universidade federal de santa catarina clarissa …livros01.livrosgratis.com.br/cp099917.pdf ·...
TRANSCRIPT
UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA
CLARISSA RIOS SIMONI
LESÕES DESPORTIVAS EM ATLETAS JOVENS FEDERADOS NA MODALIDADE
DE ATLETISMO NO ESTADO DE SANTA CATARINA
Florianópolis
2008
Livros Grátis
http://www.livrosgratis.com.br
Milhares de livros grátis para download.
1
CLARISSA RIOS SIMONI
LESÕES DESPORTIVAS EM ATLETAS JOVENS FEDERADOS NA MODALIDADE
DE ATLETISMO NO ESTADO DE SANTA CATARINA
Dissertação apresentada ao Curso de mestrado em Educação Física, da Universidade Federal de Santa Catarina como requisito para obtenção do título de mestre em Educação Física.
Orientadora: Profa. Dra. Maria de Fátima da Silva Duarte
Florianópolis
2008
2
CLARISSA RIOS SIMONI
LESÕES DESPORTIVAS EM ATLETAS JOVENS FEDERADOS NA MODALIDADE
DE ATLETISMO NO ESTADO DE SANTA CATARINA
Esta dissertação foi julgada adequada à obtenção do título de Mestre em Educação Física (área de concentração Atividade Física e Saúde) e aprovado em sua forma final pelo curso de Pós-graduação em Educação Física, da Universidade Federal de Santa Catarina.
Florianópolis, 07 de Abril de 2008.
___________________________________________________ Profa. e Orientadora Dr. Maria de Fátima da Silva Duarte – UFSC
Universidade Federal de Santa Catarina
___________________________________________________
Prof. Dr. Osni Jacó da Silva – UFSC
Universidade Federa de Santa Catarina
___________________________________________________
Profa. Dra. Sara Quenzer Matthiesen – UNESP
Universidade Estadual de São Paulo
___________________________________________________
Prof. Dra. Márcia Kroeff – UDESC
Universidade do Estado de Santa Catarina
3
Dedico este trabalho às minhas duas doutoras
preferidas. Primeiro à minha mãe, por ter
permitido que eu vivenciasse os caminhos do
saber médico-pediátrico, durante toda a minha
infância e adolescência, despertando em mim a
preocupação que tenho hoje dentro da área de
atuação da Educação Física com o crescimento e
desenvolvimento de jovens esportistas. E, em
segundo, à minha irmã que me inspira com todo
o seu conhecimento em todas as conversas e
leituras de seus textos, além de ser uma grande
incentivadora da construção do conhecimento.
4
AGRADECIMENTOS
Primeiramente à minha família: mãe Leda, por toda a dedicação e cuidado
conosco; ao pai Ciro, pelo senso de responsabilidade; aos meus irmãos Jonathas e
Guilherme, pela companhia em muitas viagens; e, em especial, à minha irmã Ana
Carolina que me orientou neste estudo e contribuiu com suas preciosas reflexões sobre
o texto.
Ao meu marido Ezequiel, por acreditar que este trabalho é importante para a
minha formação profissional e, assim, me apoiou todo o tempo; bem como à minha
querida sogra Vanete que sempre se dispõe a realizar as revisões dos meus escritos.
A todos os clubes, técnicos e atletas, do atletismo de Santa Catarina por
permitirem a execução deste trabalho. Em especial, à Federação Catarinense de
Atletismo e seu presidente, professor Walmor Battistotti, por ter, muitas vezes, cedido
espaço nos eventos para que eu pudesse realizar a coleta dos dados.
Aos professores Jolmerson, Saray, Márcia e Edson, pelas contribuições na
estruturação metodológica, bem como aos professores Júlio e Deraldo pela avaliação
dos questionários.
Às minhas alunas Érica e Verônica que me auxiliaram na coleta dos dados pelo
estado, e também, ao Kendji que, prontamente, criou o programa para coleta dos
dados.
À minha querida orientadora Maria de Fátima, que sempre foi e continua sendo
para mim o exemplo a ser seguido, e ao Marcius, pelas grandes contribuições
conceituais ao trabalho.
5
RESUMO
O presente estudo traz a tona o tema das lesões desportivas (LD) em atletas jovens na modalidade de atletismo. Muitos trabalhos ao redor do mundo têm discutido tal conteúdo, porém poucos têm se dedicado ao trato com atletas ainda em fases de desenvolvimento, bem como atletas da modalidade de atletismo. Esta pesquisa teve como objetivo identificar associação e a prevalência de fatores de risco a lesões desportivas, referidas em atletas jovens, federados na modalidade de atletismo, no estado de Santa Catarina, de setembro de 2006 a setembro de 2007. Esta investigação teve caráter retrospectivo, caracterizando-se como um estudo transversal, descritivo e auto-referido. Utilizou-se um questionário no formato de inquérito de morbidade referida (IMR). Foram entrevistados 158 atletas da federação catarinense de atletismo (FCA) com idade entre 15 e 18 anos, pertencentes a 14 instituições filiadas. Entre estes entrevistados 57,6% são do sexo masculino e 42,4% do sexo feminino. Entre os entrevistados, 68 afirmaram terem sido acometidos por LD, sendo 77 o número total de lesões relatadas. O índice de lesões nesta amostra foi de 0,48 lesões/atleta. No geral as mulheres apresentam, ligeiramente, maior prevalência de lesões do que os homens, dado este não significativo. As LD na sua maioria foram músculo-esqueléticas (distensões e contraturas), que afetam os membros inferiores (principalmente a coxa). São elas causadas por macrotraumas intrínsecos que ocorrem durante o treinamento e no período específico do ciclo, tratadas com métodos fisioterápicos e com retorno ainda sintomático dos atletas às atividades esportivas. Na análise por grupo de provas não houve associação entre o grupo de atletas que treina para mais de um evento atlético e os que se dedicam ao treinamento específico de um conjunto de provas. Uma tendência confirmada foi a de que os atletas que apresentaram LD são significativamente mais velhos dos que não apresentaram afecções. Com relação aos aspectos do treinamento e a prevalência de lesões observou-se não existir relação entre ter lesões e: número de períodos de treinamento semanal, número de participação em eventos de competição, preparação e acompanhamento do treinamento, anos de treinamento na modalidade, idade de início do treinamento, prática de outra modalidade e participação no ranking da cbat. Somente foram identificadas comparações marginalmente significativas em relação a atletas menos acometidos por LD e: clubes com acompanhamento de outros profissionais e atletas recordistas. Ao final desta investigação podemos afirmar que o incremento da idade e a prática de provas de velocidade são os dois fatores de risco para LD nesta população de atletas jovens de atletismo. Concluímos a partir dos cálculos de prevalência que as lesões em atletas jovens do atletismo catarinense apresentam resultados semelhantes aos encontrados em estudos sobre LD em populações adultas. Este dado é preocupante e merece ser mais profundamente investigado em outros estudos. Palavras chave: Esporte – Programas de treinamento – Crianças e adolescentes.
6
ABSTRACT
This study brings to light the issue of sports injuries (LD) in young athletes of modality of track and field. Many studies around the world have discussed such content, but few have been devoted to dealing with athletes still in stages of development, as well as athletes of the sport of athletics. This research aimed to identify association and the prevalence of risk factors to sports injuries, in young athletes registered in the state of Santa Catarina, by september 2006 to september 2007. This research was retrospective character, characterizing himself as a cross-sectional study descriptive and self-reported. It was used in the form of a questionnaire of survey of morbity refered (SMR). We interviewed 158 athletes from athletics federation of state of Santa Catarina (FCA) aged between 15 and 18 years, belonging to 14 affiliated institutions. Among those interviewed are 57.6% males and 42.4% females. Among those interviewed, 68 said they were affected by LD, and 77 the total number of injuries reported. The rate of injuries in this sample was 0.48 injuries / athlete. Overall women present, slightly, higher prevalence of injuries than men, but this figure is not significant. The LD mostly were musculo-skeletal (distensions and contractures), affecting the lower limbs (especially the thigh). They are caused by intrinsic macrotraumas that occur during training and the specific period of the cycle training, and dealt with methods physiotherapy with feedback yet symptomatic of athletes to sports activities. In the analysis by group of evidence there was no association between the group of athletes who train for more than one athletic event and who are dedicated to specific training of few athletic events. A trend confirmed was that the athletes who had LD are significantly older of which showed no conditions. And about of aspects of training and the prevalence of injuries there was no relationship exists between having injuries and: number of weekly periods of training, number of participation in events of competition, preparation and monitoring of training, years of training in the method, beginning age of the training, practice and participation of another modality, and the ranking place of CBAt. Comparisons were identified only marginally significant in relation to athletes and less affected by LD: clubs with monitoring of other professional and athlete who had record. At the end of this research we can say that the increase of age and the practice of speed events are the two risk factors for LD in this population of young athletes in track and field. We conclude that the prevalence of injuries in young athletes in the state of Santa Catarina show results similar to those found in studies on LD in adult populations. This finding is worrying and deserves to be further investigated in other studies. Keywords: Sports – Training programs - Child and adolescent.
7
LISTA DE ILUSTRAÇÕES
Figura 1 – Ciclo das investigações sobre lesões desportivas................................ 43
Figura 2 – Mapa do estado de Santa Catarina com destaque as cidades sedes
dos clubes............................................................................................................... 52
Quadro 1 – Matriz analítica..................................................................................... 56
Figura 3 – Comparação entre número de lesões, atletas lesionados e incidência,
segundo a idade................................................................................... 61
Figura 4 – Idade média (+ erro padrão e + desvio padrão) dos atletas
entrevistados que apresentaram e que não apresentaram lesão........................... 61
Figura 5 – Períodos de treinamento na semana (+ erro padrão e + desvio padrão)
dos atletas entrevistados que apresentaram e que não apresentaram
lesão.......................................................................................................................... 75
Figura 6 – Participação em competições (+ erro padrão e + desvio padrão) dos
atletas entrevistados que apresentaram e que não apresentaram lesão................. 76
Figura 7 – Tempo de prática na modalidade (+ erro padrão e + desvio padrão)
dos atletas entrevistados que apresentaram e que não apresentaram lesão.......... 78
Figura 8 – Idade de início nos treinamentos (+ erro padrão e + desvio padrão)
dos atletas entrevistados que apresentaram e que não apresentaram lesão.......... 79
8
LISTA DE TABELAS
Tabela 1 – Lesões catastróficas no esporte.............................................................. 37
Tabela 2 – Caracterização dos clubes de atletismo filiados à FCA........................... 51
Tabela 3 – Idade dos atletas segundo o sexo........................................................... 57
Tabela 4 – Caracterização da amostra de atletas federados em SC........................ 59
Tabela 5 – Número de lesões desportivas por atleta................................................ 60
Tabela 6 – Lesões desportivas por idade e sexo...................................................... 63
Tabela 7 – Número de atletas com lesão por clube.................................................. 65
Tabela 8 – Número de atletas com e sem lesão segundo os eventos atléticos........ 67
Tabela 9 – Lesões desportivas segundo os grupos de provas.................................. 68
Tabela 10 – Identificação dos tipos de lesões desportivas........................................ 69
Tabela 11 – Diagnóstico das lesões relatadas.......................................................... 69
Tabela 12 – Atletas com lesão segundo a região anatômica.................................... 70
Tabela 13 – Lesões segundo a localização anatômica............................................. 70
Tabela 14 – Classificação das lesões desportivas.................................................... 73
Tabela 15 – Lesões desportivas segundo o ranqueamento de atletas..................... 81
Tabela 16 – Lesões desportivas segundo os atletas recordistas e não recordistas.. 81
9
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO.................................................................................................. 11
1.1 OBJETIVOS GERAIS..................................................................................... 15
1.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS.......................................................................... 15
1.3 JUSTIFICATIVA............................................................................................. 16
2 LESÕES DESPORTIVAS................................................................................. 20
2.1 CONCEITO DE LESÕES DESPORTIVAS.................................................... 20
2.2 CLASSIFICAÇÃO DAS LESÕES DESPORTIVAS........................................ 24
2.3 POR QUE EXISTEM AS LESÕES DESPORTIVAS?.................................... 27
2.4 PANORAMA SOBRE LESÕES DESPORTIVAS EM ATLETAS JOVENS.... 28
2.5 LESÕES NO ATLETISMO............................................................................. 31
2.6 TRATO DAS LESÕES DESPORTIVAS......................................................... 37
2.7 EVITANDO LESÕES...................................................................................... 39
3 TREINAMENTO NA ADOLESCÊNCIA............................................................ 44
3.1 IDADE DE INÍCIO DE TREINAMENTO EM ESPORTES COMPETITIVOS.. 44
3.2 TREINAMENTO DESPORTIVO NA ADOLESCÊNCIA................................. 46
4 MATERIAIS E MÉTODOS................................................................................ 50
4.1 CARACTERIZAÇÃO DA PESQUISA............................................................. 50
4.2 CARACTERIZAÇÃO DA POPULAÇÃO......................................................... 51
4.3 PROCEDIMENTO DE COLETA DE DADOS................................................. 53
4.4 VALIDAÇÃO DOS INSTRUMENTOS............................................................ 54
4.5 TRATAMENTO ESTATÍSTICO...................................................................... 54
4.6 MATRIZ ANALÍTICA...................................................................................... 56
5 ANÁLISE DOS DADOS.................................................................................... 57
5.1 DIAGNÓSTICO DA POPULAÇÃO................................................................. 57
5.2 ANÁLISE SEGUNDO CARACTERÍSTICAS INDIVIDUAIS, EQUIPE E
GRUPO DE PROVAS.......................................................................................... 59
5.3 ANÁLISE SEGUNDO AS CLASSIFICAÇÕES DAS LESÕES
DESPORTIVAS.................................................................................................... 68
5.4 ANÁLISE SEGUNDO ASPECTOS DO TREINAMENTO............................... 74
10
5.5 ANÁLISE SEGUNDO DESEMPENHO ATLÉTICO........................................ 80
6 DISCUSSÃO DOS RESULTADOS.................................................................. 82
7 CONCLUSÕES................................................................................................. 85
8 SUGESTÕES E RECOMENDAÇOES.............................................................. 88
8.1 SUGESÕTES PARA NOVOS ESTUDOS...................................................... 89
9 LIMITAÇÕES DO ESTUDO.............................................................................. 91
REFERÊNCIAS.................................................................................................... 92
APÊNDICES........................................................................................................ 98
APÊNCIDE A – Entrevista da pesquisa............................................................ 99
APÊNDICE B – Programa Delphi criado para coleta de dados...................... 103
APÊNDICE C – Termo de consentimento livre e esclarecido........................ 105
ANEXOS.............................................................................................................. 107
ANEXO 1 – Parecer do Comitê de Ética em pesquisa com seres humanos 108
11
1 INTRODUÇÃO
O esporte de alto rendimento é um dos maiores fenômenos da área de
Educação Física. Ele provoca emoções, e desperta nas pessoas sentimentos como
coragem e perseverança, além de mostrar a capacidade do corpo humano em superar
limites. Este fenômeno, do mesmo modo, envolve as crianças e adolescentes, que
assistem aos eventos desportivos, despertando neles a vontade de ser um atleta
campeão.
Hoje se tem evidenciado a participação massiva de jovens em esportes de
rendimento cada vez mais precocemente, sendo assim, o foco de pesquisa de muitos
estudos sobre especialização precoce, que busca compreender as implicações do
treinamento no organismo destes atletas iniciantes. Dentre as implicações, parece-nos
de importante valor a questão das lesões que podem advir dessa prática (treinamento
ou competição) em uma população que ainda está em processo de crescimento e
desenvolvimento.
Com os avanços tecnológicos realizados na medicina desportiva, vem-se
fazendo diagnósticos mais precisos e conseqüentes tratamentos mais eficazes. Além
disso, o novo panorama da fisiologia do esporte tem contribuído muito para a melhora
da especificidade dos programas de treinamento, sendo estes, cada vez mais
direcionados às capacidades e necessidades de cada atleta. Por outro lado, o grande
crescimento no número de eventos esportivos e a melhora progressiva dos resultados,
têm elevado as cargas de treinamento, predispondo os atletas ao acometimento de
lesões desportivas graves (COHEN, et al. 1997).
Alguns estudos vêm sublinhando o alto índice de atendimentos a lesões
desportivas em serviços de emergência. Em estudo transversal no Departamento de
emergência do National Hospital Ambulatory Medical Care Survey (1997-2001), na
cidade de Denver nos Estados Unidos (SIMON et al. 2006), as lesões são responsáveis
por 2,5 milhões de visitas anuais aos departamentos de emergência, ou seja, 23% das
visitas relatam lesões no esporte. Meninos com idade entre seis e 18 anos, de etnia
branca, estão associados às maiores taxas de lesões desportivas. As lesões incluem
12
fraturas, luxações, distensões e entorses, ferimentos abertos e contusões, ocorrendo
principalmente em esportes com bicicleta, basquetebol, “playground” e futebol
americano. No relatório australiano “Childsafe New South Wales (NSW) Report N°1” de
1991, as lesões desportivas são relatadas como uma das maiores causas de
atendimento hospitalar de emergência. Tal relatório alerta para o fato de que muitos dos
casos atendidos são considerados previsíveis, ou seja: poderiam ser prevenidos (NSW
apud COULON et al., 2001).
Embora os esportes coletivos costumeiramente apresentem um maior
número de lesões devido ao contato físico (PETRI et al. 2002), esportes individuais de
não contato, como o atletismo1, também figuram entre as atividades físicas
propiciadoras de lesões em crianças e adolescentes. Com suas características
específicas como velocidade, explosão, agilidade, etc., e movimentos de características
biomecânicas diversas, os esportes individuais propiciam o aparecimento de outros
tipos de lesão, possivelmente específicas (características) de cada modalidade
(LAURINO et al., 2000). Em estudos como o de Maffulli et al. (1996), que investigou a
presença de lesões esportivas na população de Hong Kong, o atletismo aparece como
um dos esportes praticados pelas crianças acometidas, principalmente velocistas e
corredores de meia-distância.
Como já foi dito, as cargas de treinamento aparecem como um fator
determinante para o aparecimento de lesões esportivas, as quais merecem destacado
cuidado quando estão em questão a preparação e a execução de treinamentos de
crianças e adolescentes. Dentro da faixa etária estudada nesta pesquisa (15 a 18
anos), o tema do treinamento convoca a uma reflexão, já que, muitas vezes, ele está
baseado no treinamento de adultos – o que nos parece completamente equivocado. É
preciso atentar para esta realidade, com o objetivo de amenizar os fatores de risco a
lesões às quais estão predispostos os atletas jovens.
Por outro lado, a questão das competições também merece nossa atenção.
Peterson e Renström (2002) alertam para os riscos em se permitir que um adolescente
treine e participe de competições regularmente. Tais riscos são apresentados a partir de
1 Segundo Kovan (2002) o atletismo é considerado esporte sem contato nos eventos de lançamentos (disco, dardo), arremesso de peso e corrida; contudo, o salto em altura e salto com vara são classificados como “contato limitado”.
13
três ângulos diferentes: o fisiológico, o psicológico e o ortopédico. Este último foi
tomando foco, contudo, e não menos relevante, os comportamentos fisiológicos e
psicológicos do treinamento na infância e adolescência, segundo os autores, devem
também ser investigados em outras pesquisas.
O treinamento desportivo, em muitos esportes, tem levado crianças e
adolescentes a trabalhar as técnicas no limite de exaustão do corpo, principalmente
pela grande exigência das modalidades. Em outros, as condições das instalações, os
implementos, e mesmo os riscos inerentes da própria modalidade podem ocasionar
vários tipos de lesões. “Praticamente todas as atividades físicas e esportivas trazem em
si algum risco ou conseqüência desastrosa. Se o objetivo é prevenir todas as lesões, a
única solução apropriada é eliminar os esportes e as atividades recreativas” (RISE,
2000, p.9). Concordando com este autor, nosso estudo buscou identificar fatores de
risco para as lesões desportivas, entendendo que é possível preveni-las, e conscientes
de que extinguir completamente a ocorrência de lesões em atletas jovens durante
treinamentos e competições é praticamente impossível.
Os passos iniciais importantes para enfrentar e prevenir as lesões são o
reconhecimento e a aceitação por parte dos atletas, técnicos e pais de que sempre há
algum risco nas atividades físicas. Controlar os riscos associados à prática esportiva
requer a sua identificação e classificação e o uso de métodos e técnicas para minimizá-
los. Pode-se avaliar, prevenir ou medir os riscos por meio de cautelosos estudos de
acompanhamento que registram sua freqüência em determinado esporte, assim como
os fatores que provocam tais lesões ou que estão associados a elas (RISE, 2000).
É ainda importante salientar a presença de técnicos desportivos que
negligenciam o assunto, deixando que seus pupilos passem por processos de lesões
que, muitas vezes, até os levam a desistir do treinamento. Além do mais, a participação
efetiva dos pais, que geralmente cobram resultados, sonhando com uma participação
internacional, dinheiro e fama, também pode resultar em excessos no treinamento dos
filhos. Segundo Petri e Lourenço apud Cohen e Abdalla (2003), têm-se observado uma
tendência crescente de cobrança das crianças envolvidas em esportes competitivos por
parte dos pais e treinadores, levando ao acontecimento de treinamentos exagerados e
14
temporadas de competições cada vez menos espaçadas. Os mesmos autores ainda
afirmam:
As crianças, seus pais, os professores de Educação Física e os técnicos parecem aceitar o risco de lesões como parte indesejável e inevitável da atividade esportiva, tendendo a acomodar-se. Estudiosos do mundo todo vêm fazendo esforços para entender melhor essas lesões, sua incidência, mecanismos e conseqüências, no intuito de realizar programas mais bem estruturados e seguros para a participação em tais atividades (PETRI e LOURENÇO apud COHEN e ABDALLA, 2003, p.625).
O presente estudo teve como foco o desporto de atletismo, o qual é
praticado por um grande grupo de jovens em muitos países. Nos Estados Unidos da
América, em 2003, mais de um milhão de crianças participaram de provas neste
esporte (ZEMPER, 2005). No Brasil, são cadastrados na Confederação Brasileira de
Atletismo (até janeiro de 2008) 7.076 atletas entre quinze e dezoito anos, dos quais
4.547 são meninos e 2.529 são meninas. No estado de Santa Catarina, em janeiro de
2007, 1.474 atletas estavam inscritos na Federação Catarinense de Atletismo (FCA),
dos quais 254 (17,23%) eram menores de dezoito anos.
Enfim, a prevalência de um maior número de lesões esportivas em crianças e
adolescentes passa por diversos fatores que podem aparecer isolados ou não. Desta
forma cabe questionar: “Qual a prevalência de lesões desportivas em atletas entre
15 e 18 anos federados no desporto atletismo no estado de Santa Catarina e quais
os fatores de risco associados a esta prática esportiva?”.
Este trabalho, portanto, busca auxiliar no reconhecimento das circunstâncias
da ocorrência das lesões desportivas, ou seja, identificar os fatores de risco a lesões.
Além disso, pretende mapear a situação atual de atletas do atletismo catarinense,
quanto ao problema das lesões decorrentes da prática esportiva.
É, porém, importante ressaltar que não temos aqui o intuito de sugerir a
proibição da prática de atividades esportivas de crianças e adolescentes, mas sim,
fornecer uma ferramenta para o cuidado com o treinamento e a competição,
considerando as possíveis conseqüências destes para o pleno crescimento e
desenvolvimento de jovens.
15
1.1 OBJETIVO GERAL
A partir dos pontos expostos o estudo teve como objetivo identificar a
associação e a prevalência de fatores de risco a lesões desportivas, referidas em
atletas jovens, federados no desporto atletismo, no estado de Santa Catarina, de
setembro de 2006 a setembro de 2007.
1.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS
1) Identificar e quantificar a prevalência de lesões desportivas ocorridas por atleta,
equipe (clube), conjunto de provas do atletismo, idade e sexo.
2) Classificar e quantificar as lesões desportivas segundo o tipo e diagnóstico, a
região anatômica, a causa, o mecanismo de ocorrência, o tempo de afastamento
da prática, o ambiente, a fase do ciclo-treinamento, os procedimentos de
tratamento e as condições do retorno à prática esportiva.
