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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA Centrode Filosofia e Ciências Humanas Departamento de Geociências Secretaria Nacional de Acessibilidade e Programas Urbanos ELABORAÇÃO DE CARTAS GEOTÉCNICAS DE APTIDÃO À URBANIZAÇÃO FRENTE AOS DESASTRES NATURAIS NO MUNICÍPIO DE SÃO JOSÉ, ESTADO DE SANTA CATARINA Relatório Final

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA

Centrode Filosofia e Ciências Humanas Departamento de Geociências

Secretaria Nacional de Acessibilidade e Programas Urbanos

ELABORAÇÃO DE CARTAS GEOTÉCNICAS DE APTIDÃO À

URBANIZAÇÃO FRENTE AOS DESASTRES NATURAIS NO

MUNICÍPIO DE SÃO JOSÉ, ESTADO DE SANTA CATARINA

Relatório Final

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PRESIDENTE DA REPÚBLICA

Dilma Vana Rousseff

MINISTRO DAS CIDADES

Gilberto Magalhães Occhi

SECRETÁRIO NACIONAL DE

ACESSIBILIDADE E PROGRAMAS

URBANOS

Sebastião Ronaldo Martins Cruz

DIRETOR DE ASSUNTOS

FUNDIÁRIOS E PREVENÇÃO

DE RISCOS

Thiago Galvão

GERENTE DE PROJETOS DE

CARTOGRAFIA GEOTÉCNICA

PARA PREVENÇÃO DE

DESASTRES NATURAIS

Paula Regina Comin Cabral

UNIVERSIDADE FEDERAL DE

SANTA CATARINA

REITORA DA UNIVERSIDADE

FEDERAL DE SANTA CATARINA

Professora Roselane Neckel, Drª.

PRÓ-REITOR DE EXTENSÃO

Professor Edison da Rosa, Dr.

DIRETOR DO CENTRO DE

FILOSOFIA E CIÊNCIAS HUMANAS

Professor Paulo Pinheiro Machado, Dr.

CHEFE DO DEPARTAMENTO DE

GEOCIÊNCIAS

Professor João Carlos Rocha Gré, Dr.

COORDENAÇÃO DO PROJETO

Professor Juan Antonio Altamirano

Flores, Dr.

FUNDAÇÃO DE ENSINO E

ENGENHARIA DE SANTA

CATARINA

Raul Valentim da Silva - Diretor

Presidente

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Cartas Geotécnicas de Aptidão à Urbanização

frente aos Desastres Naturais

Relatório Final

São José

EXECUÇÃO DO PROJETO

UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA

DEPARTAMENTO DE GEOCIENCIAS

CORPOTÉCNICO

AGRADECIMENTOS

Coordenação do projeto Prof. Dr.Juan Antonio Altamirano Flores Professores Pesquisadores

Prof. Dr.Jöel Robert G.Marcel Pellerin

Prof. Dra.Janete Josinade Abreu

Prof. Dr.Edison Ramos Tomazzoli

Prof. Dr. Everton da Silva

Prof. Dr. João Carlos Rocha Gré

Prof. Dr. Rafael Augusto dos Reis Higashi

Prof. Dr. Murilo Espíndola

Prof. Dr. Pedro Luiz Borges Chaffe

Prof. Dr. Roberto Fabris Goerl

Prof. MSc. João Norberto Destro

Pesquisadores

Geóg. MSc. Gerly Mattos Sánchez

Geóg. MSc. Regiane Mara Sbroglia

Servidores Técnico-Administrativos Geóg. José Henrique Villela Bolsistasdo Projeto

Bruno Montibeller

Debora Yumi de Oliveira

Derik Konig

Eduardo Jensen Cechinel

GustavoAndrei Speckhann

Kaliu Teixeira

Marco Aurélio Virtuoso

Nilo Rodrigues Junior

Thiago Panchiniak

Vitor Santini Muller

Waldemar Barbosa de Lima Filho

Apoio Técnico Externo

Eng. Cartog. MSc. Thobias Leôncio Rotta

Furlanetti

Ministério das Cidades

Prefeitura Municipal de São José

Defesa Civil Estadual e Municipal

Fundação de Ensino e Engenharia

de Santa Catarina - FEESC

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Cartas Geotécnicas de Aptidão à Urbanização

frente aos Desastres Naturais

Relatório Final

São José

APRESENTAÇÃO

Os desastres naturais no Brasil estão relacionados principalmente a processos de

origem hidrometeorológica como inundações, enxurradas e deslizamentos nas encostas.

A recorrência e magnitude desses eventos extremos motivaram a promulgação da Lei

Federal Nº 12.608 de 10 de abril de 2012, que instituiu a Política Nacional de Proteção e

Defesa Civil e estabelece diretrizes de amplo espectro voltadas à gestão e redução dos

riscos de desastres naturais no país, envolvendo esforços da União, Estados e

Municípios, com destaque para as ações preventivas. Essas ações preventivas incluem a

elaboração das cartas de aptidão à urbanização frente aos desastres naturais, cuja

elaboração é baseada no mapeamento da suscetibilidade a processos físicos que

possam representar ameaças futuras à população, em áreas com potencial para a

expansão urbana. Essas cartas constituem instrumento fundamental para a adequação

dos planos diretores dos municípios mais suscetíveis às adversidades

hidrometeorológicas no país, a fim de evitar a formação de novas áreas de risco, a partir

do planejamento urbano de acordo com a aptidão física dos terrenos à urbanização.

O Ministério das Cidades, através da Secretaria Nacional de Acessibilidade e

Programas Urbanos, em parceria com diferentes universidades federais do país, vem

promovendo o desenvolvimento de metodologias de elaboração de cartas de aptidão à

urbanização, voltadas à prevenção de desastres naturais e à sua aplicação em vários

municípios brasileiros.

A Universidade Federal de Santa Catarina integra essa parceria com o Ministério

das Cidades e desenvolveu abordagem metodológica acerca do tema para aplicação em

municípios catarinenses, incluindo o município de São José.

Os resultados desse projeto visam fornecer subsídios ao Plano Diretor Municipal,

para que os novos projetos de parcelamento do solo nos municípios-alvos possam

incorporar diretrizes voltadas à prevenção de riscos de desastres naturais no estado de

Santa Catarina.

Equipe técnica do projeto

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Cartas Geotécnicas de Aptidão à Urbanização

frente aos Desastres Naturais

Relatório Final

São José

SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO ........................................................................................................................... 8

2. PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS ................................................................................ 10

2.1. ÁREAS DE INTERVENÇÃO ............................................................................................. 11

2.2. BASE CARTOGRÁFICA .................................................................................................. 12

3. ESTUDOS PRELIMINARES .................................................................................................... 15

3.1. INVENTÁRIO DE REGISTROS DE DESASTRES NATURAIS ........................................ 15

3.2. BASES GEOLÓGICAS E GEOMORFOLÓGICAS ........................................................... 24

3.2.1. Geologia ................................................................................................................... 24 3.2.1.1. Complexo Águas Mornas ...................................................................................................27 3.2.1.2. Suíte Intrusiva Maruim .......................................................................................................29 3.2.1.3. Tonalito Forquilhinha ..........................................................................................................31 3.2.1.4. Granodiorito Alto da Varginha ............................................................................................31 3.2.1.5. Granito São Pedro de Alcântara.........................................................................................32 3.2.1.6. Suíte Intrusiva Pedras Grandes .........................................................................................33 3.2.1.7. Lineamentos estruturais .....................................................................................................34 3.2.1.8. Formações superficiais ......................................................................................................35

3.2.1.8.1. Alteritos .........................................................................................................................35 3.2.1.8.2. Depósitos Colúvio-aluvionares ......................................................................................38 3.2.1.8.3. Depósitos Flúvio-aluvionares e transicionais .................................................................40

3.2.2. Geomorfologia .......................................................................................................... 42 3.2.2.1. Modelado de Dissecação ...................................................................................................42 3.2.2.2. Modelado de Acumulação ..................................................................................................50

3.2.2.2.1. Modelado de Acumulação Colúvio-aluvionar ................................................................50 3.2.2.2.2. Modelado de Acumulação Flúvio-aluvionar ...................................................................51

3.2.3. Levantamento Geofísico........................................................................................... 52

3.2.4. Estudo Geotécnico ................................................................................................... 57 3.2.4.1. Estabilidade de taludes no município de São José ............................................................61

4. CARTAS DE SUSCETIBILIDADE A DESLIZAMENTOS E INUNDAÇÕES .......................... 62

4.1. ELABORAÇÃO DA CARTA DE SUSCETIBILIDADE A DESLIZAMENTOS .................... 62

4.1.1. Carta de suscetibilidade a deslizamentos para o município de São José ............... 63

4.2. ELABORAÇÃO DA CARTA DE SUSCETIBILIDADE A INUNDAÇÕES ........................... 65

4.2.1. Análise fluviométrica ................................................................................................. 66

4.2.2. Height Above Nearest Drainage – HAND ................................................................ 66

4.2.3. Reclassificação do HAND ........................................................................................ 69

4.2.4. Carta de sucetibilidadeà inundação para o município de São José ........................ 70

5. CARTA GEOTÉCNICA DE APTIDÃO À URBANIZAÇÃO ..................................................... 75

5.1. CARTA GEOTÉCNICA DE APTIDÃO À URBANIZAÇÃO NO MUNICIPIO DE SÃO

JOSÉ... ......................................................................................................................................... 76

6. DISPONIBILIZAÇÃO DAS CARTAS GEOTÉCNICAS DE APTIDÃO URBANA ................... 84

6.1. IMPLANTAÇÃO DE BANCO DE DADOS GEORREFERENCIADOS .............................. 84

6.2. ACESSO ÀS CARTAS GEOTÉCNICAS DE APTIDÃO À URBANIZAÇÃO NA WEB ....... 86

7. CONSIDERAÇÕES FINAIS ..................................................................................................... 88

REFERÊNCIAS ................................................................................................................................ 90

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Cartas Geotécnicas de Aptidão à Urbanização

frente aos Desastres Naturais

Relatório Final

São José

LISTA DE FIGURAS

Figura 1. Superfícies urbanizadas no município de São José – 2014, geradas a partir do mosaico

ortofotogramétrico de 2011, atualizado com imagens Google Earth de 2014. ............................... 12

Figura 2. Total de registros de desastres por tipo de evento no município de São José no período

de 1975 a 2015. Fonte: Brasil (2015); Herrmann (org.) (2014); acervos de jornais. ....................... 17

Figura 3. Frequência anual dos registros de desastres por enxurradas, inundações e

deslizamentos no município de São José. Fonte: Brasil (2015); Herrmann (org.) (2014); acervos de

jornais. .............................................................................................................................................. 18

Figura 4. Frequência mensal dos registros de desastres por enxurradas, inundações e

deslizamentos no município de São José. Fonte: Brasil (2015); Herrmann (org.) (2014); acervos de

jornais. .............................................................................................................................................. 19

Figura 5. Totais de afetados direta e indiretamente por tipologia de desastre no município de São

José no período de 1980 a 2016. Fonte: Brasil (2015); Herrmann (org.) (2014); acervos de jornais.

.......................................................................................................................................................... 20

Figura 6. Totais de danos humanos ocasionados por enxurradas, inundações e deslizamentos no

município de São José. Fonte: Brasil (2015); Herrmann (org.) (2014); acervos de jornais. ........... 21

Figura 7. Modelo evolutivo para a Suíte Intrusiva Maruim. Fonte: Zaniniet al., 1997...................... 25

Figura 8. Representação das unidades geológicas do município de São José. ............................. 26

Figura 9. Gnaisse migmatitíco do Complexo Aguas Mornas. Fotos: Joel Pellerin, 2014. .............. 27

Figura 10. Migmatito, constituído por enclave diorítico, gradando a gnaisse monzonítico por

assimilação. Foto: Joel Pellerin, 2014. ............................................................................................. 28

Figura 11. Migmatitointemperizado, constituído, originalmente, por enclaves dioríticos

arredondados, envoltos por rochas graníticas (cor clara). Foto: Joel Pellerin, 2014 ....................... 28

Figura 12. Afloramento localizado de gnaisse num setor onde predomina o granodiorito Alto da

Varginha. Foto: Joel Pellerin, 2014. ................................................................................................. 30

Figura 13. Núcleo de granito São Pedro de Alcântara dentro de gnaisse. O granito sendo mais

resistente e menos alterado que o gnaisse restou isolado na exploração de antiga saibreira.. Foto:

Joel Pellerin, 2014. ........................................................................................................................... 30

Figura 14. Granodiorito Alto da Varginha, exibindo enclaves básicos angulosos ou arredondados

com contato difuso. Foto: Joel Pellerin, 2014. ................................................................................. 32

Figura 15. Afloramentos de granodiorito Alto da Varginha apresentando enclaves basicos e forte

fraturação. Fotos: Joel Pellerin, 2014. ............................................................................................. 32

Figura 16. Aspecto de afloramento do granito São Pedro de Alcântara, com destaque para a

textura pórfira, dada pelos fenocristais de feldspato. Fotos: Joel Pellerin, 2014. ............................ 33

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Cartas Geotécnicas de Aptidão à Urbanização

frente aos Desastres Naturais

Relatório Final

São José

Figura 17. Aspecto textural do granito Ilha, equigranular de grãos grossos, cortado por finas faixas

miloníticas. Foto: Joel Pellerin, 2014................................................................................................ 34

Figura 18. Relevo do município de São José: morfologia controlada por grandes lineamentos de

importância regional (N-S) que formam a trama do maciço antigo. ................................................ 35

Figura 19. Alteritos espessos no bairro Potecas, loteamento Vó Cota, na encosta atingida por

deslizamentos. Foto: Joel Pellerin, 2014. ........................................................................................ 36

Figura 20. Alteritos espessos nas baixas encostas recortadas pelos taludes das pistas do

Motódromo (substrato relacionado ao Complexo Águas Mornas). Foto: Joel Pellerin, 2014. ........ 36

Figura 21. Alteritos espessos nos cortes das obras do anel viário Contorno da Grande

Florianópolis. Foto: Joel Pellerin, 2014. ........................................................................................... 37

Figura 22. Erosão em alteritos espessos sem cobertura vegetal em setor de relevo colinoso. Foto:

Joel Pellerin, 2014. ........................................................................................................................... 37

Figura 23. Depósitos coluviais com presença de grandes matações (até 4-5 metros) em vale

afluente do alto rio Forquilhas. Fotos: Joel Pellerin, 2014. .............................................................. 38

Figura 24. Cones aluviais e colúvio-aluviais nos vales secundários de afluentes dos rios Potecas e

Forquilhas. Os depósitos colúvio-aluviais recentes são reentalhados por vales atuais (pontos P116

e P174). ............................................................................................................................................ 39

Figura 25. Depósito de cone de dejeção alterado na confluência de um vale secundário com o vale

do rio Potecas no loteamento Jardim Botânico. Foto: Joel Pellerin, 2014. ..................................... 40

Figura 26. Estudo das formações aluviais: localização das principais sondagens SPT cedidas por

empresas de engenharia e das tradagens manuais com amostragem para análises

granulométricas. ............................................................................................................................... 41

Figura 27. Aspectos do relevo da parte Noroeste do município de São José: modelado

montanhoso nos altos vales passando a modelado em outeiros na jusante. Fonte: Google Earth,

2015. ................................................................................................................................................. 43

Figura 28. Declividade (em graus) de modelados de dissecação e de acumulação do municipio de

São José. Fonte: curvas de nivel com equidistância de 1 metro geradas a partir do MDT (SDS,

2011). ............................................................................................................................................... 45

Figura 29. Localização de dados conhecidos e/ou identificados no campo sobre fenômenos

relacionados com movimentos de massa (deslizamentos conhecidos, encostas apresentando

rastejo (creeping), dados coletados pelo CPRM em 2012). ............................................................ 46

Figura 30. Controle estrutural dos deslizamentos reconhecidos em 3 setores da zona urbanizada.

