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UNIVERSIDADE FEDERAL DO MARANHÃO CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS DEPARTAMENTO DE GEOCIÊNCIAS CURSO DE GEOGRAFIA LAIANE SOUSA SILVA FRAGILIDADE AMBIENTAL DA ILHA TAUÁ-MIRIM, MUNICÍPIO DE SÃO LUÍS-MA: contribuição aos estudos para a criação da RESEX de Tauá-Mirim São Luís 2012

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO MARANHÃO

CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS

DEPARTAMENTO DE GEOCIÊNCIAS

CURSO DE GEOGRAFIA

LAIANE SOUSA SILVA

FRAGILIDADE AMBIENTAL DA ILHA TAUÁ-MIRIM, MUNICÍPIO DE SÃO LUÍS-MA:

contribuição aos estudos para a criação da RESEX de Tauá-Mirim

São Luís

2012

LAIANE SOUSA SILVA

FRAGILIDADE AMBIENTAL DA ILHA TAUÁ-MIRIM, MUNICÍPIO DE SÃO LUÍS MA:

contribuição aos estudos para a criação da RESEX de Tauá-Mirim

Monografia apresentada ao Curso de Geografia da Universidade Federal do Maranhão, para obtenção do grau de Bacharel em Geografia.

Orientador: Prof. Dr. Antonio Cordeiro Feitosa.

São Luís

2012

Silva, Laiane Sousa.

Fragilidade ambiental da Ilha Tauá-Mirim município de São Luís-MA: contribuição aos estudos para criação da RESEX de Tauá-Mirim /Laiane Sousa Silva. – 2012.

71. Impresso por computador (Fotocópia). Orientador: Antonio Cordeiro Feitosa. Monografia (Graduação) – Universidade Federal do Maranhão, Curso de Geografia, 2012. 1.Ilha de Tauá-Mirim – Fragilidade ambiental 2.Reserva Extrativista I. Título

CDU 551.422:504(812.1)

FRAGILIDADE AMBIENTAL DA ILHA TAUÁ-MIRIM, MUNICÍPIO DE SÃO LUÍS-MA:

contribuição aos estudos para a criação da resex de Tauá-Mirim.

Laiane Sousa Silva

APROVADA EM: / /

BANCA EXAMINADORA

__________________________________________________

Prof. Dr. Antonio Cordeiro Feitosa

(Orientador)

__________________________________________________

Prof. Dr. José Fernando Rodrigues Bezerra

(1º Examinador)

__________________________________________________

Prof. Dr. Juarez Soares Diniz

(2º Examinador)

Aos meus pais e avós

AGRADECIMENTOS

O Deus, por toda força e resignação que me ofertou para que mesmo nos momentos mais difíceis não desistisse, mostrando-me o caminho do amor como o principal amenizador de tudo.

Aos meus pais, Antonio e Josefa, pelo carinho, compreensão e paciência nesse longo caminho da vida, que é um eterno aprendizado.

As minhas queridas irmãs (Jucineia, Laysmeire e Lais) e aos meus queridos sobrinhos (Sara, Nicolly, Rebeca e Gustavo) por me permitirem saciar desse belo e intenso sentimento que é o amor fraterno.

Aos meus avós e tias, em especial vó Ana, vô Bento e tia Maria.

Ao amor eterno Bruno, você que Deus me deu de presente por todo sempre e por muitas vidas, só tenho a agradecer pela paciência, amizade e companheirismo nessa longa jornada que decidimos traçar juntos. Te amo!

A amiga Fabiana pelo apoio nessa longa trajetória, e por todos os momentos alegres e tristes que apreendemos a superar juntas. A amizade verdadeira é para sempre.

Aos irmãos do NEPA (Núcleo de Estudos e Pesquisas Ambientais) em especial ao Prof. Cordeiro e ao Prof.Fernando, pela dedicação e ensinamentos a Ulises, Marinelio, Cleia, Eder, Diana, Fernanda, Ribamar, Marcinha, Jefferson, Jeremias, Alex; devo a vocês, parte do que sou.

A todo GEDMMA (Grupo de Estudos Desenvolvimento Modernidade e Meio Ambiente), só tenho a agradecer, por me ensinarem a ver o mundo com outros olhares, em outras direções e com novas perspectivas de conhecimento. Não podendo deixar de ressaltar a importância dos Professores Horácio, Elio, Madian e Bartô,aos amigos, Rafael,Carol, Maiâna, Ana Lurdes, Sislene, Elena, Fernanda, Ana Maria e Elizângela, por terem topado fazer parte dessa minha aventura em busca do conhecimento.

As meninas do LABOGEO (Laboratório de Geoprocessamento), Stefani, Camila e Raquel que deixavam nossas manhãs mais alegres, e, claro, ao Prof. Maurício por possibilitar-me conhecer novos horizontes da geografia, à qual hoje me dedico.

Ao IMESC (Instituto Maranhense de Estudos Socioeconômico e Cartográfico do Maranhão) que completou esse ciclo, pois foi nesse que pude realmente saborear a prática do apreendido, aqui, não posso deixar de agradecer aos amigos Prof. Trovão, Jane, Lurdes, Josiel, Cosme, Wenderson e André.

A minha turma 2004.1, em especial Selma Regina e seu Gilberto, agradeço também aos demais colegas do curso que tornaram essa experiência mais enriquecedora.

A todos os professores, alguns mais presentes, outros nem tanto. Todavia jamais serei igual depois do que apreendi com vocês,

A toda coordenação do Curso de Geografia, em especial à Herbet pela paciência e alegria com que nos recebe.

A todos, muito obrigada!

“Querido Jesus, precisas ver o que temos feito com esta Terra,

na qual teu Pai criou vida – e vida inteligente! Nossa ambição

de lucro polui rios e mares, queima florestas, e exaure o solo,

resseca mananciais, extingue espécies marítimas, aéreas e

terrestres, altera o ciclo das estações e envenena a atmosfera”.

Frei Beto, 1998.

RESUMO

Inserida no complexo e dinâmico ambiente costeiro do município de São Luís e situada

nas proximidades do setor industrial, a Ilha de Tauá-Mirim reúne elementos importantes

na compreensão da fragilidade ambiental. A abordagem leva em consideração aspectos

físicos e socioeconômicos que contextualizam a formação e configuração da área de

estudo, tendo em vista suas peculiaridades. A partir de uma abordagem sistêmica, utiliza-

se a metodologia fragilidades potenciais do meio por classes de declividade de modo a

verificar como as variáveis ambientais se comportam nesse ambiente tão dinâmico.

Simultaneamente, faz-se a abordagem do processo de criação da reserva extrativista de

Tauá-Mirim, que surge do anseio de alguns grupos em legitimar e resguardar seu território

como reduto protegido.

Palavras-chave: Fragilidade Ambiental; Reserva Extrativista; Ilha de Tauá-Mirim.

ABSTRACT

Within the complex and dynamic coastal environment of São Luis and the nearby industrial

sector, the island of Tauá-Mirim brings together important elements in understanding

environmental fragility. The approach takes into account the physical and socioeconomic

factors that contextualize the formation and configuration of the study area, taking into

view their peculiarities. Beginning with a systematic approach, we use the potential

weaknesses in methodology by means of slope classes in order check how environmental

variables behave in so dynamic an environment. Simultaneously, we effect the

contextualization of the process of the creation of the extractive reserves Tauá-Mirim,

which arises from the desire of some groups to legitimize and preserve their territory as

protected stronghold.

Keywords: Environmental Fragility; Extractive Reserve; Island Tauá- Mirim.

LISTA DE ILUSTRAÇÕES E QUADROS

MAPA E CARTAS

Mapa 01: Localização da área de estudo p. 19

Carta02:Classes de Declividade p. 53

Carta 03:Classes Hipsometria p.54

Carta04:Classes Solo p.56

Carta 05:Classes Uso Ocupação/Cobertura Vegetal p.57

Carta 06:Classes Pluviométricas p.59

Carta07:Grau de Fragilidade da Ilha Tauá-Mirim p.60

FOTOS

Foto 1: Coluna da Série Barreiras p.23

Foto2: Composição Paisagística p.23

Foto 3: Vegetação Secundaria p.29

Foto4: Vegetação de Mangue p.29

Foto5: Furo Guaíavero próximo ao povoado de Tauá-Mirim p.32

Foto 6: Captação de água subterrânea povoado Jacamim p.32

Foto 7: Solo Argissolo vermelho-amarelo concrecionário p.35

Foto 8: Solo Indiscriminado de Mangue p.35

Foto 9: Casa de Farinha p.46

Foto10:Embarcações de pesca e transporte, povoado Portinho p.46

LISTA DE QUADROS

Quadro 1: Características das Unidades Ecodinâmicas p.49

Quadro 2: Intervalos de Declividade p.52

Quadro 3: Classes de Solo p.55

Quadro 4: Classes de Uso/Cobertura vegetal p.55

Quadro 5:Classes de Pluviosidade p.58

Quadro 6: Classes de Fragilidade com respectivos p.58

pesos para Ilha de Tauá-Mirim

LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

ALCOA: Alcoa Alumínio S/A

ALCAN: Alcan Alumínio Ltda

ALUMAR: Consórcio de Alumínio do Maranhão

CONTAG: Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura

CNS: Conselho Nacional dos Seringueiros

CNPCT: Comissão Nacional de Desenvolvimento Sustentável dos Povos e Comunidades Tradicionais

CPRM: Companhia de Pesquisa e Recursos Minerais

CIT: Zona de Convergência Intertropical

CVRD: Companhia Vale do Rio Doce

DNM: Departamento Nacional de Meteorologia

DSG: Diretoria de Serviço Geográfico

EMBRAPA: Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária

GPS: Global Positioning System

GERCO: Gerenciamento Costeiro

GEDMMA: Grupo de Estudo Desenvolvimento Modernidade e Meio Ambiente

IBAMA:Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis

IBGE: Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

LABO/GEO: Laboratório de Geoprocessamento

MARGUSA: Maranhão Gusa S/A

NEPA: Núcleo de Estudos e Pesquisas Ambientais

NDPEG: Núcleo de Documentação e Pesquisas Geográficas

PDC: Plataforma Automática de Coleta de Dados

PPGC: Programa Grande Carajás

PNPCT:Política Nacional de Desenvolvimento Sustentável dos Povos e Comunidades

Tradicionais

PETROBRAS: Petróleo Brasileiro S/A

SIMASA: Companhia Siderúrgica Vale do Pindaré

SNUC: Sistema Nacional de Unidades de Conservação

SUDENE: Superintendência de Desenvolvimento do Nordeste

UFMA: Universidade Federal do Maranhão

UTM: Universal Transversa de Mercator

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO p.13

2 METODOLOGIA p.16

3 CARACTERIZAÇÃO GERAL p.18

3.1Localização e situação geográfica p.18

3.2Aspectos geoambientais p.20

3.2.1Geologia e Geomorfologia p.20

3.2.2Clima p.22

3.2.3Vegetação p.25

3.2.4Hidrografia p.28

3.2.5Solo p.31

3.3Aspectos socioeconômicos p.34

4 TERRITÓRIO E IDENTIDADE EM TAUÁ-MIRIM p.40

4.1Territórios Protegidos e Populações Tradicionais p.40

4.2Laços Identitários e afirmação como Comunidade Tradicional p.43

5 FRAGILIDADE POTENCIAL DA ILHA DE TAUÁ-MIRIM p.47

5.1Abordagem conceitual p.47

5.2Modelo de fragilidade ambiental apoiado nas classes de declividade p.51

5.2.1Classe de Declividade p.52

5.2.2Classe Solo p.52

5.2.3Classe Uso/Cobertura vegetal p.55

5.2.4Classe Pluviométrica p.58

5.3Graus de fragilidade da Ilha Tauá-Mirim p.58

6 CONCLUSÃO p.61

REFERÊNCIAS

APÊNDICE

13

1 INTRODUÇÃO

A princípio, o ambiente natural mostra-se em aparente equilíbrio. No

entanto, este vem sendo profundamente modificado pela ação antrópica mediante o

rápido desenvolvimento tecnológico, econômico e científico.

