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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO JOÃO DEL REI – UFSJ PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ENGENHARIA MECÂNICA RHUAN COSTA SOUZA AVALIAÇÃO DA FORMAÇÃO DOS FILMES DE FeCO 3 E FeS NA CORROSÃO DO AÇO CARBONO API X65 EM CONDIÇÕES DE PRESSÃO E TEMPERATURA ELEVADAS, CONTENDO CO 2 E H 2 S. SÃO JOÃO DEL REI 14 de julho de 2017

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO JOÃO DEL REI – UFSJ

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ENGENHARIA MECÂNICA

RHUAN COSTA SOUZA

AVALIAÇÃO DA FORMAÇÃO DOS FILMES DE FeCO3 E FeS NA

CORROSÃO DO AÇO CARBONO API X65 EM CONDIÇÕES DE PRESSÃO

E TEMPERATURA ELEVADAS, CONTENDO CO2 E H2S.

SÃO JOÃO DEL REI

14 de julho de 2017

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RHUAN COSTA SOUZA

AVALIAÇÃO DA FORMAÇÃO DOS FILMES DE FeCO3 E FeS NA

CORROSÃO DO AÇO CARBONOAPI X65EM CONDIÇÕES DE PRESSÃO E

TEMPERATURA ELEVADAS, CONTENDO CO2 E H2S.

Dissertação apresentada ao

curso de Mestrado da

Universidade Federal de São

João Del Rei como requisito

para obtenção do título de

mestre em Engenharia

Mecânica.

Área de Concentração: Caracterização e

Propriedade Mecânica dos Materiais

Orientador: Alysson Helton Santos Bueno

São João Del Rei

14 de julho de 2017

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AGRADECIMENTOS

Agradecimentos primeiramente a Deus por todas as oportunidades

concedidas em minha vida pessoal e profissional. Sem a certeza que existia

uma força maior que nos suporta, nada seria possível.

Aos meus pais, pelo apoio e motivação incondicional, em todos os

momentos da minha vida. Sem vocês eu não seria nada, e nada do que eu

faça vai retribuir tudo que vocês fazem por mim.

Ao meu irmão, pela vibração em cada conquista minha, pelos exemplos

que me deu durante essa fase de nossas vidas, por ser uma das motivações

para o meu crescimento.

Aos meus avós e familiares, que independente do que houver, vão

sempre torcer por mim e me apoiar.

À minha namorada, amiga, companheira, ajudante, braço direito, linda

da minha vida. Você tem uma gigantesca responsabilidade nessa conquista. O

que você fez e faz pra mim todos os dias não se agradece, já que nenhum

“muito obrigado" vai ser suficiente. Seu carinho, apoio e sua amizade me

deram força quando eu mais precisei.

Aos amigos/irmãos da família Damas e Tingas e agregados, por toda a

amizade, parceria e compreensão durante essa caminhada.

A todos os amigos e companheiros do LCM, as experiências e histórias

trocadas no laboratório vão ficar pra vida. Obrigado pela parceria e amizade.

Aos parceiros do grupo CO2/H2S, sem a ajuda de vocês esse trabalho

não seria concluído. Obrigado pela cooperação, amizade e parceria.

Aos técnicos e servidores da UFSJ, pelo apoio e convívio de todos os

dias, as brincadeiras e histórias, além do excelente trabalho desenvolvido por

todos vocês foram fundamentais.

Aos parceiros do CENPES/PETROBRAS, por toda a ajuda, por todos os

concelhos e conhecimentos compartilhados.

Por último, mas não menos importante, ao meu amigo e orientador

professor Dr. Alysson H. S. Bueno, pelos anos de parceria, amizade,

orientação e apoio. Sua paixão e dedicação pela pesquisa e por essa

universidade é algo que me motiva a cada dia.

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RESUMO

SOUZA, R. C.. Avaliação da formação dos filmes de FeCO3 e FeS na

corrosão do aço carbono API X65 em condições de pressão e temperatura

elevadas, contendo CO2 e H2S. (Dissertação – Mestrado). Universidade

Federal de São João Del Rei, São João Del Rei, 2017.

As indústrias do setor de óleo e gás, na constante busca por novas reservas

para a exploração, têm se deparado com diferentes condições cada vez

maisagressivas para as estruturas e tubulações metálicas no ponto de vista da

corrosão. Entre os diversos contaminantes corrosivos presentes no petróleo e

gás destacam-se o CO2 e o H2S.Os processos corrosivos relacionadosaesses

compostos, sweet e sour corrosion respectivamente, devem ser

detalhadamente estudados a fim de se reduzir ao máximo os prejuízos

causados no setor. Devidoàextrema toxidade e dificuldade de se trabalhar com

o gás sulfídrico (H2S) em laboratórios que não contam com linhas e instalações

específicas, a utilização do tiossulfato de sódio se mostra uma excelente

alternativa para a geração de H2S nainterface metal/solução.O presente

trabalho teve como objetivo, estudar e detalhar o comportamento e os

produtosdecorrosãodoaçocarbonoAPIX65quandoexpostotantoasweetquantoas

our corrosion simultaneamente, assim como conhecer as consequências do

caráter competitivo dos mecanismos de formação dos filmes de sulfeto e

carbonato de ferro. Para estas análises foram utilizadasas técnicas de

Espectroscopia de Impedância Eletroquímica (EIE), Resistencia à Polarização

Linear (RPL), e testes de imersão e perda de massa realizados em uma

autoclave com pressão parcial de 5 bar deCO2, a 25, 90 e 120°C. Os produtos

de corrosão foram avaliados e caracterizados por meio

deMicroscopiaEletrônicadeVarredura (MEV) e Difratometria de Raios-X. Os

resultados obtidos confirmaram uma grande influência do tempo de imersão, da

geração do H2S pelo tiossulfato e da temperatura, nos processos corrosivos e

nos produtos formados. A precipitação das películas foi favorecida com o

aumento da temperatura de teste e os filmes de FeCO3 formados a 120°C

apresentaram uma boa capacidade protetiva, mesmo com o pouco tempo de

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imersão. Quando se adicionou tiossulfato de sódio, foram comprovadas a

geração de H2S e a consequente formação dos sulfetos de ferro. Esses filmes

apresentaram uma capacidade maior de reduzir a taxa de corrosão, mesmo

não sendo tão aderentes quanto o carbonato de ferro na superfície das

amostras. O mecanismo competitivo de formação se mostrou mais intenso nas

temperaturas mais elevadas e mesmo prejudicando a integridade dos filmes de

sulfeto gerados, teve a capacidade de reduzir a taxa de corrosão nos meios

estudados durante as 48 horas de imersão.

Palavras Chave: sweet corrosion, sour corrosion, formação de filme,

tiossulfato, carbonato de ferro, sulfeto de ferro.

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ABSTRACT

SOUZA, R. C.. Evaluation of FeCO3 and FeS film formation onAPI X65

carbon steel corrosion under high pressure and temperature conditions,

in CO2 and H2S environments. (Thesis - Master Degree). Federal University of

São João Del Rei, São João Del Rei, 2017.

The oil and gas industries, in the constant search for new exploration reserves,

have encountered different conditions increasingly aggressive to themetallic

structures and pipes in the point of view of corrosion. Among various corrosives

contaminants present in the oil and gas the CO2 and H2S should be observed.

Corrosive processes related to these compounds, sweet and sour corrosion

respectively, should be studied in detail in order to reduce the damage caused

in the industry.Due to the extreme toxicity and difficulty of working with

hydrogen sulfide gas (H2S) in laboratories that do not rely on specific lines and

facilities, the use of sodium thiosulphate if shows an excellent alternative for

H2S generation in metal/solution interface.The present work aimed to study and

refine the behavior and corrosion products of API X65 carbon steelwhen

exposed both sweet as the sour corrosion at the same time, as well as knowing

the consequences of the competitive character of theformation mechanisms of

iron carbonate and sulphide. Through the techniques of Electrochemical

Impedance spectroscopy (EIS), Linear Polarization Resistance (LPR),

immersion testing and loss of mass conducted in an autoclave with a CO2partial

pressure of 5 bar at 25, 90 and 120°C.The corrosion products have been

evaluated and characterized by scanning electron microscopy (SEM) and X-ray

diffraction. The results confirmed a major influence of immersion time, H2S

generation by thiosulfate and temperature in the corrosive processes and

formed products. The films precipitationwas favored with increasing

temperature, and the films of FeCO3 formed 120°C showed a good protective

capacity, even in the low time of immersion. When sodium thiosulphate was

added, the generation of H2S and the consequent formation of iron sulfides

were proved. These films had a greater capacity to reduce the corrosion rates,

even though they were not as adherent as the iron carbonate on the surface

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samples. The competitive mechanism of formation showed to be more intense

in the higher temperatures and even damaging the integrity of the sulfide films

generated, had the capacity to reduce the corrosion rate in the media studied

during the 48 hours of immersion.

Key Words: sweet corrosion, sour corrosion, corrosion scale formation,

thiosulfate, iron carbonate, iron sulfide.

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LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Figura 1: Mecanismo de corrosão pelo H2S (BELLARBY, 2009). .................................................. 12

Figura 2: Distribuição das espécies iônicas (SKOOG, D. A. et al. apud BONFIM, 2013). ............. 12

Figura 3: Corrosão do aço carbono em diferentes temperaturas (Silva, 2012). ......................... 17

Figura 4: Desenho esquemático das linhas de produção e transporte de óleo e gás (SILVA,

2012). .......................................................................................................................................... 25

Figura 5: Autoclave utilizada nos ensaios. .................................................................................. 33

Figura 6: Esquema de funcionamento da autoclave. .................................................................. 33

Figura 7: Modelos dos corpos de prova utilizados nos ensaios eletroquímicos (A) e imersão (B).

..................................................................................................................................................... 35

Figura 8: Procedimento para lixamento dos corpos de prova. ................................................... 35

Figura 9: Dessecador a vácuo. ..................................................................................................... 35

Figura 10: Microscópio óptico utilizado. ..................................................................................... 36

Figura 11: Microscópio eletrônico utilizado. ............................................................................... 36

Figura 12: Potenciostato μAutolab utilizado. .............................................................................. 38

Figura 13: Esquema de disposição dos corpos de prova A e B. .................................................. 39

Figura 14: Balança de precisão. ................................................................................................... 40

Figura 15: Microscopia ótica do aço API X65, aumentos (A)100x e (B)1000x. ........................... 42

Figura 16: Diagrama de Nyquist, C1, C2 e C3. ............................................................................. 43

Figura 17: Diagrama de Nyquist, C4, C5 e C6. ............................................................................. 44

Figura 18: Diagramas de Bode módulo e Fase. ........................................................................... 46

Figura 19: |Z| na última frequência avaliada, da primeira hora para a última hora de imersão.

..................................................................................................................................................... 48

Figura 20: Curvas de RPL das 6 condições estudadas. ................................................................ 50

Figura 21: Curvas de Rp vs. Tempo. ............................................................................................ 51

Figura 22: Δm médio, em gramas, antes e depois do processo de decapagem. ........................ 53

Figura 23: Taxa de corrosão média obtida por perda de massa nas 6 condições estudadas. .... 54

Figura 24: Amostra lixada antes da imersão (A) e Corpos de prova utilizados para a

caracterização dos produtos de corrosão formados nas condições 1 a 6 (B a G,

respectivamente). ....................................................................................................................... 55

Figura 25: Microscopias Eletrônicas de Varredura das amostras expostas às 6 condições

estudadas, aumento de 400x, C1 (A), C2 (B), C3 (C), C4 (D), C5 (E) e C6 (F). .............................. 56

Figura 26: EDS das condições 1 a 3. ............................................................................................ 57

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Figura 27: EDS das condições 4 a 6. ............................................................................................ 57

Figura 28: Substrato exposto na amostra da condição 2 e Substrato exposto e Cristais mais

finos na amostra da condição 3, aumento de 150x. ................................................................... 59

Figura 29: Análises transversais de uma amostra sem imersão e das amostras expostas às 3

condições sem H2S. ..................................................................................................................... 60

Figura 30: Película descontínua de FeS, Cristais isolados de FeCO3 e substrato exposto na

condição 5, aumento de 30x. ..................................................................................................... 61

Figura 31: Formação do FeCO3 em lâminas, aumento 1200x. .................................................... 62

Figura 32: Produtos de corrosão na amostra da condição 6, aumento 400x. ............................ 63

Figura 33: Espectros de difração de Raios-X das amostras expostas às 6 condições. ................ 64

Figura 34: Quantificação das fases por análise de Rietveld. ....................................................... 66

Figura 35: Concentração de H2S gerado em função do tempo de imersão. ............................... 67

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LISTA DE TABELAS

Tabela 1: Diferentes produtos da sour corrosion (SHI et al., 2016). ........................................... 14

Tabela 2: Resumo de alguns estudos sobre sweet e sour corrosion. .......................................... 22

Tabela 3: Tipos e aplicações de materiais para dutos (OLIVEIRA et al., 2016). .......................... 25

Tabela 4: Condições avaliadas. .................................................................................................... 33

Tabela 5: Valores de dureza obtidos nos laboratórios do CENPES/PETROBRAS. ....................... 41

Tabela 6: Composição química do aço API X65. .......................................................................... 41

Tabela 7: Valores de |Z| na última frequência avaliada ............................................................. 48

Tabela 8: Valores de Rp para 1 e 48 horas de Imersão. ............................................................... 51

Tabela 9: Valores de Δm médio (g) antes e depois do processo de decapagem. ....................... 53

Tabela 10: Valores da taxa de corrosão obtidos por perda de massa. ....................................... 54

Tabela 11: Resumo dos principais resultados eletroquímicos obtidos. ...................................... 68

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LISTA DE SIGLAS E ABREVIATURAS

° Grau

°C Graus Celsius

% Porcentagem

Θ Ângulo de Fase

Ω Ohm

ΔE Perturbação de Potencial

ΔI Perturbação de Corrente

ΔRp Variação de resistência à Polarização Linear

cm² Centímetro Quadrado

e- Elétron

h Hora

icorr Corrente no Potencial de Corrosão

L Litro

mm Milímetro

Mol/L Mol por Litro

V Volt

Hz Hertz

|Z| Módulo da Impedância

Δ|Z| Variação do Módulo da Impedância

Z Impedância

Z' Parte Real da Impedância

Z" Parte Imaginária da Impedância

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LISTA DE ESPÈCIES QUÍMICAS

Cl- Íon Cloreto

CO2 Dióxido de Carbono

CO32- Íon Carbonato

Fe Ferro

Fe(CO3)22- Bicarbonato ferroso dissolvido

Fe2+ Ferro iônico

FeCO3 Carbonato de Ferro

FeOH(ads) Hidróxido de Ferro

FeOH+ Íon hidróxido de ferro

FeS Sulfeto de Ferro

H+ Hidrogênio iônico

H2 Hidrogênio Molecular

H2CO3 Ácido Carbônico

H2O Água

H2S Sulfeto de Hidrogênio

HCO3- Carbonato de Hidrogênio ou Hidrogenocarbonato

HS- Íon hidrogenosulfeto

NaCl Cloreto de Sódio

O2 Oxigênio molecular

O2- Íon óxido

OH- Hidroxila

S0 Enxofre elementar

S2- Íon sulfeto

Sads Enxofre adsorvido

S2O32- Íon Tiossulfato

H3O+ Íon Hidrônio

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Sumário

1. INTRODUÇÃO ............................................................................................................................ 1

1.1 Objetivo ............................................................................................................................... 4

1.2 Justificativa .......................................................................................................................... 5

2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA ........................................................................................................... 7

2.1 A indústria de petróleo e gás .............................................................................................. 7

2.2 Corrosão em meios com CO2 e presença de H2S ................................................................. 8

2.2.1 Influencia do pH ......................................................................................................... 15

2.2.2 Influencia da temperatura ......................................................................................... 16

2.2.3 Influência da pressão CO2........................................................................................... 18

2.3 Utilização do tiossulfato de sódio como alternativa ao gás H2S ....................................... 19

2.3.1 Reações envolvendo o tiossulfato de sódio ............................................................... 21

2.4 Estado da arte ................................................................................................................... 21

2.5 Ligas e propriedades metálicas - Aços para dutos ............................................................ 23

2.6 Técnicas eletroquímicas ensaios de corrosão ................................................................... 26

2.6.1 Espectroscopia de impedância eletroquímica (EIE) ................................................... 26

2.6.2 Resistência à polarização linear (RPL) ........................................................................ 27

2.7 Ensaios de imersão e perda de massa .............................................................................. 28

2.8 Técnicas de caracterização ................................................................................................ 29

2.8.1 Microscopia Eletrônica de Varredura (MEV) .............................................................. 29

2.8.2 Microscopia Ótica (MO) ............................................................................................. 30

2.8.3 Difração de Raios X (DRX) ........................................................................................... 30

3. MATERIAIS E MÉTODOS .......................................................................................................... 32

3.1.Caracterização do aço API X65 .......................................................................................... 34

3.2.Preparação das amostras .................................................................................................. 34

3.3 Caracterização Metalográfica ........................................................................................... 36

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3.4Ensaios Eletroquímicos ...................................................................................................... 37

3.4.1Ensaios de Espectroscopia de Impedância Eletroquímica (EIE) .................................. 38

3.5Ensaios de Perda de Massa ................................................................................................ 38

3.6Avaliação dos produtos de corrosão .................................................................................. 40

4. RESULTADOS ........................................................................................................................... 41

4.1 Caracterização do aço API X65 .......................................................................................... 41

4.1.1 Dureza ........................................................................................................................ 41

4.1.2 Composição Química .................................................................................................. 41

4.1.3 Caracterização metalográfica ..................................................................................... 42

4.2 Ensaios eletroquímicos...................................................................................................... 42

4.2.1 Espectroscopia de Impedância Eletroquímica (EIE) ................................................... 42

4.2.2 Resistência à Polarização Linear (RPL) ....................................................................... 49

4.3 Perda de massa ................................................................................................................. 52

4.4 Caracterização dos produtos de corrosão ........................................................................ 55

4.4.1 Microscopia Eletrônica de Varredura (MEV) e Espectroscopia de Energia Dispersiva

(EDS) .................................................................................................................................... 56

4.4.2 Difração de Raios-X (DRX) .......................................................................................... 63

4.5 Titulação potenciométrica ................................................................................................ 67

5. DISCUSSÕES ............................................................................................................................. 68

5.1 Caracterização do aço API X65 .......................................................................................... 69

5.2 Influência do tempo de imersão ....................................................................................... 70

5.3 Influência da geração de H2S ............................................................................................. 72

5.4 Influência da Temperatura ................................................................................................ 76

6. CONCLUSÃO ............................................................................................................................ 81

7. TRABALHOS FUTUROS ............................................................................................................. 83

8. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ............................................................................................... 84

ANEXOS ....................................................................................................................................... 91

ANEXO 1: ................................................................................................................................. 91

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ANEXO 2: ................................................................................................................................. 98

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1

1. INTRODUÇÃO

No último século a indústria mundial evoluiu em todos os aspectos

tecnológicos, desenvolvendo novos processos, produtos e descobrindo novas

fontes de recursos naturais. Um ramo da indústria que acompanhou esse

desenvolvimento e se mantém em constante mudança, encontrando novos

desafios a cada passo, é o setor de exploração de óleo e gás, onde é comum a

existência de diversos meios agressivos para equipamentos e estruturas.

Nessa procura por novas fontes de petróleo e gás, as indústrias do meio tem

se deparado também com diferentes condições de operação, muitas vezes os

reservatórios descobertos estão em locais de difícil exploração, ambientes mais

severos, com temperaturas mais elevadas e em águas mais profundas(SILVA;

MOZART, 2015).

Sabe-se que a corrosão, é um problema frequente e rotineiro nesses

ambientes onde válvulas, estruturas e tubulações de aço estão inseridas e

desempenham papéis de extrema importância. Dados da ABRACO,

Associação Brasileira de Corrosão, quantificam os danos causados pela

corrosão na indústria, e mostram por meio de estimativas, que o gasto anual

com corrosão no país é de 15 bilhões de dólares com prejuízos e gastos

combatendo os diferentes mecanismos existentes(LIMA et al., 2011). Esse

gasto se justifica já que acidentes com tubulações de transporte e tanques de

armazenamento de óleo e gás são causadores de imensuráveis danos, como

contaminações de rios e mares, incêndios e explosões, enormes prejuízos

econômicos e até perdas de vidas humanas. Autores afirmam que em média,

50% das falhas relacionadas aos materiais são devido à corrosão(BARKI,

2011).

A corrosão interna nas tubulações de extração e transporte é foco de

vários estudos presentes na literatura, e a ação de alguns contaminantes

presentes em grandes quantidades nos poços de petróleo e reservas de gás,

nesse processo corrosivo é amplamente estudada, porém ainda não é

completamente entendida. Para a extração do petróleo dos poços, existem

diferentes métodos que podem ser utilizados, um desses métodos é

empregado pela maior indústria do setor no país (ALMEIDA, 2014), e consiste

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2

na injeção da própria água do mar no interior dos poços, já que nos campos de

exploração marítimos, essa é a alternativa mais economicamente viável.

