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UNIVERSIDADE FEDERAL DO ESPÍRITO SANTO CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM SAÚDE COLETIVA LORENA FERREIRA FATORES RELACIONADOS À CRONOLOGIA DE ERUPÇÃO DA DENTIÇÃO DECÍDUA VITÓRIA-ES 2015

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  • UNIVERSIDADE FEDERAL DO ESPRITO SANTO CENTRO DE CINCIAS DA SADE

    PROGRAMA DE PS-GRADUAO EM SADE COLETIVA

    LORENA FERREIRA

    FATORES RELACIONADOS CRONOLOGIA DE ERUPO DA

    DENTIO DECDUA

    VITRIA-ES

    2015

  • LORENA FERREIRA

    FATORES RELACIONADOS CRONOLOGIA DE ERUPO DA

    DENTIO DECDUA

    Dissertao apresentada ao Programa de Ps-Graduao em Sade Coletiva do Centro de Cincias da Sade da Universidade Federal do Esprito Santo, como requisito final para a obteno do ttulo de Mestre em Sade Coletiva, na rea de concentrao em Epidemiologia.

    Orientador: Edson Theodoro dos Santos Neto

    VITRIA-ES

    2015

  • Lorena Ferreira

    Fatores relacionados cronologia de erupo da

    dentio decdua

    Dissertao apresentada ao Programa de Ps-Graduao em Sade Coletiva do Centro de Cincias da Sade da Universidade Federal do Esprito Santo, como requisito final para a obteno do grau de Mestre em Sade Coletiva na rea de concentrao em Epidemiologia.

    Aprovada em 01 de abril de 2015.

    COMISSO EXAMINADORA

    _____________________________________

    Prof. Dr. Edson Theodoro dos Santos Neto Universidade Federal do Esprito Santo - PPGSC Orientador

    _____________________________________

    Prof. Dr. Paulo Nadanovsky UERJ e FIOCRUZ Membro Externo

    _____________________________________

    Prof. Dr. Maria Helena Monteiro de Barros Miotto Universidade Federal do Esprito Santo - PPGSC Membro Interno

  • minha me Shirley (saudades eternas), pelo seu imenso amor por mim, por me ensinar o que pacincia, solidariedade, amor ao prximo e a ter f na vida.

  • AGRADECIMENTOS

    Deus, por estar sempre ao meu lado, por conceder coragem para acreditar, fora

    para no desistir e proteo para me amparar.

    Agradeo ao Edson Theodoro dos Santos Neto, por acreditar que eu sou capaz e

    pela orientao. S tenho a agradecer aos seus ensinamentos (pessoais e

    acadmicos), palavras de incentivo, puxes de orelha, pacincia e dedicao para

    me ajudar.

    Aos professores Eliana Zandonade e Adauto Emmerich Oliveira, muito obrigada pela

    ajuda, ensinamentos e contribuies para o aperfeioamento do trabalho. Em

    especial a professora Eliana pelo apoio e carinho.

    As professoras Maria Christina Pacheco e Karina Tonini Pacheco, pelas

    contribuies realizadas a esse trabalho durante o exame de qualificao.

    Ao grupo de pesquisa Laboratrio de Projetos em Sade Coletiva, por contriburem

    na construo do projeto de pesquisa ao longo do mestrado.

    Aos meus colegas da turma de mestrado, em especial as minhas amigas Tatiana e

    Daniely, pela amizade, pelos momentos de alegria, tristezas dores compartilhadas.

    Ao meu pai Ferreira, por todo amor, apoio, carinho e confiana. Ao Rony, pelo

    companheirismo e por sempre me impulsionar em direo s vitrias. Pois de forma

    especial carinhosa m d fora e coragem, sempre apoiando nos momentos de

    dificuldades. Aos meus tios e tias, primos e primas, obrigada pelo apoio e pelas

    conversas de motivao. Amo todos vocs!

    Aos meus amigos e a todos aqueles q contriburam direta indiretamente n

    minha formao, muito obrigada.

  • Descobrir consiste em olhar para o que todo mundo est vendo e pensar uma coisa diferente

    (Roger Von Oech)

  • RESUMO

    O objetivo deste estudo foi estimar a cronologia e sequncia de erupo da dentio

    decdua e seus fatores relacionados em amostra de crianas de duas regies do

    municpio de Vitria, ES. Os dados utilizados no estudo so provenientes de um

    estudo longitudinal realizado entre 2003 e 2006 com 86 recm-nascidos que foram

    acompanhados at a idade de 36 meses de vida, cuja coleta de dados foi obtida por

    meio da aplicao de um formulrio as mes e da realizao de um exame clnico

    nas crianas. Um total de 67 crianas permaneceram at o final do estudo. Calculou-

    se a idade mdia de erupo dos dentes decduos de cada criana e foram

    aplicados o teste de kappa, McNemar e kappa ajustado pela prevalncia. Em

    seguida realizou-se a Anlise de Sobrevivncia. Os resultados mostraram que a

    mdia de erupo dos dentes decduos variou de oito a 29 meses de vida no arco

    inferior, e de 11 a 30 meses no arco superior e que os maiores nveis de

    concordncia foram para os tempos de erupo dos incisivos e caninos decduos

    (71/81, kappa = 0,82; IC95% = 0,72-0,93; 53/63, kappa = 0,76; IC95% = 0,62-0,88)

    do que para os molares decduos. Dos fatores relacionados a cronologia de erupo

    da dentio decdua, foi identificado na Regresso de Cox que os hbitos

    alimentares infantis podem influenciar, acelerando e retardando esse processo

    eruptivo. Recomenda-se o conhecimento do perfil de erupo decdua de cada

    populao para que tais evidncias sirvam de base para a implementao de

    medidas de preveno e controle da sade dessa populao e auxilie na elaborao

    de estratgias, com aes de proteo e promoo da sade. As aes tem como

    finalidade a preveno de possveis alteraes bucais e gerais durante o

    crescimento e desenvolvimento infantil e melhoria da qualidade de vida dessa

    populao.

    Palavras-chave: Erupo Dentria; Cronologia; Dente decduo; Fatores de risco.

  • ABSTRACT

    The aim of this study was to estimate the chronology and sequence of eruption of

    deciduous teeth and its related factors in a sample of children from two regions in the

    City of Vitoria, ES. The study data derived from a longitudinal study conducted from

    2003 to 2006. 86 newborns were followed to the 36th month of age. Data collection

    was obtained by applying a form to the mothers and performing a clinical

    examination in the children. A total of 67 children remained until the end of the study.

    Average deciduous teeth eruption for each child was calculed. Statistic kappa,

    McNemar and adjusted kappa prevalence tests were applied. Then, Survival

    Analysis was perfomed. The results showed the average deciduous teeth eruption

    ranged between eight to 29 months of age in the lower jaw, and 11-30 months in the

    upper arch. Higher levels of agreement were for the eruption age for deciduous

    incisors and canines (71/81, kappa = 0.82, 95% CI 0.72 to 0.93; 53/63, kappa = 0.76,

    95% CI 0.62 to 0.88) than for deciduous molars. The factors related to the

    chronology of eruption of the deciduous teeth, was identified in the statistic Cox

    Regression. Children's eating habits may influence the speeding and the slowing of

    the eruptive process. It is recommended the knowledge of deciduous eruption profile

    of each population as so, such evidences can be the basis for the implementation of

    measures to prevent and control this population's health. Also, to assist in developing

    strategies, with protection actions and health promotion. This actions have the

    purpose to prevent possible oral or general changes in the child growth and

    development, and also improve quality of life of this population.

    Keywords: Tooth Eruption; Chronology; Deciduous tooth; Risk factors.

  • LISTA DE TABELAS TABELAS Pgina

    ARTIGO 1 Tabela 1 - Idade mdia de erupo da dentio decdua. Vitria-ES, 2003-2006............................................................................................................................52

    Tabela 2 - Concordncia dos tempos de erupo entre Minot (1873), Logan e Kronfeld (1939), Schour e Massler (1941), Lunt e Law (1974). Vitria-ES, 2003-2006............................................................................................................................53

    Tabela 3 - Concordncia dos tempos de erupo entre Logan e Kronfeld (1939), Schour e Massler (1941) e Lunt e Law (1974). Vitria-ES, 2003-2006............................................................................................................................55

    Tabela 4 - Concordncia dos tempos de erupo entre Schour e Massler (1941) e Lunt e Law (1974). Vitria-ES, 2003-2006.................................................................56

    ARTIGO 2 Tabela 1 - Idade mdia de erupo da dentio decdua. Vitria-ES, 2003-2006............................................................................................................................73

    Tabela 2 - Anlise Bivariada de Kaplan-Mier do tempo de erupo dos incisivos centrais e laterais superiores e inferiores decduos e demais variveis de acordo com suas categorias. Vitria-ES, 2003-2006.............................................................75

    Tabela 3 - Anlise Bivariada de Kaplan-Mier do tempo de erupo dos caninos superiores e inferiores decduos e demais variveis de acordo com suas categorias. Vitria-ES, 2003-2006................................................................................................76

    Tabela 4 - Anlise Bivariada de Kaplan-Mier do tempo de erupo dos primeiros e segundos molares superiores e inferiores decduos e demais variveis de acordo com suas categorias. Vitria-ES, 2003-2006.............................................................77

    Tabela 5 - Anlise de Regresso de Cox para as variveis significativamente associadas ao tempo de erupo da dentio decdua. Vitria-ES, 2003-2006........79

  • LISTA DE ABREVIATURAS

    ACS - Agentes Comunitrios de Sade

    ADA - Associao Dentria Americana

    CEP - Comit de tica em Pesquisa

    ES - Esprito Santo

    ETSUS - Escola Tcnica e Formao Profissional de Sade

    g - gramas

    OMS - Organizao Mundial de Sade

    SINASC - Sistema de Informao sobre Nascidos Vivos

    SUS - Sistema nico de Sade

    TCLE - Termo de Consentimento Livre e Esclarecido

    UFES - Universidade Federal do Esprito Santo

    71/81 - Incisivos centrais inferiores

    51/61 - Incisivos centrais superiores

    72/82 - Incisivos laterais inferiores

    52/62 - Incisivos laterais superiores

    73/83 - Caninos inferiores

    53/63 - Caninos superiores

    74/84 - Primeiros molares inferiores

    54/64 - Primeiros molares superiores

    75/85 - Segundos molares inferiores

    55/65 - Segundos molares superiores

  • SUMRIO

    1 INTRODUO........................................................................................................12

    2 REVISO DE LITERATURA..................................................................................14

    2.1 Embriologia dentria.............................................................................................14

    2.2 Mecanismos de movimentao dentria eruptiva................................................16

    2.4 Cronologia de erupo da dentio decdua.......................................................18

    2.5 Fatores relacionados cronologia de erupo dos dentes decduos..................23

    3 JUSTIFICATIVA......................................................................................................32

    4 OBJETIVOS............................................................................................................33

    4.1 Objetivo Geral.....................................................................................................33

