universidade federal de santa catarina departamento … · de viagem e turismo e contribuem de...

114
UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA DE PRODUÇÃO E SISTEMAS Eduardo Antônio Marçal ANÁLISE DE VIABILIDADE DE OVERBOOKING PARA RESERVAS DE HOTEL UTILIZANDO O NEWSVENDOR MODEL Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Departamento de Engenharia de Produção e Sistemas da Universidade Federal de Santa Catarina, como requisito parcial para obtenção do título em Engenharia área Mecânica, habilitação Produção Mecânica. Orientador: Prof. Carlos Ernani Fries, Dr. Florianópolis 2018

Upload: others

Post on 23-Jul-2020

0 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

Page 1: UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA DEPARTAMENTO … · de viagem e turismo e contribuem de forma direta com o setor. De maneira geral, as margens de lucro de hotéis sofreram

UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA

DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA DE PRODUÇÃO E

SISTEMAS

Eduardo Antônio Marçal

ANÁLISE DE VIABILIDADE DE OVERBOOKING

PARA RESERVAS DE HOTEL UTILIZANDO O

NEWSVENDOR MODEL

Trabalho de Conclusão de Curso

apresentado ao Departamento de

Engenharia de Produção e Sistemas da

Universidade Federal de Santa Catarina,

como requisito parcial para obtenção do

título em Engenharia área Mecânica,

habilitação Produção Mecânica.

Orientador: Prof. Carlos Ernani Fries,

Dr.

Florianópolis

2018

Page 2: UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA DEPARTAMENTO … · de viagem e turismo e contribuem de forma direta com o setor. De maneira geral, as margens de lucro de hotéis sofreram
Page 3: UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA DEPARTAMENTO … · de viagem e turismo e contribuem de forma direta com o setor. De maneira geral, as margens de lucro de hotéis sofreram

Ficha de identificação da obra elaborada pelo autor através do Programa

de Geração Automática da Biblioteca Universitária da UFSC.

Page 4: UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA DEPARTAMENTO … · de viagem e turismo e contribuem de forma direta com o setor. De maneira geral, as margens de lucro de hotéis sofreram
Page 5: UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA DEPARTAMENTO … · de viagem e turismo e contribuem de forma direta com o setor. De maneira geral, as margens de lucro de hotéis sofreram

Eduardo Antônio Marçal

ANÁLISE DE VIABILIDADE DE OVERBOOKING

PARA RESERVAS DE HOTEL UTILIZANDO O

NEWSVENDOR MODEL

Este Trabalho de Conclusão de Curso foi julgado

adequado e aprovado, em sua forma final, pelo Curso de

Graduação em Engenharia de Produção Mecânica, da

Universidade Federal de Santa Catarina.

Florianópolis, 28 de maio de 2018.

________________________

Prof. ª Marina Bouzon, Dra.

Coordenadora dos Cursos de

Graduação em Engenharia de Produção

Banca Examinadora:

________________________

Prof. Carlos Ernani Fries, Dr.

Orientador

Universidade Federal de Santa Catarina

________________________

Prof.

Universidade Federal de Santa Catarina

________________________

Prof.

Universidade Federal de Santa Catarina

Page 6: UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA DEPARTAMENTO … · de viagem e turismo e contribuem de forma direta com o setor. De maneira geral, as margens de lucro de hotéis sofreram
Page 7: UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA DEPARTAMENTO … · de viagem e turismo e contribuem de forma direta com o setor. De maneira geral, as margens de lucro de hotéis sofreram

À minha família e aos meus amigos,

pelo apoio recebido durante a

elaboração deste trabalho.

Page 8: UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA DEPARTAMENTO … · de viagem e turismo e contribuem de forma direta com o setor. De maneira geral, as margens de lucro de hotéis sofreram
Page 9: UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA DEPARTAMENTO … · de viagem e turismo e contribuem de forma direta com o setor. De maneira geral, as margens de lucro de hotéis sofreram

AGRADECIMENTOS

À minha família, em especial a meus pais, Paula Brill Antônio e

Roberto Caparelli Marçal, pelo incondicional apoio e incansável

dedicação durante toda minha trajetória acadêmica.

Ao meu avô Amin Antônio, cuja perseverança e coragem

serviram de exemplos para que eu pudesse chegar até aqui.

Ao meu orientador Carlos Ernani Fries, pela constante atenção e

paciência e por contribuir com a expansão dos meus conhecimentos.

Aos meus amigos, em especial, a Bruno Fontoura de Carvalho

Malvezzi, por suas contribuições ao trabalho e pelos longos anos de

parceria.

A Osmar Horta Junior, pela paciência e presteza durante a

elaboração e execução do trabalho.

A todas as pessoas que contribuíram direta e indiretamente para

a realização desta pesquisa.

À UFSC, pela oportunidade de transformação e de

autoconhecimento.

Page 10: UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA DEPARTAMENTO … · de viagem e turismo e contribuem de forma direta com o setor. De maneira geral, as margens de lucro de hotéis sofreram
Page 11: UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA DEPARTAMENTO … · de viagem e turismo e contribuem de forma direta com o setor. De maneira geral, as margens de lucro de hotéis sofreram

One does not discover new lands without

consenting to lose sight of the shore for a

very long time.

(André Gidé,1925)

Page 12: UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA DEPARTAMENTO … · de viagem e turismo e contribuem de forma direta com o setor. De maneira geral, as margens de lucro de hotéis sofreram
Page 13: UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA DEPARTAMENTO … · de viagem e turismo e contribuem de forma direta com o setor. De maneira geral, as margens de lucro de hotéis sofreram

RESUMO

O setor viagens e turismo é grande representatividade suma para países e

é responsável por impulsionar a economia e gerar contribuições sociais,

como renda e emprego para os cidadãos. Serviços de hospedagem,

representados pelas atividades de hotelaria, são integrantes da indústria

de viagem e turismo e contribuem de forma direta com o setor. De

maneira geral, as margens de lucro de hotéis sofreram impactos negativos

advindos da crise econômica do país. No entanto, em momento de futura

retomada econômica do país, é ideal que empresas do setor hoteleiro

reexaminem suas práticas de gestão, na forma de garantir a eficiência de

alocação de recursos no momento de transição, buscando alternativas para

aumentar a rentabilidade dos negócios e posicionar-se de maneira

competitiva no mercado. Uma das maneiras conhecidas de aumentar as

receitas para o segmento hoteleiro é a realização de overbooking, em

português, sobrevenda. A prática se justifica na medida em que o hotel se

protege de episódios de no-shows e cancelamentos, frequentes no setor.

A prática necessita ser minuciosamente planejada, com conhecimento dos

custos envolvidos na decisão, bem como no perfil histórico de no-shows

da empresa. A pesquisa visa realizar um estudo de caso que avalie a

viabilidade de realização de overbooking para um hotel localizado em São

Paulo-SP através da aplicação do Newsvendor Model. Como resultado, o

trabalho conclui que não há viabilidade de realização de overbooking pelo

histórico pouco frequente de no-shows e, neste contexto, não sugere a sua

aplicação, pelo fato da gestão da empresa já se antecipar aos fenômenos

de no-shows e cancelamentos sem que haja sobrevenda.

Palavras-chave: Overbooking, Quartos de Hotel, Newsvendor Model

Page 14: UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA DEPARTAMENTO … · de viagem e turismo e contribuem de forma direta com o setor. De maneira geral, as margens de lucro de hotéis sofreram
Page 15: UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA DEPARTAMENTO … · de viagem e turismo e contribuem de forma direta com o setor. De maneira geral, as margens de lucro de hotéis sofreram

ABSTRACT

The travel and tourism sector is highly representative for countries and is

responsible for boosting the economy and generating social contributions

such as income and employment for its citizens. Hosting services,

represented by hotel activities, composes the travel and tourism industry

and contribute directly to the industry. In general, hotel profit margins

have suffered negative impacts from the country's economic crisis.

However, in case of the country's future economic recovery, it is essential

for companies in the sector to reexamine their management practices, in

order to guarantee efficient allocation of resources at the time of transition,

seeking alternatives to increase business profitability and position

themselves in a competitive manner in the market. One of the known

ways to increase revenues for hotels is the overbooking, in Portuguese,

oversold. The practice is justified as the hotel protects itself from no-

shows and cancellation episodes, which occasionally happens in the

sector. The practice needs to be thoroughly planned, with knowledge of

the costs involved in the decision, as well as the historical company's no-

shows profile. The research aims to carry out a case study that evaluates

the feasibility of performing overbooking for a hotel located in São Paulo-

SP through the application of Newsvendor Model. As a result, the work

concludes there is no feasibility of overbooking due to the infrequent

history of no-shows and, in this context, does not suggest its application,

due to the fact that company already anticipates the phenomena of no-

shows and cancellations without there being an oversold room.

Keywords: Overbooking, Hotel Rooms, Newsvendor Model

Page 16: UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA DEPARTAMENTO … · de viagem e turismo e contribuem de forma direta com o setor. De maneira geral, as margens de lucro de hotéis sofreram
Page 17: UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA DEPARTAMENTO … · de viagem e turismo e contribuem de forma direta com o setor. De maneira geral, as margens de lucro de hotéis sofreram

LISTA DE FIGURAS

Figura 1 - Contribuição do setor de viagens e turismo no PIB global em

2016 ....................................................................................................... 27 Figura 2 - Contribuição do setor de viagens e turismo na empregabilidade

global em 2016 ...................................................................................... 28 Figura 3 - Contribuições do setor de viagens e turismo para o PIB

brasileiro ................................................................................................ 29 Figura 4 - Contribuições do setor para a empregabilidade brasileira .... 30 Figura 5 - Composição da indústria de Viagens e Turismo .................. 31 Figura 6 - Evolução de indicadores econômicos de hotéis e flats

no Brasil ................................................................................................ 35 Figura 7 - Gráfico de Pareto .................................................................. 43 Figura 8 - Quantidade percentual de ocorrência de queixas de

overbooking ........................................................................................... 58 Figura 9 - Árvore de decisão e elementos constituintes ........................ 64 Figura 10 - Imediações do hotel ............................................................ 69 Figura 11 - Outros hotéis nas imediações da empresa........................... 70 Figura 12 - Contribuição percentual de pernoites por agência .............. 73 Figura 13 - Contribuição percentual com receitas extras, por agência .. 75 Figura 14 - Porcentagem de ocorrências de no-shows por tipo de quarto ................................................................................. 77 Figura 15 - Porcentagem de ocorrências de no-show

por dia da semana .................................................................................. 77 Figura 16 - Ocorrências de no-shows por ano e por dia da semana ...... 78 Figura 17 - Porcentagem de ocorrências de no-shows por mês ............. 78 Figura 18 - Ocorrências de no-shows por mês e por ano ...................... 79 Figura 19 - Porcentagem de no-shows por agência ............................... 80 Figura 20 - Porcentagem de cancelamentos por agência ....................... 82 Figura 21 - Árvore de decisão para total no-show, pernoites e ano ....... 84 Figura 22 - Árvore de decisão para total no-show, ano e meses do ano 85 Figura 23 - Distribuição Poisson de no-shows para segunda-feira ........ 88 Figura 24 - Distribuição Poisson de no-shows para terça-feira ............. 90 Figura 25 - Distribuição Poisson de no-shows para quarta-feira ........... 92 Figura 26 - Distribuição Poisson de no-shows para quinta-feira ........... 94 Figura 27 - Distribuição Poisson de no-shows para sexta-feira ............ 96 Figura 28 - Distribuição Poisson de no-shows para sábado .................. 98 Figura 29 - Distribuição Poisson de no-shows para domingo ............. 100

Page 18: UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA DEPARTAMENTO … · de viagem e turismo e contribuem de forma direta com o setor. De maneira geral, as margens de lucro de hotéis sofreram
Page 19: UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA DEPARTAMENTO … · de viagem e turismo e contribuem de forma direta com o setor. De maneira geral, as margens de lucro de hotéis sofreram

LISTA DE QUADROS

Quadro 1 - Requisitos de enquadramento em hotel 4 estrelas ............... 33 Quadro 2 - Pesquisa bibliométrica na base Scopus ............................... 44 Quadro 3 - Pesquisa bibliométrica na base Science Direct ................... 45 Quadro 4 - Portfólio de leitura .............................................................. 46 Quadro 5 - Etapas metodológicas utilizadas ......................................... 65

Page 20: UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA DEPARTAMENTO … · de viagem e turismo e contribuem de forma direta com o setor. De maneira geral, as margens de lucro de hotéis sofreram
Page 21: UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA DEPARTAMENTO … · de viagem e turismo e contribuem de forma direta com o setor. De maneira geral, as margens de lucro de hotéis sofreram

LISTA DE TABELAS

Tabela 1 - Acomodações do hotel ......................................................... 68 Tabela 2 - Comparativo anual de clientes, pernoites e diária média ..... 72 Tabela 3 - Comparativo anual de gastos extras, pernoites

e ticket-médio ........................................................................................ 74 Tabela 4 - Impacto financeiro advindo pelo no-show ........................... 76 Tabela 5 - Estimativa de ganhos com cancelamento ............................. 81 Tabela 6 - Distribuição Poisson de no-shows para segunda-feira ......... 89 Tabela 7 - Distribuição Poisson de no-shows para terça-feira ............... 91 Tabela 8 - Distribuição Poisson de no-shows para quarta-feira ............ 93 Tabela 9 - Distribuição Poisson de no-shows para quinta-feira ............ 95 Tabela 10 - Distribuição Poisson de no-shows para sexta-feira ............ 97 Tabela 11 - Distribuição Poisson de no-shows para sábado .................. 99 Tabela 12 - Distribuição Poisson de no-shows para domingo ............. 101

Page 22: UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA DEPARTAMENTO … · de viagem e turismo e contribuem de forma direta com o setor. De maneira geral, as margens de lucro de hotéis sofreram
Page 23: UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA DEPARTAMENTO … · de viagem e turismo e contribuem de forma direta com o setor. De maneira geral, as margens de lucro de hotéis sofreram

LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

UH Unidades habitacionais

RM Revenue Management

OTA Online Travel Agency

PSP Product and service package

CDC Código de defesa do consumidor

ANAC Agência Nacional de Aviação Civil

RP Revealed price

HP Hidden price

FOHB Fórum dos operadores hoteleiros do Brasil

MTur Ministério do Turismo

PIB Produto interno bruto

INMETRO Instituto Nacional de Metrologia, Qualidade e

Tecnologia

Embratur Instituto brasileiro de turismo

Fungetur Fundo geral de turismo

WTTC World Travel and Tourism Council

CART Classification and Regression Trees

CHAID Chi-squared Automatic Interaction Detector

EDC Executivo Double Clean

ETC Executivo Twin Clean

ESC Executivo Single Clean

TPS Executivo Triplo Twin Clean

TPC Executivo Triplo Clean

Page 24: UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA DEPARTAMENTO … · de viagem e turismo e contribuem de forma direta com o setor. De maneira geral, as margens de lucro de hotéis sofreram
Page 25: UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA DEPARTAMENTO … · de viagem e turismo e contribuem de forma direta com o setor. De maneira geral, as margens de lucro de hotéis sofreram

SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO ............................................................................... 27 1.1 JUSTIFICATIVA DO TEMA ......................................................... 36

1.2 OBJETIVOS ................................................................................... 38

1.2.1 Objetivo Geral ............................................................................ 38

1.2.2 Objetivos Específicos .................................................................. 38 1.3 DELIMITAÇÃO DO TRABALHO ................................................ 38

1.4 ESTRUTURA DO TRABALHO .................................................... 39

2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA ....................................................... 41 2.1 PESQUISA BIBLIOMÉTRICA...................................................... 41

2.2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA .................................................. 52

2.2.1 Revenue Management ................................................................. 52

2.2.2 Newsvendor Model .................................................................... 59

2.2.3 Árvores de Decisão ..................................................................... 63

3. PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS ................................. 65

4. RESULTADOS ................................................................................ 67 4.1 A EMPRESA .................................................................................. 67

4.2 ANÁLISE PANORÂMICA DOS DADOS .................................... 71

4.2.1 Reservas........................................................................................71

4.2.2 No-Shows e cancelamentos ........................................................ 76 4.3 ANÁLISE DA INTERELAÇÃO DAS VARIÁVEIS ..................... 83

4.4 CÁLCULO DO NÚMERO ÓTIMO DE OVERBOOKING PARA

CADA CIRCUNSTÂNCIA AVALIADA ............................................ 86

4.4.1 Variável de decisão Q ................................................................. 87

4.4.2 Demanda D ................................................................................. 87

4.4.3 Custo unitário de excesso: (𝑪𝒆) ............................................... 102

4.4.3 Custo unitário de falta: (𝑪𝒇) .................................................... 102

4.5 ALTERNATIVAS DE DECISÃO FRENTE AO

OVERBOOKING ................................................................................. 103

4.5.1 Realocação do cliente em quarto de hotel parceiro ............... 103

4.5.2 Realocação do cliente no mesmo hotel .................................... 104

4.5.3 Pagamento de multa por não honrar a diária ao cliente ....... 105 4.6 APLICAÇÃO DO MODELO ....................................................... 105

4.7 INTERPRETAÇÃO DOS RESULTADOS .................................. 107

5. CONCLUSÃO ............................................................................... 109

REFERÊNCIAS ................................................................................ 111

Page 26: UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA DEPARTAMENTO … · de viagem e turismo e contribuem de forma direta com o setor. De maneira geral, as margens de lucro de hotéis sofreram
Page 27: UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA DEPARTAMENTO … · de viagem e turismo e contribuem de forma direta com o setor. De maneira geral, as margens de lucro de hotéis sofreram

27

1. INTRODUÇÃO

O turismo é uma atividade de suma importância para os países e é

responsável por impulsionar a economia e por gerar importantes

contribuições sociais, como o emprego e renda para os cidadãos.

De acordo com o World Travel and Tourism Council (WTTC), em

2016, o setor de viagens e turismo contribuiu com 10,2% do PIB mundial,

não superando apenas as indústrias de construção civil, de serviços

financeiros e de varejo. A Figura 1 compara a contribuição do setor de

viagens e turismo no PIB mundial com outros setores da economia. A

contribuição direta é representada em azul e a indireta, em verde. O ícone

circular, em verde, representa o setor de viagens e turismo.

Figura 1 - Contribuição do setor de viagens e turismo no PIB global em 2016

Fonte: WTTC (2016)

Em termos de empregabilidade, o setor empregou, diretamente e

indiretamente, 9,6% de mão de obra global e figura entre segmentos que

mais empregaram mão de obra na economia (WTTC, 2016). A Figura 2

compara a empregabilidade do setor frente outros setores da economia.

27

Page 28: UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA DEPARTAMENTO … · de viagem e turismo e contribuem de forma direta com o setor. De maneira geral, as margens de lucro de hotéis sofreram

28

Figura 2 - Contribuição do setor de viagens e turismo na empregabilidade global

em 2016

Fonte: WTTC (2016)

No Brasil, o setor de viagens e turismo do país é beneficiado pela

sua conhecida riqueza natural e pela atual posição de importância no

cenário econômico mundial.

