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UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ENGENHARIA DE PRODUÇÃO
Gerenciamento de riscos de incêndio em espaços urbanos históricos: uma avaliação com enfoque na percepção do usuário.
DISSERTAÇÃO SUBMETIDA À UFPE
PARA OBTENÇÃO DE GRAU DE MESTRE
POR
ANDREZA CARLA PROCORO SILVA
Orientadora: Profa. Dayse Cavalcanti de Lemos Duarte, Ph.D.
RECIFE, DEZEMBRO / 2003.
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UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ENGENHARIA DE PRODUÇÃO
PARECER DA COMISSÃO EXAMINADORA
DE DEFESA DE DISSERTAÇÃO DE MESTRADO DE
ANDREZA CARLA PROCORO SILVA
“Gerenciamento de riscos de incêndios em espaços urbanos históricos: uma avaliação com enfoque na percepção do usuário”.
ÁREA DE CONCENTRAÇÃO: PESQUISA OPERACIONAL
A comissão examinadora composta pelos professores abaixo, sob a presidência do primeiro, considera o candidato ANDREZA CARLA PROCORO SILVA _APROVADA___________________ . Recife, 22 de Dezembro de 2003.
___________________________________________________ Profa. DAYSE CAVALCANTI DE LEMOS DUARTE, Ph.D. (UFPE).
___________________________________________________ Profª. VILMA VILLAROUCO, DOUTORA. (UFPE).
___________________________________________________ Prof. JOSÉ JÉFERSON, Ph.D. (UFPE).
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iii .
PÁGINA DEDICATÓRIA
Gostaria de dedicar este trabalho a algumas pessoas especiais em minha vida.
Ao meu pai (in memória) grande incentivador das minhas aspirações pessoais e
profissionais cujo amor me deu forças para prosseguir com este trabalho, mesmo quando a dor
pela sua partida, mesmo que momentânea, se fez maior. A você, meu pai, dediquei todos os
dias na busca pela realização deste trabalho, o qual, tenho certeza, lhe deixará orgulhoso onde
estiveres.
À minha mãe pelo exemplo de amor, espírito de luz em minha vida cuja compreensão e
apoio me encorajam a não desistir de meus sonhos.
A Eduardo, Leonardo e Gilson por estarem sempre presentes. Obrigada pelo carinho e
apoio.
A vocês, todo o meu amor!
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iv .
AGRADECIMENTOS
Agradeço a Deus pelo dom da vida e por tudo que ele tem me proporcionado.
À Dra. Dayse Duarte, por ter me aceito como sua orientanda, por acreditar em meu
potencial e respeitar as minhas limitações. Agradeço, sobretudo, pelo carinho e
atenção no desenvolvimento desta dissertação de mestrado.
À minha família, por todo o apoio.
Aos colegas de trabalho do RISCTEC.
À Andréa Tenório pelo carinho e bom humor, sempre presentes.
Aos colegas e amigos do mestrado, pelo convívio sadio.
A todos os professores e funcionários do PPGEP.
À Ivanir Arruda por toda atenção dispensada.
Ao Doutor Mauricio Rocha, por ter despertado em mim o interesse em ingressar na
vida acadêmica e por acreditar em meu potencial.
Aos Doutores Vilma Villarouco e José Jéferson por fazerem parte da banca
examinadora da presente dissertação.
À UFPE e ao Programa de Pós - Graduação em Engenharia de Produção pela
oportunidade de aprendizado.
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v .
RESUMO
Em todo o mundo a preocupação com a preservação do patrimônio histórico é evidente,
visto que surge como uma opção para o turismo cultural, dinamizando a economia, gerando
novos negócios, em áreas históricas ociosas e agregando novos valores.
Os Centros Históricos em todo o mundo que passaram por processos de Revitalização,
tiveram suas edificações adaptadas para comportar novos usos, necessários para promover a
dinamização social e econômica destas áreas. Com os novos usos, materiais de acabamentos,
sistemas construtivos e equipamentos associados ao desenvolvimento das atividades,
introduziram-se riscos de incêndio que anteriormente não existiam nas edificações surgindo
então a necessidade de gerenciá-los.
Neste quadro se insere a preocupação com a segurança contra incêndio no Bairro do
Recife dada a sua importância cultural, visto que resume em seu perímetro mais de quatro
séculos de formação de uma cidade, além de sua importância para a economia do Estado de
Pernambuco na geração de novos negócios.
O presente trabalho apresenta um mapeamento da percepção do risco de incêndios e seus
impactos associados pelos usuários do Bairro do Recife. A percepção do risco de incêndios e
o comportamento de resposta humano em incêndios são analisados numa visão de
desempenho.
Esta abordagem sobre a segurança contra incêndios em Espaços Urbanos Históricos
objetiva facilitar o entendimento dos riscos implícitos nestas áreas apresentando uma
metodologia para o gerenciamento de riscos de incêndios em Espaços Urbanos Históricos.
Palavras-chave: Percepção do risco de incêndio, códigos baseados no desempenho,
segurança contra incêndio em espaços urbanos históricos.
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vi .
ABSTRACT
All over the world the concern with the preservation of the historical patrimony is
evident seen that appears as an option for the tourism cultural warming the economy,
generating new businesses in idle historical areas and joining new values.
The Historical Centers all over the world that went by processes of Revitalization, had
their constructions adapted to hold new uses, necessary to promote the social and economical
heating of these areas. With the new uses, materials of finishes, constructive systems and
equipments associated to the development of the activities, fire risks were introduced that
previously didn't exist in the constructions appearing the need to manage them then.
In this situation, interferes the concern with the safety against fire in the Neighborhood
of Recife given the cultural importance, because it summarizes in this perimeter more than
four centuries of formation of a city besides of the importance for the economy of the State of
Pernambuco in the generation of new businesses.
The present work presents a register of the perception to the risk of fires and the impacts
associated by the users of the Neighborhood of Recife. The perception to the risk of fires and
the human answer behavior in fires are analyzed in a performance vision.
This approach on the fire safety in Historical Urban Spaces, objectify to facilitate the
understanding of the implicit risks in these areas presenting a model for the management risks
of fires in Historical Urban Spaces.
Key words: Perception of the fire risk, performance based codes, fire safety in historical urban
spaces.
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vii .
SUMÁRIO
PÁGINA DEDICATÓRIA.......................................................................................... iii AGRADECIMENTOS................................................................................................ iv RESUMO..................................................................................................................... v ABSTRACT.................................................................................................................. vi LISTA DE FIGURAS................................................................................................. x
LISTA DE TABELAS................................................................................................. xiii
1.INTRODUÇÃO........................................................................................................ 1
2.OBJETIVO............................................................................................................... 4
3.METODOLOGIA..................................................................................................... 5
4. REFERENCIAL TEÓRICO.................................................................................... 8
4.1 Comportamento dos incêndios em ambientes fechados........................................ 8
4.1.1 Etapas de desenvolvimento do incêndio....................................................... 15
4.1.2 Fatores que influenciam o potencial de crescimento de um incêndio.......... 21
4.2 Códigos de segurança contra incêndio.................................................................. 31
4.2.1 Código de segurança contra incêndio prescritivo......................................... 31
4.2.2 Código de segurança contra incêndio baseado no desempenho................... 32
4.2.2.1 Experiência de alguns países na implementação de códigos
baseados no desempenho........... ..................................................................
34
4.2.2.2 Dificuldades de implementação de um código baseado no
desempenho no contexto nacional................................................................
37
4.2.3 Projetos baseados no desempenho................................................................ 39
4.2.4 Evolução da legislação de segurança contra incêndio: São Paulo e
Pernambuco...........................................................................................................
46
4.2.4.1 Histórico da implementação de códigos de segurança contra
incêndios em São Paulo................................................................................
46
4.2.4.2 Histórico da implementação de códigos de segurança contra
incêndios em Pernambuco............................................................................
54
4.3 Percepção do risco de incêndio nos códigos prescritivos e baseados no
desempenho.................................................................................................................
66
4.4 Resposta fisiológica e comportamental humana em situações de emergência
.
viii .
envolvendo incêndios.................................................................................................. 74
4.4.1 Resposta humana aos sinais de alarme......................................................... 75
4.4.2 Resposta fisiológica ao fogo......................................................................... 78
4.4.3 Comportamento humano durante um incêndio- percepção do incêndio...... 81
4.4.4 O pânico e a tomada de decisão durante um incêndio.................................. 86
5. INCÊNDIOS EM ESPAÇOS URBANOS HISTÓRICOS.....................................
92
5.1 Fatores condicionantes do risco de incêndio em espaços urbanos históricos........ 93
5.2 Análise de grandes incêndios................................................................................ 98
5.2.1 Grande incêndio de Londres......................................................................... 99
5.2.2 Grande incêndio de Chicago......................................................................... 100
5.2.3 Incêndio no Chiado....................................................................................... 102
5.2.4 Incêndio em Edimburgo............................................................................... 104
5.2.5 Incêndio em Lima......................................................................................... 106
5.2.6 Incêndio em Pirenópolis (GO) .................................................................... 107
5.2.7 Incêndio em Ouro Preto (MG)...................................................................... 109
5.2.8 Incêndio em Sabará (MG)............................................................................ 110
5.2.9 Incêndio no Bairro do Recife (PE)............................................................... 111
5.2.10 Incêndio no Bairro de São José (PE).......................................................... 113
6. O BAIRRO DO RECIFE.........................................................................................
116
6.1 Potencialidades do Bairro do Recife..................................................................... 120
6.2 Problemáticas do Bairro do Recife....................................................................... 121
6.3 Caracterização da situação atual............................................................................ 124
7. A PESQUISA NO BAIRRO DO RECIFE............................................................
128
7.1 Definição da amostra............................................................................................. 130
7.2 O método da constelação de atributos................................................................... 133
7.3 Resultados da pesquisa.......................................................................................... 135
7.4 Pesquisa no Bairro do Recife x comportamento humano durante um incêndio.... 146
7.5 A pesquisa e a percepção do risco numa visão de desempenho............................ 150
.
ix .
8. COMPORTAMENTO DE RESPOSTA HUMANA EM INCÊNDIOS.............. 152
8.1 A pesquisa no Bairro do Recife e o comportamento de resposta dos ocupantes... 155
8.2 A pesquisa no Bairro do Recife e o comportamento de resposta humana em
estudos americano e britânico......................................................................................
159
8.2.1 Comportamento de acordo com o gênero..................................................... 165
9. GERENCIAMENTO DE RISCOS DE INCÊNDIO
173
9.1 Metodologia para o gerenciamento de riscos de incêndios em espaços urbanos
históricos
176
10. CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES PARA FUTUROS TRABALHOS...
192
BIBLIOGRAFIA ........................................................................................................ 196
.
x .
LISTA DE FIGURAS Figura 4.1 Curva típica do comportamento de um incêndio................................................................ 09Figura 4.2 Relação entre a taxa de transferência de calor e o tempo.................................................. 11Figura 4.3 Estágios do comportamento de um incêndio em ambientes fechados................................ 10Figura 4.4 Estágios do desenvolvimento de um incêndio..................................................................... 13Figura 4.5 Diagrama contínuo para o desenvolvimento de incêndios para ambientes com volume
menor que 100m3................................................................................................................ 14Figura 4.6- Comportamento da pluma de fogo...................................................................................... 15Figura 4.7 Condições para o flashover segundo FITZGERALD (1998).............................................. 17Figura 4.8 Desenvolvimento da pluma de fogo culminando no flashover........................................... 17Figura 4.9 Início de um flashover numa sala de testes experimentais................................................. 18Figura 4.10 Influência do tipo de material de revestimento de teto no tempo para ocorrência do
flashover.............................................................................................................................. 19Figura 4.11 Chamas projetadas pelas janelas indicando um incêndio controlado pela ventilação...... 20Figura 4.12 Chamas projetadas pelas janelas indicando um incêndio controlado pela ventilação...... 20Figura 4.13 Fatores que interferem o potencial de crescimento de um incêndio.................................. 21Figura 4.14 Influência dos tipos de janelas no suprimento de ar de um ambiente................................ 23Figura 4.15 Influencia das barreiras na velocidade de desenvolvimento das chamas.......................... 27Figura 4.16 Gráfico ilustrativo da influência das barreiras no desenvolvimento do incêndio.............. 27Figura 4.17 Variáveis que influenciam no crescimento do incêndio...................................................... 29Figura 4.18 Interação entre os fenômenos que ocorrem durante o incêndio......................................... 29Figura 4.19 Relação hierárquica para projetos baseados no desempenho........................................... 40Figura 4.20 Definição de meta em projetos baseados no desempenho.................................................. 41Figura 4.21 O Bairro do Recife em obras- 1911............................................................................... 55Figura 4.22 Definição critério baseado no desempenho........................................................................ 42Figura 4.23 Processo de análise de cenários......................................................................................... 43Figura 4.24 Árvore de conceitos de segurança contra incêndios.......................................................... 45Figura 4.25 Incêndio no Edifício Joelma............................................................................................... 47Figura 4.26 Resumo de ocorrências de incêndios atendidas em São Paulo.......................................... 54Figura 4.27 O Bairro do Recife em obras – 1911.................................................................................. 55Figura 4.28 Exemplo de associação de uma ação arriscada aos fatores de risco
e a escala de fatores de risco............................................................................................. 69Figura 4.29 O processo de decisão de um indivíduo durante um incêndio............................................ 83Figura 4.30 A dinâmica da atividade comportamental do indivíduo em um incêndio .......................... 85Figura 4.31 Sistema Heurístico sugerido para o modelo de comportamento humano
em um incêndio (BREAUX,1976)...................................................................................... 86Figura 4.32 Os quatro elementos fundamentais caracterizadores do pânico (KEATING, 1982)......... 87Figura 4.33 Diferenças entre a tomada de decisão durante um incêndio e durante a vida
cotidiana.............................................................................................................................. 89Figura 5.1 Desenho esquemático da propagação vertical e horizontal do incêndio
no interior de uma edificação............................................................................................ 94Figura 5.2 Edificações geminadas em Ouro Preto (MG).................................................................... 95Figura 5.3 Edificações geminadas no Bairro do Recife (PE).............................................................. 95Figura 5.4 Desenho esquemático da propagação do incêndio entre edificações geminadas.............. 95Figura 5.5 Propagação entre fachadas................................................................................................ 96Figura 5.6 Propagação entre cobertura e fachada.............................................................................. 96Figura 5.7 Propagação entre duas edificações geminadas com a mesma altura................................ 96Figura 5.8 Propagação entre duas edificações geminadas com altura.............................................. 97Figura 5.9 -Aspecto da cidade de Chicago após o incêndio (Mayer & Wade, 1969)......................... 100Figura 5.10 Sistema construtivo balloon frame..................................................................................... 101Figura 5.11 - Mapa do incêndio de Chicago (MAYER & WADE, 1969)............................................... 101Figura 5.12 Vista do Bairro do Chiado.................................................................................................. 102Figura 5.13 Vista de uma rua do Chiado mostrando a proximidade das fachadasentre as
edificações.......................................................................................................................... 102Figura 5.14 - Vista aérea da área atingida pelo incêndio..................................................................... 103Figura 5.15 Obstáculos da arquitetura que dificultaram o combate pelo corpo de bombeiros............ 103Figura 5.16 Escombros do incêndio do Chiado..................................................................................... 104Figura 5.17 Um dos edifícios atingidos pelo incêndio na Rua Cowgate.............................................. 105Figura 5.18 Bombeiro combatendo o incêndio em Cowgate................................................................. 105
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xi .
Figura 5.19 Salvamento pelo Corpo de bombeiros no momento do incêndio........................................ 106Figura5.20- Área afetada pelo incêndio que comprometeu a estabilidade estruturaldas edificações... 106Figura 5.21 Escombros do incêndio em Lima........................................................................................ 106Figura 5.22 Igreja Matriz de Nossa Senhora do Rosário em Pirenópolis............................................. 107Figura 5.23 Casarão antes do incêndio................................................................................................. 109Figura 5.24 Casarão durante o incêndio............................................................................................... 109Figura 5.25 Escombros do incêndio do casarão.................................................................................... 110Figura 5.26 Escombros do incêndio do casarão.................................................................................... 110Figura 5.27 Igreja Nossa Senhora das Mercês em Sabará (MG).......................................................... 110Figura 5.28 Fábrica Pilar localizada no Bairro do Recife................................................................... 112
Figura 5.29 Bombeiros combatendo o incêndio na Fábrica Pilar........................................... ........... 112Figura 5.30 Vista da loja atingida pelo incêndio................................................................................... 113Figura 5.31 Helicóptero da Defesa Civil auxiliando no combate ao incêndio...................................... 113Figura 5.32 Vista do interior da loja destruída pelo incêndio............................................................... 114Figura 5.33 Danos estruturais na edificação atingida pelo incêndio.................................................... 114Figura 5.34 - Danos estruturais na edificação atingida pelo incêndio.................................................. 114Figura 6.1 Plano de Revitalização do Bairro do Recife....................................................................... 116Figura 6.2 Rua do Bom Jesus Revitalizada.......................................................................................... 117Figura 6.3 Pólos de interesse para o Bairro do Recife........................................................................ 119Figura 6.4 Diagrama contínuo mostrando o processo de propagação das chamas entre as
edificações geminadas no Bairro do Recife....................................................................... 122Figura 6.5. Vista aérea do Bairro do Recife......................................................................................... 124Figura 6.6 Características do perigo pequeno..................................................................................... 126Figura 6.7 Características do perigo moderado.................................................................................. 127Figura 6.8 Características do perigo elevado...................................................................................... 127Figura 7.1 - Localização do Pólo Bom Jesus na ilha do Bairro do Recife.......................................... 128Figura 7.2 Delimitação do Pólo Bom Jesus......................................................................................... 128Figura 7.3 Vista da quadra nº 156 da Rua do Bom Jesus.................................................................... 129Figura 7.4. Curva de Gauss................................................................................................................... 131Figura 7.5 Modelo de representação das constelações de atributos.................................................... 133Figura 7.6 Constelação de Atributos referente à pergunta 01............................................................. 139Figura 7.7 Constelação de Atributos referente a pergunta 02............................................................. 141Figura 7.8 Constelação de Atributos referente à pergunta 03............................................................. 141Figura 7.9 Edifício nº 227..................................................................................................................... 143Figura 7.10 Edifício nº 237..................................................................................................................... 143Figura 7.11 Constelação de atributos para a pergunta nº 04................................................................ 144Figura 7.12 Constelação de atributos referente à pergunta 05.............................................................. 145Figura 7.13 - O processo de decisão individual durante um incêndio................................................... 147Figura 7.14 O processo de decisão individual durante um incêndio..................................................... 148Figura 7.15 Diagrama Contínuo exemplificando o processo de decisão através
de respostas obtidas nas entrevistas................................................................................... 149Figura 8.1 Curva do comportamento de um incêndio em ambiente fechado
e sua relação com a segurança dos ocupantes................................................................. 153Figura 8.2 Curva do comportamento de um incêndio em ambiente fechado e sua relação com o
comportamento de resposta dos ocupantes....................................................................... 154Figura 8.3 Categoria de ações para a população entrevistada no Bairro do Recife........................... 156Figura 8.4 Categoria de ações para a população masculina entrevistada no Bairro do Recife......... 158Figura 8.5 Categoria de ações para a população feminina entrevistada no Bairro do Recife............ 158Figura 8.6 Categoria de ações para os estudos britânico, americano e do Bairro do Recife............. 163Figura 8.7 Categoria de ações para a população masculina dos estudos americano e do Bairro do
Recife................................................................................................................................... 169Figura 8.8 Categoria de ações para a população feminina dos estudos americano e do Bairro do
Recife................................................................................................................................... 169
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xii .
Figura 9.1 Modelo para o gerenciamento de riscos de incêndio em edificações (FITZGERALD, 2001)..................................................................................................................................... 174
Figura 9.2 Comportamento do incêndio em um ambiente fechado. Adaptado de FITZGERALD (2001)....................................................................................................................................
178
Figura 9.3 Comportamento do incêndio no espaço urbano. 178Figura 9.4 Metodologia para o gerenciamento de riscos de incêndios em espaços urbanos
históricos............................................................................................................................. 182
Figura 9.5 Definição das etapas da metodologia para o gerenciamento de riscos proposta................ 183Figura 9.6 Entendimento do problema................................................................................................... 184Figura 9.7 Identificação das características do espaço urbano............................................................ 185Figura 9.8 Avaliação de desempenho .................................................................................................. 186Figura 9.9 Camadas de proteção do espaço urbano............................................................................. 187Figura 9.10 Caracterização dos impactos............................................................................................... 188Figura 9.11 Planejamento para prevenção do estabelecimento da chama............................................ 189Figura 9.12 Estruturação da análise de decisão......... ............................................................................ 190Figura 9.13 Etapas a serem seguidas para a aplicação da metodologia ............................................... 191
.
xiii .
LISTA DE TABELAS
Tabela4.1 Valores para o fator de crescimento do incêndio em função do tipo de pacote
combustível......................................................................................................................... 10
Tabela4.2 Relação entre as taxas de crescimento do incêndio e o valor de α correspondente.......... 10Tabela4 .3 Condições mínimas para o flashover................................................................................. 20Tabela4.4 Relação entre as classes de combustível, a taxa de crescimento e a
intensidade de um incêndio……………………………………………………………………... 25Tabela4.5 Vantagens e desvantagens dos códigos prescritivos.......................................................... 33Tabela4.6 Vantagens e desvantagens dos códigos baseados no desempenho..................................... 34Tabela4.7 Critérios estabelecidos como indicadores para se definir quando um código baseado
no desempenho tem a probabilidade de ser bem ou mal implementado............................ 36Tabela4.8 Resumo das características dos incêndios que abalaram São Paulo................................ 49Tabela4.9 Nove fatores de risco que podem ser usados para descrever diferentemente
a atitude pública para percepção de riscos........................................................................ 68Tabela4.10 Níveis médios de vários fatores de risco aceitáveis............................................................ 70Tabela4.11 Fatores de conversão de risco para cada categoria de fatores de risco............................ 71Tabela4.12 Meios de consciência do incêndio pela população estudada.BRYAN ( 1977)................... 77Tabela4.13 Temperatura e tempo necessários para provocar queimaduras de 2º grau....................... 78Tabela4.14 Efeitos do decaimento de oxigênio no ser humano. (CUSTER, 1974)…………………...... 80Tabela4.15 Resposta humana ao Monóxido de Carbono.Adaptado de CLAUDY (1957)..................... 80Tabela 7.1 Tipos de ocupações da quadra nº 156................................................................................ 129Tabela 7.2 Tabulação das respostas relativas à pergunta 01.............................................................. 138Tabela 7.3 Tabulação das respostas relativas à pergunta 02.............................................................. 140Tabela 7.4 Tabulação das respostas relativas à pergunta 03.............................................................. 142Tabela 7.5 Tabulação das respostas obtidas referente à pergunta 04 para os usuários das
edificações nº 227 e nº 237............................................................................................... 143Tabela 7.6 Tabulação das respostas obtidas referente à pergunta 05 para os usuários
das edificações nº 227 e nº 237………………………………………….........……………….. 145Tabela 7.7 Cruzamento das respostas obtidas nas entrevistas com os nove fatores
de risco sugeridos por LITAI (1980)................................................................................. 150Tabela 8.1 Tipos de categoria de ação para a população entrevistada no Bairro do Recife............. 156Tabela 8.2 Ações a serem tomadas pela população masculina e feminina estudada no Bairro do
Recife.................................................................................................................................. 157
Tabela 8.3 Categoria de ações para a população masculina entrevistada......................................... 157Tabela 8.4 Categoria de ações para a população masculina entrevistada......................................... 158Tabela 8.5 Primeiras ações para a população britânica (WOOD, 1972) e americana
( BRYAN,1977).................................................................................................................... 160Tabela 8.6 Grupos de ação para a população britânica e Americana................................................ 160Tabela 8.7 Primeira ação tomada pela população britânica,, americana e do Bairro do Recife... 161Tabela 8.8 Grupos de ações para a população britânica,, americana e do Bairro do Recife........... 162Tabela 8.9 Primeira, segunda e terceira ação para a população americana estudada
(BRYAN,1977).................................................................................................................... 163Tabela8.10 Primeira, segunda e terceira ação para a população do Bairro do Recife estudada 164Tabela8.11 Primeiras ações classificadas pelo gênero da população americana estudada................ 166Tabela8.12 Grupos de ação por gênero para a população americana................................................. 167Tabela8.13 Primeiras ações classificadas pelo gênero da população americana e do Bairro do
Recife................................................................................................................................... 167Tabela8.14 Ações de resposta ao fogo para a população americana estudada.................................... 170Tabela8.15 Ações de notificação do corpo de bombeiros para a população americana estudada...... 170Tabela8.16 Ações de resposta ao fogo para a população do Bairro do Bairro do Recife .................. 171Tabela8.17 Ações de notificação do corpo de bombeiros para a população do Bairro do Recife....... 171
.
1 .
1 INTRODUÇÃO
Em todo o mundo a preocupação com a preservação do patrimônio é evidente,
surgindo como uma opção para o turismo cultural dinamizando a economia, gerando novos
negócios em áreas históricas antes ociosas e agregando novos valores.
Os Centros Históricos que passaram por processos de Revitalização, tiveram suas
edificações adaptadas para comportar novos usos, necessários para promover a dinâmica
social e econômica destas áreas. Com os novos usos, materiais de acabamentos, sistemas
construtivos e equipamentos associados ao desenvolvimento das atividades, introduziram-se
riscos de incêndio que anteriormente não existiam nas edificações (MILTIDIERI, 1998)
surgindo então a necessidade de gerenciá-los.
O não gerenciamento de riscos de incêndios pode comprometer os espaços urbanos
históricos e pôr em risco a vida humana e os negócios ali desenvolvidos. Como exemplo,
basta recordar os incêndios em espaços urbanos antigos como o do Chiado (Portugal-1988),
Lima (Peru-2001) e Ouro Preto (Brasil-2003) nos quais os danos materiais e culturais foram
incalculáveis, além da perda humana que só no incêndio em Lima contabilizou duzentos e
oitenta e nove mortos, sendo caracterizado como a maior tragédia da história recente do Peru.
Neste quadro se insere a preocupação com a segurança contra incêndio em Espaços
Urbanos Históricos do Brasil que vem passando, desde a década de 70 do século XX, por
processos de Revitalização ou Requalificação como o Bairro do Recife (PE), Pelourinho
(BA), São Luis (MA), Ouro Preto (MG) dentre outros. O objetivo destes processos é a
preservação do patrimônio arquitetônico e ambiental destas áreas históricas, reintegrando-as à
dinâmica social e econômica das cidades, em condições adequadas de utilização e apropriação
social, sendo estes processos de intervenções, específicos para cada área, respeitando e
adaptando-se às características locais.
Nos processos de Revitalização mencionados, além das modificações nos sistemas
construtivos, a tipologia construtiva da qual estes Centros Históricos são exemplares,
caracterizada por edificações geminadas (tendo suas paredes divisórias apoiadas umas nas
outras) é um outro fator agravante no caso da ocorrência de um incêndio, onde a propagação
das chamas entre as edificações pode ser facilitada pondo em risco a vida humana, a
propriedade, os negócios ali desenvolvidos e, sobretudo, o patrimônio histórico de valor
inestimável que representa a memória cultural da nação. Evidencia-se assim, a necessidade de
.
2 .
medidas preventivas mais rigorosas com relação ao patrimônio histórico, trazendo à tona, a
discussão sobre a vulnerabilidade destes espaços urbanos aos riscos de incêndios.
A segurança contra incêndios em áreas históricas não é tratada, muitas vezes, de forma
adequada pelos códigos de segurança contra incêndios tradicionais, conhecidos como Códigos
Prescritivos. Este tipo de código é caracterizado por ser baseado em falhas e experiências do
passado onde são estabelecidas prescrições generalistas a que todos os edifícios com
determinados tipos de ocupação devem cumprir para assegurar a segurança contra incêndio
das edificações.
Pode-se observar que os projetos resultantes deste tipo de código, muitas vezes não
garantem a segurança devida aos ocupantes e a edificação no momento de um incêndio, pois a
mínima segurança exigida pelos códigos prescritivos para um determinado tipo de ocupação,
pode exceder a segurança que seria necessária em algumas edificações ou ,em muitos casos,
ser menor do que a mínima segurança necessária para outras (MEACHAM, 1997).
Diferentemente dos Códigos Prescritivos, e de sua postura “reativa”, surgem os
chamados Códigos Baseados no Desempenho que são códigos dinâmicos, pois se baseiam no
desempenho de todos os agentes envolvidos no sistema, a saber: dinâmica do incêndio, a
edificação e o comportamento das pessoas. Neste tipo de código os objetivos desejados são
claramente definidos e apresentados, ficando a critério dos projetistas a liberdade para
escolher a solução que irá satisfazer os objetivos especificados, propiciando uma maior
flexibilidade no projeto, contanto que a segurança possa ser alcançada (BUCHANAN, 1999).
A implementação dos Códigos Baseados no Desempenho levou os projetistas a
modificar o modo como eles abordavam a segurança contra incêndios até então (ótica
prescritiva), trazendo maiores responsabilidades visto que estes devem comprovar a eficácia
de seu projeto na satisfação dos objetivos propostos.
Nesta visão de desempenho FITZGERALD (2001) desenvolveu uma metodologia
baseada no desempenho para o gerenciamento de riscos de incêndios em edificações,
metodologia esta, onde é possível entender o problema que envolve a segurança contra
incêndios da edificação, avaliar seu desempenho ao fogo além de desenvolver um programa
de gerenciamento de riscos para que a melhor decisão seja tomada de forma mais rápida, fácil
e econômica.
Em virtude da problemática atual envolvendo a segurança contra incêndio em espaços
urbanos históricos e da vulnerabilidade destas áreas à ocorrência de incêndios, torna-se
evidente a necessidade de gerenciar estes riscos. A ocorrência de incêndios em espaços
urbanos históricos traz consigo uma série de conseqüências negativas e perdas associadas,
.
3 .
devido ao seu grande poder destrutivo, como: a perda do patrimônio histórico, perda da vida
humana, prejuízo financeiro, impacto negativo na indústria do turismo e competitividade para
atrair novos investimentos além do impacto no meio-ambiente.
Assim, tomando-se como base a metodologia para o gerenciamento de riscos de
incêndios em edificações desenvolvida por FITZGERALD (2001), propõe-se, no presente
trabalho, uma adaptação de suas etapas tendo como foco os espaços urbanos históricos.
O Bairro do Recife, núcleo original da cidade do Recife, foi tomado como universo de
pesquisa, dada a sua importância cultural, visto que resume em seu perímetro, mais de quatro
séculos de formação de uma cidade além de sua importância para a economia do Estado de
Pernambuco na geração de novos negócios.
O trabalho inclui entrevistas baseadas na Metodologia da Constelação de Atributos
(MOLES, 1968), realizadas com usuários da área objeto de estudo e que objetiva identificar
qual a percepção que os usuários da Rua do Bom Jesus, possuem quanto ao risco de incêndio
no Bairro do Recife e em seu próprio negócio e se eles percebem os impactos diretos ou
indiretos que um incêndio causaria em seu negócio e até na indústria do turismo. A Rua do
Bom Jesus, pela diversidade de usos existentes, que lhe conferem uma dinâmica especial, é
considerada um cartão postal do Bairro do Recife e da própria Cidade.
A relevância da abordagem sobre os riscos de incêndio no espaço urbano do Bairro do
Recife está diretamente ligada à importância deste espaço para a cidade, onde a variedade dos
riscos associados e a vulnerabilidade dos negócios existentes aos mesmos deixam evidente a
necessidade de gerenciá-los. O desafio torna-se então, obter ao mesmo tempo espaços mais
seguros e economicamente viáveis.
Esta abordagem sobre a segurança contra incêndios e a percepção ao risco de
incêndios no Bairro do Recife, objetiva ainda sensibilizar a sociedade e o Poder Público para
o real entendimento da vulnerabilidade desta área histórica à ocorrência de incêndios.
.
4 .
2 OBJETIVOS
2.1 Objetivo geral
Adaptação de uma metodologia baseada no desempenho para o gerenciamento de
riscos de incêndio em Espaços Urbanos Históricos.
2.2 Objetivos específicos
• Demonstrar a vulnerabilidade dos centros históricos ao risco de incêndio.
• Abordar a percepção ao risco de incêndios numa visão prescritiva e baseada no
desempenho.
• Verificação da percepção que os usuários de imóveis da Rua do Bom Jesus possuem
quanto ao risco de incêndio no Bairro do Recife e em seu próprio negócio.
• Evidenciar a complexidade e dinamicidade dos incêndios em ambientes fechados e
como os códigos prescritivos e baseados no desempenho abordam esta complexidade e
dinamicidade.
• Lançar as bases para a adaptação da metodologia para gerenciamento de riscos de
incêndio em edificações, proposta por FITZFGERALD (1998), tendo como foco o
gerenciamento de riscos de incêndios em espaços urbanos históricos, através da
percepção ao risco de incêndio identificada por seus usuários.
.
5 .
3 METODOLOGIA
Existe um problema relacionado à ocorrência de incêndios em espaços urbanos
históricos? Como é possível identificar estes problemas? Existe uma solução?
Os questionamentos acima foram respondidos através da metodologia adotada para o
desenvolvimento do presente trabalho.
A metodologia aplicada consiste basicamente numa pesquisa bibliográfica associada a
um estudo de caso.
A partir da identificação de metodologias para o gerenciamento de riscos de incêndio
em edificações, selecionou-se uma que atendia aos objetivos do trabalho. Assim, esta
metodologia foi adaptada, tanto no sentido de uso para espaços urbanos históricos quanto no
sentido de enfocar enfaticamente a percepção do usuário, o que é realizado com a inserção da
metodologia da Constelação de atributos (MOLES, 1968) o que coloca esta percepção como
fonte de dados na 1ª etapa da metodologia proposta no capítulo 9.
Os procedimentos metodológicos adotados no trabalho foram divididos em etapas, a
saber:
Etapa 01- Referencial teórico
O referencial teórico (vide capítulo 4) aborda os seguintes aspectos:
- análise do comportamento dos incêndios em ambientes fechados a fim de melhor
compreender a complexidade e dinamicidade dos incêndios;
- caracterização dos códigos de segurança contra incêndio prescritivos e códigos baseados no
desempenho com o intuito de verificar como os dois códigos abordam a complexidade e
dinamicidade dos incêndios;
- a percepção ao risco nos códigos prescritivos e baseados no desempenho com o objetivo de
verificar como a percepção ao risco de incêndios pela sociedade pode interferir na legislação
de segurança contra incêndios;
- resposta fisiológica e comportamental humana em incêndios com o objetivo de entender
melhor como se processa a tomada de decisão durante um incêndio e como as ações tomadas
pelo homem podem comprometer a sua segurança.
Etapa 02 – Análise dos incêndios em espaços urbanos históricos
A fim de melhor compreender a problemática que envolve os espaços urbanos históricos
do Brasil no que se refere aos riscos de incêndio, realizou-se um estudo sobre a ocorrência de
incêndios em espaços urbanos históricos no mundo e suas conseqüências associadas. Desta
.
6 .
forma foi possível identificar alguns fatores condicionantes relacionados aos espaços urbanos
históricos que são favoráveis à ocorrência de incêndios ou que contribuam para a severidade
das conseqüências na ocorrência de um incêndio. (vide capítulo 5).
Etapa 03 - Caracterização da área objeto de estudo
A fim de melhor compreender a dinâmica do Bairro do Recife (vide capítulo 6) foi
realizada uma caracterização da situação atual do bairro no que se refere aos riscos de
incêndios e explosões identificando os fatores condicionantes favoráveis à ocorrência de
incêndios.
Etapa 04 – Estudo de caso no Bairro do Recife
O estudo de caso realizado no Bairro de Recife (vide capítulo 7) visou identificar a
percepção que os ocupantes das edificações desta área possuem quanto ao risco de incêndio
no Bairro do Recife e em seu próprio negócio e se eles percebem os impactos que estariam
associados à ocorrência de um incêndio nestas áreas. As informações obtidas com as
entrevistas, ou seja, o mapeamento da percepção ao risco de incêndio pelos usuários auxiliou
na construção da metodologia proposta para o gerenciamento de riscos de incêndios em
espaços urbanos históricos, tomando como base, a metodologia para o gerenciamento de
riscos de incêndio idealizado por FITZGERALD (2001).
A quadra nº 156 do Bairro do Recife localizada no Pólo Bom Jesus, foi selecionada para
a realização das entrevistas. A seleção de apenas uma quadra deveu-se ao fato da grande
extensão territorial do bairro, o que demandaria uma maior disponibilidade de tempo e
recursos financeiros necessários à sua realização numa área mais abrangente.
Optou-se assim, por direcionar o estudo à referida quadra, localizada entre a Rua do
Bom Jesus e a Rua Domingos José Martins. Nela está concentrada a maioria dos bares e
restaurantes existentes na rua do Bom Jesus além de possuir um grande número de escritórios
instalados no local o que favorece a sua utilização durante todo o dia sendo também um dos
locais mais freqüentados do bairro, sobretudo, nos finais de semana.
Primeiramente, foi realizado um cadastro de todos os imóveis que compõem a quadra
156 da Rua do Bom Jesus a fim de compilar informações referentes às condições atuais dos
mesmos no que se refere à segurança contra incêndios.
Após a coleta de dados, passou-se para a etapa de realização de entrevistas a uma
amostra da população da referida quadra, a fim de verificar a sua percepção ao risco de
incêndio no Bairro do Recife e no seu próprio negócio. As informações obtidas serviram de
.
7 .
input para a construção das constelações de atributos que representam o mapeamento da
percepção dos usuários frente aos riscos de incêndio.
Para a realização das entrevistas tomou-se como base o método das constelações de
atributos (SCHMIDT, 1974) desenvolvido por MOLES (1968) e trabalhado pelos
pesquisadores do Instituto de Psicologia Social de Estrasburgo. Este método foi selecionado
devido ao seu caráter exploratório da percepção do entrevistado e pelas associações
espontâneas de idéias que permite um detalhamento do tema estudado. Outro fator importante
foi o tempo necessário para a realização das entrevistas baseadas neste método (cerca de 05 a
10 minutos) visto que os entrevistados, durante a realização do pré-teste, não se mostraram
disponíveis a ceder um tempo maior para responderem os questionários, devido ao fato de
estarem em seus ambientes de trabalho.
Além de verificar a percepção ao risco de incêndio dos usuários da quadra nº 156 a
pesquisa também identificou ações apontadas pelos entrevistados que seriam tomadas no
momento de um incêndio. De posse destas informações, comparou-se os resultados com
estudos americanos e britânicos que enfocam o comportamento humano em situações de
emergência envolvendo incêndios (vide capítulo 8) que representa uma das maiores
dificuldades em uma análise de projetos de segurança contra incêndio baseada no
desempenho.
Etapa 05 – Desenvolvimento da metodologia para o gerenciamento de riscos de incêndios em
espaços urbanos históricos
A reunião das informações anteriormente citadas embasou a adaptação das etapas da
metodologia para o gerenciamento de riscos de incêndios em edificações proposta por
FITZGERALD (2001) passando a ter como foco, o gerenciamento de riscos de incêndios em
espaços urbanos históricos, apresentado no capítulo 9 e que se constitui no objetivo da
presente dissertação.
.
8 .
4 REFERENCIAL TEÓRICO
O objetivo deste capítulo é realizar uma abordagem sobre três aspectos, a saber: a
anatomia dos incêndios em ambientes fechados, os códigos de segurança contra incêndios e a
resposta fisiológica e comportamental humana em incêndios.
a) Anatomia dos incêndios: esta seção tem como objetivo facilitar o entendimento
sobre a complexidade e dinamicidade dos incêndios em ambientes fechados.
b) Códigos de segurança contra incêndio: esta seção traz uma abordagem sobre os
códigos de segurança contra incêndios prescritivos e baseados no desempenho
e como estes dois códigos abordam a complexidade e dinamicidade dos
incêndios.
c) Resposta fisiológica e comportamental humana: esta seção traz uma abordagem
sobre a complexidade do comportamento humano durante um incêndio e como
esta complexidade é abordada nos códigos de segurança contra incêndio.
4.1 COMPORTAMENTO DOS INCÊNDIOS EM AMBIENTES FECHADOS
Esta seção realizará uma abordagem sobre a anatomia de um incêndio mostrando as
principais etapas de um incêndio em um espaço confinado de dimensões moderadas ou seja,
ambientes com um volume não superior a 100m3 pois em ambientes com dimensões maiores
há uma menor probabilidade de ser verificado um fenômeno conhecido como flashover (i.e.
envolvimento completo do ambiente por chamas). Em geral, para ambientes com volumes
maiores que 100m3, outro fenômeno, o spreadover, é mais provável de ocorrer. Neste último,
a transferência de calor pelo ambiente se dá por condução térmica, diferindo do flashover,
onde a radiação térmica é mais comum.
Os incêndios podem ser entendidos através de etapas distintas, apesar do tempo e
magnitude destas etapas variarem consideravelmente. As etapas típicas de um incêndio sem
que haja intervenção no sentido extingui-lo são mostradas na figura 4.1 que, apesar de ser
puramente esquemática mostra que os incêndios podem ser divididos em três estágios:
1. Etapa de crescimento: esta etapa compreende a ignição, o estabelecimento da chama e o
período que antecede o flashover.
2. Etapa de desenvolvimento: inicia-se após o flashover indo até o momento em que todo o
combustível presente no ambiente é consumido pelo fogo.
3. Etapa de decaimento: identificada como o período em que a temperatura foi reduzida a
aproximadamente 80% do seu valor máximo.
.
9 .
Figura 4.1. Curva típica do comportamento de um incêndio.Adaptado de BUCHANAN(2002)
Depois que a chama é estabelecida (EC) qualquer uma das três alternativas abaixo
relacionadas poderá acontecer:
1. O incêndio talvez fique limitado à sua origem, ou melhor, o calor resultante não provocará
a ignição (IG) de outros itens, particularmente se a fonte de ignição estiver isolada.
2. Se a ventilação não for adequada, o incêndio talvez se auto-extingua ou a sua propagação
seja lenta, i.e. controlada pela quantidade de oxigênio disponível. Em resumo, devido à
ventilação ser insuficiente, a propagação do incêndio é relativamente lenta.
3. Se a ventilação é adequada e há suficiente combustível disponível, o incêndio propaga-se
até que o ambiente seja completamente envolvido em chamas, i.e. flashover.
A etapa de crescimento do incêndio na figura 4.1 pode ser descrita pela equação 4.1:
Q = α. t2 (eq. 4.1)
Onde:
α = fator de crescimento do incêndio (kW/s2);
t = tempo decorrido a partir da ignição (s).
RESISTÊNCI AO FOGO, CONTENÇÃO, COLAPSO ESTRUTURALFLAMABILIDADE, PROPAGAÇÃO DA CHAMA NA SUPERFÍCIE
CONTROLE PASSIVO
CONTROLE PELO CORPO DE BOMBEIROSEXTINÇÃO MANUAL, SPRINKLERS, CORPO DE BOMBEIROS, CONTROLE DE FUMAÇA
CONTROLE ATIVO
FUMAÇA EXTERNA E CHAMASDETECÇÃO DE FUMAÇA OU CALOR
DETECÇÃO
MORTEFUGACOMPORTAMENTO HUMANO
CONTROLADO PELO COMBUSTÍVEL
CONTROLADO PELA VENTILAÇÃOCONTROLADO PELO COMBUSTÍVEL
COMPORTAMENTO DO INCÊNDIO
DECAIMENTODESENVOLVIMENTOCRESCIMENTOESTÁGIO
Tem
pera
tura
( °C
) ou
Ta x
a de
l ib
era ç
ão d
e ca
lor -
Q (k
w)
IGEC
FLASHOVER
Tempo
CRESCIMENTO DESENVOLVIMENTO DECAIMENTO
Q = α . t 2
RESISTÊNCI AO FOGO, CONTENÇÃO, COLAPSO ESTRUTURALFLAMABILIDADE, PROPAGAÇÃO DA CHAMA NA SUPERFÍCIE
CONTROLE PASSIVO
CONTROLE PELO CORPO DE BOMBEIROSEXTINÇÃO MANUAL, SPRINKLERS, CORPO DE BOMBEIROS, CONTROLE DE FUMAÇA
CONTROLE ATIVO
FUMAÇA EXTERNA E CHAMASDETECÇÃO DE FUMAÇA OU CALOR
DETECÇÃO
MORTEFUGACOMPORTAMENTO HUMANO
CONTROLADO PELO COMBUSTÍVEL
CONTROLADO PELA VENTILAÇÃOCONTROLADO PELO COMBUSTÍVEL
COMPORTAMENTO DO INCÊNDIO
DECAIMENTODESENVOLVIMENTOCRESCIMENTOESTÁGIO
Tem
pera
tura
( °C
) ou
Ta x
a de
l ib
era ç
ão d
e ca
lor -
Q (k
w)
IGEC
FLASHOVER
Tempo
CRESCIMENTO DESENVOLVIMENTO DECAIMENTO
Q = α . t 2
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10 .
A equação 4.1 mostra a relação entre o fator de crescimento do incêndio para vários
pacotes combustíveis, dado que houve o estabelecimento da chama. Essa equação só é válida
para descrever o comportamento do incêndio entre o estabelecimento da chama e o flashover.
Ela é conhecida como “t-squared fire” e tem sido usada extensivamente em projetos de
sistemas de detecção e como parâmetro para seleção do tempo de crescimento do incêndio
associado a vários materiais. Alguns valores típicos de α são apresentados na tabela 4.1.
Tabela 4.1. Valores para o fator de crescimento do incêndio em função do tipo de pacote combustível.
Pacote combustível α (kW/s2) t (s)
Sofá 0,1055 50
Poltrona (39,6kg) 0,2931 145
Poltrona (40,4kg) 0,1648 100
Cadeira de madeira 0,0042 50
Cadeira de plástico 0,0140 2090
Poltrona para duas pessoas 0,1055 120
Colchão 0,0086 400
Fonte: Enclosure Fire Dynamics – 2000 (Karlsson & Quintiere) – pág. 40
A tabela 4.2 apresenta a classificação para o crescimento de um incêndio em lento,
médio, rápido e ultra – rápido de acordo com o valor de α e o tempo (ver figura 4.2).
Tabela 4.2 Relação entre as taxas de crescimento do incêndio e o valor de α correspondente.
TAXA DE CRESCIMENTO DO INCÊNDIO
INTENSIDADEDO INCÊNDIO
α
INCÊNDIO EQUIVALENTE
LENTO1055 kW
em 600 segundos
Combustíveis sólidos de densidade elevada. Mesa sólida de madeira.
MÉDIO1055 kW
em 300 segundos
Combustíveis sólidos de densidade baixa. Colchão, cadeira tradicional.
RÁPIDO1055 kW
em 150 segundos
Objetos finos. Papel, caixas, cortinas.
ULTRA RÁPIDO1055 kW
em 75 segundos
Combustíveis líquidos ou combustíveis muitovoláteis.
TAXA DE CRESCIMENTO DO INCÊNDIO
INTENSIDADEDO INCÊNDIO
α
INCÊNDIO EQUIVALENTE
LENTO1055 kW
em 600 segundos
Combustíveis sólidos de densidade elevada. Mesa sólida de madeira.
MÉDIO1055 kW
em 300 segundos
Combustíveis sólidos de densidade baixa. Colchão, cadeira tradicional.
RÁPIDO1055 kW
em 150 segundos
Objetos finos. Papel, caixas, cortinas.
ULTRA RÁPIDO1055 kW
em 75 segundos
Combustíveis líquidos ou combustíveis muitovoláteis.
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11 .
Figura 4.2 Relação entre a taxa de transferência de calor e o tempo.
Segundo FITZGERALD (2003) os estágios que caracterizam o comportamento de um
incêndio em ambiente fechado estão exemplificados na figura 4.3 abaixo.
Figura 4.3 Estágios do comportamento de um incêndio em ambientes fechados.Adaptado de FITZGERALD
(2003) Ponto de aquecimento: um aumento de temperatura é verificado. O processo de volatilização
começa a ser acelerado. Em alguns materiais uma descoloração é visível.
1) Período PRÉ-AQUECIMENTO
2) Período INICIAL DE QUEIMA
3) período QUEIMA INTENSA
4) Período QUEIMA INTERATIVA
5)Período QUEIMA REMOTA
6)Período FLASHOVER
TAXA
DE
TRA
NSF
ERÊN
CIA
DE
CA
LOR
Q (k
W)
TEMPO (S)
LENTO
MÉDIO
U - RÁPIDO
RÁPIDO
TAXA
DE
TRA
NSF
ERÊN
CIA
DE
CA
LOR
Q (k
W)
TEMPO (S)
LENTO
MÉDIO
U - RÁPIDO
RÁPIDO
TEMPO (S)
LENTO
MÉDIO
U - RÁPIDO
RÁPIDO
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12 .
Ponto de ignição: é o instante em que a primeira chama, ainda frágil, ocorre.
Ponto de radiação: este poderá ser considerado o ponto de estabelecimento da chama,
podendo sua altura atingir 25cm (250mm) e uma potência de 20kW.
Ponto no limite: neste ponto a altura da chama poderá atingir 150cm (1500mm) e uma
potência de 400kW. O ponto limite antecede o momento do flashover (i.e., pré-flashover).
Ponto no teto: quando a chama atingir o teto a potência poderá ultrapassar os 800kW. O
ponto no teto é associado ao flashover.
Ponto de envolvimento do ambiente: neste ponto todo o ambiente estará envolvido em
chamas.
Ainda com relação à figura 4.3, tem-se que considerar os estágios de desenvolvimento do
incêndio. São eles: período de pré-aquecimento, período inicial de queima, período de queima
intensa, período de queima interativa, período de queima remota e período de envolvimento
do ambiente.
1- Período de pré-aquecimento: é aquele situado entre os pontos de aquecimento e o de
ignição. É o período de aquecimento e volatilização provenientes da condição de sobre-
aquecimento até o momento de ignição.
2- Período inicial de queima: é o período entre o ponto de ignição e o de radiação. É o
período durante o qual os primeiros indícios de chama ocorrem. Há uma tentativa de produzir
substâncias, sobretudo radicais livres de H-, OH- e outros, a fim de que a chama seja
estabelecida.
3- Período de queima intensa: localizado entre o ponto de radiação e o ponto limite, neste
período há o estabelecimento da chama. Esta, inicialmente com 25cm de altura, atinge
aproximadamente 150cm, podendo sua potência atingir 400kW.
4- Período de queima interativa: é definido entre o ponto limite e o ponto do teto. Aqui, a
chama ultrapassa o ponto limite (i.e. 150cm) e continua crescendo. Em geral, isto é o
resultado da interação entre pequenos pacotes combustíveis e um pacote maior.
.
13 .
