universidade federal de sergipe programa de pÓs … · fitofisionomias e os fatores bióticos e...

73
UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ECOLOGIA E CONSERVAÇÃO INFLUÊNCIA DE FATORES AMBIENTAIS NA RIQUEZA E COMPOSIÇÃO DA MICOTA LIQUENIZADA EM ÁREA DE BREJO DE ALTITUDE E CAATINGA Jeanne dos Reis Silva Mestrado Acadêmico São Cristóvão Sergipe Brasil 2015

Upload: trandiep

Post on 09-Nov-2018

215 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

Page 1: UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE PROGRAMA DE PÓS … · fitofisionomias e os fatores bióticos e abióticos amostrados. Local (1) Caatinga, (2) ... Os liquens surgem a partir da interação

UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ECOLOGIA E

CONSERVAÇÃO

INFLUÊNCIA DE FATORES AMBIENTAIS NA RIQUEZA E

COMPOSIÇÃO DA MICOTA LIQUENIZADA EM ÁREA DE

BREJO DE ALTITUDE E CAATINGA

Jeanne dos Reis Silva

Mestrado Acadêmico

São Cristóvão

Sergipe – Brasil 2015

Page 2: UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE PROGRAMA DE PÓS … · fitofisionomias e os fatores bióticos e abióticos amostrados. Local (1) Caatinga, (2) ... Os liquens surgem a partir da interação

JEANNE DOS REIS SILVA

INFLUÊNCIA DE FATORES AMBIENTAIS NA RIQUEZA E COMPOSIÇÃO DA MICOTA LIQUENIZADA EM ÁREA DE

BREJO DE ALTITUDE E CAATINGA

Dissertação apresentada ao Programa

de Pós-Graduação em Ecologia e

Conservação da Universidade Federal

de Sergipe, como requisito parcial

para obtenção do título de Mestre em

Ecologia.

Orientadora: Profa. Dra. Marcela

Eugenia da Silva Cáceres

São Cristóvão Sergipe – Brasil

2015

Page 3: UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE PROGRAMA DE PÓS … · fitofisionomias e os fatores bióticos e abióticos amostrados. Local (1) Caatinga, (2) ... Os liquens surgem a partir da interação

FICHA CATALOGRÁFICA ELABORADA PELA BIBLIOTECA CENTRAL

UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE

Silva, Jeanne dos Reis

S586i A influência de fatores ambientais na riqueza e composição da micota liquenizada em área de brejo de altitude e caatinga / Jeanne dos Reis Silva ; orientadora Marcela Eugenia da Silva Cáceres. – Aracaju, 2015.

71 f. : il.

Dissertação (mestrado em Ecologia)– Universidade Federal de

Sergipe, 2015.

1. Ecologia. 2. Líquens - Composição. 3. Caatinga. I. Cáceres,

Marcela Eugenia da Silva, orient. II. Título.

CDU 574

Page 4: UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE PROGRAMA DE PÓS … · fitofisionomias e os fatores bióticos e abióticos amostrados. Local (1) Caatinga, (2) ... Os liquens surgem a partir da interação
Page 5: UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE PROGRAMA DE PÓS … · fitofisionomias e os fatores bióticos e abióticos amostrados. Local (1) Caatinga, (2) ... Os liquens surgem a partir da interação

AGRADECIMENTOS

ÀS FORÇAS DO BEM QUE ME GUIAM E ILUMINAM, AS QUAIS EU CHAMO DEUS!

A minha orientadora, Professora Dra. Marcela Cáceres, que me acolheu quando

me sentia sem rumo, por toda sua paciência, por todos os conhecimentos

compartilhados e, principalmente, pela confiança em mim depositada; meu muito

obrigada!

Aos meus primeiros amores, meus pais e minha avó, pelo incentivo, pela

paciência e amor a mim dedicado. Vovó, me destes livros e eu vos dou os frutos da

leitura.

Ao meu amor, pela paciência, atenção, carinho, por tudo de bom que me

proporciona. Tinha medo que o amor podasse meus sonhos, mas você os multiplicou e

passou a sonhar comigo.

As minhas tias e a família Lima Nascimento que me acolheram quando precisei,

Obrigada por tudo!

Aos companheiros de coleta pelo tempo que dispuseram pra me ajudar,

Dannyelly, Jaciele, Paulo e Viviane, agradeço imensamente a colaboração de vocês,

sem vocês esse trabalho não seria possível. A Luiz Custódio, o amigo Custódio, que

mesmo estando longe se dispôs a ajudar e foi também fundamental para realização

desse trabalho, e aos outros que por meio do seu pedido se dispuseram a nos ajudar.

Aos liquenólogos Dr. André Aptroot (ABL Herbarium, Holanda), Dr. Robert

Lücking (The Field Museum, Chicago) pelo auxílio nas identificações e ao colega

Cleverton Mendonça pelo auxilio com a estatística e todas as outras dicas passadas.

A Juliana Cordeiro, secretária do PPEC (Programa de Pós-Graduação em

Ecologia e Conservação), pela disposição em nos ajudar, sempre que necessitamos.

A Dona Zefa da Guia, e toda sua comunidade pela cordialidade com que nos

recebeu e acolheu no seio do seu lar durante nossas coletas. Obrigada, Dona Zefa,

aprendemos muito com a senhora, exemplo de solidariedade e acolhimento com todos

que necessitam.

A CAPES/FAPITEC pela concessão da bolsa, e a banca examinadora por aceitar

fazer parte deste momento.

Page 6: UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE PROGRAMA DE PÓS … · fitofisionomias e os fatores bióticos e abióticos amostrados. Local (1) Caatinga, (2) ... Os liquens surgem a partir da interação

A todos que fizeram parte dessa caminhada, em

especial a minha família.

DEDICO!

Page 7: UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE PROGRAMA DE PÓS … · fitofisionomias e os fatores bióticos e abióticos amostrados. Local (1) Caatinga, (2) ... Os liquens surgem a partir da interação

“Liberdade é uma palavra que o sonho

humano alimenta, não há ninguém que

explique e ninguém que não entenda.”

Cecília Meireles

Page 8: UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE PROGRAMA DE PÓS … · fitofisionomias e os fatores bióticos e abióticos amostrados. Local (1) Caatinga, (2) ... Os liquens surgem a partir da interação

SUMÁRIO LISTA DE FIGURAS .......................................................................................................9 LISTA DE TABELAS.....................................................................................................10 RESUMO GERAL ..........................................................................................................11 GENERAL ABSTRACT ................................................................................................12 INTRODUÇÃO GERAL ................................................................................................14 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ...........................................................................19

Capítulo 1. LIQUENS CORTICÍCOLAS CROSTOSOS EM ÁREA DE CAATINGA E BREJO DE ALTITUDE NA SERRA DA GUIA, POÇO REDONDO, SERGIPE, BRASIL 23 RESUMO ....................................................................................................................... 23 ABSTRACT .................................................................................................................. 25 INTRODUÇÃO ............................................................................................................ 26 MATERIAIS E MÉTODOS ........................................................................................ 29 Área de estudo ............................................................................................................... 29 Serra da Guia .................................................................................................................. 29 Coleta e Processamento de material biológico ........................................................... 31 Coleta do material biológico........................................................................................... 31 Processamento e identificação das amostras .................................................................. 32 Análises estatísticas dos dados ..................................................................................... 32 Análise da Riqueza ......................................................................................................... 32 Análise da Composição de espécies ............................................................................... 33 RESULTADOS ............................................................................................................. 33 Riqueza e composição de espécies ............................................................................... 33 DISCUSSÃO ................................................................................................................. 42 Riqueza de espécies ....................................................................................................... 42 Composição de espécies ................................................................................................ 43 CONCLUSÃO ............................................................................................................... 43 REFERÊNCIAS............................................................................................................ 45

Page 9: UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE PROGRAMA DE PÓS … · fitofisionomias e os fatores bióticos e abióticos amostrados. Local (1) Caatinga, (2) ... Os liquens surgem a partir da interação

Capítulo 2. INFLUÊNCIA DE FATORES BIÓTICOS E ABIÓTICOS NA RIQUEZA DE LIQUENS CORTICÍCOLAS EM ÁREAS DE BREJO DE ALTITUDE E CAATINGA ......................................................................................... 50 RESUMO ....................................................................................................................... 51 ABSTRACT .................................................................................................................. 53 INTRODUÇÃO ............................................................................................................ 54 MATERIAIS E MÉTODOS ........................................................................................ 57 Área de estudo ............................................................................................................... 57 Serra da Guia .................................................................................................................. 57 Coleta do material biológico ........................................................................................ 59 Processamento e identificação das amostras .................................................................. 60 Amostragem dos fatores bióticos e abióticos .............................................................. 60 Aferimento do pH da casca do hospedeiro ..................................................................... 60 Medição do diâmetro à altura do peito (DAP) ............................................................... 60 Medição da intensidade luminosa................................................................................... 61 Análise da intensidade luminosa .................................................................................... 62 Análises estatísticas dos dados ..................................................................................... 62 Análise da Riqueza ......................................................................................................... 62 Análise da Composição de espécies ............................................................................... 63 RESULTADOS ............................................................................................................. 63 DISCUSSÃO ................................................................................................................. 65 Riqueza ........................................................................................................................... 65 Composição .................................................................................................................... 66 CONCLUSÃO ............................................................................................................... 67 REFERÊNCIAS............................................................................................................ 68

Page 10: UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE PROGRAMA DE PÓS … · fitofisionomias e os fatores bióticos e abióticos amostrados. Local (1) Caatinga, (2) ... Os liquens surgem a partir da interação

LISTA DE FIGURAS Capítulo 1 – Liquens corticícolas crostosos em área de Caatinga e Brejo de Altitude na Serra da Guia, Poço Redondo, Sergipe, Brasil

Figura 1. Mapa territorial do estado de Sergipe com a localização das áreas de coletas ..............................................................................................................................30 Figura 2. Serra da Guia, Poço Redondo, Sergipe, Brasil .............................................. 31 Figura 3. Representação da área de Brejo de Altitude (esquerda); Caatinga (direita), Serra da Guia, município de Poço Redondo Sergipe .......................................................32 Figura 4. Desenho amostral do transecto demarcado nas áreas de Caatinga e Brejo de altitude para coleta de liquens corticícolas ......................................................................32 Figura 5. Liquens corticícolas amostrados nas duas fitofisionomias. (A) Glyphisscyphulifera,(B) Lecanora achroa, (C) Ramboldia russula, (D) Graphis cincta, (E) Trypethelium eluteriae, (F) Dirinarialeopoldii(G) Pyrenula anômala, (H) Diorygmapoitaei ..............................................................................................................39

Figura 6. Boxplot da ANOVA de Kruskal-Wallis entre a riqueza em relação ás duas áreas Local (1) Caatinga, (2) Brejo de Altitude. ..............................................................40

Figura 7. Análise de Cluster da composição de espécies entre as fitofisionomias. Local (1) Caatinga, (2) Brejo de Altitude ................................................................................. 41

Figura 8. Análise NMS da composição das espécies de liquens em relação as fitofisionomias. Local (1) Caatinga, (2) Brejo de Altitude..............................................42

Capítulo 2 - Influência de fatores bióticos e abióticos na riqueza de liquens corticícolas em áreas de Brejo de Atitude e Caatinga. Figura 1. Mapa territorial do estado de Sergipe com a localização das áreas de coletas ............................................................................................................................. 57 Figura 2. Serra da Guia, Poço Redondo, Sergipe, Brasil .............................................. 58 Figura 3. Representação da área de Brejo de Altitude (esquerda); Caatinga (direita), Serra da Guia, município de Poço Redondo Sergipe ...................................................... 59

9

Page 11: UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE PROGRAMA DE PÓS … · fitofisionomias e os fatores bióticos e abióticos amostrados. Local (1) Caatinga, (2) ... Os liquens surgem a partir da interação

Figura 4. Desenho amostral do transecto demarcado nas áreas de Caatinga e Brejo de altitude para coleta de liquens corticícolas ..................................................................... 59 Figura 5. Foto hemisférica tirada em campo com o auxílio da lente olho-de-peixe (A) e tratada com o programa GLA (B)....................................................................................61 Figura 6. Boxplot da ANOVA de Kruskal-Wallis entre a riqueza em relação ás duas áreas Local (1) Caatinga, (2) Brejo de Altitude ...............................................................64

Figura 7. Teste de correlação de Spearman entre o DAP e a riqueza ............................65 Figura 8. Análise NMS da composição das espécies de liquens em relação as fitofisionomias e os fatores bióticos e abióticos amostrados. Local (1) Caatinga, (2) Brejo de Altitude .............................................................................................................66

LISTA DE TABELAS

Capítulo 1. Liquens corticícolas crostosos em área de Caatinga e Brejo de Altitude

na Serra da Guia, Poço Redondo, Sergipe, Brasil.

Tabela 1. Lista de espécies de liquens corticícolas amostrados nas duas áreas de estudo. CA– Caatinga, BR – Brejo de Altitude ...........................................................................35

Tabela 2. Teste de Monte Carlo referente às espécies indicadoras das fitofisionomias. (P < 0,05), VI – Valor de Indicação ................................................................................42

10

Page 12: UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE PROGRAMA DE PÓS … · fitofisionomias e os fatores bióticos e abióticos amostrados. Local (1) Caatinga, (2) ... Os liquens surgem a partir da interação

RESUMO GERAL Os liquens surgem a partir da interação simbiótica entre um fungo, o micobionte, e um

ou mais componentes fotossintéticos, fotobiontes, que podem ser algas verdes e, ou

cianobactérias. Este trabalho teve como objetivo comparar a riqueza e composição de

liquens corticícolas crostosos em duas fitofisionomias, Caatinga e Brejo de Altitude, no

semiárido brasileiro, verificando se a riqueza e composição de espécies destes liquens

são influenciadas pelos fatores bióticos e abióticos, como luminosidade, pH da casca e

diâmetro na altura do peito (DAP) do hospedeiro, e altitude. Para a coleta dos liquens,

foram demarcados dois transectos de 300 m, um em cada área de estudo. Ao longo

destes transectos foram demarcados pontos a cada 10 m, sendo 30 pontos para cada

área, perfazendo um total de 60 pontos. Para cada ponto demarcado, foram adotados

como critério de escolha do hospedeiro a maior proximidade do ponto e a presença de

talos liquênicos na altura de 0,5 m até 1,50 m em relação ao solo no tronco da árvore.

Foram analisadas a riqueza e composição de espécies para cada área. Ao todo, foram

coletadas 576 amostras, totalizando 96 espécies de microliquens corticícolas. Não houve

uma diferença significativa na riqueza entre as duas áreas. Com relação à composição de

espécies, as áreas apresentaram diferença, porém com algumas espécies comuns para as

duas áreas. Comparando a riqueza de liquens corticícolas com os fatores bióticos e

abióticos, apenas o diâmetro à altura do peito (DAP) do hospedeiro selecionado,

apresentou-se de forma significativa em relação à riqueza de espécies de liquens

corticícolas. Relacionando a composição de espécies e os fatores bióticos e abióticos,

tivemos elevação, DAP e fitofisionomias (local), abertura do dossel, e riqueza

influenciando a composição. Desta forma, os resultados apresentados neste estudo

visam contribuir para o conhecimento ecológico dos fungos liquenizados, assim como

se torna subsídio para outras pesquisas que venham a aprimorar e enriquecer o

conhecimento ecológico e liquenológico da Caatinga e Brejos de Altitude.

Palavras-chave: Liquens corticícolas, Riqueza, Composição, Caatinga, Brejo de Altitude

11

Page 13: UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE PROGRAMA DE PÓS … · fitofisionomias e os fatores bióticos e abióticos amostrados. Local (1) Caatinga, (2) ... Os liquens surgem a partir da interação

GENERAL ABSTRACT

Lichens are the result of an symbiotic interaction between fungus, the mycobiont, and

one or more photosynthetic components, the photobionts, which can be a green algae

and/or a cyanobacteria. This study aimed to compare the species richness and

composition of corticolous crustose lichens in two forest types, Caatinga and Brejo de

Altitude, in relation to the influence of biotic and abiotic parameters such as light, bark

pH and diameter at breast height (DBH) of the host, and elevation. To collect the lichens

two transects of 300 m each were delimited, one per site. Along these transects,

sampling points were marked every 10 m, in a total of 30 points per site and 60 points

for the whole work. For each of the points, the nearest tree was selected which had a

lichen cover at the height of 0.5 m to 1.50 m from the ground on the tree trunk. The

species richness and composition for each area were analyzed. Altogether, 576 samples

were collected, totaling 96 species of corticolous microlichens. There was no significant

difference in species richness between the two areas. With respect to the species

composition, the areas were different, but with some common species between them.