Em 2016, a atividade econômica contribuiu em 8,5% do PIB e

contribuirá, segundo a WTTC, cerca de 9,1% em 2027. Em azul, a

contribuição direta, em verde, indireta e cinza, contribuição induzida pelo

setor. A Figura 3 ilustra as contribuições do setor para o PIB brasileiro

em três anos.

28

Page 29: UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA DEPARTAMENTO … · de viagem e turismo e contribuem de forma direta com o setor. De maneira geral, as margens de lucro de hotéis sofreram

29

Figura 3 - Contribuições do setor de viagens e turismo para o PIB brasileiro

Fonte: WTTC (2017)

Além disso, o setor empregou 7,8% da mão de obra brasileira em

2017, com previsões de alcançar 8,6% em 2027 (WTTC, 2017). A Figura

4 ilustra as contribuições do setor para a empregabilidade do país.

29

Page 30: UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA DEPARTAMENTO … · de viagem e turismo e contribuem de forma direta com o setor. De maneira geral, as margens de lucro de hotéis sofreram

30

Figura 4 - Contribuições do setor para a empregabilidade brasileira

Fonte: WTTC (2017)

A Figura 5 ilustra as possíveis maneiras de contribuição - direta,

indireta e induzida - de atores econômicos com o setor de viagens e

turismo. Dentre as diferentes maneiras de contribuição, destacam-se os

serviços de hospedagem, ou Accomodation Services, que representam

contribuição direta com o setor.

30

Page 31: UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA DEPARTAMENTO … · de viagem e turismo e contribuem de forma direta com o setor. De maneira geral, as margens de lucro de hotéis sofreram

31

Figura 5 - Composição da indústria de Viagens e Turismo

Fonte: WTTC (2017)

31

Page 32: UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA DEPARTAMENTO … · de viagem e turismo e contribuem de forma direta com o setor. De maneira geral, as margens de lucro de hotéis sofreram

32

De acordo com a Lei 11.771/2008 – Art.23, os meios de

hospedagem são:

“Consideram-se meios de hospedagem os

empreendimentos ou estabelecimentos,

independentemente de sua forma de constituição,

destinados a prestar serviços de alojamento

temporário, ofertados em unidades de frequência

individual e de uso exclusivo do hóspede, bem

como outros serviços necessários aos usuários,

denominados de serviços de hospedagem,

mediante adoção de instrumento contratual, tácito

ou expresso, e cobrança de diária. ”

Segundo a mesma Lei, os componentes dos meios de

hospedagem, por sua vez, se classificam em: hotel, resort, hotel fazenda,

cama e café, hotel histórico, pousada, flat/apart-hotel. Os

estabelecimentos se diferem, dentre seus aspectos, pelo número de leitos,

gama de serviços ofertada e infraestrutura.

O hotel, por sua vez, é classificado, de acordo com a mesma Lei

11.771/2008 – Art.23:

“HOTEL: estabelecimento com serviço de

recepção, alojamento temporário, com ou sem

alimentação, ofertados em unidades individuais e

de uso exclusivo dos hóspedes, mediante cobrança

de diária”

Referente ao histórico do setor, a indústria hoteleira remete-se

aos tempos das grandes civilizações da Grécia e também da Roma antiga.

O marco inicial da hospedagem coincide com os Jogos Olímpicos, em

que os primeiros hotéis abrigariam os frequentadores do evento, que

durava dias (SYLLOS, 2017, p.12). No entanto, apenas na Idade Média

da Europa surgiram os primeiros estabelecimentos com propósito

comercial, que eram as tabernas e pousadas.

No Brasil, registros assinalam o século XVII como início da

atividade hoteleira em São Paulo, com Marcos Lopes como pioneiro no

setor. A atividade era ofertada em conjunta com outras, como barbeiros e

alfaiates, não possuindo finalidade específica. Outras cidades como o Rio

de Janeiro começaram a atrair investimentos, com a criação do Hotel

Glória e Copacabana Palace. Em 1966, é criada a EMBRATUR –

Instituto Brasileiro de Turismo e, com ela, a FUNGETUR, que exerceram

32

Page 33: UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA DEPARTAMENTO … · de viagem e turismo e contribuem de forma direta com o setor. De maneira geral, as margens de lucro de hotéis sofreram

33

importância fundamental na atração de investimentos externos e

incentivos fiscais, marcando uma nova fase para a hotelaria do país.

Desde então, o setor se expandiu através das grandes cidades e

em locais de apelo paisagístico, figurando-se como um setor de grande

relevância para a economia brasileira. Até junho de 2017, o setor alcançou

a marca de 10.314 hotéis, flats e resorts que somam 537.474 quartos no

país (HOTELARIA EM NÚMEROS, p.8, 2017).

Atualmente, o setor é regulamentado pelo Ministério do Turismo

(MTur), que tem a função de fomentar a atividade de turismo na economia.

Dentre as suas responsabilidades, tem a função de realizar a classificação

dos hotéis entre 1 e 5 estrelas. A classificação é realizada através do

Sistema Brasileiro de Classificação de meios de hospedagem (SBClass)

com apoio do INMETRO.

Por exemplo, para que um hotel receba a classificação de 4

estrelas, este deve conter uma série de atributos ilustrados no Quadro 1.

Quadro 1 - Requisitos de enquadramento em hotel 4 estrelas

Serviço de recepção aberto por 24 horas

Serviços de mensageiro no período de 24 horas

Serviço de cofre em 100% das UH para guarda dos valores dos hóspedes

Área útil da UH, exceto banheiro, com 15 m² (mínimo 90%)

Banheiros nas UH com 3 m² (mínimo 90%)

Berço para bebês, a pedido

Facilidades para bebês (cadeiras altas no restaurante, facilidades para

aquecimento de mamadeiras e comidas, etc.)

Café da manhã na UH

Serviço de refeições leves e bebidas nas UH (room service) no período de 24

horas

Troca de roupas de cama e banho diariamente

Secador de cabelo à disposição sob pedido

Serviço de lavanderia

Televisão em 100% das UH

Canais de TV por assinatura em 100% das UH

Acesso à internet nas áreas sociais e nas UH

Mesa de trabalho, com cadeira, iluminação própria, e ponto de energia e

telefone, nas UH, possibilitando o uso de aparelhos eletrônicos pessoais

Sala de ginástica/musculação com equipamentos

33

Page 34: UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA DEPARTAMENTO … · de viagem e turismo e contribuem de forma direta com o setor. De maneira geral, as margens de lucro de hotéis sofreram

34

Serviço de facilidades de escritório virtual

Mini-refrigerador em 100% das UH

Climatização (refrigeração/calefação) adequada em 100% das UH

Restaurante

Serviço de alimentação disponível para café da manhã, almoço e jantar

Serviço à la carte no restaurante

Bar

Área de estacionamento com serviço de manobrista

Mínimo de três serviços acessórios oferecidos em instalações no próprio

hotel (por exemplo: salão de beleza, baby-sitter, venda de jornais e revistas,

farmácia, loja de conveniência, locação de automóveis, reserva em

espetáculos, agência de turismo, transporte especial, etc.)

Medidas permanentes para redução do consumo de energia elétrica e de água

Medidas permanentes para o gerenciamento de resíduos sólidos, com foco na

redução, reuso e reciclagem

Monitoramento das expectativas e impressões do hóspede em relação aos

serviços ofertados, incluindo meios para pesquisar opiniões, reclamações e

solucioná-las Programa de treinamento para empregados

Medidas permanentes de seleção de fornecedores (critérios ambientais,

socioculturais e econômicos) para promover a sustentabilidade. Medidas

permanentes de sensibilização para os hóspedes em relação à

sustentabilidade

Pagamento com cartão de crédito ou de débito

Fonte: Ministério do Turismo (2018)

Além da classificação do número de estrelas, hotéis também

podem ser classificados perante a classificação americana STR – Smith

Travel Research, que segmenta hotéis de acordo com o valor de suas

diárias. Hotéis se enquadram nas categorias: Econômico, Midscale, Luxo

e Superluxo.

Na atualidade, o segmento brasileiro de hotelaria sofreu impactos

negativos da recessão econômica. A taxa de ocupação de hotéis e flats

apresentou em 2016 uma queda de mais de 7,0% em relação a 2015,

atingindo uma média de 55% no ano. As margens de lucro dos hotéis

foram impactadas negativamente em 2016, dentre outros fatores, pela alta

inflação. O Lucro Operacional Bruto em 2016 caiu quase quatro pontos

percentuais em relação a 2015, atingindo o nível de 25% em relação à

receita total. (HOTELARIA EM NÚMEROS, p.5, 2017).

34

Page 35: UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA DEPARTAMENTO … · de viagem e turismo e contribuem de forma direta com o setor. De maneira geral, as margens de lucro de hotéis sofreram

35

A Figura 6 ilustra a evolução de indicadores econômicos de

hotéis e flats no Brasil nos últimos anos. As barras em cinza ilustram a

diária média cobrada por hotéis e flats no país e a curva ilustra a ocupação

percentual desses estabelecimentos.

Figura 6 - Evolução de indicadores econômicos de hotéis e flats no Brasil

Fonte: JLL (2017)

No entanto, em estudo elaborado pelo Fórum de Operadores

Hoteleiros do Brasil (FOHB), divulgado em outubro de 2017, os

indicadores de taxa de ocupação e diária média apresentariam sinais de

recuperação em 2018 e 2019, acompanhando a retomada econômica do

país.

O estudo ainda mostra que, em 2020, hotéis serão responsáveis

por 100 mil empregos diretos, antes os atuais 64 mil; 408 novos

empreendimentos e o número de quartos disponíveis passará para 164 mil.

35

Page 36: UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA DEPARTAMENTO … · de viagem e turismo e contribuem de forma direta com o setor. De maneira geral, as margens de lucro de hotéis sofreram

36

1.1 JUSTIFICATIVA DO TEMA

Hotéis, diferente de empresas de outros segmentos, como de

varejo, possuem características peculiares. Entre elas, a perecibilidade de

seus produtos ofertados.

Produtos e serviços perecíveis, quando não são plenamente

consumidos, diferem de commodities por possuírem valor residual igual

a zero, no fim da sua vida (GUO et al. 2016). Em outras palavras,

produtos e serviços perecíveis não podem ser mantidos em estoque para

uso futuro, o que pode gerar consequências econômicas negativas para

empresas que os comercializam.

Quartos de hotel que não são reservados na baixa temporada não

podem ser estocados até o período de alta temporada para, assim, serem

vendidos. Desta maneira, em face da incerteza da demanda pelas

acomodações oferecidas, é possível que parcela desses quartos não sejam

consumidos seja por cancelamentos, no-shows ou demanda insuficiente,

o que gera perdas econômicas para os empreendimentos hoteleiros.

Somada a complexidade inerente à natureza do negócio, o

cenário atual de transição entre recessão e possível retomada econômica

requer que empresas do setor hoteleiro repensem constantemente suas

práticas de gestão, na forma de garantir a eficiência de alocação de

recursos no momento de transição, buscando alternativas para aumentar

a rentabilidade dos negócios e posicionar-se de maneira competitiva no

mercado.

As estratégias e ferramentas analíticas que normalmente são

utilizadas pelas empresas do setor são conhecidas e generalizadas na

literatura sob o nome de Yield Management, em português, gestão de

rendimentos.

Yield Management refere-se às práticas dos negócios de vender

quantidades fixas de estoque com o objetivo de oferecer aos clientes um

mix de produto que seja o mais lucrativo para a empresa. (CHOI e

MATILLA, 2003). Em outras palavras, o Yield Management tem o

objetivo de alocar recursos limitados, de forma a otimizar a receita total,

ou o “yield”. No setor hoteleiro, o termo de Yield Management, por ora,

muitas vezes é conhecido como Revenue Management, ou gestão de

receita. A fronteira entre os termos ainda é considerada ambígua pela

literatura (NETESSINE e SHUMSKY, 2002).

Uma das práticas que fazem parte do Revenue Management é a

de overbooking. O overbooking trata-se de vender algum serviço além da

capacidade ou quantidade que ele está disponível. É utilizado de modo a

utilizar com eficiência a capacidade finita dos hotéis, dada pelo número

36

Page 37: UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA DEPARTAMENTO … · de viagem e turismo e contribuem de forma direta com o setor. De maneira geral, as margens de lucro de hotéis sofreram

37

de quartos disponível e maximizar, assim, sua taxa de ocupação (GUO et

al. 2016).

A prática, historicamente consagrada e utilizada na venda de

assentos na indústria de aviação, tem o objetivo de realizar proteção frente

aos cancelamentos e no-shows, que normalmente ocorrem na indústria

hoteleira (CHEN, HAO, 2013).

No entanto, a estratégia de overbooking deve ser modelada com

cautela pelos gestores hoteleiros, já que esta pode ocasionar efeitos

nocivos tanto para a empresa, como quanto para o consumidor.

Num primeiro caso de overbooking, é possível que uma parcela

destes clientes não seja capaz de consumir o serviço, a priori já garantido

pela empresa, uma vez que a capacidade do hotel já se esgotou. O

empreendimento, assim, terá que arcar com multas e também com custos

de remanejamento – em um outro quarto do mesmo hotel ou em um quarto

de hotel parceiro – e corre alto risco de insatisfazer o cliente ou até de

perdê-lo. De maneira inversa, é possível deparar-se com uma demanda

que não venha a preencher todos os quartos ofertados em overbooking.

Neste caso, incorrerão custos de oportunidade, já que a empresa poderia

ter decidido por ofertar mais quartos em overbooking e então, absorver

suficientemente sua demanda.

Deste modo, a decisão de overbooking é tida como um trade-off

e busca-se, por fim, um nível ótimo de quantas acomodações serão

anunciadas a overbooking.

O nível ótimo de overbooking pode ser calculado através do

Newsvendor Model que se busca equilibrar: a receita potencial perdida ao

anunciar quartos inferiores à sua capacidade e as penalidades que

envolvem uma demanda pelo serviço superior à capacidade ofertada.

Nesse contexto, o problema de pesquisa irá avaliar os impactos

de uma estratégia de overbooking e comparar com as estratégias atuais de

Revenue Management de um empreendimento hoteleiro.

37

Page 38: UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA DEPARTAMENTO … · de viagem e turismo e contribuem de forma direta com o setor. De maneira geral, as margens de lucro de hotéis sofreram

38

1.2 OBJETIVOS

1.2.1 Objetivo Geral

O objetivo do trabalho é o de avaliar a viabilidade de uma política

de overbooking para reservas de hotel e compará-la com as atuais

políticas de amenização de efeitos de no-show e cancelamentos.

1.2.2 Objetivos Específicos

Para atingir o objetivo geral, o trabalho deve atingir os objetivos

específicos a seguir:

coletar informações sobre o perfil de demanda por hospedagens

dos quartos, no-shows e cancelamentos;

identificar modelos teóricos de Newsvendor Model que aplicam

a reservas de hotel;

avaliar as variáveis que exercem influência na tomada de decisão

da taxa de ocupação do hotel;

propor e analisar impactos de um modelo de overbooking.

1.3 DELIMITAÇÃO DO TRABALHO

É relevante citar algumas delimitações referentes ao método de

pesquisa e de trabalho escolhidos, descritas a seguir.

Atualmente, o hotel não pratica overbooking, com justificativa

de não haver demanda e por não ser um hotel de rede. Nesse sentido, o

objetivo do trabalho é de analisar uma estratégia que contemplaria essa

prática e comparar com as estratégias atuais de amenizar efeitos de no-shows e cancelamentos.

Vale ressaltar que não foram encontrados trabalhos na literatura

que façam a comparação direta entre as práticas de overbooking e de

estratégias de amenização de no-show e cancelamentos na indústria

hoteleira, apenas tratando as práticas de maneira isolada.

Os dados utilizados no estudo se referem aos anos de 2015, 2016

e 2017 e tanto a proposição quanto a análise da estratégia de overbooking

contempla dados coletados nestes três anos.

38

Page 39: UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA DEPARTAMENTO … · de viagem e turismo e contribuem de forma direta com o setor. De maneira geral, as margens de lucro de hotéis sofreram

39

1.4 ESTRUTURA DO TRABALHO

Este trabalho é dividido em cinco capítulos. O primeiro trata de

breve cenário da indústria que pertence a empresa e contextualiza o

problema. É seguido da justificativa da pesquisa do trabalho, bem como

dos objetivos, da delimitação do estudo e da estrutura do trabalho.

O segundo capítulo é composto da revisão bibliográfica. O

capítulo, por sua vez, é dividido entre pesquisa bibliométrica e

fundamentação teórica sobre termos relacionados a este trabalho. O

capítulo inicia-se com a pesquisa bibliométrica, com objetivo de

selecionar as referências de maior relevância para leitura, seguida da

fundamentação teórica, que detalha das ferramentas e conceitos utilizados

na gestão hoteleira, do modelo utilizado e de breve contextualização de

ferramenta utilizada na classificação dos dados utilizados na pesquisa.No

terceiro capítulo é apresentada a metodologia utilizada, contendo os

procedimentos que foram utilizados na pesquisa. O quarto capítulo

apresenta a avaliação de modelo de overbooking, seguido de análises

comparativas com as atuais políticas do hotel, no sentido de testar a

viabilidade de aplicação deste modelo. Por fim, no quinto capítulo,

encontram-se as conclusões do trabalho.

39

Page 40: UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA DEPARTAMENTO … · de viagem e turismo e contribuem de forma direta com o setor. De maneira geral, as margens de lucro de hotéis sofreram

40

40

Page 41: UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA DEPARTAMENTO … · de viagem e turismo e contribuem de forma direta com o setor. De maneira geral, as margens de lucro de hotéis sofreram

41

2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

2.1 PESQUISA BIBLIOMÉTRICA

Com objetivo de levantamento de um portfólio das referências

que seriam mais relevantes para o trabalho, utilizou-se procedimentos

advindos da pesquisa bibliométrica, ou Bibliometria. A Bibliometria

desenvolve-se inicialmente a partir da elaboração de leis empíricas sobre

o comportamento da literatura, ou seja, estuda a evolução do

conhecimento no tempo (ARAÚJO, 2006).

A metodologia utilizada foi adaptada da proposta de revisão

bibliométrica do Laboratório de Metodologias Multicritério em Apoio à

Decisão da UFSC (LAbMCDA) para formação de portfólio de artigos,

que são compostas por oito etapas, elucidadas abaixo:

1. definição das bases de dados;

2. definição das palavras-chave;

3. busca e filtragem na base de dados;

4. seleção por alinhamento de título e por reconhecimento

científico;

5. leitura de resumos;

6. repescagem de referências excluídas;

7. seleção final dos artigos para portfólio de leitura.

Conforme a metodologia, identificou-se duas bases de dados

internacionais e reconhecidas de trabalhos científicos: Scopus e Science Direct. As bases contêm uma diversidade de trabalhos em vários campos

do conhecimento e contém publicações de fácil acesso, livres para o

download. Para identificação das linhas de pesquisa, definiu-se,

inicialmente, que as palavras-chave de maior relevância para o trabalho,

são:

hotel;

overbooking; newsvendor ou Newsboy.

