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Charles Jopar Hedlund
Luiz Antonio Fernandes Filho
PERCEPÇÃO DE RISCO DOS ESTIVADORES DO
PORTO SECO FERROVIÁRIO DE URUGUAIANA, RIO
GRANDE DO SUL, BRASIL
Trabalho de Conclusão de Curso
Universidade
Federal do
Pampa
Uruguaiana
2010
1
CHARLES JOPAR HEDLUND LUIZ ANTONIO FERNANDES FILHO
PERCEPÇÃO DE RISCO DOS ESTIVADORES DO PORTO SECO FERROVIÁRIO DE URUGUAIANA, RIO GRANDE DO SUL, BRASIL
Trabalho de Conclusão de Curso apresentado a banca examinadora, como requisito parcial para a obtenção do título de Graduação em Enfermagem na Universidade Federal do Pampa.
Orientador: Prof. Ddo. Valdecir Zavarese
da Costa
URUGUAIANA 2010
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CHARLES JOPAR HEDLUND LUIZ ANTONIO FERNANDES FILHO
PERCEPÇÃO DE RISCO DOS ESTIVADORES DO PORTO SECO FERROVIÁRIO DE URUGUAIANA, RIO GRANDE DO SUL, BRASIL
Trabalho de Conclusão de Curso apresentado a banca examinadora, como requisito parcial para a obtenção do título de Graduação em Enfermagem na Universidade Federal do Pampa.
Área de concentração: Enfermagem
Trabalho apresentado e aprovado em: 16 de dezembro de 2010.
Banca examinadora:
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AGRADECIMENTO
Nossos agradecimentos a todos e especial a Deus pela força que nos concedeu.
Aos nossos familiares que nos apoiaram e demonstraram seu carinho em tantos
momentos.
A nosso orientador, Prof. Valdecir Zavarese da Costa, que acreditou na proposta de
nosso trabalho, conduziu nossa orientação, e pela sua compreensão, paciência,
estímulo e incentivo.
Aos Coordenadores do Porto Seco Ferroviário de Uruguaiana, que disponibilizaram
o campo para realização deste trabalho.
Nosso especial agradecimento aos estivadores que se dispuseram a participar deste
estudo.
Às colegas que nos auxiliaram durante o desenvolver deste trabalho
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RESUMO
O presente trabalho teve como objetivo conhecer a percepção de risco à saúde existentes no trabalho realizado por estivadores no Porto Seco Ferroviário, no Município de Uruguaiana, Estado do Rio Grande do Sul, Brasil. Este estudo tratou-se de uma pesquisa qualitativa, de análise temática. Foram integrantes do estudo 16 trabalhadores que realizam o serviço de estiva de cargas em vagões e caminhões neste Porto que aceitaram participar do estudo. A obtenção dos dados ocorreu em duas partes: a primeira servindo de caracterização dos sujeitos entrevistados, formação e vínculo empregatício e a segunda onde o sujeito entrevistado discorreu sobre o seu trabalho e os riscos nele existente. O projeto foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa na Área da Saúde da Universidade Federal do Pampa – UNIPAMPA. A pesquisa nos possibilitou evidenciar que o entendimento da maioria dos trabalhadores entrevistados, a saúde é vista como a ausência de doenças e sintomas, sendo vista a partir das considerações clinico - patológicas. Com relação à percepção de risco, ficou evidenciado que os estivadores entendem e identificam os riscos presentes em seu ambiente de trabalho (vagão), nos instrumentos de trabalho (prancha), na execução da tarefa de movimentação manual de cargas, e a relação destes com o perigo de sofrer um acidente de trabalho ou de adquirir doenças ocupacionais.
Palavras-chave: Estivador. Risco. Saúde do Trabalhador. Enfermagem
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RESUMEN
Este estudio tuvo como objetivo evaluar la percepción de riesgo para la salud en el trabajo ya realizado por los estibadores en el Porto Seco Ferroviario, em la ciudad de Uruguaiana, Rio Grande do Sul, Brasil. Este estudio cualitativo se trataba de un análisis temáticas. Los miembros del estudio fueron 16 empleados que sirven en la estiba de la carga en vagones y camiones en el Puerto de acuerdo en participar en el estudio. Los datos fueron recolectados en dos partes: la primera caracterización porción de los entrevistados, la formación y el empleo y el segundo en que el sujeto entrevistado habló sobre su trabajo y los riesgos en él. El proyecto fue aprobado por el Comitê de Ética em Pesquisa na Área da Saúde da Universidade Federal do Pampa - UNIPAMPA. El estudio nos permitió demostrar que la comprensión de la mayoría de los trabajadores entrevistados, la salud es visto como la ausencia de la enfermedad y los síntomas se desprende de la consideraciones clínico - patológica. En cuanto a la percepción del riesgo, es evidente que los estibadores en cuenta y identifican los riesgos presentes en su lugar de trabajo (vagón), en las herramientas de trabajo (tablón), en el desempeño de la tarea de manipulación manual, y su relación con la peligro de sufrir un accidente de trabajo o adquirir las enfermedades profesionales.
Palabras clave: Estibador. Riesgo. Salud Laboral. Enfermería.
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SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO ......................................................................................................... 7
2 O CONCEITO DE RISCO NA SAÚDE DO TRABALHADOR ................................. 10
2.1 Risco ocupacional no trabalho ............................................................................ 13
2.2 Estudos sobre saúde do trabalhador ................................................................... 14
2.3 A enfermagem e sua contribuição para a saúde do trabalhador ......................... 15
3 O PORTO SECO FERROVIÁRIO DE URUGUAIANA ........................................... 16
3.1 O Porto Seco Ferroviário de Uruguaiana ............................................................ 16
3.2 A caracterização do trabalho dos estivadores no Porto Seco Ferroviário de
Uruguaiana ................................................................................................................ 17
4 METODOLOGIA ..................................................................................................... 19
4.1Tipo de estudo ...................................................................................................... 19
4.2 Cenário do estudo ............................................................................................... 19
4.3 Sujeitos do estudo ............................................................................................... 19
4.4 Critérios de inclusão no estudo ........................................................................... 20
4.5 Trabalho de campo ............................................................................................. 20
4.6 Instrumento de pesquisa ..................................................................................... 21
4.7 Procedimentos éticos .......................................................................................... 21
4.8 Análise dos dados ............................................................................................... 22
5 RESULTADOS ....................................................................................................... 23
5.1 Caracterização dos dos sujeitos participantes da pesquisa ................................ 23
5.2 O entendimento de saúde ................................................................................... 24
5.3 O entendimento de riscos .................................................................................... 27
6 DISCUSSÃO E ANÁLISE ....................................................................................... 31
6.1 A concepção de saúde ........................................................................................ 31
6.2 A percepção de risco ........................................................................................... 35
7 CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................... 40
REFERÊNCIAS ......................................................................................................... 41
APÊNDICE A - Termo de Consentimento Livre e Esclarecido ................................. 48
APÊNDICE B – Formulário 1ª parte .......................................................................... 49
APÊNDICE C - Formulário 2ª parte ........................................................................... 50
ANEXO A –Carta de Aprovação do Comitê de Ética em Pesquisa ........................... 51
ANEXO B – TERMO DE AUTORIZAÇÃO DE PUBLICAÇÃO NAS BIBLIOTECAS DA
UNIVERSIDADE FEDERAL DO PAMPA..................................................................52.
7
1 INTRODUÇÃO
As exportações brasileiras tiveram um crescimento de 39,6 % se comparado
com mesmo período de 2009. Sendo que as commodities - tais como soja, minério,
petróleo, petroquímicos, açúcar, etc.- somam aproximadamente metade do volume
destas exportações (BRASIL, 2010).
Grande parte deste volume é transportada via rodoviária até os portos. Porém
este modal de transporte tem se mostrado ineficiente e por vezes caótico, gerando
grandes filas de caminhões a espera de descarga nos principais portos do país
(INSTITUTO TEOTÔNIO VILELA, 2009; MAZUI, 2010).
Contudo, em 1996, com a privatização das malhas ferroviárias, ressurgiu a
importância do modal ferroviário como nova oferta de serviços. Sendo mais
eficientes já que se trata de investimento de capital privado nacional que trouxe a
modernização a este segmento de transporte terrestre, fazendo assim renascer a
logística ferroviária no Brasil (OLIVEIRA; CAIXETA FILHO, 2007).
Segundo a Associação Brasileira da Indústria Ferroviária –ABIFER- (2010), o
setor ferroviário deve alcançar um aumento no seu faturamento de pelo menos 25%
em relação a 2009, chegando a atingir 26% da matriz brasileira de transporte de
carga. Porém ainda há uma enorme distorção neste mercado, sendo que o equilíbrio
será atingido com a execução do Plano Nacional de Logística e Transportes (PNLT)
do Ministério dos Transportes, que prevê participação do modal ferroviário de 35%
em 2025 (ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DA INDÚSTRIA FERROVIÁRIA, 2010;
BRASIL, 2009).
Mesmo com os recentes investimentos no modal ferroviário, como as
utilizações de guindastes, pontes rolantes, pórticos, existem ainda o manuseio de
cargas de forma manual, na qual a atividade recebe o nome de estiva.