Comparing the species richness of corticicolous lichens with biotic and abiotic factors,

only the diameter at breast height (DBH) of the selected host presented a significant

relationship. Relating the composition and biotic and abiotic factors, we had elevation,

DBH and vegetation types, canopy openness, influencing the species composition. Thus,

the results presented in this study are intended to contribute to the ecological knowledge

of lichenized fungi, and enhancing the ecological and lichenological knowledge on

Caatinga and Brejo de Altitude.

Keywords: Corticicolous lichens, species richness, species composition, Caatinga,

Brejo de Altitude, semiarid

12

Page 14: UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE PROGRAMA DE PÓS … · fitofisionomias e os fatores bióticos e abióticos amostrados. Local (1) Caatinga, (2) ... Os liquens surgem a partir da interação

INTRODUÇÃO GERAL 13

Page 15: UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE PROGRAMA DE PÓS … · fitofisionomias e os fatores bióticos e abióticos amostrados. Local (1) Caatinga, (2) ... Os liquens surgem a partir da interação

INTRODUÇÃO GERAL

Os liquens surgem a partir da interação simbiótica entre um fungo, o micobionte,

e um ou mais componentes fotossintéticos, fotobiontes, que podem ser algas verdes e,

ou cianobactérias (Ahmadjian, 1993, Nash III, 2008, Purvis, 2000). Essa união resulta

na formação de um talo liquênico, que não é encontrado em seus componentes quando

não liquenizados (Chaparro & Ceballos, 2002).

O Reino Fungi abrange uma enorme diversidade de táxons, que apresenta

diferentes ecologias, estratégias reprodutivas e morfologias. Aproximadamente 20% de

todos os fungos são liquenizados, representando quase metade de todos os Ascomycota,

em torno de 13.500 espécies, com poucas espécies de Basidiomycota liquenizados (Kirk

et al., 2001).

Os liquens variam em sua complexidade, desde formas muito simples até

estruturas morfológicas e anatômicas muito complexas, sendo separados, de acordo com

a forma de crescimento, em crostosos, esquamulosos, foliosos, filamentosos e fruticosos

(Purvis, 2000).

Os liquens foliosos apresentam estrutura dorsiventral, aderidos ao substrato por

algumas regiões do talo, geralmente a parte central, e apresentam um córtex inferior. Os

liquens de talo fruticoso são compostos por ramos, que podem ser simples, divididos,

cilíndricos ou achatados. O talo esquamuloso é formado por pequenas escamas

agregadas de talo, interligadas apenas por micélio fúngico. Os filamentosos, um dos

tipos mais simples de talo, são formados por filamentos frouxos e entrelaçados

(Spielmann, 2006). Os liquens com crescimento crostoso, também denominados de

microliquens (Lücking et al., 2009), representam a maioria das espécies liquênicas,

principalmente em regiões tropicais, compreendendo cerca de 75% das espécies

conhecidas de fungos liquenizados. Estes talos crostosos caracterizam-se pela ausência

de córtex inferior, aderindo ao substrato por toda a sua medula, tornando difícil a sua

remoção de rochas, folhas e cascas de árvores sem o substrato (Carlile et al., 2001,

Ahmadjian, 1993).

Mesmo representando a grande maioria das espécies, os liquens crostosos ainda

são o grupo menos conhecido, principalmente em regiões tropicais e subtropicais.

Geralmente, estes talos, por apresentarem um tamanho reduzido, passam despercebidos,

não sendo coletados (Dal Forno, 2009).

14

Page 16: UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE PROGRAMA DE PÓS … · fitofisionomias e os fatores bióticos e abióticos amostrados. Local (1) Caatinga, (2) ... Os liquens surgem a partir da interação

O tipo de substrato em que um fungo liquenizado cresce pode ser importante na

identificação, já que, muitas vezes, determinadas espécies são bastante seletivas quanto

ao substrato utilizado. Neste aspecto, os liquens são classificados em corticícolas,

(quando crescem sobre o córtex das árvores), saxícolas (sobre rocha), terrícolas (no

solo), muscícolas (sobre musgos) e foliícolas, sobre folhas (Nash III, 2008).

Os liquens fazem parte de um grupo extremamente diverso, encontrado em quase

todos os habitats terrestres, desde os trópicos às regiões polares (Nash III, 2008). Estão

presentes em, aproximadamente, 8% da superfície terrestre como a forma de vida

dominante (Odum, 2008). Sendo sua abundância notável em ambientes onde as

condições são extremas para a maioria dos organismos isoladamente (Ahmadjian,

1993), essa capacidade é resultado da combinação de vários fatores que lhe

proporcionam uma adaptabilidade relevante na associação simbiótica (Morales et al. 2009). Entre esses fatores estão sua capacidade de produzir substâncias químicas que,

provavelmente, fazem parte de um sistema de defesa contra herbivoria, assim como a

capacidade de colonização de uma grande variedade de substratos (Morales et al. 2009),

e a sua capacidade para mudança rápida e frequente de um estado ativo a um estado de

inatividade metabólica, quando as condições ambientais se tornam adversas, como

temperatura, radiação e disponibilidade hídrica (López 2006).

Segundo Umaña & Sipman (2002), são vários os fatores que influenciam a

distribuição dos liquens. Dentre esses fatores, temos características dos forófitos, como

o pH da casca e DAP (diâmetro à altura do peito), relações hídricas, disposição de

nutrientes e condições ambientais microclimáticas como umidade do ar, luminosidade e

temperatura (Käffer et al., 2007, Topham, 1977, Brodo, 1973), a elevação e umidade da

área (Morales et al. 2009), além da atividade humana (Umaña & Sipman, 2002).

O Nordeste brasileiro é composto por uma variedade de ecossistemas em sua

extensão territorial, apresentando desde fragmentos de Mata Atlântica até encraves de

Cerrado (Santos & Melo, 2010). A Caatinga é o tipo de vegetação que cobre a maior

parte da região com clima semiárido, destacando-se por apresentar uma grande

diversidade de espécies vegetais (Giulietti et al, 2003).

A Caatinga ocupa cerca de 11% do território brasileiro (844.453 km²) e, apesar

de ser o Bioma menos conhecido do país, é o principal da região Nordeste, abrangendo

os estados da Bahia, Sergipe, Alagoas, Pernambuco, Paraíba, Rio Grande do Norte,

Ceará, Piauí, Maranhão e Norte de Minas Gerais. Apresenta uma grande riqueza de

ambientes e espécies (MMA, 2014), sendo a única grande região natural brasileira cujos

15

Page 17: UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE PROGRAMA DE PÓS … · fitofisionomias e os fatores bióticos e abióticos amostrados. Local (1) Caatinga, (2) ... Os liquens surgem a partir da interação

limites estão inteiramente restritos ao território nacional, entretanto, menos de 1% desse

ecossistema está situado em Unidades de Conservação (UCs) (Santos et al., 2011).

Para Tabarelli e Vicente (2004), a recente descrição de espécies de fauna e flora

da Caatinga demonstra um conhecimento zoológico e botânico precário. O que é

preocupante já que de acordo com Leal et al. (2003), a Caatinga vem passando por um

extenso processo de alteração e deterioração ambiental provocado pelo uso

insustentável dos seus recursos naturais, o que esta levando à rápida perda de espécies

únicas, à eliminação de processos ecológicos chaves e à formação de extensos núcleos

de desertificação em vários setores da região. Segundo estes autores, o estudo e a

conservação da diversidade biológica da Caatinga é um desafio para a ciência brasileira.

A maior diversidade na Caatinga está associada ás maiores altitudes,

especialmente em áreas rochosas que captam maior umidade atmosférica, atuando como

refúgio para as espécies florestais, como pode ser observado pela presença das florestas

de Brejo de Altitude dentro dessa região (Giulietti et al., 2003).

Os Brejos de Altitude ou Matas serranas são encraves de Mata Atlântica

inseridos no Bioma Caatinga em regiões de maior altitude (Machado, 2011). De acordo

com Theulen (2004), as áreas de Brejos de Altitude são núcleos de relevante

importância para a preservação da biodiversidade, seja por sua singularidade e raridade,

ou pelos muitos atributos naturais ali encontrados, em particular a diversidade natural de

espécies.

Dados obtidos na literatura referem-se à existência de 43 Brejos de Altitude,

distribuídos nos estados do Ceará, Rio Grande do Norte, Paraíba e Pernambuco,

cobrindo uma área original de aproximadamente 18.500 km2. Somente Pernambuco e

Paraíba possuem 31 brejos, distribuídos em 28 municípios do agreste e sertão (Tabarelli

& Santos, 2004).

A existência destas ilhas de floresta está associada à ocorrência de planaltos e

chapadas entre 500—100 m de altitude na Caatinga, onde as chuvas orográficas

garantem níveis de precipitação superiores a 1200 mm/ano (Tabarelli & Santos, 2004).

As condições favoráveis ao crescimento vegetal nos brejos propiciam maiores

diversidade e densidade animais em relação às áreas vizinhas. Suas características de

isolamento geográfico e reduzida extensão tornam-se potenciais refúgios para espécies

animais endêmicas ou ameaçadas (Theulen, 2004).

Segundo Tabarelli & Santos (2004), o atual ritmo de degradação ao qual os

Brejos de Altitude estão submetidos resulta na extinção de espécies lenhosas devido à

16

Page 18: UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE PROGRAMA DE PÓS … · fitofisionomias e os fatores bióticos e abióticos amostrados. Local (1) Caatinga, (2) ... Os liquens surgem a partir da interação

interrupção de processos chaves, como a polinização e a dispersão associada ao

desaparecimento de vertebrados frugívoros devido à fragmentação e a caça, o que,

consequentemente, pode levar esses ecossistemas ao completo desaparecimento em um

futuro próximo.

No Brasil, ainda são poucos os estudos ecológicos relacionados aos liquens,

principalmente fora das regiões Sul e Sudeste (Cáceres, 2007). Segundo Menezes et al. (2011), ainda menor é o número de trabalhos dedicados ao estudo da resposta dos

liquens crostosos aos fatores bióticos e abióticos, sendo que novas áreas precisam ser

estudadas a nível regional, para uma melhor representação da diversidade destes

organismos em áreas de Caatinga, no semiárido nordestino.

No Nordeste brasileiro, Cáceres et al. (2007) estudaram a composição e riqueza

de espécies de liquens corticícolas crostosos em uma área de Floresta Atlântica no

Estado de Alagoas, correlacionando-as com características da casca do hospedeiro e a

intensidade de luz incidente. Além desse trabalho, temos uma comparação entre a

composição de espécies de liquens de três fitofisionomias ocorrentes nas regiões, Mata

Atlântica, Caatinga e Brejos de Altitude, no qual foi observado uma baixa similaridade

entre as áreas, que pode ser relacionada ao tipo de vegetação e grau de luminosidade

(Cáceres et al. 2008). E, recentemente, um estudo ecológico e florístico da micota

liquenizada corticícola crostosa, na Chapada do Araripe, em áreas de carrasco e

cerradão, no Ceará, empregou a mesma metodologia proposta no presente estudo

(Menezes, 2013).

São poucos os estudos realizados sobre liquens corticícolas crostosos em Brejos

de Altitude, exceto trabalhos realizados no estado de Pernambuco, nos quais foram

visitados a Serra dos Cavalos e o município de Bonito (Cáceres, 2007, Cáceres &

Lücking, 2000, Cáceres et al., 2008, Lücking & Cáceres, 2004) e, recentemente, um

estudo ecológico e florístico da micota liquenizada corticícola crostosa na Mata do Pau-

ferro, área de Brejo de Altitude no Estado da Paraíba, que empregou a mesma

metodologia proposta no presente estudo (Xavier-Leite, 2013).

Diante do exposto, esta dissertação tem como objetivo principal comparar a

riqueza e composição de liquens corticícolas crostosos em duas fitofisionomias,

Caatinga e Brejo de Altitude, no Estado de Sergipe, verificando se a riqueza e

composição de espécies destes liquens são influenciadas pelos fatores bióticos e

abióticos, como luminosidade, pH da casca e diâmetro na altura do peito (DAP) do

hospedeiro e altitude.

17

Page 19: UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE PROGRAMA DE PÓS … · fitofisionomias e os fatores bióticos e abióticos amostrados. Local (1) Caatinga, (2) ... Os liquens surgem a partir da interação

Este trabalho é apresentado em dois capítulos. O primeiro capítulo tem como

objetivo comparar a riqueza e composição de liquens corticícolas em duas

fitofisionomias, Brejo de Altitude e Caatinga, no estado de Sergipe; o segundo capítulo

traz como objetivo verificar se a riqueza e composição são influenciadas pelos fatores

bióticos e abióticos, luminosidade, pH da casca e diâmetro à altura do peito (DAP) do

hospedeiro, e altitude.

18

Page 20: UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE PROGRAMA DE PÓS … · fitofisionomias e os fatores bióticos e abióticos amostrados. Local (1) Caatinga, (2) ... Os liquens surgem a partir da interação

REFERÊNCIAS Ahmadjian V. 1993. The Lichen Symbiosis. New York: John Wiley & Sons. p. 250.

Brodo IM. 1973 Substrate ecology. In: The Lichens. Hale, M.E. (ed.) Academic Press.

New York 401-436. Cáceres MES, Maia LC, Lücking R. 2000. Foliicolous lichens and their lichenicolous

fungi in the atlantic rainforest of Brazil: diversity, ecogeography and

conservation. Bibliotheca Lichenologica. v. 75. Cáceres MES, Lücking R, Rambold G. 2007. Phorophyte specificity and environmental

parameters versus stochasticity as determinants for species composition of

corticolous crustose lichen communities in the Atlantic rainforest of northeastern

Brazil. Mycological Progress 6: 117-136. Cáceres MES, Lücking R, Rambold G. 2008. Corticolous microlichens in northeastern,

Brazil: Habitat differentiation between coastal Mata Atlântica, Caatinga and

Brejos de Altitude. The Bryologist 111(1): 98-117. Carlile MJ, Watkinson SC, Gooday GW. 2001. The Fungi. 2ed, 76p. Chaparro MV & Ceballos JA. 2002. Hongos liquenizados. Universidad Nacional de

Colombia, Sede Bogotá. 1ed, 9-12p. Dal-Forno M. 2009. A Família Graphidaceae (AscomycotaLiquenizados) em Restinga

em Pontal do Sul, Pontal do Paraná, Paraná. Dissertação (Mestrado) –

Universidade Federal do Paraná-UFPR. Curitiba. 158p. Odum E P. 2008. Fundamentos de ecologia. São Paulo: Cegage Learning. Giulietti AM, Bocage Neta AL, Castro AAJF, Gamara-Rojas CFL, Sampaio EVSB,

Vírginio JF, Queiroz LP, Figueiredo MA, Rodal MJN, Barbosa MRV, Harley

RM. Diagnóstico da vegetação nativa do Bioma Caatinga. In: Silva, JMC. da,

Tabarelli, M, Fonseca, MT, Lins, LV. 2003. Biodiversidade da caatinga: áreas e

ações prioritárias para a conservação. Brasília, DF: Ministério do meio Ambiente:

Universidade Federal de Pernambuco. 382p.

Käffer MI, Ganade, G, Marcelli MP. 2007. Interação entre liquens e forófitos em quatro

ambientes na FLONA de São Francisco de Paula. Revista Brasileira de

Biociências v.5.

