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44
UNIVERSIDADE FEDERAL DE UBERLÂNDIA FACULDADE DE MEDICINA VETERINÁRIA BEM-ESTAR ANIMAL NO MANEJO PRÉ-ABATE DE BOVINOS E ALTERAÇÕES DA CARNE Claudesina Rodrigues Leite Médica Veterinária UBERLÂNDIA MINAS GERAIS BRASIL 2010

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE UBERLÂNDIA

FACULDADE DE MEDICINA VETERINÁRIA

BEM-ESTAR ANIMAL NO MANEJO PRÉ-ABATE

DE BOVINOS E ALTERAÇÕES DA CARNE

Claudesina Rodrigues Leite

Médica Veterinária

UBERLÂNDIA – MINAS GERAIS – BRASIL

2010

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE UBERLÂNDIA

FACULDADE DE MEDICINA VETERINÁRIA

BEM-ESTAR ANIMAL NO MANEJO PRÉ-ABATE

DE BOVINOS E ALTERAÇÕES DA CARNE

Claudesina Rodrigues Leite

Orientadora: Profª Drª Mara Regina Bueno de Mattos Nascimento

Dissertação apresentada à Faculdade de Medicina Veterinária – UFU, como parte das exigências para a obtenção do título de Mestre em Ciências Veterinárias (Produção Animal)

UBERLÂNDIA – MINAS GERAIS – BRASIL

Abril de 2010

ii

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)

Sistema de Bibliotecas da UFU, MG, Brasil. L533b Leite, Claudesina Rodrigues, 1973-

Bem-estar animal no manejo pré-abate de bovinos e alterações da carne [manuscrito] / Claudesina Rodrigues Leite. - 1973.

30 f.

Orientadora: Mara Regina Bueno de Matos Nascimento. Dissertação (mestrado) - Universidade Federal de Uberlândia,

Programa de Pós-Graduação em Ciências Veterinárias. Inclui bibliografia. 1. Carne bovina - Qualidade - Teses. 2. Bovino - Carcaças - Teses. I.

Nascimento, Mara Regina Bueno de Matos. II. Universidade Federal de Uberlândia. Programa de Pós-Graduação em Ciências Veterinárias. III. Título.

CDU: 637.5'62

iii

“Não importa onde você parou...

Em que momento da vida você cansou...

O que importa é que sempre é possível recomeçar.

Recomeçar é dar uma nova chance a si mesmo...

É renovar as esperanças na vida e, o mais

importante...

Acreditar em você de novo.

Sofreu muito neste período? Foi aprendizado...

Chorou muito? Foi limpeza da alma...

Ficou com raiva das pessoas?

Foi para perdoá-las um dia...

Sentiu-se só diversas vezes?

É porque fechaste a porta até para os anjos...

Acreditou que tudo estava perdido?

Era o início da tua melhora...

Onde você quer chegar? Ir alto?

Sonhe alto... Queira o melhor do melhor...

Se pensarmos pequeno... Coisas pequenas teremos...

Mas se desejarmos fortemente o melhor e, principalmente, lutarmos pelo

melhor...

O melhor vai se instalar em nossa vida.

Porque sou do tamanho daquilo que vejo, e não do tamanho da minha altura.”

(Carlos Drummond de Andrade)

iv

DEDICATÓRIA

Aos meus filhos Arthur e Isabella. Vocês são a luz e a força da minha vida.

Meu esposo Anderson, pelo amor, carinho e dedicação.

Aos meus pais Imaculada e Vicente pelo seu amor incondicional e por sempre

acreditarem em mim.

Às minhas avós Celuta e Duca pelas suas orações e seu orgulho por mim.

Aos animais, que ainda tanto sofrem pela falta do conhecimento.

"Não há diferenças fundamentais entre o homem e os animais nas suas

faculdades mentais... os animais, como os homens, demonstram sentir

prazer, dor, felicidade e sofrimento.”

(Charles Darwin)

v

AGRADECIMENTOS

A Deus por existir na minha vida.

A minha orientadora Professora Doutora Mara Regina Bueno de Mattos

Nascimento, exemplo de ser humano e profissional, meus sinceros

agradecimentos pela ajuda durante o mestrado.

A Daniela de Oliveira Santana, estudante da graduação em Medicina

Veterinária, por todo auxílio durante a pesquisa e pela sua amizade.

Ao meu irmão Thiago, pela ajuda na correção ortográfica da dissertação, seus

conselhos, amizade e carinho.

Ao meu sogro João e minha sogra Leda por me apoiarem e ajudarem sempre

que preciso.

À Médica Veterinária do Serviço de Inspeção Municipal Serly Lourenço Borges

Reis, minha amiga e companheira de tantas lutas, agradeço pelo apoio nas

horas difíceis.

À Diretora de Abastecimento e Inspeção Maria Teresa Nunes Pacheco

Rezende, pelo incentivo durante este trabalho.

Às Médicas Veterinárias Débora Natário Rodrigues e Luana Ribeiro Alves pela

contribuição na coleta de dados e na disciplina de seminário.

Ao Professor Doutor Ednaldo Carvalho Guimarães, pela contribuição na análise

estatística dos resultados deste trabalho.

A Professora Doutora Anna Monteiro Correa Lima Ribeiro pelos seus bons

conselhos e orientações.

Ao Professor Mestre Marcos Dias Moreira, meu orientador na graduação, por

sempre apoiar o trabalho realizado pela equipe do Serviço de Inspeção

Municipal de Uberlândia.

vi

Ao Professor Doutor Mateus José Rodrigues Paranhos da Costa por aceitar

compor a banca da dissertação e pelas importantes colaborações.

Ao Frigorífico onde se realizou a pesquisa, pelo espaço cedido para este

trabalho, especialmente ao senhor Valdivino Alves Pedrosa (Divino), que tanto

nos ajudou na etapa de observações nas fazendas.

Aos agentes de inspeção Fernando e Marcelo pelo apoio na coleta de dados.

Aos bovinos que foram parte fundamental deste trabalho.

A todos que de alguma forma contribuíram para a realização deste trabalho,

meus sinceros agradecimentos.

vii

SUMÁRIO

Página

LISTA DE TABELAS....................................................................................................... viii

CAPÍTULO 1 – CONSIDERAÇÕES GERAIS................................................................. 1

1.1 Conceitos e reflexos de bem-estar animal na produção animal....................... 1

1.2 Manejo pré-abate na indústria.......................................................................... 3

1.3 Abate humanitário e os processos de atordoamento e sangria dos animais... 5

1.4 Influência do manejo pré-abate na qualidade e pH da carne........................... 7

Referências............................................................................................................. 9

CAPÍTULO 2 - PARÂMETROS DE BEM-ESTAR ANIMAL NO MANEJO DE BOVINOS E SEUS EFEITOS NOS PROCESSOS DE ATORDOAMENTO, SANGRIA E PH 24 HORAS.............................................................................................................

