, no caso das organizações que não fazem o uso,

quais são os motivos para ainda não estarem inseridas.

Após o mapeamento das 310 empresas existentes no município, realizamos buscas nas

redes sociais para verificar a existência das empresas no mundo digital, ao mesmo tempo,

analisamos cada pesquisa para determinar onde cada empresa se encaixaria: usam ou não. A

partir do levantamento foram feitas separações para que pudéssemos identificar três tipos de

“uso” feito pelas empresas, o “Perfil”, destinado a pessoas físicas que procuram

relacionamentos no site, como amizade, namoro, ou seja, qualquer tipo de relacionamento que

o site ofereça. Funciona como uma conta principal da página para em seguida criar uma

“Página”, destinada a agrupar em uma única página todos os usuários que são cadastrados neste

site e que buscam informações sobre ela. Isto é, “Página”, é o lugar ideal para fazer com que a

comunicação digital flua, usando estratégias para trazer resultados positivos para o

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administrador da página em questão e o último filtro são as empresas que não fizeram um perfil

e também não fizeram uma “página”.

O uso da comunicação digital: informações coletadas a partir das empresas

Ao mapear as organizações obtidas a partir do levantamento documental realizado em

2015, pode-se notar que 49% das empresas não utilizam esta plataforma, 10% utilizam, mas

não tem conhecimento para se inserir a esta plataforma de forma estratégica e 41% estão

inseridas.

Figura 1: Mapeamento 2015

Fonte: Os autores.

Estes dados revelam que grande parte das empresas estão inseridas nas redes sociais,

mas esta inserção está ocorrendo de forma lenta, pois as empresas devem usar as novas

tecnologias de modo a buscar resultados positivos. Sabe-se que os benefícios das redes sociais

para a comunicação digital estão além de criar uma página, mesmo as empresas que estão

inseridas no contexto das redes sociais muitas delas não possuem habilidade para o manuseio,

menos ainda para o monitoramento dessa mídia, podendo ocorrer distorções nas estratégias e

na obtenção de resultados.

Verificamos nas vozes das pessoas que trabalham nos estabelecimentos as necessidades

e também os desafios no uso dessas ferramentas. Conforme a resposta do administrador do

empreendimento, indica que o propósito é estar inserido, muito embora encontra algumas

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limitações. Ele diz: “Nós fizemos uma página mas não percebemos nenhum resultado vindo

desta página, a partir de um tempo paramos de usar pois, estávamos “perdendo” tempo em

cima de uma coisa que não estava nos trazendo resultados para o tempo investido”.

O administrador percebe que a empresa precisa estar inserida nas redes sociais, a partir

deste momento cria sua conta, mas a deixa em inércia, apenas com os dados da empresa, sem

interagir com o público, sem atualizações diárias, isso cria desinteresse tanto dos públicos

quanto do gestor.

Este exemplo foi abordado, pois, uma quantia considerável de empresas analisadas se

preocupam apenas em entrar na rede, mas não atualizam, não criaram ações, estratégias de

comunicação digital, de forma a trazer benefícios para si. Considerando mais frequente o uso

destas para elaborar técnicas eficazes para atrair resultados, as empresas estão cada vez mais

distantes do cenário que está em ascensão quando se trata de redes sociais na internet para

aprimorar a comunicação digital na empresa.

Outro administrador, percebe a dificuldade que tem em deixar com que um

funcionário monitore a página. Esclarece quando é questionado se a empresa está inserida:

“Ainda não, porque nós estamos com um projeto que está sendo posto em prática por uma

empresa terceirizada, que cuidará de nossa empresa nas redes sociais, pois nos dias de hoje

não podemos mais ficar de fora delas.”

Neste outro exemplo, o gestor sabe das dificuldades que para ele seria ao se inserir nas

redes fazendo com que um de seus funcionários fique responsável no gerenciamento dessa

mídia, mas procura a terceirização para não estar de fora desse contexto.

As práticas exitosas das empresas nas redes sociais

Os sites de redes sociais são apropriações de usuários através de mediações pelo

computador criando “atores” por meio de ações, afim de criar conexões com público alvo,

Recuero (2011, p. 30) define o foco do estudo das redes sociais como:

As conexões em uma rede social são constituídas dos laços sociais, que, por sua vez,

são formados através da interação social entre os atores. De um certo modo, são as

conexões o principal foco do estudo das redes sociais, pois é sua variação que altera as

estruturas desse grupo.

Ou seja, são através das conexões que as redes sociais se alteram e se adaptam as

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mudanças, podendo ser analisada para compreender a dinâmica sem perder o foco das novas

tecnologias.

As empresas destacadas como exitosas ou não exitosas, serão analisadas a partir do grau

de conexões de suas redes. Para Recuero (2011, p. 71) “quanto maior o grau de conexão, mais

popular e mais central é o nó na rede.” Ou seja, quanto mais seguidores, curtidas, comentários,

compartilhamentos, mais popular é a página. No caso das empresas analisadas, quanto mais

popular a página mais visibilidade para a empresa, tratando com êxito a apropriação das redes

digitais para a comunicação digital da organização.

Figura 2: Exitosas

Fonte: facebook.com

Estas empresas foram classificadas como exitosas pois o número de pessoas que

curtiram a página criada por elas foi relativamente alta para o contexto da cidade, criando um

elevado grau de conexão, se tornando popular na rede, fazendo com que flua a comunicação

digital apropriada pela rede social, dando visibilidade a organização.

Figura 3: Quantidade de curtidas e comentários

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Fonte: facebook.com

É importante salientar a interatividade para o sucesso nas redes sociais, Recuero (2011,

p. 34) afirma que “a interação no ciberespaço também pode ser compreendida como forma de

conectar pares de atores e de demonstrar que tipo de relação esses atores possuem.” Ou seja,

também determinam o êxito das empresas no sites de redes sociais, pois sabendo utilizar a seu

favor, permite estabelecer aproximação com público, fazendo com que haja confiança,

fidelizando ainda mais o vínculo entre organização e público.

Figura 4: Baixo número de curtidas

Fonte: facebook.com

Nota-se o número relativamente baixo de curtidas para o contexto da cidade, não

demonstram apenas dígitos, este número baixo, demonstra que a apropriação da rede digital

social para aprimorar a comunicação digital não está surtindo efeito. Caso esteja sendo feito

algum tipo de investimento, seja ele de tempo ou dinheiro, ainda não obteve retorno.