Essa água pressurizada expulsa o petróleo das porosidades das rochas

auxiliando a extração. Quando o poço já foi bastante explorado, é utilizada a

injeção de dióxido de carbono (CO2) ao invés de água, para que o gás entre

nas menores porosidades das rochas e se aproveite melhor o poço. A adição

desse gás nos sistemas petrolíferos gera a contaminação e a consequente

corrosão das tubulações pelo mecanismo conhecido como sweet corrosion. O

gás CO2 seco em contato com as superfícies metálicas não é agressivo, porém

quando se dissolve no meio aquoso no interior dos poços, ele se dissocia e

forma o ácido carbônico (H2CO3)(SILVA; MOZART, 2015).

Segundo(ABELEV et al., 2009), existem dois efeitos comuns que

ocorrem durante a corrosão por CO2, e são abordados por Moiseeva

(MOISEEVA, 2005). O primeiro fenômeno é o fato de que para um mesmo pH,

soluções saturadas de dióxido de carbono apresentam uma maior

característica agressiva para o aço em comparação à mesma solução sem a

contaminação de CO2. Autores atribuem esse comportamento às

características de solução tampão que o ácido carbônico, produto da

dissolução do dióxido de carbono na água, apresenta(DUGSTAD, 2006;

MOISEEVA, 2005). Outro efeito causado pela sweet corrosion, sendo este

importante para entender a diminuição da taxa de corrosão que este material

apresenta em alguns meios com CO2, é a formação de filmes de carbonato de

ferro FeCO3 na superfície anódica do aço. A precipitação desse filme está

relacionada, entre outros fatores que serão abordados posteriormente, com a

baixa solubilidade do carbonato na solução(MOISEEVA, 2005).

Os poços de petróleo explorados recentemente têm apresentado

contaminantes como enxofre elementar, sulfatos e sulfetos em concentrações

cada vez maiores(BARKI, 2011; MOISEEVA, 2005). Entre esses

contaminantes, e com uma importância significativa na corrosão interna das

tubulações, encontra-se o sulfeto de hidrogênio (H2S) e suas reações e

impactos causados nas estruturas metálicas, também chamados de sour

corrosion, são discutidos por Yin e seus colaboradores(YIN et al., 2008). A

presença desses gases se tornou então algo comumnosambientes envolvendo

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3

petróleo e gás, salientando um grande interesse da indústria petrolífera em se

compreender os efeitos desses mecanismos de corrosão em suas estruturas

(LIMA et al., 2011).

A interação CO2/H2S é atualmente o mecanismo corrosivo mais comum

enfrentado pelos engenheiros de corrosão e manutenção desse setor (ABELEV

et al., 2009; SUN et al., 2012). Sabe-se quando estes gases estão

dissolvidosemmeioaquoso,promovem a redução do pH, favorecendo os

processos corrosivos.Porém a relação entre a corrosão pelo dióxido de

carbono (CO2) com a interação e variação na concentração de sulfeto de

hidrogênio (H2S) ainda não é totalmente compreendida, sendo ainda objeto de

inúmeras pesquisas e trabalhos encontrados na literatura (GENCHEV et al.,

2015; ZHANG; CHENG, 2011; ZHAO et al., 2009).

A maioria dos estudos realizados busca compreender o comportamento

dos gases CO2, H2S e O2 dissolvidos em meio aquoso e a formação dos

diferentes produtos da corrosão nas paredesdosgasodutoscomo carbonato de

ferro, sulfetos de ferro e óxidos de ferro.Concluindo que vários fatores como a

composição e difusividade dos gases, solubilidadeecinéticadasreações,

influenciam diretamente a taxa de corrosão e a formação dos produtos.

Vários autores, concluem que o filme de carbonato de ferro, também

chamado desiderita, tem suas propriedades fortemente influenciadas pelo pH e

pela temperatura da solução. Apresentando características protetoras melhores

quando o pH é maior que 7 e baixa capacidade de diminuir a corrosão em

meios mais ácidos. Quanto a influencia da temperatura Abelev (ABELEV et al.,

2009)entre outros autores, afirmam que ocorrem diversas mudanças nos

mecanismos de corrosão do aço carbono entre 40 e 60°C. A formação dos

produtos da sour corrosion pode ser de diferentes formas e apresentarem

propriedades físico-químicas distintas, podendo, além de apresentarem

características não protetoras, induzir novos mecanismos de corrosão no

sistema. O filme de sulfeto de Ferro (FeS) ocorre com grande frequência e

muitas vezes tem sua formação concorrente a do FeCO3.

A seleção dos materiais empregados nas diversas áreas da indústria

petroquímica é uma etapa fundamental para a garantia de disponibilidade e

confiabilidade das estruturas. Já que a escolha é realizada apenas uma vez e

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na etapa inicial do projeto. Existem diferentes materiais utilizados na fabricação

dessas tubulações, porém os aços carbono se destacam por uma excelente

relação custo benefício. Apesar de apresentarem resistências mecânicas e à

corrosão inferior a muitas ligas existentes, os aços carbono tem uma

propriedade que os torna uma excelente alternativa para essas funções, eles

tem a facilidade de, nas condições favoráveis, formarem uma camada

significante do filme FeCO3, reduzindo assim as taxas de corrosão no material.

O filme de carbonato tem então, um importante papel na sweet corrosion, sua

presença e características impactam diretamente na taxa de corrosão interna

de tubulações.

Na maioria das vezes, nos ambientes de trabalho, os dutos de extração

e transporte de óleo e gás, estão expostos tanto a sweet quanto a sour

corrosion e condições de elevas pressões e temperaturas. Desta forma, estes

fatores influenciam diretamente na formação dos filmes de carbonato e sulfeto,

o que torna importante o estudo da interação desses dois mecanismos distintos

de corrosão para a compreensão da cinética de formação desses filmes nas

diversas condições encontradas in situ.

1.1Objetivo

O objetivo do presente estudo foi avaliar o processo de formação dos

filmes de carbonato de ferro (FeCO3) e sulfeto de ferro (FeS) na corrosão do

aço carbono API X65 em condições agressivas. Meios contendo o

contaminante H2S, pressões de CO2 e temperaturas elevadas. Condições estas

que simulam os ambientes encontrados na exploração de petróleo e gás

natural em todo o mundo.

A finalidade principal desta pesquisa foi compreender o comportamento

desses aços e estudar o processo competitivo de formação dos filmes,

analisando as condições ideais de formação de cada produto da corrosão por

meio da interação CO2/H2S. Assim como a verificação da influencia de fatores

como pressão de CO2 e temperatura na formação de cada película. Para tal,

uma caracterização do material estudado foi realizada e também técnicas

eletroquímicas foram adotadas para se estudar as condições de sweet e

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sourcorrosion, seguidas de uma caracterização dos filmes formados nas

superfícies dos corpos de prova.

Objetivos secundários:

- Instalação completa da autoclave fornecida pela PETROBRAS no

laboratório de corrosão de materiais da UFSJ.

- Desenvolvimento e formalização dos procedimentos para ensaios

mecânicos e eletroquímicos desenvolvidos no equipamento.

- Avaliação da possibilidade da substituição do gás H2S pelo reagente

tiossulfato de sódio em soluções aquosas, buscando menor risco e custo das

instalações.

- Definição as condições favoráveis de formação do filme protetivo de

carbonato na corrosão pelo CO2.

- Detalhamento das reações químicas que ocorrem no processo de

corrosão do aço carbono em soluções contendo tiossulfato e CO2.

- Conhecimentodos processos de formação dos filmes de carbonato e

sulfeto em diferentes meios agressivos.

- Caracterização os produtos da corrosão do aço carbono nos meios

definidos.

- Estudodo comportamento das soluções de tiossulfato em pressões e

temperaturas diferentes das condições ambientes.

- Comparaçãodos resultados presentes na literatura, obtidos em

soluções padrões contendo H2S, com os encontrados no laboratório utilizando

o tiossulfato de sódio.

1.2 Justificativa

A descoberta de novos poços de petróleo e reservatórios de gás em

grandes profundidades e com características cada vez mais agressivas às

estruturas metálicas de exploração e transporte é uma realidade no país e no

mundo. Torna-se então extremamente importante conhecer o comportamento

mecânico e eletroquímico dos materiais utilizados na fabricação dos dutos

aplicados nesse setor da indústria petroquímica.

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O gás sulfídrico e o dióxido de carbono estão presentes em várias

etapas do processo de extração do óleo em contato com a água do mar rica

em cloreto.A interação desses contaminantes é geradora de diversos

problemas que variam de grandes aumentos de custo na produção até a

possibilidade de acidentes catastróficos. Qualquer esforço buscando o melhor

conhecimento do impacto desses meios agressivos nos aços carbono,

utilizados em tubulações, pode trazer enormes benefícios às indústrias do

setor.

Além disso, o estudo da viabilidade da substituição do gás H2S em

testes de laboratório, pela utilização do tiossulfato de sódio em soluções

aquosas pode colaborar para o crescimento de pesquisas sobre o tema, já que

para testes com o borbulhamento de gás sulfídrico são necessárias instalações

específicas e de elevado custo. O H2S é um gás extremamente inflamável,

corrosivo para muitos materiais e altamente tóxico, podendo ser mortal se

inalado em pouquíssimas concentrações, daí a necessidade de investimento

em segurança e treinamento para se trabalhar com esse composto.

O tiossulfato de sódio é um composto não tóxico, de fácil manipulação e

que em soluções aquosas, na presença de aços carbono, consegue gerar

pequenas frações de H2S na superfície do aço. Torna-se então interessante o

estudo dessas reações, e necessário o correto entendimento da utilização do

tiossulfato em alternativa ao gás sulfídrico.

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2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

2.1 A indústria de petróleo e gás

Sabe-se que já no início do século XIX, o petróleo começou a despertar

os interesses econômicos nos EUA, sendo o primeiro país a designar esforços

científicos e econômicos para o aprimoramento dos conhecimentos a respeito

dessa fonte de energia. Com a invenção dos motores à combustão interna, no

século XX, tendo como combustíveis o diesel e a gasolina, a exploração de

petróleo teve seu boom. Inicialmente os estudos a respeito se concentravam no

âmbito técnico, porém a partir dos anos 60 é que estudos, buscando a

produtividade e o aumento da competitividade dos países, foram realizados por

economistas de todo o mundo (NETO; COSTA, 2007).

A tecnologia para a exploração de petróleo e gás desenvolvida pelos

EUA era, em grande maioria, voltada para reservas encontradas no continente,

conhecidas como bacias onshore. Essa realidade era diferente da situação

brasileira, onde no final da década de 50 já se conhecia a existência de

reservas marítimas, porém com uma grande profundidade. Data de 1968 a

confirmação do primeiro poço offshore em Guaricema (SE) e a primeira

perfuração em Garoupa (RJ)(NETO; COSTA, 2007). Buscando espaço no

mercado do petróleo, o Brasil teve que desenvolver tecnologias de exploração

marítimas de grandes profundidades, já que a média de seus poços chega a

1.000 metros.

Para atuar competitivamente no mercado, a principal empresa do país

buscou Know how no exterior para desenvolver um sistema de produção

flutuante. Daí em diante o país tem se desenvolvido em todos os setores da

indústria de óleo e gás. Na década de 70, um fato impactou diretamente as

políticas energéticas de todo o mundo e contribuiu para o desenvolvimento

dessa indústria. Grandes elevações no preço do petróleo chamadas de

Choques do Petróleo motivaram pesquisas de novas fontes e reservatórios, já

que a demanda dos combustíveis fósseis só aumentava (LAUREANO, 2005).

Com a enorme importância das indústrias de óleo e gás na economia de

qualquer país, pesquisa e desenvolvimento de novas tecnologias, materiais e

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processos se tornaram um ponto decisivo na competitividade da produção de

um país no mercado internacional. O Brasil confirmou, em 2007, a descoberta

de um novo campo para exploração de petróleo e gás, essa reserva foi

nomeada de campo Tupi. E se encontra a 7.000 metros de profundidade na

camada pré-sal,(PIQUET; MIRANDA, 2009). A nova jazida aumentou muito a

produção do país, mas as condições para a perfuração são altamente

agressivas e desafiadoras, sendo alvo de inúmeras pesquisas na literatura.

O primeiro passo para se localizar um novo poço é conhecido como fase

de prospecção, onde sondas são utilizadas para a avaliação do solo e do sub

solo da região potencial a ser explorada, realizam-se levantamentos geológicos

e objetiva-se localizar e quantificar a existência de petróleo no local. Após a

escolha do local a ser perfurado, inicia-se a fase de perfuração, essa é a única

forma de se confirmar a existência de petróleo no local definido. Outras

perfurações são realizadas para se delimitar a extensão do poço e dar início a

uma fase de avaliação, onde se analisa a viabilidade econômica da operação

do poço, estima-se a produção diária e só ai a perfuração do poço de

desenvolvimento é realizada, colocando o poço em operação comercial

(LAUREANO, 2005).

2.2Corrosão em meios com CO2 e presença de H2S

A grande maioria dos materiais sofre a influência de algum processo

corrosivo durante sua vida útil. Em menor ou maior escala, as estruturas e

materiais têm suas propriedades mecânicas, físicas e de aparência alteradas

devido aos ataques dos meios agressivos em que se encontram. Os

mecanismos e processos corrosivos se dão de duas formas distintas ou

combinação entre elas dependendo da agressividade do meio. São elas

(OLIVEIRA, 2008):

Corrosão Eletroquímica: Esse mecanismo ocorre quando, na presença

de um eletrólito, ocorre o transporte de cargas, de elétrons de um

material para outro ou para o meio gerando assim uma corrente de

corrosão.

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Corrosão Química: Nesse tipo de mecanismo não há geração de

corrente elétrica, as reações químicas ocorrem devido ao contato direto

do meio corrosivo com o material.

Foi visto que no setor de óleo e gás, muitos são os contaminantes

corrosivos que atacam as estruturas e componentes metálicos utilizados em

larga escala nessas indústrias. O dióxido de carbono e sulfeto de hidrogênio

tem uma significativa responsabilidade nos prejuízos causados pela corrosão

nos dutos de óleo e gás.

A corrosão pelo CO2 já bem discutida na literatura, também conhecida

como sweet corrosion, se dá devido à dissolução do gás no meio aquoso,

dando origem ao ácido carbônico (H2CO3). Um ácido fraco, mas que apresenta

uma grande capacidade corrosiva na maioria dos metais. O H2CO3 tem a

característica de se dissociar rapidamente nas superfícies metálicas,

promovendo o aumento na concentração de H+ presente no eletrólito e

consequentemente favorecendo as reações anódicas na superfície do material

(SILVA, 2012). Segundo Barki(BARKI, 2011), assim que o gás se dissocia no

meio aquoso, imediatamente reage com a superfície metálica segundo as

reações 1 e 2, dando origem a um produto intermediário adsorvido na

superfície do material.

H2O + CO2 →H2CO3 (1)

H2CO3+ 2Fe →Fe2CO3+ H2 (2)

Para Sun(SUN et al., 2012), em geral, as principais espécies presentes

em um meio aquoso em contato com o CO2 são H+, CO32-, HCO3

- e o ácido

carbônico H2CO3. A reação catódica dominante no processo é função do pH do

meio, para meios mais ácidos (pH < 4), a grande concentração de H+ promove

um potencial catódico mais positivo e a redução do H+ é a reação dominante.

2H+ + 2e- → H2 (3)

Com o aumento do pH (4 < pH < 6), a concentração H+ na solução

diminui. Então as reações dominantes passam a ser a redução direta dos íons

HCO3- e H2CO3:

2H2CO3 + 2e- → 2HCO3- + H2 (4)

2HCO3- + 2e- → 2CO3

2- + H2 (5)

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Essas reações provocam um aumento significativo das concentrações

de CO32- e HCO3 na solução (SUN et al., 2012).

Uma característica importante desse mecanismo de corrosão nos aços é

que, em condições favoráveis, ocorre a formação de um filme protetor de

carbonato de ferro. A presença dessa película consegue reduzir

significativamente a taxa de corrosão. Para se compreender os mecanismos da

sweet corrosion e da formação do filme de carbonato de ferro (FeCO3), é

necessário que se entenda as reações que ocorrem nas interfaces

metal/solução. Para Bian(BIAN et al., 2015), o íon Fe2+ é o principal produto da

dissolução ativa de ligas ferrosas e do aço em meios corrosivos, e sua

concentração e solubilidade tem influência direta nas reações de formação do

filme de FeCO3. Ocorre então a reação:

Fe2+(aq) + CO2-

(aq)→ FeCO3(s) (6)

Sun e seus colaboradores, (SUN et al., 2012), avaliaram os mecanismos

de formação dos produtos de corrosão de um aço perlítico exposto a uma

solução salina saturada por CO2 em pressão e temperatura ambiente. Eles

observaram que para as condições estudadas, a ferrita da microestrutura do

material reage primeiro que a cementita (Fe3C) por apresentar uma maior

tendência anódica. Na medida em que se deteriora a fase ferrita, maior a área

exposta de Fe3C, aumentando a força eletromotriz do par galvânico formado.

Aumentando assim a concentração de Fe2+ na solução.

Para os autores, essa reação anódica de dissolução do Fe em Fe2+ não

ocorre em um único passo, mas sim nas seguintes reações:

Fe + H2O→FeOH(ads) + H+ + e-(7)

FeOH(ads) → FeOH+ + e-(8)

FeOH+ + H+ → Fe2+ + H2O (9)

Atingindo-se concentrações elevadas de CO32- e Fe2+, produtos das

reações 5 e 9, pode haver a precipitação do carbonato de ferro na solução ou a

formação de uma camada sobre a superfície do material.

Fe2+ + CO32- → FeCO3 (10)

Fe2+ + HCO3- + e- → FeCO3 + H(11)

Linter e outros (LINTER; BURSTEIN, 1999), também, identificam as

reações 3, 4 e 5 como as reações catódicas dominantes nos processos

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corrosivos envolvendo CO2, sendo que para eles é mais fácil

termodinamicamente, reduzir o H+ a partir da reação 3.

Para esses autores, quando se tem o contato do material com uma

solução aquosa de pH em torno de 4, inicialmente a dissolução do ferro se dá

devido a formação de um filme não protetivo de Fe(OH)2. O dióxido de carbono

entra então na reação podendo reagir de três de formas, dependendo da

espécie associada presente no meio como mostrado nas seguintes reações:

Fe(OH)2 + CO2 → FeCO3 + H2O (12)

Fe(OH)2 + H2CO3 → FeCO3 + 2H2O (13)

Fe(OH)2 + HCO3- + H+ → FeCO3 + 2H2O (14)

Nas condições estudadas o filme de carbonato se mostrou o produto

mais estável na superfície do material, formando-se inicialmente sobre a

camada de Fe(OH)2 e crescendo em direção a interface do material. Porém,

Linter(LINTER; BURSTEIN, 1999) ressalta que em meios muito alcalinos (pH >

9) pode haver a dissolução da película de carbonato dando origem à um

composto conhecido como bicarbonato ferroso dissolvido, segundo a reação:

FeCO3 + HCO3- → Fe(CO3)2

2- + H+ (15)

O gás sulfídrico H2S, é um gás extremamente corrosivo, tóxico e

altamente inflamável. Além de causar vários danos aos equipamentos em que

entra em contato, põe em risco a segurança e vidas humanas. Para

Silva(SILVA, 2012), esse gás pode se originar de diversas formas, como por

exemplo, da dissociação de sulfetos minerais em meios aquosos,

decomposição de matéria orgânica contendo enxofre e também quando há

injeção de água em solos, tanques e dutos onde haja a presença de bactérias

redutoras de sulfato.

O processo corrosivo gerado pelo H2S (sour corrosion) é considerado

mais severo que a corrosão pelo CO2. Isto ocorre devido ao gás sulfídrico ser

mais agressivo e aos produtos de corrosão deste mecanismo, por não

formarem uma película uniforme, como o carbonato de ferro, contribuírem para

a formação de micro pares galvânicos e o aparecimento de pites nas áreas

anódicas sem a cobertura do filme de óxido. O material sob essas condições

apresenta altíssimas taxas de corrosão localizada. A Figura 1 ilustra como

pode ocorrer a sour corrosion.

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Figura1:Mecanismo de corrosão pelo H2S(BELLARBY, 2009).

O gás sulfídrico quando dissolvido no meio aquoso pode se apresentar

de varias formas no eletrólito. Em função do pH, diferentes espécies iônicas

estarão em equilíbrio, a Figura 2 ilustra a concentração das espécies em

função do pH (SKOOG, D. A. etal. apud BONFIM, 2013). Nota-se que o H2S

molecular está presente em valores menores de pH, menores que 5, O íon HS-

domina a concentração na faixa entre pH 9 e 12 e o íon S2- nos valores de pH

mais altos, maiores que 13. Quando o H2S se encontra presente na solução, as

seguintes reações ocorrem:

H2S(g)→ H2S(aq) (16)

H2S(aq)→ H+ + HS-(aq) (17)

HS-(aq)→ H+ + S2-

(aq) (18)

Figura 2:Distribuição das espécies iônicas(SKOOG, D. A. et al. apud BONFIM,

2013).

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Os produtos de corrosão originados da sour corrosion variam de acordo

com fatores como o pH do meio, temperatura e concentração de H2S, para

Barki(BARKI, 2011), podem se formar filmes de

pirita(FeS2),trolita(FeSemestrutura hexagonal), mackinawita (Fe1+xS) e

pirrotita(Fe1-xS). Esses diferentes produtos se comportam de forma distintas

quanto à estabilidade, características protetoras e indução de novos processos

corrosivos.