5- Período de queima remota: é definido pelo período entre o ponto limite e o ponto de
envolvimento do ambiente. Além do ponto limite, a chama assume a forma de um cogumelo
que tende a se expandir pelo teto. Como resultado, pacotes combustíveis, mesmo distantes do
ponto de ignição, sofrem ignição.
6- Período de envolvimento do ambiente: é definido pelo período entre o ponto de
envolvimento do ambiente e o ponto de decaimento da chama, ou aquele em que o incêndio é
controlado por sistema de proteção automático ou manual. Durante esse período todo o
ambiente será envolvido em chamas, cuja energia poderá ultrapassar os 800kW.
Figura 4.4 Estágios do desenvolvimento de um incêndio.Adaptado de DUARTE (2001).
Se através de câmeras de televisão fosse possível observar o desenvolvimento de um
incêndio em uma sala, conforme exemplificado nas figuras 4.1, 4.3 e 4.4 as imagens que
surgiriam na tela poderiam ser representadas pela figura 4.5. Tal figura ilustra um diagrama
contínuo.
PERÍODOS
1- PRÉ-AQUECIMENTO
2- INICIAL DE QUEIMA
3- QUEIMA INTENSA
4- QUIMA INTERATIVA
5- QUEIMA REMOTA
6- ENVOLVIMENTO DO AMBIENTE
T emp e
r at u
r a,
T o u
Tax
ade
Liber
ação
de C
a lor
, Q
IGEC
FLASHOVER
Tempo
SEGURANÇA DOS SEGURANÇA DOS OCUPANTESOCUPANTES
ESTABILIDADE ESTABILIDADE ESTRUTURALESTRUTURAL
MENOR DO QUE 30minMENOR DO QUE 30min ENTRE 30min e 3hENTRE 30min e 3h
CRESCIMENTO DO CRESCIMENTO DO
INCÊNDIOINCÊNDIODESENVOLVIMENTO DO DESENVOLVIMENTO DO
INCÊNDIOINCÊNDIODECAIMENTO DO DECAIMENTO DO
INCÊNDIOINCÊNDIO
CONTROLADO PELACONTROLADO PELA
VENTILAÇÃOVENTILAÇÃO
CONTROLADO PELOCONTROLADO PELO
COMBUSTÍVELCOMBUSTÍVEL
CONTROLADO PELACONTROLADO PELA
VENTILAÇÃOVENTILAÇÃO
CRESCIMENTO DESENVOLVIMENTO DECAIMENTO
12
3
4
5
6
PERÍODOS
1- PRÉ-AQUECIMENTO
2- INICIAL DE QUEIMA
3- QUEIMA INTENSA
4- QUIMA INTERATIVA
5- QUEIMA REMOTA
6- ENVOLVIMENTO DO AMBIENTE
T emp e
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r a,
T o u
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Tempo
SEGURANÇA DOS SEGURANÇA DOS OCUPANTESOCUPANTES
ESTABILIDADE ESTABILIDADE ESTRUTURALESTRUTURAL
MENOR DO QUE 30minMENOR DO QUE 30min ENTRE 30min e 3hENTRE 30min e 3h
CRESCIMENTO DO CRESCIMENTO DO
INCÊNDIOINCÊNDIODESENVOLVIMENTO DO DESENVOLVIMENTO DO
INCÊNDIOINCÊNDIODECAIMENTO DO DECAIMENTO DO
INCÊNDIOINCÊNDIO
CONTROLADO PELACONTROLADO PELA
VENTILAÇÃOVENTILAÇÃO
CONTROLADO PELOCONTROLADO PELO
COMBUSTÍVELCOMBUSTÍVEL
CONTROLADO PELACONTROLADO PELA
VENTILAÇÃOVENTILAÇÃO
CRESCIMENTO DESENVOLVIMENTO DECAIMENTO
12
3
4
5
6
T emp e
r at u
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T o u
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Tempo
SEGURANÇA DOS SEGURANÇA DOS OCUPANTESOCUPANTES
ESTABILIDADE ESTABILIDADE ESTRUTURALESTRUTURAL
MENOR DO QUE 30minMENOR DO QUE 30min ENTRE 30min e 3hENTRE 30min e 3h
CRESCIMENTO DO CRESCIMENTO DO
INCÊNDIOINCÊNDIODESENVOLVIMENTO DO DESENVOLVIMENTO DO
INCÊNDIOINCÊNDIODECAIMENTO DO DECAIMENTO DO
INCÊNDIOINCÊNDIO
CONTROLADO PELACONTROLADO PELA
VENTILAÇÃOVENTILAÇÃO
CONTROLADO PELOCONTROLADO PELO
COMBUSTÍVELCOMBUSTÍVEL
CONTROLADO PELACONTROLADO PELA
VENTILAÇÃOVENTILAÇÃO
CRESCIMENTO DESENVOLVIMENTO DECAIMENTO
12
3
4
5
6
.
14 .
O Diagrama contínuo proposto por FITZGERALD (1998), consiste num diagrama
lógico, que integra as vantagens das árvores das falhas e dos eventos. São utilizados para
organizar a análise e estruturar a avaliação. È uma estrutura semi-gráfica utilizada para
descrever o processo de pensamento, para focalizar a atenção na situação que está sendo
avaliada e para ajudar na comunicação com outras pessoas.
O diagrama fornece uma idéia clara do que está ocorrendo num momento imediato. O
processo utiliza um raciocínio dedutivo para identificar uma integração lógica dos eventos
que afetam os resultados da estrutura. Funciona para descrever o processo e avaliar os
detalhes em eventos críticos específicos. FITZGERALD (1998) ainda afirma que a principal
vantagem do diagrama contínuo é facilitar a comunicação.
Figura 4.5 Diagrama contínuo para o desenvolvimento de incêndios para ambientes com volume menor que
100m3. Adaptado de FITZGERALD (1998).
ESTABELECIMENTO DA
CHAMA
O INCÊNDIO NÃO SE AUTO-EXTINGUE ANTES DO
PONTO LIMITE
O INCÊNDIO SE AUTO-EXTINGUE ANTES DO
PONTO LIMITE
O INCÊNDIO NÃO SE AUTO-EXTINGUE ANTES DO
PONTO NO TETO
O INCÊNDIO SE AUTO-EXTINGUE ANTES DO
PONTO NO TETO
O INCÊNDIO NÃO SE AUTO-EXTINGUE ANTES DE
ENVOLVER O AMBIENTE
O INCÊNDIO SE AUTO-EXTINGUE ANTES DE
ENVOLVER O AMBIENTE
O INCÊNDIO NÃO SE
AUTO-EXTINGUE
O INCÊNDIO SE
AUTO-EXTINGUE
20kW
400kW
800kW
TAMANHO DO INCÊNDIO
.
15 .
4.1.1 Etapas de desenvolvimento do incêndio
Crescimento do incêndio
O conhecimento sobre a etapa de crescimento do incêndio antes que o flashover seja
atingido é fundamental na engenharia de incêndios, pois essa etapa é decisiva para a proteção
das pessoas presentes no ambiente. O crescimento do incêndio poderá iniciar-se através da
combustão com chama, pois a chama irá desenvolve-se envolvendo combustíveis próximos a
fonte de ignição. Uma vez estabelecida a combustão com chama a probabilidade de que a
chama envolva todo o ambiente é alta, a menos que haja algum tipo de prevenção para
controlar ou extinguir completamente o fogo.
Detectores de fumaça, de calor e os sistemas de sprinkler são projetados e
dimensionados para operar nesta etapa, antes da ocorrência do flashover, enquanto o fogo é
pequeno e pode ser controlado com uma moderada quantidade de água.
A velocidade de crescimento do incêndio irá depender da geometria e arranjo físico do
combustível, bem como de suas características, até que o tamanho do incêndio seja limitado a
uma área do combustível ou restrito devido a fornecimento de oxigênio.
Durante o crescimento do incêndio, o ar entra na zona de combustão e a chama
desenvolve-se formando uma coluna de gases quentes, denominada pluma de fogo, que tende
a subir devido a sua menor densidade, logo a pluma do fogo é interrompida pelo teto,
formando uma camada de gases quente conforme representado na figuras 4.6.
QUINTIERE (1998) define pluma de fogo como sendo uma coluna de fluido na qual
se tem os produtos da combustão (i.e., partículas sólidas, fumaça e gases tóxicos), originada a
partir da chama desenvolvida na superfície do pacote combustível em queima.
Figura 4.6 Comportamento da pluma de fogo.DRYSDALE(1986).
Pacote combustível
Pluma de fogo
Entrada de ar
Camada ar frio
Camada gases aquecidos Camada de gases quente
Temperatura T
Pluma de fogo Entra
Saída Ar quente
.
16 .
KARLSSON & QUINTIERE (2000) dão a seguinte definição: “acima do pacote
combustível, do qual se inicia o incêndio no ambiente, ocorre um mistura de gases (i.e., os
gases quentes provenientes da combustão do pacote combustível e dos gases frios
provenientes da circulação do ar no ambiente). Essa mistura tende a se propagar pelo
ambiente regida por um fluxo ascendente. Este e incluindo a chama que está também se
desenvolvendo a partir da combustão do pacote combustível, são referidos como pluma de
fogo”. Por sua vez, BUCHANAN (2002) define a pluma de fogo como o fluido desenvolvido,
a partir da queima de um pacote combustível, que proporciona o transporte, por meio de
transferência de calor do tipo convectiva dos produtos da combustão até o teto do ambiente.
À medida que os gases quentes descem abaixo da altura das possíveis aberturas
existentes no ambiente estes saem e um novo suprimento de ar que entra no ambiente através
das aberturas existentes faz com que a chama seja mais intensa, aumentando como
conseqüência a quantidade de calor e gases. Vale ressaltar que, a camada de gases aquecida
irradia calor para outros combustíveis presentes no ambiente, os quais ainda não sofreram
ignição, dando início ao processo de evaporação ou pirólise. Uma vez que a temperatura das
camada de gases aquecidos (figura 4.6) atinge 600oC ou um nível de radiação no chão de
aproximadamente 20kW/m2 é alcançado, a probabilidade de que todos os itens presentes no
ambiente queimem livremente é alta. Esta transição é conhecida como flashover e muitas são
as definições para tal fenômeno.
DRYSDALE (1986) define flashover como sendo uma rápida propagação da chama
da superfície que está queimando para todas as superfícies dos demais pacotes combustíveis
dentro da sala de origem. Segundo ele um “típico flashover” ocorre quando a temperatura dos
gases na altura do teto está em torno dos 600ºC, resultando assim num fluxo de calor irradiado
de 20kW/m2 ao nível do piso.
Uma definição semelhante é dada por FITZGERALD (1998) que define o flashover
como a rápida ignição, quase que conjunta, de todos os gases dentro da sala de origem
observando-se um fluxo de calor irradiado de 20kW/m2 ao nível do piso e a temperatura dos
gases na altura do teto em torno dos 600ºC. Após o flashover a temperatura estará em torno de
1000ºC (ver figura 4.7).
QUINTIERE (1998) afirma que flashover é um evento que pode ocorrer quando a
temperatura dos gases aquecidos no teto da sala de origem estiver entre 500ºC e 600º C,
deixando assim, a mesma totalmente repleta de chamas (ver figuras 4.8 e 4.9).
.
17 .
Figura 4.7 Condições para o flashover segundo FITZGERALD (1998)
Figura 4.8 Desenvolvimento da pluma de fogo culminando no flashover.
TEMPERATURA
TEMPO
ENERGIA
ou600oC
ou
20kW/m21000oC
80% DO COMBUSTÍVEL
FOI CONSUMIDO
TEMPERATURA
TEMPO
ENERGIA
ou600oC
ou
20kW/m21000oC
80% DO COMBUSTÍVEL
FOI CONSUMIDO
.
18 .
Uma outra definição para flashover é a de PATTERSON (1993): é a combustão de
vapores flamáveis e outros constituintes advindos dos pacotes combustíveis da sala de
origem; freqüentemente, ela é inesperada, rápida e violenta. BUCHANAN (2002) diz que o
flashover é o fenômeno que ocorre durante um incêndio em ambiente fechado, de propagação
da combustão de um pacote combustível para os demais pacotes combustíveis presentes no
ambiente. Dado que um incêndio se inicie em um ambiente, flashover é a rápida transição
para o estado em que todo esse ambiente se torna envolvido por chamas e fumaça. A figura
4.9 ilustra o flashover.
Figura 4.9 Início de um flashover numa sala de testes experimentais.
Na figura 4.9 é possível se observar os gases confinados no teto e outros pacotes
combustíveis (i.e., as cadeiras e mesas da sala) que começam a entrar em processo de
combustão.
Segundo FITZGERALD (1998) o crescimento de um incêndio poderá ter uma duração
de alguns minutos até algumas horas. Para um ambiente bem ventilado e modestamente
mobiliado o tempo entre a ignição e o ‘flashover’ é de cerca de cinco minutos, para uma
energia liberada em torno de 1MW.
Segundo WATERMAN (1968), para o flashover ocorrer é necessário que haja um fluxo
de calor maior do que 20kW/m2 no nível do chão, este calor é suficiente para ignição de
papel. Para a ignição de madeira se faz necessário um fluxo de calor maior, contudo
20kW/m2 é suficiente para provocar ignição e propagação da chama na maioria dos
GASES QUENTES
PACOTES EM PROCESSO DE COMBUSTÃO
.
19 .
combustíveis sólidos. A maior parte deste fluxo de calor é proveniente da camada de gases
aquecidos e o flashover não ocorrerá até que a taxa de queima tenha excedido 40g/s.
HESELDEN E MELINEK (1975) concluíram que o flashover desenvolve-se quando a
temperatura dos gases próximo ao teto, com um pé direito de 2,7m, alcança 600oC, conforme
já mencionado anteriormente, porém deve ser observado que a temperatura dos gases
aquecidos é função do pé direito. Segundo estes estudos, para um pé direito de 1m a
temperatura da camada aquecida de gases e vapores de 450oC conduz ao flashover.
Em outras palavras a mínima energia necessária para que o flashover seja atingido
depende, além das dimensões do ambiente, da ventilação. Se existir pouca ventilação no
ambiente o flashover não ocorrerá, por outro lado se houver muita ventilação o excesso de ar
diluirá e resfriará os gases aquecidos e a fumaça, logo o calor liberado necessário para que a
temperatura crítica seja alcançada deverá ser maior. Soma-se a isto o tipo material empregado
na construção do teto e da parte superior das paredes (KARLSSON & QUINTIERE, 2000).
Figura 4.10 Influência do tipo de material de revestimento de teto no tempo para ocorrência do flashover.Fonte:
KARLSON &QUINTIERE (2000)
A figura 4.10 mostra a influência do tipo de material empregado para revestimento de tetos
no tempo para a ocorrência do flashover. Observa-se que para uma mesma taxa de calor
liberado, o tempo para a ocorrência do flashover num ambiente com teto combustível será
menor do que no mesmo ambiente com o teto não combustível.A tabela 4.3 mostra as
condições mínimas para a ocorrência do flashover, segundo diversos autores.
TEMPO
TETO NÃO COMBUSTÍVEL
TETO COMBUSTÍVEL
TEMPO
TETO NÃO COMBUSTÍVEL
TETO COMBUSTÍVEL
.
20 .
Tabela 4.3 Condições mínimas para o flashover. Fonte: notas de aula da Professora Dayse Duarte - 2001
Desenvolvimento Completo do Incêndio
O desenvolvimento completo do incêndio é importante quando se considera a proteção
da propriedade, a estabilidade estrutural da edificação e a possibilidade do incêndio propagar-
se para propriedades ou espaços adjacentes. Após o flashover o incêndio passa a ser
caracterizado por elevadas temperaturas, algo em torno de 1.000oC, e uma taxa de liberação
de calor elevadíssima. E isto prossegue até que a taxa de geração de voláteis flamáveis seja
reduzida.
O período do desenvolvimento do incêndio (vide figura 4.1) é controlado pela
ventilação, ou seja, a velocidade de queima é controlada pelo número de aberturas presentes
no ambiente. Em geral chamas projetadas pela janela indicam que o incêndio é controlado
pela ventilação conforme exemplificado pelas figuras 4.11 e 4.12.
Figuras 4.11 e 4.12 Chamas projetadas pelas janelas indicando um incêndio controlado pela ventilação.
Fonte: Corpo de Bombeiros de Pernambuco
FONTE TEMPERATURA
OC
FLUXO DE CALOR
kW/m 2
HÄGGLAND 600 -
FANG 450 – 650 17 - 33
BUDNICK AND KEIN 673 – 771 15
LEE AND BREESE 650 17 - 30
BABRAUSKAS 600 20
FANG AND BREESE 706 ± 92 20
QUINTIERE AND McCAFFREY 600 17,5 – 25
THOMAS 520 22
PARKER AND LEE - 20
CONDIÇÕES MÍNIMAS PARA O FLASHOVERCONDIÇÕES MÍNIMAS PARA O FLASHOVER
FONTE TEMPERATURA
OC
FLUXO DE CALOR
kW/m 2
HÄGGLAND 600 -
FANG 450 – 650 17 - 33
BUDNICK AND KEIN 673 – 771 15
LEE AND BREESE 650 17 - 30
BABRAUSKAS 600 20
FANG AND BREESE 706 ± 92 20
QUINTIERE AND McCAFFREY 600 17,5 – 25
THOMAS 520 22
PARKER AND LEE - 20
FONTE TEMPERATURA
OC
FLUXO DE CALOR
kW/m 2
HÄGGLAND 600 -
FANG 450 – 650 17 - 33
BUDNICK AND KEIN 673 – 771 15
LEE AND BREESE 650 17 - 30
BABRAUSKAS 600 20
FANG AND BREESE 706 ± 92 20
QUINTIERE AND McCAFFREY 600 17,5 – 25
THOMAS 520 22
PARKER AND LEE - 20
CONDIÇÕES MÍNIMAS PARA O FLASHOVERCONDIÇÕES MÍNIMAS PARA O FLASHOVER
.
21 .
Contudo, se a taxa de ventilação é muito grande, então a velocidade de queima (i.e.
propagação da chama) se tornará independente do ar que esta penetrando no ambiente,
quando isto ocorre, a taxa de queima passa a ser controlada pelo combustível.
Segundo THOMAS (1967), a transição de um incêndio controlado pela ventilação para
um incêndio controlado pelo combustível depende fundamentalmente da área superficial do
combustível. A duração do período de desenvolvimento do incêndio é função da quantidade
de combustível e da ventilação do ambiente.
Período de Decaimento
Após o período de desenvolvimento a intensidade do incêndio diminui devido ao
consumo do combustível disponível. Quando o consumo do combustível atinge um valor
crítico, que seja incapaz de manter a propagação da chama, o incêndio passa para o período de
decaimento.
Segundo DRYSDALE (1986) a transição entre o período desenvolvimento e o período
de decaimento é definida quando 80% do combustível foi consumido passando o incêndio a
ser novamente controlado pelo combustível. Durante este período o incêndio diminui de
intensidade continuamente até que todo o combustível seja consumido.
4.1.2 Fatores que influenciam o potencial de crescimento de um incêndio.
Numa visão de desempenho a abordagem de alguns fatores que influenciam o
comportamento dos incêndios é fundamental em virtude da interferência que podem provocar
no potencial de crescimento de um incêndio em ambientes fechados.
Figura 4.13 Fatores que interferem o potencial de crescimento de um incêndio Adaptado de
FITZGERALD (1998)
POTENCIAL DE CRESCIMENTO DO INCÊNDIO
DIMENSIONAMENTOE
ABERTURAS
REVESTIMENTOINTERIOR
CONTEÚDO CONTEÚDOTIPO
IGNIÇÃO
VOLUME
PÉ-DIREITO
PAREDES
TETO
TAMANHO DOSPACOTES
COMBUSTÍVEIS
DISTRIBUIÇÃODOS
PACOTES
LOCALIZAÇÃO VERSUS
BARREIRAS
CELULOSE
PLÁSTICO
TAMANHO
LOCALIZAÇÃO
NÃO COMBUSTÍVEL
ABERTURAS
POTENCIAL DE CRESCIMENTO DO INCÊNDIO
DIMENSIONAMENTOE
ABERTURAS
REVESTIMENTOINTERIOR
CONTEÚDO CONTEÚDOTIPO
IGNIÇÃO
VOLUME
PÉ-DIREITO
PAREDES
TETO
TAMANHO DOSPACOTES
COMBUSTÍVEIS
DISTRIBUIÇÃODOS
PACOTES
LOCALIZAÇÃO VERSUS
BARREIRAS
CELULOSE
PLÁSTICO
TAMANHO
LOCALIZAÇÃO
NÃO COMBUSTÍVEL
ABERTURAS
.
22 .
Segundo FITZGERALD (1998) tais fatores (vide figura 4.13) estão relacionados ao
dimensionamento e aberturas do ambiente, seu revestimento interior, conteúdo, tipo de
conteúdo e fontes de ignição presentes. A seguir será realizada uma pequena abordagem
relativa a alguns dos fatores apresentados na figura 4.13.
1- Dimensionamento e aberturas do ambiente
- Volume e pé-direito do ambiente
Em um incêndio, a camada de fumaça e gases quentes e a superfície do teto do
ambiente irradiam calor em direção do combustível levando ao aumento da velocidade de
queima. Outros itens combustíveis na sala também serão aquecidos. A temperatura e
espessura da camada de fumaça e gases quentes e a temperatura do teto conseqüentemente
terão um impacto considerável no crescimento da chama.
Um pacote combustível queimando em ambiente de pequenas dimensões causará
relativamente altas temperaturas e um rápido crescimento da chama. Em um ambiente de
grandes dimensões, o mesmo pacote combustível causará menor elevação da temperatura dos
gases, um tempo maior para o preenchimento de fumaça, menor reação do combustível e um
crescimento da chama mais lento.
QUINTIERE (2000) estabelece as seguintes relações entre as dimensões/formas de um
ambiente e a sua contribuição para o crescimento da chama:
• Ambiente com o teto alto: causa relativamente baixas temperaturas dos gases, mas
devido a grande quantidade de ar que entra, o processo de preenchimento de fumaça
ocorre relativamente rápido. Quanto menor a área do piso, mais rápido é o processo de
preenchimento de fumaça no ambiente.
• Ambiente com o teto baixo: a transferência de calor para o combustível será maior.
Adicionalmente, a chama pode atingir o teto e propagar-se horizontalmente sob ele.
Isto resulta em um considerável aumento na reação entre o combustível e outros
combustíveis que ainda não sofreram ignição e um rápido crescimento da chama é
iminente.
• Ambientes com tetos altos e uma grande área de piso: a chama pode não atingir o
teto e a reação no combustível é mais modesta. O crescimento da chama até certo
ponto ocorre através de irradiação direta da chama para objetos próximos, onde o
espaçamento dos combustíveis torna-se importante.
• Construções com uma grande área de piso, mas um teto baixo: a reação da camada
de gases quentes e chamas no teto pode ser muito intensa próxima à fonte ignição.
.
23 .
Além disso, a entrada de ar frio na camada de gases quentes provoca a perda de calor
para a ampla superfície do teto e o fluxo de calor para os materiais combustíveis é,
portanto, menor do que o fluxo de calor próximo da fonte de calor.
Pode-se assim concluir que a proximidade dos combustíveis de tetos e paredes pode
aumentar o crescimento da chama.
- Aberturas/condições de ventilação
QUINTIERE&KARLSSON (1999) afirmam que na etapa de crescimento do incêndio o
mesmo é predominantemente regido pela ventilação no ambiente, isto é, pela quantidade de ar
que entra no ambiente.
Segundo PATTERSON (1993) é possível identificar dois sub -parâmetros relacionados
à ventilação de um ambiente que interferem no crescimento da chama: dimensões das
aberturas e tipos de aberturas.
a) dimensões das aberturas
Pesquisas realizadas na Grã Bretanha sugerem que a velocidade de queima é
diretamente relacionada com a geometria da janela, descrita pela seguinte relação: A√H, onde
“A” representa a área da janela e “H” representa a sua altura. Esta relação sugere que as
chamadas janelas baixas permitirão uma maior velocidade de queima. Quanto maior for a
relação A√H, maior será a velocidade de queima.
b) tipos das aberturas
Pela relação anteriormente apresentada conclui-se que janelas classificadas como
baixas, ou seja, com altura entre 0,90m a 1,20m e peitoril entre 0,90m e 1,20m, oferecem
maior contribuição para o crescimento da chama do que as janelas classificadas como altas,
ou seja, com altura entre 0,45m a 0,60m e peitoril entre 1,50m e 1,65m.
Figura 4.14 Influência dos tipos de janelas no suprimento de ar de um ambiente.Adaptado de PATTERSON
(1993)
Janela baixa Janela alta
.
24 .
Desta forma, a taxa de combustão de um incêndio pode ser determinada pela velocidade
do suprimento de ar, estando implicitamente relacionada com a quantidade de combustível e
sua disposição, da área do ambiente em chamas e das dimensões das aberturas. Deste conceito
decorre a importância da abordagem nas Normas de segurança contra incêndio sobre as
condições de ventilação de um ambiente (forma e quantidade de aberturas) dada a sua
contribuição para crescimento da chama em um ambiente fechado.
2- Revestimento Interior e tipo de conteúdo
A reação ao fogo dos materiais contidos na edificação, quer seja mobiliários
(estofamentos, cortinas, objetos de decoração, etc), ou então como agregados aos elementos
construtivos (revestimentos de piso, teto, paredes), destaca-se como um dos principais fatores
responsáveis pelo crescimento e propagação das chamas e pelo desenvolvimento de fumaça e
gases tóxicos, contribuindo para que o incêndio atinja fases críticas e gere pânico e mortes
(MILTIDERI, 1998).
Segundo QUINTIERE (1998) para a limitação do crescimento da chama é preciso que
haja um controle da quantidade e características dos materiais de revestimento utilizados no
ambiente. Os materiais utilizados no acabamento/revestimento de pisos, teto e paredes podem
influenciar na evolução de um incêndio de duas maneiras:
• A primeira ocorre em função do posicionamento do material no ambiente. Por
exemplo, a propagação de chamas na superfície exposta de um teto mostra-se mais
crítica para o desenvolvimento do fogo do que sua propagação pelo piso, pois a
transferência de calor, a partir de um foco de incêndio, é muito mais crítica no teto.
• A segunda maneira, se refere à localização dos materiais dentro dos ambientes. A
propagação da chama nos tetos próximos às janelas é muito mais crítica do que
quando afastados das mesmas. Isto ocorre porque, além da emissão de chamas para
fora das janelas, o que poderá provocar a propagação do fogo para andares superiores,
a evolução do incêndio poderá ter a contribuição das chamas e gases quentes oriundos
de andares inferiores, se houver a ocorrência de um sinistro nesses pavimentos.
Assim, deve-se observar que um mesmo material de revestimento pode apresentar
riscos diferentes ao ser utilizado no teto (crescimento da chama rápido), parede
(crescimento da chama moderado) ou piso crescimento da chama lento).
A habilidade de um material lidar com a exposição a altas temperaturas varia
extremamente, e é afetada, em maior grau, pelo seu posicionamento, ou seja, em sua
proximidade em relação a outros materiais. A expansão térmica em materiais de
.
25 .
construção, e o modo no qual eles conduzem ou dissipam o calor são de extrema
importância para o desempenho do ambiente com relação ao fogo (IOSHIMOTO,
1998).
Desta forma, com o maior controle na utilização dos materiais de revestimento
conseqüentemente, a fuga dos ocupantes e as operações de combate e resgate serão
acentuadamente favorecidas, ainda na primeira fase do incêndio.
O tipo de conteúdo (pela sua contribuição no crescimento da chama) também deve ter
suas características combustíveis controladas a fim de minimizar o risco de ocorrência e
propagação de um incêndio num determinado ambiente. È possível identificar quatro classes
de combustíveis (vide tabela 4.4), a saber:
o Combustíveis sólidos de baixa densidade (Crescimento da chama muito lento a lento)
o Combustíveis sólidos de densidade elevada (Crescimento da chama moderado)
o Objetos finos (Crescimento da chama rápido)
o Combustíveis líquidos ou combustíveis muito voláteis (Crescimento da chama ultra -
rápido)
Tabela 4.4 Relação entre as classes de combustível, a taxa de crescimento e a intensidade de um
incêndio.Adaptado de DUARTE (2001).
TAXA DE CRESCIMENTO
DO INCÊNDIO
INTENSIDADE DO
INCÊNDIO
INCÊNDIO
EQUIVALENTE
MUITO LENTO
1055 kw
em
mais de 600 segundos
----------------
LENTO
1055 kw
em
600 segundos
Combustíveis sólidos de
densidade elevada
MÉDIO
1055 kw
em
300 segundos
Combustíveis sólidos de
densidade baixa
RÁPIDO
1055 kw
em
150 segundos
Objetos finos
ULTRA-RÁPIDO
1055 kw
em
750 segundos
Combustíveis líquidos ou
combustíveis muito
voláteis
.
26 .
3- Conteúdo
A necessidade da abordagem nas Normas de segurança contra incêndio com relação à
localização e distribuição do conteúdo combustível num determinado ambiente (layout) é
relevante devido à grande importância deste fator na determinação da velocidade de
crescimento da chama.
Segundo DRYSDALE (1986) se os conteúdos materiais encontram-se distribuídos em
toda a área do ambiente e observa-se uma boa separação entre eles, então o crescimento e
expansão da chama serão minimizados. Porém, se o conteúdo estiver agrupado de tal maneira
que se observe a formação de “pacotes combustíveis”, tornando possível uma suficiente
transferência de calor de combustão entre os mesmos, então o crescimento e expansão da
chama serão maximizados.
Para MILTIDIERI (1998) a maioria dos incêndios ocorre a partir de uma fonte de ignição
nos materiais contidos no ambiente e não nos materiais incorporados ao sistema construtivo.
Uma vez que o material que esteja em contato com a fonte de ignição se decomponha pelo
calor, serão liberados gases que sofrem ignição. Quando a ignição está estabelecida, o
material manterá a combustão, liberando gases/fumaça e desenvolvendo calor. O ambiente
então, sofrerá uma gradativa elevação de temperatura, e fumaça e gases quentes serão
acumulados no teto. Através da condução, radiação e convecção, poderá ocorrer a propagação
do fogo para materiais combustíveis que estejam nas adjacências.
Daí decorre a importância da análise da distribuição do conteúdo no ambiente a fim de
minimizar os seus efeitos na contribuição de crescimento da chama.
Segundo QUINTIERE (2000) a forma física do conteúdo combustível também possui um
efeito na propagação da chama. Por exemplo, se no ambiente existem objetos ou mobiliários
altos o suficiente para permitir que as chamas atinjam o teto, a chama vai se
transferir/desenvolver mais rapidamente. Um efeito similar é produzido quando um material
combustível reveste as paredes do ambiente.
Assim, pode-se identificar dois sub-parâmetros relacionados ao layout de um ambiente
que interferem no crescimento da chama:
- Pacotes combustíveis
Observar num dado ambiente a existência ou não de pacotes combustíveis e relacionar
os materiais que os compõem segundo a classificação da contribuição para o crescimento da
chama (muito lento, lento, médio, rápido, ultra-rápido).
.
27 .
- Distribuição dos pacotes
A maneira como os pacotes combustíveis encontram-se distribuídos no ambiente
também interfere no potencial de crescimento da chama.
Segundo ZUKOSKI (1981) é possível observar três formas de distribuição dos pacotes no
ambiente em relação às barreiras e estas formas de distribuição podem interferir no aumento
da temperatura no ambiente e conseqüentemente na velocidade de desenvolvimento das
chamas como pode ser observado através das figuras 4.15 e 4.16.
Sem a influência da barreira
Figura 4.15 Influencia das barreiras na velocidade de desenvolvimento das chamas.Adaptado de
ZUKOSKI (1981)
Figura 4.16 Gráfico ilustrativo da influência das barreiras no desenvolvimento do incêndio. Fonte ALPERT & WARD (1989)
Pelo exposto verifica-se que o desenvolvimento de um incêndio se dará em maior ou
menor espaço de tempo em virtude dos fatores que foram apontados e que influenciam no seu
NÃO HÁ INFLUÊNCIA DA PAREDE
CONTRA A PAREDENA QUINA DA PAREDE
ALTURA ACIMA DO SOLO (m)
TEMPERATURA (oC)
NÃO HÁ INFLUÊNCIA DA PAREDE
CONTRA A PAREDENA QUINA DA PAREDE
ALTURA ACIMA DO SOLO (m)
NÃO HÁ INFLUÊNCIA DA PAREDE
CONTRA A PAREDENA QUINA DA PAREDE
ALTURA ACIMA DO SOLO (m)
TEMPERATURA (oC)
Contra a barreira Quina da barreira
.Velocidade = Vi .Velocidade = 2Vi .Velocidade = 4Vi
.
28 .
comportamento, bastante complexo e dinâmico. Complexo, porque existe mais de uma
variável, assim como fatores, que influenciam em seu comportamento e dinâmico, pois seu
comportamento não é constante ao longo do tempo. Esta complexidade e dinamicidade serão
abordadas, em linhas gerais, a seguir.
O incêndio pode ser considerado um sistema. De acordo com CAMPELLO (2002),
sistema, num sentido geral, é uma coleção de objetos unidos por alguma forma de interação
ou interdependência; logo, um incêndio é um sistema.
Assim, um sistema complexo pode ser visto como todo aquele que possui mais de uma
variável influenciando em seu comportamento ao longo do tempo, além de ser observada uma
interdependência entre as variáveis.
O comportamento de incêndios em ambientes fechados (i.e., ambiente confinado) é
determinado por mais de uma variável: o fluxo de calor irradiado, temperatura, densidade,
entre outros. São também influenciados por diversos fatores, tais como: dimensionamento e
aberturas do ambiente, revestimento interior, conteúdo, tipo de conteúdo e fontes de ignição
(vide figura 4.13).
Conforme mencionado na seção 4.1.1, há certas condições necessárias para que o
flashover ocorra. Deve haver suficiente combustível e ventilação no ambiente para que o
incêndio se desenvolva e atinja um tamanho significativo. O teto deve possibilitar a formação
da camada de gases aquecidos, a configuração da sala deve permitir que o calor radiado da
camada dos gases quentes atinja os demais itens, isto é, os pacotes combustíveis presentes no
ambiente.
A tabela 4.3 (vide seção 4.1.1) mostra a temperatura e o fluxo de calor necessários
para que o flashover venha a ocorrer. A discrepância dos vários resultados se deve à diferença
no tamanho do ambiente, tipo de materiais construtivos empregados na sala, tipos
combustíveis usados nos testes. A figuras 4.17 e 4.18 mostram as variáveis que influenciam
no crescimento do incêndio e suas interdependências.
Onde: k = coeficiente de condutividade térmica (kW/m.);
ρ = densidade (kg/m3);
c = calor específico (kJ/kG.K);
ρg = densidade dos gases internos (kg/m3);
Tg = temperatura dos gases internos (ºC);
ρa = densidade dos gases internos (kg/m3);
Ta = temperatura dos gases internos (kg/m3);
.
29 .
ma = fluxo de massa do ar que está entrando (kg/s);
mg = fluxo de massa do ar que está saindo (kg/s);
u = velocidade ascendente da pluma (m/s);
H = altura da janela (m).
Arquitetura
Ventilação
Crescimento do incêndio
Pacote combustível
radiação térmica
fumaça
mistura convectiva
temperatura de vaporização
condução, calor
ignição
radiação
Aquecimento por radiação e convecção
Plano neutro
H u
janela piso
pluma
Figura 4.17- Variáveis que influenciam no crescimento do incêndio
Figura 4.18 Interação entre os fenômenos que ocorrem durante o incêndio
.
30 .
O flashover só ocorrerá quando o calor liberado atingir um certo valor. Este é função
das dimensões das aberturas do ambiente. Segundo THOMAS (1995), o critério para que o
flashover ocorra é dado pela equação abaixo:
Q = 0,0078. Ap + 0,378. A. H (eq. 4.2),
Onde:
Q = fluxo de calor liberado (kW/m2);
Ap = área do piso da sala (m2);
A = área da janela da sala (m2);
H = altura da janela da sala (m).
Do exposto acima, observa-se que um incêndio em um ambiente fechado é função de um
conjunto de variáveis (vide figuras 4.17 e 4.18). Estas variáveis são interdependentes e variam
com o tempo. Logo, segundo MACHADO (2003), o incêndio pode ser considerado um
sistema complexo e dinâmico. A equação 4.2 ressalta que a energia liberada durante um
incêndio é função das aberturas presentes no ambiente.
Um incêndio pode ser caracterizado como sendo um sistema dinâmico, pois o mesmo
contém mais de uma variável, não constante ao longo do tempo. Os valores dessas variáveis
variam à medida que o tempo evolui. Dessa forma, o estado desse sistema no instante t é
descrito pela indicação dos valores de tais variáveis em função do tempo (i.e., evolução
temporal das variáveis). Essas variáveis são representadas por grandezas físicas: taxa de calor
liberado, temperatura, densidade, entre outras.
Para MACHADO (2003) a complexidade e a dinamicidade de um incêndio em
ambiente fechado são características que dificultam o real entendimento do seu
comportamento e, subseqüentemente, a predição, por exemplo, da ocorrência ou não do
flashover, ou ainda, dado que o mesmo venha a ocorrer, em quanto tempo ele será
evidenciado.
Na seção seguinte serão apresentados os códigos de segurança contra incêndios
prescritivos e baseados no desempenho e a maneira como os dois códigos tratam esta
complexidade e dinamicidade dos incêndios.
.
31 .
4.2 Códigos de segurança contra incêndio
Com a segunda Grande Guerra iniciou-se um processo acentuado de industrialização e o
surgimento de novos materiais e técnicas, muitos dos quais, frutos do desenvolvimento da
tecnologia militar e aeroespacial alterando-se significativamente o modo de construir e viver
do homem em todo o mundo. Inúmeras técnicas tradicionais foram substituídas e as novas
foram somadas às existentes nos vários campos da atividade humana. O mesmo veio
ocorrendo com os materiais de construção e acabamento das edificações como um todo e com
os objetos que constituem o seu interior.
Assim, ao longo do tempo, o surgimento de novos materiais e modificações nos
sistemas construtivos das edificações caracterizadas principalmente pela utilização de grandes
áreas sem compartimentação, pelo emprego de fachadas envidraçadas, incorporação
acentuada de materiais combustíveis aos elementos construtivos sem a devida preocupação
com a segurança contra incêndios, que aliadas ao número crescente de instalações e
equipamentos de serviço, introduziram riscos de incêndio que anteriormente não existiam nas
edificações tendo como conseqüências grandes e graves incêndios (MILTIDIERI, 1998).
Têm-se como, por exemplo, os incêndios ocorridos em São Paulo nas décadas de 70 e
80 (vide seção 4.2.5.1) que abalaram a opinião pública em todo o país e levaram à tona a
discussão sobre a segurança contra incêndio das edificações.
Assim, ao longo do tempo, a ocorrência de desastres envolvendo incêndios levou o
poder público em todo o mundo a pensar em maneiras mais efetivas de se prevenir e combater
estes incêndios. Desde então, foram criados códigos de segurança contra incêndios com a
característica de serem baseados nas falhas e experiências do passado e que ficaram
conhecidos como Códigos Prescritivos.
Diferentemente dos códigos prescritivos e de sua postura reativa, os códigos baseados
no desempenho surgem como uma alternativa por ser baseado em objetivos. As diferenças
entre estes dois códigos serão abordadas ao longo desta seção tendo o objetivo de mostrar
como estes dois códigos abordam a complexidade e dinamicidade do incêndio discutida
anteriormente na seção 4.1.
4.2.1- Códigos de segurança contra incêndios prescritivos
Os códigos prescritivos dizem como alcançar a segurança contra incêndios sem deixar
claro quais são as intenções destas recomendações sugeridas. Como conseqüência do uso
desses códigos o que se observa é que os custos dos projetos tendem a ser maiores devido à
.
32 .
redundância e/ou excesso das medidas de segurança sugeridas pelos mesmos. Soma-se a isto
o fato de que muitas vezes tais recomendações não garantem a segurança dos usuários e
propriedade no evento de um incêndio (BUCHANAN, 1999).
Os Códigos Prescritivos são representados pelos códigos de segurança contra incêndio
tradicionais (vide seção 4.2.5) onde são estabelecidos uma série de prescrições generalistas a
que todos os edifícios com determinados tipos de ocupação devem cumprir para assegurar a
segurança contra incêndio das edificações. Pode-se observar que os projetos resultantes deste
tipo de código, mesmo que rigorosamente seguidas suas prescrições, muitas vezes não
garantem a segurança devida aos ocupantes e a edificação no momento de um incêndio, pois a
mínima segurança exigida pelos códigos prescritivos para um determinado tipo de ocupação
pode exceder a segurança que seria necessária em algumas edificações ou em muitos casos ser
menor do que a mínima segurança necessária para outras (MEACHAM, 1997).
Segundo HADJSOPHOCLEOUS (1999) estes códigos apresentam algumas vantagens
na sua utilização como a análise direta das recomendações estabelecidas no código não sendo
necessário para tal, engenheiros com uma qualificação mais específica. Contudo, os Códigos
Prescritivos também apresentam uma série de desvantagens em sua utilização, a saber:
- As recomendações contidas nos códigos são bastante específicas e a intenção
destas recomendações não é declarada;
- É assumida uma única maneira de assegurar a segurança contra incêndio o que
torna este tipo de código pouco flexível quanto à inovação;
- Não é possível promover projetos mais seguros a um custo menor.
A postura reativa dos Códigos Prescritivos está sendo discutida em diversos países do
mundo como Japão, E. U. A, Reino Unido, Austrália, Nova Zelândia, Alemanha e Canadá
pela necessidade de se garantir uma maior segurança aos ocupantes, à própria edificação e
edificações vizinhas e ao meio ambiente dos efeitos adversos do fogo (BUCHANAN, 1999).
Observa-se que nestes países está ocorrendo uma mudança de enfoque no que diz respeito aos
problemas de segurança contra incêndios com a inclusão de questionamentos sobre a
interação da dinâmica do incêndio, comportamento das pessoas e da edificação dado que
ocorra um incêndio. Este novo enfoque caracteriza os chamados Códigos Baseados no
Desempenho.
4.2.2 Códigos de segurança contra incêndios baseados no desempenho
Diferentemente dos Códigos Prescritivos (vide tabelas 4.5 e 4.6), e de sua postura
“reativa”, os Códigos Baseados no Desempenho são códigos dinâmicos, pois se baseiam no
.
33 .
desempenho de todos os agentes envolvidos no sistema, a saber: dinâmica do incêndio, a
edificação e o comportamento das pessoas.
Neste tipo de código os objetivos desejados são claramente definidos e apresentados,
ficando a critério dos projetistas a liberdade para escolher a solução que irá satisfazer os
objetivos especificados, propiciando uma maior flexibilidade no projeto, contanto que a
segurança possa ser alcançada (BUCHANAN, 1999).
A implementação dos Códigos Baseados no Desempenho levou os projetistas a
modificar o modo como eles abordavam a segurança contra incêndios até então (ótica
prescritiva) trazendo maiores responsabilidades visto que estes devem comprovar a eficácia
de seu projeto na satisfação dos objetivos propostos.
Como decorrência deste processo surgiu uma demanda súbita de profissionais
qualificados com conhecimentos na dinâmica do incêndio para a elaboração de projeto,
revisão e implementação das novas diretrizes surgindo assim, novas oportunidades
profissionais para a implementação dos Códigos Baseados no Desempenho.
Os Códigos Baseados no Desempenho apresentam diversas vantagens em sua
utilização como a flexibilidade para a introdução de soluções arquitetônicas inovadoras e de
novas tecnologias que venham atender aos critérios de desempenho estabelecidos
possibilitando a existência de projetos mais seguros a um custo menor além da harmonização
com normas e códigos internacionais (HADJSOPHOCLEOUS, 1999).
Por outro lado, as desvantagens em sua utilização são caracterizadas pela necessidade
de treinamento do corpo técnico com uma qualificação mais específica, especialmente nos
primeiros estágios de implementação deste tipo de código; dificuldades para análise e
avaliação dos critérios de desempenho e na definição e validação dos critérios quantitativos
utilizados (MEACHAM, 1997).
Tabela 4.5 Vantagens e desvantagens dos códigos prescritivos. Adaptado de (HADJSOPHOCLEOUS, 1999).
VANTAGENS DESVANTAGENS
Análise direta, i.e., interpretação direta com o estabelecido nas normas e códigos.
Recomendações específicas sem que a intenção das mesmas seja declarada.
Não são necessários engenheiros com uma qualificação mais específica.
A estrutura dos códigos existentes é complexa
Não é possível promover projetos mais seguros e a um custo menor.
Pouco flexíveis quanto à inovação. É assumida uma única maneira de assegurar a
segurança contra incêndios.
.
34 .
Tabela 4.6. Vantagens e desvantagens dos códigos baseados no desempenho. Adaptado de
HADJSOPHOCLEOUS, (1999).
VANTAGENS DESVANTAGES
Estabelecimento de objetivos de segurança claramente definidos, ficando a critério dos engenheiros a metodologia para atingi-los.
Dificuldade em definir critérios quantitativos, i.e., critérios de desempenho.
Flexibilidade para a introdução de soluções inovadoras, as quais venham a atender aos critérios de desempenho.
Necessidade de treinamento, especialmente durante os primeiros estágio de implementação.
Harmonização com normas e códigos internacionais.
Dificuldade para análise e avaliação.
Possibilidade de projetos mais seguros e com custo menor.
Dificuldades na validação das metodologias usadas na quantificação.
Introdução de novas tecnologias no mercado.
4.2.2.1 Experiência de países no mundo com a implementação de códigos baseados no
desempenho
Os Códigos de Segurança Contra Incêndios Baseados no Desempenho começam a ser
implementados em diversos países, a saber: Japão, E.U.A., Reino Unido, Austrália, Nova
Zelândia, Alemanha e Canadá.
È esperado que a tendência da adoção de códigos baseados no desempenho no mundo
traga maior responsabilidade a cada profissional envolvido no projeto de edificações, uma vez
que os requisitos, antes prescritivos passam a ser atendidos através de soluções que exigem
melhor domínio do conhecimento das diversas áreas envolvidas incluindo a segurança contra
incêndio (BUKOWSKI &BABAUSKAS, 1994).
A fase de implementação de um código baseado no desempenho é precedida por uma
etapa de transição que consiste na mudança de um código prescritivo para um código baseado
no desempenho, que é representada por um código de equivalência.
Os códigos de equivalência apresentam enfoques alternativos para a segurança contra
incêndios onde as recomendações sugeridas nos códigos prescritivos são examinadas sob as
cláusulas de equivalência presentes no código. Sob estas cláusulas os projetistas podem
convencer as autoridades responsáveis pela aprovação dos projetos que apesar da diferença
apresentada pelo projeto na ótica de desempenho há o cumprimento dos objetivos
estabelecidos pelos códigos prescritivos (BUKOWSKI, 1995).
Países como Japão, E. U. A e Inglaterra já foram e são alvos de acidentes envolvendo
incêndios que acarretaram em grandes perdas econômicas, sociais e humanas. Como exemplo
de perdas resultantes de incêndio têm-se, segundo DRYSDALE (1986), que no Reino Unido,
.
35 .
as perdas diretas (i.e., perdas físicas, perdas humanas, perdas na produção, etc.),
provavelmente, excedem $1 bilhão de libras esterlinas, enquanto que mais de 800 pessoas
morrem em incêndios a cada ano. Já nos Estados Unidos da América, estima-se que os custos
anuais provindos de incêndios são algo em torno de $85 bilhões de dólares, segundo
QUINTIERE (1998). Quando se analisam as perdas humanas, ou seja, o número de vítimas
provenientes de incêndios, verifica-se que os números são elevados. Segundo COX (1996),
cerca de 10 a 20 fatalidades para cada um milhão da população mundial, a cada ano, são em
virtude de incêndios. Estas perdas, ao longo do tempo, levaram a sociedade a compreender o
alcance catastrófico de um incêndio ocasionando a implementaram uma legislação de
segurança contra incêndios prescritiva.
Observa-se, entretanto, que tais países amadureceram uma cultura de segurança, ou seja,
o Poder Público e a sociedade de maneira geral aprenderam com suas falhas em experiência
com desastres e, possuindo códigos de segurança prescritivos bem estabelecidos, que serviram
de ponto de partida para a verificação da equivalência entre as recomendações prescritivas e
às de desempenho, iniciaram um processo de mudança passando a adotar posturas pró-ativas
característica dos códigos baseados no desempenho ( MACHADO & PROCORO, 2002).
Apesar dessa tendência mundial nas legislações de segurança contra incêndios, sua
implementação nem sempre obtém o êxito esperado, isto é, os objetivos de desempenho do
código não são alcançados satisfatoriamente dentro do contexto ao qual o país está inserido.
Sendo assim, muitos fatores são relevantes e decisivos para que o código baseado no
desempenho seja bem implementado. Tais fatores dependerão de todo um contexto histórico
de prevenção de incêndios do país (o qual está muito associado à percepção do risco de
incêndios), assim como dos aspectos econômico, geográfico, político, entre outros.
Apesar de cada país possuir características peculiares, pode-se estabelecer, em linhas
gerais, algumas condições que podem ser tomadas como critérios básicos para se definir qual
a probabilidade de que um código baseado no desempenho venha ser considerado como bem
ou mal implementado, conforme mostrado na tabela 4.7.
Como exemplo de um processo de implementação de código baseado no desempenho
que tem uma boa probabilidade de obter êxito, tem-se o caso do Japão. O que se percebe no
contexto japonês, é que a implementação do código baseado no desempenho está se dando de
forma satisfatória .
.
36 .
Tabela 4.7. – critérios estabelecidos como indicadores para se definir quando um código baseado no
desempenho tem a probabilidade de ser bem ou mal implementado.
BEM IMPLEMENTADO MAL IMPLEMENTADO Há percepção do risco de incêndio por parte da sociedade.
A percepção do risco de incêndio por parte da sociedade é pequena.
Centralização dos códigos; há uma única legislação para o país.
No país há várias legislações, sejam a níveis federal, estadual e municipal.
Existência de um suporte governamental. Não se tem suporte governamental.
Um dos fatores relevantes para essa boa implementação é a existência de um órgão
federal, o Ministério da Construção, responsável pela elaboração, implementação e
verificação da conformidade dos projetos a serem aprovados com os códigos vigentes. Esse
fator aliado à pequena extensão territorial do Japão facilita a transição para o uso de códigos
baseados no desempenho.
Ao contrário do Japão, nos E.U.A. a elaboração de normas e códigos é deixada à
critério tanto do setor público, como do privado. Sendo assim, a implementação dos códigos
baseados no desempenho nos E.U.A. é feita pelo poder legislativo aos níveis federal, estadual
e municipal. Isso acarreta numa desuniformidade dos códigos, o que é desfavorável à
eficiência e eficácia dos mesmos.
