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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE
PR-REITORIA DE PS-GRADUAO E PESQUISA
NCLEO DE PS-GRADUAO EM FSICA
TESE DE DOUTORADO
AVALIAO DAS DOSES OCUPACIONAIS E MDICAS E DO RISCO DE CNCER
EM PROCEDIMENTOS CARDACOS DE RADIOLOGIA INTERVENCIONISTA
UTILIZANDO MTODO MONTE CARLO
POR
WILLIAM DE SOUZA SANTOS
UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE
Cidade Universitria Prof. Jos Alosio de Campos
So Cristovo SE Brasil
2014
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AVALIAO DAS DOSES OCUPACIONAIS E MDICAS E DO RISCO DE CNCER
EM PROCEDIMENTOS CARDACOS DE RADIOLOGIA INTERVENCIONISTA
UTILIZANDO MTODO MONTE CARLO
WILLIAM DE SOUZA SANTOS
Tese de Doutorado apresentada ao Ncleo
de Ps-Graduao em Fsica da
Universidade Federal de Sergipe, para
obteno do ttulo de Doutor em Fsica.
Orientadora: Dra. Ana Figueiredo Maia
SO CRISTOVO
2014
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AGRADECIMETOS
Em primeiro lugar, a Deus pelas bnos que ele tem derramado sobre mim. Aprendi
que Ele nunca nos d mais do que podemos suportar.
orientadora desta tese, a Dra. Ana Figueiredo Maia, pela valiosa orientao e por ter
creditado sua f na minha capacidade e pelo aprendizado ao longo desta pesquisa;
Aos professores do Departamento de Fsica da UFS, especialmente ao professor
Albrico pelas opinies e ensinamentos da tcnica de Monte Carlo;
A todos os meus amigos, especialmente a Walmir Belinato, Renata Patrcia, Antnio
Fiel, Eriomar Teixeira, Mixslane Teixeira, Joo Batista e Clia Batista, Rafaela Cerqueira,
Eraldo Marques e Elane Marques, Rogrio Mathias e Luiza Freire, pelo companheirismo e
amizade;
Aos colegas do IPEN, Lucio Neves e Ana Perini pelas colaboraes;
Universidade Federal de Sergipe e a CAPES pelo apoio tcnico e financeiro;
Agradeo a equipe do Laboratrio Nacional de Los Alamos (USA) por ter me
concedido a licena do cdigo de transporte de radiao MCNPX, sem o qual todo este projeto
no seria possvel;
Sou eternamente grato minha famlia, especialmente aos meus pais, pelo seu infinito
amor e apoio em todas as fases da minha vida. Eu tambm agradeo aos meus irmos pelo
apoio e bondade durante meus estudos acadmicos;
Esta tese dedicada minha esposa, Carla de Jesus e ao meu enteado, Lus Marcelo.
No posso expressar em palavras o quo sou grato por vocs. Obrigado por seus generosos e
amorosos coraes e pela alegria que vocs trazem pra minha vida. Agradeo a Deus por vocs.
Gostaria de expressar minha sincera gratido minha sogra e famlia, cuja
compreenso e entusiasmo foram uma beno durante a elaborao desta tese.
Agradeo a Deus por todos vocs.
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Em nossas vidas h muitas coisas difceis, mas nada impossvel para aquele que cr em
Jesus Cristo.
Dedico este trabalho a todos meus familiares e ao nosso salvador, Jesus Cristo
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RESUMO
Os procedimentos cardacos so os mais frequentes dentro da radiologia
intervencionista (RI) e podem proporcionar elevadas exposies mdicas e ocupacionais, uma
vez que, na maioria dos casos, os procedimentos so demorados e complexos. Embora o uso de
raios X nestes casos seja justificado, importante fazer uma avaliao das doses dessa radiao
e dos riscos associados tanto em pacientes quanto nos profissionais envolvidos. O objetivo
deste estudo foi criar um modelo computacional de exposio composto por um paciente
adulto, um mdico cardiologista e uma enfermeira, em um cenrio tpico cardaco em RI e,
posteriormente, estimar as doses absorvidas nos rgos e tecidos e, por meio desta grandeza,
determinar as doses equivalentes, a dose efetiva e os riscos de cncer associados exposio.
As grandezas estimadas foram normalizadas pelo produto kerma-rea (PKA). Os resultados
obtidos esto apresentados no formato de coeficiente de converso (CCs) de dose de radiao e
de risco de cncer. Os parmetros radiogrficos utilizados nas simulaes Monte Carlo foram:
tenses de pico entre 60 - 120 kVp, filtrao inerente de 3,5 mm Al, rea do campo
10 cm x 10 cm. Foram utilizadas oito projees de feixe: ntero-posterior (AP), pstero-
anterior (PA), oblquo anterior direito (RAO90), oblquo anterior esquerdo (LAO90), cranial
(CRAN30), caudal (CAUD30), oblquo anterior esquerdo e oblquo anterior direito (LAO45
e RAO45). O cdigo de transporte de radiao utilizado foi o MCNPX-2.7.0, no qual foram
incorporados os trs simuladores antropomrficos, uma fonte de raios X emitindo ftons
isotropicamente na regio do trax do paciente e todos os objetos comuns no interior da sala de
RI. O simulador antropomrfico utilizado para representar o cardiologista e o paciente foi o
MASH e para simular a enfermeira foi utilizado a FASH. Os espectros de energia foram
gerados utilizando o programa SRS 78. Foram criados dois cenrios de irradiao denominados
de I e II. Em I, a mesa cirrgica no possua cortina de chumbo e nem tinha protetores
suspensos de vidro plumbfero e, em II, estes dispositivos de proteo foram considerados. As
mdias dos CCs de dose efetiva para as oito projees usadas em procedimentos cardacos de
angiografia e angioplastia coronria foi: paciente 2,5E-01 mSv/Gy.cm; cardiologista
2,0-E01(I) e 4,7E-02 Sv/Gy.cm (II) e enfermeira 2,4E-02 (I) e 1,8E-02 Sv/Gy.cm (II). O
risco efetivo de cncer em 10-4
/Gy.cm foi de 1,2 para o paciente, 2,6E-03 (I) e 4,9E-04 (II)
para o cardiologista e 5,2E-04 (I) e 4,0E-04 (II) para a enfermeira. Os resultados apresentados
neste estudo so consistentes com os valores experimentais descritos na literatura. Tais
resultados ampliam o conhecimento j existente sobre doses em radiologia intervencionista e
propiciam uma ferramenta til de consulta para os profissionais de radioproteo, para a
comunidade cientfica e, sobretudo, para os prprios mdicos que se expem rotineiramente.
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vii
ABSTRACT
Cardiac procedures are the most common within the interventional radiology (IR) and
they can provide high medical and occupational exposures, since, in most cases these
procedures are time consuming and complexes. Although the use of X-rays is justified in this
case, it is important to make an assessment of radiation doses and associated risk to patients
and medical staff. The aim of this study was to build a computational model of exposure
composed of an adult patient, a cardiologist and a nurse, in a typical cardiac scenario in IR and,
then, estimate absorbed doses in organs and tissues, and through this dosimetric quantity,
determine equivalent doses, the effective dose and cancer risk associated with exposure. The
estimated dosimetric quantities were normalized by the kerma-area product (KAP). In this
study, the results are presented in conversion coefficient (CC) for radiation dose and cancer
risk. The radiographic parameters used in the Monte Carlo simulations were: peak voltages
between 60 and 120 kVp, inherent filtration of 3.5 mm Al and a field area 10 cm x 10 cm.
Eight beam projections were used: antero-posterior (AP), postero-anterior (PA), right anterior
oblique (RAO90), left anterior oblique (LAO90), cranial (CRAN30), caudal (CAUD30), left
anterior oblique and right anterior oblique (LAO45 and RAO45). The radiation transport code
used was MCNPX 2.7.0, in which was incorporated three anthropomorphic phantoms were
incorporated with a source of X-rays emitting photons isotropically in the patient's chest region
and all common objects inside the room in IR. The anthropomorphic phantoms used to
represent the cardiologist and the patient were the MASH and the nurse was simulated by the
FASH phantom. Energy spectra were generated using the SRS 78 program. Two irradiation
scenarios named I and II were created. In I, the operating table had no lead curtain and
suspended shields of lead glass and, in II, these protection devices were considered. The
average effective dose of CCs for the eight projections used in cardiac procedures angiography
and coronary angioplasty was: patient 2,5E-01 mSv/Gy.cm; cardiologist 2,0E-01(I) and
4,7E-02 Sv/Gy.cm (II) and nurse 2,4E-02 (I) and 1,8E-02 Sv/Gy.cm (II).The effective risk
of cancer in 10-4
/Gy.cm was: 1.2 for the patient, 2,6 E-03 (I) and 4.9 E-04 (II) for the
cardiologist and 5.2 E-04 (I) and 4.0 E-04 (II) for the nurse. The results presented in this study
are consistent with the experimental values obtained in the literature. Thus, we believe that
results improve or extend the existing data and will be a useful reference tool for professionals
of radiation protection, the scientific community and especially for the physicians themselves
who are exposed routinely.
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viii
LISTA DE FIGURAS
Figura 2.1. Esquema do efeito fotoeltrico. ........................................................................... 19
Figura 2.2. Etapas do efeito do espelhamento coerente. O tomo absorve o fton (A) e
vibra (B) e o fton reemitido com energia igual a do fton incidente (C). .........................
20
Figura 2.3. Esquema do efeito Compton. ............................................................................... 21
Figura 2.4. Sistema espao fase. .......................................................................................... 24
Figura 2.5. Fluxograma: representao das diferentes etapas que realiza o cdigo MCNPX para a
para a simulao de transporte de fton. ................................................................................. 7
29
Figura 2.6. Anatomia do modelo matemtico MIRD (CRISTY e ECKERMAN, 1987). .... 33
Figura 2.7. Etapas envolvidas para construo de um simulador antropomrfico
tomogrfico: (1) Aquisio de imagens em TC; (2) fatia da imagem voxelizadas; (3) uso
do computador para segmentar e classificar cada rgo e tecido que referem as imagens e
(4) mostra a visualizao das imagens empilhadas do simulador antropomrfico. ...............
35
Figura 2.8. Vista frontais e laterais dos simuladores antropomrficos utilizados atualmente
pela ICRP: AM (A) e AF (B). .................................................................................................