A mudança de estratégias é necessária para que o administrador não tenha a

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compreensão de que as redes sociais não se aplicam a sua empresa, pois não conseguem atingir

o público, também se faz necessária para trazer resultados positivos e não ser mais um

investimento que não obteve retorno, muito pelo contrário, essas novas tecnologias estão

disponíveis para auxiliarem a comunicação digital e permitir uma nova cultura organizacional

nas empresas.

Figura 5: Perfil

Fonte: facebook.com

Este empreendimento é um dos que fazem parte dos 10% das empresas que não possuem

conhecimento para utilizar o site a seu favor, ao invés de criar uma “página”, onde pode ser

visto estatísticas de seu uso para obter resultados favoráveis, verificar qual post teve mais

curtida, quem curtiu a página na semana, ou até mesmo para impulsionar a visibilidade da

empresa. Mas, ao contrário disso, foi criado um perfil para a divulgação, expondo a falta de

conhecimento no uso dessa plataforma, pois esse modelo dificulta o gerenciamento da mídia.

Diante disso, podemos observar o baixo número de empresas que conseguem atingir o

sucesso no uso dos sites de redes sociais na cidade. A falta de conhecimento para a apropriação

das redes sociais na comunicação digital, aumenta o número de empresas utilizando de maneira

inadequada, desfavorecendo a obtenção de resultados positivos.

Olhando por outro lado, verificamos que as ações diárias das empresas que obtém êxito

em suas páginas, fazem o uso com estratégias que favoreçam o posicionamento do

empreendimento frente ao seu público. Isto é, conectando interatividade com visibilidade e, cria

uma nova cultura organizacional, mudando os hábitos e procurando estar atualizado com as

novas tecnologias para oferecer o melhor para seus clientes, buscando estar atento ao mercado.

Com o propósito de identificar as transformações na conjuntura das organizações do

município no intervalo de um ano, foi realizado novamente em 2016 o levantamento

documental com a ACISB e executado o mapeamento das informações coletadas, os resultados

revelam que houve mudanças no contexto das empresas de São Borja no ano de 2016:

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Figura 6: Mapeamento 2016

Fonte: Os autores.

Dentre o intervalo de tempo entre 2015 e 2016, podemos observar mudanças. No gráfico

de 2015 foi concluído que: 10% das empresas que estavam inseridas na plataforma Facebook

para se apropriar dela como uma ferramenta da comunicação digital não estavam obtendo êxito,

pois não se inseriram como “página”, se inseriram como “perfil”, não utilizando as ferramentas

oferecidas pela plataforma. No ano de 2016 duas mudanças foram notórias: A primeira, queda

no número de organizações que utilizam o modo “perfil” de 10% para 7%. Segunda, se dá pelo

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aumento de 41% para 44% nas empresas inseridas como “página”, utilizando as ferramentas

oferecidas pela plataforma.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Neste trabalho, procuramos mapear, identificar e analisar as empresas do município de

São Borja com suas apropriações de novas tecnologias para o uso na comunicação digital. A

partir de abordagem qualitativa para notar a eficiência deste novo meio de comunicação frente

ao público externo, com mais interatividade e, com o público interno, a partir de uma nova

cultura organizacional.

Com os resultados dos mapeamentos em 2015 e 2016 e das análises, podemos observar

que muitos administradores dos empreendimentos sabem das dimensões dessas plataformas,

mas não possuem conhecimento para se inserir e usar estrategicamente. Algumas empresas

ainda permanecem com pensamentos conservadores sobre mudar os hábitos comunicacionais e

acabam estagnados ao decidirem não procurar auxílios de novas tecnologias para o seu

crescimento.

Portanto, compreende-se que o cenário da comunicação digital nas empresas do

município é promissor. Essa condição faz com que os empreendimentos se atentem para as

oportunidades que podem surgir através do uso dessas plataformas, especialmente a partir,

interatividade e visibilidade dos empreendimentos, isso, por si só justifica o uso dessa mídia

como geradora de desenvolvimento e também de uma nova cultura organizacional.

REFERÊNCIAS

BRASIL. Presidência da República. Secretaria de Comunicação Social. Pesquisa brasileira de

mídia 2015: hábitos de consumo de mídia pela população brasileira. Brasília: Secom, 2014.

CASTELLS, Manuel. O poder da identidade. São Paulo: Paz e Terra S/A, 2008.

Pesquisa sobre o uso das tecnologias da informação e comunicação no Brasil [livro eletrônico]

: TIC domicílios e empresas 2013 = Survey on the use of information and communication

technologies in Brazil : ICT households and enterprises 2013/[coordenação executiva e

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editorial/executive and editorial coordination, Alexandre F. Barbosa ; tradução/translation DB

Comunicação]. -- São Paulo : Comitê Gestor da Internet no Brasil, 2014. Acesso em 5 out.

2015.

RECUERO, Raquel. Redes Sociais na Internet. 2. Ed., Porto Alegre: Sulina, 2011.

SANTAELLA, Lucia e LEMOS, Renata. Redes digitais: a cognição conectiva do Twitter. São

Paulo: Paulus, 2010.

SCHULER, Maria. A cultura organizacional como manifestação da multidimensionalidade

humana. In. KUNSH, Margarida M. Krohling (Org). Comunicação Organizacional:

linguagem, gestão e perspectivas. 2. Ed., São Paulo: Saraiva, 2009.

TERRA, Carolina Frazon. Mídias Sociais... e agora? São Caetano do Sul: Difusão Editora,

2011.

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PERFIL DOS EGRESSOS DO CURSO DE JORNALISMO DA UNIVERSIDADE FEDERAL DO PAMPA.

André Luiz da Silva Rodrigues28 Leandro R. Comassetto29

RESUMO: Este trabalho consiste em um levantamento feito com os egressos do Curso de

Jornalismo da Universidade Federal do Pampa, Campus São Borja. Realizamos uma pesquisa

do período de maio de 2016, até o presente momento. A partir da pesquisa observamos a

demanda por fomentar práticas empreendedoras ainda na Universidade. Devido à escassez de

trabalho nos grandes meios de comunicação, observasse a necessidade de explorar o jornalista

gestor de seu próprio negócio. “Algumas funções são extintas e há um fortalecimento da figura

do jornalista gestor” (MARTINS, 2017, pg 2). Partindo desta premissa constata-se que o

profissional jornalista precisa está cada vez mais preparado para ter muitas funcionalidades,

dentre ela a gestão de seu próprio negócio.

Palavras-Chaves: Egressos Jornalismo, Empreendorismo em comunicação, Jornalismo

Empreendedor.

