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UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO
PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS DA SAÚDE
MESTRADO
Marcos Vinícius Ferraz de Lucena
FATORES ASSOCIADOS À MORTALIDADE EM PACIENTES
IDOSOS INTERNADOS EM UNIDADE DE TERAPIA
INTENSIVA
RECIFE– 2016
Marcos Vinícius Ferraz de Lucena
FATORES ASSOCIADOS À MORTALIDADE EM
PACIENTES IDOSOS INTERNADOS EM UNIDADE DE
TERAPIA INTENSIVA
Dissertação apresentada à
banca examinadora do Programa de
Pós-Graduação em Ciências da
Saúde do Centro de Ciências da
Saúde da Universidade Federal de
Pernambuco como requisito para
obtenção do título de Mestre em
Ciências da Saúde
Orientador: Prof. Dr. Brivaldo Markman Filho
Coorientador: Prof. Dr. Sandro Gonçalves de Lima
Recife
2016
MARCOS VINÍCIUS FERRAZ DE LUCENA
FATORES ASSOCIADOS À MORTALIDADE EM PACIENTES IDOSOS
INTERNADOS EM UNIDADE DE TERAPIA INTENSIVA
Dissertação apresentada ao Programa de
Pós-Graduação em Ciências da Saúde da
Universidade Federal de Pernambuco,
Como requisito parcial para a obtenção do
Título de MESTRE em CIÊNCIAS DA
SAÚDE.
Aprovada em: 01/04/2016
BANCA EXAMINADORA
_______________________________________
Prof°. Dr°. José Ângelo Rizzo (Presidente)
Universidade Federal de Pernambuco
________________________________________
Prof°. Dra. Liana Gonçalves de Macedo (Examinador Externo)
Hospital Otávio de Freitas- SES
_________________________________________
Prof°. Dr°. Paulo Sérgio Ramos Araújo (Examinador Interno)
Universidade Federal de Pernambuco
UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO
REITOR
Prof. Dr. Anísio Brasileiro de Freitas Dourado
VICE-REITOR
Profª. Drª. Florisbela de Arruda Camara e Siqueira Campos
PRÓ-REITOR PARA ASSUNTOS DE PESQUISA E PÓS-GRADUAÇÂO
Prof. Dr. Francisco de Sousa Ramos
CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE
DIRETOR
Prof. Dr. Nicodemos Teles de Pontes Filho
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS DA SAÚDE
COORDENADOR
Prof. Dr. Emanuel Sávio Cavalcanti Sarinho
VICE- COORDENADOR
Prof. Dr. Brivaldo Markman Filho
CORPO DOCENTE
Prof ª. Ana Lúcia Coutinho Domingues
Prof ª Ângela Luiza Branco Pinto Duarte
Profº. Ary Gomes Filho
Prof. Brivaldo Markman Filho
Profº. Bruno Severo Gomes
Profª Cláudia Diniz Lopes Marques
Prof. Décio Medeiros Peixoto
Prof. Dinaldo Cavalcanti de Oliveira
Prof. Edgar Guimarães Victor
Prof. Edmundo Pessoa de Almeida Lopes Neto
Prof. Emanuel Sávio de Cavalcanti Sarinho
Profº. Emília Chagas Costa
Prof ª. Heloísa Ramos Lacerda de Melo
Prof. Hilton Justino de Oliveira
Prof. Jeymesson Raphael Cardoso Vieira
Profª. Lucila Maria Valente
Prof. José Ângelo Rizzo
Prof. Lucio Villar Rabelo Filho
Profº. Marcelo Renato Guerino
Profº. Marcelo Tavares Viana
Profº. Paulo Sérgio Ramos Araújo
Profª. Patrícia Érika de Melo Marinho
Profª Romualda Castro do Rêgo Barros
Prof. Sandro Gonçalves de Lima
Prof ª. Simone Cristina Soares Brandão
Dedico esta dissertação a minha família.
Aos meus pais, que me deram o alicerce e instrumentos para minha formação
profissional.
A minha esposa, pelo amor, compreensão e apoio incondicional.
Aos meus filhos, minha razão de vida, responsáveis pela inquietação nesta busca por
aprimoramento.
