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UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ FACULDADE DE MEDICINA DEPARTAMENTO DE PATOLOGIA E MEDICINA LEGAL PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM PATOLOGIA LÍVIA ÉRIKA CARLOS MARQUES QUANTIFICAÇÃO POR PCR EM TEMPO REAL DE Mycobacterium leprae EM AMOSTRAS DE SECREÇÃO NASAL E BIÓPSIAS DE PELE EM HANSENIANOS FORTALEZA 2013

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ

FACULDADE DE MEDICINA

DEPARTAMENTO DE PATOLOGIA E MEDICINA LEGAL

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM PATOLOGIA

LÍVIA ÉRIKA CARLOS MARQUES

QUANTIFICAÇÃO POR PCR EM TEMPO REAL DE Mycobacterium leprae EM

AMOSTRAS DE SECREÇÃO NASAL E BIÓPSIAS DE PELE EM HANSENIANOS

FORTALEZA

2013

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LÍVIA ÉRIKA CARLOS MARQUES

QUANTIFICAÇÃO POR PCR EM TEMPO REAL DE Mycobacterium leprae EM

AMOSTRAS DE SECREÇÃO NASAL E BIÓPSIAS DE PELE EM HANSENIANOS

Dissertação de Mestrado apresentada ao Programa de Pós-graduação em Patologia, da Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Ceará, como requisito parcial para obtenção do Título de Mestre em Patologia. Área de concentração: Medicina II.

Orientadora: Profª. Drª Cristiane Cunha Frota.

FORTALEZA

2013

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Dados Internacionais de Catalogação na Publicação

Universidade Federal do Ceará

Biblioteca de Ciências da Saúde

M319q Marques, Lívia Érika Carlos.

Quantificação por PCR em tempo real de Mycobacterium leprae em amostras de secreção

nasal e biópsias de pele em hansenianos. / Lívia Érika Carlos Marques. – 2013.

72 f. : il. color., enc. ; 30 cm.

Dissertação (mestrado) – Universidade Federal do Ceará, Centro de Ciências da Saúde,

Faculdade

de Medicina, Departamento de Patologia e Medicina Legal, Programa de Pós-Graduação em

Patologia, Mestrado em Patologia, Fortaleza, 2013.

Área de Concentração: Medicina II.

Orientação: Profa. Dra. Cristiane Cunha Frota.

1. Hanseníase. 2. Reação em Cadeia de Polimerase em Tempo Real. 3. Mycobacterium leprae.

I. Título.

CDD 614.546

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LÍVIA ÉRIKA CARLOS MARQUES

QUANTIFICAÇÃO POR PCR EM TEMPO REAL DE Mycobacterium leprae EM

AMOSTRAS DE SECREÇÃO NASAL E BIÓPSIAS DE PELE EM HANSENIANOS

Dissertação de Mestrado apresentada ao Programa de Pós-graduação em Patologia, da Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Ceará, como requisito parcial para obtenção do Título de Mestre em Patologia. Área de concentração: Medicina II.

Aprovada em:___/___/_____.

BANCA EXAMINADORA.

Profª. Drª. Cristiane Cunha Frota (orientador)

Universidade Federal do Ceará – UFC

___________________________________________________________________

Prof. Dr. Alexandre Havt Bindá

Universidade Federal do Ceará – UFC

Prof. Dr. Roberto da Justa Pires Neto

Universidade Federal do Ceará – UFC

Profª. Drª. Tatiane Rodrigues de Oliveira

Fundação Oswaldo Cruz - FIOCRUZ

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AGRADECIMENTOS

Em primeiro lugar, agradeço ao DEUS em quem encontrei força e sabedoria para

completar mais uma etapa da minha jornada.

Aos meus queridos pais, Joaquim Carlos e Fátima Marques, que dedicaram suas

vidas ao meu crescimento por me ajudarem nessa caminhada e que em momento

algum deixaram de acreditar no meu potencial e de investir em meus estudos e no

meu futuro.

Ao meu esposo, Cláudio Albuquerque de Mattos Brito, pelo incentivo, apoio,

paciência e compreensão durante os intermináveis dias de ausência, dedicados

tanto aos estudos como ao trabalho no laboratório.

Ao meu irmão Luciano Carlos Marques e meus sobrinhos Louise e Felipe que

vibraram com minha vitória.

À minha orientadora, Profa Dra Cristiane Cunha Frota, que me deu oportunidade de

tornar o meu sonho uma realidade. Sempre atuando como facilitadora na resolução

dos entraves que se apresentaram durante o desenvolvimento do meu trabalho,

demonstrando competência, serenidade, confiança e determinação.

Aos queridos, professor Alexandre Havt Bindá e Josiane Quetz, meus co-

orientadores de fato. A competência e segurança deles, seus conhecimentos e

ensinamentos fizeram toda a diferença nesse trabalho.

À Profa Dra Maria Izabel Florindo Guedes seus ensinamentos foram de grande valia

para o meu ingresso no mestrado.

Aos professores da banca, Prof. Dr. Roberto da Justa Pires Neto, Profª. Drª. Tatiane

Rodrigues de Oliveira e Prof. Dr. Alexandre Havt Bindá pelas relevantes

considerações para melhoria desse trabalho.

Aos professores por terem contribuído para minha formação de uma maneira tão

prazerosa.

Aos meus colegas de laboratório, João Carlos, Lívia Coelho, Luana Nepomuceno,

Maísa Holanda, Maria Luiza e Thaís Eveline, pela amizade e companheirismo

durante a convivência no laboratório de micobactérias.

Aos queridos, Margarida, Olavo e Socorro pela amizade e disposição em ajudar.

À Universidade Federal do Ceará por ser um espaço onde além de realizar o

presente trabalho fiz grandes amizades.

A Capes e ao CNPq pelo apoio financeiro.

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RESUMO

O Mycobacterium leprae, agente etiológico da hanseníase, não é cultivável em meio

axênico. A quantificação do bacilo realizada pelo exame baciloscópico e

histopatológico é útil para a classificação da hanseníase na escolha e

monitoramento do tratamento. No entanto, esta metodologia produz resultados de

especificidade e sensibilidade limitada. A PCR em tempo real (qPCR) é um ensaio

sensível e específico que permite a quantificação a partir de diversas amostras e

pode ser utilizada no diagnóstico diferencial de muitos patógenos. Até o momento,

nenhum estudo avaliou a sensibilidade e especificidade da qPCR para o diagnóstico

da hanseníase utilizando amostras de secreção nasal. Portanto, este estudo teve

como objetivo detectar e quantificar o DNA de M. leprae por qPCR em amostras de

secreção nasal e biópsias de pacientes com hanseníase, correlacionando com a

avaliação clínica e o índice baciloscópico. Foram analisadas 61 amostras de muco

nasal e 19 amostras de biópsia de lesão de pele (pareadas) de casos confirmados

de hanseníase atendidos no Centro de Referência Nacional em Dermatologia

Sanitária Dona Libânia. Todas as amostras foram submetidas à extração e

amplificação de DNA por nested PCR da região de 238 pb da sequência RLEP2.

Posteriormente as amostras foram submetidas à quantificação da região 16S rRNA

do genoma de M. leprae pela qPCR, cuja especificidade foi verificada através da

curva de dissociação (Tm=79,5ºC). O método foi suficientemente sensível para

detectar 20 fg de DNA de M. leprae, o equivalente a quatro bacilos. Na análise da

secreção nasal, o ensaio foi capaz de confirmar o diagnóstico em 89,7% dos casos

multibacilares (MB), e 73,3% dos casos paucibacilares (PB). A sensibilidade foi de

100% na analise de biópsias de pacientes MB. O número de bacilos detectados nas

amostras de secreção nasal de pacientes com hanseníase se manteve no intervalo

de 1,39 x 103 a 8,02 x 105 bacilos, enquanto a detecção em biópsia de pacientes MB

variou de 1,87 x103 a 1,50 x 106. A PCR em tempo real é mais sensível do que a

PCR convencional e pode ser utilizada como uma ferramenta complementar para o

diagnóstico clínico e histopatológico da hanseníase.

Palavras-chave: hanseníase, PCR em tempo Real (qPCR), Mycobacterium leprae,

secreção nasal.

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ABSTRACT

Mycobacterium leprae, the etiologic agent of leprosy, is not cultivable in axenic

medium. The quantification of bacilli performed by skin bacilloscopy and

histopathology is useful for the clinical classification of leprosy and treatment

monitoring. However, this methodology yields low results regards to sensitivity and

specificity. On the other way, the real-time quantitative PCR (qPCR) is a sensitive

and specific assay that allows quantification of a varied of samples and also can be

used for differential diagnosis of many pathogens. To this date, no studies have

evaluated the sensitivity and specificity of qPCR for the diagnosis of leprosy from

nasal secretion samples. Therefore, this study aimed at detecting and quantifying

DNA from M. leprae by qPCR from nasal secretion and biopsy samples from leprosy

cases, correlating with clinical and bacteriological index. We analyzed 61 samples of

nasal secretion and 19 biopsy specimens of skin lesion (paired) from confirmed

leprosy cases seen at the National Reference Center for Sanitary Dermatology Dona

Libânia. All samples were subjected to DNA extraction followed by amplification by

nested PCR of a region of 238 bp which targets a RLEP2 repetitive sequence. The

samples were subjected to quantification of 16S rRNA region of the genome of M.

leprae by qPCR, which specificity was verified by amplicon melting temperature (Tm

= 79.5 ° C). The method was able to detect amounts over to 20 fg of M. leprae DNA,

equivalent to four bacilli units. Nasal secretion assay was able to confirm the

diagnosis in 89.7% of the multibacillary cases (MB) and 73.3% of the paucibacillary

cases (PB). In addition, MB patient biopsies sensitivity was 100%. The number of

bacilli detected in nasal secretion samples from leprosy patients ranged from 1.39 x

10³ to 8.02 x 105 bacilli, while detection in MB patient biopsy ranged from 1,87 x 103

to 1,50 x 106. The real-time PCR is more sensitive than conventional PCR and can

be used as a complementary tool for the clinical and histopathological diagnosis of

leprosy.

Keywords: Leprosy, Real-time PCR (qPCR), Mycobacterium leprae, nasal secretion.

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“Vocês navegaram tanto por meus sonhos. E agora chegam em meu despertar, que é meu sonho mais profundo.

Estou pronto para partir, e minha ansiedade, de velas abertas espera o vento.”

(Khalil Gibran)

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LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Figura 1 - Morfologia do M. leprae..................................................................... 15

Figura 2 - Modelo esquemático da parede celular do M. leprae........................ 16

Figura 3 - Representação esquemática do genoma circular do M. leprae ........ 18

Figura 4 - Mapa da distribuição mundial de casos novos de hanseníase em

2011. .................................................................................................

21

Figura 5 - Espectro clínico da hanseníase baseado na classificação de Ridley

e Jopling.............................................................................................

23

Figura 6- Espectro imunopatológico da hanseníase baseado na classificação

de Ridley e Jopling e no índice baciloscópico...................................

25

Quadro 1 - Escala Logarítmica de Ridley e Jopling, 1962................................... 27

Figura 7 - Fluxograma do ensaio de PCR convencional e qPCR...................... 35

Figura 8 - Procedimento para coleta de amostra de muco nasal...................... 36

Quadro 2 - Iniciadores para amplificação do DNA de M. leprae.......................... 38

Figura 9 - Produto de amplificação por Nested PCR a partir da região

genômica Mycobacterium leprae repetitive element RLEP2

(GenBanK X17151) ...........................................................................

39

Figura 10 - Plasmídeo pIDT Blue (Integrated DNA Technologies)………………. 40

Figura 11 - Produto de amplificação por qPCR da região genômica 16S rRNA

específica do Mycobacterium leprae ................................................

41

Figura 12 - Distribuição dos 61 casos do estudo de acordo com o sexo............. 45

Figura 13- Eletroforese em gel de agarose 2% com produto de amplificação

da região RLEP2 de M. leprae ..........................................................

46

Figura 14 - Sensibilidade analítica da qPCR na detecção de M. leprae ............. 47

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Figura 15 - Análise da curva de dissociação e limite de detecção da qPCR....... 48

Figura 16 - Especificidade da qPCR na detecção de M. leprae ......................... 48

Figura 17 - Eletroforese em gel de agarose 2% com produto de amplificação

da região 16S rRNA de M. leprae .....................................................

49

Figura 18 - BLAST da região genômica de 124 pb do gene 16s rRNA de M.

leprae ................................................................................................

50

Figura 19 - Alinhamento das sequências 16S rRNA de M. leprae e M.

tuberculosis .......................................................................................

51

Figura 20 - Relação linear entre os valores de CT e as diluíçoes do DNA

plamidial do M. leprae .......................................................................

54

Figura 21 - Regressão linear da curva padrão proveniente da amplificação do

DNA plasmidial de M. leprae em diluições seriadas de razão 10,

106 a 103 cópias de DNA ...................................................................

55

Figura 22 - Relação entre o número de bacilos e o IB de pacientes MB ............ 56

Figura 23 - Relação entre os valores de CT e o IB de pacientes MB .................. 57

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LISTA DE TABELAS

Tabela 1 – Comparação das características do genoma de M. leprae em

relação ao M. tuberculosis.................................................................

18

Tabela 2 – Associação entre a forma clínica e o índice baciloscópico de

pacientes com hanseníase...............................................................

27

Tabela 3 – Distribuição das amostras dos casos confirmados de hanseníase e

distribuição de acordo com a classificação operacional, forma

clínica e gênero.................................................................................

44

Tabela 4 – Sensibilidade da PCR convencional para detecção de M. leprae na

secreção nasal de pacientes com hanseníase..................................

45

Tabela 5 – Sensibilidade clínica da qPCR para detecção da região de 142 pb

do gene 16S rRNA do M. leprae na secreção nasal de pacientes

com hanseníase...............................................................................