37
Figura 2.9. Comparao entre trs modelos do trato gastrointestinal para o recm-nascido:
Simulador matemtico (ORNL) (A), simulador voxelizado (UF) (B) e simulador hbrido
(UF) (C) (LEE e col., 2007a). .................................................................................................
38
Figura 2.10. Vista frontal do simulador recm-nascido feminino UFH-NURBS. Suavidade
da regio abdominal (A) e flexibilidade da morfologia e da postura (B e C) (LEE e col.,
2007b). .....................................................................................................................................
39
Figura 2.11. A) Simuladores NURBS representando uma mulher grvida de 3, 6 e 9 meses
de gestao respectivamente, um simulador mesh representando um feto B) (XU e col.,
2007) e modelos de simuladores mesh adulto feminino e masculino da RPI C)
(ZHANG e col., 2009). ............................................................................................................
40
Figura 2.12. Simuladores FASH (A) e MASH (B) construdos com base em superfcie
mesh (CASSOLA e col., 2010). ..............................................................................................
41
Figura 2.13. Conjunto de simuladores antropomrficos de diferentes sexos, idades e
massas corpreas (CASSOLA e col., 2011). .................................................................................
41
Figura 2.14. Ilustrao da posio da medio do PKA. ....................................................... 46
Figura 2.15. Esquema de acesso do cateter para um procedimento cardaco de angiografia
e angioplastia coronria. .........................................................................................................
48
Figura 2.16. Principais componentes de um equipamento de raios X (A): (1) intensificador
de imagem; (2) tubo de raios X; (3) monitores de vdeo; (4) mesa do paciente; (5) console
de controle; (6) interruptor de p e um cenrio cardaco de RI (B). .......................................
49
Figura 3.1. Simuladores antropomrficos FASH (A) e MASH (B) utilizados neste estudo.
(CASSOLA e col., 2010). ......................................................................................................
56
Figura 3.2. Vistas frontais (A) e laterais (B) da posio dos rgos do simulador MASH
(CASSOLA e col., 2010). ......................................................................................................
56
Figura 3.3. Coeficiente de absoro de massa-energia definido para RBM sobre o osso
homogneo (CRISTY e ECKERMAN, 1987; ICRP 116, 2010). ..........................................
60
Figura 3.4. Percentual dos fatores de intensificao de dose para osso parietal, terceira
vrtebra lombar, crista ilaca e costelas, proposto por King e Spires (1985). ........................
61
Figura 3.5. Cenrio de irradiao construdo no MCNPX2.7.0 composto por trs
simuladores antropomrficos representando um cardiologista, enfermeira, ambos em p, e
um paciente sobre a mesa cirrgica. .....................................................................................
62
Figura 3.6. Visualizao frontal (A) e lateral (B) do modelo computacional de exposio
em procedimento cardaco de RI com a mesa cirrgica acrescida de cortina de chumbo
(Pb) e protetores suspensos confeccionados de vidro plumbfero. .........................................
64
Figura 4.1. Espectros energticos utilizados neste estudo. ..................................................... 67
Figura 4.2. Mdia dos CCs para dose efetiva (E) normalizados pelo PKA em funo da
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ix
tenso aplicada ao tubo, calculados para o paciente. .............................................................. 74
Figura 4.3. Comparao dos CCs para doses equivalentes e efetivas dos rgos prximo
do corao e da regio abdominal, calculado para os simuladores antropomrficos adultos
MASH e ORNL para a projeo AP. .....................................................................................
75
Figura 4.4. Mdia por energia dos CCs de DEP normalizados pelo PKA calculados para o
paciente para as oito projees de feixe estudadas. ................................................................
77
Figura 4.5. Mdia dos CCs para dose efetiva (E) normalizados pelo PKA em funo da
tenso aplicada ao tubo, calculados para o cardiologista nos cenrios I e II. .........................
79
Figura 4.6. Mdia dos CCs para dose efetiva (E) normalizados pelo PKA em funo da
tenso aplicada ao tubo, calculados para a enfermeira nos cenrios I e II. ............................
80
Figura 4.7. Mdia dos CCs para dose equivalente pessoal Hp(10) normalizados pelo PKA
em funo da tenso aplicada ao tubo, calculados para o cardiologista nos cenrios I e II. ..
82
Figura 4.8. Mdia dos CCs para dose equivalente pessoal Hp(10) normalizados pelo PKA
em funo da tenso aplicada ao tubo, calculados para a enfermeira nos cenrios I e II. ......
82
Figura 4.9. Mdia dos CCs de risco de cncer dos rgos do paciente por PKA atribuvel a
uma populao de 100.000 pessoas com mdia de 30 anos de idade. ....................................
84
Figura 4.10. Mdia dos CCs de risco de cncer dos rgos da enfermeira por PKA
atribuvel a uma populao de 100.000 pessoas com mdia de 30 anos de idade. ................
84
Figura 4.11. Mdia dos CCs de risco de cncer dos rgos do cardiologista por PKA
atribuvel a uma populao de 100.000 pessoas com mdia de 30 anos de idade. ................
85
Figura 4.12. Mdia dos CCs de risco efetivo de cncer para o paciente por PKA atribuvel
a uma populao de 100.000 pessoas com mdia de 30 anos de idade. .................................
87
Figura 4.13. Mdia dos CCs de risco efetivo de cncer para o cardiologista por PKA
atribuvel a uma populao de 100.000 pessoas com mdia de 30 anos de idade. ................
87
Figura 4.14. Mdia dos CCs de risco efetivo de cncer para a enfermeira por PKA
atribuvel a uma populao de 100.000 pessoas com mdia de 30 anos de idade. ................
88
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x
LISTA DE TABELAS
Tabela 2.1. Valores de coeficientes de variao (CV) (BREISMEISTER, 1993). ................ 27
Tabela 2.2. Principais gemetrias lidas e utilizadas pelo cdigo MCNPX. .............................. 31
Tabela 2.3. Contabilizadores (tallies) utilizados para registro de grandezas fsicas. .............. 32
Tabela 2.4. Fator de ponderao para diferentes tipos de radiao ionizante (ICRP 103,
2007). .......................................................................................................................................
45
Tabela 2.5. Recomendao da ICRP 103 para fatores de peso ( de rgos e tecidos (ICRP 103, 2007). ...................................................................................................................
45
Tabela 2.6. Risco de incidncia de cncer sugerido pelo comit BEIR VII atribuvel ao
tempo de vida para uma populao de 100.000 pessoas entre de 30 anos de vida exposta a
uma nica dose de 0,1 Sv (ICRP 103, 2007). ..........................................................................
47
Tabela 3.1. Dados fsicos dos rgos e tecidos dos simuladores antropomrficos FASH e
MASH (CASSOLA e col., 2010). ...........................................................................................
57
Tabela 4.1. Mdia dos CCs calculados para sete tenses aplicadas ao tubo para H, E e
Hp(10) normalizados pelo PKA em Sv/Gy.cm para o cardiologista em procedimentos
cardacos de angiografia e angioplastia coronria em RI. .......................................................
69
Tabela 4.2. Mdia dos CCs calculados para sete tenses aplicadas ao tubo para H, E e
Hp(10) normalizados pelo PKA em Sv/Gy.cm para a enfermeira em procedimentos
cardacos de angiografia e angioplastia coronria em RI. .......................................................
70
Tabela 4.3. Mdia dos CCs calculados para sete tenses aplicadas ao tubo para H, E e DEP
normalizados pelo PKA em mSv/Gy.cm calculados para o paciente em procedimentos
cardacos de angiografia e angioplastia coronria em RI. .......................................................
71
Tabela 4.4. Desvios relativos dos resultados de H, E e Hp(10) por PKA entre os cenrios I
e II. ...........................................................................................................................................
73
Tabela 4.5. Parmetros da equao 4.1 utilizados para clculo dos CC de dose efetiva para
o paciente ajustados para R2 = 0,99. ........................................................................................
74
Tabela 4.6. Desvio relativo entre os resultados de CCs de dose efetiva obtidos neste estudo
(0,25 mSv/Gy.cm) e os descritos na literatura. ......................................................................
75
Tabela 4.7. Desvios relativos entre os resultados de CCs para DEP do paciente obtidos
neste estudo (4,8 mGy/Gy.cm2) e os descritos na literatura. ..................................................
78
Tabela 4.8. Parmetros da equao 4.1 utilizados para clculo dos CC para o cardiologista
e enfermeira ajustados para R2 = 0,99. ....................................................................................
79
Tabela 4.9. Desvios relativos entre os resultados de CCs de dose efetiva em Sv/Gy.cm2
para o cardiologista obtido neste estudo (2,0E-01-Cenrio I ) e (4,7E-02 Cenrio II) e os
descritos na literatura. ..............................................................................................................
80
Tabela 4.10. Mdia dos CCs para Hp(10) e E, calculados para o cardiologista e enfermeira
nos cenrios I e II. ...................................................................................................................
83
Tabela 4.11. Mdia dos CCs para risco de incidncia de cncer de rgos dos individuos
estudados normalizados pelo PKA expresso em 10-4
/Gy.cm. ...............................................
85
Tabela 4.12. Parmetros da equao 4.1 utilizados para clculo dos CCs para risco de
cncer em paciente, cardiologista e enfermeira, ajustados para R2 = 0,99. .............................