O novo cenário que se apresenta tem encaminhado a sociedade à

progressiva alteração dos componentes naturais, comprometendo todo o sistema

que rege as unidades da paisagem. Essas alterações interferem diretamente no

equilíbrio do sistema que passa a sofrer intensa pressão. Assim, surge a

necessidade de planejar o espaço, visando minimizar a interferência do homem no

ambiente, tornando-se de extrema relevância a elaboração de programas de

desenvolvimento econômico-social e a criação de redutos ecológicos protegidos.

Em nível nacional, a interação homem-ambiente já ocasionou profundas

modificações na morfologia da paisagem e em seus processos, sendo consideradas

as duas grandes forças propulsoras destas modificações, que resultam em parte de

um modelo de desenvolvimento severo, a urbanização e a industrialização.

Essa apropriação do ambiente natural, através de atividades cada vez

mais impactantes, tem gerado inúmeras discussões tanto na avaliação da

abrangência das alterações, quanto na tentativa de encontrar estratégias para

amenizar os drásticos prejuízos.

No Maranhão, estado possuidor do segundo maior e mais diversificado

segmento do litoral brasileiro, ainda não se tem uma avaliação da abrangência

desses impactos sobre o meio. No entanto, já são evidentes as modificações

resultantes de atividades como a agroindústria e a transformação do meio em

corredor de exportação.

Na Ilha do Maranhão, em particular no município de São Luís, as três

últimas décadas foram marcadas por fortes mudanças ambientais, decorrentes

principalmente do crescimento urbano-industrial que ocasionou a diminuição dos

recursos naturais, potencializada a partir da década de 1980 com a implantação do

Consócio ALCOA, ALCAN e BILLITON (ALUMAR) e da Companhia Vale do Rio

Doce (CVRD).

14

Inserida no complexo e dinâmico ambiente costeiro do município de São

Luís e situada nas proximidades do setor industrial, encontra-se a ilha de Tauá-

Mirim, cujo território é ocupado por populações tradicionais distribuídas em seis

povoados, que ainda conservam um modelo particular de interação com o meio,

inclusive motivando estudos para a criação de uma unidade de conservação.

A dinâmica ambiental que rege a ilha de Tauá-Mirim, principalmente a de

desempenhar importantes ligações e trocas genéticas entre os ecossistemas

terrestres e aquáticos, possibilitou o desenvolvimento de paisagens de extrema

fragilidade como o ecossistema manguezal, feições morfológicas como a planície

flúvio-marinha e planície de maré areno-lamosa, igarapés e uma diversificada fauna

e flora. Características que oferecem as condições necessárias para desenvolver

estudos que levam em consideração a fragilidade potencial do meio.

Com o propósito de investigar a estrutura da paisagem da ilha, procedeu-

se a elaboração do presente estudo sob o prisma da abordagem sistêmica, em que

a inter-relação dos componentes – relevo, solo, cobertura vegetal, uso/ocupação e

pluviosidade – são analisados considerando suas respectivas características na

definição do grau de fragilidade que servem como subsídio ao planejamento do uso

racional.

As variáveis ambientais tratadas de forma integrada possibilitam o

diagnóstico dos diferentes níveis de fragilidade dos ambientes naturais, permitindo a

avaliação das potencialidades e restrições. Nessa interação, o grau de fragilidade

apresentado por cada componente do sistema se mostra de grande importância no

estudo do conjunto, possibilitando ao gestor traçar medidas de intervenção técnica e

de planejamento ambiental e territorial, cujo produto torna-se de extrema relevância

paras comunidades que há anos vêm lutando pela regularização de seu território e

pela manutenção de sua reprodução social.

Com base nessas características, propõe-se o mapeamento da fragilidade

ambiental pautado em princípios metodológicos que estabelecem relações entre as

unidades de paisagem com a interferência humana, para que se possam identificar

áreas sensíveis a possíveis alterações e proteger ecossistemas que vêm resistindo

à expansão urbano-industrial de São Luís.

15

A estrutura do trabalho compreende seis partes: a introdução, contem a

contextualização, a importância da investigação e o objetivo do trabalho diante do

tema analisado; no segundo capítulo foram detalhados a metodologia e os principais

referenciais teóricos utilizados; no terceiro são abordadas as características físicas e

socioeconômicas do município de São Luís, situando a área de estudo em tal

contexto; no quarto são focalizados temas como território, identidade e populações

tradicionais, cuja pertinência se fundamenta na iminente possibilidade de criação de

uma reserva extrativista abrangendo a área da ilha; no quinto capítulo se faz uma

abordagem sobre sistemas ambientais e são analisados os condicionantes da

fragilidade da ilha de Tauá-Mirim; por fim, na conclusão são feitas observações

quanto ao grau de fragilidade potencial do meio e como o modo de vida das

comunidades contribuí para manter condições de equilíbrio.

16

2 METODOLOGIA

A pesquisa foi desenvolvida com apoio dos métodos dedutivo, indutivo,

fenomenológico e qualitativo, fundamentados segundo os princípios estabelecidos

na abordagem sistêmica.

O método dedutivo subsidiou a fase da pesquisa, no que tange à análise

e compilação do referencial teórico.

O método indutivo foi empregado como fundamento na observação das

condições ambientais, sendo a indução o pensamento que parte do registro de fatos

singulares para chegar à conclusão mais geral do problema, RUIZ (2006, p. 139).

Os métodos, qualitativo e fenomenológico foram utilizados como subsídio

à observação, interpretação e explicação de fenômenos naturais e humanos de

caráter local e regional.

A teoria sistêmica emerge na pesquisa diante da necessidade de uma

abordagem que permita um estudo dos componentes ambientais – físicos e bióticos

– de maneira integrada, pois, à analise da fragilidade do meio, proposta por Ross,

(1994) fundamenta-se no princípio de que a natureza apresenta funcionalidade

intrínseca entre seus componentes físicos e bióticos, exigindo um estudo integrado

dos componentes do estrato geográfico1 os quais, analisados e inter-relacionados,

geram um produto analítico-sintético que retrata a situação da área de estudo.

As atividades de pesquisa foram desenvolvidas em etapas distintas,

porém relacionadas, sendo realizados levantamentos bibliográficos, documentais e

cartográficos. Os recursos técnicos utilizados englobaram trabalhos de gabinete e

campo.

Levando em consideração os métodos proposto para análise, a pesquisa

foi apoiada nos seguintes procedimentos metodológicos:

1 Segundo Ross (1994), o Estrato Geográfico compreende uma “estreita faixa entre a parte superior

da litosfera e a baixa atmosfera, correspondendo ao ambiente que permite a existência do homem como ente biológico e social, bem como os demais elementos bióticos da natureza”.

17

Pesquisa bibliográfica, relacionada ao tema proposto e à área objeto de

estudo, realizada na Biblioteca Central da Universidade Federal do Maranhão

(UFMA), no Núcleo de Estudos e Pesquisas Ambientais (NEPA/UFMA), no Núcleo

de Documentação e Pesquisas Geográficas (NDPEG/UFMA), no Laboratório de

Geoprocessamento (LABOGEO/UFMA), Grupo de Estudo Desenvolvimento

Modernidade e Meio Ambiente (GEDMMA/UFMA) e na Associação de Moradores do

Jacamim. Além de trabalhos monográficos, dissertações e teses, foram analisados

também materiais técnicos produzidos por órgãos como IBAMA, IBGE, EMBRAPA,

GERCO, SUDENE, DSG.

Levantamento e interpretação de dados cartográficos, em que foram

também realizadas: a digitalização, o georreferenciamento e a vetorização das

cartas da DSG, 1980, folhas 36, 37, 43, 44, 50, 51, 55, 56 na escala 1:10.000, com

equidistância das curvas de nível em 5 metros.

No reconhecimento de campo foram feitas observações necessárias ao

desenvolvimento da pesquisa, bem como: a coleta de dados fotográficos, realização

de entrevistas, delimitação da área de estudo, confirmação das informações de

laboratório e coleta de pontos com GPS.

Utilizou-se o programa Autodesk Map versão 2004 para confeccionar o

mapa de localização, e o software Arc Gis 9.3 para confecção das cartas temáticas

utilizando, em algumas dessas, do processo de interpolação espacial.

Utilizou-se a Imagem de satélite worldview-2 de 2010, no intuito de validar

as informações do uso e ocupação/cobertura vegetal da área.

Análise e interpretação dos componentes ambientais individualizados e

posterior cruzamento destes para identificação dos resultados do trabalho.

18

3 CARACTERIZAÇÃO GERAL

3.1 Localização e Situação

A Ilha de Tauá-Mirim se insere no sistema estuarino do Golfão

Maranhense, localizada na porção sudoeste da Ilha do Maranhão, delimitada pelas

coordenadas2 a norte, Lat. 2º38’16”e Long. 45º38’04”; a sul, Lat. 2º47’44” e Long.

45º35’19”; a leste, Lat. 2º43’05”e Long. 45º38’08” e a oeste, Lat. 2º43’04” e Long.

45º36’22” tendo como limites geográficos, a norte e a oeste, a Baía de São Marcos;

a leste, o Estreito dos Coqueiros; e a sul, com a Ilha de Tauá-Redondo (Mapa 01).

Sob administração política do município de São Luís, a Ilha faz parte da

área de abrangência da zona rural, ocupando uma extensão aproximada de

290.117,86 m² com um total de seis povoados, quais sejam: Portinho, Jacamim,

Tauá-Mirim, Embaubal, Amapá e Ilha Pequena.

O deslocamento para ilha de Tauá-Mirim pode ser realizado de duas

formas: utilizando a linha de transporte público para o bairro do Coqueiro, que sai do

Terminal de Integração do Setor Industrial de São Luís até o Estreito dos Coqueiros

ou de automóvel, seguindo pela BR-135 até a ponte do Estreito dos Mosquitos.

No sentido bairro, a travessia é realizada em pequenas embarcações de

pescadores, com duração de apenas alguns minutos até o povoado do Portinho.

Esse trecho, por ser o mais rápido e por permitir o acesso à maioria dos povoados

do centro e do norte da ilha, é o mais utilizado.

Já para quem reside na porção sul da ilha, o percurso é feito seguindo

pela BR 135 até a ponte do Estreito dos Mosquitos, na comunidade da Estiva, de

onde se segue – de barco – até o pequeno porto do povoado de Tauá-Mirim.

O estreitamento das relações com as comunidades vizinhas, como

Coqueiro, Estiva, Taim, Porto Grande, Rio dos Cachorros é realizada em pequenas

2 Coordenadas em UTM: a norte E 570526m e N 9708396m; a sul E 565451m e N 9690979m; a leste E 570667m e N 9699524m; e a oeste E 567388m e N 9699569m.

19

embarcações de pescadores, facilitada pela grande quantidade de igarapés e pelo

Estreito dos Coqueiros.

20

21

3.2 Aspectos Geoambientais

3.2.1 Geologia e Geomorfologia

Entender as estruturas que se encontram em constante inter-relação no

ambiente requer uma análise integrada dos elementos, não como “simples adição de

elementos disparatados” como frisa (Bertrand 2004, p.08), mas numa conjuntura

única e em constante transformação.

O Golfão Maranhense, de origem pleistocênica, integra características

únicas devido à presença do que Ab’ Sáber (2006) denomina de paleocanais

profundos, bem como à intensa dinâmica fluvial e oceanográfica. Ainda segundo

Ab’ Sáber (1960, p.38), sua origem remonta aos movimentos eustáticos sofridos

pelos antigos estuários de São Marcos e São José, que possibilitaram o ingresso

das águas pela embocadura desses cursos.

