universidade federal do estado do rio de janeiro … lima... · resumo trata sobre o boletim da...
TRANSCRIPT
-
UNIVERSIDADE FEDERAL DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO
CENTRO DE CINCIAS HUMANAS E SOCIAIS
ESCOLA DE BIBLIOTECONOMIA
LUANA LIMA CARDOSO
O Boletim da Polcia Militar do Estado do Rio de Janeiro como
Documento/Monumento.
Rio de Janeiro
2017
-
LUANA LIMA CARDOSO
O Boletim da Polcia Militar do Estado do Rio de Janeiro como
Documento/Monumento.
Trabalho de Concluso de Curso apresentado a
Escola de Biblioteconomia da Universidade
Federal do Estado do Rio de Janeiro, como
requisito parcial obteno do grau de
Bacharel em Biblioteconomia.
Orientador: Prof. Dr. Eduardo da Silva Alentejo
Rio de Janeiro
2017
-
LUANA LIMA CARDOSO
O Boletim da Polcia Militar do Estado do Rio de Janeiro como
Documento/Monumento.
Trabalho de concluso de curso apresentado
Escola de Biblioteconomia da Universidade
Federal do Estado do Rio de Janeiro como
requisito parcial obteno do grau de
Bacharel em Biblioteconomia
BANCA EXAMINADORA
____________________________________________
Prof. Dr. Eduardo da Silva Alentejo
Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro
_____________________________________________
Profa. Dra. Bruna Nascimento
Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro
______________________________________________
Prof. MS. Alex Gomes Guizalberth
Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro
-
Pra cima enquanto houver alm. Pra l enquanto
houver trem. Pra sempre enquanto houver quem.
Karen Hofsteller
-
AGRADECIMENTOS
Primeiramente agradeo a Deus por me dar sade e sanidade para seguir at a
concluso do curso.
Aos meus Pais que sempre priorizaram meus estudos mesmo diante de todas as
dificuldades que passamos.
minha irm Vnia que sempre me ajudou e , junto aos meus pais, meu exemplo e
inspirao de ser humano. minha irm Fernanda que esteve presente neste momento.
Ao meu orientador Prof. Dr. Eduardo Alentejo sem o qual nunca teria conseguido
elaborar este trabalho. Profa. Dra. Bruna Nascimento e ao Prof. MS. Alex Guizalberth que
aceitaram o convite para banca.
Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro, especialmente, a Escola de
Biblioteconomia, sua direo e corpo docente que tanto contriburam para minha formao.
Aos Bibliotecrios e outros profissionais que tive o prazer de trabalhar, especialmente
a Bibliotecria Rejane Bening que muito me ensinou, e a Historiadora Isabel Regina Correa.
A todos os amigos que constei na Universidade em especial Laze, Pmela, Vinicius,
Juliana, Rubia e Las que alm de dividir o desespero pr-prova tambm dividiram muitas
risadas e alegrias.
-
RESUMO
Trata sobre o Boletim da PMERJ como documento histrico e fonte de informao e
memria. Explica que a memria pode ser avaliada atravs de diversas perspectivas, assim o
documento que se torna agente formador da memria tambm deve ser analisado em diversos
aspectos. Analisa os boletins como documento/monumento pautado nas perspectivas
informacional, jurdica, social, cultural e quanto instrumento de poder. Mediante mtodo
exploratrio, o estudo qualitativo se divide em duas etapas: reviso de literatura acerca do
tema e anlise de contedo do boletim da PMERJ. Como principais resultados obtidos na
pesquisa, destaca a identificao da identidade individual como construo do meio o qual
determinado sujeito vivencia suas experincias e a influncia de carter ideolgico dos grupos
que detm o poder de escolha das informaes, usando esta como instrumento de poder.
Conclui-se pela anlise dos boletins que estes so fontes de informao histrica e
documentos capazes de se tornarem artefatos da construo da memria tanto coletiva de
determinado grupo social como dos indivduos que a ele o pertencem.
Palavras-Chave: Fonte Informao. Memria e Documento. Anlise de Contedo. Boletim da
PMERJ. Boletim. Ostensivo da PMERJ.
-
ABSTRACT
This study is about PMERJ newsletters as information source and material memory. Memory
is evaluable in different perspectives and the document acts like place of memory, therefore it
should be analysed in different contexts too. The Military Police of Rio de Janeiro newsletters
are treated as "document/monument" and analyzed as informational, juridical, social and
cultural perspectives, just as power instrument. Exploratory research method, divided into two
parts of a qualitative study: first, a literature review on the topic, then a PMEREJ's newsletters
content analysis. The main results achieved from this work are the individual identity as a
decisive key in the structuring of social environments and their experiences, as well as the fact
of holders of this power instrument select the informations that influences ideological
questions. The conclusion is that the analyzed newsletters are historical informations sources
indeed. Those documents are able of develope into artifacts from the memory construction,
via building memory by some social groups or by individuals who belongs to it.
Keywords: Information Source. Memory and Document. Content analysis Newsletters of
PMERJ. Ostensive Newsletters of PMERJ.
-
LISTA DE FIGURAS
Figura 1 Notcia sobre atuao violenta da PM .............................................. 26
Figura 2 Notcia do Jornal O Globo sobre ao da Polcia ............................. 27
Figura 3 Notcia da Revista Veja sobre a PM ................................................. 29
Figura 4 Notcia da Revista Veja com nfase sobre a atuao da PM ............ 30
Figura 5 Transcrio do DOERJ no BOLPM ................................................. 41
Figura 6 Publicao de aniversrio da 2 UPP do Estado ............................... 42
Figura 7 Comemorao do dia mundial do meio ambiente no BOLPM ........ 43
-
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS
BOLPM Boletim da Polcia Militar
OPM Organizao Policial Militar
PMERJ Polcia Militar do Estado do Estado do Rio de Janeiro
UPP Unidade de Polcia Pacificadora
-
SUMRIO
1 INTRODUO ................................................................................................. 11
1.1 Justificativas ........................................................................................................ 11
1.2 Metodologia ........................................................................................................ 12
2 MEMRIA E DOCUMENTO ......................................................................... 15
3 POLCIA MILITAR DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO ....................... 23
3.1 Boletim da PMERJ como fonte de informao e memria ................................. 24
3.2 Boletim da PMERJ como documento histrico .................................................. 30
4 BOLETIM DA POLCIA MILITAR DO ESTADO DO RIO DE
JANEIRO E O VALOR INFORMACIONAL E IDENTIDADE .................
33
5 ANLISE DOS BOLETIM OSTENSIVO DA PMERJ ................................ 37
6 CONSIDERAES FINAIS ........................................................................... 44
REFERNCIAS ................................................................................................ 47
-
11
1 INTRODUO
Este trabalho de concluso de curso (TCC) trata sobre o Boletim da PMERJ no
contexto da memria social. As anlises deste trabalho partem do pressuposto de que a
construo da memria coletiva tem influncia na memria individual da classe de policiais
militares do Rio de Janeiro.
Tal proposio se alicera na noo de que sociedade formada por grupos sociais e
sob a perspectiva de Le Goff, o documento produzido pelos grupos sociais se constitui como
possibilidade de criao da identidade institucional.
Nesse sentido, objetiva-se analisar como o Boletim Ostensivo da PMERJ produzido
pela Polcia Militar do Estado do Rio de Janeiro reflete construo de sua memria
institucional sob dois aspectos: boletim da PMERJ como fonte de informao e memria e
como documento histrico.
Para tanto, a presente pesquisa, de natureza qualitativa, foi elaborada sob o mtodo
exploratrio e dividida em duas etapas para coleta e anlise de dados. A primeira est balizada
por uma pesquisa bibliogrfica em bases de dados e publicaes especializadas em memria e
documento e a segunda por anlise crtica de contedo do boletim da PMERJ.
Para tanto, no corpo deste TCC esto definidos: os objetivos especficos da proposta
de pesquisa; a justificativa que ir aprofundar os elementos culturais que influenciaram a
escolha do tema e expor a relevncia do estudo para o campo da memria social; em seguida,
o lastro terico, que apresentar um breve histrico da PMERJ, assim como os conceitos que
abrangem o campo da memria social; a metodologia, que se amparou na pesquisa de artigos
na base de dados Web of Science escolhidos por meio de anlise dos resultados da
recuperao da base de acordo com as palavras-chave; e, por fim, os resultados que se espera
alcanar com a pesquisa.
1.1 Justificativas
O interesse pela abordagem em Memria Social para o Boletim da PMERJ se deu a
partir da participao da pesquisadora como aluna na disciplina Informao, Memria e
Documento, ministrada pelas Prof. Dr. Vera Dodebei, Prof. Dr. Evelyn Orrico e Prof. Dr.
Leila Beatriz, no segundo semestre do ano de 2014, na Universidade Federal do Estado do
Rio de Janeiro (UNIRIO).
-
12
No que tange a escolha da publicao peridica da PMERJ, percebe-se que a Polcia
Militar do Estado do Rio de Janeiro uma instituio que constantemente est em tela nas
discusses na mdia de massa e nas redes sociais acerca dos esteretipos e imagem social de
determinados segmentos sociais, principalmente, quando se refere aos segmentos que detm
um acesso mais seletivo das informaes. Todavia, ainda h muito que se descobrir a partir da
imagem social que a prpria instituio constitui dela prpria em termos de memria coletiva.
Le Goff (1996) explica que o documento tem valor de memria porque constitudo
politicamente com essa inteno para a criao de memrias capazes de representar a imagem
da organizao que o produz.
Nesse sentido, o contingente de notcias publicadas nos vrios peridicos,
cotidianamente, impressos e em meio digital, sobretudo, na Rede Web, por vezes criam ou
recriam a imagem da referida instituio no contexto da Sociedade capaz de influenciar os
vrios grupos sociais e que nem sempre reflete o mesmo discurso produzido pela PMERJ.
Nessa possibilidade, o discurso pode ser compreendido como uma manifestao da
memria institucional e por isso capaz de criar e recriar memrias bem como formatar
identidades no contexto social (RIBEIRO; ORRICO; DODEBEI, 2014).
A partir da anlise de Briquet de Lemos (1993) sobre anlise crtica de publicaes
seriadas institucionais, percebe-se o valor de memria que a publicao institucional exerce
no seio da sociedade e que no caso do Boletim da PMERJ, isso se traduz, por exemplo, no
enfrentamento institucional imagem criada e cotidianamente recriada pela mdia de
consumo de massa sobre a instituio.