86
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xi
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS
AC Angiografia coronria
AP ntero-posterior
BEIR Biologic Effects of Ionizing Radiation
CAUD30 Projeo caudal em 30
CC Coeficiente de converso
CRAN30 Projeo cranial em 30
DEP Dose de entrada na pele
EGS Electon Gamma Shower
EPIs Equipamentos de proteo individual
FASH Female Adult meSH (Simulador antropomrfico feminino adulto feito com
superfcies MESH)
FDP Funo de densidade de probabilidade
FOV Campo de viso
GEANT Geometry and Tracking
Gy Gray
ICRP International Commission on Radiological Protection (Comisso
Internacional em Proteo radiolgica)
ICRU International Commission on Radiation Units and Measurements (Comisso
Internacional em Unidades e Medidas da radiao)
keV Kilo electron volt
kVp Pico de tenso aplicada ao tubo de raios X
LAO90 Projeo obliqua anterior esquerda em 90
LAO45 Projeo obliqua anterior esquerda em 45
LET Linear Energy Transfer (Transferncia linear de energia)
MASH Male Adult meSH (Simulador antropomrfico masculino adulto feito com
superfcies MESH)
MEAC Mass Energy Absorption Coefficient Method
MC Monte Carlo
MCNPX Monte Carlo N-Particle eXtended
NCRP National Council on Radiation Protection and Measurements (Conselho Nacional em Proteo e Medidas da Radiao)
ORNL Oak Ridge National Laboratory (Laboratrio Nacional de Oak Ridge)
PA Postero-anterior
PENELOPE PENetration and Energy Loss of Positrons and Electrons
PKA Produto kerma-rea
PMMA Polymethylmethacrylate
PTA Percutaneous Transluminal Angioplasty (Angioplastia Percutnea
Transluminal)
PTCA Percutaneous Transluminal Coronary Angioplasty (Angioplastia
Percutnea Coronariana Transluminal)
RAO45 Projeo obliqua anterior direita em 45
RAO90 Projeo obliqua anterior direita em 90
RBM Red Bone Marrow (Medula ssea vermelha)
RI Radiologia intervencionista
Sv Sievert
CT Tomografia computadorizada (Computed tomography)
TLD Thermoluminescent Dosimeter (Dosmetro Termoluminescente )
VMC Visual Monte Carlo
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xii
SUMRIO
1. INTRODUO E OBJETIVOS. .................................................................................. 14
2. FUNDAMENTOS TERICOS. .................................................................................... 19
2.1 Principais efeitos da interao da radiao com a matria considerado neste estudo....... 19
2.2 Mtodo Monte Carlo (MC) e avaliao de erro. .............................................................. 23
2.3 Cdigos computacionais de transporte de radiao. ......................................................... 28
2.4 Construo dos arquivos de entrada (INP) para o cdigo de transporte de radiao
MCNPX. .................................................................................................................................
29
2.4.1 Carto de clulas. ...................................................................................................... 30
2.4.2 Carto de superfcies. ................................................................................................ 30
2.4.3 Carto de dados. ........................................................................................................ 32
2.5 Modelos de simuladores antropomrficos utilizados pelos cdigos computacionais de
transporte de radiao. ............................................................................................................
33
2.5.1 Simulador antropomrfico matemtico. ................................................................... 33
2.5.2 Simulador antropomrfico de voxel. ........................................................................ 35
2.5.3 Simulador antropomrfico NURBS. ........................................................................ 38
2.5.4 Simulador antropomrfico mesh. .............................................................................. 39
2.6 Grandezas dosimtricas gerais e especficas utilizadas neste estudo. .............................. 41
2.6.1 Fluncia e fluncia energtica. .................................................................................. 42
2.6.2 Kerma. ...................................................................................................................... 42
2.6.3 Dose absorvida. ......................................................................................................... 43
2.6.4 Converso entre dose absorvida e kerma. ................................................................. 43
2.7 Estimativa de dose absorvida mediante mtodo MC. ...................................................... 44
2.8 Produto kerma-rea (PKA). .............................................................................................. 45
2.9 Coeficiente de converso de dose (CC) e estimativa de risco de cncer. ......................... 46 2.10 Cenrio tpico cardaco de RI. .................................................................................................... 48 2.11 Estudo dosimtrico em procedimentos cardacos de RI. ............................................................. 50
2.11.1 Estudos dosimtricos experimentais sobre CCs. ..................................................... 50
2.11.2 Estudos dosimtricos de CCs obtidos por meio do mtodo MC. ........................... 51
3. MATERIAIS E MTODOS. .........................................................................................
54
3.1 Cdigo de transporte de radiao MCNPX (verso 2.7.0). ...........................................
54
3.2 Software gerador de espectro de raios X diagnstico: SRS 78. ....................................... 54
3.3 Simuladores antropomrficos FASH e MASH. ............................................................... 55
3.4 Mtodo utilizado para estimar a dose na medula ssea vermelha (RBM) e no
esqueleto. ................................................................................................................................
58
3.5 Construo dos cenrios cardacos de RI. ........................................................................ 61
3.6 Clculo dos CCs de dose, de risco de cncer e avaliao das incertezas. ........................ 64
4. RESULTADOS E DISCUSSES. ................................................................................
67
4.1 Espectros de energia utilizados. ........................................................................................
67
4.2 CCs de dose equivalente por PKA. .................................................................................. 67
4.3 Avaliao dos CCs para dose efetiva (E) do paciente. ..................................................... 73
4.4 Avaliao dos CCs para dose de entrada na pele (DEP) do paciente. .............................. 77
4.5 Avaliao dos CCs para dose efetiva (E) do cardiologista e enfermeira. ......................... 78
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13
4.6 Avaliao dos CCs para dose equivalente pessoal Hp(10) do cardiologista e
enfermeira. ..............................................................................................................................
81
4.7 CCs de risco de cncer estimado para o paciente, cardiologista e enfermeira. ................ 83
4.8 Comentrio sobre relao entre dose efetiva e risco efetivo de cncer calculados neste
estudo. .....................................................................................................................................
89
4.9 Avaliao das incertezas estatsticas e mtodo para clculo de valor absoluto de H, E,
DEP, Hp(10), ROT e R. ...........................................................................................................
89
5. CONCLUSES. ..............................................................................................................
91
ARTIGOS ORIGINADOS DURANTE O DOUTORADO. .............................................
94
REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS. ..............................................................................
95
APNDICE A. Resultados dos coeficientes de converso (CCs) para dose equivalente
(H), dose efetiva (E),dose de entrada na pele (DEP - para o paciente) e dose equivalente
pessoal Hp(10) (para o cardiologista e a enfermeira) normalizados pelo produto kerma-
rea (PKA) para os individuos estudados. ..............................................................................
104
APNDICE B. Resultados dos coeficientes de converso (CCs) para risco de cncer de
rgos (ROT) e risco efetivo (R) normalizados pelo produto kerma-rea (PKA) para o
paciente, cardiologista e enfermeira. ......................................................................................
125
APNDICE C. Imagens do modelo de exposio computacional, evidenciando as
projees de feixe estudadas nos cenrios I e II. ....................................................................
143
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14
CAPTULO 1: INTRODUO E OBJETIVOS
A radiologia intervencionista (RI) uma especialidade mdica que utiliza imagens
fluoroscpicas (imagem em tempo real) obtidas com radiao X para acessar os rgos com
suspeita de doena ou o local de tratamento, geralmente utilizando um cateter guia por acesso
percutneo ou outros acompanhado de substncia de contraste (iodo ou brio) para visualizar os
rgos radiotransparentes. Esse tipo de procedimento utilizado para diagnosticar, monitorar,
controlar, documentar e tratar quase todos os rgos vitais do corpo humano, dispensando, na
maioria das vezes a interveno cirrgica. Dentro da rea de RI, os estudos cardiovasculares
como angiografia e angioplastia coronria so os mais frequentes e, por isso, eles foram os
escolhidos para ser estudados (CANEVARO, 2009).
O uso mdico da radiao ionizante oferece grande benefcio para os pacientes, e
tambm contribui de forma significativa para a exposio radiao de indivduos e
populaes. As exposies mdicas oriundas da RI contribuem com uma percentagem
significativa da dose coletiva da populao. De acordo com os resultados publicados pelo
Comit Cientfico das Naes Unidas sobre os Efeitos da Radiao Atmica, procedimentos
intervencionistas contribuem apenas com 1% do uso da radiao ionizante na rea mdica.
Entretanto, sua contribuio chega a 10% para a dose coletiva (NCRP, 2009). Por serem
exames complexos, os procedimentos cardacos em RI so longos e, muitas vezes, com a
obteno de vrias imagens, o que explica os altos valores de dose associados prtica.
Nos ltimos anos, houve um crescente avano no nmero de procedimentos de RI, que
resultaram em um aumento na frequncia de procedimento de diagnstico e teraputico
utilizando raios X (FALKNER, 1997). A principal razo para este aumento foi a percepo de
que a tcnica til em vrias situaes complexas, nas quais possvel, portanto, evitar
cirurgias. Alm disso, o avano da tcnica tem possibilitado a realizao de procedimentos
cada vez mais complexos. Sendo assim, mesmo considerando o risco da radiao, a no
realizao de uma cirurgia pode ser uma vantagem muito relevante para pacientes crticos
tambm pode resultar na diminuio do tempo de internao. No entanto, no se pode
desconsiderar que a dose coletiva da populao e os riscos associados sade esto
aumentando (ICRP 120, 2013). A ocorrncia de efeitos determinsticos, especialmente na pele,
tem sido um assunto de grande preocupao. Alm disso, a estimativa do risco para a sade
devido a efeitos estocsticos da radiao, especialmente para os pacientes mais jovens, tambm
est sob investigao aprofundada.
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15
Dentre as reas da RI, os estudos cardiovasculares so os mais utilizados. Assim,
procedimentos de angiografias coronrias (AC), angioplastias coronrias e inseres de marca-
passos tm aumentado em todo o mundo. Apesar do desenvolvimento contnuo das tcnicas de
imagem em procedimentos cardacos como, ecocardiografia, tomografia computadorizada
cardaca, cintilografia cardaca e ressonncia magntica cardaca, ao longo da ltima dcada
tem havido um crescimento no nmero de pacientes submetidos a procedimentos de
diagnstico e teraputico guiados por fluoroscopia (imagem em tempo real). Entre 1992 e
2001, verificou-se um aumento de trs vezes em exame de AC e de cinco em procedimento de
angioplastia coronariana percutnea transluminal (PTCA). Isso se deve principalmente
introduo de stents (tubo metlico ou de plstico utilizado para manter os vasos sanguneos
desobstrudos ou outras vias que so estreitadas ou bloqueadas) (TOGNI e col., 2004). Entre
1990 e 2003, houve um aumento mdio anual de procedimentos de AC de 3,78% na Holanda e
11,82% na Finlndia, com uma mdia de 6,73% (FALKNER e WERDUCH, 2008a). Em 2006,
a mdia de exames em RI por milho de habitantes na Europa foi de: 5045 angiografias
coronrias, 1511 angioplastias percutnea coronariana transluminal, 836 angioplastias e 918
inseres de marca-passos. Estima-se que em 2007, na Europa, foram realizadas cerca de
3.043.000 arteriografias coronrias, 910.000 angioplastias percutneas transluminal (PTA) e
690.000 colocaes de stents coronarianos (FALKNER e WERDUCH, 2008b). Taxas de
crescimento similares foram observadas na Amrica do Norte (LASKEY e col., 2000;
ANDERSON e col., 2002) para o perodo 1990-2000. Nos Estados Unidos da Amrica,
procedimentos intervencionistas guiados por fluoroscopia foram a terceira maior fonte de
exposio mdica de pacientes em 2006, respondendo por 14% da exposio mdica.