3) Pesquisar a associação entre a prevalência das lesões desportivas e aspectos
do treinamento: o número de períodos de treinamento por semana, número de
participações em competições, preparação e acompanhamento dos
treinamentos, tempo de prática no esporte, idade de início dos treinamentos e
presença ou não de prática regular em outro esporte.
4) Associar a prevalência de lesões em parte da amostra, que corresponde aos
atletas que figuraram entre os vinte primeiros do ranking brasileiro de atletismo
(menores e juvenis) durante o período analisado, bem como aos atletas que já
foram recordistas em algum evento competitivo de atletismo.
16
1.3 JUSTIFICATIVA
O interesse de realizar este estudo surge da experiência de trabalho como
árbitra de atletismo há cerca de sete anos no estado de Santa Catarina e no Brasil, bem
como de vivências docentes na disciplina de atletismo na Universidade do Sul de Santa
Catarina. Nestes espaços, muitos aspectos relacionados à prática do atletismo têm
chamado atenção. Tem-se observado diversos atletas jovens com lesões desportivas e
temos nos interrogado sobre os fatores em jogo no aparecimento e no trato das
mesmas. Poderíamos afirmar, entretanto, que a questão da banalização das lesões
desportivas, a nosso ver, é, talvez, o ponto mais impactante no universo de
experiências como árbitra e docente – o que se torna ainda mais preocupante quando
estamos falando da população de jovens atletas. A lesão, não raras vezes, é tratada
como parte do treinamento, algo comum, quase necessária à vida desportiva.
Esta temática já faz parte, há algum tempo, das pesquisas às quais temos
nos dedicado. Em um estudo anterior (SIMONI e TEIXEIRA, 2007) discutiu-se a
questão da especialização precoce no atletismo e suas relações com o desempenho
atlético. Interrogávamos, naquele momento, a constatação de que a maioria dos atletas
que despontam no ranking das categorias de base (menores e juvenis) não figura no
ranking adulto posteriormente. Uma das hipóteses construídas na ocasião relacionava
tal descontinuidade de resultados às cargas excessivas de treinamento, potencialmente
produtoras de lesões e desconfortos de toda a ordem. Desse modo, a presente
pesquisa faz parte de uma série de esforços no sentido de clarificar os
questionamentos emergentes dessas vivências no campo do atletismo, enfatizando a
importância da atenção às práticas esportivas na infância e adolescência e a
necessidade da prevenção de lesões decorrentes destas práticas.
O campo de investigação sobre lesões desportivas tem crescido nos últimos
anos. No Brasil, esta realidade é muito insipiente, porém, em outros países, esse tema
é foco de estudos relevantes há mais tempo. Nos Estados Unidos, por exemplo,
existem diversas associações, grupos de pesquisa e bancos de dados sobre o assunto,
inclusive na população de crianças e jovens. Alguns exemplos são: NCAA Injury
17
Surveillance System (ISS)2, NCCSI3 (Centro de Estudos em Lesões Catastróficas do
Esporte), WHO (World Healthy Organization), NAIRS4 (National Athletic Injury/Illness
Reporting System), AIMS5 (Athletic Injury Monitoring System), NEISS6 (National
Electronic Injury Surveillance System e a NATA (National Athletic Trainer’s
Association)7.
O que também é uma realidade é o fato de que a maioria dos livros sobre
lesões desportivas disponíveis no Brasil é baseada em traduções de obras de outros
países como Estados Unidos e Austrália. Um exemplo disso é a obra de Grisogono
(1989) que alerta para a compreensão de como as lesões e os traumatismos
acontecem e como podem ser evitados. Atualmente, uma das mais completas obras
brasileiras sobre lesões nos esportes é assinada por Moisés Cohen e René Jorge
Abdalla (2003), que reuniram um grande grupo de especialistas nas áreas de
diagnóstico, prevenção e tratamento.
Após pesquisa de revisão em diversas bases de dados, teses e dissertações,
periódicos da área esportiva e páginas de associações de núcleos nacionais e
internacionais sobre esporte, identificou-se poucos estudos sobre lesões desportivas
em crianças e adolescentes praticantes de atletismo, sendo que, no Brasil, não se
encontrou estudo algum sobre o tema nesta perspectiva. No entanto, a escassez de
2 Foi criada por Eric D. Zemper, Ph.D. enquanto membro da NCAA. Iniciou a sua própria coleta de dados, o sistema ISS, similar ao modo NAIRS, mas utilizando somente dois formulários, e com uma amostra representativa: todos os membros da NCAA. Porém, os resultados destas coletas não têm sido disseminados. 3 Em meados da década de 30 (1931) surge a idéia de monitorar anualmente as fatalidades do Futebol Americano, porém somente em 1980 foi criada formalmente a NCCSI na Universidade da Carolina do Norte. Hoje o principal objetivo deste órgão é fazer do futebol americano um esporte seguro através do desenvolvimento de mudanças nas regras e melhoria dos equipamentos, metodologias de treinamento e cuidados médicos, para atletas do ensino médio e universitários (LUCKSTEAD; PATEL, 2002). 4 A NAIRS (criada por Kenneth S. Clarke, Ph.D. – Pensylvania State University) foi criada para ser um esforço de coleta contínua de dados proporcionando um rico banco de dados para pesquisas sobre lesões desportivas. Este grupo parou de coletar dados em 1983, porém até então produziu o melhor e mais compreensivo banco de dados sobre lesões que resultou em várias obras. 5 Esta iniciou em 1986 com o objetivo de reunir dados sobre uma variedade de esportes em todos os níveis de participação. A AIMS também foi criada por Eric D. Zemper na Unisersity of Oregon. 6 Criada pela Consumer Product Safety Commission, coleta dados de aproximadamente 60 salas de emergência de hospitais ao redor do país – EUA. 7 É uma associação que certifica profissionais da saúde que serão especialistas na prevenção de lesões, avaliação, tratamento e reabilitação, particularmente na área ortopédica e muscular. Tem sido reconhecida pela Associação Médica Americana (AMA) como uma aliada dos profissionais de saúde desde 1990.
18
pesquisas nessa direção não é uma realidade apenas brasileira. Zemper (2005), em
extensiva revisão de literatura na base de dados Medline e Sport Discus, nos artigos de
língua inglesa, até o final do ano de 2003, sobre lesões em jovens praticantes de
atletismo, encontrou apenas nove estudos prospectivos ou retrospectivos sobre o
assunto. Além do número pequeno de estudos, o autor alerta para a necessidade de
estudos mais qualificados que tenham análise epidemiológica básica, o que é quase
inexistente.
De forma geral, as pesquisas (LAURINO et al., 2000; PASTRE et al., 2004;
PASTRE et al., 2005; D’SOUZA, 1994; BENNELL e CROSSLEY, 1996; WEISE, 1991)
têm abordado as lesões desportivas, focando atletas da categoria adulta no desporto
atletismo. Cabe salientar que o presente estudo não tem o intuito de reduzir a
importância dessas investigações, mas de ressaltar a necessidade de investigações em
relação ao mesmo tema em faixas etárias mais jovens. Nesse sentido, a preocupação
que perpassa este trabalho diz respeito à influência dessas afecções no
desenvolvimento e crescimento de crianças e adolescentes.
Roach e Maffulli (2003) também apontam nessa direção, afirmando a
necessidade de estudos cuidadosos sobre os efeitos das rotinas de treinamento em
crianças e adolescentes. Para a obtenção de um desempenho ótimo, tem-se iniciado o
treinamento cada vez mais cedo, e em todos os esportes o risco de lesões está
presente. Ribeiro et al. (2003), em estudo sobre alterações posturais e lesões do
aparelho locomotor em atletas de futebol de salão, afirma que a prática esportiva
competitiva e precoce pode acarretar em alterações no alinhamento postural de atletas,
já que o organismo de crianças está em fase de pleno desenvolvimento e, assim,
suscetível a ocorrência de lesões. Para este autor, estudos nesta linha auxiliam na
identificação de fatores de risco, bem como na elaboração de programas de
prevenção8.
Outro autor, Moreira et al. (2003), complementa esta afirmativa registrando
que conhecer previamente as lesões mais freqüentes, bem como identificar as
possíveis causas é importante para a prevenção das mesmas, e para o planejamento e
8 Neste estudo foi conclusiva a afirmativa de que as alterações posturais têm relação com a incidência de lesões em atletas de futsal entre nove e 16 anos.
19
para o aumento na performance do atleta. É também com este espírito que se realizou
esta pesquisa. Espera-se que este trabalho possa auxiliar na compreensão dos
fatores de risco a lesões no desporto atletismo, bem como contribuir para o
estabelecimento de estratégias de prevenção.
20
2 LESÕES DESPORTIVAS
2.1 CONCEITO DE LESÕES DESPORTIVAS
A partir do estudo teórico realizado, observamos que as lesões desportivas
(LD) são conceitualizadas de diversas formas, ou seja, não existe consenso a esse
respeito. Alguns estudos consideram o tempo de afastamento da prática esportiva
como critério principal para definir a ocorrência de lesão. Outros, a necessidade ou não
de tratamento especializado. Há ainda pesquisas em que o principal critério de
definição é a ocorrência de qualquer afecção no organismo durante a prática esportiva,
já em outras, são consideradas lesões apenas aquelas afecções que acarretem
mudanças no treinamento. Também foram encontrados estudos que se utilizam vários
destes critérios ao mesmo tempo. As definições mais conhecidas e utilizadas, no
entanto, referem-se ao número de dias perdidos de prática esportiva9 e à necessidade
de atendimento técnico especializado. Definir as LD parece ser, então, um dos grandes
desafios dos estudos.
O local de coleta dos dados (emergência de hospitais, campo atlético em
competições, locais de treinamento, etc.) e a metodologia utilizada (retrospectivos,
prospectivos, etc.) implicam na escolha de determinada definição de LD. Se
delimitarmos como campo de pesquisa a emergência de um hospital público, estamos
fazendo uma escolha em relação ao conceito de lesão. Estaremos preconizando que
LD são aquelas atendidas no hospital, ou dito de outro modo, aquelas que necessitam
de atendimento de profissional especializado. Por outro lado, se considerarmos o
campo de pesquisa “as competições atléticas” durante uma temporada, estamos
optando por outra definição de lesão, ou seja, LD são as que aconteceram durante as
competições esportivas da modalidade.
9 Muitas vezes este dado também é utilizado para determinar a gravidade da lesão. Ver mais em Landry (1992).
21
Strong et al. (2005) é um dos autores que nos alerta para estas questões.
Este afirma que a maioria dos dados dos estudos sobre lesões desportivas foi coletada
em amostras por conveniência em departamentos de emergência ou clínicas de
medicina esportiva; outros, por relatórios de acidentes ou entrevistas e questionários
retrospectivos. Afirma, então, que este cenário de diversidade de formas de coleta de
dados acarreta uma grande variação nas definições de lesão.
Landry (1992), por outro lado, afirma que o contrário disso também é
verdadeiro. A padronização de métodos de coleta de dados sobre as LD é, muitas
vezes, dificultada pela grande quantidade de definições existentes. Bennell & Crossley
(1996) complementam esta idéia, afirmando que tal inexistência de métodos
padronizados para categorização das lesões dificulta a comparação entre os estudos.
Lembremos que investigações dessa natureza (comparação entre estudos) são muito
importantes na medida em que permitem identificar fatores de risco para as lesões.
Assim, nesse sentido, a falta de padronização acabaria interferindo, também, nas
possibilidades de elaboração de estratégias de prevenção.
Há ainda outro ponto interessante em relação à definição das LD que é digno
de nota. Embora haja uma diversidade de definições, chamou-nos, especialmente,
atenção o que aponta Stevenson (2000) a respeito da lacuna de referências a doenças
causadas por atividade esportiva10 existente na Classificação Internacional de Doenças
(CID).
Sendo assim, seguem as definições de LD encontradas durante a revisão de
literatura e, posteriormente, a escolha conceitual utilizada na realização desta
investigação.
10 A Classificação Internacional das Doenças, no Brasil conhecido como CID, não aborda as doenças causadas por prática esportiva. Em seu capítulo XX traz as “causas externas de morbidade e de mortalidade”, onde aborda acidentes de transporte, sejam eles: terrestres, aquáticos ou aéreo/espaciais. Outro subitem é classificado como “causas externas de traumatismos acidentais”, que são compostas por: quedas, exposição a forças mecânicas e animadas, afogamentos e outros riscos a respiração, exposição a correntes elétricas, fumo e fogo, contato com animais e plantas venenosas, exposição a forças da natureza, excesso de esforços; outro ponto fala em lesões autoprovocadas intencionalmente. Apesar de muitas outras classificações nada é referido diretamente ao esporte. Talvez esse fosse o momento de inclusão de um capítulo sobre as doenças/lesões causadas ou decorrentes de prática esportiva. Esta inclusão auxiliaria os estudos epidemiológicos sobre o tema das LD, já que todos os médicos devem informar em seus prontuários o diagnóstico do paciente segundo a classificação do CID.
22
Entre as definições de lesão, a mais comumente encontrada refere-se à
quantidade de dias de afastamento da rotina de treinamento e competição provocada
pela LD. Um primeiro grupo de autores define lesões como um contratempo ou
limitação que afasta o atleta de pelo menos um dia ou sessão de suas práticas atléticas
normais, ou de uma competição (WATSON e DIMARTINO, 1987; LASMAR, et al., 2002
apud GANTUS e ASSUMPÇÃO, 2002; PETRI, et al., 2002; BROOKS e FULLER, 2006).
Outro grupo bastante representativo também define as lesões de acordo com
o tempo de afastamento, porém categoriza-as pelo agravo. Geralmente, as LD ficam
divididas em: lesões leves ou amenas, caracterizadas pelo afastamento do treinamento
ou da competição por até uma semana; lesões moderadas, significativas ou
moderadamente severas quando o afastamento for, em torno de um mês; graves ou
muito importantes, quando é necessário desligamento em média maior do que 30 dias
(COHEN, et al., 1997; RISSER, 1991 apud LANDRY, 1992).
Contudo, estudos mais minuciosos como o de Moreira et al. (2003) considera
a definição de lesões como leves para as que não resultam em afastamento de um
treino e/ou jogo, mas acarretarem em modificações nas rotinas de treino, moderadas
para as lesões com afastamento de um treino e/ou jogo, e graves, quando o
afastamento foi maior que um dia de treino e/ou jogo. Laurino et al. (2000), em pesquisa
sobre as lesões músculo-esqueléticas no atletismo brasileiro, definiu LD como aquelas
resultantes do treinamento ou competição (de atletismo), suficientes para provocar
alterações no treinamento, tais como freqüência, forma, intensidade e duração por
período igual ou superior a uma semana. Esta classificação também foi utilizada por
Bennell & Crossley (1996) em estudo sobre lesões músculo-esqueléticas no atletismo
na Austrália.
Outro modo de definir LD utiliza como critério a necessidade de atenção
substancial de profissionais da área da saúde antes do retorno do atleta ao esporte
(MCLENNAN e MCLENNAM, 1990 apud SILVA et al., 2005; BROOKS e FULLER,
2006; BEACHY et al., 1997; STEVENSON, 2000; NAIRS). Nesta mesma linha,
Stevenson (2000) ainda divide em dois níveis a necessidade de atendimento específico,
que considera também atendimento técnico e do próprio atleta.
23
Entre as definições de LD conhecidas existem ainda aquelas que tomam
como referência apenas os efeitos no organismo do atleta. O NSW Departament of
Heath (1992), citado no artigo de Coulon (2001), tem definido as mesmas como sendo
danos orgânicos causados por forças externas ou abstinência de elementos essenciais
resultantes de atividades esportivas extenuantes. Ainda, Orava e Puranen (1978)
definiram lesões como sendo desordens musculares ou síndromes que ocorrem
durante o treinamento ou desempenho competitivo, além de desordens ortopédicas ou
síndromes que se manifestaram durante as atividades atléticas, em atletas previamente
sem sintomas. A definição das LD, realizada nesta perspectiva, tem como
conseqüência a produção de um levantamento mais abrangente de lesões.
Por fim, encontramos autores e associações que definem lesões englobando
vários critérios, como é o caso da NCAA – Associação Atlética Acadêmica Nacional,
instituição que patrocina a coleta de dados em instituições membros em doze esportes
universitários nos Estados Unidos da América. A mesma considera lesões desportivas,
como sendo:
• Qualquer concussão cerebral que causa interrupção da participação do
atleta para permitir observação médica, antes da permissão para voltar a jogar;
• Qualquer lesão dental que mereça atenção profissional;
• Qualquer lesão ou doença que cause interrupção da participação regular
de um atleta, no dia seguinte ao do início do problema;
• Qualquer lesão ou doença que exija considerável atenção profissional
antes de o atleta obter permissão para voltar a participar (isto é, sem tal atenção, o
atleta estaria ausente no próximo dia de participação);
Seguindo a mesma linha, Brown & Benchmark (2007) acreditam que podem
existir três definições diferentes para que a afecção seja considerada uma LD, sendo
elas: 1) ocorrer durante o treinamento ou competição; 2) necessitar de atendimento
médico; e 3) resultar em restrições da participação atlética do treinamento normal e
competição por um dia ou mais (NAIRS, ISS e AIMS).
Para esta investigação foi considerada lesão desportiva, qualquer afecção
provocada pelo treinamento ou na competição de atletismo, que tenha provocado a
interrupção do treinamento do atleta por uma semana ou mais (COHEN, 1997).
24
Segundo Bennell & Crossley (1996), a definição de lesões, que leva em consideração
somente aquelas de caráter moderado e grave, como é o caso desta investigação,
pode facilitar a avaliação retrospectiva e melhorar a especificidade dos dados sobre
lesões. Sendo assim, esse estudo entendeu como lesões desportivas leves as que
necessitaram de afastamento do treinamento por menos de uma semana (até 7 dias);
as moderadas por aquelas que provocaram afastamento de oito a trinta dias; e, por fim,
as graves, quando o afastamento foi maior que trinta dias.
A decisão da escolha de definição das LD deu-se a partir do campo de
investigação (clubes de atletismo em Santa Catarina) e pela escolha do método
retrospectivo de estudo. Esta escolha foi realizada, principalmente, com a intenção de
se ter dados mais fidedignos, já que LD que afastam os atletas do treinamento por
períodos maiores de uma semana são bastante significativas, sendo mais lembradas
nas coletas de dados retrospectivos, como já foi dito anteriormente.
2.2 CLASSIFICAÇÃO DAS LESÕES DESPORTIVAS
A classificação das lesões desportivas torna-se fundamental para o
estabelecimento de índices epidemiológicos na população, bem como para o
estabelecimento de fatores de risco.
As LD são comumente classificadas quanto as suas causas (intrínsecas ou
extrínsecas), mecanismos de ocorrência (agudas - macrotrauma ou por uso excessivo -
microtrauma), tempo de afastamento da prática (leve, moderado ou grave), tipo de
lesão (ligamentar, osteoarticular, músculo-tendínea, tegumentar, ocular, bucofacial),
ambiente onde ocorreu (treinamento ou competição), região anatômica afetada e
procedimento de tratamento (domiciliar, fisioterápico, médico-hospitalar, cirúrgico,
outros). Dentre as diversas categorias de análise supracitadas, poderíamos afirmar que
existe uma relação de proximidade entre a causa da lesão e seu mecanismo de
ocorrência.
25
Helms (1997) categoriza as causas das LD em dois fatores: o intrínseco e o
extrínseco. O primeiro incluiu dados sobre idade, sexo e personalidade. O segundo está
relacionado ao tipo de esporte, nível de competição, superfícies utilizadas nos jogos,
condições climáticas e fornecimento de roupas e equipamentos de proteção. Já para
Zito (1993), os fatores extrínsecos podem estar relacionados ao esporte praticado, a
organização esportiva e a supervisão. Segundo tal autor, estes podem aumentar o risco
de lesões e, se identificados e controlados, podem reduzir tanto a prevalência quanto a
gravidade das LD em crianças.
Esta pesquisa entendeu lesões intrínsecas como aquelas em que não é
possível identificar uma causa óbvia, porém só se sabe que foram causas internas; e,
por extrínsecas, aquelas causadas por fontes externas como contato físico com outro
atleta ou problemas com equipamentos (COHEN, 1997).
A literatura revisada nos traz os mecanismos de ocorrência das lesões como
outra fonte de categorização. Grisogono (1989) utiliza a nomenclatura “traumática” e
“por excesso de uso”, para definir tais mecanismos. Já Meneses (1983) classifica em:
típicas (aquelas mais freqüentes na prática esportiva comuns às modalidades
esportivas, e muitas vezes decorrentes da própria prática) e atípicas (aquelas
acidentais, incomuns, que dificilmente acontecem).
A classificação utilizada nesta pesquisa entende a lesão traumática como
uma lesão aguda ou macrotrauma, ou seja, causado por grandes forças, como é o caso
de uma distensão na coxa de um velocista durante uma prova de 100 metros. As lesões
por uso excessivo foram entendidas como lesões por esforço repetitivo ou
microtraumas, ou seja, lesões causadas por atividades de muita repetição – esta que
hoje é bem conhecida entre os atletas jovens, principalmente por aqueles que iniciaram
o treinamento da modalidade muito cedo.
Além disso, esta pesquisa chamou de lesões desportivas crônicas (LDC) as
lesões por overuse, por esforço repetido, por excesso de uso ou causadas por
supertreinamento. As mesmas caracterizam-se por microtraumas na estrutura física.
Estas se apresentam, comumente, de forma silenciosa, podendo levar a afecções
dolorosas e de tratamento longo. São lesões que, não raras vezes, acompanham os
atletas por toda a vida, passíveis de se tornarem lesões mais graves no futuro e, até
26
mesmo, de acarretarem o afastamento do atleta das atividades esportivas. Por outro
lado, as lesões desportivas agudas (LDA) foram definidas como aquelas causadas por
macrotraumas na estrutura física, que ocorrem em momentos de atividade intensa. São,
portanto, lesões inesperadas que provocam o afastamento imediato do atleta da
atividade esportiva. Esta pode ser momentânea, ou, dependendo da extensão dos
danos, pode levar a tratamentos cirúrgicos.
Para proceder à classificação das LD quanto à região anatômica, a maioria
dos autores as separa segundo os seguimentos corporais e não somente com relação
às articulações. Maffulli et al. (1996) classificam-nas em: membros superiores, membros
inferiores, cabeça, pescoço e coluna. Brooks e Fuller (2006) utilizam o seguimento
tronco em detrimento da coluna utilizado pelo autor supracitado. Nesta investigação, se
utilizou a classificada por segmento, com a seguinte distribuição: tronco (cabeça e
pescoço, coluna dorsal e tórax, coluna lombar e cintura pélvica); membros inferiores
(coxa, joelho, perna, tornozelo e pé) e membros superiores (ombro, braço, cotovelo,
antebraço, punho e mão) (COHEN et al., 1997).
Ainda é possível encontrar outras classificações como, por exemplo, quanto
ao nível atlético. Este pode ser entendido como atividades esportivas praticadas em
nível escolar, recreacional, amador ou profissional (MAFFULLI et al., 1996). Outra
classificação refere-se, ainda, as lesões desportivas que ocorrem em atividades
organizadas e não organizadas (SPINKS et al., 2006). Neste estudo limitamos a
investigação da prevalência das LD em nível atlético amador em atividades
organizadas.
Possivelmente existam outras definições mais específicas de LD para as
quais não fizemos referência neste estudo, como é o caso da definição utilizada pelo
Centro de Estudo em Lesões Catastróficas do Esporte (NCCSI – National Center for
Catastrophic Sport Injury Research) que classifica as lesões em três categorias: (1)
Serius – quando as lesões são severas, mas não permanentes; (2) Nonfatal – quando
as lesões são severas com incapacidade permanente; e (3) fatal – quando a morte
acontece (LUCKSTEAD e PATEL, 2002).