METODOLOGIA

A partir das discussões do grupo de pesquisa “Empreenderismo em Comunicação”,

traçamos mapear e levantar dados sobre os egressos do curso de Jornalismo da Universidade

Federal do Pampa(Unipampa), após dez anos de criação do mesmo. A partir desta inquietação

elaboramos um questionário com dez questões para observar dados relevantes sobre o perfil

destes profissionais formados pela Unipampa. Para realizar esta pesquisa utilizamos o “Google

Forms” 1 , para entrar em contato com os mesmo utilizamos os seguintes recursos. Telefone

institucional, rede sociais e e-mail’s. Do total de 173 formandos até o ano de 2016, obtivemos

a resposta de 96. A metodologia que utilizamos foi a qualitativa, para ter uma ampla análise do

perfil destes profissionais formados pela instituição pesquisada. Observando o cenário

empreendedor vigente na atualidade da comunicação observamos que “A profissão de jornalista

tem apresentado significativas mudanças nas últimas duas décadas devido à introdução de

novas tecnologias e ao redesenho da organização produtiva ocorrida no mundo do trabalho,

mudanças que estão associadas, em nível mais amplo, ao processo de

reestruturação”(OLIVEIRA, 2015). A partir desta ótica empreendedora queremos observar

28Acadêmico do curso de jornalismo da Universidade Federal do Pampa. Bolsista do grupo de pesquisa

“Empreendedorismo em Comunicação”, E-mail: [email protected] 29 Líder do Grupo de Pesquisa: Empreendedorismo em Comunicação.

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quantos egressos tenderam para o empreendedorismo na comunicação, e no jornalismo. Quais

têm a prospecção de empreender e qual a função do curso de jornalismo neste processo.

RESULTADOS e DISCUSSÃO

A partir da realização desta pesquisa observamos a importância de incentivar ainda na

Universidade os graduandos a buscarem práticas empreendedoras. Observando a atualidade do

mercado de trabalho, o jornalismo também passa por adaptações. O jornalista para garantir seu

lugar no mercado atual, precisa ter o perfil empreendedor, pois só “O empreendedor sabe fixar

metas e alcançá-las. Luta contra padrões impostos. Diferencia-se. Tem a capacidade de ocupar

um espaço não ocupado por outros no mercado, descobrir nichos”. (DOLABELA, 2004, p. 37).

A primeira questão levantada foi apontar o que os acadêmicos estão fazendo profissionalmente

na atualidade. Dos 96 alunos que completaram nosso questionário apenas 41,7% está atuando

na área.

Pesquisa realizada com egressos do curso de Jornalismo da Universidade Federal do Pampa do período de

maio de 2017, até 10 de setembro de 2017.

Observando este quadro, percebe-se que está cada vez mais difícil o profissional jornalista

ter empregabilidade. Conforme o artigo do “Observatório de Imprensa”, feito com base no

levantamento do “Portal Comunique-se” no ano de 2015, 1400 jornalista foram demitidos dos

grandes veículos nacionais. Tal cenário de reproduz aos egressos da Unipampa. Pois mesmo

com a qualificação acadêmica ainda não conseguem uma boa inserção no mercado de trabalho.

Os egressos que consideram a média salarial da categoria, baixa, como aponta o resultado das

respostas levantadas com os ex-alunos.

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60,2% dos egressos do curso de jornalismo destaca como “ruim” a média salarial dos jornalistas.

A partir desta perspectiva constata-se a relevância de ter mais envolvimento com as

iniciativas empreendedoras dentro da graduação. Tendo este contato ainda na Universidade,

possibilita que a inovação seja uma premissa que a academia incentive seus graduandos a

desenvolver.

“O jornalista profissional terá que ser também um empreendedor, ou seja, ter a

capacidade de gerenciar seu trabalho de forma independente sempre de olho no

equilíbrio entre receitas e despesas. Parece simples, mas não é, pois tanto os mais

velhos como os recém graduados foram formados para trabalhar em empresas, como

assalariados (Castilho, 2011).”

Este cenário de baixos salários, e a falta de empregos em grandes veículos, gera nos

profissionais pesquisados o interesse em criar seu próprio negócio e empreender na área da

comunicação. Conforme as 93 respostas levantadas entre os 96 ex-alunos do curso de

Jornalismo, 65,6% tem interesse em empreender.

93 respostas com os egressos. 65,6% esclarece que quer empreender.

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Conforme estes dados levantados observamos a importância de incentivar e valorizar o

empreendedorismo, dando um viés inovador para o curso de jornalismo da Universidade

Federal do Pampa.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Partindo do que foi apresentado, nossa pesquisa mostra que ainda precisa haver mais

incentivo aos alunos de comunicação a buscar empreender. Observando o que acontece no

mercado atual, se faz necessário buscar outras maneiras de conseguir se manter como jornalista.

REFERÊNCIAS

CASTILHO, Carlos. Empreendedorismo jornalístico através de blogs. 24 mai. 2011.

Observatório da Imprensa. [acesso em 27 set 2017] Disponível em:

http://observatoriodaimprensa.com.br/codigo-aberto/empreendedorismo-jornalisticoatraves-

de-blogs/

DOLABELA, Fernando. O Segredo de Luísa. 1.ed. São Paulo: Cultura, 2004. BORGES,

Zulcy, 1.400 jornalistas demitidos em 2015 in Observatório de Imprensa, 09/01/2016 na edição

884. [acesso em 27 set 2017] Disponível em: http://observatoriodaimprensa.com.br/imprensa-

em-questao/1-400-jornalistasdemitidos-em-2015/

MARTINS, Cássia. Atitude empreendedora e novos paradigmas de trabalho no

jornalismo: uma análise a partir do LinkedIn Pulse. XL CONGRESSO BRASILEIRO DE

CIÊNCIAS DA COMUNICAÇÃO - INTERCOM, 40, 2017, Curitiba. São Paulo: Intercom,

2017. [acesso em 27 set 2017] Disponível em:

http://portalintercom.org.br/anais/nacional2017/resumos/R12-2742-1.pdf

OLIVEIRA, M. R; GROHMANN, R. O jornalista empreendedor: uma reflexão inicial sobre

jornalismo, flexibilização do trabalho e os sentidos do empreendedorismo no campo

profissional. Líbero – São Paulo – v. 18, n. 35, p. 123- 132, jan./jun. de 2015. [acesso em 27

set 2017]. Disponível em: http://seer.casperlibero.edu.br/index.php/libero/article/view/79/57

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PERFIL DOS EGRESSOS DO CURSO DE JORNALISMO DA UNIVERSIDADE

FEDERAL DO PAMPA.

