universidade federal de sergipe prÓ …...a minha família que amo tanto tios e primos...

198
UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE PRÓ-REITORIA DE PÓS-GRADUAÇÃO E PESQUISA NÚCLEO DE PÓS-GRADUAÇÃO EM DESENVOVIMENTO E MEIO AMBIENTE NÍVEL MESTRADO Alba Vivian Amaral Figueiredo Percepção Ambiental na Gestão da Bacia Hidrográfica - O Olhar do Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio Sergipe Março/2011 São Cristóvão Sergipe Brasil

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1

UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE

PRÓ-REITORIA DE PÓS-GRADUAÇÃO E PESQUISA

NÚCLEO DE PÓS-GRADUAÇÃO

EM

DESENVOVIMENTO E MEIO AMBIENTE

NÍVEL MESTRADO

Alba Vivian Amaral Figueiredo

Percepção Ambiental na Gestão da Bacia Hidrográfica - O Olhar do Comitê

da Bacia Hidrográfica do Rio Sergipe

Março/2011

São Cristóvão – Sergipe

Brasil

2

Alba Vivian Amaral Figueiredo

Percepção Ambiental na Gestão da Bacia Hidrográfica - O Olhar do Comitê da Bacia

Hidrográfica do Rio Sergipe

Dissertação apresentada como requisito parcial para a obtenção

do título de Mestre, pelo Núcleo de Pós-Graduação em

Desenvolvimento e Meio Ambiente da Universidade Federal de

Sergipe.

Orientador: Prof. Dr. Paulo Sérgio Maroti

Março/2011

São Cristóvão – Sergipe

Brasil

3

FICHA CATALOGRÁFICA ELABORADA PELA BIBLIOTECA CENTRAL

UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE

F475P

Figueiredo, Alba Vivian Amaral

Percepção ambiental na gestão da bacia hidrográfica: olhar

do Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio Sergipe / Alba

Vivian Amaral Figueiredo. – São Cristóvão, 2011.

198 f.: il.

Dissertação (Mestrado em Desenvolvimento e Meio

Ambiente) – Núcleo de Pós-Graduação em Desenvolvimento

e Meio Ambiente, Programa Regional de Desenvolvimento e

Meio Ambiente, Pró-Reitoria de Pós-Graduação e Pesquisa,

Universidade Federal de Sergipe, 2011.

Orientador: Prof. Dr. Paulo Sérgio Maroti

1. Gestão ambiental. 2. Proteção ambiental. 3. Bacia

Hidrográfica. 4. Rio Sergipe. I. Título.

CDU 556.51(813.7)

4

Alba Vivian Amaral Figueiredo

Percepção Ambiental na Gestão da Bacia Hidrográfica - O Olhar do Comitê da Bacia

Hidrográfica do Rio Sergipe

Dissertação de Mestrado apresentada por Alba Vívian Amaral Figueiredo em 16 de março de

2011 pela banca examinadora constituída pelos doutores:

BANCA EXAMINADORA

______________________________________________________

Paulo Sérgio Maroti

Universidade Federal de Sergipe

______________________________________________________

Darluce da Silva Oliveira

Universidade do Estado da Bahia

______________________________________________________

Maria Augusta Mundim Vargas

Universidade Federal de Sergipe

5

Este exemplar corresponde à versão final da Dissertação de Mestrado em Desenvolvimento e

Meio Ambiente.

_______________________________________________

Paulo Sérgio Maroti

Universidade Federal de Sergipe

Orientador

6

É concedida ao Núcleo responsável pelo Mestrado em Desenvolvimento e Meio Ambiente da

Universidade Federal de Sergipe permissão para disponibilizar, reproduzir cópias desta

dissertação e emprestar ou vender tais cópias.

________________________________________________

Alba Vívian Amaral Figueiredo

Universidade Federal de Sergipe

Autora

________________________________________________

Paulo Sérgio Maroti

Universidade Federal de Sergipe

Orientador

7

Ofereço este trabalho:

Aos meus pais do Céu:

Deus Pai que tudo fez para nós “seres vivos” e seus filhos e nossa Mãe Maria, com seu amor

de mãe intercedendo e protegendo.

Aos meus pais da Terra:

Mainha e Painho os amores da minha vida, razão de toda a minha busca, meu porto seguro.

Aos meus irmãos Tony e Liony, que sempre protegeram a irmã caçula e com os quais vivi e

vivo os melhores momentos de minha vida, amo vocês.

8

AGRADECIMENTOS

Agradeço a todos aqueles que, direta ou indiretamente contribuíram para a elaboração deste

grande mosaico.

Em especial agradeço:

Primeiramente a Deus que me deu a vida e me protege em todos os momentos.

A Nossa Senhora Maria que me deu conforto e carinho.

A minha família que amo tanto tios e primos principalmente aos meus pais José Ottoni e

Lindiomar, e irmãos Tony e Liony por todo apoio e amor concedidos incondicionalmente,

pela torcida e energias positivas.

Ao meu orientador Paulo que mesmo sem me conhecer me aceitou, que depois de

desencontros nos encontramos, e aos poucos fui conseguindo conhecer, entender e admirar a

cada dia. Um artista que se disfarça de professor ou é o contrário? A você que no seu ritmo me

guiou nessa caminhada, o meu muito obrigado!

A professora Darluce pessoa que acreditou em mim, sempre bem humorada incentivando a

todos, exemplo de mulher, profissional, mãe e amiga. Muito obrigada!

Aos meus amigos PRODEMA com os quais pude conviver, conhecer, compartilhar

sentimentos e aprender um pouco com cada um em sua individualidade Neuma, Karina,

Carla, Felipe, Míria, Sheyla, Mércia, Osmundo, Helô, Andréa.

A Edinilson o famoso Edy! Meu amigo lindo que amo, meu conselheiro me recebendo

sempre com seu sorriso e abraço gostoso. Eita negão quanta saudade!

9

A toda secretaria PRODEMA com a professora Maria José e seu zelo de mãe. Dona Julieta

sempre carinhosa, amiga e companheira dos almoços no RESUN. Najó com sua alegria

contagiante, “de lua às vezes”. Aline delicada e engraçada, nunca faltava apelido para um de

nós. Nataniel e nossas conversas sem fim...

Ao professor Adauto pelo aprendizado, dicas, muitas risadas, quando eu treinava para ser

professorinha.

A toda turma de Biologia da UFS, com a qual fiz o estágio docência, obrigada pelo primeiro

até o último dia de aula, me diverti, ensinei e aprendi com vocês, obrigada principalmente

pela amizade e carinho.

A Sr. Amaral muito mais que motorista um companheiro de viagens muito divertido e

prestativo, pessoa a qual pude contar durante meus trabalhos de campo.

A Comunidade Católica Shalom, meu refúgio espiritual, onde encontrei amigos que serão

pra sempre Flávia, Ruth, Wilda, Leila, Iasmim, Fábio, Michel, Evandro. “Amigos pra

sempre, bons amigos que nasceram pela fé. Amigos pra sempre, para sempre amigos sim se

Deus quiser” (Anjos de Resgate).

A Bárbara e Juciana que me receberam em sua casa logo que cheguei em terras

desconhecidas.

Ao Comitê de Bacia Hidrográfica do Rio Sergipe, em especial aqueles que tive a

oportunidade de conhecer um pouco mais Alessandra, Ângela, Jackson, Ailton, Paulo

Feitosa, Cristiano, Manoel Messias, Edmilson.

Ao grupo do Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio Sergipe que participou desse estudo,

com o qual obtive experiências lindas e contrastantes.

A Superintendência de Recursos Hídricos do Estado de Sergipe que sempre me recebeu e

auxiliou nos trabalhos em especial a Ailton, Fátima, João Paulo e Sérgio.

10

A FAPITEC que ofereceu subsídios para que pudesse permanecer no Estado de Sergipe e

realizar meus estudos com tranqüilidade.

A todo o corpo técnico do PRODEMA dando suporte para que o trabalho fluísse

principalmente aos professores, “alguns” dos quais me ensinaram como ser uma pessoa de

bem e ética.

Aos professores Hélio Mário e Maria Augusta a estas duas pessoas que me receberam com

“olhos de descoberta” muito obrigada!

Ao Vinícius e Max que me ajudaram em traduções e viagem em campo.

A Universidade Federal de Sergipe que me recebeu de portas abertas.

A banca examinadora composta por Paulo Sérgio Maroti, Darluce da Silva Oliveira, Maria

Augusta Mundim Vargas, Paulo Henrique Carneiro Marques e Hélio Mário Araújo

obrigada pelas contribuições ao trabalho.

11

“Ignorar a ritualidade da vida é o mesmo que quebrar o seu

encanto. Fazemos isso o tempo todo. Nossas pressas

contemporâneas não nos permitem demoras. Estamos sempre

atrasados. Mas o rito nos pede calma. Nasce o impasse. De

alguma forma temos que ceder. Ou entramos no ritmo do rito, ou

o ignoramos. E dessa forma plantamos o futuro. Vez em quando

eu me deparo com colheitas infelizes. Pessoas que descobriram

que a pressa não valeu a pena. Correram atrás do mundo que

estava distante, mas se esqueceram de viver o mundo que estava

sob seus pés.”

Fábio de Melo

12

RESUMO

A degradação ambiental que a Bacia Hidrográfica do Rio Sergipe vem sofrendo ao longo das

últimas décadas é o principal motivo deste trabalho, neste contexto, percebe-se a importância

socioambiental do Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio Sergipe, responsável pela gestão

participativa e descentralizada dos recursos hídricos. A partir, de observações presenciais

durante as reuniões do Comitê, objetivando compreender o funcionamento deste, foi possível

sinalizar algumas dificuldades enfrentadas entre estrutura física e apoio logístico até a efetiva

realização de uma gestão participativa do Comitê como conselho gestor. Para melhor

compreender a realidade desse órgão gestor e de seus membros, foi realizado um estudo em

percepção ambiental, correspondendo ao “pano de fundo” em busca da análise e interpretação

da realidade em termos de relações dos gestores com a Bacia Hidrográfica do Rio Sergipe.

Frente ao impasse que se estabelece, o trabalho propôs em responder a seguinte questão: A

percepção ambiental dos segmentos que compõem o Comitê da Bacia do Rio Sergipe se dá de

que forma, levando-se em consideração a diversidade sócio-econômico-culturais com

diferentes papeis sociais dos atores envolvidos? O objetivo da pesquisa consistiu em verificar

a percepção ambiental dos segmentos que compõem o Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio

Sergipe em relação ao seu objeto de gestão. A pesquisa se fundamenta nas bases teórico-

conceituais da percepção ambiental, análise de conteúdo e estatística descritiva. Na pesquisa

da percepção foram usadas as técnicas de entrevista semi-estruturada, Jogo das Percepções,

questionário de caracterização dos sujeitos e análise de Atas elaboradas durante as Plenárias

na gestão 2008/2010 do Comitê. Nos diversos aspectos investigados foram evidenciadas

diferenças de percepções inter e intra segmentos. Com esse estudo foi possível examinar

como as percepções são diferenciadas, mas ao mesmo tempo comportam uma ligação

subjetiva entre si. Afirmamos que investigar perceptivamente todo um grupo é fazer recortes

interpretativos do mosaico de possibilidades que venham a existir dentro dele. Concluímos

acreditando que uma investigação de percepção ambiental pode contribuir com o

entendimento mais contextualizado do ambiente, estimulando novas crenças e,

conseqüentemente hábitos de interação ambiental. A percepção ambiental pode contribuir

para a Educação Ambiental favorecendo a um trabalho de igualdade de condições entre as

partes trabalhadas.

Palavras-chave: Rio Sergipe; Comitê de Bacia Hidrográfica, Percepção Ambiental.

13

ABSTRACT

The environmental degradation that Sergipe River Basin has been experiencing over recent

decades is the main reason of this work, in this context, it is remarkable the socio and

environmental importance of the Sergipe River Basin Committee, responsible for participative

and decentralized management of water resources. From in loco observations during the

Committee meetings, in order to understand its functioning, it was possible to identify some

difficulties faced between physical infrastructure and logistical support to the effective

implementation of a participatory management of the committee as manager council. To

understand better the reality of this managing body and its members, a study on

environmental perception was carried out, corresponding to the "background" in search for

the analysis and interpretation of reality in terms of relationships between managers and the

Sergipe River Basin. Facing the impasse that is established, this work proposed to answer the

following question: The environmental perception of the segments that make up the Sergipe

River Basin Committee happens in what way, taking into account the socio-economic and

cultural diversity with different social roles of the involved actors? The research objective was

to verify the environmental perception of the segments that make up the Sergipe River Basin

Committee in relation to its management object. The research is based on theoretical and

conceptual foundations of environmental perception, content analysis and descriptive

statistics. On the research of perception were used semi-structured interview techniques,

Game of perceptions, characterization questionnaire of the subjects and analysis of the

minutes prepared during the Committee plenary of management 2008/2010. In the various

aspects investigated, differences in perceptions were evidenced within and among the

segments. With this study it was possible to examine how perceptions are different but at the

same time involve a subjective connection among them. We affirm that to investigate the

perception of a wholly group is to make interpretative clippings of the mosaic of possibilities

that may exist within it. We conclude believing that an investigation of environmental

perception may contribute to more contextualized understanding of the environment,

stimulating new beliefs and consequently habits of environmental interaction. The

environmental perception may contribute to Environmental Education favoring a work of

equality of conditions between the worked parts.

Keywords: River Sergipe; River Basin Committee; Environmental Perception

14

LISTA DE FIGURAS

Figura 3.1: Estado de Sergipe, territórios ocupados pela Bacia Hidrográfica do Rio

Sergipe (Fonte: SRH, 2009)----------------------------------------------------

59

Figura 3.2: Políticas públicas, tipos de planos, âmbitos geográficos e entidades

(fonte: adaptação BRASIL. MMA, SRH, 2006)----------------------------

65

Figura 3.3: Representação do Poder Público Estadual e Federal (participando em

duas gestões)---------------------------------------------------------------------

77

Figura 3.4: Representação do Poder Público Estadual e Federal (participando em

todas as gestões e freqüência nas gestões)-----------------------------------

77

Figura 3.5: Representação do Poder Público Municipal (participando pela primeira

vez e freqüência nas gestões)--------------------------------------------------

77

Figura 3.6: Representação do Poder Público Municipal (participando em todas as

gestões e freqüência nas gestões)----------------------------------------------

77

Figura 3.7: Representação de Usuários (participando pela primeira vez e

freqüência nas gestões)---------------------------------------------------------

78

Figura 3.8: Representação de Usuários (participando em todas as gestões e

freqüência nas gestões)---------------------------------------------------------

78

Figura 3.9: Representação da Sociedade Civil (participando pela primeira vez e

freqüência nas gestões)---------------------------------------------------------

78

Figura 3.10: Representação da Sociedade Civil (participando em todas as gestões e

freqüência nas gestões)---------------------------------------------------------

78

Figura 3.11: Modelo de percepção do meio ambiente (WHYTE, 1978)---------------- 80

Figura 3.12: Registro fotográfico em pontos da Bacia Hidrográfica do Rio Sergipe-- 85

Figura 3.13: Principais abordagens metodológicas (fonte: WHYTE, 1978)------------ 87

Figura 3.14: Pontos plotados na Bacia Hidrográfica do Rio Sergipe - Jogo das

Percepções------------------------------------------------------------------------

92

Figura 3.15: Características definidoras da Análise de Conteúdo (fonte: FRANCO,

2005)------------------------------------------------------------------------------

96

Figura 4.1: Sociedade Civil, participação durante as plenárias do Comitê de Bacia

Hidrográfica do Rio Sergipe - gestão 2008-2010---------------------------

112

Figura 4.2: Poder Público Estadual e Federal, participação durante as plenárias do

Comitê de Bacia Hidrográfica do Rio Sergipe - gestão 2008-2010-------

113

15

Figura 4.3: Poder Público Municipal, participação durante as plenárias do Comitê

de Bacia Hidrográfica do Rio Sergipe - gestão 2008-2010----------------

113

Figura 4.4: Usuários – Empresas e Indústrias, participação durante as plenárias do

Comitê de Bacia Hidrográfica do Rio Sergipe - gestão 2008-2010-------

114

Figura 4.5: Poder Público Estadual e Federal, freqüência durante a gestão 2008-

2010-------------------------------------------------------------------------------

118

Figura 4.6: Poder Público Municipal – Executivo e Legislativo freqüência durante

a gestão 2008-2010--------------------------------------------------------------

119

Figura 4.7: Usuários – Empresas e Indústrias, freqüência durante a gestão 2008-

2010-------------------------------------------------------------------------------

119

Figura 4.8: Sociedade Civil, freqüência durante a gestão 2008-2010------------------ 120

Figura 4.9: Modelo de investigação do sistema de percepção para a Bacia

Hidrográfica do Rio Sergipe (adaptação de Whyte, 1978)-----------------

171

16

LISTA DE TABELAS

Tabela 3.1: Principais culturas da Bacia Hidrográfica do Rio Sergipe, segundo a

área plantada 1996, 2000, 2004 e 2008-----------------------------------

69

Tabela 3.2: Estabelecimentos por Sub Setor da Indústria e Construção Civil na

Bacia do Rio Sergipe (%) – 1996, 2000, 2004 e 2008------------------

70

Tabela 3.3: Estabelecimentos por Sub Setor de Comércio e Serviços na

Bacia do Rio Sergipe (%) – 1996, 2000, 2004 e 2008------------------

70

Tabela 3.4: Trabalhadores por Sub Setor de Comércio e Serviços na

Bacia do Rio Sergipe (%) – 1996 a 2008---------------------------------

71

Tabela 4.1: Presenças e Intervenções------------------------------------------------------- 116

17

LISTA DE QUADROS

Quadro 2.1: Quadro 2.1: Visão histórica das formas de utilização dos recursos

hídricos em diferentes períodos e por países desenvolvidos e pelo

Brasil (Fonte: TUCCI, HESPANHOL E CORDEIRO NETTO, 2003).

------------------------------------------------------------------------------------

42

Quadro 2.2: Escala da participação cidadã. ---------------------------------------------- 48

Quadro 3.1: Municípios que compõem a Bacia Hidrográfica do Rio Sergipe

(fonte: IBGE CIDADES, 2010)------------------------------------------

57

Quadro 3.2: Unidades de Conservação presentes na Bacia Hidrográfica do Rio

Sergipe---------------------------------------------------------------------------

72

Quadro 3.3: Instituições que fazem parte do Comitê da Bacia do Rio Sergipe na

gestão 2008 a 2010------------------------------------------------------------

74

Quadro 3.4: Atribuições dos membros do Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio

Sergipe --------------------------------------------------------------------------

75

Quadro 3.5: Imagens utilizadas no Jogo das Percepções (fonte: própria Autora)---- 93

Quadro 4.1: Dados de características pessoais dos sujeitos----------------------------- 101

Quadro 4.2: Ocupação e/ou profissão e faixa de renda---------------------------------- 102

Quadro 4.3: Naturalidade-------------------------------------------------------------------- 103

Quadro 4.4: Entidades, associações ou movimentos sociais que participa------------ 104

Quadro 4.5: Titulação no Comitê de Bacia Hidrográfica do Rio Sergipe------------- 105

Quadro 4.6: Imagens apresentadas aos entrevistados no Jogo das Percepções

(paisagem com perfil de vegetação exuberante e imagens

paisagísticas). Relatos dos diferentes segmentos amostrados na

pesquisa-------------------------------------------------------------------------

126

Quadro 4.7: Imagens apresentadas aos entrevistados no Jogo das Percepções

(paisagens de poluição do ar, hídrica e do solo). Relatos dos

diferentes segmentos amostrados na pesquisa-----------------------------

130

Quadro 4.8: Imagens apresentadas aos entrevistados no Jogo das Percepções

(paisagens com ausência de mata ciliar). Relatos dos diferentes

segmentos amostrados na pesquisa------------------------------------------

134

18

Quadro 4.9: Imagens apresentadas aos entrevistados no Jogo das Percepções

(paisagens de assoreamento). Relatos dos diferentes segmentos

amostrados na pesquisa-------------------------------------------------------

137

Quadro 4.10: Imagens apresentadas aos entrevistados no Jogo das Percepções

(paisagens de impactos causados pelas construções humanas).

Relatos dos diferentes segmentos amostrados na pesquisa---------------

141

Quadro 4.11: Imagens apresentadas aos entrevistados no Jogo das Percepções

(paisagens de barramentos no Rio). Relatos dos diferentes segmentos

amostrados na pesquisa-------------------------------------------------------

144

Quadro 4.12: Imagens apresentadas aos entrevistados no Jogo das Percepções

(paisagens de manutenção da mata ciliar). Relatos dos diferentes

segmentos amostrados na pesquisa------------------------------------------

145

Quadro 4.13: Relação de imagens fotográficas apresentadas aos entrevistados e

reconhecidas como paisagens de ambiente rural--------------------------

147

Quadro 4.14: Relação de imagens fotográficas apresentadas aos entrevistados e

reconhecidas como paisagens de ambiente urbano------------------------

149

Quadro 4.15: Relação de respostas positivas ou negativas referente as paisagens

pertencerem a Bacia Hidrográfica do Rio Sergipe por segmento e por

origem (pertencente ao estado de Sergipe e de outro estado)------------

151

Quadro 4.16: Relação de imagens escolhidas pelos entrevistados como paisagens

de impacto ambiental----------------------------------------------------------

153

Quadro 4.17: Relação de imagens escolhidas pelos entrevistados como paisagens

de não impacto-----------------------------------------------------------------

156

Quadro 5.1: Caracterização perceptiva do sistema de estudo do segmento Poder

Público Federal e Estadual----------------------------------------------------

176

Quadro 5.2: Caracterização perceptiva do sistema de estudo do segmento Poder

Público Municipal-------------------------------------------------------------

176

Quadro 5.3: Caracterização perceptiva do sistema de estudo do segmento

Usuários-------------------------------------------------------------------------

176

Quadro 5.4: Caracterização perceptiva do sistema de estudo do segmento

Sociedade Civil-----------------------------------------------------------------

177

Quadro 5.5: Dificuldades encontradas no Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio

Sergipe e medidas mitigadoras-----------------------------------------------

179

19

LISTA DE SIGLAS

ABES /SE Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental do Estado de

Sergipe

ACPR-STOS Associação dos Produtores Rurais de Santo Isidoro

ADEMA Administração Estadual do Meio Ambiente

AJAMAM Associação de Jovens Ambientalistas de Malhador

APPPI/Jacarecica Associação de Pequenos Produtores do Perímetro Irrigado Jacarecica I

ASMANE/SOC. Associação Socorrense de Mariscultores Naturais e Ecológicos

ASA Associação Sergipana de Aqüicultura

CBH Comitê de Bacia Hidrográfica

CBHSE Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio Sergipe

CODISE Companhia de Desenvolvimento Industrial e de Recursos Minerais de

Sergipe

COHIDRO Companhia de Desenvolvimento de Recursos Hídricos e Irrigação de

Sergipe

CONERH Conselho Estadual de Recursos Hídricos

CREA Conselho Regional de Engenharia, Arquitetura e Agronomia

DESO Companhia de Saneamento de Sergipe

FAFEN Fábrica de Fertilizantes Nitrogenados

GPS Global Positioning System

IBAMA Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais

Renováveis

IFET Instituto Federal de Ciência Educação e Tecnologia

MMA Ministério do Meio Ambiente

OSCATMA/BC Organização Sócio Cultural Amigos do Turismo e do Meio Ambiente da

Barra dos Coqueiros

SAAE/SC Serviço Autônomo de Água e Esgoto de São Cristóvão

SEPLANTEC Secretaria de Estado do Planejamento e da Ciência e Tecnologia

20

SRH Superintendência de Recursos Hídricos

SEMARH Secretaria de Estado de Meio Ambiente e dos Recursos Hídricos

SEPLAN/SE Secretaria do Planejamento e Desenvolvimento de Sergipe

SEPLANTEC Secretaria do Planejamento, Habitação e do Desenvolvimento Urbano

SEINFRA Secretaria de Estado da Infraestrutura de Sergipe

SEAGRI/SE Secretaria da Agricultura, Irrigação e Reforma Agrária do Estado de

Sergipe

UFS Universidade Federal de Sergipe

21

SUMÁRIO

CAPÍTULO 1. INTRODUÇÃO-------------------------------------------------------------- 26

1.1. Apresentação do tema ---------------------------------------------------------------------- 26

1.2. Objetivos ------------------------------------------------------------------------------------- 32

1.2.1. Objetivo geral------------------------------------------------------------------------------ 32

1.2.2. Objetivos específicos---------------------------------------------------------------------- 32

1.3. Justificativa e motivação-------------------------------------------------------------------- 32

1.3.1. Aspectos pessoais-------------------------------------------------------------------------- 32

1.3.2. Aspectos organizacionais----------------------------------------------------------------- 33

1.3.3. Aspectos sociais--------------------------------------------------------------------------- 34

1.3.4. Aspectos acadêmicos---------------------------------------------------------------------- 35

1.4. Estrutura do trabalho------------------------------------------------------------------------ 35

CAPÍTULO 2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA ---------------------------------------- 37

2.1 A Bacia Hidrográfica como unidade de gerenciamento--------------------------------- 37

2.2. Modelos de gestão dos recursos hídricos------------------------------------------------- 40

2.2.1. Modelo francês de gestão dos recursos hídricos-------------------------------------- 43

2.3. Gestão participativa e governança da água----------------------------------------------- 44

2.4. A gestão participativa sob a ótica da percepção ambiental----------------------------- 47

CAPÍTULO 3. METODOLOGIA------------------------------------------------------------ 56

3.1. Caracterização da pesquisa----------------------------------------------------------------- 56

3.2. Caracterização do sistema de estudo - Bacia Hidrográfica do Rio Sergipe---------- 56

3.2.1. Composição física da Bacia Hidrográfica do Rio Sergipe--------------------------- 57

3.3. Sistema de utilização pelo ser humano--------------------------------------------------- 63

3.3.1. Sistemas legais----------------------------------------------------------------------------- 63

3.3.2. Sistemas sócio-econômico-culturais---------------------------------------------------- 67

3.4. Atores sociais da pesquisa e amostra------------------------------------------------------ 73

3.4.1. Atores sociais------------------------------------------------------------------------------- 73

3.4.2. Sistema de amostra------------------------------------------------------------------------ 76

3.5. Elaboração dos instrumentos para coleta e análise de dados--------------------------- 81

22

3.5.1. Registro fotográfico em pontos da Bacia Hidrográfica do Rio Sergipe

observando suas condições ambientais---------------------------------------------------------

83

3.5.2. Construção, teste, aplicação e análise dos instrumentos de coleta de dados

questionário do perfil sócio-profissiográfico, Jogo das Percepções e entrevista semi-

estruturada-----------------------------------------------------------------------------------------

86

3.5.2.1. Questionário do perfil sócio-profissiográfico--------------------------------------- 87

3.5.2.2. Jogo das Percepções-------------------------------------------------------------------- 88

3.5.2.3. Entrevista semi-estruturada------------------------------------------------------------ 94

CAPÍTULO 4. APRESENTAÇÃO, ANÁLISE DESCRITIVA E DISCUSSÃO

DOS RESULTADOS----------------------------------------------------------------------------

99

4.1. Apresentação--------------------------------------------------------------------------------- 99

4.2. Análise descritiva e discussão dos resultados-------------------------------------------- 100

4.2.1. Características dos sujeitos e do grupo------------------------------------------------- 100

4.2.1.1. Características dos sujeitos do Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio Sergipe- 100

4.2.1.1.1. Dados pessoais------------------------------------------------------------------------ 100

4.2.1.1.2 Atividade profissional e faixa de renda--------------------------------------------- 102

4.2.1.1.3 Naturalidade---------------------------------------------------------------------------- 103

4.2.1.1.4 Entidades, associações ou movimentos sociais que participa-------------------- 104

4.2.1.1.5 Classificação quanto à titulação dentro do Comitê da Bacia Hidrográfica do

Rio Sergipe-----------------------------------------------------------------------------------------

105

4.2.2.1 Características do grupo----------------------------------------------------------------- 109

4.2.2.1.1 Processo participativo no Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio Sergipe------ 109

4.2.3.1 Experiência com a Bacia Hidrográfica do Rio Sergipe----------------------------- 121

4.2.3.1.1 Experiência sobre o local e objeto de estudo--------------------------------------- 123

4.2.3.1.2 Interação com a área de estudo ------------------------------------------------------ 146

4.2.3.1.3 Experiência ambiental individual e coletiva --------------------------------------- 151

4.2.4. Caracterização perceptiva do sistema de estudo--------------------------------------- 158

4.2.4.1. Identidade do sistema de estudo------------------------------------------------------- 159

4.2.4.2. Significado do sistema de estudo------------------------------------------------------ 163

4.2.4.3. Escolha de usos para o sistema de estudo-------------------------------------------- 165

CAPÍTULO 5. CONSIDERAÇÕES FINAIS--------------------------------------------- 173

5.1. Considerações finais------------------------------------------------------------------------- 173

5. 2. Recomendações----------------------------------------------------------------------------- 177

REFERÊNCIAS --------------------------------------------------------------------------------- 181

APENDICES E ANEXOS--------------------------------------------------------------------- 190

23

APENDICE

Apêndice A: Caderneta de campo------------------------------------------------------------- 190

Apêndice B: Entrevista semi-estruturada do perfil sócio-profissiográfico-------------- 191

Apêndice C: Jogo das Percepções------------------------------------------------------------- 194

Apêndice D: Entrevista semi-estruturada----------------------------------------------------- 196

Apêndice E: Carta de apresentação de projeto de pesquisa ao Comitê da Bacia

Hidrográfica do Rio Sergipe---------------------------------------------------

197

Apêndice F: Registro fotográfico em pontos da Bacia Hidrográfica do Rio Sergipe-- 198

24

ANEXO

Anexo A:

Ata da XXXII Reunião Ordinária de eleição e posse do CBH-Rio Sergipe, gestão

2008/2010----------------------------------------------------------------------------------------

198

Ata da XXXIII Reunião Ordinária do CBH-Rio Sergipe, gestão 2008/2010----------- 198

Ata da VIII Reunião Extraordinária do CBH-Rio Sergipe, gestão 2008/2010---------- 198

Ata da IX Reunião Extraordinária do CBH-Rio Sergipe, gestão 2008/2010------------ 198

Ata da X Reunião Extraordinária do CBH-Rio Sergipe, gestão 2008/2010------------- 198

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CAPÍTULO 1

INTRODUÇÃO

O sol enche de cintilações a copa do coqueiral,

desliza sobre a água clara do rio,

joga um manto de luz sobre a onda do mar,

envolve em um complexo luminoso as casas e as igrejas,

as ruas e as praças, os morros e as praias [...].

O Rio Sergipe, é bem uma prova de que essa luz é variável e transitória.

Às vezes você notará, em suas águas, um tom verde,

Às vezes um tom azul,

às vezes um tom amarelo

como se aquela massa líquida estivesse incendiada,

ardendo em chamas.

Mário Cabral, 2002

26

CAPÍTULO 1 – INTRODUÇÃO

1.1 Apresentação do Tema

O Rio constitui uma paisagem natural e cultural que tem servido de referência para o

ser humano ao longo de toda a sua história. Como fonte de água, elemento vital e

indispensável, como meio de comunicação e existência, como marco territorial que percorre e

estrutura o espaço, como inspiração de poetas e pintores, como abrigo de uma rica

biodiversidade de fauna e flora, múltiplas são as dimensões que representam para os seres

vivos (SARAIVA, 1999; WWF-BRASIL, 2006).

Para acelerar o “progresso”, muitos rios foram modificados e encontraram pela frente

desmatamentos, queimadas, atividades extrativistas, agrotóxicos, construções de estradas e

obras hidráulicas, moradias irregulares e muito lixo. Em alguns casos, não é possível mais

reconhecer a sua forma e qualidade original (WWF-BRASIL, 2006).

O Brasil é um país de grandes contrastes, seja no que se refere à diversidade e à

riqueza dos recursos hídricos e naturais, ou no tocante aos aspectos socioculturais e

econômicos. Contudo, um aspecto comum às regiões hidrográficas brasileiras, a despeito de

apresentarem escassez ou farta disponibilidade natural de água, é a degradação de sua

qualidade, bem como alterações no regime hídrico e quantidade. Essas alterações decorrem do

crescimento demográfico, da falta de saneamento e da progressiva demanda originadas por

atividades econômicas nem sempre compatibilizadas com os princípios da sustentabilidade

ambiental (TUCCI, 2004; SILVA e PRUSKI, 2005; BRASIL. MMA, SRH, 2006).

Vista como estando à disposição para atender a necessidade humana e considerada

como renovável, abundante e infinita, a água é utilizada sem critérios, tanto como fonte de

despejo e diluição de dejetos, quanto como fonte de abastecimento com alto grau de

desperdício (SAITO, 2001). Em função desses problemas, a gestão de recursos hídricos vem

assumindo importância fundamental nas discussões técnico-científica, política e

socioeconômica, promovidas por agentes governamentais e da sociedade (MESQUITA e

SANTOS, 2006).

A crescente poluição dos corpos d’água despertou a consciência de que estes não têm

capacidade ilimitada de absorção e atenuação de impactos, devendo assim rever-se as práticas

de produção econômica atuais, de forma a assegurar a qualidade desses recursos. Além da

qualidade, a própria quantidade de água passou a ser objeto de preocupação, principalmente

CAPÍTULO 1 - INTRODUÇÃO

27

no que se refere às alterações em corpos d’água, ocasionando mudanças nos regimes fluviais e

pluviais bem como a extração descontrolada de água do lençol freático podendo provocar seu

esgotamento (BERLINCK, 2003).

Ricklefs (2003) escreve que qualquer desequilíbrio que leve à acumulação ou à

depressão de algum componente de um ecossistema é normalmente corrigido pelos processos

dinâmicos de automanutenção do ecossistema. Entretanto, Moraes e Ferraz (2002) discutem

que a utilização de recursos naturais tem um ritmo maior do que eles podem ser renovados

pelo sistema ecológico, sendo que, a geração de produtos residuais supera a capacidade de

integração ao ciclo natural de nutrientes, além disso, o sistema ecológico ainda tem que lidar

com os materiais tóxicos gerados pelo ser humano.

O comprometimento da capacidade suporte dos sistemas naturais de absorver os

impactos das modificações ambientais, tem como resultado negativo a degradação dos

recursos hídricos, atmosféricos e do solo, com riscos à qualidade de vida (PHILIPPI JR.,

2005). Reigota (2004) argumenta que o problema ambiental não está na quantidade de

pessoas que existe no planeta, mas sim no excessivo consumo dos recursos naturais, no

desperdício e na produção de artigos inúteis.

A prática de controle é uma preocupação crescente, representa uma mudança de

atitude vigorosa em relação à prática anterior de livre utilização desses recursos naturais,

trata-se de uma maior consciência ambiental (SAITO, 2001). Apesar dos esforços, são ainda

incipientes as ações voltadas para efetivar a integração da gestão de recursos hídricos com a

gestão ambiental, necessitando de uma programação mais ativa e com objetivos mais claros

de como deve ocorrer essa integração e em quais momentos (BRASIL. MMA, SRH, 2006).

A crise em torno da água reflete a crise de consciência da nossa civilização e do

modelo de “desenvolvimento” mundial atual, desigual, excludente e esgotante dos recursos

naturais. A degradação ambiental e as desigualdades sociais são verso e reverso de um mesmo

processo histórico, que tem como conseqüência a “insustentabilidade” da vida, do meio e das

sociedades humanas. No processo de construção de um novo modelo de gestão sustentável

dos recursos hídricos, o grande desafio é o de estabelecer uma relação de poder compartilhada

e descentralizada, criando oportunidades de participação social, construindo consensos,

dirimindo conflitos e pactuando a unidade na diversidade (BRASIL. SRH, MMA, 2006).

No âmbito federal, a Política Nacional de Recursos Hídricos foi instituída pela Lei n°

9.433, em 1997 (BRASIL. MMA, SRH, 2002), um dos fundamentos desta Lei determina que

o gerenciamento dos recursos hídricos deva ser realizado de forma descentralizada,

CAPÍTULO 1 - INTRODUÇÃO

28

participativa e integrada. A descentralização refere-se à adoção da Bacia Hidrográfica como

unidade regional de planejamento e gerenciamento das águas. A participação considera a

importância de órgãos governamentais e da sociedade civil no sistema de gerenciamento dos

recursos hídricos. A integração considera principalmente a qualidade e a quantidade das águas

a partir de ações que promovam os usos múltiplos desses recursos (JACOBI e

FRACALANZA, 2005).

Neste contexto, para enfrentar problemas como poluição, escassez e conflitos pelo uso

da água, foi preciso reconhecer a Bacia Hidrográfica como um sistema ecológico, que abrange

todos os organismos que funcionam em conjunto numa dada área. Entender como os recursos

naturais estão interligados e são dependentes, ou seja, quando o curso de um Rio é alterado

para levar esgotos para longe de uma determinada área, acaba por poluir outra. Da mesma

forma, a impermeabilização do solo em uma região provoca o escoamento de águas para

outra, que passa a sofrer com enchentes. Diante de exemplos como esses, tornou-se necessário

reconhecer na dinâmica das águas, que os limites geográficos para trabalhar o equilíbrio

ecológico têm que ser o da Bacia Hidrográfica, ou seja, o espaço territorial determinado e

definido pelo escoamento, drenagem e influência da água, do ciclo hidrológico na superfície

da Terra e não aquelas divisões políticas definidas pela sociedade, como municípios, Estados

e países, que não comportam a dinâmica da natureza.

Segundo Araújo (2006) a Bacia Hidrográfica se constitui numa unidade física bem

caracterizada, tanto do ponto de vista da integração, como da funcionalidade de seus

componentes. Oliveira (2006) afirma dizendo que esta mesma área seja considerada como um

sistema ecológico.

Na prática, a utilização do conceito de Bacia Hidrográfica consiste na determinação de

um espaço físico funcional, sobre o qual devem ser desenvolvidos mecanismos de

gerenciamento ambiental na perspectiva do desenvolvimento ambientalmente sustentável.

Neste sentido, as abordagens metodológicas utilizadas para estudar e gerenciar o espaço

físico, compreendido pela Bacia Hidrográfica, devem estar relacionadas às teorias modelo que

possam explicar, predizer e organizar adequadamente as informações úteis ao processo de

gestão ambiental (PIRES, SANTOS e DEL PRETTE, 2002).

Sendo a Bacia Hidrográfica a unidade territorial para a implementação da Política

Nacional de Recursos Hídricos, neste contexto, inserem-se os Comitês de Bacias

Hidrográficas compostos por representantes de órgãos e entidades públicas, representantes

dos municípios contidos na Bacia correspondente, os usuários das águas e representantes da

CAPÍTULO 1 - INTRODUÇÃO

29

sociedade civil (BRASIL. MMA, SRH, 2002).

O Estado de Sergipe apresenta uma densa malha hidrográfica, mas composta de Rios

pequenos, a exceção do Rio São Francisco, intermitentes e irregulares, dotados de pequena

utilidade para fins energéticos. Possuem suas nascentes e grande parte dos cursos médios,

insuficientes para suprimento permanente. No litoral, a influência das marés adentra vários

quilômetros, resultando num imenso volume de água com elevado grau salino. Essas

condições delimitam a carência e importância do recurso água para o Estado e para os

sergipanos (SERGIPE. SEPLANTEC, SRH, 2002).

Sergipe possui seis Bacias Hidrográficas as quais são: dos Rios São Francisco,

Japaratuba, Sergipe, Vaza Barris, Piauí e Real. A Bacia Hidrográfica do Rio Sergipe drena

aproximadamente 16,7% do Estado, correspondendo a 3.673 km2, limitando-se ao norte com

as Bacias dos Rios São Francisco e Japaratuba e, ao sul, com a Bacia do Rio Várzea Barris

(ROCHA, 2006). Seus principais afluentes pela margem esquerda são os Rios Pomonga,

Parnamirim, Ganhamoroba e Cágado; e, pela margem direita, os Rios Poxim, Sal, Cotinguiba,

Jacarecica, Morcego, Jacoca, Campanha, Lajes e Melancia (SERGIPE. SEPLANTEC, SRH,

2002).

A escolha dessa Bacia Hidrográfica fundamenta-se na relevância quanto ao contexto

político, econômico, social, cultural e ambiental para o Estado. Segundo Araújo (2007) o

desenvolvimento econômico da Bacia Hidrográfica do Rio Sergipe não ocorreu de forma

sustentável, comprometendo a qualidade de vida da população pela escassez hídrica e

degradação ambiental, que vem se intensificando pelo acelerado processo de urbanização,

lançamento de esgotos doméstico, ocupação desordenada do solo e concentração industrial.

Em decorrência desses problemas ambientais, não só na Bacia Hidrográfica do Rio

Sergipe como nas demais Bacias Hidrográficas presentes no Estado de Sergipe, foram

estabelecidos mecanismos de convivência entre usuários da água e a sociedade em geral,

resultando na Lei nº 3.870, de 25 de setembro de 1997 (GÓIS e ROCHA, 2006).

O Comitê de Bacia Hidrográfica ou como é chamado também de “Parlamento das

Águas” é um órgão colegiado que discute, em nome dos diversos grupos de interesse, os

assuntos relativos aos recursos hídricos, definem os rumos sobre o uso das águas e determina

a aplicação de recursos financeiros para garantir água em quantidade e qualidade. Seu

princípio básico da operacionalidade vai além da descentralização administrativa, visando à

promoção da cidadania, através da democratização das informações, estímulo à Educação

Ambiental, preservação das águas e intensificação do processo participativo da sociedade

CAPÍTULO 1 - INTRODUÇÃO

30

civil organizada. Deste modo, facilita a articulação direta entre poderes públicos e

comunidade envolvida (SERGIPE. SEPLANTEC, SRH, 2002).

O processo de instituição do Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio Sergipe foi iniciado

no ano de 2001 e em 2002 foi aprovado pelo CONERH - Conselho Estadual de Recursos

Hídricos do Estado de Sergipe, por meio da Resolução de nº 2 de 09 de abril de 2002,

oficializado pelo Decreto do Governo do Estado de nº. 20.778 de 21 de junho de 2002 e

publicado no Diário Oficial de nº. 24.060 de 25 de junho de 2002. Composto por quarenta e

oito membros entre titulares e suplentes, encontrando-se atualmente na quarta gestão

(SERGIPE. SEMARH, 2009).

A gestão das águas abrange de forma integrada os aspectos relativos à legislação,

interesses múltiplos e conflitantes de diferentes usuários, aspectos sociais e a irregularidade da

distribuição espacial e temporal de disponibilidades e demandas (SILVA e PRUSKI, 2005;

LANNA, 2006).

Flores e Misoczky (2008) discutem sobre algumas dificuldades observadas no modelo

participativo em Comitês de Bacia Hidrográfica os quais são: a falta de quórum das plenárias,

as pautas extensas, as atas que não são lavradas, a igualdade ou a falta dela na composição dos

conselhos, a fragilidade da representação institucional, a participação de atores com interesses

distintos no planejamento, a descontinuidade e descompromisso de alguns representantes, a

falta de apoio ou condições de participação para pessoas ou organizações realmente

interessadas, os diferentes níveis de informação e qualificação dos membros, o gigantismo da

estrutura de uns em contraste com a fragilidade e desorganização de outros.

A partir, desses problemas existentes no modelo de gestão participativa, Saito (2001)

argumenta que, para a efetividade desta negociação, todos os interessados nos recursos

hídricos da Bacia devam ter seus interesses representados e passíveis de discussão e

deliberação em igualdade de condições.

Frente ao impasse que se estabelece diante dessa problemática ambiental, estudos

sobre percepção ambiental são muito importantes, sendo que alguns problemas humanos

surgem de fenômenos que não podem ser estudados por um enfoque científico tradicional,

pois resultam de uma atividade perceptiva das pessoas em relação às condições ambientais

criadas por e para elas. Araújo (2008) em seu trabalho sobre conflitos sócio-ambientais

relacionados ao uso da água outorgada na Bacia Hidrográfica do Rio Japaratuba, utiliza a

percepção ambiental como metodologia, justificando que a percepção é parte do processo de

formação do conhecimento e, por conseguinte, do sistema de valores, em que o mundo é

CAPÍTULO 1 - INTRODUÇÃO

31

apreendido a partir dos processos perceptivos que registram e aferem significados à realidade

que se percebe tanto em nível social quanto individual.

Schmitt e Matheus (2005) argumentam que projetos que tratem da relação ser

humano-biosfera e gerenciamento dos ecossistemas devam incluir investigações de percepção

como parte integrante da abordagem interdisciplinar que estes projetos exigem, porque o

estudo da percepção ambiental auxilia no conhecimento das relações dos seres humanos com

o ambiente. Jesus (1993) utiliza o mesmo pensamento, escrevendo que a abordagem global

das questões ambientais demanda, portanto de teorias sociológicas e princípios ambientais

conjugados, capazes de tratar adequadamente as interações socioambientais.

O trabalho parte da premissa que os Rios e Bacias Hidrográficas constituem elementos

básicos e essenciais da estrutura do território e procura refletir sobre processos, recursos e

valores essenciais responsáveis pelo ordenamento desses sistemas. Na perspectiva

desenvolvida, a ênfase é posta no Rio como “espinha dorsal” ou “nervura” da estrutura

hidrológica do território, estrutura complexa que a atividade humana tende, geralmente, a

simplificar, reduzindo a diversidade dos sistemas naturais que dele dependem e,

concomitantemente, a sua riqueza intrínseca bem como a variedade estética que lhes está

associada.

Neste contexto, observa-se a necessidade de estudos de percepção ambiental para

melhor compreender a realidade do Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio Sergipe e de seus

membros. O estudo de percepção corresponderá a um “pano de fundo” em busca da análise e

interpretação da realidade em termos de relações, a partir de conceitos integradores, como o

de Bacia Hidrográfica.