    4.2 Objetivos Especficos........................................................................................33

    5 MATERIAIS E MTODOS......................................................................................34

    5.1 Tipo e Local de Estudo.........................................................................................34

    5.2 Amostra................................................................................................................34

    5.3 Coleta de dados...................................................................................................35

    5.4 Definies das variveis.......................................................................................35

    5.5 Anlises estatsticas.............................................................................................42

    5.6 Consideraes ticas...........................................................................................43

    6 RESULTADOS........................................................................................................45

    6.1 ARTIGO 1.............................................................................................................45

    6.1.1 Resumo.............................................................................................................46

    6.1.2 Abstract.............................................................................................................47

    6.1.3 Introduo..........................................................................................................48

    6.1.4 Metodologia.......................................................................................................49

    6.1.5 Resultados.........................................................................................................52

    6.1.6 Discusso..........................................................................................................57

  • 6.1.7 Concluso..........................................................................................................61

    6.1.8 Referncias.......................................................................................................62

    6.2 ARTIGO 2.............................................................................................................65

    6.2.1 Resumo.............................................................................................................66

    6.2.2 Abstract.............................................................................................................67

    6.2.3 Introduo..........................................................................................................68

    6.2.4 Metodologia.......................................................................................................69

    6.2.5 Resultados.........................................................................................................72

    6.2.6 Discusso..........................................................................................................80

    6.2.7 Concluso..........................................................................................................88

    6.2.8 Referncias.......................................................................................................89

    7 CONSIDERAES FINAIS....................................................................................94

    8 REFERNCIAS GERAIS........................................................................................96

    9 APNDICES..........................................................................................................100

    APNDICE A...........................................................................................................100

    APNDICE B...........................................................................................................139

    10 ANEXOS.............................................................................................................149

    ANEXO A - Aprovao do Comit de tica em Pesquisa........................................149

    ANEXO B - Termo de Consentimento Livre e Esclarecido......................................150

    ANEXO C - Autorizao do responsvel para acesso ao banco de dados.............151

    ANEXO D - Carta de Apresentao do ETSUS para acesso ao banco de dados do

    SINASC....................................................................................................................152

  • 12

    1 INTRODUO

    O termo erupo derivado do latim erupptione, significa a sada com mpeto.

    Contudo, representa uma das etapas de todo um fenmeno que se estabelece

    particularmente com o rompimento do pedculo que une o germe dentrio lmina

    dentria na fase de campnula e acompanha por toda a vida o rgo dentrio,

    passando pela migrao intrassea at a posio final na cavidade oral (CORRA,

    2010).

    De acordo com Guedes-Pinto (1997) a expresso erupo dentria utilizada por

    leigos e cirurgies-dentistas se refere ao momento em que a coroa do dente passa a

    pertencer ao ambiente bucal, ou seja, constitui uma das etapas do processo

    fisiolgico de uma srie de movimentos que os dentes executam, desde o incio da

    odontognese at o fim do ciclo fisiolgico.

    O fenmeno da erupo que acompanha o dente por toda sua vida dividido em

    trs fases caracterizadas por movimentos de erupo (GUEDES-PINTO, 1997).

    Fase pr-eruptiva, que tem seu incio com a diferenciao dos germes dos dentes e

    termina com a completa formao da coroa (fase intra-ssea). Fase eruptiva, que

    inicia quando a coroa est formada e termina quando o dente atinge o plano oclusal

    (fase intra e extra-ssea). Fase ps-eruptiva inicia-se quando o dente entra em

    ocluso e termina com a perda do dente ou sua remoo (fase extra-ssea).

    O conhecimento da erupo dos dentes decduos fundamental, segundo Nogueira

    et al. (1998), os dentes decduos so importantes para o bom desempenho das

    funes mastigatria, articulao, fonao e ocluso. Long (1999) acrescentou a

    participao dos dentes decduos durante o crescimento e desenvolvimento da

    altura dos arcos dentais, na respirao e na harmonia esttica da criana. Assim,

    importante a sua manuteno at a poca normal de esfoliao, para o

    desenvolvimento dos maxilares e msculos da face, atuando como guia para os

    dentes permanentes irromperem em posio correta. Garcia et al. (2003)

    destacaram que a deteriorao dos dentes decduos interfere na funo mastigatria

    e pode influenciar no crescimento corporal e craniofacial das crianas.

  • 13

    O momento em que o dente decduo irrompe na cavidade bucal conhecido como

    cronologia de erupo da dentio decdua e a ordem em que os dentes irrompe

    chamada de sequncia de erupo (CORRA, 2010). Tal conhecimento torna-se

    necessrio, pois pode orientar a avaliao da idade fisiolgica, possibilitando o

    diagnstico de alteraes de crescimento e desenvolvimento servindo at mesmo

    como um indicador. Alm de serem bastante vlidas para o estabelecimento da

    estimativa de idade da criana na resoluo de problemas mdico-legais (TOLEDO,

    1996).

    H certos intervalos normais na sequncia de erupo decdua, no qual, inicia-se

    com a erupo dos incisivos centrais, seguido dos laterais, primeiros molares,

    caninos e segundos molares, sendo que, de maneira geral, os inferiores antecedem

    os superiores, favorvel para o desenvolvimento correto da ocluso (CORRA,

    2010). Entretanto, mesmo que a cronologia de erupo dos dentes decduos siga

    um ritmo cronolgico, esta pode sofrer influncia de uma srie de fatores genticos e

    ambientais (AGUIRRE, ROSA, 1988).

    Dessa forma, falhas podem ocorrer ao se utilizar, em uma avaliao cronolgica, os

    resultados de estudos desenvolvidos em pases ou regies diferentes, baseados em

    crianas de diferentes origens (TOLEDO, 1996; BRANDO, ROCHA, 2004), o que

    torna oportuno o seu estudo comparativo em diferentes populaes e em diferentes

    pocas.

    Destacadas algumas das razes da importncia do estudo da cronologia e

    sequncia de erupo dos dentes decduos e considerando a escassez sobre o

    assunto na populao que ser considerada, necessrio que seja realizada a

    aplicabilidade clnica dos resultados no Sistema nico de Sade (SUS),

    principalmente voltado ateno precoce a sade bucal no mbito da sade

    materno infantil. Nesse sentido, o propsito deste trabalho estimar a cronologia e

    sequncia de erupo da dentio decdua e seus fatores relacionados em amostra

    de crianas de duas regies do municpio de Vitria, Esprito-Santo (ES).

  • 14

    2 REVISO DA LITERATURA

    2.1 Embriologia dentria

    O conhecimento do processo evolutivo dos dentes e dos arcos dentrios desde a

    fase embrionria at a sua completa formao necessrio para a compreenso do

    desenvolvimento da dentio decdua, pois com o conhecimento do

    desenvolvimento embrionrio normal possvel identificar as alteraes fisiolgicas

    que podem ocorrer durante o desenvolvimento e crescimento humano (GUEDES-

    PINTO, ISSO, 2006).

    A cavidade oral primitiva ou estomdeo entra em contato com o endoderma do tubo

    digestivo para formar a membrana bucofarngea. Por volta do final da terceira

    semana de desenvolvimento, a membrana bucofarngea que forma o teto da

    cavidade bucal primitiva rompe-se e desaparece durante a quarta semana,

    estabelecendo uma comunicao com a extremidade ceflica do intestino anterior,

    dando origem faringe. Ocorre tambm nesse perodo formao da fosseta nasal

    e do palato primrio, e a continuidade desse processo resulta nas cavidades nasal e

    bucal (GUEDES-PINTO, ISSO, 2006; BHASKAR, 1989).

    Duas a trs semanas aps o rompimento da membrana bucofarngea quando a

    idade do embrio chega a seis semanas observam-se pores do epitlio de

    revestimento dos processos faciais envolvidos com o desenvolvimento dos dentes.

    Na borda inferior do processo maxilar e na borda superior do arco mandibular, o

    epitlio comea a proliferar e formar um espessamento epitelial, que tambm se

    desenvolve na regio lateral dos processos nasais mediais. Em torno do 37 dia de

    desenvolvimento, quando estes processos se fundem, uma placa de epitlio

    formada, denominada banda epitelial primria. Essas bandas epiteliais superiores e

    inferiores possuem a forma de uma ferradura e correspondem aos futuros arcos

    dentrios (GUEDES-PINTO, ISSO, 2006; BHASKAR, 1989).

    A banda epitelial primria se subdivide em lmina vestibular e lmina dentria. A

    lmina vestibular, tambm denominada banda do sulco labial, o processo mais

  • 15

    externo, e a partir dela desenvolve-se o vestbulo bucal, lbios e bochecha. A lmina

    dentria, processo mais interno, constitui o primrdio da poro ectodrmica dos

    futuros dentes decduos. A atividade proliferativa contnua e localizada na lmina

    dentria levar a formao de uma srie de invaginaes epiteliais em diferentes

    perodos dentro do ectomesnquima em locais que correspondem s posies dos

    futuros dentes decduos. Essas pequenas salincias esferides formadas em

    diferentes perodos representam o primrdio do rgo do esmalte dos dentes

    decduos, chamadas de broto dentrio ou boto dentrio (GUEDES-PINTO, ISSO,

    2006; BHASKAR, 1989). Segundo Guedes-Pinto e Isso (2006), os primeiros brotos

    dentrios surgem no segmento anterior da mandbula com os incisivos inferiores

    decduos, e o incio da dentio completa ocorre durante o segundo ms de vida

    intra-uterina. Da mesma forma, segundo Bhaskar (1989) nem todos os rgos do

    esmalte iniciam o crescimento ao mesmo tempo, os primeiros a surgirem so

    aqueles da regio anterior da mandbula.

    Os perodos de crescimento do germe dentrio podem ser organizados nos

    seguintes estgios do dente: iniciao, etapa do broto dentrio ou boto dentrio;

    proliferao, quando ocorre a formao do germe dentrio, conhecida como fase de

    capuz; histodiferenciao e morfodiferenciao, incio da formao do esmalte e da

    dentina; e aposio, caracterizada pela etapa da coroa (GUEDES-PINTO, ISSO,

    2006).

    O primeiro estgio o de iniciao tambm conhecido como estgio de boto,

    observado no feto de seis semanas, reconhecido pela formao de uma expanso

    da camada basal da cavidade oral. O estgio de capuz ou de proliferao se

    caracteriza por uma multiplicao das clulas, resultando na formao do germe

    dentrio, constitudo por trs partes: rgo do esmalte, papila dentria e saco

    dentrio. Na fase de campnula ou histodiferenciao ocorre uma especializao

    das clulas do germe dentrio com diferenas histolgicas. A morfodiferenciao,

    tambm conhecido como estgio avanado de campnula ir determinar o tamanho

    e a forma do dente. Na fase de aposio ocorre a deposio de camadas

    incrementais e matriz de dentina. A fase de calcificao ocorre com a deposio de

    sais minerais e mineralizao final do dente (GUEDES-PINTO, ISSO, 2006).

  • 16

    Segundo Guedes-Pinto e Isso (2006) todos os processos de crescimento do germe

    dentrio se sobrepem, com exceo da fase de iniciao, que um processo

    momentneo. Os demais processos so contnuos em vrias etapas histolgicas.