52

Tabela 6 – Sensibilidade da qPCR para detecção da região de 142pb do gene

16S rRNA do M. leprae na secreção nasal em relação a biópsia de

pacientes MB.....................................................................................

52

Tabela 7 – Comparação da positividade do ensaio RLEP/PCR convencional

em relação ao 16S/rRNA na análise de secreção nasal de 61

casos de hanseníase .......................................................................

53

Tabela 8 – Média do número de cópias para secreção nasal e biópsia de

lesão de pele de acordo com a classificação operacional.................

55

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LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

anti-PGL-1 Anticorpos contra o glicolipídeo fenólico 1

BAAR Bacilo Álcool Ácido Resistente

BB Borderline borderline

BL Borderline lepromatosa

BT Borderline tuberculoide

CDERM Centro de Referência Nacional em Dermatologia Sanitária Dona

Libânia

CT Ciclo limiar (do inglês “threshold cycle”)

DNA Ácido Desoxirribonucleico

DATASUS Departamento de Informática do Sistema Único de Saúde do Brasil

D Dimorfa

ELISA do inglês “Enzime Linked Immunosorbent Assay”

FIOCRUZ Fundação Oswaldo Cruz

I Forma clínica indeterminada

IB Índice baciloscópico

ILB Índice logarítmico da biópsia

LD Limite de detecção

LDI Laboratório de Doenças Infecciosas

LAM Lipoarabinomanana

LM Lipomanana

LL Forma lepromatosa

Mb Megabase

MB Multibacilares

ML-Flow Ensaio de fluxo lateral

MNT Micobactérias não-tuberculosas

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MTD Terapia multidroga

NI Não Informado

NTC Controle negativo (do inglês “no template control”)

OMS Organização mundial da Saúde

PB Paucibacilares

pb Pares de bases

PCR Reação da polimerase em cadeia

PGL-1 Glicolipídeo fenólico 1

PIM Monosídeos fosfatidilinositol

PNL Hanseníase neural pura

qPCR PCR em tempo real

r Coeficiente de correlação de Pearson

R2 Coeficiente de determinação

RLEP do inglês “repetitive element”

RNA Ácido Ribonucleico

rRNA RNA ribossômico

SNP Polimorfismo de um único nucleotídeo

TCLE Termo de Consentimento Livre e Esclarecido

TMM Monomicolato trealose

TT Forma tuberculoide

UFC Universidade Federal do Ceará

V Virchowiana

WHO World Health Organization

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO: UMA VISÃO GERAL...................................................... 14

1.1 O gênero Mycobacterium........................................................................ 14

1.2 Morfologia celular do M. leprae.............................................................. 15

1.3 O genoma do M. leprae........................................................................... 17

1.4 Transmissão............................................................................................. 19

1.5 Epidemiologia........................................................................................... 20

1.6 Aspectos clínicos e classificação.......................................................... 22

1.7 Diagnóstico............................................................................................... 26

1.7.1 Diagnóstico pela baciloscopia e histopatologia................................... 26

1.7.2 Detecção de anticorpos anti-PGL1......................................................... 28

1.7.3 Diagnóstico molecular da hanseníase................................................... 29

1.7.4 PCR em tempo real (qPCR) e o diagnóstico da hanseníase................ 30

2 JUSTIFICATIVA....................................................................................... 32

3 OBJETIVOS............................................................................................... 33

3.1 Objetivo geral........................................................................................... 33

3.2 Objetivos específicos.............................................................................. 33

4 METODOLOGIA....................................................................................... 34

4.1 Tipo e local de estudo.............................................................................. 34

4.2 Aspectos éticos................................................................................... 34

4.3 Critérios de inclusão e exclusão.......................................................... 34

4.4 Sujeitos do estudo................................................................................... 35

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4.5 Coleta e processamento das amostras de muco nasal e biópsia....... 36

4.5.1 Coleta das amostras de muco nasal...................................................... 36

4.5.2 Extração de DNA de M. leprae a partir do muco nasal......................... 36

4.5.3 Coleta de Biópsias................................................................................... 37

4.5.4 Extração de DNA de M. leprae a partir de biópsias.............................. 37

4.6 Amplificação da região RLEP específica do M. leprae......................... 37

4.7 Diagnóstico molecular de M. leprae por PCR em Tempo Real

(qPCR) ......................................................................................................

39

4.7.1 Construção do plasmídeo pIDTBlue contendo o Inserto de 16S

rRNA de M. leprae....................................................................................

39

4.7.2 Oligonucleotídeos para a qPCR.............................................................. 40

4.7.3 PCR em Tempo Real utilizando SYBR Green........................................ 41

4.7.4 Sensibilidade analítica e especificidade do qPCR para a detecção

de M. leprae............................................................................................

42

4.7.5 Sensibilidade clínica e eficiência de amplificação............................... 42

4.8 Análise estatística.................................................................................... 43

5 RESULTADOS........................................................................................... 44

6 DISCUSSÃO.............................................................................................. 58

7 CONCLUSÕES.......................................................................................... 63

REFERÊNCIAS.......................................................................................... 64

ANEXOS.................................................................................................... 69

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1 INTRODUÇÃO: UMA VISÃO GERAL

A hanseníase, também conhecida como doença de Hansen, é uma doença

infecciosa crônica causada pelo Mycobacterium leprae, na qual a susceptibilidade à

infecção e suas diferentes manifestações clínicas são atribuídas ao padrão de

resposta imune do hospedeiro. O M. leprae invade principalmente as células de

Schwann nos nervos periféricos levando a danos nos mesmos e ao desenvolvimento

de deficiências motoras (BRITTON; LOCKWOOD, 2004; PINHEIRO et al., 2011).

As fontes de infecção do M. leprae, bem como o seu modo de transmissão e

a patogênese precoce ainda permanecem parcialmente esclarecidas (NOORDEEN

et al., 1985). O M. leprae não pode ser cultivado in vitro e possui um longo período

de incubação que varia de 3 a 10 anos, tais características tornam difícil avaliar sua

fonte de transmissão e os vários aspectos relacionados às características clínicas da

doença (NOORDEEN, 1995; RODRIGUES; LOCKWOOD, 2011).

1.1 O gênero Mycobacterium

O gênero Mycobacterium pertence à ordem Actinomycetales e a família

Mycobacteriaceae. Além do M. leprae e do complexo M. tuberculosis, causador da

tuberculose, outros agentes infecciosos pertencem ao gênero e são coletivamente

chamados de “micobactérias não-tuberculosas” (MNT). Estes causam na maioria

das vezes infecções oportunistas: citam-se como MNT as espécies do complexo M.

avium-intracellulare, M. kansassi, M. fortuitum, e complexo M. chelonae-abscessus

(EUZÉBY, 1997) e saprófitas como a M. phlei, M. sphagni, M. gordonae (van INGEN

et al.,2012).

O gênero Mycobacterium compreende 157 espécies (EUZÉBY, 1997), que

podem ser classificadas como micobactérias de crescimento rápido ou de

crescimento lento. A primeira tem um tempo de geração de 3 a 4 horas e formam

colônias visíveis entre 2 a 7 dias. As micobatérias de crescimento lento apresentam

um tempo de geração de aproximadamente 24 horas em meio axênico e requerem

mais de 7 dias (2 a 6 semanas) para formar colônias visíveis (GRANGE, 1996). As

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15

infecções humanas são causadas principalmente por micobactérias de crescimento

lento, os quais requerem mais de 7 dias para formar colônias visíveis em meios

sólidos. As mesmas apresentam algumas espécies com semelhanças fenotípicas

que não podem ser facilmente caracterizadas por métodos bioquímicos

convencionais de identificação (KIM et al., 1999). O M. leprae é a única espécie do

gênero que não é cultivável in vitro. Entretanto, seu crescimento pode ser verificado

a partir do seu cultivo em tatus (Dasypus novemcintus) ou no coxim plantar de

camundongos (SCOLLARD et al., 2006).

1.2 Morfologia celular do M. leprae

O M. leprae consiste em uma bactéria intracelular, imóvel, não formadora de

esporos e microaerófila. Cora-se em vermelho pela fucsina e não se descora pela

lavagem com solução álcool ácida, sendo por isso considerada um bacilo álcool-

ácido resistente (BAAR). Em microscopia se apresenta com formato de hastes

ligeiramente curvas ou retas, de 1,5 a 8 µm de comprimento por 0,2 a 0,5µm de

largura. Apresenta crescimento lento, fazendo divisão binária a cada 12 a 21 dias.

Nos esfregaços os bacilos podem ser vistos em arranjo de globias (agrupados) ou

isolados (RESS, 1985; SCOLLARD et al., 2006) (FIGURA 1).

Figura 1 - Morfologia do M. leprae

(a) Fonte: Scollard (2006). O M leprae é fracamente ácido-álcool resistente, mas quando corado pelo método de Fite-Faraco, ele é visto em forma de bastonete de coloração vermelho; quando os bacilos estão em lise se apresentam mais curtos ou em formas granulares. BAAR dentro de um nervo

B

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16

humano, contrastado com azul de metileno. Ampliação, aproximadamente 800x. (b) Fonte: Centro de Dermatologia Sanitária Dona Libânia – CE. M. leprae visto em globias e isolados utilizando a coloração por Ziehl-Neelsen, ampliação 100x.

O envoltório do M. leprae consiste de uma membrana plasmática revestida

por uma camada de peptidoglicano covalentemente ligada a arabinogalactana. Os

ácidos micólicos estão ligados a resíduos terminais de arabinose da

arabinogalactana (ZUBER et al., 2008) (FIGURA 2).

Figura 2 – Modelo esquemático da parede celular do M. leprae

Fonte: Scherr & Nguyen (2009). A membrana plasmática é envolvida pela parede celular composta por peptidoglicano (verde) covalentemente ligada à arabinogalactana (amarelo). A camada de peptidoglicano-arabinogalactana forma a zona eletro-densa. Ácidos micólicos (azul) estão ligados aos resíduos terminais de arabinose. As múltiplas camadas e a espessura da parede celular contribuem para a patogenicidade e resistência intrínseca aos antibióticos de micobactérias patogênicas.

Os ácidos micólicos são importantes para a sobrevivência, crescimento e

patogenicidade das micobactérias. O seu papel na permeabilidade da parede celular

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17

contribuem para a sua resistência intrínseca aos antibióticos, desidratação e ao

dano químico. A camada de arabinogalactana age como um andaime para que os

ácidos micólicos ligados também possam desempenhar um papel na

imunogenicidade e permeabilidade aos antibióticos (SCHERR; NGUYEN, 2009).

Semelhante à membrana externa de bactérias Gram-negativas, os folhetos

lipídicos do envelope celular das micobactérias formam uma bicamada lipídica

hidrofóbica que proporciona uma barreira de permeabilidade externa e cria um

espaço periplasmático (HOFFMANN et al., 2008). A camada externa é composta por

polissacarídeos livres, fosfolipídeos e glicolipídeos, tais como lipoarabinomanana

(LAM), lipomanana (LM), monomicolato trealose (TMM), bem como monosídeos

fosfatidilinositol (PIM) que estão envolvidos em interações importantes com o

sistema imune do hospedeiro (SCHERR & NGUYEN, 2009). O lipídeo dominante na

parede celular que dá especificidade imunológica ao M. leprae é o glicolipídio

fenólico 1 (PGL-1) (VISSA & BRENNAN, 2001). Estudos sugerem que o PGL-1 está

envolvido na interação do M. leprae com a laminina de células de Schwann,

sugerindo um papel de interação do bacilo na periferia do nervo (Ng et al., 2000).

1.3 O genoma do M. leprae

Em 2001, o genoma completo de M. leprae foi sequenciado pela primeira vez

por Cole e colaboradores. O mesmo contém 3,27 Mb e a proporção de G + C de

57,8%. Os valores do tamanho do genoma e o teor de G + C do M. leprae são

considerados bastante inferiores em comparação ao do genoma do M. tuberculosis

com 4,41 Mb e 65,6% G + C (FIGURA 3) (COLE et al., 2001). A taxa de crescimento

lento, bem como sua incapacidade de crescer in vitro pode ser explicada pela

evolução redutiva extensa, com quase metade de seu genoma ocupado por

pseudogenes (TABELA 1) (MONOT et al., 2005).

A capacidade codificante do genoma do M. tubeculosis é de 90%, comparada

a 49,5% do genoma do M. leprae contendo genes codificadores de proteínas.

Todavia o genoma contém 27% de pseudogenes, ou seja, quadros de leitura

inativos, onde se observa homólogos funcionais ao bacilo da tuberculose. O

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restante, 23,5% do genoma, não parece ser de codificação e podem corresponder a

sequências reguladoras de genes ou mesmo restos de genes mutados (COLE et al.,

2001).

Tabela 1 – Comparação das características do genoma de M. leprae em relação ao M. tuberculosis

Característica do Genoma M. leprae M. tuberculosis

Tamanho 3.27 Mb 4.4Mb

(%) Conteúdo G + C 57,79 65,61

(%) Genes codificantes para proteínas 49,5 90,8

Número de genes codificantes para proteínas 1.614 3.929

Número de pseudogenes 1.133 6

Fonte: revisado em http://genolist.pasteur.fr

Figura 3 – Representação esquemática do genoma circular do M. leprae.

Fonte: Cole (2001). O mapa do genoma circular onde estão representadas a posição e

orientação de genes conhecidos, pseudogenes e sequências repetitivas. De fora para dentro:

círculos 1 e 2, (sentido horário e anti-horário) os genes das fitas - e +, respectivamente;

círculos 3 e 4, pseudogenes; 5 e 6, genes específicos de M. leprae; 7, sequências de

repetição; 8, conteúdo G+ C; 9, (G + C) / (G - C) desvio do conteúdo G/C. Os genes são

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codificados por cores representando categorias funcionais. Informações adicionais em:

http://www.sanger.ac.uk/Projects/M_leprae ou http://genolist.pasteur.fr/Leproma/. A escala em

Mb é indicada pelos números (0 a 3) do lado de fora do genoma.

