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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE
PRÓ-REITORIA DE PÓS-GRADUAÇÃO E PESQUISA
NÚCLEO DE PÓS-GRADUAÇÃO
EM
DESENVOVIMENTO E MEIO AMBIENTE
NÍVEL MESTRADO
Alba Vivian Amaral Figueiredo
Percepção Ambiental na Gestão da Bacia Hidrográfica - O Olhar do Comitê
da Bacia Hidrográfica do Rio Sergipe
Março/2011
São Cristóvão – Sergipe
Brasil
2
Alba Vivian Amaral Figueiredo
Percepção Ambiental na Gestão da Bacia Hidrográfica - O Olhar do Comitê da Bacia
Hidrográfica do Rio Sergipe
Dissertação apresentada como requisito parcial para a obtenção
do título de Mestre, pelo Núcleo de Pós-Graduação em
Desenvolvimento e Meio Ambiente da Universidade Federal de
Sergipe.
Orientador: Prof. Dr. Paulo Sérgio Maroti
Março/2011
São Cristóvão – Sergipe
Brasil
3
FICHA CATALOGRÁFICA ELABORADA PELA BIBLIOTECA CENTRAL
UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE
F475P
Figueiredo, Alba Vivian Amaral
Percepção ambiental na gestão da bacia hidrográfica: olhar
do Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio Sergipe / Alba
Vivian Amaral Figueiredo. – São Cristóvão, 2011.
198 f.: il.
Dissertação (Mestrado em Desenvolvimento e Meio
Ambiente) – Núcleo de Pós-Graduação em Desenvolvimento
e Meio Ambiente, Programa Regional de Desenvolvimento e
Meio Ambiente, Pró-Reitoria de Pós-Graduação e Pesquisa,
Universidade Federal de Sergipe, 2011.
Orientador: Prof. Dr. Paulo Sérgio Maroti
1. Gestão ambiental. 2. Proteção ambiental. 3. Bacia
Hidrográfica. 4. Rio Sergipe. I. Título.
CDU 556.51(813.7)
4
Alba Vivian Amaral Figueiredo
Percepção Ambiental na Gestão da Bacia Hidrográfica - O Olhar do Comitê da Bacia
Hidrográfica do Rio Sergipe
Dissertação de Mestrado apresentada por Alba Vívian Amaral Figueiredo em 16 de março de
2011 pela banca examinadora constituída pelos doutores:
BANCA EXAMINADORA
______________________________________________________
Paulo Sérgio Maroti
Universidade Federal de Sergipe
______________________________________________________
Darluce da Silva Oliveira
Universidade do Estado da Bahia
______________________________________________________
Maria Augusta Mundim Vargas
Universidade Federal de Sergipe
5
Este exemplar corresponde à versão final da Dissertação de Mestrado em Desenvolvimento e
Meio Ambiente.
_______________________________________________
Paulo Sérgio Maroti
Universidade Federal de Sergipe
Orientador
6
É concedida ao Núcleo responsável pelo Mestrado em Desenvolvimento e Meio Ambiente da
Universidade Federal de Sergipe permissão para disponibilizar, reproduzir cópias desta
dissertação e emprestar ou vender tais cópias.
________________________________________________
Alba Vívian Amaral Figueiredo
Universidade Federal de Sergipe
Autora
________________________________________________
Paulo Sérgio Maroti
Universidade Federal de Sergipe
Orientador
7
Ofereço este trabalho:
Aos meus pais do Céu:
Deus Pai que tudo fez para nós “seres vivos” e seus filhos e nossa Mãe Maria, com seu amor
de mãe intercedendo e protegendo.
Aos meus pais da Terra:
Mainha e Painho os amores da minha vida, razão de toda a minha busca, meu porto seguro.
Aos meus irmãos Tony e Liony, que sempre protegeram a irmã caçula e com os quais vivi e
vivo os melhores momentos de minha vida, amo vocês.
8
AGRADECIMENTOS
Agradeço a todos aqueles que, direta ou indiretamente contribuíram para a elaboração deste
grande mosaico.
Em especial agradeço:
Primeiramente a Deus que me deu a vida e me protege em todos os momentos.
A Nossa Senhora Maria que me deu conforto e carinho.
A minha família que amo tanto tios e primos principalmente aos meus pais José Ottoni e
Lindiomar, e irmãos Tony e Liony por todo apoio e amor concedidos incondicionalmente,
pela torcida e energias positivas.
Ao meu orientador Paulo que mesmo sem me conhecer me aceitou, que depois de
desencontros nos encontramos, e aos poucos fui conseguindo conhecer, entender e admirar a
cada dia. Um artista que se disfarça de professor ou é o contrário? A você que no seu ritmo me
guiou nessa caminhada, o meu muito obrigado!
A professora Darluce pessoa que acreditou em mim, sempre bem humorada incentivando a
todos, exemplo de mulher, profissional, mãe e amiga. Muito obrigada!
Aos meus amigos PRODEMA com os quais pude conviver, conhecer, compartilhar
sentimentos e aprender um pouco com cada um em sua individualidade Neuma, Karina,
Carla, Felipe, Míria, Sheyla, Mércia, Osmundo, Helô, Andréa.
A Edinilson o famoso Edy! Meu amigo lindo que amo, meu conselheiro me recebendo
sempre com seu sorriso e abraço gostoso. Eita negão quanta saudade!
9
A toda secretaria PRODEMA com a professora Maria José e seu zelo de mãe. Dona Julieta
sempre carinhosa, amiga e companheira dos almoços no RESUN. Najó com sua alegria
contagiante, “de lua às vezes”. Aline delicada e engraçada, nunca faltava apelido para um de
nós. Nataniel e nossas conversas sem fim...
Ao professor Adauto pelo aprendizado, dicas, muitas risadas, quando eu treinava para ser
professorinha.
A toda turma de Biologia da UFS, com a qual fiz o estágio docência, obrigada pelo primeiro
até o último dia de aula, me diverti, ensinei e aprendi com vocês, obrigada principalmente
pela amizade e carinho.
A Sr. Amaral muito mais que motorista um companheiro de viagens muito divertido e
prestativo, pessoa a qual pude contar durante meus trabalhos de campo.
A Comunidade Católica Shalom, meu refúgio espiritual, onde encontrei amigos que serão
pra sempre Flávia, Ruth, Wilda, Leila, Iasmim, Fábio, Michel, Evandro. “Amigos pra
sempre, bons amigos que nasceram pela fé. Amigos pra sempre, para sempre amigos sim se
Deus quiser” (Anjos de Resgate).
A Bárbara e Juciana que me receberam em sua casa logo que cheguei em terras
desconhecidas.
Ao Comitê de Bacia Hidrográfica do Rio Sergipe, em especial aqueles que tive a
oportunidade de conhecer um pouco mais Alessandra, Ângela, Jackson, Ailton, Paulo
Feitosa, Cristiano, Manoel Messias, Edmilson.
Ao grupo do Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio Sergipe que participou desse estudo,
com o qual obtive experiências lindas e contrastantes.
A Superintendência de Recursos Hídricos do Estado de Sergipe que sempre me recebeu e
auxiliou nos trabalhos em especial a Ailton, Fátima, João Paulo e Sérgio.
10
A FAPITEC que ofereceu subsídios para que pudesse permanecer no Estado de Sergipe e
realizar meus estudos com tranqüilidade.
A todo o corpo técnico do PRODEMA dando suporte para que o trabalho fluísse
principalmente aos professores, “alguns” dos quais me ensinaram como ser uma pessoa de
bem e ética.
Aos professores Hélio Mário e Maria Augusta a estas duas pessoas que me receberam com
“olhos de descoberta” muito obrigada!
Ao Vinícius e Max que me ajudaram em traduções e viagem em campo.
A Universidade Federal de Sergipe que me recebeu de portas abertas.
A banca examinadora composta por Paulo Sérgio Maroti, Darluce da Silva Oliveira, Maria
Augusta Mundim Vargas, Paulo Henrique Carneiro Marques e Hélio Mário Araújo
obrigada pelas contribuições ao trabalho.
11
“Ignorar a ritualidade da vida é o mesmo que quebrar o seu
encanto. Fazemos isso o tempo todo. Nossas pressas
contemporâneas não nos permitem demoras. Estamos sempre
atrasados. Mas o rito nos pede calma. Nasce o impasse. De
alguma forma temos que ceder. Ou entramos no ritmo do rito, ou
o ignoramos. E dessa forma plantamos o futuro. Vez em quando
eu me deparo com colheitas infelizes. Pessoas que descobriram
que a pressa não valeu a pena. Correram atrás do mundo que
estava distante, mas se esqueceram de viver o mundo que estava
sob seus pés.”
Fábio de Melo
12
RESUMO
A degradação ambiental que a Bacia Hidrográfica do Rio Sergipe vem sofrendo ao longo das
últimas décadas é o principal motivo deste trabalho, neste contexto, percebe-se a importância
socioambiental do Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio Sergipe, responsável pela gestão
participativa e descentralizada dos recursos hídricos. A partir, de observações presenciais
durante as reuniões do Comitê, objetivando compreender o funcionamento deste, foi possível
sinalizar algumas dificuldades enfrentadas entre estrutura física e apoio logístico até a efetiva
realização de uma gestão participativa do Comitê como conselho gestor. Para melhor
compreender a realidade desse órgão gestor e de seus membros, foi realizado um estudo em
percepção ambiental, correspondendo ao “pano de fundo” em busca da análise e interpretação
da realidade em termos de relações dos gestores com a Bacia Hidrográfica do Rio Sergipe.
Frente ao impasse que se estabelece, o trabalho propôs em responder a seguinte questão: A
percepção ambiental dos segmentos que compõem o Comitê da Bacia do Rio Sergipe se dá de
que forma, levando-se em consideração a diversidade sócio-econômico-culturais com
diferentes papeis sociais dos atores envolvidos? O objetivo da pesquisa consistiu em verificar
a percepção ambiental dos segmentos que compõem o Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio
Sergipe em relação ao seu objeto de gestão. A pesquisa se fundamenta nas bases teórico-
conceituais da percepção ambiental, análise de conteúdo e estatística descritiva. Na pesquisa
da percepção foram usadas as técnicas de entrevista semi-estruturada, Jogo das Percepções,
questionário de caracterização dos sujeitos e análise de Atas elaboradas durante as Plenárias
na gestão 2008/2010 do Comitê. Nos diversos aspectos investigados foram evidenciadas
diferenças de percepções inter e intra segmentos. Com esse estudo foi possível examinar
como as percepções são diferenciadas, mas ao mesmo tempo comportam uma ligação
subjetiva entre si. Afirmamos que investigar perceptivamente todo um grupo é fazer recortes
interpretativos do mosaico de possibilidades que venham a existir dentro dele. Concluímos
acreditando que uma investigação de percepção ambiental pode contribuir com o
entendimento mais contextualizado do ambiente, estimulando novas crenças e,
conseqüentemente hábitos de interação ambiental. A percepção ambiental pode contribuir
para a Educação Ambiental favorecendo a um trabalho de igualdade de condições entre as
partes trabalhadas.
Palavras-chave: Rio Sergipe; Comitê de Bacia Hidrográfica, Percepção Ambiental.
13
ABSTRACT
The environmental degradation that Sergipe River Basin has been experiencing over recent
decades is the main reason of this work, in this context, it is remarkable the socio and
environmental importance of the Sergipe River Basin Committee, responsible for participative
and decentralized management of water resources. From in loco observations during the
Committee meetings, in order to understand its functioning, it was possible to identify some
difficulties faced between physical infrastructure and logistical support to the effective
implementation of a participatory management of the committee as manager council. To
understand better the reality of this managing body and its members, a study on
environmental perception was carried out, corresponding to the "background" in search for
the analysis and interpretation of reality in terms of relationships between managers and the
Sergipe River Basin. Facing the impasse that is established, this work proposed to answer the
following question: The environmental perception of the segments that make up the Sergipe
River Basin Committee happens in what way, taking into account the socio-economic and
cultural diversity with different social roles of the involved actors? The research objective was
to verify the environmental perception of the segments that make up the Sergipe River Basin
Committee in relation to its management object. The research is based on theoretical and
conceptual foundations of environmental perception, content analysis and descriptive
statistics. On the research of perception were used semi-structured interview techniques,
Game of perceptions, characterization questionnaire of the subjects and analysis of the
minutes prepared during the Committee plenary of management 2008/2010. In the various
aspects investigated, differences in perceptions were evidenced within and among the
segments. With this study it was possible to examine how perceptions are different but at the
same time involve a subjective connection among them. We affirm that to investigate the
perception of a wholly group is to make interpretative clippings of the mosaic of possibilities
that may exist within it. We conclude believing that an investigation of environmental
perception may contribute to more contextualized understanding of the environment,
stimulating new beliefs and consequently habits of environmental interaction. The
environmental perception may contribute to Environmental Education favoring a work of
equality of conditions between the worked parts.
Keywords: River Sergipe; River Basin Committee; Environmental Perception
14
LISTA DE FIGURAS
Figura 3.1: Estado de Sergipe, territórios ocupados pela Bacia Hidrográfica do Rio
Sergipe (Fonte: SRH, 2009)----------------------------------------------------
59
Figura 3.2: Políticas públicas, tipos de planos, âmbitos geográficos e entidades
(fonte: adaptação BRASIL. MMA, SRH, 2006)----------------------------
65
Figura 3.3: Representação do Poder Público Estadual e Federal (participando em
duas gestões)---------------------------------------------------------------------
77
Figura 3.4: Representação do Poder Público Estadual e Federal (participando em
todas as gestões e freqüência nas gestões)-----------------------------------
77
Figura 3.5: Representação do Poder Público Municipal (participando pela primeira
vez e freqüência nas gestões)--------------------------------------------------
77
Figura 3.6: Representação do Poder Público Municipal (participando em todas as
gestões e freqüência nas gestões)----------------------------------------------
77
Figura 3.7: Representação de Usuários (participando pela primeira vez e
freqüência nas gestões)---------------------------------------------------------
78
Figura 3.8: Representação de Usuários (participando em todas as gestões e
freqüência nas gestões)---------------------------------------------------------
78
Figura 3.9: Representação da Sociedade Civil (participando pela primeira vez e
freqüência nas gestões)---------------------------------------------------------
78
Figura 3.10: Representação da Sociedade Civil (participando em todas as gestões e
freqüência nas gestões)---------------------------------------------------------
78
Figura 3.11: Modelo de percepção do meio ambiente (WHYTE, 1978)---------------- 80
Figura 3.12: Registro fotográfico em pontos da Bacia Hidrográfica do Rio Sergipe-- 85
Figura 3.13: Principais abordagens metodológicas (fonte: WHYTE, 1978)------------ 87
Figura 3.14: Pontos plotados na Bacia Hidrográfica do Rio Sergipe - Jogo das
Percepções------------------------------------------------------------------------
92
Figura 3.15: Características definidoras da Análise de Conteúdo (fonte: FRANCO,
2005)------------------------------------------------------------------------------
96
Figura 4.1: Sociedade Civil, participação durante as plenárias do Comitê de Bacia
Hidrográfica do Rio Sergipe - gestão 2008-2010---------------------------
112
Figura 4.2: Poder Público Estadual e Federal, participação durante as plenárias do
Comitê de Bacia Hidrográfica do Rio Sergipe - gestão 2008-2010-------
113
15
Figura 4.3: Poder Público Municipal, participação durante as plenárias do Comitê
de Bacia Hidrográfica do Rio Sergipe - gestão 2008-2010----------------
113
Figura 4.4: Usuários – Empresas e Indústrias, participação durante as plenárias do
Comitê de Bacia Hidrográfica do Rio Sergipe - gestão 2008-2010-------
114
Figura 4.5: Poder Público Estadual e Federal, freqüência durante a gestão 2008-
2010-------------------------------------------------------------------------------
118
Figura 4.6: Poder Público Municipal – Executivo e Legislativo freqüência durante
a gestão 2008-2010--------------------------------------------------------------
119
Figura 4.7: Usuários – Empresas e Indústrias, freqüência durante a gestão 2008-
2010-------------------------------------------------------------------------------
119
Figura 4.8: Sociedade Civil, freqüência durante a gestão 2008-2010------------------ 120
Figura 4.9: Modelo de investigação do sistema de percepção para a Bacia
Hidrográfica do Rio Sergipe (adaptação de Whyte, 1978)-----------------
171
16
LISTA DE TABELAS
Tabela 3.1: Principais culturas da Bacia Hidrográfica do Rio Sergipe, segundo a
área plantada 1996, 2000, 2004 e 2008-----------------------------------
69
Tabela 3.2: Estabelecimentos por Sub Setor da Indústria e Construção Civil na
Bacia do Rio Sergipe (%) – 1996, 2000, 2004 e 2008------------------
70
Tabela 3.3: Estabelecimentos por Sub Setor de Comércio e Serviços na
Bacia do Rio Sergipe (%) – 1996, 2000, 2004 e 2008------------------
70
Tabela 3.4: Trabalhadores por Sub Setor de Comércio e Serviços na
Bacia do Rio Sergipe (%) – 1996 a 2008---------------------------------
71
Tabela 4.1: Presenças e Intervenções------------------------------------------------------- 116
17
LISTA DE QUADROS
Quadro 2.1: Quadro 2.1: Visão histórica das formas de utilização dos recursos
hídricos em diferentes períodos e por países desenvolvidos e pelo
Brasil (Fonte: TUCCI, HESPANHOL E CORDEIRO NETTO, 2003).
------------------------------------------------------------------------------------
42
Quadro 2.2: Escala da participação cidadã. ---------------------------------------------- 48
Quadro 3.1: Municípios que compõem a Bacia Hidrográfica do Rio Sergipe
(fonte: IBGE CIDADES, 2010)------------------------------------------
57
Quadro 3.2: Unidades de Conservação presentes na Bacia Hidrográfica do Rio
Sergipe---------------------------------------------------------------------------
72
Quadro 3.3: Instituições que fazem parte do Comitê da Bacia do Rio Sergipe na
gestão 2008 a 2010------------------------------------------------------------
74
Quadro 3.4: Atribuições dos membros do Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio
Sergipe --------------------------------------------------------------------------
75
Quadro 3.5: Imagens utilizadas no Jogo das Percepções (fonte: própria Autora)---- 93
Quadro 4.1: Dados de características pessoais dos sujeitos----------------------------- 101
Quadro 4.2: Ocupação e/ou profissão e faixa de renda---------------------------------- 102
Quadro 4.3: Naturalidade-------------------------------------------------------------------- 103
Quadro 4.4: Entidades, associações ou movimentos sociais que participa------------ 104
Quadro 4.5: Titulação no Comitê de Bacia Hidrográfica do Rio Sergipe------------- 105
Quadro 4.6: Imagens apresentadas aos entrevistados no Jogo das Percepções
(paisagem com perfil de vegetação exuberante e imagens
paisagísticas). Relatos dos diferentes segmentos amostrados na
pesquisa-------------------------------------------------------------------------
126
Quadro 4.7: Imagens apresentadas aos entrevistados no Jogo das Percepções
(paisagens de poluição do ar, hídrica e do solo). Relatos dos
diferentes segmentos amostrados na pesquisa-----------------------------
130
Quadro 4.8: Imagens apresentadas aos entrevistados no Jogo das Percepções
(paisagens com ausência de mata ciliar). Relatos dos diferentes
segmentos amostrados na pesquisa------------------------------------------
134
18
Quadro 4.9: Imagens apresentadas aos entrevistados no Jogo das Percepções
(paisagens de assoreamento). Relatos dos diferentes segmentos
amostrados na pesquisa-------------------------------------------------------
137
Quadro 4.10: Imagens apresentadas aos entrevistados no Jogo das Percepções
(paisagens de impactos causados pelas construções humanas).
Relatos dos diferentes segmentos amostrados na pesquisa---------------
141
Quadro 4.11: Imagens apresentadas aos entrevistados no Jogo das Percepções
(paisagens de barramentos no Rio). Relatos dos diferentes segmentos
amostrados na pesquisa-------------------------------------------------------
144
Quadro 4.12: Imagens apresentadas aos entrevistados no Jogo das Percepções
(paisagens de manutenção da mata ciliar). Relatos dos diferentes
segmentos amostrados na pesquisa------------------------------------------
145
Quadro 4.13: Relação de imagens fotográficas apresentadas aos entrevistados e
reconhecidas como paisagens de ambiente rural--------------------------
147
Quadro 4.14: Relação de imagens fotográficas apresentadas aos entrevistados e
reconhecidas como paisagens de ambiente urbano------------------------
149
Quadro 4.15: Relação de respostas positivas ou negativas referente as paisagens
pertencerem a Bacia Hidrográfica do Rio Sergipe por segmento e por
origem (pertencente ao estado de Sergipe e de outro estado)------------
151
Quadro 4.16: Relação de imagens escolhidas pelos entrevistados como paisagens
de impacto ambiental----------------------------------------------------------
153
Quadro 4.17: Relação de imagens escolhidas pelos entrevistados como paisagens
de não impacto-----------------------------------------------------------------
156
Quadro 5.1: Caracterização perceptiva do sistema de estudo do segmento Poder
Público Federal e Estadual----------------------------------------------------
176
Quadro 5.2: Caracterização perceptiva do sistema de estudo do segmento Poder
Público Municipal-------------------------------------------------------------
176
Quadro 5.3: Caracterização perceptiva do sistema de estudo do segmento
Usuários-------------------------------------------------------------------------
176
Quadro 5.4: Caracterização perceptiva do sistema de estudo do segmento
Sociedade Civil-----------------------------------------------------------------
177
Quadro 5.5: Dificuldades encontradas no Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio
Sergipe e medidas mitigadoras-----------------------------------------------
179
19
LISTA DE SIGLAS
ABES /SE Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental do Estado de
Sergipe
ACPR-STOS Associação dos Produtores Rurais de Santo Isidoro
ADEMA Administração Estadual do Meio Ambiente
AJAMAM Associação de Jovens Ambientalistas de Malhador
APPPI/Jacarecica Associação de Pequenos Produtores do Perímetro Irrigado Jacarecica I
ASMANE/SOC. Associação Socorrense de Mariscultores Naturais e Ecológicos
ASA Associação Sergipana de Aqüicultura
CBH Comitê de Bacia Hidrográfica
CBHSE Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio Sergipe
CODISE Companhia de Desenvolvimento Industrial e de Recursos Minerais de
Sergipe
COHIDRO Companhia de Desenvolvimento de Recursos Hídricos e Irrigação de
Sergipe
CONERH Conselho Estadual de Recursos Hídricos
CREA Conselho Regional de Engenharia, Arquitetura e Agronomia
DESO Companhia de Saneamento de Sergipe
FAFEN Fábrica de Fertilizantes Nitrogenados
GPS Global Positioning System
IBAMA Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais
Renováveis
IFET Instituto Federal de Ciência Educação e Tecnologia
MMA Ministério do Meio Ambiente
OSCATMA/BC Organização Sócio Cultural Amigos do Turismo e do Meio Ambiente da
Barra dos Coqueiros
SAAE/SC Serviço Autônomo de Água e Esgoto de São Cristóvão
SEPLANTEC Secretaria de Estado do Planejamento e da Ciência e Tecnologia
20
SRH Superintendência de Recursos Hídricos
SEMARH Secretaria de Estado de Meio Ambiente e dos Recursos Hídricos
SEPLAN/SE Secretaria do Planejamento e Desenvolvimento de Sergipe
SEPLANTEC Secretaria do Planejamento, Habitação e do Desenvolvimento Urbano
SEINFRA Secretaria de Estado da Infraestrutura de Sergipe
SEAGRI/SE Secretaria da Agricultura, Irrigação e Reforma Agrária do Estado de
Sergipe
UFS Universidade Federal de Sergipe
21
SUMÁRIO
CAPÍTULO 1. INTRODUÇÃO-------------------------------------------------------------- 26
1.1. Apresentação do tema ---------------------------------------------------------------------- 26
1.2. Objetivos ------------------------------------------------------------------------------------- 32
1.2.1. Objetivo geral------------------------------------------------------------------------------ 32
1.2.2. Objetivos específicos---------------------------------------------------------------------- 32
1.3. Justificativa e motivação-------------------------------------------------------------------- 32
1.3.1. Aspectos pessoais-------------------------------------------------------------------------- 32
1.3.2. Aspectos organizacionais----------------------------------------------------------------- 33
1.3.3. Aspectos sociais--------------------------------------------------------------------------- 34
1.3.4. Aspectos acadêmicos---------------------------------------------------------------------- 35
1.4. Estrutura do trabalho------------------------------------------------------------------------ 35
CAPÍTULO 2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA ---------------------------------------- 37
2.1 A Bacia Hidrográfica como unidade de gerenciamento--------------------------------- 37
2.2. Modelos de gestão dos recursos hídricos------------------------------------------------- 40
2.2.1. Modelo francês de gestão dos recursos hídricos-------------------------------------- 43
2.3. Gestão participativa e governança da água----------------------------------------------- 44
2.4. A gestão participativa sob a ótica da percepção ambiental----------------------------- 47
CAPÍTULO 3. METODOLOGIA------------------------------------------------------------ 56
3.1. Caracterização da pesquisa----------------------------------------------------------------- 56
3.2. Caracterização do sistema de estudo - Bacia Hidrográfica do Rio Sergipe---------- 56
3.2.1. Composição física da Bacia Hidrográfica do Rio Sergipe--------------------------- 57
3.3. Sistema de utilização pelo ser humano--------------------------------------------------- 63
3.3.1. Sistemas legais----------------------------------------------------------------------------- 63
3.3.2. Sistemas sócio-econômico-culturais---------------------------------------------------- 67
3.4. Atores sociais da pesquisa e amostra------------------------------------------------------ 73
3.4.1. Atores sociais------------------------------------------------------------------------------- 73
3.4.2. Sistema de amostra------------------------------------------------------------------------ 76
3.5. Elaboração dos instrumentos para coleta e análise de dados--------------------------- 81
22
3.5.1. Registro fotográfico em pontos da Bacia Hidrográfica do Rio Sergipe
observando suas condições ambientais---------------------------------------------------------
83
3.5.2. Construção, teste, aplicação e análise dos instrumentos de coleta de dados
questionário do perfil sócio-profissiográfico, Jogo das Percepções e entrevista semi-
estruturada-----------------------------------------------------------------------------------------
86
3.5.2.1. Questionário do perfil sócio-profissiográfico--------------------------------------- 87
3.5.2.2. Jogo das Percepções-------------------------------------------------------------------- 88
3.5.2.3. Entrevista semi-estruturada------------------------------------------------------------ 94
CAPÍTULO 4. APRESENTAÇÃO, ANÁLISE DESCRITIVA E DISCUSSÃO
DOS RESULTADOS----------------------------------------------------------------------------
99
4.1. Apresentação--------------------------------------------------------------------------------- 99
4.2. Análise descritiva e discussão dos resultados-------------------------------------------- 100
4.2.1. Características dos sujeitos e do grupo------------------------------------------------- 100
4.2.1.1. Características dos sujeitos do Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio Sergipe- 100
4.2.1.1.1. Dados pessoais------------------------------------------------------------------------ 100
4.2.1.1.2 Atividade profissional e faixa de renda--------------------------------------------- 102
4.2.1.1.3 Naturalidade---------------------------------------------------------------------------- 103
4.2.1.1.4 Entidades, associações ou movimentos sociais que participa-------------------- 104
4.2.1.1.5 Classificação quanto à titulação dentro do Comitê da Bacia Hidrográfica do
Rio Sergipe-----------------------------------------------------------------------------------------
105
4.2.2.1 Características do grupo----------------------------------------------------------------- 109
4.2.2.1.1 Processo participativo no Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio Sergipe------ 109
4.2.3.1 Experiência com a Bacia Hidrográfica do Rio Sergipe----------------------------- 121
4.2.3.1.1 Experiência sobre o local e objeto de estudo--------------------------------------- 123
4.2.3.1.2 Interação com a área de estudo ------------------------------------------------------ 146
4.2.3.1.3 Experiência ambiental individual e coletiva --------------------------------------- 151
4.2.4. Caracterização perceptiva do sistema de estudo--------------------------------------- 158
4.2.4.1. Identidade do sistema de estudo------------------------------------------------------- 159
4.2.4.2. Significado do sistema de estudo------------------------------------------------------ 163
4.2.4.3. Escolha de usos para o sistema de estudo-------------------------------------------- 165
CAPÍTULO 5. CONSIDERAÇÕES FINAIS--------------------------------------------- 173
5.1. Considerações finais------------------------------------------------------------------------- 173
5. 2. Recomendações----------------------------------------------------------------------------- 177
REFERÊNCIAS --------------------------------------------------------------------------------- 181
APENDICES E ANEXOS--------------------------------------------------------------------- 190
23
APENDICE
Apêndice A: Caderneta de campo------------------------------------------------------------- 190
Apêndice B: Entrevista semi-estruturada do perfil sócio-profissiográfico-------------- 191
Apêndice C: Jogo das Percepções------------------------------------------------------------- 194
Apêndice D: Entrevista semi-estruturada----------------------------------------------------- 196
Apêndice E: Carta de apresentação de projeto de pesquisa ao Comitê da Bacia
Hidrográfica do Rio Sergipe---------------------------------------------------
197
Apêndice F: Registro fotográfico em pontos da Bacia Hidrográfica do Rio Sergipe-- 198
24
ANEXO
Anexo A:
Ata da XXXII Reunião Ordinária de eleição e posse do CBH-Rio Sergipe, gestão
2008/2010----------------------------------------------------------------------------------------
198
Ata da XXXIII Reunião Ordinária do CBH-Rio Sergipe, gestão 2008/2010----------- 198
Ata da VIII Reunião Extraordinária do CBH-Rio Sergipe, gestão 2008/2010---------- 198
Ata da IX Reunião Extraordinária do CBH-Rio Sergipe, gestão 2008/2010------------ 198
Ata da X Reunião Extraordinária do CBH-Rio Sergipe, gestão 2008/2010------------- 198
25
CAPÍTULO 1
INTRODUÇÃO
O sol enche de cintilações a copa do coqueiral,
desliza sobre a água clara do rio,
joga um manto de luz sobre a onda do mar,
envolve em um complexo luminoso as casas e as igrejas,
as ruas e as praças, os morros e as praias [...].
O Rio Sergipe, é bem uma prova de que essa luz é variável e transitória.
Às vezes você notará, em suas águas, um tom verde,
Às vezes um tom azul,
às vezes um tom amarelo
como se aquela massa líquida estivesse incendiada,
ardendo em chamas.
Mário Cabral, 2002
26
CAPÍTULO 1 – INTRODUÇÃO
1.1 Apresentação do Tema
O Rio constitui uma paisagem natural e cultural que tem servido de referência para o
ser humano ao longo de toda a sua história. Como fonte de água, elemento vital e
indispensável, como meio de comunicação e existência, como marco territorial que percorre e
estrutura o espaço, como inspiração de poetas e pintores, como abrigo de uma rica
biodiversidade de fauna e flora, múltiplas são as dimensões que representam para os seres
vivos (SARAIVA, 1999; WWF-BRASIL, 2006).
Para acelerar o “progresso”, muitos rios foram modificados e encontraram pela frente
desmatamentos, queimadas, atividades extrativistas, agrotóxicos, construções de estradas e
obras hidráulicas, moradias irregulares e muito lixo. Em alguns casos, não é possível mais
reconhecer a sua forma e qualidade original (WWF-BRASIL, 2006).
O Brasil é um país de grandes contrastes, seja no que se refere à diversidade e à
riqueza dos recursos hídricos e naturais, ou no tocante aos aspectos socioculturais e
econômicos. Contudo, um aspecto comum às regiões hidrográficas brasileiras, a despeito de
apresentarem escassez ou farta disponibilidade natural de água, é a degradação de sua
qualidade, bem como alterações no regime hídrico e quantidade. Essas alterações decorrem do
crescimento demográfico, da falta de saneamento e da progressiva demanda originadas por
atividades econômicas nem sempre compatibilizadas com os princípios da sustentabilidade
ambiental (TUCCI, 2004; SILVA e PRUSKI, 2005; BRASIL. MMA, SRH, 2006).
Vista como estando à disposição para atender a necessidade humana e considerada
como renovável, abundante e infinita, a água é utilizada sem critérios, tanto como fonte de
despejo e diluição de dejetos, quanto como fonte de abastecimento com alto grau de
desperdício (SAITO, 2001). Em função desses problemas, a gestão de recursos hídricos vem
assumindo importância fundamental nas discussões técnico-científica, política e
socioeconômica, promovidas por agentes governamentais e da sociedade (MESQUITA e
SANTOS, 2006).
A crescente poluição dos corpos d’água despertou a consciência de que estes não têm
capacidade ilimitada de absorção e atenuação de impactos, devendo assim rever-se as práticas
de produção econômica atuais, de forma a assegurar a qualidade desses recursos. Além da
qualidade, a própria quantidade de água passou a ser objeto de preocupação, principalmente
CAPÍTULO 1 - INTRODUÇÃO
27
no que se refere às alterações em corpos d’água, ocasionando mudanças nos regimes fluviais e
pluviais bem como a extração descontrolada de água do lençol freático podendo provocar seu
esgotamento (BERLINCK, 2003).
Ricklefs (2003) escreve que qualquer desequilíbrio que leve à acumulação ou à
depressão de algum componente de um ecossistema é normalmente corrigido pelos processos
dinâmicos de automanutenção do ecossistema. Entretanto, Moraes e Ferraz (2002) discutem
que a utilização de recursos naturais tem um ritmo maior do que eles podem ser renovados
pelo sistema ecológico, sendo que, a geração de produtos residuais supera a capacidade de
integração ao ciclo natural de nutrientes, além disso, o sistema ecológico ainda tem que lidar
com os materiais tóxicos gerados pelo ser humano.
O comprometimento da capacidade suporte dos sistemas naturais de absorver os
impactos das modificações ambientais, tem como resultado negativo a degradação dos
recursos hídricos, atmosféricos e do solo, com riscos à qualidade de vida (PHILIPPI JR.,
2005). Reigota (2004) argumenta que o problema ambiental não está na quantidade de
pessoas que existe no planeta, mas sim no excessivo consumo dos recursos naturais, no
desperdício e na produção de artigos inúteis.
A prática de controle é uma preocupação crescente, representa uma mudança de
atitude vigorosa em relação à prática anterior de livre utilização desses recursos naturais,
trata-se de uma maior consciência ambiental (SAITO, 2001). Apesar dos esforços, são ainda
incipientes as ações voltadas para efetivar a integração da gestão de recursos hídricos com a
gestão ambiental, necessitando de uma programação mais ativa e com objetivos mais claros
de como deve ocorrer essa integração e em quais momentos (BRASIL. MMA, SRH, 2006).
A crise em torno da água reflete a crise de consciência da nossa civilização e do
modelo de “desenvolvimento” mundial atual, desigual, excludente e esgotante dos recursos
naturais. A degradação ambiental e as desigualdades sociais são verso e reverso de um mesmo
processo histórico, que tem como conseqüência a “insustentabilidade” da vida, do meio e das
sociedades humanas. No processo de construção de um novo modelo de gestão sustentável
dos recursos hídricos, o grande desafio é o de estabelecer uma relação de poder compartilhada
e descentralizada, criando oportunidades de participação social, construindo consensos,
dirimindo conflitos e pactuando a unidade na diversidade (BRASIL. SRH, MMA, 2006).
No âmbito federal, a Política Nacional de Recursos Hídricos foi instituída pela Lei n°
9.433, em 1997 (BRASIL. MMA, SRH, 2002), um dos fundamentos desta Lei determina que
o gerenciamento dos recursos hídricos deva ser realizado de forma descentralizada,
CAPÍTULO 1 - INTRODUÇÃO
28
participativa e integrada. A descentralização refere-se à adoção da Bacia Hidrográfica como
unidade regional de planejamento e gerenciamento das águas. A participação considera a
importância de órgãos governamentais e da sociedade civil no sistema de gerenciamento dos
recursos hídricos. A integração considera principalmente a qualidade e a quantidade das águas
a partir de ações que promovam os usos múltiplos desses recursos (JACOBI e
FRACALANZA, 2005).
Neste contexto, para enfrentar problemas como poluição, escassez e conflitos pelo uso
da água, foi preciso reconhecer a Bacia Hidrográfica como um sistema ecológico, que abrange
todos os organismos que funcionam em conjunto numa dada área. Entender como os recursos
naturais estão interligados e são dependentes, ou seja, quando o curso de um Rio é alterado
para levar esgotos para longe de uma determinada área, acaba por poluir outra. Da mesma
forma, a impermeabilização do solo em uma região provoca o escoamento de águas para
outra, que passa a sofrer com enchentes. Diante de exemplos como esses, tornou-se necessário
reconhecer na dinâmica das águas, que os limites geográficos para trabalhar o equilíbrio
ecológico têm que ser o da Bacia Hidrográfica, ou seja, o espaço territorial determinado e
definido pelo escoamento, drenagem e influência da água, do ciclo hidrológico na superfície
da Terra e não aquelas divisões políticas definidas pela sociedade, como municípios, Estados
e países, que não comportam a dinâmica da natureza.
Segundo Araújo (2006) a Bacia Hidrográfica se constitui numa unidade física bem
caracterizada, tanto do ponto de vista da integração, como da funcionalidade de seus
componentes. Oliveira (2006) afirma dizendo que esta mesma área seja considerada como um
sistema ecológico.
Na prática, a utilização do conceito de Bacia Hidrográfica consiste na determinação de
um espaço físico funcional, sobre o qual devem ser desenvolvidos mecanismos de
gerenciamento ambiental na perspectiva do desenvolvimento ambientalmente sustentável.
Neste sentido, as abordagens metodológicas utilizadas para estudar e gerenciar o espaço
físico, compreendido pela Bacia Hidrográfica, devem estar relacionadas às teorias modelo que
possam explicar, predizer e organizar adequadamente as informações úteis ao processo de
gestão ambiental (PIRES, SANTOS e DEL PRETTE, 2002).
Sendo a Bacia Hidrográfica a unidade territorial para a implementação da Política
Nacional de Recursos Hídricos, neste contexto, inserem-se os Comitês de Bacias
Hidrográficas compostos por representantes de órgãos e entidades públicas, representantes
dos municípios contidos na Bacia correspondente, os usuários das águas e representantes da
CAPÍTULO 1 - INTRODUÇÃO
29
sociedade civil (BRASIL. MMA, SRH, 2002).
O Estado de Sergipe apresenta uma densa malha hidrográfica, mas composta de Rios
pequenos, a exceção do Rio São Francisco, intermitentes e irregulares, dotados de pequena
utilidade para fins energéticos. Possuem suas nascentes e grande parte dos cursos médios,
insuficientes para suprimento permanente. No litoral, a influência das marés adentra vários
quilômetros, resultando num imenso volume de água com elevado grau salino. Essas
condições delimitam a carência e importância do recurso água para o Estado e para os
sergipanos (SERGIPE. SEPLANTEC, SRH, 2002).
Sergipe possui seis Bacias Hidrográficas as quais são: dos Rios São Francisco,
Japaratuba, Sergipe, Vaza Barris, Piauí e Real. A Bacia Hidrográfica do Rio Sergipe drena
aproximadamente 16,7% do Estado, correspondendo a 3.673 km2, limitando-se ao norte com
as Bacias dos Rios São Francisco e Japaratuba e, ao sul, com a Bacia do Rio Várzea Barris
(ROCHA, 2006). Seus principais afluentes pela margem esquerda são os Rios Pomonga,
Parnamirim, Ganhamoroba e Cágado; e, pela margem direita, os Rios Poxim, Sal, Cotinguiba,
Jacarecica, Morcego, Jacoca, Campanha, Lajes e Melancia (SERGIPE. SEPLANTEC, SRH,
2002).
A escolha dessa Bacia Hidrográfica fundamenta-se na relevância quanto ao contexto
político, econômico, social, cultural e ambiental para o Estado. Segundo Araújo (2007) o
desenvolvimento econômico da Bacia Hidrográfica do Rio Sergipe não ocorreu de forma
sustentável, comprometendo a qualidade de vida da população pela escassez hídrica e
degradação ambiental, que vem se intensificando pelo acelerado processo de urbanização,
lançamento de esgotos doméstico, ocupação desordenada do solo e concentração industrial.
Em decorrência desses problemas ambientais, não só na Bacia Hidrográfica do Rio
Sergipe como nas demais Bacias Hidrográficas presentes no Estado de Sergipe, foram
estabelecidos mecanismos de convivência entre usuários da água e a sociedade em geral,
resultando na Lei nº 3.870, de 25 de setembro de 1997 (GÓIS e ROCHA, 2006).
O Comitê de Bacia Hidrográfica ou como é chamado também de “Parlamento das
Águas” é um órgão colegiado que discute, em nome dos diversos grupos de interesse, os
assuntos relativos aos recursos hídricos, definem os rumos sobre o uso das águas e determina
a aplicação de recursos financeiros para garantir água em quantidade e qualidade. Seu
princípio básico da operacionalidade vai além da descentralização administrativa, visando à
promoção da cidadania, através da democratização das informações, estímulo à Educação
Ambiental, preservação das águas e intensificação do processo participativo da sociedade
CAPÍTULO 1 - INTRODUÇÃO
30
civil organizada. Deste modo, facilita a articulação direta entre poderes públicos e
comunidade envolvida (SERGIPE. SEPLANTEC, SRH, 2002).
O processo de instituição do Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio Sergipe foi iniciado
no ano de 2001 e em 2002 foi aprovado pelo CONERH - Conselho Estadual de Recursos
Hídricos do Estado de Sergipe, por meio da Resolução de nº 2 de 09 de abril de 2002,
oficializado pelo Decreto do Governo do Estado de nº. 20.778 de 21 de junho de 2002 e
publicado no Diário Oficial de nº. 24.060 de 25 de junho de 2002. Composto por quarenta e
oito membros entre titulares e suplentes, encontrando-se atualmente na quarta gestão
(SERGIPE. SEMARH, 2009).
A gestão das águas abrange de forma integrada os aspectos relativos à legislação,
interesses múltiplos e conflitantes de diferentes usuários, aspectos sociais e a irregularidade da
distribuição espacial e temporal de disponibilidades e demandas (SILVA e PRUSKI, 2005;
LANNA, 2006).
Flores e Misoczky (2008) discutem sobre algumas dificuldades observadas no modelo
participativo em Comitês de Bacia Hidrográfica os quais são: a falta de quórum das plenárias,
as pautas extensas, as atas que não são lavradas, a igualdade ou a falta dela na composição dos
conselhos, a fragilidade da representação institucional, a participação de atores com interesses
distintos no planejamento, a descontinuidade e descompromisso de alguns representantes, a
falta de apoio ou condições de participação para pessoas ou organizações realmente
interessadas, os diferentes níveis de informação e qualificação dos membros, o gigantismo da
estrutura de uns em contraste com a fragilidade e desorganização de outros.
A partir, desses problemas existentes no modelo de gestão participativa, Saito (2001)
argumenta que, para a efetividade desta negociação, todos os interessados nos recursos
hídricos da Bacia devam ter seus interesses representados e passíveis de discussão e
deliberação em igualdade de condições.
Frente ao impasse que se estabelece diante dessa problemática ambiental, estudos
sobre percepção ambiental são muito importantes, sendo que alguns problemas humanos
surgem de fenômenos que não podem ser estudados por um enfoque científico tradicional,
pois resultam de uma atividade perceptiva das pessoas em relação às condições ambientais
criadas por e para elas. Araújo (2008) em seu trabalho sobre conflitos sócio-ambientais
relacionados ao uso da água outorgada na Bacia Hidrográfica do Rio Japaratuba, utiliza a
percepção ambiental como metodologia, justificando que a percepção é parte do processo de
formação do conhecimento e, por conseguinte, do sistema de valores, em que o mundo é
CAPÍTULO 1 - INTRODUÇÃO
31
apreendido a partir dos processos perceptivos que registram e aferem significados à realidade
que se percebe tanto em nível social quanto individual.
Schmitt e Matheus (2005) argumentam que projetos que tratem da relação ser
humano-biosfera e gerenciamento dos ecossistemas devam incluir investigações de percepção
como parte integrante da abordagem interdisciplinar que estes projetos exigem, porque o
estudo da percepção ambiental auxilia no conhecimento das relações dos seres humanos com
o ambiente. Jesus (1993) utiliza o mesmo pensamento, escrevendo que a abordagem global
das questões ambientais demanda, portanto de teorias sociológicas e princípios ambientais
conjugados, capazes de tratar adequadamente as interações socioambientais.
O trabalho parte da premissa que os Rios e Bacias Hidrográficas constituem elementos
básicos e essenciais da estrutura do território e procura refletir sobre processos, recursos e
valores essenciais responsáveis pelo ordenamento desses sistemas. Na perspectiva
desenvolvida, a ênfase é posta no Rio como “espinha dorsal” ou “nervura” da estrutura
hidrológica do território, estrutura complexa que a atividade humana tende, geralmente, a
simplificar, reduzindo a diversidade dos sistemas naturais que dele dependem e,
concomitantemente, a sua riqueza intrínseca bem como a variedade estética que lhes está
associada.
Neste contexto, observa-se a necessidade de estudos de percepção ambiental para
melhor compreender a realidade do Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio Sergipe e de seus
membros. O estudo de percepção corresponderá a um “pano de fundo” em busca da análise e
interpretação da realidade em termos de relações, a partir de conceitos integradores, como o
de Bacia Hidrográfica.
Diante da problemática o trabalho propõe-se a responder a seguinte questão: A
percepção ambiental dos segmentos que compõem o Comitê da Bacia do Rio Sergipe se dá de
que forma, levando-se em consideração a diversidade sócio-econômico-culturais com
diferentes papeis sociais dos atores envolvidos?