Além disso, os E.U.A., provavelmente, é o único país, dentre os maiores países
industrializados, que não possui suporte governamental no que se refere à proteção contra
incêndios em edificações. Isso é um reflexo de que, apesar da preocupação na implementação
de códigos baseados no desempenho, ainda não existe uma visão nacional de como um código
baseado no desempenho poderá realmente funcionar em seu território (WPI, 1999).
Diferentemente dos países anteriormente citados, no Brasil não houve o
amadurecimento de uma cultura de segurança voltada à prevenção de riscos de incêndio,
apesar das grandes e marcantes tragédias que assolaram o país como os incêndios dos
Edifícios Andraus (1972), Joelma (1974), Grande Avenida (1981), Cesp (1986), e explosões
numa fábrica de fogos no bairro de Pirituba na Capital Paulista (1995) e no Shopping Center
Osasco (1996). Estes incêndios colocaram em evidência a segurança contra incêndio no país
levando esta questão a ser repensada com maior atenção considerando inclusive os impactos e
as perdas econômicas, sociais e humanas decorrentes destes eventos. Isto despertou, talvez, a
percepção das pessoas aos riscos de incêndio e suas conseqüências levando o Poder Público a
compreender o alcance catastrófico de um incêndio que serviu de base para o aperfeiçoamento
dos códigos prescritivos no país.
.
37 .
No Brasil não se tem, ainda, dados estatísticos. Contudo assumindo que as perdas diretas
no país são 20% das do Reino Unido, de acordo com DUARTE (2001), chega-se a um total de
$200 milhões de libras esterlinas a cada ano. Em termos de reais, isto equivale a
aproximadamente um montante de R$ 932 milhões de reais a cada ano (cotação do dia
03/09/2003). Com isso, constata-se que tal ônus é algo não coerente com a economia
nacional.
O presente avanço tecnológico do qual somos testemunhas não mais permite que se
tenham atitudes reativas visto que a sociedade espera que o Poder Público antecipe os
acontecimentos, ou seja, que adote uma postura pró-ativa característica dos Códigos Baseados
no Desempenho.
Os Códigos baseados no desempenho podem assim integrar os vários componentes
que contribuem para um sistema baseado no desempenho, objetivando a obtenção de um nível
de segurança equivalente ou superior ao nível exigido por códigos prescritivos e com maior
eficiência, através da aplicação de novas técnicas à medida que estas são desenvolvidas e
aperfeiçoadas.
4.2.2.2 Dificuldades de implementação de um código baseado no desempenho no contexto
nacional
Diante do panorama atual em que se encontra o Brasil em relação à Engenharia de
Segurança contra Incêndios, percebe-se que muitas são as dificuldades existentes para a
implementação de um Código de Segurança Contra Incêndios Baseado no Desempenho.
Através do contexto histórico do Brasil relativo à legislação contra incêndios, pôde-se
perceber como surgiu a nossa percepção em relação à proteção contra incêndios. Constata-se
que a nossa legislação está fortemente fundamentada em desastres ocorridos em um passado
recente, o que explica o porquê de nossa legislação ter sido e continuar sendo elaborada sob a
ótica prescritiva. Soma-se a isto, o fato de que no Brasil existem várias legislações de
segurança contra incêndio aos níveis federal, estadual e municipal, o que é um obstáculo para
a implementação de um código baseado no desempenho.
Sendo assim pode-se listar os principais pontos a serem observados que dificultam a
implementação de códigos baseados no desempenho no Brasil, são eles:
• Poucos códigos prescritivos bem implementados no Brasil;
• Pouca percepção ao risco de incêndios por parte da sociedade brasileira, pois não há
uma conscientização da mesma em relação aos cuidados preventivos que possam
.
38 .
evitar incêndios nos diversos tipos de ocupações, isto é, existe uma carência de
programas educacionais de prevenção de incêndios;
• Grande extensão territorial do país, o que dificulta ainda mais a centralização do
código;
Assim, apesar da dinamicidade proporcionada pelos códigos de desempenho, o Brasil
ainda não se encontra numa situação favorável para sua implementação, visto que muitas são
as barreiras: percepção e legislação. Segundo BUCHANAN (1999) a percepção ao risco
influencia, na legislação, daí decorre a importância da análise deste parâmetro na visão dos
códigos baseados no desempenho.
Os códigos baseados no desempenho estão sendo implementados em países que
possuem códigos prescritivos bem estabelecidos onde os mesmos serviram de ponto de
partida para a verificação da equivalência entre as recomendações prescritivas e às de
desempenho. O Brasil, na atual conjuntura, não se enquadra nesse contexto, o que inviabiliza
a implementação de um código baseado no desempenho. Apesar da desuniformidade
encontrada nos códigos de segurança contra incêndio nas diversas regiões do país (que são
justamente códigos prescritivos), estes, ainda continuam sendo os mais adequados à nossa
realidade.
Deve-se então, investir em trabalhos mais sérios de fiscalização, programas educativos
de prevenção de incêndios, qualificação dos profissionais da área de segurança contra
incêndios, desenvolvimento de pesquisas por meio das universidades, entre outros, a fim de se
fortalecer, de fato, os códigos vigentes no Brasil. Com estas medidas, se iniciará um processo
de mudança na percepção em relação à segurança contra os riscos de incêndios, que servirá
como base para, num futuro próximo, assegurar que um código baseado no desempenho possa
ser elaborado e implementado com sucesso no Brasil.
Claro que tal processo não é fácil e nem tão pouco de simples execução. Todo esse
esforço necessita de ações planejadas, visto que o avanço e o desenvolvimento tecnológico
nas últimas décadas acarretaram em profundas mudanças nos sistemas construtivos que
passaram assim, a introduzir riscos de incêndios nas edificações que anteriormente não
existiam.
Desta forma cabe, não só aos órgãos governamentais, como à sociedade brasileira
como um todo, exercer seus papéis de agentes modificadores na construção de um novo
cenário a favor da segurança contra incêndios nas edificações.
.
39 .
4.2.3 Projetos baseados no desempenho
O incêndio é uma força destrutiva que causa milhares de mortes e perdas diretas e
indiretas. As pessoas em todo o mundo desejam que suas casas e locais de trabalho sejam
seguros dos danos de um incêndio. Infelizmente, o fogo pode ocorrer em quase todo tipo de
construção, geralmente, quando menos esperado.
O objetivo primário da proteção de incêndios é limitar a níveis aceitáveis, a
probabilidade de mortes, danos, perdas de propriedade e impactos ambientais decorrentes de
incêndios. O equilíbrio entre a segurança de vida e proteção da propriedade varia em
diferentes países, dependendo do tipo de edificação e sua ocupação.
Os códigos de segurança contra incêndios dão mais ênfase na segurança de vida do que
na proteção da propriedade. Muitos códigos consideram que o dano do incêndio na edificação
é um problema do proprietário ou seguradora e as exigências do código apenas objetivam
garantia da segurança de vida e proteção das propriedades vizinhas.
Segurança de vida
O objetivo mais comum em prover a segurança de vida é garantir a segurança das rotas
de fuga. Para fazer isto é necessário alertar as pessoas do incêndio, prover rotas de fuga
apropriadas e assegurar que elas não serão afetadas pelo fogo ou fumaça para quem estiver
utilizando-as a fim de atingir um local seguro.
A segurança dos ocupantes depende de muitos fatores relacionados ao projeto e
construção das edificações. Incluindo a expectativa de que certas edificações e partes delas
não irão colapsar durante o incêndio ou na propagação das chamas.
Segundo MEACHAM (1997) as mortes decorrentes de incêndios e as perdas de
propriedades poderiam ser minimizadas com a prevenção ou a extinção dos mesmos antes de
atingirem o tamanho crítico.
Proteção da propriedade.
O objetivo de proteção da propriedade inclui proteção estrutural e do seu conteúdo. Esta
proteção também se aplica a edifícios vizinhos. Em muitos casos, um objetivo importante
pode ser proteger bens intangíveis como, a possível perda do negócio ou perda de valores
culturais irrecuperáveis.
.
40 .
Proteção ambiental
Em muitos países um objetivo complementar é limitar o dano ambiental no evento de
um incêndio. A preocupação inicial é com a emissão de gases poluentes em fumaça e líquidos
poluentes decorrentes da água utilizada pelo corpo de bombeiros para combater o incêndio.
Ambos podem causar impactos ambientais. O melhor meio para prevenir estas emissões
poluentes é extinguir o incêndio ainda em sua fase inicial.
Todos os objetivos acima podem ser atingidos se o incêndio é extinto antes do seu
crescimento. Dado que alguns incêndios sempre vão ocorrer, existem maneiras para reduzir
seus impactos. Uma das melhores provém da tecnologia da segurança contra incêndios que é a
provisão de sprinklers automáticos visto que têm mostrado uma grande probabilidade de
controlar ou extinguir as chamas no período inicial do incêndio. É também necessário prover
equipamentos para detecção e notificação do fogo, segurança das rotas de fuga dos ocupantes
e Corpo de Bombeiros, barreiras para controlar a propagação do fogo e fumaça além de
estruturas que não irão colapsar prematuramente quando expostas ao fogo. A escolha de
materiais adequados no projeto também é importante, como mostrado na seção 4.1.
Em termos gerais (vide seção 4.2.1) um código prescritivo declara como a edificação
deve ser construída ao passo que um código baseado no desempenho declara como deve ser o
desempenho da edificação sob uma ampla gama de condições (MEACHAM, 1997).
No desenvolvimento de códigos e projetos baseados no desempenho muitos países têm
adotado um nível múltiplo de códigos como mostrados na figura 4.19.
Figura 4.19 – Relação hierárquica para projetos baseados no desempenho.Adaptado de SFPE(1995)
METAS
OBJETIVOS FUNCIONAIS/BASEADOS
NO DESEMPENHO
CRITÉRIOS DE DESEMPENHO
SOLUÇÃO ACEITÁVEL
MÉTODO DE CÁLCULO
APROVADO
DESEMPENHO BASEADO EM
ALTERNATIVAS DE PROJETO
.
41 .
No nível mais alto da pirâmide existe a legislação especificando o objetivo global
(meta) seguida pelos objetivos funcionais e o desempenho requerido que deve ser atingido em
todas as construções. No nível mais baixo, existe a seleção de alternativas significativas para
atingir estes objetivos. As 03 opções mais comuns são cumpridas com as “soluções
aceitáveis” prescritivas.
O objetivo global ou meta do projeto deve ser expresso em termos de impactos nas
pessoas e propriedades. Não é específica e não está baseada em suposições (vide figura 4.20).
Figura 4.20 Definição de meta em projetos baseados no desempenho.
Pode-se ter como exemplo de meta a ser alcançada: “aumentar a probabilidade de
evacuação dos ocupantes não próximos à fonte de ignição e capazes de sair da edificação”.
Os objetivos de desempenho, por sua vez, representam as ações específicas necessárias
para que a meta seja alcançada. Indica o que é necessário para que o sistema fogo- edificação-
ocupante alcance a meta (vide figura 4.21).
Figura 4.21 Definição de objetivos de desempenho.
META
NÃO ESPECÍFICO
QUALITATIVO
NÃO ESTA BASEADO EM SUPOSIÇÕES
EXPRESSO EM TERMOS DE IMPACTO:
PESSOAS E
PROPRIEDADE
OBJETIVOS DO
DESEMPENHO
MAIS ESPECÍFICODO QUE A META
O QUE É NECESSÁRIO PARA QUE PESSOAS, EDIFICAÇÃO E O CHAMA
ATINJA A META
AÇÃO NECESSÁRIASPARA ATINGIR A META
.
42 .
Pode-se ter como objetivos de desempenho: “prevenir danos estruturais”, “nenhuma
morte na sala de origem”, “limitar o incêndio à sala de origem”, entre outros.
Os critérios de desempenho são descritos em termos de engenharia a fim de fornecer a
proteção necessária contra o impacto térmico, efeitos da fumaça e exposição a produtos de
combustão (vide figura 4.22).
Um exemplo poderia ser prevenir que o flashover ocorra na sala de origem. Para atingir
este critério os engenheiros deveriam assegurar que dado o início de um incêndio, a
temperatura dos gases próximos ao teto não será superior a 500ºC.
Figura 4.22 Definição critério baseado no desempenho.
O objetivo dos projetos de segurança contra incêndios é garantir um ambiente com uma
baixa probabilidade aceitável de perdas de vida e propriedade devida à ocorrência de
incêndios.
A mudança de um código prescritivo para um código baseado no desempenho necessita de
objetivos de desempenho específicos e o controle de qualidade da documentação torna-se
muito importante.
Segundo BUCHANAN (2002), é recomendado que os cálculos possam ser colocados no
contexto com um projeto qualitativo que defina os objetivos e critérios aceitáveis para o
projeto, identificando o potencial de perigo e os cenários de incêndios, o projeto global e
características da segurança contra incêndios. A revisão e os cálculos podem ser incluídos em
um relatório que descreva a construção e o processo de projeto de incêndio completo
(MEACHAM, 1997).
CRITÉRIOS CRITÉRIOS BASEADOS NO BASEADOS NO DESEMPENHODESEMPENHO
DESCREVE OS OBJETIVOS DE
DESEMPENHO EM TERMOS DE
ENGENHARIA
FLUXO DE CALOR RADIANTE
TENABILIDADE
OUTROS
CRITÉRIOS CRITÉRIOS BASEADOS NO BASEADOS NO DESEMPENHODESEMPENHO
CRITÉRIOS CRITÉRIOS BASEADOS NO BASEADOS NO DESEMPENHODESEMPENHO
DESCREVE OS OBJETIVOS DE
DESEMPENHO EM TERMOS DE
ENGENHARIA
FLUXO DE CALOR RADIANTE
FLUXO DE CALOR RADIANTE
TENABILIDADETENABILIDADE
OUTROS
.
43 .
O relatório deve enfocar a instalação e manutenção do sistema de proteção e o
gerenciamento da construção para assegurar a segurança contra incêndios, com referência
para plantas e documentos para outros consultores. É importante considerar o controle da
qualidade no processo de projeto, construção e uso das edificações. Mudanças no projeto
geralmente ocorrem durante a construção e estas podem afetar a segurança contra incêndios
se, detalhes significativos do projeto original não forem bem documentados e definidos pela
equipe de trabalho.
A engenharia de segurança de incêndios não é uma disciplina precisa porque qualquer
avaliação de segurança requer o julgamento de como se dará a interação fogo - edificação e
como serão as respostas dos ocupantes da edificação e dos sistemas de proteção durante um
incêndio.
Um projeto baseado no desempenho, para garantir a segurança contra incêndio, deve ser
baseado em análises de cenários. Para qualquer cenário é possível calcular algumas respostas,
mas o nível de precisão dependerá da qualidade da avaliação do projeto, input dos dados e
métodos analíticos disponíveis.
Figura 4.23. Processo de análise de cenários. Adaptado de BUCHANAN (2002)
DETERMINAÇÃO DA GEOMETRIA E USO DA EDIFICAÇÃO
ESTABELECIMENTO DOS OBJETIVOS DE
DESEMPENHO
ESTIMATIVA MÁXIMA DE CARGA DE COMBUSTÍVEL
ESTIMATIVA MÁXIMA PROVÁVEL DO ÚMERO DE OCUPANTES E SUAS LOCALIZAÇÕES
ADOTAR CERTAS CARACTERÍSTICAS DE PROTEÇÃO DE INCÊNDIO
REALIZAR ANÁLISE DE ENGENHARIA DE INCÊNDIOS
DES
Modificar características de proteção contra incêndios
PROJETO
SIM
NÃO
.
44 .
Na análise de cenários um número de “piores casos” de cenários são analisados. Em cada
cenário o provável crescimento e propagação das chamas e fumaça é comparado com a
detecção e movimento dos ocupantes, exigindo o relato de todas as características de proteção
ativa e passiva contra incêndio assim como do comportamento estrutural, para demonstrar se
as exigências de desempenho foram satisfeitas (BUCHANAN, 2001). Uma análise de cenário
é mostrada na figura 4.23.
Os métodos de cálculo ainda não estão bem desenvolvidos para uso difundido. Assim, a
conformidade com os códigos baseados no desempenho, na maioria dos países é geralmente
alcançada pelo simples cumprimento dos requerimentos das “soluções aceitáveis” encontradas
nos códigos de equivalência..
A seguir é mostrada a “árvore de conceitos de segurança contra incêndios” desenvolvida
pela NFPA (1997) e que funciona como um guia para o estabelecimento da importância
relativa dos vários componentes de uma estratégia de segurança contra incêndios (vide figura
4.24).
De acordo com a figura 4.24, linha 02, o gerenciamento de riscos de incêndios é
desnecessário se a ignição pode ser prevenida, mas se não, o impacto do incêndio deve ser
gerenciado. Na realidade, as ignições indesejáveis sempre irão ocorrer, mas sua probabilidade
pode ser reduzida através de programas de prevenção.
O gerenciamento do impacto do incêndio (linha 03, figura 4.24), pode ser alcançado pelo
gerenciamento do próprio incêndio ou pelo gerenciamento das pessoas expostas e da
propriedade (i.e. edificação e seu conteúdo).
A linha 04 (figura 4.24) mostra que as pessoas e a propriedade expostas podem ser
gerenciadas pelo seu movimento na construção ou pela defesa no local. A estratégia mais
comum é retirar as pessoas da edificação, a menos que estejam incapacitadas. Outra opção,
em edificações de grandes dimensões, é a retirada das pessoas para uma área de refúgio
segura, dentro da própria edificação.
Para que as pessoas iniciem o movimento (linha 05, figura 4.24) primeiro deve haver a
detecção do incêndio para que as pessoas sejam notificadas de sua ocorrência e buscar assim,
um local seguro através das rotas de fuga existentes.
A linha 06 mostra as três operações para o gerenciamento de um incêndio. Primeiro, a
fonte de combustível deve ser controlada, pela limitação de sua geometria ou quantidade. A
segunda operação é a supressão do incêndio (automática ou manual) e a terceira é o controle
do incêndio pela construção, responsável pelo controle da propagação do incêndio e pela
estabilidade estrutural da edificação, essencial para a proteção das pessoas durante um
.
45 .
incêndio. A linha 08 da figura 4.24 indica que o crescimento do incêndio e sua severidade
podem ser controlados pela limitação da quantidade e tipo de combustível na sala de origem
conforme abordado na seção 4.1 que descreveu os fatores que interferem no potencial de
desenvolvimento de um incêndio.
Figura 4.24 Árvore de conceitos de segurança contra incêndios
ESTRTÉGIAS DE SEGURANÇA CONTRA INCÊNDIO
PREVENÇÃO DA IGNIÇÃO
GERENCIAR
GERENCIAR INCÊNDIO GERENCIAR PESSOAS E PROPRIEDADE EXPOSTAS
DEFENDER NO LOCAL
MOVER
CAUSAR O MOVIMENTO
FORNECER ROTAS PARA O
MOVIMENTO
E
CONTROLAR COMBUSTÍVEL
SUPRESSÃO DO INCÊNDIO
CONTROLAR PELA CONSTRUÇÃO
AUOMÁTICA MANUAL E
FORNECER ESTABILIDADE ESTRUTURAL
CONTROLAR PROPAGAÇÃO DO
FOGO
CONTROLAR MATERIAIS DE
REVESTIMENTO
CONTEÚDO ABERTURAS
1
2
3
4
5
6
7
8
9
.
46 .
A figura 4.24 resume assim, a importância dos vários componentes de uma estratégia de
segurança contra incêndios, mostrando, em uma de suas etapas, o papel dos ocupantes em um
programa de gerenciamento de riscos de incêndios. O comportamento dos ocupantes durante
um incêndio será alvo de maior detalhamento na seção 4.4 deste referencial teórico.
4.2.4 Evolução da legislação de segurança contra incêndio: São Paulo e
Pernambuco.
O Brasil em sua história foi alvo de grandes acidentes envolvendo incêndios que
acarretaram perdas econômicas e sociais de grandes proporções e que levaram as pessoas a
compreenderem o alcance catastrófico de um incêndio. Estes acidentes serviram de base para
o estabelecimento de regras para a elaboração de códigos de segurança contra incêndios
baseados em experiências com desastres.
Nesta seção serão apresentadas as análises históricas da implementação dos códigos de
segurança contra incêndios em São Paulo (por se tratar do código mais avançado do país) e
em Pernambuco a fim de mostrar como se desenvolveu o processo de elaboração e
atualização das recomendações de segurança contra incêndios nestes dois estados.
4.2.4.1- Histórico da Implementação de Códigos de segurança contra incêndios em
São Paulo.
Os grandes incêndios ocorridos em São Paulo, sobretudo nas décadas de 70 e 80,
influenciaram na modificação de códigos e normas de segurança contra incêndios em São
Paulo, tamanha a repercussão e as conseqüências destes eventos. Este fator torna relevante a
análise histórica da implementação dos códigos de segurança contra incêndios em São Paulo a
fim de facilitar a compreensão de como estes incêndios contribuíram para a evolução das
recomendações dos códigos de segurança contra incêndio não só no Estado de São Paulo, mas
em todo o país.
A fundação do órgão responsável pela normalização técnica no país, a ABNT,
Associação Brasileira de Normas Técnicas, em 1940, representou um importante ponto de
partida neste processo de elaboração de normas técnicas, fornecendo a base necessária ao
desenvolvimento tecnológico brasileiro e tendo seus trabalhos orientados para atender ao
desenvolvimento da tecnologia e participação efetiva na normalização internacional e regional
(ABNT, 2002).
.
47 .
Na década de 50, a legislação de proteção contra incêndios existente em São Paulo
obrigava o proprietário a apresentar apenas um jogo de plantas da edificação ao Corpo de
Bombeiros que carimbava nas mesmas o local onde os extintores seriam instalados
(POMILSP, 2001).
Na década de 60, foram aprovadas a Lei Nº 6.235 de 25 de Agosto de 1961 e a Lei Nº
8.563 de 31 de Dezembro de 1964 onde constavam as especificações que davam parâmetros
para a proteção contra incêndio das edificações cujas regras eram bastante simplificadas
restringindo-se a requisitos relativos à sinalização de extintores e ao uso de hidrantes e
extintores como meio de proteção contra incêndios nas edificações. A Lei Nº 6.235 ficou em
vigência de 1961 até o início da década de 1980, sendo modificada em virtude dos grandes
incêndios ocorridos na década de 70 e que abalaram São Paulo.
A década de 70 ficou marcada em São Paulo pela ocorrência dos grandes incêndios
nos Edifícios Andraus (1972) e Joelma (1974) que provocaram a morte e o ferimento de
centenas de pessoas, abalando a opinião pública e suscitando o debate sobre a segurança
contra incêndios em edifícios. As principais falhas observadas que permitiram que os
episódios tomassem grandes proporções referiam-se à ausência de escadas de emergência,
paredes e portas corta-fogo, sinalização de rotas de fuga e saídas de emergência, além da
ocorrência da propagação vertical do fogo devido à fachada envidraçada do Joelma (vide
figura 4.25).
Figura 4.25- Incêndio no Edifício Joelma.
.
48 .
Como conseqüência destes episódios, foi criado um Grupo de Trabalho na Secretaria
de Economia e Planejamento para estudar e propor alternativas para a prevenção de incêndios
em São Paulo, dando origem também ao organismo de Defesa Civil do Estado. Em 30 de
Setembro de 1975 é publicada a Lei Nº 684 que autoriza o Poder Executivo a celebrar
convênios com Municípios sobre serviços de segurança, prevenção e extinção de incêndios,
revogando as Leis Nº 6.235 e a Lei Nº 8.563 que se mostraram ineficientes em virtude dos
episódios ocorridos nos Edifícios Andraus e Joelma.
Em 1978, talvez como reflexo do incêndio do Edifício Joelma, foram aprovadas as
Normas Regulamentadoras – NR, através da Portaria nº 3.214 de 08 de Junho de 1978. Entre
elas encontra-se a NR 23 que enfoca a proteção contra incêndios de maneira geral abordando
temas relativos a medidas preventivas adequadas, com exigências ao especial revestimento de
portas e paredes, construção de paredes corta-fogo, assim como a garantia geral de fácil
circulação, corredores de acesso e saída amplos e protegidos, com suficiente sinalização, além
de indicar as penalidades previstas para as infrações ao disposto na Lei (NR 23).
Em 1981, um outro incêndio volta a abalar São Paulo, desta vez na Avenida Paulista, no
Edifício Grande Avenida de 23 andares. Neste incêndio, 17 pessoas morreram e 53 ficaram
feridas, evidenciando a necessidade de atualização da legislação vigente. Em 1983, surge a
primeira Especificação do Corpo de Bombeiros anexa a um Decreto, o Decreto Estadual Nº
20.811, que passou a regulamentar a proteção contra incêndios atualizando e enfatizando
temas relativos a:
• extintores;
• sistemas de hidrantes;
• sistema de alarme de incêndio e detecção de fumaça e calor;
• sistema de chuveiros automáticos;
• sistema de iluminação de emergência;
• compartimentação vertical e horizontal;
• escadas de segurança;
• isolamento de risco;
• sistemas fixos de espuma, CO2 e Halon, entre outras proteções.
Em 1987, num incêndio ocorrido no Prédio da CESP (Companhia Energética de São
Paulo) que possuía duas torres com 21 e 27 pavimentos, uma das torres queimou de baixo até
em cima devido à propagação vertical do fogo de um andar para o outro, fato este que pode
ter levado a uma maior preocupação com as instruções técnicas referentes à
.
49 .
compartimentação vertical e à resistência de elementos construtivos ao fogo, no Decreto
Estadual Nº 38.069/93.
As características das edificações acima citadas, número de vítimas, possível causa do
incêndio e principais falhas que levaram os incêndios a atingirem grandes proporções podem
ser observadas na tabela 4.8 abaixo.
Tabela 4.8 Resumo das características dos incêndios que abalaram São Paulo
Edifício Aspectos gerais do edifício
Nº de vítimas fatais e feridos
Causa possível Principais falhas observadas na edificação.
Andraus (24/02/72)
31 pavimentos de escritórios e lojas;
incêndio atingiu todos os andares.
06 vítimas
fatais e 329
feridos
Origem no 4º
pavimento, em grande
quantidade de material
depositado.
Ausência de: • escadas de
emergência; • paredes e
portas corta-fogo;
• sinalização de rotas de fuga e saídas de emergência.
Joelma
(01/02/74)
25 pavimentos de
escritórios e garagens. Incêndio atingiu todos
os pavimentos.
189
vítimas fatais e
320 feridos.
Curto - circuito.
Ausência de: • escadas de
emergência; • paredes e
portas corta-fogo;
• sinalização de rotas de fuga e saídas de emergência.
Propagação vertical do fogo pela fachada envidraçada.
Grande Avenida
(14/02/81)
Edifício de escritórios com 23 pavimentos. Incêndio atingiu 19 deles.
17 vítimas fatais e 53 feridos.
Origem no subsolo.
CESP (21/05/87)
Edifício com 02 blocos de 21 e 27 pavimentos,
respectivamente. Propagação do incêndio
entre os blocos e, em decorrência, colapso
estrutural com desabamento parcial.
Falha na compartimentação vertical da edificação o que tornou possível o fogo propagar-se de um andar para o outro.
.
50 .
No início da década de 90, a criação do Comitê Brasileiro de Segurança contra
Incêndio representou um avanço na normalização no campo de segurança contra incêndio,
compreendendo projetos e instalação de prevenção e combate a incêndio, análise e avaliação
do desempenho de materiais expostos ao fogo, produtos e sistemas dentro dos ambientes a
eles pertinentes; medição e descrição da resposta dos materiais, produtos e sistemas quando
submetidos a fontes de calor e chama, sob condições controladas de laboratório, no que
concerne à terminologia, requisitos, métodos de ensaio e generalidades (ABNT, 2002).
Em 1993, o Decreto Estadual 38069 entra em vigor como a nova legislação de prevenção
e combate a incêndios no Estado de São Paulo, aprovando as especificações para a instalação
e dimensionamento dos equipamentos de proteção contra incêndios abordando temas como:
proteção estrutural (compartimentação vertical e horizontal), meios de fuga (escadas e
elevadores de segurança e sistemas de iluminação de emergência), meios de alerta (detecção
de fumaça e calor, alarme contra incêndio e sinalização), meios de combate a incêndios
(instalações fixas, semi-fixas, portáteis e automáticas), além de enfocar a proteção de
edificações de grande altura e locais de reuniões de público (ginásios, estádios, quadras, etc).
Em 29 de Janeiro de 1995, ocorre a explosão de uma fábrica de fogos no bairro de
Pirituba na Capital e em 11 de Junho de 1996, uma explosão no Shopping Center Osasco
(causada por vazamento de GLP sob o piso da área térrea de restaurantes) levam a posterior
criação de novas instruções técnicas referentes ao retorno da aprovação do comércio de fogos
de artifício, que havia sido cancelada e aos procedimentos para avaliação de proposta de
proteção contra incêndio e vistoria de instalação de GLP com abastecimento a granel ( IT- Nº
CB-013/33/99 e IT Nº32 – DE 46076/2001).
Mesmo depois da adoção da legislação de 1993 (Decreto Estadual 38069/93) o
número de incêndios continuou a crescer de maneira considerável e preocupante, fator este
que levou à publicação de 14 instruções técnicas posteriores à criação do Decreto Estadual Nº
38.069/93 com diversos assuntos não abordados no mesmo, a saber:
-IT- Nº CB- 001/33/94: Orientação sobre o novo Decreto 38.069/93;
-IT- Nº CB- 001/33/96: Auto de vistoria do Corpo de Bombeiros;
-IT- Nº CB- 004/33/95: Procedimento simplificado- edificações compreendidas entre 100 m2
e 750m2;
-IT- Nº CB- 005/33/97: Implanta a nova forma de apresentação das exigências de proteção
contra incêndios através de Proposta de Proteção Contra Incêndio;
.
51 .
-IT- Nº CB- 006/33/97: Alarme de incêndio em edificações – adequar o item 5.2.3 da norma a
NBR 9441/94;
-IT- Nº CB- 007/33/97: Saídas de emergência em edificações – adequar o texto da NBR
9077/93;
-IT- Nº CB- 008/33/98: Mangotinho;
-IT- Nº CB- 009/33/98: Tubulação de Cobre nos Sistemas de Hidrantes;
-IT- Nº CB- 010/33/99: Pressurização de escadas de segurança;
-IT- Nº CB- 011/33/99: Segurança Estrutural dos Edifícios – Resistência ao Fogo dos
Elementos Construtivos;
-IT- Nº CB- 012/33/99: Procedimentos para Avaliação de Proposta de Proteção Contra
Incêndio e Vistoria de Instalação de GLP com Abastecimento a Granel;
-IT- Nº CB- 013/33/00: Utilização de Tubulação de aço galvanizado de diâmetro 50mm para
rede de hidrante;
-IT- Nº CB- 014/33/00: Dimensionamento de Lotação e Saídas de Emergência em recintos de
eventos desportivos e de espetáculos artístico- culturais.
Em 31 de Agosto de 2001 foi instituído o Decreto Estadual Nº 46.076. Sua elaboração
envolveu mais de cem participantes do Corpo de Bombeiros, técnicos da Universidade de São
Paulo, Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT), Associação Brasileira de Normas Técnicas e
outros. O Decreto Estadual 46076/2001 passa a regulamentar a proteção contra incêndio nas
edificações e áreas de risco e avança no sentido de estabelecer condições mais rigorosas de
segurança contra incêndio, ampliando o conceito de prevenção que passa a ser caracterizada
pelo abandono seguro da edificação, pela tentativa de ser evitada a propagação, de permitir o
combate, e também pela facilitação do acesso do corpo de bombeiros à edificação.
Uma vez que aproximadamente 80% das mortes em incêndios tiveram como causa a
fumaça, o controle de fumaça foi incluído na relação de medidas de segurança, principalmente
nas rotas de fuga e subsolos (IT Nº13- Pressurização de escada de segurança e IT Nº15-
Controle de fumaça), além da necessidade de treinamento para evacuação de edifícios em
situação de incêndio e pânico (POLMILSP, 2001).
Os aspectos mais relevantes deste novo decreto são:
A) a expressão "proteção contra incêndio" foi preferencialmente alterada para “segurança
contra incêndio";
B) a segurança contra incêndios não está somente dirigida às edificações, mas também às
áreas de risco, como é o caso dos produtos perigosos, túneis, pátio de containeres;
.
52 .
C) o enquadramento de risco (leve, médio ou grave) é feito pelo próprio decreto, deixando de
depender da Tarifa Seguro Incêndio do Brasil, do Instituto de Resseguros do Brasil;
D) a indicação das medidas de segurança que eram relatadas expressamente passou a ser feita
por tabelas, facilitando o processo;
E) o limite de altura para as edificações, que era 12 m, a partir do qual, eram exigidas
determinadas medidas de segurança, foi dividido em faixas para adequar melhor as
exigências;
F) retorna a aprovação do comércio de fogos de artifício que havia sido cancelada;
G) foi instituída a Comissão Especial de Avaliação composta por representantes do Corpo de
Bombeiros, Prefeitura de São Paulo, entidades públicas e privadas ligadas ao assunto,
Universidades, Associação Brasileira de Normas Técnicas e órgãos afins;
O Decreto Estadual Nº 46.076 é complementado por 38 Instruções Técnicas que
detalham as medidas de segurança exigidas. As Instruções Técnicas (IT) são as seguintes:
IT 1- Procedimentos administrativos
IT2-Conceitos básicos de proteção contra incêndios
IT3- Terminologia de proteção contra incêndios
IT4- Símbolos gráficos para projeto de segurança contra incêndio
IT5- Segurança contra incêndio - urbanística
IT6- Acesso e estacionamento de viatura na edificação e área de risco
IT7- Separações entre edificações
IT8- Segurança estrutural nas edificações
IT9- Compartimentação horizontal e compartimentação vertical
IT10- Controle de materiais de acabamento e de revestimento
IT11- Saídas de emergência nas edificações
IT12- Dimensionamento de lotação e saídas de emergência em recintos esportivos e de
espetáculos artístico-culturais
IT13- Pressurização de escadas de segurança
IT14- Carga de incêndio nas edificações e áreas de risco
IT15- Controle de fumaça em espaços comuns e amplos
IT16- Plano de intervenção de incêndio
IT17- Brigada de incêndio
IT18- Sistema de iluminação de emergência
IT19- Sistema de alarme e detecção de incêndio
.
53 .
IT20- Sinalização de emergência
IT21- Sistema de proteção por extintores
IT22- Sistema de hidrantes e de mangotinhos para combate a incêndio
IT23- Sistema de chuveiros automáticos
IT 24- Sistema de resfriamento para líquidos inflamáveis e gases inflamáveis e
combustíveis
IT25- Sistema de proteção por espuma
IT26- Sistema fixo de gases limpos e CO2
IT27- Armazenagem de líquidos inflamáveis e combustíveis
IT28- Proteção contra incêndio nos locais de manipulação, armazenamento,
comercialização e utilização de gás liquefeito de petróleo (GLP)
IT29- Proteção contra incêndio nos locais de comercialização e utilização de gás combustível
comprimido (gás natural e distribuição)
IT 30- Proteção contra incêndio em edificação com comércio de fogos de artifício
IT31- Proteção contra incêndio em heliponto e heliporto
IT32- Produto perigoso em edificação e área de risco
IT33- Cobertura de sapé, piaçava e similares
IT34- Hidrantes urbanos de incêndio
IT35- Proteção contra incêndio em túnel
IT36-Proteção contra incêndio em pátio de conteineres
IT37- Proteção contra incêndio em subestação elétrica
IT38- Proteção contra incêndio em cozinha profissional
Pelo exposto, pode-se observar ao longo do tempo que os códigos de segurança contra
incêndio de São Paulo foram baseados em falhas e experiências ocorridas no passado. Com a
ocorrência de acidentes, as falhas ocorridas serviram de ponto de partida para a atualização
das recomendações que se refletiam em novos códigos para o estado.
Os grandes incêndios ocorridos em São Paulo influenciaram também na modificação
de códigos e normas de segurança contra incêndios em todo o país, tamanha a repercussão e
as conseqüências destes eventos.
A figura 4.26 apresenta um resumo das ocorrências de incêndio atendidas em São
Paulo no período de 1999 a 2000 mostrando que, mesmo com a inclusão de novas medidas de
prevenção contra incêndio nos códigos, observa-se que o número de incêndios é crescente.
As atualizações nas legislações de segurança contra incêndio são importantes, pois
surgem novos materiais, mudam as técnicas construtivas, sendo até mesmo estudados os
.
54 .
incêndios atendidos para a melhoria das normas. O conhecimento na área de engenharia de
Incêndios deve ser utilizado a fim de prover uma maior segurança na elaboração e utilização
das normas de segurança contra incêndios, fato este observado na elaboração das
recomendações do Decreto Nº 46.076/01 que contou com a participação de Universidades,
institutos de pesquisa na área de segurança contra incêndios, ABNT e outros órgãos de
interesse.
Esta participação pode representar um passo importante numa tentativa futura de
implementação de códigos baseados no desempenho no país, possuindo um caráter pró-ativo,
evitando maiores conseqüências para todos os envolvidos, quer sejam os usuários das
edificações, proprietários ou os negócios nelas desenvolvidos.
4.2.4.2 Histórico da implementação de códigos de segurança contra incêndios em
Pernambuco.
No Brasil entre 1887 e 1930 a influência estrangeira tomava conta do país. No Recife,
desde fins do século XIX a cidade começou a se transformar. A elite pernambucana procurou
filtrar os novos costumes em moda em todo o país. No início do século XX, a sociedade
recifense já estava “mergulhada” na cultura européia, se vestia à moda francesa, estudava
novas línguas, abandonava o serviço escravo para contratar empregados europeus. Esta nova
forma de viver vai influenciar os novos modelos arquitetônicos adotados onde o gosto pelo
novo, pelo “moderno” vai ser um fator decisivo justificando as grandes reformas que se
iniciaram no começo do século XX em todas as capitais brasileiras. Estas reformas
Gráfico resumo de ocorrências de incêndios atendidas no período de 1990 a
2000.
010.00020.00030.00040.00050.000
1990
1992
1994
1996
1998
2000
Ano
Nº d
e oc
orrê
ncia
s
Figura 4.26 Resumo de ocorrências de incêndios atendidas em São Paulo, no período de 1990 a 2000
.
55 .
significavam um projeto de modernização nacional, como o projeto de governo instituído pela
República.
No Recife pode-se citar a reforma urbana do Bairro do Recife (vide figura 4.21) que
teve início em 1909 e significou uma verdadeira metamorfose urbana além de implicar uma
completa reestruturação ambiental e social (LUBAMBO, 1991).
Figura 4.21 . O Bairro do Recife em obras - 1911
Vários fatores influenciaram as transformações das edificações no Recife ao longo do
tempo como o surgimento de novas técnicas construtivas, novos materiais, novos costumes.
Uma nova mentalidade se formou, necessidades e aspirações começaram a influenciar os
espaços, tanto públicos como privados.
O poder administrativo, desde então, percebeu a necessidade de fiscalizar as atitudes
que vinham sendo tomadas pela população, a fim de amenizar os problemas que iam surgindo
na cidade (GUERRA, 2001).
No Recife, com a criação das Intendências Municipais, em 1890, em substituição à
Câmara de Vereadores do período imperial, foram criadas as primeiras Posturas Municipais,
preocupadas com o crescimento da cidade e os problemas resultantes visando direcionar as
ações da população.
Segundo CARVALHO (1992), as Posturas Municipais resolviam os problemas, à
medida que iam aparecendo; existiam para amenizar os problemas da nova cidade. Contudo,
eram ações assistemáticas e que resolviam as questões municipais de forma imediatista e
focal, não preventiva, regularizando, de forma ainda primária, os problemas de expansão,
salubridade e higiene, ordenando o uso, localização e manutenção dos aparelhos públicos bem
.
56 .
como dos edifícios privados, controlando as atividades dos cidadãos, com o objetivo de
melhorar o bem - estar da população.
À medida que os problemas iam ficando cada vez mais sérios, novas exigências iam
aparecendo, a população exigia melhoramentos no Município, os problemas eram
solucionados ao mesmo tempo em que outros surgiam e a administração do Município os
resolvia através da legislação existente, ou criada em função das demandas.
Foi, porém, no século XX que estas posturas vieram a ser normatizadas, seguindo-se
pela criação dos primeiros códigos de obras do país. No Recife, isso acontece em 1919, com a
formulação da Lei Nº 1.051 decretada pelo Conselho Municipal do Recife. Essa lei passou a
regulamentar as construções, reconstruções e reformas, principalmente, nos espaços privados
do Município.
A Lei Nº 1.051 (1919) se preocupou, principalmente, em tornar as construções e
espaços públicos mais salubres, resolveu com êxito problemas quanto à iluminação e
ventilação dos ambientes internos, bem como de programas e dimensões mínimas. As
questões urbanas também foram tratadas, só que em menor escala, fazendo com que
problemas que existiam desde o final do século XIX, como é o caso da incompatibilidade
entre as atividades de morar e trabalhar, continuassem existindo.
Esta lei mostrou-se inovadora ao tomar medidas com relação à salubridade e higiene
dos edifícios, exigindo recuos, aberturas para iluminação e ventilação e acrescentando
elementos obrigatórios aos programas (banheiros), além das preocupações com os
logradouros públicos, praças e parques. Com relação à segurança contra incêndios, as
recomendações eram de ordem geral, mostrando a preocupação com a utilização de materiais
combustíveis em escadas e coberturas, tipos de cabos, tensões e sistemas a serem usados nas
instalações elétricas das edificações e, sobretudo, a preocupação com a segurança contra
incêndio em lugares públicos como teatros e cinemas.
Vigorou por 17 anos, tornando-se obsoleta num curto período, em virtude das
primeiras décadas do século XX terem sido caracterizadas por profundas transformações em
várias áreas da sociedade. As novas possibilidades e os novos costumes aliados ao novo
sistema governamental impulsionaram o crescimento acelerado e desordenado das cidades,
que passaram a apresentar problemas cada vez maiores e mais complexos.
Desta forma, foi necessária, em menos de 20 anos, a criação de uma nova lei já que a
Lei nº 1.051 de 1919 não mais satisfazia os seus fins. Entrou, assim, em vigor o Decreto Nº
374 de 12 de Agosto de 1936 que mostrava uma maior preocupação com os espaços públicos
da cidade, visto que, não só as casas eram motivo de preocupação, mas o espaço urbano
.
57 .
passou a ser composto por uma diversidade de elementos como fábricas, indústrias, teatros,
cinemas, lojas, cafés, revelando-se latente a necessidade de parcelamento e ordenamento do
solo.
Muito embora os problemas urbanos e higiênicos das cidades fossem antigos, foi
principalmente a partir do aumento da população urbana, da transformação dos velhos hábitos
coloniais e, conseqüentemente, das novas exigências, que o Poder Público mobilizou-se a fim
de regulamentar as ações que vinham sendo tomadas, com o objetivo de minimizar os
problemas da nova cidade.
Vale salientar que até mesmo as exigências encontradas no Decreto Nº 374 apenas
normatizaram atitudes que já vinham sendo tomadas pelos proprietários dos imóveis. Assim,
da mesma forma que a lei anterior (i. e. Lei nº 1.051), muitos dos artigos propostos na referida
lei foram apenas reflexos das transformações sócio-culturais. A própria população via a
necessidade de se modernizar, e assim o fez, utilizando novas técnicas e materiais
(LUBAMBO, 1991).
Em 1961, foi decretada a Lei Nº 7427/61 que institui o Código de Urbanismo e Obras
que passou a regulamentar a divisão territorial e zoneamento, loteamentos e construções na
cidade do Recife, estando em vigência até os dias de hoje. Este Código aborda as questões
relativas à segurança contra incêndio das edificações em linhas gerais passando a contar com
um capítulo específico referente às instalações e equipamentos de segurança contra incêndio.
Observa-se nesta lei uma preocupação com:
• Obrigatoriedade de instalações contra incêndio em edificações com mais de quatro
pavimentos;
• Preocupação com o estado de funcionamento e conservação das instalações contra
incêndio sob supervisão do Corpo de Bombeiros;
• Capacidade dos reservatórios e reserva de incêndio;
• Tipos de canalização e registros a serem utilizados;
A Lei Nº 7427/61 continua em vigor até os dias de hoje, exceto as exigências
estabelecidas para a segurança contra incêndio das edificações que passaram a ser de
responsabilidade do Corpo de Bombeiros a partir de 1970, com a instituição do Decreto Lei
Estadual nº 219 de 09 de Março de 1970.
Até 1970 o Estado de Pernambuco não possuía uma legislação que regulasse a
segurança contra incêndios das edificações. Utilizavam-se as recomendações da Associação
Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) para a prevenção e combate a incêndios (e as
recomendações contidas no Código de Obras da cidade do Recife), diferentemente de Estados
.
58 .
como São Paulo e Rio de Janeiro que possuíam Normas de Prevenção e Combate a Incêndios
como um dos meios de Segurança Pública.
O Corpo de Bombeiros de Pernambuco não contava até então com um Serviço
Técnico de Engenharia, fator este que levou o Conselho Regional de Engenharia Arquitetura e
Agronomia (CREA), com base no Artigo 15 do Decreto Lei nº 8620, de 10 de Janeiro de
1964, a impugnar pareceres emitidos pelo Corpo de Bombeiros, por não possuir em seus
quadros, técnicos habilitados.
Assim, pelo Decreto Lei Estadual nº 219 de 09 de Março de 1970 foi criado um Serviço
Técnico de Engenharia no Corpo de Bombeiros da Polícia Militar de Pernambuco, sob a
orientação de um engenheiro para atender às exigências do CREA e a expedição de Normas
de Prevenção e Combate a Incêndios que deveriam ser cumpridas pelos Municípios que
compunham o Grande Recife. O Decreto indicava ainda que os Códigos de Obras das
Prefeituras que tratassem de instalações e aparelhamentos contra incêndios deveriam dispor
no sentido de serem respeitadas as Normas ora estabelecidas.
As Normas de Prevenção e Combate a Incêndios de 1970 tinham por finalidade
determinar o mínimo necessário para edificações no que concernia às normas gerais de
instalações preventivas contra incêndio e fiscalizar a execução das mesmas.
Abordavam em linhas gerais os seguintes aspectos:
• Sistemas de Prevenção e combate a incêndios;
• Classificação dos Riscos;
• Proteção com extintores manuais e sobre rodas;
• Hidrantes externos e internos;
• Reservatórios;
• Vazões e pressões;
• Mangueiras, esguichos e abrigos;
• Bombas;
• Sinalização;
• Exigências;
• Penalidades;
• Aprovação de Plantas;
Segundo o Major Ivaldo José Cirne Rodrigues, chefe do Centro de Atividades
Técnicas (CAT) do Corpo de Bombeiros de Pernambuco, todas as edificações construídas a
partir de 1976 foram obrigadas a cumprir as exigências das Normas de Prevenção e Combate
.
59 .
a Incêndios de 1970. As edificações com data de construção anterior foram isentas do seu
cumprimento ficando a critério do proprietário o cumprimento ou não de suas exigências,
fator este que traz até hoje uma série de dificuldades aos trabalhos de vistorias realizadas pelo
Corpo de Bombeiros.
Em 1986 entraram em vigor as Normas Técnicas de Incêndio do Corpo de Bombeiros
da PMPE reunindo 17 Normas Técnicas que abordavam os seguintes aspectos:
1- Sistema de prevenção e combate a incêndio por extintores
2- Sistema de prevenção e combate a incêndio por hidrantes
3- Saídas de emergência
4- Iluminação de emergência
5- Detecção e alarme de incêndio
6- Aplicação de tintas retardantes
7- Proteção contra incêndio por rampas
8- Sinalização das saídas de emergência
9- Instalações de pára-raios
10- Proteção contra incêndio em depósitos inflamáveis
11- Paredes corta-fogo
12- Portas corta-fogo
13- Revestimentos de piso, teto e paredes de escadas.
14- Helipontos
15- Sprinklers
16- Instalações de centrais de GLP
As Normas de 1986 foram inovadoras em relação às de 1970 por ampliar a visão de
segurança contra incêndio que não mais se encontrava restrita a equipamentos de segurança
e passava a enfocar também a segurança dos ocupantes. Esta preocupação pode ser
justificada pela abordagem na Norma de questões relativas a saídas de emergência,
iluminação e sinalização de emergência, utilização de rampas, sistemas de detecção e
alarme de incêndio, sistemas de sprinkler, paredes e portas corta-fogo, helipontos e proteção
para centrais de gás GLP.
A preocupação com a segurança dos ocupantes representou um passo importante na
evolução da legislação para uma visão de desempenho por enfocar a segurança não apenas
como proteção à edificação e sim à edificação e ocupantes.
As Normas de 1986 ficaram em vigor até 1997 quando foi instituído o Código de
Segurança contra Incêndio e Pânico para o Estado de Pernambuco (COSCIPE) que trata das
.
60 .
questões de segurança contra incêndio de forma mais abrangente e detalhada que as Normas
de 1970 e 1986.
O COSCIPE apresenta-se dividido em 03 partes, a saber:
Livro I: Trata das disposições gerais, finalidade, da abrangência, competência, classificação
dos riscos, classificação das ocupações e definição dos sistemas.
Livro II: Trata dos sistemas de segurança contra incêndio e pânico:
• Sistemas de prevenção e combate a incêndios: sistemas portáteis e transportáveis,
sistemas fixos automáticos e sob comando, sistemas de hidrantes e de carretel com
mangotinho, reservatórios, canalização, linhas de mangueiras, abrigos, vazões e
pressões mínimas, bombas de incêndio, registro de recalque, sistema de chuveiros
automáticos, dispositivo de alarme, do sistema de detecção e alarme de incêndio.
• Sistemas e dispositivos para evacuação de edificações: acessos, escadas de
emergência, áreas de descarga, áreas de refúgio, portas, unidades de passagem,
rampas, elevadores de emergência, sistema de iluminação de emergência, sistema de
sinalização de saídas de emergência.
• Helipontos
• Sistemas de proteção de estruturas: das instalações de Gás Liquefeito de Petróleo
e/ou Gás Natural, sistema centralizado de GLP, armazenamento de GLP, sistema de
gás natural.
• Dispositivos contra descargas atmosféricas.
Livro III: Trata da regularização e da fiscalização, execução dos serviços, processos de visto,
notificação, irregularidades, prazos, penalidades e sua aplicação, multas, interdição,
isolamento, embargo, etc.
Atualmente o COSCIPE encontra-se em processo de revisão por uma comissão do
Corpo de Bombeiros responsável pela elaboração do Novo Código de Segurança contra
incêndios ainda sem data definida para sua conclusão.
Apesar da evolução entre as Normas de Segurança contra Incêndios de1970, 1986 e 1997
citadas anteriormente, é evidente a ocorrência de algumas falhas que não foram solucionadas
até então, a saber:
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61 .