19

Page 21: UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE PROGRAMA DE PÓS … · fitofisionomias e os fatores bióticos e abióticos amostrados. Local (1) Caatinga, (2) ... Os liquens surgem a partir da interação

Kirk PM, Cannon PF, David JC. 2001. Dictionary of fungi. 9th ed.CABI Bioscience,

Egham, UK. Leal IR, Tabarelli M, Silva JMC. 2003. Ecologia e conservação da caatinga: uma

introdução ao desafio. Recife: Universitária da UFPE. 796p. López BF. 2006. Respostas dos Liquens a Fatores Ambientais. Fungos Liquenizados.

In: Xavier Filho, L, Legaz, ME, Cordoba, CV & Pereira EC (eds). Biologia de

Liquens. Rio de Janeiro. Ed. Âmbito Cultural. 624p. Lücking R, Cáceres MES. 2004. Corticolous species of Trichothelium (Ascomycota:

Porinaceae). Mycological Research 108: 571–575. Lücking R, Rivas Plata E, Chaves JL, Umaña L, Sipman HJM. 2009. How many

tropical lichens are there... really? Bibliotheca Lichenologica 100: 399-418. MMA (Ministério do Meio Ambiente). 2014. Caatinga. Disponível em:

http://www.mma.gov.br/biomas/caatinga. Acesso em Novembro de 2014.

Machado WJ. 2011. Composição Florística e Estrutura da Vegetação em Área de

Caatinga e Brejo de Altitude na Serra da Guia, Poço Redondo, Sergipe, Brasil.

Dissertação (Mestrado). Universidade Federal de Sergipe, São Cristóvão. Menezes AA. 2013. Resposta da comunidade de microliquens corticícolas a fatores

ambientais em duas fitofisionomias. Dissertação (mestrado em Ecologia e

Conservação) – Universidade Federal de Sergipe- UFS. São Cristovão. 105 p.

Menezes AA, Leite ABX, Otsuka AY, Jesus LS & Cáceres MES. 2011. Novas

ocorrências de liquens corticícolas crostosos e microfoliosos em vegetação de

Caatinga no semi-árido de Alagoas. Acta Botânica Brasílica 25(4): 885-889. Morales AE, Lücking R, Anze R. 2009. Una Introducción al Estudio de los Líquenes de

Bolivia. Universidad CatólicaBoliviana ―San Pablo‖, 2-37p.

Nash III TH. 2008. Lichen Biology. Cambridge: Cambridge University Press. 2o ed.

496p. Purvis W. 2000. Lichens.The Natural History Museum, Londom.51p. Santos ACJ, Melo JIM. 2010. Flora vascular de uma área de caatinga no estado da

Paraíba - Nordeste do Brasil. Revista Caatinga (23): 32-40. Santos JC, Leal IR, Almeida-Cortez JS, Fernandes GW, Tabarelli M. 2011. Caatinga:

the scientific negligence experienced by a dry tropical forest. Tropical

Conservation Science. 4 (3): 276-286.

20

Page 22: UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE PROGRAMA DE PÓS … · fitofisionomias e os fatores bióticos e abióticos amostrados. Local (1) Caatinga, (2) ... Os liquens surgem a partir da interação

Spielmann AA. 2006. Checklist of lichens and lichenicolous Fungi of Rio Grande do

Sul (Brazil). Caderno de Pesquisa. Série Biologia (UNISC) 18: 7-125.

Tabarelli, M. & Santos, AMM. 2004. Uma breve descrição sobre a história

natural dos Brejos Nordestinos. Pp 17-24. In: Pôrto, KC, Cabral, JJP & Tabarelli,

M. (Org.). Brejos de altitude em Pernambuco e Paraíba: história natural, ecologia

e conservação. Brasília: Ministério do Meio Ambiente, 324p. Tabarelli M. & Vicente A. 2004. Conhecimento sobre plantas lenhosas da Caatinga:

lacunas geográficas e ecológicas. In: J.M.C. Silva, M. Tabarelli, MT. Fonseca &

LV. Lins (orgs.). Biodiversidade da Caatinga: áreas e ações prioritárias para a

conservação: 101-111. Ministério do Meio Ambiente, Brasília. Theulen V. 2004. Conservação dos brejos de altitude no Estado de Pernambuco.In:

Porto, KC., Cabral, JJP., Tabarelli,M. Brejos de altitude em pernambuco e

paraíba: história natural, ecologia e conservação. Brasília: Ministério do Meio

Ambiente. p. 299-302. Topham P. 1977. Colonization, Growth, Succession and Competition. In: Seaward M.

R. D. (ed), Lichen Ecology. Academic Press, London, pp 32-68. Umaña L. & Sipman H. 2002. Liquenes de Costa Rica Lichens. Santo Domingo

de Heredia, Costa Rica: Instituto Nacional de Biodiversidad, INBio, 9-11p

Xavier-Leite ABX. 2013. Influência de fatores ambientais na riqueza e composição de

espécies de liquens corticícolas em área de Brejo de Altitude e Caatinga.

Dissertação (mestrado em Ecologia e Conservação) – Universidade Federal de

Sergipe- UFS. São Cristóvão. 89 p.

21

Page 23: UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE PROGRAMA DE PÓS … · fitofisionomias e os fatores bióticos e abióticos amostrados. Local (1) Caatinga, (2) ... Os liquens surgem a partir da interação

CAPÍTULO 1

LIQUENS CORTICÍCOLAS CROSTOSOS EM ÁREA DE CAATINGA E BREJO DE

ALTITUDE NA SERRA DA GUIA, POÇO REDONDO, SERGIPE, BRASIL

22

Page 24: UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE PROGRAMA DE PÓS … · fitofisionomias e os fatores bióticos e abióticos amostrados. Local (1) Caatinga, (2) ... Os liquens surgem a partir da interação

LIQUENS CORTICÍCOLAS CROSTOSOS EM ÁREA DE CAATINGA E

BREJO DE ALTITUDE NA SERRA DA GUIA, POÇO REDONDO, SERGIPE,

BRASIL

Jeanne dos Reis Silva¹, André Aptroot², Robert Lücking³ & Marcela Eugenia da

Silva Cáceres¹

¹Programa de Pós-Graduação em Ecologia e Conservação, Universidade Federal de

Sergipe, CEP: 49100-000, São Cristóvão, Sergipe, Brasil. ²ABL Herbarium, G.v.d. Veenstraat 107, NL-3762 X K Soest, The Netherlands. ³Science & Education, The Field Museum of Natural History, 1400 South Lake Shore

Drive, Chicago, Illinois 60605, USA.

RESUMO: Os liquens fazem parte de um grupo diversificado de fungos, sendo

unidades biológicas resultantes da associação simbiótica entre um componente

heterotrófico, o fungo, e um componente autotrófico, que pode ser uma alga ou

cianobactéria. Constituindo um grupo biológico e não sistemático, os liquens são

reconhecidos pela sua estratégia nutricional. O presente trabalho testou a hipótese de

que a riqueza e composição de espécies de liquens corticícolas são distintas para as duas

áreas estudadas, Caatinga e Brejo de Altitude, devido à diferença do tipo de vegetação.

Em duas fitofisionomias, Caatinga e Brejo de Altitude, na Serra da Guia, município de

Poço Redondo, estado de Sergipe, foram demarcados dois transectos de 300 m, um em

cada área. Nestes transectos, foram demarcados pontos a cada 10 m, sendo 30 pontos

para cada área, perfazendo um total de 60 pontos. Para cada um dos 60 pontos

demarcados, foram adotados como critério de escolha do hospedeiro maior proximidade

da árvore e a presença de talos liquênicos no tronco, na altura de 0,5 m até 1,50 m em

relação ao solo. Foram analisadas a riqueza e composição para cada área. Foram

coletadas 576 amostras, totalizando 96 espécies de microliquens corticícolas, em 53

gêneros e 28 famílias. Não houve uma diferença significativa na riqueza entre as duas

áreas. Com relação à composição de espécies, as áreas apresentaram diferença, porém

com algumas espécies comuns para as duas áreas, também foi possível identificar

algumas espécies como indicadoras para cada fitofisionomia. Considerando que são

poucos os estudos a respeito da diversidade de liquens corticícolas para essas áreas, e

23

Page 25: UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE PROGRAMA DE PÓS … · fitofisionomias e os fatores bióticos e abióticos amostrados. Local (1) Caatinga, (2) ... Os liquens surgem a partir da interação

nenhum estudo para a Serra da Guia, esta pesquisa se torna de suma importância para o

conhecimento da riqueza e composição de espécies para o Brejo de Altitude e a

Caatinga, buscando através do conhecimento taxonômico, novas informações para o

conhecimento e preservação destas fitofisionomias, ressaltando seu potencial biológico.

Palavras-chave: Liquens corticícolas, Riqueza, Composição, Caatinga, Brejo de Altitude

24

Page 26: UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE PROGRAMA DE PÓS … · fitofisionomias e os fatores bióticos e abióticos amostrados. Local (1) Caatinga, (2) ... Os liquens surgem a partir da interação

ABSTRACT: Lichens are part of a diverse group of fungi. They are biological units

that result from a symbiotic association between a heterotrophic component, a fungus,

and an autotrophic partner, which may be an algae or cyanobacteria. Lichens constitute

a biological and not systematic group, recognized for its nutricional strategy. The

present study tested the hypothesis that species richness and composition of

corticicolous crustose lichens are different for the two studied areas, due to the

difference in the type of vegetation. In two forest types, Caatinga and Brejo de Altitude,

at Serra da Guia, municipality of Poço Redondo, Sergipe State, two transects (one per

area) of 300 m each were delimited. In each of these transects, sampling points were

marked every 10 m, making a total of 30 points for each area and 60 points as a

whole.For each of the points, the nearest tree was selected which had a lichen cover on

the tree trunk at the height of 0.5 m to 1.50 m from the ground. Altogether, 576 samples

of corticicolous microlichens were collected, totaling 96 species, in 53 genera and 28

families. There was no significant difference in species richness between the two areas.

With respect to species composition, the areas were different, but with some shared

species found in both areas. Some species were also identified as indicators for each

vegetation type. The fact that there are few studies about the diversity of corticicolous

crustose lichens for such types of vegetation, and no study for Serra da Guia, this

research is of great importance for the understanding species richness and composition

to the Brejo de Altitude and the Caatinga, searching through the taxonomic study new

information to the knowledge and preservation of these areas, highlighting their

biological potential.

Keywords: Corticicolous lichens, Diversity, Caatinga, Brejo de Altitude

25

Page 27: UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE PROGRAMA DE PÓS … · fitofisionomias e os fatores bióticos e abióticos amostrados. Local (1) Caatinga, (2) ... Os liquens surgem a partir da interação

INTRODUÇÃO

Os liquens fazem parte de um grupo diversificado de fungos encontrados na

natureza que estão associados a uma alga e/ou cianobactéria (Webster & Weber, 2007).

São unidades biológicas estáveis resultantes da associação simbiótica entre um

componente heterotrófico, o fungo, e um componente autotrófico fotossintetizante

(Nash, 2008). Os componentes fotossintetizantes, ou fotobiontes, que podem ser algas

e/ou cianobactéras, são responsáveis pela produção dos compostos carbônicos ricos em

energia, sendo protegidos dos extremos de variação ambiental e dissecação pelo

micobionte. Além disso, os fotobiontes recebem os nutrientes minerais que os fungos

retiram do ambiente externo (Raven et al., 2014). Os liquens constituem um grupo

biológico e não sistemático, reconhecido pela sua estratégia nutricional (Kirk et al.,

2001). Com relação a sua nomenclatura, o Código Internacional de Nomenclatura

Botânica (Capítulo II, Seção 4, Artigo 13.1 (d), 2003) estabelece que, os nomes

científicos que se aplicam aos liquens se referem exclusivamente ao fungo.

Os liquens apresentam distribuição cosmopolita, sendo capazes de colonizar

vários substratos, graças à associação liquênica (Odum, 2008). Representam uma

porção significativa da biodiversidade das florestas em todo o mundo (De Bolt et

al.,2007). No entanto, o conhecimento da distribuição liquênica é limitado (Flakus et

al., 2006) em relação às regiões tropicais e subtropicais e, principalmente, aos liquens

que formam talos crostosos que, apesar de representar a grande maioria das espécies,

constituem o grupo menos conhecido (Dal-Forno, 2009).

Até pouco tempo, estimava-se que o número de espécies de liquens fosse cerca

de 13.500 em todo o mundo (Deacon 2006; Grube & Kroken 2000; Wesbter & Weber

2007). O Filo Ascomycota, que abriga a maioria dos liquens, é o maior grupo de fungos

existente, com cerca de 64.000 (Kirk et al., 2008). No entanto, estimativas mais precisas

da diversidade de espécies deste grupo de organismos são limitadas devido a alguns

fatores como, por exemplo, os conceitos de espécies em grupos instáveis, a existência

de inúmeros problemas taxonômicos não resolvidos, especialmente nos liquens

crostosos, e o escasso estudo da micota liquênica em diversas áreas do mundo,

principalmente em regiões tropicais (Feuerer &. Hawksworth, 2006).

Ainda são poucos os estudos desenvolvidos em relação à diversidade de espécies

de liquens no Brasil se comparados aos realizados em outros países, especificamente no

que diz respeito aos microliquens (Cáceres 2007; Cáceres et al. 2008a). Na região Sul,

destacam-se os trabalhos realizados sobre Graphidaceae (Dal Forno, 2009; Feuerstein &

26

Page 28: UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE PROGRAMA DE PÓS … · fitofisionomias e os fatores bióticos e abióticos amostrados. Local (1) Caatinga, (2) ... Os liquens surgem a partir da interação

Eliasaro, 2014), além de estudos florísticos em geral de liquens foliosos (Fleig &

Riquelme, 1991; Fleig & Filho, 1990; Käffer & Mazzitelli, 2005; Käffer et al., 2010;

Martins & Marcelli, 2011; Martins et al., 2011; Spielmann 2006). Para a região Sudeste,

Benatti & Marcelli (2007) realizaram um inventário dos gêneros de liquens crostosos

em área de manguezal. De igual relevância, há o estudo de liquens do Parque Nacional

do Caraça, com novos registros e novas espécies, no estado de Minas Gerais (Aptroot,

2002), assim como o inventário de liquens em duas áreas de Mata Atlântica no Estado

de Minas Gerais (Lombardi et al., 1999).

Trabalhos atuais de grande importância para o estudo da diversidade de fungos

liquenizados realizados no Brasil foram desenvolvidos por Cáceres et al. (2012, 2014),

e Aptroot & Cáceres (2014), na Amazônia brasileira, resultando em novas espécies e

combinações de microliquens corticícolas.

Em termos de estudos escológicos de liquens crostosos na Região Nordeste, os

trabalhos de Cáceres et al. (2007, 2008) são considerados um marco inicial. Nestes

estudos, foram analisadas a composição e riqueza de espécies de liquens em uma área

de Floresta Atlântica no Estado de Alagoas, correlacionando estas variáveis com

características da casca do hospedeiro e a intensidade de luz incidente (Cáceres et al.,

2007). Também foi realizada uma comparação entre a composição de espécies de

liquens de três fitofisionomias ocorrentes nas regiões, a Mata Atlântica, Caatinga e

Brejos de Altitude, no qual foi observada uma baixa similaridade entre as áreas, que

pode ser relacionada ao tipo de vegetação e grau de luminosidade (Cáceres et al. 2008).

E, recentemente, um estudo ecológico e florístico da micota liquenizada corticícola

crostosa na Mata do Pau-ferro, área de Brejo de Altitude no Estado da Paraíba, que

empregou a mesma metodologia proposta no presente estudo (Xavier-Leite, 2013).

Em relação ao Estado de Sergipe, ainda são escassos os estudos sobre a

diversidade e ecologia de liquens, sendo o primeiro trabalho no semiárido sergipano

realizado por Rodrigues (2012), com o levantamento da micota liquenizada em uma

área de caatinga, relacionando a ocorrência a alguns fatores ambientais. Mais

recentemente, destaca-se o estudo da influência de diferentes estágios sucessionais na

composição e riqueza de liquens na caatinga (Mendonça, 2014).

