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0 Charles Jopar Hedlund Luiz Antonio Fernandes Filho PERCEPÇÃO DE RISCO DOS ESTIVADORES DO PORTO SECO FERROVIÁRIO DE URUGUAIANA, RIO GRANDE DO SUL, BRASIL Trabalho de Conclusão de Curso Universidade Federal do Pampa Uruguaiana 2010

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Charles Jopar Hedlund

Luiz Antonio Fernandes Filho

PERCEPÇÃO DE RISCO DOS ESTIVADORES DO

PORTO SECO FERROVIÁRIO DE URUGUAIANA, RIO

GRANDE DO SUL, BRASIL

Trabalho de Conclusão de Curso

Universidade

Federal do

Pampa

Uruguaiana

2010

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CHARLES JOPAR HEDLUND LUIZ ANTONIO FERNANDES FILHO

PERCEPÇÃO DE RISCO DOS ESTIVADORES DO PORTO SECO FERROVIÁRIO DE URUGUAIANA, RIO GRANDE DO SUL, BRASIL

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado a banca examinadora, como requisito parcial para a obtenção do título de Graduação em Enfermagem na Universidade Federal do Pampa.

Orientador: Prof. Ddo. Valdecir Zavarese

da Costa

URUGUAIANA 2010

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CHARLES JOPAR HEDLUND LUIZ ANTONIO FERNANDES FILHO

PERCEPÇÃO DE RISCO DOS ESTIVADORES DO PORTO SECO FERROVIÁRIO DE URUGUAIANA, RIO GRANDE DO SUL, BRASIL

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado a banca examinadora, como requisito parcial para a obtenção do título de Graduação em Enfermagem na Universidade Federal do Pampa.

Área de concentração: Enfermagem

Trabalho apresentado e aprovado em: 16 de dezembro de 2010.

Banca examinadora:

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AGRADECIMENTO

Nossos agradecimentos a todos e especial a Deus pela força que nos concedeu.

Aos nossos familiares que nos apoiaram e demonstraram seu carinho em tantos

momentos.

A nosso orientador, Prof. Valdecir Zavarese da Costa, que acreditou na proposta de

nosso trabalho, conduziu nossa orientação, e pela sua compreensão, paciência,

estímulo e incentivo.

Aos Coordenadores do Porto Seco Ferroviário de Uruguaiana, que disponibilizaram

o campo para realização deste trabalho.

Nosso especial agradecimento aos estivadores que se dispuseram a participar deste

estudo.

Às colegas que nos auxiliaram durante o desenvolver deste trabalho

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RESUMO

O presente trabalho teve como objetivo conhecer a percepção de risco à saúde existentes no trabalho realizado por estivadores no Porto Seco Ferroviário, no Município de Uruguaiana, Estado do Rio Grande do Sul, Brasil. Este estudo tratou-se de uma pesquisa qualitativa, de análise temática. Foram integrantes do estudo 16 trabalhadores que realizam o serviço de estiva de cargas em vagões e caminhões neste Porto que aceitaram participar do estudo. A obtenção dos dados ocorreu em duas partes: a primeira servindo de caracterização dos sujeitos entrevistados, formação e vínculo empregatício e a segunda onde o sujeito entrevistado discorreu sobre o seu trabalho e os riscos nele existente. O projeto foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa na Área da Saúde da Universidade Federal do Pampa – UNIPAMPA. A pesquisa nos possibilitou evidenciar que o entendimento da maioria dos trabalhadores entrevistados, a saúde é vista como a ausência de doenças e sintomas, sendo vista a partir das considerações clinico - patológicas. Com relação à percepção de risco, ficou evidenciado que os estivadores entendem e identificam os riscos presentes em seu ambiente de trabalho (vagão), nos instrumentos de trabalho (prancha), na execução da tarefa de movimentação manual de cargas, e a relação destes com o perigo de sofrer um acidente de trabalho ou de adquirir doenças ocupacionais.

Palavras-chave: Estivador. Risco. Saúde do Trabalhador. Enfermagem

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RESUMEN

Este estudio tuvo como objetivo evaluar la percepción de riesgo para la salud en el trabajo ya realizado por los estibadores en el Porto Seco Ferroviario, em la ciudad de Uruguaiana, Rio Grande do Sul, Brasil. Este estudio cualitativo se trataba de un análisis temáticas. Los miembros del estudio fueron 16 empleados que sirven en la estiba de la carga en vagones y camiones en el Puerto de acuerdo en participar en el estudio. Los datos fueron recolectados en dos partes: la primera caracterización porción de los entrevistados, la formación y el empleo y el segundo en que el sujeto entrevistado habló sobre su trabajo y los riesgos en él. El proyecto fue aprobado por el Comitê de Ética em Pesquisa na Área da Saúde da Universidade Federal do Pampa - UNIPAMPA. El estudio nos permitió demostrar que la comprensión de la mayoría de los trabajadores entrevistados, la salud es visto como la ausencia de la enfermedad y los síntomas se desprende de la consideraciones clínico - patológica. En cuanto a la percepción del riesgo, es evidente que los estibadores en cuenta y identifican los riesgos presentes en su lugar de trabajo (vagón), en las herramientas de trabajo (tablón), en el desempeño de la tarea de manipulación manual, y su relación con la peligro de sufrir un accidente de trabajo o adquirir las enfermedades profesionales.

Palabras clave: Estibador. Riesgo. Salud Laboral. Enfermería.

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ......................................................................................................... 7

2 O CONCEITO DE RISCO NA SAÚDE DO TRABALHADOR ................................. 10

2.1 Risco ocupacional no trabalho ............................................................................ 13

2.2 Estudos sobre saúde do trabalhador ................................................................... 14

2.3 A enfermagem e sua contribuição para a saúde do trabalhador ......................... 15

3 O PORTO SECO FERROVIÁRIO DE URUGUAIANA ........................................... 16

3.1 O Porto Seco Ferroviário de Uruguaiana ............................................................ 16

3.2 A caracterização do trabalho dos estivadores no Porto Seco Ferroviário de

Uruguaiana ................................................................................................................ 17

4 METODOLOGIA ..................................................................................................... 19

4.1Tipo de estudo ...................................................................................................... 19

4.2 Cenário do estudo ............................................................................................... 19

4.3 Sujeitos do estudo ............................................................................................... 19

4.4 Critérios de inclusão no estudo ........................................................................... 20

4.5 Trabalho de campo ............................................................................................. 20

4.6 Instrumento de pesquisa ..................................................................................... 21

4.7 Procedimentos éticos .......................................................................................... 21

4.8 Análise dos dados ............................................................................................... 22

5 RESULTADOS ....................................................................................................... 23

5.1 Caracterização dos dos sujeitos participantes da pesquisa ................................ 23

5.2 O entendimento de saúde ................................................................................... 24

5.3 O entendimento de riscos .................................................................................... 27

6 DISCUSSÃO E ANÁLISE ....................................................................................... 31

6.1 A concepção de saúde ........................................................................................ 31

6.2 A percepção de risco ........................................................................................... 35

7 CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................... 40

REFERÊNCIAS ......................................................................................................... 41

APÊNDICE A - Termo de Consentimento Livre e Esclarecido ................................. 48

APÊNDICE B – Formulário 1ª parte .......................................................................... 49

APÊNDICE C - Formulário 2ª parte ........................................................................... 50

ANEXO A –Carta de Aprovação do Comitê de Ética em Pesquisa ........................... 51

ANEXO B – TERMO DE AUTORIZAÇÃO DE PUBLICAÇÃO NAS BIBLIOTECAS DA

UNIVERSIDADE FEDERAL DO PAMPA..................................................................52.

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1 INTRODUÇÃO

As exportações brasileiras tiveram um crescimento de 39,6 % se comparado

com mesmo período de 2009. Sendo que as commodities - tais como soja, minério,

petróleo, petroquímicos, açúcar, etc.- somam aproximadamente metade do volume

destas exportações (BRASIL, 2010).

Grande parte deste volume é transportada via rodoviária até os portos. Porém

este modal de transporte tem se mostrado ineficiente e por vezes caótico, gerando

grandes filas de caminhões a espera de descarga nos principais portos do país

(INSTITUTO TEOTÔNIO VILELA, 2009; MAZUI, 2010).

Contudo, em 1996, com a privatização das malhas ferroviárias, ressurgiu a

importância do modal ferroviário como nova oferta de serviços. Sendo mais

eficientes já que se trata de investimento de capital privado nacional que trouxe a

modernização a este segmento de transporte terrestre, fazendo assim renascer a

logística ferroviária no Brasil (OLIVEIRA; CAIXETA FILHO, 2007).

Segundo a Associação Brasileira da Indústria Ferroviária –ABIFER- (2010), o

setor ferroviário deve alcançar um aumento no seu faturamento de pelo menos 25%

em relação a 2009, chegando a atingir 26% da matriz brasileira de transporte de

carga. Porém ainda há uma enorme distorção neste mercado, sendo que o equilíbrio

será atingido com a execução do Plano Nacional de Logística e Transportes (PNLT)

do Ministério dos Transportes, que prevê participação do modal ferroviário de 35%

em 2025 (ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DA INDÚSTRIA FERROVIÁRIA, 2010;

BRASIL, 2009).

Mesmo com os recentes investimentos no modal ferroviário, como as

utilizações de guindastes, pontes rolantes, pórticos, existem ainda o manuseio de

cargas de forma manual, na qual a atividade recebe o nome de estiva.