14

Resumo................................................................................................................. 14

2.1. Introdução....................................................................................................... 15

2.2. Material e métodos......................................................................................... 15

2.3. Resultados e discussão.................................................................................. 17

2.4. Conclusões..................................................................................................... 22

Referências ........................................................................................................... 22

CAPÍTULO 3 – IMPLICAÇÕES...................................................................................... 25

ANEXO 1 – Aprovação do Comitê de Ética.................................................................... 26

APÊNDICE A - AVALIAÇÃO DO BEM-ESTAR NO MANEJO PRÉ-ABATE DOS BOVINOS.........................................................................................................................

27

APÊNDICE B - PLANILHA DE MEDIÇÕES DE pH 24 HORAS...................................... 30

viii

LISTA DE TABELAS

Página

CAPÍTULO 2 - PARÂMETROS DE BEM-ESTAR ANIMAL NO MANEJO DE BOVINOS E SEUS EFEITOS NOS PROCESSOS DE ATORDOAMENTO, SANGRIA E PH 24 HORAS............................................................................

14

Tabela 1. Número (N) e porcentagem (%) de 160 bovinos, divididos em lotes de 40 animais, monitorados quanto ao bem-estar animal nas áreas de currais, corredor de abate, banho de aspersão e seringa em um frigorífico do Triângulo Mineiro – MG.............................................................

17

Tabela 2. Ocorrência de escorregões, quedas, vocalizações e eficiência de insensibilização no boxe de atordoamento em 160 bovinos, divididos em lotes de 40 animais, em um frigorífico do Triângulo Mineiro – MG...................................................................................................................

19

Tabela 3. Verificações dos reflexos da insensibilização em bovinos abatidos em frigorífico do Triângulo Mineiro – MG.........................................

20

Tabela 4. Médias do intervalo entre atordoamento e sangria (segundos), tempo de sangria (minutos) de 160 bovinos fêmeas abatidas e pH 24 horas de suas respectivas carcaças em um frigorífico do Triângulo Mineiro – MG...................................................................................................

21

ix

BEM-ESTAR ANIMAL NO MANEJO PRÉ-ABATE DE BOVINOS E ALTERAÇÕES DA

CARNE

RESUMO – O objetivo deste estudo foi avaliar o manejo de 160 fêmeas bovinas

abatidas em um frigorífico do Triângulo Mineiro – MG. Esse manejo relacionou-se

aos parâmetros de bem-estar animal e seus efeitos no atordoamento, sangria e pH

24 horas. Observou-se a condução dos animais no frigorífico, desde os currais até

o boxe de atordoamento, insensibilização dos bovinos e, na canaleta de sangria, a

eficiência do atordoamento e a mensuração do pH das carcaças 24 horas após o

abate. Escorregões chegaram a 25,0% e as quedas a 5,0%. As vocalizações

ocorreram em até 25,0%. O uso do bastão elétrico representou sério problema no

manejo dos bovinos, com valores inclusive de 100,0%. Para o parâmetro de

insensibilização com um disparo, os dados variaram de 32 a 36 animais (80,0% a

90,0%), exceto por um lote, que não apresentou eficiência de atordoamento, pois

todos receberam mais de um disparo por defeito em equipamento. Os bovinos

insensibilizados variaram de 32 a 40 animais (77,5% a 100,0%). Quanto aos

critérios para determinação da insensibilidade, o reflexo de correção de postura foi

o sinal mais observado. Não houve variação (P>0,05) entre os animais em estudo

para o intervalo de atordoamento e sangria. O tempo de sangria variou (P<0,05),

porém dentro do tempo mínimo preconizado, exceto um lote que obteve menor

tempo. As médias de pH 24 horas em três lotes não variaram (P<0,05), no entanto

os valores foram intermediários, um lote teve valores médios acima de 6,0. As

falhas no manejo dos animais pelos funcionários, a falta de manutenção de

equipamentos e supervisões deficientes levaram a problemas no bem-estar dos

animais e alterações da carne.

Palavras-chave: abate, carcaças bovinas, insensibilização, pH, qualidade da carne

x

ANIMAL WELFARE IN THE HANDLING PRE-SLAUGHTER OF CATTLE AND

CHANGES OF MEAT

ABSTRACT - The aim of this study was to verify the handling of 160 cows in a

slaughterhouse of Triangulo Mineiro – MG. The handling was related to the

parameters of animal welfare and its effects on the stunning, bleeding and pH 24

hours. It was observed the conduct of animals in the slaughterhouse, since the

corrals until stunning boxing, stunning of cattle and, on the bleed rail, the efficiency

of stunning and the mensuration of pH of the carcasses 24 hours after slaughter.

Slips reached 25,0% and falls reached 5,0%. The vocalizations presented 25,0%.

The use of electric prod represented a serious problem in the handling of cattle, with

values of 100,0%. About the parameter with a stunning shot, the data alternated

from 32 to 36 animals (80,0% to 90,0%), except for one lot, which did not show

effectiveness of stunning, because they all received more than one shot,

emphasizing a defect in the equipment. Stunned cattle alternated from 32 to 40

animals (77,5% to 100,0%). About the criteria to determine the stunning, the

reflection of posture correction was the most observed signal. There was no

variation (P > 0,05) among the animals in the study to the interval of stunning and

bleeding. The time of bleeding alternated (P < 0,05), but in the minimum time

recommended, except a lot that had less time. pH means 24 hours in three lots did

not alternate (P < 0,05), however the values were intermediate, a lot had average

values above 6,0. The failures in the handling of animals by the employees, the lack

of equipment maintenance and poor supervisions let problems in the animal welfare

and changes in the meat.

Key-words: beef carcass, meat quality, pH, slaughter, stunning

1

CAPÍTULO 1 – CONSIDERAÇÕES GERAIS

1.1 Conceitos e reflexos de bem-estar na produção animal

Segundo Broom (1991, 2008), o bem-estar é o estado de um indivíduo em

relação ao ambiente e como isto pode ser medido, é um termo utilizado para os

animais, inclusive o homem. Conforme o autor se em dado momento o animal não

tem dificuldade de enfrentar determinada situação, este se encontra em bom estado,

associado com bons sentimentos e pode ser indicado pela fisiologia do organismo, o

estado do cérebro e do comportamento, sendo esta uma situação individual. Outro

indivíduo pode enfrentar problemas de tal forma que o enfrentamento seja difícil ou

impossível.