A Caatinga pode ser caracterizada como floresta arbórea ou arbustiva,

compreendendo, principalmente, indivíduos baixos, geralmente dotados de espinhos,

apresentando microfilia e algumas características xerófitas (Prado, 2005). Este tipo de

27

Page 29: UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE PROGRAMA DE PÓS … · fitofisionomias e os fatores bióticos e abióticos amostrados. Local (1) Caatinga, (2) ... Os liquens surgem a partir da interação

vegetação cobre a maior parte dos Estados do Piauí, Ceará, Rio Grande do Norte,

Paraíba, Pernambuco, Alagoas, Sergipe, Maranhão, Bahia e a parte norte de Minas

Gerais, no vale do Jequitinhonha (Leal et al., 2005).

Os Brejos de Altitude nordestinos são considerados encraves da Mata Atlântica

em áreas de Caatinga, que formam ilhas de floresta úmida em maiores elevações na

região semiárida, apresentando uma condição climática bastante atípica e privilegiada

quanto à umidade do ar e do solo, temperatura, vegetação e cobertura vegetal (Andrade-

Lima, 1966). Essas florestas mais úmidas estendem-se sobre as encostas e topos das

chapadas e serras com mais de 600 m de altitude e que recebem mais de 1.200 mm de

chuvas orográficas (Andrade-Lima 1966, Prado, 2005).

Segundo Odum (2004), é importante reconhecer que a diversidade de espécies

tem um certo número de componentes que podem responder de forma diferente aos

fatores geográficos, de desenvolvimento ou físicos. Sendo que a composição de

espécies de uma área refere-se às espécies que estão presentes e a riqueza de espécies

pode ser expressa como o número de ―tipos‖ de componentes (espécies) por unidade de

espaço (Odum & Barrett 2008). Diante do exposto, o presente estudo tem como objetivo

analisar a diversidade de liquens corticícolas em duas fitofisionomias, Caatinga e Brejo

de Altitude, comparando a riqueza e composição para as duas áreas de estudo, testando

a hipótese de que a riqueza e composição de espécies de liquens corticícolas crostosos

são diferentes para as duas áreas, diante da diferença do tipo de vegetação, sendo a

riqueza maior para a área de Brejo de Altitude.

28

Page 30: UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE PROGRAMA DE PÓS … · fitofisionomias e os fatores bióticos e abióticos amostrados. Local (1) Caatinga, (2) ... Os liquens surgem a partir da interação

MATERIAIS E MÉTODOS

Área de estudo

A coleta de liquens para o desenvolvimento do presente trabalho foi realizada no

mês de Janeiro de 2014, em áreas de Brejo de Altitude e Caatinga, no Estado de

Sergipe, Brasil. Ambas as áreas são localizadas, mais especificamente, na Serra da Guia,

município de Poço Redondo, em Sergipe (Figura 1).

Figura 1. Mapa do Estado de Sergipe, localização das áreas de coleta.

Serra da Guia

A Serra da Guia (9° 58’S e 37° 52’W) faz parte do complexo da Serra Negra e

está localizada na divisa dos municípios de Poço Redondo, em Sergipe, e Pedro

Alexandre, na Bahia (Figura 2), sendo o ponto mais alto do Estado de Sergipe, com 740

m (Machado, 2011).

29

Page 31: UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE PROGRAMA DE PÓS … · fitofisionomias e os fatores bióticos e abióticos amostrados. Local (1) Caatinga, (2) ... Os liquens surgem a partir da interação

Figura 2. Serra da Guia, Poço Redondo, Sergipe, Brasil. (Fonte: SILVA, 2014).

A região possui altitudes que variam entre 300 e 740 metros, podendo ser

observada a presença de duas fitofisionomias bastante diferentes ao longo desse

gradiente altitudinal, uma Caatinga arbustiva e uma formação vegetal arbórea

semelhante à Mata Atlântica (Figura 3) (Machado, 2011).

A Serra da Guia trata-se de uma formação vegetal completamente circundada

pelo semiárido, com uma mata exuberante em seu topo e encostas com vegetação

nativa, ligando-se á Caatinga da depressão sertaneja no seu sopé (Machado, 2011).

Ainda segundo este autor, o clima da região é semiárido e a precipitação pluviométrica

média é de cerca de 650 mm/ano, bastante irregular, e com volumes de chuvas mais

concentrados entre os meses de maio e julho.

A formação vegetal denominada Brejo de Altitude localiza-se entre 650 e 750

metros de altitude e possuem uma área de aproximadamente 20 hectares. O dossel da

vegetação varia de 10 a 20 metros de altura, onde pode ser observada a fisionomia e

composição florística totalmente distintas da Caatinga a sua volta, havendo dominância

das famílias Myrtaceae, Moraceae, Solanaceae e Piperaceae, com um grande número de

epífitas (Machado, 2011).

30

Page 32: UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE PROGRAMA DE PÓS … · fitofisionomias e os fatores bióticos e abióticos amostrados. Local (1) Caatinga, (2) ... Os liquens surgem a partir da interação

Figura 3. Representação da área de Brejo de Altitude (esquerda); Caatinga (direita), na

Serra da Guia, município de Poço Redondo, Sergipe. (Fonte: SILVA, 2014).

Coleta e Processamento de Material Biológico

Coleta do material biológico

Para a coleta dos liquens crostosos, foram demarcados dois transectos de 300 m, um

por área, seguindo metodologia adaptada de Cáceres et al. (2007). Nestes transectos,

foram demarcados pontos a cada 10 m, sendo 30 pontos para cada área e um total de 60

pontos (Figura 4). Para os 60 pontos demarcados, foram adotados como critério de

escolha do hospedeiro a presença de talos liquênicos na altura de 0,5 m até 1,50 m em

relação ao solo. A demarcação dos transectos na área de Caatinga e Brejo de Altitude

serviu apenas para orientar a escolha do hospedeiro, sendo que cada árvore selecionada

representou uma unidade amostral.

Figura 4. Desenho amostral do transecto demarcado nas áreas de Caatinga e Brejo de

altitude para coleta de liquens corticícolas. (Fonte: SILVA, 2014).

31

Page 33: UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE PROGRAMA DE PÓS … · fitofisionomias e os fatores bióticos e abióticos amostrados. Local (1) Caatinga, (2) ... Os liquens surgem a partir da interação

Para remoção dos talos liquênicos do córtex das árvores, foram utilizados

martelo e faca. Posteriormente, as amostras foram acondicionadas em envelopes de

papel, nos quais foram registrados data e local de coleta, transecto e número da árvore.

Processamento e identificação das amostras

Ainda em campo as amostras de fungos liquenizados coletadas foram prensadas

com auxílio de prensas botânicas utilizando jornais e papelão em temperatura ambiente.

Em seguida, as amostras foram levadas ao Laboratório de Liquenologia do

Departamento de Biociências, da Universidade Federal de Sergipe, Campus Professor

Alberto Carvalho, em Itabaiana, Sergipe. Foram confeccionadas exsicatas, utilizando-se

papel cartão branco de dimensões 15 x 7 cm, com as informações do local, transecto,

número da árvore e data da coleta. Para identificação das espécies de liquens crostosos,

foram feitas secções no talo e ascoma com auxílio de lâmina de aço. Posteriormente, foi

feita a análise dos cortes ao microscópio e foram observadas características

morfológicas das estruturas de valor taxonômico, como também testes de coloração

histoquímicos utilizando solução aquosa de hidróxido de potássio (KOH) àpreparação

de 10% (observação de reações com compostos secundários) e solução lugol a 2% (para

reações amilóide e dextrinóide) comumente empregados em taxonomia de fungos

liquenizados, além de auxílio de bibliografia especializada (Cáceres 2007; Lücking et

al. 2009; Lücking et al. 2011; Rivas-Plata et al. 2006; Schumm & Aptroot 2010;

Sipman et al. 2012).

Análises estatísticas dos dados

Análise da Riqueza

Para análise da riqueza de espécies entre as áreas, foram utilizados testes não

paramétricos comparando múltiplas amostras independentes, com a análise de variância

(ANOVA) de Kruskal-Wallis para a diferença da riqueza entre as duas fitofisionomias,

no programa ESTATISTICA versão 6.0.

32

Page 34: UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE PROGRAMA DE PÓS … · fitofisionomias e os fatores bióticos e abióticos amostrados. Local (1) Caatinga, (2) ... Os liquens surgem a partir da interação

Análise da Composição de espécies

Para análise da composição de espécies de liquens entre as áreas de estudo, em

relação às influências que afetam o padrão de distribuição das mesmas entre as duas

áreas, foi utilizado o teste estatístico escalonamento multidimensional não métrico

(NMS) através do programa PC-ORD Version 5.10 (McCune&Mefford 2006). No

mesmo programa, foi feita a análise de similaridade correlacionando a presença ou

ausência de espécies através da técnica de agrupamento de Cluster entre as áreas de

estudo. A partir desta análise pode-se identificar espécies com características

semelhantes e organizá-las em grupos de acordo com o grau similaridade ou

dissimilaridade. Para os dois testes foi utilizando a distância de Sørensen. Para a análise

de espécies indicadoras foi utilizado o teste de aleatorização de Monte Carlo através do

software PC-ORD Version 5.10 (McCune&Mefford 2006).

RESULTADOS

Riqueza e composição de espécies

Foram amostrados 60 forófitos, sendo coletadas 576 amostras de liquens,

distribuídas entre as duas áreas, Caatinga e Brejo de Altitude. Deste total, 96 espécies

foram identificadas, sendo 53 gêneros e 28 famílias (Tabela 1, Figuras 5). Vale salientar

que, devido à inexistência de trabalhos sobre liquens crostosos para a Serra da Guia,

todas as espécies aqui apresentadas são novas ocorrências para a área.

33

Page 35: UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE PROGRAMA DE PÓS … · fitofisionomias e os fatores bióticos e abióticos amostrados. Local (1) Caatinga, (2) ... Os liquens surgem a partir da interação

Tabela 1. Lista de espécies de liquens corticícolas amostrados nas duas áreas de estudo. CA– Caatinga, BR – Brejo de Altitude. Ordem Arthoniales Henssen ex D. Hawksw. & O.E. Arthonia antillarum (Fée) Nyl. Erikss. Arthonia sp. Arthoniaceae Reichenb. ex Eichenb. Arthotelium sp. Roccellaceae Chevall. Bactrospora myriadea (Fée) Egea & Torrente

Chrysothrix xanthina (Vain.) Kalb Coniocarpon cinnabarinum DC. Crypthotecia sp. Enterographa subserialis (Nyl.) Redinger Opegrapha anguinella (Nyl.) Ertz & Diederich Opegrapha subdictyospora M.Cáceres, E.L.Lima & Aptroot Herpothallon rubrocinctum (Ehrenb.:Fr.) Aptroot, Lücking & G. Thor

Dothideomycetes Families incertae Sedis Arthopyrenia cinchonae (Ach.) Müll. Arg. Arthopyreniaceae W. Watson Mycoporum compositum (A. Massal.) R. C. Harris Mycoporaceae Zahlbr.

Teloschistales D. Hawksw. & O. E. Erikss Stigmatochroma epimarta (Nyl.) Marbach Caliciaceae Chevall. Heterodermia obscurata (Nyl.) Trevisan Physciaceae Zahlbr.

Campylothelium sp. Trypetheliales Lucking, Aptroot& Sipman Polymeridium albocinereum (Kremp.) R. C. Harris Trypetheliaceae Zenker Trypethelium aeneum (Eschw.) Zahlbr.

Trypethelium eluteriae Spreng. Trypethelium nitidiusculum (Nyl.) R. C. Harris Trypethelium ochroleucum (Eschw.) Nyl Trypethelium tropicum (Ach.) Müll. Arg. Pseudopyrenula subnudata Müll. Arg. Pseudopyrenula diluta var. degenerans Vain. Pseudopyrenula subgregaria Müll. Arg. Laurera megasperma (Mont.) Riddle Mycomicrothelia thelena (Ach.) D. Hawksw.

CA BR X X X X X X X X X X X X X

X

X X

X

X

X

X X

X X

X X X X

X X X X X X X

34

Page 36: UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE PROGRAMA DE PÓS … · fitofisionomias e os fatores bióticos e abióticos amostrados. Local (1) Caatinga, (2) ... Os liquens surgem a partir da interação

Ordem Lecanoromycetidae P.M. Kirk, P.F. Cannon & Bapalmuia confusa Kalb & Lücking

J.C. David ex Lutzoni Huhndorf & Lumbsch Byssoloma leucoblepharum (Nyl.) Vain.

Lecanorales Nannf. Bulbothrix tabacina (Mont. & Bosch) Hale

Haematommataceae Hafellner Haematomma personii (Fée) A. Massal.Hafelia curatellae Marbach

LecanoraceaeKörb. Hafelia demutans (Stirton)

Parmeliaceae Zenker

Hafellia bahiana (Malme) Sheard

Pilocarpaceae Zahlbr.

Lecanora achroa Nyl

Malmideaceae Kalb, HYPERLINK

"http://species.wikimedia.org/wiki/Rivas_Plat

a" Rivas Plata & Lumbsch

Lecanora coronulans Nyl.

Pilocarpaceae Zahlbr.

Lecanora endochroma Fée

Lecanora helvaStizenb

Lecanora hypocrocina Nyl

Lecanora leproplaca Zahlbr.

Lecanora leprosa Fee

Lecanora tropica Zahlbr.

Pyrrhospora palmicola Aptroot & Seaward

Protoparmelia capitata Lendemer

Malmidea vinosa (Eschw.) Kalb, Rivas Plata & Matthes-Leicht

Ramboldia haematites Körb.

Ramboldia russula (Ach.) Kalb, Lumbsch & Elix

Ostropales Nannf. Chapsa sp.

Diorygma hieroglyphica (Pers.) M. Nakan. & Kashiw.

Graphidaceae Dumort. Diorygma poitaei(Fée) Kalb, Staiger &Elix

Diorygma reniforme (Fée) Kalb, Staiger & Elix

Diorygma sipmanii Kalb, Staiger & Elix 2004

Dyplolabia afzelii (Ach.) A. Massal

Fissurina sp.

Glyphis cicatricosa Ach.

Glyphis scyphulifera (Ach.) Staiger

Platythecium sp.

CA BR X X X

X X

X X

X

X X

X X

X X X

X X

X

X X

X X

X X X X X X X

X X X X

X

35

Page 37: UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE PROGRAMA DE PÓS … · fitofisionomias e os fatores bióticos e abióticos amostrados. Local (1) Caatinga, (2) ... Os liquens surgem a partir da interação

Ordem Graphis acharii Fée Graphis angustata Eschw. Graphis caesiella Vain. Graphis chrysocarpa (Raddi) Spreng. Graphis cincta (Pers.) Aptroot Graphis cinerea Fée Graphis conferta Zenker Graphis glaucescens Fée Graphis sp. Graphis submarginata Lücking Helminthocarpon leprevostii Fée Phaeographis brasiliensis (A. Massal.) Kalb & Matthes-Leicht. Phaeographis fusca Staiger Phaeographis neotricosa Redinger Phaeographis punctiformis (Eschw.) Mull. Arg. Platygramme caesiopruinosa Fée

CA BR

X X

X X

X X X

X

X

X X X

X X X

X X X

Porinaceae Reichenb.

Pyrenulales Fink ex D. Hawksw. & O.E. Erikss. Pyrenulaceae Rabenh.

Porina conspersa Malme Pyrenula

anomala (Ach.) Vain. Pyrenula

mamillana (Ach.) Trevis. Pyrenula ochraceoflava (Nyl.) R. C. Harris Pyrenula aspistea Ach.

X

X X X

X X X

Peltigerales Walt. Watson Coccocarpia palmicola (Spreng.) Arv. & D.J.Galloway Coccocarpiaceae Henssen

X X

36

Page 38: UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE PROGRAMA DE PÓS … · fitofisionomias e os fatores bióticos e abióticos amostrados. Local (1) Caatinga, (2) ... Os liquens surgem a partir da interação

Ordem CA BR X

PertusarialesM. Choisy ex D. Hawksw. & O.E. Erikss. PertusariaceaeKörb. ex Körb.

