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  • UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE

    PR-REITORIA DE PS-GRADUAO E PESQUISA

    NCLEO DE PS-GRADUAO EM FSICA

    TESE DE DOUTORADO

    AVALIAO DAS DOSES OCUPACIONAIS E MDICAS E DO RISCO DE CNCER

    EM PROCEDIMENTOS CARDACOS DE RADIOLOGIA INTERVENCIONISTA

    UTILIZANDO MTODO MONTE CARLO

    POR

    WILLIAM DE SOUZA SANTOS

    UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE

    Cidade Universitria Prof. Jos Alosio de Campos

    So Cristovo SE Brasil

    2014

  • ii

    AVALIAO DAS DOSES OCUPACIONAIS E MDICAS E DO RISCO DE CNCER

    EM PROCEDIMENTOS CARDACOS DE RADIOLOGIA INTERVENCIONISTA

    UTILIZANDO MTODO MONTE CARLO

    WILLIAM DE SOUZA SANTOS

    Tese de Doutorado apresentada ao Ncleo

    de Ps-Graduao em Fsica da

    Universidade Federal de Sergipe, para

    obteno do ttulo de Doutor em Fsica.

    Orientadora: Dra. Ana Figueiredo Maia

    SO CRISTOVO

    2014

  • iii

  • iv

    AGRADECIMETOS

    Em primeiro lugar, a Deus pelas bnos que ele tem derramado sobre mim. Aprendi

    que Ele nunca nos d mais do que podemos suportar.

    orientadora desta tese, a Dra. Ana Figueiredo Maia, pela valiosa orientao e por ter

    creditado sua f na minha capacidade e pelo aprendizado ao longo desta pesquisa;

    Aos professores do Departamento de Fsica da UFS, especialmente ao professor

    Albrico pelas opinies e ensinamentos da tcnica de Monte Carlo;

    A todos os meus amigos, especialmente a Walmir Belinato, Renata Patrcia, Antnio

    Fiel, Eriomar Teixeira, Mixslane Teixeira, Joo Batista e Clia Batista, Rafaela Cerqueira,

    Eraldo Marques e Elane Marques, Rogrio Mathias e Luiza Freire, pelo companheirismo e

    amizade;

    Aos colegas do IPEN, Lucio Neves e Ana Perini pelas colaboraes;

    Universidade Federal de Sergipe e a CAPES pelo apoio tcnico e financeiro;

    Agradeo a equipe do Laboratrio Nacional de Los Alamos (USA) por ter me

    concedido a licena do cdigo de transporte de radiao MCNPX, sem o qual todo este projeto

    no seria possvel;

    Sou eternamente grato minha famlia, especialmente aos meus pais, pelo seu infinito

    amor e apoio em todas as fases da minha vida. Eu tambm agradeo aos meus irmos pelo

    apoio e bondade durante meus estudos acadmicos;

    Esta tese dedicada minha esposa, Carla de Jesus e ao meu enteado, Lus Marcelo.

    No posso expressar em palavras o quo sou grato por vocs. Obrigado por seus generosos e

    amorosos coraes e pela alegria que vocs trazem pra minha vida. Agradeo a Deus por vocs.

    Gostaria de expressar minha sincera gratido minha sogra e famlia, cuja

    compreenso e entusiasmo foram uma beno durante a elaborao desta tese.

    Agradeo a Deus por todos vocs.

  • v

    Em nossas vidas h muitas coisas difceis, mas nada impossvel para aquele que cr em

    Jesus Cristo.

    Dedico este trabalho a todos meus familiares e ao nosso salvador, Jesus Cristo

  • vi

    RESUMO

    Os procedimentos cardacos so os mais frequentes dentro da radiologia

    intervencionista (RI) e podem proporcionar elevadas exposies mdicas e ocupacionais, uma

    vez que, na maioria dos casos, os procedimentos so demorados e complexos. Embora o uso de

    raios X nestes casos seja justificado, importante fazer uma avaliao das doses dessa radiao

    e dos riscos associados tanto em pacientes quanto nos profissionais envolvidos. O objetivo

    deste estudo foi criar um modelo computacional de exposio composto por um paciente

    adulto, um mdico cardiologista e uma enfermeira, em um cenrio tpico cardaco em RI e,

    posteriormente, estimar as doses absorvidas nos rgos e tecidos e, por meio desta grandeza,

    determinar as doses equivalentes, a dose efetiva e os riscos de cncer associados exposio.

    As grandezas estimadas foram normalizadas pelo produto kerma-rea (PKA). Os resultados

    obtidos esto apresentados no formato de coeficiente de converso (CCs) de dose de radiao e

    de risco de cncer. Os parmetros radiogrficos utilizados nas simulaes Monte Carlo foram:

    tenses de pico entre 60 - 120 kVp, filtrao inerente de 3,5 mm Al, rea do campo

    10 cm x 10 cm. Foram utilizadas oito projees de feixe: ntero-posterior (AP), pstero-

    anterior (PA), oblquo anterior direito (RAO90), oblquo anterior esquerdo (LAO90), cranial

    (CRAN30), caudal (CAUD30), oblquo anterior esquerdo e oblquo anterior direito (LAO45

    e RAO45). O cdigo de transporte de radiao utilizado foi o MCNPX-2.7.0, no qual foram

    incorporados os trs simuladores antropomrficos, uma fonte de raios X emitindo ftons

    isotropicamente na regio do trax do paciente e todos os objetos comuns no interior da sala de

    RI. O simulador antropomrfico utilizado para representar o cardiologista e o paciente foi o

    MASH e para simular a enfermeira foi utilizado a FASH. Os espectros de energia foram

    gerados utilizando o programa SRS 78. Foram criados dois cenrios de irradiao denominados

    de I e II. Em I, a mesa cirrgica no possua cortina de chumbo e nem tinha protetores

    suspensos de vidro plumbfero e, em II, estes dispositivos de proteo foram considerados. As

    mdias dos CCs de dose efetiva para as oito projees usadas em procedimentos cardacos de

    angiografia e angioplastia coronria foi: paciente 2,5E-01 mSv/Gy.cm; cardiologista

    2,0-E01(I) e 4,7E-02 Sv/Gy.cm (II) e enfermeira 2,4E-02 (I) e 1,8E-02 Sv/Gy.cm (II). O

    risco efetivo de cncer em 10-4

    /Gy.cm foi de 1,2 para o paciente, 2,6E-03 (I) e 4,9E-04 (II)

    para o cardiologista e 5,2E-04 (I) e 4,0E-04 (II) para a enfermeira. Os resultados apresentados

    neste estudo so consistentes com os valores experimentais descritos na literatura. Tais

    resultados ampliam o conhecimento j existente sobre doses em radiologia intervencionista e

    propiciam uma ferramenta til de consulta para os profissionais de radioproteo, para a

    comunidade cientfica e, sobretudo, para os prprios mdicos que se expem rotineiramente.

  • vii

    ABSTRACT

    Cardiac procedures are the most common within the interventional radiology (IR) and

    they can provide high medical and occupational exposures, since, in most cases these

    procedures are time consuming and complexes. Although the use of X-rays is justified in this

    case, it is important to make an assessment of radiation doses and associated risk to patients

    and medical staff. The aim of this study was to build a computational model of exposure

    composed of an adult patient, a cardiologist and a nurse, in a typical cardiac scenario in IR and,

    then, estimate absorbed doses in organs and tissues, and through this dosimetric quantity,

    determine equivalent doses, the effective dose and cancer risk associated with exposure. The

    estimated dosimetric quantities were normalized by the kerma-area product (KAP). In this

    study, the results are presented in conversion coefficient (CC) for radiation dose and cancer

    risk. The radiographic parameters used in the Monte Carlo simulations were: peak voltages

    between 60 and 120 kVp, inherent filtration of 3.5 mm Al and a field area 10 cm x 10 cm.

    Eight beam projections were used: antero-posterior (AP), postero-anterior (PA), right anterior

    oblique (RAO90), left anterior oblique (LAO90), cranial (CRAN30), caudal (CAUD30), left

    anterior oblique and right anterior oblique (LAO45 and RAO45). The radiation transport code

    used was MCNPX 2.7.0, in which was incorporated three anthropomorphic phantoms were

    incorporated with a source of X-rays emitting photons isotropically in the patient's chest region

    and all common objects inside the room in IR. The anthropomorphic phantoms used to

    represent the cardiologist and the patient were the MASH and the nurse was simulated by the

    FASH phantom. Energy spectra were generated using the SRS 78 program. Two irradiation

    scenarios named I and II were created. In I, the operating table had no lead curtain and

    suspended shields of lead glass and, in II, these protection devices were considered. The

    average effective dose of CCs for the eight projections used in cardiac procedures angiography

    and coronary angioplasty was: patient 2,5E-01 mSv/Gy.cm; cardiologist 2,0E-01(I) and

    4,7E-02 Sv/Gy.cm (II) and nurse 2,4E-02 (I) and 1,8E-02 Sv/Gy.cm (II).The effective risk

    of cancer in 10-4

    /Gy.cm was: 1.2 for the patient, 2,6 E-03 (I) and 4.9 E-04 (II) for the

    cardiologist and 5.2 E-04 (I) and 4.0 E-04 (II) for the nurse. The results presented in this study

    are consistent with the experimental values obtained in the literature. Thus, we believe that

    results improve or extend the existing data and will be a useful reference tool for professionals

    of radiation protection, the scientific community and especially for the physicians themselves

    who are exposed routinely.

  • viii

    LISTA DE FIGURAS

    Figura 2.1. Esquema do efeito fotoeltrico. ........................................................................... 19

    Figura 2.2. Etapas do efeito do espelhamento coerente. O tomo absorve o fton (A) e

    vibra (B) e o fton reemitido com energia igual a do fton incidente (C). .........................

    20

    Figura 2.3. Esquema do efeito Compton. ............................................................................... 21

    Figura 2.4. Sistema espao fase. .......................................................................................... 24

    Figura 2.5. Fluxograma: representao das diferentes etapas que realiza o cdigo MCNPX para a

    para a simulao de transporte de fton. ................................................................................. 7

    29

    Figura 2.6. Anatomia do modelo matemtico MIRD (CRISTY e ECKERMAN, 1987). .... 33

    Figura 2.7. Etapas envolvidas para construo de um simulador antropomrfico

    tomogrfico: (1) Aquisio de imagens em TC; (2) fatia da imagem voxelizadas; (3) uso

    do computador para segmentar e classificar cada rgo e tecido que referem as imagens e

    (4) mostra a visualizao das imagens empilhadas do simulador antropomrfico. ...............