27
2.3 POR QUE EXISTEM AS LESÕES DESPORTIVAS?
São muitos os fatores que contribuem para o surgimento de lesões
desportivas em atletas. Entre os mais conhecidos podemos citar o excesso nos
treinamentos (intensidade elevada e repetições exacerbadas dos movimentos técnicos),
grande volume de competições por temporada, busca de recordes, levando o
organismo aos seus limites fisiológicos, cobrança por parte dos técnicos, pais e
patrocinadores por resultados e supervisão insuficiente, realizada por instrutores com
conhecimento limitado. Além destas, ainda as condições precárias dos espaços de
treinamento, predisposições orgânicas dos atletas, contatos traumáticos ou sobrecarga
dinâmica (tensões súbitas e intoleráveis), falta de flexibilidade, desequilíbrio muscular, e
crescimento rápido, são alguns exemplos (SILVA et al., 2005; EJNISMAN et al., 2001;
GANTUS e ASSUMPÇÃO, 2002; TORRES, 2004; HELMS, 1997; ORAVA e PURANEN,
1978).
Outro ponto importante relatado na literatura estudada se refere à escolha do
esporte e seus objetivos. Muitas modalidades esportivas têm características que
predispõem o aparecimento de lesões; são exemplos os esportes de contato (caso das
modalidades coletivas) e esportes que dependem da utilização de equipamentos
perigosos (caso do salto com vara no atletismo). Desta maneira, a natureza inerente de
muitos esportes de competição pode interferir nas chances para a ocorrência de uma
lesão (ZITO, 1993; EJNISMAN et al., 2001).
Por outro lado, Torres (2004) especula que a ocorrência de LD é decorrente
da inter-relação entre o atleta e o esporte praticado, e que atletas bem condicionados
sofrem um menor número de lesões. Todavia, estes geralmente estão em um nível
atlético mais alto, pois trabalham mais tempo no seu limite fisiológico, na busca do
ápice esportivo e, assim, podem ter seus riscos de LD aumentados. Neste ponto, o
autor supracitado destaca que a prática amadora de esportes é mais preocupante, já
que nesta os atletas não apresentam uma dedicação exclusiva ao treinamento e, na
maioria das vezes, ainda têm um arcabouço orgânico limitado, quando comparado aos
atletas de alto rendimento. Sobremaneira é consenso entre os autores a afirmativa de
28
que as lesões desportivas ocorrem por uma evidente combinação de fatores
(EJNISMAN et al., 2001; HELMS, 1997).
Muitas das causas para o surgimento de LD aqui relacionadas são, ao
mesmo tempo, consideradas condições indispensáveis para se atingir o ápice
esportivo. Sendo assim é comum encontrarmos citações de autores que vêem as LD
como parte inevitável da vida do atleta, ou seja, parte integrante do treinamento e da
competição (GANTUS e ASSUMPÇÃO, 2002; TORRES, 2004).
2.4 PANORAMA SOBRE LESÕES DESPORTIVAS EM ATLETAS JOVENS
Seja com a intenção de socialização, “aprender a ganhar e perder”, melhorar
o desenvolvimento e crescimento de crianças e adolescentes incentivá-los a ter uma
vida mais ativa para prevenirem doenças no futuro, ou ainda, com a intenção de criar
futuros campeões, a introdução da população infantil na prática esportiva está se
tornando cada vez mais comum. Além disso, o grau de intensidade é cada vez maior, e
a idade com que a criança ingressa, cada vez menor (PETERSON e RENSTRÖN,
2002).
Segundo Roach e Muffalli (2003), este esporte, que na infância serve para
divertimento, saúde e desenvolvimento pessoal, muda quando se submete às
intervenções competitivas. O treinamento árduo e longo passa a fazer parte da vida dos
jovens durante todo o ano, o que pode acarretar em excessos e futuros problemas ao
desenvolvimento. Um exemplo dessa realidade vem dos Estados Unidos, onde
estudantes do ensino médio sofrem dois milhões de lesões esportivas por ano, com
500.000 visitas ao médico e 30.000 hospitalizações, de acordo com o Centro de
Controle e Prevenção de Doenças norte-americano11 (COCHRAN, 2007).
A preocupação com a prevalência de lesões no esporte faz parte de um
campo de estudo das ciências da saúde, inclusive da Educação Física. Esta advém do
11 Center for Disease Control and Prevention – CDC.
29
número crescente de crianças e adolescentes envolvidos em treinamentos desportivos
e susceptíveis a um grande número de acometimentos, cada vez mais precocemente.
Algumas lesões desportivas mais comuns em atletas jovens para Peterson e
Renström (2002) são: lesões nas zonas de crescimento, fraturas por avulsão, lesões
por uso repetido, apofisites, fraturas por estresse e lesões nas cartilagens articulares.
De acordo com o National Center for Catastrophic Sport Injury Research (NCCSI), os
esportes que devem ter maior atenção são: luta livre, ginástica, hockey no gelo,
baseball, corrida e animadoras de torcida (LUCKSTEAD e PATEL, 2002).
Existe um número bem estabelecido de fatores de risco para lesões no
esporte na população pediátrica. Dentre eles, podemos citar: disparidade de idade no
grupo, a própria idade, tempo/clima, equipamentos, aquecimento inadequado, fatores
médico/físicos preexistentes, hidratação, calçado, pressão dos pais, pressão do técnico,
falta/ignorância de medo ou entendimento, lesão prévia, etc. Em esportes específicos
há riscos relacionados ao tamanho e peso da bola, à duração do jogo, ao nível de
competição, às repetições durante o treinamento e a equipamentos específicos
(MICHELI et al.; WILKINS apud ROACH e MUFFALLI, 2003).
O que parece ser outro fator preocupante é que as lesões que, antigamente,
eram, na sua maioria, agudas12, aparecem hoje com um caráter crônico13. Roach e
Muffalli (2003) alertam para esta mudança, identificando as lesões por overuse como as
mais prevalentes na atualidade. Estas lesões, causadas por excesso de uso, têm
aparecido em atletas devido, possivelmente, aos treinamentos árduos constantes
(ORAVA e PURANEN, 1978). Outra verdade é que os esportes de não contato, como o
atletismo e a natação, onde o treinamento enfatiza a repetição, podem demonstrar
maiores índices de lesões relacionadas ao superuso (ZITO, 1993).
Em estudos como o de Dehaven e Lintner (1986) apud Zito (1993) foram
encontradas 3.431 lesões relacionadas aos esportes, num período de sete anos. Mais 12 As lesões agudas ocorrem repentinamente durante o jogo ou exercício; podem ser: distensões do tornozelo ou costas ou fraturas nas mãos. Sinais de lesão aguda: dor repentina e intensa, edema, incapacidade de suportar peso sobre uma perna, joelho, tornozelo, pé, braço, cotovelo, pulso, mão ou dedo muito sensível, incapacidade de movimentar uma articulação de forma normal, extremidades fracas, osso ou articulação visivelmente fora de lugar. 13 As lesões crônicas, por sua vez, ocorrem após praticar um esporte ou exercício por um período de tempo prolongado. Os sinais de lesão crônica incluem: dor durante o jogo, dor durante o exercício, dor leve durante o repouso e edema. Conceitos disponíveis em: <http://www.msd-brazil.com> Acesso em: 25 de abril de 2007.
30
de 60% das lesões referidas foram em atletas na faixa etária de treze a dezenove anos.
Beachy et al. (1997), também, em estudo retrospectivo de oito anos com estudantes de
sete a doze anos que participavam de campeonatos escolares encontrou, em relação
ao total de 14.318 atletas avaliados, 6.873 (48%) sustentando pelo menos uma lesão
durante uma temporada de treino. Entre toda a amostra deste estudo 11.184 lesões
foram relatadas, resultando em uma taxa de lesão de 0,78 e um risco de 48% por cada
100 atletas, durante todo o estudo. Um resultado interessante dessa investigação
refere-se aos meninos, praticantes de atletismo, que tiveram o maior índice de dias
afastados do treinamento devido a LD entre os 20 esportes analisados. E as meninas
praticantes desta modalidade ficaram com o segundo lugar, na taxa de lesões do sexo
feminino14.
Coulon et al. (2001) realizou uma pesquisa em sete clubes esportivos da
cidade de Sydney, Austrália, e constatou que pelo menos um em cada cinco atletas
teve uma ou mais lesões, resultantes da participação na temporada de eventos no
Atletismo. O resultado deste estudo nos permite inferir que as temporadas competitivas
de atletismo são momentos bastante propícios para o surgimento de lesões
desportivas. Há ainda uma tendência de que os atletas ranqueados nas primeiras
posições tenham uma prevalência maior de lesões. Esta hipótese foi levantada por
Watson e DiMartino (1987), que encontraram lesões em todos os atletas ranqueados
acima do percentil 75,4.
No trabalho de Coulon et al. (2001)15, identificou-se uma tendência de que
atletas mais velhos apresentam maior número de lesões, ou seja, no grupo estudado
(cinco a 15 anos), os atletas entre 11 e 15 anos são os mais acometidos por lesões,
chegando a mais de quatro afecções por temporada.
14 Foram avaliadas no atletismo 1940 LD (1120 nos meninos e 820 nas meninas), a maioria das lesões ocorreu durante o treinamento (80%) e o joelho foi a localização anatômica mais acometida, 1712 LD. 15 No artigo de Coulon et al. (2001) as lesões caracterizadas foram: cortes, abrasões, entorses, distenções, fraturas, dor aguda, batida/pancada, queimadura do sol e outras que aconteceram no aquecimento, treino ou volta à calma, ou ainda, na competição. O questionário utilizado na realização desta pesquisa incluiu questões referentes a: porque se tornou atleta; qual a prova predileta; local das lesões e causa percebida, quantidade de treinamento por dia/semana/mês, tempo de treino na sessão (meia hora/uma hora ou mais), associação entre as lesões e a importância dos ganhos através de expectativas dos atletas, pais e treinadores, além dos melhores resultados da temporada. Ainda identificou o número e tipo das lesões, níveis de conhecimento sobre métodos de prevenção, a fonte deste conhecimento e o uso das estratégias de prevenção.
31
Para completar, é necessário relatar que outras lesões, causadas durante a
prática esportiva ou em decorrência desta, estão emergindo nos novos cenários
esportivos. São elas as doenças comportamentais. Um estudo precursor da pesquisa
nesta área foi realizado por Bosi e Oliveira (2004) e abordou o tema comportamentos
bulímicos em atletas adolescentes corredoras de fundo. Apesar da relevância deste
tema, o mesmo não foi abordado neste estudo, que teve como foco as afecções de
natureza física. Entretanto, pensamos ser importante registrar aqui que algumas
circunstâncias às quais os atletas jovens estão submetidos podem contribuir para o
surgimento de afecções de natureza psíquica.
Por fim, vale ressaltar que embora existam poucos estudos realizados na
área de LD em atletas jovens, e que muitos deles sejam questionados em relação à sua
metodologia, os escassos resultados obtidos são consideráveis e preocupantes.
2.5 LESÕES NO ATLETISMO
Este panorama consiste na apresentação de dados, encontrados em
diversos artigos e livros, referentes às lesões desportivas mais comuns no atletismo, as
regiões anatômicas mais afetadas, além da prevalência segundo faixas etárias, sexo e
provas do atletismo. Uma primeira observação importante é a de que vários estudos
sugerem que o atletismo é um esporte associado a um risco relativamente alto de LD.
Esta realidade existe há algum tempo, como pode ser observado em pesquisas com
atletas adolescentes, realizadas na Finlândia, na década de 1980, onde foi encontrada
uma maior taxa de LD em praticantes de atletismo em detrimento dos outros esportes
analisados (ORAVA e PURANEN, 1978; ORAVA E SAARELA, 1978). Em outra análise
mais aprofundada, é possível identificar que a grande maioria dos estudos foi realizada
com atletas da categoria adulta, o que não é o foco de nossa investigação (BENNELL &
CROSSLEY, 1996; COHEN e ABDALLA, 2003; MENESES, 1983; ZEMPER, 2005).
As taxas e índices de lesões desportivas calculadas nos estudos levam em
consideração diferentes métodos estatísticos, e isso acarreta em uma certa dificuldade
32
de se realizar comparações. Neste meio, portanto, é fundamental que se entenda os
métodos utilizados. No estudo de Cohen e Abdalla (2003), no Centro de Traumatologia
Esportiva da USP – Escola Paulista de Medicina (no período de julho de 1999 a janeiro
de 2000), entre os sujeitos entrevistados, 63 praticavam atletismo. O índice de lesões
encontrado foi de 1,3 LD por atleta. Em outra investigação sobre LD, realizada por
Feitoza e Martins (2000), em atletas brasileiros durante o XVII Troféu Brasil de
Atletismo16, avaliou-se as afecções que acometeram os atletas entre todo o tempo de
prática no esporte, obtendo-se como resultado uma prevalência de LD em 84% da
amostra. Estes estudos mostram uma diferença entre os métodos de cálculo da
incidência de lesões nas populações investigadas, que são provocadas por definições
diferentes de LD.
Já em outros dois trabalhos, que utilizaram a mesma definição para as LD
em atletas praticantes de atletismo, encontramos índices de lesões praticamente iguais.
Este achado é significativo já que em ambos os estudos foram investigados o mesmo
tipo de LD – lesões músculo-esqueléticas. No estudo de Laurino et a. (2000), realizado
no Brasil, o índice resultante foi de 75,7% de atletas com lesão (78 dos 103
entrevistados); Bennell & Crossley (1996), na Austrália, encontraram uma prevalência
de 75,8% de LD e entre os 72 atletas lesionados, 34 sustentaram mais de uma lesão.
O tema que aborda a relação idade do atleta e número de lesões também
tem sido investigado. Parece existir uma tendência emergente de que os atletas mais
velhos apresentem maior prevalência de lesões (COULON et al., 2001). As
investigações nesta área ainda não são conclusivas. Bennell & Crossley (1996), por
exemplo, não encontraram associação entre idade e risco de lesões. Porém
identificaram que os atletas mais velhos, quando apresentam lesão, têm,
significativamente, mais de uma. Neste estudo, a prevalência de LD mostrou, então, um
aumento com a idade.
Quanto ao sexo, para alguns autores, não existe diferença significativa entre
as taxas de LD em meninos e meninas; no entanto, especula-se que os homens
16 O Troféu Brasil de Atletismo é a maior competição brasileira do atletismo categoria adulto, realizado pela CBAt – Confederação Brasileira de Atletismo, com os melhores atletas dos clubes de todo Brasil.
33
apresentem maior número de LD, pois geralmente participam mais efetivamente em
esportes (BENNELL & CROSSLEY; 1996; COULON et al., 2001).
Uma das maiores dificuldades encontradas para o estudo das lesões
desportivas no atletismo deve-se à grande variedade de eventos que este esporte
comporta. Entre as corridas, saltos e lançamentos, os atletas geralmente se
especializam em mais de um grupo de provas, o que torna ainda mais difícil o
estabelecimento de metodologias apropriadas para estudos epidemiológicos. Não
obstante, os cálculos de risco e o estabelecimento de estratégias de prevenção também
ficam prejudicados. Desta forma, os eventos que apresentam a maior prevalência de
lesões são os de corrida, que envolvem atletas de velocidade, barreiras, meio-fundo e
fundo, e atletas de provas combinadas (BENNELL & CROSSLEY, 1996; COHEN;
ABDALLA, 2003; ZEMPER, 2005).
Provavelmente os eventos de corrida apresentam altas taxas de LD, devido
aos grandes esforços explosivos, no caso de provas de velocidade e momentos iniciais
dos saltos verticais e horizontais, bem como ao grande volume de treinamento de
fundistas. Assim sendo, velocistas/barreiristas, saltadores e atletas de eventos
combinados têm mais lesões agudas nos membros inferiores, enquanto que os atletas
de meio-fundo e fundo possuem mais lesões por overuse (BENNELL & CROSSLEY,
1996). Uma definição sobre qual o evento atlético que provoca o surgimento do maior
número de LD ainda não existe. Para Orava e Puranen (1978), os atletas de média e
longa distância são os mais lesionados17. Já para Coulon et al. (2001), os eventos de
corrida e saltos são as modalidades do atletismo mais acometidas por lesões.
O ambiente onde as lesões desportivas acontecem é uma variável relevante
a ser estudada. Comumente, se divide em LD durante treinamento e LD em
competições. É preciso considerar o fato de que o número de horas despendido em
treinamentos é maior do que é o gasto em competições. Este é um dos motivos
apontados pelos autores para justificar o consenso de que a maioria das LD acontece
durante o treinamento (COHEN e ABDALLA, 2003; ZEMPER, 2005; FEITOZA e
MARTINS, 2000). Por outro lado, um dado relevante encontrado por Zemper (2005)
17 É oportuno lembrar que os treinamentos de atletas de endurance nas décadas de 50/60/70 até meados dos anos 80 realizavam treinamentos com grandes volumes, o que propiciava a existência de muitas lesões por esforço repetitivo nos membros inferiores.
34
revela que o risco de lesões durante as competições é quatro vezes maior do que no
treinamento. Este cenário ao qual o desporto atletismo está submerso, dificulta também
a coleta de informações sólidas sobre risco de lesões de atletas de campo e atletas de
pista separadamente, já que muitos atletas participam, simultaneamente, em provas de
pista e campo.
Zemper (2005) concluiu no seu estudo de revisão sobre lesões no atletismo,
que as extremidades inferiores são as mais acometidas por lesões (64 a 87% das
lesões). O autor justifica este fato pela intensa utilização das pernas nas corridas, saltos
e lançamentos. O mesmo resultado é encontrado em outros estudos, como o de Cohen
e Abdalla (2003), que encontrou uma prevalência de 83,5% e o de Maffulli et al. (1996)
onde os membros inferiores foram afetados em 58% das lesões relatadas. Assim, não
há dúvidas de que os membros inferiores representam a região anatômica mais
acometida por lesões em atletas de atletismo (COULON et al., 2001; FEITOZA e
MARTINS, 2000).
A partir da análise das regiões anatômicas com o maior índice de LD, é ainda
importante verificar a localização destas lesões. Este é um dado essencial para o
estabelecimento de fatores de risco do esporte. Neste ponto, a coxa, na maioria dos
estudos, é o local mais afetado, variando sua prevalência de 37,3% até 61,5% das LD
relatadas, seguido pelo joelho, perna e tornozelo (ZEMPER, 2005; COHEN e
ABDALLA, 2003; LAURINO et a., 2000; FEITOZA e MARTINS, 2000). Contudo, no
estudo de Bennell & Crossley (1996), as localizações anatômicas mais acometidas por
lesões foram: pernas (27,7%), seguida pelas coxas (21,5%), joelho (16,2%), pé
(14,6%), costas, pelve e quadril (13,0%), e tornozelo (7,3%).
A localização anatômica das LD tem grande relação com a prova na qual o
atleta compete. Entre todos os eventos atléticos, a coxa é mais atingida em provas de
velocidade e barreiras, a perna e joelho em corredores de fundo, e costas/pelve/quadril
e coxa em saltadores e atletas de provas combinadas (BENNELL & CROSSLEY, 1996).
Meneses (1983) é mais específico quando aponta a prevalência de lesões desportivas
no atletismo, sendo mais comuns na região da cabeça em corredores e saltadores, na
cintura escapular de arremessadores, na coluna vertebral de saltadores, nos membros
superiores de arremessadores, na cintura pélvica de saltadores e nos membros
35
inferiores de corredores e saltadores. As lesões, portanto, parecem estar relacionadas
às modalidades treinadas, assim revela o resultado do estudo de Ejnisman et al. (2001)
que apresentou 50% das lesões em arremessadores ao nível do tronco e membros
superiores, locais mais exigidos nesta prova.
Entre os diversos diagnósticos para as LD, os mais comuns no atletismo
estão relacionados a afecções musculares. Na investigação de Zemper (2005), a
distensão muscular e entorses ligamentares foram as mais típicas. Para Laurino et al.
(2000), as lesões musculotendíneas são mais predominantes (contudo este estudo
avaliou somente as lesões músculo-esqueléticas). Feitoza e Martins (2000)
encontraram que as distensões e estiramentos aconteceram com maior freqüência
(28,7%) nos atletas de atletismo. No estudo de Bennell & Crossley (1996), os
estiramentos do bíceps femural foram às lesões mais comuns (significativamente) em
velocistas e barreiristas. Apesar destas constatações, outros trabalhos têm se
esforçado em quantificar e analisar as fraturas por estresse (FREDERICSON et al.,
2006; NATTIV, 2000).
Fredericson et al. (2006), em estudo sobre fraturas causadas por estresse18,
concluíram que esta lesão afeta atletas saudáveis, especialmente, corredores. Segundo
os autores, é difícil prever uma lesão deste tipo, pois, geralmente, os corredores têm
várias características a serem observadas, como: predisposições biomecânicas,
métodos de treinamento e outros fatores como a dieta, alongamento muscular e
flexibilidade. Lesões de fraturas por estresse são responsáveis por 0,7% a 20% de
todos os atendimentos médico-esportivos de lesões, o os atletas de atletismo
apresentam a maior prevalência desta lesão quando comparados com outros atletas. O
estudo de revisão de Nattiv (2000) sobre fraturas por estresse e saúde óssea em
atletas de atletismo, afirma que as fraturas são as LD mais comuns em corredores de
fundo, quando comparados com atletas de outros eventos. Segundo ela, existem
muitas lacunas nos estudos sobre fraturas, principalmente, no que se refere à
prevalência em termos de exposição dos atletas e número de horas de treinamento.
Parece ainda haver uma dificuldade nos estudos sobre o conceito de fraturas por
18 Uma fratura por estresse é uma fratura no osso, parcial ou completa, resultante de aplicação repetitiva de carga no osso.
36
estresse, que muitas vezes são diferentes. Isso também ocasiona o problema da
comparação dos estudos.
Feitoza e Martins (2000) trazem uma análise que não foi encontrada em
nenhum outro, até o momento, e que também pode contribuir para a classificação das
lesões. Nesta pesquisa foi avaliado o estado psicológico do atleta durante o episódio da
lesão. Os resultados indicaram que 52,7% dos atletas estavam ansiosos para competir;
13,8% apresentavam dificuldades para se concentrar; 8,4% estavam desmotivados, e
19,5% não apresentavam nenhum problema psicológico. Esse tema parece ser muito
interessante e deve ser explorado mais profundamente. Além deste, outros temas
podem ser mais explorados, como na investigação de Bennell & Crossley (1996) que
correlacionou as características antropométricas e da composição corporal com a
incidência de LD. Neste, os riscos de lesões não foram influenciados pelas
características corporais analisadas.
No panorama das LD no atletismo é importante destacar os riscos inerentes
ao desporto, que podem provocar o aparecimento destas afecções. Segundo o NCCSI,
o salto com vara é a prova onde ocorre a maioria das lesões catastróficas do esporte
nos Estados Unidos da América. Foi responsável por dezessete lesões fatais; oito não
fatais e seis sérias em vinte anos de pesquisa19. Ainda houve vinte lesões diretas no
atletismo, envolvendo atletas que foram atingidos por disco, peso ou dardo. Em um
breve levantamento dos dados, a partir do relatório anual da NCCSI (MUELLER, 2006)
até o ano de 2006 (desde 1983), foram encontradas no atletismo as lesões
catastróficas identificadas na tabela que segue.
19 As lesões catastróficas do esporte já foram comentadas no item 2.3 – Classificação das Lesões Desportivas.
37
Tabela 1 – Lesões catastróficas no atletismo.
“High School”
Ensino Médio
“College”
Universidade Classificação
Diretas Indiretas Diretas Indiretas
Fatais 20 30 3 1
Não-fatais 16 0 4 0
Sérias 22 0 3 0
Total (99) 58 30 10 1
Fonte: Elaboração da autora, baseado nos dados do relatório anual de 2006 da NCCSI: MUELLER, F.O.;CANTU, R.C. National Center for Catastrophic Sport Injury Research Data Tables: Twenty-fourth Annual Report Fall 1982-Spring 2006 (disponível em www.unc.edu/depts/nccsi/).
Após esta revisão podemos concluir que o atletismo é um esporte que tem
um risco relativamente alto para as LD. Os índices de lesões neste desporto são
apresentados pelos autores através de cálculos diferentes, o que leva às diferenças
conceituais importantes, como, por exemplo, calcular se o índice de lesões por horas de
treinamento, ou por participação em competições. Foi possível identificar também
algumas tendências das LD no atletismo. Os homens tendem a apresentar mais lesões,
bem como o índice parece aumentar com a idade. Apesar das dificuldades em analisar
as LD no atletismo, principalmente, pela diversidade de eventos que o mesmo contém,
os atletas de corrida são os mais lesionados; a maioria das afecções ocorre durante o
treinamento e atingem as extremidades inferiores, no mais das vezes são de ordem
muscular e afetam, principalmente, a região da coxa.