Diante da problemática o trabalho propõe-se a responder a seguinte questão: A

percepção ambiental dos segmentos que compõem o Comitê da Bacia do Rio Sergipe se dá de

que forma, levando-se em consideração a diversidade sócio-econômico-culturais com

diferentes papeis sociais dos atores envolvidos?

Finalmente, a investigação do sistema de percepção dos membros do Comitê da Bacia

Hidrográfica do Rio Sergipe foi realizada numa perspectiva de se obter subsídios que

orientem metodologias de trabalhos educativos, voltados para a Educação Ambiental e gestão

dos recursos hídricos, apoiados no conhecimento das percepções de indivíduos pertencentes a

diferentes grupos sócio-econômico-culturais que exercem distintas influências sobre a Bacia

Hidrográfica do Rio Sergipe.

CAPÍTULO 1 - INTRODUÇÃO

32

1.2 Objetivos

1.2.1 Objetivo geral

O objetivo geral da pesquisa consistiu em verificar a percepção ambiental dos

segmentos que compõem o Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio Sergipe em relação ao seu

objeto de gestão.

1.2.2 Objetivos específicos

Caracterizar os membros entrevistados e o grupo que compõe o Comitê da Bacia

Hidrográfica do Rio Sergipe.

Realizar o registro fotográfico em pontos da Bacia Hidrográfica do Rio Sergipe

observando suas condições ambientais.

Descrever a experiência do grupo entrevistado em relação ao seu objeto de gestão.

Identificar a percepção de significado e identidade atribuídos ao objeto de gestão,

Bacia Hidrográfica do Rio Sergipe.

Identificar as escolhas de usos para o sistema de estudo – Bacia Hidrográfica do Rio

Sergipe.

1.3 Justificativa e motivação

1.3.1 Aspectos pessoais

A degradação ambiental que a Bacia Hidrográfica do Rio Sergipe vem sofrendo ao

longo das últimas décadas é o principal motivo de realização deste trabalho.

Esta Bacia apresenta grande concentração populacional abrigando mais de metade da

população do Estado de Sergipe, apresentando uma crescente irregularidade de abastecimento

de água, problemas de degradação dos recursos hídricos provocados por lançamento de

efluentes e contaminação por resíduos sólidos e desmatamento.

Partimos do pressuposto que o trabalho de percepção ambiental seja o início para uma

nova etapa na gestão dos recursos naturais da Bacia Hidrográfica do Rio Sergipe,

principalmente com utilização de imagens da área, como uma das formas de coleta de

CAPÍTULO 1 - INTRODUÇÃO

33

informações dos membros do Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio Sergipe. Estas

informações podem vir a diagnosticar deficiências presentes no Comitê, auxiliando na

construção futura de programas de Educação Ambiental, que venham a contribuir no

“funcionamento” da gestão participativa.

1.3.2 Aspectos organizacionais

Segundo informações de Góis e Rocha (2006) a Constituição Sergipana é bastante

completa no que diz respeito aos recursos hídricos, visto que já no seu art. 2º inclui, entre os

bens do Estado, as águas superficiais e subterrâneas. Nos artigos 7º e 9º insere, entre as

competências do Estado, a proteção do meio ambiente e dos recursos naturais, entre estes a

água.

A Lei Estadual nº 3.870, de 25 de setembro de 1997, da Política e do Sistema de

Gerenciamento de Recursos Hídricos, segue o padrão da Lei Nacional nº 9.433/97, indicando

a necessidade de adequações às peculiaridades do Estado de Sergipe, já que boa parte de seu

território está inserida na região do Semi-Árido.

O Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio Sergipe integra o Sistema Estadual de

Gerenciamento de Recursos Hídricos, conforme inciso II do art.34 da Lei Estadual nº

3.870/97, e se constitui em um órgão colegiado, com atribuições consultivas e deliberativas e

competência normativa, no âmbito da Bacia Hidrográfica do Rio Sergipe, instituído através

do Decreto Estadual nº 20.778 de 21 de junho de 2002. O objetivo principal do Comitê da

Bacia Hidrográfica do Rio Sergipe é o gerenciamento das águas da região, aprovar e

acompanhar a execução do Plano da Bacia Hidrográfica e a aplicação dos recursos financeiros

destinados à conservação, proteção e recuperação dos recursos hídricos, bem como conciliar

os conflitos pelo uso da água (SERGIPE. SEPLANTEC, SRH, 2002).

Compete ao Comitê de Bacia Hidrográfica do Rio Sergipe, atuar de forma articulada e

integrada com as entidades competentes do Sistema Nacional e Estadual de Gerenciamento de

Recursos Hídricos, com os municípios, com ONGs atuantes nas áreas educacional, ambiental

e de recursos hídricos, instituições de ensino e pesquisa, entidades privadas e entidades de

classe. As ações do Comitê de Bacia Hidrográfica do Rio Sergipe devem respeitar as

peculiaridades regionais referentes à organização institucional dos municípios, a participação

de entidades públicas e privadas, e as características do meio físico local.

CAPÍTULO 1 - INTRODUÇÃO

34

No entanto, segundo Carvalho (1998) apud Flores e Misoczky (2008) ainda que os

mais diversos atores socais, tanto na sociedade quanto no Estado, reivindiquem e apóie a

participação social, a democracia participativa, o controle social sobre o Estado, a realização

de parcerias entre Estado e a sociedade civil, trata-se apenas de uma “generalização do

discurso da participação, na medida em que participação, democracia, controle social, parceria

não são conceitos com igual significado para os diversos atores e têm, para cada um deles,

uma construção histórica diferente”.

É neste contexto da diversidade sócio-econômico-culturais com diferentes papeis

sociais dos atores envolvidos que se propõe o estudo, analisando a percepção ambiental

destes, observando o funcionamento do Comitê e sinalizando possíveis problemas que

venham a dificultar os trabalhos realizados.

1.3.3 Aspectos sociais

A análise do meio ambiente, a partir da Bacia Hidrográfica do Rio Sergipe, contribui

para o desenvolvimento de uma nova concepção no tratamento das questões sócio-ambientais;

serve de auxílio na tomada de decisões quanto a sua preservação e é fundamental para a

implementação de uma política de desenvolvimento sustentado.

Oliveira (2006) descreve que a necessidade de promover a recuperação ambiental e a

manutenção de recursos naturais escassos como a água, fez com que, a partir da década de 70,

o conceito de Bacia Hidrográfica passasse a ser difundido e consolidado no mundo. Para

enfrentar problemas como poluição, escassez e conflitos pelo uso da água, foi preciso

reconhecer a Bacia Hidrográfica como um sistema ecológico, que abrange todos os

organismos que funcionam em conjunto numa dada área e entender como os recursos naturais

estão interligados e são independentes.

Neste contexto, percebe-se a importância social do Comitê de Bacia para o

gerenciamento da Bacia Hidrográfica do Rio Sergipe, tendo este o papel de atuar na promoção

do gerenciamento participativo e descentralizado dos recursos hídricos, através da ação

integrada, envolvendo as entidades públicas e privadas atuantes na Bacia.

CAPÍTULO 1 - INTRODUÇÃO

35

1.3.4 Aspectos acadêmicos

Com a crescente degradação da Bacia Hidrográfica do Rio Sergipe, o estudo de

percepção ambiental dos membros do Comitê desta Bacia, dentro do Programa de Pós-

Graduação Strictu Sensu em Desenvolvimento e Meio Ambiente da Universidade Federal de

Sergipe é muito importante. Inicialmente, por ainda não terem sido realizados estudos de

percepção ambiental com o Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio Sergipe, que venham a

auxiliar no funcionamento deste. Por fim, a compreensão da percepção dos membros do

Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio Sergipe sobre a identidade com a Bacia Hidrográfica e o

significado do Rio Sergipe para estes, pode vir a proporcionar ações das mais diversas, tanto

através de estudos acadêmicos como através de políticas públicas. Desta forma, vindo a

auxiliar uma gestão mais efetiva da Bacia Hidrográfica em estudo, diminuindo problemas

sócio-ambientais ocorridos em seu entorno.

1.4. Estrutura do trabalho

A estrutura do trabalho se constitui em cinco capítulos descritos abaixo.

O primeiro Capítulo destinado à introdução com apresentação do tema, objetivos,

justificativa e motivação e por fim estruturação do presente assunto.

No segundo Capítulo aborda-se a fundamentação teórica iniciada pelo tema a Bacia

Hidrográfica como unidade de gerenciamento, modelos de gestão dos recursos hídricos,

gestão participativa e governança da água e a gestão participativa sob a ótica da percepção

ambiental.

No terceiro Capítulo é realizada a apresentação da metodologia iniciando com a

caracterização da pesquisa, caracterização do sistema de estudo, sistema de utilização pelo ser

humano, atores sociais da pesquisa e amostra finalizando com a elaboração dos instrumentos

para coleta e análise de dados.

No quarto Capítulo aborda-se a apresentação, análise descritiva e discussão dos

resultados.

O quinto Capítulo destina-se as considerações finais e recomendações.

CAPÍTULO 1 - INTRODUÇÃO

36

CAPÍTULO 2

FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

Sempre o homem a vida viu no rio refletida

pois incessante como o tempo o rio corre

e no mar que obstinamente busca finalmente encontra

se não a solução o esquecimento de quem morre

O rio dissimula em sua geografia a sua história

esconde nos acidentes naturais os seus conflitos e tragédias

O rio tem caprichos e é de humor instável

mas por que nasce e morre e respira entretanto

e tem a vida como o preço e o privilégio

o rio é humano e tanto e tão pouco como um homem

Ruy Belo, em Toda a Terra

37

CAPÍTULO 2 - FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

2.1 A Bacia Hidrográfica como a unidade de gerenciamento

Desde o surgimento das sociedades organizadas, o desenvolvimento de regiões

urbanizadas e rurais é definido de acordo com a disponibilidade das águas doces em sua

quantidade e qualidade. Para que o desenvolvimento sustentável e o intercâmbio entre regiões

com interesses comuns pela utilização da água fossem realizados, foi adotado o conceito de

Bacia Hidrográfica. Este conceito passou a ser difundido e consolidado no Brasil, a partir da

década de 70, devido à necessidade de promover a recuperação ambiental e a manutenção

desse recurso hídrico. No Estado de São Paulo as primeiras experiências surgiram em 1976,

na região metropolitana, com a criação do Comitê do Acordo firmado entre o Estado e o

Ministério de Minas e Energia (OLIVEIRA, 2006).

Para Tucci (1997) a Bacia Hidrográfica é caracterizada como uma área de captação da

água vinda da precipitação que faz convergir os escoamentos para um único ponto de saída, o

exutório, e a Bacia compõem-se basicamente de um conjunto de superfícies vertentes e de

uma rede de drenagem formada por cursos d água que confluem até resultar um leito único no

exutório.

Christofoletti (1980) refere-se à Bacia Hidrográfica simplesmente por uma área

drenada por um determinado rio ou por um sistema fluvial, ou geomorfologicamente por um

sistema aberto que recebe suprimento contínuo de energia através do clima reinante, e que

sistematicamente, perde através da água e dos sedimentos que a deixam. Santana (2003) adota

dois conceitos de acordo a área de captação da água, a Bacia Hidrográfica pode ser

denominada de Bacia de Captação, quando se tem a visão de que atua como coletora de águas

pluviais, ou Bacia de Drenagem, quando a visão é de atuar como uma área que está sendo

drenada pelos cursos d’água.

Com o aumento na demanda sobre os recursos hídricos e da experiência dos técnicos,

foi verificada a necessidade de incorporar os aspectos relacionados aos usos múltiplos da

água, isso porque as implicações sobre o uso dos recursos hídricos provêm de uma série de

fatores naturais, econômicos, sociais e políticos, sendo o recurso natural “água” o ponto de

convergência de um complexo sistema ambiental (PIRES, SANTOS e DEL PRETTE, 2002).

CAPÍTULO 2 - FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

38

Segundo Odum (2007) os campos, florestas, corpos de água e cidades ligados por um

sistema de riacho ou rio, por uma rede de drenagem subterrânea, interagem como uma

unidade integrativa tanto para o estudo como para a gestão. O conceito de Bacia Hidrográfica

ajuda a por em perspectiva muitos de nossos problemas e conflitos, demonstrando que, a

causa e as soluções da poluição da água não são encontradas olhando-se apenas a água, mas o

estudo das ações antrópicas danosas ao meio ambiente ocorridas em toda área da Bacia.

Os autores Pires, Santos e Del Prette (2002, p. 20) discutem que “a adoção da Bacia

Hidrográfica como unidade de gerenciamento representa uma estratégia, cuja, a perspectiva

mais ampla consiste em agregar valor á busca pelo desenvolvimento sustentável.” Eles

complementam dizendo que o uso da Bacia Hidrográfica como unidade de gerenciamento da

paisagem é mais eficaz porque:

... (i) no âmbito local, é mais factível a aplicação de uma abordagem que compatibilize

o desenvolvimento econômico e social com a proteção dos ecossistemas naturais,

considerando as interdependências com as esferas globais; (ii) o gerenciamento da

Bacia Hidrográfica permite a democratização das decisões, congregando as

autoridades, os planejadores e os usuários (privados e públicos) bem como os

representantes da comunidade (associações sócio-profissionais, de proteção ambiental,

de moradores etc.); (iii) permite a obtenção do equilíbrio financeiro pela combinação

dos investimentos públicos (geralmente fragmentários e insuficientes, pois o custo das

medidas para a conservação dos recursos hídricos é alto) e a aplicação dos princípios

usuário-pagador e poluidor-pagador, segundo os quais os usuários pagam taxas

proporcionais aos usos, estabelecendo-se, assim, diversas categorias de usuários

(PIRES, SANTOS e DEL PRETTE, 2002 p. 20).

Martins (2008) em seu trabalho intitulado de: “Sociologia da governança francesa das

águas” discute que na condição de referência internacional, principalmente em razão da

adoção da Bacia Hidrográfica como unidade de planejamento e gestão, o modelo francês tem

recebido reiteradamente leituras abstratas quanto ao seu significado efetivo em termos de

políticas públicas. O sentido desta abstração reside justamente nas iniciativas de interpretação

de seu desenvolvimento, exclusivamente com base em suas características técnicas mais

evidentes. Abstraído do conjunto de relações de poder que lhe conferem sentido concreto, a

gestão francesa por Bacias emerge como solução técnica aplicada à necessidade de

planejamento e uso sustentável das águas. E deste modo, segue sendo apresentada como

solução eminentemente técnica para a gestão racional das águas (MARTINS, 2008).

Uma importante vantagem da utilização da Bacia Hidrográfica como unidade de

gerenciamento é o fato de aproximar a população com os sistemas hídricos, proporcionando

maior envolvimento dos habitantes nos projetos e decisões referentes à água e também

propiciando uma visão mais focada nas condições naturais, valorizando os aspectos

CAPÍTULO 2 - FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

39

ambientais de um lugar. A adoção desse conceito para a conservação dos recursos naturais

está também relacionada à possibilidade de avaliar, em uma determinada área geográfica, o

seu potencial de desenvolvimento e a sua produtividade biológica, determinando as melhores

formas de aproveitamento dos mesmos, com o mínimo de impacto ambiental, ou seja, a sua

utilização de forma sustentável. Neste sentido como relata os autores Pires, Santos e Del

Prette (2002):

[...] as abordagens metodológicas utilizadas para estudar e gerenciar o espaço físico,

compreendido pela Bacia, devem estar relacionadas às teorias e modelos que possam

explicar, predizer e organizar adequadamente as informações úteis ao processo de

gestão ambiental (PIRES, SANTOS e DEL PRETTE, 2002 p. 21).

O principal desafio para o gerenciamento de uma Bacia Hidrográfica é englobar todas

as questões biofísicas e humanas que estão contidas na unidade ou são exteriores a ela, com

implicações significativas para a sua dinâmica, integrando as dimensões humanas, culturais,

sócio-econômicas, estéticas, e outras, que não são especialmente definidas.

Oliveira (2002, p. 134) propõe uma abordagem complexa e transdisciplinar, porque

“além das dimensões ecológicas, econômicas, sociais, culturais e políticas, permite

compreender também as dimensões afetivas, éticas, estéticas, poéticas e espirituais

envolvidas, mais do que passiveis de serem incorporadas – necessárias para uma educação

integral do ser humano”.

Para que a Bacia Hidrográfica seja reconhecida pela sociedade como uma unidade de

gerenciamento, adotando-a para tal atividade, ao invés de divisas entre municípios e estados, é

preciso uma mudança cultural e educativa com a sociedade. Como relata Oliveira (2006):

[...] para que isso aconteça é necessário selecionar e adotar áreas menores, a fim de

aproximar a população dos recursos naturais, vincular nos meios de comunicação o

estado que se encontra cada Bacia e as decisões firmadas pelo sistema de gestão e

incentivar a participação da população nos Comitês e nos projetos, para que possam

contribuir na elaboração de panoramas reais e soluções efetivas (OLIVEIRA, 2006, p.

19).

Conhecer as instituições que atuam numa Bacia Hidrográfica, seus atores, o papel

que desempenham e a sua área de competência é fundamental para que se possam

estruturar ações com vistas a auxiliar trabalhos voltados para os interesses comuns,

aglutinar anseios, e formular políticas públicas para o ambiente que levem em conta as

demandas e o contexto sociocultural das populações.

Martins (2008) escreve sobre a cientifização do processo político, ao separar as

relações de poder envolvidas no recorte das Bacias Hidrográficas, tornando-o assim uma

fórmula aparentemente técnica, contribui sobremaneira para a reafirmação de certos

CAPÍTULO 2 - FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

40

monopólios de competências. Amparados em tal experiência que o saber técnico das águas

reiterou sua identidade na relação “nós-eles”, opondo-se aos segmentos não-técnicos cuja

atuação deveria significar a democratização do aparato gestor (MARTINS, 2008).

Continuando com o autor acima, ele complementa criticando o modelo francês em

relação a essa cientifização, onde discute em relação à pluralidade de olhares sobre a gestão

de águas que o novo sistema pressupunha, a participação efetiva possuía limites pré-

estabelecidos, limites estes que se referiam ao próprio quadro do sistema gestor, desenhado

em grande medida pelos politécnicos. Isto porque a atuação deste grupo de profissionais na

elaboração das novas normas de regulação de uso e acesso à água também implicou na

criação de novos marcos para questão hídrica no país.

Com efeito, as inovações jurídicas implicam também em formas de nominação de

experiências e expectativas sociais. Estas nominações, ao fornecerem balizas para o

comportamento social, implicam também em relações de poder (MARTINS, 2008).

2.2. Modelos de gestão dos recursos hídricos

No Brasil, apesar do país contar com a maior disponibilidade hídrica do mundo, por

onde escoa cerca de 19% da água doce superficial do planeta, grande parte desses recursos

encontra-se na Região Amazônica, onde reside pequena parcela da população e a demanda

hídrica é muito baixa. No entanto, os locais mais críticos são onde há maior concentração

populacional e menor disponibilidade hídrica, nesses, a contaminação e a superexploração dos

corpos d’água são freqüentes, gerando prejuízos ao meio ambiente e ao ser humano, além de

conflitos entre usuários da água. No Brasil, são várias as regiões que apresentam algum tipo

de problema hídrico e, por isso, necessitam urgentemente da implementação de um sistema

eficaz de gestão de recursos hídricos (AGÊNCA NACIONAL DAS ÁGUAS, 2002).

Segundo Tucci, Hespanhol e Cordeiro Netto (2003) a gestão dos recursos hídricos no

Brasil passa por um cenário de transição institucional, esta análise demonstra que existe um

caminho muito longo ainda a ser desenvolvido, principalmente no campo institucional, que

passa por acordos entre os agentes da sociedade envolvidos na gestão da água.

A gestão dos recursos hídricos brasileira também se baseou em experiências

estrangeiras, como o modelo francês. Este modelo serviu de base para o modelo brasileiro

porque os resultados apresentados naquele país desde a sua formulação em 1964

demonstraram a eficiência de um modelo integrado e descentralizado (OLIVEIRA, 2006). Já

CAPÍTULO 2 - FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

41

Martins (2008) faz uma crítica a esse modelo integrado e descentralizado, discutindo sobre a

dominação territorial dos saberes politécnicos, onde, as relações de poder são sustentadas por

conjuntos distintos de hierarquias, desde a definição dos objetivos do novo aparato gestor, até

a regulamentação dos instrumentos da política de águas, na sociedade francesa.

O Quadro 2.1 compara o Brasil com os países desenvolvidos em relação ao

aproveitamento do recurso hídrico e faz um histórico desses acontecimentos, que iniciaram

após a Segunda Guerra Mundial, com um grande desenvolvimento econômico e a construção

de muitas obras hidráulicas, principalmente de geração de energia elétrica. Nessa época,

Países em desenvolvimento como o Brasil estavam na fase de inventariar seus recursos,

desenvolvendo a construção de obras hidráulicas de menor porte (TUCCI, HESPANHOL e

CORDEIRO NETTO, 2001)

Os modelos de gestão de recursos hídricos são ferramentas que norteiam toda a

política e os instrumentos necessários para executar a gestão, distinguindo em três fases que

deram características cada vez mais complexas aos modelos de gestão, permitindo uma

abordagem mais eficiente ao problema, os quais são: o modelo burocrático, o econômico-

financeiro e o sistêmico de integração participativa (OLIVEIRA, 2006).

Para interpretar a realidade brasileira, vários modelos de gestão de recursos hídricos

foram utilizados, criados e modificados através da história, chegando ao que atualmente

predomina. Após a utilização dos dois primeiros modelos brasileiros que demonstravam

deficiência em sua estruturação e funcionamento foi elaborado o modelo sistêmico de

integração participativa que contou com a contribuição do modelo francês de gestão das

águas.

O modelo sistêmico de integração participativa propôs: i) o planejamento estratégico

por Bacia Hidrográfica; ii) a tomada de decisões por deliberações e negociações; iii) e a

adoção dos instrumentos legais e financeiros. Tais ideais visam à promoção da democracia na

gestão das águas, e abordando formas de geração de recursos financeiros para a

implementação da sua gestão.

CAPÍTULO 2 - FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

42

Período

Países desenvolvidos

Brasil

1945-1960

Engenharia com

pouca

preocupação

ambiental

Uso dos recursos hídricos:

abastecimento, navegação,

hidroeletricidade, etc.

Qualidade da água dos rios.

Medidas estruturais de controle das

enchentes.

Inventário dos recursos hídricos.

Início dos empreendimentos

hidrelétricos e projetos de grandes

sistemas.

1960-1970

Início da pressão

Ambiental

Controle de efluentes.

Medidas não estruturais para

enchentes.

Legislação para qualidade da água

dos rios.

Início da construção de grandes

empreendimentos hidrelétricos.

Deterioração da qualidade da água

de rios e lagos próximo a centros

urbanos.

1970-1980

Controle

ambiental

Usos múltiplos.

Contaminação de aqüíferos.

Deterioração ambiental de grandes

áreas metropolitanas.

Controle na fonte de drenagem

urbana;

Controle da poluição doméstica e

industrial.

Legislação ambiental.

Ênfase em hidrelétricas e

abastecimento de água.

Início da pressão ambiental.

Deterioração da qualidade da água

dos rios devido ao aumento da

produção industrial e concentração

urbana.

1980-1990

Interações do

Ambiente

Global

Impactos climáticos globais.

Preocupação com conservação das

florestas.

Prevenção de desastres.

Fontes pontuais e não pontuais.

Poluição rural.

Controle dos impactos da

urbanização sobre o ambiente.

Contaminação de aqüíferos.

Redução do investimento em

hidrelétricas devido à crise fiscal e

econômica.

Piora das condições urbanas:

enchentes, qualidade da água.

Fortes impactos das secas do

Nordeste;

Aumento de investimentos em

irrigação.

Legislação ambiental.

1990-2000

Desenvolvimento

Sustentável

Desenvolvimento sustentável.

Aumento do conhecimento sobre o

comportamento ambiental causado

pelas atividades humanas.

Controle ambiental das grandes

metrópoles.

Pressão para controle da emissão de

gases, preservação da camada de

ozônio.

Controle da contaminação dos

aqüíferos das fontes não-pontuais.

Legislação de recursos hídricos.

Investimento no controle sanitário

das grandes cidades.

Aumento do impacto das

enchentes urbanas.

Programas de conservação dos

biomas nacionais: Amazônia,

Pantanal, Cerrado e Costeiro.

Início da privatização dos serviços

de energia e saneamento.

2000

Ênfase na água

Desenvolvimento da visão mundial

da água.

Uso integrado dos recursos hídricos.

Melhora da qualidade da água das

fontes não-pontuais: rural e urbana.

Busca de solução para os conflitos

transfronteriços.

Desenvolvimento do gerenciamento

dos recursos hídricos dentro de

bases sustentáveis.

Avanço do desenvolvimento dos

aspectos institucionais da água.

Privatização do setor energético.

Aumento de usinas térmicas para

produção de energia.

Privatização do setor de

saneamento.

Aumento da disponibilidade de

água no Nordeste.

Desenvolvimento de planos de

drenagem urbana para as cidades.

Quadro 2.1: Visão histórica das formas de utilização dos recursos hídricos em diferentes períodos e por países

desenvolvidos e pelo Brasil (Fonte: TUCCI, HESPANHOL E CORDEIRO NETTO, 2003)

CAPÍTULO 2 - FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

43

Pouco mais de 40 anos após sua criação, a atual estrutura francesa de governança das

águas ocupa posição de destaque no debate internacional sobre modelos de gestão dos

recursos naturais. A literatura especializada no tema da gestão ambiental, por sua vez, enfatiza

as virtudes do aparato francês de governança das águas com o princípio do poluidor-pagador,

dando base para a formulação dos princípios de valoração econômica da água (MARTINS,

2008).

2.2.1. Modelo francês de gestão dos recursos hídricos

Em 16 de dezembro de 1964, a primeira Lei sobre a água entra em vigor na França.

Lei formulada devido a questionamentos relacionados sobre a gestão setorial da água em

relação aos seus aspectos qualitativos, e sendo reconhecida como prioridade a proteção dos

ecossistemas e a emergência de um planejamento integrado (MATINS, 2008).

Segundo Oliveira (2006), a Lei formulada em 1964 é delineada em torno de três

grandes princípios: i) a unicidade dos recursos através de relações entre as águas superficiais e

subterrâneas, os aspectos quantitativos e qualitativos e as montantes e jusantes dos corpos

hídricos; ii) a interdependência e a solidariedade entre os usuários, com a criação dos

organismos de Bacia (as Agências e os Comitês de Bacia Hidrográfica); iii) o reconhecimento

do valor econômico da água pela aplicação do princípio poluidor pagador.

Duas idéias principais marcavam a Lei de 1964: a primeira, criar taxas de forma a

incitar os poluidores a reduzir os seus lançamentos e a cobrir as necessidades de infra-

estruturas coletivas, sendo chamada também de princípio do poluidor-pagador no instrumento

francês de cobrança pelo uso da água (redevances) (MARTINS, 2008). A segunda idéia

principal foi abrir a possibilidade de construir estabelecimentos públicos locais numa área

geográfica limitada a fim de aumentar os meios de intervenção. “Os Comitês e Agências de

Bacia foram criados pela Lei de 1964, e os seus limites territoriais foram fixados por razões

técnicas, mas também com influências de corpos técnicos (minas, pontes e a engenharia

rural)” (OLIVEIRA, 2006, p.28).

A coordenação administrativa do sistema de gestão dos recursos hídricos foi

estabelecida através da criação do Comitê Nacional de Águas, dos Comitês de Bacias e das

Agências Financeiras de Bacia, sendo estes dois últimos responsáveis pela gestão em nível

local.

CAPÍTULO 2 - FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

44

Os Comitês de Bacia foram compostos pela representação paritária da administração

central, das coletividades locais e de diferentes categorias de usuários. Os Comitês assumiram

o status de parlamento das águas, tendo como função primordial avaliar os conflitos no uso e

acesso à água, baseado nos termos na nova legislação nacional sobre o domínio do recurso e

os esforços para o combate à sua poluição (GLEIZES,1987 apud MARTINS, 2008).

As Agências de Bacia possuíam um papel técnico na realização das metas

estabelecidas pelos Comitês de Bacia, compostas de corpos técnicos e de um conselho de

administração, com metade dos membros indicada pelo governo central e metade eleita pelo

Comitê de Bacia.

As Agências têm como função realizar estudos qualitativos e quantitativos relativos

aos recursos hídricos, centralizando os estudos e os programas de intervenção na escala da

Bacia. Contudo, seu papel central é de ordem financeira, posto que estivessem habilitadas por

lei para a definição dos valores e para a cobrança das redevances. Elemento central do novo

aparato gestor, as redevances constituem-se em um valor monetário cobrado dos usuários de

água que reflete a escassez relativa do recurso quanto os custos da degradação gerada

privadamente (MARTINS, 2008).

Na estrutura organizacional da França, é o Ministério da Ecologia e do

Desenvolvimento Sustentável que coordena as intervenções do Estado no domínio de água,

em articulação com outros ministérios (Saúde, Agricultura e Floresta, Equipamento, Indústria,

Interior...), através de órgãos que permeiam as ações dos demais. O Comitê Interministerial

para o Meio Ambiente assegura a arbitragem entre as diferentes partes e a Direção da Água

atua com a participação de uma série de organismos e comissões exercendo as competências

transversais (OLIVEIRA, 2006).

2.3. Gestão participativa e governança da água

O Brasil mudou de uma gestão institucionalmente fragmentada, para uma legislação

integrada e descentralizada, principalmente com a edição da Lei Federal no 9.433, em 8 de

janeiro de 1997, e a criação da Agência Nacional de Águas – ANA. Esta reorganização do

sistema de gestão de recursos hídricos, além de mudar qualitativamente, substituindo práticas

profundamente arraigadas de planejamento tecnocrático e autoritário, devolve o poder para as

instituições descentralizadas de Bacia, o que demanda um processo de negociação entre os

diversos agentes públicos, usuários e sociedade civil organizada (JACOBI, 2010).

CAPÍTULO 2 - FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

45

A gestão de Bacias Hidrográficas assume crescente importância no Brasil, à medida

que aumentam os efeitos da degradação ambiental sobre a disponibilidade de recursos

hídricos. Em termos da evolução das políticas públicas no Brasil, observam-se importantes

avanços no setor de recursos hídricos ao longo dos últimos vinte anos.

A Lei 9.433/97 propõe uma política participativa e um processo decisório aos

diferentes atores sociais vinculados ao uso da água, dentro de um contexto mais abrangente

das atribuições do Estado, do papel dos usuários e do próprio uso da água. Fortalece a gestão

descentralizada de cada Bacia Hidrográfica pelos respectivos comitês, subcomitês e agências,

e instituiu a cobrança pelo uso do recurso como um dos principais instrumentos de atuação

destes órgãos.

A legislação estabelece como fundamento que a água é dotada de valor econômico,

utilizando a cobrança pelo uso dos recursos hídricos, como forma de administrar a exploração

dos recursos hídricos federais e estaduais para a geração de fundos que permitam

investimentos na preservação dos próprios rios e Bacias. Provoca também um maior rigor no

controle sobre os efluentes despejados nos rios, se baseando no conceito de usuário-pagador,

no qual incluem todos os que utilizam recursos naturais para a produção industrial, sua

comercialização e consumo.

A efetivação do processo de gestão em Bacias Hidrográficas, ainda é embrionária e a

prioridade dos organismos de Bacia centra-se na criação dos instrumentos necessários para a

gestão. Segundo Jacobi (2005, p.01) “o sistema de gestão de recursos hídricos, tanto no Brasil

como internacionalmente, rompe com práticas profundamente arraigadas de planejamento

tecnocrático e autoritário, devolvendo poder para as instituições descentralizadas de Bacia”.

A Agência Nacional das Águas (2002), Jacobi (2010) e Martins (2008) discutem sobre

o termo “governança”, este que representa um enfoque conceitual que propõe caminhos

teóricos e práticos alternativos que façam uma real ligação entre as demandas sociais e sua

interlocução ao nível governamental.

Segundo Jacobi (2010) o termo governança é geralmente utilizado para a inclusão de:

[...] leis, regulação e instituições, mas também se refere a políticas e ações de governo,

a iniciativas locais, e a redes de influência, incluindo mercados internacionais, o setor

privado e a sociedade civil, que são influenciados pelos sistemas políticos nos quais se

inserem (JACOBI, 2010, p. 72).

CAPÍTULO 2 - FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

46

O termo é reforçado pela Agência Nacional de Águas (2002), tendo como

argumentando:

[...] a questão da governança está estreitamente relacionada com a continuidade

administrativa, ou seja, com a capacidade de que se devem dotar os sistemas de gestão

para que estes não sofram, sob quaisquer cenários, solução de continuidade. O aspecto

que mais preocupa os gestores e técnicos do setor é o que se refere às organizações de

governo. Conforme se sabe, nas passagens de um quatriênio ao seguinte, quando

acompanhada de mudança de quadros, sobretudo quando há alternância política, é

comum que os administradores públicos recém empossados alterem substancialmente

os rumos traçados pela administração anterior. Isto é tanto mais verdadeiro em países

subdesenvolvidos e em desenvolvimento, e menos naqueles que já alcançaram

patamares elevados de desenvolvimento (Agência Nacional de Águas, 2003, p. 09).

O modelo brasileiro de gestão hídrica vai se tornando resistente às mudanças de rumo

que a administração pública costuma fazer, sendo auxiliado pelo Comitê de Bacia

Hidrográfica que é formado por representantes das três esferas de poder, dos usuários dos

recursos hídricos e os representantes da sociedade civil organizada, encarregados de tomar

decisões sobre os destinos da Bacia Hidrográfica. Como reforço ao papel de independência de

que se deve revestir o Comitê, os períodos de gestão deste devem ser desencontrados em

relação aos dos governos, ou seja, enlaçados com estes, com isso evitando-se a

descontinuidade administrativa no âmbito da Bacia, promovendo, daí, as condições de

governança (AGÊNCIA NACIONAL DE ÁGUAS, 2002).

É relevante considerar que, quanto maior for a participação da sociedade civil em um

Comitê de Bacia, tanto maior será a probabilidade de governança nessa Bacia. O debate atual

sobre o setor de planejamento e gestão dos recursos hídricos, refletindo o que se discutiu em

Haia no II Fórum Mundial da Água e Conferência Mundial de Ministros de Meio Ambiente,

realizado nos Países Baixos em março de 2000, entre outros aspectos muito valorizou a

questão da governança para a gestão do uso dos mananciais nos diversos países que praticam

a gestão de recursos hídricos (AGÊNCIA NACIONAL DE ÁGUAS, 2002).

Uma das grandes dificuldades desse modelo participativo é obter a representação de

todos os interesses e interessados, já que no Brasil a sociedade não possui tradição de

participação e tem um grande segmento de excluídos do mundo letrado e da vida cultural e

econômica. Perante a cobiça de grupos com forças desiguais, é preciso lembrar que, para que

esta negociação se torne efetiva todos os envolvidos nos recursos hídricos da Bacia devam ter

suas representações passíveis de discussão e deliberação em igualdade de condições (SAITO,

2001).

CAPÍTULO 2 - FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

47

Jacobi (2005, p. 02) reforça argumentando que para a superação das assimetrias de

informação é necessário que:

Estas experiências que denominamos inovadoras fortalecem a capacidade de

crítica e de interveniência dos setores de baixa renda através de um processo

pedagógico e informativo de base relacional, assim como a capacidade de

multiplicação e aproveitamento do potencial dos cidadãos no processo

decisório dentro de uma lógica não cooptativa (JACOBI, 2005, p. 02).

Neste debate muitos indivíduos desconhecem o próprio direito de participar e

confrontar suas demandas por recursos hídricos com outras demandas. De todos os

representantes, as comunidades locais são as mais frágeis, geralmente composta pelos

segmentos sociais menos favorecidos (BERLINK, 2003). A fim de viabilizar a plena

participação da sociedade é preciso assegurar que todos compreendam o debate, de tal modo

que tenham capacidade para participar dele, avaliar as demandas dos demais usuários frente

às suas e tomar as decisões no âmbito do Comitê com consciência e conhecimento de causa

sobre o teor dos argumentos e das avaliações técnicas trazidas.

Neste aspecto, o papel da Educação Ambiental é fundamental no processo, não

consistindo apenas na questão da tomada de consciência, mas também do ponto de vista da

instrumentalização técnica para fundamentar o agir coletivo, possibilitando a transformação

dos indivíduos envolvidos, promovendo a dimensão reflexiva antes da dimensão ativa e

comportamental, onde desenvolvam o seu poder de captação e de compreensão do mundo.

2.4. A gestão participativa sob a ótica da percepção ambiental

Os impactos das práticas participativas na gestão, apesar de controversos, apontam

para uma nova qualidade de cidadania, que institui o cidadão como criador de direitos para

abrir novos espaços de participação sociopolítica. São muitas as barreiras que precisam ser

superadas para multiplicar iniciativas de gestão que articulem eficazmente a democracia com

a crescente complexidade dos temas.

A reflexão em torno da gestão participativa centra-se no fortalecimento do espaço

público e na abertura da gestão pública para a participação da sociedade civil, visando à

elaboração de suas políticas públicas, e na sempre complexa e contraditória

institucionalização de práticas participativas inovadoras que marcam rupturas com a dinâmica

predominante, ultrapassando ações de caráter utilitarista e clientelista (JACOBI e

FRACALANZA, 2005).

CAPÍTULO 2 - FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

48

Flores e Misoczky (2008), em seu estudo discutem sobre o processo participativo em

Comitês, eles verificam a existência da participação em grupos e organizações que

representam a sociedade civil, bem como uma efetiva influência dos mesmos nas decisões do

Comitê, o que pode ser observado também com os usuários da água.

Arnstein (1998) apud Flores e Misoczky (2008) trabalham com a escala de

participação cidadã, estabelecida através de degraus, onde os primeiros (manipulação e

terapia) não existe a participação; os três degraus seguintes (informação, consulta e

pacificação) sugerem níveis em que acontece uma “política do menor esforço”; a partir, do

sexto degrau (parceria) ocorre o empoderamento do cidadão (Quadro 2.2).

Escada da Participação Cidadã

8. Controle pelo cidadão

Cidadãos responsáveis pelo planejamento, pela política, assumindo a gestão em

sua totalidade, sem intermediários.

7. Delegação de poder

Cidadãos ocupando a maioria dos assentos nos Comitês, com poder delegado para

tomar decisões. Nesse caso o público tem poder para assegurar as contas do

programa para si.

6. Parceria

Poder distribuído por uma negociação entre cidadãos e detentores do poder. O

planejamento e as decisões são divididos pelos Comitês.

5. Pacificação

O cidadão começa a ter um certo grau de influência nas decisões, podendo

participar dos processos de tomada de decisão, entretanto, não existe a obrigação

dos tomadores de decisão de levar em conta o que ouviram.

4. Consulta

Caracterizado por pesquisas de participação, reuniões de vizinhança etc. Segundo

os autores, serve somente como fachada, não possui muita implicação prática.

3. Informação

Informar as pessoas sobre seus direitos, responsabilidades e opções. Entretanto,

trata-se de um fluxo de informação somente de cima para baixo.

2. Terapia

Os técnicos de órgãos públicos se escondem atrás de Conselhos e Comitês

participativos para não assumir erros cometidos por eles e diluir a

responsabilidade.

1. Manipulação

Tem como objetivo permitir que os atores sociais que conduzem o processo

possam educar as pessoas. Manifesta-se em conselhos onde os conselheiros não

dispõem de informações, conhecimento e assessoria técnica independente

necessária para tomar decisões por conta própria.

Quadro 2.2: Escala da participação cidadã (fonte: Arnstein, 1998).

CAPÍTULO 2 - FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

49

Demo (2001) considerado como um dos autores brasileiros mais preocupados com o

tema da participação na perspectiva da emancipação, antídoto contra a tendência histórica de

dominação e exclusão social que caracteriza nossa sociedade, discute sobre a pobreza política

dizendo que:

Colocar a questão da pobreza política será estranho para muitos, porque

somente reconhecemos nela o eco material. Pobre é o faminto. É quem habita

mal ou não tem onde habitar. É quem não tem emprego ou recebe

remuneração abaixo dos limites da sobrevivência.

Não estamos habituados a considerar como pobre a pessoa privada de sua

cidadania, ou seja, que vive em estado de manipulação, ou destituída da

consciência de sua opressão, ou coibida de se organizar em defesa de seus

direitos. O escravo incorpora com nitidez as duas formas de pobreza: é pobre

materialmente, porque não tem liberdade para se auto-determinar (DEMO,

2001, p. 09).

Neste trecho o autor acima explica sobre a pobreza política no sentido de demonstrar o

processo de conquista e organização da cidadania. Não ter e não ser, as duas formas de

pobreza, há quem tenha muito, e não é nada, como há quem seja muito, sem nada ter.

Prosseguindo com o autor, a participação é conquistada, no processo histórico, juntamente

com as condições de autodeterminação, que não podem ser dadas, outorgadas ou impostas.

Uma participação atribuída representa, para esse autor, um conceito paternalista que, no

fundo, representa uma “antiparticipação”.

Teixeira (2007) trabalha a participação a partir de quatro dimensões:

Participação no processo de tomada de decisão – se refere à tomada de decisões no

Estado e como isso acontece, ao sujeito e ao processo decisório. Quanto ao sujeito, define

quem são os atores por elites tecnicamente preparadas e selecionadas via processo eleitoral ou

cidadãos, de forma direta ou por mecanismo que permita sua expressão e deliberação. Quanto

ao processo, é verificado se a seleção implica apenas na escolha dos decisores, delegando a

eles total liberdade de ação, ou se é mais objetiva envolvendo critérios e elementos de

decisão.

Dimensão educativa e integrativa do processo de participação – a capacitação para a

participação política é gerada pela própria prática ou experiências pessoais rotineiras em que

se adquirem habilidades e procedimentos democráticos. Trata-se do tipo de participação dos

movimentos sociais, ONGs e grupos de cidadãos, capaz de sedimentar um sentimento maior

de identidade e integração.

Participação como controle público - a participação é um instrumento de controle do

Estado pela sociedade, esse entendimento de controle público tem dois aspectos básicos: o

CAPÍTULO 2 - FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

50

primeiro corresponde à accountability, ou seja, a prestação de contas conforme parâmetros

estabelecidos socialmente em espaços públicos próprios; o segundo, decorrente do primeiro,

consiste na responsabilização dos agentes políticos pelos atos praticados em nome da

sociedade, conforme os procedimentos estabelecidos nas leis e padrões éticos vigentes. O

exercício desse controle requer a organização, estruturação e capacitação da sociedade civil

em múltiplos espaços públicos, antes e durante a implementação das políticas, tendo como

parâmetros variáveis técnicas, exigências de eqüidade social e aspectos normativos.

Dimensão expressivo-simbólica da participação - essa dimensão aborda formas de

participação que não se voltam para o institucional, embora suas ações possam ter

desdobramentos e impactos nesse âmbito. Os mecanismos de participação utilizados para esse

fim são específicos e diversificados, muitos resultantes da criatividade e da não-submissão aos

padrões estabelecidos, indo de forma leve e lúdica, como o abraço de milhares de pessoas em

um local que se quer preservar, às mais agressivas, como o fechamento de uma rua, uma

greve de fome, protestos, entre outros (TEIXEIRA, 2007).

Todos os argumentos expostos acima discutem sobre as formas de participação, sejam

elas ocorridas na sociedade civil organizada, em conselhos gestores ou mesmo em Comitês de

Bacia Hidrográfica, explanando como acontece, a realização de críticas referente ao modo de

participação para a manipulação da sociedade civil, enfim alguns aspectos que esclarecem

como o termo participação tem sido utilizado ultimamente.

Retomando o foco na participação nos Comitês de Bacia Hidrográfica, Magalhães Jr.

(2001) argumenta que:

Como organismos de gestão das águas nos quais a democracia representativa

vem auxiliar o rompimento de décadas de gestão estatal centralizada

(refletindo igualmente o histórico do sistema político do país), os Comitês

não podem perpetuar vestígios do sistema que eles visam justamente

combater e inovar. Sabendo-se que nem todo consenso é democrático, e que

nem toda decisão é justa, cabe, portanto, aos Comitês realizar continuamente

um trabalho de preparação, educação e informação de seus integrantes, que

evite ou minimize problemas derivados do desequilíbrio de forças internas,

como arranjos locais ou setoriais que possam defender interesses próprios

acima do interesse comum de melhoria da qualidade ambiental das Bacias e,

conseqüentemente, da qualidade de vida dos cidadãos (MAGALHÃES JR.

2001, p. 04).

CAPÍTULO 2 - FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

51

O funcionamento dos Comitês geralmente se realiza com base em discussões e

decisões objetivas (considerando o tempo necessário para a análise e discussão das complexas

questões que envolvem a gestão das águas de uma Bacia), a referida preparação e informação

dos representantes deve se realizar nas reuniões preparatórias para as reuniões principais, nas

quais ocorrem os votos e deliberações (MAGALHÃES JR. 2001).

Os riscos e desafios que os Comitês de Bacia Hidrográfica têm passado para a

adequação da gestão participativa como forma de inserção da sociedade civil ilustra a

necessidade de atenção ao processo decisório, cujas raízes e consolidação de princípios devem

ser bem preparados e instalados, a fim de evitar o surgimento e possível agravamento das

referidas "deformações" internas, como dito, o controle das informações é a garantia do poder

das decisões.

Neste contexto da inserção e horizontalização do conhecimento frente às discussões e

deficiências encontradas na gestão participativa em Comitê de Bacia, onde são representados

sociedade civil, usuários e poder público federal e estadual. Consideramos o indivíduo como

sujeito e objeto do conhecimento, percebendo, reagindo e respondendo diferentemente às

ações sobre o ambiente em que vive. As respostas ou manifestações daí decorrentes são

resultado das percepções (individuais e coletivas), dos processos cognitivos, julgamentos e

expectativas de cada pessoa.

