universidade federal de sÃo carlos centro de … especialização... · universidade federal de...
TRANSCRIPT
UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS CENTRO DE CIÊNCIAS EXATAS E DE TECNOLOGIA
DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA CIVIL
IBEAS – INSTITUTO BRASILEIRO DE ESTUDOS AMBIENTAIS E DE SANEAMENTO
Curso de Pós-Graduação Lato Sensu em Gestão Ambiental Monografia de Conclusão de Curso
PROPOSTA DE METODOLOGIA PARA A GESTÃO DE RESÍDUOS:
TRANSFORMANDO O RESÍDUO EM SUB-PRODUTO.
Daniel Véras Ribeiro
Ribeirão Preto / SP
2008
UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS CENTRO DE CIÊNCIAS EXATAS E DE TECNOLOGIA
DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA CIVIL
IBEAS – INSTITUTO BRASILEIRO DE ESTUDOS AMBIENTAIS E DE SANEAMENTO
PROPOSTA DE METODOLOGIA PARA A GESTÃO DE RESÍDUOS:
TRANSFORMANDO O RESÍDUO EM SUB-PRODUTO.
Daniel Véras Ribeiro
Monografia apresentada ao
Departamento de Engenharia Civil / UFSCar
e ao IBEAS como requisito parcial à
conclusão do CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO
EM GESTÃO AMBIENTAL.
Orientador: Prof. Dr. João Sérgio Cordeiro
Co-Orientador: Prof. Dr. Marcio Raymundo Morelli
Ribeirão Preto / SP
2008
DEDICATÓRIA
Dedico este trabalho a meu pai, que sempre me incentivou e me deu
oportunidade de ter uma formação excepcional, tanto no âmbito acadêmico
quanto no pessoal, estando sempre presente nos momentos de dificuldades,
ajudando-me a dar mais este importante passo em minha vida.
VITAE DO CANDIDATO
• Engenheiro Civil, formado pela Universidade Federal da Bahia, UFBA
(2004).
• Mestre em Engenharia de Materiais, formado pela Universidade Federal
de São Carlos, UFSCar (2006).
i
MONOGRAFIA DE ESPECIALIZAÇÃO DE
______________________DANIEL VÉRAS RIBEIRO____________________
APRESENTADA AO DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA CIVIL, DA
UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS, EM ABRIL DE 2008.
_____________________________________ Prof. Dr. João Sérgio Cordeiro
Orientador
DECiv - UFSCar
_____________________________________ Prof. Dr. Marcio Raymundo Morelli
Co-Orientador
DEMa - UFSCar
_____________________________________
Prof. Dr. Nemésio N. B. Salvador
Coordenador do Curso
DECiv - UFSCar
iii
“Na ânsia pelo crescimento econômico e pelo atendimento à demanda gerada por incessantes
estímulos ao consumismo, tem-se esquecido que vivemos em um ecossistema finito, onde a
inconseqüência no lançamento de rejeitos e na extração de recursos naturais não tarda a se
converter em condições de vida impróprias. É urgente colocar as competências e recursos até
hoje utilizados pelas organizações na superação dos desafios mercadológicos a serviço de um
desenvolvimento efetivamente sustentável.”
Sylvia Constant Vergara
v
AGRADECIMENTOS
Ao nosso Senhor do Bonfim, sempre iluminando meu caminho e abrindo
portas ao longo destes 27 anos;
Aos meus pais - Everaldo (in memorian) e Carmen - por, apesar da
distância, estarem sempre próximos, me apoiando;
Às minhas irmãs, Vanessa e Veruska (in memorian), pelo perene apoio;
Ao Prof. Dr. João Sérgio Cordeiro pela orientação desta monografia;
Ao Prof. Dr. Marcio Raymundo Morelli pela orientação, confiança e,
principalmente, incentivo para a participação neste curso de especialização;
A toda minha família que torceu, mesmo de longe, pela concretização de
mais um sonho;
A todos os amigos do curso, sem exceção. Um abraço especial para
Marina, Taciana, Isabella e Gustavo pela grande amizade e ajuda;
A Mateus e Candido pela convivência ordeira e pacífica ao longo destes
quase 2 anos e a Kelly Pereira, pelo grande apoio em momentos difíceis deste
período;
A Iza Peixoto, grande incentivadora nos momentos iniciais deste curso de
especialização;
Ao amigo Leilson Cunha, pelo apoio gráfico deste trabalho;
Aos técnicos de laboratório Walter, Diego, Militão, Binoto e Zé Luis
(DEMA) e Rorivaldo (LIEC) pela ajuda e cooperação nos experimentos
desenvolvidos;
A Solange, sempre prestativa, uma verdadeira mãe dentro da Associação
dos Engenharia, Arquitetura e Agronomia de Ribeirão Preto;
A todos que, direta ou indiretamente, colaboraram para que este curso de
especialização se completasse.
vii
RESUMO
A geração de resíduos é um problema que acompanha o
desenvolvimento da humanidade ao longo dos séculos. No entanto, somente
após a Revolução Industrial este problema se tornou relevante e passou a
comprometer a qualidade de vida das comunidades. Os avanços tecnológicos
possibilitaram cada vez mais o acesso dos indivíduos a bens de consumo e o
aumento deste consumo incentivou o aumento da produção industrial,
fechando um ciclo, que tem como conseqüência a degradação ambiental.
Apesar disso, a busca pelo crescimento econômico de forma desenfreada
fez com que as questões ambientais somente viessem à tona nas últimas
décadas do século passado. Por isso, a procura por soluções que busquem
atenuar os impactos ambientais gerados pelo homem vêm se multiplicando.
Neste sentido, é apresentada neste trabalho uma metodologia de gestão de
resíduos sólidos, que tem como objetivo transformar este “lixo industrial” em
um novo insumo que pode ser aproveitado pela mesma indústria geradora ou
outras, de setores diversos.
Vale ressaltar, também, que o pensamento das empresas deve ser,
sempre, o de reduzir sua geração de resíduos, sejam eles líquidos, sólidos ou
gasosos para somente depois pensar em reutilizar ou reciclar, segundo o
conceito básico dos 3 R´s. Caso essa minimização não seja possível ou, até
mesmo, não resolva totalmente o problema dos resíduos no âmbito da
empresa, esta proposta surge como um direcionamento para uma gestão
eficiente, com o objetivo de gerar lucro para as empresas que estejam
dispostas a investir em estudos sérios e comprometidos com as questões
ambientais sem, no entanto, ter a pretensão de ser uma “receita” para todos os
tipos de resíduos, independente das condições locais (cultura, aspectos
sociais, etc.) e econômicas.
ix
ABSTRACT
PROPOSAL FOR METHODOLOGY FOR WASTE MANAGEMENT:
TRANSFORMING A WASTE TO SUB-PRODUCT
The generation of waste is a problem that accompanies the humanity
development over the centuries. However, only after the Industrial Revolutions
this problem became relevant and is compromising the quality of life of
communities. The technological advances enabled more and more access to
people at industrial products and the increase of this consumption led an
increase in industrial production, closing a cycle, which has as consequence the
environmental degradation.
Nevertheless, the search by economic growth so unbridled has caused
environmental issues were only discussed in the last decades of the last
century. Therefore, the demands for solutions that seek to mitigate the
environmental impacts caused by man have been multiplying. Thus in this work
is presented a methodology for the solid waste management, which aims to
transform this "industrial problem" in a new input that can be tapped by the
same generator industry or other of various sectors.
Please note, too, that the business thought should be, always, to reduce
the waste generation, whether liquid, solid or gaseous and only after consider
the reuse or recycle, according to the basic concept of 3 R's. If this reduction
can not be minimized or even not completely solve the waste problem within the
company, this proposal is a orientation for efficient management, in order to
generate profit for companies that are willing to invest in serious and
environmentally committed studies, without, however, seek to be a "recipe" for
all types of waste, regardless of local (culture, social, etc.) and economic
conditions.
xi
SUMÁRIO
Pág. AGRADECIMENTOS .......................................................................................... v
RESUMO .......................................................................................................... vii
ABSTRACT........................................................................................................ ix
SUMÁRIO .......................................................................................................... xi
ÍNDICE DE TABELAS.......................................................................................xiii
ÍNDICE DE FIGURAS ....................................................................................... xv
SÍMBOLOS E ABREVIATURAS ......................................................................xvii
1 INTRODUÇÃO.............................................................................................1
2 REVISÃO BIBLIOGRAFICA.........................................................................3
2.1 O Homem e a Geração de Resíduos....................................................3
2.2 Problemas e Acidentes Provocados por Resíduos no Brasil ................8
2.3 Legislação e Normalização Vigente para Resíduos Sólidos no Brasil.11
3 METODOLOGIA DE GERENCIAMENTO DE RESÍDUOS ........................19
3.1 Início: Conscientização na Empresa e Conhecimento dos Resíduos
Gerados. ....................................................................................................20
3.2 Estudo da Literatura............................................................................23
3.3 Análise de Mercado e Possíveis Clientes Alvo. ..................................25
3.4 Análise de Leis e Normas Vigentes. ...................................................25
3.5 Analise da Viabilidade Técnico-Econômica. .......................................26
3.6 Testes de Desempenho em Escala Real - Protótipo. .........................30
3.7 Transferência de Tecnologia para o Mercado. ...................................31
4 ESTUDOS DE CASOS. .............................................................................33
4.1 Conscientização na Empresa .............................................................33
4.2 Conhecimento dos Resíduos Gerados ...............................................34
4.2.1 Resíduo “A” ............................................................................. 34
4.2.2 Resíduo “B” ............................................................................. 41
4.3 Estudo da Literatura e das Possibilidades de Utilização.....................45
4.4 Análise de Mercado e Possíveis Clientes Alvo ...................................46
4.5 Análise de Leis e Normas Vigentes ....................................................47
xii
4.6 Análise da Viabilidade Técnica .......................................................... 48
4.6.1 Métodos................................................................................... 48
a) Índice de Consistência (NBR 13276).......................................... 48
b) Retenção de Água (NBR 13277). ............................................... 49
c) Porosidade e Densidade Aparentes ........................................... 49
d) Absorção de Água por Capilaridade (NBR 9779) ....................... 50
e) Resistência Mecânica (NBR 7215)............................................. 51
4.6.2 Resultados............................................................................... 52
a) Índice de Consistência (NBR 13276).......................................... 52
b) Retenção de Água (NBR 13277). ............................................... 53
c) Porosidade e Densidade Aparentes ........................................... 54
d) Absorção de Água por Capilaridade (NBR 9779) ....................... 57
e) Resistência Mecânica (NBR 7215)............................................. 59
4.6.3 Conclusões.............................................................................. 60
4.7 Análise da Viabilidade Econômica ..................................................... 60
4.8 Teste de Desempenho em Escala Real - Protótipo............................ 61
4.9 Transferência de Tecnologia para o Mercado.................................... 61
5 CONCLUSÕES ......................................................................................... 63
6 SUGESTÕES PARA FUTUROS TRABALHOS ........................................ 65
7 REFERÊNCIAS......................................................................................... 67
ANEXO A - Toxicidade ..................................................................................... 69
ANEXO B – Leis, Resoluções e Normas. ......................................................... 75
ANEXO C – Diretrizes para apresentação e acompanhamento de projetos
sobre a utilização de resíduos industriais. ........................................................ 79
xiii
ÍNDICE DE TABELAS
Pág.
Tabela 2.1. Origem, possíveis classes e responsáveis pela geração dos
diversos tipos de resíduos sólidos. ........................................................... 16
Tabela 4.1. Geração anual do resíduo “A” no Brasil [13]. ................................ 34
Tabela 4.2. Resultados de caracterização física e de pH do resíduo “A”......... 39
Tabela 4.3. Resultados de solubilização e lixiviação do resíduo “A”, segundo as
NBR’s 10004, 10005 e 10006. .................................................................. 40
Tabela 4.4. Faixa de Variação da Composição Química do Resíduo “B” [16]. 42
Tabela 4.5. Resultados de caracterização física e de pH do resíduo “B”......... 42
Tabela 4.6. Quadro de possibilidades de utilização dos Resíduos “A” e “B”.... 46
Tabela 4.7. Coeficientes de absorção capilar (Tg φ) das argamassas contendo
os resíduos “A” e “B” em função dos teores de resíduo adicionados........ 58
xv
ÍNDICE DE FIGURAS
Pág.
Figura 2.1. Classificação dos resíduos sólidos quanto à sua origem................. 7
Figura 2.2. Impactos ambientais gerados pela (A) mineração predatória e (B)
disposição inadequada de resíduos nas grandes cidades........................ 10
Figura 2.3. Hierarquia dos órgãos, segundo a Lei da Política Nacional de Meio
Ambiente (Lei 6.938/81)............................................................................ 12
Figura 2.4. Caracterização e classificação de resíduos sólidos segundo a NBR
10004/2004. .............................................................................................. 17
Figura 3.1. Ciclo de etapas da metodologia proposta para o gerenciamento de
resíduos. ................................................................................................... 19
Figura 3.2. Ganho de valor do resíduo conforme a aplicação do produto for se
consolidando e descobrindo os seus nichos de aplicações (adaptado de
CORNELISSEN [8]). ................................................................................. 21
Figura 3.3. Variabilidade dos teores de compostos presentes em diversas
escórias de aciaria, no Brasil [10]. ............................................................ 23
Figura 3.4. Matriz de oportunidades com o inventário das alternativas de
reciclagem para os resíduos gerados. ...................................................... 24
Figura 3.5. Exemplo de gráfico para análise de projetos mais atrativos, em
função dos custos operacionais e do volume de resíduo adicionado. ...... 27
Figura 4.1. Micrografias do resíduo “A” obtidas por microscopia eletrônica de
varredura (MEV), mostrando: (a) aspecto geral; (b), (c), e (d) diferentes
formas da fração orgânica; (e) e (f) forma da fração inorgânica. .............. 36
Figura 4.2. Difratograma de raios X do resíduo “A”.......................................... 37
Figura 4.3. Distribuição do tamanho de partículas resíduo “A”. ....................... 38
Figura 4.4. Moendas utilizadas para desagregação (a) primária e (b) secundária
do resíduo “B”. .......................................................................................... 41
Figura 4.5. Distribuição do tamanho de partículas resíduo “B” (resultado médio
de 5 determinações). ................................................................................ 43
Figura 4.6. Difratograma do resíduo “B”........................................................... 43
xvi
Figura 4.7. Micrografias do resíduo “B” obtidas por microscopia eletrônica de
varredura (MEV), mostrando sua estrutura de flocos misturada a placas
soltas. ........................................................................................................ 44
Figura 4.8. Mesa de Ensaio (Flow Table) para a determinação do índice de
consistência............................................................................................... 48
Figura 4.9. Modelo da curva de absorção capilar de água em função da raiz
quadrada do tempo, segundo a NBR 9779 para a determinação do
coeficiente de absorção capilar (Tg φ). ..................................................... 51
Figura 4.10. Valores de índice de consistência das argamassas contendo os
resíduos “A” e “B” em função do teor adicionado. ..................................... 52
Figura 4.11. Retenção de água das argamassas de cimento Portland em
função do teor de resíduo adicionado. ...................................................... 53
Figura 4.12. Amostras extraídas dos corpos de prova para a determinação da
densidade e da porosidade aparentes das argamassas de cimento
Portland em função do teor de resíduo adicionado: (A) resíduo “A” e; (B)
resíduo “B”................................................................................................. 55
Figura 4.13. Porosidade Aparente das argamassas de cimento Portland em
função do teor de resíduo adicionado. ...................................................... 56
Figura 4.14. Densidade Aparente das argamassas de cimento Portland em
função do teor de resíduo adicionado. ...................................................... 56
Figura 4.15. Realização do ensaio de absorção de água por capilaridade em
argamassas contendo (A) o Resíduo “A” e (B) o Resíduo B. .................... 57
Figura 4.16. Valores dos coeficientes de absorção capilar em função do teor e
do tipo de resíduo adicionado nas argamassas de cimento de Portland. . 58
Figura 4.17. Resistência à compressão axial das argamassas de cimento
Portland em função do teor de resíduo adicionado. .................................. 59
xvii
SÍMBOLOS E ABREVIATURAS
ABNT Associação Brasileira de Normas Técnicas
ACV Análise do Ciclo de Vida
BET Brunauer, Emmett e Teller - Ensaio para determinação de área
superficial específica
BID Banco Interamericano de Desenvolvimento
BIRD Banco Internacional para Reconstrução e Desenvolvimento
BSCD-GM Business Council for. Sustainable Development - Gulf of Mexico
BSE Back scatered electrons - Elétrons retroespalhados
CIMM Centro de Informação Metal - Mecânica
CONAMA Conselho Nacional do Meio Ambiente
CP Corpo-de-Prova
DA Densidade aparente
DRX Difração de Raios X
E Campo elétrico
eV Eletron-volt
EUA Estados Unidos da América
FEG Field Emission Gun
He Hélio
Hz Hertz (s-1)
H2 Hidrogênio
H2O Água
ANVISA Agência Nacional de Vigilância Sanitária
IBAMA Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais
Renováveis
INMETRO Instituto Nacional de Metrologia, Normalização e Qualidade
Industrial
ISO International Standards Organization
JCPDS Joint Committe on Power Diffraction Standards
Kg Quilograma
xviii
KV Quilovolt (103 volts)
MEV Microscopia Eletrônica de Varredura
Min Minuto
mm Milímetro
MMA Ministério do Meio Ambiente
MPa Megapascal
Mf Massa dos filtros após ensaio de retenção de água
Mi Massa imersa
Mm Massa do molde
Mma Massa do molde com argamassa
Ms Massa seca
Mse Massa dos filtros e das gazes secas
Mu Massa úmida
n Número inteiro correspondendo à ordem de difração
NBR Norma Brasileira
NEPA National Environment Policy Act
ONU Organização das Nações Unidas
N2 Nitrogênio
P Carga máxima suportada pelo corpo-de-prova
PF Perda ao Fogo
pH Potencial hidrogeniônico
PA Porosidade aparente
Pap Pressão aplicada
R2 Coeficiente de Correlação
RA Retenção de Água
Rc Resistência mecânica à compressão
SE Secondaries electrons - Elétrons secundários
t Tempo
Tg Tangente
VMP Valor Máximo Permitido
% Porcentagem
°C Grau Celsius
xix
θ Ângulo de difração de raios X
λ Comprimento de onda
ρ Densidade do material
ρL Densidade do líquido
Tgφ Coeficiente de absorção capilar (Kg/m2.min0,5)
1
1 INTRODUÇÃO
Ao longo da história da humanidade, a idéia de crescimento se confunde
com um crescente domínio e transformação da natureza. Nesse paradigma, os
recursos naturais são vistos como ilimitados.