Embora a Organização Internacional do Trabalho (OIT) tenha recomendado a

tomadas de medidas para evitar que o trabalhador não exceda o levantamento

manual de cargas com peso maior de 55 kg, ainda não existe uma norma mundial

para regulamentar manuseio destas cargas. E apesar da grande parte dos países

possuírem normativas sobre o manuseio e movimentação de cargas isso não tem

significado proteção a saúde dos trabalhadores, já que estas leis e regulamentos

nem sempre são cumpridos. Por isso, existem lugares onde os trabalhadores

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transportam manualmente cargas com peso acima de 100kg (CAVALCANTE et al.,

2005; MERINO, 1996).

As normas brasileiras que regulamentam as atividades de movimentação e

manuseio de cargas manualmente também apresentam alguns problemas, como a

difícil interpretação a respeito da definição de quais as atividades que devem

respeitar o peso máximo de 60 kg para o transporte manual (MERINO, 1996).

Cavalcante et al. (2005) também comenta que não é só no Brasil que existem

problemas à respeito da lei de movimentação e transporte de cargas, e que isso é

causa de inúmeros problemas de saúde:

Em outros países, também existem problemas. De acordo com a literatura especializada, o incorreto manuseio e a movimentação manual de cargas são a causa mais freqüente de acidentes de trabalho individual. Um exemplo é que nos Estados Unidos, 50% das incapacidades temporais são motivadas por quedas no manuseio de cargas. Isto constitui um grande risco para a coluna vertebral, especialmente a região lombar. (CAVALCANTE et al., 2005, p.102).

Conforme Soares et al. (2008), os trabalhadores que movimentam cargas

manualmente estão expostos a problemas de saúde no sistema muscular, articular e

ósseo. Um estudo com trabalhadores portuários realizados por Cavalcante et al.

(2005) corrobora que as principais moléstias de saúde próprios do labor dos

estivadores são freqüentemente os distúrbios osteoarticulares e metabólicos como o

diabetes e hipertensão.

Conseqüentemente a execução deste trabalho os expõe a riscos a saúde

presentes tanto no ambiente de trabalho quanto na forma de executar o trabalho.

Assim é de interesse da Saúde do Trabalhador que os profissionais de Saúde

compreendam a significância do conceito de risco a saúde destes trabalhadores

(BRASIL, 2002).

Procura-se salientar a percepção do risco a partir da própria visão dos

estivadores a respeito deste tema, uma vez que na atualidade apenas dois trabalhos

sobre riscos e agravos à saúde dos estivadores foram publicados no Brasil

(CAVALCANTE et al., 2005; SOARES et al., 2008).

A partir do exposto, surgiu a necessidade de conhecer a concepção de riscos

à saúde que os estivadores estão expostos em seu cotidiano de trabalho e também

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o que a Enfermagem tem a contribuir como parte da equipe multidisciplinar na

Saúde do Trabalhador para modificar as condições laborais dessa população.

Neste contexto, emerge a seguinte questão orientadora do estudo: Qual a

percepção de risco dos trabalhadores estivadores sobre seu trabalho no Porto Seco

Ferroviário de Uruguaiana, Rio Grande do Sul, Brasil?

O presente trabalho justifica-se pela importância da temática devido aos

riscos à saúde existentes no trabalho dos estivadores, também pela escassa

literatura em relação ao tema e para contribuir com o conhecimento da Enfermagem

na saúde do trabalhador.

O objetivo deste trabalho é conhecer a percepção de risco à saúde existente

no trabalho realizado por estivadores do Porto Seco Ferroviário.

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2 O CONCEITO DE RISCO NA SAÚDE DO TRABALHADOR

Conforme La Mendola (2005), o risco é um dos temas centrais em nossa

sociedade moderna, visto que hoje as pessoas sofrem com medos e com formas e

causas distintas de ansiedade.

Quando na maioria dos países industrializados as pragas foram eliminadas

como causa de morte, quando a mortalidade infantil foi reduzida em parâmetros

muito baixos e quando a expectativa de vida aumentou, as pessoas de modo geral

passaram a sentir medo de serem vítimas de crimes ou acidentes automobilísticos,

de desenvolverem câncer ou outra doença incurável. Medo de perderem o emprego,

de terem problemas familiares (DESLANDES et al., 2002; FREITAS, 2001;

FREITAS; GOMEZ, 1997).

Podemos destacar o conceito de risco definido por La Mendola (2005, p. 59):

O risco é aqui entendido como uma interpretação do enfrentamento do perigo na

persecução dos objetivos. Em particular, é essa interpretação que a cultura

dominante na modernidade tem a pretensão de afirmar como universal.

O uso da palavra risco tornou-se cada vez mais comum ao longo dos tempos.

Ela passou a aplicar-se a uma enorme variedade de situações. Na verdade a noção

de risco adquiriu expressão durante os séculos XVI e XVII e começou por ser usada

pelos exploradores ocidentais quando partiam para as viagens que os levavam a

todas as partes do mundo (LA MENDOLA, 2005).

Segundo Gamba e Santos (2006) a palavra risco é oriunda do castelhano

riesgo, contudo não tinha a conotação de perigo potencial. Etimologicamente a

palavra risco é oriunda do latim resecum, ou o que corta, que era uma expressão

usada pelos marinheiros relacionada ao perigo oculto no mar.

Confirma La Mendola (2005) e Mendes (2002) a idéia de que a noção de risco

surgiu relacionada aos perigos que podiam comprometer as viagens marítimas.

Naquela época, o risco indicava a probabilidade de um perigo objetivo, não se tinha

o conceito ou a idéia de falha ou responsabilidade do homem, mas sim eram

atribuídos a atos divinos ou uma força maior que pudesse interromper a viagem.

Segundo Freitas, Gomez (1997), o processo de desmistificação do conceito

de risco ocorreu junto ao estudo da probabilidade, quando foi possível prever o

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acontecimento de determinado ato ou situação que poderia se transformar em

perigo. Isso ocorreu de forma sistemática principalmente relacionada à filosofia

Iluminista durante a Revolução Industrial.

Escreve Granjo (2006) que a palavra risco denota noção de espaço.

Posteriormente quando usada pela ciência econômica, passou a incluir a noção de

tempo, imprescindível para se calcular os prováveis riscos de determinado

investimento. De acordo com o mesmo autor, as probabilidades e incertezas não

podem ser separadas do conceito de risco, já que não se pode dizer que alguém

enfrenta um risco quando o resultado da ação está totalmente garantido.

Para a epidemiologia o conceito de risco tem um sentido diferente,

matemático, ou seja, a probabilidade de um evento ocorrer ou não, combinado com

a magnitude das perdas e ganhos envolvidos na ação realizada (GUILAM, 1996).

Escreve Castiel (2002) que o risco é uma entidade probabilística, fazendo

com que a previsão de ocorrência dos agravos não seja indiscutível, incontrolável,

mas sim que os riscos são na realidade, apenas possibilidades.

Para Covello, Merkofer (1993 apud BRASIL, 2002, p.7):

Classicamente, risco é conceituado como a possibilidade de perda ou dano e a probabilidade de que tal perda ou dano ocorra implica, pois, a presença de dois elementos: a possibilidade de um dano ocorrer e a probabilidade de ocorrência de um efeito adverso (COVELLO; MERKOFER, 1993 apud BRASIL, 2002, p.7).

Para Sêcco et al. (2008) o risco é semelhante ao grau de probabilidades que

aconteça determinado fato. Ele tende a variar de acordo com a percepção de cada

indivíduo, dado que os seres humanos possuem diferentes percepções acerca dos

riscos aos quais estão expostos (PERES, 2003).

Diz Mendes (2002) que o conceito de risco também assume que o risco é

algo coletivo, especificamente o risco de acidentes ou desastres naturais ou

tecnológicos. Porém, o conceito de risco adota, freqüentemente, que cada pessoa

pode ser um fator de risco e está exposta ao risco, não significando, contudo, que

cada sujeito esteja exposto ao mesmo grau de risco.

O conceito de risco possui duas dimensões, representando a probabilidade de

um efeito adverso ou dano, a incerteza da ocorrência, à distribuição no tempo e a

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magnitude do resultado desfavorável. A situação ou fator de risco é uma condição

ou conjunto de circunstâncias que podem causar um efeito adverso, tais quais:

morte, lesões, doenças ou danos à saúde e à propriedade ou ao meio ambiente

(BRASIL, 2001).

Entende Freitas (2001) que cabe ao próprio homem desenvolver meios para

interpretar, analisar e remediar estas situações de perigo, e que é o próprio homem

que é o responsável tanto por causar situações perigosas quanto por corrigi-las.

Segundo este autor, isso se deu através da evolução da sociedade nos níveis

científicos e tecnológicos, trazendo mudanças na concepção de novos riscos e

perigos.

Freitas (2001) destaca três abordagens principais sobre a percepção de risco:

a psicológica, a cultural e a sociológica. A abordagem psicológica baseia-se nas

opiniões expressas pelas pessoas quando solicitadas sobre questões relacionadas à

atividade perigosas obtidas através de instrumentos de avaliação. A abordagem

cultural baseia-se na presunção de que a reação a um determinado risco ou ao

perigo é distinta quando vista por grupos populacionais diferentes, sendo assim,

essa percepção de risco é algo individual e parte de valores culturais. A abordagem

sociológica tem como base para a percepção de risco as experiências sociais e tem

como orientadora a análise das determinações de ordem social, encontrando

origens na dialética de Marx.