Alm do enfrentamento, outros aspectos da memria institucional permitem anlise
crtica de como o referido peridico manifesta a construo da memria da organizao de
modo a dar forma memria coletiva dos vrios grupos humanos que atuam dentro da
instituio. Outro aspecto desse processo de construo da memria o valor informativo,
isto , de registro das aes e manifestaes da instituio.
1.2 Metodologia
A presente pesquisa de natureza qualitativa a partir do mtodo exploratrio e
dividida em duas etapas tanto para a coleta de dados quanto para a anlise dos resultados. A
primeira parte foi elaborada mediante pesquisa bibliogrfica, utilizando-se de bases de dados
e publicaes especializadas em memria social e documento. Na segunda parte foi feita a
-
13
anlise de contedo em um dos seis Boletins da PMERJ, intitulado Boletim Ostensivo,
objeto de estudo deste TCC.
O material utilizado para a pesquisa foi constitudo das bases de dados SciELO e Web
of Science bem como em revistas cientficas na rea, tais como: Caderno de Sade Pblica e
Epidemiologia Servio e Sade, bem como os Anais do XV Encontro Nacional de Pesquisa
em Cincia da Informao.
A primeira busca foi realizada em bases de dados e em catlogos online de revistas
cientficas da rea de Biblioteconomia e Memria Social. Os termos utilizados para a pesquisa
bibliogrfica foram Newsletters AND Information sources AND Government Reports
(Boletins E fonte de informaes E relatrios governamentais). Nesta primeira, por ter
descritores com significados bem abrangentes optou-se por usar apenas o operador
booleano AND, o qual busca os trs descritores em um documento.
Nesta busca foram recuperados apenas dois artigos. Os artigos recuperados no
satisfaziam pesquisa, logo foi realizada uma nova pesquisa. A segunda busca foi composta
pelos descritores Document/Monument AND Social Memory (Documento/Monumento E
Memria Social). Nesta pesquisa tambm foram utilizados somente o operador booleano
AND, pois restringiria a pesquisa, e porque Documento/Monumento por ser amplo,
geralmente nas buscas associado rea de Museologia, conjugado com memria social traria
um maior recorde. Para essa busca recuperou-se seis itens, mais adequados pesquisa
proposta.
A terceira pesquisa foi realizada com os descritores Memory AND Social Memory
AND Construction identities (Memria E Memria Social E Construo de Identidades).
Esta pesquisa obteve o maior nmero de artigos recuperados, talvez por todos os campos
serem relacionados diretamente a memria, e no ter includo a fonte de informao
Boletins.
A ltima busca realizada foi composta pelos descritores Social Memory AND
Construction of Identities AND Rio de Janeiro (Memria Social E Construo de
Identidades E Rio de Janeiro). Esta ltima pesquisa obteve apenas um resultado, porm o
mais satisfatrio, o qual se adequa a pesquisa realizada.
Em todas as pesquisas foram utilizados filtros de refinamento por lngua, lngua
Inglesa, por campo de estudo: Library Science e History; e por delimitao temporal, ltimos
10 anos, exceto na ltima pesquisa o qual o lapso temporal deixou-se em aberto.
-
14
Outros termos similares foram considerados para a pesquisa, como fontes de
informaes especializadas, Government Publicactions e Bulletins, porm no se
recuperou nenhum documento.
Da terceira busca com os descritores Memria E Memria Social E Construo de
Identidades, sete artigos foram selecionados, porm somente dois eram de livre acesso. O
artigo da ltima pesquisa tambm foi selecionado por se relacionar diretamente com o tema, e
por ser de livre acesso.
Os artigos de acesso livre na base de dados SciELO, os quais foram possveis salvar.
Os outros artigos recuperados ou fugiam do cerne especfico do tema, aqui proposto de
analise do trabalho, ou no tinham acesso livre.
Tabela 1: Descritores, Operadores booleanos e resultados.
Fonte: a autora.
Para a anlise de contedo do Boletim Ostensivo, boletim da PMERJ, adotou-se o
trabalho de Villegas e Gonzlez (2011) e o de reviso de literatura de Moraes (1999),
compreendido como mtodo qualitativo que pode ser aplicado ao texto, mensagem e ao
documento, sendo de interesse nesse estudo a transformao do texto em unidades de anlise
do documento, no caso o boletim da PMERJ do nmero 101 e 102 de junho de 2017.
De acordo com Moraes (1999, p. 7), a anlise de contedo tem sua origem no final do
sculo XIX. Suas caractersticas e diferentes abordagens, entretanto, foram desenvolvidas,
especialmente, ao longo dos ltimos cinqenta anos, especialmente com o crescimento das
abordagens cientficas qualitativas. Considerando que um documento pode apresentar muitos
significados, emprega-se no TCC, a anlise sobre o sentido que a instituio pretende
expressar visando coincidir com o sentido percebido pelo leitor do documento.
-
15
2 MEMRIA E DOCUMENTO
Essa seo introduz os resultados encontrados na reviso de literatura, tratando sobre a
noo de memria e documento pela qual guia a presente pesquisa. Numa perspectiva
biolgica, o assunto memria pode ser tratado sobre vrios aspectos. Por exemplo, consoante
Lodolini (1990 apud JARDIM, 1995, p. 4):
desde a mais alta Antiguidade, o homem demonstrou a necessidade de
conservar sua prpria memria inicialmente sob a forma oral, depois sob a
forma de graffiti e desenhos e, enfim, graas a um sistema codificado ... . A
memria assim registrada e conservada constituiu e constitui ainda a base de
toda atividade humana: a existncia de um grupo social seria impossvel sem
o registro da memria, ou seja, sem os arquivos. A vida mesma no existiria
- ao menos sob a forma que ns conhecemos - sem o ADN, ou seja, a
memria gentica registrada em todos os primeiros arquivos.
Com muita frequncia, temtica da memria, expressa interesses e paixes de objeto
de campo interdisciplinar. Diversos termos tendem a ser associada memria como resgate,
preservao, conservao, registro, seleo etc. Em conformidade com Netto (2007), a
memria o encadeamento de elementos que remetem a um passado, real ou fantstico, e que
so dados na esfera da conscincia individual ou, principalmente, coletiva, que referendada
no reconhecimento dos patrimnios culturais.
J de acordo com Le Goff (1996), a memria como finalidade de conservar
informaes abarca vrios campos do conhecimento como a psicologia, a psicofisiologia, a
neurofisiologia, a biologia e a psiquiatria. Essas reas do conhecimento estudam como o
homem pode atualizar impresses ou informaes passadas, ou o que ele entende ser
informaes passadas.
Com os avanos na ciberntica e na biologia outras ideias de memria foram
aprimoradas. Na biologia tem-se a ideia da memria biolgica hereditria, o qual cada
indivduo tem em seu cdigo gentico um patrimnio gentico e o transmite a seus
descendentes. J a ciberntica traz a ideia de memria central dos computadores, uma
memria artificial, e eletrnica em sua forma.
A memria como fenmeno, dentre seus aspectos biolgicos e psicolgicos no so
mais do que resultados de sistemas dinmicos de organizao e existem na medida em que a
organizao os mantm ou os reconstitui (Le Goff, 1996).
-
16
Pierre Janet (1975 apud LE GOFF, 1996, p. 461): considera que o ato mnemnico
fundamental o "comportamento narrativo" que se caracteriza antes de qualquer coisa pela
sua funo social, pois que comunicao. E esta comunicao, segundo Flores (1972, p. 12
apud LE GOFF, 1996, p. 461), destina-se a outrem contendo alguma informao, na ausncia
do acontecimento ou do objeto que constitui o seu motivo.
Nesse sentido, Le Goff (1996, p. 367) explica que nessas circunstncias, h a
interveno da linguagem, sendo:
ela prpria produto da sociedade" (ibid). Deste modo, Henri Atlan,
estudando os sistemas auto-organizadores, aproxim "linguagens e
memrias"; "A utilizao de uma linguagem falada, depois escrita, de fato
uma extenso fundamental das possibilidades de armazenamento da nossa
memria que, graas a isso, pode sair dos limites fsicos do nosso corpo para
estar interposta quer nos outros quer nas bibliotecas. Isto significa que, antes
de ser falada ou escrita, existe uma certa linguagem sob a forma de
armazenamento de informaes na nossa memria.
No campo da psicologia a memria estudada por meio dos grupos sociais no poder
os quais influem, consciente ou inconscientemente, sobre a constituio da memria
individual direcionando seus desejos e interesses. Essas classes que dominam/dominaram a
histria com o poder da informao tornam-se senhores da memria, pois regulam o que deve
cair no esquecimento e o que ser transmitido as prximas geraes, assim criando um
mecanismo de manipulao da memria coletiva.
Para Le Goff no estudo da memria histrica necessrio dar importncia s
diferenas entre as sociedades de memria essencialmente oral e as sociedades de memria
escrita. A histria da memria pode ser dividida em cinco perodos: o da transmisso oral, o
da transmisso escrita com tbuas ou ndices, o das fichas simples, o da mecanografia, e o da
seriao eletrnica (LEROI-GOURHAN, 1974 apud LE GOOF, 1996, p. 368).
Nas sociedades de memria essencialmente oral parece haver uma trade de interesses,
que dividiam as sociedades, estes so: os mitos de seu surgimento; o prestigio das famlias
que dominavam determinadas reas e o saber tcnico que advinham de prticas relacionadas
religio.
Segundo Le Goff (1996) nas sociedades que no se utilizam da escrita a memria tem
forma mais livre, pois advm de fatos de seu cotidiano, assim abrindo possibilidade para a
criatividade. Assim a analise da memria histrica dos povos sem escrita pode ser feita de
forma objetiva ou subjetiva. A forma objetiva se baseia na srie de fatos que os historiadores
-
17
podem comprovar por meio de documentos, e a forma subjetiva que avalia os fatos de
determinada sociedade por intermdio de suas tradies.
Por ter a possibilidade de criatividade, a memorizao no se d de forma integral, no
h memorizao palavra por palavra da historia. Desse modo pode haver variaes da mesma
historia, isso porque no h uma aprendizagem mecnica automtica. Nessas sociedades h
especialistas em memrias, guardies da memria, com funo depositrios da memria tanto
objetiva como subjetiva.