    2.2 Mecanismos de movimentao dentria eruptiva

    Segundo Corra (2010) e Guedes-Pinto (1997) diversas so as teorias que tentam

    explicar o mecanismo de erupo, considerando que os movimentos desse processo

    eruptivo sejam o resultado do crescimento diferencial entre o dente e os ossos

    basais.

    De acordo com Bhaskar (1989) e Ten Cate (1998), os mecanismos do movimento

    dentrio eruptivo ainda no so plenamente compreendidos, sendo provvel que a

    erupo seja a combinao de vrios fatores, dos quais, os principais so: (1)

    crescimento radicular; (2) presso vascular; (3) remodelao ssea e (4) trao do

    ligamento periodontal.

    Crescimento radicular. Parece bvio que a erupo dentria ocorre mediante a

    formao radicular, no entanto, para que resulte uma fora eruptiva, necessrio

    que o crescimento apical da raiz seja traduzido em movimento oclusal, e para isso

    fundamental uma base fixa. Contudo, tal base fixa no existe, pois uma fora

    incidindo sobre o osso da base do alvolo causar sua reabsoro. Ento algum

    outro mecanismo deve mover o dente, para acomodar o crescimento da raiz (TEN

    CATE, 1998).

    Segundo Bhaskar (1989) h aqueles que defendem a existncia de um ligamento

    em rede. Semelhante a uma membrana, esse ligamento delimita a polpa, no pice

    da raiz e no tem insero ssea, atuando como um arcabouo capaz de

    transformar a presso causada pelo crescimento da raiz juntamente com o

    crescimento do tecido conjuntivo pulpar em trao, evitando a reabsoro do tecido

    sseo possibilitando a erupo dental.

    Presso vascular. Os dentes movimentam-se em sincronia com a pulsao arterial,

    tanto que modificaes volumtricas locais podem provocar movimentao dentria

  • 17

    limitada. Ainda discutvel se tais presses atuam na movimentao dentria, pois a

    exciso cirrgica da raiz e de seus tecidos associados eliminando a vascularizao

    periapical, no inibe a erupo dentria (BHASKAR, 1989; TEN CATE, 1998).

    Remodelao ssea. O padro de crescimento dos maxilares supostamente move

    os dentes por deposio e reabsoro seletivas de osso na rea imediatamente

    adjacente ao dente. Atravs da remodelao ssea, um caminho eruptivo forma-se

    no osso, mesmo que no haja um dente em formao ou crescimento. Entretanto,

    se o folculo dentrio for removido, o caminho eruptivo no se formar. Logo, h

    evidncias de que o tecido folicular seja responsvel por induzir a erupo.

    Enquanto a idia de que a remodelao ssea possa provocar o movimento axial do

    dente ainda no est provada (TEN CATE, 1998).

    De acordo com Bhaskar (1989), o folculo dentrio antes de transformar-se no

    ligamento periodontal, atua na erupo dentria, embora no proporcione a fora

    eruptiva real. Caso se os germes dentrios forem removidos e os folculos mantidos

    intactos, a via eruptiva ainda se forma no osso. Assim como, segundo o autor, se um

    dente for substitudo por uma rplica de silicone e seu folculo for mantido, a rplica

    irromper. Dessa forma, h uma necessidade do complexo folculo-ligamento para

    que ocorra a movimentao dentria.

    Corroborando os autores citados, Obrien, Bhaskar e Brodie (1958) acreditam que a

    aposio ssea fator passivo e que a erupo dentria, como outros movimentos

    de rgos, parece ser o resultado de diferentes taxas de crescimento da polpa

    dental, da cripta ssea e principalmente do folculo dental.

    Trao do ligamento periodontal. H evidncias de que o ligamento periodontal e o

    folculo dentrio estejam envolvidos no processo de erupo dentria, e que a fora

    necessria para mover o dente est ligada a contratilidade dos fibroblastos.

    Certamente existem elementos estruturais adequados para transformar essa fora

    em movimento dentrio eruptivo (BHASKAR, 1989; TEN CATE, 1998).

    Segundo Ten Cate (1998) os fibroblastos esto em constante contato intercelular

    somando foras contrteis entre si; e para que essa fora seja transformada em

    movimento torna-se necessrio que os feixes de fibras de colgeno estejam

    orientados obliquamente e que seja mantida essa orientao. Visto que,

  • 18

    experimentalmente possvel prejudicar a arquitetura normal do ligamento por

    interferncia na sntese do colgeno; e quando isso ocorre o movimento eruptivo

    retardado ou interrompido.

    Assim, de acordo com Ten Cate (1998) a fora traduzida em movimento eruptivo

    gerada pela contratilidade dos fibroblastos do ligamento periodontal, contudo, para

    que essa contrao seja transformada necessrio que haja formao radicular,

    formao do ligamento periodontal e remodelao do osso e do colgeno, sendo o

    processo de erupo um fenmeno multifatorial.

    A partir destas constataes compreende-se que, sobre as teorias de erupo,

    qualquer uma delas isoladamente no capaz de explicar o mecanismo de erupo,

    sendo, portanto necessrio somatria delas mais as observaes clnicas e os

    fatores genticos individuais, alm dos fatores epigenticos. Com relao ao

    processo de erupo, sabendo que este compreende toda a movimentao do dente

    durante a formao, no sentido oclusal, at atingir sua posio funcional, o termo

    erupo dentria no pode ser entendido apenas como o momento no qual o dente

    passa pela gengiva e comea a pertencer ao ambiente bucal.

    2.3 Cronologia e sequncia de erupo da dentio decdua

    A cronologia de erupo corresponde ao momento que o dente surge na cavidade

    bucal e obedece a certo padro gentico, havendo diferenas quanto ao sexo, alm

    de fatores sistmicos e ambientais (GUEDES-PINTO, 1997). Segundo Folayan et al.

    (2007) e Torres (1973), existe um ritmo cronolgico na erupo de determinados

    grupos de dentes, que guardam estreita relao com seu espao e tempo. Corra

    (2010) tambm descreve que o incio da formao, calcificao, erupo e troca dos

    dentes decduos, como todo processo biolgico, esto sujeitas a variaes

    individuais, contudo, em condies normais a sequncia e a cronologia dos fatos

    seguem um ciclo evolutivo regular.

    Vrios estudos relacionam o processo da cronologia e sequncia de erupo dos

    dentes decduos (MINOT, 1873; LOGAN, KRONFELD, 1939; SCHOUR, MASSLER,

  • 19

    1941; LUNT, LAW, 1974; TAMBURS; CONRADO; CAMPOS, 1977; AGUIRRE,

    ROSA, 1988; HADDAD, 1997; TERRA, 1999; BRANDO; ROCHA, 2004; FOLAYAN

    et al., 2007; OZIEGBE et al., 2009), pressupondo a existncia de fatores

    interferentes que precisam ser identificados para explicar as possveis diferenas

    individuais. Dessa forma, o conhecimento desse processo assume grande

    importncia quando se considera que a erupo dental no ocorre de maneira

    isolada do resto do organismo, que tem relao com o desenvolvimento da criana

    (AGUIRRE, ROSA, 1988).

    Quadro 1. Estudos internacionais da cronologia e sequncia de erupo da dentio decdua.

    Dentes Decduos (Estudos

    Internacionais)

    Erupo (Idade mdia em meses)

    Minot

    (1873)

    Logan e

    Kronfeld

    (1939)

    Schour e

    Massler

    (1941)

    Lunt e

    Law

    (1974)

    Folayan

    et al.

    (2007)

    Oziegbe

    et al.

    (2009)

    Maxila

    Incisivo Central 9 - 11 7 6-8 10 10 9

    Incisivo Lateral 9 - 11 9 8-10 11 12-13 9

    Canino 18 - 21 18 20 19 19 18-24

    Primeiro Molar 12 - 14 14 12-16 16 16 18

    Segundo Molar 26 - 30 24 20-24 29 25 24-36

    Mandbula Incisivo Central 6 - 7 6 6-8 8 8 6

    Incisivo Lateral 12 - 14 7 8-10 13 12-13 9

    Canino 18 - 21 16 20 20 19 18-24

    Primeiro Molar 12 - 14 12 12-16 16 16 18

    Segundo Molar 26 - 30 20 20-24 27 24 24-36

    Um dos primeiros autores a relatar sobre a erupo dos dentes decduos foi Minot

    (1873), no qual mostrou que o aparecimento destes na cavidade bucal ocorre em

    cinco perodos distintos: o primeiro perodo, com a erupo dos incisivos centrais

    inferiores, entre o sexto e o stimo ms de vida extra-uterina; o segundo perodo,

    com a erupo dos incisivos centrais superiores e dos incisivos laterais superiores,

    entre o nono ao 11 ms de vida; o terceiro perodo, com a erupo dos incisivos

    laterais inferiores e dos primeiros molares superiores e inferiores, entre o 12 e o 14

    ms; o quarto perodo seria marcado pela erupo dos caninos superiores e

    inferiores entre 18 a 21 ms; o quinto perodo, pela erupo dos segundos molares

    superiores e inferiores entre o 26 ao 30 ms. Logan e Kronfeld (1939)

    estabeleceram uma cronologia de erupo que difere dos achados de Minot (1873),

  • 20

    principalmente com relao erupo dos incisivos laterais inferiores, incisivos

    centrais superiores e segundos molares inferiores.

    Logan e Kronfeld (1939), ao estudarem o desenvolvimento normal das estruturas

    dentais, dissecando maxilares humanos de recm-nascidos, observaram que a

    erupo do arco inferior geralmente ocorre mais cedo que no arco superior e que os

    incisivos centrais inferiores, erupcionam aos seis meses; os incisivos laterais

    inferiores aos sete meses; os incisivos centrais superiores aos sete meses e meio;

    os incisivos laterais superiores aos nove meses, os primeiros molares inferiores, aos

    12 meses; os primeiros molares superiores aos 14 meses; os caninos inferiores, aos

    16 meses e os superiores aos 18 meses; os segundos molares inferiores, aos 20

    meses e os superiores aos 24 meses.

    Semelhanas foram encontradas por Schour e Massler (1941), que simplificaram

    seus achados na seguinte sequncia: incisivos centrais superiores e inferiores

    erupcionam entre o sexto e oitavo ms, sendo que os inferiores aparecem antes dos

    superiores. Os incisivos laterais entre o oitavo e dcimo ms; os primeiros molares

    entre o 12 e o 16 ms, seguido dos caninos que erupcionam at o 20 ms. Logo

    depois, os segundos molares erupcionam entre o 20 e 24 ms.

    Diferentemente dos achados de Logan e Kronfeld (1939) e de Schour e Massler

    (1941), Lunt e Law (1974), aps realizarem uma reviso da literatura sobre

    cronologia da calcificao e da erupo dos dentes decduos, compararam seus

    achados principalmente com os valores do estudo de Logan e Kronfeld (1939),

    relativos cronologia da dentio humana, aceito como padro por muitos anos, e

    observaram que os incisivos laterais, primeiros molares e caninos tendem a

    erupcionar mais cedo no arco superior do que no inferior.