Em vermelho: lineamentos e falhas, em azul: pontos de observação de campo. ........................... 47

Figura 31. Setor Potecas - loteamento Vó Cota - Fotos de 2010 da zona de falha que condicionou

o deslizamento ocorrido em 2008 e detalhe do padrão de fraturamento. ....................................... 47

Figura 32. Aspecto do terreno em deslizamento ocorrido em 2008 no loteamento Mario Honorato,

no Bairro Santos Saraiva: a forma curva dos troncos das árvores indica que o deslizamento

permanece ativo, com as árvores crescendo e adaptando-se aos movimentos lentos do terreno. 48

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Cartas Geotécnicas de Aptidão à Urbanização

frente aos Desastres Naturais

Relatório Final

São José

Figura 33. Encosta situada no bairro Potecas com obras de estabilização do movimento de massa

iniciado em 2008 e agravado em 2010. Fotos: Joel R. Pellerin, 2014. ........................................... 49

Figura 34. Rastejo no Morro do Benjamin, Bairro Potecas. Fonte: Google Earth, 2015. ................ 49

Figura 35. Rastejo nas encostas do alto vale do rio Forquilhas. Fonte: Google Earth, 2015. ........ 50

Figura 36. Depósitos colúvio-aluvionares reentalhados por erosão recente no vale do rio Potecas

(ponto 116 na figura 24). Foto: Joel Pellerin, 2014. ......................................................................... 51

Figura 37. Planície aluvial do rio Forquilhas. Foto: Janete Abreu, 2010. ........................................ 52

Figura 38. Localização dos perfis geofísicos no alto vale do rio Forquilhas. Elaboração: Geoenvi,

2014. ................................................................................................................................................. 53

Figura 39. Localização do perfil CE01 recortando cicatriz de deslizamento numa encosta com

rastejo no alto vale do Rio Forquilhas. Foto: Joel Pellerin, 2014. .................................................... 54

Figura 40.Perfil CE01: alto vale do rio Forquilhas............................................................................ 55

Figura 41. Localização do perfil CE02 numa encosta sobre substrato de rochas metamórficas

heterogêneas com alteritos espessos. Foto: Joel Pellerin, 2014. .................................................... 56

Figura 42. Perfil CE02, detalhe da parte inferior da encosta apresentando marcas de rastejo,

cicatrizes de erosão e /ou deslizamento. Foto: Joel Pellerin, 2014. ................................................ 56

Figura 43. Perfil CE02. Esse perfil mostra que a falha de importância regional, que estruturao vale

do rio Forquilha, corresponde a uma faixa com fraturação múltipla. ............................................... 57

Figura 44. Geometria do Talude A e do Talude B utilizados para cálculo do Fator de Segurança. 59

Figura 45. Variação do ângulo da encosta e teste do Fator de Segurança. ................................... 60

Figura 46. Superfícies de ruptura traçadas para os dois tipos de taludes pelo método de Bishop. 60

Figura 47. Carta de suscetibilidade a deslizamentos nos setores não urbanizados do município de

São José. .......................................................................................................................................... 63

Figura 48. Esquema metodológico para mapeamento das áreas suscetíveis a inundações. ......... 66

Figura 49. Etapas para a correção e geração de um MDT hidrológicamente consistente. Fonte:

Nobre et al, 2011. ............................................................................................................................. 68

Figura 50. Procedimento para o cálculo do HAND. Fonte: Rennó et al, 2008. ............................... 69

Figura 51. Exemplo de classificação das cotas com base no tempo de retorno. ............................ 70

Figura 52. Rua Pedro Alvares Cabral na inundação de novembro de 1991, bairro Forquilhinhas,

município de São José. Foto: Rita de Cassia Dutra, 14/11/1991. ................................................... 71

Figura 53. Vista aérea da inundação de janeiro de 2008 no bairro Forquilhinhas, São José, um dia

depois ao evento. Foto: SDC-SC, 01/08/2008. ................................................................................ 71

Figura 54. Carta de suscetibilidade à inundação para o município de São José. ........................... 73

Figura 55. Detalhamento de áreas de coincidência espacial entre as classes de suscetibilidade e

dados amostrais do CENAD no município de São José. ................................................................. 74

Figura 56. Carta geotécnica de aptidão à urbanização dos setores não urbanizados do município

de São José frente aos desatres naturais. ....................................................................................... 77

Figura 57. Quantitativo de áreas das classes de aptidão no município de São José. .................... 79

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Cartas Geotécnicas de Aptidão à Urbanização

frente aos Desastres Naturais

Relatório Final

São José

Figura 58. Esquema empregado para disponibilização de dados na WEB. .................................... 87

LISTA DE QUADROS

Quadro 1. Procedimentos para geração de mapas temáticos a partir do material cartográfico da

SDS na escala 1:10.000. .................................................................................................................. 13

Quadro 2. Legenda da carta geotécnica de aptidão à urbanização para o município de São José.

.......................................................................................................................................................... 80

Quadro 3. Descrição das camadas que compõem a base de dados .............................................. 85

Quadro 4. Grupos de camadas do SIG ............................................................................................ 85

Quadro 5. Ferramentas empregadas na aplicação que disponibiliza dados do projeto na WEB ........ 87

LISTA DE TABELAS

Tabela 1. Desastres naturais no município de São José no período de 1975 a 2015, de acordo

com os maiores totais de afetados e de atingidos por danos diretos - desabrigados, desalojados e

mortos. .............................................................................................................................................. 22

Tabela 2. Valores de Fator de Segurança ....................................................................................... 58

Tabela 3. Fator de Segurança e declividades limites. ..................................................................... 61

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Cartas Geotécnicas de Aptidão à Urbanização

frente aos Desastres Naturais

Relatório Final

São José

1. INTRODUÇÃO

Os desastres naturais no Brasil estão relacionados principalmente a processos de

origem hidrometeorológica como inundações, enxurradas e deslizamentos nas encostas.

A recorrência e magnitude desses eventos extremos motivaram a promulgação da Lei

Federal Nº 12.608 de 10 de abril de 2012, que instituiu a Política Nacional de Proteção e

Defesa Civil e estabelece diretrizes de amplo espectro voltadas à gestão e redução dos

riscos de desastres naturais no país, envolvendo esforços da União, Estados e

Municípios, com ênfase nas ações preventivas. Dentre essas ações, destaca-se a

elaboração de cartas geotécnicas de aptidão à urbanização, com base no mapeamento

da suscetibilidade ambiental a processos físicos que possam representar ameaças

futuras à população, em áreas com potencial de expansão urbana. Essas cartas

constituem instrumento fundamental para a adequação dos planos diretores dos

municípios mais suscetíveis às adversidades hidrometeorológicas no país, a fim de evitar

a formação de novas áreas de risco, a partir do planejamento urbano de acordo com a

aptidão física dos terrenos à urbanização.

O projeto desenvolvido em parceria com o Ministério das Cidades teve como

objetivo principal a elaboração de cartas geotécnicas de aptidão à urbanização frente

aos desastres naturais, associados principalmente a deslizamentos e inundações, na

escala de 1:10.000. As cartas elaboradas visam subsidiar o poder público municipal no

planejamento do uso e ocupação do solo urbano, atendendo às diretrizes estabelecidas

pela a Lei Federal 12.608/2012. Em seu Artigo 26, esta lei prevê que os municípios com

áreas suscetíveis à ocorrência de deslizamentos, inundações bruscas ou processos

geológicos ou hidrológicos correlatos, devem incluir no plano diretor municipal o

mapeamento das áreas suscetíveis a esses processos do meio físico. Já no seu Artigo

27, a referida lei determina que a aprovação de novos projetos de parcelamento do solo

urbano considere os requisitos constantes da carta geotécnica de aptidão à urbanização,

cuja elaboração requer o mapeamento prévio da suscetibilidade aos diferentes

fenômenos do meio físico que possam causar desastres naturais.

A elaboração de cartas de suscetibilidade a deslizamentos e inundações

possibilita a delimitação de zonas homogêneas do terreno quanto à probabilidade de

atuação dos processos do meio físico abordados, definindo zonas de alta, média e baixa

suscetibilidade à ocorrência de determinado processo.

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Cartas Geotécnicas de Aptidão à Urbanização

frente aos Desastres Naturais

Relatório Final

São José

O mapeamento de suscetibilidade a deslizamentos, inundações e demais

processos do meio físico nos municípios atendidos pelo presente projeto é

fundamentado em estudos geológicos e hidrológicos. Esses estudos preliminares de

suscetibilidade, aliados à realização de ensaios geotécnicos, permitiram a elaboração de

cartas geotécnicas de aptidão à urbanização frente aos desastres naturais, com o

estabelecimento de classes de adequação ao uso e ocupação do solo urbano e

dediretrizes voltadas à prevenção de riscos de desastres naturais.

O presente relatório apresenta os resultados obtidos na elaboração de cartas

geotécnicas de aptidão à urbanização frente aos desastres naturais para os setores não

urbanizados do perímetro urbano do município de São José, e que apresentam potencial

para expansão da ocupação urbana.

Os resultados do projeto são disponibilizados por meio de uma base

georreferenciada de dados em ambiente Web, o que torna a carta geotécnica de aptidão

à urbanização um instrumento acessível a todos os interessados, sendo de grande

relevância para ações públicas de prevenção de desastres naturais e proteção da

sociedade civil.

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Cartas Geotécnicas de Aptidão à Urbanização

frente aos Desastres Naturais

Relatório Final

São José

2. PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

O desenvolvimento das cartas geotécnicas de aptidão à urbanização envolveu

diferentes etapas de trabalho e estudos preliminares específicos, com a aplicação de

diferentes procedimentos metodológicos. Essas etapas, abaixo relacionadas, executadas

simultaneamente ou de forma sequencial:

Definição das áreas de intervenção, com base na legislação municipal

sobre perímetro urbano;

Elaboração de base cartográfica;

Levantamento dados existentes de legislação municipal sobre uso e

ocupação do solo urbano;

Inventário dos registros de desastres naturais no município, com enfasê

em movimentos gravitacionais de massa, inundações e enxurradas;

Utilização de Modelo Digital de Terreno (MDT) para realização de

sombreamentos e análise do relevo e lineamentos e para geração de

mapa de declividade;

Levantamento geológico e geomorfológico de campo;

Análise geotécnica das unidades litológicas representativos da geologia

local;

Levantamento de perfis geofísicos para conhecimento de espessura das

formações superficiais;

Controle de campo para mapeamentos de áreas inundáveis;

Elaboração de cartas de suscetibilidade aos movimentos gravitacionais de

massa e às inundações;

Interpretação e cruzamento dos dados precedentes e elaboração da carta

geotécnica de aptidão à urbanização;

Implantação de banco de dados georreferenciados e disponibilização das

cartas geotécnicas em ambiente WebGIS.

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Cartas Geotécnicas de Aptidão à Urbanização

frente aos Desastres Naturais

Relatório Final

São José

2.1. ÁREAS DE INTERVENÇÃO

As áreas de intervenção para elaboração de cartas geotécnicas de aptidão à

urbanização frente aos desastres naturais compreendem os setores não urbanizados,

contidos no perímetro urbano vigente, regulamentado pela legislação municipal.

Para São José, a extensão da área de trabalho foi definida de acordo com os

dados fornecidos por técnicos do município, tais como o Plano Diretor Municipal em vigor

(Lei Nº 1.605/1985) que define o perímetro urbano do município e dados fornecidos pela

Associação dos Municípios da Região da Grande Florianópolis (GRANFPOLIS),

responsável pela revisão do Plano Diretor Municipal, a qual se encontra em andamento.

Foi incluída ainda a zona rural norte do município, situada em área de relevo

montanhoso, que passará a compreender parte do anel viário da Grande Florianópolis,

em fase de implantação, que poderá desencadear um processo de expansão urbana ao

longo do contorno viário.

Assim, o presente estudo delimitou como área de intervenção as superfícies não

urbanizadas, observáveis em imagens aéreas recentes, presentes na zona urbana atual

e nos setores previstos para a ampliação do perímetro urbano municipal. Essas áreas

ainda não ocupadas apresentam potencial para expansão urbana do município e, dessa

maneira, foram objeto de intervenção para mapeamento de suscetibilidade aos

processos físicos analisados, que resultou na Carta Geotécnica de Aptidão à

Urbanização.

As áreas de intervenção foram delimitadas a partir da cobertura aerofotográfica

da Secretaria de Estado do Desenvolvimento Econômico Sustentável (SDS), referente

ao ano de 2011, e da atualização dos dados por meio de imagens do Google Earth de

maio de 2014 (Figura 1). A atual zona urbana do município de São José cobre uma área

de aproximativamente 36,80km2, que é desconsiderada no estudo realizado. Esse

procedimento permitiu definir as áreas de intervenção para elaboração das cartas

geotécnicas de aptidão à urbanização, que totalizaram 62,54km2.

Para que os processos geodinâmicos presentes nas proximidades dos limites da

zona urbana legal não fossem desconsiderados, adotou-se uma margem de segurança,

representada por uma expansão de 500m (buffer) a partir do perímetro urbano vigente e

que foi igualmente mapeada.

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Cartas Geotécnicas de Aptidão à Urbanização

frente aos Desastres Naturais

Relatório Final

São José

As Áreas de Preservação Permananete (APP), que possuem restrição de

ocupação, também são consideradas na carta geotécnica final de aptidão à urbanização,

e podem ser visualizadas em ambiente Web. São áreas que correspondem às definições

previstas na Lei Federal N° 12.651/2012 (Código Florestal).

Figura 1. Superfícies urbanizadas no município de São José – 2014, geradas a partir do mosaico ortofotogramétrico de 2011, atualizado com imagens Google Earth de 2014.

2.2. BASE CARTOGRÁFICA

Para o desenvolvimento do estudo adotou-se como base os produtos do

levantamento aerofotogramétrico do estado de Santa Catarina realizado de 2010 a 2011,

em escala de 1:10.000, disponibilizados pela Secretaria de Estado do Desenvolvimento

Econômico Sustentável (SDS), bem como dados cartográficos da prefeitura municipal.

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Cartas Geotécnicas de Aptidão à Urbanização

frente aos Desastres Naturais

Relatório Final

São José

O Quadro 1 sintetiza os procedimentos efetuados para a delimitação das áreas

de intervenção e para a geração de mapas de apoio ao mapeamento de susceptibilidade

aos processos físicos abordados e à elaboração das cartas geotécnicas de aptidão à

urbanização frente aos desastres naturais no município de São José.

Quadro 1. Procedimentos para geração de mapas temáticos a partir do material cartográfico da SDS na escala 1:10.000.

Tema Dados Formato Extensão Fonte Procedimentos

Área de Intervenção Ortofotocartas Perímetro Urbano

Raster Vetorial

GeoTif .shp

SDS Prefeituras

- Vetorização

Declividade e Sombreamento

MDT

Raster

GeoTif

SDS

- Converter dados GeoTif para IDRISI - Gerar mapa de declividades - Gerar mapas de sombreamento

Índices 315-30 e 45-30

Classes de Declividade

Mapa de Declividades

Raster dat SDS - Classificação por faixas

Sistema Viário Ortofotocartas Raster GeoTif SDS - Vetorizar sistema viário no Kosmo e ArcGIS

Mancha Urbana Ortofotocartas Raster GeoTif SDS - Vetorizar mancha urbana no Kosmo e ArcGIS

Hidrografia Vetores Vetorial shp SDS

Áreas Inundáveis MDT e Ortofotocartas

Raster GeoTif SDS

- Gerar manchas de inundação para diferentes níveis - Validar áreas inundáveis em campo

Curvas de Nível MDT Raster GeoTif SDS

- Executar algoritmo para geração automática de curvas de nível (equidistância de 5 metros)

- Definir curvas mestras e secundárias

Pontos Cotados Ortofotocartas Curvas de Nível

Raster Vetorial

GeoTif shp

SDS LabGeop

- Criar pontos em topos de morros e planícies

- Obter cotas pelo cruzamento dos pontos com o mdt

Toponímia de logradouros e localidades

sites com informações geográficas

WEB

WEB

WEB

- Acessar fontes de informações na internet e inserir toponímias nas respectivas camadas

Áreas de preservação Permanente - APP

Plano diretor Lei 12.651/2012

vetorial shp Prefeitura e Lei federal

- Converter dados para sistema de referência e formato do projeto

- Digitalizar (quando em meio analógico)

Mapa Geológico Mapas existentes e levantamento de campo

analógico - vetorial

shp

CPRM (ZANINI et al, 1997)

- Levantamento de campo - Vetorização das feições

Carta geotécnica de aptidão à urbanização

Cruzamento dos dados

vetorial shp - Vetorização e publicação no WebGIS

O sistema de referência adotado para a representação dos dados e cartas foi o

SIRGAS-2000, enquanto o sistema de projeção foi o Sistema de Coordenadas em

Projeção Universal Transversa de Mercator – UTM no fuso 22S (código 31982 adotado

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Cartas Geotécnicas de Aptidão à Urbanização

frente aos Desastres Naturais

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São José

pelo EPSG – European Petroleum Survey Group), tendo como datum vertical o

Marégrafo de Imbituba/SC.