O aparecimento da escrita permite memoria coletiva o desenvolvimento de duas
formas de memrias, escrita e oral. O documento escrito num suporte especialmente
destinado escrita deu-se aps diversas tentativas como, por exemplo, escrita sobre osso,
estofo, pele, como na Rssia antiga; em folhas de palmeira, como na ndia; ou em carapaa de
tartarugas, como na China; e finalmente papiro, pergaminho e papel.
Com a evoluo das sociedades na segunda metade do sculo XX, principalmente,
com a memria eletrnica, amplia-se o conceito de memria por meio da memria eletrnica
sobre outros tipos de memria. Ainda no sculo XX, a memria expandiu-se pelos campos da
Filosofia, Sociologia e da Literatura, de forma a alcanar o campo das cincias sociais
sofrendo transformaes, instalando-se e inserindo-se nesse campo com um papel de
interdisciplinaridade.
Segundo Gondar (2005) o conceito de memria transdisciplinar, pois no pertence a
nenhum campo especfico do conhecimento, ou a um lote especfico e delimitado. A memria
social seria mais que um assunto multidisciplinar, o qual objeto de estudo de vrias matrias
que tratam do mesmo assunto sem dialogar entre si, e mais que interdisciplinar, ou seja, vrias
disciplinas que dialogam, mas cada uma com espao delimitado.
A memria social, como objeto de pesquisa passvel de ser conceituado, no
pertence a nenhuma disciplina tradicionalmente existente, e nenhuma delas
goza do privilgio de produzir o seu conceito. Esse conceito se encontra em
construo a partir de novos problemas que resultam do atravessamento de
disciplinas diversas.
Segundo a autora, justamente com o surgimento das cincias humanas e sociais que
a memria torna-se uma construo humana, e assim uma construo no tempo. A memria
uma construo processual, pois, em conformidade com Gondar (2005), no nos conduz a
reconstituir o passado, mas sim a reconstru-lo com base nas questes que ns fazemos que
fazemos a ele, questes que dizem mais de ns mesmos, de nossa perspectiva presente, que do
frescor dos acontecimentos passados.
-
18
Diante da ideia da memria como um processo e do homem como objeto de investigao
na formao de memria, Gondar rejeita a ideia de que a memria se configura apenas no plano
da representao. De fato a memria tambm apresenta-se como uma forma de representao,
porm essa seria apenas uma de suas facetas, ela pode representar sim uma determinado
acontecimento, ou arquivos representativos determinado povo, porm seu conceito deve ser
entendido de forma ampla e caracterizado como, alm da forma representativa, como uma parte
da esfera social em constante mudana.
Assim como no se pode reduzir a passagem do tempo real, em suas nfimas
variaes, marcao dos ponteiros de um relgio, no se pode reduzir a
permanente agitao das foras sociais ao encontro homogneo de uma
representao. (...) Se reduzirmos a memria a um campo de representaes,
desprezamos as condies processuais de sua produo (Gondar, 2005).
o conceito de memria social no pode ser formulado em moldes clssicos,
sob uma forma simples, imvel, unvoca. Pensamos, ao contrrio, que se
trata de um conceito complexo, inacabado, em permanente processo de
construo (Gondar, 2005).
Le Goff (1996) observa que a memria essencial na busca pela construo da
identidade do indivduo, e na sua construo como ser coletivo. So nas sociedades cuja
memria social sobretudo oral ou nas que esto em vias de constituir uma memria coletiva
escrita que melhor permitem compreender esta luta pela dominao da recordao e da
tradio, esta manifestao da memria.
Assim, possvel compreender a memria como um instrumento de poder, uma vez
que formada, preservada e transmitida por grupos que dominam determinada sociedade.
Desse modo, pode ser afirmar que a constituio da memria coletiva est estreitamente
associada s classes dominantes. Essas classes alm de determinar o que ser transmitido
tambm determinam as informaes ausentes na histria, mesmo nas sociedades ditas
desenvolvidas.
Nas sociedades desenvolvidas, os novos arquivos sejam arquivos orais ou
audiovisuais, no escaparam vigilncia dos governantes/instituies que os produzem, estes
puderam e podem controlar a memria com eficcia por meio de novos utenslios de produo
desta memria, como, por exemplo, o rdio, a internet ou ainda a televiso.
Para Gondar (2005) o conceito de memria social poltico, tico. Essa afirmao
esta pautada justamente no argumento de que a histria feita pela escolha de uma classe ou
grupo que possui uma intencionalidade direta ou indireta de exaltar determinados fatos e
-
19
relativizar outros. Determinando, dessa forma, a narrativa que servir para a criao da
memria.
O conceito de memria produzido no presente uma maneira de pensar o
passado em funo do futuro que se almeja. Seja qual for a escolha terica
em que nos situemos, estaremos comprometidos tica e politicamente
(GONDAR, 2005).
Para Le Goff (1996), a memria coletiva e a sua forma cientfica, a histria, aplicam-
se a dois tipos de materiais: os documentos e os monumentos. Em sua anlise como
documento/monumento cabe salientar algumas definies.
Para o autor o documento o que fica. J o monumento tudo aquilo que se pode
evocar o passado e est ligado ao poder de perpetuao, fruto do um esforo voluntrio ou
involuntria da sociedade de impor a sociedades futuras uma imagem de si prpria. O
monumento a roupagem, uma montagem. O autor tenta romper com a noo de que
documento somente aquilo que escrito, assim pensa tambm nas formas em que a
sociedade se comunicada atravs dos silncios, das relaes de poder, nos lugares sociais
ocupados pelos autores sociais etc.
No que tange ao documento, Merlo e Konrad (2015) demarcam que a evoluo do
suporte do documento se deu da seguinte forma pedra, tabletes de argila, tabuinhas de
madeira, papiro, pergaminho, at o papel e documentos digitais. Entretanto, como afirmam
as autoras, essa evoluo do suporte do documento no tornou os suportes anteriores
obsoletos, isto , apesar do desenvolvimento, no perderam seu valor informacional,
permanecendo, tambm, como fonte de informao.
Para Le Goff (1996), a histria quantitativa modificou o status do documento que tinha
como objetivo apenas a busca pela autenticidade, passa a ser analisado no por si mesmo, mas
por uma relao de documentos que o antecedem e os que iro preceder. Alm, claro, das
inovaes tecnolgicas, como o computador, por exemplo, que comportou uma nova
periodizao na memria atravs da estatstica e das relaes quantitativas entre documentos.
O que se pode verificar com o aumento considervel de publicaes peridicas desde a
tipografia de Gutenberg (BURQUE, 2002, p. 174).
Dentre os vrios sentidos atribudos ao Documento pelas reas de Cincia da
Informao, Biblioteconomia, Arquivstica e Histria, o documento configurado, por essas
reas, como sendo tanto uma informao registrada, quanto um monumento, uma construo
social. Consoante Ferrarezi (2007) os documentos materializam um ou mais discursos,
-
20
carregando em suas linhas toda uma rede de memria que suscita muito mais do que uma
leitura literal do texto. A maioria das concepes atribudas ao documento no consideram
tais elementos discursivos.
O documento, que era visto como sinnimo de texto impresso, tem seu conceito
expandido, atualmente, podendo abranger uma infinidade de suportes como, por exemplo,
eletrnico, audiovisual, tridimensional etc., o que observado nas definies de documento
presente na literatura cientfica de diversas reas e nas definies apresentadas a seguir:
documento um suporte com uma informao, que poder ensinar algo a
algum. De forma simples, podemos dizer que o documento uma
informao, de qualquer tipo, sobre um suporte de qualquer tipoou, se
colocarmos a definio ao contrrio, documento um suporte modificado
por uma informao (BELLOTTO, 2002, apud FERRAREZI, 2007).
Registro de uma informao independentemente da natureza do suporte que
a contm. (ASSOCIAAO BRASILEIRA DE NORMAS TCNICAS,
1986).
Documento de toda a expresso em linguagem natural ou convencional ou
qualquer outra expresso grfica, sonora ou imagem, fixada em qualquer
tipo de suporte material, inclusive o suporte diplomtico (BELLOTTO,
2002, apud FERRAREZI, 2007).
H que tomar a palavra documento no sentido mais amplo, documento
escrito, ilustrado, transmitido pelo som, a imagem, ou de qualquer outra
maneira (LE GOFF, 1996).
Antes do advento da escrita o homem j registrava sua rotina/histria de outra forma,
como em desenhos e smbolos, e em outros suportes, e estes foram evoluindo com o tempo
at a forma escrita. Porm, segundo Le Goff (1996), somente a partir do sculo XX com a
escola positivista o documento torna-se elemento indispensvel histrica. O documento passa
a ter valor probatrio, imparcial, e de verdade absoluta; e assim passou a considera-se que no
haveria histria sem o documento.
Indolfo (2007 apud MERLO; KONRAD, 2015, p.29) destaca a importncia dos
documentos que corrobora com Le Goff como elemento fundamental como registro de
memria:
O documento ou, ainda, a informao registrada, sempre foi o instrumento
de base do registro das aes de todas as administraes, ao longo de sua
produo e utilizao, pelas mais diversas sociedades e civilizaes, pocas
e regimes. Entretanto, basta reconhecer que os documentos serviram e
-
21
servem tanto para a comprovao dos direitos e para o exerccio do poder,
como para o registro da memria.
J o monumento, conforme Le Goff (1996) tende a especializar-se em dois sentidos: 1)
uma obra comemorativa de arquitetura ou de escultura como, por exemplo, o arco de triunfo,
coluna, trofu, prtico etc.; 2) um monumento funerrio destinado a perpetuar a recordao de
uma pessoa no domnio em que a memria particularmente valorizada: a morte. O
monumento tem como caracterstica ligar-se ao poder de perpetuao, voluntria ou
involuntria das sociedades histricas ( um legado memria coletiva) e o de reenviar a
testemunhos que s numa parcela mnima so testemunhos escritos.
No final do sculo XIX os conceitos de documento e monumento se transformam para
os historiadores, o termo monumentos ser, correntemente, usado para definir as grandes
colees de documentos; e os documentos monumentos escritos.
A transformao de documentos em monumentos tem estreita relao com a utilizao
do poder, no existe documento sem objetivo, incuo ou primrio; os documentos so/foram
produzidos pelas sociedades dominantes que tinham/tem interesse que assim sejam.