    Segundo Lunt e Law (1974), os incisivos centrais inferiores erupcionam aos oito

    meses; os incisivos centrais superiores aos dez meses; os incisivos laterais

    superiores aos 11 meses; os incisivos laterais inferiores aos 13 meses; os primeiros

    molares superiores e inferiores aos 16 meses; os caninos superiores aos 19 meses;

    seguido dos inferiores aos 20 meses; os segundos molares inferiores aos 27 meses;

    e os superiores aos 29 meses.

  • 21

    Da mesma maneira, Folayan et al. (2007) relataram que a erupo dentria de

    crianas nigerianas teve incio no oitavo ms de vida com a erupo dos incisivos

    centrais inferiores, seguidos dos incisivos centrais superiores, aos dez meses; os

    incisivos laterais superiores e inferiores, respectivamente entre 12 e 13 meses;

    primeiros molares superiores e inferiores aos 16 meses, caninos superiores e

    inferiores aos 19 meses; segundos molares inferiores aos 24 meses, e os superiores

    aos 25 meses.

    Oziegbe et al. (2009), contudo, observaram diferenas ao estudarem a erupo nas

    crianas nigerianas de 4 a 36 meses. Os primeiros dentes erupcionaram aos seis

    meses, sendo os incisivos centrais inferiores, seguido do incisivo lateral inferior

    direito. Os incisivos centrais superiores erupcionaram aos nove meses seguido dos

    incisivos laterais superiores e incisivo lateral inferior esquerdo aos 12 meses; os

    primeiros molares superiores e inferiores aos 18 meses; os caninos superiores e

    inferiores entre 18 e 24 meses; os segundo molares entre 24 e 36 meses.

    No Brasil, estudos sobre a erupo dos dentes decduos podem ser encontrados

    nos municpios de Ribeiro Preto, So Paulo; Florianpolis, Santa Catarina; no

    municpio de Salvador, Bahia; Guarulhos, So Paulo e no municpio de Campo

    Grande, Mato Grosso do Sul.

    Quadro 2. Estudos nacionais da cronologia e sequncia de erupo da dentio decdua.

    Dentes Decduos (Estudos

    Nacionais)

    Erupo (Idade mdia em meses)

    Tamburs et al. (1977)

    Aguirre e Rosa (1988)

    Brando e Rocha (2004)

    Haddad (1997)

    Terra (1999)

    Maxila

    Incisivo Central 11 9 9 10 10

    Incisivo Lateral 12 10-11 11 12 12

    Canino 18 18 18-19 20 19

    Primeiro Molar 16 14-15 15 16 16

    Segundo Molar 27 27 27 28 28-29

    Mandbula

    Incisivo Central 9 7 7 8 8

    Incisivo Lateral 13 12 12 14 14

    Canino 19 18-19 19 20 20

    Primeiro Molar 17 14-15 15 16 17

    Segundo Molar 26 26 25 27 27

  • 22

    Tamburs, Conrado e Campos (1977) selecionaram 70 crianas nascidas no

    Hospital das Clnicas da Faculdade de Medicina de Ribeiro Preto, da Universidade

    de So Paulo, a fim de estabelecer a idade mdia e sequncia de erupo dos

    dentes decduos utilizando o mtodo longitudinal. De acordo com os resultados, a

    erupo dos incisivos centrais inferiores ocorre aos nove meses; os incisivos

    centrais superiores aos 11 meses, seguido dos incisivos laterais superiores aos 12

    meses e os inferiores aos 13 meses; os primeiros molares superiores aos 16 meses

    e os inferiores aos 17 meses; os caninos superiores aos 18 meses e os inferiores

    aos 19 meses; os segundos molares inferiores aos 26 meses e os superiores aos 27

    meses.

    Diferenas foram encontradas por Aguirre e Rosa (1988), principalmente no tempo

    de erupo dos incisivos centrais superiores e inferiores e primeiros molares

    inferiores. Ao realizarem um estudo transversal sobre a sequncia e cronologia de

    erupo com 877 crianas de dois meses a quatro anos do municpio de

    Florianpolis, Santa Catarina, os mesmos verificaram que os incisivos centrais

    inferiores erupcionam aos sete meses; os incisivos centrais superiores aos nove

    meses, seguido dos incisivos laterais superiores entre dez e 11 meses; os incisivos

    laterais inferiores aos 12 meses; os primeiros molares superiores e inferiores entre

    14 e 15 meses; os caninos superiores aos 18 meses, seguido dos inferiores entre 18

    e 19 meses; os segundos molares inferiores aos 26 meses e os superiores aos 27

    meses.

    Assim como encontrado por Brando e Rocha (2004) ao estudarem pelo mtodo

    transversal a cronologia e sequncia de erupo de dentes decduos em crianas de

    ambos os sexos, de 0 a 42 meses de idade, nascidas no municpio de Salvador, no

    Estado da Bahia. Para ambos os sexos, os incisivos centrais inferiores erupcionam

    aos sete meses; os incisivos centrais superiores aos nove meses; os incisivos

    laterais superiores aos 11 meses e os inferiores aos 12 meses; os primeiros molares

    superiores e inferiores aos 15 meses; os caninos superiores entre 18 e 19 meses; os

    caninos inferiores aos 19 meses; os segundos molares inferiores aos 25 meses e os

    superiores aos 27 meses.

    J Haddad (1997) ao verificar a cronologia e sequncia de erupo dos dentes

    decduos em 774 crianas nascidas com peso normal ( 2.500 gramas) e com baixo

  • 23

    peso ( 2.500 gramas), na faixa etria de 0 a 36 meses de idade, em Guarulhos,

    So Paulo, obteve para as crianas nascidas com peso normal seguinte ordem

    eruptiva: incisivos centrais inferiores aos oito meses; incisivos centrais superiores

    aos dez meses; incisivos laterais superiores aos 12 meses e os inferiores aos 14

    meses; os primeiros molares superiores e inferiores aos 16 meses; os caninos

    superiores e inferiores com 20 meses; os segundos molares inferiores com 27

    meses e os superiores com 28 meses. A erupo dos primeiros molares e caninos

    ocorre primeiramente na arcada superior e logo em seguida na inferior.

    Corroborando tais resultados, Terra (1999) ao verificar a cronologia e sequncia de

    erupo dos dentes decduos de crianas leucodermas, na faixa etria de 0 a 36

    meses de idade, no municpio de Campo Grande, Mato Grosso do Sul, obteve a

    seguinte cronologia de erupo: incisivos centrais inferiores aos oito meses de

    idade; incisivos centrais superiores aos dez meses; incisivos laterais superiores aos

    12 meses; incisivos laterais inferiores aos 14 meses; primeiros molares superiores

    aos 16 meses e os inferiores aos 17 meses; caninos superiores aos 19 meses e os

    inferiores aos 20 meses; os segundos molares inferiores no 27 ms e os superiores

    entre o 28 e 29 ms.

    Diferenas podem ser observadas na cronologia e sequncia de erupo dentria

    entre os achados de Minot (1873), Logan e Kronfeld (1939), Schour e Massler

    (1941), Lunt e Law (1974), Tamburs, Conrado e Campos (1977), Aguirre e Rosa

    (1988), Haddad (1997), Terra (1999), Brando e Rocha (2004), Folayan et al. (2007),

    Oziegbe et al. (2009). Dessa forma, no h um padro na cronologia e sequncia de

    erupo dos dentes decduos. O que existe um ritmo cronolgico de erupo que

    est diretamente relacionado com o seu espao e tempo, sendo interessante a

    realizao de estudos mais abrangentes e que reflitam a populao em questo.

    2.6 Fatores relacionados cronologia de erupo dos dentes decduos

    O momento em que os dentes irrompem na cavidade bucal pode sofrer acelerao

    ou retardo em decorrncia de distrbios orgnicos ou devido a fatores pessoais e

    ambientais, que apesar de no influenciarem no equilbrio fisiolgico podem

  • 24

    acarretar variaes na cronologia eruptiva (FRAJNDLICH; OLIVEIRA, 1988;

    TOLEDO, 1996).

    Diversos so os fatores que podem estar relacionados s diferenas na cronologia

    de erupo entre as populaes. Dentre eles destacam-se, sexo (BERZIN;

    SORIANO; IEMA, 1990; HADDAD, 1997; PATRIANOVA; KROLL; BRZIN, 2010;

    TAMBURS; CONRADO; CAMPOS, 1977), amamentao (PATRIANOVA; KROLL;

    BRZIN, 2010), nvel socioeconmico (BERZIN; SORIANO; IEMA, 1990;

    ENWONWU, 1973; FOLAYAN et al., 2007; OZIEGBE et al., 2009), etnia (FOLAYAN

    et al., 2007; MCGREGOR, 1968), nascimento prematuro e peso ao nascer

    (CAIXETA, CORRA, 2005; HADDAD, 1997; RAMOS; GUGISCH, FRAIZ, 2006;

    SEOW et al., 1988; TERRA, 1999; TRUPKIN, 1974), raa/cor (FERGUSON; SCOTT;

    BAKWIN, 1957; LAVELLE, 1975), sndrome de Down (ONDARZA et al., 1997;

    ROCHE, BARKLA, 1967), hipotireoidismo e hipopituitarismo (FRAJNDLICH,

    OLIVEIRA, 1988; SURI; GAGARI; VASTARDIS, 2004), fatores locais (FRAJNDLICH,

    OLIVEIRA, 1988), estado nutricional infantil (ALVAREZ, 1995), hbitos nutricionais

    infantis (JUNQUEIRA, CARNEIRO, 2004; SCHOUR, MASSLER, 1941; LIOMONGI,

    1987) e suplementao nutricional materna (DELGADO, 1975). Porm, poucas so

    as evidncias em relao influncia que eles exercem na alterao da cronologia

    de erupo dentria.

    No estudo conduzido por Tamburs, Conrado e Campos (1977), o processo de

    erupo se inicia mais cedo no sexo feminino aos oito meses com os incisivos

    centrais inferiores e no masculino ocorre aos nove meses para o mesmo grupo de

    dentes. Assim sendo, tambm para erupo dos demais. Em oposio, segundo

    Patrianova, Kroll e Brzin (2010), a erupo dentria inicia-se mais precocemente no

    sexo masculino, aos dez meses com o incisivo central superior esquerdo, quando

    comparado com o feminino que inicia aos 12 meses de vida. Alm de existir variao

    significativa para o dente canino superior esquerdo, incisivo lateral inferior esquerdo,

    canino inferior esquerdo e direito.

    Da mesma forma, Haddad (1997) ao analisar o nmero mdio de dentes irrompidos

    de acordo com o sexo e faixa etria, observou que a erupo ocorre ligeiramente

    mais precoce no sexo masculino, com diferena estatisticamente significante para os

    dentes incisivos centrais e laterais superiores. Berzin, Soriano e Iema (1990), ao

  • 25

    examinarem 1067 crianas de nvel socioeconmico baixo da cidade de Piracicaba,

    So Paulo, constataram que a erupo ocorre mais tardiamente no sexo feminino

    para todos os dentes, com exceo do incisivo lateral superior esquerdo, incisivo

    lateral inferior direito e primeiro molar inferior esquerdo, quando comparado com o

    masculino. Aguirre e Rosa (1988); Terra (1999); Brando e Rocha (2004) e

    Caregnato, Mello e Silveira (2009), no encontraram diferenas significativas entre

    sexos.