É de importância destacar as variações de nomenclatura que

Newsvendor Model pode ser encontrado na literatura. O termo

Newsvendor pode ser encontrado como Newsboy e Model pode ser

encontrado como Problem ou como Game. Assim, tem-se as variações:

41

Page 42: UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA DEPARTAMENTO … · de viagem e turismo e contribuem de forma direta com o setor. De maneira geral, as margens de lucro de hotéis sofreram

42

Newsvendor Model, Newsvendor Problem, Newsvendor Game. O mesmo

ocorre para Newsboy e todos os termos possuem o mesmo significado.

Definida as palavras-chave para a pesquisa, estas foram buscadas

nas bases de pesquisa e, em seguida, aplicou-se filtros nas plataformas

para seleção dos trabalhos.

Na plataforma Scopus, foram aplicados os seguintes filtros à

busca: subáreas de pesquisa (engineering; computer science; decision

sciences; business and management and accounting; mathematics; economics, econometrics and finance), língua (inglês), tipo de fonte

(periódico, conference paper, capítulos de livros e review). Como

resultado dessa etapa foram encontrados 16 artigos.

O número relativamente baixo de referências encontradas deve-

se, em grande parte, pela particularidade das palavras-chave buscadas.

Por mais que haja um número expressivo de produções acadêmicas

referenciando as palavras-chave Overbooking e Hotel (484 publicações

encontradas na base Scopus), a utilização da palavra-chave Newsvendor Model em conjunto com Overbooking e Hotel resultou em uma pequena

parcela de produções acadêmicas encontradas, reforçando a originalidade

do trabalho.

Referente a seleção por alinhamento de título, há apenas 3 artigos

do total de 15 encontrados que possuem a palavra-chave Overbooking no

título. Estes artigos foram selecionados para incorporar o porfólio.

No sentido de verificar a relevância dos trabalhos acadêmicos

pesquisados, a base Scopus permite o ranqueamento das produções

científicas de acordo com o número de vezes em que estas foram citadas

na literatura. Neste sentido, foi utilizado a Regra de Pareto na

identificação das produções cujas citações correspondem a 80% do total

de citações de buscadas.

A seguir, a aplicação do Gráfico de Pareto nos 15 artigos

encontrados na Scopus é exibida na Figura 7.

42

Page 43: UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA DEPARTAMENTO … · de viagem e turismo e contribuem de forma direta com o setor. De maneira geral, as margens de lucro de hotéis sofreram

43

Figura 7 - Gráfico de Pareto

Fonte: O Autor

A partir do gráfico, constatou-se que há 6 artigos cujo número de

citações corresponde, acumulado, a 80% do número de citações de todos

os 15 artigos pesquisados. Os artigos selecionados tiveram seus títulos e

resumos analisados. A análise procurou identificar as produções que

possuíssem relação direta com overbooking e hotéis, desconsiderando

artigos que focassem, por exemplo, em Pricing e em outros setores, como

o setor aéreo. Resultou-se, então, em 3 artigos a serem incorporados ao

portfólio.

Na etapa de repescagem de referências por título buscou-se

produções de menor relevância em número de citações, mas que

possuíssem no título palavras similares a overbooking, como overselling.

Resultou-se em 1 artigo a ser inserido ao portfólio.

Assim, totalizou-se 4 artigos para serem lidos. Todas as etapas da

pesquisa bibliométrica na base de dados Scopus estão apresentadas no

Quadro 2.

43

Page 44: UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA DEPARTAMENTO … · de viagem e turismo e contribuem de forma direta com o setor. De maneira geral, as margens de lucro de hotéis sofreram

44

Quadro 2 - Pesquisa bibliométrica na base Scopus

Plataforma: SCOPUS

Busca e filtragem

Palavras-chave:

Hotel,

Overbooking,

Newsvendor Model

Filtros:

- Subárea de pesquisa: Business, management and

accounting, decision sciences, social sciences,

economics, econometrics and finance, engineering,

mathematics

- Língua: Inglês;

- Tipo de fonte: Periódico, Conference Paper,

Capítulo de livro e review;

Resultado: 15 artigos.

Seleção de artigos

por alinhamento do

título

Título que contenha palavras relacionadas ao tema,

como: Overbooking, Hotel, Newsvendor Model,

Revenue Management e Operations Management

Resultado: 15 artigos encontrados

Seleção por

reconhecimento

científico

Regra de Pareto: 80% das citações, pela Busca e

Filtragem,

Resultado: 6 artigos.

Leitura de resumos

e fichamento

Seleção por título de interesse: artigos que possuam

temáticas relacionadas a Overbooking e hotéis

Resultado: 3 artigos.

Repescagem de

referências por

título

Título que contém: Overselling, Overbooking,

Newsboy

Resultado: 1 artigos

Seleção dos artigos

para compor o

portfólio de leitura

Resultado: 4 artigos a serem lidos.

Fonte: O Autor

Para a base de dados Science Direct, foram realizadas as mesmas

etapas utilizadas na Scopus. No entanto, ressalta-se diferenças no que

tange às diferenças nas escolhas dos filtros da base. A Science Direct, ao

contrário da Scopus, não disponibiliza o número de citações para um

grupo de artigos. Por este motivo, não foi feita a seleção por

reconhecimento científico.

As etapas da pesquisa bibliométrica na base Science Direct podem

ser encontradas no Quadro 3, a seguir.

44

Page 45: UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA DEPARTAMENTO … · de viagem e turismo e contribuem de forma direta com o setor. De maneira geral, as margens de lucro de hotéis sofreram

45

Quadro 3 - Pesquisa bibliométrica na base Science Direct

Plataforma: Science Direct

Busca e Filtragem

Palavras-chave: Newsboy

Filtro: Hotel

Língua: inglês;

Tipo de fonte: Artigos de revisão e

artigos científicos

Resultado: 2 artigos

Seleção de artigos por alinhamento

do título

Título que contém: hotel

Resultado: 1 artigo.

Leitura de resumos e fichamento

Seleção por título de interesse:

artigos que possuam temáticas

relacionadas a overbooking e hotéis

Resultado: 1 artigo.

Repescagem de referências por título

Título que contém: Hotel

Resultado: 1 artigo.

Seleção dos artigos para compor o

portfólio de leitura Resultado: 1 artigo a ser lido.

Fonte: O Autor

Assim, somando-se a quantidade de artigos das duas bases, o

portfólio de leitura foi formado a partir de 5 artigos.

O resultado da pesquisa bibliométrica é ilustrado no Quadro 4,

contendo todas as referências escolhidas para integrar o portfólio de

leitura, ordenadas pelo ano de publicação.

45

Page 46: UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA DEPARTAMENTO … · de viagem e turismo e contribuem de forma direta com o setor. De maneira geral, as margens de lucro de hotéis sofreram

46

Quadro 4 - Portfólio de leitura

Fonte: Autor, European Journal of Operations Research, IIE Transactions,

INFORMS®, Journal of the operational research society, Transportation Science.

Após a seleção dos artigos para o portfólio de leitura, foi

realizada uma análise crítica do conteúdo de cada publicação para um

entendimento mais amplo do estado da arte atual relacionado ao tema do

trabalho.

O artigo de Baldinelli (1998) traz a formulação de um modelo

matemático dinâmico de reservas de hotel com o objetivo de maximizar

o lucro e que pode ser aplicado através de métodos computacionais. O

problema abordado pelo autor permite que também seja possível englobar

restrições de preço e diferentes tipos de quartos. Baldinelli (1998) destaca

a importância da segmentação de clientes para oferecer produtos e

serviços mais adequados àqueles segmentos de clientes escolhidos. Assim,

o autor inicialmente traz a distinção entre dois tipos diferentes de reservas:

Tipo Revealed-Price (RP) e Hidden-Price (HP)

Para as reservas RP, o cliente demonstra suas opções de compra

antes mesmo de realizá-la, fazendo com que a empresa tanto rejeite ou

aceite a oferta proposta do cliente, cabendo à empresa o conhecimento

dos ganhos e prejuízos financeiros que a proposta do cliente pode gerar.

Autor Ano Título Publicação

Baldinelli, R.D 1998 An optimal,

dynamic policy for

hotel yield

management

European Journal of

Operations Research

Şen, A.

Zhang, A

2007

The newsboy

problem with

multiple demand

classes

IIE Transactions

Lim, W. S. 2009 Overselling in a

Competitive

Environment: Boon

or Bane?

INFORMS®

Xiong, H,

Xie, J

Deng, X

2010

Risk-averse

decision making in

overbooking

problem

Journal of the

operational research

society

McGill, J. I

Ryzin ,G. J.

2017

Revenue

Management:

Research Overview

and Prospects

Transportation

Science

46

Page 47: UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA DEPARTAMENTO … · de viagem e turismo e contribuem de forma direta com o setor. De maneira geral, as margens de lucro de hotéis sofreram

47

As reservas HP ocorrem quando os clientes não revelam a

intenção de preço a pagar pelos serviços do hotel, fazendo com que a

transação entre cliente e empresa seja um evento probabilístico. O modelo

matemático é construído para atender a realidade das reservas tipo HP.

O autor também comenta sobre pontos fundamentais na gestão

hoteleira. Custos operacionais de um hotel são predominantemente custos

fixos - referentes as instalações físicas do empreendimento e, comparado

a custos variáveis, são custos com menor potencial de redução a curto

prazo. Consequentemente, uma maneira mais natural de maximizar o

lucro de um hotel é equivalente a maximizar a receita. Desta forma, a

gestão hoteleira deve-se preocupar em extrair o máximo de receita

obedecendo sua capacidade física limitada.

Assim, além de procurar manter um nível suficiente de ocupação,

hotéis necessitam ser eficientes em ofertar, além do serviço de estada,

uma gama de produtos e serviços que oportunizem a compra pelos seus

clientes durante o período de estada.

É desta maneira que Baldinelli (1998) incorpora em seu modelo

a ideia de que a maximização dos lucros do hotel advém da maximização

do PSP – Product and Service Package, que é a coleção de produtos e

serviços que clientes consomem durante a estada. Por exemplo, PSP pode

ser uma reserva de sexta-feira a domingo à noite, com 3 cafés da manhã

e dois vouchers de utilização do spa do hotel.

A respeito da política de overbooking, Baldinelli (1998) a inclui

como outras políticas que suportam a maximização de receita e é uma

variável incorporada em seu modelo matemático na forma de penalidade

financeira por realocar um cliente. Baldinelli (1998) também descreve

que o problema de overbooking pode ser modelado através do Newsboy Model, que é o modelo utilizado no trabalho. No entanto, mesmo que a

política traga retornos positivos na receita, o autor argumenta que o

overbooking só é adequado caso o hotel tenha mecanismos

compensatórios claros para os clientes, seja realocando-os em outros

hotéis, ou realocando-os em quartos de outras categorias do hotel.

Em adicional, o autor alerta sobre as consequências da política

como certos danos na imagem do hotel, que pode ofuscar o rendimento

adicional que a política pode trazer. No entanto, não foi detalhada a

maneira de mensurar esses custos de possíveis danos à imagem do hotel,

chamados na literatura de goodwill costs. O artigo de Şen et al. (2007) analisa outra aplicação do Newsboy

Problem - de forma mais ampla e não direcionada somente para o

segmento hoteleiro, o que explicita a flexibilidade de aplicações do

modelo.

47

Page 48: UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA DEPARTAMENTO … · de viagem e turismo e contribuem de forma direta com o setor. De maneira geral, as margens de lucro de hotéis sofreram

48

O estudo conduzido pelos autores tem o objetivo de determinar a

quantidade ótima de reposição de estoques - variável de decisão para o

problema - para produtos com preços crescentes e para produtos com

preços decrescentes no tempo. Como exemplo, produtos horti-fruti

podem ser enquadrados como produtos com preços decrescentes no

tempo e podem ter seu valor residual próximo de zero quando se

aproximam do fim de sua vida útil.

Vale ainda ressaltar que a reposição de estoques considerada

pelos autores é feita tão somente em um único momento anterior à

disponibilização do produto para a venda. Em outras palavras, caso a não

seja possível atender à demanda por falta de produtos, não há a opção de

realizar um pedido de compras de emergência. Essa premissa é tida como

condição básica para aplicação do modelo e é encontrada em várias

publicações na literatura.

Para chegar em modelos matemáticos que representem a

quantidade ótima de reposição de estoques, Şen et al. (2007) constrói duas

heurísticas:

a primeira, com preços decrescentes dos produtos e

examina o efeito de aplicar um único modelo Newsboy

Model para demandas múltiplas, utilizando um preço

médio para os produtos;

a segunda, com preços crescentes dos produtos e

examina o efeito de aplicar modelos sucessivos para

demandas múltiplas, sem considerar um preço médio

para os produtos.

O autor conclui que, em ambas heurísticas, seu modelo

matemático proposto nunca excede o valor ótimo de reposição de

estoques para o caso original de aplicação do Newsvendor Model, com

demanda única e preços constantes.

O artigo de Lim (2009), o autor questiona se a política de

overbooking ou overselling são políticas “ganha-ganha”, ou seja, positiva

tanto para a empresa, quanto para o consumidor.

Neste sentido, Lim (2009) analisa o cenário em que há uma

demanda incerta de clientes, que podem chegar a qualquer horário no

hotel. Assim, o autor comenta sobre dois tipos de clientes de quartos de

hotel: Aqueles que chegam mais cedo no hotel e que pagam o valor

normal da estada e aqueles que chegam mais tarde, que pagam mais caro

pela diária e possuem menor sensibilidade a variações de preços. Desta

48

Page 49: UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA DEPARTAMENTO … · de viagem e turismo e contribuem de forma direta com o setor. De maneira geral, as margens de lucro de hotéis sofreram

49

maneira, o autor considera que os clientes que chegam mais tarde são

clientes com maior valor para o hotel.

Assim, com esses dois tipos de clientes, o hotel depara-se com o

seguinte trade-off: garantir a venda para os clientes que chegam mais

cedo, ou reservar, a certo risco, uma parcela dos quartos para os clientes

que devem chegar mais tarde e estariam dispostos a pagar a mais pelas

diárias.

Desta forma, Lim (2009) enxerga que a política de overbooking

pode ser uma alternativa para o hotel, caso haja muitos clientes que

cheguem tarde. Desta maneira, o hotel iria ofertar quartos já ocupados por

clientes que chegaram mais cedo, com a condição de oferecer aos clientes

realocados algum tipo de compensação.

No entanto, segundo o autor, para ser uma política “ganha-

ganha”, há duas premissas que devem ser cumpridas:

a capacidade da empresa necessita ser relativamente

mais baixa do que a demanda de seus clientes de maior

valor. Em outras palavras, o hotel deverá disponibilizar

quartos já ofertados para clientes que chegam mais tarde;

a margem de lucro de uma revenda de quarto já ocupado

deve ser suficientemente alta, já considerando os

possíveis gastos advindos da reacomodação de clientes.

Em outras palavras, a decisão de revenda deve trazer

resultado econômico positivo.

O autor também traz pontos não mencionados nos outros artigos

do portfólio, como as implicações da prática de overbooking em um

mercado onde há monopólio e também em um mercado onde há um

duopólio de empresas, que é o objeto de estudo do autor. Em um mercado

caracterizado pelo monopólio, como caracteriza-se por um mercado em

que clientes não possuem condições alternativas de compra, à medida em

que a margem bruta para realizar overselling é positiva, a empresa terá

impacto positivo ao realizá-la.

Lim (2009) ainda propõe que a prática traz maior eficiência de

alocação de recursos em um mercado. Por exemplo, produtos que não

sejam quartos de hotel que não seriam usados ou descartados, poderiam

ser direcionados para consumidores que o valorizem. Em outras palavras,

caso o número de produtos adquiridos seja superior à demanda,

acarretando em sobras de produtos, a empresa pode ganhar receita na

venda desses produtos, caso esses produtos possuam valor residual

diferente de zero.

49

Page 50: UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA DEPARTAMENTO … · de viagem e turismo e contribuem de forma direta com o setor. De maneira geral, as margens de lucro de hotéis sofreram

50

Lim (2009) ainda relata das consequências nos preços do

mercado com a prática. Overbooking, inevitavelmente, insere mais

produtos no mercado, o que pode, potencialmente, gerar uma queda de

preços no mercado, comprometendo a rentabilidade das empresas

concorrentes.

O quarto artigo da lista, de Xiong et al. (2010) realiza um estudo

em que incorpora o perfil do decisor na decisão de realizar o overbooking.

A contribuição do artigo no porfólio está no fato de que a

literatura de overbooking considera, em sua grande maioria, do perfil do

decisor sendo neutro ao risco. Xiong et al. (2010), diferentemente, avalia

o perfil de um decisor averso ao risco. Segundo o autor, nem todos os

decisores são neutros ao risco, já que muitos têm o desejo de evitar

possíveis perdas financeiras.

O autor propõe um modelo matemático de overbooking multi-

período, ou seja, a análise é realizada em mais de um período, com decisor

averso ao risco que possui função exponencial de utilidade.

No último artigo do porfólio, McGill et al. (2017) traz uma visão

mais generalista e com aplicações em diversas áreas da economia sobre

as práticas de Revenue Management. Entre elas, o overbooking. Das

passagens mais relevantes, o autor relata que a prática de overbooking tem

histórico de pesquisa mais longo que todas outras práticas e ferramentas

empregadas em Revenue Management. A prática também tem

importância acadêmica relevante por já ter sido abordada em estudos do

antigo Prêmio Nobel em Economia em 1961, William Vickery, em que

bens anunciados em condições de overselling podem ser feitas através de

leilões.

O estudo de McGill et al. (2017) também realiza uma completa

revisão bibliográfica sobre a temática de overbooking e aborda as

diferentes maneiras em que a prática é encontrada na literatura. Por

exemplo, o problema de overbooking pode incorporar: demandas

advindas de múltiplos segmentos por um mesmo produto, período único

ou mais de um período de análise, incorporar ou não cancelamentos

durante a estada entre outros.

De maneira geral, infere-se que a prática de overbooking é bem

difundida na literatura, cujas buscas totalizam em 2.116 referências

encontradas na base Scopus e 1.247 na Science Direct. Como prática

alternativa de geração de receitas, o overbooking é mais frequentemente

encontrada na literatura em aplicações como assentos de avião do que em

quartos de hotel ou em tickets de eventos.

Para o setor hoteleiro, a segundo McGill et al. (2017),

overbooking tem sido uma das práticas mais estudadas de um conceito

50

Page 51: UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA DEPARTAMENTO … · de viagem e turismo e contribuem de forma direta com o setor. De maneira geral, as margens de lucro de hotéis sofreram

51

mais amplo, chamado de Revenue Management, que engloba outras

práticas além do overbooking, como a prática de precificação.

No entanto, quando se relaciona a prática de overbooking com

Newsvendor Model, o número de referências encontradas reduz-se

consideravelmente por ser algo pouco explorado na literatura. O número

reduzido de publicações é explicado pelo fato de que utilizar o

Newsvendor Model para abordar o problema de overbooking é uma tratar

o problema de maneira particular. O modelo, por sua vez, é comumente

difundido na literatura de gestão de cadeia de suprimentos, cujas

aplicações estendem-se à determinação de estoques de produtos

perecíveis.

Consequentemente, a utilização do Newsvendor Model para

problemas de overbooking trata-se de uma abstração de uma aplicação

originalmente já concebida para produtos físicos perecíveis, só que

adaptada a quartos de hotel.