Quando se define o estado ideal como critério de bem-estar animal, as cinco

liberdades (FAWC, 1993) devem ser consideradas: 1. Liberdade nutricional: os

animais devem estar livres de fome, sede e desnutrição; 2. Liberdade sanitária:

livres de ferimentos e acesso a tratamentos; 3. Liberdade comportamental: liberdade

suficiente para expressar o comportamento natural da sua espécie; 4. Liberdade

psicológica: livres de sensações de medo e ansiedade; 5. Liberdade ambiental:

liberdade de movimentos em instalações adequadas à sua espécie.

Conforme Paranhos da Costa et al. (2007), o bem-estar animal pode ser

considerado levando-se em conta uma das seguintes abordagens: 1. Estado

psicológico do animal – quando o bem-estar é definido em função dos sentimentos e

emoções, sendo que animais com medo, frustração e ansiedade enfrentariam

problemas de bem-estar; 2. Funcionamento biológico do animal – os animais devem

manter suas funções orgânicas em equilíbrio, sendo capazes de crescer e de se

reproduzir, além de não apresentarem comportamentos e respostas fisiológicas

anormais; 3. Vida natural – os animais devem ser mantidos em ambientes

semelhantes ao seu habitat natural, com liberdade para desenvolver suas

características e capacidades naturais, incluindo a expressão do comportamento.

A legislação brasileira contempla como recomendações de bem-estar animal

os seguintes itens: I. Proceder ao manejo cuidadoso e responsável nas várias

2

etapas da vida do animal, desde o nascimento, criação e transporte; II. Possuir

conhecimentos básicos de comportamento animal a fim de proceder adequado

manejo; III. Proporcionar dieta satisfatória, apropriada e segura; IV. Assegurar que

as instalações sejam projetadas apropriadamente aos sistemas de produção das

diferentes espécies; V. manejar e transportar os animais de forma adequada para

reduzir o estresse, evitar contusões e sofrimento desnecessário; VI. Manter o

ambiente de criação em condições higiênicas (BRASIL, 2008).

O conhecimento do comportamento dos bovinos e a aplicação de estratégias

de manejo que levam em conta suas necessidades fisiológicas podem trazer ganhos

diretos ou indiretos para a produção da carne (PARANHOS DA COSTA, 2000).

Quando se trata de produção animal, as práticas de bem-estar devem ser

realizadas, mesmo que seja necessário desacelerar ou modificar os sistemas

produtivos, (OLIVEIRA et al., 2008).

Uma compreensão sobre como as preocupações com o bem-estar animal

podem influenciar a economia pecuária é de fundamental importância. Recursos

financeiros escassos e a necessidade de investimento para assegurar a qualidade

de vida dos animais afetam diretamente as atitudes em relação ao bem-estar na

produção animal do Brasil (MOLENTO, 2005). O reconhecimento da necessidade de

uma pecuária mais humanitária é uma oportunidade para a elevação dos padrões

éticos da produção animal (MOLENTO; BOND, 2008). De acordo com estes autores,

os bons tratos com os animais produzem um produto final diferenciado dos demais.

A importância do bem-estar animal na pecuária brasileira talvez possa vir de

preocupações éticas da sociedade ou talvez de barreiras de comércio exterior

fundamentadas em questões de bem-estar animal, sendo uma necessidade

crescente. Países que tem padrões de bem-estar animal para os seus produtores,

como por exemplo, na Europa, também exigem o mesmo para os outros países que

queiram exportar seus produtos nesse mercado (MOLENTO, 2005).

Cada vez mais é reconhecido o fato do bem-estar animal ter um impacto na

segurança e qualidade dos alimentos de origem animal e que o apoio à agricultura

deve ser adaptado nesse sentido. Qualquer requisito que implique em investimentos

e mudanças dos sistemas de produção tem influência nos custos de produção.

3

Estes custos devem ser recuperados pela relevância conferida pelos consumidores

a esses produtos.

PARANHOS DA COSTA (2002) cita que “Programas de qualidade da carne

devem ter como ênfase mais do que a oferta de produtos seguros, saudáveis e

nutritivos, também devem ter compromisso com a produção sustentável e a

promoção do bem-estar animal e humano, assegurando a satisfação do consumidor

e renda ao produtor, sem causar danos ao ambiente.”

1.2 Manejo pré-abate na indústria

Segundo a Instrução Normativa 03 do Ministério da Agricultura, Pecuária e

Abastecimento – MAPA (BRASIL, 2000), o manejo dos animais é o conjunto de

operações de movimentação que deve ser realizada com o mínimo de excitação e

desconforto, proibindo-se qualquer ato ou uso de instrumentos agressivos que

comprometam a integridade física dos animais ou provoque reações de aflição.

Especificamente, o manejo pré-abate submete os bovinos a uma série de

situações não familiares que causam estresse aos mesmos, dentre elas:

agrupamento dos animais, confinamento nos currais das fazendas, embarque,

transporte, desembarque, confinamento e manejo nos currais dos frigoríficos

(PARANHOS DA COSTA, 2002). As consequências do manejo agressivo são a

demora no trabalho com o gado, lesões nos animais, danos nas instalações e riscos

de acidentes para os trabalhadores (PARANHOS DA COSTA, 2000).

Conforme Broom (2005), deve haver mais cuidado no desembarque, porque os

animais podem estar fatigados, machucados ou doentes. O animal que possui

lesões ou adoentou-se durante a jornada deve ser tratado apropriadamente ou ser

abatido de emergência. Após o desembarque, separar os animais nos currais e

avaliar aqueles doentes ou injuriados. O meio de transporte que foi utilizado pelos

animais deve ser lavado e desinfetado.

De acordo com o artigo 109 do Regulamento de Inspeção Industrial e Sanitária

dos Produtos de Origem Animal – RIISPOA (BRASIL, 1997), a administração dos

estabelecimentos fica obrigada a tomar medidas mais adequadas, no sentido de

serem evitados maus-tratos aos animais, pelos quais é responsável desde o

4

momento do seu desembarque. Sendo proibido no desembarque ou na

movimentação de animais o uso de instrumentos pontiagudos ou quaisquer outros

que possam lesar o couro ou a musculatura.

Segundo Roça (2002), de maneira geral, é necessário um período mínimo de

12 a 24 horas de descanso para o gado que foi submetido a condições

desfavoráveis durante o transporte se recupere.

O artigo 110 do RIISPOA (BRASIL, 1997) proíbe a matança de qualquer animal

que não tenha permanecido pelo menos 24 horas em descanso, jejum e dieta

hídrica nos currais do estabelecimento. Este período pode ser reduzido, quando o

tempo de viagem não for superior a duas horas e os animais procedam de campos

próximos sob controle sanitário permanente. O repouso não deve ser inferior a seis

horas e este pode ser ampliado quando necessário.