Finalmente, a investigação do sistema de percepção dos membros do Comitê da Bacia
Hidrográfica do Rio Sergipe foi realizada numa perspectiva de se obter subsídios que
orientem metodologias de trabalhos educativos, voltados para a Educação Ambiental e gestão
dos recursos hídricos, apoiados no conhecimento das percepções de indivíduos pertencentes a
diferentes grupos sócio-econômico-culturais que exercem distintas influências sobre a Bacia
Hidrográfica do Rio Sergipe.
CAPÍTULO 1 - INTRODUÇÃO
32
1.2 Objetivos
1.2.1 Objetivo geral
O objetivo geral da pesquisa consistiu em verificar a percepção ambiental dos
segmentos que compõem o Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio Sergipe em relação ao seu
objeto de gestão.
1.2.2 Objetivos específicos
Caracterizar os membros entrevistados e o grupo que compõe o Comitê da Bacia
Hidrográfica do Rio Sergipe.
Realizar o registro fotográfico em pontos da Bacia Hidrográfica do Rio Sergipe
observando suas condições ambientais.
Descrever a experiência do grupo entrevistado em relação ao seu objeto de gestão.
Identificar a percepção de significado e identidade atribuídos ao objeto de gestão,
Bacia Hidrográfica do Rio Sergipe.
Identificar as escolhas de usos para o sistema de estudo – Bacia Hidrográfica do Rio
Sergipe.
1.3 Justificativa e motivação
1.3.1 Aspectos pessoais
A degradação ambiental que a Bacia Hidrográfica do Rio Sergipe vem sofrendo ao
longo das últimas décadas é o principal motivo de realização deste trabalho.
Esta Bacia apresenta grande concentração populacional abrigando mais de metade da
população do Estado de Sergipe, apresentando uma crescente irregularidade de abastecimento
de água, problemas de degradação dos recursos hídricos provocados por lançamento de
efluentes e contaminação por resíduos sólidos e desmatamento.
Partimos do pressuposto que o trabalho de percepção ambiental seja o início para uma
nova etapa na gestão dos recursos naturais da Bacia Hidrográfica do Rio Sergipe,
principalmente com utilização de imagens da área, como uma das formas de coleta de
CAPÍTULO 1 - INTRODUÇÃO
33
informações dos membros do Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio Sergipe. Estas
informações podem vir a diagnosticar deficiências presentes no Comitê, auxiliando na
construção futura de programas de Educação Ambiental, que venham a contribuir no
“funcionamento” da gestão participativa.
1.3.2 Aspectos organizacionais
Segundo informações de Góis e Rocha (2006) a Constituição Sergipana é bastante
completa no que diz respeito aos recursos hídricos, visto que já no seu art. 2º inclui, entre os
bens do Estado, as águas superficiais e subterrâneas. Nos artigos 7º e 9º insere, entre as
competências do Estado, a proteção do meio ambiente e dos recursos naturais, entre estes a
água.
A Lei Estadual nº 3.870, de 25 de setembro de 1997, da Política e do Sistema de
Gerenciamento de Recursos Hídricos, segue o padrão da Lei Nacional nº 9.433/97, indicando
a necessidade de adequações às peculiaridades do Estado de Sergipe, já que boa parte de seu
território está inserida na região do Semi-Árido.
O Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio Sergipe integra o Sistema Estadual de
Gerenciamento de Recursos Hídricos, conforme inciso II do art.34 da Lei Estadual nº
3.870/97, e se constitui em um órgão colegiado, com atribuições consultivas e deliberativas e
competência normativa, no âmbito da Bacia Hidrográfica do Rio Sergipe, instituído através
do Decreto Estadual nº 20.778 de 21 de junho de 2002. O objetivo principal do Comitê da
Bacia Hidrográfica do Rio Sergipe é o gerenciamento das águas da região, aprovar e
acompanhar a execução do Plano da Bacia Hidrográfica e a aplicação dos recursos financeiros
destinados à conservação, proteção e recuperação dos recursos hídricos, bem como conciliar
os conflitos pelo uso da água (SERGIPE. SEPLANTEC, SRH, 2002).
Compete ao Comitê de Bacia Hidrográfica do Rio Sergipe, atuar de forma articulada e
integrada com as entidades competentes do Sistema Nacional e Estadual de Gerenciamento de
Recursos Hídricos, com os municípios, com ONGs atuantes nas áreas educacional, ambiental
e de recursos hídricos, instituições de ensino e pesquisa, entidades privadas e entidades de
classe. As ações do Comitê de Bacia Hidrográfica do Rio Sergipe devem respeitar as
peculiaridades regionais referentes à organização institucional dos municípios, a participação
de entidades públicas e privadas, e as características do meio físico local.
CAPÍTULO 1 - INTRODUÇÃO
34
No entanto, segundo Carvalho (1998) apud Flores e Misoczky (2008) ainda que os
mais diversos atores socais, tanto na sociedade quanto no Estado, reivindiquem e apóie a
participação social, a democracia participativa, o controle social sobre o Estado, a realização
de parcerias entre Estado e a sociedade civil, trata-se apenas de uma “generalização do
discurso da participação, na medida em que participação, democracia, controle social, parceria
não são conceitos com igual significado para os diversos atores e têm, para cada um deles,
uma construção histórica diferente”.
É neste contexto da diversidade sócio-econômico-culturais com diferentes papeis
sociais dos atores envolvidos que se propõe o estudo, analisando a percepção ambiental
destes, observando o funcionamento do Comitê e sinalizando possíveis problemas que
venham a dificultar os trabalhos realizados.
1.3.3 Aspectos sociais
A análise do meio ambiente, a partir da Bacia Hidrográfica do Rio Sergipe, contribui
para o desenvolvimento de uma nova concepção no tratamento das questões sócio-ambientais;
serve de auxílio na tomada de decisões quanto a sua preservação e é fundamental para a
implementação de uma política de desenvolvimento sustentado.
Oliveira (2006) descreve que a necessidade de promover a recuperação ambiental e a
manutenção de recursos naturais escassos como a água, fez com que, a partir da década de 70,
o conceito de Bacia Hidrográfica passasse a ser difundido e consolidado no mundo. Para
enfrentar problemas como poluição, escassez e conflitos pelo uso da água, foi preciso
reconhecer a Bacia Hidrográfica como um sistema ecológico, que abrange todos os
organismos que funcionam em conjunto numa dada área e entender como os recursos naturais
estão interligados e são independentes.
Neste contexto, percebe-se a importância social do Comitê de Bacia para o
gerenciamento da Bacia Hidrográfica do Rio Sergipe, tendo este o papel de atuar na promoção
do gerenciamento participativo e descentralizado dos recursos hídricos, através da ação
integrada, envolvendo as entidades públicas e privadas atuantes na Bacia.
CAPÍTULO 1 - INTRODUÇÃO
35
1.3.4 Aspectos acadêmicos
Com a crescente degradação da Bacia Hidrográfica do Rio Sergipe, o estudo de
percepção ambiental dos membros do Comitê desta Bacia, dentro do Programa de Pós-
Graduação Strictu Sensu em Desenvolvimento e Meio Ambiente da Universidade Federal de
Sergipe é muito importante. Inicialmente, por ainda não terem sido realizados estudos de
percepção ambiental com o Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio Sergipe, que venham a
auxiliar no funcionamento deste. Por fim, a compreensão da percepção dos membros do
Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio Sergipe sobre a identidade com a Bacia Hidrográfica e o
significado do Rio Sergipe para estes, pode vir a proporcionar ações das mais diversas, tanto
através de estudos acadêmicos como através de políticas públicas. Desta forma, vindo a
auxiliar uma gestão mais efetiva da Bacia Hidrográfica em estudo, diminuindo problemas
sócio-ambientais ocorridos em seu entorno.
1.4. Estrutura do trabalho
A estrutura do trabalho se constitui em cinco capítulos descritos abaixo.
O primeiro Capítulo destinado à introdução com apresentação do tema, objetivos,
justificativa e motivação e por fim estruturação do presente assunto.
No segundo Capítulo aborda-se a fundamentação teórica iniciada pelo tema a Bacia
Hidrográfica como unidade de gerenciamento, modelos de gestão dos recursos hídricos,
gestão participativa e governança da água e a gestão participativa sob a ótica da percepção
ambiental.
No terceiro Capítulo é realizada a apresentação da metodologia iniciando com a
caracterização da pesquisa, caracterização do sistema de estudo, sistema de utilização pelo ser
humano, atores sociais da pesquisa e amostra finalizando com a elaboração dos instrumentos
para coleta e análise de dados.
No quarto Capítulo aborda-se a apresentação, análise descritiva e discussão dos
resultados.
O quinto Capítulo destina-se as considerações finais e recomendações.
CAPÍTULO 1 - INTRODUÇÃO
36
CAPÍTULO 2
FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
Sempre o homem a vida viu no rio refletida
pois incessante como o tempo o rio corre
e no mar que obstinamente busca finalmente encontra
se não a solução o esquecimento de quem morre
O rio dissimula em sua geografia a sua história
esconde nos acidentes naturais os seus conflitos e tragédias
O rio tem caprichos e é de humor instável
mas por que nasce e morre e respira entretanto
e tem a vida como o preço e o privilégio
o rio é humano e tanto e tão pouco como um homem
Ruy Belo, em Toda a Terra
37
CAPÍTULO 2 - FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
2.1 A Bacia Hidrográfica como a unidade de gerenciamento
Desde o surgimento das sociedades organizadas, o desenvolvimento de regiões
urbanizadas e rurais é definido de acordo com a disponibilidade das águas doces em sua
quantidade e qualidade. Para que o desenvolvimento sustentável e o intercâmbio entre regiões
com interesses comuns pela utilização da água fossem realizados, foi adotado o conceito de
Bacia Hidrográfica. Este conceito passou a ser difundido e consolidado no Brasil, a partir da
década de 70, devido à necessidade de promover a recuperação ambiental e a manutenção
desse recurso hídrico. No Estado de São Paulo as primeiras experiências surgiram em 1976,
na região metropolitana, com a criação do Comitê do Acordo firmado entre o Estado e o
Ministério de Minas e Energia (OLIVEIRA, 2006).
Para Tucci (1997) a Bacia Hidrográfica é caracterizada como uma área de captação da
água vinda da precipitação que faz convergir os escoamentos para um único ponto de saída, o
exutório, e a Bacia compõem-se basicamente de um conjunto de superfícies vertentes e de
uma rede de drenagem formada por cursos d água que confluem até resultar um leito único no
exutório.
Christofoletti (1980) refere-se à Bacia Hidrográfica simplesmente por uma área
drenada por um determinado rio ou por um sistema fluvial, ou geomorfologicamente por um
sistema aberto que recebe suprimento contínuo de energia através do clima reinante, e que
sistematicamente, perde através da água e dos sedimentos que a deixam. Santana (2003) adota
dois conceitos de acordo a área de captação da água, a Bacia Hidrográfica pode ser
denominada de Bacia de Captação, quando se tem a visão de que atua como coletora de águas
pluviais, ou Bacia de Drenagem, quando a visão é de atuar como uma área que está sendo
drenada pelos cursos d’água.
Com o aumento na demanda sobre os recursos hídricos e da experiência dos técnicos,
foi verificada a necessidade de incorporar os aspectos relacionados aos usos múltiplos da
água, isso porque as implicações sobre o uso dos recursos hídricos provêm de uma série de
fatores naturais, econômicos, sociais e políticos, sendo o recurso natural “água” o ponto de
convergência de um complexo sistema ambiental (PIRES, SANTOS e DEL PRETTE, 2002).
CAPÍTULO 2 - FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
38
Segundo Odum (2007) os campos, florestas, corpos de água e cidades ligados por um
sistema de riacho ou rio, por uma rede de drenagem subterrânea, interagem como uma
unidade integrativa tanto para o estudo como para a gestão. O conceito de Bacia Hidrográfica
ajuda a por em perspectiva muitos de nossos problemas e conflitos, demonstrando que, a
causa e as soluções da poluição da água não são encontradas olhando-se apenas a água, mas o
estudo das ações antrópicas danosas ao meio ambiente ocorridas em toda área da Bacia.
Os autores Pires, Santos e Del Prette (2002, p. 20) discutem que “a adoção da Bacia
Hidrográfica como unidade de gerenciamento representa uma estratégia, cuja, a perspectiva
mais ampla consiste em agregar valor á busca pelo desenvolvimento sustentável.” Eles
complementam dizendo que o uso da Bacia Hidrográfica como unidade de gerenciamento da
paisagem é mais eficaz porque:
... (i) no âmbito local, é mais factível a aplicação de uma abordagem que compatibilize
o desenvolvimento econômico e social com a proteção dos ecossistemas naturais,
considerando as interdependências com as esferas globais; (ii) o gerenciamento da
Bacia Hidrográfica permite a democratização das decisões, congregando as
autoridades, os planejadores e os usuários (privados e públicos) bem como os
representantes da comunidade (associações sócio-profissionais, de proteção ambiental,
de moradores etc.); (iii) permite a obtenção do equilíbrio financeiro pela combinação
dos investimentos públicos (geralmente fragmentários e insuficientes, pois o custo das
medidas para a conservação dos recursos hídricos é alto) e a aplicação dos princípios
usuário-pagador e poluidor-pagador, segundo os quais os usuários pagam taxas
proporcionais aos usos, estabelecendo-se, assim, diversas categorias de usuários
(PIRES, SANTOS e DEL PRETTE, 2002 p. 20).
Martins (2008) em seu trabalho intitulado de: “Sociologia da governança francesa das
águas” discute que na condição de referência internacional, principalmente em razão da
adoção da Bacia Hidrográfica como unidade de planejamento e gestão, o modelo francês tem
recebido reiteradamente leituras abstratas quanto ao seu significado efetivo em termos de
políticas públicas. O sentido desta abstração reside justamente nas iniciativas de interpretação
de seu desenvolvimento, exclusivamente com base em suas características técnicas mais
evidentes. Abstraído do conjunto de relações de poder que lhe conferem sentido concreto, a
gestão francesa por Bacias emerge como solução técnica aplicada à necessidade de
planejamento e uso sustentável das águas. E deste modo, segue sendo apresentada como
solução eminentemente técnica para a gestão racional das águas (MARTINS, 2008).
Uma importante vantagem da utilização da Bacia Hidrográfica como unidade de
gerenciamento é o fato de aproximar a população com os sistemas hídricos, proporcionando
maior envolvimento dos habitantes nos projetos e decisões referentes à água e também
propiciando uma visão mais focada nas condições naturais, valorizando os aspectos
CAPÍTULO 2 - FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
39
ambientais de um lugar. A adoção desse conceito para a conservação dos recursos naturais
está também relacionada à possibilidade de avaliar, em uma determinada área geográfica, o
seu potencial de desenvolvimento e a sua produtividade biológica, determinando as melhores
formas de aproveitamento dos mesmos, com o mínimo de impacto ambiental, ou seja, a sua
utilização de forma sustentável. Neste sentido como relata os autores Pires, Santos e Del
Prette (2002):
[...] as abordagens metodológicas utilizadas para estudar e gerenciar o espaço físico,
compreendido pela Bacia, devem estar relacionadas às teorias e modelos que possam
explicar, predizer e organizar adequadamente as informações úteis ao processo de
gestão ambiental (PIRES, SANTOS e DEL PRETTE, 2002 p. 21).
O principal desafio para o gerenciamento de uma Bacia Hidrográfica é englobar todas
as questões biofísicas e humanas que estão contidas na unidade ou são exteriores a ela, com
implicações significativas para a sua dinâmica, integrando as dimensões humanas, culturais,
sócio-econômicas, estéticas, e outras, que não são especialmente definidas.
Oliveira (2002, p. 134) propõe uma abordagem complexa e transdisciplinar, porque
“além das dimensões ecológicas, econômicas, sociais, culturais e políticas, permite
compreender também as dimensões afetivas, éticas, estéticas, poéticas e espirituais
envolvidas, mais do que passiveis de serem incorporadas – necessárias para uma educação
integral do ser humano”.
Para que a Bacia Hidrográfica seja reconhecida pela sociedade como uma unidade de
gerenciamento, adotando-a para tal atividade, ao invés de divisas entre municípios e estados, é
preciso uma mudança cultural e educativa com a sociedade. Como relata Oliveira (2006):
[...] para que isso aconteça é necessário selecionar e adotar áreas menores, a fim de
aproximar a população dos recursos naturais, vincular nos meios de comunicação o
estado que se encontra cada Bacia e as decisões firmadas pelo sistema de gestão e
incentivar a participação da população nos Comitês e nos projetos, para que possam
contribuir na elaboração de panoramas reais e soluções efetivas (OLIVEIRA, 2006, p.
19).
Conhecer as instituições que atuam numa Bacia Hidrográfica, seus atores, o papel
que desempenham e a sua área de competência é fundamental para que se possam
estruturar ações com vistas a auxiliar trabalhos voltados para os interesses comuns,
aglutinar anseios, e formular políticas públicas para o ambiente que levem em conta as
demandas e o contexto sociocultural das populações.
Martins (2008) escreve sobre a cientifização do processo político, ao separar as
relações de poder envolvidas no recorte das Bacias Hidrográficas, tornando-o assim uma
fórmula aparentemente técnica, contribui sobremaneira para a reafirmação de certos
CAPÍTULO 2 - FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
40
monopólios de competências. Amparados em tal experiência que o saber técnico das águas
reiterou sua identidade na relação “nós-eles”, opondo-se aos segmentos não-técnicos cuja
atuação deveria significar a democratização do aparato gestor (MARTINS, 2008).
Continuando com o autor acima, ele complementa criticando o modelo francês em
relação a essa cientifização, onde discute em relação à pluralidade de olhares sobre a gestão
de águas que o novo sistema pressupunha, a participação efetiva possuía limites pré-
estabelecidos, limites estes que se referiam ao próprio quadro do sistema gestor, desenhado
em grande medida pelos politécnicos. Isto porque a atuação deste grupo de profissionais na
elaboração das novas normas de regulação de uso e acesso à água também implicou na
criação de novos marcos para questão hídrica no país.
Com efeito, as inovações jurídicas implicam também em formas de nominação de
experiências e expectativas sociais. Estas nominações, ao fornecerem balizas para o
comportamento social, implicam também em relações de poder (MARTINS, 2008).
2.2. Modelos de gestão dos recursos hídricos
No Brasil, apesar do país contar com a maior disponibilidade hídrica do mundo, por
onde escoa cerca de 19% da água doce superficial do planeta, grande parte desses recursos
encontra-se na Região Amazônica, onde reside pequena parcela da população e a demanda
hídrica é muito baixa. No entanto, os locais mais críticos são onde há maior concentração
populacional e menor disponibilidade hídrica, nesses, a contaminação e a superexploração dos
corpos d’água são freqüentes, gerando prejuízos ao meio ambiente e ao ser humano, além de
conflitos entre usuários da água. No Brasil, são várias as regiões que apresentam algum tipo
de problema hídrico e, por isso, necessitam urgentemente da implementação de um sistema
eficaz de gestão de recursos hídricos (AGÊNCA NACIONAL DAS ÁGUAS, 2002).
Segundo Tucci, Hespanhol e Cordeiro Netto (2003) a gestão dos recursos hídricos no
Brasil passa por um cenário de transição institucional, esta análise demonstra que existe um
caminho muito longo ainda a ser desenvolvido, principalmente no campo institucional, que
passa por acordos entre os agentes da sociedade envolvidos na gestão da água.
A gestão dos recursos hídricos brasileira também se baseou em experiências
estrangeiras, como o modelo francês. Este modelo serviu de base para o modelo brasileiro
porque os resultados apresentados naquele país desde a sua formulação em 1964
demonstraram a eficiência de um modelo integrado e descentralizado (OLIVEIRA, 2006). Já
CAPÍTULO 2 - FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
41
Martins (2008) faz uma crítica a esse modelo integrado e descentralizado, discutindo sobre a
dominação territorial dos saberes politécnicos, onde, as relações de poder são sustentadas por
conjuntos distintos de hierarquias, desde a definição dos objetivos do novo aparato gestor, até
a regulamentação dos instrumentos da política de águas, na sociedade francesa.
O Quadro 2.1 compara o Brasil com os países desenvolvidos em relação ao
aproveitamento do recurso hídrico e faz um histórico desses acontecimentos, que iniciaram
após a Segunda Guerra Mundial, com um grande desenvolvimento econômico e a construção
de muitas obras hidráulicas, principalmente de geração de energia elétrica. Nessa época,
Países em desenvolvimento como o Brasil estavam na fase de inventariar seus recursos,
desenvolvendo a construção de obras hidráulicas de menor porte (TUCCI, HESPANHOL e
CORDEIRO NETTO, 2001)
Os modelos de gestão de recursos hídricos são ferramentas que norteiam toda a
política e os instrumentos necessários para executar a gestão, distinguindo em três fases que
deram características cada vez mais complexas aos modelos de gestão, permitindo uma
abordagem mais eficiente ao problema, os quais são: o modelo burocrático, o econômico-
financeiro e o sistêmico de integração participativa (OLIVEIRA, 2006).
Para interpretar a realidade brasileira, vários modelos de gestão de recursos hídricos
foram utilizados, criados e modificados através da história, chegando ao que atualmente
predomina. Após a utilização dos dois primeiros modelos brasileiros que demonstravam
deficiência em sua estruturação e funcionamento foi elaborado o modelo sistêmico de
integração participativa que contou com a contribuição do modelo francês de gestão das
águas.
O modelo sistêmico de integração participativa propôs: i) o planejamento estratégico
por Bacia Hidrográfica; ii) a tomada de decisões por deliberações e negociações; iii) e a
adoção dos instrumentos legais e financeiros. Tais ideais visam à promoção da democracia na
gestão das águas, e abordando formas de geração de recursos financeiros para a
implementação da sua gestão.
CAPÍTULO 2 - FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
42
Período
Países desenvolvidos
Brasil
1945-1960
Engenharia com
pouca
preocupação
ambiental
Uso dos recursos hídricos:
abastecimento, navegação,
hidroeletricidade, etc.
Qualidade da água dos rios.
Medidas estruturais de controle das
enchentes.
Inventário dos recursos hídricos.
Início dos empreendimentos
hidrelétricos e projetos de grandes
sistemas.
1960-1970
Início da pressão
Ambiental
Controle de efluentes.
Medidas não estruturais para
enchentes.
Legislação para qualidade da água
dos rios.
Início da construção de grandes
empreendimentos hidrelétricos.
Deterioração da qualidade da água
de rios e lagos próximo a centros
urbanos.
1970-1980
Controle
ambiental
Usos múltiplos.
Contaminação de aqüíferos.
Deterioração ambiental de grandes
áreas metropolitanas.
Controle na fonte de drenagem
urbana;
Controle da poluição doméstica e
industrial.
Legislação ambiental.
Ênfase em hidrelétricas e
abastecimento de água.
Início da pressão ambiental.
Deterioração da qualidade da água
dos rios devido ao aumento da
produção industrial e concentração
urbana.
1980-1990
Interações do
Ambiente
Global
Impactos climáticos globais.
Preocupação com conservação das
florestas.
Prevenção de desastres.
Fontes pontuais e não pontuais.
Poluição rural.
Controle dos impactos da
urbanização sobre o ambiente.
Contaminação de aqüíferos.
Redução do investimento em
hidrelétricas devido à crise fiscal e
econômica.
Piora das condições urbanas:
enchentes, qualidade da água.
Fortes impactos das secas do
Nordeste;
Aumento de investimentos em
irrigação.
Legislação ambiental.
1990-2000
Desenvolvimento
Sustentável
Desenvolvimento sustentável.
Aumento do conhecimento sobre o
comportamento ambiental causado
pelas atividades humanas.
Controle ambiental das grandes
metrópoles.
Pressão para controle da emissão de
gases, preservação da camada de
ozônio.
Controle da contaminação dos
aqüíferos das fontes não-pontuais.
Legislação de recursos hídricos.
Investimento no controle sanitário
das grandes cidades.
Aumento do impacto das
enchentes urbanas.
Programas de conservação dos
biomas nacionais: Amazônia,
Pantanal, Cerrado e Costeiro.
Início da privatização dos serviços
de energia e saneamento.
2000
Ênfase na água
Desenvolvimento da visão mundial
da água.
Uso integrado dos recursos hídricos.
Melhora da qualidade da água das
fontes não-pontuais: rural e urbana.
Busca de solução para os conflitos
transfronteriços.
Desenvolvimento do gerenciamento
dos recursos hídricos dentro de
bases sustentáveis.
Avanço do desenvolvimento dos
aspectos institucionais da água.
Privatização do setor energético.
Aumento de usinas térmicas para
produção de energia.
Privatização do setor de
saneamento.
Aumento da disponibilidade de
água no Nordeste.
Desenvolvimento de planos de
drenagem urbana para as cidades.
Quadro 2.1: Visão histórica das formas de utilização dos recursos hídricos em diferentes períodos e por países
desenvolvidos e pelo Brasil (Fonte: TUCCI, HESPANHOL E CORDEIRO NETTO, 2003)
CAPÍTULO 2 - FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
43
Pouco mais de 40 anos após sua criação, a atual estrutura francesa de governança das
águas ocupa posição de destaque no debate internacional sobre modelos de gestão dos
recursos naturais. A literatura especializada no tema da gestão ambiental, por sua vez, enfatiza
as virtudes do aparato francês de governança das águas com o princípio do poluidor-pagador,
dando base para a formulação dos princípios de valoração econômica da água (MARTINS,
2008).
2.2.1. Modelo francês de gestão dos recursos hídricos
Em 16 de dezembro de 1964, a primeira Lei sobre a água entra em vigor na França.
Lei formulada devido a questionamentos relacionados sobre a gestão setorial da água em
relação aos seus aspectos qualitativos, e sendo reconhecida como prioridade a proteção dos
ecossistemas e a emergência de um planejamento integrado (MATINS, 2008).
Segundo Oliveira (2006), a Lei formulada em 1964 é delineada em torno de três
grandes princípios: i) a unicidade dos recursos através de relações entre as águas superficiais e
subterrâneas, os aspectos quantitativos e qualitativos e as montantes e jusantes dos corpos
hídricos; ii) a interdependência e a solidariedade entre os usuários, com a criação dos
organismos de Bacia (as Agências e os Comitês de Bacia Hidrográfica); iii) o reconhecimento
do valor econômico da água pela aplicação do princípio poluidor pagador.
Duas idéias principais marcavam a Lei de 1964: a primeira, criar taxas de forma a
incitar os poluidores a reduzir os seus lançamentos e a cobrir as necessidades de infra-
estruturas coletivas, sendo chamada também de princípio do poluidor-pagador no instrumento
francês de cobrança pelo uso da água (redevances) (MARTINS, 2008). A segunda idéia
principal foi abrir a possibilidade de construir estabelecimentos públicos locais numa área
geográfica limitada a fim de aumentar os meios de intervenção. “Os Comitês e Agências de
Bacia foram criados pela Lei de 1964, e os seus limites territoriais foram fixados por razões
técnicas, mas também com influências de corpos técnicos (minas, pontes e a engenharia
rural)” (OLIVEIRA, 2006, p.28).
A coordenação administrativa do sistema de gestão dos recursos hídricos foi
estabelecida através da criação do Comitê Nacional de Águas, dos Comitês de Bacias e das
Agências Financeiras de Bacia, sendo estes dois últimos responsáveis pela gestão em nível
local.
CAPÍTULO 2 - FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
44
Os Comitês de Bacia foram compostos pela representação paritária da administração
central, das coletividades locais e de diferentes categorias de usuários. Os Comitês assumiram
o status de parlamento das águas, tendo como função primordial avaliar os conflitos no uso e
acesso à água, baseado nos termos na nova legislação nacional sobre o domínio do recurso e
os esforços para o combate à sua poluição (GLEIZES,1987 apud MARTINS, 2008).
As Agências de Bacia possuíam um papel técnico na realização das metas
estabelecidas pelos Comitês de Bacia, compostas de corpos técnicos e de um conselho de
administração, com metade dos membros indicada pelo governo central e metade eleita pelo
Comitê de Bacia.
As Agências têm como função realizar estudos qualitativos e quantitativos relativos
aos recursos hídricos, centralizando os estudos e os programas de intervenção na escala da
Bacia. Contudo, seu papel central é de ordem financeira, posto que estivessem habilitadas por
lei para a definição dos valores e para a cobrança das redevances. Elemento central do novo
aparato gestor, as redevances constituem-se em um valor monetário cobrado dos usuários de
água que reflete a escassez relativa do recurso quanto os custos da degradação gerada
privadamente (MARTINS, 2008).
Na estrutura organizacional da França, é o Ministério da Ecologia e do
Desenvolvimento Sustentável que coordena as intervenções do Estado no domínio de água,
em articulação com outros ministérios (Saúde, Agricultura e Floresta, Equipamento, Indústria,
Interior...), através de órgãos que permeiam as ações dos demais. O Comitê Interministerial
para o Meio Ambiente assegura a arbitragem entre as diferentes partes e a Direção da Água
atua com a participação de uma série de organismos e comissões exercendo as competências
transversais (OLIVEIRA, 2006).
2.3. Gestão participativa e governança da água
O Brasil mudou de uma gestão institucionalmente fragmentada, para uma legislação
integrada e descentralizada, principalmente com a edição da Lei Federal no 9.433, em 8 de
janeiro de 1997, e a criação da Agência Nacional de Águas – ANA. Esta reorganização do
sistema de gestão de recursos hídricos, além de mudar qualitativamente, substituindo práticas
profundamente arraigadas de planejamento tecnocrático e autoritário, devolve o poder para as
instituições descentralizadas de Bacia, o que demanda um processo de negociação entre os
diversos agentes públicos, usuários e sociedade civil organizada (JACOBI, 2010).
CAPÍTULO 2 - FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
45
A gestão de Bacias Hidrográficas assume crescente importância no Brasil, à medida
que aumentam os efeitos da degradação ambiental sobre a disponibilidade de recursos
hídricos. Em termos da evolução das políticas públicas no Brasil, observam-se importantes
avanços no setor de recursos hídricos ao longo dos últimos vinte anos.
A Lei 9.433/97 propõe uma política participativa e um processo decisório aos
diferentes atores sociais vinculados ao uso da água, dentro de um contexto mais abrangente
das atribuições do Estado, do papel dos usuários e do próprio uso da água. Fortalece a gestão
descentralizada de cada Bacia Hidrográfica pelos respectivos comitês, subcomitês e agências,
e instituiu a cobrança pelo uso do recurso como um dos principais instrumentos de atuação
destes órgãos.
A legislação estabelece como fundamento que a água é dotada de valor econômico,
utilizando a cobrança pelo uso dos recursos hídricos, como forma de administrar a exploração
dos recursos hídricos federais e estaduais para a geração de fundos que permitam
investimentos na preservação dos próprios rios e Bacias. Provoca também um maior rigor no
controle sobre os efluentes despejados nos rios, se baseando no conceito de usuário-pagador,
no qual incluem todos os que utilizam recursos naturais para a produção industrial, sua
comercialização e consumo.
A efetivação do processo de gestão em Bacias Hidrográficas, ainda é embrionária e a
prioridade dos organismos de Bacia centra-se na criação dos instrumentos necessários para a
gestão. Segundo Jacobi (2005, p.01) “o sistema de gestão de recursos hídricos, tanto no Brasil
como internacionalmente, rompe com práticas profundamente arraigadas de planejamento
tecnocrático e autoritário, devolvendo poder para as instituições descentralizadas de Bacia”.
A Agência Nacional das Águas (2002), Jacobi (2010) e Martins (2008) discutem sobre
o termo “governança”, este que representa um enfoque conceitual que propõe caminhos
teóricos e práticos alternativos que façam uma real ligação entre as demandas sociais e sua
interlocução ao nível governamental.
Segundo Jacobi (2010) o termo governança é geralmente utilizado para a inclusão de:
[...] leis, regulação e instituições, mas também se refere a políticas e ações de governo,
a iniciativas locais, e a redes de influência, incluindo mercados internacionais, o setor
privado e a sociedade civil, que são influenciados pelos sistemas políticos nos quais se
inserem (JACOBI, 2010, p. 72).
CAPÍTULO 2 - FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
46
O termo é reforçado pela Agência Nacional de Águas (2002), tendo como
argumentando:
[...] a questão da governança está estreitamente relacionada com a continuidade
administrativa, ou seja, com a capacidade de que se devem dotar os sistemas de gestão
para que estes não sofram, sob quaisquer cenários, solução de continuidade. O aspecto
que mais preocupa os gestores e técnicos do setor é o que se refere às organizações de
governo. Conforme se sabe, nas passagens de um quatriênio ao seguinte, quando
acompanhada de mudança de quadros, sobretudo quando há alternância política, é
comum que os administradores públicos recém empossados alterem substancialmente
os rumos traçados pela administração anterior. Isto é tanto mais verdadeiro em países
subdesenvolvidos e em desenvolvimento, e menos naqueles que já alcançaram
patamares elevados de desenvolvimento (Agência Nacional de Águas, 2003, p. 09).
O modelo brasileiro de gestão hídrica vai se tornando resistente às mudanças de rumo
que a administração pública costuma fazer, sendo auxiliado pelo Comitê de Bacia
Hidrográfica que é formado por representantes das três esferas de poder, dos usuários dos
recursos hídricos e os representantes da sociedade civil organizada, encarregados de tomar
decisões sobre os destinos da Bacia Hidrográfica. Como reforço ao papel de independência de
que se deve revestir o Comitê, os períodos de gestão deste devem ser desencontrados em
relação aos dos governos, ou seja, enlaçados com estes, com isso evitando-se a
descontinuidade administrativa no âmbito da Bacia, promovendo, daí, as condições de
governança (AGÊNCIA NACIONAL DE ÁGUAS, 2002).
É relevante considerar que, quanto maior for a participação da sociedade civil em um
Comitê de Bacia, tanto maior será a probabilidade de governança nessa Bacia. O debate atual
sobre o setor de planejamento e gestão dos recursos hídricos, refletindo o que se discutiu em
Haia no II Fórum Mundial da Água e Conferência Mundial de Ministros de Meio Ambiente,
realizado nos Países Baixos em março de 2000, entre outros aspectos muito valorizou a
questão da governança para a gestão do uso dos mananciais nos diversos países que praticam
a gestão de recursos hídricos (AGÊNCIA NACIONAL DE ÁGUAS, 2002).
Uma das grandes dificuldades desse modelo participativo é obter a representação de
todos os interesses e interessados, já que no Brasil a sociedade não possui tradição de
participação e tem um grande segmento de excluídos do mundo letrado e da vida cultural e
econômica. Perante a cobiça de grupos com forças desiguais, é preciso lembrar que, para que
esta negociação se torne efetiva todos os envolvidos nos recursos hídricos da Bacia devam ter
suas representações passíveis de discussão e deliberação em igualdade de condições (SAITO,
2001).
CAPÍTULO 2 - FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
47
Jacobi (2005, p. 02) reforça argumentando que para a superação das assimetrias de
informação é necessário que:
Estas experiências que denominamos inovadoras fortalecem a capacidade de
crítica e de interveniência dos setores de baixa renda através de um processo
pedagógico e informativo de base relacional, assim como a capacidade de
multiplicação e aproveitamento do potencial dos cidadãos no processo
decisório dentro de uma lógica não cooptativa (JACOBI, 2005, p. 02).
Neste debate muitos indivíduos desconhecem o próprio direito de participar e
confrontar suas demandas por recursos hídricos com outras demandas. De todos os
representantes, as comunidades locais são as mais frágeis, geralmente composta pelos
segmentos sociais menos favorecidos (BERLINK, 2003). A fim de viabilizar a plena
participação da sociedade é preciso assegurar que todos compreendam o debate, de tal modo
que tenham capacidade para participar dele, avaliar as demandas dos demais usuários frente
às suas e tomar as decisões no âmbito do Comitê com consciência e conhecimento de causa
sobre o teor dos argumentos e das avaliações técnicas trazidas.
Neste aspecto, o papel da Educação Ambiental é fundamental no processo, não
consistindo apenas na questão da tomada de consciência, mas também do ponto de vista da
instrumentalização técnica para fundamentar o agir coletivo, possibilitando a transformação
dos indivíduos envolvidos, promovendo a dimensão reflexiva antes da dimensão ativa e
comportamental, onde desenvolvam o seu poder de captação e de compreensão do mundo.
2.4. A gestão participativa sob a ótica da percepção ambiental
Os impactos das práticas participativas na gestão, apesar de controversos, apontam
para uma nova qualidade de cidadania, que institui o cidadão como criador de direitos para
abrir novos espaços de participação sociopolítica. São muitas as barreiras que precisam ser
superadas para multiplicar iniciativas de gestão que articulem eficazmente a democracia com
a crescente complexidade dos temas.
A reflexão em torno da gestão participativa centra-se no fortalecimento do espaço
público e na abertura da gestão pública para a participação da sociedade civil, visando à
elaboração de suas políticas públicas, e na sempre complexa e contraditória
institucionalização de práticas participativas inovadoras que marcam rupturas com a dinâmica
predominante, ultrapassando ações de caráter utilitarista e clientelista (JACOBI e
FRACALANZA, 2005).
CAPÍTULO 2 - FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
48
Flores e Misoczky (2008), em seu estudo discutem sobre o processo participativo em
Comitês, eles verificam a existência da participação em grupos e organizações que
representam a sociedade civil, bem como uma efetiva influência dos mesmos nas decisões do
Comitê, o que pode ser observado também com os usuários da água.
Arnstein (1998) apud Flores e Misoczky (2008) trabalham com a escala de
participação cidadã, estabelecida através de degraus, onde os primeiros (manipulação e
terapia) não existe a participação; os três degraus seguintes (informação, consulta e
pacificação) sugerem níveis em que acontece uma “política do menor esforço”; a partir, do
sexto degrau (parceria) ocorre o empoderamento do cidadão (Quadro 2.2).
Escada da Participação Cidadã
8. Controle pelo cidadão
Cidadãos responsáveis pelo planejamento, pela política, assumindo a gestão em
sua totalidade, sem intermediários.
7. Delegação de poder
Cidadãos ocupando a maioria dos assentos nos Comitês, com poder delegado para
tomar decisões. Nesse caso o público tem poder para assegurar as contas do
programa para si.
6. Parceria
Poder distribuído por uma negociação entre cidadãos e detentores do poder. O
planejamento e as decisões são divididos pelos Comitês.
5. Pacificação
O cidadão começa a ter um certo grau de influência nas decisões, podendo
participar dos processos de tomada de decisão, entretanto, não existe a obrigação
dos tomadores de decisão de levar em conta o que ouviram.
4. Consulta
Caracterizado por pesquisas de participação, reuniões de vizinhança etc. Segundo
os autores, serve somente como fachada, não possui muita implicação prática.
3. Informação
Informar as pessoas sobre seus direitos, responsabilidades e opções. Entretanto,
trata-se de um fluxo de informação somente de cima para baixo.
2. Terapia
Os técnicos de órgãos públicos se escondem atrás de Conselhos e Comitês
participativos para não assumir erros cometidos por eles e diluir a
responsabilidade.
1. Manipulação
Tem como objetivo permitir que os atores sociais que conduzem o processo
possam educar as pessoas. Manifesta-se em conselhos onde os conselheiros não
dispõem de informações, conhecimento e assessoria técnica independente
necessária para tomar decisões por conta própria.
Quadro 2.2: Escala da participação cidadã (fonte: Arnstein, 1998).
CAPÍTULO 2 - FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
49
Demo (2001) considerado como um dos autores brasileiros mais preocupados com o
tema da participação na perspectiva da emancipação, antídoto contra a tendência histórica de
dominação e exclusão social que caracteriza nossa sociedade, discute sobre a pobreza política
dizendo que:
Colocar a questão da pobreza política será estranho para muitos, porque
somente reconhecemos nela o eco material. Pobre é o faminto. É quem habita
mal ou não tem onde habitar. É quem não tem emprego ou recebe
remuneração abaixo dos limites da sobrevivência.
Não estamos habituados a considerar como pobre a pessoa privada de sua
cidadania, ou seja, que vive em estado de manipulação, ou destituída da
consciência de sua opressão, ou coibida de se organizar em defesa de seus
direitos. O escravo incorpora com nitidez as duas formas de pobreza: é pobre
materialmente, porque não tem liberdade para se auto-determinar (DEMO,
2001, p. 09).
Neste trecho o autor acima explica sobre a pobreza política no sentido de demonstrar o
processo de conquista e organização da cidadania. Não ter e não ser, as duas formas de
pobreza, há quem tenha muito, e não é nada, como há quem seja muito, sem nada ter.
Prosseguindo com o autor, a participação é conquistada, no processo histórico, juntamente
com as condições de autodeterminação, que não podem ser dadas, outorgadas ou impostas.
Uma participação atribuída representa, para esse autor, um conceito paternalista que, no
fundo, representa uma “antiparticipação”.
Teixeira (2007) trabalha a participação a partir de quatro dimensões:
Participação no processo de tomada de decisão – se refere à tomada de decisões no
Estado e como isso acontece, ao sujeito e ao processo decisório. Quanto ao sujeito, define
quem são os atores por elites tecnicamente preparadas e selecionadas via processo eleitoral ou
cidadãos, de forma direta ou por mecanismo que permita sua expressão e deliberação. Quanto
ao processo, é verificado se a seleção implica apenas na escolha dos decisores, delegando a
eles total liberdade de ação, ou se é mais objetiva envolvendo critérios e elementos de
decisão.
Dimensão educativa e integrativa do processo de participação – a capacitação para a
participação política é gerada pela própria prática ou experiências pessoais rotineiras em que
se adquirem habilidades e procedimentos democráticos. Trata-se do tipo de participação dos
movimentos sociais, ONGs e grupos de cidadãos, capaz de sedimentar um sentimento maior
de identidade e integração.
Participação como controle público - a participação é um instrumento de controle do
Estado pela sociedade, esse entendimento de controle público tem dois aspectos básicos: o
CAPÍTULO 2 - FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
50
primeiro corresponde à accountability, ou seja, a prestação de contas conforme parâmetros
estabelecidos socialmente em espaços públicos próprios; o segundo, decorrente do primeiro,
consiste na responsabilização dos agentes políticos pelos atos praticados em nome da
sociedade, conforme os procedimentos estabelecidos nas leis e padrões éticos vigentes. O
exercício desse controle requer a organização, estruturação e capacitação da sociedade civil
em múltiplos espaços públicos, antes e durante a implementação das políticas, tendo como
parâmetros variáveis técnicas, exigências de eqüidade social e aspectos normativos.
Dimensão expressivo-simbólica da participação - essa dimensão aborda formas de
participação que não se voltam para o institucional, embora suas ações possam ter
desdobramentos e impactos nesse âmbito. Os mecanismos de participação utilizados para esse
fim são específicos e diversificados, muitos resultantes da criatividade e da não-submissão aos
padrões estabelecidos, indo de forma leve e lúdica, como o abraço de milhares de pessoas em
um local que se quer preservar, às mais agressivas, como o fechamento de uma rua, uma
greve de fome, protestos, entre outros (TEIXEIRA, 2007).
Todos os argumentos expostos acima discutem sobre as formas de participação, sejam
elas ocorridas na sociedade civil organizada, em conselhos gestores ou mesmo em Comitês de
Bacia Hidrográfica, explanando como acontece, a realização de críticas referente ao modo de
participação para a manipulação da sociedade civil, enfim alguns aspectos que esclarecem
como o termo participação tem sido utilizado ultimamente.
Retomando o foco na participação nos Comitês de Bacia Hidrográfica, Magalhães Jr.
(2001) argumenta que:
Como organismos de gestão das águas nos quais a democracia representativa
vem auxiliar o rompimento de décadas de gestão estatal centralizada
(refletindo igualmente o histórico do sistema político do país), os Comitês
não podem perpetuar vestígios do sistema que eles visam justamente
combater e inovar. Sabendo-se que nem todo consenso é democrático, e que
nem toda decisão é justa, cabe, portanto, aos Comitês realizar continuamente
um trabalho de preparação, educação e informação de seus integrantes, que
evite ou minimize problemas derivados do desequilíbrio de forças internas,
como arranjos locais ou setoriais que possam defender interesses próprios
acima do interesse comum de melhoria da qualidade ambiental das Bacias e,
conseqüentemente, da qualidade de vida dos cidadãos (MAGALHÃES JR.
2001, p. 04).
CAPÍTULO 2 - FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
51
O funcionamento dos Comitês geralmente se realiza com base em discussões e
decisões objetivas (considerando o tempo necessário para a análise e discussão das complexas
questões que envolvem a gestão das águas de uma Bacia), a referida preparação e informação
dos representantes deve se realizar nas reuniões preparatórias para as reuniões principais, nas
quais ocorrem os votos e deliberações (MAGALHÃES JR. 2001).
Os riscos e desafios que os Comitês de Bacia Hidrográfica têm passado para a
adequação da gestão participativa como forma de inserção da sociedade civil ilustra a
necessidade de atenção ao processo decisório, cujas raízes e consolidação de princípios devem
ser bem preparados e instalados, a fim de evitar o surgimento e possível agravamento das
referidas "deformações" internas, como dito, o controle das informações é a garantia do poder
das decisões.
Neste contexto da inserção e horizontalização do conhecimento frente às discussões e
deficiências encontradas na gestão participativa em Comitê de Bacia, onde são representados
sociedade civil, usuários e poder público federal e estadual. Consideramos o indivíduo como
sujeito e objeto do conhecimento, percebendo, reagindo e respondendo diferentemente às
ações sobre o ambiente em que vive. As respostas ou manifestações daí decorrentes são
resultado das percepções (individuais e coletivas), dos processos cognitivos, julgamentos e
expectativas de cada pessoa.