Os problemas gerados pelo consumismo desenfreado e a conseqüente
geração insustentável de resíduos atingem a humanidade há algumas
décadas. No entanto, somente a partir da ultima década do século XX e início
do século XXI, o impacto do ser humano no meio ambiente se torna mais
reconhecido e debatido pela sociedade de uma forma geral.
A crescente atividade industrial mundial e a ausência de programas
eficazes de gestão de resíduos fazem com que cada vez mais resíduos sejam
gerados sem que haja uma correta utilização ou disposição destes,
proporcionando um passivo ambiental que compromete a qualidade de vida
das futuras gerações. Uma boa parte destes resíduos é perigosa e contém
elementos que podem prejudicar a saúde humana, bem como contaminar o
solo e lençóis freáticos. Enquanto em um passado não muito distante a
produção de resíduos era de algumas dezenas de kg/hab.ano, países
altamente industrializados, como os Estados Unidos, produzem atualmente
mais de 700 kg/hab.ano. No Brasil, o valor médio verificado nas cidades mais
populosas é da ordem de 180 kg/hab.ano.
Estas grandes quantidades de resíduos gerados bem como leis que não
punem exemplarmente os geradores que não os gerenciam eficazmente
constituem-se num dos grandes problemas da sociedade moderna. Portanto,
devem ser tomadas medidas que transformem estes resíduos em recursos
reutilizáveis.
Dentro deste contexto, é apresentada uma proposta de metodologia para
a gestão de resíduos, com o objetivo de transformá-los em subprodutos que,
além de eliminarem os problemas decorrentes de sua destinação inadequada,
sirvam como fonte de novas receitas para as empresas geradoras.
Não se pretende com este trabalho criar uma metodologia que solucione
os problemas de todos os resíduos. Ao invés disto, busca-se dar o
2
direcionamento para a elaboração de trabalhos que, por meio de uma equipe
multidisciplinar, avalie das peculiaridades regionais (aspectos sociais, culturais
etc.) para se atingir os melhores resultados possíveis, frente às tecnologias
disponíveis.
Serão apresentados, ainda, dois estudos de casos de utilização de
resíduos industriais com características bastante diferentes entre si e que
ilustram as etapas básicas da metodologia proposta.
3
2 REVISÃO BIBLIOGRAFICA
2.1 O Homem e a Geração de Resíduos
Presentes em todos os estágios das atividades humanas, desde simples
restos de animais mortos até baterias de celulares de última geração, os
resíduos, em termos tanto de composição como de volume, variam em função
das práticas de consumo e dos métodos de produção. As principais
preocupações estão nas conseqüências que estes podem ter sobre a saúde
humana e sobre o meio ambiente (solo, água, ar e paisagens).
Os resíduos produzidos inicialmente eram quase que exclusivamente
excrementos e restos de animais mortos. Posteriormente, com o início da
atividade agrícola e da produção de ferramentas de trabalho e de armas,
surgiram os restos da produção e os próprios objetos, após sua utilização [1].
Estes resíduos, no entanto, por terem origem essencialmente natural, não
geravam impactos ao meio ambiente. Com as Revoluções Industriais, ocorridas
na Inglaterra (primeiro país a gerar energia em larga escala, utilizando suas
grandes reservas de carvão) e o crescimento desenfreado e sem qualquer
preocupação com o meio ambiente, os resíduos passaram a ser um problema
de toda a humanidade. Nas últimas décadas, com a era da informática e do
apelo ao consumismo esse problema foi bastante acentuado.
A palavra lixo origina-se do latim lix, que significa cinzas ou lixívia.
Atualmente, o lixo (ou resíduo) é identificado como basura nos países de língua
espanhola e refuse, garbage, solid waste nos países de língua inglesa. A
denominação resíduo sólido; residuu, do latim, significa o que sobra de
determinadas substâncias, e sólido é incorporado para diferenciá-los de gases
e líquidos [1].
Segundo a NBR 10.004/2004, resíduos sólidos são aqueles "resíduos
nos estados sólido e semi-sólido, que resultam de atividades da comunidade
de origem: industrial, doméstica, hospitalar, comercial, agrícola, de serviços e
de varrição. Ficam incluídos nesta definição os lodos provenientes de sistemas
de tratamento de água, aqueles gerados em equipamentos e instalações de
4
controle de poluição, bem como determinados líquidos cujas particularidades
tornem inviável seu lançamento na rede pública de esgotos ou corpos d'água,
ou exijam para isso soluções técnica e economicamente inviáveis, em face à
melhor tecnologia disponível”.
Segundo CAVALCANTI [2], a década de 70 foi a década da água, a de
80 foi a década do ar e a de 90, a dos resíduos sólidos. Apesar da geração de
resíduos ser algo que acompanha a humanidade desde os primórdios, somente
há alguns anos começou-se a pensar nos problemas decorrentes de sua
geração.
Nos últimos 20 anos, a população mundial cresceu menos que o volume
de lixo por ela produzido. Enquanto de 1970 a 1990 a população do planeta
aumentou em 18%, a quantidade de lixo sobre a Terra passou a ser 25% maior
(LERIPIO apud KRAEMER [3]). As tecnologias de reciclagem e
reaproveitamento também evoluíram muito neste período. No entanto, não
foram capazes ainda de absorver todo este acréscimo gerado.
Todo este volume de resíduo gerado é originado pelo famoso “american
way of life”, que busca associar uma boa qualidade de vida ao consumo cada
vez maior de bens materiais. Este padrão de vida alimenta o consumismo,
incentiva a produção de bens descartáveis e difunde a utilização de materiais
artificiais.
A preocupação com os resíduos industriais iniciou-se ainda no fim da
década de 80 do século passado, quando foi instaurado o “superfund” que era
uma legislação específica que visava recuperar os grandes lixões de resíduos
sólidos que havia e ainda há espalhados nos EUA. E essa abordagem levou a
Agência de Proteção Ambiental Americana (EPA) a fazer toda uma legislação
sobre resíduos sólidos, que constava no Federal Register nº 40 [2].
Nos países Europeus e no Japão, apesar da excelente qualidade de
vida destes países, existe uma forte preocupação em relação à recuperação e
ao reaproveitamento energético. A dificuldade de geração de energia, devida
aos escassos recursos disponíveis e aliada a um alto consumo energético,
favorece a estratégia de reciclagem dos materiais e seu aproveitamento
térmico.
5
O fator cultural também pesa bastante na forma como o resíduo é visto.
Na China, por exemplo, o povo considera os resíduos orgânicos como uma
responsabilidade do cidadão, ou melhor, do gerador. Este tipo de valor cultural
facilita a introdução de métodos mais racionais de controle dos resíduos
sólidos, com participação ativa da população. Assim, os resíduos urbanos,
gerados em grande quantidade, não são vistos como um problema, mas sim
como uma solução para a fertilização dos solos, o que estimula a formação de
uma extensa rede de compostagem e biodigestão de resíduos [3].
Dentre as várias formas de classificar os diversos tipos de resíduo, é
apresentada uma bastante comum, de acordo com a AMBIENTE BRASIL [4]:
• Quanto às características físicas:
Seco: papéis, plásticos, metais, couros tratados, tecidos, vidros,
madeiras, guardanapos e tolhas de papel, pontas de cigarro, isopor,
lâmpadas, parafina, cerâmicas, porcelana, espumas, cortiças.
Molhado: restos de comida, cascas e bagaços de frutas e verduras,
ovos, legumes, alimentos estragados, etc.
• Quanto à composição química:
Orgânico: composto por pó de café e chá, cabelos, restos de alimentos,
cascas e bagaços de frutas e verduras, ovos, legumes, alimentos
estragados, ossos, aparas e podas de jardim.
Inorgânico: composto por produtos manufaturados como, vidros,
borrachas, metais (alumínio, ferro, etc.), lâmpadas, velas, parafina,
cerâmicas, porcelana, etc.
• Quanto à origem:
Domiciliar: originado da vida diária das residências, constituído por
restos de alimentos (tais como cascas de frutas, verduras, etc.),
produtos deteriorados, jornais, revistas, garrafas, embalagens em geral,
6
papel higiênico, fraldas descartáveis e uma grande diversidade de outros
itens. Pode conter alguns resíduos tóxicos.
Comercial: originado dos diversos estabelecimentos comerciais e de
serviços, tais como supermercados, estabelecimentos bancários, lojas,
bares, restaurantes, etc.
Serviços públicos: originados dos serviços de limpeza urbana, incluindo
todos os resíduos de varrição das vias públicas, limpeza de praias,
galerias, córregos, restos de podas de plantas, limpeza de feiras livres,
etc, constituído por restos de vegetais diversos, embalagens, etc.
Serviços de Saúde: descartados por hospitais, farmácias, clínicas
veterinárias (algodão, seringas, agulhas, restos de remédios, luvas,
curativos, sangue coagulado, órgãos e tecidos removidos, meios de
cultura e animais utilizados em testes, resina sintética, filmes
fotográficos de raios X). Em função de suas características, merece um
cuidado especial em seu acondicionamento, manipulação e disposição
final. Deve ser incinerado e os resíduos levados para aterro sanitário.
Portos, aeroportos, terminais rodoviários e ferroviários: resíduos
sépticos, ou seja, que contêm ou potencialmente podem conter germes
patogênicos. Basicamente originam-se de material de higiene pessoal e
restos de alimentos, que podem hospedar doenças provenientes de
outras cidades, estados e países.
Industrial: originado nas atividades dos diversos ramos da indústria, tais
como: o metalúrgico, o químico, o petroquímico, o de papelaria, da
indústria alimentícia, etc. O lixo industrial é bastante variado, podendo
ser representado por cinzas, lodos, óleos, resíduos alcalinos ou ácidos,
plásticos, papel, madeira, fibras, borracha, metal, escórias, vidros,
cerâmicas. Nesta categoria, inclui-se grande quantidade de lixo tóxico.
Esse tipo de lixo necessita de tratamento especial pelo seu potencial de
envenenamento. São sub-classificados em:
7
Radioativos: resíduos provenientes da atividade nuclear (resíduos de
atividades com urânio, césio, tório, radônio, cobalto), que devem ser
manuseados apenas com equipamentos e técnicas adequados.
Agrícolas: resíduos sólidos das atividades agrícola e pecuária, como
embalagens de adubos, defensivos agrícolas, ração, restos de colheita,
etc. O lixo proveniente de pesticidas é considerado tóxico e necessita de
tratamento especial.
Resíduos da construção civil: demolições e restos de obras, solos de
escavações. O entulho é geralmente um material inerte, passível de
reaproveitamento.
Um esquema desta classificação é apresentado na Figura 2.1.
Figura 2.1. Classificação dos resíduos sólidos quanto à sua origem.
Os resíduos perigosos produzidos, sobretudo pela indústria, são
particularmente preocupantes, pois, quando incorretamente gerenciados,
8
tornam-se uma grave ameaça ao meio ambiente [3]. Por isso, será dada uma
atenção especial ao longo deste trabalho para os resíduos industriais, tanto nos
exemplos citados quanto nos estudos de casos propostos.
2.2 Problemas e Acidentes Provocados por Resíduos no Brasil
O resíduo industrial é um dos maiores responsáveis pelas agressões
fatais ao ambiente. Nele estão incluídos produtos químicos (cianureto,
pesticidas, solventes), metais (mercúrio, cádmio, chumbo) e solventes químicos
que ameaçam os ciclos naturais onde são despejados. Os resíduos sólidos são
amontoados e enterrados; os líquidos são despejados em rios e mares; os
gases são lançados no ar. Assim, a saúde do ambiente e, conseqüentemente,
dos seres que nele vivem, torna-se ameaçada, podendo levar a grandes
tragédias [3].
Certos resíduos perigosos são jogados no meio ambiente, precisamente
por serem tão danosos. Não se sabe como lidar com eles com segurança e
espera-se que o ambiente absorva as substâncias tóxicas. Porém, essa não é
uma solução segura para o problema. Muitos metais e produtos químicos não
são naturais, nem biodegradáveis. Em conseqüência, quanto mais se enterram
os resíduos, mais os ciclos naturais são ameaçados e o ambiente se torna
poluído. Desde os anos 50, os resíduos químicos e tóxicos têm causado
desastres cada vez mais freqüentes e sérios [3].
No anexo A, é apresentada uma lista de alguns elementos químicos e
suas conseqüências e riscos à saúde quando em concentrações acima das
toleráveis pelo homem. Vale lembrar que nenhum elemento químico é
essencialmente danoso à saúde mesmo porque, praticamente todos estão na
constituição do corpo humano. Podemos dizer que uma concentração acima
deste patamar tolerável é que torna a presença do elemento químico perigosa.
As indústrias tradicionalmente responsáveis pela maior produção de
resíduos perigosos são as metalúrgicas, as indústrias de equipamentos eletro-
eletrônicos, as fundições, a indústria química e a indústria de couro e borracha.