Segundo Peres (2003) o próprio homem tem diferentes entendimentos com

relação ao risco a que está exposto e isso varia conforme o grau de compreensão

de cada pessoa, pois os seres humanos têm diferentes entendimentos sobre os

perigos que os rodeiam. Este mesmo autor diz que a percepção de risco pode ser

distinta até mesmo em grupos populacionais que habitam o mesmo ambiente, como

por exemplo, trabalhadores de um mesmo setor.

Vários fatores estão relacionados com a percepção de risco: o envolvimento

do ser humano em um determinado evento; o papel por ele ocupado; e os aspectos

culturais e psicossociais característico de cada indivíduo (NAVARRO; CARDOSO,

2005).

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2.1 Risco ocupacional no trabalho

O trabalho tem um significado importante para o homem, pois é por ele que o

ser humano retira seu sustento, transformando a natureza através do consumo de

capacidades físicas e mentais (MENEGASSO, 2000). Embora represente algo

benéfico na vida do ser humano, o trabalho pode trazer riscos que podem causar

prejuízo à saúde (BRITO, 2005).

A Organização Pan-americana de Saúde no Brasil define os tipos de riscos

em: biológicos, físicos, químicos, ergonômicos, psicossociais. Estes riscos estão

presentes através de exposição a substâncias químicas, agentes físicos e

mecânicos, agentes biológicos, inadequação ergonômica dos postos de trabalho ou,

ainda, em função das características da organização do trabalho (BRASIL, 2001).

Segundo Tolosa, Mendes (1991, p. 140):

Considera-se risco ocupacional como sendo uma ou mais condições no trabalho com potencial para causar danos. Esses danos podem ser entendidos como sendo lesões a pessoas, danos a equipamentos, ou estruturas ou redução da capacidade de desempenho de uma função pré-

determinada (TOLOSA; MENDES, 1991, p. 140).

Para Dejours (2007) o trabalho sempre tem uma influência sobre a saúde,

seja positiva, levando ao bem-estar, ou negativa, produzindo desgaste físico e

mental ao trabalhador. Portanto, a questão não é trabalhar ou não trabalhar, mas

saber quais os riscos e conseqüências que podem estar relacionados a esse

trabalho.

Dizem Mendes e Wünsch (2007) que a dinâmica da produção associadas

com as condições de trabalho e o modo de vida segue consistindo fontes

importantes para se entender o processo de saúde, doença e morte dos

trabalhadores. Até os danos causados no trabalho por negligência do trabalhador

podem ter diferentes causas relacionadas, tais como: más condições de vida e de

trabalho, precárias condições ambientais, alimentação e transporte deficientes,

cansaço pelas horas extras, estafa crônica, horas não dormidas, etc.

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Também as condições insalubres e os riscos existentes no local de trabalho

são fatores importantes que afetam a saúde do trabalhador. Os riscos contidos no

ambiente de trabalho tendem a ser fontes de perigo e também contribuem para

insatisfação, improdutividade, doenças e até a morte do trabalhador (DEJOURS,

2007).

Essas inadequações no ambiente de trabalho fazem com que o trabalhador

perceba em seu próprio corpo as conseqüências dos riscos ocupacionais. Portanto,

ele necessita compreender as condições de risco a que está exposto e conhecer o

que realmente lhe causa dano para então poder intervir nesta realidade (SOARES et

al., 2008).

Há, portanto, a necessidade de se tomar medidas para dar aos trabalhadores

formação e informação sobre os perigos e riscos que existem nos postos de

trabalho, já que só se pode prevenir aquilo que se conhece (MENDES, 2000).

2.2 Estudos sobre saúde do trabalhador

Os estudos realizados por acadêmicos são ferramentas muito importantes no

aprofundamento teórico e metodológico na avaliação em saúde do trabalhador, pois

em sua maioria valorizam a experiência e a informação referida pelo trabalhador

(GOMEZ; LACAZ, 2005), justificando a relevância da realização dessa pesquisa

nessa área.

Entretanto, mesmo com a evolução positiva do número de publicações,

segundo dados internacionais, estima-se que a produção brasileira represente

menos de 1% dos artigos científicos divulgados anualmente com enfoque nas

relações entre trabalho e saúde (WÜNSCH FILHO, 2004), demonstrando que ainda

há muito que se explorar nessa temática.

Também são poucos os estudos mais abrangentes de cunho epidemiológico

referentes à situação dos trabalhadores terceirizados (GOMEZ; LACAZ, 2005).

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2.3 A enfermagem e sua contribuição para a saúde do trabalhador

Segundo Haag, Schuck e Lopes (1997) a Saúde do Trabalhador implica uma

atuação multidisciplinar e interdisciplinar em que a enfermagem está inserida onde

vários profissionais especializados atuam na preservação e promoção da saúde de

uma população específica, através de medidas de alcance coletivo.

A equipe de enfermagem, segundo a Lei n. 7498, é constituída pelo

Enfermeiro do Trabalho que:

[...] presta assistência e cuidados de enfermagem a empregados, promovendo e zelando pela sua saúde contra os riscos ocupacionais, atendendo os doentes e acidentados, visando seu bem estar físico e mental, como também planeja, organiza, dirige, coordena, controla e avalia a atividade de assistência de enfermagem, nos termos da legislação reguladora do exercício profissional (BRASIL, 1986).

De acordo com Haag, Schuck e Lopes (1997) a Enfermagem atuando na

saúde do trabalhador tem uma história recente. Inicialmente foi entendida como

prestação de serviços de pronto-atendimento, o que não valorizou o exercício

profissional nesse meio. Hoje visualizamos esse espaço como um vasto campo para

o desempenho de ações de enfermagem, quer na prestação de assistência direta

aos trabalhadores e famílias, quer no desempenho de funções administrativas,

educacionais, de integração e pesquisa.

A realização de estudos acerca da relação de problemas de saúde com as

atividades de trabalho e os riscos derivados dos processos produtivos é fundamental

para a definição mais adequada de estratégias de prevenção em saúde do

trabalhador. Dentre os profissionais que podem atuar nessa área encontra-se o

enfermeiro, que deve ter capacidade de ação multidisciplinar e possuir

conhecimentos para aproveitar as ferramentas disponíveis nesta área de atuação a

fim de identificar esses agravos e minimizar os danos causados pelo trabalho

(RIBEIRO, 2007).

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3 OS PORTOS SECOS

Os Portos Secos foram criados no início da década de 1970, através do

Decreto-Lei Nº 1.455, de 7 de abril de 1976 e chamavam-se Centrais Aduaneiras de

Interior (CAI). Desde sua criação, passaram por muitas mudanças e trocas de

denominação. A principal característica que os diferenciam dos Postos Marítimos é o

fato de que eles são localizados no interior do País (BRASIL, 2003)

Portos Secos são recintos alfandegados de uso público nos quais são

executados operações de movimentação, armazenagem e despacho aduaneiro de

mercadorias e de bagagem, sob controle aduaneiro (BRASIL, 2003).

3.1 O Porto Seco Ferroviário de Uruguaiana

O Porto Seco Ferroviário de Uruguaiana – Área de Controle Integrada

(PSF/ACI) possui uma área total de 5,5 hectares localizado na BR 290, em

Uruguaiana, estado do Rio Grande do Sul-RS. Tem uma concessionária responsável

pelo serviço de transporte, movimentação e armazenagem de cargas.

Ele é considerado o maior porto seco da América Latina, sendo o único

terminal ferroviário da América Latina com as Aduanas do Brasil e Argentina

totalmente integradas, operando com cargas de importação e exportação

provenientes do Brasil, Argentina, Paraguai, Uruguai e Chile (AMÉRICA LATINA

LOGÍSTICA, 2010).

Há uma ponte internacional que liga Uruguaiana à cidade Argentina de Paso

de los Libres por onde é possível receber trens oriundos do País vizinho

(MISOCZKY, 2008). O fato de haver diferença no tamanho da bitola (distância entre

os trilhos de uma via férrea), entre a Argentina e o Brasil, impedindo que os trens

atravessem a fronteira e sigam para seus destinos dentro de cada país. Por isso é

necessário que as cargas que chegam em vagões provenientes do Brasil sejam

transbordadas para vagões argentinos e vice-versa (LACERDA, 2009).

O Porto Seco Ferroviário de Uruguaiana juntamente com a Retroárea –

terminal de carga doméstico que movimenta cargas no modal Rodoviário e

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Ferroviário - compõe o Terminal Intermodal de Uruguaiana. Este movimenta

aproximadamente 1.000.000 toneladas de cargas por ano. Do total movimentado,

60% são cargas industrializadas como containeres e materiais siderúrgicos, sendo

que o restante é de granéis, como grãos e fertilizantes sólidos (VILAÇA, 2008).

Os containeres e os materiais siderúrgicos são movimentados através de

equipamentos mecanizados como uma ponte rolante e empilhadeiras de grande

porte chamadas Top Loaders. Já os grãos são movimentados através de moegas,

enquanto as cargas ensacadas, tais como: fertilizante sólido, arroz elaborado e

feijão, tem sua movimentação executada por trabalhadores através de mão-de-obra

braçal, comumente chamadas de movimentação estivada.

3.2 A caracterização do trabalho dos estivadores no Porto Seco Ferroviário de

Uruguaiana

O trabalho de movimentação manual de cargas ou estiva era realizado

geralmente por trabalhadores avulsos sindicalizados que exerciam funções

semelhantes aos estivadores de portos navais nos moldes do Decreto Nº 3.048 - de

06 de maio de 1999 (BRASIL, 1999). Estes trabalhadores eram chamados

vulgarmente de chapas.