Integrando a bacia sedimentar costeira de São Luís, em área tipo fossa

tectônica, intensamente falhada com presença de horsts e grabens, o Golfão

Maranhense passou a se configurar pós-ingressão marinha datada do “quaternário

antigo” (AB’ SÁBER, 1969 apud BRASIL, 1973 p.21), podendo ter sido criado pela

reativação do arco Alto de Guamá-São Vicente de Ferrer (BRASIL, 1973, p.11) na

fase de movimentações Wealdeniana do Plioceno (SCHALLER et al., 1971 apud

RODRIGUES et al., 1994, p.14), que corresponde, segundo Rezende e Araújo

(1970) e Feitosa (1996), à Fossa da Ilha Nova.

A grande reentrância central do litoral Maranhense, como também é

denominada, apresenta características geológicas e morfológicas bem

individualizadas, que se particularizaram ao longo do tempo geológico após

sucessivas variações eustáticas. No entanto, foi no Quaternário Superior, associada

à transgressão Flandriana que as variações se deram de forma mais intensa na

configuração da paisagem.

Considerado o segundo maior golfão da costa brasileira, o Golfão

Maranhense abrange a reentrância delimitada, a oeste, pela Ponta do Guajuru, no

município de Cedral; e, a leste, pela Ilha de Santaninha, no município de Humberto

de Campos, englobando os municípios de São Luís, São José de Ribamar, Raposa,

Paço do Lumiar, Alcântara e Humberto de Campos (FEITOSA e TROVÃO, 2006,

p.93).

22

Integram o sistema ambiental do Golfão as baías de Tubarão, Cumã, São

Marcos e São José, sendo as duas últimas ligadas pelo estreito dos Mosquitos, que

finaliza o insulamento da Ilha do Maranhão. A importância do Golfão para o Estado é

incontestável, pois serve como desembocadura dos principais rios maranhenses,

favorecendo o desenvolvimento dos ecossistemas e das atividades portuárias.

Situadas no centro do Golfão encontram-se várias ilhas, dentre as quais

se destaca a Ilha de Tauá-Mirim e a Ilha Grande ou Ilha do Maranhão. Essa ultima,

composta por sedimentos de períodos diferenciados e um conjunto de relevo

predominantemente baixo, tem como principais unidades estratigráficas: a Formação

Itapecuru, de idade Cretácea; a Formação Barreiras, datada do Terciário; e a

Formação Açuí, do Quaternário.

A Formação Itapecuru é constituída por sedimentos continentais que

representam o substrato da Bacia de São Luís, acumulados ao longo do Cretáceo,

tais como arenitos vermelhos e esbranquiçados finos a médios, cauliníticos com

estratificação cruzada, siltitos, calcarenitos e siltitos micáceos, folhelhos vermelhos

coesos de estratificação plano-paralela, intercalados com bancos tabulares e

lenticulares de calcários. Em certas áreas de São Luís aparece conglomerado basal

contendo seixos de basalto alterado (PEREIRA, 2006, p.66).

Os sedimentos da Série Barreiras (Foto 01), assentados sobre a

formação Itapecuru, constituem-se de clásticos mal selecionados, variando de siltitos

a conglomerados (RODRIGUES et al., 1994) com coloração entre róseo-vermelho e

tons de amarelo a ocre, predominantes na Ilha do Maranhão, podendo ser

observados nas colinas, falésias, encostas e topo dos tabuleiros.

Por sua vez, a Formação Açuí, composta por sedimentos quaternários

areno-argilosos inconsolidados, argilosos não adensados e de mangue, preenche as

áreas de topografias mais baixas, praias e dunas móveis (RODRIGUES et al.,1994).

Constantemente (re)trabalhado pelos processos fluviais, oceanográficos e

climáticos, o Golfão Maranhense, segundo a classificação em unidades

geoambientais proposta por Feitosa e Trovão (2006, p.93), apresenta características

inerentes à Planície Litorânea, sendo suas unidades geomorfológicas consideradas

de transição devido à presença de ambientes característicos da porção Ocidental e

23

Oriental deste Estado, sendo comum ao logo da “Grande Reentrância”: baías,

braços de mar, praias, cordões arenosos, falésias, dunas e manguezais.

A Planície Costeira, área adjacente à Planície Litorânea, recebe influência

direta e indireta dos agentes oceanográficos, sendo as principais feições e

ecossistemas encontrados os tabuleiros, dunas, estuários, depressões, colinas,

manguezais e restingas, observados no interior da Ilha do Maranhão em parte como

resultado da interação entre litoral e costa.

Diversificado, o relevo da Ilha do Maranhão apresenta-se em superfícies

subtabulares e tabulares, como demonstra Feitosa (1998, p.46):

(...) Tal comportamento é mais evidente no eixo norte-sul, tomado a partir da crista da barreira limítrofe da praia do Olho D’Água, ocorrendo superfícies subtabulares e tabulares até a borda sul do tabuleiro central, nas proximidades do Aeroporto. Daí em diante se configura o relevo dissecado. Na seqüência leste-oeste, estas feições morfológicas são desde a crista da barreira na costa do município de São José de Ribamar até a borda do tabuleiro, nas cabeceiras da bacia de drenagem do rio Anil, onde principia o relevo mais dissecado.

A Ilha de Tauá-Mirim ocupa uma superfície com altitude variando entre 0

e 35 m, onde a dinâmica das marés e a grande descarga fluvial, principalmente na

porção oeste, são intensas. Esta hidrodinâmica presente é responsável em parte

pelo transporte e deposição de sedimentos, havendo, como consequência, uma

composição paisagística bastante diversificada (Foto 02).

Observações feitas durante visitas de campo possibilitaram a identificação

de algumas feições morfológicas na área em estudo, quais sejam: planície de mare-

areno-lamosa, terraços de abrasão, praias, falésias, superfícies dissecadas

principalmente no centro e no extremo nordeste e suaves colinas (superfície

subtabular) na região central de Tauá-Mirim.

3.2.2 Clima

Dos exemplos de manifestações naturais que resultam em influência para

o ser humano, o clima é o elemento que aparece com maior destaque, pois interfere

na formação dos processos geomorfológicos, do solo, no crescimento e

desenvolvimento das plantas, determina as condições do ar, da temperatura e de

abrigo para permanência deste em um determinado lugar (ARAÚJO e NUNES,

2005).

24

Foto-01 Coluna da Série Barreiras Fonte: Registro de Campo, 2009

Foto-02 Composição Paisagística (Terraço de abrasão) Fonte: Registro de Campo, 2009

25

Segundo Eloi et al., (2007, p.02), o Maranhão tem como principais

características a transição entre o clima úmido da Amazônia e o semi-árido

nordestino, a má distribuição dos índices pluviométricos e, a grande variação de

umidade e temperatura do ar. Estas características estão diretamente relacionadas

aos efeitos oriundos da penetração dos ventos alísios de nordeste e sudeste que

influenciam diretamente a ação das massas de ar Equatorial Atlântica e Equatorial

Continental no Estado (FEITOSA, 1996, p.30).

A dinâmica atmosférica da Zona Costeira encontra-se relacionada com os

elementos acima citados e com a atuação destes no deslocamento da Zona de

Convergência Intertropical – CIT3.

Por estar inclusa na Zona Costeira, a dinâmica climática da Ilha do

Maranhão resulta da interação dos elementos acima. A Ilha do Maranhão sofre

influência dos ventos alísios de nordeste e sudeste, com períodos bem distintos

quanto à distribuição das chuvas. As precipitações variam de 1.812 mm a 2.182 mm.

A velocidade média dos ventos é de 2,5 m/s, sendo que, no período de calmarias

que se inicia em dezembro, com seu ápice em maio, os ventos fica em torno de 1,6

m/s. Rajadas mais intensas são registradas nos meses de outubro e novembro,

alcançando 3,6m/s (MARANHÃO, 1998, p.13).

Conforme Feitosa (1996, p.34), as informações disponíveis em séries

iguais ou superiores a 30 anos na Estação Climatológica de São Luís, identificam os

tipos de clima Sudanês, Aw, Aw’, Tropical úmido e Megatermal, conforme a

classificação e os parâmetros utilizados.Os índices médios anuais superam os 26°C

para temperatura e 80% para umidade.

Ferreira (1993 apud ARAÚJO et. al., 2003) identifica o clima de São Luís

como de transição entre o equatorial e o tropical, ou seja, quente e úmido com

período chuvoso entre janeiro e junho e estiagem entre julho e dezembro. As

temperaturas médias oscilam entre 26,3ºC e 27,5ºC, sendo outubro e novembro os

meses com maiores incidências de ventos de nordeste.

3 Segundo Feitosa (1996, p.55), a CIT corresponde à convergência entre as massas de ar Equatorial Atlântica e Equatorial Continental, que produz uma zona de correntes perturbadas.

26

Dentre os quatro municípios que compõe a Ilha do Maranhão, o de São

Luís vem apresentando particularidades que têm ocasionado modificações nos

parâmetros que determinam o clima local.

Segundo Araújo (2002 apud ARAÚJO e NUNES, 2005, p.98), devido ao

expressivo crescimento demográfico e à consequente expansão territorial do

aglomerado urbano de São Luís ao longo dos últimos trinta anos, o município vem

sofrendo significativas alterações no seu espaço em função da superposição da

paisagem urbana sobre os ambientes naturais, sendo um dos principais impactos a

construção de ambientes que elevam a temperatura.

Sobre a ocorrência de mudanças climáticas na área urbana de São Luís,

Eloi (2007, p.02) comprovou a partir de registros térmicos mensais de 2003 a 2006,

contido na Plataforma Automática de Coleta de Dados – PDC de São Luís, que as

médias térmicas foram maiores que as registradas no período de 1961 a 1999 nas

Normais Climatológicas do Departamento Nacional de Meteorologia – DNM.

Lima et al., (2007, p.02), mesmo ressaltando que a cidade de São Luís

encontra-se num moderado crescimento urbano e incipiente processo de

industrialização, comprovou em análise físico-química a presença de deposição

acida em 47% das amostras de água da chuva. As amostras foram coletadas nas

áreas de Panaquatira, Cajueiro e Coqueiro, sendo que nas duas ultimas os valores

enquadram-se na classe de elevada acidez.

Mesmo sendo trabalhos pontuais, e o real efeito causado por estas

modificações em São Luís, ainda pouco conhecidas, pode se afirmar que o clima

local tem sofrido interferência do processo urbano-industrial ocorrido nos últimos

trinta anos.

3.2.3 Vegetação

Diante das tentativas de classificação da vegetação brasileira, podemos

citar a elaborada por Martius (1824 apud VELOSO et al., 1991, p.15), que contribuiu

para que trabalhos posteriores buscassem um aperfeiçoamento metodológico,

atualmente, reconhecido internacionalmente.

27

Os primeiros estudos que tratam da tipologia da vegetação do Estado do

Maranhão, levando em consideração critérios objetivos de classificação

internacional, foram realizados por Brasil (1973). Posteriormente, surgem as

propostas de Veloso et al., (1991), IBGE (1992) e Silva (1999), este último

classificando e identificando as unidades fitoecológicas do Estado.

A Ilha do Maranhão apresenta uma grande diversidade de ecossistemas,

aqui entendidos segundo o conceito de Tansley (apud TRICART, 1977 p.17) como

conjunto de seres vivos, mutuamente dependentes uns dos outros e do meio

ambiente no qual eles vivem. Essa diversidade resulta, principalmente, das

condições favoráveis de clima, recursos hídricos, solo e relevo.

A tipologia vegetacional da Ilha de Tauá-Mirim é constituída, em parte, por

representações comuns da vegetação da Ilha do Maranhão. Estas compreendem

áreas de vegetação secundária (capoeiras e mata de babaçuais), vegetação de

restinga, mata de várzeas, matas galerias e manguezais (MARANHÃO, 1998). As

áreas de apicuns4 são compreendidas como integrantes do ecossistema manguezal.