9
Dentre os mais recentes acidentes ambientais ocorridos no Brasil,
alguns merecem destaque pela magnitude do impacto gerado nas
comunidades e no meio ambiente das regiões onde ocorreram:
• 1960 a 1993 - Contaminação da água e do solo devido ao abandono
de 500 mil toneladas de escória de chumbo pela COBRAC, em Santo
Amaro da Purificação / BA;
• 1984 – Duto da Petrobrás deixa vazar gasolina, provocando um
incêndio que matou 93 pessoas em Cubatão;
• 1987 – Acidente com césio em Goiânia (maior acidente radioativo
metropolitano do mundo);
• 2000 – A maior estatal brasileira, a Petrobrás, é responsável, no dia
18 janeiro, pelo derramamento de mais de 1 milhão de litros de óleo na
baía de Guanabara. Em julho do mesmo ano, mais um acidente. Desta
vez, cerca de 4 milhões de litros de óleo cru vazam de refinaria em
Araucária (PR), atingindo os rios Barigui e, posteriormente, o Iguaçu;
• 2001 – Ocorrência de benzeno no solo em São Paulo;
• 2003 - Um dos dois reservatórios de rejeito da Indústria Cataguases
de Papel se rompe, liberando 1,2 bilhões de litros de resíduos. A
poluição atingiu o córrego Cágados e depois o Rio Pomba, em Minas,
que por sua vez contaminou o Rio Paraíba do Sul, no Rio de Janeiro,
chegando até ao mar;
• 2007 – Contaminação de rios e cidades em MG e RJ, devido ao
rompimento da barragem de decantação da lama vermelha (resíduo de
bauxita), de responsabilidade da empresa Mineradora Rio Pomba
Cataguases.
Estes são apenas alguns casos que ocorreram nas duas últimas
décadas e que tiveram repercussão nacional. Há, ainda, uma lista inesgotável
de pequenos acidentes regionais que impactaram comunidades locais e que
não tiveram tanta repercussão, seja por sua baixa magnitude, pequena
10
influência em outras regiões ou, até mesmo, por acobertamento das
autoridades locais.
Quando se pensa em problemas ambientais decorrentes de processos
industriais, é comum pensar apenas em acidentes como os citados acima. No
entanto, o processo de extração de matérias primas e a disposição inadequada
de resíduos também são responsáveis por impactos fortíssimos ao meio
ambiente. Para ilustrar, podem-se observar na Figura 2.2, impactos
decorrentes de mineração predatória e disposição de lixo nas ruas de grandes
centros.
Figura 2.2. Impactos ambientais gerados pela (A) mineração predatória e (B)
disposição inadequada de resíduos nas grandes cidades.
Assim sendo, a reutilização e a reciclagem dos resíduos podem ajudar a
diminuir parte destes problemas. A efetivação destes processos proporciona
uma menor quantidade de resíduos armazenados nos pátio de empresas e
passíveis de acidentes, como vazamentos, por exemplo; contribui para a
diminuição da exploração e uso mais racional das jazidas de matérias primas
virgens existentes e; reduz a quantidade de resíduos dispostos nas ruas sem
uma destinação adequada.
Evidentemente, a melhoria dos processos industriais, com tecnologias
mais limpas e que tenham menor desperdício, bem como a utilização de
matérias primas de maior pureza e produtividade, também são fatores
preponderantes.
(A) (B)
11
Segundo KRAEMER [3], as mudanças ainda são lentas na diminuição
do potencial poluidor do parque industrial brasileiro, principalmente no tocante
às indústrias mais antigas, que continuam contribuindo com a maior parcela da
carga poluidora gerada e elevado risco de acidentes ambientais, sendo,
portanto, necessários altos investimentos de controle ambiental e custos de
despoluição para controlar a emissão de poluentes, o lançamento de efluentes
e o depósito irregular de resíduos perigosos.
2.3 Legislação e Normalização Vigente para Resíduos Sólidos no Brasil.
Segundo levantamentos feitos pelo CIMM [5], em nível mundial, o
conceito de impacto ambiental sob termos jurídicos data do período da
revolução industrial e tem sido alterado de forma dinâmica. No entanto, a
adoção de sistemáticas para a avaliação de impactos ambientais teve início
somente na década de 60.
Um dos países pioneiros na determinação de dispositivos legais para a
definição de objetivos e princípios da política ambiental foi os Estados Unidos.
Isto se deu por meio da Lei Federal denominada "National Environment Policy
Act - NEPA" aprovada em 1969. Diante dos reflexos da aplicação do NEPA,
organismos internacionais como ONU (Organização das Nações Unidas), BID
(Banco Interamericano de Desenvolvimento) e BIRD (Banco Internacional para
Reconstrução e Desenvolvimento) passaram a exigir em seus programas de
cooperação econômica a observância dos estudos de avaliação de impacto
ambiental.
No Brasil, as normas e leis referentes aos resíduos sólidos e ao meio
ambiente em geral estão entre as mais rígidas e completas do mundo.
Infelizmente, na maior parte do país, estas leis não são cumpridas, tendo como
conseqüência diversos danos ambientais.
No âmbito federal, o primeiro dispositivo legal associado à Avaliação de
Impactos Ambientais deu-se por meio da aprovação da Lei Federal 6.938, de
31.08.1981, que estabelece a Política Nacional de Meio Ambiente, constituindo
o Ministério de Meio Ambiente como órgão superior e tendo a atribuição geral
12
do controle, gerenciamento e fiscalização das questões ambientais. A este
ministério estão ligados o CONAMA e o IBAMA, que atuam a nível nacional,
além de suas ramificações a nível estadual e municipal (Figura 2.3).
Figura 2.3. Hierarquia dos órgãos, segundo a Lei da Política Nacional de Meio
Ambiente (Lei 6.938/81).
Desta forma, passou-se a exigir que todos os empreendimentos
potencialmente impactantes procedessem, dentre outras obrigações: (a) a
identificação dos impactos ambientais; (b) a caracterização dos efeitos
negativos; (c) a definição de ações e meios para mitigação dos impactos
negativos.
Podemos citar ainda a Constituição Brasileira em seu Artigo 225, que
dispõe sobre a proteção ao meio ambiente:
13
A Lei dos Crimes Ambientais (Lei 9.605/98) reordena a legislação
ambiental brasileira no que se refere às infrações e punições. A partir dela, a
pessoa jurídica, autora ou co-autora da infração ambiental, pode ser
penalizada, chegando à liquidação da empresa, se ela tiver sido criada ou
usada para facilitar ou ocultar um crime ambiental. A seguir, são apresentados
trechos desta lei referentes à emissão de resíduos.
Dentre as leis associadas às questões ambientais, podemos enumerar a
Lei 6.803/80, que dispõe sobre as diretrizes básicas para o zoneamento
industrial em áreas críticas de poluição; as resoluções do Conselho Nacional
do Meio Ambiente - CONAMA 001/1986, 237/1997, 257/263 e 258, que
dispõem, respectivamente, sobre impactos ambientais; licenciamento
ambiental; pilhas e baterias; e pneumáticos. Além disso, a questão é
amplamente tratada nos Capítulos 19, 20 e 21 da Agenda 21 (Rio-92).
Uma relação das principais leis, resoluções e normas brasileiras
referentes aos resíduos sólidos é apresentada no anexo B.
Lei de Crimes Ambientais (Lei 9.605/98)
“Art. 33. Provocar, pela emissão de efluentes ou carreamento de materiais, o perecimento de espécimes da fauna aquática existentes em rios, lagos, açudes, lagoas, baías ou águas jurisdicionais brasileiras: Pena - detenção, de um a três anos, ou multa, ou ambas cumulativamente. ............................... § 2º. Se o crime: (...) V - ocorrer por lançamento de resíduos sólidos, líquidos ou gasosos, ou detritos, óleos ou substâncias oleosas, em desacordo com as exigências estabelecidas em leis ou regulamentos: Pena - reclusão, de um a cinco anos.”
Artigo 225 da Constituição Federal do Brasil
“Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo para as presentes e futuras gerações.”
14
Existem ainda as leis estaduais e até mesmo municipais, mas que não
serão abordadas por serem específicas de cada região e mais passíveis de
mudanças.
Outra forma de pressionar as empresas geradoras de resíduos sólidos é
a criação das ISO´s (International Standards Organization). No início da década
de 90 do século passado, a ISO viu a necessidade de se desenvolverem
normas que falassem da questão ambiental e tivessem como intuito a
padronização dos processos de empresas que utilizassem recursos tirados da
natureza e/ou causassem algum dano ambiental decorrente de suas atividades
[6]. Assim, surgiu a ISO 14000, uma série de normas que estabelecem
diretrizes sobre a gestão ambiental dentro de empresas.
As principais ações de controle da ISO 14000 são:
• minimização dos riscos de acidentes pela manipulação de resíduos
perigosos;
• disposição de resíduos em sistemas apropriados;
• promoção de controle eficiente do sistema de transporte de resíduos
perigosos;
• proteção à saúde da população em relação aos riscos potenciais
oriundos da manipulação, tratamento e disposição final inadequada;
• intensificação do reaproveitamento de resíduos industriais;
• proteção dos recursos não renováveis, bem como o adiamento do
esgotamento de matérias-primas;
• diminuição da quantidade de resíduos e dos elevados e crescentes
custos de sua destinação final;
• minimização dos impactos adversos, provocados pelos resíduos no
meio ambiente, protegendo o solo, o ar e as coleções hídricas superficiais
e subterrâneas de contaminação.
A elaboração da ISO 14000 foi de grande incentivo para que as empresas
investissem na gestão eficiente de seus resíduos. Afinal, este tratamento
implica em custos para empresa, pelo menos, inicialmente. Aquelas que
15
aderiam a esta conscientização ficavam numa situação de concorrência
bastante difícil em relação às que não o faziam. Com sua implementação,
empresas que se preocupam com a questão ambiental passam a ter cada vez
mais respaldo por parte dos consumidores e usam estes investimentos para a
melhoria da imagem e conseqüente aumento de vendas.
Quanto aos resíduos sólidos, no Brasil, as normas que classificam,
normalizam a amostragem, os ensaios de lixiviação/solubilização e a obtenção
de seus substratos são as NBR’s 10004 (“Resíduos Sólidos – Classificação”),
10005 (“Procedimento para obtenção de extrato lixiviado de resíduos sólidos”),
10006 (“Procedimento para obtenção de extrato solubilizado de resíduos
sólidos”) e 10007 (“Amostragem de resíduos sólidos”).
A NBR 10004 classifica os resíduos sólidos quanto aos seus riscos
potenciais ao meio ambiente e à saúde pública, para que possam ser
gerenciados adequadamente. A periculosidade do resíduo é analisada em
função de suas propriedades físicas, químicas ou infecto-contagiosas. A
classificação dos resíduos envolve a identificação do processo ou atividade que
lhes deu origem e de seus constituintes e características, além da comparação
destes constituintes com listagens de resíduos e substâncias cujo impacto à
saúde e ao meio ambiente é conhecido. De acordo com a NBR 10004/2004, os
resíduos sólidos podem ser classificados como:
• Classe I – perigosos: são aqueles que, em função de suas
características de inflamabilidade, corrosividade, reatividade, toxidade
ou patogenicidade, apresentam riscos à saúde ou ao meio ambiente;
• Classe II – Não perigosos
II A – não inertes: são aqueles que podem apresentar características de
combustibilidade, biodegradabilidade ou solubilidade, sem se
enquadrarem na classe I;
II B – inertes: são aqueles que, por suas características intrínsecas, não
oferecem riscos à saúde e que não apresentam constituintes solúveis
em água em concentrações superiores aos padrões de potabilidade.
16
Levando em consideração os tipos de resíduos citados no item 2.1, são
apresentadas, na Tabela 2.1, as possíveis classes que estes resíduos podem
se enquadrar e os responsáveis por estes resíduos.
Tabela 2.1. Origem, possíveis classes e responsáveis pela geração dos
diversos tipos de resíduos sólidos.
Origem Possíveis Classes Responsável
Domiciliar II-A Prefeitura
Comercial II-A, II-B Prefeitura
Industrial I, II-A, II-B Gerador do resíduo
Público II-A, II-B Prefeitura
Serviços de saúde I, II-A, II-B Gerador do resíduo
Portos, aeroportos e ferrovias I, II-A, II-B Gerador do resíduo
Agrícola I, II-A, II-B Gerador do resíduo
Construção II-B Gerador do resíduo
A NBR 10005 fixa os requisitos exigíveis e o método para a obtenção de
extrato lixiviado de resíduos sólidos, visando diferenciar os resíduos
classificados pela NBR 10004 como classe I - perigosos e classe II – não
perigosos. Lixiviação é o processo para a determinação da capacidade de
transferência de substâncias orgânicas e inorgânicas presentes no resíduo
sólido, por meio de dissolução no meio extrator.
A NBR 10006 fixa os requisitos exigíveis e método para a obtenção de
extrato solubilizado de resíduos sólidos, visando diferenciar os resíduos
classificados pela NBR 10004 como classe II A – não inertes e II B – inertes.
Os procedimentos para a amostragem de resíduos sólidos são
apresentados na NBR 10007, seja o resíduo homogêneo ou composto. A
norma estabelece diretrizes para a preparação, amostragem, identificação e
ficha de coleta, além de requisitos de segurança e transporte.
Um resumo do procedimento para a classificação de resíduos industriais
é mostrado na Figura 2.4.
17
Resíduo inerte classe II B
Resíduo perigoso classe I
Resíduo não-inerte classe II A
Possui constituintes que são solubilizados em
concentrações superiores ao anexo G?
Resíduo não perigoso classe II
Tem características de: inflamabilidade,
corrosividade, reatividade, toxidade ou
patogenicidade?
Consta nos anexos A ou B?
Residuo
O resíduo tem origem conhecida?
Não
Não
Não
Sim
Sim
Sim
Não
Sim
Resíduo inerte classe II B
Resíduo perigoso classe I
Resíduo não-inerte classe II A
Possui constituintes que são solubilizados em
concentrações superiores ao anexo G?
Resíduo não perigoso classe II
Tem características de: inflamabilidade,
corrosividade, reatividade, toxidade ou
patogenicidade?
Consta nos anexos A ou B?
Residuo
O resíduo tem origem conhecida?
Resíduo inerte classe II B
Resíduo perigoso classe I
Resíduo não-inerte classe II A
Possui constituintes que são solubilizados em
concentrações superiores ao anexo G?
Resíduo não perigoso classe II
Tem características de: inflamabilidade,
corrosividade, reatividade, toxidade ou
patogenicidade?
Consta nos anexos A ou B?
Residuo
O resíduo tem origem conhecida?
Resíduo inerte classe II B
Resíduo perigoso classe I
Resíduo não-inerte classe II A
Possui constituintes que são solubilizados em
concentrações superiores ao anexo G?
Resíduo não perigoso classe II
Tem características de: inflamabilidade,
corrosividade, reatividade, toxidade ou
patogenicidade?
Consta nos anexos A ou B?
Residuo
O resíduo tem origem conhecida?
Resíduo inerte classe II B
Resíduo perigoso classe I
Resíduo não-inerte classe II A
Possui constituintes que são solubilizados em
concentrações superiores ao anexo G?
Resíduo não perigoso classe II
Tem características de: inflamabilidade,
corrosividade, reatividade, toxidade ou
patogenicidade?
Consta nos anexos A ou B?
Residuo
O resíduo tem origem conhecida?
Resíduo não-inerte classe II A
Possui constituintes que são solubilizados em
concentrações superiores ao anexo G?
Resíduo não perigoso classe II
Tem características de: inflamabilidade,
corrosividade, reatividade, toxidade ou
patogenicidade?
Consta nos anexos A ou B?
Residuo
O resíduo tem origem conhecida?
Possui constituintes que são solubilizados em
concentrações superiores ao anexo G?
Possui constituintes que são solubilizados em
concentrações superiores ao anexo G?
Resíduo não perigoso classe II
Tem características de: inflamabilidade,
corrosividade, reatividade, toxidade ou
patogenicidade?
Consta nos anexos A ou B?
Residuo
O resíduo tem origem conhecida?