Pertusaria flavens Nyl. Pertusaria

quassiae (Fée) Nyl. Pertusaria

trachythallina Erichsen

Pertusaria ventosa Malme

X X

X X

X X X X

Ochrolechiaceae R.C. Harris ex Lumbsch & I. Schmitt Pyrenulales Fink ex D. Hawsw. & O. E. Erikss. Pyrenulaceae Rabenh

Pertusaria wulfenoides B. de Lesd. Ochrolechia africana Vainio

Anthracothecium duplicans (Nyl.) Müll. Arg.

X

Ostropales Nannf Coenogoniaceae (Fr.) Stizenb. Gomphillaceae W. Watson ex Hafellner Thelotremataceae (Nyl.) Stizenb.

Teloschistales D. Hawksw. & O. E. Erikss. Caliciaceae Chevall. Verrucariales Mattick ex D. Hawksw. & O. E. Erikss. Verrucariaceae Zenker

Coenogonium disjunctum Nyl. X

Coenogonium subdentatum (Vezda & G. Thor) Rivas Plata, Lücking, Umaña & Chaves X

X

Coenogonium subdilutum (Malme) Lucking, Aptroot & Sipman

X

Echinoplaca sp.

X

Gyalideopsis rubrofuscaKalb& Vezda

X

X

X

Leucodecton occultum (Eschw.) Frisch & Lumbsch

Ocellularia pseudopyrenuloides Lücking

Dirinaria leopoldii (Stein) D. D. Awasthi X

Normandina pulchella (Borrer) Nyl. X

37

Page 39: UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE PROGRAMA DE PÓS … · fitofisionomias e os fatores bióticos e abióticos amostrados. Local (1) Caatinga, (2) ... Os liquens surgem a partir da interação

A B

C D

E F

G H Figura 5. Liquens corticícolas amostrados nas duas fitofisionomias. (A) Glyphis

scyphulifera (B) Lecanora achroa (C) Ramboldia russula (D) Graphis cincta (E) Trypethelium eluteriae (F) Dirinaria leopoldii (G) Pyrenula anômala (H) Diorygma

poitaei.

38

Page 40: UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE PROGRAMA DE PÓS … · fitofisionomias e os fatores bióticos e abióticos amostrados. Local (1) Caatinga, (2) ... Os liquens surgem a partir da interação

De acordo com a ANOVA (P < 0,5818) entre os dados de riqueza e as áreas

amostradas, não houve uma correlação significativa (Figura 6). Considerou-se riqueza

como o número de espécies de liquens entre as áreas em estudo e, desta forma, foram

observados valores de riqueza próximos entre as duas áreas de estudo, Caatinga e Brejo

de Altitude.

Figura 6. Boxplot da ANOVA de Kruskal-Wallis entre a riqueza em relação ás duas

áreas Local (1) Caatinga, (2) Brejo de Altitude.

A análise da ordenação NMS mostrou que, para a composição de espécies, há

uma diferenciação de similaridade entre as espécies do Brejo de Altitude e as espécies

presentes na Caatinga, embora haja algumas espécies que façam parte da composição

dos dois ambientes (Figura 8). Isso também é evidenciado na análise de Cluster, onde a

composição para cada área apresentou-se em dois grupos distintos, sendo um grupo

39

Page 41: UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE PROGRAMA DE PÓS … · fitofisionomias e os fatores bióticos e abióticos amostrados. Local (1) Caatinga, (2) ... Os liquens surgem a partir da interação

representado pelas espécies de liquens para a área de Caatinga e o outro grupo, pra a

área de Brejo de Altitude. (Figura 7).

Figura 7. Análise de Cluster da composição de espécies entre as fitofisionomias. Local (1) Caatinga, (2) Brejo de Altitude.

40

Page 42: UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE PROGRAMA DE PÓS … · fitofisionomias e os fatores bióticos e abióticos amostrados. Local (1) Caatinga, (2) ... Os liquens surgem a partir da interação

Figura 8. Análise NMS da composição das espécies de liquens em relação as

fitofisionomias. Local (1) Caatinga, (2) Brejo de Altitude.

A análise de espécies indicadoras revelou sete espécies com valores

significativos (p < 0,05), distribuídas entre as duas áreas (Tabela 2). Os maiores valores

de indicação estão correlacionados com Lecanora leprosa e Phaeographis punctiformis

para a Caatinga, e Graphis chrysocarpa para o Brejo de Altitude.

Tabela 2. Teste de Monte Carlo referente as espécies indicadoras das fitofisionomias.

(P < 0,05), VI – Valor de Indicação.

Espécies Local VI P* Glyphis scyphulifera Caatinga 23.7 0.0284 Lecanora helva Caatinga 26.7 0.0062 Lecanora leprosa Caatinga 43.3 0.0002 Phaeographis punctiformis Caatinga 30.3 0.0086 Ramboldia haematites Caatinga 30.0 0.0032 Graphis chrysocarpa Brejo de Altitude 23.3 0.0136 Laurera megasperma Brejo de Altitude 20.0 0.0200

41

Page 43: UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE PROGRAMA DE PÓS … · fitofisionomias e os fatores bióticos e abióticos amostrados. Local (1) Caatinga, (2) ... Os liquens surgem a partir da interação

DISCUSSÃO

Riqueza de espécies

Considerando a hipótese H1 deste trabalho, na qual considera-se que a riqueza e

composição de espécies de liquens corticícolas são diferentes para as duas áreas, diante

da diferença do tipo de vegetação, sendo a riqueza maior para área de Brejo de Altitude.

Foi constatado, com os resultados obtidos, que esta hipótese não foi corroborada, sendo

observados valores de riqueza próximos entre as duas áreas de estudo.

Os resultados para riqueza entre as áreas mostraram uma semelhança entre a

quantidade de espécies de liquens corticícolas para a Caatinga, e Brejo de Altitude

comparado com Cáceres et al. (2008a), onde o Brejo apresentou uma maior diversidade

geral, e Xavier-Leite (2013), que mostra a caatinga com uma maior diversidade. Em

relação a Cáceres et al. (2008a), essa diferença nos resultados encontrados e os deste

trabalho pode ter ocorrido devido à disparidade do método de análise amostral utilizado,

já que, Cáceres et al. (2008b) demostraram que a técnica de amostragem a ser escolhida

é fundamental para estimar a riqueza de espécies de liquens dentro de uma determinada

área, indicando o método utilizado neste trabalho como o ideal e mais eficiente para

inventários de liquens crostosos. Essa disparidade de método de coleta também foi

utilizada por Xavier-Leite (2013) para explicar a maior diversidade da Caatinga em

relação ao Brejo de Altitude encontrada em seu trabalho.

Quanto à diferença dos resultados encontrados nesse trabalho em relação aos

encontrados por Xavier-Leite (2013), pode ser justificado pelo fato de que houve uma

diferença em relação à trasmitância total de luz entre Caatinga e Brejo de altitude, onde

a Caatinga obteve maior grau de luminosidade. Essa diferença não foi verificada em

relação ao Brejo de altitude e a Caatinga estudados neste trabalho, onde a transmitância

total não apresentou uma diferença significativa em relação aos dois ambientes.

Rodrigues (2012) afirma que a abertura do dossel explica 95% da variação na

comunidade, e que os maiores valores de abertura do dossel estão diretamente

relacionados com os forófitos que possuíam uma maior riqueza de espécies de liquens.

Como ambos os ambientes apresentaram grau de luminosidade semelhante, isso pode

explicar o fato de não haver uma diferença significativa na riqueza.

42

Page 44: UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE PROGRAMA DE PÓS … · fitofisionomias e os fatores bióticos e abióticos amostrados. Local (1) Caatinga, (2) ... Os liquens surgem a partir da interação

Composição

Em relação à composição de espécies de liquens corticícolas crostosos, os

resultados corroboram a hipótese H1, já que a composição de espécies é diferente para

as duas áreas, diante da diferença do tipo de vegetação, conforme observado na análise

de cluster (Figura 7) e os padrões no NMS (Figura 8). Nestes dois gráficos, observa-se a

formação de dois grupos, um formado pelas espécies de Brejo e o outro pelas espécies

de Caatinga, embora sejam observadas espécies que fazem parte da composição dos

dois ambientes.

Sendo os Brejos de Altitude considerados encraves da Mata Atlântica, formando

ilhas de floresta úmida em plena região semiárida (Andrade-Lima 1966), o

aparecimento de espécies comuns para área de Caatinga e áreas de Brejo deve ocorrer

pelo fato de áreas do Brejo estarem sendo mais degradadas, onde pode ser observado o

efeito de borda, com a vegetação ficando mais aberta em alguns locais (Cáceres et al. 2007), permitindo um grau de luminosidade semelhante ao da Caatinga.

De acordo com o grande numero de trabalhos que consideram os liquens como

indicadores ambientais (Koch 2012, Cáceres 2007, Lima 2013, Rivas-Plata et al. 2008),

pode-se afirmar que, algumas espécies podem ser utilizadas como indicadores de

ambientes de Caatinga e Brejo de Altitude. Neste sentido, vale ressaltar as espécies com

maiores valores de indicação como Lecanora leprosa e Phaeographis punctiformis,

indicadoras do ambiente de Caatinga, e Graphis chrysocarpa, indicadora do ambiente

de Brejo de Altitude. Da mesma forma, em estudo anterior, Lecanora leprosa foi citada

como indicadora de área de Caatinga, nesse caso relacionada a um estágio inicial de

sucessão da floresta (Mendonça, 2014).

CONCLUSÃO

Diante dos dados analisados no presente estudo constatamos que não houve uma

diferença significativa na riqueza entre a área de Caatinga e Brejo de Altitude, no

entanto em relação á composição ficou claro uma diferenciação na composição de

espécies entre as duas fitofisionomias. O que ressalta a importância do conhecimento e

preservação. Considerando que são poucos os estudos a respeito da diversidade de

liquens corticícolas para essas áreas, e nenhum estudo para a Serra da Guia.

43

Page 45: UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE PROGRAMA DE PÓS … · fitofisionomias e os fatores bióticos e abióticos amostrados. Local (1) Caatinga, (2) ... Os liquens surgem a partir da interação

Dessa forma, esta pesquisa se torna de suma importância para o conhecimento

da riqueza e composição de espécies para o Brejo de Altitude e a Caatinga, buscando

através do conhecimento taxonômico, novas informações para o conhecimento e

preservação destas fitofisionomias, ressaltando seu potencial biológico.

44

Page 46: UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE PROGRAMA DE PÓS … · fitofisionomias e os fatores bióticos e abióticos amostrados. Local (1) Caatinga, (2) ... Os liquens surgem a partir da interação

REFERÊNCIAS

Andrade-Lima D. 1966. Esboço fitoecológico de alguns ―brejos‖ de Pernambuco.

Boletim Técnico. Instituto de Pesquisas Agronômicas de Pernambuco, IPA 8:3-9.

Aptroot A. 2002. New and interesting lichens and lichenicolous fungi in Brazil.

Fungal Diversity 9: 15-45 Aptroot A , Caceres MES . 2014. A key to the corticolous microfoliose, foliose and

related crustose lichens from Rondônia, Brazil, with the description of four new

species. Lichenologist (London), v. 46, p. 783-799. Benatti MN, Marcelli MP. 2007. Gêneros de fungos liquenizados dos manguezais do

sul-sudeste do Brasil, com enfoque no manguezal do Rio Itanhaém, São Paulo.

Acta Botanica Brasilica 21: 863-878. Caceres MES, Ertz D, Aptroot A. 2014. New species and interesting records of

Arthoniales from the Amazon, Rondônia, Brazil. Lichenologist (London), v. 46, p.

573-588. Cáceres MES, Aptroot A. Parnmen S. 2014. Remarkable diversity of the lichen family

Graphidaceae in the Amazon rain forest of Rondônia, Brazil. Phytotaxa (Online),

v. 189, p. 87. Cáceres MES, Vieira TS, Jesus LS , Lücking R. 2012. New and interesting lichens from

the Caxiuanã National Forest in the Brazilian Amazon. The Lichenologist 44(6):

807–812. Cáceres MES.; Lücking R.; Rambold, G. 2008.Corticolous microlichens in

Northeastern, Brazil: Habitat differentiation between coastal Mata Atlântica,

Caatinga and Brejos de Altitude. The Bryologist. v. 111. Cáceres, MES. 2007. Corticolous crustose and microfoliose lichens of northeastern

Brazil. Libri Botanici 22: 1-168. Cáceres MES. 2007.Corticolous crustose and microfoliose lichens of northeastern

Brazil. Libri Botanici 22: 1-168. Cáceres MES, Lücking R. & Rambold G. 2007. Phorophyte specificity and

environmental parameters versus stochasticity as determinants for species

composition of corticolous crustose lichen communities in the Atlantic rain forest

of northeastern Brazil. Mycological Progress 6(3): 117-136.49

45

Page 47: UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE PROGRAMA DE PÓS … · fitofisionomias e os fatores bióticos e abióticos amostrados. Local (1) Caatinga, (2) ... Os liquens surgem a partir da interação

Dal-Forno M. 2009. Família Graphidaceae (Ascomycota Liquenizados) em Restinga em

Pontal do Sul, Pontal do Paraná, Paraná. Universidade Federal do Paraná, Curitiba:

The Lichenologist.

Deacon JW. 2006. Fungal Biology. 4ed. Rev. Ed. Of: Modern mycology 268p. DeBolt AM, Rosentreter R & Martin EP. 2007. Macrolichen diversity in subtropical

forests of north-central Florida. The Bryologist 110(2), pp. 254–265. Feuerer T & Hawksworth DL. 2007. Biodiversity of lichens, including a world-wide

analysis of checklist data based on Takhtajan’s floristic regions. Biodiversity and

Conservation. Flakus A, Kukwa M, & Czarnot P. 2006. Some interesting records of lichenized and

lichenicolous ascomycota from South America. Polish Botanical Journal 51(2):

209–215. Fleig M & Filo JWMF. 1990. Gêneros dos liquens saxícolas, corticícolas e terrícolas do

Morro Santana, Porto Alegre, RS, Brasil. Acta Botanica Brasilica 4(2): 73-99. 50 Fleig M & Riquelme I. 1991. Liquens de Piraputanga, Mato Grosso do Sul, Brasil. Acta

Botanica Brasilica 5(1): 3-12. Grube M & Kroken S. 2000. Molecular approaches and the concept of species and

Cengage Learning 37p. Käffer MI & Mazzitelli SMAM. 2005. Fungos liquenizados corticícolas e terrícolas da

área da sub-bacia dos Sinos e Taquari- Antas, RS, Brasil. Acta Botanica Brasilica

19(4): 813-817 Käffer MI, Cáceres MES, Vargas VMF & Martins SMA. 2010. Novas ocorrências de

liquens corticícolas crostosos para a região sul do Brasil. Acta Botanica Brasilica

24(4): 948-951.

Kirk PM., Cannon PF, David J.C. 2008. Dictionary of fungi.10 ed.CABI

Bioscience, Egham, UK. Koch NM. 2012. Dinâmica da sucessão liquênica: padrões estruturais e funcionais como

indicadores de regeneração florestal. Dissertação de Mestrado, Universidade

Federal do Rio Grande do Sul. Porto Alegre. Leal IR, Tabarelli M & Silva JMC. 2005. Ecologia e Conservação da Caatinga. 2° ed,

Recife: Ed. Universitária da UFPE. 822p.

46

Page 48: UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE PROGRAMA DE PÓS … · fitofisionomias e os fatores bióticos e abióticos amostrados. Local (1) Caatinga, (2) ... Os liquens surgem a partir da interação

Lima EL 2013. Riqueza e composição de liquens corticícolas crostosos em área de

Caatinga no Estado de Pernambuco. Dissertação. Universidade Federal de

Pernambuco, Recife, 109p. Lombardi JA, Salino A, Toledo FRN e Marques MS. 1999. Liquens e outros

organismos epifílicos em Conchocarpus macrophyllus J.C. Mikan no Parque

Estadual do Rio Doce, Minas Gerais, Brasil. Brazilian Journal of Botany 22(3):

437-441. Lücking R, Archer AW & Aptroot A. 2009. A world-wide key to the genus Graphis

(Ostropales: Graphidaceae). The Lichenologist 45(4/5): 1-90. Lücking R, Seavey F. RS. Common, SQ. Beeching, O. Breuss, WR. Buck, L. Crane, M.