AGRADECIMENTOS
Ao finalizar esta dissertação não poderia deixar de agradecer às pessoas que ajudaram
na elaboração e concretização da pesquisa, permitindo que a inquietação inicial fosse
metodologicamente formulada e trabalhada para gerar respostas cientificamente aceitas.
Agradecimento a todo o corpo docente da Pós-graduação em Ciências da Saúde, pela
orientação durante as aulas, seminários e conversas informais, gerando conhecimento e, ao
mesmo tempo, servindo de exemplo como professores e pesquisadores.
Agradecimento aos Professores Dr. Brivaldo Markman Filho e Dr. Sandro Gonçalves
de Lima, pela generosidade e disponibilidade na orientação, sem a qual não conseguiria
concretizar a dissertação.
Agradecimento a toda a equipe da UTI e URCC do Hospital das Clínicas da UFPE,
especialmente à Dra Michele Maria Gonçalves Godoy, pelo acolhimento, presteza e estímulo
à realização dessa dissertação.
Agradecimento aos estudantes de medicina Geylson Rodrigo dos Santos Xavier,
Inácio Borges Ferreira, Felipe de Castro Moraes e Juliana Coelho Xavier, que participaram
dessa dissertação ajudando na coleta de dados.
Agradecimento especial a todos os pacientes que se submeteram à pesquisa e
permitiram que os dados fossem utilizados, sem os quais não haveria pesquisa.
RESUMO
Referencial: A população mundial tem mostrado um crescente aumento no número de
pessoas idosas nas últimas décadas. Pacientes idosos internados em Unidades de Terapia
Intensiva (UTIs) apresentam taxas de mortalidade e custos elevados. A mortalidade em curto
prazo tem sido relacionada à gravidade da doença de base aferida através de escores, que
fornecem parâmetros para o acompanhamento clínico e prognóstico do paciente. Entre esses
escores destacam-se o Acute Physiology and Chronic Health Evaluation II (APACHE II) e o
Simplified Acute Physiology Score 3 (SAPS 3), amplamente utilizados. A avaliação do
prognóstico dos pacientes idosos internados em UTIs é necessária, pois permite melhorar o
cuidado com esses pacientes. Os objetivos deste estudo foram identificar os fatores associados
à mortalidade e comparar os escores APACHE II e SAPS 3 em pacientes idosos internados
em UTI. Métodos: Foram consecutivamente acompanhados 174 pacientes idosos internados
em um período de doze meses na UTI. Foram analisados adicionalmente ao APACHE II e
SAPS 3 como possíveis fatores associados à mortalidade a presença de hiperglicemia de
estresse, a necessidade de ventilação mecânica invasiva, a presença de insuficiência renal
aguda, o nível de consciência rebaixado e o uso de vasopressores. A coleta de dados foi
realizada através da análise dos prontuários dos pacientes e entrevista com os familiares e as
informações foram inseridas em ficha padrão com as variáveis necessárias ao estudo e
aferição dos escores APACHE II e SAPS 3. Os desfechos estudados foram óbito e alta
hospitalar. Resultados: A mortalidade na UTI e hospitalar (UTI e após alta da UTI) da
população estudada foi, respectivamente, de 17,8% e 29,8%. A análise multivariada mostrou
que a Ventilação Mecânica Invasiva (VMI), Doença Pulmonar Obstrutiva Crônica (DPOC) e
Pressão Arterial Média (PAM) foram fatores associados positivamente ao SAPS 3 e VMI e
DPOC foram fatores associados positivamente ao APACHE II na predição de óbito
hospitalar. O APACHE II e o SAPS 3 tiveram médias de 19,1 e 43,6 pontos, respectivamente.
O estudo demonstrou que o APACHE II e o SAPS 3 apresentaram aceitável discriminação,
calibração adequada e a mortalidade observada foi maior que a predita. Conclusão: Nos
pacientes idosos internados na UTI, necessidade de VMI, portadores de DPOC e PAM < 70
mmHg foram preditores de pior evolução hospitalar. O desempenho do APACHE II foi
semelhante ao do SAPS 3 em pacientes idosos internados em UTI.