    35

    Figura 2.8. Vista frontais e laterais dos simuladores antropomrficos utilizados atualmente

    pela ICRP: AM (A) e AF (B). .................................................................................................

    37

    Figura 2.9. Comparao entre trs modelos do trato gastrointestinal para o recm-nascido:

    Simulador matemtico (ORNL) (A), simulador voxelizado (UF) (B) e simulador hbrido

    (UF) (C) (LEE e col., 2007a). .................................................................................................

    38

    Figura 2.10. Vista frontal do simulador recm-nascido feminino UFH-NURBS. Suavidade

    da regio abdominal (A) e flexibilidade da morfologia e da postura (B e C) (LEE e col.,

    2007b). .....................................................................................................................................

    39

    Figura 2.11. A) Simuladores NURBS representando uma mulher grvida de 3, 6 e 9 meses

    de gestao respectivamente, um simulador mesh representando um feto B) (XU e col.,

    2007) e modelos de simuladores mesh adulto feminino e masculino da RPI C)

    (ZHANG e col., 2009). ............................................................................................................

    40

    Figura 2.12. Simuladores FASH (A) e MASH (B) construdos com base em superfcie

    mesh (CASSOLA e col., 2010). ..............................................................................................

    41

    Figura 2.13. Conjunto de simuladores antropomrficos de diferentes sexos, idades e

    massas corpreas (CASSOLA e col., 2011). .................................................................................

    41

    Figura 2.14. Ilustrao da posio da medio do PKA. ....................................................... 46

    Figura 2.15. Esquema de acesso do cateter para um procedimento cardaco de angiografia

    e angioplastia coronria. .........................................................................................................

    48

    Figura 2.16. Principais componentes de um equipamento de raios X (A): (1) intensificador

    de imagem; (2) tubo de raios X; (3) monitores de vdeo; (4) mesa do paciente; (5) console

    de controle; (6) interruptor de p e um cenrio cardaco de RI (B). .......................................

    49

    Figura 3.1. Simuladores antropomrficos FASH (A) e MASH (B) utilizados neste estudo.

    (CASSOLA e col., 2010). ......................................................................................................

    56

    Figura 3.2. Vistas frontais (A) e laterais (B) da posio dos rgos do simulador MASH

    (CASSOLA e col., 2010). ......................................................................................................

    56

    Figura 3.3. Coeficiente de absoro de massa-energia definido para RBM sobre o osso

    homogneo (CRISTY e ECKERMAN, 1987; ICRP 116, 2010). ..........................................

    60

    Figura 3.4. Percentual dos fatores de intensificao de dose para osso parietal, terceira

    vrtebra lombar, crista ilaca e costelas, proposto por King e Spires (1985). ........................

    61

    Figura 3.5. Cenrio de irradiao construdo no MCNPX2.7.0 composto por trs

    simuladores antropomrficos representando um cardiologista, enfermeira, ambos em p, e

    um paciente sobre a mesa cirrgica. .....................................................................................

    62

    Figura 3.6. Visualizao frontal (A) e lateral (B) do modelo computacional de exposio

    em procedimento cardaco de RI com a mesa cirrgica acrescida de cortina de chumbo

    (Pb) e protetores suspensos confeccionados de vidro plumbfero. .........................................

    64

    Figura 4.1. Espectros energticos utilizados neste estudo. ..................................................... 67

    Figura 4.2. Mdia dos CCs para dose efetiva (E) normalizados pelo PKA em funo da

  • ix

    tenso aplicada ao tubo, calculados para o paciente. .............................................................. 74

    Figura 4.3. Comparao dos CCs para doses equivalentes e efetivas dos rgos prximo

    do corao e da regio abdominal, calculado para os simuladores antropomrficos adultos

    MASH e ORNL para a projeo AP. .....................................................................................

    75

    Figura 4.4. Mdia por energia dos CCs de DEP normalizados pelo PKA calculados para o

    paciente para as oito projees de feixe estudadas. ................................................................

    77

    Figura 4.5. Mdia dos CCs para dose efetiva (E) normalizados pelo PKA em funo da

    tenso aplicada ao tubo, calculados para o cardiologista nos cenrios I e II. .........................

    79

    Figura 4.6. Mdia dos CCs para dose efetiva (E) normalizados pelo PKA em funo da

    tenso aplicada ao tubo, calculados para a enfermeira nos cenrios I e II. ............................

    80

    Figura 4.7. Mdia dos CCs para dose equivalente pessoal Hp(10) normalizados pelo PKA

    em funo da tenso aplicada ao tubo, calculados para o cardiologista nos cenrios I e II. ..

    82

    Figura 4.8. Mdia dos CCs para dose equivalente pessoal Hp(10) normalizados pelo PKA

    em funo da tenso aplicada ao tubo, calculados para a enfermeira nos cenrios I e II. ......

    82

    Figura 4.9. Mdia dos CCs de risco de cncer dos rgos do paciente por PKA atribuvel a

    uma populao de 100.000 pessoas com mdia de 30 anos de idade. ....................................

    84

    Figura 4.10. Mdia dos CCs de risco de cncer dos rgos da enfermeira por PKA

    atribuvel a uma populao de 100.000 pessoas com mdia de 30 anos de idade. ................

    84

    Figura 4.11. Mdia dos CCs de risco de cncer dos rgos do cardiologista por PKA

    atribuvel a uma populao de 100.000 pessoas com mdia de 30 anos de idade. ................

    85

    Figura 4.12. Mdia dos CCs de risco efetivo de cncer para o paciente por PKA atribuvel

    a uma populao de 100.000 pessoas com mdia de 30 anos de idade. .................................

    87

    Figura 4.13. Mdia dos CCs de risco efetivo de cncer para o cardiologista por PKA

    atribuvel a uma populao de 100.000 pessoas com mdia de 30 anos de idade. ................

    87

    Figura 4.14. Mdia dos CCs de risco efetivo de cncer para a enfermeira por PKA

    atribuvel a uma populao de 100.000 pessoas com mdia de 30 anos de idade. ................

    88

  • x

    LISTA DE TABELAS

    Tabela 2.1. Valores de coeficientes de variao (CV) (BREISMEISTER, 1993). ................ 27

    Tabela 2.2. Principais gemetrias lidas e utilizadas pelo cdigo MCNPX. .............................. 31

    Tabela 2.3. Contabilizadores (tallies) utilizados para registro de grandezas fsicas. .............. 32

    Tabela 2.4. Fator de ponderao para diferentes tipos de radiao ionizante (ICRP 103,

    2007). .......................................................................................................................................

    45

    Tabela 2.5. Recomendao da ICRP 103 para fatores de peso ( de rgos e tecidos (ICRP 103, 2007). ...................................................................................................................

    45

    Tabela 2.6. Risco de incidncia de cncer sugerido pelo comit BEIR VII atribuvel ao

    tempo de vida para uma populao de 100.000 pessoas entre de 30 anos de vida exposta a

    uma nica dose de 0,1 Sv (ICRP 103, 2007). ..........................................................................

    47

    Tabela 3.1. Dados fsicos dos rgos e tecidos dos simuladores antropomrficos FASH e

    MASH (CASSOLA e col., 2010). ...........................................................................................

    57

    Tabela 4.1. Mdia dos CCs calculados para sete tenses aplicadas ao tubo para H, E e

    Hp(10) normalizados pelo PKA em Sv/Gy.cm para o cardiologista em procedimentos

    cardacos de angiografia e angioplastia coronria em RI. .......................................................

    69

    Tabela 4.2. Mdia dos CCs calculados para sete tenses aplicadas ao tubo para H, E e

    Hp(10) normalizados pelo PKA em Sv/Gy.cm para a enfermeira em procedimentos

    cardacos de angiografia e angioplastia coronria em RI. .......................................................

    70

    Tabela 4.3. Mdia dos CCs calculados para sete tenses aplicadas ao tubo para H, E e DEP

    normalizados pelo PKA em mSv/Gy.cm calculados para o paciente em procedimentos

    cardacos de angiografia e angioplastia coronria em RI. .......................................................

    71

    Tabela 4.4. Desvios relativos dos resultados de H, E e Hp(10) por PKA entre os cenrios I

    e II. ...........................................................................................................................................

    73

    Tabela 4.5. Parmetros da equao 4.1 utilizados para clculo dos CC de dose efetiva para

    o paciente ajustados para R2 = 0,99. ........................................................................................

    74

    Tabela 4.6. Desvio relativo entre os resultados de CCs de dose efetiva obtidos neste estudo

    (0,25 mSv/Gy.cm) e os descritos na literatura. ......................................................................

    75

    Tabela 4.7. Desvios relativos entre os resultados de CCs para DEP do paciente obtidos

    neste estudo (4,8 mGy/Gy.cm2) e os descritos na literatura. ..................................................

    78

    Tabela 4.8. Parmetros da equao 4.1 utilizados para clculo dos CC para o cardiologista

    e enfermeira ajustados para R2 = 0,99. ....................................................................................

    79

    Tabela 4.9. Desvios relativos entre os resultados de CCs de dose efetiva em Sv/Gy.cm2

    para o cardiologista obtido neste estudo (2,0E-01-Cenrio I ) e (4,7E-02 Cenrio II) e os

    descritos na literatura. ..............................................................................................................

    80

    Tabela 4.10. Mdia dos CCs para Hp(10) e E, calculados para o cardiologista e enfermeira

    nos cenrios I e II. ...................................................................................................................

    83

    Tabela 4.11. Mdia dos CCs para risco de incidncia de cncer de rgos dos individuos

    estudados normalizados pelo PKA expresso em 10-4

    /Gy.cm. ...............................................

    85

    Tabela 4.12. Parmetros da equao 4.1 utilizados para clculo dos CCs para risco de

    cncer em paciente, cardiologista e enfermeira, ajustados para R2 = 0,99. .............................