André Luiz da Silva Rodrigues30 Leandro R. Comassetto31

RESUMO: Este trabalho consiste em um levantamento feito com os egressos do Curso de

Jornalismo da Universidade Federal do Pampa, Campus São Borja. Realizamos uma pesquisa

do período de maio de 2016, até o presente momento. A partir da pesquisa observamos a

demanda por fomentar práticas empreendedoras ainda na Universidade. Devido à escassez de

trabalho nos grandes meios de comunicação, observasse a necessidade de explorar o jornalista

gestor de seu próprio negócio. “Algumas funções são extintas e há um fortalecimento da figura

do jornalista gestor” (MARTINS, 2017, pg 2). Partindo desta premissa constata-se que o

profissional jornalista precisa está cada vez mais preparado para ter muitas funcionalidades,

dentre ela a gestão de seu próprio negócio.

Palavras-Chaves: Egressos Jornalismo, Empreendorismo em comunicação, Jornalismo

Empreendedor.

METODOLOGIA

A partir das discussões do grupo de pesquisa “Empreenderismo em Comunicação”,

traçamos mapear e levantar dados sobre os egressos do curso de Jornalismo da Universidade

Federal do Pampa(Unipampa), após dez anos de criação do mesmo. A partir desta inquietação

elaboramos um questionário com dez questões para observar dados relevantes sobre o perfil

destes profissionais formados pela Unipampa. Para realizar esta pesquisa utilizamos o “Google

Forms” 1 , para entrar em contato com os mesmo utilizamos os seguintes recursos. Telefone

institucional, rede sociais e e-mail’s. Do total de 173 formandos até o ano de 2016, obtivemos

a resposta de 96. A metodologia que utilizamos foi a qualitativa, para ter uma ampla análise do

30Acadêmico do curso de jornalismo da Universidade Federal do Pampa. Bolsista do grupo de pesquisa

“Empreendedorismo em Comunicação”, E-mail: [email protected] 31 Líder do Grupo de Pesquisa: Empreendedorismo em Comunicação.

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perfil destes profissionais formados pela instituição pesquisada. Observando o cenário

empreendedor vigente na atualidade da comunicação observamos que “A profissão de jornalista

tem apresentado significativas mudanças nas últimas duas décadas devido à introdução de

novas tecnologias e ao redesenho da organização produtiva ocorrida no mundo do trabalho,

mudanças que estão associadas, em nível mais amplo, ao processo de reestruturação”

(OLIVEIRA, 2015). A partir desta ótica empreendedora queremos observar quantos egressos

tenderam para o empreendedorismo na comunicação, e no jornalismo. Quais têm a prospecção

de empreender e qual a função do curso de jornalismo neste processo.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

A partir da realização desta pesquisa observamos a importância de incentivar ainda na

Universidade os graduandos a buscarem práticas empreendedoras. Observando a atualidade do

mercado de trabalho, o jornalismo também passa por adaptações. O jornalista para garantir seu

lugar no mercado atual, precisa ter o perfil empreendedor, pois só “O empreendedor sabe fixar

metas e alcançá-las. Luta contra padrões impostos. Diferencia-se. Tem a capacidade de ocupar

um espaço não ocupado por outros no mercado, descobrir nichos”. (DOLABELA, 2004, p. 37).

A primeira questão levantada foi apontar o que os acadêmicos estão fazendo profissionalmente

na atualidade. Dos 96 alunos que completaram nosso questionário apenas 41,7% está atuando

na área.

Pesquisa realizada com egressos do curso de Jornalismo da Universidade Federal do Pampa do período de

maio de 2017, até 10 de setembro de 2017.

Observando este quadro, percebe-se que está cada vez mais difícil o profissional jornalista

ter empregabilidade. Conforme o artigo do “Observatório de Imprensa”, feito com base no

levantamento do “Portal Comunique-se” no ano de 2015, 1400 jornalista foram demitidos dos

grandes veículos nacionais. Tal cenário de reproduz aos egressos da Unipampa. Pois mesmo

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com a qualificação acadêmica ainda não conseguem uma boa inserção no mercado de trabalho.

Os egressos que consideram a média salarial da categoria, baixa, como aponta o resultado das

respostas levantadas com os ex-alunos.

60,2% dos egressos do curso de jornalismo destaca como “ruim” a média salarial dos jornalistas.

A partir desta perspectiva constata-se a relevância de ter mais envolvimento com as

iniciativas empreendedoras dentro da graduação. Tendo este contato ainda na Universidade,

possibilita que a inovação seja uma premissa que a academia incentive seus graduandos a

desenvolver.

“O jornalista profissional terá que ser também um empreendedor, ou seja, ter a

capacidade de gerenciar seu trabalho de forma independente sempre de olho no

equilíbrio entre receitas e despesas. Parece simples, mas não é, pois tanto os mais

velhos como os recém graduados foram formados para trabalhar em empresas, como

assalariados (Castilho, 2011).”

Este cenário de baixos salários, e a falta de empregos em grandes veículos, gera nos

profissionais pesquisados o interesse em criar seu próprio negócio e empreender na área da

comunicação. Conforme as 93 respostas levantadas entre os 96 ex-alunos do curso de

Jornalismo, 65,6% tem interesse em empreender.

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93 respostas com os egressos. 65,6% esclarece que quer empreender.

Conforme estes dados levantados observamos a importância de incentivar e valorizar o

empreendedorismo, dando um viés inovador para o curso de jornalismo da Universidade

Federal do Pampa.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Partindo do que foi apresentado, nossa pesquisa mostra que ainda precisa haver mais

incentivo aos alunos de comunicação a buscar empreender. Observando o que acontece no

mercado atual, se faz necessário buscar outras maneiras de conseguir se manter como jornalista.

REFERÊNCIAS

CASTILHO, Carlos. Empreendedorismo jornalístico através de blogs. 24 mai. 2011.