    Ao determinarem a cronologia de erupo confrontando com a varivel

    amamentao, Patrianova, Kroll e Brzin (2010) verificaram um relativo retardo na

    poca de erupo dos dentes decduos em relao mdia geral, principalmente,

    dos incisivos centrais e dos caninos inferiores e superiores em crianas que foram

    aleitadas (no peito ou mamadeira) por mais de seis meses de vida, com ausncia de

    alimentao fibrosa nesse perodo. Assim, concluram que, a partir do sexto ms de

    vida, as crianas devem experimentar uma alimentao que estimule o crescimento

    e desenvolvimento estomatogntico, sendo o tipo de dieta de fundamental

    importncia para desencadear o processo de erupo da dentio decdua,

    estimulando o crescimento de ossos, dos msculos, da face e do complexo

    mastigatrio. Nesse estudo a cronologia de erupo no foi confrontada com o nvel

    socioeconmico, pois a classe mdia era o nvel predominante.

    Diferentemente, Oziegbe et al. (2009) demonstraram como as variveis

    sociodemogrficas podem prever o nmero de dentes decduos irrompidos das

    crianas de uma regio da Nigria. Com diferena significativa no nmero de dentes

    irrompidos em crianas de nvel socioeconmico alto, que apresentavam um nmero

    maior de dentes quando comparadas com os de nvel socioeconmico baixo. Assim

    como, Berzin, Soriano e Iema (1990) ao examinarem somente crianas de nvel

    socioeconmico baixo da regio de Piracicaba, compararam seus achados com os

    resultados obtidos por Tamburs, Conrado e Campos (1977) que no incluram a

    classe socioeconmica em sua amostra e observaram que a erupo se faz mais

    tardia para todos os dentes. Havendo ento uma possvel relao da erupo tardia

    com o nvel socioeconmico baixo.

    Enwonwu (1973), ao realizar um estudo transversal com 872 crianas nigerianas,

    dividindo-as em grupos de nvel socioeconmico alto e baixo, verificaram que na

  • 26

    idade de quatro a seis meses, aproximadamente 84% das crianas de nvel

    socioeconmico alto j tinham seus incisivos centrais inferiores irrompidos enquanto

    que as crianas de nvel socioeconmico baixo tinham 15% desses dentes

    irrompidos. Na idade de 22 a 24 meses a maioria das crianas de nvel

    socioeconmico alto tinham completado a erupo dos dentes decduos enquanto

    que as crianas de nvel socioeconmico baixo tinham entre 16 a 18% dos segundos

    molares superiores e inferiores irrompidos respectivamente. Segundo o autor, ao

    comparar os nveis socioeconmicos na idade entre sete e 24 meses, observou que

    crianas de nvel socioeconmico alto tinham de dois a cinco dentes irrompidos a

    mais do que as crianas de nvel baixo. Semelhanas tambm foram encontradas

    por Folayan et al. (2007), que ao analisarem a poca de erupo estratificada por

    grupos, observaram que os caninos superiores tendem a irromper primeiro no grupo

    com nvel socioeconmico alto quando comparado com os demais grupos de nvel

    mdio e baixo.

    Nesse estudo, Folayan et al. (2007) tambm compararam a sequncia de erupo

    dos dentes decduos de crianas nigerianas do sexo feminino com dados de outros

    pases (Islndia, Iraque, Arbia Saudita e Estados Unidos). Semelhanas foram

    encontradas e apenas o que variou foi a poca de aparecimento de alguns grupos

    de dentes. Os incisivos centrais inferiores das crianas nigerianas comparvel a

    poca de aparecimento s iraquianas e rabes sauditas, de aproximadamente oito

    meses, mas ocorre posteriormente a poca de aparecimento em relao as

    islandesas e norte americanas, que ocorre entre seis e sete meses. Em relao aos

    caninos superiores e inferiores e segundos molares superiores, a erupo ocorre

    anteriormente em islandeses e mais tarde em iraquianos, rabes sauditas e norte

    americanos, quando comparados com as crianas nigerianas, havendo diferenas

    entre as etnias na poca de aparecimento dos dentes. Tais observaes apiam a

    possibilidade da variabilidade tnico-racial influenciar no momento da erupo.

    McGregor (1968) comparou a mdia do nmero de dentes irrompidos em

    determinadas idades nas aldeias gambianas com outros estudos publicados e

    constatou que as crianas at os doze meses de idade apresentavam menor

    quantidade de dentes irrompidos em comparao com as crianas dos Estados

    Unidos, de Londres, Paris, Zurique e Dakar.

  • 27

    Outros fatores como, nascimento prematuro; peso ao nascer e raa/cor tambm

    esto relacionados cronologia eruptiva. De acordo com Caixeta e Corra (2005), o

    processo de erupo em crianas prematuras ocorre em um perodo semelhante ao

    de outras crianas da populao, no qual 42 crianas da amostra dos autores

    tiveram seu primeiro dente irrompido entre o sexto e dcimo ms de vida. Apesar de

    terem encontrado um perodo de erupo normal, o nmero total de dentes at os

    36 meses de vida mostrou-se em menor quantidade quando comparado com os

    resultados encontrados em crianas nascidas a termo. Ramos, Gugisch e Fraiz

    (2006) tambm constataram que as crianas nascidas com tempo inferior idade

    gestacional de 38 semanas e com peso ao nascer menor do que 1.500g (gramas)

    apresentam retardo na erupo, com diferena de aproximadamente cinco meses na

    poca de erupo dos primeiros dentes decduos em relao aquelas nascidas entre

    38 a 42 semanas e com peso ao nascer igual ou superior a 2.500g.

    Do mesmo modo, Terra (1999), ao estudar a cronologia e sequncia de erupo dos

    dentes decduos segundo o tempo de gestao, peso ao nascer e sexo, verificou

    que a erupo dos dentes decduos nas crianas prematuras (< 32 semanas de

    gestao) e nas de baixo peso (< 2.500g) ocorreu mais tarde em relao s crianas

    normais, particularmente para incisivos superiores e segundos molares superiores e

    inferiores.

    Seow et al. (1988) ao compararem a condio de erupo dental de um grupo de

    crianas nascidas prematuras, com peso muito baixo (< 1500g), com um grupo de

    crianas de baixo peso (1500 - 2500g) e com um grupo de crianas com peso

    normal no nascimento ( 2500g), a fim de determinar se a erupo dental afetada

    pelo baixo peso e prematuridade no nascimento, constataram que as crianas com

    peso muito baixo tiveram retardo na erupo dental comparados com os outros

    grupos (baixo peso e peso normal), particularmente antes dos 24 meses. Contudo,

    quando as idades das crianas de peso muito baixo foram corrigidas para suas

    verdadeiras idades biolgicas, no houve diferenas significantes detectadas,

    indicando que o retardo na erupo dental pode simplesmente ser devido ao

    nascimento precoce.

    J Trupkin (1974), ao investigar os padres de erupo do primeiro dente decduo

    em 82 crianas de baixo peso (2.500g ou menos), verificou que quanto mais baixo o

  • 28

    peso ao nascimento, mais tardia foi a idade de erupo. Com 39 semanas de idade,

    apenas 16 a 18% das crianas com peso de nascimento acima de 1.815g no tinha

    irrompido seu primeiro dente ainda, enquanto 42% das crianas com peso de

    nascimento abaixo de 1.815g no apresentavam dentes irrompidos. Da mesma

    maneira, Haddad (1997) verificou a cronologia de erupo de crianas de 0 a 36

    meses, divididas em dois grupos, crianas nascidas com peso normal ( 2.500g) e

    crianas nascidas com baixo peso (< ou = 2.500g). No grupo de crianas nascidas

    de baixo peso encontrou um nmero mdio de dentes presentes menor at os 18

    meses do que no grupo de nascidos de peso normal, verificando a relao do

    retardo no processo eruptivo com o baixo peso ao nascer.

    Relacionado raa/cor, Ferguson, Scott e Bakwin (1957) compararam a poca de

    erupo do primeiro dente decduo e o nmero de dentes presentes com um ano de

    idade entre crianas de raa/cor negra e branca. Foram examinadas 808 crianas

    negras e 175 crianas brancas de mdia e baixa classe socioeconmica, na zona

    urbana de Washington, Estados Unidos. Na raa/cor negra, a erupo do primeiro

    dente foi mais precoce. No entanto, com um ano de idade, as crianas brancas de

    nvel socioeconmico mdio apresentavam mais dentes do que as negras de nvel

    socioeconmico baixo. Para Ferguson, Scott e Bakwin (1957), a variao inicial

    influenciada pela raa/cor foi posteriormente compensada pela influncia de fatores

    ambientais, como possveis vantagens nutricionais e melhor nvel socioeconmico

    do grupo de raa branca. Lavelle (1975) tambm comparou a poca de erupo dos

    dentes decduos em 3600 crianas inglesas caucasianas e em 600 crianas negras

    e notou que a erupo foi mais precoce nas crianas negras, embora a diferena

    no tenha sido estatisticamente significante.

    Alm da influncia do nascimento prematuro; baixo peso ao nascer e da raa/cor, o

    fator sndrome de Down tambm est relacionado com o retardo do processo de

    erupo. Ondarza et al. (1997) ao realizarem uma pesquisa com 255 crianas

    chilenas entre quatro e 84 meses de vida, portadores de sndrome de Down,

    verificaram que os meninos com a sndrome apresentaram retardo na erupo dos

    incisivos laterais superiores e caninos inferiores, e as meninas na erupo dos

    incisivos laterais superiores e inferiores e caninos superiores e inferiores quando

    comparadas com as crianas da populao geral. Rocke e Barkla (1967) estudaram

    o desenvolvimento da dentio em pacientes portadores de sndrome de Down e

  • 29

    constataram que a erupo tardia e h maior variao na sequncia quando

    comparadas com a populao geral.

    Alm dos fatores relatados anteriormente, o hipotireoidismo e o hipopituitarismo

    tambm podem retardar significativamente a poca de erupo dos dentes decduos

    (FRAJNDLICH, OLIVEIRA, 1988). Segundo Suri, Gagari e Vastardis (2003),

    distrbios das glndulas endcrinas geralmente tm um efeito importante sobre o

    corpo inteiro, incluindo a dentio. O hipotireoidismo e hipopituitarismo so as mais

    comuns desordens endcrinas associadas com o retardo da erupo dentria. No

    hipotireoidismo, falha na funo da glndula hipfise ou uma atrofia ou destruio da

    glndula tireide, por si s leva ao cretinismo e mudanas dento faciais esto

    relacionadas. No hipopituitarismo ou nanismo hipofisrio, ocorre retardo na erupo

    dos dentes, assim como no crescimento do organismo em geral. A arcada dentria

    tem sido relatada ser menor do que o normal, portanto, no pode acomodar todos os

    dentes. Alm disso, as razes dos dentes so mais curtas do que o normal e as

    estruturas de suporte apresentam retardo no crescimento.