    86

  • xi

    LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

    AC Angiografia coronria

    AP ntero-posterior

    BEIR Biologic Effects of Ionizing Radiation

    CAUD30 Projeo caudal em 30

    CC Coeficiente de converso

    CRAN30 Projeo cranial em 30

    DEP Dose de entrada na pele

    EGS Electon Gamma Shower

    EPIs Equipamentos de proteo individual

    FASH Female Adult meSH (Simulador antropomrfico feminino adulto feito com

    superfcies MESH)

    FDP Funo de densidade de probabilidade

    FOV Campo de viso

    GEANT Geometry and Tracking

    Gy Gray

    ICRP International Commission on Radiological Protection (Comisso

    Internacional em Proteo radiolgica)

    ICRU International Commission on Radiation Units and Measurements (Comisso

    Internacional em Unidades e Medidas da radiao)

    keV Kilo electron volt

    kVp Pico de tenso aplicada ao tubo de raios X

    LAO90 Projeo obliqua anterior esquerda em 90

    LAO45 Projeo obliqua anterior esquerda em 45

    LET Linear Energy Transfer (Transferncia linear de energia)

    MASH Male Adult meSH (Simulador antropomrfico masculino adulto feito com

    superfcies MESH)

    MEAC Mass Energy Absorption Coefficient Method

    MC Monte Carlo

    MCNPX Monte Carlo N-Particle eXtended

    NCRP National Council on Radiation Protection and Measurements (Conselho Nacional em Proteo e Medidas da Radiao)

    ORNL Oak Ridge National Laboratory (Laboratrio Nacional de Oak Ridge)

    PA Postero-anterior

    PENELOPE PENetration and Energy Loss of Positrons and Electrons

    PKA Produto kerma-rea

    PMMA Polymethylmethacrylate

    PTA Percutaneous Transluminal Angioplasty (Angioplastia Percutnea

    Transluminal)

    PTCA Percutaneous Transluminal Coronary Angioplasty (Angioplastia

    Percutnea Coronariana Transluminal)

    RAO45 Projeo obliqua anterior direita em 45

    RAO90 Projeo obliqua anterior direita em 90

    RBM Red Bone Marrow (Medula ssea vermelha)

    RI Radiologia intervencionista

    Sv Sievert

    CT Tomografia computadorizada (Computed tomography)

    TLD Thermoluminescent Dosimeter (Dosmetro Termoluminescente )

    VMC Visual Monte Carlo

  • xii

    SUMRIO

    1. INTRODUO E OBJETIVOS. .................................................................................. 14

    2. FUNDAMENTOS TERICOS. .................................................................................... 19

    2.1 Principais efeitos da interao da radiao com a matria considerado neste estudo....... 19

    2.2 Mtodo Monte Carlo (MC) e avaliao de erro. .............................................................. 23

    2.3 Cdigos computacionais de transporte de radiao. ......................................................... 28

    2.4 Construo dos arquivos de entrada (INP) para o cdigo de transporte de radiao

    MCNPX. .................................................................................................................................

    29

    2.4.1 Carto de clulas. ...................................................................................................... 30

    2.4.2 Carto de superfcies. ................................................................................................ 30

    2.4.3 Carto de dados. ........................................................................................................ 32

    2.5 Modelos de simuladores antropomrficos utilizados pelos cdigos computacionais de

    transporte de radiao. ............................................................................................................

    33

    2.5.1 Simulador antropomrfico matemtico. ................................................................... 33

    2.5.2 Simulador antropomrfico de voxel. ........................................................................ 35

    2.5.3 Simulador antropomrfico NURBS. ........................................................................ 38

    2.5.4 Simulador antropomrfico mesh. .............................................................................. 39

    2.6 Grandezas dosimtricas gerais e especficas utilizadas neste estudo. .............................. 41

    2.6.1 Fluncia e fluncia energtica. .................................................................................. 42

    2.6.2 Kerma. ...................................................................................................................... 42

    2.6.3 Dose absorvida. ......................................................................................................... 43

    2.6.4 Converso entre dose absorvida e kerma. ................................................................. 43

    2.7 Estimativa de dose absorvida mediante mtodo MC. ...................................................... 44

    2.8 Produto kerma-rea (PKA). .............................................................................................. 45

    2.9 Coeficiente de converso de dose (CC) e estimativa de risco de cncer. ......................... 46 2.10 Cenrio tpico cardaco de RI. .................................................................................................... 48 2.11 Estudo dosimtrico em procedimentos cardacos de RI. ............................................................. 50

    2.11.1 Estudos dosimtricos experimentais sobre CCs. ..................................................... 50

    2.11.2 Estudos dosimtricos de CCs obtidos por meio do mtodo MC. ........................... 51

    3. MATERIAIS E MTODOS. .........................................................................................

    54

    3.1 Cdigo de transporte de radiao MCNPX (verso 2.7.0). ...........................................

    54

    3.2 Software gerador de espectro de raios X diagnstico: SRS 78. ....................................... 54

    3.3 Simuladores antropomrficos FASH e MASH. ............................................................... 55

    3.4 Mtodo utilizado para estimar a dose na medula ssea vermelha (RBM) e no

    esqueleto. ................................................................................................................................

    58

    3.5 Construo dos cenrios cardacos de RI. ........................................................................ 61

    3.6 Clculo dos CCs de dose, de risco de cncer e avaliao das incertezas. ........................ 64

    4. RESULTADOS E DISCUSSES. ................................................................................

    67

    4.1 Espectros de energia utilizados. ........................................................................................

    67

    4.2 CCs de dose equivalente por PKA. .................................................................................. 67

    4.3 Avaliao dos CCs para dose efetiva (E) do paciente. ..................................................... 73

    4.4 Avaliao dos CCs para dose de entrada na pele (DEP) do paciente. .............................. 77

    4.5 Avaliao dos CCs para dose efetiva (E) do cardiologista e enfermeira. ......................... 78

  • 13

    4.6 Avaliao dos CCs para dose equivalente pessoal Hp(10) do cardiologista e

    enfermeira. ..............................................................................................................................

    81

    4.7 CCs de risco de cncer estimado para o paciente, cardiologista e enfermeira. ................ 83

    4.8 Comentrio sobre relao entre dose efetiva e risco efetivo de cncer calculados neste

    estudo. .....................................................................................................................................

    89

    4.9 Avaliao das incertezas estatsticas e mtodo para clculo de valor absoluto de H, E,

    DEP, Hp(10), ROT e R. ...........................................................................................................

    89

    5. CONCLUSES. ..............................................................................................................

    91

    ARTIGOS ORIGINADOS DURANTE O DOUTORADO. .............................................

    94

    REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS. ..............................................................................

    95

    APNDICE A. Resultados dos coeficientes de converso (CCs) para dose equivalente

    (H), dose efetiva (E),dose de entrada na pele (DEP - para o paciente) e dose equivalente

    pessoal Hp(10) (para o cardiologista e a enfermeira) normalizados pelo produto kerma-

    rea (PKA) para os individuos estudados. ..............................................................................

    104

    APNDICE B. Resultados dos coeficientes de converso (CCs) para risco de cncer de

    rgos (ROT) e risco efetivo (R) normalizados pelo produto kerma-rea (PKA) para o

    paciente, cardiologista e enfermeira. ......................................................................................

    125

    APNDICE C. Imagens do modelo de exposio computacional, evidenciando as

    projees de feixe estudadas nos cenrios I e II. ....................................................................

    143

  • 14

    CAPTULO 1: INTRODUO E OBJETIVOS

    A radiologia intervencionista (RI) uma especialidade mdica que utiliza imagens

    fluoroscpicas (imagem em tempo real) obtidas com radiao X para acessar os rgos com

    suspeita de doena ou o local de tratamento, geralmente utilizando um cateter guia por acesso

    percutneo ou outros acompanhado de substncia de contraste (iodo ou brio) para visualizar os

    rgos radiotransparentes. Esse tipo de procedimento utilizado para diagnosticar, monitorar,

    controlar, documentar e tratar quase todos os rgos vitais do corpo humano, dispensando, na

    maioria das vezes a interveno cirrgica. Dentro da rea de RI, os estudos cardiovasculares

    como angiografia e angioplastia coronria so os mais frequentes e, por isso, eles foram os

    escolhidos para ser estudados (CANEVARO, 2009).

    O uso mdico da radiao ionizante oferece grande benefcio para os pacientes, e

    tambm contribui de forma significativa para a exposio radiao de indivduos e

    populaes. As exposies mdicas oriundas da RI contribuem com uma percentagem

    significativa da dose coletiva da populao. De acordo com os resultados publicados pelo

    Comit Cientfico das Naes Unidas sobre os Efeitos da Radiao Atmica, procedimentos

    intervencionistas contribuem apenas com 1% do uso da radiao ionizante na rea mdica.

    Entretanto, sua contribuio chega a 10% para a dose coletiva (NCRP, 2009). Por serem

    exames complexos, os procedimentos cardacos em RI so longos e, muitas vezes, com a

    obteno de vrias imagens, o que explica os altos valores de dose associados prtica.

    Nos ltimos anos, houve um crescente avano no nmero de procedimentos de RI, que

    resultaram em um aumento na frequncia de procedimento de diagnstico e teraputico

    utilizando raios X (FALKNER, 1997). A principal razo para este aumento foi a percepo de

    que a tcnica til em vrias situaes complexas, nas quais possvel, portanto, evitar

    cirurgias. Alm disso, o avano da tcnica tem possibilitado a realizao de procedimentos

    cada vez mais complexos. Sendo assim, mesmo considerando o risco da radiao, a no

    realizao de uma cirurgia pode ser uma vantagem muito relevante para pacientes crticos

    tambm pode resultar na diminuio do tempo de internao. No entanto, no se pode

    desconsiderar que a dose coletiva da populao e os riscos associados sade esto

    aumentando (ICRP 120, 2013). A ocorrncia de efeitos determinsticos, especialmente na pele,

    tem sido um assunto de grande preocupao. Alm disso, a estimativa do risco para a sade

    devido a efeitos estocsticos da radiao, especialmente para os pacientes mais jovens, tambm

    est sob investigao aprofundada.

  • 15

    Dentre as reas da RI, os estudos cardiovasculares so os mais utilizados. Assim,

    procedimentos de angiografias coronrias (AC), angioplastias coronrias e inseres de marca-

    passos tm aumentado em todo o mundo. Apesar do desenvolvimento contnuo das tcnicas de

    imagem em procedimentos cardacos como, ecocardiografia, tomografia computadorizada

    cardaca, cintilografia cardaca e ressonncia magntica cardaca, ao longo da ltima dcada

    tem havido um crescimento no nmero de pacientes submetidos a procedimentos de

    diagnstico e teraputico guiados por fluoroscopia (imagem em tempo real). Entre 1992 e

    2001, verificou-se um aumento de trs vezes em exame de AC e de cinco em procedimento de

    angioplastia coronariana percutnea transluminal (PTCA). Isso se deve principalmente

    introduo de stents (tubo metlico ou de plstico utilizado para manter os vasos sanguneos

    desobstrudos ou outras vias que so estreitadas ou bloqueadas) (TOGNI e col., 2004). Entre

    1990 e 2003, houve um aumento mdio anual de procedimentos de AC de 3,78% na Holanda e

    11,82% na Finlndia, com uma mdia de 6,73% (FALKNER e WERDUCH, 2008a). Em 2006,

    a mdia de exames em RI por milho de habitantes na Europa foi de: 5045 angiografias

    coronrias, 1511 angioplastias percutnea coronariana transluminal, 836 angioplastias e 918

    inseres de marca-passos. Estima-se que em 2007, na Europa, foram realizadas cerca de

    3.043.000 arteriografias coronrias, 910.000 angioplastias percutneas transluminal (PTA) e

    690.000 colocaes de stents coronarianos (FALKNER e WERDUCH, 2008b). Taxas de

    crescimento similares foram observadas na Amrica do Norte (LASKEY e col., 2000;

    ANDERSON e col., 2002) para o perodo 1990-2000. Nos Estados Unidos da Amrica,

    procedimentos intervencionistas guiados por fluoroscopia foram a terceira maior fonte de

    exposio mdica de pacientes em 2006, respondendo por 14% da exposio mdica.

