universidade federal de sÃo carlos centro de ciÊncias … · sorocaba – sp 2017 . universidade...

111
UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS CENTRO DE CIÊNCIAS EM GESTÃO E TECNOLOGIA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ECONOMIA ÉRICA MARQUES MENDONÇA CRESCIMENTO ECONÔMICO RESTRITO PELO BALANÇO DE PAGAMENTOS: UMA ANÁLISE PARA A ECONOMIA BRASILEIRA NOS PERÍODOS DE GOVERNO FHC E LULA Sorocaba SP 2017

Upload: others

Post on 11-Aug-2020

0 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

Page 1: UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS CENTRO DE CIÊNCIAS … · Sorocaba – SP 2017 . UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS CENTRO DE CIÊNCIAS EM GESTÃO E TECNOLOGIA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO

UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS

CENTRO DE CIÊNCIAS EM GESTÃO E TECNOLOGIA

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ECONOMIA

ÉRICA MARQUES MENDONÇA

CRESCIMENTO ECONÔMICO RESTRITO PELO BALANÇO DE PAGAMENTOS:

UMA ANÁLISE PARA A ECONOMIA BRASILEIRA NOS PERÍODOS DE

GOVERNO FHC E LULA

Sorocaba – SP

2017

Page 2: UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS CENTRO DE CIÊNCIAS … · Sorocaba – SP 2017 . UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS CENTRO DE CIÊNCIAS EM GESTÃO E TECNOLOGIA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO

UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS

CENTRO DE CIÊNCIAS EM GESTÃO E TECNOLOGIA

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ECONOMIA

ÉRICA MARQUES MENDONÇA

CRESCIMENTO ECONÔMICO RESTRITO PELO BALANÇO DE PAGAMENTOS:

UMA ANÁLISE PARA A ECONOMIA BRASILEIRA NOS PERÍODOS DE

GOVERNO FHC E LULA

Dissertação apresentada ao Programa de Pós

Graduação em Economia, para obtenção do

título de mestre em Economia

Orientação: Prof. Dr. Rodrigo Vilela Rodrigues

Sorocaba – SP

2017

Page 3: UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS CENTRO DE CIÊNCIAS … · Sorocaba – SP 2017 . UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS CENTRO DE CIÊNCIAS EM GESTÃO E TECNOLOGIA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO
Page 4: UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS CENTRO DE CIÊNCIAS … · Sorocaba – SP 2017 . UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS CENTRO DE CIÊNCIAS EM GESTÃO E TECNOLOGIA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO

ÉRICA MARQUES MENDONÇA

CRESCIMENTO ECONÔMICO RESTRITO PELO BALANÇO DE PAGAMENTOS:

UMA ANÁLISE PARA A ECONOMIA BRASILEIRA NOS PERÍODOS DE

GOVERNO FHC E LULA

Dissertação apresentada ao Programa de

Pós-Graduação, para obtenção do título de

mestre em Economia. Área de

concentração Economia Aplicada.

Universidade Federal de São Carlos.

Sorocaba, 29 de setembro de 2017.

Orientador

______________________________________

Dr. Rodrigo Vilela Rodrigues

Universidade Federal de São Carlos- Campus Sorocaba

Examinador

______________________________________

Dr. Geraldo Edmundo Silva Jr.

Universidade Federal de São Carlos- Campus Sorocaba

______________________________________

Dr. Humberto Francisco Silva Spolador

Universidade de São Paulo – ESALQ/USP

Page 5: UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS CENTRO DE CIÊNCIAS … · Sorocaba – SP 2017 . UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS CENTRO DE CIÊNCIAS EM GESTÃO E TECNOLOGIA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO

Dedico esta dissertação aos meus pais, Francisco e Degmar, e meu

esposo Denilson.

Page 6: UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS CENTRO DE CIÊNCIAS … · Sorocaba – SP 2017 . UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS CENTRO DE CIÊNCIAS EM GESTÃO E TECNOLOGIA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO

AGRADECIMENTOS

Em primeiro lugar, agradeço a Deus pela oportunidade de concretizar mais essa etapa em

minha vida.

Agradeço aos meus pais, Francisco e Degmar, por estarem sempre dispostos a me apoiar em

meus sonhos e projetos e por todo esforço que fazem para que eu consiga concretizar meus

objetivos. O estudo foi o maior presente que vocês me deram.

Ao meu marido, Denílson, só posso agradecer sempre por seu eterno companheirismo e por

toda ajuda que me deu ao longo desse trabalho. Você torna tudo muito melhor em minha vida.

Agradeço à minha irmã, Débora, minhas sobrinhas, Lavínia e Larissa, e ao Rômulo pelo apoio

e pelos momentos de alegria que me deram no decorrer do mestrado.

Agradeço a toda minha família e amigos pela compreensão em relação às inúmeras ausências

nesse período. Às minhas avós, em especial, por todo carinho ao longo do tempo e aos

primos, Michel e Alex, por todas remessas de rosquinhas que me fizeram sentir mais próxima

ao Paraná.

Aos meus amigos, Naira e Marcio Diniz, por serem anjos em minha vida e pelo especial apoio

que sempre me dão. E à Celia, por suas valiosas correções, e junto com a Juliana, Cris e

Débora pela força e bons e alegres momentos juntas.

Aos amigos antigos, Michelle, Welker, Paloma e Roiz, agradeço pelas risadas. Em memória,

ao Thiago Carneiro, por todas boas lembranças. E aos amigos que fiz no mestrado, Maurício,

Erik, Luís, Josiane, Andressa, Camila, Guilherme, Dannyra e Mariana, agradeço por terem

tornado esse momento muito mais leve.

Aos meus colegas da Fiesp e ao Renato, agradeço pelo apoio nesse período.

Em especial, agradeço ao Rodrigo Vilela por toda dedicação, incentivo e seriedade com o

qual conduziu a orientação desse trabalho. Você se tornou um modelo de professor e

orientador para mim.

Agradeço aos professores da banca, professor Geraldo Edmundo e professor Humberto

Spolador, pela disponibilidade em contribuir com esse trabalho. Em particular, agradeço ao

professor Geraldo Edmundo por ter me acompanhado desde o começo.

Por fim, agradeço a todos os professores do Programa de Mestrado em Economia da UFSCar

pelos inúmeros aprendizados.

E à Manoela, por seu excelente trabalho na secretaria de pós-graduação.

Page 7: UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS CENTRO DE CIÊNCIAS … · Sorocaba – SP 2017 . UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS CENTRO DE CIÊNCIAS EM GESTÃO E TECNOLOGIA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO

RESUMO

MENDONÇA, Érica Marques. Crescimento econômico restrito pelo balanço de pagamentos:

uma análise para a economia brasileira nos períodos de governo FHC e LULA. Dissertação

(Mestrado em Economia) – Centro de Ciências e Tecnologia, Universidade Federal de São

Carlos, Sorocaba, 2017.

A restrição externa ao crescimento econômico tem sido um fato apontado como causador de

diferenças nas taxas de crescimento dos países em desenvolvimento. Partindo da modelagem

que se tornou conhecida como Lei de Thirlwall, em sua formulação tradicional e estendida,

realizou-se uma pesquisa empírica para a economia brasileira no período dos governos FHC e

Lula, e do período completo de 1995 a 2010, com a finalidade de investigar em que medida o

Brasil teve seu potencial de crescimento econômico limitado por restrições no balanço de

pagamentos, e como isso pode ter resultado em diferenças entre os períodos analisados.

Utilizando o procedimento econométrico de cointegração, empregado para estimativas de

elasticidades-preço e renda da demanda por importação dos períodos, obteve-se como

resultado uma melhora na elasticidade renda das importações no período Lula

comparativamente ao governo FHC, relaxando a restrição externa por essa perspectiva.

Porém, a elasticidade estimada para o período completo, de 2,3, manteve-se acima da

estimada na literatura para períodos anteriores à década de noventa, convergindo para a

interpretação de mudança da estrutura produtiva brasileira. E, em relação a hipótese de

restrição externa, a partir de testes estatísticos obteve-se como resultado a validação do

modelo original de Thirlwall (1979), do modelo original com câmbio real e do modelo de

Moreno-Brid (2003) para o período Lula e FHC, o que corrobora a manutenção da restrição

externa nesses períodos separadamente. Porém, no período Lula, foram obtidas taxas de

crescimento teóricas superiores, indicando o relaxamento da restrição externa em comparação

ao período FHC. Para o período completo, todas as especificações foram validadas, indicando

também que o equilíbrio no balanço de pagamentos manteve-se como restrição ao

crescimento econômico de longo prazo brasileiro no período.

Palavras-chave: Crescimento. Lei de Thirlwall. Restrição no Balanço de Pagamentos. Lula.

FHC.

Page 8: UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS CENTRO DE CIÊNCIAS … · Sorocaba – SP 2017 . UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS CENTRO DE CIÊNCIAS EM GESTÃO E TECNOLOGIA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO

ABSTRACT

MENDONÇA, Érica Marques. Economic growth restricted by the balance of payments: an

analysis for the Brazilian economy during the FHC and LULA government periods.

Dissertation (Master in Economics) - Science and Technology Center, Universidade Federal

de São Carlos, Sorocaba, 2017.

The external constraint to economic growth has been a fact that has caused differences in the

growth rates of developing countries. Starting from the modeling known as Thirlwall's Law,

in its traditional and extended formulation, an empirical research was carried out for the

Brazilian economy in the period of the FHC and Lula governments, and the entire period from

1995 to 2010. The purpose was investigating to what extent Brazil had its potential for

economic growth limited by balance of payments constraints, and to what extent this may

have resulted in differences between the periods analyzed. Using the econometric

cointegration procedure used to estimate the price and income elasticities of the import

demand of the periods, the result was an improvement in the income elasticity of imports in

the Lula period compared to the FHC government, thus relaxing the external constraint by this

perspective. However, the estimated elasticity for the full period of 2.3 remained above that

estimated in the literature for periods prior to the 1990s, converging to the interpretation of

change in the Brazilian productive structure. The validity of the original model of Thirlwall

(1979), the original model with real exchange rate and the model of Moreno-Brid (2003) for

the Lula and FHC periods was obtained as a result of the external constraint hypothesis,

which corroborates the maintenance of the external constraint in these periods separately.

However, in the Lula period, higher theoretical growth rates were obtained, indicating the

relaxation of the external restriction in comparison to the FHC period. For the full period, all

specifications were validated, indicating also that the equilibrium in the balance of payments

remained as a constraint to the Brazilian long-term economic growth in the period.

Page 9: UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS CENTRO DE CIÊNCIAS … · Sorocaba – SP 2017 . UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS CENTRO DE CIÊNCIAS EM GESTÃO E TECNOLOGIA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO

LISTA DE FIGURAS

Gráfico 1 - Taxa real de crescimento do PIB Brasileiro entre 1995 e 2010 (%) ...................... 13

Gráfico 2 - Resultado do BP Brasileiro entre 1995 e 2010 – US$ bilhões............................... 15

Gráfico 3 - Evolução Balanço Comercial brasileiro- 1995-2002 - US$ milhões correntes ..... 58

Gráfico 4 - Dívida externa líquida/PIB (%) – 1995 a 2002 ...................................................... 59

Gráfico 5 - Evolução Balanço Comercial brasileiro- 2003-2010 - US$ milhões correntes ..... 64

Gráfico 6 - Dívida externa líquida/PIB (%) – 2003 a 2010 ...................................................... 65

Gráfico 7 - Saldo comercial por origem setorial ...................................................................... 68

Gráfico 8 - Evolução do balanço comercial brasileiro e da conta renda primária – 1995 a 2010

- US$ milhões correntes ........................................................................................................... 70

Gráfico 9 - Dívida externa líquida/PIB (%) – 1995 a 2010 ...................................................... 73

Gráfico 10 - Evolução do índice da taxa de câmbio efetiva e do índice de câmbio real

(R$/US$) ................................................................................................................................... 74

Gráfico 11 - Dívida externa líquida/ PIB e Posição internacional de investimento (PII) / PIB77

Page 10: UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS CENTRO DE CIÊNCIAS … · Sorocaba – SP 2017 . UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS CENTRO DE CIÊNCIAS EM GESTÃO E TECNOLOGIA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO

LISTA DE TABELAS

Tabela 1 - Dados e fontes ......................................................................................................... 39

Tabela 2- Resumo das elasticidades renda das importações estimadas.................................... 54

Tabela 3 - Função de Importação período 1995 – 2002 ........................................................... 56

Tabela 4 - Resultados dos modelos de Thirlwall para período FHC (1995-2002) ................... 57

Tabela 5 - Função de Importação período 2003 - 2010 ............................................................ 60

Tabela 6 - Resultados dos modelos de Thirlwall para período LULA (2003 - 2010) .............. 62

Tabela 7 - Função de Importação período 1995 - 2010 ............................................................ 66

Tabela 8 - Resultados dos modelos de Thirlwall no período completo (1995 - 2010)............. 69

Tabela 9 - Decomposição do modelo (3) de crescimento com equilíbrio no BP ..................... 73

Tabela 10 - Evolução conta Renda Primária brasileira- 1995-2010 - US$ milhões correntes . 75

LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

FHC – Fernando Henrique Cardoso

BP – Balanço de Pagamentos

LT – Lei de Thirlwall

PIB – Produto Interno Bruto

FMI – Fundo Monetário Internacional

IPCA – Índice de preços ao consumidor amplo

IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

IPA – Índice de Preços por Atacado

Page 11: UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS CENTRO DE CIÊNCIAS … · Sorocaba – SP 2017 . UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS CENTRO DE CIÊNCIAS EM GESTÃO E TECNOLOGIA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO

SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO ................................................................................................................ 12

2. MODELOS DE CRESCIMENTO ECONOMICO RESTRITO PELO BALANÇO DE

PAGAMENTO ......................................................................................................................... 17

2.1. Lei de Thirlwall: Modelo original ................................................................................. 19

2.2. Modelo com fluxo de capital ......................................................................................... 23

2.3. Modelos com endividamento e pagamento de serviços do capital ................................ 25

2.4. Uma breve discussão dos modelos de crescimento econômico mainstream e suas

controvérsias ............................................................................................................................. 33

3. ANÁLISE EMPÍRICA DOS MODELOS DE CRESCIMENTO ECONÔMICO

RESTRITO PELO BALANÇO DE PAGAMENTO PARA A ECONOMIA BRASILEIRA

ENTRE 1995 E 2010 ................................................................................................................ 38

3.1. Dados e fontes ............................................................................................................... 38

3.2. Procedimentos econométricos ....................................................................................... 39

3.3. Metodologia empírica: descrição dos modelos testados................................................ 43

3.4. Metodologia geral dos testes aplicados para validação da Lei de Thirlwall ................. 45

4. RESULTADOS EMPÍRICOS DA LEI DE THIRLWALL PARA O BRASIL ............... 47

5. EVIDÊNCIAS PARA A ECONOMIA BRASILEIRA ENTRE 1995 E 2010 ................. 55

5.1. Evidências empíricas para a economia brasileira no período FHC (1995-2002) .......... 55

5.2. Evidências empíricas para a economia brasileira no período Lula (2003-2010) .......... 59

5.3. Evidências empíricas para a economia brasileira no período completo (1995-2010) ... 65

6. CONCLUSÕES ................................................................................................................. 78

7. REFERÊNCIAS ................................................................................................................ 81

ANEXOS .................................................................................................................................. 90

Page 12: UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS CENTRO DE CIÊNCIAS … · Sorocaba – SP 2017 . UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS CENTRO DE CIÊNCIAS EM GESTÃO E TECNOLOGIA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO

12

1. INTRODUÇÃO

O crescimento econômico é uma temática que tem, ao longo dos anos, impulsionado o

debate na área econômica, em especial no que se refere aos seus determinantes e restrições.

Assim, constantemente busca-se analisar as razões para as diferenças observadas entre as

taxas de crescimento dos países e, mesmo, entre taxas de crescimento do próprio país em

diferentes períodos. Nesse sentido, o presente estudo teve como objetivo investigar se a

restrição externa foi um fator limitante ao crescimento econômico brasileiro no período entre

1995 e 2010, analisando as diferenças entre os períodos de governo de Fernando Henrique

Cardoso (1995-2002) e Luís Inácio da Silva (2003-2010), sob a luz da modelagem de

crescimento econômico conhecida como Lei de Thirlwall (LT) e suas posteriores extensões.

Do trabalho seminal desenvolvido por Thirlwall (1979), para um conjunto de países

desenvolvidos, originou-se a interpretação de que, em uma economia aberta, a restrição

dominante ao crescimento ocorre no balanço de pagamentos e isso explicaria a diferença nas

taxas de crescimento econômico desses países. No desenvolvimento posterior dessa teoria,

com a inclusão de mais variáveis explicativas ao modelo e testes empíricos para outros

conjuntos de países, observou-se que a restrição externa também é importante para explicar a

trajetória de crescimento de países em desenvolvimento.

Para a economia brasileira, que historicamente sofreu com questões relacionadas a

desequilíbrios no balanço de pagamentos, como em 1973 e 1979 relacionados ao choques do

petróleo e ao aumento dos juros americanos, na crise da moratória da dívida de 1982, na crise

cambial de 1999, mas que também, mais recentemente não lidou com impactos tão severos no

balanço de pagamentos com a crise internacional de 2008, entende-se que o arcabouço teórico

desenvolvido a partir da LT contribui para interpretar o comportamento do crescimento

econômico brasileiro.

Em relação aos dois períodos de governo presentes na análise da dissertação, Fernando

Henrique Cardoso (FHC) e Luís Inácio da Silva (Lula), verifica-se no gráfico 1 que

apresentaram taxas de crescimento econômico diferentes, 2,3% em média no período 1995-

2002 e 4,1% em média no período 2003-2010. Como foram governos que apresentaram

similitudes na condução da política macroeconômica e passaram por crises internacionais,

Page 13: UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS CENTRO DE CIÊNCIAS … · Sorocaba – SP 2017 . UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS CENTRO DE CIÊNCIAS EM GESTÃO E TECNOLOGIA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO

13

tornou-se interessante investigar, sob o ponto de vista da restrição externa, como as diferentes

visões de restrição externa influenciaram o crescimento econômico do período.

Gráfico 1 - Taxa real de crescimento do PIB Brasileiro entre 1995 e 2010 (%)

Fonte: Elaborado pela autora com base em dados do Ipeadata (2017b).

É importante destacar que existem outras vertentes de análise do crescimento

econômico diferentes à adotada na presente dissertação, desenvolvida por Solow (1956) e

demais extensões, que focalizam o processo de crescimento econômico exclusivamente nos

determinantes da oferta do produto agregado, sendo o crescimento econômico determinado

pela capacidade de ofertar bens e serviços, ou seja, pela acumulação de estoques de capital

físico, humano, tecnologia, etc. A despeito da importância desses fatores para o crescimento

econômico, ao se tratar de uma economia aberta, entende-se que tais modelos não conseguem

captar o impacto do setor externo no crescimento econômico de longo prazo das economias

em desenvolvimento (CARVALHO, 2006).

Além disso, apesar da construção teórica da abordagem do crescimento com restrição

externa considerar a restrição na demanda como fator principal para determinação do produto,

ela não desconsidera a importância de fatores relacionados à oferta agregada. (CARVALHO;

LIMA, 2007). As elasticidades-renda são determinadas, grosso modo, por características das

ofertas de bens, como sua sofisticação, tecnologia, etc. Dessa forma, a estrutura produtiva do

país tem um impacto significativo nas elasticidades e, consequentemente, na restrição ao

crescimento de longo prazo, razão pela qual será analisada a diferença nas elasticidades

estimadas para os períodos FHC e Lula.

-1,00

0,00

1,00

2,00

3,00

4,00

5,00

6,00

7,00

8,00

1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010

Média (95-02): 2,3%

Média (03-10): 4,1%

Page 14: UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS CENTRO DE CIÊNCIAS … · Sorocaba – SP 2017 . UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS CENTRO DE CIÊNCIAS EM GESTÃO E TECNOLOGIA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO

14

Pretende-se, também, avaliar de que forma a elasticidade renda das importações

estimada para o período se contrapõe à elasticidade calculada por outros trabalhos para

períodos anteriores ao abordado pela presente dissertação, tentando abordar de que forma as

políticas econômicas adotadas no início da década de noventa podem ser relacionadas com os

resultados encontrados. É bastante discutido na literatura que, após o período de grande

instabilidade política e econômica da década de oitenta, seguiu-se nos primeiros anos da

década de noventa com uma agenda liberalizante da economia brasileira, com a execução de

proposições do que ficou conhecido como Consenso de Washington1 (NAKATANI;

OLIVEIRA, 2010). Assim, medidas como abertura comercial, redução de tarifas de

importação e liberalização da conta capital e financeira que foram adotadas, juntamente com a

adoção do Plano Real, tiveram reflexos na condução da política econômica nos períodos

seguintes, bem como nos resultados em termos de estrutura produtiva, crescimento

econômico, do setor externo e da manutenção de restrições ao crescimento.

Em relação a acontecimentos que afetaram outros aspectos dos modelos de restrição

externa, é preciso destacar que no período de governo do FHC ocorreram as crises dos países

asiáticos (1997) e a crise da Rússia (1998), sem considerar a crise do México, que ocorreu no

final de 1994. E, mais importante para a análise, houve a crise de balanço de pagamentos

brasileira em 1999, que culminou na mudança de regime cambial vigente até o momento, que

era o regime de câmbio administrado, para o regime de câmbio flutuante e o estabelecimento

do que ficou conhecido como tripé de política econômica: câmbio flutuante, responsabilidade

com as contas públicas (geração de superávits primários) e sistema de metas de inflação.

Sendo essa condução de política macroeconômica mantida posteriormente no governo Lula

(SICSÚ, 2007).

Sobre o governo Lula, este se iniciou em um contexto de crise de confiança externa

com sua candidatura, que teve forte impacto no fluxo de capitais de 2002 e na desvalorização

cambial, o que se somou à instabilidade ocasionada pela crise Argentina de 2001-2002, e

resultou em um novo acordo firmado com o FMI antes de sua posse, com objetivo de evitar

nova crise no balanço de pagamentos brasileiro. Mas durante seu governo, uma crise

internacional de grande magnitude só ocorreu em 2008.

1 O Consenso de Washington foi uma expressão cunhada pelo economista Jonh Williamson após uma

conferência patrocinada pelo Banco Mundial em 1989. Ela resume um conjunto de orientações e medidas de

política economia que ficaram conhecidas por neoliberalismo e que passou a orientar as recomendações do FMI

e do Banco Mundial (NAKATANI; OLIVEIRA, 2010)

Page 15: UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS CENTRO DE CIÊNCIAS … · Sorocaba – SP 2017 . UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS CENTRO DE CIÊNCIAS EM GESTÃO E TECNOLOGIA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO

15

E, apesar da dúvida inicial, houve o comprometimento do então candidato à

presidência Lula em honrar compromissos, com a “Carta ao Povo Brasileiro”, indicando sua

nova postura econômica (GIAMBIAGI, 2012). Como já destacado, essa nova postura se

refletiu na condução da política econômica semelhante ao governo anterior, com a

manutenção do tripé econômico após sua eleição. Mas a despeito dessa similitude na

condução macroeconômica, o resultado em termos de balanço de pagamentos divergiu entre

os dois governos. Como observado no gráfico 2, enquanto no governo FHC se observa

períodos de resultado negativo no BP, especialmente relacionados às crises citadas, o governo

Lula contou com resultados positivos expressivos no BP2. Dessa forma, outras questões

positivas que não ocorreram no governo FHC se mostraram relevantes no período Lula, como

o boom de commodities, a ampliação do investimento direto externo, o aumento no nível de

reservas e a consequente redução da dívida externa líquida, sendo estes fatores relevantes do

ponto de vista de análise da restrição externa que a dissertação se propõe a realizar.

Gráfico 2 - Resultado do BP Brasileiro entre 1995 e 2010 – US$ bilhões

Fonte: Elaborado pela autora com base em dados do BCB (2016a).

E, justamente o fato de ter ocorrido uma continuidade da política econômica no

governo Lula, considerando que houve as diferenças apontadas nos resultados do BP, tornou

interessante avaliar os dois governos conjuntamente, com enfoque na questão externa, uma

vez que o objetivo é investigar a presença de restrição externa no crescimento econômico 2 É necessário destacar que o registro das contas do BP sofreu modificações ao longo do tempo, com o objetivo

de se alinhar com os registros internacionais. Em 2015 o Brasil passou a adotar a metodologia do Manual de

Balanço de Pagamentos (BPM6) do FMI, acarretando em algumas diferenças com as estatísticas anteriores de

comercio exterior. Em relação ao resultado do BP, este é apontado na linha Ativos de reserva no BPM6.

12,92 8,67

-7,91 -7,97 -7,82-2,26

3,31 0,308,50

2,24 4,32

30,57

87,48

2,97

46,65 49,10

-20,0

0,0

20,0

40,0

60,0

80,0

100,0

1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010

Page 16: UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS CENTRO DE CIÊNCIAS … · Sorocaba – SP 2017 . UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS CENTRO DE CIÊNCIAS EM GESTÃO E TECNOLOGIA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO

16

brasileiro no período de 1995 a 2010, comparando também os resultados entre os dois

governos. Isso tendo em conta que questões como endividamento externo, volatilidade

financeira e deterioração dos termos de troca foram, em maior ou menor grau, historicamente

observadas nos países em desenvolvimento como o Brasil, inibindo o crescimento desses

países (LEZCANO, 2012).

Por fim, além desta breve introdução, a presente dissertação está organizada em mais

cinco capítulos. O capítulo dois apresenta uma revisão dos modelos de crescimento

econômico restrito pelo BP, considerando tanto os aspectos históricos que permearam o

desenvolvimento da teoria quanto uma discussão dos modelos de crescimento econômico

mainstream. O capítulo três apresenta uma revisão da metodologia empírica adotada na

presente dissertação. O capítulo quatro apresenta resultados encontrados pela literatura que

utilizam a modelagem da LT, tentando destacar aspectos da metodologia e dos resultados. O

capítulo cinco apresenta as evidências empíricas encontradas para a restrição externa no

governo FHC, no governo Lula e no período completo. E o capítulo seis apresenta as

conclusões gerais obtidas pela presente dissertação.

Page 17: UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS CENTRO DE CIÊNCIAS … · Sorocaba – SP 2017 . UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS CENTRO DE CIÊNCIAS EM GESTÃO E TECNOLOGIA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO

17

2. MODELOS DE CRESCIMENTO ECONOMICO RESTRITO PELO BALANÇO

DE PAGAMENTO

As teorias de crescimento econômico têm ao longo do tempo buscado explicações

sobre o que determina o crescimento econômico dos países no longo prazo e o que explica a

disparidade das taxas de crescimento observadas. E essa dedicação volta-se também ao olhar

dentro da própria economia em relação aos seus resultados, buscando identificar as razões que

modificaram sua tendência de crescimento de longo prazo.

Com essa motivação, a presente dissertação também tentará avaliar de que forma o

crescimento econômico de longo prazo se comportou na economia brasileira, em especial nos

governos FHC e Lula, com base na teoria de crescimento restrita pelo equilíbrio no BP.

Utilizando o arcabouço desenvolvido a partir da Lei de Thirlwall, pretende-se investigar em

que medida o desempenho econômico brasileiro no período foi condicionado pelo equilíbrio

do Balanço de Pagamentos em termos do balanço comercial, do fluxo de capitais, do preço de

intercâmbio e do serviço da dívida externa.

Antes do detalhamento dos modelos, é valido destacar, resumidamente, os

antecedentes históricos que propiciaram o desenvolvimento da modelagem que será adotada

na presente dissertação. Como reconhecido por Thirlwall (2011), o desenvolvimento do

modelo de crescimento econômico com equilíbrio no BP possui uma discussão histórica que

remonta ao mercantilismo e sua defesa por Keynes, remonta também ao multiplicador de

comercio de Harrod, ao modelo centro-periferia de Prebish (2000a,2000b), ao modelo de dois

hiatos de Chenery e Bruno (1962) e à crítica sobre como a teoria ortodoxa de comercio e de

crescimento negligenciou as consequências do comercio no balanço de pagamentos.

Thirlwall (2011) detalha que a ideia da LT partiu de um modelo de crescimento

regional de quatro Equações de Kaldor3, em que o produto é determinado pelo crescimento

das exportações, o crescimento das exportações é determinado pelo crescimento fora da

região e pela competitividade, sendo a competitividade parcialmente determinada pelo

crescimento da produtividade e a produtividade determinada pelo crescimento do produto, em

um processo circular e cumulativo. Mas nesse modelo a importação ainda não era modelada,

o que gerava o questionamento a respeito de como o modelo se comportaria se os parâmetros

gerassem um crescimento das importações acima do crescimento das exportações. E a questão

3 Trabalho desenvolvido por Antony Thirlwall e Robert Dixon.

Page 18: UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS CENTRO DE CIÊNCIAS … · Sorocaba – SP 2017 . UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS CENTRO DE CIÊNCIAS EM GESTÃO E TECNOLOGIA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO

18

passou a ser como incorporar a importação e o balanço de pagamentos, considerando

economias abertas.

Esse primeiro raciocínio somou-se ao entendimento de que a melhor forma de iniciar o

modelo seria com um modelo básico de equilíbrio no balanço de pagamentos de longo prazo,

em que se requer que, na conta corrente, os valores das exportações se igualem ao das

importações. Dessa forma, o crescimento tanto das exportações quanto das importações

poderia ser modelado. E como o crescimento das importações é função do crescimento da

renda, tornou-se possível resolver o modelo para o crescimento da renda com equilíbrio no

balanço de pagamentos.