Resíduo não perigoso classe II
Tem características de: inflamabilidade,
corrosividade, reatividade, toxidade ou
patogenicidade?
Consta nos anexos A ou B?
Residuo
O resíduo tem origem conhecida?
Tem características de: inflamabilidade,
corrosividade, reatividade, toxidade ou
patogenicidade?
Tem características de: inflamabilidade,
corrosividade, reatividade, toxidade ou
patogenicidade?
Consta nos anexos A ou B?
Residuo
O resíduo tem origem conhecida?
Consta nos anexos A ou B?
Consta nos anexos A ou B?
Residuo
O resíduo tem origem conhecida?
Não
Não
Não
Sim
Sim
Sim
Não
Sim
Figura 2.4. Caracterização e classificação de resíduos sólidos segundo a NBR
10004/2004.
19
3 METODOLOGIA DE GERENCIAMENTO DE RESÍDUOS
Para o estabelecimento de um plano de gerenciamento de resíduos
sólidos com o objetivo de se desenvolver produtos que venham a agregar valor
a estes rejeitos anteriormente descartados, gerando gastos para a empresa,
propõe-se uma seqüência de etapas que compõem esta metodologia.
Como já explicitado anteriormente, esta metodologia não tem a intenção
de ser uma receita para todos os casos de resíduos industriais. Assim, o seu
escopo geral, pode sofrer algumas adaptações, de acordo com características
regionais (cultura, mercado, etc.).
As principais etapas a serem apresentadas são: a conscientização dentro
da empresa da necessidade de se destinar adequadamente os resíduos; uma
análise ampla da literatura (artigos, trabalhos e patentes); a análise preliminar
de mercado e clientes alvo; análise das leis e normas vigentes sobre o produto
a ser proposto; verificação da viabilidade técnico-econômica; testes em escala
laboratorial e protótipo e; transferência de tecnologia para o mercado. Com
exceção da última, estas etapas podem ser resumidas no ciclo mostrado na
Figura 3.1, abaixo.
Figura 3.1. Ciclo de etapas da metodologia proposta para o gerenciamento de
resíduos.
20
Um questionário padrão que aborda todas estas questões é proposto no
anexo C.
3.1 Início: Conscientização na Empresa e Conhecimento dos Resíduos Gerados.
Apesar de parecer uma etapa óbvia e até mesmo redundante, constitui-se
muitas vezes na etapa mais difícil de ser implementada. Caso não haja uma
firme disposição da direção de uma empresa em desenvolver mercado para os
seus resíduos, dificilmente um projeto de pesquisa terá sucesso completo por
várias razões. Segundo JOHN & ÂNGULO [7], existem quatro fatores
preponderantes:
• O estabelecimento de um processo de reciclagem somente será
possível se o reciclador tiver confiança na estabilidade do
fornecimento de sua matéria-prima (o resíduo) por período
suficientemente longo a amortizar seu investimento;
• Em boa parte das vezes, o desenvolvimento de uma aplicação
comercial para um resíduo demandará o conhecimento dos processos
internos da empresa que definem as características dos resíduos;
• A reciclagem do resíduo exigirá uma mudança na cultura da
empresa: o lixo vira um novo produto comercial. Na verdade, o
resíduo-produto ainda estará sujeito às restrições legais aplicáveis aos
resíduos. O(s) consumidor(es) deste novo produto demanda(m) níveis
de qualidade constantes e prazos de fornecimento, e o processo
necessita ser ajustado para atender a essa demanda e;
• A maximização dos benefícios da reciclagem do resíduo poderá
requerer mudanças no processo de produção ou gestão dos resíduos,
de forma a aumentar a reciclabilidade, o que pode, inclusive, alterar a
formulação do produto.
21
Pelo fato de estarmos num sistema capitalista, por mais forte que seja o
apelo ambiental, a possibilidade de redução dos custos de gerenciamento de
resíduos ou até mesmo o aumento do faturamento é sempre o argumento
central para o inicio de um projeto de reaproveitamento de resíduos.
Segundo estudos anteriores, os custos ambientais podem chegar a até
20% dos custos totais da empresa, incluindo custos de disposição em aterro,
tratamento, transporte, licenciamento ambiental, etc. Além destes custos
diretos, existem os custos indiretos, como o desgaste da imagem da empresa
devido à sua gestão ambiental ineficiente, que pode levar a confrontos com
organizações sociais e perda de consumidores [7].
Assim, um bom projeto resume-se ao esquema proposto na Figura 3.2.
Figura 3.2. Ganho de valor do resíduo conforme a aplicação do produto for se
consolidando e descobrindo os seus nichos de aplicações
(adaptado de CORNELISSEN [8]).
Segundo CALDERONI [9], os fatores econômicos, ambientais e sociais
mais relevantes que levam ao incentivo à reciclagem são:
• A exaustão das matérias-primas naturais;
22
• Custos crescentes de obtenção de matérias-primas;
• Economia de energia;
• Indisponibilidade e custo crescente dos aterros sanitários;
• Custos de transportes crescentes;
• Poluição e prejuízos à saúde pública;
• Geração de emprego e renda e;
• Redução dos custos de produção.
Caso não exista esta sinergia entre o gerador, o reciclador, os
pesquisadores e os consumidores, estas pesquisas estarão limitadas apenas a
aspectos de conhecimento básico e/ou pesquisas essencialmente acadêmicas,
de valor significativo, mas sem o alcance ambiental e social mais imediato [7].
Havendo este comprometimento do gerador, deve-se então partir para
um bom conhecimento do(s) resíduo(s) gerado(s). Afinal, só assim pode-se
pensar em alternativas de aplicação para este(s) resíduo(s).
Uma boa caracterização engloba uma composição química completa,
análise mineralógica, microestrutural, características físicas e outras
características relevantes, como poder calorífico, condutividade térmica,
radioatividade, etc.
Por se tratarem de resíduos, é fundamental também saber o risco
ambiental deste material, com a caracterização de metais pesados presentes
mesmo em pequenas concentrações, quantificação de íons solúveis, dentre
outros, o que pode ser feito por meio de uma análise de lixiviação/solubilização.
Os resíduos, diferentemente de muitas matérias-primas convencionais,
não podem ser identificados apenas pelo nome. Suas composições variam
bastante em função das matérias primas (tipo e pureza) e equipamentos
utilizados na fábrica, bem como acondicionamento após geração. Para ilustrar
esta variabilidade, é mostrado na Figura 3.3 um gráfico com a composição
encontrada para a escória de aciaria, com destaque para a variação dos teores
de CaO, SiO2 e FeO.
23
Figura 3.3. Variabilidade dos teores de compostos presentes em diversas
escórias de aciaria, no Brasil [10].
3.2 Estudo da Literatura.
Esta é uma etapa muito importante de todo o processo. Afinal de contas,
não há a necessidade de se “reinventar a roda” ou investir numa pesquisa já
realizada em algum lugar e cujo produto final esteja protegido por uma patente.
Constitui-se numa etapa exaustiva de busca em banco de dados de
artigos científicos e, principalmente, patentes. Muitas vezes é mais
compensatório investir numa pesquisa já em andamento com um grupo de
pesquisadores reconhecidamente competentes do que iniciar um projeto que
pode ter resultados satisfatórios somente após o produto final estar registrado
por outro grupo, com direitos devidamente protegidos.
É importante ressaltar que deve haver uma compatibilidade, também,
entre a quantidade de resíduo gerada e a alternativa proposta. Observam-se
alguns estudos que propõem soluções para resíduos de forma bastante
satisfatória, mas que, no entanto, eliminariam o passivo do gerador em apenas
alguns meses. Isso pode ocorrer devido a uma pequena geração deste resíduo
ou pelo aproveitamento de grandes volumes por meio da tecnologia proposta.
24
Em ambos os casos, são projetos insustentáveis, pois não são interessantes
para o gerador, que terá que investir nesta tecnologia e verá esta nova
produção sendo paralisada em alguns meses devido à ausência do insumo (no
caso, o resíduo). E, obviamente não é de interesse de ninguém o aumento da
quantidade de resíduo gerado para atender a esta demanda.
Após devidamente caracterizado, o resíduo deve passar por uma fase de
análise de possíveis produtos gerados a partir dele, à luz da analise da
literatura. Estes produtos, evidentemente, devem possuir matérias-primas com
características compatíveis com o(s) resíduo(s) em questão. Assim, propõe-se
a criação de uma “matriz de oportunidades”, que consiste em um inventário dos
resíduos gerados pela empresa e possíveis aplicações. Na Figura 3.4, é
apresentado um modelo desta matriz para um processo industrial que engloba
3 etapas e gera dez tipos de resíduos em toda a cadeia produtiva.
Figura 3.4. Matriz de oportunidades com o inventário das alternativas de
reciclagem para os resíduos gerados.
25
3.3 Análise de Mercado e Possíveis Clientes Alvo.
Depois de observadas as possibilidades de utilização do(s) resíduo(s)
gerado(s) na empresa, deve-se fazer um estudo cuidadoso do mercado a que
estas possibilidades possam atender.
Entre as principais preocupações, estariam:
• Definição do(s) cliente(s) alvo;
• Estimativa do volume potencial de consumo;
• Determinação dos requisitos particulares do(s) cliente(s) alvo;
• Definição de tratamentos prévios necessários aos resíduos;
• Determinação de fatores que motivariam o(s) cliente(s) alvo (redução
de custos, agregação de valor, etc.);
• Distribuição geográfica dos clientes alvo (custos logísticos e
eventuais danos ambientais)
Estes fatores devem ser analisados minuciosamente, pois, por exemplo,
dependendo da quantidade de resíduo a ser utilizada, a distância de transporte
pode ser um fator limitante, tanto pelo aumento do custo final, quanto pela
existência de leis que restringem o transporte de alguns tipos de resíduos por
grandes distâncias e, até, entre estados que apresentam leis próprias.
3.4 Análise de Leis e Normas Vigentes.
Observadas as possibilidades e a existência de um mercado consumidor,
o próximo passo seria o desenvolvimento do novo produto. No entanto, deve-
se pensar em parâmetros de desempenho para estes novos produtos.
Um produto que não atenda às exigências de qualidade e segurança
propostas pelos órgãos competentes, tais como ABNT, INMETRO, ANVISA,
CONAMA, dentre outros, não poderá ser comercializado. Assim sendo, a
análise destas leis e normas torna-se fundamental.
26
Para ilustrar o que foi dito, será utilizado como exemplo, o processo de
fabricação de telhas cerâmicas. Este é um produto que apresenta grandes
possibilidades de incorporar diversos tipos de resíduos perigosos e é um dos
mais estudados como absorvedor de resíduos em todo o mundo.
Para atender as exigências mínimas de desempenho, ela dever ser
aprovada em todos os itens existentes na ABNT NBR 15310 – “Componentes
cerâmicos - Telhas - Terminologia, requisitos e métodos de ensaio”. Entre
estes itens, está a verificação da impermeabilidade, a determinação da massa,
da absorção de água e da carga de ruptura à flexão.
O INMETRO, além do exigido pela NBR 15310, exige a padronização de
alguns fatores, tais como dimensões nominais (altura, comprimento e largura) e
empenamento.
Por questões de saúde pública, a ANVISA, juntamente com o CONAMA,
proibiu o uso de fibras de amianto para a produção de telhas e outros artefatos.
Assim, devem ser feitos análises de lixiviação e solubilização para saber se
estes novos produtos contendo resíduos não fazem mal à saúde pública.
Só após o conhecimento de todas estas leis, normas e resoluções é que
se deve partir para a criação e avaliação de um novo produto.
3.5 Analise da Viabilidade Técnico-Econômica.
A ênfase em viabilidade do mercado é um compromisso com a eficácia
da pesquisa, pois os benefícios sociais de um processo de pesquisa somente
vão se realizar na sua totalidade se o novo produto produzido gerar empregos,
reduzir o volume de aterros, consumir resíduos em vez de recursos naturais e
evitar a contaminação do ambiente ou o comprometimento da saúde da
população [7].
Dentre as alternativas propostas na Figura 3.4, serão consideradas mais
favoráveis aquelas que [7]:
a) minimizem a necessidade de separação, classificação e
transformação industrial do resíduo;
27
b) minimizem impactos de transporte do resíduo até a planta de
transformação e da planta até o mercado consumidor;
c) minimizem o risco de lixiviação ou volatilização de eventuais fases
perigosas presentes, preferencialmente em aplicações em que não
se tenha contato com seres humanos ou lençóis freáticos;
d) não utilizem ou liberem produtos tóxicos;
e) resultem potencialmente em produto reciclável;
f) resultem potencialmente em um novo produto com vantagem
competitiva potencial sobre os existentes no mercado;
g) apresentem baixo risco de fracasso no processo de pesquisa e
desenvolvimento, comparado com o retorno financeiro potencial; e
apresentem o mais alto potencial de retorno financeiro.
Dentro deste contexto, podem-se observar os projetos mais viáveis pela
análise do gráfico apresentado na Figura 3.5.
Figura 3.5. Exemplo de gráfico para análise de projetos mais atrativos, em
função dos custos operacionais e do volume de resíduo
adicionado.
28
Assim, os melhores projetos são aqueles utilizam uma grande quantidade
de resíduos (em relação à quantidade gerada) e tenham um baixo custo
operacional. Às vezes, para uma mesma utilização, projetos que utilizem
resíduos diferentes podem ter importâncias diferentes. É o caso da cerâmica
vermelha, na Figura 3.5, que utiliza uma grande quantidade do resíduo “A”
gerado (em %) e precisa de baixos custos operacionais para seu
aproveitamento. O mesmo não ocorre com o resíduo “B”, de características
diferentes.
Outro fator que deve ser observado é a reciclabilidade do novo produto,
para que este, ao fim de sua vida útil, não se converta em um resíduo [11].
Caso o resíduo não seja reciclável, resultará numa quantidade ainda maior de
resíduo após o seu uso.
Uma boa ferramenta é a análise do ciclo de vida (ACV), que consiste no
inventário quantitativo e qualitativo de todos os insumos consumidos e dos
resíduos sólidos e demais poluentes liberados no ambiente, durante todo o
ciclo de vida do produto ou serviço [12].
Assim, depois de observadas todas estas variáveis de processo, parte-se,
então, para a elaboração de um produto em escala reduzida, ao nível
laboratorial. Um teste de desempenho técnico e ambiental, frente às normas
vigentes (ABNT, INMETRO, CONAMA, EPA, etc), com o objetivo de ter uma
estimativa da performance do novo produto. Obviamente, nestes testes devem-
se utilizar tecnologias similares ao esperado na escala industrial.
Como exemplo, podemos citar a ISO 6241 (Performance standards in
building; Principles for their preparation and factors to be considered), que trata
dos padrões de desempenho para as construções. Segundo esta ISO, os
requisitos de qualidade que devem ser atendidos são:
• Segurança estrutural, ao fogo e ao uso;
• Impermeabilidade ao ar e à água;
• Pureza do ar;
• Higiene;
• Conforto táctil, antropodinâmico, higrotérmico e visual e;
• Economia.
29
Pode-se acrescentar ainda alguns fatores como adaptabilidade,
adequação ao ambiente, durabilidade, dentre outros.
Assim, se os resíduos forem utilizados na produção de um material para
construção, deve atender, no mínimo, a estas exigências. Além disso, ainda
existem as normas específicas para cada produto, como mostrado no item 3.4.
Após a verificação de desempenho do novo produto, deve ser feita uma
análise de viabilidade econômica. Uma dúvida que pode surgir é quanto à
ordem destas duas análises apresentadas neste item. Pede-se que sejam
feitas na ordem sugerida, pois, muitas vezes, frente às tecnologias disponíveis
no momento, um novo produto pode não ser competitivo no mercado. No
entanto, esta realidade pode mudar com o passar dos anos e o surgimento de
novos mercados.