Observatório da Imprensa. [acesso em 27 set 2017] Disponível em:

http://observatoriodaimprensa.com.br/codigo-aberto/empreendedorismo-jornalisticoatraves-

de-blogs/

DOLABELA, Fernando. O Segredo de Luísa. 1.ed. São Paulo: Cultura, 2004. BORGES,

Zulcy, 1.400 jornalistas demitidos em 2015 in Observatório de Imprensa, 09/01/2016 na edição

884. [acesso em 27 set 2017] Disponível em: http://observatoriodaimprensa.com.br/imprensa-

em-questao/1-400-jornalistasdemitidos-em-2015/

MARTINS, Cássia. Atitude empreendedora e novos paradigmas de trabalho no

jornalismo: uma análise a partir do LinkedIn Pulse. XL CONGRESSO BRASILEIRO DE

CIÊNCIAS DA COMUNICAÇÃO - INTERCOM, 40, 2017, Curitiba. São Paulo: Intercom,

2017. [acesso em 27 set 2017] Disponível em:

http://portalintercom.org.br/anais/nacional2017/resumos/R12-2742-1.pdf

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OLIVEIRA, M. R; GROHMANN, R. O jornalista empreendedor: uma reflexão inicial sobre

jornalismo, flexibilização do trabalho e os sentidos do empreendedorismo no campo

profissional. Líbero – São Paulo – v. 18, n. 35, p. 123- 132, jan./jun. de 2015. [acesso em 27

set 2017]. Disponível em: http://seer.casperlibero.edu.br/index.php/libero/article/view/79/57

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AS RÁDIOS COMUNITÁRIAS COMO UM MECANISMO PARA PROMOÇÃO DE

INFORMAÇÃO NA ÁREA DOS DIREITOS SOCIAIS

Jéssica Degrandi Soares32,

Rosa Maria Castilhos Fernandes33,

RESUMO: Este artigo apresenta parte da revisão bibliográfica realizada no processo de

pesquisa qualitativa intitulada “O Papel das Rádios Comunitárias na Promoção de Informações

sobre Direitos Sociais”, que tem como objetivo geral compreender de que maneira as rádios

comunitárias promovem programas radiofônicos sobre as políticas sociais, visando o acesso à

informação sobre os direitos sociais aos/as ouvintes de municípios do Rio Grande do Sul.

Propõe-se discutir o lugar das rádios comunitárias dentro do sistema de radiodifusão no Brasil,

entendendo que estas se dispõem a oferecer às comunidades conteúdos de cunho cultural e

educativo, pois a comunicação mesmo sendo um bem público no cenário brasileiro se constitui

a partir da condição da lógica privada que vem reforçando a produção e reprodução do capital.

No cenário de luta pela garantia de direitos sociais em meio à conjuntura política e econômica

de cortes de gastos que incidem diretamente na vida dos/as trabalhadores/as, apresentam um

processo contínuo de disputa pela efetivação dos direitos sociais, as reivindicações da classe

trabalhadora e a necessidade da democratização da comunicação no país. Neste texto

evidenciamos as principais categorias analíticas que é resultado da revisão bibliográfica

realizada neste estudo, quais sejam: Poder midiático, rádios comunitárias, política social e

direitos sociais. Sendo assim as categorias revisadas se constituem em importantes subsídios

teóricos que iluminarão o estudo sobre as rádios comunitárias, em parte socializado neste

trabalho.

Palavras-Chaves: Poder midiático, rádio comunitária, direitos sociais, direito à informação,

políticas sociais.

INTRODUÇÃO

O presente artigo emerge da pesquisa bibliográfica realizada no processo de construção

do projeto de pesquisa de mestrado intitulado “O Papel das Rádios Comunitárias na Promoção

de Informação sobre Direitos Sociais” no Programa de Pós-graduação em Política Social e

32 Mestranda do Programa de Pós-graduação em Política Social e Serviço Social; Universidade Federal do Rio

Grande do Sul; Porto Alegre; Rio Grande do Sul; [email protected]; 33 Orientadora; Professora Doutora, do Programa de Pós-graduação em Política Social e Serviço Social;

Universidade Federal do Rio Grande do Sul; Porto Alegre; Rio Grande do Sul; [email protected]

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Serviço Social da Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Esta abordagem surge da

necessidade de compreender de que maneira as rádios comunitárias promovem programas

radiofônicos sobre as políticas sociais, visando o acesso à informação sobre os direitos sociais

aos/as ouvintes de municípios do Rio Grande do Sul, e nesta problematização dos meios de

comunicação presentes na sociedade capitalista contemporânea e que vem reforçando a

produção e reprodução do capital que definem os modos de vida da classe trabalhadora

brasileira.

O cenário brasileiro atual, requer a luta pela garantia de direitos sociais em meio à

conjuntura política e econômica de cortes de gastos que incidem diretamente na vida dos

trabalhadores, como é o caso Emenda Constitucional 95, que limita por 20 anos os gastos

públicos, as reformas trabalhistas em andamento, além de outras situações que corroboram com

os ideários neoliberais. Tal contexto evidencia as práticas conservadoras, colocando a

sociabilidade burguesa na ordem vigente. Por outro lado, evidenciam-se as reivindicações da

classe trabalhadora em movimentos sociais que reivindicam direitos trabalhistas, de saúde,

assistência social, educação, previdência social, habitação, entre outros, estão presentes neste

contexto de lutas sociais, mas que não encontram eco nos espaços dominantes da mídia

brasileira, negligenciando os processos pela democratização da comunicação no país.

Pensar a comunicação nos meios midiáticos é uma tarefa que ganha espaços diferenciados

ao longo do tempo, a exemplo disso é o Fórum Nacional pela Democratização da Comunicação

(FNDC), um movimento social nascido na década de 1980, e que foi um dos principais coletivos

que impulsionaram o artigo V da Constituição Federal de 1988, que trata sobre a comunicação

social no Brasil, enquanto um direito de todos os/as cidadãos/ãs, e que desenvolveu o projeto

de lei que regulamenta a concessão dos meios de comunicação no Brasil, até hoje não aprovada.

Ao considerarmos a mídia na sociedade contemporânea compreendemos os interesses

hegemônicos do capital, pois “os meios de comunicação integram conglomerados econômicos

nacionais e multinacionais” Salles (2011, p. 46), ou seja, oligopólios. Marinoni (2015) retrata

de maneira clara a realidade das emissoras privadas com concessão pública no Brasil, onde ele

já inicia com a defesa de que a comunicação social no Brasil é um bem público, mas que está

subordinada e diretamente ligada “à hipertrofia da lógica privada no setor de radiodifusão”

(2015, p. 01).

O que podemos concluir da condição histórica do oligopólio no Brasil e dos altos

investimentos no setor das emissoras privadas, é que o próprio Estado se apresenta muito

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pacífico e até mesmo condizente com essa trajetória, e “assim, o Estado alimenta, não só

política, mas também economicamente a concentração” (MARINONI, 2015, p.12).