    Procedimentos cardacos representaram 28% do total dos procedimentos de interveno e

    foram responsveis por 53% da exposio dos pacientes que utilizaram fluoroscopia (NCRP,

    2009).

    Esses nmeros vm crescendo a cada ano nos pases ocidentais. Entretanto, uma

    tendncia semelhante tem sido vista em outros pases como, por exemplo, na China, onde a

    taxa de aumento anual de PTA de cerca de 40%. Embora o nmero total de procedimentos

    seja ainda relativamente pequeno quando comparado com a populao da China, refletindo a

    menor prevalncia de doenas cardacas da populao chinesa, a tendncia de crescimento

    clara e consequncia, entre outras coisas, da mudana de hbitos alimentares, do estilo de

    vida e do tabagismo (CHENG, 2004; MORAN e col., 2010).

    O crescimento vertiginoso no nmero de procedimentos de RI mais acentuado em

    pases desenvolvidos que tm uma assistncia sade da populao mais eficiente comparada

  • 16

    com o grupo de pases no desenvolvidos e pases emergentes, como o Brasil (CANEVARO,

    2009). Embora o nmero de exames em RI tenha crescido no Brasil em 77,6% entre os anos de

    1995 e 2007, ainda muito inferior aos pases desenvolvidos. Segundo a mesma autora, na

    dcada de 1990, a mdia de exames de RI nos pases desenvolvidos e no Brasil foi de 12,73 e

    1,73 para cada 1000 habitantes, respectivamente. Acompanhando o crescimento dos

    procedimentos em RI, cresce tambm em todo o mundo a preocupao sobre as doses de

    radiao a partir desses procedimentos e do conhecimento das consequncias dos impactos que

    a radiao pode ocasionar nos indivduos expostos.

    As doses dos profissionais em procedimentos de RI so as mais altas na rea da

    medicina que utiliza radiao X (VANO e col., 2001; ICRP 85, 2000; FALKNER e VANO,

    2001; SHOPE e col., 1996; VANO e col., 1998). Nesse tipo de procedimento, necessrio que

    o mdico se posicione prximo ao paciente e ao tubo de raios X, utilizando um grande nmero

    de imagens estticas e dinmicas, ocasionando alto tempo de exposio do profissional e do

    paciente radiao. Assim, a exposio prolongada destes indivduos aos raios X tem que ser

    investigada, pois pode resultar no surgimento de efeitos estocsticos e, at mesmo, de efeitos

    determinsticos (FALKNER e VANO, 2001). Nesse sentido, necessrio estabelecer

    metodologia que permita estimar as doses com boa preciso e, assim, possibilite uma melhor

    avaliao dos riscos sade das pessoas.

    Em princpio, a estimativa do risco associado em procedimento cardaco de RI pode

    ser avaliada por meio de grandezas especficas, como, por exemplo, a taxa de dose e o produto

    kerma rea (PKA), ou medidas experimentais da dose de entrada na pele de pacientes e

    profissionais obtidas em simuladores antropomrficos fsicos (PUTTE e col., 2000; BOR e col.,

    2004). Entretanto, o conhecimento dessas grandezas no o suficiente para estabelecer o

    panorama completo do risco associado exposio, pois a probabilidade de ocorrncia de

    efeitos induzidos pela radiao ionizante no s depende da dose absorvida, mas tambm do

    rgo ou tecido irradiado. Portanto, preciso determinar as doses nos rgos de pacientes e

    profissionais, o que um processo complexo (SCHULTZ e col., 2003).

    A medio direta de doses em rgos e tecidos muito complicada e, na maioria das

    vezes, impossvel de ser realizada. Existem algumas alternativas para resolver o problema,

    como a utilizao de objetos simuladores antropomrficos que permitam a insero de

    detectores para medida direta da dose nos rgos ou a estimativa das doses por meio de

    simulao computacional, cuja tcnica mais empregada o mtodo Monte Carlo (MC) (objeto

    deste estudo), que utiliza simulador antropomrfico matemtico ou de voxel para representar o

    indivduo exposto (ALDERSON e col., 1962; HUANG, 1987).

  • 17

    A simulao computacional de transporte de radiao aplicada proteo radiolgica

    data da Segunda Guerra Mundial. A utilizao do mtodo MC para fins de pesquisa comeou

    com os testes de armas nucleares. Durante o projeto Manhattan, em 1940, os cientistas Von

    Neumann e Ulam aperfeioaram a tcnica e a aplicaram a problemas relacionados com clculo

    de difuso de nutrons em diferentes materiais. Mais tarde, profissionais da rea de dosimetria

    utilizaram esta tcnica para simular o de transporte de radiao na matria, a fim de estimar

    grandezas dosimtricas relacionadas proteo radiolgica (ECKHARDT e col., 1987).

    Tcnicas de MC tm sido frequentemente utilizadas para estudar os problemas

    associados utilizao de radiaes ionizantes em medicina (ANDREO, 1991; SEMPAU,

    2002): clculo de dose em radioterapia (ROGERES e col., 1998); estudos de sistemas de

    imagem com radionucldeos ou raios X (ZAIDE, 1999); caracterizao de fontes de radiao

    (KOSUNEN e ROGERES, 1993; GALLARDO e col., 2004) e detectores de radiao

    (BIELAJEV e col., 1985); estudos especficos em mamografia e clculo da radiao espalhada

    em salas de diagnstico (CHAN e DOI,1985); tcnicas de otimizao em radiologia

    convencional (WISE e col., 1999). Essas tcnicas tornaram-se as melhores alternativas

    disponveis para resolver problemas relacionados ao transporte de radiao ionizante.

    A estimativa das doses nos rgos por meio de tcnica computacional requer modelos

    anatmicos para representar uma populao geral. Os primeiros modelos utilizados para

    representar corpo humano foram, em sua maioria, placas homogneas, cilindros e esferas

    (SNYDER, 1950). Estes modelos anatmicos evoluram ao longo dos ltimos 50 anos. Na

    dcada de 1960, surgiram os modelos matemticos que representavam as estruturas simples do

    corpo por meio de equaes, tais como superfcies planas, cilndricas, elpticas e esfricas

    (FISHER e SNYDER, 1967). Embora o modelo matemtico constitua-se um grande avano na

    representao da anatomia humana, esse possui ainda grande limitao, tanto em nmero de

    rgos, quanto em distribuio, localizao, tamanho e composies qumica e fsica deles,

    diminuindo a fidelidade da representao.

    A partir da dcada de 1980, novas tcnicas de imagem, como tomografia

    computadorizada (TC) e ressonncia magntica (RM), tornaram possvel a construo de nova

    gerao de modelos anatmicos, ou seja, modelos tomogrficos com anatomia mais realstica,

    denominados de simuladores antropomrficos de voxel (GIBBS e col., 1984; WILLIAMS e

    col., 1986). Mais recentemente, vrios pesquisadores vm desenvolvendo simuladores

    antropomrficos sem a necessidade de recursos de imagens de TC ou de RM. Os novos

    simuladores so construdos a partir de atlas do corpo humano e com programas especficos de

    modelagem da anatomia humana que so encontrados livres na web. Dentre os programas mais

  • 18

    utilizados para modelar o corpo humano temos o Blender, MakeHuman e o ImageJ. Por meio

    do uso desses programas, possvel a construo de simuladores com diferentes tipos de massa

    corprea, sexo, postura, tamanho, forma e localizao do rgo e idade, mantendo a preciso

    anatmica (CASSOLA e col., 2010; LEE e col., 2007). Esta ampla adaptabilidade fornece um

    meio poderoso para representar com mais preciso os pacientes e profissionais expostos e,

    consequentemente, as doses destes indivduos.

    O objetivo desta pesquisa foi criar um modelo computacional de exposio para

    procedimentos de angiografia e angioplastia coronria em RI que permitisse a avalio das

    doses ocupacionais e mdicas e dos riscos associados a estas doses. Para alcanar os objetivos,

    foram calculados coeficiente de converso (CC) para estimativa das doses equivalente e efetiva

    e dos riscos de cncer dos rgos/tecidos e risco efetivo. Os resultados dosimtricos foram

    obtidos para uma faixa ampla de espectro energtico, que abrange grande parte dos

    procedimentos cardacos realizados em RI. Alm disso, foi criado um modelo de exposio

    realstico, utilizando trs simuladores antropormrficos de voxels para compor um cenrio

    virtual com dois profissionais, um mdico intervencionista (cardiologista) e uma enfermeira, e

    um paciente numa sala de RI. O modelo de exposio construdo foi exposto a uma fonte

    pontual de radiao X. As grandezas dosimtricas estimada neste estudo sero uma ferramenta

    importante na avaliao do risco dos indivduos expostos aos raios X.

  • 19

    CAPTULO 2: FUNDAMENTOS TERICOS

    2.1 Principais efeitos da interao da radiao com a matria considerados neste estudo

    Na faixa de energia utilizada neste estudo, os principais efeitos de interao da

    radiao com o tecido biolgico so o efeito fotoeltrico, espalhamento coerente e efeito

    Compton.

    O efeito fotoeltrico o processo de interao dominante para ftons de baixa energia

    e envolve a absoro de ftons pelo tomo sendo, consequentemente, ejetado um eltron

    atmico. Esse processo est esquematizado na figura 2.1. Quando um eltron removido de um

    tomo, gerando uma vacncia, outro eltron de um nvel mais energtico pode cair nessa

    vacncia, tendo como resultado a liberao de energia. Embora esta energia seja liberada s

    vezes na forma de um fton, a energia pode tambm ser transferida a outro eltron, que pode

    ento ser ejetado do tomo. Este segundo eltron chamado eltron Auger. A energia do

    eltron ejetado equivalente diferena de energia entre as camadas eletrnicas e pode ser

    calculada utilizando a equao 2.1 (KNOLL, 2000; ATTIX, 1986).

    Figura 2.1. Esquema do efeito fotoeltrico.