Para alguns autores,(BARKI, 2011)o filme de sulfeto de ferro, que se

deposita na superfície do metal, pode atuar como uma barreira protetora parao

metal, diminuindo em partes a taxa de corrosão. Entretanto, pode ser

desfavorável quando apresentar falhas como porosidades e trincas, já que

dificilmente forma películas espessas o bastante para proteger o substrato

metálico. As reações de formação do filme de FeS podem ocorrer a partir do Fe

elementar e do material já oxidado em contato com um meio aquoso comonas

seguintes reações:

Fe + H2S →FeS + H2(19)

FeO + H2S → FeS + H2O (20)

Abelev e seus colaboradores (ABELEV et al., 2009), buscaram avaliar a

influência de pequenas concentrações de H2S em uma solução salina saturada

de CO2, analisando a influência do pH e da temperatura do meio nos processos

corrosivos de amostras de ferro puro. Os autores destacam que de forma geral,

a dissolução do ferro em uma solução aquosa salina contendo H2S, se dá

conforme as seguintes reações:

Fe + H2S + H2O → FeSH-ads + H3O

+(21)

FeSH-ads→ FeSHads + e-(22)

FeSHads→ FeSH+ + e-(23)

O produto da reação 23 pode ser incorporado diretamente em camadas

formadas na superfície do material, ou dar origem a outros produtos aderentes

ou não à superfície, para Barki (BARKI, 2011) podem se formar filmes de

pirita(FeS2),trolita(FeSemestruturahexagonal), mackinawita(Fe1+xS)epirrotita

(Fe1-xS).

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Estudos mais recentes como o de Shi (SHI et al., 2016), buscam

conhecer o comportamento das diferentes formas apresentadas pelo FeS na

superfície de um aço exposto à sour corrosion. Shi e seus colaboradores

avaliaram as estruturas e as propriedades físico-químicas dos diversos

produtos da corrosão de um aço API X60 exposto a diferentes temperaturas

(60-150°C) e pressões parciais de H2S (0,15-5 MPa).

Para os autores, seguindo um aumento da pressão parcial de H2S e da

temperatura, a Macknawita é o primeiro produto a se formar na superfície do

aço, quando há baixas temperaturas e pressões parciais de H2S inferiores a 1

MPa.O FeS cúbico, que coexiste com a Macknawita só é formado em baixas

temperaturas em pH entre 2 e 6. Porém não aparece quando se tem Cl- na

solução. A trolita se forma nas condições intermediárias, sendo um produto

transitório para a pirrotita. Esse último aparece quando se tem elevadas

pressões e temperaturas e apresenta uma boa capacidade protetiva. Quanto

maior a concentração de H2S, mais rica em S é essa estrutura. A Pirita é

considerada a forma mais estável do sulfeto de ferro e só aparece após longos

períodos de exposição.

A Tabela 1mostra uma síntese das principais características dos

diferentes tipos de sulfeto de ferro.

Tabela 1:Diferentes produtos da sour corrosion(SHI et al., 2016).

Nome Fórmula química

Estrutura cristalina Propriedades

Amorfo FeS Sem cristal específico. Instável, se transforma em

Macknawita.

Macknawita Fe(1+x)S (x = 0,02-0,41)

Tetragonal, camada bidimensional.

Metaestável, é o produto inicial da corrosão.

FeS Cúbico FeS Cúbica. Muito instável, pode se

transformar em Macknawita, Trolita ou Pirrotita.

Trolita FeS Hexagonal. É estequiométrico, parte do grupo Fe(1+x)S com x = 0.

Pirrotita Fe(1-x)S (x = 0,05-0,21)

Monoclínica, Hexagonal.

Termodinamicamente estável, Apresenta características protetivas interessantes.

Pirita FeS2 Cúbica. Termodinamicamente estável.

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A interação dos processos corrosivos da sweet e sour corrosion,

promove a ocorrências de mecanismos complexos de corrosão. Um fator de

extrema importância é a relação CO2/H2S, essa razão aliada ao tempo de

exposição do material ao meio, influência diretamente nos produtos de

corrosão formados na superfície metálica. Inicialmente, a formação do

carbonato é predominante e com o decorrer do tempo,a formação do

sulfetodeferro torna-se dominante.Quando há presença de oxigênio, o sulfeto

de ferroéoxidado a enxofre elementar e o mecanismo de reaçãotorna-se

complexo.

Para (SRINIVASANand KANE, 1995, apud VIÇOSA, 2015), quando o

gás sulfídrico está presente em pequenas concentrações, dissolvido em meios

saturados por CO2, a película de FeS que pode se formar, acaba interferindo

na formação do filme de carbonato de ferro. Observa-se que o filme de sulfeto

desprende-se facilmente do substrato metálico quando comparado ao

carbonato de ferro. A remoção dessa camada pode gerar um aumento da taxa

de corrosão do material. Os produtos de corrosão nos sistemas CO2/H2S irão

depender então, não só da composição química da solução, mas também da

solubilidade dos carbonatos e sulfetos precipitado, e claro, da cinética

competitiva dos dois mecanismos de formação.

2.2.1 Influencia do pH

O pH é uma indicação da concentração de íons H+ presentes em uma

solução, eletrólito ou meio (LEE, 2004a). Esse íon é considerado por vários

autores como sendo a principal espécie química envolvida nas reações

catódicas dos processos corrosivos envolvendo CO2 e H2S (BIAN et al., 2015;

LEE, 2004; SUN et al., 2012).

Existem diversos estudos na literatura onde a influência do pH é

avaliada em diversos fatores como formação dos produtos de corrosão e

alterações nas taxas de corrosão. Lee (LEE, 2004), por exemplo, observou

alterações significativas nas taxas de corrosão em processos de sweet

corrosion, quando se tinha valores de pH mais baixos (pH < 4) e baixa pressão

parcial de CO2 (≤1bar), o autor observou que a redução de H+ domina a reação

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catódica do processo. Já quando os valores de pH eram mais altos (pH > 5), e

se tinha uma pressão parcial de CO2 ≥ 1bar o domínio da reação catódica

passava a ser da redução direta do H2CO3. A quantidade de ácido carbônico

presente na solução está diretamente relacionada com a quantidade de CO2 no

meio e/ou com a pressão parcial do gás, a que a solução está submetida.

Outro efeito importante relatado por Lee (LEE, 2004) é o fato de que o

pH altera a formação de películas de proteção originadas dos produtos de

corrosão, como carbonato e sulfeto de ferro. Maiores valores de pH geram uma

diminuição da solubilidade do carbonato de ferro por exemplo, essa redução de

solubilidade consequentemente aumenta a taxa de precipitação desse produto

e faz com que a formação de películas no substrato, ocorra mais facilmente.

Oliveira, (OLIVEIRA et al., 2016), também afirma que o pH tem grande

influência nas reações eletroquímicas de dissolução do ferro e na estabilidade

dos produtos de corrosão formados. Para o autor e seus colaboradores, e

também segundo Yin, (YIN et al., 2008), quanto menor o pH, maior a taxa de

corrosão, já que há uma maior concentração de íons H+. Em valores mais altos,

a solubilidade do íon Fe2+ diminui, aumentando a probabilidade de formação de

camadas protetoras. Para Oliveira, o filme de FeCO3 necessita de pH maiores

que 5 para se tornar estável na superfície de um aço.

2.2.2 Influencia da temperatura

A temperatura tem um papel crítico nos mecanismos de corrosão

envolvendo a mistura CO2/H2S. Ela tem um papel catalizador nas reações

eletroquímicas. Silva (SILVA, 2012)afirma em sua pesquisa que asweet

corrosion é fortemente influenciada pela temperatura, onde a variação promove

alteração e na formação dos produtos de corrosão. Em temperaturas

favoráveis, a corrosão pelo CO2 nos aços carbono pode apresentar produtos

de corrosão estáveis capazes de promover uma proteção ao metal, reduzindo a

taxa de corrosão. Porém pode produzir produtos de corrosão instáveis ou

porosos sendo prejudicial ao material. A Figura 3 ilustra as diferentes

condições de formação do filme de carbonato variando-se a temperatura.

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Quando a película apresenta alta porosidade, o material sofre com altas taxas

de corrosão localizada.

Figura 3: Corrosão do aço carbono em diferentes temperaturas (Silva, 2012).

Sun e seus colaboradores(SUN; NESIC; WOOLLAM, 2009), realizaram

uma vasta revisão da literatura para estabelecer um modelo matemático que

possibilitasse o cálculo da solubilidade do FeCO3 (Ksp em mol2/l2) em soluções

salinas, levando em conta a temperatura em Kelvin (Tk) e a força iônica (I).

Visto que para que haja a precipitação do filme de carbonato sobre a superfície

do material, esse limite de solubilidade deve ser excedido. Os autores definiram

a seguinte expressão:

log Ksp = -59,3498 – 0,041377Tk – (2,1963/Tk) + 24,5724logTk + 2,518I0,5 –

0,657I (25)

Para Elgaddafi e outros(ELGADDAFI et al., 2015), a influência da

temperatura na solubilidade do CO2 em soluções aquosas interfere diretamente

na ionização do H2CO3, consequentemente altera o pH do meio. Para esses

autores o aumento da temperatura promove a aceleração das reações

catódicas e anódicas na interface metal/solução. Os autores ressaltam que na

literatura há divergências quanto ao impacto da temperatura nas propriedades

das películas formadas.

Na sour corrosion a temperatura exerce o mesmo papel catalítico nas

reações, influenciando também nos produtos de corrosão formados. Para

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Yin(YIN et al., 2008), tanto para sour quanto para a sweet corrosion a

temperatura aumenta a taxa de corrosão até um valor crítico onde a formação

dos filmes protetores é possível. Com o aumento da temperatura os filmes

tornam-se instáveis e perdem a capacidade de retardar o processo corrosivo. A

temperatura influencia diretamente no limite de solubilidade dos óxidos na

solução, consequentemente interfere na precipitação desses óxidos na

superfície metálica e assim na formação dos filmes.

2.2.3 Influência da pressão CO2

Existem vários autores que se dispõe a estudar a influência da pressão

parcial de CO2 nos mecanismos da sweet corrosion. Porém essa relação entre

a taxa de corrosão, produtos de corrosão e diferentes pressões de dióxido de

carbono não é tão simples. Oliveira, (OLIVEIRA et al., 2016), afirma que existe

uma série de outras variáveis nos processos corrosivos, contribuindo e atuando

simultaneamente. Elgaddafi e seus colaboradores, (ELGADDAFI et al., 2015),

concluíram em seus estudos que o modo com que a pressão parcial de CO2

influencia na taxa de corrosão é fortemente alterado pela temperatura. Na

ausência de camadas protetoras aderentes, a uma pressão parcial constante,

um aumento da temperatura facilita as reações de corrosão e a difusão

molecular (transporte de espécie). Porém, em temperaturas mais elevadas

ocorre uma supersaturação dos produtos de corrosão, o que favorece a

formação de um filme protetor nas superfícies.

Oliveira, (OLIVEIRA et al., 2016), explica que o aumento da pressão de

CO2 causa um aumento na taxa de corrosão, devido à redução do pH. Essa

acidificação tem relação com o aumento da taxa de redução do ácido carbônico

na solução. Quanto maior a concentração de CO2, maior a formação de H2CO3.

No entanto, se a combinação dos outros fatores gerarem condições favoráveis

para a formação do filme e acontecer a precipitação de carbonato de ferro, o

aumento da pressão de CO2 pode reduzir o processo corrosivo, uma vez que

as regiões catódicas expostas serão menores. Essa possível explicação

também é apresentada por Elgaddafi, (ELGADDAFI et al., 2015), para esse

comportamento é que o aumento da pressão parcial de CO2 tende a aumentar

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a concentração de H2CO3, Fe2+ e CO32- causando uma supersaturação, o que

facilita a formação de uma camada dos produtos de corrosão que diminui a

taxa de corrosão.

2.3Utilização do tiossulfato de sódio como alternativa ao gás H2S

A utilização do gás sulfídrico como contaminante em ensaios

eletroquímicos de corrosão requer extremo cuidado. O H2S é um dos gases

mais tóxicos e corrosivos para a maioria dos materiais conhecidos. Sendo

necessários equipamentos e instalações específicas para sua utilização e

armazenamento, principalmente em aplicações com altas pressões e

temperaturas(TSUJIKAWA et al., 1993).

O enxofre se encontra na natureza em mais de trinta formas distintas,

entre as quais apenas seis são termodinamicamente estáveis quando diluídas

em uma solução aquosa. São elas, o íon sulfato (SO42-), o íon bissulfato (HSO4-

), o enxofre elementar (S0), o íon sulfeto (S2-), o íon hidrogenosulfeto (HS-) e o

sulfeto de hidrogênio (H2S). Outros compostos como, por exemplo, o tiossulfato

(S2O32-), também existem na natureza, mas são considerados

instáveis(MATOS, 2012). Sabe-se que quando diluído em uma solução aquosa

e em contato com um aço, o íon tiossulfato reage e forma pequenas

quantidades de H2S na superfície do material. Vários autores passaram a

investigar a possibilidade da utilização do tiossulfato de sódio em ensaios de

laboratório substituindo o gás sulfídrico, já que as soluções contendo tiossulfato

não são tóxicas, não necessitam de instalações especiais para serem utilizadas

e as concentrações de H2S produzidas na fase líquida não apresentavam

perigo aos pesquisadores(KAPPES et al., 2012; TSUJIKAWA et al., 1993).

Existe uma grande lacuna poucas referências quando se trata da

caracterização dos produtos de corrosão da interação sweet/sour corrosion, e

da utilização do íon tiossulfato para a geração de concentrações de H2S nas

soluções de testes.

Inicialmente, Tsujikawa e colaboradores,(TSUJIKAWA et al.,

1993)realizaram testes em aços inoxidáveis e em aços baixa liga para simular

a corrosão sob tensão e trincas por sulfetos, utilizando soluções contendo 20%

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de cloreto e diferentes concentrações de tiossulfato de sódio, 10-3 e 10-2 mol/l.

Os autores concluíram que a utilização desse reagente se mostrou uma

excelente alternativa para a substituição do gás sulfídrico, e estabeleceram

relações entre as concentrações de tiossulfato na solução a 80°C e as

pressões parciais equivalentes de H2S. 10-3 e 10-2 mol/l de tiossulfato em uma

solução com 20% NaCl a 80°C correspondem a aproximadamente 0,1 a 1 MPa

de gás H2S a 200°C. Tsujikawa até hoje é uma das principais referências

citadas na literatura a respeito do uso de tiossulfato.

Kappes e outros (KAPPES et al., 2012), estudaram as diferentes

reações químicas que ocorrem durante o processo de corrosão do aço carbono

API X65 em soluções salinas contendo diferentes concentrações de tiossulfato.

Os autores analisaram toda a cinética das reações que ocorrem na superfície

do aço em contato com o íon tiossulfato, verificando a relação entre as

concentrações de S2O32− na solução e as pressões parciais de H2S

correspondentes. No estudo, determinou-se que a soluções salinas e ácidas

contendo 10-4 M e 10-3 M S2O32- poderiam ser utilizadas para substituir um

borbulhamento contínuo de uma mistura diluída de H2S/N2 em ensaios de

degradação de aços carbono, com pressões parciais de H2S que variam entre

0,03 e 0,56 kPa. A cinética das reações mostrou que podem ser gerados vários

tipos de compostos de enxofre como produtos da corrosão, inclusive o sulfeto

de ferro.

Ezuber (EZUBER, 2009), com a finalidade de avaliar o comportamento

de um aço carbono baixa liga em meios contendo CO2 e H2S, utilizou uma

solução de 1 M de NaCl saturada com CO2, e variou a concentração de

tiossulfato de sódio, 0,01 M/l e 1 M/l. variando também a temperatura, 22 e

50°C, na formação das películas sobre o material. O autor concluiu que a

presença de tiossulfato em soluções saturadas por CO2, promoveu um

aumento na densidade de corrente nas curvas de polarização e esse efeito foi

mais notável na parte catódica do experimento. A taxa de corrosão aumentou

com a presença de CO2, e à medida que se aumentava a temperatura e/ou a

concentração de tiossulfato na solução. Porém as películas formadas de

FeCO3 e FeS apresentaram uma boa capacidade em diminuir acentuadamente

essa taxa.

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2.3.1 Reações envolvendo o tiossulfato de sódio

As reações eletroquímicas envolvendo a corrosão do aço carbono, a

geração de H2S e o tiossulfato de sódio são importantes para se compreender

a utilização desse reagente nos ensaios eletroquímicos de corrosão. Para

Kappes(KAPPES et al., 2012), existem várias formas para que se gere H2S a

partir do tiossulfato, acredita-se que em uma solução contendo íons cloreto e

ácido acético as reações se dão da seguinte forma:

S2O32- + 6H+ + 4e- → 2S0 + 3H2O (26)

2S0 + 4H+ → 2H2S (27)

Essas reações ocorrem de forma espontânea no potencial de corrosão

do aço carbono e dependem de fatores como a área metálica exposta, a

presença ou não de O2, a concentração de tiossulfato presente na solução e o

volume de eletrólito. Portanto a geração de H2S através da utilização do

tiossulfato torna-se possível graças a presença de H+ no meio, que reduz o pH

e dá início ao processo corrosivo do metal, liberando elétrons na solução

iniciando-se assim a formação do sulfeto de hidrogênio(KAPPES et al., 2012;

TSUJIKAWA et al., 1993).

2.4 Estado da arte

Vista a necessidade do estudo das relações CO2/H2S, vários são os

autores que se dedicam a tentativa de simular os ambientes onde estão

presentes os mecanismos tanto da sweet quanto da sour corrosion,

reproduzindo da maneira mais próxima possível as condições em que as

tubulações do setor de óleo e gás são constantemente expostas. A grande

maioria dessas pesquisas utilizam linhas de gás H2S para a realização dos

testes com esse contaminante e encontra-se na literatura, diversos estudos

onde a sour corrosioné relacionada com a corrosão sob tensão e fragilização

pelo hidrogênio.

A Tabela 2 apresenta em resumo algumas pesquisas importantes na

área da corrosão por CO2/H2S.

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Tabela 2: Resumo de alguns estudos sobre sweet e sour corrosion.

Autores Análise Técnicas Utilizadas

Conclusões

(ZHANG et al., 2012b)

Foram avaliadas as películas formadas na superfície de dois aços distintos, (20-steel, 13Cr steel), quando expostos em um meio contendo 0,1 M/l de NaCl e pressões parciais de CO2 de 0,05 e 1 MPa.

Utilizaram-se ensaios de imersão com 24h de exposição e medidas dos íons liberados na solução em cada condição estudada, além de Difratometria de raios-X para a caracterização das películas formadas.

Os autores concluíram que a camada de FeCO3 no 20-steel, se forma mais rapidamente e por isso uma menor dissolução do metal no início do processo. Porém no 13-Cr, a camada se forma mais lentamente, mas tem características protetoras e de resistência à exposição mais interessantes.

(SUN et al., 2012)

Os autores avaliaram detalhadamente os mecanismos de formação da camada de carbonato de ferro em um aço baixa liga, exposto à uma solução saturada por CO2, em pressão e temperatura ambiente.

Utilizaram Polarização e impedância eletroquímica. As amostras eram polarizadas por tempos distintos e em seguida se realizava a EIE. Todas as amostras foram avaliadas com MEV.

Conclui-se que a formação do FeCO3 está relacionada com o teor de Fe2+ na solução. A ferrita da estrutura se dissocia primeiramente e as áreas de Fe3C expostas geram um par galvânico com a ferrita restante. É sobre a Cementita que se inicia a nucleação das primeiras partículas FeCO3.

(LINTER; BURSTEIN, 1999)

Foi analisado o papel do CO2 dissolvido na corrosão de um aço baixa liga e um 13-Cr, em solução de 0,5 M/l de NaCl em temperatura ambiente. Discutindo-se a influência do pH e da presença das espécies iônicas

Realizaram-se curvas de polarização anódicas e catódicas, separadas, para que os produtos liberados na solução em cada um dos testes não influenciasse no outro.

Os autores concluíram que o CO2 dissolvido acelera a dissolução dos aços em soluções aquosas, alterando e desestabilizando as reações catódicas e anódicas na superfície dos aços.

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(ELGADDAFI et al., 2015)

Foram realizados experimentos e desenvolvido um modelo para se avaliar a formação da película de carbonato de ferro em uma solução de 2% de NaCl, em condições de pressão e temperatura elevadas.

Em uma autoclave, as amostras foram imersas nas condições estudadas. Testes de resistência à polarização e de perda de massa foram realizados. As pressões parciais de CO2 variaram de 0 a 0,83 Mpa.

Os autores concluíram que a taxa de corrosão aumenta a medida que se aumenta a temperatura e a pressão parcial de CO2 até um valor máximo, e depois diminui. O aumento da pressão de CO2 aumenta as espécies dissolvidas na solução, a temperatura favorece a corrosão e as reações entre essas espécies.

(ABELEV et al., 2009)

O grupo objetivou analisar a influência de pequenas concentrações de H2S nos processos corrosivos do ferro em soluções salinas saturadas por CO2, avaliando também o impacto da pressão e da temperatura.

Foi utilizada uma célula de três eletrodos e solução de 3% NaCl. As temperaturas variaram entre T. amb, 55 e 85ºC. Realizaram-se teste de EIE num período de 24h, e as técnicas de XPS e DRX foram utilizadas para caracterizar as superfícies.