Após o desembarque dos animais e antes de iniciar o abate deve ser realizada,

pelo médico veterinário inspetor, a inspeção ante-mortem que tem as seguintes

finalidades: exigir e verificar os certificados de vacinação e sanidade do gado,

identificar o estado higiênico dos animais para auxiliar, com dados informativos a

tarefa de inspeção post-mortem, como identificar e isolar animais doentes ou

suspeitos, antes do abate, bem como vacas com gestação adiantada e récem-

paridas e verificar as condições higiênicas dos currais e anexos (ROÇA, 2002).

Segundo Grandin (2005) o manejo correto dos animais a serem abatidos é

importante para o seu bem-estar e pode significar a diferença entre ganhos e

perdas. Uma série de critérios pode ser usada para medir o bem-estar animal em

frigoríficos, com o objetivo de detectar problemas e alcançar melhorias, sendo

avaliados durante a movimentação dos animais. Escorregões acontecem quando

uma parte da perna que não seja o pé toca o chão e quedas quando o corpo do

animal, não os membros, toca o chão. Os escores para estes dois parâmetros são

os seguintes; excelente: sem quedas e escorregões; aceitável: menos de 3% dos

animais escorregam e menos de 1% de queda (corpo toca o piso); não aceitável:

mais de 3% escorrega e mais de 1% de queda; problema sério: 5% caem e 15% ou

mais escorregam.

Vocalização é um indicador de desconforto do gado e sua pontuação é

eficiente para a identificação de problemas com o manejo e equipamentos, conforme

5

Grandin (2005). De acordo com esta autora o escore para vocalização de bovinos é

excelente: 1% ou menos vocalizam; aceitável: 3% ou menos vocalizam; não

aceitável: 4 a 10% vocalizam; problema sério: mais que 10% vocalizam.

Grandin (2005) relata que a redução do uso de bastão elétrico melhora o bem-

estar e a sua substituição é possível em muitos casos pelas pás de plástico e

bandeiras. O critério no uso de bastões elétricos é excelente: 5% ou menos dos

animais; aceitável: 25% ou menos; não aceitável: 26 a 49%; problema sério: 50% ou

mais.

As cinco causas de problemas de bem-estar animal em plantas de abate,

conforme Grandin (1996) são: 1. Deficiências no equipamento de insensibilização e

atordoamento; 2. Distrações que atrapalham a movimentação animal; 3. Falhas na

capacitação de empregados e supervisores; 4. Falta de manutenção de

equipamentos e instalações; 5. Condições dos animais que chegam às plantas. Em

um estudo em frigorífico do Triângulo Mineiro - MG, Borges e Almeida (2007)

relataram irregularidades nas instalações e equipamentos e a falta de treinamentos

de funcionários que lidam com os animais, contribuindo para um bem-estar animal

ruim.

Finalmente, programas de treinamento dirigidos a todos que lidam com o gado

deveriam ser implantados de imediato, uma vez que o manejo tem se caracterizado

muito agressivo. Todo o controle no manejo pré-abate, desde a condução dos

animais das pastagens para os currais das fazendas, até o processo de

atordoamento na indústria frigorífica, é fundamental para assegurar a boa qualidade

do produto final (PARANHOS DA COSTA et al., 2000).

1.3 Abate Humanitário e os processos de atordoamento e sangria dos animais

Conforme Roça (2002), o abate humanitário pode ser definido como o

conjunto de procedimentos técnicos e científicos que garantem o bem-estar dos

animais desde o embarque na propriedade rural até a operação de sangria no

matadouro-frigorífico. O abate de animais deve ser realizado sem sofrimentos

desnecessários. As condições humanitárias devem prevalecer em todos os

momentos precedentes ao abate.

6

Atordoamento ou insensibilização é o processo aplicado ao animal, para

proporcionar rapidamente um estado de insensibilização, mantendo as funções vitais

até a sangria. Sensibilidade é o termo usado para expressar as reações indicativas

da capacidade de responder a estímulos externos (BRASIL, 2000). O método de

insensibilização geralmente utilizado para bovinos é o método mecânico, que

provoca uma concussão cerebral.

Segundo Grandin (2005), quando o atordoamento é feito corretamente, o

animal não sente dor e se torna imediatamente inconsciente, resultando em melhor

qualidade de carne. Na avaliação da eficiência de atordoamento os escores são

excelente: 99% a 100% insensível com um disparo; aceitável: 95% a 98% insensível

com um disparo; não aceitável: 90% a 94% insensível com um disparo; problema

sério: menos que 90% insensível com um disparo.

A insensibilização dos animais é considerada a operação mais crítica durante o

abate de bovinos. Tem por objetivo colocar o animal em estado de inconsciência,

que perdura até o final da sangria, não causando sofrimento desnecessário e

promovendo uma sangria tão completa quanto possível (ROÇA, 2002). O resultado

obtido por Neves (2008) registrou 97,65% dos bovinos atordoados com o primeiro

disparo. Este autor ressaltou a importância de atingir o nível ideal, de pelo menos

99,0% dos animais atordoados com um único disparo, podendo ser alcançado com

treinamento do operador, manutenção dos equipamentos e com correta supervisão

do seu trabalho.

Na canaleta de sangria deve ser observada a eficiência da insensibilização. Os

sinais de uma insensibilização deficiente são vocalizações, reflexos oculares

presentes, movimentos oculares, contração dos membros dianteiros (ROÇA et al.,

2001). De acordo com Grandin (2005), os sinais para determinar o correto

atordoamento em bovinos são espasmos dos membros traseiros, a cabeça e o

pescoço devem estar soltos e flexíveis, sua cabeça deve cair para baixo e as costas

devem estar retas, pouco depois de ser pendurado no trilho, a cauda deve relaxar e

pendurar, a língua deve estar projetada para fora da boca, os olhos devem ser

abertos com um olhar fixo e vazio, sem reflexos oculares, não deve haver

movimentos dos olhos, sem nistagmo, ausência de reflexo em resposta ao toque,

respiração rítmica deve estar ausente. O escore para a insensibilização à sangria é

7

de excelente: menos que um para 1000 animais; aceitável: menos que um para 500

animais.

A operação de sangria deve ser iniciada logo após a insensibilização do animal,

de modo a provocar um rápido, profuso e completo escoamento de sangue, antes

que o animal recupere a sensibilidade. É realizada pela secção dos grandes vasos

do pescoço, no máximo um minuto após a insensibilização (BRASIL, 1997, 2000).

Conforme Roça et al. (2001) a eficiência da sangria pode ser definida como o

volume de sangue residual retida nos músculos após o abate. Vários fatores são

responsáveis pela eficiência da sangria, como o estado físico do animal antes do

abate, o método de atordoamento e intervalo entre o atordoamento e sangria.

1.4 Influência do manejo pré-abate na qualidade e pH da carne

Segundo Paranhos da Costa et al. (2002), a qualidade da carne é definida por

suas propriedades físico-químicas, como maciez, sabor, cor, odor e suculência.