    (2.1)

    Em que a energia do fton e a energia de ligao do eltron. O efeito

    fotoeltrico mais provvel quando a energia do fton ligeiramente superior energia de

    ligao do eltron numa determinada camada atmica. Acima da energia da camada K, a

    probabilidade de absoro de um fton, com energia suficientemente alta para arrancar um

    eltron com uma energia no relativstica dada aproximadamente pela equao 2.2 (KNOLL,

    2000; ATTIX, 1986).

  • 20

    Em que denominada de constante de estrutura fina, e so respectivamente a

    massa e o raio clssico do eltron, o nmero atmico do material, a constante de Planck

    e a frequncia da onda. O expoente n varia entre 4 ( e 4,6 ( )

    e m varia entre 3 ( e 1 ( . Na regio de , o efeito

    fotoeltrico relevante para energias acima da energia de ligao dos eltrons atmicos do

    material absorvedor, e a seo de choque varia aproximadamente com e .

    A intensidade da radiao atenuada em um material absorvedor de espessura medida

    pelo coeficiente de atenuao linear, . Para eliminar a dependncia com a densidade do

    material, comum usar o coeficiente de atenuao mssico, , ou seja, a razo de pela

    densidade do material, .

    Outro efeito da interao da radiao com a matria para faixa de energia de fton

    avaliado neste estudo o espalhamento coerente. Neste tipo de efeito, o tomo absorve (Figura

    2.2 A e 2.2 B) e reemite um fton mudando apenas sua direo (Figura 2.2 C). Este efeito no

    altera a energia do fton e nem o estado do tomo. Por no contribuir para a absoro de

    energia no meio, este efeito no relevante para avaliao da dose, mas a sua probabilidade de

    ocorrncia precisa ser considerada nas simulaes de transporte de radiao.

    Figura 2.2. Etapas do efeito do espelhamento coerente. O tomo absorve o fton (A) e vibra (B) e o fton

    reemitido com energia igual a do fton incidente (C).

    Durante a interao, o tomo, como um todo, recebe uma quantidade de momento, mas

    sua energia de recuo muito pequena e um fton espalhado em um ngulo com energia

    igual a do fton incidente . A equao 2.3 nos fornece a seo de choque atmica para esse

    tipo de efeito (KNOLL, 2000; ATTIX, 1986).

  • 21

    (2.3)

    Em chamado de fator de forma atmico.

    A probabilidade do efeito de espalhamento coerente ocorrer depende da energia e dos

    tipos de materiais envolvidos. Assim, a chance desse efeito ocorrer maior para ftons de

    baixa energia e de materiais absorvedores de alto nmero atmico. O coeficiente de atenuao

    mssico para esse efeito dado pela equao 2.4.

    Em que a densidade do material, o nmero de Avogadro e peso molecular do

    material.

    O efeito Compton consiste na interao de ftons com eltrons livres1. Nesta

    interao, o fton inicial espalhado e parte da energia transferida para o eltron ejetado. A

    figura 2.3 apresenta o esquema desse tipo de efeito.

    Figura 2.3. Esquema do efeito Compton.

    O processo de coliso na interao Compton descrito pela aplicao de leis de

    conservao de momento e de energia. Assim, a energia de recuo do eltron, em funo do

    ngulo de espalhamento dada pela equao 2.5 (KNOLL, 2000; ATTIX, 1986).

    Em que o ngulo de espalhamento do fton, a frao de energia reduzida

    e o equivalente em massa do eltron.

    1O eltron considerado livre quando sua energia de ligao muito menor do que a energia do fton.

  • 22

    A energia dos ftons espalhados varia segundo um ngulo em relao trajetria

    inicial. A probabilidade de um fton sair com certo ngulo de espalhamento dada pela

    equao 2.6, conhecida como equao de Klein-Nishina (KNOLL, 2000; ATTIX, 1986).

    Em que a seo de choque Compton. Integrando a equao 2.6 para todo o ngulo slido,

    obtm-se a seo de choque total em funo da energia do fton incidente. Conhecida a direo

    do fton depois da coliso, a partir da equao de Klein-Nishina, a nova direo do eltron

    dada pela equao 2.7.

    Em que o ngulo de espalhamento do eltron.

    A probabilidade para ocorrncia do efeito Compton em funo da energia do fton

    incidente dada pela equao 2.8 (KNOLL, 2000; ATTIX, 1986).

    O coeficiente de atenuao mssico do efeito Compton, , obtido pela equao 2.9

    (KNOLL, 2000; ATTIX, 1986).

    Em que o nmero de Avogadro, o nmero de eltrons por

    tomo de um elemento ou por molculas em um composto, o nmero de massa do material

    e a densidade em A razo de igual a 1 para o hidrognio e

    aproximadamente 0,45 0,05 para todos os outros elementos.

    O coeficiente de atenuao mssico total considerado neste estudo ser

    dado pela soma dos coeficientes de atenuao mssico do efeito fotoeltrico ( ,

    espalhamento coerente ( e efeito Compton ( , conforme apresentado na equao

    2.10 (KNOLL, 2000; ATTIX, 1986).

  • 23

    2.2 Mtodo Monte Carlo (MC) e avaliao de erro

    No contexto do transporte de radiao, o mtodo MC envolve o uso de nmeros

    aleatrios e de distribuio de probabilidade para simular as possiveis interaes das partculas

    durante o percurso na matria. Todos os dados fsicos que iro determinar a energia, posio e

    direo de voo das partculas so alocados no algoritmo de um cdigo computacional de

    transporte de radiao. O mtodo consiste em utilizar uma sequncia de nmeros aleatrios

    distribudos no intervalo [0, 1] que determina o comportamento futuro de uma varivel

    aleatria , para simular uma srie de efeitos nos tomos produzidos por ftons, nutrons e

    partculas carregadas ao percorrer a matria. Todos os efeitos gerados no meio, como

    espalhamento, absoro e produo de partculas secundrias, seguem um processo aleatrio,

    ou seja, no se pode prever que tipo de interao ocorrer em cada tempo e lugar, mas

    possvel atribuir uma probabilidade a cada evento provvel. O nome desse mtodo uma

    referncia cidade do Principado de Mnaco, Monte Carlo, conhecida mundialmente pelos

    famosos jogos de roleta, que utilizam nmeros aleatrios. Embora o mtodo tenha surgido nos

    anos 1940, as bases tericas dele j existiam h sculos (YORIYAZ, 2009).

    Na busca de uma soluo numrica para um problema de transporte de radiao, os

    modelos computacionais fundamentados no mtodo MC baseiam-se na resoluo da equao

    de transporte de Boltzmann (HUANG, 1987). O parmetro mais importante na anlise do

    transporte da radiao o fluxo , que uma funo que depende de 8 variveis, trs

    implcitas no vetor posio , trs em um vetor de direo , e outras duas nos parmetros

    escalares de energia e tempo . As variveis que definem o fluxo esto apresentadas na

    figura 2.4, que conhecida como sistema de coordenadas de espao-fase. Neste sistema, o

    fluxo definido como o nmero de partculas por unidade de rea que se encontram em uma

    posio , com energia entre ( ) que se movem ao longo do ngulo

    solido , compreendido entre . Fazendo o balano de partculas que entram e que

    saem do volume se obtm a equao 2.11, conhecida como equao de transporte de

    Boltzmann (HUANG, 1987).

  • 24

    Figura 2.4. Sistema espao-fase.

    A soluo da equao de transporte no pode ser obtida de forma exata, ou seja, no

    tem soluo analtica. Entretanto, existem vrios mtodos numricos de soluo, como mtodo

    dos harmnicos esfricos, teoria da difuso e outros. Existem cdigos computacionais

    desenvolvidos que utilizam esses mtodos de soluo (SANGREN, 1960). Esse conjunto de

    soluo numrica denominado de mtodos determinsticos. A formulao exata do fenmeno

    nem sempre possvel por meio de mtodos determinsticos, especialmente em geometrias

    complexas. Uma vez que a trajetria de uma partcula ao atravessar materiais de natureza

    estatstica, o mtodo MC torna-se uma ferramenta til no estudo deste processo.

    Por meio do mtodo MC, os processos fsicos so simulados teoricamente sem

    necessidade de resolver analiticamente as equaes que descrevem o sistema. No entanto,

    necessrio conhecer as funes de densidade de probabilidade (FDP) que descrevem o

    comportamento fsico do sistema.

    No processo da simulao do transporte de radiao atravs do mtodo MC, o fton

    entra aleatoriamente em um material podendo interagir ou no com o mesmo. Como na faixa de

    energia utilizada no radiodiagnstico os efeitos mais provveis de interao so os efeitos

    fotoeltricos e o Compton, o fton pode, ao percorrer a matria, ser absorvido por um tomo

    por efeito fotoeltrico ou pode passar por sucessivos espalhamentos devido ao efeito Compton,

    perdendo energia e variando a sua trajetria, at ser absorvido ou sair do material. Estas

  • 25

    sucessivas interaes sofridas pela radiao, desde seu nascimento at sua morte,

    denominada de histria de uma partcula. Nesse processo, a distncia mdia percorrida entre

    duas interaes sucessivas denominada de trajetria livre mdia ( ).

    A probabilidade de que um fton percorrer um comprimento sem interagir

    governado pela equao 2.12.

    Em que o nmero de partculas por unidade de volume em um meio e a seo de

    choque total. Por definio, a trajetria livre mdia e pode ser determinada pela

    equao 2.13.

    A equao 2.12 pode ser reescrita como:

    Em que,

    Para cada nmero aleatrio com existe uma varivel de uma funo de

    distribuio de probabilidade que obedece a seguinte equao:

    substituindo o valor de , e resolvendo a equao para , tem-se,

    A distncia percorrida entre duas interaes sucessivas derivada pela equao 2.20.

  • 26

    A partir da equao 2.20 calculada a distncia do fton desde que entra no material

    at o ponto onde sofre a primeira interao. Para determinar qual dos tipos de interao dever

    ocorrer, um novo nmero aleatrio gerado. A equao 2.21 mostra os intervalos para os

    principais efeitos da interao da radiao com a matria predominantes na Fsica Mdica, onde

    foi adicionado tambm o efeito de produo de pares, que no foi apresentado neste texto por

    no ser possvel de ocorrer no intervalo de energia da RI.

    O mtodo MC pode ser pensado como um experimento realizado em ambiente

    computacional. Assim como um experimento realizado em laboratrio, nesse processo, os

    resultados simulados devem ser analisados e investigados, pois esto sujeitos a algum grau de

    erros associados ao processo de simulao. A quantidade de interesse neste estudo a dose

    absorvida em rgos e tecidos como resultado de um grande nmero de interaes de ftons.

    Cada fton possui uma histria. Assim, para i-sima histria tem-se um valor mdio da

    grandeza (BRIESMEISTER, 1993).