Palavras-chave: APACHE II; SAPS 3; fatores associados; mortalidade; idosos; unidade de
terapia intensiva.
ABSTRACT
Reference: The world's population has shown a steady increase in the number of older people
in recent decades. Older patients admitted to Intensive Care Units (ICUs) present high
mortality rates and costs. Short-term mortality has been related to the severity of the baseline
disease measured by scores that provide parameters for clinical monitoring and prognosis.
Among those scores stand out from the Acute Physiology and Chronic Health Evaluation II
(APACHE II) and the Simplified Acute Physiology Score 3 (SAPS 3), widely used. The
evaluation of the prognosis of ICU elderly patients is necessary because it allows better care
for these patients. The objectives of this study were to identify the associated factors with
mortality and compare the APACHE II and SAPS 3 in elderly patients admitted to the ICU.
Methods: We consecutively followed 174 elderly patients admitted to a period of twelve
months in the ICU. We additionally analyzed the APACHE II and SAPS 3 as possible factors
associated with mortality in the presence of stress hyperglycemia, the need for invasive
mechanical ventilation, acute renal failure, lowered level of consciousness and the use of
vasopressors. Data collection was performed by analyzing patients' records and interviews
with family members and the information was entered in standard form with the variables
needed to study and measurement of APACHE II and SAPS 3. The outcomes studied were
death and hospital discharge. Results: Mortality in the ICU and hospital (ICU and after
discharge from the ICU) of the study population was, respectively, 17.8% and 29.8%.
Multivariate analysis showed that Invasive mechanical ventilation (IVM), Chronic
Obstructive Pulmonary Disease (COPD) and Mean Arterial Pressure (MAP) were factors
positively associated to the SAPS 3 and IVM and COPD were factors positively associated to
the APACHE II in hospital mortality prediction. The APACHE II and SAPS 3 had averages
of 19.1 and 43.6 points respectively. The study showed that the APACHE II and SAPS 3 had
acceptable discrimination, proper calibration and observed mortality was higher than
predicted. Conclusion: In elderly patients admitted to the ICU, need for IMV, COPD and
MAP <70 mmHg were predictive of worse hospital outcomes. The performance of the
APACHE II was similar to the SAPS 3 in elderly patients admitted to the ICU.
Keywords: APACHE II; SAPS 3; prognostic factors; mortality; the elderly; intensive care
unit.
LISTA DE TABELAS
Capítulo III
Artigo 1
Tabela 1 Análise univariada de possíveis fatores associados ao óbito hospitalar.
Rol de fatores não componentes do SAPS 3...............................................................33
Tabela 2 Modelo final dos fatores de risco para óbito hospitalar, utilizando como
preditores: SAPS 3, VMI, DPOC E PAM.................................................................34
Tabela 3 Análise univariada de possíveis fatores associados ao óbito hospitalar.
Rol de Fatores não componentes do APACHE II.....................................................35
Tabela 4 Modelo final dos fatores de risco para óbito hospitalar, utilizando como
preditores: APACHE II, VMI e DPOC....................................................................36
Capítulo III
Artigo 2
Tabela 1 Tamanho amostral, média, desvio padrão, valores mínimo e máximo dos
escores SAPS 3 e APACHE II, de acordo com o desfecho hospitalar..................... 68
Tabela 2 Resultados do modelo de regressão logística simples para avaliar a
associação entre SAPS 3, APACHE II e óbito..........................................................70
Tabela 3 Número de pacientes, número observado e número esperado de óbitos,
segundo os grupos (decis das probabilidades estimadas) utilizados no teste
da bondade de ajuste (Hosmer-Lemeshow) para os modelos apresentados
na Tabela 2.................................................................................................................71
Tabela 4 Capacidade discriminatória dos escores APACHE II e SAPS 3...............................72
LISTA DE FIGURAS
Capítulo III
Artigo 2
Figura 1 Distribuições dos escores SAPS 3 e APACHE II de acordo com o
desfecho hospitalar......................................................................................................45
Figura 2 Gráficos de calibração de SAPS 3 e APACHE II .....................................................46
Figura 3 Curvas ROC dos índices prognósticos SAPS 3 e APACHE II..................................47
Figura 4 Distribuição das probabilidades estimadas de óbito, segundo o desfecho
hospitalar, obtido através do ajuste de um modelo de regressão logística
simples em que a variável explanatória foi o SAPS 3 (gráfico do lado direito)
ou o APACHE II (gráfico do lado esquerdo)............................................................48
LISTA DE FLUXOGRAMAS
Capítulo I