Whyte (1977, p. 02) faz o seguinte questionamento: “How does man, as an individual

or as part of a particular cultural group, perceive his environment”? Respondendo ao

questionamento diz que:

This question should be a fundamental consideration in all attempts to

understand the complex interrelationships between man and the biosphere.

Man's decisions and actions concerning his environment are based not only

on objective factors, but also on subjective ones: this is the underlying

principle of environmental perception research (WHYTE, 1978, p. 06).

Este argumento de Whyte (1978) é uma consideração fundamental para a compreensão

das relações entre o ser humano e a biosfera, sendo que as decisões e ações antrópicas

relativas ao seu ambiente são baseadas em fatores objetivos e subjetivos, como relata, este é o

princípio fundamental da investigação da percepção ambiental. Jesus (1993) diz que a análise

da percepção ambiental nos estudos das relações entre ser humano-ambiente é muito

importante, uma vez que contribui para a busca de uma relação harmônica dos conhecimentos

locais, do interior (ponto de vista de um indivíduo, uma coletividade, ou mesmo de uma

população no seu conjunto), com o conhecimento do exterior (abordagem científica

tradicional) enquanto instrumento educativo e agente de transformação.

CAPÍTULO 2 - FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

52

Jesus (1993) diz que projetos de pesquisa que tratem das relações ser humano-biosfera

e gerenciamento de ecossistemas, devem incluir os estudos sobre percepção como parte

integrante da abordagem interdisciplinar que estes projetos exigem.

Um estudo de percepção entre o ser humano e o meio ambiente reconhece que para

cada elemento há uma relação entre a biosfera, estes muitos elementos percebidos estão

relacionados a uma compreensão de formas, lugares e épocas diferentes a cada pessoa. O

homem toma decisões e pratica ações, com a visão dos seus elementos percebidos, mas do

que qualquer “conjunto de objetivos”. Dentro de uma determinada estrutura ou cultura, o

conhecimento científico diário também pode ser visto como mais formal e define o rigor dos

elementos relacionados à percepção ambiental (WHYTE, 1978).

Um objetivo importante da pesquisa baseada na percepção ambiental é fornecer uma

compreensão sistemática e científica observando de dentro para fora, a fim de complementar a

mais tradicional e externa abordagem científica. A vista do interior pode ser de um indivíduo,

de uma comunidade local, ou mesmo de toda uma população rural. A escala é menos

importante do que a relação entre os de dentro, e os tradicionalmente, no exterior. A vista de

dentro é caracterizada pela familiaridade de longa experiência, freqüentemente associada à

incapacidade de mudanças rápidas, é visto como personalizada e subjetiva. Em comparação, a

visão exterior associa-se com o desenvolvimento, ação e objetividade contra a tradição interna

e resistência a mudanças rápidas (WHYTE, 1978).

Dentro deste contexto citado acima Maroti e Santos (2004) trabalham a história oral

para analisar a percepção ambiental de antigos trabalhadores da Fazenda Jatahy, neste estudo

eles argumentam que:

[...] a adaptação de uma metodologia tradicionalmente usada na área das

Ciências Humanas junto com a da percepção ambiental, mostraram-se

apropriadas comprovando uma alternativa metodológica para a avaliação das

mudanças de percepção topofílicas1 ao longo do tempo; para a elaboração de

um Programa de Educação Ambiental junto a EEJ2; para o entendimento da

dinâmica sucessional do cerrado, dando subsídios para os estudos específicos

de fitofisionomia, regeneração e planejamento ambiental; para estimular

estudos que façam registro histórico e cultural da população do entorno e no

interior de unidades de conservação já criadas ou em vias de implantação, no

sentido de estabelecer diálogos que possam minimizar/atenuar conflitos e

para a valorização da cultura e da história popular local (MAROTI e

SANTOS, 2004, p. 196).

1 Topofilia, segundo Tuan (1980) o termo é um neologismo útil quando pode ser definido em sentido amplo,

incluindo todos os laços afetivos dos seres humanos com o meio ambiente material, ou seja, é o elo afetivo entre

a pessoa e o lugar ou ambiente físico. 2 Estação Ecológica de Jataí.

CAPÍTULO 2 - FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

53

É entendido que a percepção ambiental deve estar atenta e centrada nas inúmeras

diferenças relacionadas às percepções, aos valores existentes entre os indivíduos que

compõem o cenário. Dessa forma, as diversas culturas, grupos sócio-econômicos,

desigualdades e realidades irão influenciar diretamente na análise da percepção que se tem em

relação à conservação do meio natural.

Gomes (2009) trabalha a percepção ambiental como percurso para a análise das

relações cotidianas. Ela utilizou mapas mentais, entrevistas e observações em campo para o

estudo da percepção ambiental. Tomando como base que:

[...] a forma mais comum de interação entre o ser humano e o mundo provém

das sensações e percepções, assim é estabelecido o conhecimento sensível

sobre tudo que está à sua volta. A subjetividade humana, isto é, esse mundo

interno que possuímos e suas expressões, são constituídas nas relações

sociais, ou seja, surge do contato entre os seres humanos e destes com a

Natureza.

Já Wanderley e Menêzes (1996) trabalham com a percepção ambiental para o

entendimento do Sertão brasileiro por meio de obras literárias de Ariano Suassuna, Euclides

da Cunha e Guimarães Rosa, eles entrelaçaram corpos teóricos de percepção do meio

ambiente, análise do discurso e uma visão socioantrópológica da identidade. Segundo os

autores:

A metodologia de investigação empregada consolida a importância de

estudos inter e transdisciplinares, oportunos neste momento de reflexão pela

qual passa o conhecimento científico. Os resultados oferecem aos estudiosos

do meio ambiente e da literatura novas perspectivas, a partir, das obras de

Ariano Suassuna, Euclides da Cunha e Guimarães Rosa, além de ressaltar a

importância do entendimento do Sertão para a construção da identidade

nacional (WANDERLEY E MENÊZES, 1996, p. 173)

Para os autores acima, os conceitos de percepção do meio ambiente podem ser

encarados como concepções que rompem e suplantam a visão da geografia clássica, onde o

homem ficava separado da natureza e, conseqüentemente, a realidade era representada sob

dois ângulos: paisagem natural e paisagem sociocultural.

Jesus (1993) trabalha com diferentes grupos sócio-culturais na Estação Ecológica de

Jataí, descrevendo como eles percebem a estação ecológica sobre o olhar da percepção

ambiental para o planejamento e gerenciamento de unidades de conservação. Para ela a

percepção ambiental foi investigada em termos do reconhecimento da identidade, atribuição

de significado e caracterização de estrutura e escolha de usos para a Estação Ecológica, como

também escolha de usos para seu entorno, pelos grupos do entorno, dos funcionários, dos

pescadores, dos pesquisadores e pelo administrador.

CAPÍTULO 2 - FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

54

Em sua pesquisa Jesus (1993) utilizou como instrumentos de coleta de informações a

técnica de entrevista não padronizada associada a teste gráfico do mapa mental e

questionários de caracterização de sujeitos e grupos.

Como pode ser observado, são muitos os trabalhos que se utilizam da percepção

ambiental como instrumento de análise e interpretação das relações inter e intrapessoais e com

o meio ambiente. Os estudos de percepção ambiental têm demonstrado resultados

satisfatórios e completos, levando em consideração que as interações entre ser humano e

ambiente estão diretamente relacionados aos processos cognitivos, julgamentos, expectativas

e conduta de cada indivíduo.

Para Tuan (1980), os significados de percepção, de atitudes e de valores se superpõem

e se tornam claros no contexto expresso em cada um desses processos, a atitude assumida

perante o mundo é formada por longa sucessão de percepções e de experiências.

A percepção ambiental perpassa por todo o nosso trabalho, onde os autores “relatam

suas experiências” e reforçam sobre a necessidade de se estudar o subjetivo, o cognitivo e as

interações entre ser humano e meio ambiente. E, a partir, desses estudos seja possível refutar

ou não hipóteses, como também responder questionamentos que levaram a elaboração do

estudo.

Para a construção do nosso trabalho foram utilizados como referências base os

trabalhos de Whyte (1978) e Jesus (1993) que discutem sobre a utilização da percepção

ambiental em trabalhos de gestão do meio ambiente. E desta forma, demonstra a necessidade

de confronto harmônico entre os conhecimentos científico formal e o não convencional, com

base na percepção das populações envolvidas, para a formulação de propostas de manejo de

ambientes naturais sujeitos a pressões antrópicas.

CAPÍTULO 2 - FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

55

CAPÍTULO 3

METODOLOGIA

Há dez minutos que tenho os olhos postos

nas águas desta ribeira.

Na sua quietude

as folhas do salgueiro debruçado

refletem-se com tanta nitidez

que as duas realidades se confundem.

Mas a realidade da imagem tem maior conteúdo de sonho:

é mais real, portanto.

A água macia ao rodear cada seixo, redondo e polido,

enruga-se num sorriso.

Uma folha desprendida do aconchego do salgueiro

cai ao longo do espaço, rodopiando e descendo em espiral apertada,

e vem tocar, de manso, na preguiçosa superfície líquida.

sinto o prazer físico desse contato

no arrepio circular da pela da água.

A ribeira que flutua no céu,

a nuvem que desliza sobre os seixos,

os seixos em torno de que a água sorri,

o salgueiro de onde pendem e se desprendem lágrimas verdes,

tudo são momentos de momentos,

partículas de momentos.

Antônio Gedeão, Poema dos olhos na ribeira

56

CAPÍTULO 3 - METODOLOGIA

3.1. Caracterização da pesquisa

A pesquisa desenvolvida foi classificada sob o ponto de vista dos seus objetivos, como

pesquisa exploratória, visando proporcionar maior familiaridade com o problema tornando-o

explícito, uma vez que não há registros sobre qual é a percepção ambiental dos segmentos que

compõem o Comitê de Bacia Hidrográfica do Rio Sergipe em relação à Bacia Hidrográfica e

Rios gerenciados.

Considera-se também descritiva, à medida que alcança a obtenção e exposição de

dados representativos de determinada situação ou fenômeno. Nesse caso, descreve as

percepções, de forma estratificada, do grupo estudado.

Quanto aos meios de investigação ela é bibliográfica, de campo e documental.

Envolve levantamento bibliográfico, pois incorpora uma revisão de literatura sobre o tema,

subsidiando teoricamente as entrevistas com os segmentos e a análise dos dados. Envolve

trabalhos de campo, a partir, do momento da realização das entrevistas, acompanhamento de

reuniões com o grupo estudado e viagens a campo, descrevendo o ambiente, a partir, de

fotografias. É também estudo documental, os quais dão suporte à construção dos instrumentos

de coleta de dados e ampliação de conhecimento por parte do pesquisador ao grupo de estudo.

3.2. Caracterização do sistema de estudo - Bacia Hidrográfica do Rio Sergipe

O sistema de estudo compreendido pelas áreas da Bacia Hidrográfica do Rio Sergipe,

foi representado a partir de uma abordagem formal, através de uma representação

cartográfica.

As informações referentes ao sistema de estudo foram coletadas do Plano de Bacia

Hidrográfica do Rio Sergipe (2010, no prelo), material organizado pelo Consórcio Projetec, a

Secretaria de Estado do Meio Ambiente e dos Recursos Hídricos - SEMARH e a

Superintendência de Recursos Hídricos – SRH do Estado de Sergipe, para atender ao

Programa Nacional de Desenvolvimento dos Recursos Hídricos – PROÁGUA Nacional.

CAPÍTULO 3 - METODOLOGIA

57

3.2.1 Composição física da Bacia Hidrográfica do Rio Sergipe

A Bacia Hidrográfica do Rio Sergipe é constituída por 26 municípios, dentre os quais

oito possuem a totalidade de suas terras inseridas nesta Bacia, enquanto que 18 estão incluídos

de forma parcial, conforme Quadro 3.1. A capital do Estado também faz parte da Bacia

Hidrográfica do Rio Sergipe, o que evidencia uma densidade populacional significativa

em termos urbanos e a uma probabilidade maior de conflitos pelo uso de água nos mais

diversos setores.

OS 26 MUNICÍPIOS QUE COMPÕEM A BACIA HIDROGRÁFICA DO RIO SERGIPE

Municípios totalmente inseridos

Municípios Área da unidade territorial (Km²) População

Laranjeiras 162 26.903

Malhador 101 12.056

Moita Bonita 96 11.034

Nossa Senhora Aparecida 340 8.510

Nossa Senhora do Socorro 157 160.829

Riachuelo 79 9.351

Santa Rosa de Lima 68 3.752

São Miguel do Aleixo 144 3.702

Municípios parcialmente inseridos

Municípios Área da unidade territorial (Km²) População

Aracaju 182 570.937

Areia Branca 147 16.882

Barra dos Coqueiros 90 25.012

Carira 636 19.990

Divina Pastora 92 4.326

Feira Nova 185 5.325

Frei Paulo 400 13.854

Graccho Cardoso 242 5.648

Itabaiana 337 86.981

Itaporanga D Ajuda 740 30.428

Maruim 94 16.338

Nossa Senhora da Glória 756 32.514

Nossa Senhora das Dores 483 24.579

Ribeirópolis 259 17.163

Rosário do Catete 106 9.222

Santo Amaro das Brotas 234 11.389

São Cristóvão 437 78.876

Siriri 166 8.006

Quadro 3.1: Municípios que compõem a Bacia Hidrográfica do Rio Sergipe (fonte: IBGE CIDADES, 2011).

A Bacia Hidrográfica do Rio Sergipe drena aproximadamente 16,7% do Estado e

limita-se ao norte com as Bacias do São Francisco e Japaratuba, e ao sul, com a Bacia Vaza

Barris. O quadro climático predominante é o semi-árido, que envolve em torno de 58% da

CAPÍTULO 3 - METODOLOGIA

58

área total, enquanto que as regiões agreste e sub-úmida representam, respectivamente, 24% e

18%. Desse modo, as elevadas temperaturas contrastam com a extrema irregularidade na

distribuição espacial das chuvas.

Esta Bacia corta a parte central do Estado no sentido Sudeste - Noroeste, ocupando

parte dos territórios da Grande Aracaju, Agreste Central Sergipano, Leste Sergipano,

Médio Sertão e Alto Sertão como pode ser observado na Figura 3.1. Os solos podem ser

agrupados em função de sete unidades geomorfológicas principais: baixada litorânea,

superfícies terciárias muito dissecadas, superfícies terciárias dos baixos platôs costeiros,

bacia cretácea, superfícies cristalinas, superfícies de pediplanação e maciços residuais.

Compreendendo áreas nos biomas Caatinga (na região do Alto Rio Sergipe e parte

do Médio Rio Sergipe) e Mata Atlântica (Baixo Rio Sergipe). Nas áreas semi-áridas do

Alto Rio Sergipe, grandes extensões de terra se apresentam desmatadas, com pastagens

cultivadas dominando a paisagem onde a pecuária é a atividade mais importante.

As formações vegetais naturais da caatinga (savana-estépica) no Alto Rio Sergipe

são constituídas de três estratos como: herbáceo, com plantas até um metro de altura;

arbustivo com plantas até oito metros de altura; o arbóreo, com plantas entre 12 e 15

metros de altura (ARAÚJO et al., 2006 apud SERGIPE. CONSÓRCIO PROJETEC,

SEMARH, SRH, 2010, no prelo).

Para a caracterização da composição florística dos estratos, Franco (1983) apud

Sergipe. Consórcio Projetec, SEMARH, SRH (2010, no prelo) descreve em três estratos os

quais são:

Primeiro estrato - encontram-se espécies como a macambira (Bromelia laciniosa),

gramíneas e ervas como capim-amargoso (Andropogon), mata-pasto (Senna uniflora), salsa

(Ipomoea glabra), coroa-de-frade (Melocactus sp. bahiensis) entre outras.

Segundo estrato - destacam marmeleiro (Croton sp.), arranhento e juremas (Mimosa

sp), catinga-de-porco (Caesalpinia pyramidalis), jurubeba (Solanum auriculatum aiton) e

outras.

Terceiro estrato - ressalta a ocorrência de braúna (Schinopsis brasiliensis), aroeira

(Myracrodruon urudeuva), angico (Anadenanthera colubrina); umburana-de-cambão

(Commiphora leptophloeos), umbuzeiro (Spondias tuberosa arruda), juazeiro (Ziziphus

joazeiro), cedro (Cedrella sp.), barriguda (Chorisia ventricosa), pau ferro (Dialium

guianense) e mandacaru (Cereus jamacaru).

Figura 3.2: Bacia Hidrográfica do Rio Sergipe, territórios (modificado - SRH, 2009).

CAPÍTULO 3 - METODOLOGIA

59

Figura 3.1: Estado de Sergipe, territórios ocupados pela Bacia Hidrográfica do Rio Sergipe (Fonte: SRH, 2009).

CAPÍTULO 3 - METODOLOGIA

60

Em ambientes mais secos é observada a presença de xiquexique (Pilosocereus

piauhyensis), quixabeira (Sideroxylon obtusifolium), fumo-bravo (Nicotiana glauca) e pau

de leite (Sapium sp.).

Em áreas de transição como a floresta estacional, observa-se a Crataeva tapia (trapiá),

Ziziphus joazeiro (juazeiro) e Geoffrea spinosa (mari ou umari), espécies encontradas nas

matas ciliares de caatinga em outros locais do Nordeste. As espécies mencionadas indicam

que a composição das caatingas sergipanas encontra-se aparentemente com baixo grau de

endemismo e de ocorrência restrita a poucas áreas, já antropizadas.

As matas ciliares mais bem conservadas, nessa região, apresentam estrato arbóreo

variando de 6 a 12 metros, em pequenos fragmentos adensados nas margens de rios, com

predomínio de Lonchocarpus sericeus (ingazeira) e Poincianella pyramidalis

(Caesalpinia pyramidalis, catingueira), além de Erythrina velutina (mulungu), Ziziphus

joazeiro (juazeiro), Sideroxylum obtusifolium (quixabeira), Anadenanthera colubrina

(angico) e Triplaris sp.

Ainda no Alto Rio Sergipe, as áreas de preservação permanente do Rio Salgadinho

contam com poucos elementos arbóreos representados por Ziziphus joazeiro, Spondias

tuberosa, Jathropha ripifolia, Erythrina velutina, Poincianella pyramidalis, Mimosa

tenuiflora, Mimosa sp. e ainda Cereus jamacaru e a mamona (Ricinus comunis), espécie

exótica subespontânea em áreas com vegetação degradada. Esses locais com vegetação

ripária encontram-se geralmente ladeados por pastos e roçados de milho e de palma

forrageira.

A floresta estacional, decidual e semidecidual, originalmente presente no Agreste de

Sergipe, foi quase inteiramente substituída por pastagens e cultivos agrícolas, restando poucos

e pequenos fragmentos isolados. Há registros da ocorrência de Sclerolobium densiflorum,

Cariniana sp., Platymiscium floribundum, Plathymenia foliolosa, Caesalpinia echinata,

Eschweilera ovata, Sapindus saponaria, Ocotea sp., Psidium araca, Psidium spp.,

Centrolobium robustum, C. tomentosum, Cordia sp., Enterolobium ellipticum, Protium

heptaphyllum, Cedrella sp., Sloanea obtusifolia, Genipa americana, Myracrodruon

urundeuva, Hymenaea sp., Syagrus coronata, Bowdichia virgilioides, Byrsonima sericea,

Tabebuia roseo-alba, Licania tomentosa.Tabebuia chrysotricha, Erythrina mulungu, Crataeva

tapia, Ziziphus joazeiro e Geoffrea spinosa.

CAPÍTULO 3 - METODOLOGIA

61

O Médio Rio Sergipe no Parque Nacional Serra de Itabaiana e seu entorno

apresentam uma vegetação com características próprias, constituindo-se em complexo

vegetacional com elementos florísticos das florestas estacionais e umbrófilas, das

restingas e de cerrado, constituindo-se em prioridade para conservação e uso sustentável.

Pode-se observar a presença da espécie introduzida Clitoria fairchildiana (sombreiro, de

origem amazônica) em meio a vegetação nativa constituída de Genipa americana

(jenipapo, presente em praticamente todo território de Sergipe), Cupania paniculata,

Senna macranthera, Senna ciliata, Thyrsodium spruceanum, Casearia silvestre,

Himathanthus sp., Xylopia frutescens, Protium sp., Cordia nodosa, Byrsonima sericea,

Miconia ciliata, Buchenavia capitata, Guatteria sp., Clusia sp., Tapirira guianensis,

Cecropia sp., Jacaranda obovata, Anacardium occidentale, Curatella americana, Vellosia

sp., Heliconia sp., Hancornia speciosa, Miconia albicans, Tabebuia sp., Vochysia sp.,

Vismia guianensis, Crotolaria americana, Philodendron imbe, Bromelia sp., além de

várias palmeiras e pteridófitas.

Na região denominada de “areias brancas”, a vegetação é composta por espécies

características de restingas como Eisembeckia sp., Cocoloba sp., várias espécies de

Orchidaceae, vellosia sp., Chamaecrista syssoides, Manilkara sp., Vismia guianensis,

Kielmeyera rugosa, Ulmiria sp., Lafoensa sp., Cocos nucifera , a trepadeira Mandevilla

microphylla e Bromelia sp.

Nas proximidades do Rio Poxim na região do Baixo Rio Sergipe, a vegetação natural

restringe-se às áreas de preservação permanente, onde se observa a existência de cobertura

vegetal adensada em alguns pontos, muitas vezes invadida por espécies exóticas. A altura

média da vegetação é de 6m, encontrando-se Syzigium cumini, Clitoria fairchildiana, Sena

macranthera, Tapirira guianensis, Cecropia sp., Ptecelobium sp., Licania tomentosa, Inga

vera, Schinus terebinthifolia, Bromelia sp., Ricinus comunis, Bambusa sp. e jurubeba.

No Parque Estadual Governador José Rolemberg Leite encontra-se um exemplo de

fragmento florestal urbano com Guazuma ulmifolia, Cupania racemosa, Anadenanthera

colubrina, Enterolobium contorsiliquum, Andira sp. O Parque está situado no interior da

APA Morro do Urubu, apresenta elevada abundância de espécies exóticas com potencial

de invasoras como Leucaena leucocephala, Prosopis juliflora, Mimosa sp., Mimosa

caesalpinifolia, Mangifera indica, Ricinus comunis e Clitoria fairchildiana.

CAPÍTULO 3 - METODOLOGIA

62

Ao leste, aproximando-se da foz do Rio Sergipe são encontradas as formações

pioneiras de influência fluviomarinha: os manguezais ocupam as margens dos principais

rios e seus afluentes que recebem influência das marés, adentrando pelo interior até cerca

de 20 km. Entre os municípios de Maruim e Pedra Branca, o mangue em bom estado de

conservação é constituído principalmente por Lagungularia racemosa.

Na foz do Rio Sergipe, em Aracaju, estudos efetuados em vários pontos do estuário

apontaram intenso antropismo, como no Bairro da Coroa do Meio, cujos manguezais foram

eliminados na década de 80, para a urbanização da região (ALVES, 2006 apud SERGIPE.

CONSÓRCIO PROJETEC, SEMARH, SRH, 2010, no prelo). Atualmente observa-se

vegetação densa, com dominância de Lagungularia racemosa, além de Syzigium cumini e

Terminalia catapa, espécies exóticas que ocorrem em ambiente perturbados. O ambiente

natural foi substituído por edificações e deposição de pedras para conter a invasão do Rio

Sergipe. Identificam-se ainda formações pioneiras de influência marinha, com restingas e

dunas, notadamente em Barra dos Coqueiros e Santo Amaro de Brotas.

Há o predomínio de pastagem na Bacia Hidrográfica do Rio Sergipe, seguida de

cultivos agrícolas. A Mata Atlântica ocorre na parte Centro Sul, nos topos das colinas, os

cursos d’água sob denominação de matas ciliares, estendendo-se por vales à procura de

umidade. Nas áreas onde a Planície Litorânea é formada por Restinga, evidencia-se os

campos de restinga com porte arbustivo e rasteiro, de formação perenifólia recobrindo a

restinga. A luminosidade, a intensidade dos ventos, bem como o solo arenoso profundo, dá

a esta classe uma peculiaridade ímpar. Nas áreas em que a Planície Litorânea tem

formação fluviomarinha, especialmente nos estuários dos rios, ocorre uma vegetação de

formação perenifólia o manguezal, que margeia os rios na altura em que o curso hídrico

recebe a influência da composição marinha e dos movimentos das marés.

Para a obtenção das informações de precipitação são utilizados dados anuais de

onze postos pluviométricos e uma estação climatológica presente nesta Bacia

Hidrográfica. Os meses com maior valor de precipitação são abril, maio, junho e julho

com destaque ao mês de maio, com maior índice de precipitação em quase todas as

localidades. Por outro lado, os meses de outubro, novembro, dezembro e janeiro possuem

valores de precipitação abaixo de 55 mm. A precipitação é maior próximo da Foz do Rio

Sergipe no Litoral Sudeste, e diminuindo na direção da Nascente Noroeste, no Semi-

Árido.

CAPÍTULO 3 - METODOLOGIA

63

A qualidade da água do Rio Sergipe apresenta uma grande variação no conteúdo de

sais, que diminui sua concentração de montante para jusante, em conseqüência do aporte de

águas com baixo teor de salinidade proveniente das regiões situadas no trecho inferior da

Bacia, formadas por rochas sedimentares e nas quais a incidência de chuvas é maior. Estes

dois fatores possibilitam uma boa recarga, circulação e elevada renovação das águas

subterrâneas que alimentam os afluentes e proporcionam a esse Rio um regime permanente.

Por outro lado, no Médio e Alto curso do Rio Sergipe as águas se apresentam de baixa e

média qualidade físico-química e com vazões inferiores às do curso inferior, em decorrência

da prevalência de rochas cristalinas, de caráter metamórfico.

3.3. Sistema de utilização pelo ser humano

O sistema de utilização pelo ser humano compreende as áreas da Bacia Hidrográfica

do Rio Sergipe, sendo caracterizados pelos sistemas legais, políticos e sócio-econômico-

culturais.

3.3.1. Sistemas legais

A primeira lei a tratar de recursos hídricos no Brasil, o Código das Águas, foi

promulgada em 1934, com o objetivo de harmonizar o uso das águas para fins de geração de

energia elétrica, agricultura e demais usos (BRASIL. MMA, SRH, 2006). O Código das

Águas, apesar de seus mais de 65 anos, ainda é considerada pela Doutrina Jurídica como um

dos textos modelares do Direito Positivo Brasileiro (BRASIL. MMA, SRH, 2002).

A Constituição Federal em vigência modificou o texto do Código das Águas, uma das

alterações foi à extinção do domínio privado da água, onde todos os corpos d’água, a partir de

outubro de 1988, passaram a ser de domínio público. Outra modificação foi o estabelecimento

de apenas dois domínios para os corpos d’água no Brasil: o domínio da União, para rios e

lagos que banhem mais de uma unidade federada ou sirvam de fronteira entre essas unidades,

ou entre o território do Brasil e o de país vizinho ou deste provenham ou para o mesmo se

estendam; e o domínio dos estados, para as águas superficiais ou subterrâneas, fluentes,

emergentes e em depósito, ressalvas, neste caso, aos decorrentes de obras da União (BRASIL.

MMA, SRH, 2002).

CAPÍTULO 3 - METODOLOGIA

64

A Constituição Federal de 1988 introduziu um avanço importante em relação à gestão

dos recursos hídricos no Brasil, ao considerar a água como um bem de domínio público e ao

instituir o Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos – SINGREH, essas

medidas foram consolidadas na forma da Lei 9.433/97, que estabeleceu a Política Nacional de

Recursos Hídricos, conhecida também como Lei das Águas (BRASIL. MMA, SRH, 2006). A

Política Nacional de Recursos Hídricos é clara e objetiva na definição de diretrizes gerais de

ação, as quais se referem à indispensável integração da gestão das águas com a gestão

ambiental.

A Política Nacional de Recursos Hídricos é a materialização do interesse brasileiro no

cumprimento dos compromissos firmados por ocasião da assinatura da Agenda 21, na

perspectiva de assegurar a sustentabilidade deste recurso. Sendo considerado que a Política

Nacional de Recursos Hídricos define como seu objetivo primeiro “assegurar à atual e às

futuras gerações a necessária disponibilidade de água, em padrões de qualidade adequados aos

respectivos usos”, fica evidente sua origem e inspiração na concepção de sustentabilidade

subjacente ao documento Agenda 21 (SAITO, 2001).

Os fundamentos da Lei n° 9.433/97 indicam novos rumos em matéria de gestão das

águas, a começar pelo entendimento jurídico-legal de que a superação dos graves problemas

ecológicos e a condução do desenvolvimento econômico, rumo a cenários socioambientais

sustentáveis passa pelo cruzamento das questões ecológicas, socioeconômicas e político-

financeiras de sustentabilidade do sistema de gestão de recursos hídricos (BRASIL. MMA,

SRH, 2002). O que vem a confirmar a necessidade crescente da participação de todos na

gestão das águas.

Tomando como subsídio para a implementação da gestão de recursos hídricos, o

Estado de Sergipe formulou a Lei nº 3.870, de 25 de setembro de 1997, dispõe sobre a

Política Estadual de Recursos Hídricos, cria o Fundo Estadual de Recursos Hídricos e o

Sistema Estadual de Gerenciamento de Recursos Hídricos e dá outras providências. A lei

estadual segue a mesma lógica da lei federal acima analisada (SERGIPE. SEMARH, 2009).

Na Figura 3.2 é observada a divisão da Política Estadual de Recursos Hídricos nos planos de

políticas públicas, etapas de planejamento, espaços geográficos e entidades coordenadoras.

CAPÍTULO 3 - METODOLOGIA

65

Figura 3.2: Políticas públicas, tipos de planos, âmbitos geográficos e entidades (fonte: adaptação BRASIL.

MMA, SRH, 2006)

No Título I, da Política Estadual de Recursos Hídricos, Capítulo III, artigos 3º e 4º

– das Diretrizes Gerais de Ação, são traçadas linhas gerais à implementação da Política

Estadual de Recursos Hídricos, determinando a gestão sistemática dos recursos hídricos,

com a consideração conjunta dos aspectos quantitativos e qualitativos, à integração da

gestão de recursos hídricos com a gestão ambiental e do uso do solo, assim como de

Bacias Hidrográficas com sistemas estuarinos e zonas costeiras, articulação do

planejamento de recursos hídricos estadual, regional e nacional entre si e com os setores

usuários, além da articulação com municípios para gerenciamento dos recursos hídricos de

interesse comum.

Ainda no Título I, Capítulo IV, artigo 5º que descreve sobre os Instrumentos, são

elencados os instrumentos da Política Estadual de Recursos Hídricos: Plano Estadual,

enquadramento de corpos d’água em classes, segundo usos preponderantes da água, Fundo

Estadual de Recursos Hídricos, outorga dos direitos de uso, cobrança pelo uso da água e sistema

estadual de informações, todos empregados como meio para alcance de uma gestão adequada

destes recursos, capaz de proteger e melhorar as condições de qualidade e quantidade das águas

do Estado para as atuais e futuras gerações.

No Título II, do Sistema Estadual de Gerenciamento, Capítulo I, artigos 33 e 34 que

descrevem sobre os objetivos e a composição, são relacionados os objetivos do sistema e seus

integrantes. Assim, constituem objetivos do sistema coordenar a gestão integrada das águas,

arbitrar administrativamente os conflitos por seu uso, implementar a política de recursos

hídricos, especialmente planejando, regulando e controlando o uso, a preservação e a

recuperação dos recursos hídricos na promoção da cobrança pelo seu uso. Integram o sistema o

Conselho Estadual de Recursos Hídricos – CONERH, os Comitês de Bacias Hidrográficas

CAPÍTULO 3 - METODOLOGIA

66

– CBHS, a Secretaria de Estado do Planejamento e da Ciência e Tecnologia –

SEPLANTEC, os órgãos dos Poderes Públicos Federal, Estadual e Municipal que relacionem

com a gestão dos recursos hídricos e as Agências de Águas.

Ainda seguindo a Lei nº 3.870, podemos destacar as atribuições destinadas aos

Comitês de Bacia Hidrográfica segundo o Art. 39º do capítulo III, título II: promover o

debate das questões relacionadas a recursos hídricos e articular a atuação das entidades

intervenientes; arbitrar, em primeira instância administrativa, os conflitos relacionados aos

recursos hídricos; aprovar o Plano de Recursos Hídricos da Bacia Hidrográfica; acompanhar a

execução do Plano de Recursos Hídricos da Bacia Hidrográfica e sugerir as providências

necessárias ao cumprimento de suas metas; estabelecer os mecanismos de cobrança pelo uso

de Recursos Hídricos e sugerir os valores a serem cobrados; apreciar e aprovar o relatório

anual sobre a situação dos recursos hídricos da Bacia Hidrográfica; propor ao Conselho

Estadual de Recursos Hídricos as acumulações, derivações, captações e lançamentos de pouca

expressão, para efeito de isenção da obrigatoriedade de outorga de direitos de uso de Recursos

Hídricos; estabelecer critérios e promover o rateio de custo das obras de uso múltiplo, de

interesse comum ou coletivo.

É nesse contexto, que a gestão dos recursos hídricos se dá no Estado de Sergipe.

Observa-se que os órgãos componentes do Sistema de Gerenciamento indicados

textualmente na legislação não se esgotam em si mesmos. Além disso, alterações na

composição do sistema são realizadas sempre que ocorrem reformas administrativas que

transformam, extinguem ou criam órgão e entidades do Poder Executivo.

3.3.2. Sistemas sócio-econômico-culturais

A caracterização dos sistemas sócio-econômico-culturais da Bacia Hidrográfica do Rio

Sergipe, refere-se à identificação sociográfica das populações que a compõe e ao

levantamento das relações população e meio ambiente. As informações disponíveis neste

trecho foram obtidas do Plano de Bacia Hidrográfica do Rio Sergipe (Sergipe. Consórcio

Projetec, SEMARH, SRH, 2010, no prelo).

A população residente no território da Bacia Hidrográfica compreende 1.186.704

habitantes no senso de 2010 (IBGE CIDADES, 2011). A maioria reside em áreas urbanas,

fato que comprova o acelerado processo de urbanização em curso da BHSE nas últimas

décadas, sendo responsável pelo grande passivo ambiental da região.

CAPÍTULO 3 - METODOLOGIA

67

Dentre os municípios mais populosos destacam-se Aracaju (570.937), Nossa Senhora

do Socorro (160.829), Itabaiana (86.981) e São Cristóvão (78.876). Aracaju é o município

mais populoso, com ausência de áreas rurais, o que indica 100% de urbanização. Nossa

Senhora do Socorro, é o segundo município mais populoso (97% de urbanização), cresceu

devido à industrialização. Os municípios com menor grau de urbanização são: Moita Bonita

(39,3%) e Nossa Senhora Aparecida (36,5% de urbanização).

A taxa de crescimento populacional na Bacia Hidrográfica do Rio Sergipe,

considerando o ambiente urbano é superior a outras Bacias, chegando a um total de 11,1%.

Para os estudos de uso e ocupação do solo foram definidas categorias incluindo

tanto aspectos do ambiente natural, como áreas de infra-estrutura e de uso antrópico. Por

sua importância foram listadas as seguintes categorias: Natural (Caatinga, Campos de

Restinga, Dunas e Areiais, Manguezal, Mata, Mata Atlântica, Mata Ciliar, área degradada e

área embrejada); infra-estrutura (área industrial, corpos d’água, povoados e sede municipal) e

uso antrópico (associação de Caatinga/cultivos/pastagem, culturas agrícolas/solos expostos,

pastagem e viveiro e salina).

A utilização dos solos na Bacia Hidrográfica do Rio Sergipe é predominantemente

dominada pelas categorias de pastagem com 253.453,5 ha (70,37%) cultivos agrícolas

50.171,9 ha (13,93%) e áreas de mata com 24.021 ha (6,67%) de área da Bacia. Neste

total, o destaque fica para a Mata Atlântica que ocupa 21.504 ha, ou seja, 5,97% da área

da Bacia Hidrográfica.

O uso e ocupação do solo na Bacia Hidrográfica do Rio Sergipe indicam uma

importante diversificação de usos no terço inferior da Bacia Hidrográfica. Ocorrem áreas

de matas, vegetação de restinga, manguezal, corpos d’água e outros usos de menor

expressão espacial.

Dentre a vegetação natural ocorrem testemunhos da Mata Atlântica no eixo

Laranjeiras – Areia Branca e também entre Riachuelo, Divina Pastora e Santa Rosa de

Lima que ocupam cerca de 6% da Bacia Hidrográfica. As áreas de restinga são concentradas

na região costeira com forte presença na porção norte do município de Barra dos Coqueiros,

ocupando cerca de 2% da área da Bacia Hidrográfica.

CAPÍTULO 3 - METODOLOGIA

68

Áreas de maior expressão representam o uso com cultivos agrícolas. Embora

dispersas por todos os municípios em pequenas áreas, destacam-se duas importantes

ocorrências, sendo uma entre Riachuelo, Laranjeiras e Areia Branca e outra, em áreas de

Itabaiana e Moita Bonita. Além dessas áreas de maior expressão, ocorrem outras em Santo

Amaro das Brotas, Feira Nova e Nossa Senhora da Glória.

No setor agrícola da Bacia Hidrográfica do Rio Sergipe existe a predominância da

lavoura temporária sobre a permanente. A evolução recente da ocupação do espaço

agrícola na Bacia experimentou discretas alterações. Em relação à área total declarada

com uso de lavouras permanentes, temporárias, matas, florestas e pastagens. Houve, na

Bacia Hidrográfica do Rio Sergipe, elevação de área plantada com lavouras permanentes e

temporárias. Manteve-se no mesmo patamar a área com matas e florestas, as áreas com

pastagens experimentaram uma redução da ordem de 45.000 ha.

De acordo ao senso agropecuário em 2006 a utilização das terras representa os

seguintes percentuais de ocupação: lavouras permanentes (10,97%), lavouras temporárias

(15,98%), matas e florestas (4,86%) e de pastagem (45,37%), confirmando a primazia de

áreas com pastagem, sobre os demais usos agrícolas.

A ocupação agropecuária possui uma grande importância como atividade econômica,

além de gerar empregos e produtos, tanto agrícola, como de origem animal. Em 2008

representava mais de 64,5% da área plantada da região da Bacia Hidrográfica do Rio Sergipe,

a Tabela 3.1 demonstra as principais culturas segundo a área plantada em 1996, 2000, 2004 e

2008.

A agropecuária com produtos de origem animal como galos, frangos, pintos,

bovinos sofreram redução entre 1996 e 2000, mas no período total (1996 a 2008),

apresentaram um crescimento da ordem de 18,4%. A produção de leite apresentou um

crescimento significativo, sendo a ampliação superior a 107%, entre 1996 e 2008. Desde

1996 vem aumentando significativamente a produção de mel.

CAPÍTULO 3 - METODOLOGIA

69

Tabela 3.1: Principais culturas da Bacia Hidrográfica do Rio Sergipe, segundo a área plantada 1996, 2000,

2004 e 2008.

ÁREA PLANTADA (ha)

Tipo de

Lavoura

Lavoura 1996 % 2000 % 2004 % 2008 %

Temporária

Milho (em grão) 26.012 20,9 25.886 22,1 50.976 33,4 81.048 43,0

Cana-de-açúcar 12.586 10,1 9.666 8,3 12.545 8,2 17.250 9,1

Feijão (em grão) 15.123 12,1 8.967 7,7 12.051 7,9 9.884 5,2

Mandioca 8.219 6,6 6.991 6,0 7.904 5,2 8.248 4,4

Batata-doce 3.000 2,4 2.374 2,0 2.660 1,7 3.234 1,7

Amendoim 388 0,3 411 0,4 475 0,3 785 0,4

Melancia 332 0,3 353 0,3 320 0,2 450 0,2

Tomate 231 0,2 215 0,2 220 0,1 270 0,1

Fava (em grão) 670 0,5 359 0,3 266 0,2 216 0,1

Sorgo (em grão) 0 0,0 0 0,0 0 0,0 182 0,1

Abacaxi 102 0,1 65 0,1 42 0,0 128 0,1

Fumo (em folha) 4 0,0 45 0,0 22 0,0 20 0,0

Total temporária 66.667 53,5 55.332 47,2 87.481 57,3 121.715 64,5

Permanente

Laranja 38.068 30,5 42.207 36,0 44.704 29,3 43.271 22,9

Côco-da-baía 13.086 10,5 13.463 11,5 14.006 9,2 16.826 8,9

Maracujá 4.373 3,5 3.617 3,1 3.731 2,4 4.142 2,2

Banana (cacho) 1.184 0,9 1.215 1,0 1.357 0,9 1.173 0,6

Limão 597 0,5 780 0,7 712 0,5 748 0,4

Mamão 299 0,2 191 0,2 231 0,2 340 0,2

Tangerina 114 0,1 120 0,1 158 0,1 292 0,2

Manga 264 0,2 194 0,2 182 0,1 190 0,1

Total permanente 57.985 46,5 61.787 52,8 65.081 42,7 66.982 35,5

Total de culturas 124.652 100 117.119 100 152.562 100 188.697 100

Fonte: IBGE/Pesquisa Agrícola Municipal – anos selecionados. Elaboração Consórcio

PROJETEC/TECHNE, 2009 apud SERGIPE. Consórcio Projetec, SEMARH, SRH, 2010, no prelo.

O número de trabalhos formais do segmento de indústria e construção civil

cresceu 70,5%. Verifica-se que o setor de construção civil é o responsável pela maior

parcela de estabelecimentos da região, em praticamente todos os anos. Em 2008,

representavam 43,2% dos estabelecimentos desse grande setor da economia. A indústria

de alimentos, bebidas e álcool vêm em segundo lugar, porém apresenta queda consecutiva

no percentual de estabelecimentos (Tabela 3.2).

CAPÍTULO 3 - METODOLOGIA

70

Tabela 3.2: Estabelecimentos por subsetor da indústria e construção civil na

Bacia do Rio Sergipe (%) – 1996, 2000, 2004 e 2008.

Indústria/Construção Civil

1996

2000

2004

2008

Construção civil 32,46 43,43 41,29 43,17

Indústria de produtos alimentícios, bebidas e álcool etílico 24,96 22,15 21,26 17,61

Indústria têxtil do vestuário e artefatos de tecidos 8,90 5,07 6,36 6,10

Indústria de produtos minerais não metálicos 4,13 4,27 4,91 5,84

Indústria do papel, papelão, editorial e gráfica 4,77 4,50 5,98 5,62

Indústria metalúrgica 5,12 4,27 4,49 4,66

Indústria da madeira e do mobiliário 4,94 5,42 4,91 4,52

Ind. química de produtos farmacêuticos, veterinários, perfumaria 4,83 3,58 3,74 3,25

Ind. da borracha, fumo, couros, peles, similares, ind. Diversas 2,44 1,61 1,28 2,46

Extrativa mineral 1,69 1,27 0,96 2,28

Indústria mecânica 0,64 0,46 0,85 1,76

Indústria do material de transporte 1,80 0,81 0,75 0,88

Indústria do material elétrico e de comunicações 0,35 0,40 0,64 0,75

Serviços industriais de utilidade pública 2,50 2,25 2,30 0,70

Indústria de calçados 0,47 0,52 0,27 0,40

Total 100,00 100,00 100,00 100,00

Fonte: RAIS/MTE Elaboração Consórcio PROJETEC/TECHNE, 2009 apud SERGIPE. Consórcio Projetec,

SEMARH, SRH, 2010, no prelo.

O comércio varejista é responsável por 44,5% dos estabelecimentos formais da

região da Bacia Hidrográfica do Rio Sergipe, conforme a Tabela 3.3, apesar desse

percentual ter caído ao longo dos anos, ainda é bastante superior ao de serviços de

alojamento, responsável por 16,1% dos postos de trabalho.

Tabela 3.3 – Estabelecimentos por subsetor de comércio e serviços na

Bacia do Rio Sergipe (%) – 1996, 2000, 2004 e 2008.

Comércio e Serviços

1996

2000

2004

2008

Comércio varejista 52,31 45,01 44,65 44,51

Serv. de alojamento, alimentação, reparação, manutenção, redação 14,37 15,14 15,96 16,07

Com. e administração de imóveis, valores mobiliários, serv. Técnico 11,86 14,33 14,62 13,98

Serviços médicos, odontológicos e veterinários 5,34 9,04 8,12 7,46

Comércio atacadista 5,63 4,77 4,48 5,28

Transportes e comunicações 3,64 3,74 4,80 5,14

Ensino 3,95 4,69 4,16 4,15

Instituições de crédito, seguros e capitalização 1,91 2,00 1,97 2,12

Administração pública direta e autárquica 0,99 1,29 1,24 1,29

Total 100,00 100,00 100,00 100,00

Fonte: RAIS/MTE Elaboração Consórcio PROJETEC/TECHNE, 2009 apud SERGIPE. Consórcio Projetec,

SEMARH, SRH, 2010, no prelo.

CAPÍTULO 3 - METODOLOGIA

71

Com apenas 1,2% dos estabelecimentos, a administração pública emprega 40,8%

dos trabalhadores formais da região, enquanto o comércio varejista, que tem o maior

percentual de estabelecimentos, emprega 17,6% da mão de obra formal de comércio e

serviços. O sub-setor de ensino, que em 1996 empregava 20,1% dos trabalhadores

formais, em 2008 esse percentual foi de apenas 6,3% (Tabela 3.4).

Tabela 3.4 – Trabalhadores por sub-setor de comércio e serviços na

Bacia do Rio Sergipe (%) – 1996 a 2008.