Os artigos componentes do portfólio possuem ponto de

convergência na proposição de um modelo matemático de otimização,

seja por maximização de receitas, seja por minimização de custos. Os

artigos utilizam a decisão de overbooking como uma das variáveis que

integram um problema de otimização.

Em adicional, como outro ponto de convergência entre os autores,

há o relato que a prática tem potencial de geração de retornos positivos

quando é cuidadosamente elaborada, em que se conhecem os custos de

não honrar a oferta de um produto ou serviço para o cliente, mesmo que

este já o tenha reservado ou pago ou de reacomodá-lo.

Como ponto de divergência, os artigos se diferenciam da

abrangência de variáveis que são incorporadas no problema, como as

anteriormente citadas por McGill et al. (2017) e também abordadas por

Şen et al. (2007), que estuda a maneira em que variação de preços dos

produtos influencia na quantidade ótima de reposição de estoques.

Dentre as referências que compõem o portfólio e de outras

também analisadas, mas que não foram escolhidas para a sua composição,

percebe-se a breve evolução do tema para áreas de estudo que exploram

fatores como o comportamento do decisor, conforme ilustrado por Xiong

et al. (2010). Em adicional, também foi verificado que o overbooking

mostra tendência de ser analisado de maneira integrada com outras

ferramentas de Revenue Management e pode servir de insumos para

definição de políticas diferenciadas precificação e para outras tomadas de

decisão na gestão hoteleira.

51

Page 52: UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA DEPARTAMENTO … · de viagem e turismo e contribuem de forma direta com o setor. De maneira geral, as margens de lucro de hotéis sofreram

52

2.2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

Nesta seção, são discutidos três tópicos. O primeiro trata de

Revenue Management, suas práticas e ferramentas. Dentre elas, o

overbooking. Em seguida, é abordado o Newsvendor Model, discorrendo

sobre suas origens e diferentes aplicações. Por último, é realizada breve

contextualização sobre modelos de árvore de decisão.

2.2.1 Revenue Management

De acordo com Bayoumi (2017), Revenue Management (RM) é

vista como a ciência que tem como objetivo gerir uma quantidade

limitada de um suprimento no sentido de maximizar a receita.

Primeiramente desenvolvida pela indústria aérea, as práticas de RM se

expandiram para uma variedade de setores.

Kimes (2011) e Wirtz (2003) citam que as práticas de RM têm

grandes contribuições para setores que compartilhem das seguintes

características:

produto perecível;

capacidade limitada;

demanda incerta;

mercado altamente segmentado;

possibilidade de reservar produtos ou serviços ofertados com

antecedência ao consumo;

razão custo variável por custo fixo baixa.

O segmento hoteleiro, atualmente, utiliza-se de uma abrangência

de ferramentas advindas do RM, grande parte devido a aderência às

características apontadas acima. O RM tem papel essencial de sincronizar

a oferta de quartos com a demanda do mercado, por alocar a capacidade

limitada dos hotéis de uma maneira em que se maximize a receita do

empreendimento.

Assim, Kimes (2011) e Wirtz (2003) definem Revenue Management como a aplicação de ferramentas que fazem a alocação da

capacidade de hotéis para o consumidor certo, na hora certa e pelo preço

certo.

Dentre as ferramentas existentes em RM, Ivanov e Zhechev

(2017) as segmenta em 2 grupos distintos: pricing e non-princing. No

primeiro grupo, as ferramentas de pricing tem foco nas decisões que

52

Page 53: UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA DEPARTAMENTO … · de viagem e turismo e contribuem de forma direta com o setor. De maneira geral, as margens de lucro de hotéis sofreram

53

influenciam diretamente o preço mais adequado a ser ofertado pelo hotel

para que se maximize a receita. Por exemplo, a discriminação de preços

e a precificação dinâmica. Já as ferramentas non-pricing são aquelas cujos

efeitos não contribuem diretamente na modificação do preço dos quartos

ofertados à clientela, mas relacionam-se diretamente com o controle da

capacidade do hotel. Dentre elas, a gestão de capacidade, o controle de

duração de estada e o overbooking.

Das ferramentas de categoria pricing, a discriminação de preços

é considerada por Hanks (2002) como ferramenta-chave no RM. A prática

consiste em oferecer, para os mesmos quartos, preços diferenciados de

diárias para clientes. A decisão baseia-se no fato de que clientes podem

ter diferentes sensibilidades aos preços ofertados, o que é explicado nas

diferentes elasticidades aos preços que clientes de lazer podem ter

comparados a clientes a negócios, por exemplo. A discriminação de

preços ofertados também pode ser em função de, por exemplo dias da

semana da estada do cliente ou se o cliente faz parte de um programa de

descontos.

A precificação dinâmica consiste em definir um preço flutuante

de diária, na medida em que ajusta os preços à demanda e à taxa de

ocupação do hotel. Assim, regula seus preços de acordo com a lei da

oferta e da demanda do mercado, de forma a maximizar os retornos

obtidos pelas diárias cobradas. Desta forma, clientes normalmente podem

pagar preços diferentes mesmo que tenham reservado quartos de mesma

categoria, de mesma duração de estada e nos mesmos dias da semana. Os

preços, assim, variam de acordo com, por exemplo, o momento em que

foi reservado, o canal de venda utilizado (internet, reserva no balcão ou

via agência de turismo).

Não obstante, a precificação dinâmica, segundo Ivanov e

Zhechev (2017), deve ser utilizada com cautela, já que, para fornecer o

retorno em receita esperado, deve gerir ampla gama de informações

advindas de vários canais diferentes de vendas e relacionamento que o

hotel utiliza.

Referente às ferramentas da categoria non-pricing, a gestão de

capacidade de um empreendimento hoteleiro compreende ao conjunto de

atividades que são dedicadas ao controle de capacidade do hotel. Ivanov

e Zhechev (2017) distinguem entre decisões estratégicas e de curto prazo

(táticas) de gerenciamento de capacidade.

A primeira, refere-se às decisões como expandir ou não o número

de quartos, à definição de taxas ótimas de ocupação e a flexibilidade que

o hotel tem em responder às flutuações de demanda, alterando sua

capacidade. Já as decisões de curto prazo, referem-se às decisões de

53

Page 54: UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA DEPARTAMENTO … · de viagem e turismo e contribuem de forma direta com o setor. De maneira geral, as margens de lucro de hotéis sofreram

54

gestão de capacidade diárias que o hotel precisa tomar, como: horários de

chegada e saída de hóspedes, aplicação de ferramentas de teoria das filas

e programação linear nos processos de serviço etc.

De uma maneira mais ampla, a gestão de capacidade pode não

somente referir-se aos quartos de hotel, mas também, caso aplicável ao

empreendimento, para instalações como restaurantes, salas de reuniões,

auditórios e outras instalações presentes na infraestrutura, utilizando

ferramentas específicas de gestão de capacidade para cada finalidade.

O controle de duração de estada refere-se ao grupo de atividades

que um empreendimento hoteleiro realiza para definir limites de mínimo

e, em menor ocorrência, de máximo número de diárias que clientes podem

reservar. Essas decisões ocorrem como forma de hotéis se protegerem

frente à possíveis perdas de receita, quando, por exemplo, clientes fazem

reservas de poucos dias em períodos de alta demanda (como é o caso do

hotel sediar algum evento).

Além do mais, hotéis podem gerar receitas adicionais ao

oferecerem diárias extras em períodos de baixa demanda, o que pode

ocorrer, por exemplo, com hotéis de público-alvo business oferecerem

estada compulsória aos sábados para todas as reservas que incluem uma

sexta-feira à noite. Assim, os empreendimentos podem gerar receitas

adicionais com serviços como serviços de quarto, refeições etc. por

estenderem por mais um dia a estada de seu cliente.

O overbooking, por sua vez, é uma prática que consiste em

oferecer produtos ou serviços além da capacidade disponível em um

período. A prática foi primeiramente concebida no setor de aviação, em

que permitia que empresas do setor obtivessem maior controle sobre

cancelamentos de última hora e no-shows, optando por reservar assentos

a limite da capacidade das aeronaves. O conceito foi herdado pelo setor

hoteleiro, para a reserva de quartos.

No entanto, a prática tem-se mostrado controversa já que, ao

decidir realizar overbooking, tomadores de decisão devem balancear as

consequências negativas e positivas que poderão ocorrer tanto para

clientes, quanto para as empresas que o praticam.

Poon e Tse (2016) argumentam que o overbooking aprimora as

eficiências operacionais, fazendo o bom uso de quartos de hotel ou de

assentos de avião, que, de outra forma, poderiam ser desperdiçados. Para

a realidade do setor hoteleiro, estudos empíricos e relatórios de grandes

redes têm dado credibilidade ao papel da prática no controle de perdas

potenciais de receita, solidificando-a como um dos componentes de maior

importância dentro do Revenue Management.

54

Page 55: UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA DEPARTAMENTO … · de viagem e turismo e contribuem de forma direta com o setor. De maneira geral, as margens de lucro de hotéis sofreram

55

Weatherford (1995) estima a possibilidade de ganhos na ordem

de US$ 200 milhões anuais na rede Marriott advindos diretamente das

práticas de overbooking e de ferramentas que auxiliam o controle de

capacidade. Já Vinod (2004) atribui que, dentre as técnicas de Revenue

Management, 20% do total de receitas em potencial vem de práticas de

overbooking.

No entanto, por mais que a prática contribua positivamente para

a receita de hotéis e maximize a utilização da capacidade instalada, a

estratégia pode ser prejudicial (Guo, 2015). Quando um hotel decide

praticá-la, deve estar preparado para as consequências negativas de

desagradar clientes ou até mandá-los embora do estabelecimento após

descobrirem que o quarto reservado não está mais disponível. Desta

maneira, para lidar com a situação, cabe ao hotel tomar medidas cabíveis

que possam, assim, evitar causar danos morais e materiais nos clientes.

Como exemplo entre as alternativas disponíveis: reacomodar

hóspedes em quartos superiores àqueles previamente reservados no

mesmo hotel ou em hotéis de redes parceiras, buscando oferecer cobertura

aos mesmos serviços também previamente contratados; emitir um

voucher com valor igual ou superior ao valor pago pelas diárias etc.

Desta maneira, ao optar-se pela prática, deve-se buscar um

equilíbrio entre os custos advindos de negar um serviço previamente

contratado pelos clientes com a receita potencial que o overbooking pode

trazer. Desta forma, a prática justifica-se na medida em que supera os

possíveis inconvenientes que podem ser gerados para os clientes.

Ao contrário do setor aéreo brasileiro, que possui diretrizes claras

sobre overbooking propostas pela ANAC, não há leis ou diretrizes

específicas que regulamentem a prática no setor hoteleiro, nem que a

proíba. No entanto, caso a prática acarrete em algum dano aos clientes, a

empresa praticante pode responder por infração do Código de Defesa do

Consumidor, que exige o pagamento de indenização ou alguma

compensação a clientes que sofreram algum tipo de dano, seja ele moral

ou material. Mais precisamente, de acordo com o Código de Defesa do

Consumidor, Lei 8.078/1990, art.14:

CDC - Lei nº 8.078 de 11 de setembro de

1990 Dispõe sobre a proteção do consumidor e dá outras

providências.

Art. 14. O fornecedor de serviços responde,

independentemente da existência de culpa, pela

reparação dos danos causados aos consumidores

55

Page 56: UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA DEPARTAMENTO … · de viagem e turismo e contribuem de forma direta com o setor. De maneira geral, as margens de lucro de hotéis sofreram

56

por defeitos relativos à prestação dos serviços, bem

como por informações insuficientes ou

inadequadas sobre sua fruição e riscos.

§ 1º O serviço é defeituoso quando não fornece a

segurança que o consumidor dele pode esperar,

levando-se em consideração as circunstâncias

relevantes, entre as quais:

I – O modo de seu fornecimento;

II – O resultado e os riscos que

razoavelmente dele se esperam;

III – A época em que foi fornecido.

§ 2º O serviço não é considerado defeituoso pela

adoção de novas técnicas.

§ 3º O fornecedor de serviços só não será

responsabilizado quando provar:

I – que, tendo prestado o serviço, o defeito

inexiste;

II – a culpa exclusiva do consumidor ou de

terceiros.

§ 4º A responsabilidade pessoal dos profissionais

liberais será apurada mediante a verificação de

culpa.

Da mesma maneira, caso a empresa não providenciar as

compensações necessárias que anulem ou amenizem o dano aos clientes,

esta estaria cometendo uma infração das normas do Código, que são

melhor detalhadas no art.56 abaixo:

Art. 56. As infrações das normas de defesa do

consumidor ficam sujeitas, conforme o caso, às

seguintes sanções administrativas, sem prejuízo

das de natureza civil, penal e das definidas em

normas específicas:

I - multa;

II - apreensão do produto;

III - inutilização do produto;

IV - cassação do registro do produto junto ao órgão

competente;

V - proibição de fabricação do produto;

VI - suspensão de fornecimento de produtos ou

serviço;

VII - suspensão temporária de atividade;

VIII - revogação de concessão ou permissão de uso;

56

Page 57: UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA DEPARTAMENTO … · de viagem e turismo e contribuem de forma direta com o setor. De maneira geral, as margens de lucro de hotéis sofreram

57

IX - cassação de licença do estabelecimento ou de

atividade;

X - interdição, total ou parcial, de estabelecimento,

de obra ou de atividade;

XI - intervenção administrativa;

XII - imposição de contrapropaganda.

Parágrafo único. As sanções previstas neste artigo

serão aplicadas pela autoridade administrativa, no

âmbito de sua atribuição, podendo ser aplicadas

cumulativamente, inclusive por medida cautelar,

antecedente ou incidente de procedimento

administrativo.

Para avaliar as diferentes frequências de ocorrência de queixas

de clientes frente a prática de overbooking, o volume de reclamações no

site reclameaqui.com.br foi analisado. A plataforma é reconhecida por

em registrar feedbacks de consumidores brasileiros frente a serviços ou

produtos consumidos.

Em pesquisa realizada no dia 14 de março de 2018, foram

pesquisadas as palavras-chave: overbooking voo e overbooking hotel. A

plataforma registrou o número de 2.540 ocorrências da palavra

overbooking no site. No entanto, mais da metade das ocorrências foram

feitas por práticas da aviação civil, quando pesquisada a palavra-chave

“overbooking voo”, conforme pode ser visualizado na Figura 8.

57

Page 58: UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA DEPARTAMENTO … · de viagem e turismo e contribuem de forma direta com o setor. De maneira geral, as margens de lucro de hotéis sofreram

58

Figura 8 - Quantidade percentual de ocorrência de queixas de overbooking

Fonte: reclameaqui.com.br

A respeito da categoria “overbooking outros” enquadram-se

casos de reclamações com compras de varejo anunciadas e não

disponíveis, provedores e serviços de internet, empresas de ônibus,

ingressos de shows e de cinema.

46%

27%

27%

Overbooking voo Overbooking hotel Overbooking outros

58

Page 59: UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA DEPARTAMENTO … · de viagem e turismo e contribuem de forma direta com o setor. De maneira geral, as margens de lucro de hotéis sofreram

59

2.2.2 Newsvendor Model

Nessa seção, é revisado o referencial teórico do Newsvendor Model ou também chamado de Newsboy Model ou, ainda, Problema do

Jornaleiro, como é conhecido em português.

Segundo Porteus (2008), os primeiros estudos do que se conhece

hoje como o Newsvendor Model datam de 1888, em que Edgeworth em

1888 no contexto bancário, deparava-se com o problema de decidir o

nível de reservas monetárias que cobririam as demandas de seus clientes.

Somente em 1951, com Morse e Kimball, que o termo Newsboy foi

utilizado pela primeira vez. O problema começou a ser conhecido como

“Problema da Árvore de Natal” e Problema do Jornaleiro nos anos de

1960 e 1970. Porém, somente em 1980, Matt Sobel sugeriu o nome de

Newsvendor Problem, que hoje é o mais utilizado.

Conforme descrito por Porteus (2008), o modelo tem aderência

nas situações em que, quando um recurso limitado é requisitado de

maneira aleatória e uma decisão necessita ser feita, considerando a

disponibilidade dos recursos, antes de descobrir a quantidade requisitada.

O modelo também considera que as consequências econômicas de “ter

muito” ou “ter pouco” devem ser conhecidas. Em outras palavras, o

pedido é feito e recebido pelo vendedor em um momento anterior à

demanda, o que leva a possíveis excessos ou faltas que, por sua vez,

geram perdas econômicas.

O modelo leva o nome de Problema do Jornaleiro pois, segundo

Hill (2017), a cada manhã, o vendedor de jornais necessita fazer pedidos

para o dia de entregas. Se o jornaleiro fizer um pedido muito grande em

relação a demanda, alguns jornais poderão ser jogados fora ou vendidos

como jornais velhos no final do dia. Se o jornaleiro fizer um pedido muito

pequeno, alguns consumidores ficarão decepcionados sem receber seus

jornais e deixará, assim, de receber lucro pelas vendas que perdeu. Desta

forma, o Problema do Jornaleiro é utilizado para encontrar o número

ótimo de jornais que maximiza o lucro esperado, dada a distribuição

incerta de demanda e parâmetros conhecidos dos custos.

Ainda que o modelo tenha sido construído a partir da situação de

entrega de jornais, o Problema do Jornaleiro é um dos mais celebrados na

literatura de gestão de operações e tem várias aplicações para tomada de

decisão tanto para manufatura ou serviços, quanto para decisões

individuais. Segundo Qin et al. (2011), o Newsvendor Model é um dos

problemas clássicos do gerenciamento de estoque e suas ideias têm

implicações abrangentes para o gerenciamento de inventário para

organizações como hospitais, companhias aéreas e bens de moda.

59

Page 60: UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA DEPARTAMENTO … · de viagem e turismo e contribuem de forma direta com o setor. De maneira geral, as margens de lucro de hotéis sofreram

60

Conforme descreve Vähä-Pietilä (2015), a estrutura do modelo é

bastante direta e não muito complexa. O problema tradicional e a solução

ótima fornecem um bom ponto de partida para outras extensões do

problema que, caso consideradas, podem fazer com que a solução mude

significantemente. Fatores como precificação dinâmica, possibilidade de

o ativo possuir valor residual diferente de zero, possibilidade de reposição

de estoque, perfil da demanda e número de períodos de análise, podem

ocasionar modificações no problema original.

A introdução de diferentes variáveis no Newsvendor Model

oferece oportunidades a pesquisadores a aproximar-se das situações do

mundo real.

Segundo Hill (2017), todos os problemas que envolvam a

aplicação clássica do Newsvendor compartilham de estrutura matemática

comum, com os seguintes elementos:

Variável de decisão (Q): O modelo visa encontrar o valor ótimo

de Q, em decisão única no período, em que Q é a quantidade a decidir,

por exemplo: de itens a serem comprados, do nível de estoque de

segurança, número de quartos postos em overbooking, etc. 𝑄∗ denota o

valor ótimo de quartos postos a overbooking. F(Q), por sua vez,

representa os valores da função de distribuição de no-shows.

Demanda (D): A demanda é uma variável aleatória definida pela

distribuição de demanda, por exemplo: distribuição normal, Poisson etc.

A demanda, por sua vez, pode ser discreta ou contínua. Para o contexto

do estudo, a demanda é discreta, e corresponde a demanda por quartos de

hotel.