    Se a FDP da escolha de uma histria de valor , a resposta verdadeira o valor

    esperado de , , onde,

    Se os valores de no so conhecidos exatamente, , a mdia, pode ser estimada via

    mtodo MC por :

    Em que o valor de correspondente a histria , o nmero total de histrias. A

    varincia, , pode ser estimada utilizando a equao 2.24 e o desvio padro populacional, ,

  • 27

    apresentado pela equao 2.25, foi derivado tomando a raiz quadrada da varincia.

    A varincia e o desvio padro da mdia associados com a simulao podem ser

    definidos pela equao 2.26 e 2.27 respectivamente.

    Para , pode-se utilizar o Teorema do Limite Central. Neste caso, o intervalo de confiana

    dos resultados pode ser avaliado por meio da equao 2.28.

    Em geral, o valor do fator de abrangncia escolhido com base no nvel de confiana

    desejado para ser associado com o intervalo definido. Tipicamente, est no intervalo entre 1

    e 3. Para , 2 e 3, os intervalos de confiana so respectivamente de 68, 95 e 99,7 %.

    Uma forma mais simples na avaliao dos desvios no processo de simulao pode ser

    realizada por meio de coeficiente variao (CV), ou seja, a razo entre o desvio padro e a

    mdia ( ) da grandeza obtida. O CV pode ser definido matematicamente pela equao 2.29.

    A avaliao do grau de confiana em processo de simulao por meio de transporte de

    radiao mostrada na tabela 2.1.

    Tabela 2.1. Valores de coeficientes de variao (CV) (BREISMEISTER, 1993).

    Coeficiente de variao (CV) Classificao da grandeza

    0,5 a 1,0 Descartvel

    0,2 a 0,5 Pouco confivel

    0,1 a 0,2 Questionvel

    < 0,10 Confivel, exceto para detectores pontuais

    < 0,05 Confivel

  • 28

    Para se obter a dose de radiao em um individuo atravs do mtodo MC,

    necessrio ter um cdigo que simule o transporte de radiao e um simulador que represente

    corpo humano em mbito computacional. Os principais modelos de corpo humano e de cdigos

    de transporte de radiao utilizados para estimativa de dose so apresentados nas sees

    seguintes.

    2.3 Cdigos computacionais de transporte de radiao

    O clculo utilizando tcnica MC consiste no uso de um grande nmero de "histrias,

    cada uma sendo iniciada no momento em que uma partcicula criada. A histria das partculas

    encerrada quando a energia da partcula torna-se insignificante, ou a partcula absorvida ou

    escapa da regio de interesse. A mdia de um grande nmero de trajetrias e de interaes

    permite estimativas de grandezas fsicas de interesse por meio de simulao computacional.

    Atualmente, h diversos cdigos de transporte de radio disponveis que utilizam

    tcnica MC. Entre os cdigos mais usados, podemos destacar o EGS4 (ROGERES, 1984), o

    MCNPX (PELOWITZ, 2011), o PENELOPE (BAR e col., 1995), o GEANT

    (AGOSTINELLI e col., 2003) e o Visual Monte Carlo (VMC) (HUNT e col., 2000), entre

    outros. Os processos de simulao do transporte de partculas por meio destes cdigos

    apresentam pequenas diferenas. Essas diferenas podem ser atribudas aos tipos de radiaes

    consideradas no transporte, s aproximaes e aos modelos utilizados para descrever as

    interaes. Todos estes cdigos permitem a simulao de materiais de composio arbitrria,

    com geometrias complexas e uma variedade de energias que vo desde alguns keV at alguns

    GeV. Os cdigos de transporte de radiao podem ser abertos ou fechados. Um cdigo aberto

    quando o usurio tem acesso ao arquivo fonte e as bibliotecas de dados do programa. Os

    cdigos EGS, PENELOPE, GEANT e VMC so cdigos abertos e o MCNPX fechado. O

    MCNPX foi desenvolvido no Laboratrio de Los Alamos do Estados Unidos da Amrica, e

    suas raizes remotam dcada de 1940, poca em que os cientistas Von Neumann, Ulam e

    Metropolis desenvolveram mtodo MC, que no se restringiu apenas a criao de armas

    nucleares, mas tambm a soluo de muitos outros problemas em diferentes reas das cincias,

    como na biologia, econmia, engenharia espacial, etc.

    Para simular o transporte de particulas com a matria, neste estudo foi utilizado o

    cdigo MCNPX2.7.0, que uma verso mais atual do cdigo MCNP. Este cdigo foi

    desenvolvido em linguagem de programao FORTRAN e pode ser operado em ambiente de

    Windows e Linux. Este cdigo descreve o transporte de 34 tipos de partculas (fton, eltron,

    nutron, ncleons, pons, mons, ons leves, beta, alfa, prton, etc). Dentre estas partculas,

  • 29

    podemos destacar os ftons, os eltrons e os nutrons que podem ser transportados

    individualmente ou acoplados (nutron / fton / eltron) em geometria tridimensional e em

    sistema heterogneo. O MCNPX transporta estas partculas para ampla faixa de energia: ftons

    (1 keV-100 GeV); eltrons (1 keV-1GeV) e nutrons (1 keV-20 MeV), o que o torna atrativo

    para vrias reas das cincias, como por exemplo, proteo radiolgica, dosimetria, fsica

    mdica, engenharia nuclear, projetos de construo de detectores, projetos de fuso e fisso

    nuclear em reatores, etc.

    A Figura 2.5 mostra esquematicamente as interpretaes feitas pelo cdigo MCNPX

    para o mecnismo de trasporte de radiao. Ao iniciar a histria da partcula, so determinados

    os vrios parmetros, tais como: energia, coordenadas espaciais, direo e tipos de interaes.

    Figura 2.5. Fluxograma: representao das diferentes etapas que realiza o cdigo MCNPX para a simulao de

    transporte de fton.

    2.4 Construo dos arquivos de entrada (INP) para o cdigo de transporte de radiao

    MCNPX

    Para simular um problema fsico no MCNPX, necessrio especificar em um arquivo

    de entrada (INP), a geometria de irradiao e uma lista de parmetros do problema, alguns dos

    quais incluem o tipo de radiao, a energia, materiais, caractristicas e tipos de fontes de

  • 30

    radiao, sees de choque, grandezas que deseja calcular, tcnicas de reduo de variana e

    nmero de histrias a ser simuladas.

    O INP composto de trs blocos denominados de "cartes", que so construdos em

    arquivos ASCII em um editor de texto de bloco de notas e separados por uma linha em branco:

    carto de clula, carto de superficies e carto de dados. Para que o cdigo seja executado

    corretamente, necessrio cada um destes trs cartes. O cdigo ler as instrues do INP,

    realizar a simulao e criar um arquivo de sada (OUTPUT). Esse arquivo, conter os

    resultados simulados, os erros relativos produzidos e algumas tabelas que resumem o processo

    de simulao. Nas sees seguintes, sero descritos os cartes que compem o arquivo de

    entrada do cdigo.

    2.4.1 Carto de clulas

    No bloco das clulas feita a delimitao das regies de estudo por meio de

    superfcies utilizando operadores boleanos de interseco (espao simples), complemento (#) e

    unio (:). Neste bloco, so definidos a forma, o tipo de material e sua respectiva densidade que

    compes as clulas. Cada clula possui certa importncia (IMP) que atribuda neste bloco ou

    opcionalmente no bloco de dados.

    2.4.2 Carto de superfcies

    Nos cartes de superfcie podem ser definidas geometrias bi e tridimensionais

    combinatrias que permitem a utilizao de recurso de estrutura repetida, viabilizando a

    utilizao de geometrias exatas de objetos voxelizados como de imagens mdicas. Neste bloco,

    o usurio especifica nmero de superfcie e geometria (por exemplo, plano, esfera, cilindros,

    cones, troide, etc.). Este processo repetido at que todas as estruturas dentro do modelo

    sejam definidas. Na tabela 2.2, so apresentadas diferentes formas geomtricas representadas

    por caracteres denominados de mnemnicos lidos pelo cdigo MCNPX e utilizados neste

    estudo.

  • 31

    Tabela 2.2. Principais geometrias lidas e utilizadas pelo cdigo MCNPX.

    Mnemnico Descrio Equao Coeficientes

    Planos

    p

    px

    py

    pz

    Geral

    Normal a x

    Normal a y

    Normal a z

    A B C D

    D

    D

    D

    Esferas

    so

    s

    sx

    sy

    sz

    Na origem

    Geral

    Em x

    Em y

    Em z

    r

    r r r r

    Cilindros

    c/x

    c/y

    c/z

    cx

    cy

    cz

    Paralelo a x

    Paralelo a y

    Paralelo a z

    Eixo x

    Eixo y

    Eixo z

    r r r

    r

    r

    r

    Cones

    k/x

    k/y

    k/z

    kx

    ky

    kz

    Paralelo a x

    Paralelo a y

    Paralelo a z

    Eixo x

    Eixo y

    Eixo z

    Elipse

    sq

    A B C D E

    F G

    Toride elptico ou circular nos eixos x, y e z respectivamente.

    tx

    ty

    tz

    A B C

    A B C

    A B C

    RPP (Paraleleppedo retangular)

    ( ; ; ) - Dimenses mnimas e mximas ao longo dos eixos x, y e z. Esfera

    R Coordenadas x, y e z e raio R RCC (Cilindro)

    ( ; ) e R - Coordenadas x, y e z do centro da base do cilindro circular de raio R e,

    cujo sentido ao longo do eixo definido pelo vetor direo (

  • 32

    2.4.3 Carto de dados

    Uma vez que os cartes de superfcie esto completos, o usurio pode passar para os

    cartes de dados onde so definidos os materiais a serem utilizados, energias, etc. Cada

    material identificado nos cartes de dados deve ser especificado pelos seus componentes

    elementares e pela percentagem de cada elemento no material por meio da representao

    numrica ZZZAAA.nnX (Z o nmero atmico do elemento, A a massa do elemento e nn e

    XX so opes de busca de sees de choque nas biblioteca de dados do cdigo). Neste carto,

    definido o tipo e o modo de transporte das partculas utilizando o comando "MODE" que

    especfica que tipos de partculas podem ser criadas e controladas no problema. Neste estudo, a

    modelagem da fonte foi feita utilizando o comando "SDEF". Nesta definio, o usurio pode

    especificar as funes de distribuio utilizando os cartes "SI" (informaes da fonte) e "SP"

    que representa a distribuio de probabilidade. Nestes cartes, o usurio especifica as

    caractristicas e tipo de fontes modelada (por exemplo, ftons, eltrons, nutrons, etc), bem

    como posio, direo, forma do feixe e quantas histrias sero simuladas (NPS).