Procedimentos cardacos representaram 28% do total dos procedimentos de interveno e
foram responsveis por 53% da exposio dos pacientes que utilizaram fluoroscopia (NCRP,
2009).
Esses nmeros vm crescendo a cada ano nos pases ocidentais. Entretanto, uma
tendncia semelhante tem sido vista em outros pases como, por exemplo, na China, onde a
taxa de aumento anual de PTA de cerca de 40%. Embora o nmero total de procedimentos
seja ainda relativamente pequeno quando comparado com a populao da China, refletindo a
menor prevalncia de doenas cardacas da populao chinesa, a tendncia de crescimento
clara e consequncia, entre outras coisas, da mudana de hbitos alimentares, do estilo de
vida e do tabagismo (CHENG, 2004; MORAN e col., 2010).
O crescimento vertiginoso no nmero de procedimentos de RI mais acentuado em
pases desenvolvidos que tm uma assistncia sade da populao mais eficiente comparada
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16
com o grupo de pases no desenvolvidos e pases emergentes, como o Brasil (CANEVARO,
2009). Embora o nmero de exames em RI tenha crescido no Brasil em 77,6% entre os anos de
1995 e 2007, ainda muito inferior aos pases desenvolvidos. Segundo a mesma autora, na
dcada de 1990, a mdia de exames de RI nos pases desenvolvidos e no Brasil foi de 12,73 e
1,73 para cada 1000 habitantes, respectivamente. Acompanhando o crescimento dos
procedimentos em RI, cresce tambm em todo o mundo a preocupao sobre as doses de
radiao a partir desses procedimentos e do conhecimento das consequncias dos impactos que
a radiao pode ocasionar nos indivduos expostos.
As doses dos profissionais em procedimentos de RI so as mais altas na rea da
medicina que utiliza radiao X (VANO e col., 2001; ICRP 85, 2000; FALKNER e VANO,
2001; SHOPE e col., 1996; VANO e col., 1998). Nesse tipo de procedimento, necessrio que
o mdico se posicione prximo ao paciente e ao tubo de raios X, utilizando um grande nmero
de imagens estticas e dinmicas, ocasionando alto tempo de exposio do profissional e do
paciente radiao. Assim, a exposio prolongada destes indivduos aos raios X tem que ser
investigada, pois pode resultar no surgimento de efeitos estocsticos e, at mesmo, de efeitos
determinsticos (FALKNER e VANO, 2001). Nesse sentido, necessrio estabelecer
metodologia que permita estimar as doses com boa preciso e, assim, possibilite uma melhor
avaliao dos riscos sade das pessoas.
Em princpio, a estimativa do risco associado em procedimento cardaco de RI pode
ser avaliada por meio de grandezas especficas, como, por exemplo, a taxa de dose e o produto
kerma rea (PKA), ou medidas experimentais da dose de entrada na pele de pacientes e
profissionais obtidas em simuladores antropomrficos fsicos (PUTTE e col., 2000; BOR e col.,
2004). Entretanto, o conhecimento dessas grandezas no o suficiente para estabelecer o
panorama completo do risco associado exposio, pois a probabilidade de ocorrncia de
efeitos induzidos pela radiao ionizante no s depende da dose absorvida, mas tambm do
rgo ou tecido irradiado. Portanto, preciso determinar as doses nos rgos de pacientes e
profissionais, o que um processo complexo (SCHULTZ e col., 2003).
A medio direta de doses em rgos e tecidos muito complicada e, na maioria das
vezes, impossvel de ser realizada. Existem algumas alternativas para resolver o problema,
como a utilizao de objetos simuladores antropomrficos que permitam a insero de
detectores para medida direta da dose nos rgos ou a estimativa das doses por meio de
simulao computacional, cuja tcnica mais empregada o mtodo Monte Carlo (MC) (objeto
deste estudo), que utiliza simulador antropomrfico matemtico ou de voxel para representar o
indivduo exposto (ALDERSON e col., 1962; HUANG, 1987).
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A simulao computacional de transporte de radiao aplicada proteo radiolgica
data da Segunda Guerra Mundial. A utilizao do mtodo MC para fins de pesquisa comeou
com os testes de armas nucleares. Durante o projeto Manhattan, em 1940, os cientistas Von
Neumann e Ulam aperfeioaram a tcnica e a aplicaram a problemas relacionados com clculo
de difuso de nutrons em diferentes materiais. Mais tarde, profissionais da rea de dosimetria
utilizaram esta tcnica para simular o de transporte de radiao na matria, a fim de estimar
grandezas dosimtricas relacionadas proteo radiolgica (ECKHARDT e col., 1987).
Tcnicas de MC tm sido frequentemente utilizadas para estudar os problemas
associados utilizao de radiaes ionizantes em medicina (ANDREO, 1991; SEMPAU,
2002): clculo de dose em radioterapia (ROGERES e col., 1998); estudos de sistemas de
imagem com radionucldeos ou raios X (ZAIDE, 1999); caracterizao de fontes de radiao
(KOSUNEN e ROGERES, 1993; GALLARDO e col., 2004) e detectores de radiao
(BIELAJEV e col., 1985); estudos especficos em mamografia e clculo da radiao espalhada
em salas de diagnstico (CHAN e DOI,1985); tcnicas de otimizao em radiologia
convencional (WISE e col., 1999). Essas tcnicas tornaram-se as melhores alternativas
disponveis para resolver problemas relacionados ao transporte de radiao ionizante.
A estimativa das doses nos rgos por meio de tcnica computacional requer modelos
anatmicos para representar uma populao geral. Os primeiros modelos utilizados para
representar corpo humano foram, em sua maioria, placas homogneas, cilindros e esferas
(SNYDER, 1950). Estes modelos anatmicos evoluram ao longo dos ltimos 50 anos. Na
dcada de 1960, surgiram os modelos matemticos que representavam as estruturas simples do
corpo por meio de equaes, tais como superfcies planas, cilndricas, elpticas e esfricas
(FISHER e SNYDER, 1967). Embora o modelo matemtico constitua-se um grande avano na
representao da anatomia humana, esse possui ainda grande limitao, tanto em nmero de
rgos, quanto em distribuio, localizao, tamanho e composies qumica e fsica deles,
diminuindo a fidelidade da representao.
A partir da dcada de 1980, novas tcnicas de imagem, como tomografia
computadorizada (TC) e ressonncia magntica (RM), tornaram possvel a construo de nova
gerao de modelos anatmicos, ou seja, modelos tomogrficos com anatomia mais realstica,
denominados de simuladores antropomrficos de voxel (GIBBS e col., 1984; WILLIAMS e
col., 1986). Mais recentemente, vrios pesquisadores vm desenvolvendo simuladores
antropomrficos sem a necessidade de recursos de imagens de TC ou de RM. Os novos
simuladores so construdos a partir de atlas do corpo humano e com programas especficos de
modelagem da anatomia humana que so encontrados livres na web. Dentre os programas mais
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utilizados para modelar o corpo humano temos o Blender, MakeHuman e o ImageJ. Por meio
do uso desses programas, possvel a construo de simuladores com diferentes tipos de massa
corprea, sexo, postura, tamanho, forma e localizao do rgo e idade, mantendo a preciso
anatmica (CASSOLA e col., 2010; LEE e col., 2007). Esta ampla adaptabilidade fornece um
meio poderoso para representar com mais preciso os pacientes e profissionais expostos e,
consequentemente, as doses destes indivduos.
O objetivo desta pesquisa foi criar um modelo computacional de exposio para
procedimentos de angiografia e angioplastia coronria em RI que permitisse a avalio das
doses ocupacionais e mdicas e dos riscos associados a estas doses. Para alcanar os objetivos,
foram calculados coeficiente de converso (CC) para estimativa das doses equivalente e efetiva
e dos riscos de cncer dos rgos/tecidos e risco efetivo. Os resultados dosimtricos foram
obtidos para uma faixa ampla de espectro energtico, que abrange grande parte dos
procedimentos cardacos realizados em RI. Alm disso, foi criado um modelo de exposio
realstico, utilizando trs simuladores antropormrficos de voxels para compor um cenrio
virtual com dois profissionais, um mdico intervencionista (cardiologista) e uma enfermeira, e
um paciente numa sala de RI. O modelo de exposio construdo foi exposto a uma fonte
pontual de radiao X. As grandezas dosimtricas estimada neste estudo sero uma ferramenta
importante na avaliao do risco dos indivduos expostos aos raios X.
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CAPTULO 2: FUNDAMENTOS TERICOS
2.1 Principais efeitos da interao da radiao com a matria considerados neste estudo
Na faixa de energia utilizada neste estudo, os principais efeitos de interao da
radiao com o tecido biolgico so o efeito fotoeltrico, espalhamento coerente e efeito
Compton.
O efeito fotoeltrico o processo de interao dominante para ftons de baixa energia
e envolve a absoro de ftons pelo tomo sendo, consequentemente, ejetado um eltron
atmico. Esse processo est esquematizado na figura 2.1. Quando um eltron removido de um
tomo, gerando uma vacncia, outro eltron de um nvel mais energtico pode cair nessa
vacncia, tendo como resultado a liberao de energia. Embora esta energia seja liberada s
vezes na forma de um fton, a energia pode tambm ser transferida a outro eltron, que pode
ento ser ejetado do tomo. Este segundo eltron chamado eltron Auger. A energia do
eltron ejetado equivalente diferena de energia entre as camadas eletrnicas e pode ser
calculada utilizando a equao 2.1 (KNOLL, 2000; ATTIX, 1986).
Figura 2.1. Esquema do efeito fotoeltrico.