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Cartas Geotécnicas de Aptidão à Urbanização

frente aos Desastres Naturais

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São José

3. ESTUDOS PRELIMINARES

3.1. INVENTÁRIO DE REGISTROS DE DESASTRES NATURAIS

A elaboração da série histórica dos registros de desastres ocasionados por

fenômenos naturais no município de São José contempla a escala temporal para o

período de 1980 a 2016. O levantamento possibilitou a elaboração de um inventário de

registros no âmbito municipal e, na medida do possível, são também informadas as

áreas atingidas do município, uma vez que os registros disponíveis, em sua maioria, não

apresentam necessariamente essa informação.

O inventário elaborado teve como foco principal os desastres naturais

relacionados a inundações e deslizamentos, embora outros tipos de eventos que

atingem os municípios catarinenses também tenham sido levantados, como no caso de

enxurradas, vendavais, entre outros.

Para realização do inventário foram consultadas fontes de dados oficiais e não-

oficiais. Os documentos oficiais consistem em: formulários de Notificação de Desastres

(NOPRED) e de Avaliação de Danos (AVADAN), Formulário de Informações do Desastre

(FIDE), decretos, portarias, relatórios de danos e outros (tabelas, planilhas, ofícios, etc.).

Esses dados foram obtidos principalmente através do Banco de Dados da Secretaria

Nacional de Defesa Civil (BRASIL, 2015), disponibilizado pelo Sistema Integrado de

Informações sobre Desastres (S2ID).

Para complementar a série histórica, buscou-se registros não-oficiais oriundos

das seguintes publicações: Atlas de Desastres Naturais do Estado de Santa Catarina

(HERRMANN (org.), 2014); Resposta ao desastre em Santa Catarina no ano de 2008

(BRASIL, 2009); Atlas Brasileiro de Desastres Naturais,1991 a 2012 (UFSC, 2012); além

de publicações em periódicos, anais de encontros científicos, trabalhos acadêmicos e

dados publicados em jornais, quando disponíveis.

Os eventos levantados foram distribuídos cronologicamente, buscando atender

aos dados a seguir:

a) COBRADE (Classificação e Codificação Brasileira de Desastres)

b) Tipo de evento (fenômenos naturais),

c) Data da ocorrência (dia, mês e ano),

d) Área afetada (bairros e ruas atingidos),

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frente aos Desastres Naturais

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e) Danos Humanos (subcategorias Afetados, Desabrigados, Desalojados, Mortes,

e Outros),

f) Situação do Decreto - Emergência (E) ou Calamidade Pública (CP),

g) Tipo de documento - Relatório (R), Jornal (J), Decreto (D), Portaria (P),

NOPRED (N), AVADAN (A), FIDE (F) ou Outro (O),

h) Fonte de pesquisa.

Destaca-se que a possível ausência de um ou mais dados acima relacionados

aos desastres registrados correspondem à inexistência de informação nas diferentes

fontes de pesquisa. Isso se deve a algumas limitações encontradas durante a realização

do inventário, como descrições incompletas quanto às ocorrências registradas e a

existência de lacunas nas descrições da série histórica oficial dos desastres no

município.

Ao final do levantamento, criaram-se critérios para eliminar os registros de

eventos repetidos. Para isso, identificaram-se todas as ocorrências de mesma data,

sendo a informação menos detalhada suprimida, priorizando os registros oficiais

provenientes do S2ID (BRASIL, 2015). Em alguns casos, quando dois registros

referentes ao mesmo evento apresentavam informações distintas, estas foram

convergidas para um único dado, que passou a conter duas fontes de informação.

Analisaram-se também registros com datas próximas e, a partir do tipo de documento e

da fonte de informação, foi possível distinguir os eventos.

O inventário elaborado também apresenta, quando disponíveis, dados referentes

aos afetados pelos desastres naturais ocorridos no município. Segundo definição da

Estratégia Internacional para Redução de Desastres (UNISDR, 2017), as pessoas

podem ser afetadas diretamente ou indiretamente pelos desastres naturais. Os afetados

diretos incluem os indivíduos que sofreram danos relacionados à integridade física e a

efeitos sobre a saúde; a população desabrigada, desalojada ou deslocada e as pessoas

que sofreram danos diretos aos seus meios de vida, econômicos, físicos, sociais,

culturais e ambientais. Quanto à população afetada indiretamente, inclui danos relativos

a perturbações na produção de bens e serviços básicos, afetando a capacidade

produtiva e a infraestrutura social e econômica.

Considerando os dados disponíveis nos registros de desastres levantados, o

inventário elaborado considera como afetados diretos os indivíduos que sofreram danos

humanos, em conformidade com documentos oficiais de registro de danos utilizado pela

Defesa Civil, que incluem as pessoas afetadas na sua integridade física, como os óbitos,

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frente aos Desastres Naturais

Relatório Final

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feridos, enfermos e desaparecidos ou que sofreram danos de curto ou longo prazo

relacionados à infraestrutura de moradia, incluindo os deslocados, desalojados e

desabrigados. Em função da forma de apresentação das informações nos registros

oficiais, os danos diretos relativos ao comprometimento dos meios de sobrevivência são

associados aos danos indiretos causados pelos desastres.

Os resultados do inventário de desastres abrangem um período de 40 anos (1975

a 2015), que corresponde à série histórica disponível nos órgãos de Defesa Civil,

publicações e nos acervos de jornais locais, regionais e nacionais. O levantamento

totalizou 67 ocorrências, as quais estão representadas na Figura 2. As enxurradas são

as responsáveis pelo maior número de ocorrências, com 32 registros, enquanto os

deslizamentos totalizam 15 registros, as inundações aparecem com 13 registros, os

vendavais com 5 registros, e as estiagens e granizos com apenas 1 registro para cada.

Figura 2. Total de registros de desastres por tipo de evento no município de São José no período de 1975 a 2015. Fonte: Brasil (2015); Herrmann (org.) (2014); acervos de jornais.

Ao analisar a frequência anual dos desastres verifica-se que eventos

hidrológicos, como enxurradas e inundações, são frequentes em São José, com casos

de recorrência em um mesmo ano (Figura 3). No ano de 1994 foram registrados

4episódios de enxurradas. Desses, o evento mais severo foi em 22 de fevereiro, com

índice pluviométrico de 227,4 mm registrados em 4 horas. Neste episódio também houve

registro de deslizamentos nas encostas. Em 2011 também houve um número

considerável de registros, totalizando 6 eventos extremos registrados. O mês de janeiro

0

5

10

15

20

25

30

35

Enxurradas Deslizamentos Inundações Vendavais Estiagens Granizos

mero

de

re

gis

tro

s

Tipo de evento

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São José

caracterizou-se por uma série de precipitações com forte intensidade ao longo da faixa

litorânea do Estado (PELLERIN et al., 2014). Os acumulados pluviométricos foram ainda

maiores em evento ocorrido no mês de setembro, com 273,4 mm em dois dias,

resultando em enxurradas e deslizamentos de terra no município.

Figura 3. Frequência anual dos registros de desastres por enxurradas, inundações e deslizamentos no município de São José. Fonte: Brasil (2015); Herrmann (org.) (2014); acervos de jornais.

Nota-se, portanto, a recorrência dos episódios de deslizamentos

simultaneamente às inundações e enxurradas, associados a períodos de precipitações

intensas. O município dispõe de muitas áreas com cicatrizes e algumas delas sob

monitoramento, como é o caso da encosta situada no bairro Potecas, com áreas de risco

nos loteamentos Sagrado Coração de Jesus e Vó Cota. O processo iniciou em 2008,

porém se acentuou nos eventos de 2010 e 2011. Obras de estabilização têm sido

realizadas como forma de conter a movimentação da encosta no local.

Quanto à frequência mensal dos desastres, a Figura 4 mostra a distribuição dos

registros ao longo dos meses no período analisado. Enxurradas e inundações são mais

frequentes nos meses de verão, quando ocorrem episódios pluviais mais intensos. Os

meses de dezembro e janeiro apresentaram maior número de ocorrências, com um total

de 8 e 10 eventos respectivamente. Com relação aos deslizamentos, há registros em

vários meses do ano, exceto nos de outono. Em geral, os casos estão associados a

períodos de maior precipitação.

0

1

2

3

4

1975

1976

1977

1978

1979

1980

1981

1982

1983

1984

1985

1986

1987

1988

1989

1990

1991

1992

1993

1994

1995

1996

1997

1998

1999

2000

2001

2002

2003

2004

2005

2006

2007

2008

2009

2010

2011

2012

2013

2014

2015

Fre

qu

ên

cia

de

re

gis

tro

s

Anos com registros

Enxurradas Deslizamentos Inundações

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São José

Figura 4. Frequência mensal dos registros de desastres por enxurradas, inundações e deslizamentos no município de São José. Fonte: Brasil (2015); Herrmann (org.) (2014); acervos de jornais.

Em relação ao impacto dos desastres registrados, com base nos dados

coletados, verificou-se um total de 649.123 pessoas afetadas por eventos severos que

atingiram o município de São José entre 1975 e 2015. Os afetados diretamente e

indiretamente somaram 59.848 e 589.275 pessoas respectivamente, conforme indicado

na Figura 5, que também demonstra os totais dessas duas categorias de atingidos por

tipologia de desastre.

Salienta-se que, em decorrência da metodologia utilizada no registro de danos

pelos documentos oficiais, a população afetada diretamente pelos desastres naturais no

município de São José no período analisado pode estar subestimada, na medida em que

os danos diretos ocasionados pelo impacto dos eventos severos levantados nos meios

de vida dos indivíduos tenham sido contabilizados como danos indiretos.

0

1

2

3

4

5

6

7

8

9

10

jan fev mar abr mai jun jul ago set out nov dez

Fre

qu

ên

cia

de

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gis

tro

s

Meses

Enxurradas Deslizamentos Inundações

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Figura 5. Totais de afetados direta e indiretamente por tipologia de desastre no município de São José no período de 1980 a 2016. Fonte: Brasil (2015); Herrmann (org.) (2014); acervos de jornais.

Com base nos dados coletados, a Figura 6 apresenta a distribuição de afetados

diretos, referentes aos danos humanos, de acordo com o tipo de desastre. Ao longo dos

anos analisados foram registrados, oficialmente, nos episódios de enxurradas: 6 mortes,

83 feridos, 179 deslocados, 44.700 desalojados e 14.519 desabrigados. O elevado

número de pessoas desabrigadas refere-se, sobretudo, aos eventos de 1991 (3.500),

1995 (4.500) e 1997 (4.631), quando o município decretou estado de calamidade

pública. Os danos humanos nos episódios de deslizamentos foram menores, porém os 7

óbitos registrados sucederam no evento de novembro de 1991, quando ocorreu o

soterramento de cinco residências no bairro Jardim das Palmeiras.

59.487

40

321

588.786

489

1

10

100

1.000

10.000

100.000

1.000.000

Enxurradas Deslizamentos Inundações

mero

de

Pesso

as (

Lo

g1

0)

Afetados Diretamente Afetados Indiretamente

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Figura 6. Totais de danos humanos ocasionados por enxurradas, inundações e deslizamentos no município de São José. Fonte: Brasil (2015); Herrmann (org.) (2014); acervos de jornais.

A Tabela 1apresenta os eventos severos ocorridos no município no período em

análise e os respectivos totais em número de pessoas atingidas por danos humanos,

relativos aos dados de desabrigados, desalojados, mortos e, quando disponíveis, as

áreas do município mais atingidas.

Os eventos recentes de maio de 2010 e dezembro de 2011 contabilizaram os

maiores números de afetados, com 157.240 e 131.453 pessoas respectivamente. Em 19

de maio de 2010 foram registrados 101,8 mm de chuva. Entretanto, a precipitação iniciou

três dias antes do evento, o que resultou em 354,8 mm de precipitação acumulada.

Segundo o AVADAN, na inundação de 19 de maio de 2010 o número de afetados foi

expressivo em razão do represamento das águas dos rios pela maré alta, o que agravou

os efeitos da enxurrada, provocando danos e prejuízos em toda a área do município. No

caso do evento de 13 de dezembro de 2011, a precipitação foi intensa e concentrada,

com 58,4 mm de chuva registrada em apenas uma hora, de acordo com a Estação

Meteorológica Automática de São José (EPAGRI/CIRAM). Não houve, portanto,

precipitações expressivas nos dias antecedentes ao evento.

14.519

44.700

6

83

179

3

30

7

320

1

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100

1.000

10.000

100.000

Desabrigados Desalojados Mortos Feridos Deslocados

mero

de

pesso

as (

loq

10)

Enxurradas Deslizamentos Inundações

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Tabela 1. Desastres naturais no município de São José no período de 1975 a 2015, de acordo com os maiores totais de afetados e de atingidos por danos diretos - desabrigados, desalojados e mortos.

Eventos Áreas afetadas Afetados Desabrigados Mortos

Enxurrada 19/05/2010

Área Rural: Localidades de Colônia Santana, Potecas, Forquilhas, Sertão do Maruim.

157.240 257 -

Enxurrada 13/12/2011

Bairros: Forquilhinhas, Flor de Nápolis, Jardim Pinheiros, Picadas d o Sul, Colônia Santana, Forquilhas, Serraria, Barreiros, Ipiranga, Pedregal, Bela Vista, Campinas, Kobrasol, Potecas, Areias, Praia Comprida, Fazenda Santo Antônio, Real Parque, Santos Saraiva, Centro-Histórico, Sertão do Maruim, Ponta de Baixo, Areias, Roçado, Jd. Cidade de Florianópolis, Nossa Senhora do Rosário, São Luiz, São Pedro. Loteamentos: Benjamin, Ceniro Martins, Lisboa, Los Angeles, Vila Formosa, Jardim Solemar, Real Parque, San Marino, Terra Firme, Dona Zenaide. Toda Área Rural.

131.453 - -

Enxurrada 25/03/2010

Área urbana: Bairros Colônia Santana, Potecas, Forquilhas, Sertão do Maruim, Picadas do Sul, Forquilhinhas, Fazenda Santo Antônio, Flor de Nápolis, Barreiros, Serraria, Roçado, Bela Vista, Ipiranga, Nossa Senhora do Rosário, São Luiz, Real Parque, Pedregal, Praia Comprida (Rua Sebastião Lentz), Distrito Industrial. Loteamentos Jardim Pinheiros, Ceniro Martins, Solemar, Benjamim, Lisboa, Los Angeles, Santos Saraiva e Vila Formosa.

130.000 110 1

Enxurrada 30/01/2008

Bairros: Distrito Industrial, Campinas, Flor de Nápolis, Forquilhinha, Picadas do Sul, Sertão do Maruim, Kobrasol, Forquilhas, Sertão do Maruim, Colônia Santana. Localidades rurais.

114.800 360 -

Enxurrada 22/01/2011

Área urbana: Bairros Colônia Santana, Potecas, Forquilhas, Alto Forquilhas, Sertão do Maruim, Picadas do Sul, Forquilhinha, Fazenda Santo Antônio, Flor de Nápolis, Barreiros, Serraria, Roçado, Bela Vista, Ipiranga, Nossa Senhora do Rosário, São Luiz, Real Parque, Pedregal, Praia Comprida, Distrito Industrial, Kobrasol, Campinas, Ponta de Baixo, Centro, Areias, Jardim Santiago, Bosque das Mansões, Jardim Cidade de Florianópolis. Loteamentos: Jardim Pinheiros, Ceniro Martins, Solemar, Benjamin, Lisboa, Los Angeles, Santos Saraiva, Vila Formosa. Área Rural: Localidades de Colônia Santana, Forquilhas, Sertão do Maruim.