Levando em consideração a classificação proposta acima, temos que a

vegetação secundária é resultante do processo de regeneração “natural” que ocorre

após a retirada da floresta nativa. Essa tipologia vegetacional tornou-se

gradativamente dominante na Ilha do Maranhão devido aos processos de

queimadas, instalação de roças e intensificação das ocupações humanas. Assim, a

vegetação secundária compreende capoeirão, capoeira mista e babaçuais (Orbignya

phalerata Mart.).

Na área de estudo, coberturas vegetais secundárias (Foto 03) foram

observadas nas proximidades dos povoados, principalmente na faixa de acesso que

se estende desde a comunidade do Portinho até a comunidade do Jacamim.

Considerada de pequeno porte, a vegetação de restinga desenvolve-se

em ambientes de planícies costeiras, que são formadas por sedimentos marinhos

responsáveis pelo desenvolvimento do complexo paisagístico de dunas e praias.

4Conforme Feitosa (1996), os Apicuns equivalem aos ambientes deposicionais para onde convergem

sedimentos de origem marinha e continentais carreados principalmente por agentes geomórficos de origem climática e oceanográfica. Vale lembrar que este ambiente se diferencia pela excessiva salinidade na camada mais superficial do solo, onde é encontrada uma vegetação sempre rarefeita de gramíneas e arbustos de pequeno porte.

28

Nestes ambientes, esta vegetação é responsável principalmente pela fixação da

areia devido à forte incidência dos ventos.

Esta tipologia pode ser observada na região nordeste da Ilha do

Maranhão e numa pequena faixa nas proximidades da Ponta da Espera e do Porto

do Itaqui, sendo que ambos apresentam altos índices de alteração antrópica, já nos

limites da área de estudo, não foi observado esse tipo de vegetação.

A vegetação de mangue faz parte de um complexo ecossistema típico de

helobiomas (ambientes) salinos, que acompanha os cursos d’água em trechos

sujeitos a influência das marés e que se desenvolvem nas margens de estuários,

igarapés e estreitos (Foto 04).

Nas intermediações do Golfão Maranhense, esse ecossistema é

relativamente heterogêneo, estendendo-se pelas baías de São José e São Marcos e

abrigando inúmeras espécies às quais garante alimento e proteção. Alguns

trabalhos, como o realizador por Damasceno (2009), demonstram sua eficácia como

barreira de proteção da costa contra erosão, assoreamento, enchentes e poluição

por metais.

As principais espécies de mangue existentes na Ilha do Maranhão são:

mangue-vermelho (Rhizophora mangle L., Rhizophoraceae), mangue-preto ou Siriba

(Avicennia germinans (L.) Stearn, Verbenaceae), mangue-branco (Laguncularia

racemosa Gaertn, Combretaceae) e o mangue-de-botão (Conocarpus erecta L.,

Combretaceae) (BRASIL, 1991). Em Tauá-Mirim, as espécies mais expressivas são:

Rhizophora mangle, Avicennia germinans e Laguncularia racemosa, encontradas às

margens do Estreito dos Coqueiros e na porção oeste da ilha.

Estudos demonstram que o ecossistema manguezal encontra-se bastante

ameaçado, notadamente na área da Ilha do Maranhão que, em 1993, possuía

19.000 ha de manguezais distribuídos sobre a costa com franjas, atrás das praias,

dos cordões litorâneos ou margeando rios e igarapés. Em 2003, novo levantamento

constatou uma diminuição de 22% deste ecossistema (UFMA, 1996 apud Ênfase,

2004, p.30).

A vegetação de várzea se desenvolve em planícies aluviais de cursos

d’água influenciados pelo regime das marés, logo, encontra-se sob o efeito da

inundação parcial por água doce e salgada, característica que interfere diretamente

29

na diversidade das espécies encontradas, contudo, é de grande importância por sua

riqueza de habitats, seu potencial de refúgio e alimentos.

A mata de galeria compreende o tipo de vegetação encontrada às

margens de cursos d’água e nascentes, onde o substrato do ambiente mantém

umidade mesmo no verão. As principais tipologias encontradas são as palmeiras de

juçara (Euterpe oleracea Mart.; Palmae) e buriti (Mauritia flexuosa L.; Palmae),

também associadas a algumas espécies arbóreas de famílias variadas e muitas

espécies herbáceas. Esta tipologia possuí como principal função, a de proteger os

cursos d’água, porém, devido à intensa pressão antrópica que este ambiente vem

sofrendo nos últimos anos, restam poucas áreas resguardadas em fragmentos na

zona rural de São Luís (MARANHÃO, 1998).

3.2.4 Hidrografia

A bacia hidrografia é considerada unidade de referência na análise da

paisagem, pois possibilita reconhecer os diversos elementos e os processos que

atuam na modificação do modelado terrestre por intermédio da dinâmica

estabelecida na troca de energia e matéria.

Segundo Christofoletti (1980), a bacia hidrográfica ou bacia de drenagem

é definida como a área drenada por um determinado rio ou por um sistema fluvial.

Conforme Coelho Netto (2007), a bacia de drenagem é uma área da superfície

terrestre onde a ação fluvial drena água, sedimentos e materiais dissolvidos por uma

saída comum, num determinado ponto de um canal fluvial, onde estas podem

desmembrar-se em sub-bacias5.

A bacia hidrográfica constitui a unidade territorial utilizada para o

planejamento ambiental, o qual deve levar em consideração os aspectos físicos e

socioeconômicos da área e de seu entorno.

5 Os conceitos de bacia e sub-bacia se relacionam a ordens hierárquicas dentro de uma determinada malha hídrica. Em direção à jusante, cada bacia hidrográfica se interliga com outra de ordem hierárquica superior, constituindo, em relação a última, uma sub-bacia.

30

Foto-03 Vegetação Secundaria Fonte: Registro de Campo, 2009

Foto-04 Vegetação de Mangue Fonte: Registro de Campo, 2009

31

A rede hidrográfica da Ilha do Maranhão encontra-se delimitada por duas

baías: São Marcos e São José; um vasto litoral e uma rede de bacias hidrográficas.

Segundo Macedo (1998, p.12), ao todo, a Ilha do Maranhão é configurada por sete

bacias hidrográficas, quais sejam: Anil, Bacanga, Cachorros, Jeniparana, Paciência,

Santo Antônio e Tibiri, porém, o acelerado processo de ocupação urbana e industrial

do tem comprometido de forma significativa as condições da dinâmica do meio físico

destas bacias. É importante ressaltar, que aquelas delimitadas por sítios urbanos e

industriais como a bacia do Bacanga e Anil, são as mais atingidas.

Um aspecto importante na distribuição hídrica da Ilha é que mesmo

possuindo uma vasta rede de drenagem tem-se uma grande dependência deste

recurso a partir de captações em bacias continentais, sendo que a principal é a do

rio Itapecuru através do sistema Italuís, além de uma excessiva dependência de

águas subterrâneas.

Levando em consideração os reservatórios subterrâneos, o perfil

hidrogeológico da Ilha do Maranhão apresenta-se estabelecido sob as condições e

características de dois aqüíferos: o semi-confinado Itapecuru e confinado-livre

Barreiras.

O primeiro relaciona-se aos sedimentos cretáceos pertencentes à

Formação Itapecuru que, segundo Pereira (2006), possui uma camada confinante

superior com seqüência cíclica de níveis de composição variável de argila e areia, o

que permite a realimentação do aqüífero a partir da infiltração das águas pluviais,

caracterizando-o como um dos principais sistemas para captação de água

subterrânea. Rodrigues et al., (1994), por outro lado, faz uma importante

consideração, afirmando que o elevado número de poços perfurados pode ocasionar

uma excessiva demanda, com descarga do sistema maior que a recarga natural, o

que pode ocasionar o rebaixamento do nível das águas e posterior contaminação

por águas salgadas.

O aquífero livre constitui-se pelos níveis arenosos dos sedimentos

terciários da série Barreiras, caracterizando-se por ser heterogêneo e de boa

porosidade e permeabilidade. Acha-se influenciado pelas feições topográficas do

terreno, sendo suas águas comumente drenadas para locais mais baixos, onde o

lençol subterrâneo aflora, dando origens a fontes e surgências, que em alguns casos

32

correspondem às nascentes de pequenos córregos, que constituem os principais

exutórios desse aquífero (CPRM, 1994).

A hidrografia da Ilha de Tauá-Mirim encontra-se constituída por pequenos

cursos d’água de drenagens exorreicas, que sofre influência das águas da Baía de

São Marcos de forma mais dinâmica, e das águas do Estreito dos Coqueiros.

Destacam-se também, a grande quantidade de igarapés, como o Vungado, Pajé,

Fundão, Fontim, Sambuicica, Ilhote e Mãe-do-rio (sendo esses dois últimos, os

maiores); dois furos: o Boa Razão e o Guaíavero (Foto 05); e afloramento em

diversos pontos de água subterrânea (Foto 06).

3.2.5 Solo

Conforme classificação apresentada por Carvalho Filho e Bezerra (1998,

p.159)6, as variações pedológicas da Ilha do Maranhão encontram-se distribuídas

em: Podzólico Vermelho-Amarelo Concrecionário, Podzólico Vermelho-Amarelo,

Areia Quartzosa Distrófica Latossólica, Areia Quartzosa Marinha, Gleissolos, Solos

Indiscriminados de Mangue e a associação do: Podzólico Vermelho-Amarelo +

Podzólico Vermelho-Amarelo Concrecionário.

O tipo de solo Podzólico Vermelho-Amarelo Concrecionário (Argissolo)

apresenta sequência de horizontes A, B e C, com grande quantidade de calhaus e

cascalhos de origem laterítica, tendo sua origem da Formação Itapecuru do

Cretáceo e da Formação Barreiras, do Terciário.

Quanto ao uso agrícola desse tipo de solo, apresenta fortes limitações em

decorrência do material que o compõe, bem como por estar situado geralmente em

topografia ondulada e forte ondulada. Porém, as áreas onde estas concreções

afloram ou aquelas onde estão próximas à superfície, são exploradas como fonte de

material para a construção civil, denominadas “piçarreiras” (MARANHÃO, 1998).

6 Levando em consideração o sistema de classificação de solos da Embrapa (1999), o solo Podzólico passou a ser denominado de Argissolo.

33

Foto-05 Furo Guaíavero próximo ao povoado de Tauá-Mirim Fonte: Registro de Campo, 2009

Foto-06 Captação de água subterrânea pov. Jacamim Fonte: Registro de Campo, 2009

34

O Podzólico Vermelho-Amarelo apresenta a mesma sequência de

horizontes do solo descrito à cima, porém, com características diferenciadas. O

horizonte A apresenta espessura variável, comumente entre 20 e 30 cm, textura

arenosa a média com presença de cascalho e pedregosidade. O horizonte B

apresenta textura média, poucas vezes argilosa, cores bruno-amareladas a

vermelho-amareladas.

Constituído por materiais da Formação Itapecuru do Cretáceo e de

sedimentos referidos ao Grupo Barreiras, se desenvolve em áreas com topografia

que varia do suave ondulado ao forte ondulado e apresenta escoamento superficial

forte e deficiência de água no período de estiagem, ocasionando prejuízo às culturas

de raízes rasas (MARANHÃO, 1998).

As Areias Quartzosas Distróficas Latossólicas compreendem os solos

essencialmente quartzosos, originados da Formação Itapecuru e da Formação

Barreiras. São solos profundos com baixo teor de argila, drenagem acentuada com

baixa capacidade de captação de água e baixa fertilidade natural.

Possui seqüência de horizontes A e C, com características intermediárias

para latossolo. O horizonte A moderado possui textura arenosa, espessura média de

60 a 90 cm e coloração que varia do bruno-acinzentado muito escuro ao bruno. O

horizonte C tem espessura em torno de 130 cm, com coloração variável entre bruno-

amarelado escuro a bruno-amarelado, e textura arenosa a fraca-arenosa.