1) Restrições impostas pela legislação
Com a instituição do Decreto Lei Estadual nº 219 de 09 de Março de 1970 foi
determinado que as edificações construídas anteriormente ao Decreto ficariam isentas da
adequação à Norma o que traz até hoje uma série de problemas ao processo de fiscalização e
vistoria realizado pelo Corpo de Bombeiros, além de pôr em risco a vida das pessoas que
freqüentam estas edificações em virtude da não adequação das mesmas às condições mínimas
de segurança contra incêndio.
Este é um fator agravante no Bairro do Recife onde as edificações que foram alvo do
processo de revitalização funcionam muitas vezes sem as devidas condições de segurança
contra incêndio. Esta situação é decorrente da não obrigatoriedade ao cumprimento das
normas técnicas do Corpo de Bombeiros (em virtude do Decreto Lei Estadual nº 219 de 1970)
por seus proprietários, que, por outro lado, são obrigados a cumprir as exigências ditadas pelo
Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN) e pela Prefeitura da Cidade
do Recife através da Lei Nº16.290/97 – Sítio Histórico do Bairro do Recife (ZEPH 09).
Segundo informações do chefe do Centro de Atividades Técnicas do Corpo de Bombeiros,
Major Ivaldo Rodrigues, o não cumprimento das normas do Código de Segurança contra
Incêndios talvez se deva ao fato dos proprietários dos imóveis, sobretudo dos bares e
restaurantes, não considerarem a segurança das edificações contra incêndio como um
investimento, pois não gera aumento de produção ou das vendas sendo estes sistemas de
segurança, quando existentes, limitados a extintores de incêndio sem a observância das
demais recomendações ditadas pelos Códigos.
Quanto às exigências e restrições impostas por legislações específicas do IPHAN e pela
Lei Municipal Nº 16.290/97- Sítio Histórico do Bairro do Recife, existe um fator agravante
relacionado com a limitação de intervenções nas estruturas internas ou externas das
edificações históricas em benefício das características estéticas e arquitetônicas. Estas
recomendações têm o intuito de evitar a descaracterização dos imóveis, acarretando, muitas
vezes, riscos elevados, dificultando a instalação de sistemas de proteção contra incêndio e
comprometendo a segurança dos usuários e da própria edificação com todo o seu valor
histórico agregado.
Os problemas decorrentes da liberação de adequação das condições de segurança contra
incêndio para as edificações construídas até 1976 e a aplicação da legislação do IPHAN e da
ZEPH 09 necessitam de maior discussão, visto que estas, na tentativa de proteger o
patrimônio edificado de valor histórico, podem estar ao mesmo tempo pondo-o em risco pelo
.
62 .
impedimento da adequação da edificação às condições adequadas de segurança contra
incêndio exigidas pelo Código de Segurança contra Incêndios de Pernambuco.
2) Classes de ocupação
As Normas de 1970, 1986 e o COSCIPE, dividem as classes de ocupação baseadas nos
riscos (leve, médio e grave) e na rubrica da Tarifa Seguro Incêndio do Brasil do Instituto de
Resseguros do Brasil (IRB) de acordo com a Portaria Nº 21 de 03 de Maio de 1956 do
Departamento Nacional de Seguros.
Os dados utilizados pelo IRB referem-se a estudos realizados com a coleta de dados sobre
incêndios ocorridos durante 50 anos no Reino Unido e consideram duas variáveis: localização
e construção. A realidade de um país como a Inglaterra é bastante diferente da brasileira. A
tecnologia e a cultura são diferentes da nossa o que leva a um questionamento sobre a
adequabilidade dos índices utilizados pelo IRB para classificação dos riscos no Brasil.
O Estado de São Paulo, ao longo da história de seus códigos, também utilizou a Tarifa
Seguro Incêndio como base para a definição das classes de risco. Porém, com o Decreto
46.076 de 31 de agosto de 2001, o enquadramento de risco (leve, médio e grave) passou a ser
realizado pelo próprio decreto, deixando assim de depender da Tarifa Seguro Incêndio,
classificando os riscos de acordo com a ocupação, altura e carga de incêndio da edificação.
3) Carência no COSCIPE de Instruções técnicas referentes aos seguintes aspectos:
a) segurança contra incêndio de caráter urbanístico e acesso de viatura na edificação.
O tempo de resposta entre a notificação e aplicação do agente extintor é de
fundamental importância para a eficácia no controle da propagação das chamas em uma
edificação. Devem ser fixadas as condições mínimas exigíveis para o deslocamento de
viaturas de bombeiros na zona urbana assim como o acesso e estacionamento de viaturas de
bombeiros nas edificações e áreas de risco, com o objetivo de possibilitar o seu emprego
operacional na busca e salvamento de vítimas e no combate a incêndios diminuindo o tempo
resposta entre a notificação e a aplicação do agente.
b) separação entre edificações.
Deve-se controlar o risco de propagação do incêndio entre edificações por radiação de
calor, convecção de gases quentes e transmissão de chama, garantindo que o incêndio
.
63 .
proveniente de uma edificação não se propague para outra, pondo em risco a vida humana e as
atividades nela desenvolvidas.
c) segurança estrutural nas edificações.
Em uma situação de emergência envolvendo incêndio os elementos estruturais e de
compartimentação que integram as edificações devem atender certos requisitos que evitem o
colapso estrutural por tempo suficiente para possibilitar a evacuação das pessoas com
segurança, condições para o socorro público através do acesso de viaturas, equipamentos em
tempo hábil para exercer as atividades de salvamento e combate ao incêndio, além de evitar
ou minimizar danos à própria edificação, edificações adjacentes, à infra-estrutura pública e ao
meio ambiente.
d) compartimentação vertical e horizontal.
Após a ocorrência do flashover na sala de origem poderá ocorrer a propagação das
chamas para outros ambientes através da convecção de gases dentro do próprio edifício;
convecção dos gases quentes que saem pelas janelas; condução de calor através das barreiras
entre compartimentos ou pela destruição das barreiras. Assim, a compartimentação vertical e
horizontal é importante, visto que divide a edificação em “células” capazes de suportar a
queima dos materiais combustíveis nelas contidos, impedindo a propagação do incêndio para
“células” adjacentes.
A compartimentação vertical se destina a impedir a propagação de incêndio no sentido
vertical, ou seja, entre pavimentos elevados consecutivos e a compartimentação horizontal se
destina a impedir a propagação de incêndio no pavimento de origem para outros ambientes no
plano horizontal.
e) controle de materiais de acabamento e revestimento.
A reação ao fogo dos materiais contidos na edificação destaca-se como um dos
principais fatores responsáveis pelo crescimento e propagação das chamas e pelo
desenvolvimento de fumaça a gases tóxicos, contribuindo para que o incêndio atinja fases
críticas e gere pânico e mortes.
Os materiais de acabamento e revestimentos podem influenciar na evolução de um
incêndio através do posicionamento do material no ambiente (piso, teto e parede) e da
localização dos materiais dentro do ambiente (teto próximo/distante da janela, etc). Assim, o
controle dos materiais de acabamento e revestimento é importante porque objetiva dificultar a
.
64 .
ocorrência do flashover e o desenvolvimento da fumaça na sala de origem e, considerando
que o flashover ocorra, limitar a severidade além da sala de origem.
f) controle da fumaça.
Associadas ao incêndio e acompanhando o fenômeno da combustão, ocorrem, em geral
quatro causas determinantes de uma situação perigosa: calor, chamas, fumaça e insuficiência
de oxigênio. Destas quatro causas a fumaça, do ponto de vista da segurança das pessoas,
causa danos mais graves e merece especial atenção. Uma vez que 80% das mortes em
incêndios têm como causa a fumaça, seu controle deve ser incluído na relação das medidas de
segurança contra incêndio, principalmente nas rotas de fuga que estão diretamente ligadas à
segurança dos ocupantes.
Assim, as edificações devem ser dotadas de meios de controle de fumaça que promovam a
extração (mecânica ou natural) dos gases e da fumaça do local de origem do incêndio,
controlando a entrada de ar (ventilação) e prevenindo a migração de fumaça e gases quentes
para as áreas adjacentes não sinistradas.
g) pressurização de escadas de segurança.
Devido à importância do controle da fumaça numa situação de emergência envolvendo
incêndios é fundamental manter as escadas de emergência livres da fumaça, de modo a
permitir a fuga dos ocupantes com segurança.
h) plano de intervenção contra incêndio.
O plano de intervenção de incêndio consiste num planejamento prévio para a provável
ocorrência de uma emergência e visa facilitar o reconhecimento da edificação por parte das
equipes de emergência.Por meio do plano de intervenção de incêndio, busca-se garantir: a
segurança da população do edifício; a segurança da população das edificações vizinhas; a
segurança dos profissionais responsáveis pelo socorro; o controle da propagação de incêndios
e a proteção do meio ambiente.
i) brigada de incêndio.
A população de um edifício deve estar preparada para enfrentar uma situação de
emergência envolvendo incêndio através da adoção das primeiras providências no
sentido de controlar o incêndio no abandono do edifício de maneira segura, rápida e
.
65 .
ordenada. Para isto faz-se necessária a criação de brigadas de incêndio com
treinamento específico para atuação em edificações e áreas de risco. A existência de
uma brigada de incêndio numa edificação pode contribuir, na ocorrência de um
incêndio, para a redução de suas conseqüências e impactos associados.
j) aprovação do comércio de fogos de artifício.
Em razão de sua periculosidade, devem ser fixadas as condições necessárias de
segurança contra incêndios e explosões em edificações destinadas ao comércio de fogos de
artifício a fim de evitar o risco à vida pela utilização inadequada de fogos de artifício, assim
como, evitar danos que invalidem a reutilização da edificação, de edifícios vizinhos e a
recuperação do meio ambiente.
Os aspectos acima citados constituem basicamente o diferencial entre o Código de
segurança contra incêndios de São Paulo (o mais avançado do país) e o COSCIPE.
Nestes 84 anos de utilização de normas relacionadas à segurança contra incêndios na
cidade do Recife e 33 anos de utilização em Pernambuco pode-se perceber que as legislações
se apresentavam atrasadas em relação aos fatos sociais. Este fato pode ser observado desde a
criação das primeiras Posturas Municipais em 1890, a instituição da Lei nº 1.051 em 1919 e o
Decreto nº 374 em 1936. Assim, as leis eram feitas sistematicamente à medida que surgiam os
problemas, ou seja, eram baseadas em falhas e experiências passadas que geraram e geram
problemas até hoje, pois o mesmo ainda ocorre no momento da elaboração das leis
contemporâneas.
Desta forma, observa-se que o Poder Público assumia a postura de soluções posteriores
aos fatos, nunca preventiva, característica dos Códigos Prescritivos que ditam o que deve ser
feito para alcançar a segurança, mas não deixa claro o objetivo destas recomendações. Esta
postura reativa causa uma série de desvantagens à utilização dos Códigos Prescritivos, visto
que as recomendações são específicas sem que a intenção das mesmas seja declarada; a
estrutura do código é complexa sendo assumida uma única maneira de garantir a segurança
contra incêndios, além da impossibilidade de promover projetos mais seguros a um custo
menor.
As atualizações das normas são importantes, pois surgem novos riscos, novos materiais e
técnicas de construção e os códigos devem acompanhar ou antever estas mudanças a fim de
.
66 .
possuir um caráter pró – ativo, antecipando-se aos fatos a fim de evitar maiores
conseqüências.
4.3 Percepção ao risco nos códigos prescritivos e códigos baseados no desempenho
A percepção ao risco pela sociedade muda com a educação, qualidade de vida e com a
introdução de novas tecnologias. Os estudos científicos têm identificado os riscos cada vez
mais cedo do que no passado e a divulgação dos mesmos pela imprensa tem sido mais visível
e intensa; criando imagens dramáticas de desastres, o que talvez tenha exagerado a percepção
da sociedade em relação aos riscos (DUARTE, 2002).
Com as novas tecnologias; novos riscos e novos benefícios são percebidos e ajustes
devem ser feitos nos regulamentos para administrar as novas características, pois um
regulamento que se destina a atender as necessidades sociais deve adaptar-se e administrar os
riscos e benefícios tecnológicos.
Segundo FISCHHOFF (1981) a maneira como as pessoas percebem um risco
influencia as suas preferências e níveis de tolerância ao risco. Preferir ou escolher uma opção
arriscada, em relação à outra, constitui-se num exercício para solucionar um problema,
conhecido como um “problema de risco”. Para ROWE (1977) a estratégia utilizada pelo
homem para solucionar um problema é influenciada pelo impacto por ele percebido. Assim,
um “problema de risco” com potencial de ocorrência raro mas catastrófico, por exemplo, é
percebido de forma diferente de “problemas de risco” freqüentes mas usuais/comuns.
Os regulamentos de segurança contra incêndios em construções estabelecem um
padrão desejável para os projetos de construção a fim de assegurar um nível aceitável de risco
de incêndios em construções. Para assegurar um nível aceitável de risco que seja de
conhecimento público, um código de segurança de incêndio em construções deveria acomodar
as percepções sociais de risco. Segundo STARR (1969) o conceito de “preferência revelada”,
uma avaliação de riscos que as pessoas aceitaram no passado, pode ajudar a entender e
enfocar diferentes percepções de risco.
No que se refere à percepção ao risco e os benefícios oriundos das inovações
construtivas, o processo evolutivo dos códigos prescritivos ajustou-se ao longo do tempo, por
tentativa e erro, a fim de equilibrá-los. Por exemplo, como aconteceram catástrofes, o sistema
prescritivo dos códigos foi pressionado a ajustar suas exigências para refletir as novas
necessidades sociais (HALL, 1997). Nos códigos prescritivos a proteção dada às edificações
varia de acordo com o tipo de ocupação, assim, algumas edificações possuem maiores
.
67 .
exigências relativas à segurança do que outras. Esta discrepância do nível de proteção é
devida às percepções de risco (DEMBSEY, 2000). O risco de incêndios em residências
unifamiliares, por exemplo, é percebido como usual e o risco de incêndios em edifícios altos é
percebido como catastrófico (STERN, 1996). O público exige assim, maior redução dos riscos
catastróficos, ou seja, necessitam mais segurança (menos risco) em edifícios altos do que em
residências unifamiliares ficando evidente como a percepção ao risco é abordada nos códigos
prescritivos.
O “controle percebido” (STARR, 1976) é um fator humano que pode ajudar a explicar
como um código prescritivo aborda a percepção ao risco. As residências unifamiliares, por
exemplo, possuem uma segurança contra incêndios menos regulamentada porque os
proprietários estão dispostos a aceitar riscos mais altos, em virtude de percebem o controle
das fontes de ignição, materiais combustíveis, etc. Por outro lado, segundo HALL (1997) em
edificações comerciais, serviços ou edifícios multifamiliares, os ocupantes percebem um
menor controle visto que não podem modificar o sistema de proteção de incêndios em sua
edificação ou não possuem o controle das práticas de segurança de um vizinho.
Desta forma, os regulamentos prescritivos adaptam esta falta de “controle” através de
providências de proteção contra incêndios mais rigorosas, de acordo com o tipo de ocupação.
Conseqüentemente, edifícios comerciais, serviços ou edifícios multifamiliares necessitam
freqüentemente de maior proteção (sistema de detecção, sprinklers, etc) do que residências
unifamiliares (UBC, 1994). O “controle percebido” pode explicar então porque a sociedade
não vê a necessidade de regulamentar e aumentar a segurança em residências unifamiliares.
Pelo exposto verifica-se que o sistema dos códigos prescritivos acomodou
indiretamente valores sociais e de percepções de risco na tentativa de prover uma solução
aceitável aos problemas de risco de incêndios em edifícios. Para acomodar o desejo da
sociedade a fim de alcançar um nível de risco mais aceitável, um código baseado no
desempenho também deve enfocar as percepções de risco.
Como um código baseado no desempenho é caracterizado por uma postura pró-ativa,
ou seja, se antecipa aos fatos a fim de prevenir maiores conseqüências e por ser baseado em
um enfoque quantitativo, as percepções humanas de risco também devem ser quantificadas
(DEMBSEY, 2000).
Segundo o UBC (1994) um risco pode ser categorizado em “fatores de risco”
semelhante a controle , livre vontade ou severidade. Por exemplo, severidade é um fator de
risco que descreve como a conseqüência de um risco é percebida. Um risco pode ser
percebido por estar associado a conseqüências comuns (pequena) ou catastróficas. Por
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68 .
exemplo, o risco de incêndio em uma residência unifamiliar pode ser considerado como usual.
Já o risco de incêndio em um grande edifício pode ser percebido como potencialmente
catastrófico, e, claro que há riscos que se encontram em algum lugar entre estes dois casos
como o risco de incêndio em um prédio de apartamentos de baixa elevação.
Os “fatores de risco” também podem ser combinados para descrever um “problema de
risco”. Por exemplo, um “problema de risco” de incêndio pode envolver fatores voluntários e
catastróficos (uma pessoa frequentando uma boate super-lotada) ou fatores involuntários e
comuns (uma pessoa morando em um apartamento vizinho de um fumante).
LITAI (1980) em seus estudos sugere que os fatores de risco como: controle,
severidade, livre arbítrio, etc., podem ser utilizados para quantificar a percepção humana.
Através de dados históricos LITAI (1980) classificou 09 fatores de risco (vide tabela 4.9)
associados cada um a uma escala onde qualquer ação arriscada poderia ter mais de um fator
de risco associado a ela e estes nove fatores de risco. Estes fatores de risco podem ser
utilizados para descrever diferentemente a atitude pública para percepção de riscos,
explicando como as pessoas sentem-se sobre estes fatores de risco e porque elas desejam
maior ou menor segurança de acordo como elas percebem as possíveis conseqüências e
impactos associados.
Assim, caracterizando uma ação arriscada com um fator de risco, a ação cairia a um
extremo ou outro da escala de fator de risco podendo ser utilizado para ajudar a explicar como
os riscos são percebidos.
Tabela 4.9. Nove fatores de risco que podem ser usados para descrever diferentemente a atitude pública para
percepção de riscos.
FATORES DE RISCO ESCALA Livre vontade voluntária-------------------------involuntária Severidade comum----------------------------catastrófica Manifestação do efeito imediato---------------------------retardado Familiaridade conhecido-------------------------desconhecido Controlabilidade (sistema de seg. de incêndio sob controle ou não dos ocupantes)
controlável----------------------- incontrolável
Beneficio nítido,evidente--------------------obscuro Necessidade necessário------------------------ desnecessárioPublicidade/comunicação continua---------------------------ocasional Origem natural-----------------------------artificial
.
69 .
Por exemplo, se uma pessoa está dirigindo um carro, vários fatores de risco entram
em jogo. Entre eles estão controlabilidade e severidade. Estes dois fatores de risco também
podem ser associados a um passageiro de uma linha aérea comercial (ver figura 4.27).
Ao dirigir um carro, a pessoa percebe um controle significante do risco. Até onde o
fator de controlabilidade do risco é preocupante?
Como um passageiro em um avião, a pessoa percebe quase que nenhum controle do
risco que seria considerado um risco incontrolável, do outro lado da escala (vide tabela 4.9).
Além disso, o risco de acidente em um carro é percebido como de severidade
ordinária/comum, enquanto que o risco de um acidente de avião é percebido como
potencialmente de severidade catastrófica. Deste modo os fatores de risco podem ser
utilizados para caracterizar e ajudar a explicar como os riscos são percebidos pelas pessoas.
Figura 4.27 Exemplo de associação de uma ação arriscada aos fatores de risco e a escala de fatores
de risco.
As diferenças relativas de como as pessoas sentem sobre estes fatores de risco
explicam porque as pessoas desejam mais ou menos segurança. Em “Anatomia do Risco”,
ROWE (1997) sugere que as diferenças relativas podem ser determinadas matematicamente.
Segundo ele, uma pessoa poderia dizer que o nível de risco aceitável para transporte
automobilístico é “x” vezes mais aceitável do que seria para um passageiro em um avião
Dirigir um carro
Ação arriscada Fator de risco Escala de fatores de risco
Controlabilidade
Severidade
Controlável Incontrolável
Comum Catastrófica
Passageiro em um avião
Controlabilidade
Severidade
Controlável Incontrolável
Comum Catastrófica
.
70 .
comercial. Em um exemplo de segurança contra incêndio em edifício, é esperado que as
pessoas desejem mais segurança quando estão em um hotel (edifício alto) onde elas percebem
um menor controle e um maior potencial para conseqüências catastróficas, do que em suas
residências. Então, o nível do risco de segurança de vida aceitável em um incêndio em uma
única residência unifamiliar será “y” vezes maior do que em um hotel de edifício alto.
LITAI (1980) avançou na idéia de proporcionar o espectro dos fatores de risco,
utilizando dados histórico para desenvolver uma distribuição de risco aceitável para os riscos
da tabela 4.9. As atividades que representaram os extremos no espectro de cada fator de risco
foram analisadas. Os dados coletados representaram que níveis de risco a sociedade tem
aceitado historicamente. Por exemplo, os riscos de morte em terremotos e os riscos de um
acidente de planta industrial foram coletados. Estes dois riscos representam os dois extremos
associados com o fator “Origem’. Um risco está de um lado da escala (natural) e o outro está
do outro lado da escala (artificial). Como outro exemplo, foram comparados riscos
voluntários como uma cirurgia usual e riscos involuntários, como homicídio. Os dados foram
reduzidos às condições da probabilidade de mortalidade por pessoa por ano. Usando
atividades de risco que eram muito distintas e em fins opostos da escala de fatores de risco,
LITAI poderia identificar níveis médios de riscos aceitáveis, com base nos fatores de risco.
Eles são mostrados em forma de matriz na tabela 4.10.
Segundo LITAI (1980) a tabela 4.10 deveria ser usada como uma matriz. Dependendo
de que fatores de risco são associados com um determinado risco, a media de risco de morte
aceitável por pessoa por ano pode ser identificada. Por exemplo, “fatores de risco” para um
risco de vida assumido num incêndio de um edifício comercial podem ser descritos como:
artificial, voluntário, conhecido, incontrolável, catastrófico e imediato. Da tabela, a média do
nível de risco aceitável para este tipo de risco seria de 1x10-6.
Tabela 4.10 Níveis médios de vários fatores de risco aceitáveis.Adaptado de LITAI (1980).
Risco controlável Risco incontrolável Comum Catastrófico Comum Catastrófico
Risco imediato
Risco retardado
Risco imediato
Risco retardado
Risco imediato
Risco retardado
Risco imediato
Risco retardado
Perigo Artificial
Involuntário Risco conhecido
1.3x10-6 4x10-5 5x10-8 1.5x10-6 3x10-7 1x10-5 1x10-8 1x10-7
Perigo Artificial
Involuntário Risco novo
1.3x10-7 4x10-6 5x10-9 1.5x10-7 3x10-8 1x10-6 1x10-9 3x10-8
Perigo Artificial
Voluntário Risco conhecido
1.3x10-4 4x10-3 5x10-6 1.5x10-4 3x10-5 1x10-3 1x10-6 3x10-5
Perigo Artificial
Voluntário Risco novo
1.3x10-5 4x10-4 5x10-7 1.5x10-5 3x10-6 1x10-4 1x10-7 3x10-6
Perigo Natural
Involuntário Risco conhecido
1.3x10-5 1x10-3 5x10-3 NA 6x10-6 2x10-4 2x10-7 NA
.
71 .
LITAI (1980) sugeriu então que a matriz (vide tabela 4.10) poderia ser utilizada para
comparar riscos percebidos diferentemente. Utilizando os valores constantes na matriz, ele
calculou um jogo de fatores de conversão de risco (RCF). O RCF representa a diferença
matemática entre os opostos na escala de fatores de risco. Por exemplo, observando-se a
matriz (tabela 4.10), o valor médio aceito de um risco artificial, involuntário, conhecido,
controlável, comum e imediato é de 1.3x10-6. Comparando este risco a um outro é
caracterizado como artificial, involuntário, conhecido, controlável, catastrófico e imediato
verifica-se um valor médio de 5x10-8. (a única diferença entre os dois riscos é severidade).
A diferença entre estes dois riscos pode ser comparada. O risco comum é
aproximadamente 30 vezes [(1.3x10-6)/(5x10-8) = 26] mais aceitável que o risco catastrófico.
LITAI (1983) aproximou a conversão dos fatores de risco (RCF) para cada categoria
de fatores de risco, como pode ser observado na tabela 4.11 abaixo.
Tabela 4.11 Fatores de conversão de risco para cada categoria de fatores de risco.Adaptado de LITAI
e RASMUSSEN (1983)
FATORES DE RISCO ESCALA FATORES DE
CONVERSÃO DE
RISCO (RCF)
Livre vontade Voluntária – involuntária 100
Severidade Comum – catastrófica 30
Manifestação do efeito Imediato – retardado 30
Familiaridade Conhecido – Desconhecido 10
Controlabilidade (Sistema de seg.
de incêndio sob controle ou não
dos ocupantes)
Controlável – incontrolável 5 – 10
Beneficio Percebido – Não percebido Risco é
aproximadamente igual
a 1/3 do poder dos seus
benefícios
Necessidade Necessário – Desnecessário 1
Comunicação/informação Continua – Ocasional 1
Origem Natural – Artificial 20
.
72 .
Para entender os RCF, as pessoas deveriam prever que cada fator de risco é associado
com sua escala própria. O RCF para o fator de risco “descreve” a distância entre os extremos
de cada escala. Tomando o fator de risco “livre vontade” como um exemplo.Verificando-se na
tabela 4.11, um extremo da escala é um risco voluntário e o outro extremo é um risco
involuntário. Um risco voluntário é 100 vezes mais aceitável que um mesmo risco
involuntário. Os RCF podem proporcionar assim, uma diferença quantitativa em como um
risco é percebido quando comparado a outro.
Como previamente discutido, no domínio da segurança de incêndios em construções,
as pessoas desejam diferentes níveis de risco para diferentes tipos de ocupações visto que
estas refletem diferentes fatores de risco.
Desta forma, os fatores de conversão de risco (RCF) podem ajudar a quantificar os
relativos níveis de segurança requeridos em tipos diferentes de edifícios ou ocupações
baseadas na percepção. Isto sugere, por exemplo, que um nível de risco de 5-10 vezes maior
seria aceito para uma ocupação onde as pessoas percebem o controle do que de uma ocupação
onde falta o controle.
Em seus estudos DEMBSEY (2000) propõe alguns métodos que utilizam fatores de
risco e poderiam ser utilizados em um código de segurança contra incêndios baseado no
desempenho. Segundo ele as exigências dos códigos prescritivos são agrupadas atualmente de
acordo com o tipo de ocupação da edificação. Em um código baseado no desempenho,
diferentes ocupações e diferentes construções podem ser diferenciadas em termos de fatores
de risco.
Em um de seus métodos DEMBSEY (2000) sugere que as ocupações podem ser
primeiramente categorizadas e depois agrupadas em classes de segurança definidas como
baixa, normal, alta, e extra-alta semelhante aos Requerimentos de Desempenho para
Segurança de Incêndios ditados pelo “Nordic Committe on Building Regulations” (NKB,
1995).
As exigências de desempenho para estabilidade de um edifício estão baseadas em
classe de segurança. Para um edifício com uma baixa classe de segurança é exigido reter sua
estabilidade durante pelo menos o tempo necessário para a fuga dos ocupantes, considerando
que para uma classificação do edifício como muito alto é exigido manter a sua estabilidade
estrutural durante todo o incêndio.
Os fatores de risco podem ser usados para categorizar a classe de segurança de um
edifício. Um edifício pode ser classificado numa baixa classe de segurança se o risco de
incêndio para os ocupantes puder ser representado por fatores como não catastrófico e
.
73 .
controlável. Um edifício classificado como de alta classe de segurança poderia ser aquele no
qual o sistema de segurança de incêndio esta fora do controle dos ocupantes, e as
características da construção apresentam um potencial catastrófico de ter como conseqüência
um incêndio. Por exemplo, um edifício comercial de um pavimento seria considerado dentro
de uma classe de segurança normal porque o risco é percebido como comum, incontrolável,
mas voluntário. Um teatro pode ser classificado em uma classe de segurança alta porque o
risco de incêndio é percebido como catastrófico, incontrolável, e voluntário. Um Código
baseado no desempenho pode estabelecer diretrizes para classificar edifícios em termos de
classes de segurança (que podem ser necessárias para edifícios multi-uso) ou, como no código
filandês, estabelecer classes baseadas em grupos de ocupação atuais e fatores de risco
percebidos.
Este sistema de classificação pode ser usado para estabelecer ajustes nos fatores de
risco para serem usados em determinados projetos. Estes fatores podem ser aplicados aos
resultados de evacuação ou modelos de fogo (cenários) na análise baseada no desempenho de
um edifício. Uma determinada análise de evacuação de uma ocupação de classe de segurança
alta requererá um maior fator de segurança que uma ocupação de baixa classe de segurança.
Por exemplo, uma típica analise de projeto baseado no desempenho indica tempo necessário
para que os ocupantes possam escapar e compara isto ao tempo para alcançar condições
insustentáveis para esses ocupantes (flashover). Em um projeto de sucesso, o tempo para que
os ocupantes evacuem a edificação é menor que o tempo necessário para a ocorrência do
flashove.. Isto pode ser matematicamente expresso por:
td + tw + te < t unt
onde, td é o tempo para a detecção automática ou manual do fogo, t w é o tempo de espera ou
tempo de demora de ocupante, te é o tempo de saída necessário para o ocupante, tunt é o tempo
para alcançar condições insustentáveis.
Dependendo da classe na qual um determinado edifício seja classificado, um fator de
ajuste de risco β pode ser estabelecido e aplicado à fórmula :
β ( td + tw + te) < t unt
.
74 .
Como um exemplo, um edifício que é classificado como de Baixa Classe de
Segurança β =1.0, e para um edifício em uma classe de segurança alta β >1.0.
Em um edifício de classe de segurança mais alto, para aumentar a segurança, os
ocupantes necessitariam de um tempo de notificação mais rápido e uma capacidade de
evacuação mais eficiente. Para uma edificação com nível de segurança maior é provável que
existam sistemas de detectores de fumaça e calor e que seja aumentado o numero de saídas.
O ajuste no fator de risco poderia ser adicionalmente combinado com fatores de incerteza
associados com as ferramentas determinísticas, para prover o fator de segurança global
apropriado
4.4 Resposta fisiológica e comportamental humana em situações de emergência envolvendo incêndios
As pessoas na sala de origem de um incêndio podem ver ou sentir os sinais de um
incêndio potencial durante o período inicial de crescimento quando o combustível está sendo
aquecido pela fonte de calor. Muitos incêndios são evitados pelos ocupantes que previnem a
ignição pela remoção do combustível ou eliminação da fonte de ignição no período inicial de
crescimento do incêndio.
Após a ignição, o fogo será mais aparente, dando ao ocupante a possibilidade de reagir e
extinguir a chama, se esta ainda é pequena. Uma vez que a chama cresça e envolva um ou
mais pacotes combustíveis, torna-se difícil à extinção pelos ocupantes. Estes devem, então, ter
tempo suficiente para escapar antes que a fumaça obstrua as rotas de fuga.
As condições numa sala de origem tornam-se ameaçadoras à vida durante o período de
crescimento do incêndio. Depois do período de flashover, a sobrevivência não é possível
devido às condições extremas de calor, temperatura e gases tóxicos (vide seção 4.1).
Dado que ocorra um incêndio, as pessoas em qualquer local da edificação podem não
estar conscientes do incêndio até que ele esteja bem desenvolvido levando a condições
perigosas. Assim, para aumentar a segurança de vida no incêndio é essencial que o incêndio
seja detectado e os ocupantes sejam alertados com informações suficientes para tomar a
decisão de combater ou iniciar o processo de evacuação em tempo suficiente para alcançar
local seguro, antes das condições tornarem-se críticas.
Assim, esta seção tem o objetivo de mostrar como se processa a resposta fisiológica
humana aos efeitos do fogo e como o homem se comporta e toma decisões num evento desta
natureza. Tais ações são fundamentais para garantir a segurança de vida no momento de um
incêndio que se constitui o principal objetivo dos projetos de segurança contra incêndios.
.
75 .
CANTER (1978) define o comportamento de resposta humano em emergências
envolvendo incêndios, como sendo uma tentativa lógica para tratar com uma complexa
situação de mudança repentina, na qual uma mínima informação é disponível.
Segundo BRYAN (1977) a resposta dos ocupantes de uma edificação envolvida em
um incêndio parece ser afetada por dois fatores:
• As variáveis da edificação na qual o incêndio acontece;
• Os sinais físicos percebidos relativos à severidade do incêndio no tempo em que o
indivíduo torna-se consciente da ocorrência do mesmo.
A percepção da severidade do incêndio devido ao reconhecimento de seus sinais pode
ser uma das decisões humanas individuais mais importantes e o comportamento de resposta
geralmente envolve situações onde as pessoas percebem a ameaça à vida que ocorre no
estágio inicial do incidente envolvendo incêndio até achegada do corpo de bombeiros.
LERUP et al (1978) aponta a importância do comportamento inicial dos ocupantes da
seguinte maneira: “acreditamos que o período entre a detecção do incêndio e a chegada do
corpo de bombeiros é o período mais importante no que se relaciona aos compartimentos
próximos à sala de origem do incêndio onde o comportamento de resposta dos indivíduos
diretamente envolvidos com o início do incêndio pode ser determinante para o resultado do
incidente”, no que se refere a sua segurança ou até à segurança da edificação.
4.4.1 Resposta Humana aos sinais de alarme
A maneira pela qual o indivíduo é alertado da ocorrência de um incêndio pode predispor
a percepção da ameaça envolvida. O alerta aos ocupantes e a notificação do corpo de
bombeiros são duas considerações importantes em processos de projetos baseados no
desempenho. A razão para isto é clara, visto que as pessoas não vão reagir à ameaça até que
saibam sobre ela.
Segundo BRYAN (1995), as pessoas geralmente são alertadas da ocorrência de um
incêndio de três maneiras:
• Auto – identificação por um sinal do incêndio como fumaça, gases, calor ou chamas;
• Auto - identificação por um equipamento de alerta, alarme ou sinal de evacuação,
detector de fumaça, sistema de voz para comunicação de emergência, dentre outros;
• Identificação de um sinal por outra pessoa.
A maioria dos projetos de segurança contra incêndio assume que, dado o princípio de
um incêndio, as pessoas serão alertadas por um equipamento que transmite um sinal geral. Os
códigos e normas assumem que os ocupantes ouvirão o sinal, reconhecerão o sinal como de
.
76 .
alarme de incêndio, aceitarão o sinal como um alarme verdadeiro e responderão positivamente
ao sinal de alarme iniciando a fuga de acordo com os procedimentos de emergência
adequados.
As pessoas não respondem bem a sinais sem voz, visto que pode haver incerteza do que
o sinal indica, se é um sinal verdadeiro ou não. Os sinais de alarme com voz geralmente são
utilizados em grandes espaços de reunião de público e em edifícios altos. A decisão de deixar
uma edificação quando o alarme de incêndios toca dependerá da experiência dos ocupantes
com o sistema de alarme de sua edificação e, neste caso, a demora na resposta resulta do
ocupante acreditar que o sinal é verdadeiro. Se o ocupante não reconhecer o sinal de alarme
como verdadeiro, ele demorará a identificar o sinal como indicativo de incêndio ou ameaça à
vida.
KEATING & LOFTUS (1981), em estudos com sistema de alerta em voz, verificaram
que a variação na qualidade ou volume da voz, assim como no conteúdo da mensagem, pode
reforçar o reconhecimento da ameaça pelos ocupantes.
KIMURA & SIME (1989), em estudos sobre a evacuação de estudantes de duas salas de
conferências, observaram que as instruções verbais dos conferencistas foram o fator
determinante na escolha dos estudantes em utilizar a saída de incêndio ao invés da entrada e
saída usuais. A pesquisa realizada demonstrou que o uso de mensagens informativas verbais
de forma direta pode ser mais efetivo na redução da demora para o início do processo de
evacuação.Entretanto, estudos de LATHROUP (1976) observaram que se a mensagem verbal
direta está em conflito com outros sinais da ameaça como odor ou visibilidade da fumaça ou
das chamas, a credibilidade da mensagem pode ser questionada e a informação ignorada pelos
ocupantes.
Similarmente, PROULX & SIME (1991) verificaram que o uso de um comunicado
público direto com um alarme de alerta era mais conducente para criar um efeito imediato de
evacuação. RAMACHANDRAN (1991), por sua vez, indica que o desenvolvimento de
sistemas informativos de incêndios que utilizam um display gráfico com uma mensagem
gerada por um computador e um sinal de alerta, tem reduzido o tempo de retardo observado
no início da evacuação.
BRYAN (1977), em estudos sobre incêndios residenciais nos Estados Unidos, concluiu
que a maioria das pessoas envolvidas tornou-se consciente da ocorrência de um incêndio
através do odor da fumaça. Entretanto, se as categorias “avisado pelos outros” ou “avisado
pelos familiares” são combinadas nos estudos de incêndios residenciais, o processo de
notificação pessoal torna-se o meio mais freqüente de consciência inicial do incêndio.A
.
77 .
categoria “barulho” refere-se aos sons gerados pelo movimento de pessoas pelos corredores,
pessoas descendo as escadas, quebra de vidraças, etc, conforme pode ser observado na tabela
4.12.
No que se refere à auditibilidade, muitas pessoas simplesmente não ouvem ou não
compreendem o sinal de alarme. Muitas vezes o som do alarme é atenuado pelos materiais
construtivos da edificação, tipos de revestimentos de paredes e tetos, portas, etc.
Tabela 4.12 Meios de consciência do incêndio pela população estudada.BRYAN ( 1977)
Meio de consciência Participantes Percentual
Odor da fumaça 148 26.0
Notificação pelos outros 121 21.3
Barulho 106 18.6
Notificado pela família 76 13.4
Visualização da fumaça 52 9.1
Visualização das chamas 46 8.1
Explosão 6 1.1
Calor 4 0.7
Ouviu/viu o corpo de bombeiros 4 0.7
Falta de energia elétrica 4 0.7
Animais 2 0.3
N= 11 569 100.0
As pessoas ouvem melhor baixas freqüências (500Hz) do que altas freqüências como
4.000Hz, nível utilizado em muitos detectores residenciais; ouvem melhor os sinais de pulso
(10 – 12 Hz) do que sinais constantes (SCHIFILITI, 1995).
As condições do ocupante também devem ser consideradas, visto que o sono ou
medicamentos podem alterar o estado de alerta das pessoas fazendo com que necessitem de
um alarme com som maior do que 100 dBa para serem alertadas. Este fator deve ser
considerado principalmente em ocupações como hospitais, hotéis ou asilo, pois, dado que haja
a ocorrência de um incêndio, os ocupantes poderão estar dormindo ou sob o efeito de alguma
substância o que pode contribuir para uma resposta mais demorada ao sinal de alarme.
.
78 .
4.4.2 Resposta fisiológica ao fogo
Fatores fisiológicos básicos influenciam enormemente a resposta das pessoas em um
incêndio. Duas pessoas podem reagir de forma diferente ao mesmo incêndio ou a mesma
pessoa pode ter uma reação física diferente para um incêndio hoje ou daqui a um mês.
A habilidade do ocupante (capacidade fisiológica do ocupante de reagir à agressão do
calor do incêndio, fumaça e gases tóxicos) depende da combinação de diversos fatores como:
agilidade, altura, peso, condições de saúde, efeito de drogas, medicamentos ou álcool. De
acordo com estimativas de CONLEY (1994), 10% das pessoas que morreram em incêndios
residenciais nos Estados Unidos estavam sob efeito de drogas ou álcool quando morreram.
Um estudo realizado em Maryland concluiu que em 1970 mais de 70% das vítimas de
incêndio entre 30 e 60 anos estavam legalmente intoxicadas ou embriagadas (BERL, 1979).
O fogo produz um número de condições perigosas que afetam as respostas fisiológicas
do ser humano. Estas condições perigosas incluem: temperatura, fluxo de calor,
obscurecimento pela fumaça, decaimento de oxigênio e exposição a gases quentes.
Temperatura
Os efeitos da temperatura no ser humano variam com a duração do tempo de
exposição ao calor e a quantidade de umidade relativa (a umidade do ar aumenta o fluxo de
calor). Segundo a NFPA (1959), temperaturas inferiores a 50ºC produzem grande desconforto
na boca, nariz e esôfago e temperaturas acima de 65ºC são incapacitantes, já as mortes por
hipertermia ocorrem com temperaturas acima de 100ºC.
Na estimativa do potencial de ferimentos por queimaduras o conceito de “heat energy
applied” pode ser utilizado. Para a aplicação deste enfoque, a combinação de temperatura e
tempo de exposição necessário para causar a queimadura é considerada. Assim, quanto maior
a temperatura, mais rapidamente os ferimentos vão ocorrer. A tabela 4.13 mostra exemplos de
temperaturas e tempos de exposição ao calor necessários para causar queimaduras de 2º grau
no ser humano (HARTZEL, 1991).
Tabela 4.13. Temperatura e tempo necessários para provocar queimaduras de 2º grau. (HARTZEL, 1991).
Temperatura na superfície da pele (ºC) Tempo (segundos)
159,8 60
179,6 30
212 15
.
79 .
Fluxo de calor
Descreve quanto calor é necessário para transferência para outra superfície incluindo a
pele humana. Segundo BABRAUSKAS (1979) geralmente o limite de fluxo de calor sem
dores severas é de 2,5 Kw/m2 durante 3 minutos.
Obscurecimento pela fumaça
As mortes ocorridas nos incêndios, em sua maioria, se devem à inalação de fumaça e
dos gases tóxicos produzidos. Dados estatísticos coletados pela NFPA em 1997, no Reino
Unido e nos Estados Unidos da América, sugerem que mais de 50% das mortes vinculadas a
incêndios em edificações são atribuídas à inalação de fumaça e gases tóxicos. Quando se
analisam estudos realizados por BABRAUSKAS (1993) em relação às vítimas de incêndios,
constata-se que mais de 80% das mortes associadas aos incêndios foram causadas pela
inalação de produtos da combustão (i.e., fumaça e gases tóxicos) e somente cerca de 8% são
atribuídas aos efeitos térmicos.
A fumaça, segundo COX (1996) é definida como sendo o produto gasoso da queima de
pacotes combustíveis orgânicos, onde pequenas partículas nos estados sólido e líquido,
também estão dispersas. Uma outra definição é dada pela NFPA 92 B, de 1993: conjunto de
partículas aéreas sólidas e líquidas e gases misturados quando um material está sofrendo
pirólise (i.e., quebra das ligações moleculares em decorrência da energia liberada, ou seja, do
calor pelo fogo) ou combustão. Portanto, fumaça poderia ser definida como uma mistura de
substâncias voláteis e de partículas sólidas em dispersão, provenientes da queima de um
pacote combustível qualquer (i.e., material combustível sólido).
A fumaça tem dois efeitos negativos durante um incêndio: reduz a visibilidade,
causando a irritação e lacrimejamento dos olhos e causa a intoxicação do organismo pela
inalação das partículas de fumaça. A fumaça também pode ter um efeito emocional sobre os
ocupantes, causando medo.
Apresentando o ser humano um nível de tolerância muito baixo à exposição à fumaça e
gases tóxicos, cita-se os prováveis efeitos nocivos às pessoas provenientes dos mesmos:
- modificação da atividade orgânica (i.e. tosse, taquicardia, etc.);
- intoxicação;
- asfixia;
- desorientação;
- entre outros.
.
80 .
Decaimento de Oxigênio
O oxigênio é geralmente encontrado no ar na proporção de 21% e os sistemas
respiratório e nervoso humano funcionam nesta concentração. Quando o percentual de
oxigênio decai, efeitos fisiológicos ocorrem no ser humano, podendo variar extremamente de
acordo com a idade e condições globais do indivíduo. CUSTER (1974) relaciona os principais
efeitos do decaimento de oxigênio no ser humano, indicados na tabela 4.14.
Tabela 4.14. . Efeitos do decaimento de oxigênio no ser humano. (CUSTER, 1974)
Percentual de O2 Tempo Efeitos 21 – 17 Indefinido Diminuição do volume respiratório,
perda de coordenação, dificuldade de raciocínio.
17 – 14 2 horas Pulso acelerado, tontura. 14 – 11 30 minutos Náusea, vômitos, paralisia. 9 5 minutos Perda de consciência 6 1 – 2 minutos Morte
Exposição a gases tóxicos
O monóxido de carbono (CO), sozinho, é responsável por metade de todas as mortes
em incêndios e, combinado com outros fatores, é responsável por outros 30% de todas as
fatalidades (HARTZEL, 1986). Exposições intensas ao CO, como no caso de um incêndio,
provocam inconsciência súbita no ser humano, assim como movimentos convulsivos.
Com relação ao gás carbônico (CO2), este em concentração de 10%, se inalado,
ocasiona manifestações tóxicas evidenciadas por sintomas, tais como: cefaléia, distúrbios
visuais, perda da consciência, tremores e sonolência. A probabilidade de uma pessoa exposta
ao gás carbônico durante dois minutos perder a consciência, sendo a concentração do mesmo
em torno de 10%, é bastante alta. Isto se torna um fator agravante ao risco de vida dos
ocupantes numa situação de emergência durante um incêndio.
HARTZEL (1986), indica alguns efeitos do monóxido de carbono no ser humano, que
podem ser relacionados desde uma simples cefaléia e tontura até a morte. Estes efeitos e a
concentração de CO necessários são apresentados na tabela 4.15 seguinte.
Tabela 4.15 . Resposta humana ao Monóxido de Carbono.Adaptado de CLAUDY (1957).
PPM Tempo PPM - Minuto Efeitos 200 120 - 180 24,000 – 36,000 Suave cefaléia 800 45 36,000 Cefaléia
.
81 .
3.200 10 - 15 32,000 – 48,000 Tontura 3.200 30 96,000 Possibilidade de morte 6.900 1 - 2 6,900 – 13,800 Tontura 12.800 1* 1,280 Inconsciência 12.800 1 –3 12,800 – 38,400 Morte
• 2 – 3 inspirações/expirações • PPM – Partes por milhão
4.4.3. – Comportamento humano durante um incêndio - Percepção do Incêndio
O comportamento humano durante um incêndio pode ser considerado tão complexo e
dinâmico quanto o próprio incêndio. Segundo a NFPA (1991) o primeiro passo no
entendimento do comportamento humano em situações de incêndio é a catalogação do que as
pessoas envolvidas no evento relatam sobre as ações tomadas e a seqüência em que ocorreram
durante um incêndio.
Alguns exemplos de ações específicas relatadas incluem “avisar os outros, chamar o
corpo de bombeiros, deixar a edificação, tentar combater, salvar o que for possível, etc”.
Desta forma, este tipo de catalogação captura o que o ocupante relata num contexto de tempo
que não necessariamente reflete as ações preparatórias para a evacuação, o que pode diferir do
que ele realmente fez.
Em estudos recentes, FAHY & PROULX (1996) indicam que as ações dos ocupantes
têm sido agrupadas em amplas categorias de investigação, procura de informação, preparação
para evacuação, evacuação, alerta aos outros, ajuda aos outros, procura de refúgio e espera.
Os moldes complexos do comportamento humano durante um incêndio podem ser
reunidos em grupos que descrevem o processo de decisão individual ou conceitos sócio-
psicológicos da resposta humana. Através desses grupos é possível entender melhor porque as
pessoas fazem o que fazem durante um incêndio (MEACHAM, 1997).
Segundo BRYAN (1971) as pessoas geralmente utilizam seis técnicas para decidir o que
fazer durante um incêndio. São elas: reconhecimento, validação, definição, avaliação,
compromisso e reavaliação (vide figura 4.29).
1. Reconhecimento
Depois da percepção e entendimento de um sinal de alerta (alarme ou identificação de
um sinal do incêndio como calor, chamas ou fumaça) o próximo passo é o processo de
interpretação desta informação e a decisão se o alarme ou sinal de incêndio é real para o
ocupante da edificação. Este processo é chamado de reconhecimento dos sinais.
.
82 .
Reconhecer um sinal como real leva tempo o que retarda a ação de evacuação do
ocupante, como pode ser observado nos incidentes envolvendo incêndios citados a seguir.
Em 1986, em um incêndio no Dupont Hotel e Cassino em San Juan – Porto Rico,
observou-se que os ocupantes permaneceram no cassino e as atividades de jogo
aparentemente continuaram mesmo depois dos ocupantes terem visto fumaça e ouvido uma
explosão (KLEM, 1987). Similarmente, no Illinois Bell Central Office em Hinsdale – Illinois,
um alarme soou por mais de uma hora e as pessoas acreditavam que o som do alarme era
apenas um problema do sinal ficando a cargo de um motorista que passava no local acionar o
corpo de bombeiros. Em 1991, empregados da John F. Kennedy Federal Building em Boston,
Massachusetts, observaram escombros em chamas caindo por suas janelas e permaneceram
sem evacuar a edificação ou acionar o alarme manual.
Estes comportamentos podem parecer inexplicáveis, mas eles ocorrem e devem ser
considerados na perspectiva de um código de segurança contra incêndio baseado no
desempenho.
Para pessoas leigas os primeiros sinais de um incêndio podem ser muito dúbios e
obscuros, visto que as pessoas podem preocupar-se que “alguma coisa não está certa” e, ao
mesmo tempo, de forma otimista, acreditar que a ameaça é falsa. Para algumas pessoas a
ameaça de um incêndio não é percebida até que grandes quantidades de fumaça, calor e
chamas apareçam.
O conceito de reconhecimento dos sinais pode ser considerado um importante problema
da proteção contra incêndios, visto que a decisão que inicia a ação envolvida na ativação do
alarme de incêndio, na evacuação dos ocupantes ou comunicação ao corpo de bombeiros pode
ser retardada se os indivíduos envolvidos não perceberem os sinais indicativos de uma
emergência envolvendo incêndios.
2. Validação
Quando as pessoas encontram-se inseguras em relação à severidade de um evento elas
procuram assegurar que a ameaça é pequena. Quando a ameaça parece mais séria as pessoas
pedem informações umas às outras, buscando mais informações e comprovando ou validando
que existe, de fato, um sério problema.
3. Definição
Através da definição as pessoas estruturam ou tentam quantificar o que elas sabem
sobre a ameaça. Definindo quanta fumaça ou calor as pessoas sentem, ou quanta chama elas
vêem ajuda na informação sobre a sua própria situação.
.
83 .
4. Avaliação
Durante a avaliação, as pessoas decidem se vão ou não tentar combater o incêndio ou
fugir para garantir a sua segurança. A decisão geralmente ocorre muito rapidamente, dentro de
segundos, e sobre grande estresse e medo. As ações das pessoas geralmente influenciam no
processo de avaliação.
5. Compromisso
De acordo com o processo de compromisso as pessoas agem conforme a decisão
tomada durante a avaliação.
6. Reavaliação
Se as ações tomadas não parecem ser eficazes as pessoas tornam-se mais ansiosas e
frustradas, fazendo com que as decisões tornem-se menos racionais, levando a um aumento da
probabilidade de injúrias.