2.6 TRATO DAS LESÕES DESPOTIVAS
Para lidarmos com as lesões desportivas devemos pensar em três aspectos:
1) a prestação de cuidados imediatos; 2) o retorno à prática esportiva; e 3) como evitar
que as lesões aconteçam. Starkey e Ryan (2003) afirmam que o tratamento e
38
reabilitação bem sucedidos de lesões dependem de uma precisa avaliação inicial do
problema, onde deve ser levantada a história da lesão, bem como realizar a avaliação
inicial através de testes ortopédicos e inspeções. Para esta primeira etapa é
indispensável a presença de um profissional especialista, que pode ser o professor de
Educação Física já que é necessário conhecer profundamente três áreas, que fazem
parte da formação deste trabalhador: anatomia, fisiologia e biomecânica. Outros
profissionais também devem estar envolvidos nessa avaliação, como: o treinador
esportivo, fisioterapeuta, técnico de emergência médica e o médico. Realidade que não
encontramos nos clubes de atletismo de Santa Catarina. Apesar de o profissional da
área da Educação Física não estar apto para diagnosticar a lesão, este deve ser capaz
de realizar uma triagem de avaliação primária do estado do atleta e determinar as
providências para o caso.
Após a avaliação inicial da lesão e a prestação dos primeiros socorros, o
atleta é encaminhado para ser tratado por outros profissionais da área da saúde, como
médicos e fisioterapeutas. Quanto aos tipos de tratamento utilizados no trato das LD, as
pesquisas têm demonstrado que o mais utilizado é o método fisioterápico (MAFFULLI et
al., 1996; FEITOZA e MARTINS, 2000). Contudo, outras formas de tratamento também
são utilizadas como: atendimentos hospitalares, cirurgias, tratamentos domiciliares, etc.
Com a lesão devidamente tratada em seu momento agudo, pensamos nos
próximos passos que se referem à recuperação das lesões. Segundo Grisogono (1989),
a clientela diferenciada de atletas torna as lesões no esporte peculiares. Enquanto em
outros casos o fato de se ter uma lesão é encarado como algo limitante e que deve ser
tratado até a sua completa recuperação, na população de atletas a perspectiva é outra.
As pessoas envolvidas em atividades esportivas estão quase sempre obcecadas com a
recuperação rápida da lesão, quando não instantânea, o que provoca o retorno às
práticas normais de treinamento e competição sintomáticos, na maioria das vezes.
A população de atletas tem o costume de entender as lesões como parte do
processo de treinamento e competição. Muitas vezes não deixam de praticar as
atividades mesmo com dores ou lesões já diagnosticadas. Este problema parece
extrapolar décadas de conhecimento científico. Perdura, então, tornando-se uma
cultura errônea e perigosa. Para Grisogono, “não há qualquer vantagem em tentar
39
exercitar-se sentindo dor resultante de uma lesão ou na expectativa de que ela passe”
(1989, p.6-7). O mesmo autor completa, afirmando que quando se tem dor relacionada
com um determinado movimento ou atividade, prosseguir nela só causa maiores danos
aos tecidos lesionados. Não se deve, assim, retornar à prática, sem que se esteja
inteiramente certo de poder forçar os tecidos prejudicados20.
2.7 EVITANDO LESÕES
Um foco importante deste estudo é a preocupação com a prevenção de
lesões desportivas. A investigação aqui descrita baseou-se na epidemiologia para
compreender como se comportam as LD no atletismo, na busca de estabelecimento e
escolha de estratégias de prevenção.
Este tema também foi analisado em outros estudos, como o de Torres
(2004), que se esforçou em verificar e avaliar a freqüência de lesões, entendendo que
este é o primeiro passo para reduzir as lesões nos atletas. Ainda, para este autor, a
maior justificativa para a elaboração de trabalhos com este tema é o conhecimento
produzido sobre o mecanismo e as lesões mais comuns. Tal conhecimento traria
subsídios para se evitar as lesões com maior sucesso.
Partindo da afirmativa de Meneses (1983, p.2), de que “Jamais existirá o
recorde imbatível e tampouco o campeão invencível é eterno”, é possível prever que
muitas lesões ainda acometerão atletas de diversos esportes. A busca por recordes
milimetricamente decididos e disputas cada vez mais acirradas, farão com que muitos
atletas ultrapassem seu limite fisiológico e coloquem seu corpo em risco. Seria,
portanto, muita pretensão acreditar que todas as lesões poderiam ser evitadas.
Grisogono (1989, p.4) afirma que: “Nem todos os riscos são previsíveis: acidentes
acontecem, de modo que algumas lesões são inevitáveis”. Meneses (1983, p.7)
completa colocando que: “Os atletas estão potencialmente sujeitos em qualquer fase
20 Não podemos deixar de levar em consideração que o autor citado neste trecho do estudo data suas reflexões da década de 80, sendo assim, determinadas colocações podem estar um tanto quando obsoletas.
40
(de treinamento ou de competição) a sofrerem lesões, as quais são diretamente
proporcionais à evidência dos fatores predisponentes (intrínsecos e extrínsecos)” 21.
Para evitarmos as lesões desportivas é necessário observar diversos fatores
que reunidos podem minimizar os riscos para os atletas; portanto, optar por medidas
estratégicas para evitar o aparecimento de lesões aparece como importante na visão de
alguns autores (PETRI e LOURENÇO, 2002; ZITO, 1993; GRISOGONO, 1989). Os
autores supracitados sugerem algumas medidas preventivas, como: praticar esportes
em locais seguros, checar os equipamentos de segurança, entender as regras do
esporte e modificá-las quando necessário. Além disso, fatores extrínsecos como o
cuidado com o regime alimentar, a observação da necessidade de ingestão líquida, e
bom senso e autodisciplina para saber quando parar, ou, não começar uma sessão de
atividade física, bem como assegurar a completa recuperação funcional (após lesões)
também devem ser levados em consideração.
Por outro lado, a qualificação dos treinadores para a realização de
atividades especializadas e padronizadas e aplicação de protocolos de preparação
física específicos para a atividade escolhida, além da preparação física global, são
importantes ferramentas na prevenção de LD. Programas organizados para
adolescentes e treinamentos responsáveis, podem, também, evitar a ocorrência de
certas lesões dos esportes (ZITO, 1993). Segundo Cochran (2007), é evidente que os
atletas que treinam com treinadores certificados por programas como o da NATA,
experimentam poucas lesões ou lesões menos graves. Para a autora, os treinadores
habilitados para a profissão prestam atenção quando o atleta se machuca, fazem
pausas durante as temporadas, fortalecem a musculatura seguindo as normas. Estes
podem ajudar os atletas a aproveitarem os benefícios do treinamento em equipes
esportivas, enquanto reduzem as chances de uma lesão que pode ter conseqüências
para o resto da vida. Nesta direção, outros aspectos do treinamento também devem ser
observados, são eles: permitir que o corpo se adapte ao estresse repetitivo, aumentar
21 Entenderam-se aqui fatores intrínsecos como: vida diária, escolha do esporte ideal, inaptidão para o esporte, treinamento e deficiência esportiva; fatores extrínsecos são: instalações desportivas, tipos de calçados, proteção corpórea, condições do tempo, objetos do esporte e doping.
41
gradualmente o treinamento (volume e intensidade), respeitar os dias de recuperação e
realizar aquecimento e desaquecimento.
Além destas estratégias de prevenção, há mais pontos importantes a serem
destacados quando falamos em lesões nos esportes praticados por jovens. As
características de maturação biológica, desenvolvimento motor e as habilidades físicas
(coordenação), também devem ser analisados, já que podem ser variáveis
influenciadoras das taxas de LD. Muitas vezes encontramos jovens com mesma idade
cronológica, mas com variações de até cinco anos em suas idades biológicas, o que
provoca uma grande desvantagem entre os sujeitos. Para Zito (1993), estratégias como
o uso de idade fisiológica, altura, habilidades, ou o uso de variações estreitas na idade
cronológica têm méritos e podem reduzir o risco de LD causadas pelas variações nas
velocidades de crescimento.
Além de observarmos e analisarmos as características maturacionais e
fisiológicas dos atletas, todos deveriam passar por uma avaliação médica minuciosa
antes de iniciar a prática de esportes. Esta análise médica é chamada de exames de
pré-participação (EPP), e são, portanto, indicados para crianças e adolescentes que
ingressam em atividades esportivas, como método profilático para as LD. Nestes
exames devem ser preconizados: avaliação da maturação biológica, determinação do
nível de atividade física, análises ortopédicas e musculares, estado nutricional, além de
avaliação cardíaca e respiratória. Eles devem ser realizados, principalmente, por
médicos do esporte, que podem ser auxiliados por profissionais das áreas da Educação
Física e Fisioterapia desportiva. Para Kovan (2002), os EPP’s ajudam os atletas na
medida em que revisam problemas médicos precedentes, permitindo a participação
segura do atleta jovem em atividades esportivas. Segundo o autor, aproximadamente,
1% dos atletas têm negada a permissão de participar de atividades esportivas e cerca
de 3% a 15% precisam de uma avaliação mais aprofundada. Estes testes devem ser
realizados em torno de seis semanas antes do treinamento de base, para que se tenha
tempo de encaminhamentos, se necessário. Além disso, uma avaliação a cada ano, em
que o atleta mudar de categoria, ou mesmo a cada ano de competição, é indicado.
Ainda é recomendado que discussões mais aprofundadas com base nos hábitos sociais
e físicos dos atletas sejam inclusas no EPP.
42
A Sociedade Brasileira de Medicina Esportiva (SBME)22 preconiza que
quando o objetivo da criança/adolescente é a participação competitiva em atividades
esportivas de alta intensidade, a avaliação médico-funcional deve ser mais ampla,
incluindo avaliação clínica, de composição corporal, testes de potência aeróbica e
anaeróbica, entre outros. Desta forma, se asseguraria a relação risco/benefício
favorável, prescrevendo recomendações especiais quando na presença de algumas
condições clínicas, como a asma brônquica, obesidade e diabetes melito.
Zemper (2005) traz ainda a responsabilidade da prevenção de lesões para
os árbitros dos eventos esportivos. Estes podem contribuir para a prevenção e
tratamento das lesões desportivas que acontecem durante as competições. Nos
Estados Unidos da América existe um departamento do governo chamado USATF
(National Governing Body for Track and Field) responsável pela formação de árbitros de
atletismo e treinadores, semelhante a nossa CBAt (Confederação Brasileira de
Atletismo), que ensina métodos de prevenção de LD e ainda como reduzir os riscos das
mesmas. Este órgão disponibiliza formação continuada, na qual dedica um módulo
inteiro ao estudo das LD no esporte. Este é um exemplo de ação preventiva das LD que
passa pela capacitação de profissionais, árbitros. É uma medida estratégica que visa
garantir a segurança na prática desportiva.
Por fim, para Zito (1993), a responsabilidade final para garantir a segurança
do jovem atleta repousa nos pais do atleta. Os pais devem conhecer os benefícios das
atividades atléticas, bem como seus malefícios. Estes devem apoiar os programas de
desenvolvimento esportivo, exigindo e garantindo uma supervisão de qualidade para
seus filhos.
Dentro da relação esporte versus lesão deve existir, então, uma clareza
epidemiológica quanto aos fatores de risco para que se estabeleçam claramente as
estratégias de prevenção. Para Zemper (2005), deve existir um ciclo (representado na
figura 1) onde o primeiro momento refere-se aos estudos epidemiológicos que auxiliam
o entendimento do comportamento das LD em determina população. No segundo, o
estudo da etiologia de tais afecções, provocando o estabelecimento de estratégias de
22 É importante ressaltar que o posicionamento da SBME quanto à prescrição de atividade física para crianças e adolescentes deve ter o objetivo principal de criar hábito e interesse nestas e não treinar visando desempenho.
43
prevenção. Estas últimas devem passar por uma avaliação crítica que responderá se
foram positivas, ou seja, se auxiliaram na diminuição das LD; isso marca o terceiro
momento. O ciclo se fecha na medida em que os estudos epidemiológicos não devem
ser considerados estanques e assim, as investigações sobre as lesões devem
permanecer. Nesta investigação buscamos realizar as primeiras três etapas do ciclo de
Zemper.
Figura 1 - Ciclo das investigações sobre Lesões Desportivas. Fonte: Elaboração da autora, baseado no texto de ZEMPER, E.D. Track and Field Injuries. Medicine and sport science. 2005. vol.48, pp. 138-151.
EPIDEMIOLOGIAGIA
PREVENÇÃO
ETIOLOGIA AVALIAÇÃO
LESÕES DESPORTIVAS
44
3 TREINAMENTO NA ADOLESCÊNCIA
3.1 IDADE DE INÍCIO DO TREINAMENTO EM ESPORTES COMPETITIVOS
Segundo Lasmar et al. (2002), para se estabelecer a idade ideal de início
de treinamento em esporte competitivo, é importante analisar quatro fatores: sexo (as
meninas atingem a maturidade mais cedo que os meninos); tipo de esporte (o esforço
físico provocado pelo esporte deve ser analisado do ponto de vista cardiovascular,
psíquico e osteoarticular); vida útil (o treinamento competitivo exige esforços perto da
exaustão e, assim, determina quantos anos aquele esporte pode ser praticado); e ápice
esportivo (quando há o desenvolvimento máximo de três fatores: físico-motor, mental e
técnico).
Para o autor supracitado, deve-se destacar que nos esforços
osteomioarticulares é que encontramos os maiores prejuízos em relação à prática
competitiva em idade precoce indevida. Neste caso, a preocupação com o treinamento
precoce procede na medida em que este pode submeter os músculos a trabalhos
intensos e indevidos, acarretando uma hipertrofia e mesmo uma retração que pode
levar a compressões nos ossos e desequilíbrios articulares.
Em estudo de Carazzato et al. (1996), a questão sobre a idade ideal para
início da prática esportiva em competições também foi discutida. Pesquisando a
ocorrência de lesões no judô de alto nível, encontrou-se uma média de 11,32 anos para
a idade inicial em competições, o que foi duramente criticado, considerando precoce e
não baseado em critérios bem definidos. Outro dado interessante deste estudo refere-
se à conclusão chegada de que, no judô, há maior predominância de lesões articulares
nos atletas de maior nível e de maior peso. Além disso, os atletas que iniciaram seus
treinamentos em idades mais precoces, e que permaneceram em atividade competitiva
por mais tempo, têm incidência maior de lesões.
Ainda, uma questão importante do referido estudo diz respeito ao “ápice
esportivo”. De acordo com os autores, a idade onde o atleta atingirá seu melhor
45
desempenho localiza-se ao redor dos 26 anos de idade, considerando-se a média dos
esportes. No entanto, alertam para o fato de que hoje alguns fatores estão modificando
esse cálculo. A prática antecipada de atividade esportiva tem acelerado o
desenvolvimento físico-motor, causando comprometimento do sistema locomotor. A
profissionalização precoce, da mesma forma, tem prejudicado o desenvolvimento
mental e intelectual, atingindo diretamente o aprendizado. O desenvolvimento técnico
também tem sido antecipado. Desse modo, parece que o ápice é atingido, porém o
nível de formação é bem inferior, “com ápices inferiores, cairão cada vez mais as
possibilidades das grandes conquistas, tendo como causa principal o início precoce na
atividade esportiva competitiva do jovem” (LASMAR et al., 2002, p.70).
Para Lasmar et al. (2002), a idade de início para a prática do atletismo em
corridas curtas e saltos deve ser aos 12 anos de idade; para os arremessos, aos 14
anos e para corridas de fundo, 16 anos. Concordando com o autor supracitado, Zito
(1993) afirma que a Academia Americana de Pediatria, referindo-se aos efeitos lesivos
das corridas de longa distância em crianças, estabeleceu que antes da maturação
física, estas atividades não são recomendadas. Porém não é possível a afirmação
contundente de que estas atividades não devam ser praticadas por essa população,
pois existem poucas evidências científicas que sugerem que a corrida de longa
distância seja maléfica para as crianças em desenvolvimento (ZITO, 1993).
Finalmente a questão da idade de início nos treinamentos é uma variável
importante a ser aprofundada nos estudos relacionados ao esporte e à prevenção de
lesões desportivas. Segundo os autores revisados, para esta etapa do trabalho é
importante analisarmos a maturação biológica, sexo, tipo de esporte, vida útil esportiva
e ápice no esporte, para que possamos estabelecer estratégias para prevenir as
conseqüências osteomioarticulares e comprometimentos motores em atletas que
iniciam o treinamento precocemente. Nesta investigação sobre lesões no atletismo,
destacamos dois pontos para análise que têm relação com este tema: a idade de início
nos treinamentos e o tempo de treinamento na modalidade.
46
3.2 TREINAMENTO DESPORTIVO NA ADOLESCÊNCIA
Quando pensamos em treinamento desportivo para adolescentes, temos
que ter consciência de que trabalhamos com pessoas em franco desenvolvimento físico
(biológico), psíquico e motor. Micheli (1995) levanta dois questionamentos ainda sem
respostas para este tema: quanto é o bastante e quanto é demasiado no treinamento
de crianças e adolescentes?
Deve-se, então, partir do princípio de que o treinamento de crianças e
adultos é diferenciado. O organismo jovem, imaturo, está passando por diversas
transformações, o que o torna mais suscetível aos efeitos do treinamento, que muitas
vezes pode ser adverso. Para Weineck (2000), nos momentos de grande crescimento o
organismo está treinável de forma especialmente acentuada, por um lado, mas por
outro, especialmente sensível a sobrecargas.
Nos esportes organizados, particularmente no programa piramidal de
treinamento esportivo de jovens atletas de elite, existem evidências de que muitos
destes atletas estão sendo, sistematicamente, supertreinados e expostos a níveis
elevados de atividade física especializada. Tal realidade pode resultar no aumento do
risco de lesões e declínio dos níveis de performance, podendo afetar, ainda, o
crescimento e a maturação. Surpreendentemente, existem poucos estudos que
investigam as relações entre volume e intensidade do treinamento para jovens. Soma-
se a isso o fato de que os treinadores têm, freqüentemente, utilizado uma intervenção,
extremamente, empírica para o volume e progressão do treinamento. Infelizmente,
muitos deles têm pouco entendimento acerca dos fatores de risco para lesões por
overuse e, em particular, sobre o potencial de aumento das lesões com o incremento
das cargas de treinamento (MICHELI, 1995)23.
Uma afirmação bastante presente na literatura é a de que não podemos
prescrever atividades para as crianças e jovens como se eles fossem miniadultos.
23 Neste artigo Micheli afirma acreditar que este tema (lesões desportivas) é um dos mais importantes assuntos na pediatria e na medicina do esporte para adolescentes. Portanto clama pela existência de mais estudos que relacionem o volume e progressão do treinamento no grupo de atletas destas idades, para o potencial das lesões desportivas. Bem como os treinadores devem estudar as relações entre volume e técnicas de treinamento para performance em atletas jovens.
47
Segundo Williams (2007), as evidências que suportam a proposição de que crianças
são treináveis como adultos são equivocadas. Existem, segundo este autor, cinco
variáveis sendo confundidas nos estudos: 1) muitos estudos não têm medido ou
monitorado o estágio de maturação de modo que as crianças iniciam o treinamento em
estágios de maturação diferentes; 2) muitas pesquisas são pequenas e contém poucos
participantes para serem estatisticamente validadas; 3) as adaptações do treinamento
são difíceis de diferenciar dos efeitos do crescimento e maturação; 4) questões sobre a
quantificação do treinamento e o estabelecimento de padrões de dose-resposta ainda
não foram resolvidos; e 5) por razões éticas, avaliações necessitam ser não-invasivas e
com isso, determinar os mecanismos de adaptação tornando-se limitados.
Encontramos, então, mais um desafio a ser enfrentando: a dificuldade de se
realizar estudos com crianças. Alguns autores afirmam a necessidade de estudos
prospectivos, com grandes amostras, que disponibilizem análise de tecidos ou sangue,
radiografias e outros exames, entendidos como invasivos e até certo ponto prejudiciais
à saúde do jovem ou, para alguns, desnecessários. Talvez, com o avanço da medicina,
novas técnicas sejam criadas e um aprofundamento nestas questões seja possível. Um
exemplo claro disso, nos dias de hoje, é a coleta de saliva que pode revelar índices de
ansiedade em atletas.
Boisseau e Delamarche (2000), em estudo de revisão sobre respostas
metabólicas e hormonais ao exercício em crianças e adolescentes, chegaram à
conclusão de que não é possível fazer um desenho claro dos metabolismos específicos
envolvidos, quando se comparam crianças e adultos. Contudo, parece que crianças e
adultos são bem adaptáveis a exercícios prolongados e, assim, precisam de programas
específicos para melhorar suas performances.
Além das limitações dos estudos científicos na área, muitos são os fatores
que devemos analisar quando pensamos no treinamento de jovens. Entre eles
podemos citar: o crescimento, a maturação, idade cronológica, desenvolvimento motor
e habilidades motoras, fisiologia cardíaca e pulmonar, respostas térmicas ao esforço,
predisposição a lesões, entre outros. Ainda, dentro destes conceitos muitas variações
devem ser cuidadosamente analisadas.
48
Segundo Lasmar et al. (2002), as variações podem ocorrer nas relações
entre: 1) idade cronológica versus idade óssea – “Uma variação da idade óssea para
mais ou para menos pode interferir na determinação de certas atividades físicas para as
crianças” (p.64); 2) idade cronológica versus idade física – “Determinados organismos
demoram mais a desenvolver-se levando a indicações mais restritas a certas atividades
físicas mais intensas” (p.64); idade cronológica versus idade mental – “a compreensão
da criança pode ser insuficiente para determinadas execuções levando a imperfeições,
lesões físicas e mesmo sofrimentos psicológicos importantes” (p.65); e idade
cronológica versus idade neurológica – “... determinadas atividades só são possíveis
com uma coordenação motora mínima.” (p.65).
Para Williams (2007), muitos esportes são organizados a partir da idade
cronológica (categorias), porém já é sabido que atletas de uma mesma idade
cronológica podem estar em momentos de maturação muito diferentes. Alguns estudos
têm demonstrado que durante as peneiras, de início de ano no futebol, realizadas por
clubes, os atletas selecionados são na maioria aqueles que nasceram no primeiro
semestre do ano. Isso indica uma vantagem em relação àqueles que nasceram no
segundo semestre. Em determinados períodos do desenvolvimento, alguns meses
podem fazer uma grande diferença em termos maturacionais.
Outro quesito preocupante no treinamento de crianças e adolescentes, diz
respeito ao treinamento de modalidades específicas, o que limita nestes jovens a
construção de uma ampla gama de conhecimentos motores. Segundo Cochran (2007),
as crianças que se limitam à prática de somente uma modalidade esportiva e a praticam
durante todo o ano colocam o desenvolvimento pleno do seu corpo em risco, ao
contrário daqueles que praticam vários esportes ou experimentam férias (pausas)
durante o ano. Porém, já é de praxe partir do pressuposto de que, se os jovens atletas
pretendem ser competitivos, devem iniciar o treinamento cedo e trabalhar duro em uma
modalidade específica.
A maioria dos estudos, que vêm avaliando os efeitos do treinamento no
crescimento, sustenta a condição de que um não afeta o outro. Contudo, nem todas as
pesquisas sustentam esta proposição. Os autores argumentam que certos atletas
adolescentes podem estar sob risco de restrições no crescimento e maturação tardia,
49
quando o treinamento é muito intenso e a alimentação é inadequada. Com isso o corpo
pode compensar esse déficit desviando nutrientes do processo normal de crescimento
(WILLIAMS, 2007).
A atividade corporal, ou treinamento esportivo, segundo Weineck (2000) é
condição indispensável para o desenvolvimento harmonioso do organismo infantil e
jovem, assim como para a formação de uma saúde estável. Entretanto, o mesmo autor
alerta que, quando se ultrapassa o nível individual de carga suportável, ou frente às
doenças infecciosas freqüentes na juventude, a atividade esportiva passa a representar
uma fonte de riscos que pode levar a prejuízos do organismo em crescimento ou a um
grave risco para a saúde.