Os autores concluíram que para T< 55ºC, foi necessária uma pequena concentração de H2S para se formar uma película protetiva. Já a 85ºC, com o aumento da solubilidade dos produtos na solução, foi necessário cerca de 10 vezes essa concentração. Além disso, a composição dos filmes se mostrou diferente em cada condição de temperatura.

(SHI et al., 2016)

Foram analisadas as estrutura e as propriedades físico-químicas das diversas formas de produto de corrosão do aço X60, quando exposto a meios ricos em H2S.

Foram realizados testes de imersão e posteriormente as superfícies foram caracterizadas por meio de MEV, MET e DRX.

Concluiu-se que as diferentes formas de sulfeto de ferro existentes se formam de acordo com a temperatura e a pressão parcial de H2S, alterando a concentração das espécies dissolvidas. Para os autores a ordem crescente de formação e capacidade protetiva é: Macknawita - FeS Cúbico - Trolita - Pirrotita - Pirita.

2.5Ligas e propriedades metálicas - Aços para dutos

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O primeiro passo para a garantia de confiabilidade de um projeto é a

seleção dos materiais que serão utilizados. Para a indústria de óleo e gás isso

significa menores custos de manutenção, menores riscos de acidentes e maior

segurança das instalações e operadores.

As tubulações e dutos de aço utilizados nesse setor desempenham

diversas funções vitais para o funcionamento dessas indústrias, e são

constantemente expostas a meios altamente agressivos. Sejam as tubulações

enterradas, expostas à atmosfera ou submersos em água estarão sob o efeito

de um ou mais mecanismos de corrosão, que podem tornar o duto não seguro

para o transporte dos produtos na maioria das vezes perigosos. As falhas mais

comuns nas redes de transporte e produção do setor petrolífero, causadas pela

corrosão, são trincas e rompimentos. Os vazamentos causados por essas

falhas podem ter consequências desastrosas para o meio ambiente e por em

risco vidas humanas(VIÇOSA, 2015).

Na maioria das vezes, os dutos utilizados na indústria do petróleo são

normalizados e padronizados pelas normas API, (American PetroleumInstitute),

onde são especificadas as composições químicas, as propriedades mecânicas

e físicas e os processos de fabricação pelos quais passaram esses elementos

tubulares. Os aços são separados em graus, que identificam a faixa de

composição química e geralmente representam também as tensões limites de

escoamento do material (OLIVEIRA et al., 2016)

A escolha do tipo de material utilizado, então, depende de um detalhado

e complexo estudo das solicitações as quais os dutos serão expostos, ao tipo

de produto transportado, as faixas de temperatura em que o material será

utilizado, as concentrações e tipos de contaminantes entre diversos outros

fatores. Existem diversos fabricantes e tipos de dutos, também existem infinitas

aplicações e finalidades, algumas são classificadas a seguir e ilustrada na

Figura 4.

Linhas de transporte;

Flowlines de transferência deproduto para as linhasde exportação;

Flowlinesde injeção de água ou de injeção de produto químico;

Flowlinesde transferência de produtos entre plataformas, manifoldse

cabeças de poço;

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Linhas de produção (tubing) e tubulações de revestimento (casing);

Figura 4:Desenho esquemático das linhas de produção e transporte de óleo e

gás(SILVA, 2012).

Como são várias as aplicações e as opções de dutos no mercado,

alguns autores classificam os tipos mais comuns de aço de acordo com as

aplicações a que se destinam. Tabela 3 mostra uma dessas

classificações(OLIVEIRA et al., 2016).

Tabela 3: Tipos e aplicações de materiais para dutos (OLIVEIRA et al., 2016).

Material Aplicação

Aço Carbono

Utilizado na maioria dos poços. Recomendado onde não há expectativa de produção de fluidos corrosivos – H2S ou CO2

Cr 1%

Recomendada para poços injetores de água. É cerca de 20 % mais caro e tem vida útil maior que a tubulação de aço carbono comum, pois é mais resistente à ação do O2 proveniente do sistema de injeção.

Duoline

Tubos de aço-carbono comum revestidos internamente com fibra. Também recomendados para poços injetores de água (é 40 % mais caro que o tubo de aço-carbono comum).

13Cr Utilizados nos poços produtores onde se espera a produção de CO2 e/ou

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H2S com temperaturas menores que 150ºC.

Super 13Cr

Difere do Aço “13Cr” comum pela presença de Ni e Mo na liga. Recomendado quando se espera presença de CO2 e/ou H2S em temperatura maior que 150ºC.

Duplex Cr-22 Aplicados em ambiente com H2S e/ou CO2 em poços com alta temperatura.

2.6Técnicas eletroquímicas ensaios de corrosão

Existem várias técnicas utilizadas e bem estudadas para a avaliação do

comportamento de um material em um meio corrosivo. Técnicas essas que

buscam simular e reproduzir em laboratório as condições reais em que o

material estudado se emprega. Entre elas destacam-se os ensaios

eletroquímicos de corrosão, que são os que mais fielmente reproduzem os

fenômenos eletroquímicos dos processos corrosivos dos mais diversos meios.

Técnicas comoEspectroscopia de Impedância Eletroquímica e

Resistência à Polarização Linear são amplamente utilizadas para esses fins,

pois são relativamente rápidas e fáceis de realizar.

2.6.1Espectroscopia de impedância eletroquímica (EIE)

O conceito básico dessa técnica vem da ideia de que a impedância de

um circuito elétrico nada mais é do que a dificuldade encontrada por um sinal

elétrico (potencial ou corrente) enviado a esse circuito para percorrê-lo. É uma

combinação de elementos passivos de um circuito elétrico: resistência,

capacitância e indutância(RESENDE, 2014). A partir desse princípio aplica-se

um sinal alternado a um eletrodo de trabalho imerso em um eletrólito.

A resposta do eletrodo é comparada com a perturbação inicialmente

aplicada pela medida da mudança de fase dos componentes de corrente e

tensão e pela medida de suas amplitudes. Isto pode ser feito analisando-se

tempo ou frequências, utilizando-se um analisador de espectro ou um

analisador de resposta de frequência, respectivamente. Um fato importante é

que a perturbação inicial é uma perturbação de potencial (∆E), do tipo senoidal,

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que deve ser imposta no estado estacionário do sistema e a resposta do

eletrodo é uma corrente (∆I), também senoidal, porémcom uma diferença de

fase � em relação ao sinal aplicado. Portanto,a impedância, que se representa

por Z, mede a relação entre ∆E e∆I.

As medidas são realizadas em uma ampla faixa de frequência, para que

os diferentes processos físicos e químicos possam ser identificados por suas

constantes de tempo(RESENDE, 2014; WOLYNEC, 2003).

Segundo Wolynec(WOLYNEC, 2003), essa técnica utiliza uma corrente

alternada e apresenta várias vantagens em relação aos de corrente contínua,

destacando-se as seguintes:

Utilização de sinais muito pequenos que não perturbam as propriedades

do eletrodo.

Possibilidade de estudar reações de corrosão e medir taxas de corrosão

em meios de baixa condutividade.

A resistência de polarização e a capacitância da dupla camada podem

ser determinadas numa mesma medida.

Os resultados das medidas de impedância podem ser apresentados de

diversas maneiras, os ensaios fornecem dois diagramas mais usuais, Nyquist e

Bode.

O diagrama de Nyquist é um plano complexo, formado por pontos com

coordenadas cartesianas do tipo (Real, Imaginária), onde se tem nas abscissas

a parte real (termos resistivos) e nas ordenadas, a parte imaginária (termos

capacitivos ou indutivos). Já o diagrama de Bode é representado por eixos

ortogonais onde nas ordenadas representam-se duas grandezas, o módulo da

impedância (|Z|) em ohms (Ω) e o ângulo de fase(�) em graus; e no eixo das

abscissas, tem-se a frequência, em Hertz (Hz)(RESENDE, 2014).

2.6.2Resistência à polarização linear (RPL)

A técnica de resistência de polarização linear (RPL) é um método

eletroquímico largamente utilizado na avaliação do comportamento de um

material frente à aplicação de um potencial externo. Sua rapidez e simplicidade

permitem uma avaliação inicial do comportamento de corrosão e da resistência

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que o material estudado apresenta à oxidação sem provocar umaperturbação

significativa na superfície(OLIVEIRA, 2008).

Os resultados desse teste são obtidos por curvas de potencial versus

corrente (E vs. I), e técnica utilizada no ensaio consiste na aplicação, por meio

de um potenciostato, de uma variação no potencial em relação ao potencial de

corrosão do material na solução estudada, usualmente se utiliza variações de

até 20 mV. Determina-se então a resistência à polarização (Rp) do eletrodo de

trabalho, que é necessária para se calcular a taxa de corrosão(VIÇOSA, 2015).

Os testes de RPL são padronizados e devem seguir a norma ASTM

G59-97, algumas equações são úteis para o cálculo de Rp e da taxa de

corrosão, são elas:

(10)

No ensaio de RPL, a densidade de corrente (i) pode ser relacionada com

a resistência à polarização por meio de um coeficiente B, chamado de Stern e

Geary conforme as seguintes relações:

(11)

(12)

Sendo Rp em ohm.cm2, icorr é μA/cm2e o coeficiente B em V.

2.7Ensaios de imersão e perda de massa

A determinação da taxa de corrosão por avaliação da perda de massa

de materiais imersos em soluções agressivas é uma das técnicas mais

confiáveis e utilizadas atualmente. Esse método consiste no monitoramento da

massa de corpos de prova previamente pesados em balanças de precisão e

imersos em soluções de estudo por períodos de tempo pré-determinados.

Para Barki(BARKI, 2011), existem algumas limitações nesses testes e

que devem ser levadas em conta:

Essa técnica não deve ser utilizada na avaliação de mudanças bruscas

de processos corrosivos, pois o tempo de exposição é um fator

determinante do ensaio;

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Não é uma técnica indicada para a avaliação de materiais que

apresentam corrosão localizada, já que o valorda taxa de corrosão é

muito baixo devido a pequena perda de massa, e não representa o risco

real desse mecanismo de corrosão;

As taxas de corrosão calculadas, a partir de pequenos corpos de prova,

não podem ser associadas diretamente ao sistema como umtodo e sim

às regiões cujas características são similares às do teste;

Os testes de imersão e o cálculo das taxas de corrosão a partir da perda

de massa dos metais são normalizados e padronizados pela norma ASTM

G31-72, onde a seguinte equação é utilizada para tal fim:

(13)

Onde:

K = Constante;

T = Tempo de exposição em horas;

A = Área do corpo de prova em cm2;

W = Perda de massa em gramas;

D = Densidade do corpo de prova em g.cm-3;

A constante K influencia na unidade em que se obtêm os valores da taxa

de corrosão. Quando se deseja essa taxa em milímetros por ano (mm/ano),

segundo a norma, K deve ser igual a 8,76x104

2.8Técnicas de caracterização

2.8.1 Microscopia Eletrônica de Varredura(MEV)

Na técnica de microscopia eletrônica de varredura, utiliza-se um feixe de

elétrons que incide sobre a amostra. Para a obtenção das imagens, esses

elétrons precisam ser coletados e exibidos sobre um tubo de raio catódico. O

feixe pode ser refletido ou retro espalhado, o que difere nas imagens

obtidas(CALLISTER, 1991).

É possível obter uma análise das características superficiais do material

analisado com ampliações entre 10 a 50000 vezes de aumento, permitindo

uma análise qualitativa e semiquantitativa da morfologia, microestrutura e

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composição elementar da amostra analisada. A superfície que recebe o feixe

de elétrons deve ser eletricamente condutora para a obtenção de imagens de

qualidade. Caso a análise seja feita em materiais não condutores, um filme fino

de material metálico deve ser aplicado sobre a superfície.

2.8.2 Microscopia Ótica(MO)

Os microscópios óticos são compostos basicamente de um sistema ótico

de lentes de ampliação e um sistema de iluminação. A luz é refletida na

superfície da amostra que deve ser opaca a luz visível e os contrastes são

obtidos das diferenças de refletividade das diferentes regiões e

microestruturas.

Para a obtenção das metalografias é necessário uma cuidadosa

preparação das superfícies. Um processo de lixamento, com lixas de papel e

pós abrasivos, deve ser realizado e em seguida a amostra deve ser polida até

a obtenção de um acabamento liso e espelhado. A microestrutura é revelada

com um ataque químico de reagentes específicos para cada material

(CALLISTER, 1991).

2.8.3Difração de Raios X (DRX)

A difração de raios-X é uma técnica muito utilizada para a determinação

de fases cristalinas presentes em um material sólido. O fenômeno de difração

ocorre quando um feixe de raios-X monocromáticos incide sobre um material

cristalino e tem sua direção e intensidade alteradas (CALLISTER, 1991;

GOMES, 2015).

Quando as ondas emitidas pelo difratômetro de raios-X incidem sobre

um átomo, ocorre uma excitação dos elétrons que começam a vibrar em uma

frequência idêntica à do feixe incidente. Essa energia é então refletida pelos

elétrons que vão emitir os raios-X em diferentes direções.

Para (GOMES, 2015), quando um feixe de raios-X é direcionado a um

cristal, onde os átomos se encontram regularmente espaçados entre si, cada

um se comporta como uma fonte de emissão esférica de radiação. Podendo

haver então, interferências construtivas e destrutivas entre as ondas,

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aumentando ou diminuindo, respectivamente, a intensidade das difrações nos

cristais.

Para se utilizar esse fenômeno na caracterização de fases presentes no

material, o comprimento de onda da radiação deve ser da mesma ordem de

grandeza da distância de ligação entre os átomos. De acordo com a Lei de

Bragg é possível conhecer as condições onde ocorrerão interferências

construtivas e cada cristal relacionado com picos nos diversos ângulos de

incidência do feixe (GOMES, 2015).

nλ = 2dsenϴ (14)

Onde:

n = Um número inteiro.

λ = Comprimento de onda do raio-X em angstrom.

d = distância interplanar.

ϴ = Ângulo de incidência ou reflexão do feixe incidente.

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3. MATERIAIS E MÉTODOS

Para se estudar o comportamento do aço carbono API X65 em meios

agressivos contendo CO2 e H2S, visto que ainda não há a disponibilidade de

uma linha de gás sulfídrico nas instalações do laboratório de corrosão da

UFSJ, Uma solução de tiossulfato de sódio foi utilizada para substituir o

processode borbulhamento(KAPPES, 2011; TSUJIKAWA et al., 1993).

A composição da solução base utilizada foi: 1,8 litros de água destilada e

600 ppm de íons Cl- apresentando valores de pH em torno de 7,18. Para

avaliar a geração e a influência do H2S, foi adicionada uma concentração de

tiossulfato de 10-3 M/l da solução base alterando o pH para valores de

aproximadamente 6,34. Os valores de pH foram medidos antes do início da

saturação com CO2, visto que não havia a disponibilidade de um eletrodo de

pH adaptável à tampa da autoclave.

O equipamento utilizado para submeter as amostras às condições de

temperatura e pressão elevadas foi uma autoclave, composta por um vaso de

pressão de aço inoxidável 316, uma resistência elétrica ligada à um controlador

de temperaturas, uma manta térmica isolante, uma célula de vidro, válvulas e

linhas de conexão (Figura 5).

Foi utilizada uma autoclave cedida pela PETROBRAS, para submeter as

amostras e soluções às condições de temperatura e pressão elevadas por 48

horas.Foi avaliada a influência das temperaturas de 25ºC, 90ºC e 120ºC, e um

pressão de 5 bar de CO2 foi fixada para todos os testes.

A Figura 6 ilustra o esquema de funcionamento da autoclave, e o

procedimento detalhado para a operação do equipamento está descrito no

Anexo 1 deste estudo.

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Figura 5:Autoclave utilizada nos ensaios.

Figura 6:Esquema de funcionamento da autoclave.

A Tabela 4 sumariza as condições estudadas e suas características

principais.

Tabela 4: Condições avaliadas.

Condição Solução Temperatura (ºC) C1 CO2 (5 bar); 600 ppm de Cl- 25 C2 CO2 (5 bar); 600 ppm de Cl- 90 C3 CO2 (5 bar); 600 ppm de Cl- 120

C4 CO2 (5 bar); 600 ppm de Cl-; Tiossulfato de sódio (10-3 M/l)

25

C5 CO2 (5 bar); 600 ppm de Cl-; Tiossulfato de sódio (10-3 M/l)

90

C6 CO2 (5 bar); 600 ppm de Cl-; Tiossulfato de sódio (10-3 M/l)

120

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3.1.Caracterização do aço API X65

O material utilizado teve suas propriedades mecânicas e composição

química, fornecidas pelo fabricante, o aço cedido veio acompanhado de seu

boletim técnico com as informações necessárias para sua caracterização de

acordo com as normas API.

3.2.Preparação das amostras

Para a realização dos ensaios eletroquímicos, de imersão e para a

caracterização metalográfica das superfícies, foram retiradas amostras de uma

tubulação de aço API X65 e confeccionados corpos de prova de dois formatos

distintos. Para os ensaios eletroquímicos de impedância, resistência à

polarização linear e polarização potenciodinâmica, realizados na autoclave, os

corpos de prova foram usinados de forma cilíndrica com diâmetros iguais a 6

mm e um comprimento de 30 mm conforme a Figura 7-A.

Em uma das faces do cilindro foi usinada uma rosca de 1/8” BSW para

que fosse possível a conexão com a haste de contato da autoclave. Os corpos

de prova deste modelo apresentam uma área exposta de aproximadamente

5,94 cm2.

Os corpos de prova utilizados nos ensaios de imersão, perda de massa

e também para a caracterização das películas formadas na superfície (Figura

7-B), foram usinados de forma prismática com 20x70 mm e com uma

espessura de 2 mm. Foram feitos furos de 5 mm de diâmetro próximos as

extremidades para auxiliar na fixação dos mesmos caso necessário. Este

modelo apresenta uma área exposta de aproximadamente 30,97 cm2.

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Figura 7: Modelos dos corpos de prova utilizados nos ensaios eletroquímicos

(A) e imersão (B).

Todos os corpos de prova foram lixados até a lixa 600 (Figura 8), em

seguida foram lavados com água destilada e acetona, secos com ar quente e

armazenados e um dessecador a vácuo (Figura 9), para evitar a formação de

qualquer óxido nas superfícies.

Figura 8: Procedimento para lixamento dos corpos de prova.

Figura 9: Dessecador a vácuo.

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3.3 Caracterização Metalográfica

As amostras foram analisadas por meio das técnicas de microscopia

óptica (MO) e microscopia eletrônica de varredura (MEV). Para as análises

microestruturais, as amostras foram lixadas até a lixa #1500, polidas com

alumina 1 e 0,3μm e atacadas com solução de Nital 3% por 10 segundos, para

a obtenção das imagens dos contornos de grão e fases presentes.

Para a aquisição das microscopias ópticas, foi utilizado um microscópio

óptico de luz refletida, da marca Olympus, modelo BX51, com sistema de

aquisição de fotos digitalizadas (Figura 10). E para as micrografias eletrônicas,

o equipamento utilizado foi um microscópio HITACHI modelo TM 3000, com

uma tensão de 15KV com aumentos variando entre 100 e 4000x (Figura 11).

Figura 10: Microscópio óptico utilizado.

Figura 11: Microscópio eletrônico utilizado.

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3.4Ensaios Eletroquímicos

Todos os testes eletroquímicos foram realizados na autoclave onde era

possível controlar as condições de pressão, temperatura e, além disso, garantir

a ausência de oxigênio durante os ensaios, que foram realizados em triplicata

com eletrodo de referência virtual. Os corpos de prova utilizados, dos modelos

A e B,foram colocados ao mesmo tempo em imersão e a autoclave foi fechada

para o início do procedimento.

O anexo 1 deste trabalho apresenta, de forma detalhada, todo o

procedimento necessário para a realização dos testes em uma autoclave.

A aquisição e tratamento dos resultados dos testes eletroquímicos foram

realizados utilizando um potenciostato modelo AUTOLAB: μAutolab tipo

III/FRA2 (Figura 12) conectado a um computador com o software NOVA 1.11.2.

Para esse procedimento, foi elaborada uma rotina de testes conforme as

seguintes etapas:

1ª: Medida de Potencial vs. Tempo para houvesse a estabilização do Potencial

de circuito aberto (OCP).

Obtenção da curva de E vs. T para cada condição.

Critério de estabilização: 20 minutos.

2ª: Sucessão de Loops de medidas de EIE e RPL:

Intervalo entre os loops:

1 hora nas primeiras 12 h de teste.

3 horas entre 12 e 36 horas de teste.

2 horas entre 36 e 48 horas.

3ª: Realização de uma Polarização Linear ao final das 48 horas de imersão:

Obtenção das curvas de polarização catódica e anódica.

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Figura 12: Potenciostato μAutolab utilizado.

3.4.1Ensaios de Espectroscopia de Impedância Eletroquímica (EIE)

Os corpos de prova cilíndricos foram colocados na autoclave e imersos

nas soluções de teste desaeradas antes do início das medidas de EIE. Uma

rotina de varias medidas foi programada para avaliar os mecanismos

eletroquímicos na interface metal/solução. As medidas foram realizadas, após

um tempo de 20 minutos para a estabilização do potencial de circuito aberto,

na faixa de frequências de 10 mHz a 10 KHz, aplicando-se tensão com

amplitude de 10 mV e obtendo-se 7 medidas por década de frequência.