Segundo Carvalho (2009, p.9):

É chapa o trabalhador braçal que labora na carga e descarga de mercadorias de caminhões recebendo a paga correspondente ao final do dia ou da semana, diretamente do interessado no serviço executado ou do sindicato ou da cooperativa a que estiver vinculado, não gerando vínculo empregatício com o tomador do serviço (CARVALHO, 2009, p. 9).

Porém, nos últimos 6 anos, esse trabalho deixou de ser executado por

trabalhadores avulsos no Porto Seco Ferroviário de Uruguaiana, sendo executado

agora por trabalhadores contratados pela Permissionária do Porto Seco Ferroviário

através uma empresa terceirizada.

O trabalho dos estivadores neste Porto Seco é caracterizado pelo

carregamento de cargas ensacadas de forma manual. O trabalhador movimenta

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estas cargas usando os braços, os ombros ou sobre a cabeça. Na maioria das vezes

estes sacos pesam em torno de 50Kg, como é o caso do fertilizantes sólido. Porém,

há cargas como o arroz elaborado proveniente da Argentina que chega a pesar

60Kg cada saco.

Segundo a Norma Regulamentada nº 11, (NR-11), o carregamento manual de

sacos é “toda a atividade realizada de maneira contínua ou descontínua, essencial

ao transporte manual de sacos, na qual o peso da carga é suportado, integralmente,

por um só trabalhador, compreendendo também o levantamento e sua deposição”

(PINTO; WINDT; CÉSPEDES, 2008, p. 204).

O fato de ser um trabalho extremamente extenuante expõe estes

trabalhadores a inúmeros riscos à saúde, principalmente o risco ergonômico.

Conforme Cavalcante et al. (2005), aproximadamente 70% dos trabalhadores

brasileiros que executam tais atividades possuem algum tipo de problema lombar.

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4 METODOLOGIA

O percurso metodológico foi desenvolvido tendo em vista o objetivo de

conhecer a percepção de risco à saúde existentes no trabalho realizado por

estivadores do Porto Seco Ferroviário.

4.1Tipo de estudo

Este estudo tratou-se de uma pesquisa qualitativa, de análise temática.

4.2 Cenário do estudo

O cenário desta pesquisa foi o Porto Seco Ferroviário, localizado na BR 290,

719 Km, no Município de Uruguaiana no Estado do Rio Grande do Sul, Brasil.

4.3 Sujeitos do estudo

Foram integrantes do estudo os trabalhadores que realizavam o serviço de

estiva de cargas e descarga em vagões e caminhões do Porto Seco Ferroviário que

aceitaram participar do estudo. Em um primeiro momento foi identificada a existência

de 24 estivadores em atuação, contudo, 16 concordaram em participar deste estudo.

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4.4 Critérios de inclusão no estudo

O presente estudo obedeceu aos seguintes critérios de inclusão:

- O profissional deverá ser da categoria dos Estivadores;

- O estivador deverá aceitar participar do estudo.

4.5 Trabalho de campo

O trabalho de campo ocorreu mediante a realização de entrevistas gravadas,

a qual foi desenvolvida a partir de um formulário composto por duas partes, onde o

sujeito entrevistado informou dados referentes à caracterização do sujeito, tais

como: formação e vínculo empregatício (APÊNDICE B), e discorreu sobre a sua

atuação, (APÊNDICE C), que trata da percepção de risco no ambiente de trabalho.

O formulário foi previamente testado e a coleta dos dados foi realizada por dois

alunos do oitavo semestre do curso de Enfermagem, da Universidade Federal do

Pampa – UNIPAMPA, sob orientação do professor coordenador do estudo. A coleta

dos dados compreendeu o período de 12 a 19 de novembro de 2010. O

deslocamento até a área portuária do município de Uruguaiana ocorreu por meio do

transporte municipal.

O agendamento das entrevistas foi realizado por intermédio do Coordenador

de Operações do Porto Seco Ferroviário de Uruguaiana, que é o responsável pela

coordenação das atividades de carga e descarga. A coleta dos dados ocorreu nos

intervalos existentes entre o reposicionamento das composições ferroviárias. No

momento da entrevista foi apresentado o Termo de Consentimento Livre e

Esclarecido do participante (APÊNDICE A), onde foi explicado ao sujeito e, depois

de aceito, foi assinado, consentindo a sua participação na pesquisa. Foram

fornecidas duas cópias, uma ficou com o entrevistador e a outra com sujeito

participante.

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4.6 Instrumento de pesquisa

A obtenção dos dados ocorreu por meio de um formulário composto por duas

partes: a primeira parte teve como objetivo conhecer os sujeitos da pesquisa, a sua

formação e o seu vínculo empregatício, servindo de caracterização dos sujeitos

entrevistados. A segunda parte foi composta por nove questões abertas, onde o

sujeito entrevistado pode discorrer sobre o seu trabalho e os riscos nele existente.

Como forma de averiguação e validação do formulário de pesquisa, foi

realizado um estudo-piloto, o qual foi aplicado a três estivadores antes de iniciar a

pesquisa.

4.7 Procedimentos éticos

Visando os aspectos éticos da pesquisa e em respeito à Resolução nº 196/96

do Conselho Nacional de Saúde, o projeto foi submetido ao Comitê de Ética em

Pesquisa da Universidade Federal do Pampa – UNIPAMPA, sob o registro

Unipampa/CEP 025 2010, o qual foi aprovado pela Carta de Aprovação Nº 023

2010, em 10 de novembro de 2010.

Foi solicitada ao Gerente Fiel-Depositário que é o coordenador de Relações

Aduaneiras, responsável pela empresa concessionária junto a Receita Federal, a

autorização para o desenvolvimento do estudo com os trabalhadores estivadores.

Com os sujeitos participantes foi utilizado o Termo de Consentimento Livre e

Esclarecido, no qual lhes foi apresentado com orientações pertinentes ao estudo,

garantindo-lhes o sigilo, o anonimato e o direito de se retirar do estudo a qualquer

momento.

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4.8 Análise dos dados

A análise dos dados referentes à primeira parte do instrumento de coleta de

dados (caracterização dos sujeitos, formação e vínculo empregatício) foi realizada

por meio de estatística descritiva. A segunda parte do instrumento, contendo o as

questões de pesquisa com os dados obtidos no trabalho de campo, foi analisada de

acordo com a análise qualitativa temática (MINAYO, 2007).

Primeiramente os dados foram disponibilizados no formato de texto transcrito

e organizado no formato de arquivos de texto. Desse modo, foram destacados e

preparados os dados a fim de compor um sistema de relações a partir das

categorias trabalho e risco. As principais categorias foram visualizadas por meio do

predomínio de seus significados. Os dados relativos ao trabalho e aos riscos foram

analisados por agrupamento das categorias mais freqüentes, de acordo com as

falas.

Na apresentação dos resultados as falas dos sujeitos do estudo foram

identificadas por meio de um código referente à categoria profissional (EST – para

Estivador) e o número da entrevista correspondente no banco de dados.

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5 RESULTADOS

A análise dos dados e a discussão dos resultados serão apresentadas da

seguinte maneira, num primeiro momento, será apresentada a caracterização dos

sujeitos participantes da pesquisa, em um segundo momento seguindo a

conformação do entendimento de saúde, de risco e da relação entre riscos e

trabalho. Com olhar na dinâmica do trabalho serão vistos ainda por forma dos

exemplos de riscos reconhecidos pelos trabalhadores estivadores do Porto Seco

Ferroviário.

5.1 Caracterização dos dos sujeitos participantes da pesquisa

A “equipe da sacaria” como é conhecida a equipe encarregada de estivar as

cargas ensacadas no Porto Seco Ferroviário de Uruguaiana é composta por 26

profissionais. Destes um tem a função de encarregado pela equipe, chamado de

Líder Operacional, um conferente e 24 auxiliares de operação Junior como são

denominados os estivadores.

Deste universo de trabalhadores, 16 concordaram em ser entrevistados, 3

não aceitaram participar do estudo e 7 foram excluídos conforme os critérios de

inclusão e exclusão, dentre estes 5 porque se encontravam afastados em Auxilio

Doença e dois pelo fato de não desenvolverem a função de estivagem propriamente

dita (Líder e o Conferente).

Ao analisarmos as respostas da primeira parte do questionário foi possível

observar as seguintes informações:

Todos são do sexo masculino, com a idade variando entre 22 e 44 anos,

sendo que a média de idade de fico próxima aos 30 anos.

Quanto ao grau de instrução, 9 (56,25%) declararam possuir ensino

fundamental incompleto, (18,75%) declararam tem o ensino fundamental completo 3,

1 (6,25%) declarou ter o ensino médio incompleto e 3 (18,75%) declararam ter

concluído o ensino médio.

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O tempo médio de trabalho com estiva de cargas varia entre 3 meses a 30

anos, com tempo médio de 9 anos.

A renda familiar média é de R$ 580,00, tendo uma variação entre R$ 520,00

a R$1250,00 por família e 14 (85,5%) entrevistados declararam residir em casa

própria e quanto ao estado civil, 9 (56,25%) declaram ser casados, 6 (37,5%)

declararam ter união estável e 1 (6,25%) declarou ser solteiro.

Quanto a quantidade de filhos, a média encontrada foi de 2,35 por estivador,

variando entre 0 a 8 filhos.

5.2 O entendimento de saúde

A pesquisa qualitativa nos possibilitou compreender o entendimento de saúde

dos trabalhadores da estiva tendo como centralidade a ausência de doenças e, com

menor enfoque, os hábitos saudáveis, bem-estar e a segurança no trabalho.