Como exposto por Carvalho (2006), Thirlwall salienta que a regra obtida para o

crescimento de longo prazo com equilíbrio no balanço de pagamentos (y= x/π) também é

conhecida como multiplicador de comercio dinâmico de Harrod, mas que ele não o conhecia

na época em que desenvolveu seu modelo.

Em relação aos trabalhos que contribuíram para o desenvolvimento do modelo,

Thirlwall (2011) destaca o papel da teoria centro-periferia de Prebish (2000a, 2000b), em que

se aborda a questão do impacto da especialização no comercio entre países desenvolvidos e

em desenvolvimento, nos quais os últimos eram prejudicados por se especializarem em

atividades com baixo retorno e baixa elasticidade renda da demanda nos mercados mundiais,

sendo principalmente produtos agrários. Outra teoria precursora da Lei de Thirlwall, o modelo

de dois hiatos de Chenery e Bruno (1962), em sua essência demonstra que um país poderia ter

seu crescimento restrito pela poupança doméstica ou por divisas. A restrição que se

sobressaísse é a que limitaria o crescimento do país4.

Por sua vez, também a crítica apresentada aos modelos ortodoxos de crescimento

contribuiu para o desenvolvimento do modelo com restrição externa de Thirlwall, pelo fato

dos modelos ortodoxos darem pouca ou nenhuma importância sobre as consequências que o

comércio causava no balanço de pagamentos e também no crescimento econômico. De acordo

com o autor, para a teoria ortodoxa os desequilíbrios no balanço de pagamentos não afetam a

renda real, sendo um processo auto ajustável e com nenhuma implicação em ajuste via renda.

Mesmo na teoria ortodoxa moderna, déficits no BP são assumidos como temporários e

resultado de decisões intertemporais de consumo dos agentes privados. Dessa forma, também

4 Bacha (1990) ampliou o desenvolvimento do modelo de dois hiatos incluindo o hiato fiscal.

Page 19: UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS CENTRO DE CIÊNCIAS … · Sorocaba – SP 2017 . UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS CENTRO DE CIÊNCIAS EM GESTÃO E TECNOLOGIA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO

19

a discordância sobre essa interpretação se tornou um fator motivador para o desenvolvimento

de uma teoria alternativa.

Considerando essa contextualização, cabe nos tópicos seguintes detalhar o modelo

original de Thirlwall (1979) e os modelos desenvolvidos a partir do trabalho original e que

serão aplicadas na presente dissertação.

2.1. Lei de Thirlwall: Modelo original

Thirlwall (1979) apresenta a tese de que antes de atingir a plena capacidade de

recursos no lado da oferta e seu potencial de geração de produto, os países enfrentam

restrições na demanda que são mais significativas, e que a justificativa para a diferença nas

taxas de crescimento entre os países necessita do arcabouço keynesiano para fundamentar

essa explicação, uma vez que cada país possui demanda específica por seus produtos

ofertados.

Em economias abertas, a restrição no balanço de pagamento, quanto à disponibilidade

de divisas, pode ser o principal obstáculo ao crescimento. Isso porque no âmbito doméstico, o

investimento e os gastos podem ser direcionados por políticas fiscais e monetárias para que a

demanda agregada se aproxime do produto potencial. Mas a restrição de divisas, por sua vez,

avaliando apenas o comercio externo, independe dos gestores de políticas econômicas do país,

uma vez que só é possível ampliar o montante de divisas disponíveis com a ampliação do

saldo comercial, o que depende da demanda externa pelos bens produzidos no país

(THIRWALL, 1979).

Em seu trabalho seminal, Thirlwall apresenta como a taxa de crescimento de muitos

países desenvolvidos se aproxima da taxa de crescimento das exportações dividida pela

elasticidade-renda das importações, que, assumindo certas hipóteses, pode ser considerada

uma medida de “taxa de crescimento com equilíbrio no Balanço de Pagamentos”.

A derivação da taxa de crescimento de longo prazo compatível com equilíbrio no

balanço de pagamentos tornou-se conhecida na literatura como “Lei de Thirlwall”, sendo

apresentada com a seguinte formulação (THIRWALL, 1979):

𝑷𝒅𝒕 𝑿𝒕 = 𝑷𝒇𝒕𝑬𝒕𝑴𝒕 (1)

Page 20: UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS CENTRO DE CIÊNCIAS … · Sorocaba – SP 2017 . UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS CENTRO DE CIÊNCIAS EM GESTÃO E TECNOLOGIA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO

20

Em que 𝑿𝒕 representa a quantidade de exportações; 𝑷𝒅𝒕 é o preço das exportações em

moeda doméstica; 𝑴𝒕 se constitui no volume de importações; 𝑷𝒇𝒕 é o preço das importações,

medido em moeda estrangeira; 𝑬𝒕 representa a taxa de câmbio nominal (preço doméstico da

moeda estrangeira); e t é o índice de tempo. Destaca-se que apenas o balanço comercial é

considerado no equilíbrio externo por essa especificação inicial.

Aplicando o logaritmo natural às variáveis em (1) e diferenciando-a em relação ao

tempo, obtém-se a condição de equilíbrio em termos de taxa de crescimento de cada variável

acima descrita:

𝒑𝒅𝒕 + 𝒙𝒕 = 𝒑𝒇𝒕 + 𝒆𝒕 + 𝒎𝒕 (2)

Assumindo a quantidade demandada de exportações como uma função multiplicativa

tradicional dos preços domésticos, dos preços externos (medidos em unidades monetárias

domésticas) e do nível da renda mundial, tem-se:

𝑿𝒕 = 𝜶 ( 𝑷𝒅𝒕

𝑷𝒇𝑬𝒕)

𝜼

𝒁𝒕𝜺 (3)

Em que α é uma constante; η representa a elasticidade-preço da demanda por

exportações; 𝒁𝒕 é a renda mundial e ε constitui-se na elasticidade-renda da demanda por

exportações. Dessa equação depreende-se que a demanda por exportações (𝑿𝒕) depende dos

termos de troca e da renda do resto do mundo, junto com as elasticidades-preço e renda da

demanda por exportações.

A função de demanda por exportações pode ser expressa em termos de taxa de

crescimento pela equação a seguir:

𝒙𝒕 = 𝜼(𝒑𝒅𝒕 − 𝒆𝒕 − 𝒑𝒇𝒕 ) + 𝜺𝒛𝒕 (4)

Page 21: UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS CENTRO DE CIÊNCIAS … · Sorocaba – SP 2017 . UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS CENTRO DE CIÊNCIAS EM GESTÃO E TECNOLOGIA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO

21

Assumindo-se a hipótese de Paridade do Poder de Compra (PPC), isto é, que no longo

prazo os preços relativos (ou termos de troca) permanecem constantes, de modo que (𝒑𝒅𝒕 −

𝒆𝒕 – 𝒑𝒇𝒕) = 𝟎, é possível reescrever a equação acima como:

𝒙𝒕 = 𝜺𝒛𝒕 (5)

Em que 𝑿𝒕 é a taxa de crescimento das exportações; 𝒁𝒕 representa a renda mundial e ε

constitui-se na elasticidade-renda da demanda por exportações.

Já a quantidade demandada de importações pode ser expressa como uma função

multiplicativa dos preços das importações (medidas em moeda doméstica), dos preços das

exportações e da renda doméstica:

𝑴𝒕 = 𝜷 ( 𝑷𝒇𝒕𝑬𝒕

𝑷𝒅𝒕)

𝝋 𝒀𝒕

𝝅 (6)

Em que β é uma constante; φ representa a elasticidade-preço da demanda por

importações; 𝒀𝒕 é renda doméstica; e π se constitui na elasticidade-renda da demanda por

importações. A equação (6) indica que a demanda por importações (𝑴𝒕) é relacionada com os

termos de troca e com a renda doméstica do país, além das elasticidades-preço e renda da

demanda por importações.

Transformando em taxas crescimento tem-se:

𝒎𝒕 = 𝝋(𝒑𝒇𝒕 + 𝒆𝒕 − 𝒑𝒅𝒕) + 𝝅𝒚𝒕 (7)

Substituindo as equações (4) e (7) em (2) e isolando y do lado esquerdo da equação,

resolve-se para a taxa de crescimento compatível com o equilíbrio no balanço de pagamentos,

𝒚𝒃𝒕:

𝒚𝒃𝒕 = (𝟏+𝜼 +𝝋)(𝒑𝒅𝒕 − 𝒆𝒕 – 𝒑𝒇𝒕)+𝜺𝒛𝒕

𝝅 (8)

Page 22: UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS CENTRO DE CIÊNCIAS … · Sorocaba – SP 2017 . UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS CENTRO DE CIÊNCIAS EM GESTÃO E TECNOLOGIA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO

22

Da equação (8) é possível depreender algumas proposições econômicas:

i. A melhoria dos termos de troca, (𝒑𝒅𝒕 − 𝒆𝒕 – 𝒑𝒇𝒕) > 0, melhora a taxa de

crescimento do país de modo compatível com o equilíbrio no BP, sendo o

efeito puro dos termos de troca sobre a renda real;

ii. A elevação mais rápida nos preços de um país que dos outros, medida em

moeda comum, reduz a taxa de crescimento compatível com equilíbrio no BP

desse país, quando a soma das elasticidades preço (negativas) é maior que um,

ou seja, (𝟏 + 𝜼 + 𝝋) <0;

iii. A desvalorização da moeda (e>0) eleva a taxa de crescimento compatível com

equilíbrio no BP quando a soma das elasticidades preço é maior que um.

Verifica-se, entretanto, que a depreciação ou desvalorização da moeda de uma

vez por toda não pode colocar o país em via de crescimento permanente maior

e compatível com equilíbrio no BP, uma vez que no período seguinte ao da

desvalorização ter-se-ia e =0, e assim, a taxa de crescimento retornaria ao nível

anterior. Usando funções de demanda com elasticidade constante, a

desvalorização da moeda teria que ser contínua, mas isso se refletiria nos

preços internos, anulando a vantagem da taxa cambial;

iv. A equação indica a interdependência dos países uma vez que o desempenho de

um país em termos de crescimento (y) está ligado ao de todos os outros (z).

Contudo, a rapidez com que o país pode crescer em relação aos demais,

preservando seu BP, depende crucialmente de 𝜺 (elasticidade renda das

exportações).

v. A taxa de crescimento compatível com equilíbrio do BP tem relação inversa

com sua demanda por importações, medido por 𝝅.

Resumidamente, na equação (8), tem-se que a variável dependente 𝒚𝒃𝒕 representa a

taxa de crescimento condizente com o equilíbrio externo. Ou seja, a taxa de crescimento de

um país é restringida pelo balanço de pagamentos e a elasticidade-renda da demanda por

importações (π) desempenha um papel crucial na determinação dessa restrição. Uma elevação

nessa elasticidade reduz o crescimento compatível com o equilíbrio externo.

Page 23: UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS CENTRO DE CIÊNCIAS … · Sorocaba – SP 2017 . UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS CENTRO DE CIÊNCIAS EM GESTÃO E TECNOLOGIA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO

23

Adotando-se, novamente, a hipótese que no longo prazo não há alteração nos termos

de troca, de modo que (𝒑𝒅𝒕 − 𝒆𝒕 – 𝒑𝒇𝒕) = 𝟎, e substituindo (5) em (8), é possível

simplificar a equação (6) para:

𝒚𝒃𝒕 = 𝒙𝒕

𝝅 (9)

Na qual 𝒙𝒕 = 𝜺𝒛𝒕. A equação acima, que representa a denominada Lei de Thirlwall,

indica que a taxa de crescimento compatível com o equilíbrio no balanço de pagamentos é

igual à razão entre o crescimento das exportações e a elasticidade renda das importações. Um

ponto a destacar é que, ao considerar que (𝒑𝒅𝒕 − 𝒆𝒕 – 𝒑𝒇𝒕) = 𝟎, o modelo pressupões que

todo ajuste se dê via renda, descartando ajuste via preços relativos, como realizado pela

literatura neoclássica (CARVALHO, 2006).

Apesar da construção teórica da abordagem do crescimento com restrição externa

considerar a restrição na demanda como fator principal para determinação do produto, ela não

desconsidera a importância de fatores relacionados à oferta agregada. (CARVALHO; LIMA,

2007). As elasticidades-renda são determinadas, grosso modo, por características da oferta de

bens, como sua sofisticação, tecnologia, etc. A estrutura produtiva do país tem um impacto

significativo nas elasticidades e, consequentemente, na restrição ao crescimento de longo

prazo.

2.2. Modelo com fluxo de capital

Nos trabalhos posteriores desenvolvidos nessa perspectiva de modelagem de

crescimento econômico foi considerado que os países não enfrentam restrições apenas em

decorrência do balanço comercial, mas também na conta capital. Assim, algumas adaptações

na Lei de Thirlwall original foram sendo realizadas com intuito de ampliar o alcance das

análises baseadas no modelo.

Thirlwall e Hussain (1982), considerando a importância do movimento de capitais

para as economias em desenvolvimento, fizeram a primeira tentativa de incorporar o fluxo de

Page 24: UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS CENTRO DE CIÊNCIAS … · Sorocaba – SP 2017 . UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS CENTRO DE CIÊNCIAS EM GESTÃO E TECNOLOGIA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO

24

capitais, já que no modelo original o balanço de pagamentos é aproximado pelo balanço

comercial. A equação proposta equivale:

𝑷𝒅𝒕 𝑿𝒕 + 𝑭𝒕 = 𝑷𝒇𝒕𝑴𝒕 𝑬𝒕 (10)

Em que 𝑭𝒕 é o valor nominal do fluxo de capital medido em moeda doméstica, sendo

F > 0 (ou F < 0) entrada (ou saída) de capitais, e as demais variáveis já definidas

anteriormente.

Aplicando o logaritmo natural às variáveis da expressão (10), e diferenciando-as em

relação ao tempo, obteremos a expressão anterior em termos de taxa de crescimento, como:

𝜽(𝒑𝒅𝒕 + 𝒙𝒕) + (𝟏 − 𝜽)𝒇𝒕 = 𝒑𝒇𝒕 + 𝒆𝒕 + 𝒎𝒕 (11)

Em que θ e (1−θ) representam, respectivamente, as parcelas das exportações e dos

fluxos de capitais no total das receitas do setor externo, (𝑷𝒅𝒕 𝑿𝒕 + 𝑭𝒕), ou seja, qual a parcela

do total de importações que é paga pelas receitas das exportações e qual é paga pela entrada

de capitais.

Substituindo as equações (4) e (7) em (11) e isolando y do lado esquerdo da equação,

resolve-se para a taxa de crescimento compatível com o equilíbrio no balanço de pagamentos

considerando-se também a existência de fluxo de capitais e a variação dos termos de troca,

𝒚𝒃𝒕, tal como exposto na equação seguinte:

𝒚𝒃𝒕 = (𝜽𝜼+𝝋+𝟏)(𝒑𝒅𝒕 − 𝒑𝒇𝒕 – 𝒆𝒕)+(𝟏−𝜽)(𝒇−𝒑𝒅𝒕)+𝜽𝒙𝒕

𝝅 (12)

Em que 𝒚𝒃𝒕 representa a taxa de crescimento condizente com o equilíbrio externo,

incorporando o influxo de capitais; o termo (𝒇 − 𝒑𝒅𝒕) representa o crescimento real dos

capitais externos (medidos em moeda doméstica); o θ e o (1−θ) são, respectivamente, as

parcelas das exportações e dos fluxos de capitais em proporção as receitas externas totais.

Page 25: UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS CENTRO DE CIÊNCIAS … · Sorocaba – SP 2017 . UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS CENTRO DE CIÊNCIAS EM GESTÃO E TECNOLOGIA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO

25

Considerando a hipótese de que os termos de troca (ou os preços relativos), medidos

em moeda comum, permanecem constantes no longo prazo, ou seja, que (𝒑𝒅𝒕 − 𝒑𝒇𝒕 – 𝒆𝒕) =

𝟎, a equação (12) pode ser simplificada como segue:

𝒚𝒃𝒕 = (𝟏−𝜽)(𝒇−𝒑𝒅𝒕)+𝜽𝒙𝒕

𝝅 (13)

Assim, um aumento na elasticidade-renda das importações pode ser contornado com

um maior fluxo de capitais para o país, ou seja, um determinado país poderia incorrer em

déficits comerciais na medida em que pudesse financiá-los com capitais externos.

2.3. Modelos com endividamento e pagamento de serviços do capital

A despeito de considerar o fluxo de capitais, a formulação de Thirlwall e Hussain

(1982) desconsidera, ainda, o endividamento externo e seu serviço. É importante destacar,

entretanto, o papel relevante do endividamento e do respectivo pagamento de juros na

economia brasileira, principalmente no final dos anos setenta.

No período militar, fim dos anos 1960-70, o financiamento externo do crescimento

econômico brasileiro foi favorecido pela crescente desregulamentação financeira e expansão

do “euromercado”, sendo este mercado de crédito internacional, em grande parte, alimentado

pela maciça oferta de petrodólares após 1973. Beneficiado por essa expansão do crédito

internacional, o Brasil contratou empréstimos em grande escala, com objetivo de amparar o

último ciclo de substituição de importações, sob o Governo Geisel. Porém, devido ao segundo

choque do petróleo e a alta da taxa de juros flutuantes após 1979, essa política ficou

prejudicada, sendo o significativo crescimento do endividamento um dos pontos mais

marcantes (COUTINHO,1997).

Outras economias latino americanas tiveram o mesmo impacto no endividamento

decorrente da elevação dos juros flutuante, tornando esse um ponto relevante a ser

incorporado nos modelos de restrição externa. Assim, considerando o elevado endividamento

brasileiro no período, bem como o pagamento dos serviços do capital mostrou-se relevante

explorar também este aspecto do BP nos estudos de tradição à la Thirlwall.

Page 26: UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS CENTRO DE CIÊNCIAS … · Sorocaba – SP 2017 . UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS CENTRO DE CIÊNCIAS EM GESTÃO E TECNOLOGIA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO

26

McCombie e Thirlwall (1997) passaram a incorporar na sua análise este

endividamento externo, que em Moreno-Brid (1998-99) teve um desenvolvimento maior,

considerando o estoque de endividamento, já que esse estoque corresponderá a remessas ao

exterior no longo prazo. Nesse mesmo sentido, o modelo desenvolvido por Barbosa-Filho

(2001) também destaca a questão da sustentabilidade da dívida, assim como Moreno-Brid

(1998-99).

Barbosa-Filho (2001), entretanto, discute que tanto o modelo original de Thirlwall

(1979) quanto a extensão proposta por Moreno-Brid (1998-99) apresentavam limitações. Em

relação ao trabalho de Moreno-Brid (1998-99), que redefine o modelo de restrição no BP em

termos de acumulação sustentável da dívida externa, Barbosa-Filho (2001) destaca que não

necessariamente o modelo será estável. Outro ponto destacado pelo autor é que o modelo

apresentado por Moreno-Brid (1998-99) não separava o pagamento de juros da dívida,

explicitamente, dos valores de importação e exportação de bens e serviços não fatores, o que

para ele era um ponto relevante na análise de acumulação da dívida externa.

Partindo da equação apresentada por Moreno-Brid (1998-99), que reescreve a equação

(3) tem-se:

𝑷𝒅𝒕 𝑿𝒕 + 𝑫𝑷𝒅 = 𝑷𝒇𝒕𝑬𝒕𝑴𝒕 (14)

em que D corresponde ao déficit corrente em termos reais e 𝑫𝑷𝒅 é o fluxo nominal de capital

para financiar o déficit. Aplicando o logaritmo natural às variáveis em (14) e diferenciando-a

em relação ao tempo, obtém-se a condição de equilíbrio em termos de taxa de crescimento:

𝜽(𝒑𝒅𝒕 + 𝒙𝒕) + (𝟏 − 𝜽)(𝒅 + 𝒑𝒅) = 𝒑𝒇𝒕 + 𝒆𝒕 + 𝒎𝒕 (15)

Substituindo as equações (4) e (7), referentes às taxas de crescimento das exportações

e das importações, na equação (15) e isolando y do lado esquerdo da equação, com a razão

déficit em conta corrente e PIB constantes, tem-se:

Page 27: UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS CENTRO DE CIÊNCIAS … · Sorocaba – SP 2017 . UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS CENTRO DE CIÊNCIAS EM GESTÃO E TECNOLOGIA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO

27

𝒚𝑫 = (𝜽)𝜺𝒛𝒕+(𝟏+𝜽𝜼 +𝝋)(𝒑𝒅𝒕 − 𝒆𝒕 – 𝒑𝒇𝒕)

𝝅−(𝟏−𝜽) (16)

Diferentemente da interpretação de Moreno-Brid (1998-99), que entende que o

parâmetro θ representa as condições iniciais de desequilíbrio na conta corrente e não depende

da renda, para Barbosa-Filho (2001) o parâmetro θ depende do crescimento econômico y e,

sem a inclusão dos preços relativos, a equação só será estável se θ = 0, ou seja, quando não há

desajuste inicial, ou quando π = 1, caso bastante irrealista e muito restritivo.

A solução apresentada por Barbosa-Filho (2001) para essa discussão da estabilidade

foi assumir que ao menos uma parte do ajuste ocorra via termos de troca5. Ele destaca, por

outro lado, que isso não implica em assumir a visão neoclássica que flexibilidade de preços

resolve todos os problemas. Mas para o autor, na busca pela estabilidade de preço doméstico,

por exemplo, a rápida redução da inflação que ocorre com período prolongado de câmbio

apreciado pode deprimir o crescimento de longo prazo porque pode induzir a mudanças nos

determinantes estruturais da restrição no balanço de pagamento. Assim, mesmo que fossem

temporárias, as mudanças prolongadas na taxa de câmbio real podem ter impactos

permanentes na estrutura produtiva da economia e influenciar no crescimento e

desenvolvimento de longo prazo. Dessa forma, os termos de troca teriam efeito na restrição

externa (BARBOSA-FILHO, 2006).

A derivação do modelo de Barbosa-Filho (2001) passa então a incluir os termos de

troca e redefinir o equilíbrio no balanço de pagamentos como sendo uma relação estável de

exportações, importações e dívida em relação ao PIB. A vantagem nessa especificação foi a

inclusão da taxa de juros diretamente na determinação do modelo com a razão dívida PIB.

Mas, como destacado por Carvalho (2006), uma diferença importante entre o modelo

de Barbosa-Filho (2001), de Thirlwall (1979) e Moreno-Brid (1998-1999), refere-se ao fato

desses últimos serem modelos de crescimento de longo prazo e se apresentam como uma

alternativa à teoria neoclássica. Enquanto, por sua vez, ao considerar o câmbio real e

consequentemente precisar de uma relação entre PIB, câmbio e preço, Barbosa-Filho

transformou a lei de Thirlwall em um instrumento de análise de curto prazo. Tendo essa

consideração, apesar do propósito de compreender a trajetória de crescimento de longo prazo

5 O modelo de Barbosa-Filho (2001) não será detalhado na presente dissertação, mas para melhor discussão do

modelo e sua derivação ver Barbosa-Filho (2001;2006) e Carvalho (2006).

Page 28: UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS CENTRO DE CIÊNCIAS … · Sorocaba – SP 2017 . UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS CENTRO DE CIÊNCIAS EM GESTÃO E TECNOLOGIA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO

28

brasileira nos períodos considerados, entende-se relevante a avaliação também dos modelos

com inclusão do câmbio real nas análises que serão desenvolvidas na presente dissertação.

Já considerando a crítica sobre ausência do pagamento de juros no modelo, Moreno-

Brid (2003) passou a incorporar também o serviço de juros da dívida externa, que havia sido

desconsiderado na sua versão anterior. De acordo com esta versão estendida do modelo de

Thirlwall e Hussain (1982) realizada por Moreno-Brid (2003), para garantir um equilíbrio de

longo prazo consistente com um endividamento sustentável é preciso que a entrada de capitais

seja tal que mantenha constante determinada relação dívida/PIB.

Assim, Moreno-Brid (2003) passou a incorporar também, explicitamente, o pagamento

de juros da dívida no equilíbrio externo de longo prazo, que tinha sido desconsiderado na

versão que ele apresentou em 1998. Mantendo a condição de endividamento estável, baseada

na constância da relação conta corrente/PIB, a modelagem apresentada em 2003 aprimorou o

trabalho anterior, uma vez que os resultados encontrados sugerem que a inclusão explícita do

serviço da dívida pode, de fato, modificar, expressivamente, o equilíbrio externo de longo

prazo.

Adaptando a versão apresentada por Thirlwall e Hussain (1982) para incluir de forma

explícita o pagamento de juros, o modelo restrito pelo BP derivado por Moreno-Brid (2003)

pode ser resumido pelas equações assim especificadas, em termos de taxas de crescimento:

𝒙 = 𝜼(𝒑𝒅 − 𝒆 − 𝒑𝒇 ) + 𝜺𝒛 (17)

𝒎 = 𝝋(𝒑𝒇 + 𝒆 − 𝒑𝒅) + 𝝅𝒚 (18)

𝒑𝒇 + 𝒎 = 𝜽𝟏(𝒑𝒅 + 𝒙) − 𝜽𝟐(𝒑𝒅 + 𝒓) + (𝟏 − 𝜽𝟏 + 𝜽𝟐)(𝒑𝒅 + 𝒇) (19)

𝜽𝟏 = 𝒑𝒅 𝒙

𝒑𝒇 𝒎⁄ (20)

𝜽𝟐 = 𝒑𝒅 𝒓

𝒑𝒇 𝒎⁄ (21)

Page 29: UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS CENTRO DE CIÊNCIAS … · Sorocaba – SP 2017 . UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS CENTRO DE CIÊNCIAS EM GESTÃO E TECNOLOGIA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO

29

As equações (17) e (18) representam as tradicionais funções de demanda por

exportações e importações, como anteriormente apresentada (equações 4 e 7). A equação (19)

representa à especificação dinâmica da nova condição de equilíbrio no BP, onde r se constitui

no pagamento líquido de juros ao exterior, medido em termos reais; e o 𝒑𝒅 + 𝒇 (= F)

representa o influxo liquido de capitais externos, medidos em moeda doméstica.

A identidade contábil do BP por trás da equação (19) pode ser expressa, em termos

nominais, como M = X – R + F, onde M representa as importações, X o total das

exportações, (R> 0) o pagamento líquido de juros ao exterior e F o déficit em conta corrente,

que será financiado pela entrada de capital externo (MORENO-BRID, 2003).

A equação (20) indica a parcela das despesas com importações garantida pela renda

decorrente das exportações (𝜽𝟏>0), enquanto a equação (21) mostra a proporção do

pagamento líquido de juros ao exterior em relação às importações (𝜽𝟐 >0), sendo ambos

mensurados no período inicial. Cabe destacar que o fato do 𝜽𝟐 > 0, ou o sinal negativo do

segundo termo do lado direito da equação (19), sugere que o país em questão é um devedor

líquido (MORENO-BRID, 2003). E, como 𝜽𝟏 e 𝜽𝟐 são valores positivos, tem-se que o termo

(𝟏 − 𝜽𝟏 + 𝜽𝟐) representa a razão entre o fluxo de capitais externos e as importações.

E para assegurar que a acumulação da dívida externa não seja explosiva, tal como

proposto por Moreno-Brid (1998-1999; 2001), é imposta a condição de endividamento

sustentável, baseada na manutenção da razão entre o déficit em conta corrente (F) e o PIB

(Y):

F/Y = k (22)

em que k é uma constante. Por definição, tem-se que F = 𝒑𝒅 + 𝒇 e Y = 𝒑𝒅 + 𝒚, de modo

que, em termos de taxa de variação, a equação (22) pode ser reescrita como:

𝒑𝒅 + 𝒇 = 𝒑𝒅 + 𝒚 (23)

Page 30: UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS CENTRO DE CIÊNCIAS … · Sorocaba – SP 2017 . UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS CENTRO DE CIÊNCIAS EM GESTÃO E TECNOLOGIA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO

30

Substituindo a condição acima na equação (19), resolve-se para a taxa de crescimento

condizente com o equilíbrio externo, a qual, além de incorporar o pagamento líquido de juros

ao exterior, detém uma trajetória de longo prazo sustentável para a dívida externa acumulada:

𝒚 ∗𝒃= 𝜽𝟏𝜺𝒛−𝜽𝟐𝒓+(𝜽𝟏+𝝋+𝟏)(𝒑𝒅 – 𝒆 – 𝒑𝒇)

𝝅−(𝟏−𝜽𝟏+𝜽𝟐) (24)

Considerando, tal como proposto por Thirlwall (1979), que a variação dos termos de

troca não é significante no longo prazo, de modo que, (𝒑𝒅 – 𝒆 – 𝒑𝒇= 0) e (𝒙 = 𝜺𝒛), a equação

(24) pode ser simplificada para:

𝒚 ∗𝒃= 𝜽𝟏𝒙−𝜽𝟐𝒓

𝝅−(𝟏−𝜽𝟏+𝜽𝟐) (25)

Ao considerar que o déficit em conta corrente é igual a zero, isto é, se (𝟏 − 𝜽𝟏 +

𝜽𝟐) = 𝟎, obtém-se a seguinte versão da LT:

𝒚 ∗𝒃= 𝜽𝟏𝒙−𝜽𝟐𝒓

𝝅 (26)

E, assumindo-se, ainda, que o pagamento de juros ao exterior é constante (𝜽𝟐 = 𝟎) ou

insignificante (𝟏 = 𝜽𝟏), a equação (26) se resume à formulação original da LT (equação 11):

𝒚 ∗𝒃= 𝒚𝒃𝒕 = 𝒙𝒕

𝝅 (27)

De maneira idêntica, se for considerada a condição de endividamento externo

sustentável, mas sem incluir, explicitamente, o pagamento de juros líquidos ao exterior,

derivar-se-á a taxa de crescimento de equilíbrio de longo prazo consistente com a versão

Page 31: UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS CENTRO DE CIÊNCIAS … · Sorocaba – SP 2017 . UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS CENTRO DE CIÊNCIAS EM GESTÃO E TECNOLOGIA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO

31

apresentada por Moreno-Brid (1998-1999; 2003) e por McCombie e Thirlwall (1997),

expressa como:

𝒚 ∗𝒃= 𝜽𝟏𝒙

𝝅−(𝟏−𝜽𝟏) (28)

Como exposto por Lezcano (2012) e Carvalho (2006), analisando as equações (26),

(27) e (28), verifica-se que a incorporação dos juros modifica significativamente a condição

de equilíbrio externo. Segundo Carvalho (2006), ao não separar o pagamento de juros da

importação de bens e serviços teria como implicação atribuir ao pagamento de juros o mesmo

comportamento da função importação, ou seja, que o pagamento de juros seria crescente na

renda e decrescente no câmbio.