    As informaes coletadas durante o processo de transporte so gravadas usando uma

    variedade de contagens. O registro das grandezas macroscpicas simuladas, como energia

    depositada, fluxo de partculas, fluncia, contabilizado por meio de comandos denominados

    de tallies. A descrio dos tallies utilizados no MCNPX mostrado na tabela 2.3.

    Tabela 2.3. Contabilizadores (tallies) utilizados para registro de grandezas fsicas.

    Mnemnico Descrio Fn *Fn

    F1:N ou F1:p ou F1:e Corrente integrada numa superfcie Partculas MeV

    F2:N ou F2:p ou F2:e Fluxo mdio numa superfcie Partculas/cm MeV/cm

    F4:N ou F4:p ou F4:e Fluxo mdio numa clula Partculas/cm MeV/cm

    F5a:N ou F5a:p Fluxo num detector pontual ou radial Partculas/cm MeV/cm

    F6:N ou F6:n,p ou F6:p Energia mdia depositada na clula MeV/g Jerks1/g

    F7:n Energia de fisso depositada MeV/g Jerks/g

    F8:p ou F8:p,e ou F8:e Pulso de energia num detector Pulsos MeV

    +F8: e Deposio de carga Carga No existe

    1 1Jerk = 10

    9 joules

    Alm das grandezas mostradas na tabela 2.3, o cdigo prev e fornece o erro relativo

    em tabelas resumidas configuradas pelo usurio. Isso pode ser til no entendimento da parte

    fsica das simulaes e serve como indicativo de eventuais erros do problema analisado.

  • 33

    2.5 Modelos de simuladores antropormrficos utilizados pelos cdigos computacionais de

    transporte de radiao

    Para representar a anatomia do corpo humano, as informaes sobre a densidade do

    elemento, composio, tamanho, forma e localizao das partes do corpo so necessrias.

    Existem basicamente duas abordagens fundamentais: uma representada por expresses

    matemticas (modelos antropormrficos matemticos) e outra usando modelos em estrutura em

    voxel, construdos por meio de imagens tomogrficas, de ressonncia magntica, fotografias ou

    por meios de programas computacionais de modelagem da anatomia humana. Estes modelos

    so incorporados em cdigos computacionais apropriados para obter a dose de radiao no

    corpo humano, como resultado da exposio a uma fonte de radiao ionizante.

    2.5.1 Simulador atropomrfico matemtico

    Para representar realisticamente o corpo humano, um modelo de corpo precisa ser

    construdo para ser incorporado em um cdigo MC. Em 1969, em Oak Ridge National

    Laboratory (ORNL), foi desenvolvido o primeiro modelo matemtico para clculo de dose em

    Medicina Nuclear, conhecido como MIRD (Medical Internal Radiation Dosimetry Committee).

    Este modelo matemtico foi construdo por meio de equaes matemticas que representam os

    rgos e tecidos por meio de planos, esferas, elipsides, cilindros, etc, conforme mostrado na

    figura 2.6. A construo do MIRD foi baseado nos dados anatmicos do homem de referncia,

    originalmente definido para representar uma "mdia" do homem adulto europeu ou norte-

    americano de 20 a 30 anos de idade, de massa corporal de 70 kg e 1,7 m de altura, com valores

    anatmicos da ICRP (International Commission on Protection Radiological) em sua publicao

    de nmero 23 (ICRP 23, 1975)

    Figura 2.6. Anatomia do modelo matemtico MIRD (CRISTY e ECKERMAN, 1987).

  • 34

    O corpo do modelo MIRD foi definido em trs sees principais: um cilindro elptico

    que representa a cabea e o pescoo, outro cilindro elptico para modelar o brao, o tronco e os

    quadris, e um tronco de cone elptico para as pernas e os ps. Embora o modelo tenha sido

    originalmente desenvolvido para ser utilizado no clculo das doses de radiao para fontes

    internas, foi amplamente utilizado tambm para fontes externas. Esse modelo possui trs tipos

    de composio de materiais: tecido sseo, tecido do pulmo e tecidos moles. Embora o

    simulador antropomrfico original era hermafrodita (includos os rgos reprodutores de ambos

    os sexos), anos depois foi construdo uma famlia de simuladores de ambos os sexos com

    diferentes idades (CRISTY e ECKERMAN, 1987).

    A maioria dos simuladores matemticos atuais foi construda com base nos modelos

    propostos por Snyder. Para fins de clculo de dose, mais tarde foram desenvolvidos modelos

    adultos, conhecido como ADAM (modelo masculino) e EVA (modelo feminino) (KRAMER e

    col., 1982), que so derivados do MIRD. Um grupo de pesquisadores do ORNL desenvolveu

    simuladores matemticos representando crianas de diferentes idades (CRISTY, 1980). Stabin

    e col. (1995) desenvolveram um simulador adulto representando uma mulher grvida em trs

    estgios diferentes de gestao (3, 6 e 9 meses). Clairand tambm criou trs modelos de

    simuladores masculinos e trs femininos com diferentes dimenses (CLAIRAND, 1999). Alm

    da construo de todos esses simuladores que representam individuos caucasianos, foi

    construdo, por Park e col. (2006), um simulador adulto masculino coreano e, por Saito e col.

    (2001), um simulador adulto japons para estudos dosimtricos dos sobreviventes de

    Hiroshima. Finalmente, um simulador matemtico, conhecido como Torso Cardaco 4D

    (MCAT) foi desenvolvido para estudos que consideram a influncia dos mecanismos

    respiratrios e de movimento dos rgos (PRETORIUS e col., 1997, SEGARS e col., 2001).

    Por mais de duas dcadas, os pesquisadores usaram modelos matemticos e os

    cdigos embasados no mtodo MC para executar clculos de dose em rgos e tecidos de

    indivduos expostos a fontes de radiao externa e interna. No entanto, os modelos de

    simuladores matemticos permanecem muito simplificados e aproximados (LEMOSQUET e

    col., 2002).

    Uma representao mais fiel de pacientes e profissionais mdicos e,

    consequentemente, das grandezas dosimtricas calculadas nestes indivduos, pode ser obtida

    por meio do uso de simuladores antropomrficos de voxel, que so simuladores construdos a

    partir de dados anatmicos reais.

  • 35

    2.5.2 Simulador antropomrfico de voxel

    Com o avano das tcnicas de imagens mdicas e com o surgimento de novos

    programas de computador especficos em modelagem do corpo humano, muitos pesquisadores

    comearam a perceber que a representao geomtrica do corpo humano poderia ser substituda

    por modelos anatmicos e fisisolgicos mais realsticos. Nas ltimas dcadas, tcnicas de

    imagens mdicas, como TC e RM, e por meio de programas de computador, muitos

    pesquisadores tm avanado consideravelmente na construo de novos simuladores

    antropomrficos. Estes recursos de imagens permitem que os pesquisadores visualizem as

    estruturas internas do corpo podendo armazenar as imagens em formatos digitais. Atravs das

    imagens geradas possvel desenvolver modelos tomogrficos de corpo inteiro que fornecem

    representaes tridimensionais dos rgos e do corpo de forma mais fiel do que os simuladores

    matemticos.

    Na construo de um modelo de corpo a partir de imagens tomogrficas, a qualidade

    dos dados originais fundamental para a representao fiel de estruturas internas do corpo. As

    imagens obtidas em TC devem fornecer informaes detalhadas sobre a anatomia do corpo

    humano. Uma fatia de imagem uma matriz de pixels em uma geometria bidimensional

    (BUSHBERG e col., 2002). A figura 2.7 mostra as etapas envolvidas no desenvolvimento de

    um modelo de corpo para fins de dosimetria com base em imagens de TC.

    Figura 2.7. Etapas envolvidas para construo de um simulador antropomrfico tomogrfico: (1) Aquisio de

    imagens em TC; (2) fatia da imagem voxelizadas; (3) uso do computador para segmentar e classificar cada rgo e

    tecido que referem as imagens e (4) visualizao das imagens empilhadas do simulador antropomrfico.

    Depois de obtidas as imagens do corpo, figura 2.7 (1) e 2.7 (2), a prxima etapa

    envolve rotinas de segmentao e classificao, figura 2.7 (3), ou seja, determinar a qual rgo

    ou tecido cada voxel pertence e atribuir uma cor e um nmero identificador a uma determinada

    regio dessa imagem. A partir da composio elementar dos rgos e tecidos que compe as

    imagens, so atribudas as propriedades qumicas e fsicas dos materiais para os voxels que

    formam essas imagens. Esses voxels so agrupados e finalmente o modelo de corpo formado,

  • 36

    figura 2.7 (4), podendo ser, ento, importado pelo cdigo de transporte de radiao que utiliza o

    mtodo MC.

    H vrios exemplos de simuladores antropomrficos de voxel desenvolvidos para

    dosimetria. Por exemplo, Zubal e col. (1994) criaram um modelo chamado VOXELMAN a

    partir de imagens de TC de trax de cabea de um paciente de 35 anos de idade, com uma

    altura de 178 cm e massa corprea de 70 kg (com voxels cbicos de 4 mm de comprimento).

    Nesse simulador foram adicionados pernas e braos com base no projeto Visible Human

    (SPITZER e WHITLOCK, 1998).

    Dimbylow desenvolveu simuladores a partir de RM de voluntrios saudveis: um

    simulador masculino, o NORMAN (DIMBYLOW, 1995), e um simulador feminino, a NAOMI

    (DIMBYLOW, 2005). As dimenses do voxel do modelo masculino foram ajustadas para

    coincidir com a altura e peso do corpo do homem de referncia da ICRP 30 (1975); isto , peso

    corporal de 70 kg e uma altura de 170 cm (JONES, 1997). Posteriormente, o simulador

    NORMAN foi modificado e passou a ter altura (176 cm) e peso (73 kg) do corpo de referncia

    da ICRP 89 (2003). O simulador NAOMI, construdo com base em imagens mdicas a partir de

    um exame de ressonncia magntica de um individuo adulto feminino com 1,63 m de altura e

    60 kg de massa corprea. O tamanho do voxel foi redimensionado para 2 mm de comprimento

    cada. Alm dos simuladores citados anteriormente, outros simuladores masculinos adultos

    foram construdos como o Vip-Man (XU e col., 2000), o Golem (ZANKL e WITTMANN,

    2001). Entre os principais modelos de simuladores femininos podemos incluir Helga, Donna,

    Irene e Regina, que foram construdos para representar a mulher de referncia da ICRP

    publicao 110 (ICRP 110, 2009).