Ao discorrerem sobre o entendimento de saúde como ausência de doenças,

verificou-se que eles identificam a doença por meio de sintomas patológicos, como

por exemplo: tosse, dor, lombalgia, espirro, febre e, até mesmo, referem à ausência

de doenças identificando patologias como a gripe e HIV/AIDS com vistas a

caracterizar saúde.

EST.01 - Olha, te dizer o que é saúde para nós, saúde é não ficar doente, não adoecer no tempo (...).

EST.03 - Para mim saúde assim, é meu corpo estar bem, sem estar sentindo uma dor, sem estar nem sentindo vontade de espirrar, isso aí que eu posso dizer que estou bem (...). EST.13 - (...) saúde para mim é o cara não se gripar, isso pra mim é saúde... não ter doença nenhuma, não ter AIDS nada (...).

Ao discorrerem acerca de saúde assim como a sua ausência, os

trabalhadores mencionam a figura do médico e o dentista, e com ela expressam a

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necessidade de assistência à saúde como algo importante como pode ser

observado pela fala abaixo:

EST.07 - (...) saúde bucal, eu acho assim como a EADSul fez para todos os trabalhadores... um ônibus com assistência médica tipo para os dentes... só para os que trabalham ali... ela botou durante três dias, aí quem tinha problema de saúde bucal no caso aí eles atendiam...foi um grande passo como diz os outros, uma coisa boa que poderia inovar(...).

Ainda quando discorrem sobre o entendimento da saúde pela ausência da

doença, verificou-se também que há estivadores que relacionam a saúde ao uso de

fármacos, caracterizando o uso como falta de saúde ou como forma de prevenção

de doenças e manutenção do estado saúde.

EST.05 - (...) O que eu entendo por saúde é assim: é a pessoa não ficando doente, não estar precisando de remédio toda hora, (...) não ter uma dor de cabeça, não ter uma febre, não ter uma gripe sabe... isso aí eu entendo como saúde... (...).

EST.14 - (...) eu digo para todos que o remédio o cara toma e nunca te dá nada (...).

Foi possível verificar ainda o entendimento de saúde por meio de hábitos

saudáveis de vida, referindo-se a hábitos como: os alimentares, a higiene corporal e

bucal, o sono e o repouso, ao não uso de álcool e tabaco, como meios para a

manutenção da saúde.

EST.06 - Saúde em primeiro lugar é a pessoa estar bem pra trabalhar (...) tem que estar bem, te cuidar, tem que te cuidar, tomar um remédio, uma vitamina, se alimentar bem, dormi cedo, se não o cara não agüenta, se não o cara não agüenta esse serviço.

EST.16 - Tem que sempre procurar ta bem de saúde, procurar sempre não cometer erros como muitos que bebem e fumam, eu já não tenho esse problema, fumar não fumo e as vez tomo uma cervejinha mas não é sempre, então é assim.

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EST.15 - (...) eu procuro me cuidar (...), mas eu como bastante fruta e tudo, me alimento bem, como bem pra poder já que esse trabalho é um serviço pesado o cara em primeiro lugar tem que estar bem alimentado, (...). chegar em casa bem com saúde também... trabalhar no ar livre e num serviço assim o cara tem que ta com o organismo e o corpo em dia, em forma... senão sofre não agüenta (....) eu procuro estar com o corpo em forma como se diz em dia (...).

Outro entendimento de saúde verificado nas falas dos trabalhadores

compreende-a como bem-estar. Ao discorrerem sobre o seu entendimento de

saúde, os trabalhadores a referem por expressões como: “estar bem” ou “sentir-se

bem”. A conformação do bem-estar é apresentada por eles perante as

manifestações orgânicas, relacionando, principalmente, à ausência de doença e

suas sintomatologias, ou seja, o bem-estar referido é orgânico. Nesta referência, o

bem-estar é falado a partir da citação do corpo.

EST.08 - Saúde?... Saúde é o bem estar da gente... se cuidar, se alimentar direito (...) EST.09 - Saúde acho que é bem importante... aqui principalmente o cara tem que estar sempre bem (...). EST.10- Saúde é tu estar bem... estar bem (...) tem que cuidar da saúde, cuidar da saúde mesmo... saúde em primeiro lugar.

Ainda, ao falarem sobre o bem-estar, os mesmos, discorrem acerca da

relação existente entre a saúde e o labor, sendo o bem-estar uma condição

necessária para poder executar o trabalho.

EST.12 - Saúde é bom ter saúde... a pessoa sem saúde não tem... aqui mesmo sem saúde o cara não pode puxar bolsa já não pode... é isso que eu entendo por saúde...

Ao discorrerem sobre o seu entendimento de saúde os trabalhadores

referem-na mediante a segurança no trabalho. Para tanto, a segurança constitui-se

nas falas pelos riscos existentes no ambiente de trabalho.

EST.04 - Saúde é muita coisa, sem a saúde a gente não poderia fazer nada... ali a gente não tem quase muita saúde ali, porque é um monte de risco ali, carrega a

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bolsa já é um risco já, o cara pega uma bolsa mal no outro dia já não pode vir trabalhar(....).

Deste modo, eles se referem ao trabalho que desenvolvem, como por

exemplo, o carregamento de cargas ensacadas, o suor excessivo produzido pelas

intensas atividades de trabalho, além de apresentarem em suas falas a referência

aos riscos químicos e ambientais, citados pela: exposição a poeira, a chuva, ao sol,

ao calor excessivo, odor de fertilizantes e adubos existentes no seu trabalho. Nesta

constituição de entendimento de saúde, um estivador referiu o trabalho como fonte

de prejuízo a saúde.

EST.02 - Condição melhor de vida, acho que segurança em primeiro lugar, sempre se cuidando...

EST.11 - Eu tinha falado no inicio ali... que o pessoal faz lanche ali nos vagão... isso aí a saúde até prejudica... é ruim quando fazem dentro do vagão (...)

5.3 O entendimento de riscos

O entendimento de riscos pelos trabalhadores constitui-se do perigo de

acidentes de trabalho. Deste modo, ao discorrerem acerca do entendimento de

riscos eles relacionaram diretamente ao ambiente e a execução do trabalho.

O entendimento de risco constituído pelo perigo do acidentes de trabalho é

referido pelos trabalhadores quando estes identificam o risco de acidente durante a

execução de suas atividades. Nesta referência eles citam os objetos e instrumentos

de trabalho como elementos que podem instituir o perigo no trabalho. Assim,

referem situações como “a necessidade de entrar embaixo do vagão” gerando o

risco de esmagamento, a possibilidade de “deslizar” de instrumentos de trabalho,

produzindo lesões. Assim, ao mesmo tempo em que eles compõem o seu

entendimento de risco a partir do perigo dos acidentes de trabalho, eles também

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evidenciam a exposição que sofrem no ambiente de trabalho. Como as falas

elucidam:

EST.01 - Risco para mim é trabalhar num local adequado, com todos os equipamentos que a gente ganha, nem sempre tem todos os equipamentos, sempre a gente pode trabalha como a gente quer, as vez dá as vez não dá, mas é como eu digo, a gente precisa daquilo dali, se não fizer fica ruim, então a gente tem que fazer, não é obrigado mas a gente tem que fazer porque a gente precisa, a gente trabalha naquele local, sempre a gente arruma um jeitinho pra fazer. EST.02 – (...) às vezes a gente afrouxando uma balaca em baixo ali e o perigo de (o vagão) correr e cruzar por cima, daí não tem tempo de sair dali, ou, a prancha, a gente cai da prancha de transbordo que fica ruim de cruzar. EST.03 – (o risco) Existe aqui dentro aqui cara, dentro do meu serviço assim que eu faço... Tu ir passando sobre uma prancha e torcer um pé ou pode caí lá em baixo. EST.04 - Tem uns vagões que ficam ali posicionado, carregar a bolsa de um vagão para o outro e quando termina a gente vai por baixo ali do vagão pra frouxa as balaca do vagão, ali já é um risco, um dia um ali se bateu a boca e quebro o dente, já é um risco. EST.07 - Risco é tu pular um vagão, uma composição ali, passar por baixo de um engate isso é risco.

Ao discorrerem acerca do perigo dos instrumentos e objetos de trabalho, eles

ainda identificam o próprio vagão como um fator que os expõem a riscos,

discriminando possíveis defeitos na estrutura que os compõe, citando que este pode

vir “avariado”, ou seja, com as portas e escotilhas com pedaços de madeiras

quebrados ou objetos pontiagudos:

EST.11 - O risco é uma situação ali que tu vê que tu tem base, tu não vai te machucar fazendo uma determinada coisa ali... com a linha ali a gente corre bastante risco... o vagão sempre tem ponta de ferro, ponta de madeira ali, as vezes se trabalha a noite com pouca iluminação...

Como instrumento de trabalho, a prancha é mencionada com a possibilidade

de produzir acidentes, para isso os trabalhadores citam a possibilidade de “cair” de

cima dela.

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Na abstração dos objetos de trabalho, verificou-se que os estivadores falam

acerca das sacas de arroz ou de fertilizante, como objetos que podem gerar

prejuízos a sua saúde. Assim, citam as “lesões na coluna cervical” ou “torções”.