Tendo em vista a importância do pagamento dos juros e do endividamento para a

economia brasileira, esse modelo desenvolvido por Moreno-Brid (2003) será testado na

presente dissertação, além dos modelos originais e com fluxos de capitais. Além disso,

procurando incorporar os diferentes elementos que compõem o equilíbrio de longo prazo do

BP, será analisado também, quando possível, a formulação apresentada por Carvalho e Lima

(2007, 2009), que com o objetivo de identificar a função desempenhada pelos diversos

componentes do equilíbrio externo, apresenta uma especificação do BP que inclui o comércio,

os termos de troca, o fluxo de capitais (desconsiderando qualquer restrição à sua entrada) e o

pagamento de serviços do capital, que abarca não somente os gastos com juros, mas toda a

conta de serviços:

𝑷𝒅 𝑿𝒕 − 𝑷𝒅𝑹 + 𝑷𝒅𝑭 = 𝑷𝒇𝑴𝒕𝑬𝒕 (29)

onde R é o valor real dos serviços de capital; e F representa o valor em termos reais dos fluxos

de capital, ambos mensurados em moeda estrangeira.

Transformando as variáveis na equação (29) em taxas de crescimento, aplicando-se o

log e diferenciando em relação ao tempo, tem-se:

Page 32: UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS CENTRO DE CIÊNCIAS … · Sorocaba – SP 2017 . UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS CENTRO DE CIÊNCIAS EM GESTÃO E TECNOLOGIA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO

32

𝜽𝟏(𝒑𝒅 + 𝒙) − 𝜽𝟐(𝒑𝒅 + 𝒓) + (𝟏 − 𝜽𝟏 + 𝜽𝟐)(𝒑𝒅 + 𝒇) = 𝒑𝒇 + 𝒎 + 𝒆 (30)

em que 𝜽𝟏, 𝜽𝟐 e (𝟏 − 𝜽𝟏 + 𝜽𝟐) representam, respectivamente, a participação das

exportações, dos serviços do capital e do fluxo de capitais no total das receitas do setor

externo. Substituindo as equações (4) e (7) na formulação acima apresentada, é possível obter

a seguinte expressão para a nova especificação do modelo:

𝒚 ∗∗𝒃= 𝜽𝟏𝒙+(𝟏+𝝋)(𝒑𝒅 – 𝒆 – 𝒑𝒇)−𝜽𝟐𝒓+(𝟏−𝜽𝟏+𝜽𝟐)𝒇

𝝅 (31)

em que as letras minúsculas representam as taxas de variação das respectivas variáveis;

enquanto 𝜽𝟏 e 𝜽𝟐 constituem as seguintes razões, medidas no período inicial:

𝜽𝟏 = 𝑷𝒅𝑿

𝑷𝒇𝑬𝑴 (32)

𝜽𝟐 = 𝑷𝒅𝑹

𝑷𝒇𝑬𝑴 (33)

Como nos casos anteriores, se for considerada a hipótese de que os preços relativos,

medidos em moeda comum, são negligenciáveis no longo prazo, isto é, sem incluir os termos

de troca, a equação (31) pode ser simplificada para:

𝒚 ∗∗𝒃= 𝜽𝟏𝒙−𝜽𝟐𝒓+(𝟏−𝜽𝟏+𝜽𝟐)𝒇

𝝅 (34)

Utilizando a formulação detalhada na equação (31), Carvalho e Lima (2007-2009),

concluíram que a trajetória de crescimento da economia brasileira, entre 1930 e 2004, foi

consistente com a abordagem de crescimento sob restrição externa à la Thirlwall. Nessa

análise, o componente comercial, dado pela razão das elasticidades-renda, foi responsável

pela maior parte desse crescimento, seguido pelos termos de troca, que também contribuíram

Page 33: UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS CENTRO DE CIÊNCIAS … · Sorocaba – SP 2017 . UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS CENTRO DE CIÊNCIAS EM GESTÃO E TECNOLOGIA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO

33

positivamente. Já o pagamento de serviços do capital apresentou um valor negativo,

intensificando, portanto, a restrição decorrente do BP, enquanto que o fluxo de capitais não

teve nenhuma participação no aumento dessa restrição.

Analisando os modelos descritos, percebe-se que desde a primeira tentativa feita por

Thirlwall e Hussain (1982) de incorporar o fluxo de capitais à LT original, outros autores

seguiram apresentando extensões deste modelo, tentando desvendar a trajetória de

crescimento das economias em desenvolvimento, incorporando não apenas a conta capital,

como também outros componentes do BP, tais como pagamentos dos juros da dívida, dos

serviços do capital, além de incluir as condições para o endividamento sustentável

(LEZCANO, 2012). E, também, buscaram considerar nos modelos outros aspectos relevantes,

como por exemplo a relação com estrutura produtiva realizada por Araújo e Lima (2007) na

versão multissetorial6.

2.4. Uma breve discussão dos modelos de crescimento econômico mainstream e suas

controvérsias

Uma diferença fundamental entre os modelos de tradição keynesiana, como a LT, e os

modelos ortodoxos diz respeito ao olhar sobre os determinantes do crescimento econômico de

longo prazo. Enquanto os primeiros fazem alusão à importância da demanda na diferença

entre as taxas de crescimento dos países, e no caso dos modelos de tradição a la Thirlwall,

focando na questão da restrição externa ao crescimento para as economias abertas, a segunda

linha trata de questões relacionadas à oferta.

Os modelos ortodoxos foram desenvolvidos e aprimorados partindo do primeiro

modelo de Solow (1956), em que se concluía pela determinação do crescimento a partir da

acumulação de capital e, dessa forma, a chave do crescimento econômico seria o

comportamento do capital. Para o autor, no longo prazo os países cresceriam à mesma taxa de

crescimento de progresso tecnológico e as mudanças na política econômica poderiam

aumentar temporariamente a taxa de crescimento em uma dada economia, porém não teriam

6 Além da Lei de Thirlwall Multissetorial desenvolvida por Araújo e Lima (2007), podem-se citar outros avanços

e discussões na modelagem apresentada, tais como a incorporação da taxa de câmbio real e das elasticidades

endógenas, por Ferrari et al. (2013), a incorporação de problemas estruturais como a persistência de assimetrias

tecnológicas e heterogeneidade produtiva por Cimoli e Porcile (2013), entre outros.

Page 34: UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS CENTRO DE CIÊNCIAS … · Sorocaba – SP 2017 . UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS CENTRO DE CIÊNCIAS EM GESTÃO E TECNOLOGIA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO

34

efeito sobre a trajetória de crescimento econômico de longo prazo (FILHO; CAMPELO,

2003).

Resumidamente, o modelo de crescimento desenvolvido por Solow (1956) parte de

uma economia que produz bens homogêneos com três fatores de produção: o capital (K), o

trabalho (L) e o “conhecimento tecnológico” (A), com este último fator afetando diretamente

a produtividade do trabalho. Pelo modelo, tais variáveis são agregadas em uma função de

produção, sendo a função Cobb-Douglas a mais comumente utilizada, com pressupostos de

micro fundamentação neoclássicos, como concorrência perfeita, rendimentos constantes de

escala e rendimentos marginais decrescentes dos fatores individuais de produção, além das

outras premissas, como ser uma economia fechada e com poupança definida exogenamente

(BARRO; SALA-I-MARTIN, 2004; FILHO; CAMPELO, 2003).

Cabe destacar que nesse primeiro modelo desenvolvido por Solow (1956) a tecnologia

é considerada exógena ao modelo, razão pela qual é chamado de modelo de crescimento

exógeno. As formulações posteriores tiveram como objetivo tornar endógeno tanto a

poupança e, principalmente, a tecnologia, nos modelos que ficaram conhecidos como modelos

de crescimento endógenos, por exemplo, os de Romer (1986) e Lucas (1988) que objetivavam

explicar o progresso tecnológico, bem como o modelo shumpeteriano de escada de qualidade,

e posteriormente Barro (1990) com a inclusão de gastos governamentais nos determinantes de

crescimento (BARRO; SALA-I-MARTIN, 2004).

Alguns pontos podem ser colocados em relação à modelagem supracitada. Em que

pese sua importância a respeito da interpretação sobre o papel de fatores relacionados à oferta

da economia no crescimento econômico de longo prazo, como tecnologia, capital humano,

infraestrutura, papel da inovação, etc., há algumas críticas levantadas sobre sua capacidade de

explicar a diferença entre as taxas de crescimento econômico de longo prazo dos países.

Primeiramente, como colocado por Thirlwall (1979; 2011), tais modelos não levam

em consideração nenhum papel exercido pela demanda sobre a determinação do crescimento

dos países e ainda menos sobre o papel exercido pelos desequilíbrios no balanço de

pagamento, o que pode ser entendido como uma manutenção do pressuposto da “lei de Say”,

ou seja, que toda produção geraria sua própria demanda podendo haver apenas desequilíbrios

de curto prazo, mas que no longo prazo a economia caminharia para o equilíbrio.

Essa interpretação de equilíbrio de longo prazo não converge com as evidências

apontadas, por exemplo, por Dosi e Fabiani (1994), os quais apresentam que o hiato de renda

Page 35: UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS CENTRO DE CIÊNCIAS … · Sorocaba – SP 2017 . UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS CENTRO DE CIÊNCIAS EM GESTÃO E TECNOLOGIA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO

35

per capita entre os países ricos e os países pobres cresceram de forma contínua e persistente

ao longo dos últimos trezentos anos, a partir de uma situação inicial na qual esse hiato era

praticamente inexistente. Tal evidência não seria explicada pelo modelo de Solow (1956),

uma vez que por esse modelo todos os países tenderiam a atingir o nível do estado

estacionário. Para Oreiro (1999) o modelo de Solow explicaria a diferença existente no nível

de renda entre os países, porém não as diferenças historicamente observadas nas taxas de

crescimento.

Argumenta-se também que a maior parte dos modelos de crescimento endógeno não é

capaz de explicar as diferenças observadas nas taxas de crescimento da renda per capita entre

os diferentes países do mundo. Por exemplo, para os modelos de crescimento de Romer

(1986), Rebelo (1991) e Barro (1990), no estado estacionário a taxa de crescimento da renda

per capita seria determinada pelas preferências intertemporais dos consumidores e pela

eficiência da tecnologia empregada pelas firmas de cada país, mas como a tecnologia é

retratada nesses modelos como um bem público, todos os países deveriam empregar

necessariamente as mesmas tecnologias (OUREIRO, 1999). E a explicação das divergências

internacionais no crescimento da renda per capita com base nas preferências intertemporais

dos agentes econômicos seria insatisfatória do ponto de vista metodológico, uma vez que por

serem inteiramente baseada em variáveis não observáveis são incapazes de serem submetidas

a um teste empírico.

Mesmo o modelo de crescimento de Romer (1990), que apresenta a tecnologia não

como um bem público mas como um bem que pode ser apropriado privadamente, e consegue,

dentro de sua modelagem, a possibilidade de que países diferentes tenham acesso a diferentes

tecnologias de produção e, portanto, apresentem diferenças nas suas taxas de crescimento da

renda per capita, não consegue, por exemplo, explicar porque por que alguns países

convergem em seus níveis de renda per capita, ou seja, fazem o catching-up, ao passo que

alguns países divergem, ou seja, fazem o falling-behind (OUREIRO, 1999).

Para Thirlwall (2011), o próprio fato dos modelos ortodoxos de crescimento darem

pouca importância sobre as consequências que o comércio internacional causava no balanço

de pagamentos e também no crescimento econômico foi um dos responsáveis pelo

desenvolvimento do modelo de crescimento com restrição no BP, destacando que desde a

teoria ricardiana de comercio ignoravam-se os efeitos no balanço de pagamentos que a

especialização traz e o que isso podia acarretar na economia real. É valido lembrar a

Page 36: UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS CENTRO DE CIÊNCIAS … · Sorocaba – SP 2017 . UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS CENTRO DE CIÊNCIAS EM GESTÃO E TECNOLOGIA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO

36

existência de modelos ortodoxos que se propõem a analisar a importância das exportações

sobre o crescimento econômico dos países, como o de Feder (1982), o qual desenvolve sua

modelagem com os fatores de produção capital e trabalho dividindo a economia em dois

setores, um exportador e um não exportador (CARMO et all, 2017). Porém, ainda que insira a

exportação dentro do modelo, não faz referência às importações e ao resultado no BP.

Para a teoria ortodoxa, os desequilíbrios no balanço de pagamentos não afetam a renda

real, sendo um processo auto ajustável e com nenhuma implicação em ajuste via renda

(THIRLWALL, 2011). Por exemplo, na época do padrão ouro acreditava-se que o balanço de

pagamentos se auto ajustaria porque os países superavitários acumulavam ouro e perdiam

competitividade via preços reduzindo suas exportações, e o contrário para países deficitários.

Assim, o balanço de pagamentos sofria esse ajuste via mudanças nos preços, sem nenhuma

mudança na renda ou no produto. Após o colapso do padrão ouro em 1931, a teoria das taxas

de câmbio flexíveis foi desenvolvida e indicava que se a taxa de câmbio real for flexível e a

condição Marshall-Lerner7 for satisfeita, o balanço de pagamentos seria equilibrado e,

novamente, sem ajuste na renda (THIRLWALL, 2011).

E na teoria moderna, déficits no BP são assumidos como temporários e resultado de

decisões intertemporais de consumo dos agentes privados. Déficits seriam produtos de

decisões racionais de consumir agora e pagar depois, sendo simplesmente uma forma de

suavização do consumo e não representaria problemas aos países. Thirlwall (2011), por sua

vez, cita diversos autores que demonstraram que, ao invés do nível de preços e de déficits e

superávits caminharem em direção oposta, há uma tendência no século 19 de se moverem na

mesma direção8. Assim, na pratica isso implica que não há movimento nos preços relativos

que equilibram o BP.

Como questões relacionadas ao setor externo, principalmente no que se referem aos

impactos de desequilíbrios no balanço de pagamentos, já se mostraram historicamente

relevantes como fator restritivo ao crescimento econômico brasileiro, por exemplo, na crise da

moratória de 1982 e na crise cambial de 1999, e se referem a uma abordagem sobre a

7 A condição de Marshall-Lerner se refere a condição sob a qual uma depreciação real leva a um aumento das

exportações líquidas. 8 “As far as the old gold standard mechanism is concerned, monetary historians such as Triffin (1964), Cooper

(1982) and McClosky and Zecher (1976) have all shown that instead of the price levels of deficit and surplus

countries moving in opposite directions, there was a tendency in the 19th century for the price levels of countries

to move together in the same direction”. (Thirlwall, 2011, pg. 315)

Page 37: UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS CENTRO DE CIÊNCIAS … · Sorocaba – SP 2017 . UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS CENTRO DE CIÊNCIAS EM GESTÃO E TECNOLOGIA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO

37

demanda, optou-se por utilizar na presente dissertação o arcabouço teórico da LT, alternativo

ao apresentado pela modelagem de crescimento econômico mainstream.

Page 38: UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS CENTRO DE CIÊNCIAS … · Sorocaba – SP 2017 . UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS CENTRO DE CIÊNCIAS EM GESTÃO E TECNOLOGIA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO

38

3. ANÁLISE EMPÍRICA DOS MODELOS DE CRESCIMENTO ECONÔMICO

RESTRITO PELO BALANÇO DE PAGAMENTO PARA A ECONOMIA

BRASILEIRA ENTRE 1995 E 2010

3.1. Dados e fontes

Os dados referentes ao PIB, às importações, às exportações, à conta capital e à taxa de

câmbio foram obtidos no site do Banco Central do Brasil (BCB, 2016 a, b, c). O índice de

preço doméstico foi medido pelo IPCA, calculado pelo IBGE, disponível no site Ipeadata

(2016, a). Para deflacionamento das series em dólar utilizou-se o IPA americano, disponível

no Ipeadata (2016, b).

Os dados mensais foram dessazonalizados no Software Eviews, versão 8.0, pelo

método Census X-129. Para a determinação do componente termos de troca (câmbio real)

usou-se a metodologia aplicada em Carvalho (2006) e Lezcano (2012), na qual os termos de

troca são aferidos pela relação entre preços domésticos, o câmbio nominal e o preço externo,

medido pelo IPA – USA. Porém, ao contrário das autoras que utilizaram o IPA como índice

de preço doméstico, optou-se por utilizar o IPCA com o objetivo de obter a relação entre bens

tradables e não tradables, em que o IPCA seria a melhor proxy para os substitutos locais das

importações, tal como justificado por Pastore e Pinotti (1997)10.

9 O método de ajuste sazonal Census X-12 é um método não paramétrico, recomendado pela ONU e FMI para

ajuste de séries econômicas. É uma versão aperfeiçoada do X11-Arima, desenvolvido pelo U. S. Census Bureal,

e incorpora melhorias em relação ao X-11, tais como: extensiva modelagem de series temporal e capacidade de

seleção de modelos de regressão linear com erros ARIMA; novos diagnósticos da qualidade e estabilidade dos

ajustamentos sazonais e novas opções de ajustes (ZANI, 2008). 10 Pastore e Pinotti (1997) sugerem que a melhor relação que capte a razão entre tradables e non tradables é a

razão entre o IPA do resto do mundo (IPA dos Estados Unidos) e o IPC doméstico (do Brasil), pois, no caso dos

índices de preços por atacado “existe uma proporção de bens internacional maior do que nos índices de preços ao

consumidor, e nos índices de preços ao consumidor existe uma proporção de bens doméstico maior do que nos

índices de preços por atacado. O critério descrito é o da predominância de bens (domésticos ou internacionais)

em cada um dos dois índices”. Porém, como apontado por Carvalho (2006), alguns autores discordam que

efetivamente essa forma de cálculo do câmbio real seja a mais adequada, sendo necessária parcimônia com essa

série com a finalidade de não incorrer em problemas nas estimações. Por exemplo, há também a sugestão que o

câmbio real seja o preço relativo das exportações, na função exportação, e o preço relativo das importações, na

função importação, ou seja, com dois índices de intercambio. E há também justificativa de que a melhor forma

de cálculo dos preços externos fosse o cálculo a partir de uma média geométrica ponderada dos preços externos

das exportações dos países desenvolvidos e em desenvolvimento, em que o peso seria dado pela parcela de

exportações destinadas aos países desenvolvidos e em desenvolvimento.

Page 39: UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS CENTRO DE CIÊNCIAS … · Sorocaba – SP 2017 . UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS CENTRO DE CIÊNCIAS EM GESTÃO E TECNOLOGIA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO

39

Tabela 1 - Dados e fontes

Dados Unidade de

medida Periodicidade Fonte

Produto Interno Bruto (PIB) R$ bilhões Mensal e anual Banco Central do Brasil

Importação (M) US$ bilhões Mensal Banco Central do Brasil

Exportação (X) US$ bilhões Mensal Banco Central do Brasil

Conta Capital (F) US$ bilhões Mensal Banco Central do Brasil

Conta de Serviços (R) US$ bilhões Mensal Banco Central do Brasil

Índice de Preço Doméstico

(IPCA)

Índice Mensal Ipeadata

Índice de Preço Estrangeiro

(IPA-USA)

Índice Mensal Ipeadata

Câmbio nominal (e) R$/US$ Mensal Banco Central do Brasil

Fonte: Elaborado pela autora com base em dados do BCB (2016a, b, c) e Ipeadata (2016a, b)

3.2. Procedimentos econométricos

A formulação adequada à análise de crescimento econômico com equilíbrio no

balanço de pagamentos tem sido testada empiricamente em trabalhos com diferentes países,

permitindo verificar qual o modelo mais adequado a ser usado de acordo com as diferenças

estruturais das economias. E, considerando as especificidades dos países na composição do

balanço de pagamentos, os procedimentos econométricos aplicados aos trabalhos que utilizam

modelos com restrição externa, muitas vezes, têm que ser adaptados à realidade dos países em

análise (GOUVÊA, 2010).

Como um dos pontos fundamentais do trabalho é investigar o crescimento de longo

prazo brasileiro, para os dois períodos de governo utilizando o modelo de crescimento

econômico com equilíbrio no balanço de pagamentos, tal como desenvolvido por Thirlwall,

torna-se necessário a estimação das elasticidades-preço e renda da demanda por importações

utilizando-se o ferramental econométrico referente a séries temporais, uma vez que é

imperativo verificar se as variáveis analisadas ao longo do tempo apresentam determinadas

características comuns, o que permite estimá-las sem incorrer em regressões espúrias.

A estimação da função importação para o Brasil nos períodos considerados no trabalho

(1995-2002; 2003-2010; 1995-2010) será realizada com base na equação proposta por

Page 40: UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS CENTRO DE CIÊNCIAS … · Sorocaba – SP 2017 . UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS CENTRO DE CIÊNCIAS EM GESTÃO E TECNOLOGIA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO

40

McCombie (1989), a qual considera as duas variáveis estruturais do modelo, isto é, as

elasticidades-renda e preço da demanda por importações (LEZCANO,2012). Sendo assim,

prossegue-se para a estimação da função importação, com as variáveis em logaritmo do nível:

𝒍𝒐𝒈 𝑴𝒕 = 𝝅𝒍𝒐𝒈𝒀𝒕 + 𝝍𝒍𝒐𝒈 (𝑷𝒇 + 𝑬 − 𝑷𝒅) (35)

Como já destacado, por se tratar de uma serie temporal, para a análise da estimação da

função importação supracitada é importante verificar a estacionariedade das séries envolvidas,

com objetivo de não incorrer em regressão espúria. A metodologia envolve a realização de

testes de raiz unitária, dos quais os mais comuns são os de Dickey-Fuller (DF), Dickey-Fuller

Aumentado (ADF) e Phillips-Perron (PP). Além destes, existem também os testes de raiz

unitária Dickey-Pantula e Kwiatkowski-Phillips-Schmidt-Shin (KPSS), os quais testam,

respectivamente, a presença de duas raízes unitárias contra uma raiz unitária, e de nenhuma

raiz unitária contra uma raiz unitária. (ENDERS, 2004).

A não-rejeição da presença de raiz unitária indicará, portanto, a não estacionariedade

das séries envolvidas. Com essa constatação torna-se necessário determinar qual ferramental

econométrico será utilizado para que a série se transforme em estacionária e assim, possa ser

realizada a estimação. Uma alternativa seria trabalhar com as séries em primeira diferença e

estima-las com o método de mínimos quadrados ordinários (MQO), porém, como destacado

por Jayme Jr (2003), tal método teria como problema não mostrar a relação de longo prazo

entre as variáveis.

A alternativa utilizada na dissertação é o método de cointegração, que permite

identificar se, mesmo na presença de raiz unitária, há uma relação estável (de equilíbrio) de

longo prazo entre as variáveis não estacionárias (integradas) que permita a estimação da

equação sem que se incorra em regressão espúria (ENDERS, 2004). O conceito de

cointegração foi introduzido por Engle e Granger (1987) e refere-se à existência de uma

relação de interdependência entre duas ou mais variáveis econômicas. Assim, mesmo que no

curto prazo tais variáveis se movam de forma independente, a existência de cointegração

significa que variáveis não estacionárias podem ter trajetórias em bloco, de forma que no

longo prazo caminham juntas (ENDERS, 2004).

Page 41: UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS CENTRO DE CIÊNCIAS … · Sorocaba – SP 2017 . UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS CENTRO DE CIÊNCIAS EM GESTÃO E TECNOLOGIA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO

41

No caso em que se rejeita a hipótese de cointegração entre as séries analisadas, deve-se

realizar a estimação empregando o método de mínimos quadrados em primeira diferença.

(GÔUVEA, 2010). Mas, após verificar a ordem de integração das séries em análise,

constatando-se a presença de variáveis não estacionárias o passo seguinte consiste na

realização do teste de cointegração com as variáveis em logaritmo do nível, o que permitirá

avaliar os mecanismos de curto e longo prazo de séries não estacionárias (BUENO, 2008).

Como o procedimento de cointegração de Johansen permite analisar a cointegração

entre variáveis num contexto multivariado e considera a existência de mais de um vetor

cointegrante, essa metodologia será utilizada na presente dissertação com objetivo de testar a

existência de alguma relação de longo prazo entre as variáveis. (GREENE, 2003).

Seja 𝒁𝒕 uma matriz (n x p) de séries temporais, em que cada coluna representa uma

série. Para utilizar o procedimento de Johansen é necessário modelar 𝒁𝒕 como um Vetor

Auto-Regressivo (VAR) irrestrito envolvendo k defasagens de 𝒁𝒕, que pode ser escrito como:

𝒁𝒕 = 𝚷𝟏𝒁𝒕−𝟏 + 𝚷𝟐𝒁𝒕−𝟐 + ⋯ + 𝚷𝒌𝒁𝒕−𝒌 + 𝛟𝑫𝒕 + 𝜺𝒕 (36)

Em que 𝒁𝒕 é um vetor (n x 1) e cada elemento 𝚷𝒊 é uma matriz de parâmetros de

ordem (n x n) e 𝑫𝒕 representa termos determinísticos, tais como constante, tendência linear e

sazonalidade.

No caso da metodologia de Johansen também é necessário determinar o número de

defasagens (ou lags) do modelo, ou seja, a ordem de 𝒁𝒕, pois este procedimento tem como

base a hipótese de que ao se introduzir um determinado número de defasagens é possível

obter resíduos bem comportados. A escolha de ordem do VAR pode ser realizada por meio

dos critérios de informação Schwartz (SC), Akaike (AIC) e Hannan-Quinn (HQ).

Prosseguindo, a equação acima (36) pode ser modificada em termos de um modelo de

correção de erros (VEC), representado como:

∆𝒁𝒕 = 𝚷𝟏 𝒁𝒕−𝟏 + [∑ (𝚪𝒌−𝟏𝚫 𝒁𝒕−𝒊𝒑−𝟏𝒊=𝟏 )] + 𝛟𝑫𝒕 + 𝜺𝒕 (37)

Page 42: UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS CENTRO DE CIÊNCIAS … · Sorocaba – SP 2017 . UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS CENTRO DE CIÊNCIAS EM GESTÃO E TECNOLOGIA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO

42

Conforme o Teorema de Representação de Granger, se um vetor 𝒀𝒕 é cointegrado de

ordem (1,1), então é possível representa-lo na forma de um modelo de correção de erro

(VEC). E, conforme o teorema, se é possível representar o VAR por um VEC, pode-se

sustentar que as variáveis envolvidas cointegram.

Considerando que 𝚷𝒁𝒕−𝟏 pode ser escrito como:

𝚷𝟏𝒁𝒕−𝟏 = 𝜶𝜷′𝒁𝒕−𝟏 (38)

E substituindo (38) em (37), obtém-se a representação algébrica do VEC:

∆𝒁 = 𝜶𝜷′𝒁𝒕−𝟏 + 𝚪𝟏𝒁𝒕−𝟏 + 𝚪𝟐𝒁𝒕−𝟐 … + 𝚪𝒑−𝟏𝚷𝒑𝚫𝐙𝒕−𝒑 + 𝜺𝒕 (39)

Em que 𝜷 representa a matriz que contém os valores de cointegração; 𝜶 representa a

matriz de coeficientes de ajustamento; 𝚪𝑖 é a matriz de termos de curto prazo (atrelados aos

termos estacionários ou diferenciados); 𝒁𝒕 é a matriz que contém variáveis endógenas; 𝒁𝒕−𝟏 é

a matriz que contém as variáveis endógenas com um lag de defasagem e 𝜺𝒕 representa a

matriz de erros.

E, ainda em relação ao teste de Johansen, será necessário escolher as especificações

referentes aos termos deterministas que irão compor o modelo, em relação à constante e à

tendência. Já a verificação do número de vetores cointegrantes do VAR será realizada com

base nos testes do Traço (Trace Test) e do Máximo Autovalor (Max Test) (ENDERS, 2004).

Por fim, após as estimações das elasticidades-renda e preço a partir dessa metodologia

descrita, tais estimativas serão empregadas para computar a taxa de crescimento da renda

compatível com o equilíbrio no balanço de pagamento, tal como indicado pela Lei de

Thirlwall na sua versão tradicional e na sua formulação especificada pela equação (10), que

inclui influxos de capitais. E como no período analisado para a economia brasileira houve um

expressivo aumento da entrada de capitais, bem como do pagamento do serviço desses

capitais, será testado também as especificações que consideram o endividamento, tais como

desenvolvida por Moreno-Brid (2003). Ainda sobre as especificações, com o interesse de

verificar a contribuição de cada componente do modelo para a estimação do crescimento,

Page 43: UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS CENTRO DE CIÊNCIAS … · Sorocaba – SP 2017 . UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS CENTRO DE CIÊNCIAS EM GESTÃO E TECNOLOGIA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO

43

inclusive os termos de troca, será utilizada também a versão completa do modelo, tal como

desenvolvida por Carvalho (2006-2009).