Comércio/Serviços

1996

2000

2004

2008

Administração pública direta e autárquica 27,80 47,01 46,53 40,86

Comércio varejista 15,44 16,49 16,36 17,60

Com. e administração de imóveis, valores mobiliários, serv. Técnico 8,00 9,44 11,18 11,01

Serv. de alojamento, alimentação, reparação, manutenção, redação 9,21 9,14 9,31 9,91

Ensino 20,10 4,81 4,70 6,26

Serviços médicos, odontológicos e veterinários 9,46 4,54 3,99 5,24

Transportes e comunicações 5,63 4,93 4,42 4,51

Comércio atacadista 1,83 1,80 1,78 2,92

Instituições de crédito, seguros e capitalização 2,53 1,86 1,72 1,69

Total 100,00 100,00 100,00 100,00

Fonte: RAIS/MTE Elaboração Consórcio PROJETEC/TECHNE, 2009 apud SERGIPE. Consórcio Projetec,

SEMARH, SRH, 2010, no prelo.

A economia da Bacia Hidrográfica do Rio Sergipe está fortemente ligada ao setor

de comércio e serviços, principalmente às atividades relacionas à administração pública.

Vale destacar uma grande participação do setor industrial e de serviços, devido à

existência de grandes indústrias e pelo importante centro comercial representado por

Aracaju e municípios vizinhos.

A partir da análise das informações, verifica-se certa fragilidade da economia de

muitos municípios localizados nas regiões Média e Alta da Bacia Hidrográfica do Rio

Sergipe, eles dependem de investimentos do setor público para facilitar a inclusão da

população através da renda, a ser gerada pelo setor privado.

As unidades de conservação presentes na Bacia Hidrográfica do Rio Sergipe estão

em grave estado de degradação, sendo constante a presença de espécies exóticas, plantios

de palma forrageira e pastagens. Poucos locais podem ser observados com vegetação

natural estabelecida, quase toda ela secundária, mas assim mesmo, capazes de trazer

informação sobre as principais espécies que aí se estabelecem, tanto na zona Semi-Árida

quanto no domínio da Mata Atlântica.

CAPÍTULO 3 - METODOLOGIA

72

Por outro lado, os Manguezais litorâneos se constituem nas mais expressivas Áreas

de Preservação Permanente na Bacia Hidrográfica do Rio Sergipe, mostrando, em diversas

áreas, com grande capacidade de recuperação mesmo frente a ameaças de ocupação e

poluição por esgotos e lixo.

As unidades de conservação existentes na BHSE (Quadro 3.2) estão localizadas

principalmente no bioma Mata Atlântica, com maior extensão de áreas costeiras e

estuarinas que são protegidos por Áreas de Proteção Ambiental, enquanto que a porção

interiorana conta apenas com um Parque Nacional Serra de Itabaiana sob a

responsabilidade Federal (ICMBio – Instituto Chico Mendes de Conservação da

Biodiversidade).

Segundo Araújo et al. (2006), a intensa atividade antrópica tem acelerado o processo

de degradação do bioma Caatinga, ameaçando espécies vegetais e animais encontradas no

local. A forma adotada para expansão econômica e territorial foi fundamentada na substituição

de vegetação nativa por pastagens e lavouras agrícolas em áreas ecologicamente frágeis,

declivosas que margeiam nascentes e cursos d’água (HORA, 2006). Segundo a autora, esse

modelo de ocupação tem promovido, até os dias atuais, sérias conseqüências sobre o uso da

água e o solo.

Quadro 3.2: Unidades de Conservação presentes na Bacia Hidrográfica do Rio Sergipe (Fonte: ICMBio

apud SERGIPE. Consórcio Projetec, SEMARH, SRH, 2010, no prelo).

Nome

Categoria Gestão Bioma

Ecossistema

Municípios Área ha.

Ibura

FLONA

Federal

Mata Atlântica/ costeiro

Nossa Senhora do Socorro

144,1685

Litoral Norte

APA

Estadual

Mata Atlântica/ Estuarino

costeiro

Municípios costeiros entre

Aracaju e foz do São

Francisco

41.312

Morro do Urubu

e

Parque Estadual

José Rollemberg

APA

Parque estadual

Estadual

Estadual

Mata Atlântica

Floresta litorânea

Aracaju

213,8724

e 93

Serra de

Itabaiana

PARNA

Federal

Caatinga/complexo

vegetacional com

elementos de floresta

estacional, caatinga,

restinga e cerrado.

Areia Branca, Itabaiana,

Laranjeiras, Itaporanga

D’Ajuda, Campo de Brito

7.966

Paisagem

notável e área de

especial

proteção

ambiental do

Rio Sergipe

Fase de

recategorização

Estadual

Mata Atlântica/Fluvial

Divisa entre Aracaju e

Barra dos Coqueiros

____

CAPÍTULO 3 - METODOLOGIA

73

Reforçando, todo o material bibliográfico que descreve a Bacia Hidrográfica do Rio

Sergipe em relação aos aspectos, físico, econômico, social foi transcritos a partir do

SERGIPE. Consórcio Projetec, SEMARH, SRH (2010, no prelo), sendo este um documento

de grande relevância para conhecimento mais aprofundado do ecossistema Bacia

Hidrográfica.

3.4. Atores sociais da pesquisa e amostra

3.4.1. Atores sociais

Segundo a Lei Estadual 3.870, Art. 40, os Comitês de Bacia Hidrográfica são

compostos por representantes de órgãos e entidades públicas com interesses na gestão, oferta,

controle, proteção e uso dos recursos hídricos, bem como representantes dos municípios

contidos na Bacia Hidrográfica correspondente e dos usuários das águas, através das entidades

associativas.

Sendo assim, os atores sociais da pesquisa são representados segundo a Lei Estadual

3.870 e o Regimento Interno do Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio Sergipe aprovado em

09 de abril de 2002, Título II, Capítulo I e Artigo 3º. De acordo a composição, durante a

gestão 2008-2010 fizeram parte do Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio Sergipe as

instituições descritas no Quadro 3.3. Pode ser observado que o número de membros suplentes

e titulares são em 24, totalizando em 48 pessoas para a composição do Comitê de Bacia

Hidrográfica do Rio Sergipe.

Nos incisos 1º e 2º do Regimento Interno do Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio

Sergipe, aprovado em 09 de abril de 2002, cada membro titular terá um membro suplente,

sendo que o membro suplente pode ser de uma mesma ou entidades distintas, sendo assim, o

Quadro 3.3 não totaliza os 48 membros, pois em algumas instituições o membro suplente e

titular faz parte da mesma instituição.

CAPÍTULO 3 - METODOLOGIA

74

COMITÊ DA BACIA DO RIO SERGIPE - GESTÃO 2008 A 2010

Poder

Público

Estadual e

Federal

SEMARH / SRH

SEMARH / ADEMA

SEPLAN / SE

SEINFRA / DESO

SEAGRI / SE

SEAGRI / COHIDRO

IND / CODISE

IBAMA / SE

Poder Público

Municipal –

Executivo e

Legislativo

Pref. Municipal de Aracaju

Pref. Municipal de Laranjeiras

Pref. Municipal de Graccho Cardoso

Pref. Municipal de Nossa Senhora do Socorro

Pref. Municipal de Itaporanga

Câmara de Vereadores de Aracaju

Câmara de Vereadores de Barra dos Coqueiros

Câmara de Vereadores de Areia Branca

Usuários –

empresas e

indústrias

Petrobrás / UM / SEAL

Tavex Corporation

Votorantin Cimento

FAFEN / SE

Porto / Vale

ASMANA / SOC.

ASAS / SE

SAAE / SC

APPP / Jacarecica

ACPR-STOS Isidoro

Sociedade Civil

UFS / Itabaiana

CEFET / Aracaju

Sociedade Semear

ABES / SE

OSCATMA / BC

AJAMAM / MAL

CREA / SE

Quadro 3.3: Instituições que fazem parte do Comitê da Bacia do Rio Sergipe na gestão 2008 a 2010.

A partir, do Artigo 7º, do Regimento Interno do Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio

Sergipe a estrutura deste compreende: plenário, presidência, secretaria, secretaria executiva e

as câmaras técnicas. Quanto às atribuições dos membros do Comitê, são descritas as do

plenário e do presidente (Quadro 3.4) já que estes foram os escolhidos para serem

entrevistados.

A partir, do Quadro 3.4 observa-se a importância e significância de um trabalho de

percepção ambiental com o grupo, já que constitui em um órgão colegiado, com atribuições

consultivas e deliberativas e competência normativa, no âmbito da Bacia Hidrográfica do Rio

Sergipe, instituído através do Decreto Estadual nº 20.778 de 21 de junho de 2002.

CAPÍTULO 3 - METODOLOGIA

75

Atribuições dos membros do Comitê

Atribuições do plenário Atribuições da presidência

Atender às convocações das reuniões ou transmitir as

convocações aos respectivos representantes e suplentes

nos casos de seus impedimentos eventuais;

Fazer cumprir as decisões do Plenário;

Agir de forma cooperativa, para que os objetivos do

Comitê sejam alcançados;

Convocar e dirigir as reuniões ordinárias e

extraordinárias;

Convidar técnicos dos respectivos órgãos ou entidades,

para participarem dos trabalhos de interesse do Comitê;

Encaminhar a votação das matérias submetidas à

apreciação do Plenário;

Emprestar colaboração e apoio aos trabalhos do

Comitê;

Assinar as Atas de reunião depois de lidas e

aprovadas;

Implantar, no âmbito de seus órgãos ou entidades, os

planos, programas e medidas aprovados pelo Comitê;

Assinar Atas e Resoluções aprovadas em Plenário,

juntamente com o Secretário Executivo;

Requerer, ao Presidente, informações, providências,

esclarecimentos e vistas dos processos;

Decidir os casos de urgência ou inadiáveis,

submetendo sua decisão à apreciação deste, na

reunião seguinte;

Discutir e votar todas as matérias que lhe são

submetidas;

Adotar providências administrativas necessárias ao

andamento dos processos;

Apresentar propostas e sugerir matérias para

apreciação do Comitê;

Propor ao Plenário, no início de cada ano, o

calendário anual de reuniões;

Pedir vistas de documentos; Representar o Comitê em todos os atos a que deva

estar presente ou designar representante;

Solicitar ao Presidente a convocação de reuniões

extraordinárias;

Promover articulações entre os Comitês dos

tributários da Bacia;

Propor inclusão de matéria na Ordem do Dia, bem

como prioridade de assuntos dela constante;

Submeter ao Conselho Estadual de Recursos

Hídricos os assuntos dependentes de sua decisão ou

aprovação;

Requerer votação nominal; Designar relatores para assuntos específicos;

Fazer constar em Ata o ponto de vista discordante do

órgão que representa, quando julgar relevante;

Exercer as demais competências constantes neste

Regimento Interno;

Propor o convite, quando necessário, de pessoas ou

representantes de entidades públicas ou privadas, para

trazer subsídios às decisões do Comitê;

Fazer cumprir o Regimento Interno. Propor a estrutura da Agência da Bacia;

Propor a criação de Câmaras Técnicas;

Votar e ser votado para os cargos previstos neste

Regimento Interno.

Quadro 3.4: Atribuições dos membros do Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio Sergipe.

Do ponto de vista político, a organização e o funcionamento do Comitê tem como

objetivo principal a tentativa de descentralização das decisões, implante a operacionalização

de políticas públicas a partir de interesses e problemas vivenciados e levantados pela

população. Ele também busca estimular a organização da sociedade civil, a partir, da situação

conjuntural em questões de recursos hídricos, permitindo a participação e envolvimento na

busca de soluções que afetam a coletividade. A importância do Comitê manifesta-se pelas

responsabilidades de caráter normativo e deliberativo que lhe são atribuídas. Em primeira

instância, ainda lhe cabem solucionar problemas apresentados e arbitrar os conflitos sobre o

uso da água (SERGIPE. SEPLANTEC, SRH, 2002).

CAPÍTULO 3 - METODOLOGIA

76

3.4.2. Sistema de amostra

Na impossibilidade operacional de se investigar todos os membros do Comitê da Bacia

Hidrográfica do Rio Sergipe, foi amostrado um número reduzido de sujeitos, uma vez que se

utilizou como técnica de investigação, a entrevista semi-estruturada (TRIVIÑOS, 2008). O

Quadro 3.3 demonstra as instituições que fazem parte da gestão 2008-2010 do Comitê da

Bacia Hidrográfica do Rio Sergipe.

Os sujeitos foram selecionados pelo modelo de amostragem não aleatória por

julgamento (Barbetta, 1999). Primeiramente, o grupo foi dividido em quatro segmentos

presentes no Comitê de Bacia Hidrográfica do Rio Sergipe, os quais são: Poder Público

Estadual e Federal, Poder Público Municipal, usuários e sociedade civil. Nestes quatro

segmentos foram selecionados dois grupos, os quais são: (a) instituições que atuaram em

todas as gestões do Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio Sergipe dos anos de 2002 a 2010;

(b) instituições que estavam atuando pela primeira vez dos anos de 2008 a 2010. Dentro dessa

subdivisão foram escolhidas as instituições que possuíssem uma freqüência significativa de

participação nas reuniões durante a gestão 2008/2010 do Comitê de Bacia Hidrográfica do

Rio Sergipe (Figuras 3.3, 3.4, 3.5, 3.6, 3.7, 3.8, 3.9 e 3.10).

Uma observação, quanto ao segmento Poder Público Estadual e Federal (Figura 3.11):

neste segmento não existiram instituições que estivessem participando pela primeira vez onde,

o menor número de gestões que participaram foram em duas, constando das instituições

COHIDRO e SEMARH.

A amostragem não aleatória por julgamento, a partir, da triagem descrita acima

resultou em um total de dezenove representantes das quarenta e oito cadeiras destinadas ao

Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio Sergipe, entre membros titulares e suplentes. Desse

universo, doze sujeitos foram selecionados para a realização do trabalho o que representa 25%

do total de 48 membros titulares e suplentes e, 63,15% do total, a partir, da triagem realizada,

demonstrando um valor significativo.

Ressalta-se que os dados de freqüência nas reuniões durante a gestão 2008-2010 são

obtidos de duas reuniões ordinárias e três reuniões extraordinárias, até a data de 22 de abril de

2010, como pode ser observado nas Atas (As Atas estão presentes em um Compact Disc - CD

no Anexo A).

CAPÍTULO 3 - METODOLOGIA

77

Figura 3.3: Representação do Poder Público

Estadual e Federal (participando em duas e

gestões e freqüência nas gestões).

Figura 3.4: Representação do Poder Público

Estadual e Federal (participando em todas as

gestões e freqüência nas gestões).

Figura 3.5: Representação do Poder Público

Municipal (participando pela primeira vez

freqüência nas gestões).

Figura 3.6: Representação do Poder Público

Municipal (participando em todas as gestões

e freqüência nas gestões).

CAPÍTULO 3 - METODOLOGIA

78

Figura 3.7: Representação de Usuários

(participando pela primeira vez e freqüência

nas gestões).

Figura 3.8: Representação de Usuários

(participando em todas as gestões e

freqüência nas gestões).

Figura 3.9: Representação da Sociedade Civil

(participando pela primeira vez e freqüência

nas gestões). Figura 3.10: Representação da Sociedade

Civil (participando em todas as gestões e

freqüência nas gestões).

CAPÍTULO 3 - METODOLOGIA

79

O modelo de investigação do sistema de percepção da Bacia Hidrográfica do Rio

Sergipe foi elaborado, a partir, de estudos exploratórios com revisões bibliográficas, estudos

em campo, e estudo documental da área referente à Bacia Hidrográfica do Rio Sergipe e a

percepção ambiental dos membros que compõem o Comitê desta Bacia. Este modelo utilizado

foi uma adaptação feita a partir do modelo de Whyte (1978) como pode ser observado na

Figura 3.11.

CAPÍTULO 3 - METODOLOGIA

80

Figura 3.11: Modelo de percepção do meio ambiente (WHYTE, 1978).

CAPÍTULO 3 - METODOLOGIA

81

No modelo de Whyte (1978) o papel da pesquisa de percepção ambiental em relação

ao ser humano-biosfera pode ser sintetizada em cinco objetivos:

Contribuir para a utilização mais racional dos recursos da biosfera pela harmonização

local (conhecimento) no interior e que está disponível a partir do exterior;

Aumentar a compreensão de todos os lados das bases racionais para diferentes

percepções do meio ambiente;

Incentivar a participação local no desenvolvimento e planejamento como base em uma

implementação mais eficaz e mudanças mais adequadas;

Ajudar a preservar ou gravar as percepções ricas ambientalmente e sistemas de

conhecimento que estão a ser rapidamente perdidos em muitas áreas rurais;

Atuar como um instrumento educativo e agente de mudança, bem como proporcionar

uma oportunidade de formação para os envolvidos na pesquisa.

Os termos explícitos no modelo de investigação são definidos operacionalmente, tendo

em vista os objetivos da pesquisa, e com base nas formulações de Whyte (1978) e Tuan

(1980), contando com variáveis de estado (características dos sujeitos, características dos

grupos e experiência), processos de percepção (percepção, significado e identidade) e

variáveis de saída (escolha de usos).

3.5. Elaboração dos instrumentos para coleta e análise de dados

Assumindo que a percepção ambiental é o instrumento de estudo desta pesquisa, os

métodos de coleta e interpretação dos dados são devidamente escolhidos e aplicados, a partir,

das orientações metodológicas das Ciências Sociais.

Antes que fosse pesquisada e estruturada qualquer metodologia de coleta e análise de

dados, o trabalho foi iniciado com observações livres durante as reuniões realizadas pelo

Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio Sergipe no período de 26 de maio do ano de 2009 até a

última reunião em 30 de novembro do ano de 2010.

A observação livre é uma importante técnica de pesquisa que não se traduz em um

simples olhar, segundo Triviños (2009, p.153) “implica em uma vivência cotidiana da qual se

extrai a essencialidade das experiências”, onde observar é:

[...] destacar um conjunto (objeto, pessoas, animais etc.) algo especificamente,

prestando, por exemplo, atenção em suas características (cor, tamanho etc.). Observar

um “fenômeno social” significa, em primeiro lugar, que determinado evento social,

simples ou complexo tenha sido abstratamente separado de seu contexto para que, em

CAPÍTULO 3 - METODOLOGIA

82

sua dimensão singular, seja estudado em seus atos, atividades, significados, relações

etc. Individualizam-se ou agrupam-se os fenômenos dentro de uma realidade que é

indivisível, essencial para descobrir seus aspectos aparenciais e mais profundos, até

captar, se for possível, sua essência numa perspectiva específica e ampla, ao mesmo

tempo, de contradições, dinamismos, de relações [...] (TRIVIÑOS, 2009, p.153).

Em seus estudos Triviños (2009) relata que a observação vai além do “olhar”, sendo

demonstrado que é um “olhar” direcionado à pesquisa qualitativa, para compreender um

determinado fenômeno em observação, e que o mesmo será para conhecer o seu grupo ou

objeto de estudo, não se valendo apenas de materiais bibliográficos para tal fim.

Mucelin (2006, p. 107) complementa dizendo que “a observação adequada requer do

pesquisador a convivência, uma vez que alheio aos valores, costumes e hábitos, as

observações podem induzir o pesquisador, obviamente, a inferências inadequadas e até

prejudiciais ao estudo”.

No entanto, para que não houvesse a possibilidade de acontecimentos semelhantes aos

citados acima, foram planejadas observações durante as reuniões do Comitê da Bacia

Hidrográfica do Rio Sergipe, com o intuito de conhecer o grupo estudado em relação aos

aspectos referentes aos membros como participação nas reuniões, freqüência, nível de

conhecimento como gestor ambiental, funcionamento e andamento das reuniões. Sendo

observada também uma rede de relações que possibilitariam o melhor entendimento sobre o

Comitê e contatos para possível comunicação entre os membros, enfim, para o

reconhecimento do grupo e funcionamento de todo o mecanismo. A observação livre também

se deu durante as entrevistas realizadas nos locais de trabalho dos sujeitos selecionados.

Segundo Mucelin (2006, p. 108), “a observação é parcial e seletiva e tem limitações

como o ângulo de visão e seus distintos aspectos, além do fato de que, quando um observador

aparece em um determinado contexto, ele tende a prejudicar a espontaneidade da cena”. Lodi

(1971) apud Mucelin (2006) acrescenta que “o observador em cena sofre pressões para

participar e para observar e [...] poderá começar como observador não participante e terminar

como participante não observador” (1971. p.14). Durante as reuniões e visitas para as

entrevistas a pesquisadora, em algumas situações era interrogada e até mesmo, sua opinião e

auxílio como técnica eram cobrados.

Os instrumentos de coleta e análise de dados foram aplicados por etapas, sendo que as

viagens à campo iniciaram o processo. A ordem de coleta e análise dos dados foi: (i)

questionário de perfil sócio-profissiográfico; (ii) Jogo das Percepções; (iii) entrevista semi-

estruturada.

CAPÍTULO 3 - METODOLOGIA

83

A pesquisa foi fundamentada nas bases teórico-conceituais da percepção ambiental,

análise de conteúdo e estatística descritiva. O trabalho estruturou-se a permitir uma

abordagem qualitativa e quantitativa com a utilização de técnicas de coleta em fontes

primárias (entrevistas e pesquisas de campo) e secundárias, com ampla pesquisa bibliográfica.

Utilizando também como material suporte, relatórios, Atas, mapas, resoluções, Plano de Bacia

Hidrográfica enfim documentos referentes ao Comitê e a Bacia Hidrográfica do Rio Sergipe.

3.5.1. Registro fotográfico em pontos da Bacia Hidrográfica do Rio Sergipe observando

suas condições ambientais.

A ocupação da Bacia Hidrográfica do Rio Sergipe não ocorreu conforme o modelo

sustentável, onde o crescimento e o desenvolvimento antrópico em seu entorno surgiu de

forma rápida, ocasionando alguns problemas decorrentes da ocupação. Sendo assim, para

corroborar com os resultados qualitativos do estudo da percepção, principalmente no auxilio

da construção do Jogo das Percepções (uma adaptação realizada a partir de Mucelin e Bellini,

2007), que serviu de instrumento para a coleta de dados, foi realizado o registro fotográfico

em pontos desta Bacia Hidrográfica.

O registro fotográfico deu suporte à pesquisa, auxiliando a pesquisadora a visualizar e

conhecer os locais aos quais estava sendo direcionado o trabalho, ilustrar a pesquisa com as

localidades visitadas, dar subsídio para a construção do Jogo das Percepções e observar in

loco as reais condições ambientais presentes em alguns pontos da Bacia Hidrográfica do Rio

Sergipe. As imagens e os resultados dessa etapa perpassam por todo o trabalho, não sendo

realizado apenas um tipo de análise, mas sim a utilização desses dados de forma explícita e

implícita.

Nesta etapa foram utilizados: máquina fotográfica digital, um receptor de sinais de

satélite para posicionamento geográfico o GPS (Global Positioning System) e roteiro de

campo para caracterização da área.

Os pontos visitados foram georreferenciados e plotados em mapas para melhor

visualização no trabalho. As anotações de campo seguiram o padrão realizado por Araújo

(2008), sendo observado também no Apêndice A:

1. Ponto: marcação como testemunha.

2. Fotografia: registrar com sim ou não.

3. Localidade: região onde se encontra, se uma cidade, povoado ou mesmo rio ou riacho.

CAPÍTULO 3 - METODOLOGIA

84

4. Coordenada: georeferenciamento XY.

5. Dados altimétricos em metros: altitude do local visitado.

6. Presença de recursos hídricos: sim ou não.

7. Relevo: qual o tipo de relevo se colinoso ou convexo.

8. Lançamento de esgoto: se há lançamento, e qual o local se no solo ou na água.

9. Se há foco de lixo: no solo ou na água.

10. Disposição do lixo: qual a disposição do lixo se desordenado ou concentrado.

11. Vegetação: se existente, esparsa, concentrada ou inexistente.

12. Uso e ocupação do solo: se o solo é ocupado por pastagem, agricultura, irrigação ou outro

tipo de ocupação.

13. Presença de animais: se há ou não presença de animais e quais são eles.

14. Quanto à existência de mata ciliar, se existente, exuberante, impactada ou inexistente e

por último as observações do pesquisador a respeito da região visitada.

Os locais visitados na Bacia Hidrográfica do Rio Sergipe foram escolhidos

aleatoriamente, em um total de doze viagens iniciadas em 16 de outubro do ano de 2009 em

sete pontos da cidade de Aracaju, por onde percorre o Rio Sergipe e alguns de seus afluentes,

como pode ser observado na Figura 3.12.

As cidades visitadas por ordem das viagens foram Aracaju (16 de outubro de 2009);

Nossa Senhora das Dores (16 de novembro de 2009); próximo às nascentes do Rio Sergipe

nos povoados de Santa Helena e Cipó de Leite pertencente à cidade de Pedro Alexandre no

estado da Bahia (13 de abril de 2010); Nossa Senhora da Glória (13 de abril de 2010); Carira

(13 de abril de 2010); Nossa Senhora do Socorro (11 de maio de 2010); Areia Branca (12 de

maio de 2010); Riachuelo (12 de maio de 2010); Malhador (12 de maio de 2010); Itabaiana

(08 de junho de 2010); Barra dos Coqueiros (09 de agosto de 2010) e Santo Amaro das Brotas

(09 de agosto de 2010).

As imagens fotográficas de todos os pontos visitados e suas descrições estão presentes

em um Compact Disc - CD no Apêndice F.

CAPÍTULO 3 - METODOLOGIA

85

CAPÍTULO 3 - METODOLOGIA

86

3.5.2. Construção, teste, aplicação e análise dos instrumentos de coleta de dados -

questionário do perfil sócio-profissiográfico, Jogo das Percepções e entrevista semi-

estruturada.

O questionário de perfil profissográfico, o Jogo das Percepções e a entrevista semi-

estruturada foram submetidos à testagem de sua objetividade, sendo avaliados em termos de

estabilidade e validade, como sugerida por Kirk e Miller (1986) apud Jesus (1993) para

pesquisa qualitativa. Para eles a estabilidade é a extensão na qual o procedimento da medida

produz a mesma resposta em todas as vezes que seja aplicada, já a validade se refere à

extensão na qual o instrumento de medida proporciona uma resposta.

Para a etapa de testagem da objetividade e estabilidade foi possível contar com a

colaboração de quatro membros do Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio Sergipe, entre eles:

representantes da sociedade civil (Organização Sócio-Cultural Amigos do Turismo e Meio

Ambiente em Barra dos Coqueiros – OSCATMA); Poder Público Estadual e Federal

(Secretaria de Estado do Meio Ambiente e Recursos Hídricos Sergipe – SEMARH); usuários

(Fábrica de Fertilizantes Nitrogenados de Sergipe – FAFEN e a Associação Socorrense de

Mariscultores Naturais e Ecológicos – ASMANE). Esses representantes deram sugestões para

melhoria dos instrumentos de coleta, contribuindo para a construção da pesquisa. O período

de coleta de informações, a partir, desta metodologia iniciou em 20 de abril com término em

26 de agosto, totalizando cinco meses de coleta.

As pessoas selecionadas para a coleta de informações foram contactadas por meio de

carta do projeto de pesquisa (Apêndice E), pessoalmente ou via endereço eletrônico. Foram

incluídos dois membros que não constavam na triagem realizada, um representante do Poder

Público Municipal (Prefeitura de Nossa Senhora do Socorro) e da sociedade civil (Sociedade

Semear).

Para nosso estudo foram utilizadas técnicas variadas para a coleta de informações,

segundo Whyte (1978) o número de técnicas que têm sido desenvolvidas ou emprestadas para

os estudos de campo em percepção ambiental tem aumentado significativamente. Estas

técnicas tendem a ter a aura de complexidade e especialização disciplinar que muitas vezes é

confuso em novos domínios de investigação transdisciplinar. É importante notar que todas as

técnicas de campo são baseadas em uma combinação de três abordagens principais:

observando, ouvindo e fazendo perguntas (Figura 3.13). Estes métodos são complementares e

fundamentais para todas as pesquisas no campo.

CAPÍTULO 3 - METODOLOGIA

87

Figura 3.13: Principais abordagens metodológicas (fonte: WHYTE, 1978).

Por ser uma modalidade de pesquisa que investiga considerações sobre a experiência

vivenciada, um estudo de percepção ambiental pressupõe a utilização de um rigor

metodológico construído com criatividade, sem ficar condicionado, necessariamente, à

adoção de um modelo teórico, método ou técnica prefixada.

3.5.2.1. Questionário do perfil sócio-profissiográfico

O questionário do perfil sócio-profissiográfico foi elaborado no sentido de coletar

informações referentes às características dos sujeitos entrevistados (Apêndice B). O

tratamento preliminar dos dados comportou a ordenação das respostas dos questionários de

maneira a dispor numa forma adequada. Sendo ordenadas em quadros, de acordo com a classe

de dados obtidos. Tais como: a) dados pessoais - sexo, faixa etária, estado civil e escolaridade

dos membros do Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio Sergipe; b) atividade profissional e

faixa de renda; c) naturalidade; d) entidades, associações ou movimentos sociais que

participa; e) classificação quanto à titulação dentro do Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio

Sergipe. Estas informações foram quantificadas e os resultados dispostos em forma de

números.

CAPÍTULO 3 - METODOLOGIA

88

3.5.2.2. Jogo das Percepções

Mucelin (2006) em sua tese de doutorado intitulada “Estudo ecológico de fragmentos

ambientais urbanos: percepção sígnica e pesquisa participante” trabalhou o Jogo das

Percepções com os moradores locais da cidade de Medianeira – Paraná, com a pretensão de

estimular os investigados e refletir sobre determinadas situações e fragmentos do ambiente

urbano, utilizando-o como um instrumento estimulador e lúdico.

Neste trabalho foi utilizado com as mesmas pretensões, além de auxiliar para a coleta

de dados, onde foi possível perceber uma maior participação e desenvoltura dos entrevistados

durante esta etapa.

Mucelin (2006) pressupõe que o Jogo das Percepções estimula o entrevistado a refletir

e perceber determinados fragmentos do ambiente, produzindo processos de conhecimento

sobre a realidade do contexto estudado. As imagens fotografadas foram consideradas como

instrumentos facilitadores da caracterização perceptiva das crenças, costumes e hábitos,

modelando ou influenciando a percepção e conseqüentemente, estimulando reflexões das

formas como o ambiente é reconhecido.

Para a realização do Jogo foram utilizadas fotografias digitais impressas (Quadro 3.5)

com imagens de pontos da Bacia Hidrográfica do Rio Sergipe (25 imagens numeradas

discretamente no verso), um aparelho gravador digital de MP3 player portátil para a gravação

das falas e um roteiro para auxiliar as anotações das etapas do Jogo das Percepções. Os

diálogos foram gravados e transcritos na íntegra para posterior análise.

Nossa pretensão com a utilização dessa metodologia foi observar a experiência do

entrevistado quanto a Bacia Hidrográfica do Rio Sergipe e sua gestão, respeitando suas

diferentes histórias de vida. Alteração ou manipulação nas imagens trabalhadas não foi

realizada, considerando as imagens fotográficas como um “instante congelado para sempre”.

O Jogo das Percepções foi utilizado de acordo com Mucelin (2006) com algumas

adaptações (Apêndice C), conforme etapas abaixo:

1º Momento: apresentação da pesquisa e do pesquisador ao entrevistado. Logo após,

eram entregues as fotografias e solicitado que o mesmo as visualizassem. Esta etapa consistiu

na observação e gravação de falas e expressões dos entrevistados ao se deparar com as

imagens das fotos. Após o primeiro momento de contato com as fotografias, foram realizadas

algumas intervenções Com os seguintes objetivos, a saber:

CAPÍTULO 3 - METODOLOGIA

89

1º - O que as imagens retratam para você?

Objetivo da questão: evidenciar a percepção do participante sobre o objeto de estudo.

2º - Sabe de onde são essas imagens?

Objetivo da questão: evidenciar a identificação do participante quanto ao local

investigado.

Neste momento as falas eram gravadas e anotadas em uma tabela numerada,

correspondendo ao número encontrado no verso de cada imagem.

2º Momento: objetivando auxiliar no reconhecimento dos pontos fotografados na

Bacia Hidrográfica do Rio Sergipe, foi proposto um segundo momento no Jogo das

Percepções. Foi perguntado ao entrevistado se ele reconhecia os locais onde foram realizadas

as imagens se em ambientes rurais ou urbanos. Posterior a pergunta, questionava-se seu

reconhecimento das imagens com sendo da referida Bacia Hidrográfica. Caso uma ou mais

imagens não fossem percebidas como da Bacia Hidrográfica do Rio Sergipe, solicitava-se a

sua separação das demais fotos, visando evidenciar a percepção e reconhecimento da

paisagem fotografada, para demonstrar o grau de interação do membro com a área de estudo.

3º Momento: foi solicitado ao participante que separasse as imagens em paisagem não

impactada e impactada na Bacia Hidrográfica do Rio Sergipe. Em seguida, foi solicitado que

o mesmo organizasse as fotografias em tantos grupos quanto julgasse pertinente. Após,

finalizada a organização dos grupos de imagens, questionava-se sobre:

1º - Quantos grupos foram organizados?

2º - Como você denomina cada grupo?

3º - O que cada grupo significa?

4º - Por que ocorrem?

Neste momento, foi realizada a gravação dos diálogos, sendo transcritos e analisados

posteriormente. É importante o registro de cada grupo de imagens (anotando os números das

fotografias agrupadas). Por meio da numeração previamente transcrita no verso das

fotografias e sua disposição posterior, possibilita confrontar na análise dos resultados a

percepção individual e coletiva dos grupos amostrais.

A utilização de imagens fotográficas nesse trabalho não buscou omitir a idéia de que

ela sofre influências desde o momento em que é realizada, visto que, a imagem é uma

interpretação que o autor faz da realidade. O receptor da imagem fotográfica, por sua vez,

inserido em outro contexto social, faz a leitura de acordo a sua realidade e experiências.

Independente da intenção do autor ao produzi-las, admite-se que um simples detalhe pode

CAPÍTULO 3 - METODOLOGIA

90

atrair mais atenção do que o todo intencionalmente previsto dentro do campo visível exposto

(DINIZ e VEIGA, 2010).

Neste contexto, foram analisadas as diferentes percepções ambientais dos

entrevistados, respeitando a individualidade e o contexto social ao qual estão inseridos.

Levando-se também em consideração sobre a idéia exposta acima, a análise dessas

informações não foi quantificada, mas sim transcrita em idéias principais resumidas de cada

discurso, conservando as características e riqueza de linguagem dos entrevistados.

As imagens selecionadas e utilizadas no Jogo das Percepções estão dispostas no

Quadro 3.5 em ordem de apresentação segundo os Quadros 4.6, 4.7, 4.8, 4.9, 4.10, 4.11 e

4.12, sendo também apresentada a Figura 3.14, onde são demonstrados os pontos

georreferenciados na Bacia Hidrográfica do Rio Sergipe onde foram registradas as imagens

utilizadas no Jogo das Percepções.

Foram apresentadas imagens que retratavam situações de ambiente impactado3 e não

impactado da Bacia Hidrográfica do Rio Sergipe, classificadas e de acordo as condições

ambientais visualizadas no local fotografado, tais como: vegetação exuberante e imagens

paisagísticas (Quadro 4.6); imagens de poluição aérea, por resíduos sólidos e líquidos

(Quadro 4.7); imagens com ausência de mata ciliar (Quadro 4.8); imagens de assoreamento

(Quadro 4.9); imagens de impactos causados pelas construções humanas (Quadro 4.10);

imagens de barramentos no Rio (Quadro 4.11); imagens de manutenção da mata ciliar

(Quadro 4.12).

Quando se utiliza imagens, não devemos considerá-las como neutras, ou seja, simples

documentos captados por uma lente, ao fazer isso, as limitamos a objetos “naturais”, quando

de fato elas são socialmente construídas dentro de um contexto específico para a investigação.

Pressupomos que as fotografias pudessem estimular a reflexão sobre os fenômenos culturais

que engendram a percepção ambiental, individual e coletiva do grupo investigado. Neste

contexto, é importante ressaltar que textos, palavras e imagens reforçam uns aos outros por

meio de conexões fixas ou transparentes em interações dinâmicas (FISCHMAM, 2004).

Segundo Joly (1996) a análise pedagógica da imagem pode proporcionar algumas

liberdades intelectuais, demonstrando que a imagem é de fato uma linguagem específica e

heterogênea, que se distingue do mundo real e que, por meio de signos propõe uma

representação escolhida e necessariamente orientada. Tentando com isso, distinguir as

principais ferramentas dessa linguagem e o que sua ausência ou sua presença significam.

3 - Sánchez (2008).

CAPÍTULO 3 - METODOLOGIA

91

Finalmente, uma das funções da análise da imagem, pode ser a busca ou a verificação das

causas do bom ou do mau funcionamento de uma mensagem visual.

O Jogo das Percepções em nosso estudo foi utilizado para estimular os atores

investigados a observar e refletir sobre determinadas situações e fragmentos do ambiente em

estudo, tendo também como propósito permitir a interação e leitura das imagens, por meio das

quais os atores pudessem expressar suas percepções: quais as situações lhe eram alheias,

como viam os fragmentos e como percebiam as imagens registradas. Sendo que este

instrumento de coleta de dados foi utilizado para se trabalhar a variável experiência dos

membros do Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio Sergipe para com seu objeto de gestão.

CAPÍTULO 3 - METODOLOGIA

92

CAPÍTULO 3 - METODOLOGIA

93

1

7 6

5 4 3 2

10 9 8

16

12 13 14 15

19 18 17

11

25 24 23 21 22

20

Quadro 3.5: Imagens utilizadas no Jogo das Percepções (fonte: própria autora, 2010).

CAPÍTULO 3 - METODOLOGIA

94

3.5.2.3. Entrevista semi-estruturada

Após o trabalho com o Jogo das Percepções, foi possível utilizar a técnica da

entrevista semi-estruturada, deixando que os entrevistados se expressassem livremente sobre

os tópicos da pesquisa. A pretensão de utilizar esta técnica foi superar a limitação implícita na

compreensão dos campos por meio de dados quantitativos, pois, ao mesmo tempo, em que

valoriza a presença do investigador, oferece perspectivas possíveis para que o informante

alcance a liberdade e a espontaneidade necessárias enriquecendo a investigação (MINAYO,

2008; TRIVIÑOS, 2008).

Para a coleta de dados com a entrevista semi-estruturada, foram utilizados aparelho

gravador digital MP3 player portátil para gravação das falas e um roteiro da entrevista semi-

estruturada.

A entrevista semi-estruturada objetivou responder sobre a caracterização perceptiva do

sistema de estudo. Esta variável relaciona-se à atribuição de significado, identidade, escolha

de usos para a Bacia Hidrográfica do Rio Sergipe, onde foi realizado o tratamento, análise,

descrição e interpretação dos dados das respostas às questões da entrevista semi-estruturada

(Apêndice D).

O roteiro e objetivos adotados para a entrevista semi-estruturada constou de cinco

questões, a saber:

Primeira questão: O que você entende por Bacia Hidrográfica?

Objetivo da questão: devido à abstração desse conceito, pretendeu-se entender não só

a definição de um conceito, como também a percepção e a identidade dos membros quanto a

Bacia Hidrográfica, no contexto sociocultural de cada membro.

Segunda questão: O que significa para você o Rio Sergipe?

Objetivo da questão: identificar o significado do Rio Sergipe para os membros do

Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio Sergipe.

Terceira questão: Qual a importância da mata ciliar para o Rio?

Objetivo da questão: buscar entender a percepção dos membros do Comitê da Bacia

Hidrográfica do Rio Sergipe, quanto às “funções ambientais” da mata ciliar para a

manutenção e equilíbrio do ecossistema.

CAPÍTULO 3 - METODOLOGIA

95

Quarta questão: Em sua opinião qual a melhor forma de utilização dos recursos

naturais da Bacia Hidrográfica do Rio Sergipe?

Objetivo da questão: Avaliar a percepção sobre a escolha de uso dos recursos naturais

da Bacia Hidrográfica do Rio Sergipe pelos membros do Comitê da Bacia Hidrográfica do

Rio Sergipe.

Quinta questão: O que o levou a participar do Comitê da Bacia Hidrográfica do

Rio Sergipe?

Objetivo da questão: Avaliar a relação de comprometimento do entrevistado com o

Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio Sergipe.

Para a interpretação dos dados coletados, a partir, da análise da entrevista semi-

estruturada, neste estudo, que consiste na transformação de dados qualitativos em

quantitativos, foram utilizadas as definições teóricas de Franco (2005) com o auxilio da

análise de conteúdo, procedimento de pesquisa que se situa em um delineamento mais amplo

da teoria da comunicação e tem como ponto de partida a mensagem. Com base na mensagem,

a análise de conteúdo permite ao pesquisador fazer inferências sobre qualquer um dos

elementos da comunicação.

Segundo Franco (2005), toda comunicação é composta por cinco elementos básicos:

uma fonte ou emissão (fonte emissora); um processo codificador que resulta em uma

mensagem e se utiliza de um canal de transmissão; um receptor, ou detector da mensagem, e

seu respectivo processo decodificador como pode ser observado na Figura 3.15. Uma

importante finalidade da análise de conteúdo é produzir inferências sobre qualquer um dos

elementos básicos do processo de comunicação.

CAPÍTULO 3 - METODOLOGIA

96

Figura 3.15: Características definidoras da Análise de Conteúdo (fonte: FRANCO, 2005).

Produzir inferências é a razão da analise de conteúdo, ela que confere a esse

procedimento relevância teórica, uma vez que implica, pelo menos, uma comparação, já que a

informação puramente descritiva, sobre conteúdo, é de pequeno valor. Um dado sobre o

conteúdo de uma mensagem (escrita, falada e/ou figurativa) é sem sentido, até que seja

relacionado a outros dados (FRANCO, 2005).

Quanto ao conteúdo de uma comunicação, a fala humana é tão rica que permite

infinitas extrapolações e valiosas interpretações. Mas é dela que se deve partir (tal como

manifestada) e não falar “por meio dela”, para evitar a possível condição de efetuar uma

análise baseada, apenas em um exercício equivocado e que pode redundar na situação de uma

mera projeção subjetiva. Os resultados da análise de conteúdo devem refletir os objetivos da

pesquisa e ter como apoio indícios manifestos e capturáveis no âmbito das comunicações

emitidas (FRANCO, 2005).

Sendo assim, foi utilizado o método lógico-semântico, lógico, porque o alcance da

análise de conteúdo está, também, vinculado à função de um classificador. E sua classificação

é uma classificação lógica dos conteúdos manifestos, após a análise e interpretação dos

valores semânticos desses mesmos conteúdos. De uma forma ou de outra o analista se vale de

definições, e definições são problemas da lógica. Quanto à escolha da unidade de análise, foi

selecionada a análise temática (temas), o que nos levou ao uso de sentenças, frases ou

parágrafos como unidade de análise.

CAPÍTULO 3 - METODOLOGIA

97

Desta maneira, a análise de conteúdo não deve ser extremamente vinculada ao texto ou

a técnica, num formalismo excessivo, que prejudique a criatividade e a capacidade intuitiva

do pesquisador, por conseguinte, nem tão subjetiva, levando-se a impor as suas próprias idéias

ou valores, no qual o texto passe a funcionar meramente como confirmador dessas. Outro

ponto importante ainda dentro dos conteúdos, e que esses tendem a serem valorizados à

medida que são interpretados, levando-se em consideração o contexto social e histórico sob o

qual foram produzidos (FRANCO, 1986).

CAPÍTULO 3 - METODOLOGIA

98

CAPÍTULO 4

APRESENTAÇÃO, ANÁLISE DESCRITIVA E

DISCUSSÃO DOS RESULTADOS

“A terra em si é de muito bons ares frescos e

temperados como os de Entre-Douro-e-Minho,

porque neste tempo d'agora assim os

achávamos como os de lá. Águas são muitas;

infinitas. Em tal maneira é graciosa que,

querendo-a aproveitar, dar-se-á nela tudo; por

causa das águas que tem!”

Pero Vaz de Caminha

99

CAPÍTULO 4 - APRESENTAÇÃO, ANÁLISE DESCRITIVA E DISCUSSÃO DOS

RESULTADOS

4.1. Apresentação

De acordo ao modelo de investigação de Whyte (1978) que consta de variáveis de

estado, variáveis de saída e processos de percepção os resultados são apresentados segundo o

desmembramento dessas variáveis, tais como:

Características dos sujeitos: variável obtida por meio do questionário sócio-

profissiográfico, com questões de atributos de sexo, idade, naturalidade, estado civil,

escolaridade, faixa de renda, movimento social que faz parte, ocupação profissional,

posição que ocupa dentro do Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio Sergipe.

Características do grupo: variável obtida pelo acompanhamento das reuniões e

leitura de Atas (reuniões ordinárias e extraordinárias) durante a gestão 2008-2010.

Experiência com a Bacia Hidrográfica do Rio Sergipe: variável obtida por meio da

aplicação e análise do Jogo das Percepções. Esta variável refere-se ao modo de

interação dos membros do Comitê com a Bacia Hidrográfica do Rio Sergipe, em

termos de demonstrar a experiência dos entrevistados ao seu objeto de gestão (Bacia

Hidrográfica do Rio Sergipe).

Caracterização perceptiva do sistema de estudo: variável obtida, a partir do

tratamento, análise, descrição e interpretação da entrevista semi-estruturada. Tendo

como objetivo caracterizar a expressão do significado, identidade e escolha de usos

atribuídos a Bacia Hidrográfica do Rio Sergipe4.

4 A definição de percepção comporta manifestações de percepção sensorial, de valores e de cognição.

CAPÍTULO 4 - APRESENTAÇÃO, ANÁLISE DESCRITIVA E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS

100

4.2. ANÁLISE DESCRITIVA E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS

4.2.1. Características dos sujeitos e do grupo

As características pessoais dos sujeitos referentes a dados pessoais, atividade

profissional, faixa de renda, naturalidade, entidades associativas ou movimentos sociais que

participa, classificação quanto à titulação dentro do Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio

Sergipe, todas elas foram obtidas por meio do questionário de perfil sócio-profissiográfico

aplicado aos sujeitos selecionados.