O solo de Areias Quartzosas Marinhas se caracteriza por serem solos

sem horizontes genéticos definidos, com exceção do horizonte orgânico-mineral A

(RANGEL, 2000). Possuí fertilidade natural baixa e acidez elevada, é um solo

extremamente arenoso (Foto 07), com conteúdo de argila sempre menor que 15%

dentro de uma profundidade de 2 metros. Apresenta horizonte A fracamente

desenvolvido sobre um horizonte C. Seu uso agrícola devido à elevada acidez e

baixa fertilidade natural, restringe-se ao uso esporádico da pecuária extensiva.

Os solos Gleissolos Hidromórficos desenvolvem-se em locais baixos,

sujeitos a alagamento periódico e tem como característica o aparecimento de

mosqueados amarelo-avermelhados no perfil, devido ao processo de oxidação e

redução do ferro neste. São mal drenados, fortemente ácidos, com presença de

sais, pouco profundos e de textura argilosa.

35

Possuem perfil do tipo A - Cg, com teores médios de matéria orgânica e

estrutura subangular quando o solo se encontra seco. Possuem baixa fertilidade

natural, estando seu uso comumente relacionado ao extrativismo do buriti e da

juçara devido às condições de encharcamento (MARANHÃO, 1998).

Os Solos Indiscriminados de Mangue são gleizados, mal drenados, com

alto teor de sais provenientes da água do mar e de compostos de enxofre que se

formam nas áreas sedimentares baixa e alagados, onde ocorre a deposição de

sedimentos finos em mistura com detritos orgânicos. Os detritos orgânicos são

originados pela decomposição de plantas dos mangues e pela intensa atividade

biológica produzida principalmente pelos caranguejos. Esta tipologia, apresenta

solos escuros com textura variando desde argilosa até arenosa, e uma intensa

variação do pH, que quando saturado pelo acúmulo d’água fica extremamente

elevado, podendo se aproximar da neutralidade, mas ao se ressecar, o pH pode

atingir valores muito baixos (Foto 08).

A exceção das Areias Quartzosas Marinhas que ocorrem na porção

litorânea da Ilha do Maranhão, e de Gleissolos que ocupam pequenas áreas

rebaixadas e úmidas no interior da Ilha (MARANHÃO, 1998), as demais unidades

distribuem-se por todas as áreas, normalmente em associações de grupos de solos.

Das classes pedológicas acima descritas, encontram-se na Ilha de Tauá-

Mirim a pedologia composta pelo Argissolo Vermelho-Amarelo ao norte e na porção

central da Ilha onde ficam localizados os povoados de Ilha Pequena, Amapá,

Embaubal e Jacamim; uma leve mancha do Argissolo Vermelho-Concrecionário na

porção ao sul; e, por último, o Solo Indiscriminado de Mangue que compõe a classe

mais abrangente presente em toda Ilha.

36

Foto-07 Solo Podzólico Fonte: Registro de Campo, 2009

Foto-08 Solo Indiscriminado de mangue Fonte: Registro de Campo, 2009

37

3.3 Aspectos socioeconômicos

Na busca de organizar os ciclos que contribuíram para a configuração da

sociedade e o desenvolvimento econômico de São Luís, são analisadas abaixo as

três etapas que marcaram efetivamente estes processos, quais sejam: o ciclo da

cana-de-açúcar; o ciclo do algodão; e o ciclo da industrialização, este último, em

dois períodos: de 1876 a 1950 e, de 1970 aos dias atuais.

A ocupação da região onde hoje se encontra o município de São Luís

teve início nos séculos XVI e XVII, sendo resultado de disputas entre portugueses,

franceses e holandeses pelo território habitado por índios tupinambás.

Dos franceses expulsos pelos portugueses em 1615 poucos foram os

legados. O mais expressivo foi um forte construído para a segurança daqueles, que,

localizado numa alta montanha de um rochedo inacessível, era cercado quase por

completo por dois rios muito profundos e largos, que desembocavam no mar onde

se encontrava o único porto (d´ABBEVILE, 1975).

Sob domínio português, o contingente populacional dos primeiros anos da

província correspondeu apenas a algumas centenas de moradores representados

por soldados, burocratas, mestres de ofícios, mercadores e religiosos – jesuítas,

franciscanos e carmelitas.

O primeiro surto de desenvolvimento populacional e econômico, segundo

Trovão (1994, p.47), aconteceu entre 1650 e 1750, quando a atividade econômica

do Estado voltou-se para as lavouras de cana-de-açúcar. Este fato é extremamente

importante, pois influenciou diretamente no aumento da arrecadação monetária

realizada pela administração provincial, possibilitando a realização de algumas

melhorias na infraestrutura. Quanto à configuração social, esta se encontrava

atrelada ao sistema fundiário e escravagista.

Na segunda metade do século XVIII, a atividade canavieira começa a

entrar em declínio, porém, o espaço para a introdução de outra etapa econômica

responsável por moldar a sociedade e a economia nos fins do século XVIII e início

do XIX, já estavam configurados. Desta vez, a atividade agrícola voltou-se para a

produção de algodão, que mesmo baseado no modelo agro-exportador, deu novo

impulso à economia de São Luís graças à expansão deste no Estado.

38

A sociedade ludovicense, ainda baseada nos moldes escravagista, amplia

seus latifúndios devido ao alto preço do algodão maranhense no mercado externo,

possibilitando que São Luís assumisse um lugar de destaque no cenário nacional e

no exterior. Conforme Trovão (1994, p.48), é diante deste cenário que a província

prospera de maneira espetacular e enriquece a burguesia.

Este ápice da economia ocorrido no fim do século XVIII e início do XIX

possibilitou a implantação de um sofisticado comércio.

Em meados do século XVIII, São Luís se constituiu num centro comercial expressivo, com fluxo razoável de mercadorias importadas. Através dos navios de grande porte, chegavam artigos dos mais refinados, vindos da Europa, a fim de atender o requinte da burguesia maranhense (DINIZ, 2004, p.14).

O grande fluxo comercial de algodão, que chegou a fazer da capital

maranhense a “[...] quarta cidade mais populosa do país em 1822” (MORAES, 1996

apud FERREIRA, 2000, p.53), entrou em decadência no fim do século XIX, devido à

recuperação da produção norte-americana e a abolição da escravatura.

Convém sobressair que, entre 1845 e 1870, o capital comercial relativo à economia agro-exportadora entrou em crise devido à continua queda do preço dos produtos exportáveis (algodão, principalmente) no mercado internacional e à baixa na mão-de-obra decorrente do fim do tráfico negreiro. (FERREIRA, 2000, p.53).

A produção agrícola foi aos poucos suplantada pela indústria, que além

de matéria-prima, encontrou mão-de-obra7 e mercado consumidor na região e no

exterior. De acordo com Ferreira (2000), esta nova fase iniciada em meados de 1876

configurou-se em dois momentos importantes: inicialmente com o setor têxtil e,

posteriormente, com o óleo vegetal.

As indústrias foram responsáveis, em parte, pela expansão geográfica da

cidade, com o surgimento de novos bairros, contexto primordial para moldar as

características da primeira fase do ciclo de industrialização de São Luís que

perdurou até o início da década de 1950, quando entrou em declínio,devido à baixa

cotação dos produtos no mercado internacional.

A segunda fase se encontra atrelada ao desdobramento das políticas de

ocupação da Amazônia Oriental, iniciada pelos Governos militares em meados dos 7 Segundo Ferreira (2000), a mão-de-obra recém liberta (escravos) é, em parte absorvida pelas indústrias, porém, em função da instituição da propriedade privada da terra, essa população inicia a ocupação de áreas sem infraestrutura e de alta vulnerabilidade.

39

anos 1960. A “descoberta” em 1967 e o posterior mapeamento do potencial de uma

das maiores jazidas de minério do mundo, localizada na Serra dos Carajás, daria

início a um dos mais importantes programas de exploração de recursos naturais,

conhecido como Programa Grande Carajás – PGC.

Segundo Monteiro (1997, p.183), a “região Programa” do Grande Carajás,

integraria três grandes complexos industriais: “o complexo mínero-metalúrgico, o

complexo florestal e o complexo da construção civil”. Para atender à demanda de

infraestrutura, a partir de meados da década de 1970 foram implantadas obras como

rodovias, hidroelétricas, ferrovias e portos para garantir as condições necessárias à

efetivação do PGC.

Com a perspectiva da infraestrutura, grandes empresas – como a

Companhia Vale do Rio Doce – CVRD, atual Vale; o Consócio ALCOA, ALCAN e

BILLITON, atual ALUMAR; MARGUSA, SIMASA, Companhia Siderúrgica Vale do

Pindaré entre outras – receberam incentivos públicos para se instalarem. Sobre o

Projeto Ferro Carajás, Gistelinck (1988, p.75) afirma que:

O projeto ferro Carajás da CVRD, a “espinha dorsal” do Programa Grande Carajás (grifo nosso), compreende um sistema integrado: a mineração em Carajás, o transporte pela ferrovia de Carajás a São Luís numa distância de 890 km e as instalações portuárias, administrativas operacionais e de manutenção em São Luís.

São Luís, como um dos pontos estratégico da política inerente ao

Programa Grande Carajás recebeu, logo nos primeiros anos, a ampliação do Porto

do Itaqui e a construção dos portos da Vale e da ALUMAR. Nos anos seguintes,

como prévia Gistelinck (1988), dar-se-ia a implantação de siderúrgicas (processo

iniciado em 2001), refinarias8 e empresas de processamento do minério de ferro

(Usina de Pelotização).

A aglomeração urbana de São Luís, em 1970, não ocupava lugar de

destaque dentre os então denominados centros submetropolitanos. Logo, caberia

aos grandes empreendimentos o papel transformador, de configurar o novo modelo

econômico e de moldar as forças de desenvolvimento urbano e a fisionomia da

cidade e da sociedade.

8 A Refinaria Premium da PETROBRAS, mesmo tendo sua estrutura física transferida para o

município de Bacabeira, a 60 km de São Luís, por esta apresentar alta fragilidade física, exercerá influencia direta na sociedade e na economia da capital.

40

Uma “nova era” se iniciava, São Luís passa a ter importância econômica

para os maiores centros.

Agora está se implantando uma industrialização em escala multinacional, decidida de ficar definitivamente [...] trata se de uma industrialização da mais avançada tecnologia no setor de mineração, de beneficiamento (p.e.alumínio) e de exportação (ferrovia e porto) (GISTELINCK, 1988, p.131).

Porém, uma breve análise das condições sociais locais revela que o efeito

previsto pelos planejadores estatais, conhecido como “cadeia prospectiva ou efeito

para frente” (MONTEIRO, 1997, p.84), que surgiria com a implantação dos grandes

empreendimentos, não se concretizou como previsto, e hoje, quatro décadas depois,

percebe-se que os grandes empreendimentos não foram capazes de exercer, como

proposto, o efeito multiplicador e divisor da renda.

O real motivo da ascensão de áreas de palafitas e de ocupação nessa cidade deriva do incremento demográfico oriundo da elevação de seu poder de atração, adicionado à concentração de renda e ao déficit habitacional (FERREIRA, 2000, p.56).

Como se pode observar, todas as tentativas de sanar as mazelas sociais

e econômicas de São Luís sempre estiveram atreladas às necessidades do mercado

externo. Diante de tais problemas, o último ciclo econômico, idealizado como sendo

a redenção do Maranhão, atualmente é considerado – por estudiosos como Sant'

Ana Júnior, Alves e Mendonça (2007), Mendonça (2006), Carneiro (1995), Monteiro

(1997), Andrade (1981) e Gistelinck (1988) – como agravador da situação que

pretendia reparar.