36.293 283 -

Enxurrada 22/11/2008

Área Urbana: Bairros: Centro, Ponta de Baixo, Praia Comprida, São Luiz, Roçado, Bosque das Mansões, Kobrasol, Campinas, Distrito Industrial, Forquilhinha, Potecas (Loteamento Ceniro Martins), Real Parque, Pedregal, Ipiranga, Bela Vista, Nossa Senhora do Rosário, Jd. Cidade Florianópolis, Barreiros, Serraria, Areias, Forquilhas, Colônia Santana, Fazenda Santo Antonio, Flor de Nápolis, Picadas do Sul e Sertão do Maruim.

19.000 130 -

Fonte: Brasil (2015); Herrmann (org.) (2014); acervos de jornais.

Os eventos que registraram os maiores números de afetados são recentes e

ocorreram de 2008 a 2011. Segundo a Diretoria de Defesa Civil de São José, o elevado

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frente aos Desastres Naturais

Relatório Final

São José

número de pessoas afetadas corresponde, principalmente, aos danos relacionados à

estruturas como pontes e rodovias e ao comprometimento do fornecimento de energia

elétrica e do abastecimento de água. Nos registros anteriores a este intervalo não havia

a contabilidade do número de afetados pela falta de preparo dos agentes de defesa civil,

que passaram por capacitações na última década de modo a aperfeiçoarem a

identificação e avaliação dos danos. Dessa forma, com base nos dados disponíveis,

percebe-se um aumento no número da população afetada nos últimos eventos, embora

o número de desabrigados tenha sido muito elevado nos eventos dos anos de 1991,

1995 e 1997 (SÁNCHEZ, 2015).

De acordo com os dados levantados, as áreas afetadas por eventos

hidrogeológicos no município correspondem, especialmente, aos setores situados na

Bacia do rio Maruim, sobretudo na planície extensa que se estende na direção do seu

afluente principal, o rio Forquilhas. Bairros como Forquilhinhas, Picadas do Sul, Flor de

Nápolis, Sertão do Maruim são frequentemente afetados, conforme apresentado na

Tabela 1.

É importante destacar que os resultados do inventário de desastres naturais para

o município de São José, podem ter subestimado a realidade local devido a possíveis

lacunas existentes nos registros oficiais de ocorrências. Essas lacunas podem referir-se

a imprecisões nas informações contidas nos registros disponíveis ou ainda a lacunas no

registro de ocorrências, que pode estar limitado aos eventos de maior magnitude,

principalmente nas primeiras décadas do período analisado.

Nesse sentido, destaca-se que no S2ID (BRASIL, 2015), os eventos de média e

pequena magnitude também passaram a ser registrados pelos municípios,

independentes do reconhecimento federal de estado de emergência. Esta medida possui

papel relevante na complementação do banco de dados nacional e deverá contribuir

para o estabelecimento de uma série histórica de informações mais completa acerca dos

diferentes tipos de desastres que atingem os municípios brasileiros. Entretanto, salienta-

se a importância de ações paralelas de cada coordenadoria municipal de Defesa Civil

para o registro histórico de todos os tipos de eventos, de modo a utilizá-lo como

ferramenta de prevenção e mitigação de desastres em áreas suscetíveis e de risco.

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3.2. BASES GEOLÓGICAS E GEOMORFOLÓGICAS

3.2.1. Geologia

Os resultados do levantamento de dados bibliográficos apontaram a existência de

vários mapeamentos geológicos realizados em São José, abrangendo a totalidade ou

parcialmente o território do município. Em alguns casos esses documentos apresentam

interpretações diferentes para os mesmos setores, exigindo a validação dos dados

básicos disponíveis para a elaboração do mapa geológico.

A validação efetuada a partir do trabalho de campo demonstrou que a melhor

interpretação das unidades geológicas e do contexto tectônico do município de São José

corresponde ao mapa geológico na escala de 1:100.000 publicado pelo CPRM – Serviço

Geológico do Brasil (ZANINI et al., 1997). Esse mapa, apresentado por Zanini et al.

(1997), é acompanhado por um modelo evolutivo reproduzido na Figura 7, e foi adotado

como base para os trabalhos de mapeamento geológico em escala de maior detalhe.

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Figura 7. Modelo evolutivo para a Suíte Intrusiva Maruim. Fonte: Zaniniet al., 1997.

Geologicamente, o substrato rochoso do município é constituído por gnaisses e

migmatitos do Complexo Águas Mornas intrudidos por granitos da Suíte Maruim e da

Suíte Intrusiva Pedras Grandes. Essas unidades estão localmente encobertas por

formações superficiais na forma de alteritos, depósitos coluviais, colúvio-aluvionares e

aluvionares quaternários continentais e marinhos (Figura 8).

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Figura 8. Representação das unidades geológicas do município de São José.

Uma descrição detalhada dos principais litotipos acompanhada de descrição de

laminas delgadas foi realizada em estudo efetuado em 2013 na bacia do Rio Forquilhas.

Os dados que seguem resumem e completam o conteúdo desse trabalho (UFSC/MC-

SNAPU, 2014).

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3.2.1.1. Complexo Águas Mornas

O Complexo Águas Mornas, definido por Zaniniet al. (1997), corresponde ao

Complexo Tabuleiro de Silva (1986). É constituído por gnaisses e

migmatitosneoproterozóicos, com idades isocrônicas Rb-Sr e U-Pb de, respectivamente

650 ±24 e 624 ±16 etMa (BASEI, 1985). O levantamento de campo mostrou uma

extensão das rochas do Complexo Águas Mornas mais ampla do que os mapas de

pequena escala permitiriam prever.

As rochas dessa unidade são representadas por gnaisses quartzo dioríticos e

granodioríticos (litotipos predominantes) e por migmatitos. Os migmatitos são

constituídos por enclaves tonalíticos a quartzo dioríticosanfibolitizados ou não, com

formatos arredondados ou fusiformes, associados aortognaisses quartzo monzoníticos.

Segundo Zaniniet al. (1997), os ortognaisses foram originados pela fusão parcial dos

enclaves (paleossoma). Há ainda uma fração neossomática, representada por massa

monzonítica que envolve os componentes anteriores em diferentes proporções

imprimindo feições de fluxo no entorno desses. Trabalhos de campo mostraram que

esses enclaves máficos podem ser alternativamente interpretados como feições de

mistura magmática heterogêneos entre magmas básicos e a encaixante monzonítica.

Os gnaisses migmatíticos são caracterizados pela alternância entre bandas

escuras, ricas em anfibólio e biotita de orientação planar e bandas claras, quartzo-

feldspáticas (Figura 9).

Figura 9. Gnaisse migmatitíco do Complexo Aguas Mornas. Fotos: Joel Pellerin, 2014.

Os migmatitos são rochas extremamente heterogêneas constituídas por enclaves

tonalíticos a quartzo dioríticosanfibolitizados ou não, com formatos arredondados ou

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fusiformes, que, por assimilação gradam a ortognaisses quartzo monzoníticos. Esses

dois grupos de litotipos estão envoltos por uma massa monzogranítica de cor clara que,

em alguns locais imprime feições de fluxo no entorno desses (Figura 10 e Figura 11).

Essa massa monzogranítica, segundo Zaniniet al. (1997) representa o neossoma.

Figura 10. Migmatito, constituído por enclave diorítico, gradando a gnaisse monzonítico por assimilação. Foto: Joel Pellerin, 2014.

Figura 11. Migmatitointemperizado, constituído, originalmente, por enclaves dioríticos arredondados, envoltos por rochas graníticas (cor clara). Foto: Joel Pellerin, 2014

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Do ponto de vista geoquímico, Zaniniet al. (1997) mostram que as rochas variam

desde termos intermediários (SiO2 = 56%) até termos graníticos com SiO2 = 75%.

Apresentam trend tipicamente calcioalcalinos e metaluminos. Os diagramas

geotectônicos indicam que essas foram formadas em ambiente de arco continental.

3.2.1.2. Suíte Intrusiva Maruim

Os granitoides calcialcalinos da Suíte Intrusiva Maruim são os litotipos

predominantes no município. Formam um maciço granítico zonado, intrusivo no

Complexo Águas Mornas. Datações pelos métodos Rb-Sr e U-Pb mostraram idades

isocrônicas de, respectivamente, 566±93 e 600±7 Ma (BASEI, 1985).

Do ponto de vista geoquímico, segundo Zaniniet al. (1997), a associação de

rochas da Suíte Maruim forma uma série contínua de litotipos que vão desde quartzo-

dioritos até o extremo granítico (monzogranito São Pedro de Alcântara), passando pelos

campos do quartzo-monzonito, tonalito, granodiorito a adamelito, conforme disposição no

diagrama Q x P de Debon& Le Fort (1983).

O maciço apresenta termos precoces, representados pelo Tonalito Forquilha,

situado nas porções marginais que evoluem para termos mais félsicos como o

granodiorito Alto da Varginha e monzogranito São Pedro de Alcântara, que ocorrem

como intrusões subsequentes nas porções centrais do maciço. Essa estrutura

grosseiramente concêntrica é mostrada no primeiro modelo evolutivo de Zaniniet al.,

indicando que o maciço representa um pluton de natureza multi intrusiva, com contatos

transicionais entre os litotipos. Em função dessa origem os contatos são muito

irregulares e as rochas sendo muito alteradas, a cartografia dos limites exatos entre

diversos litotipos permanece imprecisa. Nos afloramentos e cortes encontrados no

campo tem misturas de fácies, por exemplo, podendo ser encontrados xenólitos locais

ou até faixa de gnaisses de grande tamanho dentre os granitóides (Figura 12) ou ainda

enclaves de granito dentre os migmatitos (Figura 13).

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Figura 12. Afloramento localizado de gnaisse num setor onde predomina o granodiorito Alto da Varginha. Foto: Joel Pellerin, 2014.

Figura 13. Núcleo de granito São Pedro de Alcântara dentro de gnaisse. O granito sendo mais resistente e menos alterado que o gnaisse restou isolado na exploração de antiga saibreira.. Foto: Joel Pellerin, 2014.

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3.2.1.3. Tonalito Forquilhinha

O Tonalito Forquilhinha compreende rochas equigranulares médias a grossas de

coloração cinza escuro, mesocráticas, ricos em hornblenda. Podem ocorrer xenólitos

dioríticosanfibolitizados, com estrutura fluidal ou fusiformes, parcialmente assimilados.

Subordinadamente ocorrem quartzo dioritos e quartzo monzodioritos associados.

Mineralogicamente é constituído por um arcabouço de quartzo e plagioclásio com

quantidades variáveis de hornblenda, biotita, feldspato potássico e minerais acessórios

como opacos, apatita, esfeno e zircão.

3.2.1.4. Granodiorito Alto da Varginha

O Granodiorito Alto da Varginha está presente em uma grande faixa na porção

central do território do município. Trata-se de rocha mesocrática, equigranular média a

fina, por vezes mostrando orientação de fluxo. Pode apresentar enclaves básicos a

intermediários, microgranulares, angulosos ou então ovalados ou fusiformes (Figura 14 e

Figura 15), sugerindo mistura heterogênea de magmas. Análise ao microscópio mostra

que seus constitutivos são quartzo, plagioclásio e feldspato alcalino como minerais

essenciais, com biotita e, ocasionalmente anfibólio como varietais; apatita, esfeno, zircão

e opacos como minerais acessórios, além de clorita epidoto, sericita e carbonatos como

minerais secundários. A análise modal feita por contagem de pontos confirmou a

classificação como granodiorito.

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Figura 14. Granodiorito Alto da Varginha, exibindo enclaves básicos angulosos ou arredondados com contato difuso. Foto: Joel Pellerin, 2014.

Figura 15. Afloramentos de granodiorito Alto da Varginha apresentando enclaves basicos e forte fraturação. Fotos: Joel Pellerin, 2014.

3.2.1.5. Granito São Pedro de Alcântara

O Granito São Pedro de Alcântara constitui a unidade de maior área de

ocorrência da Suíte Maruim. Ocupa toda a porção oeste montanhosa do território do

município de São José.

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É representado por rochas mesocráticas cinza escuro, de granulação grossa,

com fenocristais esbranquiçados de feldspato alcalino (Figura 16) e, eventualmente, de

plagioclásio. São frequentes os enclaves do Tonalito Forquilhinha e Granodiorito Alto da

Varginha. Ao microscópio, observa-se que os constitutivos principais são feldspato

alcalino, quartzo, plagioclásio e biotita, seguidos por minerais opacos, anfibólios e

moscovita em ordem de abundância. Zircão, esfenoallanita e apatita aparecem como

acessórios, enquanto sericita, clorita epidoto e carbonato como minerais secundários. A

análise modal feita por contagem de pontos leva a classificação como

sieno/monzogranito.

Figura 16. Aspecto de afloramento do granito São Pedro de Alcântara, com destaque para a textura pórfira, dada pelos fenocristais de feldspato. Fotos: Joel Pellerin, 2014.

3.2.1.6. Suíte Intrusiva Pedras Grandes

A Suíte Intrusiva Pedras Grandes compreende uma série de corpos graníticos

alcalinos de idade neoproterozoica, bastante expressivos no sul do Estado de Santa

Catarina. Observa-se somente uma área de exposição do Granito Ilha, integrante dessa

suíte, na parte totalmente urbanizada no leste da área de estudo.

São rochas de coloração rosada ou cinza-claro, com textura equigranular grossa

ou pórfira, constituídas por quartzo, feldspato K e biotita (anfibólio) como minerais

essenciais; zircão, alanita, apatita e minerais de óxidos de Fe-Ti (magnetita/ilmenita)

como minerais acessórios e epidoto, sericita/muscovita, clorita, titanita, carbonatos e

fluorita como minerais secundários. Frequentemente exibem deformação cataclástico-

milonítica, resultante de esforços tectônicos (Figura 17). Datações Rb-Sr nessas rochas,

revelaram idade isocrônica de 524 ±68 Ma (BASEI, 1985).

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Figura 17. Aspecto textural do granito Ilha, equigranular de grãos grossos, cortado por finas faixas miloníticas. Foto: Joel Pellerin, 2014.

3.2.1.7. Lineamentos estruturais

Em relação aos lineamentos, tanto o substrato formado por rochas gnáissicas e

migmatíticas do Complexo Águas Mornas com pelo substrato granítico apresentam três

direções gerais de falhamentos e fraturas, NNE-SSW, NW-SE e ENE-WSW,

identificadas nas imagens disponíveis e nos trabalhos de campo (Figura 18). Essas

direções acompanham o padrão regional de lineações e controlam a dissecação do

relevo local. Também influenciam a suscetibilidade das encostas aos deslizamentos,

como foi constatado em diversas ocorrências em setores urbanizados, conforme

comentado anteriormente, e evidenciada pela relaização de perfis geofísicos na área de

trabalho.

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Figura 18. Relevo do município de São José: morfologia controlada por grandes lineamentos de importância regional (N-S) que formam a trama do maciço antigo.

3.2.1.8. Formações superficiais

3.2.1.8.1. Alteritos

Os trabalhos de campo mostram que todas as rochas do substrato proterozoico

são, em geral, profundamente alteradas, como foi observado em diversos perfis nas

antigas saibreiras, nos taludes dos novos loteamentos, do Motódromo de São José ou

das obras de implantação do anel viário Contorno da Grande Florianópolis, onde a

espessura visível do manto de alteração ultrapassa 10 a 15m (Figura 19, Figura 20 e

Figura 21). Esses dados são condizentes com as descrições feitas na execução das

tradagens à percussão efetuadas nos morros no entorno da bacia em estudo

(sondagens nos5 e 6 no bairro Real Park, onde a rocha dura foi encontrada a mais de 30

metros de profundidade) e também foram confirmados pelos perfis geofísicos realizados.

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Figura 19. Alteritos espessos no bairro Potecas, loteamento Vó Cota, na encosta atingida por deslizamentos. Foto: Joel Pellerin, 2014.

Figura 20. Alteritos espessos nas baixas encostas recortadas pelos taludes das pistas do Motódromo (substrato relacionado ao Complexo Águas Mornas). Foto: Joel Pellerin, 2014.

Os alteritos são particularmente espessos nas rochas heterogêneas do Complexo

Águas Mornas e apresentam frequentemente cicatrizes de deslizamentos nos setores de

forte declividade, eles são também sensíveis à erosão linear mesmo nas encostas onde

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a declividade não é forte (Figura 22). Em caso de criação de loteamento, eles não

podem estar deixados sem cobertura vegetal e a rede de drenagem deve ser efetuada

desde o inicio das obras.