Hodges, BP. Hodkinson, E. Lay, JC. Lendemer, RT. McMullin, JA. Mercado-Díaz,

MP. Nelsen, E. Rivas Plata, W. Safranek, WB. Sanders, HP. Schaefer Jr. & J.

Seavey. 2011. The lichens of Fakahatchee Strand Preserve State Park, Florida:

Proceedings from the 18th Tuckerman Workshop. Bulletin of the Florida Museum

of Natural History 49(4): 127–186. Machado WJ. 2011. Composição Florística e Estrutura da Vegetação em Área de

Caatinga e Brejo de Altitude na Serra da Guia, Poço Redondo, Sergipe, Brasil.

Dissertação (Mestrado). Universidade Federal de Sergipe, São Cristóvão. Martins SMA & Marcelli M. 2011. Specific distribution of lichens on Dodonaea

viscosa L. in the restinga area of Itapuã State Park in Southern Brazil. Hoehnea

38(3). Martins SMA, Käffer MI, Alves CR & Pereira VC. 2011. Fungos liquenizados da Mata

Atlântica, no sul do Brasil. Acta Botanica Brasilica 25(2): 286-292. McCune B. and MJ. Mefford. 2006. PC-ORD. Multivariate Analysis of Ecological

Data. Version 5.10; MjM Software, Gleneden Beach, Oregon, U.S.A. Mendonça CO. 2014. Influência de diferentes estágios sucessionais na composição e

riqueza de liquens na Caatinga. Disertação (mestrado em Ecologia e Conservação)

– Universidade Federal de Sergipe- UFS. São Cristovão. 104 p. Nash TH. 2008. Lichen Biology. 2ª ed. Cambridge, UK: Cambridge University Press,

pp. 299–314.

Odum EP. 2004. Fundamentos de Ecologia. 6ª ed. São Paulo: Fundação Calouste

Gulbenkian, 820 p.

47

Page 49: UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE PROGRAMA DE PÓS … · fitofisionomias e os fatores bióticos e abióticos amostrados. Local (1) Caatinga, (2) ... Os liquens surgem a partir da interação

Odum EP & Barrett GW. 2008. Fundamentos de Ecologia. 4º Edição. São Paulo:

Fundação Calouste Gulbenkian , 2004. 820 p. Prado DE. 2005. As Caatingas da América do Sul. In: Leal IR, Tabarelli M & Silva

JMC (eds). Ecologia e Conservação da Caatinga. 2° ed, Recife: Ed. Universitária da

UFPE. 822p. Raven PH, Evert RF, Eichhorn SE, Evert RF. 2014. Biologia vegetal. 8.ed. Rio de

Janeiro: Guanabara Koogan S.A. 876p.

Rivas Plata E, Lücking R, Aptroot A, Sipman HJM, Chaves JL, Umaña L & Lizano D.

2006. A first assessment of the Ticolichen biodiversity inventory in Costa Rica: the

genus Coenogonium (Ostropales: Coenogoniaceae), with a world-wide key and

checklist and a phenotype-based cladistic analysis. Fungal Diversity 23: 255-321.

80 Rivas-Plata, E; Lücking, R & Lumbsch, HT. 2008. When family matters: an analysis of

Thelotremataceae (Lichenized Ascomycota: Ostropales) as bioindicators of

ecological continuity in tropical forests. Biodiversity and Conservation 17: 1319-

1351. Rodrigues LC. 2012. A comunidade de microliquens crostosos sofre alteração ao longo

de gradientes ambientais na caatinga? Dissertação (Mestrado). Universidade

Federal de Sergipe, São Cristóvão. 81p. Schumm F & Aptroot A. 2010. Seychelles Lichen Guide. Druck: Beck, OHG, Süssen.

Sipman, HJ, Lücking R, Aptroot A, Chaves JL, Kalb K. & Umaña LT. 2012. A first

assessment of the Ticolichen biodiversity inventory in Costa Rica and adjacent

areas: the thelotremois Graphidaceae (Ascomycota: Ostropales). Phytotaxa 55: 1-

214. species complexes in lichenized fungi. Mycological Research 104 (11): 1284-1294.

Spielmann AA. 2006. Cheklist of lichens and lichenicolous Fungi of Rio Grande do Sul

(Brazil). Caderno de Pesquisa. Série Biologia (UNISC) 18: 7-125. University Press.

875p. Webster J, Weber RWS. 2007. Introduction to Fungi. 3ª ed. Cambridge: Cambridge

University Press.

48

Page 50: UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE PROGRAMA DE PÓS … · fitofisionomias e os fatores bióticos e abióticos amostrados. Local (1) Caatinga, (2) ... Os liquens surgem a partir da interação

Xavier-Leite ABX 2013. Influência de fatores ambientais na riqueza e composição de

espécies de liquens corticícolas em área de Brejo de Altitude e Caatinga.

Dissertação (mestrado em Ecologia e Conservação) – Universidade Federal de

Sergipe- UFS. São Cristovão. 89 p.

49

Page 51: UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE PROGRAMA DE PÓS … · fitofisionomias e os fatores bióticos e abióticos amostrados. Local (1) Caatinga, (2) ... Os liquens surgem a partir da interação

CAPÍTULO 2

INFLUÊNCIA DE FATORES BIÓTICOS E ABIÓTICOS NA RIQUEZA DE LIQUENS CORTICÍCOLAS EM ÁREAS DEBREJO DE ALTITUDE E CAATINGA

50

Page 52: UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE PROGRAMA DE PÓS … · fitofisionomias e os fatores bióticos e abióticos amostrados. Local (1) Caatinga, (2) ... Os liquens surgem a partir da interação

Influência de fatores bióticos e abióticos na riqueza de liquens corticícolas em

áreas de Brejo de Atitude e Caatinga

Jeanne dos Reis Silva¹, André Aptroot2, Robert Lücking

3& Marcela Eugenia da

Silva Cáceres¹

¹Programa de Pós-Graduação em Ecologia e Conservação, Universidade Federal de

Sergipe, CEP: 49100-000, São Cristóvão, Sergipe, Brasil. ²ABL Herbarium, G.v.d.Veenstraat 107, NL-3762 X K Soest, The Netherlands. ³Science & Education, The Field Museum of Natural History, 1400 South Lake Shore

Drive, Chicago, Illinois 60605, USA.

RESUMO: Os liquens fazem parte de um grupo extremamente diverso encontrado em

quase todos os habitats terrestres, desde os trópicos às regiões polares. Além de

excelentes bioindicadores da qualidade e das alterações ambientais, os fungos

liquenizados são produtores de uma grande quantidade de substâncias biologicamente

ativas. Os liquens escolhem seu substrato de acordo com a composição química e

qualidades físicas específicas do mesmo, sendo vários os fatores que influenciam a

distribuição destes organismos, destacando-se a água, temperatura, luz, substrato e

atividade humana, e características do hospedeiro. O presente trabalho tem como

objetivos verificar se a riqueza e composição de espécies de liquens corticícolas

crostosos são influenciadas pelos fatores bióticos e abióticos, tais como, a luminosidade,

pH da casca do hospedeiro, diâmetro na altura do peito (DAP) e altitude. Em duas

fitofisionomias, Caatinga e Brejo de Altitude, na Serra da Guia, município de Poço

Redondo, estado de Sergipe, foram delimitados dois transectos de 300 m, um em cada

área. Nestes transectos, foram demarcados pontos a cada 10 m, sendo 30 pontos para

cada área e o total de 60 pontos neste estudo. Para os 60 pontos demarcados, foram

adotados como critério de escolha do hospedeiro a maior proximidade do ponto e

presença de talos liquênicos na altura de 0,5 m até 1,50 m em relação ao solo. Ao todo,

foram coletadas 576 amostras, totalizando 96 espécies, sendo 53 gêneros e 28 famílias

de microliquens corticícolas. Em relação a riqueza, não houve uma diferença

significativa entre as duas áreas. Com relação à composição de espécies, as áreas

apresentaram diferença, porém com algumas espécies comuns para as duas áreas.

Comparando a riqueza de liquens corticícolas com os fatores bióticos e abióticos,

51

Page 53: UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE PROGRAMA DE PÓS … · fitofisionomias e os fatores bióticos e abióticos amostrados. Local (1) Caatinga, (2) ... Os liquens surgem a partir da interação

apenas o diâmetro à altura do peito (DAP) do hospedeiro selecionado apresentou-se de

forma significativa em relação à riqueza de espécies. Relacionando a composição e os

fatores bióticos e abióticos, tivemos elevação, DAP e fitofisionomias (local) e abertura

do dossel. Esse foi o primeiro trabalho que estudou os liquens na Serra da Guia. Dessa

forma os resultados apresentados nesse estudo visam contribuir para o conhecimento

ecológico dos fungos liquenizados, assim como torna-se subsídio para outras pesquisas

que venham a aprimorar e enriquecer o conhecimento ecológico e liquenológico da

Caatinga e Brejos de Altitude.

Palavras-chave: Liquens Corticícolas, Ecologia, Caatinga, Brejo de Altitude

52

Page 54: UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE PROGRAMA DE PÓS … · fitofisionomias e os fatores bióticos e abióticos amostrados. Local (1) Caatinga, (2) ... Os liquens surgem a partir da interação

ABSTRACT: Lichens are part of an extremely diverse group, found in almost all

terrestrial habitats from the tropics to polar regions. In addition to excellent indicators of

environmental change and quality, the lichenized fungi also produce a great amount of

biologically active substances. Lichens choose their substrate according to its chemical

composition and specific physical characteristics, and many of the factors that influence

lichen distribution include light intensity, water, temperature, substrate and human

activity, and characteristics of the host bark. This study was conducted to verify whether

lichen species richness and composition are influenced by biotic and abiotic factors

such as light, pH of the bark and diameter at breast height (DBH) of the host tree, and

elevation. In two forest types, Caatinga and Brejo de altitude, at Serra da Guia,

municipality of Poço Redondo, in Sergipe State, two 300 m transects (one per area)

were delimited. Sampling points were marked every 10 m along each transect, totallin

thus 30 points per transect and 60 points as a whole. For the 60 marked points, the

neaerest tree with lichen thalli cover form at a height of 0.5 m to 1.50 m from the

ground was selected. Altogether 576 samples OF corticicolous microlichens were

collected, comprising 96 species, in 53 genera and 28 families. Regarding the species

richness, there was no significant difference between the two areas. With respect to

species composition, the areas were different, but with some common species to the two

areas. Comparing the species richness of corticicolous lichens with biotic and abiotic

factors, only the diameter at breast height (DBH) of the host presented significantly.

Relating the composition and biotic and abiotic factors, we had elevation, DBH and

vegetation types (local), and canopy openness influencing the composition. This was the

first work that studied the lichens in Serra da Guia. Thus, the results presented in this

study are intended to contribute to the ecological knowledge of lichenized fungi, and

represents a starting point to other researches, which will enhance and enrich the

ecological and lichenological knowledge about Caatinga and Brejo de Altitude.

Keywords: Corticicolous Lichens, Ecology, Caatinga, Brejo de Altitude

53

Page 55: UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE PROGRAMA DE PÓS … · fitofisionomias e os fatores bióticos e abióticos amostrados. Local (1) Caatinga, (2) ... Os liquens surgem a partir da interação

INTRODUÇÃO

Os liquens fazem parte de um grupo extremamente diverso encontrado em quase

todos os habitats terrestres, desde os trópicos às regiões polares (Nash, 2008). Variam

em sua complexidade, desde formas muito simples até estruturas morfológicas e

anatômicas muito complexas, sendo separados, de acordo com a forma de crescimento,

em crostosos, esquamulosos, foliosos, filamentosos e fruticosos (Purvis, 2010).

Os liquens foliosos apresentam estrutura dorsiventral, aderido ao substrato e

apresentam um córtex inferior. Os crostosos são em geral bastante achatados, muito

aderidos ao substrato e não apresentam córtex inferior. Os liquens de talo fruticoso são

compostos por ramos, que podem ser simples, divididos, cilíndricos ou achatados. O

talo esquamuloso, é formado por pequenas escamas agregadas. Os filamentosos, um dos

tipos mais simples de talo, são formados por filamentos frouxos e entrelaçados

(Spielmann, 2006).

Quanto ao tipo de substrato os liquens podem ser classificados em corticícolas,

quando crescem sobre o córtex das árvores, saxícolas (sobre rocha), terrícolas (no solo),

muscícolas (sobre musgos) e foliícolas, sobre folhas, sendo essa uma característica

importante na identificação, já que, muitas vezes, determinadas espécies são bastante

seletivas quanto ao substrato utilizado (Nash, 2008).

Além de excelentes bioindicadores da qualidade e das alterações ambientais, os

fungos liquenizados são produtores de uma grande quantidade de substâncias

biologicamente ativas (McCune 2000, Rivas Plata et al. 2008). E responderem às

transformações resultantes das sucessões das florestas, tanto estruturalmente como

funcionalmente, podendo servir como mais uma ferramenta na caracterização de áreas

em estágios de regeneração e/ou conservação distintos, possibilitando a avaliação da

situação da floresta de forma mais rápida e simplificada (Koch, 2012).

Estando entre os organismos menos exigentes enquanto às suas necessidades

nutricionais, os fungos liquenizados são capazes de crescer até onde a água é fornecida

apenas por um curto espaço de tempo diário ou apenas durante um curto período do ano

(Sochting 1999), os tornando uma forma de vida peculiar presentes em praticamente

todos os ecossistemas do planeta (Umaña & Sipman 2002).

Os liquens escolhem seu substrato de acordo com a composição química e

qualidades físicas específicas do mesmo (Marmor & Randlane 2007; Morales et al. 2009). Desaparecendo muito rapidamente de regiões sob impacto ambiental, sendo a

54

Page 56: UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE PROGRAMA DE PÓS … · fitofisionomias e os fatores bióticos e abióticos amostrados. Local (1) Caatinga, (2) ... Os liquens surgem a partir da interação

posterior reconstituição da comunidade, quando possível, extremamente lenta, pois os

liquens crescem, normalmente, à razão de milímetro por ano e as sucessões liquênicas

podem levar de décadas a séculos (Marcelli, 2006).

Dentre os fatores que influenciam a distribuição dos liquens, destaca-se, água,

temperatura, luz, substrato e atividade humana. Além destes fatores também podemos

citar características do hospedeiro, como rugosidade da casca (Käfferet al. 2007),

diâmetro na altura do peito (DAP) da árvore (Bunnell et al. 2008), e a elevação e

umidade da área (Morales et al. 2009).

No Brasil, poucos trabalhos dedicaram-se ao estudo da resposta dos liquens aos

fatores bióticos e abióticos. Na Região Sul, foram realizados estudos sobre a

comunidade da comunidade liquênica de acordo com a rugosidade da casca do

hospedeiro, em uma mata de Araucárias (Kaffer et al. 2007), além de uma avaliação em

relação à preferência por forófitos e sua relação com o pH da casca e (Käffer et al. 2010). Já Koch et al. (2012) analisaram a influência de fatores na comunidade de

liquens foliosos quanto à composição, riqueza e cobertura de espécies.

No Nordeste brasileiro, temos os trabalhos de Cáceres et al. (2007) onde foi

estudado a composição e riqueza de espécies de liquens corticícolas crostosos em uma

área de Floresta Atlântica no estado de Alagoas relacionando-as com características da

casca do hospedeiro e a intensidade de luz incidente. Além deste trabalho, foi realizada

uma comparação entre a composição de espécies de liquens de três fitofisionomias

ocorrentes nas regiões, Mata Atlântica, Caatinga e Brejos de Altitude, onde foi

observada uma baixa similaridade entre as áreas com relação ao tipo de vegetação e

grau de luminosidade (Cáceres et al.2008a). E, mais recentemente, tivemos o trabalho

de Xavier-Leite (2013), que estudou a influência de fatores bióticos e abióticos na

riqueza da comunidade liquênica em áreas de Brejo e caatinga no Estado da Paraíba, e

Mendonça (2014), que estudou a influência de diferentes estágios sucessionais na

composição e riqueza de liquens na caatinga, avaliando alguns fatores ambientais e

atributos funcionais dos liquens.