Assim, depois de obtidas as elasticidades e computada a taxa de crescimento do

modelo teórico, segundo as formulações mencionadas acima, se realizará a comparação entre

as taxas de crescimento previstas pelos modelos teóricos e a taxa de crescimento real da

economia, com objetivo de verificar a validade da Lei de Thirlwall para a economia brasileira

nos períodos destacados pela presente dissertação.

Para a comparação entre as taxas de crescimento do modelo teórico e da taxa de

crescimento real, será aplicado o teste de hipóteses sobre o valor da diferença entre duas

médias, utilizando a estatística t de Student (SARTORIS, 2008). Nesse caso, a hipótese nula

(Ho) será de que a taxa média de crescimento real é igual à taxa média de crescimento

resultante do modelo teórico, de forma que a diferença entre essas médias deverá ser

estatisticamente igual a zero. Assim, a não rejeição da hipótese de proximidade entre ambas

as taxas (Ho) indicará a validade do modelo.

3.3. Metodologia empírica: descrição dos modelos testados

Uma vez obtidas essas elasticidades, para os três períodos em análise para a economia

brasileira, separadamente, o passo subsequente consistirá em utilizar tais estimativas para

computar a taxa de crescimento da renda condizente com o equilíbrio do BP, com base nas

formulações apresentadas por Thirlwall (1979), Thirlwall e Hussain (1982), Moreno-Brid

(2003) e Carvalho e Lima (2007-2009), considerando também os termos de troca11. Os seis

modelos a serem empregados apresentam a seguinte especificação:

Modelo 1: Lei de Thirlwall Tradicional (LT), versão Thirlwall (1979) – Equilíbrio de

Longo Prazo sem Termos de Troca

ybt = xt

π (40)

11 Como ressaltado por Carvalho (2006), ao se testar a forma com termos de troca preservada no modelo é

preciso destacar que se trata de um exercício de modificação dos pressupostos originais, com o objetivo de

avaliar seu impacto no crescimento.

Page 44: UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS CENTRO DE CIÊNCIAS … · Sorocaba – SP 2017 . UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS CENTRO DE CIÊNCIAS EM GESTÃO E TECNOLOGIA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO

44

Modelo 2: Modelo 1 incluindo Termos de Troca

ybt = xt+(1+φ)(pd – e – pf)

π (41)

Modelo 3: Lei de Thirlwall com influxo de capitais, versão Thirlwall e Hussain (1982)

yb = θ1x + (1−θ1)f

π (42)

Modelo 4: Lei de Thirlwall Estendida, versão Carvalho e Lima (2007-2009) –

Equilíbrio de Longo Prazo incluindo Conta Capital, Serviços do Capital (explicitamente),

Termos de Troca e não impondo limites à entrada de Capital Externo

y ∗∗b= θ1x+(1+φ)(pd – e – pf)−θ2r+(1−θ1+θ2)f

π (43)

Modelo 5: Modelo 4 sem Termos de Troca

y ∗∗b= θ1x−θ2r+(1−θ1+θ2)f

π (44)

Modelo 6: Lei de Thirlwall Estendida, versão Moreno-Brid (2003) – Equilíbrio de

Longo Prazo incluindo Conta Capital, Serviços do Capital (explicitamente), sem Termos de

Troca e impondo limite à entrada de Capital Externo (manutenção da relação dívida/PIB)

y ∗b= θ1x−θ2r

π−(1−θ1+θ2) (45)

Page 45: UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS CENTRO DE CIÊNCIAS … · Sorocaba – SP 2017 . UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS CENTRO DE CIÊNCIAS EM GESTÃO E TECNOLOGIA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO

45

E, a partir das elasticidades-preço e renda de importações, estimadas por técnicas de

cointegração, serão calculadas as taxas de crescimento compatíveis com as cinco formulações

do modelo de Thirlwall descritas, para a economia brasileira, nos três períodos 1995-2010,

1995-2002 e 2003 a 2010.

3.4. Metodologia geral dos testes aplicados para validação da Lei de Thirlwall

Carvalho (2006) apresenta um resumo dos diversos testes que têm sido aplicados com

objetivo de avaliar o poder explicativo da “Lei de Thirlwall”, indicando que, de forma geral,

há cinco grandes linhas de realização do teste empírico: teste não paramétrico; teste da

regressão; comparação das elasticidades de importação; estimação da Lei de Thirlwall em si;

análise de ajustamento da conta corrente.

O teste não paramétrico refere-se ao realizado por Thirlwall (1979), o qual utiliza o

coeficiente de “rank correlation”de Spearman para testar o grau de associação entre a taxa de

crescimento prevista pelo modelo e a taxa observada pelos países. Tal teste foi criticado por

McGregor e Swales (1985) e reconhecido por Thirlwall (2011) como não sendo o mais

adequado.

O teste da Regressão foi proposto por McGregor e Swales (1985), em oposição ao

anterior, e consiste em regredir a taxa observada sobre a taxa teórica, usando uma “pooled

regression” de diferentes países, para testar estatisticamente as hipóteses do intercepto ser

igual a zero e da declividade ser igual a um, de forma que o resultado seria uma equivalência

entre a taxa real e a teórica (CARVALHO, 2006). Com esse teste os autores rejeitaram a

validação da Lei de Thirlwall para a mesma amostra de Thirlwall (1979). Porém, o teste da

Regressão foi apontado como um método problemático por McCombie (1989), pois como a

taxa teórica é estocástica, uma vez que deriva da estimativa de elasticidade, regredir a taxa

observada sobre a taxa teórica incorreria em problema de erro nas variáveis. Também por esse

método seria necessário que houvesse uma amostra completa, de forma a permitir que déficits

e superávits se cancelarem, o que é difícil pela disponibilidade dos dados. Outra questão seria

a presença de outliers que modificariam o resultado para o conjunto dos países.

McCombie (1989) ao considerar os problemas dos testes anteriormente citados,

propõe outro teste para a Lei de Thirlwall, o teste de comparação das elasticidades de

importação. Por esse método, define-se a elasticidade renda hipotética como sendo

Page 46: UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS CENTRO DE CIÊNCIAS … · Sorocaba – SP 2017 . UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS CENTRO DE CIÊNCIAS EM GESTÃO E TECNOLOGIA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO

46

exatamente a que iguala a taxa de crescimento observada com a teórica (π’=x/y). Assim, se a

elasticidade hipotética π’ for estatisticamente não diferente da estimativa de elasticidade

derivada da função de importação, não se pode refutar a hipótese de que o crescimento do país

é restrito pelo BP. Uma crítica colocada a esse teste é de que as elasticidades, estimada e

hipotéticas, seriam iguais por construção, uma vez que derivam da mesma função de

importação, porém McCombie defende que não necessariamente, uma vez que se os termos

de troca forem relevantes ou as elasticidades não refletirem a “competição não-de-preço” as

elasticidades não seriam iguais e o modelo seria rejeitado.

O teste de estimação da Lei de Thirlwall em si parte da estimação da equação de

equilíbrio na conta corrente, sendo necessário para validar o teste que os termos de

intercâmbio sejam estatisticamente insignificantes, ou, pelo menos, pouco significante

comparado ao coeficiente de renda externa. Um problema desse teste seria o fato de estar se

testando o equilíbrio do BP a cada momento, o que Atesoglu (1993/1994) apud Carvalho

(2006) indica como solução a suavização nas séries usando média móvel de 15 anos, com

objetivo de eliminar movimentos de curto prazo.

O último teste citado por Carvalho (2006) consiste na análise de ajustamento da conta

corrente, em que se estima um sistema de equações, para cada país individualmente, para

verificar se desvios do equilíbrio de conta corrente são acomodados por variações na renda ou

no preço.

Por fim, o teste de validação dos modelos aplicado na presente dissertação advém da

proposta de Carvalho (2006), a qual destacou que o mesmo método de comparação das taxas

observadas e teóricas de elasticidade renda das importações poderia ser substituído pela

comparação entre as próprias taxas de crescimento da renda observada e teórica.

Page 47: UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS CENTRO DE CIÊNCIAS … · Sorocaba – SP 2017 . UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS CENTRO DE CIÊNCIAS EM GESTÃO E TECNOLOGIA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO

47

4. RESULTADOS EMPÍRICOS DA LEI DE THIRLWALL PARA O BRASIL

O modelo de crescimento com restrição no BP tem sido testado para diversas

economias ao longo dos anos, seja para um conjunto de países ou especificamente para um

país, como a presente dissertação12. Para a economia brasileira pode-se citar um conjunto de

trabalhos que testaram a validade da LT, além de alguns com análise para o Brasil dentre um

conjunto de países, tais como Thirlwall e Hussain (1982), López e Cruz (2000) e Holland,

Vieira e Canuto (2004), entre outros.

Por exemplo, no artigo em que Thirlwall e Hussain (1982) ampliam a LT original

incorporando a conta capital, os autores aplicaram o modelo proposto para um conjunto de

vinte países em desenvolvimento, incluindo o Brasil, no período entre 1969 e 1978. Para a

aplicação do modelo proposto, os autores partiram de elasticidades previamente estimadas

para a maioria dos países, tendo como resultado as taxas teóricas de crescimento. Para a o

teste de validade do modelo, os autores calculavam o desvio médio da taxa de crescimento do

PIB real e a taxa de crescimento teórica do modelo original e do modelo com influxo de

capitais, e concluíram que o modelo proposto apresentou taxas mais próximas à realidade do

período em comparação à LT original. Para o Brasil, que de acordo com os autores teve uma

taxa de crescimento observada de 9,5% a.a. no período, a aplicação da LT original previu um

crescimento de 4,5% a.a. enquanto o modelo com fluxo de capitais previu um crescimento de

9,4% a.a.

Por sua vez, López e Cruz (2000) testaram a validade da LT para quatro países latinos

americanos (Argentina, Brasil, Colômbia e México) no período entre 1965 e 1995, com

interesse, também, de verificar a importância dos termos de troca na determinação do

crescimento dos países, uma vez que para os autores a taxa de câmbio real poderia ser tratada

como um instrumento de política econômica, que favoreceria o crescimento, mesmo existindo

restrições pelo lado do Balanço de Pagamentos.

Aplicando a técnica de cointegração de Johansen, para todos os países envolvidos, os

autores identificaram a relação de longo prazo existente entre as séries produto e exportações,

em nível, o que para eles seria suficiente para atestar a validade da LT. Também

implementaram um teste de causalidade de Granger, que apontou que o sentido da

12 Uma síntese dos trabalhos e países em que a LT foi testada pode ser encontrada em Thirlwall (2011), no qual o

autor destaca que a despeito das técnicas econométricas empregadas, observa-se convergência de resultados que

validam a hipótese de restrição externa ao crescimento econômico.

Page 48: UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS CENTRO DE CIÊNCIAS … · Sorocaba – SP 2017 . UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS CENTRO DE CIÊNCIAS EM GESTÃO E TECNOLOGIA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO

48

causalidade vai das exportações para o PIB, com exceção do caso mexicano, confirmando a

causalidade sustentada pela LT.

Dessa forma, os autores concluem pela validade da LT para os países da amostra, e

utilizando o VAR para testar a hipótese dos termos de intercâmbio serem constantes,

obtiveram que, para Argentina e Brasil, uma desvalorização cambial reduziria o produto, mas

para Colômbia e México uma desvalorização cambial aumenta o produto. Cabe destacar que

para a economia brasileira, a elasticidade renda das importações foi estimada pelos autores em

1,6 para o período entre 1965 e 1995.

Bértola, Higachi e Porcile (2002) estimam, especificamente para a economia brasileira

no período entre 1890 e 1973, a Lei de Thirlwall original diretamente, incluindo termos de

troca. Segundo os autores, o período escolhido deveu-se tanto ao fato de contemplar períodos

em que a economia era liderada por exportações (1830-1930), quanto pelo período de

substituição de importações (1930-1973), interrompendo a análise em 1973 devido ao fato de

o fluxo de capitais ter papel relevante após esse período, o que não é comtemplado pelo

modelo utilizado.

Os autores utilizaram o método econométrico de cointegração para a estimação da Lei

de Thirlwall em sua forma básica, com uso de um modelo com tendência com a justificativa

que essa inclusão captaria as mudanças estruturais ocorridas na economia. Pelos resultados,

concluem que a renda interna e a renda externa se cointegram. Os resultados confirmaram a

Lei de Thirlwall para o Brasil no período considerado, segundo os autores, uma vez que o

coeficiente de termos de troca não se mostrou significativo na estimação, e tanto termos de

troca quanto renda externa foram considerados exógenos.

Dessa forma, os autores justificam que se obteve a validade da Lei de Thirlwall pelos

resultados indicarem que a variável de ajuste é a renda, não tendo os termos de intercâmbio

um papel relevante, tal como apresentado por Thirlwall (1979). Realizando também uma

análise do vetor de correção de erro (VEC), os autores indicam que 41% das variações do PIB

podem ser atribuídas a ajustamentos em direção à Lei de Thirlwall original, o que, para eles,

implicaria que a Lei de Thirlwall poderia também ser um importante instrumental para

análises de alterações no curto prazo.

Jayme Jr (2003), considerando o período entre 1955 e 1998, testou para a economia

brasileira o modelo original de Thirlwall de crescimento econômico com equilíbrio no BP,

usando técnica de cointegração e de vetor de correção de erros (VEC). Para o autor, obteve-se

Page 49: UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS CENTRO DE CIÊNCIAS … · Sorocaba – SP 2017 . UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS CENTRO DE CIÊNCIAS EM GESTÃO E TECNOLOGIA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO

49

a validade da Lei de Thirlwall ao ter como resultado ao menos um vetor cointegrante quando

realizado o teste de cointegração de Johansen para o logaritmo do PIB e das exportações para

o período completo e todos subperíodos, destacando que para diversos autores a confirmação

dessa relação estável de longo prazo confirma a validade da Lei de Thirlwall. Mas como tal

teste permite apenas a verificação de relação de longo prazo, Jayme Jr (2003) prosseguiu com

a estimação de um VEC para determinação da função impulso resposta, tendo como resultado

uma bicausalidade, ou seja, tanto o PIB afeta as exportações quanto o contrário, o que seria

compatível com tradição keynesiana e estruturalista de demanda afetar crescimento.

A elasticidade renda implícita da demanda por importações estimada por cointegração

para o período 1955 a 1998, foi de 2,38. Para o período entre 1955 e 1989, o resultado foi uma

elasticidade de 2,38, equivalente à do período completo estimado pela presente dissertação.

Uma comparação entre a estimação do período 1955-1980 e 1981 a 1998 demonstra que a

elasticidade das importações caiu de 2,58 para 2,50. Agora, comparando o período 1966-1980

com 1981-98, período com maior abertura, a elasticidade aumenta de 2,21 para 2,58, o que

sugere que a elasticidade renda das importações pode explicar parte do menor crescimento

econômico após 1981.

E, utilizando a elasticidade renda implícita das importações estimada para o período

completo, o autor a aplicou na equação da lei de Thirlwall original, sem termos de troca, para

calcular as taxas de crescimento no período previstas pelo modelo, usando uma média móvel

de oito anos. Comparando tal resultado com o observado, obteve um coeficiente de correlação

de 0,65 entre as duas séries, argumentando que a diferença percentual obtida poderia ser

explicada pelo fluxo de capital.

Holland, Vieira e Canuto (2004) testaram empiricamente a validade da LT para dez

países latinos americano, incluindo o Brasil, para o período entre 1950 e 2000. Inicialmente,

realizaram uma análise gráfica e identificaram que a renda, as importações e exportações

apresentavam correlação de longo prazo, tanto em nível quanto em primeira diferença, com

todos os países apresentando uma redução da taxa de crescimento nos anos oitenta.

Em seguida, os autores estimaram as elasticidades renda da demanda por importações

dos países da amostra, utilizando o instrumental econométrico de séries temporais, utilizando

um modelo de primeira diferença das importações e primeira diferença da renda, com

inclusão de um mecanismo de erro e variáveis defasadas. Com tais elasticidades estimadas, os

Page 50: UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS CENTRO DE CIÊNCIAS … · Sorocaba – SP 2017 . UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS CENTRO DE CIÊNCIAS EM GESTÃO E TECNOLOGIA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO

50

autores aplicaram-nas no modelo original de Thirlwall (1979), com objetivo de obter a taxa de

crescimento compatível com equilíbrio no balanço de pagamentos.

É válido destacar que para todos os países da amostra obtiveram uma elasticidade

renda das importações elevadas, e para a economia brasileira a elasticidade estimada foi de

2,16. Com tal elasticidade, a taxa de crescimento compatível com equilíbrio no BP para a

economia brasileira entre 1950 e 2000 foi de 3,42%, inferior à taxa de crescimento observada

de 5,34%. Para os autores, tal diferença que demonstra uma restrição mais forte do modelo

pode ser explicada pela ausência de fluxo de capitais no modelo, variável relevante para a

economia brasileira no período.

Carvalho (2006) e Carvalho e Lima (2007) testaram a validade da LT na economia

brasileira para o período entre 1930 e 2004, investigando o papel da estrutura produtiva no

crescimento econômico, tendo como resultado que o crescimento no período foi compatível

com o equilíbrio no BP, mas que na década de noventa obteve-se uma quebra estrutural da

elasticidade renda das importações, muito relacionada às políticas econômicas liberalizantes

adotadas nesse período.

Carvalho e Lima (2007) apresentam uma nova especificação da Lei de Thirlwall, em

que não se desconsidera, a priori, nenhum de seus elementos, ou seja, uma especificação que

incorpora termos de troca, fluxo de capitais sem restrição à entrada e pagamentos de todo

serviço de capital, o que permite que seja decomposto a taxa de crescimento nesses

componentes. Utilizando o instrumental econométrico de cointegração, o artigo encontra

relação de longo prazo que permite a estimação da elasticidade renda das importações por

VEC, tal como realizado na presente dissertação.

Para o período 1930 a 2004, a elasticidade renda das importações estimada pelos

autores foi de 1,21. Mas ao verificar quebra estrutural da elasticidade renda das importações

em 1994, utilizando método de Mínimos Quadrados Ordinários para introduzir dummy de

declividade, os autores testaram novamente a elasticidade renda das importações no período

1930-1993 e 1994-2004, obtendo as respectivas elasticidades de 1,22 e 4,46, o que, junto com

análise do componente tecnológico da produtividade, forneceu evidência de mudança na

estrutura produtiva brasileira.

Com tais elasticidades estimadas, utilizaram-nas para calcular a taxa de crescimento

teórica na versão completa, tal como proposta pelo artigo, nos períodos 1930 a 2004, no

período 1931 a 1993 e 1994 a 2004, validando a hipótese de restrição externa, e tendo como

Page 51: UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS CENTRO DE CIÊNCIAS … · Sorocaba – SP 2017 . UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS CENTRO DE CIÊNCIAS EM GESTÃO E TECNOLOGIA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO

51

resultado da decomposição dos componentes do BP, que a quebra estrutural nos anos noventa

ocorreu principalmente pelo lado comercial.

Lelis et al. (2013), utilizando o arcabouço teórico da LT original, verificaram se o

balanço de pagamentos foi uma limitação ao crescimento econômico brasileiro, no período

que compreende os anos de 1995 até 2013. Considerando a literatura sobre o tema, os autores

partem de uma perspectiva de que o processo de especialização regressiva da economia

brasileira em curso tende a piorar a restrição externa ao crescimento econômico, uma vez que

com menor dinamismo da indústria e maior dependência de exportação de recursos naturais,

assume-se que a importação de bens com maior agregação de tecnologia se tornaram cada vez

mais sensíveis à renda.

Para essa análise, os autores estimaram as funções de demanda por importações e

exportações através de dois modelos econométricos, sendo eles o vetorial de correção de erros

(VAR/VEC), com o objetivo, principalmente, de observar a função impulso-resposta, e o

modelo estrutural em formato de estado de espaço para o período destacado, o qual permite

observar, endogenamente, períodos em que houveram quebra estruturais nas séries. Para a

estimação do VEC, realizou-se o mesmo procedimento da dissertação, com análise da

estacionariedade das séries, seleção de ordem do VAR e teste de cointegração de Johansen,

porém utilizando dados trimestrais. Já a aplicação do modelo de estado de espaços envolveu a

estimação de modelos univariados para identificar a ocorrência de irregularidades nas séries,

nos dois períodos mencionados, e estimação de modelos com variáveis de controle, para

posteriormente estimar as respectivas elasticidades renda e preço derivados das funções de

demanda por exportações e importações.

Pelo método VEC a elasticidade renda das importações encontradas pelos autores

entre 1995 e 2013 foi de 2,93, superior à elasticidade das exportações estimadas pelos autores

e semelhante à encontrada pela presente dissertação. Pelo método de estado de espaço, as

elasticidades renda das importações foi de 4,02 para o período entre 1995 e 2013 e de 4,6 para

o período entre 2001 e 2013, indicando uma piora da elasticidade no período recente.

Com tais modelos, os autores concluíram que, especialmente depois de 2001, houve

uma piora na restrição externa ao crescimento econômico. Mais especificamente, os autores

destacam que comparando dois períodos, 1995 a 2013 com 2001 a 2013, tem-se que a

elasticidade da demanda por exportações apresentou sinal contrário ao esperado,

possivelmente relacionado a variações nos preços de commodities. E a elasticidade renda das

Page 52: UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS CENTRO DE CIÊNCIAS … · Sorocaba – SP 2017 . UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS CENTRO DE CIÊNCIAS EM GESTÃO E TECNOLOGIA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO

52

importações apresentou uma piora no período curto (2001 a 2013) em relação ao completo,

tendo a razão de elasticidades confirmando a hipótese de restrição externa, por a elasticidade

renda das exportações serem menores do que as estimadas para as importações.

Nassif, Feijó e Araújo (2014), partindo de um quadro teórico e empírico de Kaldor-

Thirlwall sobre o comportamento da produtividade e do desenvolvimento econômico de longo

prazo, avaliaram, empiricamente, para e economia brasileira entre 1970 e 2010, as hipóteses

de que: (i) operando sob economias de escala estáticas e dinâmicas, a principal fonte do

crescimento da produtividade advém do setor industrial e (ii) que, no entanto, de acordo com

a Lei de Thirlwall, para que um país evite desequilíbrios no balanço de pagamentos com o

crescimento a longo prazo e alcance com sucesso os níveis de renda per capita dos países

desenvolvidos, ele deve manter uma elasticidade renda da demanda por exportações acima da

elasticidade renda da demanda por importações.

Para a análise das hipóteses, os autores apresentaram uma revisão teórica, concluindo

que, em uma perspectiva kaldoriana, o hiato tecnológico do setor de manufatureiro como um

todo aumentou em ritmo acelerado desde o final da década de 1990, sendo o nível registrado

em 2008 suficiente para concluir que a economia brasileira se caracterizou por sinais de

desindustrialização precoce e atraso no crescimento de longo prazo. Para corroborar essa

análise, os autores prosseguiram com a estimação das elasticidades renda da demanda por

importações e exportações para avaliar a hipótese de restrição externa de Thirlwall, utilizando

a mesma equação de demanda por importação empregada na presente dissertação, porém

empregando dados trimestrais e realizando a regressão por MQO. Tal método de estimação,

entretanto, tem sua eficácia questionada por Jayme Jr (2003), o qual emprega o ferramental de

cointegração.

Como resultado, Nassif, Feijó e Araújo (2014) concluem que uma série de

indicadores, como a redução da participação da indústria no valor agregado do economia, a

redução da taxa de crescimento da produtividade do trabalho na década de 90, o aumento do

hiato tecnológico em todos subsetores da indústria de transformação desde o final da década

de 90 e os déficits comerciais nos setores industrias de maior intensidade tecnológica entre

2006 e 2008 demonstram que o Brasil entrou em um processo prematuro de

desindustrialização. Além disso, as estimações apontaram para uma piora da elasticidade

renda de importações de 1,96 no período 1980 a 1998 para 3,31 para o período 1999 a 2010,

ao mesmo tempo em que ocorreu uma queda da elasticidade renda das exportações entre 1999

Page 53: UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS CENTRO DE CIÊNCIAS … · Sorocaba – SP 2017 . UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS CENTRO DE CIÊNCIAS EM GESTÃO E TECNOLOGIA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO

53

e 2010 em comparação a 1980 a 1998, de 1,36 para 1,33, concluindo que a economia

brasileira estaria em uma trajetória de atraso e de restrição ao crescimento econômico de

longo prazo.

Basso (2016), utilizando dados mensais de 2002 a 2013, verificou a validade da

restrição externa ao crescimento econômico para a economia brasileira no boom de

commodities, testando os modelos de Thirlwall (1979), Thirlwall e Hussain (1982), Moreno-

Brid (2003) e Carvalho (2007) nas versões “forte” e “fraca” da Lei de Thirlwall, bem como as

mesmas versões com e sem os termos de troca. A autora destaca que a versão forte equivale à

estimação dos modelos com a variável crescimento da renda mundial, enquanto na versão

fraca o crescimento da renda mundial é representado pelo crescimento das exportações. Na

presente dissertação testou-se o que ela considera versão fraca da LT.

Tal como na presente dissertação, a autora utilizou dados mensais dessazonalizados

para a estimação das elasticidades, bem como os índices de preço IPA- EUA e IPCA para o

cálculo da taxa de câmbio real, utilizando também o método econométrico de cointegração de

Johansen e de vetor de correção de erros (VEC), obtendo como resultado uma elasticidade

renda das exportações de 0,72 e uma elasticidade renda das importações de 1,27.

Basso (2016) testou a validade dos modelos de Thirlwall, na versão forte e fraca,

conforme proposto por McCombie (1989), em que se testa a igualdade entre a elasticidade

renda da importação estimada e a elasticidade obtida teoricamente. A autora concluiu que se

pode afirmar que a Lei de Thirlwall foi validada porque nenhum modelo com a versão “fraca”

sem termos de troca foi rejeitado, porém admite que não cabe asserções definitivas que

acatem “forte” ou “fraca” válidas, tampouco valida-se incondicionalmente a versão

tradicional ou a modificação que inclui os termos de troca, e que nenhum modelo se mostrou

invicto sob qualquer cenário. Concluindo que, ainda que vigente o boom de commodities, o

crescimento econômico brasileiro foi restrito pelo balanço de pagamentos.

Por fim, ainda que o modelo multissetorial da Lei de Thirlwall, tal como proposto por

Araújo e Lima (2007), não tenha sido detalhado na presente dissertação, é interessante

mostrar também alguns resultados obtidos na aplicação desse modelo para a economia

brasileira. Por exemplo, Soares e Teixeira (2010) testaram a validade da LT multissetorial

(LTMS) para o caso brasileiro no período entre 1990 e 2011, a partir de dados trimestrais e

anuais, aplicando o instrumental econométrico de séries temporais para a estimação das

elasticidades com os dados trimestrais desagregados por categoria de uso e a técnica de

Page 54: UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS CENTRO DE CIÊNCIAS … · Sorocaba – SP 2017 . UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS CENTRO DE CIÊNCIAS EM GESTÃO E TECNOLOGIA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO

54

estimação em painel para os dados anuais organizados por intensidade tecnológica. Com os

resultados obtidos, os autores validaram a LTMS para a economia brasileira no período,

cabendo destacar para efeito de comparação, que a elasticidade renda das importações

agregada foi estimada em 1,42 para o período observado pelos autores.

Já abordando o período entre 1962 a 2006, Gouvêa e Lima (2013) testaram também a

validade da LTMS para a economia brasileira, porém realizando uma nova classificação

setorial para organização dos dados. Assim, com considerações sobre o II PND e utilizando

dados anuais, os autores estimaram as elasticidades renda das importações e exportações,

agregadas e setoriais, por instrumental econométrico de séries de tempo, tendo como

resultado a validação do modelo estatisticamente. A elasticidade renda das importações

agregada para a economia brasileira foi estimada pelos autores em 1,61 no período.

Tabela 2- Resumo das elasticidades renda das importações estimadas

Autor Período Elasticidade renda das

importações

Lopes e Cruz (2000) 1965 a 1995 1,60

Jayme Jr (2003) 1955 a 1998 2,38

Jayme Jr (2003) 1981-1998 2,50

Holland, Vieira e Canuto (2004) 1950 e 2000 2,16

Carvalho (2006) e Carvalho e Lima (2009) 1930 a 2004 1,21

Carvalho (2006) e Carvalho e Lima (2009) 1930-1993 1,22

Carvalho (2006) e Carvalho e Lima (2009) 1994 a 2004 4,46

Soares e Teixeira (2010) 1990 a 2011 1,42

Gouvêa e Lima (2013) 1962 a 2006 1,61

Caputi Lelis et al. (2013) 1995 a 2013 2,93

Nassif, Feijó e Araújo (2014) 1980 a 1998 1,96

Nassif, Feijó e Araújo (2014) 1999 a 2010 3,31

Basso (2016) 2002 a 2013 1,27

Fonte: Elaborado pela autora com base nos trabalhos citados.

Page 55: UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS CENTRO DE CIÊNCIAS … · Sorocaba – SP 2017 . UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS CENTRO DE CIÊNCIAS EM GESTÃO E TECNOLOGIA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO

55

5. EVIDÊNCIAS PARA A ECONOMIA BRASILEIRA ENTRE 1995 E 2010

Tendo em conta a revisão da literatura sobre a aplicação da Lei de Thirlwall para a

economia brasileira, prosseguiu-se com a estimação e avaliação dos modelos da LT para os

períodos de governo FHC e Lula, objeto de estudo da dissertação. O primeiro passo para a

aplicação dos modelos consistiu na estimação da elasticidade renda das importações. Assim,

como descrito na metodologia empírica, verificou-se a presença de raiz unitária nas séries

presentes na função importação (PIB, importação e câmbio real), tendo como resultado a não

estacionariedade das séries envolvidas (Anexo 1).