1.4 Transmissão

Embora o modo exato de transmissão do bacilo não seja conhecido, acredita-

se que o principal modo de transferência seja pela disseminação de aerossóis da

secreção nasal de casos multibacilares (MB) não tratados e consequente absorção

pela mucosa nasal ou respiratória de um indivíduo suscetível (NOORDEEN, 1994). A

disseminação também pode ocorrer devido à eliminação de bacilos pela boca e em

menor grau pelo contato direto de uma pessoa infectada com uma pessoa suscetível

(LAVANIA et al., 2008).

O principal reservatório da infecção é o ser humano. Os tatus também

representam um importante reservatório nas Américas (TRUMAN et al., 2011;

FROTA et al., 2012). As infecções causadas por M. leprae ocorrem naturalmente no

tatu de nove bandas ou tatu-galinha (Dasypus novemcintus). Sua susceptibilidade à

infecção experimental foi demonstrada pela primeira vez na década de 1970, desde

então os tatus são o principal modelo animal para a hanseníase (TRUMAN et al.,

2011; SCOLLARD et al., 2006). Segundo Lavânia (2008), o papel exato do ambiente

na dinâmica de transmissão ainda é especulativo. O mesmo autor detectou a

presença de DNA e RNAm de M. leprae em amostras de solo do peridomicílio de

hansenianos em região endêmica na Índia (LAVANIA et al., 2008). De modo similar

também foi relatada a presença do DNA na água em estudos realizados em região

de alta endemicidade da Indonésia (MATSUOKA et al., 1999).

Em 2008, Job e colaboradores detectaram a presença de DNA de M. leprae

em lavados de pele de pacientes hansenianos MB não tratados utilizando a reação

em cadeia da polimerase (PCR), demonstrando assim a implicação de indivíduos

MB na disseminação de M. leprae no ambiente através da eliminação de bacilos

pela pele, sugerindo uma nova via de transmissão da doença. Todavia, ainda neste

estudo também foi verificada a presença de DNA na secreção nasal de indivíduos

MB relacionando com transmissão (JOB et al., 2008). Diversos estudos utilizando

técnicas de amplificação de DNA demonstraram que a cavidade nasal está

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envolvida no transporte e disseminação de M. leprae (de WIT et al., 1993a;

ALMEIDA et al., 2004; KLATSER et al., 1993). A cavidade nasal também é

considerada a via principal de entrada dos bacilos (KLATSER et al., 1993), sendo os

pacientes não tratados, com a forma MB a principal fonte de infecção (BARTON,

1974; DAVEY, 1974; ARAÚJO et al., 2012). Em região endêmica da Indonésia, foi

verificada a presença de DNA de M. leprae na secreção nasal de 7,8% indivíduos

saudáveis (KLATSER et al., 1993). O risco relativo de desenvolver hanseníase em

contatos domiciliares é de 8 a 10 vezes para a forma lepromatosa e 2 a 4 para a

forma tuberculoide (PINHEIRO et al., 2011).

Bakker e colaboradores (2006) sugerem que há um risco aumentado de

ocorrência da doença em pessoas que vivem no mesmo domicílio que pacientes

MB. O risco estimado de contatos domiciliares de pacientes MB desenvolverem a

doença é 4,6 vezes maior do que os não-contatos. Além disso, no estudo de Bakker

e colaboradores (2006), os contatos domiciliares de pacientes com PCR positivo de

amostras de secreção nasal, tiveram um risco quase dez vezes maior (9,36) de

desenvolver a hanseníase do que a população em geral. Estes mesmos autores

sugerem que em áreas endêmicas, os pacientes portadores de M. leprae na

secreção nasal tem maior potencial de transmissão (BAKKER et al., 2006).

1.5 Epidemiologia

A hanseníase é uma doença antiga comumente encontrada em regiões

tropicais e subtropicais (TRUMAN et al., 2011). Ao todo, 219.075 casos novos foram

registrados globalmente em 2011. O Brasil ocupa a segunda posição em detecção

com 33.955 casos novos (15,49%), sendo precedido pela Índia onde ocorreram

127.295 (58%) (WHO, 2012). Segundo a World Health Organization (WHO) ambos

os países compõem um grupo de 17 cuja detecção de casos novos foi ≥ 1.000 em

2010, sendo responsáveis por 95% dos casos novos de hanseníase no mundo

(WHO, 2011) (FIGURA 4).

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Figura 4 – Mapa da distribuição mundial de casos novos de hanseníase em 2011

Fonte: WHO (2011).

O uso da terapia multidroga (MTD), combinação das drogas rifampisina,

dapsona e clofazimina, para o tratamento de pacientes com hanseníase foi instituída

em 1986 (WHO, 2012) e proporcionou uma redução na prevalência da doença para

menos de um caso por 10.000 habitantes em 90% dos países endêmicos. Todavia,

a hanseníase ainda não foi eliminada e o número de casos novos apresenta uma

redução pouco expressiva em muitos países. Um terço dos pacientes recém-

diagnosticados já apresenta danos nos nervos e pode desenvolver deficiência,

embora a proporção varie de acordo com vários fatores, incluindo o nível de

educação e atenção à saúde (RODRIGUES; LOCKWOOD, 2011; PINHEIRO et al.,

2011).

Em 2010 foram registrados no Brasil cerca de 35.000 casos novos de

hanseníase. Destes, 40% eram MB e 6,42% menores de 15 anos. Dados da

Secretaria Estadual do Ceará mostram que em 2011 foram diagnosticados 2.003

casos novos no estado, alcançando um coeficiente de detecção geral de

23,7/100.000 habitantes. Estes dados tornam o estado do Ceará o 13º lugar nacional

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e o 4º lugar do Nordeste, em número de casos novos da doença. A média anual de

ocorrência da doença em menores de 15 anos é de 5,9%, o que demonstra a

existência de focos ativos de transmissão da hanseníase (OMS, 2012)

(SECRETARIA DA SAÚDE – CEARÁ, 2012).

Muitos esforços têm sido gerados pela Organização Mundial da Saúde (OMS)

como “A Estratégia global aprimorada para maior redução dos casos da hanseníase

(Período do Plano: 2011-2015)”, a qual está sendo adotada e implementada por

programas nacionais de hanseníase em países onde a doença é endêmica (WHO,

2012). Este programa tem duas metas que se destacam: reduzir em 35% a taxa de

casos novos com grau 2 de incapacidade (deficiências visíveis) em todo o mundo

até o final de 2015 em comparação com a linha de base no final de 2010; e reduzir

para um caso novo de hanseníase com grau dois de incapacitação para cada um

milhão de habitantes até 2020. Espera-se que a definição de uma meta global com

base na redução da ocorrência destes casos estimule a eficiência no diagnóstico da

doença e na administração de tratamento imediato com a MTD. Com a redução na

ocorrência de casos espera-se, consequentemente, ter um impacto na redução da

transmissão da doença na comunidade (WHO, 2011).

1.6 Aspectos clínicos e classificação

De acordo com Ridley e Jopling (1966), a hanseníase é classificada em dois

polos com formas transicionais intermediárias. Esta classificação foi estruturada com

base em critérios clínicos, histopatológicos e imunológicos para identificar cinco

formas clínicas da hanseníase: forma polar tuberculoide (TT), borderline tuberculoide

(BT), borderline - borderline (BB), borderline lepromatosa (BL) e a forma polar

lepromatosa (LL) (RIDLEY; JOPLING, 1966; PINHEIRO et al., 2011) (FIGURA 5).

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Figura 5 – Espectro clínico da hanseníase baseado na classificação de Ridley e Jopling

Fonte: Goulart (2002). A imunidade celular (IC) medida pelo teste de Mitsuda é inversamente proporcional à carga bacilar, medida pelo índice baciloscópico (IB). TT - polo tuberculoide; LL – polo virchowiano ou lepromatoso; BL, BB, BT – formas borderline (instáveis).

A classificação proposta por Ridley e Jopling representou um avanço

significativo na compreensão da relação entre os seres humanos e o bacilo da

hanseníase (BRITTON; LOCKWOOD, 2004; RIDLEY; JOPLING, 1966). No polo

tuberculoide da doença os pacientes possuem um alto grau de imunidade mediada

por células e hipersensibilidade tardia, apresentando-se com uma ou poucas lesões

bem demarcadas com hipopigmentação central e hipoestesia tátil, térmica e/ou

dolorosa. Biópsias destes revelam granulomas bem formados com macrófagos,

células epitelioides diferenciadas e gigantes, uma predominância de células T CD4+

no local da lesão e raros Bacilos Álcool Ácido Resistentes (BAAR) podem ser

detectados. Os pacientes tuberculoides exibem um perfil Th1 de resposta imune ao

M. leprae, produção IFN-γ e o teste cutâneo positivo (Reação de Lepromina ou de

Mitsuda) (MODLIN; REA, 1987; SCOLLARD et al., 2006; PINHEIRO et al., 2011)

(FIGURAS 5 e 6).

No outro extremo, os pacientes com a forma lepromatosa (LL), os quais são

suscetíveis à doença, apresentam numerosas lesões cutâneas mal demarcadas e

um predomínio de células T CD8+ in situ. Suas biópsias revelam macrófagos

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espumosos na derme (células de Virchow) e um grande número de bacilos em

arranjos de microcolônias chamadas de globias. Estes pacientes com hanseníase LL

exibem resposta predominante do tipo Th2 e títulos elevados de anticorpos contra o

PGL-1 (anti-PGL-1). A imunidade mediada por células contra o M. leprae varia de

mínima a ausente, caracterizado pelo teste cutâneo Mitsuda negativo e proliferação

de linfócitos diminuída. Entretanto a maioria dos pacientes encontra-se em três

categorias situadas entre estas duas formas polares: borderline lepromatosa (BL),

borderline-borderline (BB), e borderline tuberculoide (BT) (SCOLLARD et al., 2006;

BRITTON; LOCKWOOD, 2004; RIDLEY; JOPLING, 1966; PINHEIRO et al., 2011;

MODLIN et al., 1983). (FIGURAS 5 e 6).

O M. leprae é o único entre os patogênicos bacterianos capaz de causar

infecção nos nervos periféricos e os pacientes podem apresentar uma forma clínica

conhecida como hanseníase neural pura (PNL) (TRUMAN; KRAHENBUHL, 2001).

Além disso, as lesões cutâneas muito precoces podem se apresentar como

infiltrados perineurais relativamente inespecíficos em que raros BAAR podem ser

detectados, porém sem infiltração suficiente para classificá-los. Esta forma clínica é

denominada de forma indeterminada (I), que representa um estágio transitório e que

pode evoluir para uma das cinco formas clínicas descritas (MARTINEZ et al., 2011).

Para fins operacionais e terapêuticos, os pacientes são divididos em dois

grupos: paucibacilares (PB) (TT, BT), ou seja, pacientes com o índice baciloscópico

(IB) negativo e MB (BB, BL, LL) pacientes com IB positivo (OMS,1982).

Posteriormente, devido a recursos escassos e profissionais com pouco treinamento,

o Ministério da Saúde recomenda que seja empregada a classificação operacional

baseada no número de lesões, pacientes com o número menor ou igual a cinco são

classificados como PB e o número de lesões maior do que cinco são MB

(MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2001).

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Figura 6 – Espectro imunopatológico da hanseníase baseado na classificação de

Ridley e Jopling e no índice baciloscópico

Fonte: Scollard (2006). Campos representativos a partir de cada um dos tipos histopatológicos da hanseníase na classificação Ridley-Jopling são apresentados no painel superior, em hematoxilina-eosina (ampliação, 63x). As infiltrações granulomatosas epitelioides bem-formadas, vistas no polo tuberculoide (TT), as lesões se tornam cada vez mais desorganizadas em cada incremento sucessivo na escala até se tornam agregados completamente desorganizados de histiócitos espumosos, com apenas linfócitos ocasionais, no polo lepromatoso (LL). Campos representativos de cada classificação são apresentados em secções coradas em Ziehl-Neelsen no painel inferior (ampliação, 1.000x).

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1.7 Diagnóstico

O diagnóstico da hanseníase é baseado em critérios clínico-epidemiológico e

laboratorial (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2010). Em regiões de alta endemicidade

(>2,0/10.000 habitantes) e que não dispõem de recursos laboratoriais, o diagnóstico

passa a ser essencialmente clínico (MARTINEZ, 2009a) com base em um ou mais

dos seguintes sinais: presença de lesões na pele, perda de sensibilidade (não é

observado em BL), nervos periféricos espessados (WALKER; LOCKWOOD, 2006).

A detecção de BAAR pela baciloscopia em esfregaços intradérmico de pele ou

material de biópsia é importante para auxiliar no diagnóstico diferencial com outras

doenças dermatoneurológicas, casos suspeitos de recidiva e na classificação para

fins de tratamento (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2010).

1.7.1 Diagnóstico pela baciloscopia e histopatologia

O diagnóstico clínico é apoiado pela detecção dos bacilos pela coloração de

Ziehl-Neelsen de esfregaços do raspado intradérmico da pele ou linfa de lóbulos

auriculares e cotovelo. O IB baseia-se em uma escala logarítmica (variando 0 a 6 +)

(MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2010). A quantificação da densidade de M. leprae em

esfregaços de linfa é utilizada para avaliar a carga bacteriana e para a classificação

da resposta ao tratamento (PINHEIRO et al., 2011) (QUADRO 1). A detecção de

BAAR em esfregaços de pele tem alta especificidade, mas baixa sensibilidade, uma

vez que cerca de 70% de todos os pacientes de hanseníase são negativos para

baciloscopia (LOCKWOOD, 2002), pois formas PB não são facilmente detectadas

por esse método e nem pela histopatologia. No entanto, esfregaços de pele são

importantes porque eles identificam os pacientes mais infecciosos e os que estão

em maior risco de recaída (BRITTON; LOCKWOOD, 2004).