Whyte (1977, p. 02) faz o seguinte questionamento: “How does man, as an individual
or as part of a particular cultural group, perceive his environment”? Respondendo ao
questionamento diz que:
This question should be a fundamental consideration in all attempts to
understand the complex interrelationships between man and the biosphere.
Man's decisions and actions concerning his environment are based not only
on objective factors, but also on subjective ones: this is the underlying
principle of environmental perception research (WHYTE, 1978, p. 06).
Este argumento de Whyte (1978) é uma consideração fundamental para a compreensão
das relações entre o ser humano e a biosfera, sendo que as decisões e ações antrópicas
relativas ao seu ambiente são baseadas em fatores objetivos e subjetivos, como relata, este é o
princípio fundamental da investigação da percepção ambiental. Jesus (1993) diz que a análise
da percepção ambiental nos estudos das relações entre ser humano-ambiente é muito
importante, uma vez que contribui para a busca de uma relação harmônica dos conhecimentos
locais, do interior (ponto de vista de um indivíduo, uma coletividade, ou mesmo de uma
população no seu conjunto), com o conhecimento do exterior (abordagem científica
tradicional) enquanto instrumento educativo e agente de transformação.
CAPÍTULO 2 - FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
52
Jesus (1993) diz que projetos de pesquisa que tratem das relações ser humano-biosfera
e gerenciamento de ecossistemas, devem incluir os estudos sobre percepção como parte
integrante da abordagem interdisciplinar que estes projetos exigem.
Um estudo de percepção entre o ser humano e o meio ambiente reconhece que para
cada elemento há uma relação entre a biosfera, estes muitos elementos percebidos estão
relacionados a uma compreensão de formas, lugares e épocas diferentes a cada pessoa. O
homem toma decisões e pratica ações, com a visão dos seus elementos percebidos, mas do
que qualquer “conjunto de objetivos”. Dentro de uma determinada estrutura ou cultura, o
conhecimento científico diário também pode ser visto como mais formal e define o rigor dos
elementos relacionados à percepção ambiental (WHYTE, 1978).
Um objetivo importante da pesquisa baseada na percepção ambiental é fornecer uma
compreensão sistemática e científica observando de dentro para fora, a fim de complementar a
mais tradicional e externa abordagem científica. A vista do interior pode ser de um indivíduo,
de uma comunidade local, ou mesmo de toda uma população rural. A escala é menos
importante do que a relação entre os de dentro, e os tradicionalmente, no exterior. A vista de
dentro é caracterizada pela familiaridade de longa experiência, freqüentemente associada à
incapacidade de mudanças rápidas, é visto como personalizada e subjetiva. Em comparação, a
visão exterior associa-se com o desenvolvimento, ação e objetividade contra a tradição interna
e resistência a mudanças rápidas (WHYTE, 1978).
Dentro deste contexto citado acima Maroti e Santos (2004) trabalham a história oral
para analisar a percepção ambiental de antigos trabalhadores da Fazenda Jatahy, neste estudo
eles argumentam que:
[...] a adaptação de uma metodologia tradicionalmente usada na área das
Ciências Humanas junto com a da percepção ambiental, mostraram-se
apropriadas comprovando uma alternativa metodológica para a avaliação das
mudanças de percepção topofílicas1 ao longo do tempo; para a elaboração de
um Programa de Educação Ambiental junto a EEJ2; para o entendimento da
dinâmica sucessional do cerrado, dando subsídios para os estudos específicos
de fitofisionomia, regeneração e planejamento ambiental; para estimular
estudos que façam registro histórico e cultural da população do entorno e no
interior de unidades de conservação já criadas ou em vias de implantação, no
sentido de estabelecer diálogos que possam minimizar/atenuar conflitos e
para a valorização da cultura e da história popular local (MAROTI e
SANTOS, 2004, p. 196).
1 Topofilia, segundo Tuan (1980) o termo é um neologismo útil quando pode ser definido em sentido amplo,
incluindo todos os laços afetivos dos seres humanos com o meio ambiente material, ou seja, é o elo afetivo entre
a pessoa e o lugar ou ambiente físico. 2 Estação Ecológica de Jataí.
CAPÍTULO 2 - FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
53
É entendido que a percepção ambiental deve estar atenta e centrada nas inúmeras
diferenças relacionadas às percepções, aos valores existentes entre os indivíduos que
compõem o cenário. Dessa forma, as diversas culturas, grupos sócio-econômicos,
desigualdades e realidades irão influenciar diretamente na análise da percepção que se tem em
relação à conservação do meio natural.
Gomes (2009) trabalha a percepção ambiental como percurso para a análise das
relações cotidianas. Ela utilizou mapas mentais, entrevistas e observações em campo para o
estudo da percepção ambiental. Tomando como base que:
[...] a forma mais comum de interação entre o ser humano e o mundo provém
das sensações e percepções, assim é estabelecido o conhecimento sensível
sobre tudo que está à sua volta. A subjetividade humana, isto é, esse mundo
interno que possuímos e suas expressões, são constituídas nas relações
sociais, ou seja, surge do contato entre os seres humanos e destes com a
Natureza.
Já Wanderley e Menêzes (1996) trabalham com a percepção ambiental para o
entendimento do Sertão brasileiro por meio de obras literárias de Ariano Suassuna, Euclides
da Cunha e Guimarães Rosa, eles entrelaçaram corpos teóricos de percepção do meio
ambiente, análise do discurso e uma visão socioantrópológica da identidade. Segundo os
autores:
A metodologia de investigação empregada consolida a importância de
estudos inter e transdisciplinares, oportunos neste momento de reflexão pela
qual passa o conhecimento científico. Os resultados oferecem aos estudiosos
do meio ambiente e da literatura novas perspectivas, a partir, das obras de
Ariano Suassuna, Euclides da Cunha e Guimarães Rosa, além de ressaltar a
importância do entendimento do Sertão para a construção da identidade
nacional (WANDERLEY E MENÊZES, 1996, p. 173)
Para os autores acima, os conceitos de percepção do meio ambiente podem ser
encarados como concepções que rompem e suplantam a visão da geografia clássica, onde o
homem ficava separado da natureza e, conseqüentemente, a realidade era representada sob
dois ângulos: paisagem natural e paisagem sociocultural.
Jesus (1993) trabalha com diferentes grupos sócio-culturais na Estação Ecológica de
Jataí, descrevendo como eles percebem a estação ecológica sobre o olhar da percepção
ambiental para o planejamento e gerenciamento de unidades de conservação. Para ela a
percepção ambiental foi investigada em termos do reconhecimento da identidade, atribuição
de significado e caracterização de estrutura e escolha de usos para a Estação Ecológica, como
também escolha de usos para seu entorno, pelos grupos do entorno, dos funcionários, dos
pescadores, dos pesquisadores e pelo administrador.
CAPÍTULO 2 - FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
54
Em sua pesquisa Jesus (1993) utilizou como instrumentos de coleta de informações a
técnica de entrevista não padronizada associada a teste gráfico do mapa mental e
questionários de caracterização de sujeitos e grupos.
Como pode ser observado, são muitos os trabalhos que se utilizam da percepção
ambiental como instrumento de análise e interpretação das relações inter e intrapessoais e com
o meio ambiente. Os estudos de percepção ambiental têm demonstrado resultados
satisfatórios e completos, levando em consideração que as interações entre ser humano e
ambiente estão diretamente relacionados aos processos cognitivos, julgamentos, expectativas
e conduta de cada indivíduo.
Para Tuan (1980), os significados de percepção, de atitudes e de valores se superpõem
e se tornam claros no contexto expresso em cada um desses processos, a atitude assumida
perante o mundo é formada por longa sucessão de percepções e de experiências.
A percepção ambiental perpassa por todo o nosso trabalho, onde os autores “relatam
suas experiências” e reforçam sobre a necessidade de se estudar o subjetivo, o cognitivo e as
interações entre ser humano e meio ambiente. E, a partir, desses estudos seja possível refutar
ou não hipóteses, como também responder questionamentos que levaram a elaboração do
estudo.
Para a construção do nosso trabalho foram utilizados como referências base os
trabalhos de Whyte (1978) e Jesus (1993) que discutem sobre a utilização da percepção
ambiental em trabalhos de gestão do meio ambiente. E desta forma, demonstra a necessidade
de confronto harmônico entre os conhecimentos científico formal e o não convencional, com
base na percepção das populações envolvidas, para a formulação de propostas de manejo de
ambientes naturais sujeitos a pressões antrópicas.
CAPÍTULO 2 - FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
55
CAPÍTULO 3
METODOLOGIA
Há dez minutos que tenho os olhos postos
nas águas desta ribeira.
Na sua quietude
as folhas do salgueiro debruçado
refletem-se com tanta nitidez
que as duas realidades se confundem.
Mas a realidade da imagem tem maior conteúdo de sonho:
é mais real, portanto.
A água macia ao rodear cada seixo, redondo e polido,
enruga-se num sorriso.
Uma folha desprendida do aconchego do salgueiro
cai ao longo do espaço, rodopiando e descendo em espiral apertada,
e vem tocar, de manso, na preguiçosa superfície líquida.
sinto o prazer físico desse contato
no arrepio circular da pela da água.
A ribeira que flutua no céu,
a nuvem que desliza sobre os seixos,
os seixos em torno de que a água sorri,
o salgueiro de onde pendem e se desprendem lágrimas verdes,
tudo são momentos de momentos,
partículas de momentos.
Antônio Gedeão, Poema dos olhos na ribeira
56
CAPÍTULO 3 - METODOLOGIA
3.1. Caracterização da pesquisa
A pesquisa desenvolvida foi classificada sob o ponto de vista dos seus objetivos, como
pesquisa exploratória, visando proporcionar maior familiaridade com o problema tornando-o
explícito, uma vez que não há registros sobre qual é a percepção ambiental dos segmentos que
compõem o Comitê de Bacia Hidrográfica do Rio Sergipe em relação à Bacia Hidrográfica e
Rios gerenciados.
Considera-se também descritiva, à medida que alcança a obtenção e exposição de
dados representativos de determinada situação ou fenômeno. Nesse caso, descreve as
percepções, de forma estratificada, do grupo estudado.
Quanto aos meios de investigação ela é bibliográfica, de campo e documental.
Envolve levantamento bibliográfico, pois incorpora uma revisão de literatura sobre o tema,
subsidiando teoricamente as entrevistas com os segmentos e a análise dos dados. Envolve
trabalhos de campo, a partir, do momento da realização das entrevistas, acompanhamento de
reuniões com o grupo estudado e viagens a campo, descrevendo o ambiente, a partir, de
fotografias. É também estudo documental, os quais dão suporte à construção dos instrumentos
de coleta de dados e ampliação de conhecimento por parte do pesquisador ao grupo de estudo.
3.2. Caracterização do sistema de estudo - Bacia Hidrográfica do Rio Sergipe
O sistema de estudo compreendido pelas áreas da Bacia Hidrográfica do Rio Sergipe,
foi representado a partir de uma abordagem formal, através de uma representação
cartográfica.
As informações referentes ao sistema de estudo foram coletadas do Plano de Bacia
Hidrográfica do Rio Sergipe (2010, no prelo), material organizado pelo Consórcio Projetec, a
Secretaria de Estado do Meio Ambiente e dos Recursos Hídricos - SEMARH e a
Superintendência de Recursos Hídricos – SRH do Estado de Sergipe, para atender ao
Programa Nacional de Desenvolvimento dos Recursos Hídricos – PROÁGUA Nacional.
CAPÍTULO 3 - METODOLOGIA
57
3.2.1 Composição física da Bacia Hidrográfica do Rio Sergipe
A Bacia Hidrográfica do Rio Sergipe é constituída por 26 municípios, dentre os quais
oito possuem a totalidade de suas terras inseridas nesta Bacia, enquanto que 18 estão incluídos
de forma parcial, conforme Quadro 3.1. A capital do Estado também faz parte da Bacia
Hidrográfica do Rio Sergipe, o que evidencia uma densidade populacional significativa
em termos urbanos e a uma probabilidade maior de conflitos pelo uso de água nos mais
diversos setores.
OS 26 MUNICÍPIOS QUE COMPÕEM A BACIA HIDROGRÁFICA DO RIO SERGIPE
Municípios totalmente inseridos
Municípios Área da unidade territorial (Km²) População
Laranjeiras 162 26.903
Malhador 101 12.056
Moita Bonita 96 11.034
Nossa Senhora Aparecida 340 8.510
Nossa Senhora do Socorro 157 160.829
Riachuelo 79 9.351
Santa Rosa de Lima 68 3.752
São Miguel do Aleixo 144 3.702
Municípios parcialmente inseridos
Municípios Área da unidade territorial (Km²) População
Aracaju 182 570.937
Areia Branca 147 16.882
Barra dos Coqueiros 90 25.012
Carira 636 19.990
Divina Pastora 92 4.326
Feira Nova 185 5.325
Frei Paulo 400 13.854
Graccho Cardoso 242 5.648
Itabaiana 337 86.981
Itaporanga D Ajuda 740 30.428
Maruim 94 16.338
Nossa Senhora da Glória 756 32.514
Nossa Senhora das Dores 483 24.579
Ribeirópolis 259 17.163
Rosário do Catete 106 9.222
Santo Amaro das Brotas 234 11.389
São Cristóvão 437 78.876
Siriri 166 8.006
Quadro 3.1: Municípios que compõem a Bacia Hidrográfica do Rio Sergipe (fonte: IBGE CIDADES, 2011).
A Bacia Hidrográfica do Rio Sergipe drena aproximadamente 16,7% do Estado e
limita-se ao norte com as Bacias do São Francisco e Japaratuba, e ao sul, com a Bacia Vaza
Barris. O quadro climático predominante é o semi-árido, que envolve em torno de 58% da
CAPÍTULO 3 - METODOLOGIA
58
área total, enquanto que as regiões agreste e sub-úmida representam, respectivamente, 24% e
18%. Desse modo, as elevadas temperaturas contrastam com a extrema irregularidade na
distribuição espacial das chuvas.
Esta Bacia corta a parte central do Estado no sentido Sudeste - Noroeste, ocupando
parte dos territórios da Grande Aracaju, Agreste Central Sergipano, Leste Sergipano,
Médio Sertão e Alto Sertão como pode ser observado na Figura 3.1. Os solos podem ser
agrupados em função de sete unidades geomorfológicas principais: baixada litorânea,
superfícies terciárias muito dissecadas, superfícies terciárias dos baixos platôs costeiros,
bacia cretácea, superfícies cristalinas, superfícies de pediplanação e maciços residuais.
Compreendendo áreas nos biomas Caatinga (na região do Alto Rio Sergipe e parte
do Médio Rio Sergipe) e Mata Atlântica (Baixo Rio Sergipe). Nas áreas semi-áridas do
Alto Rio Sergipe, grandes extensões de terra se apresentam desmatadas, com pastagens
cultivadas dominando a paisagem onde a pecuária é a atividade mais importante.
As formações vegetais naturais da caatinga (savana-estépica) no Alto Rio Sergipe
são constituídas de três estratos como: herbáceo, com plantas até um metro de altura;
arbustivo com plantas até oito metros de altura; o arbóreo, com plantas entre 12 e 15
metros de altura (ARAÚJO et al., 2006 apud SERGIPE. CONSÓRCIO PROJETEC,
SEMARH, SRH, 2010, no prelo).
Para a caracterização da composição florística dos estratos, Franco (1983) apud
Sergipe. Consórcio Projetec, SEMARH, SRH (2010, no prelo) descreve em três estratos os
quais são:
Primeiro estrato - encontram-se espécies como a macambira (Bromelia laciniosa),
gramíneas e ervas como capim-amargoso (Andropogon), mata-pasto (Senna uniflora), salsa
(Ipomoea glabra), coroa-de-frade (Melocactus sp. bahiensis) entre outras.
Segundo estrato - destacam marmeleiro (Croton sp.), arranhento e juremas (Mimosa
sp), catinga-de-porco (Caesalpinia pyramidalis), jurubeba (Solanum auriculatum aiton) e
outras.
Terceiro estrato - ressalta a ocorrência de braúna (Schinopsis brasiliensis), aroeira
(Myracrodruon urudeuva), angico (Anadenanthera colubrina); umburana-de-cambão
(Commiphora leptophloeos), umbuzeiro (Spondias tuberosa arruda), juazeiro (Ziziphus
joazeiro), cedro (Cedrella sp.), barriguda (Chorisia ventricosa), pau ferro (Dialium
guianense) e mandacaru (Cereus jamacaru).
Figura 3.2: Bacia Hidrográfica do Rio Sergipe, territórios (modificado - SRH, 2009).
CAPÍTULO 3 - METODOLOGIA
59
Figura 3.1: Estado de Sergipe, territórios ocupados pela Bacia Hidrográfica do Rio Sergipe (Fonte: SRH, 2009).
CAPÍTULO 3 - METODOLOGIA
60
Em ambientes mais secos é observada a presença de xiquexique (Pilosocereus
piauhyensis), quixabeira (Sideroxylon obtusifolium), fumo-bravo (Nicotiana glauca) e pau
de leite (Sapium sp.).
Em áreas de transição como a floresta estacional, observa-se a Crataeva tapia (trapiá),
Ziziphus joazeiro (juazeiro) e Geoffrea spinosa (mari ou umari), espécies encontradas nas
matas ciliares de caatinga em outros locais do Nordeste. As espécies mencionadas indicam
que a composição das caatingas sergipanas encontra-se aparentemente com baixo grau de
endemismo e de ocorrência restrita a poucas áreas, já antropizadas.
As matas ciliares mais bem conservadas, nessa região, apresentam estrato arbóreo
variando de 6 a 12 metros, em pequenos fragmentos adensados nas margens de rios, com
predomínio de Lonchocarpus sericeus (ingazeira) e Poincianella pyramidalis
(Caesalpinia pyramidalis, catingueira), além de Erythrina velutina (mulungu), Ziziphus
joazeiro (juazeiro), Sideroxylum obtusifolium (quixabeira), Anadenanthera colubrina
(angico) e Triplaris sp.
Ainda no Alto Rio Sergipe, as áreas de preservação permanente do Rio Salgadinho
contam com poucos elementos arbóreos representados por Ziziphus joazeiro, Spondias
tuberosa, Jathropha ripifolia, Erythrina velutina, Poincianella pyramidalis, Mimosa
tenuiflora, Mimosa sp. e ainda Cereus jamacaru e a mamona (Ricinus comunis), espécie
exótica subespontânea em áreas com vegetação degradada. Esses locais com vegetação
ripária encontram-se geralmente ladeados por pastos e roçados de milho e de palma
forrageira.
A floresta estacional, decidual e semidecidual, originalmente presente no Agreste de
Sergipe, foi quase inteiramente substituída por pastagens e cultivos agrícolas, restando poucos
e pequenos fragmentos isolados. Há registros da ocorrência de Sclerolobium densiflorum,
Cariniana sp., Platymiscium floribundum, Plathymenia foliolosa, Caesalpinia echinata,
Eschweilera ovata, Sapindus saponaria, Ocotea sp., Psidium araca, Psidium spp.,
Centrolobium robustum, C. tomentosum, Cordia sp., Enterolobium ellipticum, Protium
heptaphyllum, Cedrella sp., Sloanea obtusifolia, Genipa americana, Myracrodruon
urundeuva, Hymenaea sp., Syagrus coronata, Bowdichia virgilioides, Byrsonima sericea,
Tabebuia roseo-alba, Licania tomentosa.Tabebuia chrysotricha, Erythrina mulungu, Crataeva
tapia, Ziziphus joazeiro e Geoffrea spinosa.
CAPÍTULO 3 - METODOLOGIA
61
O Médio Rio Sergipe no Parque Nacional Serra de Itabaiana e seu entorno
apresentam uma vegetação com características próprias, constituindo-se em complexo
vegetacional com elementos florísticos das florestas estacionais e umbrófilas, das
restingas e de cerrado, constituindo-se em prioridade para conservação e uso sustentável.
Pode-se observar a presença da espécie introduzida Clitoria fairchildiana (sombreiro, de
origem amazônica) em meio a vegetação nativa constituída de Genipa americana
(jenipapo, presente em praticamente todo território de Sergipe), Cupania paniculata,
Senna macranthera, Senna ciliata, Thyrsodium spruceanum, Casearia silvestre,
Himathanthus sp., Xylopia frutescens, Protium sp., Cordia nodosa, Byrsonima sericea,
Miconia ciliata, Buchenavia capitata, Guatteria sp., Clusia sp., Tapirira guianensis,
Cecropia sp., Jacaranda obovata, Anacardium occidentale, Curatella americana, Vellosia
sp., Heliconia sp., Hancornia speciosa, Miconia albicans, Tabebuia sp., Vochysia sp.,
Vismia guianensis, Crotolaria americana, Philodendron imbe, Bromelia sp., além de
várias palmeiras e pteridófitas.
Na região denominada de “areias brancas”, a vegetação é composta por espécies
características de restingas como Eisembeckia sp., Cocoloba sp., várias espécies de
Orchidaceae, vellosia sp., Chamaecrista syssoides, Manilkara sp., Vismia guianensis,
Kielmeyera rugosa, Ulmiria sp., Lafoensa sp., Cocos nucifera , a trepadeira Mandevilla
microphylla e Bromelia sp.
Nas proximidades do Rio Poxim na região do Baixo Rio Sergipe, a vegetação natural
restringe-se às áreas de preservação permanente, onde se observa a existência de cobertura
vegetal adensada em alguns pontos, muitas vezes invadida por espécies exóticas. A altura
média da vegetação é de 6m, encontrando-se Syzigium cumini, Clitoria fairchildiana, Sena
macranthera, Tapirira guianensis, Cecropia sp., Ptecelobium sp., Licania tomentosa, Inga
vera, Schinus terebinthifolia, Bromelia sp., Ricinus comunis, Bambusa sp. e jurubeba.
No Parque Estadual Governador José Rolemberg Leite encontra-se um exemplo de
fragmento florestal urbano com Guazuma ulmifolia, Cupania racemosa, Anadenanthera
colubrina, Enterolobium contorsiliquum, Andira sp. O Parque está situado no interior da
APA Morro do Urubu, apresenta elevada abundância de espécies exóticas com potencial
de invasoras como Leucaena leucocephala, Prosopis juliflora, Mimosa sp., Mimosa
caesalpinifolia, Mangifera indica, Ricinus comunis e Clitoria fairchildiana.
CAPÍTULO 3 - METODOLOGIA
62
Ao leste, aproximando-se da foz do Rio Sergipe são encontradas as formações
pioneiras de influência fluviomarinha: os manguezais ocupam as margens dos principais
rios e seus afluentes que recebem influência das marés, adentrando pelo interior até cerca
de 20 km. Entre os municípios de Maruim e Pedra Branca, o mangue em bom estado de
conservação é constituído principalmente por Lagungularia racemosa.
Na foz do Rio Sergipe, em Aracaju, estudos efetuados em vários pontos do estuário
apontaram intenso antropismo, como no Bairro da Coroa do Meio, cujos manguezais foram
eliminados na década de 80, para a urbanização da região (ALVES, 2006 apud SERGIPE.
CONSÓRCIO PROJETEC, SEMARH, SRH, 2010, no prelo). Atualmente observa-se
vegetação densa, com dominância de Lagungularia racemosa, além de Syzigium cumini e
Terminalia catapa, espécies exóticas que ocorrem em ambiente perturbados. O ambiente
natural foi substituído por edificações e deposição de pedras para conter a invasão do Rio
Sergipe. Identificam-se ainda formações pioneiras de influência marinha, com restingas e
dunas, notadamente em Barra dos Coqueiros e Santo Amaro de Brotas.
Há o predomínio de pastagem na Bacia Hidrográfica do Rio Sergipe, seguida de
cultivos agrícolas. A Mata Atlântica ocorre na parte Centro Sul, nos topos das colinas, os
cursos d’água sob denominação de matas ciliares, estendendo-se por vales à procura de
umidade. Nas áreas onde a Planície Litorânea é formada por Restinga, evidencia-se os
campos de restinga com porte arbustivo e rasteiro, de formação perenifólia recobrindo a
restinga. A luminosidade, a intensidade dos ventos, bem como o solo arenoso profundo, dá
a esta classe uma peculiaridade ímpar. Nas áreas em que a Planície Litorânea tem
formação fluviomarinha, especialmente nos estuários dos rios, ocorre uma vegetação de
formação perenifólia o manguezal, que margeia os rios na altura em que o curso hídrico
recebe a influência da composição marinha e dos movimentos das marés.
Para a obtenção das informações de precipitação são utilizados dados anuais de
onze postos pluviométricos e uma estação climatológica presente nesta Bacia
Hidrográfica. Os meses com maior valor de precipitação são abril, maio, junho e julho
com destaque ao mês de maio, com maior índice de precipitação em quase todas as
localidades. Por outro lado, os meses de outubro, novembro, dezembro e janeiro possuem
valores de precipitação abaixo de 55 mm. A precipitação é maior próximo da Foz do Rio
Sergipe no Litoral Sudeste, e diminuindo na direção da Nascente Noroeste, no Semi-
Árido.
CAPÍTULO 3 - METODOLOGIA
63
A qualidade da água do Rio Sergipe apresenta uma grande variação no conteúdo de
sais, que diminui sua concentração de montante para jusante, em conseqüência do aporte de
águas com baixo teor de salinidade proveniente das regiões situadas no trecho inferior da
Bacia, formadas por rochas sedimentares e nas quais a incidência de chuvas é maior. Estes
dois fatores possibilitam uma boa recarga, circulação e elevada renovação das águas
subterrâneas que alimentam os afluentes e proporcionam a esse Rio um regime permanente.
Por outro lado, no Médio e Alto curso do Rio Sergipe as águas se apresentam de baixa e
média qualidade físico-química e com vazões inferiores às do curso inferior, em decorrência
da prevalência de rochas cristalinas, de caráter metamórfico.
3.3. Sistema de utilização pelo ser humano
O sistema de utilização pelo ser humano compreende as áreas da Bacia Hidrográfica
do Rio Sergipe, sendo caracterizados pelos sistemas legais, políticos e sócio-econômico-
culturais.
3.3.1. Sistemas legais
A primeira lei a tratar de recursos hídricos no Brasil, o Código das Águas, foi
promulgada em 1934, com o objetivo de harmonizar o uso das águas para fins de geração de
energia elétrica, agricultura e demais usos (BRASIL. MMA, SRH, 2006). O Código das
Águas, apesar de seus mais de 65 anos, ainda é considerada pela Doutrina Jurídica como um
dos textos modelares do Direito Positivo Brasileiro (BRASIL. MMA, SRH, 2002).
A Constituição Federal em vigência modificou o texto do Código das Águas, uma das
alterações foi à extinção do domínio privado da água, onde todos os corpos d’água, a partir de
outubro de 1988, passaram a ser de domínio público. Outra modificação foi o estabelecimento
de apenas dois domínios para os corpos d’água no Brasil: o domínio da União, para rios e
lagos que banhem mais de uma unidade federada ou sirvam de fronteira entre essas unidades,
ou entre o território do Brasil e o de país vizinho ou deste provenham ou para o mesmo se
estendam; e o domínio dos estados, para as águas superficiais ou subterrâneas, fluentes,
emergentes e em depósito, ressalvas, neste caso, aos decorrentes de obras da União (BRASIL.
MMA, SRH, 2002).
CAPÍTULO 3 - METODOLOGIA
64
A Constituição Federal de 1988 introduziu um avanço importante em relação à gestão
dos recursos hídricos no Brasil, ao considerar a água como um bem de domínio público e ao
instituir o Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos – SINGREH, essas
medidas foram consolidadas na forma da Lei 9.433/97, que estabeleceu a Política Nacional de
Recursos Hídricos, conhecida também como Lei das Águas (BRASIL. MMA, SRH, 2006). A
Política Nacional de Recursos Hídricos é clara e objetiva na definição de diretrizes gerais de
ação, as quais se referem à indispensável integração da gestão das águas com a gestão
ambiental.
A Política Nacional de Recursos Hídricos é a materialização do interesse brasileiro no
cumprimento dos compromissos firmados por ocasião da assinatura da Agenda 21, na
perspectiva de assegurar a sustentabilidade deste recurso. Sendo considerado que a Política
Nacional de Recursos Hídricos define como seu objetivo primeiro “assegurar à atual e às
futuras gerações a necessária disponibilidade de água, em padrões de qualidade adequados aos
respectivos usos”, fica evidente sua origem e inspiração na concepção de sustentabilidade
subjacente ao documento Agenda 21 (SAITO, 2001).
Os fundamentos da Lei n° 9.433/97 indicam novos rumos em matéria de gestão das
águas, a começar pelo entendimento jurídico-legal de que a superação dos graves problemas
ecológicos e a condução do desenvolvimento econômico, rumo a cenários socioambientais
sustentáveis passa pelo cruzamento das questões ecológicas, socioeconômicas e político-
financeiras de sustentabilidade do sistema de gestão de recursos hídricos (BRASIL. MMA,
SRH, 2002). O que vem a confirmar a necessidade crescente da participação de todos na
gestão das águas.
Tomando como subsídio para a implementação da gestão de recursos hídricos, o
Estado de Sergipe formulou a Lei nº 3.870, de 25 de setembro de 1997, dispõe sobre a
Política Estadual de Recursos Hídricos, cria o Fundo Estadual de Recursos Hídricos e o
Sistema Estadual de Gerenciamento de Recursos Hídricos e dá outras providências. A lei
estadual segue a mesma lógica da lei federal acima analisada (SERGIPE. SEMARH, 2009).
Na Figura 3.2 é observada a divisão da Política Estadual de Recursos Hídricos nos planos de
políticas públicas, etapas de planejamento, espaços geográficos e entidades coordenadoras.
CAPÍTULO 3 - METODOLOGIA
65
Figura 3.2: Políticas públicas, tipos de planos, âmbitos geográficos e entidades (fonte: adaptação BRASIL.
MMA, SRH, 2006)
No Título I, da Política Estadual de Recursos Hídricos, Capítulo III, artigos 3º e 4º
– das Diretrizes Gerais de Ação, são traçadas linhas gerais à implementação da Política
Estadual de Recursos Hídricos, determinando a gestão sistemática dos recursos hídricos,
com a consideração conjunta dos aspectos quantitativos e qualitativos, à integração da
gestão de recursos hídricos com a gestão ambiental e do uso do solo, assim como de
Bacias Hidrográficas com sistemas estuarinos e zonas costeiras, articulação do
planejamento de recursos hídricos estadual, regional e nacional entre si e com os setores
usuários, além da articulação com municípios para gerenciamento dos recursos hídricos de
interesse comum.
Ainda no Título I, Capítulo IV, artigo 5º que descreve sobre os Instrumentos, são
elencados os instrumentos da Política Estadual de Recursos Hídricos: Plano Estadual,
enquadramento de corpos d’água em classes, segundo usos preponderantes da água, Fundo
Estadual de Recursos Hídricos, outorga dos direitos de uso, cobrança pelo uso da água e sistema
estadual de informações, todos empregados como meio para alcance de uma gestão adequada
destes recursos, capaz de proteger e melhorar as condições de qualidade e quantidade das águas
do Estado para as atuais e futuras gerações.
No Título II, do Sistema Estadual de Gerenciamento, Capítulo I, artigos 33 e 34 que
descrevem sobre os objetivos e a composição, são relacionados os objetivos do sistema e seus
integrantes. Assim, constituem objetivos do sistema coordenar a gestão integrada das águas,
arbitrar administrativamente os conflitos por seu uso, implementar a política de recursos
hídricos, especialmente planejando, regulando e controlando o uso, a preservação e a
recuperação dos recursos hídricos na promoção da cobrança pelo seu uso. Integram o sistema o
Conselho Estadual de Recursos Hídricos – CONERH, os Comitês de Bacias Hidrográficas
CAPÍTULO 3 - METODOLOGIA
66
– CBHS, a Secretaria de Estado do Planejamento e da Ciência e Tecnologia –
SEPLANTEC, os órgãos dos Poderes Públicos Federal, Estadual e Municipal que relacionem
com a gestão dos recursos hídricos e as Agências de Águas.
Ainda seguindo a Lei nº 3.870, podemos destacar as atribuições destinadas aos
Comitês de Bacia Hidrográfica segundo o Art. 39º do capítulo III, título II: promover o
debate das questões relacionadas a recursos hídricos e articular a atuação das entidades
intervenientes; arbitrar, em primeira instância administrativa, os conflitos relacionados aos
recursos hídricos; aprovar o Plano de Recursos Hídricos da Bacia Hidrográfica; acompanhar a
execução do Plano de Recursos Hídricos da Bacia Hidrográfica e sugerir as providências
necessárias ao cumprimento de suas metas; estabelecer os mecanismos de cobrança pelo uso
de Recursos Hídricos e sugerir os valores a serem cobrados; apreciar e aprovar o relatório
anual sobre a situação dos recursos hídricos da Bacia Hidrográfica; propor ao Conselho
Estadual de Recursos Hídricos as acumulações, derivações, captações e lançamentos de pouca
expressão, para efeito de isenção da obrigatoriedade de outorga de direitos de uso de Recursos
Hídricos; estabelecer critérios e promover o rateio de custo das obras de uso múltiplo, de
interesse comum ou coletivo.
É nesse contexto, que a gestão dos recursos hídricos se dá no Estado de Sergipe.
Observa-se que os órgãos componentes do Sistema de Gerenciamento indicados
textualmente na legislação não se esgotam em si mesmos. Além disso, alterações na
composição do sistema são realizadas sempre que ocorrem reformas administrativas que
transformam, extinguem ou criam órgão e entidades do Poder Executivo.
3.3.2. Sistemas sócio-econômico-culturais
A caracterização dos sistemas sócio-econômico-culturais da Bacia Hidrográfica do Rio
Sergipe, refere-se à identificação sociográfica das populações que a compõe e ao
levantamento das relações população e meio ambiente. As informações disponíveis neste
trecho foram obtidas do Plano de Bacia Hidrográfica do Rio Sergipe (Sergipe. Consórcio
Projetec, SEMARH, SRH, 2010, no prelo).
A população residente no território da Bacia Hidrográfica compreende 1.186.704
habitantes no senso de 2010 (IBGE CIDADES, 2011). A maioria reside em áreas urbanas,
fato que comprova o acelerado processo de urbanização em curso da BHSE nas últimas
décadas, sendo responsável pelo grande passivo ambiental da região.
CAPÍTULO 3 - METODOLOGIA
67
Dentre os municípios mais populosos destacam-se Aracaju (570.937), Nossa Senhora
do Socorro (160.829), Itabaiana (86.981) e São Cristóvão (78.876). Aracaju é o município
mais populoso, com ausência de áreas rurais, o que indica 100% de urbanização. Nossa
Senhora do Socorro, é o segundo município mais populoso (97% de urbanização), cresceu
devido à industrialização. Os municípios com menor grau de urbanização são: Moita Bonita
(39,3%) e Nossa Senhora Aparecida (36,5% de urbanização).
A taxa de crescimento populacional na Bacia Hidrográfica do Rio Sergipe,
considerando o ambiente urbano é superior a outras Bacias, chegando a um total de 11,1%.
Para os estudos de uso e ocupação do solo foram definidas categorias incluindo
tanto aspectos do ambiente natural, como áreas de infra-estrutura e de uso antrópico. Por
sua importância foram listadas as seguintes categorias: Natural (Caatinga, Campos de
Restinga, Dunas e Areiais, Manguezal, Mata, Mata Atlântica, Mata Ciliar, área degradada e
área embrejada); infra-estrutura (área industrial, corpos d’água, povoados e sede municipal) e
uso antrópico (associação de Caatinga/cultivos/pastagem, culturas agrícolas/solos expostos,
pastagem e viveiro e salina).
A utilização dos solos na Bacia Hidrográfica do Rio Sergipe é predominantemente
dominada pelas categorias de pastagem com 253.453,5 ha (70,37%) cultivos agrícolas
50.171,9 ha (13,93%) e áreas de mata com 24.021 ha (6,67%) de área da Bacia. Neste
total, o destaque fica para a Mata Atlântica que ocupa 21.504 ha, ou seja, 5,97% da área
da Bacia Hidrográfica.
O uso e ocupação do solo na Bacia Hidrográfica do Rio Sergipe indicam uma
importante diversificação de usos no terço inferior da Bacia Hidrográfica. Ocorrem áreas
de matas, vegetação de restinga, manguezal, corpos d’água e outros usos de menor
expressão espacial.
Dentre a vegetação natural ocorrem testemunhos da Mata Atlântica no eixo
Laranjeiras – Areia Branca e também entre Riachuelo, Divina Pastora e Santa Rosa de
Lima que ocupam cerca de 6% da Bacia Hidrográfica. As áreas de restinga são concentradas
na região costeira com forte presença na porção norte do município de Barra dos Coqueiros,
ocupando cerca de 2% da área da Bacia Hidrográfica.
CAPÍTULO 3 - METODOLOGIA
68
Áreas de maior expressão representam o uso com cultivos agrícolas. Embora
dispersas por todos os municípios em pequenas áreas, destacam-se duas importantes
ocorrências, sendo uma entre Riachuelo, Laranjeiras e Areia Branca e outra, em áreas de
Itabaiana e Moita Bonita. Além dessas áreas de maior expressão, ocorrem outras em Santo
Amaro das Brotas, Feira Nova e Nossa Senhora da Glória.
No setor agrícola da Bacia Hidrográfica do Rio Sergipe existe a predominância da
lavoura temporária sobre a permanente. A evolução recente da ocupação do espaço
agrícola na Bacia experimentou discretas alterações. Em relação à área total declarada
com uso de lavouras permanentes, temporárias, matas, florestas e pastagens. Houve, na
Bacia Hidrográfica do Rio Sergipe, elevação de área plantada com lavouras permanentes e
temporárias. Manteve-se no mesmo patamar a área com matas e florestas, as áreas com
pastagens experimentaram uma redução da ordem de 45.000 ha.
De acordo ao senso agropecuário em 2006 a utilização das terras representa os
seguintes percentuais de ocupação: lavouras permanentes (10,97%), lavouras temporárias
(15,98%), matas e florestas (4,86%) e de pastagem (45,37%), confirmando a primazia de
áreas com pastagem, sobre os demais usos agrícolas.
A ocupação agropecuária possui uma grande importância como atividade econômica,
além de gerar empregos e produtos, tanto agrícola, como de origem animal. Em 2008
representava mais de 64,5% da área plantada da região da Bacia Hidrográfica do Rio Sergipe,
a Tabela 3.1 demonstra as principais culturas segundo a área plantada em 1996, 2000, 2004 e
2008.
A agropecuária com produtos de origem animal como galos, frangos, pintos,
bovinos sofreram redução entre 1996 e 2000, mas no período total (1996 a 2008),
apresentaram um crescimento da ordem de 18,4%. A produção de leite apresentou um
crescimento significativo, sendo a ampliação superior a 107%, entre 1996 e 2008. Desde
1996 vem aumentando significativamente a produção de mel.
CAPÍTULO 3 - METODOLOGIA
69
Tabela 3.1: Principais culturas da Bacia Hidrográfica do Rio Sergipe, segundo a área plantada 1996, 2000,
2004 e 2008.
ÁREA PLANTADA (ha)
Tipo de
Lavoura
Lavoura 1996 % 2000 % 2004 % 2008 %
Temporária
Milho (em grão) 26.012 20,9 25.886 22,1 50.976 33,4 81.048 43,0
Cana-de-açúcar 12.586 10,1 9.666 8,3 12.545 8,2 17.250 9,1
Feijão (em grão) 15.123 12,1 8.967 7,7 12.051 7,9 9.884 5,2
Mandioca 8.219 6,6 6.991 6,0 7.904 5,2 8.248 4,4
Batata-doce 3.000 2,4 2.374 2,0 2.660 1,7 3.234 1,7
Amendoim 388 0,3 411 0,4 475 0,3 785 0,4
Melancia 332 0,3 353 0,3 320 0,2 450 0,2
Tomate 231 0,2 215 0,2 220 0,1 270 0,1
Fava (em grão) 670 0,5 359 0,3 266 0,2 216 0,1
Sorgo (em grão) 0 0,0 0 0,0 0 0,0 182 0,1
Abacaxi 102 0,1 65 0,1 42 0,0 128 0,1
Fumo (em folha) 4 0,0 45 0,0 22 0,0 20 0,0
Total temporária 66.667 53,5 55.332 47,2 87.481 57,3 121.715 64,5
Permanente
Laranja 38.068 30,5 42.207 36,0 44.704 29,3 43.271 22,9
Côco-da-baía 13.086 10,5 13.463 11,5 14.006 9,2 16.826 8,9
Maracujá 4.373 3,5 3.617 3,1 3.731 2,4 4.142 2,2
Banana (cacho) 1.184 0,9 1.215 1,0 1.357 0,9 1.173 0,6
Limão 597 0,5 780 0,7 712 0,5 748 0,4
Mamão 299 0,2 191 0,2 231 0,2 340 0,2
Tangerina 114 0,1 120 0,1 158 0,1 292 0,2
Manga 264 0,2 194 0,2 182 0,1 190 0,1
Total permanente 57.985 46,5 61.787 52,8 65.081 42,7 66.982 35,5
Total de culturas 124.652 100 117.119 100 152.562 100 188.697 100
Fonte: IBGE/Pesquisa Agrícola Municipal – anos selecionados. Elaboração Consórcio
PROJETEC/TECHNE, 2009 apud SERGIPE. Consórcio Projetec, SEMARH, SRH, 2010, no prelo.
O número de trabalhos formais do segmento de indústria e construção civil
cresceu 70,5%. Verifica-se que o setor de construção civil é o responsável pela maior
parcela de estabelecimentos da região, em praticamente todos os anos. Em 2008,
representavam 43,2% dos estabelecimentos desse grande setor da economia. A indústria
de alimentos, bebidas e álcool vêm em segundo lugar, porém apresenta queda consecutiva
no percentual de estabelecimentos (Tabela 3.2).
CAPÍTULO 3 - METODOLOGIA
70
Tabela 3.2: Estabelecimentos por subsetor da indústria e construção civil na
Bacia do Rio Sergipe (%) – 1996, 2000, 2004 e 2008.
Indústria/Construção Civil
1996
2000
2004
2008
Construção civil 32,46 43,43 41,29 43,17
Indústria de produtos alimentícios, bebidas e álcool etílico 24,96 22,15 21,26 17,61
Indústria têxtil do vestuário e artefatos de tecidos 8,90 5,07 6,36 6,10
Indústria de produtos minerais não metálicos 4,13 4,27 4,91 5,84
Indústria do papel, papelão, editorial e gráfica 4,77 4,50 5,98 5,62
Indústria metalúrgica 5,12 4,27 4,49 4,66
Indústria da madeira e do mobiliário 4,94 5,42 4,91 4,52
Ind. química de produtos farmacêuticos, veterinários, perfumaria 4,83 3,58 3,74 3,25
Ind. da borracha, fumo, couros, peles, similares, ind. Diversas 2,44 1,61 1,28 2,46
Extrativa mineral 1,69 1,27 0,96 2,28
Indústria mecânica 0,64 0,46 0,85 1,76
Indústria do material de transporte 1,80 0,81 0,75 0,88
Indústria do material elétrico e de comunicações 0,35 0,40 0,64 0,75
Serviços industriais de utilidade pública 2,50 2,25 2,30 0,70
Indústria de calçados 0,47 0,52 0,27 0,40
Total 100,00 100,00 100,00 100,00
Fonte: RAIS/MTE Elaboração Consórcio PROJETEC/TECHNE, 2009 apud SERGIPE. Consórcio Projetec,
SEMARH, SRH, 2010, no prelo.
O comércio varejista é responsável por 44,5% dos estabelecimentos formais da
região da Bacia Hidrográfica do Rio Sergipe, conforme a Tabela 3.3, apesar desse
percentual ter caído ao longo dos anos, ainda é bastante superior ao de serviços de
alojamento, responsável por 16,1% dos postos de trabalho.
Tabela 3.3 – Estabelecimentos por subsetor de comércio e serviços na
Bacia do Rio Sergipe (%) – 1996, 2000, 2004 e 2008.
Comércio e Serviços
1996
2000
2004
2008
Comércio varejista 52,31 45,01 44,65 44,51
Serv. de alojamento, alimentação, reparação, manutenção, redação 14,37 15,14 15,96 16,07
Com. e administração de imóveis, valores mobiliários, serv. Técnico 11,86 14,33 14,62 13,98
Serviços médicos, odontológicos e veterinários 5,34 9,04 8,12 7,46
Comércio atacadista 5,63 4,77 4,48 5,28
Transportes e comunicações 3,64 3,74 4,80 5,14
Ensino 3,95 4,69 4,16 4,15
Instituições de crédito, seguros e capitalização 1,91 2,00 1,97 2,12
Administração pública direta e autárquica 0,99 1,29 1,24 1,29
Total 100,00 100,00 100,00 100,00
Fonte: RAIS/MTE Elaboração Consórcio PROJETEC/TECHNE, 2009 apud SERGIPE. Consórcio Projetec,
SEMARH, SRH, 2010, no prelo.
CAPÍTULO 3 - METODOLOGIA
71
Com apenas 1,2% dos estabelecimentos, a administração pública emprega 40,8%
dos trabalhadores formais da região, enquanto o comércio varejista, que tem o maior
percentual de estabelecimentos, emprega 17,6% da mão de obra formal de comércio e
serviços. O sub-setor de ensino, que em 1996 empregava 20,1% dos trabalhadores
formais, em 2008 esse percentual foi de apenas 6,3% (Tabela 3.4).
Tabela 3.4 – Trabalhadores por sub-setor de comércio e serviços na
Bacia do Rio Sergipe (%) – 1996 a 2008.