Modelo explicativo...................................................................................................................10
Capítulo II
Delineamento da pesquisa........................................................................................................20
Capítulo III
Diagrama de inclusão e seguimento dos pacientes...................................................................21
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS
Aines – Anti-inflamatórios não esteroides
AMB – Associação Médica Brasileira
AMIB – Associação de Medicina Intensiva Brasileira
APACHE II – Acute Physiology and Chronic Health Evaluation II
AVC – Acidente Vascular Cerebral
CEP/CCS – Comitê de Ética em Pesquisa do Centro de Ciências da Saúde
CNS/MS – Conselho Nacional de Saúde do Ministério da Saúde
DAP – Doença Arterial Periférica
DCV – Doença Cardiovascular
DM – Diabetes Melito
DPOC – Doença Pulmonar Obstrutiva Crônica
DRC – Doença Renal Crônica
EAP – Edema Agudo de Pulmão
EUA – Estados Unidos da América
FR – Frequência Respiratória
GLUT-4 – Transportador de Glicose tipo 4
GOF – Goodness-Of-Fit
HAS – Hipertensão Arterial Sistêmica
HC – Hospital das Clínicas
HVE – Hipertrofia Ventricular Esquerda
IC – Índice de Confiança
IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
IC – Insuficiência Cardíaca
IRA – Insuficiência Renal Aguda
IRpA – Insuficiência Respiratória Aguda
LRA – Lesão Renal Aguda
NICE-SUGAR – Normoglycemia in Intensive Care Evaluation-Survival Using
Glucose Algorithm Regulation
OMS – Organização Mundial de Saúde
PA – Pressão Arterial
PAM – Pressão Arterial Média
PAS – Pressão Arterial Sistólica
PaO2 – Pressão Parcial de Oxigênio
PaCO2 – Pressão Parcial de Gás Carbônico
PCR – Parada Cardiorrespiratória
pH – Potencial Hidrogeniônico
RNC – Rebaixamento de Nível de Consciência
ROC – Receiver Operating Characteristic
RR – Risco Relativo
SAPS 3 – Simplified Acute Physiology Score 3
SARA – Síndrome da Angústia Respiratória Aguda
SBD – Sociedade Brasileira de Diabetes
SBPT – Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tissiologia
SCA – Síndrome Coronariana Aguda
SNC – Sistema Nervoso Central
SRA – Sistema Reticular Ativador
TCLE – Termo de Consentimento Livre e Esclarecido
TLP – Taxa de Letalidade Padronizada
TNF-alfa – Fator de Necrose Tumoral do Tipo Alfa
UTI – Unidade de Terapia Intensiva
UFPE – Universidade Federal de Pernambuco
VMI – Ventilação Mecânica Invasiva
VNI – Ventilação Não Invasiva
SUMÁRIO
1 APRESENTAÇÃO..............................................................................................................18
2 CAPÍTULO I........................................................................................................................20
2.1 REFERENCIAL TEÓRICO..............................................................................................20
2.2 MODELO EXPLICATIVO...............................................................................................25
2.3 JUSTIFICATIVA...............................................................................................................26
2.4 OBJETIVOS.......................................................................................................................27
2.4.1 Objetivo geral.................................................................................................................27
2.4.2 Objetivos específicos......................................................................................................27
2.5 HIPÓTESE.........................................................................................................................28
3 CAPÍTULO II......................................................................................................................29
3.1 MÉTODOS.........................................................................................................................29
3.1.1 Delineamento da pesquisa.............................................................................................29
3.1.2 Local do estudo...............................................................................................................29
3.1.3 População........................................................................................................................30
3.1.3.1 Critérios de inclusão......................................................................................................30
3.1.3.2 Critérios de exclusão.....................................................................................................30
3.1.3.3 Tipo de amostragem......................................................................................................30
3.1.3.4 Definição do tamanho amostral....................................................................................30
3.1.3.5 Análise epidemiológica.................................................................................................31
3.1.4 Definição e categorização das variáveis.......................................................................32