Sabemos que a existência dos meios de comunicação, são fundamentais para a

democracia de qualquer Nação, mas no Brasil a reforma do sistema de comunicação é

emergente. Recentemente uma reportagem no Le Monde Diplomatique aborda os 4 problemas

graves na condição das mídias e suas concessões, tais como: 1. O quase monopólio da televisão

aberta; 2. A concentração de poder dos políticos que detém concessões de televisão e rádio; 3.

A desigualdade no acesso à internet; 4. As ameaças à liberdade e à garantia de direitos na rede

(BRANT, 2013). Também, Brant (2013) considera a estruturação da comunicação no Brasil

que historicamente objetivou o fortalecimento das redes nacionais, e resultando assim no grande

poder adquirido pelas emissoras tradicionais na ditatura militar até a atualidade.

A realidade da mídia no Brasil se relaciona diretamente com os interesses do capital,

como refere Figueiredo (2011), pois, “a comunicação é, sem dúvida, uma das importantes

características da modernidade e vem evoluindo em estreita relação dialética, e não mecânica,

com as relações sociais”. (FIGUEIREDO, 2011 p.324). Isto pode ser visto como uma espécie

de “revolução multimídia” que acaba valorizando o capital, “impulsionado pelas privatizações

e desregulamentações” (FIGUEIREDO, 2011 p.324).

Ao apresentar a condição dos meios de comunicação no Brasil, nos desafiamos a entender

e conhecer um dos meios que se apresentam dentro das mídias alternativas, que em tese devem

fazer o movimento contrário das mídias hegemônicas acima citadas, e é dentro dessa relação

que nos desafiamos a pesquisar as rádios comunitárias. Ao acessarmos os Dados do Setor de

Comunicações34 do Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações,

identificamos que entre janeiro de 2016 e junho de 2017 existem 4.775 rádios comunitárias

outorgadas no Brasil, onde 414 pertencem à região do Rio Grande do Sul, totalizando 8,7% das

rádios comunitárias do Brasil.

As rádios comunitárias vivem uma realidade de criminalização no Brasil onde: “[...] há

uma luta ferrenha contra as rádios comunitárias. São reprimidas de todas as maneiras e é

extremamente difícil conseguir sua aprovação” (GUARESCHI, 2017, p.174). Para o autor as

rádios comunitárias são uma ferramenta de crítica ao que está posto pelos meios de

comunicação tradicionais, é um mecanismo que pode ser utilizado para avaliar e criticar as

informações passadas pela televisão e o rádio comercial.

34 Acessado através do link: http://sistema.mc.gov.br/DSCOM/view/Informacoes.php

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Assim sendo, é importante frisar que a rádio comunitária desempenha “um papel essencial

na construção da informação e do debate nas comunidades em que atuam. Comunidades rurais,

indígenas e periféricas, muitas vezes marginalizadas” (trecho de entrevista com o locutor da

rádio Coité FM35 à Carta Capital, 2016).

Nessa perspectiva começamos a construir o cenário da comunicação pública no Brasil,

que dentre as relações sociais se expressa a condição de poder aliado ao capital, onde as grandes

redes de emissoras ditarão a trajetória dos meios de comunicação e o não acesso à informação

através de meios alternativos, acarretando na criminalização da comunicação comunitária como

é o exemplo apresentado acima, e no livre espaço para as indústrias da comunicação.

A proposta do presente trabalho tem sua relevância para o Serviço Social assim como

para as políticas sociais, uma vez que direciona a análise sobre as rádios comunitárias, no

sentido de identificar se as mesmas cumprem com seu papel social como mecanismos de

comunicação importantes para a efetivação da cidadania em suas comunidades. Cabe a essa

pesquisa analisar de forma crítica a maneira como as rádios comunitárias no estado do Rio

Grande do Sul promovem programas radiofônicos informativos sobre políticas sociais para a

potencialização dos direitos de cidadania.

Para tanto, além desta introdução que justifica a relevância do estudo sobre a temática,

organizamos este texto trazendo a metodologia de pesquisa e na sequência as principias

reflexões teóricas que emergiram da revisão realizada sobre as categorias analíticas já

anunciadas neste texto. Por fim, tecemos uma breve consideração final diante o processo

vivenciado até aqui.

METODOLOGIA

Este texto é parte do projeto de pesquisa de mestrado que viemos desenvolvendo

intitulado “O Papel das Rádios Comunitárias na Promoção de Informações sobre Direitos

Sociais”. Trata-se de uma pesquisa de natureza qualitativa que tem como caminho

metodológico a realização de : uma pesquisa documental para identificação das rádios com o

objetivo de conhecer as existentes no Rio Grande do Sul; A aplicação de um questionário online

para as rádios mapeadas, com perguntas abertas e fechadas para verificação das que possuem

35 “Píter Júnior, ex-radialista da Rádio Coité FM, foi condenado à pena de dois anos de detenção, convertidos em

serviços sociais” Disponível em: https://www.cartacapital.com.br/sociedade/radios-comunitarias-eterna-luta-

contra-a-burocracia-e-a-justica

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programas que abordem temas como direitos sociais e políticas sociais; E por último

selecionaremos intencionalmente 4 rádios que participaram do questionário, onde estas

afirmaram possuir programas que tratem sobre os temas citados acima. O tratamento e análise

das informações ocorrerá por meio da análise de discurso com base em Pêcheux (2014).

Entretanto o que nos interessa salientar sobre o processo metodológico é que uma vez definido

o objeto de estudo parte-se para a revisão bibliográfica que nos dá subsídios para percorrer esta

caminhada.

Assim sendo a revisão realizada com base em diferentes autores tratou das respectivas

categorias, quais sejam: Poder midiático (MARINONI, 2015; SALLES, 2011; FIGUEIREDO,

2011), rádios comunitárias (PERUZZO, 2001; GUARESCHI, 2017), política social

(BEHRING, E & BOSCHETTI, 2007; PEREIRA, 2016), direitos sociais e direito à informação

(CFESS, 2012; RUIZ, 2011), entre outros autores. O processo de pesquisa não se estanca nesta

primeira produção, pois a partir da perspectiva defendida, da realidade dialética se buscará

fortalecer cada vez mais o debate e o elo que liga as rádios comunitárias, os direitos sociais e

as políticas sociais.

RESULTADO E DISCUSSÃO

Iniciamos a discussão sobre o conceito de política social pontuando que essa dinâmica na

qual este tema está inserido é cambial, contraditório e regado por correlações que forças no

âmbito político, econômico e social dos Estados. A política social historicamente se situa em

um campo diverso, onde múltiplos aspectos nos apresentaram um campo hostil e de construções

frágeis, que se configura em um tema de constante luta e disputa, fortemente atrelada às

condições e posicionamentos dos projetos societários, de um lado de quem defende a política

social como um direito universal e de outro de quem a coloca como um privilégio, benefício

mínimo que estará diretamente atrelada às movimentações do mercado.