Figura 4.29 – O processo de decisão de um indivíduo durante um incêndio.Adaptado de BRYAN (1971)
INDIVÍDUO
RECONHECIMENTO
VALIDAÇÃO
DEFINIÇÃO
AVALIAÇÃO
COMPROMISSO
REAVALIAÇÃO
Interpretação da informação e decisão se o alarme ou sinal de incêndio é real para o ocupante da edificação.
Busca por informações para assegurar que, de fato, existe um problema.
Tentativa de quantificar o que se sabe sobre a ameaça.
Decisão sobre que atitude tomar (evacuar ou tentar combater).
Ação conforme a decisão tomada durante a avaliação.
Verificação se as atitudes tomadas estão sendo eficazes ou não.
.
84 .
Estas análises representam uma tentativa de entender o processo cognitivo do indivíduo
através de um exame das variáveis relatadas para o processo de reconhecimento, validação,
definição, avaliação, compromisso e reavaliação. Pode-se perceber que estes processos
cognitivos são dinâmicos e estão constantemente sendo modificados em relação à magnitude,
velocidade e intensidade de suas respostas.
O comportamento de resposta dos indivíduos - relativo à dinâmica de suas atividades
psicológicas e fisiológicas - será provavelmente subnormal durante o processo de
reconhecimento, quando o indivíduo está concentrado na percepção dos sinais ambíguos (vide
figura 4.30).
Durante o processo de validação e a definição da ameaça, existe geralmente uma
comunicação e verbalização com outros membros da população de risco. De acordo com
BRYAN (1995), o período de atividade acima do normal parece ocorrer inicialmente durante
o processo de compromisso e, freqüentemente, é transferido para um nível hiperativo durante
o processo de reavaliação.
Deve-se ressaltar que o estresse e a ansiedade gerados no indivíduo tenderão a aumentar
e este comportamento de resposta cognitivo e físico resultará em uma falha em obter a
redução dos riscos através da evacuação ou controle do incêndio.
As variáveis físicas do incêndio (i. e. chamas, fumaça e calor) irão predispor os
indivíduos a um maior nível de atividade do comportamento de resposta, considerando a
percepção individual destas variáveis como aumentando o risco pessoal. Entretanto, é possível
notar que, durante o processo de reavaliação e compromisso a atividade física do indivíduo
pode alcançar um nível hiperativo, ou, em outro extremo, ser expresso como um estado de
completa imobilidade física com um nível de atividade subnormal e uma completa perda de
habilidade para comunicação de uma maneira coerente.
Aparentemente os indivíduos parecem perceber o incidente envolvendo incêndio como
severo demais para suas habilidades; parecem ser “esmagados” pela geração do estresse e
abandonam suas tentativas para formular uma estratégia de resposta.Conseqüentemente,
cessando a tentativa de qualquer resposta comportamental adaptativa física ou cognitiva, eles
adotam uma completa retirada do ambiente do incêndio através da fuga psicológica da
realidade.
.
85 .
AMEAÇA PROBABILIDADE BAIXA ALTA
NATUREZA LEVE SEVERA
PERDA PROPRIEDADE VIDA
TEMPO INDEFINIDO IMEDIATO
FUGA ASSEGURADA DUVIDOSA
Figura 4.30 A dinâmica da atividade comportamental do indivíduo em um incêndio (BRYAN, 1971).
Por outro lado, BREAUX (1976) desenvolveu um modelo conceitual do processo
cognitivo de decisão do indivíduo em situações envolvendo incêndios que é similar a alguns
dos conceitos citados anteriormente. Ao invés dos seis processos adotados por BRYAN
(1971), BREAUX (1976) utilizou apenas três processos: reconhecimento/interpretação;
comportamento, e o resultado da ação que envolve a avaliação e efeitos do comportamento a
longo prazo.
A avaliação do comportamento é similar ao processo de reavaliação anteriormente
discutido. O processo de reconhecimento/interpretação tem “inputs” cognitivos que são
críticos para o processo de tomada de decisão. Estes “inputs” cognitivos envolvem
experiências passadas, os fatores imediatamente surgidos, ou fatores atuais que causam
impacto no processo de reconhecimento e interpretação (vide figura 4.31).
ALTA REAVALIAÇÃO
ATIVIDADE COMPORTAMENTAL
BAIXA
ESTRESSELEVE EXTREMO
RECONHECIMENTO
VALIDAÇÃO
DEFINIÇÃO
AVALIAÇÃO
COMPROMISSO
.
86 .
Figura 4.31 Sistema Heurístico sugerido para o modelo de comportamento humano em um incêndio. Adaptado de BREAUX (1976)
4.4.4 O Pânico e a tomada de decisão durante um incêndio.
A mídia e o público em geral freqüentemente mencionam o potencial de pânico das
massas durante incêndios, imaginando uma multidão que, de repente, quer fugir do perigo a
todo custo, possivelmente sendo pisoteada ou esmagada no processo. Embora estes tipos de
comportamentos sejam extremamente raros em incêndios, a expectativa de que, as pessoas,
sentirão pânico é muito forte. Esta convicção é mesmo muito nutrida pela mídia e indústria de
filmes que jogam fortes imagens emocionais relacionadas ao tema.
Na realidade, PROULX (1993) afirma que o pânico como forma de comportamento
irracional é raro durante incêndios e os pesquisadores há muito tempo têm rejeitado este
conceito. Estudos realizados por SIME (1990) apontam que o verdadeiro pânico é raro
durante um incêndio representando menos de 5% dos comportamentos observados.
Mas o que é pânico afinal e quão real ele é durante um incêndio? BRYAN (1958)
descreveu o pânico como um súbito e excessivo sentimento de alarme ou medo, geralmente
afetando o corpo das pessoas exagerando seus esforços para garantir a segurança.
Segundo CAETANO (1987), a palavra pânico quer dizer assustar sem motivo, terror
infundado. Isso diferencia o pânico de reações agudas de ansiedade motivadas por fatores
externos nos quais a vida do indivíduo esteja potencialmente ameaçada, como na ocorrência
de catástrofes, incêndios, bombardeios, etc. Nas circunstâncias de risco de vida (incêndios,
INPUT 2 EXPERIÊNCIAS
PASSADAS
INPUT 1 FATORES
IMEDIATAMENTE SUGERIDOS
INPUT 1 FATORES
AMBIENTAIS
INPUT 3 FATORES
PESSOAIS ATUAIS
INPUT 2 FATORES SOCIAIS
RECONHECIMENTO/ INTERPRETAÇÃO
COMPORTAMENTO (AÇÃO/NÃO AÇÃO)
RESULTADO (EFEITO LONGO
PRAZO)
.
87 .
acidentes, etc) é normal que o indivíduo tenha reações de ansiedade agudas, as quais, em
geral, são acompanhadas de manifestações do Sistema Nervoso Autônomo, como palpitações,
boca seca, palidez, tonturas, falta de ar e transpiração. Essas reações de alarme geral preparam
o indivíduo para a luta ou para a fuga, possibilitando-o lidar com o perigo tendo portanto, uma
função adaptativa de sobrevivência, ou seja, esse é o medo normal que qualquer organismo
vivo pode sentir diante de uma forte ameaça.
CAETANO (1987) define pânico como um comportamento de fuga irracional que
envolve esforços exagerados e imprudentes. SIME (1980) indica que o pânico como conceito
é, principalmente uma descrição do comportamento e não uma explicação do comportamento
e deve ser diferenciado de termos como “ansiedade” ou “medo”.
Como indicado por SIME (1980), BRYAN (1977) e KEATING (1981), o
comportamento de pânico no qual a resposta de fuga é caracterizada pela competição física
entre as pessoas envolvidas no incidente, causando danos pessoais é raro.
Durante um incêndio, a natureza da informação obtida pelas pessoas, o tempo limitado
para reagir e a avaliação do perigo vão criar um sentimento de tensão. Esta tensão vai ser
sentida desde o momento em que uma informação ambígua é percebida até bem depois do
evento terminar, quando as pessoas alcançaram a segurança. Durante o curso do evento, a
intensidade de tensão sofrida vai variar em função da informação novamente percebida e a
avaliação da eficácia das decisões tomadas.
KEATING (1982) identificou quatro elementos essenciais para caracterizar o
comportamento de pânico, mas argumenta que um ou mais destes elementos estão ausentes na
maioria das evacuações em incêndios. Os quatro elementos (vide figura 4.32) fundamentais
são:
Figura 4.32 Os quatro elementos fundamentais caracterizadores do pânico.
Esperança de fuga
O verdadeiro pânico é caracterizado por uma esperança de fuga, sempre que as rotas de
fuga encontram-se obstruídas. Não há evidência de pânico quando não existe esperança de
PÂNICO
Esperança de fuga
Comportamento contagiante
Envolvimento agressivo
Respostas irracionais ao fogo
.
88 .
fuga como um incêndio num submarino, por exemplo. Pôde-se observar este tipo de
comportamento no incêndio do Edifício Joelma (SP) em 1974 onde muitas pessoas atiraram-
se pela janela numa tentativa desesperada de fuga na esperança de escapar do fogo, porém,
indo de encontro com a morte.
Comportamento contagiante
Este comportamento é muito comum em emergências ou situações ambíguas, visto
que as pessoas tendem a “seguir o líder” em situações de estresse ou quando necessitam de
garantia. O pânico tende a ocorrer quando um indivíduo não segue as ações do grupo, mesmo
contando com as informações coletivas.
Envolvimento/ preocupação agressiva
Em muitos tipos de emergências as pessoas não manifestam o sentimento de auto-
preocupação agressiva, mas ajudam outras pessoas que estejam em grande risco. As pessoas
são mais propícias a ajudar outras pessoas com que possuam algum vínculo, não importando o
tempo de conhecimento.
Respostas irracionais ao fogo
Conforme discutido por KEATING (1982), o que pode parecer um comportamento de
pânico na perspectiva de quem participa como espectador pode ser pular do 2º pavimento na
tentativa de escapar ao fogo.
Pelo que foi apresentado, pode-se perceber que o comportamento altruístico dos
ocupantes observado na maioria dos incêndios, com um comportamento de resposta
deliberado, parece ser o modelo de comportamento de resposta mais freqüente. O tipo de
comportamento como o pânico parece ser infrequente no comportamento de resposta na
maioria dos incidentes envolvendo incêndios.
4.4.5 A tomada de decisão durante um incêndio
A tomada de uma decisão cotidiana de como escolher uma refeição em um cardápio ou
escolher o melhor caminho para chegar na hora certa a uma reunião é diferente da tomada de
decisão durante uma emergência. Segundo PROULX (1993), há três razões principais que
diferenciam a tomada de decisão durante um incêndio de outras decisões (vide figura 4.33).
Primeiro, há muito mais em jogo do que o fogo. As conseqüências de uma decisão
podem determinar a sobrevivência do agente da decisão e de outras pessoas. Segundo, o
tempo disponível para tomar uma decisão é limitado. Freqüentemente, o agente da decisão
sentirá que esta decisão deve ser tomada depressa antes que as opções cruciais sejam perdidas.
Terceiro, a informação em que fundamentar uma decisão é ambígua, incompleta e incomum.
.
89 .
Também é normalmente impossível para uma pessoa encontrar a informação mais apropriada
devido à falta de tempo e de meios para adquirir informações.
Figura 4.33 . Diferenças entre a tomada de decisão durante um incêndio e durante a vida cotidiana.
O comportamento humano em incêndios é um pouco diferente do roteiro do pânico. O
que geralmente se observa é uma resposta letárgica para o alarme de incêndio, instrução de
comunicação por voz ou até mesmo os sinais iniciais de um incêndio (calor, fumaça, gases).
Com exceção das construções residenciais de baixa altura onde os ocupantes sentem que é de
sua responsabilidade investigar a ocorrência de um cheiro incomum, barulho ou movimento,
os ocupantes não são geralmente muito responsivos no momento inicial de um incêndio.
As pessoas, freqüentemente, ignoram ou demoram a sua resposta aos sinais iniciais de
uma emergência. Segundo PROULX & SIME (1991), uma vez que os ocupantes decidem que
a situação requer mudança para garantia da segurança, o tempo perdido deveria ser mínimo.Se
a pessoa avalia a situação como uma emergência, em vez de pânico, o que geralmente é
observado é um nível aumentado de tensão. Tensão é não pânico. Considera-se que toda
pessoa envolvida em uma emergência vai eventualmente sentir um pouco de tensão
independentemente de sua idade, sexo, experiência passada, treinamento, ou nível cultural.
Esta tensão não é uma reação anormal ou uma resposta negativa; pelo contrário, a tensão é
considerada como um estado necessário para motivar a reação e a ação.
O desempenho de uma pessoa que lida com um nível aumentado de tensão dependerá
da exigência da tarefa, das condições ambientais e das próprias pessoas. A tomada de decisão
sob tensão é caracterizada freqüentemente por um estreitamento da atenção e foco em um
reduzido número de opções. Isto explica por que o treinamento é tão importante em situações
de emergência envolvendo incêndios, visto que para as pessoas é difícil desenvolverem novas
Mais em jogo, possibilidade de vida ou morte para si mesmo ou para aqueles que se ama.
Tempo limitado para tomar decisões que podem ser irrevogáveis.
Informação limitada e ambígua em que fundamentar as decisões.
TOMADA DE DECISÃO DURANTE UM
INCÊNDIO
TOMADA DE DECISÃO
COTIDIANA ≠
.
90 .
soluções sob tensão. Por outro lado, se um planejamento rápido de tomada de decisão foi
aprendido e praticado antecipadamente será mais fácil de ser aplicado sob tensão (PROULX,
1993).
Para estudar e entender o comportamento dos ocupantes em incêndios é essencial
levar em conta as características de três dimensões que interagem no evento. Estas dimensões
são o ocupante, o edifício, e o fogo.
A primeira dimensão que deveria ser considerada é as características do ocupante. Estas
representam componentes essenciais que causam impacto em suas prováveis respostas e fuga
em um incêndio. Pesquisas demonstram, por exemplo, que sexo, idade, habilidade física e
formação do grupo terão um impacto substancial no tempo de resposta e velocidade do
movimento. Intuitivamente, é conhecido que várias outras características dos ocupantes como
experiência em incêndios passados ou familiaridade com a construção deveria ter um papel na
resposta ao incêndio, mas, segundo PROULX (1993), os dados existentes ainda são limitados.
A segunda dimensão que interage no evento de um incêndio é a edificação onde a
emergência acontece. Em códigos de construção, as ocupações geralmente são classificadas
de acordo com o seu uso e tamanho. Esta classificação, embora extremamente útil para
profissionais da indústria da construção é mal definida para o comportamento humano em
incêndios. A resposta do ocupante para um sinal de alarme de incêndio em um teatro, um
museu ou um aeroporto provavelmente será diferente, embora todas sejam edificações de
reunião de público.
A administração é outra característica do edifício muito importante que pode contribuir
para o sucesso ou fracasso da evacuação dos ocupantes. É documentado que a ativação do
sinal de alarme de incêndio é raramente suficiente para ativar o movimento de evacuação
dentro de edifícios públicos, a menos que este sinal tenha sido complementado com a ação de
um pessoal bem treinado ou através de informações diretas oriundas de um sistema de
comunicação de voz conforme afirmam PROULX & SIME (1991).
As características do incêndio representam o terceiro elemento que causará impacto na
tomada de decisão do ocupante. Estudos realizados por PROULX (1993) mostram que o
cheiro da fumaça provavelmente não é suficiente para acordar adultos dormindo. O que é
conhecido no momento é que as pessoas estão preparadas para moverem-se através de uma
grande quantidade de fumaça. Porém, as características da fumaça, a distância percorrida e as
condições que cercam tal decisão não são bem conhecidas.
Cenários de incêndios têm que ser pensados e levados em conta ao avaliar o provável
comportamento de ocupantes do edifício. Para prever uma resposta humana é necessário
.
91 .
considerar como o ocupante, a construção e as características do incêndio estarão relacionadas
em um caso específico e isto não é uma tarefa fácil.
.
92 .
5 INCÊNDIOS EM ESPAÇOS URBANOS HISTÓRICOS
Em todo o mundo a preocupação com a preservação do patrimônio histórico é
evidente, visto que surge como uma opção para o turismo, incrementando a economia,
gerando novos negócios, dinamizando áreas históricas ociosas e agregando novos valores.
Apesar dos benefícios trazidos por esta dinamização na utilização dos espaços, novos
riscos são acrescidos devido aos novos usos oriundos dos processos de revitalização pelos
quais muitos dos centros históricos brasileiros vêm passando desde a década de 70 do século
XX, muitas vezes, sem a devida preocupação com a segurança contra incêndios das
edificações.
Como exemplo da falta de gerenciamento de riscos de incêndios que pode
comprometer este patrimônio e pôr em risco a vida humana há os casos de incêndios em
espaços históricos que têm trazido à tona a discussão sobre a vulnerabilidade destes espaços
urbanos aos riscos de incêndios. Os principais fatores que contribuem para a vulnerabilidade
destas áreas históricas ao risco de incêndios serão discutidos na seção 5.1, a seguir.
Antes de iniciar a análise dos fatores condicionantes do risco de incêndio em espaços
urbanos históricos, faz-se necessária uma definição, em linhas gerais, de alguns termos
fundamentais para a compreensão do assunto abordado no presente capítulo.Estes termos são:
Espaço urbano
CORRÊA (2000) define espaço urbano como o conjunto de diferentes usos de terra
justapostos entre si. Tais usos definem áreas, como o centro da cidade, local de concentração
de atividades comerciais, de serviços e de gestão, áreas industriais, áreas residenciais distintas
em termos de forma e conteúdo social, de lazer e, entre outras, aquelas de reserva para futura
expansão.
LAMAS (1992), define espaço urbano como o território sob o qual o homem atua para
nele viver e exercer atividades diversa.
Quarteirão: conjunto de edifícios agrupados entre si em anel, ou sistema fechado e
separados dos demais; é o espaço delimitado pelo cruzamento de 03 ou mais vias e
subdivisível em parcelas (lotes) para a construção de edificações (LAMAS ,1992)
Bairro: conjunto de quadras com características comuns (LAMAS, 1992).
Cidade: conjunto de bairros (LAMAS, 1992).
Mobiliário urbano: sistema conformado pelos elementos complementares ao
funcionamento da cidade, geralmente entendidos como temporários. Este sistema inclui:
.
93 .
sinalização, elementos complementares aos espaços abertos (bancos, telefones públicos, etc),
arborização, iluminação pública, etc. (DEL RIO, 1990).
5.1 Fatores condicionantes do risco de incêndio em espaços urbanos históricos
Os espaços urbanos históricos são áreas de muitos riscos e o de incêndio é, certamente,
um dos mais graves. Essa gravidade possui dois grandes fatores: o próprio incêndio, que é um
fenômeno de grande poder destrutivo, e o tecido urbano destas áreas históricas propício a
incêndios severos.
Segundo GOUVEIA (2002), dentre os muitos parâmetros de risco em centros históricos,
são visíveis:
a) Densidade de carga de incêndio: é calculada pela massa de material combustível por
unidade de área nas residências, comércios, hotéis, pousadas existentes nestas áreas
históricas;
b) O risco de ativação: é avaliado pelo número de pessoas que ocupam os imóveis, pelas
circunstâncias dessa ocupação, pela planta das edificações, pela qualidade da
manutenção.
Ao longo do tempo, a quantidade de material combustível das edificações existentes
nos centros históricos certamente aumentou. O processo de mudança do mobiliário e a
adaptação de imóveis residenciais para comerciais ou de serviços fazem crer no aumento da
densidade de carga de incêndio. Foi assim em 1988 no Chiado, em Lisboa, onde a densidade
de carga de incêndio existente nas edificações históricas, devido à mudança de uso residencial
para o comércio, serviços e pequenas indústrias, contribuiu para a severidade de um grande
incêndio que destruiu 18 prédios históricos.
Mas não só a quantidade de material combustível tem mudado. A velocidade com que
uma antiga mesa de madeira das antigas residências liberaria calor é muito menor que a das
mesas de plástico dos barzinhos agora existentes ou dos estofamentos presentes em
escritórios, além do grande número de aparelhos e equipamentos elétricos necessários para o
desenvolvimento destas novas atividades. Esse fato traz um sério agravamento de risco.
No que se refere à taxa de ocupação, esta atinge picos nas festas, feriados e fins-de-
semana. Quanto maior o número de pessoas, maior é o risco de ativação de incêndio.
Segundo BENITO (1983), pode-se justificar, em parte, a incidência de incêndios em
edificações históricas em razão de algumas características específicas que potencializam ainda
.
94 .
mais o princípio de um incêndio e que quase sempre impedem a sua extinção antes do
comprometimento estrutural da edificação. Estas características são apresentadas abaixo:
a) Características construtivas
Grande parte das edificações que compõem os espaços urbanos históricos caracteriza-se
pela utilização de alvenarias com características estruturais autoportantes e de vedação apenas
nas paredes que constituem o perímetro externo da edificação, sendo as compartimentações
internas e coberturas executadas predominantemente em madeira. Isto constitui um fator
agravante na ocorrência de um incêndio por estar relacionado à eficiência das barreiras (vide
figura 5.1).
Figura 5.1 Desenho esquemático da propagação vertical e horizontal do incêndio no interior de uma
edificação
b) Implantação
Centros históricos brasileiros como o Bairro do Recife, Pelourinho, Ouro Preto e São
Luiz que possuem uma tipologia construtiva semelhante, caracterizada pela presença de
edificações geminadas (vide figuras 5.2 e 5.3), implantadas sem afastamentos frontais ou
laterais e que em sua maioria ocupam 100% do lote, necessitam de um tratamento especial.
Dado que ocorra um incêndio, o fogo de uma edificação pode passar com facilidade à
outra, vizinha, e, desta, às seguintes, devido ao colapso das barreiras entre elas (vide figura
5.4). Não há estanqueidade na maioria das edificações geminadas, mormente acima dos
forros: os gases quentes de incêndio encontram por aí o caminho para saciar sua voracidade.
DIVISÓRIA INTERNA EM MADEIRA
FALHA DA BARREIRA
ASSOALHO EM MADEIRA 2º PAVIMENTO
CAMINHO DO INCÊNDIO
A
CAMINHO DOINCÊNDIO
BFORRO EM MADEIRA1º PAVIMENTO
1º PAVIMENTO
2º PAVIMENTO
EDIFICAÇÃO 01
FALHA DA BARREIRA
SALA A SALA BSALA C
DIVISÓRIA INTERNA EM MADEIRA
FALHA DA BARREIRA
ASSOALHO EM MADEIRA 2º PAVIMENTO
CAMINHO DO INCÊNDIO
A
CAMINHO DOINCÊNDIO
BFORRO EM MADEIRA1º PAVIMENTO
1º PAVIMENTO
2º PAVIMENTO
EDIFICAÇÃO 01
FALHA DA BARREIRA
SALA A SALA BSALA C
.
95 .
Figura 5.4 Desenho esquemático da propagação do incêndio entre edificações geminadas.
Outro fator característico destes centros históricos e que pode contribuir para a
severidade de um incêndio é a forma tortuosa das ruas e largos que muitas vezes aproximam
demais as fachadas.O calor, transferido por radiação, pode atingir outra edificação e aí gerar
um novo incêndio.
A seguir são apresentados os tipos de propagação das chamas entre edificações de
acordo com a implantação das edificações (IT – 07, 2001).
Figura 5.3 Edificações geminadas no Bairro do
Recife (PE)
Figura 5.2 Edificações geminadas em Ouro Preto (MG).
HÁ COLAPSO DA BARREIRA
INCÊNDIO NÃO SE PROPAGA PARA A EDIFICAÇÃO 03
FORRO EM MADEIRA
CAMINHO DO INCÊNDIO
A
EDIFICAÇÃO03
CAMINHO DO INCÊNDIO
B
CAMINHO DO INCÊNDIO
C
CAMINHO DO INCÊNDIO
A
NÃO HÁ COLAPSO DA BARREIRA
EDIFICAÇÃO02
EDIFICAÇÃO01
INCÊNDIO SE PROPAGA PARA A EDIFICAÇÃO 02
ASSOALHO EM MADEIRA
HÁ COLAPSO DA BARREIRA
INCÊNDIO NÃO SE PROPAGA PARA A EDIFICAÇÃO 03
FORRO EM MADEIRA
CAMINHO DO INCÊNDIO
A
EDIFICAÇÃO03
CAMINHO DO INCÊNDIO
B
CAMINHO DO INCÊNDIO
C
CAMINHO DO INCÊNDIO
A
NÃO HÁ COLAPSO DA BARREIRA
EDIFICAÇÃO02
EDIFICAÇÃO01
INCÊNDIO SE PROPAGA PARA A EDIFICAÇÃO 02
ASSOALHO EM MADEIRA
.
96 .
a) Propagação entre as fachadas das edificações adjacentes por radiação térmica (fig. 5.5);
Figura 5.5 - Propagação entre fachadas
b) Propagação entre a cobertura de uma edificação de menor altura e a fachada da outra
edificação (fig.5.6);
Figura 5.6 - Propagação entre cobertura e fachada.
c) propagação entre duas edificações geminadas, pelas aberturas localizadas em suas fachadas
e/ou pelas coberturas das mesmas, por transmissão direta de chamas e convecção de gases
quentes (fig.5.7).
Figura 5.7 - Propagação entre duas edificações geminadas com a mesma altura.
d) propagação entre edificações geminadas, por meio da cobertura de uma edificação de
menor altura e a fachada de outra edificação, pelas três formas de transferência de energia
(fig.5.8).
.
97 .
Figura 5.8 - Propagação entre duas edificações geminadas com altura diferenciada.
c) Conservação da edificação
Fator que potencializa o risco de incêndio e propagação, quando da não realização de
serviços de manutenção da edificação e de suas instalações.
d) Ocupação
Fator relacionado à idade da edificação e às características e usos do entorno urbano.
Muitas das edificações existentes nos centros históricos foram adaptadas para adequarem-se a
novos usos. Com os novos usos, novos materiais e equipamentos são utilizados, algumas
vezes sem a devida preocupação com a segurança contra incêndio, aumentando o risco de
incêndio nestas edificações.
e) Instalações
As instalações elétricas destas edificações contam, muitas vezes, com demandas de
carga muito superiores às que as instalações originais existentes foram dimensionadas, pela
utilização de equipamentos eletro - eletrônicos, eletro-mecânicos e de iluminação, requeridos
atualmente para o desenvolvimento das atividades comerciais, industriais e de serviços.
Observa-se também o incremento do uso de GLP (gás liquefeito de petróleo) em
edificações onde funcionam bares e restaurantes, nem sempre acompanhado das adequações e
instalações de distribuição necessárias.
Segundo GARMATTER (2000), a garantia de que as instalações elétricas e de
distribuição de GLP foram projetadas e executadas por empresas ou profissionais habilitados,
considerando os condicionantes existentes, somada à implantação de um programa de
manutenção, caracterizam-se como fatores minimizadores dos potenciais de risco de explosão
e incêndios em edificações de interesse de preservação.
.
98 .
No que se refere às instalações de combate a incêndios, os sistemas atualmente
exigidos, excetuando-se os móveis (extintores), necessitam que a edificação atenda a
requisitos mínimos específicos para a sua implantação, em especial a disponibilidade de
espaço físico e estabilidade estrutural, requisitos de difícil atendimento quando do tratamento
de edificações já existentes e de limitada intervenção. Nestes casos torna-se necessária uma
criteriosa avaliação para determinar quais são os dispositivos de combate a incêndios
adequados à problemática existente.
BENITO (1983) afirma que deve-se analisar a viabilidade econômica para a
implantação dos sistemas de proteção e combate propostos em função do valor histórico,
cultural ou comercial da edificação e seu conteúdo, e a quem cabe o investimento, procurando
evitar que determinadas edificações tenham o seu uso inviabilizado pelas exigências impostas,
o que poderá ocasionar o seu funcionamento de forma irregular ou o seu total abandono,
potencializando ainda mais os riscos de incêndios.
f) Legislação
As normalizações existentes, na sua maioria para edificações novas, não são
adequadas muitas vezes para o tratamento de edificações antigas. A simples exigência de
sistemas de combate a incêndios seja por extintores ou hidrantes não minimiza os riscos de
princípios de incêndio nestas edificações. Soma-se a isto o fato de que muitas vezes as
edificações não comportam física e estruturalmente os sistemas fixos de combate a incêndios
exigidos. Necessita-se de uma nova abordagem e tratamentos específicos no que se refere à
segurança contra incêndios em edificações ou espaços urbanos históricos.
Pelo exposto infere-se a necessidade de uma abordagem da problemática dos incêndios
em espaços urbanos históricos objetivando minimizar os potenciais de risco à integridade
global destes espaços que representam um pouco da riqueza e memória cultural do país.
Perdas culturais decorrentes de incêndios nestes espaços seriam incalculáveis.
Alguns exemplos de incêndios que acarretaram grandes perdas de vidas humanas, perda
do patrimônio histórico e perdas econômicas serão apresentados a seguir a fim de
exemplificar os impactos resultantes de incêndios em áreas históricas.
5.2 Análise de grandes incêndios
Os grandes incêndios históricos de Londres (1666) e Chicago (1871) são exemplos de
como um evento desta natureza pode destruir toda uma cidade. Por sua vez, incêndios
ocorridos em espaços urbanos antigos como o do Chiado (Portugal), Lima (Peru), Edimburgo
.
99 .
(Escócia), Ouro Preto (MG/Brasil) e recentemente em Recife (PE/Brasil) evidenciam a
necessidade de medidas preventivas mais rigorosas com relação ao patrimônio.
5.2.1 Grande incêndio de Londres
Londres sofreu vários incêndios urbanos dos quais pode-se destacar aqueles ocorridos
em 798, 982 e em 1212, que destruíram quase toda a cidade.O grande problema estava no fato
de a maioria das construções serem de estrutura de madeira e telhados de palha e, portanto,
altamente combustíveis.Um grande número de chaminés eram simples troncos ocos de
madeira e os fogareiros domésticos, para aquecimento e preparação de alimentos, eram
freqüentemente acesos no centro da habitação, permitindo que a fumaça e as fagulhas fossem
carregadas por convecção até achar sua saída nas aberturas no teto.
Em 1189, o primeiro prefeito de Londres, Lord Henry Fitzalwin, promulgou uma lei
local que exigia que todas as construções novas na cidade fossem de pedra e cobertas com
telhas de ardósia ou argila. As paredes de pedra entre duas construções adjacentes
denominadas party walls deveriam ter 99 cm de espessura e 2.58 m de altura, pelo menos,
evitando a passagem das chamas de uma unidade para outra. Esta medida visava garantir a
integridade das barreiras entre as edificações, não impedindo, porém, que ocorresse um
grande incêndio na cidade em 1212. Acredita-se que este incêndio teve origem na Ponte de
Londres construída em madeira e que se espalhou por ambos os lados da cidade, causando
mais de 3.000 mortes.
Entretanto, o incêndio mais significativo de Londres, marco da história da segurança
contra incêndio, ocorreu no dia 02 de setembro de 1666, e é denominado “O grande incêndio
de Londres”. Este se iniciou numa casa de madeira em Pudding Lane e perdurou por quatro
dias, consumindo cerca de 13.000 mil casas, 87 igrejas e capelas, além de hospitais,
bibliotecas, casas de comércio, portais da cidade e prisões. Os ventos carregaram fagulhas do
incêndio para um monte de feno na vizinhança e daí, o fogo se espalhou pelos depósitos da
Thames Street.
O fogo, não controlado se propagou rapidamente pela cidade. Mais de 100.000 pessoas
(quase 25% da população da região) ficaram desabrigadas e as perdas chegaram a 10 milhões
de libras. Apesar de devastar quase 75% da cidade, apenas seis pessoas morreram em
decorrência desse incêndio. Credita-se a este incêndio a criação do primeiro sistema moderno
de seguro contra incêndio.
No processo de reconstrução de Londres, foram introduzidas medidas que visavam a
proteger a cidade de grandes incêndios, a começar pela proibição da construção de estruturas
.
100 .
de madeira, seguida de uma série de providências que permitiram a não repetição de mais
incêndios daquelas proporções. Tais providências formaram uma regulamentação precursora
das regulamentações modernas de segurança contra incêndio. Por isso, “O grande incêndio de
Londres” é um marco importante na história da segurança contra incêndio e dos incêndios
urbanos.
5.2.2 Grande incêndio de Chicago
Em 08 de outubro de 1871 teve início um incêndio na parte oeste de Chicago que
perdurou por dois dias, tendo causado a destruição de 18.000 casas, a morte de cerca de 120
pessoas, deixando 90.0000 pessoas desabrigadas, causando um prejuízo de aproximadamente
200 milhões de dólares (vide figura 5.9).
O incêndio teve início nas proximidades do celeiro O'Leary. Os detalhes exatos de suas
origens são desconhecidos. Porém, considerando o verão seco e o modo descuidado com que
a cidade tinha sido construída e administrada atribui-se a causa a algum descuido humano
(MAYER & WADE, 1969).
Figura 5.9 Aspecto da cidade de Chicago após o incêndio (Mayer & Wade, 1969)
O sistema construtivo da cidade de Chicago na época era conhecido como balloon-
frame. Baseava-se na utilização de um grande número de caibros e vigas de madeira
colocadas próximas umas das outras, as quais eram unidas por vigas maiores que eram
estruturadas nos pisos e coberturas (GYMPEL, 2000). Tal sistema construtivo, caracterizado
pela presença em abundância de material combustível, contribuiu para a severidade do evento
aliado ao fato de que um forte vento sudoeste dirigiu o sentido do incêndio que se propagou
diretamente para o centro da cidade.
.
101 .
Figura 5.10 Sistema construtivo balloon- frame
O mapa do trajeto (vide figura 5.11) do incêndio juntamente com a data e horário em
que ocorreram os nove focos de incêndios são apresentados abaixo:
A. Celeiro O'Leary - 08 de outubro, 20:00h B. Moinho Bateham's- 08 de outubro 22:00h C. Estábulo Parmelee's – 08 de outubro 23:30h D. Gas Works – 08 de outubro- 09 de outubro, 24:00h E. Tribunal – 09 de outubro, 24:30h F. Estábulo Wright's – 09 de outubro, 01:30h G. Rua Polk – 09 de outubro, 02:30h H. Northwestern – 09 de outubro, 02:30h I. Galena - 09 de outubro, 07:00h
Figura 5.11 Mapa do incêndio de Chicago (MAYER & WADE, 1969)
.
102 .
5.2.3 Incêndio no Chiado
Em 25 de agosto de 1988 um incêndio destruiu quatro quarteirões no bairro do Chiado
(Portugal), localizado entre a baixa pombalina e a colina do Bairro Alto, que foi, ao longo do
tempo, o centro da vida cultural lisboeta, com seus teatros, livrarias, cafés com tradições
literárias e o museu do Chiado (vide figuras 5.12 e 5.13).
O Chiado teve sua origem num bairro medieval situado no interior das muralhas e até o
século XVI ali se erguiam conventos e solares aristocráticos destruídos pelo terremoto de
1755. Com a reconstrução de Lisboa e a industrialização do século XVIII o Chiado passou a
ser invadido pelo comércio. Na última metade do século XIX o Chiado tornou-se o espaço
preferido dos poetas, políticos, romancistas, jornalistas e artistas da época. A partir do final do
século XIX e toda a primeira metade do século XX, o Chiado transformou-se no centro de
encontro da Lisboa intelectual e elegante, sendo apelidado de “coração de Lisboa”.
O referido incêndio teve origem nos armazéns do Chiado e Grandella na madrugada
do dia 25 de agosto, alastrando-se de tal forma que os bombeiros levaram 20 horas para
controlá-lo e outras 18 horas para extingui-lo.
Os danos materiais e culturais foram incalculáveis. Dezoito edificações, localizadas na
Rua do Carmo, Nova do Almeida Garrett e Calçada do Sacramento foram total ou
parcialmente destruídas pelo incêndio (vide figuras 5.14 e 5.16).
Figura 5.13 Vista de uma rua do Chiado mostrando a proximidade das fachadas entre as edificações.
Figura 5.12 Vista do Bairro do Chiado
.
103 .
Figura 5.14 Vista aérea da área atingida pelo incêndio
Segundo o Corpo de Bombeiros, os fatores determinantes que contribuíram para a
gravidade do incêndio foram:
• Os obstáculos da arquitetura representados, sobretudo, pelo novo arranjo da Rua do
Carmo, que, parcialmente obstruída por plataformas de cimento,esplanadas, bancos e
floreiras dificultou a movimentação e o acesso dos veículos do corpo de bombeiros
(ver figura 5.15);
• A direção do vento no momento do incêndio que contribuiu para a rápida propagação
das chamas entre as edificações;
• A elevada densidade de carga de incêndio acumulada em muitas edificações devido à
mudança de uso residencial para comércio, serviços, armazéns e pequenas fábricas
Figura 5.15 Obstáculos da arquitetura que dificultaram o combate pelo corpo de bombeiros..
Fonte: Jornal Expresso Portugal
.
104 .
contribuiu para a severidade das conseqüências (vide figura 5.16);
• Presença de botijões de gás cuja explosão contribuiu para a rápida propagação do
fogo;
• Carência de alarmes de incêndio eficazes.
No rescaldo do incêndio, o corpo de bombeiros elaborou um exaustivo levantamento de
todas as situações perigosas e possíveis causadoras de incêndio através da realização de
vistorias e elaboração de relatórios de todos os edifícios da Baixa Lisboeta e zonas limítrofes
consideradas de risco. O resultado das vistorias foi conclusivo: as zonas antigas da capital
eram verdadeiros “barris de pólvora” e necessitavam ser intervencionadas (CBS, 1988).
Segundo COELHO (2003), quinze anos após o incêndio do Chiado, mais de 75% das
recomendações feitas pelos bombeiros aos moradores locais não são seguidas e as zonas
históricas da capital ainda estão inseguras no que se refere a acidentes do gênero.
5.2.4 Incêndio em Edimburgo
Em 07 de dezembro de 2002 um incêndio no centro histórico de Edimburgo (Escócia)
destruiu edifícios de valor histórico da área de Cowgate (vide figura 5.17). Estes edifícios
eram remanescentes da Idade Média e considerados pela UNESCO como Patrimônio Cultural
da Humanidade.
O incêndio teve início às 20:15h do sábado numa discoteca em Hastie’s Close área
muito popular entre os jovens nos finais de semana. Do segundo pavimento, onde teve início,
Figura 5.16 Escombros do incêndio do Chiado.
Fonte: Jornal Expresso Portugal.
.
105 .
o incêndio propagou-se rapidamente atingindo os sete pavimentos da edificação, obrigando
cerca de 150 pessoas a evacuarem a área (PRENSA, 2002).
Figura 5.17 Um dos edifícios atingidos pelo incêndio na Rua Cowgate
Aproximadamente 100 homens do corpo de bombeiros levaram dezoito horas para
controlar o incêndio e outras trinta e seis horas para extingui-lo (vide figura 5.18). Segundo o
Corpo de Bombeiros, alguns fatores como a proximidade entre as edificações, que favoreceu a
rápida propagação das chamas entre elas, aliada ao fato de serem edificações muito antigas
contribuíram para a severidade do evento. Outro fator foram as ruas estreitas do centro
histórico que dificultaram o acesso do corpo de bombeiros.
Figura 5.18 Bombeiro combatendo o incêndio em Cowgate
Como impactos do incêndio contabiliza-se a perda de treze edificações e a interdição de
cinco ruas. Este incêndio foi caracterizado, segundo o gabinete escocês, como o maior
incêndio dos últimos tempos na Escócia.
.
106 .
5.2.5 Incêndio em Lima
Em 29 de dezembro de 2001, um incêndio no centro comercial de Lima, Peru, em uma
loja de fogos de artifícios, causou a morte de 289 pessoas e destruiu quatro quadras de uma
área tombada pela UNESCO como patrimônio da Humanidade com casas do século XVIII do
período colonial peruano. O incêndio foi classificado como a maior tragédia na história
recente do Peru.
Os 400 bombeiros envolvidos levaram seis horas para debelar o incêndio e o quadro do
rescaldo do incêndio era desolador (vide figura 5.21). Segundo o chefe do corpo de bombeiros
local, o fogo se espalhou a partir de oito pontos distintos onde caíram os rojões e a
temperatura no interior das edificações ultrapassou 600˚C.
Figura 5.21 Escombros do incêndio em Lima.
Outros fatores que contribuíram para que o incêndio se propagasse rapidamente foram:
Figura 5.20 Área afetada pelo incêndio que comprometeu a estabilidade estrutural das
edificações
Figura 5.19 Salvamento pelo Corpo de bombeiros no momento do incêndio.
.
107 .
• A grande quantidade de material combustível existente nas lojas e galerias
(fogos, roupas, papéis, plásticos, etc);
• O número reduzido de saídas, que, aliado a poucas aberturas existentes para
ventilação e saída da fumaça, causaram o sufocamento pela fumaça deixando
um grande número de vítimas;
• Os hidrantes não possuíam pressão suficiente para elevar os jatos d`água
(baixa pressão do sistema de abastecimento no local);
• A existência de instalações clandestinas de energia elétrica que contribuíram
para que o fogo se propagasse rapidamente para outras lojas;
• O grande tráfego nas ruas estreitas do centro histórico que dificultou o acesso
das viaturas do corpo de bombeiros ao local assim como a fuga das vítimas.
Em 1991, a 200 metros do local do incêndio ocorrido em 2002, uma explosão em uma
loja de fogos deixou 12 mortos e cerca de 100 lojas destruídas. Pôde-se assim observar que 11
anos após este incêndio em 1991 a situação continuava a mesma.
5.2.6 Incêndio em Pirenópolis (GO)
Nascida de um pequeno arraial minerador do início do século XVIII e incrustada aos
pés da serra dos pireneus, Pirenópolis constitui-se hoje em um dos mais ricos acervos
patrimoniais do centro-oeste, tendo sido tombada pelo patrimônio histórico nacional em 1989.
Por ter sido um centro urbano florescente até fins do século XIX e, em seguida, ter
experimentado um período de estabilidade e isolamento, que a manteve intocada pelas
transformações do século XX, conservou praticamente intacta sua feição original.
Figura 5.22 Igreja Matriz de Nossa Senhora do Rosário em Pirenópolis.
Um incêndio destruiu em 06 de setembro de 2002 a Igreja matriz de Nossa Senhora do
Rosário, a mais antiga de Goiás, construída em 1728, tombada pelo patrimônio histórico
nacional desde 1941. Todo o interior da Igreja – castiçais de prata, porcelanas francesas do
.
108 .
século XVII e afrescos no teto – foi destruído. Ainda não há levantamento, mas as autoridades
estimam que serão necessários R$ 5 milhões para reerguê-la.
Os únicos objetos salvos foram a imagem de Nossa Senhora do Rosário, padroeira da
cidade, outras 12 imagens de santos, além de 14 quadros da Via Sacra. As paredes externas,
de taipa, correm risco de desmoronar.
O fogo começou por volta das 2h. O pároco tentou apagar as chamas com os quatro
extintores da igreja. Sem sucesso, chamou os bombeiros da cidade, mas, sem carro-pipa, os 20
soldados não conseguiram controlar o incêndio. Bombeiros de Anápolis, que só chegaram por
volta das 6h e com cinco carros-pipas, ajudaram a controlar o fogo.
O presidente do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), Carlos
Henrique Heck, informou que há um ano cópias de um laudo técnico de vistoria foram
enviadas ao Ministério Público Federal, à Diocese de Anápolis e ao pároco responsável pela
igreja, Luiz Virtuoso, alertando sobre o risco de acidentes. O arquiteto do Iphan Silvio
Cavalcanti constatou, em setembro de 2001, a existência de gambiarras para instalação do
som, velas acesas e uso inadequado de cera no piso, bastante inflamável.
Segundo técnicos do Iphan, tragédias como este incêndio que destruiu a Igreja Matriz de
Nossa Senhora do Rosário também podem atingir outras edificações construídas durante o
período colonial em Pirenópolis. A cidade não conta com uma rede de hidrantes próxima aos
monumentos tombados e existem problemas de conservação em vários prédios. Entre os
locais que correm perigo estão as Igrejas de Nossa Senhora do Carmo e de Nosso Senhor do
Bonfim, erguidas em meados do século XVIII. Restauradas há pouco tempo, ambas já
apresentam problemas de infiltração e de cupins.
Apesar de contar com Corpo de Bombeiros, a cidade não tem carro de combate ao fogo.
O centro do Município está repleto de casas em estilo colonial, mas nenhuma possui proteção
contra incêndio.
Ao lado da matriz fica a casa mais antiga de Pirenópolis que corre o risco de desabar.
As paredes do imóvel – feito por escravos para abrigar os construtores da igreja no início do
século XVIII – estão estufando e ficando curvadas. Recentemente, as laterais foram
reforçadas com cimento e houve a troca de parte das vigas de madeira, mas a casa continua a
ceder.
Segundo a superintendente da 14ª Regional do Instituto do Patrimônio Histórico e
Artístico Nacional (Iphan), Salma Saddi, o máximo que o órgão pode fazer é vistoriar os bens
tombados e alertar os proprietários para o risco que ronda os prédios históricos.
.
109 .
5.2.7 Incêndio em Ouro preto (MG)
Ouro Preto, cidade Patrimônio Cultural da Humanidade, possui aproximadamente mil
edificações tombadas em conjunto e quarenta e cinco monumentos tombados isoladamente.
Em 14 de Abril de 2003 um incêndio no Centro histórico de Ouro Preto destruiu um
casarão do século XVIII que teve toda a sua estrutura consumida pelo fogo, tornando
impossível a sua restauração. O prédio abrigava 06 lojas e seria reformado para a instalação
de um hotel (vide figura 5.23).
Os dois laudos periciais – da Polícia Civil e da Polícia Federal – apontaram a mesma
causa para o incêndio: vazamento de GLP (gás liquefeito de petróleo) em um fogão,
localizado na loja de jóias Amsterdan Sauer. A perícia concluiu que o incêndio foi acidental,
visto que uma centelha provocada pelo uso de um equipamento elétrico, em contato com o
gás, deu início ao fogo (figura 5.24).
Segundo técnicos do Iphan, a base da referida edificação foi construída no século
XVIII toda feita de pedra seca, com uma estrutura que não usa argamassa entre as pedras. A
edificação sofreu reformas e as paredes presentes até então tinham sido construídas no final
do século XIX, sendo bastante danificadas pelo fogo e provavelmente serão demolidas (vide
figuras 5.25 e 5.26).
O incêndio expôs o precário sistema de combate a incêndios de Ouro Preto agravado
pelo fato de que dos 08 hidrantes existentes na cidade, apenas 01, que fica a um quilômetro do
local do incêndio estava funcionando. O incêndio levou cerca de duas horas para ser
controlado. O fogo só diminuiu com a chegada de reforços das cidades de Mariana, Itabirito,
Belo Horizonte e das brigadas de incêndio da Alcan, Cemig e Samarco.
Figura 5.23 Casarão antes do incêndio Figura 5.24 Casarão durante o incêndio.
.
110 .
O Governador de Minas Gerais Aécio Neves admitiu que falta às cidades
históricas do Estado, como Mariana, Tiradentes e Congonhas, além de Ouro Preto, um projeto
de prevenção e combate a incêndios.
A falta de infra-estrutura da cidade - que viveu horas de desespero porque tinha apenas um
caminhão para combater o fogo e precisou de ajuda das cidades vizinhas – está sendo alvo de
um inquérito civil público, instaurado em fevereiro, devido à precariedade do Corpo de
Bombeiros.
5.2.8 Incêndio em Sabará (MG)
Um incêndio na madrugada do dia 19 de junho de 2003 destruiu parte da Igreja Nossa
Senhora das Mercês, construída em estilo barroco no final do século XVIII e localizada no
centro histórico de Sabará, na região metropolitana de Belo Horizonte (vide figura 5.27).
Figura 5.27 Igreja Nossa Senhora das Mercês em Sabará (MG)
Figura 5.26 Escombros do incêndio do casarãoFigura 5.25 Escombros do incêndio do casarão
.
111 .
O incêndio destruiu o altar de madeira, três imagens, um crucifixo, adornos, e a mesa do
templo, tombada pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan). Uma
parte do telhado foi atingida pelas chamas e cedeu. As chamas atingiram também o forro da
nave. De acordo com o Corpo de Bombeiros, o incêndio não afetou a estrutura da igreja.
Os bombeiros chegaram ao local cerca de 20 minutos depois. Quarenta homens da
corporação de Sabará e da capital mineira trabalharam para conter as chamas, que foram
totalmente controladas às 6h.
O fogo destruiu as imagens de Nossa Senhora das Mercês, de São Pedro Nolasco e de
São Raimundo Pena Forte, todas feitas em madeira no século XVIII.
Peritos da Polícia Civil iniciaram as investigações sobre as causas do incêndio. Uma
vistoria realizada em outubro de 2002 pela corporação, após um curto-circuito, havia
condenado a rede elétrica da igreja. O comandante do 4º pelotão do Corpo de Bombeiros,
subtenente Marcelo Oscar de Queiroz, afirmou que a inspeção detectou que a igreja não
possuía um projeto de prevenção contra incêndios, que faltavam extintores e que a situação
das instalações elétricas era "precária". Segundo ele, a corporação não foi chamada para uma
nova vistoria após uma reforma na rede elétrica feita pela Prefeitura local.
O prefeito de Sabará, Wander Borges, admitiu em entrevista ao jornal Estadão, que falta
segurança a "todas" as igrejas históricas da cidade e o acervo sacro do Município está em
"perigo".
A falta de segurança levou à interdição de sete igrejas históricas no Município e no
distrito de Ravena por um período entre 30 e 90 dias. As interdições foram pedidas pelo
Ministério Público Estadual (MPE), com base em vistorias feitas pelo Corpo de Bombeiros.
As inspeções, segundo a corporação, constataram que as construções não oferecem segurança
aos visitantes.
Ao todo, Sabará e os distritos da região têm 16 igrejas tombadas. Entre aquelas que
foram fechadas está a Igreja Matriz de Nossa Senhora da Conceição, de 1701. Segundo
Raymundo Rodrigues, representante do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional
(Iphan) em Minas Gerais, chegou-se à conclusão de que a matriz precisava ser interditada pela
precariedade de sua rede elétrica.
5.2.9 Incêndio no Bairro do Recife (PE)
Em 13 de Janeiro de 2001, um incêndio de grandes proporções destruiu parte da
Empresa Nabisco Fleishman Royal (antiga Fábrica da Pilar), no Bairro do Recife, levando
pânico aos funcionários que trabalhavam no local (figura 5.28). O prédio da antiga Fábrica da
.
112 .
Pilar com 125 anos de existência, ocupa uma área de cerca de 40 mil metros quadrados e pelo
menos 20% da área física da empresa foi destruída pelo incêndio.