Comércio/Serviços
1996
2000
2004
2008
Administração pública direta e autárquica 27,80 47,01 46,53 40,86
Comércio varejista 15,44 16,49 16,36 17,60
Com. e administração de imóveis, valores mobiliários, serv. Técnico 8,00 9,44 11,18 11,01
Serv. de alojamento, alimentação, reparação, manutenção, redação 9,21 9,14 9,31 9,91
Ensino 20,10 4,81 4,70 6,26
Serviços médicos, odontológicos e veterinários 9,46 4,54 3,99 5,24
Transportes e comunicações 5,63 4,93 4,42 4,51
Comércio atacadista 1,83 1,80 1,78 2,92
Instituições de crédito, seguros e capitalização 2,53 1,86 1,72 1,69
Total 100,00 100,00 100,00 100,00
Fonte: RAIS/MTE Elaboração Consórcio PROJETEC/TECHNE, 2009 apud SERGIPE. Consórcio Projetec,
SEMARH, SRH, 2010, no prelo.
A economia da Bacia Hidrográfica do Rio Sergipe está fortemente ligada ao setor
de comércio e serviços, principalmente às atividades relacionas à administração pública.
Vale destacar uma grande participação do setor industrial e de serviços, devido à
existência de grandes indústrias e pelo importante centro comercial representado por
Aracaju e municípios vizinhos.
A partir da análise das informações, verifica-se certa fragilidade da economia de
muitos municípios localizados nas regiões Média e Alta da Bacia Hidrográfica do Rio
Sergipe, eles dependem de investimentos do setor público para facilitar a inclusão da
população através da renda, a ser gerada pelo setor privado.
As unidades de conservação presentes na Bacia Hidrográfica do Rio Sergipe estão
em grave estado de degradação, sendo constante a presença de espécies exóticas, plantios
de palma forrageira e pastagens. Poucos locais podem ser observados com vegetação
natural estabelecida, quase toda ela secundária, mas assim mesmo, capazes de trazer
informação sobre as principais espécies que aí se estabelecem, tanto na zona Semi-Árida
quanto no domínio da Mata Atlântica.
CAPÍTULO 3 - METODOLOGIA
72
Por outro lado, os Manguezais litorâneos se constituem nas mais expressivas Áreas
de Preservação Permanente na Bacia Hidrográfica do Rio Sergipe, mostrando, em diversas
áreas, com grande capacidade de recuperação mesmo frente a ameaças de ocupação e
poluição por esgotos e lixo.
As unidades de conservação existentes na BHSE (Quadro 3.2) estão localizadas
principalmente no bioma Mata Atlântica, com maior extensão de áreas costeiras e
estuarinas que são protegidos por Áreas de Proteção Ambiental, enquanto que a porção
interiorana conta apenas com um Parque Nacional Serra de Itabaiana sob a
responsabilidade Federal (ICMBio – Instituto Chico Mendes de Conservação da
Biodiversidade).
Segundo Araújo et al. (2006), a intensa atividade antrópica tem acelerado o processo
de degradação do bioma Caatinga, ameaçando espécies vegetais e animais encontradas no
local. A forma adotada para expansão econômica e territorial foi fundamentada na substituição
de vegetação nativa por pastagens e lavouras agrícolas em áreas ecologicamente frágeis,
declivosas que margeiam nascentes e cursos d’água (HORA, 2006). Segundo a autora, esse
modelo de ocupação tem promovido, até os dias atuais, sérias conseqüências sobre o uso da
água e o solo.
Quadro 3.2: Unidades de Conservação presentes na Bacia Hidrográfica do Rio Sergipe (Fonte: ICMBio
apud SERGIPE. Consórcio Projetec, SEMARH, SRH, 2010, no prelo).
Nome
Categoria Gestão Bioma
Ecossistema
Municípios Área ha.
Ibura
FLONA
Federal
Mata Atlântica/ costeiro
Nossa Senhora do Socorro
144,1685
Litoral Norte
APA
Estadual
Mata Atlântica/ Estuarino
costeiro
Municípios costeiros entre
Aracaju e foz do São
Francisco
41.312
Morro do Urubu
e
Parque Estadual
José Rollemberg
APA
Parque estadual
Estadual
Estadual
Mata Atlântica
Floresta litorânea
Aracaju
213,8724
e 93
Serra de
Itabaiana
PARNA
Federal
Caatinga/complexo
vegetacional com
elementos de floresta
estacional, caatinga,
restinga e cerrado.
Areia Branca, Itabaiana,
Laranjeiras, Itaporanga
D’Ajuda, Campo de Brito
7.966
Paisagem
notável e área de
especial
proteção
ambiental do
Rio Sergipe
Fase de
recategorização
Estadual
Mata Atlântica/Fluvial
Divisa entre Aracaju e
Barra dos Coqueiros
____
CAPÍTULO 3 - METODOLOGIA
73
Reforçando, todo o material bibliográfico que descreve a Bacia Hidrográfica do Rio
Sergipe em relação aos aspectos, físico, econômico, social foi transcritos a partir do
SERGIPE. Consórcio Projetec, SEMARH, SRH (2010, no prelo), sendo este um documento
de grande relevância para conhecimento mais aprofundado do ecossistema Bacia
Hidrográfica.
3.4. Atores sociais da pesquisa e amostra
3.4.1. Atores sociais
Segundo a Lei Estadual 3.870, Art. 40, os Comitês de Bacia Hidrográfica são
compostos por representantes de órgãos e entidades públicas com interesses na gestão, oferta,
controle, proteção e uso dos recursos hídricos, bem como representantes dos municípios
contidos na Bacia Hidrográfica correspondente e dos usuários das águas, através das entidades
associativas.
Sendo assim, os atores sociais da pesquisa são representados segundo a Lei Estadual
3.870 e o Regimento Interno do Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio Sergipe aprovado em
09 de abril de 2002, Título II, Capítulo I e Artigo 3º. De acordo a composição, durante a
gestão 2008-2010 fizeram parte do Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio Sergipe as
instituições descritas no Quadro 3.3. Pode ser observado que o número de membros suplentes
e titulares são em 24, totalizando em 48 pessoas para a composição do Comitê de Bacia
Hidrográfica do Rio Sergipe.
Nos incisos 1º e 2º do Regimento Interno do Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio
Sergipe, aprovado em 09 de abril de 2002, cada membro titular terá um membro suplente,
sendo que o membro suplente pode ser de uma mesma ou entidades distintas, sendo assim, o
Quadro 3.3 não totaliza os 48 membros, pois em algumas instituições o membro suplente e
titular faz parte da mesma instituição.
CAPÍTULO 3 - METODOLOGIA
74
COMITÊ DA BACIA DO RIO SERGIPE - GESTÃO 2008 A 2010
Poder
Público
Estadual e
Federal
SEMARH / SRH
SEMARH / ADEMA
SEPLAN / SE
SEINFRA / DESO
SEAGRI / SE
SEAGRI / COHIDRO
IND / CODISE
IBAMA / SE
Poder Público
Municipal –
Executivo e
Legislativo
Pref. Municipal de Aracaju
Pref. Municipal de Laranjeiras
Pref. Municipal de Graccho Cardoso
Pref. Municipal de Nossa Senhora do Socorro
Pref. Municipal de Itaporanga
Câmara de Vereadores de Aracaju
Câmara de Vereadores de Barra dos Coqueiros
Câmara de Vereadores de Areia Branca
Usuários –
empresas e
indústrias
Petrobrás / UM / SEAL
Tavex Corporation
Votorantin Cimento
FAFEN / SE
Porto / Vale
ASMANA / SOC.
ASAS / SE
SAAE / SC
APPP / Jacarecica
ACPR-STOS Isidoro
Sociedade Civil
UFS / Itabaiana
CEFET / Aracaju
Sociedade Semear
ABES / SE
OSCATMA / BC
AJAMAM / MAL
CREA / SE
Quadro 3.3: Instituições que fazem parte do Comitê da Bacia do Rio Sergipe na gestão 2008 a 2010.
A partir, do Artigo 7º, do Regimento Interno do Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio
Sergipe a estrutura deste compreende: plenário, presidência, secretaria, secretaria executiva e
as câmaras técnicas. Quanto às atribuições dos membros do Comitê, são descritas as do
plenário e do presidente (Quadro 3.4) já que estes foram os escolhidos para serem
entrevistados.
A partir, do Quadro 3.4 observa-se a importância e significância de um trabalho de
percepção ambiental com o grupo, já que constitui em um órgão colegiado, com atribuições
consultivas e deliberativas e competência normativa, no âmbito da Bacia Hidrográfica do Rio
Sergipe, instituído através do Decreto Estadual nº 20.778 de 21 de junho de 2002.
CAPÍTULO 3 - METODOLOGIA
75
Atribuições dos membros do Comitê
Atribuições do plenário Atribuições da presidência
Atender às convocações das reuniões ou transmitir as
convocações aos respectivos representantes e suplentes
nos casos de seus impedimentos eventuais;
Fazer cumprir as decisões do Plenário;
Agir de forma cooperativa, para que os objetivos do
Comitê sejam alcançados;
Convocar e dirigir as reuniões ordinárias e
extraordinárias;
Convidar técnicos dos respectivos órgãos ou entidades,
para participarem dos trabalhos de interesse do Comitê;
Encaminhar a votação das matérias submetidas à
apreciação do Plenário;
Emprestar colaboração e apoio aos trabalhos do
Comitê;
Assinar as Atas de reunião depois de lidas e
aprovadas;
Implantar, no âmbito de seus órgãos ou entidades, os
planos, programas e medidas aprovados pelo Comitê;
Assinar Atas e Resoluções aprovadas em Plenário,
juntamente com o Secretário Executivo;
Requerer, ao Presidente, informações, providências,
esclarecimentos e vistas dos processos;
Decidir os casos de urgência ou inadiáveis,
submetendo sua decisão à apreciação deste, na
reunião seguinte;
Discutir e votar todas as matérias que lhe são
submetidas;
Adotar providências administrativas necessárias ao
andamento dos processos;
Apresentar propostas e sugerir matérias para
apreciação do Comitê;
Propor ao Plenário, no início de cada ano, o
calendário anual de reuniões;
Pedir vistas de documentos; Representar o Comitê em todos os atos a que deva
estar presente ou designar representante;
Solicitar ao Presidente a convocação de reuniões
extraordinárias;
Promover articulações entre os Comitês dos
tributários da Bacia;
Propor inclusão de matéria na Ordem do Dia, bem
como prioridade de assuntos dela constante;
Submeter ao Conselho Estadual de Recursos
Hídricos os assuntos dependentes de sua decisão ou
aprovação;
Requerer votação nominal; Designar relatores para assuntos específicos;
Fazer constar em Ata o ponto de vista discordante do
órgão que representa, quando julgar relevante;
Exercer as demais competências constantes neste
Regimento Interno;
Propor o convite, quando necessário, de pessoas ou
representantes de entidades públicas ou privadas, para
trazer subsídios às decisões do Comitê;
Fazer cumprir o Regimento Interno. Propor a estrutura da Agência da Bacia;
Propor a criação de Câmaras Técnicas;
Votar e ser votado para os cargos previstos neste
Regimento Interno.
Quadro 3.4: Atribuições dos membros do Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio Sergipe.
Do ponto de vista político, a organização e o funcionamento do Comitê tem como
objetivo principal a tentativa de descentralização das decisões, implante a operacionalização
de políticas públicas a partir de interesses e problemas vivenciados e levantados pela
população. Ele também busca estimular a organização da sociedade civil, a partir, da situação
conjuntural em questões de recursos hídricos, permitindo a participação e envolvimento na
busca de soluções que afetam a coletividade. A importância do Comitê manifesta-se pelas
responsabilidades de caráter normativo e deliberativo que lhe são atribuídas. Em primeira
instância, ainda lhe cabem solucionar problemas apresentados e arbitrar os conflitos sobre o
uso da água (SERGIPE. SEPLANTEC, SRH, 2002).
CAPÍTULO 3 - METODOLOGIA
76
3.4.2. Sistema de amostra
Na impossibilidade operacional de se investigar todos os membros do Comitê da Bacia
Hidrográfica do Rio Sergipe, foi amostrado um número reduzido de sujeitos, uma vez que se
utilizou como técnica de investigação, a entrevista semi-estruturada (TRIVIÑOS, 2008). O
Quadro 3.3 demonstra as instituições que fazem parte da gestão 2008-2010 do Comitê da
Bacia Hidrográfica do Rio Sergipe.
Os sujeitos foram selecionados pelo modelo de amostragem não aleatória por
julgamento (Barbetta, 1999). Primeiramente, o grupo foi dividido em quatro segmentos
presentes no Comitê de Bacia Hidrográfica do Rio Sergipe, os quais são: Poder Público
Estadual e Federal, Poder Público Municipal, usuários e sociedade civil. Nestes quatro
segmentos foram selecionados dois grupos, os quais são: (a) instituições que atuaram em
todas as gestões do Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio Sergipe dos anos de 2002 a 2010;
(b) instituições que estavam atuando pela primeira vez dos anos de 2008 a 2010. Dentro dessa
subdivisão foram escolhidas as instituições que possuíssem uma freqüência significativa de
participação nas reuniões durante a gestão 2008/2010 do Comitê de Bacia Hidrográfica do
Rio Sergipe (Figuras 3.3, 3.4, 3.5, 3.6, 3.7, 3.8, 3.9 e 3.10).
Uma observação, quanto ao segmento Poder Público Estadual e Federal (Figura 3.11):
neste segmento não existiram instituições que estivessem participando pela primeira vez onde,
o menor número de gestões que participaram foram em duas, constando das instituições
COHIDRO e SEMARH.
A amostragem não aleatória por julgamento, a partir, da triagem descrita acima
resultou em um total de dezenove representantes das quarenta e oito cadeiras destinadas ao
Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio Sergipe, entre membros titulares e suplentes. Desse
universo, doze sujeitos foram selecionados para a realização do trabalho o que representa 25%
do total de 48 membros titulares e suplentes e, 63,15% do total, a partir, da triagem realizada,
demonstrando um valor significativo.
Ressalta-se que os dados de freqüência nas reuniões durante a gestão 2008-2010 são
obtidos de duas reuniões ordinárias e três reuniões extraordinárias, até a data de 22 de abril de
2010, como pode ser observado nas Atas (As Atas estão presentes em um Compact Disc - CD
no Anexo A).
CAPÍTULO 3 - METODOLOGIA
77
Figura 3.3: Representação do Poder Público
Estadual e Federal (participando em duas e
gestões e freqüência nas gestões).
Figura 3.4: Representação do Poder Público
Estadual e Federal (participando em todas as
gestões e freqüência nas gestões).
Figura 3.5: Representação do Poder Público
Municipal (participando pela primeira vez
freqüência nas gestões).
Figura 3.6: Representação do Poder Público
Municipal (participando em todas as gestões
e freqüência nas gestões).
CAPÍTULO 3 - METODOLOGIA
78
Figura 3.7: Representação de Usuários
(participando pela primeira vez e freqüência
nas gestões).
Figura 3.8: Representação de Usuários
(participando em todas as gestões e
freqüência nas gestões).
Figura 3.9: Representação da Sociedade Civil
(participando pela primeira vez e freqüência
nas gestões). Figura 3.10: Representação da Sociedade
Civil (participando em todas as gestões e
freqüência nas gestões).
CAPÍTULO 3 - METODOLOGIA
79
O modelo de investigação do sistema de percepção da Bacia Hidrográfica do Rio
Sergipe foi elaborado, a partir, de estudos exploratórios com revisões bibliográficas, estudos
em campo, e estudo documental da área referente à Bacia Hidrográfica do Rio Sergipe e a
percepção ambiental dos membros que compõem o Comitê desta Bacia. Este modelo utilizado
foi uma adaptação feita a partir do modelo de Whyte (1978) como pode ser observado na
Figura 3.11.
CAPÍTULO 3 - METODOLOGIA
81
No modelo de Whyte (1978) o papel da pesquisa de percepção ambiental em relação
ao ser humano-biosfera pode ser sintetizada em cinco objetivos:
Contribuir para a utilização mais racional dos recursos da biosfera pela harmonização
local (conhecimento) no interior e que está disponível a partir do exterior;
Aumentar a compreensão de todos os lados das bases racionais para diferentes
percepções do meio ambiente;
Incentivar a participação local no desenvolvimento e planejamento como base em uma
implementação mais eficaz e mudanças mais adequadas;
Ajudar a preservar ou gravar as percepções ricas ambientalmente e sistemas de
conhecimento que estão a ser rapidamente perdidos em muitas áreas rurais;
Atuar como um instrumento educativo e agente de mudança, bem como proporcionar
uma oportunidade de formação para os envolvidos na pesquisa.
Os termos explícitos no modelo de investigação são definidos operacionalmente, tendo
em vista os objetivos da pesquisa, e com base nas formulações de Whyte (1978) e Tuan
(1980), contando com variáveis de estado (características dos sujeitos, características dos
grupos e experiência), processos de percepção (percepção, significado e identidade) e
variáveis de saída (escolha de usos).
3.5. Elaboração dos instrumentos para coleta e análise de dados
Assumindo que a percepção ambiental é o instrumento de estudo desta pesquisa, os
métodos de coleta e interpretação dos dados são devidamente escolhidos e aplicados, a partir,
das orientações metodológicas das Ciências Sociais.
Antes que fosse pesquisada e estruturada qualquer metodologia de coleta e análise de
dados, o trabalho foi iniciado com observações livres durante as reuniões realizadas pelo
Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio Sergipe no período de 26 de maio do ano de 2009 até a
última reunião em 30 de novembro do ano de 2010.
A observação livre é uma importante técnica de pesquisa que não se traduz em um
simples olhar, segundo Triviños (2009, p.153) “implica em uma vivência cotidiana da qual se
extrai a essencialidade das experiências”, onde observar é:
[...] destacar um conjunto (objeto, pessoas, animais etc.) algo especificamente,
prestando, por exemplo, atenção em suas características (cor, tamanho etc.). Observar
um “fenômeno social” significa, em primeiro lugar, que determinado evento social,
simples ou complexo tenha sido abstratamente separado de seu contexto para que, em
CAPÍTULO 3 - METODOLOGIA
82
sua dimensão singular, seja estudado em seus atos, atividades, significados, relações
etc. Individualizam-se ou agrupam-se os fenômenos dentro de uma realidade que é
indivisível, essencial para descobrir seus aspectos aparenciais e mais profundos, até
captar, se for possível, sua essência numa perspectiva específica e ampla, ao mesmo
tempo, de contradições, dinamismos, de relações [...] (TRIVIÑOS, 2009, p.153).
Em seus estudos Triviños (2009) relata que a observação vai além do “olhar”, sendo
demonstrado que é um “olhar” direcionado à pesquisa qualitativa, para compreender um
determinado fenômeno em observação, e que o mesmo será para conhecer o seu grupo ou
objeto de estudo, não se valendo apenas de materiais bibliográficos para tal fim.
Mucelin (2006, p. 107) complementa dizendo que “a observação adequada requer do
pesquisador a convivência, uma vez que alheio aos valores, costumes e hábitos, as
observações podem induzir o pesquisador, obviamente, a inferências inadequadas e até
prejudiciais ao estudo”.
No entanto, para que não houvesse a possibilidade de acontecimentos semelhantes aos
citados acima, foram planejadas observações durante as reuniões do Comitê da Bacia
Hidrográfica do Rio Sergipe, com o intuito de conhecer o grupo estudado em relação aos
aspectos referentes aos membros como participação nas reuniões, freqüência, nível de
conhecimento como gestor ambiental, funcionamento e andamento das reuniões. Sendo
observada também uma rede de relações que possibilitariam o melhor entendimento sobre o
Comitê e contatos para possível comunicação entre os membros, enfim, para o
reconhecimento do grupo e funcionamento de todo o mecanismo. A observação livre também
se deu durante as entrevistas realizadas nos locais de trabalho dos sujeitos selecionados.
Segundo Mucelin (2006, p. 108), “a observação é parcial e seletiva e tem limitações
como o ângulo de visão e seus distintos aspectos, além do fato de que, quando um observador
aparece em um determinado contexto, ele tende a prejudicar a espontaneidade da cena”. Lodi
(1971) apud Mucelin (2006) acrescenta que “o observador em cena sofre pressões para
participar e para observar e [...] poderá começar como observador não participante e terminar
como participante não observador” (1971. p.14). Durante as reuniões e visitas para as
entrevistas a pesquisadora, em algumas situações era interrogada e até mesmo, sua opinião e
auxílio como técnica eram cobrados.
Os instrumentos de coleta e análise de dados foram aplicados por etapas, sendo que as
viagens à campo iniciaram o processo. A ordem de coleta e análise dos dados foi: (i)
questionário de perfil sócio-profissiográfico; (ii) Jogo das Percepções; (iii) entrevista semi-
estruturada.
CAPÍTULO 3 - METODOLOGIA
83
A pesquisa foi fundamentada nas bases teórico-conceituais da percepção ambiental,
análise de conteúdo e estatística descritiva. O trabalho estruturou-se a permitir uma
abordagem qualitativa e quantitativa com a utilização de técnicas de coleta em fontes
primárias (entrevistas e pesquisas de campo) e secundárias, com ampla pesquisa bibliográfica.
Utilizando também como material suporte, relatórios, Atas, mapas, resoluções, Plano de Bacia
Hidrográfica enfim documentos referentes ao Comitê e a Bacia Hidrográfica do Rio Sergipe.
3.5.1. Registro fotográfico em pontos da Bacia Hidrográfica do Rio Sergipe observando
suas condições ambientais.
A ocupação da Bacia Hidrográfica do Rio Sergipe não ocorreu conforme o modelo
sustentável, onde o crescimento e o desenvolvimento antrópico em seu entorno surgiu de
forma rápida, ocasionando alguns problemas decorrentes da ocupação. Sendo assim, para
corroborar com os resultados qualitativos do estudo da percepção, principalmente no auxilio
da construção do Jogo das Percepções (uma adaptação realizada a partir de Mucelin e Bellini,
2007), que serviu de instrumento para a coleta de dados, foi realizado o registro fotográfico
em pontos desta Bacia Hidrográfica.
O registro fotográfico deu suporte à pesquisa, auxiliando a pesquisadora a visualizar e
conhecer os locais aos quais estava sendo direcionado o trabalho, ilustrar a pesquisa com as
localidades visitadas, dar subsídio para a construção do Jogo das Percepções e observar in
loco as reais condições ambientais presentes em alguns pontos da Bacia Hidrográfica do Rio
Sergipe. As imagens e os resultados dessa etapa perpassam por todo o trabalho, não sendo
realizado apenas um tipo de análise, mas sim a utilização desses dados de forma explícita e
implícita.
Nesta etapa foram utilizados: máquina fotográfica digital, um receptor de sinais de
satélite para posicionamento geográfico o GPS (Global Positioning System) e roteiro de
campo para caracterização da área.
Os pontos visitados foram georreferenciados e plotados em mapas para melhor
visualização no trabalho. As anotações de campo seguiram o padrão realizado por Araújo
(2008), sendo observado também no Apêndice A:
1. Ponto: marcação como testemunha.
2. Fotografia: registrar com sim ou não.
3. Localidade: região onde se encontra, se uma cidade, povoado ou mesmo rio ou riacho.
CAPÍTULO 3 - METODOLOGIA
84
4. Coordenada: georeferenciamento XY.
5. Dados altimétricos em metros: altitude do local visitado.
6. Presença de recursos hídricos: sim ou não.
7. Relevo: qual o tipo de relevo se colinoso ou convexo.
8. Lançamento de esgoto: se há lançamento, e qual o local se no solo ou na água.
9. Se há foco de lixo: no solo ou na água.
10. Disposição do lixo: qual a disposição do lixo se desordenado ou concentrado.
11. Vegetação: se existente, esparsa, concentrada ou inexistente.
12. Uso e ocupação do solo: se o solo é ocupado por pastagem, agricultura, irrigação ou outro
tipo de ocupação.
13. Presença de animais: se há ou não presença de animais e quais são eles.
14. Quanto à existência de mata ciliar, se existente, exuberante, impactada ou inexistente e
por último as observações do pesquisador a respeito da região visitada.
Os locais visitados na Bacia Hidrográfica do Rio Sergipe foram escolhidos
aleatoriamente, em um total de doze viagens iniciadas em 16 de outubro do ano de 2009 em
sete pontos da cidade de Aracaju, por onde percorre o Rio Sergipe e alguns de seus afluentes,
como pode ser observado na Figura 3.12.
As cidades visitadas por ordem das viagens foram Aracaju (16 de outubro de 2009);
Nossa Senhora das Dores (16 de novembro de 2009); próximo às nascentes do Rio Sergipe
nos povoados de Santa Helena e Cipó de Leite pertencente à cidade de Pedro Alexandre no
estado da Bahia (13 de abril de 2010); Nossa Senhora da Glória (13 de abril de 2010); Carira
(13 de abril de 2010); Nossa Senhora do Socorro (11 de maio de 2010); Areia Branca (12 de
maio de 2010); Riachuelo (12 de maio de 2010); Malhador (12 de maio de 2010); Itabaiana
(08 de junho de 2010); Barra dos Coqueiros (09 de agosto de 2010) e Santo Amaro das Brotas
(09 de agosto de 2010).
As imagens fotográficas de todos os pontos visitados e suas descrições estão presentes
em um Compact Disc - CD no Apêndice F.
CAPÍTULO 3 - METODOLOGIA
86
3.5.2. Construção, teste, aplicação e análise dos instrumentos de coleta de dados -
questionário do perfil sócio-profissiográfico, Jogo das Percepções e entrevista semi-
estruturada.
O questionário de perfil profissográfico, o Jogo das Percepções e a entrevista semi-
estruturada foram submetidos à testagem de sua objetividade, sendo avaliados em termos de
estabilidade e validade, como sugerida por Kirk e Miller (1986) apud Jesus (1993) para
pesquisa qualitativa. Para eles a estabilidade é a extensão na qual o procedimento da medida
produz a mesma resposta em todas as vezes que seja aplicada, já a validade se refere à
extensão na qual o instrumento de medida proporciona uma resposta.
Para a etapa de testagem da objetividade e estabilidade foi possível contar com a
colaboração de quatro membros do Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio Sergipe, entre eles:
representantes da sociedade civil (Organização Sócio-Cultural Amigos do Turismo e Meio
Ambiente em Barra dos Coqueiros – OSCATMA); Poder Público Estadual e Federal
(Secretaria de Estado do Meio Ambiente e Recursos Hídricos Sergipe – SEMARH); usuários
(Fábrica de Fertilizantes Nitrogenados de Sergipe – FAFEN e a Associação Socorrense de
Mariscultores Naturais e Ecológicos – ASMANE). Esses representantes deram sugestões para
melhoria dos instrumentos de coleta, contribuindo para a construção da pesquisa. O período
de coleta de informações, a partir, desta metodologia iniciou em 20 de abril com término em
26 de agosto, totalizando cinco meses de coleta.
As pessoas selecionadas para a coleta de informações foram contactadas por meio de
carta do projeto de pesquisa (Apêndice E), pessoalmente ou via endereço eletrônico. Foram
incluídos dois membros que não constavam na triagem realizada, um representante do Poder
Público Municipal (Prefeitura de Nossa Senhora do Socorro) e da sociedade civil (Sociedade
Semear).
Para nosso estudo foram utilizadas técnicas variadas para a coleta de informações,
segundo Whyte (1978) o número de técnicas que têm sido desenvolvidas ou emprestadas para
os estudos de campo em percepção ambiental tem aumentado significativamente. Estas
técnicas tendem a ter a aura de complexidade e especialização disciplinar que muitas vezes é
confuso em novos domínios de investigação transdisciplinar. É importante notar que todas as
técnicas de campo são baseadas em uma combinação de três abordagens principais:
observando, ouvindo e fazendo perguntas (Figura 3.13). Estes métodos são complementares e
fundamentais para todas as pesquisas no campo.
CAPÍTULO 3 - METODOLOGIA
87
Figura 3.13: Principais abordagens metodológicas (fonte: WHYTE, 1978).
Por ser uma modalidade de pesquisa que investiga considerações sobre a experiência
vivenciada, um estudo de percepção ambiental pressupõe a utilização de um rigor
metodológico construído com criatividade, sem ficar condicionado, necessariamente, à
adoção de um modelo teórico, método ou técnica prefixada.
3.5.2.1. Questionário do perfil sócio-profissiográfico
O questionário do perfil sócio-profissiográfico foi elaborado no sentido de coletar
informações referentes às características dos sujeitos entrevistados (Apêndice B). O
tratamento preliminar dos dados comportou a ordenação das respostas dos questionários de
maneira a dispor numa forma adequada. Sendo ordenadas em quadros, de acordo com a classe
de dados obtidos. Tais como: a) dados pessoais - sexo, faixa etária, estado civil e escolaridade
dos membros do Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio Sergipe; b) atividade profissional e
faixa de renda; c) naturalidade; d) entidades, associações ou movimentos sociais que
participa; e) classificação quanto à titulação dentro do Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio
Sergipe. Estas informações foram quantificadas e os resultados dispostos em forma de
números.
CAPÍTULO 3 - METODOLOGIA
88
3.5.2.2. Jogo das Percepções
Mucelin (2006) em sua tese de doutorado intitulada “Estudo ecológico de fragmentos
ambientais urbanos: percepção sígnica e pesquisa participante” trabalhou o Jogo das
Percepções com os moradores locais da cidade de Medianeira – Paraná, com a pretensão de
estimular os investigados e refletir sobre determinadas situações e fragmentos do ambiente
urbano, utilizando-o como um instrumento estimulador e lúdico.
Neste trabalho foi utilizado com as mesmas pretensões, além de auxiliar para a coleta
de dados, onde foi possível perceber uma maior participação e desenvoltura dos entrevistados
durante esta etapa.
Mucelin (2006) pressupõe que o Jogo das Percepções estimula o entrevistado a refletir
e perceber determinados fragmentos do ambiente, produzindo processos de conhecimento
sobre a realidade do contexto estudado. As imagens fotografadas foram consideradas como
instrumentos facilitadores da caracterização perceptiva das crenças, costumes e hábitos,
modelando ou influenciando a percepção e conseqüentemente, estimulando reflexões das
formas como o ambiente é reconhecido.
Para a realização do Jogo foram utilizadas fotografias digitais impressas (Quadro 3.5)
com imagens de pontos da Bacia Hidrográfica do Rio Sergipe (25 imagens numeradas
discretamente no verso), um aparelho gravador digital de MP3 player portátil para a gravação
das falas e um roteiro para auxiliar as anotações das etapas do Jogo das Percepções. Os
diálogos foram gravados e transcritos na íntegra para posterior análise.
Nossa pretensão com a utilização dessa metodologia foi observar a experiência do
entrevistado quanto a Bacia Hidrográfica do Rio Sergipe e sua gestão, respeitando suas
diferentes histórias de vida. Alteração ou manipulação nas imagens trabalhadas não foi
realizada, considerando as imagens fotográficas como um “instante congelado para sempre”.
O Jogo das Percepções foi utilizado de acordo com Mucelin (2006) com algumas
adaptações (Apêndice C), conforme etapas abaixo:
1º Momento: apresentação da pesquisa e do pesquisador ao entrevistado. Logo após,
eram entregues as fotografias e solicitado que o mesmo as visualizassem. Esta etapa consistiu
na observação e gravação de falas e expressões dos entrevistados ao se deparar com as
imagens das fotos. Após o primeiro momento de contato com as fotografias, foram realizadas
algumas intervenções Com os seguintes objetivos, a saber:
CAPÍTULO 3 - METODOLOGIA
89
1º - O que as imagens retratam para você?
Objetivo da questão: evidenciar a percepção do participante sobre o objeto de estudo.
2º - Sabe de onde são essas imagens?
Objetivo da questão: evidenciar a identificação do participante quanto ao local
investigado.
Neste momento as falas eram gravadas e anotadas em uma tabela numerada,
correspondendo ao número encontrado no verso de cada imagem.
2º Momento: objetivando auxiliar no reconhecimento dos pontos fotografados na
Bacia Hidrográfica do Rio Sergipe, foi proposto um segundo momento no Jogo das
Percepções. Foi perguntado ao entrevistado se ele reconhecia os locais onde foram realizadas
as imagens se em ambientes rurais ou urbanos. Posterior a pergunta, questionava-se seu
reconhecimento das imagens com sendo da referida Bacia Hidrográfica. Caso uma ou mais
imagens não fossem percebidas como da Bacia Hidrográfica do Rio Sergipe, solicitava-se a
sua separação das demais fotos, visando evidenciar a percepção e reconhecimento da
paisagem fotografada, para demonstrar o grau de interação do membro com a área de estudo.
3º Momento: foi solicitado ao participante que separasse as imagens em paisagem não
impactada e impactada na Bacia Hidrográfica do Rio Sergipe. Em seguida, foi solicitado que
o mesmo organizasse as fotografias em tantos grupos quanto julgasse pertinente. Após,
finalizada a organização dos grupos de imagens, questionava-se sobre:
1º - Quantos grupos foram organizados?
2º - Como você denomina cada grupo?
3º - O que cada grupo significa?
4º - Por que ocorrem?
Neste momento, foi realizada a gravação dos diálogos, sendo transcritos e analisados
posteriormente. É importante o registro de cada grupo de imagens (anotando os números das
fotografias agrupadas). Por meio da numeração previamente transcrita no verso das
fotografias e sua disposição posterior, possibilita confrontar na análise dos resultados a
percepção individual e coletiva dos grupos amostrais.
A utilização de imagens fotográficas nesse trabalho não buscou omitir a idéia de que
ela sofre influências desde o momento em que é realizada, visto que, a imagem é uma
interpretação que o autor faz da realidade. O receptor da imagem fotográfica, por sua vez,
inserido em outro contexto social, faz a leitura de acordo a sua realidade e experiências.
Independente da intenção do autor ao produzi-las, admite-se que um simples detalhe pode
CAPÍTULO 3 - METODOLOGIA
90
atrair mais atenção do que o todo intencionalmente previsto dentro do campo visível exposto
(DINIZ e VEIGA, 2010).
Neste contexto, foram analisadas as diferentes percepções ambientais dos
entrevistados, respeitando a individualidade e o contexto social ao qual estão inseridos.
Levando-se também em consideração sobre a idéia exposta acima, a análise dessas
informações não foi quantificada, mas sim transcrita em idéias principais resumidas de cada
discurso, conservando as características e riqueza de linguagem dos entrevistados.
As imagens selecionadas e utilizadas no Jogo das Percepções estão dispostas no
Quadro 3.5 em ordem de apresentação segundo os Quadros 4.6, 4.7, 4.8, 4.9, 4.10, 4.11 e
4.12, sendo também apresentada a Figura 3.14, onde são demonstrados os pontos
georreferenciados na Bacia Hidrográfica do Rio Sergipe onde foram registradas as imagens
utilizadas no Jogo das Percepções.
Foram apresentadas imagens que retratavam situações de ambiente impactado3 e não
impactado da Bacia Hidrográfica do Rio Sergipe, classificadas e de acordo as condições
ambientais visualizadas no local fotografado, tais como: vegetação exuberante e imagens
paisagísticas (Quadro 4.6); imagens de poluição aérea, por resíduos sólidos e líquidos
(Quadro 4.7); imagens com ausência de mata ciliar (Quadro 4.8); imagens de assoreamento
(Quadro 4.9); imagens de impactos causados pelas construções humanas (Quadro 4.10);
imagens de barramentos no Rio (Quadro 4.11); imagens de manutenção da mata ciliar
(Quadro 4.12).
Quando se utiliza imagens, não devemos considerá-las como neutras, ou seja, simples
documentos captados por uma lente, ao fazer isso, as limitamos a objetos “naturais”, quando
de fato elas são socialmente construídas dentro de um contexto específico para a investigação.
Pressupomos que as fotografias pudessem estimular a reflexão sobre os fenômenos culturais
que engendram a percepção ambiental, individual e coletiva do grupo investigado. Neste
contexto, é importante ressaltar que textos, palavras e imagens reforçam uns aos outros por
meio de conexões fixas ou transparentes em interações dinâmicas (FISCHMAM, 2004).
Segundo Joly (1996) a análise pedagógica da imagem pode proporcionar algumas
liberdades intelectuais, demonstrando que a imagem é de fato uma linguagem específica e
heterogênea, que se distingue do mundo real e que, por meio de signos propõe uma
representação escolhida e necessariamente orientada. Tentando com isso, distinguir as
principais ferramentas dessa linguagem e o que sua ausência ou sua presença significam.
3 - Sánchez (2008).
CAPÍTULO 3 - METODOLOGIA
91
Finalmente, uma das funções da análise da imagem, pode ser a busca ou a verificação das
causas do bom ou do mau funcionamento de uma mensagem visual.
O Jogo das Percepções em nosso estudo foi utilizado para estimular os atores
investigados a observar e refletir sobre determinadas situações e fragmentos do ambiente em
estudo, tendo também como propósito permitir a interação e leitura das imagens, por meio das
quais os atores pudessem expressar suas percepções: quais as situações lhe eram alheias,
como viam os fragmentos e como percebiam as imagens registradas. Sendo que este
instrumento de coleta de dados foi utilizado para se trabalhar a variável experiência dos
membros do Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio Sergipe para com seu objeto de gestão.
CAPÍTULO 3 - METODOLOGIA
93
1
7 6
5 4 3 2
10 9 8
16
12 13 14 15
19 18 17
11
25 24 23 21 22
20
Quadro 3.5: Imagens utilizadas no Jogo das Percepções (fonte: própria autora, 2010).
CAPÍTULO 3 - METODOLOGIA
94
3.5.2.3. Entrevista semi-estruturada
Após o trabalho com o Jogo das Percepções, foi possível utilizar a técnica da
entrevista semi-estruturada, deixando que os entrevistados se expressassem livremente sobre
os tópicos da pesquisa. A pretensão de utilizar esta técnica foi superar a limitação implícita na
compreensão dos campos por meio de dados quantitativos, pois, ao mesmo tempo, em que
valoriza a presença do investigador, oferece perspectivas possíveis para que o informante
alcance a liberdade e a espontaneidade necessárias enriquecendo a investigação (MINAYO,
2008; TRIVIÑOS, 2008).
Para a coleta de dados com a entrevista semi-estruturada, foram utilizados aparelho
gravador digital MP3 player portátil para gravação das falas e um roteiro da entrevista semi-
estruturada.
A entrevista semi-estruturada objetivou responder sobre a caracterização perceptiva do
sistema de estudo. Esta variável relaciona-se à atribuição de significado, identidade, escolha
de usos para a Bacia Hidrográfica do Rio Sergipe, onde foi realizado o tratamento, análise,
descrição e interpretação dos dados das respostas às questões da entrevista semi-estruturada
(Apêndice D).
O roteiro e objetivos adotados para a entrevista semi-estruturada constou de cinco
questões, a saber:
Primeira questão: O que você entende por Bacia Hidrográfica?
Objetivo da questão: devido à abstração desse conceito, pretendeu-se entender não só
a definição de um conceito, como também a percepção e a identidade dos membros quanto a
Bacia Hidrográfica, no contexto sociocultural de cada membro.
Segunda questão: O que significa para você o Rio Sergipe?
Objetivo da questão: identificar o significado do Rio Sergipe para os membros do
Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio Sergipe.
Terceira questão: Qual a importância da mata ciliar para o Rio?
Objetivo da questão: buscar entender a percepção dos membros do Comitê da Bacia
Hidrográfica do Rio Sergipe, quanto às “funções ambientais” da mata ciliar para a
manutenção e equilíbrio do ecossistema.
CAPÍTULO 3 - METODOLOGIA
95
Quarta questão: Em sua opinião qual a melhor forma de utilização dos recursos
naturais da Bacia Hidrográfica do Rio Sergipe?
Objetivo da questão: Avaliar a percepção sobre a escolha de uso dos recursos naturais
da Bacia Hidrográfica do Rio Sergipe pelos membros do Comitê da Bacia Hidrográfica do
Rio Sergipe.
Quinta questão: O que o levou a participar do Comitê da Bacia Hidrográfica do
Rio Sergipe?
Objetivo da questão: Avaliar a relação de comprometimento do entrevistado com o
Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio Sergipe.
Para a interpretação dos dados coletados, a partir, da análise da entrevista semi-
estruturada, neste estudo, que consiste na transformação de dados qualitativos em
quantitativos, foram utilizadas as definições teóricas de Franco (2005) com o auxilio da
análise de conteúdo, procedimento de pesquisa que se situa em um delineamento mais amplo
da teoria da comunicação e tem como ponto de partida a mensagem. Com base na mensagem,
a análise de conteúdo permite ao pesquisador fazer inferências sobre qualquer um dos
elementos da comunicação.
Segundo Franco (2005), toda comunicação é composta por cinco elementos básicos:
uma fonte ou emissão (fonte emissora); um processo codificador que resulta em uma
mensagem e se utiliza de um canal de transmissão; um receptor, ou detector da mensagem, e
seu respectivo processo decodificador como pode ser observado na Figura 3.15. Uma
importante finalidade da análise de conteúdo é produzir inferências sobre qualquer um dos
elementos básicos do processo de comunicação.
CAPÍTULO 3 - METODOLOGIA
96
Figura 3.15: Características definidoras da Análise de Conteúdo (fonte: FRANCO, 2005).
Produzir inferências é a razão da analise de conteúdo, ela que confere a esse
procedimento relevância teórica, uma vez que implica, pelo menos, uma comparação, já que a
informação puramente descritiva, sobre conteúdo, é de pequeno valor. Um dado sobre o
conteúdo de uma mensagem (escrita, falada e/ou figurativa) é sem sentido, até que seja
relacionado a outros dados (FRANCO, 2005).
Quanto ao conteúdo de uma comunicação, a fala humana é tão rica que permite
infinitas extrapolações e valiosas interpretações. Mas é dela que se deve partir (tal como
manifestada) e não falar “por meio dela”, para evitar a possível condição de efetuar uma
análise baseada, apenas em um exercício equivocado e que pode redundar na situação de uma
mera projeção subjetiva. Os resultados da análise de conteúdo devem refletir os objetivos da
pesquisa e ter como apoio indícios manifestos e capturáveis no âmbito das comunicações
emitidas (FRANCO, 2005).
Sendo assim, foi utilizado o método lógico-semântico, lógico, porque o alcance da
análise de conteúdo está, também, vinculado à função de um classificador. E sua classificação
é uma classificação lógica dos conteúdos manifestos, após a análise e interpretação dos
valores semânticos desses mesmos conteúdos. De uma forma ou de outra o analista se vale de
definições, e definições são problemas da lógica. Quanto à escolha da unidade de análise, foi
selecionada a análise temática (temas), o que nos levou ao uso de sentenças, frases ou
parágrafos como unidade de análise.
CAPÍTULO 3 - METODOLOGIA
97
Desta maneira, a análise de conteúdo não deve ser extremamente vinculada ao texto ou
a técnica, num formalismo excessivo, que prejudique a criatividade e a capacidade intuitiva
do pesquisador, por conseguinte, nem tão subjetiva, levando-se a impor as suas próprias idéias
ou valores, no qual o texto passe a funcionar meramente como confirmador dessas. Outro
ponto importante ainda dentro dos conteúdos, e que esses tendem a serem valorizados à
medida que são interpretados, levando-se em consideração o contexto social e histórico sob o
qual foram produzidos (FRANCO, 1986).
CAPÍTULO 3 - METODOLOGIA
98
CAPÍTULO 4
APRESENTAÇÃO, ANÁLISE DESCRITIVA E
DISCUSSÃO DOS RESULTADOS
“A terra em si é de muito bons ares frescos e
temperados como os de Entre-Douro-e-Minho,
porque neste tempo d'agora assim os
achávamos como os de lá. Águas são muitas;
infinitas. Em tal maneira é graciosa que,
querendo-a aproveitar, dar-se-á nela tudo; por
causa das águas que tem!”
Pero Vaz de Caminha
99
CAPÍTULO 4 - APRESENTAÇÃO, ANÁLISE DESCRITIVA E DISCUSSÃO DOS
RESULTADOS
4.1. Apresentação
De acordo ao modelo de investigação de Whyte (1978) que consta de variáveis de
estado, variáveis de saída e processos de percepção os resultados são apresentados segundo o
desmembramento dessas variáveis, tais como:
Características dos sujeitos: variável obtida por meio do questionário sócio-
profissiográfico, com questões de atributos de sexo, idade, naturalidade, estado civil,
escolaridade, faixa de renda, movimento social que faz parte, ocupação profissional,
posição que ocupa dentro do Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio Sergipe.
Características do grupo: variável obtida pelo acompanhamento das reuniões e
leitura de Atas (reuniões ordinárias e extraordinárias) durante a gestão 2008-2010.
Experiência com a Bacia Hidrográfica do Rio Sergipe: variável obtida por meio da
aplicação e análise do Jogo das Percepções. Esta variável refere-se ao modo de
interação dos membros do Comitê com a Bacia Hidrográfica do Rio Sergipe, em
termos de demonstrar a experiência dos entrevistados ao seu objeto de gestão (Bacia
Hidrográfica do Rio Sergipe).
Caracterização perceptiva do sistema de estudo: variável obtida, a partir do
tratamento, análise, descrição e interpretação da entrevista semi-estruturada. Tendo
como objetivo caracterizar a expressão do significado, identidade e escolha de usos
atribuídos a Bacia Hidrográfica do Rio Sergipe4.
4 A definição de percepção comporta manifestações de percepção sensorial, de valores e de cognição.
CAPÍTULO 4 - APRESENTAÇÃO, ANÁLISE DESCRITIVA E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS
100
4.2. ANÁLISE DESCRITIVA E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS
4.2.1. Características dos sujeitos e do grupo
As características pessoais dos sujeitos referentes a dados pessoais, atividade
profissional, faixa de renda, naturalidade, entidades associativas ou movimentos sociais que
participa, classificação quanto à titulação dentro do Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio
Sergipe, todas elas foram obtidas por meio do questionário de perfil sócio-profissiográfico
aplicado aos sujeitos selecionados.