(2.1)
Em que a energia do fton e a energia de ligao do eltron. O efeito
fotoeltrico mais provvel quando a energia do fton ligeiramente superior energia de
ligao do eltron numa determinada camada atmica. Acima da energia da camada K, a
probabilidade de absoro de um fton, com energia suficientemente alta para arrancar um
eltron com uma energia no relativstica dada aproximadamente pela equao 2.2 (KNOLL,
2000; ATTIX, 1986).
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20
Em que denominada de constante de estrutura fina, e so respectivamente a
massa e o raio clssico do eltron, o nmero atmico do material, a constante de Planck
e a frequncia da onda. O expoente n varia entre 4 ( e 4,6 ( )
e m varia entre 3 ( e 1 ( . Na regio de , o efeito
fotoeltrico relevante para energias acima da energia de ligao dos eltrons atmicos do
material absorvedor, e a seo de choque varia aproximadamente com e .
A intensidade da radiao atenuada em um material absorvedor de espessura medida
pelo coeficiente de atenuao linear, . Para eliminar a dependncia com a densidade do
material, comum usar o coeficiente de atenuao mssico, , ou seja, a razo de pela
densidade do material, .
Outro efeito da interao da radiao com a matria para faixa de energia de fton
avaliado neste estudo o espalhamento coerente. Neste tipo de efeito, o tomo absorve (Figura
2.2 A e 2.2 B) e reemite um fton mudando apenas sua direo (Figura 2.2 C). Este efeito no
altera a energia do fton e nem o estado do tomo. Por no contribuir para a absoro de
energia no meio, este efeito no relevante para avaliao da dose, mas a sua probabilidade de
ocorrncia precisa ser considerada nas simulaes de transporte de radiao.
Figura 2.2. Etapas do efeito do espelhamento coerente. O tomo absorve o fton (A) e vibra (B) e o fton
reemitido com energia igual a do fton incidente (C).
Durante a interao, o tomo, como um todo, recebe uma quantidade de momento, mas
sua energia de recuo muito pequena e um fton espalhado em um ngulo com energia
igual a do fton incidente . A equao 2.3 nos fornece a seo de choque atmica para esse
tipo de efeito (KNOLL, 2000; ATTIX, 1986).
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21
(2.3)
Em chamado de fator de forma atmico.
A probabilidade do efeito de espalhamento coerente ocorrer depende da energia e dos
tipos de materiais envolvidos. Assim, a chance desse efeito ocorrer maior para ftons de
baixa energia e de materiais absorvedores de alto nmero atmico. O coeficiente de atenuao
mssico para esse efeito dado pela equao 2.4.
Em que a densidade do material, o nmero de Avogadro e peso molecular do
material.
O efeito Compton consiste na interao de ftons com eltrons livres1. Nesta
interao, o fton inicial espalhado e parte da energia transferida para o eltron ejetado. A
figura 2.3 apresenta o esquema desse tipo de efeito.
Figura 2.3. Esquema do efeito Compton.
O processo de coliso na interao Compton descrito pela aplicao de leis de
conservao de momento e de energia. Assim, a energia de recuo do eltron, em funo do
ngulo de espalhamento dada pela equao 2.5 (KNOLL, 2000; ATTIX, 1986).
Em que o ngulo de espalhamento do fton, a frao de energia reduzida
e o equivalente em massa do eltron.
1O eltron considerado livre quando sua energia de ligao muito menor do que a energia do fton.
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22
A energia dos ftons espalhados varia segundo um ngulo em relao trajetria
inicial. A probabilidade de um fton sair com certo ngulo de espalhamento dada pela
equao 2.6, conhecida como equao de Klein-Nishina (KNOLL, 2000; ATTIX, 1986).
Em que a seo de choque Compton. Integrando a equao 2.6 para todo o ngulo slido,
obtm-se a seo de choque total em funo da energia do fton incidente. Conhecida a direo
do fton depois da coliso, a partir da equao de Klein-Nishina, a nova direo do eltron
dada pela equao 2.7.
Em que o ngulo de espalhamento do eltron.
A probabilidade para ocorrncia do efeito Compton em funo da energia do fton
incidente dada pela equao 2.8 (KNOLL, 2000; ATTIX, 1986).
O coeficiente de atenuao mssico do efeito Compton, , obtido pela equao 2.9
(KNOLL, 2000; ATTIX, 1986).
Em que o nmero de Avogadro, o nmero de eltrons por
tomo de um elemento ou por molculas em um composto, o nmero de massa do material
e a densidade em A razo de igual a 1 para o hidrognio e
aproximadamente 0,45 0,05 para todos os outros elementos.
O coeficiente de atenuao mssico total considerado neste estudo ser
dado pela soma dos coeficientes de atenuao mssico do efeito fotoeltrico ( ,
espalhamento coerente ( e efeito Compton ( , conforme apresentado na equao
2.10 (KNOLL, 2000; ATTIX, 1986).
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23
2.2 Mtodo Monte Carlo (MC) e avaliao de erro
No contexto do transporte de radiao, o mtodo MC envolve o uso de nmeros
aleatrios e de distribuio de probabilidade para simular as possiveis interaes das partculas
durante o percurso na matria. Todos os dados fsicos que iro determinar a energia, posio e
direo de voo das partculas so alocados no algoritmo de um cdigo computacional de
transporte de radiao. O mtodo consiste em utilizar uma sequncia de nmeros aleatrios
distribudos no intervalo [0, 1] que determina o comportamento futuro de uma varivel
aleatria , para simular uma srie de efeitos nos tomos produzidos por ftons, nutrons e
partculas carregadas ao percorrer a matria. Todos os efeitos gerados no meio, como
espalhamento, absoro e produo de partculas secundrias, seguem um processo aleatrio,
ou seja, no se pode prever que tipo de interao ocorrer em cada tempo e lugar, mas
possvel atribuir uma probabilidade a cada evento provvel. O nome desse mtodo uma
referncia cidade do Principado de Mnaco, Monte Carlo, conhecida mundialmente pelos
famosos jogos de roleta, que utilizam nmeros aleatrios. Embora o mtodo tenha surgido nos
anos 1940, as bases tericas dele j existiam h sculos (YORIYAZ, 2009).
Na busca de uma soluo numrica para um problema de transporte de radiao, os
modelos computacionais fundamentados no mtodo MC baseiam-se na resoluo da equao
de transporte de Boltzmann (HUANG, 1987). O parmetro mais importante na anlise do
transporte da radiao o fluxo , que uma funo que depende de 8 variveis, trs
implcitas no vetor posio , trs em um vetor de direo , e outras duas nos parmetros
escalares de energia e tempo . As variveis que definem o fluxo esto apresentadas na
figura 2.4, que conhecida como sistema de coordenadas de espao-fase. Neste sistema, o
fluxo definido como o nmero de partculas por unidade de rea que se encontram em uma
posio , com energia entre ( ) que se movem ao longo do ngulo
solido , compreendido entre . Fazendo o balano de partculas que entram e que
saem do volume se obtm a equao 2.11, conhecida como equao de transporte de
Boltzmann (HUANG, 1987).
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24
Figura 2.4. Sistema espao-fase.
A soluo da equao de transporte no pode ser obtida de forma exata, ou seja, no
tem soluo analtica. Entretanto, existem vrios mtodos numricos de soluo, como mtodo
dos harmnicos esfricos, teoria da difuso e outros. Existem cdigos computacionais
desenvolvidos que utilizam esses mtodos de soluo (SANGREN, 1960). Esse conjunto de
soluo numrica denominado de mtodos determinsticos. A formulao exata do fenmeno
nem sempre possvel por meio de mtodos determinsticos, especialmente em geometrias
complexas. Uma vez que a trajetria de uma partcula ao atravessar materiais de natureza
estatstica, o mtodo MC torna-se uma ferramenta til no estudo deste processo.
Por meio do mtodo MC, os processos fsicos so simulados teoricamente sem
necessidade de resolver analiticamente as equaes que descrevem o sistema. No entanto,
necessrio conhecer as funes de densidade de probabilidade (FDP) que descrevem o
comportamento fsico do sistema.
No processo da simulao do transporte de radiao atravs do mtodo MC, o fton
entra aleatoriamente em um material podendo interagir ou no com o mesmo. Como na faixa de
energia utilizada no radiodiagnstico os efeitos mais provveis de interao so os efeitos
fotoeltricos e o Compton, o fton pode, ao percorrer a matria, ser absorvido por um tomo
por efeito fotoeltrico ou pode passar por sucessivos espalhamentos devido ao efeito Compton,
perdendo energia e variando a sua trajetria, at ser absorvido ou sair do material. Estas
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25
sucessivas interaes sofridas pela radiao, desde seu nascimento at sua morte,
denominada de histria de uma partcula. Nesse processo, a distncia mdia percorrida entre
duas interaes sucessivas denominada de trajetria livre mdia ( ).
A probabilidade de que um fton percorrer um comprimento sem interagir
governado pela equao 2.12.
Em que o nmero de partculas por unidade de volume em um meio e a seo de
choque total. Por definio, a trajetria livre mdia e pode ser determinada pela
equao 2.13.
A equao 2.12 pode ser reescrita como:
Em que,
Para cada nmero aleatrio com existe uma varivel de uma funo de
distribuio de probabilidade que obedece a seguinte equao:
substituindo o valor de , e resolvendo a equao para , tem-se,
A distncia percorrida entre duas interaes sucessivas derivada pela equao 2.20.
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26
A partir da equao 2.20 calculada a distncia do fton desde que entra no material
at o ponto onde sofre a primeira interao. Para determinar qual dos tipos de interao dever
ocorrer, um novo nmero aleatrio gerado. A equao 2.21 mostra os intervalos para os
principais efeitos da interao da radiao com a matria predominantes na Fsica Mdica, onde
foi adicionado tambm o efeito de produo de pares, que no foi apresentado neste texto por
no ser possvel de ocorrer no intervalo de energia da RI.
O mtodo MC pode ser pensado como um experimento realizado em ambiente
computacional. Assim como um experimento realizado em laboratrio, nesse processo, os
resultados simulados devem ser analisados e investigados, pois esto sujeitos a algum grau de
erros associados ao processo de simulao. A quantidade de interesse neste estudo a dose
absorvida em rgos e tecidos como resultado de um grande nmero de interaes de ftons.
Cada fton possui uma histria. Assim, para i-sima histria tem-se um valor mdio da
grandeza (BRIESMEISTER, 1993).