Segundo Siegel (2006), a atividade física tem vários efeitos nos indivíduos
entre seis e 18 anos. Em uma breve revisão podemos citar: efeitos no tecido adiposo,
lipídeos e lipoproteínas, pressão sangüínea, condicionamento aeróbico, saúde mental,
performance intelectual, saúde muscular, entre outros. Por isso o indicado é a inclusão
destes sujeitos em atividades moderadas a vigorosas por 60 minutos, todos os dias.
Este tipo de atividade, que pode ser uma modalidade esportiva, proporciona um ganho
significativo fisiológico, psicológico, e benefícios à saúde, sem custos aparentes.
No entanto, para a prescrição do exercício físico ou atividade esportiva, na
faixa etária que varia entre os oito e os dezoito anos, o profissional de Educação Física
deve ter conhecimentos precisos sobre as etapas do desenvolvimento humano,
identificando possíveis variações, como por exemplo, no desenvolvimento físico, bem
como entender o funcionamento fisiológico de um organismo em franco
desenvolvimento. E, na dúvida, nunca expor o atleta a riscos.
Finalmente, pensamos que é necessário realizar mais estudos para que
possamos compreender as conseqüências para o crescimento e maturação das
crianças e adolescentes, envolvidos em competições esportivas, para que possamos
inseri-los com segurança no treinamento desportivo.
50
4 MATERIAIS E MÉTODOS
4.1 CARACTERIZAÇÃO DA PESQUISA
Existe uma grande dificuldade em estabelecer o design epidemiológico de
investigação já que este esporte –atletismo – é composto por diversas modalidades
(eventos ou provas) e é praticado por muitos atletas. Como afirma Zemper (2005), o
grande número e variabilidade de provas envolvidas no atletismo fazem com que as
pessoas que se aventuram neste tipo de pesquisa tenham um grande desafio à frente.
Para atender da melhor maneira as variáveis do campo de pesquisa
investigado, estruturou-se esta pesquisa com caráter retrospectivo, caracterizando-se
como um estudo transversal, descritivo e auto-referido. Utilizou-se um questionário no
formato de Inquérito de Morbidade Referida (IMR) já que, com este tipo de instrumento,
se obtêm informações sobre o estado de saúde de grupos populacionais específicos.
Além disso, é o próprio acometido que relata sua lesão, retroagindo a determinado
período do tempo; portanto, é comumente utilizado para o registro de agravos e não
demanda avaliação clínica ou exame complementar (PASTRE et al., 2004; 2005).
Também se pode classificar como um estudo epidemiológico já que se
preocupa em estabelecer fatores de risco para a prevalência de lesões desportivas no
atletismo. Por epidemiologia entende-se a freqüência com que uma doença ou lesão
específica ocorre. Este resultado pode ser importante para projetar equipamentos
protetores, estabelecer ou alterar regras e para fornecer informações gerais aos atletas
e pais. Porém, é importante ressaltar que nem sempre os dados são generalizáveis a
toda a população de praticantes de determinada modalidade esportiva, e que parece
ser impossível reunir informações suficientes que possam prever o acontecimento de
uma lesão. Contudo, os dados coletados podem proporcionar a criação de atividades
que tenham baixos riscos de lesões (HILLMAN, 2002). Este estudo se baseia, portanto,
nos conceitos de epidemiologia para estabelecer o que é possível de descrição,
classificação e situação de causa das lesões desportivas.
51
Segundo Pitanga (2002), este estudo ainda deve ser classificado como
observacional, em que se estabelecem taxas de prevalência. Para este autor, os
estudos observacionais apresentam uma limitação que é a impossibilidade de afirmar
contundentemente a relação de causa e efeito.
Por fim, é um estudo de natureza aplicada, quantitativo quanto à abordagem
do problema, epidemiológico quanto aos objetivos, e descritivo do tipo diagnóstico
quanto aos procedimentos técnicos.
4.2 CARACTERIZAÇÃO DA POPULAÇÃO
A população foi composta por todos os atletas da Federação Catarinense de
Atletismo (FCA) com idade entre quinze e dezoito anos, ou seja, nascidos nos anos de
1989, 1990, 1991 e 1992, que totalizaram 357 sujeitos. Estes sujeitos pertencem às 14
instituições filiadas à FCA. A tabela 2 traz a relação nominal dos clubes, sigla, cidade
sede, número total de atletas e número de atletas do sexo feminino e masculino. Na
figura 2 é possível observar o local sede dos clubes no estado de Santa Catarina.
Tabela 2 - Caracterização dos Clubes de Atletismo filiados à FCA.
Localização (cidade)
Total de atletas Feminino Masculino
São Bento do Sul 23 6 17 Caçador 6 2 4 Criciúma 21 7 14
Blumenau 53 24 29 Jaraguá do Sul 34 18 16
Lages 5 1 4 Brusque 4 4 0
Pomerode 19 5 14 Chapecó 20 7 13
Rio do Sul 17 4 13 Concórdia 43 18 25
Itajaí 20 10 10 Joinville 78 38 40 Timbó 14 11 3
357 155 202 Fonte: Elaboração da autora, 2008.
52
Figura 2 - Mapa do estado de Santa Catarina com destaque as cidades sedes dos Clubes. Fonte: Governo do estado de Santa Catarina, adaptado para a coloração dos municípios envolvidos na pesquisa, destacados por região.
Durante a aplicação dos questionários houve surpresas quanto ao tamanho
da amostra a ser analisada. A princípio, segundo os registros da Confederação
Brasileira de Atletismo (CBAt), o estado de Santa Catarina tem 357 atletas devidamente
federados. A partir do momento do primeiro contato com os responsáveis pelos clubes,
quando os mesmos assinaram os termos de consentimento, este era acompanhado
pela lista de atletas que deveriam participar do estudo. Quando a listagem era
conferida, os responsáveis assinalavam os atletas que permaneciam realizando
treinamento. Assim sendo, a amostra ficou em um total de 177 atletas, destes, foram
entrevistados 159 atletas, que representam 89,83% da população. Contudo, houve a
necessidade de exclusão de um sujeito por falta de dados. A amostra para este estudo,
portanto, foi constituída por 158 atletas.
Jaraguá do Sul
Chapecó
Criciúma
Lages
Caçador
Concórdia
Pomerode
Timbó Blumenau
Brusque
Itajaí
São Bento do Sul
Joinville
Rio do Sul
53
4.3 PROCEDIMENTO DE COLETA DE DADOS
A coleta de dados foi realizada através de uma entrevista, com questões
abertas e fechadas, divididas em duas etapas de estudo (APÊNDICE A). O instrumento
teve por base o Inquérito de Morbidade Referida (IMR). Para que houvesse maior
agilidade na coleta, foi criado um programa de computador (APÊNDICE B), por meio do
sistema Delphi, que automaticamente armazena as informações em um banco de
dados, que pode ser exportado para tratamento estatístico em outros programas.
a) Caracterização da amostra
Nesta primeira etapa tem-se questões referentes a: clube, sexo, data de nascimento,
massa corporal e estatura; modalidades do atletismo que pratica e a especialidade; a
escolha da modalidade; tempo de prática; idade de início; períodos de treinamento por
semana; quantidade de horas semanais de treino; organização e acompanhamento do
treinamento; número de participações em competições; e ocorrência de lesões no
último ano.
b) Descrição das lesões
Na segunda etapa a entrevista constituiu-se no esclarecimento das lesões ocorridas.
Caso o atleta relatasse não ter sido acometido por nenhuma lesão desportiva no último
ano, a entrevista encerrava-se na etapa “a”. Para os que foram acometidos continuava
esclarecendo os questionamentos quanto ao tipo de lesão24; mecanismo da lesão
(intrínseca e extrínseca); classificação segundo o tempo de afastamento (leve,
moderada ou grave); região anatômica; ambiente (treinamento ou competição); período
do treinamento (base, específico, competição, transição); procedimentos de tratamento
24 A classificação para o tipo de lesões foi realizada baseada no questionário construído pela professora Márcia Kroeff no trabalho de pós-doutoramento intitulado: Lesões na iniciação ao futebol: estudo dos alunos das escolinhas de Florianópolis, SC (ainda não publicado). O instrumento foi delineado segundo as lesões desportivas mais freqüentes relatadas no capítulo 8 do livro de Gonçalves (1997), sob a autoria de Fatarelli, Franco e Gonçalves. São elas: lesões tegumentares (lacerações, bolhas, abrasões e calos), osteomusculares (estiramentos, distensões, rupturas musculares, tendinite, fasceíte plantar e as bursites), articulares (luxações, subluxações, desordens patelo-femurais, osteocondrite e entorses) e fraturas e fraturas por estresse.
54
(domiciliar, fisioterápico, médico hospitalar, cirúrgico); retorno a prática desportiva
(assintomático ou sintomático).
O estudo foi realizado dentro das dependências dos clubes de atletismo do
estado de Santa Catarina. O termo de consentimento (APÊNDICE C) foi encaminhado a
um responsável de cada equipe, sendo este um técnico ou o próprio presidente do
clube que permitiu a participação dos atletas listados em cada entidade. A coleta
(entrevista) foi realizada durante o treinamento e competição dos atletas, por três
pessoas treinadas e teve duração de 10 a 15 minutos, com cada atleta.
4.4 VALIDAÇÃO DOS INSTRUMENTOS
O instrumento utilizado neste estudo passou por procedimentos de
validação, da seguinte forma:
a) Validação: foi encaminhado a quatro professores (experts) que fizeram a validação
segundo os objetivos do estudo. A média do índice de validação para todas as
questões do instrumento foi de 0,879.
b) Clareza: o instrumento foi utilizado em cinco entrevistas com atletas de atletismo
(que não fizeram parte da amostra) para avaliar a clareza das questões.
c) Reprodutibilidade: o instrumento foi aplicado a uma população de dez atletas de
atletismo (que não fizeram parte da amostra) que responderam a entrevista em dois
momentos com sete dias de intervalo entre as aplicações.
4.5 TRATAMENTO ESTATÍSTICO
A análise dos dados foi realizada por meio de testes estatísticos, verificando-
se a prevalência das lesões esportivas, utilizando-se de métodos descritivos. Segundo
55
Brooks e Fuller (2006), as três formas mais comuns de relatar lesões em estudos
epidemiológicos são: (1) número absoluto de lesões; (2) proporção de lesões; e (3)
incidência de lesões. Foram realizadas também associações estatísticas entre as
variáveis; para esta etapa utilizou-se o Teste t (para amostras independentes) e o qui-
quadrado. No primeiro teste consideraram-se as diferenças entre os valores médios de
cada par de observações, respeitando as condições para sua aplicação, ou seja,
amostras que apresentassem normalidade e igualdade na distribuição dos desvios
entre os pares. O qui-quadrado foi utilizado considerando que as ocorrências em uma
variável discreta seguiam uma distribuição esperada, ou seja, sabíamos as freqüências
esperadas em cada uma das categorias, mutuamente exclusivas, da variável sob
análise (BARROS e REIS, 2003). Portanto, utilizamos o Teste t quando comparamos os
dados quantitativos e o qui-quadrado, para os categóricos. Ambos os testes tiveram um
nível de significância de p< 0,05.
A escolha dos métodos estatísticos foi feita de acordo com as suas
características, já que favorecem o alcance dos objetivos propostos neste estudo; bem
como vai ao encontro das idéias de Brooks e Fuller (2006), quando afirmam que os
fatores que podem afetar um estudo epidemiológico são: o tamanho do efeito que está
sendo investigado, o nível de significância aceito, e o tamanho da amostra.
O pacote estatístico usado foi o SPSS 11.5, versão para Windows.
56
4.6 MATRIZ ANALÍTICA
Quadro 1 - Matriz Analítica
taxas de risco de lesões 5
colocação no ranking brasileiro ter sido recordista na modalidade 4
períodos de treinamento semanal participações em competições por ano preparação do treinamento acompanhamento do treinamento acompanhamento por outros profissionais tempo de prática na modalidade idade de início no treinamento da modalidade prática de outra modalidade
3
identificação dos tipos de lesões e diagnóstico número de lesões por região anatômica número de lesões segundo a causa mecanismo das lesões classificação por tempo de afastamento número de lesões segundo o ambiente número de lesões segundo a fase do ciclo-treinamento procedimento de tratamento das lesões condições de retorno à prática esportiva
2
número de lesões por atleta número de lesões por equipe (Clube) número de lesões por conjunto de provas número de lesões por idade número de lesões por sexo
1
VARIÁVEIS OBJETIVO
57
5 ANÁLISE DOS DADOS
5.1 DIAGNÓSTICO DA POPULAÇÃO
Foram entrevistados 158 atletas com idade entre quinze e dezoito anos.
Entre estes entrevistados, 57,6% são do sexo masculino e 42,4% do sexo feminino. É,
portanto, uma amostra composta por um número maior de homens do que de mulheres,
relação esta muito comum nos estudos realizados neste campo (tabela 3). Existem
diferentes explicações para tal fato. As mais comentadas são: os homens participam
mais efetivamente de esportes de competição, e permanecem durante mais tempo na
vida atlética. Quando relacionamos as faixas etárias (nascidos entre 1989 e 1992)
percebemos que a participação no esporte parece declinar nas meninas com o
aumento da idade, o que também foi observado no estudo de Maffulli et al. (1996).
Tabela 3 – Idade dos atletas segundo sexo.
Idade/Ano de nascimento Sexo
15 (1992) 16 (1991) 17 (1990) 18 (1989) Total
Masculino 21 (47,73%) 17 (45,95%) 35 (76,09%) 18 (58,06%) 91 (57,59%) Feminino 23 (52,27%) 20 (54,05%) 11 (23,91%) 13 (41,94%) 67 (42,41%)
Total 44(100%) 37(100%) 46(100%) 31 (100%) 158 (100%)
Fonte: Elaboração da autora, 2008.
A prática de treinamento em outra modalidade esportiva também foi
investigada e nos parece um dado importante para a caracterização desta amostra. Em
nossa análise, somente 10,8% (17 atletas) praticam treinamentos em outros esportes
além do atletismo. Desta maneira, parece ser uma população que se dedica
efetivamente ao treinamento do atletismo.
O desempenho atlético dos jovens entrevistados nesta pesquisa foi
analisado segundo duas óticas: o ranqueamento nacional e o estabelecimento de
58
recordes. Em outros estudos, encontramos análises comparativas entre ranqueamento
dos atletas e estabelecimento de recordes com a prevalência de LD. Neste grupo 37
atletas (23,4%) já foram recordistas alguma vez, seja em competições municipais,
estaduais, nacionais ou internacionais. E dentro da amostra de 158 atletas, 77 (48,7%)
figuraram entre os vinte primeiros do ranking nacional nas categorias de menores ou
juvenis, durante o período investigado nesta pesquisa.
Diversos trabalhos têm se preocupado com a especialização precoce dos
atletas no atletismo, bem como com o tempo de dedicação a uma modalidade,
aspectos que podem contribuir para os índices de LD. Sendo assim, a idade de início
dos treinamentos, bem como o tempo total dedicado à prática do atletismo, também
foram avaliados nesta pesquisa. Verificamos que a maioria dos atletas iniciou o
treinamento de atletismo entre os dez e doze anos e entre os entrevistados, 55,7% têm
entre um e três anos de treinamento neste esporte, e outros, 33,5% entre quatro e sete
anos (tabela 4).
Outras variáveis do treinamento ainda foram analisadas. Alguns estudos
mostram os índices e taxas de LD relacionadas à quantidade de horas e sessões de
treinamento semanal, bem como ao número de competições no ano. O estudo de
Orava e Puranen (1978), por exemplo, utilizou o número de sessões de treinamento
para expressar a quantidade de treino dos atletas. Constatou que a maioria dos atletas
participava de seis ou mais sessões de treino por semana. Em nossa investigação,
65,8% da amostra realizam treinamentos entre quatro e seis períodos por semana e
45,6% dos atletas, participaram de seis a oito competições no período investigado
(tabela 4).
Planejamento e acompanhamento do treinamento também merecem
destaque como elementos importantes no cuidado com as LD decorrentes da prática do
atletismo. Assim sendo, investigamos a presença de profissionais capacitados na
preparação e acompanhamento do treinamento. Observamos que para 88% da
população o treinamento é planejado por professores de Educação Física. Além disso,
todos os treinos são acompanhados pelo técnico (83,5%) na maioria dos casos, o que
pode representar uma segurança a mais para o atleta (tabela 4).
59
Tabela 4 – Caracterização da amostra de atletas federados em SC.
Variável Categoria n %
Entre 6 e 9 anos 9 5,7% Entre 10 e 12 anos 76 48,1% Entre 13 e 16 anos 68 43,0%
Idade de início no treinamento
Acima de 16 anos 5 3,2%
Entre 1 e 3 anos 88 55,7% Entre 4 e 7 anos 53 33,5%
Tempo de treinamento na
modalidade Acima de 7 anos 4 2,5%
Até 3 períodos 37 23,4% Entre 4 e 6 períodos 104 65,8%
Número de períodos de treinamento por
semana Acima de 6 períodos 17 10,8%
Até 5 competições 60 38,0% Entre 6 e 8 competições 72 45,6% Entre 9 e 12 competições 21 13,2%
Participação em competições no
último ano Acima de 12 competições 5 3,2%
Professor de Educação Física 139 88,0% Técnico sem formação superior 13 8,2% Próprio Atleta 1 0,6%
Planejamento dos treinamentos
Outro Atleta 5 3,2%
Todos os treinos 132 83,5% Parte dos treinos 21 13,3%
Acompanhamento dos treinamentos
pelo treinador Não é acompanhado 5 3,2% Fonte: Elaboração da autora, 2008.
5.2 ANÁLISE SEGUNDO CARACTERÍSTICAS INDIVIDUAIS, EQUIPE E GRUPO DE
PROVAS.
A primeira parte dos resultados deste estudo refere-se à identificação e
quantificação do número de lesões desportivas ocorridas por atleta, idade, sexo,
equipe (Clube) e grupo de provas do atletismo. Utilizamos cálculos de prevalência
característica da metodologia epidemiológica proposta nesta pesquisa, para mostrar o
cenário das LD dentro do atletismo, no âmbito individual.
A amostra investigada neste estudo teve uma prevalência de lesões de 43%.
Dentre os 158 atletas entrevistados, 68 relataram pelo menos uma LD no período de
60
um ano. Ainda, neste grupo de atletas jovens de atletismo, sete sujeitos apresentaram
mais de uma lesão. Assim sendo, quando falamos sobre o número de lesões na
população, chegamos a um total de 77 LD (Tabela 5). Estes resultados reafirmam o que
foi revisado na literatura sobre o risco relativamente alto de LD neste esporte25.
Tabela 5 - Número de Lesões Desportivas por atleta.
Número de lesões n Prevalência Sem lesão 90 56,9%
1 61 38,6% 2 5 3,2% 3 2 1,3%
Total 158 100% Fonte: Elaboração da autora, 2008.
Entre as análises individuais a idade é uma característica importante a ser
investigada. Parece existir uma tendência de os atletas mais velhos apresentam um
maior número de lesões (COULON et al., 2001; STEVENSON, 2000). O estudo de
Coulon et al. (2001) sobre LD, por exemplo, observou que os atletas mais velhos têm
mais de quatro lesões por temporada e que nos atletas entre os onze e quinze anos, as
taxas de LD são maiores do que em grupos mais jovens. Em nossa pesquisa a faixa
etária dos dezessete anos apresenta o maior número de lesões relatadas (n=28) e o
maior número de atletas lesionados (n=22), porém, percentualmente, a prevalência é
maior em atletas com dezoito anos (58,06%) (figura 3). Isso indica um crescimento do
índice de lesões por atleta com o incremento da idade. Este fato também é comprovado
pelo teste t, quando analisamos se houve diferença entre as idades dos atletas com e
sem lesão (figura 4).
25 Quando analisada o número de LD por atleta, verificou-se que somente sete atletas apresentavam mais de uma lesão relatada, para tanto, nas análises estatísticas, os atletas foram agrupados em “lesionados” (com lesão) e “não lesionados” (sem lesão).
61
Figura 3 - Comparação entre número de lesões, atletas lesionados e prevalência, segundo a idade. Fonte: Elaboração da autora, 2008.
Com lesão Sem lesão15,0
15,5
16,0
16,5
17,0
17,5
18,0
Idad
e (a
nos)
Média ± ep ± dp
Figura 4 – Idade média (± erro padrão e ± desvio padrão) dos atletas entrevistados que apresentaram e que não apresentaram lesão. Fonte: Elaboração da autora, 2008.
11
18
28
20
11
17
22
18
25%
45,94% 47,82%
58,06%
0
5
10
15
20
25
30
15 16 17 18
Idade (anos)
Prevalência
0%
10%
20%
30%
40%
50%
60%
70%
80%
90%
100%
N de lesões N. de atletas lesionados prevalência
62
Desta maneira, neste estudo, parece haver uma tendência dos atletas mais
velhos apresentarem maior prevalência de lesões desportivas. Esta afirmativa se
fortalece quando analisamos os dados de LD por categorias de idade. Nesta avaliação
podemos observar que a maioria dos atletas que não se lesionaram são os que
pertencem à categoria de quinze anos. Nesta, 75% dos atletas de quinze anos não
relataram lesão. O teste qui-quadrado demonstrou que existe associação entre a
categoria de idade e lesão [χ2 = 9,25; g.l.=3; p = 0,026] sendo que os mais novos são os
que se lesionam menos (tabela 6).
Estes dados corroboram com os de Landry (1992) que, em estudo de revisão
onde concluiu que as LD tornam-se mais freqüentes à medida que as crianças ficam
mais velhas, maiores e alcançam um maior nível de habilidade. Spinks et al. (2006), por
outro lado, não identificou uma diferença significativa no número de lesões entre as
faixas etárias estudadas (quatro a doze anos), porém foi conclusivo na afirmação de
que quanto mais velhos os sujeitos, maior o número de lesões sérias. A explicação para
esta realidade pode estar no fato de as crianças mais velhas participarem de atividades
mais complexas ou com maiores riscos, e assim, podem se lesionar com maior
freqüência.
Na análise do número de lesões segundo o sexo, apesar da prevalência de
lesões serem maior no sexo feminino (0,44 lesões por atleta no sexo feminino e 0,41 no
masculino), não foi possível observar diferença significativa entre os dois grupos. O
teste qui-quadrado, que mostrou que não existe associação entre sexo e lesão [χ2 =
0,14; g.l.=1; p = 0,70], assim sendo, é possível afirmar que tanto os homens quanto as
mulheres se lesionam na mesma proporção (tabela 6).
Este resultado contraria o que está escrito na literatura da área, já que o
grupo dos homens aparece como apresentando maior taxa de lesões. Freqüentemente
os atletas do sexo masculino participam mais efetivamente dos treinamentos e
escolhem esportes mais arriscados e aventuram-se mais do que as mulheres. Além do
mais, geralmente, os homens permanecem durante mais tempo (anos) dedicando-se ao
treinamento esportivo. Stevenson (2000)26 encontrou uma prevalência de lesões em
26 Este estudo não foi realizado com atletas de atletismo e sim com jogadores de Hockey, Futebol Americano, Basquete e Netball (um outro tipo de basquete).
63
62% dos homens e 38% das mulheres. Spinks et al. (2006) corrobora com esta
afirmativa já que em seu estudo a prevalência de lesões foi de 256 nos meninos e 140
lesões nas meninas.
Contudo, para outros autores como Torres (2004)27 o sexo não parece estar
diretamente ligado ao índice de lesões, como mostram os resultados da nossa
pesquisa. Nesta perspectiva, o índice de lesões parece estar mais ligado a outros
fatores epidemiológicos, que ao se somarem, expõem os atletas de ambos os sexos ao
risco de lesões.
Tabela 6 - Lesões Desportivas por idade e sexo.
Variável % LD n X2 p 15 25,00% 11 16 45,95% 17 17 47,83% 22
Idade
18 58,06% 18
9,25 0,026
Masculino 41,75% 38
Sexo Feminino 44,77% 30
0,14 0,70
Fonte: Elaboração da autora, 2008. p<0,05
Acreditamos que uma análise por equipe também é importante na medida
em que mostra o panorama dentro de cada instituição do atletismo de Santa Catarina.