Para a discussão sobre as políticas sociais, utilizaremos autores que trabalham na

perspectiva do materialismo histórico, como Behring e Boschetti (2007) que entendem que:

Na perspectiva, o estudo das políticas sociais deve considerar sua múltipla

causalidade, as conexões internas, as relações entre suas diversas manifestações e

dimensões. Do ponto de vista histórico, é preciso relacionar o surgimento da política

social às expressões da questão social que possuem papel determinante em sua origem

(e que, dialeticamente, também sofrem efeitos da política social). Do ponto de vista

econômico, faz-se necessário estabelecer relações da política social com as questões

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estruturais da economia e seus efeitos para as condições de produção e reprodução da

vida da classe trabalhadora. (2007, p. 43)

Ou seja, entendemos que a política social é um resultado das expressões da questão social,

que a partir de uma demanda surge a necessidade de se pensar ações como o caso da política

social, porém como Behring e Bosquetti (2007) referem, a maneira como esta será construída

a partir de um “caráter histórico-estrutural” (2007, p.43) e que seu direcionamento está

diretamente ligado às relações sociais e a organização das classes sociais.

A discussão sobre o conceito de política social apresenta que a dinâmica na qual este tema

está inserido é cambial, contraditório e regado por correlações que forças no âmbito político,

econômico e social dos Estados. Ao trazer o processo histórico da política social para o Brasil,

essa discussão se insere em um campo diverso, onde múltiplos aspectos apresentam um campo

hostil e de construções frágeis, que se configura em um tema de constante luta e disputa,

fortemente atrelada às condições e posicionamentos dos projetos societários vigentes. Na arena

de disputas pelos direitos sociais visualiza-se de um lado, a defesa da política social como um

direito universal e de outro de quem a coloca como um privilégio, benefício mínimo que estará

diretamente atrelada às movimentações do mercado.

Pereira (2016) defende que a política social é um tema polissêmico e interdisciplinar que

está diretamente ligada ao Estado, que “diferencia-se da política econômica por visar à coesão

social e à melhoria das condições de vida de indivíduos e grupos” (PEREIRA, 2016, p.204).

Ao mesmo tempo a autora (2016) defende que esta é uma política de todos, da sociedade e do

Estado, ela é uma política pública que necessita de vigia, questionamento, sendo forjada na

tensão entre os interesses que a permeiam, no contexto contraditório e histórico, as políticas

sociais e o que cada uma defende é resultado da totalidade dessa relação.

Behring (2008) ao falar sobre política social traz primeiramente a conjuntura do Estado

nesse processo, ao apresentar aspectos adotados tanto pelo Estado liberal quanto pelo Estado

Social. Em ambos existe o reconhecimento da necessidade de se pensar no social através de

políticas sociais e que, no contexto liberal, os fundamentos do capitalismo irão permanecer e

prevalecer.

A partir desta construção entende-se que o direito à informação se constitui enquanto um

direito social, primordial e referido nas diversas leis que regulamentam as políticas sociais,

como é o caso da seguridade social. Nesta perspectiva entende-se que democratizar informações

é crucial para se pensar a democratização da comunicação, além de ser parte estratégica dos

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processos de trabalho e da construção de uma consciência crítica, onde através do debate com

a população usuária trabalhadores podem articular questões importantes na garantia de direitos

dentro das políticas sociais.

Para exemplificar no âmbito da Seguridade Social, como é apresentado o direito à

informação, trouxemos alguns trechos das legislações que tratam sobre esses aspectos, onde: A

previdência social que foi a primeira a ser regulamentada refere em seu texto: “Elaborar e

manter, devidamente atualizados, os estudos, informações técnicas e outros elementos relativos

à administração da previdência social, divulgando-os para conhecimento geral” (BRASIL,

1960). A política de saúde do Brasil, a qual é a única política universal defende: “Divulgação

de informações quanto ao potencial dos serviços de saúde e a sua utilização pelo usuário” e

“Art. 47. O Ministério da Saúde, em articulação com os níveis estaduais e municipais do

Sistema Único de Saúde (SUS), organizará, no prazo de dois anos, um sistema nacional de

informações em saúde, integrado em todo o território nacional, abrangendo questões

epidemiológicas e de prestação de serviços” (BRASIL, 1990). E a assistência social preconiza:

“Direito à informação, enquanto direito primário do cidadão, sobretudo àqueles com vivência

de barreiras culturais, de leitura, de limitações físicas” (BRASIL, 2005).

Ao mesmo tempo que as políticas sociais pontuam sobre o direito à informação,

categorias profissionais também preconizam sobre este, onde a partir do código de ética do/a

assistente social, categoria profissional que trabalha diretamente com as políticas sociais e a

garantia de direitos sociais aos/às usuários/as, se defende que:

Art. 5º São deveres do/a assistente social nas suas relações com os/as usuários/as: [...]

c- democratizar as informações e o acesso aos programas disponíveis no espaço

institucional, como um dos mecanismos indispensáveis à participação dos/as

usuários/as; (CFESS, 2012).

Para referir sobre as potencialidades que se pretende alcançar diante da garantia de um

direito como à informação e também a comunicação, pensamos que uma das questões está em

construirmos estratégias para rompermos com os discursos neoliberais tão presentes na mídia

nacional e internacional. Para Ruiz o grande desafio está em abrir:

[...] perspectivas para que os movimentos sociais, os partidos políticos e demais

organizações da sociedade possam divulgar suas teses, ideias e proposições para a

concretização de todos os direitos humanos historicamente demandados pelas lutas

dos trabalhadores, inclusive a comunicação, em uma sociedade justa e democrática.

(RUIZ, 2011, p. 99)

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Além disto, o autor refere o quanto cabe ao Serviço Social se debruçar sobre a

compreensão “do direito à comunicação com suas estratégias [...]. [...] buscando ainda que neste

espaço contraditório e adverso conjunturalmente –, fortalecer a visão do assistente social como

profissional que atua para viabilizar acesso aos direitos, aprimorando as políticas e ações

desenvolvidas neste sentido.” (RUIZ, 2011, p.99)

O que Ruiz (2011) propõe é um compromisso de uma categoria de trabalhadores que

lutam por sua classe, vislumbrando a defesa pela democratização da comunicação para além de

uma postura profissional, entendendo o papel fundamental dos meios de comunicação na

realidade social, por isto consideramos fundamental o trato teórico sobre o poder midiático e a

relevância das rádios comunitárias como instrumento contra hegemônico.