Ainda para Le Goff (1996), o documento no qualquer coisa que fica por conta do
passado, e sim um produto da sociedade que o fabricou segundo as relaes de foras que a
detinham o poder. Ento somente a anlise do documento enquanto monumento permite
memria coletiva recuper-lo, isto , com pleno conhecimento de causa.
O documento como manifestao de memria o resultado de uma montagem,
consciente ou inconsciente, da sociedade que o produziu e das pocas sucessivas que
continuou a viver, mesmo que tenha sido esquecido e assim sendo manipulado pelo silncio.
O documento o monumento que resulta do esforo das sociedades imporem seu futuro,
voluntria ou involuntariamente, determinando sua imagem.
Para analisar determinada fonte de informao como documento/monumento faz-se
necessrio um juzo de valor, ou seja, escolhendo uma fonte em detrimento de outra, e este
julgamento depende se sua prpria construo social, de sua poca e organizao mental.
Para Le Goff (1996), julgar este valor h que se considerar em seus vrios aspectos,
no apenas com o auxlio crtico da histria. Para o autor, esse juzo de valor pode ser
estudado em diversas perspectivas, sendo perspectiva social, econmica, cultural, religiosa,
jurdica e sobre tudo quanto instrumento de poder.
-
22
Esse cenrio da literatura consultada acerca de memria e Documento deve permitir a
anlise da memria institucional da Polcia Militar do Estado do Rio de Janeiro atravs do seu
boletim.
-
23
3 POLCIA MILITAR DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO
Em trs de maio de 1809 foi criada a Diviso Militar da Guarda Real da Polcia da
Corte (DMGRPC), esta se configurou como a primeira polcia militar do Brasil. Em 1835,
devido criao do Municpio Neutro da Corte, hoje atual municpio do Estado do Rio de
Janeiro, foi criada a guarda policial da provncia, e esta segundo FREITAS (2013) se tornou a
raiz da Polcia Militar atual.
Ao passar dos anos a polcia militar atuou em diversas frentes, como aps a
Proclamao da Republica em revoltas como a Aramada e a da Vacina, e nos anos 1920 no
enfrentamento dos 18 do forte. Ainda segundo FREITAS (2013):
Importa destacar que a polcia militar torna a ter destaque, principalmente
com a implementao da Ditadura do Estado Novo (1937-1945), imposta por
Getlio Vargas. Isto se deu devido ao seu importante papel naquele
momento ao cercar o Senado e a Cmara dos Deputados por piquetes do
Regimento de Cavalaria da Polcia Militar. Destaca-se que o Governo
Kubitscheck (1956-1961) se assentou pelo trip da Segurana Pblica
formado pelo Ministro do Exrcito Brasileiro, Comandante da 1 Regio
Militar e Comandante Geral da Polcia Militar do Rio de Janeiro.
Com a mudana da Capital do Pas para Braslia, a denominada Polcia Militar do
Distrito Federal, passa a chamar-se Polcia Militar do Estado da Guanabara. Cabe salientar
que at 1920 quando seu nome oficial torna-se Polcia Militar do Estado do Rio de Janeiro
(PMERJ), segundo o rgo, esta apresentou 12 nomes diferentes. Durante a Ditadura Militar,
a polcia militar (PM) tornou-se o brao armado do Governo Militar para conter a oposio e
reprimir manifestaes e atos contra o governo, e tambm assumiu o policiamento ostensivo.
A Constituio 1988 traz em seu art. 144, 5, que, s policias militares cabem a
polcia ostensiva e a preservao da ordem pblica, assim evidencia para FREITAS (2013)
que a polcia militar exerce a funo de polcia administrativa, sendo responsvel pelo
policiamento, ostensivo e preventivo, e pela manuteno da ordem pblica nos diversos
Estados da Federao..
A partir da dcada de 1990 ocorrem s tentativas da implantao das chamadas
Polcias Comunitrias, consoante a est ideia uma dcada aps, em 2008, mais
especificamente, ocorre implantao das Unidades de Polcia Pacificadora (UPP).
Vale salientar que PMERJ hoje tem em seu organograma os: Comandos
Intermedirios, que visam descentralizar as aes do Comando-Geral; as Coordenadorias,
-
24
com nfase para a Coordenadoria de Polcia Pacificadora (CPP), a Coordenadoria de
Comunicao Social (CCOMSOC) e a Coordenadoria do Programa Estadual de Integrao na
Segurana (CPROEIS); as Corregedorias, dentre elas o Centro de Criminalstica da PM
(CCRIM) e a Unidade Prisional da Polcia Militar (UP); e as Diretorias, como a Diretoria
Geral de Pessoal (DGP), a Diretoria de Ensino e Instruo (DGEI) e a Diretoria Geral de
Sade (DGS).
3.1 O Boletim da PMERJ como fonte de informao e memria
Infere-se segundo a doutrina administrativista de Hely Lopes Meirelles (2007) que
servio pblico todo aquele prestado pela administrao pblica ou por seus delegados para
satisfazer as necessidades essenciais ou secundrias da coletividade assim, como exemplo de
servio pblico o servio de polcia.
A PMERJ, subordinada diretamente ao Governador de Estado por fora da
Constituio em seu artigo 144, 6, um rgo pblico da administrao direta Estadual, e
assim sendo est obrigado a cumprir princpios da administrao, positivados, principalmente
no art.37, caput, da Constituio Federal de 1988 a qual traz A Administrao pblica direta
e indireta, de qualquer um dos poderes da Unio, dos Estados, do Distrito Federal e dos
Municpios obedecer aos princpios de legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e
eficincia [...].
A Constituio Federal de 1988 tambm assevera que por fora do artigo 5, inciso
XXXIII todos tm direito a receber informaes dos rgos pblicos informaes de seu
interesse particular, ou de interesse coletivo ou geral, que sero prestadas no prazo da lei, sob
pena de responsabilidade, ressalvadas aquelas cujo sigilo seja imprescindvel segurana da
sociedade e do Estado. Logo, entende-se que em se tratando do principio da Publicidade h
uma preponderncia de interesses, o qual o interesse do Estado sobrepe-se ao direito do
Indivduo.
Assim sendo, para os rgos da segurana da sociedade, como por exemplo, a PMERJ,
no pode haver publicao irrestrita de seus atos, sendo exceo do principio da publicidade
mantendo o sigilo de parte de seus atos. Alm, tambm, do sigilo a atos relativos intimidade
assegurados pela Constituio Federal de 1988 e pela Lei de Acesso a Informao, que regula
o acesso informao previsto no artigo 5, inciso XXXIII, inciso II do pargrafo 3 do
artigo37 e do paragrafo 2 do artigo 216 da constituio Federal.
-
25
Ainda segundo Hely Lopes o princpio da publicidade no mbito da administrao
pblica tem como finalidade a transparncia de seus atos. A PMERJ expe seus atos atravs
de boletins, os chamados BOLPM, o que para este trabalho considera-se uma fonte de
informao governamental oficial.
As fontes de informaes governamentais podem surgir de instituies acadmicas e
de pesquisa, universidades, bibliotecas, museus, galerias de arte, associaes industriais e
comerciais, entre outras. Em 1990, no VII Seminrio de Publicaes Oficiais Brasileiras foi
proposto que:
Documentos bibliogrficos e no bibliogrficos produzidos por qualquer
processo, editado sob a responsabilidade, a expensas, por ordem ou com a
participao dos rgos da administrao pblica, ou de entidades por ela
controladas, com o objetivo de registrar a atuao do Estado e de formar ou
orientar opinio pblica sobre a mesma (ALVARENGA, 1993).
Para Alvarenga (1993), a caracterizao de oficial esta intimamente ligada, embora
no exclusivamente, com rgos na estrutura administrativa do poder pblico do pas. Porm
no s o fato de emanar de um rgo do poder pblico que o documento se torna oficial,
pois h muitas publicaes produzidas nos rgos oficiais, com recursos pblicos que fogem a
rea de interesse da instituio, um exemplo disso so os documentos individuais, que embora
produzidos e custeados pelo poder pblico no se diz que tem seu interesse diretamente. Em
geral, para os trabalhos do governo no deve haver autoria individual.
No que tange as informaes sobre a PMERJ, principalmente as vinculadas na mdia,
no se tem total certeza de sua veracidade ou procedncia, assim como Magalhes (2011) traz
em seu artigo a problemtica das memrias recuperadas na Gazeta do Rio de Janeiro, o qual
orientada por um senso de individualidade que alimenta hierarquia entre sujeitos e opera com
o princpio de excluso no fundamento de identidades sociais. O ponto a se perceber aqui
que as grandes mdias tambm constroem uma memria social, que no podemos afirmar
categoricamente sua veracidade. Aqui se apresenta esses dois conceitos: narrar e informar.
Segundo Ribeiro, Orrico e Dodebei (2014, p. 4949) A marca diferenciadora entre
narrar e informar estabelece-se com a capacidade de o narrador carregar consigo uma
legitimidade sobre as coisas, tendo em vista que ao saber trazido de longe, mesmo que
implausvel s ele tinha acesso.
Mesmo que os fatos gerados pela PMERJ sejam de grande repercusso, e no tenha
acesso nico, o que se tenta explicar que com o monoplio das grandes mdias no se carece
-
26
de explicaes miraculosas dos fatos, assim abre brecha para, s vezes, uma cumplicidade
imaginativa.
Ainda conforme Ribeiro, Orrico e Dodebei (2014), a repetio refora uma relao
essencial tanto para a conservao, como para as relaes humanas, assim a cada notcia
positiva ou negativa, redundante constri um vnculo, assim mesmo que se mude o local do
fato sempre associamos o ocorrido a determinados personagens sociais.
Um fato recente de repercusso nacional sobre a Polcia Militar do Estado do Rio de
Janeiro foi assassinato da estudante Maria Eduarda Alves da Conceio, que aos 13 anos foi
alvejada dentro de uma instituio publica na zona norte da cidade de ensino durante a aula de
Educao fsica, durante um confronto entre policiais e traficantes. O assassinato da jovem
revoltou moradores que comearam protestos com a interdio da Av. Brasil por mulheres
sentadas no cho. Manifestantes incendiaram lixeiras e nibus, interditaram vias por diversos
momentos e montaram barricadas pelos arredores, logo a polcia foi acionada para reprimir a
manifestao e se confrontou com os manifestantes.