3.1.4.1 Definição dos termos, operacionalização e categorização das variáveis......................32
3.1.5 Coleta de dados...............................................................................................................38
3.1.5.1 Análise estatística..........................................................................................................40
3.1.6 Limitações metodológicas..............................................................................................41
3.1.7 Aspectos éticos................................................................................................................41
4 CAPÍTULO III.....................................................................................................................42
4.1 RESULTADOS...................................................................................................................42
5 CAPÍTULO IV.....................................................................................................................43
5.1. CONCLUSÃO E CONSIDERAÇÕES FINAIS...............................................................43
REFERÊNCIAS......................................................................................................................44
APÊNDICES.............................................................................................................................56
APÊNDICE A - Artigo 1 – Fatores associados à mortalidade em pacientes
idosos internados em unidade de terapia intensiva.......................................72
APÊNDICE B - Artigo 2 – Comparação entre os escores APACHE II e
SAPS 3 em pacientes idosos internados em unidade de
terapia intensiva............................................................................................74
APÊNDICE C – TCLE – Termo de Consentimento Livre e Esclarecido................................88
APÊNDICE D – Carta de Anuência........................................................................................90
APÊNDICE E – Ficha de Coleta de Dados.............................................................................91
ANEXOS……………………………………………………………………………..............92
ANEXO A – Parecer consubstanciado do CEP.......................................................................92
ANEXO B – APACHE II – Acute Physiology and Cronic Health Evaluation II.………......96
ANEXO C – SAPS 3 – Simplified Acute Physiology Score 3………………….…………..102
ANEXO D – Escala de Coma de Glasgow.............................................................................103
ANEXO E – Documentação do encaminhamento do 1º artigo ao periódico.........................104
ANEXO F – Documentação do encaminhamento do 2º artigo ao periódico..........................105
18
1 APRESENTAÇÃO
A Unidade de Terapia Intensiva (UTI) apresenta elevadas taxas de mortalidade
(LAUPLAND, 2006). Os pacientes idosos são responsáveis por aproximadamente 50% das
admissões e quase 60% de todas as diárias de UTIs, nos Estados Unidos da América do Norte
(MARIK, 2006). Os desfechos clínicos na UTI têm sido extensamente estudados, sendo
frequentemente descritos em termos de mortalidade, que em curto prazo é relacionada à
gravidade da doença de base e é aferida através de escores amplamente utilizados (TERZI,
2002), entre os quais temos o Acute Physiology and Chronic Health Evaluation II (APACHE
II) e o Simplified Acute Physiology Score 3 (SAPS 3), que fornecem parâmetros para o
acompanhamento clínico e prognóstico dos pacientes. Segundo o estudo de Juneja (2012),
entre esses dois escores a diferença em eficácia não foi estatisticamente significante e a
escolha entre o APACHE II e o SAPS 3 depende da facilidade de uso e preferências locais. O
SAPS 3, de acordo com Khwannimit (2011), mostrou excelente discriminação (capacidade de
classificar sobreviventes e não sobreviventes), mas calibração (probabilidade de morte) pobre,
assim como o escore APACHE II.
Estudos avaliando a mortalidade exclusivamente entre idosos admitidos na UTI são
escassos. Dentre os fatores associados à mortalidade em pacientes idosos internados em UTI
destacam-se a hiperglicemia de estresse, a necessidade de ventilação mecânica invasiva, o uso
de vasopressores, a insuficiência renal aguda e o nível de consciência rebaixado. Pacientes
idosos admitidos na UTI com hiperglicemia de estresse apresentam maior mortalidade
hospitalar (STEIN, 2009). A associação da idade elevada com o uso de Ventilação Mecânica
Invasiva (VMI) está fortemente relacionada à mortalidade hospitalar (FARFEL, 2009). A
idade é um fator independentemente associado com taxa de mortalidade mais elevada em
pacientes com falência circulatória, seja qual for a etiologia (BISTON, 2014). A Insuficiência
Renal Aguda (IRA) tem incidência elevada nos pacientes de UTI, e os que apresentam IRA
têm mortalidade mais elevada e maior tempo de permanência na UTI (WIJEWICKRAMA,
2014). O rebaixamento do nível de consciência é um fator independentemente associado com
maior risco de morte (VOSYLIUS, 2005).