41

4 TERRITÓRIO E IDENTIDADE EM TAUÁ-MIRIM

“O território não é apenas o conjunto dos sistemas naturais e de sistemas de coisas superpostas; o território tem que ser entendido como território usado, não o território em si. O território usado é o chão mais a identidade. A identidade é o sentimento de pertencer àquilo que nos pertence. O território é o fundamento do trabalho; o lugar da resistência, das trocas materiais e espirituais e do exercício da vida.” (SANTOS, 2007, p.14)

4.1 Territórios Protegidos e Populações Tradicionais

A ideia de proteção e preservação de espaços para garantir os recursos

necessários para gerações futuras surge no final do século XIX e ganha força no

século XX. Esta nova forma de pensar a natureza não a vê mais como mera

depositária de recursos econômicos, pois todo o processo pelo qual seus

componentes estavam sendo afetados em face do crescimento urbano-industrial lhe

atribuiu novas características com graus diferenciados de fragilidade e

vulnerabilidade. Logo, alguns espaços precisavam ter garantida sua proteção

(GASPAR, 2007).

Conforme Diegues (1994, p.24), a proteção de alguns territórios é

formulada a partir de duas teorias: a preservacionista e a conservacionista. A teoria

preservacionista está pautada na ideia de que os espaços protegidos deveriam

permanecer intocados – natureza selvagem –, ou seja, sem a presença humana.

Por sua vez, os conservacionistas apoiavam-se em três princípios: “o uso

dos recursos naturais pelas gerações presentes; a prevenção de desperdícios; e o

desenvolvimento dos recursos naturais para muitos e não para poucos cidadões”.

A partir das teorias referidas, Medeiros (2003 apud CASTRO JÚNIOR,

2009, p.32) propõe uma periodização que sintetiza bem as ideias que influenciaram

a criação de áreas protegidas no mundo.

[...] - até o séc. XIX a ideia de controle do espaço tinha conotação gerencial (...); - do final do séc. XIX até metade do séc. XX a ideologia central era a de preservação da paisagem como patrimônio coletivo e testemunho de uma natureza selvagem (...); - a partir da segunda metade do séc. XX a ideia central passa a ser a de proteção para resguarda para futuras gerações.

42

Segundo Diegues (1994, p.31), os modelos baseados na noção de

“wilderness”9 foram muito criticados, e sua exportação para os países

subdesenvolvidos ocasionou “um efeito devastador”, sobretudo para as “populações

tradicionais” cuja relação com a natureza ocorre de forma diferente.

No Brasil, a criação de espaços territoriais especialmente protegidos, teve

fortes influências desses modelos, porém, se faz necessário ressaltar que esses

foram extremamente contestados pelos movimentos sociais, ambientais e sindicais.

Tais impasses justificavam-se pela desconsideração de grupos socialmente

organizados nos territórios e as diferenças culturais e ambientais do país.

Após exaustivos debates, as contestações foram sendo paulatinamente

solucionadas por intermédio de ideias que surgiram nas décadas de 1980 e 1990,

que incorporavam temas relativos à população residente10, população tradicional,

conhecimento tradicional, reserva extrativista e biodiversidade.

Como fruto dos referidos debates foi instituído, por meio da Lei nº

9.985/2000, o Sistema Nacional de Unidades de Conservação – SNUC, que

estabelece critérios e normas para a criação, implantação e gestão das unidades de

conservação, tornando possível que cada território seja protegido de acordo com as

características particulares que apresenta.

O SNUC compreende as unidades de conservação típicas divididas em

dois grupos: Unidades de Proteção Integral, cujo objetivo é preservar a natureza

sendo admitido apenas o uso indireto dos seus recursos naturais, com exceção dos

casos previstos na lei; e, Unidades de Uso Sustentável, cujo objetivo é compatibilizar

a conservação da natureza com o uso sustentável dos recursos naturais. Dentre as

categorias que compõe as Unidades de Uso Sustentável, duas contemplam as

populações tradicionais, quais sejam: a Reserva de Desenvolvimento Sustentável e

a Reserva Extrativista.

9 Wilderness refere-se à ideia de vida natural em áreas selvagens idealizada pelos norte-americanos.

Esta idéia influenciou a criação de reservas a serem protegidas nos Estados Unidos, e o modelo de parque ambiental como reduto natural de grande beleza que não poderia ser habitado pelo homem. 10

Segundo Little (2002), as populações residentes são comunidades que foram expulsas de seus territórios para criação de “Unidades de Conservação de Uso Indireto”, ou seja, aquelas que não permitem a presença de populações humanas. Essas populações, segundo o autor, foram indenizadas ou reassentadas compulsoriamente num processo que desconsiderou a utilização de espaços comuns, relações afetivas com o lugar e memórias coletivas.

43

Tomando como objeto de análise a categoria Reserva Extrativista, faz-se

mister esclarecer que esta nasce no seio da luta pela reforma agrária no Estado do

Acre, articulada pelos seringueiros e apoiada pela Igreja Católica, sindicatos e a

Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura – CONTAG,

estabelecendo como ideia inicial a defesa da unidade de produção.

“[...] a luta dos seringueiros pela defesa da terra não é com o intuito de defender a propriedade privada, e sim de defender a preservação da floresta e o direito e usufruto dela, ou melhor, lutar pela manutenção dos seringais, para os seringueiros é lutar pela vida.” (CAVALCANTE, 1993 apud DUARTE, 1987 apud COSTA FILHO, 1995, p. 20).

No mesmo sentido, o Conselho Nacional dos Seringueiros – CNS (1993

apud COSTA FILHO, 1995, p.26) esclarece o entendimento que se deve ter sobre

as reservas extrativistas:

“[...] devem ser entendidas como parte da luta pela reforma agrária no Brasil. [...] questiona o modelo tradicional de assentamento em lotes agrícolas padronizados, propondo a utilização coletiva da terra. Junta a questão fundiária com a agroecológia propondo novos critérios no aposamento da terra, centrado no uso sustentável dos recursos naturais. A principal característica da Reserva Extrativista é o resgate da importância do homem numa perspectiva de ocupação do espaço amazônico associada à conservação do meio ambiente, onde são levados em consideração os aspectos sociais, culturais e econômicos das populações locais”.

Levando em consideração os instrumentos legais, as reservas

extrativistas foram inicialmente previstas entre os instrumentos da Política Nacional

de Meio Ambiente, na Lei nº 7.804/1989, e sua criação e implantação regulamentada

pelo Decreto nº 98.897/1990. No entanto, é só com o advento da lei 9.985/2000 que

ela se torna uma categoria de Unidade de Conservação.

Segundo Miranda (2009, p.42), as reservas extrativistas são áreas

destinadas à exploração sustentável, realizada por populações tradicionais11 cuja

utilização dos recursos naturais encontra-se aliada à preservação ambiental e ao

modo de vida tradicional.

O SNUC considera Reserva Extrativista as áreas resididas por

populações extrativistas tradicionais, cuja atividade econômica baseia-se no 11

Segundo o Decreto nº 6.040/2007, Povos e Comunidades Tradicionais “são grupos culturalmente diferenciados e que se reconhecem como tais, que possuem formas próprias de organização social, que ocupam e usam territórios e recursos naturais como condição para sua reprodução cultural, social, religiosa, ancestral e econômica, utilizando conhecimentos, inovações e práticas gerados e transmitidos pela tradição”.

44

extrativismo, na agricultura de subsistência e na criação de pequenos animais. Tem

como objetivo proteger os meios de vida, a cultura e assegurar o uso sustentável

dos recursos naturais da unidade.

O processo de criação de uma Reserva Extrativista resulta da demanda

de grupos sociais organizados junto ao IBAMA, pleiteando a condição de "população

tradicional" prevista no SNUC. O reconhecimento legal das populações tradicionais

sofreu influência direta dos inúmeros debates políticos que antecederam a

elaboração da Lei nº 9.985/2000.

De acordo com Miranda (2009, p.40), os embates e discussões surgidos

evidenciaram os conflitos de interesses ideológicos e políticos entre diversos grupos

e apontaram para a construção de novos paradigmas jurídicos, dentre eles, o novo

olhar que se confere às populações tradicionais que até então eram vistas como

entraves a implantação de Unidades de Conservação.

Posteriormente, o Decreto n° 6.040/2007, cria a Política Nacional de

Desenvolvimento Sustentável dos Povos e Comunidades Tradicionais – PNPCT,

com implementação atribuída à Comissão Nacional de Desenvolvimento

Sustentável.

4.2 Laços Identitários e afirmação como Comunidade Tradicional

A construção do conceito de identidade constitui um processo dinâmico

no decorrer da evolução social do homem. A abordagem desse conceito no presente

trabalho se fará apenas no intuito de entender como a identidade da categoria

população tradicional, marcada pelo uso do território e pelas formas particulares de

organização dos grupos se afirma na população da Ilha de Tauá-Mirim.

Hall (2006) define como “identidades culturais” os aspectos de nossas

identidades que surgem do nosso “pertencimento” às culturas. A categoria

população tradicional parte do principio da “autoafirmação” pelas comunidades que

buscam esse reconhecimento perante os outros grupos sociais e os meios jurídicos,

pois seu modelo de organização se encontra diretamente ligado à sua estrutura

enquanto grupo e sua íntima ligação com o território.

45

A identidade, nessa concepção sociológica, preenche o espaço entre o “interior” e o “exterior” – entre o mundo pessoal e o mundo público. O fato de que projetamos a “nós próprios” nessas identidades culturais, ao mesmo tempo que internalizamos seus significados e valores, tornando-os “parte de nós”, contribui para alinhar nossos sentimentos subjetivos com os lugares objetivos que ocupamos no mundo social e cultural. A identidade, então, costura [...] o sujeito à estrutura. Estabiliza tanto os sujeitos quanto os mundos culturais que eles habitam, tornando ambos reciprocamente mais unificados e predizíveis (HALL, 2006, p. 11-12).

Os laços identitários observados em Tauá-Mirim se materializam pelas

afinidades expressas no modo de vida de seus moradores e no elo com o meio, seja

pela busca de recursos ou por sua forte ligação com o território.

Em entrevista, o Senhor Antonio, nascido e morador da comunidade do

Portinho há 43 anos relata sobre suas principais fontes de renda e como essa

interação ocorre no cotidiano da comunidade.

[...] a lavoura é mesmo só pra manter; a lavoura de mandioca, é que dá mais, o resto a terra é muito antiga, o pessoal vai roçando e tocam fogo, não tem maquina, aí o solo vai ficando fraco; o que dá mais mesmo é a mandioca. Mais se você for de casa em casa aqui no Portinho todo mundo vai dizer que é pescador. Aqui também tem muita gente que vive de coco, quebra coco, tira o óleo pra consumo e vende, faz carvão também. Aqui tem muita palmeira; minha mãe e minha vó que me criou foi só do coco, elas iam para o mato, quebravam e vendiam para agente sobreviver. (Entrevista Antonio, 21.11.2009)

Já o Senhor Nenísio, de 73 anos, morador do povoado Jacamim, ao ser

questionando sobre sua relação com o lugar, demonstra extremo apego e

desligamento de outras áreas: “Eu gosto daqui, uma vez meus filhos queriam me

levar pra cidade deles. Eu disse, eu não, eu não vou!” (Entrevista Nenísio,

21.11.2009).

As afinidades com o lugar e a forma como ocorrem as relações

econômicas (economia polivalente), sociais e do uso dos recursos, observadas em

campo e relatadas em entrevistas, indicam particularidades somente observadas em

grupos que necessitam do meio e dos atores sociais que constituem o território para

a manutenção e reprodução do seu modo de vida.

Como relata o Senhor Raimundo Salgado, 81 anos, nascido e morador do

povoado de Embaubal, ao comentar o esforço em manter traços importantes na

manutenção do grupo.

46

Aqui nessa Ilha tem diversos juçarais. Aqui, a juçara é o seguinte, só é tirada madura; eu chamo todo mundo, quem vai participar da juçara? Uns quer, outros não, eu vou anotando para limpar o brejo tal dia. No dia, eu chamo todo mundo, tira tudo misturado, quantos quilos, 10, 15, aí divide. (Entrevista Raimundo, 21.11.2009).