Se a FDP da escolha de uma histria de valor , a resposta verdadeira o valor
esperado de , , onde,
Se os valores de no so conhecidos exatamente, , a mdia, pode ser estimada via
mtodo MC por :
Em que o valor de correspondente a histria , o nmero total de histrias. A
varincia, , pode ser estimada utilizando a equao 2.24 e o desvio padro populacional, ,
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27
apresentado pela equao 2.25, foi derivado tomando a raiz quadrada da varincia.
A varincia e o desvio padro da mdia associados com a simulao podem ser
definidos pela equao 2.26 e 2.27 respectivamente.
Para , pode-se utilizar o Teorema do Limite Central. Neste caso, o intervalo de confiana
dos resultados pode ser avaliado por meio da equao 2.28.
Em geral, o valor do fator de abrangncia escolhido com base no nvel de confiana
desejado para ser associado com o intervalo definido. Tipicamente, est no intervalo entre 1
e 3. Para , 2 e 3, os intervalos de confiana so respectivamente de 68, 95 e 99,7 %.
Uma forma mais simples na avaliao dos desvios no processo de simulao pode ser
realizada por meio de coeficiente variao (CV), ou seja, a razo entre o desvio padro e a
mdia ( ) da grandeza obtida. O CV pode ser definido matematicamente pela equao 2.29.
A avaliao do grau de confiana em processo de simulao por meio de transporte de
radiao mostrada na tabela 2.1.
Tabela 2.1. Valores de coeficientes de variao (CV) (BREISMEISTER, 1993).
Coeficiente de variao (CV) Classificao da grandeza
0,5 a 1,0 Descartvel
0,2 a 0,5 Pouco confivel
0,1 a 0,2 Questionvel
< 0,10 Confivel, exceto para detectores pontuais
< 0,05 Confivel
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Para se obter a dose de radiao em um individuo atravs do mtodo MC,
necessrio ter um cdigo que simule o transporte de radiao e um simulador que represente
corpo humano em mbito computacional. Os principais modelos de corpo humano e de cdigos
de transporte de radiao utilizados para estimativa de dose so apresentados nas sees
seguintes.
2.3 Cdigos computacionais de transporte de radiao
O clculo utilizando tcnica MC consiste no uso de um grande nmero de "histrias,
cada uma sendo iniciada no momento em que uma partcicula criada. A histria das partculas
encerrada quando a energia da partcula torna-se insignificante, ou a partcula absorvida ou
escapa da regio de interesse. A mdia de um grande nmero de trajetrias e de interaes
permite estimativas de grandezas fsicas de interesse por meio de simulao computacional.
Atualmente, h diversos cdigos de transporte de radio disponveis que utilizam
tcnica MC. Entre os cdigos mais usados, podemos destacar o EGS4 (ROGERES, 1984), o
MCNPX (PELOWITZ, 2011), o PENELOPE (BAR e col., 1995), o GEANT
(AGOSTINELLI e col., 2003) e o Visual Monte Carlo (VMC) (HUNT e col., 2000), entre
outros. Os processos de simulao do transporte de partculas por meio destes cdigos
apresentam pequenas diferenas. Essas diferenas podem ser atribudas aos tipos de radiaes
consideradas no transporte, s aproximaes e aos modelos utilizados para descrever as
interaes. Todos estes cdigos permitem a simulao de materiais de composio arbitrria,
com geometrias complexas e uma variedade de energias que vo desde alguns keV at alguns
GeV. Os cdigos de transporte de radiao podem ser abertos ou fechados. Um cdigo aberto
quando o usurio tem acesso ao arquivo fonte e as bibliotecas de dados do programa. Os
cdigos EGS, PENELOPE, GEANT e VMC so cdigos abertos e o MCNPX fechado. O
MCNPX foi desenvolvido no Laboratrio de Los Alamos do Estados Unidos da Amrica, e
suas raizes remotam dcada de 1940, poca em que os cientistas Von Neumann, Ulam e
Metropolis desenvolveram mtodo MC, que no se restringiu apenas a criao de armas
nucleares, mas tambm a soluo de muitos outros problemas em diferentes reas das cincias,
como na biologia, econmia, engenharia espacial, etc.
Para simular o transporte de particulas com a matria, neste estudo foi utilizado o
cdigo MCNPX2.7.0, que uma verso mais atual do cdigo MCNP. Este cdigo foi
desenvolvido em linguagem de programao FORTRAN e pode ser operado em ambiente de
Windows e Linux. Este cdigo descreve o transporte de 34 tipos de partculas (fton, eltron,
nutron, ncleons, pons, mons, ons leves, beta, alfa, prton, etc). Dentre estas partculas,
-
29
podemos destacar os ftons, os eltrons e os nutrons que podem ser transportados
individualmente ou acoplados (nutron / fton / eltron) em geometria tridimensional e em
sistema heterogneo. O MCNPX transporta estas partculas para ampla faixa de energia: ftons
(1 keV-100 GeV); eltrons (1 keV-1GeV) e nutrons (1 keV-20 MeV), o que o torna atrativo
para vrias reas das cincias, como por exemplo, proteo radiolgica, dosimetria, fsica
mdica, engenharia nuclear, projetos de construo de detectores, projetos de fuso e fisso
nuclear em reatores, etc.
A Figura 2.5 mostra esquematicamente as interpretaes feitas pelo cdigo MCNPX
para o mecnismo de trasporte de radiao. Ao iniciar a histria da partcula, so determinados
os vrios parmetros, tais como: energia, coordenadas espaciais, direo e tipos de interaes.
Figura 2.5. Fluxograma: representao das diferentes etapas que realiza o cdigo MCNPX para a simulao de
transporte de fton.
2.4 Construo dos arquivos de entrada (INP) para o cdigo de transporte de radiao
MCNPX
Para simular um problema fsico no MCNPX, necessrio especificar em um arquivo
de entrada (INP), a geometria de irradiao e uma lista de parmetros do problema, alguns dos
quais incluem o tipo de radiao, a energia, materiais, caractristicas e tipos de fontes de
-
30
radiao, sees de choque, grandezas que deseja calcular, tcnicas de reduo de variana e
nmero de histrias a ser simuladas.
O INP composto de trs blocos denominados de "cartes", que so construdos em
arquivos ASCII em um editor de texto de bloco de notas e separados por uma linha em branco:
carto de clula, carto de superficies e carto de dados. Para que o cdigo seja executado
corretamente, necessrio cada um destes trs cartes. O cdigo ler as instrues do INP,
realizar a simulao e criar um arquivo de sada (OUTPUT). Esse arquivo, conter os
resultados simulados, os erros relativos produzidos e algumas tabelas que resumem o processo
de simulao. Nas sees seguintes, sero descritos os cartes que compem o arquivo de
entrada do cdigo.
2.4.1 Carto de clulas
No bloco das clulas feita a delimitao das regies de estudo por meio de
superfcies utilizando operadores boleanos de interseco (espao simples), complemento (#) e
unio (:). Neste bloco, so definidos a forma, o tipo de material e sua respectiva densidade que
compes as clulas. Cada clula possui certa importncia (IMP) que atribuda neste bloco ou
opcionalmente no bloco de dados.
2.4.2 Carto de superfcies
Nos cartes de superfcie podem ser definidas geometrias bi e tridimensionais
combinatrias que permitem a utilizao de recurso de estrutura repetida, viabilizando a
utilizao de geometrias exatas de objetos voxelizados como de imagens mdicas. Neste bloco,
o usurio especifica nmero de superfcie e geometria (por exemplo, plano, esfera, cilindros,
cones, troide, etc.). Este processo repetido at que todas as estruturas dentro do modelo
sejam definidas. Na tabela 2.2, so apresentadas diferentes formas geomtricas representadas
por caracteres denominados de mnemnicos lidos pelo cdigo MCNPX e utilizados neste
estudo.
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31
Tabela 2.2. Principais geometrias lidas e utilizadas pelo cdigo MCNPX.
Mnemnico Descrio Equao Coeficientes
Planos
p
px
py
pz
Geral
Normal a x
Normal a y
Normal a z
A B C D
D
D
D
Esferas
so
s
sx
sy
sz
Na origem
Geral
Em x
Em y
Em z
r
r r r r
Cilindros
c/x
c/y
c/z
cx
cy
cz
Paralelo a x
Paralelo a y
Paralelo a z
Eixo x
Eixo y
Eixo z
r r r
r
r
r
Cones
k/x
k/y
k/z
kx
ky
kz
Paralelo a x
Paralelo a y
Paralelo a z
Eixo x
Eixo y
Eixo z
Elipse
sq
A B C D E
F G
Toride elptico ou circular nos eixos x, y e z respectivamente.
tx
ty
tz
A B C
A B C
A B C
RPP (Paraleleppedo retangular)
( ; ; ) - Dimenses mnimas e mximas ao longo dos eixos x, y e z. Esfera
R Coordenadas x, y e z e raio R RCC (Cilindro)
( ; ) e R - Coordenadas x, y e z do centro da base do cilindro circular de raio R e,
cujo sentido ao longo do eixo definido pelo vetor direo (
-
32
2.4.3 Carto de dados
Uma vez que os cartes de superfcie esto completos, o usurio pode passar para os
cartes de dados onde so definidos os materiais a serem utilizados, energias, etc. Cada
material identificado nos cartes de dados deve ser especificado pelos seus componentes
elementares e pela percentagem de cada elemento no material por meio da representao
numrica ZZZAAA.nnX (Z o nmero atmico do elemento, A a massa do elemento e nn e
XX so opes de busca de sees de choque nas biblioteca de dados do cdigo). Neste carto,
definido o tipo e o modo de transporte das partculas utilizando o comando "MODE" que
especfica que tipos de partculas podem ser criadas e controladas no problema. Neste estudo, a
modelagem da fonte foi feita utilizando o comando "SDEF". Nesta definio, o usurio pode
especificar as funes de distribuio utilizando os cartes "SI" (informaes da fonte) e "SP"
que representa a distribuio de probabilidade. Nestes cartes, o usurio especifica as
caractristicas e tipo de fontes modelada (por exemplo, ftons, eltrons, nutrons, etc), bem
como posio, direo, forma do feixe e quantas histrias sero simuladas (NPS).