Custo unitário de excesso (𝐶𝑒): Trata-se do somatório de todas as

perdas econômicas referentes a decisão de compra de um item a mais que

a demanda durante o período de análise. Com ressalva, no contexto de

empresas de varejo, por exemplo, 𝐶𝑒 pode ser dado pelo custo de compra

(𝐶) menos o valor residual do produto (𝑟) 𝐶𝑒 = 𝐶 − 𝑟, já que o valor

residual pode ser recuperado no final do momento de análise.

Para o contexto de overbooking em hotéis, por sua vez, 𝐶𝑒

equivale a consequência econômica em deixar de ter reservado um quarto

a mais e, então, ter capturado a demanda por este quarto. Por exemplo, o

hotel decide realizar o overbooking de cinco quartos, mas apenas quatro

clientes aparecem. Assim, um quarto deixa de ser alugado e o hotel

também deixaria de faturar com todos possíveis serviços que o cliente

poderia consumir durante a estada. Estes possíveis serviços podem ser

estimados pelo ticket-médio de gastos extras por cliente em cada diária.

60

Page 61: UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA DEPARTAMENTO … · de viagem e turismo e contribuem de forma direta com o setor. De maneira geral, as margens de lucro de hotéis sofreram

61

É representado, então, pela fórmula:

𝐶𝑒 = 𝑉𝑎𝑙𝑜𝑟 𝑑𝑒 𝑑𝑖á𝑟𝑖𝑎 𝑚é𝑑𝑖𝑎 +

𝑇𝑖𝑐𝑘𝑒𝑡 𝑚é𝑑𝑖𝑜 𝑑𝑒 𝑔𝑎𝑠𝑡𝑜 𝑒𝑥𝑡𝑟𝑎 𝑝𝑜𝑟 𝑑𝑖á𝑟𝑖𝑎

Custo unitário de falta (𝐶𝑓): Trata-se do somatório das perdas

econômicas referentes a decisão de compra de 1 item a menos do que a

demanda durante o período de análise. No contexto de varejo, por

exemplo, 𝐶𝑓 é representado pelos custos de Stockout. As perdas

econômicas referentes ao Stockout, no modelo em questão, por sua vez,

são tratadas como custos de oportunidade, que é o preço (𝑝) subtraído do

custo unitário do produto (𝑐). Ou seja, a empresa perde a oportunidade

de obtenção de lucro com aquele produto ou serviço que não foi

disponibilizado ao cliente. Além disso, pode ser também levado em

consideração outras perdas econômicas intangíveis, advindas da

insatisfação do cliente não ter consumido o produto ou serviço (𝑐𝑖).

Os custos associados à insatisfação do cliente possuem maior

complexidade para estimar, já que, clientes diferentes podem incorrer a

valores diferentes de 𝑐𝑖 . Por exemplo, em casos de pequena lealdade à

marca, clientes podem consumir o produto ou serviço alternativo àquele

em Stockout, ou até podem também retornar em outra data, o que faz com

que o possível valor de 𝑐𝑖 seja um valor pequeno comparado à 𝑝 e 𝑐 .

No entanto, alguns clientes podem se desapontar ao fenômeno de

Stockout de modo em que não voltem a consumir o produto ou serviço

novamente, fazendo com que a empresa deixe de lucrar o equivalente ao

valor presente líquido dos lucros com o cliente em suas futuras compras.

𝐶𝑓 é calculado por: 𝐶𝑓 = 𝑝 − 𝑐 + 𝑐𝑖.

Para overbooking em hotéis, por sua vez, 𝐶𝑓 equivale às

consequências econômicas de não honrar uma diária ao cliente. Nesse

sentido, o hotel pode arcar com custos de, por exemplo, realocar o cliente

em um quarto do mesmo hotel; ou de realocar o cliente em um hotel

parceiro, incluindo o custeio de transporte do cliente; em ter que emitir

um voucher de vale-estada para consumo futuro do cliente; além de

também ser possível a existência de multas e custos intangíveis de

insatisfação, como o 𝑐𝑖 , que podem integrar cada um dos custos

previamente descritos.

Considerando os casos, o valor de 𝐶𝑓 pode ser representado pelas

seguintes expressões:

61

Page 62: UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA DEPARTAMENTO … · de viagem e turismo e contribuem de forma direta com o setor. De maneira geral, as margens de lucro de hotéis sofreram

62

𝐶𝑓 = 𝐶𝑢𝑠𝑡𝑜𝑠 𝑑𝑒 𝑟𝑒𝑎𝑙𝑜𝑐𝑎çã𝑜 𝑒𝑚 𝑢𝑚 ℎ𝑜𝑡𝑒𝑙 𝑝𝑎𝑟𝑐𝑒𝑖𝑟𝑜 +

𝐶𝑢𝑠𝑡𝑜 𝑑𝑒 𝑡𝑟𝑎𝑛𝑠𝑝𝑜𝑟𝑡𝑒 𝑑𝑜𝑠 𝑐𝑙𝑖𝑒𝑛𝑡𝑒𝑠

𝐶𝑓 = 𝐶𝑢𝑠𝑡𝑜𝑠 𝑑𝑒 𝑟𝑒𝑎𝑙𝑜𝑐𝑎çã𝑜 𝑛𝑜 𝑚𝑒𝑠𝑚𝑜 ℎ𝑜𝑡𝑒𝑙

𝐶𝑓 = 𝑀𝑢𝑙𝑡𝑎 𝑝𝑜𝑟 𝑛ã𝑜 ℎ𝑜𝑛𝑟𝑎𝑟 𝑜 𝑠𝑒𝑟𝑣𝑖ç𝑜

𝐶𝑓 = 𝐶𝑢𝑠𝑡𝑜𝑠 𝑑𝑒 𝑒𝑚𝑖𝑠𝑠ã𝑜 𝑑𝑒 𝑣𝑜𝑢𝑐ℎ𝑒𝑟 𝑑𝑒 𝑑𝑒𝑠𝑐𝑜𝑛𝑡𝑜

𝑝𝑎𝑟𝑎 𝑑𝑖á𝑟𝑖𝑎 𝑓𝑢𝑡𝑢𝑟𝑎

O objetivo do Newsvendor Model é encontrar o valor ótimo de Q,

em que se equilibram os custos unitários de excesso e os custos unitários

de falta, ou seja, quando estes são iguais.

Os custos de falta e de excesso são ponderados a partir das

probabilidades de excesso e de falta. Ou seja, de quando demanda superar

a quantidade, ocasionando custos de falta 𝑃(𝐷 ≥ 𝑄)𝐶𝑓, e para quando a

demanda for inferior à quantidade ofertada, ocasionando os custos de

excesso.

Definidas as variáveis, o valor ótimo de Q, Q*, pode ser

encontrado da seguinte maneira:

𝑃(𝐷 ≥ 𝑄)𝐶𝑓 = 𝑃(𝐷 < 𝑄)𝐶𝑒

(1 − 𝐹(𝑄))𝐶𝑓 = 𝐹(𝑄)𝐶𝑒

𝐶𝑓 − 𝐹(𝑄)𝐶𝑓 = 𝐹(𝑄)𝐶𝑒

𝐶𝑓 = 𝐹(𝑄)(𝐶𝑓 + 𝐶𝑒)

𝐹(𝑄) =𝐶𝑓

𝐶𝑓 + 𝐶𝑒

Na literatura, a fração encontrada acima é normalmente chamada

de Fração Crítica e assume valores entre 0 e 1. O número ótimo 𝑄∗, por

sua vez, pode ser obtido considerando 𝐹−1 o inverso da distribuição

cumulativa e é dado pela relação abaixo:

𝑄∗ = 𝐹−1 (𝐶𝑓

𝐶𝑓 + 𝐶𝑒)

62

Page 63: UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA DEPARTAMENTO … · de viagem e turismo e contribuem de forma direta com o setor. De maneira geral, as margens de lucro de hotéis sofreram

63

A utilização da Fração Crítica pode ser encontrada na literatura

também no sentido de definir o nível de “proteção” para quartos de

categoria superior, a serem reservados.

Por exemplo, um hotel com capacidade fixa de 150 leitos e possui

duas taxas que podem ser cobradas aos seus clientes: superior, com diária

de R$250 para clientes de negócios e inferior, de R$150, para clientes do

tipo lazer. O decisor tem o objetivo de maximizar sua receita frente a uma

demanda incerta por quartos de categoria superior, enquanto a demanda

por quartos de categoria inferior é abundante durante todo o período.

Num primeiro momento, utilizar toda a capacidade do hotel para

receber os clientes seria a maneira de maximizar a receita. Porém, não é

garantido que a demanda se materialize. O decisor, então, depara-se com

o trade-off: Se fizer a proteção de muitos quartos de categoria superior e

não obtiver demanda suficiente, o hotel perde a oportunidade de ter

garantido alguns quartos para a categoria inferior. Se o hotel proteger um

número pequeno de quartos e a demanda por quartos superiores for maior

que a esperada, perde-se a oportunidade de ter reservado mais quartos

para clientes mais valiosos. Neste contexto, a utilização do Newsvendor

Model para decidir a quantidade ideal de quartos a serem protegidos para

a categoria superior, considerando os custos de ter realizado muita ou

pouca proteção dos quartos.

2.2.3 Árvores de Decisão

Árvores de decisão são utilizados em diversas áreas do

conhecimento como ciência da computação, botânica e psicologia. As

árvores auxiliam a interpretação de dados de maneira gráfica, o que pode

facilitar o entendimento de problemas em que um grande conjunto de

dados necessita ser analisado (RAMASWAMI, 2010).

Nas árvores, algoritmos são utilizados para realizar inferências

em um conjunto de dados e para compreender a maneira com que

determinados dados de uma amostra se relacionam. A construção se dá

através do particionamento recursivo de um universo de dados, que gera

vários subconjuntos menores de dados. (BREIMAN et al., 1984). As

árvores são constituídas pela raiz, nós, ramos e folhas.

A raiz contém todo o conjunto de dados a ser analisado. Os nós

contêm testes que avaliam as amostras frente a um atributo, realizando o

particionamento de dados. Cada ramo descendente corresponde a um

possível valor desse atributo e cada folha gerada está associada a uma

classe e, cada percurso da árvore, da raiz até a folha corresponde a uma

regra de classificação. O universo de dados é dividido em subconjuntos

63

Page 64: UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA DEPARTAMENTO … · de viagem e turismo e contribuem de forma direta com o setor. De maneira geral, as margens de lucro de hotéis sofreram

64

menores até que cada um deles contemple apenas uma classe ou até que

uma das classes demonstre uma clara maioria não justificando posteriores

divisões. (FONSECA, 1994). A Figura 9 ilustra um exemplo de árvore de

decisão e seus elementos constituintes.

Figura 9 - Árvore de decisão e elementos constituintes

Fonte: Fonseca (1994)

Dentre os algoritmos existentes para a construção de árvores de

decisão destaca-se o CART, CHAID, C4.5, ID3. Para o presente trabalho,

foi escolhido o algoritmo CHAID, do acrônimo, em inglês, Chi-squared

Automatic Interaction Detector, presente no software Statistica. Para

cada nó da árvore, o algoritmo se baseia no teste de qui-quadrado para

determinar a melhor divisão seguinte em cada etapa.

64

Page 65: UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA DEPARTAMENTO … · de viagem e turismo e contribuem de forma direta com o setor. De maneira geral, as margens de lucro de hotéis sofreram

65

3. PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

Com o propósito de atingir o objetivo do trabalho, será realizado

um estudo de caso em um hotel sediado na cidade de São Paulo-SP.

A presente seção terá o objetivo de descrever as etapas

metodológicas que conduziram aos resultados obtidos pelo estudo. A

metodologia está dividida em quatro etapas, ilustradas a seguir no Quadro

5.

Quadro 5 - Etapas metodológicas utilizadas

Sequência Etapa Ferramenta utilizada

1 Análise panorâmica de dados Entrevista semiestruturada

com colaboradores do hotel

2

Análise da interelação das

variáveis de interesse ao

problema

Software Statistica

3

Cálculo do número ótimo de

overbooking para cada

circunstância avaliada

Entrevista semiestruturada

com colaboradores do hotel

Software Statistica

4 Interpretação de resultados Software Statistica

Fonte: O autor

Na primeira etapa, foram realizadas entrevistas com

colaboradores do hotel, com o objetivo de compreender o perfil de no-

shows, cancelamentos e de reservas do hotel. O horizonte de análise

escolhido será constituído por dados dos anos de 2015, 2016 e de 2017.

Referente às entrevistas, dois colaboradores serão entrevistados:

o diretor geral do hotel, responsável pela gestão geral do hotel, e um

colaborador da área administrativa, ambos presentes desde que o

empreendimento passou a ter administração própria. Dentre todos os

colaboradores, os entrevistados foram escolhidos pela profundidade de

conhecimentos a respeito da empresa, bem como pela facilidade e

abertura de comunicação, os quais se dispuseram para se voluntariar na

concepção do presente trabalho desde seu início.

O modelo de entrevistas será o semi-estruturado, escolhido por

mesclar características de entrevista estruturada e também de uma entrevista não-estruturada.

Segundo Manzini (2004), a entrevista semi-estruturada tem como

base um roteiro com perguntas principais, complementadas por outras

questões inerentes às circunstâncias momentâneas à entrevista. As

65

Page 66: UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA DEPARTAMENTO … · de viagem e turismo e contribuem de forma direta com o setor. De maneira geral, as margens de lucro de hotéis sofreram

66

perguntas que complementam o roteiro-base conferem flexibilidade à

entrevista e pode fazer emergir informações de maneira mais livre.

As entrevistas foram conduzidas via telefone, durante o horário

comercial. Serão realizadas mais de uma entrevista, de modo que haja a

aquisição suficiente de informações que permitam apoiar atingir os

objetivos da pesquisa. Para o registro das informações obtidas nas

entrevistas, será utilizado ora computador, ora anotações manuais do

facilitador. A seleção dos dias e horários foi definida de acordo com a

disponibilidade do facilitador e dos entrevistados.

Após a aquisição dos dados na primeira etapa, a segunda etapa

tem o objetivo de compreensão da maneira em que as variáveis escolhidas

para formulação do problema se relacionam. Neste sentido, foi escolhido

o software Statistica, que possui ampla variedade de ferramentas

estatísticas e permite análise aprofundada do comportamento das

variáveis componentes do problema e do entendimento da maneira com

que estas se relacionam. Na segunda etapa, o uso do software também se

faz necessário, já que possui em seu diretório ferramentas estatísticas que

permitem identificar o modelo de distribuição de no-shows do hotel, peça

fundamental na construção do modelo utilizado no trabalho.

Na terceira etapa serão realizadas novas entrevistas com os

colaboradores selecionados do hotel no sentido de obter os custos

unitários de falta e de excesso, componentes da estrutura do modelo. A

terceira etapa é concluída na medida em que são encontrados os números

ótimos de quartos selecionados para overbooking, considerando as

diferentes decisões em que o hotel pode tomar frente à ocorrência do

fenômeno, que são:

realocação do cliente em quarto de hotel parceiro;

realocação do cliente no mesmo hotel;

submeter-se a pagamento de multa por decidir não

honrar a diária para o cliente.

Serão consideradas também outras medidas paliativas que o hotel

pode tomar em conjunto com uma das três decisões anteriores, como

concessão de voucher de desconto de diária para reservas futuras.

Na última etapa foi realizada uma análise crítica dos números

ótimos de overbooking obtidos com o propósito de verificar a viabilidade

de criação de políticas que implementem a prática no hotel.

66

Page 67: UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA DEPARTAMENTO … · de viagem e turismo e contribuem de forma direta com o setor. De maneira geral, as margens de lucro de hotéis sofreram

67

4. RESULTADOS

4.1 A EMPRESA

A empresa de estudo é um hotel da cidade de São Paulo de 4

estrelas, da categoria midscale. Até o ano de 2008, o hotel pertencia ao

grupo hoteleiro internacional Vazeli. Desde então, o empreendimento tem

funcionado sob administração própria de seus proprietários e tem passado

por mudanças.

Antes do momento de crise econômica, o hotel possuía a maior

proporção de clientes do segmento corporativo. No entanto, com a crise

econômica em meados de 2013, o segmento de clientes não corporativos,

por exemplo, de lazer, começou a ganhar maior importância. Por

conseguinte, pelo fato do público de lazer possuir expectativas diferentes

daqueles corporativos, o hotel vem tomando decisões de rever sua

estrutura física e também de gestão.

Sobre sua estrutura física, o hotel tem procurado se adequar às

exigências e padrões do mercado e realizou uma série de reformas, como:

reforma na entrada, reforma no drive way, no restaurante e foi feito um

gazebo nos fundos do prédio. Ainda, constantemente são realizadas

pequenas reformas nos quartos e nos banheiros, como retirada dos

carpetes e inserção de piso de madeira e adequação de todos os quartos

para não-fumantes.

No que tange às acomodações, o hotel conta atualmente com 125

quartos, distribuídos em cinco categorias. Salienta-se que a única

diferença entre as categorias é a quantidade de camas sendo que a diária

para cada categoria é a mesma. A relação do tipo de quarto com a

quantidade disponível é representada na Tabela 1.

Sobre sua localização, o hotel encontra-se em uma região

diferenciada da cidade, a 300m da Avenida Paulista, próximo à estação

de metrô Trianon-Masp e também próximo a um grande número de

museus, restaurantes, shopping-centers e hospitais de São Paulo. A Figura

10, extraída do Google Maps, ilustra a localização do hotel e das suas

imediações.

No entanto, muito embora o hotel se encontre em uma

localização privilegiada, com ampla gama de serviços disponíveis para

seus clientes em suas imediações, a boa localização também favorece a

competição local por leitos. A empresa, representada pelo ícone de

marcação cinza no centro da Figura 11, está localizada em região de

grande densidade de leitos de hotel. Esta figura foi igualmente extraída

do Google Maps, com os hotéis nas imediações da empresa representados

67

Page 68: UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA DEPARTAMENTO … · de viagem e turismo e contribuem de forma direta com o setor. De maneira geral, as margens de lucro de hotéis sofreram

68

pelos retângulos azuis. Estes representam os respectivos preços mais

baratos das diárias ofertadas pelas agências online, como a Expedia ou

Booking.com. Os valores dos preços são aqueles mais baixos encontrados

no momento da pesquisa, independente do quarto.

Tabela 1 - Acomodações do hotel

Tipo de quarto Descrição Quantidade de

quartos

Executivo Double Clean (EDC) 1 cama de casal 52

Executivo Twin Clean (ETC) 2 camas de solteiro 41

Executivo Single Clean (ESC) 1 cama de solteiro 12

Executivo Triplo Twin Clean

(TPS) 3 camas de solteiro 14

Executivo Triplo Clean (TPC) 1 cama de casal e 1 de

solteiro 6

Fonte: O autor

Atualmente, segundo os entrevistados, o hotel conta com taxa

média de ocupação de 70%. O valor se aproxima da ocupação média

anual de 68,04% de hotéis midscale (Observatório de Turismo e Eventos,

2017).

No final do primeiro semestre de 2018 estão ainda previstas para

conclusão, a construção de uma nova ala com quartos de qualidade

superior e abertura de uma locadora de carros própria, expandindo assim,

o volume de serviços que pode ser ofertado aos clientes do hotel.