Os Brejos de Altitude ou matas serranas são encraves de Mata Atlântica

inseridos no Bioma Caatinga em locais de maior altitude, que de acordo com Theulen

(2004) configuram áreas núcleos de importância para preservação da biodiversidade.

Estando a maior diversidade da Caatinga associada ás maiores altitudes principalmente

em áreas rochosas que captam maior umidade atmosférica e atuam como refúgio para as

espécies vegetais (Giulietti et al.,2003). A Serra da Guia constitui um remanescente de

55

Page 57: UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE PROGRAMA DE PÓS … · fitofisionomias e os fatores bióticos e abióticos amostrados. Local (1) Caatinga, (2) ... Os liquens surgem a partir da interação

Brejo de Altitude no sertão sergipano. Trata-se de uma formação vegetal completamente

circundada pelo semi-árido, com uma mata exuberante em seu topo (Machado 2011).

A Caatinga é um bioma endêmico do semiárido brasileiro, Ocupando o

equivalente a 800.000 km², sendo dominado por tipos de vegetação com características

xerofíticas com extratos compostos por gramíneas, arbustos e árvores, com grande

quantidade de plantas espinhosas entremeadas de outras espécies como as cactáceas e

bromeliáceas, caracterizando um banco genético exclusivo para ao país. Apresentando

um sistema anual de chuvas extremamente irregular, resultando em secas periódicas e

severas (Albuquerque& Bandeira, 1995). Na região do entorno da Serra da Guia, até o

limite aproximado de 600 m de altitude, verifica-se a presença de uma vegetação

arbustiva típica de Caatinga, área que encontra-se bastante antropizada pela presença de

atividade agropecuária (Machado, 2011).

Diante do exposto, e tendo os liquens uma participação ativa na ciclagem de

nutrientes dentro dos ecossistemas florestais, além da ausência de estudos sobre liquens

corticícolas crostosos para as áreas de Caatinga e Brejo de Altitude, localizadas na Serra da

Guia, bem como, a análise da influência de fatores bióticos e abióticos para a riqueza e

composição de liquens, este trabalho, pioneiro para a área, tem como objetivo verificar se a

riqueza e composição são influenciadas pelos fatores bióticos e abióticos, tais como, a

luminosidade, pH da casca do hospedeiro, diâmetro na altura do peito (DAP) e altitude.

Para isto, foram testadas as seguintes hipóteses: (H1) A riqueza de liquens corticícolas será

maior para a área com maior intensidade luminosa, (H2) Hospedeiros com pH da casa ácido

terão uma resposta mais significativa na riqueza, (H3) A riqueza de espécies de

microliquens será maior para a área com hospedeiros de maiores valores de DAP, e (H4)

Maiores altitudes proporcionará maior riqueza de liquens corticícolas.

56

Page 58: UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE PROGRAMA DE PÓS … · fitofisionomias e os fatores bióticos e abióticos amostrados. Local (1) Caatinga, (2) ... Os liquens surgem a partir da interação

MATERIAL E MÉTODOS

Áreas de estudo

A coleta de liquens para o desenvolvimento do presente trabalho foi realizada no

mês de Janeiro de 2014, em áreas de Brejo de Altitude e Caatinga, no Estado de

Sergipe, Brasil. As áreas ambas são localizadas, mais especificamente na Serra da Guia

município de Poço Redondo do referido Estado de Sergipe (Figura 1).

Poço

Redondo Figura 1. Mapa do Estado de Sergipe, localização das áreas de coleta.

Serra da Guia

A Serra da Guia (9° 58`S e 37° 52`W) faz parte do complexo da Serra Negra e

está localizada na divisa dos municípios de Poço Redondo (Sergipe) (Figura 2) e Pedro

Alexandre (Bahia). Sendo o ponto mais alto do Estado de Sergipe (750 m.s.m.)

(Machado, 2011).

57

Page 59: UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE PROGRAMA DE PÓS … · fitofisionomias e os fatores bióticos e abióticos amostrados. Local (1) Caatinga, (2) ... Os liquens surgem a partir da interação

Figura 2. Serra da Guia, Poço Redondo, Sergipe, Brasil. (Fonte: SILVA, 2014).

A região possui altitudes que variam entre 300 e 740 metros, podendo ser

observado à presença de duas fitofisionomias bastante diferentes ao longo desse

gradiente altitudinal, uma Caatinga arbustiva e uma formação vegetal arbórea

semelhante à Mata Atlântica (Machado, 2011).

Segundo Machado (2011), a Serra da Guia trata-se de uma formação vegetal

completamente circundada pelo semiárido, com uma mata exuberante em seu topo e

encostas com vegetação nativa ligando-se a Caatinga da depressão sertaneja no seu

sopé. O clima da região é semiárido e a precipitação pluviométrica média é de cerca de 650

mm/ano, bastante irregular e com volumes de chuvas mais concentrados entre os meses

de maio e julho (Machado, 2011).

A formação vegetal denominada Brejo de Altitude localiza-se entre 650 e 750

metros de altitude e possui uma área de aproximadamente 20 hectares. O dossel da

vegetação varia de 10 a 20 metros de altura, onde pode ser observado a fisionomia e

composição florística totalmente distintas da Caatinga a sua volta, havendo dominância

das famílias Myrtaceae, Moraceae, Solanaceae e Piperaceae, com um grande número de

epífitas (Machado, 2011) (Figura 3).

58

Page 60: UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE PROGRAMA DE PÓS … · fitofisionomias e os fatores bióticos e abióticos amostrados. Local (1) Caatinga, (2) ... Os liquens surgem a partir da interação

Figura 3. Representação da área de Brejo de Altitude (esquerda); Caatinga (direita),

Serra da Guia, município de Poço Redondo Sergipe. (Fonte: SILVA, 2014).

Coleta do material biológico

Para a coleta dos liquens crostosos, foram demarcados dois transectos de 300 m,

seguindo metodologia adaptada de Cáceres et al. (2007). Nestes transectos, foram

demarcados pontos a cada 10 m, sendo 30 pontos para cada área e o total de 60 pontos

(Figura 4). Para os 60 pontos demarcados, foram adotados como critério de escolha do

hospedeiro a presença de talos liquênicos na altura de 0,5 m até 1,50 m em relação ao

solo.

Para remoção dos talos liquênicos do córtex das árvores, foram utilizados

martelo e faca. Posteriormente as amostras foram acondicionadas em envelopes de

papel, nos quais foram registrados data e local de coleta, transecto e número da árvore.

Figura 4. Desenho amostral do transecto demarcado nas áreas de Caatinga e Brejo de

altitude para coleta de liquens corticícolas. (Fonte: SILVA, 2014).

59

Page 61: UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE PROGRAMA DE PÓS … · fitofisionomias e os fatores bióticos e abióticos amostrados. Local (1) Caatinga, (2) ... Os liquens surgem a partir da interação

Processamento e identificação das amostras

Ainda em campo as amostras de fungos liquenizados coletadas foram prensadas

com auxílio de prensas botânicas utilizando jornais e papelão em temperatura ambiente.

Em seguida, as amostras foram levadas ao Laboratório de Liquenologia do

Departamento de Biociências da Universidade Federal de Sergipe, Campus Professor

Alberto Carvalho em Itabaiana - SE, onde foram confeccionadas exsicatas, utilizando-se

papel cartão branco de dimensões 15 x 7 cm, com as informações do local, transecto,

número da árvore e data da coleta. Para identificação das espécies de liquens crostosos,

foram feitas secções no talo e ascoma com auxílio de lâmina de aço. Posteriormente, foi

feita a análise dos cortes ao microscópio, onde foram observadas características

morfológicas das estruturas de valor taxonômico, como também testes de coloração

histoquímicos utilizando solução aquosa de hidróxido de potássio (KOH) à preparação

de 10% (observação de reações com compostos secundários) e solução lugol a 2% (para

reações amilóide e dextrinóide) comumente empregados em taxonomia de fungos

liquenizados, além de auxílio de bibliografia especializada (Cáceres 2007; Lücking et

al. 2009; Lücking et al. 2011; Rivas-Plata et al. 2006; Schumm&Aptroot 2010;

Sipmanet al. 2012).

Amostragem dos fatores bióticos e abióticos

Aferimento do pH da casca do hospedeiro

Foi utilizado o aparelho Skin pH Meter – HI 9918, posicionado no hospedeiro na

área mais próxima de onde foi retirado o talo liquênico. Foram realizadas três medições

para cada hospedeiro e o valor considerado foi a média destas, adotando os valores de

pH da casca como ácido (de 0 a 6,9), neutro (7,0) e base (7,1 a 14) (Käffer et al. 2010).

Medição do diâmetro à altura do peito (DAP)

A medida do DAP foi feita através da circunferência a altura do peito (CAP) de

cada forófito, dada por uma fita métrica colocada ao redor do tronco, numa altura de 1,5

m distante do solo. Segundo Batista, 2001, a forma mais simples de se medir o ―Diâmetro à Altura do Peito‖ (DAP) é medir o perímetro ou circunferência do tronco

60

Page 62: UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE PROGRAMA DE PÓS … · fitofisionomias e os fatores bióticos e abióticos amostrados. Local (1) Caatinga, (2) ... Os liquens surgem a partir da interação

(CAP) e convertê-la para diâmetro, considerando que a secção transversal do tronco à

altura do peito é perfeitamente circular, assim, todos os valores do CAP foram

convertidos em DAP para posterior análise estatística dos dados, utilizando-se a seguinte equação DAP = CAP/π.

Medição da intensidade luminosa

Para o diagnóstico da cobertura vegetal e transmitância total de luz incidente na

área da árvore amostrada, foi utilizada uma câmera fotográfica digital (Sony, modelo H20) com 10 Megapixels, com uma lente ―olho de peixe‖ (modelo FCE9) acoplada,

que fornece a abertura do dossel em 180º com a qual foram feitas fotos hemisféricas

(Silva et al, 2009) (Figura 5).

A B

Figura 5. Foto hemisférica tirada em campo com o auxílio da lente olho-de-peixe (A) e

tratada com o programa GLA (B). (Fotos: SILVA, 2014).

Ao todo foram captadas três fotos de cada forófito amostrado com auxílio de um

tripé posicionado de costas para a face escolhida para a coleta dos liquens. O tripé foi

nivelado ao solo e direcionado ao norte magnético com auxílio de uma bússola e

posicionado a cerca de 1m do solo (Koch et al, 2012), tendo a lente nivelada com nível

de bolha e a câmera posicionada superiormente para o Norte magnético, detectado

através de bússola (Garcia et al, 2007), este nivelamento é importante devido ao

programa utilizado para análise das fotos (Silva et al, 2009). As fotos foram amostradas

entre 6h a 8h ou 16h a 17:30 h, durante o mês de janeiro de 2014.

61

Page 63: UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE PROGRAMA DE PÓS … · fitofisionomias e os fatores bióticos e abióticos amostrados. Local (1) Caatinga, (2) ... Os liquens surgem a partir da interação

Cada hospedeiro registrado foi marcado pelo GPS (Global Position System)

como parte da análise das fotos, já que se utilizam a altitude e coordenadas locais no

tratamento destas, e para posterior comparação das altitudes entre as áreas. A declinação

magnética foi corrigida com a inserção dos dados necessários no site

<http://geomag.nrcan.gc.ca/calc/mdcal-eng.php>, acesso em 20 de novembro de 2014,

(Frazer et al. 1999).

Análise da intensidade luminosa

Para analisar a porcentagem de abertura do dossel e a transmitância através

cobertura vegetal (radiação direta + radiação difusa), será utilizado o programa Gap

Light Analyzer Version 2.0 (GLA) (Frazer et al, 1999), onde será comparado a relação

da radiação fotossintética ativa na composição e riqueza da comunidade liquênica entre

as árvores selecionadas nas áreas coletadas.

As fotos hemisféricas para cada ponto foram analisadas através do software Gap

Light Analyzer (GLA) Version 2.0, da seguinte maneira: processadas no software GLA

2.0, a fotografia digital é convertida em preto e branco e recortada no formato quadrado

requisitado pelo GLA. A fotografia é dividida radialmente e em círculos concêntricos

eqüidistantes de acordo com a geometria óptica da lente de maneira que cada setor

represente uma proporção igual do hemisfério. Esse cuidado visa eliminar o efeito de

visada obliqua crescente à medida que se afasta do centro da fotografia. Finalmente, a

fotografia é segmentada em bitmap binário usando um limiar estimado visualmente

(Silva et al. 2009). Posteriormente foram obtidas diversas variáveis, sendo utilizado

neste trabalho apenas a transmitância total que é a radiação fotossinteticamente ativa

transmitida através do dossel (radiação direta + radiação difusa) (Garcia et al. 2007), e a

abertura do dossel a fim de verificar a influência dos fatores bióticos e abióticos na

comunidade liquênica (Koch et al, 2012).

Análises estatísticas dos dados

Análise da Riqueza

Para análise da riqueza de espécies entre as áreas, foram utilizados testes não

paramétricos comparando múltiplas amostras independentes com a análise de variância

62

Page 64: UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE PROGRAMA DE PÓS … · fitofisionomias e os fatores bióticos e abióticos amostrados. Local (1) Caatinga, (2) ... Os liquens surgem a partir da interação

(ANOVA) de Kruskal-Wallis para a diferença da riqueza entre as duas fitofisionomias,

e o teste de correlação de Spearman entre a riqueza e as possíveis influências que

afetam o padrão de organização da comunidade liquênica (pH da casca, abertura do

dossel, transmitância total e DAP), no programa ESTATISTICA versão 6.0.

Análise da Composição de espécies

Para á analise da composição de espécies de liquens entre as áreas de estudo, e

às influências que afetam o padrão de distribuição das mesmas entre as duas áreas foi

utilizado o teste estatístico escalonamento multidimensional não métrico (NMS) através

do programa PC-ORD Version 5.10 (McCune & Mefford 2006). Para os dois testes

utilizou-se a distância de Sørensen.

RESULTADOS

De acordo com a ANOVA (P < 0,5818) entre os dados de riqueza e as áreas

amostradas não houve uma correlação significativa (Figura 6). Considerou-se riqueza

como o número de espécies de liquens entre as áreas em estudo, e desta forma foram

observados valores de riqueza próximos entre as duas áreas de estudo, Caatinga e Brejo

de Altitude.

Figura 6. Boxplot da ANOVA de Kruskal-Wallis entre a riqueza em relação ás duas

áreas Local (1) Caatinga, (2) Brejo de Altitude.

63

Page 65: UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE PROGRAMA DE PÓS … · fitofisionomias e os fatores bióticos e abióticos amostrados. Local (1) Caatinga, (2) ... Os liquens surgem a partir da interação

Quando levado em consideração a correlação entre a riqueza e os fatores

ambientais amostrados DAP, elevação e os dados obtidos (pH, abertura do dossel,

transmitância total, transmitância difusa e as porcentagens das transmitâncias total e

difusa), apenas o DAP (P <0,035383) possui correlação significativa.

A riqueza diferiu significativamente em relação aos valores de DAP, foi possível

perceber que hospedeiros com menores valores do DAP proporcionaram um aumento

significativo na riqueza de liquens corticícolas (p =0,035383) (Figura 7).

Figura 7. Teste de correlação de Spearman entre o DAP e a riqueza.

A análise da ordenação NMS mostrou que para a composição de espécies há

uma diferenciação de similaridade entre as espécies do Brejo de Altitude e as espécies

presentes na caatinga, embora haja algumas espécies que fazem parte da composição

dos dois ambientes (Figura 8). Ainda na mesma análise, fica clara a relação explicativa

entre a composição de espécies e os fatores bióticos e abióticos amostrados, onde

altitude, DAP e fitofisionomias (local), estão correlacionados com as espécies de Brejo (1) e Caatinga (2), e abertura do dossel (CANOPENE), está relacionada á Caatinga (1).