As características do grupo foram coletadas, a partir, de leitura e análise de Atas em

reuniões ordinárias 32ª e 33ª (30 de setembro de 2008 a 22 de setembro de 2009) e reuniões

extraordinárias 8 ª, 9 ª e 10 ª (14 de outubro de 2008, 26 de maio de 2009 e 22 de abril de

2010). Além da observação não participante no período de 26 de maio do ano de 2009 até a

última reunião em 30 de novembro do ano de 2010, totalizando 20 meses de levantamento de

dados.

4.2.1.1. Características dos sujeitos do Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio Sergipe

4.2.1.1.1. Dados pessoais

As características pessoais de sexo, faixa etária, estado civil e escolaridade dos

membros do Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio Sergipe podem ser observadas no Quadro

4.1.

Sexo dos entrevistados, as categorias sexuais foram divididas em masculino e

feminino. Isso se verifica pela diferença de hierarquização da sociedade, conferindo ao

homem e a mulher papéis sexuais diferentes, refletindo na sua percepção e comportamento. A

partir, da análise do Quadro 4.1 foi observado que os segmentos de usuários e sociedade civil

constam de um sujeito do sexo feminino e dois do sexo masculino, os dois segmentos

restantes são todos sujeitos do sexo masculino, levando em consideração a amostra

selecionada.

A faixa etária dos entrevistados varia entre 20-30 até 70-80 anos, sendo que a maior

freqüência está relacionada à faixa etária de 51 a 60 anos, constando de 33,3% da amostra.

Como pode ser observado no Quadro 4.1, há uma relativa heterogeneidade na faixa etária dos

CAPÍTULO 4 - APRESENTAÇÃO, ANÁLISE DESCRITIVA E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS

101

sujeitos representantes dos usuários e sociedade civil; já nos grupos do Poder Público

Estadual, Federal e Municipal nota-se maior freqüência de pessoas com faixa etária entre 41 a

50 anos e de 61 a 70 anos.

Dos membros entrevistados o que consta sobre o estado civil desses sujeitos é que a

grande maioria é casada constando de 83,3% em situação marital estável, sendo apenas uma

pessoa do sexo feminino solteira e outra do sexo masculino separada.

Quanto à escolaridade, foi observado que apenas dois entrevistados não possuem

nível superior, sendo eles representantes do Poder Público Municipal e usuários. Alguns com

pós-graduação Lato Sensu e/ou Strictu Sensu.

Dados de Características Pessoais

Segmentos

CBHSE

Entrevistado Sexo Faixa

Etária

Estado

Civil

Escolaridade

Poder Público

Estadual e

Federal

1 M 51 a 60 Casado Graduação: Ciências Econômicas

2 M 61 a 70 Casado Graduação: Engenharia Agronômica

3

M

41 a 50

Casado

Graduação: Engenharia Agronômica

Pós-Graduação Strictu Sensu: Irrigação e

Recursos Hídricos

Poder Público

Municipal

4

M

51 a 60

Casado

Graduação: História

Pós-Graduação Lato Sensu: Ciências

Sociais

5 M 61 a 70 Casado 2º grau completo

6 M 51 a 60 Casado Graduação: Pedagogia

Pós-Graduação Lato Sensu: Educação

Usuários

Empresas e

Indústrias

7

M

51 a 60

Casado

Graduação: Engenharia de Minas

Pós-Graduação Lato Sensu: Gestão de

Recursos Hídricos

Pós-Graduação Strictu Sensu:

Desenvolvimento e Meio Ambiente

8 M 31 a 40 Casado Graduação: Engenharia Elétrica

9 F 20 a 30 Casado 2º grau completo

Sociedade

Civil

10 M 71 a 80 Casado Graduação: Engenharia Agronômica e

Direito

11 F 20 a 30 Solteiro Graduação: Assistência Social

12

M

51 a 60

Separado

Graduação: História

Pós-Graduação Lato Sensu: Gestão

Ambiental

Quadro 4.1: Dados de características pessoais dos sujeitos.

CAPÍTULO 4 - APRESENTAÇÃO, ANÁLISE DESCRITIVA E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS

102

4.2.1.1.2 Atividade profissional e faixa de renda

O Quadro 4.2 demonstra que a atividade profissional dos entrevistados é

diversificada, podendo ser observada a presença de funcionários públicos (7 entrevistados),

profissionais liberais (3 entrevistados), aposentados mas que exercem outra profissão (2

entrevistados), funcionários de empresa privada (2 entrevistados), agricultor (1 entrevistado),

lavrador (1 entrevistado) e estudantes (2 entrevistados). Observa-se que nesta contagem,

algumas pessoas se classificam com mais de uma atividade chegando até a três profissões.

Do grupo selecionado 58,33% do total dos entrevistados são funcionários públicos.

Analisando ainda o Quadro 4.2 em relação à faixa de renda há predominância do

grupo que recebe de 6 a 9 salários mínimos (4 entrevistados), seguido dos que recebem entre

9 a 12 salários mínimos (3 entrevistados), acima de 12 salários mínimos (3 entrevistados). Na

faixa de 1 a 3 salários mínimos (1 entrevistado), até um salário (1 entrevistado). Estas

observações ilustram que os representantes escolhidos possuem faixa de renda significativa

para seu sustento um total de 83,3% recebendo um valor que varia de 6 a 9 até maior que 12

salários mínimos.

Ocupação e/ou profissão e faixa de renda

Segmentos

CBHSE

Entrevistado

Ocupação e/ou profissão nos últimos 3 anos

Faixa de renda

Poder Público

Estadual e

Federal

1 Funcionário Público De 6 até 9 salários

2 Funcionário Público e aposentado De 9 até 12 salários

3 Funcionário Público, Profissional Liberal,

Estudante

De 9 até 12 salários

Poder Público

Municipal

4 Funcionário Público Maior que 12 salários

5 Agricultor De 6 até 9 salários

6 Funcionário Público Maior que 12 salários

Usuários –

Empresas e

Indústrias

7 Funcionário de Empresa Privada De 9 até 12 salários

8 Funcionário de Empresa Privada Maior que 12 salários

9 Lavrador e Profissional Liberal De 1 até 3 salários

Sociedade Civil

10 Funcionário Público, Advogado e aposentado De 6 até 9 salários

11 Estudante Até um salário

12 Funcionário Público De 6 até 9 salários

Quadro 4.2: Ocupação e/ou profissão e faixa de renda.

CAPÍTULO 4 - APRESENTAÇÃO, ANÁLISE DESCRITIVA E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS

103

4.2.1.1.3 Naturalidade

Ao analisar a naturalidade, uma característica pessoal do sujeito, a pretensão foi

observar se existe ou não identificação das pessoas que vieram de outro estado brasileiro e

qual o “olhar” perante um dos órgãos responsáveis pela gestão da Bacia Hidrográfica do Rio

Sergipe, ou seja, o pertencimento ao local. O objetivo deste critério de análise para tal

temática está sustentado no pré-suposto de que um indivíduo que se sente pertencente ao local

tenha vontade de “cuidar do que é seu” ou pertencente a ele como cidadão. Outro

determinante adotado neste levantamento, que está diretamente ligado ao item acima

discriminado, refere-se ao “olhar” do indivíduo natural da região (inside), diferente dos de

outros lugares (outside), por fazer parte desse cotidiano.

Machado (1996) discute que são extremamente complexos os sentimentos e idéias

relacionadas com o espaço e o lugar do ser humano, originando-se tanto das experiências

singulares como das comuns e pelo contínuo acréscimo de sentimento ao longo dos anos, o

lugar pode adquirir profundo significado para o indivíduo. A atividade perceptiva enriquece

continuamente a experiência individual e por meio dela nos apegamos, cada vez mais, ao

lugar, desenvolvendo sentimentos topofílicos.

Tais dados nos direcionam ao entendimento, pelos menos teoricamente, a um maior

pertencimento do grupo amostral por caracterizarem como perfil inside relacionado ao foco

da pesquisa. Como pode ser observado no Quadro 4.3, onde apenas 33,3% do grupo

entrevistado não é natural do Estado de Sergipe.

Naturalidade

Segmentos

CBHSE

Entrevistado Estado de Sergipe Outro Estado

Poder Público Estadual

e Federal

1 Aracaju

2 Alagoas

3 Cedro de São João

Poder Público

Municipal

4 Aquidabã

5 Barra dos Coqueiros

6 Nossa Senhora do Socorro

Usuários – Empresas e

Indústrias

7 Rio Grande do Norte

8 São Paulo

9 Riachuelo

Sociedade Civil

10 Itabaiana

11 Malhador

12 Bahia

Quadro 4.3: Naturalidade

CAPÍTULO 4 - APRESENTAÇÃO, ANÁLISE DESCRITIVA E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS

104

4.2.1.1.4 Entidades, associações ou movimentos sociais que participam

Quanto à variável de participação do indivíduo em entidades, associações ou

movimentos sociais, pode-se observar qual o engajamento deste com a comunidade que

pertence e o apoio a grupos organizados para um bem comum. A partir, da análise das

informações constatou-se que 67% do grupo faz parte de algum sindicato; 25% de associação

profissional; 25% de associação ambientalista; 8,3% associação de bairro; 8,3% pastoral da

Igreja; 8,3% de movimento pela igualdade racial. Alguns entrevistados pertencem a mais de

uma categoria de participação (os valores de percentagem são estipulados de acordo ao

número de entrevistados, não sendo em relação a quantidade de itens demonstrados no

Quadro 4.4).

Esta análise não representa necessariamente que os indivíduos sejam engajados nos

movimentos sociais destas associações, mas pode sinalizar certo interesse do indivíduo por

ações de solidariedade, em prol da comunidade.

Entidades, associações ou movimentos sociais que participa

Segmentos

CBHSE

Entrevistado Entidades, associações ou movimentos sociais

Poder Público Estadual e

Federal

1 Sindicato

2 Sindicato

3 Sindicato, Associação de Bairro e Associação Profissional

Poder Público Municipal

4 Associação Ambientalista

5 Sindicato

6 Sindicato e Movimento pela Igualdade Racial

Usuários – Empresas e

Indústrias

7 Sindicato

8 Associação Profissional

9 Sindicato e Pastoral da Igreja

Sociedade Civil

10 Associação Profissional

11 Associação Ambientalista

12 Sindicato e Associação Ambientalista

Quadro 4.4: Entidades, associações ou movimentos sociais que participa.

CAPÍTULO 4 - APRESENTAÇÃO, ANÁLISE DESCRITIVA E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS

105

4.2.1.1.5. Classificação quanto à titulação dentro do Comitê da Bacia Hidrográfica do

Rio Sergipe

A análise do Quadro 4.5 foi utilizada para computar o número de pessoas entrevistadas

classificadas dentro do Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio Sergipe entre membros

suplentes e titulares. Observa-se que das pessoas entrevistadas, 25% são membros suplentes.

Em alguns segmentos, o membro suplente e o titular não representam a mesma instituição,

ficando muitas vezes dificultado o contato e, portanto, refletindo assim nos posicionamentos e

responsabilidade perante o Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio Sergipe.

Titulação no Comitê de Bacia Hidrográfica do Rio Sergipe

Segmentos CBHSE

Entrevistado Suplente Titular

Poder Público Estadual e Federal

1 X

2 X

3 X

Poder Público Municipal

4 X

5 X

6 X

Usuários – Empresas e Indústrias

7 X

8 X

9 X

Sociedade Civil

10 X

11 X

12 X

Quadro 4.5: Titulação no Comitê de Bacia Hidrográfica do Rio Sergipe

Como observado nas análises para a variável, características do sujeito, com o grupo

selecionado constatou-se que: 83% da amostra são do sexo masculino, 75% têm idade

superior a 40 anos de idade, 83% são casados, 83% possuem nível superior completo, 58,3%

são funcionários públicos, 83% com faixa de renda superior a cinco salários mínimos, 66,6%

são naturais do Estado de Sergipe e 66,6% fazem parte do sindicato correspondente a sua

formação.

Os segmentos que apresentaram maior homogeneidade nas informações e se

assemelham com o perfil descrito acima foram: Poder Público Estadual e Federal (com

exceção de um membro não pertencer ao Estado de Sergipe) e Poder Público Municipal (com

exceção de um membro não possuir nível superior). Os segmentos usuários e sociedade civil

são bastante heterogêneos em quase todas as características.

CAPÍTULO 4 - APRESENTAÇÃO, ANÁLISE DESCRITIVA E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS

106

Para um estudo de interação entre ser humano e ambiente é possível definir diferentes

tipos de relacionamento, segundo o perfil dos membros do Comitê da Bacia Hidrográfica do

Rio Sergipe, os quais nem sempre possuem os mesmos interesses, valores ou necessidades,

uma vez que cada um deles busca objetivos específicos em relação ao ambiente, seja de

estudo, moradia, trabalho ou decisões a serem tomadas.

O indivíduo acumula conhecimentos e desenvolve práticas que o tornam apto a indicar

soluções em relação a determinadas situações. Mas ele também a enfoca de acordo a sua

história de vida e objetivos. Contudo, a diversidade e riqueza de conhecimento constatadas

junto aos membros do Comitê de Bacia durante a pesquisa tratam o ambiente sob diferentes

enfoques, conforme seus objetivos e de acordo com sua formação.

Durante a entrevista semi-estruturada a quinta questão, que tinha como objetivo

avaliar a relação de comprometimento do entrevistado com o Comitê da Bacia Hidrográfica

do Rio Sergipe e complementar sobre a variável, características dos sujeitos foi a seguinte:

O que o levou a participar do Comitê de Bacia Hidrográfica do Rio Sergipe?

De acordo a tabulação e categorização dos dados foram observadas cinco categorias,

onde alguns sujeitos foram classificados em mais de uma categoria, totalizando dezenove

vocalizações, tais como: convocado como representante com 31,57% (6 vocalizações);

interesse em participar da área de meio ambiente com 21,31% (5 vocalizações); aprendizado

em meio ambiente com 21,05% (4 vocalizações); possui estudos e prática na área de meio

ambiente com 15,78% (3 vocalizações); representar seu município com 5,2% (1

vocalizações).

Diante das categorias analisadas, pode-se observar que 31,57% foram convocados

como representante essa categoria sinaliza uma convocação sem a manifestação natural

do sujeito, onde ele é levado a representar a instituição a qual presta serviços, alguns desses

sujeitos se sentem honrados em fazer parte do Comitê, enquanto alguns não demonstram

interesse, como pode ser demonstrado em algumas falas:

“Institucionalmente eu devo participar, a instituição deve ter presença, e não só pela

obrigação em participar, não é tanto uma obrigação né. Nós somos chamados a participar

né, porque nós fazemos parte, por exemplo, do Comitê de Bacias, porque nós pertencemos

também ao SISNAMA, Sistema Nacional de Meio Ambiente né, que são onde os órgãos de

municípios, estado e união se cooperam né, essa ação cooperativa que nasce no SISNAMA

deve ser retratada também nos Estados e a ação com Bacias Hidrográficas é um exemplo

dessas ações cooperadoras”. (Poder Público Federal)

CAPÍTULO 4 - APRESENTAÇÃO, ANÁLISE DESCRITIVA E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS

107

“Sendo sincero é o seguinte, quem participava era a unidade de Aracaju, eu nem

sabia que existia Comitê de Bacia quando eu cheguei aqui em 2007, eu descobri por que, com

o fechamento da unidade de Aracaju em 2008 quem representava as duas unidades era

Aracaju. Com o fechamento de Aracaju em 2008 foi enviado uma carta ofício dizendo que eu

agora deveria representar a empresa por causa do fechamento da unidade lá. Que aqui eu

não participava antes, quem representava as duas empresas era a unidade de lá”. (usuário)

A categoria interesse em participar da área de meio ambiente, com 21,31% das

vocalizações representa a vontade dos sujeitos em conhecerem e participarem das ações em

prol do meio ambiente, segundo as falas abaixo:

“Hoje eu sou uma defensora no meu município, trabalho com Educação Ambiental

nas reuniões com os associados. Então é muito gratificante, a participação da associação

representante, eu estou representando a associação no Comitê. Pra mim é muito

gratificante”. (sociedade civil)

“Comecei a militar nessa área, hoje eu faço parte do Comitê da Bacia Hidrográfica

do Rio Sergipe, do Japaratuba e do Conselho Nacional de Recursos Hídricos, na Câmara

Técnica de Bacias Hidrográficas”. (usuário)

A categoria, aprendizado em meio ambiente, com 21,05% das vocalizações é

argumentada como a necessidade de aprender sobre as questões ambientais e também

contribuir. Algumas falas ilustram o significado da categoria:

“Se for um assunto que eu conheço um pouquinho eu discuto, mas se não for, vou só

ouvir pra ver se eu aprendo alguma coisa, eu pergunto alguém, dou uma ligadinha, vou

perguntando, peço o material e vejo o que eu posso aprender então quem me levou a me

interessar pela área de meio ambiente foi essas coisas. Mas o ponto forte pra mim tem sido a

prática o processo prático”. (Poder Público Municipal)

“O que me levou a participar do Comitê por um só objetivo que é tentar adquirir mais

conhecimento e contribuir também com o pouco que eu sei”. (usuário)

A categoria possui estudos e prática na área de meio ambiente, com 15,78%

vocalizações demonstram pessoas que estão engajadas nas atividades ambientais e que já

possuem prática e estudos em relação a essa área, como ilustra as transcrições abaixo:

“A linha pública dentro do Comitê de Bacia Hidrográfica ela se dá desde o início da

discussão da política nacional de recursos hídricos, eu participei efetivamente da discussão

dessa política, é... conheci algumas inclusive algumas experiências internacionais de atuação

de Comitê, a exemplo dos Comitês que são formados lá na França e na Espanha,

CAPÍTULO 4 - APRESENTAÇÃO, ANÁLISE DESCRITIVA E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS

108

principalmente nestes dois países. Os Comitês franceses foram instalados desde o ano de

1920, né, e eu tive a felicidade de numa viagem que eu fiz à França visitar os Comitês desses

que lá atuam desde essa época inclusive, algumas Agências de Bacias. É... e tenho

participado também de algumas discussões a nível do cenário nacional né, existem eventos

muito relevantes, muito importantes que são os fóruns, os fóruns nacionais que são realizados

onde se concentra praticamente todos os Comitês que são criados no Brasil, todos aqueles de

nível federal, nos estados e aí é uma troca de experiência. Então eu tenho participado

efetivamente desses fóruns, inclusive já aqui em Aracaju já sediamos um fórum desses, onde

são discutidos isso”. (Poder Público Estadual)

“Eu fazia um trabalho de formação do Comitê da Bacia do Rio São Francisco. E foi

nessa época que eu me empolgue com a gestão, porque eu estava dizendo que era importante,

eu estava dizendo para as comunidades, então eu acabei me convencendo do meu próprio

discurso. E aí veio o convite da SRH para a Sociedade Semear para plenária de eleição do

membro da sociedade civil e eu vim pra plenária, cheguei na plenária aí eu fui eleito a

Sociedade Semear com a minha pessoa aí eu fui eleito pra fazer parte do Comitê”. (sociedade

civil)

A última categoria com 5,2%, representar seu município, foi vocalizada no sentido

do indivíduo em representar e defender os interesses do seu município, como é ilustrado na

transcrição abaixo:

“Sou membro titular do Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio Sergipe, como Nossa

Senhora do Socorro está, pertence a Bacia Hidrográfica do Rio Sergipe eu achei por bem que

Socorro, por ser territorialmente 5km2

maior que Aracaju, a segunda população do Estado de

Sergipe, o eldorado de Sergipe. Porque se você olhar o mapa de Socorro parece a sombra de

uma grande ave que vai pousando, e ave é por isso que eu acredito em um Deus, escolhe para

pousar, fazer ninho se alimentar onde tem alimento, então Socorro é o eldorado, então na

realidade por causa disso eu gostaria que Socorro participasse, desenvolvesse, tivesse um

envolvimento mais concreto, mais direto porque eu sou filho de Socorro, e eu estando lá é

Socorro que está”. (Poder Público Municipal)

Como constatado nas categorias analisadas são muitas as razões dos sujeitos em

fazerem parte do Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio Sergipe, variando desde o total

comprometimento e interesse em gerir e participar deste conselho gestor até o

descomprometimento perante assuntos discutidos e a gestão como um todo.

CAPÍTULO 4 - APRESENTAÇÃO, ANÁLISE DESCRITIVA E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS

109

4.2.2.1 Características do grupo

O Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio Sergipe é um conselho gestor, que se define

como espaço de negociação e co-gestão acessível à sociedade civil. Ele tem suas atividades

descritas por meio de um Regimento Interno, que determina a existência de uma estrutura

básica composta de Plenário, Presidência, Secretário e Secretaria Executiva.

Para conhecer as características deste grupo foi realizado um acompanhamento e

leitura das Atas das Reuniões Ordinárias 32ª e 33ª (30 de setembro de 2008 e 22 de setembro

de 2009) e Reuniões Extraordinárias 8ª, 9ª e 10ª (14 de outubro de 2008, 26 de maio de 2009 e

22 de abril de 2010) durante a gestão 2008-2010 como pode ser observado no Anexo A.

4.2.2.1.1 Processo participativo no Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio Sergipe

A partir de índices de presença e contribuições na plenária foi possível identificar

membros omissos e atuantes, observando assim a participação dos segmentos que compõem o

Comitê (Gráficos 4.1, 4.2, 4.3, 4.4 e 4.5 e Tabela 4.1). Esta fase do trabalho consiste na

análise das presenças e intervenções de cada integrante por reunião. Foram consideradas cinco

reuniões da gestão 2008/2010, relacionados ao índice de presença e número de reuniões em

que cada integrante fez alguma intervenção durante a reunião. Os membros suplentes e

titulares fizeram parte do estudo, os sujeitos com índice de presença zero foram retirados da

pesquisa.

Esse procedimento buscou identificar as instituições que se fazem presente nas

reuniões de forma participativa. A partir, desta metodologia foi possível também observar as

características do Comitê e dos segmentos que o compõe. Para melhor entendimento o

conteúdo das reuniões foi descrito resumidamente junto com as pautas e os membros que

contribuíram com suas colocações.

A 32ª reunião ordinária em 30 de setembro de 2008 referiu-se a eleição e posse dos

membros do Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio Sergipe, para a gestão 2008/2010, sendo

que estavam presentes membros da gestão 2006/2008 e 2008/2010. Os assuntos discutidos

durante a reunião seguiram a seqüência: a) apresentação dos trabalhos da Comissão Eleitoral;

b) leitura da listagem dos eleitos; c) eleição da Diretoria; d) informes e o que ocorrer. Durante

a plenária foi observada a manifestação e participação de quatro membros da gestão

2008/2010, tais como representante da Sociedade Semear (organização ambientalista),

CAPÍTULO 4 - APRESENTAÇÃO, ANÁLISE DESCRITIVA E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS

110

SEMARH/SRH (política estadual relativa à gestão dos recursos hídricos), Prefeitura

Municipal de Laranjeiras e Prefeitura de Nossa Senhora do Socorro (Poder Público Municipal

Executivo).

Já na 8ª reunião extraordinária do Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio Sergipe, em

14 de outubro de 2008, foi exposto como pontos de pauta: a) abertura e verificação de

quórum; b) discussões e deliberações da Ata anterior; c) eleição dos representantes do Comitê

de Bacia Hidrográfica do Rio Sergipe para integrar o Conselho Estadual de Recursos

Hídricos; d) eleição dos representantes do Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio Sergipe para

integrar o Fórum Estadual de Comitês de Bacias Hidrográficas de Sergipe; e) eleição dos

representantes a participar do X Encontro Nacional de Comitês de Bacias Hidrográficas e

Fórum Nacional de Comitês de Bacias Hidrográficas.

Nesta reunião as instituições que se fizeram presentes com contribuições e falas foram

a Sociedade Semear (organização ambientalista), a OSCATMA Barra dos Coqueiros

(organização ambientalista), a COHIDRO (desenvolvimento de recursos hídricos e irrigação),

ASMANE Nossa Senhora do Socorro (carcinicultura), SEAGRISE (desenvolvimento rural),

IFET e UFS/Itabaiana (instituições de ensino e pesquisa).

A 9ª reunião extraordinária do Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio Sergipe, em 26 de

maio de 2009, foi encaminhada com os pontos de pauta: a) leitura e aprovação das Atas das

reuniões anteriores; b) leitura e discussão dos Relatórios Técnicos da FAFEN e da ADEMA

sobre o grave acidente ambiental ocorrido no Rio Sergipe em 05/10/2008; c) recomposição

das Câmaras Técnicas: Educação Ambiental, águas subterrâneas e resíduos sólidos; d)

discussão e criação da Câmara Técnica de áreas protegidas. Esta 9ª reunião extraordinária

contou com a participação e intervenção das seguintes instituições: Sociedade Semear e

OSCATMA Barra dos Coqueiros (organização ambientalista), FAFEN e PETROBRAS

(indústria), ASMANE Nossa Senhora do Socorro (carcinicultura), Prefeituras Municipal de

Laranjeiras e Nossa Senhora do Socorro (Poder Público Municipal Executivo), UFS/Itabaiana

e IFET (instituições de ensino e pesquisa), SEMARH/SRH (política estadual relativa à gestão

dos recursos hídricos), ADEMA (políticas estaduais relativas ao meio ambiente) e SEAGRI

(desenvolvimento rural).

A 33ª reunião ordinária, em 22 de setembro de 2009, referia-se a seguinte pauta: a)

leitura e aprovação da Ata da ultima reunião; b) informes; c) apresentação das atividades do

grupo de trabalho sobre poluição hídrica – FAFEN e outros; d) apresentação da proposta de

Arranjo Institucional e Técnica para elaboração dos Planos Estadual e das Bacias

CAPÍTULO 4 - APRESENTAÇÃO, ANÁLISE DESCRITIVA E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS

111

Hidrográficas do Estado de Sergipe; e) criação de uma comissão técnica para acompanhar o

projeto de elaboração do Plano da Bacia Hidrográfica do Rio Sergipe; f) o que ocorrer.

Durante essa reunião os membros do Comitê que participaram com comentários foram:

representantes da Sociedade Semear e OSCATMA Barra dos Coqueiros (organização

ambientalista), FAFEN/SE (indústria), SEMARH/SRH (política estadual relativa à gestão dos

recursos hídricos) e Prefeitura Municipal de Nossa Senhora do Socorro (Poder Público

Municipal Executivo).

A 10 ª reunião extraordinária do Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio Sergipe, aos 22

dias do mês de abril do ano de 2010, contou com os seguintes pontos de pauta: a) leitura,

discussão e aprovação da Ata da última reunião; b) informes; discussão e votação das

alterações propostas ao Regimento Interno; c) discussão para renovação dos membros do

Comitê de Bacia Hidrográfica do Rio Sergipe, gestão 2010/12. Essa reunião contou com as

falas dos representantes das seguintes instituições: Sociedade Semear e OSCATMA Barra dos

Coqueiros (organização ambientalista), ASMANE Nossa Senhora do Socorro (carcinicultura),

PETROBRAS (indústria), COHIDRO (desenvolvimento de recursos hídricos e irrigação),

SEAGRI (desenvolvimento rural), SEMARH/SRH (política estadual relativa à gestão dos

recursos hídricos) e IBAMA (políticas federais relativas ao meio ambiente).

A partir, de resumos das cinco Atas do Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio Sergipe,

(Figura 4.1 e da Tabela 4.1), pode ser entendido que o segmento sociedade civil possui uma

relevante contribuição durante as plenárias do Comitê, sendo que, as organizações

ambientalistas representadas pela Sociedade Semear e OSCATMA Barra dos Coqueiros se

fizeram presentes em todas as reuniões; já as instituições de ensino e pesquisa representadas

pelo IFET e UFS/Itabaiana se manifestaram em duas reuniões de acordo a suas freqüências. O

segmento sociedade civil, dentro de suas oito cadeiras ocupadas, 50% de seus representantes

manifestaram durante as reuniões.

CAPÍTULO 4 - APRESENTAÇÃO, ANÁLISE DESCRITIVA E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS

112

Figura 4.1: Sociedade Civil, participação durante as plenárias do Comitê de Bacia Hidrográfica do Rio Sergipe -

gestão 2008-2010.

O segmento Poder Público Estadual e Federal (Figura 4.2) possui 42% de participação

levando em consideração o número de representantes que se manifestaram em relação ao total

de doze cadeiras ocupadas. O Poder Público Estadual conta com representantes atuantes tais

como SEMARH/SRH (80% de participação), SEAGRI (60% de participação), COHIDRO

(40% de participação). Já o Poder Público Federal representado pelo IBAMA conta com

apenas 20% de participação.

Os segmentos Poder Público Municipal (Figura 4.3) e usuários (Figura 4.4)

caracterizou-se por reduzida participação durante as reuniões ordinárias e extraordinárias,

mesmo possuindo o maior número de cadeiras dentro do Comitê de Bacia.

O segmento Poder Público Municipal é representado com 20% de participação,

ocupando dez cadeiras dentro do Comitê, representantes do Poder Executivo, Prefeitura de

Nossa Senhora do Socorro (60% de participação) e Prefeitura Municipal de Laranjeiras (40%

de participação). Já o segmento usuários com 18 cadeiras ocupadas, apenas 17% de seus

membros participam das reuniões, os quais são ASMANE/Nossa Senhora do Socorro (60% de

participação), FAFEN (40% de participação) e PETROBRAS (40% de participação).

CAPÍTULO 4 - APRESENTAÇÃO, ANÁLISE DESCRITIVA E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS

113

Figura 4.2: Poder Público Estadual e Federal, participação durante as plenárias do Comitê de Bacia Hidrográfica

do Rio Sergipe - gestão 2008-2010.

Figura 4.3: Poder Público Municipal, participação durante as plenárias do Comitê de Bacia Hidrográfica do Rio

Sergipe - gestão 2008-2010.

CAPÍTULO 4 - APRESENTAÇÃO, ANÁLISE DESCRITIVA E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS

114

Figura 4.4: Usuários – Empresas e Indústrias, participação durante as plenárias do Comitê de Bacia Hidrográfica

do Rio Sergipe - gestão 2008-2010.

A partir do que foi exposto, observa-se que normalmente as manifestações durante as

plenárias são sempre das mesmas instituições. A Tabela 4.1 demonstra que algumas

instituições possuem uma freqüência excelente, mas não se manifestam ou contribuem para

representar sua instituição dentro do segmento. Com essas inferências constata-se que os

representantes que mais se manifestam são aqueles com maior grau de instrução (nível

superior completo), exceto a instituição ASMANE Nossa Senhora do Socorro (segundo grau

completo).

Dentre as instituições que mais se manifestaram foi observado, a partir, da leitura e

análise de Atas de gestões anteriores que a SEMARH, Prefeitura Municipal de Nossa Senhora

do Socorro, Petrobrás e Sociedade Semear fizeram parte de gestões anteriores com o mesmo

representante da gestão 2008-2010, demonstrando uma maior familiaridade com os assuntos

relacionados ao Comitê e experiência ao exposto em pauta. Esses são alguns dos indícios que

influenciaram na participação dos membros durante as plenárias.

Martins (2008) em seu trabalho intitulado de: “Sociologia da governança francesa das

águas” argumenta que o discurso em relação à pluralidade de olhares sobre a gestão de águas

que o sistema francês pressupõe de participação efetiva dos grupos sociais nas referidas

instâncias de governança, possui limites pré-estabelecidos, estes se referem ao próprio quadro

do sistema gestor, desenhado em grande medida pelos profissionais de formação politécnica.

CAPÍTULO 4 - APRESENTAÇÃO, ANÁLISE DESCRITIVA E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS

115

Desde a definição dos objetivos do novo aparato gestor, até a regulamentação dos

instrumentos da política de águas, conjuntos distintos de hierarquias sustentaram a nominação

da atual problemática da água na sociedade francesa. Neste conjunto de hierarquias, uma das

mais relevantes diz respeito à dominação territorial dos saberes politécnicos. Deste modo,

observa-se que a problemática de “dominação territorial dos saberes” existe desde a origem

com o modelo francês de gestão das águas e novamente como pode ser observado em nosso

trabalho, tal “dominação territorial dos saberes” por um grupo organizado.

Jacobi (2010) reforça essa idéia dizendo que:

[...] apesar dos avanços, a Lei Nacional Nº 9.433/97 coloca em primeiro

plano a importância do corpo técnico-científico e do conhecimento produzido

por ele nas relações de força no interior dos espaços decisórios da Bacia, o

que limita o envolvimento da comunidade nas atividades dos Comitês.

Assim, de fato, mantém o poder decisório entre os que detêm o conhecimento

técnico-científico (JACOBI, 2010, p. 76).

Outro indício que prejudica a gestão participativa é o grau de comprometimento e

interesse dentro das plenárias de acordo as manifestações observadas em Atas (Anexo A),

demonstrando qual o real interesse das instituições em participar das plenárias com sua

intervenção tais como comprometimento e conhecimento técnico, defesa de interesses

próprios da instituição representada, busca de informações e conhecimentos,

comprometimento, apresentar a instituição que representa divulgando seus trabalhos e

finalmente, aquelas que se manifestam apenas porque foram convocadas. Dentro dessa gama

de opções, constata-se que a instituição se adéqüe apenas a uma dessas alternativas, podendo

também se apropriar de outras.

Ainda analisando a Tabela 4.1, tendo também como suporte as observações presenciais

durante as reuniões do Comitê, é discutido agora sobre as freqüências dos membros durante as

reuniões, diagnosticando as causas que venham a adiar reuniões por falta de quóruns e o

andamento dos trabalhos dentro do Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio Sergipe.

CAPÍTULO 4 - APRESENTAÇÃO, ANÁLISE DESCRITIVA E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS

116

Tabela 4.1: Presenças e Intervenções*

Presenças e intervenções nas reuniões do Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio Sergipe

Segmento

CBHSE

Instituição

Total de

presença

Total de

intervenção

Presença

(%)

Intervenção

(%)

Poder Público

Estadual e

Federal

SEMARH/SRH 4 4 80 100

SEMARH/ADEMA 3 1 60 33

SEPLAN/SE 3 0 60 0

SEPLAN/SE 2 0 40 0

SEINFRA/DESO 1 0 20 0

SEAGRI/SE 3 3 60 100

SEAGRI/COHIDRO 3 2 60 66

IND/CODISE 2 0 40 0

IBAMA/SE 1 1 20 100

IBAMA/SE 2 0 40 0

Poder Público

Municipal

Pref. de Aracaju/SEPLAN 3 0 60 0

Pref. de Aracaju/SEPLAN 1 0 20 0

Pref. de Laranjeiras 3 2 60 67

Pref. G. Cardoso 1 0 20 0

Pref. de Nra. Socorro 3 3 60 100

Pref. de Itaporanga da Ajuda 0 0 0 0

C. V. de Aracaju 2 0 40 0

C. V. Barra dos Coqueiros 3 0 60 0

C V de Areia Branca 0 0 0 0

Continua

CAPÍTULO 4 - APRESENTAÇÃO, ANÁLISE DESCRITIVA E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS

117

Presenças e intervenções nas reuniões do Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio Sergipe

Segmento

CBHSE

Instituição

Total de

presença

Total de

intervenção

Presença

(%)

Intervenção

(%)

Usuários

Empresas e

Indústrias

PETROBRAS/UM/SEAL 4 3 80 75

PETROBRAS/UM/SEAL/ATPS

T/SMS

1 0 20 0

Tavez Corporation 2 0 40 0

Tavez Corporation 1 0 20 0

Votorantin Cimento 2 0 40 0

Votorantin Cimento 3 0 60 0

FAFEN/SE 2 1 40 50

FAFEN/SE 2 2 40 100

Porto/Vale 0 0 0 0

ASMANE/N. S. Socorro 4 3 80 75

ASAS 0 0 0 0

SAAE/São Cristóvão 1 0 20 0

SAAE/São Cristóvão 3 0 60 0

APPPI/Jacarecica-Itabaiana 0 0 0 0

ACPR-Santo Isidoro 1 0 20 0

ACPR-Santo Isidoro 2 0 40 0

Sociedade

Civil

UFS/Itabaiana 4 2 80 50

IFET/SE 5 2 100 40

SEMEAR/PRONESE 5 5 100 100

ABES 1 0 20 0

OSCATMA/BC 5 5 100 100

AJAMAM/Malhador 4 0 80 0

CREA 4 0 80 0

*As presenças foram somadas entre 2 reuniões ordinárias e 3 extraordinárias, em um total de 5.

O percentual de presença foi calculado dividindo-se o número de presenças pelo número de reuniões analisadas.

O percentual de intervenções foi calculado dividindo-se o número de intervenções feitas nas 5 reuniões pelo

número de presença.

Após o estudo de freqüência durante as reuniões, foi possível observar que o segmento

Poder Público Estadual e Federal possui um índice de 40% de freqüência (Figura 4.5). Tal

valor estipulado foi obtido calculando-se o total de cadeiras destinadas a este segmento,

multiplicadas pelo número de reuniões desenvolvidas durante a gestão 2008-2010. Já para o

segmento Poder Público Municipal – Executivo e Legislativo o índice de freqüência é de

32%, como demonstrado na Figura 4.6.

CAPÍTULO 4 - APRESENTAÇÃO, ANÁLISE DESCRITIVA E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS

118

Figura 4.5: Poder Público Estadual e Federal, freqüência durante a gestão 2008-2010.

Para o segmento de usuários observam-se um índice de freqüência de 31% do total de

participantes (Figura 4.7). O segmento sociedade civil consta de 70% de freqüência durante

as reuniões (Figura 4.8). Esses cálculos demonstram que o segmento sociedade civil, mesmo

constando de um número reduzido de cadeiras disponíveis para o segmento em comparação

com os outros segmentos possui o mais alto índice de freqüência.

CAPÍTULO 4 - APRESENTAÇÃO, ANÁLISE DESCRITIVA E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS

119

Figura 4.6: Poder Público Municipal – Executivo e Legislativo freqüência durante a gestão 2008-2010.

Figura 4.7: Usuários – Empresas e Indústrias, freqüência durante a gestão 2008-2010.

CAPÍTULO 4 - APRESENTAÇÃO, ANÁLISE DESCRITIVA E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS

120

Figura 4.8: Sociedade Civil, freqüência durante a gestão 2008-2010.

O desequilíbrio de forças entre os representantes ou setores representados, indivíduos

mal preparados e informados, desinteressados ou com baixa competência interpessoal, além

de processos de interação ineficientes, dificultam os trabalhos dentro do Comitê de Bacia. O

sucesso deste depende de fatores conjunturais como disponibilidade de dados ambientais,

necessidade de investimentos financeiros, fiscalização ambiental eficiente, definição clara de

papéis institucionais e instrumentos legais, mediação de interesses setoriais, locais ou pessoais

e também pressões extra-grupo, às quais podem condicionar o "padrão mental e

comportamental" interno.

Mesmo considerando que o país deu "saltos" significativos nas últimas décadas quanto

à valorização ambiental pelas políticas públicas, conscientização ambiental dos cidadãos e

modernização do sistema de gestão (Lei 9.433/97), é necessário viabilizar o Comitê,

fornecendo condições que o contexto sócio-econômico-ambiental realmente desfavorece.

CAPÍTULO 4 - APRESENTAÇÃO, ANÁLISE DESCRITIVA E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS

121

4.2.3.1 Experiência com a Bacia Hidrográfica do Rio Sergipe

A variável experiência foi obtida a partir do Jogo das Percepções, observando e

analisando reação e argumento usado pelos participantes. Esta variável refere-se ao modo de

interação dos membros do Comitê com a Bacia Hidrográfica do Rio Sergipe, buscando

monitorar o grau de experiência dos entrevistados ao seu objeto de gestão (Bacia Hidrográfica

do Rio Sergipe), tendo como foco os seguintes itens do Jogo, a saber: se consegue identificar

os impactos ou não impactos das imagens fotográficas e o que é observado ao serem

visualizadas.

Tuan (1980) relata que a experiência é o termo que abrange as diferentes maneiras

pelas quais uma pessoa conhece e constrói a realidade. Machado (1996, p. 116) relata que

“uma das formas de conhecer a experiência é proporcionar condições para que ela seja

verbalmente expressa, em forma de breves relatos”. O autor diz ainda que deve-se buscar nas

descrições da experiência o aspecto comum que sejam predominantes em todas as descrições

do grupo estudado. De acordo com os conceitos propostos por Tuan (1980) e Machado (1996)

quanto a experiência, trabalhou-se com o Jogo das Percepções nesta etapa.

O conjunto de imagens do Jogo das Percepções possui mensagem com múltiplos

significados perceptivos (Quadro 3.4). É acreditado no papel pedagógico desta fase da

pesquisa, estimulando os participantes, através das imagens fotográficas, gerando certa

situação auto-reflexiva e possibilitando rever concepções/atitudes frente ao Comitê de Bacia.

De um lado, as imagens fotografias dos fragmentos da paisagem da Bacia

Hidrográfica do Rio Sergipe evidenciam e registram o espaço temporal da intervenção

humana, caracterizando o lugar e os hábitos e auxiliando também a diagnosticar a área

estudada a partir de imagens. Por outro lado, o Jogo das Percepções constitui em uma obra

viva experienciada pelos participantes da pesquisa.

Segundo Tuan (1980) o mundo percebido através dos olhos é mais abstrato do que o

conhecido por nós através dos outros sentidos. Dos cinco sentidos tradicionais, o ser humano

depende mais conscientemente da visão do que dos demais sentidos para progredir no mundo.

Ele é predominante um animal visual, os olhos exploram o campo visual e deles abstraem

alguns objetos, pontos de interesse, perspectivas. Sob esse aspecto foi observado que as

imagens fotográficas são recebidas e interpretadas de várias formas por cada entrevistado.

CAPÍTULO 4 - APRESENTAÇÃO, ANÁLISE DESCRITIVA E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS

122

O primeiro contato com as imagens foram observadas reações diversas entre: ignorar

totalmente as imagens; observá-las, mas sem fazer comentários; observá-las em detalhes

minuciosos e conseguir reconhecer os locais pela vegetação, a qualidade da água; assustarem

com imagens de impacto ou mesmo surpreenderem com belezas paisagísticas; a maioria dos

entrevistados tentou reconhecer os locais fotografados na Bacia Hidrográfica do Rio Sergipe.

Segue abaixo algumas transcrições desta fase de apresentação das fotos e a reação junto aos

participantes da pesquisa:

“Ó Deus isso aqui me corta o coração, ver um negócio desse!” (usuário)

“Essa aqui, essa mata bonita aqui onde é?” (sociedade civil)

“Isso aqui é a Barragem Jacarecica II, é o vertedouro da Barragem Jacarecica II, não

é isso? Isso aqui é a ponte de acesso a Coroa do Meio sobre o Rio Poxim. Isso aqui é a ponte

de acesso lá para Barra dos Coqueiros sobre o Rio Sergipe lá na prainha. Isso aqui é o Açude

da Marcela em Itabaiana. Aqui vou acertar algumas, essa foto aqui me é familiar vou ver ela

depois”. (Poder Público Estadual)

“Um afluente do Jacarecica, Rio Jacarecica, essa figura aqui é Jacarecica II, né? E

praticamente em uma passagem molhada”. (Poder Público Estadual)

A partir das entrevistas e conversas informais, foi possível obter algumas informações,

ouvir histórias dos locais e de vida dos entrevistados, podendo assim entender com eles

algumas situações encontradas nas imagens fotografadas, tais como: projetos que seriam e

estavam sendo realizados naquela área; explicações sobre processos de assoreamento; função

das plantas aquáticas como bioindicadoras de poluição; a falta de mata ciliar e suas causas

ambientais; o carreamento de biocidas para o corpo d água; histórias do passado e de hoje

sobre as paisagens fotográficas mostradas no Jogo das Percepções referente a Bacia

Hidrográfica do Rio Sergipe.

Durante a aplicação do Jogo das Percepções os entrevistados manifestaram o desejo

em aprender e compartilhar informações durante as reuniões do Comitê. Foram também

observadas situações que denotam falta de informação sobre a Bacia Hidrográfica do Rio

Sergipe e Comitê, dificuldade em se expressar devido à ansiedade. Outros entrevistados

discutiam sobre os problemas e os subdividiam argumentando sobre as questões sociais, ou

até mesmo em como solucionar os problemas encontrados na BHSE. Alguns se referiam as

imagens com uma palavra, outros teciam discursos longos repletos de sentimento e

emotividade.

CAPÍTULO 4 - APRESENTAÇÃO, ANÁLISE DESCRITIVA E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS

123

4.2.3.1.1 Experiência sobre o local e objeto de estudo

1º Momento do Jogo das Percepções

As imagens foram classificadas quanto às condições ambientais visualizadas na

paisagem fotografada, suas principais mensagens estão presentes nos Quadros: vegetação

exuberante e imagens paisagísticas (Quadro 4.6); imagens de poluição aérea, por resíduos

sólidos e líquidos (Quadro 4.7); imagens com ausência de mata ciliar (Quadro 4.8); imagens

de assoreamento (Quadro 4.9); imagens de impactos causados pelas construções humanas

(Quadro 4.10); imagens de barramentos no Rio (Quadro 4.11); imagens de manutenção da

mata ciliar (Quadro 4.12).

Embora a definição dos objetivos e das ferramentas da análise seja indispensável, não

são as únicas, mais dois tipos de considerações que deverão preceder a análise da mensagem

visual, o estudo da sua função e o seu contexto de surgimento. Considerar a imagem como

uma mensagem visual, equivale a considerá-la como uma linguagem e, portanto, como uma

ferramenta de expressão e de comunicação. Seja ela expressiva ou comunicativa, é possível

admitir que uma imagem sempre constitua uma mensagem para o outro (JOLY, 1996).