Como iniciativas futuras, o hotel pretende encontrar maneiras de

aumentar a receita e também reduzir seus custos, por exemplo, de

comissões pagas às agências online de viagem (OTA’s – Online Travel

Agencies), que chegam a receber cerca de 25% comissão por vendas.

Neste sentido, o hotel contratou uma empresa de consultoria para

reestruturar a sua área comercial e também para reposicionar o perfil da

marca e adequar à crescente exigência dos consumidores dos perfis

executivo e, principalmente, do segmento de lazer, que vem ganhando

relevância na carteira de clientes da empresa.

68

Page 69: UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA DEPARTAMENTO … · de viagem e turismo e contribuem de forma direta com o setor. De maneira geral, as margens de lucro de hotéis sofreram

69

Figura 10 - Imediações do hotel

Fonte: Google Maps

69

Page 70: UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA DEPARTAMENTO … · de viagem e turismo e contribuem de forma direta com o setor. De maneira geral, as margens de lucro de hotéis sofreram

70

Figura 11 - Outros hotéis nas imediações da empresa

Fonte: Google Maps

70

Page 71: UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA DEPARTAMENTO … · de viagem e turismo e contribuem de forma direta com o setor. De maneira geral, as margens de lucro de hotéis sofreram

71

4.2 ANÁLISE PANORÂMICA DOS DADOS

A análise panorâmica de dados tem o objetivo de compreender,

de maneira ampla, as reservas, no-shows, cancelamentos, bem como as

decisões que o hotel toma frente aos dois últimos fenômenos citados.

A empresa disponibilizou dados referentes aos fenômenos de no-show e dados referentes às reservas e cancelamentos realizados por cada

plataforma. Ambos dados datam dos anos 2015, 2016 e 2017.

4.2.1 Reservas

Quando realizadas e, de fato, consumidas em todo o período

reservado, reservas figuram-se como pernoites. Por outro lado, quando o

cliente firma compromisso de reserva com a empresa, mas não a consome,

nem notifica a empresa, é considerado no-show. Quando há notificação

prévia de não consumir a reserva, ocorre o cancelamento. As reservas têm

a opção de serem feitas através de empresas mediadoras ou não.

Empresas mediadoras têm a função de aproximar potenciais

clientes ao hotel e, dentre as atividades que realizam, ajudam o hotel na

divulgação de quartos disponíveis online, por exemplo. As empresas

mediadoras são representadas pelas agências de viagem, como

Bancorbras e Trend e outras agências conhecidas na literatura como

OTA’s, Online Travel Agencies, representadas pela Booking.com e

Expedia, por exemplo.

Atualmente, o hotel possui contratos firmados com essas

empresas, que também atuam na definição do preço das diárias, que é

flutuante. Através de algoritmos, as agências calculam o preço das diárias

em função de variáveis como o nível de ocupação média do hotel em

determinado período, no sentido de ajustar a oferta à demanda e, assim,

maximizar a ocupação do hotel. Como consequência, clientes podem

pagar preços diferentes para o mesmo tipo de reserva.

No caso de não haver empresas mediadoras, clientes fazem a

reserva através do site do hotel ou por telefone. O preço ofertado pelas

diárias a esses clientes também é dinâmico, e também varia, por exemplo,

com a taxa de ocupação em determinado momento no hotel.

No momento da reserva, o cliente pode optar por duas categorias

de preço de diária: categoria não reembolsável ou reembolsável.

A categoria não reembolsável não permite cancelamento ou

alteração da reserva. Já a categoria reembolsável permite cancelamento

ou alteração na reserva desde que sejam feitas 48h de antecedência à data

do check-in. Caso não seja respeitado o prazo, é cobrado o valor da

71

Page 72: UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA DEPARTAMENTO … · de viagem e turismo e contribuem de forma direta com o setor. De maneira geral, as margens de lucro de hotéis sofreram

72

primeira diária. O preço desta categoria é ajustado de modo a ser sempre

10% mais caro do que a categoria não reembolsável.

A seguir, é realizado um comparativo do número de agências,

pernoites e da diária média paga por cada cliente nos anos de análise,

representado na Tabela 2.

Tabela 2 - Comparativo anual de clientes, pernoites e diária média

Ano Quantidade de agências Número de pernoites Diária média

2015 142 29.810 R$ 259,37

2016 137 29.994 R$ 250,00

2017 138 31.381 R$ 265,85

Fonte: O autor

Do total de 91.185 pernoites, grande maioria destes adviram de

um grupo pequeno de agências, como Booking.com e Bancorbras, mas

também houve vários pernoites realizados diretamente entre cliente e

hotel, nomeados “particular”. A contribuição de cada agência e também

da categoria “particular” no número total de pernoites, por ano, é ilustrada

na Figura 12.

72

Page 73: UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA DEPARTAMENTO … · de viagem e turismo e contribuem de forma direta com o setor. De maneira geral, as margens de lucro de hotéis sofreram

73

Figura 12 - Contribuição percentual de pernoites por agência

Fonte: O autor

73

Page 74: UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA DEPARTAMENTO … · de viagem e turismo e contribuem de forma direta com o setor. De maneira geral, as margens de lucro de hotéis sofreram

74

Além dos pernoites, clientes que se hospedam no hotel também

consomem serviços como: refeições no restaurante, alimentos e bebidas

do frigobar, serviço de quarto, lavanderia, telecomunicação, e também

podem realizar locação do salão para eventos. Tais serviços são

classificados como “serviços extras” pelo hotel.

A Tabela 3, ilustrada a seguir, compara a evolução dos gastos

extras do hotel nos últimos anos e estima o ticket-médio que cada hóspede

gasta em cada pernoite.

Tabela 3 - Comparativo anual de gastos extras, pernoites e ticket-médio

Ano Total de gastos extras Número de pernoites Ticket médio por

pernoite

2015 R$ 1.857.708,95 29.810 R$ 62,32

2016 R$ 1.788.076,98 29.994 R$ 59,61

2017 R$ 1.634.570,52 31.381 R$ 52,09

Total R$ 5.280.356,45 91.185 R$ 57,91

Fonte: O autor

O ranking das agências que mais contribuíram com as receitas

extras seguiu exatamente o ranking das agências que mais contribuíram

com pernoites nos anos de análise.

A seguir, a Figura 13 ilustra a contribuição percentual de receitas

extras, por agência, e também por clientes da categoria “particular”.

74

Page 75: UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA DEPARTAMENTO … · de viagem e turismo e contribuem de forma direta com o setor. De maneira geral, as margens de lucro de hotéis sofreram

75

Figura 13 - Contribuição percentual com receitas extras, por agência

Fonte: O autor

75

Page 76: UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA DEPARTAMENTO … · de viagem e turismo e contribuem de forma direta com o setor. De maneira geral, as margens de lucro de hotéis sofreram

76

4.2.2 No-Shows e cancelamentos

Configura-se um fenômeno de no-show quando um cliente

realiza uma reserva, realiza o pagamento pelas diárias, mas não se faz

presente no dia em que se inicia a reserva. Também, para ser considerado

no-show, o cliente não deve notificar, com antecedência necessária, o

hotel pelo seu não comparecimento.

De forma reativa, o hotel, no mesmo dia da data inicial da reserva

do cliente, realiza o check-out e o quarto é colocado à venda novamente.

Como diretriz do hotel, caso o cliente não compareça no dia inicial da sua

reserva até 12:00, e não haja aviso prévio do cliente, a diária é registrada

como no-show e o quarto é ofertado a partir das 12:00 desse mesmo dia.

Da mesma maneira, caso o cliente não aparecer no dia em que

se inicia o seu período de reserva, mas aparecer em algum dia posterior,

o cliente não terá mais sua reserva garantida. Como penalidade, o hotel

do presente estudo tem como diretriz realizar cobrança somente da

primeira diária quando ocorre o no-show, independente do dia da semana

e da categoria do quarto.

No sentido de realizar uma estimativa do impacto financeiro

advindo dos no-shows, o hotel acumulou receita equivalente a

R$ 158.062,74, advindo de 612 no-shows, considerando a cobrança da

primeira diária no valor da diária média daquele ano. A seguir, a Tabela

4 explicita o impacto financeiro advindo pelo no-show nos anos de análise.

Tabela 4 - Impacto financeiro advindo pelo no-show

Ano Quantidade de

no-shows Diária média Receita média de no-show

2015 202 R$ 259,37 R$ 52.392,74

2016 210 R$ 250,00 R$ 52.500,00

2017 200 R$ 265,85 R$ 53.170,00

Total 612 - R$ 158.062,74

Fonte: O autor

Referente à categoria de quarto do hotel, a categoria EDC é a que

mais registrou o fenômeno nos últimos anos, seguida da ETC, TPS, TPC

e ESC, conforme pode ser visualizado na Figura 14, a seguir.

76

Page 77: UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA DEPARTAMENTO … · de viagem e turismo e contribuem de forma direta com o setor. De maneira geral, as margens de lucro de hotéis sofreram

77

Figura 14 - Porcentagem de ocorrências de no-shows por tipo de quarto

Fonte: O autor

Nota-se que a porcentagem de ocorrência de no-shows por

categoria de quarto obedece ao número de quartos existente em cada

categoria.

Ao que se refere aos dias da semana em que mais houveram no-shows, o fenômeno tem maior densidade de ocorrências na medida em

que se aproxima do final de semana.

A Figura 14 ilustra que quinta-feira foi o dia com maior número

de registros, totalizando 19% das ocorrências, enquanto segunda-feira foi

o dia da semana com a menor frequência do fenômeno, com 9% das

ocorrências. Por sua vez, a Figura 16 indica que a ocorrência de no-show

para cada ano de análise manteve um padrão, que se distribuiu para cada

dia da semana.

Figura 15 - Porcentagem de ocorrências de no-show por dia da semana

Fonte: O autor

77

Page 78: UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA DEPARTAMENTO … · de viagem e turismo e contribuem de forma direta com o setor. De maneira geral, as margens de lucro de hotéis sofreram

78

Figura 16 - Ocorrências de no-shows por ano e por dia da semana

Fonte: O autor

Considerando a distribuição mensal da frequência de no-shows,

novembro foi o mês com maior número no ano, com 15% do total,

enquanto janeiro e fevereiro, com 5%, registraram o menor número de

ocorrências. A relação é ilustrada na Figura 17.

Figura 17 - Porcentagem de ocorrências de no-shows por mês

Fonte: O autor

A contribuição de cada ano de análise no número de ocorrência

de no-shows por mês é ilustrada na Figura 18.

78

Page 79: UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA DEPARTAMENTO … · de viagem e turismo e contribuem de forma direta com o setor. De maneira geral, as margens de lucro de hotéis sofreram

79

Figura 18 - Ocorrências de no-shows por mês e por ano

Fonte: O autor

Também foi observado que as agências que mais registraram

pernoites foram aquelas que também mais contribuíram com as

ocorrências de no-show. Clientes que utilizaram a plataforma

Booking.com para realizar suas reservas contribuíram com a maioria dos

fenômenos registrados.

No entanto, verificou-se que a modalidade “particular”, que nos

três anos de análise, contemplaram com 24% do total de pernoites, não

figurou no ranking dos dez maiores de no-show, que foi composto por,

somente, agências de viagem. A Figura 19 ilustra a contribuição de cada

agência no número total de no-shows.

79

Page 80: UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA DEPARTAMENTO … · de viagem e turismo e contribuem de forma direta com o setor. De maneira geral, as margens de lucro de hotéis sofreram

80

Figura 19 - Porcentagem de no-shows por agência

Fonte: O autor

80

Page 81: UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA DEPARTAMENTO … · de viagem e turismo e contribuem de forma direta com o setor. De maneira geral, as margens de lucro de hotéis sofreram

81

A respeito dos cancelamentos, em 2015, foram registrados 1.889

cancelamentos, enquanto que em 2016 foram 2.006 cancelamentos; e em

2017, 1.449 cancelamentos, totalizando 5.334 registros do fenômeno.

Dos dados de cancelamento disponibilizados, não foi possível

obter distinção se o cancelamento foi realizado por cliente que contratou

diária pela categoria reembolsável ou não reembolsável. Desta maneira,

considerando o número de cancelamentos e a diária média em cada ano,

o hotel pôde faturar os seguintes valores, explicitados na Tabela 5.

Tabela 5 - Estimativa de ganhos com cancelamento

Ano

mer

o d

e

can

cela

men

tos

Tar

ifa

não

reem

bo

lsáv

el

(R$

)

Tar

ifa

reem

bo

lsáv

el

(R$

)

To

tal

não

reem

bo

lsáv

el

(R$

)

To

tal

reem

bo

lsáv

el

(R$

)

2015 1.889 259,37 337,18 489.949,93 636.934,91

2016 2.006 250,00 325,00 501.500,00 651.950,00

2017 1.449 265,85 345,61 385.216,65 500.781,65

Fonte: O autor

Assim o hotel pôde faturar, em cada ano, um valor entre o total

reembolsável e total não reembolsável.

A porcentagem de ocorrências de cancelamentos por agência

também seguiu o perfil do número de pernoites. A maioria dos

cancelamentos foi realizada pela agência Booking.com e também pela

categoria “particular”. A relação entre o número de cancelamentos por

agência é ilustrada na Figura 20.

81

Page 82: UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA DEPARTAMENTO … · de viagem e turismo e contribuem de forma direta com o setor. De maneira geral, as margens de lucro de hotéis sofreram

82

Figura 20 - Porcentagem de cancelamentos por agência

Fonte: O autor

82

Page 83: UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA DEPARTAMENTO … · de viagem e turismo e contribuem de forma direta com o setor. De maneira geral, as margens de lucro de hotéis sofreram

83

A análise panorâmica de dados indica que uma política adequada

de overbooking deveria contemplar a natureza dos dados obtidos, dado

que se observou uma maior concentração de no-shows, pernoites e

cancelamentos para um número limitado de agências.

Com a interpretação destes dados, a princípio, o hotel poderia

decidir por realizar overbooking de quartos EDC, com preferência nos

dias de quinta ou sexta-feira, no mês de novembro e anunciar essa decisão

para agências Booking.com, Trend Operadora e Bancorbras. No entanto,

estas agências são também aquelas que mais contribuem para o retorno

financeiro do hotel. Desta forma, uma eventual decisão de introduzir uma

política de overbooking no sistema de reservas deve ser minuciosamente

planejada.

4.3 ANÁLISE DA INTERELAÇÃO DAS VARIÁVEIS

Esta seção tem como objetivo identificar possíveis relações entre

variáveis no sentido de gerar informações adicionais que permitam

compreender, de maneira intuitiva, como estas variáveis podem conduzir

a diferentes resultados quando decisões em série podem ser relevantes

para a análise. Para tanto, utilizou-se o modelo de árvore de decisão,

previamente descrito na fundamentação teórica deste trabalho.

Para a construção do modelo de árvore de decisão, foi escolhido

o modelo CHAID trees do software Statistica. A partir da seleção das

variáveis dependentes e independentes, obteve-se duas árvores de decisão

representativas do fenômeno de no-show e de pernoites no hotel. A

primeira é mostrada na Figura 21.

83

Page 84: UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA DEPARTAMENTO … · de viagem e turismo e contribuem de forma direta com o setor. De maneira geral, as margens de lucro de hotéis sofreram

84

Figura 21 - Árvore de decisão para total no-show, pernoites e ano

Fonte: Statistica

Nesta árvore de decisão, a variável dependente é a “Total no-show”, que é definida como o somatório de todos os fenômenos ocorridos

no hotel durante os três anos de análise.

Cada sub-amostra de dados é representada por um retângulo,

identificado por ID, que contém N dados. O número zero que se repetiu

em todos retângulos representa a moda de cada sub-amostra, enquanto as

barras verticais coloridas representam o histograma de no-shows.

A primeira regra obtida com a árvore sugere que o número de

pernoites, nome dado a diárias efetivamente consumidas, inferior a 58

apresenta grande maioria dos no-shows iguais a zero. Ou seja, para

agências que registraram número de no-shows inferior a 58 não

registraram a maioria dos no-shows no hotel. O comportamento segue a

tendência de que o número de no-shows aumenta com o número de

pernoites que agências registram com o hotel. Da mesma maneira, agências que registraram número de pernoites superior a 58 contribuíram

com maiores ocorrências de no-show, representadas pelos histogramas de

ID=3. Foram registradas N=71 ocorrências de agências com pernoites

superiores a 58 que ocasionaram em maior frequência de no-shows no

hotel.

84

Page 85: UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA DEPARTAMENTO … · de viagem e turismo e contribuem de forma direta com o setor. De maneira geral, as margens de lucro de hotéis sofreram

85

A outra regra obtida faz a partição dos dados referente aos anos

de análise. ID=4 representa os anos de 2015 e 2016, enquanto ID=5

representa o ano de 2017. A partição segmenta-se em duas novas sub-

amostras, de tamanhos igual a 223 e 104 dados, respectivamente. Pelo

histograma de ID=5, pode se inferir que o ano de 2017 registra número

maior de no-shows iguais a um por cliente. Esses clientes também

registraram poucas pernoites no hotel. Sugere-se que 2017 houve um

padrão de leve desconcentração de no-shows comparado com 2015 e 2016,

em que houve maior concentração de no-shows iguais a zero.

Na Figura 22, a variável dependente é “Total no-show”, como a

árvore anterior. No entanto, a árvore contempla testes referentes aos anos

e meses do ano.

Figura 22 - Árvore de decisão para total no-show, ano e meses do ano

Fonte: Statistica

A primeira regra obtida refere-se às plataformas que registraram número abaixo de sete diárias no mês de dezembro. Esta categoria

apresentou a grande maioria do número de no-shows nulos, enquanto

plataformas que apresentaram número de diárias superior a sete fizeram

com que ocorresse maior número de no-shows não nulos. Sugere-se que

há maior ocorrência de no-shows, quando o número de pernoites em

85

Page 86: UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA DEPARTAMENTO … · de viagem e turismo e contribuem de forma direta com o setor. De maneira geral, as margens de lucro de hotéis sofreram

86

dezembro é acima de sete. O comportamento também segue a tendência

de que o número de no-shows aumenta com o número de pernoites que

agências registram com o hotel.

A segunda regra, representada por Ano na Figura 22, representa

a mesma análise realizada na Figura 21, que compara o número de no-

shows entre anos 2015,2016 com 2017. No entanto, o nó fev, que

representa o número de diárias consumidas em fevereiro segmenta a

amostra ID=3 em duas amostras ID=6 e ID=7: Menor que 715 diárias e

maior que 715 diárias. Há dois dados em ID=7 cuja moda é 164, que é

igual ao número de no-shows do cliente Booking.com em 2016.

A última regra, representada por Jun (número de diárias no mês

de junho) ilustra que, quando o número de diárias é maior que quatro,

ocorre um padrão de diluição de ocorrências de no-show, ou seja, maiores

ocorrências de no-shows não nulos. Novamente, esse comportamento

sugere que número de no-shows aumenta com o número de pernoites que

agências registram com o hotel.