    Fatores locais como teratomas, embriomas e tumores tambm podem estar

    relacionados a variaes da cronologia eruptiva. Agrupados pelo nome de incluses,

    so constitudos por clulas embrionrias residuais que permanecem conservando

    suas caractersticas primitivas durante as evolues morfolgicas. Estas incluses

    na maioria das vezes no so aparentes ao nascimento, permanecendo ocultas por

    longos perodos e sob a influncia de causas desconhecidas podem adquirir uma

    grande e desordenada atividade que causam variados problemas na erupo normal

    (FRAJNDLICH, OLIVEIRA, 1988). J o Odontoma, massa irregular de tecido

    calcificado, impede que ocorra o processo eruptivo normal (FRAJNDLICH,

    OLIVEIRA, 1988).

    Da mesma maneira, durante o perodo de formao e desenvolvimento do dente, a

    ocorrncia de deficincias de vitaminas A e D podem ocasionar retardo na erupo

    dental, pois a deposio de clcio e fsforo nos cristais de hidroxiapatita durante as

    fases de calcificao e mineralizao dentria influenciada pela presena destas

    vitaminas (JUNQUEIRA, CARNEIRO, 2004).

    Alm disso, episdio de desnutrio durante o primeiro ano de vida tambm

    suficiente para ocasionar um atraso significativo na erupo da dentio decdua. A

  • 30

    desnutrio crnica tem maior efeito deletrio do que a desnutrio aguda, pois

    afeta o desenvolvimento de todos os dentes decduos (ALVAREZ, 1995).

    Em relao ao aspecto nutritivo da criana, no perodo de formao e

    desenvolvimento dos dentes, de acordo com Schour e Massler (1941), nos primeiros

    seis meses a dieta essencialmente lquida, perodo de lactao, sendo que os

    alimentos suplementares frequentemente tm incio durante a segunda metade do

    primeiro ano de vida coincidindo com o aparecimento dos dentes decduos na

    cavidade bucal como uma resposta a esta necessidade.

    Os hbitos nutricionais infantis bem como outros fatores de risco infantis citados

    anteriormente encontram-se relacionados com alteraes na cronologia de erupo.

    Alm deles, existem tambm os fatores de risco materno. Segundo Delgado (1975)

    ao investigarem a influncia da nutrio materna sobre a erupo dos dentes

    decduos em 273 crianas na zona rural da Guatemala, nascidas entre a 38 e 42

    semanas de gestao, observaram que as crianas cujas mes pertenciam ao grupo

    de alta suplementao calrica durante a gravidez, consideradas crianas de maior

    peso ao nascimento, apresentaram em mdia de um a dois dentes a mais

    irrompidos, do que aquelas nascidas das mes pertencentes ao grupo de baixa

    suplementao. Bebs cujas mes recebiam suplementao durante o pr-natal e

    consequentemente de maior peso ao nascer apresentavam mais dentes irrompidos

    em todas as idades subsequentes.

    Dessa forma, fatores hereditrios e individuais associados aos ambientais e

    maternos podem causar alteraes na cronologia de erupo decdua e embora

    existam estudos nacionais e internacionais sobre o assunto, pesquis-la ainda

    pertinente, principalmente com relao s diferentes regies do pas, a fim de

    verificar as variaes existentes (BRANDO, ROCHA, 2004).

    Sabendo que o processo de erupo dentria um dos fenmenos que se

    manifestam como parte do crescimento e do desenvolvimento geral da criana

    (CAREGNATO; MELLO; SILVEIRA, 2009), a sequncia ou ordem de erupo dos

    dentes decduos servem para acompanhar tal desenvolvimento e analisar possveis

    transtornos biolgicos e dentrios que possam ocorrer (AGUIRRE, ROSA, 1988).

    medida que surgem outros dentes novos, os msculos aprendem a efetuar os

  • 31

    movimentos oclusais funcionais necessrios levando ao crescimento ativo do

    esqueleto facial (MOYERS, 1991).

    No entanto, as crianas que j nascem com dentes irrompidos na cavidade bucal ou

    que irrompem no primeiro ms de vida, denominados dentes natais e neonatais,

    respectivamente, segundo Cunha et al. (2001), geram preocupaes, tanto para os

    pais como para os profissionais de sade, pois podem causar traumas no mamilo do

    seio materno (CUNHA et al., 2001) e ulceraes no ventre da lngua do recm-

    nascido (LONG et al., 1994), dificultando o aleitamento materno (SANTOS-NETO,

    2013).

    Outra complicao relacionada aos dentes natais e neonatais o desenvolvimento

    de crie precoce da infncia, visto que, alm de apresentarem menor espessura de

    esmalte, esses dentes podem ter deficincias na mineralizao e sulcos ou

    rugosidades em sua superfcie, predispondo colonizao por microrganismos

    cariognicos (TINANOFF et al., 1999).

    Logo, fundamental o conhecimento da idade mdia e sequncia de erupo dos

    dentes decduos e os possveis fatores de risco infantis e maternos relacionados em

    uma populao especfica para que os resultados sejam aplicados em funo das

    particularidades.

  • 32

    3 JUSTIFICATIVA

    H uma preocupao com a descrio da cronologia e sequncia de erupo

    evidenciada na literatura cientfica, contudo, apesar de serem utilizadas

    metodologias diferentes, os resultados dos estudos cientficos mostram divergncias

    quanto cronologia e sequncia eruptiva da dentio decdua, principalmente com

    relao a alguns grupos de dentes.

    Fatores como sexo; amamentao; nvel socioeconmico; etnia; nascimento

    prematuro; peso ao nascer; raa/cor; sndrome de Down; hipotireoidismo e

    hipopituitarismo; estado nutricional infantil; hbitos nutricionais infantis e fatores

    locais podem estar diretamente relacionados com a cronologia da erupo dentria

    decdua, alm da suplementao nutricional materna durante a gravidez. Enquanto

    que os fatores socioeconmicos maternos como a situao conjugal e o nvel de

    escolaridade e os fatores biolgicos, nutricionais e comportamentais infantis como

    hbitos de suco, vedamento labial e a respirao bucal, que talvez possam

    influenciar na cronologia de erupo, ainda no foram explorados nas pesquisas

    cientficas.

    Torna-se relevante, estimar a cronologia e sequncia de erupo da dentio

    decdua e seus fatores de risco infantis e maternos relacionados, para que os

    resultados sejam aplicados em funo das particularidades, por meio da elaborao

    de propostas de sade de preveno pelo SUS, baseados na educao em sade,

    com ateno precoce no apenas as necessidades bucais infantis, mas tambm ao

    crescimento e desenvolvimento geral da criana.

  • 33

    4 OBJETIVOS

    4.1 Objetivo Geral

    Estimar a cronologia e sequncia de erupo da dentio decdua e seus fatores

    relacionados em amostra de crianas de duas regies do municpio de Vitria, ES.

    4.2 Objetivos Especficos

    Avaliar a concordncia entre os tempos de erupo da dentio decdua em amostra

    de crianas do municpio de Vitria-ES e os tempos de erupo relatados por

    autores clssicos.

    Determinar os fatores de risco biolgicos, nutricionais e comportamentais infantis

    bem como os socioeconmicos maternos relacionados cronologia de erupo da

    dentio decdua.

  • 34

    5 MATERIAIS E MTODOS

    5.1 Tipo e Local de Estudo

    Caracteriza-se como um estudo epidemiolgico longitudinal realizado a partir de

    dados provenientes de uma pesquisa com 86 recm-nascidos que foram

    acompanhados at a idade de 36 meses de vida. A pesquisa teve durao de trs

    anos (2003 a 2006) e foram includas crianas residentes em reas que

    apresentaram os piores indicadores de mortalidade infantil do municpio, So Pedro

    e Bonfim, segundo o Plano Municipal de Sade no ano de 2001 (SANTOS-NETO,

    2009).

    5.2 Amostra

    Foi utilizada uma amostragem por convenincia a partir de um estudo realizado

    entre 2003 a 2006 (SANTOS-NETO, 2009). Para fins deste estudo a amostra foi

    recalculada por meio do programa BioEstat, verso 5.3

    (http://www.mamiraua.org.br/ptbr/downloads/programas/) sendo o erro alfa de 5% e

    o poder do teste variando entre 55% e 98%.

    Foram includas no estudo todas as crianas nascidas nas referidas regies com

    idade variando de zero a trs meses encaminhadas pelos Agentes Comunitrios de

    Sade (ACS), sendo 43 crianas referendadas pela Unidade de Sade Thomaz

    Tommasi e 43 pelas Unidades de Sade de ilha das Caieiras e de Santo Andr, no

    perodo de novembro de 2003 a maio de 2004. Aps 36 meses de

    acompanhamento, permaneceram 67 crianas no estudo, as demais no foram

    localizadas, ou se mudaram ou no foram mais encontradas em suas casas depois

    de vrias tentativas.

  • 35

    5.3 Coleta de dados

    Durante o perodo de novembro de 2003 a junho de 2006, aps a assinatura do

    Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) pelas mes, quatro

    pesquisadores estudantes de odontologia, em duplas, durante os dois primeiros

    anos e no terceiro ano outros quatro pesquisadores, realizaram visitas domiciliares

    peridicas acompanhados dos ACS, sendo todos previamente treinados. Os dados

    clnicos dos sujeitos da pesquisa foram coletados utilizando um formulrio

    direcionado s mes contendo as seguintes variveis: hbitos de suco, respirao

    bucal, padro de amamentao, hbitos alimentares e desenvolvimento da dentio

    decdua por meio da realizao de um exame clnico nas crianas. Durante essas

    visitas tambm eram transmitidas s mes orientaes em relao aos cuidados

    com os bebs.

    Ao todo, foram realizadas oito visitas, sendo sete domiciliares e uma no consultrio.

    As visitas domiciliares ocorreram com uma periodicidade mdia de trs meses nos

    dois primeiros anos do estudo e, posteriormente, de seis meses, no ltimo ano, a

    medida em que os pesquisadores encontravam as mes e as crianas em seus

    domiclios. Em cada visita, era preenchido um novo formulrio com os dados da

    entrevista estruturada e do exame clnico, bem como eram repassadas as

    orientaes iniciais s mes.

    5.4 Definies das variveis

    Tempo de aleitamento materno

    O tempo de aleitamento materno foi definido segundo o conceito da Organizao

    Mundial de Sade (OMS) (WORLD HEALTH ORGANIZATION, 2007), quando a me

    ou o responsvel afirmava pelo tempo em meses em que a criana recebia leite

    materno, diretamente do seio ou extrado, independentemente de estar recebendo

    alimento slido ou lquido. O tempo de aleitamento foi determinado em intervalos,

    conforme recomendado pela OMS (at 24 meses e mais de 24 meses).