    A ICRP em sua publicao 110 recomenda a utilizao de novos simuladores de voxel

    para representar indivduos adultos masculinos e femininos que atendem s recomendaes da

    ICRP 89. (ICRP 89, 2009). Estes simuladores foram construdos a partir de imagens de TC de

    um paciente com leucemia de 38 anos de idade e de uma paciente de 43 anos de idade. Esses

    simuladores possuem mais de 140 diferentes rgos e tecidos definidos para atender, com

    mximo de realismo, o indivduo de referncia. A figura 2.8 apresenta os atuais simuladores

    computacionais de referncia da ICRP 110 para indivduos do sexo masculino e feminino,

    respectivamente. Estes simuladores so chamados de AM (Male adult macho adulto) e AF

    (Female adult - fmea adulta) correspondentes ao sujeito humano, no s em termos de

    geometrias de rgos e formas, mas tambm em relao aos diferentes materiais, densidades e

    composies qumicas, que possibilitam simular a interao da radiao com a matria de

    forma mais realista (ICRP 110, 2009).

  • 37

    Figura 2.8. Vistas frontais e laterais dos simuladores antropomrficos utilizados atualmente pela ICRP: AM (A) e

    AF (B).

    Algumas das principais caractersticas dos simuladores AM e AF so respectivamente:

    altura 176 e 163 cm; massa corprea 73 e 60 kg; nmero de fatias axiais 222 e 348; resoluo

    das fatias 254 x 127 e 299 x 137; volume dos voxels 0,2137 x 0,2137 x 0,8 e 0,1775 x 0,1775

    x 0,484 cm.

    Mais detalhes sobre as caractersticas e disponibilidade de simuladores de voxel

    podem ser encontrados nas referncias de Lemosquet e col. (2003), Zaidi e col. (2007) e na

    internet em http://www.virtualphantoms.org/.

    O simulador que foi utilizado neste estudo foi desenvolvido pelo Grupo de Dosimetria

    Computacional do Departamento de Energia Nuclear da Universidade Federal de Pernambuco.

    Este grupo tem larga experincia na construo deste tipo de simulador. Os primeiros dois

    simuladores antropomrficos adultos desse gruupo, um do sexo masculino e outro do sexo

    feminino tiveram como base as caractersticas fisiolgicas e anatmicas recomendadas pela

    ICRP 89 (ICRP 89, 2002). O simulador macho, chamado de MAX (Male Adult voXel), tem as

    seguintes caractersticas: 175 cm de altura, 75 kg de massa corprea e 22 rgos. Ele contm

    487 fatias axiais com uma resoluo de 196 x 96 voxels e volume de voxel de 0,36 x 0,36 x

    0,36 cm3 (KRAMER e col., 2003). O simulador feminino, chamado de FAX (Female Adult

    voXel) foi construdo a partir de imagens de TC de um indivduo de 37 anos de idade, de 165

    cm de altura e massa corprea de 63,4 kg e composto por 22 rgos e tecidos radiossensveis.

    Na construo do simulador, foi utilizado um total de 453 fatias axiais com uma resoluo de

    158x74 voxels, com imagens compostas de voxels de resoluo de 0,36 x 0,36 x 0,36 cm3 cada

    (KRAMER e col., 2004). MAX e FAX foram por muito tempo, considerados representantes do

    indivduo de referncia.

    http://www.virtualphantoms.org/
  • 38

    Os simuladores antropomrficos de voxel mais atuais deste grupo, entretanto, j

    utilizam nova metodologia de desenvolvimento. So os chamados simuladores por superfcie

    mesh (malha), construdos com base em curvas suaves, polgonos e superfcies 3D. A forma

    dos simuladores determinada por controle dos pontos, equaes e outros parmetros que

    definem a relao entre esses pontos de controle (XU e col., 2007). As faces geralmente

    consistem de tringulos, quadrilteros ou outros polgonos simples. Vrias operaes podem

    ser realizadas em malhas incluindo a lgica booleana. Estes modelos vm sendo comumente

    usados para representar geometrias complexas.

    2.5.3 Simulador antropomrfico NURBS

    Uma abordagem hbrida para construo de simuladores antropomrficos incorpora as

    melhores caractersticas dos simuladores matemticos e de voxel. Simuladores hbridos fazem

    uso de superfcies NURBS (Non Uniform Rational B-Spline) para descrever os limites internos

    e externos dos rgos e das superfcies externas do corpo. NURBS uma tcnica de

    modelagem matemtica comumente usada para a gerao de curvas e superfcies em animao

    computacional. Tal como acontece com os simuladores matemticos, esses modelos so

    definidos por equaes matemticas que tornam muito suave a forma dos tecidos e permitem

    uma modificao fcil da morfologia. No entanto, ao contrrio dos simuladores matemticos, a

    forma, a posio dos rgos e tecidos so modelados de modo realista, semelhante aos

    simuladores voxelizados. A figura 2.9 mostra um esquema da construo do simulador do

    aparelho gastrintestinal utilizando superfcie NURBS.

    Figura 2.9. Comparao entre trs modelos do trato gastrointestinal para o recm-nascido: Simulador matemtico

    (ORNL) (A), simulador voxelizado (UF) (B) e simulador hbrido (UF) (C) (LEE e col., 2007a).

  • 39

    Na Universidade da Flrida, foi construdo um simulador para representar um recm-

    nascido utilizando superfcies NURBS. A anatomia do recm-nascido foi ajustada para a

    morfologia de referncia definida pela publicao ICRP 89 (LEE e col., 2007a; LEE e col.,

    2007b). Outro ponto forte do uso de superfcies NURBS o melhoramento da morfologia por

    meio de recurso de suavidade e de flexibilidade do simulador. Na figura 2.10, alm da

    suavidade da regio do abdmen (2.10 A), especialmente na regio do clon e intestino

    delgado, pode-se notar tambm a flexibilidade da morfologia e da postura (2.10 C) do

    simulador comparada com a figura 2.10 B.

    Figura 2.10. Vista frontal do simulador recm-nascido feminino UFH-NURBS. Suavidade da regio abdominal

    (A) e flexibilidade da morfologia e da postura (B e C) (LEE e col., 2007b).

    2.5.4 Simulador antropomrfico mesh

    Uma superfcie mesh (malha poligonal) composta por um conjunto de vrtices,

    arestas e faces que especificam a forma de um objeto polidrico no espao 3D. As superfcies

    do simulador so definidas por uma grande quantidade de malhas poligonais, geralmente

    formadas por tringulos. A malha poligonal tem duas vantagens notveis no desenvolvimento

    de simuladores antropomrficos. Em primeiro lugar, as superfcies que descrevem a anatomia

    humana podem ser convenientemente obtidas a partir de imagens de pacientes reais ou modelos

    comerciais da anatomia humana. Em segundo lugar, o simulador baseado em malha poligonal

    tem uma considervel flexibilidade em ajustar sua geometria, permitindo a simulao de

    anatomia muita complexa. Estas caractersticas permitem o melhoramento anatmico obtido

    com superfcie NURBS, sobretudo, quando se trata de rgos e tecidos de topologia complexa,

    tal como esqueleto, pulmo e fgado (XU e col., 2008).

  • 40

    No Instituto Ressenlear, vrios simuladores foram construdos utilizando superfcies

    mesh. Primeiro, o simulador VIP-Man que foi estendido a 4D, ou seja, foram acrescidos nas

    simulaes a influncia do movimento respiratrio utilizando modelagem de malha (XU e XI,

    2005). Em seguida, trs modelos foram criados representando uma mulher grvida com 3, 6 e 9

    meses de gravidez (figura 2.11A). Estes foram chamados RPI-P3, RPI-P6 e RPI-P9 que usou

    superfcies simultaneamente NURBS (corpo feminino) e polgonos malha (feto). rgos da

    me e do feto foram ajustados para combinar com as recomendaes da ICRP 89. Tambm no

    Instituto Ressenlear, Zhang e col. (2009) desenvolveram um par de simuladores mesh adulto

    feminino e masculinos chamados RPI-AM e RPI-AF mostrados na figura 2.11 (C). A massa

    corporal e o tamanho destes modelos foram ajustados para combinar com as recomendaes da

    ICRP 89.

    Figura 2.11. A) Simuladores NURBS representando uma mulher grvida de 3, 6 e 9 meses de gestao

    respectivamente, um simulador mesh representando um feto B) (XU e col., 2007) e modelos de simuladores mesh

    adulto feminino e masculino da RPI C) (ZHANG e col., 2009).

    Os simuladores atuais do Grupo de Dosimetria Computacional do Departamento de

    Energia Nuclear da Universidade Federal de Pernambuco esto apresentados na figura 2.12.

    Utilizando uma combinao de software de modelagem 3D (MakeHuman, Blender, Binvox e

    ImageJ), CASSOLA e col. (2010) desenvolveram dois simuladores adultos chamado FASH

    (mesh Feminino Adulto) e MASH (mesh Masculino Adulto) equivalentes aos simuladores

    voxelizados FAX e MAX. Os simuladores foram construdos a partir de atlas de anatomia com

    caractersticas que obedecem s recomendaes da ICRP 89. Os simuladores FASH e MASH

    foram os escolhidos para utilizao neste trabalho e suas caractersticas fisiolgicas e

    anatmicas sero descritas na seo de Materiais e Mtodos.

    Recentemente, este mesmo grupo da Universidade Federal de Pernambuco

    desenvolveu um conjunto de simuladores (figura 2.13) com diferentes massas, idades e

    sexos. Estes novos modelos foram feitos usando recursos computacionais avanados que

  • 41

    possibilitam trabalhar com modelagem de superfcie e geometria complexa utilizando

    superfcies mesh. As definies de superfcie 3D permitem que as massas dos rgos possam

    ser ajustadas para combinar com as recomendaes da ICRP 89 para os indivduos de

    referncia.

    Figura 2.12. Simuladores FASH (A) e MASH (B) construdos com base em superfcie mesh (CASSOLA e col.,

    2010).

    Figura 2.13. Conjunto de simuladores antropomrficos de diferentes sexos, idades e massas corpreas (CASSOLA

    e col., 2011).

    2.6 Grandezas dosimtricas gerais e especficas utilizadas neste estudo

    Existem dois tipos de grandezas de radiao: as grandezas que descrevem o feixe de

    radiao em si (fluncia e fluncia energtica) e outras que descrevem a quantidade de energia

    depositada no tecido ou matria por um feixe de radiao (kerma, dose absorvida e dose

    equivalente) (KNOLL, 2000; ATTIX, 1986).

  • 42

    2.6.1 Fluncia e fluncia energtica

    A fluncia () uma grandeza fsica que caracteriza um campo de radiao e pode ser

    descrita especificando-se o nmer