Conforme o Quadro 4.6 que se refere à vegetação exuberante e imagens paisagísticas,

as imagens 01 e 03 foram realizadas na cidade de Aracaju, a imagem 01 no Bairro Coroa do

Meio e a imagem 03 no Conjunto Inácio Barbosa. Já as imagens 02, 04 e 06 na cidade de

Malhador a montante da Barragem Jacarecica II e a imagem 05 na zona rural da cidade de

Nossa Senhora das Dores. Os pontos de cada imagem do Quadro 4.6 podem ser observados

na Figura 3.14.

No Quadro 4.6 os entrevistados descrevem a imagem 01 como sendo: interação do

pescador com o meio ambiente; área poluída; trecho urbano com preservação do mangue;

paisagem deslumbrante; ausência de peixes no rio por contaminação; Rio Sergipe e

preservação da mata; encontro da maré com o rio Sergipe. A imagem 02 foi caracterizada

como de desempenho de funções: margem do rio preservada; bela imagem; falta de cuidado e

rio poluído.

As paisagens nas imagens fotográficas foram caracterizadas pela autora da pesquisa

como de vegetação exuberante e imagens paisagísticas, mas alguns entrevistados não as

interpretaram como tal, observando poluição e contaminação. Como observado, as duas

imagens são interpretadas de formas diferentes, em que o entrevistado as observa de acordo a

CAPÍTULO 4 - APRESENTAÇÃO, ANÁLISE DESCRITIVA E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS

124

sua percepção. Segundo Machado (1996) discutindo sobre como cada indivíduo pode

perceber as imagens, ela diz que:

A superfície da Terra é elaborada para cada pessoa pela refração por meio de

lentes culturais e pessoais, de costumes e fantasias. Todos nós somos artistas

e arquitetos de paisagens, criando ordem e organizando espaços, tempo e

casualidade, de acordo com nossas percepções e predileções (MACHADO,

1996, p. 97).

A paisagem da imagem 02 é descrita por um dos entrevistados como:

“É, mas beleza é isso aqui oi, parece que está chovendo oi. É chuva parece né? Sua

fotografia está nota dez, até os pingos de água oi! Pense! Esse não está parecendo, não é

daqui da cidade, é de outro canto aí, pode ser até do Jacarecica II, daquelas plantas ali, não

sei. Porque ali você tem essas estruturas todas você encontra por ali aquelas plantas. E é

beleza sim, isso aqui é uma área, é um trecho despoluído, eu sei que ali não tem poluição

não, ainda não”. (Poder Público Estadual)

A paisagem da imagem 03 foi interpretada da seguinte forma: trecho ainda

conservado; vegetação exuberante; boa preservação das margens do rio e da mata ciliar;

bonita imagem. Um dos entrevistados diz que:

“Essa é uma área, diria em termos preservada, não sei com que largura, mas que a

vegetação está bastante exuberante no que pede, aqui pela qualidade da água, é razoável

você olhar assim direitinho já não está tão poluída. Pode ser aqui dentro da cidade essa

fotografia, pode, ali pelo conjunto Inácio Barbosa né. Eu tenho uma imagem dessa. Ali não é

muito poluído, mas não é muito insento não”. (Poder Público Estadual)

A paisagem da imagem 04, os entrevistados disseram que representava o trecho do rio

protegido e preservado; imagem bela; área geologicamente recente cheia de pedregulhos. A

paisagem da imagem 05 representa vegetação muito importante; paisagem bonita; boa

preservação das matas ciliares; zona de exploração para areia. Um dos entrevistados faz o

seguinte comentário sobre essa área:

Eu gostei disso aqui! A mata ciliar existe, dá uma idéia, uma tranqüilidade de uma

água parada, calma, tranqüila”. (Poder Público Municipal)

A paisagem da imagem 06 os entrevistados afirmam ser um remanescente de mata

atlântica; uma bela paisagem; mata nativa preservada; vegetação exuberante. Durante a

análise das imagens observamos que o entrevistado 02 conseguiu identificar cinco das quatro

paisagens das imagens fotográficas e que a paisagem da imagem 01 foi reconhecida por sete

dos doze entrevistados.

CAPÍTULO 4 - APRESENTAÇÃO, ANÁLISE DESCRITIVA E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS

125

A partir das interpretações dos entrevistados, foi possível observar que cada discurso é

composto de sua experiência pessoal, memória e aprendizado. Machado (1996) relata que todos

os tipos de experiências, desde as mais estreitamente ligadas com o nosso mundo diário, até

aquelas que parecem remotamente distantes, vêm juntos compor o quadro individual da

realidade.

As interpretações das imagens tiveram como base a realidade vivenciada por cada

sujeito da pesquisa. Segundo Tuan (1980) as pessoas atentam para aqueles aspectos do meio

ambiente que lhes inspiram respeito ou lhes prometem sustento e satisfação no contexto das

finalidades de suas vidas. Ao tentar analisar as paisagens das imagens por segmentos, foi

observado que a interpretação dos entrevistados era heterogênea, não existindo um padrão

para os grupos, mas sim idéias centrais e mensagens características para membros do Comitê

da Bacia Hidrográfica do Rio Sergipe.

CAPÍTULO 4 - APRESENTAÇÃO, ANÁLISE DESCRITIVA E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS

126

Jogo das Percepções – vegetação exuberante e imagens paisagísticas

Segmentos

CBHSE

Sujeito

Imagem 01

Imagem 02

Imagem 03

Imagem 04

Imagem 05

Imagem 06

Poder

Público

Estadual e

Federal

1

Interação do pescador

com o meio ambiente,

manguezal.

Ainda desempenhando as

suas funções.

Trecho do rio ainda

conservado.

Trecho protegido, apesar

do pequeno calado do rio.

Mata ciliar ainda

desempenhando suas

funções.

Remanescente de mata

atlântica.

2

Aracaju Rio Sergipe

margem direita, área

poluída.

Beleza é isso aqui,

Jacarecica II, é um trecho

despoluído.

Área preservada,

vegetação exuberante,

Conjunto Inácio Barbosa.

Bela fotografia, Rio

Jacarecica, entre as

barragens Jacarecica I e

II.

Vegetação muito

importante aqui.

Beleza, margem do

Jacarecida II, a jusante.

Área de APP.

3

Pescadores na foz do Rio

Poxim. Trecho urbano

com preservação do

mangue.

Demonstra como

preservar as margens do

rio.

Boa preservação das

margens do rio e da mata

ciliar, volume de água

representativo.

Área ainda de

preservação. Muito

bonita essa foto.

Boa preservação das

matas ciliares, espelho d

água bem mantido

conotação de área

preservada.

Pequena área de mata

preservada.

Poder

Público

Municipal

4 Paisagem deslumbrante. Falta de cuidado. Caminho natural do rio. Um córrego. Afluente natural do rio. São as matas.

5

Manguezal e pescadores,

rio limpo.

Parece um rio poluído. Aqui a vegetação ta

beleza, ta arrumada.

Vegetação alta e fechada. Paisagem bonita,

vegetação alta.

Paisagem bonita, alta.

6

Pescadores, Rio

Cotinguiba.

É um lago, vegetação

característica.

É um rio. Próximo a nascente de

um rio, há muita

vegetação.

Gostei disso aqui! Mata

ciliar existe, uma

tranqüilidade água

parada, calma.

Aqui é uma transição

entre a mata com a

caatinga.

Usuários –

Empresas e

Indústrias

7

Coroa do Meio,

importante esse

ecossistema para os

pescadores.

Área conservada, a

sensação de sinergia do

rio.

Exuberância da mata

nativa, manguezal, área

ainda conservada.

Meandros do rio, área

com exuberância das

matas ciliares.

Há uma preservação das

margens.

Presença de umbaúba,

área mais preservada.

8

Rio Poxim, pescadores

que dependem da pesca

para sobreviver.

Não vejo tanta

interferência urbana, está

um pouco preservado.

Bastante vazão e mata

ciliar preservada.

Área preservada. Local preservado mata

ciliar preservada.

Dá a impressão que já

teve interferência, não é

nativo.

9

Pescadores e ausência de

peixes por contaminação

do rio.

Desmatamento poluição,

rio poluído.

O rio está bom, árvores

nativas que protegem as

encostas.

O rio foi desviado, mas

dá para perceber que está

bom, está arborizado.

Coberto de árvores está

arborizado.

Mata nativa com

ramagens.

10 Rio Sergipe, o Rio e a

preservação da mata.

Bonita as margens do rio,

linda mata.

Essa aqui também é muito

bonita

A preservação da

florestazinha.

Essa é bonita viu! Eita! Estão preservando

a florestinha bonita.

CAPÍTULO 4 - APRESENTAÇÃO, ANÁLISE DESCRITIVA E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS

127

Sociedade

Civil

11

Família usufruindo da

maré, encontro da maré

com o rio Sergipe,

manguezal atrás.

Um rio, eu vejo uma

mata, como se a APP

estivesse sendo

respeitada.

Rio conservado, me

parece estar preservando,

as APPs.

Rio protegido, árvores

por todos os lados, a APP

aqui está sendo

respeitada.

Rio e muitas árvores,

paisagem muito bonita.

Uma paisagem bonita,

mata preservada.

12 Zona de pesca, zona

estuarina.

Zona de mangue, raízes

presas nos galhos. Não

dá pra assegurar que seja

uma coisa preservada.

Esse aqui está bonito,

mais preservado. Área

estuarina, sofre efeito da

maré, não é manguezal.

Área geologicamente

recente, cheia de

pedregulhos. Vegetação

exuberante.

Zona de exploração de

areia, zona de potencial

para mineração de areia.

Vegetação exuberante,

um restinho de mata

atlântica, vegetação

primária.

Quadro 4.6: Imagens apresentadas aos entrevistados no Jogo das Percepções (paisagem com perfil de vegetação exuberante e imagens

paisagísticas). Relatos dos diferentes segmentos amostrados na pesquisa.

CAPÍTULO 4 - APRESENTAÇÃO, ANÁLISE DESCRITIVA E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS

128

Todas as paisagens das imagens demonstradas neste trecho do estudo foram de

degradações causadas pela ação humana. Em seu trabalho Araújo (2006) relata que os

problemas ambientais vêm se agravando no percurso do Rio Sergipe e seus afluentes, devido

ao aumento populacional das cidades localizadas às suas margens e afluentes, exercendo uma

pressão sobre o ecossistema, provocando perda de áreas naturais pelo desmatamento e aterro

dos manguezais, além da extração de madeira, construção de habitações, poluição pelo

aumento do volume do esgoto sanitário descartado no ambiente e o lixo urbano, pesca

predatória e ampliação do número de indústrias e empreendimentos agrícolas implantados na

região.

No Quadro 4.7 as paisagens das imagens representam poluição aérea, hídrica e do

solo. A paisagem da imagem 07 foi realizada no bairro Terra Dura na cidade de Aracaju, a

paisagem da imagem 08 na Prainha do Porto Grande na cidade de Nossa Senhora do Socorro,

a paisagem da imagem 09 no bairro Coroa do Meio, a paisagem da imagem 10 no Parque dos

Cajueiros, a paisagem da imagem 11 foi realizada no bairro São Conrado, as três últimas na

cidade de Aracaju. Os pontos de cada imagem do Quadro 4.7 são observados na Figura 3.14.

As paisagens das imagens 09 e 10 são de poluição as margens do Rio Poxim. As cinco

paisagens fotografadas representam muito bem os tipos de poluição existentes na Bacia

Hidrográfica do Rio Sergipe, devido à urbanização e presença de indústrias. O processo de

degradação da rede hidrográfica da Bacia do Rio Sergipe, acontece desde o início da

ocupação do território sergipano, esses recursos hídricos vêm sendo utilizados intensamente.

Os entrevistados se referem à paisagem da imagem 07 (poluição hídrica) como

poluição e poluição hídrica. Um dos entrevistados relata o que conseguiu observar na

paisagem da imagem 07:

“Essa foto ela ilustra uma presença muito forte de baronesas, uma planta aquática

que normalmente quando ocorre essa incidência muito elevada de baronesa é uma

sinalização de que essa água tem uma concentração muito elevada de matéria orgânica,

possivelmente provocada aí por falta de tratamento de esgoto doméstico. Essa baronesa ela

na sua fase de juvenil até a emissão da flor ela purifica a água, depois que ela flora, que a

flor cai, ela passa a liberar uma toxina e essa toxina passa então trazendo um problema sério

de qualidade de água inclusive pra piscicultura, inibindo a reprodução de peixes”. (Poder

Público Estadual)

CAPÍTULO 4 - APRESENTAÇÃO, ANÁLISE DESCRITIVA E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS

129

A paisagem da imagem 08 foi realizada na Prainha do Porto Grande na cidade de

Nossa Senhora do Socorro (poluição aérea) para a área onde são observadas as fábricas. Os

entrevistados a reconheceram como poluição aérea; poluição por resíduos nas águas; poluição

industrial; impacto devido à construção da ponte; referiram-se a ponte como uma bela

construção e alguns não reconheceram impactos relacionados a obra. Um dos entrevistados

explica como ocorre a poluição aérea:

“Aqui é uma foto né, você está vendo lá no fundo as fábricas de cimento. Hoje em dia,

antigamente você não tinha, hoje nós estamos nos preocupando apenas com as Bacias

Hidrográficas, nós temos que nos preocupar com as bacias aéreas, tá. O grande número de

particulados que elas fazem pra essas fábricas de cimento, neste entorno é independente do

sentido dos ventos que podem causar um grande impacto. Imagine que tenha um ponto de

descarga de particulados e proveniente da queima desses materiais, certo. A população que

está em torno dessa fábrica ela sofre conseqüências né, então você tem dióxido de carbono,

monóxido de carbono, você tem enxofre, você tem outras coisas, ou seja, então a população

ao entorno ela sofre as conseqüências por respirar aquele ar contaminado. Então você nota

que talvez você no primeiro objetivo você quis mostrar aqui essa área de preservação e essa

ponte construída no meio ambiente, mas eu estou indo mais além aqui né, eu estou indo nas

questões das bacias aéreas contaminado esse meio”. (usuário)

Nas paisagens das imagens 09 e 10 (poluição do solo) os entrevistados confirmam a

colocação da pesquisadora como poluição do solo, um dos entrevistados fala sobre a

paisagem da imagem 09:

“Isso aqui é resultante de uma poluição urbana pesada, com uma parte de solos de

mangue né. Vamos ver aqui os pequenos orifícios a casa dos caranguejos né”. (Poder Público

Estadual)

A paisagem da imagem 11 (poluição hídrica) os entrevistados a reconheceram como

poluição hídrica; ocupação desordenada do solo; substituição da mata ciliar por culturas

econômicas; assoreamento. Um entrevistado a descreve como:

“Essa foto aqui tá braba. Água extremamente poluída parece o canal Santa Maria,

São Conrado aqui, Rio Poxim”. (sociedade civil)

CAPÍTULO 4 - APRESENTAÇÃO, ANÁLISE DESCRITIVA E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS

130

Jogo das Percepções – imagens de poluição aérea, por resíduos sólidos e líqüidos

Segmentos

CBHSE

Sujeito

Imagem 07

Imagem 08

Imagem 09

Imagem 10

Imagem 11

Poder

Público

Estadual e

Federal

1

Pressão e ausência do rio.

Remanescentes de vegetação

nativa e pressão pela presença

da ponte.

Inconsciência total, o lixo. Inconsciência antrópica, pressão e

lixo.

Intervenção antrópica.

2 Água poluída. Fábrica de cimento e ponte.

Laranjeiras.

Poluição urbana pesada. Depósito de lixo. Ducto sanitário bruto, grau de

poluição alto.

3

Presença de baronesas,

concentração elevada de matéria

orgânica.

Rio Cotinguiba, Laranjeiras.

Fábrica de cimento, cultivo de

cana-de-açúcar, risco de

agressão ambiental.

Lixo enterrado, de material de

difícil transformação, em local

inadequado.

Lixeira em área de mangue e

restinga.

Ocupação desordenada do solo e

substituição da vegetação nativa

por culturas econômicas.

Poder

Público

Municipal

4 Sujeira natural. Poluição industrial. Poluição social. Uma lixeira. São águas poluídas

5 Poluição. Vegetação bonita, uma ponte e

poluição da fábrica de cimento.

Poluição, garrafa, vidro. Então

essa daqui está descartada.

Lixão, perto de uma vegetação

bonita.

Coqueiral, esgoto aberto,

poluição, destruição.

6 Pântano, planta baronesa, um

córrego que não fazem limpeza.

Ponte sobre o Rio Cotinguiba

separa Laranjeiras de Socorro,

fábrica de cimento.

Muito lixo, a humanidade não está

preocupada com a preservação.

Buracos de goré elemento vivo

aqui.

Área de manguezal com lixo, área

de amortização e está sendo

devastado.

Invasão das casas, o fluxo de

bananeiras, de coqueiros

provando que a terra é solta.

Usuários

Empresas

e

Indústrias

7 Riacho com baronesa o rio

recebendo material orgânico.

Fábrica de cimento. Bacias

aéreas, grande número de

particulados que podem causar

impacto a população do entorno.

Área de manguezal, uma mostra

do que são jogados no rio.

Pressão urbana sobre os

manguezais, lixo.

Área antropizada vegetação

exógena, esgotamento sanitário

jogado nesta área.

8 Poluição, proliferação de vegetação

não própria do local. Rio ou riacho

que não existe mais.

Interferência da ocupação

urbana. Cimenteira com

potencial poluidor aéreo.

Nascente morta, poluída e

degradada, não tem mais

vegetação, muito vidro e plástico.

Região de mangue com muito

lixo, não tem consciência

ambiental.

Lançamento de esgoto, água

escura, ocupação urbana irregular,

área degradada.

9 Poluição, sempre que tem esse tipo

de planta embaixo está poluído,

agrotóxico e químico.

Rio internado, mas não tão

grave existem árvores.

Empresas poluem com algum

produto químico.

Poluição e lixo. Meu Deus do céu está na UTI não

tem nem discussão disso aqui,

esse está agonizando coitado.

Poluição infernal.

10 Um riachozinho, uma barragem. Eita que construção bonita é

essa! Essa ponte.

O descaso das pessoas com o meio

ambiente.

Destruindo a vegetação com a

lixeira.

Água preta, porção da praia, o

progresso construindo as margens

dos rios.

CAPÍTULO 4 - APRESENTAÇÃO, ANÁLISE DESCRITIVA E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS

131

Sociedade

Civil

11 Uma lagoa, eu não sei que planta é

essa, mas que não está sendo

preservada.

A paisagem é bonita, mas

contaminação para o rio, fábrica

de cimento e as APPs não

preservadas.

Misericórdia! Solo contaminado,

prejudicando o meio ambiente,

lixo a céu aberto.

Lixeira contaminando o meio

ambiente. Mata protegendo atrás.

A APP não preservada,

contaminação por esgoto

sanitário. Água escura,

demonstrando que está sendo

vítima do homem.

12 Diluição de matéria orgânica,

indicador de poluição local

antropizado.

Ponte de Laranjeiras, com

poluição atmosférica.

Zona estuarina, área de mangue,

habitat de crustáceos. Poluição

característica da periferia.

Vegetação de mangue, lixo

lançado em área de preservação

permanente próximo a zona de

ocupação urbana.

Água extremamente poluída,

canal Santa Maria. São Conrado

aqui, Rio Poxim.

Quadro 4.7: Imagens apresentadas aos entrevistados no Jogo das Percepções (paisagens de poluição aérea, hídrica e do solo). Relatos dos diferentes segmentos amostrados na pesquisa.

CAPÍTULO 4 - APRESENTAÇÃO, ANÁLISE DESCRITIVA E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS

132

Ainda referente ao Quadro 4.7 a paisagem da imagem 08 foi reconhecida por oito

entrevistados. Foi realizada na Prainha do Porto Grande na cidade de Nossa Senhora do

Socorro tendo logo atrás uma fábrica de cimento. Outra paisagem da imagem reconhecida foi

a 11, realizada no bairro São Conrado, na cidade de Aracaju. Já as outras imagens fotográficas

foram todas realizadas na cidade de Aracaju.

O Quadro 4.8, com imagens de paisagens que representam ausência de mata ciliar,

foram realizadas em: paisagem das imagens 12 e 14 zona rural da cidade de Itabaiana, sendo a

paisagem 12 na Barragem Jacarecica I e a paisagem 14 no Açude da Marcela; paisagem 13 foi

realizada a jusante da Barragem Jacarecica II na cidade de Malhador; paisagem 15 na cidade

de Aracaju no Bairro Coroa do Meio. Os pontos de cada imagem do Quadro 4.8 podem ser

observados na Figura 3.14.

As paisagens das imagens do Quadro 4.8 foram interpretadas da seguinte forma:

paisagem da imagem 12 substituição da vegetação ciliar nativa pela produção agrícola;

ausência de mata ciliar; um açude representando fartura; uma paisagem bonita. Na paisagem

da imagem 13, foi interpretada como: trecho do rio que ainda se encontra exuberante; retirada

de mata ciliar para a produção agrícola e criação de gado bovino, podendo vir a causar o

assoreamento; bela imagem sinônimo de fartura (essa idéia central foi dita por uma

lavradora). Na paisagem da imagem 14, foram interpretadas como: açude utilizado para fins

comerciais; alto índice de poluição advindo da cidade de Itabaiana; estação de tratamento;

pesque e pague. Referente a paisagem da imagem 14, um dos entrevistados relata um pouco

da história do local:

“Esse aqui é o Açude da Marcela. Isso aqui é um açude construído pelo DENOCS, de

terra que é muito utilizado para a produção de hortaliça, mas que tem um problema muito

sério que é justamente o carreamento do esgoto doméstico gerado pela cidade de Itabaiana,

com certeza comprometendo a qualidade da água desse açude. Existe uma proposta do

projeto Águas de Sergipe de tratamento de esgoto de Itabaiana justamente pra recuperar esse

açude e você trata o esgoto de Itabaiana evita a poluição do esgoto doméstico. A margem

dele está toda ocupada com culturas anuais inclusive com a utilização pela própria

comunidade de fertilizantes, principalmente os nitrogenados que é um problema sério e

também pesticidas né que o pessoal não deixa de usar pra controle de pragas e doenças.

Então aqui é um corpo hídrico que precisa ser bem monitorado”. (Poder Público Estadual)

CAPÍTULO 4 - APRESENTAÇÃO, ANÁLISE DESCRITIVA E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS

133

A paisagem da imagem 15 foi interpretada como: o descuidado sem a proteção do rio;

manguezal aterrado; interferência e ocupação urbana irregular; descaso e tristeza; ausência de

vegetação e contenção das águas pelas pedras. Esta imagem da paisagem foi reconhecida por

nove dos doze entrevistados como sendo do Bairro Coroa do Meio na cidade de Aracaju. Sua

história foi contada por um dos entrevistados:

“Bom aqui é Coroa do Meio, um trabalho de arroncamento aí das margens do Rio

Sergipe na proximidade da foz com o encontro com o Oceano Atlântico. Eu digo que a Coroa

do Meio foi uma das maiores agressões ambientais provocadas na foz do Rio Sergipe e é um

maior exemplo de ocupação, porque ela aterrou praticamente toda uma área de mangue que

existia e pra evitar justamente a erosão desse aterramento se gastou também um volume de

recurso financeiro muito alto pra conter aquele espaço que normalmente era designado aí

para o rio e para o mar né. Então isso aqui é um exemplo do que não deve ser feito. Um vão

de recursos públicos altíssimo para uma ocupação, que a meu ver, foi um dos maiores crimes

ambientais da história de Sergipe”.

Os entrevistados 02 e 03 reconheceram todas as paisagens das imagens, e a paisagem

15 foi reconhecida por 74% dos entrevistados (oito entrevistados).

As paisagens capturadas em imagens retratavam o desmatamento das cabeceiras e

margens de rios e as atividades agrícolas, poluição por esgotos, representando algumas das

causas de destruição e empobrecimento dos recursos hídricos, Amorim Filho (1996)

denomina essas intervenções antrópicas como um verdadeiro “hidrocídio”.

A história tem demonstrado que o ser humano tem uma enorme capacidade de alterar o

meio ambiente que o rodeia, tanto de forma premeditada como inconsciente. As mudanças e

alterações que progressivamente acontecem na paisagem dependem em grande parte pela

forma como o ser humano percebe o seu entorno e sobre os objetivos e desejos que tem em

relação ao seu uso, modificação e adaptação deste meio as suas próprias necessidades.

CAPÍTULO 4 - APRESENTAÇÃO, ANÁLISE DESCRITIVA E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS

134

Jogo das Percepções – imagens com ausência de mata ciliar

Segmentos

CBHSE

Sujeito

Imagem 12

Imagem 13

Imagem 14

Imagem 15

Poder Público

Estadual e

Federal

1

Intervenção antrópica próxima do

rio. Substituição da vegetação

nativa pela agricultura.

Trecho do rio que ainda está

exuberante, apesar de já observar

uma interferência antrópica na

mata ciliar.

Piscicultura, interferência do

homem, o recurso hídrico

utilizado para fins comerciais.

Pressão antrópica, em Aracaju

na Coroa do Meio. O

descuidado, sem a de proteção

do rio.

2

Jacarecica I, essas explorações

estão na faixa de proteção

ambiental da barragem.

Jacarecica II, área de APP,

pastagem e exploração de

bovinocultura, pequena área

preservada.

Açude da Marcela, barragem

antiga do DENOCS, alto índice

de poluição advindo da cidade de

Itabaiana.

Coroa do Meio, era um mangue

agora tudo aterrado.

3

Barragem Jacarecica I, com

culturas produtivas anuais. Área

deveria estar com uma cobertura

vegetal preservada, podendo

provocar assoreamento.

Lago Jacarecica II, área

desmatada na sua margem,

carreando sedimentos para o leito

do reservatório.

Açude da Marcela construído

pelo DENOCS. Produção de

hortaliça, carreamento de esgoto

doméstico gerado por Itabaiana,

margem ocupada por culturas

anuais.

Coroa do Meio, um trabalho de

arroncamento das margens do

Rio Sergipe na proximidade da

foz com o Oceano Atlântico. Um

dos maiores crimes ambientais

da história de Sergipe.

Poder Público

Municipal

4 Um rio com produção agrícola. Aqui é uma passagem in natura. Um bloqueio ao rio. Fizeram as margens dos rios.

5 Aqui devia ser um coqueiral, as

árvores estão tomando conta,

parece uma pastagem.

A vegetação ta bem cuidada, a

água está limpa.

Mais um coqueirinho não sei

onde é.

A vegetação aqui ta acabando,

uma área de mangue que acabou.

Se a Coroa do Meio tivesse

preservado até hoje iria ser bem

melhor.

6 Um sitiozinho a beira do rio,

bastante verde, a vegetação ciliar

não existe.

É uma área que tem plantio de

cana do outro lado.

Estação de tratamento do

Conjunto Jardins, tratamento de

esgoto.

Aracaju, na Coroa do Meio,

muitas pedras segurando água.

Usuários –

Empresas e

Indústrias

7 Vegetação nativa retirada as

matas ciliares não existem aqui.

Pressão rural.

Retirada a mata ciliar para a

plantação de pastagem, ou outro

tipo de cultura.

São lagoas que devem ser

preservadas, reservatórios de

águas no período de chuva.

Área estuarina de Sergipe na

Coroa do Meio. Exemplo mal

sucedido de uso e ocupação do

solo.

8 Uma plantação, invadindo a

várzea do rio, já ocupou muito

próximo ao rio.

O rio principal os afluentes caem

nele, um rio bastante grande.

Água represada, não é natural, é

um pesque e pague e um

criadouro.

Coroa do Meio. Interferência

urbana, ocupação urbana

irregular.

CAPÍTULO 4 - APRESENTAÇÃO, ANÁLISE DESCRITIVA E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS

135

9 Um açude, sinal de fartura,

plantações ao redor, açude cheio,

não está arborizado.

Sinônimo de fartura. Uma barragem um açude no meio

de uma fazenda. Seria prosperar.

Aqui é descaso né descaso,

tristeza.

Sociedade

Civil

10 As margens do rio sendo

explorado pela agricultura.

Muito bonita! Um açude, olhe o caminho aí. Uma barreira de pedra, a

proteção do rio.

11

Subindo a barragem, paisagem

bonita. Tem pequenas árvores,

montanha, não está tão

desmatada, favorece ao meio

ambiente.

Um rio subindo a barragem. Não

preservação do leito do rio,

plantas que eu acredito que não

seja favorável.

Não tem proteção, uma lagoa para

aproveitar água da chuva.

Aracaju a Coroa do Meio. Não

está preservado, de um lado

casas, aqui com certeza não está

favorecendo o desenvolvimento.

12

Águas serenas, área de pastagem,

cultivo. Mas não tem área de

preservação permanente.

Áreas cultivadas, assoreamento,

cultivaram até a lâmina d água.

Uma barragem ou a margem de

uma lagoa de estabilização, talude

de contenção de águas.

Coroa do Meio, verdadeiro

crime que já teve por aqui, esse

absurdo.

Quadro 4.8: Imagens apresentadas aos entrevistados no Jogo das Percepções (paisagens com ausência de mata ciliar). Relatos dos diferentes segmentos

amostrados na pesquisa.

CAPÍTULO 4 - APRESENTAÇÃO, ANÁLISE DESCRITIVA E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS

136

O Quadro 4.9 com imagens de paisagens demonstrando áreas assoreadas foram

realizadas na cidade de Riachuelo (paisagem 16) e zona rural da cidade de Nossa Senhora das

Dores (paisagem 17). Os pontos de cada imagem do Quadro 4.9 são observados na Figura

3.14.

As paisagens das imagens do Quadro 4.9 foram interpretadas pelos entrevistados

como: pressão urbana; cultivo de culturas econômicas nas margens do rio; presença de erosão;

água poluída; trecho degradado por exploração agropecuária; ausência de mata ciliar;

ausência de sinergia do rio; pastagem as margem do rio. Nestas imagens 16 e 17 apenas o

entrevistado 02 conseguiu identificar onde foi realizada a imagem fotográfica 16. Segue

abaixo a transcrição do relato feito pelo entrevistado 02 sobre a paisagem 16:

“Aqui me parece mais próximo de Riachuelo. Onde também você vê as mesmas

circunstâncias... moradias próximas, muito próximas da água, praticamente adjacente ao

talude do rio, isso é uma área de risco do ponto de vista não só de erosão, que pode ocorrer...

os taludes começam a se modificar até compromete os lugares do rio. As mesmas

circunstâncias que está aqui é uma área que não devia ter exatamente moradia. É área de

risco”. (Poder Público Estadual)

Já a descrição da paisagem da imagem 17 foi realizada da seguinte forma:

“Aqui devido ao desmatamento você vê a presença de animais, aqui ó. O rio já perdeu

toda a sua sinergia você vê que ta o rio bem sinuoso, cheio de curvas né, porque quando o rio

está muito cheio de curva assim você vê que ele já não tem uma energia forte né, que ele

consiga, ele rompe, então ele vai fazendo esses meandros, nota que se ele não tiver cuidado

ele está morrendo desse jeito por incrível que pareça. Então você vê, que apesar de ser uma

área rural é uma área antropizada né, vegetação nativa é retirada, presença de animais”.

(usuário)

Como é descrito por um dos entrevistados: “Essa daqui é agonia por que o coitado

está morrendo, pra mim seria as últimas”. (usuário)

A retirada de mata ciliar e o processo de assoreamento são uma das causas do

“hidrocício”, ou seja, a destruição e empobrecimento dos recursos hídricos da Bacia

Hidrográfica do Rio Sergipe, como pode ser observado nas imagens fotográficas abaixo pela

coloração e quantidade de água.

CAPÍTULO 4 - APRESENTAÇÃO, ANÁLISE DESCRITIVA E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS

137

Jogo das Percepções – imagens de assoreamento

Segmentos

CBHSE

Sujeito

Imagem 16

Imagem 17

Poder

Público

Estadual e

Federal

1 Presença de erosão e pressão antrópica. Vegetação ainda conservada, mas há presença de

erosão.

2 Próximo de Riachuelo, moradias

próximas da água, adjacente ao talude do

rio, área de risco.

Trecho degradado, exploração agropecuária,

banco de areia, região ligeiramente acidentada.

3 Ocupação desordenada do solo,

habitações construídas na margem do rio,

cultivo de culturas econômicas, agressão

ao manancial.

Desmatamento total, assoreamento, cultivo de

pastagens, ausência de mata ciliar, estreitamento

do leito.

Poder

Público

Municipal

4 Aqui é um córrego sem trato. São as curvas do rio.

5 Tem a vegetação, tem coqueiro, tem a

casinha.

Desmatamento, areia invadindo o rio.

6 Erosão dos dois lados da margem. Aqui também, foi desmatado, esse riacho está

sendo entupido, erosão dos dois lados.

Usuários

Empresas

e

Indústrias

7 Pressão nas margens do rio, onde foi

retirada a mata ciliar, e a pressão urbana

chegando até as margens do rio.

O rio perdeu toda a sua sinergia, sinuoso, cheio

de curvas. Área rural antropizada, vegetação

nativa retirada, presença de animais.

8 A mata comprometida nas laterais do rio,

ocupação, casas próximas a borda do rio,

água poluída.

Assoreamento, banco de areia.

9 Urbanização, então seria aqui. Essa daqui é agonia por que o coitado está

morrendo, pra mim seria as últimas.

Sociedade

Civil

10 Construção as margens dos rios. Isso é pasto.

11 A aproximação de casas não está sendo

respeitado a APP.

Margens do rio desmatada, com volume muito

baixo de água, camas de areia, não existe

preservação do percurso.

12 Tá todo ferrado, antropizado, certamente

recebendo esgoto aqui.

Assoreamento, vegetação tentando se recuperar.

Pastagem até a margem do rio.

Quadro 4.9: Imagens apresentadas aos entrevistados no Jogo das Percepções (paisagens de assoreamento).

Relatos dos diferentes segmentos amostrados na pesquisa.

No Quadro 4.10, as paisagens das imagens 18, 19, 20 e 21 foram realizadas na cidade

de Aracaju; a paisagem da imagem 18 é do Bairro Coroa do Meio; paisagem da imagem 19 e

20 Orlinha do Bairro Industrial; paisagem da imagem 21 Bairro 13 de Julho e a imagem 22,

na cidade de Nossa Senhora do Socorro sobre a ponte do Rio do Sal. Os pontos de cada

imagem do Quadro 4.10 podem ser observados na Figura 3.14.

As paisagens das imagens do Quadro 4.10 representam impactos causados pelas

construções humanas. Foram interpretadas da seguinte forma: paisagem da imagem 18 -

urbanização e ausência de mata ciliar; poluição; ocupação desordenada em área de

preservação permanente; presença de pescadores; ausência de pavimentação e esgotamento

CAPÍTULO 4 - APRESENTAÇÃO, ANÁLISE DESCRITIVA E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS

138

sanitário. Paisagem da imagem 19 - ocupação desordenada do solo; ocupação das margens do

rio; poluição; pescadores; poder capitalista; ponte que representa uma das grandes construções

de Sergipe. Um dos entrevistados fala sobre a ponte que liga Aracaju à Barra dos Coqueiros:

“Essa aqui é aquela ali do... que vai pra Socorro, não é aquela não? Isso aqui é o

Bairro Industrial, veja bem, ali tem esgoto aberto, tem a ponte bonita e tal, o rio poluído,

porque agente sabe que este rio está poluído eu to vendo aqui por baixo, é que eu conheço

muito a ponte por cima, depois que a ponte foi inaugurada eu acho que passei de canoa uma

ou duas vezes, que agente passa por cá muitas vezes nem nota, sabe? Aqui o rio poluído, as

canoas, não tem mais peixe, o peixe já não está bom... agora a cidade em si não estava muito

estruturada para receber essa ponte, mas também se agente fosse esperar que tivesse uma

estrutura igual a construção da ponte, ia demorar muito mais tempo ainda, então a ponte foi

muito bom pra gente mas, teve o lado ruim também né! O lado ruim foi a estrada, aquela a

rodovia Edilson Távara é estreita, não tem acostamento, o próprio centro da cidade não

estava preparado para o movimento que teve depois da ponte, calçamentos ruins,

principalmente depois da obra do esgotamento sanitário, muito buraco e tal e o município

hoje não tem um situação financeira assim pra fazer essa diferença. Como aumentou o

movimento de carro o município não acompanha financeiramente. Então a ponte é uma coisa

muito boa, mas ela teve ta tendo esse impacto né. O pessoal do porto e dos tototós quebraram

né, a situação financeira pra eles tá difícil. Os tototós hoje, praticamente no sentido

financeiro hoje não existe o que era pra sobreviver, as famílias ali trabalhando, duas pessoas,

dois canoeiros e dava muito bem pra viver os proprietários das canoas, hoje o movimento é

muito pouco então pra eles ali foi ruim, e o centro da cidade também, ali na rua da frente

comercialmente morreu né, então teve esse aspecto também, toda essa situação da ponte da

Barra dos Coqueiros”. (Poder Público Municipal)

A paisagem da imagem 20 foi interpretada como adensamento urbano a beira do rio,

alto nível de poluição devido ao despejo de esgoto in natura no Rio Sergipe, área antropizada

com beleza paisagística exemplo da relação homem e natureza, turismo ecológico, local

agradável. Esta imagem foi interpretada da seguinte forma por um dos entrevistados:

“Essa foto aqui, mostra um exemplo de um ambiente construído em que você pode

viver harmonicamente com o meio físico, o cenário e o homem convivendo com essas belezas

cênicas, quer dizer, o homem tem a capacidade de pegar o ambiente ali e torná-lo, fazer um

ambiente construído e ir mantendo esse equilíbrio. Aqui é na Orlinha do Bairro Industrial.

Agora é importante a sua preservação também. Um investimento público bem sucedido, uma

CAPÍTULO 4 - APRESENTAÇÃO, ANÁLISE DESCRITIVA E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS

139

beleza cênica, não ocupou as margens do Rio Sergipe né? E também não criou um

adensamento, passarela para as pessoas caminharem, até porque o homem também faz parte

do meio, nós não podemos tirar o homem”. (usuário)

A paisagem da imagem 21 foi interpretada como: adensamento urbano; zona nobre da

cidade de Aracaju; presença de pescadores; despejo de esgoto dos condomínios no

manguezal; harmonia entre ponte e rio; poder capitalista. A paisagem da imagem 22 foi

interpretada como: zona de adensamento urbano; inexistência de mata ciliar; imagem feia

com alto grau de poluição e grandes riscos para a população; condições precárias de

habitação; utilização do rio para banho e pesca; inexistência de saneamento básico; lixo

acumulado; pouca alternativa de sobrevivência; pobreza e miséria. Segue relato sobre a

paisagem da imagem 22:

“Aqui você tem o meio físico com ocupação urbana, não é isso? Uma ocupação

urbana bem as margens do rio, ou seja, na hora em que a população ela ocupa essas margens

do rio né, é uma decisão particular dela, ela não pergunta as instituições públicas se pode ou

não ocupar essas margens, né? Porque provoca uma série de impacto, tanto o meio biótico

quanto o meio antrópico e o meio físico. E posteriormente toda e qualquer conseqüência de

variação que há nesse rio aí deixa de ser privado e passa a ser público, por exemplo, né. Por

incompetência do poder público eles deixaram ocupar a margem do rio, mas na hora em que

houver uma preamar... me parece mais ali em Nossa Senhora do Socorro. Mas quando há

uma enchente ou a própria preá-mar, acho que aqui sofre a influência da ria, sabe o que é

que é ria? A ria é a interferência da maré no rio, então você vê a ria do Rio Sergipe vai até

Riachuelo, quando a maré enche o rio enche, quando a maré baixa, a preamar a maré sobe.

Aí deixa de ser privado e passa a ser público, aí o poder público tem que dar solução pra

isso. Questão de saneamento, quer dizer, porque ocupou a área de preservação ambiental,

certo? Então uma ocupação desordenada as margens de uma área de preservação, até

preservação permanente, certo, porque você tem que ter a faixa de mata ciliar, das matas

ciliares e aqui não tem. Ou seja, por todo esse problema, que o sistema de esgotamento

sanitário está indo diretamente para esse rio, ou seja, então as pessoas vivem da pesca, só

basta ter um elemento da cadeia alimentar contaminado, pode contaminar todo o ciclo e aí

afetar toda essa população”. (usuário)

CAPÍTULO 4 - APRESENTAÇÃO, ANÁLISE DESCRITIVA E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS

140

As paisagens das imagens do Quadro 4.10, foram todas reconhecidas pelos

entrevistados, sendo que as paisagens das imagens 19, 20 e 21 são pontos conhecidos da

cidade de Aracaju.

Os impactos causados aos corpos hídricos pelas construções humanas são inúmeros,

desde a retirada total de mata ciliar, poluição dos rios, diminuição da biota aquática,

transformação da paisagem entre outros. Nestas paisagens os impactos foram causados devido

ao processo de urbanização das áreas. Para compreendermos as questões relativas aos

impactos ambientais gerados pela urbanização, é necessário lembrar que esse ambiente traz as

marcas das construções humanas. Desta forma, é possível verificar que o ambiente urbano é

tratado através de uma concepção social que inclui concomitantemente aspectos econômicos e

ambientais.

CAPÍTULO 4 - APRESENTAÇÃO, ANÁLISE DESCRITIVA E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS

141

Jogo das Percepções – imagens de impactos causados pelas construções humanas

Segmentos

CBHSE

Sujeito

Imagem 18

Imagem 19

Imagem 20

Imagem 21

Imagem 22

Poder

Público

Estadual e

Federal

1

Intervenção de zona de

adensamento, com supressão

total de vegetação ciliar.

Adensamento urbano,

ocupação das margens do rio.

Prainha do Bairro Industrial,

ponte Aracaju/Barra.

Adensamento urbano. Aracaju

na praia da Orlinha Bairro

Industrial.

Rio Poxim, adensamento

urbano de Aracaju.

Zona de adensamento

urbano, a vegetação ciliar

não existe.

2

Trecho de poluição, Bairro

Santo Antônio.

Ponte Aracaju – Barra, faixa

bastante poluída, próximo a

desembocadura de um dreno.

Rio Sergipe na prainha, ponte

de Barra dos Coqueiros, alto

nível de poluição, esgoto sem

tratamento.

Ponte, que liga o Bairro 13

de Julho a Coroa do Meio

sobre o Rio Poxim, afluente

do Sergipe, que está no

Centro da cidade.

Imagem muito feia, alto grau

de poluição grandes riscos,

catastróficos como a

ascensão do rio.

3

Ocupação desordenada do

solo, habitações construídas

em área de preservação

permanente. Bairro Inácio

Barbosa, Rio Poxim.

Rio Sergipe, ponte Barra dos

Coqueiros, Bairro Industrial.

Ocupação desordenada do

solo, habitações construídas

em áreas de APP.

Orlinha do Bairro Industrial.

Área antropizada com beleza

paisagística. Bom exemplo da

relação homem e natureza.

Ponte sobre o Rio Poxim,

Coroa do Meio, zona nobre e

o pescador. Trecho de

mangue no Rio Poxim e

esgotos despejados nele.

Condições precárias de

habitabilidade.

Poder

Público

Municipal

4 Falta de cuidado do rio, dos

pescadores.

Bairro Industrial. Isso é uma

total falta de cuidado.

Bairro Industrial, urbanização

às margens do rio.

Ponte na Coroa do Meio. São Braz ali em Nossa

Senhora do Socorro.

5 Pescadores na área, ruas sem

pavimentações, esgoto

aberto.

Bairro Industrial, esgoto

aberto, ponte bonita, rio

poluído, as canoas.

Orlinha na Atalaia.

Aproveitado o turismo

ecológico.

Acabar com os esgotos

abertos.

Casinhas na beira do rio,

esgotos. Rio é utilizado para

banho e pesca.

6 Construção desrespeitando a

legislação. Habitação

irregular.

Embaixo da ponte do João

Alves. Barcos, canoas, agente

chamava Rio Siri, pela grande

abundância de crustáceo do

Siris, botos.

Bairro Industrial, prainha.

Ponte de madeira, aquele

muro de pedra e um bocado

de canoa.

Aqui é ponte de Atalaia, que

liga Aracaju a Coroa do

Meio.

Embaixo da ponte do João

Alves. Todas essas casas

entrando, jogando lixo ali.

Usuários–

Empresas e

Indústrias

7

Classe média ocupando a

área de maré, área de aterro,

impactando o meio

ambiente.

Ponte João Alves, pressão

urbana, as pessoas vivem desse

Rio Sergipe, importante

recuperar esse ambiente.

Meio ambiente construído

harmonia entre meio físico e

homem, belezas cênicas.

Orlinha do Bairro Industrial.

Ponte da Coroa do Meio,

ligar os espaços físicos

interrompidos por curso d

água. Harmonia da ponte

com o rio.

Ocupação urbana as margens

do rio. A questão social e a

contaminação da região.

8 Interferência urbana na área,

muitas casas construídas.

Barcos, pescadores, viaduto,

ocupação irregular com

Ponte João Alves,

aparentemente é um local

Bairro 13 de Julho, local

nobre de Aracaju com ponte

Saneamento básico que não

existe, ocupação irregular,

CAPÍTULO 4 - APRESENTAÇÃO, ANÁLISE DESCRITIVA E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS

142

palafita. O rio com lançamento

de efluente.

agradável, mas existe a

ocupação das margens do rio.

e um pescador. Local

poluído, sem tratamento de

esgoto.

população muito carente.

9 Grande concentração de

gente em área urbana.

Poluição, poder capitalista. Urbanização. Poder capitalista. Pobreza, miséria.

Sociedade

Civil

10 Construções mal feitas às

margens do rio é Aracaju.

Ponte João Alves, Barra dos

Coqueiros, uma das grandes

construções de Sergipe.

Ponte do Sergipe. Ponte que liga Aracaju a

Coroa do Meio.