Figura 1 Notcia sobre atuao violenta da PM
(Fonte: Esquerda Dirio.).
A exposio violncia, combinada com essa imagem da polcia, alimenta a sensao
de que esta no garante a segurana das pessoas e de que as leis no protegem os cidados.
Para Zouain (2008) a imagem da polcia imagem no contexto organizacional pode ser
entendida como a percepo dos stakeholders (cidados, mdia, Estado e a prpria
organizao militar) com relao aes, valores e atitudes dos membros que compem a
organizao Polcia Militar.
-
27
Ainda segundo Zouain (2008), a polcia acabou por se tornar instrumento da opresso
social, o que no acontece em outras policias no mundo. A imagem da polcia vem se
desgastando perante a sociedade, que v a instituio como ferramenta para uma extenso das
barbaridades praticadas por bandidos. No artigo de Zouain, estatisticamente as classes mais
populares tm maior exposio violncia na cidade do Rio de Janeiro, exposio que chega
a ser diria, tm medo da polcia equivalente ao medo dos bandidos.
Em conformidade com Zouain (2008) a eficincia do trabalho da polcia pode estar,
em boa parte, na relao de dependncia da confiana e da colaborao espontnea da
comunidade, quando, por exemplo: 1) as pessoas confiam na polcia, 2) notificam os crimes
de que foram vtimas, 3) testemunham na justia para que criminosos sejam presos e
fornecem informaes sobre o paradeiro de criminosos procurados. Quando no existe essa
relao de confiana, o que impera a lei do silncio, a subnotificao de crimes e a liberao
de suspeitos por ausncia de provas.
H algum tempo, segundo de Zouain (2008), a Polcia Militar vem demonstrando o
desejo de mudar a imagem de uma polcia repressora e alheia aos interesses das comunidades,
no entanto, sua imagem vem sendo construda por meio de fatos, como as aes repressora,
consciente ou inconsciente dos policiais, ou a prpria dinmica do espao geogrfico e das
relaes sociais em que se situam.
Figura 2 - Notcia do Jornal O Globo sobre ao da Polcia
(Fonte: Jornal O Globo)
-
28
No Rio de Janeiro, um dos principais projetos para a retomada de uma boa imagem da
Polcia Militar foi o programa das Unidades de Polcia Pacificadora (UPP), considerados um
dos projetos mais importantes de segurana publica realizado nas ultimas dcadas no Brasil.
Implantado pela Secretaria de Estado de Segurana do Rio de Janeiro, no fim de 2008, o
Programa das UPPs - planejado e coordenado pela Subsecretaria de Planejamento e Integrao
Operacional - foi elaborado com os princpios da Polcia de Proximidade, um conceito que vai
alm da polcia comunitria e tem sua estratgia fundamentada na parceria entre a populao e as
instituies da rea de Segurana Pblica.
O Programa engloba parcerias entre os governos municipal, estadual e federal e
diferentes atores da sociedade civil organizada e tem como objetivo a retomada permanente de
comunidades dominadas pelo trfico, assim como a garantia da proximidade do Estado com a
populao. A pacificao ainda tem um papel fundamental no desenvolvimento social e
econmico das comunidades, pois potencializa a entrada de servios pblicos, infraestrutura,
projetos sociais, esportivos e culturais, investimentos privados e oportunidades.
Ainda segundo o site oficial da Unidade de Polcia Pacificadora o Estado do Rio de
Janeiro possui 38 UPPs e contam com um efetivo atual de 9.543 policiais. As UPPs em operao
abrangem aproximadamente 264 territrios. Cabe ressaltar que os efeitos proporcionados pelo
programa extrapolam as comunidades pacificadas, se estendendo a suas reas adjacentes,
beneficiando direta e indiretamente uma populao bem maior.
Os cidados veem na mdia as notcias sobre a violncia na cidade e, em sua maioria
esto relacionadas s classes econmicas menores. Todos os dias tema em tela a represso, o
abuso de autoridade e a corrupo que ocorre dentro e fora da instituio, segundo Arbex
(2001) lembra-nos que a guerra se tornou um grande show aos olhos do telespectador, vido
por acontecimentos que fiquem registrados na memria.
Ainda segundo Arbex (2001), o que importa nos atuais programas de telejornalismo
o impacto da imagem, assim como o ritmo de sua transmisso, como no vdeo clipe uma
sucesso de imagens costurada de maneira, talvez, aleatria, mas que em seu conjunto
reforam certa mensagem.
O objetivo da publicidade no passado era vender produtos, no mundo contemporneo
a publicidade estabelece moldes a serem seguidos padres fsicos, estticos, sensuais e
comportamentais. O narrador da notcia seja o historiador, cientista poltico ou o jornalista,
escolhe e singulariza determinado fato de motivado, estrategicamente, pelo que deseja
transmitir.
-
29
O observador designa o que um fato, mas o faz limitado por contextos
econmicos, culturais, sociais, ideolgicos, polticos, histricos,
psicolgicos, e por sua prpria competncia discursiva, colocada em jogo
numa disputa de discursos e saberes, assim estabelecendo uma relao de
poder simblico- isto uma relao politica em sentido mais amplo
(ARBEX, 2001).
Assim, a notcia que tratada como entretenimento, que pratica cada vez mais
comum entre os meios de comunicao, no fica s a cargo do jornalismo, mas encontra
tambm como ator principal ao pblico, que se v representado nesse jornalismo do
espetculo.
Figura 3 Notcia da Revista Veja sobre atuao da PM
Fonte: Revista Veja Online de 6 abr. 2017.
Ainda que o laudo da investigao no tenha sido concludo a matria traz a afirmativa
que em seu ttulo que o tiro que atingiu a jovem na escola partiu da arma do policial. A
matria da Revista Veja traz o policial como protagonista com mais uma de suas aes
truculenta, o que assevera, inconscientemente e/ou conscientemente, o imaginrio do leitor.
Considerando o que explicam Oliveira e Orrico (2009), as relaes estabelecidas entre
a memria envolvem os acontecimentos, as pessoas e os lugares. As contnuas matrias com
teor semelhante de aes catastrficas da corporao imprimem-se como referncia em
determinados lugares e, assim, acarretam na percepo da realidade e na vivncia que ficaro
registradas na histria, logo, construindo uma memria coletiva de determinada camada
social.
-
30
Figura 4 Notcia da revista Veja com nfase sobre atuao da PM
Fonte: Revista Veja Online de 22 jul. 2017 .
A memria est vinculada ao tempo presente, mesmo sendo necessria a meno de
um passado. A notcia traz menes ao passado em outras matrias vinculadas com o mesmo
teor da matria principal, assim a notcia refora no s um fato isolado, mas um histrico.
Mesmo reconstruindo a partir de outros indivduos a memria nos remete a ideia de
coletividade, social.
Nesse contexto, percebe-se uma finalidade de um tipo de publicao peridica. No
entanto, outras funes podem ser exercidas por publicaes peridicas, tais como revistas,
jornais e boletins. O que se verifica a seguir no que se refere ao Boletim da PMERJ.
3.2 Boletim da PMERJ como documento histrico
Boletim informativo (newsletter em ingls) um tipo de fonte de informao que por
vezes executa tarefas aos de jornais de comunicao em massa em funo de semelhanas em
termos de distribuio regular a assinantes, mas que, no entanto, aborda geralmente um
determinado assunto e pode ser destinado circulao interna ou a divulgao pblica
(TEIXEIRA, 2008).
Nessa perspectiva, boletim uma fonte de informao que pode ser utilizado para
comunicao de variada informao. Por exemplo, pode adquirir valor de relatrio de dados,
normas, atividades ou de servios ou ainda de notcias, referindo-se nesse sentido revistas,
jornais, radiodifuso e telejornalismo. Sob a perspectiva editorial, Briquet de Lemos (1993)
aponta que boletim fonte de informao em geral ligada instituio que a mantm e a
-
31
divulga. No entanto, o boletim pode visar tambm efeitos de notcias e registro histrico
(BRIQUET DE LEMOS, 1993; TEIXEIRA, 2008).
Teixeira (2008, p. 67) explica que ao propor a leitura de publicaes peridicas, tais
como jornais e boletins, como fonte de informao, podem-se considerar quatro possveis
funes do jornal: Os jornais como fonte de informao noticiosa; como vetor narrativo
ideolgico; como documento histrico, e como fonte para demandas especficas.
De acordo com Teixeira (2008) o jornal como fonte de informao noticiosa precisa
despertar a atrao do leitor, nesse sentido toda a forma e informao no jornal so pensadas
de forma que, segundo o autor se d por meio da formulao e de sua poltica editorial, a qual
prioriza algumas notcias em detrimento de outras, selecionando assim quais informaes o
leitor ter acesso.
J na perspectiva de vetor narrativo ideolgico, Teixeira (2008) analisa como as
informaes transmitidas no jornal no so imparciais, essas carregam tanto os ideais de quem
s escreve como os de quem as patrocina, assim cabe ao leitor saber fazer a interpretao de
quais fatos so fatos puros e quais fatos tem a percepo dos iderios do jornal.
O aspecto narrativo ideolgico e o de documento histrico no podem ser apartados
totalmente, j que as informaes so selecionadas de acordo com prprio critrio ideolgico
de sua linha editorial, ou seja, a critrio dos detentores do poder de circular a informao,
esses assim criam a narrativa de determinada sociedade em determinada poca, assim
constituindo-se para alm de acompanhamento dirio de notcia e tomando status de
documento histrico.
Ainda segundo Teixeira (2008), devido exploso informacional o jornal como fonte
para demandas especficas tem objetivo de selecionar as informaes as quais so mais
relevantes ao seu grupo social, ou as que o grupo social mencionado, essa seleo das
informaes denomina pelo autor como clipping.
O Boletim da PMRJ possui as caractersticas de jornal porquanto tem e oferece tais
funes. No sentido da de sua narrao ideolgica, as informaes no so imparciais, pois
interessa apresentar no boletim o que importante para a corporao, nesse sentido tambm
tem a caracterstica de publicao institucional que atende a um pblico especfico em torno
da organizao, servios e normas; assim verificando o clipping dentro da instituio.
A narrativa dentro do boletim transmite tambm seus valores ideolgicos, ou pelo
menos os valores dos que o constri. Assim, dentro dessa relao de poder informacional
pode-se observar a construo do discurso em determinada circunstancia espao e tempo que
materializado nos boletins.