Estas propriedades da carne são determinadas por muitos fatores ligados ao

indivíduo (genética, idade, sexo), à fazenda de origem (alimentação, embarque e

transporte) e à indústria (manejo no período de pré-abate, abate, métodos de

processamento da carcaça, duração e tempo de estocagem).

Preocupações com a qualidade da carne devem ter início na escolha de animais

e insumos (alimentos, medicamentos), passando pela adequação das instalações

(nas fazendas e frigoríficos) e do manejo (que exige o treinamento dos trabalhadores

das fazendas, dos transportes e do frigorífico), além da melhora dos processos

industriais (técnica e tecnologia de abate, de armazenamento e processamento) e

de distribuição da carne (transporte da carne e refrigeração na gôndola),

(PARANHOS DA COSTA et al., 2000).

A qualidade da carne é influenciada por fatores intrínsecos e extrínsecos. Entre

os últimos destacam-se as práticas de manejo no local de criação, no transporte e

no abatedouro (BATISTA DE DEUS et al., 1999). Os efeitos qualitativos sobre a

produção da carne são medidas em geral pelas alterações de pH e cor da carne. A

perda das reservas energéticas antes do abate podem levar a depleção do

8

glicogênio hepático e muscular levando a alterações da qualidade da carne no pós-

morte , como o corte escuro.(GALLO; TADICH, 2005).

Ao sofrer estresse ou fazer esforço físico ocorre no animal a queima da reserva

de glicogênio presente nos músculos, que pode levar a carne com valores de pH

indesejáveis (PARANHOS DA COSTA et al., 2002). Para estes autores certos

mercados, por exemplo, a União Européia, os limites de pH devem ficar entre 5,5 e

5,8. Além disso, carnes com pH igual ou maior que 6,0 (tipo DFD, “dark, firm, dry”,

carne escura) são consideradas de pior qualidade, sendo destinadas a mercados

menos exigentes.

A maior influência do transporte na qualidade da carne é a depleção do

glicogênio muscular por atividade física ou estresse físico que acarreta um aumento

do pH post-mortem e origina a carne escura (ROÇA, 2002). A distância de

transporte influencia significativamente o metabolismo post-mortem de bovinos, com

aumento do pH final e diminuição do teor de lactato do músculo (BATISTA DE DEUS

et al., 1999). Estes autores relacionaram nas 24 horas do post-mortem o pH final das

carcaças, diferindo significativamente entre todas as distâncias, tendo sido menor

naquelas carcaças cujos bovinos percorreram os menores trajetos rodoviários.

A redução do estresse durante o manejo pode prover vantagens, sendo que o

manejo correto dos animais melhora a produtividade, a qualidade e a rentabilidade,

assim é um bom negócio fazê-lo direito (GRANDIN, 1996, 1998).

Objetivou-se avaliar o manejo pré-abate de bovinos e as condições de bem-

estar dos animais em um frigorífico e a avaliação das alterações da carne por meio

da mensuração de pH 24 horas após o abate nas carcaças bovinas no período

post-mortem.

9

REFERÊNCIAS

BATISTA DE DEUS, J. C.; SILVA, W. P.; SOARES, G. D. Efeito da distância de

transporte de Bovinos no metabolismo pós-mortem. Revista Brasileira de

Agrociência, Pelotas, v.5, n.2, p. 152-156, maio-agosto, 1999.

BORGES, T. D.; ALMEIDA, L. P. Estudo sobre os processos de pré-abate de

bovinos em matadouro-frigorífico de Uberlândia –MG, visando o bem-estar animal.

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agosto 2001.

14

CAPÍTULO 2 - PARÂMETROS DE BEM-ESTAR ANIMAL NO MANEJO DE

BOVINOS E SEUS EFEITOS NOS PROCESSOS DE ATORDOAMENTO,

SANGRIA E pH 24 HORAS

Resumo – Avaliou-se o manejo de 160 fêmeas bovinas abatidas em um frigorífico

do Triângulo Mineiro – MG. Esse manejo relacionou-se aos parâmetros de bem-

estar animal e seus efeitos no atordoamento, sangria e pH 24 horas. Observou-se a

condução dos animais no frigorífico, desde os currais até o boxe de atordoamento,

insensibilização dos bovinos e, na canaleta de sangria, a eficiência do atordoamento

e a mensuração do pH das carcaças 24 horas após o abate. Escorregões chegaram

a 25,0% e as quedas a 5,0%. As vocalizações ocorreram em até 25,0%. O uso do

bastão elétrico representou sério problema no manejo dos bovinos, com valores

inclusive de 100,0%. Para o parâmetro de insensibilização com um disparo, os

dados variaram de 32 a 36 animais (80,0% a 90,0%), exceto por um lote, que não

apresentou eficiência de atordoamento, pois todos receberam mais de um disparo

por defeito em equipamento. Os bovinos insensibilizados variaram de 32 a 40

animais (77,5% a 100,0%). Quanto aos critérios para determinação da

insensibilidade, o reflexo de correção de postura foi o sinal mais observado. Não

houve variação (P>0,05) entre os animais em estudo para o intervalo de

atordoamento e sangria. O tempo de sangria variou (P<0,05), porém dentro do

tempo mínimo preconizado, exceto um lote que obteve menor tempo. As médias de

pH 24 horas em três lotes não variaram (P<0,05), no entanto os valores foram

intermediários, um lote teve valores médios acima de 6,0. As falhas no manejo dos

animais pelos funcionários, a falta de manutenção de equipamentos e supervisões

deficientes levaram a problemas no bem-estar dos animais e alterações da carne.

Palavras-chave: abate, carcaças, manejo pré-abate, qualidade da carne

15

2.1. Introdução

O Brasil ocupa o primeiro lugar como maior exportador mundial de carne

bovina, segundo dados da ABIEC (2009). Para manter-se nesta posição é

necessária a adequação aos cuidados com os animais de produção, especialmente

no que diz respeito às indústrias de abate, atendendo às novas exigências de

mercados e consumidores com relação ao bem-estar animal. Segundo Grandin

(1998), a redução do estresse durante o manejo pré-abate pode prover vantagens

na produção animal e qualidade da carne.

Paranhos da Costa et al. (2002) relataram que programas de treinamento

dirigidos a todos que lidam com o gado deveriam ser implantados de imediato, visto

que o manejo pré-abate tem se caracterizado, de forma geral, agressivo. Conforme

Lensink (2002), as respostas de medo após contatos negativos com o homem

podem não só causar comportamento de excitação nos animais, mas também

respostas fisiológicas de estresse.

Métodos humanitários de manipulação de bovino podem reduzir o sofrimento

desnecessário dos animais e resultam em melhores condições de trabalho para

funcionários em estabelecimentos de abate.