  • 36

    Padro de Aleitamento Materno

    A amamentao foi definida em categorias pela OMS (WORLD HEALTH

    ORGANIZATION, 2007).

    Aleitamento materno: a criana recebe leite materno diretamente do seio ou

    extrado, independentemente de estar recebendo alimento slido ou lquido.

    Aleitamento materno exclusivo: a criana recebe somente leite materno da me ou

    de uma me de leite, e nenhum outro alimento lquido ou slido, com exceo de

    gotas ou xaropes constitudos por vitaminas, suplementos minerais ou

    medicamentos.

    Para definio da varivel amamentao, questionou-se me a cada visita, se ela

    estava amamentando ou utilizando mamadeira ou outros bicos artificiais para a

    alimentao da criana. Para aleitamento materno exclusivo foram determinados os

    seguintes intervalos: menos de trs meses, trs meses ou mais, menos de seis

    meses e seis meses ou mais. Para aleitamento materno os intervalos foram: menos

    de seis meses, seis meses ou mais, menos de doze meses e doze meses ou mais.

    Sexo

    A varivel sexo foi definida no momento da coleta dos dados em masculino e

    feminino. Relatado pela me da criana.

    Raa/Cor

    A varivel raa/cor foi definida aps autorizao das informaes provenientes do

    Sistema de Informao sobre Nascidos Vivos (SINASC) em branca, preta, amarela,

    parda e indgena.

    Variveis de hbitos de suco nutritivos e no nutritivos

    As variveis de hbitos de suco nutritivos e no nutritivos foram mensuradas por

    tempos fixos (incio at o primeiro ms, inicio at o sexto ms e inicio at o 12 ms)

    para a suco de dedo, suco de chupeta, uso de mamadeira e uso de outros bicos

  • 37

    artificiais. Definidas perguntando-se, em cada visita, se a criana manifestava tal

    hbito. Em caso afirmativo, registrava-se quando a criana iniciou.

    Introduo de Alimentos

    Durante as visitas foi questionado se a me havia introduzido dieta da criana

    algum alimento de qualquer natureza: frutas, legumes ou verduras amassadas, ou

    at mesmo alimentos industrializados. Em caso afirmativo, registrava-se quando a

    criana iniciou o consumo alimentar. Os seguintes intervalos foram definidos para

    incio da alimentao semi-slida: incio at 4 ms e incio depois do 4 ms.

    Hbitos Alimentares

    Para possibilitar a anlise, o consumo alimentar foi categorizado nas seguintes

    variveis: consumo de carne, abrangendo carnes bovinas, sunas, aves e peixes;

    consumo de leite animal e derivados, como queijos e iogurtes; consumo de outras

    fontes de protena, abrangendo ovos e alimentos fonte de protena de soja; consumo

    de frutas; consumo de verduras e legumes; consumo de carboidratos, como arroz,

    pes, batata, massas e outros; consumo de feijo e leguminosas; consumo de

    alimentos aucarados; consumo de engrossantes para leite; consumo de cafena e

    consumo de gorduras.

    Variveis socioeconmicas

    As variveis socioeconmicas, declaradas pelas mes, foram coletadas apenas

    durante a primeira visita, pois no ocorreram grandes modificaes nessas

    caractersticas. Sendo elas: grau de escolaridade materna, renda familiar em

    salrios mnimos, a ocupao do pai e da me, a idade materna, a situao

    conjugal, a estabilidade conjugal, o nmero de pessoas que habitavam a mesma

    residncia, o acabamento da casa e o nmero de cmodos da casa.

  • 38

    Varivel vedamento labial

    O vedamento labial foi determinado por anlise observacional e por palpao do

    msculo mentoniano. Se, durante a visita, a criana mantivesse os lbios contatados

    e permanecesse com a boca fechada sem contrao contnua do msculo

    mentoniano, registrava-se a presena do vedamento labial.

    Varivel respirao bucal

    Para o exame de respirao bucal, os examinadores utilizaram espelhos

    anatmicos, semelhantes ao Espelho de Altmann, posicionados na entrada do

    espao aeronasal da criana, para observar a expirao do ar. A criana que no

    conseguisse marcar com ar o espelho, apresentasse algum tipo de dificuldade

    respiratria e/ou obstruo nasal e ausncia de vedamento labial, era considerada

    respirador bucal. Caso ela apresentasse passagem area nasal livre e ausncia de

    vedamento labial, era considerada respirador bucal misto.

    Idade gestacional

    A varivel idade gestacional foi definida aps autorizao das informaes

    provenientes do SINASC em: menos de 22 semanas de gestao, de 22 a 27

    semanas, de 28 a 31 semanas, de 32 a 36 semanas, de 37 a 41 semanas e de 42 e

    mais semanas de gestao. Foram consideradas pr-termo, as crianas nascidas

    com menos de 37 semanas e a termo, as nascidas de 37 a 42 semanas (BRASIL,

    2006; RAMOS; GUGISCH; FRAIZ, 2006).

    Peso ao nascer

    A varivel peso ao nascer foi definida aps autorizao das informaes

    provenientes do SINASC em: menor que 1500 gramas; de 1500 a 2500 gramas e

    maior que 2500 gramas. Foram consideradas de baixo peso as crianas nascidas

    com 2.500 gramas ou menos e peso normal, as nascidas com mais de 2.500 gramas

    (SEOW et al., 1988; HADDAD, 1997).

  • 39

    Desenvolvimento da Dentio

    Como critrio para a avaliao da erupo dos dentes decduos, um dente foi

    considerado irrompido, quando qualquer poro da coroa houvesse atravessado a

    barreira gengival e se apresentasse visvel na cavidade bucal (AGUIRRE, ROSA,

    1988; OZIEGBE et al., 2009; TAMBURS, CONRADO, CAMPOS, 1977; BRANDO,

    ROCHA, 2004). A cada visita registrava-se se havia na criana algum dente

    irrompido. A idade de erupo dos primeiros dentes foi anotada e a dos demais

    dentes ia sendo registrada medida que apareciam, de acordo com a memria das

    mes e do exame clnico realizado nas crianas pelos pesquisadores a cada visita.

    O Quadro 1 apresenta as variveis agrupadas por assunto e as respectivas

    categorias de anlise de dados.

    Quadro 1. Definio das variveis do estudo. (Continua)

    Determinante Varivel Categoria

    Tempo de aleitamento materno

    Aleitamento materno exclusivo 1 0-Menos de trs meses 1-Trs meses ou mais

    Aleitamento materno exclusivo 2 0-Menos de seis meses 1-Seis meses ou mais

    Aleitamento materno 1 0-Menos de seis meses 1-Seis meses ou mais

    Aleitamento materno 2 0-Menos de doze meses 1-Doze meses ou mais

    Tempo de aleitamento 0-24 meses 1-Mais de 24 meses

    Sexo da criana Sexo 0-Masculino 1-Feminino

    Raa/Cor Branca Preta Amarela Parda Indgena

    Nominal

    Hbitos de suco Uso de outros bicos artificiais (incio at 6 ms)

    0-No 1-Sim

    Uso de mamadeira (incio at o 1 ms)

    0-No 1-Sim

    Uso de mamadeira (incio at o 6 ms)

    0-No 1-Sim

    Uso de mamadeira (incio at o 12 ms)

    0-No 1-Sim

    Uso de chupeta (incio at o 1 ms)

    0-No 1-Sim

  • 40

    Quadro 1. Definio das variveis do estudo. (Continua)

    Determinante Varivel Categoria

    Uso de chupeta (incio at o 6 ms)

    0-No 1-Sim

    Uso de chupeta (incio at o 12 ms)

    0-No 1-Sim

    Suco de dedo (incio at o 1 ms)

    0-No 1-Sim

    Suco de dedo (incio at o 6 ms)

    0-No 1-Sim

    Suco de dedo (incio at o 12 ms)

    0-No 1-Sim

    Alimentao complementar

    Alimentao semi-slida 0-Incio at 4 ms 1-Incio depois do 4 ms

    Hbitos Alimentares

    Carnes 0-No 1-Sim

    Leite 0-No 1-Sim

    Outras fontes de protena 0-No 1-Sim

    Frutas 0-No 1-Sim

    Verduras e legumes 0-No 1-Sim

    Carboidratos 0-No 1-Sim

    Feijo 0-No 1-Sim

    Alimentos aucarados 0-No 1-Sim

    Engrossantes 0-No 1-Sim

    Cafena 0-No 1-Sim

    Gorduras 0-No 1-Sim

    Idade materna ao nascimento da criana

    Idade materna 1 0-At 20 anos 1-20 anos ou mais

    Idade materna 2 0-At 35 anos 1-35 anos ou mais

    Escolaridade Escolaridade materna 0-1 grau incompleto 1-A partir do 1 grau completo

  • 41

    Quadro 1. Definio das variveis do estudo. (Continua)

    Determinante Varivel Categoria

    Renda Renda familiar mensal 0-At dois salrios mnimos 1-Mais que dois salrios mnimos

    Tempo de ocupao do pai 0-Menor que 5 anos 1-Maior ou igual a 5 anos

    Participao paterna na renda familiar

    0-Sem renda 1-Com renda

    Situao conjugal Situao conjugal 0-Separados 1-Casados/concubinato

    Separao depois do nascimento da criana

    0-No 1-Sim

    Condies de moradia e saneamento

    Tipo de acabamento residencial 0-Incompleto 1-Completo

    Quantidade de quartos 0-Um 1-Mais que um

    Quantidade de cmodos 0-At quatro 1-Mais de quatro

    Aglomerao humana domiciliar 0-At cinco 1-Mais de cinco

    Acesso gua potvel 0-No 1-Sim

    Acesso rede de esgoto 0-No 1-Sim

    Acesso coleta de lixo 0-No 1-Sim

    Vedamento labial Vedamento labial 0-No 1-Sim

    Respirador bucal Respirador bucal 0-No 1-Sim

    Idade gestacional Menos de 22 semanas 0-No 1-Sim

    De 22 a 27 semanas 0-No 1-Sim

    De 28 a 31 semanas 0-No 1-Sim

    De 32 a 36 semanas 0-No 1-Sim

    De 37 a 41 semanas 0-No 1-Sim

    42 e mais 0-No 1-Sim

  • 42

    Quadro 1. Definio das variveis do estudo. (Concluso)

    Determinante Varivel Categoria

    Peso ao nascer Menor que 1500 gramas 0-No 1-Sim

    De 1500 a 2500 gramas 0-No 1-Sim

    Maior que 2500 gramas 0-No 1-Sim

    Desenvolvimento da Dentio

    Erupo do 71/81 Numrica (em meses)

    Erupo do 51/61 Numrica (em meses)

    Erupo do 72/82 Numrica (em meses)

    Erupo do 52/62 Numrica (em meses)

    Erupo do 73/83 Numrica (em meses)

    Erupo do 53/63 Numrica (em meses)

    Erupo do 74/84 Numrica (em meses)

    Erupo do 54/64 Numrica (em meses)

    Erupo do 75/85 Numrica (em meses)

    Erupo do 55/65 Numrica (em meses)

    5.5 Anlises estatsticas

    A anlise estatstica foi realizada a partir da reviso e adequao do banco de dados

    digitado no programa SPSS for Windows v. 16.0 (SPSS Inc, Chicago, Estados

    Unidos), selecionando as variveis de interesse.