-
32
Nesse sentido os boletins se consolidam como documento histrico, seu objetivo
transcende j que deixa de ser um instrumento para acompanhar os fatos presentes para ser
artefato de estudo tambm de acontecimentos no futuro e passado.
Sua anlise histrica capaz de remontar a realidade tanto da instituio que o produz,
de acordo com a inteno especfica, os aspectos culturais, econmicos e humanos da
corporao, quanto a realidade de determinado tempo na histria que fora registrada nestes
documentos.
A anlise de contedo dos nmeros do Boletim Ostensivo da PMERJ pretende, assim
como configura Silva (2012), articular, no instante presente, os fios de um passado que no
retorna mais e de um futuro ainda em aberto. A pesquisa acerca dos Boletins tambm busca
observar como a instituio com a publicao dos Boletins utiliza-se deles como aparelho
ideolgico por meio da transmisso de seus valores, praxes e conceitos, assim criando sua
identidade institucional e tambm exercendo a noo de memria coletiva no mbito de seus
membros na instituio.
-
33
4 BOLETIM DA POLCIA MILITAR DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO E O
VALOR INFORMACIONAL E IDENTIDADE
As instituies pblicas governamentais possuem grandes massas documentais
acumuladas, e nelas podem ser depositados registros significativos de valor histrico da
organizao. Esses registros podem constitui-se como documentos, isto , um conjunto de
informaes registradas em um suporte, como, no caso em questo, em Boletins eletrnicos.
Esses quando disponibilizados podem cumprir sua funo social, administrativa, tcnica,
jurdica, cultural, entre outras, transmitindo seu valor informacional ao receptor. Sendo
necessrio, ainda, que sejam preservados e tratados de forma acessvel.
De acordo com Barreto (1994, p. 3), a informao quando adequadamente
assimilada, produz conhecimento, modifica o estoque mental de informaes no indivduo e
traz benefcios ao seu desenvolvimento e ao desenvolvimento na sociedade em que vive.
Assim, pode-se compreender que a presena do homem no s considerada como indivduo,
mas, como ator social no processo informacional, e coloca a informao como objeto, no
sentido de ser produto da composio humana, deste modo a informao no tem existncia
prpria, ela s existe quando produzida e reproduzida pelo homem como elemento necessrio
para o conhecimento (NETTO, 2007).
Nessa linha de raciocnio apresentada por Netto (2007) e considerando a informao
como produto da ao intencional no plano de uma forma de registro, esta pode passar por
vrios tipos de interpretaes, e nisso deve-se contextualiza-la dentro de processos resultante
de fatores de ordens diversas como a ordem social, cultural, moral, tica etc.
A informao , pois, a qualidade da realidade material de ser organizada (o
que representa, igualmente, a qualidade de conservar este estado organizado)
e sua capacidade de organizar, de classificar um sistema, de criar (o que
constitui, igualmente, sua capacidade de desenvolver a organizao). ,
juntamente com o espao, o tempo e o movimento, uma outra forma
fundamental de existncia da matria - a qualidade de evoluo, a
capacidade de atingir qualidades superiores. No um princpio que existiria
fora da matria e independentemente dela (como so, por exemplo, o
princpio idealista da entidade ou o termo da entelequia) e sim inerente a
ela, inseparvel dela. (ZEMAN, 1970, p. 155).
Consoante Netto (2007, p. 11) a informao um fenmeno em que h no s a
produo de um bem simblico, mas tambm sua disseminao e consumo, que acaba na sua
prpria reproduo, j que a dimenso espacial extremamente dinmica, dentro da sua
recontextualizao.
-
34
Nesse sentindo, Frana (2002, p. 40-41) aponta para uma questo de identidade, j que
a informao implica em significao, ela poderia estar restrita a setores ou segmentos
culturais, que podem ser mais ou menos permeveis, produzindo, assim, novos significados
sobre a informao disseminada.
De acordo com Frana (2002, p. 34-38), a ideia de identidade resultado de um
processo de construo que tem como seu elemento de sustentao os discursos, objetos e
praticas simblicas que nos posicionam no mundo e dizem nosso lugar nele. Nessa linha, a
identidade tambm marca e estabelece uma posio, o lugar que efetivamente construmos e
estamos inseridos (SILVEIRA, 2010).
Segundo Frana (2002, p. 42), a identidade construda na insero dos discursos que
nos posicionam e no nosso movimento de nos posicionarmos enquanto sujeito no mundo.
Esses discursos so produzidos e disseminados atravs de reportrios amplos, que no podem
ser interpretados como se possussem apenas uma vertente. Portanto, independente do
originrio familiar, prticas regulares, ou de manifestaes religiosas o movimento de
assimilao e aceitao desses discursos simblicos que possibilitam ao sujeito e mesmo a
uma coletividade inteira construir e consolidar seus vnculos indenitrios.
Netto (2007) entende que a afirmao e reafirmao de identidades passam a ser vista
como uma forma de sobrevivncia e autorreferncia de diversos grupos e regies. A
identidade passa a ser vista como estreitamente relacionada com o conceito de identificao,
j que passa pela esfera relacional, entre o indivduo e seu grupo e entre os grupos que se
relacionam. Desse modo, de acordo com Cuche (2002, p. 182):
[...] identidade um modo de categorizao utilizado pelos grupos para
organizar suas trocas. Tambm para definir a identidade de um grupo, o
importante no inventariar seus traos culturais distintivos, mas localizar
aqueles que so utilizados pelos membros do grupo para afirmar e manter
uma distino cultural [...] esta identidade resulta unicamente das interaes
entre grupos e os procedimentos de diferenciao que eles utilizam em suas
relaes.
Nessas perspectivas, os Boletins da PMERJ, documentos com suporte digital,
constroem conhecimento e o propaga, cumprindo seu valor informacional. As informaes
transmitidas por meio dos boletins quando assimiladas por seus receptores tornam-se parte de
seu cotidiano, modificando-o e incorporando na construo individual e coletiva dessa
determinada camada social.
-
35
Partindo do princpio que nenhuma informao isenta e que decorre de uma relao
de poder, principalmente o poder de se fazer revelar a informao, devemos analisar o meio o
qual essas esto estabelecidas e disseminadas. Entendendo que a Instituio PMERJ detm o
poder de disseminar a informao por meio dos Boletins, esta configura um discurso que
percebido pelos indivduos em seu tecido social, esses indivduos acabam se tornando sujeitos
da informao quando a absorvem e a interpretam, assim incorporando na construo de sua
individual, e pensando de forma mais ampla, na identidade da classe dos policiais.
Corroborando essa linha de pensamento, segundo Oliveira e Orrico (2009) as
instituies so formas de saber-poder, que estabelecem a informao, e assim a memria,
que ser circulada e lembrada. A seleo das informaes sempre estar em pauta nas relaes
de poder, e para que conheamos as filiaes ideolgicas dos dirigentes da instituio, em
seus diversos nveis, pois seus discursos podem perdurar por diversas geraes, assim
subsidiando a memria individual e coletiva das novas geraes imprimindo-se como
referncia para a percepo da realidade.
De acordo Lakatos (1982, p. 113), as instituies tm com caractersticas bsicas: I.
Satisfao das necessidades locais; II. Permanncia relativa dos padres, papis e das relaes
entre os indivduos; III. Seria estruturada pela coeso entre os componentes, virtude de
combinaes estruturais de padro e comportamento; IV. Ao se diferenciar das demais,
confere a si mesma uma caracterstica de unidade; e V. Possuem cdigos de conduta.
Considerando as caractersticas bsicas das instituies permitem inferir a busca da
conexo entre seus membros, uma vez que busca a unidade de determinada instituio, assim
surge uma ideia de pertencimento a determinada parte da sociedade. Visto que a sociedade
formada pela unio de vrios grupos, a ideia de identificao com um grupo se faz necessrio
para o individuo, assim as caractersticas padres de determinada classe torna-se parte do
indivduo, reconhecendo em si como parte de determinada organizao.
Tanto para a construo da identidade tanto individual, como de determinada
coletividade, depende da identificao do sujeito com seu ambiente social. Os Boletins por
tratarem de parte especfica da sociedade transmitem nele o retrato de nicho social, assim o
individuo no se sente apenas representado, mas como sujeito participante da construo
social de seu ambiente.
Segundo Silveira (2010) as instituies, sejam fsicas ou virtuais, se organizam em
apoio para a salvaguarda da materialidade simblica como elementos de memria coletiva.
Esses espaos mesmo com o objetivo de preservar a memria no conseguem reter todas as
experincias humanas, assim sendo, necessrio criar documentos, monumentos, organizar
-
36
celebraes pblicas, ou at mesmo pronunciar elogios funerrios como recurso de manter
viva a histria e a cultura de todo uma camada social.
Para que a identificao do sujeito com a instituio a qual pertence necessrio
construir e reconstruir a histria, por meio dos Boletins possvel saudar o passado que se faz
necessrio para a construo do futuro. Estes so fator essencial para o salvaguardo da
memria da instituio, e assim a memria individual e coletiva de seus membros. Por meio
dos boletins possvel para o individuo da classe policial encontrar semelhanas com seus
pares. A seleo da informao tambm determinante para o sentimento de pertencimento
de cada indivduo da classe, mesmo que a informao possa ter vrias interpretaes, nos
meios oficiais de determinada classe a vertente que se sobrepor diante as outras ser a que se
adequarem as expectativas de uma classe, a que se ajustar no seu determinado desejo de
pertencimento.
Assim, os Boletins alm de poderem ser compreendidos como uma das formas de
salvaguardar a histria da instituio e disseminao de seus deveres e praxes cotidianas,
fator determinante na construo individual desse determinado tecido social, e atravs dele
poderemos entender como o indivduo se no s se sente representado, mas como ser
integrado determinada cultura organizacional.
Nesse cenrio, aps o contexto dos boletins da PMERJ serem contextualizados,
procede-se com a anlise de contedo na prxima seo. Pois, tal como esclarece Moraes
(1999, p. 8), o contexto dentro do qual se analisam os dados deve ser explicitado em qualquer
anlise de contedo. Embora os dados estejam expressos diretamente no texto, o contexto
precisa ser reconstrudo pelo pesquisador.