Construção do Bairro

Industrial.

11 Construções, o saneamento

escorre para o rio,

contaminando.

Ponte Aracaju e Barra dos

Coqueiros. Contaminação e

precariedade das famílias à

margem do rio.

Bairro Industrial, Rio Sergipe

com a prainha. Ponto turístico

e desmatamento.

Rio próximo ao Shopping

Riomar, o mangue

contaminado pelos

condomínios.

Em Socorro, pescadores que

sobrevivem da pesca, mas

contaminam.

12 Zona de ocupação e área de

pesca. Ocupação dos

segmentos pela classe média.

Ponte nova, região de pesca

tradicional, região

pauperizada.

Prainha do Bairro Industrial,

área de APP.

População tradicional e local

de pesca, esgotos lançados

no rio. Ponte da Coroa do

Meio.

Muito lixo acumulado nas

margens, pouca alternativa

para sobrevivência.

Quadro 4.10: Imagens apresentadas aos entrevistados no Jogo das Percepções (paisagens de impactos causados pelas construções humanas). Relatos dos diferentes segmentos

amostrados na pesquisa.

CAPÍTULO 4 - APRESENTAÇÃO, ANÁLISE DESCRITIVA E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS

143

As paisagens das imagens do Quadro 4.11 foram realizadas em: paisagem da imagem

23 na zona rural da cidade de Itabaiana a montante da Barragem Jacarecica I; paisagem da

imagem 24 foi realizada na zona rural da cidade de Malhador a jusante da Barragem

Jacarecica II. Os pontos de cada imagem do Quadro 4.11 podem ser observados na Figura

3.14.

Quadro 4.11 com paisagens de situações de barramentos no Rio foram interpretadas

da seguinte forma: paisagem da imagem 23 - vertedouro da Barragem Jacarecica I; faixa ciliar

danificada; significativa importância para o Estado; belezas naturais. Segue abaixo relato de

um dos entrevistados:

“Isso aqui é uma foto demonstrando Jacarecica I uma fase de lâmina máxima de

água, aqui é uma demonstração de vertimento da água. É uma barragem muito importante

para o Estado, porque ela é utilizada para a irrigação, com uma área aí de perímetro

irrigado e também parte dela é utilizada para abastecimento de água”. (Poder Público

Estadual)

A paisagem da imagem 24 foi interpretada pelos entrevistados como: intervenção

positiva destinada a suprir necessidades das pessoas; área de pastagem; Barragem Jacarecica

II; importante para o Estado; ausência de mata ciliar; estação de tratamento de efluentes e

poluição. Segue abaixo relato de um dos entrevistados:

“Área de pastagem, Barragem Jacarecica II que alimenta um projeto de irrigação de

1.820 hectares onde predomina pequenos produtores numa espécie de assentamento de

reforma agrária, objeto de reforma agrária. Os produtores ficam a jusante dessa barragem, o

projeto é a jusante dela, a mais ou menos quase 1 km. A jusante é após o barramento, a

montante você não tem nada. A montante é uma área de APP, o que impede de você ter

pessoas que invadiram, nós estamos revendo tudo isso agora para preservá-lo. Todas essas

áreas aqui que envolve área de APP e de reserva são desapropriadas, faz parte da

desapropriação do projeto então é área do Estado e agente compete por zelar por isso. O Rio

passa dentro do projeto, então as margens dele e em todos os cinqüenta metros dentro da

legislação tem que ser preservada uma vegetação natural”. (Poder Público Estadual)

As duas paisagens das imagens foram reconhecidas pelos entrevistados 02 e 03; o

entrevistado 11 conseguiu reconhecer a paisagem da imagem 23.

CAPÍTULO 4 - APRESENTAÇÃO, ANÁLISE DESCRITIVA E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS

144

Quadro 4.11: Imagens apresentadas aos entrevistados no Jogo das Percepções (paisagens de barramentos no

Rio). Relatos dos diferentes segmentos amostrados na pesquisa.

O Quadro 4.12 a paisagem da imagem 25 foi realizada na zona rural de Nossa

Senhora das Dores e não foi reconhecida pelos entrevistados. Esta paisagem representando a

manutenção, apenas da mata ciliar, foi interpretada da seguinte forma pelos entrevistados:

resquício de vegetação ciliar; bovinocultura; uma nascente; desvio de água; retirada de areia

do rio; uma área de preservação permanente dentro de uma propriedade privada; paisagem

bonita. O ponto da imagem do Quadro 4.12 é observado na Figura 3.14.

Jogo das Percepções – imagens de barramentos no Rio

Segmentos

CBHSE

Sujeito

Imagem 23

Imagem 24

Poder Público

Estadual e

Federal

1 Barragem. Barragem da CEHOP. Intervenção positiva

destina a suprir necessidades das pessoas.

2 Vertedouro da Barragem Jacarecica I, já

está sangrando. A faixa ciliar bastante

danificada.

Área de pastagem, Barragem Jacarecica II.

A montante é uma área de APP.

3

Barragem Jacarecica I em fase de lâmina

máxima de água. Barragem importante

para o Estado, irrigação e abastecimento.

Barragem Jacarecica II em vertimento.

Importante para o Estado abastecimento

humano, irrigação e sistema integrado do

Agreste. Entorno desmatado.

Poder Público

Municipal

4 Uma barragem. Construção de barragem.

5 Ponte destruída. Barragem, a vegetação desse rio é que

precisa ser bem elaborada.

6 Uma barragem. Estação de tratamento de efluentes.

Usuários –

Empresas e

Indústrias

7 Uma barragem. Barragem da CEHOP, abastecimento

humano, necessidade de análise da água.

8 Uma barragem. Um açude, um reservatório da CEHOP para

abastecimento urbano.

9 Muito bonita a natureza meu Deus é tão

bonito verde e a natureza. É uma represa.

Poluição, desmatamento

Sociedade Civil

10 Uma barragem. Essa daqui é mais bonita ainda. CEHOP.

11

Represa de Itabaiana, Jacarecica I, muito

bonita, as pastagens lá atrás., mas a

margem deveria estar preservada as APPs.

Um reservatório joga produto químico aqui

para não ser despejado diretamente no Rio.

Não tem muita preservação, dá pra ver as

pastagens, não tem uma mata.

12 Uma barragem reserva hídrica. Barragem da CEHOP.

CAPÍTULO 4 - APRESENTAÇÃO, ANÁLISE DESCRITIVA E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS

145

Jogo das Percepções – imagens de manutenção da mata ciliar

Segmentos

CBHSE

Sujeito

Imagem 25

Poder Público

Estadual e Federal

1 Existe um resquício de vegetação ciliar protegendo o riacho.

2 Restinho das margens, destruição da faixa ciliar, em função da bovinocultura.

3 Pouca vegetação na margem do manancial, totalmente desmatada com

cobertura de pastagem. Maiores problemas recursos hídricos o desmatamento

e assoreamento.

Poder Público

Municipal

4 Uma nascente.

5 Vegetação meio gasta parece um sertão brabo.

6 Não localizo onde é isso.

Usuários

Empresas e

Indústrias

7 Um rio, um vale, e todo o seu entorno devastado, alguns resquícios de

vegetação nativa já bem derrubada.

8 Uma nascente, uma APP dentro de uma área de conservação, ou dentro de

uma fazenda, uma propriedade privada, deve ser preservado.

9 Desvio de água, tiragem de areia dos rios, o desmatamento provoca os desvios

de água e os rios fica agonizando.

Sociedade Civil

10 Bonita, só não está tão bonita porque derrubaram as árvores todas.

11 Olha que linda! Paisagem bonita declinada, 70% está protegendo o córrego,

por outro lado, as APPs não são preservadas.

12 Eita que cenário bonito! Tributário importante, a área de recarga toda

devastada por pastagens, vê-se lá embaixo assoreou o córrego. A fímbria

verde ainda preservada.

Quadro 4.12: Imagens apresentadas aos entrevistados no Jogo das Percepções (paisagens de manutenção da mata

ciliar). Relatos dos diferentes segmentos amostrados na pesquisa.

Entre os entrevistados foi possível observar que a formação, grau de instrução,

profissão, a vivência com os locais, a valoração social, a valoração individual como interesses

próprios, a valoração afetiva e estética, a sobrevivência, influenciaram nas respostas e reações

dos entrevistados.

Quanto à observação por segmento em relação às imagens foi possível observar que o

Poder Público Estadual consegue explicar o contexto das situações, principalmente das

imagens que representam intervenção humana na Bacia Hidrográfica do Rio Sergipe.

CAPÍTULO 4 - APRESENTAÇÃO, ANÁLISE DESCRITIVA E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS

146

4.2.3.1.2 Interação com a área de estudo

2º Momento do Jogo das Percepções

Para auxiliar na identificação das paisagens das imagens e reforçar a intenção do

trabalho de observação das respostas dos entrevistados sobre a variável experiência, foi

proposta uma segunda etapa do Jogo das Percepções sendo perguntado ao entrevistado se ele

reconheceria os locais onde foram realizadas as imagens; se eram em ambientes rurais ou

urbanos e se reconheciam todas as paisagens como sendo da Bacia Hidrográfica do Rio

Sergipe. A segunda etapa do Jogo objetivou auxiliar no reconhecimento dos pontos

fotografados como sendo ou não da Bacia Hidrográfica do Rio Sergipe.

A partir da análise das informações das vinte e cinco imagens selecionadas para o Jogo

das Percepções, as que foram reconhecidas como paisagens de ambiente rural por todos os

entrevistados se encontram no Quadro 4.13.

Os argumentos dos entrevistados para justificar a escolha das imagens como sendo

paisagem de ambiente rural são: a presença de pastagens; plantações; mais árvores, mais

verde, mais água; longe da cidade; próximo as matas; lugares mais isolados; não há povoação

e centros industriais; paisagem característica; não sofre a degradação de processos ocorrentes

de núcleos urbanos; a exploração vem da terra.

CAPÍTULO 4 - APRESENTAÇÃO, ANÁLISE DESCRITIVA E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS

147

Quadro 4.13: Relação de imagens fotográficas apresentadas aos entrevistados e reconhecidas como paisagens de ambiente rural.

Ambiente rural

CAPÍTULO 4 - APRESENTAÇÃO, ANÁLISE DESCRITIVA E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS

148

Em seu trabalho Tuan (1980) discute que o campo é a antítese da cidade, no entanto,

sob outra perspectiva a natureza virgem ou o selvagem, e não o campo é o pólo oposto da

cidade. O campo é a “paisagem intermédia”, ideal mundo intermediário do ser humano, o

mito agrário, entre as polaridades da cidade e do selvagem.

Durante as observações nesta etapa do Jogo das Percepções foi possível constatar que

o contato físico dos entrevistados com ambiente natural é cada vez mais indireto e limitado a

ocasiões especiais como viagens a campo e passeios recreacionais, com exceção dos

entrevistados pertencentes às áreas rurais. Segundo Tuan (1980) o que falta às pessoas nas

sociedades avançadas é o envolvimento suave, inconsciente com o mundo físico, que

prevaleceu no passado, quando o ritmo da vida era mais lento. Muitos alegam que a falta de

tempo e a “vida corrida”, não permitem que possam usufruir e realizar esse tipo de atividade

em ambientes rurais.

Ao trabalhar as imagens com paisagens de ambientes urbanos, as justificativas feitas

pelos entrevistados para classificá-las como tal, foram: aglomerados urbanos; edificações;

muitas habitações; pontes; centros comerciais; indústrias; lixo; poluição; esgotamento

sanitário; iluminação; lançamento de esgoto nos corpos d água; ruas pavimentadas;

descaracterização do meio ambiente; condições de moradia e vida subumana. As imagens

escolhidas por todos os entrevistados como sendo de ambiente urbano estão no Quadro 4.14.

Ao trabalhar com essas duas definições de ambiente rural e urbano, foi possível observar que

as pessoas possuíam certo apreço pelo rural em detrimento ao urbano, talvez pela

simplicidade das paisagens. Tal observação foi refletida nas definições e palavras usadas

referente ao rural, com palavras mais suaves e selecionando as imagens com menos impactos

(Quadro 4.13) como sendo de ambiente rural.

Segundo Ferrara (1993) os ambientes urbanos e rurais são caracterizados por um modo

de vida sustentado por aprendizado e comportamentos gerados por um modo de produção que

lhes é característico. A autora complementa dizendo que:

Usos e hábitos constituem a manifestação concreta do lugar urbano, na

mesma medida em que o lugar é manifestação concreta do espaço. Usos e

hábitos, reunidos, constroem a imagem do lugar, mas sua característica de

rotina cotidiana projeta, sobre ela, uma membrana de opacidade que impede

sua percepção, tornando o lugar, tal como espaço, homogêneo e ilegível, sem

codificação (FERRARA, 1993, p. 153).

CAPÍTULO 4 - APRESENTAÇÃO, ANÁLISE DESCRITIVA E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS

149

Quadro 4.14: Relação de imagens fotográficas apresentadas aos entrevistados e reconhecidas como paisagens de ambiente urbano.

Ambiente urbano

CAPÍTULO 4 - APRESENTAÇÃO, ANÁLISE DESCRITIVA E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS

150

Neste contexto, superar a opacidade é condição de percepção ambiental, ou seja, de

gerar conhecimento a partir de informação retida, codificada naqueles usos e hábitos.

Percepção é informação na mesma medida em que informação gera informação: usos e

hábitos são signos do lugar informado que só se revela à medida que é submetido a uma

operação que expõe a lógica da sua linguagem. A essa operação dá-se o nome de percepção

ambiental (FERRARA, 1993). A partir, do estudo foi possível observar o esforço que os

entrevistados faziam para definir o que seria um ambiente rural ou urbano, refletindo assim a

“membrana de opacidade” referida pela autora. As respostas dos entrevistados também

expõem sobre a caracterização do lugar, a partir o modo de vida sustentado por aprendizado e

comportamentos gerados por um modo de produção característico, quando os entrevistados

citam sobre aspectos relacionados ao seu cotidiano para caracterizar as paisagens das

imagens.

Para finalizar o segundo momento do Jogo das Percepções, foi realizada a seguinte

pergunta: Todas as imagens retratam a Bacia Hidrográfica do Rio Sergipe? As respostas estão

presentes no Quadro 4.15.

Como demonstra o Quadro 4.15, apenas o entrevistado 02 do Estado de Alagoas

conseguiu identificar todas as paisagens das imagens, e os entrevistados 08 e 09 não souberam

identificar as paisagens das imagens como sendo ou não da Bacia Hidrográfica do Rio

Sergipe. Demonstrando que pertencer ou não ao Estado de Sergipe, não é uma característica

pessoal do sujeito que influencie no reconhecimento das paisagens.

CAPÍTULO 4 - APRESENTAÇÃO, ANÁLISE DESCRITIVA E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS

151

Todas as imagens retratam a Bacia Hidrográfica do Rio Sergipe - BHSE?

Segmentos

CBHSE

Entrevistado

Estado de Sergipe

Outro Estado

Poder

Público

Estadual e

Federal

1 Aracaju – reconhece poucas imagens,

referência o adensamento urbano e

zona a estuarina.

2 Alagoas - Reconhece as imagens,

referência imagens verdadeiras.

3 Cedro de São João - Não reconhece

poucas imagens, referência não

conhece toda a Bacia.

Poder

Público

Municipal

4 Aquidabã - reconhece poucas imagens.

5 Barra dos Coqueiros - reconhece

poucas imagens, referência corpos

hídricos.

6 Nossa Senhora do Socorro - reconhece

poucas imagens.

Usuários –

Empresas e

Indústrias

7 Rio Grande do Norte - reconhece

poucas imagens, referência 80%

são das margens da BHSE.

8 São Paulo.

Não reconhece as imagens.

9 Riachuelo - Não reconhece as imagens.

Sociedade

Civil

10 Itabaiana - reconhece poucas imagens,

referência corpos hídricos.

11 Malhador - reconhece poucas imagens.

12 Bahia - reconhece poucas imagens.

Quadro 4.15: Relação de respostas positivas ou negativas referentes às paisagens pertencerem a Bacia

Hidrográfica do Rio Sergipe por segmento e por origem (pertencente ao estado de Sergipe e de outro estado).

4.2.3.1.3 Experiência ambiental individual e coletiva

3º Momento do Jogo das Percepções

Neste momento do Jogo foi pedido que o participante selecionasse as imagens em

paisagem não impactada e impactada e formasse grupos. Algumas questões foram realizadas

em relação aos grupos formados tais como: 1º - Quantos grupos foram organizados? 2º -

Como você denomina cada grupo? 3º - O que cada grupo significa? 4º - Por que ocorrem? Os

diálogos foram gravados, sendo transcritos e analisados posteriormente.

O Quadro 4.16 expõe as imagens escolhidas por todos os entrevistados como

paisagens de impacto.

Ao ler todas as transcrições, foram retiradas as idéias principais, dizendo o que

significavam as imagens reconhecidas como paisagens de impacto, resultando em: imagens

ruins que representam o mal demonstrando atitudes covardes do ser humano com desprezo ao

meio ambiente; sinal de tristeza com poluição; ocupação desordenada do solo; desmatamento;

CAPÍTULO 4 - APRESENTAÇÃO, ANÁLISE DESCRITIVA E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS

152

urbanização; industrialização; falta de saneamento; impacto devido à agricultura; desvio e

exploração até o leito do rio. Posturas que representam o “desenvolvimento” e “poder

aquisitivo”.

Os entrevistados descrevem algumas imagens das paisagens:

Imagem 05: “Isso aqui é uma disposição inadequada de lixo, pouco degradado com a

presença aí de vasilhames de vidro numa área de mangue”. (sociedade civil)

Imagem 08: “Isso aqui é uma ocupação também da Coroa do Meio né, inclusive com

um enrocamento aí para proteção de erosão na foz do rio. Isso aqui também é uma ocupação

desordenada do solo”. (Poder Público Estadual)

“Significa sinal de tristeza né, de poder aquisitivo, de poluição, de urbanização, os

rios muito poluídos, muito desviados, muito lixo, muitas construções civis né, mais poluição,

mais impacto”. (usuário)

Outra pergunta foi realizada sobre as imagens que retratavam paisagens de impacto:

por que elas ocorrem? As idéias principais foram às seguintes: ocorre devido à negligência do

poder público, da justiça e da sociedade em função do capitalismo; a falta de consciência da

população e da família que não compreende que cuidar do rio é cuidar da sua própria vida; a

falta de planejamento para dar suporte a população que cresce; formas para atrair

investimentos para o Estado vendendo a idéia de que as restrições ambientais são menores do

que em outros estados.

CAPÍTULO 4 - APRESENTAÇÃO, ANÁLISE DESCRITIVA E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS

153

Quadro 4.16: Relação de imagens escolhidas pelos entrevistados como paisagens de impacto ambiental.

Imagens de impacto

1 3

5

9

6

10

0

1

0

2

8

4

7

11

CAPÍTULO 4 - APRESENTAÇÃO, ANÁLISE DESCRITIVA E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS

154

Os entrevistados argumentam o porquê de ocorrerem algumas destas paisagens nas

imagens:

“Esse grupo ocorre porque a gente não tem cuidado, normalmente quando a gente vê

assim, condena logo as administrações, o poder público e tal, mas é o ser humano de uma

maneira geral ele é desligado das coisas, ele ocorre, ocorreu porque não teve um cuidado no

passado. A principal responsabilidade é do ser humano, isso tem que começar por mim, se eu

esperar que comece pelos outros ta ruim né, do que adianta o governo botar uma coleta de

lixo seletiva, aterro ainda falou que é descartado, o que é ainda melhor pro final do lixo? A

consciência do pessoal mesmo. Agente critica o governo, mas tem que começar pelo ser

humano, a família ta fazendo o que”? (Poder Público Municipal)

“Desenvolvimento, agora um desenvolvimento em que o homem só vê retorno, ele

podia fazer uma coisa muito mais suave, mas ele aterra, porque ele quer um retorno, um

retorno imediato. O homem não se preocupou ainda, quando eu dou palestra eu mostro uma

cabeça aberta com um bocado de coisas dentro, porque a pessoa quer comprar às vezes o que

não precisa. Eu tenho um exemplo, dou também nas minhas palestras, foi agora na copa do

mundo, muita gente ta indo comprar as televisões e aquelas pessoas provavelmente tem uma

televisão em casa, comprar uma televisão nova para a copa do mundo e o que você vê é o

homem querendo mais, consumindo mais desproporcionalmente sem controle. O homem não

sabe, não foi educado ainda pra comprar o essencial, é isso que está acontecendo, por isso

que essa destruição está dessa maneira, nós sabemos que pra você construir tem que ter a

pedra a areia, agora comedidamente, mas o homem não faz comedidamente, o homem faz pra

aproveitar oportunidade, aproveitar comércio e muito mais”. (Poder Público Municipal)

A partir da análise das falas, foi possível observar que o grupo entrevistado consegue

reconhecer os impactos e discutir sobre eles, cada um com suas individualidades e estilos de

vida diferenciados. Segundo os autores Pires, Santos e Del Pettre (2002) os impactos de maior

ocorrência em uma Bacia Hidrográfica estão associados aos problemas de erosão dos solos,

sedimentação de canais navegáveis, enchentes, perda da qualidade da água e do pescado e

aumento do risco de extinção de elementos da fauna e flora como pode ser observado na

Bacia Hidrográfica do Rio Sergipe.

Já os autores Tucci e Mendes (2006) subdividem os principais impactos antrópicos

sobre os sistemas aquáticos, classificando-os em função do uso da água e do solo. Os

impactos devido ao uso da água são efluentes domésticos, industrial e pluvial das cidades;

águas pluviais de área agrícolas contaminadas por pesticidas e erosão do solo; efluentes de

criação de animais; efluentes de mineração; impactos sobre os sistemas hídricos devido a

CAPÍTULO 4 - APRESENTAÇÃO, ANÁLISE DESCRITIVA E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS

155

obras hidráulicas como de barragens para hidrelétrica, irrigação, abastecimento de água,

navegação e irrigação; alteração dos sistemas hídricos como rios e lagos. E os impactos de

uso do solo estão relacionados a erosão e sedimentação devido a práticas agropecuárias,

urbanização, mineração ou infra-estrutura como estradas, pontes, diques etc; desmatamento e

reflorestamento; urbanização; queima de mata e florestas; impacto sobre as águas devido a

mineração.

Na formação do grupo de imagens que não representavam paisagens de impacto ao

meio ambiente, o Quadro 4.17 está abaixo discriminado. Ao perguntar sobre o significado

dessas imagens as idéias centrais foram: significa vida, natureza e sobrevivência; área

preservada que ocorre pela ausência da atividade econômica; o impacto causado é de beleza

desejável de pureza.

Um dos entrevistados descreveu o que o grupo de imagens que representa paisagens

não impactadas:

“Esses daqui não dá a idéia de que o homem interviu, certo? E quando dá, como os

pescadores é só sustentabilidade, vai pescando, mais ou menos a idéia que o homem passou

por lá, mas não interferiu, certo”? (usuário)

Para a segunda pergunta, referente a questão do por que as imagens ocorrem, as idéias

principais das respostas foram: essa área é de preservação permanente ou protegida pelo poder

publico; uma área privada que o proprietário preservou não deixou ser degradado; a

conscientização dos proprietários desse trecho do rio que buscaram preservar; porque eles

descobriram que a mãe natureza ela é muito bela, ela é que dá toda a sustentabilidade para o

planeta; a evolução da legislação em relação com a natureza; o difícil acesso ao local.

Extraindo o contexto das idéias principais relatadas pelos entrevistados as imagens de locais

não impactados acontecem ainda pela vigilância do Estado, a proteção de algumas pessoas e a

dificuldade de acesso aos locais.

Um dos entrevistados descreve que as paisagens das imagens ocorrem devido a:

“Eu acho que em alguns casos aqui, pelo difícil acesso das pessoas, do homem, aqui a

atividade é sustentável, atividade de pesca e aqui não existe interferência ainda, não existe

interferência humana no ambiente dada a dificuldade de acesso a essas áreas, agente vê

praticamente que a própria vegetação já está fechando os braços do rio aqui né, e isso aqui

também, isso aqui já é uma área de difícil acesso, por isso que elas continuam aí preservadas.

Talvez seja também indiretamente, pela ação da própria ação do homem como defensor, como

protagonista da defesa do ambiente em algumas áreas aqui”. (Poder Público Federal)

CAPÍTULO 4 - APRESENTAÇÃO, ANÁLISE DESCRITIVA E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS

156

Quadro 4.17: Relação de imagens escolhidas pelos entrevistados como paisagens de não impacto.

Imagens de não impacto

5 4

1 3 2

CAPÍTULO 4 - APRESENTAÇÃO, ANÁLISE DESCRITIVA E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS

157

Os resultados demonstram a complementação das várias visões dentro de um grupo

gestor, os técnicos descrevendo o ambiente de acordo a sua formação e os não técnicos

descrevendo o ambiente de acordo com a sua vivência. Sendo assim, a riqueza presente neste

grupo de entrevistados, entre técnicos e não técnicos, com suas visões de mundo e formações,

possibilita um “olhar” mais abrangente perante a gestão da Bacia Hidrográfica do Rio

Sergipe, indo além da qualidade e quantidade de água desta Bacia.

Com a utilização das imagens como metodologia de coleta de dados, foi possível

observar que os entrevistados se sentiam mais interessados e conseguiam se expressar com

maior facilidade, pois discutiam sobre imagens disponíveis “aos olhos” e não perguntas

diretas.

Foi possível também constatar a importância de serem realizadas visitas técnicas por

pontos da Bacia Hidrográfica do Rio Sergipe com os membros do Comitê da Bacia

Hidrográfica do Rio Sergipe, possibilitando o reconhecimento da área e a realidade das

informações que são discutidas durante as reuniões. Tais medidas possibilitariam

reconhecerem os impactos.

Este tipo de trabalho, tendo sido observada a experiência do entrevistado, busca

promover a produção de um “diagnóstico” ambiental da Bacia Hidrográfica do Rio Sergipe,

fundamentando as ações de conservação, adequação, recuperação e desenvolvimento

necessários a uma gestão.

Reconhecer motivos de espaço nas imagens e interpretá-los são duas operações

mentais complementares, a confusão está entre a percepção e a interpretação. De fato,

reconhecer o motivo não significa que se esteja compreendendo a mensagem da imagem, por

outro lado, o próprio reconhecimento do motivo exige um aprendizado (JOLY, 1996). No

contexto do aprendizado que foi trabalhado o Jogo das Percepções com os entrevistados, esse

aprendizado, e não a leitura da imagem, que foi realizado de maneira “natural”.

Segundo Joly (1996), desde muito pequenos aprendemos a ler imagens ao mesmo

tempo em que aprendemos a falar. Muitas vezes, as próprias imagens servem de suporte para

o aprendizado da linguagem. Assim, as palavras e as imagens revezam-se, interagem,

completam-se e esclarecem-se com uma energia revitalizante. Correndo o risco de um

paradoxo, podemos dizer que quanto mais se trabalha sobre as imagens mais se gosta das

palavras (JOLY, 1996, p. 133).

CAPÍTULO 4 - APRESENTAÇÃO, ANÁLISE DESCRITIVA E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS

158

Em sua tese de doutorado Maroti (2002) comprova que os trabalhamos utilizando

imagens são mais “leves” e “atraentes” para o grupo estudado, possivelmente devido a sua

simplicidade e rapidez na coleta dos dados do teste. Ele trabalhou com a análise da

preferência estética e da codificação semântica da paisagem induzida por processos

educativos. Neste trabalho foram utilizadas também paisagens de impactos locais do interior e

entorno de uma unidade de conservação com o objetivo de entender as possibilidades

didáticas junto a um público alvo específico: professores do entorno de uma Estação

Ecológica. Tal pesquisa, denominada de pesquisa-ação, buscou como resultado além da

realização de um levantamento perceptivo, possibilitar a valoração/aquisição de novos

conhecimentos, atitudes ou na incorporação de nova ordem de comportamento junto a este

público, com relação a esta área em específico. A partir dos resultados deste autor pode

observar que:

[...] os resultados revelaram relativa eficácia da metodologia empregada para

a avaliação do Curso, além da constatação “do ganho” cognitivo diretamente

relacionados às mudanças de preferência estética da paisagem induzidas pela

intervenção pedagógica [...]

[...] a eficiência da metodologia estaria ligada a adesão do público-alvo na

participação das tomadas de resposta, diferentemente observada durante a

aplicação de questionários de avaliação. Notou-se evidente satisfação do

professor na participação do teste, devido possivelmente a simplicidade e

rapidez na coleta dos dados do teste (MAROTI, 2002, p. 120).

Vemos, portanto que a função de conhecimento associa-se naturalmente à função

estética da imagem, proporcionando a seu espectador “sensações específicas”. A ligação

íntima entre a representação visual e o campo artístico atribui-lhe um valor particular entre os

diferentes instrumentos de expressão e de comunicação. Comunicar pela imagem (mas do que

pela linguagem) vai estimular necessariamente, por parte do espectador, um tipo de

expectativa específica e diferente da que uma mensagem verbal estimula.

4.2.4. Caracterização perceptiva do sistema de estudo

A caracterização perceptiva do sistema de estudo tem por objetivo caracterizar a

expressão do significado, identidade e escolha de usos atribuídos a Bacia Hidrográfica do Rio

Sergipe. Esta etapa do estudo foi obtida a partir do tratamento, análise, descrição e

interpretação da entrevista semi-estruturada.

No estudo da Bacia Hidrográfica do Rio Sergipe a abordagem perceptiva está voltada

para significados, ou seja, expressões sobre as atividades perceptivas que o sujeito desenvolve

CAPÍTULO 4 - APRESENTAÇÃO, ANÁLISE DESCRITIVA E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS

159

no meio ambiente, expresso como descrições de sua própria vivência, direta e íntima ou

indireta e conceitual. E também por meio da identidade, ou seja, a identificação com o local

de acordo ao contexto sociocultural do sujeito. Segundo Machado (1996) cada pessoa percebe

seletivamente aquilo que lhe interessa aquilo que está habituado a observar.

Para Addison (2003) a identidade é o reconhecimento do lugar e o significado é a fase

final do processo perceptivo.

A escolha de usos atribuídos a Bacia Hidrográfica do Rio Sergipe é uma variável que

possui como objetivo o estudo da percepção dos membros do Comitê sobre o sistema Bacia

Hidrográfica e como seus recursos naturais podem ser utilizados.

4.2.4.1. Identidade do sistema de estudo

Com a promulgação da Lei das Águas – Lei 9.433/97 a nível federal, a Bacia

Hidrográfica passou a ser a unidade territorial de planejamento e gestão das águas. Como

conseqüência, vários projetos de Educação Ambiental, voltados para recursos hídricos, foram

desenvolvidos tendo por base a Bacia Hidrográfica, a sua gestão tem assumido crescente

importância no Brasil, à medida que aumenta os efeitos da degradação ambiental sobre a

disponibilidade dos recursos hídricos (JACOBI, 2010).

Nesse contexto, o Comitê de Bacia Hidrográfica, considerado “parlamento das águas”

apresenta-se como foro legítimo de discussão e embates, no objetivo de buscar consensos a

partir de uma perspectiva integrada, descentralizada e, sobretudo, participativa. Diante do

exposto, torna-se cada vez maior a necessidade de se obter uma “horizontalização” de

informação entre os membros que compõem um Comitê de Bacia Hidrográfica, para que a

gestão seja realmente participativa.

Trabalhando com a “horizontalização”, a primeira questão a ser realizada foi em

relação ao conceito de Bacia Hidrográfica, visando não só a definição de um conceito, como

também a percepção e a identidade dos membros ao que seria uma Bacia Hidrográfica, no

contexto sociocultural de cada membro.

Muitos trabalhos de percepção ambiental utilizam a identidade para observar como o

indivíduo em seu contexto sociocultural identifica a área gerida, dentro da proposição de que

a pessoa percebe o que lhe interessa e o que está habituado a observar. Machado (1996) em

seu trabalho intitulado: “Paisagem valorizada – A Serra do Mar como espaço e como lugar”,

observou no grupo estudado, que as pessoas residentes na Serra prestavam atenção aos

componentes paisagísticos naturais (água, altitude, ar, relevo e principalmente, a vegetação),

CAPÍTULO 4 - APRESENTAÇÃO, ANÁLISE DESCRITIVA E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS

160

distinguidos no seu dia-a-dia, enquanto os estudiosos preferiam identificá-la pelo seu relevo e

geologia (serra, escarpa, rebordo escarpado, vertente abrupta, paredão rochoso), sendo este

um bom exemplo para caracterizar a identidade do grupo com o local estudado.

A pergunta realizada aos entrevistados foi: O que você entende por Bacia

Hidrográfica?

De acordo a tabulação e categorização dos dados foram observadas cinco categorias

pelos sujeitos, onde Bacia Hidrográfica seria um local a ser preservado, um instrumento de

trabalho, um ecossistema, área de drenagem e um território. Do grupo selecionado de 12

sujeitos, foram transcritas quatorze evocações, observando que entre os entrevistados, alguns

atribuem mais de uma categoria para a questão. A percentagem das categorias foi realizada a

partir do valor das quatorze evocações emitida pelos entrevistados.

Destas categorias, as mais utilizadas foram área de drenagem utilizada por 43% (6 de

um total de 14 evocações); a segunda mais utilizada foi a categoria de território com 28,6% (4

de um total de 14 evocações); a terceira categoria foi de ecossistema com 14,3% (2 de um

total de 14 evocações); as outras categorias só foram utilizadas uma vez pelos entrevistados.

Dos doze sujeitos selecionados, três não souberam responder a esta pergunta, sendo eles: um

membro do segmento usuário e dois membros do segmento sociedade civil.

Não foi possível distinguir entre os segmentos um perfil de escolha, apenas no

segmento sociedade civil foi possível observar que dentre os três membros entrevistados dois

não souberam responder a questão.

A categoria área de drenagem foi contextualizada como uma área de recarga hídrica

onde toda uma região drena suas águas e deságuam no mar. Dois entrevistados definem Bacia

Hidrográfica como:

“A Bacia Hidrográfica é toda uma área de recarga hídrica nos corpos d água, dos

lençóis freáticos, os reservatórios subterrâneos e de superfície. Então a Bacia é essa região

toda que drena suas águas para essas acumulações”. (sociedade civil)

“Bacia Hidrográfica por si só o próprio nome já simboliza né, ela representa uma

bacia onde toda gota de água que cai na região dessa bacia vai sendo direcionada para o seu

leito principal”. (Poder Público Estadual)

A categoria território foi interpretada como uma conformação geográfica centralizada

por um rio principal. Dois entrevistados disseram que a Bacia Hidrográfica seria:

“Então Bacia Hidrográfica é isso, é toda uma conformação geográfica e que delineia

um espaço formado por um rio principal. E cada gota de água que ali vai de uma forma ou

de outra contribuir para esse leito principal do rio”. (Poder Público Estadual)

CAPÍTULO 4 - APRESENTAÇÃO, ANÁLISE DESCRITIVA E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS

161

“A Bacia Hidrográfica é a bacia dos Rios que compreende um determinado território

né. Ela é a constituição daquela parte do território que é constituído por água que separa a

cidade, as áreas urbanas os territórios né”. (Poder Público Municipal)

A categoria ecossistema foi interpretada como sendo a Bacia Hidrográfica um grande

ecossistema englobando não só a dimensão ecológica, mas também as dimensões

socioculturais face à complexidade do sistema. Um dos entrevistados conceitua Bacia

Hidrográfica como:

“A Bacia Hidrográfica, por exemplo, para o estudo, ela deve ser formatada em

qualquer tipo de trabalho como a referência do trabalho a partir dali se trabalhar inclusive

os demais segmentos né, ambientais, solo, ar tudo isso, todos os recursos. A visão

ecossistêmica deve partir da Bacia Hidrográfica”. (Poder Público Federal)

As categorias restantes de preservação e instrumento de trabalho foram citadas por

um membro do Poder Público Federal. Ele as interpretou como preservação e instrumento de

trabalho respectivamente:

“O povo têm que ter consciência de como tratar esse recurso hídrico de forma que ele

possa não só servir a população, ao homem, ao cidadão não é, mas como também ser

preservado”.

“Bacia hidrografia, por exemplo, é o instrumento de trabalho técnico de bastante

relevância. Todo o planejamento que é feito tendo como base a Bacia Hidrográfica ele tem

uma preocupação ambiental muito mais forte e marcante do que qualquer outra referência”.

A partir dos resultados observa-se a necessidade de se discutir sobre o conceito de

Bacia Hidrográfica entre os membros do Comitê, onde 25% do grupo amostrado (3

entrevistados de um total de 12 sujeitos amostrais) não souberam definir o que é uma Bacia

Hidrográfica. Tal resultado pode ser considerado como preocupante, uma vez que os mesmos

não souberam definir algo que deveriam estar cientes, pois toma decisões, votam e definem

procedimentos e normas muito importantes para a sociedade e o meio ambiente. A partir

desses dados, denota-se a responsabilidade e importância de trabalhos ligados aos conselhos

relacionados à governança de bens comuns. Também reforça a importância de trabalhos

educativos e que proporcionem aperfeiçoamento formativo dos membros desses órgãos que se

propõem a discutir questões tão sérias como os corpos hídricos ou unidades de conservação.

CAPÍTULO 4 - APRESENTAÇÃO, ANÁLISE DESCRITIVA E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS

162

Oliveira (2006) discute que para entender a Bacia Hidrográfica como unidade

territorial é preciso ir além da conceituação de que se trataria somente das redes de drenagem

e suas conexões, mas sim entendê-la como uma porção de espaço, formada por um conjunto

de elementos físicos, biológicos, sociais e políticos que interagem entre si, modificando todo

o sistema.

Schiavetti e Camargo (2002) discutem sobre a adoção da Bacia Hidrográfica como

unidade de estudo, trazendo uma abordagem interdisciplinar e a importância de trabalhos em

equipe, com a pretensão de atingir o almejado desenvolvimento sustentável.

Para os autores Pires, Santos e Del Prette (2002) o conceito de Bacia Hidrográfica tem

sido muito utilizado como unidade de gestão da paisagem na área de planejamento ambiental,

existindo algumas variações no foco principal dos conceitos de acordo a percepção dos

técnicos que a utilizam para estudo. Eles discutem sobre os conceitos de acordo aos estudos,

para os hidrólogos é utilizado o conceito de que a Bacia Hidrográfica como: “um conjunto de

terras drenada por um corpo d água principal e seus afluentes e representa a unidade mais

apropriada para o estudo qualitativo e quantitativo do recurso água e dos fluxos de sedimentos

e nutrientes” (PIRES, SANTOS E DEL PRETTE, 2002, p. 17).

Já para um técnico direcionado à conservação dos recursos naturais, o conceito se

amplia, abrangendo além dos aspectos hidrológicos, a estrutura biofísica, as mudanças nos

padrões de uso da terra e suas implicações ambientais. Alguns autores ressaltam também a

importância do uso do conceito de Bacia Hidrográfica como um ecossistema, sendo utilizado

tanto para o estudo como para o planejamento (PIRES, SANTOS E DEL PRETTE, 2002).

Ruffino e Santos (2002) trabalham com a utilização do conceito de Bacia Hidrográfica

para a capacitação de educadores argumentando que os conhecimentos necessários à

conquista do gerenciamento ambiental aos recursos hídricos, necessitam compreender a

percepção e modo de utilização que o ser humano faz dos mesmos, se fazendo necessária a

sintonia entre o conhecimento científico adquirido e o senso comum da sociedade em geral.

De acordo ao exposto acima, percebe-se a importância de se obter a definição do

conceito Bacia Hidrográfica aos membros do Comitê e visualizar a identificação de que

dispõem sobre esse sistema de estudo ambiental, ou seja, o ecossistema Bacia Hidrográfica.

Essa busca por um aperfeiçoamento da gestão ocorre através da compreensão de que existe

uma diversidade de situações, e que isto representa um desafio para efetivar uma governança

das águas, seja em sua origem, objetivos e níveis de alcance.

CAPÍTULO 4 - APRESENTAÇÃO, ANÁLISE DESCRITIVA E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS

163

4.2.4.2. Significado do sistema de estudo

O Rio Sergipe inspira cronistas, poetas, compositores, jornalistas, pesquisadores, a vê-

lo sobre diferentes ângulos. É o fascínio de sua beleza, de suas águas, passando

ininterruptamente à nossa frente. O Rio Sergipe é economicamente ativo, produtor, gerador de

bens, tem histórias, histórias a narrar, por cada um de nós, habitantes de suas margens

(ALVES, 2006, p. 13). Esse trecho resume o significado do Rio Sergipe para alguns

sergipanos e pessoas que adotaram Sergipe como sua morada, não significando apenas um

corpo hídrico importante para o Estado de Sergipe, mas um símbolo deste.

O estudo de percepção ambiental e o significado em relação ao Rio Sergipe com os

membros do Comitê trabalham com expressões da vivência, direta e íntima ou indireta e

conceitual do entrevistado em relação às dimensões ecológicas, econômicas, sociais, culturais

e políticas. A utilização do Rio Sergipe como instrumento de análise para estudo do

significado apóia-se na representação do Rio principal que dá nome a Bacia Hidrográfica.

A pergunta realizada para trabalhar à variável significado foi: O que significa para

você o Rio Sergipe?

A partir dessa questão foram classificadas quatro categorias, com um total de

dezenove evocações. As categorias são: cultura, produção, sobrevivência, território. A

percentagem das categorias foi realizada a partir do valor das dezenove evocações emitidas

pelos entrevistados.

A categoria cultura, representando 30% (6 de um total de 20 evocações) do estudo,

significa para os entrevistados a cultura e história do povo Sergipano, um patrimônio do

Estado. Essa categoria foi adotada duas vezes pelo segmento Poder Público Estadual e

Federal, uma vez pelo Poder Público Municipal, uma vez pelos usuários e duas vezes pela

sociedade civil. A seguir são citadas falas de dois participantes:

“O Rio Sergipe pelo próprio nome ele simboliza assim do ponto de vista histórico e

social, um marco com recurso natural né, inclusive o Estado herda o nome do Rio Sergipe,

então tem um valor histórico muito significativo”. (Poder Público Estadual)

“O Rio Sergipe é um grande patrimônio para o Estado de Sergipe e para a

humanidade”. (sociedade civil)

CAPÍTULO 4 - APRESENTAÇÃO, ANÁLISE DESCRITIVA E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS

164

A categoria produção, representando 25% (5 de um total de 20 evocações) das

categorias utilizadas, foi interpretada como valor econômico e produtivo para o Estado de

Sergipe para a irrigação, indústria e pescado. Esta foi utilizada duas vezes pelo segmento

Poder Público Estadual, duas vezes pelo Poder Público Municipal e uma vez pela sociedade

civil. Duas falas dos entrevistados exemplificam o significado do Rio Sergipe:

“Ele tem assim, um valor político, social e econômico muito relevante para o nosso

Estado, porque na parte média do Rio, onde ele passa a receber a contribuição dos seus

principais afluentes, a exemplo do Jacarecica, Cajueiro dos Veados, é... ele já passa a ter

uma importância econômica muito grande por conta da utilização das suas águas para

abastecimento humano, irrigação e até mesmo para a indústria. Como também ocorre na

parte inferior do rio, na proximidade aqui da foz, onde ele, no encontro com o mar forma

uma paisagem belíssima, com a formação dos mangues na sua foz e também pela utilização

até mesmo da sua piscosidade para a sobrevivência de um número muito grande das famílias

de pescadores. De forma que preservar o Rio Sergipe é preservar toda essa história, todo

esse potencial que o rio tem para com o nosso Estado”. (Poder Público Estadual)

“O afluente Rio do Sal que é conhecido como Rio Siri, porque ali dá tanto siri, tanto

crustáceo que até hoje com a poluição tamanha ainda tem, todo dia você passa aqui na

Rodovia José do Prado Franco você tem aqui dez, quinze pratos de siri e vendendo, dá muito

siri, camarão, ostra, sutinga, sururu, milongo. Então quem tem um Rio desses na sua Terra

só pode ser feliz, e eu sou feliz.” (Poder Público Municipal)

A categoria território, representando 20% (4 de um total de 20 evocações) das

categorias utilizadas pelos entrevistados, significa a grande concentração de cidades sobre os

domínios do Rio Sergipe a sua conformação geográfica. Essa categoria foi utilizada uma vez

pelo Poder Público Estadual, uma vez pelo Poder Público Municipal, uma vez pelos usuários

e uma vez pela sociedade civil. As falas de dois entrevistados foram utilizadas para

exemplificar essa categoria:

“Então a ocupação do homem no Estado de Sergipe se deu pela Bacia do Rio Sergipe

com uma maior intensidade, se você pegar 70%, 75% a 80% da população de Sergipe, mora

na Bacia do Rio Sergipe de Aracaju até Glória vamos dizer assim, então você vê as cidades

mais populosas de Sergipe, Aracaju, Socorro, Barra, não é isso? Elas estão o que? As

margens do Rio Sergipe”. (usuário)

“O Rio Sergipe corta quase o Estado todo rapaz, o território todo, abastece tantos

terrenos tantos povoados, muito bom”. (sociedade civil)

CAPÍTULO 4 - APRESENTAÇÃO, ANÁLISE DESCRITIVA E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS

165

A categoria sobrevivência, utilizada por 20% (4 de um total de 20 evocações) da

amostragem realizada, foi interpretada como o Rio de maior importância para o Estado de

Sergipe responsável pela sobrevivência de grande parte da população sergipana. O Poder

Público Federal, e a sociedade civil utilizaram essa categoria uma vez, já os usuários

utilizaram duas vezes essa categoria. Dois entrevistados falam sobre essa categoria:

“Não só cultural, dele também depende a sobrevivência de muitos sergipanos, é a

Bacia de maior importância no Estado de Sergipe. Salve engano estava dando uma lida aqui

nos meus... nas minhas anotações aqui, tem uma área drenada mais de mil e trezentos

quilômetros quadrados de área drenada, vinte e quatro municípios de setenta e cinco

pertencem a Bacia do Rio Sergipe. Ele tem importância não só como recurso hídrico, mas

como também é parte da sobrevivência de muitos dos sergipanos né, se identificam com ele

por causa disso”. (Poder Público Federal)

“O Rio Sergipe representa para mim como uma fonte de vida, uma fonte de

sobrevivência para muitas pessoas”. (usuário)

A partir da análise dos resultados foi observado que os grupos trabalhados são

distintos, cada um com sua forma diferente de ver e interpretar o mundo que o rodeia. Os

significados passados pelos entrevistados sobre o Rio Sergipe pode ser resumido na idéia de

Saraiva (1999).