As informaes coletadas durante o processo de transporte so gravadas usando uma
variedade de contagens. O registro das grandezas macroscpicas simuladas, como energia
depositada, fluxo de partculas, fluncia, contabilizado por meio de comandos denominados
de tallies. A descrio dos tallies utilizados no MCNPX mostrado na tabela 2.3.
Tabela 2.3. Contabilizadores (tallies) utilizados para registro de grandezas fsicas.
Mnemnico Descrio Fn *Fn
F1:N ou F1:p ou F1:e Corrente integrada numa superfcie Partculas MeV
F2:N ou F2:p ou F2:e Fluxo mdio numa superfcie Partculas/cm MeV/cm
F4:N ou F4:p ou F4:e Fluxo mdio numa clula Partculas/cm MeV/cm
F5a:N ou F5a:p Fluxo num detector pontual ou radial Partculas/cm MeV/cm
F6:N ou F6:n,p ou F6:p Energia mdia depositada na clula MeV/g Jerks1/g
F7:n Energia de fisso depositada MeV/g Jerks/g
F8:p ou F8:p,e ou F8:e Pulso de energia num detector Pulsos MeV
+F8: e Deposio de carga Carga No existe
1 1Jerk = 10
9 joules
Alm das grandezas mostradas na tabela 2.3, o cdigo prev e fornece o erro relativo
em tabelas resumidas configuradas pelo usurio. Isso pode ser til no entendimento da parte
fsica das simulaes e serve como indicativo de eventuais erros do problema analisado.
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33
2.5 Modelos de simuladores antropormrficos utilizados pelos cdigos computacionais de
transporte de radiao
Para representar a anatomia do corpo humano, as informaes sobre a densidade do
elemento, composio, tamanho, forma e localizao das partes do corpo so necessrias.
Existem basicamente duas abordagens fundamentais: uma representada por expresses
matemticas (modelos antropormrficos matemticos) e outra usando modelos em estrutura em
voxel, construdos por meio de imagens tomogrficas, de ressonncia magntica, fotografias ou
por meios de programas computacionais de modelagem da anatomia humana. Estes modelos
so incorporados em cdigos computacionais apropriados para obter a dose de radiao no
corpo humano, como resultado da exposio a uma fonte de radiao ionizante.
2.5.1 Simulador atropomrfico matemtico
Para representar realisticamente o corpo humano, um modelo de corpo precisa ser
construdo para ser incorporado em um cdigo MC. Em 1969, em Oak Ridge National
Laboratory (ORNL), foi desenvolvido o primeiro modelo matemtico para clculo de dose em
Medicina Nuclear, conhecido como MIRD (Medical Internal Radiation Dosimetry Committee).
Este modelo matemtico foi construdo por meio de equaes matemticas que representam os
rgos e tecidos por meio de planos, esferas, elipsides, cilindros, etc, conforme mostrado na
figura 2.6. A construo do MIRD foi baseado nos dados anatmicos do homem de referncia,
originalmente definido para representar uma "mdia" do homem adulto europeu ou norte-
americano de 20 a 30 anos de idade, de massa corporal de 70 kg e 1,7 m de altura, com valores
anatmicos da ICRP (International Commission on Protection Radiological) em sua publicao
de nmero 23 (ICRP 23, 1975)
Figura 2.6. Anatomia do modelo matemtico MIRD (CRISTY e ECKERMAN, 1987).
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34
O corpo do modelo MIRD foi definido em trs sees principais: um cilindro elptico
que representa a cabea e o pescoo, outro cilindro elptico para modelar o brao, o tronco e os
quadris, e um tronco de cone elptico para as pernas e os ps. Embora o modelo tenha sido
originalmente desenvolvido para ser utilizado no clculo das doses de radiao para fontes
internas, foi amplamente utilizado tambm para fontes externas. Esse modelo possui trs tipos
de composio de materiais: tecido sseo, tecido do pulmo e tecidos moles. Embora o
simulador antropomrfico original era hermafrodita (includos os rgos reprodutores de ambos
os sexos), anos depois foi construdo uma famlia de simuladores de ambos os sexos com
diferentes idades (CRISTY e ECKERMAN, 1987).
A maioria dos simuladores matemticos atuais foi construda com base nos modelos
propostos por Snyder. Para fins de clculo de dose, mais tarde foram desenvolvidos modelos
adultos, conhecido como ADAM (modelo masculino) e EVA (modelo feminino) (KRAMER e
col., 1982), que so derivados do MIRD. Um grupo de pesquisadores do ORNL desenvolveu
simuladores matemticos representando crianas de diferentes idades (CRISTY, 1980). Stabin
e col. (1995) desenvolveram um simulador adulto representando uma mulher grvida em trs
estgios diferentes de gestao (3, 6 e 9 meses). Clairand tambm criou trs modelos de
simuladores masculinos e trs femininos com diferentes dimenses (CLAIRAND, 1999). Alm
da construo de todos esses simuladores que representam individuos caucasianos, foi
construdo, por Park e col. (2006), um simulador adulto masculino coreano e, por Saito e col.
(2001), um simulador adulto japons para estudos dosimtricos dos sobreviventes de
Hiroshima. Finalmente, um simulador matemtico, conhecido como Torso Cardaco 4D
(MCAT) foi desenvolvido para estudos que consideram a influncia dos mecanismos
respiratrios e de movimento dos rgos (PRETORIUS e col., 1997, SEGARS e col., 2001).
Por mais de duas dcadas, os pesquisadores usaram modelos matemticos e os
cdigos embasados no mtodo MC para executar clculos de dose em rgos e tecidos de
indivduos expostos a fontes de radiao externa e interna. No entanto, os modelos de
simuladores matemticos permanecem muito simplificados e aproximados (LEMOSQUET e
col., 2002).
Uma representao mais fiel de pacientes e profissionais mdicos e,
consequentemente, das grandezas dosimtricas calculadas nestes indivduos, pode ser obtida
por meio do uso de simuladores antropomrficos de voxel, que so simuladores construdos a
partir de dados anatmicos reais.
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35
2.5.2 Simulador antropomrfico de voxel
Com o avano das tcnicas de imagens mdicas e com o surgimento de novos
programas de computador especficos em modelagem do corpo humano, muitos pesquisadores
comearam a perceber que a representao geomtrica do corpo humano poderia ser substituda
por modelos anatmicos e fisisolgicos mais realsticos. Nas ltimas dcadas, tcnicas de
imagens mdicas, como TC e RM, e por meio de programas de computador, muitos
pesquisadores tm avanado consideravelmente na construo de novos simuladores
antropomrficos. Estes recursos de imagens permitem que os pesquisadores visualizem as
estruturas internas do corpo podendo armazenar as imagens em formatos digitais. Atravs das
imagens geradas possvel desenvolver modelos tomogrficos de corpo inteiro que fornecem
representaes tridimensionais dos rgos e do corpo de forma mais fiel do que os simuladores
matemticos.
Na construo de um modelo de corpo a partir de imagens tomogrficas, a qualidade
dos dados originais fundamental para a representao fiel de estruturas internas do corpo. As
imagens obtidas em TC devem fornecer informaes detalhadas sobre a anatomia do corpo
humano. Uma fatia de imagem uma matriz de pixels em uma geometria bidimensional
(BUSHBERG e col., 2002). A figura 2.7 mostra as etapas envolvidas no desenvolvimento de
um modelo de corpo para fins de dosimetria com base em imagens de TC.
Figura 2.7. Etapas envolvidas para construo de um simulador antropomrfico tomogrfico: (1) Aquisio de
imagens em TC; (2) fatia da imagem voxelizadas; (3) uso do computador para segmentar e classificar cada rgo e
tecido que referem as imagens e (4) visualizao das imagens empilhadas do simulador antropomrfico.
Depois de obtidas as imagens do corpo, figura 2.7 (1) e 2.7 (2), a prxima etapa
envolve rotinas de segmentao e classificao, figura 2.7 (3), ou seja, determinar a qual rgo
ou tecido cada voxel pertence e atribuir uma cor e um nmero identificador a uma determinada
regio dessa imagem. A partir da composio elementar dos rgos e tecidos que compe as
imagens, so atribudas as propriedades qumicas e fsicas dos materiais para os voxels que
formam essas imagens. Esses voxels so agrupados e finalmente o modelo de corpo formado,
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36
figura 2.7 (4), podendo ser, ento, importado pelo cdigo de transporte de radiao que utiliza o
mtodo MC.
H vrios exemplos de simuladores antropomrficos de voxel desenvolvidos para
dosimetria. Por exemplo, Zubal e col. (1994) criaram um modelo chamado VOXELMAN a
partir de imagens de TC de trax de cabea de um paciente de 35 anos de idade, com uma
altura de 178 cm e massa corprea de 70 kg (com voxels cbicos de 4 mm de comprimento).
Nesse simulador foram adicionados pernas e braos com base no projeto Visible Human
(SPITZER e WHITLOCK, 1998).
Dimbylow desenvolveu simuladores a partir de RM de voluntrios saudveis: um
simulador masculino, o NORMAN (DIMBYLOW, 1995), e um simulador feminino, a NAOMI
(DIMBYLOW, 2005). As dimenses do voxel do modelo masculino foram ajustadas para
coincidir com a altura e peso do corpo do homem de referncia da ICRP 30 (1975); isto , peso
corporal de 70 kg e uma altura de 170 cm (JONES, 1997). Posteriormente, o simulador
NORMAN foi modificado e passou a ter altura (176 cm) e peso (73 kg) do corpo de referncia
da ICRP 89 (2003). O simulador NAOMI, construdo com base em imagens mdicas a partir de
um exame de ressonncia magntica de um individuo adulto feminino com 1,63 m de altura e
60 kg de massa corprea. O tamanho do voxel foi redimensionado para 2 mm de comprimento
cada. Alm dos simuladores citados anteriormente, outros simuladores masculinos adultos
foram construdos como o Vip-Man (XU e col., 2000), o Golem (ZANKL e WITTMANN,
2001). Entre os principais modelos de simuladores femininos podemos incluir Helga, Donna,
Irene e Regina, que foram construdos para representar a mulher de referncia da ICRP
publicao 110 (ICRP 110, 2009).