-
37
5 ANLISE DOS BOLETIM OSTENSIVO DA PMERJ
Sob a abordagem de anlise de contedo, busca-se nessa seo apresentar uma viso
crtica acerca do tema de pesquisa. Essa possibilidade pode ser enfocada em funo de
diferentes perspectivas que um texto ou documento apresenta, em seus muitos significados
nele contidos e, conforme colocam Villegas e Gonzlez (2011, p. 44), a anlise de contedo
adotada pode empregar a seguinte possibilidade: do sentido que o autor pretende expressar
que pode coincidir com o sentido percebido pelo leitor, isto , ou a isso buscando controle
sobre essa possibilidade (MOARES, 1999, p. 8).
Nessa possibilidade, a anlise de contedo est orientada em uma das seis categorias
de anlises, no caso, orientada categoria quem fala? que visa a examinar criticamente
quem produz o documento (MORAES, 1999).
Para Moraes (1999, p. 9), este tipo de estudo naturalmente efetuado a partir da
mensagem, a partir da qual se procurar determinar caractersticas de quem escreve e publica,
seja quanto sua personalidade, comportamento verbal, valores, universo semntico,
caractersticas sociais ou outras dimenses de interesse do pesquisador. Neste caso de certo
modo, avana-se a hiptese de que a mensagem exprime e representa o emissor. Frente a este
objetivo faz-se inferncias do texto ao emissor da mensagem.
De acordo com Brinquet de Lemos (1993) no meio editorial as revistas institucionais
se caracterizaram como uma publicao peridica exclusiva e estrita e exclusivamente
vinculada instituio aos interesses objetivos de uma determinada organizao, no entanto,
na viso dos pesquisadores no que concerne s organizaes envolvidas em na edio de
revistas temos que so publicas por: a) associaes cientficas e organizaes profissionais; b)
editoras comerciais; c) organizaes sem fins lucrativos; d) estabelecimentos de ensino; e)
instituies governamentais e de pesquisa.
O objeto desse trabalho inclui-se no grupo e, os Boletins produzidos por instituio
governamental. Os Boletins so documento oficias de ndole pblica, cuja validade plena
para os fins aos quais se destina. Existem seis tipos de Boletins na PMERJ:
1) Boletim Ostensivo;
2) Boletim de Assuntos Administrativos;
3) Boletim Reservados;
4) Boletim Reservado Disciplinar;
5) Boletim Reservado de Material Blico;
6) Boletim dos Funcionrios Civis.
-
38
Os boletins citados so confeccionados pela Ajudncia da PMERJ, rgo que tem
como funo a secretaria e apoio, no Quartel General.
De acordo com a Portaria n 056 podemos observar a estrutura dos Boletins que sero
disponibilizados para o acesso.
Portaria n 056 de 10 de agosto de 1982 .
Instrues Provisrias para Elaborao, Distribuio, Utilizao e
Arquivamento de Boletins da PMERJ e seus rgos
Artigo 1 - As presentes Instrues Provisrias tem por finalidade
estabelecer uma sistemtica a ser adotada para elaborao, distribuio,
utilizao e arquivamento dos Boletins da PMERJ e seus rgos,
objetivando reduo e controle de custos e segurana na veiculao de
informaes .
Os Boletins da PMERJ sero elaborados e impressos pela Ajudncia
Geral .
Os Boletins da OPM Ostensivo e Reservado so elaborados e
impressos pelas seguintes sees :
1- Boletim Ostensivo pela 1 Seo do EM;
2- Boletim Reservado pelo setor de assuntos sigilosos.
Os Boletins da PMERJ se dividem em 05 Partes :
1 Parte : Servios Dirios;
2 Parte : Operaes e Instrues;
3 Parte : Assuntos Gerais e Administrativos;
4 Parte : Justia e Disciplina;
5 Parte : Comunicao Social.
1 PARTE Servios Dirios :
So lanados os servios que so realizados dentro da Unidade, sero transcritos, tambm no Boletim Interno, os servio do Boletim da PMERJ,
desde que haja, policiais da unidade escalados .
2 PARTE Operaes e Instruo :
Ser utilizada para publicao de desligamento de alunos de diversos cursos, relao nominal de alunos aprovados em cursos e etc.
3 PARTE Assuntos Gerais e Administrativos :
Assuntos Gerais : Letra A Alteraes de Oficiais, referentes a frias, movimentaes,
classificao, designaes e etc.
Letra B - Alteraes de Praas, referentes a frias, movimentaes,
classificao, designaes e etc.
Letra C Alteraes de Funcionrios Civis.
Assuntos Administrativos : Referentes a saque de trinios, concesso de salrio famlia, periciais
mdicas, assuntos referentes a finanas e etc.
4 PARTE Justia e Disciplina :
JUSTIA : destinada a transcrio de Louvores e Elogios.
DISCIPLINAR :
-
39
destinada a transcrio de punies, Soluo de Processos,
nomeao de encarregados, convocao de Conselhos e etc.
5 PARTE Comunicao Social:
destinada a fatos e a cultura da PMERJ, participao de aniversrios de policiais militares e etc.
De acordo com a portaria n 056 de dez de agosto de 1982 observamos que no boletim
h diversas partes com objetivos diferentes, porm todo o acmulo registrado dessas diversas
partes torna-se memria de suas praxes, acontecimentos e assim da histria da instituio e
dos indivduos inseridos no seu contexto.
Cabe salientar que o registro e a preservao dos Boletins em seus diversos suportes,
sejam digitais ou impressos, tem estreita ligao com o compromisso com a memria deste
tecido social, assim podemos inferir que seu registro de informaes que compem esse
documento so as que de fato, na anlise dos que o produz e decidem sobre o teor de suas
informaes, detm relevante interesse para a instituio e sobre seu corpo indivduos, assim
preservando, produzindo e reproduzindo a memria.
O Boletim analisado ser o Ostensivo, o qual tem sua forma definida pela Portaria
n056 de dez de agosto de 1982. De acordo com a Portaria n 108 de oito de janeiro de 1987
da PMERJ combinado com o Boletim de n 015 de vinte e trs de janeiro de 1987 da PMERJ,
documento ostensivo denominado como documento cujo o conhecimento ou a divulgao
no produz prejuzo aos interesses nacionais ou da administrao, no entanto sua publicao
s permitida por via da imprensa oficial.
Para a analise optou-se por utilizar partes do boletim de nmero 101 de dois de junho e
boletim nmero 102 de cinco de junho de 2017, seleo feita face ao perodo onde ocorreram
os eventos na seo anterior e noticiados pela mdia de comunicao de massa.
A primeira parte e a segunda parte do boletim podem ser pensadas em um sentido
amplo como a de valor informacional relacionados rotina da instituio, abrangendo alm
dos informativos e as praxes da instituio. A funo destas primeiras partes seria posicionar
os indivduos enquanto policiais em suas funes dentro da instituio, com a principal
finalidade de ordenar e onde e como os policiais devem posicionar-se.
Nestas tambm possvel perceber a relao de poder entre os policiais visto que nos
itens analisados podemos identificar os policiais que ficam a cargo como Oficiais Superiores
perante os demais, assim como quem ir substituir estes, alm da denominao dos rgos
que so considerados maiores.
-
40
Alm disso, nesta parte tambm h uma determinao muito peculiar dentre os
elementos que a vestimenta. Esta serve como fator de identificao dos policias por outros
da instituio assim relacionando qual sua posio na hierarquia da instituio, e tambm
serve para a percepo do individuo enquanto policial, alm de sua identificao como
agentes de segurana pblica perante a sociedade, assim de forma consciente o agente de
segurana percebe-se inserido nessa camada social. Desse modo comea a configurar a
conexo entre a identidade do policial e a identidade da instituio.
Analisando sobre a perspectiva da relao de poder essas partes do documento
transmitem as praxes cotidianas obrigatrias, essas quando cumpridas com rigor e suas
diversas repeties acabam por formar, consciente ou inconsciente, a memria, pois uma
forma de constituir a memria seria por meio das diversas repeties, e os afastamentos de
antagonismos, para que assim se insiram na identidade da corporao e, tambm, de seus
incorporados.
Apesar da anlise se configurar no foco de que as praticas reiteradas nesses itens
configuram-se como padres de conduta dos membros afirmando assim a identidade
individual e institucional deste tecido social no quer dizer que a informao contida nesses
documentos, que so sim mecanismos de memria, no sofre aes de seus receptores, estes
so agentes vivos modificadores dessas informaes, criando e modificando estes tambm a
memria.
Ainda nessa linha de identificar os indivduos como atuantes construes da memria
da corporao na segunda parte tm a certificao dos novos listagem dos alunos do curso
de formao que adentram ou desligam-se da instituio, assim comprovando nos dois casos a
modificao na cultura organizacional.
A terceira parte o boletim traduz o discurso oficial administrativo da instituio e
assim nota-se questes de ordem da praxe administrativa dos oficiais, importante salientar que
o boletim em sua maioria trata de ambientar seus servidores militares no discurso e ordens, no
entanto nesta parte do boletim h uma maior abrangncia alm de englobar os servidores
militares o boletim tambm d ordens e informativos aos seus servidores civis, em sua maior
parte publicaes relacionadas ordem econmica. No entanto aqui j inicia a viso de que o
boletim abrange mais de uma determinada classe.
Seguindo o pensamento que o boletim no trata de uma classe isolada, e assim engloba
outras classes, tambm razovel que traga informaes no produzidas pela instituio, mas
que se correlacionam ou tenham diretamente interferncia sobre ela. A exemplo disso a figura
-
41
5 extrada do Boletim de cinco de julho de 2017 apresenta uma transcrio extrada do Dirio
Oficial do Estado do Rio de Janeiro referente segurana.
Figura 5 Transcrio do DOERJ no BOLPM
(Fonte: Boletim n 102 de 05 de Julho de 2017)
Assim podemos inferir que a memria da instituio por meio do documento mesmo
que produzido pela prpria corporao no pode, e no , alheia a realidade fora dela, assim o
Boletim como fonte de informao tem o sentido mais amplo que as informaes de seus
prprios indivduos, localizando-os alm de suas funes dentro de sua classe.
A quarta parte do Boletim apresenta uma perspectiva jurdica, e tambm de
instrumento para imposio de poder. Nesta rea avalia-se o poder disciplinar que a
instituio detm sobre seus indivduos, assim uma forma de regulao de suas aes.