A prancha é descrita sob os diferentes aspectos, compreendendo o

estabelecimento do perigo e do risco de acidentes de trabalho pelo material com o

qual é feita, como citado: de “madeira” que pode quebrar ou a de “metal” que se

torna escorregadia. Nesta identificação deste instrumento de trabalho, os

estivadores identificam as variações climáticas como fatores que influenciam no seu

cotidiano de trabalho, estabelecendo novas formas de perigo e de risco, como a

chuva ou o calor e, mesmo o trabalho noturno. Como visto nos exemplos a seguir:

EST.08 - ... aquela prancha tem dias de chuva que pode molhar e resvala aquilo é um risco até de cair né... aquelas pilhas que a gente faz na estiva no meio da linha como base na largura certa, a gente bota uma bolsa fofa ali e tem aquele risco... fica o quanto quanto quase caindo... começa caminhar e começa a baixar... aí tem que ir lá e parar tudo o serviço para nós arrumar de novo, para seguir trabalhando, aquilo ali é um risco ...

EST.15 - ... tudo isso aí nós temos que cuidar, olhar tudo, se a prancha não está molhada também para não resvalar, que tudo isso causa, pode causar um acidente....

O entendimento dos trabalhadores acerca do risco existentes no local de

trabalho possibilitou a abstração dos fatores de risco que podem causar um

acidente. Desse modo, abstraíram-se os riscos físicos, os biológicos e os

ergonômicos. Para isso, os trabalhadores referiram o “peso das sacas” como

constituinte de riscos a saúde. Nesta composição de riscos, os trabalhadores ainda

citam, a ventilação dentro dos vagões e a poeira dos fertilizantes, bem como o odor

dos mesmos. Como visto na fala a seguir:

EST.02 - O adubo, às vezes da uma intoxicação na gente ali... EST.12 - Risco aqui é o cheiro do adubo é o cheiro ... é o pó, as vez vem areia aí é um risco pro cara...

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EST.15 – (...) outra coisa risco de acidente que nós temos também tem, como se diz, o (risco) físico, tem o (risco) biológico, tem o mais para nós aqui o (risco) ergonômico aquele que é o risco do peso, que também eu falo pros guris que agora enquanto tão novo eles se baseiam e carregam as vez de 2 a 3 bolsas isso aí não pode porque com o tempo a coluna do cara não agüenta ou tu faz isso num dia e no outro dia tu não tem condição de ir trabalhar, nem condição de levantar da cama as vezes, .... porque agora com o frio o cara trabalha nesses vagão com só uma porta aberta ... a poeirama e o pó fica tudo acumulado, não saí para fora ..., anda para lá e pra cá o vento e a poeira fica ali, dizem que não faz mal essa poeira do adubo, mas não acredito isso faz mal sim com o tempo, ... pode não faze na hora, mas com o tempo faz... é um monte de gente junto ali também, se um ta gripado, se um não se cuida pode passar para o outro também, tem tudo isso também(...)

O perigo presente no carregamento manual de cargas é relatado pelos

trabalhadores pela rapidez que o trabalho exige na sua execução, o que pode gerar

prejuízos a saúde ocupacional, referidos pelo estresse e pela identificação de dores

e dificuldades de movimentação. Como verificado nas falas a seguir:

EST.02 –(...) mesmo dá uma pressão ali e vai acelerando, dá uma estafa. EST.04 (...) carrega a bolsa mesmo que aconteceu também já é um risco, muito tempo na bolsa... (trabalho na) sacaria com 30 anos já não vai pode quase andar.

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6 DISCUSSÃO E ANÁLISE

Com base nos resultados anteriormente descritos iniciamos a apresentação

da discussão reflexiva sobre os achados encontrados mediante as unidades

temáticas que discorrem sobre o conceito de saúde e risco relacionados ao trabalho

dos estivadores do Porto Seco Ferroviário de Uruguaiana.

6.1 A concepção de saúde

O entendimento sobre saúde surgiu nas falas de maneira recorrente com o

sentido de ausência de doença ou de sintomas. Essa forma de perceber a saúde

como ausência da doença é freqüentemente encontrada no senso comum. Contudo,

essa concepção não está restrita somente ao conhecimento popular, uma vez que

dentro do campo da medicina a visão biomédica está centrada nesta idéia de que a

saúde é uma questão puramente biológica, física e corporal (ALMEIDA FILHO,

2000).

Todavia, a Organização Mundial da Saúde (OMS) definiu a saúde como: “o

estado de completo bem-estar físico, mental e social e não simplesmente a ausência

de doença ou enfermidade”, ampliando o entendimento de que a saúde é conjunto

de fatores que forma um todo, sendo incluídos novos tipos de bem-estar garantindo

que isso nada tem a ver com doença (ALMEIDA FILHO, 2000, p. 5).

Porém, sob pena de reduzir à total utopia a definição da OMS sobre a saúde,

torna-se necessário o conceito da ausência da doença como parte essencial da

definição de saúde. Portanto quando se fala que a saúde é a ausência da doença

não está reduzindo a apenas isso, mas a um conjunto de fatores que conduziram a

este estado (SEGRE; FERRAZ, 1997; SÁ JUNIOR, 2004; CAMARGO JUNIOR,

2007).

Apesar da visão reducionista em relação à saúde encontrada nas falas de

alguns estivadores, em outras falas emergiram, além desta percepção saúde igual a

ausência de doença, um conjunto de várias outras afirmações colocadas pelos

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trabalhadores significando que os entrevistados não ligaram a saúde somente como

negação da doença ou ainda estar manifestando sintomas da mesma, mas também

afirmam a existência de fatores que colaboram para o estado de saúde ou de

doença (CAMARGO JUNIOR, 2007).

Nessa linha de idéias em que a saúde assume outras formas de concepção

está o uso de medicamentos ou de acesso a assistência médica como uma maneira

de ter saúde e/ou de estar saudável

Segundo Lefevre (1987) a idéia de medicamento remete a uma imagem de

saúde:

Sendo assim, é perfeitamente possível ver-se o medicamento como um signo cujo significado vai bem mais além da simples idéia, conceito imagem mental de "saúde", implicando também, e sobretudo, a própria realização ou obtenção da saúde (LEFEVRE, 1987, P. 64)

Em um estudo desenvolvido Leite, Vieira e Veber, 2008, é relatado o

crescente aumento no uso de medicação como forma de prevenção de doenças.

Desta forma, a idéia de medicamento como imagem de saúde também tem

contribuindo para a automedicação nestes últimos tempos.

Talvez essa menção de alguns entrevistados aos medicamentos e assistência

médica como forma de caracterizar a busca pela saúde deve-se a expressão da

intensa medicalização que vivencia-se nos dias atuais (CAMARGO JUNIOR, 2007).

Por outro lado, um dos estivadores relata de forma negativa o uso da

medicação, como se o uso contínuo de determinado fármaco demonstra ausência

de saúde, portanto, demonstra sinal de doença. Contudo não há uma contraposição

nas duas idéias, já que uma justifica a outra.

No que tange a categoria hábitos saudáveis, a literatura mostra que os riscos

a saúde podem advir do consumo inadequado de alimentos causando desnutrição

quando consumidos em quantidade insuficiente ou quando ingeridos em excesso

podem levar a obesidade. Mas recentemente estudos têm apontado que uma dieta

inadequada pode levar ao aparecimento de doenças crônicas relacionadas ao

aumento dos níveis plasmáticos de glicose e colesterol causando um maior risco

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para o desenvolvimento de doenças cardiovasculares (BARROS, 1999; MONTEIRO;

MONDINI; COSTA, 2000, FONSECA, et al., 2008).

Conforme Merino (1996), podemos classificar o trabalho executado pelos

estivadores como “trabalho pesado” com uma taxa de metabolismo entre 440 a 550

Kcal/h. Portanto existe a necessidade de que estes trabalhadores tenham uma dieta

adequada para atender as exigências energéticas para o desenvolvimento desta

atividade laboral, caso o contrário, os mesmos poderão estar em risco à saúde

(BRASIL, 1994).

Além disso, o trabalho executado em ambiente aberto, ao sol e ao calor pode

expor o trabalhador à perda excessiva de líquido e eletrólitos através da sudorese,

podendo ocasionar câimbras e desidratação (SALIBA, 2008).

Segundo Guia Alimentar para a População Brasileira do Ministério da Saúde,

a água é componente fundamental como nutriente já que é um indispensável

componente nas reações bioquímicas de todo o corpo e também carreador de

potássio e o sódio e sua falta podem acarretar a desidratação e danos aos rins,

sendo recomendado um consumo mínimo 2 litros por dia (BRASIL, 2005).

No estudo de Fonseca et. al. (2008) a associação entre a percepção de saúde

e o sono revela que os sujeitos que declaram dormir entre 7 e 8 horas de sono diário

tem uma melhor percepção de saúde. Por outro lado, a maioria que declararam de

forma negativa a relação entre o sono e percepção de saúde eram homens.

Em algumas respostas sobre a percepção sobre saúde como bons hábitos de

vida surgiu o uso do álcool como agente nocivo a saúde e como um risco ativo.

Em um estudo sobre a percepção de risco dos estivadores de um porto

marítimo no nordeste do Brasil, observou-se que a maioria dos participantes

declararam que bebiam (81,7%), e destes apenas 6% declararam que bebiam mais

de duas vezes por semana (CAVALCANTE et al., 2005).

Segundo o Ministério da Saúde (2004), o consumo excessivo de bebidas

alcoólicas pode trazer malefícios à saúde, comprometendo órgãos e sistemas vitais

o corpo, causando entre outras doenças a insuficiência cardiorrespiratória,

hipertensão, cirrose hepática, doenças do sistema digestório e problemas do

sistema nervoso (BRASIL, 2004).