Desse modo, os resultados mostram que quase metade dos clubes de atletismo
apresenta índice igual ou superior a 40% de atletas lesionados. Este é um dado
bastante preocupante, e pode ser observado na tabela 7. Entre os três clubes com
maior número de atletas com lesão, dois deles são os mais numerosos da amostra (M –
25 atletas; D – 23 atletas), contudo, é o clube menos numeroso que apresenta o maior
índice de LD (G – 3 atletas). No geral, os clubes apresentam diversas prevalências de
lesões que variam de 100% a 25% de seus atletas com lesões relatadas.
Em outra análise, observamos o número de lesões desportivas relatadas em
cada clube, já que alguns atletas foram acometidos por mais de uma LD no período
investigado. Na tabela 7 visualizamos também o número de lesões em cada instituição
27 Neste estudo foram analisadas 220 LD, sendo destas, 14 no atletismo (6 no sexo masculino e 8 no feminino).
64
esportiva investigada. A partir desta podemos observar que os três clubes com o maior
número de lesões relatadas são responsáveis por 53,23% das LD, e entre estes estão
os dois clubes mais numerosos da amostra. Para o melhor entendimento destes dados
calculamos a taxa de lesões, ou seja, o índice de lesões por atleta no clube. A partir
deste resultado, podemos observar que o clube G apresenta a maior taxa de
lesões/atleta (uma lesão por atleta), seguido pelo clube C com 0,78 lesões/atleta. Por
outro lado as taxas mais baixas foram encontradas nos clubes de N e F (0,25
lesões/atleta).
65
Tabela 7 – Número de atletas com lesão por clube.
Clubes (equipes)
Número de atletas
lesionados no clube
% dentre a amostra total de
cada clube
% dentre a amostra de
atletas lesionados
(68)
% dentre o total da
população (158 atletas)
Número de lesões no clube
Taxa de lesões por
atleta
% entre o total de lesões
relatadas
M 16 64% 23,52% 10,12% 17 0,68 22,07% D 11 47,82% 16,17% 6,96% 13 0,56 16,88% C 7 50% 10,29% 4,43% 11 0,78 14,28% E 6 37,5% 8,82% 3,82% 7 0,43 9,09% I 5 35,71% 7,35% 3,16% 5 0,35 6,49% J 4 40% 5,88% 2,53% 5 0,5 6,49% K 4 30,76% 5,88% 2,53% 4 0,30 5,19% H 4 28,57% 5,88% 2,53% 4 0,28 5,19% G 3 100% 4,41% 1,89% 3 1 3,89% A 3 33,33% 4,41% 1,89% 3 0,33 3,89% L 2 40% 2,94% 1,26% 2 0,4 2,59% N 2 25% 2,94% 1,26% 2 0,25 2,59% F 1 25% 1,47% 0,63% 1 0,25 1,29%
Total 68 100% 100% 77 100% Fonte: Elaboração da autora, 2008.
66
O conjunto de eventos/provas do desporto atletismo é muito vasto. Segundo
a moderna definição da IAAF (International Amateur Athletic Federation - 2007) o
Atletismo é um esporte com provas de pista (corridas rasas, corridas com barreiras,
corridas com obstáculos), campo (saltos, arremesso, lançamentos) e provas
combinadas (decatlo, heptatlo). Ainda fazem parte desta modalidade as corridas de rua,
estrada e montanha, corridas de cross-country e marcha atlética (CBAt, 2006/7)28.
Para este estudo, os grupos de provas foram construídos a partir da
categorização feita pela aproximação da intensidade fisiológica dos esforços realizados
em cada evento do atletismo. Normalmente a divisão de grupos de provas realizadas
no campo atlético segue o padrão: 1) Provas de velocidade29; 2) Provas de meio-fundo
e fundo30; 3) Provas de saltos31; 4) Provas de lançamentos/arremesso32; 5) Provas
combinadas33; e 6) Provas de marcha atlética34. Porém, existem atletas que participam
de mais de um grupo de provas no Atletismo. Esta característica se deve à
aproximação dos aspectos de treinamento e transferência de movimentos que são
semelhantes para diversas provas. Sendo assim foi necessária a criação de mais sete
categorias: 7) saltos e combinadas; 8) velocidade e saltos; 9) lançamentos e
combinadas; 10) velocidade e meio-fundo/fundo; e 11) velocidade e combinadas; 12)
meio-fundo/fundo e marcha atlética; e 13) velocidade, saltos e combinadas35.
A partir desta classificação, podemos verificar o número de atletas com
lesões na tabela 8. Nesta análise, parecem ser as provas de velocidade e as provas
combinadas as que apresentam a maior prevalência de LD. As primeiras têm índice de 28 Nesta investigação entende-se o Atletismo como um esporte composto por diversas modalidades que são: corridas; saltos; lançamento/arremesso; marcha atlética. Além disso, estas são compostas por diversas provas ou eventos que incluem: rasas, barreiras, obstáculos, combinadas e revezamentos. 29 Rasas - 100m, 200m, 400m; Revezamentos – 4x100m e 4x400m; Com barreiras – 100m, 110m e 400m. 30 800m, 1500m, 3000m, 5000m, 10000m e 3000m com obstáculos. 31 Altura, vara, distância e triplo. 32 Dardo, disco, martelo e peso. 33 Heptatlo, Octatlo e Decatlo. 34 5000m e 10.000m. 35 Com esta breve análise para categorização, é possível inferir que os atletas de provas de velocidade costumeiramente participam de outras modalidades já que a característica – velocidade - é comum e necessária a diversas provas. Além disso, é interessante também um comentário sobre as provas combinadas, já que os atletas que realizam estas provas (considerados os atletas mais completos) são aqueles que têm bom desempenho em diversas modalidades e se destacam em duas ou mais provas. Para tanto, muitos deles fazem a prova combinada e ainda participam individualmente da prova da qual tem melhores desempenhos.
67
56,41% de atletas lesionados, a segunda – combinadas, 100%, e quando verificamos o
agrupamento dos atletas que realizam estes dois eventos (velocidade e combinadas), a
prevalência também é de 100%.
Em decorrência de um número pequeno de atletas em determinados grupos
de provas, e partindo da tendência de que as provas de velocidade são, geralmente, os
eventos que têm maior número de atletas lesionados, analisamos a partir do teste qui-
quadrado, se existe maior proporção de atletas lesionados entre o grupo dos velocistas,
quando comparados com os outros grupos de provas. Para tanto, agrupamos todos os
outros atletas e os comparamos com os velocistas quanto a ter ou não ter lesões.
Através do resultado do teste pudemos observar que os velocistas se lesionam,
proporcionalmente, mais que os outros atletas [χ2 = 3,78 g.l.=1; p = 0,05]. Há, nesse
grupo, 56,41% de ocorrência de lesão, enquanto que, nas demais modalidades,
somente 38,65% dos atletas se lesionaram (tabela 9).
Tabela 8 – Número de atletas com lesão segundo o grupo de provas.
Lesões Grupo de provas n Prevalência
n Total
Velocidade 22 56,41% 39 Lançamentos 10 27,77% 36 Saltos 7 38,88% 18 Meio-fundo e fundo 6 42,85% 14 Marcha atlética 3 27,27% 11 Combinadas 2 100% 2 Saltos e combinadas 3 50% 6 Saltos e velocidade 7 46,66% 15 Lançamentos e combinadas 1 50% 2 Velocidade e meio-fundo/fundo 5 50% 10 Velocidade e combinadas 2 100% 2 Meio-fundo/fundo e marcha atlética 0 - 2 Velocidade, saltos e combinadas 0 - 1 Total 68 158
Fonte: Elaboração da autora, 2008.
Para a análise estatística das LD por provas do atletismo, foi necessária
outra classificação, já que o número de atletas em cada evento foi muito pequeno,
enfraquecendo assim os testes matemáticos. Sendo assim, agrupamos os atletas que
participavam somente de um grupo de provas e, do outro lado, os atletas que
participavam de mais de um grupo (incluímos aqui os atletas de provas combinadas).
68
Comparamos, através do teste qui-quadrado, os atletas que somente treinam um grupo
de provas com os que treinam mais de um e, assim, o resultado do teste mostrou que
não há relação ou associação entre ter lesão e treinar mais de um grupo de provas [χ2 =
1,06 g.l.=1; p = 0,30] (tabela 9). Contudo, vale destacar que dos 68 atletas acometidos
por LD, 20 praticam treinamento para mais de um grupo de provas, enquanto 48
treinam somente para um grupo específico. Sugere-se, assim, que atletas que realizam
treinamento mais variado (para mais de um grupo de provas) têm menos lesões do que
aqueles que exercem treinamento específico para um grupo de provas.
Tabela 9 – Lesões desportivas, segundo grupo de provas.
Variável % LD n X2 P Velocistas 56,41% 22 Eventos
Outras modalidades agrupadas 38,65 % 46 3,78 0,05
1 grupo 40,68% 48 Grupo de
provas + de 1grupo 50% 20 1,06 0,30
Fonte: Elaboração da autora, 2008. p<0,05
5.3 ANÁLISE SEGUNDO AS CLASSIFICAÇÕES DAS LESÕES DESPORTIVAS
Em outra etapa, buscamos classificar e quantificar as lesões desportivas
segundo o tipo e o diagnóstico, a região e localização anatômica, a causa, o
mecanismo de ocorrência, o tempo de afastamento da prática, o ambiente, fase do
ciclo-treinamento, os procedimentos de tratamento e as condições do retorno à
prática esportiva.
Na identificação e quantificação das lesões desportivas, segundo a
classificação do tipo – ou seja, tegumentar, músculo-tendínea, osteoarticular,
ligamentar, bucofacial ou ocular –, observamos (tabela 10) que a mais freqüente é a
músculo-tendínea (71,4% dos casos). Este resultado também é observado em outros
69
trabalhos. Não houve nenhum relato de lesões buco-faciais e oculares36. Quanto ao
diagnóstico da LD não havia como o realizarmos já que nosso estudo teve
característica retrospectiva. Dessa forma, consideramos os resultados dos
entrevistados que sabiam o diagnóstico de suas lesões, o que resultou em 48 (62,33%)
diagnósticos entre as 77 LD relatadas. A tabela 11, a seguir, mostra a prevalência de
diagnósticos, onde se pode observar que as LD são, na sua maioria, distensões,
estiramentos e contraturas, ou seja, diagnósticos de lesões musculares.
Tabela 10 – Identificação dos tipos de lesões desportivas.
Tipos de lesões n Prevalência Músculo-tendínea 55 71,4% Ligamentar 12 15,6% Osteoarticular 8 10,4% Tegumentar 2 2,6% Total 77 100%
Fonte: Elaboração da autora, 2008.
Tabela 11 – Diagnóstico das lesões relatadas.
Diagnóstico da Lesão Freqüência %
Distensão 12 25,0 Estiramento 9 18,75 Contratura 5 10,41 Tendinite 4 8,33 Entorse 4 8,33
Rompimento de ligamento 3 6,25 Luxação 2 4,16
Lombalgia 1 2,08 Encurtamento 1 2,08 Hiperlordose 1 2,08
Pubalgia 1 2,08 Hérnia de disco 1 2,08
Fratura 1 2,08 Derrame articular 1 2,08 Lesão no menisco 1 2,08
Calosidade 1 2,08 Total 48 100%
Fonte: Elaboração da autora, 2008.
A análise segundo a região anatômica, foi organizada através da
categorização: 1) Membros Inferiores; 2) Membros Superiores; 3) Tronco; 4) Cabeça; e
36 Estas lesões são mais comuns em atletas de esportes de contato.
70
5) Pescoço, para facilitar o estudo e fortalecer as análises estatísticas. Contudo,
nenhuma lesão foi relatada na região da cabeça e pescoço (tabela 12). O que se
confirma é a tendência de que os membros inferiores são as regiões mais afetadas por
LD no atletismo (84,4%).
Tabela 12 – Atletas com lesão segundo região anatômica.
Região Anatômica n Prevalência Membros Inferiores 65 84,4% Tronco 9 11,7% Membros Superiores 3 3,9% Total 77 100%
Fonte: Elaboração da autora, 2008.
Além da região anatômica, coube investigar a localização de cada lesão
relatada pelos atletas. A literatura sobre LD no atletismo tem mostrado que o local mais
afetado nesta modalidade é a coxa (quadríceps e bíceps femural), resultado também de
nossa investigação, onde 39,7% das lesões ocorreram neste local, seguido pelo joelho
com 16,7% e pé/dedos/calcanhar com 10,3% (tabela 13).
Tabela 13 – Lesões segundo a localização anatômica.
Localização anatômica Freqüência % Coxa 31 39,7
Joelho 13 16,7 Pé/Dedos/Calcanhar 8 10,3
Perna/Panturrilha 5 6,4 Coluna/costas 5 6,4
Tornozelo 4 5,1 Virilha 3 3,8 Púbis 2 2,6
Ombro 2 2,6 Trapézio 1 1,3 Quadril 1 1,3
Nervo ciático 1 1,3 Cotovelo 1 1,3
Total 77 100% Fonte: Elaboração da autora, 2008.
Estudos da década de 1970/80 relataram que as regiões mais afetadas
eram os pés. A tendência da década seguinte (90) e o século XXI têm nos revelado
71
outro local mais afetado, e outros tipos de lesões mais comuns. Atualmente, no
atletismo, não há dúvidas de que o maior número de lesões ocorre nos membros
inferiores e que a região mais acometida é a coxa, fato comprovado em nossa
investigação. A explicação para este fato se deve aos grandes esforços explosivos nos
eventos de atletismo, porém são necessários mais estudos para confirmação de tal
hipótese.
A causa desse tipo de lesão, em nossa investigação, é um macrotrauma, ou
seja, lesões que acontecem de forma aguda, sem dores prévias. Além disso, o
mecanismo de ocorrência destas LD, em 80,5% dos casos, é intrínseco, ou seja,
dependente de fatores internos (excessos de uso, exageros nos treinamentos, cargas
diferentes, esforços de natureza incomum, etc.) que corroboram com o surgimento de
lesões agudas (inesperadas), já que as lesões causadas por fatores extrínsecos
necessitam de forças externas ao organismo (tabela 14).
Nesta pesquisa utilizamos o fator “tempo” para definir a ocorrência de uma
lesão desportiva, ou seja, só consideramos uma LD se houvesse o afastamento do
atleta do treinamento e competição por uma semana ou mais (no mínimo sete dias).
Desta forma, 51,9% das LD causaram afastamentos entre oito e trinta dias – lesões
moderadas. Apesar de não termos considerado lesão afastamentos menores do que
uma semana, ou lesões que não causassem afastamento, mas somente mudanças no
treinamento do atleta, pode-se inferir que é grande o número de lesões moderadas a
graves que afetaram os atletas jovens de atletismo no estado de Santa Catarina (tabela
14).
Entre os estudos revisados para esta investigação, foi possível constatar
que independentemente da modalidade praticada, a maioria das LD ocorre durante os
treinamentos. Uma justificativa para esta realidade se dá pela somatória de horas
dedicadas ao treinamento e à competição. O tempo em que os atletas estão praticando
treinamentos é expressivamente maior do que o tempo (muitas vezes expressos em
horas) dedicado às competições. Nosso estudo corrobora com estes dados na medida
em que 71,4% das lesões relatadas aconteceram durante os treinamentos. Contudo, se
calculássemos as taxas de lesões segundo as horas dedicadas ao treinamento e à
72
competição, poderíamos encontrar, como em outros trabalhos, que os índices de LD
são maiores nas competições37 (tabela 14).
Na análise entre as LD e o período do ciclo-treinamento em que elas
aconteceram, podemos verificar que 85,8% delas acometem os atletas no período
específico e de competição. Estes momentos do treinamento têm características como
a grande intensidade e baixo volume, ajuste de pequenos detalhes técnicos, além de
serem momentos mais tensos já que pertencem à etapa de alcançar os objetivos
(resultados), podendo deixar os atletas mais vulneráveis à ocorrência das LD38 (tabela
14).
Com referência aos procedimentos de tratamento das lesões desportivas,
podemos concluir, assim como outros estudos, que a maioria das LD é tratada através
de métodos fisioterápicos isolados (58,4%). Ainda, uma boa parte dos atletas utiliza
mais de um método para o tratamento das lesões, ou seja, em 26% das LD relatadas, o
tratamento envolveu fisioterapia e atendimento médico-hospitalar (12 referências),
fisioterapia e tratamento domiciliar (sete casos) e atendimento médico-hospitalar e
tratamento domiciliar (um relato). Por fim, a fisioterapia em conjunto com o atendimento
médico-hospitalar e o tratamento domiciliar somam mais 24,67% dos casos.
Concluímos então que os métodos fisioterápicos são utilizados em 83,07% dos
tratamentos de lesões desportivas nesta amostra (tabela 14).
Se por um lado verificamos o cuidado com o tratamento das lesões
desportivas no item anterior, onde em todas elas os atletas buscaram tratamentos, por
outro, quando verificamos o retorno à prática esportiva, percebemos que em 53,2% dos
relatos o atleta retornou às atividades ainda com dores na região/local afetado. No
estudo de Pastre et al. (2004) com atletas de atletismo da categoria adulta, o retorno
sintomático teve prevalência ainda maior, 81,67% das LD. Este dado é bastante
preocupante já que as lesões que ainda provocam dores e desconfortos aos atletas são
lesões que ainda não estão totalmente curadas, e o retorno às atividades de
37 O cálculo do índice de LD segundo as horas dedicadas ao treinamento e à competição não foi realizado devido a perda dos dados referentes à variável “horas de treinamento semanal”. 38 O período de Base é caracterizado pelo grande volume de exercícios e repetições e baixa intensidade nos esforços. O de Transição é o período de “férias” dos atletas onde são realizadas atividades diversificadas, também de baixa intensidade, e ainda de pouco volume, buscando um descanso mais prolongado do atleta.
73
treinamento e competição pode provocar agravos ainda maiores à LD existente. Tais
agravos podem ainda levar à necessidade de tratamentos cirúrgicos, afastamento de
meses das atividades atléticas, ou, em situações extremas, o afastamento total do
atleta da prática esportiva (tabela 14).
O panorama das lesões desportivas nesta amostra, por fim, conclui que a
maioria delas é do tipo músculo-tendínea, diagnosticadas como distensões,
estiramentos e contraturas, que afetam a região anatômica dos membros inferiores,
principalmente a coxa. Também, na sua maioria, são originárias de macrotraumas
causados por mecanismos intrínsecos. Classificam-se, portanto, como LDs moderadas
que ocorrem principalmente durante o treinamento e no período específico do ciclo. São
tratadas com métodos fisioterápicos e o retorno dos atletas à prática ocorre ainda
sintomático em muitos casos.
Tabela 14 – Classificação das lesões desportivas.
Variável Categoria n %
Macrotrauma 46 59,75% Causa Microtrauma 31 40,25%
Intrínseca 62 80,5% Mecanismo de
ocorrência Extrínseca 15 19,5%
Grave 20 26,0% Moderada 40 51,9% Tempo de
afastamento Leve 17 22,1%
Treinamento 55 71,4% Ambiente Competição 22 28,6%
Específico 35 45,5% Competição 31 40,3% Base 9 11,7%
Período do Ciclo-treinamento
Transição 1 1,3%
Fisioterápico 45 58,4% Domiciliar 6 7,8% Médico-hospitalar 6 7,8%
Procedimento de tratamento
Mais de um tipo de tratamento 20 26,0%
Sintomático 41 53,2% Retorno à prática esportiva Assintomático 36 46,8%
Fonte: Elaboração da autora, 2008.
74
5.4 ANÁLISE SEGUNDO ASPECTOS DO TREINAMENTO
Relacionar a prevalência das lesões desportivas aos aspectos do
treinamento é o terceiro objetivo desta pesquisa. Nesta parte o número de períodos de
treinamento por semana, o número de participações em competições, a
preparação e acompanhamento dos treinamentos, o tempo de prática na
modalidade, a idade de início dos treinamentos e a presença ou não de prática
regular em outro esporte, são as variáveis analisadas. O intuito destas comparações é
a identificação de fatores de risco para LD em atletas de atletismo.
Em muitos trabalhos encontramos o estudo das lesões relacionadas à
quantidade de horas de treinamento por dia e semana, aos períodos de treinamento por
semana, ao número de repetições de exercícios por sessão de treino, ou ainda à
quilometragem realizada na semana. Em nosso estudo analisamos a quantidade de
períodos de treinamento na semana, ou seja, sessões de treinamento semanal, com
a ocorrência de LD.
Nesta investigação pode-se verificar que o grupo afetado por lesões e o
grupo não afetado têm uma quantidade de sessões de treinamento semanal muito
similar. Contudo, enquanto o maior número de atletas com lesão está entre aqueles que
treinam de quatro a seis períodos por semana a maior prevalência de atletas sem
lesões (62,16%) encontra-se entre os que realizam até três sessões de treinamento
semanal. Este resultado nos leva a crer que os atletas, menos expostos ao treinamento,
podem ser menos afetados por LD. Entretanto, o teste qui-quadrado mostrou que não
existe associação entre ter lesão e a quantidade de períodos de treinamento semanal
[χ2 = 0,63 g.l.=2; p = 0,73]. Desta maneira, conclui-se que tanto os que treinam menos
de três vezes por semana, quanto os que treinam mais de seis períodos, lesionam-se
na mesma proporção. Ainda, no intuito de fortalecer tais resultados aplicamos um teste t
entre os atletas com e sem lesão, e os períodos de treinamentos semanais, sem a
categorização dos mesmos. O resultado mostrou o mesmo padrão, ou seja, que não
há diferença, em média, quanto ao número de períodos de treinamento na semana em
75
relação a ter lesão (5,15 períodos) ou não ter lesão (4,88 períodos) [t = 0,90; g.l.=155;
p=0,37], como é possível observar na figura 5.
Com lesão Sem lesão0
1
2
3
4
5
6
7
8
Per
íodo
de
trei
nam
ento
sem
anal
Média ± ep ± dp
Figura 5 – Períodos de treinamento na semana (± erro padrão e ± desvio padrão) dos atletas entrevistados que apresentaram e que não apresentaram lesão. Fonte: Elaboração da autora, 2008.
Outra análise realizada nos estudos sobre LD é a associação entre número
de participação em competições e ter sido acometido por lesões. No nosso estudo, a
aplicação do teste t mostrou que, em média, não há diferença entre o grupo dos
lesionados e o grupo dos não lesionados, quando comparados o número de
participação em competições no último ano. Os que tiveram lesão participaram em 5,50
eventos em média e os que não tiveram, participaram em média em 5,52 (figura 6).
Desse modo, o teste t não foi significativo [t = 0,06; g.l.=156; p=0,95].
76
Com lesão Sem lesão1
2
3
4
5
6
7
8
9
10
Núm
ero
de c
ompe
tiçõe
s
Média ± ep ± dp
Figura 6 – Participação em competições (± erro padrão e ± desvio padrão) dos atletas entrevistados que apresentaram e que não apresentaram lesão. Fonte: Elaboração da autora, 2008.
A preparação e acompanhamento dos treinamentos foram outras duas
variáveis analisadas nesta pesquisa. Estas variáveis emergiram do campo a partir da
idéia de que atletas com treinamentos planejados por profissionais capacitados (como
os profissionais de Educação Física) e acompanhados durante a realização de suas
tarefas atléticas, poderiam apresentar menor índice de lesões desportivas. Contudo, os
resultados dos testes qui-quadrado não comprovaram esta expectativa. Este teste
mostrou que não há relação ou associação entre ter lesão e quem prepara o
treinamento [χ2 = 0,81; g.l.=1; p = 0,36]39, bem como não há associação entre ter lesão
e o acompanhamento do treinamento [χ2 = 0,01; g.l.=1; p = 0,93]40.
39 Para testar esta hipótese comparamos aqueles atletas que foram preparados por um professor de Educação Física e comparamos com os outros grupos. Observamos que a proporção de lesionados se manteve semelhante. 40 Para testar esta hipótese comparamos aqueles atletas que foram acompanhados em todos os treinamentos e aqueles que foram acompanhados em parte ou não foram acompanhados. Observamos que a proporção de lesionados se manteve semelhantes em ambos os grupos.