Nos exames histopatológicos são utilizadas biópsias cutâneas ou do ramo

sensitivo dos nervos periféricos para detecção do bacilo por meio de coloração pela

técnica de Wade (SIQUEIRA, 1984). Deste modo, o índice logarítmico da biópsia

(ILB) segue os mesmos critérios do IB, exceto pelo fato de levar em conta o

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logarítmo da área ocupada pelos granulomas (MARTINEZ, 2009a; BAPTISTA et

al.,2006). O diagnóstico histológico, quando disponível, é considerado o padrão-

ouro. A presença de inflamação neural diferencia histologicamente a hanseníase de

outras doenças granulomatosas (BRITTON; LOCKWOOD, 2004).

O IB, proposto por Ridley em 1962, é o método de avaliação quantitativo mais

correto e utilizado na leitura da baciloscopia em hanseníase (MINISTÉRIO DA

SAÚDE, 2010). A tabela 2 mostra a correlação entre a clínica e a baciloscopia

(MARTINEZ, 2009a).

Quadro 1 - Escala Logarítmica de Ridley e Jopling, 1962

IB Leitura

0 Ausência de bacilos em 100 campos examinados

1+ Presença de 1 a 10 bacilos, em 100 campos examinados

2+ Presença de 1 a 10 bacilos, em cada 10 campos examinados

3+ Presença de 1 a 10 bacilos, em média, em cada campo examinado

4+ Presença de 10 a 100 bacilos, em média, em cada campo examinado

5+ Presença de 100 a 1.000 bacilos, em média, em cada campo examinado

6+ Presença de mais de 1.000 bacilos, em média, em cada campo examinado

Fonte: Ridley & Jopling (1962)

Tabela 2 – Associação entre a forma clínica e o índice baciloscópico de pacientes com hanseníase

Forma clínica Índice bacilóscopico (IB)

I Baciloscopia sempre negativa.

TT IB = 0, raríssimos casos apresentam BAAR em lesões ativas.

BT IB = 1+, raros casos apresentam BAAR. BB IB = 0 a 4+, baciloscopia positiva ou negativa em esfregaços

de lesões de pequenos grupamentos bacilares.

BL IB = 1+ a 5+, baciloscopia positiva ou negativa em áreas não lesionais; presença de globias e grupamentos bacilares.

LL IB = 3+ a 6+, positiva em todos os sítios mesmo antes de manifestações clínicas. Presença de volumosas e numerosas globias e grupamentos bacilares.

Fonte: Martinez (2009a). I, indeterminada; TT, tuberculoide; (BT,BB,BL) formas borderline; LL lepromatosa.

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1.7.2 Detecção de anticorpos anti-PGL1

A presença de antígenos como o PGL-1 no envoltório do M. leprae

desencadeia uma resposta imune humoral no hospedeiro. O teste de ELISA (do

inglês “Enzime Linked Immunosorbent Assay”) para detecção de anticorpos anti-

PGL-1 é positivo em formas MB (GIRDHAR et al., 2007), estando presentes em 90%

dos pacientes sem tratamento, mas também mostra a positividade em indivíduos PB

e saudáveis em regiões endêmicas. De acordo com Britton e Lockwood, 40 a 50%

dos pacientes com doença paucibacilar e 1 a 5% de indivíduos saudáveis

apresentam positividade ao antígeno PGL-1, o que sugere a ocorrência de infecção

subclínica (BRITTON; LOCKWOOD, 2004). Portanto, a soropositividade a este

antígeno não indica um diagnóstico definitivo. Embora os testes sorológicos como o

ELISA e o ensaio “dipstick” por si só não tenham um valor diagnóstico, em conjunto

com os dados clínicos, estes são úteis para ajudar na classificação do paciente. O

ELISA anti-PGL-1 vem sendo utilizado para análises epidemiológicas em

comunidades endêmicas, onde se verifica que a diminuição da prevalência é

acompanhada pela detecção reduzida de soropositivos para PGL-1 em crianças

(BUHRER et al., 1998).

O ensaio de fluxo lateral (ML-Flow) é outro teste que tem sido utilizado para a

detecção de anticorpos para o PGL-1. Uma de suas vantagens é a rapidez, levando

apenas 10 minutos para sua execução. Além disso, apresenta concordância em

91% com ELISA (BUHRER-SEKULA et al., 2003). Segundo Scollard (2006), testes

sorológicos, embora tenham algum valor epidemiológico no acompanhamento da

população em estudo, não apresentam um grau satisfatório de sensibilidade e

especificidade para a sua aplicação em diagnóstico. A maior desvantagem é o fato

de que nos pacientes TT e BT, com números moderados de M. leprae e alto grau de

imunidade celular, o diagnóstico é mais difícil e a detecção de anticorpos circulantes

específicos não é reprodutível (SCOLLARD et al., 2006).

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1.7.3 Diagnóstico molecular da hanseníase

Nos últimos 15 anos a reação da polimerase em cadeia (do inglês

“polymerase chain reaction”, PCR) e outras técnicas de biologia molecular

representaram um grande avanço no diagnóstico laboratorial da hanseníase e nos

estudos da microbiologia básica. Contudo, estas técnicas ainda não são aprovadas

ou se tornaram disponíveis como um ensaio clínico de rotina (SCOLLARD et al.,

2006).

A PCR tem sido bastante utilizada em estudos recentes para detecção de

várias regiões do DNA do M. leprae em quase todos os tipos de amostras clínicas,

incluindo linfa, sangue, secreção nasal, biópsias da concha nasal inferior, lesões de

pele e biópsia do nervo (SANTOS et al., 1993; ALMEIDA et al., 2004; de WIT et al.,

1993a; PATROCINIO et al., 2005; MARTINEZ et al., 2009b; RUDEEANEKSIN et al.,

2008). Assim, consiste em uma ferramenta útil que pode fornecer um diagnóstico

preciso, o que é fundamental para a abordagem da hanseníase, a prevenção de

deficiências motoras, assim como para estudos epidemiológicos (GOULART et al.,

2007; JOB et al., 1997). A maior vantagem da PCR é a sua sensibilidade e

especificidade elevada, sem a necessidade de uma cultura bacteriana, o que é

imprescindível na detecção do DNA de M. leprae (GOULART; GOULART, 2008).

Vários iniciadores diferentes têm sido utilizados nos ensaios de PCR, com o

objetivo de amplificar regiões genômicas diversas de M. leprae com tamanhos de

fragmentos distintos, como por exemplo, o gene hsp18 (LINI et al., 2009), regiões

gênicas que codificam para antígeno de 36kDa (Kampirapap et al., 1998) ou 18kDa

(Scollard et al., 1998), sequências não codificantes com multicópias RLEP3

(PATROCINIO et al., 2005; TRUMAN et al., 2008), e 16s rRNA (KAMPIRAPAP et al.,

1998; MARTINEZ et al., 2009b). A amplificação destas diferentes regiões genômicas

apresenta grande variabilidade na sensibilidade (MARTINEZ et al., 2011).

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1.7.4 PCR em tempo real (qPCR) e o diagnóstico da hanseníase

Muitos estudos são realizados empregando diferentes técnicas para detecção

de M. leprae, uma delas é a PCR em tempo real (qPCR). Um ensaio quantitativo

baseado na medição da fluorescência, sendo o sinal fluorescente proporcional ao

produto amplificado. Para isso, utilizam-se oligonucleotídeos e sondas específicas

ou fluoróforos intercalantes na cadeia do DNA, como o sistema TaqMan e o sistema

SYBR Green, respectivamente, que emitem fluorescência a cada hibridização e a

cada passo de amplificação (KUBISTA et al., 2006).

A qPCR apresenta a capacidade de detectar e medir quantidades mínimas de

ácidos nucleicos, a partir de variados materiais biológicos contendo DNA. É um

ensaio simples, rápido, sensível e específico. Além da sua utilização como uma

ferramenta de pesquisa, muitas aplicações de diagnóstico têm sido desenvolvidas,

incluindo: a detecção de patógenos, determinação de dosagem do gene,

identificação de transgenes em organismos geneticamente modificados, avaliação

de risco de recorrência do câncer e aplicações para uso forense (BUSTIN et al.,

2009). Os usos típicos de PCR em tempo real também incluem análise de expressão

gênica, análise de polimorfismo de um único nucleotídeo (SNP) e análise de

aberrações cromossômicas (KUBISTA et al., 2006).

Em estudo realizado por Martinez em 2006, utilizando Taqman qPCR em

amostras de biópsia de pele de pacientes com hanseníase, a técnica atingiu a

sensibilidade de 100% em pacientes MB e 79,2% em PB. Sendo capaz de detectar

25 fg de DNA de M. leprae utilizando iniciadores que tinham como alvo o gene do

antígeno 85-B (Ag 85B), que foi de 17,7% superior à PCR convencional. Entretanto,

esse estudo utilizou apenas pacientes BT como forma paucibacilar, excluindo

pacientes TT. Enquanto, Rudeeaneksin e colaboradores em 2008 utilizando o

mesmo tipo de amostra e o sistema SYBR Green, para detecção da região 16s

rRNA do DNA de M. leprae, foi capaz de detectar um valor tão baixo como 20 fg com

100% de sensibilidade em casos MB e 50% PB. Todavia o estudo incluía pacientes

TT e I, formas clínicas PB cuja detecção do bacilo é mais difícil devido ao pequeno

número de bacilos, o que pode ter contribuído para diminuição da sensibilidade. Tais

ensaios apresentaram uma taxa de detecção equiparáveis. Além da elevada

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sensibilidade, o sistema SYBR Green tem como vantagem o custo mais baixo em

relação ao sistema TaqMan.

A partir desses dados, verifica-se que há uma necessidade de padronizar a

técnica de PCR em tempo real, especialmente considerando questões com amostra

clínica adequada, método de extração, gene alvo a ser amplificado e o tamanho do

fragmento amplificado (MARTINEZ, et al., 2011). Dentre todos os marcadores de

ácidos nucleicos (genes alvos) para o diagnóstico da hanseníase empregados na

literatura, três apresentam maior sensibilidade e especificidade (RLEP, Ag 85B e

16S rRNA) (GOULART; GOULART, 2008). De fato, esses dados corroboram com

achados de Martinez e colaboradores (MARTINEZ et al., 2011) cujas três regiões

específicas para o M. leprae também apresentaram melhores resultados, sendo que

o ensaio de qPCR para a região repetitiva RLEP, que se repete 28 vezes no genoma

do M. leprae, apresentou alta sensibilidade (100% para pacientes MB e 84.6% para

pacientes PB). Entretanto, a sua especificidade foi de 73,3%, o que deve ser

considerado devido ao fato de que amostras de quatro pacientes clinicamente e

histologicamente classificados como saudáveis foram positivas. Estes mesmos

autores sugerem que os pacientes podem ter tido erro de diagnóstico ou até mesmo

se encontravam em estado subclínico da hanseníase. A maioria dos ensaios de

qPCR são realizados a partir de amostras de biópsias de pele. O estudo da

secreção nasal tem sido largamente utilizada em estudos envolvendo a PCR

convencional. Todavia, não há na literatura nenhum estudo utilizando secreção

nasal em ensaios de qPCR, embora a cavidade nasal seja considerada como uma

das portas principais de entrada dos bacilos no homem e esteja envolvida no

transporte e excreção do M. leprae. Além disso, foi demonstrado por Patrocínio

(2005), por meio de PCR de biópsias nasais, que o bacilo invade a mucosa,

passando através da concha nasal inferior para alcançar o sangue periférico.

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2 JUSTIFICATIVA

A hanseníase continua sendo um desafio para a saúde mundial. Mesmo com

a implementação da terapia multidroga (MTD) a doença não foi eliminada com cerca

de 250.000 casos novos são detectados a cada ano, onde aproximadamente 15%

destes ocorrerm no Brasil com cerca de 34.000 casos novos. No Ceará dados de

2011 mostram que 1.992 casos novos cofirmados pelo Sistema de Informação de

Agravos de Notificação SINAN, 116 (5,52%) ocorreram em menores de 15 anos,

indicando a persistência da transmissão ativa da doença. Indivíduos que mantém

contato com hansenianos MB estão em maior risco de infecção e o risco pode ser

potencializado se os casos forem PCR positivo para o M. leprae em suas secreções

nasais. A base do diagnóstico da hanseníase é a baciloscopia e histopatologia

associadas à clínica. Todavia, esses métodos são muitas vezes inconclusivos e o

atraso no diagnóstico pode contribuir para o aumento do risco de dano no nervo e

consequente deficiência, o que leva ao estigma.

Devido o aumento na incidência de casos novos em menores de 15 anos e a

dificuldade diagnóstica principalmente em PB, é necessário a implementação

diagnóstica efetiva do bacilo. Portanto, a PCR em tempo real é um método sensível

e específico, que detecta e quantifica o DNA específico do M. leprae em diversos

tipos de amostras. A decteção do M. leprae em amostras de secreção nasal, sem a

necessidade de procedimentos invasivos, utilizando um método confiável e apurado

como a qPCR se faz necessário, visto que o método além de útil para o diagnóstico

é promissor para o estudo da transmissão de M. leprae na população. Assim, é

provável que a qPCR, por ser tão sensível ou mais do que a PCR convencional, e de

custo cada vez mais acessível, possa também ser utilizada como uma ferramenta

complementar para o diagnóstico clínico e histopatológico da hanseníase.

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3 OBJETIVOS

3.1 Objetivo geral

Detectar e quantificar por PCR em tempo real (qPCR) o DNA de M. leprae em

amostras de secreção nasal e biópsias de pacientes com hanseníase

correlacionando os dados obtidos com a avaliação clínica e o índice baciloscópico.