Também pode ser causa de transtornos familiares, absenteísmo, acidentes de

trabalho e aposentadorias antecipadas por invalidez (OLIVEIRA, 2005, FONSECA,

2007). Contudo, em um estudo conduzido por Fonseca (2008), revelou que a

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maioria dos homens que participaram daquele estudo não fazia associação entre a

bebida alcoólica e a percepção de saúde. Além disso, em outro estudo realizado por

Fonseca (2007) com trabalhadores conclui que de modo geral eles tinham pouco

conhecimento sobre os riscos do uso abusivo de álcool.

O tabagismo também é associado pelos estivadores deste porto como um

hábito de vida que oferece risco a saúde. O fumo é considerado a mais importante

causa da perda de saúde e está associado ao desenvolvimento de doenças

respiratórias, cardiovasculares e neoplasias (BRASIL, 2004).

Segundo Organização Pan-Americana de Saúde (OPAS), estima-se que no

Brasil ocorrem cerca de 200.000 mortes/ano em decorrência do tabagismo. A

prevalência é maior entre os homens do que as mulheres em todas as capitais do

País. Na capital do Rio Grande do Sul encontram-se a maior proporção de fumantes,

tanto no sexo masculino quanto no feminino (BRASIL, 2004).

Portanto verificou-se que na percepção destes trabalhadores a saúde e a

doença têm relação direta a certas posturas e hábitos adotados por eles, tais como o

sono e repouso, a alimentação, o tabagismo e o consumo de álcool que resultam em

efeitos deletérios à sua saúde, bem como aumentam os riscos de acidentes.

A categoria bem-estar pode significar não se sentir mal, sentir-se bem ou ter

satisfeitas suas necessidades, estar em equilíbrio (SÁ JUNIOR, 2000). Os

estivadores também relacionam a saúde como bem-estar ou sentir-se bem, ou estar

bem com o corpo denotando a idéia de saúde como bom funcionamento fisiológico.

Ao discutir o conceito de saúde a partir de uma visão dinâmica, Deliberato

(2002) apud Santos-Filho (2007) escreveu:

Saúde é um estado relativo de equilíbrio da forma e função do organismo, que resulta de seu ajustamento dinâmico satisfatório às forças que tendem a perturbá-lo.(Deliberato, 2002 apud SANTOS-FILHO, 2007, p. 24)

Foi encontrado na afirmação dos estivadores pesquisados que saúde é o

“bem-estar”, portanto há uma relação com a idéia exposta acima, principalmente no

que se refere ao aspecto do equilíbrio indispensável para o funcionamento

apropriado do organismo. E essa relação da saúde como bem-estar pode ter tido a

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finalidade de referir que não possuem dificuldades, enfermidades e limitações para

desenvolver o trabalho.

A categoria segurança aparece relacionada à prevenção, isto é a tomada de

ações para evitar que ocorra a doença, seja no ambiente laboral ou fora dele.

Segundo Ferreira (1990), prevenir tem o significado de "preparar; chegar antes de;

dispor de maneira que evite (dano, mal); impedir que se realize". Contudo, essa

categoria surgiu relacionada aos riscos existentes no ambiente de trabalho e o

prejuízo que eles podem acarretar na visão dos estivadores.

No estudo desenvolvido por Cavalcante et al, (2005), foram relacionados que

os principais problemas de saúde inerentes à profissão de estivador são, entre

outros, os distúrbios osteoarticulares e metabólicos como o diabetes e hipertensão

arterial. Também apareceram os problemas de pele como bolhas, queimaduras e

manchas, e uso do álcool e de entorpecentes.

6.2 A percepção de risco

Percebeu-se que a maior parte dos estivadores que trabalham no Porto Seco

Ferroviário identificarem a existência de riscos no seu local de trabalho evidenciando

que o ambiente de trabalho portuário é percebido por eles como uma área de risco,

dado que existe a possibilidade constante de acidentes (SOARES, et al. 2008).

Os resultados apresentados na categoria acidentes de trabalho convergem

com o estudo realizado por Silva et. al. (1996), onde foram avaliados 154 acidentes

de trabalho ocorrido com trabalhadores autônomos do porto da cidade de Rio

Grande-RS no período de 1986 a 1995, os autores concluíram que a maioria dos

acidentes ocorreram pelas más condições de trabalho, pois o próprio corpo do

trabalhador é sua ferramenta de trabalho. Também no caso dos estivadores do

Porto Seco Ferroviário de Uruguaiana, a principal ferramenta de trabalho no

carregamento de sacos são os seus próprios corpos.

O acidente típico de trabalho definido por Cezar-Vaz et al, (2009) é

identificado nas falas dos estivadores estudados. Essa percepção do risco do

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acidente típico de trabalho apresentou-se quando foram relatadas as características

do trabalho realizado, ao perigo do manuseio das sacas, ao perigo da queda da

prancha e o risco de intoxicação pelo odor do fertilizante químico.

A percepção do risco do acidente na prancha é muito citada por estes

trabalhadores, uma vez que durante o transporte das sacas eles necessitam utilizar

esse instrumento de trabalho para deslocarem-se de um vagão para outro em uma

altura superior a um metro de altura.

Além disso, dependendo de onde foram posicionadas as composições

ferroviárias, a distância entre vagão doador da carga e o vagão recebedor pode ser

maior que o comprimento das pranchas, obrigando a estes trabalhadores usarem de

um artifício chamado por eles de burro.

Esta expressão não representa nada mais do que uma pilha de sacas que

são colocadas para dar suporte a um dos lados da prancha, auxiliando no

transbordo do produto, sendo que estes também são percebidos como um risco na

execução do trabalho.

O burro é uma condição insegura reconhecida por estes trabalhadores, porém

nota-se que mesmo reconhecendo o “perigo” ou a condição de risco, os mesmos se

expõe a elas, tornando essa ação um “ato inseguro” (OLIVEIRA, 2007).

Segundo Dejours (2007), muitas vezes os trabalhadores possuem uma

resistência para o cumprimento de inúmeras normas que visam sua segurança. E

essa resistência se deve ao fato que o trabalhador sabe que as normatizações não

lhe asseguram a prevenção de acidentes.

Esse conhecimento vem da experiência adquirida por ele, e que o conduz a

princípios próprios que regulam o agir, inclusive no manejo dos riscos e precauções

contra acidentes (DEJOURS, 2007).

A NR-11 que normatiza do transporte, movimentação, armazenagem e

manuseio de materiais, em especial a movimentação de sacarias, traz as seguintes

determinação com respeito a prancha:

“11.2.3. É vedado o transporte manual de sacos, através de pranchas, sobre vãos superiores a 1,00 m (um metro) ou mais de extensão. 11.2.3.1. As pranchas de que trata o item 11.2.3. deverão ter largura mínima de 0,50 m. (PINTO; WINDT; CÉSPEDES, 2008, p. 204.)

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Ainda sobre o a prancha e percepção de risco, foi identificada a possibilidade

de queda devido a mesma encontrar-se molhada nos dias de chuva. Segundo a NR-

11 deve-se evitar o transporte manual de sacas em pisos escorregadios ou

molhados (PINTO; WINDT; CÉSPEDES, 2008).

A possibilidade de ocorrer um acidente durante a liberação do freio do vagão

de forma manual é vista com potencial causador de acidentes. O fato de estes

trabalhadores necessitarem muitas vezes usar este artifício para dar prosseguimento

ao trabalho sem aguardar a chegada da locomotiva para realizar a manobra os

expõe a grande risco de acidente pelo ato inseguro (OLIVEIRA, 2007).

Além disso, o próprio vagão é percebido como um local de risco devido a

exposição ao risco mecânico podendo causar quedas, contusões e esmagamento

de membros como também ao risco químico onde foi citado o pó como fator de

risco. Ademais disso, segundo a NR-09 a poeira é um agente químico que pode

trazer danos a saúde do trabalhador (PINTO; WINDT; CÉSPEDES, 2008).

Assim como a maioria dos trabalhadores deste Porto Seco, a categoria dos

estivadores desenvolve suas atividades expostos a intempéries, expondo estes

trabalhadores as mais diversas condições climáticas, tais como as chuvas, os

ventos, a exposição ao sol, as oscilações de temperatura ao longo do dia,

assemelhando-se aos riscos enfrentados pelos trabalhadores avulsos de portos

marítimos (SOARES et al., 2008).

O maior perigo é a exposição ao calor somada com o tipo de trabalho braçal

executado por estes trabalhadores que pode desencadear uma sobrecarga térmica.

A Associação Brasileira de Higienistas Ocupacionais (2006) diz que a

sobrecarga térmica é a quantidade de carga de calor a que o trabalhador pode estar

exposto, resultante da combinação das contribuições da taxa metabólica relacionada

ao trabalho exercido e dos fatores ambientais e das vestimentas exigidas para o

trabalho.

Além da exposição ambiental a agentes físicos, químicos e biológicos, os

perigos desta ocupação englobam ainda os fatores ergonômicos, com referência às

movimentações repetitivas e às dificuldades do trabalho de estiva, tal como o ato

contínuo de vergar o corpo para apanhar as sacas ou carregar peso excessivo junto

ao corpo.

O risco ergonômico devido ao carregamento manual de carga é reconhecido

por alguns dos trabalhadores, sendo que esse resultado é semelhante com outros

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estudos que apontam esse manuseio como causa freqüente de problemas de

músculos, articulações e coluna vertebral entre estivadores (MERINO, 1996,

CAVALCANTE et al., 2005, SOARES et al., 2008).