Como exemplo para isso, podemos citar a utilização do cimento de
fosfato de magnésio para encapsular resíduos perigosos e se tornar um novo
material para construção [13]. Apesar de apresentar um produto com
desempenho excelente, o preço ainda não é competitivo no mercado. Mas isso
não significa que, no futuro, não possa ser, pois, as dificuldades do processo,
que encarecem o produto, tendem a ser superadas.
E, segundo SKINNER apud JOHN [14], “A reciclagem somente ocorre
quando estes novos materiais são incorporados aos produtos em condições de
concorrência”.
A viabilidade econômica de um determinado processo de reciclagem é,
então, um problema de cunho essencialmente local, pois os preços dos
produtos e custos de deposição em aterro são definidos localmente. Por isso, a
importação de experiências entre países diferentes ou até mesmo regiões
diferentes não é indicada [7].
Assim sendo, é necessária uma análise cuidadosa dos custos de
implementação (incluindo modificações na planta e pré-tratamento do resíduo,
se necessário), operação (máquinas com metal resistente à corrosão ou
equipamentos de proteção para os trabalhadores, por exemplo), manutenção e
gastos com publicidade para aumentar a aceitação do produto no mercado.
30
Os custos de disposição de resíduos em aterro incluem também
embalagem, tratamento, transporte, licenciamento ambiental, etc. Além dos
custos diretos, existem os custos indiretos, como o desgaste da imagem da
empresa devido à sua gestão ambiental ineficiente, que pode levar a
confrontos com organizações sociais e perda de consumidores. Esse é um
outro fator que pode determinar o interesse econômico por uma tecnologia de
reciclagem [11]. Alguns trabalhos apontam também para o baixo custo dos
resíduos utilizados como matéria-prima, em relação aos materiais tradicionais
[15].
Observados fatores positivos e negativos, a empresa pode chegar à
conclusão se a tecnologia a ser proposta, no momento, é rentável ou não. E
determinar quanto ela pode investir no seu aperfeiçoamento.
3.6 Testes de Desempenho em Escala Real - Protótipo.
Após chegar à conclusão da efetividade da tecnologia proposta em
escala laboratorial e de sua aparente viabilidade econômica, faz-se necessária
a realização de testes em escala igual à que o novo produto será exigido.
Dessa forma, pode-se simular de forma mais confiável todas as situações
a que este produto será submetido e serão observadas todas as reais
dificuldades de sua produção.
Muitas vezes, resultados observados em laboratórios não são
confirmados quando se utiliza o produto em escala real. Isso se deve ao fato de
haver, nos laboratórios, um ambiente altamente controlado (tanto na execução
quanto no controle da presença de agentes externos) ou até mesmo pela não
realização de alguns testes, que só podem ser realizados no produto “real”.
Somente após a confirmação destes resultados em um protótipo é que
podemos garantir que o novo produto (ou material) está apto a ser lançado no
mercado, sem receios quanto ao seu desempenho técnico e ambiental.
31
3.7 Transferência de Tecnologia para o Mercado.
Para se completar o processo de reciclagem de forma efetiva, o novo
produto ou material deve entrar no mercado em escala comercial. O conceito
de sinergia através de resíduos, apresentado pelo BCSD-GM apud JOHN [7],
sugere que o sucesso da reciclagem vai depender também da colaboração
entre os diversos atores do processo: geradores do resíduo, potenciais
consumidores do resíduo, agências governamentais encarregadas da gestão
do ambiente e das instituições de pesquisa envolvidas.
É necessário convencer e provar aos consumidores finais a competência
técnica e o baixo risco ambiental do novo produto e acompanhar a sua
implementação para passar credibilidade e confiança a estes consumidores.
Devem-se assumir todos os riscos de desempenho deste produto até que ele
se torne comum. E acompanhar o processo se torna importante para que erros
de execução, muito freqüentes, por exemplo, na construção civil, não
transformem um produto de boa qualidade no grande vilão de uma eventual
falha.
33
4 ESTUDOS DE CASOS.
Com o objetivo de mostrar parte da etapa de seleção de alternativas para
a utilização destes resíduos, realizaram-se estudos de dois casos, utilizando
para tal, dois resíduos com características bastante distintas. O resíduo “A”
apresenta uma pequena geração anual. No entanto, é um resíduo de altíssima
periculosidade e deve ser tratado com cuidado. Já o resíduo “B” não é tão
perigoso e, apesar do pH bastante elevado; o seu grande problema é a
quantidade gerada, com um grande passivo ambiental à empresa.
Para os dois resíduos, realizaram-se alguns estudos preliminares que
mostram a viabilidade da utilização destes em uma das alternativas possíveis,
que seria a utilização como aditivo em argamassas de cimento Portland.
4.1 Conscientização na Empresa
Por mais que o apelo ambiental tenha crescido bastante nos últimos
anos, a conscientização por parte da empresa no sentido de tomar iniciativas
para o tratamento eficaz dos resíduos deve basear-se em questões
econômicas.
Nos dois resíduos que serão utilizados como exemplos, foram realizadas
apresentações às diretorias e gerências das áreas ambiental e de P&D
(Pesquisa e Desenvolvimento) das respectivas empresas geradoras.
Nestas apresentações, devem ser enfatizadas questões como:
• O elevado custo para se gerenciar o resíduo como um passivo
ambiental;
• A possibilidade de multas por alguma falha nesta gestão;
• A possibilidade de geração de novas receitas por parte da
empresa com a possível venda deste resíduo (transformando-o em
sub-produto);
• A possibilidade de melhoria da imagem da empresa por destinar
adequadamente seu resíduo;
34
Outras questões podem ser levantadas nestas reuniões, com o objetivo
de conscientizar a direção da empresa que vale a pena investir em um novo
modelo de gestão de resíduos.
4.2 Conhecimento dos Resíduos Gerados
A situação ideal para reciclagem de materiais é o uso do resíduo como
um material sem nenhuma transformação industrial. As atividades industriais
requerem consumo de energia elevado e, com o passar do tempo, geram
resíduo. Além disso, a utilização de materiais que não necessitem de elevado
grau de processamento reduz o montante de investimento necessário na planta
da indústria.
Dentro deste contexto, o resíduo “A” foi utilizado sem nenhum tipo de
processamento por já apresentar aspecto pulverulento, ideal para a adição à
matriz cerâmica. O resíduo “B”, que se apresenta pastoso, passou por um
processo de secagem e britagem para a geração de um pó.
A seguir, é apresentada uma caracterização detalhada dos resíduos
utilizados. Vale ressaltar que, somente depois desta caracterização é que se
pode pensar em alternativas de utilização de cada um dos resíduos.
4.2.1 Resíduo “A”
O resíduo “A” tem como principal problema ambiental a sua alta
periculosidade, com presença de elementos em teores acima dos permitidos
pelas normas, o que preocupa e dificulta seu tratamento e disposição. A
quantidade gerada não é tão significativa, como pode ser visto na Tabela 4.1.
Tabela 4.1. Geração anual do resíduo “A” no Brasil [13].
Ano 2003 2004 2005
Geração (ton/mês) 41,49 47,85 50,17
35
De acordo com estimativas não oficiais, a geração mundial deste resíduo
atinge um total de cerca de 310 toneladas por mês [13].
Como pode ser notado, com o aumento da produção de peças, tem-se
gerado cada vez mais resíduo, aumentando os custos de gerenciamento para a
empresa (atualmente realizado por uma indústria química ao custo de cerca de
R$ 400,00 por tonelada de resíduo, por meio, principalmente, de incineração e
co-processamento pela indústria cimenteira e de tintas), o que faz com que ela
busque alternativas mais viáveis de tratamento.
O resíduo “A” apresenta-se bastante complexo, com formas de partículas
variadas devido aos seus diversos constituintes (fibras metálicas, fibras
poliméricas e também fibra de vidro). Como pode ser visto nas micrografias
BSE, mostradas na Figura 4.1., a forma das partículas é bastante diversa
(Figura 4.1a). Por isso, a fração orgânica foi separada da fração inorgânica por
sedimentação e observadas distintamente. A fração orgânica apresenta
diversas formas, desde aproximadamente cúbica (Figura 4.1b), totalmente
indefinida (Figura 4.1c) ou até mesmo em forma de placa achatada (Figura
4.1d). A parte inorgânica apresenta o formato de bastões (Figuras 4.1e e 4.1f),
que são as fibras de vidro (caracterizadas por EDS), com diâmetro de cerca de
10 µm e comprimento bastante variado, atingindo valores superiores a 900 µm.
Pode ser observado, também, que estes bastões são maciços, de acordo com
a micrografia apresentada na figura 4.1.f, o que é de fundamental importância,
pois, se fossem vazados, alterariam completamente a quantidade de água
necessária para a elaboração dos traços das argamassas.
36
Figura 4.1. Micrografias do resíduo “A” obtidas por microscopia eletrônica de
varredura (MEV), mostrando: (a) aspecto geral; (b), (c), e (d)
diferentes formas da fração orgânica; (e) e (f) forma da fração
inorgânica.
(a) (b)
(c) (d)
(e) (f)
37
Devido à sua complexidade, tentou-se verificar as fases presentes no
resíduo “A” pelo método de difração de raios X (DRX). No entanto, observou-se
uma dificuldade de análise muito grande, devido à grande superposição de
reflexões basais fazendo com que não fosse possível detectar com precisão as
fases presentes, como pode ser verificado pelo difratograma da Figura 4.2 e,
apesar da grande quantidade de elementos, só foi certificada a presença dos
óxidos de cádmio (Cd2O5), zinco (ZnO) e sódio (Na2O).
Figura 4.2. Difratograma de raios X do resíduo “A”.
Foi verificada também a distribuição de tamanho de partículas deste
material, num total de 5 análises, sendo que uma delas estava excessivamente
fora do padrão e foi descartada (curva pontilhada). Os resultados das quatro
análises observadas, assim como do valor médio encontrado (curva mais
espessa, em vermelho), são mostrados na Figura 4.3.
Como se pode observar, a distribuição é bastante ampla, variando de
0,1 µm a 100 µm e apresenta uma grande dispersão entre os resultados. Isto
se deve ao fato do material ser constituído de uma fração com formato de
bastões, como pôde ser visto na Figura 4.1. De acordo com o método de
análise utilizado, o diâmetro das partículas é dado pelas circunferências que as
10 20 30 40 50 60 70 80
2φ (graus)
Inte
nsid
ade
(u.a
.)
**
*
**
*
*
+
+
+
+*
●
●●●
+ Cd2O5
* ZnO• Na2O
38
circunscrevem. Assim, caso haja um bastão com cerca de 600 µm de
comprimento (como pode ser visto na Figura 4.1.a), teremos como resultado
uma partícula de 600 µm de diâmetro, o que prejudica bastante a análise deste
resultado e motivo pelo qual se deve utilizá-lo com muito cuidado.
0
20
40
60
80
100
0 1 10 100 1000
Diâmetro esférico equivalente (µm)
Freq
uênc
ia a
cum
ulad
a (%
)
Figura 4.3. Distribuição do tamanho de partículas resíduo “A”.
O material foi avaliado ainda quanto à fração de orgânicos e inorgânicos
presentes, utilizando o método de perda ao fogo, que consiste na determinação
da diferença de peso do material antes e após queima em mufla. A quantidade
de material restante representa a fração de inorgânico na amostra. Os valores
médios obtidos foram de 57,19% inorgânico e 42,81% de material orgânico
para uma amostra representativa do resíduo, o que explica o baixo peso do
material. Vale ressaltar que durante a calcinação ao ar, cátions metálicos
presentes no resíduo “A” pode ser oxidados e podem causar, assim, certa
imprecisão nos resultados [13].
Para um melhor conhecimento das características deste material, foram
verificados também os valores de área superficial, massa unitária e massa
específica do material, além do pH, de acordo com a Tabela 4.2.
39
Tabela 4.2. Resultados de caracterização física e de pH do resíduo “A”.
Grandeza Resíduo “A”
Área superficial específica 1,32 m2/g
Massa unitária 0,52 kg/dm3
Massa específica 2,08 kg/dm3
pH 12,55
Como pode ser observado, o resíduo “A” é um material bastante leve,
muito provavelmente devido à elevada quantidade de compostos orgânicos
(elastômeros) e apresenta elevada finura, semelhante ao cimento.
Como o principal foco deste trabalho é a inertização de resíduos sólidos,
foram feitos os ensaios de lixiviação/solubilização com o resíduo “A”, segundo
as NBR´s 10005 e 10006. O teor de voláteis foi de 1,79%. Demais resultados
podem ser vistos na Tabela 4.3, a seguir.
Os ensaios de solubilização e lixiviação mostram a periculosidade deste
resíduo, com um teor de chumbo quase 8 vezes superior ao limite estabelecido
pela NBR 10004, o que caracteriza este material como “resíduo perigoso”
(Classe I). Além disso, o valor de pH de uma solução numa concentração 1:1
foi de 12,5, valor que se encontra no limite normatizado no tocante à
corrosividade e que varia entre 2,0 e 12,5, o que já classifica o material como
perigoso.
Vários de seus componentes superaram os valores máximos permitidos
pela NBR 10004 para a solubilização, o que ainda classificaria este material
como “resíduo não perigoso não inerte” (Classe II-A). Estes componentes são
os cianetos, sódio, fenóis, sulfatos e surfactantes e estão destacados na tabela
4.3. No anexo A é apresentada uma lista que informa os malefícios que cada
um desses componentes traz à saúde humana.
40
Tabela 4.3. Resultados de solubilização e lixiviação do resíduo “A”, segundo as
NBR’s 10004, 10005 e 10006*.
Solubilizado Lixiviado Amostra Bruta
Resultado VMP Resultado VMP Resultado VMP Parâmetros
mg/L mg/L mg/L mg/L Mg/Kg mg/Kg
Arsênio < 0,01 0,01 < 0,01 1,0 < 0,2 1000,0
Bário 0,3 0,7 0,1 70,0 6385,0 #
Cádmio < 0,002 0,005 < 0,002 0,5 < 0,02 #
Chumbo < 0,01 0,01 7,8 1,0 < 0,2 1000,0
Cobre 0,09 2,00 x # 131000,0 #
Cromo Total < 0, 006 0,05 0,1 5,0 6,7 #
Manganês < 0,001 0,1 x # X #
Mercúrio < 0,001 0,001 < 0,001 0,1 < 0,1 100,0
Prata < 0.004 0,05 < 0,004 5,0 X #
Selênio < 0,01 0,01 < 0,01 1,0 < 0,5 100,0
Sódio 340,0 200,0 x # X #
Zinco 0,1 5,0 x # 15600,0 #
Ferro < 0,002 0,3 x # X #
Cianetos 0,4 0,07 x # 3,2 1000,0
Cloretos 24,9 250,0 x # X #
Fenóis 1,60 0,01 x # 2,4 10,0
Fluoretos < 0,01 1,5 < 0,01 150,0 X #
Nitratos 0,1 10,0 x # X #
Sulfatos 250,1 250,0 x # X #
Surfactantes 0,5 0,5 x # X #
VMP = Valor máximo permitido pela NBR 10004;
# = ausência de limite pela NBR 10004;
x =não solicitado pela NBR 10004.
* As células destacadas em preto referem-se aos elementos presentes no resíduo “A” que estão acima dos limites permitidos pela NBR 10004.
41
4.2.2 Resíduo “B”
O resíduo “B” tem como principal problema o grande volume gerado e
seu respectivo passivo ambiental nas áreas onde as indústrias geradoras estão
instaladas. Este fator sobressai-se, inclusive, em relação ao elevado pH
encontrado.
Para se ter uma idéia, geram-se, anualmente, 63 milhões de toneladas
deste resíduo sem destinação final adequada. Estes valores são uma
estimativa, visto que a quantidade de resíduo gerado depende do tipo de
matéria-prima, o que influenciará diretamente as suas propriedades físicas e
químicas [16].