Embora a Organização Internacional do Trabalho (OIT) tenha recomendado a
tomadas de medidas para evitar que o trabalhador não exceda o levantamento
manual de cargas com peso maior de 55 kg, ainda não existe uma norma mundial
para regulamentar manuseio destas cargas. E apesar da grande parte dos países
possuírem normativas sobre o manuseio e movimentação de cargas isso não tem
significado proteção a saúde dos trabalhadores, já que estas leis e regulamentos
nem sempre são cumpridos. Por isso, existem lugares onde os trabalhadores
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transportam manualmente cargas com peso acima de 100kg (CAVALCANTE et al.,
2005; MERINO, 1996).
As normas brasileiras que regulamentam as atividades de movimentação e
manuseio de cargas manualmente também apresentam alguns problemas, como a
difícil interpretação a respeito da definição de quais as atividades que devem
respeitar o peso máximo de 60 kg para o transporte manual (MERINO, 1996).
Cavalcante et al. (2005) também comenta que não é só no Brasil que existem
problemas à respeito da lei de movimentação e transporte de cargas, e que isso é
causa de inúmeros problemas de saúde:
Em outros países, também existem problemas. De acordo com a literatura especializada, o incorreto manuseio e a movimentação manual de cargas são a causa mais freqüente de acidentes de trabalho individual. Um exemplo é que nos Estados Unidos, 50% das incapacidades temporais são motivadas por quedas no manuseio de cargas. Isto constitui um grande risco para a coluna vertebral, especialmente a região lombar. (CAVALCANTE et al., 2005, p.102).
Conforme Soares et al. (2008), os trabalhadores que movimentam cargas
manualmente estão expostos a problemas de saúde no sistema muscular, articular e
ósseo. Um estudo com trabalhadores portuários realizados por Cavalcante et al.
(2005) corrobora que as principais moléstias de saúde próprios do labor dos
estivadores são freqüentemente os distúrbios osteoarticulares e metabólicos como o
diabetes e hipertensão.
Conseqüentemente a execução deste trabalho os expõe a riscos a saúde
presentes tanto no ambiente de trabalho quanto na forma de executar o trabalho.
Assim é de interesse da Saúde do Trabalhador que os profissionais de Saúde
compreendam a significância do conceito de risco a saúde destes trabalhadores
(BRASIL, 2002).
Procura-se salientar a percepção do risco a partir da própria visão dos
estivadores a respeito deste tema, uma vez que na atualidade apenas dois trabalhos
sobre riscos e agravos à saúde dos estivadores foram publicados no Brasil
(CAVALCANTE et al., 2005; SOARES et al., 2008).
A partir do exposto, surgiu a necessidade de conhecer a concepção de riscos
à saúde que os estivadores estão expostos em seu cotidiano de trabalho e também
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o que a Enfermagem tem a contribuir como parte da equipe multidisciplinar na
Saúde do Trabalhador para modificar as condições laborais dessa população.
Neste contexto, emerge a seguinte questão orientadora do estudo: Qual a
percepção de risco dos trabalhadores estivadores sobre seu trabalho no Porto Seco
Ferroviário de Uruguaiana, Rio Grande do Sul, Brasil?
O presente trabalho justifica-se pela importância da temática devido aos
riscos à saúde existentes no trabalho dos estivadores, também pela escassa
literatura em relação ao tema e para contribuir com o conhecimento da Enfermagem
na saúde do trabalhador.
O objetivo deste trabalho é conhecer a percepção de risco à saúde existente
no trabalho realizado por estivadores do Porto Seco Ferroviário.
10
2 O CONCEITO DE RISCO NA SAÚDE DO TRABALHADOR
Conforme La Mendola (2005), o risco é um dos temas centrais em nossa
sociedade moderna, visto que hoje as pessoas sofrem com medos e com formas e
causas distintas de ansiedade.
Quando na maioria dos países industrializados as pragas foram eliminadas
como causa de morte, quando a mortalidade infantil foi reduzida em parâmetros
muito baixos e quando a expectativa de vida aumentou, as pessoas de modo geral
passaram a sentir medo de serem vítimas de crimes ou acidentes automobilísticos,
de desenvolverem câncer ou outra doença incurável. Medo de perderem o emprego,
de terem problemas familiares (DESLANDES et al., 2002; FREITAS, 2001;
FREITAS; GOMEZ, 1997).
Podemos destacar o conceito de risco definido por La Mendola (2005, p. 59):
O risco é aqui entendido como uma interpretação do enfrentamento do perigo na
persecução dos objetivos. Em particular, é essa interpretação que a cultura
dominante na modernidade tem a pretensão de afirmar como universal.
O uso da palavra risco tornou-se cada vez mais comum ao longo dos tempos.
Ela passou a aplicar-se a uma enorme variedade de situações. Na verdade a noção
de risco adquiriu expressão durante os séculos XVI e XVII e começou por ser usada
pelos exploradores ocidentais quando partiam para as viagens que os levavam a
todas as partes do mundo (LA MENDOLA, 2005).
Segundo Gamba e Santos (2006) a palavra risco é oriunda do castelhano
riesgo, contudo não tinha a conotação de perigo potencial. Etimologicamente a
palavra risco é oriunda do latim resecum, ou o que corta, que era uma expressão
usada pelos marinheiros relacionada ao perigo oculto no mar.
Confirma La Mendola (2005) e Mendes (2002) a idéia de que a noção de risco
surgiu relacionada aos perigos que podiam comprometer as viagens marítimas.
Naquela época, o risco indicava a probabilidade de um perigo objetivo, não se tinha
o conceito ou a idéia de falha ou responsabilidade do homem, mas sim eram
atribuídos a atos divinos ou uma força maior que pudesse interromper a viagem.
Segundo Freitas, Gomez (1997), o processo de desmistificação do conceito
de risco ocorreu junto ao estudo da probabilidade, quando foi possível prever o
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acontecimento de determinado ato ou situação que poderia se transformar em
perigo. Isso ocorreu de forma sistemática principalmente relacionada à filosofia
Iluminista durante a Revolução Industrial.
Escreve Granjo (2006) que a palavra risco denota noção de espaço.
Posteriormente quando usada pela ciência econômica, passou a incluir a noção de
tempo, imprescindível para se calcular os prováveis riscos de determinado
investimento. De acordo com o mesmo autor, as probabilidades e incertezas não
podem ser separadas do conceito de risco, já que não se pode dizer que alguém
enfrenta um risco quando o resultado da ação está totalmente garantido.
Para a epidemiologia o conceito de risco tem um sentido diferente,
matemático, ou seja, a probabilidade de um evento ocorrer ou não, combinado com
a magnitude das perdas e ganhos envolvidos na ação realizada (GUILAM, 1996).
Escreve Castiel (2002) que o risco é uma entidade probabilística, fazendo
com que a previsão de ocorrência dos agravos não seja indiscutível, incontrolável,
mas sim que os riscos são na realidade, apenas possibilidades.
Para Covello, Merkofer (1993 apud BRASIL, 2002, p.7):
Classicamente, risco é conceituado como a possibilidade de perda ou dano e a probabilidade de que tal perda ou dano ocorra implica, pois, a presença de dois elementos: a possibilidade de um dano ocorrer e a probabilidade de ocorrência de um efeito adverso (COVELLO; MERKOFER, 1993 apud BRASIL, 2002, p.7).
Para Sêcco et al. (2008) o risco é semelhante ao grau de probabilidades que
aconteça determinado fato. Ele tende a variar de acordo com a percepção de cada
indivíduo, dado que os seres humanos possuem diferentes percepções acerca dos
riscos aos quais estão expostos (PERES, 2003).
Diz Mendes (2002) que o conceito de risco também assume que o risco é
algo coletivo, especificamente o risco de acidentes ou desastres naturais ou
tecnológicos. Porém, o conceito de risco adota, freqüentemente, que cada pessoa
pode ser um fator de risco e está exposta ao risco, não significando, contudo, que
cada sujeito esteja exposto ao mesmo grau de risco.
O conceito de risco possui duas dimensões, representando a probabilidade de
um efeito adverso ou dano, a incerteza da ocorrência, à distribuição no tempo e a
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magnitude do resultado desfavorável. A situação ou fator de risco é uma condição
ou conjunto de circunstâncias que podem causar um efeito adverso, tais quais:
morte, lesões, doenças ou danos à saúde e à propriedade ou ao meio ambiente
(BRASIL, 2001).
Entende Freitas (2001) que cabe ao próprio homem desenvolver meios para
interpretar, analisar e remediar estas situações de perigo, e que é o próprio homem
que é o responsável tanto por causar situações perigosas quanto por corrigi-las.
Segundo este autor, isso se deu através da evolução da sociedade nos níveis
científicos e tecnológicos, trazendo mudanças na concepção de novos riscos e
perigos.
Freitas (2001) destaca três abordagens principais sobre a percepção de risco:
a psicológica, a cultural e a sociológica. A abordagem psicológica baseia-se nas
opiniões expressas pelas pessoas quando solicitadas sobre questões relacionadas à
atividade perigosas obtidas através de instrumentos de avaliação. A abordagem
cultural baseia-se na presunção de que a reação a um determinado risco ou ao
perigo é distinta quando vista por grupos populacionais diferentes, sendo assim,
essa percepção de risco é algo individual e parte de valores culturais. A abordagem
sociológica tem como base para a percepção de risco as experiências sociais e tem
como orientadora a análise das determinações de ordem social, encontrando
origens na dialética de Marx.
Segundo Peres (2003) o próprio homem tem diferentes entendimentos com
relação ao risco a que está exposto e isso varia conforme o grau de compreensão
de cada pessoa, pois os seres humanos têm diferentes entendimentos sobre os
perigos que os rodeiam. Este mesmo autor diz que a percepção de risco pode ser
distinta até mesmo em grupos populacionais que habitam o mesmo ambiente, como
por exemplo, trabalhadores de um mesmo setor.