As características do grupo foram coletadas, a partir, de leitura e análise de Atas em
reuniões ordinárias 32ª e 33ª (30 de setembro de 2008 a 22 de setembro de 2009) e reuniões
extraordinárias 8 ª, 9 ª e 10 ª (14 de outubro de 2008, 26 de maio de 2009 e 22 de abril de
2010). Além da observação não participante no período de 26 de maio do ano de 2009 até a
última reunião em 30 de novembro do ano de 2010, totalizando 20 meses de levantamento de
dados.
4.2.1.1. Características dos sujeitos do Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio Sergipe
4.2.1.1.1. Dados pessoais
As características pessoais de sexo, faixa etária, estado civil e escolaridade dos
membros do Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio Sergipe podem ser observadas no Quadro
4.1.
Sexo dos entrevistados, as categorias sexuais foram divididas em masculino e
feminino. Isso se verifica pela diferença de hierarquização da sociedade, conferindo ao
homem e a mulher papéis sexuais diferentes, refletindo na sua percepção e comportamento. A
partir, da análise do Quadro 4.1 foi observado que os segmentos de usuários e sociedade civil
constam de um sujeito do sexo feminino e dois do sexo masculino, os dois segmentos
restantes são todos sujeitos do sexo masculino, levando em consideração a amostra
selecionada.
A faixa etária dos entrevistados varia entre 20-30 até 70-80 anos, sendo que a maior
freqüência está relacionada à faixa etária de 51 a 60 anos, constando de 33,3% da amostra.
Como pode ser observado no Quadro 4.1, há uma relativa heterogeneidade na faixa etária dos
CAPÍTULO 4 - APRESENTAÇÃO, ANÁLISE DESCRITIVA E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS
101
sujeitos representantes dos usuários e sociedade civil; já nos grupos do Poder Público
Estadual, Federal e Municipal nota-se maior freqüência de pessoas com faixa etária entre 41 a
50 anos e de 61 a 70 anos.
Dos membros entrevistados o que consta sobre o estado civil desses sujeitos é que a
grande maioria é casada constando de 83,3% em situação marital estável, sendo apenas uma
pessoa do sexo feminino solteira e outra do sexo masculino separada.
Quanto à escolaridade, foi observado que apenas dois entrevistados não possuem
nível superior, sendo eles representantes do Poder Público Municipal e usuários. Alguns com
pós-graduação Lato Sensu e/ou Strictu Sensu.
Dados de Características Pessoais
Segmentos
CBHSE
Entrevistado Sexo Faixa
Etária
Estado
Civil
Escolaridade
Poder Público
Estadual e
Federal
1 M 51 a 60 Casado Graduação: Ciências Econômicas
2 M 61 a 70 Casado Graduação: Engenharia Agronômica
3
M
41 a 50
Casado
Graduação: Engenharia Agronômica
Pós-Graduação Strictu Sensu: Irrigação e
Recursos Hídricos
Poder Público
Municipal
4
M
51 a 60
Casado
Graduação: História
Pós-Graduação Lato Sensu: Ciências
Sociais
5 M 61 a 70 Casado 2º grau completo
6 M 51 a 60 Casado Graduação: Pedagogia
Pós-Graduação Lato Sensu: Educação
Usuários
Empresas e
Indústrias
7
M
51 a 60
Casado
Graduação: Engenharia de Minas
Pós-Graduação Lato Sensu: Gestão de
Recursos Hídricos
Pós-Graduação Strictu Sensu:
Desenvolvimento e Meio Ambiente
8 M 31 a 40 Casado Graduação: Engenharia Elétrica
9 F 20 a 30 Casado 2º grau completo
Sociedade
Civil
10 M 71 a 80 Casado Graduação: Engenharia Agronômica e
Direito
11 F 20 a 30 Solteiro Graduação: Assistência Social
12
M
51 a 60
Separado
Graduação: História
Pós-Graduação Lato Sensu: Gestão
Ambiental
Quadro 4.1: Dados de características pessoais dos sujeitos.
CAPÍTULO 4 - APRESENTAÇÃO, ANÁLISE DESCRITIVA E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS
102
4.2.1.1.2 Atividade profissional e faixa de renda
O Quadro 4.2 demonstra que a atividade profissional dos entrevistados é
diversificada, podendo ser observada a presença de funcionários públicos (7 entrevistados),
profissionais liberais (3 entrevistados), aposentados mas que exercem outra profissão (2
entrevistados), funcionários de empresa privada (2 entrevistados), agricultor (1 entrevistado),
lavrador (1 entrevistado) e estudantes (2 entrevistados). Observa-se que nesta contagem,
algumas pessoas se classificam com mais de uma atividade chegando até a três profissões.
Do grupo selecionado 58,33% do total dos entrevistados são funcionários públicos.
Analisando ainda o Quadro 4.2 em relação à faixa de renda há predominância do
grupo que recebe de 6 a 9 salários mínimos (4 entrevistados), seguido dos que recebem entre
9 a 12 salários mínimos (3 entrevistados), acima de 12 salários mínimos (3 entrevistados). Na
faixa de 1 a 3 salários mínimos (1 entrevistado), até um salário (1 entrevistado). Estas
observações ilustram que os representantes escolhidos possuem faixa de renda significativa
para seu sustento um total de 83,3% recebendo um valor que varia de 6 a 9 até maior que 12
salários mínimos.
Ocupação e/ou profissão e faixa de renda
Segmentos
CBHSE
Entrevistado
Ocupação e/ou profissão nos últimos 3 anos
Faixa de renda
Poder Público
Estadual e
Federal
1 Funcionário Público De 6 até 9 salários
2 Funcionário Público e aposentado De 9 até 12 salários
3 Funcionário Público, Profissional Liberal,
Estudante
De 9 até 12 salários
Poder Público
Municipal
4 Funcionário Público Maior que 12 salários
5 Agricultor De 6 até 9 salários
6 Funcionário Público Maior que 12 salários
Usuários –
Empresas e
Indústrias
7 Funcionário de Empresa Privada De 9 até 12 salários
8 Funcionário de Empresa Privada Maior que 12 salários
9 Lavrador e Profissional Liberal De 1 até 3 salários
Sociedade Civil
10 Funcionário Público, Advogado e aposentado De 6 até 9 salários
11 Estudante Até um salário
12 Funcionário Público De 6 até 9 salários
Quadro 4.2: Ocupação e/ou profissão e faixa de renda.
CAPÍTULO 4 - APRESENTAÇÃO, ANÁLISE DESCRITIVA E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS
103
4.2.1.1.3 Naturalidade
Ao analisar a naturalidade, uma característica pessoal do sujeito, a pretensão foi
observar se existe ou não identificação das pessoas que vieram de outro estado brasileiro e
qual o “olhar” perante um dos órgãos responsáveis pela gestão da Bacia Hidrográfica do Rio
Sergipe, ou seja, o pertencimento ao local. O objetivo deste critério de análise para tal
temática está sustentado no pré-suposto de que um indivíduo que se sente pertencente ao local
tenha vontade de “cuidar do que é seu” ou pertencente a ele como cidadão. Outro
determinante adotado neste levantamento, que está diretamente ligado ao item acima
discriminado, refere-se ao “olhar” do indivíduo natural da região (inside), diferente dos de
outros lugares (outside), por fazer parte desse cotidiano.
Machado (1996) discute que são extremamente complexos os sentimentos e idéias
relacionadas com o espaço e o lugar do ser humano, originando-se tanto das experiências
singulares como das comuns e pelo contínuo acréscimo de sentimento ao longo dos anos, o
lugar pode adquirir profundo significado para o indivíduo. A atividade perceptiva enriquece
continuamente a experiência individual e por meio dela nos apegamos, cada vez mais, ao
lugar, desenvolvendo sentimentos topofílicos.
Tais dados nos direcionam ao entendimento, pelos menos teoricamente, a um maior
pertencimento do grupo amostral por caracterizarem como perfil inside relacionado ao foco
da pesquisa. Como pode ser observado no Quadro 4.3, onde apenas 33,3% do grupo
entrevistado não é natural do Estado de Sergipe.
Naturalidade
Segmentos
CBHSE
Entrevistado Estado de Sergipe Outro Estado
Poder Público Estadual
e Federal
1 Aracaju
2 Alagoas
3 Cedro de São João
Poder Público
Municipal
4 Aquidabã
5 Barra dos Coqueiros
6 Nossa Senhora do Socorro
Usuários – Empresas e
Indústrias
7 Rio Grande do Norte
8 São Paulo
9 Riachuelo
Sociedade Civil
10 Itabaiana
11 Malhador
12 Bahia
Quadro 4.3: Naturalidade
CAPÍTULO 4 - APRESENTAÇÃO, ANÁLISE DESCRITIVA E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS
104
4.2.1.1.4 Entidades, associações ou movimentos sociais que participam
Quanto à variável de participação do indivíduo em entidades, associações ou
movimentos sociais, pode-se observar qual o engajamento deste com a comunidade que
pertence e o apoio a grupos organizados para um bem comum. A partir, da análise das
informações constatou-se que 67% do grupo faz parte de algum sindicato; 25% de associação
profissional; 25% de associação ambientalista; 8,3% associação de bairro; 8,3% pastoral da
Igreja; 8,3% de movimento pela igualdade racial. Alguns entrevistados pertencem a mais de
uma categoria de participação (os valores de percentagem são estipulados de acordo ao
número de entrevistados, não sendo em relação a quantidade de itens demonstrados no
Quadro 4.4).
Esta análise não representa necessariamente que os indivíduos sejam engajados nos
movimentos sociais destas associações, mas pode sinalizar certo interesse do indivíduo por
ações de solidariedade, em prol da comunidade.
Entidades, associações ou movimentos sociais que participa
Segmentos
CBHSE
Entrevistado Entidades, associações ou movimentos sociais
Poder Público Estadual e
Federal
1 Sindicato
2 Sindicato
3 Sindicato, Associação de Bairro e Associação Profissional
Poder Público Municipal
4 Associação Ambientalista
5 Sindicato
6 Sindicato e Movimento pela Igualdade Racial
Usuários – Empresas e
Indústrias
7 Sindicato
8 Associação Profissional
9 Sindicato e Pastoral da Igreja
Sociedade Civil
10 Associação Profissional
11 Associação Ambientalista
12 Sindicato e Associação Ambientalista
Quadro 4.4: Entidades, associações ou movimentos sociais que participa.
CAPÍTULO 4 - APRESENTAÇÃO, ANÁLISE DESCRITIVA E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS
105
4.2.1.1.5. Classificação quanto à titulação dentro do Comitê da Bacia Hidrográfica do
Rio Sergipe
A análise do Quadro 4.5 foi utilizada para computar o número de pessoas entrevistadas
classificadas dentro do Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio Sergipe entre membros
suplentes e titulares. Observa-se que das pessoas entrevistadas, 25% são membros suplentes.
Em alguns segmentos, o membro suplente e o titular não representam a mesma instituição,
ficando muitas vezes dificultado o contato e, portanto, refletindo assim nos posicionamentos e
responsabilidade perante o Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio Sergipe.
Titulação no Comitê de Bacia Hidrográfica do Rio Sergipe
Segmentos CBHSE
Entrevistado Suplente Titular
Poder Público Estadual e Federal
1 X
2 X
3 X
Poder Público Municipal
4 X
5 X
6 X
Usuários – Empresas e Indústrias
7 X
8 X
9 X
Sociedade Civil
10 X
11 X
12 X
Quadro 4.5: Titulação no Comitê de Bacia Hidrográfica do Rio Sergipe
Como observado nas análises para a variável, características do sujeito, com o grupo
selecionado constatou-se que: 83% da amostra são do sexo masculino, 75% têm idade
superior a 40 anos de idade, 83% são casados, 83% possuem nível superior completo, 58,3%
são funcionários públicos, 83% com faixa de renda superior a cinco salários mínimos, 66,6%
são naturais do Estado de Sergipe e 66,6% fazem parte do sindicato correspondente a sua
formação.
Os segmentos que apresentaram maior homogeneidade nas informações e se
assemelham com o perfil descrito acima foram: Poder Público Estadual e Federal (com
exceção de um membro não pertencer ao Estado de Sergipe) e Poder Público Municipal (com
exceção de um membro não possuir nível superior). Os segmentos usuários e sociedade civil
são bastante heterogêneos em quase todas as características.
CAPÍTULO 4 - APRESENTAÇÃO, ANÁLISE DESCRITIVA E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS
106
Para um estudo de interação entre ser humano e ambiente é possível definir diferentes
tipos de relacionamento, segundo o perfil dos membros do Comitê da Bacia Hidrográfica do
Rio Sergipe, os quais nem sempre possuem os mesmos interesses, valores ou necessidades,
uma vez que cada um deles busca objetivos específicos em relação ao ambiente, seja de
estudo, moradia, trabalho ou decisões a serem tomadas.
O indivíduo acumula conhecimentos e desenvolve práticas que o tornam apto a indicar
soluções em relação a determinadas situações. Mas ele também a enfoca de acordo a sua
história de vida e objetivos. Contudo, a diversidade e riqueza de conhecimento constatadas
junto aos membros do Comitê de Bacia durante a pesquisa tratam o ambiente sob diferentes
enfoques, conforme seus objetivos e de acordo com sua formação.
Durante a entrevista semi-estruturada a quinta questão, que tinha como objetivo
avaliar a relação de comprometimento do entrevistado com o Comitê da Bacia Hidrográfica
do Rio Sergipe e complementar sobre a variável, características dos sujeitos foi a seguinte:
O que o levou a participar do Comitê de Bacia Hidrográfica do Rio Sergipe?
De acordo a tabulação e categorização dos dados foram observadas cinco categorias,
onde alguns sujeitos foram classificados em mais de uma categoria, totalizando dezenove
vocalizações, tais como: convocado como representante com 31,57% (6 vocalizações);
interesse em participar da área de meio ambiente com 21,31% (5 vocalizações); aprendizado
em meio ambiente com 21,05% (4 vocalizações); possui estudos e prática na área de meio
ambiente com 15,78% (3 vocalizações); representar seu município com 5,2% (1
vocalizações).
Diante das categorias analisadas, pode-se observar que 31,57% foram convocados
como representante essa categoria sinaliza uma convocação sem a manifestação natural
do sujeito, onde ele é levado a representar a instituição a qual presta serviços, alguns desses
sujeitos se sentem honrados em fazer parte do Comitê, enquanto alguns não demonstram
interesse, como pode ser demonstrado em algumas falas:
“Institucionalmente eu devo participar, a instituição deve ter presença, e não só pela
obrigação em participar, não é tanto uma obrigação né. Nós somos chamados a participar
né, porque nós fazemos parte, por exemplo, do Comitê de Bacias, porque nós pertencemos
também ao SISNAMA, Sistema Nacional de Meio Ambiente né, que são onde os órgãos de
municípios, estado e união se cooperam né, essa ação cooperativa que nasce no SISNAMA
deve ser retratada também nos Estados e a ação com Bacias Hidrográficas é um exemplo
dessas ações cooperadoras”. (Poder Público Federal)
CAPÍTULO 4 - APRESENTAÇÃO, ANÁLISE DESCRITIVA E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS
107
“Sendo sincero é o seguinte, quem participava era a unidade de Aracaju, eu nem
sabia que existia Comitê de Bacia quando eu cheguei aqui em 2007, eu descobri por que, com
o fechamento da unidade de Aracaju em 2008 quem representava as duas unidades era
Aracaju. Com o fechamento de Aracaju em 2008 foi enviado uma carta ofício dizendo que eu
agora deveria representar a empresa por causa do fechamento da unidade lá. Que aqui eu
não participava antes, quem representava as duas empresas era a unidade de lá”. (usuário)
A categoria interesse em participar da área de meio ambiente, com 21,31% das
vocalizações representa a vontade dos sujeitos em conhecerem e participarem das ações em
prol do meio ambiente, segundo as falas abaixo:
“Hoje eu sou uma defensora no meu município, trabalho com Educação Ambiental
nas reuniões com os associados. Então é muito gratificante, a participação da associação
representante, eu estou representando a associação no Comitê. Pra mim é muito
gratificante”. (sociedade civil)
“Comecei a militar nessa área, hoje eu faço parte do Comitê da Bacia Hidrográfica
do Rio Sergipe, do Japaratuba e do Conselho Nacional de Recursos Hídricos, na Câmara
Técnica de Bacias Hidrográficas”. (usuário)
A categoria, aprendizado em meio ambiente, com 21,05% das vocalizações é
argumentada como a necessidade de aprender sobre as questões ambientais e também
contribuir. Algumas falas ilustram o significado da categoria:
“Se for um assunto que eu conheço um pouquinho eu discuto, mas se não for, vou só
ouvir pra ver se eu aprendo alguma coisa, eu pergunto alguém, dou uma ligadinha, vou
perguntando, peço o material e vejo o que eu posso aprender então quem me levou a me
interessar pela área de meio ambiente foi essas coisas. Mas o ponto forte pra mim tem sido a
prática o processo prático”. (Poder Público Municipal)
“O que me levou a participar do Comitê por um só objetivo que é tentar adquirir mais
conhecimento e contribuir também com o pouco que eu sei”. (usuário)
A categoria possui estudos e prática na área de meio ambiente, com 15,78%
vocalizações demonstram pessoas que estão engajadas nas atividades ambientais e que já
possuem prática e estudos em relação a essa área, como ilustra as transcrições abaixo:
“A linha pública dentro do Comitê de Bacia Hidrográfica ela se dá desde o início da
discussão da política nacional de recursos hídricos, eu participei efetivamente da discussão
dessa política, é... conheci algumas inclusive algumas experiências internacionais de atuação
de Comitê, a exemplo dos Comitês que são formados lá na França e na Espanha,
CAPÍTULO 4 - APRESENTAÇÃO, ANÁLISE DESCRITIVA E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS
108
principalmente nestes dois países. Os Comitês franceses foram instalados desde o ano de
1920, né, e eu tive a felicidade de numa viagem que eu fiz à França visitar os Comitês desses
que lá atuam desde essa época inclusive, algumas Agências de Bacias. É... e tenho
participado também de algumas discussões a nível do cenário nacional né, existem eventos
muito relevantes, muito importantes que são os fóruns, os fóruns nacionais que são realizados
onde se concentra praticamente todos os Comitês que são criados no Brasil, todos aqueles de
nível federal, nos estados e aí é uma troca de experiência. Então eu tenho participado
efetivamente desses fóruns, inclusive já aqui em Aracaju já sediamos um fórum desses, onde
são discutidos isso”. (Poder Público Estadual)
“Eu fazia um trabalho de formação do Comitê da Bacia do Rio São Francisco. E foi
nessa época que eu me empolgue com a gestão, porque eu estava dizendo que era importante,
eu estava dizendo para as comunidades, então eu acabei me convencendo do meu próprio
discurso. E aí veio o convite da SRH para a Sociedade Semear para plenária de eleição do
membro da sociedade civil e eu vim pra plenária, cheguei na plenária aí eu fui eleito a
Sociedade Semear com a minha pessoa aí eu fui eleito pra fazer parte do Comitê”. (sociedade
civil)
A última categoria com 5,2%, representar seu município, foi vocalizada no sentido
do indivíduo em representar e defender os interesses do seu município, como é ilustrado na
transcrição abaixo:
“Sou membro titular do Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio Sergipe, como Nossa
Senhora do Socorro está, pertence a Bacia Hidrográfica do Rio Sergipe eu achei por bem que
Socorro, por ser territorialmente 5km2
maior que Aracaju, a segunda população do Estado de
Sergipe, o eldorado de Sergipe. Porque se você olhar o mapa de Socorro parece a sombra de
uma grande ave que vai pousando, e ave é por isso que eu acredito em um Deus, escolhe para
pousar, fazer ninho se alimentar onde tem alimento, então Socorro é o eldorado, então na
realidade por causa disso eu gostaria que Socorro participasse, desenvolvesse, tivesse um
envolvimento mais concreto, mais direto porque eu sou filho de Socorro, e eu estando lá é
Socorro que está”. (Poder Público Municipal)
Como constatado nas categorias analisadas são muitas as razões dos sujeitos em
fazerem parte do Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio Sergipe, variando desde o total
comprometimento e interesse em gerir e participar deste conselho gestor até o
descomprometimento perante assuntos discutidos e a gestão como um todo.
CAPÍTULO 4 - APRESENTAÇÃO, ANÁLISE DESCRITIVA E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS
109
4.2.2.1 Características do grupo
O Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio Sergipe é um conselho gestor, que se define
como espaço de negociação e co-gestão acessível à sociedade civil. Ele tem suas atividades
descritas por meio de um Regimento Interno, que determina a existência de uma estrutura
básica composta de Plenário, Presidência, Secretário e Secretaria Executiva.
Para conhecer as características deste grupo foi realizado um acompanhamento e
leitura das Atas das Reuniões Ordinárias 32ª e 33ª (30 de setembro de 2008 e 22 de setembro
de 2009) e Reuniões Extraordinárias 8ª, 9ª e 10ª (14 de outubro de 2008, 26 de maio de 2009 e
22 de abril de 2010) durante a gestão 2008-2010 como pode ser observado no Anexo A.
4.2.2.1.1 Processo participativo no Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio Sergipe
A partir de índices de presença e contribuições na plenária foi possível identificar
membros omissos e atuantes, observando assim a participação dos segmentos que compõem o
Comitê (Gráficos 4.1, 4.2, 4.3, 4.4 e 4.5 e Tabela 4.1). Esta fase do trabalho consiste na
análise das presenças e intervenções de cada integrante por reunião. Foram consideradas cinco
reuniões da gestão 2008/2010, relacionados ao índice de presença e número de reuniões em
que cada integrante fez alguma intervenção durante a reunião. Os membros suplentes e
titulares fizeram parte do estudo, os sujeitos com índice de presença zero foram retirados da
pesquisa.
Esse procedimento buscou identificar as instituições que se fazem presente nas
reuniões de forma participativa. A partir, desta metodologia foi possível também observar as
características do Comitê e dos segmentos que o compõe. Para melhor entendimento o
conteúdo das reuniões foi descrito resumidamente junto com as pautas e os membros que
contribuíram com suas colocações.
A 32ª reunião ordinária em 30 de setembro de 2008 referiu-se a eleição e posse dos
membros do Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio Sergipe, para a gestão 2008/2010, sendo
que estavam presentes membros da gestão 2006/2008 e 2008/2010. Os assuntos discutidos
durante a reunião seguiram a seqüência: a) apresentação dos trabalhos da Comissão Eleitoral;
b) leitura da listagem dos eleitos; c) eleição da Diretoria; d) informes e o que ocorrer. Durante
a plenária foi observada a manifestação e participação de quatro membros da gestão
2008/2010, tais como representante da Sociedade Semear (organização ambientalista),
CAPÍTULO 4 - APRESENTAÇÃO, ANÁLISE DESCRITIVA E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS
110
SEMARH/SRH (política estadual relativa à gestão dos recursos hídricos), Prefeitura
Municipal de Laranjeiras e Prefeitura de Nossa Senhora do Socorro (Poder Público Municipal
Executivo).
Já na 8ª reunião extraordinária do Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio Sergipe, em
14 de outubro de 2008, foi exposto como pontos de pauta: a) abertura e verificação de
quórum; b) discussões e deliberações da Ata anterior; c) eleição dos representantes do Comitê
de Bacia Hidrográfica do Rio Sergipe para integrar o Conselho Estadual de Recursos
Hídricos; d) eleição dos representantes do Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio Sergipe para
integrar o Fórum Estadual de Comitês de Bacias Hidrográficas de Sergipe; e) eleição dos
representantes a participar do X Encontro Nacional de Comitês de Bacias Hidrográficas e
Fórum Nacional de Comitês de Bacias Hidrográficas.
Nesta reunião as instituições que se fizeram presentes com contribuições e falas foram
a Sociedade Semear (organização ambientalista), a OSCATMA Barra dos Coqueiros
(organização ambientalista), a COHIDRO (desenvolvimento de recursos hídricos e irrigação),
ASMANE Nossa Senhora do Socorro (carcinicultura), SEAGRISE (desenvolvimento rural),
IFET e UFS/Itabaiana (instituições de ensino e pesquisa).
A 9ª reunião extraordinária do Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio Sergipe, em 26 de
maio de 2009, foi encaminhada com os pontos de pauta: a) leitura e aprovação das Atas das
reuniões anteriores; b) leitura e discussão dos Relatórios Técnicos da FAFEN e da ADEMA
sobre o grave acidente ambiental ocorrido no Rio Sergipe em 05/10/2008; c) recomposição
das Câmaras Técnicas: Educação Ambiental, águas subterrâneas e resíduos sólidos; d)
discussão e criação da Câmara Técnica de áreas protegidas. Esta 9ª reunião extraordinária
contou com a participação e intervenção das seguintes instituições: Sociedade Semear e
OSCATMA Barra dos Coqueiros (organização ambientalista), FAFEN e PETROBRAS
(indústria), ASMANE Nossa Senhora do Socorro (carcinicultura), Prefeituras Municipal de
Laranjeiras e Nossa Senhora do Socorro (Poder Público Municipal Executivo), UFS/Itabaiana
e IFET (instituições de ensino e pesquisa), SEMARH/SRH (política estadual relativa à gestão
dos recursos hídricos), ADEMA (políticas estaduais relativas ao meio ambiente) e SEAGRI
(desenvolvimento rural).
A 33ª reunião ordinária, em 22 de setembro de 2009, referia-se a seguinte pauta: a)
leitura e aprovação da Ata da ultima reunião; b) informes; c) apresentação das atividades do
grupo de trabalho sobre poluição hídrica – FAFEN e outros; d) apresentação da proposta de
Arranjo Institucional e Técnica para elaboração dos Planos Estadual e das Bacias
CAPÍTULO 4 - APRESENTAÇÃO, ANÁLISE DESCRITIVA E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS
111
Hidrográficas do Estado de Sergipe; e) criação de uma comissão técnica para acompanhar o
projeto de elaboração do Plano da Bacia Hidrográfica do Rio Sergipe; f) o que ocorrer.
Durante essa reunião os membros do Comitê que participaram com comentários foram:
representantes da Sociedade Semear e OSCATMA Barra dos Coqueiros (organização
ambientalista), FAFEN/SE (indústria), SEMARH/SRH (política estadual relativa à gestão dos
recursos hídricos) e Prefeitura Municipal de Nossa Senhora do Socorro (Poder Público
Municipal Executivo).
A 10 ª reunião extraordinária do Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio Sergipe, aos 22
dias do mês de abril do ano de 2010, contou com os seguintes pontos de pauta: a) leitura,
discussão e aprovação da Ata da última reunião; b) informes; discussão e votação das
alterações propostas ao Regimento Interno; c) discussão para renovação dos membros do
Comitê de Bacia Hidrográfica do Rio Sergipe, gestão 2010/12. Essa reunião contou com as
falas dos representantes das seguintes instituições: Sociedade Semear e OSCATMA Barra dos
Coqueiros (organização ambientalista), ASMANE Nossa Senhora do Socorro (carcinicultura),
PETROBRAS (indústria), COHIDRO (desenvolvimento de recursos hídricos e irrigação),
SEAGRI (desenvolvimento rural), SEMARH/SRH (política estadual relativa à gestão dos
recursos hídricos) e IBAMA (políticas federais relativas ao meio ambiente).
A partir, de resumos das cinco Atas do Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio Sergipe,
(Figura 4.1 e da Tabela 4.1), pode ser entendido que o segmento sociedade civil possui uma
relevante contribuição durante as plenárias do Comitê, sendo que, as organizações
ambientalistas representadas pela Sociedade Semear e OSCATMA Barra dos Coqueiros se
fizeram presentes em todas as reuniões; já as instituições de ensino e pesquisa representadas
pelo IFET e UFS/Itabaiana se manifestaram em duas reuniões de acordo a suas freqüências. O
segmento sociedade civil, dentro de suas oito cadeiras ocupadas, 50% de seus representantes
manifestaram durante as reuniões.
CAPÍTULO 4 - APRESENTAÇÃO, ANÁLISE DESCRITIVA E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS
112
Figura 4.1: Sociedade Civil, participação durante as plenárias do Comitê de Bacia Hidrográfica do Rio Sergipe -
gestão 2008-2010.
O segmento Poder Público Estadual e Federal (Figura 4.2) possui 42% de participação
levando em consideração o número de representantes que se manifestaram em relação ao total
de doze cadeiras ocupadas. O Poder Público Estadual conta com representantes atuantes tais
como SEMARH/SRH (80% de participação), SEAGRI (60% de participação), COHIDRO
(40% de participação). Já o Poder Público Federal representado pelo IBAMA conta com
apenas 20% de participação.
Os segmentos Poder Público Municipal (Figura 4.3) e usuários (Figura 4.4)
caracterizou-se por reduzida participação durante as reuniões ordinárias e extraordinárias,
mesmo possuindo o maior número de cadeiras dentro do Comitê de Bacia.
O segmento Poder Público Municipal é representado com 20% de participação,
ocupando dez cadeiras dentro do Comitê, representantes do Poder Executivo, Prefeitura de
Nossa Senhora do Socorro (60% de participação) e Prefeitura Municipal de Laranjeiras (40%
de participação). Já o segmento usuários com 18 cadeiras ocupadas, apenas 17% de seus
membros participam das reuniões, os quais são ASMANE/Nossa Senhora do Socorro (60% de
participação), FAFEN (40% de participação) e PETROBRAS (40% de participação).
CAPÍTULO 4 - APRESENTAÇÃO, ANÁLISE DESCRITIVA E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS
113
Figura 4.2: Poder Público Estadual e Federal, participação durante as plenárias do Comitê de Bacia Hidrográfica
do Rio Sergipe - gestão 2008-2010.
Figura 4.3: Poder Público Municipal, participação durante as plenárias do Comitê de Bacia Hidrográfica do Rio
Sergipe - gestão 2008-2010.
CAPÍTULO 4 - APRESENTAÇÃO, ANÁLISE DESCRITIVA E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS
114
Figura 4.4: Usuários – Empresas e Indústrias, participação durante as plenárias do Comitê de Bacia Hidrográfica
do Rio Sergipe - gestão 2008-2010.
A partir do que foi exposto, observa-se que normalmente as manifestações durante as
plenárias são sempre das mesmas instituições. A Tabela 4.1 demonstra que algumas
instituições possuem uma freqüência excelente, mas não se manifestam ou contribuem para
representar sua instituição dentro do segmento. Com essas inferências constata-se que os
representantes que mais se manifestam são aqueles com maior grau de instrução (nível
superior completo), exceto a instituição ASMANE Nossa Senhora do Socorro (segundo grau
completo).
Dentre as instituições que mais se manifestaram foi observado, a partir, da leitura e
análise de Atas de gestões anteriores que a SEMARH, Prefeitura Municipal de Nossa Senhora
do Socorro, Petrobrás e Sociedade Semear fizeram parte de gestões anteriores com o mesmo
representante da gestão 2008-2010, demonstrando uma maior familiaridade com os assuntos
relacionados ao Comitê e experiência ao exposto em pauta. Esses são alguns dos indícios que
influenciaram na participação dos membros durante as plenárias.
Martins (2008) em seu trabalho intitulado de: “Sociologia da governança francesa das
águas” argumenta que o discurso em relação à pluralidade de olhares sobre a gestão de águas
que o sistema francês pressupõe de participação efetiva dos grupos sociais nas referidas
instâncias de governança, possui limites pré-estabelecidos, estes se referem ao próprio quadro
do sistema gestor, desenhado em grande medida pelos profissionais de formação politécnica.
CAPÍTULO 4 - APRESENTAÇÃO, ANÁLISE DESCRITIVA E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS
115
Desde a definição dos objetivos do novo aparato gestor, até a regulamentação dos
instrumentos da política de águas, conjuntos distintos de hierarquias sustentaram a nominação
da atual problemática da água na sociedade francesa. Neste conjunto de hierarquias, uma das
mais relevantes diz respeito à dominação territorial dos saberes politécnicos. Deste modo,
observa-se que a problemática de “dominação territorial dos saberes” existe desde a origem
com o modelo francês de gestão das águas e novamente como pode ser observado em nosso
trabalho, tal “dominação territorial dos saberes” por um grupo organizado.
Jacobi (2010) reforça essa idéia dizendo que:
[...] apesar dos avanços, a Lei Nacional Nº 9.433/97 coloca em primeiro
plano a importância do corpo técnico-científico e do conhecimento produzido
por ele nas relações de força no interior dos espaços decisórios da Bacia, o
que limita o envolvimento da comunidade nas atividades dos Comitês.
Assim, de fato, mantém o poder decisório entre os que detêm o conhecimento
técnico-científico (JACOBI, 2010, p. 76).
Outro indício que prejudica a gestão participativa é o grau de comprometimento e
interesse dentro das plenárias de acordo as manifestações observadas em Atas (Anexo A),
demonstrando qual o real interesse das instituições em participar das plenárias com sua
intervenção tais como comprometimento e conhecimento técnico, defesa de interesses
próprios da instituição representada, busca de informações e conhecimentos,
comprometimento, apresentar a instituição que representa divulgando seus trabalhos e
finalmente, aquelas que se manifestam apenas porque foram convocadas. Dentro dessa gama
de opções, constata-se que a instituição se adéqüe apenas a uma dessas alternativas, podendo
também se apropriar de outras.
Ainda analisando a Tabela 4.1, tendo também como suporte as observações presenciais
durante as reuniões do Comitê, é discutido agora sobre as freqüências dos membros durante as
reuniões, diagnosticando as causas que venham a adiar reuniões por falta de quóruns e o
andamento dos trabalhos dentro do Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio Sergipe.
CAPÍTULO 4 - APRESENTAÇÃO, ANÁLISE DESCRITIVA E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS
116
Tabela 4.1: Presenças e Intervenções*
Presenças e intervenções nas reuniões do Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio Sergipe
Segmento
CBHSE
Instituição
Total de
presença
Total de
intervenção
Presença
(%)
Intervenção
(%)
Poder Público
Estadual e
Federal
SEMARH/SRH 4 4 80 100
SEMARH/ADEMA 3 1 60 33
SEPLAN/SE 3 0 60 0
SEPLAN/SE 2 0 40 0
SEINFRA/DESO 1 0 20 0
SEAGRI/SE 3 3 60 100
SEAGRI/COHIDRO 3 2 60 66
IND/CODISE 2 0 40 0
IBAMA/SE 1 1 20 100
IBAMA/SE 2 0 40 0
Poder Público
Municipal
Pref. de Aracaju/SEPLAN 3 0 60 0
Pref. de Aracaju/SEPLAN 1 0 20 0
Pref. de Laranjeiras 3 2 60 67
Pref. G. Cardoso 1 0 20 0
Pref. de Nra. Socorro 3 3 60 100
Pref. de Itaporanga da Ajuda 0 0 0 0
C. V. de Aracaju 2 0 40 0
C. V. Barra dos Coqueiros 3 0 60 0
C V de Areia Branca 0 0 0 0
Continua
CAPÍTULO 4 - APRESENTAÇÃO, ANÁLISE DESCRITIVA E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS
117
Presenças e intervenções nas reuniões do Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio Sergipe
Segmento
CBHSE
Instituição
Total de
presença
Total de
intervenção
Presença
(%)
Intervenção
(%)
Usuários
Empresas e
Indústrias
PETROBRAS/UM/SEAL 4 3 80 75
PETROBRAS/UM/SEAL/ATPS
T/SMS
1 0 20 0
Tavez Corporation 2 0 40 0
Tavez Corporation 1 0 20 0
Votorantin Cimento 2 0 40 0
Votorantin Cimento 3 0 60 0
FAFEN/SE 2 1 40 50
FAFEN/SE 2 2 40 100
Porto/Vale 0 0 0 0
ASMANE/N. S. Socorro 4 3 80 75
ASAS 0 0 0 0
SAAE/São Cristóvão 1 0 20 0
SAAE/São Cristóvão 3 0 60 0
APPPI/Jacarecica-Itabaiana 0 0 0 0
ACPR-Santo Isidoro 1 0 20 0
ACPR-Santo Isidoro 2 0 40 0
Sociedade
Civil
UFS/Itabaiana 4 2 80 50
IFET/SE 5 2 100 40
SEMEAR/PRONESE 5 5 100 100
ABES 1 0 20 0
OSCATMA/BC 5 5 100 100
AJAMAM/Malhador 4 0 80 0
CREA 4 0 80 0
*As presenças foram somadas entre 2 reuniões ordinárias e 3 extraordinárias, em um total de 5.
O percentual de presença foi calculado dividindo-se o número de presenças pelo número de reuniões analisadas.
O percentual de intervenções foi calculado dividindo-se o número de intervenções feitas nas 5 reuniões pelo
número de presença.
Após o estudo de freqüência durante as reuniões, foi possível observar que o segmento
Poder Público Estadual e Federal possui um índice de 40% de freqüência (Figura 4.5). Tal
valor estipulado foi obtido calculando-se o total de cadeiras destinadas a este segmento,
multiplicadas pelo número de reuniões desenvolvidas durante a gestão 2008-2010. Já para o
segmento Poder Público Municipal – Executivo e Legislativo o índice de freqüência é de
32%, como demonstrado na Figura 4.6.
CAPÍTULO 4 - APRESENTAÇÃO, ANÁLISE DESCRITIVA E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS
118
Figura 4.5: Poder Público Estadual e Federal, freqüência durante a gestão 2008-2010.
Para o segmento de usuários observam-se um índice de freqüência de 31% do total de
participantes (Figura 4.7). O segmento sociedade civil consta de 70% de freqüência durante
as reuniões (Figura 4.8). Esses cálculos demonstram que o segmento sociedade civil, mesmo
constando de um número reduzido de cadeiras disponíveis para o segmento em comparação
com os outros segmentos possui o mais alto índice de freqüência.
CAPÍTULO 4 - APRESENTAÇÃO, ANÁLISE DESCRITIVA E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS
119
Figura 4.6: Poder Público Municipal – Executivo e Legislativo freqüência durante a gestão 2008-2010.
Figura 4.7: Usuários – Empresas e Indústrias, freqüência durante a gestão 2008-2010.
CAPÍTULO 4 - APRESENTAÇÃO, ANÁLISE DESCRITIVA E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS
120
Figura 4.8: Sociedade Civil, freqüência durante a gestão 2008-2010.
O desequilíbrio de forças entre os representantes ou setores representados, indivíduos
mal preparados e informados, desinteressados ou com baixa competência interpessoal, além
de processos de interação ineficientes, dificultam os trabalhos dentro do Comitê de Bacia. O
sucesso deste depende de fatores conjunturais como disponibilidade de dados ambientais,
necessidade de investimentos financeiros, fiscalização ambiental eficiente, definição clara de
papéis institucionais e instrumentos legais, mediação de interesses setoriais, locais ou pessoais
e também pressões extra-grupo, às quais podem condicionar o "padrão mental e
comportamental" interno.
Mesmo considerando que o país deu "saltos" significativos nas últimas décadas quanto
à valorização ambiental pelas políticas públicas, conscientização ambiental dos cidadãos e
modernização do sistema de gestão (Lei 9.433/97), é necessário viabilizar o Comitê,
fornecendo condições que o contexto sócio-econômico-ambiental realmente desfavorece.
CAPÍTULO 4 - APRESENTAÇÃO, ANÁLISE DESCRITIVA E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS
121
4.2.3.1 Experiência com a Bacia Hidrográfica do Rio Sergipe
A variável experiência foi obtida a partir do Jogo das Percepções, observando e
analisando reação e argumento usado pelos participantes. Esta variável refere-se ao modo de
interação dos membros do Comitê com a Bacia Hidrográfica do Rio Sergipe, buscando
monitorar o grau de experiência dos entrevistados ao seu objeto de gestão (Bacia Hidrográfica
do Rio Sergipe), tendo como foco os seguintes itens do Jogo, a saber: se consegue identificar
os impactos ou não impactos das imagens fotográficas e o que é observado ao serem
visualizadas.
Tuan (1980) relata que a experiência é o termo que abrange as diferentes maneiras
pelas quais uma pessoa conhece e constrói a realidade. Machado (1996, p. 116) relata que
“uma das formas de conhecer a experiência é proporcionar condições para que ela seja
verbalmente expressa, em forma de breves relatos”. O autor diz ainda que deve-se buscar nas
descrições da experiência o aspecto comum que sejam predominantes em todas as descrições
do grupo estudado. De acordo com os conceitos propostos por Tuan (1980) e Machado (1996)
quanto a experiência, trabalhou-se com o Jogo das Percepções nesta etapa.
O conjunto de imagens do Jogo das Percepções possui mensagem com múltiplos
significados perceptivos (Quadro 3.4). É acreditado no papel pedagógico desta fase da
pesquisa, estimulando os participantes, através das imagens fotográficas, gerando certa
situação auto-reflexiva e possibilitando rever concepções/atitudes frente ao Comitê de Bacia.
De um lado, as imagens fotografias dos fragmentos da paisagem da Bacia
Hidrográfica do Rio Sergipe evidenciam e registram o espaço temporal da intervenção
humana, caracterizando o lugar e os hábitos e auxiliando também a diagnosticar a área
estudada a partir de imagens. Por outro lado, o Jogo das Percepções constitui em uma obra
viva experienciada pelos participantes da pesquisa.
Segundo Tuan (1980) o mundo percebido através dos olhos é mais abstrato do que o
conhecido por nós através dos outros sentidos. Dos cinco sentidos tradicionais, o ser humano
depende mais conscientemente da visão do que dos demais sentidos para progredir no mundo.
Ele é predominante um animal visual, os olhos exploram o campo visual e deles abstraem
alguns objetos, pontos de interesse, perspectivas. Sob esse aspecto foi observado que as
imagens fotográficas são recebidas e interpretadas de várias formas por cada entrevistado.
CAPÍTULO 4 - APRESENTAÇÃO, ANÁLISE DESCRITIVA E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS
122
O primeiro contato com as imagens foram observadas reações diversas entre: ignorar
totalmente as imagens; observá-las, mas sem fazer comentários; observá-las em detalhes
minuciosos e conseguir reconhecer os locais pela vegetação, a qualidade da água; assustarem
com imagens de impacto ou mesmo surpreenderem com belezas paisagísticas; a maioria dos
entrevistados tentou reconhecer os locais fotografados na Bacia Hidrográfica do Rio Sergipe.
Segue abaixo algumas transcrições desta fase de apresentação das fotos e a reação junto aos
participantes da pesquisa:
“Ó Deus isso aqui me corta o coração, ver um negócio desse!” (usuário)
“Essa aqui, essa mata bonita aqui onde é?” (sociedade civil)
“Isso aqui é a Barragem Jacarecica II, é o vertedouro da Barragem Jacarecica II, não
é isso? Isso aqui é a ponte de acesso a Coroa do Meio sobre o Rio Poxim. Isso aqui é a ponte
de acesso lá para Barra dos Coqueiros sobre o Rio Sergipe lá na prainha. Isso aqui é o Açude
da Marcela em Itabaiana. Aqui vou acertar algumas, essa foto aqui me é familiar vou ver ela
depois”. (Poder Público Estadual)
“Um afluente do Jacarecica, Rio Jacarecica, essa figura aqui é Jacarecica II, né? E
praticamente em uma passagem molhada”. (Poder Público Estadual)
A partir das entrevistas e conversas informais, foi possível obter algumas informações,
ouvir histórias dos locais e de vida dos entrevistados, podendo assim entender com eles
algumas situações encontradas nas imagens fotografadas, tais como: projetos que seriam e
estavam sendo realizados naquela área; explicações sobre processos de assoreamento; função
das plantas aquáticas como bioindicadoras de poluição; a falta de mata ciliar e suas causas
ambientais; o carreamento de biocidas para o corpo d água; histórias do passado e de hoje
sobre as paisagens fotográficas mostradas no Jogo das Percepções referente a Bacia
Hidrográfica do Rio Sergipe.
Durante a aplicação do Jogo das Percepções os entrevistados manifestaram o desejo
em aprender e compartilhar informações durante as reuniões do Comitê. Foram também
observadas situações que denotam falta de informação sobre a Bacia Hidrográfica do Rio
Sergipe e Comitê, dificuldade em se expressar devido à ansiedade. Outros entrevistados
discutiam sobre os problemas e os subdividiam argumentando sobre as questões sociais, ou
até mesmo em como solucionar os problemas encontrados na BHSE. Alguns se referiam as
imagens com uma palavra, outros teciam discursos longos repletos de sentimento e
emotividade.
CAPÍTULO 4 - APRESENTAÇÃO, ANÁLISE DESCRITIVA E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS
123
4.2.3.1.1 Experiência sobre o local e objeto de estudo
1º Momento do Jogo das Percepções
As imagens foram classificadas quanto às condições ambientais visualizadas na
paisagem fotografada, suas principais mensagens estão presentes nos Quadros: vegetação
exuberante e imagens paisagísticas (Quadro 4.6); imagens de poluição aérea, por resíduos
sólidos e líquidos (Quadro 4.7); imagens com ausência de mata ciliar (Quadro 4.8); imagens
de assoreamento (Quadro 4.9); imagens de impactos causados pelas construções humanas
(Quadro 4.10); imagens de barramentos no Rio (Quadro 4.11); imagens de manutenção da
mata ciliar (Quadro 4.12).
Embora a definição dos objetivos e das ferramentas da análise seja indispensável, não
são as únicas, mais dois tipos de considerações que deverão preceder a análise da mensagem
visual, o estudo da sua função e o seu contexto de surgimento. Considerar a imagem como
uma mensagem visual, equivale a considerá-la como uma linguagem e, portanto, como uma
ferramenta de expressão e de comunicação. Seja ela expressiva ou comunicativa, é possível
admitir que uma imagem sempre constitua uma mensagem para o outro (JOLY, 1996).