Por apresentar-se na forma pastosa, o resíduo “B” foi seco e,
posteriormente, britado para que tivéssemos à disposição um material
pulverulento. As moendas utilizadas para realizar esta desagregação primária
(Figura 4.4.a) e secundária (Figura 4.4.b) são apresentadas a seguir.
Figura 4.4. Moendas utilizadas para desagregação (a) primária e (b) secundária
do resíduo “B”.
O teor de líquido presente inicialmente no resíduo é de cerca de 40%. Isto
significa que o teor de sólidos (que é de apenas 60%), que será utilizado neste
estudo de caso, na verdade, representa uma utilização de cerca de 1,67 vezes
mais resíduo (100/60). O ideal, se verificada a efetividade da adição deste
resíduo, é aproveitar a própria água constituinte como água de mistura da
(A) (B)
42
argamassa. Isto seria parte de uma nova etapa do projeto de pesquisa e
desenvolvimento.
A grande variabilidade das matérias-primas utilizadas reflete-se na
variação de sua composição química, como pode ser visto na Tabela 4.4. A
alta concentração de compostos ferrosos dá ao resíduo “B” uma cor vermelha
típica.
Tabela 4.4. Faixa de Variação da Composição Química do Resíduo “B” [16].
Composto Fe2O3 Al2O3 SiO2 Na2O CaO TiO2
Teor (%) 30 – 60 10 – 20 3 – 5 2 – 10 2 – 8 Traços – 10
As principais características físicas do resíduo “B” são apresentadas na
Tabela 4.5.
Tabela 4.5. Resultados de caracterização física e de pH do resíduo “B”.
Grandeza Resíduo “B”
Área superficial específica 20,27 m2/g
Massa unitária 0,63 kg/dm3
Massa específica 2,90 kg/dm3
pH (1 : 1) 12,95
Uma característica que chama a atenção é a área superficial do resíduo
“B”, bastante elevada, o que mostra ser este resíduo muito mais fino que o
próprio cimento Portland e o elevado pH, acima dos limites da norma.
Verificou-se, assim, da mesma forma que foi feito com o resíduo “A”, a
distribuição do tamanho de partículas e as fases presentes no resíduo “B”.
Estes resultados podem ser verificados na Figura 4.5 e pelo difratograma da
Figura 4.6.
43
0
20
40
60
80
100
0 1 10 100
Diâmetro equivalente (µm)
Freq
uênc
ia a
cum
ulad
a (%
)
Figura 4.5. Distribuição do tamanho de partículas resíduo “B” (resultado médio
de 5 determinações).
10 20 30 40 50 60 70 80
2φ (graus)
Inte
nsid
ade
(u.a
.)
+ SiO2
x Fe2O3
▲ Al2O3
● Al(OH)3
■ Na5Al3CSi3O15▲
+
+
+ + x
x
x
▲
▲ ▲
x
x
●
+
▲ ▲
■
■
■ ● x x
x
■ x
▲ ●
Figura 4.6. Difratograma de Raios X do resíduo “B”.
Entre as fases presentes, observa-se a presença do hidróxido de
alumínio [Al(OH)3], sílica (SiO2), hematita (Fe2O3), alumina (Al2O3), dentre
outros.
44
Para a verificação das formas das partículas presentes no resíduo “B”,
observaram-se estas partículas em um microscópio eletrônico de varredura
(MEV). As micrografias são mostradas na Figura 4.7.
Figura 4.7. Micrografias do resíduo “B” obtidas por microscopia eletrônica de
varredura (MEV), mostrando sua estrutura de flocos misturada a
placas soltas.
Como podemos observar nas micrografias da Figura 4.7, o resíduo “B”
apresenta uma estrutura floculada, associada a placas, que muito
provavelmente estão presentes devido à ineficiência do processo de moagem
do resíduo. É uma estrutura que favorece a adição às matrizes cerâmicas por
serem semelhantes à encontrada no cimento Portland.
(A) (B)
(C) (D)
45
Para a verificação da periculosidade ambiental, foram realizados ensaios
de lixiviação e solubilização.
Os ensaios de solubilização e lixiviação mostram que a periculosidade
deste resíduo, está associada, apenas, à presença de sódio acima do limite
estabelecido pela NBR 10004 (200 mg/L) e do seu elevado pH (12,95), que
caracterizam este material como “resíduo perigoso” (Classe I).
4.3 Estudo da Literatura e das Possibilidades de Utilização
Como já foi dito anteriormente, é essencial a busca nos bancos de
patentes e de artigos, dissertações e teses científicas para observar se já há
estudos que utilizem materiais com características semelhantes ao resíduo
gerado (matéria-prima natural ou resíduo gerado por outras empresas).
Com relação às patentes, aqui no Brasil, o órgão a ser procurado é o INPI
(Instituto Nacional de Propriedade Intelectual). Lá poderão ser observadas as
patentes registradas no Brasil e aquelas que estão em processo de finalização.
Em âmbito mundial, deve-se procurar o Derwent Innovations Index, o European
Patent Office, o United States Patent and Trademark Office, principalmente.
Caso não sejam encontrados registros específicos já registrados das
utilizações propostas, deve-se fazer uma busca em bancos de dados de
revistas nacionais e internacionais, sejam em portais de periódicos, como o da
CAPES ou SCIELO, no Brasil além da Web of Science, Scopus, CSA e
Compendex, que são internacionais. Outras fontes, menos indicadas por não
possuírem trabalhos de qualidade atestada por um periódico seriam os sites de
busca na internet (Google, Altavista, etc).
Com base nas características dos resíduos (item anterior) e das
experiências de sucesso e fracasso já estudadas, pode-se montar um quadro
semelhante ao apresentado na Figura 3.4. Este quadro é apresentado na
Tabela 4.6.
46
Tabela 4.6. Quadro de possibilidades de utilização dos Resíduos “A” e “B”.
As possibilidades de utilização apresentadas na Tabela 4.6 não são a
única alternativa de utilização para estes resíduos e não significa que, por
apresentarem características iniciais aparentemente compatíveis com um dado
processo, que estas utilizações terão sucesso.
Vale ressaltar que para se obter um quadro como este apresentado na
Tabela 4.6, deve-se ter à disposição profissionais com conhecimentos
específicos destas áreas, o que muitas vezes viabiliza a associação com
universidades e instituições de pesquisa.
Para a continuidade do projeto, será acompanhada uma das
possibilidades apresentadas na Figura 4.8. Escolheu-se a utilização de ambos
os resíduos como adição às argamassas de cimento Portland.
4.4 Análise de Mercado e Possíveis Clientes Alvo
Por se tratar da mesma destinação, a análise de mercado e de possíveis
clientes alvo é a mesma para os dois resíduos estudados.
47
O concreto de cimento Portland é atualmente o material manufaturado
mais utilizado no mundo e, a julgar pelas tendências mundiais, o futuro destes
materiais parece ser ainda mais promissor porque, para a maioria das
aplicações, oferecem propriedades adequadas a um baixo custo.
De acordo com os dados oficiais de produção de cimento fornecidos pela
Associação Brasileira de Cimento Portland – ABCP, que é de cerca de 40
milhões de toneladas anualmente, estima-se que 200 mil m3 (250 mil
toneladas) de concreto e argamassas sejam produzidos por ano no país.
Considerando que a proposta inicial é incorporar até 30% (em massa) do
resíduo às argamassas, estima-se que cerca de 160 mil toneladas do resíduo
podem ser utilizadas neste propósito.
Os clientes em potencial são todas as pequenas, médias e grandes
concreteiras e construtoras, bem como prefeituras das cidades próximas às
instalações da indústria geradora. Um interesse real de utilização do resíduo
está atrelada aos bons resultados do projeto de pesquisa proposto.
As grandes construtoras estão sempre atentas ao surgimento de novos
materiais e, vislumbrando redução no custo de manutenção de suas estruturas,
serão clientes em potencial consideráveis.
4.5 Análise de Leis e Normas Vigentes
Para a utilização de um novo produto em argamassas, deve-se atender
às exigências de desempenho de mercado e projeto.
As normas que estão associadas à determinação destas propriedades de
desempenho podem ser obtidas, em âmbito nacional, junto à ABNT
(Associação Brasileira de Normas Técnicas), INMETRO (Instituto Nacional de
Metrologia, Normalização e Qualidade Industrial), CITEC/IPT (Instituto de
Pesquisas Tecnológicas do Estado de São Paulo S.A.).
Internacionalmente, podem-se buscar normas na ASTM (American
Society for Testing and Materials), Global Engineering, International Library
Service e National Resource for Global Standards.
48
Serão utilizadas apenas normas ABNT pelo fato das argamassas não
terem restrições muito severas para sua utilização.
4.6 Análise da Viabilidade Técnica
4.6.1 Métodos
a) Índice de Consistência (NBR 13276)
O índice de consistência é um importante parâmetro de desempenho
para argamassas de cimento Portland. Este índice reflete a trabalhabilidade da
massa, o que é de fundamental importância para a sua aplicabilidade. Após
determinado o traço a ser utilizado, preenche-se um molde tronco-cônico, de
acordo com a norma (3 camadas, com 5, 10 e 15 golpes de soquete,
respectivamente), liberando-o, a seguir.
São aplicados então 30 golpes, numa velocidade de 1 golpe por segundo,
na mesa de ensaio (flow table, Figura 4.8) e verifica-se o diâmetro da massa
espalhada, tendo como resultado uma média de 3 (três) determinações.
O diâmetro da base inferior do molde é de 100 mm (diâmetro inicial) e o
diâmetro que adotaremos como limite de trabalhabilidade é de 140 mm
(diâmetro limite).
Figura 4.8. Mesa de Ensaio (Flow Table) para a determinação do índice de
consistência.
49
b) Retenção de Água (NBR 13277).
A determinação da absorção de água dá um indicativo da água
necessária para o molhamento adequado das partículas da argamassa de
cimento Portland. Para esta determinação, seguiu-se a norma NBR
13277/2005.
Este ensaio resumi-se no preenchimento de um molde cilíndrico raso
(Mm) com dimensões pré-determinadas com a argamassa, pesando o conjunto
(Mma). A seguir, colocam-se uma rede de gaze e 12 filtros de papel
anteriormente pesados (Mse), aplicando-se uma carga de 2 Kg e aguardando
assim por 2 min e pesando a gaze e os filtros (Mf).
A determinação da retenção de água (RA) é dada pela equação 4.1,
sendo AF o fator água/argamassa fresca.
( )( )⎥⎦
⎤⎢⎣
⎡−−
−−×=
MmMmaAFMseMfRA 1100(%) (4.1)
c) Porosidade e Densidade Aparentes
Para a verificação da porosidade e da densidade aparentes das
composições foi utilizada uma técnica baseada no princípio de Arquimedes, em
que as amostras são pesadas ainda secas (Ms). A seguir, são imersas em água
e deixadas em repouso por 24 horas para que haja a saturação das mesmas.
Após esse período, são determinadas a massa imersa (Mi) e a massa úmida
(Mu). Assim, calculou-se a porosidade aparente (PA) e a densidade aparente
(DA), de acordo com as equações 4.2 e 4.3.
( )( )⎥⎦
⎤⎢⎣
⎡−−
×=MiMuMsMuPA 100(%) (4.2)
( )⎥⎦⎤
⎢⎣
⎡−
×=MiMu
MsD LA ρ (4.3)
50
Sendo ρL a densidade do líquido com o qual se realiza o ensaio (neste
caso, a água, ρL = 1,0 g/cm3 a 25°C).
Foram realizadas medidas de densidade e porosidade com as amostras
em condições normais de cura (20 ± 1 °C e 70 ± 5%) e com as amostras
colocadas em estufa 24 horas antes do momento de imersão em água. Assim,
procurou-se observar a influência da água residual no material.
d) Absorção de Água por Capilaridade (NBR 9779)
Verificar a absorção de água por capilaridade das argamassas é muito
importante, pois uma absorção excessiva de água pode gerar a proliferação de
fungos e bactérias danosas ao usuário, além de outros problemas, como o
descolamento da argamassa e/ou do revestimento e o descascamento da
pintura.
Para a determinação da absorção de água por capilaridade, os corpos-
de-prova utilizados (3 corpos-de-prova por composição) devem estar com 28
dias de idade. Inicialmente, são secados em estufa por 24 horas e, após isso,
são resfriados à temperatura ambiente e têm suas massas determinadas.
Posicionam-se, então, os corpos-de-prova sobre suportes, preenchendo-
se com água a bandeja do recipiente de ensaio, de modo que o nível de água
permaneça constante e a (7±1) mm da base inferior do recipiente, e evitando a
molhagem de outras superfícies do corpo-de-prova. Durante o ensaio,
determina-se a massa dos corpos-de-prova com intervalos de tempo
normalizados pela NBR 9779.
Calcula-se, dessa forma, o coeficiente de absorção capilar, que
representa a massa de água absorvida por metro quadrado da argamassa em
contato com a água, em função da raiz quadrada do tempo decorrido até atingir
este ponto de absorção. Numericamente, este valor corresponde ao coeficiente
angular da reta proveniente do gráfico “absorção (kg/m2) x raiz do tempo
(min0,5)” até que seja atingido o ponto de saturação, como pode ser visto na
Figura 4.9.
51
0
5
10
15
20
25
30
35
0,0 20,0 40,0 60,0 80,0 100,0
Raiz do tempo (min1/2)
Abs
orçã
o (k
g/m
2)
φ
Figura 4.9. Modelo da curva de absorção capilar de água em função da raiz
quadrada do tempo, segundo a NBR 9779 para a determinação do
coeficiente de absorção capilar (Tg φ).
e) Resistência Mecânica (NBR 7215).
O limite de resistência à compressão axial (Rc) é uma das propriedades
mais importantes em materiais frágeis, como as cerâmicas e é calculado pela
carga máxima suportada pelo corpo-de-prova (CP), dividida pela sua secção
original.
O atrito existente entre as placas da máquina de ensaios e as
extremidades dos CP’s de secção uniforme produz tensões que tendem a
retardar o escoamento nas regiões próximas aos contatos, produzindo um
gradiente de tensões ao longo do comprimento do CP. É por esta razão que a
base de medida para a deformação no ensaio de compressão deve ser tomada
sempre fora dessas regiões [17].
Os resultados de limite de resistência à compressão axial apresentados
foram uma média de 3 valores obtidos para as argamassas com 28 dias de
idade, utilizando uma máquina de ensaios universal Instron modelo 5500R,
com uma taxa de carregamento de 1,5 mm/min.
52
4.6.2 Resultados
Os resultados obtidos nos estudos de caso para ambos os resíduos serão
apresentados em paralelo, para que se possam visualizar melhor as diferenças
e peculiaridades de cada um deles. Não serão aprofundadas as razões
técnicas e explicações de fenômenos físicos e químicos dos resultados obtidos,
visto não ser esse o foco deste trabalho.
a) Índice de Consistência (NBR 13276)
Como parte da caracterização a fresco das argamassas, foi feita a análise
do índice de consistência em função do teor adicionado. O comportamento foi
bastante semelhante entre as misturas, com a diminuição do índice há medida
que se adicionava mais resíduo. Estes resultados são apresentados na Figura
4.10.
80
100
120
140
160
180
200
220
240
0% 10% 20% 30% 40% 50%
Teor de Resíduo
Índi
ce d
e C
onsi
stên
cia
(mm
)
Resíduo A Resíduo B Dinicial Dlimite
Figura 4.10. Valores de índice de consistência das argamassas contendo os
resíduos “A” e “B” em função do teor adicionado.
53
Como os valores de índice de consistência estiveram acima do limite
tolerado para até 20% adicionado de resíduo A e 30% do resíduo B, o índice de
consistência não é um fator limite da utilização de ambos.
b) Retenção de Água (NBR 13277).
A retenção de água em argamassas reflete o teor de água necessário
para o molhamento das partículas. É um parâmetro importante, pois, um maior
teor de água para molhamento tem como conseqüência um aumento da
relação água/cimento e conseqüente perda de resistência. Neste trabalho não
foi alterado o teor de água de mistura para que se observasse diretamente a
influência de resíduo adicionado.