Vários fatores estão relacionados com a percepção de risco: o envolvimento
do ser humano em um determinado evento; o papel por ele ocupado; e os aspectos
culturais e psicossociais característico de cada indivíduo (NAVARRO; CARDOSO,
2005).
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2.1 Risco ocupacional no trabalho
O trabalho tem um significado importante para o homem, pois é por ele que o
ser humano retira seu sustento, transformando a natureza através do consumo de
capacidades físicas e mentais (MENEGASSO, 2000). Embora represente algo
benéfico na vida do ser humano, o trabalho pode trazer riscos que podem causar
prejuízo à saúde (BRITO, 2005).
A Organização Pan-americana de Saúde no Brasil define os tipos de riscos
em: biológicos, físicos, químicos, ergonômicos, psicossociais. Estes riscos estão
presentes através de exposição a substâncias químicas, agentes físicos e
mecânicos, agentes biológicos, inadequação ergonômica dos postos de trabalho ou,
ainda, em função das características da organização do trabalho (BRASIL, 2001).
Segundo Tolosa, Mendes (1991, p. 140):
Considera-se risco ocupacional como sendo uma ou mais condições no trabalho com potencial para causar danos. Esses danos podem ser entendidos como sendo lesões a pessoas, danos a equipamentos, ou estruturas ou redução da capacidade de desempenho de uma função pré-
determinada (TOLOSA; MENDES, 1991, p. 140).
Para Dejours (2007) o trabalho sempre tem uma influência sobre a saúde,
seja positiva, levando ao bem-estar, ou negativa, produzindo desgaste físico e
mental ao trabalhador. Portanto, a questão não é trabalhar ou não trabalhar, mas
saber quais os riscos e conseqüências que podem estar relacionados a esse
trabalho.
Dizem Mendes e Wünsch (2007) que a dinâmica da produção associadas
com as condições de trabalho e o modo de vida segue consistindo fontes
importantes para se entender o processo de saúde, doença e morte dos
trabalhadores. Até os danos causados no trabalho por negligência do trabalhador
podem ter diferentes causas relacionadas, tais como: más condições de vida e de
trabalho, precárias condições ambientais, alimentação e transporte deficientes,
cansaço pelas horas extras, estafa crônica, horas não dormidas, etc.
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Também as condições insalubres e os riscos existentes no local de trabalho
são fatores importantes que afetam a saúde do trabalhador. Os riscos contidos no
ambiente de trabalho tendem a ser fontes de perigo e também contribuem para
insatisfação, improdutividade, doenças e até a morte do trabalhador (DEJOURS,
2007).
Essas inadequações no ambiente de trabalho fazem com que o trabalhador
perceba em seu próprio corpo as conseqüências dos riscos ocupacionais. Portanto,
ele necessita compreender as condições de risco a que está exposto e conhecer o
que realmente lhe causa dano para então poder intervir nesta realidade (SOARES et
al., 2008).
Há, portanto, a necessidade de se tomar medidas para dar aos trabalhadores
formação e informação sobre os perigos e riscos que existem nos postos de
trabalho, já que só se pode prevenir aquilo que se conhece (MENDES, 2000).
2.2 Estudos sobre saúde do trabalhador
Os estudos realizados por acadêmicos são ferramentas muito importantes no
aprofundamento teórico e metodológico na avaliação em saúde do trabalhador, pois
em sua maioria valorizam a experiência e a informação referida pelo trabalhador
(GOMEZ; LACAZ, 2005), justificando a relevância da realização dessa pesquisa
nessa área.
Entretanto, mesmo com a evolução positiva do número de publicações,
segundo dados internacionais, estima-se que a produção brasileira represente
menos de 1% dos artigos científicos divulgados anualmente com enfoque nas
relações entre trabalho e saúde (WÜNSCH FILHO, 2004), demonstrando que ainda
há muito que se explorar nessa temática.
Também são poucos os estudos mais abrangentes de cunho epidemiológico
referentes à situação dos trabalhadores terceirizados (GOMEZ; LACAZ, 2005).
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2.3 A enfermagem e sua contribuição para a saúde do trabalhador
Segundo Haag, Schuck e Lopes (1997) a Saúde do Trabalhador implica uma
atuação multidisciplinar e interdisciplinar em que a enfermagem está inserida onde
vários profissionais especializados atuam na preservação e promoção da saúde de
uma população específica, através de medidas de alcance coletivo.
A equipe de enfermagem, segundo a Lei n. 7498, é constituída pelo
Enfermeiro do Trabalho que:
[...] presta assistência e cuidados de enfermagem a empregados, promovendo e zelando pela sua saúde contra os riscos ocupacionais, atendendo os doentes e acidentados, visando seu bem estar físico e mental, como também planeja, organiza, dirige, coordena, controla e avalia a atividade de assistência de enfermagem, nos termos da legislação reguladora do exercício profissional (BRASIL, 1986).
De acordo com Haag, Schuck e Lopes (1997) a Enfermagem atuando na
saúde do trabalhador tem uma história recente. Inicialmente foi entendida como
prestação de serviços de pronto-atendimento, o que não valorizou o exercício
profissional nesse meio. Hoje visualizamos esse espaço como um vasto campo para
o desempenho de ações de enfermagem, quer na prestação de assistência direta
aos trabalhadores e famílias, quer no desempenho de funções administrativas,
educacionais, de integração e pesquisa.
A realização de estudos acerca da relação de problemas de saúde com as
atividades de trabalho e os riscos derivados dos processos produtivos é fundamental
para a definição mais adequada de estratégias de prevenção em saúde do
trabalhador. Dentre os profissionais que podem atuar nessa área encontra-se o
enfermeiro, que deve ter capacidade de ação multidisciplinar e possuir
conhecimentos para aproveitar as ferramentas disponíveis nesta área de atuação a
fim de identificar esses agravos e minimizar os danos causados pelo trabalho
(RIBEIRO, 2007).
16
3 OS PORTOS SECOS
Os Portos Secos foram criados no início da década de 1970, através do
Decreto-Lei Nº 1.455, de 7 de abril de 1976 e chamavam-se Centrais Aduaneiras de
Interior (CAI). Desde sua criação, passaram por muitas mudanças e trocas de
denominação. A principal característica que os diferenciam dos Postos Marítimos é o
fato de que eles são localizados no interior do País (BRASIL, 2003)
Portos Secos são recintos alfandegados de uso público nos quais são
executados operações de movimentação, armazenagem e despacho aduaneiro de
mercadorias e de bagagem, sob controle aduaneiro (BRASIL, 2003).
3.1 O Porto Seco Ferroviário de Uruguaiana
O Porto Seco Ferroviário de Uruguaiana – Área de Controle Integrada
(PSF/ACI) possui uma área total de 5,5 hectares localizado na BR 290, em
Uruguaiana, estado do Rio Grande do Sul-RS. Tem uma concessionária responsável
pelo serviço de transporte, movimentação e armazenagem de cargas.
Ele é considerado o maior porto seco da América Latina, sendo o único
terminal ferroviário da América Latina com as Aduanas do Brasil e Argentina
totalmente integradas, operando com cargas de importação e exportação
provenientes do Brasil, Argentina, Paraguai, Uruguai e Chile (AMÉRICA LATINA
LOGÍSTICA, 2010).
Há uma ponte internacional que liga Uruguaiana à cidade Argentina de Paso
de los Libres por onde é possível receber trens oriundos do País vizinho
(MISOCZKY, 2008). O fato de haver diferença no tamanho da bitola (distância entre
os trilhos de uma via férrea), entre a Argentina e o Brasil, impedindo que os trens
atravessem a fronteira e sigam para seus destinos dentro de cada país. Por isso é
necessário que as cargas que chegam em vagões provenientes do Brasil sejam
transbordadas para vagões argentinos e vice-versa (LACERDA, 2009).
O Porto Seco Ferroviário de Uruguaiana juntamente com a Retroárea –
terminal de carga doméstico que movimenta cargas no modal Rodoviário e
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Ferroviário - compõe o Terminal Intermodal de Uruguaiana. Este movimenta
aproximadamente 1.000.000 toneladas de cargas por ano. Do total movimentado,
60% são cargas industrializadas como containeres e materiais siderúrgicos, sendo
que o restante é de granéis, como grãos e fertilizantes sólidos (VILAÇA, 2008).
Os containeres e os materiais siderúrgicos são movimentados através de
equipamentos mecanizados como uma ponte rolante e empilhadeiras de grande
porte chamadas Top Loaders. Já os grãos são movimentados através de moegas,
enquanto as cargas ensacadas, tais como: fertilizante sólido, arroz elaborado e
feijão, tem sua movimentação executada por trabalhadores através de mão-de-obra
braçal, comumente chamadas de movimentação estivada.
3.2 A caracterização do trabalho dos estivadores no Porto Seco Ferroviário de
Uruguaiana
O trabalho de movimentação manual de cargas ou estiva era realizado
geralmente por trabalhadores avulsos sindicalizados que exerciam funções
semelhantes aos estivadores de portos navais nos moldes do Decreto Nº 3.048 - de
06 de maio de 1999 (BRASIL, 1999). Estes trabalhadores eram chamados
vulgarmente de chapas.