Figura 21. Alteritos espessos nos cortes das obras do anel viário Contorno da Grande Florianópolis. Foto: Joel Pellerin, 2014.

Figura 22. Erosão em alteritos espessos sem cobertura vegetal em setor de relevo colinoso. Foto: Joel Pellerin, 2014.

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3.2.1.8.2. Depósitos Colúvio-aluvionares

Os depósitos colúvio-aluvionares associados às encostas dos setores

montanhosos são formações muito heterogêneas, constituídas por blocos de grande

dimensão embalados por matriz argilo-arenosa a areno-argilosa (Figura 23).

Os depósitos colúvio-aluvionares estão associados à baixa encosta das

elevações ou à proximidade destas. Resultam da deposição de material de alteração das

vertentes transportado por processos gravitacionais de massa naturais ou induzidos, no

caso de material coluvial e por processos pluviais, para os aluviões. Apresentam idade

quaternária (SILVA, 1987), se estendendo até o atual.

A composição mineralógica dos depósitos colúvio-aluvionares depende da rocha

fonte que formam as encostas das elevações que ocorrem na área.

Os colúvios são constituídos de blocos de grande dimensão embalados por

matriz argilo-arenosa a areno-argilosa (Figura 23).

Os depósitos colúvio-aluvionares são representados por sedimentos

predominantemente arenosos, ocorrendo sob a forma de leques aluviais ou rampas de

colúvios no sopé das encostas de todos os vales.

Figura 23. Depósitos coluviais com presença de grandes matações (até 4-5 metros) em vale afluente do alto rio Forquilhas. Fotos: Joel Pellerin, 2014.

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Na confluência de vales secundários com os vales principais dos rios Forquilhas e

Potecas foram identificados setores de depósitos colúviais, colúvio-aluvionares e

também de cones de dejeção de carácter torrencial (Figura 24).

Alguns desses depósitos sugerem evolução muito recente do relevo

(provavelmente holocênica), como os setores identificados pelos pontos 116 e 174,

apresentados na Figura 25, e que formam um microrrelevo irregular na confluência dos

vales secundários com vales principais. Nesses setores, os depósitos colúvio-aluviais

são recortados em padrão anastomosado que implicam em erosão e entalhamento

recente dos vales, possivelmente relacionado com as variações flúvio-marinhas

holocênicas, responsáveis pelo preenchimento dos baixos vales na área de trabalho.

Figura 24. Cones aluviais e colúvio-aluviais nos vales secundários de afluentes dos rios Potecas e Forquilhas. Os depósitos colúvio-aluviais recentes são reentalhados por vales atuais (pontos P116 e P174).

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Figura 25. Depósito de cone de dejeção alterado na confluência de um vale secundário com o vale do rio Potecas no loteamento Jardim Botânico. Foto: Joel Pellerin, 2014.

3.2.1.8.3. Depósitos Flúvio-aluvionares e transicionais

Os depósitos aluvionares fluviais na área de estudo são formados pela deposição

de sedimentos transportados pelos rios Forquilhas e Maruim, durante os períodos de

cheias e transbordamento do fluxo para as áreas marginais ao do canal fluvial, nas áreas

de planície de inundação. Ocorrem em grande parte da zona urbana do município e seus

entorno. Um trabalho de identificação desses depósitos aluviais foi feito por tradagens

manuais e interpretação das sondagens SPT disponibilizados por empresas de

construção civil (Figura 26).

A composição mineralógica dos depósitos flúvio-aluvionares está associada

principalmente às características litológicas da bacia de hidrográfica drenada pelo curso

fluvial.

Esses depósitos flúvio-aluvionares são constituídos por sedimentos síltico-

argilosos, arenosos e cascalho.

Os depósitos fluvio-aluvionares, na sua maior parte, mais ocorrem em cotas entre

4 e 10m nos setores de baixo cursos dos rios Forquilhas e Maruim, aumentando a cota

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de ocorrência em direção ao curso superior das drenagems, onde ocupam área menos

estreitas, com o estreitamento dos vales.

Figura 26. Estudo das formações aluviais: localização das principais sondagens SPT cedidas por empresas de engenharia e das tradagens manuais com amostragem para análises granulométricas.

Na porção sul e leste do município, ocorrem depósitos transicionais de origem

flúvio-marinha, marinha e lagunar, de idade quaternária pleistocênica ou holocênica. De

acordo com Cruz (1998), tais depósitos têm sua formação associada a ambiente de

paleobaías e apresentam solos hidromórficos, predominantemente arenosos. Essas

áreas no município, que integram a planície costeira regional, encontram-se quase

totalmente urbanizadas e também não foram objeto de levantamentos de campo no

projeto.

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3.2.2. Geomorfologia

O setor de estudo está inserido nos domínios morfoestruturais Embasamentos

em Estilos Complexos e de Depósitos Sedimentares (SANTA CATARINA, 1986). No

primeiro caso integra, respectivamente, a região e unidade geomorfológica Serras do

Leste Catarinense e Serras do Tabuleiro, onde predominam modelados de dissecação e,

no segundo, é representado por modelado de acumulação, formado principalmente por

planícies de origem fluvial.

3.2.2.1. Modelado de Dissecação

O modelado de dissecação na área de estudo marca as elevações do maciço

cristalino, na forma de serras e morros, constituído pelas rochas gnáissicas e

migmatíticas do Complexo Águas Mornas e demais litologias que compôem o

embasamento rochoso. O modelado de dissecação também ocorre asociado aos

depósitos colúvio-aluvionares nas baixas encostas.

O Modelado de dissecação ocorre principalmente nos setores oeste e norte da

área trabalhada. As formas do relevo são definidas como um conjunto de cristas

estreitas e alongadas de orientação preferencialmente NE/SW, com altitudes superiores

a 300m, com ponto culminante de 532m (Figura 27). Estes setores apresentam vertentes

íngremes e vales encaixados, com densidade de drenagem média e aprofundamento de

drenagem muito forte.

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Figura 27. Aspectos do relevo da parte Noroeste do município de São José: modelado montanhoso nos altos vales passando a modelado em outeiros na jusante. Fonte: Google Earth, 2015.

No setor central o relevo assume baixa amplitude, na forma de colinas com

altitudes, em geral, inferiores a 100m, esculpidas nas rochas metamórficas do Complexo

Águas Mornas. Para o setor leste, as elevações associadas ao granodiorito Alto da

Varginha, apresentam altitudes de até 170m.

As cristas e vales encontram-se alinhados no sentido das lineações principais,

indicando o condicionamento da dissecação do relevo por falhas e fraturas regionais e

locais. A presença de lineamentos favorece a infiltração de água e alteração nos

maciços, podendo influenciar na suscetibilidade das encostas aos movimentos

gravitacionais de massa.

Nas elevações formadas por substrato gnaíssico e do granito São Pedro de

Alcântara, as encostas apresentam predominantemente perfil retilíneo ou convexo,

enquanto nas as elevações esculpidas em no granodiorito Alto da Varginha, as encostas

assumem aspecto mais côncavo.

As encostas são marcadas por canais de drenagem perenes, intermitentes ou

efêmeros. Quando côncavas, os segmentos de média e principalmente de baixa

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encosta, são recobertos por depósitos coluviais, constituído de material heterogêneo. Já

as encostas convexas e retilíneas, são em geral recobertas por alteritos espessos,

suscetíveis a movimentos gravitacionais quando da execução de cortes geotécnicos.

A Figura 28, elaborada a partir do MNT da SDS, mostra o comportamento da

declividade na área trabalhada, indicando para os relevos de dissecação o predomínio

de declividades entre 25° e 45° nas encostas dos setores montanhosos a oeste e norte

do município, para as diferentes litologias presentes nesses setores. Nas demais

elevações de menor amplitude em direção a leste, as declividades nas encostas situam-

se frequentemente entre 10° e 20°. Nas áreas de colinas pode apresentar valores

inferiores a 10°, conferindo ao relevo aspecto ondulado, de acordo com classificação de

relevo proposta pela Embrapa (1999). Apenas pontualmente verifica-se inclinação acima

de 45° para as encostas do município.

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Figura 28. Declividade (em graus) de modelados de dissecação e de acumulação do municipio de São José. Fonte: curvas de nivel com equidistância de 1 metro geradas a partir do MDT (SDS, 2011).

O contexto geológico e geomorfológico identificado predispõe à ocorrência de

movimentos gravitacionais de massa nas áreas de encosta do município de São José.

Dados diversos observados no campo e/ou obtidos por contato com a Defesa

Civil municipal, extraídos da literatura (Hermann et al, 1993; Cardozo, 2009; Gonçalves,

2014), ou trabalhos técnicos do CEPED/UFSC (2010) e do CPRM (2012) e CPRM/IPT

(2014), permitem identificar diferentes pontos nas encostas do município suscetíveis aos

movimentos de massa (Figura 29). Nestes locais, a autorização de extensão de

loteamentos não deveria ser efetuada sem estudos geotécnicos locais detalhados.

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Figura 29. Localização de dados conhecidos e/ou identificados no campo sobre fenômenos relacionados com movimentos de massa (deslizamentos conhecidos, encostas apresentando rastejo (creeping), dados coletados pelo CPRM em 2012).

Diversos tipos de movimentos de massa são identificados na zona urbana do

município, como os oscorridos no Jardim das Palmeiras (Rua Alayde Fernandes),

atingido por um grande deslizamento em 1991 (HERRMANN et al. 1993); no bairro

Potecas em 2008 e no bairro Santos Saraiva, onde os deslizamentos estão ativos

(Figura 30, Figura 31e Figura 32). O deslizamento no bairro Potecas, loteamento Vó

Cota, ocorreu em zona de transição do substrato de granodiorito Alto da Varginha para o

Tonalito Forquilhinha, recortado por dique de riolito com setor de falha milonitizada.

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Relatório Final

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Figura 30. Controle estrutural dos deslizamentos reconhecidos em 3 setores da zona urbanizada. Em vermelho: lineamentos e falhas, em azul: pontos de observação de campo.

Figura 31. Setor Potecas - loteamento Vó Cota - Fotos de 2010 da zona de falha que condicionou o deslizamento ocorrido em 2008 e detalhe do padrão de fraturamento.

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Figura 32. Aspecto do terreno em deslizamento ocorrido em 2008 no loteamento Mario Honorato, no Bairro Santos Saraiva: a forma curva dos troncos das árvores indica que o deslizamento permanece ativo, com as árvores crescendo e adaptando-se aos movimentos lentos do terreno.

Nota-se nos três casos a influência de falhamentos nos deslizamentos ocorridos,

como ilustrado pelas figuras 29 e 30. O deslizamento ocorrido bairro Potecas em 2008 e

foi fortemente reativado em abril 2010, ameaçando um loteamento situado na base da

encosta. Existe uma nascente ao longo da falha que continua ainda ativa depois obras

de contenção, contribuindo para a saturação do solo na base do talude e sua

instabilidade.

Outro fator que contribui para os deslizamentos identificados é espessura

significatica dos alteritos, como mostra a Figura 33, para o caso do bairro Potecas.

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Figura 33. Encosta situada no bairro Potecas com obras de estabilização do movimento de massa iniciado em 2008 e agravado em 2010. Fotos: Joel R. Pellerin, 2014.

Também é identificada na área de trabalho a presença de rastejo nas encostas,

indicativa de instabilidade das vertentes no município (Figura 34 e Figura 35).

Figura 34. Rastejo no Morro do Benjamin, Bairro Potecas. Fonte: Google Earth, 2015.

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Figura 35. Rastejo nas encostas do alto vale do rio Forquilhas. Fonte: Google Earth, 2015.

3.2.2.2. Modelado de Acumulação

3.2.2.2.1. Modelado de Acumulação Colúvio-aluvionar

Os depósitos colúvio-aluvionares na base das encostas formam superfícies em

rampas, com declividade decrescente de montante para jusante, podendo resultar da

coalescência de depósitos gravitacionais de massa e de leques aluviais, que tiveram sua

evolução ditada pelas oscilações climáticas durante o Quaternário. Podem apresentar

topografia irregular, decorrente de processo de dissecação posterior pela drenagem,

associado a variações no nível de base de erosão local (Figura 36).

Os depósitos colúvio-aluvionares e modelado relacionado ocorrem na área de

estudo associados principalmente às encostas côncavas, nos segmentos entre a média

e a baixa encosta, independentemete do contexto litológico.

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Figura 36. Depósitos colúvio-aluvionares reentalhados por erosão recente no vale do rio Potecas (ponto 116 na figura 24). Foto: Joel Pellerin, 2014.

Como indicado anteriormente na Figura 28, na área de estudo esses depósitos

apresentam declividades que variam entre de 5° a 10°.

3.2.2.2.2. Modelado de Acumulação Flúvio-aluvionar

Os modelados de acumulação fluvial na área des estudo são representados

principalmente pelas planícies de inundação dos rios Forquilhas e Maruim (Figura 37).

Compõem superfícies baixas, com cotas em geral entre 4 e 10m. Ocupam

principalmente a parte central e leste do perímetro urbano de São José e resultam da

acumulação de sedimentos principalmente argilo-arenosos e argilosos.

Em eventos de pluviosidade volumosa, com aumento do nível das águas fluviais,

a planície fluvial torna-se inundável. Embora os registros oficiais apresentados no

inventário de desastres tenham indicado um total de 13 eventos de inundação entre

1980 e 2015, as inundações podem ser mais frequentes no município, na medida em

muitas ocorrências podem ter sido registradas como enxurradas, com o registro de 32

ocrorrências dessa natureza no período analisado.

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De acordo com o mapa de declividades da Figura 28, o modelado de acumulação

fluvial e o marinho ou costeiro apresentam baixas declividades, com valores que oscilam,

predominantemente, entre 0° a 5º.

Considerando um cenário de elevação do nível freático durante períodos de

maior pluviosidade, concomitante ao represamento na costa do fluxo fluvial do dos rios

Forquilhas e Maruim em condições de maré de sizígia, os setores de menor altitude e

declividade da planície costeira podem ser afetados com maior frequência por problemas

de inundações.

Figura 37. Planície aluvial do rio Forquilhas. Foto: Janete Abreu, 2010.

3.2.3. Levantamento Geofísico

O levantamento geofísico pelo método da eletrorresistividade é muito utilizado

para a prospecção de águas subterrânea e por consequência, muito adequada para

mapear espessura de solo, posição do topo rochoso, presença de falhas, assim como,

profundidade do lençol freático. A eletrorresistividade é um método não destrutivo, de

relativamente, rápida execução, tanto na forma de Caminhamento Elétrico (CE) por

execução de perfis ao longo de encostas, que possibilitam gerar seções

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geoelétricasbidimensionais, quanto, na forma de Sondagem Elétrica Vertical (SEV) que

atinge maior profundidade vertical.

Em São José o levantamento geofísico foi executado com intuito de se mapear a

posição do topo rochoso e a espessura de solo em duas encostas características do vale

do Rio Forquilhas, no bairro Alto Forquilhas, com a presença de alteritos desenvolvidos

nas rochas metamórficas do Complexo Águas Mornas (Figura 38). Uma sequência

atingindo o fundo do vale permite verificar o nível do “lençol freático” e até mesmo

diferenciar as camadas de sedimentos, especialmente, quando há sondagens diretas ou

dados complementares para comparação.

O método empregado, de eletrorresistividade, apresentou boa resposta nos

perfis realizados e permitiu, a partir destes, gerar as “Seções Geoelétricas” em duas

dimensões. Os resultados confirmam a presença de alteritos espessos nas encostas do

alto vale do rio Forquilhas e a forte fraturação dos substratos rochosos, com a

identificação de diferentes falhas no levantamento realizado.

Figura 38. Localização dos perfis geofísicos no alto vale do rio Forquilhas. Elaboração: Geoenvi, 2014.