    5.5.1 Anlise descritiva

    Foram realizados os clculos da mdia, mediana e desvio padro, para o tempo de

    erupo dos dentes decduos de cada criana.

  • 43

    5.5.2 Anlise de Concordncia e Discordncia

    Foram realizados testes para comparao dos tempos de erupo dos dentes

    decduos na amostra e os tempos de erupo descritos pelos autores clssicos:

    Minot (1873), Logan e Kronfeld (1939), Schour e Massler (1941) e Lunt e Law (1974)

    e aplicados os testes de kappa, segundo Landis e Koch (1977) para mensurar os

    nveis de concordncia. Verificou-se tendncia da discordncia com a aplicao dos

    testes de McNemar e de kappa ajustado pela prevalncia, adotando-se nvel de

    significncia estatstica menor que 5%.

    5.5.3 Anlise de Sobrevivncia

    Foi realizada a Anlise de Sobrevivncia, na qual a varivel de interesse foi o tempo

    de erupo dos dentes decduos (em meses) e todas as outras variveis do estudo,

    possveis fatores de risco relacionados a erupo dentria decdua. Calculou-se a

    Curva de Sobrevivncia de Kaplan-Meier e o teste LogRank para diferenciar os

    tempos entre as categorias das variveis. Em seguida, as anlises na Regresso de

    Cox foram realizadas com as variveis independentes cujo p-valor foi menor que

    0,10 na anlise univariada pelo teste LogRank e com a varivel dependente: tempo

    de erupo dos 10 grupos de dentes decduos.

    5.6 Consideraes ticas

    O protocolo de pesquisa foi submetido ao Comit de tica em Pesquisa (CEP) do

    Centro de Cincias da Sade da Universidade Federal do Esprito Santo (UFES),

    sendo totalmente aprovado na 43 reunio ordinria, em 25 de junho de 2003, sob

    registro no CEP n 0020/2003 (ANEXO A). O TCLE foi assinado pelos pais antes do

    desenvolvimento da pesquisa (ANEXO B).

  • 44

    Autorizado o acesso ao banco de dados provenientes do projeto de pesquisa

    intitulado: Feche Sua Boca e Salve Sua Vida II pelo pesquisador responsvel pelo

    mesmo, o professor Adauto Emmerich Oliveira (ANEXO C).

    Autorizado pela Escola Tcnica e Formao Profissional de Sade ETSUS/Vitria

    o acesso ao banco de dados do Sistema de Informao sobre Nascidos Vivos

    (SINASC) para coleta de dados referente idade gestacional das crianas

    participantes e peso ao nascer, alm de informaes sobre raa/cor no perodo de

    2003 e 2004 (ANEXO D).

  • 45

    6 RESULTADOS

    6.1 ARTIGO 1

    Cronologia de erupo da dentio decdua: concordncia entre autores clssicos

  • 46

    6.1.1 Resumo

    O objetivo desse trabalho foi avaliar a concordncia entre os tempos de erupo da dentio

    decdua em amostra de crianas do municpio de Vitria-ES e os tempos de erupo relatados

    por autores clssicos. Os dados utilizados foram provenientes de um estudo de coorte com 86

    recm-nascidos acompanhados at a idade de 36 meses de vida. Calculou-se a idade mdia de

    erupo dos dentes decduos de cada criana e testes foram realizados para comparao do

    tempo de erupo decdua, descritos pelos autores clssicos. Em seguida, aplicou-se o teste de

    kappa, McNemar e kappa ajustado pela prevalncia. A mdia de erupo dos dentes decduos

    variou de oito a 29 meses de vida no arco inferior, e de 11 a 30 meses no arco superior. Houve

    maior proporo de concordncia para o tempo de erupo do 71/81 (kappa = 0,82; IC95% =

    0,72-0,93) e do 52/62 (kappa = 0,88; IC95% = 0,78-0,99) entre Minot (1873) e Shour e

    Massler (1941). Seguido do tempo de erupo entre este ltimo autor e Logan e Kronfeld

    (1939) para o 51/61 e 55/65 e entre Lunt e Law (1974) para o 53/63 e 73/83. Valores elevados

    de McNemar foram encontrados para o tempo de erupo do 51/61 (McNemar = 54,0; p =

    0,000), 72/82 e 75/85 entre Logan e Kronfeld (1939) e Lunt e Law (1974) e do 51/61 entre

    este ltimo autor e Shour e Massler (1941). Nesse estudo a seqncia de erupo decdua

    encontrada foi semelhante observada em diversas pesquisas, assim como a idade mdia de

    erupo dos incisivos centrais superiores e inferiores decduos, contudo para os demais dentes

    a idade mdia de erupo foi sempre mais tardia. Os maiores nveis de concordncia foram

    para os tempos de erupo dos incisivos e caninos decduos do que para os molares decduos.

    Descritores: Dente decduo; Cronologia; Erupo Dentria.

  • 47

    6.1.2 Abstract

    This study aims to assess agreement between the eruption age of deciduous teeth eruption in a

    children sample the City of Vitoria-ES and the eruption age reported by classical authors. The

    data derive from a cohort study with 86 newborns until their 36th month of age. Average

    deciduous teeth eruption age of each child was calculated and testing was performed to

    comparing deciduous teeth eruption age described by classic authors. Then, kappa test,

    McNemar and prevalence adjusted kappa were applied. Average deciduous teeth eruption

    ranged between 8 and 29 months of age in the lower arch, and 11 to 30 months in the upper

    arch. There was higher agreement proportion for deciduous teeth eruption age of 71/81

    (kappa = 0.82; IC95% = 0.72-0.93) and 52/62 (kappa = 0.88; IC95% = 0.78-0.99) between

    Minot (1873) and Shour e Massler (1941). Followed by deciduous teeth eruption age between

    the latter author and Logan and Kronfeld (1939) for 51/61 and 55/65 and between Lunt and

    Law (1974) for 53/63 and 73/83. High McNemar values were found for deciduous teeth

    eruption age of 51/61 (McNemar = 54.0; p = 0.000), 72/82 and 75/85 between Logan and

    Kronfeld (1939) and Lunt and Law (1974) and for 51/61 between the latter author and Shour

    and Massler (1941). The sequence of deciduous teeth eruption found here was similar to that

    reported in several studies, as well as average eruption age of deciduous upper and lower

    central incisors. However, average age was always later for the other teeth. Levels of

    agreement were higher for deciduous incisor and canine eruption than for deciduous molars.

    Keywords: Deciduous tooth; Chronology; Tooth Eruption.

  • 48

    6.1.3 Introduo

    Aps o nascimento, uma criana torna-se grande motivo de apreenso dos pais, familiares e

    amigos acerca dos diversos aspectos da vida social, biolgica e comportamental do beb. A

    partir do crescimento e desenvolvimento infantil a ateno aos aspectos da vida cotidiana

    torna-se foco de dvidas e questionamentos para pais e/ou cuidadores.

    Um dos momentos mais esperados e temidos o nascimento dos primeiros dentes na criana,

    conhecido tambm como erupo dentria decdua, pois quando esse fenmeno no segue um

    ciclo evolutivo regular ocasiona modificaes no padro mastigatrio da criana, com

    possveis alteraes no crescimento dental e bucal1. Entretanto, tal momento torna-se menos

    temido para os pais e profissionais de sade quando estes obtm o conhecimento do tempo, ou

    seja, a idade mdia em que cada dente decduo surge na cavidade bucal. Isso funciona como

    um indicador no diagnstico de possveis alteraes de crescimento e desenvolvimento geral e

    bucal da criana1,2,3.

    Deve-se considerar tambm que o surgimento dos dentes na cavidade bucal, obedece a certo

    padro, havendo diferenas quanto ao sexo, alm da interferncia de fatores sistmicos e

    principalmente ambientais4. De acordo com Corruccini e Beecher5 existe a hiptese da

    associao entre a correlao das dimenses oclusofaciais e as relaes oclusais com a

    alterao na demanda mastigatria. Fato este que torna oportuno o estudo comparativo da

    cronologia e seqncia de erupo da dentio decdua em diferentes populaes e em

    diferentes pocas.

    Apesar de serem utilizadas metodologias diferentes, os resultados dos estudos cientficos

    mostram divergncias quanto cronologia e sequncia eruptiva, principalmente com relao a

    alguns grupos de dentes6. Isso demonstra a preocupao com a cronologia de erupo do

    ponto de vista cientfico e a necessidade de continuar a pesquis-la.

  • 49

    A partir disso, o objetivo desse estudo avaliar a concordncia entre os tempos de erupo da

    dentio decdua em amostra de crianas do municpio de Vitria-Esprito Santo (ES) e os

    tempos de erupo relatados por autores clssicos.

    6.1.4 Metodologia

    Os dados utilizados neste trabalho so provenientes de um estudo longitudinal, que teve

    durao de trs anos (2003 a 2006), com 86 recm-nascidos que foram acompanhados at a

    idade de 36 meses de vida. Foram includas crianas residentes em reas que apresentaram os

    piores indicadores de mortalidade infantil do municpio, So Pedro e Bonfim, segundo o

    Plano Municipal de Sade no ano de 20017.

    Foi utilizada amostragem por convenincia a partir de estudo realizado entre 2003 e 20067.

    Para fins deste estudo a amostra foi recalculada por meio do programa BioEstat, verso 5.3

    (http://www.mamiraua.org.br/ptbr/downloads/programas/) sendo o erro alfa de 5% e o poder

    do teste variando entre 55% e 98%.

    Foram includas todas as crianas nascidas nessas regies encaminhadas pelos Agentes

    Comunitrios de Sade (ACS), sendo 86 crianas referendadas por trs unidades de sade de

    duas regies diferentes de novembro de 2003 a maio de 2004. A partir da seleo dessas

    crianas, quatro pesquisadores, realizaram visitas domiciliares peridicas acompanhados dos

    ACS nas quais coletavam os dados clnicos dos sujeitos da pesquisa sobre hbitos de suco,

    respirao bucal, padro de amamentao e desenvolvimento da dentio decdua por meio da

    aplicao de um formulrio as mes e da realizao de um exame clnico nas crianas.

    Durante essas visitas tambm eram transmitidas s mes orientaes em relao aos cuidados

    com os bebs.

  • 50

    Como critrio para a avaliao da erupo dos dentes decduos, um dente foi considerado

    irrompido, quando qualquer poro da coroa houvesse atravessado a barreira gengival e se

    apresentasse visvel na cavidade bucal1,3,8,9. Informao est declarada pelas mes ou obtida

    atravs do exame clnico realizado pelos pesquisadores a cada visita.

    Foram realizadas oito visitas ao todo, sendo sete visitas domiciliares e uma visita no

    consultrio. As visitas domiciliares ocorreram com uma periodicidade mdia de trs meses

    nos dois primeiros anos do estudo e, posteriormente, de seis meses, no ltimo ano, na med