Conforme o Quadro 4.6 que se refere à vegetação exuberante e imagens paisagísticas,
as imagens 01 e 03 foram realizadas na cidade de Aracaju, a imagem 01 no Bairro Coroa do
Meio e a imagem 03 no Conjunto Inácio Barbosa. Já as imagens 02, 04 e 06 na cidade de
Malhador a montante da Barragem Jacarecica II e a imagem 05 na zona rural da cidade de
Nossa Senhora das Dores. Os pontos de cada imagem do Quadro 4.6 podem ser observados
na Figura 3.14.
No Quadro 4.6 os entrevistados descrevem a imagem 01 como sendo: interação do
pescador com o meio ambiente; área poluída; trecho urbano com preservação do mangue;
paisagem deslumbrante; ausência de peixes no rio por contaminação; Rio Sergipe e
preservação da mata; encontro da maré com o rio Sergipe. A imagem 02 foi caracterizada
como de desempenho de funções: margem do rio preservada; bela imagem; falta de cuidado e
rio poluído.
As paisagens nas imagens fotográficas foram caracterizadas pela autora da pesquisa
como de vegetação exuberante e imagens paisagísticas, mas alguns entrevistados não as
interpretaram como tal, observando poluição e contaminação. Como observado, as duas
imagens são interpretadas de formas diferentes, em que o entrevistado as observa de acordo a
CAPÍTULO 4 - APRESENTAÇÃO, ANÁLISE DESCRITIVA E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS
124
sua percepção. Segundo Machado (1996) discutindo sobre como cada indivíduo pode
perceber as imagens, ela diz que:
A superfície da Terra é elaborada para cada pessoa pela refração por meio de
lentes culturais e pessoais, de costumes e fantasias. Todos nós somos artistas
e arquitetos de paisagens, criando ordem e organizando espaços, tempo e
casualidade, de acordo com nossas percepções e predileções (MACHADO,
1996, p. 97).
A paisagem da imagem 02 é descrita por um dos entrevistados como:
“É, mas beleza é isso aqui oi, parece que está chovendo oi. É chuva parece né? Sua
fotografia está nota dez, até os pingos de água oi! Pense! Esse não está parecendo, não é
daqui da cidade, é de outro canto aí, pode ser até do Jacarecica II, daquelas plantas ali, não
sei. Porque ali você tem essas estruturas todas você encontra por ali aquelas plantas. E é
beleza sim, isso aqui é uma área, é um trecho despoluído, eu sei que ali não tem poluição
não, ainda não”. (Poder Público Estadual)
A paisagem da imagem 03 foi interpretada da seguinte forma: trecho ainda
conservado; vegetação exuberante; boa preservação das margens do rio e da mata ciliar;
bonita imagem. Um dos entrevistados diz que:
“Essa é uma área, diria em termos preservada, não sei com que largura, mas que a
vegetação está bastante exuberante no que pede, aqui pela qualidade da água, é razoável
você olhar assim direitinho já não está tão poluída. Pode ser aqui dentro da cidade essa
fotografia, pode, ali pelo conjunto Inácio Barbosa né. Eu tenho uma imagem dessa. Ali não é
muito poluído, mas não é muito insento não”. (Poder Público Estadual)
A paisagem da imagem 04, os entrevistados disseram que representava o trecho do rio
protegido e preservado; imagem bela; área geologicamente recente cheia de pedregulhos. A
paisagem da imagem 05 representa vegetação muito importante; paisagem bonita; boa
preservação das matas ciliares; zona de exploração para areia. Um dos entrevistados faz o
seguinte comentário sobre essa área:
Eu gostei disso aqui! A mata ciliar existe, dá uma idéia, uma tranqüilidade de uma
água parada, calma, tranqüila”. (Poder Público Municipal)
A paisagem da imagem 06 os entrevistados afirmam ser um remanescente de mata
atlântica; uma bela paisagem; mata nativa preservada; vegetação exuberante. Durante a
análise das imagens observamos que o entrevistado 02 conseguiu identificar cinco das quatro
paisagens das imagens fotográficas e que a paisagem da imagem 01 foi reconhecida por sete
dos doze entrevistados.
CAPÍTULO 4 - APRESENTAÇÃO, ANÁLISE DESCRITIVA E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS
125
A partir das interpretações dos entrevistados, foi possível observar que cada discurso é
composto de sua experiência pessoal, memória e aprendizado. Machado (1996) relata que todos
os tipos de experiências, desde as mais estreitamente ligadas com o nosso mundo diário, até
aquelas que parecem remotamente distantes, vêm juntos compor o quadro individual da
realidade.
As interpretações das imagens tiveram como base a realidade vivenciada por cada
sujeito da pesquisa. Segundo Tuan (1980) as pessoas atentam para aqueles aspectos do meio
ambiente que lhes inspiram respeito ou lhes prometem sustento e satisfação no contexto das
finalidades de suas vidas. Ao tentar analisar as paisagens das imagens por segmentos, foi
observado que a interpretação dos entrevistados era heterogênea, não existindo um padrão
para os grupos, mas sim idéias centrais e mensagens características para membros do Comitê
da Bacia Hidrográfica do Rio Sergipe.
CAPÍTULO 4 - APRESENTAÇÃO, ANÁLISE DESCRITIVA E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS
126
Jogo das Percepções – vegetação exuberante e imagens paisagísticas
Segmentos
CBHSE
Sujeito
Imagem 01
Imagem 02
Imagem 03
Imagem 04
Imagem 05
Imagem 06
Poder
Público
Estadual e
Federal
1
Interação do pescador
com o meio ambiente,
manguezal.
Ainda desempenhando as
suas funções.
Trecho do rio ainda
conservado.
Trecho protegido, apesar
do pequeno calado do rio.
Mata ciliar ainda
desempenhando suas
funções.
Remanescente de mata
atlântica.
2
Aracaju Rio Sergipe
margem direita, área
poluída.
Beleza é isso aqui,
Jacarecica II, é um trecho
despoluído.
Área preservada,
vegetação exuberante,
Conjunto Inácio Barbosa.
Bela fotografia, Rio
Jacarecica, entre as
barragens Jacarecica I e
II.
Vegetação muito
importante aqui.
Beleza, margem do
Jacarecida II, a jusante.
Área de APP.
3
Pescadores na foz do Rio
Poxim. Trecho urbano
com preservação do
mangue.
Demonstra como
preservar as margens do
rio.
Boa preservação das
margens do rio e da mata
ciliar, volume de água
representativo.
Área ainda de
preservação. Muito
bonita essa foto.
Boa preservação das
matas ciliares, espelho d
água bem mantido
conotação de área
preservada.
Pequena área de mata
preservada.
Poder
Público
Municipal
4 Paisagem deslumbrante. Falta de cuidado. Caminho natural do rio. Um córrego. Afluente natural do rio. São as matas.
5
Manguezal e pescadores,
rio limpo.
Parece um rio poluído. Aqui a vegetação ta
beleza, ta arrumada.
Vegetação alta e fechada. Paisagem bonita,
vegetação alta.
Paisagem bonita, alta.
6
Pescadores, Rio
Cotinguiba.
É um lago, vegetação
característica.
É um rio. Próximo a nascente de
um rio, há muita
vegetação.
Gostei disso aqui! Mata
ciliar existe, uma
tranqüilidade água
parada, calma.
Aqui é uma transição
entre a mata com a
caatinga.
Usuários –
Empresas e
Indústrias
7
Coroa do Meio,
importante esse
ecossistema para os
pescadores.
Área conservada, a
sensação de sinergia do
rio.
Exuberância da mata
nativa, manguezal, área
ainda conservada.
Meandros do rio, área
com exuberância das
matas ciliares.
Há uma preservação das
margens.
Presença de umbaúba,
área mais preservada.
8
Rio Poxim, pescadores
que dependem da pesca
para sobreviver.
Não vejo tanta
interferência urbana, está
um pouco preservado.
Bastante vazão e mata
ciliar preservada.
Área preservada. Local preservado mata
ciliar preservada.
Dá a impressão que já
teve interferência, não é
nativo.
9
Pescadores e ausência de
peixes por contaminação
do rio.
Desmatamento poluição,
rio poluído.
O rio está bom, árvores
nativas que protegem as
encostas.
O rio foi desviado, mas
dá para perceber que está
bom, está arborizado.
Coberto de árvores está
arborizado.
Mata nativa com
ramagens.
10 Rio Sergipe, o Rio e a
preservação da mata.
Bonita as margens do rio,
linda mata.
Essa aqui também é muito
bonita
A preservação da
florestazinha.
Essa é bonita viu! Eita! Estão preservando
a florestinha bonita.
CAPÍTULO 4 - APRESENTAÇÃO, ANÁLISE DESCRITIVA E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS
127
Sociedade
Civil
11
Família usufruindo da
maré, encontro da maré
com o rio Sergipe,
manguezal atrás.
Um rio, eu vejo uma
mata, como se a APP
estivesse sendo
respeitada.
Rio conservado, me
parece estar preservando,
as APPs.
Rio protegido, árvores
por todos os lados, a APP
aqui está sendo
respeitada.
Rio e muitas árvores,
paisagem muito bonita.
Uma paisagem bonita,
mata preservada.
12 Zona de pesca, zona
estuarina.
Zona de mangue, raízes
presas nos galhos. Não
dá pra assegurar que seja
uma coisa preservada.
Esse aqui está bonito,
mais preservado. Área
estuarina, sofre efeito da
maré, não é manguezal.
Área geologicamente
recente, cheia de
pedregulhos. Vegetação
exuberante.
Zona de exploração de
areia, zona de potencial
para mineração de areia.
Vegetação exuberante,
um restinho de mata
atlântica, vegetação
primária.
Quadro 4.6: Imagens apresentadas aos entrevistados no Jogo das Percepções (paisagem com perfil de vegetação exuberante e imagens
paisagísticas). Relatos dos diferentes segmentos amostrados na pesquisa.
CAPÍTULO 4 - APRESENTAÇÃO, ANÁLISE DESCRITIVA E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS
128
Todas as paisagens das imagens demonstradas neste trecho do estudo foram de
degradações causadas pela ação humana. Em seu trabalho Araújo (2006) relata que os
problemas ambientais vêm se agravando no percurso do Rio Sergipe e seus afluentes, devido
ao aumento populacional das cidades localizadas às suas margens e afluentes, exercendo uma
pressão sobre o ecossistema, provocando perda de áreas naturais pelo desmatamento e aterro
dos manguezais, além da extração de madeira, construção de habitações, poluição pelo
aumento do volume do esgoto sanitário descartado no ambiente e o lixo urbano, pesca
predatória e ampliação do número de indústrias e empreendimentos agrícolas implantados na
região.
No Quadro 4.7 as paisagens das imagens representam poluição aérea, hídrica e do
solo. A paisagem da imagem 07 foi realizada no bairro Terra Dura na cidade de Aracaju, a
paisagem da imagem 08 na Prainha do Porto Grande na cidade de Nossa Senhora do Socorro,
a paisagem da imagem 09 no bairro Coroa do Meio, a paisagem da imagem 10 no Parque dos
Cajueiros, a paisagem da imagem 11 foi realizada no bairro São Conrado, as três últimas na
cidade de Aracaju. Os pontos de cada imagem do Quadro 4.7 são observados na Figura 3.14.
As paisagens das imagens 09 e 10 são de poluição as margens do Rio Poxim. As cinco
paisagens fotografadas representam muito bem os tipos de poluição existentes na Bacia
Hidrográfica do Rio Sergipe, devido à urbanização e presença de indústrias. O processo de
degradação da rede hidrográfica da Bacia do Rio Sergipe, acontece desde o início da
ocupação do território sergipano, esses recursos hídricos vêm sendo utilizados intensamente.
Os entrevistados se referem à paisagem da imagem 07 (poluição hídrica) como
poluição e poluição hídrica. Um dos entrevistados relata o que conseguiu observar na
paisagem da imagem 07:
“Essa foto ela ilustra uma presença muito forte de baronesas, uma planta aquática
que normalmente quando ocorre essa incidência muito elevada de baronesa é uma
sinalização de que essa água tem uma concentração muito elevada de matéria orgânica,
possivelmente provocada aí por falta de tratamento de esgoto doméstico. Essa baronesa ela
na sua fase de juvenil até a emissão da flor ela purifica a água, depois que ela flora, que a
flor cai, ela passa a liberar uma toxina e essa toxina passa então trazendo um problema sério
de qualidade de água inclusive pra piscicultura, inibindo a reprodução de peixes”. (Poder
Público Estadual)
CAPÍTULO 4 - APRESENTAÇÃO, ANÁLISE DESCRITIVA E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS
129
A paisagem da imagem 08 foi realizada na Prainha do Porto Grande na cidade de
Nossa Senhora do Socorro (poluição aérea) para a área onde são observadas as fábricas. Os
entrevistados a reconheceram como poluição aérea; poluição por resíduos nas águas; poluição
industrial; impacto devido à construção da ponte; referiram-se a ponte como uma bela
construção e alguns não reconheceram impactos relacionados a obra. Um dos entrevistados
explica como ocorre a poluição aérea:
“Aqui é uma foto né, você está vendo lá no fundo as fábricas de cimento. Hoje em dia,
antigamente você não tinha, hoje nós estamos nos preocupando apenas com as Bacias
Hidrográficas, nós temos que nos preocupar com as bacias aéreas, tá. O grande número de
particulados que elas fazem pra essas fábricas de cimento, neste entorno é independente do
sentido dos ventos que podem causar um grande impacto. Imagine que tenha um ponto de
descarga de particulados e proveniente da queima desses materiais, certo. A população que
está em torno dessa fábrica ela sofre conseqüências né, então você tem dióxido de carbono,
monóxido de carbono, você tem enxofre, você tem outras coisas, ou seja, então a população
ao entorno ela sofre as conseqüências por respirar aquele ar contaminado. Então você nota
que talvez você no primeiro objetivo você quis mostrar aqui essa área de preservação e essa
ponte construída no meio ambiente, mas eu estou indo mais além aqui né, eu estou indo nas
questões das bacias aéreas contaminado esse meio”. (usuário)
Nas paisagens das imagens 09 e 10 (poluição do solo) os entrevistados confirmam a
colocação da pesquisadora como poluição do solo, um dos entrevistados fala sobre a
paisagem da imagem 09:
“Isso aqui é resultante de uma poluição urbana pesada, com uma parte de solos de
mangue né. Vamos ver aqui os pequenos orifícios a casa dos caranguejos né”. (Poder Público
Estadual)
A paisagem da imagem 11 (poluição hídrica) os entrevistados a reconheceram como
poluição hídrica; ocupação desordenada do solo; substituição da mata ciliar por culturas
econômicas; assoreamento. Um entrevistado a descreve como:
“Essa foto aqui tá braba. Água extremamente poluída parece o canal Santa Maria,
São Conrado aqui, Rio Poxim”. (sociedade civil)
CAPÍTULO 4 - APRESENTAÇÃO, ANÁLISE DESCRITIVA E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS
130
Jogo das Percepções – imagens de poluição aérea, por resíduos sólidos e líqüidos
Segmentos
CBHSE
Sujeito
Imagem 07
Imagem 08
Imagem 09
Imagem 10
Imagem 11
Poder
Público
Estadual e
Federal
1
Pressão e ausência do rio.
Remanescentes de vegetação
nativa e pressão pela presença
da ponte.
Inconsciência total, o lixo. Inconsciência antrópica, pressão e
lixo.
Intervenção antrópica.
2 Água poluída. Fábrica de cimento e ponte.
Laranjeiras.
Poluição urbana pesada. Depósito de lixo. Ducto sanitário bruto, grau de
poluição alto.
3
Presença de baronesas,
concentração elevada de matéria
orgânica.
Rio Cotinguiba, Laranjeiras.
Fábrica de cimento, cultivo de
cana-de-açúcar, risco de
agressão ambiental.
Lixo enterrado, de material de
difícil transformação, em local
inadequado.
Lixeira em área de mangue e
restinga.
Ocupação desordenada do solo e
substituição da vegetação nativa
por culturas econômicas.
Poder
Público
Municipal
4 Sujeira natural. Poluição industrial. Poluição social. Uma lixeira. São águas poluídas
5 Poluição. Vegetação bonita, uma ponte e
poluição da fábrica de cimento.
Poluição, garrafa, vidro. Então
essa daqui está descartada.
Lixão, perto de uma vegetação
bonita.
Coqueiral, esgoto aberto,
poluição, destruição.
6 Pântano, planta baronesa, um
córrego que não fazem limpeza.
Ponte sobre o Rio Cotinguiba
separa Laranjeiras de Socorro,
fábrica de cimento.
Muito lixo, a humanidade não está
preocupada com a preservação.
Buracos de goré elemento vivo
aqui.
Área de manguezal com lixo, área
de amortização e está sendo
devastado.
Invasão das casas, o fluxo de
bananeiras, de coqueiros
provando que a terra é solta.
Usuários
Empresas
e
Indústrias
7 Riacho com baronesa o rio
recebendo material orgânico.
Fábrica de cimento. Bacias
aéreas, grande número de
particulados que podem causar
impacto a população do entorno.
Área de manguezal, uma mostra
do que são jogados no rio.
Pressão urbana sobre os
manguezais, lixo.
Área antropizada vegetação
exógena, esgotamento sanitário
jogado nesta área.
8 Poluição, proliferação de vegetação
não própria do local. Rio ou riacho
que não existe mais.
Interferência da ocupação
urbana. Cimenteira com
potencial poluidor aéreo.
Nascente morta, poluída e
degradada, não tem mais
vegetação, muito vidro e plástico.
Região de mangue com muito
lixo, não tem consciência
ambiental.
Lançamento de esgoto, água
escura, ocupação urbana irregular,
área degradada.
9 Poluição, sempre que tem esse tipo
de planta embaixo está poluído,
agrotóxico e químico.
Rio internado, mas não tão
grave existem árvores.
Empresas poluem com algum
produto químico.
Poluição e lixo. Meu Deus do céu está na UTI não
tem nem discussão disso aqui,
esse está agonizando coitado.
Poluição infernal.
10 Um riachozinho, uma barragem. Eita que construção bonita é
essa! Essa ponte.
O descaso das pessoas com o meio
ambiente.
Destruindo a vegetação com a
lixeira.
Água preta, porção da praia, o
progresso construindo as margens
dos rios.
CAPÍTULO 4 - APRESENTAÇÃO, ANÁLISE DESCRITIVA E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS
131
Sociedade
Civil
11 Uma lagoa, eu não sei que planta é
essa, mas que não está sendo
preservada.
A paisagem é bonita, mas
contaminação para o rio, fábrica
de cimento e as APPs não
preservadas.
Misericórdia! Solo contaminado,
prejudicando o meio ambiente,
lixo a céu aberto.
Lixeira contaminando o meio
ambiente. Mata protegendo atrás.
A APP não preservada,
contaminação por esgoto
sanitário. Água escura,
demonstrando que está sendo
vítima do homem.
12 Diluição de matéria orgânica,
indicador de poluição local
antropizado.
Ponte de Laranjeiras, com
poluição atmosférica.
Zona estuarina, área de mangue,
habitat de crustáceos. Poluição
característica da periferia.
Vegetação de mangue, lixo
lançado em área de preservação
permanente próximo a zona de
ocupação urbana.
Água extremamente poluída,
canal Santa Maria. São Conrado
aqui, Rio Poxim.
Quadro 4.7: Imagens apresentadas aos entrevistados no Jogo das Percepções (paisagens de poluição aérea, hídrica e do solo). Relatos dos diferentes segmentos amostrados na pesquisa.
CAPÍTULO 4 - APRESENTAÇÃO, ANÁLISE DESCRITIVA E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS
132
Ainda referente ao Quadro 4.7 a paisagem da imagem 08 foi reconhecida por oito
entrevistados. Foi realizada na Prainha do Porto Grande na cidade de Nossa Senhora do
Socorro tendo logo atrás uma fábrica de cimento. Outra paisagem da imagem reconhecida foi
a 11, realizada no bairro São Conrado, na cidade de Aracaju. Já as outras imagens fotográficas
foram todas realizadas na cidade de Aracaju.
O Quadro 4.8, com imagens de paisagens que representam ausência de mata ciliar,
foram realizadas em: paisagem das imagens 12 e 14 zona rural da cidade de Itabaiana, sendo a
paisagem 12 na Barragem Jacarecica I e a paisagem 14 no Açude da Marcela; paisagem 13 foi
realizada a jusante da Barragem Jacarecica II na cidade de Malhador; paisagem 15 na cidade
de Aracaju no Bairro Coroa do Meio. Os pontos de cada imagem do Quadro 4.8 podem ser
observados na Figura 3.14.
As paisagens das imagens do Quadro 4.8 foram interpretadas da seguinte forma:
paisagem da imagem 12 substituição da vegetação ciliar nativa pela produção agrícola;
ausência de mata ciliar; um açude representando fartura; uma paisagem bonita. Na paisagem
da imagem 13, foi interpretada como: trecho do rio que ainda se encontra exuberante; retirada
de mata ciliar para a produção agrícola e criação de gado bovino, podendo vir a causar o
assoreamento; bela imagem sinônimo de fartura (essa idéia central foi dita por uma
lavradora). Na paisagem da imagem 14, foram interpretadas como: açude utilizado para fins
comerciais; alto índice de poluição advindo da cidade de Itabaiana; estação de tratamento;
pesque e pague. Referente a paisagem da imagem 14, um dos entrevistados relata um pouco
da história do local:
“Esse aqui é o Açude da Marcela. Isso aqui é um açude construído pelo DENOCS, de
terra que é muito utilizado para a produção de hortaliça, mas que tem um problema muito
sério que é justamente o carreamento do esgoto doméstico gerado pela cidade de Itabaiana,
com certeza comprometendo a qualidade da água desse açude. Existe uma proposta do
projeto Águas de Sergipe de tratamento de esgoto de Itabaiana justamente pra recuperar esse
açude e você trata o esgoto de Itabaiana evita a poluição do esgoto doméstico. A margem
dele está toda ocupada com culturas anuais inclusive com a utilização pela própria
comunidade de fertilizantes, principalmente os nitrogenados que é um problema sério e
também pesticidas né que o pessoal não deixa de usar pra controle de pragas e doenças.
Então aqui é um corpo hídrico que precisa ser bem monitorado”. (Poder Público Estadual)
CAPÍTULO 4 - APRESENTAÇÃO, ANÁLISE DESCRITIVA E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS
133
A paisagem da imagem 15 foi interpretada como: o descuidado sem a proteção do rio;
manguezal aterrado; interferência e ocupação urbana irregular; descaso e tristeza; ausência de
vegetação e contenção das águas pelas pedras. Esta imagem da paisagem foi reconhecida por
nove dos doze entrevistados como sendo do Bairro Coroa do Meio na cidade de Aracaju. Sua
história foi contada por um dos entrevistados:
“Bom aqui é Coroa do Meio, um trabalho de arroncamento aí das margens do Rio
Sergipe na proximidade da foz com o encontro com o Oceano Atlântico. Eu digo que a Coroa
do Meio foi uma das maiores agressões ambientais provocadas na foz do Rio Sergipe e é um
maior exemplo de ocupação, porque ela aterrou praticamente toda uma área de mangue que
existia e pra evitar justamente a erosão desse aterramento se gastou também um volume de
recurso financeiro muito alto pra conter aquele espaço que normalmente era designado aí
para o rio e para o mar né. Então isso aqui é um exemplo do que não deve ser feito. Um vão
de recursos públicos altíssimo para uma ocupação, que a meu ver, foi um dos maiores crimes
ambientais da história de Sergipe”.
Os entrevistados 02 e 03 reconheceram todas as paisagens das imagens, e a paisagem
15 foi reconhecida por 74% dos entrevistados (oito entrevistados).
As paisagens capturadas em imagens retratavam o desmatamento das cabeceiras e
margens de rios e as atividades agrícolas, poluição por esgotos, representando algumas das
causas de destruição e empobrecimento dos recursos hídricos, Amorim Filho (1996)
denomina essas intervenções antrópicas como um verdadeiro “hidrocídio”.
A história tem demonstrado que o ser humano tem uma enorme capacidade de alterar o
meio ambiente que o rodeia, tanto de forma premeditada como inconsciente. As mudanças e
alterações que progressivamente acontecem na paisagem dependem em grande parte pela
forma como o ser humano percebe o seu entorno e sobre os objetivos e desejos que tem em
relação ao seu uso, modificação e adaptação deste meio as suas próprias necessidades.
CAPÍTULO 4 - APRESENTAÇÃO, ANÁLISE DESCRITIVA E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS
134
Jogo das Percepções – imagens com ausência de mata ciliar
Segmentos
CBHSE
Sujeito
Imagem 12
Imagem 13
Imagem 14
Imagem 15
Poder Público
Estadual e
Federal
1
Intervenção antrópica próxima do
rio. Substituição da vegetação
nativa pela agricultura.
Trecho do rio que ainda está
exuberante, apesar de já observar
uma interferência antrópica na
mata ciliar.
Piscicultura, interferência do
homem, o recurso hídrico
utilizado para fins comerciais.
Pressão antrópica, em Aracaju
na Coroa do Meio. O
descuidado, sem a de proteção
do rio.
2
Jacarecica I, essas explorações
estão na faixa de proteção
ambiental da barragem.
Jacarecica II, área de APP,
pastagem e exploração de
bovinocultura, pequena área
preservada.
Açude da Marcela, barragem
antiga do DENOCS, alto índice
de poluição advindo da cidade de
Itabaiana.
Coroa do Meio, era um mangue
agora tudo aterrado.
3
Barragem Jacarecica I, com
culturas produtivas anuais. Área
deveria estar com uma cobertura
vegetal preservada, podendo
provocar assoreamento.
Lago Jacarecica II, área
desmatada na sua margem,
carreando sedimentos para o leito
do reservatório.
Açude da Marcela construído
pelo DENOCS. Produção de
hortaliça, carreamento de esgoto
doméstico gerado por Itabaiana,
margem ocupada por culturas
anuais.
Coroa do Meio, um trabalho de
arroncamento das margens do
Rio Sergipe na proximidade da
foz com o Oceano Atlântico. Um
dos maiores crimes ambientais
da história de Sergipe.
Poder Público
Municipal
4 Um rio com produção agrícola. Aqui é uma passagem in natura. Um bloqueio ao rio. Fizeram as margens dos rios.
5 Aqui devia ser um coqueiral, as
árvores estão tomando conta,
parece uma pastagem.
A vegetação ta bem cuidada, a
água está limpa.
Mais um coqueirinho não sei
onde é.
A vegetação aqui ta acabando,
uma área de mangue que acabou.
Se a Coroa do Meio tivesse
preservado até hoje iria ser bem
melhor.
6 Um sitiozinho a beira do rio,
bastante verde, a vegetação ciliar
não existe.
É uma área que tem plantio de
cana do outro lado.
Estação de tratamento do
Conjunto Jardins, tratamento de
esgoto.
Aracaju, na Coroa do Meio,
muitas pedras segurando água.
Usuários –
Empresas e
Indústrias
7 Vegetação nativa retirada as
matas ciliares não existem aqui.
Pressão rural.
Retirada a mata ciliar para a
plantação de pastagem, ou outro
tipo de cultura.
São lagoas que devem ser
preservadas, reservatórios de
águas no período de chuva.
Área estuarina de Sergipe na
Coroa do Meio. Exemplo mal
sucedido de uso e ocupação do
solo.
8 Uma plantação, invadindo a
várzea do rio, já ocupou muito
próximo ao rio.
O rio principal os afluentes caem
nele, um rio bastante grande.
Água represada, não é natural, é
um pesque e pague e um
criadouro.
Coroa do Meio. Interferência
urbana, ocupação urbana
irregular.
CAPÍTULO 4 - APRESENTAÇÃO, ANÁLISE DESCRITIVA E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS
135
9 Um açude, sinal de fartura,
plantações ao redor, açude cheio,
não está arborizado.
Sinônimo de fartura. Uma barragem um açude no meio
de uma fazenda. Seria prosperar.
Aqui é descaso né descaso,
tristeza.
Sociedade
Civil
10 As margens do rio sendo
explorado pela agricultura.
Muito bonita! Um açude, olhe o caminho aí. Uma barreira de pedra, a
proteção do rio.
11
Subindo a barragem, paisagem
bonita. Tem pequenas árvores,
montanha, não está tão
desmatada, favorece ao meio
ambiente.
Um rio subindo a barragem. Não
preservação do leito do rio,
plantas que eu acredito que não
seja favorável.
Não tem proteção, uma lagoa para
aproveitar água da chuva.
Aracaju a Coroa do Meio. Não
está preservado, de um lado
casas, aqui com certeza não está
favorecendo o desenvolvimento.
12
Águas serenas, área de pastagem,
cultivo. Mas não tem área de
preservação permanente.
Áreas cultivadas, assoreamento,
cultivaram até a lâmina d água.
Uma barragem ou a margem de
uma lagoa de estabilização, talude
de contenção de águas.
Coroa do Meio, verdadeiro
crime que já teve por aqui, esse
absurdo.
Quadro 4.8: Imagens apresentadas aos entrevistados no Jogo das Percepções (paisagens com ausência de mata ciliar). Relatos dos diferentes segmentos
amostrados na pesquisa.
CAPÍTULO 4 - APRESENTAÇÃO, ANÁLISE DESCRITIVA E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS
136
O Quadro 4.9 com imagens de paisagens demonstrando áreas assoreadas foram
realizadas na cidade de Riachuelo (paisagem 16) e zona rural da cidade de Nossa Senhora das
Dores (paisagem 17). Os pontos de cada imagem do Quadro 4.9 são observados na Figura
3.14.
As paisagens das imagens do Quadro 4.9 foram interpretadas pelos entrevistados
como: pressão urbana; cultivo de culturas econômicas nas margens do rio; presença de erosão;
água poluída; trecho degradado por exploração agropecuária; ausência de mata ciliar;
ausência de sinergia do rio; pastagem as margem do rio. Nestas imagens 16 e 17 apenas o
entrevistado 02 conseguiu identificar onde foi realizada a imagem fotográfica 16. Segue
abaixo a transcrição do relato feito pelo entrevistado 02 sobre a paisagem 16:
“Aqui me parece mais próximo de Riachuelo. Onde também você vê as mesmas
circunstâncias... moradias próximas, muito próximas da água, praticamente adjacente ao
talude do rio, isso é uma área de risco do ponto de vista não só de erosão, que pode ocorrer...
os taludes começam a se modificar até compromete os lugares do rio. As mesmas
circunstâncias que está aqui é uma área que não devia ter exatamente moradia. É área de
risco”. (Poder Público Estadual)
Já a descrição da paisagem da imagem 17 foi realizada da seguinte forma:
“Aqui devido ao desmatamento você vê a presença de animais, aqui ó. O rio já perdeu
toda a sua sinergia você vê que ta o rio bem sinuoso, cheio de curvas né, porque quando o rio
está muito cheio de curva assim você vê que ele já não tem uma energia forte né, que ele
consiga, ele rompe, então ele vai fazendo esses meandros, nota que se ele não tiver cuidado
ele está morrendo desse jeito por incrível que pareça. Então você vê, que apesar de ser uma
área rural é uma área antropizada né, vegetação nativa é retirada, presença de animais”.
(usuário)
Como é descrito por um dos entrevistados: “Essa daqui é agonia por que o coitado
está morrendo, pra mim seria as últimas”. (usuário)
A retirada de mata ciliar e o processo de assoreamento são uma das causas do
“hidrocício”, ou seja, a destruição e empobrecimento dos recursos hídricos da Bacia
Hidrográfica do Rio Sergipe, como pode ser observado nas imagens fotográficas abaixo pela
coloração e quantidade de água.
CAPÍTULO 4 - APRESENTAÇÃO, ANÁLISE DESCRITIVA E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS
137
Jogo das Percepções – imagens de assoreamento
Segmentos
CBHSE
Sujeito
Imagem 16
Imagem 17
Poder
Público
Estadual e
Federal
1 Presença de erosão e pressão antrópica. Vegetação ainda conservada, mas há presença de
erosão.
2 Próximo de Riachuelo, moradias
próximas da água, adjacente ao talude do
rio, área de risco.
Trecho degradado, exploração agropecuária,
banco de areia, região ligeiramente acidentada.
3 Ocupação desordenada do solo,
habitações construídas na margem do rio,
cultivo de culturas econômicas, agressão
ao manancial.
Desmatamento total, assoreamento, cultivo de
pastagens, ausência de mata ciliar, estreitamento
do leito.
Poder
Público
Municipal
4 Aqui é um córrego sem trato. São as curvas do rio.
5 Tem a vegetação, tem coqueiro, tem a
casinha.
Desmatamento, areia invadindo o rio.
6 Erosão dos dois lados da margem. Aqui também, foi desmatado, esse riacho está
sendo entupido, erosão dos dois lados.
Usuários
Empresas
e
Indústrias
7 Pressão nas margens do rio, onde foi
retirada a mata ciliar, e a pressão urbana
chegando até as margens do rio.
O rio perdeu toda a sua sinergia, sinuoso, cheio
de curvas. Área rural antropizada, vegetação
nativa retirada, presença de animais.
8 A mata comprometida nas laterais do rio,
ocupação, casas próximas a borda do rio,
água poluída.
Assoreamento, banco de areia.
9 Urbanização, então seria aqui. Essa daqui é agonia por que o coitado está
morrendo, pra mim seria as últimas.
Sociedade
Civil
10 Construção as margens dos rios. Isso é pasto.
11 A aproximação de casas não está sendo
respeitado a APP.
Margens do rio desmatada, com volume muito
baixo de água, camas de areia, não existe
preservação do percurso.
12 Tá todo ferrado, antropizado, certamente
recebendo esgoto aqui.
Assoreamento, vegetação tentando se recuperar.
Pastagem até a margem do rio.
Quadro 4.9: Imagens apresentadas aos entrevistados no Jogo das Percepções (paisagens de assoreamento).
Relatos dos diferentes segmentos amostrados na pesquisa.
No Quadro 4.10, as paisagens das imagens 18, 19, 20 e 21 foram realizadas na cidade
de Aracaju; a paisagem da imagem 18 é do Bairro Coroa do Meio; paisagem da imagem 19 e
20 Orlinha do Bairro Industrial; paisagem da imagem 21 Bairro 13 de Julho e a imagem 22,
na cidade de Nossa Senhora do Socorro sobre a ponte do Rio do Sal. Os pontos de cada
imagem do Quadro 4.10 podem ser observados na Figura 3.14.
As paisagens das imagens do Quadro 4.10 representam impactos causados pelas
construções humanas. Foram interpretadas da seguinte forma: paisagem da imagem 18 -
urbanização e ausência de mata ciliar; poluição; ocupação desordenada em área de
preservação permanente; presença de pescadores; ausência de pavimentação e esgotamento
CAPÍTULO 4 - APRESENTAÇÃO, ANÁLISE DESCRITIVA E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS
138
sanitário. Paisagem da imagem 19 - ocupação desordenada do solo; ocupação das margens do
rio; poluição; pescadores; poder capitalista; ponte que representa uma das grandes construções
de Sergipe. Um dos entrevistados fala sobre a ponte que liga Aracaju à Barra dos Coqueiros:
“Essa aqui é aquela ali do... que vai pra Socorro, não é aquela não? Isso aqui é o
Bairro Industrial, veja bem, ali tem esgoto aberto, tem a ponte bonita e tal, o rio poluído,
porque agente sabe que este rio está poluído eu to vendo aqui por baixo, é que eu conheço
muito a ponte por cima, depois que a ponte foi inaugurada eu acho que passei de canoa uma
ou duas vezes, que agente passa por cá muitas vezes nem nota, sabe? Aqui o rio poluído, as
canoas, não tem mais peixe, o peixe já não está bom... agora a cidade em si não estava muito
estruturada para receber essa ponte, mas também se agente fosse esperar que tivesse uma
estrutura igual a construção da ponte, ia demorar muito mais tempo ainda, então a ponte foi
muito bom pra gente mas, teve o lado ruim também né! O lado ruim foi a estrada, aquela a
rodovia Edilson Távara é estreita, não tem acostamento, o próprio centro da cidade não
estava preparado para o movimento que teve depois da ponte, calçamentos ruins,
principalmente depois da obra do esgotamento sanitário, muito buraco e tal e o município
hoje não tem um situação financeira assim pra fazer essa diferença. Como aumentou o
movimento de carro o município não acompanha financeiramente. Então a ponte é uma coisa
muito boa, mas ela teve ta tendo esse impacto né. O pessoal do porto e dos tototós quebraram
né, a situação financeira pra eles tá difícil. Os tototós hoje, praticamente no sentido
financeiro hoje não existe o que era pra sobreviver, as famílias ali trabalhando, duas pessoas,
dois canoeiros e dava muito bem pra viver os proprietários das canoas, hoje o movimento é
muito pouco então pra eles ali foi ruim, e o centro da cidade também, ali na rua da frente
comercialmente morreu né, então teve esse aspecto também, toda essa situação da ponte da
Barra dos Coqueiros”. (Poder Público Municipal)
A paisagem da imagem 20 foi interpretada como adensamento urbano a beira do rio,
alto nível de poluição devido ao despejo de esgoto in natura no Rio Sergipe, área antropizada
com beleza paisagística exemplo da relação homem e natureza, turismo ecológico, local
agradável. Esta imagem foi interpretada da seguinte forma por um dos entrevistados:
“Essa foto aqui, mostra um exemplo de um ambiente construído em que você pode
viver harmonicamente com o meio físico, o cenário e o homem convivendo com essas belezas
cênicas, quer dizer, o homem tem a capacidade de pegar o ambiente ali e torná-lo, fazer um
ambiente construído e ir mantendo esse equilíbrio. Aqui é na Orlinha do Bairro Industrial.
Agora é importante a sua preservação também. Um investimento público bem sucedido, uma
CAPÍTULO 4 - APRESENTAÇÃO, ANÁLISE DESCRITIVA E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS
139
beleza cênica, não ocupou as margens do Rio Sergipe né? E também não criou um
adensamento, passarela para as pessoas caminharem, até porque o homem também faz parte
do meio, nós não podemos tirar o homem”. (usuário)
A paisagem da imagem 21 foi interpretada como: adensamento urbano; zona nobre da
cidade de Aracaju; presença de pescadores; despejo de esgoto dos condomínios no
manguezal; harmonia entre ponte e rio; poder capitalista. A paisagem da imagem 22 foi
interpretada como: zona de adensamento urbano; inexistência de mata ciliar; imagem feia
com alto grau de poluição e grandes riscos para a população; condições precárias de
habitação; utilização do rio para banho e pesca; inexistência de saneamento básico; lixo
acumulado; pouca alternativa de sobrevivência; pobreza e miséria. Segue relato sobre a
paisagem da imagem 22:
“Aqui você tem o meio físico com ocupação urbana, não é isso? Uma ocupação
urbana bem as margens do rio, ou seja, na hora em que a população ela ocupa essas margens
do rio né, é uma decisão particular dela, ela não pergunta as instituições públicas se pode ou
não ocupar essas margens, né? Porque provoca uma série de impacto, tanto o meio biótico
quanto o meio antrópico e o meio físico. E posteriormente toda e qualquer conseqüência de
variação que há nesse rio aí deixa de ser privado e passa a ser público, por exemplo, né. Por
incompetência do poder público eles deixaram ocupar a margem do rio, mas na hora em que
houver uma preamar... me parece mais ali em Nossa Senhora do Socorro. Mas quando há
uma enchente ou a própria preá-mar, acho que aqui sofre a influência da ria, sabe o que é
que é ria? A ria é a interferência da maré no rio, então você vê a ria do Rio Sergipe vai até
Riachuelo, quando a maré enche o rio enche, quando a maré baixa, a preamar a maré sobe.
Aí deixa de ser privado e passa a ser público, aí o poder público tem que dar solução pra
isso. Questão de saneamento, quer dizer, porque ocupou a área de preservação ambiental,
certo? Então uma ocupação desordenada as margens de uma área de preservação, até
preservação permanente, certo, porque você tem que ter a faixa de mata ciliar, das matas
ciliares e aqui não tem. Ou seja, por todo esse problema, que o sistema de esgotamento
sanitário está indo diretamente para esse rio, ou seja, então as pessoas vivem da pesca, só
basta ter um elemento da cadeia alimentar contaminado, pode contaminar todo o ciclo e aí
afetar toda essa população”. (usuário)
CAPÍTULO 4 - APRESENTAÇÃO, ANÁLISE DESCRITIVA E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS
140
As paisagens das imagens do Quadro 4.10, foram todas reconhecidas pelos
entrevistados, sendo que as paisagens das imagens 19, 20 e 21 são pontos conhecidos da
cidade de Aracaju.
Os impactos causados aos corpos hídricos pelas construções humanas são inúmeros,
desde a retirada total de mata ciliar, poluição dos rios, diminuição da biota aquática,
transformação da paisagem entre outros. Nestas paisagens os impactos foram causados devido
ao processo de urbanização das áreas. Para compreendermos as questões relativas aos
impactos ambientais gerados pela urbanização, é necessário lembrar que esse ambiente traz as
marcas das construções humanas. Desta forma, é possível verificar que o ambiente urbano é
tratado através de uma concepção social que inclui concomitantemente aspectos econômicos e
ambientais.
CAPÍTULO 4 - APRESENTAÇÃO, ANÁLISE DESCRITIVA E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS
141
Jogo das Percepções – imagens de impactos causados pelas construções humanas
Segmentos
CBHSE
Sujeito
Imagem 18
Imagem 19
Imagem 20
Imagem 21
Imagem 22
Poder
Público
Estadual e
Federal
1
Intervenção de zona de
adensamento, com supressão
total de vegetação ciliar.
Adensamento urbano,
ocupação das margens do rio.
Prainha do Bairro Industrial,
ponte Aracaju/Barra.
Adensamento urbano. Aracaju
na praia da Orlinha Bairro
Industrial.
Rio Poxim, adensamento
urbano de Aracaju.
Zona de adensamento
urbano, a vegetação ciliar
não existe.
2
Trecho de poluição, Bairro
Santo Antônio.
Ponte Aracaju – Barra, faixa
bastante poluída, próximo a
desembocadura de um dreno.
Rio Sergipe na prainha, ponte
de Barra dos Coqueiros, alto
nível de poluição, esgoto sem
tratamento.
Ponte, que liga o Bairro 13
de Julho a Coroa do Meio
sobre o Rio Poxim, afluente
do Sergipe, que está no
Centro da cidade.
Imagem muito feia, alto grau
de poluição grandes riscos,
catastróficos como a
ascensão do rio.
3
Ocupação desordenada do
solo, habitações construídas
em área de preservação
permanente. Bairro Inácio
Barbosa, Rio Poxim.
Rio Sergipe, ponte Barra dos
Coqueiros, Bairro Industrial.
Ocupação desordenada do
solo, habitações construídas
em áreas de APP.
Orlinha do Bairro Industrial.
Área antropizada com beleza
paisagística. Bom exemplo da
relação homem e natureza.
Ponte sobre o Rio Poxim,
Coroa do Meio, zona nobre e
o pescador. Trecho de
mangue no Rio Poxim e
esgotos despejados nele.
Condições precárias de
habitabilidade.
Poder
Público
Municipal
4 Falta de cuidado do rio, dos
pescadores.
Bairro Industrial. Isso é uma
total falta de cuidado.
Bairro Industrial, urbanização
às margens do rio.
Ponte na Coroa do Meio. São Braz ali em Nossa
Senhora do Socorro.
5 Pescadores na área, ruas sem
pavimentações, esgoto
aberto.
Bairro Industrial, esgoto
aberto, ponte bonita, rio
poluído, as canoas.
Orlinha na Atalaia.
Aproveitado o turismo
ecológico.
Acabar com os esgotos
abertos.
Casinhas na beira do rio,
esgotos. Rio é utilizado para
banho e pesca.
6 Construção desrespeitando a
legislação. Habitação
irregular.
Embaixo da ponte do João
Alves. Barcos, canoas, agente
chamava Rio Siri, pela grande
abundância de crustáceo do
Siris, botos.
Bairro Industrial, prainha.
Ponte de madeira, aquele
muro de pedra e um bocado
de canoa.
Aqui é ponte de Atalaia, que
liga Aracaju a Coroa do
Meio.
Embaixo da ponte do João
Alves. Todas essas casas
entrando, jogando lixo ali.
Usuários–
Empresas e
Indústrias
7
Classe média ocupando a
área de maré, área de aterro,
impactando o meio
ambiente.
Ponte João Alves, pressão
urbana, as pessoas vivem desse
Rio Sergipe, importante
recuperar esse ambiente.
Meio ambiente construído
harmonia entre meio físico e
homem, belezas cênicas.
Orlinha do Bairro Industrial.
Ponte da Coroa do Meio,
ligar os espaços físicos
interrompidos por curso d
água. Harmonia da ponte
com o rio.
Ocupação urbana as margens
do rio. A questão social e a
contaminação da região.
8 Interferência urbana na área,
muitas casas construídas.
Barcos, pescadores, viaduto,
ocupação irregular com
Ponte João Alves,
aparentemente é um local
Bairro 13 de Julho, local
nobre de Aracaju com ponte
Saneamento básico que não
existe, ocupação irregular,
CAPÍTULO 4 - APRESENTAÇÃO, ANÁLISE DESCRITIVA E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS
142
palafita. O rio com lançamento
de efluente.
agradável, mas existe a
ocupação das margens do rio.
e um pescador. Local
poluído, sem tratamento de
esgoto.
população muito carente.
9 Grande concentração de
gente em área urbana.
Poluição, poder capitalista. Urbanização. Poder capitalista. Pobreza, miséria.
Sociedade
Civil
10 Construções mal feitas às
margens do rio é Aracaju.