Os resultados obtidos de retenção de água são apresentados na Figura
4.11.
80
85
90
95
100
0% 5% 10% 15% 20% 25% 30% 35%
Teor de Resíduo
Ret
ençã
o de
águ
a (%
)
Resíduo A Resíduo B
Figura 4.11. Retenção de água das argamassas de cimento Portland em
função do teor de resíduo adicionado.
Como era de se esperar, um aumento no teor de resíduo adicionado, faz
com que haja um aumento no índice de retenção de água por uma maior
presença de partículas, que precisam ser molhadas. No entanto, estes índices
54
apresentam-se dentro de parâmetros aceitáveis e não constituem-se num fator
limitante da utilização destes resíduos.
c) Porosidade e Densidade Aparentes
Os resultados de porosidade das argamassas contendo os resíduos “A” e
“B” foram obtidos pelo método baseado no principio de Arquimedes, em que as
amostras são imersas em água, após secagem em estufa, até que seja
atingida a saturação.
Nos materiais cerâmicos frágeis, os poros constituem regiões onde a
tensão se concentra, e quando a tensão junto ao poro atinge um valor crítico,
forma-se uma fenda que se propaga, visto que nestes materiais não existem
processos suficientemente absorvedores de energia como aqueles que operam
durante a deformação de materiais dúcteis. Os poros são também prejudiciais
para a resistência dos materiais cerâmicos porque fazem diminuir a área da
seção transversal em que é aplicada a carga e conseqüentemente fazem
baixar a tensão que o material pode suportar [18]. Deste modo, o tamanho e a
distribuição do tamanho de poros são fatores importantes que afetam sua
resistência.
A densidade normalmente apresenta um comportamento inverso ao da
porosidade, visto que, pela maior presença de poros, existe uma menor
quantidade de material ocupando um dado volume.
Foram retirados testemunhos dos corpos de prova em sua região central,
de acordo com o apresentado na Figura 4.12. Para uma maior
representatividade dos resultados, foram utilizadas 2 amostras para cada teor
de resíduo adicionado e o resultado apresentado é uma média de duas
determinações.
55
Figura 4.12. Amostras extraídas dos corpos de prova para a determinação da
densidade e da porosidade aparentes das argamassas de
cimento Portland em função do teor de resíduo adicionado: (A)
resíduo “A” e; (B) resíduo “B”.
Os resultados obtidos para a porosidade das argamassas e apresentados
na Figura 4.13 mostram uma inicial redução na porosidade das massas, com o
preenchimento de vazios, até um dado limite, quando volta a subir. Este limite é
de 10% para o resíduo “A” e 20% para o resíduo “B”, apontando estes teores
como os ideais para a adição. No entanto, até os limites de adição estudados
(20 e 30%, respectivamente), a porosidade ainda é inferior à mistura de
referência, sem a presença de resíduo (0%), o que viabiliza sua utilização até
estes teores.
Como era de se esperar, a densidade aparente (Figura 4.14), apresenta
um comportamento inverso ao da porosidade, porém, menos pronunciado, com
variações tênues. Há um aumento dos valores de densidade até um limite,
bastante próximo ao observado para a porosidade. Após este limite (10% para
o resíduo “A” e 25% para o resíduo “B”), a densidade volta a cair, estando,
contudo, acima dos limites de referência (0%).
(A) (B)
56
10%
15%
20%
25%
30%
0% 5% 10% 15% 20% 25% 30% 35%
Teor de Resíduo
Poro
sida
de (%
)
Resíduo A Resíduo B
Figura 4.13. Porosidade Aparente das argamassas de cimento Portland em
função do teor de resíduo adicionado.
0,0
0,5
1,0
1,5
2,0
2,5
3,0
3,5
4,0
0% 5% 10% 15% 20% 25% 30% 35%
Teor de Resíduo
Den
sida
de A
pare
nte
(g/c
m3 )
Resíduo A Resíduo B
Figura 4.14. Densidade Aparente das argamassas de cimento Portland em
função do teor de resíduo adicionado.
57
Assim sendo, concluímos que a porosidade e a densidade aparentes não
são fatores limitantes à utilização deste material.
d) Absorção de Água por Capilaridade (NBR 9779)
Os corpos-de-prova (CP´s) com idade de 28 dias foram submetidos ao
ensaio de absorção de água por capilaridade com o objetivo de verificar o
comportamento destas misturas com relação a esta propriedade, que é um dos
mais importantes parâmetros de avaliação de desempenho de argamassas.
Os corpos-de-prova secos em estufa por 24 horas tiveram suas massas
verificadas (Ms) e, a seguir foram colocados em um recipiente com água até
uma altura de 7 ± 1 mm a partir da extremidade inferior do CP (Figura 4.15).
Figura 4.15. Realização do ensaio de absorção de água por capilaridade em
argamassas contendo (A) o Resíduo “A” e (B) o Resíduo B.
Os corpos-de-prova foram pesados em intervalos de tempo normalizados,
de acordo com a NBR 9779 – Absorção de água por capilaridade, sendo então
obtidos os valores dos coeficientes angulares das retas ajustadas, que
representam, matematicamente, os coeficientes de absorção capilar. Os
valores destes coeficientes são apresentados na Tabela 4.7. Estes valores são
resultantes de uma média de 3 corpos-de-prova para cada medida. A
(A) (B)
58
confiabilidade (R2 – coeficiente de correlação) de todos os resultados foi
superior a 98%.
Tabela 4.7. Coeficientes de absorção capilar (Tg φ) das argamassas contendo
os resíduos “A” e “B” em função dos teores de resíduo
adicionados.
Teor Adicionado 0% 5% 10% 15%2 20% 25% 30%
Resíduo “A” 0,284 0,217 0,200 0,176 0,216 - -
Resíduo “B” 0,284 0,286 0,270 0,254 0,273 0,288 0,295
Estes resultados são apresentados na Figura 4.16, para uma melhor
visualização.
0,00
0,10
0,20
0,30
0,40
0,50
0% 10% 20% 30% 40%Teor adicionado (%)
Coe
ficie
nte
de A
bsor
ção
Cap
ilar
(kg/
m2 .m
in0,
5 )
Resíduo A Resíduo B
Figura 4.16. Valores dos coeficientes de absorção capilar em função do teor e
do tipo de resíduo adicionado nas argamassas de cimento de
Portland.
59
Observa-se que a adição de ambos os resíduos diminui a absorção de
água por capilaridade das argamassas, o que é bastante positivo. Após
determinados teores, este coeficiente volta a aumentar, mas não ultrapassa o
valor inicial (0% - referência). Assim, a análise do coeficiente de absorção
capilar mostra resultados de desempenho favoráveis para os dois casos, sendo
mais um indicativo da viabilidade técnica destes resíduos.
e) Resistência Mecânica (NBR 7215).
Após a verificação de algumas características inerentes as argamassas
contendo os resíduos, partiu-se para a análise da resistência mecânica destes
materiais. Os resultados apresentados são apenas para os corpos de prova
com 28 dias de idade, quando a resistência já apresenta um valor bem próximo
do valor final. Os resultados são apresentados na Figura 4.17.
R2 = 0,9549
R2 = 0,9104
0
10
20
30
40
50
0% 5% 10% 15% 20% 25% 30% 35%
Teor de Resíduo (%)
Res
istê
ncia
(MPa
)
Resíduo A Resíduo B
Figura 4.17. Resistência à compressão axial das argamassas de cimento
Portland em função do teor de resíduo adicionado.
60
Como se pode observar, a adição do resíduo “B” não impactou
significantemente a resistência das argamassas aos 28 dias de idade até o teor
estudado de 30% adicionado. Já o resíduo “A” teve uma influência bastante
negativa quando adicionado à matriz de cimento Portland, chegando a atingir
uma resistência praticamente nula para uma adição de 20% do resíduo.
Observa-se, então, que a resistência mecânica é um parâmetro que
exclui a possibilidade da utilização do resíduo “A” como adição à matriz de
cimento Portland.
4.6.3 Conclusões
Os bons resultados observados com a adição do resíduo “B” à matriz dão
um bom indicativo da possibilidade de utilização deste resíduo como aditivo a
concretos e argamassas. No entanto, por si só, não garantem que o material
atenda a todas as exigências de mercado, sendo necessários, ainda, vários
testes complementares para atestar seu bom desempenho técnico (tempo de
pega, tensão de arrancamento, adesão ao substrato, flexão, dentre outros),
além dos ensaios de viabilidade ambiental (lixiviação e solubilização do produto
final) e de durabilidade.
O resíduo “A”, apesar de não ter apresentado bom desempenho como
adição ao cimento Portland, não tem seu reaproveitamento descartado. Deve-
se, então, partir para outra alternativa (cerâmica vermelha, carga em polímeros,
desenvolvimento de algum compósito, etc.) que viabilize a sua utilização.
4.7 Análise da Viabilidade Econômica
Levando-se em consideração que a geração e o custo de gerenciamento
ambiental de resíduos correspondem a cerca de 15% dos custos de grandes
empresas e o elevado consumo do concreto no país, independentemente da
61
localização geográfica, este projeto apresenta-se bastante interessante do
ponto de vista de viabilidade econômica.
Além disso, a utilização proposta apresenta baixo custo operacional e
grande volume de resíduo utilizado, sendo bastante atrativa. Pode-se ressaltar
ainda que o resíduo substituirá outras matérias primas, tais como o cimento,
areia e brita, em seu volume final, reduzindo o custo.
4.8 Teste de Desempenho em Escala Real - Protótipo
Neste caso, a utilização de um protótipo se resumiria à confecção de uma
parede de alvenaria, onde a argamassa seria aplicada e teria seu desempenho
analisado quanto às intempéries. Assim, podem-se fazer ainda algumas
análises adicionais como, por exemplo, resistência de aderência à tração,
absorção de água sob baixa pressão e resistência superficial. Estas análises
não foram realizadas por problemas operacionais e de tempo.
4.9 Transferência de Tecnologia para o Mercado
Deve-se partir, neste momento, para um trabalho de divulgação junto às
empresas, mostrando à viabilidade e ganhos econômicos que estas
(concreteiras, construtoras, prefeituras, etc.) podem ter em utilizar o resíduo
como adição à argamassa. Entre os principais atrativos estão os bons
resultados de desempenho, o menor custo em comparação às matérias-primas
tradicionais (principalmente por se tratar de uma fonte com distância fixa) e o
apelo ambiental.
É fundamental o acompanhamento nos primeiros momentos para garantir
a correta dosagem do resíduo no processo e garantir, assim, a qualidade.
63
5 CONCLUSÕES
A partir dos resultados e das discussões apresentadas anteriormente,
podemos concluir que:
• A metodologia proposta não deve ser encarada como uma “receita”
para resolver os problemas de todos os resíduos e sim, como um
direcionamento de ações para se atingir os resultados esperados;
• Dependendo das características locais (mercado, cultura, etc.), esta
metodologia pode sofrer adaptações que melhor se adeqüem à realidade
existente;
• Transformar um resíduo num subproduto ou até mesmo num novo
produto é uma tarefa multidisciplinar que envolve conhecimentos de todas
as áreas, desde os estritamente técnicos aos de mercado, economia e
marketing;
• Transformar resíduos em produtos comerciais, efetivamente
utilizados pela sociedade, oferecerá grandes oportunidades para
aumentar a sustentabilidade social e ambiental, mas oferece, também,
significativos riscos ambientais e para a saúde dos trabalhadores se não
for feito com responsabilidade, embasado em estudos consistentes
destes resíduos;
65
6 SUGESTÕES PARA FUTUROS TRABALHOS
• Análise de Ciclo de Vida Aplicado a Resíduos Industriais.
• Projeto Piloto de Construções Sustentáveis que Utilizem Materiais
Reciclados.
• Estudos que quantifiquem a geração de divisas por empresas que
reutilizam e reciclam seus resíduos.
67
7 REFERÊNCIAS
[1] BIDONE, F. R. A.; POVINELLI, J. Conceitos Básicos de Resíduos Sólidos. São Carlos, EESC/USP, 1999. 120 p.
[2] CAVALCANTI, J. E. A década de 90 é dos resíduos sólidos. Revista Saneamento Ambiental – n. 54, nov./dez. 1998. p. 16-24. Disponível em:
<http://www.maisprojetos.com.br/conteudos/temas/normas/residuos_indu
striais.pdf.>. Acesso em: 21 nov. 2007.
[3] KRAEMER, M. E. P. A questão ambiental e os resíduos industriais. Disponível em: <http://br.monografias.com/trabalhos/residuos-
industriais/residuos-industriais.shtml>. Acesso em: 21 nov. 2007.
[4] AMBIENTE BRASIL. Resíduos. Disponível em: <http://www.ambiente
brasil.com.br>. Acesso em: 21 nov. 2007.
[5] CIMM – Centro de informação Metal-Mecânica. Meio Ambiente - Impacto Ambiental Disponível em: <http://www.cimm.com.br/portal/cimm
/iframe/?pagina=/cimm/construtordepaginas/htm/3_24_5098.htm>.Acesso
em: 03 dez. 2007.
[6] WIKIPÉDIA. ISO 14000. Disponível em: <http://pt.wikipedia
.org/wiki/ISO_14000>. Acesso em: 21 nov. 2007.
[7] JOHN, V. M.; ÂNGULO, S. C. Metodologia para desenvolvimento de
reciclagem de resíduos. Coletânea Habitare. vol. 4, capítulo 2, 2004. p.
9-71.
[8] CORNELISSEN, H. A. W. Upgrading and quality improvement of FPA. In:
GOUMANS, J.J; SENDEN, G. J.; VAN DER SLOOT, H. A. (Ed.). Waste Materials in Construction: Putting Theory into Practice. Amsterdam:
Elsevier, 1997. p. 289-300.
[9] CALDERONI, S. Os bilhões perdidos no lixo. 3ª. Ed. São Paulo.
Humanitas Editora, FFLCH/USP, 1999. 346 p.
[10] MACHADO, A. T. Estudo comparativo dos métodos de ensaio para
avaliação da expansibilidade das escórias de aciaria. 2000, 135 f.
Dissertação (Mestrado), Universidade de São Paulo, São Paulo, 2000.
68
[11] DESIMONE, L.; POPOFF, F. Eco-efficiency: The business Link to
Sustainable Development. Cambridge: MIT Press, 1998. 280 p.
[12] SILVA, G. A. ; KULAY, L. A. Application of life cycle assessment to the
LCA case studies single superphosphate production. The International Journal Of Life Cycle Assessment. v. 8, n. 4, 2003. p. 209-214.
[13] RIBEIRO, D. V. Influência da adição de pó de retífica em matriz de cimento de fosfato de magnésio. 2006, 132 f. Dissertação (mestrado
em Engenharia de Materiais) – Departamento de Ciência e Engenharia de
Materiais, Universidade Federal de São Carlos, São Carlos.
[14] JOHN, V. M.; ZORDAN, S. E. Research & development methodology for
recycling residues as building materials - a proposal. Waste Management, v.21, 2001. p. 213-219.
[15] MYMRIN, V. A.; PONTE, H. A. Utilização de resíduos industriais para a
produção de materiais de valor econômico. In: ICTR 2004 –
CONGRESSO BRASILEIRO DE CIÊNCIA E TECNOLOGIA EM
RESÍDUOS E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL. Anais do ICTR 2004 – Congresso Brasileiro de Ciência e Tecnologia em Resíduos e Desenvolvimento Sustentável. Florianópolis, 2004, p. 4512-4520.
[16] WORLD ALUMINIUM. Bauxite Residue. Disponível em: <www.world-
aluminium.org/environmen/challenges/residue.html>. Acesso em 13 mai.
2006.
[17] SOUSA, S.A. Ensaios mecânicos de materiais metálicos. São Paulo:
EDUSP, 1974, 210 p.
[18] SMITH, W.F. Princípios de ciência e engenharia dos materiais. 3. ed.