3.5Ensaios de Perda de Massa

Os corpos de prova dos tipos A e B (Figura 7) foram colocados na

autoclave em imersão nas soluções já desaeradas por borbulhamento de CO2,

O tempo de desaeração foi de 1 hora por litro de solução. Para que os corpos

de prova de imersão não entrassem em contato com nenhuma parte metálica

da autoclave ou com os outros corpos de prova, foi confeccionado um suporte

de polipropileno e nylon. Esse suporte foi conectado em uma haste presa à

tampa e nele foram colocados os CPs do modelo B, como mostrado na Figura

13.

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Figura 13:Esquema de disposição dos corpos de prova A e B.

Após a imersão, as amostras foram retiradas da autoclave e a pesagem

em uma balança de precisão (Figura 14), para avaliação da perda de massa,

realizada seguindo dois procedimentos distintos. O primeiro foi a pesagem das

amostras assim que retiradas da autoclave, apenas secas com jato de ar

quente e armazenadas em dessecador a vácuo com sílica. Através dessa

pesagem pode-se conhecer a variação de massa (Δm em g) de cada amostra,

levando-se em conta a presença dos produtos de corrosão aderidos à

superfície do material. Para a segunda análise dos corpos de prova, realizou-se

um procedimento de decapagem com pasta abrasiva e esponja, buscando

remover toda a camada de filme formada no aço, podendo avaliar assim, a

perda de massa real das amostras.

Os testes e o cálculo das taxas de corrosão ocorreram de acordo com a

norma ASTM G31-72, onde a seguinte equação é utilizada para tal fim:

(15)

Onde:

K = Constante;

T = Tempo de exposição em horas;

A = Área do corpo de prova em cm2;

W = Perda de massa em gramas;

D = Densidade do corpo de prova em g.cm3;

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A constante K influencia na unidade em que se obtêm os valores da taxa

de corrosão. Quando se deseja essa taxa em milímetros por ano (mm/ano),

segundo a norma, K deve ser igual a 8,76x104.

Figura 14: Balança de precisão.

3.6Avaliação dos produtos de corrosão

Para cada condição estudada, as amostras foram analisadas novamente

por MO e MEV com o intuito de se caracterizar as películas formadas após os

ensaios eletroquímicos. Testes de difratometria de raios-X foram realizados

para que se conheça a composição dos filmes formados na superfície do

material.

O difratômetro utilizado nas análises foi um aparelho da marca Bruker,

modelo D8 Advance e o feixe de Raios-X incidiu nas amostras com 2ϴ

variando de 15 a 80°.

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4. RESULTADOS

Neste capítulo estão apresentados todos os resultados obtidos nos

experimentos deste estudo, os dados são apresentados separadamente por

testes realizados, na seguinte sequência: Caracterização do aço API X65;

Ensaios eletroquímicos; Ensaios de Perda de massa e por fim, a

caracterização dos produtos de corrosão formados. Para identificação das

condições, foram adotadas as abreviações de C1 a C6 como mostrado

anteriormente na Tabela 4.

4.1 Caracterização do aço API X65

4.1.1 Dureza

Os valores de dureza para o aço forammedidos nos laboratórios da

PETROBRAS, e são mostrados na Tabela 5.

Tabela 5: Valores de dureza obtidos nos laboratórios do

CENPES/PETROBRAS.

Medida de Dureza (HV) Dureza média (Vickers) Dureza máxima (Vickers) PETROBRAS 189 190

4.1.2 Composição Química

A composição química do material detectada previamente nos

laboratórios da PETROBRAS foi comparada com os valores especificados pela

norma API 5L (Tabela 6).

Tabela 6:Composição química do aço API X65.

Composição Química (%Wt.)

C Mn P S Si Ni Cr Mo

PETROBRAS 0,09 1,45 0,013 0,002 0,27 0,01 0,08 0,07 API 5L 0,18 1,70 0,025 0,015 0,45 ≤0,50 ≤0,50 ≤0,50

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4.1.3 Caracterização metalográfica

As análises metalográficas das amostras do aço API X65 atacadas

mostraram uma microestrutura composta de grãos de ferrita e perlita em uma

distribuição homogênea (Figura 15-A). As colônias de perlita fina estão

localizadas preferencialmente nos contornos de grão de Ferrita, que

apresentam uma irregularidade nos tamanhos (Figura 15-B). Não se pode

inferir nada sobre o tratamento térmico ao qual o material foi submetido

anteriormente.

Figura 15: Microscopia ótica do aço API X65, aumentos (A)100x e (B)1000x.

4.2 Ensaios eletroquímicos

A rotina de ensaios eletroquímicos realizada durante as 48 horas de

imersão descrita no item 3.4, forneceu um conjunto de resultados e curvas de

Impedância eletroquímica e Resistência à Polarização linear.

4.2.1 Espectroscopia de Impedância Eletroquímica (EIE)

As Figuras 16 e 17 apresentam o conjunto de curvas de Nyquist obtido

em cada condição estudada e em alguns dos intervalos de tempo de imersão

medidos. Para facilitar a observação das curvas nas primeiras horas de

imersão, uma ampliação das figuras, nas regiões iniciais de imersão, está

representada em algumas condições.

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É possível observar diferentes comportamentos das curvas em cada

condição, porém a uma tendência entre C1 a C3 onde não há a presença de

Tiossulfato de Sódio e entre as curvas C4 e C6, onde o H2S foi gerado através

das reações do Tiossulfato adicionado à solução.

Figura 16:Diagrama de Nyquist, C1, C2 e C3.

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Figura 17:Diagrama de Nyquist, C4, C5 e C6.

Nas curvas da C1 nota-se a presença de um semicírculo capacitivo em

altas frequências e o aparecimento de um segundo arco, de caráter indutivo

nas frequências mais baixas, como pode ser notado na Figura 16. Esse

comportamento foi mantido para todos os intervalos de imersão observados no

gráfico.

Na segunda condição (C2), com o aumento da temperatura de 25°C

para 90°C, esse comportamento se mantém até aproximadamente 18 horas de

imersão, onde possivelmente ocorre uma alteração na interface metal/solução.

Essa modificação é evidenciada pelo surgimento de um terceiro semicírculo

nas menores frequências avaliadas, com comportamento capacitivo (Figura 16

para C2).

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Na terceira condição (C3), a temperatura de 120°C modificou o perfil das

curvas, porém a existência dos mesmos três semicírculos se manteve. Como é

possível notar na curvas da C3 (Figura 16), houve um aumento significativo do

segundo semicírculo capacitivo formado nas frequências mais baixas. Porém, a

ampliação da região dos primeiros intervalos do teste sugerem que até as 12

horas de imersão, esse arco capacitivo ainda não aparece nas curvas.

Observa-se que para C3, o arco que possivelmente indica a formação da

película de FeCO3 também aparece para os intervalos em torno de 18 horas de

imersão.

Com a adição de tiossulfato de sódio, as curvas para C4, C5 e C6

apresentaram comportamentos distintos. Os diagramas de Nyquist da C4, a

25°C, apresentaram somente um semicírculo capacitivo que aumentou com o

aumento do tempo de imersão(Figura 17).Zhao e seus colaboradores (ZHAO et

al., 2016a), afirmam que um filme fino de sulfeto de ferro aparece

imediatamente após o contato de um aço carbono nos meios contendo H2S e

CO2. A presença desse filme pode ser a explicação para o crescimento do arco

capacitivo na C4, esse fenômeno será discutido mais adiante.

As condições C5 e C6 mostram a presença de dois semicírculos

capacitivos, o primeiro formado em altas frequências e menor e um segundo

arco incompleto, que aparece desde a primeira hora de imersão nas

frequências intermediárias a baixas. Esse comportamento indica uma redução

na capacitância da dupla camada, um aumento da transferência de carga e

uma posterior formação de camada aderente dos produtos de corrosão FeS e

FeCO3.

É possível observar que nas condições 4 a 6, com a adição do

tiossulfato e consequente geração de H2S, houve o desaparecimento do arco

indutivo nos diagramas de Nyquistpara todos os tempos de imersão

apresentados (Figura 17).Isso é explicado pelo fato de que os produtos

intermediários da dissolução do H2S na solução (HS-, S2-), reagem mais

facilmente na superfície do aço que o (HCO3)- e o OH-, Essa reação dificulta a

adsorção dos produtos intermediários da corrosão do Fe (REN et al., 2005).

A análise dos diagramas de bode auxilia na interpretação dos processos

corrosivos que ocorrem durante o tempo de imersão nas condições avaliadas.

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A Figura 18 apresentaas curvas de bode módulo e fase para 1, 12, 24, 36 e 48

horas de imersão em cada condição.

Figura 18: Diagramas de Bode módulo e Fase.

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Assim como nos diagramas de Nyquist (Figura 16 e 17), nota-se uma

diferença entre as condições com (C4, C5 e C6) e sem (C1, C2 e C3) a

presença de H2S.

Nos digramas de bode fase para C1 e C2 nota-se a presença de um vale

em baixas frequências e de um pico em frequências intermediárias. Porém,

para C1 (25°C) é possível observar que tanto o valor máximo do ângulo de fase

quanto o módulo de Z tendem a diminuir com o tempo de imersão. Esse

comportamento já foi destacado nos ensaios de EIE (Figura 16 para C1). Com

a elevação da temperatura para 90°C (C2) esses valores aumentam a medida

que se mantém o material exposto à condição.

Quando a temperatura do teste foi de 120°C (C3), o vale desaparece e

observa-se apenas um pico em frequências um pouco maiores aumentando

com o tempo de imersão. Essa influência da temperatura na cinética das

reações será discutida na próxima seção.

Analisando-se a primeira condição onde o H2S foi gerado na solução

(C4), um comportamento semelhante a C1 é notado, porém os valores de

módulo e ângulo de fase aumentam com o tempo. Já para C5 e C6, quando

os testes foram realizados a 90 e 120°C com a presença de H2S

respectivamente (Figura 17), os diagramas de bode fase indicam a presença

de dois picos. Um a baixas frequências e um segundo pico presente em

frequências intermediárias a altas, valores semelhantes às frequências onde os

picos aparecem em C2 e C3.

O modulo de Z variou significativamente com as condições e com o

tempo de imersão (Tabela 7). A Figura 19mostra a evolução do valor de |Z| na

última frequência avaliada, da primeira hora para a última hora de imersão nas

6 condições.

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Figura 19: |Z| na última frequência avaliada, da primeira hora para a última

hora de imersão.

Tabela 7: Valores de |Z| na última frequência avaliada

Condição |Z| para 1h de

imersão (Ω.cm²) |Z| para 48h de

imersão (Ω.cm²) Δ|Z| (Ω.cm²)

1 372,7164 289,3944 -83,3220

2 134,0385 256,8541 122,8157

3 104,3604 2541,167 2436,8068

4 664,8779 1405,168 740,2905

5 173,1343 320,6223 147,4880

6 141,5797 1039,506 897,9265

A condição 1 foi a única a apresentar valores negativos para a variação

Δ|Z| ao longo do tempo de imersão, todas as demais condições apresentaram

um aumento no módulo de impedância da primeira para a última hora do teste

(Tabela 7).As condições 3 e 6, ambas a 120°C, foram as que apresentaram

maiores variações nos valores de |Z| (Tabela 7). Essas condições foram as que

apresentaram maiores formações de filmes de FeCO3 e FeS como será

apresentado posteriormente.

A condição 4, apresentou resultados contrários ao que se esperava

antes dos testes. Visto que a C1, também a 25°C, apresentou dissolução ativa

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da superfície, a o aumento dos arcos capacitivos (Figura 17) e o aumento no

valor de |Z| (Tabela 7), não eram esperados e serão discutidos posteriormente.

As condições 2 e 5 apresentaram comportamentos e valores

semelhantes, nessas condições a 90°C, os produtos de corrosão formados

apresentaram pouca capacidade de retardar os mecanismos corrosivos,

consequentemente o módulo da impedância apresentou um pequeno aumento

durante o período de imersão (Figura 19 e Tabela 7).

4.2.2 Resistência à Polarização Linear (RPL)

A Figura 20 apresenta as curvas de Resistência à Polarização Linear

para intervalos de tempo medidos, nas seis condições estudadas. As curvas

mostram a variação da corrente em função da aplicação dos potenciais

catódicos e anódicos de 15 mV, quanto maior a inclinação das curvas, maior a

intensidade dos processos corrosivos que estão acontecendo no material.

Na C1, é possível observar que a inclinação das curvas de RPL vai

aumentando com o tempo de imersão. Em todas as outras condições, a

inclinação das curvas obtidas diminui à medida que se aumenta o tempo de

teste.

É possível notar que as condições C2, C4 e C5, apresentaram curvas

visualmente semelhantes, onde o aumento da inclinação indica um ligeiro

crescimento da Rp ao longo dos intervalos medidos. Porém as curvas

referentes à C3 e C6 mostrammaiores reduções na inclinação das curvas

desde o início do teste até as 48 horas de imersão. Na C3 e C6, a corrente

atinge valores bem próximos de 0 na ultima medição do teste, esse fato indica

que o processo corrosivo acontecia de forma muito lenta ou quase não ocorria

nesse instante do teste, possivelmente devido a capacidade protetiva dos

produtos de corrosão formados e aderidos à superfície.

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Figura 20: Curvas de RPL das 6 condições estudadas.

Através de uma regressão linear, é possível obter a Resistência à

polarização (Rp) para cada curva de RPL obtida. A Figura 21mostra os

resultados da evolução da Rp em Ohm.cm2 com o tempo de imersão, para as 6

condições avaliadas.

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Figura 21: Curvas de Rp vs. Tempo.

Os valores obtidos na regressão linear das curvas de 1 e 48 horas de

imersão para cada condição, são mostrados na Tabela 8, que também

apresenta os valores da diferença entre as resistências final e inicial (ΔRp).

Tabela 8: Valores de Rp para 1 e 48 horas de Imersão.

Condição Tempo de

Imersão (h) Rp

(Ohm.cm2) ΔRp

(Ohm.cm2)

1 1 380,133

-91,511 48 288,622

2 1 123,991

127,780 48 251,771

3 1 102,834

1825,650 48 1928,484

4 1 680,673

709,888 48 1390,561

5 1 170,587

167,327 48 337,914

6 1 136,283

2266,232 48 2402,515

Com exceção da C1, que apresentou um valor negativo para ΔRp na

Tabela 8,todas as demais apresentaram um aumento de Rp com o aumento do

tempo de imersão como era esperado pela análise das inclinações das curvas

de RPL (Figura20).C2 e C5 (90°C, Sem e com H2S, respectivamente)

apresentaram, novamente, um comportamento similar, caracterizado por um

ligeiro aumento nos valores de resistência à polarização durante as 48 horasde

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teste. Esse pequeno aumento está relacionado com a baixa capacidade

protetiva e/ou instabilidade dos filmes formados pelos produtos de corrosão

nessas condições. As condições C3 e C6 (120°C, Sem e com H2S,

respectivamente) apresentaram um significativo aumento da Rp desde a

primeira hora de imersão. Essas condições apresentaram uma camada mais

densa de FeCO3 (C3) e uma mistura de FeCO3 e FeS (C6), que pode ter

colaborado com esse aumento atuando de forma a impedir ou dificultar o

contato do eletrólito com o material “limpo”.

As condições C3 e C6 (120°C, Sem e com H2S, respectivamente)

apresentaram um significativo aumento da Rp desde a primeira hora de

imersão. Esse aumento está relacionado com a formação das películas na

superfície do aço que também já havia sido identificada nos diagramas de

Nyquist, com o aparecimento de um segundo semicírculo capacitivo, também

em torno das 12 horas de teste. A condição 4 apresentou, também, um

crescimento na Rp. Esse aumento pode estar relacionado com o filme de

sulfeto que se forma imediatamente após o contato do aço carbono com o H2S

(ZHAO et al., 2016b). Porém esse filme apresentou uma grande instabilidade e

aderência muito baixa à superfície do metal, sendo removido da superfície

durante o processo de desmontagem do equipamento.

4.3 Perda de massa

Os corpos de prova mantidos em imersão durante as 48 horas da rotina

eletroquímica foram analisados de duas formas distintas como descrito no item

3.5. A Figura 22ilustra o gráfico dos valores de Δm médio, em gramas, antes e

depois do processo de decapagem, para todas as condições avaliadas. E a

Tabela 9 mostra os valores expressos no gráfico da Figura 22.

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53

Figura 22: Δm médio, em gramas, antes e depois do processo de decapagem.

Tabela 9: Valores de Δm médio (g) antes e depois do processo de decapagem.

Condição Δm médio sem decapagem(g)

Desvio Padrão

Δm médio após decapagem(g)

Desvio Padrão

C1 0,1345 0,01598 0,1787 0,03000 C2 0,0494 0,02486 0,2670 0,01871 C3 -0,0854 0,00948 0,1963 0,02800 C4 0,0350 0,00210 0,0470 0,00163 C5 0,0858 0,01961 0,1173 0,01484 C6 0,0290 0,00478 0,1870 0,01484

Com base na Figura 22 e na Tabela 9, é possível inferir que as

condições onde a diferença entre os valores de Δm antes e após a decapagem

são maiores (C2, C3 e C6), são as condições onde houve maior formação de

filme na superfície das amostras.A C3 apresentou um Δm negativo antes da

decapagem, indicando um ganho de massa em relação a massa inicial das

amostras. Essa condição foi a que apresentou a camada mais densa de FeCO3

como será mostrado adiante. As demais condições, mesmo com a formação de

películas nas superfícies, apresentaram uma perda de massa mesmo sem a

decapagem.

Os valores de Δm após o processo de remoção dos filmes representam

a perda de massa real média das amostras nas 6 condições, indicando a

quantidade de material que reagiu com o meio, formando produtos de corrosão

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aderentes ou não. Através desse valor foi possível calcular a taxa de corrosão

para cada condição (Figura 23 e Tabela 10).

Figura 23: Taxa de corrosão média obtida por perda de massa nas 6

condições estudadas.

Tabela 10:Valores da taxa de corrosão obtidos por perda de massa.

Condição Taxa de corrosão média (mm/ano)

Desvio Padrão

1 1,341 0,2252 2 2,004 0,1404 3 1,474 0,2102 4 0,353 0,0123 5 0,881 0,1114 6 1,404 0,1047

Os valores da taxa de corrosão indicam a agressividade de cada meio

ao aço API X65, assim como torna possível uma análise do comportamento

desse material nas diferentes condições.

Em C1, C2 e C3 sem a presença do H2S, os valores das taxas de

corrosão indicam que o aumento da temperatura para 90°C favoreceu os

processos corrosivos, mesmo com a formação de uma possível película na

superfície. Já quando a temperatura do teste foi de 120°C o valor da taxa de

corrosão (Tabela 10) caiu significativamente.

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55

Para C4, C5 e C6, quando houve a geração de H2S na solução, os

valores de taxa de corrosão foram menores que sem esse contaminante. O

aumento da temperatura promoveu um grande aumento da taxa de corrosão,

como pode ser visto na Figura 23 e Tabela 10. Na literatura esse

comportamento, onde o H2S e seus produtos reduzem a taxa de corrosão,

também é verificado (ABELEV et al., 2009; YIN et al., 2008) e será discutido

mais adiante. A C4, mesmo sem a formação de películas aderentes, como será

mostrado no item seguinte, foi a condição que apresentou menor taxa de

corrosão entre todas as condições avaliadas.

4.4 Caracterização dos produtos de corrosão

A Figura 24 exibe os corpos de prova retirados da autoclave após as 48h

de imersão e uma amostra em branco que não foi submetida à nenhuma

condição de teste. A amostra lixada em lixa 600# está indicada pela letra (A) e

as condições 1 a 6 pelas letras B a G, respectivamente.

Figura 24: Amostra lixada antes da imersão (A) e Corpos de prova utilizados

para a caracterização dos produtos de corrosão formados nas condições 1 a 6

(B a G, respectivamente).

A seguir são apresentados os resultados de microscopia eletrônica de

varredura (MEV), espectroscopia de energia dispersiva (EDS) e difração de

Raios-X (DRX).

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56

4.4.1 Microscopia Eletrônica de Varredura (MEV) e Espectroscopia de

Energia Dispersiva (EDS)

As análises dos corpos de prova através do MEV comprovaram a

formação de filmesricos em carbono e oxigênio e também películas ricas em

enxofre. Esses produtos de corrosão aderidos às superfícies, possivelmente,

são FeCO3 e FeS e suas variações.

Nas condições (C2, C3, C5 e C6) foi possível observar os filmes

formados. Porém em C1 e C4 a análise microscópica não permitiu a

visualização daformação de produtos aderentes.

A Figura 25 apresenta um conjunto de imagens (A a F) com ampliações

de 400x das amostras expostas às condições estudadas (C1 a C6,

respectivamente), e as Figuras 26 e 27 mostram as análises de EDS realizadas

em cada condição.

Figura 25: Microscopias Eletrônicas de Varredura das amostras expostas às 6

condições estudadas, aumento de 400x, C1 (A), C2 (B), C3 (C), C4 (D), C5 (E)

e C6 (F).

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57

Figura 26: EDS das condições 1 a 3.

Figura 27: EDS das condições 4 a 6.