Figura 5.28 Fábrica Pilar localizada no Bairro do Recife
Não houve vítimas. Ao todo, 100 funcionários trabalhavam na empresa quando o
incêndio começou no Setor de Biscoitos, que fica no térreo, por volta das 13h15, pouco antes
do fim do primeiro turno da empresa. Em poucos minutos, o fogo acabou se alastrando para o
vestiário, o almoxarifado, ambos no 1º andar, e a caldeira da fábrica.Com as chamas, parte do
telhado desabou.
O Corpo de Bombeiros e a Polícia Militar chegaram quarenta minutos após o início do
incêndio, às 13h50. Cerca de 80 homens participaram da ação (figura 5.29). Além de
caminhões, a equipe retirou oito carros estacionados no pátio da fábrica e três botijões de gás,
no Setor de Massas, que estavam próximos ao foco do incêndio, trazendo riscos de explosão.
Uma área de aproximadamente 300 metros do bairro foi interditada para o tráfego, entre a
Avenida Alfredo Lisboa, nas imediações da Capitania dos Portos, e a Ponte do Limoeiro,
sentido subúrbio-cidade.
Figura 5.29 Bombeiros combatendo o incêndio na Fábrica Pilar.
.
113 .
A dificuldade de acesso ao local de incêndio e a falta de hidrantes fez com que os
bombeiros contassem com a ajuda de carros-pipa e do fornecimento de água da Guarda
Portuária, situada por trás da fábrica. Ao todo, seis caminhões dos bombeiros foram usados
durante a ação.
Segundo Robson Roberto Araújo, tenente do Corpo de Bombeiros, o fogo se alastrou
rapidamente porque havia, no local, materiais altamente inflamáveis, como papelão, plástico,
papel e lona.O incêndio foi causado por um curto - circuito na esteira de biscoitos da fábrica.
5.2.10 Incêndio no Bairro de São José (PE)
Em 17 de novembro de 2003 um incêndio destruiu uma loja de plásticos e decoração no
bairro de São José, no centro de Recife (PE) (vide figura 5.30). Não há informações sobre
vítimas. O incêndio, considerado de grandes proporções, começou por volta das 6h e a loja
ainda estava fechada quando o fogo começou.
A ação de combate envolveu 50 soldados do corpo de bombeiros e contou com o apoio
da Defesa Civil e da Celpe (figura 5.31).
O corpo de bombeiros atribui a severidade do evento à grande densidade de carga de
incêndio presente na edificação devido a materiais altamente combustíveis como plásticos,
espumas e tecidos. As edificações vizinhas também trabalham com estes tipos de materiais,
fator este que preocupa no caso da propagação das chamas entre as edificações. Para evitar a
Figura 5.31 Helicóptero da Defesa Civil auxiliando no combate ao incêndio
Figura 5.30 vista da loja atingida pelo incêndio.
.
114 .
propagação, além de combater o incêndio, o corpo de bombeiros, simultaneamente, resfriava
as fachadas das edificações vizinhas.
Os danos estruturais causados à edificação foram de tal sorte que esta deverá ser
demolida. O local foi isolado devido ao risco de desabamento em virtude dos sérios danos
estruturais que comprometeram sua estabilidade (vide figuras 5.32, 5.33 e 5.34)
.
Algumas características dos incêndios mencionados acima são semelhantes no que se
refere às condições de segurança contra incêndio destes Espaços Urbanos Históricos, a saber:
• Os obstáculos da arquitetura representados no incêndio do Chiado pela obstrução
parcial das ruas por plataformas de cimento, esplanadas com bancos e floreiras
decorrentes do processo de revitalização e, em Lima, pelo grande tráfego nas ruas
estreitas do Centro Histórico, dificultaram a movimentação e o acesso do Corpo de
Bombeiros aos locais, assim como a fuga das vítimas.
• A elevada carga térmica acumulada nas edificações do Chiado em virtude da mudança
de uso residencial para comércio, serviços, armazéns e pequenas fábricas e, em Lima,
Figura 5.32 Vista do interior da loja destruída pelo incêndio
Figura 5.33 Danos estruturais na edificação atingida pelo incêndio.
Figura 5.34 Danos estruturais na edificação atingida pelo incêndio.
.
115 .
a grande quantidade de material combustível existente nas lojas e galerias contribuiu
para que a temperatura no interior das edificações ultrapassasse os 600°C, temperatura
mínima de ignição da maioria dos materiais existentes. Esses fatores, aliados à
existência de instalações elétricas clandestinas, contribuíram para que o fogo se
propagasse rapidamente;
• Em Lima, o número reduzido de saídas aliado a poucas aberturas existentes para
ventilação causou o sufocamento pela fumaça, deixando um grande número de
vítimas;
Algumas das características relativas às condições de segurança contra incêndio
observadas nestes centros históricos, também podem ser observadas no Bairro do Recife, alvo
do presente estudo, indicando a necessidade de gerenciamento de riscos neste espaço, a saber:
• elevada carga térmica acumulada nas edificações em virtude do grande número de
escritórios, bares e restaurantes instalados no local;
• baixa pressão do sistema de abastecimento local (por se tratar do final do ramal de
abastecimento) o que pode representar um obstáculo à extinção por dificultar a
utilização dos hidrantes em caso de incêndio;
• instalações elétricas precárias ou sobrecarregadas para a atual demanda;
• saídas de emergência das edificações obstruídas, entre outros.
Os espaços urbanos históricos, após os investimentos iniciais para a dinamização e
incremento de novas atividades, começam a apresentar problemas, pois a falta de manutenção,
sobrecarga dos sistemas elétricos, uso de materiais inadequados, etc, acabam por
comprometer a segurança da edificação e de seus ocupantes. Deve-se, portanto, compreender
que o motivo de se preservar e proteger o patrimônio não é apenas a história pela história, é
também um bom investimento, visto que o turismo, se bem estruturado e planejado, pode
contribuir para o desenvolvimento sócio-econômico e cultural destas áreas.
Pelo exposto, deve-se compreender que os incidentes ocorridos no Chiado ou em Lima
poderiam ocorrer em Recife, no Pelourinho, em São Luiz e outros centros históricos do país,
em circunstâncias idênticas.
Nenhum dos riscos a que os centros históricos estão suscetíveis pode ser tão
irrecuperável quanto o incêndio: das cinzas, somente Fênix ressurgiu. Felizmente,
contrariando o determinismo científico, a sorte benevolente tem poupado o Bairro do Recife.
Mas até quando?
.
116 .
6 O BAIRRO DO RECIFE
O Bairro do Recife resume em seu perímetro mais de quatro séculos de formação de
uma cidade. A diversidade da malha urbana e dos estilos arquitetônicos que convivem lado a
lado são o testemunho desta trajetória.
Um dos primeiros passos no processo de descoberta das riquezas desse acervo e seu
potencial de reciclagem (a partir de funções que possam atrair pessoas e interesses públicos e
privados) foi dado a partir do Plano de Revitalização do Bairro do Recife (PRBR), lançado
em 1987 pela Prefeitura, buscando reocupar os espaços esvaziados ao longo do século XX,
principalmente a partir da década de 60. Em 1987, da área total edificada do bairro, apenas
30% encontrava-se efetivamente ocupada (ZANCHETI, 1997).
O plano de Revitalização tornou-se referência nacional por considerar a parceria entre o
Poder Público e a Iniciativa Privada um fator importante que passou a ser um diferencial,
acelerando o processo de revitalização dos imóveis integrantes do Centro Histórico e
contribuindo de forma decisiva para consolidar o Bairro do Recife como área de forte atrativo
econômico e, sobretudo, turístico devido à riqueza cultural de seu patrimônio edificado.
Figura 6.1 Plano de Revitalização do Bairro do Recife
N
Parquedo
Brum
PORTO
CENTRO DE COMÉRCIOE SERVIÇOS PORTUÁRIOS
SERVIÇOS, COMÉRCIO EHABITAÇÃO
INSTITUCIONAL
Pólo do Bom Jesus
SERVIÇOS TURÍSTICOS
SERVIÇOS MODERNOS
PÓLO ALFÂNDEGA
MAPA 4 -ORGANIZAÇÃO ESPACIAL DAS ATIVIDADES
.
117 .
As estratégias de ação do PRBR concentraram-se na criação de incentivos fiscais, na
elaboração e aprovação de Plano Específico de Revitalização, em consonância com a Lei
Orgânica do Município, com o Plano Diretor da Cidade e, principalmente, com a definição de
um modelo de gestão que proporcionasse um desenvolvimento local com bases sustentáveis
(ZANCHETI, 1998).
A partir de 1993 foi deflagrado um projeto de impacto que concentrou as ações na Rua
do Bom Jesus e ao seu entorno, espaço mais antigo da cidade, cujo traçado remonta ao século
XVII. O Projeto Cores da Cidade, em parceria com as Tintas Ypiranga e a Fundação Roberto
Marinho, promoveu a recuperação e as pinturas das fachadas (vide figura 6.2), introduzindo
um cromatismo que destaca e explicita a riqueza de composições das fachadas ecléticas.
Paralelamente, um “mix” de usos estabelecidos para as quatro ruas que compõem o Pólo Bom
Jesus, privilegiando a gastronomia e o lazer (vide figura 6.1).
Assim, a criação de um espaço de lazer, consumo e animação foi concebida no PRBR
como uma iniciativa fundamental para garantir um fluxo permanente de moradores da cidade,
turistas,visitantes e congressistas no Bairro. Trata-se de um espaço planejado para aglutinar
um grande número de atividades de lazer e diversão que imprimem uma dinâmica ao processo
de Revitalização do Bairro durante o dia e a noite. A proposta foi inspirada nos bairros de
animação cultural de Nova Orleans, Boston, Buenos Aires e Amsterdã (URB, 1998).
Figura 6.2 Rua do Bom Jesus Revitalizada
A Prefeitura do Recife, através da Lei 16.290, de 29/01/97 aprovou o Plano Específico
de Revitalização da Zona Especial de Preservação do Patrimônio Histórico-Cultural 09
(ZEPH 09)- Sítio Histórico do Bairro do Recife, tendo por objetivo nortear as ações públicas
.
118 .
ou privadas que implique em mudanças urbanísticas ou instalação de usos e atividades na
ZEPH 09.
De acordo com o Art. 2º da Lei Nº 16.290 algumas diretrizes devem ser observadas
como: a promoção da valorização e da regeneração do conjunto urbano e das atividades
econômicas, respeitando o acervo edificado; flexibilização dos padrões urbanísticos
condicionada à valorização e à conservação do conjunto urbano e arquitetônico;
diversificação de usos e atividades visando à revitalização do Bairro e à valorização das
características dos elementos preserváveis existentes (revestimentos, edificações ou ruínas de
relevante expressão estilística ou volumétrica em relação ao conjunto da ZEPH 09) através da
sua incorporação aos novos empreendimentos.
A ZEPH 09 é dividida em três setores em função da diversificação da paisagem do
Bairro do Recife, tendo por objetivos indicar os procedimentos necessários às intervenções a
serem empreendidas, adequados às especificidades de cada setor e identificar em cada um as
necessidades de recuperação do patrimônio cultural e da infra-estrutura de forma a consolidar
e regenerar ambiências características da ZEPH 09. Os três setores são:
Setor de Intervenção Controlada: onde deve ser promovida a dinamização de usos e
atividades e a valorização de suas características predominantes, como o traçado urbano e
conjunto edificado, composição estilística do ecletismo e remanescentes coloniais, a paisagem
urbana da área de domínio do Porto, marcada pelos galpões, equipamentos portuários,
veículos marítimos e molhe de proteção.
Setor de Renovação: onde deve ser promovida a valorização dos monumentos e
elementos arquitetônicos, a otimização dos padrões de ocupação e a dinamização de usos e
atividades tendo em vista a atual situação de descontinuidade e de descaracterização do seu
conjunto histórico.
Setor de Consolidação Urbana: onde deve ocorrer a manutenção do padrão de
ocupação existente, constituído por elevado índice de aproveitamento do solo e baixa taxa de
ocupação; bem como a otimização das áreas destinadas a estacionamento visando à ampliação
de áreas de convívio de público.
Um dos instrumentos de gestão da ZEPH 09 são os chamados Pólos de Interesse que
representam unidades de caráter temporário, auxiliares à revitalização dos Setores de
Intervenção para a promoção de atividades que conjuguem investimentos públicos e privados
na ZEPH 09. Os Pólos de Interesse (vide figura 6.3) são identificados abaixo:
.
119 .
a) No Setor de Intervenção Controlada:
Pólo Bom Jesus: abriga parte do conjunto urbano e arquitetônico mais antigo da ZEPH
09, sendo área preferencialmente para a implantação de infra-estrutura turística. O Pólo Bom
Jesus é composto por 09 quadras com 110 edificações no total. É o local de maior atratividade
e usos associados ao lazer no bairro e que por isso congrega um grande número de pessoas.
Pólo Alfândega: área preferencial para a promoção de atividades de lazer e animação
cultural.
Pólo Arrecifes: compreende a área do molhe de proteção, consistindo em local
destinado à ampliação de espaços públicos de uso comum e à dinamização de atividades de
lazer, observadas as condições de operação e segurança portuária.
Figura 6.3 Pólos de interesse para o Bairro do Recife
b) No Setor de Renovação:
Pólo Pilar: consiste em local de baixa densidade construtiva no qual será incentivada a
promoção de empreendimentos de renovação urbana, com maior padrão de adensamento e
diversificação de usos e atividades.
c) No Setor de Consolidação Urbana:
Pólo Fluvial: compreende áreas vazias ou subutilizadas localizadas no Setor de
Consolidação Urbana, destinando-se à ampliação das áreas de convívio público e lazer
voltadas para a orla fluvial.
.
120 .
Com o PRBR, de fato consagrou-se o conceito de renovar preservando, entendido como
processo, tendo como produto de maior êxito a Revitalização do Pólo Bom Jesus que revelou
para recifenses, brasileiros e estrangeiros a riqueza de aspectos importantes da historeografia
nacional e criou novas opções de entretenimento e gastronomia, revelando, assim, que as
áreas históricas da cidade não são áreas mortas economicamente.
6.1 Potencialidades do Bairro do Recife.
Segundo a URB (1998), a importância do Bairro do Recife para a cidade e para o país se
revela em diversos aspectos, a saber:
• O Bairro do Recife representa o Núcleo Original da Cidade do Recife (NOCR)
tombado pelo IPHAN composto de edificações de grande valor arquitetônico,
histórico e cultural. A importância nacional do conjunto edificado no Bairro está
ratificada através do tombamento do setor sul, objeto da reforma portuária e urbana do
início do século XX. Este conjunto configura-se hoje, em exemplar único no Brasil
dada sua integridade física e estilística, sendo de fato, um testemunho vivo acessível a
técnicos e leigos e, por isso mesmo, de grande potencial educativo e turístico.
• O Bairro do Recife possui uma grande importância para a economia do Estado devido
a sua forte vocação como pólo de negócios o que justifica os investimentos para a
implantação do Porto Digital, Softex e ITBC nesta área.
• No Bairro do Recife está localizado um dos portos mais importantes da História do
Brasil colonial, imperial e republicano, como ponto geograficamente privilegiado de
chegada ao país e ao continente, sendo até hoje ponto de atracagem para navios
nacionais e estrangeiros de carga especializada e de passageiros.
• O Bairro possui um grande valor simbólico, importante como espaço de convivência,
lócus da vida cosmopolitana e boêmia associada aos contatos e trocas inerentes à
atividade portuária, além de ser, atualmente, uma área de concentração das mais
diversas manifestações culturais desde o carnaval e feiras públicas até festivais de
dança e exibições de arte e shows de música.
A riqueza do patrimônio cultural representado pelo Bairro do Recife é um dos grandes
diferenciais do Recife em relação aos concorrentes regionais como Fortaleza, Natal e Maceió.
O reconhecimento deste potencial pela Prefeitura da Cidade do Recife expressa-se
através do comprometimento de quatro gestões consecutivas (de 1987 a 1998) com a
.
121 .
Revitalização do Bairro do Recife, garantido desta forma um fluxo de investimentos para o
Bairro.
Assim, a exploração deste potencial significa não somente a salvaguarda das relíquias
históricas e a memória cultural da nação, mas também ampliar as oportunidades de
investimentos e trabalho na área do patrimônio cultural, a fim de evitar a estagnação do
processo de revitalização e o comprometimento dos investimentos aplicados.
6.2 Problemáticas do Bairro do Recife
Com o Processo de Revitalização do Bairro do Recife, as edificações que fazem parte
do conjunto arquitetônico foram reformadas interiormente, onde permitido pela legislação
pertinente do Iphan e pela Lei 16.290/97- ZEPH 09 (1997) para adequarem-se aos requisitos
específicos para o desenvolvimento das novas atividades.Conseqüentemente, ocorreram
modificações nos sistemas construtivos destas edificações que introduziram riscos não
existentes anteriormente.
Conforme análise realizada no capítulo 5.0 as problemáticas que envolvem o Bairro do
Recife no que se refere à segurança contra incêndio estão relacionadas a fatores como:
a) Características construtivas.
Relacionada à utilização de alvenarias autoportantes nas paredes externas das
edificações e estruturas internas em madeira que constituem em fator agravante do risco de
incêndio.
b) Implantação.
A tipologia construtiva do Bairro do Recife é em sua maioria caracterizada pela
presença de edificações geminadas, implantadas sem afastamentos frontais ou laterais e que
ocupam 100% do lote, necessitando de um tratamento especial, visto que pode constituir-se
num fator que favorecerá a propagação das chamas entre as edificações dada a ocorrência de
um incêndio.
Outro fator característico que pode contribuir para a severidade de um incêndio é a
proximidade entre as fachadas em algumas áreas do Bairro, onde, na ocorrência de um
incêndio, o calor poderá ser transferido por radiação e atingir uma outra edificação, iniciando
assim um novo foco de incêndio.
A figura 6.4 apresenta um diagrama contínuo que exemplifica esta problemática
referente à propagação das chamas entre edificações geminadas que pode levar ao
comprometimento do espaço urbano.
.
122 .
c) Conservação das edificações.
Fator que potencializa o risco de incêndio e propagação, quando da não realização de
serviços de manutenção da edificação e de suas instalações. Observa-se no Bairro do Recife a
presença de edificações abandonadas ou em condições precárias de utilização convivendo
entre edificações já revitalizadas constituindo-se assim em um risco à vizinhança.
d) Ocupação.
O “mix” de ocupações e atividades existentes no Bairro do Recife traz consigo uma
série de riscos associados a este convívio.
Figura 6.4 Diagrama contínuo mostrando o processo de propagação das chamas entre as edificações
geminadas no Bairro do Recife.
ESTABELECIMENTO CHAMA
CHAMA NÃO TERMINA NO PRÉDIO 1
A CHAMA NÃO SE EXTINGUE NO PRÉDIO 2
A CHAMA NÃO SE EXTINGUE NO PRÉDIO 3
CHAMA TERMINA
NO PRÉDIO 1
A CHAMA SE EXTINGUE NO PRÉDIO 2
A CHAMA SE EXTINGUE NO PRÉDIO 3
BARREIRA ENTRE OS PRÉDIOS 1&2 NÃO PREVINE IGNIÇÃO
NO PRÉDIO 2
BARREIRA ENTRE OS PRÉDIOS 2&3
NÃO PREVINE IGNIÇÃO NO PRÉDIO
3
BARREIRA ENTRE OS PRÉDIOS 1&2
PREVINE IGNIÇÃO NO PRÉDIO 2
BARREIRA ENTRE OS PRÉDIOS 2&3
PREVINE IGNIÇÃO NO PRÉDIO 3
COMPROMETIMENTO DO ESPAÇO URBANO
NÃO HÁ COMPROMETIMENTO DO ESPAÇO URBANO
.
123 .
e) Instalações.
Segundo o corpo de bombeiros de Pernambuco, em vistorias realizadas no Bairro do
Recife verifica-se que as instalações elétricas de muitas edificações contam, muitas vezes,
com demandas de cargas muito superiores às dimensionadas para as instalações originais
existentes, constituindo-se num fator agravante no que se refere à segurança contra incêndios
destas edificações.
Observa-se também a utilização de GLP (gás liquefeito de petróleo) em edificações
onde funcionam bares e restaurantes, sobretudo na Rua do Bom Jesus, nem sempre
acompanhado das adequações e instalações de distribuição necessárias, constituindo-se em
potenciais causadores de explosão ou incêndios nestas edificações.
f) Legislação.
Problemática caracterizada pela não obrigatoriedade ao cumprimento das Normas de
Segurança Contra Incêndio pelos proprietários de imóveis do Bairro do Recife, em função do
Decreto Lei Estadual Nº 219 de 09 de Março de 1970 (que criou o Serviço Técnico de
Engenharia no Corpo de Bombeiros Militar de Pernambuco) onde se estabeleceu que as
edificações com data de construção anterior a 1976 ficariam isentas de adequação à Norma.
Segundo o Major Ivaldo José Cirnes Rodrigues, chefe do Centro de Atividades Técnicas
do Corpo de Bombeiros do Estado de Pernambuco, este fato traz até hoje uma série de
dificuldades ao processo de vistorias e fiscalização das condições de segurança das
edificações pelo Corpo de Bombeiros que não tem como exigir que as Normas de segurança
sejam cumpridas pelos proprietários destes imóveis.
As legislações específicas que visam à proteção do Patrimônio Histórico, como as Leis
do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional e Lei Nº 16.290/97 Sítio Histórico
do Bairro do Recife - ZEPH 09 trazem uma série de impedimentos quanto a modificações nas
estruturas internas e externas das edificações com o objetivo de preservar as suas
características estilísticas. Porém, isto muitas vezes, ocorre à custa de riscos mais altos pela
impossibilidade de adequação da edificação às normas de segurança contra incêndio que na
maioria das vezes fica limitada, em virtude destas restrições, à presença de extintores de
incêndio.
Pelo que foi apresentado verifica-se que a ocorrência de um incêndio no Bairro do
Recife pode levar a diversos tipos de perdas, a saber:
• humanas;
• materiais;
• dados e informações sobre os clientes;
.
124 .
• ambientais;
• patrimônio histórico;
• além do impacto negativo na indústria do turismo e na competitividade do
Estado para atrair novos investimentos.
Faz-se necessário, assim, o alerta à sociedade recifense e ao Poder Público, sobre os
riscos de incêndios em um de seus mais importantes espaços urbanos, pelo valor cultural de
seu conjunto arquitetônico e pelo grande número de atividades de lazer, serviços, comércio,
entre outras, que imprimem uma dinâmica social e cultural ao Bairro, referência para o País.
6.3 Caracterização da situação atual
O Bairro do Recife (vide figura 6.5) é composto por 73 quadras com 1001 unidades
imobiliárias, 235 imóveis no perímetro tombado Iphan e 28 imóveis classificados pelo
Conselho Regional de Engenharia Arquitetura e Agronomia – CREA como de risco, relativo
a desabamento, desagregação de elementos da fachada e riscos de incêndio.
Figura 6.5 Vista aérea do Bairro do Recife
A diversidade de ocupações encontradas no Bairro do Recife lhe confere uma dinâmica
peculiar. Segundo levantamento realizado pela URB Recife no ano de 2000 o Bairro do
Recife apresenta 10 tipos de ocupações, a saber:
• Indústrias: 05 unidades
• Bares e restaurantes: 61 unidades
.
125 .
• Bancos (exceto bancos do TRF): 17 unidades
• Depósitos: 31 unidades
• Comércios:68 unidades
• Serviços:128 unidades
• Habitações: 02 e 358 barracos (favelas);
• Pensões: 13 unidades
• Institucional (União, Estado e Município) 14 unidades
• Igreja: 02 unidades
Segundo DUARTE (2002), identificam-se no bairro do Recife, ao todo, 07 tipos de
ocupações, tomando como base a classificação estabelecida na norma internacional NFPA
101(2003) que trata de recomendações relativas à segurança contra incêndios em edificações ,
a saber:
Reunião de público (assembly): Ambientes utilizados por mais de 50 pessoas como:
órgãos governamentais, bares, restaurantes, teatros, igrejas, etc. As ocupações assembly são
consideradas perigosas devido ao grande número de pessoas que as freqüentam, as quais
geralmente não conhecem o local, fator este que pode levar à indecisão durante uma
emergência, e pelas características de sua ocupação. Perigo de incêndio moderado.
Educacional: Ambientes utilizados por 06 ou mais pessoas, 4h/dia ou 12hs/semana. Os
usuários conhecem o ambiente e estão sujeitos a controle durante uma emergência. Tem-se
como exemplo academias de dança e artes no Bairro do Recife.
Residencial: Um dos perigos deste tipo de ocupação reside no fato da possibilidade dos
ocupantes estarem dormindo no momento de uma emergência.
Comercial: Ambientes caracterizados pela grande quantidade de material combustível
associado à atividade. As pessoas geralmente conhecem o ambiente, porém é possível a
ocorrência de indecisão durante uma emergência. Os perigos associados a este tipo de
ocupação referem-se a: grande quantidade de materiais combustíveis e fumaça gerada, difícil
localização das rotas de saída, a não compartimentação do espaço e a possibilidade de
sensação de pânico e enclausuramento por parte dos ocupantes o que pode interferir no seu
comportamento de evacuação. Tem-se como exemplo as lojas existentes no Bairro e o Paço
Alfândega, Shopping Center em fase de conclusão. Perigo de incêndio moderado.
.
126 .
Negócios: Os ocupantes estão familiarizados com o local, contudo, indecisão durante
uma emergência é possível. Tem-se como exemplo o grande número de escritórios instalados
no Bairro. Perigo moderado associado.
Indústria: Atividades que envolvem processamento, montagem, empacotamento e
estocagem. Têm-se como exemplos deste tipo de ocupação o Jornal Folha de Pernambuco e a
Fábrica da Pilar.Perigo elevado associado.
Estocagem: Ocupação caracterizada pela grande quantidade de material combustível
existente, pela presença de poucas pessoas na área, o que pode dificultar a detecção na
ocorrência de um incêndio por parte dos funcionários. Os perigos associados a este tipo de
ocupação referem-se à acumulação de valores, grande quantidade de material combustível
estocado, altura elevada do estoque e espaço horizontal do estoque que podem facilitar a
propagação das chamas na ocorrência de um incêndio. Tem-se como exemplo os galpões de
estocagem no Porto do Recife e no Moinho Recife.
Pelo exposto pode-se identificar três categorias de perigos associados às ocupações
existentes no Bairro do Recife anteriormente citadas: perigo pequeno, perigo moderado e
perigo elevado. Algumas de suas características são apontadas nas figuras 6.6, 6.7 e 6.8 a
seguir.
Figura 6.6 Características do perigo pequeno
PERIGO PEQUENOPERIGO PEQUENO
DEPENDE DEPENDE
DO DO
MATERIAL MATERIAL
ESTOCADOESTOCADO
A CHAMA NÃO SE PROPAGAA CHAMA NÃO SE PROPAGA
DURANTE UM INCÊNDIO GASES DURANTE UM INCÊNDIO GASES
TÓXICOS PODERÃO SER TÓXICOS PODERÃO SER
PRODUZIDOS ANTES DA PRODUZIDOS ANTES DA
ATUAÇÃO DOS SISTEMA DE ATUAÇÃO DOS SISTEMA DE
PROTEÇÃO AUTOMÁTICOSPROTEÇÃO AUTOMÁTICOS
PÂNICOPÂNICO
PERIGO PEQUENOPERIGO PEQUENO
DEPENDE DEPENDE
DO DO
MATERIAL MATERIAL
ESTOCADOESTOCADO
A CHAMA NÃO SE PROPAGAA CHAMA NÃO SE PROPAGA
DURANTE UM INCÊNDIO GASES DURANTE UM INCÊNDIO GASES
TÓXICOS PODERÃO SER TÓXICOS PODERÃO SER
PRODUZIDOS ANTES DA PRODUZIDOS ANTES DA
ATUAÇÃO DOS SISTEMA DE ATUAÇÃO DOS SISTEMA DE
PROTEÇÃO AUTOMÁTICOSPROTEÇÃO AUTOMÁTICOS
PÂNICOPÂNICO
SISTEMAS
.
127 .
Figura 6.7 Características do perigo moderado
Figura 6.8 Características do perigo elevado
O conhecimento das potencialidades e problemáticas do Bairro do Recife aliado ao
entendimento relativo aos diversos riscos observados nesta área, em virtude dos tipos de
ocupação existentes, será útil para a construção da metodologia de gerenciamento de riscos de
incêndios proposta no capítulo 9.
PERIGO MODERADOPERIGO MODERADOA VELOCIDADE DA CHAMA É A VELOCIDADE DA CHAMA É
MODERADAMODERADA
DURANTE UM INCÊNDIO GASES DURANTE UM INCÊNDIO GASES
TÓXICOS NÃO SÃO PRODUZIDOSTÓXICOS NÃO SÃO PRODUZIDOS
VOLUME CONSIDERÁVEL DE VOLUME CONSIDERÁVEL DE
FUMAÇAFUMAÇA
PERIGO MODERADOPERIGO MODERADOA VELOCIDADE DA CHAMA É A VELOCIDADE DA CHAMA É
MODERADAMODERADA
DURANTE UM INCÊNDIO GASES DURANTE UM INCÊNDIO GASES
TÓXICOS NÃO SÃO PRODUZIDOSTÓXICOS NÃO SÃO PRODUZIDOS
VOLUME CONSIDERÁVEL DE VOLUME CONSIDERÁVEL DE
FUMAÇAFUMAÇA
PERIGO ELEVADOPERIGO ELEVADO
A VELOCIDADE DA CHAMA É A VELOCIDADE DA CHAMA É
EXTREMAMENTE RÁPIDAEXTREMAMENTE RÁPIDA
HÁ POSSIBILIDADE DE HÁ POSSIBILIDADE DE
EXPLOSÃOEXPLOSÃO
DURANTE UM INCÊNDIO GASES DURANTE UM INCÊNDIO GASES
TÓXICOS SÃO PRODUZIDOSTÓXICOS SÃO PRODUZIDOS
PERIGO ELEVADOPERIGO ELEVADO
A VELOCIDADE DA CHAMA É A VELOCIDADE DA CHAMA É
EXTREMAMENTE RÁPIDAEXTREMAMENTE RÁPIDA
HÁ POSSIBILIDADE DE HÁ POSSIBILIDADE DE
EXPLOSÃOEXPLOSÃO
DURANTE UM INCÊNDIO GASES DURANTE UM INCÊNDIO GASES
TÓXICOS SÃO PRODUZIDOSTÓXICOS SÃO PRODUZIDOS
A VELOCIDADE DA CHAMA É A VELOCIDADE DA CHAMA É
EXTREMAMENTE RÁPIDAEXTREMAMENTE RÁPIDA
HÁ POSSIBILIDADE DE HÁ POSSIBILIDADE DE
EXPLOSÃOEXPLOSÃO
DURANTE UM INCÊNDIO GASES DURANTE UM INCÊNDIO GASES
TÓXICOS SÃO PRODUZIDOSTÓXICOS SÃO PRODUZIDOS
,
.
128 .
7 A PESQUISA NO BAIRRO DO RECIFE
O presente capítulo tem por objetivo mostrar como os usuários da área objeto de
estudo percebem a vulnerabilidade do Bairro do Recife e do seu próprio negócio ao risco de
incêndios e explosões e quais seriam os impactos associados a um evento desta natureza.
Primeiramente, selecionou-se o Pólo Bom Jesus, no qual está inserida a Rua do Bom
Jesus, como área objeto de estudo devido à grande extensão territorial do Bairro do Recife
(vide figura 7.1). O referido pólo é composto por 09 quadras (vide figura 7.2) com 110
edificações no total e é o local de maior atratividade e usos associados ao lazer no Bairro do
Recife e por isso congrega um grande número de pessoas.
Devido à grande extensão territorial do Pólo Bom Jesus, o que demandaria uma maior
disponibilidade de tempo e recursos financeiros para a realização das entrevistas, optou-se por
direcionar o estudo à quadra nº 156 (ver figuras 7.2 e 7.3) composta por 16 edificações
subdivididas em 64 unidades (salas) com um total de 310 ocupantes (vide tabela 7.1). A
referida quadra concentra a maioria dos bares e restaurantes existentes na Rua do Bom Jesus
além de possuir um grande número de escritórios instalados no local que lhe conferem uma
dinâmica especial em relação ao Bairro do Recife.
Figura 7.1 Localização do Pólo Bom Jesus na
ilha do Bairro do Recife
Figura 7.2 Delimitação do Pólo Bom Jesus
Delimitação do Pólo Bom Jesus
Delimitação da área objeto de estudo – quadra nº 156
.
129 .
Tabela 7.1 Tipos de ocupações da quadra nº 156
QUADRA Nº 156
TIPO DE
OCUPAÇÃO
Nº DE
UNIDADES
% TIPO DEOCUPAÇÃO
NA QUADRA
NÚMERO DE
FUNCIONÁRIOS
Reunião de público 18 28.12% 131
Negócios 38 59.38% 175
Comercial 01 1.56% 04
Depósito 05 7.81% 0
Desocupado 02 3.13% 0
Total 64 100% 310
A primeira etapa da pesquisa caracterizou-se pela realização de um cadastro dos
imóveis da Rua do Bom Jesus (vide apêndice 01) a fim de compilar informações referentes às
condições atuais dos mesmos no que se refere à segurança contra incêndios, contendo
informações que identificam: proprietário do imóvel, endereço, localização da edificação na
quadra, características tipológicas e construtivas da edificação, equipamentos de proteção
contra incêndios existentes, número de pavimentos, usos de cada sala que compõe os
pavimentos, número de usuários da edificação e características dos ocupantes.
Figura 7.3 Vista da quadra nº 156 da Rua do Bom Jesus
Após a conclusão do cadastro, entrevistou-se 102 usuários da área objeto de estudo, a
fim de verificar qual a percepção que estes possuem quanto ao risco de incêndio no Bairro do
.
130 .
Recife e em seu próprio negócio e se eles percebem os impactos diretos ou indiretos que um
incêndio causaria em seu negócio e na indústria do turismo, visto que a Rua do Bom Jesus é
considerada um cartão postal do Bairro do Recife e da própria Cidade.
As informações obtidas com os questionários serviram de input para a construção das
constelações de atributos que representam o mapeamento da percepção dos usuários frente
aos riscos de incêndio no Bairro do Recife.
7.1 Definição da amostra
A definição de alguns conceitos básicos é relevante para a compreensão do problema
da amostragem. São eles:
a) Universo ou população: É um conjunto definido de elementos que
possuem determinadas características.
b) Amostra: Subconjunto do universo ou população, por meio do qual se
estabelecem ou se estimam as características desse universo ou população.
Segundo GIL (1987) os tipos de amostragem podem ser classificados em dois grandes
grupos:
a) Amostragem probabilística: rigorosamente científica e se baseia nas leis da
estatística. Os tipos mais usuais são: aleatória simples, sistemática, estratificada,
por conglomerado e por etapas.
b) Amostragem não – probabilística: não apresenta fundamentação matemática ou
estatística, dependendo unicamente dos critérios do pesquisador. Os tipos mais
usuais são: por acessibilidade, por tipicidade e por cotas.
As entrevistas foram realizadas de forma aleatória de acordo com a disponibilidade dos
usuários das edificações em responder ao questionário.
Para que uma amostra represente com fidedignidade as características do universo, deve
ser composta por um número suficiente de casos. Este número, por sua vez, depende dos
seguintes fatores: extensão do universo, nível de confiança estabelecido, erro máximo
permitido e percentagem com a qual o fenômeno se verifica.
Amplitude do Universo
A extensão da amostra tem a ver com a extensão do universo que pode ser classificado
em finito e infinito. Universos finitos são aqueles cujo número de elementos não excede a
100.000. Universos infinitos, por sua vez, são aqueles que apresentam elementos em número
.
131 .
superior a esse. São assim denominados porque, acima de 100.000, qualquer que seja o
número de elementos do universo, o número de elementos da amostra a ser selecionada será
rigorosamente o mesmo.
Nível de confiança estabelecido
De acordo com a teoria geral das probabilidades, a distribuição das informações
coletadas a partir de amostras ajusta-se geralmente à curva “normal” (curva de Gauss), que
apresenta valores centrais elevados e valores externos reduzidos, conforme indica a figura 7.4.
Fi
Figura 7.4 Curva de Gauss
O nível de confiança de uma amostra refere-se à área da curva normal definida a partir
dos desvios-padrão em relação à sua média. Numa curva normal, a área compreendida por um
desvio padrão, à direita e um à esquerda da média corresponde a aproximadamente 68% de
seu total. A área compreendida por dois desvios, por sua vez, corresponde a aproximadamente
95,5% de seu total. Por fim, a área compreendida por três desvios corresponde a 99,7% de seu
total. Isso significa que, quando na seleção de uma amostra são considerados dois desvios-
padrão, trabalha-se com um nível de confiança de 95,5%. Quando são considerados três
desvios-padrão, o nível de confiança passa a ser de 99,7%.
Erro Máximo Permitido
O resultados obtidos numa pesquisa elaborada a partir de amostras não são
rigorosamente exatos em relação ao universo de onde foram extraídas. Esses resultados
apresentam sempre um erro de medição, que diminui na proporção em que aumenta o
tamanho da amostra. O erro de medição é expresso em termos percentuais e nas pesquisas
sociais trabalha - se usualmente com uma estimativa de erro entre 03 e10%.
.
132 .
Percentagem com que o Fenômeno se Verifica
A estimação prévia da percentagem com que se verifica um fenômeno é muito
importante para a determinação do tamanho da amostra. Por exemplo, numa pesquisa cujo
objetivo é verificar qual a percentagem de protestantes que residem numa cidade, a estimativa
prévia desse número é bastante útil. Se for possível afirmar que essa percentagem não é
superior a 10%, será necessário um número de casos bem menor do que numa situação em
que a percentagem estivesse próxima de 50%, ou seja, quando não há informações referentes
ao aspecto que está sendo pesquisado.
Cálculo do Tamanho da Amostra
O cálculo do tamanho de uma amostra pode exigir o concurso de procedimentos
estatísticos bastante especializados. Estes, todavia, têm sempre o seu fundamento, nas
fórmulas básicas para o cálculo do tamanho da amostra de populações infinitas e finitas. A
fórmula para o cálculo do tamanho da amostra (eq. 7.1) é representada por:
n= σ2 p. q. N (eq. 7.1)
e2 (N-1) + σ2 p.q
onde:
n = tamanho da amostra
σ2 = nível de confiança escolhido, expresso em número de desvios-padrão.(02 desvios= nível
de confiança 95% e 3 desvios 97,5%)
p = percentagem com a qual o fenômeno se verifica (não há informação: 50%)
q = percentagem complementar (50%)
N = tamanho da população (310)
e2 = erro máximo permitido ( 3 a 10 %) Para a determinação da amostra das entrevistas a
serem realizadas na Quadra nº 156 da Rua do Bom Jesus que possui uma população de 310
pessoas, trabalhou-se com um nível de confiança de 95% (02 desvios padrão) e um erro
máximo de 8.1% .
Aplicando-se os valores acima mencionados à eq. 7.1 obtêm-se a seguinte amostra
n = 102 entrevistados
.
133 .
7.2 O método da constelação de atributos
O método dos Qualificativos associados e da constelação de atributos foi idealizado por
MOLES (1968) e trabalhado por SCHMIDT (1974) no Instituto de Psicologia Social de
Estrasburgo - com o objetivo auxiliar os profissionais ligados à área de projeto, buscando
torná-los conhecedores da consciência psicológica do usuário frente ao espaço.
Trata-se de uma técnica experimental de análise das associações espontâneas de idéias,
onde se interroga a uma população cujas características se conhecem e depois se agrupam os
qualificativos referentes ao aspecto eleito. Consiste em um dos métodos que auxiliam na
evidenciação das estruturas consideradas, estereótipos, utilizadas pelo homem para denominar
ou caracterizar sua casa ou outros lugares quaisquer, com os quais ele possa ter uma relação
direta (SCHMIDT,1974).
O método foi utilizado para verificar a percepção que os usuários das edificações da
quadra 156 possuem quanto ao risco de incêndio em seu local de trabalho e no Bairro do
Recife. A organização dos dados em forma de gráfico (ver figura 7.5), permite avaliar o
comportamento dos atributos em relação ao objeto estudado. O grau de aproximação e/ou
afastamento das variáveis indica que as mais próximas do centro do gráfico, onde se encontra
definido o objeto estudado, exercem uma relação mais direta para explicar o fenômeno de
percepção; quando se encontram mais afastadas explicariam o fenômeno observado com
menos propriedade no que se refere à relação usuário-percepção do risco.
Figura 7.5 Modelo de representação das constelações de atributos. Fonte: SCHMIDT (1974)
Distância
psicológica
Objeto estudado
Atributo
.
134 .
O método apresentado pressupõe, para o seu desenvolvimento, uma seqüência a ser
seguida que auxiliará na tarefa de reunir e analisar as informações. Deve-se, portanto, seguir
os passos relacionados.
Os procedimentos sugeridos para a construção da constelação de atributos segundo
SCHMIDT (1974) e MAFRA (1996) são:
1) Características Espontâneas – 1ª Etapa.
As variáveis obtidas nesta etapa explicarão o sentimento do usuário frente a um
determinado ambiente, estando este, no seu relato, munido de suas vivências pessoais.
Permitirá identificar o que é mais evocador para se perceber a funcionalidade no ambiente
avaliado. Refere-se, portanto, à imagem simbólica do indivíduo frente ao espaço (SCHMIDT,
1974).
• Em um primeiro momento elabora-se um questionário simples e aberto. A intenção
primeira é de proceder a um levantamento, o mais abrangente possível, que, de forma
livre, enumere os atributos que possam definir os aspectos afetivos ligados ao objeto
de estudo;
• O questionário é constituído de uma pergunta, sem restrição quanto ao número de
respostas. Deve ser entregue a uma população cujas características se conheçam, não
havendo restrições quanto ao número de entrevistados;
• Após a obtenção das respostas proceder-se-á à classificação das variáveis por
freqüência decrescente de aparecimento. Para esta classificação, já que se trabalhará
com palavras, far-se-á a computação dos dados buscando agrupar as variáveis que
possuam o mesmo significado. Pode-se, desta forma, conseguir o número de vezes que
cada variável foi citada, procedendo-se à classificação;
• Após organizar as variáveis por ordem decrescente, estas serão representadas
graficamente. Para estruturar o gráfico, primeiramente, temos que definir a
probabilidade de aparecimento de cada atributo (i) com o objeto avaliado (pi) a partir
da equação 7.2 abaixo:
• Depois de recolhidas as respostas que se referem ao mesmo ponto, classificam-se estes
qualificativos por freqüências decrescentes de menções. Um simples cálculo (1/log
Pi = nº de aparições do atributo i
Nº total de respostas (eq. 7.2) X 100
.
135 .
pi10), determina então a “distância psicológica” que separa cada qualificativo das
categorias de qualificativos do objeto estudado em questão.
• Então é traçado um gráfico cujo centro é o objeto estudado, representando as
diferentes categorias de qualitativos a uma distância do centro tanto menor quanto
maior seja a freqüência de menções ou de associações. Obtem-se, assim, a “imagem
psicológica” que tem a população considerada do objeto em estudo. Trata-se, então, de
um método de representação gráfica de associações. Segundo SCHMIDT (1974), o
método é relevante porque propõe uma “imagem da percepção” muito concisa, sem deixar de
ser perfeitamente evocadora da idéia estudada. Permite uma depuração do tema.
2) Características Induzidas – 2ª Etapa
As variáveis obtidas nesta etapa distinguirão o que é objetivo do que é subjetivo na
percepção dos usuários de um determinado espaço. É o que SCHMIDT (1974) chama de
"Qualificativos Induzidos".
Nesta fase do experimento poder-se-á chegar à revelação do que é espontâneo e o que é
um estereótipo para o usuário, ou seja, aquilo que simplesmente é reproduzido por
mecanismos já automatizados de comportamento, incentivados pelos meios de comunicação
de massa como as revistas, jornais, tv, etc.
Para se obter as imagens estereótipos, realiza-se a distribuição de um questionário
fechado, a uma população de características semelhantes à etapa anterior. O questionário será
organizado a partir das respostas obtidas na 1ª etapa. Após a obtenção dos dados proceder-se-
á a organização destes utilizando os mesmos procedimentos da 1a etapa.
Para a realização das entrevistas e a construção das constelações de atributos realizou-se
apenas a 1º Etapa.
7.3 Resultados da pesquisa
É importante ressaltar que, antes da realização das 102 entrevistas, realizou-se um pré-
teste com 20 usuários da área objeto de estudo, a fim de verificar se as perguntas realizadas
seriam suficientes e adequadas à obtenção do objetivo em questão: verificar a percepção dos
usuários aos riscos de incêndio.
Inicialmente, seguindo as diretrizes da Metodologia da Constelação de Atributos, foram
elaboradas as seguintes perguntas utilizadas no pré-teste:
.
136 .
1) Quando você pensa em um incêndio no Bairro do Recife que idéias ou imagens
lhe vêm à mente?
2) Quando você pensa em um incêndio envolvendo o seu negócio, que idéias ou
imagens - que não sejam adjetivos - lhe vêm à mente?
3) Quando você pensa em um incêndio nas vizinhanças de seu negócio, que idéias
ou imagens – que não sejam adjetivos - lhe vêm à mente.
Após a realização do pré-teste, ajustaram-se as perguntas 01, 02 e 03 incluindo a frase -
que não sejam adjetivos - a fim de melhor direcionar as respostas dos entrevistados.
Observou-se que muitas das respostas obtidas na realização do pré - teste estavam
relacionadas à percepção, pelos usuários, das condições de segurança contra incêndio das
edificações da área objeto de estudo, fator este que levou à elaboração das perguntas nº 04 e
nº 05.
1) Quando você pensa em um incêndio no Bairro do Recife que idéias ou imagens - que
não sejam adjetivos - lhe vêm à mente?
Esta pergunta tem como objetivo verificar se os entrevistados possuem a percepção das
conseqüências que um incêndio no Bairro do Recife poderia causar e que tipo de perdas
estariam associadas.
2) Quando você pensa em um incêndio envolvendo o seu negócio, que idéias ou
imagens - que não sejam adjetivos - lhe vêm à mente?
Esta pergunta tem como objetivo verificar se os entrevistados possuem a percepção das
conseqüências decorrentes de um incêndio envolvendo o seu negócio e que tipo de perdas
estariam associadas.
3) Quando você pensa em um incêndio nas vizinhanças de seu negócio, que idéias ou
imagens – que não sejam adjetivos - lhe vêm à mente.
Esta pergunta tem como objetivo verificar se os entrevistados possuem a percepção das
conseqüências decorrentes de um incêndio envolvendo as edificações vizinhas ao seu negócio
e que tipo de perdas estariam associadas em um evento deste tipo.
4) Existem, em sua opinião, características físicas da edificação na qual o seu negócio
está inserido que contribuiriam para aumentar a intensidade de um incêndio? Quais?
Por quê?
Esta pergunta tem como objetivo verificar se os usuários possuem algum tipo de
conhecimento relativo à dinâmica do incêndio e às características físicas da edificação que
.
137 .
possam, dado que ocorra um incêndio, contribuir para aumentar a sua intensidade ou
comprometer a segurança dos ocupantes.
5) Considerando a edificação na qual o seu negócio está inserido e as diversas atividades
que nela são desenvolvidas, em sua opinião, em que sala (local) um incêndio teria início?
Por quê?
Esta pergunta objetiva verificar se os usuários possuem a percepção de qual seria a
provável sala de origem de um incêndio na sua edificação de acordo com o tipo de atividade
praticada na mesma.
A tabulação dos dados obtidos serviu de base para a elaboração das constelações de
atributos, onde foi possível identificar quatro categorias de respostas indicadas por cores a fim
de facilitar a compreensão, a saber:
Impactos provenientes do incêndio (vermelho);
Ações a serem tomadas pelos ocupantes (preto);
Respostas que envolvem conhecimentos da dinâmica dos incêndios (verde);
Outros (amarelo).
De uma maneira geral, os resultados revelaram que a população reconhece a existência
de um problema, ou seja, apesar das legislações vigentes na cidade do Recife como o Código
de Segurança Contra Incêndio e Pânico para o Estado de Pernambuco, Lei de Edificações e
Instalações na Cidade do Recife e a Lei de Uso e Ocupação do Solo, as edificações, muitas
vezes, não garantem a segurança devida aos seus ocupantes na ocorrência de um incêndio.
Os entrevistados demonstraram insegurança quanto à eficiência das recomendações
relativas à prevenção contra incêndios, ditadas pelo Corpo de Bombeiros, em virtude destas
recomendações limitarem-se muitas vezes à presença de extintores. Outro fator de
insegurança dos usuários refere-se à falta de informações sobre os primeiros procedimentos a
serem tomados no início de um incêndio, o que evidencia a carência de realização de
campanhas educativas neste sentido.
No que se refere à ocorrência de um incêndio no Bairro do Recife (pergunta 01) as
pessoas revelaram duas preocupações básicas:
a. Preocupação em como evacuar a ilha, em virtude dos meios de fuga serem
restritos apenas às pontes. Estas rotas de fuga geralmente encontram-se
bloqueadas, na ocorrência de eventos no Bairro do Recife.
b. Perda do patrimônio histórico representado pelo seu conjunto arquitetônico, o
que acarretaria um impacto negativo à imagem do Bairro para a indústria do
Turismo em Pernambuco.
.
138 .
As demais respostas tabuladas e a freqüência de aparecimento de cada atributo são
apresentadas na tabela 7.2 abaixo.
Tabela 7.2 Tabulação das respostas relativas à pergunta 01
Pergunta 01 Quando você pensa em um incêndio no Bairro do Recife, que idéias ou imagens - que não sejam adjetivos -
lhe vêm à mente?
Respostas Quant. Total de
resposta Frequência Dist. Psc.(cm) Classif.