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O perfil CE01, na margem esquerda do vale, com 350m de extensão e 50m de

desnível, foi realizado em uma encosta que apresenta rastejo generalizado e localmente

cicatrizes de deslizamentos. O perfil, que passa no eixo de um deslizamento, (Figura 39 e

Figura 40) mostrou:

a) a presença de rocha sã perto da superfície no início do perfil (cabeceira do

deslizamento), passando a solo de alteração, sendo uma parte provavelmente

decorrente de material deslizado;

b) solo saturado na parte plana que atravessa a planície aluvial, com espessura das

aluviões de aproximativamente 10 metros sobre rocha alterada;

c) uma falha que corresponde a um grande lineamento situado no contato entre as

rochas do complexo gnáissico Águas Mornas e o granodiorito Alto da Varginha.

Figura 39. Localização do perfil CE01 recortando cicatriz de deslizamento numa encosta com rastejo no alto vale do Rio Forquilhas. Foto: Joel Pellerin, 2014.

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Figura 40.Perfil CE01: alto vale do rio Forquilhas.

O perfil CE02 (Figura 41, Figura 42 e Figura 43), na margem direta do vale, com

385 m de extensão e desnível de aproximadamente 100 metros, foi feito numa encosta

sobre substrato de rochas metamórficas heterogêneas, com alteritos espessos e

apresentando na base marcas de rastejo, cicatrizes de erosão/deslizamento. O perfil

começa na parte superior, perto do contato entre as formações Águas Mornas e Granito

São Pedro de Alcântara.

A análise dos resultados mostrou:

a) a presença de rocha sã próxima da superfície na parte superior e aumento de

espessura dos alteritos na parte média e inferior alterada;

b) a existência de saturação das espessas formações da parte ondulada da encosta;

c) a existência, no setor ondulado inferior, de duas falhas sublinhando

heterogeneidade e fraturação forte do substrato, que favorece a fragilidade da

encosta.

O relatório técnico do estudo de geofísica encontra-se no Anexo 1 desse relatório.

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Figura 41. Localização do perfil CE02 numa encosta sobre substrato de rochas metamórficas heterogêneas com alteritos espessos. Foto: Joel Pellerin, 2014.

Figura 42. Perfil CE02, detalhe da parte inferior da encosta apresentando marcas de rastejo, cicatrizes de erosão e /ou deslizamento. Foto: Joel Pellerin, 2014.

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Figura 43. Perfil CE02. Esse perfil mostra que a falha de importância regional, que estruturao vale do rio Forquilha, corresponde a uma faixa com fraturação múltipla.

3.2.4. Estudo Geotécnico

Com base em dados geotécnicos obtidos por meio do ensaio de Cisalhamento

Direto foi possível analisar a estabilidade de taludes na área de estudo para encostas

representativas das diferentes litologias identificadas, com o objetivo de definir o ângulo

de declividade limite para a ocorrência de movimentos gravitacionais de massa. Os

ensaios geotécnicos permitiram o cálculo do Fator de Segurança (FS) para análise de

rupturas rotacionais, enquanto para análises de rupturas planares ou translacionais foi

utilizado o modelo SHALSTAB (Shallow Slope Stability Model) (DIETRICH e

MONTGOMERY, 1998), que complementaram estes estudos.

A análise da estabilidade de um determinado talude apresenta diversos métodos

analíticos e gráficos, onde a grande maioria avalia o elemento denominado Fator de

Segurança (FS) ou Coeficiente de Segurança (CS) para estimar se uma encosta

encontra-se em equilíbrio. Para realizar a análise da estabilidade de taludes de forma

pontual, deve sempre ser consultada a norma brasileira NBR 11682 (1991) para maiores

detalhes.

Os métodos que são baseados na teoria do equilíbrio limite, de uma forma geral,

consistem em analisar as condições mais desfavoráveis das forças que atuam para a

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instabilização do maciço, em comparação com as forças que resistem. Logo, o FS é

obtido pela razão entre a soma das forças resistentes ao movimento de massa e das

cisalhantes:

Desta forma, têm-se as seguintes relações:

a) caso o FS apresente valores abaixo de 1, se implantado o talude (através

de um corte ou aterro), este irá romper.

b) caso o FS apresente valor igual a 1, as forças resistentes são iguais às

formas atuantes. Desta forma, esta condição é considerada iminente à

ruptura.

c) caso o FS apresente valores maiores que 1, o talude é considerado

estável. Além disso, quanto maior for o valor apresentado por FS, mais

estável será o talude.

Considerando os métodos de avaliação de elementos (parâmetros) de segurança,

os projetos básicos devem ser analisados com vistas à solução programada, com a

adoção de métodos que melhor se enquadrem ao mecanismo de ruptura provável ou ao

tipo de instabilidade potencial determinado pela análise das investigações.

Desta forma, a Tabela 2 apresenta valores de graus de segurança necessários

tendo como base a avaliação das encostas por modelos matemáticos.

Tabela 2. Valores de Fator de Segurança.

Grau de segurança necessário ao local

Métodos baseados no equilíbrio-limite

Padrão: fator de segurança mínimo

Tensão Deformação

Padrão: eslocamento máximo

Alto

1,5

Os deslocamentos máximos devem ser compatíveis com: - grau de segurança necessário ao local; - a sensibilidade de construções vizinhas; - geometria do talude. Os valores assim calculados devem ser justificados.

Médio

1,3

Baixo

1,15

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Para este projeto, adotou-se o FS = 1,5, considerado um grau de segurança alto,

conforme a NBR 11682 (1991), acima do qual as encostas são consideradas estáveis.

Devido a aplicação do estudo geotécnico para fins de mapeamento, para um baixo grau

de segurança adotou-se um FS de 1,15, um pouco acima do valor preconizado pela

normativa técnica, nos casos de estudos geotécnicos em escala de projeto (FS=1,0).

Calculou-se o Fator de Segurança com o objetivo de definir o ângulo de

declividade limite para a ocorrência de deslizamentos em dois tipos de encostas: talude

A, referente às enconstas naturais e talude B, para os taludes de corte, conforme mostra

a Figura 44.

Figura 44. Geometria do Talude A e do Talude B utilizados para cálculo do Fator de Segurança.

Para o cálculo do FS foi utilizado o software MacStars 2.2 (MACcaferri STability

Analysis of Reinforced Slopes). No MacStars 2.2, foi necessário estabelecer previamente

a geometria dos taludes com valores de x e y [m]. Como dado de entrada, foram

inseridas as propriedades do solo obtidas por meio dos ensaios de cisalhamento direto:

coesão [Kpa], ângulo de atrito [o] e peso específico saturado [KN/m3].

O solo saturado possui menor FS, e isso se deve ao fato que a adição da água

provoca o aumento de peso, diminuição da coesão e aumento da poropressão. Assim,

simulando o cenário mais desfavorável, foi calculado o FS para o talude saturado. A

elevação do nível d’água nestas condições aumenta as pressões neutras, reduzindo as

tensões normais efetivas e a resistência ao cisalhamento, podendo levar os taludes à

ruptura.

Após essas etapas foi calculado o FS por meio de superfícies de rupturas

circulares, utilizando o método de cálculo rígido de Bishop. Além de calcular o FS para as

declividades de 15º, 20º, 25º, 30º e 35º, calculou-se o ângulo limite. Para isso, a

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geometria do talude (variação do ângulo) foi modifica até o FS ser igual a 1,5 (Figura 45).

Quando satisfeita essa condição foi calculado o ângulo de declividade crítico do talude (θ)

por trigonometria.

Figura 45. Variação do ângulo da encosta e teste do Fator de Segurança.

Na Figura 46 podem-se observar as superfícies de ruptura traçadas pelo

MacStars nos dois tipos de taludes. A superfície em branco é a mais próxima do valor

limite considerado, de FS = 1,5.

Figura 46. Superfícies de ruptura traçadas para os dois tipos de taludes pelo método de Bishop.

Assim, foi possível estimar de forma global, tendo como base os FS, as áreas de

maior ou menor estabilidade, apesar de considerar que este processo não seja o ideal

para estimar a segurança local, sendo necessária a aplicação da NBR-11.682 (1991)

para cada caso pontual.

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3.2.4.1. Estabilidade de taludes no município de São José

A Tabela 3apresenta os resultados do Fator de Segurança calculados para as

declividades de 15o, 20o, 25o, 30o e 35o e a declividade para intervalos de FS menor que

1,15, para as unidades geotécnicas encontradas na área de expansão urbana do

município de São José. Os resultados obtidos com o modelo SHALSTAB foram muito

próximos dos encontrados a partir dos ensaios de Cisalhamento Direto. O estudo

geotécnico com os procedimentos detalhados encontra-se no Anexo 2 desse relatório.

Tabela 3. Fator de Segurança e declividades limites.

Unidade Geotécnica Coordenadas FS < 1,15

PVgn,m Solo podzólico sobre gnaisse/migmatito

729262/ 6946909 > 21,4

PVde Solo podzólico sobre deposito de encosta

733125/ 6947014 > 25,5

Cgn,m Cambissolo sobre gnaisse/migmatito

727188/ 6949748 > 24,0

Cg2 Cambissolo sobre granodiorito Alto da Varginha

727510/ 6951015 > 22,3

Cde Cambissolo sobre deposito de encosta

730318/ 6946114 > 27,9

Cg1 Cambissolo sobre granito São Pedro de Alcantara

726313/ 6945816 > 26,0

PVto Solo podzólico sobre tonalito

731966/ 6947461 > 23,4

Considerando um fator de segurança mínimo de 1,15, os resultados encontrados

indicam para as unidades geotécnicas os solos do tipo podzólico e cambissolo

associados à alteração de substrato formado respectivamente por gnaisse/migmatito e

pelo granodioritoapresentatam menores ângulos de repouso máximo de talude, da ordem

de 21º a 22°. Para os demais tipos de solos residuais o ângulo de repouso máximo atinge

até 26º.

Os taludes com declividades superiores às declividades apresentadas na Tabela 3

tornam-se instáveis, com grande probabilidade de ocorrerêcia de ruptura e deslizamentos

nas unidades geotécnicas identificadas no município.

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4. CARTAS DE SUSCETIBILIDADE A DESLIZAMENTOS E INUNDAÇÕES

A elaboração de cartas de suscetibilidade a deslizamentos e inundações

possibilitou a delimitação de zonas homogêneas do terreno quanto à probabilidade de

atuação dos processos gravitacionais de massa e inundações, definindo zonas de alta,

média e baixa suscetibilidade à ocorrência desses processos.

4.1. ELABORAÇÃO DA CARTA DE SUSCETIBILIDADE A DESLIZAMENTOS

A elaboração da carta de suscetibilidade a deslizamentos está fundamentada

nosseguintes procedimentos:

a) Levantamento de dados geológicos secundários e mapeamento geológico-

geomorfológico de campo;

b) Análise das declividades das encostas, a partir dos dados de Modelo

Digital do Terreno (MDT), fornecidos pela SDS (2011);

c) Análises geotécnicas das formações superficiais de alteração das

encostas com base na realização de ensaios geomecânicos para cada

litologia e variedade de solo encontrada nas áreas de intervenção. Com

base no cálculo do Fator de Segurança, as encostas com FS acima de 1,5

e abaixo de 1,15 são consideradas, no âmbito do projeto, como

respectivamente de baixo e alto grau de suscetibilidade aos

deslizamentos. As encostas que apresentaram FS entre 1,15 e 1,5 são

classificadas como de média suscetibildiade. Também foram avaliadas as

condições geotécnicas das planícies sedimentares quaternárias, com a

identificação, sobretudo, da presença de solos compressívies.

A análise integrada dos dados obtidos nos procedimentos relacionados

possibilitou a delimitação de zonas de alta, média e baixa suscetibilidade ao

desenvolvimento de movimentos gravitacionais de massa nas áreas do perímetro urbano

dos municípios com potencial para a expansão urbana.

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4.1.1. Carta de suscetibilidade a deslizamentos para o município de São José

A Figura 47 apresenta a carta de suscetibilidade a deslizamentos obtida para o

município de São José. Os resultados alcançados indicam o predomínio de áreas de

encosta com alta suscetibilidade aos movimentos gravitacionais de massa, seguido de

setores de média suscetibilidade aos deslizamentos. Os setores de encosta com baixa

suscetibilidade, de extensão espacial restrita, estão associados às áreas de baixa

encosta com declividades inferiores a 10º. Os setores com média suscetibilidade aos

deslizamentos correspondem às encostas que apresentam declividades que variam de

10° até 25°, dependendo da unidade geológico-geotécnica, correspondendo às encostas

com fator de segurança entre 1,15 e 1,5.

Figura 47. Carta de suscetibilidade a deslizamentos nos setores não urbanizados do município de São José.

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Os resultados obtidos nos estudos preliminares indicaram maior suscetibilidade

aos movimentos de massa em terrenos gnáissicos/migmatíticos, onde a relação entre

Fator de Segurança e declividade indicou a possibilidade de ocorrência de deslizamentos

a partir de uma menor inclinação das encostas (21,5°).

Por outro lado, os levantamentos geológicos de campo e os perfis geofísicos

realizados indicaram a ocorrência de solos espessos assoaciados a esse contexto

litológico, da ordem de 10 a 30 metros de espessura no vale do rio Forquilhas.

Esse contexto geológico e geotécnico, aliado ao predomínio de declividades

acima de 20° no substrato ganaíssico corrobora sua alta suscetibilidade a deslizamentos.

A presença de movimentos de massa do tipo rastejo no domínio de terrenos

gnáissicos, observada em campo e nas imagens aéreas, além dos deslizamentos

indentificados, ilustra a maior suscetibilidade dessa unidade litológica aos movimentos

gravitacionais de massa.

Os levantamentos geofísicos também apontaram para a influência dos

lineamentos na sucetibilidade aos movimentos gravitacionais de massa no município. Os

maiores deslizamentos registrados na área de trabalho, ocorridos no Loteamento Vó

Cota, no bairro Potecas, exemplificam esse contexto. Por sua vez, a ocorrência de

fraturamentomúltipo no controle estrutural do vale do rio Forquilhas, pode contribuir para

uma maior suscetibilidade aos deslizamentos nas encostas no local.

Salienta-se que na carta de suscetibilidade a deslizamentos não estão

contempladas as superfícies suscetíveis de serem atingidas por dois processos

geodinâmicos ligados direta ou indiretamente aos deslizamentos.

O primeiro refere-se à zona de atingimento dos deslizamentos, que inclui áreas

planas situadas a jusante do eixo do movimento gravitacional de massa, na base das

encostas, onde o material deslizado poderá ser depositado. Assim devem ser

consideradas nos planos diretores restrições para a ocupação urbana permanente

dessas áreas. Para efeito de planejamento e uso urbano do solo, essas áreas devem ser

submetidas à realização de estudos pontuais em escala de detalhe. A escala de

1:10.000, adotada no projeto, é considerada inadequada para representação de

processos localizados. Por outro lado, a extensão da área de atingimento para um setor

afetado por deslizamento pode variar de acordo com a tipologia e magnitude do evento,

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sendo os deslizamentos rotacionais ou planares os mais frequentes, dependendo do

contexto geológico e geomorfológico local.

O segundo processo geodinâmico não contemplado são os fluxos de detritos, que

ocorrem frequentemente durante as enxurradas em alguns vales, especialmente em

setores montanhosos, de maior declividade das encostas. Esses eventos ocasionam

muita destruição e são imprevisíveis. Em decorrência da escala de mapeamento adotada,

os vales mais suscetíveis de serem atingidos por esse tipo de processo também não

estão representados na carta apresentada na Figura 54Erro! Fonte de referência não

encontrada..

A Carta de Suscetibilidade a Movimentos Gravitacionais de Massa e Inundações

publicada pelo CPRM/IPT na escala de 1:25.000 (CPRM/IPT, 2014) fornece algumas

informações sobre a localização desses vales no município de São José e, dessa forma,

recomenda-se consultá-la a título indicativo preliminar, não substitundo os estudos de

detalhes.

Para o mapeamento de detalhe de fluxos de detritos e áreas de atingimento

relacionados a eventos provocados por enxurradas imprevisíveis em tempo e espaço, a

escala adequada seria a utilizada na elaboração dos Planos Municipais de Redução de

Riscos, ou seja, 1:2.000 ou de maior detalhe, de acordo com os casos analisados.