Nas comunidades da Ilha de Tauá-Mirim o agroextrativismo mantém a

dinâmica socioeconômica local. A atividade pesqueira (Foto 09) realizada de

maneira artesanal é, em quase todos os núcleos familiares, a principal fonte de

renda, sendo destinada ao consumo e à comercialização nas comunidades

próximas. Já a lavoura é cultivada em pequenas roças, sendo a mandioca o principal

produto, que é beneficiado por meio do uso comunitário das casas de farinha (Foto

10).

As comunidades da Ilha encontram-se organizadas de modo que suas

atividades estão em constante interação com os recursos do território, sendo este

essencial na manutenção e existência do grupo. Assim, ao longo do tempo eles vêm

resistindo aos modelos emblemáticos impostos pela modernidade, e, embora os

utilizem em alguns momentos, o que se observar é que na tentativa de manter

padrões de crescimento industrial, urbano e de consumo, o território, até então

“resguardado,” tem sofrido fortes pressões colocando em risco a identidade do

grupo.

47

Foto-09 Embarcações de pesca e transporte, povoado Portinho. Fonte: Registro de Campo, 2011

Foto-10 Casa de Farinha Fonte: Registro de Campo, 2011

48

5 FRAGILIDADE POTENCIAL DA ILHA DE TAUÁ-MIRIM

5.1 Abordagem conceitual

No processo de planejamento, notadamente com vistas à conservação de

ambientes naturais, são distintos e variados os critérios que tratam da delimitação e

compartimentação do território e da análise das paisagens.

Na busca da construção de um conhecimento mais conjuntivo e na

tentativa de integração das análises do espaço geográfico, em meados do século XX

alguns geógrafos tomaram como base a abordagem sistêmica como uma das

principais referências metodológicas no estudo da paisagem, sendo pioneiros os

trabalhos de Sotchava (1977), Tricart (1977), Bertrand, (1972), Christofoletti (1999) e

Monteiro (2000).

A Teoria Geral dos Sistemas, de natureza “indutiva” (BERTALANFFY,

1975) tinha como principal ponto de análise o entendimento científico dos sistemas,

considerando que estes podem ser definidos como conjuntos de elementos com

variáveis e características diversas que mantêm relações entre si e com o ambiente,

“[...] cuja análise poderá estar voltada para a estrutura desse sistema, para seu

comportamento, para as trocas de energia, limites, ambientes ou parâmetros”

(GREGORY, 1992, p.46).

O conceito de “sistema”, para a nova abordagem cientifica, tem seus

princípios e formulações baseados em postulados que nos remetem a nomes

ilustres. Segundo Bertalanffy (1975, p.27), esta abordagem surge com a designação

de “filosofia natural”, remontando a Nicolau de Cusa, com sua coincidência dos

opostos; à medicina mística de Paracelso; à visão da história de Vico e ibn-Kaldun,

considerada como uma série de entidades ou “sistemas” culturais; à dialética de

Marx e Hegel, dentre outros.

A formulação do objeto da nova disciplina baseava-se em princípios que

podiam ser validados para os sistemas em geral, não importando a natureza dos

elementos nem a relação ou forças exercidas por eles (BERTALANFFY, 1975, p.61).

A Teoria Geral dos Sistemas surge em contraposição às “velhas

abordagens” da ciência clássica, ou seja, o problema dos sistemas é essencialmente

o problema das limitações dos procedimentos analíticos. Na ciência clássica,

existem duas condições primárias a serem satisfeitas: 1) as interações entre as

49

partes ou não existem ou são suficientemente fracas podendo ser desprezadas; e,

2) as relações que descrevem seu comportamento devem ser lineares, permitindo

procedimentos semelhantes para as equações que descrevam o comportamento do

todo e as que descrevem o comportamento das partes.

Na análise sistêmica estas condições não são satisfeitas, pois os

sistemas são constituídos por elementos que possuem atributos, interagem e

cumprem funções. “O problema metodológico da teoria dos sistemas consiste,

portanto, em preparar-se para resolver problemas que, comparados aos problemas

analíticos e somatórios da ciência clássica, são de natureza mais geral”

(BERTALANFFY, 1975, p.38).

Ao longo dos anos muitas abordagens foram feitas utilizando essa nova

teoria como norteadora de seus princípios, dentre elas a abordagem Ecodinâmica

(TRICART, 1977), que tem como princípio a funcionalidade intrínseca dos

componentes físicos e bióticos do meio.

A abordagem Ecodinâmica parte do entendimento de que a paisagem

possui um comportamento dinâmico, e que sua análise comporta a identificação e

sistematização das unidades que a compõe tendo como base a lógica sistêmica e as

relações mútuas entre os diversos componentes, a dinâmica e os fluxos de matéria

e energia.

Pereira (2000 apud LIMA e MARTINELLI, 2008 p.443) complementa ao

afirmar que as unidades ambientais ou ecodinâmicas são determinadas pelos

elementos ambientais e socioeconômicos que compõem o meio em níveis

taxonômicos, podendo incluir diversas graduações de fragilidade.

Dinâmica e complexa, a paisagem se comporta de maneira mutante e

evolui segundo leis próprias, em que se torna necessário, para uma melhor

compreensão da sua estrutura, extrapolar os limites dos ambientes naturais e inserir

o homem como ente que compõe e modifica o meio.

É, em uma determinada porção do espaço, o resultado da combinação dinâmica, portanto instável, de elementos físicos, biológicos e antrópicos que, reagindo dialeticamente uns sobre os outros, fazem da paisagem um conjunto único e indissociável, em perpétua evolução (BERTRAND, 2004, p.141).

50

Partindo desse entendimento e tendo como base a intensidade dos

processos atuais, Tricart (1977) estabelece que as alterações frequentes sofridas

pelo meio, que ocorrem de maneira harmoniosa ou catastrófica, resultariam em

configurações de unidades ecodinâmicas diferentes, as quais ele sistematizou em

três categorias (Quadro 1).

Meio Morfodinâmico

Meios Estáveis Meios Intergrades Meios Fortemente Instáveis

Os sistemas morfoge- néticos não comportam paroxismos violentos, que se traduzam por manifestações catastróficas;

Cobertura vegetal densa e intensamente fechada;

Dissecação moderada;

Ausência de manifes-tações vulcânicas;

A interferência dos processos pedogenéticos predomina.

Esse meio encontra-se em estado de transição, sofrendo contínuas interferências da morfogênese e da pedogênese.

Áreas com incidência climática forte e irregular;

Relevo com forte dissecação;

Solos rasos e frágeis;

Ausência de vegetação ou com pouca concentração;

Planícies e fundo de vales sujeitos a inundações;

Geodinâmica intensa.

Quadro-1: Características das Unidades Ecodinâmicas Fonte: Adaptado dos dados de Tricart (1977) e Ross (2007).

Partindo do princípio de que o estudo da paisagem deve integrar o

conhecimento da dinâmica do ambiente e das intervenções humanas, Ross (1990,

1994) propõe uma nova sistematização para as unidades ecodinâmicas, a qual deve

servir principalmente ao planejamento territorial.

A partir da nova sistematização, as unidades ecodinâmicas estáveis

passam a compreender ambientes em seu estado natural e em equilíbrio dinâmico,

porém, apresentando instabilidade potencial qualitativamente previsível, face às

suas características naturais e à possível inserção antrópica. Por sua vez, as

unidades ecodinâmicas instáveis, ou de instabilidade emergente, são entendidas

como aquelas que estão sujeitas à interferência humana. Para ambas, são definidos

graus de fragilidade desde muito fraca a muito forte.

51

Pautado nos pressupostos de Penck, Gerasimov e Mescerjakov, Ross

define a geomorfologia como elemento base na determinação da nova ordem

taxonômica (SPORL, 2001). Era necessário determinar ordens de grandezas

compatíveis com as escalas dos fenômenos geográficos. Assim, foram

estabelecidos seis táxons:

1º Taxon: representa a maior extensão em área e corresponde às

unidades morfoestruturais;

2º Taxon: representa as unidades morfoesculturais contidas nas unidades

morfoestruturais;

3º Taxon: Padrões de Formas Semelhantes - representadas por

diferentes padrões de formas, mas com características de rugosidade topográfica

semelhante, como altimetria dos topos, dominância de declividades das vertentes;

4º Taxon: refere-se a cada uma das formas de relevo encontradas nas

Unidades dos Padrões de Formas Semelhantes;

5º Taxon: corresponde aos tipos de vertentes de cada uma das formas de

relevo;

6º Taxon: relaciona-se com as formas menores, derivadas dos processos

atuais (sulcos, ravinas, voçorocas, deslizamentos etc.) ou ainda formas originadas

pela ação do homem (assoreamentos, cortes, aterros).

Partido do princípio de que os ambientes naturais possuem relações nas

quais os fluxos de energia e matéria se processam através de equilíbrio dinâmico, e

que os mesmos estão sujeitos à interferência humana que pode ocasionar

desequilíbrio temporário ou permanente, Ross (1994) passa a analisar a fragilidade

dos ambientes por meio da inter-relação dos componentes físicos e bióticos para

obter um produto que retrate a situação da área.

A ampliação do conceito de unidades ecodinâmicas possibilitou que a

identificação e classificação de áreas com suas respectivas potencialidades e

fragilidades fossem utilizadas no planejamento territorial.

“[...] tomando-se como premissas a potencialidade dos recursos naturais e humanos e a fragilidade dos ambientes. Os estudos analíticos relativos a fragilidade expressos através de cartogramas e textos são documentos de extrema importância ao planejamento ambiental, que tenha como centro de preocupação o desenvolvimento sustentado, onde conservação e recuperação ambiental estão lado a lado com desenvolvimento tecnológico, econômico e social. (ROSS, 1994 p.64)

52

Os procedimentos operacionais para a identificação da fragilidade do

meio exigem, num primeiro momento, o levantamento prévio da geologia, relevo,

clima, solo, uso da terra e cobertura vegetal, dentre outros. Posteriormente, essas

informações são analisadas de forma integrada gerando um produto síntese que

representará os diferentes graus de fragilidade que o ambiente possui.

Dentro da perspectiva de planejamento proposta por Ross (1994) são

levados em consideração dois modelos: o índice de dissecação do relevo e a classe

de declividade, que, de acordo com Sporl (2001), apresentam resultados diferentes

em decorrência, principalmente, das variáveis utilizadas.

Para os modelos, levando em consideração os diferentes estados de

equilíbrio e desequilíbrio ao qual o meio está submetido, também foi organizada uma

hierarquia nominal e numérica que demonstra os diferentes graus de fragilidade.

5.2 Modelo de fragilidade ambiental apoiado nas classes de declividade

Com o propósito de melhor identificar a fragilidade nos ambientes

naturais, Ross (1994) propôs o modelo de classes de declividade, apoiado nos

intervalos dos estudos de capacidade de uso/aptidão agrícola, associados aos de

valores críticos da geotécnica.

Na análise da fragilidade é necessário que os conhecimentos das

variáveis que dão origem às cartas intermediárias – declividade, solo, uso

ocupação/cobertura vegetal e pluviosidade12 – sejam avaliados de forma integrada.

Essa inter-relação das variáveis para a classificação da fragilidade segue, segundo

Ross (1994, p. 69), uma associação de dígitos arábicos onde cada um dos números

representa uma condicionante e um determinado peso nos intervalos de 1 a 5, do

mais fraco ao mais forte.

A carta de fragilidade como produto da correlação das variáveis

relacionadas acima deve ser analisada segundo critérios pré-estabelecidos pelo

modelo. No caso em estudo, a associação dos pesos para a determinação do grau

de fragilidade tem como primeiro digito da combinação a variável relacionada ao

grau de declividade, os demais segue a hierarquização definida pelos pesos.

12 Segundo Sporl (2001), os níveis hierárquicos dos comportamentos da variável pluviosidade só foram definidos por Ross (2000).

53

5.2.1 Classe de declividade

Em relação à declividade foram considerados, como mencionado

anteriormente, os intervalos dos estudos de capacidade de Uso/Aptidão agrícola

associados com aqueles conhecidos como valores críticos da geotécnica. Porém, os

intervalos da carta de declividade de Tauá-Mirim foram ajustados tendo como base

as particularidades da área estudada (Quadro 2) (Carta 1). Para analise da variável

também elaborou-se a carta Hipsometrica (Carta 2).