A partir dessa determinação, e com a conclusão sobre a importância do mecanismo de

ajustamento proporcionado pelo Vetor de Correção de Erros (VEC), testou-se pelo método de

cointegração se as séries possuem um componente de longo prazo que permitiria a estimação

da elasticidade renda e preço das importações por esse procedimento.

Assim, o procedimento adotado foi a estimação de um VAR para cada período em

análise (1995-2002; 2003- 2010; 1995-2010), com o objetivo de determinar as defasagens do

modelo, lembrando que o VEC possui uma defasagem a menos que o VAR. Com a

determinação das defasagens foi possível verificar a cointegração das series em cada período

da análise, como será detalhado a seguir.

5.1. Evidências empíricas para a economia brasileira no período FHC (1995-2002)

Para o período FHC, a escolha do número de defasagens empregadas no modelo foi

realizada utilizando os critérios de informação LR, FPE e AIC, obtendo-se um VAR de ordem

6, o que equivale a um VEC de ordem 5 (Anexo 2). O teste de cointegração de Johansen pelo

método do Traço e do Maior Autovalor indicaram a presença de cointegração, a 5% de

significância (Anexo 2), com o modelo com intercepto e sem tendência indicado pelo critério

de Schwartz.

Com a confirmação da cointegração das séries, estimou-se a função de importação,

conforme tabela 4, obtendo a seguinte relação de longo prazo:

𝒍𝒏 𝑴𝑭𝑯𝑪 = 𝟑, 𝟕𝟏 𝒍𝒏𝒀 − 𝟎, 𝟗 𝒍𝒏 (𝑷𝒇 + 𝑬 − 𝑷𝒅) (46)

Page 56: UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS CENTRO DE CIÊNCIAS … · Sorocaba – SP 2017 . UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS CENTRO DE CIÊNCIAS EM GESTÃO E TECNOLOGIA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO

56

Tabela 3 - Função de Importação período 1995 – 2002

Equação de Longo prazo (VEC) para as Importações

Importação 𝜷 Erro padrão ( ) t-statistics [ ]

PIB -3.713986 (0.50892) [-7.29774]

Cambio_real 0.903264 (0.13370) [ 6.75610]

Constante 39.66781 (6.61519) [ 5.99647]

Correção de erros: D((imp)) D((pib)) D(log(cambio_real))

CointEq1 -0.131187 0.044035 -0.183072

(0.11178) (0.02719) (0.05235)

[-1.17357] [ 1.61951] [-3.49729] Fonte: Elaborado pela autora com dados do Software Eviews. Nota: 𝛽 se refere ao parâmetro estimado.

Os resultados da tabela acima indicam que, na relação de longo prazo, tanto o PIB

como o câmbio real podem ser considerados significativos, ou estatisticamente diferentes de

zero. Isso implica que as estimativas das elasticidades-preço e renda obtidas podem ser

consideradas explicativas na relação de longo prazo da função importação.

Um ponto a destacar sobre a elasticidade renda das importações de 3,71, estimada para

o período FHC (1995 a 2002), refere-se a sua proximidade com as elasticidades calculadas

por Carvalho e Lima (2009), de 4,46 entre 1994 e 2004, e de Jayme Jr (2003), de 2,50 entre

1981 e 1998. Comparando-se com a elasticidade de 1,60, calculada por Lopez e Cruz (2000) e

a de 1,22, calculada por Carvalho e Lima (2009), para períodos anteriores às políticas

adotadas no início da década de noventa, o resultado encontrado pela presente dissertação

também sugere uma significativa piora na elasticidade renda das importações.

Uma possível explicação advém das medidas adotadas para a desinflação da

economia, como a abertura comercial e a manutenção do câmbio apreciado como mecanismo

de âncora cambial, ao mesmo tempo em que permitiram o sucesso do plano Real, também

pioraram as condições de competição dos produtores nacionais de bens tradables em relação

aos importados (TAVARES, 1997). Essa piora na competição implicou em mudanças na

estrutura produtiva da economia brasileira, que como indicado, se refletiram em piora na

elasticidade renda das importações. Para Carneiro (2002), apesar da obtenção da estabilidade

de preços, a abertura comercial causou deterioração do saldo comercial, tornando a economia

Page 57: UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS CENTRO DE CIÊNCIAS … · Sorocaba – SP 2017 . UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS CENTRO DE CIÊNCIAS EM GESTÃO E TECNOLOGIA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO

57

dependente de recursos externos, ponto relevante para modelos com restrição externa como os

aplicados na dissertação.

Segundo La Plane e Sarti (2006), as empresas reagiram às mudanças de política

econômica e à abertura comercial adotada no início dos anos noventa, aprofundando a

especialização e a racionalização da capacidade produtiva, com forte redução de emprego. A

sobrevalorização da taxa de câmbio e os juros elevados fizeram com que as empresas

industriais procurassem formas para melhorar rapidamente sua competitividade, atualizando

produtos, substituindo insumos nacionais por importados e modernizando equipamentos e

assim, as empresas desistiam de atividades nas quais o aumento da competitividade não

pudesse ser obtido com a rapidez e a economia de investimento que o câmbio apreciado e a

taxa de juros demandavam. Tal interpretação corrobora a evidência de piora na elasticidade

renda das importações no período FHC em relação aos anteriores.

Prosseguindo no cálculo dos modelos de equilíbrio no BP para o período FHC, tais

como especificados na seção 3.3, a partir das elasticidades preço e renda das importações

estimadas foram calculadas as taxas de crescimento teórica dos modelos. Assim, o próximo

passo consistiu na comparação entre as taxas de crescimento previstas pelos modelos teóricos

com a taxa de crescimento real da economia entre 1995 e 2002. Para essa comparação,

aplicou-se o teste de hipóteses sobre o valor da diferença entre duas médias, com a não

rejeição da hipótese nula de igualdade das médias de ambas as taxas indicando a validade do

modelo.

Obtiveram-se, dessa forma, os seguintes resultados para o período:

Tabela 4 - Resultados dos modelos de Thirlwall para período FHC (1995-2002)

Y real Mod. 1 Mod. 2 Mod. 3 Mod. 4 Mod.5 Mod. 6

Crescimento

médio (%a.a.) 2.30 1.37 1.62 0,19 -0.19 -0.44 1.01

t-calculado 2,19** 1,61** 4,99 5,89 6,48 3,06**

Fonte: Elaborado pela autora. Nota: *Significativo a 10%; **Significativo a 5%

Como resultado, segundo a estatística t-student para o período observado entre 1995 e

2002, foram validados os modelos 1, 2 e 6 a 5% de significância. O modelo 1 se refere à

versão simplificada da lei de Thirlwall, no qual consta apenas o resultado do balanço

Page 58: UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS CENTRO DE CIÊNCIAS … · Sorocaba – SP 2017 . UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS CENTRO DE CIÊNCIAS EM GESTÃO E TECNOLOGIA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO

58

comercial, sugerindo que, por esse modelo, o crescimento com equilíbrio no balanço de

pagamentos no período seria equivalente a 1,37%, inferior ao que efetivamente ocorreu. Isso

indicaria que, apesar de estatisticamente as taxas de crescimento real e a do modelo 1 terem

sido iguais, a taxa de crescimento com equilíbrio no BP foi mais restritiva que a verificada

efetivamente. Como o modelo capta apenas o lado comercial, o resultado da taxa de

crescimento teórica pode ser relacionado, em grande medida, ao saldo comercial negativo

durante quase todo período FHC, decorrente, principalmente, da abertura comercial e da

adoção da âncora cambial até 1999. Porém, outros fatores não abarcados pelo modelo podem

ter sido relevantes para que a taxa de crescimento observada tenha sido superior à taxa

teórica.

A validação do modelo 2, que inclui termos de troca, e sua maior taxa em comparação

ao modelo 1 indicam que a desvalorização cambial ocorrida em 1999 afrouxou ligeiramente a

restrição externa no período, obtendo como resultado uma taxa de crescimento teórica de

1,62%, mais próxima à taxa de crescimento real do período que o modelo 1. O período de

governo FHC conviveu com taxas de câmbio apreciadas até 1999, quando em decorrência da

crise cambial sofreu uma intensa desvalorização, que impactou positivamente nos resultados

do balanço comercial, visualizado no Gráfico 3. Dessa forma, uma possível explicação seria

que o ajuste no crescimento ocorreu em parte via preços também, convergindo nesse caso à

interpretação de Barbosa-Filho (2003) sobre relevância dos termos de troca.

Gráfico 3 - Evolução Balanço Comercial brasileiro- 1995-2002 - US$ milhões correntes

Fonte: Elaborado pela autora com base em dados do BCB (2016a, 2016b).

A validação do modelo 6, que diz respeito à versão estendida de Moreno-Brid (2003),

e que inclui a conta capital e de serviços do capital e impõe limite ao endividamento externo,

- 5 - 7

- 8 - 8

- 2 - 2

2

12

0

0,5

1

1,5

2

2,5

3

3,5

- 10

- 5

-

5

10

15

1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002

US$ bilhões

Balança comercial Cambio nominal médio (R$/US$)

Câmbio Nominal (R$/US$)

Page 59: UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS CENTRO DE CIÊNCIAS … · Sorocaba – SP 2017 . UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS CENTRO DE CIÊNCIAS EM GESTÃO E TECNOLOGIA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO

59

mostra que, apesar de estatisticamente significativo, o modelo incorre em uma taxa de

crescimento de 1,01%, menor do que a efetiva e do que os modelos anteriores, indicando que,

pelo modelo, o pagamento dos serviços da dívida e o limite ao endividamento ampliaram a

restrição ao crescimento no período. De fato, o pagamento do serviço do capital se ampliou

entre o início e fim do governo FHC, passando de R$ 10,7 bilhões em 1995 para R$ 17,7

bilhões em 2002. Além disso, como observado no gráfico 3, ampliou-se também a relação

dívida líquida/PIB, o que explicaria a maior restrição ao crescimento considerando esses

componentes. Porém, o erro de previsão do modelo em relação aos dados observados pode

sugerir que tais restrições não se concretizaram, apesar de relevantes para o período.

Possivelmente, a obtenção de empréstimos com o FMI, com consequente elevação do

endividamento, com apontado por Giambiagi e Pinheiro (2012), foi um fator relevante para

afrouxar a restrição externa imposta pelos componentes do modelo 6.

Gráfico 4 - Dívida externa líquida/PIB (%) – 1995 a 2002

Fonte: Elaborado pela autora com base em dados do BCB (2017a).

5.2. Evidências empíricas para a economia brasileira no período Lula (2003-2010)

Para a estimação da elasticidade renda e preço das importações por meio de técnica de

cointegração para período Lula, a escolha do número de defasagens empregadas no modelo

foi realizada utilizando os critérios de informação LR, FPE e AIC, obtendo-se um VAR de

ordem 9, o que equivale a um VEC de ordem 8 (Anexo 3).

12 1215

21,6

32,429,5 29,4

32,7

0,0

5,0

10,0

15,0

20,0

25,0

30,0

35,0

1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002

Page 60: UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS CENTRO DE CIÊNCIAS … · Sorocaba – SP 2017 . UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS CENTRO DE CIÊNCIAS EM GESTÃO E TECNOLOGIA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO

60

Os testes de cointegração de Johansen pelo método do Traço e do Maior Autovalor

indicaram a presença de cointegração, a 5% de significância (Anexo 3). Como o modelo sem

intercepto e sem tendência indicou vetores de cointegração, optou-se por essa determinação

para que toda variação fosse captada ou pela renda ou pelos termos de troca.

Com a confirmação da cointegração das séries, estimou-se a função de importação,

obtendo a seguinte relação de longo prazo:

𝒍𝒏 𝑴𝑳𝑼𝑳𝑨 = 𝟐, 𝟑𝟕 𝒍𝒏𝒀 − 𝟎, 𝟖𝟓 𝒍𝒏 (𝑷𝒇 + 𝑬 − 𝑷𝒅) (47)

Tabela 5 - Função de Importação período 2003 - 2010

Equação de Longo prazo (VEC) para as Importações

Importação 𝜷 Erro padrão ( ) t-statistics [ ]

PIB -2.377394 (1.47354) [-1.61339]

Cambio_real 0.851551 (0.87712) [ 0.97085]

Constante 22.34759 (17.3303) [ 1.28951]

Correção de erros: D(imp) D(Pib) D(cambio_real)

CointEq1 0.011356 -0.014652 0.024469

(0.02190) (0.00520) (0.01015)

[ 0.51858] [-2.81554] [ 2.41030] Fonte: Elaborado pela autora com dados do Software Eviews. Nota: 𝛽 se refere ao parâmetro estimado.

Os resultados da tabela acima indicam que, na relação de longo prazo, tanto o PIB

como o câmbio real podem ser considerados significativos, ou estatisticamente diferentes de

zero. Novamente, isso implica que as estimativas das elasticidades-preço e renda obtidas

podem ser consideradas explicativas na relação de longo prazo da função importação para o

período Lula.

A elasticidade renda das importações de 2,37, estimada para o período entre 2003 e

2010, ficou em um patamar intermediário entre as estimações de 1,27 de Basso (2016) para o

período entre 2002 e 2013, a qual utilizou metodologia de estimação semelhante à aplicada na

dissertação, e a estimada em 3,31 por Nassif, Feijó e Araújo (2014) para o período entre 1999

e 2010.

Page 61: UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS CENTRO DE CIÊNCIAS … · Sorocaba – SP 2017 . UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS CENTRO DE CIÊNCIAS EM GESTÃO E TECNOLOGIA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO

61

Um ponto a ser destacado dos resultados da dissertação refere-se à redução da

elasticidade renda das importações no período Lula em comparação ao período FHC. Quanto

menor a elasticidade renda das importações, menor é seu impacto na redução do crescimento

pelos modelos a la Thirlwall. Enquanto para o período FHC estimou-se uma elasticidade

renda das importações de 3,71, para o período Lula obteve-se uma elasticidade renda das

importações de 2,37. Ainda que se mantenha alta, houve uma melhora nesse componente do

modelo, o que representa uma menor restrição externa ao crescimento no período Lula.

Entretanto, a mudança na estrutura produtiva da economia brasileira não pode ser

enfaticamente apontada como responsável por essa melhora na elasticidade renda das

importações. Autores como Nassif, Feijó e Araújo (2014), Carvalho e Carvalho (2013),

Bresser e Marconi (2009) e Milani (2011) apontam que havia indícios de que a economia

brasileira caminhava para um processo de especialização regressiva nos anos 2000, com

redução da participação dos setores manufaturados e ampliação da participação na economia

de setores intensivos em recursos naturais ou setores com menor valor agregado. Mas tal

conclusão é contestada por Urraca Ruiz et all (2013) que, avaliando a estrutura industrial

brasileira entre 1996 e 2011, alegam não haver evidências para afirmar que a economia tenha

alterado significativamente sua estrutura produtiva nesse período e que estivesse caminhando

para uma especialização regressiva. A aplicação do modelo multissetorial da LT seria uma

possibilidade teórica para investigação sobre essa hipótese de mudança setorial entre os

períodos.

Quando se observa a produção industrial, com objetivo de entender a reação do setor

produtivo nos diferentes períodos, verifica-se que a indústria de transformação obteve melhor

desempenho no governo Lula. Enquanto a taxa de crescimento média da produção da

indústria de transformação no período FHC foi de 1,3%, no período Lula passou para 3,2%,

com destaque para o crescimento elevado na produção de bens de capital em quase todos os

anos do período, com exceção de 2009, ano seguinte à crise econômica mundial13. Tal

resultado positivo do setor industrial pode ser relacionado tanto à desvalorização cambial

ocorrida em 1999, quanto ao crescimento da demanda doméstica, pelo consumo e

investimento, o que beneficiou a expansão de um conjunto mais amplo de setores industriais,

sobretudo os setores de bens salários e de bens de capital (SARTI; HIRATUKA, 2011).

13 Dados obtidos pelo Ipeadata (2017). Para a possibilidade de composição da série de produção industrial por

categoria de produto, utilizaram-se dados da Pesquisa Industrial Mensal (PIM) do IBGE media 2002 igual a 100

e 2012 igual a 100, colocando a série de 2012 como base e extrapolando os períodos anteriores aplicando a taxa

de variação da série 2002 igual a 100.

Page 62: UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS CENTRO DE CIÊNCIAS … · Sorocaba – SP 2017 . UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS CENTRO DE CIÊNCIAS EM GESTÃO E TECNOLOGIA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO

62

Mas ao mesmo tempo em que o crescimento da demanda doméstica permitiu também

esse crescimento industrial, verificou-se no governo Lula uma ampliação do déficit do setor

manufatureiro, que passou de um resultado positivo de R$ 3,7 bilhões em 2003 para um

déficit de R$ 55,6 bilhões em 201014, convergente com o resultado elevado da elasticidade

renda das importações (maior que 1), ainda que tal elasticidade fosse inferior ao do período

FHC.

Assim, tendo verificado a mudança na elasticidade rendas das importações,

prosseguiu-se na aplicação da LT para o período Lula. Após estimar as elasticidades preço e

renda das importações, foram calculadas as taxas de crescimento teórica dos modelos de

Thirlwall. O próximo passo consistiu na comparação entre as taxas de crescimento previstas

pelos modelos teóricos com a taxa de crescimento real da economia entre 2003 e 2010,

aplicando-se o teste de hipóteses sobre o valor da diferença entre duas médias.

Dessa forma, obtiveram-se os seguintes resultados para o período:

Tabela 6 - Resultados dos modelos de Thirlwall para período LULA (2003 - 2010)

Y real Mod. 1 Mod. 2 Mod. 3 Mod. 4 Mod.5 Mod. 6

Crescimento

médio (%a.a.) 4,06 5.24 4.67 6,82 7,06 7,61 3,74

t-calculado -1,79** -0,93** -4,18 -4,55 -5,38 0,49**

Fonte: Elaborado pela autora.

*Significativo a 10%; **Significativo a 5%

Como resultado, segundo a estatística t-student para o período observado entre 1995 e

2002, foram validados os modelos 1, 2 e 6, a 5% de significância. É interessante observar que

os mesmos modelos foram validados tanto no período FHC, quanto no período Lula. Uma

hipótese sobre esse resultado pode ser depreendida da inclusão do componente fluxo de

capitais nos modelos 3, 4 e 5, o qual apresenta resultados opostos nos dois períodos. Enquanto

no período FHC a inclusão explícita do componente fluxo de capitais reduziu a taxa teórica

obtida em relação à taxa observada e em relação às taxas dos modelos válidos, no período

14 Dados obtidos a partir de extração da FuncexData (2017).

Page 63: UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS CENTRO DE CIÊNCIAS … · Sorocaba – SP 2017 . UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS CENTRO DE CIÊNCIAS EM GESTÃO E TECNOLOGIA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO

63

Lula se verificou o contrário, ou seja, a inclusão do componente fluxo de capitais tornou a

taxa teórica obtida superior à taxa observada e às taxas dos modelos validados

estatisticamente.

O modelo 1 contempla a versão simplificada da lei de Thirlwall, e por esse modelo,

que compreende apenas o resultado comercial, o crescimento com equilíbrio no balanço de

pagamentos no período seria equivalente a 5,24%, superior ao que efetivamente ocorreu. Isso

indica que, pela perspectiva do equilíbrio no BP, a restrição externa tenha sido afrouxada

nesse período e outros fatores não abarcados pelo modelo podem ter se sobreposto a essa

restrição e gerado um crescimento inferior ao que o modelo prevê.

O governo Lula conviveu com resultados positivos no balanço comercial em todo

período, tendo um conjunto de fatores apontados como determinantes desse resultado, como

os reflexos da desvalorização cambial de 1999, a elevação no preço de commodities que o

Brasil já detinha mercado internacional, como o minério de ferro, e também devido ao

crescimento da economia mundial, em grande parte relacionada ao crescimento da economia

chinesa e sua demanda por insumos (LAMEIRA, 2004).

A validação do modelo 2, que equivale ao modelo simplificado mas inclui termos de

troca, e sua menor taxa em comparação ao modelo 1 indicam que o câmbio real reduziu o

crescimento econômico teórico em comparação ao modelo simplificado, com a taxa de

crescimento do modelo 2 estimada em 4,67%. Essa redução no crescimento do modelo

teórico com a inclusão dos termos de troca é justificável, haja vista a valorização cambial

ocorrida no período e que impactou na elevação das importações. Observa-se que a taxa de

câmbio nominal passou de R$ 3,07/US$ em 2003 para R$ 1,75/US$ em 2010, o que

considerando a inflação do período, implicou em uma valorização média de 8,8% a.a. na taxa

de câmbio real do período15.

15 BCB (2016b).

Page 64: UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS CENTRO DE CIÊNCIAS … · Sorocaba – SP 2017 . UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS CENTRO DE CIÊNCIAS EM GESTÃO E TECNOLOGIA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO

64

Gráfico 5 - Evolução Balanço Comercial brasileiro- 2003-2010 - US$ milhões correntes

Fonte: Elaborado pela autora com base em dados do BCB (2016a, 2016b).

Como resultado da valorização cambial, aliado à elevada elasticidade renda das

importações, as importações saltaram de US$ 49,3 bilhões em 2003 para US$ 182,8 bilhões

em 2010, um crescimento em termos correntes de 270%16. O resultado em termos de balanço

comercial só não foi totalmente prejudicado porque as exportações cresceram 175% no

mesmo período, em termos correntes, e permitiram um resultado positivo no saldo comercial

durante todo período, mesmo que decrescente a partir de 2006.

A validação do modelo 6, o qual inclui a conta capital e de serviços e impõe limite ao

endividamento externo, mostra que, apesar de estatisticamente significativo, o modelo

resultou em uma taxa de crescimento de 3,74%, menor do que a efetiva e do que as dos

modelos anteriores, indicando que, pelo modelo, o pagamento dos serviços da dívida e o

limite ao endividamento teriam ampliado a restrição ao crescimento econômico do período.

No caso real, houve o oposto, ou seja, essas restrições não se fizeram valer. O fato do

Brasil ter se tornado credor externo, com a dívida externa líquida em proporção do PIB

tornando-se negativa após 2007, atingindo o percentual de -2,4% do PIB em 2010, pode ter

ajudado, por exemplo, no alívio à restrição ao mercado internacional de financiamento. A

melhora nesse indicador, somada ao baixo impacto da crise econômica internacional de 2008

nas contas externas brasileiras resultaram também na obtenção de grau de investimento por

agências internacionais de risco em 2008, o que ajuda a explicar esse melhor cenário de

acesso ao crédito internacional.

16 BCB (2016a).

24

33

43 45

38

24 25

18

1,3

1,8

2,3

2,8

3,3

-

10

20

30

40

50

2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010

US$ bilhões

Balança comercial Cambio nominal médio (R$/US$)

Câmbio Nominal (R$/US$)

Page 65: UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS CENTRO DE CIÊNCIAS … · Sorocaba – SP 2017 . UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS CENTRO DE CIÊNCIAS EM GESTÃO E TECNOLOGIA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO

65

Um ponto a destacar sobre o governo Lula em contraposição ao período anterior

refere-se à intenção assumida de redução da vulnerabilidade externa, o que de certo modo se

refletiu também no alívio sobre a restrição externa ao crescimento econômico do período.

Segundo Giambiagi e Pinheiro (2012), após 2003 houve uma política deliberada das

autoridades econômicas destinada a reduzir a vulnerabilidade da economia brasileira a crises

externas, política essa associada à redução da dívida interna associada ao dólar, pré-

pagamento da dívida com FMI, recompra de Brady Bonds17 e acumulação de reservas. No

Gráfico 6 é possível destacar a ampliação do nível de reservas, que passou de em torno de

US$ 50 bilhões entre 2003 e 2005, para US$ 289 bilhões em 2010.

Gráfico 6 - Dívida externa líquida/PIB (%) – 2003 a 2010

Fonte: Elaborado pela autora com base em dados do BCB (2017a).

5.3. Evidências empíricas para a economia brasileira no período completo (1995-2010)

Após avaliar separadamente os períodos FHC e LULA, cumpre avaliar o período

completo com o objetivo de verificar a persistência da restrição externa como um limitante ao

crescimento econômico de longo prazo brasileiro.

Também foi realizada a estimação da elasticidade renda e preço das importações por

meio de técnica de cointegração, e a escolha do número de defasagens empregadas no modelo

foi feito utilizando os critérios de informação LR, FPE e AIC, obtendo-se um VAR de ordem

7, o que equivale a um VEC de ordem 6 (Anexo 3).

17 Séries de bônus soberanos, emitidos por países emergentes nos moldes do Plano Brady, que visavam

reestruturar as dívidas vencidas e não pagas.

49 53 5486

180 194

239

28927,3

20,4

11,5

6,9

-0,9 -1,7-3,8

-2,4

-10

-5

0

5

10

15

20

25

30

0

50

100

150

200

250

300

350

2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010

US$ Bilhões

Reservas internacionais - Conceito liquidez - US$ (bilhões) Dívida externa líquida/PIB (%)

%

Page 66: UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS CENTRO DE CIÊNCIAS … · Sorocaba – SP 2017 . UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS CENTRO DE CIÊNCIAS EM GESTÃO E TECNOLOGIA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO

66

E utilizando o teste de cointegração de Johansen pelo método do Traço e do Maior

Autovalor indicou-se a presença de cointegração, a 5% de significância (Anexo 3), com o

modelo sem intercepto e sem tendência adequado para o período, uma vez que tal

especificação permite que as elasticidades captem todo componente estrutural da economia,

condizente com a Lei de Thirlwall (CARVALHO, 2006).

Com a confirmação da presença de cointegração nas séries, estimou-se a função de

importação, obtendo a seguinte relação de longo prazo:

𝒍𝒏 𝑴𝑪𝒐𝒎𝒑𝒍𝒆𝒕𝒐 = 𝟐, 𝟑𝟓 𝒍𝒏𝒀 − 𝟎, 𝟕𝟐 𝒍𝒏 (𝑷𝒇 + 𝑬 − 𝑷𝒅) (48)

Tabela 7 - Função de Importação período 1995 - 2010

Equação de Longo prazo (VEC) para as Importações

Importação 𝜷 Erro padrão ( ) t-statistics [ ]

PIB -2.354133 (0.23153) [-10.1677]

Cambio_real 0.721590 (0.16476) [ 4.37971]

Constante 22.07700 (2.94083) [ 7.50706]

Correção de erros: D(imp) D(Pib) D(cambio_real)

CointEq1 -0.054620 -0.031103 0.003646

(0.02553) (0.00611) (0.01283)

[-2.13919] [-5.08713] [ 0.28418] Fonte: Elaborado pela autora com dados do Software Eviews. Nota: 𝛽 se refere ao parâmetro estimado.

Os resultados da tabela 7 indicam que, na relação de longo prazo, tanto o PIB como o

câmbio real podem ser considerados significativos, ou estatisticamente diferentes de zero para

o período completo. O que implica que as estimativas das elasticidades-preço e renda obtidas

podem ser consideradas explicativas na relação de longo prazo da função importação.

Novamente, em relação à elasticidade renda das importações estimadas cabe destacar

que a elasticidade estimada para o período completo foi de 2,35. Tal elasticidade é próxima à

estimativa de 2,93 de Caputi Lelis et al. (2013) para o período de 1995 a 2013, e intermediária

entre a estimativa de 4,46 de Carvalho e Lima (2009) para 1994 a 2004 e a de 1,42 de Soares

e Teixeira (2010) para 1990 a 2011. Ainda que não haja consenso se houve uma mudança na

Page 67: UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS CENTRO DE CIÊNCIAS … · Sorocaba – SP 2017 . UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS CENTRO DE CIÊNCIAS EM GESTÃO E TECNOLOGIA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO

67

estrutura produtiva durante o período 1995 e 2010, a elasticidade calculada para o período de

1995 a 2010 se manteve elevada e superior à apontada por estudos para períodos anteriores a

1995, indicando uma deterioração da estrutura produtiva brasileira, e uma maior dependência

de importações na comparação com períodos anteriores à década de noventa, como discutido

na análise do período FHC18.

Tal interpretação é coerente também com a explicação de Coutinho (1997), que afirma

que a política econômica decorrente do programa de estabilização da economia brasileira no

início da década de noventa, com câmbio apreciado e juros elevados, teve como consequência

a desindustrialização de setores e segmentos e rápida desnacionalização da indústria.

Interpretação semelhante de La Plane e Sarti (2006), para os quais as empresas reagiram

defensivamente às mudanças de política econômica e à abertura comercial que, somadas às

condições de juros elevados e câmbio apreciado, tiveram como resultado a substituição de

insumos nacionais por importados. E condizente, também, com os resultados encontrados por

Hilgenberg (2003), em que utilizando um modelo de insumo produto para avaliar os impactos

setoriais no Brasil da abertura da década de 90 obteve como resultado, a partir dos

multiplicadores de produção, que todos os setores passaram a ser mais dependentes de

insumos importados.