Segundo Carvalho (2009, p.9):
É chapa o trabalhador braçal que labora na carga e descarga de mercadorias de caminhões recebendo a paga correspondente ao final do dia ou da semana, diretamente do interessado no serviço executado ou do sindicato ou da cooperativa a que estiver vinculado, não gerando vínculo empregatício com o tomador do serviço (CARVALHO, 2009, p. 9).
Porém, nos últimos 6 anos, esse trabalho deixou de ser executado por
trabalhadores avulsos no Porto Seco Ferroviário de Uruguaiana, sendo executado
agora por trabalhadores contratados pela Permissionária do Porto Seco Ferroviário
através uma empresa terceirizada.
O trabalho dos estivadores neste Porto Seco é caracterizado pelo
carregamento de cargas ensacadas de forma manual. O trabalhador movimenta
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estas cargas usando os braços, os ombros ou sobre a cabeça. Na maioria das vezes
estes sacos pesam em torno de 50Kg, como é o caso do fertilizantes sólido. Porém,
há cargas como o arroz elaborado proveniente da Argentina que chega a pesar
60Kg cada saco.
Segundo a Norma Regulamentada nº 11, (NR-11), o carregamento manual de
sacos é “toda a atividade realizada de maneira contínua ou descontínua, essencial
ao transporte manual de sacos, na qual o peso da carga é suportado, integralmente,
por um só trabalhador, compreendendo também o levantamento e sua deposição”
(PINTO; WINDT; CÉSPEDES, 2008, p. 204).
O fato de ser um trabalho extremamente extenuante expõe estes
trabalhadores a inúmeros riscos à saúde, principalmente o risco ergonômico.
Conforme Cavalcante et al. (2005), aproximadamente 70% dos trabalhadores
brasileiros que executam tais atividades possuem algum tipo de problema lombar.
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4 METODOLOGIA
O percurso metodológico foi desenvolvido tendo em vista o objetivo de
conhecer a percepção de risco à saúde existentes no trabalho realizado por
estivadores do Porto Seco Ferroviário.
4.1Tipo de estudo
Este estudo tratou-se de uma pesquisa qualitativa, de análise temática.
4.2 Cenário do estudo
O cenário desta pesquisa foi o Porto Seco Ferroviário, localizado na BR 290,
719 Km, no Município de Uruguaiana no Estado do Rio Grande do Sul, Brasil.
4.3 Sujeitos do estudo
Foram integrantes do estudo os trabalhadores que realizavam o serviço de
estiva de cargas e descarga em vagões e caminhões do Porto Seco Ferroviário que
aceitaram participar do estudo. Em um primeiro momento foi identificada a existência
de 24 estivadores em atuação, contudo, 16 concordaram em participar deste estudo.
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4.4 Critérios de inclusão no estudo
O presente estudo obedeceu aos seguintes critérios de inclusão:
- O profissional deverá ser da categoria dos Estivadores;
- O estivador deverá aceitar participar do estudo.
4.5 Trabalho de campo
O trabalho de campo ocorreu mediante a realização de entrevistas gravadas,
a qual foi desenvolvida a partir de um formulário composto por duas partes, onde o
sujeito entrevistado informou dados referentes à caracterização do sujeito, tais
como: formação e vínculo empregatício (APÊNDICE B), e discorreu sobre a sua
atuação, (APÊNDICE C), que trata da percepção de risco no ambiente de trabalho.
O formulário foi previamente testado e a coleta dos dados foi realizada por dois
alunos do oitavo semestre do curso de Enfermagem, da Universidade Federal do
Pampa – UNIPAMPA, sob orientação do professor coordenador do estudo. A coleta
dos dados compreendeu o período de 12 a 19 de novembro de 2010. O
deslocamento até a área portuária do município de Uruguaiana ocorreu por meio do
transporte municipal.
O agendamento das entrevistas foi realizado por intermédio do Coordenador
de Operações do Porto Seco Ferroviário de Uruguaiana, que é o responsável pela
coordenação das atividades de carga e descarga. A coleta dos dados ocorreu nos
intervalos existentes entre o reposicionamento das composições ferroviárias. No
momento da entrevista foi apresentado o Termo de Consentimento Livre e
Esclarecido do participante (APÊNDICE A), onde foi explicado ao sujeito e, depois
de aceito, foi assinado, consentindo a sua participação na pesquisa. Foram
fornecidas duas cópias, uma ficou com o entrevistador e a outra com sujeito
participante.
21
4.6 Instrumento de pesquisa
A obtenção dos dados ocorreu por meio de um formulário composto por duas
partes: a primeira parte teve como objetivo conhecer os sujeitos da pesquisa, a sua
formação e o seu vínculo empregatício, servindo de caracterização dos sujeitos
entrevistados. A segunda parte foi composta por nove questões abertas, onde o
sujeito entrevistado pode discorrer sobre o seu trabalho e os riscos nele existente.
Como forma de averiguação e validação do formulário de pesquisa, foi
realizado um estudo-piloto, o qual foi aplicado a três estivadores antes de iniciar a
pesquisa.
4.7 Procedimentos éticos
Visando os aspectos éticos da pesquisa e em respeito à Resolução nº 196/96
do Conselho Nacional de Saúde, o projeto foi submetido ao Comitê de Ética em
Pesquisa da Universidade Federal do Pampa – UNIPAMPA, sob o registro
Unipampa/CEP 025 2010, o qual foi aprovado pela Carta de Aprovação Nº 023
2010, em 10 de novembro de 2010.
Foi solicitada ao Gerente Fiel-Depositário que é o coordenador de Relações
Aduaneiras, responsável pela empresa concessionária junto a Receita Federal, a
autorização para o desenvolvimento do estudo com os trabalhadores estivadores.
Com os sujeitos participantes foi utilizado o Termo de Consentimento Livre e
Esclarecido, no qual lhes foi apresentado com orientações pertinentes ao estudo,
garantindo-lhes o sigilo, o anonimato e o direito de se retirar do estudo a qualquer
momento.
22
4.8 Análise dos dados
A análise dos dados referentes à primeira parte do instrumento de coleta de
dados (caracterização dos sujeitos, formação e vínculo empregatício) foi realizada
por meio de estatística descritiva. A segunda parte do instrumento, contendo o as
questões de pesquisa com os dados obtidos no trabalho de campo, foi analisada de
acordo com a análise qualitativa temática (MINAYO, 2007).
Primeiramente os dados foram disponibilizados no formato de texto transcrito
e organizado no formato de arquivos de texto. Desse modo, foram destacados e
preparados os dados a fim de compor um sistema de relações a partir das
categorias trabalho e risco. As principais categorias foram visualizadas por meio do
predomínio de seus significados. Os dados relativos ao trabalho e aos riscos foram
analisados por agrupamento das categorias mais freqüentes, de acordo com as
falas.
Na apresentação dos resultados as falas dos sujeitos do estudo foram
identificadas por meio de um código referente à categoria profissional (EST – para
Estivador) e o número da entrevista correspondente no banco de dados.
23
5 RESULTADOS
A análise dos dados e a discussão dos resultados serão apresentadas da
seguinte maneira, num primeiro momento, será apresentada a caracterização dos
sujeitos participantes da pesquisa, em um segundo momento seguindo a
conformação do entendimento de saúde, de risco e da relação entre riscos e
trabalho. Com olhar na dinâmica do trabalho serão vistos ainda por forma dos
exemplos de riscos reconhecidos pelos trabalhadores estivadores do Porto Seco
Ferroviário.
5.1 Caracterização dos dos sujeitos participantes da pesquisa
A “equipe da sacaria” como é conhecida a equipe encarregada de estivar as
cargas ensacadas no Porto Seco Ferroviário de Uruguaiana é composta por 26
profissionais. Destes um tem a função de encarregado pela equipe, chamado de
Líder Operacional, um conferente e 24 auxiliares de operação Junior como são
denominados os estivadores.
Deste universo de trabalhadores, 16 concordaram em ser entrevistados, 3
não aceitaram participar do estudo e 7 foram excluídos conforme os critérios de
inclusão e exclusão, dentre estes 5 porque se encontravam afastados em Auxilio
Doença e dois pelo fato de não desenvolverem a função de estivagem propriamente
dita (Líder e o Conferente).
Ao analisarmos as respostas da primeira parte do questionário foi possível
observar as seguintes informações:
Todos são do sexo masculino, com a idade variando entre 22 e 44 anos,
sendo que a média de idade de fico próxima aos 30 anos.
Quanto ao grau de instrução, 9 (56,25%) declararam possuir ensino
fundamental incompleto, (18,75%) declararam tem o ensino fundamental completo 3,
1 (6,25%) declarou ter o ensino médio incompleto e 3 (18,75%) declararam ter
concluído o ensino médio.
24
O tempo médio de trabalho com estiva de cargas varia entre 3 meses a 30
anos, com tempo médio de 9 anos.
A renda familiar média é de R$ 580,00, tendo uma variação entre R$ 520,00
a R$1250,00 por família e 14 (85,5%) entrevistados declararam residir em casa
própria e quanto ao estado civil, 9 (56,25%) declaram ser casados, 6 (37,5%)
declararam ter união estável e 1 (6,25%) declarou ser solteiro.
Quanto a quantidade de filhos, a média encontrada foi de 2,35 por estivador,
variando entre 0 a 8 filhos.
5.2 O entendimento de saúde
A pesquisa qualitativa nos possibilitou compreender o entendimento de saúde
dos trabalhadores da estiva tendo como centralidade a ausência de doenças e, com
menor enfoque, os hábitos saudáveis, bem-estar e a segurança no trabalho.