O Poder midiático, enquanto uma das categorias abordadas nesta produção, pode ser

compreendida a partir de alguns exemplos, como é o caso da Pesquisa Brasileira de Mídia

(2016), onde é demonstrado que todas as pessoas que responderam à pesquisa utilizam um ou

mais dos seguintes meios de comunicação: Televisão (89%), internet (49%), rádio (30%), jornal

(12%), revista (1%) e outros (2%).

Ao pensar que as empresas que produzem as matérias fazem parte do oligopólio da

comunicação brasileira e são em grande parte financiadas pelo capital internacional, devemos

pensar que estas ao passarem uma mensagem têm intencionalidades de manutenção, produção

e reprodução do capital, sustentando e retroalimentando o sistema capitalista.

Cabe destacar que a trajetória da mídia no mundo e no Brasil é dividida em muitas

questões, desde o processo de pensar uma comunicação com viés educacional, cultural e

político, até um viés vinculado ao comercial, funcionalista e manipulador. Pensar os meios de

comunicação é também compreender quem são os donos destes, que no caso do Brasil são

principalmente grandes empresas que constituem o oligopólio dos meios de comunicação. O

lugar que as grandes redes de emissoras de radiodifusão ocupam é extremamente favorável ao

acumulo de capital e também a manipulação do pensamento daqueles que consomem desse

conteúdo.

Neste sentido, buscamos analisar os fenômenos que envolvem o tema de pesquisa

proposto, a partir da teoria marxista, onde nos desafiamos a compreender o movimento dialético

que envolve as categorias, e nesse processo alcançar a centralidade da luta de classes na

realidade social, nos apresentando assim, que o direito à comunicação está em constante

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disputa, e que cabe à classe trabalhadora enfrentar a classe dominante que se apropria dos meios

de comunicação.

Na condição de abordarmos as mídias alternativas, daremos ênfase às rádios

comunitárias, estas enquanto instrumentos contra hegemônicos, ou seja, que cursam uma

trajetória na contramão do ideário capitalista. A hegemonia neste contexto, “pressupõe a

conquista do consenso e da liderança cultural e político-ideológica de uma classe ou bloco de

classes sobre as outras. [...]tem a ver com entrechoques de percepções, juízos de valor e

princípios entre sujeitos da ação política” (MORAES, 2010, p. 01).

O que se compreende a partir da mídia hegemônica é que esta reforça seus princípios

através de sua programação, direcionando e pautando os temas que a sociedade em geral

discute. No momento em que pensamos a rádio comunitária como uma mídia alternativa, como

um instrumento de resistência nesse processo, defende-se que as temáticas abarcadas por esse

meio contra hegemônico trataram de narrativas na realidade das comunidades, dos movimentos

sociais e das características dos territórios onde as rádios se encontram, fortalecendo a condição

da regionalização e trabalhando com a identidade daqueles que se expressam através do rádio,

e também daqueles que se identificam com a programação.

Um dos objetivos desta pesquisa onde se busca “desvendar os aspectos que potencializam

os direitos sociais nos territórios em que as rádios comunitárias operam contribuindo com esta

reflexão no âmbito das políticas sociais”. Na relação entre a rádio comunitária e o debate sobre

as políticas sociais buscamos afinar a teoria entre estas duas categorias, na perspectiva de pensar

o quanto a rádio comunitária pode fortalecer e elucidar sobre essa temática, dando ênfase aos

direitos sociais e de cidadania, trazendo informações e discussões que muito envolvem a vida

cotidiana da classe trabalhadora.

É possível observar que a legislação sobre essas políticas do campo da seguridade social

brasileira preconizam o direito à informação como primordial para o funcionamento das

políticas sociais, porém o nossa intensão é ainda maior, é mostrar que para além da informação

tanto para usuários/as e trabalhadores/as, é importante que se discuta esse processo, que os

sujeitos participem da construção da política social, e é por isso que pensamos que as rádios

comunitárias em sua teoria e defesa são instrumentos estratégicos em suas comunidades para

essa efetivação.

CONCLUSÕES

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Na trajetória da pesquisa bibliográfica se evidenciou a estreita relação da mídia

hegemônica com o modo de produção e reprodução do capitalismo, ao mesmo tempo em que

esse domínio do capital conduz a caminhada das emissoras de rádio e televisão e suas

programações. Nessa perspectiva entendemos que movimentos sociais como o FNDC,

categorias profissionais como o conjunto CFESS/CRESS e outros segmentos da sociedade

lutam pela democratização da comunicação enquanto um direito humano e social, sendo assim

um movimento de resistência às mídias hegemônicas.

Na relação entre estas categorias e a discussão sobre as rádios comunitárias enquanto um

instrumento que tem potencialidades para viabilizar a discussão e promoção de informações

sobre políticas sociais compreende-se o quanto esta análise tem suas relações e pode ser

debatida tanto no âmbito da comunicação social, como também na área das políticas sociais.

Ao mesmo tempo se percebe que existe uma grande influência das classes dominantes no

conteúdo apresentado pelas ferramentas midiáticas, fazendo com que estas incidam no

pensamento dos/as que a consomem. É necessário que o objetivo dos meios de comunicação

esteja claro para a classe trabalhadora, a qual vivencia diariamente através das telas e rádios

informações que criminalizam, julgam e favorecem os interesses do capital.

As expressões da questão social apresentadas nesse contexto demonstram que em grande

parte os meios de comunicação são aliados da elite política e do pensamento burguês, e que é

necessário compreender os mecanismos e articulações desses âmbitos, afinal a classe

trabalhadora sofre diretamente a condição do grande capital.

O processo de conscientização sobre os direitos sociais e as políticas sociais que

viabilizam este deve ser construído por todos os espaços democráticos da sociedade, e

reiteramos nesta produção que o referencial que permeia as rádios comunitárias, pode ser de

grande valor para o direito à informação como ponto de partida para a busca por uma sociedade

mais justa e igualitária.

Ao trabalhar as categorias analíticas, rádio comunitária, políticas sociais e direito à

informação e direitos sociais, se compreende que estas categorias se envolvem e podem ser

potencializadas pela realidade concreta as quais representam, onde a partir dos sujeitos que

buscam e lutam pela democratização da comunicação e direito à informação trabalham na

proposta de um novo caminho para a comunicação social no Brasil.

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