Em um estudo desenvolvido por Losso, et. al., (2005) alertam que a execução

da descarga inadequada de sacas de 50Kg constitui um risco a coluna vertebral,

bem como aos músculos dos braços e ombros.

No âmbito nacional, não existe uma verdadeira consciência dos sérios

problemas que acarreta para a saúde dos trabalhadores o manuseio de cargas.

Segundo pesquisas, no Brasil, a principal dor sentida pela população é a dor nas

costas. No âmbito mundial, em 1995, 80% da população, segundo Oliveira (1995),

apresentaram dor nas costas.

No Brasil a atuação do Governo, empregadores e empregados na prevenção

de danos a saúde e a segurança do trabalho são regidas por Normas

Regulamentadas (NR). Estas NR foram criadas através da Portaria nº. 3.214, de 08

de junho de 1978 que regulamentou a Lei nº. 6.514, de 22 de dezembro de 1977,

que alterou o Capítulo V do Título II da Consolidação das Leis do Trabalho (CLT).

Dentre estas NR, podemos destacar a NR-11, que regulamenta o transporte,

movimentação, armazenagem e manuseio de materiais e a NR-17 que trata da

ergonomia no trabalho (PINTO; WINDT; CÉSPEDES, 2008).

Assim como na grande maioria dos países, no Brasil existem leis que limitam

o peso máximo que um trabalhador pode transportar individualmente. A Lei Nº

6.514, de 22 de dezembro de 1977 no seu artigo 198, define o peso máximo que o

trabalhador brasileiro pode remover individualmente é de 60 kg (sessenta

quilogramas), observadas as disposições especiais relativas ao trabalho do menor e

da mulher (BRASIL, 1977).

Quando observamos na fala de um dos estivadores a palavra “pressão”, quer

dizer que recebem ordens para acelerar os carregamentos é visto também como um

risco. Segundo Wünsch Filho, (1999), existe um aumento nos riscos de acidentes

devido ao acréscimo da carga horária de trabalho bem como do aumento

intensidade de trabalho.

Quando os resultados se apresentam centrados na categoria perigo no

ambiente de trabalho, os estivadores encaram as ameaças existentes no seu

trabalho, reconhecendo a sua presença, mas reforçam a necessidade da realização

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do seu serviço, pois na fala de um dos estivadores, este reconhece que nem sempre

eles possuem a condição segura para trabalhar.

Isto quer dizer que consideram a exposição a perigos uma constante no seu

trabalho, mas devido a condições sócio-econômicas desfavoráveis, falta de

instrução, entre outros fatores condicionantes, eles realizam por necessidade este

serviço perigoso, pois a maioria dos estivadores tem o seu trabalho como única

fonte de renda familiar.

Nas falas dos estivadores percebeu-se que eles reconhecem os seus

instrumentos de trabalho como a prancha, e também o ambiente de trabalho como o

vagão como perigos potenciais, e estes são aumentados quando se relacionam com

a sua forma de uso como, por exemplo, quando a prancha é colocada sobre burros,

ou quando o trabalho é realizado durante a noite dentro dos vagões.

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7 CONSIDERAÇÕES FINAIS

O objetivo deste trabalho foi conhecer a percepção de risco à saúde

existentes no trabalho realizado por estivadores no Porto Seco Ferroviário, no

Município de Uruguaiana, Estado do Rio Grande do Sul, Brasil.

A partir deste considera-se que no entendimento da maioria dos

trabalhadores a saúde é vista como a ausência de doenças e sintomas, sendo vista

a partir das considerações clinico-patológicas. Nesta mesma linha de entendimento,

o uso de medicamentos foi relacionado como forma de garantir a manutenção da

saúde.

Também se verificou que na concepção destes trabalhadores, a saúde está

relacionada, de forma positiva, aos hábitos saudáveis, tais como: os alimentares, a

higiene corporal e bucal, o sono e o repouso, porém, o álcool e o fumo foram

apontados como fatores negativos a saúde.

A saúde também foi percebida como bem-estar, emergindo através do estado

de bem estar, evidenciando que saúde está relacionada ao bom funcionamento

orgânico-fisiológico do corpo.

A segurança surge relacionada à saúde como fator de prevenção aos riscos

contidos na atividade de carregamento manual de sacas, no ambiente de trabalho e

as condições de trabalho.

Com relação à percepção de risco ficou evidenciado que os estivadores

entendem e identificam os riscos presentes em seu ambiente de trabalho por meio

dos instrumentos de trabalho, pela execução de movimentação manual de cargas, e

a relação destes com o perigo de sofrer um acidente de trabalho ou de adquirir

doenças ocupacionais (distúrbios osteoarticulares) (MERINO, 1996).

Portanto, conclui-se que a percepção de risco não está centrada na noção

das normas e técnicas, mas sim de uma visão subjetiva que surge no próprio

ambiente de trabalho de acordo com a realidade e o contexto que este trabalhador

está inserido.

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APÊNDICE A - Termo de Consentimento Livre e Esclarecido

Universidade Federal do Pampa

Campus Uruguaiana Curso de Enfermagem

TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO

Prezado (a) Participante

Solicitamos a sua colaboração para participar do estudo intitulado: PERCEPÇÃO DE RISCO DOS ESTIVADORES

DO PORTO SECO FERROVIÁRIO DE URUGUAIANA, RIO GRANDE DO SUL, BRASIL, que está sendo desenvolvido pelos

acadêmicos de enfermagem Charles Jopar Hedlund e Luiz Antonio Fernandes Filho e coordenado pelo Professor Valdecir

Zavarese da Costa, pertencente a Universidade Federal do Pampa.

O objetivo geral deste estudo é conhecer a percepção de risco à saúde existentes no trabalho realizado por

estivadores do Porto Seco Ferroviário. Para participar deste estudo, faremos uma coleta de dados mediante a realização de

entrevista, a qual será gravada e transcrita para posterior análise.

As entrevistas serão descritas, garantindo o anonimato dos participantes e o caráter confidencial das informações

obtidas. Visando o seu anonimato, as entrevistas serão identificadas por um código. Garante-se que não haverá nenhuma

repercussão ou implicação legal para tu, participante do estudo.

A pesquisa tem finalidade acadêmica e destina-se a explorar a relação estabelecida entre trabalho exercido pelo

trabalhador estivador e os risco a que eles estão expostos.

Asseguramos o compromisso com os princípios éticos no desenvolvimento do trabalho, bem como nos seus produtos

de divulgação, reiteramos o respeito à privacidade e o anonimato de cada participante. Sobre a garantia de receber respostas

ou esclarecimentos a qualquer pergunta ou dúvida acerca riscos, benefícios e demais assuntos relacionados à pesquisa.

CONSENTIMENTO:

Declaro ter sido informado de forma clara e detalhada sobre os objetivos, a justificativa, e o desenvolvimento da

entrevista, sendo garantido: o esclarecimento de dúvidas, a liberdade de deixar de participar do estudo sem prejuízos, o

anonimato, os preceitos éticos e legais (antes, durante e após o desenvolvimento do estudo) e do uso de gravador.

Desta forma, concordo em participar deste estudo.

Assinatura do pesquisador em loco:______________________________________

Assinatura do participante: ____________________________________________

Data: ___/___/___

Assinatura do coordenador do estudo:_____________________________________

Rua Tiradentes, 2617/408 Centro Uruguaiana/RS CEP 97510-501 E-mail: [email protected]

UNIPAMPA - Campus Uruguaiana

Endereço: BR 472 - Km 592 - Caixa Postal 118 - Uruguaiana - RS - CEP: 97500-970

Fone: (55) 3413-4321 / (55) 3414-1484

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APÊNDICE B – Formulário 1ª parte

Universidade Federal do Pampa

Campus Uruguaiana Curso de Enfermagem

FORMULÁRIO 1ª parte

Caracterização do sujeito

a) Sexo: ( ) Feminino ( ) Masculino

b) Idade (em anos completos): ________________

c) Estado civil: ( ) Casado ( ) Solteiro

( ) Divorciado ( ) Viúvo ( ) Outro. Qual ____________

d) Tem filhos: ( ) Sim ( ) Não

Se sim, quantos ____________

e) Escolaridade: ( ) Analfabeto

( ) Ensino fundamental incompleto

( ) Ensino Fundamental Completo

( ) Ensino médio incompleto

( ) Ensino médio completo

( ) Ensino superior incompleto

( ) Ensino superior completo

f) Profissão: ( ) Estivador ( ) Outra. Qual _____________

g) Quanto tempo está nesse cargo (em meses):___________________________________

h) Qual a renda? R$ _______________________________________________________

i) Habitação: ( ) Casa própria ( ) Casa alugada

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APÊNDICE C - Formulário 2ª parte

Universidade Federal do Pampa

Campus Uruguaiana Curso de Enfermagem

2ª parte

FORMULÁRIO

EM RELAÇÃO AO TEU TRABALHO

1) Por gentileza, discorra sobre as atividades que você desenvolve no teu trabalho? - O que

você faz?

2) Com quem você desenvolve as suas atividades?

3) Como você desenvolve as suas atividades?

4) Onde você desenvolve ou aplica o seu trabalho?

5) Porque você desenvolve as suas atividades?

6) O que você entende por saúde?

7) O que você entende por riscos?

8) Qual a relação existente entre riscos e o seu trabalho?

9) Exemplifique uma situação de risco vivenciada no teu trabalho?

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ANEXO A –Carta de Aprovação do Comitê de Ética em Pesquisa

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