Ao discorrerem sobre o entendimento de saúde como ausência de doenças,
verificou-se que eles identificam a doença por meio de sintomas patológicos, como
por exemplo: tosse, dor, lombalgia, espirro, febre e, até mesmo, referem à ausência
de doenças identificando patologias como a gripe e HIV/AIDS com vistas a
caracterizar saúde.
EST.01 - Olha, te dizer o que é saúde para nós, saúde é não ficar doente, não adoecer no tempo (...).
EST.03 - Para mim saúde assim, é meu corpo estar bem, sem estar sentindo uma dor, sem estar nem sentindo vontade de espirrar, isso aí que eu posso dizer que estou bem (...). EST.13 - (...) saúde para mim é o cara não se gripar, isso pra mim é saúde... não ter doença nenhuma, não ter AIDS nada (...).
Ao discorrerem acerca de saúde assim como a sua ausência, os
trabalhadores mencionam a figura do médico e o dentista, e com ela expressam a
25
necessidade de assistência à saúde como algo importante como pode ser
observado pela fala abaixo:
EST.07 - (...) saúde bucal, eu acho assim como a EADSul fez para todos os trabalhadores... um ônibus com assistência médica tipo para os dentes... só para os que trabalham ali... ela botou durante três dias, aí quem tinha problema de saúde bucal no caso aí eles atendiam...foi um grande passo como diz os outros, uma coisa boa que poderia inovar(...).
Ainda quando discorrem sobre o entendimento da saúde pela ausência da
doença, verificou-se também que há estivadores que relacionam a saúde ao uso de
fármacos, caracterizando o uso como falta de saúde ou como forma de prevenção
de doenças e manutenção do estado saúde.
EST.05 - (...) O que eu entendo por saúde é assim: é a pessoa não ficando doente, não estar precisando de remédio toda hora, (...) não ter uma dor de cabeça, não ter uma febre, não ter uma gripe sabe... isso aí eu entendo como saúde... (...).
EST.14 - (...) eu digo para todos que o remédio o cara toma e nunca te dá nada (...).
Foi possível verificar ainda o entendimento de saúde por meio de hábitos
saudáveis de vida, referindo-se a hábitos como: os alimentares, a higiene corporal e
bucal, o sono e o repouso, ao não uso de álcool e tabaco, como meios para a
manutenção da saúde.
EST.06 - Saúde em primeiro lugar é a pessoa estar bem pra trabalhar (...) tem que estar bem, te cuidar, tem que te cuidar, tomar um remédio, uma vitamina, se alimentar bem, dormi cedo, se não o cara não agüenta, se não o cara não agüenta esse serviço.
EST.16 - Tem que sempre procurar ta bem de saúde, procurar sempre não cometer erros como muitos que bebem e fumam, eu já não tenho esse problema, fumar não fumo e as vez tomo uma cervejinha mas não é sempre, então é assim.
26
EST.15 - (...) eu procuro me cuidar (...), mas eu como bastante fruta e tudo, me alimento bem, como bem pra poder já que esse trabalho é um serviço pesado o cara em primeiro lugar tem que estar bem alimentado, (...). chegar em casa bem com saúde também... trabalhar no ar livre e num serviço assim o cara tem que ta com o organismo e o corpo em dia, em forma... senão sofre não agüenta (....) eu procuro estar com o corpo em forma como se diz em dia (...).
Outro entendimento de saúde verificado nas falas dos trabalhadores
compreende-a como bem-estar. Ao discorrerem sobre o seu entendimento de
saúde, os trabalhadores a referem por expressões como: “estar bem” ou “sentir-se
bem”. A conformação do bem-estar é apresentada por eles perante as
manifestações orgânicas, relacionando, principalmente, à ausência de doença e
suas sintomatologias, ou seja, o bem-estar referido é orgânico. Nesta referência, o
bem-estar é falado a partir da citação do corpo.
EST.08 - Saúde?... Saúde é o bem estar da gente... se cuidar, se alimentar direito (...) EST.09 - Saúde acho que é bem importante... aqui principalmente o cara tem que estar sempre bem (...). EST.10- Saúde é tu estar bem... estar bem (...) tem que cuidar da saúde, cuidar da saúde mesmo... saúde em primeiro lugar.
Ainda, ao falarem sobre o bem-estar, os mesmos, discorrem acerca da
relação existente entre a saúde e o labor, sendo o bem-estar uma condição
necessária para poder executar o trabalho.
EST.12 - Saúde é bom ter saúde... a pessoa sem saúde não tem... aqui mesmo sem saúde o cara não pode puxar bolsa já não pode... é isso que eu entendo por saúde...
Ao discorrerem sobre o seu entendimento de saúde os trabalhadores
referem-na mediante a segurança no trabalho. Para tanto, a segurança constitui-se
nas falas pelos riscos existentes no ambiente de trabalho.
EST.04 - Saúde é muita coisa, sem a saúde a gente não poderia fazer nada... ali a gente não tem quase muita saúde ali, porque é um monte de risco ali, carrega a
27
bolsa já é um risco já, o cara pega uma bolsa mal no outro dia já não pode vir trabalhar(....).
Deste modo, eles se referem ao trabalho que desenvolvem, como por
exemplo, o carregamento de cargas ensacadas, o suor excessivo produzido pelas
intensas atividades de trabalho, além de apresentarem em suas falas a referência
aos riscos químicos e ambientais, citados pela: exposição a poeira, a chuva, ao sol,
ao calor excessivo, odor de fertilizantes e adubos existentes no seu trabalho. Nesta
constituição de entendimento de saúde, um estivador referiu o trabalho como fonte
de prejuízo a saúde.
EST.02 - Condição melhor de vida, acho que segurança em primeiro lugar, sempre se cuidando...
EST.11 - Eu tinha falado no inicio ali... que o pessoal faz lanche ali nos vagão... isso aí a saúde até prejudica... é ruim quando fazem dentro do vagão (...)
5.3 O entendimento de riscos
O entendimento de riscos pelos trabalhadores constitui-se do perigo de
acidentes de trabalho. Deste modo, ao discorrerem acerca do entendimento de
riscos eles relacionaram diretamente ao ambiente e a execução do trabalho.
O entendimento de risco constituído pelo perigo do acidentes de trabalho é
referido pelos trabalhadores quando estes identificam o risco de acidente durante a
execução de suas atividades. Nesta referência eles citam os objetos e instrumentos
de trabalho como elementos que podem instituir o perigo no trabalho. Assim,
referem situações como “a necessidade de entrar embaixo do vagão” gerando o
risco de esmagamento, a possibilidade de “deslizar” de instrumentos de trabalho,
produzindo lesões. Assim, ao mesmo tempo em que eles compõem o seu
entendimento de risco a partir do perigo dos acidentes de trabalho, eles também
28
evidenciam a exposição que sofrem no ambiente de trabalho. Como as falas
elucidam:
EST.01 - Risco para mim é trabalhar num local adequado, com todos os equipamentos que a gente ganha, nem sempre tem todos os equipamentos, sempre a gente pode trabalha como a gente quer, as vez dá as vez não dá, mas é como eu digo, a gente precisa daquilo dali, se não fizer fica ruim, então a gente tem que fazer, não é obrigado mas a gente tem que fazer porque a gente precisa, a gente trabalha naquele local, sempre a gente arruma um jeitinho pra fazer. EST.02 – (...) às vezes a gente afrouxando uma balaca em baixo ali e o perigo de (o vagão) correr e cruzar por cima, daí não tem tempo de sair dali, ou, a prancha, a gente cai da prancha de transbordo que fica ruim de cruzar. EST.03 – (o risco) Existe aqui dentro aqui cara, dentro do meu serviço assim que eu faço... Tu ir passando sobre uma prancha e torcer um pé ou pode caí lá em baixo. EST.04 - Tem uns vagões que ficam ali posicionado, carregar a bolsa de um vagão para o outro e quando termina a gente vai por baixo ali do vagão pra frouxa as balaca do vagão, ali já é um risco, um dia um ali se bateu a boca e quebro o dente, já é um risco. EST.07 - Risco é tu pular um vagão, uma composição ali, passar por baixo de um engate isso é risco.
Ao discorrerem acerca do perigo dos instrumentos e objetos de trabalho, eles
ainda identificam o próprio vagão como um fator que os expõem a riscos,
discriminando possíveis defeitos na estrutura que os compõe, citando que este pode
vir “avariado”, ou seja, com as portas e escotilhas com pedaços de madeiras
quebrados ou objetos pontiagudos:
EST.11 - O risco é uma situação ali que tu vê que tu tem base, tu não vai te machucar fazendo uma determinada coisa ali... com a linha ali a gente corre bastante risco... o vagão sempre tem ponta de ferro, ponta de madeira ali, as vezes se trabalha a noite com pouca iluminação...
Como instrumento de trabalho, a prancha é mencionada com a possibilidade
de produzir acidentes, para isso os trabalhadores citam a possibilidade de “cair” de
cima dela.
29
Na abstração dos objetos de trabalho, verificou-se que os estivadores falam
acerca das sacas de arroz ou de fertilizante, como objetos que podem gerar
prejuízos a sua saúde. Assim, citam as “lesões na coluna cervical” ou “torções”.