3.2 Objetivos específicos

Investigar a presença de DNA de M. leprae na secreção nasal de casos por

meio da PCR convencional;

Investigar a presença de DNA de M. leprae na secreção nasal e amostras de

biópsia de pacientes com hanseníase utilizando a qPCR;

Correlacionar o índice baciloscópico (IB) e a quantificação logarítmica de

células de M. leprae em amostras de secreção nasal e amostras de biópsias

de pele;

Correlacionar o IB com os valores de ciclo limiar (do inglês “threshold cycle”,

CT) em amostras pareadas de secreção nasal e biópsia em casos MB

detectadas utilizando a qPCR;

Avaliar a qPCR como possível ferramenta diagnóstica de M. leprae.

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4 METODOLOGIA

4.1 Tipo e local de estudo

Trata-se de um estudo transversal realizado em amostras de secreção nasal

e biópsia de indivíduos com diagnóstico de hanseníase, atendidos em centro de

referência em hanseníase Centro de Dermatologia Sanitária Dona Libânia (CDERM)

localizado em Fortaleza – Ceará, no período de janeiro de 2009 a dezembro de

2010. O CDERM é uma unidade da esfera administrativa estadual, conveniada ao

SUS (DATASUS, 2012).

4.2 Aspectos éticos

O presente estudo integra o projeto: Portadores de Hanseníase: Estudo

Clínico – Epidemiológico da Hanseníase em Área Endêmica do Nordeste do Brasil

financiado pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico

(CNPq), cujo protocolo foi aprovado sob o parecer 011/07 pelo Comitê de Ética em

Pesquisa do CDERM (ANEXO A). Todos os pacientes participantes assinaram o

Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE). As análises foram realizadas

no Laboratório de Pesquisa em Micobactérias e no Laboratório de Doenças

Infecciosas (LDI), ambos no Bloco de Biomedicina, da Universidade Federal do

Ceará (UFC).

4.3 Critérios de inclusão e exclusão

Foram convidados a participar os pacientes com hanseníase, sejam eles

casos novos, abandono ou recidiva, sem utilização de tratamento nos últimos cinco

anos. Aos pacientes menores de 18 anos de idade foi requerido o consentimento

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escrito dos pais. Não foram incluídos os indivíduos abaixo de 5 ou acima de 72 anos

de idade e pacientes HIV positivos.

4.4 Sujeitos do estudo

Sessenta e um pacientes com hanseníase, cujo diagnóstico foi realizado

pelos dermatologistas do CDERM com base em características clínicas e no IB

(RIDLEY; JOPLING, 1966), classificados como PB ou MB seguindo os critérios da

OMS. Segundo tais critérios, pacientes PB foram definidos como aqueles que têm

um IB negativo, menos de cinco lesões cutâneas, diferentes aparências clínicas

indicativas de hanseníase. Os pacientes MB foram definidos como aqueles que

apresentam cinco ou mais lesões cutâneas independentemente de IB e quaisquer

pacientes com baciloscopia positiva (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2010). As amostras

foram coletadas e processadas conforme o fluxograma abaixo (FIGURA 7):

Figura 7 – Fluxograma do ensaio de PCR convencional e qPCR

Fonte: Próprio autor (2013).

Caso

Secreção nasal

Extração de DNA

in house

(Lise com proteinase K)

PCR RLEP

qPCR

16S rRNA

Biópsia de pele

Extração de DNA

Kit DNeasy Blood

and Tissue

qPCR

16S rRNA

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4.5 Coleta e processamento das amostras de muco nasal e biópsia

4.5.1 Coleta das amostras de muco nasal

Foram coletadas secreções nasais com auxílio de swabs de ambas as

narinas de todos os participantes (FIGURA 8). Foi utilizado um swab para cada

cavidade nasal. Os swabs foram previamente umedecidos em tampão Tris-EDTA

(TE: Tris 10mM – EDTA 1mM, pH 8,0; esterilizado).

Figura 8 – Procedimento para coleta de amostra de muco nasal

Fonte: http://commentary-gonzalo86.blogspot.com.br/ (2011).

As amostras foram coletadas por rotação no anteposto externo do orifício

nasal e em seguida mantidas a -20°C até serem conduzidas ao Laboratório de

Pesquisa. Ao chegarem ao laboratório, às amostras foram mantidas a -20°C até o

processo de extração de DNA.

4.5.2 Extração de DNA de M. leprae a partir do muco nasal

A ponta do swab envolvida pelo algodão foi cortada com lâmina de bisturi

estéril e transferida para um tubo de 2,0mL juntamente com o líquido remanescente.

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Foi adicionado 1mL de NaOH 4% e centrifugado a 2500 rpm por 20 minutos. Todo o

sobrenadante foi desprezado. O restante foi imerso em 600μL de solução de lise

(10mM Tris-HCl, 10mM EDTA, 50mM de NaCl, 2% de SDS e 0,3 mg/mL de

proteinase K) (ANEXO B) por 18 horas a 56°C. Logo depois foram adicionados

600µL de fenol-clorofórmico-álcool isoamílico (25:24:1) para purificação. Em

seguida, o DNA foi precipitado adicionando-se 35μL de NaCl 2,5mM e 500μL de

álcool isopropílico, lavado com etanol 70%, ressuspenso em 70 μL de água miliQ e

armazenado a -20 °C. (de WIT et al., 1993b).

4.5.3 Coleta de Biópsias

Na coleta das biópsias de pele, o punch de 6 mm de diâmetro foi utilizado

para retirada de fragmento de pele, para efeito de diagnóstico, a partir da borda ativa

de lesões cutâneas de casos novos não tratados de hanseníase e armazenadas em

tubos de 1,5 mL vazios e estéreis a -20 °C até o processo de extração do DNA.

4.5.4 Extração de DNA de M. leprae a partir de biópsias

A extração do DNA foi realizada com o DNeasy Blood and Tissue kit (Qiagen,

Alemanha) conforme as recomendações do fabricante (ANEXO C). Ao final o DNA

foi solubilizado em 150µl de tampão de eluição AE e mantido a -20 °C para posterior

amplificação do DNA.

4.6 Amplificação da região RLEP específica do M. leprae

Em análise inicial todos os pacientes foram submetidos à coleta de secreção

nasal para a extração de DNA da secreção nasal e posterior amplificação PCR

convencional da região RLEP2 especifica da espécie de M. leprae.

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Os oligonucleotídeos para a PCR foram desenhados pelo programa

Primer3Plus a partir da região genômica M. leprae repetitive element, RLEP2,

depositadas no GenBank (Acesso n°. X17151) e sintetizados pela Invitrogen, EUA

(QUADRO 2; FIGURA 9).

Foram utilizados três iniciadores para amplificação por semi-nested PCR de

um produto externo de 282 pb e um produto interno de 238 pb específico do genoma

de M. leprae. As duas reações que compõem a PCR foram realizadas no

termociclador Gene Amp PCR System 9700 (Applied Biosystems) utilizando o kit

Ilustra™ Pure Taq Ready-to-go PCR beader (GE Healthcare, EUA), cujas reações

individuais consistiram em um volume total de 25 µl, composta de 2µl do material

clínico extraído (DNA) e 12,5µl de Ready-To-Go PCR Beads (que contêm 2,5U Taq

DNA polimerase, 1,5mM MgCl2 e 200µM dNTP mix), 2µl de cada iniciador (5 pmol

cada) e 5,5µl de água. Para a primeira PCR foram utilizados os iniciadores RLEP2-1

e RLEP2-2 e para a segunda PCR, os iniciadores RLEP2-2 e RLEP2-3 e os 2µL de

DNA utilizados foram substituídos por 3µL do produto amplificado na primeira reação

de PCR.

As condições de amplificação da primeira reação foram desnaturação inicial a

94ºC por 5 minutos, seguido de 40 ciclos a 94ºC por 30 segundos, anelamento a

59,5°C por 30 segundos e 72ºC por 1 minuto para a extensão. Após os 40 ciclos

houve um período de extensão final que ocorreu a 72ºC por 14 minutos. Para a

segunda reação foram seguidas as mesmas condições de amplificação descritas

acima, exceto a temperatura de anelamento que foi 59,8 °C. O produto gerado pela

primeira PCR foi de 282 pb e o produto gerado pela segunda PCR de 238 pb.

Quadro 2 - Iniciadores para amplificação do DNA de M. leprae

Iniciadores Sentido Sequência (5’-3’) Tm (ºC)

RLEP2-1 Positivo ATATCGATGCAGGCGTGAG 59,80

RLEP2-2 Negativo GGATCATCGATGCACTGTTC 59,04

RLEP2-3 Positivo GGGTAGGGGCGTTTTAGTGT 60,24

Fonte: Próprio autor (2013).

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Figura 9 - Produto de amplificação por nested PCR a partir da região genômica

Mycobacterium leprae repetitive element RLEP2 (GenBanK X17151)

atatcgatgcaggcgtgagtgtgaggatagttgttagcgccgcggggtaggggcgttttagtgtgcatgtcatgg

ccttgaggtgtcggcgtggtcaatgtggccgcacctgaacaggcacgtccccgtgcacggtataactattcgcac

ctgatgttatcccttgcaccatttctgccgctggtatcggtgtcggcggcttgttgaccggccctcagccagcaa

gcaggcatgccgccgggtgcagcagtatcgtgttagtgaacagtgcatcgatgatcc

Fonte: Próprio autor (2013). Em amarelo: iniciadores RLEP2-1 (5´-atatcgatgcaggcgtgag-3´) e sequência complementar ao iniciador RLEP2-2 (5´-ggatcatcgatgcacgttc-3´), produto de 282pb; em verde: RLEP2-3 (5´-gggtaggggcgttttagtgt-3´), produto de 238pb. Setas indicam sentido de amplificação.

A partir do produto amplificado foi feita a confirmação do tamanho dos

fragmentos por eletroforese em gel de agarose 2% e coloração com brometo de

etídio. A visualização foi realizada em transiluminador (ImageQuant 300 – GE

Healthcare).

4.7 Diagnóstico molecular de M. leprae por PCR em Tempo Real (qPCR)

4.7.1 Construção do plasmídeo pIDTBlue contendo o Inserto de 16S rRNA de

M. leprae

O plasmídeo pIDT Blue contendo a região de interesse do genoma do M.

leprae foi adquirido da empresa Integrated DNA Technologies, EUA (FIGURA 10).

Os primers empregados para a construção da região de 171pb do gene 16S rRNA

do M. leprae foram: Mlep16sfor 5´-tcgaacggaaaggtctctaaaaaatc-3´ e Mlep16srev 5´-

cctgcaccgcaaaaagctttcc-3´. (LAVANIA et al., 2008).

O pIDT Blue contendo o gene de interesse (p16SrRNAMleprae) foi utilizado

para confecção da curva padrão da PCR em tempo real. A finalidade da clonagem

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plasmidial foi determinar o número de cópias do gene 16S rRNA na curva padrão,

para sua posterior quantificação nas amostras de interesse.

A curva padrão foi gerada utilizando diluição serial do plasmídeo

pIDT16SrRNAMleprae variando de 2ng a 0,2 fg (2ng, 200pg, 20 pg, 2 pg, 200fg,

20fg, 2fg e 0,2). Os valores gerados pela curva padrão foram extrapolados servindo

como base para quantificação das amostras clínicas.

Figura 10 – Plasmídeo pIDT Blue (*)

Fonte: Adaptado de https://www.idtdna.com/catalog/CustomGeneSyn/Page1.aspx (2013). Mapa genético do plasmídeo pIDT Blue. AmpR, gene de resistência a Ampicilina; sítio de multiclonagem ao redor do plamídeo (enzimas de restrição); em destaque sítio de inserção para clonagem do gene de interesse.* Integrated DNA Technologies (Coralville, USA).

4.7.2 Oligonucleotídeos para a qPCR

Os oligonucleotídeos para a qPCR foram desenhados a partir da sequência

nucleotídica do gene 16S rRNA de M. leprae depositada no banco de dados do

National Center for Biotechnology Information (NCBI, EUA). Parte da região 16S

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rRNA de M. leprae foi selecionada e submetida ao programa Primer3Plus. Os

oligonucleotídeos foram sintetizados pela Invitrogen, EUA. A sequência foi a

seguinte: 16S2_For rRNA 5´- agtggcgaacgggtgagtaa -3´ e 16S2-Rev rRNA 5´-

cgcaaaaagctttccaccac -3´ o que amplifica uma região de 124 pb do gene 16S rRNA

no DNA do M. leprae (FIGURA 11).

Figura 11 - Produto de amplificação por qPCR da região genômica 16S rRNA

específica do Mycobacterium leprae

tcgaacggaaaggtctctaaaaaatcttttttagagatactcgagtggcgaacgggtgagtaacacgtgggtaat

ctgccctgcacttcagggataagcttgggaaactgggtctaataccggataggacttcaaggcgcatgtcttgtg

gtggaaagctttttgcggtgcagg

Fonte: Próprio autor (2013). Em amarelo: iniciadores16S2_For rRNA (5´- agtggcgaacgggtgagtaa -3´) e a região complementar do iniciador 16S2-Rev rRNA (5´- cgcaaaaagctttccaccac -3´), produto de 124pb. As setas indicam sentido de amplificação.

4.7.3 PCR em Tempo Real utilizando SYBR Green

Para realização da qPCR foi utilizado o aparelho CFX96 Touch™ Real-Time

PCR Detection System (Bio-Rad,EUA). As reações individuais continham um

volume total de 20 µl, incluindo 10 µL de Power SYBR ® Green PCR Master Mix

(Applied Biosystems, EUA), 2 µl de DNA extraído a partir de secreção nasal ou de

biópsias de pele, 100 nM de iniciadores 16S rRNA e água ultra-pura. O controle

negativo (NTC: no template control) que incluía todos os componentes de reação,

exceto o DNA, foi incluído em cada corrida para detectar contaminação. As

condições de amplificação foram as seguintes: um ciclo inicial a 95°C por 7 min.,

seguidos de 45 ciclos de desnaturação a 94°C por 30 s., anelamento a 62°C por 30

s., extensão a 70°C por 1 min. Após os 45 ciclos houve um período de extensão final

a 70°C por 10 min.