4.4 CÁLCULO DO NÚMERO ÓTIMO DE OVERBOOKING PARA

CADA CIRCUNSTÂNCIA AVALIADA

Nesta seção é calculado o número ótimo de quartos colocados a

overbooking através do Newsvendor Model.

O modelo é utilizado para avaliar o número ótimo de produtos ou

serviços a serem disponibilizados para os clientes em momento anterior à

venda. Como a demanda pelo produto ou serviço é incerta, o número

disponibilizado pode ser maior ou menor do que a demanda, causando

consequências diferentes à empresa que o comercializou.

Reservas de hotel são considerados serviços perecíveis.

Diariamente, o gestor pode decidir a quantidade de quartos a serem

ofertados em momento anterior à disponibilização para os clientes. A

quantidade ofertada pode ser igual à capacidade disponível ou superior (o

que causa overbooking). Caso oferte capacidade superior, o gestor

depara-se com uma demanda que pode ser maior ou menor que a

capacidade ofertada e, assim, ocorrerão consequências diferentes para

cada caso de demanda.

Para a utilização do modelo faz-se necessário considerar as

quatro variáveis básicas que o compõe:

86

Page 87: UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA DEPARTAMENTO … · de viagem e turismo e contribuem de forma direta com o setor. De maneira geral, as margens de lucro de hotéis sofreram

87

4.4.1 Variável de decisão Q

Esta variável indica o número de quartos postos em overbooking.

O modelo visa encontrar o número ótimo 𝑄∗ que balanceia o custo

unitário de excesso e o de falta. O hotel dispõe de cinco categorias

diferentes de quartos e a categoria com maior porcentagem de ocorrência

de no-shows é a categoria EDC, que dispõe de uma cama de casal por

quarto.

F(Q), por sua vez, representa os valores da função de distribuição

de no-shows. O perfil de distribuição dos dados de no-show pode ser

verificado por teste estatístico de aderência. Para tanto, foi utilizado o

software Statistica. Como primeira hipótese, supõe-se que a distribuição

de no-shows para cada dia da semana siga a distribuição de Poisson. Com

o recurso de distribution fitting do software, foi possível confirmar que

todas as distribuições de no-show, independente do dia da semana,

aderem-se à distribuição de Poisson, com valores de lambda (λ) próximos

a 0,2 dias, ao nível de significância de p<0,05 (teste de Kolgomorov-

Smirnov)

As Figuras 23-29 mostram os resultados dos testes de aderência

para no-shows de cada dia da semana, enquanto as Tabelas 6-12

apresentam as correspondentes distribuições acumuladas.

4.4.2 Demanda D

A demanda é uma variável aleatória definida pela distribuição de

demanda, por exemplo: distribuição normal, Poisson etc. A demanda, por

sua vez, pode ser discreta ou contínua. Para o contexto do estudo, a

demanda é discreta, e corresponde a demanda por quartos de hotel.

87

Page 88: UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA DEPARTAMENTO … · de viagem e turismo e contribuem de forma direta com o setor. De maneira geral, as margens de lucro de hotéis sofreram

88

Figura 23 - Distribuição Poisson de no-shows para segunda-feira

Fonte: Statistica

88

Page 89: UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA DEPARTAMENTO … · de viagem e turismo e contribuem de forma direta com o setor. De maneira geral, as margens de lucro de hotéis sofreram

89

Tabela 6 - Distribuição Poisson de no-shows para segunda-feira

Fonte: Autor, Statistica

Frequência Número de

observações Acumulado Percentual

Percentual

acumulado

(%)

<=0 388 388 97,49 97,49

2 5 393 1,26 98,74

4 0 393 0,00 98,74

6 2 395 0,50 99,25

8 0 395 0,00 99,25

10 1 396 0,25 99,50

12 0 396 0,00 99,50

14 1 397 0,25 99,75

16 0 397 0,00 99,75

< Infinito 1 398 0,25 100,00

89

Page 90: UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA DEPARTAMENTO … · de viagem e turismo e contribuem de forma direta com o setor. De maneira geral, as margens de lucro de hotéis sofreram

90

Figura 24 - Distribuição Poisson de no-shows para terça-feira

Fonte: Statistica

90

Page 91: UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA DEPARTAMENTO … · de viagem e turismo e contribuem de forma direta com o setor. De maneira geral, as margens de lucro de hotéis sofreram

91

Tabela 7 - Distribuição Poisson de no-shows para terça-feira

Frequência Número de

observações Acumulado

Percentual

(%)

Percentual

acumulado

(%)

<= 0 383 383 96,23 96,23

2 8 391 2,01 98,24

4 3 394 0,75 98,99

6 0 394 0,00 98,99

8 1 395 0,25 99,25

10 1 396 0,25 99,50

12 0 396 0,00 99,50

14 0 396 0,00 99,50

16 0 396 0,00 99,50

18 0 396 0,00 99,50

20 0 396 0,00 99,50

22 0 396 0,00 99,50

24 0 396 0,00 99,50

26 0 396 0,00 99,50

28 1 397 0,25 99,75

30 0 397 0,00 99,75

32 1 398 0,25 100,00

< Infinito 0 398 0,00 100,00

Fonte: Autor, Statistica

91

Page 92: UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA DEPARTAMENTO … · de viagem e turismo e contribuem de forma direta com o setor. De maneira geral, as margens de lucro de hotéis sofreram

92

Figura 25 - Distribuição Poisson de no-shows para quarta-feira

Fonte: Statistica

92

Page 93: UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA DEPARTAMENTO … · de viagem e turismo e contribuem de forma direta com o setor. De maneira geral, as margens de lucro de hotéis sofreram

93

Tabela 8 - Distribuição Poisson de no-shows para quarta-feira

Frequência Número de

observações Acumulado

Percentual

(%)

Percentual

acumulado

(%)

<= 0 381 381 95,73 95,73

2 9 390 2,26 97,99

4 4 394 1,01 98,99

6 2 396 0,50 99,50

8 0 396 0,00 99,50

10 0 396 0,00 99,50

12 0 396 0,00 99,50

14 0 396 0,00 99,50

16 0 396 0,00 99,50

18 1 397 0,25 99,75

20 0 397 0,00 99,75

22 0 397 0,00 99,75

24 1 398 0,25 100,00

< Infinito 0 398 0,00 100,00

Fonte: Autor, Statistica

93

Page 94: UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA DEPARTAMENTO … · de viagem e turismo e contribuem de forma direta com o setor. De maneira geral, as margens de lucro de hotéis sofreram

94

Figura 26 - Distribuição Poisson de no-shows para quinta-feira

Fonte: Statistica

94

Page 95: UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA DEPARTAMENTO … · de viagem e turismo e contribuem de forma direta com o setor. De maneira geral, as margens de lucro de hotéis sofreram

95

Tabela 9 - Distribuição Poisson de no-shows para quinta-feira

Frequência Número de

observações Acumulado

Percentual

(%)

Percentual

acumulado

(%)

<= 0 382 382 95,98 95,98

5 12 394 3,02 98,99

10 1 395 0,25 99,25

15 1 396 0,25 99,50

20 0 396 0,00 99,50

25 1 397 0,25 99,75

30 0 397 0,00 99,75

35 0 397 0,00 99,75

40 0 397 0,00 99,75

< Infinito 1 398 0,25 100,00

Fonte: Autor, Statistica

95

Page 96: UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA DEPARTAMENTO … · de viagem e turismo e contribuem de forma direta com o setor. De maneira geral, as margens de lucro de hotéis sofreram

96

Figura 27 - Distribuição Poisson de no-shows para sexta-feira

Fonte: Statistica

96

Page 97: UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA DEPARTAMENTO … · de viagem e turismo e contribuem de forma direta com o setor. De maneira geral, as margens de lucro de hotéis sofreram

97

Tabela 10 - Distribuição Poisson de no-shows para sexta-feira

Frequência Número de

observações Acumulado

Percentual

(%)

Percentual

acumulado

(%)

<= 0 380 380 95,72 95,72

2 9 389 2,27 97,98

4 4 393 1,01 98,99

6 0 393 0,00 98,99

8 0 393 0,00 98,99

10 0 393 0,00 98,99

12 1 394 0,25 99,24

14 1 395 0,25 99,50

16 0 395 0,00 99,50

18 0 395 0,00 99,50

20 0 395 0,00 99,50

22 0 395 0,00 99,50

24 0 395 0,00 99,50

26 1 396 0,25 99,75

28 0 396 0,00 99,75

< Infinito 1 397 0,25 100,00

Fonte: Autor, Statistica

97

Page 98: UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA DEPARTAMENTO … · de viagem e turismo e contribuem de forma direta com o setor. De maneira geral, as margens de lucro de hotéis sofreram

98

Figura 28 - Distribuição Poisson de no-shows para sábado

Fonte: Statistica

98

Page 99: UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA DEPARTAMENTO … · de viagem e turismo e contribuem de forma direta com o setor. De maneira geral, as margens de lucro de hotéis sofreram

99

Tabela 11 - Distribuição Poisson de no-shows para sábado

Frequência Número de

observações Acumulado

Percentual

(%)

Percentual

acumulado

(%)

<= 0 382 382 95,98 95,98

2 9 391 2,26 98,24

4 3 394 0,75 98,99

6 0 394 0,00 98,99

8 1 395 0,25 99,25

10 0 395 0,00 99,25

12 1 396 0,25 99,50

14 0 396 0,00 99,50

16 0 396 0,00 99,50

18 0 396 0,00 99,50

20 0 396 0,00 99,50

22 1 397 0,25 99,75

24 0 397 0,00 99,75

26 0 397 0,00 99,75

28 0 397 0,00 99,75

< Infinito 1 398 0,25 100,00

Fonte: Autor, Statistica

99

Page 100: UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA DEPARTAMENTO … · de viagem e turismo e contribuem de forma direta com o setor. De maneira geral, as margens de lucro de hotéis sofreram

100

Figura 29 - Distribuição Poisson de no-shows para domingo

Fonte: Statistica

100

Page 101: UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA DEPARTAMENTO … · de viagem e turismo e contribuem de forma direta com o setor. De maneira geral, as margens de lucro de hotéis sofreram

101

Tabela 12 - Distribuição Poisson de no-shows para domingo

Frequência Número de

observações Acumulado

Percentual

(%)

Percentual

acumulado

(%)

<= 0 390 390 97,99 97,99

2 3 393 0,75 98,74

4 2 395 0,50 99,25

6 0 395 0,00 99,25

8 0 395 0,00 99,25

10 1 396 0,25 99,50

12 0 396 0,00 99,50

14 0 396 0,00 99,50

16 0 396 0,00 99,50

18 0 396 0,00 99,50

20 1 397 0,25 99,75

22 0 397 0,00 99,75

24 0 397 0,00 99,75

26 0 397 0,00 99,75

< Infinito 1 398 0,25 100,00

Fonte: Autor, Statistica

101

Page 102: UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA DEPARTAMENTO … · de viagem e turismo e contribuem de forma direta com o setor. De maneira geral, as margens de lucro de hotéis sofreram

102

Nos anos de análise, os gráficos mostram que,

independentemente do dia da semana, o número de episódios de no-show

é muito baixo, o que pode ser visualizado pela porcentagem de

ocorrências iguais a zero no-shows se aproximar de 100%.

4.4.3 Custo unitário de excesso: (𝑪𝒆)

Este custo incorre em todas as consequências econômicas do

hotel por deixar de ter reservado um quarto a mais e, então, ter capturado

a demanda por este quarto. 𝐶𝑒 é dado por:

𝐶𝑒 = 𝑉𝑎𝑙𝑜𝑟 𝑑𝑒 𝑑𝑖á𝑟𝑖𝑎 𝑚é𝑑𝑖𝑎 +

𝑇𝑖𝑐𝑘𝑒𝑡 𝑚é𝑑𝑖𝑜 𝑑𝑒 𝑔𝑎𝑠𝑡𝑜 𝑒𝑥𝑡𝑟𝑎 𝑝𝑜𝑟 𝑑𝑖á𝑟𝑖𝑎

É relevante destacar que 𝐶𝑒 assume sempre o mesmo valor, já

que o hotel pratica os mesmos preços para cada categoria de quarto.

Assim, assume-se o valor de diária média como a média de diárias

reembolsáveis registradas nos últimos três anos: R$ 335,93. O valor trata-

se de uma estimativa, já que pode oscilar, devido à precificação dinâmica

do hotel. Da mesma forma, o valor do ticket médio de gasto extra por

diária é de R$ 57,91. O valor também oscila em torno desta média, devido

às diferentes possibilidades que um cliente pode ter em consumir os

serviços do hotel. Assim, 𝐶𝑒 = 𝑅$ 393,84.

4.4.3 Custo unitário de falta: (𝑪𝒇)

Equivale às consequências econômicas do hotel decidir em não

honrar uma diária ao cliente. Neste caso, a variável assume valores

distintos para cada decisão que o hotel tomar frente ao fato de não haver

mais a reserva do cliente.

102

Page 103: UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA DEPARTAMENTO … · de viagem e turismo e contribuem de forma direta com o setor. De maneira geral, as margens de lucro de hotéis sofreram

103

4.5 ALTERNATIVAS DE DECISÃO FRENTE AO OVERBOOKING

As opções que o hotel tem frente a decisão de overbooking são:

realocação do cliente em quarto de hotel parceiro;

realocação do cliente no mesmo hotel;

submeter-se a pagamento de multa por decidir não

honrar a diária para o cliente.

É considerada também a medida paliativa que o hotel pode tomar

em conjunto com uma das três decisões anteriores, que é a concessão de

voucher de desconto de diária para reservas futuras. Cada uma das

decisões gera valores diferenciados para 𝐶𝑓.

4.5.1 Realocação do cliente em quarto de hotel parceiro

Neste caso, o valor de 𝐶𝑓 é representado por:

𝐶𝑓 = 𝐶𝑢𝑠𝑡𝑜𝑠 𝑑𝑒 𝑟𝑒𝑎𝑙𝑜𝑐𝑎çã𝑜 𝑒𝑚 𝑢𝑚 ℎ𝑜𝑡𝑒𝑙 𝑝𝑎𝑟𝑐𝑒𝑖𝑟𝑜 +

𝐶𝑢𝑠𝑡𝑜 𝑑𝑒 𝑡𝑟𝑎𝑛𝑠𝑝𝑜𝑟𝑡𝑒 𝑑𝑜𝑠 𝑐𝑙𝑖𝑒𝑛𝑡𝑒𝑠

O hotel encontra-se em local com ampla densidade de hotéis na

cidade. Além disso, há número suficiente de hotéis nas imediações que

oferecem serviços à altura dos serviços oferecidos pelo hotel da pesquisa,

o que poderia viabilizar a transferência de hóspedes que sofreram com

overbooking, sem que haja diminuição na qualidade de serviço ofertado.

Neste caso, considera-se que o hotel da pesquisa possui um

número suficiente de hotéis e de redes parceiras para realizar a realocação,

e que os hotéis de destino possuem quartos suficientes com qualidade

semelhante àquele originalmente ofertado em overbooking. Custos

variáveis de arrumação dos quartos de destino e custos de emissão de

ordem de serviço são irrelevantes para a análise. Desta maneira, não

incorrem custos de realocação em hotel parceiro. Assim, 𝐶𝑓 = 0.

103

Page 104: UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA DEPARTAMENTO … · de viagem e turismo e contribuem de forma direta com o setor. De maneira geral, as margens de lucro de hotéis sofreram

104

4.5.2 Realocação do cliente no mesmo hotel

Neste caso, o valor de 𝐶𝑓 é representado por:

𝐶𝑓 = 𝐶𝑢𝑠𝑡𝑜𝑠 𝑑𝑒 𝑟𝑒𝑎𝑙𝑜𝑐𝑎çã𝑜 𝑛𝑜 𝑚𝑒𝑠𝑚𝑜 ℎ𝑜𝑡𝑒𝑙

A decisão de realocação do cliente em quarto do mesmo hotel

parte do pressuposto que não há mais quartos disponíveis na categoria que

o cliente escolheu. Consequentemente, o cliente é redirecionado a outro

quarto de outra categoria. Como todos os quartos do hotel oferecerem a

mesma qualidade de serviço, é suficiente ter um único quarto disponível

para realizar a realocação. Além disso, custos variáveis de arrumação dos

quartos de destino são irrelevantes para a análise resultando no custo de

realocação no mesmo hotel igual a zero. Assim, 𝐶𝑓 = 0.

No entanto, no caso de considerar que o hotel está finalizando as

obras da ala com quartos superiores, uma possível realocação de clientes

de uma categoria inferior para a categoria superior, oferecendo um

upgrade, acarretaria em custos de oportunidade para o hotel.

O custo de oportunidade pode ser calculado como a diferença

entre o preço da diária superior subtraído do preço da diária do quarto em

overbooking. Por exemplo, o cliente pagou R$ 250 na reserva de um

quarto e sofreu overbooking. Ele foi realocado para um quarto superior

com diária de igual a R$ 300. Hotel perderia a oportunidade de faturar

$50,00 a mais, caso aquele quarto fosse receber um cliente que pagaria os

R$300. Em pesquisa no site da empresa, verificou-se que o preço dos

quartos superiores é, aproximadamente, 20% a mais do que o preço dos

quartos não superiores. Considerando P o preço da diária das diárias de

quartos inferiores no upgrade, 𝐶𝑓 = 0,2𝑃. Utilizando a média das diárias

de tarifa reembolsável nos três anos de análise, tem-se que : 𝐶𝑓 = 0,2 ∗ 335,93 = 𝑅$67,08

A emissão do voucher de desconto pode ser utilizada em

conjunto com alguma das últimas duas decisões. O hotel pode emitir um

documento que garanta certa porcentagem de desconto em uma próxima

diária de modo a amenizar a insatisfação do cliente e, ao mesmo tempo,

tentar garantir seu retorno.

Assim como no último caso, o custo de oportunidade

corresponde à diferença de valor do preço original e do valor descontado,

representado pelo percentual d. Os outros custos operacionais referentes

à emissão de voucher, como custos de emissão do documento podem ser

desconsiderados. Tem-se, portanto, que 𝐶𝑓 = 𝑃 − (𝑑 ∗ 𝑃) . Supondo a

104

Page 105: UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA DEPARTAMENTO … · de viagem e turismo e contribuem de forma direta com o setor. De maneira geral, as margens de lucro de hotéis sofreram

105

concessão de um voucher de desconto de 80% no valor da diária e o preço

da diária igual ao do caso anterior o 𝐶𝑓 = 335,93 − (0,8 ∗ 335,93) =

𝑅$268,74.

4.5.3 Pagamento de multa por não honrar a diária ao cliente

Neste caso, o valor de 𝐶𝑓 é representado por:

𝐶𝑓 = 𝑀𝑢𝑙𝑡𝑎 𝑝𝑜𝑟 𝑛ã𝑜 ℎ𝑜𝑛𝑟𝑎𝑟 𝑜 𝑠𝑒𝑟𝑣𝑖ç𝑜

O hotel pode optar por não realocar o cliente e não oferecer

nenhuma compensação à altura daquela esperada pelo hóspede. Desta

maneira, a empresa responderá pela infração do Código do Consumidor

Brasileiro.

Neste caso, não é possível avaliar com precisão qual seria o valor

da multa em não honrar o serviço, já que é variável em cada caso. Além

disso, nenhum caso foi registrado no hotel até o presente momento.