Ponte João Alves, Barra dos
Coqueiros, uma das grandes
construções de Sergipe.
Ponte do Sergipe. Ponte que liga Aracaju a
Coroa do Meio.
Construção do Bairro
Industrial.
11 Construções, o saneamento
escorre para o rio,
contaminando.
Ponte Aracaju e Barra dos
Coqueiros. Contaminação e
precariedade das famílias à
margem do rio.
Bairro Industrial, Rio Sergipe
com a prainha. Ponto turístico
e desmatamento.
Rio próximo ao Shopping
Riomar, o mangue
contaminado pelos
condomínios.
Em Socorro, pescadores que
sobrevivem da pesca, mas
contaminam.
12 Zona de ocupação e área de
pesca. Ocupação dos
segmentos pela classe média.
Ponte nova, região de pesca
tradicional, região
pauperizada.
Prainha do Bairro Industrial,
área de APP.
População tradicional e local
de pesca, esgotos lançados
no rio. Ponte da Coroa do
Meio.
Muito lixo acumulado nas
margens, pouca alternativa
para sobrevivência.
Quadro 4.10: Imagens apresentadas aos entrevistados no Jogo das Percepções (paisagens de impactos causados pelas construções humanas). Relatos dos diferentes segmentos
amostrados na pesquisa.
CAPÍTULO 4 - APRESENTAÇÃO, ANÁLISE DESCRITIVA E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS
143
As paisagens das imagens do Quadro 4.11 foram realizadas em: paisagem da imagem
23 na zona rural da cidade de Itabaiana a montante da Barragem Jacarecica I; paisagem da
imagem 24 foi realizada na zona rural da cidade de Malhador a jusante da Barragem
Jacarecica II. Os pontos de cada imagem do Quadro 4.11 podem ser observados na Figura
3.14.
Quadro 4.11 com paisagens de situações de barramentos no Rio foram interpretadas
da seguinte forma: paisagem da imagem 23 - vertedouro da Barragem Jacarecica I; faixa ciliar
danificada; significativa importância para o Estado; belezas naturais. Segue abaixo relato de
um dos entrevistados:
“Isso aqui é uma foto demonstrando Jacarecica I uma fase de lâmina máxima de
água, aqui é uma demonstração de vertimento da água. É uma barragem muito importante
para o Estado, porque ela é utilizada para a irrigação, com uma área aí de perímetro
irrigado e também parte dela é utilizada para abastecimento de água”. (Poder Público
Estadual)
A paisagem da imagem 24 foi interpretada pelos entrevistados como: intervenção
positiva destinada a suprir necessidades das pessoas; área de pastagem; Barragem Jacarecica
II; importante para o Estado; ausência de mata ciliar; estação de tratamento de efluentes e
poluição. Segue abaixo relato de um dos entrevistados:
“Área de pastagem, Barragem Jacarecica II que alimenta um projeto de irrigação de
1.820 hectares onde predomina pequenos produtores numa espécie de assentamento de
reforma agrária, objeto de reforma agrária. Os produtores ficam a jusante dessa barragem, o
projeto é a jusante dela, a mais ou menos quase 1 km. A jusante é após o barramento, a
montante você não tem nada. A montante é uma área de APP, o que impede de você ter
pessoas que invadiram, nós estamos revendo tudo isso agora para preservá-lo. Todas essas
áreas aqui que envolve área de APP e de reserva são desapropriadas, faz parte da
desapropriação do projeto então é área do Estado e agente compete por zelar por isso. O Rio
passa dentro do projeto, então as margens dele e em todos os cinqüenta metros dentro da
legislação tem que ser preservada uma vegetação natural”. (Poder Público Estadual)
As duas paisagens das imagens foram reconhecidas pelos entrevistados 02 e 03; o
entrevistado 11 conseguiu reconhecer a paisagem da imagem 23.
CAPÍTULO 4 - APRESENTAÇÃO, ANÁLISE DESCRITIVA E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS
144
Quadro 4.11: Imagens apresentadas aos entrevistados no Jogo das Percepções (paisagens de barramentos no
Rio). Relatos dos diferentes segmentos amostrados na pesquisa.
O Quadro 4.12 a paisagem da imagem 25 foi realizada na zona rural de Nossa
Senhora das Dores e não foi reconhecida pelos entrevistados. Esta paisagem representando a
manutenção, apenas da mata ciliar, foi interpretada da seguinte forma pelos entrevistados:
resquício de vegetação ciliar; bovinocultura; uma nascente; desvio de água; retirada de areia
do rio; uma área de preservação permanente dentro de uma propriedade privada; paisagem
bonita. O ponto da imagem do Quadro 4.12 é observado na Figura 3.14.
Jogo das Percepções – imagens de barramentos no Rio
Segmentos
CBHSE
Sujeito
Imagem 23
Imagem 24
Poder Público
Estadual e
Federal
1 Barragem. Barragem da CEHOP. Intervenção positiva
destina a suprir necessidades das pessoas.
2 Vertedouro da Barragem Jacarecica I, já
está sangrando. A faixa ciliar bastante
danificada.
Área de pastagem, Barragem Jacarecica II.
A montante é uma área de APP.
3
Barragem Jacarecica I em fase de lâmina
máxima de água. Barragem importante
para o Estado, irrigação e abastecimento.
Barragem Jacarecica II em vertimento.
Importante para o Estado abastecimento
humano, irrigação e sistema integrado do
Agreste. Entorno desmatado.
Poder Público
Municipal
4 Uma barragem. Construção de barragem.
5 Ponte destruída. Barragem, a vegetação desse rio é que
precisa ser bem elaborada.
6 Uma barragem. Estação de tratamento de efluentes.
Usuários –
Empresas e
Indústrias
7 Uma barragem. Barragem da CEHOP, abastecimento
humano, necessidade de análise da água.
8 Uma barragem. Um açude, um reservatório da CEHOP para
abastecimento urbano.
9 Muito bonita a natureza meu Deus é tão
bonito verde e a natureza. É uma represa.
Poluição, desmatamento
Sociedade Civil
10 Uma barragem. Essa daqui é mais bonita ainda. CEHOP.
11
Represa de Itabaiana, Jacarecica I, muito
bonita, as pastagens lá atrás., mas a
margem deveria estar preservada as APPs.
Um reservatório joga produto químico aqui
para não ser despejado diretamente no Rio.
Não tem muita preservação, dá pra ver as
pastagens, não tem uma mata.
12 Uma barragem reserva hídrica. Barragem da CEHOP.
CAPÍTULO 4 - APRESENTAÇÃO, ANÁLISE DESCRITIVA E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS
145
Jogo das Percepções – imagens de manutenção da mata ciliar
Segmentos
CBHSE
Sujeito
Imagem 25
Poder Público
Estadual e Federal
1 Existe um resquício de vegetação ciliar protegendo o riacho.
2 Restinho das margens, destruição da faixa ciliar, em função da bovinocultura.
3 Pouca vegetação na margem do manancial, totalmente desmatada com
cobertura de pastagem. Maiores problemas recursos hídricos o desmatamento
e assoreamento.
Poder Público
Municipal
4 Uma nascente.
5 Vegetação meio gasta parece um sertão brabo.
6 Não localizo onde é isso.
Usuários
Empresas e
Indústrias
7 Um rio, um vale, e todo o seu entorno devastado, alguns resquícios de
vegetação nativa já bem derrubada.
8 Uma nascente, uma APP dentro de uma área de conservação, ou dentro de
uma fazenda, uma propriedade privada, deve ser preservado.
9 Desvio de água, tiragem de areia dos rios, o desmatamento provoca os desvios
de água e os rios fica agonizando.
Sociedade Civil
10 Bonita, só não está tão bonita porque derrubaram as árvores todas.
11 Olha que linda! Paisagem bonita declinada, 70% está protegendo o córrego,
por outro lado, as APPs não são preservadas.
12 Eita que cenário bonito! Tributário importante, a área de recarga toda
devastada por pastagens, vê-se lá embaixo assoreou o córrego. A fímbria
verde ainda preservada.
Quadro 4.12: Imagens apresentadas aos entrevistados no Jogo das Percepções (paisagens de manutenção da mata
ciliar). Relatos dos diferentes segmentos amostrados na pesquisa.
Entre os entrevistados foi possível observar que a formação, grau de instrução,
profissão, a vivência com os locais, a valoração social, a valoração individual como interesses
próprios, a valoração afetiva e estética, a sobrevivência, influenciaram nas respostas e reações
dos entrevistados.
Quanto à observação por segmento em relação às imagens foi possível observar que o
Poder Público Estadual consegue explicar o contexto das situações, principalmente das
imagens que representam intervenção humana na Bacia Hidrográfica do Rio Sergipe.
CAPÍTULO 4 - APRESENTAÇÃO, ANÁLISE DESCRITIVA E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS
146
4.2.3.1.2 Interação com a área de estudo
2º Momento do Jogo das Percepções
Para auxiliar na identificação das paisagens das imagens e reforçar a intenção do
trabalho de observação das respostas dos entrevistados sobre a variável experiência, foi
proposta uma segunda etapa do Jogo das Percepções sendo perguntado ao entrevistado se ele
reconheceria os locais onde foram realizadas as imagens; se eram em ambientes rurais ou
urbanos e se reconheciam todas as paisagens como sendo da Bacia Hidrográfica do Rio
Sergipe. A segunda etapa do Jogo objetivou auxiliar no reconhecimento dos pontos
fotografados como sendo ou não da Bacia Hidrográfica do Rio Sergipe.
A partir da análise das informações das vinte e cinco imagens selecionadas para o Jogo
das Percepções, as que foram reconhecidas como paisagens de ambiente rural por todos os
entrevistados se encontram no Quadro 4.13.
Os argumentos dos entrevistados para justificar a escolha das imagens como sendo
paisagem de ambiente rural são: a presença de pastagens; plantações; mais árvores, mais
verde, mais água; longe da cidade; próximo as matas; lugares mais isolados; não há povoação
e centros industriais; paisagem característica; não sofre a degradação de processos ocorrentes
de núcleos urbanos; a exploração vem da terra.
CAPÍTULO 4 - APRESENTAÇÃO, ANÁLISE DESCRITIVA E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS
147
Quadro 4.13: Relação de imagens fotográficas apresentadas aos entrevistados e reconhecidas como paisagens de ambiente rural.
Ambiente rural
CAPÍTULO 4 - APRESENTAÇÃO, ANÁLISE DESCRITIVA E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS
148
Em seu trabalho Tuan (1980) discute que o campo é a antítese da cidade, no entanto,
sob outra perspectiva a natureza virgem ou o selvagem, e não o campo é o pólo oposto da
cidade. O campo é a “paisagem intermédia”, ideal mundo intermediário do ser humano, o
mito agrário, entre as polaridades da cidade e do selvagem.
Durante as observações nesta etapa do Jogo das Percepções foi possível constatar que
o contato físico dos entrevistados com ambiente natural é cada vez mais indireto e limitado a
ocasiões especiais como viagens a campo e passeios recreacionais, com exceção dos
entrevistados pertencentes às áreas rurais. Segundo Tuan (1980) o que falta às pessoas nas
sociedades avançadas é o envolvimento suave, inconsciente com o mundo físico, que
prevaleceu no passado, quando o ritmo da vida era mais lento. Muitos alegam que a falta de
tempo e a “vida corrida”, não permitem que possam usufruir e realizar esse tipo de atividade
em ambientes rurais.
Ao trabalhar as imagens com paisagens de ambientes urbanos, as justificativas feitas
pelos entrevistados para classificá-las como tal, foram: aglomerados urbanos; edificações;
muitas habitações; pontes; centros comerciais; indústrias; lixo; poluição; esgotamento
sanitário; iluminação; lançamento de esgoto nos corpos d água; ruas pavimentadas;
descaracterização do meio ambiente; condições de moradia e vida subumana. As imagens
escolhidas por todos os entrevistados como sendo de ambiente urbano estão no Quadro 4.14.
Ao trabalhar com essas duas definições de ambiente rural e urbano, foi possível observar que
as pessoas possuíam certo apreço pelo rural em detrimento ao urbano, talvez pela
simplicidade das paisagens. Tal observação foi refletida nas definições e palavras usadas
referente ao rural, com palavras mais suaves e selecionando as imagens com menos impactos
(Quadro 4.13) como sendo de ambiente rural.
Segundo Ferrara (1993) os ambientes urbanos e rurais são caracterizados por um modo
de vida sustentado por aprendizado e comportamentos gerados por um modo de produção que
lhes é característico. A autora complementa dizendo que:
Usos e hábitos constituem a manifestação concreta do lugar urbano, na
mesma medida em que o lugar é manifestação concreta do espaço. Usos e
hábitos, reunidos, constroem a imagem do lugar, mas sua característica de
rotina cotidiana projeta, sobre ela, uma membrana de opacidade que impede
sua percepção, tornando o lugar, tal como espaço, homogêneo e ilegível, sem
codificação (FERRARA, 1993, p. 153).
CAPÍTULO 4 - APRESENTAÇÃO, ANÁLISE DESCRITIVA E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS
149
Quadro 4.14: Relação de imagens fotográficas apresentadas aos entrevistados e reconhecidas como paisagens de ambiente urbano.
Ambiente urbano
CAPÍTULO 4 - APRESENTAÇÃO, ANÁLISE DESCRITIVA E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS
150
Neste contexto, superar a opacidade é condição de percepção ambiental, ou seja, de
gerar conhecimento a partir de informação retida, codificada naqueles usos e hábitos.
Percepção é informação na mesma medida em que informação gera informação: usos e
hábitos são signos do lugar informado que só se revela à medida que é submetido a uma
operação que expõe a lógica da sua linguagem. A essa operação dá-se o nome de percepção
ambiental (FERRARA, 1993). A partir, do estudo foi possível observar o esforço que os
entrevistados faziam para definir o que seria um ambiente rural ou urbano, refletindo assim a
“membrana de opacidade” referida pela autora. As respostas dos entrevistados também
expõem sobre a caracterização do lugar, a partir o modo de vida sustentado por aprendizado e
comportamentos gerados por um modo de produção característico, quando os entrevistados
citam sobre aspectos relacionados ao seu cotidiano para caracterizar as paisagens das
imagens.
Para finalizar o segundo momento do Jogo das Percepções, foi realizada a seguinte
pergunta: Todas as imagens retratam a Bacia Hidrográfica do Rio Sergipe? As respostas estão
presentes no Quadro 4.15.
Como demonstra o Quadro 4.15, apenas o entrevistado 02 do Estado de Alagoas
conseguiu identificar todas as paisagens das imagens, e os entrevistados 08 e 09 não souberam
identificar as paisagens das imagens como sendo ou não da Bacia Hidrográfica do Rio
Sergipe. Demonstrando que pertencer ou não ao Estado de Sergipe, não é uma característica
pessoal do sujeito que influencie no reconhecimento das paisagens.
CAPÍTULO 4 - APRESENTAÇÃO, ANÁLISE DESCRITIVA E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS
151
Todas as imagens retratam a Bacia Hidrográfica do Rio Sergipe - BHSE?
Segmentos
CBHSE
Entrevistado
Estado de Sergipe
Outro Estado
Poder
Público
Estadual e
Federal
1 Aracaju – reconhece poucas imagens,
referência o adensamento urbano e
zona a estuarina.
2 Alagoas - Reconhece as imagens,
referência imagens verdadeiras.
3 Cedro de São João - Não reconhece
poucas imagens, referência não
conhece toda a Bacia.
Poder
Público
Municipal
4 Aquidabã - reconhece poucas imagens.
5 Barra dos Coqueiros - reconhece
poucas imagens, referência corpos
hídricos.
6 Nossa Senhora do Socorro - reconhece
poucas imagens.
Usuários –
Empresas e
Indústrias
7 Rio Grande do Norte - reconhece
poucas imagens, referência 80%
são das margens da BHSE.
8 São Paulo.
Não reconhece as imagens.
9 Riachuelo - Não reconhece as imagens.
Sociedade
Civil
10 Itabaiana - reconhece poucas imagens,
referência corpos hídricos.
11 Malhador - reconhece poucas imagens.
12 Bahia - reconhece poucas imagens.
Quadro 4.15: Relação de respostas positivas ou negativas referentes às paisagens pertencerem a Bacia
Hidrográfica do Rio Sergipe por segmento e por origem (pertencente ao estado de Sergipe e de outro estado).
4.2.3.1.3 Experiência ambiental individual e coletiva
3º Momento do Jogo das Percepções
Neste momento do Jogo foi pedido que o participante selecionasse as imagens em
paisagem não impactada e impactada e formasse grupos. Algumas questões foram realizadas
em relação aos grupos formados tais como: 1º - Quantos grupos foram organizados? 2º -
Como você denomina cada grupo? 3º - O que cada grupo significa? 4º - Por que ocorrem? Os
diálogos foram gravados, sendo transcritos e analisados posteriormente.
O Quadro 4.16 expõe as imagens escolhidas por todos os entrevistados como
paisagens de impacto.
Ao ler todas as transcrições, foram retiradas as idéias principais, dizendo o que
significavam as imagens reconhecidas como paisagens de impacto, resultando em: imagens
ruins que representam o mal demonstrando atitudes covardes do ser humano com desprezo ao
meio ambiente; sinal de tristeza com poluição; ocupação desordenada do solo; desmatamento;
CAPÍTULO 4 - APRESENTAÇÃO, ANÁLISE DESCRITIVA E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS
152
urbanização; industrialização; falta de saneamento; impacto devido à agricultura; desvio e
exploração até o leito do rio. Posturas que representam o “desenvolvimento” e “poder
aquisitivo”.
Os entrevistados descrevem algumas imagens das paisagens:
Imagem 05: “Isso aqui é uma disposição inadequada de lixo, pouco degradado com a
presença aí de vasilhames de vidro numa área de mangue”. (sociedade civil)
Imagem 08: “Isso aqui é uma ocupação também da Coroa do Meio né, inclusive com
um enrocamento aí para proteção de erosão na foz do rio. Isso aqui também é uma ocupação
desordenada do solo”. (Poder Público Estadual)
“Significa sinal de tristeza né, de poder aquisitivo, de poluição, de urbanização, os
rios muito poluídos, muito desviados, muito lixo, muitas construções civis né, mais poluição,
mais impacto”. (usuário)
Outra pergunta foi realizada sobre as imagens que retratavam paisagens de impacto:
por que elas ocorrem? As idéias principais foram às seguintes: ocorre devido à negligência do
poder público, da justiça e da sociedade em função do capitalismo; a falta de consciência da
população e da família que não compreende que cuidar do rio é cuidar da sua própria vida; a
falta de planejamento para dar suporte a população que cresce; formas para atrair
investimentos para o Estado vendendo a idéia de que as restrições ambientais são menores do
que em outros estados.
CAPÍTULO 4 - APRESENTAÇÃO, ANÁLISE DESCRITIVA E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS
153
Quadro 4.16: Relação de imagens escolhidas pelos entrevistados como paisagens de impacto ambiental.
Imagens de impacto
1 3
5
9
6
10
0
1
0
2
8
4
7
11
CAPÍTULO 4 - APRESENTAÇÃO, ANÁLISE DESCRITIVA E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS
154
Os entrevistados argumentam o porquê de ocorrerem algumas destas paisagens nas
imagens:
“Esse grupo ocorre porque a gente não tem cuidado, normalmente quando a gente vê
assim, condena logo as administrações, o poder público e tal, mas é o ser humano de uma
maneira geral ele é desligado das coisas, ele ocorre, ocorreu porque não teve um cuidado no
passado. A principal responsabilidade é do ser humano, isso tem que começar por mim, se eu
esperar que comece pelos outros ta ruim né, do que adianta o governo botar uma coleta de
lixo seletiva, aterro ainda falou que é descartado, o que é ainda melhor pro final do lixo? A
consciência do pessoal mesmo. Agente critica o governo, mas tem que começar pelo ser
humano, a família ta fazendo o que”? (Poder Público Municipal)
“Desenvolvimento, agora um desenvolvimento em que o homem só vê retorno, ele
podia fazer uma coisa muito mais suave, mas ele aterra, porque ele quer um retorno, um
retorno imediato. O homem não se preocupou ainda, quando eu dou palestra eu mostro uma
cabeça aberta com um bocado de coisas dentro, porque a pessoa quer comprar às vezes o que
não precisa. Eu tenho um exemplo, dou também nas minhas palestras, foi agora na copa do
mundo, muita gente ta indo comprar as televisões e aquelas pessoas provavelmente tem uma
televisão em casa, comprar uma televisão nova para a copa do mundo e o que você vê é o
homem querendo mais, consumindo mais desproporcionalmente sem controle. O homem não
sabe, não foi educado ainda pra comprar o essencial, é isso que está acontecendo, por isso
que essa destruição está dessa maneira, nós sabemos que pra você construir tem que ter a
pedra a areia, agora comedidamente, mas o homem não faz comedidamente, o homem faz pra
aproveitar oportunidade, aproveitar comércio e muito mais”. (Poder Público Municipal)
A partir da análise das falas, foi possível observar que o grupo entrevistado consegue
reconhecer os impactos e discutir sobre eles, cada um com suas individualidades e estilos de
vida diferenciados. Segundo os autores Pires, Santos e Del Pettre (2002) os impactos de maior
ocorrência em uma Bacia Hidrográfica estão associados aos problemas de erosão dos solos,
sedimentação de canais navegáveis, enchentes, perda da qualidade da água e do pescado e
aumento do risco de extinção de elementos da fauna e flora como pode ser observado na
Bacia Hidrográfica do Rio Sergipe.
Já os autores Tucci e Mendes (2006) subdividem os principais impactos antrópicos
sobre os sistemas aquáticos, classificando-os em função do uso da água e do solo. Os
impactos devido ao uso da água são efluentes domésticos, industrial e pluvial das cidades;
águas pluviais de área agrícolas contaminadas por pesticidas e erosão do solo; efluentes de
criação de animais; efluentes de mineração; impactos sobre os sistemas hídricos devido a
CAPÍTULO 4 - APRESENTAÇÃO, ANÁLISE DESCRITIVA E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS
155
obras hidráulicas como de barragens para hidrelétrica, irrigação, abastecimento de água,
navegação e irrigação; alteração dos sistemas hídricos como rios e lagos. E os impactos de
uso do solo estão relacionados a erosão e sedimentação devido a práticas agropecuárias,
urbanização, mineração ou infra-estrutura como estradas, pontes, diques etc; desmatamento e
reflorestamento; urbanização; queima de mata e florestas; impacto sobre as águas devido a
mineração.
Na formação do grupo de imagens que não representavam paisagens de impacto ao
meio ambiente, o Quadro 4.17 está abaixo discriminado. Ao perguntar sobre o significado
dessas imagens as idéias centrais foram: significa vida, natureza e sobrevivência; área
preservada que ocorre pela ausência da atividade econômica; o impacto causado é de beleza
desejável de pureza.
Um dos entrevistados descreveu o que o grupo de imagens que representa paisagens
não impactadas:
“Esses daqui não dá a idéia de que o homem interviu, certo? E quando dá, como os
pescadores é só sustentabilidade, vai pescando, mais ou menos a idéia que o homem passou
por lá, mas não interferiu, certo”? (usuário)
Para a segunda pergunta, referente a questão do por que as imagens ocorrem, as idéias
principais das respostas foram: essa área é de preservação permanente ou protegida pelo poder
publico; uma área privada que o proprietário preservou não deixou ser degradado; a
conscientização dos proprietários desse trecho do rio que buscaram preservar; porque eles
descobriram que a mãe natureza ela é muito bela, ela é que dá toda a sustentabilidade para o
planeta; a evolução da legislação em relação com a natureza; o difícil acesso ao local.
Extraindo o contexto das idéias principais relatadas pelos entrevistados as imagens de locais
não impactados acontecem ainda pela vigilância do Estado, a proteção de algumas pessoas e a
dificuldade de acesso aos locais.
Um dos entrevistados descreve que as paisagens das imagens ocorrem devido a:
“Eu acho que em alguns casos aqui, pelo difícil acesso das pessoas, do homem, aqui a
atividade é sustentável, atividade de pesca e aqui não existe interferência ainda, não existe
interferência humana no ambiente dada a dificuldade de acesso a essas áreas, agente vê
praticamente que a própria vegetação já está fechando os braços do rio aqui né, e isso aqui
também, isso aqui já é uma área de difícil acesso, por isso que elas continuam aí preservadas.
Talvez seja também indiretamente, pela ação da própria ação do homem como defensor, como
protagonista da defesa do ambiente em algumas áreas aqui”. (Poder Público Federal)
CAPÍTULO 4 - APRESENTAÇÃO, ANÁLISE DESCRITIVA E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS
156
Quadro 4.17: Relação de imagens escolhidas pelos entrevistados como paisagens de não impacto.
Imagens de não impacto
5 4
1 3 2
CAPÍTULO 4 - APRESENTAÇÃO, ANÁLISE DESCRITIVA E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS
157
Os resultados demonstram a complementação das várias visões dentro de um grupo
gestor, os técnicos descrevendo o ambiente de acordo a sua formação e os não técnicos
descrevendo o ambiente de acordo com a sua vivência. Sendo assim, a riqueza presente neste
grupo de entrevistados, entre técnicos e não técnicos, com suas visões de mundo e formações,
possibilita um “olhar” mais abrangente perante a gestão da Bacia Hidrográfica do Rio
Sergipe, indo além da qualidade e quantidade de água desta Bacia.
Com a utilização das imagens como metodologia de coleta de dados, foi possível
observar que os entrevistados se sentiam mais interessados e conseguiam se expressar com
maior facilidade, pois discutiam sobre imagens disponíveis “aos olhos” e não perguntas
diretas.
Foi possível também constatar a importância de serem realizadas visitas técnicas por
pontos da Bacia Hidrográfica do Rio Sergipe com os membros do Comitê da Bacia
Hidrográfica do Rio Sergipe, possibilitando o reconhecimento da área e a realidade das
informações que são discutidas durante as reuniões. Tais medidas possibilitariam
reconhecerem os impactos.
Este tipo de trabalho, tendo sido observada a experiência do entrevistado, busca
promover a produção de um “diagnóstico” ambiental da Bacia Hidrográfica do Rio Sergipe,
fundamentando as ações de conservação, adequação, recuperação e desenvolvimento
necessários a uma gestão.
Reconhecer motivos de espaço nas imagens e interpretá-los são duas operações
mentais complementares, a confusão está entre a percepção e a interpretação. De fato,
reconhecer o motivo não significa que se esteja compreendendo a mensagem da imagem, por
outro lado, o próprio reconhecimento do motivo exige um aprendizado (JOLY, 1996). No
contexto do aprendizado que foi trabalhado o Jogo das Percepções com os entrevistados, esse
aprendizado, e não a leitura da imagem, que foi realizado de maneira “natural”.
Segundo Joly (1996), desde muito pequenos aprendemos a ler imagens ao mesmo
tempo em que aprendemos a falar. Muitas vezes, as próprias imagens servem de suporte para
o aprendizado da linguagem. Assim, as palavras e as imagens revezam-se, interagem,
completam-se e esclarecem-se com uma energia revitalizante. Correndo o risco de um
paradoxo, podemos dizer que quanto mais se trabalha sobre as imagens mais se gosta das
palavras (JOLY, 1996, p. 133).
CAPÍTULO 4 - APRESENTAÇÃO, ANÁLISE DESCRITIVA E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS
158
Em sua tese de doutorado Maroti (2002) comprova que os trabalhamos utilizando
imagens são mais “leves” e “atraentes” para o grupo estudado, possivelmente devido a sua
simplicidade e rapidez na coleta dos dados do teste. Ele trabalhou com a análise da
preferência estética e da codificação semântica da paisagem induzida por processos
educativos. Neste trabalho foram utilizadas também paisagens de impactos locais do interior e
entorno de uma unidade de conservação com o objetivo de entender as possibilidades
didáticas junto a um público alvo específico: professores do entorno de uma Estação
Ecológica. Tal pesquisa, denominada de pesquisa-ação, buscou como resultado além da
realização de um levantamento perceptivo, possibilitar a valoração/aquisição de novos
conhecimentos, atitudes ou na incorporação de nova ordem de comportamento junto a este
público, com relação a esta área em específico. A partir dos resultados deste autor pode
observar que:
[...] os resultados revelaram relativa eficácia da metodologia empregada para
a avaliação do Curso, além da constatação “do ganho” cognitivo diretamente
relacionados às mudanças de preferência estética da paisagem induzidas pela
intervenção pedagógica [...]
[...] a eficiência da metodologia estaria ligada a adesão do público-alvo na
participação das tomadas de resposta, diferentemente observada durante a
aplicação de questionários de avaliação. Notou-se evidente satisfação do
professor na participação do teste, devido possivelmente a simplicidade e
rapidez na coleta dos dados do teste (MAROTI, 2002, p. 120).
Vemos, portanto que a função de conhecimento associa-se naturalmente à função
estética da imagem, proporcionando a seu espectador “sensações específicas”. A ligação
íntima entre a representação visual e o campo artístico atribui-lhe um valor particular entre os
diferentes instrumentos de expressão e de comunicação. Comunicar pela imagem (mas do que
pela linguagem) vai estimular necessariamente, por parte do espectador, um tipo de
expectativa específica e diferente da que uma mensagem verbal estimula.
4.2.4. Caracterização perceptiva do sistema de estudo
A caracterização perceptiva do sistema de estudo tem por objetivo caracterizar a
expressão do significado, identidade e escolha de usos atribuídos a Bacia Hidrográfica do Rio
Sergipe. Esta etapa do estudo foi obtida a partir do tratamento, análise, descrição e
interpretação da entrevista semi-estruturada.
No estudo da Bacia Hidrográfica do Rio Sergipe a abordagem perceptiva está voltada
para significados, ou seja, expressões sobre as atividades perceptivas que o sujeito desenvolve
CAPÍTULO 4 - APRESENTAÇÃO, ANÁLISE DESCRITIVA E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS
159
no meio ambiente, expresso como descrições de sua própria vivência, direta e íntima ou
indireta e conceitual. E também por meio da identidade, ou seja, a identificação com o local
de acordo ao contexto sociocultural do sujeito. Segundo Machado (1996) cada pessoa percebe
seletivamente aquilo que lhe interessa aquilo que está habituado a observar.
Para Addison (2003) a identidade é o reconhecimento do lugar e o significado é a fase
final do processo perceptivo.
A escolha de usos atribuídos a Bacia Hidrográfica do Rio Sergipe é uma variável que
possui como objetivo o estudo da percepção dos membros do Comitê sobre o sistema Bacia
Hidrográfica e como seus recursos naturais podem ser utilizados.
4.2.4.1. Identidade do sistema de estudo
Com a promulgação da Lei das Águas – Lei 9.433/97 a nível federal, a Bacia
Hidrográfica passou a ser a unidade territorial de planejamento e gestão das águas. Como
conseqüência, vários projetos de Educação Ambiental, voltados para recursos hídricos, foram
desenvolvidos tendo por base a Bacia Hidrográfica, a sua gestão tem assumido crescente
importância no Brasil, à medida que aumenta os efeitos da degradação ambiental sobre a
disponibilidade dos recursos hídricos (JACOBI, 2010).
Nesse contexto, o Comitê de Bacia Hidrográfica, considerado “parlamento das águas”
apresenta-se como foro legítimo de discussão e embates, no objetivo de buscar consensos a
partir de uma perspectiva integrada, descentralizada e, sobretudo, participativa. Diante do
exposto, torna-se cada vez maior a necessidade de se obter uma “horizontalização” de
informação entre os membros que compõem um Comitê de Bacia Hidrográfica, para que a
gestão seja realmente participativa.
Trabalhando com a “horizontalização”, a primeira questão a ser realizada foi em
relação ao conceito de Bacia Hidrográfica, visando não só a definição de um conceito, como
também a percepção e a identidade dos membros ao que seria uma Bacia Hidrográfica, no
contexto sociocultural de cada membro.
Muitos trabalhos de percepção ambiental utilizam a identidade para observar como o
indivíduo em seu contexto sociocultural identifica a área gerida, dentro da proposição de que
a pessoa percebe o que lhe interessa e o que está habituado a observar. Machado (1996) em
seu trabalho intitulado: “Paisagem valorizada – A Serra do Mar como espaço e como lugar”,
observou no grupo estudado, que as pessoas residentes na Serra prestavam atenção aos
componentes paisagísticos naturais (água, altitude, ar, relevo e principalmente, a vegetação),
CAPÍTULO 4 - APRESENTAÇÃO, ANÁLISE DESCRITIVA E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS
160
distinguidos no seu dia-a-dia, enquanto os estudiosos preferiam identificá-la pelo seu relevo e
geologia (serra, escarpa, rebordo escarpado, vertente abrupta, paredão rochoso), sendo este
um bom exemplo para caracterizar a identidade do grupo com o local estudado.
A pergunta realizada aos entrevistados foi: O que você entende por Bacia
Hidrográfica?
De acordo a tabulação e categorização dos dados foram observadas cinco categorias
pelos sujeitos, onde Bacia Hidrográfica seria um local a ser preservado, um instrumento de
trabalho, um ecossistema, área de drenagem e um território. Do grupo selecionado de 12
sujeitos, foram transcritas quatorze evocações, observando que entre os entrevistados, alguns
atribuem mais de uma categoria para a questão. A percentagem das categorias foi realizada a
partir do valor das quatorze evocações emitida pelos entrevistados.
Destas categorias, as mais utilizadas foram área de drenagem utilizada por 43% (6 de
um total de 14 evocações); a segunda mais utilizada foi a categoria de território com 28,6% (4
de um total de 14 evocações); a terceira categoria foi de ecossistema com 14,3% (2 de um
total de 14 evocações); as outras categorias só foram utilizadas uma vez pelos entrevistados.
Dos doze sujeitos selecionados, três não souberam responder a esta pergunta, sendo eles: um
membro do segmento usuário e dois membros do segmento sociedade civil.
Não foi possível distinguir entre os segmentos um perfil de escolha, apenas no
segmento sociedade civil foi possível observar que dentre os três membros entrevistados dois
não souberam responder a questão.
A categoria área de drenagem foi contextualizada como uma área de recarga hídrica
onde toda uma região drena suas águas e deságuam no mar. Dois entrevistados definem Bacia
Hidrográfica como:
“A Bacia Hidrográfica é toda uma área de recarga hídrica nos corpos d água, dos
lençóis freáticos, os reservatórios subterrâneos e de superfície. Então a Bacia é essa região
toda que drena suas águas para essas acumulações”. (sociedade civil)
“Bacia Hidrográfica por si só o próprio nome já simboliza né, ela representa uma
bacia onde toda gota de água que cai na região dessa bacia vai sendo direcionada para o seu
leito principal”. (Poder Público Estadual)
A categoria território foi interpretada como uma conformação geográfica centralizada
por um rio principal. Dois entrevistados disseram que a Bacia Hidrográfica seria:
“Então Bacia Hidrográfica é isso, é toda uma conformação geográfica e que delineia
um espaço formado por um rio principal. E cada gota de água que ali vai de uma forma ou
de outra contribuir para esse leito principal do rio”. (Poder Público Estadual)
CAPÍTULO 4 - APRESENTAÇÃO, ANÁLISE DESCRITIVA E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS
161
“A Bacia Hidrográfica é a bacia dos Rios que compreende um determinado território
né. Ela é a constituição daquela parte do território que é constituído por água que separa a
cidade, as áreas urbanas os territórios né”. (Poder Público Municipal)
A categoria ecossistema foi interpretada como sendo a Bacia Hidrográfica um grande
ecossistema englobando não só a dimensão ecológica, mas também as dimensões
socioculturais face à complexidade do sistema. Um dos entrevistados conceitua Bacia
Hidrográfica como:
“A Bacia Hidrográfica, por exemplo, para o estudo, ela deve ser formatada em
qualquer tipo de trabalho como a referência do trabalho a partir dali se trabalhar inclusive
os demais segmentos né, ambientais, solo, ar tudo isso, todos os recursos. A visão
ecossistêmica deve partir da Bacia Hidrográfica”. (Poder Público Federal)
As categorias restantes de preservação e instrumento de trabalho foram citadas por
um membro do Poder Público Federal. Ele as interpretou como preservação e instrumento de
trabalho respectivamente:
“O povo têm que ter consciência de como tratar esse recurso hídrico de forma que ele
possa não só servir a população, ao homem, ao cidadão não é, mas como também ser
preservado”.
“Bacia hidrografia, por exemplo, é o instrumento de trabalho técnico de bastante
relevância. Todo o planejamento que é feito tendo como base a Bacia Hidrográfica ele tem
uma preocupação ambiental muito mais forte e marcante do que qualquer outra referência”.
A partir dos resultados observa-se a necessidade de se discutir sobre o conceito de
Bacia Hidrográfica entre os membros do Comitê, onde 25% do grupo amostrado (3
entrevistados de um total de 12 sujeitos amostrais) não souberam definir o que é uma Bacia
Hidrográfica. Tal resultado pode ser considerado como preocupante, uma vez que os mesmos
não souberam definir algo que deveriam estar cientes, pois toma decisões, votam e definem
procedimentos e normas muito importantes para a sociedade e o meio ambiente. A partir
desses dados, denota-se a responsabilidade e importância de trabalhos ligados aos conselhos
relacionados à governança de bens comuns. Também reforça a importância de trabalhos
educativos e que proporcionem aperfeiçoamento formativo dos membros desses órgãos que se
propõem a discutir questões tão sérias como os corpos hídricos ou unidades de conservação.
CAPÍTULO 4 - APRESENTAÇÃO, ANÁLISE DESCRITIVA E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS
162
Oliveira (2006) discute que para entender a Bacia Hidrográfica como unidade
territorial é preciso ir além da conceituação de que se trataria somente das redes de drenagem
e suas conexões, mas sim entendê-la como uma porção de espaço, formada por um conjunto
de elementos físicos, biológicos, sociais e políticos que interagem entre si, modificando todo
o sistema.
Schiavetti e Camargo (2002) discutem sobre a adoção da Bacia Hidrográfica como
unidade de estudo, trazendo uma abordagem interdisciplinar e a importância de trabalhos em
equipe, com a pretensão de atingir o almejado desenvolvimento sustentável.
Para os autores Pires, Santos e Del Prette (2002) o conceito de Bacia Hidrográfica tem
sido muito utilizado como unidade de gestão da paisagem na área de planejamento ambiental,
existindo algumas variações no foco principal dos conceitos de acordo a percepção dos
técnicos que a utilizam para estudo. Eles discutem sobre os conceitos de acordo aos estudos,
para os hidrólogos é utilizado o conceito de que a Bacia Hidrográfica como: “um conjunto de
terras drenada por um corpo d água principal e seus afluentes e representa a unidade mais
apropriada para o estudo qualitativo e quantitativo do recurso água e dos fluxos de sedimentos
e nutrientes” (PIRES, SANTOS E DEL PRETTE, 2002, p. 17).
Já para um técnico direcionado à conservação dos recursos naturais, o conceito se
amplia, abrangendo além dos aspectos hidrológicos, a estrutura biofísica, as mudanças nos
padrões de uso da terra e suas implicações ambientais. Alguns autores ressaltam também a
importância do uso do conceito de Bacia Hidrográfica como um ecossistema, sendo utilizado
tanto para o estudo como para o planejamento (PIRES, SANTOS E DEL PRETTE, 2002).
Ruffino e Santos (2002) trabalham com a utilização do conceito de Bacia Hidrográfica
para a capacitação de educadores argumentando que os conhecimentos necessários à
conquista do gerenciamento ambiental aos recursos hídricos, necessitam compreender a
percepção e modo de utilização que o ser humano faz dos mesmos, se fazendo necessária a
sintonia entre o conhecimento científico adquirido e o senso comum da sociedade em geral.
De acordo ao exposto acima, percebe-se a importância de se obter a definição do
conceito Bacia Hidrográfica aos membros do Comitê e visualizar a identificação de que
dispõem sobre esse sistema de estudo ambiental, ou seja, o ecossistema Bacia Hidrográfica.
Essa busca por um aperfeiçoamento da gestão ocorre através da compreensão de que existe
uma diversidade de situações, e que isto representa um desafio para efetivar uma governança
das águas, seja em sua origem, objetivos e níveis de alcance.
CAPÍTULO 4 - APRESENTAÇÃO, ANÁLISE DESCRITIVA E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS
163
4.2.4.2. Significado do sistema de estudo
O Rio Sergipe inspira cronistas, poetas, compositores, jornalistas, pesquisadores, a vê-
lo sobre diferentes ângulos. É o fascínio de sua beleza, de suas águas, passando
ininterruptamente à nossa frente. O Rio Sergipe é economicamente ativo, produtor, gerador de
bens, tem histórias, histórias a narrar, por cada um de nós, habitantes de suas margens
(ALVES, 2006, p. 13). Esse trecho resume o significado do Rio Sergipe para alguns
sergipanos e pessoas que adotaram Sergipe como sua morada, não significando apenas um
corpo hídrico importante para o Estado de Sergipe, mas um símbolo deste.
O estudo de percepção ambiental e o significado em relação ao Rio Sergipe com os
membros do Comitê trabalham com expressões da vivência, direta e íntima ou indireta e
conceitual do entrevistado em relação às dimensões ecológicas, econômicas, sociais, culturais
e políticas. A utilização do Rio Sergipe como instrumento de análise para estudo do
significado apóia-se na representação do Rio principal que dá nome a Bacia Hidrográfica.
A pergunta realizada para trabalhar à variável significado foi: O que significa para
você o Rio Sergipe?
A partir dessa questão foram classificadas quatro categorias, com um total de
dezenove evocações. As categorias são: cultura, produção, sobrevivência, território. A
percentagem das categorias foi realizada a partir do valor das dezenove evocações emitidas
pelos entrevistados.
A categoria cultura, representando 30% (6 de um total de 20 evocações) do estudo,
significa para os entrevistados a cultura e história do povo Sergipano, um patrimônio do
Estado. Essa categoria foi adotada duas vezes pelo segmento Poder Público Estadual e
Federal, uma vez pelo Poder Público Municipal, uma vez pelos usuários e duas vezes pela
sociedade civil. A seguir são citadas falas de dois participantes:
“O Rio Sergipe pelo próprio nome ele simboliza assim do ponto de vista histórico e
social, um marco com recurso natural né, inclusive o Estado herda o nome do Rio Sergipe,
então tem um valor histórico muito significativo”. (Poder Público Estadual)
“O Rio Sergipe é um grande patrimônio para o Estado de Sergipe e para a
humanidade”. (sociedade civil)
CAPÍTULO 4 - APRESENTAÇÃO, ANÁLISE DESCRITIVA E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS
164
A categoria produção, representando 25% (5 de um total de 20 evocações) das
categorias utilizadas, foi interpretada como valor econômico e produtivo para o Estado de
Sergipe para a irrigação, indústria e pescado. Esta foi utilizada duas vezes pelo segmento
Poder Público Estadual, duas vezes pelo Poder Público Municipal e uma vez pela sociedade
civil. Duas falas dos entrevistados exemplificam o significado do Rio Sergipe:
“Ele tem assim, um valor político, social e econômico muito relevante para o nosso
Estado, porque na parte média do Rio, onde ele passa a receber a contribuição dos seus
principais afluentes, a exemplo do Jacarecica, Cajueiro dos Veados, é... ele já passa a ter
uma importância econômica muito grande por conta da utilização das suas águas para
abastecimento humano, irrigação e até mesmo para a indústria. Como também ocorre na
parte inferior do rio, na proximidade aqui da foz, onde ele, no encontro com o mar forma
uma paisagem belíssima, com a formação dos mangues na sua foz e também pela utilização
até mesmo da sua piscosidade para a sobrevivência de um número muito grande das famílias
de pescadores. De forma que preservar o Rio Sergipe é preservar toda essa história, todo
esse potencial que o rio tem para com o nosso Estado”. (Poder Público Estadual)
“O afluente Rio do Sal que é conhecido como Rio Siri, porque ali dá tanto siri, tanto
crustáceo que até hoje com a poluição tamanha ainda tem, todo dia você passa aqui na
Rodovia José do Prado Franco você tem aqui dez, quinze pratos de siri e vendendo, dá muito
siri, camarão, ostra, sutinga, sururu, milongo. Então quem tem um Rio desses na sua Terra
só pode ser feliz, e eu sou feliz.” (Poder Público Municipal)
A categoria território, representando 20% (4 de um total de 20 evocações) das
categorias utilizadas pelos entrevistados, significa a grande concentração de cidades sobre os
domínios do Rio Sergipe a sua conformação geográfica. Essa categoria foi utilizada uma vez
pelo Poder Público Estadual, uma vez pelo Poder Público Municipal, uma vez pelos usuários
e uma vez pela sociedade civil. As falas de dois entrevistados foram utilizadas para
exemplificar essa categoria:
“Então a ocupação do homem no Estado de Sergipe se deu pela Bacia do Rio Sergipe
com uma maior intensidade, se você pegar 70%, 75% a 80% da população de Sergipe, mora
na Bacia do Rio Sergipe de Aracaju até Glória vamos dizer assim, então você vê as cidades
mais populosas de Sergipe, Aracaju, Socorro, Barra, não é isso? Elas estão o que? As
margens do Rio Sergipe”. (usuário)
“O Rio Sergipe corta quase o Estado todo rapaz, o território todo, abastece tantos
terrenos tantos povoados, muito bom”. (sociedade civil)
CAPÍTULO 4 - APRESENTAÇÃO, ANÁLISE DESCRITIVA E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS
165
A categoria sobrevivência, utilizada por 20% (4 de um total de 20 evocações) da
amostragem realizada, foi interpretada como o Rio de maior importância para o Estado de
Sergipe responsável pela sobrevivência de grande parte da população sergipana. O Poder
Público Federal, e a sociedade civil utilizaram essa categoria uma vez, já os usuários
utilizaram duas vezes essa categoria. Dois entrevistados falam sobre essa categoria:
“Não só cultural, dele também depende a sobrevivência de muitos sergipanos, é a
Bacia de maior importância no Estado de Sergipe. Salve engano estava dando uma lida aqui
nos meus... nas minhas anotações aqui, tem uma área drenada mais de mil e trezentos
quilômetros quadrados de área drenada, vinte e quatro municípios de setenta e cinco
pertencem a Bacia do Rio Sergipe. Ele tem importância não só como recurso hídrico, mas
como também é parte da sobrevivência de muitos dos sergipanos né, se identificam com ele
por causa disso”. (Poder Público Federal)
“O Rio Sergipe representa para mim como uma fonte de vida, uma fonte de
sobrevivência para muitas pessoas”. (usuário)
A partir da análise dos resultados foi observado que os grupos trabalhados são
distintos, cada um com sua forma diferente de ver e interpretar o mundo que o rodeia. Os
significados passados pelos entrevistados sobre o Rio Sergipe pode ser resumido na idéia de
Saraiva (1999).