Os dados foram analisados pelo CFX Manager™ v 3.0 Software (Bio-Rad,

EUA) a fim de avaliar o ciclo limiar (CT). As amostras foram consideradas negativas

quando o sinal de fluorescência não aumentou no prazo de até 45 ciclos (CT=45).

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42

4.7.4 Sensibilidade analítica e especificidade do qPCR para a detecção de M.

leprae

A sensibilidade analítica ou menor limite de detecção (LD) de cada ensaio foi

determinada através da análise de diluições em série do DNA de M. leprae da curva

padrão. Foi determinado os pontos de LD qualitativas utilizando as amostras diluídas

que já não contribuem de forma adequada a uma curva de alta eficiência, sendo a

reação de amplificação por qPCR repetidas 10 vezes. O LD foi fixado na

concentração em que a amplificação foi alcançada antes dos 37 ciclos em 95% das

vezes.

Para assegurar a especificidade do produto de PCR, foi conduzida uma

análise de temperatura de fusão através da curva de dissociação, no qual a

temperatura da reação foi aumentada em 0,5 °C a cada 20 s, começando a 60 °C e

terminando a 95 °C. Durante todo o processo de construção da curva as alterações

na fluorescência foram medidas. Os dados obtidos pelo software CFX Manager™ v

3.0 (Bio-Rad, EUA) foram processados de modo a verificar se um único pico foi

obtido. Foram empregadas as seguintes espécies bacterianas no teste de

especificidade: Mycobacterium tuberculosis ATCC 697-7, Mycobacterium sp. e

Streptococcus pneumoniae ATCC 49619.

Os produtos gerados foram ainda submetidos à eletroforese em gel de

agarose (2%) para confirmação do tamanho dos amplicons obtidos. Em seguida, as

bandas de DNA presentes no gel foram visualizadas e digitalizadas em

transiluminador (ImageQuant 300 – GE Healthcare).

4.7.5 Sensibilidade clínica e eficiência de amplificação

A sensibilidade clínica, ou seja, a percentagem de casos que o ensaio de

qPCR foi capaz de identificar como positivo para essa condição foi determinada. A

eficiência da amplificação do DNA foi definida a partir da inclinação da curva padrão

(slope) (TOO, 2003). A equação da reta de regressão linear, em conjunto com o

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coeficiente de correlação de Pearson (r) ou o coeficiente de determinação (R2),

foram utilizados para avaliar se o ensaio de qPCR estava otimizado (BIO-RAD,

2006).

4.8 Análise estatística

Uma curva padrão de regressão linear de DNA de M. leprae ou número de

cópias de M. leprae versus valores de CT foram automaticamente calculados pelo

modo quantitativo de software CFX Manager™ v 3.0 (Bio-Rad, EUA). Diferenças

entre as médias dos valores de CT e dos grupos MB e PB foram analisados por

teste Mann-Whitney usando Software GraphPad Prism 6.01 e Microsoft Excel 2007.

Também foi determinada a correlação entre o IB e a quantificação logarítmica de

células de M. leprae, bem como a correlação entre o IB e os valores de CT em

amostras pareadas de secreção nasal e biópsia em casos MB detectados utilizando

a qPCR. A análise descritiva dos dados foi feita mediante a elaboração de um banco

de dados no programa de software Microsoft Excel 2007.

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5 RESULTADOS

5.1 Características gerais dos pacientes

Sessenta e um pacientes integraram o estudo (n=61) (TABELA 3), dentre

estes 63,9% (39/61) eram MB, sendo 31,1% (19/61) dimorfo (D) ou borderline (B) e

32,7% (20/61) da forma clínica virchowiana (V) ou lepromatosa (L). Dentre os 15

pacientes com hanseníase PB (24,5%), 14 (22,9%) era T e um indivíduo era da

forma clínica I. Sete pacientes (11,4%) não tiveram sua classificação em PB ou MB e

a forma clínica informadas (NI - Não Informado). Houve um predomínio do gênero

masculino 63,9% (39/61) (FIGURA 12). A média de idade entre os indivíduos MB foi

de 43,9 (±13,4) variando de 18 a 72 e a média de indivíduos PB foi 38,8 (± 17,7)

variando de 8 a 71 anos.

Tabela 3 – Distribuição das amostras dos casos confirmados de hanseníase e de acordo com a classificação operacional, forma clínica e gênero

Classificação operacional Total Gênero

e forma clínica Pacientes M F

N (%) N (%) N (%)

MB 39 (63,9) 28 (45,9) 11(18,0)

Dimorfa 19 14 5

Virchowiana 20 14 6

PB 15 (24,5) 7 (11,4) 8 (13,1)

Tuberculóide 14 7 7

Indeterminada 1 0 1

NI 7 (11,4) 4 (6,5) 3 (4,9)

Total 61 (100) 39 (63,9) 22 (36,0)

Fonte: Próprio autor (2013). As formas clínicas virchowiana, dimorfa e tuberculoide fazem parte de um

grupo de cinco na classificação proposta por Ridley e Jopling. PB, paucibacilar, pacientes que

apresentam esfregaços negativos em todos os sítios ou menos de cinco lesões de pele. MB,

multibacilar, os pacientes com esfregaços positivos em qualquer sítio ou apresentando-se com cinco

ou mais lesões de pele, independentemente do IB. I, indeterminada, estágio transitório da doença que

evolui para uma das cinco formas clínicas. M, masculino; F, feminino e NI, não informado.

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Figura 12 – Distribuição dos 61 casos de hanseníase de acordo com o sexo

Fonte: Próprio autor (2013).

5.2 Amplificação da região RLEP2 específica do M. leprae

Todos os pacientes foram submetidos à amplificação por PCR convencional

da região de 238 pb da sequência RLEP2 específica da espécie de M. leprae a partir

de amostras de secreção nasal. O ensaio mostrou sensibilidade de 61,5% (2/39) nos

casos MB e 53,3% (8/15) em PB (TABELA 4).

Tabela 4 - Sensibilidade da PCR convencional para detecção de M. leprae na

secreção nasal de pacientes com hanseníase

TOTAL DE AMOSTRAS

RLEP PCR POSITIVO

FORMA CLÍNICA N N %

MB 39 24 61,5

Dimorfa 19 11 57,9

Virchowiana 20 13 65,0

PB 15 8 53,3

Tuberculoide 14 8 57,1

Indeterminada 1 0 0,0

NI 7 4 57,1

Total 61 36 59,0

Fonte: Próprio autor (2013). De acordo com a classificação Ridley e Jopling e a classificação operacional da OMS. MB, mutibacilar; PB, paucibacilar; NI, não informado.

MASCULINO 63,90%

FEMININO 36,07%

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O fragmento amplificado de 238 bp foi confirmado, sendo observado por

eletroforese em gel de agarose 2% (FIGURA 13).

Figura 13 – Eletroforese em gel de agarose 2% com produto de amplificação da região RLEP2 de M. leprae

Fonte: Próprio autor (2013). Eletroforese em gel de agarose 2.0% de produtos de amplificação da região RLEP2 do M. leprae (238 pb). Os poços 01 a 26 representam as amostras de secreção nasal de pacientes com hanseníase. Os poços “CP” representam o controle positivo da reação (DNA de M. leprae extraído de biópsia de caso MB). O poço “CN” representa o controle negativo da reação. Os poços “M” contêm 6,0μL do marcador de peso molecular de 100pb, onde a banda mais forte tem peso de 500pb.

5.3 PCR em Tempo Real utilizando SYBR Green

A extração do DNA a partir de biópsia de pele e muco nasal permitiu

amplificação bem sucedida por meio da qPCR. O gráfico de amplificação realizada

na análise da sensibilidade e o perfil da curva de fusão do teste são mostrados nas

figuras 14, 15 e 16. A detecção de fluorescência gerada pelo SYBR Green foi obtida

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durante cada ciclo em execução da PCR em tempo real. Foram identificadas a

natureza exponencial da curva de amplificação que indica a PCR ideal e o ponto

cruzamento correspondente ao número do ciclo. O sinal de fluorescência elevou-se

em momentos diferentes, dependendo da concentração de DNA molde (FIGURA

14). O sinal de fluorescência resulta em uma curva característica em forma

sigmoidal, representando as três fases de PCR: a fase lag (pouco produto

acumulado), a fase exponencial (rápida acumulação do produto) e fase plateau

(onde o produto não é mais amplificado). Após a amplificação os produtos foram

rapidamente caracterizados pela análise da curva de fusão (FIGURAS 15 e 16).

Como esperado, o fragmento amplificado de 124 pb foi confirmado e observado pela

eletroforese em gel de agarose (FIGURA 17).

Figura 14 - Sensibilidade analítica da qPCR na detecção de M. leprae

Fonte: Próprio autor (2013), utilizando o software CFX Manager™ v 3.0 (Bio-Rad, EUA). As curvas de amplificação da qPCR na análise do limite de detecção do DNA de M. leprae. A sensibilidade analítica da qPCR para a detecção do DNA foi avaliada com diferentes concentrações do plasmídeo pIDT16SrRNAMleprae variando de 2ng a 0,2fg. O sinal de fluorescência foi detectado durante o progresso da reação, ou seja, em tempo real. Linha: 1, 2ng; 2, 200pg; 3, 20 pg; 4, 2 pg; 5, 200fg; 6, 20fg; 7, 2fg; 8, 0,2fg.

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Figura 15 – Análise da curva de dissociação e limite de detecção da qPCR

Fonte: Próprio autor (2013) utilizando o software CFX Manager™ v 3.0 (Bio-Rad, EUA). Análise da

curva de dissociação e do limite de detecção dos produtos da qPCR, mostrando os amplicons de 124

pb obtidos a partir de diluição seriada do DNA de M. leprae. Linha: 1, 2ng; 2, 200pg; 3, 20 pg; 4, 2 pg;

5, 200fg; 6, 20fg; 7, 2fg; 8, 0,2fg, mostrando um único pico (Tm de 79,5 ºC).

Figura 16 - Especificidade da qPCR na detecção de M. leprae

Fonte: Próprio autor (2013) utilizando o software CFX Manager™ v 3.0 (Bio-Rad, EUA). Análise da

especificidade utilizando o DNA de três espécies bacterianas. Linha: 1, M. leprae (em vermelho,

mostrando um único fragmento amplificado, dando uma temperatura de fusão distinta (Tm de 79,5

ºC); 2, Mycobacterium tuberculosis ATCC 697-7 e 3, Mycobacterium sp (em verde, amplificação com

temperatura de fusão diferente da observada nas amostras de M. leprae; 4, Streptococcus

pneumoniae ATCC 49619.

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Figura 17 – Eletroforese em gel de agarose 2% com produto de amplificação da região 16S rRNA de M. leprae

Fonte: Próprio autor (2013). Os produtos de amplificação da região 16S rRNA do M. leprae (124 pb). Os poços 03, 04, 05, 06, 07, 08 e 09 contêm amostras positivas para pesquisa de DNA de M. leprae em secreção nasal. Os poços 02 e 10 contém o controle positivo e o negativo, respectivamente. Poço 1 marcador de peso molecular (100 pb).

5.4 Sensibilidade analítica e especificidade do qPCR para a detecção de M.

leprae

A sensibilidade analítica da reação na detecção de M. leprae foi definida

como a menor quantidade de DNA ou o menor número de bacilos detectáveis

utilizando a qPCR. Para tal, foram utilizadas diluições seriadas variando de 2ng a 0,2

fg da amostra de DNA da curva padrão. Este ensaio detectou com precisão um valor

tão baixo quanto 20 fg de DNA de M. leprae com valor de CT ≤ 37 (FIGURAS 12 e

13).

Por análise de curva de dissociação, um fragmento amplificado único, dando

uma temperatura de fusão distinta (Tm de 79,5 ºC), pôde ser identificado apenas

quando as reações continham DNA de M. leprae (FIGURA 13a e b). Os controles

negativos não produziram sinais de amplificação. A partir dos produtos amplificados

provenientes dos casos foi verificada a presença do fragmento de DNA de 124 pb

correspondendo a porção do gene 16S rRNA específico do M. leprae.

A sequência de nucleotídeos da região de 124 pb do gene 16S rRNA do M.

leprae foi submetida ao BLAST com sequências nucleotídicas depositadas no banco

de dados do NCBI (EUA), sendo verificada 100% de identidade com Mycobacterium

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leprae Br4923 crhomosome, complete genome (Sequence ID: ref|NC_011896.1|) e

92% de identidade com Mycobacterium tuberculosis H37Rv complete genome

(Sequence ID: emb|AL123456.3|) (FIGURA 18), na região amplificada de M. leprae é

possível verificar uma variação em alguns pares de bases (pb) quando comparado

ao M. tuberculosis. Em seguida foi realizado o alinhamento das sequências de 16S

rRNA de M. leprae e M. tuberculosis utilizando o programa ClustalW (FIGURA 19)

que mostrou regiões variáveis. O que torna a região 16S útil para o diagnóstico de

M. leprae.

Em relação à análise da especificidade dos iniciadores, foi observado

amplificação do DNA das espécies M. tuberculosis ATCC 697-7 e Mycobacterium

sp.. Todavia os respectivos produtos apresentaram temperatura de fusão distintas

do apresentado com o DNA de M. leprae. Não houve amplificação do DNA de

Streptococcus pneumoniae ATCC 49619. Portanto, foram observados 100% de

especificidade neste ensaio.