4.2. ELABORAÇÃO DA CARTA DE SUSCETIBILIDADE A INUNDAÇÕES

A carta de suscetibilidade à inundação é elaborada por meio de uma combinação

de dados de séries históricas de cota e vazão, que permitem a determinação do tempo

de retorno de eventos de inundação de diferentes magnitudes, da classificação do MDT

com o modelo HAND (RENNÓ et al, 2008; NOBRE et al, 2011), utilizado na

espacialização das áreas suscetíveis a inundações. Os dados obtidos foram

complementados com o uso de soft data, como informações coletadas em entrevistas,

visita a campo, experiência da equipe e também com o cruzamento com informações de

mapeamento geológico-geomorfológico de planícies aluviais. A Figura 48 apresenta uma

visão geral da metodologia utilizada no estudo.

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66

Cartas Geotécnicas de Aptidão à Urbanização

frente aos Desastres Naturais

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São José

Figura 48. Esquema metodológico para mapeamento das áreas suscetíveis a inundações.

4.2.1. Análise fluviométrica

O presente trabalho aplicou 4 distribuições de probabilidades diferentes: Normal,

Log-Normal, Pearson 3 e Log-Pearson 3 para a análise fluviométrica. O cálculo destas

distribuições está implementado no software HEC-SSP, adotado no presente trabalho. O

HEC-SSP possui como base teórica o Bulletin 17b, documento sobre análise de

frequência de vazão (USACE, 2010).

4.2.2. Height Above Nearest Drainage – HAND

As inundações são processos naturais que, geralmente, atingem as áreas

próximas aos rios. Pode-se assumir que, quanto mais próximo de um rio for um

determinado local, maior será a probabilidade de este local ser inundado. Contudo, não

apenas o principio da vizinhança deve ser levado em consideração, mas também a

variação altimétrica entre o canal e as suas áreas adjacentes. Estimar áreas propensas à

inundação por meio de atributos topográficos da paisagem surge como uma alternativa

para a falta ou inconsistência de dados hidrológicos.

Neste contexto, para a elaboração do mapeamento das áreas susceptíveis a

inundação foi utilizado o modelo Height Above Nearest Drainage – HAND (RENNÓ et al,

2008; NOBRE et al, 2011). O modelo HAND reclassifica o Modelo Digital de Terreno

(MDT) com base na diferença entre a altitude do terreno e a altitude da rede de

drenagem mais próxima. Assim como qualquer outra característica

Série Histórica de Vazões/Cotas Máximas Anuais

Cálcuo de Tempos de Retorno

MDT

Mapa de Suceptibilidade a Inundação

HAND

0

100

200

300

400

500

600

700

800

900

1 10 100 1000

Co

ta (

cm)

Tempo de Retorno (anos)

LogNormal

LogPearson3

Normal

Pearson3

dados observados

5 25

473

586

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hidrogeomorfológicaobtida pela topografia (MOORE et al., 1991), os resultados do HAND

estão condicionados pela qualidade e resolução do MDT (GHARARI et al., 2011).

Dentro do modelo HAND, a primeira etapa é a correção hidrológica do MDT,

garantindo a propagação do fluxo desde as nascentes até a exutória. Para isto, são

identificados os locais onde o fluxo está obstruído (sinks). Em sequencia, as cotas são

alteradas desde a exutória mais próxima até a obstrução. Posteriormente, após a

determinação da área de acumulação, um limiar é estabelecido para que a rede de

drenagem seja gerada (Figura 49). Este limiar esta relacionado diretamente com a área

mínima necessária para a geração do escoamento e o início de um canal

(MONTGOMERY; DIETRICH, 1988). Quanto menor a área, maior a densidade de

drenagem e maior a quantidade de canais.

Para o presente trabalho, foi utilizado um MDT cedido pela SDS com resolução de

1m (SDS, 2011), recortado conforme o limite de cada município. Dessa maneira, em cada

município foi escolhida uma área de contribuição que englobasse também os córregos

canalizados com pequena área de contribuição, responsáveis geralmente pelos

alagamentos.

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Figura 49. Etapas para a correção e geração de um MDT hidrológicamente consistente. Fonte: Nobre et al, 2011.

A segunda etapa do modelo HAND é a normalização da altimetria com base nas

cotas da drenagem. Assim, o MDT é reclassificado com base na diferença entre a cota do

canal e as cotas da planície de inundação e das encostas (Figura 50). Quanto menor a

diferença, maior a suscetibilidade de um local ser inundado.

Sink

Dir. Fluxo

MDT Dir. Fluxo LocalExutória

MDT modificado Dir. Fluxo Corrigida

CotaModificada

Área Acumulada Drenagem

Limiar

Aná

lise

da P

ropa

gaçã

o do

Flu

xoCo

rreç

ão d

o M

DT

Extr

ação

da

dren

agem

a)

b)

c)

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Figura 50. Procedimento para o cálculo do HAND. Fonte: Rennó et al, 2008.

4.2.3. Reclassificação do HAND

Para o fatiamento do HAND em classes de suscetibilidade (Alta, Média e Baixa)

foram coletados, em campo, pontos das áreas inundadas em diferentes eventos. Além

disso, foram analisadas as estações fluviométricas situadas no perímetro do município,

correlacionando os valores do HAND com as cotas e seus respectivos tempos de retorno,

calculadas no HEC-SSP.

A Figura 51 apresenta um exemplo do resultado da reclassificação das cotas com

base no tempo de retorno. Foi adotado um intervalo de 25 anos como intervalo de média

suscetibilidade. As cotas acima de 25 anos foram classificadas como baixa

suscetibilidade e as cotas abaixo de 5 anos foram classificadas com alta suscetibilidade.

Ressalta-se que as estações fluviométricas estão instaladas ao longo dos principais rios

da bacia. Dessa maneira, a classificação dos afluentes possui incertezas devido à falta

de monitoramento nos mesmos.

Para o estabelecimento da classe de mais alta suscetibilidade no modelo HAND

foram utilizados os pontos de inundação coletados em campo. Para isso, foram feitas

visitas às prefeituras e aos locais frequentemente afetados para cada município. Assim,

Dir. Fluxo Local Dir. Fluxo Normalizada

MDT

HAND

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foi adotada uma correlação espacial entre os pontos observados em campo e as classes

de alta e média suscetibilidade, tomando com base a severidade dos eventos.

Figura 51. Exemplo de classificação das cotas com base no tempo de retorno.

4.2.4. Carta de sucetibilidadeà inundação para o município de São José

O município de São José não possui estação fluviométrica. Nesse caso, para a

classificação das áreas suscetíveis a inundação foi necessária uma readequação da

metodologia. Foram coletados dados de campo nas áreas que frequentemente são

inundadas pelo rio Maruim e seu afluente, ribeirão Forquilhas. Devido ao crescimento

populacional, a urbanização avançou em áreas adjacentes aos canais, que naturalmente

são suscetíveis à inundação. Além disso, a retificação de trechos de canais, associada à

impermeabilização, alterou a dinâmica hidrológica da bacia.

Estudos como os de Herrmann et al. (1993), Ferreira (1994), Herrmann (1999),

Herrmann e Cardozo (2008), Cardozo et al. (2010), Sánchez (2015) demonstraram a

frequente ocorrência de inundações associada a eventos pluviométricos intensos no

município de São José, principalmente nos bairros Flor de Nápolis, Forquilhinhas, Sertão

do Maruim e Picadas do Sul.

De acordo com os dados históricos, a altura das águas nos eventos mais severos,

como a inundação de novembro de 1991 e a de janeiro de 2008, alcançou a cota

topográfica de 5 metros em algumas localidades dos bairros Flor de Nápolis e

Forquilhinhas (Figura 52 e Figura 53).

0

100

200

300

400

500

600

1 10 100 1000

Co

ta (c

m)

Tempo de Retorno (anos)

LogNormal

LogPearson3

Normal

Pearson3

dados observados

5 25

361

427

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Figura 52. Rua Pedro Alvares Cabral na inundação de novembro de 1991, bairro Forquilhinhas, município de São José. Foto: Rita de Cassia Dutra, 14/11/1991.

Figura 53. Vista aérea da inundação de janeiro de 2008 no bairro Forquilhinhas, São José, um dia depois ao evento. Foto: SDC-SC, 01/08/2008.

Nos últimos 40 anos, foram os registros oficiais indicam a ocorrência de 13

eventos de inundação no município, além de 32 enxurradas, que podem, pelo menos em

parte, referir-se a eventos de inudação que foram registradas de forma imprecisa ou

imcompleta, como ilustra o caso do evento de novembro de 2008. Esses registros

balizaram a escolha dos locais visitados para controle de campo. Foram coletadas

informações referentes a 15 pontos na área urbana do município e utilizados também os

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dados de inundação disponibilizados pelo Ministério da Integração Nacional, referentes

ao Projeto Mapeamento: "Dados e Análise da Vulnerabilidade a Desastres Naturais para

Elaboração de Mapas de Risco e Apresentação de Proposta de Intervenções para

Prevenção de Desastres”.

A Figura 54 apresenta a carta de suscetibilidade à inundação para o município de

São José, indicando as áreas de baixa, média e alta suscetibilidade. Os resultados

obtidos mostram, para as áreas de planícies não urbanizadas ou com baixa densidade de

ocupação, o predomínio de zonas de alta e média suscetibilidade a inundações. As áreas

com alta suscetibilidade, com maior frequencia de inundações, correspondem

principalmente ao baixo curso do rio rio Maruim, rio Forquilhas e entorno, bem como às

áreas de planícies mais estreitas, associada ao curso superior dos vales desse dois rios e

seus tributários. Nos baixos cursos fluviais correspondem a cotas altimétricas abaixo de

5m, podendo localmente atingir cotas de até 8 a 10m. Os setores de média

suscetibilidade ocorrem, sobretudo, ao longo do rio Forquilhas e seus afluentes, mas

também nas cotas mais elevadas do baixo curso do rio Maruim.

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Figura 54. Carta de suscetibilidade à inundação para o município de São José.

A Figura 55 mostra o resultado do modelamento hidrológico realizado e os pontos

de inundação identificados mapeados pelo Centro Nacional de Gerenciamento de Riscos

e Desastres - CENAD na área de trabalho e que também contribuiram para o controle de

campo. Pode-se observar uma correlação espacial entre os locais amostrados com a

carta de suscetibilidade obtida. De maneira geral todos os pontos de inundação

coincidiram com locais de alta ou média suscetibilidade. Além disso, nota-se também a

concordância espacial entre a planície de inundação e as áreas suscetíveis à inundação,

estando o mapeamento coerente com os processos geomorfológicos que ocorrem nas

áreas próximas ao canal.

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Cartas Geotécnicas de Aptidão à Urbanização

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Figura 55. Detalhamento de áreas de coincidência espacial entre as classes de suscetibilidade e dados amostrais do CENAD no município de São José.

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5. CARTA GEOTÉCNICA DE APTIDÃO À URBANIZAÇÃO

A carta geotécnica de aptidão à urbanização elaborada resultou principalmente da

síntese das cartas de suscetibilidade referentes à probabilidade de ocorrência de

deslizamentos nas encostas e de inundações nos vales dos municípios alvos do projeto.

A carta geotécnica de aptidão à urbanização, na escala de 1:10.000, é

desenvolvida inicialmente com base no geoprocessamento dos dados preliminares de

suscetibilidade, gerados a partir do cruzamento dos diversos mapas temáticos ligados

aos processos geodinâmicos. Posteriormente foram eliminados os polígonos de aptidão

menores que 200m2, procedendo-se ao agrupamento desses polígonos com a classe de

aptidão do entorno.

Em seguida foi realizada uma reinterpretação dos resultados a partir dos

levantamentos de campo, do registro de cicatrizes, da ocorrência de depósitos coluviais e

de possíveis áreas de atingimento, com nova reclassificação da carta geotécnica de

aptidão à urbanização.

A reinterpretação tem como base os dados levantados no campo pela equipe de

geologia e geomorfologia e a revisão por fotointerpretação das ortofotografias utilizadas.

A título de exemplo, nos setores de encostas, foram eliminadas as irregularidades

geradas pela utilização dos MDT´s de alta precisão. Os topos de morros, quando

representados por zonas mais planas, mas isolados em meio a setor es de alta

declividade e baixa aptidão à urbanização, foram reagrupados às áreas vizinhas, pois a

criação de infraestrutura de acesso a esses locais, atravessando setores de alta

suscetibilidade, é passível de desestabilizar toda a encosta.

O cruzamento das cartas de suscetibilidade permitiu o estabelecimento de zonas

homogêneas em relação aos processos físicos analisados e à aptidão urbana na área de

estudo. As zonas ou unidades territoriais com alta suscetibilidade de ocorrência de

deslizamentos e inundações são consideradas inadequadas para a ocupação urbana

permanente; as zonas de média suscetibilidade traduzem-se em zonas de ocupação

permanente condicionada à implantação de cuidados especiais, com destaque para a

realização de estudos geotécnicos em escala de projeto, enquanto as zonas de baixa

suscetibilidade aos processos considerados são definidas como adequadas à ocupação

urbana permanente.

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Cartas Geotécnicas de Aptidão à Urbanização

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Os resultados apresentados na carta geotécnica de aptidão à urbanização devem

ser complementados por dados referentes às Áreas de Preservação Permanente (APP)

no âmbito da legislação municipal, estadual ou federal, visto que indicam restrições a

ocupação, considerando condicionantes físicos e ambientais. Esses dados foram

integrados aos resultados da carta geotécnica de aptidão à urbanização, mas são

apresentados separadamente.

5.1. CARTA GEOTÉCNICA DE APTIDÃO À URBANIZAÇÃO NO MUNICIPIO DE SÃO

JOSÉ

A Figura 56 apresenta a carta de aptidão geotécnica à urbanização frente aos

desastres naturais, elaborada para o Município de São José. Os resultados obtidos

mostram nas áreas não ocupadas do perímetro urbano a ocorrência três classes de

aptidão à urbanização:

1. Zona de baixa aptidão à urbanização (em vermelho);

2. Zona de média aptidão à urbanização (em amarelo);

3. Zona de alta aptidão à urbanização (em verde).

As zonas classificadas como de média aptidão à urbanização apresentam dois

níveis de aptidão, representadas na carta por nuances de amarelo: os setores

relacionados à suscetibilidade a deslizamentos naturais ou induzidos e os setores

sujeitos a inundações com tempo de retorno entre 5 a 25 anos, compreendendo setores

suscetíveis a adensamento de solos e alagamentos locais.

As áreas já urbanizadas do perímetro urbano são desconsideradas no estudo e

estão representadas pela cor cinza na carta geotécncia final de aptridão à urbanização.

As cartas geotécnicas de aptidão à urbanização frente aos desatres naturais para

o município de São José, na escala de 1:10.000, são disponibilizadas em meio digital,

através de ambiente Web e aplicativo de acesso desenvovido para esse fim.

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Cartas Geotécnicas de Aptidão à Urbanização

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Figura 56. Carta geotécnica de aptidão à urbanização dos setores não urbanizados do município de São José frente aos desatres naturais.

Os resultados da cartografia geotécnica, apresentados na Figura 56, indicam o

predomínio de setores com baixa e média aptidão à urbanização nas áreas não

ocupadas setor estudado (buffer) do município, relacionados principalmente à

suscetibilidade aos movimentos de massa nas encostas, totalizando cerca de 74% da

área de trabalho.

Nas áreas de encostas, as zonas com baixa e média aptidão à urbanização

apresentam extensão semelhante. As zonas de baixa aptidão predominam nos setores

montanhosos de norte/noroeste, formados principlamente por substrato

gnáissico/migmatítico, granítico e granodiorítico, onde predominam declividades acima de

25°. As zonas de encosta de média aptidão ocorrem principalmente associadas ao

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Cartas Geotécnicas de Aptidão à Urbanização

frente aos Desastres Naturais

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substrato granítico e gnáissico migmatítico com solos profundos, em terrenos com

declividades entre 10° e 25° e 10° e 20°, respectivamente.

Nos setores de planície não ocupados do perímetro urbano do município,

predomina a ocorrência de zonas de média aptidão à urbanização, com tempo de retorno

de eventos de 5 a 25 anos ou mais. Essa classe de aptidão na planície aluvial também

inclui a ocorrência de solos compressíveis e terrenos com problemas de drenagem e

sujeiots a alagamentos.

A zona de baixa aptidão à urbanização em área de planície comprende setores

onde os registros de inundações são mais recorrentes, com tempo de retorno de até 5

anos.