A prancha é descrita sob os diferentes aspectos, compreendendo o
estabelecimento do perigo e do risco de acidentes de trabalho pelo material com o
qual é feita, como citado: de “madeira” que pode quebrar ou a de “metal” que se
torna escorregadia. Nesta identificação deste instrumento de trabalho, os
estivadores identificam as variações climáticas como fatores que influenciam no seu
cotidiano de trabalho, estabelecendo novas formas de perigo e de risco, como a
chuva ou o calor e, mesmo o trabalho noturno. Como visto nos exemplos a seguir:
EST.08 - ... aquela prancha tem dias de chuva que pode molhar e resvala aquilo é um risco até de cair né... aquelas pilhas que a gente faz na estiva no meio da linha como base na largura certa, a gente bota uma bolsa fofa ali e tem aquele risco... fica o quanto quanto quase caindo... começa caminhar e começa a baixar... aí tem que ir lá e parar tudo o serviço para nós arrumar de novo, para seguir trabalhando, aquilo ali é um risco ...
EST.15 - ... tudo isso aí nós temos que cuidar, olhar tudo, se a prancha não está molhada também para não resvalar, que tudo isso causa, pode causar um acidente....
O entendimento dos trabalhadores acerca do risco existentes no local de
trabalho possibilitou a abstração dos fatores de risco que podem causar um
acidente. Desse modo, abstraíram-se os riscos físicos, os biológicos e os
ergonômicos. Para isso, os trabalhadores referiram o “peso das sacas” como
constituinte de riscos a saúde. Nesta composição de riscos, os trabalhadores ainda
citam, a ventilação dentro dos vagões e a poeira dos fertilizantes, bem como o odor
dos mesmos. Como visto na fala a seguir:
EST.02 - O adubo, às vezes da uma intoxicação na gente ali... EST.12 - Risco aqui é o cheiro do adubo é o cheiro ... é o pó, as vez vem areia aí é um risco pro cara...
30
EST.15 – (...) outra coisa risco de acidente que nós temos também tem, como se diz, o (risco) físico, tem o (risco) biológico, tem o mais para nós aqui o (risco) ergonômico aquele que é o risco do peso, que também eu falo pros guris que agora enquanto tão novo eles se baseiam e carregam as vez de 2 a 3 bolsas isso aí não pode porque com o tempo a coluna do cara não agüenta ou tu faz isso num dia e no outro dia tu não tem condição de ir trabalhar, nem condição de levantar da cama as vezes, .... porque agora com o frio o cara trabalha nesses vagão com só uma porta aberta ... a poeirama e o pó fica tudo acumulado, não saí para fora ..., anda para lá e pra cá o vento e a poeira fica ali, dizem que não faz mal essa poeira do adubo, mas não acredito isso faz mal sim com o tempo, ... pode não faze na hora, mas com o tempo faz... é um monte de gente junto ali também, se um ta gripado, se um não se cuida pode passar para o outro também, tem tudo isso também(...)
O perigo presente no carregamento manual de cargas é relatado pelos
trabalhadores pela rapidez que o trabalho exige na sua execução, o que pode gerar
prejuízos a saúde ocupacional, referidos pelo estresse e pela identificação de dores
e dificuldades de movimentação. Como verificado nas falas a seguir:
EST.02 –(...) mesmo dá uma pressão ali e vai acelerando, dá uma estafa. EST.04 (...) carrega a bolsa mesmo que aconteceu também já é um risco, muito tempo na bolsa... (trabalho na) sacaria com 30 anos já não vai pode quase andar.
31
6 DISCUSSÃO E ANÁLISE
Com base nos resultados anteriormente descritos iniciamos a apresentação
da discussão reflexiva sobre os achados encontrados mediante as unidades
temáticas que discorrem sobre o conceito de saúde e risco relacionados ao trabalho
dos estivadores do Porto Seco Ferroviário de Uruguaiana.
6.1 A concepção de saúde
O entendimento sobre saúde surgiu nas falas de maneira recorrente com o
sentido de ausência de doença ou de sintomas. Essa forma de perceber a saúde
como ausência da doença é freqüentemente encontrada no senso comum. Contudo,
essa concepção não está restrita somente ao conhecimento popular, uma vez que
dentro do campo da medicina a visão biomédica está centrada nesta idéia de que a
saúde é uma questão puramente biológica, física e corporal (ALMEIDA FILHO,
2000).
Todavia, a Organização Mundial da Saúde (OMS) definiu a saúde como: “o
estado de completo bem-estar físico, mental e social e não simplesmente a ausência
de doença ou enfermidade”, ampliando o entendimento de que a saúde é conjunto
de fatores que forma um todo, sendo incluídos novos tipos de bem-estar garantindo
que isso nada tem a ver com doença (ALMEIDA FILHO, 2000, p. 5).
Porém, sob pena de reduzir à total utopia a definição da OMS sobre a saúde,
torna-se necessário o conceito da ausência da doença como parte essencial da
definição de saúde. Portanto quando se fala que a saúde é a ausência da doença
não está reduzindo a apenas isso, mas a um conjunto de fatores que conduziram a
este estado (SEGRE; FERRAZ, 1997; SÁ JUNIOR, 2004; CAMARGO JUNIOR,
2007).
Apesar da visão reducionista em relação à saúde encontrada nas falas de
alguns estivadores, em outras falas emergiram, além desta percepção saúde igual a
ausência de doença, um conjunto de várias outras afirmações colocadas pelos
32
trabalhadores significando que os entrevistados não ligaram a saúde somente como
negação da doença ou ainda estar manifestando sintomas da mesma, mas também
afirmam a existência de fatores que colaboram para o estado de saúde ou de
doença (CAMARGO JUNIOR, 2007).
Nessa linha de idéias em que a saúde assume outras formas de concepção
está o uso de medicamentos ou de acesso a assistência médica como uma maneira
de ter saúde e/ou de estar saudável
Segundo Lefevre (1987) a idéia de medicamento remete a uma imagem de
saúde:
Sendo assim, é perfeitamente possível ver-se o medicamento como um signo cujo significado vai bem mais além da simples idéia, conceito imagem mental de "saúde", implicando também, e sobretudo, a própria realização ou obtenção da saúde (LEFEVRE, 1987, P. 64)
Em um estudo desenvolvido Leite, Vieira e Veber, 2008, é relatado o
crescente aumento no uso de medicação como forma de prevenção de doenças.
Desta forma, a idéia de medicamento como imagem de saúde também tem
contribuindo para a automedicação nestes últimos tempos.
Talvez essa menção de alguns entrevistados aos medicamentos e assistência
médica como forma de caracterizar a busca pela saúde deve-se a expressão da
intensa medicalização que vivencia-se nos dias atuais (CAMARGO JUNIOR, 2007).
Por outro lado, um dos estivadores relata de forma negativa o uso da
medicação, como se o uso contínuo de determinado fármaco demonstra ausência
de saúde, portanto, demonstra sinal de doença. Contudo não há uma contraposição
nas duas idéias, já que uma justifica a outra.
No que tange a categoria hábitos saudáveis, a literatura mostra que os riscos
a saúde podem advir do consumo inadequado de alimentos causando desnutrição
quando consumidos em quantidade insuficiente ou quando ingeridos em excesso
podem levar a obesidade. Mas recentemente estudos têm apontado que uma dieta
inadequada pode levar ao aparecimento de doenças crônicas relacionadas ao
aumento dos níveis plasmáticos de glicose e colesterol causando um maior risco
33
para o desenvolvimento de doenças cardiovasculares (BARROS, 1999; MONTEIRO;
MONDINI; COSTA, 2000, FONSECA, et al., 2008).
Conforme Merino (1996), podemos classificar o trabalho executado pelos
estivadores como “trabalho pesado” com uma taxa de metabolismo entre 440 a 550
Kcal/h. Portanto existe a necessidade de que estes trabalhadores tenham uma dieta
adequada para atender as exigências energéticas para o desenvolvimento desta
atividade laboral, caso o contrário, os mesmos poderão estar em risco à saúde
(BRASIL, 1994).
Além disso, o trabalho executado em ambiente aberto, ao sol e ao calor pode
expor o trabalhador à perda excessiva de líquido e eletrólitos através da sudorese,
podendo ocasionar câimbras e desidratação (SALIBA, 2008).
Segundo Guia Alimentar para a População Brasileira do Ministério da Saúde,
a água é componente fundamental como nutriente já que é um indispensável
componente nas reações bioquímicas de todo o corpo e também carreador de
potássio e o sódio e sua falta podem acarretar a desidratação e danos aos rins,
sendo recomendado um consumo mínimo 2 litros por dia (BRASIL, 2005).
No estudo de Fonseca et. al. (2008) a associação entre a percepção de saúde
e o sono revela que os sujeitos que declaram dormir entre 7 e 8 horas de sono diário
tem uma melhor percepção de saúde. Por outro lado, a maioria que declararam de
forma negativa a relação entre o sono e percepção de saúde eram homens.
Em algumas respostas sobre a percepção sobre saúde como bons hábitos de
vida surgiu o uso do álcool como agente nocivo a saúde e como um risco ativo.
Em um estudo sobre a percepção de risco dos estivadores de um porto
marítimo no nordeste do Brasil, observou-se que a maioria dos participantes
declararam que bebiam (81,7%), e destes apenas 6% declararam que bebiam mais
de duas vezes por semana (CAVALCANTE et al., 2005).
Segundo o Ministério da Saúde (2004), o consumo excessivo de bebidas
alcoólicas pode trazer malefícios à saúde, comprometendo órgãos e sistemas vitais
o corpo, causando entre outras doenças a insuficiência cardiorrespiratória,
hipertensão, cirrose hepática, doenças do sistema digestório e problemas do
sistema nervoso (BRASIL, 2004).