Ross (1994) Bezerra (2011)

1 < 3% 1 0 a 2 %

2-3 3% a 6% 2 2 a 5%

3-6 6% a 12% 3 5-10%

4-12 12% a 20% 4 10-20%

5-20 20% a 30% 5 >20%

6-30 30% a 50%

7 50%

1.Muito baixa 2.Baixa 3.Média 4 Forte e 5. Muito Forte. Quadro 2: Intervalos de declividade Fonte: Ross (1994), Bezerra (2011).

5.2.2 Classe de solo

A carta de solo constitui um dos produtos intermediários no processo de

produção da carta de fragilidade ambiental. Contudo, é um elemento importante para

a análise do conjunto, por subsidiar a compreensão das possibilidades de

resistência dos materiais superficiais à ação dos agentes modeladores. Para essa

variável foram validados os critérios estabelecidos por Ross (1994), que define as

classes de fragilidade dessa variável (Quadro 3) (Carta 3). Para o solo

indiscriminado de mangue, identificado na área de estudo e não descrito na

metodologia proposta por Ross (1994), foi atribuído o nível 3, em face da natureza

inconsolidada, bem como por ser considerado impróprio para a agricultura devido às

fortes limitações que apresenta, excesso d’água, sais solúveis e escassez de

oxigênio, prejudiciais ao desenvolvimento da maioria dos vegetais.

54

Carta-1 Classes de Declividade

55

Carta-2 Classes Hipsometrica

56

Quadro 3: Classes de solo Fonte: Ross, 1994

5.2.3 Classe de Uso e Cobertura/Vegetal

A classe de uso deve ser analisada segundo as características

observadas pelo pesquisador, pois como relata Sporl (2001), não há uma

classificação de uso da terra que seja única e ideal, haja vista as diferentes

perspectivas envolvidas no processo de classificação. Cada classificação é feita

para atender as necessidades dos usuários.

Os tipos de usos da terra associados à cobertura vegetal compõem a

variável que identifica o ponto de rompimento do equilíbrio dinâmico, pois a dinâmica

dos processos erosivos está relacionada, em parte, ao grau de proteção que esta

condicionante oferece ao solo principalmente contra a perda de material. Assim, o

peso é atribuído de acordo com o grau de fragilidade que a variável oferece ao meio,

sendo inversamente proporcional ao grau de proteção.

Para a produção da carta de uso ocupação/cobertura vegetal (Quadro 4

foram utilizadas imagem de satélite e coleta de dados em campo (Carta 4)

Quadro 4: Classe de Uso/Cobertura Vegetal Fonte: Adaptado de Ross,1994

CLASSE FRAGILID. TIPO DE SOLO SOLO DA ÁREA

1 Latossolo roxo; latossolo vermelho escuro e vermelho amarelo; textura argilosa.

-

2 Latossolo amarelo e vermelho amarelo; textura média/argilosa.

-

3 Latossolo vermelho amarelo; terra roxa; terra bruna; podzólico vermelho-amarelo; textura média/argilosa.

Solo indiscriminado de mangue

4 Podzólico vermelho-amarelo textura média/arenosa; cambissolos.

Argissolo Vermelho concressionário

5 Podzolizados com cascalho; litólicos e areias quartzosas.

Argissolo Vermelho Amarelo

Grau de fragilidade Uso / Cobertura Vegetal

3 Cobertura Vegetal

4 Ocupação

5 Solo Exposto

57

Carta-3 Classes de Solo

58

Carta-4 Classes de Uso ocupação/Cobertura Vegetal

59

5.2.4 Classe Pluviométrica

Para a obtenção do produto-síntese também foi considerada a ação da

pluviosidade anual tendo como referências a interpolação dos índices mensurados

pela SUDENE nas estações de São Luís, Rosário, São José de Ribamar e São

Bento. Porém, devido à extensão da área e às características do relevo, foram

considerado dois intervalos (Quadro 5) (Carta 5).

Classe de fragilidade

Pluviosidade (mm)

4 2.192-2.216

5 2.117-2.240

Quadro 5: Classes de Pluviosidade Fonte: Silva, 2012

5.3 Graus de fragilidade da Ilha de Tauá-Mirim

O produto abaixo identifica e classifica as variáveis com seus respectivos

graus de fragilidade. Essas informações constituem parte de um conjunto de

componentes que configuram o meio e que se relacionam de maneira dinâmica e

sistêmica (Quadro 6) (Carta 7).

Pesos correspondentes

as classes 35% 25% 20% 20%

Classes Declividade Solo Uso/Cob.Vegetal Pluviosidade

1 0 a 2 % - _ _

2 2 a 5% - _ _

3 5-10% Solo

indiscriminado de mangue

Cobertura Vegetal

_

4 10-20%

Argissolo Vermelho

concressionário

Ocupação 2.192-2.216

5 >20% Argissolo Vermelho Amarelo

Solo Exposto 2.117-2.240

Quadro 6: Classes de fragilidade com respectivos pesos para Ilha de Tauá-Mirim Fonte: Silva, 2012

60

Carta-5 Classe Pluviométrica

61

Carta-3 Grau de Fragilidade da Ilha Tauá-Mirim

62

6.CONCLUSÃO

A analise da fragilidade proposta a partir da concepção ecodinâmica

constitui um importante instrumento no entendimento da dinâmica natural dos

componentes que configuram a paisagem e em abordagens onde modificações

ocasionadas pela presença humana estejam inseridas. A identificação de áreas

frágeis dentro dessa abordagem sistematizada também tem o caráter de auxiliar na

elaboração de cenários no processo planejamento ambiental e na tomada de

decisões em políticas públicas.

O modelo de fragilidade ambiental potencial aplicado na Ilha de Tauá-

Mirim apresentou resultados significativos para o entendimento da configuração da

paisagem da Ilha e de suas condicionantes. Declividade, solo, uso

ocupação/cobertura vegetal e pluviosidade se comportam no ambiente com

características naturais bastante dinâmicas.

O grau de fragilidade de cada condicionante revelou cenários que

tornaram possíveis a compreensão da real situação da área de estudo, além de

deixar evidente que é por intermédio das relações entre os componentes da

dinâmica dos fluxos de matéria e energia que a fragilidade potencial da área se

mantém estável. Todavia, sua proximidade com o Distrito Industrial de São Luís e o

forte adensamento populacional de áreas adjacentes põe em risco tal equilíbrio.

As cartas hipsometrica e de declividade possibilitaram perceber que se

trata de uma área extremamente baixa, onde os terrenos estão constantemente

sendo afetados pela forte hidrodinâmica local. Também foi possível a identificação

de algumas feições morfológicas da área.

Com a carta de solos, foi possível identificar e descrever as classes de

solos e suas disposições na área de estudo. Também foi possível perceber a

relação direta que estas desempenham no uso das áreas pelas comunidades, e o

quanto os solos identificados são frágeis e suscetíveis à erosão, tomando como

referência suas características naturais.

A fragilidade apresentada na carta de uso ocupação/cobertura vegetal,

balizada pelas categorias cobertura vegetal, ocupação por núcleos

comunitários/caminhos de acesso/áreas de cultivo e solo exposto, demonstrou a

63

importância da expressiva cobertura vegetal da área na manutenção do equilíbrio da

paisagem.

Apesar da pequena variação de precipitação em diferentes partes da área

de estudo, a condicionante pluviosidade mostrou-se relevante, uma vez que o alto

índice pluviométrico da área é capaz de acelerar processos erosivos.

A Carta de fragilidade de Tauá-Mirim apresenta as seguintes categorias:

fragilidade de Grau muito baixa se estendendo por toda área, intercalada por áreas

entre baixa e forte que são resultantes da concentração de áreas de solos argissolos

e de declividade ente 10 e 20% e, >20%.

A possibilidade de resguardar a área como reduto protegido na categoria

Reserva Extrativista, diante das informações observadas em campo, satisfaz as

condições estabelecidas em lei para criação da UC, além do que, a analise das

classes de fragilidade demonstrou importantes resultados que área possui na

manutenção da dinâmica local, principalmente pela capacidade de proteção

desempenhada pela cobertura vegetal, a pequena área de solo exposto e, o pouco

adensamento populacional.

Todavia, ao modelo, se faz necessário ressaltar que deve ser aprimorado

no que diz respeito aos critérios e pesos estabelecidos quando for aplicado em

áreas costeiras, principalmente em decorrência da baixa altimetria.

64

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70

APÊNDICE

71

ROTEIRO DA ENTREVISTA PROCESSO DE OCUPAÇÃO DA ILHA DE TAUÁ-MIRIM

LOCAL:______________________________ DATA:_____/_____/_____

DADOS PESSOAIS E TRAJETÓRIA DO INFORMANTE

1.NOME:____________________________________________________________ 2. DATA DE NASCIMENTO: _____/_____/_____ 3.LOCAL DE NASCIMENTO:____________________________________________ 4.ESCOLARIDADE:_________________________________________________ 5.PROFISSÃO/OCUPAÇÃO: ___________________________________ 6. HÁ QUANTO TEMPO RESIDE NA ILHA DE TAUÁ-MIRIM? 7. COMO VOCÊ CHEGOU AQUI? 8. QUAIS AS RAZÕES DE SUA VINDA? 9. COMO SE DERAM AS PRIMEIRAS RELAÇÕES DE SEU CONTATO COM A COMUNIDADE?

DADOS SOCIOECONÔMICOS

10. QUAL A PRINCIPAL ATIVIDADE ECONÔMICA? 11. QUAL O VALOR APROXIMADO DA RENDA MENSAL? 12. QUANTAS PESSOAS RESIDEM NA CASA? 13. ALÉM DESSA, EXISTEM OUTRAS ATIVIDADES RENTÁVEIS? 14. COMO SE DÃO AS RELAÇÕES ECONÔMICAS EM SUA COMUNIDADE?

INFORMAÇÕES SOBRE A ILHA DE TAUÁ-MIRIM

15. VOCÊ SABE COMO SE INICIOU A OCUPAÇÃO DA ILHA? 16. QUAL A PROCEDÊNCIA DOS PRIMEIROS HABITANTES? 17. O QUE MOTIVOU A FIXAÇÃO DOS PRIMEIROS GRUPOS HUMANOS NA ILHA?

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18. VOCÊ TEM ALGUMA INFORMAÇÃO SOBRE OS POVOS INDÍGENAS QUE AQUI RESIDIAM? 19. A ILHA JÁ TEVE OUTROS NOMES? 20. QUAL A ORIGEM DO NOME? 21. QUANTAS COMUNIDADES EXISTEM ATUALMENTE NA ILHA E QUAIS SÃO? 22. QUAL A MAIS ANTIGA? 23. QUAL O NÚMERO DE FAMÍLIAS QUE RESIDEM NO SEU POVOADO? 24. QUAIS AS MANIFESTAÇÕES CULTURAIS MAIS EVIDENTES NA SUA COMUNIDADE? 25. VOCÊ CONSIDERA QUE O SEU MODO DE VIDA É IMPORTANTE PARA CONSERVAÇÃO DA NATUREZA E DAS RELAÇÕES CULTURAIS QUE AQUÍR EXISTEM? 26. QUAL A RELAÇÃO DAS COMUNIDADES DA ILHA DE TAUÁ-MIRIM COM AS COMUNIDADES VIZINHAS: COQUEIRO, ESTIVA, TAIM, RIO DOS CACHORROS, NO QUE TANGE A PARTICIPAÇÃO EM FESTAS. 27. E COM SÃO LUÍS?(dependência econômica e afetividade) 28. O QUE ESTE LUGAR SIGNIFICA AFETIVAMENTE PARA VOCÊ? 29. VOCÊ SE CONSIDERA POPULAÇÃO TRADICIONAL?