1 Como fugir/ evacuar a ilha 34 294 11,56% 9,41 1
2 Acionar Corpo de Bombeiros 34 294 11,56% 9,41 1
3 Perda de um importante acervo histórico 27 294 9,18% 10,38 2
4 Pânico 24 294 8,16% 10,97 3
5 Ajudar as pessoas 19 294 6,46% 12,34 4
6 Poucos meios de fuga da ilha 18 294 6,12% 12,71 5
7 Correr para o Porto 14 294 4,76% 14,75 6
8 Destruição/caos 9 294 3,06% 20,58 7
9 Prejuízo à imagem do Bairro para o turismo 8 294 2,72% 23,00 8
10 Prejuízo financeiro 7 294 2,38% 26,54 9
11 Evitar aproximação 7 294 2,38% 26,54 9
12 Galpões do Porto 7 294 2,38% 26,54 9
13 Falta d`água para combate 7 294 2,38% 26,54 9
14 Procurar extintor de incêndios 7 294 2,38% 26,54 9
15 O Bairro é uma área de risco 7 294 2,38% 26,54 9
16 Falta de informações / primeiros procedimentos 6 294 2,04% 32,28 10
17 Rápida propagação das chamas -edf. geminados 6 294 2,04% 32,28 10
18 Congestionamento nas pontes 6 294 2,04% 32,28 10
19 Perigo pelos edf. não revitalizados 5 294 1,70% 43,36 11
20 Correria 5 294 1,70% 43,36 11
21 Carência de uma Brigada de Incêndios na área 4 294 1,36% 74,79 12
22 Muita fumaça 4 294 1,36% 74,79 12
23 Manter a calma 4 294 1,36% 74,79 12
24 Demora do Corpo de Bombeiros 3 294 1,02% 1139,74 13
25 Pessoas fugindo pelas pontes 3 294 1,02% 1139,74 13
26 Possibilidade de vítimas 3 294 1,02% 1139,74 13
27 Edf. com estruturas antigas/ sem segurança 3 294 1,02% 1139,74 13
28 outros 6 294 2,04% 32,28
Total 294 294 100,00%
Outros: 6 294
Incêndio do Chiado em Portugal 1 294
Salvar o que for possível 1 294
Grande número de restaurantes 1 294
Desocupar a área 1 294
Cortar energia 1 294
Correr pelas escadas 1 294
.
139 .
Pela tabela 7.2 podem-se observar outros fatores citados pelos entrevistados. Tais fatores,
apresentados na constelação de atributos da figura 7.6, se referem às conseqüências de um
incêndio envolvendo o Bairro do Recife, a saber: prejuízos financeiros decorrentes do
incêndio, impacto negativo na indústria do turismo, rápida propagação das chamas entre as
edificações geminadas, perigo pelos edifícios não revitalizados, entre outros.
Figura 7.6 – Atributos referente à pergunta 01
Quanto à ocorrência de um incêndio em seu próprio negócio (pergunta 02) as maiores
preocupações apontadas pelos entrevistados foram:
- Acionar o Corpo de Bombeiros;
- Como sair da edificação;
- Presença de uma grande quantidade de material combustível nas salas;
- Falta de informações sobre os procedimentos que devem ser tomados em situações de
emergência envolvendo incêndios;
- Prejuízo à imagem do negócio; perda de informações, quebra de contratos, perda de
receita, dentre outros.
As respostas apontaram que os entrevistados possuem uma clara percepção das
conseqüências/impactos diretos e indiretos que um incêndio poderia trazer ao seu negócio,
assim como a compreensão da vulnerabilidade destes espaços a situações de emergência
01como fugir
Bairro do RecifeIncêndio no
acionar CB01
perda acervo histórico02
pânico03
ajudar pessoas04
poucos meios de fuga05
correr para o Porto06
destruição /caos07
prejuízo para ind. turismo08
prejuízo09
financeiro
evitar aproximação
09do Portogalpões
09p/ combatefalta d' água
09
procurar09
extintor
área de risco
09bairro é
procedimentos
10falta de inform.
rápidapropagação
10
10congestionamentos
perigo pelos11
edf. não revitalizados
correria11
carência de uma brigada12
de incêndios 12muita fumaça
manter a calma12
.
140 .
envolvendo incêndios, caso estes riscos não sejam gerenciados (ver figura 7.7). As demais
respostas obtidas são apresentadas na tabela 7.3 a seguir.
Tabela 7.3 Tabulação das respostas relativas à pergunta 02
Pergunta 2 Quando você pensa em um incêndio envolvendo o seu negócio, que idéias ou imagens, que não sejam adjetivos, lhe vêm à mente?
Respostas Quantidade Total de
respostas Frequência Dist. Psc.(cm) Classific.
1 Acionar Corpo de Bombeiros 50 307 16,29% 8,25 1
2 Sair do prédio 34 307 11,07% 9,58 2
3 Falta de informações sobre procedimentos 33 307 10,75% 9,70 3
4 Tentar combater o incêndio 31 307 10,10% 9,96 4
5 Perda de informações 26 307 8,47% 10,78 5
6 Presença de muito material combustível 13 307 4,23% 15,95 6
7 Pânico 12 307 3,91% 16,89 7
8 Perda de receita 10 307 3,26% 19,50 8
9 Salvar o que for possível 10 307 3,26% 19,50 8
10 Sair pelas escadas 9 307 2,93% 21,41 9
11 Ajudar/socorrer pessoas 8 307 2,61% 24,04 10
12 Abrir portas e janelas 8 307 2,61% 24,04 10
13 Avisar ao proprietário 7 307 2,28% 27,94 11
14 Perda de importante acervo histórico 6 307 1,95% 34,36 12
15 Pessoas combatendo o incêndio 6 307 1,95% 34,36 12
16 Quebra de contratos 4 307 1,30% 87,02 13
17 Falta d`água para combate ao incêndio 4 307 1,30% 87,02 13
18 Outros 30 307 9,77% 10,10
Total 307 307 100,00%
Outros: 30 307 Demora do Corpo do Bombeiros 3 307
Correria 3 307
Desligar o elevador 3 307
Perdas de clientes 2 307
Perda humana 2 307
Pedir ajuda 2 307
Transtornos 2 307
Não há extintor na sala 2 307
Desligar a chave geral 2 307
Não há plano para evacuação 1 307
Edf. não tem estrutura para um incêndio 1 307
Como fugir 1 307
Impacto na imagem do negócio 1 307
Risco ao prédio vizinho 1 307
Tentar se proteger 1 307
Pessoas presas no elevador 1 307
Dificuldades de acesso do Corpo de Bombeiros 1 307
Instalações elétricas precárias 1 307
.
141 .
A constelação de atributos referente à pergunta 02 é apresentada na figura 7.7 abaixo.
Figura 7.7 Constelação de Atributos referente à pergunta 02.
No que se refere às condições de segurança contra incêndio das edificações vizinhas
(pergunta 03), os entrevistados também demonstraram preocupação, visto que a própria
tipologia construtiva do conjunto arquitetônico, com suas edificações geminadas (i. e. com
suas estruturas apoiadas umas nas outras), aliada à presença de edificações em estado de
conservação e segurança precários, convivendo entre edificações que foram revitalizadas,
facilitaria a propagação das chamas entre as edificações, pondo em risco a vida humana, a
propriedade e o patrimônio histórico (ver figura 7.8).
Figura 7.8 – Constelação de Atributos referente à pergunta 03.
acionar CB01
Sair do prédio02
Falta de informações03
sobre procedimentos
Tentar combater04
Perda de informações05
Presença de material 06
Pânico07
Perda de receita08
Salvar o que for possível08
Sair pelas 09
Ajudar as 10
escadaspessoas
Abrir portas10
e janelas
proprietárioAvisar
11
Perda de12
acervo histórico
o incêndioPessoas combatendo
12
Quebra de contratos13
Falta d' água 13
para combate
Incêndio noseu negócio
combustível
Incênd io noed ifíc io v iz inho
A cionar C o rpo01
de B om be iros
S a ir do p réd io02
03A judar as pessoas
R áp ida p ropagação04
Fa lta de in fo rm ações05
sobre p roced im en tos
S a lvar o que fo r possíve l06
T enta r com bate r07
O bse rvar d ireção08
de p ropagação
09R isco pe los ed ific ios não rev ita lizados
10A m eaça à im agem do negóc io
D em ora do 10
C orpo de B om be iros
10D esespero
N ão sabe as cond ições 10
das ins ta lações v iz inhas
.
142 .
Tabela 7.4 Tabulação das respostas relativas à pergunta 03
Pergunta 3 Quando você pensa em um incêndio nas vizinhanças de seu negócio, que idéias ou imagens, que não sejam adjetivos, lhe vêm à mente?
Respostas Quant. Total de
resposta Frequência Dist. Psc.(cm) Classific.
1 Acionar Corpo de Bombeiros 54 215 25,12% 7,14 1
2 Sair do prédio 35 215 16,28% 8,25 2
3 Ajudar as pessoas envolvidas no incêndio 33 215 15,35% 8,43 3
4 Rápida propagação das chamas entre as edificações 24 215 11,16% 9,54 4
5 Falta de informações sobre procedimentos 14 215 6,51% 12,29 5
6 Salvar o que for possível 10 215 4,65% 14,98 6
7 Tentar combater o incêndio 7 215 3,26% 19,51 7
8 Observar a direção de propagação do incêndio 6 215 2,79% 22,44 8
9 Risco pelos restaurantes existentes na área 4 215 1,86% 37,09 9
10 Ameaça à imagem do negócio 3 215 1,40% 69,12 10
11 Demora do Corpo de Bombeiros 3 215 1,40% 69,12 10
12 Desespero 3 215 1,40% 69,12 10
13 Não sabe as condições das instalações vizinhas 3 215 1,40% 69,12 10
14 Outros 16 215 7,44% 11,47
Total 215 215 100,00%
Outros: 16 215
Falta d’ água para combate 2 215
Perdas materiais 2 215
Ceder extintores 2 215
Perda do patrimônio 2 215
Desligar a chave geral de energia 2 215
Dificuldades de acesso do Corpo de Bombeiros 1 215
Perda de importante ponto turístico 1 215
Correria para evacuação 1 215
Perda de clientes 1 215
Não se pode fazer nada contra um incêndio 1 215
Avisar ao proprietário 1 215
Quanto às características físicas das edificações que poderiam contribuir para
aumentar a intensidade de um incêndio, as respostas foram específicas, de acordo com o
estado de conservação das edificações. Uma grande parte das edificações da Rua do Bom
Jesus já foi revitalizada, tendo inclusive sofrido reformas na parte estrutural, possuindo
atualmente, por exemplo, lajes e paredes divisórias entre as edificações em concreto armado.
Por outro lado, algumas edificações encontram-se em estado de conservação e segurança
precários, tendo sua estrutura interna (forros, assoalhos, escadas) constituída de madeira e seu
sistema elétrico em estado deficiente de utilização ou sobrecarregado devido ao não
dimensionamento do mesmo para a carga atual. Além disso, observa-se a utilização de
.
143 .
materiais combustíveis nas saídas de emergência que muitas vezes encontram-se obstruídas,
conforme identificado em vistorias realizadas pelo corpo de bombeiros.
Para ilustrar as respostas obtidas para as perguntas nº 4 e nº 5, serão apresentadas as
respostas relacionadas às condições físicas das edificações nº 227 e nº 237 (vide figuras 7.9 e
7.10)
Para as edificações nº 227 e nº237, localizadas na quadra nº 156, onde funciona o
restaurante “Donatário” no pavimento térreo e escritórios nos pavimentos superiores, obteve-
se a seguinte tabulação dos dados (vide tabela 7.5) que possibilitou a construção da
constelação de atributos relativa à pergunta nº 04 para os usuários destas duas edificações
(vide figura 7.11).
Tabela 7.5 Tabulação das respostas obtidas referente à pergunta 04 para os usuários das edificações nº 227 e
nº 237.
Pergunta 04 Existem, em sua opinião, características físicas da edificação na qual o seu negócio está inserido que contribuiriam para aumentar a intensidade de um incêndio? Quais? Por quê?
Respostas Quant. Total de
resposta Freq. Dist. Psc.(cm) Classif.
1 Piso, teto, esquadrias em madeira (rápido crescimento fogo) 14 51 27,45% 6,95 1
2 Escada helicoidal em madeira 13 51 25,49% 7,11 2
3 Instalações elétricas precárias e sobrecarregadas 10 51 19,61% 7,74 3
4 Tipo de mobiliário e equipamentos existentes 6 51 11,76% 9,34 4
5 Átrio central em policarbonato 4 51 7,84% 11,18 5
Figura 7.9 Edifício nº 227 Figura 7.10 Edifício nº 237
.
144 .
6 Materiais de construção utilizados 2 51 3,92% 16,85 6
7 Não há risco 2 51 3,92% 16,85 7
8 Total 51 51 100%
Foram constatadas, durante a visita em campo para realização do cadastro dos imóveis,
algumas problemáticas encontradas nas duas edificações no que se refere à segurança contra
incêndios que foram confirmadas nas respostas obtidas nas entrevistas (vide tabela 7.5 e
figura 7.11), ou seja, os usuários das edificações têm a clara percepção do risco de incêndios a
que estão sujeitos.
Para a identificação das possíveis “salas de origem” de um incêndio nas edificações,
os entrevistados apontaram os bares e restaurantes existentes no pavimento térreo das mesmas
como os possíveis locais causadores de um incêndio, devido ao fato de trabalharem com
chama aberta, pela presença de botijões de gás e por representarem maior risco à vida humana
pelo grande número de pessoas que os freqüentam, sobretudo, nos finais de semana.
Muitos usuários não souberam identificar quais seriam os possíveis locais de origem
de um incêndio, pelo fato de não conhecerem as demais atividades que são desenvolvidas nos
outros pavimentos.
Figura 7.11 Constelação de atributos para a pergunta nº 04.
Materiais de construção utilizados
Átrio central em policarbonato
Tipo de mobiliário e equipamentos existentes
Instalações elétricas precárias e sobrecarregadas
Escada helicoidal em madeira
Características
07Não há risco
01Piso, teto em madeira
02
04
06
05
03
Pergunta 04 - Edf nº 227 e nº 237
daedificação
.
145 .
Tabela 7.6 Tabulação das respostas obtidas referentes à pergunta 05 para os usuários das edificações nº 227 e
nº 237.
Pergunta 5
Considerando a edificação na qual o seu negócio está inserido e as diversas atividades que nela são desenvolvidas, em sua opinião, em que sala (local) um incêndio teria início. Por quê?
Respostas Quantidade Total de
resposta Frequencia Dist. Psc.(cm) Classific.
1 Cozinha do restaurante 10 21 47,62% 5,96 1
2 Casa de máquinas 4 21 19,05% 7,81 2
3 Centro de documentação 3 21 14,29% 8,66 3
4 Não sabe informar 2 21 9,52% 10,22 4
5 Qualquer sala 1 21 4,76% 14,75 5
6 Casa do Japão 1 21 4,76% 14,75 6
Total 21 21 100,00%
Para os entrevistados das edificações nº 227 e 237 a cozinha do restaurante foi
apontada como o possível local de origem de um incêndio, seguida pela casa de máquinas e
pelo centro de documentação do Escritório de Revitalização do Bairro do Recife, localizado
no 1º pavimento, visto que apresenta uma grande quantidade de papel armazenada (vide
tabela 7.6 e figura 7.12).
Figura 7.12 Constelação de atributos referente à pergunta 05.
As entrevistas revelaram que existe uma diferença entre o que as pessoas percebem e
desejam quanto às condições de segurança contra incêndio em suas edificações. A percepção
Casa de máquinas
Casa do Japão05
Cozinha do restaurante01
Sala de origem
edificaçãoda
Centro de documentação
Qualquer sala
Não sabe responder
05
04
02
03
Pergunta 05 - Edf nº 227 e nº 237
.
146 .
da necessidade de antecipar, prevenir e reduzir riscos ficou evidente nas respostas obtidas nas
entrevistas. As pessoas demonstraram claramente a compreensão dos impactos e
consequências associadas a um incêndio no Bairro do Recife e em seu próprio negócio, além
do sentimento de insegurança e insatisfação com as condições de segurança nas edificações.
7.4 A pesquisa no Bairro do Recife e o comportamento humano durante um incêndio.
Na sessão 4.4.3 realizou-se uma abordagem sobre o comportamento humano durante
incêndios e verificou-se que este comportamento pode ser reunido em grupos que descrevem
o processo de decisão individual, sendo possível entender porque as pessoas fazem o que
fazem durante um incêndio.
Com as respostas obtidas nas entrevistas foi possível enquadrar algumas respostas
relacionadas a ações que seriam tomadas pelos ocupantes das edificações durante um incêndio
com as técnicas utilizadas pelo homem para decidir o que fazer durante um incêndio
apresentadas na seção 4.4.3. São elas: reconhecimento, validação, definição, avaliação,
compromisso e reavaliação (vide figura 7.13).
Assim, se observou que respostas obtidas nas entrevistas estariam relacionadas ao
comportamento humano durante um incêndio. Foi possível identificar nas respostas três das
seis técnicas acima citadas, diretamente ligadas ao momento da tomada de decisão durante um
incêndio. São elas: validação, definição e avaliação (vide figura 7.14).
Após a identificação das respostas com o processo de decisão individual durante um
incêndio, tomaram-se algumas das respostas relacionadas e construiu-se um “diagrama
contínuo” (FITGERALD, 1998) de um possível cenário de incêndio envolvendo os ocupantes
mostrando como este comportamento se processa durante um incêndio (ver figura 7.15). Os
itens que aparecem em vermelho na figura 7.14 são respostas obtidas nas entrevistas e que
foram selecionadas para a construção do diagrama contínuo.
.
147 .
Figura 7.13 O processo de decisão individual durante um incêndio.
INDIVÍDUO
RECONHECIMENTO
VALIDAÇÃO
DEFINIÇÃO
AVALIAÇÃO
COMPROMISSO
REAVALIAÇÃO
Interpretação da informação e decisão se o alarme ou sinal de incêndio é real para o ocupante da edificação.
Busca por informações para assegurar que, de fato, existe um problema.
Tentativa de quantificar o que se sabe sobre a ameaça.
Decisão sobre que atitude tomar (evacuar ou tentar combater).
Ação conforme a decisão tomada durante a avaliação.
Verificação da eficácia das atitudes tomadas.
.
148 .
Figura 7.14 O processo de decisão individual durante um incêndio.
ENTREVISTADOS (BAIRRO DO RECIFE)
RECONHECIMENTO
VALIDAÇÃO
DEFINIÇÃO
AVALIAÇÃO
COMPROMISSO
REAVALIAÇÃO
- Ver se o local é área de risco. - Esperar. - Observar sentido da propagação. - Ver o que está ocorrendo
-Não sabe usar extintor. -Não sabe nº do Corpo de Bombeiros -Não sabe que procedimentos tomar
MULHERES - Procurar local seguro - Desligar energia elétrica - Correr para as escadas - Pegar objetos pessoais - Desocupar a área - Tentar combater - Proteger-se da fumaça - Manter a calma - Como fugir - Avisar outros - Pedir socorro - Acionar Corpo de Bombeiros - Socorrer as pessoas - Fugir - Procurar extintor - Abrir portas e janelas - Ver se há pessoas na
edificação - Livrar-se de botijões de gás
presentes. - Correr para as escadas
HOMENS - Tentar combater - Procurar extintor - Procurar uma mangueira - Fugir - Manter a calma - Ajudar as pessoas - Acionar Corpo de
Bombeiros - Descer as escadas - Avisar os outros - Fechar as portas - Abrir janelas - Desligar energia elétrica - Desligar elevador - Abrir porta do pavimento
térreo - Retirar o que for possível - Fechar escritório
.
149 .
Figura 7.15 Diagrama Contínuo exemplificando o processo de decisão através de respostas obtidas nas
entrevistas.
O Diagrama Contínuo acima parte do princípio de que há um incêndio. O diagrama foi
construído com a intenção de relacionar o comportamento do ocupante a partir de sua
O OCUPANTE VERIFICA O QUE ESTÁ
OCORRENDO
O OCUPANTE SABE QUE PROCEDIMENTOS
TOMAR
O OCUPANTE NOTIFICA OS
DEMAIS OCUPANTES
O OCUPANTE CORRE PARA AS
ESCADAS
O OCUPANTE SAI DA EDIFICAÇÃO
NÃO HÁ COMPROMETIMENTO DA SEGURANÇA DO
OCUPANTE
POSSIBILIDADE DO COMPROMETIMENTO
DA SEGURANÇA DO OCUPANTE
HÁ O RECONHECIMENTO DOS
SINAIS DO INCÊNDIO
VVAALLIIDDAAÇÇÃÃOO
DDEEFFIINNIIÇÇÃÃOO
AAVVAALLIIAAÇÇÃÃOO
AAVVAALLIIAAÇÇÃÃOO
CCOOMMPPRROOMMIISSSSOO
RREEAAVVAALLIIAAÇÇÃÃOO
O OCUPANTE NÃO VERIFICA
O QUE ESTÁ OCORRENDO
O OCUPANTE NÃO SABE QUE PROCEDIMENTOS
TOMAR
O OCUPANTE NÃO NOTIFICA
OS DEMAIS OCUPANTES
O OCUPANTE NÃO CORRE
PARA AS ESCADAS
O OCUPANTE NÃO SAI DA EDIFICAÇÃO
AAVVAALLIIAAÇÇÃÃOO
CCOOMMPPRROOMMIISSSSOO
RREEAAVVAALLIIAAÇÇÃÃOO
.
150 .
percepção dos primeiros sinais de um incêndio. O cenário representado pelo diagrama
contínuo mostra que, em havendo um incêndio, o ocupante, após verificar a existência do
mesmo, poderá avisar aos demais ocupantes, tentar combater, acionar o corpo de bombeiros,
ou qualquer das ações relacionadas durante a “avaliação”, antes de iniciar a evacuação da
edificação (vide figura 5.14).
Através do diagrama contínuo também é possível perceber que qualquer ação tomada
pelo usuário pode comprometer a sua segurança no momento de um incêndio.
7.5 A pesquisa e a percepção do risco numa visão de desempenho.
Algumas das respostas obtidas nas entrevistas podem ser associadas (vide tabela 7.7)
aos nove fatores de risco identificados por LITAI (1980) e discutidos na seção 4.3, numa
tentativa de facilitar a compreensão relativa à percepção do risco de incêndios numa
abordagem qualitativa inicial, segundo a visão dos Códigos Baseados no Desempenho.
Dos nove fatores de risco identificados por LITAI (1980) foi possível identificar seis
fatores nas respostas das entrevistas realizadas no Bairro do Recife. São eles: severidade,
manifestação do efeito, familiaridade, controlabilidade, comunicação e origem.
Tabela 7.7 Cruzamento das respostas obtidas nas entrevistas com os nove fatores de risco sugeridos por LITAI
(1980).
FATORES DE RISCO RESPOSTAS OBTIDAS NAS
ENTREVISTAS
JUSTIFICATIVA
LIVRE VONTADE
---------------------------------
---------------------------------
SEVERIDADE
(CATASTRÓFICA)
O bairro é uma área de risco;
Ameaça à imagem do negócio;
Perda de acervo histórico;
Quebra de contratos;
Perda de receita;
Perda de informações;
Prejuízo à imagem do bairro
para o turismo;
Destruição, caos;
Poucos meios de fuga da ilha;
Possibilidade de vítimas.
As respostas demonstram claramente que as
pessoas percebem o risco de incêndio no Bairro
do Recife em virtude da compreensão dos
impactos e consequências associados.
Presença de muito material As pessoas percebem que a manifestação do
.
151 .
MANIFESTAÇÃO DO
EFEITO (IMEDIATO)
combustível;
Rápida propagação das chamas
entre as edificações;
Muita fumaça;
efeito seria imediata em virtude da grande
densidade de carga de incêndio presente nas
edificações além do agravante da tipologia
construtiva das edificações geminadas que
contribuiriam para a severidade catastrófica do
evento.
FAMILIARIDADE
(CONHECIDO)
O bairro é uma área de risco.
Perigo pelos galpões do Porto do
Recife.
Rápida propagação devido às
edificações geminadas.
As pessoas demonstram familiaridade com os
riscos existentes na área estudada em virtude da
convivência diária com a área objeto de estudo.
CONTROLABILIDADE
(INCONTROLÁVEL)
Não sabe as condições de
segurança das edificações
vizinhas;
Perigo pelos edifícios não
revitalizados.
Os entrevistados demonstram que existe uma
preocupação com as práticas de segurança
exercidas nas edificações vizinhas; compreensão
de que podem afetar o seu negócio.
BENEFÍCIO ---------------------------------------
---
-----------------------------------------------------------
-
NECESSIDADE
--------------------------------------- -----------------------------------------------------------
COMUNICAÇÃO
( OCASIONAL)
Falta de informações sobre
os primeiros procedimentos .
Resposta obtida por grande parte dos
entrevistados que demonstram desconhecimento
das atitudes a serem tomadas em emergências
envolvendo incêndio; despreparo; falta de
informações.
ORIGEM
(ARTIFICIAL)
Galpões do Porto do Recife;
Edificações com estruturas
antigas e sem segurança.
Associam as possíveis origens de um incêndio no
Bairro aos galpões do Porto do Recife e aos
edifícios em condições precárias de uso.
Na tabulação dos resultados das entrevistas muitas das respostas não estão associadas
aos nove fatores de risco sugeridos por LITAI (1980) e sim às ações que seriam tomadas na
ocorrência de um incêndio, em virtude das consequências percebidas, como por exemplo:
acionar Corpo de Bombeiros, ajudar pessoas, procurar extintor, evitar aproximação, manter a
calma, sair do prédio, salvar o que for possível, tentar evitar a propagação, entre outros.
Estas ações a serem tomadas no momento de um incêndio citadas pela população
entrevistada, serão alvo de uma pequena análise no próximo capítulo.
.
152 .
8 COMPORTAMENTO DE RESPOSTA HUMANA EM
INCÊNDIOS
CANTER (1978) define o comportamento de resposta humana em emergências
envolvendo incêndios como sendo uma tentativa lógica para tratar com uma complexa
situação de mudança repentina na qual uma mínima informação é disponível.
Embora o comportamento de resposta humana tenha sido estudado por diversos autores
como WOOD (1972), BRYAN (1977), CANTER (1978), SWARTZ (1979), PROULX
(1991), entre outros, os códigos e normas prescritivos que tratam da segurança contra
incêndio das edificações ainda não incorporaram muitas considerações importantes relativas
às respostas fisiológica e comportamental humanas (vide seção 4.4) em uma situação de
emergência envolvendo incêndios. Conseqüentemente, algumas das recomendações vigentes
de segurança contra incêndio não consideram fatores que ocorrem antes que as pessoas
iniciem a evacuação das edificações no momento de um incêndio.
A maioria dos projetos de segurança contra incêndio numa visão prescritiva assume que
dado o princípio de um incêndio as pessoas serão alertadas por um equipamento que transmite
um sinal geral. Os códigos e normas consideram que os ocupantes ouvirão o sinal,
reconhecerão o sinal como de alarme de incêndio, aceitarão o sinal como um alarme
verdadeiro e responderão positivamente ao sinal de alarme, iniciando a evacuação de acordo
com os procedimentos de emergência adequados. Assim, o tempo decorrido entre a detecção
do incêndio e a evacuação dos ocupantes deve ser menor que o tempo crítico necessário para
a ocorrência do flashover (i.e. o envolvimento do ambiente em chamas) conforme pode ser
observado (eq. 8.1) na relação abaixo.
Entretanto, em um Código Baseado no Desempenho, o tempo envolvido antes e durante
a evacuação é fundamental para a seleção do tamanho crítico do incêndio (Qcrit) e para o
dimensionamento das proteções que estão sendo consideradas. Numa visão de desempenho a
relação acima poderia ser representada (eq. 8.2) da seguinte forma:
Tdetecção + Tevacuação ‹ Tcrítico (eq. 8.1)
Tdetecção + T demora + Tevacuação ‹ Tcrítico (eq. 8.2)
.
153 .
O tempo de demora representa o tempo envolvido entre a detecção do sinal de alarme
pelo ocupante até o momento em que este inicia o processo de evacuação. São observados
diversos comportamentos nesta fase que podem retardar o início da evacuação ou do processo
de combate ao incêndio pelo ocupante. Isso pode contribuir para a severidade do evento no
que se refere à segurança dos ocupantes e da própria edificação.
Conforme apresentado na seção 4.1, a fase de crescimento do incêndio é aquela que
possui um maior comprometimento da segurança dos ocupantes. Assim, o somatório do
tempo de detecção do incêndio com o tempo de demora e o tempo necessário para a
evacuação deve ser menor que o tempo necessário para a ocorrência do flashover. Após este,
se o incêndio não for extinto, inicia-se a fase de desenvolvimento do incêndio. Nesta fase
ocorrerá o comprometimento da estabilidade estrutural da edificação.
Segundo FITZGERALD (2003) o tempo de crescimento do incêndio é de
aproximadamente 30 minutos e a estabilidade estrutural da edificação poderá ser
comprometida entre 30 minutos e 3 horas de iniciado o incêndio, como pode ser visto na
figura 8.1 abaixo.
Figura 8.1 Curva do comportamento de um incêndio em ambiente fechado e sua relação com a
segurança dos ocupantes
Tem
p er a
t ura
, T
o uTa x
ad e
Libe r
a çã o
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a lo r
, Q
IGEC
FLASHOVER
Tempo
TdetTdet + + TdemTdem + + TevacTevac < < T T critcrit
SEGURANÇA DOS SEGURANÇA DOS OCUPANTESOCUPANTES
ESTABILIDADE ESTABILIDADE ESTRUTURALESTRUTURAL
MENOR DO QUE 30minMENOR DO QUE 30min ENTRE 30min e 3hENTRE 30min e 3h
CRESCIMENTO DO CRESCIMENTO DO
INCÊNDIOINCÊNDIO
DESENVOLVIMENTO DO DESENVOLVIMENTO DO INCÊNDIOINCÊNDIO
DECAIMENTO DO DECAIMENTO DO
INCÊNDIOINCÊNDIO
Tem
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FLASHOVER
Tempo
TdetTdet + + TdemTdem + + TevacTevac < < T T critcrit
SEGURANÇA DOS SEGURANÇA DOS OCUPANTESOCUPANTES
ESTABILIDADE ESTABILIDADE ESTRUTURALESTRUTURAL
MENOR DO QUE 30minMENOR DO QUE 30min ENTRE 30min e 3hENTRE 30min e 3h
CRESCIMENTO DO CRESCIMENTO DO
INCÊNDIOINCÊNDIO
DESENVOLVIMENTO DO DESENVOLVIMENTO DO INCÊNDIOINCÊNDIO
DECAIMENTO DO DECAIMENTO DO
INCÊNDIOINCÊNDIO
.
154 .
A consideração satisfatória das respostas fisiológicas e comportamentais humanas em
um incêndio representa uma das maiores dificuldades em uma análise de projetos de
segurança contra incêndio baseada no desempenho (MEACHAM, 1997).
GRONER (1996) afirma que de todos os elementos possíveis de ser listados em uma
defesa contra o fogo as pessoas são as mais negligenciadas pelos Códigos Prescritivos, visto
que são consideradas apenas para o dimensionamento de rotas de fuga. Entretanto, na maioria
dos cenários, resultados favoráveis para emergências envolvendo incêndios dependem em
grande parte das ações e decisões tomadas pelos ocupantes da edificação.
Relacionando-se as informações da figura 8.1 com as seis técnicas utilizadas pelo ser
humano para decidir o que fazer durante um incêndio apresentadas na sessão 4.4.3 (i.e.
reconhecimento, validação, definição, avaliação, compromisso e reavaliação) tem-se que na
fase de crescimento do incêndio o tempo de detecção será afetado pelo reconhecimento ou
não dos sinais da ameaça pelo ocupante. O tempo de demora será afetado pela validação da
informação, definição e avaliação da decisão que será tomada e o tempo de evacuação, por
sua vez, será afetado pelo compromisso e a constante reavaliação do processo (vide figura
8.2). Pode-se assim observar que a percepção é um fator presente em todas as fases e que o
sucesso de uma emergência deste tipo dependerá muitas vezes de como os ocupantes reagiram
ao incêndio.
Figura 8.2 Curva do comportamento de um incêndio em ambiente fechado e sua relação com o
comportamento de resposta dos ocupantes.
Tem
pera
tura
, T
ouT a
x ade
Li b
e raç
ãod e
Ca
lor,
Q
IGEC
FLASHOVER
Tempo
SEGURANÇA DOS SEGURANÇA DOS OCUPANTESOCUPANTES
ESTABILIDADE ESTABILIDADE ESTRUTURALESTRUTURAL
MENOR DO QUE 30minMENOR DO QUE 30min ENTRE 30min e 3hENTRE 30min e 3h
CRESCIMENTO DO CRESCIMENTO DO
INCÊNDIOINCÊNDIO
DESENVOLVIMENTO DO DESENVOLVIMENTO DO INCÊNDIOINCÊNDIO
DECAIMENTO DO DECAIMENTO DO
INCÊNDIOINCÊNDIO
TdetTdet + + TdemTdem + + TevacTevac < < T T critcrit
PERCEPÇÃO AO SINAL DE ALARME E SINAIS DO INCÊNDIO ( RECONHECIMENTO)
PERCEPÇÃO + COMPORTAMENTO( VALIDAÇÃO, DEFINIÇÃO, AVALIAÇÃO)
AÇÃO (COMPROMISSO E REAVALIAÇÃO)
PERCEPÇÃO AO RISCOPERCEPÇÃO AO RISCO
Tem
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Tempo
SEGURANÇA DOS SEGURANÇA DOS OCUPANTESOCUPANTES
ESTABILIDADE ESTABILIDADE ESTRUTURALESTRUTURAL
MENOR DO QUE 30minMENOR DO QUE 30min ENTRE 30min e 3hENTRE 30min e 3h
CRESCIMENTO DO CRESCIMENTO DO
INCÊNDIOINCÊNDIO
DESENVOLVIMENTO DO DESENVOLVIMENTO DO INCÊNDIOINCÊNDIO
DECAIMENTO DO DECAIMENTO DO
INCÊNDIOINCÊNDIO
Tem
pera
tura
, T
ouT a
x ade
Li b
e raç
ãod e
Ca
lor,
Q
IGEC
FLASHOVER
Tempo
SEGURANÇA DOS SEGURANÇA DOS OCUPANTESOCUPANTES
ESTABILIDADE ESTABILIDADE ESTRUTURALESTRUTURAL
MENOR DO QUE 30minMENOR DO QUE 30min ENTRE 30min e 3hENTRE 30min e 3h
CRESCIMENTO DO CRESCIMENTO DO
INCÊNDIOINCÊNDIO
DESENVOLVIMENTO DO DESENVOLVIMENTO DO INCÊNDIOINCÊNDIO
DECAIMENTO DO DECAIMENTO DO
INCÊNDIOINCÊNDIO
TdetTdet + + TdemTdem + + TevacTevac < < T T critcrit
PERCEPÇÃO AO SINAL DE ALARME E SINAIS DO INCÊNDIO ( RECONHECIMENTO)
PERCEPÇÃO + COMPORTAMENTO( VALIDAÇÃO, DEFINIÇÃO, AVALIAÇÃO)
AÇÃO (COMPROMISSO E REAVALIAÇÃO)
PERCEPÇÃO AO RISCOPERCEPÇÃO AO RISCO
.
155 .
SWARTZ (1979) sugere que os objetivos dos códigos de segurança contra incêndio
(vide seção 4.2.2) poderiam ser reorientados para aumentar a probabilidade de que decisões
baseadas em informações corretas sejam tomadas pelas pessoas envolvidas em um incêndio.
Desta forma, o uso das opções de projeto baseadas no desempenho é uma oportunidade para
uma completa integração do desempenho humano dentro da engenharia de segurança contra
incêndio nos edifícios. Segundo GRONER (1996), se esta oportunidade for perdida, os
esforços para modelar o desempenho total dos sistemas de prevenção e combate serão menos
precisos, resultando em projetos baseados no desempenho desnecessariamente perigosos ou
onerosos.
8.1 A pesquisa no Bairro do Recife e o comportamento de resposta dos ocupantes
Segundo WOOD (1972) e BRYAN (1977) o comportamento humano durante um
incêndio pode ser considerado tão complexo e dinâmico quanto o próprio incêndio. Segundo
relatório publicado pela National Fire Protection Association - NFPA (1991), o primeiro
passo no entendimento do comportamento humano em situações de incêndio é a catalogação
do que as pessoas envolvidas no evento relatam sobre as ações tomadas e a seqüência em que
ocorreram durante um incêndio. Dessa forma, pode-se entender melhor porque as pessoas
fazem o que fazem durante um incêndio.
Em seus estudos, FAHY E PROULX (1996) indicam que as ações dos ocupantes no
momento de um incêndio podem ser agrupadas em categorias de:
a) investigação;
b) procura de informação;
c) preparação para evacuação;
d) evacuação;
e) alerta aos outros;
f) ajuda aos outros;
g) procura de refúgio;
h) espera.
No que se refere especificamente às entrevistas realizadas no Bairro do Recife (vide
capítulo 7), onde foram entrevistados 45 homens e 57 mulheres, obteve-se um total de 443
respostas associadas às ações a serem tomadas num incidente envolvendo incêndios, sendo
211 respostas obtidas com a população masculina e 232 respostas com a população feminina.
.
156 .
As respostas obtidas foram divididas em quatro categorias de ações com objetivo de
facilitar a análise dos dados (vide tabela 8.1 e figura 8.3). Nas tabelas apresentadas ao longo
do capítulo, as categorias de ação estão indicadas por cores. A saber:
Socorro/alerta: as ações deste grupo estão relacionadas ao alerta do incêndio ao corpo
de bombeiros ou aos demais ocupantes da edificação, acionar alarmes, socorrer pessoas, etc.
Combate do incêndio: as ações deste grupo estão relacionadas à tentativa de combater
o incêndio, seja pela remoção do combustível, procura por extintores, desligamento de
equipamentos elétricos, entre outras.
Evacuação: ações relacionadas à fuga da área afetada pelo incêndio.
Outras ações : as ações deste grupo não podem ser enquadradas nos grupos anteriores
e constituem-se de ações diversas como: não saber que atitude tomar, pegar objetos pessoais,
não fazer nada, etc.
Tabela 8.1 Tipos de categoria de ação para a população entrevistada no Bairro do Recife
0
10
20
30
40
PERCENTUAL
Socorro Combate Evacuação Outros
AÇÕES
GERAL- CATEGORIAS DE AÇÕES
Socorro
Combate
Evacuação
Outros
Figura 8.3 Categorias de ações para a população entrevistada no Bairro do Recife
As ações específicas que compõem as categorias de ações e suas freqüências podem
ser observadas na tabela 8.2.
CATEGORIA DE AÇÃO % Socorro 38.37 Combate 20.76 Evacuação 27.31 Outros 13.59 TOTAL 99,98
.
157 .
Tabela 8.2 Ações a serem tomadas pela população masculina e feminina estudada no Bairro do Recife
AÇÃO
RESPOSTAS HOMENS %
RESPOSTAS MULHERES %
Acionar Corpo de Bombeiros 41 19,43 55 23,71 Procurar extintor 27 12,8 18 7,76 Correr/fugir 24 11,37 46 19,83 Ajudar os outros 19 9 22 9,48 Avisar os outros 16 7,58 8 3,45 Tentar combater 14 6,64 16 6,9 Sair da edificação 12 5,7 4 1,72 Retirar o que for possível 11 5,21 11 4,74
Aguardar/ver sentido da propagação 8 3,79 4 1,72
Correr para a escada 7 3,32 5 2,16 Não sabe que atitude tomar 7 3,32 15 6,47 Salvar-se 5 2,37 0 0 Manter a calma 3 1,42 1 0,43 Pedir ajuda 3 1,42 5 2,16 Desligar elevador 3 1,42 0 0 Fechar portas 2 0,95 0 0 Pegar mangueira 2 0,95 0 0 Abrir janelas 2 0,95 3 1,29 Desligar energia elétrica 2 0,95 4 1,72 Procurar pelo fogo 1 0,47 0 0 Acionar carro pipa 1 0,47 0 0 Abrir porta do pavimento térreo 1 0,47 0 0 Correr para o rio 0 0 8 3,45 Evitar aproximação 0 0 3 1,29 Proteger-se da fumaça 0 0 2 0,86 Procurar local seguro 0 0 1 0,43 Livrar-se do botijão de gás 0 0 1 0,43 TOTAL DE RESPOSTAS 211 100 232 100
Para os homens entre as categorias de ações tomadas, predominaram as ações de socorro
com, 37.91% das respostas, seguidas por ações de evacuação, com 24.65% das respostas e as
ações de combate ao incêndio representaram um total de 23.7% das respostas obtidas. (vide
tabela 8.3 e figura 8.4). Tabela 8.3 Categorias de ações para a população masculina entrevistada
HOMENS - CATEGORIAS DE AÇÕES %
Socorro 37,91 Combate 23,70 Evacuação 24,65 Outros 13,74 TOTAL 100
.
158 .
010203040
PERCENTUAL
Socorro Combate Evacuação Outros
AÇÕES
HOMENS- CATEGORIAS DE AÇÕES
Socorro
Combate
Evacuação
Outros
Figura 8.4 Categorias de ações para a população masculina entrevistada no Bairro do Recife
Para as mulheres, entre as categorias de ações tomadas também predominaram as
ações de socorro com 38.79% das respostas, seguidas por ações de evacuação, com 29.74%
das respostas e as ações de combate ao incêndio representaram um total de 18.10% das
respostas obtidas. (vide tabela 8.4 e figura 8.5)
Tabela 8.4 Categoria de ações para a população masculina entrevistada
0
10
20
30
40
PERCENTUAL
Socorro Combate Evacuação Outros
AÇÕES
MULHERES - CATEGORIAS DE AÇÕES
Socorro
Combate
Evacuação
Outros
Figura 8.5 Categorias de ações para a população feminina entrevistada no Bairro do Recife
Comparando-se os grupos de ações dos homens e das mulheres entrevistados
confirma-se o comportamento mais ativo dos homens no que se relaciona ao combate ao
incêndio com 23.7% contra 18.10% das mulheres. Na categoria de ação “socorro” a diferença
MULHERES - CATEGORIAS DE AÇÕES %
Socorro 38,79 Combate 18,1 Evacuação 29,74 Outros 13,36 TOTAL 99,99
.
159 .
entre as respostas obtidas para os homens e mulheres é pequena com 38.79% das ações das
mulheres e 37.91% das ações dos homens. No que se refere à categoria de ação “evacuação”
as mulheres apresentam 29.74% das respostas contra 24.65% das respostas masculinas.
8.2 A pesquisa no Bairro do Recife e o comportamento de resposta humana em estudo americano e britânico.
WOOD (1972) realizou um estudo relativo ao comportamento de resposta humana em
situações de incêndio que envolveu 952 incidentes e 2.193 indivíduos entrevistados
pessoalmente pelo corpo de bombeiros nos locais da ocorrência na Grã Bretanha.
Para a realização deste estudo os entrevistados eram indagados sobre qual tinha sido a
primeira ação tomada no momento do incêndio, ou seja, considerava-se apenas a primeira
ação citada pelos entrevistados. O estudo demonstrou que a maioria dos comportamentos de
respostas dos ocupantes poderia ser categorizada como envolvendo a evacuação da
edificação, tentativa de combater o incêndio, notificação a outras pessoas e à brigada de
incêndio.
BRYAN (1977) em seus estudos em ocorrências envolvendo incêndio nos Estados
Unidos encontrou categorias de comportamento de resposta dos ocupantes semelhantes aos
estudos de WOOD (1972). Este estudo envolveu 580 indivíduos entrevistados em 335
incidentes onde o corpo de bombeiros utilizou um questionário estruturado para entrevistar os
ocupantes das edificações no momento da ocorrência. Para a realização de seu estudo,
BRYAN (1977) considerou as três primeiras ações citadas pelos entrevistados, além de
categorizar as respostas de acordo com o gênero (i. e. masculino e feminino).
Os dados obtidos por WOOD (1972) e BRYAN (1977) apresentam uma relação das
primeiras ações tomadas pela população alvo dos estudos no momento de um incêndio, como
pode ser observado na tabela 8.5.
Pode-se observar que os britânicos apresentam um comportamento de resposta mais
ativo do que os americanos no que se refere às ações relacionadas ao combate ao incêndio o
que pode ser confirmado pelo percentual do grupo de ação “combate ao fogo” com 35,5%
contra 24,1% dos americanos (vide tabela 8.6). Os americanos, por sua vez, apresentam
comportamento de resposta mais ativo no que se refere à evacuação da edificação 23,2%
contra 22,4% dos britânicos e ações de socorro 27,1% contra 23,7% dos britânicos.
.
160 .
Tabela 8.5. Primeiras ações para a população britânica (WOOD, 1972) e americana ( BRYAN,1977).
AÇÕES % BRITÂNICO % AMERICANO
Notificar os outros 8.1 15.0
Procurar pelo fogo 12.2 10.1
Acionar o corpo de bombeiros 10.1 9.0
Vestir-se 2.2 8.1
Deixar a edificação 8.0 7.6
Sair com a família 5.4 7.6
Combater o incêndio 14.9 10.4
Abandonar a área 1.8 4.3
Nada 2.1 2.7
Mandar outra pessoa acionar corpo de
bombeiros
2.8 2.2
Pegar objetos pessoais 1.2 2.1
Sair da área afetada 5.6 2.1
Remover o combustível 1.2 1.7
Entrar na edificação 0.1 1.6
Tentar sair 1.6 1.6
Fechar a porta da área afetada 3.1 1.0
Acionar o alarme de incêndio 2.7 0.9
Desligar equipamentos elétricos 4.1 0.9
N = 18 2.193 580
Tabela 8.6. Grupos de ação para a população britânica e americana.
GRUPO DE AÇÃO %
BRITÂNICO
% AMERICANO
Socorro 23.7% 27.1%
Combate ao fogo 35.5% 24.1%
Evacuação 22.4% 23.2%
Outros 5.6% 14.5%
.
161 .
Observa-se uma similaridade quanto às respostas obtidas no que se refere às ações
tomadas pelos ocupantes nos estudos de WOOD (1972) e BRYAN (1977) com as respostas
obtidas nas entrevistas no Bairro do Recife.
A dificuldade de ordem técnica para o acompanhamento in loco das ações de combate
do corpo de bombeiros do Estado de Pernambuco não possibilitou a realização de uma
catalogação do que as pessoas envolvidas em incêndios relatam sobre as ações tomadas e a
seqüência em que ocorrem durante o incêndio, semelhante aos estudos realizados por
BRYAN (1977) e WOOD (1972). Portanto, nas entrevistas realizadas no Bairro do Recife os
usuários imaginavam-se vivenciando uma situação de emergência envolvendo incêndios para
proferirem as suas respostas. Apesar dos cenários diferirem, visto que os estudos americano e
britânico foram realizados com pessoas envolvidas em incêndios, acredita-se que os dados
obtidos nas entrevistas no Bairro do Recife são significativos no contexto do trabalho.
Para a realização da comparação das entrevistas realizadas no Bairro do Recife com os
estudos britânico e americano tabularam-se as três primeiras ações citadas pelos entrevistados
e que estão relacionadas com o comportamento humano durante uma situação de emergência
envolvendo incêndios assim como a categorização das respostas de acordo com o gênero,
semelhante ao estudo americano.
Puderam-se verificar nas respostas obtidas nas entrevistas no Bairro do Recife ações
semelhantes às observadas nos estudos americano e britânico demonstradas na tabela 8.7.
Tabela 8.7. Primeira ação tomada pela população britânica, americana e do Bairro do Recife
AÇÕES %
BRITÂNICO
%
AMERICANO
% Bairro
do Recife
Notificar os outros 8.1 15.0 X
Procurar pelo fogo 12.2 10.1 X
Acionar o corpo de bombeiros 10.1 9.0 31.3
Vestir-se 2.2 8.1 X
Deixar a edificação 8.0 7.6 29.4
Sair com a família 5.4 7.6 X
Combater o incêndio 14.9 10.4 5.9
Abandonar a área 1.8 4.3 X
Nada 2.1 2.7 X
Mandar outra pessoa acionar o corpo de 2.8 2.2 X
.
162 .
bombeiros
Pegar objetos pessoais 1.2 2.1 2.9
Sair da área afetada 5.6 2.1 X
Remover o combustível 1.2 1.7 X
Entrar na edificação 0.1 1.6 X
Tentar sair 1.6 1.6 X
Fechar a porta da área afetada 3.1 1.0 X
Acionar o alarme de incêndio 2.7 0.9 X
Desligar equipamentos elétricos 4.1 0.9 X
Procurar extintor X X 8.8
Ajudar os outros X X 4.9
Não sabe que atitude tomar X X 3.9
Correr para a escada X X 4.9
Pedir ajuda X X 0.9
Manter a calma X X 0.9
Procurar local seguro X X 0.9
Sem resposta X X 4.9
N = 18 2.193 580 102
No que se refere aos grupos de ações, os entrevistados do Bairro do Recife demonstram
um comportamento mais ativo nas ações de socorro e evacuação das edificações. Nas ações
de combate ao fogo os britânicos apresentam um comportamento mais ativo com 35,5% das
ações tomadas (vide tabela 8.8 e figura 8.6).
Tabela 8.8. Grupos de ações para a população britânica, americana e do Bairro do Recife.
GRUPO DE AÇÃO
% BRITÂNICO % AMERICANO % BAIRRO DO
RECIFE
Socorro 23.7% 27.1% 37.1
Combate ao fogo 35.5% 24.1% 14.7
Evacuação 22.4% 23.2% 35.2
Outros 5.6% 14.5% 12.6
.
163 .
Um aspecto interessante das ações dos participantes envolvidos no estudo de BRYAN
(1977) é a modificação entre a primeira, segunda e terceira ações a serem tomadas no
momento de um incêndio.
Figura 8.6 Categorias de ações para os estudos britânico, americano e do Bairro do Recife.
Observa-se que uma ação como “notificar os outros” aparece com um percentual de
15% como primeira ação a ser tomada e se reduz para 5.8% como a terceira ação a ser
tomada. Uma redução de freqüência similar pode ser observada na ação de “procurar pelo
fogo”, envolvida numa redução de 10% como primeira ação para apenas 0.8% como terceira
ação representando uma tendência de redução da freqüência das ações de acordo com o
desenvolvimento do incêndio. Por outro lado, ocorre um aumento na freqüência de 1ª ação
para 3ª ação em como “deixar a edificação” e “combater o incêndio” (vide tabela 8.9).
Tabela 8.9. Primeira, segunda e terceira ações para a população americana estudada (BRYAN,1977).
AÇÕES % 1ª AÇÃO % 2ª AÇÃO % 3ª AÇÃO
Notificar os outros 15.0 9.6 5.8
Procurar pelo fogo 10.1 2.4 0.8
Acionar Corpo de Bombeiros 9.0 14.6 12.7
Vestir-se 8.1 1.8 0.3
Abandonar a edificação 7.6 20.9 35.9
Sair com a família 7.6 5.9 1.4
Combater 4.6 5.7 11.5
Tentar extinguir 4.6 5.3 1.6
Deixar a área 4.3 2.8 1.1
05
10152025303540
% DA POPULAÇÃO ESTUDADA
SOCORRO COMBATE EVACUAÇÃO OUTROS
AÇÕES
GRUPOS DE AÇÕES - 03 ESTUDOS
% BRITÂNICO
% AMERICANO
% BAIRRO DORECIFE
.
164 .