Desse modo, objetivou-se com este estudo avaliar o manejo de bovinos para

abate, dentro dos parâmetros de bem-estar animal, e seus efeitos nas etapas de

atordoamento, sangria e alteração da carne pela mensuração do pH 24 horas.

2.2. Material e Métodos

Em um frigorífico do Triângulo Mineiro – MG, avaliou-se o manejo pré-abate

de 160 bovinos, fêmeas, azebuadas, com idade de 2 a 4 anos, peso médio de 350 -

450 quilos, em Julho e Agosto de 2009. Estes animais foram divididos em 4 lotes de

40, conforme a data de coleta dos dados e denominados de 1, 2, 3 e 4,

respectivamente. O estudo foi aprovado pela Comissão de Ética e Bem-Estar Animal

- CEUA/UFU (Protocolo n° 039/08).

Foram utilizados os escores de bem-estar animal de Grandin (2005),

relacionados aos 40 animais de cada lote, para os seguintes parâmetros:

16

escorregões e quedas (currais, corredor de abate, banho de aspersão, seringa e

boxe de atordoamento); excelente: sem quedas e escorregões; aceitável:

escorregões de menos de 3% dos animais e quedas de menos de 1%; não

aceitável: mais de 3% escorregam e mais de 1% de falha (corpo toca o piso);

problema sério: 5% caem e 15% ou mais escorregam.

Escore para vocalização de bovinos (currais, corredor de abate, banho de

aspersão, seringa e boxe de atordoamento); excelente: zero a 0,5% ou menos

vocalizam; aceitável: 3% ou menos; não aceitável: 4 a 10%; problema sério: mais

que 10% .

Critério no uso de bastões elétricos para bovinos (currais, corredor de abate,

banho de aspersão, seringa e boxe de atordoamento); excelente: zero a 5% dos

animais; aceitável: 25% ou menos; não aceitável: 26 a 49%; problema sério: 50% ou

mais.

Uso de pistola pneumática em bovinos e sua eficácia (boxe de atordoamento);

excelente: 99% a 100%, insensível com um disparo; aceitável: 95% a 98%,

insensível com um disparo; não aceitável: 90% a 94%, insensível com um disparo;

problema sério: menos que 90% insensível com um disparo.

Determinou-se a sensibilidade após o atordoamento, na canaleta de sangria

com os critérios: presença de movimentos oculares ao toque; movimentos ciliares;

reflexo de correção de postura, respiração rítmica e vocalização. Definiu-se como

animal completamente insensível quando este não apresentou nenhum dos sinais

anteriormente citados e sensível quando apresentou algum tipo de sinal. Assim,

definiu-se o escore para a insensibilização à sangria: excelente: menos que um para

1000 animais; aceitável: menos que um para 500 animais. Consideraram-se todos

os bovinos do estudo para este escore.

No intervalo de atordoamento e sangria preconizou-se o tempo de um minuto,

conforme Brasil (2000), sendo caracterizado entre o momento do primeiro disparo da

pistola de atordoamento até a realização da sangria. O processo de atordoamento

ocorreu por meio de pistola pneumática com dardo cativo, da marca Remafrig.

Indicou-se o mínimo de três minutos para o tempo de sangria (BRASIL, 1977). A

sangria foi pelo corte dos grandes vasos do pescoço, utilizando-se 2 facas, com

cores de cabo diferentes, uma para a abertura da barbela e outra para a sangria

17

propriamente dita. O intervalo entre o atordoamento e sangria e tempo de sangria

foram medidos com o uso de um cronômetro e as medições marcadas em planilha.

Após 24 horas de abate, mediu-se o pH, no músculo longissumus dorsi. Foi

utilizado um peagâmetro portátil, digital (marca Hanna, modelo HI 99163), calibrado

com soluções controle 4 e 7. Para as médias obtidas nas medições considerou-se o

valor até 5,80 como pH ideal, de 5,81 a 5,99 como intermediário e acima de 6,0

como valores indesejáveis. Segundo Roça (2000), o pH 6,0 tem sido considerado

como a linha divisória entre o corte normal e o corte escuro. Este autor cita que no

Brasil os frigoríficos só exportam a carne bovina com pH menor que 5,8, avaliados

diretamente no músculo longissumus dorsi, 24 horas post-mortem.

Para as variáveis de pH, intervalo de atordoamento e sangria e tempo de

sangria, utilizou-se uma análise de variância por meio do programa SISVAR, com o

Teste de Tukey nas comparações das médias, a 5%, segundo Ferreira (2006). Os

dados dos parâmetros de bem-estar animal foram distribuídos em tabelas com

porcentagens.

2.3. Resultados e discussão

Tabela 1. Número (N) e porcentagem (%) de 160 bovinos, divididos em lotes de 40

animais, monitorados quanto ao bem-estar animal nas áreas de currais, corredor de

abate, banho de aspersão e seringa em um frigorífico do Triângulo Mineiro – MG.

Escorregões Quedas Vocalizações Uso do bastão elétrico

Lotes N % N % N % N %

1 1 2,5 0 0 5 12,5 40 100,0

2 0 0 0 0 6 15,0 38 95,0

3 0 0 0 0 8 20,0 32 80,0

4 0 0 0 0 10 25,0 30 75,0

Houve um escorregão que foi resultante de piso molhado e considerou-se

como critério aceitável (Tabela 1). Almeida (2005) estudou 5 frigoríficos e encontrou

os seguintes números em um deles, 116 bovinos escorregaram (14,50%) e 51

(6,38%) com queda, num total de 633, acontecendo principalmente na área da

seringa. Grandin (2005) recomenda o uso de piso antiderrapante para evitar

escorregões e quedas.

18

Quanto as vocalizações (Tabela 1), os escores foram entre 5 e 10 animais

(12,5% a 25,0%), relacionada como problema sério. Isto ocorreu devido às falhas no

manejo dos animais por uso excessivo do bastão elétrico pelos funcionários.

Resultados semelhantes foram obtidos por Almeida (2005), em dois frigoríficos do

estado de São Paulo com 5 e 7 animais (10,00 a 14,00%), em 50 animais cada,

também pelo uso excessivo do bastão elétrico. Em auditoria nos Estados Unidos,

foram relatadas as seguintes pontuações por Grandin (2001), em 20 plantas de

abate o índice foi de 0-1% de vocalização, em 12 com 2-3%, 12 plantas com 4-10%,

em 4 plantas mais de 10% vocalizaram, 10 a 15 plantas apresentaram 15% de

vocalização. Esta autora associa as vocalizações no gado com estímulos por

bastões elétricos.