64

Page 66: UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE PROGRAMA DE PÓS … · fitofisionomias e os fatores bióticos e abióticos amostrados. Local (1) Caatinga, (2) ... Os liquens surgem a partir da interação

Figura 8. Análise NMS da composição das espécies de liquens em relação as

fitofisionomias e os fatores bióticos e abióticos amostrados. Local (1) Caatinga, (2)

Brejo de Altitude.

DISCUSSÃO

Riqueza

Estudos recentes feitos na Caatinga revelam que a riqueza da comunidade de

liquens corticícolas responde a fatores bióticos e abióticos, como, pH da casca, DAP do

hospedeiro, abertura do dossel e a transmitância total (Mežaka et al. 2008; Kaffer et al. 2010; Marmor & Randlane 2007; Martins &Marcelli2011; Cáceres et al. 2007; Morales

et al. 2009; Käffer et al. 2007; Bunnell et al. 2008; Friedel et al. 2006; Koch et al. 2012,

Xavier-Leite, 2013, Mendonça,2014).

65

Page 67: UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE PROGRAMA DE PÓS … · fitofisionomias e os fatores bióticos e abióticos amostrados. Local (1) Caatinga, (2) ... Os liquens surgem a partir da interação

Neste trabalho a riqueza é afetada de forma significativa pelo DAP, visto que

quanto menores os valores de DAP, maior a riqueza, sustentando, em partes, o

observado na literatura. Bunnel et al. (2008) em estudo desenvolvido com liquens

crostosos em toras de madeira, o diâmetro na altura do peito (DAP) dos hospedeiros foi

considerado como uma característica importante para a ocorrência de liquens. O mesmo

foi observado por Xavier-Leite (2013) em seu estudo comparando a riqueza da Caatinga

com a do Brejo de Altitude, observou a correlação entre a riqueza e DAP, onde

hospedeiros com menores valores do DAP possuem um aumento significativo na

riqueza. Já Rodrigues (2012) afirma que a abertura do dossel e os valores do DAP

explicam 95% da variação na comunidade, assim como Friedel et al. (2006) que

demonstrou em seus estudos em florestas da Alemanha que o DAP foi a variável

explicativa mais importante para o número de espécies por árvore, mostrando que a

riqueza de espécies cresceu com o aumento do DAP.

Composição

A análise da ordenação NMS, mostra que a comunidade de liquens responde a

alguns dos fatores bióticos e abióticos amostrados, onde elevação, DAP e

fitofisionomias (local), estão correlacionados com as espécies de Brejo (1) e Caatinga

(2), e abertura do dossel (CANOPENE), está relacionado a caatinga (1). Desta forma, é

possível concluir que a comunidade de liquens sofre influência da elevação da

fitofisionomia, e do ambiente.

Segundo Dyer & Letourneau (2007), muitos liquens crescem quando a luz é

abundante, ainda que difusa, assim a intensidade luminosa demonstra ser,

provavelmente, o efeito direto do seu crescimento. Para Webster & Weber (2007),

diante da relação dos liquens com o fator luminosidade, tais organismos possuem uma

resposta positiva, que estaria possivelmente relacionada às suas características

morfológicas onde, nos talos de liquens corticícolas, as células dos fotobiontes são

posicionadas em uma camada definida localizada por baixo de um córtex superior

formado exclusivamente pelo micobionte, sendo a luminosidade necessária para que

seja possível a realização da fotossíntese nesta camada de algas.

Já para Morales et al. (2009), os liquens crostosos são mais frequentes em

ecossistemas e micro-habitats onde há condições de baixa luminosidade e pouca

66

Page 68: UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE PROGRAMA DE PÓS … · fitofisionomias e os fatores bióticos e abióticos amostrados. Local (1) Caatinga, (2) ... Os liquens surgem a partir da interação

precipitação, isso explicaria a homogeneidade na composição de liquens onde os

valores de abertura do dossel foram maiores.

Estudo feito por Cáceres et al. (2008a), foi observada uma baixa similaridade

entre áreas de Caatinga, Brejo de Altitude e Zona da Mata com relação ao tipo de

vegetação e grau de luminosidade, o que explicaria o fato do local está influenciando na

composição, com relação a altitude já era esperado que esta influenciasse na

composição, visto que os Brejos em oposição à Caatinga, são encraves de Mata

Atlântica (Andrade-Lima 1966), e situam-se em serras e planaltos do semiárido (Rodal

et al. 2005).

CONCLUSÃO

O estudo da influência de fatores bióticos e abióticos na riqueza e composição de

liquens torna-se uma importante referência na distribuição e no conhecimento ecológico

dos fungos liquenizados.

Os resultados apresentados mostram que os liquens mantem preferências em

relação ao substrato de acordo com as características do hospedeiro, verificando que a

riqueza diferiu significativamente em relação aos valores de DAP, sendo observado que,

hospedeiros com menores valores do DAP proporcionaram um aumento significativo na

riqueza de liquens corticícolas, além de observarmos que a composição da comunidade

liquênica é influenciada por alguns fatores bióticos e abióticos, tais como, altitude, DAP

e fitofisionomias (local), estando correlacionados com as espécies de Brejo e Caatinga,

e abertura do dossel, estando relacionado a caatinga.

Este trabalho foi o primeiro a amostrar tais influências em relação à riqueza e

composição de liquens corticícolas nas fitofisionomias Caatinga e Brejo de Altitude, no

estado de Sergipe. Também é o primeiro estudo sobre liquens na Serra da Guia.

Diante dos dados apresentados e da importância de se conhecer a micota

liquenizada, e as fitofisionomias em estudo, os resultados apresentados nesse estudo

visam contribuir para o conhecimento ecológico dos fungos liquenizados, assim como

torna-se subsídio para outras pesquisas que venham a aprimorar e enriquecer o

conhecimento ecológico e liquenólogico da Caatinga e Brejos de Altitude.

67

Page 69: UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE PROGRAMA DE PÓS … · fitofisionomias e os fatores bióticos e abióticos amostrados. Local (1) Caatinga, (2) ... Os liquens surgem a partir da interação

REFERÊNCIAS

Albuquerque SG de, Bandeira GRL. 1995. Effect of thinning and slashing on forage

phytomass from a caatinga in Petrolina, Pernambuco, Brazil. Pesquisa

Agropecuária Brasileira, Brasília 30(6): 885-891.

Andrade-Lima D. 1966. Esboço fitoecológico de alguns ―brejos‖ de Pernambuco.

Boletim Técnico. Instituto de Pesquisas Agronômicas de Pernambuco, IPA 8:3-9.

Aptroot A. 2002. New and interesting lichens and lichenicolous fungi in Brazil. Fungal

Diversity 9: 15-45.

Bunnell FL, Spribille T, Houde I, Goward T, Björk C. 2008. Lichens on down wood in

logged and unlogged forest stands. Canadá: Canadian Journal of Forest Research

38:1033-1041.

Bunnell FL, Spribille T, Houde I, Goward T, Björk C. 2008. Lichens on down wood in

logged and unlogged forest stands. Canadá: Canadian Journal of Forest Research

38: 1033-1041.

Cáceres MES, Lücking R, Rambold G. 2008b. Efficiency of sampling methods for

accurate estimation of species richness of corticolous microlichens in the Atlantic

rainforest of northeastern Brazi. Biodiversity and Conservation 17: 1285–1301.

Cáceres MES, Lücking R, Rambold G. 2007. Phorophyte specificity and environmental

parameters versus stochasticity as determinants for species composition of

corticolouscrustose lichen communities in the Atlantic rainforest of northeastern

Brazil. Mycolog. Prog. 6: 117-136.

Cáceres MES, Lücking R, Rambold G. 2008a. Corticolous Microlichens in

Northeastern Brazil: Habitat Differentiation between Coastal Mata Atlântica,

Caatinga and Brejos de Altitude. The Bryologist 111(1): 98-117.

Dyer LA, Letourneau DK. 2007. Determinants of Lichen Diversity in a Rain Forest

Understory. Biotropica 39(4): 525-529.

68

Page 70: UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE PROGRAMA DE PÓS … · fitofisionomias e os fatores bióticos e abióticos amostrados. Local (1) Caatinga, (2) ... Os liquens surgem a partir da interação

Frazer GW, Canham CD, Lertzman KP. 1999. Gap Light Analyzer (GLA), Version 2.0:

Imaging software to extract canopy structure and gap light transmission indices

from true-colour fisheye photographs, user’s manual and program documentation.

Copyright © 1999: Simon Fraser University, Burnaby, British Columbia and the

Institute of Ecosystem Studies, Millbrook, New York. 36p.

Friedel A, Oheimb GV, Dengler J, Hardtle W. 2006. Species diversity and species

composition of epiphytic bryophytes and lichens – a comparison of managed and

unmanaged beech forests in NE Germany. Lüneburg: Fedds Repertorium 117(1,2):

172-185.

Garcia LC, Resende MQN, Pimenta MA, Machado RM, Lemos Filho JP. 2007.

Heterogeneidade do dossel e quantidade de luz no recrutamento do sub-bosque de

uma mata ciliar no Alto São Francisco, Minas Gerais: análise através de fotos

hemisféricas. Revista Brasileira de Biociências 5: 99-101.

Giulietti AM, Bocage Neta AL, Castro AAJF et al. 2003. Diagnóstico da vegetação

nativa do Bioma Caatinga. In: Silva JMC. da; Tabarelli, M.; Fonseca, MT.; Lins,

LV. Biodiversidade da caatinga: áreas e ações prioritárias para a conservação.

Brasília, DF: Ministério do meio Ambiente: Universidade Federal de Pernambuco,

2003. 382p.

Käffer MI, Ganade G, Marcelli MP. 2007. Interação entre liquens e forófitos em quatro

ambientes na FLONA de São Francisco de Paula. Revista Brasileira De Biociências

5: 216-218.

Käffer MI, Cáceres MES, Vargas VMF, Martins SMA. 2010. Novas ocorrências de

liquens corticícolas crostosos para a região sul do Brasil. Acta Botanica Brasilica

24(4): 948-951.

Kock NM. 2012. Dinâmica da sucessão liquênica: padrões estruturais e funcionais como

indicadores de regeneração florestal. Dissertação de Mestrado, Programa de Pós-

Graduação em Ecologia. Porto Alegre.

Lücking R, Archer AW, Aptroot A. 2009. A world-wide key to the genus Graphis

(Ostropales: Graphidaceae). The Lichenologist 45(4/5): 1-90.

69

Page 71: UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE PROGRAMA DE PÓS … · fitofisionomias e os fatores bióticos e abióticos amostrados. Local (1) Caatinga, (2) ... Os liquens surgem a partir da interação

Lücking R, Seavey F, Common RS et al. 2011. The lichens of Fakahatchee Strand

Preserve State Park, Florida: Proceedings from the 18th Tuckerman Workshop.

Bulletin of the Florida Museum of Natural History 49(4): 127–186.

Machado WJ. 2011. Composição Florística e Estrutura da Vegetação em Área de

Caatinga e Brejo de Altitude na Serra da Guia, Poço Redondo, Sergipe, Brasil.

Dissertação (Mestrado). Universidade Federal de Sergipe, São Cristóvão.

Marcelli MP. Fungos Liquenizados. 2006. In: Filho LX, Legaz ME, Cordoba CV,

Pereira EC. Biologia de Líquens. Rio de Janeiro: Âmbito cultural, 2006.

Marmor L, Randlane T. 2007. Effects of road traffic on bark pH and epiphytic lichens in

Tallinn. Folia Cryptog. Estonica 43: 23–37.

McCune B. 2000. Lichen Communities as Indicators of Forest Health. The Bryologist

103(2): 353–356 McCune B, Mefford MJ. 2006. PC-ORD. Multivariate Analysis of Ecological Data.

Version 5.10; MjM Software, Gleneden Beach, Oregon, U.S.A.

Mendonça CO. 2014. Influência de diferentes estágios sucessionais na composição e

riqueza de liquens na Caatinga. Disertação (mestrado em Ecologia e Conservação)

– Universidade Federal de Sergipe- UFS. São Cristovão. 104 p.

Mezaka A, Brumelis G, Piterãns A. 2008. The distribuition of epiphytic bryophyte and

lichen species in relation to phorophyte characters in Latvian natural old-growth

broad-leaved forests. Latvia: Folia Crytog. Estonica 44: 89-99.

Morales AE, Lücking R, Anze R. 2009.Una Introducción al Estudio de los Líquenes de

Bolivia. Universidad Católica Boliviana ―San Pablo‖, 2-37p.

Nash III TH. 2008. Lichen Biology. 2ª ed. Cambridge, UK: Cambridge University

Press. 314p.

Purvis W. 2000. Lichens. The Natural History Museum, Londom. 51p.

70

Page 72: UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE PROGRAMA DE PÓS … · fitofisionomias e os fatores bióticos e abióticos amostrados. Local (1) Caatinga, (2) ... Os liquens surgem a partir da interação

Rivas Plata E, Lücking R, Aptroot A et al. 2006. A first assessment of the Ticolichen

biodiversity inventory in Costa Rica: the genus Coenogonium (Ostropales:

Coenogoniaceae), with a world-wide key and checklist and a phenotype-based

cladistic analysis. Fungal Diversity 23: 255-321. 80

Rivas-Plata E, Lücking R, Lumbsch HT. 2008. When family matters: an analysis of

Thelotremataceae (Lichenized Ascomycota: Ostropales) as bioindicators of

ecological continuity in tropical forests. Biodiversity and Conservation 17: 1319-

1351.

Rodal MJN, Sales MF, Silva MJ, Silva AG. 2005. Flora de um Brejo de Altitude na

escarpa oriental do planalto da Borborema, PE, Brasil. Acta Botanica Brasilica

19(4): 843-858.

Rodrigues LC. 2012. A comunidade de microliquens crostosos sofre alteração ao longo

de gradientes ambientais na Caatinga? Dissertação. Universidade Federal de

Sergipe. São Cristóvão, 81p.

Schumm F, Aptroot A. 2010. Seychelles Lichen Guide. Druck: Beck, OHG, Süssen.

Silva JR, Mailard P, Costa-Pereira OS, Andrade CF. 2009. Comparação de métodos

indiretos para medição de abertura do dossel no cerrado, utilizando observações

obtidas nos trabalhos de campo e fotos hemisféricas digitais. Natal: Anais XIV

Simpósio Brasileiro de Sensoriamento Remoto. INPE 3059-3064.

Sipman HJ, Lücking R, Aptroot A, Chaves JL, Kalb K, Umaña LT. 2012. A first

assessment of the Ticolichen biodiversity inventory in Costa Rica and adjacent

areas: the thelotremois Graphidaceae (Ascomycota: Ostropales). Phytotaxa 55: 1-

214.

Sochting U. 1999. Lichens of Bhutan. University of Copenhagen, Botanical Institute,

Department of Mycology. 29p. species complexes in lichenized fungi. Mycological

Research 104 (11): 1284-1294.

71

Page 73: UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE PROGRAMA DE PÓS … · fitofisionomias e os fatores bióticos e abióticos amostrados. Local (1) Caatinga, (2) ... Os liquens surgem a partir da interação

Spielmann AA. 2006. Checklist of lichens and lichenicolous Fungi of Rio Grande do

Sul (Brazil). Caderno de Pesquisa. Série Biologia (UNISC) 18: 7-125. University

Press. 875p.

Theulen V. 2004. Conservação dos brejos de altitude no Estado de Pernambuco.In:

Porto,K. C.; Cabral, J.J.P.; Tabarelli,M. Brejos de altitude em pernambuco e

paraíba: história natural, ecologia e conservação. Brasília: Ministério do Meio

Ambiente. p. 299-302.

Umaña L, Sipman H. 2002. Liquenes de Costa Rica Lichens. Santo Domingo de

Heredia, Costa Rica: Instituto Nacional de Biodiversidad, INBio, 9-11p.

Webster J, Weber R. 2007. Introduction to Fungi. Third Edition. Cambridge University

Press. 875p.

Xavier-Leite ABX. 2013. Influência de fatores ambientais na riqueza e composição de

espécies de liquens corticícolas em área de Brejo de Altitude e Caatinga.

Dissertação (mestrado em Ecologia e Conservação) – Universidade Federal de

Sergipe- UFS. São Cristovão. 89 p.

72