Desta maneira, o valor de 𝐶𝑓 não pode ser estimado de maneira

acurada, já que pode variar de acordo com a decisão que o hotel tomará

frente ao caso de não poder honrar a diária para o cliente.

4.6 APLICAÇÃO DO MODELO

O modelo é aplicado através da substituição dos valores de custos

na fórmula da Fração Crítica. O resultado da fração serve como input nas

tabelas de distribuição de no-show para os dias da semana:

𝐹(𝑄) =𝐶𝑓

𝐶𝑓 + 𝐶𝑒

Para o caso de alocação do cliente em um hotel parceiro:

𝐹(𝑄) =0

0 + 393,84

Assim, 𝐹(𝑄) = 0. O número ótimo de overbooking será igual a

zero quartos colocados em overbooking.

Com realocação do cliente em hotel parceiro e em conjunto com

a emissão do voucher de desconto:

105

Page 106: UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA DEPARTAMENTO … · de viagem e turismo e contribuem de forma direta com o setor. De maneira geral, as margens de lucro de hotéis sofreram

106

𝐹(𝑄) =268,74

268,74 + 393,84

𝐹(𝑄) = 0,405 = 40,5% . Neste caso, o número ótimo de

overbooking também será igual a zero, já que não há distribuição

acumulada que iguale a este valor.

Para o caso em que há realocação no próprio hotel:

𝐹(𝑄) =0

0 + 393,84

Assim, 𝐹(𝑄) = 0. O número ótimo de overbooking será igual a

zero quartos colocados em overbooking.

Com realocação no próprio hotel em conjunto com um voucher de desconto:

𝐹(𝑄) =268,74

268,74 + 393,84

Assim, 𝐹(𝑄) = 0,405 = 40,5%. Neste caso, o número ótimo de

overbooking também será igual a zero, já que não há distribuição

acumulada que iguale a este valor.

Caso ainda considerar a realocação no próprio hotel e houver a

realização de um upgrade, além da emissão de um voucher de desconto,

tem-se:

𝐹(𝑄) =(268,74 + 67,08)

(268,74 + 67,08) + 393,84

𝐹(𝑄) = 0,461 = 46,1%.

Ainda assim, não há distribuição acumulada que iguale a este

valor, resultando em um número ótimo de overbooking igual a zero.

No caso em que o hotel decide por não honrar a diária para o

cliente e, assim, arcar com a multa por infração do código do consumidor,

não é possível estimar valor acurado para 𝐶𝑓 . No entanto, é possível

estimar um valor para 𝐶𝑓 através dos valores de 𝐹(𝑄) obtidos.

Segundo os gráficos de distribuição de no-show por cada dia da

semana, os valores de 𝐹(𝑄) aproximam-se de 1 (100%). Como exemplo,

para as quintas-feiras, dia da semana com maior número de registros de

106

Page 107: UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA DEPARTAMENTO … · de viagem e turismo e contribuem de forma direta com o setor. De maneira geral, as margens de lucro de hotéis sofreram

107

no-show, para se alcançar um número ótimo de overbooking igual a cinco,

para 𝐹(𝑄) = 0,9899 . Considerando: 𝐶𝑒 = 𝑅$ 393,84 na fórmula da

Fração Crítica, para que seja viável para o hotel oferecer cinco quartos a

overbooking, o valor de 𝐶𝑓 deveria ser de 𝐶𝑓 = 𝑅$ 38.999,06. Como os

valores de 𝐹(𝑄) encontrados foram semelhantes, a ordem de grandeza

para o valor de 𝐶𝑓 encontrado repete-se para todos os dias da semana

analisados. Pode-se inferir que o hotel poderia pagar uma multa

equivalente a 𝐶𝑓 = 𝑅$ 38.999,06 para que seja viável realizar o

overbooking de cinco de seus quartos.

4.7 INTERPRETAÇÃO DOS RESULTADOS

As atuais práticas de Revenue Management do hotel apresentam-

se eficientes para se proteger dos efeitos de no-shows e cancelamentos. O

fato do hotel cobrar a primeira diária do cliente e, em seguida, ofertar o

quarto em no-show para nova venda em curto período de tempo previne

que a empresa tenha prejuízo direto com o fenômeno de no-show. O

mesmo ocorre para os cancelamentos que, caso não sejam feitos em janela

de 48 horas antes do início da primeira diária, também é cobrada a

primeira diária.

A política conservadora do hotel de cobrar dos clientes a primeira

diária refletiu no fato do número de no-show acumulado nos três anos de

análise ser significantemente menor que o número de diárias efetivamente

realizadas, representando 0,6% do total de diárias efetivamente realizadas.

Esta diferença levou a uma distribuição de Poisson em que a frequência

de ocorrência de no-shows nulos se aproxima de 100%.

Desta forma, segundo o Newsvendor Model, para que fosse

viável realizar o overbooking de, ao menos 5 quartos, o hotel deveria arcar

com custos por não honrar a diária ao cliente equivalente a R$ 38.996,06,

cuja decisão distancia-se da realidade do hotel.

Caso o número de ocorrência de no-shows fosse superior ao

número encontrado, diferentes valores de 𝐹(𝑄) seriam apurados e, assim,

poderiam indicar a viabilidade de realizar overbooking nas reservas do

hotel. Em outras palavras, um número inferior ao 𝐹(𝑄) encontrado

significa que o hotel presenciou o fenômeno de no-show mais vezes e,

assim, justificaria realizar overbooking.

Uma maneira de aumentar a ocorrência de no-shows seria a de

reconsiderar a política atual de cobrança da cobrança de primeira diária

dos clientes. Caso o hotel elimine a cobrança da primeira diária, seria

possível avaliar se a decisão refletiria em maior número de no-shows, já

107

Page 108: UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA DEPARTAMENTO … · de viagem e turismo e contribuem de forma direta com o setor. De maneira geral, as margens de lucro de hotéis sofreram

108

que a decisão não acarretaria em nenhuma perda financeira aos clientes.

A decisão poderia trazer incrementos na ocupação do hotel, já

que este se encontra com ocupação média de 70%, segundo os

entrevistados. Por tratar de uma decisão de risco, o hotel não mostrou

interesse em realizá-la.

Desta forma, considera-se inviável realizar overbooking em

quaisquer que sejam os quartos do hotel devido ao número histórico de

no-shows encontrado.

108

Page 109: UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA DEPARTAMENTO … · de viagem e turismo e contribuem de forma direta com o setor. De maneira geral, as margens de lucro de hotéis sofreram

109

5. CONCLUSÃO

A presente pesquisa tem como objetivo geral avaliar a

viabilidade da realização de overbooking para reservas de hotel

estabelecido no centro da cidade de São Paulo. A realização de

overbooking mostra-se inviável mediante ao número histórico de no-shows do hotel relativamente reduzido, o que não justifica a estratégia de

proteção ao fenômeno de no-shows através do overbooking. A atual

proteção ao fenômeno, realizada a partir da cobrança da primeira diária,

garante que, mesmo que não ocorra a ocupação do quarto, haja receita

para o hotel.

Com o desenvolvimento do trabalho, mostrou-se que a aplicação

do Newsvendor Model, originalmente concebido para produtos perecíveis,

pode se estender para reservas de hotel, que são serviços perecíveis. O

modelo tem simples aplicação, por necessitar do conhecimento de apenas

três variáveis para encontrar o número ótimo de quartos ofertados a

overbooking.

Para que se tornasse possível o alcance do objetivo geral da

pesquisa, foram traçados quatro objetivos específicos. O primeiro deles,

foi o de coleta de informações a respeito do perfil de demanda por

hospedagens dos quartos, no-shows e cancelamentos. Para obtenção de

uma amostra com número relevante de dados, foram coletados dados dos

anos 2015, 2016 e 2017. Constatou-se que o Booking.com foi a plataforma

em que a maioria dos clientes efetuaram as reservas, seguidas da categoria

“particular”. A plataforma também apresentou maior contribuição

percentual com os gastos extras, no-shows e cancelamentos.

A análise dos dados permitiu compreender que os quartos da

categoria EDC, por serem maioria, apresentaram maior contribuição com

o número de no-shows ocorridos. Constatou-se ainda que novembro foi o

mês com maior número de no-shows nos três últimos anos e quinta-feira,

o dia da semana com mais registros do fenômeno. Consequentemente, a

decisão de overbooking deveria contemplar as interpretações dos dados

históricos, considerando a categoria do quarto, mês e dia da semana em

que mais houveram registros de no-show.

O segundo objetivo específico corresponde à identificação de

modelos teóricos de Newsvendor Model que fossem aplicados a reservas

de hotel. Desta maneira, foi realizado o levantamento de referências na

literatura através da pesquisa bibliométrica, presente no segundo capítulo.

Constatou-se que a aplicação do modelo não é comum para reservas de

quartos de hotel, fazendo com que a abordagem do problema de

overbooking através do Newsvendor Model seja específica.

109

Page 110: UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA DEPARTAMENTO … · de viagem e turismo e contribuem de forma direta com o setor. De maneira geral, as margens de lucro de hotéis sofreram

110

Outro objetivo foi avaliar as variáveis que exercem influência na

tomada de decisão da taxa de ocupação do hotel. Essencialmente, os

preços das diárias correspondem à peça-chave para determinar a

ocupação do hotel, no sentido em que estes buscam alinhar oferta à

demanda. O cenário de crise na economia do país refletiu-se em baixa

taxa de ocupação anual de 70% e, consequentemente, em número

relativamente reduzido de no-shows.

O último objetivo visou a proposição e análise de impactos de

um modelo de overbooking para o hotel. Os custos envolvidos na decisão

de overbooking foram identificados, em conjunto com a distribuição da

demanda de no-shows. Os resultados da aplicação do software Statistica sugerem adequada aderência dos dados da amostra à distribuição de

Poisson. Resulta-se que a realização do overbooking não apresenta

viabilidade para o hotel, graças ao número registrado de no-shows e dos

custos de falta e de excesso envolvidos na decisão de overbooking.

Como contribuição à Engenharia de Produção, mostrou-se a

aplicação de um modelo originalmente concebido para produtos

perecíveis a reservas de hotel, no sentido de avaliar a execução de uma

prática, ora tida como controversa na literatura, que pode gerar receita

adicional em circunstâncias específicas.

Como sugestão para trabalhos futuros, sugere-se que o estudo

seja feito para hotéis com maior incidência de no-shows e que se avalie a

possibilidade de se incrementar a receita a partir da ocupação adicional

que seria gerada através de overbooking.

110

Page 111: UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA DEPARTAMENTO … · de viagem e turismo e contribuem de forma direta com o setor. De maneira geral, as margens de lucro de hotéis sofreram

111

REFERÊNCIAS

ARAUJO, Carlos Alberto. Bibliometria: Evolução histórica e questões

atuais. 2006. Disponível em:

<http://seer.ufrgs.br/index.php/EmQuestao/article/view/16/5>. Acesso

em: 4 abr. 2018.

BADINELLI, Ralph D.. An optimal, dynamic policy for hotel yield

management. European Journal Of Operational Research, [s.l.], v.

121, n. 3, p.476-503, mar. 2000. Elsevier BV.

BAYOUMI, Abd El-moniem et al. Dynamic pricing for hotel revenue

management using price multipliers. Journal Of Revenue And Pricing

Management, [s.l.], v. 12, n. 3, p.271-285, 23 nov. 2012. Springer Nature.

BRASIL. Presidência da República. Subchefia Para Assuntos

Jurídicos. Código de defesa do consumidor. 2017. Disponível em:

<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L8078.htm>. Acesso em: 13

maio 2018.

BREIMAN, L.; FRIEDMAN, J. H.; OLSHEN, R. A.; STONE, C. J.

Classification and Regression Trees. Wadsworth, 1984

CHEN, Xu; HAO, Gang. Co-opetition alliance models of parallel flights

for determining optimal overbooking policies. Mathematical And

Computer Modelling, [s.l.], v. 57, n. 5-6, p.1101-1111, mar. 2013.

Elsevier BV.

CHOI, Sunmee; MATTILA, Anna S. Hotel revenue management and its

impact on customers' perceptions of fairness. Journal Of Revenue And

Pricing Management, [s.l.], v. 2, n. 4, p.303-314, jan. 2004. Springer

Nature.

FONSECA, José M. M. R. da. Indução de árvores de decisão : HistClass

- proposta de um algoritmo não paramétrico / José Manuel Matos Ribeiro

da Fonseca. - Lisboa : [s.n.], 1994.

GUO, Xiaolong et al. Optimal pricing strategy based on market

segmentation for service products using online reservation systems: An

111

Page 112: UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA DEPARTAMENTO … · de viagem e turismo e contribuem de forma direta com o setor. De maneira geral, as margens de lucro de hotéis sofreram

112

application to hotel rooms. International Journal Of Hospitality

Management, [s.l.], v. 35, p.274-281, dez. 2013. Elsevier BV.

GUO, Xiaolong; DONG, Yufeng; LING, Liuyi. Customer perspective on

overbooking: The failure of customers to enjoy their reserved services,

accidental or intended?. Journal Of Air Transport Management, [s.l.],

v. 53, p.65-72, jun. 2016. Elsevier BV.

HANKS, R. Discounting in the hotel industry: A new approach. The

Cornell Hotel And Restaurant Administration Quarterly, [s.l.], v. 33,

n. 1, p.15-23, fev. 1992. Elsevier BV.

HILL, Arthur V.. The Newsvendor Problem. 2017. Disponível em:

<https://www.clamshellbeachpress.com/downloads/newsvendor_proble

m.pdf>. Acesso em: 20 maio 2018.

IVANOV, Stanislav; ZHECHEV, Vladimir Sashov. Hotel Revenue

Management – A Critical Literature Review. Ssrn Electronic Journal,

[s.l.], p.12-15, 2017. Elsevier BV.

JONES LANG LASALLE (JLL) (Brasil). Hotelaria em números

2017. 2017. Disponível em: <http://www.jll.com.br/brazil/pt-

br/relatorios/175/hotelaria-em-numeros-2017>. Acesso em: 8 fev. 2018.

KIMES, Sheryl e. The future of hotel revenue management. Journal Of

Revenue And Pricing Management, [s.l.], v. 10, n. 1, p.62-72, jan. 2011.

Springer Nature.

LIBERMAN, Varda; YECHIALI, Uri. On the Hotel Overbooking

Problem—An Inventory System with Stochastic

Cancellations. Management Science, [s.l.], v. 24, n. 11, p.1117-1126, jul.

1978. Institute for Operations Research and the Management Sciences

(INFORMS).

LIM, Wei Shi. Overselling in a Competitive Environment: Boon or

Bane?. Marketing Science, [s.l.], v. 28, n. 6, p.1129-1143, nov. 2009.

Institute for Operations Research and the Management Sciences

(INFORMS).

MANZINI, Eduardo José. Entrevista semi-estruturada: análise de

objetivos e de roteiros. 2004. Disponível em:

112

Page 113: UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA DEPARTAMENTO … · de viagem e turismo e contribuem de forma direta com o setor. De maneira geral, as margens de lucro de hotéis sofreram

113

<https://www.marilia.unesp.br/Home/Instituicao/Docentes/EduardoMan

zini/Manzini_2004_entrevista_semi-estruturada.pdf>. Acesso em: 15

maio 2018.

MCGILL, Jeffrey I.; VAN RYZIN, Garrett J.. Revenue Management:

Research Overview and Prospects. Transportation Science, [s.l.], v. 33,

n. 2, p.233-256, maio 1999. Institute for Operations Research and the

Management Sciences (INFORMS).

NETESSINE, Serguei; SHUMSKY, Robert. Introduction to the Theory

and Practice of Yield Management. Informs Transactions On

Education, [s.l.], v. 3, n. 1, p.34-44, set. 2002. Institute for Operations

Research and the Management Sciences (INFORMS).

OBSERVATÓRIO DE TURISMO E EVENTOS (São

Paulo). Desempenho dos Meios de Hospedagem Paulistanos. 2017.

Disponível em:

<http://www.observatoriodoturismo.com.br/desempenho-dos-meios-de-

hospedagem-paulistanos/>. Acesso em: 20 maio 2018.

PORTEUS, Evan L.. Building Intuition. International Series In

Operations Research & Management Science, [s.l.], p.115-134, nov.

2008. Springer US.

QIN, Yan et al. The newsvendor problem: Review and directions for

future research. European Journal Of Operational Research, [s.l.], v.

213, n. 2, p.361-374, set. 2011. Elsevier BV.

RAMASWAMI, M.; BHASKARAN, R.. A CHAID Based

Performance Prediction Model in Educational Data Mining. 2010.

Disponível em: <https://arxiv.org › cs>. Acesso em: 20 maio 2018.

SYLLOS, Gustavo. A evolução da distribuição hoteleira. 2017.

Disponível em: <https://www.panrotas.com.br/noticia-

turismo/distribuicao/2017/11/um-panorama-da-distribuicao-veja-o-

anuario-de-2017_151383.html>. Acesso em: 17 mar. 2018.

ŞEN, Alper; ZHANG, Alex X.. The newsboy problem with multiple

demand classes. Iie Transactions, [s.l.], v. 31, n. 5, p.431-444, maio 1999.

Informa UK Limited.

113

Page 114: UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA DEPARTAMENTO … · de viagem e turismo e contribuem de forma direta com o setor. De maneira geral, as margens de lucro de hotéis sofreram

114

TSE, Tony S. M.; POON, Yiu-tung. Modeling no-shows, cancellations,

overbooking, and walk-ins in restaurant revenue management. Journal

Of Foodservice Business Research, [s.l.], v. 20, n. 2, p.127-145, 29 jun.

2016. Informa UK Limited.

VÄHÄ-PIETILÄ, Ilari. An Application of the Two-Period

Newsvendor Problem. 2015. Disponível em:

<sal.aalto.fi/publications/pdf-files/evah15_public.pdf>. Acesso em: 5

mar. 2018.

VINOD, Ben. Unlocking the value of revenue management in the hotel

industry. Journal Of Revenue And Pricing Management, [s.l.], v. 3, n.

2, p.178-190, jul. 2004. Springer Nature.

WEATHERFORD, Laurcence. Length of Stay Heuristics: Do They

Really Make a Difference? Cornell Hotel Restaurant Admin.. Ithaca, p.

70-79. mar. 1995.

WIRTZ, Jochen et al. Revenue management: Resolving potential

customer conflicts. Journal Of Revenue And Pricing Management,

[s.l.], v. 2, n. 3, p.216-226, out. 2003. Springer Nature.

WORLD TRAVEL AND TOURISM COUNCIL. Travel and Tourism

Economic Impact 2016. 2016. Disponível em:

<https://www.wttc.org/economic-impact/country-analysis/country-

reports/>. Acesso em: 15 mar. 2018.

WORLD TRAVEL AND TOURISM COUNCIL. Travel and Tourism

Economic Impact 2017. 2017. Disponível em:

<https://www.wttc.org/economic-impact/country-analysis/country-

reports/>. Acesso em: 15 mar. 2018.

XIONG, H; XIE, J; DENG, X. Risk-averse decision making in

overbooking problem. Journal Of The Operational Research Society,

[s.l.], v. 62, n. 9, p.1655-1665, set. 2011. Informa UK Limited.

114