Figura 18 – BLAST da região genômica de 124 pb do gene 16s rRNA de M. leprae

Fonte: Próprio autor (2013). Sequência produzida a partir do alinhamento da região genômica de 124 pb do gene 16s rRNA de M. leprae em relação ao genoma de M. tuberculosis H37Rv. Em amarelo região de anelamento dos iniciadores de M. leprae. Na região complementar do iniciador 16S2- Reverse rRNA foi observado uma variação em alguns nucleotídeos no genoma do M. tuberculosis (dado não mostrado no alinhamento).O M. tuberculosis apresentou 92% de identidade através da análise de 116 pb dos 124 do gene 16S rRNA de M. leprae.

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Figura 19 – Alinhamento das sequências 16S rRNA de M. leprae e M. tuberculosis

Fonte: Próprio autor (2013), alinhamento do gene 16s rRNA. Em amarelo é mostrada a região variável do genoma de Mycobacterium leprae. Em verde iniciadores utilizados neste estudo com produto de 124pb.

5.5 Sensibilidade clínica da amplificação por qPCR da região 16S rRNA de M.

leprae

A amplificação de DNA de M. leprae através da qPCR foi avaliada em 61

pacientes com hanseníase. Destes casos, foram analisadas 61 amostras de muco

nasal e 19 amostras de biópsia de lesão de pele, ou seja, 19 pacientes tiveram suas

amostras de secreção nasal e biópsia de lesões de pele testadas simultaneamente.

Nas amostras positivas verificou-se a amplificação do fragmento 124 pb do gene

16S rRNA de M. leprae, sendo também analisada a temperatura de dissociação e os

produtos foram ainda confirmados por visualização em eletroforese.

Dentre as 39 amostras de secreção nasal de casos MB, 35 foram positivas

para qPCR, enquanto 11 amostras de secreção nasal de um total de 15 dos casos

PB apresentaram positividade. Portanto, a sensibilidade clínica global do qPCR foi

89,74% e 73,33% para os casos MB e PB respectivamente (TABELA 5). Dentre os

pacientes MB, 19 tiveram amostras de secreção nasal e biópsia pareadas

analisadas e verificou-se a amplificação de 94,73% (18/19) amostras de secreção

nasal. Na análise das amostras de biópsia, a qPCR foi capaz de detectar a presença

do bacilo em 100% (19/19) dos pacientes sabidamente MB (TABELA 6).

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Tabela 5 – Sensibilidade clínica da qPCR para detecção da região de 124 pb do

gene 16S rRNA do M. leprae na secreção nasal de pacientes com hanseníase

FORMA CLÍNICA TOTAL DE AMOSTRAS

16S rRNA

qPCR POSITIVO

N N %

MB 39 35 89,7

Dimorfa 19 17 89,4

Virchowiana 20 18 90

PB 15 11 73,3

Tuberculóide 14 10 71,4

Indeterminada 1 1 100

NI 7 6 85,7

Total 61 52 85,2

Fonte: Próprio autor (2013). De acordo com a classificação Ridley e Jopling e a classificação operacional da OMS. MB, mutibacilar; PB, paucibacilar; NI, não informado.

Tabela 6 - Sensibilidade da qPCR para detecção da região de 124 pb do gene 16S

rRNA do M. leprae na secreção nasal em relação a biópsia de pacientes MB

Fonte: Próprio autor (2013). De acordo com a classificação Ridley e Jopling e a classificação

operacional da OMS. MB, mutibacilar. Amostras de secreção nasal e biópsia obtidas do mesmo

paciente.

Ao comparar os resultados obtidos a partir da amplificação da região RLEP2

do DNA de M. leprae por PCR convencional a partir de amostras de secreção nasal

com os dados da amplificação da região 16S rRNA das mesmas amostras por meio

de qPCR, foi possível verificar um aumento na positividade da qPCR em relação a

PCR convencional em todas as formas clínicas analisadas (TABELA 7).

16S rRNA qPCR

Forma clínica Total de

pacientes

Secreção nasal

positivas Biópsia

positivas

N (%) N (%) N (%)

MB 19 (100) 18 (94,73) 19 (100)

Dimorfa 10 9 (90) 10 (100)

Virchowiana 9 9 (100) 9 (100)

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Tabela 7 – Comparação da positividade do ensaio RLEP/PCR convencional em

relação ao 16S/rRNA na análise de secreção nasal de 61 casos de hanseníase

FORMA CLÍNICA TOTAL DE

AMOSTRAS RLEP2 PCR POSITIVO

16s rRNA qPCR

POSITIVO

N N (%) N (%)

MB 39 24 (61,5) 35 (89,7)

Dimorfa 19 11 (57,9) 17 (89,4)

Virchowiana 20 13 (65) 18 (90)

PB 15 8 (53,3) 11 (73,3)

Tuberculoide 14 8 (51,1) 10 (71,4)

Indeterminada 1 0 1

NI 7 4 (57,1) 6 (85,7)

Total 61 36 (59) 52 (82,2)

Fonte: Próprio autor (2013). De acordo com a classificação Ridley e Jopling e a classificação operacional da OMS. MB, mutibacilar; PB, paucibacilar; NI, não informado. (Teste Qui-Quadrado, p = 0,9124).

5.6 Quantificação de células de M. leprae por PCR em Tempo Real Quantitativo

- qPCR

A amplificação do DNA de M. leprae foi conseguida utilizando qPCR através

do método de quantificação absoluta. Os níveis iniciais de ácidos nucleicos puderam

ser determinados com base no primeiro ciclo de amplificação em que o aumento

significativo na fluorescência, 10 vezes superior ao inicial, é detectável, ou seja, o

ciclo limiar (CT), que é definido como o número do ciclo no qual a fluorescência

ultrapassa um limiar de detecção (FIGURA 14). As curvas padrões foram geradas

automaticamente a partir do sistema da qPCR traçando um gráfico do número de

ciclos (CT) vs. as concentrações logarítmicas do DNA de M. leprae padrão ou do

número logarítmico de células do M. leprae. Todas as curvas padrões utilizadas para

análise quantitativa foram lineares, onde foi observada uma curva com um

coeficiente de determinação (R2) de 0,97 e um slope de - 3,439 revelando uma

eficiência de amplificação de 95% (FIGURA 20a e b). A figura 21 mostra uma

segunda curva padrão de regressão linear de células de M. leprae correspondentes

a um coeficiente de determinação (R2) de 0,98 e um slope de -3,460, com um limite

de detecção de 20fg de DNA de M. leprae.

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Figura 20 - Relação linear entre os valores de CT e as diluiçoes do DNA plasmidial

do M. leprae

Fonte: Próprio autor (2013). Gráfico gerado no Excel 2007 (a) Curva padrão gerada por regressão

linear de valores de CT vs. logaritimo do número de cópias do bacilo. (b) Representação da curva em

número de cópias do M. leprae.

Figura 21 - Regressão linear da curva padrão proveniente da amplificação do DNA

plasmidial de M. leprae em diluições seriadas de razão 10, 106 a 103 cópias de DNA

Fonte: Excel 2007, próprio autor (2013).

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A carga bacteriana de M. leprae foi quantificada com base numa curva

padrão. Utilizando o software CFX Manager™ v 3.0 (Bio-Rad, EUA) para a análise

quantitativa, o número de bacilos M. leprae detectados em uma amostra de

secreção nasal de pacientes com hanseníase se manteve no intervalo de 1,39 x 103

a 8,02 x 105 bacilos, com valores de CT que variaram de 27,54 a 44,17 ciclos.

Comparando os casos de acordo com a classificação operacional observou-

se que pacientes PB apresentaram uma pequena variação nos valores de CT em

relação aos dos pacientes MB. A média e desvio padrão dos valores de CT para PB

e MB foram 36,04 ± 0,2959 (N=5) e 34,86 ± 0,4686 (N=26), respectivamente. A

comparação dos valores de CT nos dois grupos não demonstrou uma diferença

significativa (P>0,05).

A quantificação do número de cópias de M. leprae detectada em punch de 6

mm3 de biópsia de pacientes MB com hanseníase se manteve no intervalo de 1,87 x

103 a 1,50 x 106 com valores de CT que variaram de 26,48 a 42,57 ciclos. Os

mesmos pacientes tiveram amostras de secreção nasal analisadas e verificou-se um

intervalo de cópias 1,42 x103 a 8,02 x 105 e faixa de valores de CT variou entre 27,54

e 39,55 ciclos (TABELA 8).

Tabela 8 - Média do número de cópias do bacilo de M. leprae na secreção nasal e

biópsia de lesão de pele de acordo com a classificação operacional (OMS, 1982)

Tipo de amostra Classificação

Média do nº de cópias

Média dos

valores de CT

Intervalo do nº de cópias (CT≤ 37)

Secreção nasal

PB 5,41 x 103

36,04 1,39 x 10

3 - 1,42 x 10

4

MB 4,79 x 104

34,86 1,42 x 10

3 - 8,02 x 10

5

MB* 8,36 x 104

34,65 1,68 x 10

3 - 8,02 x 10

5

Biópsia MB 2,60 x 105

31,42 1,87 x 10

3 -1,50 x 10

6

Fonte: Próprio autor (2013). * Indivíduos multibacilar e que possuem amostras pareadas de secreção

nasal e biópsia.

O número de células do M. leprae foi quantificado através da baciloscopia

para determinação do IB, o qual pôde ser correlacionado com a quantificação

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logarítmica de células do M. leprae de amostras de biópsia de lesão de pele e

secreção nasal quantificadas utilizando qPCR. Foi observada uma correlação

positiva entre o IB e a quantificação logarítimica de células de M. leprae de amostras

de biópsia. A relação entre IB (eixo X) e o número logarítmico de células de M.

leprae (eixo y) em pacientes MB foi Y=0,448X + 3,227, com coeficiente de

correlação de Pearson (r) de 0,492 (FIGURA 22).

Figura 22 – Relação entre o número de bacilos de M. leprae em amostras de lesão

de pele e o IB de pacientes MB

Fonte: GraphPad Prism 6.01, próprio autor (2013). Correlação entre o número logarítmico de células de M. leprae e o IB de pacientes MB individuais. O log10 do número de células do bacilo foi

quantificado por qPCR a partir de amostras de biópsias de lesão de pele.

A figura 23 mostra o gráfico de dispersão dos valores de IB vs. os valores de

CT em amostras pareadas de secreção nasal e biópsias de pacientes MB. Nas

amostras de biópsia, valores altos de CT foram associados a valores baixos de IB

(P=0,001), com (r) de 0,7999. A comparação entre os valores de CT e IB das

amostras de secreção nasal não demonstrou diferença significativa (P>0,05).

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Figura 23 – Relação entre os valores de CT e o IB de pacientes MB em amostras de lesão de pele e secreção nasal

Fonte: GraphPad Prism 6.01, próprio autor (2013). Correlação entre os valores de CT e o IB de

amostras pareadas de secreção nasal e biópsia de pacientes MB individuais.

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6 DISCUSSÃO

Este é o primeiro estudo na literatura que utilizou a PCR em tempo real para

detecção do DNA de M. leprae em secreção nasal de pacientes com hanseníase.

Como a hanseníase é uma doença que acomete pele e nervos, a maioria dos

trabalhos realiza a pesquisa do DNA de M. leprae em biópsia de lesão de pele. A

detecção do bacilo em amostras de biópsia é mais fácil, visto que são encontrados

em maior quantidade e sem colonizações mistas com outras bactérias.

Ensaios envolvendo a detecção do DNA de M. leprae a partir de amostras de

secreção nasal utilizando PCR convencional apresentaram taxa de detecção geral

na população de casos que variavam entre 25% a 69,2% (PONTES et al., 2008; de

WIT et al., 1993a; PATROCINIO et al., 2005). O presente estudo foi capaz de

detectar o DNA de M. leprae em 59% das amostras de secreção nasal testadas.

Embora a PCR convencional tenha sido utilizada para o diagnóstico de várias

doenças, devido a sua elevada sensibilidade, viabilidade e baixo custo de

equipamentos e reagente, existem doenças infecciosas que requerem variações

técnicas, tais como as abordagens semi-quantitativas/quantitativas ou reações tipo

nested PCR, o que pode ser difícil de otimizar ou executar sem contaminação. O

desenvolvimento da PCR em tempo real tem superado todos os problemas técnicos,

e com sua ampla disseminação e divulgação, equipamentos e reagentes se tornarão

de custo menor, permitindo que laboratórios de referência possam realizar a técnica

(GOULART; GOULART, 2008).

Um estudo realizado com iniciadores para ampificação da região Ag 85B

visando a detecção de DNA de M. leprae em amostras de biópsia da pele de

pacientes diagnosticados com hanseníase, comparou a qPCR e a PCR

convencional, onde a qPCR se mostrou 17,7% superior à PCR convencional

(MARTINEZ et al., 2006). Segundo o mesmo autor em 2011, a região genômica

RLEP que apresenta multicópias no genoma do M. leprae, apresentou sensibilidade

em ensaios de qPCR a partir de amostras de biópsia superior a região 16S rRNA.

No nosso estudo a amplificação do RLEP por PCR convencional nas 61

amostras de secreção nasal foi capaz de detectar 59% dos casos. Enquanto, a

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amplificação por qPCR da região 16S rRNA, considerada menos sensível quando

comparada a região RLEP, utilizando as mesmas amostras de secreção nasal por

qPCR apresentou sensibilidade geral de 85,2% na detecção de casos. Portanto, na

análise da sensibilidade a qPCR se mostrou superior a PCR convencional, sendo

possível verificar um aumento da sensibilidade em todas as forma clínicas

analisadas. Comparando os dados obtidos aos resultados de Martinez (2011), onde

o ensaio qPCR/16S rRNA apresentou 62,9% de sensibilidade e a qPCR/RLEP

87,1% a partir amostras de biópsia, o presente ensaio qPCR/16S rRNA, utilizando

amostras de secreção nasal, apresentou sensibilidade de 85,2%, sendo superior a

sensibilidade da qPCR/16S rRNA e um pouco menor que a sensibilidade da

qPCR/RLEP obtida pelo autor.