Nesta seo do boletim tambm dedicada elogios conferindo a cultura
organizacional honrarias as condutas de seus membros, assim, com essa exaltao de seus
membros pode-se ter controle das condutas padres que devem ser lembradas, e assim trazer
para evidencia os acontecimentos que causam o sentimento de homogeneidade da instituio
e desse modo descarta os eventos contraditrios com a memria que ela pretende preservar
para si mesma.
Na quinta parte do documento na concepo de documento/monumento tambm fica
visvel, pois a instituio de utiliza de varias aes passadas para perpetua-las atravs do
Boletim. Uma das mais visveis so as notas para a comemorao das diversas UPPs atuantes
no Estado. Em todas as notas de comemorao h sempre uma sntese contando o histrico da
unidade, e sua importncia, logo, a importncia desse tecido social para a populao.
-
42
Figura 6 - Publicao de aniversrio da 2UPP do Estado.
Fonte: BOLPM n 101 de dois de junho de 2017.
Na anlise da perspectiva de poder sobre a informao transmitida afim de criao da
memria individual e coletiva podemos inferir que as diversas comemoraes buscar afirmar
os pontos positivos da corporao, assim traz para o conhecimento da instituio
acontecimentos e memrias que a apoiam a sua imagem, ou pelo menos a imagem que ir ser
lembrada.
Desta seo tambm podemos depreender o aspecto cultural da instituio, seja de sua
cultura organizacional ou cultura em geral. Visto que toda organizao fruto de uma
construo social e cultural a polcia em suas formas de documentao no pode estar
totalmente apartada da sociedade civil, assim nesta ultima seo observamos a organizao
com seu fator cultural, que tambm serve para que a instituio transmita seus valores e sua
-
43
misso enquanto instituio. A exemplo disto pode-se observar um trecho do boletim n 101
da PMERJ.
Figura 7- Comemoraes do dia mundial do meio ambiente no BOL
(Fonte: BOLPM n 101 de dois de junho de 2017)
Com a figura acima podemos compreender no aspecto cultural e social este documento
tem a preocupao de ambientar os indivduos no somente no espao da instituio, mas
tambm na sociedade civil, pois a instituio para formar sua prpria identidade e sua
memria tambm necessita dos valores e conceitos do grupo em que ela pertence. No entanto,
esses valores, conceitos e discursos devem estar em sintonia para que possa haver o efeito de
satisfao das necessidades para ambos os lados de maneira eficaz, e assim a memria
institucional poder ser construda e se perpetuar ao longo de geraes.
-
44
6 CONSIDERAES FINAIS
luz do objetivo de pesquisa que : objetiva-se analisar como o Boletim da PMERJ
produzido pela Polcia Militar do Estado do Rio de Janeiro reflete construo de sua
memria institucional sob dois aspectos: Boletim da PMERJ como fonte de informao e
memria e como documento histrico, esse estudo considera que o meio social em que
estamos inseridos e as relaes de poder nelas esto diretamente ligadas a formao da
memria coletiva e reverberam nas individuais.
A formao da memria institucional pode ser construda, transmitida e perpetuada
por diversos meios, a exemplo disso temos os boletins, e esses devem ser analisados sobre
diversas perspectivas.
A memria da instituio passa tambm pela memria dos seus indivduos, estes so
agentes modificadores, assim ao analisar os boletins tambm necessrio entender que para
este ser eficaz em sua funo de perpetuar a memria institucional deve estar em
conformidade com os discursos da camada social que abrange.
Por meio da anlise de contedo do Boletim Ostensivo pode-se compreender que as
vrias partes de sua estrutura de alguma forma tentam trazer homogeneidade s relaes, a
fim de conjugar uma construo de memria de maneira mais eficaz. Seja nos mtodos como
o de repeties como suas praxes, servios dirios ou at mesmo a identificao do individuo
enquanto membro dentro deste grupo e na representao dele para com a sociedade.
A relao de poder exposta no Boletim vai alm do poder de formulao e escolha de
seu contedo, no documento h sempre presente a hierarquia da corporao, assim identifica
os indivduos dentro dessa realidade o que de fato no deixa de ser uma consequncia da
estrutura de poder competente para as escolhas das informaes a serem transmitidas.
As menes a ilustrssimos combatentes, personalidades da categoria ou ainda
comemoraes de feitos expostos nas pginas do boletim cumprem seu papel de memria que
a instituio busca conservar, e assim usa-as como artefato para rememorar tais eventos ou
circunstancias criando assim consciente ou inconscientemente a memria individual e coletiva
da instituio.
Importante salientar que mesmo que o boletim tenha funo de comunicao com uma
camada especfica ele no est isolado da sociedade, e assim a construo da identidade e da
memria dos seus indivduos no podem ser alheios aos fatos externos, mesmo que a funo
informativa do boletim carregue o teor ideolgico dos que o produz no se pode dizer que est
totalmente desconexa da estrutura social em que est inserido.
-
45
No entanto sua funo como instrumento de narrativa de determinado seguimento da
sociedade observa-se que o recortes das informaes referentes as informaes que so
noticiadas em outros lugares, como jornais de massa, por exemplo, quando publicadas dentro
do Boletim d-se de acordo com os interesses especficos dessa coletividade.
Conclui-se ento que a relao de poder transmitida por meio do Boletim no se
encerra nas praxes administrativas uma vez que o registro das manifestaes da instituio,
mesmo que a priori possa parecer que o registro se baseia em apenas nessa parcela da
sociedade. Pensando assim tambm podemos concluir que para alm dos muros da
instituio o boletim tambm tenta ambientar-se nas questes de ordem geral da sociedade.
Por fim, cabe destacar que o Boletim como documento histrico capaz de posicionar
a instituio, e seus indivduos em determinada poca ou em determinada circunstancia, assim
pode fazer do boletim um monumento ao atribui-lo com a funo de rememorar aes
passadas, e assim conseguir perpetuar no imaginrio de sua coletividade determinados fatos
pr-selecionados por/para esse tecido social.
Para alm disso, seria interessante em uma futura pesquisa analisar como com o passar
do tempo por meio das intervenes realizadas, tanto estrutural como ideolgica nos
instrumentos de memria, os valores da instituio foram alterados e como isso implicou na
sua autenticidade e na identidade coletiva.
Para futuros estudos, faz-se a indicao de pesquisas em materiais seriados de
instituies sob as abordagens da anlise de contedo a fim de examinar valores histricos,
informacionais, de memria social e identidade.
-
46
REFERNCIAS
ALVARENGA, Ldia. Definio de publicaes oficiais. Revista da Escola de
Biblioteconomia da UFMG, v.22, n.2, p.213-238, jul./dez. 1993.
ARBEX JR, Jos. Shownalismo: a notcia como espetculo. So Paulo: Casa Amarela, 2001.
BARRETO, Aldo de Albuquerque. A questo da informao. So Paulo em Perspectiva,
So Paulo, v. 8, n. 4, 1994, p. 3.8. Disponvel em:
. Acesso em: 16 jun.
2017.
BRASIL. Constituio (1988). Constituio da Repblica Federativa do Brasil. Dirio
Oficial [da] Unio, Braslia, DF, Seo 1, n. 191-A, 5 out. 1988, p. 1-47.
BRINQUET DE LEMOS, A. Anlise crtica de uma revista institucional: as memrias do
instituto Oswaldo Cruz. Caderno de Sade Pblica. Rio de Janeiro, v. 9, n. 2, p. 161-169,
abr./jun. 1993.
BURKER, Peter. Problemas causados por Gutemberg: a exploso da informao nos
primrdios da Europa moderna. Estudos avanados. 2002.
CALDERON, Wilmara Rodrigues. O processo de gesto documental e da informao
arquivstica no ambiente universitrio. Revista Ibict, Braslia, v. 33, n. 3, 2004. Disponvel
em: . Acesso em: 28 jun. 2017.
CUCHE, Denys. A Noo de Cultura nas Cincias Sociais. 2. ed. Bauru: EDUSC, 2003.
FERRAREZI, Ludmila. Arquivo, documento e memria na concepo discursiva. Revista
Eletrnica de Biblioteconomia e Cincia da Informao, Florianpolis, n.24, p. 152-171,
2 sem. 2007.
FRANA, Vera R. Veiga. Discurso de identidade, discurso de alteridade: O outro por si
mesmo. In: GUIMARES, C. et al. Imagens do Brasil: modos de ver, modos de conviver.
Belo Horizonte: Autntica, 2002. p. 27-43.
FREITAS, Clara Barbosa. O Servio Social do Hospital Central da Policia Militar:
reflexes a partir da anlise dos registros das atividades profissionais. 2013. 120 f.
Monografia (Especializao) - Curso de Servio Social, Universidade do Estado do Rio de
Janeiro, Rio de Janeiro, 2013.
GALVAO, Tas Freire; PEREIRA, Mauricio Gomes. Revises sistemticas da literatura:
passos para sua elaborao. Epidemiol. Serv. Sade, Braslia, DF, v. 23, n. 1, p. 183-184,
mar. 2014. Disponvel em:
. Acesso em: 27 maio 2016.
GONDAR, J. Quatro Proposies sobre Memria Social, in: GONDAR, J; DODEBEI,
Vera. O que memria social, Rio de Janeiro: UNIRIO, 2005.
-
47
JARDIM, Jos Maria. A inveno da memria nos arquivos pblicos. Revista Cincia da
Informao, Rio de Janeiro, v. 25, n. 2, 1995.
LAKATOS, Eva Maria. Sociologia geral. So Paulo: Atlas, 1982.
LE GOFF, Jacques. Histria e Memria. 4. ed. Campinas: Editora da Unicamp, 1996.
MAGALHAES, Anderson Salvaterra. Ethical fundaments of the discursive sphere of press in
Brazil: a game of epigraphs and memories. Trab. linguist. apl., Campinas , v. 50, n. 1, p.
27-43, June 2011 . Disponvel em:
. Acesso em: 16 Maio 2016.
MEIRELLES, Hely Lopes. Direito Administrativo Brasileiro. 31 Ed. So Paulo,
Malheiros, 2005.
MERLO, Franciele; KONRAD, Glaucia Viera Ramos. Documento, histria e memria: A
importncia da preservao do patrimnio documental para o acesso informao. Revista
Cincia da Informao, Londrina, v. 20, n.1, p. 26-42, jan./abr, 2015.
MIRANDA, Antnio. Sociedade da Informao: globalizao, identidade cultural e
contedos