A ICRP em sua publicao 110 recomenda a utilizao de novos simuladores de voxel
para representar indivduos adultos masculinos e femininos que atendem s recomendaes da
ICRP 89. (ICRP 89, 2009). Estes simuladores foram construdos a partir de imagens de TC de
um paciente com leucemia de 38 anos de idade e de uma paciente de 43 anos de idade. Esses
simuladores possuem mais de 140 diferentes rgos e tecidos definidos para atender, com
mximo de realismo, o indivduo de referncia. A figura 2.8 apresenta os atuais simuladores
computacionais de referncia da ICRP 110 para indivduos do sexo masculino e feminino,
respectivamente. Estes simuladores so chamados de AM (Male adult macho adulto) e AF
(Female adult - fmea adulta) correspondentes ao sujeito humano, no s em termos de
geometrias de rgos e formas, mas tambm em relao aos diferentes materiais, densidades e
composies qumicas, que possibilitam simular a interao da radiao com a matria de
forma mais realista (ICRP 110, 2009).
-
37
Figura 2.8. Vistas frontais e laterais dos simuladores antropomrficos utilizados atualmente pela ICRP: AM (A) e
AF (B).
Algumas das principais caractersticas dos simuladores AM e AF so respectivamente:
altura 176 e 163 cm; massa corprea 73 e 60 kg; nmero de fatias axiais 222 e 348; resoluo
das fatias 254 x 127 e 299 x 137; volume dos voxels 0,2137 x 0,2137 x 0,8 e 0,1775 x 0,1775
x 0,484 cm.
Mais detalhes sobre as caractersticas e disponibilidade de simuladores de voxel
podem ser encontrados nas referncias de Lemosquet e col. (2003), Zaidi e col. (2007) e na
internet em http://www.virtualphantoms.org/.
O simulador que foi utilizado neste estudo foi desenvolvido pelo Grupo de Dosimetria
Computacional do Departamento de Energia Nuclear da Universidade Federal de Pernambuco.
Este grupo tem larga experincia na construo deste tipo de simulador. Os primeiros dois
simuladores antropomrficos adultos desse gruupo, um do sexo masculino e outro do sexo
feminino tiveram como base as caractersticas fisiolgicas e anatmicas recomendadas pela
ICRP 89 (ICRP 89, 2002). O simulador macho, chamado de MAX (Male Adult voXel), tem as
seguintes caractersticas: 175 cm de altura, 75 kg de massa corprea e 22 rgos. Ele contm
487 fatias axiais com uma resoluo de 196 x 96 voxels e volume de voxel de 0,36 x 0,36 x
0,36 cm3 (KRAMER e col., 2003). O simulador feminino, chamado de FAX (Female Adult
voXel) foi construdo a partir de imagens de TC de um indivduo de 37 anos de idade, de 165
cm de altura e massa corprea de 63,4 kg e composto por 22 rgos e tecidos radiossensveis.
Na construo do simulador, foi utilizado um total de 453 fatias axiais com uma resoluo de
158x74 voxels, com imagens compostas de voxels de resoluo de 0,36 x 0,36 x 0,36 cm3 cada
(KRAMER e col., 2004). MAX e FAX foram por muito tempo, considerados representantes do
indivduo de referncia.
http://www.virtualphantoms.org/ -
38
Os simuladores antropomrficos de voxel mais atuais deste grupo, entretanto, j
utilizam nova metodologia de desenvolvimento. So os chamados simuladores por superfcie
mesh (malha), construdos com base em curvas suaves, polgonos e superfcies 3D. A forma
dos simuladores determinada por controle dos pontos, equaes e outros parmetros que
definem a relao entre esses pontos de controle (XU e col., 2007). As faces geralmente
consistem de tringulos, quadrilteros ou outros polgonos simples. Vrias operaes podem
ser realizadas em malhas incluindo a lgica booleana. Estes modelos vm sendo comumente
usados para representar geometrias complexas.
2.5.3 Simulador antropomrfico NURBS
Uma abordagem hbrida para construo de simuladores antropomrficos incorpora as
melhores caractersticas dos simuladores matemticos e de voxel. Simuladores hbridos fazem
uso de superfcies NURBS (Non Uniform Rational B-Spline) para descrever os limites internos
e externos dos rgos e das superfcies externas do corpo. NURBS uma tcnica de
modelagem matemtica comumente usada para a gerao de curvas e superfcies em animao
computacional. Tal como acontece com os simuladores matemticos, esses modelos so
definidos por equaes matemticas que tornam muito suave a forma dos tecidos e permitem
uma modificao fcil da morfologia. No entanto, ao contrrio dos simuladores matemticos, a
forma, a posio dos rgos e tecidos so modelados de modo realista, semelhante aos
simuladores voxelizados. A figura 2.9 mostra um esquema da construo do simulador do
aparelho gastrintestinal utilizando superfcie NURBS.
Figura 2.9. Comparao entre trs modelos do trato gastrointestinal para o recm-nascido: Simulador matemtico
(ORNL) (A), simulador voxelizado (UF) (B) e simulador hbrido (UF) (C) (LEE e col., 2007a).
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Na Universidade da Flrida, foi construdo um simulador para representar um recm-
nascido utilizando superfcies NURBS. A anatomia do recm-nascido foi ajustada para a
morfologia de referncia definida pela publicao ICRP 89 (LEE e col., 2007a; LEE e col.,
2007b). Outro ponto forte do uso de superfcies NURBS o melhoramento da morfologia por
meio de recurso de suavidade e de flexibilidade do simulador. Na figura 2.10, alm da
suavidade da regio do abdmen (2.10 A), especialmente na regio do clon e intestino
delgado, pode-se notar tambm a flexibilidade da morfologia e da postura (2.10 C) do
simulador comparada com a figura 2.10 B.
Figura 2.10. Vista frontal do simulador recm-nascido feminino UFH-NURBS. Suavidade da regio abdominal
(A) e flexibilidade da morfologia e da postura (B e C) (LEE e col., 2007b).
2.5.4 Simulador antropomrfico mesh
Uma superfcie mesh (malha poligonal) composta por um conjunto de vrtices,
arestas e faces que especificam a forma de um objeto polidrico no espao 3D. As superfcies
do simulador so definidas por uma grande quantidade de malhas poligonais, geralmente
formadas por tringulos. A malha poligonal tem duas vantagens notveis no desenvolvimento
de simuladores antropomrficos. Em primeiro lugar, as superfcies que descrevem a anatomia
humana podem ser convenientemente obtidas a partir de imagens de pacientes reais ou modelos
comerciais da anatomia humana. Em segundo lugar, o simulador baseado em malha poligonal
tem uma considervel flexibilidade em ajustar sua geometria, permitindo a simulao de
anatomia muita complexa. Estas caractersticas permitem o melhoramento anatmico obtido
com superfcie NURBS, sobretudo, quando se trata de rgos e tecidos de topologia complexa,
tal como esqueleto, pulmo e fgado (XU e col., 2008).
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No Instituto Ressenlear, vrios simuladores foram construdos utilizando superfcies
mesh. Primeiro, o simulador VIP-Man que foi estendido a 4D, ou seja, foram acrescidos nas
simulaes a influncia do movimento respiratrio utilizando modelagem de malha (XU e XI,
2005). Em seguida, trs modelos foram criados representando uma mulher grvida com 3, 6 e 9
meses de gravidez (figura 2.11A). Estes foram chamados RPI-P3, RPI-P6 e RPI-P9 que usou
superfcies simultaneamente NURBS (corpo feminino) e polgonos malha (feto). rgos da
me e do feto foram ajustados para combinar com as recomendaes da ICRP 89. Tambm no
Instituto Ressenlear, Zhang e col. (2009) desenvolveram um par de simuladores mesh adulto
feminino e masculinos chamados RPI-AM e RPI-AF mostrados na figura 2.11 (C). A massa
corporal e o tamanho destes modelos foram ajustados para combinar com as recomendaes da
ICRP 89.
Figura 2.11. A) Simuladores NURBS representando uma mulher grvida de 3, 6 e 9 meses de gestao
respectivamente, um simulador mesh representando um feto B) (XU e col., 2007) e modelos de simuladores mesh
adulto feminino e masculino da RPI C) (ZHANG e col., 2009).
Os simuladores atuais do Grupo de Dosimetria Computacional do Departamento de
Energia Nuclear da Universidade Federal de Pernambuco esto apresentados na figura 2.12.
Utilizando uma combinao de software de modelagem 3D (MakeHuman, Blender, Binvox e
ImageJ), CASSOLA e col. (2010) desenvolveram dois simuladores adultos chamado FASH
(mesh Feminino Adulto) e MASH (mesh Masculino Adulto) equivalentes aos simuladores
voxelizados FAX e MAX. Os simuladores foram construdos a partir de atlas de anatomia com
caractersticas que obedecem s recomendaes da ICRP 89. Os simuladores FASH e MASH
foram os escolhidos para utilizao neste trabalho e suas caractersticas fisiolgicas e
anatmicas sero descritas na seo de Materiais e Mtodos.
Recentemente, este mesmo grupo da Universidade Federal de Pernambuco
desenvolveu um conjunto de simuladores (figura 2.13) com diferentes massas, idades e
sexos. Estes novos modelos foram feitos usando recursos computacionais avanados que
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possibilitam trabalhar com modelagem de superfcie e geometria complexa utilizando
superfcies mesh. As definies de superfcie 3D permitem que as massas dos rgos possam
ser ajustadas para combinar com as recomendaes da ICRP 89 para os indivduos de
referncia.
Figura 2.12. Simuladores FASH (A) e MASH (B) construdos com base em superfcie mesh (CASSOLA e col.,
2010).
Figura 2.13. Conjunto de simuladores antropomrficos de diferentes sexos, idades e massas corpreas (CASSOLA
e col., 2011).
2.6 Grandezas dosimtricas gerais e especficas utilizadas neste estudo
Existem dois tipos de grandezas de radiao: as grandezas que descrevem o feixe de
radiao em si (fluncia e fluncia energtica) e outras que descrevem a quantidade de energia
depositada no tecido ou matria por um feixe de radiao (kerma, dose absorvida e dose
equivalente) (KNOLL, 2000; ATTIX, 1986).
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42
2.6.1 Fluncia e fluncia energtica
A fluncia () uma grandeza fsica que caracteriza um campo de radiao e pode ser
descrita especificando-se o nmer