Ao analisar amostras de secreção nasal utilizando qPCR, o presente estudo

foi capaz de confirmar o diagnóstico da hanseníase em 89,7% em MB e 73,3% em

pacientes PB, sendo sua sensibilidade comparável à relatada por Scollard e

colaboradores (2006). Nesta revisão é relatada uma sensibilidade que varia de 34 a

80% em pacientes com formas PB e maior de 90% em pacientes com formas MB.

Os resultados da aplicação de qPCR em amostras de muco nasal também

sugeriram que a eficácia da qPCR para o diagnóstico de doença foi superior à de

baciloscopia, pois, 73,3% dos pacientes PB com baciloscopia negativa foram

positivos neste estudo. Shepard & McRae (1968) sugerem que para detecção de M.

leprae por baciloscopia são necessários valores maiores ou igual 104 organismos

por grama de tecido.

Segundo Bustin (2009) a sensibilidade analítica refere-se ao número mínimo

de cópias de uma amostra que pode ser medido com precisão em um ensaio. Ao

passo que a sensibilidade clínica é a percentagem de indivíduos com uma

determinada doença que o ensaio identifica como positivo para essa condição. Este

ensaio detectou com precisão um valor tão baixo quanto 20 fg de DNA de M. leprae,

o que equivale a quatro unidades de bacilos. Os valores de CT variaram de 27,54 a

44,17 ciclos. Todavia, a maior diluição da curva padrão, onde é possível realizar

uma análise quantitativa das amostras corresponde ao CT≤37. A partir deste ponto

não foi possível obter uma quantificação precisa e as amostras puderam ser

analisadas apenas de forma qualitativa (positiva ou negativa). Estes dados

corroboram com os achados de Rudeeaneksin e colaboradores (2008), cujo ensaio

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foi capaz de detectar 20 fg de DNA de M. leprae em amostras de 6-mm3 de biópsia

de pele. Embora se verifique que o número de cópias do bacilo em pacientes deste

estudo se manteve entre 1,07 x 102 a 1,65x 108, enquanto o número de bacilos

quantificados nas amostras de secreção nasal de pacientes com hanseníase PB e

MB por qPCR do presente estudo variou de 1,39 x 103 a 8,02 x 105 bacilos. Os

resultados apresentados por Rudeeaneksin apresentam uma melhor sensibilidade

analítica, mas como descrito acima, o nosso estudo apresentou uma sensibilidade

clínica de 73,3% para casos PB, indivíduos cujo diagnóstico é mais difícil pelo

reduzido número de bacilos.

A comparação dos valores de CT nos dois grupos MB e PB não demonstrou

uma diferença significativa (P>0,05). Isto provavelmente se deve ao fato do número

de casos PB no presente estudo ser reduzido. Dentre os 11 casos positivos, apenas

cinco apresentaram valores de CT≤37, somente estes puderam ser analisados.

Como esperado, os resultados positivos para baciloscopia foram confirmados como

positivos para qPCR e valores mais elevados de IB foram detectados mais cedo no

ciclo de amplificação ao demonstrar baixos valores de CT. No entanto, a comparação

entre os valores de CT e IB das amostras de secreção nasal não demonstrou uma

diferença significativa (P>0,05), como observado em amostras de biópsia (P=0,001),

com (r) de 0,7999. A falta de correlação do 16S rRNA e o IB também foi verificada

em estudo de viabilidade do M. leprae utilizando amostras de biópsia (MARTINEZ et

al., 2009b). Todavia, deve-se considerar as variações no método de extração. A

extração de DNA das amostras de secreção nasal foi realizado in house. Enquanto,

a extração a partir de amostras de biópsia, se deu com a utilização de kit comercial,

onde a purificação é feita com a utilização de coluna de afinidade e ocorre uma

maior diminuição de interferentes e impurezas presentes na amostra. Além disso,

alterações na amplificação do DNA também podem ser devido ao efeito inibitório do

excesso de DNA genômico humano ou devido ao excesso de manipulação das

amostras durante a purificação do DNA, provocando a sua degradação. Outras

limitações da técnica de PCR, que podem diminuir a eficiência da reação podem ser

explicadas pela presença de inibidores nas amostras (YOON et al., 1993; GOULART

el al., 2007).

A presença de inibidores de PCR na amostra afeta a eficiência da

amplificação por PCR, reduzindo assim, o limite de detecção, bem como a precisão

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61

da quantificação de sequências específicas de ácidos nucleicos em qPCR. Além

disso, as polimerases de DNA termoestáveis e os sistemas tampão utilizados na

PCR são afetados de modo diferente por inibidores. Nos últimos anos, PCR em

tempo real tem melhorado muito o grau de automatização e tem reduzido o tempo

de análise, mas também tem introduzido um novo conjunto de inibidores de PCR,

isto é, os que podem afetar o sinal de fluorescência (MARK WILKS, 2013).

Utilizando iniciadores específicos para região 16S rRNA, o ensaio de qPCR

mostrou 100% de especificidade para o M. leprae, onde o fragmento amplificado

único, apresentando uma temperatura de fusão de 79,5 ºC, pôde ser identificado

apenas quando as reações continham DNA de M. leprae. O NTC, presente em cada

reação, não produziu sinais de amplificação. Porém, foi observado amplificação do

DNA das espécies M. tuberculosis ATCC 697-7 e Mycobacterium sp.. Todavia, os

respectivos produtos apresentaram temperatura de fusão distinta do apresentado

com o DNA de M. leprae. Desta forma o ensaio de qPCR foi capaz de diferenciar o

M. leprae do M. tuberculosis. Contudo, o mesmo não foi possível por meio do gel de

eletroforese, pois o tamanho dos fragmentos gerados pelas amplificações foram

muito próximos. Isso se deve ao fato da variação mínima do tamanho produto.

Sugere-se então a utilização de um controle positivo de M. tuberculosis em cada

reação, ou até mesmo o desenho de um novo iniciador na região do gene em que

ocorre variação, como mostrado a partir do alinhamento das sequências da região

16S rRNA de ambas as espécies, o que deve ser realizado com bastante cuidado,

pois, em estudo preliminar de padronização com iniciadores descritos por Lavania

(2008) na região variável do 16S rRNA, foi observada a amplificação de produto

secundário na curva de dissociação. Portanto, foi inviabilizado a utilização desse

iniciador.

Segundo Goulart (2008), há uma necessidade urgente de padronizar a

técnica de PCR, em especial o tamanho do fragmento amplificado e a técnica, a

procura de um diagnóstico de confirmação que pode ter implicações importantes na

epidemiologia e no controle da doença, bem como um impacto ético e social. A

maior vantagem de PCR (sensibilidade e especificidade) podem facilmente tornar-se

a sua maior desvantagem uma vez que a reação tem de apresentar as condições

muito rigorosas e específicas. Dentre todos os marcadores de ácidos nucleicos para

o diagnóstico da hanseníase na literatura, três apresentaram maior sensibilidade e

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especificidade (RLEP, Ag 85B e 16S rRNA). (GOULART; GOULART, 2008).

Considerando a sensibilidade, como citado anteriormente, a região RLEP se destaca

das demais com 87,1% (MARTINEZ et al., 2011). Todavia, além de uma

especificidade de 73,3%, a sequência de repetição (RLEP) é altamente conservada

e, como resultado, muitas sequências homólogas podem estar presentes em outras

espécies de micobactérias ambientais que não foram sequenciadas, gerando falsos

resultados positivos, tal como relatado para o marcador de M. tuberculosis IS6110

(KENT, et al., 1995; MCHUGH et al., 1997). Assim, o uso de um gene de cópia

única, tais como o Ag 85B e 16S rRNA é favorecido e parecem ser candidatos mais

promissores para o diagnóstico baseado em PCR, uma vez que apresentaram

sensibilidade de 66,1 % e 62,9%, respectivamente, e especificidade de 100%. Uma

solução apontada por Goulart (2008) seria o uso em grande escala da PCR em

tempo real e sorologia com marcadores específicos, apoiados por sistemas de

saúde dos países endêmicos, que podem fornecer provas suficientes de marcadores

que apresentam falsos positivos e falsos negativos. Como exemplo, podemos citar o

“Teste de Mycobacterium Tuberculosis Direto” (MTD) que tem reação cruzada

positiva com o M. leprae (CHEDORE et al.,2006).

A região 16S rRNA também tem sido utilizada em ensaios de viabilidade,

onde a detecção do mRNA de M. leprae tem sido proposta como uma ferramenta

promissora para a detecção rápida e a medição da viabilidade do bacilo

(KURABACHEW, et al., 1998), bem como no monitoramento de DNA bacilar e

mRNA em lesões de pele, cujos resultados sugerem a utilização da qPCR como

ferramenta para o acompanhamento da progressão da doença e regime de

tratamento (LINI et al., 2009).

A PCR em tempo real tem ampla aplicabilidade na pesquisa, sendo um

método rápido e preciso para quantificar o DNA de M. leprae em tecidos, e pode ser

bastante útil no diagnóstico, visto que vários laboratórios de referência já utilizam

essa ferramenta no diagnóstico de doenças infecciosas como AIDS, hepatite B e C,

entre outros, que contam com a tecnologia para melhoria do diagnóstico e

consequentemente um melhor tratamento. No caso da hanseníase essa ferramenta

pode contribuir para classificação clínica do paciente complementando o diagnóstico

clínico e histopatológico da doença, a fim de conduzí-lo aos esquemas de

tratamento adequado reduzindo os riscos de incapacidade.

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7 CONCLUSÕES

A qPCR mostrou-se uma ferramenta útil para detectar a presença de DNA de

M. leprae em pacientes com hanseníase a partir das amostras de secreção

nasal e biópsia, onde 85,2 e 100% foram positivas, respectivamente;

A quantificação do DNA de casos MB e PB a partir de amostras de secreção

nasal e biópsia de pele pôde ser realizada com base na amplificação do gene

16S rRNA, onde o número logarítmico de células e valores de CT de amostras

de biópsia apresentaram correlação positiva com o IB de pacientes MB

individuais. Nenhuma das correlações citadas acima foi observada nas

amostras de secreção nasal, embora o ensaio utilizando este tipo de amostra

foi capaz de confirmar o diagnóstico em 73,33% para casos PB;

A qPCR é atrativa para o diagnóstico de M. leprae pois este ensaio foi capaz

de confirmar o diagnóstico da hanseníase em secreção nasal em 89,7% dos

MB e 73,3% dos pacientes PB, indicando sensibilidade prática. Além disso,

amostras puderem ser testadas em grandes quantidades em um único ensaio

com uma economia de tempo considerável sobre a realização de

baciloscopias em larga escala.

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ANEXOS

ANEXO A – Parecer do Comitê de Ética em Pesquisa do CDRM

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ANEXO B – Extração de DNA a partir de amostras de muco nasal

1. Cortar a ponta do swab com lâmina de bisturi estéril e transferí-lo para um

tubo de 2,0mL juntamente com o líquido remanescente.

2. Adicionado 1mL de NaOH 4% e centrifugar à 2.500 rpm por 20 minutos.

3. Desprezar o sobrenadante. Digerir a amostra em 600μL de solução de lise

(10mM Tris-HCl, 10mM EDTA, 50mM de NaCl, 2% de SDS e 0,3 mg/mL de

proteinase K ) por 18 horas a 56°C.

4. Adicionar 600μL de fenol-clorofórmico-álcool isoamílico (25:24:1) e

homogeneizar delicadamente por inversão.

5. Centrifugar a 12.000 rpm por 15 minutos a temperatura ambiente.

6. Depois disso, trasferir o sobrenadante, aproximadamente 500μL, para outro

tubo de 1,5mL e adicionadar 500μL clorofórmio, homogeneizar e centrifugar à

12.000 rpm por 5 minutos.

7. Em seguida adicionar, 35μL de NaCl 2,5mM e 500μL de álcool isopropílico, e

novamente centrifugado a 14.000 rpm por 20 minutos a 4ºC.

8. Desprezar o sobrenadante e adicionadar 500 μL de etanol 70% ao pellet.

Centrifugar a 14.000 rpm por 5 minutos. Em seguida, desprezar o

sobrenadante e ressuspender o DNA em 70 μL de água miliQ (destilada e

autoclavada).

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ANEXO C – Protocolo para extração de DNA de biópsia com utilização do Kit

DNeasy Blood & Tissue (Qiagen, Alemanha)

1. Cortar a biópsia em pedaços, colocar em tubo de 1,5mL e adicionar 180µL de

ATL.

2. Adicionar 20µL de proteinase K, agitar em vortex por 15 segundos e depois

incubar a 56°C por 8 a 12h.

a. Adicionar 4µL de RNase e incubar a temperatura ambiente por 2

minutos.

3. Adicionar 200µL do tampão AL agitar em vortex. Então, adicionar 200µL de

etanol 100% (etanol absoluto) e agitar novamente.

4. Preparar a coluna. Pipetar toda a solução, incluindo o precipitado, para a

coluna com o tubo coletor de 2mL. Centrifugar a 8000rpm por 1 minuto.

Descartar o filtrado e o tubo coletor e ficar apenas com a coluna.

5. Colocar a coluna em um novo tubo coletor e adicionar 500µL de AW1 e

centrifugar a 8000rpm por 1 minuto. Descartar o filtrado e o tubo novamente.

6. Colocar a coluna em um novo tubo coletor e adicionar 500µL de AW2.

Centrifugar a 14000rpm por 3 minutos. Descartar o filtrado e o tubo

novamente.

7. Transferir a coluna para tubo de 1,5mL. Adicionar 100µL de tampão de

eluição AE, incubar por 1 minuto a temperatura ambiente. Centrifugar a

8000rpm por 1 minuto.

8. Na coluna (com o mesmo tubo) adicionar 50µL de tampão AE. Centrifugar a

8000rpm por 1 minuto.

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9. Manter o DNA extraído a -20°C.