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Na Figura 25-A, a amostra da C1 (25°C, sem H2S) não apresentou

nenhuma formação densa de produtos de corrosão aderente ao material,

corroborando com as informações dadas pelos ensaios eletroquímicos (Figura

16). É possível observar uma dissolução completa e uniforme da superfície do

aço, dissolução essa que se dá preferencialmente nos grãos de Ferrita da

microestrutura (FARELAS et al., 2010; ZHAO et al., 2016a).

A alteração de cor observada na Figura 24-B e a variação de massa da

amostra C1 (Figura 22) podem ser atribuídas aos produtos intermediários da

dissolução do ferro que se adsorvem na superfície, fato que é comprovado pelo

aparecimento dos arcos indutivos à baixas frequências nas curvas de Nyquist

(Figura 16).

O EDS da C1 apresenta apenas os elementos presentes na composição

do aço API X65 distribuídos de forma regular e homogênea como se pode

notar na Figura 26.

Os resultados e gráficos da C2 (90°C, sem H2S), sugerem a formação

de uma película protetora de FeCO3, que gerou uma redução na taxa de

corrosão e uma maior variação de massa após o processo de decapagem

(Figura 22). Essa formação é comprovada pela análise de MEV, onde é

possível notar a precipitação de cristais arredondados e sobrepostos, dispostos

em faixas (Figura 25-B).

As Figuras 25-C apresenta uma análise da C3 (120°C, sem H2S),

mostrando a formação de uma camada aderente e densa sobre a superfície do

aço, o que também foi sugerido pelos resultados eletroquímicos dessa

condição. A película formada a 120°C apresentou características morfológicas

diferentes da anterior.

Com a finalidade de observar a uniformidade das películas e comparar a

formação dos filmes na C2 e C3, a Figura 28 ilustra as duas condições com um

menor aumento (150x) e torna possível algumas inferências.

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Figura 28: Substrato exposto na amostra da condição 2 e Substrato exposto e

Cristais mais finos na amostra da condição 3, aumento de 150x.

Observa-se a existência de muitos poros ou falhas na camada de FeCO3

formada a 90°C, deixando o substrato de aço ainda exposto e em contato com

o meio, como visto na Figura 28. O fato da não cobertura total do aço pela

camada de carbonato justifica a alta taxa de corrosão (Tabela 10) apresentada

para C2.

A distribuição do tamanho e a morfologia dos cristais de carbonato se

mostrou bem uniforme na Figura 28 para a C2, a análise de EDS (Figura 26)

indica a presença de oxigênio em maiores quantidades nos cristais de FeCO3 e

a presença dos mesmos elementos constituintes do aço, no substrato exposto.

O carbonato de ferro formado na condição 3 apresentou uma forma

cúbica e uma distribuição de tamanho mais heterogênea. Outra diferença está

no grau de recobrimento desse filme, sendo possível observar áreas expostas

muito menores da superfície do aço (Figura 28).

Essa densidade maior do filme está retratada no aumento do

Rp(Tabela8)e na redução da taxa de corrosão (Tabela 10) apresentadas por

essa condição. Nota-se a precipitação de cristais de FeCO3 muito menores em

algumas regiões da amostra (Figura 28), esses cristais mais refinados

contribuem para o recobrimento do filme sobre o substrato.

Para facilitar a análise das películas formadas nas amostras C1 a C3 e

comparar a superfície das amostras após os testes, foram embutidos em resina

epóxi, quatro corpos de prova sem imersão e os outros três expostos as

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condições C1 a C3, em seguida foi realizada umaanálise de MEV na secção

transversal das amostras, como visto na Figura 29.

Figura 29: Análises transversais de uma amostra sem imersão e das amostras

expostas às 3 condições sem H2S.

A C4 (Figura 25-D) não demonstra a formação de produtos aderentes

durante o período de imersão. Nessa condição, o filme de sulfeto pode ter se

formado imediatamente após o contato do aço com a solução. Esse filme de

sulfeto se mostrou altamente instável e não permaneceu aderente à superfície

ao final do teste, porém pode ter sido o responsável pela baixa taxa de

corrosão apresentada pela amostra na C4.

Essa redução da taxa de corrosão pode ser notada pelo estado da

superfície da amostra C4 comparada com a amostra C1, ambas a 25°C e

exposta a 5bar de CO2 (Figura 25-A e D).O filme inicial de FeS pode ter

retardado o processo da sour corrosion nessa condição e, assim como na

condição 1, não foram encontrados cristais de carbonato sobre a superfície das

amostras. O EDS da C4 (Figura 27) indica, além dos elementos de liga do

substrato de API X65, Enxofre distribuído uniformemente por toda a superfície

da área analisada.

Analisando-se o MEV da amostra da C5 (90°C, com H2S) (Figura 25-E),

nota-se a presença de dois produtos distintos aderidos à superfície, porém há a

predominância da formação de uma película escura, que possivelmente seja o

FeS, já que o EDS indicou uma grande concentração de enxofre nesse material

(Figura 27).

Essa película apresenta-se quebradiça e se desprendendo facilmente do

substrato, como é possível visualizar, também, na Figura 24-F. Comparando-se

a Figura 25-B e E, fica claro que a formação dos cristais de carbonato foi

prejudicada pela adição do H2S, o filme de sulfeto de ferro pode ter retardado o

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processo corrosivo e desfavorecido a liberação das espécies iônicas

necessárias para a precipitação do carbonato de ferro.

Os cristais encontrados na C5 apresentaram morfologia e tamanho

similares aos encontrados na C2, porém se precipitaram isoladamente e em

quantidades muito menores na superfície da amostra. Não houve a formação

de colônias de cristais de FeCO3 nos ensaios a 90°C com H2S, como pode ser

visto, também na Figura 30 da C5 com um menor aumento.

Figura 30: Película descontínua de FeS, Cristais isolados de FeCO3 e

substrato exposto na condição 5, aumento de 30x.

O processo competitivo de formação dos filmes dos produtos de

corrosão se mostrou mais aparente nas análises de MEV da C6 (120°C, com

H2S), apresentada na Figura 25-F. A película escura presente na C5 também

foi observada na C6, porém apresentando densidade e estabilidade superiores

nos testes a 120°C. É possível observar na Figura 24-G que a amostra teve

praticamente toda a superfície recoberta por produtos de corrosão aderentes e

estáveis ao final do teste de imersão.

Além da alteração nas características da película de FeS, os cristais de

carbonato sofreram grandes mudanças de morfologia e tamanho. Assim como

a alteração notada da C2 para a C3, os cristais da C6 apresentam formatos

cúbicos, porém nota-se a formação de carbonato de uma forma distinta nessa

condição.

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Os cristais se precipitaram na forma de um aglomerado de lâminas mais

finas e de tamanhos irregulares em algumas regiões da amostra como

destacado na Figura 31.

Figura 31: Formação do FeCO3 em lâminas, aumento 1200x.

Além do aparecimento dessa nova morfologia dos cristais de FeCO3, a

condição 6 apresentou mais um produto da sweet corrosion. Os cristais de

forma arredondada, similares ao carbonato de ferro formado a 90°C, se

precipitaram de forma isolada sobre a camada mais densa de FeS. É possível

identificar uma sequência de formação nas películas de corrosão aderias na

superfície da amostra da C6. Inicialmente a primeira camada de FeS, formada

imediatamente após o contato do substrato com o H2S, pode ter se formado e

aderido à superfície. Com o aumento do tempo de imersão, os cristais de

FeCO3 se precipitaram sobre a camada porosa de FeS e o substrato do aço. A

medida que o H2S foi gerado pela reação do Tiossulfato, a concentração de S2-

da solução aumentou e a nova camada mais densa e os cristais de FeS se

precipitaram sobre os carbonatos de ferro, como é mostrado na Figura 32. No

EDS realizado na C6 é possível notar uma maior concentração de enxofre no

substrato de FeS, e os grãos de carbonato de ferro precipitados.

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63

Figura 32: Produtos de corrosão na amostra da condição 6, aumento 400x.

As amostras expostas às condições que continha H2S(C4 a C6)

apresentaram uma película extremante quebradiça e instável após o final dos

testes como apresentado nas Figuras 24 e 25. Portanto não foi realizada a

análise transversal das amostras.

Como as análises de EDS fornecem apenas um resultado qualitativo e

localizado das amostras, a difração de Raios-X pode trazer uma quantificação

e a comprovação de quais as fases presentes nas superfícies. Sendo então útil

para a identificação das películas formadas.

4.4.2 Difração de Raios-X (DRX)

Os espectros de difração de Raios-X das amostras expostas às seis

condições estudadas são apresentados na Figura 33. Todas as análises foram

realizadas com base nas cartas disponíveis no site da AMCSD1.

Cada estrutura está acompanhada de sua fórmula química e do número

referente à carta utilizada, para a identificação dos picos nos espectros na

legenda da Figura 33.

1AMERICAN MINERALOGIST CRISTAL STRUCTURE DATABASE.Disponível em:

<http://rruff.geo.arizona.edu/AMS/amcsd.php>. Acesso em 10 de maio de 2017.

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Figura 33: Espectros de difração de Raios-X das amostras expostas às 6

condições.

A amostra C1 apresentou picos representativos dos compostos Ferrita e

Cementita, presentes na microestrutura do aço API X65 analisada na Figura 15

(microscopia ótica do material). Não foi constatado, realmente, a formação de

nenhum produto aderente ou óxido na superfície da amostra, o que já havia

sido observado nas análises de MEV (Figura 25-A).

Analisando-se o espectro referente à C2, fica claramente comprovada a

precipitação do carbonato de ferro na superfície do corpo de prova. Nota-se,

também, que ainda são detectadas as fases ferrita e cementita, esse fato

comprova a existência de poros e/ou falhas no filme de FeCO3.

A amostra C3 apresentou resultados semelhantes. Um grande número

de picos referentes à Siderita, ou carbonato de ferro, FeCO3 pode ser

detectado. Porém nos testes a 120°C sem H2S, a dissolução da ferrita ocorreu

de forma mais acentuada, o que favoreceu a formação da película mais densa,

observada no MEV (Figura 25-C)e os poros e falhas no filme de carbonato,

deixaram exposto um substrato rico em cementita, detectada na

espectroscopia dessa condição.

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65

A C4, (25°C e H2S)não apresentou a formação de nenhum cristal

aderente à superfície. A espectroscopia identificou apenas Ferrita e Cementita

(Figura 33). Já a C5 (90°C e H2S), Além das fases referentes ao substrato do

aço, Ferrita e Cementita, a formação de cristais de Siderita, apresentada no

MEV de forma isolada e em poucas quantidades (Figura 25-E), também é

confirmada pela presença do pico referente a essa fase. A formação da

camada escura e quebradiça percebida na Figura 25-E pode ser relacionada

com os picos de mackinawita e smitita identificados.

Na análise de DRXda condição 6 ficou claro a competição de formação

dos produtos de corrosão da sweet e sour corrosion. O substrato metálico

ainda exposto pode ter sido identificado devido à instabilidade dos filmes de

sulfeto à temperatura ambiente. A formação de siderita foi facilmente percebida

nos MEVs (Figura 25-F) e comprovada nos espectros (Figura 33), além da

formação de um novo composto rico em ferro e oxigênio, a magnetita (Fe3O4).

Provavelmente devido ao aumento da temperatura, além do aumento da

intensidade do pico relativo à mackinawita e da smitita, a pirita também foi

identificada.

Para complementar a análise das espectroscopias de difração de Raios-

X, quantificar a precipitação de cada fase nas superfícies analisadas, e

colaborar com as discussões a respeito dos processos competitivos dos

produtos de corrosão, foram realizadas análises de Rietveld sobre os espectros

obtidos em cada condição. A Figura 34mostra os gráficos com as

quantificações de cada composto presente nas amostras.

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66

Figura 34: Quantificação das fases por análise de Rietveld.

Analisando-se as condições (C1, C2, C3), é possível notar o aumento da

presença do filme de carbonato de ferro nas amostras(Figura 34) (0% para C1,

80,6% para C2 e 96,7% para C3). Esse aumento, assim como a redução da

área de substrato exposto, mostrado pelas análises de MEV (Figura 25- A, B e

C), estão de acordo com menor fração de Ferrita detectada nas análises de

Rietveld, que cai de 99,7% na C1 para 0%na C3(Figura 34).

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67

As condições (C4, C5 e C6), apresentam uma grande variação das

quantidades e fases presentes. É possível observar uma grande redução da

área de ferrita do substrato exposta (99,2% (C4) para 4,4% (C6). Além disso,

de C5 para C6, a siderita apresentou um grande aumento (3.1% na C5 para

20,7% na C6), acompanhado da redução da presença de smitita ( 37,4% para

28,5%) e da precipitação da pirita (9%). A fração de mackinawita se manteve

praticamente a mesma.

4.5Titulação potenciométrica

Com o objetivo de verificar e validar a utilização do tiossulfato de sódio

na geração de H2S durante a corrosão do aço carbono, testes de imersão e

titulação potenciométrica foram realizados previamente no laboratório do

CENPES – PETROBRAS seguindo o procedimento detalhado no Anexo 2

deste trabalho, e a Figura 35ilustra a evolução da concentração de sulfeto de

hidrogênio presente na solução durante todo o tempo de imersão.

Figura 35: Concentração de H2S gerado em função do tempo de imersão.

Observou-se que à medida que se aumenta a concentração de H2S na

solução, o pH também aumenta. Esse comportamento é devido ao fato de que

as reações 26 e 27, responsáveis pela redução do sulfeto de hidrogênio,

consumirem os íons H+ presentes na solução. Percebe-se também a eficiência

do reagente tiossulfato de sódio quanto a geração do H2S na interface

metal/solução

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5. DISCUSSÕES

Os dados obtidos experimentalmente nesse estudo fornecem

informações importantes para compreensão da formação competitiva dos

produtos da sweet e sour corrosion. Este tópico discutirá os resultados

apresentados no item anterior, com base nas pesquisas encontradas na

literatura. A Tabela 11 sumariza os principais resultados eletroquímicos

encontrados em cada ensaio realizado.

Tabela 11:Resumo dos principais resultados eletroquímicos obtidos.

Condição

RPL EIE Perda de massa Perda de massa

ΔRp 1 a 48h (Ω.cm²)

|Z| na última

frequência (Ω.cm²)

Δm médio (g) Tx. Corr.

(Perda de massa) (mm/ano)

C1 -91,5105 289,3944 0,1787 1,842

C2 127,7798 256,8541 0,2670 2,004

C3 1825,6500 2541,1671 0,1963 1,474

C4 709,8879 1405,1683 0,0470 0,353

C5 167,3269 320,6223 0,1173 0,881

C6 2266,2318 1039,5063 0,1870 1,404

Os testes apresentaram resultados satisfatórios e coerentes com a

literatura, porém existiram alguns limitantes nos procedimentos experimentais

que se não ocorressem, seria possível uma análise mais detalhada das

condições estudadas. O primeiro foi o tempo disponível para a realização dos

testes, o que implicou na definição de uma rotina de ensaios de 48 horas de

imersão. Alguns autores avaliam os produtos de corrosão por períodos

superiores a 100 horas, como Zhang e Cheng (ZHANG; CHENG, 2009), Han e

seus colaboradores (HAN et al., 2011), Nešić(NEŠIĆ, 2007) entre outros

autores, que avaliaram o comportamento do aço API X65 em meios contendo

diferentes contaminantes, com um tempo de imersão superior a 120 horas.

Porém, como visto nos resultados apresentados e também nas pesquisas

citadas, 48 horas é tempo suficiente para que as películas, tanto da Sour

quanto da Sweet corrosion se formem nas superfícies testadas.

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69

Uma segunda limitação encontrada está relacionada com o equipamento

disponível para a realização dos ensaios eletroquímicos. Que devido à grande

área exposta do corpo de prova e a limitação da corrente máxima pelo

potenciostato, tornou inviável a análise das curvas de polarização

potenciodinâmicas realizadas ao final da rotina eletroquímica.

5.1 Caracterização do aço API X65

O aço API X65 é largamente utilizado na fabricação de dutos para a

indústria de óleo e gás, consequentemente e alvo de diversos estudos

envolvendo seu comportamento em meios contendo CO2 e H2S, onde a

formação dos produtos de corrosão analisados nesse estudo é extremamente

importante (GAO; PANG; GAO, 2011; HAN et al., 2011; KAPPES, 2011;

NEŠIĆ, 2007). As análises do material utilizado na pesquisa estão de acordo

com a literatura. O aço API X65 apresentou uma microestrutura

ferrítica/perlítica (Figura 15) como destacado também por Gao e seus

colaboradores (GAO; PANG; GAO, 2011).

A microestrutura do aço tem uma significativa responsabilidade nos

mecanismos de corrosão sofridos pelo material. É abordado na literatura que a

cementita apresenta um potencial de corrosão mais positivo que a ferrita

(ZHAO et al., 2016b). Esse efeito galvânico gerado entre a Fe3C e a α-Fe

favorece a dissolução inicial das fases ferríticas e consequentemente, a

liberação de íons de Fe na solução, esses íons são extremamente importantes

para a precipitação dos produtos de corrosão estudados. A medida em que a

ferrita se dissocia, aumenta-se a área catódica do par galvânico formado e a

cinética da reação de corrosão do material também. O resultado da dissociação

preferencial da ferrita pode ser comprovado pela redução de ferrita detectada

pelas análises de Raios-X apresentadas (Figura 34). Esse efeito foi percebido

também por Farelas e outros em seus estudos (FARELAS et al., 2010).

Outra influência da dissolução da ferrita na solução é a geração dos

produtos intermediários, como o FeOH, FeCO2OH e FeHCO3, que se adsorvem

na superfície das amostras. As reações anódicas de dissolução do ferro

apresentadas no item 2.2 do presente estudo, também foram relatadas por

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Zhang e Cheng (ZHANG; CHENG, 2009). Esses produtos são responsáveis

pelo aparecimento dos arcos indutivos formados à baixas frequência nos

diagramas de Nyquist da C1, C2 e C3 (Figura 16).

5.2 Influência do tempo de imersão

O tempo de exposição das amostras ao meio tem uma estreita relação

com o desenvolvimento dos mecanismos corrosivos e o aparecimento de

produtos de corrosão estáveis e aderentes na superfície. Para os testes de

RPL e EIE, foram analisados os resultados obtidos com 1, 3, 7, 10, 12, 18, 24,

30, 40 e 48 horas de imersão. De forma geral, com exceção da C1, quanto

maior o tempo de imersão, maior a resistência ao processo corrosivo, e maior a

quantidade de produtos aderidos à superfície, Zhang e outros (ZHANG et al.,

2012a), estudando o aço API X65 em baixas pressões e em condições

supercríticas de CO2, também encontraram comportamento similar,

observando uma redução na taxa de corrosão com o aumento do tempo de

imersão.

Segundo vários autores que avaliaram o comportamento do aço carbono

em meios contendo CO2(CARDOSO, 2012; FARELAS et al., 2010; LEE,

2004a), Um arco capacitivo presente nas frequências mais elevadas dos

diagramas de Nyquist estão relacionados com a capacitância da dupla camada

elétrica formada entre o metal e o eletrólito, assim como indicam a resistência à

transferência de carga. A presença de um arco indutivo formado em baixas

frequências indica um processo de adsorção de produtos intermediários da

dissolução do ferro, como por exemplo, FeOH, FeCO2OH e FeHCO3. Devido

ao desenvolvimento do processo corrosivo e do tempo de exposição, a

formação do terceiro semicírculo ou segundo arco capacitivo, presente em

baixas frequências, indica a formação de uma camada aderente de produto de

corrosão, nesse caso, indicam e comprovam a formação do FeCO3(LEE,

2004a; SUN et al., 2012).

Na Figura 16, os diagramas de Nyquist da C1 apresentam a redução do

primeiro semicírculo capacitivo, à medida que se aumenta o tempo de imersão.

Como, para diversos autores (CARDOSO, 2012; FARELAS et al., 2010; REN et

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al., 2005), esse arco tem relação com a resistência à transferência de carga e a

capacitância da dupla camada elétrica formada, observa-se que o mecanismo

de dissolução ativa encontra facilidade para ocorrer, com o aumento do tempo

de imersão. Essa dissolução também é observada nas curvas de RPL da

Figura 20 para a C1. Para as demais condições, o tempo de imersão favoreceu

a formação das películas na superfície, já que o desenvolvimento do processo

corrosivo aumenta a liberação dos íons responsáveis pela precipitação desses

produtos na solução (BIAN et al., 2015). Quanto maior o tempo de contato

metal/solução e solução/CO2, a concentração de H2CO3 aumenta com a

dissolução do gás na solução, com isso ocorre uma aceleração na cinética das

reações catódicas gerando mais íons CO32-. Para que o equilíbrio

eletroquímico seja mantido, a reação anódica de dissolução do ferrodeve

aumentar e liberar mais Fe2+. Com a supersaturação do meio por essas

espécies químicas, a precipitação e formação do filme de FeCO3 se torna

possível (SUN et al., 2012; ZHANG et al., 2012a).