77
Além do acompanhamento dos técnicos (treinadores de atletismo), a
presença de outros profissionais como fisioterapeutas, médicos desportivos,
nutricionistas, etc., também foi investigada nesta pesquisa. Entre os 158 atletas
entrevistados, 44 relataram ter acompanhamento de outros profissionais em seus
clubes. Observa-se uma tendência a haver menos lesionados quando há
acompanhamento de outros profissionais (68,18% sem lesão quando comparados aos
31,82% com lesão), sendo que esta proporção não é mantida quando analisamos o
grupo dos que não têm acompanhamento, onde a prevalência é praticamente igual
(47,37% e 52,63%). Embora o teste qui-quadrado tenha resultado não significativo [χ2 =
3,13 g.l.=1; p = 0,077], estatisticamente podemos considerá-lo marginalmente
significativo, já que a probabilidade foi próxima do nível de significância utilizado neste
trabalho (p<0,05). Assim, conclui-se que o acompanhamento de outros profissionais
nos clubes de atletismo pode reduzir a prevalência de lesões desportivas.
Quanto mais tempo de prática na modalidade, maiores podem ser as
proporções de lesões desportivas, ou seja, o acúmulo de esforços repetitivos pode
deixar os atletas mais vulneráveis. Por outro lado, os anos dedicados ao treinamento de
determinado esporte também provocam uma adaptação orgânica (lastro fisiológico) a
tais esforços, que podem proteger o corpo das LD. Em nossa investigação, a aplicação
do teste t mostrou que não há diferença, em média, entre o grupo dos lesionados e o
grupo dos não lesionados, quando comparados em relação aos anos de treinamento [t
= 0,46; g.l.=143; p=0,65]. Os atletas acometidos por lesão treinam, em média, há 3,32
anos e os que não foram acometidos por lesão, 3,17 anos em média (figura 7). Por este
motivo, o teste t não foi significativo. Contudo vale destacar que dos quatro atletas que
relataram treinar há mais de sete anos, três deles (75%), foram acometidos por LD. Em
outros estudos, que há maior quantidade de atletas nesta situação, talvez se possa
encontrar uma tendência de que quanto maior a quantidade de anos de treinamento
maior a prevalência de lesões, o que não foi comprovado neste estudo.
78
Com lesão Sem lesão0
1
2
3
4
5
6
Ano
s de
trei
nam
ento
Média ± ep ± dp
Figura 7 – Tempo de prática na modalidade (± erro padrão e ± desvio padrão) dos atletas entrevistados que apresentaram e que não apresentaram lesão. Fonte: Elaboração da autora, 2008.
A idéia de que os atletas que iniciam seus treinamentos mais cedo seriam
mais acometidos por lesões desportivas, provavelmente vítimas dos treinamentos
precoces, também foi analisada em nossa amostra. A idade de início dos
treinamentos foi comparada, através do teste t, aos atletas com e sem lesão
desportiva relatada. Esta análise mostrou que não há diferença entre o grupo dos
lesionados e o grupo dos não lesionados, quando comparados em relação à idade de
início nos treinamento, já que em média ambos os grupos começaram com a mesma
idade (treze e dezessete anos) (figura 8). Por este motivo, o teste t não foi significativo [t
= 0,004; g.l.=156; p=0,99].
79
Com lesão Sem lesão10,0
10,5
11,0
11,5
12,0
12,5
13,0
13,5
14,0
14,5
15,0
15,5
16,0
Idad
e de
iníc
io d
o tr
eina
men
to
Média ± ep ± dp
Figura 8 – Idade de início nos treinamentos (± erro padrão e ± desvio padrão) dos atletas entrevistados que apresentaram e que não apresentaram lesão. Fonte: Elaboração da autora, 2008.
Quanto à prevalência de lesões, de acordo com a idade de início nos
treinamentos, os resultados, para essa amostra, não demonstram diferença significativa
entre as faixas etárias estabelecidas41. Percebe-se uma média de lesão, em torno de,
40% em todas as idades. Observando-se a média de lesões, principalmente após os
doze anos, nesta amostra, é possível inferir que a prevalência de lesões não aumenta
caso o atleta inicie o treinamento mais cedo. É, portanto, perceptível um
comportamento irregular de acometimentos segundo a idade de início do treinamento.
A prática de outro esporte além do atletismo, inicialmente, foi entendida
como um fator que poderia aumentar a prevalência de lesões. Podemos assim refletir
sobre duas óticas: o atleta com maior desenvolvimento de habilidades motoras, e o
atleta com maior carga de treinamento. Se, por um lado, um atleta que treina mais de
um esporte desenvolve uma gama de conhecimentos motores que podem auxiliá-lo na
41 As faixas etárias foram definidas segundo intervalos por conveniência a cada três anos.
80
hora de evitar uma lesão, por outro, a carga de treinamento das duas (ou mais)
atividades pode deixá-lo mais vulnerável a lesões causadas pelo desgaste físico. Neste
estudo, os atletas que praticam outro esporte além do atletismo têm uma prevalência
maior de lesões (47,05%) do que o grupo que não pratica (42,55%). Contudo, esta
diferença não é significativa. O teste qui-quadrado mostrou que não existe associação
entre se lesionar e a prática de outros esportes [χ2 = 0,13 g.l.=1; p = 0,72] já que os
atletas que praticam outros esportes se lesionam igualmente aos que praticam somente
o atletismo. Conclui-se, então, que a prática de outro esporte, além do atletismo, não
predispõe o atleta a significativo aumento na prevalência de lesões desportivas.
5.5 ANÁLISE SEGUNDO DESEMPENHO ATLÉTICO
No ranking brasileiro de atletismo da CBAt – Confederação Brasileira de
Atletismo, das categorias de menores (até 17 anos) e juvenil (até 19 anos) encontram-
se figurando 93 catarinenses, nas mais diversas provas. Destes, 77 fazem parte da
amostra investigada neste estudo. Entre estes atletas (ranqueados entre os 20
melhores resultados do Brasil nas categorias) 45 relataram não terem sido acometidos
por lesão. Em contrapartida, os outros 32 relataram pelo menos uma lesão desportiva
no período analisado.
No estudo de Watson e DiMartino (1987), foi notada uma correlação direta
entre o nível de performance do atleta e prevalência de lesões. O nível de performance
dos atletas foi analisado segundo a criação de um ranking de percentil baseado na
melhor performance da temporada do atleta, segundo o evento, o sexo e a idade.
Porém, para os autores referidos, somente é possível hipotetizar que quanto mais os
atletas alcançam a excelência em performance em eventos competitivos, maior a
chance de uma lesão.
A nossa investigação mostra que 41,55% dos atletas ranqueados entre os
vinte melhores do Brasil apresentaram pelo menos uma lesão desportiva no último ano,
(tabela 15), porém, não é possível confirmar a hipótese de que atletas com melhores
81
performances são acometidos por maior número de lesões. O teste qui-quadrado
mostrou que não existe associação entre se lesionar e estar ou não ranqueado [χ2 =
0,13; g.l.=1; p = 0,71].
Tabela 15 – Lesões desportivas segundo o ranqueamento de atletas.
Ranking Atletas ranqueados Atletas não ranqueados Lesões
n Prevalência n Prevalência Total
Com Lesão 32 41,56% 36 44,44% 68 Sem Lesão 45 48,44% 45 55,56% 90
Total 77 100% 81 100% 158 Fonte: Elaboração da autora, 2008.
Partindo da idéia de desempenho esportivo, buscamos, também, analisar a
relação entre ser acometido por LD e ter sido recordista em algum evento competitivo
de atletismo42. Na tabela 16, observa-se que há uma tendência a haver menos
lesionados no grupo de atletas que já foi recordista (70,27% sem lesão quando
comparados aos 52,89% do grupo sem lesão entre os não recordistas). Embora o teste
qui-quadrado não ter sido significativo, observamos que pode ser considerado
marginalmente significativo, já que a probabilidade foi próxima do nível de significância
[χ2 = 3,49 g.l.=1; p = 0,062]. Para nossa surpresa, há indícios de que os atletas
recordistas possam estar fisicamente mais bem preparados, e assim, menos
vulneráveis as LD.
Tabela 16 – Lesões Desportivas segundo os atletas recordistas e não recordistas.
Recordistas Atletas recordistas Atletas não recordistas Lesões N Prevalência n Prevalência
Total
Com Lesão 11 29,73% 57 47,11% 68 Sem Lesão 26 70,27% 64 52,89% 90
Total 77 100% 81 100% 158 Fonte: Elaboração da autora, 2008.
42 Neste item foram considerados os recordes em competições de nível municipal, estadual, nacional e internacional.
82
6 DISCUSSÃO DOS RESUTADOS
Em estudos realizados com o atletismo em atletas da categoria adulta a
prevalência de lesões é geralmente alta, em torno de 60% dos atletas são acometidos
(ORAVA E RURANEN, 1978; MAFFULLI et al., 1996). Outros trabalhos no atletismo,
que avaliaram somente lesões musculares, também apresentam amostras com grande
número de LD, afetando 70% dos atletas entrevistados (BENNELL e CROSSLEY,
1996; LAURINO et al., 2000). Nas pesquisas com crianças e jovens esta prevalência
apresenta-se menor quando comparada aos adultos (WATSON e DiMARTINO, 1978;
ORAVA e SAARELA, 1978; COULON et al., 2001; LANDRY, 1992). Contudo se
comparados atletas jovens praticantes do atletismo e de outros esportes, a prevalência
de lesões é, em muitos casos, maior nos atletistas (BEACHY et al., 1997). Em nossa
investigação a prevalência de lesões foi de 43%. Este resultado apresenta-se maior do
que outros estudos realizados em atletas jovens de atletismo.
No geral estudos mostram que a medida que aumenta a idade dos atletas,
aumenta também a prevalência de lesões desportivas (ROACH e MAFFULLI, 2003;
COULON et al., 2001; D’SOUZA, 1994). No estudo de Coulon et al. (2001), realizado na
Austrália, por exemplo, os atletas mais velhos tiveram mais de quatro LD por
temporada. Em nossa investigação também ficou clara a tendência de aumento da
prevalência de lesões com a idade. Podemos, portanto, inferir que os atletas mais
velhos apresentam maior chance para o acometimento de LD. Conclui-se, assim, a
partir dos resultados apresentados nesta investigação que há necessidade de maiores
cuidados com atletas maiores de dezessete anos praticantes de atletismo no estado, e
que é um fator de risco para LD o incremento da idade. Contudo estudos mais
aprofundados são necessários para compreender melhor os fatores que influenciam a
prevalência de LD aumentar com a idade.
Quanto ao sexo não há na literatura conclusões seguras de que a
prevalência de lesões é significativamente maior quando comparados homens e
mulheres (SPINKS, 2006; BENNELL e CROSSLEY, 1996; COULON et al., 2001). Em
nosso estudo a comparação entre a prevalência de LD de homens e mulheres também
83
não mostrou diferenças significativas. Nesta perspectiva também observamos a
prevalência de lesões maior nas mulheres (apesar de não significativa), e em outros
trabalhos os homens apresentaram maior número de lesões. Portanto, ainda não há
consenso na literatura para a relação sexo e prevalência de lesões.
Para o tratamento das LD, existe a possibilidade de utilização de diversos
métodos, como: médico-hospitalar, fisioterápico, cirúrgico, domiciliar, etc. Na maioria
dos estudos investigados, que tratam deste tema, os métodos fisioterápicos são os
mais empregados normalmente em mais de 50% das LD (MAFFULI et al., 1996;
FEITOZA e MARTINS, 2000; ORAVA e SAARELA, 1978). Em nossa pesquisa, os
métodos fisioterápicos foram também os mais utilizados (83,07% dos casos).
Recomendando, assim, a necessidade de acompanhamento fisioterápico nos clubes de
atletismo para facilitar os tratamentos.
Quanto à região anatômica mais acometida por lesões, os nossos resultados
corroboram com os de outros estudos em atletas da categoria adulto (LAURINO et al.,
2000; FEITOZA e MARTINS, 2000), bem como aos estudos com crianças e jovens
(ZEMPER, 2005; WATSON e DIMARTINO, 1978; COULON et al., 2001). Em nossa
amostra, 84,4% das LD afetaram os membros inferiores. Este índice é semelhante nos
outros estudos com adultos (82%), bem como em jovens (entre 64 e 87%). Os
resultados apresentados nesta etapa podem ser conseqüências do grande número de
atividades explosivas que são realizadas durante as performances em diversos eventos
do atletismo e que comumente utilizam os membros inferiores. Sugere-se maior
atenção a esta região anatômica por parte dos treinadores, principalmente, através de
fortalecimentos musculares.
Ainda, a partir da revisão de literatura, foi possível identificar uma tendência
de que a coxa é a localização anatômica mais acometida por lesões no atletismo. Em
nosso estudo 39,7% das lesões acometeram este local o que é confirmado nos
trabalhos com atletas adultos, onde esse índice varia entre 25% e 40% (PASTRE et al.,
2004; LAURINO et al., 2000; FEITOZA e MARTINS, 2000). Esta musculatura é muito
utilizada em todos os movimentos do atletismo, principalmente nos eventos de corrida,
porém, as provas de saltos e lançamentos/arremesso, também exigem esforços
intensos deste grupo muscular (quadríceps e bíceps femural, principalmente).
84
Na avaliação da prevalência de lesões por provas do atletismo, fica claro que
os eventos de velocidade são os responsáveis pelo maior número de LD, variando
entre 30% e 40% nos estudos em adultos (LAURINO et al., 2000; PASTRE et al., 2004),
e 45% em crianças (WATSON e DIMARTINO, 1978; COULON et al., 2001). As provas
de velocidade exigem esforços intensos que levam as LD musculares na maior parte
das vezes e independem da categoria a que os atletas estão engajados. Observa-se,
então, que praticar provas de velocidade é um fator de risco para atletas jovens de
atletismo desta amostra.
Quanto ao diagnóstico das LD, foi possível identificar em nossa amostra que
54,16% dos casos as afecções foram de ordem muscular. Esta realidade é também
encontrada nos estudos sobre LD em atletas adultos e jovens praticantes de atletismo,
onde as distensões e estiramentos são as mais freqüentes (PASTRE et al., 2004;
FEITOZA e MARTINS, 2000; ZEMPER, 2005). Sugere-se maior atenção aos
treinamentos de fortalecimento muscular, bem como o cuidado com a intensidade dos
esforços realizados, que muitas vezes ultrapassam os limites orgânicos dos atletas e os
leva à LD.
O período específico do ciclo-treinamento foi o momento de maior
prevalência de LD em nosso estudo (45,5% dos casos). Este resultado se aproxima
muito do encontrado por Pastre et al. (2004) onde 55% dos atletas (categoria adulta)
tiveram lesões nesta fase do treinamento. É um momento do treinamento onde o atleta
realiza esforços de maior intensidade e menor volume e busca aprimoramento de
partes específicas dos movimentos. Recomenda-se atenção para o cálculo das cargas
nesta etapa do ciclo-treinamento.
É ainda durante o treinamento que encontramos a maior prevalência de LD,
ou seja, 71,4%, confirmando o fato registrado em outras investigações, tanto em
adultos como em jovens praticantes de atletismo, onde este índice variou de 70% a
98% dos casos (FEITOZA e MARTINS, 2000; ZEMPER, 2005).
85
7 CONCLUSÕES
Esta investigação, sobre as lesões desportivas que acometem atletas jovens
de atletismo, objetivou estabelecer um panorama sobre a prevalência destas afecções,
bem como estabelecer fatores de risco que possam contribuir para o estabelecimento
de estratégias de prevenção. A literatura revisada mostrou diferentes definições para as
LD, assim como diversas formas para classificação das mesmas. Desse modo, este
estudo optou por considerar LD aquelas que acontecem durante o treinamento ou
competição de atletismo que provoquem afastamento temporário da prática esportiva.
Quanto às classificações optamos por utilizar: o tipo e diagnóstico, a região anatômica,
a causa, o mecanismo de ocorrência, o tempo de afastamento da prática, o ambiente, a
fase do ciclo-treinamento, os procedimentos de tratamento e as condições do retorno à
prática esportiva.
A partir do diagnóstico da população investigada foi possível identificar
fatores que, provavelmente, contribuíram positivamente para o controle do número de
lesões desportivas no período investigado. São eles: 1) a maioria da população se
dedica somente ao treinamento do desporto atletismo; 2) no geral o treinamento não
iniciou precocemente; 3) os sujeitos realizam entre quatro e seis períodos de
treinamento semanal; 4) os atletas praticam a modalidade há pouco tempo (entre um e
três anos); e 5) o planejamento e acompanhamento do treinamento são realizados por
profissionais de Educação Física. Em contrapartida, outros fatores podem ter
contribuído para o relativamente alto risco de LD (43 lesões/100 atletas) nesta amostra,
como: 1) o retorno sintomático às atividades após tratamento de lesões; 2) o
treinamento específico para um grupo de provas; 3) a falta de acompanhamento de
outros profissionais no clube; e 4) o grande número de exposições atléticas em
treinamentos e competições no ano.
Entre os 158 atletas entrevistados, 68 afirmaram terem sido acometidos por
LD, sendo 77 o número total de lesões relatadas. O índice de lesões nesta amostra foi
de 0,48 lesões/atleta. No geral, as mulheres apresentaram maior tendência à lesão do
que os homens, dados estes não significativos. Entre os clubes de atletismo do estado
86
a equipe G apresentou a maior taxa de lesões (1 LD/atleta/ano), contudo nesta
instituição somente três atletas eram federados, apresentando uma LD cada um,
durante o período investigado. Os atletas de C apresentaram a segunda maior taxa de
LD, 0,78 LD/atleta/ano, seguida por M (0,68 LD/atleta/ano) e D (0,56 LD/atleta/ano). Do
outro lado, os dois clubes com menor taxa de lesões/atleta foram: N e F, com 0,25
LD/atleta/ano.
Concluímos, a partir dos cálculos de prevalência, que as lesões em atletas
jovens do atletismo catarinense apresentam resultados semelhantes aos encontrados
em estudos sobre LD em populações adultas. Este dado é preocupante e merece ser
mais profundamente investigado em outros estudos.
A classificação das lesões também foi tarefa realizada neste estudo e os
resultados desta identificaram as características das LD nos atletas investigados, sendo
elas na maioria músculo-esqueléticas (distensões e contraturas), que afetam os
membros inferiores (principalmente a coxa). São elas causadas por macrotraumas
intrínsecos que ocorrem durante o treinamento e no período específico do ciclo,
tratadas com métodos fisioterápicos e com retorno ainda sintomático dos atletas às
atividades esportivas.
Quanto aos grupos de provas, ficou evidente que os atletas que treinam
para os eventos de velocidade e combinados são os que apresentam maior prevalência
de LD (56,41% e 100%, respectivamente); contudo, o número de atletas que praticam
provas combinadas, em nossa amostra, foi muito pequeno (dois atletas), merecendo
assim outros estudos com maior número de participantes para confirmar essa
tendência. Ainda assim, inspirado pela literatura sobre LD, investigou-se a relação entre
ter sido lesionado ou não e a prática de provas de velocidade. Neste ponto, identificou-
se que os atletas velocistas se lesionam proporcionalmente mais do que os outros
atletas agrupados. Na análise por grupo de provas não houve associação entre o grupo
de atletas que treina para mais de um evento atlético e os que se dedicam ao
treinamento específico de um conjunto de provas. Apesar disso, sugere-se que os
atletas que participam de treinamentos em mais de um grupo de provas se lesionam
menos.
87
Uma tendência confirmada, a partir dos resultados desta pesquisa, é a de
que quanto mais velhos os atletas, maior a prevalência de lesões, ou seja, os atletas
que apresentaram LD são significativamente mais velhos dos que não apresentaram
afecções. Por outro lado, não foi identificada diferença na prevalência de lesões quando
comparamos homens e mulheres, confirmando assim a tendência de que as taxas de
lesões não são influenciadas pelo sexo dos atletas.
Com relação aos aspectos do treinamento e a prevalência de lesões,
observou-se não existir relação entre ter lesões e: número de períodos de treinamento
semanal, número de participação em eventos de competição, preparação e
acompanhamento do treinamento, anos de treinamento na modalidade, idade de início
do treinamento, prática de outro esporte e participação no ranking da CBAt. Somente
foram identificadas comparações marginalmente significativas em relação a atletas
menos acometidos por LD e clubes com acompanhamento de outros profissionais e
atletas recordistas.
Ao final desta investigação, podemos afirmar que o incremento da idade e a
prática de provas de velocidade são os dois fatores de risco para esta população de
atletas jovens de atletismo. Podemos ainda afirmar, mesmo que necessite de mais
estudos para sua comprovação, que um acompanhamento multidisciplinar pode
diminuir as taxas de lesões desportivas, bem como os atletas recordistas podem ser os
menos lesionados por, supostamente, estarem mais preparados para as atividades
esportivas exercidas.
88
8 SUGESTÕES E RECOMENDAÇÕES
• Criar banco de dados estadual de lesões em treinamento e competição regulares
que possa ser utilizado para pesquisas.
• Disponibilizar nos hospitais e instituições esportivas um cadastramento de
atendimentos emergenciais relacionados a lesões desportivas, criando um banco
de dados.
• Criar fóruns para discussão sobre os riscos da prática do atletismo que pudesse
criar diretrizes para prevenção como ajustes nas regras e utilização obrigatória
de equipamentos de segurança.
• Qualificar os profissionais que atuam imediatamente junto aos atletas quando
estes são acometidos por LD. No caso do atletismo de Santa Catarina, os
treinadores e fisioterapeutas das equipes atléticas, os árbitros da Federação
Catarinense de Atletismo, bem como o serviço de atendimento de urgência
disponível nas instalações esportivas durante competições (geralmente
realizados por auxiliares/técnicos de enfermagem ou enfermeiros) que poderiam
passar anualmente por um curso de formação em atendimento de urgência no
esporte. Esta medida melhoraria o atendimento à lesão, identificação, tratamento
e encaminhamento dos atletas a atendimento especializado, podendo minimizar
os efeitos da lesão.
• Utilização de exames de pré-participação esportiva obrigatória para qualquer
criança ou adolescente que queira iniciar um treinamento em qualquer
modalidade esportiva. Este poderia ser exigido como critério primordial e
inevitável para todos os atletas que quisessem se afiliar a uma federação
esportiva.
89
8.1 SUGESTÕES PARA NOVOS ESTUDOS
• O tempo de afastamento das lesões poderia ser contado em dias de
afastamento, sem a utilização de intervalos de categorização. Este método
poderia estimar a média de dias de afastamento de cada lesão.
• Investigar mais precisamente a época em que acontecem as lesões. O estudo de
Stevenson (2000) encontrou o maior número de LD no início da temporada, mais
precisamente nas 4 primeiras semanas de treinamento. Este dado poderá
auxiliar na prevenção das LD, principalmente alertando para os cuidados com o
treinamento após um período de recesso. Contudo, no atletismo poderá ser difícil
estabelecer o início da temporada já que os eventos (provas) têm períodos
diferentes de competições durante o ano, o que causa modificações importantes
na intensidade dos treinamentos e épocas diversas para o ápice anual.
• Entrevistar os atletas logo após o evento da lesão e investigar mais a fundo toda
a situação de ocorrência da LD, entendendo, como por exemplo, os sentimentos
do atleta no momento da lesão, a propiocepção, etc.
• Investigar também atividades esportivas praticadas por escolares e também
aquelas consideradas recreacionais. Tais dados são considerados escassos na
literatura.
• Utilizar questões sobre estado de saúde do atleta no momento em que a lesão
ocorreu, bem como questionários comportamentais e de estado psicológico
durante a afecção, parecem ser temas importantes em investigações futuras.
Muitas vezes um atleta que acabou de se curar de um resfriado pode estar mais
suscetível a LD. Além disso, atletas com perfis mais competitivos, ou aqueles
que apresentam alto grau de ansiedade antes de competições, podem, também,
ser mais acometidos por lesões.
• Ao final deste trabalho, concordando com Gantus e Assumpção (2002) há
necessidade de estudos subseqüentes que incluam avaliação física, postural,
antropométrica, força, flexibilidade, somatotipo, etc., para que se criem
90
protocolos de prevenção mais específicos, e, até mesmo para a mais precisa
identificação das lesões.