Lisboa: Mc-Graw Hill de Portugal, 1998, 891p.
69
ANEXO A - Toxicidade
Toxicidade de alguns elementos químicos que, se acima dos limites toleráveis, podem trazer danos à saúde humana.
• Alumínio: A ingestão de elevados níveis de Alumínio (acima de 0,2 mg/L)
está associada a fraturas por osteoporose, doença de Alzheimer, Parkison,
hiperatividade e dificuldade de aprendizado em crianças, além de anemia por
deficiência de ferro; intoxicação crônica.
• Arsênio: Os primeiros sintomas do envenenamento crônico por Arsênio
(acima de 0,05 mg/L) são semelhantes aos sintomas das enfermidades
genéricas mais comuns, fazendo com que, nestes casos, seja difícil
estabelecer um diagnóstico. Este tipo de envenenamento torna o indivíduo
cansado, letárgico e deprimido. Outros sintomas são o aparecimento de linhas
claras nas unhas dos dedos dos pés e das mãos, perda de peso, náuseas e
diarréia alternadas com prisão de ventre e perda de cabelos. O Arsênico é
altamente tóxico e, infelizmente, encontra-se bastante difundido no meio
ambiente por ser encontrado naturalmente no solo, agravado por ser usado
intensivamente em pesticidas. Alguns estudos associam também ao câncer
(seios paranasais).
• Bário: O carbonato de bário (BaCO3) é usado como veneno para ratos e
outros roedores nocivos. Sua ingestão, inclusive pelo homem, causa paralisia
dos músculos, do coração e do sistema respiratório. Alta concentração desse
metal pode causar graves alterações no coração, veias, artérias e sistema
nervoso, podendo causar paralisação nas terminações nervosas quando em
altas doses. Uma dose de 550 a 600 mg é fatal para o ser humano.
• Cádmio: Os sintomas de contaminação por Cádmio são similares aos
efeitos de envenenamento por alimentos. Pode ser provocada pela corrosão de
canos galvanizados ou por resíduos de galvanoplastia e tintas. Acima de 325
mg pode ser fatal. Os primeiros sintomas já podem aparecer apenas com 10
70
mg. Está associado a doenças no fígado, câncer de pulmões e próstata; lesão
nos rins e à hipertensão. Há algumas evidências que o Cádmio pode ser
responsável por mutações.
• Chumbo: Pode provocar anorexia, vômito, indisposição, convulsão devido
ao aumento da pressão intracraniana, podendo levar a prejuízos permanentes
no cérebro. Crianças mostram perda de peso, fraqueza e anemia. A
intoxicação pode ocorrer pela inalação do pó ou vapor. Considera-se
envenenamento por chumbo conteúdos de Pb na ordem de 0,05 mg/L no
sangue e > 0,02 mg/L na urina.
• Cianeto: Os íons CN-1 são muito venenosos, apresentando rápida absorção
pelo organismo, formando complexos altamente estáveis com enzimas
associadas com a oxidação celular e causando a morte por asfixia. Os sinais
de envenenamento por cianeto incluem vertigem, dores de cabeça, pulsação
acelerada, náusea e olhos avermelhados. Uma exposição mais prolongada
causa vômito, perda de consciência, fraqueza, interrupção da respiração, em
seguida a morte. O cianeto pode entrar no organismo de várias formas; pela
inalação, absorção cutânea ou oral.
A inalação de 20 ppm de HCN no ar causa sintomas leves após várias
horas e de 50 ppm causa distúrbios dentro de 1 hora, 300 ppm é fatal; a
absorção cutânea normalmente é baixa, porém 2% de HCN no ar poderão
causar uma contaminação em três minutos. A absorção oral é rapidamente
fatal em 1 mg HCN/Kg corporal.
• Cobalto: É um elemento químico essencial para os mamíferos, em
pequenas quantidades. Em quantidades acima das toleradas, pode provocar
fibrose pulmonar (endurecimento do pulmão) que pode levar à morte.
• Cobre: A ingestão de água contendo mais de 1 mg/l fornece muito mais
Cobre do que o necessário e possui sabor desagradável para a maioria das
pessoas. O Cobre é altamente tóxico para as crianças e adultos com
problemas de metabolismo. A absorção excessiva de Cobre é favorecida pela
presença de Zinco, Prata, Cádmio e Sulfatos na dieta alimentar.
71
• Cromo: Sabe-se que o Cromo, quando inalado ou ingerido (acima de 0,05
mg/L), causa tumores nos pulmões e afeta negativamente os rins, fígado e
sistema circulatório, podendo gerar, também, asma (bronquite) úlceras na pele
e câncer.
• Fenol: É rapidamente absorvido pela pele, estômago e pulmão. A
intoxicação pode ocorrer pela ingestão da solução, inalação ou absorção
cutânea da solução ou vapor. Uma sobre-exposição pode provocar edema
pulmonar, cianose, tremor, convulsão, espasmos, irritação aos olhos, nariz e
garganta, queimadura na pele, dermatite, acronose, morte devido à falha
respiratória. A ingestão pode causar ardência na boca e garganta, dores
abdominais, lesão necrótica no tecido da boca, esôfago e estômago. Exposição
crônica pode resultar em vômito, dificuldade de ingestão, excesso de salivação,
diarréia, anorexia, perda de peso, dor de cabeça, desmaios, vertigem,
distúrbios mentais, dores musculares, franqueza e prejuízo no órgão secretor.
• Ferro: Sua presença em água potável favorece o aparecimento de
microorganismos patogênicos, que necessitam de ferro para se desenvolver. A
disponibilidade de ferro na natureza ainda não foi adequadamente estudada. É
sabido que sua presença influencia a absorção de Cobre a Chumbo. Além
disso, pode causar reações gástricas como, por exemplo, acidez estomacal.
• Fluoreto: A ingestão acima dos limites tolerados pode provocar a fluorose,
que se manifesta por intermédio de pequenas manchas brancas sobre o dente.
• Fósforo Amarelo: O fósforo pode trazer conseqüências negativas para a
formação óssea, pois o excesso de fósforo tende a deslocar o cálcio dos ossos,
além de competir pela absorção. Se ingerido acima dos limites permitidos,
pode gerar náuseas; gastrite; odor de alho; fezes e vômitos fosforescentes; dor
muscular; torpor; choque; coma e até morte.
• Manganês: O excesso de Manganês na dieta alimentar impede a atuação
do ferro na produção da hemoglobina do sangue. Em altas doses (acima de
0,05 mg/L) causa apatia, irritabilidade, dores de cabeça, insônia e fraqueza nas
pernas. Sintomas de distúrbios psicológicos podem aparecer, tais como a
prática de atos impulsivos, ausência de memória, alucinações, agressividade e
72
euforia desmedida. Finalmente, pode ocasionar o aparecimento de doença
similar ao Mal de Parkisson.
• Mercúrio: Entre os sintomas de envenenamento por Mercúrio incluem-se
fraqueza, perda de apetite, insônia, indigestão, diarréia, inflamação e
aparecimento de regiões escuras nas gengivas, perda dos dentes,
irritabilidade, perda da memória, tremores nas mãos, pálpebras, lábios e língua.
Em níveis mais elevados, o Mercúrio produz alucinações, psicoses maníaco-
depressivas, gengivites, irritabilidade crescente, tremores musculares e danos
cerebrais irreversíveis.
• Níquel: O níquel (Ni) em quantidades pequenas tem sido classificado como
um elemento importante ao desenvolvimento. Em doses elevadas é tóxico
podendo causar: 1 irritação gastro intestinal com náuseas, vômitos e
diminuição do apetite; 2. alterações neurológicas: dor de cabeça, vertigem;
alterações musculares: fraqueza muscular; 3. alterações cardíacas:
palpitações; 4. alergia: dermatite, rinite crônica, asma e outros estados
alérgicos. O níquel inibe a ação da enzima superóxido dismutase que participa
no processo de metabolização dos radicais livres. O excesso de níquel pode
chegar a ter conseqüências graves como necrose e carcinoma do fígado e
câncer de pulmão. Câncer de pulmão e seios paranasais.
• Nitrato: No organismo humano, o nitrato se converte em nitrito que, por sua
vez, combina-se com a hemoglobina para formar metahemoglobina, impedindo
o transporte de oxigênio no sangue. Principalmente em crianças muito
pequenas e idosos pode causar cianose intensa (metahemoglobinemia), e
levar à morte.
• Prata: A primeira evidência do excesso de prata no organismo (acima de
0,05 mg/L) é a coloração cinza azulada permanente da pele, mucosas e olhos.
Grandes doses de prata podem ser fatais. A presença do nitrato de prata é
altamente perigosa, sendo fatal em quantidades ínfimas.
• Selênio: Um efeito reconhecido de envenenamento por Selênio é uma
inibição crescente. Há evidências de que o Selênio está relacionado com a
descoloração da pele e alguns problemas psicológicos e gastrointestinais.
73
• Sódio: É extremamente cáustico para todos os tecidos, aumentando as
chances de hipertensão.
• Sulfatos: Podem ser fatais se engolidos ou inalados. Afeta o sangue e a
próstata, pode afetar o sistema reprodutivo e causar irritação dos olhos e pele,
além de náuseas, tontura e dor de cabeça.
• Surfactantes: Os surfactantes são moléculas anfipáticas constituídas de
uma porção hidrofóbica e uma porção hidrofílica. A porção apolar é
freqüentemente uma cadeia hidrocarbonada enquanto a porção polar pode ser
iônica (aniônica ou catiônica), não-iônica ou anfotérica. A formação de um filme
molecular, ordenado nas interfaces, reduz a tensão interfacial e superficial
sendo responsável pelas propriedades únicas dos surfactantes. Estas
propriedades fazem os surfactantes serem adequados para um grande número
de aplicações industriais entre elas destaca-se: detergência, emulsificação,
lubrificação, capacidade espumante, capacidade molhante, solubilização e
dispersão de fases. A maior utilização dos surfactantes é na indústria de
produtos de limpeza sabão e detergentes, petróleo, cosméticos e de produtos
de higiene. Concentrações superiores a 0,1 mg/L na água podem interferir no
desenvolvimento de estágios juvenis de alguns invertebrados e, também,
propiciar efeitos sinérgicos, aumentando a incorporação de outros poluentes.
• Zinco: A maior parte dos efeitos tóxicos do zinco relaciona-se à sua
combinação com outros metais pesados e contaminação durante os processos
de extração e concentração de zinco. Além disso, pode gerar alterações, tais
como paladar adocicado e secura na garganta, tosse, fraqueza, dor
generalizada, arrepios, febre, náusea, vômito
75
ANEXO B – Leis, Resoluções e Normas.
CONSTITUIÇÃO FEDERAL DO BRASIL DE 1988/1988 - "CAPÍTULO VI DO MEIO AMBIENTE - Art. 225 da Constituição Federal do Brasil de 1988". Lei 9.605/98 – “Dispõe sobre as sanções penais e administrativas derivadas de condutas e atividades lesivas ao meio ambiente”. Lei 6.938/81 – “Dispõe sobre a Política Nacional do Meio Ambiente, seus fins e mecanismos de formulação e aplicação”. Lei 6.803/80 – “Dispõe sobre as diretrizes básicas para o zoneamento industrial em áreas críticas de poluição”. Resolução ANTT – Agência Nacional de Transporte Terrestre – Nº 420/2004 e Nº 701/2004. “Aprova as instruções complementares ao regulamento do Transporte Terrestre de Produtos Perigosos”. Resolução CONAMA Nº 316/2002 - "Dispõe sobre procedimentos e critérios para o funcionamento de sistemas de tratamento térmico de resíduos". Resolução CONAMA Nº 313/2002 - "Dispõe sobre o Inventário Nacional de Resíduos Sólidos Industriais". Resolução CONAMA Nº 307/2002 - "Estabelece diretrizes, critérios e procedimentos para a gestão dos resíduos da construção civil". Resolução CONAMA Nº 264/2000 - "Licenciamento de fornos rotativos de produção de clínquer para atividades de co-processamento de resíduos".
76
Resolução CONAMA Nº 257/1999 - "Estabelece que pilhas e baterias que contenham em suas composições chumbo, cádmio, mercúrio e seus compostos, tenham os procedimentos de reutilização, reciclagem, tratamento ou disposição final ambientalmente adequados". Resolução CONAMA Nº 023/1996 - "Regulamenta a importação e uso de resíduos perigosos". Resolução CONAMA Nº 037/1994 - "Adota definições e proíbe a importação de resíduos perigosos - Classe I - em todo o território nacional, sob qualquer forma e para qualquer fim, inclusive reciclagem/reaproveitamento". Resolução CONAMA Nº 006/1988 - "Dispõe sobre o licenciamento de obras de resíduos industriais perigosos". NBR 10004 - Resíduos sólidos – Classificação. NBR 10005 - Procedimento para obtenção de extrato lixiviado de resíduos sólidos. NBR 10006 - Procedimento para obtenção de extrato solubilizado de resíduos sólidos. NBR 10007 - Amostragem de resíduos sólidos. NBR 10157 - Aterros de resíduos perigosos - Critérios para projeto, construção e operação. NBR 11174 - Armazenamento de resíduos classes II - Não inertes e III – inertes.
77
NBR 11175 - Incineração de resíduos sólidos perigosos - Padrões de desempenho. NBR 12235 - Armazenamento de resíduos sólidos perigosos. NBR 13221 - Transporte terrestre de resíduos. NBR 13463 - Coleta de resíduos sólidos. NBR ABNT 15114 - Resíduos sólidos da construção civil – Áreas de reciclagem – Diretrizes para projeto, implantação e operação. NBR ISO 14001 - Sistemas de Gestão Ambiental – Especificação e Diretrizes para Uso. NBR ISO 14004 - Sistemas de Gestão Ambiental – Diretrizes Gerais sobre Princípios, Sistemas e Técnicas de Apoio. NBR ISO 14040 - Gestão ambiental - Avaliação do ciclo de vida - Princípios e estrutura.
79
ANEXO C – Diretrizes para apresentação e acompanhamento de projetos sobre a utilização de resíduos industriais.
1. Introdução
Resumo breve do trabalho e do produto que é proposto.
2. Diretrizes As seguintes considerações deverão ser realizadas, no melhor nível do
conhecimento disponível, durante a elaboração de propostas para
desenvolvimentos com resíduos.
2.1. Análise de Mercado
2.1.1. Definição do(s) cliente(s) alvo
2.1.2. Estimativa do volume potencial de consumo
2.1.3. Determinação dos requisitos particulares do(s) cliente(s) alvo
2.1.4. Definição de tratamentos prévios necessários aos resíduos
2.1.5. Determinação de fatores que motivariam o(s) cliente(s) alvo
(Redução de custo, agregação de valor, etc...)
2.1.6. Distribuição geográfica dos clientes alvo
Dever-se-á analisar os impactos da distribuição geográfica sobre os
custos logísticos e sobre eventuais danos ambientais.
2.2. Revisão da literatura
2.2.1. Realizar pesquisas bibliográficas em publicações científicas
conceituadas e em bancos de patentes nacionais e internacionais;
2.2.2. Estudos de casos reais (Quem, quando, onde e como? - Por que
falharam);
80
2.2.3. Analisar eventuais conflitos com direitos de propriedade
intelectual.
2.3. Análise sobre regulamentações e licenciamentos necessários para
transporte e testes industriais;
2.4. Análise sobre fatores que possam colocar em risco a saúde das
pessoas, ao longo de toda a cadeia produtiva;
2.5. Análise dos fatores que possam colocar em risco o meio ambiente, a
curto, médio e longo prazo, ao longo de toda a cadeia produtiva;
2.6. Análise prévia de viabilidade econômica;
2.7. Proposta de ensaios e experimentos nos níveis de bancada e piloto,
que possam comprovar as análises, quanto aos aspectos técnicos,
econômicos, ambientais e de higiene industrial.
3. Conclusões