Também pode ser causa de transtornos familiares, absenteísmo, acidentes de
trabalho e aposentadorias antecipadas por invalidez (OLIVEIRA, 2005, FONSECA,
2007). Contudo, em um estudo conduzido por Fonseca (2008), revelou que a
34
maioria dos homens que participaram daquele estudo não fazia associação entre a
bebida alcoólica e a percepção de saúde. Além disso, em outro estudo realizado por
Fonseca (2007) com trabalhadores conclui que de modo geral eles tinham pouco
conhecimento sobre os riscos do uso abusivo de álcool.
O tabagismo também é associado pelos estivadores deste porto como um
hábito de vida que oferece risco a saúde. O fumo é considerado a mais importante
causa da perda de saúde e está associado ao desenvolvimento de doenças
respiratórias, cardiovasculares e neoplasias (BRASIL, 2004).
Segundo Organização Pan-Americana de Saúde (OPAS), estima-se que no
Brasil ocorrem cerca de 200.000 mortes/ano em decorrência do tabagismo. A
prevalência é maior entre os homens do que as mulheres em todas as capitais do
País. Na capital do Rio Grande do Sul encontram-se a maior proporção de fumantes,
tanto no sexo masculino quanto no feminino (BRASIL, 2004).
Portanto verificou-se que na percepção destes trabalhadores a saúde e a
doença têm relação direta a certas posturas e hábitos adotados por eles, tais como o
sono e repouso, a alimentação, o tabagismo e o consumo de álcool que resultam em
efeitos deletérios à sua saúde, bem como aumentam os riscos de acidentes.
A categoria bem-estar pode significar não se sentir mal, sentir-se bem ou ter
satisfeitas suas necessidades, estar em equilíbrio (SÁ JUNIOR, 2000). Os
estivadores também relacionam a saúde como bem-estar ou sentir-se bem, ou estar
bem com o corpo denotando a idéia de saúde como bom funcionamento fisiológico.
Ao discutir o conceito de saúde a partir de uma visão dinâmica, Deliberato
(2002) apud Santos-Filho (2007) escreveu:
Saúde é um estado relativo de equilíbrio da forma e função do organismo, que resulta de seu ajustamento dinâmico satisfatório às forças que tendem a perturbá-lo.(Deliberato, 2002 apud SANTOS-FILHO, 2007, p. 24)
Foi encontrado na afirmação dos estivadores pesquisados que saúde é o
“bem-estar”, portanto há uma relação com a idéia exposta acima, principalmente no
que se refere ao aspecto do equilíbrio indispensável para o funcionamento
apropriado do organismo. E essa relação da saúde como bem-estar pode ter tido a
35
finalidade de referir que não possuem dificuldades, enfermidades e limitações para
desenvolver o trabalho.
A categoria segurança aparece relacionada à prevenção, isto é a tomada de
ações para evitar que ocorra a doença, seja no ambiente laboral ou fora dele.
Segundo Ferreira (1990), prevenir tem o significado de "preparar; chegar antes de;
dispor de maneira que evite (dano, mal); impedir que se realize". Contudo, essa
categoria surgiu relacionada aos riscos existentes no ambiente de trabalho e o
prejuízo que eles podem acarretar na visão dos estivadores.
No estudo desenvolvido por Cavalcante et al, (2005), foram relacionados que
os principais problemas de saúde inerentes à profissão de estivador são, entre
outros, os distúrbios osteoarticulares e metabólicos como o diabetes e hipertensão
arterial. Também apareceram os problemas de pele como bolhas, queimaduras e
manchas, e uso do álcool e de entorpecentes.
6.2 A percepção de risco
Percebeu-se que a maior parte dos estivadores que trabalham no Porto Seco
Ferroviário identificarem a existência de riscos no seu local de trabalho evidenciando
que o ambiente de trabalho portuário é percebido por eles como uma área de risco,
dado que existe a possibilidade constante de acidentes (SOARES, et al. 2008).
Os resultados apresentados na categoria acidentes de trabalho convergem
com o estudo realizado por Silva et. al. (1996), onde foram avaliados 154 acidentes
de trabalho ocorrido com trabalhadores autônomos do porto da cidade de Rio
Grande-RS no período de 1986 a 1995, os autores concluíram que a maioria dos
acidentes ocorreram pelas más condições de trabalho, pois o próprio corpo do
trabalhador é sua ferramenta de trabalho. Também no caso dos estivadores do
Porto Seco Ferroviário de Uruguaiana, a principal ferramenta de trabalho no
carregamento de sacos são os seus próprios corpos.
O acidente típico de trabalho definido por Cezar-Vaz et al, (2009) é
identificado nas falas dos estivadores estudados. Essa percepção do risco do
36
acidente típico de trabalho apresentou-se quando foram relatadas as características
do trabalho realizado, ao perigo do manuseio das sacas, ao perigo da queda da
prancha e o risco de intoxicação pelo odor do fertilizante químico.
A percepção do risco do acidente na prancha é muito citada por estes
trabalhadores, uma vez que durante o transporte das sacas eles necessitam utilizar
esse instrumento de trabalho para deslocarem-se de um vagão para outro em uma
altura superior a um metro de altura.
Além disso, dependendo de onde foram posicionadas as composições
ferroviárias, a distância entre vagão doador da carga e o vagão recebedor pode ser
maior que o comprimento das pranchas, obrigando a estes trabalhadores usarem de
um artifício chamado por eles de burro.
Esta expressão não representa nada mais do que uma pilha de sacas que
são colocadas para dar suporte a um dos lados da prancha, auxiliando no
transbordo do produto, sendo que estes também são percebidos como um risco na
execução do trabalho.
O burro é uma condição insegura reconhecida por estes trabalhadores, porém
nota-se que mesmo reconhecendo o “perigo” ou a condição de risco, os mesmos se
expõe a elas, tornando essa ação um “ato inseguro” (OLIVEIRA, 2007).
Segundo Dejours (2007), muitas vezes os trabalhadores possuem uma
resistência para o cumprimento de inúmeras normas que visam sua segurança. E
essa resistência se deve ao fato que o trabalhador sabe que as normatizações não
lhe asseguram a prevenção de acidentes.
Esse conhecimento vem da experiência adquirida por ele, e que o conduz a
princípios próprios que regulam o agir, inclusive no manejo dos riscos e precauções
contra acidentes (DEJOURS, 2007).
A NR-11 que normatiza do transporte, movimentação, armazenagem e
manuseio de materiais, em especial a movimentação de sacarias, traz as seguintes
determinação com respeito a prancha:
“11.2.3. É vedado o transporte manual de sacos, através de pranchas, sobre vãos superiores a 1,00 m (um metro) ou mais de extensão. 11.2.3.1. As pranchas de que trata o item 11.2.3. deverão ter largura mínima de 0,50 m. (PINTO; WINDT; CÉSPEDES, 2008, p. 204.)
37
Ainda sobre o a prancha e percepção de risco, foi identificada a possibilidade
de queda devido a mesma encontrar-se molhada nos dias de chuva. Segundo a NR-
11 deve-se evitar o transporte manual de sacas em pisos escorregadios ou
molhados (PINTO; WINDT; CÉSPEDES, 2008).
A possibilidade de ocorrer um acidente durante a liberação do freio do vagão
de forma manual é vista com potencial causador de acidentes. O fato de estes
trabalhadores necessitarem muitas vezes usar este artifício para dar prosseguimento
ao trabalho sem aguardar a chegada da locomotiva para realizar a manobra os
expõe a grande risco de acidente pelo ato inseguro (OLIVEIRA, 2007).
Além disso, o próprio vagão é percebido como um local de risco devido a
exposição ao risco mecânico podendo causar quedas, contusões e esmagamento
de membros como também ao risco químico onde foi citado o pó como fator de
risco. Ademais disso, segundo a NR-09 a poeira é um agente químico que pode
trazer danos a saúde do trabalhador (PINTO; WINDT; CÉSPEDES, 2008).
Assim como a maioria dos trabalhadores deste Porto Seco, a categoria dos
estivadores desenvolve suas atividades expostos a intempéries, expondo estes
trabalhadores as mais diversas condições climáticas, tais como as chuvas, os
ventos, a exposição ao sol, as oscilações de temperatura ao longo do dia,
assemelhando-se aos riscos enfrentados pelos trabalhadores avulsos de portos
marítimos (SOARES et al., 2008).
O maior perigo é a exposição ao calor somada com o tipo de trabalho braçal
executado por estes trabalhadores que pode desencadear uma sobrecarga térmica.
A Associação Brasileira de Higienistas Ocupacionais (2006) diz que a
sobrecarga térmica é a quantidade de carga de calor a que o trabalhador pode estar
exposto, resultante da combinação das contribuições da taxa metabólica relacionada
ao trabalho exercido e dos fatores ambientais e das vestimentas exigidas para o
trabalho.
Além da exposição ambiental a agentes físicos, químicos e biológicos, os
perigos desta ocupação englobam ainda os fatores ergonômicos, com referência às
movimentações repetitivas e às dificuldades do trabalho de estiva, tal como o ato
contínuo de vergar o corpo para apanhar as sacas ou carregar peso excessivo junto
ao corpo.
O risco ergonômico devido ao carregamento manual de carga é reconhecido
por alguns dos trabalhadores, sendo que esse resultado é semelhante com outros
38
estudos que apontam esse manuseio como causa freqüente de problemas de
músculos, articulações e coluna vertebral entre estivadores (MERINO, 1996,
CAVALCANTE et al., 2005, SOARES et al., 2008).