Essa formação é comprovada pelo aparecimento de um segundo arco

capacitivo a baixas frequências nas curvas de Nyquist, esse arco é notado

após um tempo de 12 a 18 horas de imersão para as C2 e C3 (Figura 16). Esse

intervalo para o início da formação do filme de carbonato de ferro é discutido e

está de acordo com diversos autores (HAN et al., 2011; YANG; ROSAS;

CASTANEDA, 2014). Em um intervalo de 24 a 48h de imersão, a superfície do

aço carbono já esta totalmente coberta pelo FeCO3, porém essa camada se

apresenta porosa e com vários falhas localizadas (ZHANG et al., 2012a), os

resultados apresentados na Figura 25 estão de acordo com essa afirmativa.

Nas condições C4, C5 e C6, com a adição do H2S, os processos

corrosivos sofreram alterações, porém o efeito do tempo se manteve

semelhante, favorecendo a formação dos filmes de sulfeto. Uma camada fina

de mackinawita se forma inicialmente, como mostrado nas Figuras 17 e 25.

Zhao e outros(ZHAO et al., 2016a), também afirmam que os produtos da sweet

corrosion se formam rapidamente e se desenvolvem mais facilmente por causa

da cinética das reações envolvendo o Fe e H2S na fase inicial de imersão, Essa

aceleração na cinética da reação é comprovada pelo deslocamento dos picos

no diagrama de bode (Figura 18) em direção as altas frequências. A cobertura

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da superfície pelos produtos de corrosão dificultou a transferência de carga

entre o aço e a solução, como mostra na Figura 17 para as condições C4, C5 e

C6. No entanto, as imperfeições, fissuras e desprendimento do filme,

possibilitaram que ainda ocorresse um processo corrosivo do substrato. Zhao e

seus colaboradores encontraram um comportamento semelhante paras as

películas formadas até as 24 de imersão em meios contendo H2S (ZHAO et al.,

2016b).

5.3 Influência da geração de H2S

A adição de tiossulfato de sódio na solução se mostrou eficiente na

substituição do H2S gasoso para simular a sour corrosion, já que foi

comprovada a formação dos produtos aderentes ricos em enxofre nas análises

de MEX e DRX (Figuras 25 e 34). As reações propostas na literatura por vários

autores (KAPPES et al., 2012; KAPPES, 2011; TSUJIKAWA et al., 1993), e

apresentadas no item 2.3 deste estudo, possivelmente foram as responsáveis

pela geração de uma concentração suficiente de H2S. Os resultados

apresentados no procedimento de titulação potenciométrica realizado, Figura

35, servem para comprovar a geração de concentrações significantes de H2S

na fase líquida. Em testes encontrados na literatura, (KAPPES et al., 2012), A

quantidade de H2S gerada é função da área de aço exposta e além disso,

também é observado que a concentração máxima de sulfeto de hidrogênio é

encontrada na superfície do metal em imersão, mantendo uma baixa

concentração na fase de vapor dos testes, aumentado assim a segurança dos

experimentos.

A presença do tiossulfato de sódio em meios contendo cloreto e CO2 é

relatada na literatura como um ativador da reações tanto anódicas quanto

catódicas dos processos corrosivos. Ezuber (EZUBER, 2009), afirma que

quanto maior a concentração de tiossulfato, quanto maior serão as densidades

de corrente anódica e catódica e que esse efeito é mais pronunciado na

presença do dióxido de carbono. O autor não estudou e não levou em conta a

formação dos produtos de corrosão em seus estudos, mas destaca que essa

mudança é mais significativa nas reações catódicas dos mecanismos

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envolvidos. Tanto o CO2quanto tiossulfato tem um grande papel nas reações

catódicas como visto nas reações apresentadas no item 2.2 para o CO2 e para

o tiossulfato, é relatado o fornecimento de uma corrente catódica adicional por

meio da reação (EZUBER, 2009; KAPPES et al., 2012; KAPPES, 2011):

S2O32- + 6 H+ + 4e-➝ 2Sads + 3H2O (28)

Os resultados obtidos nos testes de EIE para C4, C5 e C6 (Figuras 17 e

18) comprovam a alteração dos mecanismos de corrosão quando se gerou

H2S. Cardoso (CARDOSO, 2012), revela em seus estudos que a presença de

um único ponto de máximo no ângulo de fase indica que um único processo

corrosivo está acontecendo e que o deslocamento desse pico para frequências

menores indica que o processo vai acontecendo de maneira mais lenta a

medida que se aumenta o tempo de imersão.

Em C5 e C6, onde se tem dois valores de máximo nos ângulos de fase,

nota-se a existência de 2 processos acontecendo simultaneamente, porém com

cinéticas diferentes. Os picos relacionados à corrosão do Fe em meios

contendo CO2, nas faixas de frequência entre 10 e 100 Hz, presentes nas em

C1, C2 e C3, também estão presentes. Porém, é possível observar um

segundo processo acontecendo nas menores frequências, relacionado com a

corrosão pelo H2S.

A presença de S elementar adsorvido na superfície foi encontrada no

EDS (Figura 27) para C4. Porém, mesmo sem a formação de FeCO3 ou FeS

aderentes ao final do teste, essa foi a condição onde notou-se a menor taxa de

corrosão, como apresentado pela Figura 23. Para Zheng (ZHENG, et al., 2015),

as espécies vindas da dissolução e reação do H₂S nos meios aquosos, tais

como HS⁻, S2- e Sads podem ser adsorvidas nas superfícies metálicas e formar

uma camada que retarda a dissolução do substrato metálico, essa camada

provavelmente foi a responsável pelos resultados eletroquímicos da C4 (Figura

17 e 23). Esses compostos se aderem inicialmente durante a imersão porém

apresentam baixa estabilidade termodinâmica.

De maneira geral, as condições onde o tiossulfato foi adicionado e houve

a geração de H2S, apresentaram taxas de corrosão menores, medidas por

perda de massa. Esse fato indica que a tanto a adsorção das espécies quanto

a formação dos diversos tipos de sulfetos de ferro encontrados (Figura

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33)agiram retardando e dificultando as reações ocorridas nas condições sem

tiossulfato (C1, C2 e C3), seja reduzindo a dissolução ativa do substrato ou

dificultando a formação da película de FeCO3. Nas condições C5 e C6, as

microscopias eletrônicas de varredura (Figura 25) indicaram a formação de

carbonato de ferro, em meio aos filmes de FeS. Nesses casos, as taxas de

corrosão encontradas foram maiores que na C4 onde provavelmente devido a

temperatura, não houve a formação de FeCO3. Esse aumento da taxa de

corrosão pode ser explicado pelo fato de que a camada de FeS já é

naturalmente quebradiça e com falhas e a formação dos cristais de carbonato

pode ter potencializado essas fissuras e desprendimentos do substrato.

Kappes e seus colaboradores (KAPPES, 2011) afirmaram que na maioria das

vezes, não ocorre a passivação de substratos recobertos por filmes de FeS

devido aos defeitos na estrutura das películas formadas, e da tendência

quebradiça e rachaduras características na camada de mackinawita formada

em meios com H2S. O que corrobora com os resultados apresentados nas

Figuras 25-E e F. Essa exposição do substrato, detectada pela presença de

ferrita e cementita na análise de Raio-X, em contato com as camadas de

sulfeto, gera um ligeiro aumento na taxa de corrosão devido a um fenômeno de

formação de um micro par galvânico entre o filme e o aço.

Tang e seus colaboradores (TANG et al., 2010), relatam que o efeito do

H2S sobre a corrosão do aço carbono se desenvolve em dois processos

simultâneos, um processo de dissolução preferencial dos grãos de ferrita e um

processo de corrosão galvânica nesses grãos. Como discutido anteriormente,

para um aço com estrutura ferrítica/perlítica, como o API X65 avaliado nesse

estudo, (Figura 15), a cementita apresenta um potencial catódico em relação a

ferrita (EZUBER, 2009; KAPPES, 2011; SUN et al., 2012; TANG et al., 2010).

Esse fato favorece a ocorrência de uma dissolução anódica preferencialmente

na ferrita. Consequentemente as reações catódicas ocorrem sobre a cementita.

Com base nesse micro par galvânico, (TANG et al., 2010) concluíram que o

filme de sulfeto, inicialmente se deposita sobre as regiões catódicas de

cementita. Além disso, para vários autores (EZUBER, 2009; KAPPES, 2011;

XIA et al., 2015), os filmes de sulfeto gerados também apresentam um

potencial catódico com relação ao substrato, podendo ativar e acelerar as

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reações anódicas nas regiões do substrato onde haja falhas na camada de

produtos de corrosão.

Mesmo com a geração das falhas e da possível formação dos pares

galvânicos, a sensível redução da taxa de corrosão das amostras em contato

com o H2S pode ser explicada pelo fato de que as espécies relacionadas ao

sulfeto de hidrogênio atuam diretamente nas reações de transferências de

carga do mecanismo corrosivo. Zheng e outros, em estudos recentes (ZHENG,

et al., 2015), identificaram uma significante redução nas reações anódicas e

nas densidades de corrente quando o H2S foi adicionado. O mecanismo de

redução de transferência de carga vem das alterações geradas na dupla

camada elétrica, formada na interface metal/solução.

A formação dos filmes de sulfeto geralmente ocorre em 2 etapas, uma

formação inicial e com uma cinética rápida e uma formação mais densa e

espessa com maiores tempos de imersão. A espessura da camada inicial de

FeS é reportada na literatura como sendo da mesma ordem de grandeza da

distância da dupla camada elétrica (10 a 100 nm) (ZHENG, et al., 2015). A

adsorção das espécies de sulfeto e o início da formação dos filmes pode ser

caracterizada como um processo competitivo, ou agir substituindo o processo

corrosivo pelo CO2, já que prejudica a estabilidade da dupla camada elétrica.

Essa formação dos filmes de sulfeto em duas camadas foi observada nas

amostras da C5 e C6 como visto nas Figuras 25-E e F, esse tipo de formação

dos filmes de sulfeto de ferro também foram relatados por (ZHENG, et al.,

2015) e outros autores.

Como apresentado anteriormente no item 2.2 deste trabalho, e também

observado e comprovado nos espectros de difração de Raios-X da Figura 33, a

precipitação dos produtos da corrosão pelo H2S pode gerar diferentes espécies

de sulfetos. A capacidade de retardar os processos corrosivos ou acelerar as

reações da interface estão diretamente ligadas as características dos tipos de

sulfeto de ferro formado, como morfologia, porosidade, fixação e potencial com

relação ao substrato (ABELEV et al., 2009; SHI et al., 2016; ZHENG, et al.,

2015). A literatura relaciona a formação dos diversos tipos de sulfeto com a

concentração de H2S presente no meio e com a temperatura. Como nesse

trabalho a concentração de sulfeto de hidrogênio não foi medida diretamente, a

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discussão da formação do FeS e suas variações será feita sobre os resultados

de DRX nas diferentes temperaturas testadas.

5.4 Influência da Temperatura

Como discutido na literatura e no item 2.2.2 desta pesquisa, é bem

conhecido o fato de que a temperatura age como um agente catalizador nas

reações químicas e consequentemente nos mecanismos corrosivos. Os

resultados encontrados permitem uma inferência que também é tomada por

vários autores (ELGADDAFI et al., 2015; SHI et al., 2016; NING et al., 2015). A

temperatura é o fator mais impactante nas reações e nos mecanismos

corrosivos, tanto para os meios contendo H2S como para os meios apenas com

CO2. Ela tem um impacto substancial na solubilidade de CO2 nas soluções

aquosas, o que consequentemente altera a ionização do ácido carbônico. Esse

efeito altera a concentração das espécies iônicas na presentes na solução, o

que pode promover uma alteração no pH do meio.

Elgaddafi e Zheng (ELGADDAFI et al., 2015; ZHENG, et al., 2015),

destacaram que na ausência da precipitação e formação dos produtos de

corrosão, o que geralmente ocorre na fase inicial dos processos corrosivos, a

temperatura acelera a cinética de todos os processos envolvidos. Como por

exemplo, as reações eletroquímicas e processos de transporte de massa.

Portanto, a taxa de corrosão inicial dos processos aumenta com o

aumento da temperatura. Essa afirmação corrobora com os resultados

encontrados para a C1, onde não houve a precipitação de carbonato de ferro e

também, para os valores apresentados para 1 hora de imersão das demais

condições (Tabela 8).

Como o tempo de imersão nas condições estudadas foi de 48 horas, o

efeito da temperatura na formação das películas de produtos de corrosão é

extremamente importante para a interpretação dos resultados encontrados nos

experimentos realizados nesse estudo. É consenso na literatura que o aumento

da temperatura beneficia a formação dos filmes aderentes às superfícies, como

por exemplo, nos processos corrosivos envolvendo o H2S e meios contendo

CO2, Ning e outros (NING et al., 2015), inferiram que a temperaturas mais

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elevadas, as condições são mais termodinamicamente favoráveis para a

formação de uma camada aderente de produto de corrosão, tais como sulfetos

de ferro, carbonato de ferro e hematita, que atuam possivelmente retardando a

taxa de corrosão em aços carbono, essa característica protetiva é vista para

todas as condições avaliadas, através dos valores de módulo de impedância na

primeira e última hora de imersão (Figura 19), com exceção da C1.

Através de uma análise dos diagramas de Nyquist das Figura 16 e 17, é

possível observar que a temperatura reduziu o diâmetro do primeiro arco

capacitivo formado a altas frequências, o qual tem relação com a resistência a

transferência de carga e a capacitância da dupla camada elétrica, tanto para as

condições sem H2S quanto para as condições onde o contaminante foi

adicionado. Ezuber (EZUBER, 2009) relata que a redução da resistência à

polarização e o consequente aumento da taxa de corrosão relacionado com o

aumento da temperatura, podem ser explicados pelo fato de que o efeito da

temperatura, sobre a dissociação do CO2 na solução, altera a constante de

equilíbrio dessas reações, refletindo no aumento das quantidades de H+ e

HCO3- no meio. Esse aumento proporciona uma fonte adicional de corrente, o

que aumenta as taxas das reações anódicas e catódicas na superfície e

favorece a transferência de carga, aumentando a taxa de corrosão. Song

(SONG, 2010), relatou em seus estudos o fato de que a taxa de corrosão

aumenta progressivamente com o aumento da temperatura até 90°C. Acima

dessa temperatura, os filmes formados apresentam a capacidade de reduzir as

taxas de corrosão.

Nas análises dos diagramas de Bode fase (Figura 18) sem a adição de

H2S, (C1, C2 e C3), percebe-se a clara influência da temperatura na cinética

das reações, comprovada pelo deslocamento do pico, relacionado ao

mecanismo de corrosão presente, em direção às altas frequências. Nas

condições onde se gerou o H2S, (C4, C5 e C6), o deslocamento ocorre no

sentido oposto, na direção das baixas frequências, isso se justifica já que a

temperatura favorece muito a formação dos filmes e esses filmes, como

discutido no item anterior, retardam os processos corrosivos, diminuindo a

cinética das reações (CARDOSO, 2012). Os valores do módulo de impedância

na primeira hora de imersão (Figura 19) comprovam o aumento da

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corrosividade do meio com o aumento da temperatura nas condições testadas.

Porém as condições a 120°C foram as condições que apresentaram as

maiores variações no valor até às 48 horas de teste, comprovando a formação

dos filmes e sua capacidade protetiva a 120°C.

Observando os resultados das condições C1, C2 e C3, onde havia

apenas o CO2 em contato com o substrato, nota-se que o aumento da

temperatura favoreceu a precipitação (Figura 25-A, B e C) e a capacidade

protetiva do filme de carbonato formado (Figuras 16 e 21). Esse aumento da

precipitação de FeCO3 com a temperatura também está de acordo com os

estudos realizados por Tanupabrungsun (TANUPABRUNGSUN; BROWN;

NESIC, 2013), onde para todas as condições avaliadas pelos autores, as taxas

de corrosão iniciais eram muito mais elevadas. Esse processo corrosivo libera

maiores concentrações de produtos de corrosão na solução, favorecendo a

cinética da reação de formação do FeCO3. Consequentemente, a taxa de

corrosão é reduzida pelo carbonato agir como uma barreira à difusão do aço. A

explicação para a maior facilidade e capacidade protetiva do FeCO3 com o

aumento da temperatura está na baixa solubilidade do carbonato em solução,

quando se tem temperaturas mais elevadas (ELGADDAFI et al., 2015). Para

muitos autores, acima de 60°C, a camada precipitada já se apresenta mais

densa e menos porosa. Porém nos resultados obtidos a 90°C, a camada de

carbonato ofereceu pouca proteção ao substrato de API X65 (Figura 26).

Quando se analisa as condições onde além do filme de carbonato, os

sulfetos também estão presentes na superfície das amostras. Os resultados

também se apresentam de acordo com a literatura, Zheng e outros (ZHENG, et

al., 2015), Afirmam que quando ocorre a formação de camadas de produto de

corrosão por precipitação, o aumento da temperatura auxilia a formação dos

filmes de sulfeto de ferro acelerando a cinética de precipitação, e os filmes de

sulfeto podem formar camadas porosas acelerando o processo corrosivo pelo

mecanismo de par galvânico como discutido no item anterior. Essa informação

corrobora com os resultados apresentados na C4 e também, por Lee (LEE,

2004b), que relata que pequenas concentrações de H2S podem reduzir a taxa

de corrosão à temperatura ambiente.

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Vários autores concordam que os produtos de corrosão em meios

contendo H2S são sensíveis as diferentes faixas de temperatura e tem sua

formação e propriedades dependentes dessa variável. Os espectros de Raios-

X apresentados na Figura 33 para as condições C4, C5 e C6 confirmam as

informações discutidas na literatura. Após a adsorção dos produtos da

dissolução do H2S na superfície do aço, o primeiro filme que se forma é a

mackinawita, essa fase é metaestável, se forma em baixas temperaturas e é

relatada como a principal componente dos filmes de sulfeto (LEE, 2004b).

A corrosão do aço carbono pelo sulfeto de hidrogênio em um meio

aquoso a baixas temperaturas envolve, então, na maioria das vezes, a

formação de mackinawita que se apresenta quebradiça e facilmente se

desprende do substrato (EZUBER, 2009; NING et al., 2015; SHI et al., 2016).

Essa afirmação valida os resultados apresentados nas análises de MEV da C5

e C6 (Figura 25). É bem discutido na literatura (NING et al., 2015), que o

aumento da temperatura facilita a transformação das fases metaestáveis como

a mackinawita e a greigita, em fases mais estáveis e protetivas como a

pyrrhotita ou pirita. Como pode ser observado em uma comparação das

analises de Rietveld realizadas nas condições C4, C5 e C6 (Figura 34),

diferentes fases de sulfetos de ferro são encontradas com o aumento da

temperatura. Ning e seus colaboradores (NING et al., 2015), encontraram

também, a presença de pirita em análises de Raio-X de amostras expostas a

H2S em temperaturas mais elevadas. Nas análises de MEV da C6 houve a

formação de um novo cristal rico em enxofre, podendo ser Pirita(NING et al.,

2015), a pirita é uma fase mais estável termodinamicamente, e tem formação

favorecida pela alta temperatura (NING et al., 2015; SHI et al., 2016).

Os valores obtidos para a taxa de corrosão comprovam a influência da

temperatura, visto que com o aumento da temperatura de 90°C para 120°C,

(C1 para C2 e C4 para C5) houve o aumento dos valores encontrados (Tabela

10), justificado pela formação de filme muito poroso e com baixas capacidades

protetivas. Nos testes a 120°C, mesmo com a condição inicial mais agressiva,

a camada de filme formada foi mais densa e retardou os mecanismos

corrosivos, apresentando uma menor taxa de corrosão. Nas temperaturas

estudadas, os filmes de sulfeto formados na presença de H2S apresentaram

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melhor capacidade protetiva, visto que as condições C4, C5 e C6,

apresentaram valores menores de taxas de corrosão que as condições C2, C2

e C3. A competição de formação das películas foi prejudicial para o sulfeto de

ferro, porém manteve os processos corrosivos menos intensos que quando se

tinha apenas o carbonato na superfície. A comparação das análises de MEV da

Figura 25 como gráfico da Figura 23 comprova que quando o FeCO3 encontrou

condições favoráveis para se formar, nas condições à 90°C e 120°C (C5 e C6),

prejudicou o desempenho do sulfeto, aumentando as falhas na película de

mackinawita formada aumentado a taxa de corrosão(CHOI; NESIC; LING,

2011; LEE, 2004a).

Com relação as características dos produtos de corrosão, a temperatura

além de favorecer a formação do carbonato, alterou a morfologia dos cristais

precipitados, isso pode ser observado comparando-se as análises de MEV

tanto da C2 com a C3 quanto as C5 com a C6, (Figura 25). O aumento da

temperatura também gerou a formação de uma morfologia diferente de

precipitação do FeCO3, em forma de placas finas na condição C6 (Figura 25-F

e 31). Essa forma foi encontrada também por Fajardo e seus colaboradores

(FAJARDO et al., 2013), e tem relação com a redução do pH pelo aumento da

temperatura.

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6. CONCLUSÃO

Os testes experimentais realizados foram satisfatórios para a

compreensão dos mecanismos corrosivos e processos competitivos de

formação das películas de FeCO3 e FeS.

A utilização do tiossulfato como substituto ao borbulhamento de H2S

gasoso se mostrou satisfatória e as concentrações de sulfeto de

hidrogênio geradas foram suficientes para simular os mecanismos

corrosivos da sour corrosion.

O tempo de imersão adotado na rotina experimental, embora pudesse

ter sido maior, para que as películas tivessem mais tempo para se

desenvolver, foi suficiente para a obtenção de resultados conclusivos e

importantes.