Os sistemas fluviais são, simultaneamente, mutáveis e permanentes, quando

considerados sob o ponto de vista de estruturação do território e dos seus

usos. Constituem redes de drenagem resultantes de processos físicos naturais

e também antrópicos, condutores de água, mas também referência de mitos,

adaptações, utilizações, tecnologias (SARAIVA, 1999, p. 48).

As inúmeras formas de descrever o significado do Rio Sergipe abrangem desde um

aspecto cultural e simbólico de um povo, como divisa de territórios até mesmo em relação a

valores econômicos como responsável pela produção e sobrevivência do Estado de Sergipe.

4. 2.4.3. Escolha de usos para o sistema de estudo

A variável escolha de usos para o sistema de estudo objetivou observar a importância

da mata ciliar para o ecossistema e quais as possibilidades de usos da Bacia Hidrográfica do

Rio Sergipe. Para responder a esta variável foram utilizadas as questões terceira e quarta da

entrevista semi-estruturada.

CAPÍTULO 4 - APRESENTAÇÃO, ANÁLISE DESCRITIVA E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS

166

A terceira questão buscou entender a percepção dos membros do Comitê da Bacia

Hidrográfica do Rio Sergipe, quanto às “funções ambientais” da mata ciliar para o

ecossistema. A questão foi:

Qual a importância da mata ciliar para o Rio?

As categorias obtidas foram proteção, sobrevivência, filtro e preservação. Foram

contadas dezoito evocações com as quatro categorias.

A categoria proteção representou 55,5% (10 de um total de 18 evocações) das

categorias utilizadas. Ela representa a manutenção da velocidade das águas, a preservação da

lâmina d água sob a incidência direta dos raios solares e a evaporação, a manutenção da biota

aquática e terrestre responsável por serviços ambientais que garantem a salubridade, a

manutenção do solo seguro para que não ocorra assoreamento. A seguir foram transcritas falas

de dois membros entrevistados:

“Qual a importância dos nossos cílios para os nossos olhos? É muito importante as

matas ciliares, primeiro a proteção dos rios, segundo evitar os grandes enroncamentos, os

caimentos de barreiras né, então se você tiver uma mata ciliar você vai evitar que essas

quedas de barreiras dentro do rio, aí o rio vai enlarguecendo e vai perdendo a sua sinergia, e

você perder também grande área fértil, imagina se você não tem essas proteções com as

matas, as barreiras começam a desmoronar, se desmoronar eles vão para dentro do rio, a

calha do rio aumenta, se o rio é navegável ele vai dificultar a navegação, certo”? (usuário)

“A mata ciliar primeiro ela é fundamental pra conter a velocidade das águas, as

matas ciliares estão nas calhas nas acumulações, todas as calhas de drenagem ou das

acumulações, seja lagos, e a função dela é conter, reduzir a velocidade das águas e com isso

conter todo o material que vem dessas águas fluviais. Essa seria a primeira função, portanto

ela nessa atividade ela evita que esse material seja lançado para as calhas e provoca o

assoreamento, mas ela cumpre também a função de preservar a lâmina d água da incidência

direta dos raios solares, né. Mas ela cumpre ainda a função também de preservar toda a

biodiversidade que é responsável por serviços ambientais que garante a salubridade da

água”. (sociedade civil)

A categoria sobrevivência representou 22,2% (4 de um total de 18 evocações) das

categorias utilizadas. Para os membros essa categoria simboliza que a mata ciliar é

fundamental para a sobrevivência e manutenção dos rios, a partir, do alimento e abrigo

fornecido aos seres vivos. A seguir são transcritas falas de dois entrevistados:

CAPÍTULO 4 - APRESENTAÇÃO, ANÁLISE DESCRITIVA E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS

167

“Eu acredito que no entorno ele tem uma fauna e flora que é a mata ciliar, ou seja,

deve ter muitos animais que dependem dessa mata ciliar e também tem muita vegetação da

qual a fauna do rio depende também”. (usuário)

“As matas ciliares além do serviço de conter a ocorrência de material de areia

arrastado pelas águas da chuva etc, ela também preserva uma biodiversidade de flora e

fauna que é responsável pela saúde dessas águas, pela salubridade das águas. A mata ciliar

é, sobretudo um corredor ecológico que liga a nascente a foz, e esse corredor abriga e

preserva diferentes ecossistemas e diferentes espécies da fauna e da flora que são

responsáveis pelo sabor da água, pela qualidade da água, pela pureza da água, e pela

preservação em volume da água, é essa biodiversidade”. (sociedade civil)

A categoria filtro com um percentual de 11% (2 de um total de 18 evocações) das

categorias utilizadas representou para os entrevistados que a mata ciliar segura o material que

possa vir a ser carreado para dentro das águas, servindo como uma espécie de filtro de

resíduos sólidos e líquidos. A seguir são transcritas as falas de dois entrevistados:

“Funciona como um filtro também das águas que venham das encostas, um filtro e um

travamento de solo dentro dessa faixa, que evita voçoroca, enfim, minimiza o processo de

erosão muito”. (Poder Público Estadual)

“A mata ciliar eu acredito que ela funciona como um grande filtro pro rio, pra evitar

contaminação, ela funciona, eu acho que deve ter muita fauna, em minha opinião”. (usuário)

A categoria preservação representando um total de 11% (2 de um total de 18

evocações) da amostra. Essa categoria tem o sentido de preservar as matas ciliares e também

que as matas preservem o rio. A seguir são transcritas falas de dois participantes:

“A questão de manter também esse equilíbrio, ela retém mais esse ciclo hidrológico

né, porque vem as chuvas, caí amortece nas copas das árvores, pra depois cair no chão, ou

seja, isso é a função também dessas matas, mais precisamente para preservar as margens dos

rios, a função maior em todas as margens do Rio Sergipe é a preservação”. (usuário)

“Ela tem a importância de preservar, na televisão passa direto, porque os rios são

destruídos, porque ele derruba as matas né, a preservação não só da mata ciliar, mas como

de toda mata deve ser preservada nesse sentido. Então a importância dela é de preservação”.

(Poder Público Municipal)

A partir das transcrições e categorizações pode-se observar que os entrevistados

concordam sobre a importância da mata ciliar para o ecossistema da Bacia Hidrográfica. Onde

cada indivíduo relata a importância de acordo a sua vivência. Todas as falas transcrevem a

importância da mata ciliar para o Rio onde ela evita o assoreamento nas margens de rios ou

CAPÍTULO 4 - APRESENTAÇÃO, ANÁLISE DESCRITIVA E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS

168

lagos, filtra e retém agroquímicos que contaminam a água, é fonte de nutrientes e energia para

o ecossistema aquático, forma corredores naturais, possibilita o fluxo da fauna e flora, enfim,

fonte de alimento, abrigo e proteção aos seres que habitam o ecossistema.

A categoria proteção é especialmente utilizada por todos os quatro segmentos (Poder

Público Estadual e Federal, Poder Público Municipal, Usuários e Sociedade Civil).

Esses aspectos citados acima, quanto à importância da mata ciliar para o rio, podem

ser observados alguns deles no item 4.2.3. do trabalho, onde foi demonstrada a experiência do

grupo entrevistado em relação a Bacia Hidrográfica do Rio Sergipe. Nas imagens fotográficas

discutidas neste item, todas foram realizadas as margens de um corpo hídrico pertencente a

BHSE, alguns com sua mata ciliar exuberante, outros demonstrando a ação antrópica de

forma moderada e ainda as imagens que demonstra total ausência de mata ciliar.

A quarta questão objetivou em avaliar a percepção sobre a escolha de uso dos recursos

naturais da Bacia Hidrográfica do Rio Sergipe pelos membros do Comitê da Bacia

Hidrográfica do Rio Sergipe. Onde foi perguntado:

Em sua opinião qual a melhor forma de utilização dos recursos naturais da Bacia

Hidrográfica do Rio Sergipe?

As categorias obtidas para essa questão estudada foram uso sustentável, consumo

humano e recreação. Dezenove vocalizações para as três categorias, sendo assim, alguns

entrevistados utilizaram mais de uma categoria.

A categoria uso sustentável foi a mais utilizada com um percentual de 52,6% (10

repetições de 19 evocações). Ela representa para os entrevistados a utilização dos recursos

naturais de forma sustentável, consciente, respeitando a capacidade suporte do ecossistema.

Dois entrevistados falam sobre essa categoria:

“Eu posso lhe dizer o seguinte, não só de uma forma institucional, da ação

institucional, uma ação cidadã, deve ser uma ação consciente, preservadora, não apenas o

pensamento de utilização, de restrição de uso, mas com o cuidado que deve ter ao tratar de

um tema tão importante como recurso hídrico, agente tem que ter em mente que o recurso

hídrico não é infinito, agente tem que ter na consciência não só a ação de governo dos

governos municipais, estaduais e federais como também a ação cidadã pra com esse recurso.

Deve ser uma ação sustentável né, preservacionista. Eu acho que se agente age de forma a

conciliar a necessidade, suprir a necessidade humana com a preservação do recurso hídrico,

cuidando dele com carinho mesmo, com uma visão de utilização futura também, eu acho que

agente vai ter a preservação do recurso hídrico, que é o caso da Bacia do Rio Sergipe, com a

manutenção e otimização do bem estar da população. Isso é o que se procura né,

CAPÍTULO 4 - APRESENTAÇÃO, ANÁLISE DESCRITIVA E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS

169

desenvolvimento sustentável, exatamente isso. Utilizar o recurso natural, não apenas o

recurso hídrico de forma a respeitar os limites de utilização daquele recurso natural, com o

atendimento da necessidade humana. Feito isso, eu acredito que agente vai ter muito, vamos

dar muitos passos à frente na preservação dos recursos naturais”. (Poder Público Federal)

“Primeira coisa é preservando é o homem em um consumo equilibrado, respeitando,

ou seja, usando o artigo 225 da Constituição Federal, que diz que, todos nós somos

responsáveis, inclusive é o poder público e a coletividade responsável pela manutenção

equilibrada dos recursos naturais preservando ou dando direito, garantindo para as gerações

presentes e as futuras gerações. Então neste caso é nós termos um consumo equilibrado, quer

dizer, você saber quais os seus limites, usar o necessário, não esbanjar e ter uma consciência

de preservação com responsabilidade de manter para que isso seja uma constância é por isso

que eu trabalho, eu sou a favor, tenho lutado não deu certo ainda para a implantação de uma

coleta seletiva e quando agente diz uma coleta seletiva eu digo também de uma consciência

coletiva a nível de meio ambiente, é por isso que eu uso muito Thiago de Melo, que eu sou

igual a todo mundo, agora Thiago de Melo disse talvez uma ladainha minha: “eu não tenho

um caminho novo, o que eu tenho de novo é o jeito de caminhar” e volto a me repor também

a Chico Chavier que ele diz: “Ninguém é capaz de voltar atrás e ter um novo começo, mas

cada um é capaz de ter um novo fim”. Isso é que me pauta em meio ambiente, me faz ler, me

preocupa, agora é difícil ainda mudar que o capital, o dinheiro tem um peso muito forte

diante da humanidade, enquanto ele não perdeu, mas eu acredito que um dia ele vai perder,

tanta gente, você vê suborno, falcatrua, roubo, milhões e milhões morre amanhã e fica tudo

aí, o homem não tem consciência do equilíbrio ainda, mas eu acredito que um dia ainda

fica”. (Poder Público Municipal)

A categoria recreação com um percentual de 15,8% (3 repetições de 19 evocações). A

representação dessa categoria para os entrevistados foi da utilização dos recursos naturais da

Bacia Hidrográfica para o turismo e lazer. Dois entrevistados falam sobre ela:

“Eu acho que pode ser utilizado pra várias coisas, inclusive pro turismo também, né?

No Rio Sergipe, acho que é pouco utilizado, mas tem uma certa autorização, do turismo tem

os catamarãs que circulam o Rio Sergipe, né. Já foi mais navegável do ponto de vista das

pessoas quando tinham aquelas barcas né, no terminal hidroviário, antes da ponte que

atravessavam pra... mas as cidades aqui Santo Amaro e Maruim ainda vêm muito isso, as

lanchas atravessam, assim, chamadas tototós que são aquelas mais comuns, mais simples, e

dos pescadores e tudo o pessoal já faz a travessia”. (Poder Público Municipal)

CAPÍTULO 4 - APRESENTAÇÃO, ANÁLISE DESCRITIVA E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS

170

“Na questão do rio, a melhor forma da gente utilizar ele é tomando banho. Agente

pode utilizar, usufruir dele né, tomar banho essas coisas, contanto que não polua”. (usuário)

A categoria consumo humano com 31,6% (6 repetições de 19 evocações). A

representação dessa categoria para o entrevistado foi de consumo planejado pelo ser humano

para indústria, extrativismo, enfim, para satisfazer a necessidade humana.

“Eu acho que primeiro deveria ser feito um estudo técnico, poderia estar fazendo um

estudo pra ver qual a melhor maneira de utilização do Rio. Eu penso o seguinte em

zoneamento, por exemplo, eu não sei se aqui é o melhor lugar pra instalar uma indústria

têxtil, eu não sei, por exemplo, quando é extrativismo você não tem muito o que escolher,

porque é a natureza, a natureza que determinou uma jazida então você não tem opção”.

(usuário)

A partir desta questão de estudo foi possível observar que a maioria dos entrevistados

dizem que a melhor forma de utilização dos recursos naturais é de forma sustentável,

demonstrando que são sensíveis as causas ambientais. Mesmo aqueles que utilizaram a

categoria consumo humano, complementa depois dizendo sobre o uso sustentável.

Após análise, descrição e discussão dos resultados, foi possível elaborar o modelo do

sistema de percepção para o Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio Sergipe (Figura 4.9). Todo

este trabalho foi realizado em uma visão integrada das variáveis e processos investigados

previstos pelo modelo de investigação do sistema de percepção do meio ambiente de Whyte

(1978) (Figura 3.18).

CAPÍTULO 4 - APRESENTAÇÃO, ANÁLISE DESCRITIVA E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS

171

Figura 4.9: Modelo de investigação do sistema de percepção para a Bacia Hidrográfica do Rio Sergipe (adaptação de Whyte, 1978).

CAPÍTULO 4 - APRESENTAÇÃO, ANÁLISE DESCRITIVA E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS

172

CAPÍTULO 5

CONSIDERAÇÕES FINAIS

“Un rio es algo que tiene una fuerte y marcada personalidad,

es algo com fisionomia y vida propias... Se lês siente vivir...

La vena de agua es para ellos algo así como la conciencia para

nosotros, unas veces agitada y espumosa, otras alojada de cieno,

turbia y opaca, otras cristalina y clara, rumorosa a trechos.

El agua es, en efecto, la conciencia del paisaje; em el agua,

quando queda quieta y serena, se reflejam los árboles y lãs rocas,

en el agua se ven como em espejo, en el agua se desdoblan,

adquieren reflexón de si: el agua es, repito, la conciencia del

paisaje. Donde hay agua, parece el paisaje vivo.”

Unamuno, Por tierras de España e Portugal

173

CAPÍTULO 5 - CONSIDERAÇÕES FINAIS

5.1. Considerações finais

A investigação da percepção ambiental dos atores sociais do Comitê da Bacia

Hidrográfica do Rio Sergipe e da gestão participativa neste estudo, se limitou aos aspectos

pessoais, da percepção do grupo estudado e ao funcionamento deste órgão gestor. Os

resultados obtidos apontam para uma das muitas possibilidades que um processo de

investigação perceptiva no contexto sócio cultural potencializa.

Os instrumentos metodológicos utilizados foram: a observação livre, o registro de

imagens em pontos da Bacia Hidrográfica do Rio Sergipe, a leitura e análise de Atas das

reuniões durante a gestão 2008/2010, o Jogo da Percepção e a entrevista semi-estruturada.

Através destes instrumentos foi possível registrar a percepção dos atores sociais envolvidos

nesta pesquisa.

Ao analisar as características dos sujeitos selecionados foi possível organizar um

padrão de composição da plenária do Comitê de Bacia Hidrográfica do Rio Sergipe, onde a

predominância é de pessoas do sexo masculino, com idade superior a 40 anos, casados, com

nível superior completo, funcionários públicos, faixa de renda superior a cinco salários

mínimos, naturais do Estado de Sergipe e fazem parte do sindicato correspondente a sua

formação acadêmica. Dentro deste perfil, separando agora por segmentos os membros do

Poder Público Estadual e Federal e Poder Público Municipal são os que mais se assemelham a

este padrão acima citado, já os segmentos de usuários e sociedade civil são bastante

heterogêneos (dentro dos membros selecionados para a pesquisa) em quase todas as

características.

Ao analisar o grau de comprometimento dos entrevistados foi observado que muitos

são convocados por suas instituições de trabalho a representá-la dentro do Comitê (não sendo

uma ação espontânea) alguns acolhem essa convocação e se sentem honrados, outros já não

possuem muito interesse e comprometimento junto a este órgão gestor. Existem também

aqueles que se sentem atraídos e interessados pelos trabalhos voltados à ações ambientais e

outros ainda participam para contribuir com sua experiência e aprender durante as discussões

na Plenária.

CAPÍTULO 5 - CONSIDERAÇÕES FINAIS

174

Ao trabalhar as características do grupo com a leitura de Atas foi observado que os

segmentos sociedade civil e Poder Público Estadual e Federal contribuem com relevante

significância durante as plenárias do Comitê. No entanto, os segmentos Poder Público

Municipal e usuários caracterizam-se por reduzida participação. As manifestações durante as

plenárias são sempre das mesmas instituições, motivadas pela experiência em mais de uma

gestão dentro do Comitê e pelo nível de instrução.

Continuando a trabalhar as características do grupo, foi analisada a freqüência dos

segmentos dentro do Comitê. O segmento sociedade civil possui a maior freqüência, vindo

após Poder Público Estadual e Federal, já os segmentos Poder Público Municipal e usuários

possui pouca freqüência nas reuniões. O trabalho também salienta que algumas instituições

possuem boa freqüência, mas não se manifestam ou contribuem durante as plenárias.

Ao analisar a variável experiência dos entrevistados a partir do Jogo das Percepções as

interpretações das imagens tiveram como base a realidade vivenciada pelo sujeito. Durante a

aplicação do Jogo das Percepções os entrevistados manifestaram o desejo em aprender e

compartilhar informações, além de discutir sobre problemas encontrados na Bacia

Hidrográfica do Rio Sergipe. Alguns demonstraram não possuir conhecimento algum sobre o

local das paisagens apresentadas durante o Jogo das Percepções.

Avaliando as argumentações dos entrevistados quando estes se deparam com imagens

de paisagens relacionadas à intervenções antrópicas, foi possível observar que o grupo

reconhece os impactos e sabem discutir detalhadamente sobre suas repercussões no ambiente,

cada um dentro de suas individualidades e estilos de vida. Por outro lado, a análise das

imagens de paisagens onde as intervenções antrópicas eram mínimas, foi possível descrever

idéias principais com teores topofílicos de aceitação do espaço analisado. Eles atribuíam a

responsabilidade de manutenção dessas imagens por pertencerem a áreas de preservação

permanente e/ou proteção do Poder Publico, argumentando também sobre a conscientização

das pessoas e o acesso restrito. Os resultados descritos foram positivos à medida que os

discursos complementaram-se entre o saber técnico e a vivência, nesse aspecto possibilitando

se vislumbrar uma gestão participativa.

Trabalhando as definições de ambiente rural e urbano foi constatada a falta de contato

físico dos entrevistados ao meio natural, ficando caracterizada a dificuldade das respostas

durante o Jogo das Percepções, quando os entrevistados eram indagados quanto a este

assunto. Neste ponto, observa-se a necessidade de trabalhos em campo, para que o grupo

consiga conhecer a área gerida e suas características ambientais e sociais. Outro aspecto

relevante foi à constatação de que pertencer ou não ao Estado Sergipe, não é uma

CAPÍTULO 5 - CONSIDERAÇÕES FINAIS

175

característica significativa e que, de alguma forma, influenciou no reconhecimento das

paisagens amostradas durante o Jogo das Percepções.

No estudo com a Bacia Hidrográfica do Rio Sergipe a abordagem perceptiva está

relacionada principalmente aos significados, identidade e escolha de usos atribuídos a esta

Bacia Hidrográfica. No trabalho as categorias analisadas são múltiplas e diversificadas,

resultado já esperado devido à heterogeneidade dos atores sociais envolvidos com a Bacia

Hidrográfica e trabalhos nessa pesquisa, como pode ser observado nos Quadros 5.1, 5.2, 5.3 e

5.4.

Ao trabalhar a identidade, foi abordado o conceito de Bacia Hidrográfica, visando não

só a definição do termo técnico, mas também a percepção de como o individuo identifica a

área gerida levando em consideração o contexto sociocultural do sujeito, dentro da proposição

de que a pessoa percebe o que é do seu interesse e o que habitualmente observa. Os resultados

demonstram que os entrevistados a descrevem pelo conjunto de seus componentes

paisagísticos, como um sistema, não sendo desmembrado em partes, tais como, água, solo,

fauna, flora ou comunidade.

O estudo torna possível visualizar a necessidade de discussão sobre o conceito de

Bacia Hidrográfica entre os membros do Comitê, onde 25% do grupo selecionado tiveram

muita dificuldade em defini-lo. Tendo como base este dado, o trabalho destaca a importância

de trabalhos educativos que visem o aperfeiçoamento formativo dos membros do Comitê para

uma melhor gestão.

Ao estudar o significado, tendo o Rio Sergipe como instrumento de análise, foram

trabalhadas as expressões da vivência direta e intima, assim como a indireta e conceitual do

entrevistado. As análises demonstraram distinção entre os segmentos amostrados onde cada

um apresenta sua forma diferenciada de interpretação do mundo, tendo como situação comum

a referência ao Rio com sentimento de afetividade e de forte valor cultural, descrevendo-o

como parte da cultura e história do povo sergipano. Também demonstraram a heterogeneidade

do processo perceptivo entre os membros do Comitê, não possibilitando a padronização

destes por segmentos.

A variável escolha de usos para o sistema de estudo objetivou analisar a importância

da mata ciliar para o ecossistema e quais as possibilidades de usos da Bacia Hidrográfica do

Rio Sergipe. Esta fase do estudo foi dividida em duas etapas e perguntas, onde primeiramente

foi analisada sobre a percepção do entrevistado quanto a importância da mata ciliar para o

ecossistema e logo após foi perguntado sobre a melhor forma de utilização dos recursos

naturais de toda Bacia Hidrográfica.

CAPÍTULO 5 - CONSIDERAÇÕES FINAIS

176

Ao estudar sobre as percepções quanto às funções ambientais da mata ciliar para o

ecossistema, foi comprovado que todos os entrevistados concordam sobre a importância da

mata ciliar para a Bacia Hidrográfica. Cada indivíduo relata o que acham importante de

acordo com a sua experiência. A categoria proteção é especialmente utilizada por todos os

quatro segmentos.

Para finalizar os estudos foi questionado sobre a melhor forma de utilização dos

recursos naturais da Bacia Hidrográfica, sendo que a categoria uso sustentável foi a mais

representativa, demonstrando que são sensíveis as causas ambientais. Mesmo aqueles que

utilizaram a categoria consumo humano, complementa depois dizendo sobre o uso

sustentável.

Quadro 5.1: Caracterização perceptiva do sistema de estudo do segmento Poder Público Federal e Estadual.

Segmento

CBHSE

Sujeito Identidade Significado Importância Escolhas de uso

Poder

Público

Estadual e

Federal

1

Manancial

Preservação

Instrumento de trabalho

Ecossistema

Cultura

Sobrevivência

Proteção

Sustentável

2

Território Produção Proteção

Filtro

Consumo humano

Sustentável

3

Território

Cultura

Território

Produção

Proteção

Consumo humano

Uso sustentável

Quadro 5.2: Caracterização perceptiva do sistema de estudo do segmento Poder Público Municipal.

Segmento

CBHSE

Sujeito Identidade Significado Importância Escolhas de uso

Poder

Público

Municipal

Executivo e

Legislativo

4

Território Manancial

Navegação

Território

Sobrevivência Consumo humano

Uso sustentável

Recreação

5

Área de drenagem Produção Preservação Consumo humano

Recreação

Uso sustentável

6

Área de drenagem

Ecossistema

Cultura

Produção

Proteção

Sobrevivência

Filtro

Uso sustentável

Quadro 5.3: Caracterização perceptiva do sistema de estudo do segmento Usuários.

Segmento

CBHSE

Sujeito Identidade Significado Importância Escolhas de uso

Usuários

Empresas e

Indústrias

7

Território

Área de drenagem

Desenvolvimento

Território

Cultura

Proteção

Preservação

Uso sustentável

8

Área de drenagem

Sobrevivência

Desenvolvimento

Área de drenagem

Filtro

Sobrevivência

Proteção

Consumo humano

9

Não sabe definir

Sobrevivência Proteção Recreação

Sustentável

CAPÍTULO 5 - CONSIDERAÇÕES FINAIS

177

Quadro 5.4: Caracterização perceptiva do sistema de estudo do segmento Sociedade Civil.

Segmento

CBHSE

Sujeito Identidade Significado Importância Escolhas de uso

Sociedade

Civil

10 Não sabe definir Cultura

Território

Proteção Abastecimento

humano

11 Não sabe definir Sobrevivência

Conservação

Proteção Uso sustentável

12 Área de drenagem Cultura Proteção

Sobrevivência

Uso sustentável

Com este estudo foi possível examinar como as percepções são diferenciadas, mas ao

mesmo tempo comportam uma ligação subjetiva entre si. Afirmo que investigar

perceptivamente todo um grupo é fazer recortes interpretativos do mosaico de possibilidades

que venham a existir dentro dele, ou seja, interpretar a percepção de cada indivíduo, e após as

respostas conseguir unir as percepções e obter um resultado para o grupo.

Conclui-se acreditando que uma investigação de percepção ambiental pode contribuir

com o entendimento mais contextualizado do ambiente, estimulando novas crenças e,

conseqüentemente hábitos de interação ambiental. A percepção ambiental pode contribuir

para a Educação Ambiental favorecendo a um trabalho de igualdade de condições entre as

partes trabalhadas.

5. 2. Recomendações

A partir de todo o estudo por meio de observações presenciais durante as reuniões do

Comitê, objetivando compreender o funcionamento deste, conversas informais, análise de

Atas e trabalho em campo com o grupo estudado, foi possível constatar algumas dificuldades

enfrentadas entre estrutura física e apoio logístico até a efetiva realização de uma gestão

participativa do Comitê como conselho gestor, atentando também as medidas mitigadoras

para o seu sucesso (Quadro 5.5).

O que pode ser entendido com a descrição do Quadro 5.5 é que o Comitê não possui

verba própria destinada para suas ações, com isso, não possui independência para realizar tais

ações. Outros indícios estão relacionados com o comprometimento dos membros que o

compõem, a centralização das reuniões na capital do Estado, os diferentes níveis de

informação e qualificação sobre os assuntos exigidos para a real participação de todos os

membros, ausência de dados ambientais e fiscalização na Bacia Hidrográfica do Rio Sergipe,

o não acordo entre pautas, tempo e período das reuniões.

CAPÍTULO 5 - CONSIDERAÇÕES FINAIS

178

Para sanar ou mesmo minimizar os problemas citados, que impedem uma gestão

verdadeiramente participativa seria necessário o início da política de cobrança pelo uso da

água, para que o recurso subsidie a gestão da Bacia Hidrográfica e trabalhos do Comitê. Logo

após, a necessidade de implementação de um sistema de distribuição das informações que seja

acessível e sirva como ferramenta de suporte à tomada de decisão de todos os atores

envolvidos. Além disso, ressalte-se o fato de que as desigualdades econômicas e a pressão

política valorizem excessivamente o papel de alguns atores em detrimento de outros. Deste

modo, a apropriação de forma desigual das informações pertinentes e necessárias ao auxílio

da tomada de decisão já se constitui, inicialmente, em um obstáculo a ser superado. Assim,

entendemos que muito se pode avançar no alcance dos resultados efetivos a que se propõe

este colegiado, sendo necessária uma descentralização das informações estratégicas e que as

mesmas sejam transmitidas aos leigos numa linguagem mais acessível, permitindo com isso

uma maior integração e autêntica participação.

Tentando também minimizar os outros fatores, torna-se necessária a realização de

plenárias em cidades que são representadas dentro do Comitê da Bacia Hidrográfica e um

encaminhamento mais direcionado das reuniões, com uma melhor organização em relação a

periodicidade destas.

Existe também a necessidade de trabalhos que possam esclarecer conhecimentos

específicos utilizados no processo decisório, tais como: conhecer o Regimento Interno do

Comitê de Bacia Hidrográfica do Rio Sergipe para que o representante tome ciência de seus

deveres e obrigações como membro gestor; ter conhecimento das informações presentes no

Plano de Bacia Hidrográfica do Rio Sergipe para que este sirva de material bibliográfico para

conhecimento da área gerida, possibilitando também a obtenção de informações importantes

para as discussões nas Plenárias e fora delas; definições de conceitos básicos como o de Bacia

Hidrográfica, Comitê de Bacia, mata ciliar, gestão participativa, enfim, conceitos que fazem

parte do discurso atual.

Seria interessante fazer o levantamento de informações pessoais e intenções do corpo

de membros do Comitê, possibilitando a caracterização do grupo. Outro aspecto importante e

que chama muita atenção quando se observa a lista de presença durante a gestão 2008/2010

foi o reduzido número de mulheres que ocupam as cadeiras do Comitê, e quando ocupam em

sua maioria ocupam o posto de suplência, e também a não existência durante as quatro

gestões de mulheres ocupando a cadeira de presidência.

CAPÍTULO 5 - CONSIDERAÇÕES FINAIS

179

Dificuldades encontradas no Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio Sergipe e medidas mitigadoras

Dificuldades para a implementação da participação Algumas condições para o sucesso do processo

participativo

Dificuldades na estrutura física Medidas mitigadoras para os problemas de estrutura física:

Não possuir sede própria para melhor organização e

desenvolvimento dos trabalhos.

Falta de equipamentos para escritório e viagens a campo.

Falta de funcionários, incluindo também verba destinada

especificamente ao Comitê, visando ter autonomia para

suas ações.

Início da política de cobrança pelo uso da água para que o

referido recurso subsidie aos órgãos responsáveis pela

gestão da Bacia Hidrográfica, entre eles o Comitê de

Bacia Hidrográfica.

Dificuldades em relação ao funcionamento e

encaminhamento do processo participativo:

Medidas mitigadoras para as dificuldades em relação ao

funcionamento e encaminhamento do processo participativo:

Falta de quórum das plenárias vindo a causar atrasos

nos encaminhamentos das reuniões do Comitê,

provocando entre os membros assíduos desânimo e

descrença no processo participativo de gestão.

Descontinuidade e descompromisso de alguns

representantes.

O membro representante que não comparecer no

dia e horário das plenárias em duas convocações

seguidas, sem justificativa prévia, será exonerado.

Falta de apoio ou condições de participação para

pessoas realmente interessadas.

Auxílio deslocamento para membros que não

residirem na cidade onde são realizadas as

plenárias.

Centralização das reuniões na cidade de Aracaju

dificultando a participação dos membros de

municípios distantes da capital sergipana.

Plenárias realizadas nas cidades que são

representadas dentro do Comitê da Bacia

Hidrográfica.

Diferentes níveis de informação e qualificação sobre

os assuntos exigidos para a real participação de

todos os membros.

Horizontalização das informações para os

membros do Comitê de Bacia Hidrográfica através

de capacitações.

Participantes indicados apenas para representar a

instituição não se comprometendo com a causa.

Representantes interessados apenas em interesses

próprios não se comprometendo como instituição

dentro do conselho gestor.

Estudo de acompanhamento dos participantes para

observar qual o grau de comprometimento destes

perante o Comitê de Bacia Hidrográfica.

Falta e até mesmo ausência de dados ambientais

sobre a Bacia Hidrográfica do Rio Sergipe.

Cobrança de informação aos órgãos responsáveis

pelas informações ambientais na Bacia

Hidrográfica e permuta de informações para com

este.

Ausência de fiscalização ambiental em toda a Bacia

Hidrográfica.

Otimizar os instrumentos e órgãos responsáveis

pela fiscalização ambiental da Bacia Hidrográfica.

Discussões intermináveis.

Pautas extensas e tempo curto para as discussões.

Melhor encaminhamento durante as reuniões.

Intervalo muito grande entre uma reunião e outra. Intervalos menores de uma reunião a outra,

possibilitando a continuidade das discussões.

Quadro 5.5: Dificuldades encontradas no Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio Sergipe e medidas mitigadoras.

CAPÍTULO 5 - CONSIDERAÇÕES FINAIS

180

Outra idéia interessante que pode ser registrada é que a partir da análise das imagens e

das conversas informais foi possível observar a argumentação e o quanto os entrevistados

estão inteirados com os assuntos políticos, administrativos, de gestão, ambientais enfim, o

quanto é importante o pensamento e fala de cada um deles, para observar a riqueza de

informações e argumentações, enfim a participação desses dentro e fora do Comitê como

cidadão e gestor.

A influência de fatores não apenas técnicos, mas também de caráter político,

econômico e cultural torna o processo muito mais complexo, e o estilo de gestão que tende a

prevalecer obedece a uma lógica sócio-técnicista. As relações de poder não desaparecem, mas

passam a ser trabalhadas e negociadas conjuntamente entre leigos e peritos. Deste modo,

discussões e o aprendizado conjunto são fundamentais para que as tarefas comuns e a

construção de um acordo para a Bacia Hidrográfica levem ao entendimento da complexidade

das questões ambientais que precisam ser decididas.

Este trabalho apresenta um modelo de estudo de percepção ambiental que possibilita

servir de referência para serem executados junto à outros Comitês de Bacia Hidrográfica, no

conhecimento de seu quadro de representantes como também na elaboração de ações que

visem a paridade de condições durante as discussões e tomada de decisão para a gestão da

Bacia Hidrográfica.

CAPÍTULO 5 - CONSIDERAÇÕES FINAIS

181

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REFERÊNCIAS

189

APÊNDICES E ANEXOS

190

APÊNDICE A - CADERNETA DE CAMPO

Universidade Federal de Sergipe

Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento e Meio Ambiente

Projeto de Pesquisa: A Percepção Ambiental dos Membros do Comitê da Bacia

Hidrográfica do Rio Sergipe na Gestão das Águas

Caderneta de Campo

Data: __/__/__

1. Ponto: _______

2. Fotografia: ( ) sim ( ) não

3. Localidade: ___________________________________________________________

4. Coordenada: Latitude _____ Longitude _____

5. Dados altimétricos: ____ m

6. Presença de recursos hídricos: ( ) sim ( ) não

7. Relevo: ( ) colinoso ( ) convexo

8. Lançamento de esgoto: ( ) sim ( ) não ( ) no solo ( ) na água

9. Foco de lixo: ( ) sim ( ) não ( ) no solo ( ) na água

10. Disposição do lixo: ( ) sim ( ) não ( ) desordenado ( ) concentrado

11. Vegetação: ( ) existente ( ) esparsa ( ) concentrada ( ) inexistente

Descreva: _____________________________________________________________

12. Uso e ocupação do solo: ( ) pastagem ( ) agricultura ( ) irrigação ( ) outros

13. Mata ciliar: ( ) existente ( ) exuberante ( ) impactada ( ) inexistente

14. Presença de animais: ( ) sim ( ) não

Quais? _______________________________________________________________

Observações:________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

APÊNDICES E ANEXOS

191

APÊNDICE B - ENTREVISTA SEMI-ESTRUTURADA PERFIL SÓCIO-

PROFISSIOGRÁFICO

Universidade Federal de Sergipe

Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento e Meio Ambiente

Projeto de Pesquisa: A Percepção Ambiental dos Membros do Comitê da Bacia

Hidrográfica do Rio Sergipe na Gestão das Águas

Entrevista Semi-Estruturada

Perfil Sócio-Profissiográfico

Número de ordem: ___ Data: __/__/___

Nome do entrevistado: _____________________________________________________

1. Sexo:

a - ( ) Masculino b- ( ) Feminino

2. Idade:

a- ( ) 20 a 30 anos

b- ( ) 31 a 40 anos

c- ( ) 41 a 50 anos

d- ( ) 51 a 60 anos

e- ( ) 61 a 70 anos

3. Naturalidade:

a- ( ) Estado de Sergipe, qual município? Cedro de São João

b- ( ) Outro estado do Brasil, qual? _____________

4. Estado civil:

a-( ) Solteiro(a)

b-( ) Casado(a),

c-( ) Separado(a),

d-( ) Desquitado(a),

APÊNDICES E ANEXOS

192

e-( ) Divorciado(a)

f-( ) Viúvo(a),

g-( ) Relação marital estável

5. Escolaridade:

a-( ) Não sabe ler e escrever.

b-( ) 1º grau incompleto.

c-( ) 1º grau completo/2º grau incompleto.

d-( ) 2º grau completo/ 3º grau incompleto.

e-( ) 3º grau completo/ Pós-graduação, qual o curso de formação?

f-( ) Mestrado/ Doutorado em que área?

6. Faixa de renda:

a-( ) Até 1 salário mínimo.

b-( ) Maior que 1 até 3 salários mínimos.

c-( ) Maior que 3 até 6 salários mínimos.

d-( ) Maior que 6 até 9 salários mínimos.

e-( ) Maior que 9 até 12 salários mínimos.

f-( ) Maior que 12 salários mínimos.

7. Entidades, associações ou movimentos sociais que participa:

a-( ) Sindicato, qual? SENGE e o Sindicato de Extensão Rural

b-( ) Associação de bairro, qual? Fórum Pensar Cedro

c-( ) Associação ambientalista, qual? _____________________

d-( ) Pastoral da Igreja, qual? ____________________________

e-( ) Movimento feminista, qual? _________________________

f-( ) Movimento pela igualdade racial, qual? ________________

g-( ) Associação profissional, qual? _______________________

h-( ) Não participa de movimentos ou entidades.

8. Ocupação/profissão nos últimos três anos:

a-( ) Funcionário público.

b-( ) Funcionário de empresa privada.

c-( ) Profissional liberal, qual?

APÊNDICES E ANEXOS

193

d-( ) Estudante.

e-( ) Atividades do lar.

f-( ) Empresário.

g-( ) Desempregado.

h-( ) Aposentado.

9. Classificação quanto a titulação dentro do Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio Sergipe e

número de reuniões que fez parte:

a- ( ) Membro titular, quantas reuniões participou desde o início da gestão 2008 a 2010?

b- ( ) Membro suplente, quantas reuniões participou desde o início da gestão 2008 a 2010?

Outras informações:

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

APÊNDICES E ANEXOS

194

APÊNDICE C - JOGO DAS PERCEPÇÕES

Universidade Federal de Sergipe

Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento e Meio Ambiente

Projeto de Pesquisa: A Percepção Ambiental dos Membros do Comitê da Bacia

Hidrográfica do Rio Sergipe na Gestão das Águas

Número de ordem: ___ Data: __/__/__

Nome do entrevistado: _______________________________________________

JOGO DAS PERCEPÇÕES

Tempo início __: __

PRIMEIRO MOMENTO

Entregar as fotografias embaralhadas, Inicialmente deixe que o participante observe as

fotografias e anote as reações.

1º - O que as imagens retratam para você? (descreva sobre todas as imagens)

Objetivo da questão: Evidenciar a percepção do participante sobre o objeto de estudo.

1 2 3 4 5

6 7 8 9 10

11 12 13 14 15

16 17 18 19 20

21 22 23 24 25

26 27 28 29 30

2º - Sabe de onde são essas imagens? (reconhecer se são de ambiente rural ou urbano)

Objetivo da questão: Evidenciar a identificação do participante sobre o local investigado.

APÊNDICES E ANEXOS

195

SEGUNDO MOMENTO

Separe as imagens em ambiente urbano e ambiente rural e justifique a sua escolha:

Todas as imagens retratam a Bacia Hidrográfica do Rio Sergipe?

Caso uma ou mais imagens não sejam percebidas como da Bacia Hidrográfica do Rio Sergipe,

solicite que sejam separadas. Isso pode evidenciar a percepção ou conhecimento do

participante sobre o local investigado, a ser analisado posteriormente.

(Anote os números das fotos separadas se esse for o caso)

TERCEIRO MOMETO

Solicite ao participante que separe as imagens em impactadas e não impactadas. Peça que o

participante organize as fotografias em tantos grupos quanto julgar pertinente sobre a temática

investigada. Neste momento do jogo, ao ser finalizada a organização dos grupos de imagens,

pergunte ao participante primeiro sobre um dos lados do contraste investigado, primeiro sobre

as imagens de impacto e depois das imagens de não impacto (aqui é importante que os

diálogos sejam gravados para posterior registro e análise).

Com as fotografias já numeradas no verso para não influenciar o participante, indagar:

1º - Quantos grupos foram organizados e quais?

2º - O que cada grupo significa?

3º - Por que ocorrem?

APÊNDICES E ANEXOS

196

APÊNDICE D - ENTREVISTA SEMI-ESTRUTURADA

Universidade Federal de Sergipe

Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento e Meio Ambiente

Projeto de Pesquisa: A Percepção Ambiental dos Membros do Comitê da Bacia

Hidrográfica do Rio Sergipe na Gestão das Águas

Entrevista Semi-Estruturada

Primeira questão: O que você entende por Bacia Hidrográfica?

Objetivo da questão: devido à abstração desse conceito, pretende-se entender qual a percepção

do conceito de bacia hidrográfica pelos membros do Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio

Sergipe.

Segunda questão: O que significa para você o Rio Sergipe?

Objetivo da questão: identificar o significado do Rio Sergipe para os membros do Comitê da

Bacia Hidrográfica do Rio Sergipe.

Terceira questão: Qual a importância da mata ciliar para o Rio?

Objetivo da questão: buscar entender a percepção dos membros do Comitê da Bacia

Hidrográfica do Rio Sergipe, quanto às “funções ambientais” da mata ciliar para o

ecossistema.

Quarta questão: Em sua opinião qual a melhor forma de utilização dos recursos naturais da

Bacia Hidrográfica do Rio Sergipe?

Objetivo da questão: Avaliar a percepção sobre a escolha de uso dos recursos naturais da

Bacia Hidrográfica do Rio Sergipe pelos membros do Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio

Sergipe.

Quinta questão: O que o levou a participar do Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio Sergipe?

Objetivo da questão: Avaliar a relação de comprometimento do entrevistado com o Comitê da

Bacia Hidrográfica do Rio Sergipe.

APÊNDICES E ANEXOS

197

APÊNDICE E - CARTA DE APRESENTAÇÃO DO PROJETO DE PESQUISA

AO COMITÊ DA BACIA HIDROGRÁFICA DO RIO SERGIPE

Universidade Federal de Sergipe

Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento e Meio Ambiente

Projeto de Pesquisa: A Percepção Ambiental dos Membros do Comitê da Bacia

Hidrográfica do Rio Sergipe na Gestão das Águas

Carta de Apresentação do Projeto de Pesquisa

ao Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio Sergipe

Prezado/a Senhor/a.

Eu Alba Vívian Amaral Figueiredo, venho por meio desta, apresentar a V.S.ª o Projeto

de Pesquisa: Percepção Ambiental na Gestão da Bacia Hidrográfica - O Olhar do Comitê

da Bacia Hidrográfica do Rio Sergipe - que vem sendo desenvolvido desde fevereiro de

2009, sob a orientação de Paulo Sérgio Maroti, professor do Programa de Pós-Graduação em

Desenvolvimento e Meio Ambiente da Universidade Federal de Sergipe e membro titular do

Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio Sergipe, representando a mesma.

O projeto mencionado tem por objetivo geral verificar a percepção ambiental dos

segmentos que compõem o Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio Sergipe em relação à Bacia

Hidrográfica e Rio gerenciado.

No momento, o projeto se encontra em fase de coleta de dados, os quais compõem-se

de viagens a campo, levantamento bibliográfico e documental e entrevista com membros do

Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio Sergipe. A nossa expectativa é conseguir responder ao

questionamento da pesquisa: A percepção ambiental dos segmentos do Comitê da Bacia do

Rio Sergipe se dá de que forma, levando-se em consideração os diferentes atores sociais

envolvidos? Para que consigamos responder a este questionamento será necessária a

colaboração de V.S.ª por meio de uma conversa informal em data, local e horário agendado,

pelo participante desta.

Certa de contar com a vossa compreensão e colaboração, coloco-me à disposição para a

prestação de quaisquer informações adicionais que sejam necessárias pelo e-mail:

[email protected]

Atenciosamente,

Mestranda Alba Vívian Amaral Figueiredo

Universidade Federal de Sergipe – Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento e Meio

Ambiente.

Aracaju, 20 de julho de 2010.

APÊNDICES E ANEXOS

198

APÊNDICES F – REGISTRO FOTOGRÁFICO EM PONTOS DA BACIA

HIDROGRÁFICA DO RIO SERGIPE

ANEXO A – ATAS DAS XXXII E XXXIII REUNIÕES ORDINÁRIAS E VIII, IX E X

REUNIÕES EXTRAORDINÁRIAS

APÊNDICES E ANEXOS