Em um estudo desenvolvido por Losso, et. al., (2005) alertam que a execução
da descarga inadequada de sacas de 50Kg constitui um risco a coluna vertebral,
bem como aos músculos dos braços e ombros.
No âmbito nacional, não existe uma verdadeira consciência dos sérios
problemas que acarreta para a saúde dos trabalhadores o manuseio de cargas.
Segundo pesquisas, no Brasil, a principal dor sentida pela população é a dor nas
costas. No âmbito mundial, em 1995, 80% da população, segundo Oliveira (1995),
apresentaram dor nas costas.
No Brasil a atuação do Governo, empregadores e empregados na prevenção
de danos a saúde e a segurança do trabalho são regidas por Normas
Regulamentadas (NR). Estas NR foram criadas através da Portaria nº. 3.214, de 08
de junho de 1978 que regulamentou a Lei nº. 6.514, de 22 de dezembro de 1977,
que alterou o Capítulo V do Título II da Consolidação das Leis do Trabalho (CLT).
Dentre estas NR, podemos destacar a NR-11, que regulamenta o transporte,
movimentação, armazenagem e manuseio de materiais e a NR-17 que trata da
ergonomia no trabalho (PINTO; WINDT; CÉSPEDES, 2008).
Assim como na grande maioria dos países, no Brasil existem leis que limitam
o peso máximo que um trabalhador pode transportar individualmente. A Lei Nº
6.514, de 22 de dezembro de 1977 no seu artigo 198, define o peso máximo que o
trabalhador brasileiro pode remover individualmente é de 60 kg (sessenta
quilogramas), observadas as disposições especiais relativas ao trabalho do menor e
da mulher (BRASIL, 1977).
Quando observamos na fala de um dos estivadores a palavra “pressão”, quer
dizer que recebem ordens para acelerar os carregamentos é visto também como um
risco. Segundo Wünsch Filho, (1999), existe um aumento nos riscos de acidentes
devido ao acréscimo da carga horária de trabalho bem como do aumento
intensidade de trabalho.
Quando os resultados se apresentam centrados na categoria perigo no
ambiente de trabalho, os estivadores encaram as ameaças existentes no seu
trabalho, reconhecendo a sua presença, mas reforçam a necessidade da realização
39
do seu serviço, pois na fala de um dos estivadores, este reconhece que nem sempre
eles possuem a condição segura para trabalhar.
Isto quer dizer que consideram a exposição a perigos uma constante no seu
trabalho, mas devido a condições sócio-econômicas desfavoráveis, falta de
instrução, entre outros fatores condicionantes, eles realizam por necessidade este
serviço perigoso, pois a maioria dos estivadores tem o seu trabalho como única
fonte de renda familiar.
Nas falas dos estivadores percebeu-se que eles reconhecem os seus
instrumentos de trabalho como a prancha, e também o ambiente de trabalho como o
vagão como perigos potenciais, e estes são aumentados quando se relacionam com
a sua forma de uso como, por exemplo, quando a prancha é colocada sobre burros,
ou quando o trabalho é realizado durante a noite dentro dos vagões.
40
7 CONSIDERAÇÕES FINAIS
O objetivo deste trabalho foi conhecer a percepção de risco à saúde
existentes no trabalho realizado por estivadores no Porto Seco Ferroviário, no
Município de Uruguaiana, Estado do Rio Grande do Sul, Brasil.
A partir deste considera-se que no entendimento da maioria dos
trabalhadores a saúde é vista como a ausência de doenças e sintomas, sendo vista
a partir das considerações clinico-patológicas. Nesta mesma linha de entendimento,
o uso de medicamentos foi relacionado como forma de garantir a manutenção da
saúde.
Também se verificou que na concepção destes trabalhadores, a saúde está
relacionada, de forma positiva, aos hábitos saudáveis, tais como: os alimentares, a
higiene corporal e bucal, o sono e o repouso, porém, o álcool e o fumo foram
apontados como fatores negativos a saúde.
A saúde também foi percebida como bem-estar, emergindo através do estado
de bem estar, evidenciando que saúde está relacionada ao bom funcionamento
orgânico-fisiológico do corpo.
A segurança surge relacionada à saúde como fator de prevenção aos riscos
contidos na atividade de carregamento manual de sacas, no ambiente de trabalho e
as condições de trabalho.
Com relação à percepção de risco ficou evidenciado que os estivadores
entendem e identificam os riscos presentes em seu ambiente de trabalho por meio
dos instrumentos de trabalho, pela execução de movimentação manual de cargas, e
a relação destes com o perigo de sofrer um acidente de trabalho ou de adquirir
doenças ocupacionais (distúrbios osteoarticulares) (MERINO, 1996).
Portanto, conclui-se que a percepção de risco não está centrada na noção
das normas e técnicas, mas sim de uma visão subjetiva que surge no próprio
ambiente de trabalho de acordo com a realidade e o contexto que este trabalhador
está inserido.
41
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APÊNDICE A - Termo de Consentimento Livre e Esclarecido
Universidade Federal do Pampa
Campus Uruguaiana Curso de Enfermagem
TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO
Prezado (a) Participante
Solicitamos a sua colaboração para participar do estudo intitulado: PERCEPÇÃO DE RISCO DOS ESTIVADORES
DO PORTO SECO FERROVIÁRIO DE URUGUAIANA, RIO GRANDE DO SUL, BRASIL, que está sendo desenvolvido pelos
acadêmicos de enfermagem Charles Jopar Hedlund e Luiz Antonio Fernandes Filho e coordenado pelo Professor Valdecir
Zavarese da Costa, pertencente a Universidade Federal do Pampa.
O objetivo geral deste estudo é conhecer a percepção de risco à saúde existentes no trabalho realizado por
estivadores do Porto Seco Ferroviário. Para participar deste estudo, faremos uma coleta de dados mediante a realização de
entrevista, a qual será gravada e transcrita para posterior análise.
As entrevistas serão descritas, garantindo o anonimato dos participantes e o caráter confidencial das informações
obtidas. Visando o seu anonimato, as entrevistas serão identificadas por um código. Garante-se que não haverá nenhuma
repercussão ou implicação legal para tu, participante do estudo.
A pesquisa tem finalidade acadêmica e destina-se a explorar a relação estabelecida entre trabalho exercido pelo
trabalhador estivador e os risco a que eles estão expostos.
Asseguramos o compromisso com os princípios éticos no desenvolvimento do trabalho, bem como nos seus produtos
de divulgação, reiteramos o respeito à privacidade e o anonimato de cada participante. Sobre a garantia de receber respostas
ou esclarecimentos a qualquer pergunta ou dúvida acerca riscos, benefícios e demais assuntos relacionados à pesquisa.
CONSENTIMENTO:
Declaro ter sido informado de forma clara e detalhada sobre os objetivos, a justificativa, e o desenvolvimento da
entrevista, sendo garantido: o esclarecimento de dúvidas, a liberdade de deixar de participar do estudo sem prejuízos, o
anonimato, os preceitos éticos e legais (antes, durante e após o desenvolvimento do estudo) e do uso de gravador.
Desta forma, concordo em participar deste estudo.
Assinatura do pesquisador em loco:______________________________________
Assinatura do participante: ____________________________________________
Data: ___/___/___
Assinatura do coordenador do estudo:_____________________________________
Rua Tiradentes, 2617/408 Centro Uruguaiana/RS CEP 97510-501 E-mail: [email protected]
UNIPAMPA - Campus Uruguaiana
Endereço: BR 472 - Km 592 - Caixa Postal 118 - Uruguaiana - RS - CEP: 97500-970
Fone: (55) 3413-4321 / (55) 3414-1484
49
APÊNDICE B – Formulário 1ª parte
Universidade Federal do Pampa
Campus Uruguaiana Curso de Enfermagem
FORMULÁRIO 1ª parte
Caracterização do sujeito
a) Sexo: ( ) Feminino ( ) Masculino
b) Idade (em anos completos): ________________
c) Estado civil: ( ) Casado ( ) Solteiro
( ) Divorciado ( ) Viúvo ( ) Outro. Qual ____________
d) Tem filhos: ( ) Sim ( ) Não
Se sim, quantos ____________
e) Escolaridade: ( ) Analfabeto
( ) Ensino fundamental incompleto
( ) Ensino Fundamental Completo
( ) Ensino médio incompleto
( ) Ensino médio completo
( ) Ensino superior incompleto
( ) Ensino superior completo
f) Profissão: ( ) Estivador ( ) Outra. Qual _____________
g) Quanto tempo está nesse cargo (em meses):___________________________________
h) Qual a renda? R$ _______________________________________________________
i) Habitação: ( ) Casa própria ( ) Casa alugada
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APÊNDICE C - Formulário 2ª parte
Universidade Federal do Pampa
Campus Uruguaiana Curso de Enfermagem
2ª parte
FORMULÁRIO
EM RELAÇÃO AO TEU TRABALHO
1) Por gentileza, discorra sobre as atividades que você desenvolve no teu trabalho? - O que
você faz?
2) Com quem você desenvolve as suas atividades?
3) Como você desenvolve as suas atividades?
4) Onde você desenvolve ou aplica o seu trabalho?
5) Porque você desenvolve as suas atividades?
6) O que você entende por saúde?
7) O que você entende por riscos?
8) Qual a relação existente entre riscos e o seu trabalho?
9) Exemplifique uma situação de risco vivenciada no teu trabalho?
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ANEXO A –Carta de Aprovação do Comitê de Ética em Pesquisa
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