91
9 LIMITAÇÕES DO ESTUDO
• É importante destacar, ao final desta pesquisa, que os estudos
retrospectivos e auto-referidos, como é o nosso caso, podem apresentar
problemas relacionados à acurácia dos dados coletados, já que muitas
vezes os atletas entrevistados podem esquecer de relatar alguma lesão
ou não lembrar exatamente algum dado importante. Apesar disso, esta
metodologia é aplicada em diversos trabalhos, pois facilita a investigação,
já que acompanhar as equipes esportivas durante suas temporadas
competitivas, além de ter alto custo, demanda muito tempo de dedicação
do pesquisador.
• A perda dos dados referentes às horas de treinamento semanal dos
atletas é outra limitação importante da pesquisa. Apesar da confirmação
de 36 questionários, não é possível a extrapolação destes dados para
toda a população. Portanto, as taxas de incidência/risco de lesões por
horas de treinamento, muito comuns na literatura, não se tornaram viáveis
neste estudo.
• As lesões recorrentes foram tratadas como novas afecções. Não foi
identificado se a lesão era recorrente de outros tempos (fora do período
da pesquisa), não permitindo assim a análise de recorrência de lesões.
92
REFERÊNCIAS
BARROS, M.V.G. de; REIS, R.S. Análise de dados em atividade física e saúde: demonstrando a utilização do SPSS. Londrina: Midiograf, 2003. BEACHY, G. et al. High School Sports Injuries. A Longitudinal Study At Punahou School: 1988 to 1996. American Journal of Sports Medicine. v. 25, n.5 675-681, 1997. BENNELL, K. L. ; CROSSLEY, K. Musculoskeletal injuries in track and field: incidence, distribution and risk ractors. Aust J Sci Med Sport. v.28, n.3, 69-75, Sep.1996. BOISSEAU, N. e DELAMARCHE, P. Metabolic and Hormonal Responses to Exercise in Children and Adolescents. Sport Med. v.30, n.6, p. 405-422, Dec. 2000. BROOKS, J.H.; FULLER, C.W. The influence of methodological issues on the results and conclusions from epidemiological studies of sports injuries: illustrative examples. Sports Med. v.36, n.6, p. 459-72, 2006. BOSI, M.L.M. e OLIVEIRA, F.P. de. Comportamentos bulímicos em atletas adolescentes corredoras de fundo. Rev Bras Psiquiatr. v.26, n.1, p. 32-42, 2004. BROWN & BENCHMARK. Unit 2. Epidemiology of Athletic Injuries. In: McKEAG, D.B.; HOUGH, D.O. Primary Care Sports Medicine. Disponível em: <www.exra.org/Epidem1.htm>. Acesso em: 10 Dez. 2007. CARAZZATO, J.G.; CABRITA, H.; CASTROPIL, W. Repercussão no aparelho locomotor da prática do judô de alto nível. Rev Bras Ortop. v.31, n.12, Dez. 1996. COCHRAN, D. Injury rates for young athletes going up, doctors say. Gazette Staff. Disponível em: <www.billingsgazette.net/articles/2007/11/18/news/local/20-injury.txt>. Acesso em: 15 de Nov. 2007. COHEN, M. ; ABDALLA, R.J. Lesões nos esportes: diagnóstico, prevenção, tratamento. Rio de Janeiro: Revinter, 2003.
93
COHEN, M.; ABDALLA, R.J.; EJNISMAN, B.; AMARO, J.T. Lesões ortopédicas no futebol. Rev Bras Ortop. v.32, n.12, 48-58, Dez. 1997. CONFEDERAÇÃO BRASILEIRA DE ATLETISMO. Regras Oficiais de Competição. 2006-2007. São Paulo: Phorte, 2006. COULON, L. et al. A profile os little athletes’ injuries and the prevention methods used. Journal of Science and Medicine in Sport. v.4, n.1, p.48-58, 2001. D’SOUZA, D. Track and field athletics injuries a one-year survey. Br J Sports Med. v.28, n.3, p.197-202, Sep.1994. EJNISMAN, B.; ANDREOLI, C.V.; CARRERA, E.F.; ABDALLA, R.J.; COHEN, M. Lesões músculo-esqueléticas no ombro do atleta: mecanismo de lesão, diagnóstico e retorno à prática esportiva. Rev Bras Ortop. v.36, n.10, Out. 2001. FEITOZA, J. E.; MARTINS Jr, J. Lesões desportivas decorrentes da prática do atletismo. Revista da Educação Física/UEM Maringá. v.11, n.1, p.139-47, 2000. FREDERICSON, M. et al. Stress fractures in athletes. Top Magn Reson Imaging. v.17, n.5, p. 309-25, Oct. 2006. GANTUS, M.C.; ASSUMPÇÃO, J.D’A. Epidemiologia das lesões do sistema locomotor em atletas de basquetebol. Acta Fisiátrica. v.9, n.2, p.77-84, 2002. GRISOGNO, V. Lesões no esporte. [Tradução de Álvaro Cabral] São Paulo: Martins Fontes, 1989. HELMS, P.J. Sports injuries in children: should we be concerned? Archives of Disease in Childhood. v.77, p.191-163, 1997. HILLMAN, S.K. Avaliação, Prevenção e Tratamento Imediato das Lesões Desportivas. 1ª. Ed. São Paulo: Manole, 2002. KOVAN, J.R. Exame físico antes da participação. In: SAFRAN, M.R.; McKEAG, D.B.; VAN CAMP, S.P. Manual de Medicina Esportiva. 1ª ed. São Paulo: Manole, 2002.
94
LANDRY, G.L. Sports Injuries in Childhood. Pediatric Annals. v. 21, n.3, 165-168, Mar. 1992. LASMAR, N. P. ; CAMANHO, G. L. ; LASMAR, R. C. P. Medicina do Esporte. Rio de Janeiro: Revinter. 2002. LAURINO, C.F.de S.; LOPES, A.D.; MANO, K. da S.; COHEN, M.; ABDALLA, R. J. Lesões músculo-esqueléticas no atletismo. Rev Bras Ortop. v.35, n.9, p.364-368, Set. 2000. LUCKSTEAD, E.F.; PATEL, D.R. Catastrophic pediatric sports injuries. Pediatr Clin N Am. v.49, p.581-591, 2002. MAFFULLI, N. et al. Paediatrics sports injuries in Hong Kong: a seven year survey. Br J Sports Med. v.30, n.3, p. 218-21. Sep. 1996. MENESES, L. J. S. de. O esporte ... suas lesões. Rio de Janeiro: Palestra edições desportivas, 1983. MICHELI, L.J. Sports injuries in children and adolescents. Questions and controversies. Clinics in Sports Medicine. v.14, n. 3. Jul. 1995. MOREIRA, P.; GENTIL, D. e OLIVEIRA, C de. Prevalência de lesões na temporada 2002 da Seleção Brasileira de Basquete. Rev Bras Med Esporte. v.9, n.5, Set/Out. 2003. MUELLER, F.O.;CANTU, R.C. National Center for Catastrophic Sport Injury Research Data Tables: Twenty-fourth Annual Report Fall 1982-Spring 2006. Disponível em: <www.unc.edu/depts/nccsi/>. Acesso em: 19 Dez. 2007. NATIONAL ATHLETIC TRAINER’S ASSOCIATION – NATA. Disponível em: <www.bocatc.org/index.php?option=com_content&task=view&id=100&Itemid=105>. NATIONAL CENTER FOR CATASTROPHIC SPORT INJURY RESEARCH – NCCSI. Disponível em: <www.unc.edu/depts/nccsi/>.
95
NATTIV, A. Stress fractures and bone health in track and field athletes. Journal of Science and Medicine in Sport. v.3, n.3, p. 268-279, 2000. ORAVA, S. e PURANEN, J. Exertion Injuries in Adolescent Athletes. Brit. J. Sports Med. v.12, n.1, p.4-10. Mar.1978. ORAVA, S.; SAARELA, J. Exertion injuries to young athletes: a follow-up research of orthopaedic problems of young track and field athletes. American Journal of Sports Medicine. v.6, n.2, p.68-74, Mar/Apr. 1978. PASTRE, C. M. et al. Lesões desportivas na elite do atletismo brasileiro: estudo a partir de morbidade referida. Rev Bras Med Esporte. v.11, n.1, Jan/Fev. 2005. PASTRE, C. M. et al. Lesões desportivas no atletismo: comparação entre informações obtidas em prontuários e inquéritos de morbidade referida. Rev Bras Med Esporte. Vol. 10, n. 1, Jan/Fev. 2004. PETERSON, L. ; RENSTRÖM, P. Lesões do Esporte: prevenção e tratamento. São Paulo: Manole, 2002. PETRI, F.C.; RODRIGUES, R.C.; COHEN, M.; ABDALLA, R.J. Lesões músculo-esqueléticas relacionadas com a prática do tênis de mesa. Rev. Bras. Ortop. v.37, n.8, p.358-361, Ago. 2002. PITANGA, F.J.G. Epidemiologia, atividade física e saúde. Revista bras. Ci. Mov. Brasília. v.10, n.3, p.49-54, Jul. 2002. RIBEIRO, C.Z.P.; AKASHI, P.M.H.; SACCO, I.de C. N. e PEDRINELLI, A. Relação entre alterações posturais e lesões do aparelho locomotor em atletas de futebol de salão. Rev Bras Med Esporte. v.9, n.2, Mar/Abr. 2003. RISE, S. Risks of injury during sports participation. Care of the Young Athlete. p.12. 2000. ROACH, R.; MAFFULLI,N. Childhood injuries in sport. Physical Therapy in Sport. v.4, p.58-66. 2003.
96
SIEGEL, D. The effects of Physical Activity on the Health and Well-Being of Youths. Journal of Pediatrics. v.77, n.1, Jan. 2006. SILVA, R.T.da; COHEN, M.; MATSUMOTO, M.H.; GRACITELLI, G.C. Avaliação das lesões ortopédicas em tenistas amadores competitivos. Rev Bras Ortop. v.4, n.5, Mai. 2005. SIMON, T.D. ; BUBLITZ, C. ; HAMBIDGE, S.J. Emergency department visits among pediatric patients for sports-related injury: Basic epidemiology and impact of race/ethnicity and insurance status. Pediatric Emergency Care. v.22, n.5, p. 309-315, 2006. SIMONI, C.R.; TEXEIRA, W.M. Especialização precoce: quem são os atletas que figuram entre os dez primeiros do ranking adulto no atletismo brasileiro? Fiep Bulletin. v.77, Special Edition, p.29, Jan. 2007. SPINKS, A.B. et al. Quantifying the association between physical activity and injury in primary school-aged children. Pediatrics. v.118, n.1, 43-50, Jul. 2006. STARKEY, C. ; RYAN, J. Avaliação de lesões ortopédicas e esportivas. São Paulo: Manole, 2003. STEVENSON, M.R. et al. Sport, age, and sex specific incidence of sports injuries in Western Australia. Britsh Journal Sports Medicine. v.34, p.188-194, 2000. STRONG. W.B. et al. Evidence based physical activity for school-age youth. Journal of Pediatrics. p.732-46, Jun. 2005. TORRES, S.F. Perfil epidemiológico de lesões no esporte. Florianópolis, 2004. Dissertação de mestrado em Engenharia de Produção. UFSC. WATSON, M.D. ; DiMARTINO, P.P. Incidence of injuires in high school track and field athletes and its relation to performance ability. Am J Sports Med. v.15, n.3, p.251-4, May/Jun.1987. WEINECK, J. Biologia do esporte. São Paulo: Manole, 2000.
97
WEISE, K. Injuries in track and field sports. Langernbecks Arch Chir Suppl Kongressbd. p. 456-9, 1991. WILLIAMS, C. Physiological changes of the young athlete and the effects on sports performance. Disponível em: <www.sportex.net>. Acesso em: 3 Maio 2007. ZEMPER, E.D. Track and field injuries. Medicine and sport science. v.48. p.138-151. 2005. ZITO, M. Capítulo 25. Lesões músculo-esqueléticas em jovens atletas: as novas tendências. In: GOULD, J.A. Fisioterapia na ortopedia e na medicina do esporte. [Tradução: Alfredo Jorge Cherem] 2ª ed. São Paulo: Manole, 1993.
98
APÊNDICES
99
APÊNDICE A - entrevista da pesquisa.
UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA CENTRO DE DESPORTOS – CDS
CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO FÍSICA EM NÍVEL DE MESTRADO
Pesquisa: LESÕES DESPORTIVAS EM ATLETAS JOVENS FEDERADOS NA
MODALIDADE DE ATLETISMO NO ESTADO DE SANTA CATARINA Responsável: Profa. Mestranda Clarissa Rios Simoni
ETAPA “A”: Caracterização da Amostra Nome: ________________________________________________________________________________ Clube/Cidade/UF: _______________________________________________________________________
Sexo: M F Idade: __________ Data de nascimento: _____________________________ Massa Corporal (kg): ___________ Menarca: ______/_____/__________ Estatura(m): ____________ Trabalha/estuda: ____________________________ Onde? ___________________________________ 1. Você realiza treinamento de alguma outra modalidade? [ ] Sim [ ] Não Qual? __________________ 2. Marque com um “x” a(s) modalidade(s)/prova(s) do atletismo que você pratica?
Corridas Rasas
Corridas com
barreiras
Corridas com obstáculos
Corridas de revezamento
Marcha Atlética
Lançamentos e Arremesso Saltos Provas
Combinadas
100 m 100 m 2000 m 4x100 m 5000 m Peso Altura Heptatlo 200 m 110 m 3000 m 4x400 m 10000 m Disco Vara Octatlo 400 m 400 m Martelo Distância Decatlo 800 m Dardo Triplo 1500 m 3000 m 5000 m 10000 m
3. (Referente à pergunta 2) - Qual é o seu melhor resultado em cada uma das provas praticadas? 4. (Referente à pergunta 3) – Você foi recordista? Sim [ ] Quando (ano): ______________________ [ ] Estadual [ ] Nacional [ ] Outro _________________________ Não [ ] 5. Há quanto tempo você treina (em anos e meses) atletismo: _________________________________ 6. Com qual idade você iniciou o treinamento em atletismo? ___________________
100
7. Quantos períodos/vezes por semana você treina? (Marque com um “x” nos quadros que representam os períodos de treinamento durante a semana) Segunda Terça Quarta Quinta Sexta Sábado Domingo Manhã Tarde Noite 8. Qual é a quantidade (em horas) de treinamento semanal? (Coloque nos quadros abaixo o número de horas de treinamento em cada dia e período da semana) Segunda Terça Quarta Quinta Sexta Sábado Domingo Manhã Tarde Noite 9. Por quem é preparado o treinamento?
10. Durante o seu treinamento seu técnico lhe acompanha:
11. Existe algum acompanhamento por outros profissionais no seu Clube? Sim Quem são os profissionais? Não 12. Quantas competições você participou de agosto de 2006 a agosto de 2007 (Nacionais / Estaduais / Internacionais? _________________________________________________________________________________ Quais? _______________________________________________________________________________________ 13. Você foi acometido por algum tipo de lesão desportiva desde agosto do ano de 2006 até agosto de 2007, que o tenha afastado do treinamento por pelo menos sete dias? Sim Não Prossiga se a resposta anterior for positiva.
Professor de Educação Física Técnico sem formação superior Próprio Atleta Outro Atleta Outras pessoas - Quem?
Todos os treinos Parte do treino Não é acompanhado
101
CONTINUAR A ENTREVISTA PARA OS ATLETAS QUE TIVEREM SIDO ACOMETIDOS POR LESÃO (esta parte deve ser preenchida para cada uma das lesões relatadas)
ETAPA “B”: Descrição da lesão. Tipo de Lesão: Anexo 1: Para uso do pesquisador - Estudo de Pós-doutorado da professora Márcia Kroeff, intitulado LESÕES NA INICIAÇÃO AO FUTEBOL: Estudo dos alunos das escolinhas de Florianópolis, SC.
(1) macrotrauma –por grandes forças (2) microtrauma – uso excessivo (00) Não se aplica (77) Não quis responder (88) Não sabe informar
1. Identificação da(s) causa(s) da última lesão:
(99) Não lembra (1) lacerações (cortes) (2) bolhas (3) abrasões (ralados) (4) calosidade (00) não se aplica
2. Identificação tipo - Lesão tegumentar
(55) identificação impossível (1) contusões (2) estiramento (3) distensão (4) ruptura muscular (de 1º , 2º e 3º graus) (5) tendinite (6) fasceíte plantar (7) bursite (8) luxação e subluxação (9) contratura (10) outra (00) não se aplica
3. Identificação tipo - Lesão músculo- tendínea
(55) identificação impossível (1) entorses (de 1º , 2º e 3º graus) (00) não se aplica
4. Identificação tipo – Lesão ligamentar
(55) identificação impossível (1) ruptura meniscal (2) fratura por trauma (3) fratura por estresse (4) desordens patelo-femuais (síndrome do mau-alinhamento) (5) osteocondrite (6) espondilólise (7) outra_______________________ (00) não se aplica
5. Identificação tipo – Lesão osteoarticular
(55) identificação impossível ( ) (00) não se aplica
6. Identificação tipo – Lesão bucofacial (anotar a resposta diretamente na coluna da direita)
(55) identificação impossível ( ) (00) não se aplica
7. Identificação tipo - Lesão ocular (anotar a resposta diretamente na coluna da direita)
(55) identificação impossível
102
Mecanismo da lesão: (COHEN, 1997; WHO, 2007) [ ] intrínseca (ocorreu por causa interna) [ ] extrínseca (ocorreu por fatores externos, como contato físico com outro atleta ou por problemas com equipamentos) Classificação – tempo de afastamento: (COHEN, 1997) [ ] leve (0-7 dias) [ ] moderado (8-30 dias) [ ] grave (>31 dias) Região Anatômica: (marcar na figura e colocar o nome da região)
Ambiente: [ ] treinamento [ ] competição Período do treinamento: [ ] base[ ] específico[ ] competitivo[ ] transição Procedimentos de tratamento da lesão: [ ] domiciliar [ ] fisioterápico [ ] médico/hospitalar [ ] cirúrgico [ ] outros _________________________ (caso tenha sido tratado por médico/hospitalar, perguntar sobre o diagnóstico da lesão) ______________________________________________________________________________________ Retorno à prática esportiva: [ ] sintomático [ ] assintomático
103
APÊNDICE B - Programa Deplhi criado para coleta de dados43
43
Direitos reservados à Kendji Iura, projetista.
104
105
APÊNDICE C – Termo de consentimento livre e esclarecido.
TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO
Pesquisa Intitulada: LESÕES DESPORTIVAS EM ATLETAS JOVENS FEDERADOS A MODALIDADE DE ATLETISMO NO ESTADO DE SANTA CATARINA
Integramos um grupo de pesquisa constituído de mestrandos, doutorandos e
professores do curso de Educação Física, do Centro de Desportos da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). No momento estamos nos dedicando a estudar o visível problema das lesões esportivas. Esta pesquisa faz parte do projeto de dissertação de mestrado que está sendo construído pela mestranda Clarissa Rios Simoni, ingressante no Programa de Pós-graduação em nível de Mestrado da UFSC.
O objetivo principal deste estudo é verificar a prevalência de lesões desportivas em atletas jovens (entre 15 e 18 anos) federados na modalidade de Atletismo, no estado de Santa Catarina, referidas no último ano (setembro de 2006 a setembro de 2007).
Após uma extensiva revisão da literatura foi possível identificar poucos estudos sobre lesões desportivas em crianças e adolescentes praticantes de Atletismo e, no Brasil, não foi encontrado estudo algum sobre este tema, nesta perspectiva. A preocupação que surge aqui perpassa pela influência destas afecções no pleno desenvolvimento e crescimento de crianças e adolescentes. A escassez de informações sobre este tema, em atletas jovens gera nossa preocupação maior, por acreditarmos que é de suma importância a investigação sobre lesões desportivas nesta etapa da vida. Este trabalho auxiliará a compreensão dos fatores de risco da modalidade de atletismo, bem como contribuirá para o estabelecimento de estratégias de prevenção.
Esta pesquisa não fornece risco aos participantes já que se trata somente de responder a um questionário, um procedimento corriqueiro e simples.
Os participantes poderão passar a observar melhor os riscos de lesões que acontecem no esporte que praticam, bem como junto aos seus técnicos, estabelecer normas de segurança e estratégias de prevenção. Além disso, os resultados desta pesquisa servirão de base para a população em geral ficar alerta para os cuidados com o treinamento para jovens que estão em processo de desenvolvimento. Proporcionará assim que mais cuidados sejam observados com o pleno crescimento dos jovens atletas, protegendo-os de infortúnios graves que possam vir a prejudicar a sua saúde.
Espera-se que, com estes resultados, seja possível contribuir com os profissionais da área da saúde, principalmente com os professores de Educação Física, nos cuidados com o atleta, buscando, principalmente, a prevenção das lesões esportivas.
Esta pesquisa não tem patrocínio, sendo de inteira responsabilidade das pesquisadoras o pleno desenvolvimento da mesma.
Qualquer dúvida que houver antes ou durante a pesquisa serão sanadas pelas pesquisadoras, via reuniões agendadas nos clubes ou por telefone e e-mail. Além disso, a qualquer momento da pesquisa os sujeitos têm total liberdade para recusar-se a continuar no estudo, não havendo qualquer penalização.
106
Informamos que os resultados serão mantidos em sigilo, não sendo possível identificar nenhum dos participantes após o agrupamento por sexo, faixa etária e modalidade de prática, servindo apenas para a pesquisa, mantendo-se o anonimato das pessoas participantes mesmo após o término da pesquisa.
Estamos ao seu dispor para quaisquer esclarecimentos pelo telefone: 48-99484829 – Clarissa e 48-91159925 - Fátima. Ou pelos e-mails: [email protected] e [email protected].
Na certeza de poder contar com seu apoio, desde já agradecemos antecipadamente.
Cordialmente,
Prof. ª Mestranda Clarissa Rios Simoni e Prof.ª Dr.ª Maria de Fátima da Silva Duarte
(Coordenadoras da Pesquisa)
AUTORIZAÇÃO Autorizo os atletas (em anexo nomeados) do clube: ________________________ _____________________________________ a participar da Pesquisa “LESÕES DESPORTIVAS EM ATLETAS JOVENS FEDERADOS A MODALIDADE DE ATLETISMO NO ESTADO DE SANTA CATARINA”, estando ciente dos procedimentos, objetivos e relevância do referido estudo. Florianópolis, _______________ de 2007. _________________________________ Assinatura do Responsável Nome e função
107
ANEXOS
108
ANEXO 1 – Parecer Comitê de Ética e pesquisa com seres humanos.
Livros Grátis( http://www.livrosgratis.com.br )
Milhares de Livros para Download: Baixar livros de AdministraçãoBaixar livros de AgronomiaBaixar livros de ArquiteturaBaixar livros de ArtesBaixar livros de AstronomiaBaixar livros de Biologia GeralBaixar livros de Ciência da ComputaçãoBaixar livros de Ciência da InformaçãoBaixar livros de Ciência PolíticaBaixar livros de Ciências da SaúdeBaixar livros de ComunicaçãoBaixar livros do Conselho Nacional de Educação - CNEBaixar livros de Defesa civilBaixar livros de DireitoBaixar livros de Direitos humanosBaixar livros de EconomiaBaixar livros de Economia DomésticaBaixar livros de EducaçãoBaixar livros de Educação - TrânsitoBaixar livros de Educação FísicaBaixar livros de Engenharia AeroespacialBaixar livros de FarmáciaBaixar livros de FilosofiaBaixar livros de FísicaBaixar livros de GeociênciasBaixar livros de GeografiaBaixar livros de HistóriaBaixar livros de Línguas
Baixar livros de LiteraturaBaixar livros de Literatura de CordelBaixar livros de Literatura InfantilBaixar livros de MatemáticaBaixar livros de MedicinaBaixar livros de Medicina VeterináriaBaixar livros de Meio AmbienteBaixar livros de MeteorologiaBaixar Monografias e TCCBaixar livros MultidisciplinarBaixar livros de MúsicaBaixar livros de PsicologiaBaixar livros de QuímicaBaixar livros de Saúde ColetivaBaixar livros de Serviço SocialBaixar livros de SociologiaBaixar livros de TeologiaBaixar livros de TrabalhoBaixar livros de Turismo