Levantar-se 3.1 0 0
Nada 2.7 0 0
Mandar outra pessoa acionar o Corpo
de Bombeiros
2.2 4.0 4.1
Pegar objetos pessoais 2.1 3.8 0.8
Sair da área afetada 2.1 1.0 0
Remover combustível 1.7 1.0 1.1
Entrar na edificação 1.6 0.8 1.1
Tentar fugir 1.6 2.4 0.5
Acionar alarme 1.6 1.8 1.1
Telefonar para outros 1.2 0.6 1.1
Tentar extinguir 1.2 1.8 1.9
Fechar a porta da área afetada 1.0 0.2 0.3
Procurar alarme 0.9 0.6 0.5
Desligar eletrodomésticos 0.9 0.6 0.3
Procurar animais 0.9 1.4 0.5
Esperar o Corpo de Bombeiros chegar 0 1.0 3.6
Ir para a varanda 0.2 0.8 2.7
Ser removido pelo Corpo de Bombeiros 0 0 1.6
Abrir portas e janelas 0.2 0.4 1.1
Outros 3.9 8.8 6.6
N=29 100.0 100.0 100.0
Tabela 8.10. Primeira, segunda e terceira ações para a população do Bairro do Recife estudada.
BAIRRO DO RECIFE
AÇÕES % 1ª AÇÃO % 2ª AÇÃO % 3ª AÇÃO
Acionar Corpo de Bombeiros 31,37 19,61 23,53
Sair da edificação/fugir 29,41 22,55 19,61
Usar extintor 8,82 8,82 7,84
Correr para a escada 4,90 3,92 2,94
Ajudar pessoas 4,90 15,69 4,90
Tentar combater 5,88 2,94 4,90
.
165 .
Salvar o que for possível 2,94 4,90 2,94
Não sabe como agir 3,92 1,96 4,90
Manter a calma 0,98 0,98 1,96
Observar/aguardar 0,00 2,94 2,94
Sem resposta 4,90 7,84 12,75
Ver o que está ocorrendo 0,00 0,98 0,00
Proteger-se 0,00 0,98 0,98
Avisar os outros 0,00 5,88 2,94
Procurar local seguro 0,98 0,00 0,00
Livrar-se do botijão de gás 0,00 0,00 0,98
Pedir socorro 0,98 0,00 2,94
Abrir janelas 0,00 0,00 1,96
Ver se é área de risco 0,00 0,00 0,98
Outros 0,00 0,00 0,00
N=29 100,00 100,00 100,00
TOTAL 100 100 100
8.2.1 Comportamento de acordo com o gênero
No que se refere ao comportamento de acordo com o gênero BRYAN (1977) observou
que existe uma diferença entre as primeiras ações dos ocupantes dos sexos masculino e
feminino. O comportamento dos participantes variou relativamente de acordo com o gênero.
Os homens apresentaram um comportamento predominantemente mais ativo na tentativa de
combater o incêndio e as mulheres estavam mais concentradas em ajudar outras pessoas na
evacuação da edificação.
Segundo este estudo, ocorrem diferenças significativas entre os homens e as mulheres
nas ações de procurar pelo fogo, acionar corpo de bombeiros, sair com a família e pegar
extintores, conforme apresentado na tabela 8.11.
.
166 .
Tabela 8.11 Primeiras ações classificadas pelo gênero da população americana estudada(BRYAN,1977)
PRIMEIRA AÇÃO % MASCULINO % FEMININO
Notificar os outros 16.3 13.8
Procurar o fogo 14.9 6.3
Acionar corpo de bombeiros 6.1 11.4
Vestir-se 5.8 10.1
Deixar a edificação 4.2 10.4
Sair com a família 3.4 11.0
Combater o fogo 5.8 3.8
Pegar extintores 6.9 2.8
Abandonar a área 4.6 4.1
Acordar 3.8 2.5
Mandar outra pessoa acionar corpo de
bombeiros
3.4 1.3
Pegar objetos pessoais 1.5 2.5
Deixar a área afetada 1.9 2.2
Remover combustível 1.1 2.2
Entrar na edificação 2.3 0.9
Tentar sair da edificação 1.5 1.6
Procurar o alarme de incêndio 1.1 1.9
Telefonar para os parentes 0.8 1.6
Tentar extinguir 1.9 0.6
Fechar a porta da área afetada 0.8 1.3
Acionar o alarme 1.1 0.6
Desligar equipamentos elétricos 0.8 0.9
Procurar animal de estimação 0.8 0.9
Outros 6.5 2.5
N = 24 262 318
De acordo com os dados apresentados no estudo de BRYAN (1977), entre os homens
predominam as atividades como combater o fogo, 14,9% contra 6,3% das mulheres. 6,9% dos
homens buscam utilizar o extintor de incêndio contra 2,8% das mulheres. A principal
diferença entre as ações dos homens e mulheres encontra-se nas atividades socorro e
.
167 .
evacuação, visto que 10,4% das mulheres têm como primeira ação deixar a edificação contra
4,2% dos homens. A influência do papel cultural das mulheres é provavelmente explicitada
na preocupação com os outros membros da família 11,0% contra 3,4% dos homens que
tiveram este comportamento como resposta.
Quando se consideram os grupos de ações entre os homens, predomina as atividades de
combate ao fogo com 32,2% do total de respostas e entre as mulheres predominam as ações
de socorro e evacuação da edificação como pode ser observado na tabela 8.12 a seguir.
Tabela 8.12. Grupos de ação por gênero para a população americana.
GRUPO DE AÇÃO % MASCULINO % FEMININO
Socorro 28.0% 29.0%
Combate ao fogo 32.2% 18.8%
Evacuação 15.6% 29.3%
Outros 21.5% 21.0%
Tomando como base o estudo de BRYAN (1977), compararam-se os dados obtidos nas
entrevistas realizadas no Bairro do Recife a fim de observar se tais comportamentos seriam
também verificados na referida população.Constatou-se, como pode ser observado na tabela
8.13, que os homens entrevistados possuem um comportamento de resposta semelhante ao
observado no estudo americano. Tal comportamento é caracterizado por ações relacionadas ao
combate ao incêndio e as ações das mulheres são mais relacionadas com a evacuação da
edificação.
Tabela 8.13 Primeiras ações classificadas pelo gênero da população americana e do Bairro do Recife.
PRIMEIRA AÇÃO EUA
% MASC.
EUA
% FEM.
Bairro do
Recife
% MASC.
Bairro do
Recife
% FEM.
Notificar os outros 16.3 13.8 X X
Procurar o fogo 14.9 6.3 X X
Acionar corpo de bombeiros 6.1 11.4 31.1 31.6
Vestir-se 5.8 10.1 X X
Deixar a edificação 4.2 10.4 20.0 36.8
Sair com a família 3.4 11.0 X X
.
168 .
Combater o fogo 5.8 3.8 6.7 5.3
Pegar extintores 6.9 2.8 15.6 3.5
Abandonar a área 4.6 4.1 X X
Acordar 3.8 2.5 X X
Mandar outra pessoa acionar
corpo de bombeiros
3.4 1.3 X X
Pegar objetos pessoais 1.5 2.5 4.4 1.7
Deixar a área afetada 1.9 2.2 X X
Remover combustível 1.1 2.2 X X
Entrar na edificação 2.3 0.9 X X
Tentar sair da edificação 1.5 1.6 X X
Procurar o alarme de incêndio 1.1 1.9 X X
Telefonar para os parentes 0.8 1.6 X X
Tentar extinguir 1.9 0.6 X X
Fechar a porta da área afetada 0.8 1.3 X X
Acionar o alarme 1.1 0.6 X X
Desligar equipamentos
elétricos
0.8 0.9 X X
Procurar animal de estimação 0.8 0.9 X X
Outros 6.5 2.5 X X
Ajudar os outros X X 8.9 1.7
Não sabe que atitude tomar X X 2.2 5.3
Correr para a escada X X 8.9 1.7
Pedir ajuda X X X 1.7
Manter a calma X X 2.2 X
Procurar local seguro X X X 1.7
Sem resposta X X X 8.7
N = 31 262 318 45 57
X : Ação não verificada
Comparando-se os grupos de ações da população masculina dos estudos americano e
do Bairro do Recife, verifica-se que as ações de socorro e evacuação das edificações
.
169 .
prevalecem entre os entrevistados do Bairro do Recife (vide figura 8.7). Porém, as ações de
combate ao fogo prevalecem na população americana estudada.
Figura 8.7 Categorias de ações para a população masculina dos estudos americano e do Bairro do Recife.
Com relação à população feminina existe uma pequena diferença entre as ações de
socorro e evacuação, sendo as entrevistadas do Bairro do Recife mais pró-ativas nestes
aspectos e as mulheres americanas mais ativas nas ações de combate ao fogo (vide figura 8.8).
Figura 8.8 Categorias de ações para a população feminina dos estudos americano e do Bairro do Recife.
Nos estudos realizados por BRYAN (1977) verificou-se ainda uma significativa
diferença entre o comportamento de resposta entre homens e mulheres no que se refere às
ações “procurar extintores” e “combater o incêndio”. Do total de 285 indivíduos
0
10
20
30
40
50
% FEMININO
SOCORRO COMBATE EVACUAÇÃO OUTROS
AÇÕES
GRUPOS DE AÇÕES - FEMININO
% EUA FEM% Bairro Recife EM
0
5
10
15
20
25
30
35
40
% MASCULINO
SOCORRO COMBATE EVACUAÇÃO OUTROS
AÇÕES
GRUPOS DE AÇÕES - MASCULINO
% EUA MASC
% Bairro Recife MASC
.
170 .
identificaram-se 06 ações definidas como comportamento de resposta ao fogo.
Aproximadamente 9% das mulheres tiveram a reação de procurar extintores contra 17% dos
homens. Por sua vez, 26% dos homens tiveram a reação de combater o fogo quando eles se
tornaram conscientes do incidente em oposição a 10% das mulheres, conforme apresentado na
tabela 8.14 abaixo.
Tabela 8.14 Ações de resposta ao fogo para a população americana estudada.
AÇÃO - RESPOSTA AO
FOGO
% MASCULINO % FEMININO
Procurar pelo fogo 17.2 9.1
Procurar extintores 15.6 6.0
Combater o incêndio 25.6 9.7
Remover o combustível 3.4 3.1
Tentar extinguir 5.3 2.8
Deixar área afetada 3.1 2.8
N= 184 101
Num total de 252 indivíduos identificaram-se 04 ações relativas à notificação do corpo
de bombeiros. A população feminina, predominantemente, notificou o Corpo de Bombeiros
antes de iniciar o comportamento de resposta ao fogo, ação esta relacionada ao tempo de
demora apresentado anteriormente na figura 8.2. Aproximadamente 33% das mulheres e 25%
dos homens reagiram ao incêndio inicialmente notificando o corpo de bombeiros, conforme
indicado na tabela 8.15.
Tabela 8.15 Ações de notificação do corpo de bombeiros para a população americana estudada
AÇÃO – NOTIFICAÇÃO DO CORPO DE BOMBEIROS
% MASCULINO % FEMININO
Acionar Corpo de Bombeiros 25.6 33.0
Mandar outra pessoa acionar
Corpo de Bombeiros
9.2 7.5
Procurar alarme de incêndio 3.8 3.8
Acionar alarme de incêndio 1.9 1.6
N= 106 146
.
171 .
Nas entrevistas realizadas no Bairro do Recife também foi possível observar algumas
ações relacionadas à resposta ao fogo. Entre os homens predominou a ação de combater o
incêndio com 6.7 % contra 5.3 % das mulheres. Com relação a deixar a área afetada, 36.80 %
das mulheres apresentaram este tipo de ação, contra 20.0% dos homens, conforme
apresentado na tabela 8.16 abaixo.
Tabela 8.16 Ações de resposta ao fogo para a população do Bairro do Bairro do Recife.
AÇÃO - RESPOSTA AO
FOGO
% MASCULINO % FEMININO
Procurar pelo fogo X X
Procurar extintores 15.6 3.5
Combater o incêndio 6.7 5.3
Remover combustível X X
Tentar extinguir X X
Deixar área afetada 20.0 36.8
N= 45 57
Quanto às ações relacionadas à notificação do corpo de bombeiros não se verificou um
comportamento de resposta semelhante, visto que apenas 01 das 04 ações pode ser
identificada. Isto pode se dever ao fato de as edificações da Rua do Bom Jesus, onde os
usuários foram entrevistados, não possuírem alarme de incêndio, o que talvez tenha se
refletido nas respostas onde não se obteve menção a ações de acionar ou procurar alarme de
incêndio (vide tabela 8.17).
Tabela 8.17 Ações de notificação do corpo de bombeiros para a população do Bairro do Recife.
AÇÃO – NOTIFICAÇÃO DO CORPO DE BOMBEIROS
% MASCULINO % FEMININO
Acionar Corpo de Bombeiros 31.1 31.6 Mandar outra pessoa acionar Corpo de Bombeiros
X X
Procurar alarme de incêndio X X Acionar alarme de incêndio X X N= 45 57
.
172 .
Pelo exposto, verifica-se que os dados obtidos nas entrevistas realizadas no Bairro do
Recife confirmam os dados obtidos nos estudos realizados por BRYAN (1977) e WOOD
(1972).
Estas informações podem ser úteis em um programa de gerenciamento de riscos,
sobretudo, nas etapas de identificação das características da edificação ou espaço urbano e na
etapa de caracterização do risco que estão relacionadas à percepção do risco e em parte ao
comportamento de resposta humana no momento de um incêndio. Além disso, podem
também direcionar as informações a serem dadas, por exemplo, em treinamentos para
situações envolvendo incêndios, na formação de brigadas de incêndio, etc.
As diretrizes para um programa de gerenciamento dos riscos de incêndios em espaços
urbanos históricos serão alvo do próximo capítulo.
.
173 .
9. GERENCIAMENTO DE RISCOS DE INCÊNDIO
O gerenciamento de riscos pode significar coisas diferentes para pessoas diferentes. O
gerenciamento de riscos de uma companhia de seguros, de um corretor de investimentos, do
presidente de uma companhia industrial possui diferentes significados, funções e maneiras de
lidar com a incerteza.
O gerenciamento de riscos pode ser definido como a tomada de decisão levando em
consideração as incertezas. Uma das partes do gerenciamento é entender o que é o risco e
outra é entender o que fazer com o risco.
Segundo DUARTE (2001) risco pode ser definido como uma ou mais condições de uma
variável com o potencial necessário para causar dano. Estes danos podem ser entendidos
como lesões às pessoas, danos a equipamentos ou estruturas, perdas de material em processo,
ou redução da capacidade de desempenho de uma função pré-determinada. Havendo um risco,
persistem as possibilidades de efeitos adversos.
Para alguns, o gerenciamento de riscos de incêndio é visto exclusivamente como uma
decisão envolvendo que tipo de seguro de incêndio comprar. Outros preferem ignorar o risco,
ou seja, a decisão é não fazer nada, na crença de que um incêndio nunca vai ocorrer, e, se o
incidente ocorrer, as decisões sobre o que se deve fazer serão tomadas durante o evento.
Outras pessoas tratam o gerenciamento de riscos com seriedade, buscando o trabalho de
especialistas na área.
Segundo FITZGERALD (2003), o gerenciamento de riscos de incêndios pode ser visto
como a maneira de estruturação de um processo que integra a competência técnica
especializada na área de incêndios com o gerenciamento dos negócios/empreendimento.Seu
objetivo é tomar a melhor decisão de forma mais rápida, fácil e econômica.
Como ferramenta, o gerenciamento de riscos tem sido amplamente utilizado por
inúmeros segmentos como condição essencial para a sobrevivência dos negócios. O grande
desafio torna-se a apropriação de uma ferramenta que gerencie o risco, mas que seja versátil
para atender às mudanças impostas por novas tecnologias. Neste sentido, entende-se que a
metodologia proposta por FITZGERALD (2001) para o gerenciamento de riscos de incêndios
em edificações baseado no desempenho, atende a este objetivo.
Segundo a metodologia desenvolvida por FITZGERALD (2001) o processo de
gerenciamento de riscos de incêndios em edificações baseado no desempenho é descrito na
figura 9.1 a seguir.
.
174 .
Figura 9.1 Modelo para o gerenciamento de riscos de incêndio em edificações
FITZGERALD (2001)
Estas etapas serão definidas a seguir:
1. Entendimento do problema
O aspecto mais importante de qualquer programa de gerenciamento de riscos é entender
como funciona a edificação e os trabalhos de operação durante a sua utilização normal. Deve
ser somado ao entendimento funcional da edificação, a identificação do que está em risco e
quais os objetivos do gerenciamento.
2. Identificação das características da edificação
Esta etapa define a edificação que vai servir de base para a avaliação de desempenho e é
associada à categorização do risco. Esta atividade fornece uma relação entre o entendimento
do problema e o entendimento do desempenho da edificação. Define as defesas contra
incêndio da edificação, as características que influenciam o desempenho destas defesas, e a
caracterização de risco associada.
Entendimentodo
Problema
Identificaçãodas Características
da Edificação
Avaliaçãode
Desempenho
Caracterizaçãodos
RiscosDesenvolvimentode um Programa
de Gerenciamento de Riscos
Avaliação daPrevenção do
Estabelecimento da Chama
Planejamentopara
Emergência
Estruturação daAnálise de
Decisão
Decisão
ROBERT FITZGERALD, 2001
GERENCIAMENTO DE RISCOS DE INCÊNDIOS BASEADO NO
DESEMPENHO
GERENCIAMENTO DE RISCOS GERENCIAMENTO DE RISCOS DE INCÊNDIOS BASEADO NO DE INCÊNDIOS BASEADO NO
DESEMPENHODESEMPENHO
Entendimentodo
Problema
Identificaçãodas Características
da Edificação
Avaliaçãode
Desempenho
Caracterizaçãodos
RiscosDesenvolvimentode um Programa
de Gerenciamento de Riscos
Avaliação daPrevenção do
Estabelecimento da Chama
Planejamentopara
Emergência
Estruturação daAnálise de
Decisão
Decisão
ROBERT FITZGERALD, 2001
GERENCIAMENTO DE RISCOS DE INCÊNDIOS BASEADO NO
DESEMPENHO
GERENCIAMENTO DE RISCOS GERENCIAMENTO DE RISCOS DE INCÊNDIOS BASEADO NO DE INCÊNDIOS BASEADO NO
DESEMPENHODESEMPENHO
.
175 .
3. Avaliação de desempenho
A avaliação do desenvolvimento da chama fornece um bom entendimento relativo ao
tamanho do incêndio e das condições que podem ser esperadas, dado que ocorra um incêndio
na edificação.
O conhecimento de como a edificação vai responder ao fogo torna-se fundamental para
o gerenciamento dos riscos. O desempenho da edificação é avaliado pelo movimento da
fumaça, calor e comportamento estrutural da edificação.
4. Caracterização do risco
Depois do entendimento do desempenho da edificação, o risco deve ser caracterizado. O
risco pode ser expresso em termos da segurança dos ocupantes, ou seja, o tempo de evacuação
que a edificação fornecerá aos seus ocupantes antes que atinja condições críticas. O risco
também pode ser expresso em termos de danos à edificação. O impacto às edificações
vizinhas e ao meio-ambiente também pode ser descrito.
5. Desenvolvimento de um programa de gerenciamento.
O conhecimento das quatro etapas anteriores é o elemento fundamental de quase toda
avaliação de desempenho. Se o objetivo é descrever o desempenho da edificação na
perspectiva de aprovação de um código prescritivo o processo de avaliação pode, nesta fase,
ser considerado completo. A decisão de aceitar uma regulamentação do ponto de vista de
desempenho pode ser feita neste momento. Entretanto, o conhecimento adquirido pode ser
utilizado como base para outras aplicações.
Neste estágio do processo duas direções podem ser tomadas:
1) Completar o programa de gerenciamento de riscos para a edificação ou corporação.
2) Focar em um ou mais objetivos, como o desenvolvimento de planos de emergência
para incêndios em grandes operações.
6. Avaliação da prevenção do estabelecimento da chama
Envolve duas partes. Uma é a tradicional análise de prevenção da ignição, onde o
objetivo é evitar a primeira ignição pela avaliação da capacidade das operações da edificação
separarem as fontes de calor dos materiais altamente combustíveis.
A segunda parte da prevenção foca no processo de aparecimento da primeira chama,
ainda frágil, para o tamanho que é necessário para que se dê o estabelecimento da chama.
.
176 .
7. Planejamento para a emergência
É baseado no entendimento das funções e operações da edificação, o sistema de defesa
do incêndio e as associações necessárias no empreendimento. Os planos podem ser
organizados em três etapas de atividades que podem ser instituídas antes, durante e depois da
emergência.
8. Estruturação e análise da decisão
As alternativas de ação são estruturadas de forma que permitam que o impacto da
decisão seja comparado com maior entendimento. As alternativas são normalmente agrupadas
dentro de planos integrados de ação.
9. Tomada de decisão
A escolha pode ser fazer nada, selecionar uma alternativa ou investigar os efeitos de
outras mudanças. A decisão é embasada no gerenciamento e no claro entendimento do
desempenho da edificação que era originalmente definido e o custo e eficiência das
alternativas que estão agrupadas na estruturação de análise da decisão.
9.1 Metodologia para o gerenciamento de riscos de incêndios em espaços urbanos históricos Em virtude da problemática envolvendo a segurança contra incêndio em espaços
urbanos históricos, analisada no capítulo 05, e da vulnerabilidade destas áreas ao risco de
incêndio, torna-se evidente a necessidade de gerenciar estes riscos. A ocorrência de incêndios
em espaços urbanos históricos traz consigo uma série de conseqüências negativas e perdas
associadas, devido ao seu grande poder destrutivo, como: a perda do patrimônio histórico,
perda da vida humana, prejuízo financeiro, impacto negativo na indústria do turismo e
competitividade para atrair novos investimentos além do impacto no meio-ambiente.
Assim, tomando-se como base a metodologia para o gerenciamento de riscos de
incêndios em edificações desenvolvida por FITZGERALD (2001), adaptou-se suas etapas,
tendo como foco o espaço urbano histórico do Bairro do Recife.
As figuras 9.4 e 9.5 mostram as etapas propostas da metodologia para o gerenciamento
de riscos de incêndios em espaços urbanos históricos. Esta metodologia visa o
desenvolvimento de uma nova maneira de pensar sobre o gerenciamento dos riscos de
incêndios, que se expande além dos limites da edificação e passa a avaliar o desempenho de
.
177 .
um espaço urbano histórico. Esta nova maneira de pensar sobre o gerenciamento de riscos
permitirá:
• entender o problema
• examinar os detalhes
• desenvolver e avaliar alternativas
• reconhecer as conseqüências das decisões
A metodologia é composta por sete etapas. São elas: entendimento do problema,
identificação das características do espaço urbano, avaliação do desempenho do espaço
urbano, caracterização dos impactos, planejamento da prevenção do estabelecimento da
chama, estruturação da análise da decisão e decisão.
As informações geradas em uma etapa serão úteis para a etapa seguinte fazendo com
que o próprio processo gere conhecimento.
1ª Etapa: entendimento do problema.
Fornecerá subsídios para as etapas de avaliação do desempenho e caracterização dos
riscos. Nesta etapa deve-se identificar o que está em risco e o que é aceitável, no que se refere
a um incêndio no espaço urbano histórico, além dos impactos decorrentes de um evento desta
natureza. As fontes de dados nesta etapa podem ser: os usuários da área analisada, o Poder
Público e o corpo técnico/pesquisadores envolvidos.
As indicações do que está em risco e dos impactos no espaço urbano, apresentadas na
figura 9.6, foram obtidas através da pesquisa (vide capítulo 07) realizada no Bairro do Recife,
ou seja, representa os impactos percebidos pelos ocupantes da área objeto de estudo (quadra
nº 156).
As operações funcionais do espaço urbano referem-se ao entendimento de seu
funcionamento, com relação aos fluxos existentes e os tipos de ocupação encontrados no
espaço urbano. Nesta etapa, deve-se identificar ainda, os responsáveis pelo espaço urbano.
Com relação ao entendimento do problema que envolve a segurança contra incêndios
em espaços urbanos históricos, pode-se, em linhas gerais, estabelecer uma relação entre o
comportamento do incêndio em ambiente fechado (vide seção 4.1) e o comportamento do
incêndio sob o ponto de vista do espaço urbano, conforme apresentado nas figuras 9.2 e 9.3 a
seguir.
.
178 .
Figura 9.2 Comportamento do incêndio em um ambiente fechado.Adaptado de FITZGERALD (2001)
Figura 9.3 Comportamento do incêndio no espaço urbano
Te m
p er a
tura
( °C
) ou
Tax
a d e
lib e
raç ã
o d e
c a
lor -
Q ( k
w)
IG
EC
FLASHOVER
Tempo
CRESCIMENTO DESENVOLVIMENTO DECAIMENTO
Q = α . t2
ENVOLVIMENTO DO AMBIENTE EM CHAMAS
EDIFICAÇÃOEDIFICAÇÃO
Tem
per a
tura
( °C
) ou
Tax
a d e
lib e
raç ã
o d e
c a
lor -
Q ( k
w)
IG
EC
FLASHOVER
Tempo
CRESCIMENTO DESENVOLVIMENTO DECAIMENTO
Q = α . t2
Tem
per a
tura
( °C
) ou
Tax
a d e
lib e
raç ã
o d e
c a
lor -
Q ( k
w)
IG
EC
FLASHOVER
Tempo
CRESCIMENTO DESENVOLVIMENTO DECAIMENTO
Q = α . t2
ENVOLVIMENTO DO AMBIENTE EM CHAMAS
EDIFICAÇÃOEDIFICAÇÃO
Tem
pera
tur a
( °C
) ou
Tax
a de
lib e
raç ã
o de
c a
lor -
Q ( k
w)
IG
EC
FLASHOVER
Tempo
CRESCIMENTODESENVOLVIMENTO DECAIMENTO
Q = α . t 2
INCÊNDIO NA EDIFICAÇÃO DE ORIGEM
(EDIFICAÇÃO INCENDIADA)
PROPAGAÇÃO PARA OUTRAS EDIFICAÇÕES
ENVOLVIMENTO DA QUADRA EM CHAMAS
ESPAÇO URBANOESPAÇO URBANO
Tem
pera
tur a
( °C
) ou
Tax
a de
lib e
raç ã
o de
c a
lor -
Q ( k
w)
IG
EC
FLASHOVER
Tempo
CRESCIMENTODESENVOLVIMENTO DECAIMENTO
Q = α . t 2
INCÊNDIO NA EDIFICAÇÃO DE ORIGEM
(EDIFICAÇÃO INCENDIADA)
PROPAGAÇÃO PARA OUTRAS EDIFICAÇÕES
ENVOLVIMENTO DA QUADRA EM CHAMAS
ESPAÇO URBANOESPAÇO URBANO
.
179 .
Tratando-se do comportamento do incêndio no espaço urbano (vide figura 9.3), pode-
se estabelecer uma relação de que a “ignição” corresponde a um incêndio na edificação de
origem, ou seja, uma edificação completamente incendiada. O “estabelecimento da chama”
corresponde ao momento em que ocorre a propagação das chamas para outras edificações e o
“flashover”, do ponto de vista do espaço urbano, é o momento em que uma ou mais quadras
são completamente envolvidas em chamas.
Compreende-se assim, que a segurança da área urbana é função da segurança de cada
prédio, daí decorre a importância da segurança contra incêndios da edificação como meio de
garantir a integridade de todo o espaço urbano, das pessoas e dos negócios ali desenvolvidos.
2ª Etapa: identificação das características do espaço urbano
Apresenta as características do espaço urbano que são relevantes para a avaliação de
desempenho e caracterização dos impactos (vide figura 9.7).
Nesta fase são identificados os condicionantes do espaço urbano que podem contribuir
para a severidade de um incêndio. São eles: condições de manutenção, ocupação,
implantação, legislação, rede de hidrantes, rede elétrica e características construtivas. Quanto
às responsabilidades, deve-se detalhar as responsabilidades dos setores público e privado
identificados na 1ª etapa. As responsabilidades do setor público no que se refere à segurança
contra incêndios estão relacionadas a:
- Controle das vias de acesso e obstáculos da arquitetura: deve-se garantir a não
obstrução das vias de acesso em área históricas, sobretudo, pelo comércio
informal, visto que na ocorrência de um incêndio este fator pode constituir-se
num obstáculo à extinção do incêndio pelo corpo de bombeiros. Os obstáculos
da arquitetura podem ser representados por mobiliários urbanos que mal
posicionados podem também interferir na ação do corpo de bombeiros.
- Manutenção da rede de hidrantes: para que esteja sempre em perfeitas condições
para utilização pelo corpo de bombeiros, assim como a provisão de água pela
companhia de abastecimento, mesmo em épocas de racionamento.
- Ao corpo de bombeiros deve ser dada a provisão de equipamentos adequados
para combate.
Assim, esta etapa fornece informações relativas às características do espaço urbano
que podem interferir em seu desempenho durante um incêndio e seus respectivos sistemas de
prevenção e combate.
.
180 .
3ª Etapa: avaliação de desempenho
Esta etapa fornece conhecimento sobre o incêndio através da elaboração de possíveis
cenários e análise de suas conseqüências (vide figura 9.8). Para a elaboração dos cenários,
devem ser realizados mapeamentos das áreas de risco no espaço urbano e a identificação das
quadras que apresentam ocupações de maior risco. Deve-se prover um detalhamento sobre os
riscos específicos destas edificações.
Na análise das conseqüências são enfocados os danos estruturais esperados,
provocados pelo calor, assim como, os impactos gerais no espaço urbano.
As barreiras do espaço urbano constituem outro item de análise, através do qual é
possível “contar uma história” do desempenho do espaço urbano no caso de um incêndio, ou
seja, como se daria a propagação do incêndio no espaço urbano. Este fator pode ser melhor
ilustrado, através das camadas de proteção do espaço urbano (vide figura 9.9), evidenciando
que os elementos do espaço urbano devem ser intrinsicamente seguros, ou seja, que numa
condição de funcionamento normal ou em situações de emergência, não devem por em risco
os demais elementos do espaço urbano e sua vizinhança.
4ª Etapa: caracterização dos impactos
Esta etapa identifica os impactos específicos resultantes do incêndio em um espaço
urbano histórico (vide figura 9.10). Os impactos são caracterizados pelo risco que provocam
às pessoas, negócios, paralisações das atividades e meio ambiente.
Pessoas: como a localização do incêndio colocaria em risco a segurança dos ocupantes
das edificações e do espaço urbano?
Negócios: qual seria o risco à continuidade operacional nos negócios adjacentes à
origem do incêndio?
Paralisações do espaço urbano: dado que ocorra um incêndio, que tipo de
paralisação ocorreria, em função da localização do incêndio e do tipo de ocupação existente
nas áreas adjacentes?
Meio ambiente: preocupação com a emissão de poluentes durante o incêndio.
5ª Etapa: planejamento da prevenção do estabelecimento da chama
Nesta etapa, são analisadas as defesas do espaço urbano associadas à prevenção na
edificação e à propagação do incêndio através do espaço urbano.
.
181 .
A prevenção do estabelecimento da chama na edificação pode se dar de duas formas:
através da prevenção da ignição e pela prevenção do estabelecimento da chama (vide seção
4.1).
Quanto à prevenção do estabelecimento da chama no espaço urbano (vide figura 9.11),
deve ser buscado o confinamento do incêndio na edificação de origem, através da garantia da
integridade das barreiras entre edificações geminadas, a separação entre edificações, definição
de parâmetros de ocupação, a fim de evitar que ocupações que façam uso de substâncias
perigosas (explosivas ou altamente combustíveis) sejam instaladas em áreas históricas.
A preparação para a emergência envolve três fases: antes, durante e depois da
emergência. Antes da emergência, deve ser assegurada a prevenção do estabelecimento da
chama assim como a elaboração de planos de contingência e planejamento para a emergência,
visando à tomada de decisão mais rapidamente, dada à ocorrência de uma emergência
envolvendo incêndios.
As atividades realizadas durante a emergência são relacionadas à atuação dos serviços
de emergência e de proteção pública (defesa civil, corpo de bombeiros, polícia militar, entre
outros). As ações a serem tomadas depois da emergência são específicas de cada cenário.
6ª Etapa: estruturação da análise da decisão
Elaboração de alternativas a partir do conhecimento adquirido nas etapas anteriores
devendo levar em consideração aspectos técnicos, financeiros, sociais e legais (vide figura
9.12). Nesta etapa se as alternativas identificadas forem suficientes para a tomada de decisão,
passa-se para a próxima etapa. Porém, se as alternativas forem insuficientes, reinicia-se o
processo a partir do entendimento do problema (vide figura 9.13).
7ª Etapa: decisão
É tomada a decisão, com base no conhecimento adquirido nas etapas precedentes.
.
182 .
Entendimentodo
Problema
Identificação das Características do Espaço Urbano
Avaliaçãode
Desempenh
Caracterização
dos Planejamento daPrevenção do
Estabelecimento da Chama
Estruturação da Análise de
Decisão
Decisão
GGEERREENNCCIIAAMMEENNTTOO DDEE RRIISSCCOOSS DDEE IINNCCÊÊNNDDIIOO EEMM
EESSPPAAÇÇOOSS UURRBBAANNOOSS
HHIISSTTÓÓRRIICCOOSS
Figura 9.4 Metodologia para o gerenciamento de riscos de incêndios em espaços urbanos históricos
.
183 .
Fornece o conhecimento sobre o incêndio
Entendimento do
Problema Identificação
das Características do Espaço Urbano
Avaliação de
Desempenho
Caracterizaçãodos
Impactos Planejamento da Prevenção do
Estabelecimento da Chama
Estruturação da Análise de
Decisão
Decisão
GGEERREENNCCIIAAMMEENNTTOO DDEE RRIISSCCOOSS DDEE
IINNCCÊÊNNDDIIOO EEMM EESSPPAAÇÇOOSS UURRBBAANNOOSS
HHIISSTTÓÓRRIICCOOSS
Descreve como o espaço urbano funciona. Identifica o que está em risco e o que é aceitável Identifica as responsabilidades. Fornece subsídios para o planejamento da prevenção
Características do espaço urbano relevantes para a caracterização dos impactos
Conta uma história sobre os impactos específicos resultantes de incêndios e fornece subsídios para o planejamento da prevenção.
Avaliação das defesas do espaço urbano, associadas a prevenção na edificação e propagação
do incêndio através do espaço urbano. A prevenção na própria edificação abrange a
prevenção da ignição e prevenção do crescimento da chama.
Elaboração de alternativas a partir do conhecimento adquirido nas etapas
anteriores devendo levar em consideração aspéctos técnicos, financeiros,sociais e
legais.
Figura 9.5 – Definição das etapas da metodologia para o gerenciamento de riscos
.
184 .
Entendimentodo
Problema GGEERREENNCCIIAAMMEENNTTOO
DDEE RRIISSCCOOSS DDEE IINNCCÊÊNNDDIIOO
EEMM EESSPPAAÇÇOOSS UURRBBAANNOOSS
HHIISSTTÓÓRRIICCOOSS
OOPPEERRAAÇÇÕÕEESS FFUUNNCCIIOONNAAIISS DDOO EESSPPAAÇÇOO UURRBBAANNOO
OO QQUUEE EESSTTÁÁ EEMM RRIISSCCOO??
PPEESSSSOOAASS
NNEEGGÓÓCCIIOOSS
PPRROOPPRRIIEEDDAADDEESS
PPAATTRRIIMMÔÔNNIIOO HHIISSTTÓÓRRIICCOO
CCOOMMPPEETTIITTIIVVIIDDAADDEE
OCUPAÇÕES
FLUXOS
COMUNICAÇÃO SOBRE O QUE ESTÁ EM RISCO E É ACEITÁVEL
TEMPO ( PROTEÇÃO DAS PESSOAS)
PERDAS ACEITÁVEIS NO ESPAÇO URBANO
PARADAS ACEITÁVEIS NO ESPAÇO URBANO
FORNECERÁ SUBSÍDIOS PARA A AVALIAÇÃO DE DESEMPENHO , CARACTERIZAÇÃO DOS RISCOS E PLANEJAMENTO DA PREVENÇÃO
PESSOAS
INFORMAÇÕES
VEÍCULOS
TROCAS EM GERAL
REUNIÃO DE PÚBLICO
EDUCACIONAL
INDUSTRIAL
ESTOCAGEM
NEGÓCIOS
COMERCIAL
HABITAÇÃO
IIMMPPAACCTTOOSS
OO QQUUEE ÉÉ AACCEEIITTÁÁVVEELL??
NEGÓCIOS
INDÚSTRIA DO TURISMO
MEIO AMBIENTE
TOTAL
PARCIAL
MATERIAIS
IMATERIAIS
RREESSPPOONNSSAABBIILLIIDDAADDEESS PPEELLOO EESSPPAAÇÇOO UURRBBAANNOO
SETOR PRIVADO
SETOR PÚBLICO
Figura 9.6 Entendimento do problema
.
185 .
IIddeennttiiffiiccaaççããoo ddaass CCaarraacctteerrííssttiiccaassddoo EEssppaaççoo UUrrbbaannoo
CCOONNDDIICCIIOONNAANNTTEESS EEDDIIFFÍÍCCIIOOSS
NOVOS
EXISTENTES
MUDANÇAS PROPOSTAS
COMO ESTÃO
CARACT.CONSTRUTIVAS
INSTAL. ELÉTRICAS
INSTAL. SEG. INCÊNDIO
MANUTENÇÃO
OCUPAÇÃO
IMPLANTAÇÃO
CCOONNDDIICCIIOONNAANNTTEESS DDOO EESSPPAAÇÇOO UURRBBAANNOO
MANUTENÇÃO
IMPLANTAÇÃO
OCUPAÇÃO
CARACT.CONSTRUTIVAS
REDE DE HIDRANTES
REDE ELÉTRICA
RREESSPPOONNSSAABBIILLIIDDAADDEESS
CORPO DE BOMBEIROS
REDE DE HIDRANTES
VIAS DE ACESSO
OBSTÁCULOS DA ARQUITETURA
SSEETTOORR PPRRIIVVAADDOO
MOBILIÁRIOS URBANOS
OBSTRUÇÃO PELO COMÉRCIOSETOR PÚBLICO
INTEGRIDADE DAS BARREIRAS – EDF.
GEMINADOS
CONTROLE - PRÓPRIO RISCO
LEGISLAÇÃOCRESCIMENTO
PRESERVAÇÃO
GGEERREENNCCIIAAMMEENNTTOO DDEE RRIISSCCOOSS DDEE IINNCCÊÊNNDDIIOO
EEMM EESSPPAAÇÇOOSS UURRBBAANNOOSS
HHIISSTTÓÓRRIICCOOSS
Figura 9.7 Identificação das características do espaço urbano
.
186 .
Avaliação de
Desempenho
ELABORAÇÃO DE CENÁRIOS
ANÁLISE DE CONSEQUÊNCIAS
MAPEAMENTO DAS ÁREAS DE RISCO
IDENTIFICAÇÃO DAS QUADRAS QUE APRESENTAM OCUPAÇÕES DE MAIOR RISCO E DETALHAMENTO SOBRE OS RISCOS ESPECÍFICOS DESTAS EDIFICAÇÕES.
DANOS ESPERADOS
IMPACTOS GERAIS NO ESPAÇO URBANO
BAREIRAS DO ESPAÇO URBANO
FUMAÇA CALOR ESTRUTURAL
GGEERREENNCCIIAAMMEENNTTOO DDEE RRIISSCCOOSS DDEE IINNCCÊÊNNDDIIOO
EEMM EESSPPAAÇÇOOSS UURRBBAANNOOSS HHIISSTTÓÓRRIICCOOSS
Figura 9.8 Avaliação de desempenho
FORNECE CONHECIMENTO SOBRE O INCÊNDIO
PROPAGAÇÃO O INCÊNDIO (CALOR, FUMAÇA) PARA EDIFICIOS VIZINHOS.
.
187 .
Caracterizaçãodos
Impactos
CONTA UMA HISTÓRIA SOBRE OS IMPACTOS ESPECÍFICOS RESULTANTES DE INCÊNDIOS
PESSOAS
NEGÓCIOS
PARALIZAÇÃO
MEIO AMBIENTE SENSIBILIDADE AO CALOR E FUMAÇA
TOTAL
PERDAS DIRETAS
PERDAS INDIRETAS
GGEERREENNCCIIAAMMEENNTTOO DDEE RRIISSCCOOSS DDEE IINNCCÊÊNNDDIIOO EEMM
EESSPPAAÇÇOOSS UURRBBAANNOOSS
HHIISSTTÓÓRRIICCOOSS
PARCIAL
Figura 9 9 Caracterização dos impactos
.
188 .
01 – FALHA ENTRE AS BARREIRAS INTERNAS à EDIFICAÇÃO 02- FAHA DA BARREIRA ENTRE EDIFICAÕES 03- COMPROMETIMENTO DA QUADRA 04- COMPROMETIMENTO DE VÁRIAS QUADRAS 05- COMPROMETIMENTO DO ESPAÇO URBANO 06- COMPROMETIMENTO DE VÁRIOS ESPAÇOS
CCHHIICCAAGG
CCHHIIAADDOO
LLIIMMAA
OOUURROO PPRREETTOO
Figura 9.10 Camadas de proteção do espaço urbano
0011
0022
0033
0044
0055
0066
.
189 .
Planejamento da prevenção do
estabelecimento da chama
EDIFÍCIO
ESPAÇO URBANO
PREPARAÇÃO PARA A EMERGÊNCIA
PREVENÇÃO DA IGNIÇÃO
PREVENÇÃO DO CRESCIMENTO DA CHAMA
CONFINAMENTO DO INCÊNDIO NA EDIFICAÇÃO
DE ORIGEM
EXTINÇÃO DO INCÊNDIO NO ESPAÇO URBANO
EDIFICAÇÃO
ESPAÇO URBANO
GGEERREENNCCIIAAMMEENNTTOO DDEE RRIISSCCOOSS DDEE IINNCCÊÊNNDDIIOO EEMM
EESSPPAAÇÇOOSS UURRBBAANNOOSS
HHIISSTTÓÓRRIICCOOSS
9.11 Planejamento para prevenção do estabelecimento da chama.
.
190 .
GGEERREENNCCIIAAMMEENNTTOO DDEE RRIISSCCOOSS DDEE IINNCCÊÊNNDDIIOO EEMM
EESSPPAAÇÇOOSS UURRBBAANNOOSS
HHIISSTTÓÓRRIICCOOSS
Estruturação da Análise de
Decisão
SETOR PÚBLICO
SETOR PRIVADO
IDENTIFICAÇÃO DAS
RESTRIÇÕES
TÉCNICAS
FINANCEIRAS
SOCIAIS
LEGAIS
POLÍTICAS
IDENTIFICAÇÃO DAS
PRIORIDADES
PERDAS NAS EDIFICAÇÕES
ACEITAR
TRANFERIR
REDUZIR
ALTERNATIVAS
9.12 Estruturação da análise de decisão
.
191 .
Entendimentodo
Problema
Identificação das Características do Espaço Urbano
Avaliação de
Desempenho
Caracterizaçãodos
Impactos Planejamento daPrevenção do
Estabelecimento da Chama
Estruturação da Análise de
Decisão
Decisão
GGEERREENNCCIIAAMMEENNTTOO DDEE RRIISSCCOOSS DDEE IINNCCÊÊNNDDIIOO EEMM
EESSPPAAÇÇOOSS UURRBBAANNOOSS
HHIISSTTÓÓRRIICCOOSS
As alternativas identificadas durante
a estruturação da decisão são
suficientes para a tomada de decisão?
SIM NÃO
Repetir o processo
Figura 9.13 Etapas a serem seguidas para a aplicação da metodologia
.
192 .
10 CONCLUSÕES
Existe um problema relacionado à ocorrência de incêndios em espaços urbanos
históricos? Como é possível identificar estes problemas? O Bairro do Recife é vulnerável à
ocorrência de incêndios?
Os questionamentos acima foram respondidos através do presente trabalho que abordou
a problemática dos riscos de incêndios que envolve os espaços urbanos históricos, em especial
o Bairro do Recife, dada a sua importância cultural, econômica e social para o Estado de
Pernambuco.
Através do referencial teórico (capítulo 4) foi possível analisar a complexidade e
dinamicidade dos incêndios em ambientes fechados através da descrição de seu
comportamento e como os códigos de segurança contra incêndios prescritivos e baseados no
desempenho abordam esta complexidade e dinamicidade.
Também foi possível realizar uma abordagem relativa à percepção do risco de incêndio
nos códigos prescritivos e baseados no desempenho, exemplificando como a percepção do
risco pela sociedade pode interferir na legislação de segurança contra incêndios. Através do
presente trabalho, percebe-se que a percepção dos usuários constitui-se num elemento que
deve receber maior ênfase durante a elaboração das normas de segurança contra incêndios,
uma vez que ela dá direção às ações das pessoas no momento de um incêndio.
A última seção do referencial teórico teve como objetivo, mostrar como se processa a
resposta fisiológica humana aos efeitos do fogo e como o homem se comporta e toma
decisões num evento desta natureza. Tendo em vista que a segurança de vida se constitui no
principal objetivo dos projetos de segurança contra incêndio, o entendimento destes fatores é
fundamental, visto que, na maioria dos cenários envolvendo incêndios, resultados favoráveis
dependem em grande parte das ações e decisões tomadas pelos ocupantes.
A abordagem realizada no capítulo 5 demonstrou a problemática que envolve os
espaços urbanos históricos do Brasil no que se refere aos riscos de incêndio. Através de um
estudo sobre a ocorrência de incêndios em espaços urbanos históricos no mundo e os
impactos e conseqüências associadas a estes eventos, foi possível identificar alguns fatores
condicionantes, relacionados aos espaços urbanos históricos, que são favoráveis à ocorrência
de incêndios ou que contribuem para a severidade de suas conseqüências indicando a
necessidade de uma nova maneira de pensar sobre o gerenciamento de riscos de incêndios em
áreas históricas. A análise histórica de incêndios ocorridos em áreas históricas mostrou que
.
193 .
acontecimentos semelhantes podem ocorrer também no Bairro do Recife, visto que, na ânsia
de preservar as características originais da edificação, observa-se, que os riscos de incêndios
muitas vezes são negligenciados e colocados em segundo plano. Fato este, comprovado pelo
fato de não ser obrigatória a adequação destas edificações à legislação vigente de segurança
contra incêndios de Pernambuco, conforme análise realizada no capítulo 4.
No capítulo 6, foi caracterizada a situação atual do Bairro do Recife, no que se refere
aos riscos de incêndios e explosões identificando os fatores condicionantes favoráveis à
ocorrência de incêndios nesta área.
A realização da pesquisa no Bairro do Recife (capitulo 7) forneceu o mapeamento da
percepção do risco de incêndio pelos usuários do Bairro do Recife revelando que existe uma
diferença entre o que as pessoas percebem e o que desejam quanto às condições de segurança
contra incêndio em suas edificações. A percepção da necessidade de antecipar, prevenir e
reduzir riscos ficou evidente nas respostas obtidas nas entrevistas. As pessoas demonstraram
claramente a compreensão dos impactos e conseqüências associadas a um incêndio no Bairro
do Recife e em seu próprio negócio, além do sentimento de insegurança e insatisfação com as
condições de segurança nas edificações.
Os resultados da pesquisa ainda mostraram-se semelhantes a estudos americano e
britânico, associados ao comportamento de resposta humana em incêndios abordados no
capítulo 4.
A reunião das informações contidas nos capítulos precedentes auxiliou na
fundamentação de uma metodologia para o gerenciamento de riscos de incêndio em espaços
urbanos históricos, tendo como base a metodologia para o gerenciamento de riscos de
incêndio em edificações idealizada por FITZGERALD (2001).
Desta forma, os dados obtidos na pesquisa realizada no Bairro do Recife, que
correspondem à percepção do risco pelos usuários da área analisada (capítulo 7), auxiliaram
na construção da 1ª e 4ª etapas da metodologia, ou seja, “entendimento do problema” e
“caracterização dos impactos”, através da identificação dos impactos e do que está em risco.
A 3ª etapa denominada “avaliação de desempenho” foi baseada na abordagem relativa a
projetos baseados no desempenho discutida no capítulo 4.
Os fatores condicionantes do risco de incêndio em espaços urbanos históricos,
identificados no capítulo 5, auxiliaram na construção da 2ª etapa da metodologia, ou seja,
“identificação das características do espaço urbano”, através da indicação dos condicionantes
das edificações e do espaço urbano que interferem na segurança contra incêndio.
.
194 .
A caracterização da situação atual do Bairro do Recife, discutida no capítulo 6, auxiliou
na construção da 1ª etapa da metodologia, ou seja, “entendimento do problema” através da
identificação dos tipos de atividades existentes no Bairro do Recife.
Das sete etapas da metodologia proposta para o gerenciamento de riscos em espaços
urbanos históricos, apenas duas foram detalhadas, a saber: entendimento do problema e
identificação das características do espaço urbano, etapas estas, de fundamental importância,
visto que, fornecem o conhecimento sobre o problema da segurança contra incêndios na área
estudada.
Cada etapa da metodologia exige um estudo detalhado da área objeto de estudo,
sobretudo, a etapa de avaliação do desempenho do espaço urbano, visto que exige um maior
detalhamento e tratamento quantitativo dos dados, onde se faz necessária uma maior
disponibilidade de tempo para a realização de estudos de caso em que sejam trabalhadas as
sete etapas propostas.
Recomenda-se, assim, para futuros trabalhos, um detalhamento das outras cinco etapas
da metodologia, sobretudo, as etapas de avaliação do desempenho, onde se pode propor
indicadores para avaliar o desempenho do espaço urbano (tais como qualidade/quantidade de
acessos, fluxo das equipes de combate, nº de hidrantes, problemas detectados, etc) e
planejamento da prevenção do estabelecimento da chama, como forma de validar a
metodologia numa visão de segurança contra incêndios baseada no desempenho, visto que
esta é uma tendência mundial.
Espera-se que esta metodologia proposta venha a contribuir, de alguma forma, para o
desenvolvimento de uma nova maneira de pensar sobre a segurança contra incêndios em
espaços urbanos históricos dada a importância cultural e econômica destas áreas.
A relevância do estudo do gerenciamento dos riscos de incêndio para o espaço urbano
do Bairro do Recife está diretamente ligada à sua importância para a cidade onde, a variedade
dos riscos existentes, devido ao convivo de vários tipos de ocupações e a vulnerabilidade dos
negócios existentes ao risco de incêndios, deixam evidente a necessidade de gerenciá-los. O
comprometimento deste espaço urbano por um incêndio, sem dúvidas, trará uma série de
conseqüências econômicas e, sobretudo, culturais pela perda do patrimônio histórico, cujo
valor é inestimável, por representar um pouco da história da nação. O desafio torna-se então,
obter ao mesmo tempo, espaços mais seguros e economicamente viáveis.
Desta forma, ações conscientes direcionadas para o acesso aos riscos de incêndios em
espaços urbanos históricos, visam, não apenas preservá-los, mas também, permitir a
manutenção e expansão de diversas atividades vinculadas à economia e a cultura, agregando
.
195 .
novos valores que contribuam para o desenvolvimento destas áreas históricas de forma
responsável, garantindo a sua permanência para gerações futuras.
.
196 .
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