Os setores de alta aptidão à urbanização, associados a setores de baixa encosta

ou colinosos de baixa declividade e de planícies aluviais, onde não há, respectivamente,

registro de deslizamentos e inundações, representam parcela reduzida das áreas não

ocupadas da zona urbana atual do município. Para as encostas, a zona de alta aptidão

urbana corresponde a setores com declividades de vertentes inferiores a 10° e, nas

planícies aluviais, aos setores com cotas em geral acima de 8 a 10m, onde não há

registros de inundação.

A Figura 57 apresenta a área referente à cada classe de aptidão geotécnica

identificada no presente estudo nos setores do perímetro urbano de São José com

potencial de expansão urbana. De uma área total de 62,54 Km2 mapeada, 24,1 Km2

(38,53%) apresentaram baixa aptidão à urbanização frente aos desastres naturais,

seguido de 34,32 Km2 (59,67%) que foram classificadas como de média aptidão à

urbanização, com 22,19 Km2 (35,48%) sendo suscetíveis a deslizamentos; 6,51 Km2,

(10,41%) apresentando suscetibilidade a inundações e 5,92 Km2 (9,46%)

correspondendo a setores de planícies não inundáveis, mas com presença de solos

compressíveis. Somente 4,12 Km2 (6,59%) foram classificadas como de alta aptidão, não

sendo suscetíveis aos deslizamentos ou a inundações.

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Cartas Geotécnicas de Aptidão à Urbanização

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Figura 57. Quantitativo de áreas das classes de aptidão no município de São José.

A Carta Geotécnica de Aptidão é acompanhada de uma legenda que apresenta

sinteticamente as unidades geotécnicas analisadas e os processos geodinâmicos que

podem ocorrer nas diferentes zonas de aptidão identificadas (Quadro 2).

24,1

22,19

6,21 5,92

4,12

0

5

10

15

20

25

30

Baixa Aptidão Média Aptidão 1 Média Aptidão 2 Média Aptidão 3 Alta Aptidão

Áre

a (

Km

²)

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Cartas Geotécnicas de Aptidão à Urbanização

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Quadro 2. Legenda da carta geotécnicade aptidão à urbanização para o município de São José.

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Cartas Geotécnicas de Aptidão à Urbanização

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Quadro 2. Legenda da carta geotécnicade aptidão à urbanização para o município de São José (Continuação).

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Cartas Geotécnicas de Aptidão à Urbanização

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Conforme indicado na legenda, as zonas de encostas e de planície com baixa

aptidão à urbanização apresentam, respectivamente, maior suscetibilidade aos

movimentos gravitacionais de massa e às inundações e não devem ser ocupadas. As

zonas identificadas com média aptidão geotécnica apresentam um contexto mais

restritivo para uso e ocupação do solo urbano, devendo ser observadas orientações

específicas para esse fim. Para as zonas com alta aptidão geotécnica à urbanização,

apesar de menos restritivas, os projetos de urbanização devem seguir diretrizes

apropriadas de intevenção, de forma a não alterar o grau de suscetibilidade do meio

físico aos processos naturais analisados, evitando o surgimento de novas áreas de

risco.

As diretrizes específicas que orientam o uso e ocupação solo nas zonas de

média aptidão à urbanização, e também alta aptidão, fornecem subsídios gerais para o

planejamento territorial municipal e o estabelecimento de políticas preventivas de

proteção e defesa civil. Também fornecem indicações de áreas que precisam de

detalhamento para avaliação geotécnica voltada à aptidão urbana; para identificação

de restrições quanto ao parcelamento do solo e instalação de novos loteamentos, da

necessidade de obras de infraestrutura viária, saneamento e drenagem e para a

identificação de riscos potenciais a desastres naturais, conforme preconizado por Diniz

et al. (2012).

Como mostra o Quadro 2, as zonas de média aptidão à urbanização nas

encostas no município de São José são aquelas onde, para parcelamento e ocupação

urbana do solo, é recomendada a realização de estudos de aptidão geotécnica em

escala de detalhe, relativos à estabilidade das encostas. Também é recomendado

evitar a ocupação de áreas próximas aos canais de drenagem em setor montanhoso,

propícios ao desenvolvimento de enxurradas e fluxos de detritos, que podem causar

danos humanos e socioeconômicos às comunidades atingidas.

Em relação à suscetibilidade aos processos gravitacionais de massa nas

encostas, destaca-se para as áreas de média aptidão, tanto em terrenos

gnaíssicos/migmatíticos como graníticos, a possibildade de ocorrência de

deslizamentos, principalmete induzidos, com declividades a partir de 10°. Esse

contexto aponta para a necessidade de ações preventivas em caso de urbanização

para evitar a formação de novas áreas de riscos.

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Cartas Geotécnicas de Aptidão à Urbanização

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Salienta-se também a importância de considerar, para fins parcelamento

urbano do solo e instalação de infraestrutura urbana, o padrão de discontinuidades do

substrato rochoso, tendo em vista que os maiores deslizamentos identificados na área

de trabalho ocorrem em zonas ou faixas marcadas por falhas e fraturamentos. Nesses

casos recomenda-se a execução de estudos geofísicos de detalhe para avaliar,

localmente, os possíveis impactos desses lineamentos na desestabilização das

esncostas.

Outro aspecto a ser considerado é a espessura elevada do manto de alteração

observada nas áreas mapeadas e que favorecem a ocorrência de deslizamentos de

grande porte, como os que ocorreram no bairro Potecas em 2008. Por sua vez, a

realização de estudos na escala de detalhe permite a diferenciação nas encostas entre

solos residuais e coluviais que influencia a estabilidade dos taludes.

Nas áreas de planície com média aptidão à urbanização, também é indicada a

exigência de estudos hidrológicos na escala de projeto para fins de dimesionamento

adequado da rede de drenagem urbana nos projetos de parcelamento do solo. Esses

estudos também devem demostrar que as áreas pretendidas para a implantação de

edificações estão acima da cota de inundações com tempo de retorno entre 5 e 25

anos.

Destaca-se ainda, em relação às áreas de média aptidão sujeitas a

inundações, a importância de evitar a ocupação permanente ou não de margens de

canais, independentemete do tempo de retorno desses eventos. Esses setores estão

sujeitos à ocorrência de eventos extremos, de maior tempo de retorno, e que têm alto

potencial de danos humanos e materias, sobretudo para populações que não são

atingidas frequentemente pelas inundações e são surprenedidas por eventos adversos

dessa natureza.

Por fim, recomenda-se que o plano de uso e ocupação do solo urbano para o

município considere a incursão de marés no estuário do rio Maruim. Esse processo

pode retardar o escoamento fluvial e ampliar a área dos setores afetados por

inundações.

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Cartas Geotécnicas de Aptidão à Urbanização

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6. DISPONIBILIZAÇÃO DAS CARTAS GEOTÉCNICAS DE APTIDÃO URBANA

6.1. IMPLANTAÇÃO DE BANCO DE DADOS GEORREFERENCIADOS

Os dados gerados para a elaboração das cartas geotécnicas de aptidão à

urbanização frente aos desastres naturais permitiram a implantação de um banco de

dados georreferenciados, desenvolvido com a utilização de um Sistema de Informação

Geográfica (SIG) em ambiente Desktop, sendo algumas camadas inseridas em banco

de dados geográficos e disponibilizadas em ambiente Web. Este sistema compreende

um conjunto de funções que possibilita automatizar processos e disponibiliza aos

profissionais uma capacidade avançada de análise de dados georreferenciados.

Realiza a interação entre dados descritivos (alfanuméricos) e dados espaciais

(geográficos), e apresenta as seguintes características que podem ser aplicadas aos

dados: armazenamento, recuperação, edição, análise e visualização de dados.

Os mapas temáticos produzidos no desenvolvimento do trabalho foram

armazenados em forma de camadas no sistema, com os atributos associados aos

objetos espaciais ou toponímias que complementam a comunicação de determinados

mapas.

Os arquivos dos mapas que compõem a base de dados do sistema de

informação geográfica foram organizados em diretórios e estão vinculados ao projeto

por meio da formatação de um projeto que possibilita a visualização e a interação com

as diferentes camadas de dados, mediante o emprego de ferramentas disponíveis no

software utilizado.

Os mapas temáticos produzidos e os de referência utilizados na elaboração do

projeto foram analisados visando à implementação do sistema de informação

geográfica. Esta análise foi necessária devido aos diferentes formatos de arquivos

trabalhados, a necessidade de adequação de tabelas de dados não espaciais e a

edição de dados, para possibilitar a visualização neste novo ambiente.

O Quadro 3, a seguir, apresenta as camadas que compõem a base de dados

do SIG, onde são definidos: nomes, primitiva geográfica, formato e extensão.

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Cartas Geotécnicas de Aptidão à Urbanização

frente aos Desastres Naturais

Relatório Final

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Quadro 3. Descrição das camadas que compõem a base de dados

Nome da Camada Primitiva Geográfica Formato Extensão

Declividades Matriz Raster TIF

Hipsometria Matriz Raster TIF

Curvas de Nível Linha Vetorial SHP

Toponímia Texto Vetorial SHP

Limite do Projeto Área Vetorial SHP

Hidrografia Linha Vetorial SHP

Massas de Água Polígono Vetorial SHP

Hidrografia Texto Vetorial SHP

APL – Plano Diretor Polígono Vetorial SHP

APP – Plano Diretor Polígono Vetorial SHP

APP Topo de Morro Polígono Vetorial SHP

Área Urbanizada Polígono Vetorial SHP

Sistema Viário Linha Vetorial SHP

Áreas Inundáveis Polígono Vetorial SHP

As camadas foram organizadas por temas, sendo definidos os seguintes

grupos de camadas, conforme ilustra o Quadro 4.

Quadro 4. Grupos de camadas do SIG

Tema Camadas

Geotécnico Carta de Aptidão à Urbanização

Administrativo Toponímia

Limites Projeto

Ocupação e Uso do Solo

Mancha Urbana

Sistema Viário

APL – PD

APP – PD

APP Topo de Morro

Hidrografia

Hidrografia – Texto

Hidrografia - Linhas

Massas de Água

Áreas Inundáveis

Altimetria Curvas de Nível

Declividade

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Cartas Geotécnicas de Aptidão à Urbanização

frente aos Desastres Naturais

Relatório Final

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6.2. ACESSO ÀS CARTAS GEOTÉCNICAS DE APTIDÃO À URBANIZAÇÃO NA WEB

Para viabilizar um maior alcance das cartas geotécnicas de aptidão à

urbanização e das informações geradas no projeto foi desenvolvido um aplicativo para

possibilitar o acesso público aos produtos cartográficos gerados por meio da internet

no seguinte endereço: http://mapgeo.cfh.ufsc.br/.

Tal aplicativo foi concebido com plataforma tecnológica livre, e hospedado no

Datacenter da Superintendência de Tecnologia de Informação e Comunicação

(SETIC) da Universidade Federal de Santa Catarina.

A arquitetura da solução tecnológica é apresentada esquematicamente na

Figura 58. Esquema empregado para disponibilização de dados na WEB. Esta solução

é fundamentada nos conceitos de escalabilidade e interoperabilidade, requisitos

básicos para sistemas que devem rodar em ambiente corporativo, assegurando um

maior número de usuários e a possibilidade de interação de diferentes extensões de

arquivos.

Foi empregada uma arquitetura de três camadas: apresentação, negócios e

dados, o que permite a independência entre os componentes e atinge os objetivos de

eficiência, reutilização e facilidade de manutenção, desejadas.

A apresentação dos dados é realizada inicialmente em ambiente Web, mas

com possibilidade de ajustes para exportar dados para aplicações Desktop ou importar

novas camadas. As transações possíveis em cada uma das aplicações são apenas de

consulta, mas outras poderão ser implementadas para possibilitar um maior nível de

interação com os usuários. Essas transações são gerenciadas pelo servidor de

aplicações, que definirá a segurança nas mesmas e a escalabilidade. Os dados são

armazenados em banco de dados.

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Cartas Geotécnicas de Aptidão à Urbanização

frente aos Desastres Naturais

Relatório Final

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Figura 58. Esquema empregado para disponibilização de dados na WEB.

O Quadro 5, a seguir, relaciona as ferramentas utilizadas no desenvolvimento

do sistema.

Quadro 5. Ferramentas empregadas na aplicação que disponibiliza dados do projeto na WEB.

Ambiente de desenvolvimento / produção

Sistema Operacional Ubuntu 12.04

Banco de dados Postgresql versão 9.1

Banco de Dados Espacial: PostGis 2.0

Linguagem de Programação: Ruby 1.9.1

Framework: Rails 3.2.3

Servidor web: Apache 2

Servidor de Aplicação: Passenger 4.0.5

Servidor de Mapas: GeoServer 2.3.5

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Cartas Geotécnicas de Aptidão à Urbanização

frente aos Desastres Naturais

Relatório Final

São José

7. CONSIDERAÇÕES FINAIS

As cartas geotécnicas de aptidão à urbanização constituem importante

instrumento de apoio ao planejamento urbano, contribuindo para a gestão de riscos e de

desastres naturais, através principalmente de medidas preventivas que possam reduzir a

exposição da população aos eventos adversos, aumentando a resiliência das

comunidades face aos desastres naturais.

Este relatório apresentou os resultados obtidos na elaboração de cartas

geotécnicas de aptidão à urbanização frente aos desastres naturais para os setores não

urbanizados do perímetro urbano de São José, com potencial para expansão urbana do

município.

A elaboração de cartas geotécnicas de aptidão à urbanização para essas áreas,

fundamentada em dados geológicos, geomorfológicos, geotécnicos e hidrológicos,

permitiu a delimitação de zonas homogêneas de baixa, média e alta aptidão física para

uso e ocupação do solo urbano, com base principalmente na suscetibilidade do terreno a

deslizamentos e inundações.

Para as três zonas de aptidão à urbanização identificadas são apresentadas

diretrizes gerais para o uso e ocupação urbana, como recomendações de procedimentos

e de restrições ao parcelamento do solo e implantação de edificações que devem,

imperativamente, ser consideradas pelo poder público para o planejamento urbano.

Também devem ser consideradas para fins de planejamento urbano as restrições

previstas na legislação ambiental para uso e ocupação do solo, com destaque para a

delimitação das Áreas de Preservação Permanente. Estas áreas, frequentemente,

apresentam características ambientais compatíveis com maior suscetibilidade do terreno

aos processos físicos geradores de desastres naturais, traduzindo-se, consequentemente,

em setores com baixa aptidão para ocupação urbana.

Destaca-se que a escala de trabalho de 1:10.000, adotada no projeto para

elaboração das cartas geotécnicas, constitui-se em escala inicial para fins de

planejamento urbano, indicativa de tendências de aptidão urbana dos terrenos, não

permitindo a representação espacial de processos geodinâmicos localizados, que

possam comprometer, frente aos desastres naturais, o parcelamento e uso do solo para

fins de urbanização. Neste sentido, recomenda-se a realização de estudos pontuais, em

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Cartas Geotécnicas de Aptidão à Urbanização

frente aos Desastres Naturais

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escala de projeto, com destaque para estudos geotécnicos, que possam nortear a

tomada de decisões pelos atores envolvidos no processo de urbanização, e auxiliá-los na

definição de diretrizes específicas para a prevenção ou mitigação de riscos naturais. A

realização de estudos na escala de projeto deve considerar também as possíveis

alterações no grau de suscetibilidade do meio físico e de aptidão à urbanização face aos

processos geodinâmicos analisados, em decorrência de intervenções sem critérios no

terreno, para a prevenção de riscos induzidos.

Destaca-se também a importância de proceder ao monitoramento ambiental das

áreas de expansão urbana do município, visando diagnosticar possíveis alterações locais

no quadro de suscetibilidade ambiental e de aptidão urbana das áreas ainda não

ocupadas, assim como a mitigação de riscos que possam ser gerados no processo de

parcelamento e uso urbano do solo.

Finalmente, espera-se que as cartas geotécnicas de aptidão urbana geradas

possam contribuir para o processo sustentável de expansão urbana de São José, voltado

à prevenção de riscos e de desastres naturais nas áreas ainda não ocupadas do

perímetro urbano, ampliando a resiliência do município frente aos eventos adversos

naturais ou induzidos.

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Cartas de Aptidão à Urbanização frente aos Desastres Naturais

Relatório Final

São José

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