O uso de bastão elétrico variou de 30 a 40 animais (75,0% a 100%), o que

representou sério problema (Tabela 1). Na condução dos animais utilizou-se

sucessivamente o bastão quando distrações, como barulhos e piso molhado,

atrapalhavam o andamento e os bovinos retrocediam. Os animais durante o manejo

recebiam às vezes mais de um toque do bastão elétrico. Resultados semelhantes

foram encontrados por Grandin (2001) em 3 plantas de abate com valores de 95%

em animais que paravam durante o manejo.

Os escorregões e quedas no boxe de atordoamento (Tabela 2) variaram de 4

a 10 animais (10,0% a 25,0%) e de 0 a 2 (0% a 5,0%), respectivamente, o que

revelou sério problema devido à excitação por parte do animal que entra no boxe de

atordoamento por falhas dos funcionários. Almeida (2005), encontrou valores

menores de escorregões e quedas, 0 e 3 (0 e 33,33%) respectivamente, em dois

frigoríficos de São Paulo. Conforme Grandin (2005), um bem-estar bom e manejo

adequado são impossíveis se os animais escorregam ou caem no piso.

Vocalizações (Tabela 2) foram de 2 a 5 animais (5,0% a 12,5%), o que

também resultou em problemas sérios. Este resultado é explicado pelo uso de

bastão elétrico para que o animal entrasse no boxe de atordoamento. Gregory et al.

(2007) observaram que 1,2% dos animais vocalizaram num total de 1608 bovinos

quando fechados no boxe de atordoamento.

Somente quando os bovinos do lote 1 foram abatidos (Tabela 2) houve falha

na manutenção de equipamento. No dia da avaliação, o compressor de ar estava

19

com defeito e não enviou ar suficiente para que a pistola pneumática funcionasse

corretamente. Os resultados foram superiores àqueles encontrados por Almeida

(2005), que verificou com 7 animais (0,88%). Andrade et al. (2008) discorreram que

a falta de manutenção de equipamentos proporciona maior número de disparos e

que são necessárias limpezas e revisões diárias da pistola e compressor para evitar

sofrimento e estresse dos animais e riscos na segurança dos operadores.

Consequentemente os animais deste lote apresentaram maior número de

disparos para que fossem insensibilizados, com 100,0% dos bovinos. Os outros

lotes variaram de 4 a 8 animais (10% a 20,0%), fato que ocorria principalmente por

erro do local de aplicação do disparo (Tabela 2). Estes dados foram semelhantes

aos encontrados por Almeida (2005) em duas plantas de abate com 3 e 7 animais

(6,0% e 14,0%). O autor cita a necessidade de repetir o disparo sempre que este

não é bem executado para que o animal seja devidamente insensibilizado.

A eficiência de atordoamento (Tabela 2) variou de 32 a 36 animais (80,0% a

90,0%), com exceção do lote 1 onde todos os bovinos receberam mais de um

disparo. Os resultados representaram índice elevado devido às falhas do operador

do equipamento. Resultados semelhantes foram relatados por Barbalho (2007), em

3 frigoríficos no Mato Grosso, Goiás e São Paulo. O autor obteve, após treinamento

dos funcionários, 91,6%, 79,1% e 90,1%, respectivamente. Neves (2008) encontrou

melhor resultado em estudo com 97,65%.

Tabela 2. Ocorrência de escorregões, quedas, vocalizações e eficiência de

insensibilização no boxe de atordoamento em 160 bovinos, divididos em lotes de 40

animais, em um frigorífico do Triângulo Mineiro – MG.

Lotes Escorregões Quedas Vocalizações Falha na manutenção

Falha no disparo

Insensibilizados com 1 disparo

N % N % N % N % N % N %

1 8 20,0 0 0 5 12,5 40 100,0 40 100,0 0 0 2 6 15,0 2 5,0 2 5,0 0 0 8 20,0 32 80,0 3 4 10,0 0 0 3 7,5 0 0 4 10,0 36 90,0 4 10 25,0 0 0 3 7,5 0 0 7 17,5 33 82,5

N= número de animais, % = porcentagem

Ao considerar os bovinos insensibilizados após o atordoamento (Tabela 3),

houve variação de 31 a 40 animais (77,5% a 100,0%), sendo que os índices

20

menores foram devido às falhas tanto de equipamento quanto dos funcionários e

supervisão ineficiente por parte de encarregado e gerência. Almeida (2005) obteve

como resultado 96,0% em dois frigoríficos, e relatou problemas na contenção dos

animais no boxe de atordoamento, aumentando o estresse dos animais.

Quanto aos critérios para determinação da insensibilidade, o reflexo de

correção de postura foi o sinal mais observado (Tabela 3), com 6 animais, variando

de 1 a 4 (2,5% a 10,0%), principalmente no lote 1 que apresentou a maior frequência

de animais sensíveis (onze). Este fato pode ser devido aos problemas com

equipamento de insensibilização e funcionário, visto que o maior número de animais

foi do lote 1, que não obteve eficiência de atordoamento por falhas na manutenção.

O número total de animais sensíveis à sangria foi de 15 (Tabela 3) e considerou-se

como problema sério, de acordo com Grandin (2005), que afirma que se deve ter

apenas um animal sensível para um lote de 500 animais.

Tabela 3. Verificações dos reflexos da insensibilização em bovinos abatidos em

frigorífico do Triângulo Mineiro – MG.

N= número de animais, % = porcentagem, I= insensibilizados, MOT= movimentos oculares ao toque, RC= reflexos ciliares,

RCP= reflexo de correção de postura, RR= respiração rítmica, V= vocalização, S=sensível.

Não houve variação (P>0,05) entre os animais dos lotes quanto ao intervalo

de atordoamento e sangria (Tabela 4), pois permaneceu dentro do tempo máximo

permitido de um minuto, segundo Brasil (2000). O tempo de sangria variou (P<0,05),

porém dentro do tempo mínimo preconizado de 3 minutos (Tabela 4), conforme

Brasil (1971), exceto o lote 1 que obteve menor tempo, como possível consequência

de insensibilização inadequada.

Lotes I N %

MOT N %

RC N %

RCP N %

RR N %

V N %

S N

1 29 72,5 0 0 5 12,5 4 10,0 2 5,0 0 0 11

2 38 95,0 1 2,5 0 0 1 2,5 0 0 0 0 2

3 40 100,0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0

4 38 95,0 0 0 1 2,5 1 2,5 0 0 0 0 2

21

Tabela 4. Médias do intervalo entre atordoamento e sangria (segundos), tempo de

sangria (minutos) de 160 bovinos fêmeas abatidas e pH 24 horas de suas

respectivas carcaças em um frigorífico do Triângulo Mineiro – MG.

Lotes Intervalo entre atordoamento e sangria (s)

Tempo de sangria (min.)

pH 24horas

1 56,42a 2,54a 6,02b 2 51,70a 4.47c 5,84a 3 56,75a 4,18c 5,85a 4 58,95a 3,38b 5,90a

s = segundos, min.= minutos.