Os sistemas fluviais são, simultaneamente, mutáveis e permanentes, quando
considerados sob o ponto de vista de estruturação do território e dos seus
usos. Constituem redes de drenagem resultantes de processos físicos naturais
e também antrópicos, condutores de água, mas também referência de mitos,
adaptações, utilizações, tecnologias (SARAIVA, 1999, p. 48).
As inúmeras formas de descrever o significado do Rio Sergipe abrangem desde um
aspecto cultural e simbólico de um povo, como divisa de territórios até mesmo em relação a
valores econômicos como responsável pela produção e sobrevivência do Estado de Sergipe.
4. 2.4.3. Escolha de usos para o sistema de estudo
A variável escolha de usos para o sistema de estudo objetivou observar a importância
da mata ciliar para o ecossistema e quais as possibilidades de usos da Bacia Hidrográfica do
Rio Sergipe. Para responder a esta variável foram utilizadas as questões terceira e quarta da
entrevista semi-estruturada.
CAPÍTULO 4 - APRESENTAÇÃO, ANÁLISE DESCRITIVA E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS
166
A terceira questão buscou entender a percepção dos membros do Comitê da Bacia
Hidrográfica do Rio Sergipe, quanto às “funções ambientais” da mata ciliar para o
ecossistema. A questão foi:
Qual a importância da mata ciliar para o Rio?
As categorias obtidas foram proteção, sobrevivência, filtro e preservação. Foram
contadas dezoito evocações com as quatro categorias.
A categoria proteção representou 55,5% (10 de um total de 18 evocações) das
categorias utilizadas. Ela representa a manutenção da velocidade das águas, a preservação da
lâmina d água sob a incidência direta dos raios solares e a evaporação, a manutenção da biota
aquática e terrestre responsável por serviços ambientais que garantem a salubridade, a
manutenção do solo seguro para que não ocorra assoreamento. A seguir foram transcritas falas
de dois membros entrevistados:
“Qual a importância dos nossos cílios para os nossos olhos? É muito importante as
matas ciliares, primeiro a proteção dos rios, segundo evitar os grandes enroncamentos, os
caimentos de barreiras né, então se você tiver uma mata ciliar você vai evitar que essas
quedas de barreiras dentro do rio, aí o rio vai enlarguecendo e vai perdendo a sua sinergia, e
você perder também grande área fértil, imagina se você não tem essas proteções com as
matas, as barreiras começam a desmoronar, se desmoronar eles vão para dentro do rio, a
calha do rio aumenta, se o rio é navegável ele vai dificultar a navegação, certo”? (usuário)
“A mata ciliar primeiro ela é fundamental pra conter a velocidade das águas, as
matas ciliares estão nas calhas nas acumulações, todas as calhas de drenagem ou das
acumulações, seja lagos, e a função dela é conter, reduzir a velocidade das águas e com isso
conter todo o material que vem dessas águas fluviais. Essa seria a primeira função, portanto
ela nessa atividade ela evita que esse material seja lançado para as calhas e provoca o
assoreamento, mas ela cumpre também a função de preservar a lâmina d água da incidência
direta dos raios solares, né. Mas ela cumpre ainda a função também de preservar toda a
biodiversidade que é responsável por serviços ambientais que garante a salubridade da
água”. (sociedade civil)
A categoria sobrevivência representou 22,2% (4 de um total de 18 evocações) das
categorias utilizadas. Para os membros essa categoria simboliza que a mata ciliar é
fundamental para a sobrevivência e manutenção dos rios, a partir, do alimento e abrigo
fornecido aos seres vivos. A seguir são transcritas falas de dois entrevistados:
CAPÍTULO 4 - APRESENTAÇÃO, ANÁLISE DESCRITIVA E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS
167
“Eu acredito que no entorno ele tem uma fauna e flora que é a mata ciliar, ou seja,
deve ter muitos animais que dependem dessa mata ciliar e também tem muita vegetação da
qual a fauna do rio depende também”. (usuário)
“As matas ciliares além do serviço de conter a ocorrência de material de areia
arrastado pelas águas da chuva etc, ela também preserva uma biodiversidade de flora e
fauna que é responsável pela saúde dessas águas, pela salubridade das águas. A mata ciliar
é, sobretudo um corredor ecológico que liga a nascente a foz, e esse corredor abriga e
preserva diferentes ecossistemas e diferentes espécies da fauna e da flora que são
responsáveis pelo sabor da água, pela qualidade da água, pela pureza da água, e pela
preservação em volume da água, é essa biodiversidade”. (sociedade civil)
A categoria filtro com um percentual de 11% (2 de um total de 18 evocações) das
categorias utilizadas representou para os entrevistados que a mata ciliar segura o material que
possa vir a ser carreado para dentro das águas, servindo como uma espécie de filtro de
resíduos sólidos e líquidos. A seguir são transcritas as falas de dois entrevistados:
“Funciona como um filtro também das águas que venham das encostas, um filtro e um
travamento de solo dentro dessa faixa, que evita voçoroca, enfim, minimiza o processo de
erosão muito”. (Poder Público Estadual)
“A mata ciliar eu acredito que ela funciona como um grande filtro pro rio, pra evitar
contaminação, ela funciona, eu acho que deve ter muita fauna, em minha opinião”. (usuário)
A categoria preservação representando um total de 11% (2 de um total de 18
evocações) da amostra. Essa categoria tem o sentido de preservar as matas ciliares e também
que as matas preservem o rio. A seguir são transcritas falas de dois participantes:
“A questão de manter também esse equilíbrio, ela retém mais esse ciclo hidrológico
né, porque vem as chuvas, caí amortece nas copas das árvores, pra depois cair no chão, ou
seja, isso é a função também dessas matas, mais precisamente para preservar as margens dos
rios, a função maior em todas as margens do Rio Sergipe é a preservação”. (usuário)
“Ela tem a importância de preservar, na televisão passa direto, porque os rios são
destruídos, porque ele derruba as matas né, a preservação não só da mata ciliar, mas como
de toda mata deve ser preservada nesse sentido. Então a importância dela é de preservação”.
(Poder Público Municipal)
A partir das transcrições e categorizações pode-se observar que os entrevistados
concordam sobre a importância da mata ciliar para o ecossistema da Bacia Hidrográfica. Onde
cada indivíduo relata a importância de acordo a sua vivência. Todas as falas transcrevem a
importância da mata ciliar para o Rio onde ela evita o assoreamento nas margens de rios ou
CAPÍTULO 4 - APRESENTAÇÃO, ANÁLISE DESCRITIVA E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS
168
lagos, filtra e retém agroquímicos que contaminam a água, é fonte de nutrientes e energia para
o ecossistema aquático, forma corredores naturais, possibilita o fluxo da fauna e flora, enfim,
fonte de alimento, abrigo e proteção aos seres que habitam o ecossistema.
A categoria proteção é especialmente utilizada por todos os quatro segmentos (Poder
Público Estadual e Federal, Poder Público Municipal, Usuários e Sociedade Civil).
Esses aspectos citados acima, quanto à importância da mata ciliar para o rio, podem
ser observados alguns deles no item 4.2.3. do trabalho, onde foi demonstrada a experiência do
grupo entrevistado em relação a Bacia Hidrográfica do Rio Sergipe. Nas imagens fotográficas
discutidas neste item, todas foram realizadas as margens de um corpo hídrico pertencente a
BHSE, alguns com sua mata ciliar exuberante, outros demonstrando a ação antrópica de
forma moderada e ainda as imagens que demonstra total ausência de mata ciliar.
A quarta questão objetivou em avaliar a percepção sobre a escolha de uso dos recursos
naturais da Bacia Hidrográfica do Rio Sergipe pelos membros do Comitê da Bacia
Hidrográfica do Rio Sergipe. Onde foi perguntado:
Em sua opinião qual a melhor forma de utilização dos recursos naturais da Bacia
Hidrográfica do Rio Sergipe?
As categorias obtidas para essa questão estudada foram uso sustentável, consumo
humano e recreação. Dezenove vocalizações para as três categorias, sendo assim, alguns
entrevistados utilizaram mais de uma categoria.
A categoria uso sustentável foi a mais utilizada com um percentual de 52,6% (10
repetições de 19 evocações). Ela representa para os entrevistados a utilização dos recursos
naturais de forma sustentável, consciente, respeitando a capacidade suporte do ecossistema.
Dois entrevistados falam sobre essa categoria:
“Eu posso lhe dizer o seguinte, não só de uma forma institucional, da ação
institucional, uma ação cidadã, deve ser uma ação consciente, preservadora, não apenas o
pensamento de utilização, de restrição de uso, mas com o cuidado que deve ter ao tratar de
um tema tão importante como recurso hídrico, agente tem que ter em mente que o recurso
hídrico não é infinito, agente tem que ter na consciência não só a ação de governo dos
governos municipais, estaduais e federais como também a ação cidadã pra com esse recurso.
Deve ser uma ação sustentável né, preservacionista. Eu acho que se agente age de forma a
conciliar a necessidade, suprir a necessidade humana com a preservação do recurso hídrico,
cuidando dele com carinho mesmo, com uma visão de utilização futura também, eu acho que
agente vai ter a preservação do recurso hídrico, que é o caso da Bacia do Rio Sergipe, com a
manutenção e otimização do bem estar da população. Isso é o que se procura né,
CAPÍTULO 4 - APRESENTAÇÃO, ANÁLISE DESCRITIVA E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS
169
desenvolvimento sustentável, exatamente isso. Utilizar o recurso natural, não apenas o
recurso hídrico de forma a respeitar os limites de utilização daquele recurso natural, com o
atendimento da necessidade humana. Feito isso, eu acredito que agente vai ter muito, vamos
dar muitos passos à frente na preservação dos recursos naturais”. (Poder Público Federal)
“Primeira coisa é preservando é o homem em um consumo equilibrado, respeitando,
ou seja, usando o artigo 225 da Constituição Federal, que diz que, todos nós somos
responsáveis, inclusive é o poder público e a coletividade responsável pela manutenção
equilibrada dos recursos naturais preservando ou dando direito, garantindo para as gerações
presentes e as futuras gerações. Então neste caso é nós termos um consumo equilibrado, quer
dizer, você saber quais os seus limites, usar o necessário, não esbanjar e ter uma consciência
de preservação com responsabilidade de manter para que isso seja uma constância é por isso
que eu trabalho, eu sou a favor, tenho lutado não deu certo ainda para a implantação de uma
coleta seletiva e quando agente diz uma coleta seletiva eu digo também de uma consciência
coletiva a nível de meio ambiente, é por isso que eu uso muito Thiago de Melo, que eu sou
igual a todo mundo, agora Thiago de Melo disse talvez uma ladainha minha: “eu não tenho
um caminho novo, o que eu tenho de novo é o jeito de caminhar” e volto a me repor também
a Chico Chavier que ele diz: “Ninguém é capaz de voltar atrás e ter um novo começo, mas
cada um é capaz de ter um novo fim”. Isso é que me pauta em meio ambiente, me faz ler, me
preocupa, agora é difícil ainda mudar que o capital, o dinheiro tem um peso muito forte
diante da humanidade, enquanto ele não perdeu, mas eu acredito que um dia ele vai perder,
tanta gente, você vê suborno, falcatrua, roubo, milhões e milhões morre amanhã e fica tudo
aí, o homem não tem consciência do equilíbrio ainda, mas eu acredito que um dia ainda
fica”. (Poder Público Municipal)
A categoria recreação com um percentual de 15,8% (3 repetições de 19 evocações). A
representação dessa categoria para os entrevistados foi da utilização dos recursos naturais da
Bacia Hidrográfica para o turismo e lazer. Dois entrevistados falam sobre ela:
“Eu acho que pode ser utilizado pra várias coisas, inclusive pro turismo também, né?
No Rio Sergipe, acho que é pouco utilizado, mas tem uma certa autorização, do turismo tem
os catamarãs que circulam o Rio Sergipe, né. Já foi mais navegável do ponto de vista das
pessoas quando tinham aquelas barcas né, no terminal hidroviário, antes da ponte que
atravessavam pra... mas as cidades aqui Santo Amaro e Maruim ainda vêm muito isso, as
lanchas atravessam, assim, chamadas tototós que são aquelas mais comuns, mais simples, e
dos pescadores e tudo o pessoal já faz a travessia”. (Poder Público Municipal)
CAPÍTULO 4 - APRESENTAÇÃO, ANÁLISE DESCRITIVA E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS
170
“Na questão do rio, a melhor forma da gente utilizar ele é tomando banho. Agente
pode utilizar, usufruir dele né, tomar banho essas coisas, contanto que não polua”. (usuário)
A categoria consumo humano com 31,6% (6 repetições de 19 evocações). A
representação dessa categoria para o entrevistado foi de consumo planejado pelo ser humano
para indústria, extrativismo, enfim, para satisfazer a necessidade humana.
“Eu acho que primeiro deveria ser feito um estudo técnico, poderia estar fazendo um
estudo pra ver qual a melhor maneira de utilização do Rio. Eu penso o seguinte em
zoneamento, por exemplo, eu não sei se aqui é o melhor lugar pra instalar uma indústria
têxtil, eu não sei, por exemplo, quando é extrativismo você não tem muito o que escolher,
porque é a natureza, a natureza que determinou uma jazida então você não tem opção”.
(usuário)
A partir desta questão de estudo foi possível observar que a maioria dos entrevistados
dizem que a melhor forma de utilização dos recursos naturais é de forma sustentável,
demonstrando que são sensíveis as causas ambientais. Mesmo aqueles que utilizaram a
categoria consumo humano, complementa depois dizendo sobre o uso sustentável.
Após análise, descrição e discussão dos resultados, foi possível elaborar o modelo do
sistema de percepção para o Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio Sergipe (Figura 4.9). Todo
este trabalho foi realizado em uma visão integrada das variáveis e processos investigados
previstos pelo modelo de investigação do sistema de percepção do meio ambiente de Whyte
(1978) (Figura 3.18).
CAPÍTULO 4 - APRESENTAÇÃO, ANÁLISE DESCRITIVA E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS
171
Figura 4.9: Modelo de investigação do sistema de percepção para a Bacia Hidrográfica do Rio Sergipe (adaptação de Whyte, 1978).
CAPÍTULO 4 - APRESENTAÇÃO, ANÁLISE DESCRITIVA E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS
172
CAPÍTULO 5
CONSIDERAÇÕES FINAIS
“Un rio es algo que tiene una fuerte y marcada personalidad,
es algo com fisionomia y vida propias... Se lês siente vivir...
La vena de agua es para ellos algo así como la conciencia para
nosotros, unas veces agitada y espumosa, otras alojada de cieno,
turbia y opaca, otras cristalina y clara, rumorosa a trechos.
El agua es, en efecto, la conciencia del paisaje; em el agua,
quando queda quieta y serena, se reflejam los árboles y lãs rocas,
en el agua se ven como em espejo, en el agua se desdoblan,
adquieren reflexón de si: el agua es, repito, la conciencia del
paisaje. Donde hay agua, parece el paisaje vivo.”
Unamuno, Por tierras de España e Portugal
173
CAPÍTULO 5 - CONSIDERAÇÕES FINAIS
5.1. Considerações finais
A investigação da percepção ambiental dos atores sociais do Comitê da Bacia
Hidrográfica do Rio Sergipe e da gestão participativa neste estudo, se limitou aos aspectos
pessoais, da percepção do grupo estudado e ao funcionamento deste órgão gestor. Os
resultados obtidos apontam para uma das muitas possibilidades que um processo de
investigação perceptiva no contexto sócio cultural potencializa.
Os instrumentos metodológicos utilizados foram: a observação livre, o registro de
imagens em pontos da Bacia Hidrográfica do Rio Sergipe, a leitura e análise de Atas das
reuniões durante a gestão 2008/2010, o Jogo da Percepção e a entrevista semi-estruturada.
Através destes instrumentos foi possível registrar a percepção dos atores sociais envolvidos
nesta pesquisa.
Ao analisar as características dos sujeitos selecionados foi possível organizar um
padrão de composição da plenária do Comitê de Bacia Hidrográfica do Rio Sergipe, onde a
predominância é de pessoas do sexo masculino, com idade superior a 40 anos, casados, com
nível superior completo, funcionários públicos, faixa de renda superior a cinco salários
mínimos, naturais do Estado de Sergipe e fazem parte do sindicato correspondente a sua
formação acadêmica. Dentro deste perfil, separando agora por segmentos os membros do
Poder Público Estadual e Federal e Poder Público Municipal são os que mais se assemelham a
este padrão acima citado, já os segmentos de usuários e sociedade civil são bastante
heterogêneos (dentro dos membros selecionados para a pesquisa) em quase todas as
características.
Ao analisar o grau de comprometimento dos entrevistados foi observado que muitos
são convocados por suas instituições de trabalho a representá-la dentro do Comitê (não sendo
uma ação espontânea) alguns acolhem essa convocação e se sentem honrados, outros já não
possuem muito interesse e comprometimento junto a este órgão gestor. Existem também
aqueles que se sentem atraídos e interessados pelos trabalhos voltados à ações ambientais e
outros ainda participam para contribuir com sua experiência e aprender durante as discussões
na Plenária.
CAPÍTULO 5 - CONSIDERAÇÕES FINAIS
174
Ao trabalhar as características do grupo com a leitura de Atas foi observado que os
segmentos sociedade civil e Poder Público Estadual e Federal contribuem com relevante
significância durante as plenárias do Comitê. No entanto, os segmentos Poder Público
Municipal e usuários caracterizam-se por reduzida participação. As manifestações durante as
plenárias são sempre das mesmas instituições, motivadas pela experiência em mais de uma
gestão dentro do Comitê e pelo nível de instrução.
Continuando a trabalhar as características do grupo, foi analisada a freqüência dos
segmentos dentro do Comitê. O segmento sociedade civil possui a maior freqüência, vindo
após Poder Público Estadual e Federal, já os segmentos Poder Público Municipal e usuários
possui pouca freqüência nas reuniões. O trabalho também salienta que algumas instituições
possuem boa freqüência, mas não se manifestam ou contribuem durante as plenárias.
Ao analisar a variável experiência dos entrevistados a partir do Jogo das Percepções as
interpretações das imagens tiveram como base a realidade vivenciada pelo sujeito. Durante a
aplicação do Jogo das Percepções os entrevistados manifestaram o desejo em aprender e
compartilhar informações, além de discutir sobre problemas encontrados na Bacia
Hidrográfica do Rio Sergipe. Alguns demonstraram não possuir conhecimento algum sobre o
local das paisagens apresentadas durante o Jogo das Percepções.
Avaliando as argumentações dos entrevistados quando estes se deparam com imagens
de paisagens relacionadas à intervenções antrópicas, foi possível observar que o grupo
reconhece os impactos e sabem discutir detalhadamente sobre suas repercussões no ambiente,
cada um dentro de suas individualidades e estilos de vida. Por outro lado, a análise das
imagens de paisagens onde as intervenções antrópicas eram mínimas, foi possível descrever
idéias principais com teores topofílicos de aceitação do espaço analisado. Eles atribuíam a
responsabilidade de manutenção dessas imagens por pertencerem a áreas de preservação
permanente e/ou proteção do Poder Publico, argumentando também sobre a conscientização
das pessoas e o acesso restrito. Os resultados descritos foram positivos à medida que os
discursos complementaram-se entre o saber técnico e a vivência, nesse aspecto possibilitando
se vislumbrar uma gestão participativa.
Trabalhando as definições de ambiente rural e urbano foi constatada a falta de contato
físico dos entrevistados ao meio natural, ficando caracterizada a dificuldade das respostas
durante o Jogo das Percepções, quando os entrevistados eram indagados quanto a este
assunto. Neste ponto, observa-se a necessidade de trabalhos em campo, para que o grupo
consiga conhecer a área gerida e suas características ambientais e sociais. Outro aspecto
relevante foi à constatação de que pertencer ou não ao Estado Sergipe, não é uma
CAPÍTULO 5 - CONSIDERAÇÕES FINAIS
175
característica significativa e que, de alguma forma, influenciou no reconhecimento das
paisagens amostradas durante o Jogo das Percepções.
No estudo com a Bacia Hidrográfica do Rio Sergipe a abordagem perceptiva está
relacionada principalmente aos significados, identidade e escolha de usos atribuídos a esta
Bacia Hidrográfica. No trabalho as categorias analisadas são múltiplas e diversificadas,
resultado já esperado devido à heterogeneidade dos atores sociais envolvidos com a Bacia
Hidrográfica e trabalhos nessa pesquisa, como pode ser observado nos Quadros 5.1, 5.2, 5.3 e
5.4.
Ao trabalhar a identidade, foi abordado o conceito de Bacia Hidrográfica, visando não
só a definição do termo técnico, mas também a percepção de como o individuo identifica a
área gerida levando em consideração o contexto sociocultural do sujeito, dentro da proposição
de que a pessoa percebe o que é do seu interesse e o que habitualmente observa. Os resultados
demonstram que os entrevistados a descrevem pelo conjunto de seus componentes
paisagísticos, como um sistema, não sendo desmembrado em partes, tais como, água, solo,
fauna, flora ou comunidade.
O estudo torna possível visualizar a necessidade de discussão sobre o conceito de
Bacia Hidrográfica entre os membros do Comitê, onde 25% do grupo selecionado tiveram
muita dificuldade em defini-lo. Tendo como base este dado, o trabalho destaca a importância
de trabalhos educativos que visem o aperfeiçoamento formativo dos membros do Comitê para
uma melhor gestão.
Ao estudar o significado, tendo o Rio Sergipe como instrumento de análise, foram
trabalhadas as expressões da vivência direta e intima, assim como a indireta e conceitual do
entrevistado. As análises demonstraram distinção entre os segmentos amostrados onde cada
um apresenta sua forma diferenciada de interpretação do mundo, tendo como situação comum
a referência ao Rio com sentimento de afetividade e de forte valor cultural, descrevendo-o
como parte da cultura e história do povo sergipano. Também demonstraram a heterogeneidade
do processo perceptivo entre os membros do Comitê, não possibilitando a padronização
destes por segmentos.
A variável escolha de usos para o sistema de estudo objetivou analisar a importância
da mata ciliar para o ecossistema e quais as possibilidades de usos da Bacia Hidrográfica do
Rio Sergipe. Esta fase do estudo foi dividida em duas etapas e perguntas, onde primeiramente
foi analisada sobre a percepção do entrevistado quanto a importância da mata ciliar para o
ecossistema e logo após foi perguntado sobre a melhor forma de utilização dos recursos
naturais de toda Bacia Hidrográfica.
CAPÍTULO 5 - CONSIDERAÇÕES FINAIS
176
Ao estudar sobre as percepções quanto às funções ambientais da mata ciliar para o
ecossistema, foi comprovado que todos os entrevistados concordam sobre a importância da
mata ciliar para a Bacia Hidrográfica. Cada indivíduo relata o que acham importante de
acordo com a sua experiência. A categoria proteção é especialmente utilizada por todos os
quatro segmentos.
Para finalizar os estudos foi questionado sobre a melhor forma de utilização dos
recursos naturais da Bacia Hidrográfica, sendo que a categoria uso sustentável foi a mais
representativa, demonstrando que são sensíveis as causas ambientais. Mesmo aqueles que
utilizaram a categoria consumo humano, complementa depois dizendo sobre o uso
sustentável.
Quadro 5.1: Caracterização perceptiva do sistema de estudo do segmento Poder Público Federal e Estadual.
Segmento
CBHSE
Sujeito Identidade Significado Importância Escolhas de uso
Poder
Público
Estadual e
Federal
1
Manancial
Preservação
Instrumento de trabalho
Ecossistema
Cultura
Sobrevivência
Proteção
Sustentável
2
Território Produção Proteção
Filtro
Consumo humano
Sustentável
3
Território
Cultura
Território
Produção
Proteção
Consumo humano
Uso sustentável
Quadro 5.2: Caracterização perceptiva do sistema de estudo do segmento Poder Público Municipal.
Segmento
CBHSE
Sujeito Identidade Significado Importância Escolhas de uso
Poder
Público
Municipal
Executivo e
Legislativo
4
Território Manancial
Navegação
Território
Sobrevivência Consumo humano
Uso sustentável
Recreação
5
Área de drenagem Produção Preservação Consumo humano
Recreação
Uso sustentável
6
Área de drenagem
Ecossistema
Cultura
Produção
Proteção
Sobrevivência
Filtro
Uso sustentável
Quadro 5.3: Caracterização perceptiva do sistema de estudo do segmento Usuários.
Segmento
CBHSE
Sujeito Identidade Significado Importância Escolhas de uso
Usuários
Empresas e
Indústrias
7
Território
Área de drenagem
Desenvolvimento
Território
Cultura
Proteção
Preservação
Uso sustentável
8
Área de drenagem
Sobrevivência
Desenvolvimento
Área de drenagem
Filtro
Sobrevivência
Proteção
Consumo humano
9
Não sabe definir
Sobrevivência Proteção Recreação
Sustentável
CAPÍTULO 5 - CONSIDERAÇÕES FINAIS
177
Quadro 5.4: Caracterização perceptiva do sistema de estudo do segmento Sociedade Civil.
Segmento
CBHSE
Sujeito Identidade Significado Importância Escolhas de uso
Sociedade
Civil
10 Não sabe definir Cultura
Território
Proteção Abastecimento
humano
11 Não sabe definir Sobrevivência
Conservação
Proteção Uso sustentável
12 Área de drenagem Cultura Proteção
Sobrevivência
Uso sustentável
Com este estudo foi possível examinar como as percepções são diferenciadas, mas ao
mesmo tempo comportam uma ligação subjetiva entre si. Afirmo que investigar
perceptivamente todo um grupo é fazer recortes interpretativos do mosaico de possibilidades
que venham a existir dentro dele, ou seja, interpretar a percepção de cada indivíduo, e após as
respostas conseguir unir as percepções e obter um resultado para o grupo.
Conclui-se acreditando que uma investigação de percepção ambiental pode contribuir
com o entendimento mais contextualizado do ambiente, estimulando novas crenças e,
conseqüentemente hábitos de interação ambiental. A percepção ambiental pode contribuir
para a Educação Ambiental favorecendo a um trabalho de igualdade de condições entre as
partes trabalhadas.
5. 2. Recomendações
A partir de todo o estudo por meio de observações presenciais durante as reuniões do
Comitê, objetivando compreender o funcionamento deste, conversas informais, análise de
Atas e trabalho em campo com o grupo estudado, foi possível constatar algumas dificuldades
enfrentadas entre estrutura física e apoio logístico até a efetiva realização de uma gestão
participativa do Comitê como conselho gestor, atentando também as medidas mitigadoras
para o seu sucesso (Quadro 5.5).
O que pode ser entendido com a descrição do Quadro 5.5 é que o Comitê não possui
verba própria destinada para suas ações, com isso, não possui independência para realizar tais
ações. Outros indícios estão relacionados com o comprometimento dos membros que o
compõem, a centralização das reuniões na capital do Estado, os diferentes níveis de
informação e qualificação sobre os assuntos exigidos para a real participação de todos os
membros, ausência de dados ambientais e fiscalização na Bacia Hidrográfica do Rio Sergipe,
o não acordo entre pautas, tempo e período das reuniões.
CAPÍTULO 5 - CONSIDERAÇÕES FINAIS
178
Para sanar ou mesmo minimizar os problemas citados, que impedem uma gestão
verdadeiramente participativa seria necessário o início da política de cobrança pelo uso da
água, para que o recurso subsidie a gestão da Bacia Hidrográfica e trabalhos do Comitê. Logo
após, a necessidade de implementação de um sistema de distribuição das informações que seja
acessível e sirva como ferramenta de suporte à tomada de decisão de todos os atores
envolvidos. Além disso, ressalte-se o fato de que as desigualdades econômicas e a pressão
política valorizem excessivamente o papel de alguns atores em detrimento de outros. Deste
modo, a apropriação de forma desigual das informações pertinentes e necessárias ao auxílio
da tomada de decisão já se constitui, inicialmente, em um obstáculo a ser superado. Assim,
entendemos que muito se pode avançar no alcance dos resultados efetivos a que se propõe
este colegiado, sendo necessária uma descentralização das informações estratégicas e que as
mesmas sejam transmitidas aos leigos numa linguagem mais acessível, permitindo com isso
uma maior integração e autêntica participação.
Tentando também minimizar os outros fatores, torna-se necessária a realização de
plenárias em cidades que são representadas dentro do Comitê da Bacia Hidrográfica e um
encaminhamento mais direcionado das reuniões, com uma melhor organização em relação a
periodicidade destas.
Existe também a necessidade de trabalhos que possam esclarecer conhecimentos
específicos utilizados no processo decisório, tais como: conhecer o Regimento Interno do
Comitê de Bacia Hidrográfica do Rio Sergipe para que o representante tome ciência de seus
deveres e obrigações como membro gestor; ter conhecimento das informações presentes no
Plano de Bacia Hidrográfica do Rio Sergipe para que este sirva de material bibliográfico para
conhecimento da área gerida, possibilitando também a obtenção de informações importantes
para as discussões nas Plenárias e fora delas; definições de conceitos básicos como o de Bacia
Hidrográfica, Comitê de Bacia, mata ciliar, gestão participativa, enfim, conceitos que fazem
parte do discurso atual.
Seria interessante fazer o levantamento de informações pessoais e intenções do corpo
de membros do Comitê, possibilitando a caracterização do grupo. Outro aspecto importante e
que chama muita atenção quando se observa a lista de presença durante a gestão 2008/2010
foi o reduzido número de mulheres que ocupam as cadeiras do Comitê, e quando ocupam em
sua maioria ocupam o posto de suplência, e também a não existência durante as quatro
gestões de mulheres ocupando a cadeira de presidência.
CAPÍTULO 5 - CONSIDERAÇÕES FINAIS
179
Dificuldades encontradas no Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio Sergipe e medidas mitigadoras
Dificuldades para a implementação da participação Algumas condições para o sucesso do processo
participativo
Dificuldades na estrutura física Medidas mitigadoras para os problemas de estrutura física:
Não possuir sede própria para melhor organização e
desenvolvimento dos trabalhos.
Falta de equipamentos para escritório e viagens a campo.
Falta de funcionários, incluindo também verba destinada
especificamente ao Comitê, visando ter autonomia para
suas ações.
Início da política de cobrança pelo uso da água para que o
referido recurso subsidie aos órgãos responsáveis pela
gestão da Bacia Hidrográfica, entre eles o Comitê de
Bacia Hidrográfica.
Dificuldades em relação ao funcionamento e
encaminhamento do processo participativo:
Medidas mitigadoras para as dificuldades em relação ao
funcionamento e encaminhamento do processo participativo:
Falta de quórum das plenárias vindo a causar atrasos
nos encaminhamentos das reuniões do Comitê,
provocando entre os membros assíduos desânimo e
descrença no processo participativo de gestão.
Descontinuidade e descompromisso de alguns
representantes.
O membro representante que não comparecer no
dia e horário das plenárias em duas convocações
seguidas, sem justificativa prévia, será exonerado.
Falta de apoio ou condições de participação para
pessoas realmente interessadas.
Auxílio deslocamento para membros que não
residirem na cidade onde são realizadas as
plenárias.
Centralização das reuniões na cidade de Aracaju
dificultando a participação dos membros de
municípios distantes da capital sergipana.
Plenárias realizadas nas cidades que são
representadas dentro do Comitê da Bacia
Hidrográfica.
Diferentes níveis de informação e qualificação sobre
os assuntos exigidos para a real participação de
todos os membros.
Horizontalização das informações para os
membros do Comitê de Bacia Hidrográfica através
de capacitações.
Participantes indicados apenas para representar a
instituição não se comprometendo com a causa.
Representantes interessados apenas em interesses
próprios não se comprometendo como instituição
dentro do conselho gestor.
Estudo de acompanhamento dos participantes para
observar qual o grau de comprometimento destes
perante o Comitê de Bacia Hidrográfica.
Falta e até mesmo ausência de dados ambientais
sobre a Bacia Hidrográfica do Rio Sergipe.
Cobrança de informação aos órgãos responsáveis
pelas informações ambientais na Bacia
Hidrográfica e permuta de informações para com
este.
Ausência de fiscalização ambiental em toda a Bacia
Hidrográfica.
Otimizar os instrumentos e órgãos responsáveis
pela fiscalização ambiental da Bacia Hidrográfica.
Discussões intermináveis.
Pautas extensas e tempo curto para as discussões.
Melhor encaminhamento durante as reuniões.
Intervalo muito grande entre uma reunião e outra. Intervalos menores de uma reunião a outra,
possibilitando a continuidade das discussões.
Quadro 5.5: Dificuldades encontradas no Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio Sergipe e medidas mitigadoras.
CAPÍTULO 5 - CONSIDERAÇÕES FINAIS
180
Outra idéia interessante que pode ser registrada é que a partir da análise das imagens e
das conversas informais foi possível observar a argumentação e o quanto os entrevistados
estão inteirados com os assuntos políticos, administrativos, de gestão, ambientais enfim, o
quanto é importante o pensamento e fala de cada um deles, para observar a riqueza de
informações e argumentações, enfim a participação desses dentro e fora do Comitê como
cidadão e gestor.
A influência de fatores não apenas técnicos, mas também de caráter político,
econômico e cultural torna o processo muito mais complexo, e o estilo de gestão que tende a
prevalecer obedece a uma lógica sócio-técnicista. As relações de poder não desaparecem, mas
passam a ser trabalhadas e negociadas conjuntamente entre leigos e peritos. Deste modo,
discussões e o aprendizado conjunto são fundamentais para que as tarefas comuns e a
construção de um acordo para a Bacia Hidrográfica levem ao entendimento da complexidade
das questões ambientais que precisam ser decididas.
Este trabalho apresenta um modelo de estudo de percepção ambiental que possibilita
servir de referência para serem executados junto à outros Comitês de Bacia Hidrográfica, no
conhecimento de seu quadro de representantes como também na elaboração de ações que
visem a paridade de condições durante as discussões e tomada de decisão para a gestão da
Bacia Hidrográfica.
CAPÍTULO 5 - CONSIDERAÇÕES FINAIS
181
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REFERÊNCIAS
190
APÊNDICE A - CADERNETA DE CAMPO
Universidade Federal de Sergipe
Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento e Meio Ambiente
Projeto de Pesquisa: A Percepção Ambiental dos Membros do Comitê da Bacia
Hidrográfica do Rio Sergipe na Gestão das Águas
Caderneta de Campo
Data: __/__/__
1. Ponto: _______
2. Fotografia: ( ) sim ( ) não
3. Localidade: ___________________________________________________________
4. Coordenada: Latitude _____ Longitude _____
5. Dados altimétricos: ____ m
6. Presença de recursos hídricos: ( ) sim ( ) não
7. Relevo: ( ) colinoso ( ) convexo
8. Lançamento de esgoto: ( ) sim ( ) não ( ) no solo ( ) na água
9. Foco de lixo: ( ) sim ( ) não ( ) no solo ( ) na água
10. Disposição do lixo: ( ) sim ( ) não ( ) desordenado ( ) concentrado
11. Vegetação: ( ) existente ( ) esparsa ( ) concentrada ( ) inexistente
Descreva: _____________________________________________________________
12. Uso e ocupação do solo: ( ) pastagem ( ) agricultura ( ) irrigação ( ) outros
13. Mata ciliar: ( ) existente ( ) exuberante ( ) impactada ( ) inexistente
14. Presença de animais: ( ) sim ( ) não
Quais? _______________________________________________________________
Observações:________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
APÊNDICES E ANEXOS
191
APÊNDICE B - ENTREVISTA SEMI-ESTRUTURADA PERFIL SÓCIO-
PROFISSIOGRÁFICO
Universidade Federal de Sergipe
Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento e Meio Ambiente
Projeto de Pesquisa: A Percepção Ambiental dos Membros do Comitê da Bacia
Hidrográfica do Rio Sergipe na Gestão das Águas
Entrevista Semi-Estruturada
Perfil Sócio-Profissiográfico
Número de ordem: ___ Data: __/__/___
Nome do entrevistado: _____________________________________________________
1. Sexo:
a - ( ) Masculino b- ( ) Feminino
2. Idade:
a- ( ) 20 a 30 anos
b- ( ) 31 a 40 anos
c- ( ) 41 a 50 anos
d- ( ) 51 a 60 anos
e- ( ) 61 a 70 anos
3. Naturalidade:
a- ( ) Estado de Sergipe, qual município? Cedro de São João
b- ( ) Outro estado do Brasil, qual? _____________
4. Estado civil:
a-( ) Solteiro(a)
b-( ) Casado(a),
c-( ) Separado(a),
d-( ) Desquitado(a),
APÊNDICES E ANEXOS
192
e-( ) Divorciado(a)
f-( ) Viúvo(a),
g-( ) Relação marital estável
5. Escolaridade:
a-( ) Não sabe ler e escrever.
b-( ) 1º grau incompleto.
c-( ) 1º grau completo/2º grau incompleto.
d-( ) 2º grau completo/ 3º grau incompleto.
e-( ) 3º grau completo/ Pós-graduação, qual o curso de formação?
f-( ) Mestrado/ Doutorado em que área?
6. Faixa de renda:
a-( ) Até 1 salário mínimo.
b-( ) Maior que 1 até 3 salários mínimos.
c-( ) Maior que 3 até 6 salários mínimos.
d-( ) Maior que 6 até 9 salários mínimos.
e-( ) Maior que 9 até 12 salários mínimos.
f-( ) Maior que 12 salários mínimos.
7. Entidades, associações ou movimentos sociais que participa:
a-( ) Sindicato, qual? SENGE e o Sindicato de Extensão Rural
b-( ) Associação de bairro, qual? Fórum Pensar Cedro
c-( ) Associação ambientalista, qual? _____________________
d-( ) Pastoral da Igreja, qual? ____________________________
e-( ) Movimento feminista, qual? _________________________
f-( ) Movimento pela igualdade racial, qual? ________________
g-( ) Associação profissional, qual? _______________________
h-( ) Não participa de movimentos ou entidades.
8. Ocupação/profissão nos últimos três anos:
a-( ) Funcionário público.
b-( ) Funcionário de empresa privada.
c-( ) Profissional liberal, qual?
APÊNDICES E ANEXOS
193
d-( ) Estudante.
e-( ) Atividades do lar.
f-( ) Empresário.
g-( ) Desempregado.
h-( ) Aposentado.
9. Classificação quanto a titulação dentro do Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio Sergipe e
número de reuniões que fez parte:
a- ( ) Membro titular, quantas reuniões participou desde o início da gestão 2008 a 2010?
b- ( ) Membro suplente, quantas reuniões participou desde o início da gestão 2008 a 2010?
Outras informações:
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
APÊNDICES E ANEXOS
194
APÊNDICE C - JOGO DAS PERCEPÇÕES
Universidade Federal de Sergipe
Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento e Meio Ambiente
Projeto de Pesquisa: A Percepção Ambiental dos Membros do Comitê da Bacia
Hidrográfica do Rio Sergipe na Gestão das Águas
Número de ordem: ___ Data: __/__/__
Nome do entrevistado: _______________________________________________
JOGO DAS PERCEPÇÕES
Tempo início __: __
PRIMEIRO MOMENTO
Entregar as fotografias embaralhadas, Inicialmente deixe que o participante observe as
fotografias e anote as reações.
1º - O que as imagens retratam para você? (descreva sobre todas as imagens)
Objetivo da questão: Evidenciar a percepção do participante sobre o objeto de estudo.
1 2 3 4 5
6 7 8 9 10
11 12 13 14 15
16 17 18 19 20
21 22 23 24 25
26 27 28 29 30
2º - Sabe de onde são essas imagens? (reconhecer se são de ambiente rural ou urbano)
Objetivo da questão: Evidenciar a identificação do participante sobre o local investigado.
APÊNDICES E ANEXOS
195
SEGUNDO MOMENTO
Separe as imagens em ambiente urbano e ambiente rural e justifique a sua escolha:
Todas as imagens retratam a Bacia Hidrográfica do Rio Sergipe?
Caso uma ou mais imagens não sejam percebidas como da Bacia Hidrográfica do Rio Sergipe,
solicite que sejam separadas. Isso pode evidenciar a percepção ou conhecimento do
participante sobre o local investigado, a ser analisado posteriormente.
(Anote os números das fotos separadas se esse for o caso)
TERCEIRO MOMETO
Solicite ao participante que separe as imagens em impactadas e não impactadas. Peça que o
participante organize as fotografias em tantos grupos quanto julgar pertinente sobre a temática
investigada. Neste momento do jogo, ao ser finalizada a organização dos grupos de imagens,
pergunte ao participante primeiro sobre um dos lados do contraste investigado, primeiro sobre
as imagens de impacto e depois das imagens de não impacto (aqui é importante que os
diálogos sejam gravados para posterior registro e análise).
Com as fotografias já numeradas no verso para não influenciar o participante, indagar:
1º - Quantos grupos foram organizados e quais?
2º - O que cada grupo significa?
3º - Por que ocorrem?
APÊNDICES E ANEXOS
196
APÊNDICE D - ENTREVISTA SEMI-ESTRUTURADA
Universidade Federal de Sergipe
Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento e Meio Ambiente
Projeto de Pesquisa: A Percepção Ambiental dos Membros do Comitê da Bacia
Hidrográfica do Rio Sergipe na Gestão das Águas
Entrevista Semi-Estruturada
Primeira questão: O que você entende por Bacia Hidrográfica?
Objetivo da questão: devido à abstração desse conceito, pretende-se entender qual a percepção
do conceito de bacia hidrográfica pelos membros do Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio
Sergipe.
Segunda questão: O que significa para você o Rio Sergipe?
Objetivo da questão: identificar o significado do Rio Sergipe para os membros do Comitê da
Bacia Hidrográfica do Rio Sergipe.
Terceira questão: Qual a importância da mata ciliar para o Rio?
Objetivo da questão: buscar entender a percepção dos membros do Comitê da Bacia
Hidrográfica do Rio Sergipe, quanto às “funções ambientais” da mata ciliar para o
ecossistema.
Quarta questão: Em sua opinião qual a melhor forma de utilização dos recursos naturais da
Bacia Hidrográfica do Rio Sergipe?
Objetivo da questão: Avaliar a percepção sobre a escolha de uso dos recursos naturais da
Bacia Hidrográfica do Rio Sergipe pelos membros do Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio
Sergipe.
Quinta questão: O que o levou a participar do Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio Sergipe?
Objetivo da questão: Avaliar a relação de comprometimento do entrevistado com o Comitê da
Bacia Hidrográfica do Rio Sergipe.
APÊNDICES E ANEXOS
197
APÊNDICE E - CARTA DE APRESENTAÇÃO DO PROJETO DE PESQUISA
AO COMITÊ DA BACIA HIDROGRÁFICA DO RIO SERGIPE
Universidade Federal de Sergipe
Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento e Meio Ambiente
Projeto de Pesquisa: A Percepção Ambiental dos Membros do Comitê da Bacia
Hidrográfica do Rio Sergipe na Gestão das Águas
Carta de Apresentação do Projeto de Pesquisa
ao Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio Sergipe
Prezado/a Senhor/a.
Eu Alba Vívian Amaral Figueiredo, venho por meio desta, apresentar a V.S.ª o Projeto
de Pesquisa: Percepção Ambiental na Gestão da Bacia Hidrográfica - O Olhar do Comitê
da Bacia Hidrográfica do Rio Sergipe - que vem sendo desenvolvido desde fevereiro de
2009, sob a orientação de Paulo Sérgio Maroti, professor do Programa de Pós-Graduação em
Desenvolvimento e Meio Ambiente da Universidade Federal de Sergipe e membro titular do
Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio Sergipe, representando a mesma.
O projeto mencionado tem por objetivo geral verificar a percepção ambiental dos
segmentos que compõem o Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio Sergipe em relação à Bacia
Hidrográfica e Rio gerenciado.
No momento, o projeto se encontra em fase de coleta de dados, os quais compõem-se
de viagens a campo, levantamento bibliográfico e documental e entrevista com membros do
Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio Sergipe. A nossa expectativa é conseguir responder ao
questionamento da pesquisa: A percepção ambiental dos segmentos do Comitê da Bacia do
Rio Sergipe se dá de que forma, levando-se em consideração os diferentes atores sociais
envolvidos? Para que consigamos responder a este questionamento será necessária a
colaboração de V.S.ª por meio de uma conversa informal em data, local e horário agendado,
pelo participante desta.
Certa de contar com a vossa compreensão e colaboração, coloco-me à disposição para a
prestação de quaisquer informações adicionais que sejam necessárias pelo e-mail:
Atenciosamente,
Mestranda Alba Vívian Amaral Figueiredo
Universidade Federal de Sergipe – Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento e Meio
Ambiente.
Aracaju, 20 de julho de 2010.
APÊNDICES E ANEXOS