Assim, como reflexo da estrutura produtiva no período entre 1995 e 2010, mais

dependente de importados, houve também uma deterioração do resultado comercial por

origem setorial, principalmente após 2003, quando a economia voltou a apresentar maiores

taxas de crescimento e a taxa de câmbio voltou a se apreciar, passando R$3,07/US$ em 2002

para R$ 1,75/US$ em 2010, resultando em maiores déficits no saldo comercial de

manufaturados. Para Sarti e Hiratuka (2011), após 2003 a indústria voltou-se para o mercado

doméstico, em grande medida em virtude do crescimento desse mercado vinculado às

políticas de transferência de renda, valorização do salário mínimo e do crescimento do

crédito, porém enfrentando cada vez mais a concorrência com produtos importados em

virtude da crescente valorização cambial. E mesmo o crescimento da indústria nacional

também implicava em crescimento das importações, haja vista a substituição ocorrida de

18 É interessante destacar que outras tradições teóricas, além da LT, também apontam a importância da estrutura

produtiva no crescimento econômico, tal como a abordagem da economia da complexidade apresentada em

análise do FMI (2015). Por essa abordagem, a complexidade de uma economia seria a explicação para a

divergência nos níveis de renda entre países ricos e países pobres que não é esperada por vários modelos

tradicionais de crescimento econômico, sendo medida pela diversidade e sofisticação da pauta produtiva, com

dados de comércio exterior utilizados para a mensuração desse índice de complexidade.

Page 68: UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS CENTRO DE CIÊNCIAS … · Sorocaba – SP 2017 . UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS CENTRO DE CIÊNCIAS EM GESTÃO E TECNOLOGIA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO

68

fornecedores locais por importados com vista a manter a competitividade da produção

doméstica (LA PLANE; SARTI, 2006).

Assim, considerando os dois períodos de governo conjuntamente, verifica-se que foi

mantida a condição de que elevações na renda da economia brasileira resultavam em aumento

mais que proporcional das importações, demandando um crescimento muito elevado das

exportações ou grande entrada de capitais para que ocorresse uma menor restrição externa ao

crescimento de longo prazo.

Em relação ao resultado comercial, um aspecto que contribuiu para aliviar a pressão

no BP em decorrência do déficit de manufaturados foi o crescimento do superávit em

produtos primários e semimanufaturados. No gráfico 7, destacam-se dois momentos distintos

relativos aos resultados no comércio exterior. Primeiro, até aproximadamente 2001, o

superávit comercial de bens primários e bens semimanufaturados era modesto, com pouco

efeito no resultado global do balanço comercial. Já após 2002 há uma alteração nessa

tendência, com seguidos crescimentos do saldo comercial desses setores, com destaque para

2010, ano do boom de commodities.

Gráfico 7 - Saldo comercial por origem setorial

Fonte: Elaborado pela autora com base em dados da FUNCEX (2016).

50

5

-10

-56

-80

-60

-40

-20

0

20

40

60

1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010

US$ bilhões

Produtos Primários Semi - manufaturados Manufaturas

Page 69: UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS CENTRO DE CIÊNCIAS … · Sorocaba – SP 2017 . UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS CENTRO DE CIÊNCIAS EM GESTÃO E TECNOLOGIA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO

69

Destaca-se nesse resultado positivo o papel desempenhado pelas exportações para a

China, que se tornou não apenas um grande produtor de manufaturas industriais, mas também

um grande consumidor de manufaturas, alimentos e matérias-primas minerais e energéticas.

Essa maior demanda chinesa beneficiou os exportadores de commodities, entre eles o Brasil,

alterando bastante os termos de troca em favor dos produtos primários principalmente após

2003 (SARTI; HIRATUKA, 2011). Dados de comércio exterior mostram que a China

figurava como 12º principal importador de bens e produtos brasileiros. Em 2010 saltou para 1ª

colocação, respondendo por 15,2% das exportações brasileiras, superando EUA, principal

parceiro em 199719.

Prosseguindo na análise dos modelos para o período que agrega os dois governos,

depois de calculado e discutido a estimativa de elasticidade renda das importações, o próximo

passo consistiu na comparação entre as taxas de crescimento previstas pelos modelos teóricos

com a taxa de crescimento real da economia entre 1995 e 2010. Para essa comparação,

aplicou-se o teste de hipóteses sobre o valor da diferença entre duas médias. A não rejeição da

hipótese nula de igualdade das médias de ambas as taxas é o que indicará a validade do

modelo.

Dessa forma, obteve-se os seguintes resultados para o período:

Tabela 8 - Resultados dos modelos de Thirlwall no período completo (1995 - 2010)

Y real Mod. 1 Mod. 2 Mod. 3 Mod. 4 Mod.5 Mod. 6

Crescimento

médio (%a.a.) 3.10 3.70 3.67 3,36 3.14 3.17 2.73

t-calculado -2,06** -1,96** -0,91** -0,12** -0,23** 1,28**

Fonte: Elaborado pela autora.

*Significativo a 10%; **Significativo a 5%

Segundo a estatística t-student, para o período observado entre 1995 e 2010 foram

validados todos os modelos testados, a 5% de significância. Indicando que o equilíbrio no

balanço de pagamentos manteve-se como uma restrição ao crescimento econômico brasileiro

de longo prazo.

19 FuncexData (2017)

Page 70: UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS CENTRO DE CIÊNCIAS … · Sorocaba – SP 2017 . UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS CENTRO DE CIÊNCIAS EM GESTÃO E TECNOLOGIA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO

70

O modelo 1 foi o que apresentou maior taxa de crescimento teórica para o período, de

3,70%, também ligeiramente superior à taxa observada, possivelmente por não considerar

nenhuma restrição adicional, que, aparentemente, vigoraram no período. Por exemplo, o

pagamento dos serviços do capital, relevante nos dois períodos de governo, mas que se

acentuou no governo Lula após 2007. Como se observa no gráfico 8, verificou-se um salto da

conta renda primária (juros, lucro e remuneração de empregados) de US$ 10,7 bilhões em

1995 para US$ 67,1 bilhões em 2010, principalmente devido ao crescimento de pagamento de

lucros e dividendos.

Gráfico 8 - Evolução do balanço comercial brasileiro e da conta renda primária – 1995 a 2010

- US$ milhões correntes

Fonte: Elaborado pela autora com base em dados do BCB (2016).

A validação do modelo 2, que equivale ao modelo simplificado mas inclui termos de

troca, e sua taxa, de 3,67%, foi praticamente equivalente ao modelo 1 indicando que o câmbio

real teve pouco efeito no crescimento de longo prazo do período, quando se considera apenas

o componente balanço comercial no modelo. Esse resultado converge com a interpretação do

modelo original de Thirlwall (1979), que no longo prazo os termos de troca não influenciam

no crescimento econômico.

O modelo 3, que equivale ao modelo original com fluxo de capitais, apresentou taxa

de crescimento teórica de 3,36%, inferior à taxa real e as obtidas pelos modelos 1 e 2. Como o

componente fluxo de capitais é relevante não apenas no modelo 3, mas também nos modelos

4, 5 e 6, é valido destacar o seu comportamento durante todo o período entre 1995 e 2010.

Como já abordado, uma primeira observação revela a oposição entre os resultados obtidos

pelos modelos supracitados no período FHC e Lula. Tomando como exemplo o modelo 3,

- 5 - 7 - 8 - 8 - 2 - 2 2

12 24

33 43 45

38

24 25 18

- 11 - 11 - 15 - 18 - 18 - 17 - 19 - 18 - 18 - 20 - 26 - 27 - 29 - 42

- 35

- 67 - 80

- 60

- 40

- 20

-

20

40

60

1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010

US$ bilhões

Balança comercial Renda primária

Page 71: UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS CENTRO DE CIÊNCIAS … · Sorocaba – SP 2017 . UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS CENTRO DE CIÊNCIAS EM GESTÃO E TECNOLOGIA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO

71

enquanto no período FHC a inclusão do componente fluxo de capitais representou uma

redução na taxa teórica estimada em relação ao modelo original, no período Lula obteve-se

uma maior taxa de crescimento teórica com a inclusão desse componente. Embora o modelo 3

tenha sido rejeitado no teste de hipótese nos dois períodos separadamente, sua validade no

período completo pode indicar que no longo prazo tais comportamentos diferentes foram

compensados, permitindo a validade do modelo com fluxo de capitais.

Em relação aos dados do período, durante o governo FHC se observou momentos de

fuga de capitais e elevação do endividamento, relacionados com a instabilidade financeira

gerada pelas crises do leste asiático (1997) e da Rússia (1998) que acarretaram em fuga de

capitais brasileira, o que somada à vulnerabilidade externa da economia brasileira tornou a

política de câmbio sobrevalorizado vigente até então insustentável, culminando na crise

cambial brasileira em 1998, seguida da forte desvalorização do real 1999, juntamente com a

mudança do regime cambial para câmbio flexível (CASTRO, 2012). Em consequência dessa

crise cambial, no mesmo ano o governo recorreu ao FMI ocasionando elevação do

endividamento externo (GIAMBIAGI; PINHEIRO, 2012)

E já no final do governo FHC ocorreram ainda outros dois momentos em que se

verifica uma instabilidade das contas externas brasileiras. A primeira, em 2001, tendo vários

fatores apontados como motivadores, tanto interno à economia brasileira, como o crescimento

do passivo externo líquido e a deterioração das contas públicas, quanto fatores externos

diretamente relacionados, como a desaceleração dos EUA, principal demandante de produtos

brasileiros, e o atentado às Torres Gêmeas, que afetou os mercados globais e implicou em

saída de capitais (SILVA; LOURENÇO, 2014). A segunda ocorreu em 2002, quando se

elevou a instabilidade no mercado em virtude da possibilidade de eleição de Lula, com a

suposição que isso poderia acarretar em mudanças drásticas na condução macroeconômica,

bem como calote da dívida com sua eleição. O que também ficou conhecido, na época, como

“efeito Lula”. Como resultado dessa saída intensa de capitais externos, novamente recorreu-se

ao FMI para assegurar o equilíbrio no BP, porém novamente elevando o endividamento

externo (GIAMBIAGI, 2012).

Por outro lado, principalmente no segundo mandato do governo Lula, o fluxo de

capitais se manteve significativo, afrouxando a restrição externa sob esse ponto de vista,

exceto em 2008, ano da crise econômica mundial. Após 2007 se verifica um crescimento

elevado do investimento direto no país e do investimento em carteira, atingindo os respectivos

Page 72: UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS CENTRO DE CIÊNCIAS … · Sorocaba – SP 2017 . UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS CENTRO DE CIÊNCIAS EM GESTÃO E TECNOLOGIA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO

72

valores de US$ 88,5 bilhões e US$ 66,9 bilhões em 2010, em comparação aos valores de US$

16,6 bilhões e US$ 5,1 bilhões em 2002, último ano de governo FHC. Para Carcanholo

(2010), além da melhora nas contas externas, a abundância de liquidez internacional,

combinada com política de juros alto brasileira tornou o país mais atrativo, o que permitiu o

financiamento da redução do saldo comercial a partir de 2006 e o acúmulo de reservas em

larga escala com grande entrada de capitais. Assim, tal comportamento atuou no sentido

contrário ao verificado no governo FHC, permitindo o relaxamento da restrição externa do

período no governo Lula.

O modelo 4, que consiste na versão completa e inclui todos os componentes do

balanço de pagamentos explicitamente, incluindo os termos de troca, foi validado segundo o

teste de comparação das médias e resultou numa taxa teórica de crescimento de 3,14%,

praticamente igual à taxa observada no período. A vantagem dessa formulação é justamente a

possibilidade de decompor todas as variáveis influenciáveis do modelo, como será realizado

adiante. E o modelo 5, que é equivalente ao modelo 4, porém sem os termos de troca, também

foi estatisticamente validado e apresentou taxa de crescimento teórica de 3,17%, ligeiramente

superior ao modelo com termos de troca.

Já a validação do modelo 6, o qual inclui a conta capital e de serviços da dívida e

impõe limite ao endividamento externo, resultou em uma taxa teórica de crescimento de

2,75%, menor do que a efetiva e do que os modelos anteriores, indicando que, segundo o

modelo 6, o pagamento dos serviços da dívida e a imposição de limite ao endividamento

ampliaram a restrição ao crescimento econômico de longo prazo no período, mas que,

possivelmente, tal restrição foi afrouxada por outras questões não captadas pelo modelo.

Assim, apesar de estatisticamente igual à taxa observada, o erro de previsão do modelo pode

estar relacionado a essa restrição não ter se concretizado, possivelmente, em parte decorrente

dos empréstimos do FMI no período FHC e também, como já abordado na análise do período

Lula e evidenciado no gráfico 9, porque a economia brasileira passou da condição de devedor

externo líquido para credor externo líquido após 2007, o que deve ter favorecido o acesso ao

credito internacional.

Page 73: UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS CENTRO DE CIÊNCIAS … · Sorocaba – SP 2017 . UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS CENTRO DE CIÊNCIAS EM GESTÃO E TECNOLOGIA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO

73

Gráfico 9 - Dívida externa líquida/PIB (%) – 1995 a 2010

Fonte: Elaborado pela autora com base em dados do BCB (2017a).

Como o modelo 3 inclui a especificação completa, tal como elaborado por Carvalho e

Lima (2009), foi possível utilizá-lo para decompor20 as variáveis do modelo, tendo como

objetivo verificar sua participação no resultado estimado, como verificado na tabela 9.

Tabela 9 - Decomposição do modelo (3) de crescimento com equilíbrio no BP

Mod. 3 Exportações

Termos

troca

Serviços

Dívida Capitais

Cresc. médio (%)-

1995 – 2010 3,14 % 2,80 -0,03 -0,52 0,89

Fonte: Elaborado pela autora com base no resultado do modelo 3.

Assim, analisando os componentes do modelo individualmente, tem-se que as

exportações tiveram a maior contribuição para o crescimento obtido pelo modelo teórico, de

respectivamente 2,80 p.p. Tal resultado reflete o que se verificou na economia brasileira no

decorrer do período, com salto das exportações de US$ 46,4 bilhões em 1995 para US$ 201,3

bilhões em 2010, relacionado principalmente ao crescimento das exportações de commodities.

Os fluxos de capitais também resultaram em uma contribuição positiva no crescimento

do período completo, de 0,89 p.p., indicando que a entrada de capitais ao longo do período

permitiu que tal componente relaxasse a restrição externa ao crescimento econômico de longo

20 Foi realizada a decomposição do modelo sem considerar o peso de cada variável no PIB, ou seja, não está se

medindo a contribuição de cada variável no crescimento do período, mas sim em que medida cada termo se

refletiu no modelo, considerando sua taxa de crescimento em relação à elasticidade renda das importações.

12 1215

21,6

32,4

29,529,4

32,7

27,3

20,4

11,56,9

-0,9 -1,7 -3,8 -2,4

-10

0

10

20

30

40

1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010

Page 74: UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS CENTRO DE CIÊNCIAS … · Sorocaba – SP 2017 . UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS CENTRO DE CIÊNCIAS EM GESTÃO E TECNOLOGIA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO

74

prazo brasileiro. Como já destacado, ainda que o período entre 1995 e 2010 tenha sido

marcado por crises que acarretaram em saída de capitais e elevação do endividamento, em

especial no governo FHC, após 2007 houve um crescimento acentuado de fluxos de capitais

para o Brasil, tanto em carteira quanto de investimento direto estrangeiro, o que explicaria o

resultado positivo para esse componente do modelo.

O componente termos de troca, por sua vez, que é representado pela taxa de câmbio

real, forneceu uma contribuição negativa de -0,03 p.p. para o crescimento do modelo. Ainda

que nos modelos em que se incluíram os termos de troca houve pouca diferença no resultado

comparativamente aos que não incluíram, verificou-se que a taxa de câmbio real reduziu

ligeiramente a taxa de crescimento teórica. Esse resultado negativo pode ser entendido como

uma tendência de apreciação cambial no período completo. Como observado no gráfico 10,

no período entre 1995 e 2010, o câmbio manteve-se apreciado até 1998, devido ao mecanismo

de âncora cambial, mas mesmo com a desvalorização de 1999, posteriormente o câmbio

voltou a se apreciar e impactar o resultado comercial.

Gráfico 10 - Evolução do índice da taxa de câmbio efetiva e do índice de câmbio real

(R$/US$)

Fonte: Elaborado pela autora com base em dados do BCB (2016b).

Já os pagamentos de serviços da dívida reduziram em 0,52 p.p. o crescimento obtido

pelo modelo teórico. Nesse aspecto, o crescimento do pagamento de lucros e dividendos no

governo Lula contribui para esse resultado, uma vez que essa conta passou de US$ 2,9 bilhões

em 1995 para US$ 55,5 bilhões em 2010. Já o pagamento de juros ficou na média entre US$

20

70

120

170

220

jan

/95

set/

95

mai

/96

jan

/97

set/

97

mai

/98

jan

/99

set/

99

mai

/00

jan

/01

set/

01

mai

/02

jan

/03

set/

03

mai

/04

jan

/05

set/

05

mai

/06

jan

/07

set/

07

mai

/08

jan

/09

set/

09

mai

/10

Índice da taxa de câmbio efetiva real (IPCA)

Índice da taxa de câmbio real (IPCA) e Dólar americano

Page 75: UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS CENTRO DE CIÊNCIAS … · Sorocaba – SP 2017 . UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS CENTRO DE CIÊNCIAS EM GESTÃO E TECNOLOGIA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO

75

10 e US$ 11 bilhões nos dois períodos de governo, indicando que se sustentou como uma

restrição relevante do ponto de vista de necessidade de divisas, porém sem grandes oscilações.

Historicamente, o déficit na conta primária relaciona-se com o modelo de

desenvolvimento adotado no país, fundamentado em financiamento externo e em empresas

multinacionais. Em relação ao déficit em lucros e dividendos, na década de 1950-60, sob o

Governo Kubitschek, ocorreu uma entrada de grandes investimentos estrangeiros nos setores

automobilísticos, mecânica, material elétrico no Brasil, favorecido pelo movimento de

transnacionalização das grandes empresas norte americanas e europeias (COUTINHO, 1997).

Esse fato contribuiu para modificar o perfil da indústria brasileira, com presença de grandes

empresas de capital externo e que, consequentemente, remetem lucros às matrizes no exterior.

Assim, como resultado dessa própria presença de empresas multinacionais na

economia brasileira em oposição à baixa internacionalização das empresas brasileiras, o item

Lucro e dividendos já era deficitário no período anterior a análise da dissertação. Esse item,

apesar de deficitário, não apresentou grandes variações no governo FHC. Já no governo Lula,

como indicado na tabela 10, a conta renda primária passou a apresentar déficits ainda maiores,

principalmente a partir de 2005, em função também do crescimento no pagamento de lucros e

dividendos.

Tabela 10 - Evolução conta Renda Primária brasileira- 1995-2010 - US$ milhões correntes

Continuação

Fonte: Elaborado pela autora com base em dados do BCB (2016a).

Esse resultado na conta Lucros e dividendos é relacionado ao próprio crescimento do

fluxo de investimento direto no país que voltou a ocorrer após 2005 e atingiu seu ápice em

2010. Ou seja, com o crescimento do investimento direto no país houve a contrapartida de

retorno desses investimentos em forma de lucros e dividendos. Assim, nota-se que a restrição

1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002

Renda primária -10.747 -11.374 -14.576 -17.840 -18.481 -17.481 -19.307 -17.718

Rem. de empregados -160 -60 50 103 142 79 95 102

Juros -7.636 -8.484 -9.182 -11.088 -14.509 -14.244 -14.441 -12.658

Lucros e dividendos -2.951 -2.830 -5.443 -6.855 -4.115 -3.316 -4.961 -5.162

2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010

Renda primária -18.135 -20.107 -25.553 -26.985 -29.002 -41.806 -34.983 -67.055

Rem. de empregados 109 181 214 177 448 545 603 498

Juros -12.603 -12.950 -13.081 -10.794 -7.015 -8.476 -10.368 -11.993

Lucros e dividendos -5.640 -7.338 -12.686 -16.369 -22.435 -33.875 -25.218 -55.560

Page 76: UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS CENTRO DE CIÊNCIAS … · Sorocaba – SP 2017 . UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS CENTRO DE CIÊNCIAS EM GESTÃO E TECNOLOGIA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO

76

imposta pelos serviços do capital foi significativamente superior no governo Lula em relação

ao governo FHC, muito mais em razão dos pagamentos com Lucros e dividendos do que em

relação ao pagamento de juros.

Um ponto a destacar é que embora a dívida externa líquida tenha se tornada negativa

após 2007 e indicado que houve uma significativa melhora da vulnerabilidade externa da

economia brasileira no período Lula, principalmente como resultado do acúmulo de reservas e

também do crescimento das exportações, é interessante também analisar o passivo externo

líquido da economia, destacado nas estatísticas de comércio exterior como a Posição

Internacional dos Investimentos (PII), e que detém um balanço de estoque, a cada ponto no

tempo, do total de ativos e passivos financeiros externos de uma economia (CYSNE, 2008).

A importância de avaliar também o PII na presente dissertação se explica pelo olhar

que esse indicador permite aferir sobre outros fatores que também indicam uma

vulnerabilidade externa da economia e que podem implicar em necessidade de divisas futura,

o que também afetaria a restrição externa ao crescimento de longo prazo. Ao contrário do BP

que indica os fluxos da economia com o exterior, o PII indica o estoque líquido de renda

externa da economia. Segundo Cysne (2008), do ponto de vista macroeconômico e do balanço

de pagamentos, o conceito de passivo externo é relevante porque ele se associará, em datas

futuras, não apenas ao total de remuneração ao capital de empréstimos (como faz o conceito

de dívida), mas também ao total de remuneração ao capital de risco. Um dos pontos a destacar

também se refere à questão sobre o impacto da valorização (desvalorização) cambial sobre

esse indicador, uma vez que ao medir o estoque de passivos externos esse valor está sujeito a

interferências do câmbio, a depender da presença de passivos em moeda externa

(RODRIGUES, 2008).

Como se observa no gráfico 11, apesar da redução sistemática da dívida externa

líquida em relação ao PIB, que se tornou negativa após 2007, verifica-se que o passivo

externo líquido, indicado pelo PII e que representa o estoque de renda externa, manteve-se

elevado entre 2001 e 2010, com exceção de 2008, que como já discutido, apresentou uma

elevada saída de capitais decorrente da crise econômica mundial.

Page 77: UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS CENTRO DE CIÊNCIAS … · Sorocaba – SP 2017 . UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS CENTRO DE CIÊNCIAS EM GESTÃO E TECNOLOGIA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO

77

Gráfico 11 - Dívida externa líquida/ PIB e Posição internacional de investimento (PII) / PIB

Fonte: Elaborado pela autora com base em dados do BCB (2017a, b).

A PII brasileira é negativa, ou seja, a diferença entre o estoque de ativos externo bruto

e de passivo externo bruto brasileiro é negativo, sendo mais um indicador da presença de

financiamento externo da economia, segundo Noije e Conti (2016). E, uma consequência

dessa manutenção elevada do PII reflete-se na conta renda primária do balanço de

pagamentos. Já em relação à sua composição, Noije e Conti (2016) destacam que elevou a

participação de passivo denominado em moeda doméstica de 30% em 2001, para 60% em

2010, um fator positivo, uma vez que indica que o passivo externo ficou menos suscetível às

variações cambiais.

Assim, para uma correta análise da exposição externa da economia brasileira, é

importante avaliar tanto o indicador de dívida externa líquida quanto de passivo externo

líquido. Em resumo, ainda que a elevação do nível de reservas e a redução significativa do

indicador dívida externa líquida/PIB após 2007 tenham melhorado a resposta da economia

brasileira a crises e a flutuações externas, a restrição externa ao crescimento econômico

manteve-se como uma questão estrutural da economia brasileira, ainda dependente de entrada

de fluxos externos para equilibrar déficits em transações correntes e os pagamentos de

serviços do capital. Tal analise é coerente com a validação de todos os modelos que testaram a

LT para o período completo.

29,432,7

27,3

20,4

11,56,9

-0,9 -1,7 -3,8 -2,4

47,6 45,448,7

44,4

35,5 33,539,2

16,9

36,641,1

-10

0

10

20

30

40

50

60

2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010

Dívida externa líquida/PIB (%) - anual - %

Posição internacional de investimentos/PIB - anual - %

Page 78: UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS CENTRO DE CIÊNCIAS … · Sorocaba – SP 2017 . UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS CENTRO DE CIÊNCIAS EM GESTÃO E TECNOLOGIA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO

78

6. CONCLUSÕES

A presente dissertação teve como objetivo investigar a validade da hipótese da

restrição externa para a economia brasileira considerando os períodos de governo FHC e Lula,

tentando captar de que forma mudanças nos condicionantes das contas externas brasileira se

refletiram nos modelos apresentados. Como discutido, a contribuição dos modelos a la

Thirlwall consiste na possibilidade de trabalhar com questões relacionadas a economias

abertas, em especial a restrição imposta pelo equilíbrio no balanço de pagamentos, e suas

implicações no crescimento de longo prazo.

Os modelos derivados da LT têm sido testados ao longo dos anos para diversas

economias e para diferentes períodos. Também, para a economia brasileira distintos estudos

testaram a validade da LT com diferentes abordagens econométricas. A contribuição da

presente dissertação se deteve, para o período recente, na investigação de como a restrição

externa se comportou comparando dois governos que tiveram uma condução da política

macroeconômica semelhante, com a manutenção do tripé econômico, e que, entretanto,

contaram com outros fatores diversos, por exemplo o regime cambial, o ciclo de commodities,

acordos comerciais, etc, resultando em diferenças no balanço de pagamentos.

Como primeiro olhar, restringindo a análise ao comportamento da elasticidade renda

das importações, importante componente da LT, verificou-se que houve uma redução da

elasticidade das importações no governo Lula, estimada em 2,37, em relação à elasticidade de

3,71 estimada para o governo de FHC. Tal resultado permite inferir que houve uma redução

da restrição externa sob esse ponto de vista, ou seja, no governo Lula presume-se que pode ter

havido uma melhora na estrutura produtiva captada pela elasticidade renda das importações,

ainda que tal elasticidade tenha se mantido elevada.

Um ponto a destacar a respeito desse resultado, porém, é a divergência da literatura a

respeito dessa melhora na estrutura produtiva no governo Lula. Como apontado, alguns

autores como Bresser e Marconi (2009), Milani (2011), Carvalho e Carvalho (2013) e Nassif,

Feijó e Araújo (2014) indicam que havia indícios de que a economia brasileira caminhava

para um processo de especialização regressiva nos anos 2000, o que diverge desse primeiro

resultado. Considerando esse debate sobre mudança da estrutura produtiva, um estudo futuro

que pode ser desenvolvido para melhor compreensão dos resultados é a realização de análises

do período com a modelagem da Lei de Thirlwall Multissetorial, tentando captar de que forma

Page 79: UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS CENTRO DE CIÊNCIAS … · Sorocaba – SP 2017 . UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS CENTRO DE CIÊNCIAS EM GESTÃO E TECNOLOGIA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO

79

as elasticidades renda da importação e das exportações setoriais se comportaram e como

interferiram na restrição externa do período.

E, considerando o resultado obtido para a elasticidade renda das importações no

período completo, entre 1995 e 2010, verificou-se a manutenção da condição em que

elevações na renda da economia brasileira resultavam em aumento mais que proporcional das

importações, o que por sua vez demanda um crescimento elevado das exportações ou grande

entrada de capitais para que houvesse uma menor restrição externa ao crescimento de longo

prazo.

Em relação à aplicação dos modelos, a metodologia econométrica e de validação da

LT também tem sido desenvolvida ao longo dos trabalhos que se propõem a testar o

crescimento econômico com restrição externa. Nesse ponto, a atual dissertação converge com

a metodologia aplicada por alguns trabalhos citados, utilizando o ferramental econométrico de

cointegração e de VEC para estimação das funções de importação. E considerando as

elasticidades estimadas, obteve-se como resultado que, tanto para o governo FHC quanto para

o governo Lula manteve-se válida a hipótese de restrição externa considerando o modelo

original de Thirlwall (1979), o modelo original com termos de troca e o modelo de Moreno-

Brid (2003).

Em relação aos resultados obtidos para os períodos FHC e Lula, um ponto a destacar é

que dentre os modelos considerados válidos, os modelos que consideraram apenas o lado

comercial apresentaram os maiores resultados, justamente por não considerarem outros

componentes que podem ter sido relevantes no período. Ao mesmo tempo, avaliando todos os

resultados obtidos para os modelos testados nos dois períodos, verificou-se que a inclusão do

componente fluxo de capitais, explicitamente, apresentou resultados opostos entre os dois

governos. Por exemplo, enquanto no governo FHC a inclusão do fluxo de capitais no modelo

original tornou o resultado teórico inferior ao obtido com os dados observados e com o

modelo original, no governo Lula apresentou uma taxa teórica superior à verificada com

dados reais. Mas considerando o período completo o modelo de Thirlwall e Hussain (1982)

mostrou-se válido, indicando que tais divergências entre os períodos podem ter sido diluídas

no tempo, e que o fluxo de capitais afrouxou a restrição externa no período.

Já para o período completo foram validados todos os seis modelos testados, não sendo

possível determinar o mais adequado para o período. Mas considerando a especificação do

modelo 4, que consiste na versão de Carvalho e Lima (2009) e tem como vantagem incluir

Page 80: UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS CENTRO DE CIÊNCIAS … · Sorocaba – SP 2017 . UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS CENTRO DE CIÊNCIAS EM GESTÃO E TECNOLOGIA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO

80

todos os componentes do BP explicitamente, incluindo os termos de troca, sua validação

tornou possível realizar a decomposição de todas as variáveis do modelo. De acordo com esse

modelo, a taxa de crescimento teórica obtida para o período entre 1995 e 2010 foi de 3,14%,

dos quais as exportações tiveram a maior contribuição ao crescimento, com 2,80 p.p. Em

seguida, o fluxo de capitais contribuiu com 0,89 p.p. ao crescimento teórico do período. Já os

termos de troca e os pagamentos com serviços da dívida reduziram a taxa teórica em -0,03

p.p. e -0,52 p.p., respectivamente.