Médias com letras diferentes na mesma coluna diferem entre si de acordo com o teste de Tukey (P< 0,05).

As médias de pH 24 horas (Tabela 4) entre os lotes 2, 3 e 4 não variaram

entre si, entretanto os valores foram intermediários. Este resultado provavelmente

ocorreu devido a falhas do manejo no pré-abate. Os valores médios para as

carcaças dos bovinos do lote 1 (tabela 4) foram acima de 6,0. Isto sugere que os

problemas relacionados principalmente ao equipamento de atordoamento podem ter

refletido nesse resultado. Vale ressaltar que outros fatores podem ter influenciado

também neste resultado, como o manejo nas propriedades rurais, o transporte e o

tempo de jejum antes do abate.

Gallo et al. (2006) relataram que a baixa reserva energética e o alto gasto

energético durante o transporte e jejum representam um maior risco de carnes com

menor índice de glicogênio muscular no post-mortem e consequentemente carnes

com pH ≥ 5,8. Resultados discordantes foram obtidos por Devant et al. (2007) que

verificaram 13,89% das carcaças avaliadas com pH 5,80, 4,02% com pH maior que

6,0 e 86,11% menor que 5,80. Estes autores apontam o manejo na planta de abate

como um dos fatores responsáveis pela elevação do pH. Segundo Mounier et al.

(2006) exercícios antes do abate podem levar a um esgotamento do glicogênio nos

músculos e reduz a produção de ácido lático no post-mortem, resultando em carne

com pH elevado.

22

2.4. Conclusões

As falhas no manejo dos bovinos para abate pelos funcionários do frigorífico,

a falta de manutenção nos equipamentos e supervisão ineficiente implicam

diretamente no bem-estar dos animais. Estes fatores causaram alterações nos

processos de atordoamento, sangria e pH 24 horas, com prejuízo da qualidade da

carne.

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25

CAPÍTULO 3 – IMPLICAÇÕES

A preocupação dos consumidores e as normas dos países importadores

relacionadas à carne bovina fez aumentarem as exigências com a criação,

transporte e abate dos bovinos. O Brasil é grande exportador neste segmento e os

frigoríficos devem implantar programas que atendam os padrões de bem-estar

animal não só para os mercados internacionais como também para o comércio

interno.

Nas propriedades rurais inicia-se a primeira etapa dos animais que serão

abatidos e medidas educativas precisam ser realizadas, como treinamento dos

funcionários sobre o comportamento dos bovinos para o seu melhor manejo,

diminuindo riscos para os trabalhadores e animais. O embarque neste momento

deve ser feito de maneira calma, evitando o estresse dos bovinos.

Os meios de transporte e os transportadores devem estar preparados para

receber os animais e conduzi-los de maneira segura para as indústrias, visto que

são parte fundamental em todo o processo.

Já nos frigoríficos, o desembarque requer atenção, principalmente após

longas viagens, observando animais que possam ter lesões. Diversos fatores

influenciam no manejo pré-abate como as características das plantas, a falta de

manutenção dos equipamentos, falhas nos treinamentos dos operários e supervisão

ineficiente por parte de encarregados e gerência que fornecem o apoio para todos

os processos.

Para obtenção de melhores resultados deve-se ressaltar a importância da

interação de toda cadeia produtiva da carne que deve promover o bem-estar dos

bovinos, melhorar e adequar as condições de trabalho para os funcionários nas

diversas etapas, rentabilidade para os produtores e indústrias e um produto final

com qualidade assegurada.

26

ANEXOS

ANEXO 1. Aprovação do Comitê de Ética

27

APÊNDICES

APÊNDICE A - AVALIAÇÃO DO BEM-ESTAR NO MANEJO PRÉ-ABATE DOS

BOVINOS

DATA ___/_____/____

1. CURRAIS DE MATANÇA

1.1. Descanso, jejum e dieta hídrica ( ) bom ( ) regular ( ) ruim 1.2. Tempo médio de descanso ____________ 1.3. Capacidade adequada ( ) sim ( )não 1.4. Troca de currais ( ) sim ( ) não 1.5. Observações ___________________________________________ 2. INSPEÇÃO ANTE – MORTEM 2.1. Observações _____________________________________________ 2.2. Abate de emergência ( ) sim ( ) não, descrever a causa quando marcar sim ________________________

3. CONDUÇÃO DOS ANIMAIS

3.1. Subdivisões dos lotes (nº de lotes/ quantidade de animais) ______/______ 3.2. Bastão elétrico ( ) sim ( ) não, voltagem ___________ 3.3. Observações _____________________________________ 4. RAMPA OU CORREDOR 4.1. Distância da sala de abate ________________ 4.2. Largura ____________________ 4.3. Bastão elétrico ( ) sim ( ) não 4.4. Observações _______________________ 5. BANHO DE ASPERSÃO 5.1. Tempo de permanência ____________ 5.2. Quantidade de animais ______________ 5.3. Bastão elétrico ( ) sim ( ) não 5.4. Observações ___________________________________

28

6. SERINGA 6.1. Comprimento _______________________ 6.2. Quantidade de animais ___________________ 6.3. Bastão elétrico ( ) sim ( ) não 6.4. Observações ______________________________ 7. OBSERVAÇÕES E NÚMERO DE ANIMAIS:

ÁREA ESCORREGÕES QUEDAS VOCALIZAÇÕES BASTÃO ELÉTRICO

CURRAIS

CORREDOR

BANHO DE ASPERSÃO

SERINGA

8. ATORDOAMENTO 8.1. Tipo ________________ 8.2. Método _______________ 8.3. Boxe de atordoamento:

8.4 Observações após o atordoamento:

OBSERVAÇÕES Nº. DE ANIMAIS

INSENSIBILIZADOS

MOVIMENTOS OCULARES AO TOQUE

MOVIMENTOS CILIARES

REFLEXO DE CORREÇÃO DE POSTURA

RESPIRAÇÃO RÍTMICA

VOCALIZAÇÃO

SENSÍVEL

OBSERVAÇÕES Nº. DE ANIMAIS

ESCORREGÕES

QUEDAS

VOCALIZAÇÃO

FALHA NA MANUTENÇÃO

FALHA NO DISPARO

INSENSIBILISADOS

29

9. SANGRIA 9.1. Canaleta (comprimento/capacidade) ____________/_____________ 9.2. Método de sangria _____________________________ 9.3. Intervalo entre o atordoamento e a sangria e tempo de sangria:

Número do animal

Tempo entre atordoamento e sangria

Tempo de sangria

30

APÊNDICE B – PLANILHA DE MEDIÇÕES DE pH 24 horas

Nº DA CARCAÇA MEDIDA DO pH 24 horas

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