As características microestruturais do aço API X65 tem uma significativa

influência nos processos corrosivos e na precipitação das camadas.

Visto que a dissolução anódica ocorre preferencialmente nos grãos de

ferrita e a deposição das películas, geralmente se inicia sobre a área

catódica da cementita. Comprovando-se a formação de um micro par

galvânico entre as fases.

O tempo de imersão colaborou com a formação dos produtos de

corrosão. Com o aumento do tempo de imersão, a concentração das

espécies químicas envolvidas na precipitação dos filmes aumenta, até

que atinja o limite de solubilidade e comece a formação das películas.

A condição C1, só com CO2 e a 25°C não apresentou a formação de

nenhum produto aderente de corrosão, porém não foi a condição mais

agressiva entre as condições estudadas devido à baixa temperatura de

teste.

Os filmes de carbonato de ferro apresentaram uma boa capacidade

protetiva, porém devido ao tempo de imersão insuficiente, ainda

houveram muitas regiões do substrato expostas e o processo corrosivo

continuou ocorrendo. Os produtos adsorvidos no início do processo

corrosivo pelo H2S apresentaram boa capacidade em reduzir a taxa de

corrosão, porém o desenvolvimento de filmes mais espessos de FeS

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gera a formação de pares galvânicos com as áreas expostas do

substrato.

A temperatura é o fator mais impactante nas reações e mecanismos

corrosivos da sweet e sour corrosion. O aumento da temperatura gerou

alteração na agressividade inicial da solução. Porém, também alterou a

cinética de formação dos filmes de sulfeto e carbonato, favorecendo a

formação das películas na superfície das amostras.

O mecanismos competitivo de formação das películas foi mais intenso à

120°C, onde o carbonato encontrou condições instáveis de formação,

mesmo em uma morfologia diferente das demais condições, a

formação do sulfeto foi prejudicada por essa precipitação de FeCO3,

mas mesmo assim as condições onde havia CO2 e H2S apresentaram

menores valores de taxa de corrosão.

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83

7. TRABALHOS FUTUROS

Os estudos realizados nessa pesquisa revelaram algumas lacunas na

literatura, e algumas análises foram limitadas devido ao tempo disponível para

a realização dessa dissertação de mestrado. Sendo assim, alguns temas são

considerados como possíveis trabalhos futuros:

Avaliar os produtos de corrosão da sweet e sour corrosion expostos as

condições avaliadas, por um período superior à 100 horas.

Estudara geração de H2S por meio da reação tiossulfato/aço carbono,

em diferentes pressões de CO2, teores de Cl- e temperaturas.

Realizar de testes de polarização potenciodinâmica em corpos de prova

com menores áreas expostas e em diferentes tempos de imersão

Avaliar o impacto dos ácidos orgânicos na formação dos filmes de

carbonato e sulfeto de ferro.

Analisar as condições estudadas em condições de fluxo, com eletrodos

rotativos.

Avaliar a alteração dos valores de pH ao longo do tempo de imersão e

formação dos filmes.

Realizar a simulação computacional das condições, obtendo diagramas

de Pourbaix, valores de taxas de corrosão e pH.

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ANEXOS

ANEXO 1: Sequência de procedimentos para montagem de ensaios

eletroquímicos com imersão em autoclaves.

1- Preparação dos CPs e solução de ensaio

Quando se determina o material a ser estudado, o passo seguinte é a

confecção dos corpos de provas adequados para cada ensaio a ser realizado.

Para os ensaios eletroquímicos e de imersão em autoclaves os corpos de

prova podem ser:

1. Cilíndricos, (20 ou 30 mm de comprimento e diâmetro de ¼”)

2. Embutidos em resina

3. Embutidos em baquelite

4. CPs para imersão e perda de massa de várias formas

O principal detalhe é assegurar o isolamento dos corpos de prova e

evitar o par galvânico, utilizando O-rings, anéis, arruelas e fitas de teflon.

O material deve ser cortado nas dimensões requeridas, lixado na

sequência de lixas de 180 a 600, polido ou jateado para que se atinjam as

condições superficiais desejadas. Os CPs devem ser protegidos para evitar

danos à superfície preparada e guardados em dessecador com sílica.

Após a definição da solução a ser utilizada, é importante a determinação

do volume a ser utilizado no ensaio, para isso é necessário o cálculo do volume

de todo corpo que estará contido no interior do vaso durante o ensaio, o

conhecimento do volume total do vaso e também o multiplicador de volume na

máxima temperatura do ensaio (Dados na tabela 1). O cálculo é realizado

através da equação:

Onde:

V.M.S. = volume máximo de solução.

0,9 = fator de segurança.

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Vol. = volume total disponível da autoclave (volume interno menos o volume

ocupado por CP´s, suportes, Etc.)

V.M.T.M. = multiplicador do volume na temperatura máxima do ensaio.

TABELA 1: Valores de V.M.T.M. - Volume de líquido e pressão de vapor para água em

vasos fechados a temperaturas elevadas.

Temperatura do

ensaio (Te)

oF / oC

Volume específico do líquido na temperatura

do ensaio( VeTe ) cu.ft./lb.

Pressão de vapor

psig

Multiplicador do volume

VeTe / VeT25°c

Acréscimo no volume

%

77 / 25 0.01607 0 1.00 0 212 / 100 0.01672 0 1.04 4 392 / 200 0.01853 211 1.15 15 482 / 250 0.0201 562 1.25 25 540 / 282 0.0215 948 1.34 34 572 / 300 0.0225 1230 1.40 40 610 / 321 0.0241 1650 1.50 50 660 / 349 0.0278 2350 1.73 73 685 / 363 0.0315 2780 1.96 69 700 / 371 0.0369 3070 2.30 130 702 / 372 0.0385 3120 2.40 140 704 / 373 0.0410 3160 2.55 155 705 / 374 0.0503 3190 3.13 213

Ponto crítico Dados extraídos de Keenan & Keyes, “Thermodynamic Properties of Steam”, John

Wiley & Sons, Inc., New York.

2- Limpeza da Autoclave

Antes de qualquer ensaio deve-se garantir que o vaso de pressão esteja

limpo e sem contaminantes de ensaios anteriores, e após o termino de

qualquer teste é necessário que se limpe todo o vaso. O processo de limpeza

da autoclave consiste em:

1. Ao termino de algum ensaio, esperar a temperatura baixar para mais ou

menos 30 ºC.

2. Retirar os resíduos mais grossos e realizar uma limpeza superficial.

3. Preencher o vaso com água e detergente neutro ou alcalino e manter de

molho por alguns minutos.

4. Passar uma esponja macia por todo o interior do vaso.

5. Retirar o sabão e enxaguar.

6. Realizar uma limpeza com álcool etílico e depois álcool isopropílico.

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7. Soprar o interior do vaso para garantir a secagem ou aquecer até

aproximadamente 40 ºC, por um tempo que garanta a secagem.

8. Manter a autoclave tampada para evitar contaminações.

3- Verificação das condições da Autoclave

Inicialmente é necessário conhecer o equipamento e o estado em que

ele se encontra para garantir a confiabilidade e a segurança do ensaio a ser

realizado. Alguns parâmetros devem ser avaliados e conhecidos:

1. Condições das válvulas, manômetros, conexões e tubulações.

2. Volume, temperatura e pressão máxima da autoclave.

3. Pressão limite da PSV.

4. Disponibilidade de conexões, válvulas e ferramentas necessárias para o

ensaio.

4- Montagem dos CPs na Autoclave

Antes do fechamento do vaso de pressão deve-se colocar os CPs nas

posições corretas. É importante o isolamento dos CPs para que não haja

contato de materiais dissimilares. Os O-rings de vedação da haste devem estar

em perfeito estado e devem ser pressionados de forma tal que vedem, porém

não se esmaguem e arrebentem. Os CPs para imersão e testes de perda de

massa devem ser posicionados em suportes de materiais não condutores e

devem ser presos por abraçadeiras ou grampos ao mesmo.

5- Teste de estanqueidade

Após a montagem dos eletrodos e dos CPs corretamente nas hastes da

autoclave, deve-se fechar a tampa do vaso aplicando-se o torque gradualmente

e de forma cruzada nos parafusos da tampa, até que se atinja o torque máximo

da autoclave.

Para a execução do teste de estanqueidade, fecham-se todas as

válvulas do vaso. Utilizando N2, deve se aplicar uma pressão 1,5x a pressão de

ensaio, se esse valor for suportado pela PSV. Caso contrário, aplica-se uma

pressão superior a de ensaio e inferior ao limite da PSV. Realiza-se então um

teste simples aplicando-se uma solução de água e detergente em todas as

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conexões e juntas para se detectar possíveis vazamentos. O manômetro deve

ser observado e a pressão deve permanecer por um período de 30 minutos a 1

hora. Garantindo a estanqueidade do sistema.

Após o fim do teste, a despressurização do vaso deve ser feita

lentamente para se evitar danos aos componentes das válvulas, e a geração

de vácuo no interior do vaso, que pode causar danos aos CPs e outros

componentes internos, deve-se seguir os passos abaixo:

1. Fechar a linha de entrada de gás.

2. Abrir a válvula de esfera da linha de purga.

3. Controlar a vazão de saída de gás pela válvula de agulha da linha de

purga.

4. Promover uma queda de pressão gradual, com variações de 50 psi/s,

por exemplo.

6- Conexões para aquisição de dados eletroquímicos

As etapas seguintes já estão diretamente ligadas aos ensaios que serão

realizados. É importante nesse ponto, conectar os terminais para aquisição de

sinal do potenciostato aos contatos na autoclave, observando-se corretamente

as posições dos eletrodos de trabalho, referência e contra eletrodo. As rotinas

já devem estar programadas no software que será utilizado.

7- Desaeração total do sistema

Antes de se iniciar o ensaio, é necessário que o sistema esteja

totalmente ou com limites muito baixos e aceitáveis de O2. Para isso realiza-se

a desaeração do interior do vaso e das linhas e também da solução de ensaio

com a utilização de N2.

A solução deve ser contida na célula de vidro e esta deve ser tampada e

conter 3 linhas, uma ligação ao vaso de pressão, uma entrada de gás e uma

linha de purga. Realiza-se um teste de estanqueidade dessa célula de vidro e

então se inicia o processo de desaeração seguindo os passos abaixo:

1. Realiza-se as conexões de todas as linhas envolvidas no processo.

2. Todas as válvulas devem estar fechadas, exceto as linhas de purga da

célula de vidro e a conexão da mesma ao vaso.

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3. O fluxo de N2 deve vir do vaso de pressão para a solução na célula,

para se evitar o transporte prematuro de solução para o interior da

autoclave.

4. A purga da célula de vidro deve ser colocada em um recipiente com

água para que se controle o borbulhamento de gás.

5. Para ensaios em temperaturas elevadas, nesse ponto realiza-se um pré-

aquecimento do vaso até a temperatura de 60ºC.

6. A válvula de baixa pressão que permite a entrada de N2 no vaso deve

ser lentamente aberta para que o gás flua do vaso e passe pela solução.

7. O borbulhamento de aproximadamente uma bolha por segundo deve ser

mantido por um tempo especificado. Geralmente se utiliza 2h por litro de

solução.

8. Após o fim da desaeração, fecha-se a entrada de gás no vaso e depois a

linha de purga da célula de vidro.

8- Transferência da solução

Com o sistema livre de oxigênio, pode-se transferir a solução para o

interior do vaso. Para isso todas as entradas do vaso devem ser fechadas e

linha de purga do mesmo deve ser aberta em um recipiente com água. O

próximo passo é abrir lentamente a válvula de baixa de entrada de N2 na célula

de vidro, o que forçará a passagem da solução para o interior do vaso, pela

variação de pressão nos vasos.

Caso o procedimento tenha testes eletroquímicos, medidas de potencial

de circuito aberto versus tempo são aconselháveis para acompanhar a

estabilidade do sistema no decorrer dos passos subsequentes (aumento de

temperatura, pressurização, saturação com gases, dentre outros).

9- Pressurização do sistema

Com a solução já no interior do vaso e o sistema pré-aquecido em 60ºC,

é realizada a pressurização ou saturação do sistema com o gás utilizado no

ensaio, como por exemplo H2S ou CO2. Para isso a célula de vidro deve ser

retirada, e esta linha deve ser capeada/bloqueada.

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Como o aumento de temperatura promoverá um aumento da pressão, a

pressão e a temperatura devem ser elevadas de forma gradual e o primeiro

acréscimo de pressão não deve ultrapassa a metade da pressão final de

ensaio. Após essa pressurização, aplica-se incrementos de temperatura de

30ºC respeitando-se um tempo de 15 a 20 minutos para que se estabilize

novamente pressão. Ao se atingir a temperatura de ensaio, caso ainda seja

necessário, completa-se a pressão do sistema.

Em seguida, com a estabilidade do sistema, inicia-se as demais medidas

eletroquímicas, previamente, programadas.

10- Coleta de amostras

O procedimento de coleta de amostras, seja para a análise de Fe total,

titulação ou medição do pH da solução, é um processo extremamente perigoso

e delicado, quando se trabalha em altas pressões e temperaturas. É necessário

que se tenha uma linha de coleta de amostras equipada com válvulas

extremamente confiáveis, em bom estado ou novas, e que se tenha uma

válvula micrométrica ou de agulha precisa. Devem-se seguir os seguintes

passos:

1. Posicionar o recipiente de coleta na extremidade da linha.

2. Abrir a válvula de esfera da linha de coleta.

3. Abrir lentamente a válvula de agulha ou micrométrica para que se

obtenha o volume desejado.

4. Garantir que não haja uma perda de pressão prejudicial ao ensaio caso

se retire um volume grande de amostras.

5. Fechar a válvula de esfera e em seguida a de agulha.

11- Resfriamento e despressurização

Ao final dos ensaios o vaso deve ser corretamente resfriado, até uma

temperatura entre 30 e 35 ºC, e despressurizado. A despressurização deve ser

realizada de forma lenta para evitar o congelamento e danos nos componentes

não-metálicos das válvulas.

12- Desmontagem e limpeza

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Quando já não existe pressão no interior do vaso, o Item 2 desse

procedimento deve ser repetido.

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ANEXO 2: Procedimento – Titulação potenciométrica de H2S em soluções

contendo tiossulfato de sódio durante o processo de corrosão do aço carbono.

1- OBJETIVO

Este procedimento detalha todas as atividades necessárias para se

realizar uma titulação potenciométrica de sulfeto de hidrogênio, em uma

solução contendo concentrações de tiossulfato de sódio, para a obtenção das

concentrações de sulfeto geradas durante a corrosão de um aço carbono.

2- DEFINIÇÃO

O processo de titulação potenciométrica utiliza amostras coletadas da

solução em estudo diluídas e alcalinizadas em solução de hidróxido de sódio,

utilizando nitrato de prata como titulante e um eletrodo de prata/sulfeto de prata

para calcular as espécies presentes. Obtém-se uma curva de titulação e as

concentrações (em ppm) de H2S presente na solução.

As soluções ácidas contendo tiossulfato são capazes de gerar o sulfeto

de hidrogênio durante o processo de corrosão do aço carbono. Para que se

acompanhe e quantifique essa geração, as amostras a serem tituladas são

coletadas de um recipiente que contenha uma determinada área de aço

carbono exposta a essa solução.

3- MATERIAIS E REAGENTES NECESSÁRIOS

Titulador potenciométrico.

pHmetro.

Balança analítica de precisão.

Corpos de prova em aço carbono.

2 células de vidro.

Válvulas, conexões e tubulações.

Linha de N2 para o processo de desaeração do sistema.

Béchers para preparação e amostragens.

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Solução de teste contendo tiossulfato de sódio na concentração

estudada.

Solução de 1 mol/L de NaOH.

Solução de nitrato de prata, (contida no titulador).

4- ATIVIDADES REALIZADAS ANTES DO INÍCIO DOS TESTES

Preparação dos corpos de prova que devem ser lixados até a lixa 600,

limpos, secos e guardados em um dessecador.

Cálculo de toda a área superficial exposta, para que com a relação área

/ volume desejada, se calcule o volume de solução necessária.

Preparação do titulador potenciométrico.

Separação das vidrarias necessárias (béchers, células, pipetas,

bastões).

Preparo da solução de estudo.

Calibração do pHmetro para o monitoramento da alteração do pH

durante a geração de H2S.

5- PROCEDIMENTO

5.1- MONTAGEM DAS CÉLULAS

Para realizar o teste de geração de H2S nas soluções de tiossulfato, é

necessário que o sistema esteja livre de oxigênio. Durante o processo de

desaeração, a amostra de aço não estará em contato com a solução. Assim,

deve-se dispor de duas células de vidro fechadas e com as seguintes conexões

nas tampas:

Entrada da linha de N2.

Entrada para o eletrodo de pH (apenas na célula de teste).

Saída para o Cromatógrafo de gás (apenas na célula de teste).

Conexão com a outra célula, para desaeração, transferência e

posterior coleta de amostras.

Linha de purga ligada a um recipiente com água.

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Inicia-se então a montagem e fechamento do sistema:

Na célula de teste (Célula 1 - C1), deve-se posicionar os corpos

de prova em um suporte confeccionado em material polimérico.

Nesta célula conecta-se a entrada de N2, o eletrodo de pH, a

saída para o cromatógrafo de gás, a saída para um recipiente

com água e a conexão com a outra célula.

Na célula de condicionamento (Célula 2 - C2), deve estar contida

a solução, uma segunda entrada de N2, a conexão com C1, e

uma linha de purga para um recipiente com água.

O sistema está montado e deve estar com todas as válvulas e tampas bem

fechadas.

5.2- DESAERAÇÃO DO SISTEMA

Antes de se iniciar o ensaio, é necessário que o sistema esteja

totalmente desareado. Para isso realiza-se a desaeração do interior das

células, das linhas e também da solução de ensaio com a utilização de N2.

Realiza-se inicialmente um teste de estanqueidade dessas células e

então se inicia o processo de desaeração seguindo os passos abaixo:

9. Todas as válvulas devem estar fechadas, exceto as linhas de purga da

C2 e a conexão da mesma à C1.

10. O fluxo de N2 deve vir C1 para a solução em C2, para se evitar o

transporte prematuro de solução.

11. A purga de C2 deve ser colocada em um recipiente com água para que

se controle o borbulhamento de gás.

12. A válvula de baixa pressão que permite a entrada de N2 em C1 deve ser

lentamente aberta para que o gás flua e passe pelo interior de C1, pelas

linhas e pela solução.

13. O borbulhamento de aproximadamente uma bolha por segundo deve ser

mantido por um tempo especificado. Geralmente se utiliza 1h por litro de

solução.

14. Após o fim da desaeração, fecha-se a entrada de gás em C1 e depois a

linha de purga em C2.

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5.3- TRANSFERÊNCIA DA SOLUÇÃO

Com o sistema livre de oxigênio, pode-se transferir a solução de C2 para

C1 e então dar início aos testes, seguindo os passos abaixo:

Garantir que todas as válvulas do sistema estejam fechadas.

Abrir a linha de purga de C1 em um recipiente com água.

Abrir a entrada de N2 em C2.

Esperar a completa transferência da solução de C2 para C1, por

diferença de pressão.

Fechar a entrada de N2 em C2.

Fechar a purga em C1.

5.4- REALIZAÇÃO DOS TESTES

A partir do momento em que há o contato do aço com a solução, inicia-

se o processo de corrosão e consequentemente a formação de H2S na

superfície do corpo de prova. Nesse momento, a saída para o cromatógrafo de

gás deve ser aberta e inicia-se o ensaio. As seguintes análises serão

realizadas:

5.4.1-Monitoramento do pH:

Uma medida de pH será realizada antes do início do processo e, em

períodos pré-determinados, serão realizadas medidas do pH para se

acompanhar a evolução durante o processo de geração de H2S. Como haverá

um eletrodo de pH em C1, basta apenas anotar o valor nos intervalos de tempo

estabelecidos.

5.4.2-Concentração de H2S na fase gasosa:

Ao final da transferência da solução para C1, o cromatógrafo deve ser

ligado para monitorar a composição das espécies contidas na fase gasosa

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durante todo o tempo de imersão do teste. Uma curva com a evolução das

concentrações com o tempo será gerada ao final do teste.

5.3.3- Concentração de H2S na fase líquida:

Para esta análise, será necessária a definição do intervalo de tempo

entras as amostragens e do volume a ser retirado em cada coleta. Inicialmente

os testes terão duração de 72h e serão coletadas 3 amostra de 20ml de

solução a cada 24h. Essas amostras serão retiradas diretamente um recipiente

contendo 80ml de 1 mol/L de NaOH para se alcalinizar a solução mantendo

todo o H2S na solução em forma de S2-.

A cada coleta a amostra deve ser imediatamente titulada no titulador

potenciométrico para que se determine a concentração de H2S presente na

solução sem perdas por oxidação.

6- RESULTADOS

As curvas e valores obtidos através destes testes fornecem as

concentrações em mg/L de H2S na solução ácida de tiossulfato, permitindo

uma correspondência das concentrações desse reagente com as

concentrações do gás sulfídrico formado. Dessa forma, será possível avaliar o

processo de substituição do borbulhamento do gás sulfídrico pela utilização do

íon tiossulfato em testes de corrosão do aço carbono.