Em síntese, analisando empiricamente a economia brasileira para os dois períodos de

governo, houve indícios de que a restrição externa da economia brasileira se deslocou

favoravelmente de um período de graves crises externas, como no governo FHC, para um

período com melhores condições externas, marcado pelo boom de commodities, como o

governo Lula, em que a grave crise internacional de 2008 teve um impacto menor na restrição

externa ao crescimento do que as crises internacionais anteriores.

Porém, ainda que os resultados tenham indicado que a restrição externa no governo

Lula tenha sido relaxada em relação ao governo FHC, a validade dos modelos original e do

modelo de Moreno-Brid (2003) nesses dois períodos, separadamente, confirmam a hipótese

de restrição externa ao crescimento da economia brasileira nesses períodos. E, considerando o

período completo, mesmo com a melhora dos indicadores de vulnerabilidade externa da

economia brasileira, explicitados principalmente na redução da dívida externa líquida,

verificou-se a manutenção da restrição externa como uma condição estrutural da economia

brasileira, sendo, portanto, um fator ainda não completamente superado.

Page 81: UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS CENTRO DE CIÊNCIAS … · Sorocaba – SP 2017 . UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS CENTRO DE CIÊNCIAS EM GESTÃO E TECNOLOGIA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO

81

7. REFERÊNCIAS

ARAUJO R.A., LIMA, G., “A structural economic dynamics approach to balance of

payments constrained growth”, Cambridge Journal of Economics, September, 2007

BACHA, E. L. “A three-gap model of foreign transfers and the GDP growth rate in

developing countries”, Journal of Development Economics, V. 32, No. 2, 1990.

BCB. Séries Históricas do Balanço de Pagamentos. Disponível em:

<http://www.bcb.gov.br/htms/infecon/Seriehist_bpm6.asp>. Acesso em: 6 out. 2016 (a).

______. Taxa de câmbio livre (média) – R$/US$ - (anual). Sistema gerenciador de séries

temporais – tabela 3694. Disponível em: <https://www3.bcb.gov.br/sgspub/localizarse-

ries/localizarSeries.do?method=prepararTelaLocalizarSeries>. Acesso em: 13 Out. 2016 (b).

______. PIB mensal - Valores correntes (R$ milhões). Sistema gerenciador de séries

temporais – tabela 4380. Disponível em: <https://www3.bcb.gov.br/sgspub/localizarse-

ries/localizarSeries.do?method=prepararTelaLocalizarSeries>. Acesso em: 13 Out. 2016 (c).

______. Dívida externa líquida/PIB- (%) (anual). Sistema gerenciador de séries temporais –

tabela 11420. Disponível em: <https://www3.bcb.gov.br/sgspub/localizarse-

ries/localizarSeries.do?method=prepararTelaLocalizarSeries>. Acesso em: 13 Mai. 2017 (a)

______. Reservas internacionais - Conceito liquidez – US$ bilhões - Total (anual) Sistema

gerenciador de séries temporais – tabela 3545. Disponível em:

<https://www3.bcb.gov.br/sgspub/localizarseries/localizarSeries.do?method=prepararTelaLoc

alizarSeries>. Acesso em: 13 Mai. 2017 (b).

BARBOSA-FILHO N., “The balance of payments constraint: from balanced trade to

sustainable debt”, BNL Quarterly Review, December, 2001.

______.“Exchange rates, growth and inflation”. Em: Conference on Development and

Change, Campos do Jordão, SP, 2006. Disponível em

http://www.policyinnovations.org/ideas/ policy_library/data/01383.

Page 82: UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS CENTRO DE CIÊNCIAS … · Sorocaba – SP 2017 . UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS CENTRO DE CIÊNCIAS EM GESTÃO E TECNOLOGIA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO

82

BARRO, R. Government Spending in a Simple Model of Endogenous Growth. The Journal of

Political Economy, vol.98, Nº 5, p.103-125, oct. 1990.

BARRO, R. J.,; SALA-I-MARTIN, X. Economic Growth, Second Edition. Cambridge, MA:

MIT Press, 2004

BASSO, M. C. A Economia Brasileira sob Restrição do Balanço de Pagamentos: Uma

Análise Empírica da Lei de Thirlwall no Boom das Commodities. In: Anais do XLII Encontro

Nacional de Economia. ANPEC – Associação Nacional dos Centros de Pós-graduação em

Economia, 2016.

BÉRTOLA, L.; HIGACHI, H.; PORCILE, G. Balance-of-payments-constrained growth in

Brazil: a test of Thirlwall's Law, 1890-1973. Journal of Post Keynesian Economics, v. 25, n.

11, 2002.

BRESSER-PEREIRA, L.C., MARCONI, N. “Doença Holandesa e Desindustrialização”.

Revista Valor, em 25/11/2009.

BUENO, R. L. S. Econometria de Séries Temporais. São Paulo: Cengage Learning, 2008

CARCANHOLO, M. D.(2010). Inserção externa e vulnerabilidade da economia brasileira no

governo Lula. In. Os anos Lula: contribuições para um balanço crítico 2003-2010, Rio de

Janeiro. ed. Garamond, 2010, p. 109-131.

CARNEIRO, R. Desenvolvimento em crise: a economia brasileira no último quarto do século

XX. São Paulo: Editora Unesp/IE. Unicamp, 2002.

CARMO, A. S. S.; RAIHER, A. P.; STEGE, A. L. O efeito das exportações no crescimento

econômico das microrregiões brasileiras: uma análise espacial com dados em painel. Estudos

Econômicos, São Paulo, v. 47, n. 1, p. 153-183, Mar. 2017.

CARVALHO, David Ferreira; CARVALHO, André Cutrim. Desindustrialização e

reprimarização da economia brasileira contemporânea num contexto de crise financeira

global: conceitos e evidências. Revista Economia Ensaios, v. 26, n. 1, 2013.

Page 83: UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS CENTRO DE CIÊNCIAS … · Sorocaba – SP 2017 . UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS CENTRO DE CIÊNCIAS EM GESTÃO E TECNOLOGIA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO

83

CARVALHO, V.; LIMA, G. T. A restrição externa e a perda de dinamismo da economia

brasileira: investigando relações entre estrutura produtiva e crescimento econômico. Anais

eletrônicos do XXXV Encontro Nacional de Economia, Recife, Dezembro, 2007. Disponível

em: http://www.anpec.org.br/encontro2007/artigos/A07A013.pdf. Acessado em: 29/09/2015.

______. Estrutura produtiva, restrição externa e crescimento econômico: a experiência

brasileira. Economia e Sociedade, v.18, n.1, p. 31-60, abr. 2009.

CARVALHO, V. R. A restrição externa e a perda de dinamismo da economia brasileira:

investigando as relações entre estrutura produtiva e crescimento econômico. Dissertação

(Mestrado em Economia) – Programa de Pós-Graduação em Economia, FEA-USP,

Universidade de São Paulo, São Paulo, 2006

CASTRO, Lavínia Barros de. Privatização, abertura e desindexação: a primeira metade dos

anos 90. In: GAMBIAGI, F.; VILLELLA, A.; BARROS DE CASTRO, L; HERMMAN, J.

Economia Brasileira e Contemporânea (1945-2010) Editora Elsivier/Campus, 2012.

CIMOLI, M.; PORCILE, G. Technology, structural change and BOP-constrained growth: a

structuralist toolbox. Cambridge Journal of Economics, pg. 1-23, 2013.

COUTINHO, L. A especialização regressiva: um balanço do desempenho industrial pós-

estabilização, in: VELLOSO, J. P. R. [org.] (1997). Brasil: desafios de um país em

transformação. Rio de Janeiro: José Olympio, 1997.

CYSNE, R. P. Passivo externo líquido versus dívida externa líquida. Revista de conjuntura

econômica, v. 62, n.6. FGV, 2008. Disponível em:

http://www.fgv.br/professor/rubens/HOMEPAGE/ARTIGOS_E_REPORTAGENS_DE_POL

_ECON/Artigos_Publicados/2008/Passivo%20Externo.pdf. Acesso em 25 maio 2017.

DOSI, G., FABIANI, S. Convergence and divergence in long term growth of open economies.

In: SILVERBERG, G., SOETE, L. The economics of growth and technical change.

Aldershot: Edward Elgar, 1994.

ENDERS, W. Applied econometric Time Series. Nova York: John Wiley & Sons, Segunda

Edição, 2004.

Page 84: UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS CENTRO DE CIÊNCIAS … · Sorocaba – SP 2017 . UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS CENTRO DE CIÊNCIAS EM GESTÃO E TECNOLOGIA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO

84

FERRARI, M. A. R.; FREITAS, F. N. P.; BARBOSA FILHO, N. A taxa de câmbio real e a

restrição externa: uma proposta de releitura com elasticidades endógenas. Revista de

Economia Política, v. 33, n. 1, p. 60-81, 2013.

FERRAZ, F. C. Crise Financeira Global: Impactos na Economia Brasileira, Política Economia

e Resultados. Dissertação de Mestrado apresentada ao Programa de Pós-Graduação em

Economia (PPGE) do Instituto de Economia da Universidade Federal do Rio de Janeiro, 2013.

FILHO, J; CAMPELO, A. N.; A Macroeconomia do Crescimento Econômico: Progresso

Tecnológico, Capital Humano e o Papel do Gasto Público Produtivo na geração de

Crescimento Econômico Sustentável]. Recife. V Encontro de Economistas de Língua

Portuguesa, 5 - 7 de novembro de 2003.

IMF. Regional Economic Outlook: Western Hemisphere. Northern Spring, Southern Chills,

April. Washington, DC: International Monetary Fund, 2015.

FUNCEXDATA. Disponível em: < http://www.funcexdata.com.br> Acesso em 25 mar. 2017.

GIAMBIAGI, Fabio. Rompendo com a Ruptura: O Governo Lula. In. Economia Brasileira

contemporânea: 1945-2010, Editora Campus, cap. 8, 2012.

GIAMBIAGI, F.; PINHEIRO, A. C. Além da euforia: riscos e lacunas do modelo brasileiro

de desenvolvimento. Rio de Janeiro: Elsevier, 2012.

GREENE, W. H. Econometric Analysis. 5a Ed ed.[S.l: s.n.], 2003.

GOUVÊA, R. Padrão de especialização produtiva e crescimento econômico sob restrição

externa: uma análise empírica. Dissertação (Mestrado em Economia) – Programa de Pós-

Graduação em Economia, FEA-USP, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2010.

GOUVEA, R. R.; LIMA, G. T. Mudança estrutural e crescimento sob restrição externa na

economia brasileira: uma análise empírica do período 1962-2006 com considerações sobre o

II PND. Econ. soc., Campinas , v. 22, n. 1, p. 107-139, Abril. 2013.

HOLLAND, M.; VIEIRA, F., CANUTO,O. Economic growth and the balance-of-payments

constraint in Latin America. Investigación Económica, vol. LXIII, enero-marzo, 2004.

Page 85: UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS CENTRO DE CIÊNCIAS … · Sorocaba – SP 2017 . UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS CENTRO DE CIÊNCIAS EM GESTÃO E TECNOLOGIA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO

85

HILGEMBERG, C. M. A. T. Efeitos da abertura comercial e das mudanças estruturais sobre o

emprego na economia brasileira: uma análise para a década de 1990. 2003. Tese (Doutorado

em Economia Aplicada) - Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz, Universidade de

São Paulo, Piracicaba, 2003.

IPEADATA. Macroeconômico. IPCA- geral - índice (dez. 1993 = 100) (mensal). Disponível

em: < http://ipeadata.gov.br/Default.aspx>. Acesso em: 11 out 2016 (a).

______. Macroeconômico. IPA (USA)- índice - média 1982=100 (mensal). Disponível em: <

http://ipeadata.gov.br/Default.aspx>. Acesso em: 11 out 2016 (b).

______. Macroeconômico. Series de produção industrial – quantum – índice dessazonalizado.

Disponível em: < http://ipeadata.gov.br/Default.aspx>. Acesso em: 16 maio 2017 (a).

______. Macroeconômico. PIB- preços de mercado - var. real anual - ref. 2000 - (% a.a.).

Disponível em: < http://ipeadata.gov.br/Default.aspx>. Acesso em: 11 janeiro 2017 (b).

JAYME JR., F. G. Balance-of-payments constrained economic growth in Brazil. Revista de

Economia Política, v. 23, n. 1, 2003.

LAMEIRA, V. J. Uma revisão sobre a economia brasileira e o mercado financeiro após o

plano real: As mudanças e a evolução do mercado de capitais entre 1995 e 2002. Revista

Contabilidade & Finanças - USP, São Paulo, n. 35, p. 96 - 110, maio/agosto, 2004.

LAPLANE, M.; SARTI, F. Prometeu Acorrentado: o Brasil na indústria mundial no início do

século XXI. Política Econômica em Foco, n. 7, seção IX, Campinas: NEIT/IE/UNICAMP,

2006.

LELIS, M. T. C. ; SILVEIRA, E. M. C. ; CUNHA, A. M. . Crescimento e Restrição Externa

em Tempos de Especialização Regressiva: uma análise para o Brasil no período 1995-2013.

In: 43º Encontro Nacional de Economia (ANPEC 2015), Florianópolis, SC, dezembro 2015,

Anais Eletrônicos. Disponível em: http://econpapers.repec.org/paper/anpen2015/084.htm.

Acesso em: março de 2017.

Page 86: UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS CENTRO DE CIÊNCIAS … · Sorocaba – SP 2017 . UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS CENTRO DE CIÊNCIAS EM GESTÃO E TECNOLOGIA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO

86

LEZCANO, J. M. Modelos de crescimento sob restrições externas: uma abordagem à la

Thirlwall para o mercosul. Dissertação (Mestrado em Economia) – Programa de Pós-

Graduação em Economia, UFSCAR – Campus de Sorocaba, Universidade Federal de São

Carlos, Sorocaba, 2012.

LÓPEZ, J.; CRUZ, A. "Thirlwall's law" and beyond: the Latin American experience. Journal

of Post Keynesian Economics, v. 22, n. 3, p. 477-495, 2000.

LUCAS, R. On the Mechanics of Economic Development. Journal of Monetary Economics.

V.22. p.3-42, 1988.

MCCOMBIE, J. S. L. Thirlwall’s Law and balance-of.payments-constrained growth: a

comment on the debate. Applied Economics, Vol 21, p. 9-20, 1989.

MCCOMBIE, J. S. L., THIRLWALL A. P. “Economic growth and the balance of payments

constraint revisited”, in Arestis P., Palma P. and Sawyer M. (eds.), Markets, unemployment

and economic policy: essays in honour of G. Harcourt, vol. 2, London: Edward Elgar, 1997

MCGREGOR P. and SWALES K., “Professor Thirlwall and balance of payments

constrained growth”, Applied Economics, Fevereiro, 1985.

MILANI, Ana Maria R.. Questões para se pensar o desenvolvimento no Brasil: especialização

regressiva e pauta exportadora no período de 2003-2010. In: II Conferência de

Desenvolvimento - II CODE, 2011, Brasília. Anais do I Circuito de Debates acadêmicos Ipea

e Associações de Pós-graduação em Ciências Humansa, 2011.

MORENO-BRID, J. C. On capital flows and the balance-of-payments constrained growth

model. Journal of Post Keynesian Economics, v.21, n.2, p. 283-98, 1998-99.

______. Capital flows, interest payments and the balance-of-payments constrained growth

model: a theoretical and empirical analysis. Metroeconomica, v.54, n.2, p.346-65, 2003.

NAKATANI, P.; OLIVEIRA, F. A. Política econômica brasileira de Collor a Lula: 1990-

2007. In: MARQUES, R. M.; FERREIRA, M. R. J. (Org.). O Brasil sob uma nova ordem: a

Page 87: UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS CENTRO DE CIÊNCIAS … · Sorocaba – SP 2017 . UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS CENTRO DE CIÊNCIAS EM GESTÃO E TECNOLOGIA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO

87

economia brasileira contemporânea -uma análise dos governos Collor a Lula. São Paulo:

Saraiva, 2010. p. 21-50.

NASSIF, A.; FEIJÓ, C.; ARAUJO, E. Structural change and economic development: is

Brazil catching up or falling behind? Cambridge Journal of Economics, p. 1-26, 2014.

NOIJE, P. V.; CONTI, B.. A vulnerabilidade externa decorrente da Posição Internacional de

Investimentos e do fluxo de rendas da economia brasileira no período 2001-2010. Nova econ.,

Belo Horizonte, v. 26, n. 1, p. 207-239, Abril, 2016. Disponível em:

http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S010363512016000100207&lng=en

&nrm=iso. Acesso em 08 junho de 2017.

OREIRO, J. L. Progresso tecnológico, crescimento econômico e as diferenças internacionais

nas taxas de crescimento da renda per capita: uma crítica aos modelos neoclássicos de

crescimento. Economia e Sociedade, n. 12, p. 41-67, jun. 1999.

PASTORE, A. C.; PINOTTI, M. C.. Taxa de câmbio e os saldos comerciais. São Paulo, s/e,

(mimeo), 1997.

PEREIRA, L. V.. Déficits, uma questão estrutural. IBRE/FGV. Revista conjuntura

econômica. Vol. 68 nº 03, março, 2014. Disponível em:

http://portalibre.fgv.br/main.jsp?lumPageId=4028818B37A00A200137A4099DA13ADA&co

ntentId=8A7C82C544B314F90144C12341D770DF

PREBISCH, R. O desenvolvimento da economia da América Latina e alguns de seus

problemas principais. In: BIELSCHOWSKY, R. (Org.). Cinqüenta anos de pensamento na

Cepal. Rio de Janeiro: Record, 2000a.

______. Problemas teóricos e práticos do crescimento econômico. In: BIELSCHOWSKY, R.

(Org.). Cinqüenta anos de pensamento na Cepal. Rio de Janeiro: Record, 2000b.

REBELO, S. Long run policy analysis and long run growth. Journal of Political Economy, v.

99, n. 5, 1991.

Page 88: UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS CENTRO DE CIÊNCIAS … · Sorocaba – SP 2017 . UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS CENTRO DE CIÊNCIAS EM GESTÃO E TECNOLOGIA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO

88

RODRIGUES, T. P. F. Política monetária, inflação e setor externo: ensaios de

macroeconomia aplicada. Tese (Doutorado em Economia) – Pontifícia Universidade Católica

do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2008.

ROMER, PAUL M. Increasing Returns and Long-Run Growth. Journal of Political

Economy, vol.94, nº 5, 1986.

SARTI, F.; HIRATUKA, C. Desenvolvimento industrial no Brasil oportunidades e desafios

futuros. Texto para discussão IE/UNICAMP, n.187, 2011.

SARTORIS, A. Estatística e Introdução à Econometria. Editora Saraiva, 1ª Ed, São Paulo,

2008

SICSÚ, J. Rumos e definições da política econômica brasileira: do plano A de FHC para o

plano A+ de Lula. In: SICSÚ, J. Emprego, juros e câmbio – Finanças globais e desemprego.

Rio de Janeiro: Elsevier, 2007. Cap. 14

SILVA, J. A.; LOURENÇO, A. L. C. "Restrição externa: a economia brasileira na década

recente e o modelo de Thirlwall", Revista Economia & Tecnologia, Curitiba, v. 10, n. 4, p.

09-35, out./dez. 2014

SOARES, C.; TEIXEIRA, J. R. A Lei de Thirlwall Multissetorial: novas evidências para o

caso brasileiro. In: Anais do XL Encontro Nacional de Economia ANPEC – Associação

Nacional dos Centros de Pós-graduação em Economia, 2014

SOLOW, R. M. A contribution to the theory of economic growth. Quarterly Journal of

Economics, n. 70, p. 65-94, 1956.

TAVARES, Maria Conceição. A economia política do Real. In: MERCADANTE, A. (Org.).

O Brasil pós-Real: a política econômica em debate. Campinas (SP): Instituto de Economia da

Universidade Estadual de Campinas, 1997. p. 101-129.

THIRLWALL A. P. The balance of payments constraint as an explanation of international

growth rates differences. Banca Nazionale del Lavoro Quarterly Review, v.128, p. 45-53,

1979.

Page 89: UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS CENTRO DE CIÊNCIAS … · Sorocaba – SP 2017 . UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS CENTRO DE CIÊNCIAS EM GESTÃO E TECNOLOGIA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO

89

______. A natureza do crescimento econômico: um referencial alternativo para compreender

o desempenho das nações. Brasília, IPEA, 2005.

______. Balance of payments constrained growth models: history and overview. PSL

Quartely Review, vol 64, n. 259, p.307-351, 2011

THIRLWALL A. P.; HUSSAIN M. N. The balance of payments constraint, capital flows and

growth rates differences between developing countries. Oxford Economic Papers, v.34, n.3, p.

498-509, 1982.

URRACA-RUIZ, A.; BRITO, J. N. P.; SOUZA, K. S. G. Qualificando o caráter ‘regressivo’

da especialização industrial do Brasil. Revista Econômica - Niterói, v.15, n. 1, p. 115-139

junho de 2013.

ZANI, S. C. Filtros ótimos que conservam qualquer ordem de tendência. Tese (doutorado) -

Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, Departamento de Engenharia Elétrica, Rio

de Janeiro, 2008.

Page 90: UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS CENTRO DE CIÊNCIAS … · Sorocaba – SP 2017 . UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS CENTRO DE CIÊNCIAS EM GESTÃO E TECNOLOGIA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO

90

ANEXOS

ANEXO 1 – Testes de raiz unitária

ANEXO 2 – Cointegração - Estimação da função importação período FHC

ANEXO 3 – Cointegração - Estimação da função importação período LULA

ANEXO 4 – Cointegração - Estimação da função importação período completo

Page 91: UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS CENTRO DE CIÊNCIAS … · Sorocaba – SP 2017 . UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS CENTRO DE CIÊNCIAS EM GESTÃO E TECNOLOGIA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO

91

ANEXO 1 – Testes de raiz unitária

Testes de Raíz Unitária para as Variáveis em Nível

Teste Variável Resultado teste

ADF

Ln Câmbio Real Não rejeita presença RU a 1%, 5% e 10%

Ln Importação Não rejeita presença RU a 1%, 5% e 10%

Ln PIB Não rejeita presença RU a 1%, 5% e 10%

KPSS

Ln Câmbio Real Não rejeita presença RU a 1%, 5% e 10%

Ln Importação Não rejeita presença RU a 1%, 5% e 10%

Ln PIB Não rejeita presença RU a 1%, 5% e 10%

PP

Ln Câmbio Real Não rejeita presença RU a 1%, 5% e 10%

Ln Importação Não rejeita presença RU a 1%, 5% e 10%

Ln PIB Não rejeita presença RU a 1%, 5% e 10%

Fonte: Elaboração própria com base no resultado do Software Eviews 8.0

Os testes ADF, KPSS e PP realizados para as variáveis presentes na função de

importação tiveram como resultado a não rejeição da hipótese nula de presença de raíz

unitária.

Page 92: UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS CENTRO DE CIÊNCIAS … · Sorocaba – SP 2017 . UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS CENTRO DE CIÊNCIAS EM GESTÃO E TECNOLOGIA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO

92

ANEXO 2 – Cointegração - Estimação da função importação período FHC

1. Seleção da ordem do VAR

VAR Lag Order Selection Criteria

Endogenous variables: LOG(IMPORTACAO_SA) LOG(PIB_DEFLA_SA)

LOG(CAMBIO_REAL)

Date: 03/26/17 Time: 21:14

Sample: 1995M01 2002M12

Included observations: 86

Lag LogL LR FPE AIC SC HQ

1 428.1489 NA 1.17e-08 -9.747649 -9.490799 -9.644279

2 458.6796 56.80123 7.11e-09 -10.24836 -9.734662* -10.04162

3 475.6059 30.30995 5.93e-09 -10.43270 -9.662145 -10.12258*

4 483.9450 14.35095 6.04e-09 -10.41733 -9.389924 -10.00384

5 489.1857 8.653244 6.62e-09 -10.32990 -9.045648 -9.813048

6 503.4124 22.49812* 5.91e-09* -10.45145* -8.910350 -9.831230

7 508.3763 7.503558 6.57e-09 -10.35759 -8.559637 -9.633996

8 516.5165 11.73701 6.81e-09 -10.33759 -8.282791 -9.510630

9 521.7297 7.153028 7.58e-09 -10.24953 -7.937876 -9.319196

10 526.8782 6.704989 8.51e-09 -10.15996 -7.591455 -9.126255

* indicates lag order selected by the criterion

LR: sequential modified LR test statistic (each test at 5%

level)

FPE: Final prediction error

AIC: Akaike information criterion

SC: Schwarz information criterion

HQ: Hannan-Quinn information criterion

Page 93: UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS CENTRO DE CIÊNCIAS … · Sorocaba – SP 2017 . UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS CENTRO DE CIÊNCIAS EM GESTÃO E TECNOLOGIA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO

93

2. Escolha dos termos deterministas

Date: 03/26/17 Time: 21:20

Sample: 1995M01 2002M12

Included observations: 90 Series: LOG(IMPORTACAO_SA) LOG(PIB_DEFLA_SA) LOG(CAMBIO_REAL)

Lags interval: 1 to 5

Selected (0.05 level*) Number of Cointegrating Relations by Model Data Trend: None None Linear Linear Quadratic

Test Type No Intercept Intercept Intercept Intercept Intercept

No Trend No Trend No Trend Trend Trend

Trace 0 1 0 2 2

Max-Eig 0 1 1 2 2 *Critical values based on MacKinnon-Haug-Michelis (1999)

Information Criteria by Rank and Model Data Trend: None None Linear Linear Quadratic

Rank or No Intercept Intercept Intercept Intercept Intercept

No. of CEs No Trend No Trend No Trend Trend Trend Log Likelihood by Rank (rows) and Model (columns)

0 508.5697 508.5697 513.4393 513.4393 515.0606

1 513.5275 521.0496 525.8450 526.4841 528.0330

2 515.6539 525.8782 527.6395 537.9551 538.6222

3 515.8758 527.6564 527.6564 539.7387 539.7387 Akaike Information Criteria by Rank (rows) and Model (columns)

0 -10.30155 -10.30155 -10.34310 -10.34310 -10.31246

1 -10.27839 -10.42332 -10.48544 -10.47742 -10.46740

2 -10.19231 -10.37507 -10.39199 -10.57678* -10.56938

3 -10.06391 -10.25903 -10.25903 -10.46086 -10.46086 Schwarz Criteria by Rank (rows) and Model (columns)

0 -9.051643* -9.051643* -9.009864 -9.009864 -8.895898

1 -8.861830 -8.978990 -8.985558 -8.949763 -8.884186

2 -8.609095 -8.736306 -8.725448 -8.854690 -8.819515

3 -8.314040 -8.425837 -8.425837 -8.544339 -8.544339

Page 94: UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS CENTRO DE CIÊNCIAS … · Sorocaba – SP 2017 . UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS CENTRO DE CIÊNCIAS EM GESTÃO E TECNOLOGIA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO

94

3. Vetor de Cointegração e Testes de Cointegração

Sample (adjusted): 1995M07 2002M12

Included observations: 90 after adjustments

Trend assumption: No deterministic trend (restricted constant)

Series: LOG(IMPORTACAO_SA) LOG(PIB_DEFLA_SA)

LOG(CAMBIO_REAL)

Lags interval (in first differences): 1 to 5

Unrestricted Cointegration Rank Test (Trace)

Hypothesized Trace 0.05

No. of CE(s) Eigenvalue Statistic Critical Value Prob.**

None * 0.242197 38.17342 35.19275 0.0231

At most 1 0.101745 13.21355 20.26184 0.3470

At most 2 0.038745 3.556406 9.164546 0.4822

Trace test indicates 1 cointegrating eqn(s) at the 0.05 level

* denotes rejection of the hypothesis at the 0.05 level

**MacKinnon-Haug-Michelis (1999) p-values

Unrestricted Cointegration Rank Test (Maximum Eigenvalue)

Hypothesized Max-Eigen 0.05

No. of CE(s) Eigenvalue Statistic Critical Value Prob.**

None * 0.242197 24.95987 22.29962 0.0207

At most 1 0.101745 9.657144 15.89210 0.3666

At most 2 0.038745 3.556406 9.164546 0.4822

Max-eigenvalue test indicates 1 cointegrating eqn(s) at the 0.05

level

* denotes rejection of the hypothesis at the 0.05 level

**MacKinnon-Haug-Michelis (1999) p-values

Os testes do Traço e do Autovalor indicaram que não é possível rejeitar a hipótese de

presença de pelo menos um vetor de cointegração.

Page 95: UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS CENTRO DE CIÊNCIAS … · Sorocaba – SP 2017 . UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS CENTRO DE CIÊNCIAS EM GESTÃO E TECNOLOGIA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO

95

Assim, obtém-se a seguinte relação de longo prazo:

𝒍𝒏 𝑴𝑭𝑯𝑪 = 𝟑, 𝟕𝟏 𝒍𝒏𝒀 − 𝟎, 𝟗 𝒍𝒏 (𝑷𝒇 + 𝑬 − 𝑷𝒅)

Vector Error Correction Estimates

Date: 03/26/17 Time: 21:19

Sample (adjusted): 1995M07 2002M12

Included observations: 90 after adjustments

Standard errors in ( ) & t-statistics in [ ]

Cointegrating Eq: CointEq1

LOG(IMPORTACAO_SA(-1)) 1.000000

LOG(PIB_DEFLA_SA(-1)) -3.713986

(0.50892)

[-7.29774]

LOG(CAMBIO_REAL(-1)) 0.903264

(0.13370)

[ 6.75610]

C 39.66781

(6.61519)

[ 5.99647]

Error Correction:

D(LOG(IMPORTA

CAO_SA))

D(LOG(PIB_DEFL

A_SA))

D(LOG(CAMBIO_

REAL))

CointEq1 -0.131187 0.044035 -0.183072

(0.11178) (0.02719) (0.05235)

[-1.17357] [ 1.61951] [-3.49729]

D(LOG(IMPORTACAO_SA(-

1))) -0.633065 -0.035697 0.053908

(0.14069) (0.03422) (0.06588)

[-4.49969] [-1.04311] [ 0.81823]

D(LOG(IMPORTACAO_SA(--0.106170 0.036475 -0.009419

Page 96: UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS CENTRO DE CIÊNCIAS … · Sorocaba – SP 2017 . UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS CENTRO DE CIÊNCIAS EM GESTÃO E TECNOLOGIA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO

96

2)))

(0.15435) (0.03754) (0.07228)

[-0.68785] [ 0.97150] [-0.13031]

D(LOG(IMPORTACAO_SA(-

3))) 0.059608 0.022902 0.097105

(0.15239) (0.03707) (0.07136)

[ 0.39116] [ 0.61786] [ 1.36077]

D(LOG(IMPORTACAO_SA(-

4))) -0.060019 -0.047848 0.097950

(0.14194) (0.03453) (0.06647)

[-0.42286] [-1.38590] [ 1.47367]

D(LOG(IMPORTACAO_SA(-

5))) -0.159309 -0.088792 0.102464

(0.10787) (0.02624) (0.05051)

[-1.47693] [-3.38420] [ 2.02853]

D(LOG(PIB_DEFLA_SA(-1))) -1.458888 0.000509 -0.605880

(0.56347) (0.13706) (0.26386)

[-2.58912] [ 0.00371] [-2.29619]

D(LOG(PIB_DEFLA_SA(-2))) -0.214992 -0.048573 -0.593221

(0.57561) (0.14001) (0.26955)

[-0.37350] [-0.34692] [-2.20081]

D(LOG(PIB_DEFLA_SA(-3))) 0.611603 -0.000289 -0.736974

(0.51888) (0.12621) (0.24298)

[ 1.17870] [-0.00229] [-3.03304]

D(LOG(PIB_DEFLA_SA(-4))) -0.535803 -0.147198 -0.105630

(0.43028) (0.10466) (0.20149)

[-1.24524] [-1.40640] [-0.52424]

D(LOG(PIB_DEFLA_SA(-5))) -0.152830 0.067719 -0.212209

(0.41846) (0.10179) (0.19596)

[-0.36522] [ 0.66530] [-1.08293]

D(LOG(CAMBIO_REAL(-1))) -0.316237 0.102060 0.635304

Page 97: UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS CENTRO DE CIÊNCIAS … · Sorocaba – SP 2017 . UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS CENTRO DE CIÊNCIAS EM GESTÃO E TECNOLOGIA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO

97

(0.24453) (0.05948) (0.11451)

[-1.29325] [ 1.71588] [ 5.54811]

D(LOG(CAMBIO_REAL(-2))) 0.529421 0.009890 -0.416694

(0.35265) (0.08578) (0.16514)

[ 1.50124] [ 0.11529] [-2.52324]

D(LOG(CAMBIO_REAL(-3))) -0.606158 -0.117224 0.271655

(0.43424) (0.10563) (0.20335)

[-1.39591] [-1.10981] [ 1.33592]

D(LOG(CAMBIO_REAL(-4))) 0.328372 0.131601 0.133721

(0.39352) (0.09572) (0.18428)

[ 0.83445] [ 1.37484] [ 0.72565]

D(LOG(CAMBIO_REAL(-5))) -0.275597 -0.168506 -0.039339

(0.29547) (0.07187) (0.13837)

[-0.93273] [-2.34453] [-0.28431]

R-squared 0.581727 0.350142 0.443553

Adj. R-squared 0.496942 0.218414 0.330760

Sum sq. resids 0.500199 0.029595 0.109688

S.E. equation 0.082216 0.019998 0.038500

F-statistic 6.861188 2.658072 3.932449

Log likelihood 105.9607 233.1934 174.2421

Akaike AIC -1.999126 -4.826520 -3.516491

Schwarz SC -1.554715 -4.382109 -3.072080

Mean dependent -0.002062 0.002821 0.009772

S.D. dependent 0.115917 0.022621 0.047062

Determinant resid covariance (dof adj.) 3.38E-09

Determinant resid covariance 1.88E-09

Log likelihood 521.0496

Akaike information criterion -10.42332

Schwarz criterion -8.978990

Page 98: UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS CENTRO DE CIÊNCIAS … · Sorocaba – SP 2017 . UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS CENTRO DE CIÊNCIAS EM GESTÃO E TECNOLOGIA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO

98

ANEXO 3 – Cointegração - Estimação da função importação período LULA

1. Seleção da ordem do VAR

VAR Lag Order Selection Criteria

Endogenous variables: LOG(IMPORTACAO_SA) LOG(PIB_DEFLA_SA)

LOG(CAMBIO_REAL)

Exogenous variables:

Date: 03/26/17 Time: 21:26

Sample: 2003M01 2010M12

Included observations: 96

Lag LogL LR FPE AIC SC HQ

1 577.1033 NA 1.45e-09 -11.83549 -11.59508* -11.73831

2 591.4721 26.94144 1.30e-09 -11.94734 -11.46652 -11.75298

3 606.6489 27.50789 1.14e-09 -12.07602 -11.35479 -11.78449*

4 613.5896 12.14622 1.20e-09 -12.03312 -11.07149 -11.64441

5 624.1151 17.76189 1.16e-09 -12.06490 -10.86286 -11.57901

6 630.8865 11.00352 1.23e-09 -12.01847 -10.57602 -11.43541

7 636.6201 8.958691 1.32e-09 -11.95042 -10.26756 -11.27018

8 647.0374 15.62599 1.30e-09 -11.97995 -10.05668 -11.20253

9 663.4823 23.63955* 1.13e-09* -12.13505* -9.971379 -11.26046

10 672.3826 12.23783 1.15e-09 -12.13297 -9.728893 -11.16120

* indicates lag order selected by the criterion

LR: sequential modified LR test statistic (each test at 5% level)

FPE: Final prediction error

AIC: Akaike information criterion

SC: Schwarz information criterion

HQ: Hannan-Quinn information criterion

Page 99: UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS CENTRO DE CIÊNCIAS … · Sorocaba – SP 2017 . UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS CENTRO DE CIÊNCIAS EM GESTÃO E TECNOLOGIA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO

99

2. Escolha dos termos deterministas

Date: 03/26/17 Time: 21:35

Sample: 2003M01 2010M12

Included observations: 96 Series: LOG(IMPORTACAO_SA) LOG(PIB_DEFLA_SA) LOG(CAMBIO_REAL)

Lags interval: 1 to 8

Selected (0.05 level*) Number of Cointegrating Relations by Model Data Trend: None None Linear Linear Quadratic

Test Type No Intercept Intercept Intercept Intercept Intercept

No Trend No Trend No Trend Trend Trend

Trace 3 2 0 0 0

Max-Eig 3 1 0 0 0 *Critical values based on MacKinnon-Haug-Michelis (1999)

Information Criteria by Rank and Model Data Trend: None None Linear Linear Quadratic

Rank or No Intercept Intercept Intercept Intercept Intercept

No. of CEs No Trend No Trend No Trend Trend Trend Log Likelihood by Rank (rows) and Model (columns)

0 639.5536 639.5536 653.3658 653.3658 656.4937

1 654.3771 654.9513 661.0908 665.2896 667.9388

2 661.3891 662.6123 664.1831 669.5110 671.3539

3 663.4823 665.1613 665.1613 672.0868 672.0868 Akaike Information Criteria by Rank (rows) and Model (columns)

0 -11.82403 -11.82403 -12.04929 -12.04929 -12.05195

1 -12.00786 -11.99898 -12.08522 -12.15187 -12.16539*

2 -12.02894 -12.01276 -12.02465 -12.09398 -12.11154

3 -11.94755 -11.92003 -11.92003 -12.00181 -12.00181 Schwarz Criteria by Rank (rows) and Model (columns)

0 -9.900772 -9.900772 -10.04589* -10.04589* -9.968420

1 -9.924323 -9.888740 -9.921556 -9.961486 -9.921586

2 -9.785134 -9.715527 -9.700708 -9.716615 -9.707464

3 -9.543472 -9.435814 -9.435814 -9.437460 -9.437460

Page 100: UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS CENTRO DE CIÊNCIAS … · Sorocaba – SP 2017 . UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS CENTRO DE CIÊNCIAS EM GESTÃO E TECNOLOGIA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO

100

3. Vetor de Cointegração e Testes de Cointegração

Date: 03/26/17 Time: 21:36

Sample: 2003M01 2010M12

Included observations: 96

Trend assumption: No deterministic trend (restricted constant)

Series: LOG(IMPORTACAO_SA) LOG(PIB_DEFLA_SA)

LOG(CAMBIO_REAL)

Lags interval (in first differences): 1 to 8

Unrestricted Cointegration Rank Test (Trace)

Hypothesized Trace 0.05

No. of CE(s) Eigenvalue Statistic Critical Value Prob.**

None * 0.274420 51.21531 35.19275 0.0005

At most 1 * 0.147519 20.42003 20.26184 0.0476

At most 2 0.051719 5.098033 9.164546 0.2729

Trace test indicates 2 cointegrating eqn(s) at the 0.05 level

* denotes rejection of the hypothesis at the 0.05 level

**MacKinnon-Haug-Michelis (1999) p-values

Unrestricted Cointegration Rank Test (Maximum Eigenvalue)

Hypothesized Max-Eigen 0.05

No. of CE(s) Eigenvalue Statistic Critical Value Prob.**

None * 0.274420 30.79529 22.29962 0.0026

At most 1 0.147519 15.32199 15.89210 0.0613

At most 2 0.051719 5.098033 9.164546 0.2729

Max-eigenvalue test indicates 1 cointegrating eqn(s) at the 0.05

level

* denotes rejection of the hypothesis at the 0.05 level

**MacKinnon-Haug-Michelis (1999) p-values

Page 101: UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS CENTRO DE CIÊNCIAS … · Sorocaba – SP 2017 . UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS CENTRO DE CIÊNCIAS EM GESTÃO E TECNOLOGIA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO

101

Os testes do Traço e do Autovalor indicam que não é possível rejeitar a hipótese de

presença de pelo menos um vetor de cointegração.

Dessa forma, obtém-se a seguinte relação de longo prazo:

𝒍𝒏 𝑴𝑳𝑼𝑳𝑨 = 𝟐, 𝟑𝟕 𝒍𝒏𝒀 − 𝟎, 𝟖𝟓 𝒍𝒏 (𝑷𝒇 + 𝑬 − 𝑷𝒅)

Vector Error Correction Estimates

Date: 03/26/17 Time: 21:38

Sample: 2003M01 2010M12

Included observations: 96

Standard errors in ( ) & t-statistics in [ ]

Cointegrating Eq: CointEq1

LOG(IMPORTACAO_SA(

-1)) 1.000000

LOG(PIB_DEFLA_SA(-

1)) -2.377394

(1.47354)

[-1.61339]

LOG(CAMBIO_REAL(-

1)) 0.851551

(0.87712)

[ 0.97085]

C 22.34759

(17.3303)

[ 1.28951]

Error Correction:

D(LOG(IMPO

RTACAO_SA))

D(LOG(PIB_D

EFLA_SA))

D(LOG(CAMB

IO_REAL))

CointEq1 0.011356 -0.014652 0.024469

(0.02190) (0.00520) (0.01015)

[ 0.51858] [-2.81554] [ 2.41030]

D(LOG(IMPORTACAO_S-0.311320 0.054589 -0.035975

Page 102: UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS CENTRO DE CIÊNCIAS … · Sorocaba – SP 2017 . UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS CENTRO DE CIÊNCIAS EM GESTÃO E TECNOLOGIA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO

102

A(-1)))

(0.13838) (0.03289) (0.06416)

[-2.24967] [ 1.65983] [-0.56074]

D(LOG(IMPORTACAO_S

A(-2))) -0.372413 0.002066 0.006636

(0.14889) (0.03539) (0.06903)

[-2.50120] [ 0.05838] [ 0.09613]

D(LOG(IMPORTACAO_S

A(-3))) -0.055929 -0.010692 -0.115351

(0.14990) (0.03563) (0.06950)

[-0.37310] [-0.30012] [-1.65977]

D(LOG(IMPORTACAO_S

A(-4))) -0.144429 -0.032023 0.080612

(0.14881) (0.03537) (0.06899)

[-0.97054] [-0.90547] [ 1.16842]

D(LOG(IMPORTACAO_S

A(-5))) -0.185695 0.000525 0.028200

(0.14435) (0.03431) (0.06692)

[-1.28643] [ 0.01531] [ 0.42139]

D(LOG(IMPORTACAO_S

A(-6))) -0.121899 -0.021802 -0.040970

(0.12913) (0.03069) (0.05987)

[-0.94399] [-0.71042] [-0.68434]

D(LOG(IMPORTACAO_S

A(-7))) 0.128689 -0.009297 0.073490

(0.12311) (0.02926) (0.05707)

[ 1.04534] [-0.31775] [ 1.28762]

D(LOG(IMPORTACAO_S

A(-8))) -0.195081 -0.063562 0.027662

(0.11014) (0.02618) (0.05106)

[-1.77117] [-2.42825] [ 0.54172]

D(LOG(PIB_DEFLA_SA(

-1))) -0.232665 -0.453611 0.165536

Page 103: UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS CENTRO DE CIÊNCIAS … · Sorocaba – SP 2017 . UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS CENTRO DE CIÊNCIAS EM GESTÃO E TECNOLOGIA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO

103

(0.58551) (0.13915) (0.27145)

[-0.39737] [-3.25988] [ 0.60982]

D(LOG(PIB_DEFLA_SA(

-2))) 0.632613 -0.228974 -0.281287

(0.62834) (0.14933) (0.29131)

[ 1.00680] [-1.53334] [-0.96560]

D(LOG(PIB_DEFLA_SA(

-3))) 1.055048 -0.031966 0.588770

(0.65244) (0.15506) (0.30248)

[ 1.61708] [-0.20615] [ 1.94646]

D(LOG(PIB_DEFLA_SA(

-4))) 0.489569 -0.250519 0.003984

(0.68036) (0.16169) (0.31543)

[ 0.71957] [-1.54935] [ 0.01263]

D(LOG(PIB_DEFLA_SA(

-5))) 1.060261 0.002921 0.231276

(0.64200) (0.15258) (0.29764)

[ 1.65149] [ 0.01915] [ 0.77702]

D(LOG(PIB_DEFLA_SA(

-6))) 1.525889 0.125790 0.379573

(0.60870) (0.14466) (0.28220)

[ 2.50680] [ 0.86955] [ 1.34504]

D(LOG(PIB_DEFLA_SA(

-7))) -0.305326 -0.084504 -0.109707

(0.58768) (0.13967) (0.27246)

[-0.51955] [-0.60505] [-0.40266]

D(LOG(PIB_DEFLA_SA(

-8))) 1.974095 0.198139 0.362042

(0.57042) (0.13556) (0.26445)

[ 3.46080] [ 1.46160] [ 1.36902]

D(LOG(CAMBIO_REAL(

-1))) -0.066943 0.046834 0.328763

(0.25503) (0.06061) (0.11824)

Page 104: UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS CENTRO DE CIÊNCIAS … · Sorocaba – SP 2017 . UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS CENTRO DE CIÊNCIAS EM GESTÃO E TECNOLOGIA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO

104

[-0.26249] [ 0.77271] [ 2.78053]

D(LOG(CAMBIO_REAL(

-2))) -0.295229 -0.038784 -0.085920

(0.23898) (0.05680) (0.11080)

[-1.23536] [-0.68287] [-0.77548]

D(LOG(CAMBIO_REAL(

-3))) -0.616648 -0.099956 -0.085829

(0.20946) (0.04978) (0.09711)

[-2.94398] [-2.00797] [-0.88384]

D(LOG(CAMBIO_REAL(

-4))) -0.023218 -0.005064 -0.054622

(0.20999) (0.04991) (0.09736)

[-0.11057] [-0.10146] [-0.56105]

D(LOG(CAMBIO_REAL(

-5))) -0.518433 -0.026814 0.180725

(0.20970) (0.04984) (0.09722)

[-2.47228] [-0.53804] [ 1.85894]

D(LOG(CAMBIO_REAL(

-6))) 0.071599 0.012269 -0.111261

(0.21397) (0.05085) (0.09920)

[ 0.33462] [ 0.24128] [-1.12157]

D(LOG(CAMBIO_REAL(

-7))) 0.159471 0.002256 -0.194312

(0.19989) (0.04751) (0.09267)

[ 0.79779] [ 0.04749] [-2.09677]

D(LOG(CAMBIO_REAL(

-8))) -0.072435 -0.080939 0.012255

(0.20268) (0.04817) (0.09397)

[-0.35738] [-1.68030] [ 0.13042]

R-squared 0.550112 0.429387 0.439171

Adj. R-squared 0.398037 0.236504 0.249596

Sum sq. resids 0.306085 0.017288 0.065790

S.E. equation 0.065659 0.015604 0.030440

F-statistic 3.617372 2.226149 2.316600

Page 105: UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS CENTRO DE CIÊNCIAS … · Sorocaba – SP 2017 . UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS CENTRO DE CIÊNCIAS EM GESTÃO E TECNOLOGIA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO

105

Log likelihood 139.6975 277.6425 213.4927

Akaike AIC -2.389532 -5.263386 -3.926930

Schwarz SC -1.721733 -4.595587 -3.259131

Mean dependent 0.015899 0.005629 -0.009769

S.D. dependent 0.084627 0.017858 0.035140

Determinant resid covariance (dof adj.) 5.89E-10

Determinant resid covariance 2.38E-10

Log likelihood 654.9513

Akaike information criterion -11.99898

Schwarz criterion -9.888740

Page 106: UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS CENTRO DE CIÊNCIAS … · Sorocaba – SP 2017 . UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS CENTRO DE CIÊNCIAS EM GESTÃO E TECNOLOGIA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO

106

ANEXO 4 – Cointegração - Estimação da função importação período completo

1. Seleção da ordem do VAR

VAR Lag Order Selection Criteria

Endogenous variables: LOG(IMPORTACAO_SA) LOG(PIB_DEFLA_SA)

LOG(CAMBIO_REAL)

Exogenous variables:

Date: 03/26/17 Time: 21:07

Sample: 1995M01 2010M12

Included observations: 182

Lag LogL LR FPE AIC SC HQ

1 NA NA 6.13e-09 -10.39572 -10.23728 -10.33149

2 NA 96.21178 3.92e-09 -10.84348 -10.52660* -10.71502

3 NA 34.03937 3.56e-09 -10.94133 -10.46602 -10.74865*

4 NA 26.36694 3.36e-09 -10.99753 -10.36377 -10.74062

5 NA 23.57885 3.23e-09 -11.03982 -10.24762 -10.71868

6 NA 25.00261 3.06e-09 -11.09338 -10.14274 -10.70800

7 NA 17.59496* 3.03e-09* -11.10376* -9.994682 -10.65416

8 NA 14.91689 3.05e-09 -11.09927 -9.831752 -10.58544

9 NA 8.055461 3.20e-09 -11.05234 -9.626381 -10.47428

10 NA 12.58583 3.26e-09 -11.03624 -9.451842 -10.39395

* indicates lag order selected by the criterion

LR: sequential modified LR test statistic (each test at 5% level)

FPE: Final prediction error

AIC: Akaike information criterion

SC: Schwarz information criterion

HQ: Hannan-Quinn information criterion

Page 107: UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS CENTRO DE CIÊNCIAS … · Sorocaba – SP 2017 . UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS CENTRO DE CIÊNCIAS EM GESTÃO E TECNOLOGIA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO

107

2. Escolha dos termos deterministas

Date: 03/26/17 Time: 21:12

Sample: 1995M01 2010M12

Included observations: 185 Series: LOG(IMPORTACAO_SA) LOG(PIB_DEFLA_SA) LOG(CAMBIO_REAL)

Lags interval: 1 to 6

Selected (0.05 level*) Number of Cointegrating Relations by Model Data Trend: None None Linear Linear Quadratic

Test Type No Intercept Intercept Intercept Intercept Intercept

No Trend No Trend No Trend Trend Trend

Trace 1 1 0 0 0

Max-Eig 1 1 0 0 0 *Critical values based on MacKinnon-Haug-Michelis (1999)

Information Criteria by Rank and Model Data Trend: None None Linear Linear Quadratic

Rank or No Intercept Intercept Intercept Intercept Intercept

No. of CEs No Trend No Trend No Trend Trend Trend Log Likelihood by Rank (rows) and Model (columns)

0 1074.994 1074.994 1086.441 1086.441 1089.421

1 1087.510 1088.436 1093.099 1093.914 1096.719

2 1090.135 1094.522 1095.718 1098.986 1100.636

3 1090.309 1096.652 1096.652 1100.980 1100.980 Akaike Information Criteria by Rank (rows) and Model (columns)

0 -11.03777 -11.03777 -11.12909 -11.12909 -11.12888

1 -11.10821 -11.10742 -11.13620 -11.13421 -11.14291*

2 -11.07173 -11.09753 -11.09966 -11.11336 -11.12039

3 -11.00875 -11.04489 -11.04489 -11.05925 -11.05925 Schwarz Criteria by Rank (rows) and Model (columns)

0 -10.09778 -10.09778 -10.13687* -10.13687* -10.08444

1 -10.06377 -10.04557 -10.03954 -10.02014 -9.994029

2 -9.922851 -9.913835 -9.898550 -9.877441 -9.867062

3 -9.755418 -9.739336 -9.739336 -9.701474 -9.701474

Page 108: UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS CENTRO DE CIÊNCIAS … · Sorocaba – SP 2017 . UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS CENTRO DE CIÊNCIAS EM GESTÃO E TECNOLOGIA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO

108

3. Vetor de Cointegração e Testes de Cointegração

Date: 03/26/17 Time: 21:24 Sample (adjusted): 1995M08 2010M12 Included observations: 185 after adjustments Trend assumption: No deterministic trend (restricted constant) Series: LOG(IMPORTACAO_SA) LOG(PIB_DEFLA_SA) LOG(CAMBIO_REAL) Lags interval (in first differences): 1 to 6

Unrestricted Cointegration Rank Test (Trace) Hypothesized Trace 0.05

No. of CE(s) Eigenvalue Statistic Critical Value Prob.** None * 0.135255 43.31593 35.19275 0.0054

At most 1 0.063675 16.43169 20.26184 0.1552 At most 2 0.022765 4.260150 9.164546 0.3748

Trace test indicates 1 cointegrating eqn(s) at the 0.05 level * denotes rejection of the hypothesis at the 0.05 level **MacKinnon-Haug-Michelis (1999) p-values

Unrestricted Cointegration Rank Test (Maximum Eigenvalue) Hypothesized Max-Eigen 0.05

No. of CE(s) Eigenvalue Statistic Critical Value Prob.** None * 0.135255 26.88424 22.29962 0.0107

At most 1 0.063675 12.17154 15.89210 0.1762 At most 2 0.022765 4.260150 9.164546 0.3748

Max-eigenvalue test indicates 1 cointegrating eqn(s) at the 0.05 level * denotes rejection of the hypothesis at the 0.05 level **MacKinnon-Haug-Michelis (1999) p-values

Os testes do Traço e do Autovalor indicaram que não é possível rejeitar a hipótese de

presença de pelo menos um vetor de cointegração.

Assim, obtém-se a seguinte relação de longo prazo:

𝒍𝒏 𝑴𝑪𝒐𝒎𝒑𝒍𝒆𝒕𝒐 = 𝟐, 𝟑𝟓 𝒍𝒏𝒀 − 𝟎, 𝟕𝟐 𝒍𝒏 (𝑷𝒇 + 𝑬 − 𝑷𝒅)

Page 109: UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS CENTRO DE CIÊNCIAS … · Sorocaba – SP 2017 . UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS CENTRO DE CIÊNCIAS EM GESTÃO E TECNOLOGIA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO

109

Vector Error Correction Estimates

Date: 03/26/17 Time: 21:25

Sample (adjusted): 1995M08 2010M12

Included observations: 185 after adjustments

Standard errors in ( ) & t-statistics in [ ] Cointegrating Eq: CointEq1 LOG(IMPORTACAO_SA(-

1)) 1.000000

LOG(PIB_DEFLA_SA(-1)) -2.354133

(0.23153)

[-10.1677]

LOG(CAMBIO_REAL(-1)) 0.721590

(0.16476)

[ 4.37971]

C 22.07700

(2.94083)

[ 7.50706]

Error Correction: D(LOG(IMPORTACAO_SA))

D(LOG(PIB_DEFLA_SA))

D(LOG(CAMBIO_REAL))

CointEq1 -0.054620 -0.031103 0.003646

(0.02553) (0.00611) (0.01283)

[-2.13919] [-5.08713] [ 0.28418]

D(LOG(IMPORTACAO_SA

(-1))) -0.589449 0.015654 -0.058366

(0.08400) (0.02011) (0.04221)

[-7.01748] [ 0.77828] [-1.38286]

D(LOG(IMPORTACAO_SA

(-2))) -0.163434 0.046218 -0.048370

(0.09677) (0.02317) (0.04863)

[-1.68887] [ 1.99455] [-0.99474]

D(LOG(IMPORTACAO_SA

(-3))) 0.003636 0.027566 0.015274

(0.09821) (0.02352) (0.04935)

[ 0.03703] [ 1.17212] [ 0.30950]

D(LOG(IMPORTACAO_SA

(-4))) -0.077368 -0.008009 0.099567

(0.09142) (0.02189) (0.04594)

[-0.84626] [-0.36582] [ 2.16739]

D(LOG(IMPORTACAO_SA

(-5))) -0.100088 -0.032431 0.080650

(0.08733) (0.02091) (0.04388)

[-1.14603] [-1.55078] [ 1.83781]

D(LOG(IMPORTACAO_SA

(-6))) -0.034898 0.019683 -0.030740

(0.07501) (0.01796) (0.03769)

[-0.46524] [ 1.09584] [-0.81555]

D(LOG(PIB_DEFLA_SA(- -0.802457 -0.305523 -0.059831

Page 110: UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS CENTRO DE CIÊNCIAS … · Sorocaba – SP 2017 . UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS CENTRO DE CIÊNCIAS EM GESTÃO E TECNOLOGIA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO

110

1)))

(0.37067) (0.08876) (0.18626)

[-2.16487] [-3.44213] [-0.32123]

D(LOG(PIB_DEFLA_SA(-

2))) -0.004504 -0.351453 -0.248384

(0.37482) (0.08975) (0.18834)

[-0.01202] [-3.91575] [-1.31879]

D(LOG(PIB_DEFLA_SA(-

3))) 0.897842 -0.193916 -0.005471

(0.35669) (0.08541) (0.17923)

[ 2.51713] [-2.27035] [-0.03053]

D(LOG(PIB_DEFLA_SA(-

4))) 0.254308 -0.341927 0.058489

(0.34366) (0.08229) (0.17268)

[ 0.73999] [-4.15502] [ 0.33870]

D(LOG(PIB_DEFLA_SA(-

5))) 0.150510 -0.029466 0.159924

(0.31390) (0.07516) (0.15773)

[ 0.47949] [-0.39202] [ 1.01392]

D(LOG(PIB_DEFLA_SA(-

6))) 0.550792 -0.082167 0.121163

(0.30598) (0.07327) (0.15375)

[ 1.80008] [-1.12144] [ 0.78805]

D(LOG(CAMBIO_REAL(-

1))) -0.277091 0.064214 0.418407

(0.15417) (0.03692) (0.07747)

[-1.79735] [ 1.73946] [ 5.40119]

D(LOG(CAMBIO_REAL(-

2))) 0.190514 -0.002684 -0.177326

(0.16496) (0.03950) (0.08289)

[ 1.15490] [-0.06795] [-2.13929]

D(LOG(CAMBIO_REAL(-

3))) -0.426837 -0.066457 0.054824

(0.16751) (0.04011) (0.08417)

[-2.54809] [-1.65678] [ 0.65133]

D(LOG(CAMBIO_REAL(-

4))) -0.024637 0.032946 0.056067

(0.16992) (0.04069) (0.08538)

[-0.14499] [ 0.80970] [ 0.65664]

D(LOG(CAMBIO_REAL(-

5))) -0.256415 -0.052462 0.072967

(0.16649) (0.03987) (0.08366)

[-1.54011] [-1.31592] [ 0.87220]

D(LOG(CAMBIO_REAL(-

6))) -0.113396 -0.035007 -0.150973

(0.15345) (0.03675) (0.07711)

[-0.73895] [-0.95267] [-1.95794] R-squared 0.479271 0.288125 0.280762

Adj. R-squared 0.422806 0.210934 0.202772

Sum sq. resids 0.946082 0.054247 0.238873

Page 111: UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS CENTRO DE CIÊNCIAS … · Sorocaba – SP 2017 . UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS CENTRO DE CIÊNCIAS EM GESTÃO E TECNOLOGIA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO

111

S.E. equation 0.075494 0.018077 0.037934

F-statistic 8.487991 3.732615 3.599982

Log likelihood 225.5062 489.9426 352.8229

Akaike AIC -2.232500 -5.091272 -3.608897

Schwarz SC -1.901761 -4.760533 -3.278157

Mean dependent 0.008678 0.004275 -0.000276

S.D. dependent 0.099369 0.020351 0.042485 Determinant resid covariance (dof adj.) 2.16E-09

Determinant resid covariance 1.56E-09

Log likelihood 1088.436

Akaike information criterion -11.10742

Schwarz criterion -10.04557