Na tentativa de esclarecer os fatores associados à mortalidade em pacientes idosos
internados em UTI conduzimos um projeto de pesquisa como pré-requisito para obtenção do
título de Mestre, na área de Epidemiologia, Promoção e Prevenção em Saúde do Programa de
Pós-graduação do Centro de Ciências da Saúde.
19
A hipótese de os preditores de mortalidade da população idosa internada em UTI
serem semelhantes àqueles descritos na literatura para a população adulta não idosa nortearam
a dissertação.
O objetivo geral foi identificar os fatores associados à mortalidade entre idosos
internados na UTI do Hospital das Clínicas da UFPE. Os objetivos específicos basearam-se
em verificar a hiperglicemia de estresse, a ventilação mecânica invasiva, a insuficiência renal
aguda, o nível de consciência rebaixado e o uso de vasopressores como fatores prognósticos
de mortalidade em idosos e comparar os sistemas prognósticos APACHE II e SAPS 3
aplicados nos idosos internados na UTI do Hospital das Clínicas da UFPE.
Foram gerados dois artigos originais: O primeiro, com o título: “Fatores Associados à
Mortalidade em Pacientes Idosos Internados em Unidade de Terapia Intensiva”, ajudou na
construção do referencial teórico da dissertação e propiciou a resposta à nossa hipótese, e o
segundo documentou a pesquisa prospectiva longitudinal, com o título: “Comparação entre os
Escores APACHE II e SAPS 3 em Pacientes Idosos Internados em Unidade de Terapia
Intensiva“.
O primeiro artigo original foi enviado para avaliação, visando publicação na revista
Critical Care Medicine (Qualis A1) e o segundo artigo original foi enviado para o Journal of
Critical Care (Qualis B1).
20
2 CAPITULO. I
2.1 REFERENCIAL TEÓRICO
A UTI apresenta elevadas taxas de mortalidade (LAUPLAND, 2006). Os pacientes
idosos são responsáveis por aproximadamente 50% das admissões e quase 60% de todas as
diárias de UTIs nos Estados Unidos da América do Norte (MARIK, 2006). Os desfechos
clínicos na UTI têm sido extensamente estudados, sendo frequentemente descritos em termos
de mortalidade, que em curto prazo é relacionada à gravidade da doença de base e é aferida
através de escores (TERZI, 2002).
O escore Acute Physiology and Chronic Health Evaluation II (APACHE II), publicado
em 1985, é o mais difundido dos índices prognósticos. Foi desenvolvido com base em dados
de 5.815 pacientes em 13 hospitais dos Estados Unidos, no período de 1979 a 1982. É uma
forma de avaliação e classificação do índice de gravidade da doença. Quantifica o grau de
disfunção orgânica de pacientes gravemente enfermos. É calculado com os dados das
primeiras 24 horas de internação, variando de 6 a 42 pontos (KNAUS, 1985).
O Simplified Acute Physiology Score 3 (SAPS 3), publicado em 2005, foi
desenvolvido a partir de um banco de dados de 16.784 pacientes de 35 países, no período de
outubro a dezembro de 2002. É composto de 20 diferentes variáveis facilmente mensuráveis
na admissão do paciente à UTI. Para cada uma das variáveis analisadas confere-se um peso,
conforme a gravidade do distúrbio fisiológico. Na teoria, o menor valor atribuído pelo escore
é 16 e o maior é 217 pontos (MORENO, 2005).
Os escores fornecem parâmetros para o acompanhamento clínico e prognóstico dos
pacientes. O número de idosos vem crescendo em todo o mundo e também no Brasil.
Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), no último censo brasileiro,
de 2010, os idosos representavam 11% da população e, em 2050, representarão 25% do total
de brasileiros (CENSO DEMOGRÁFICO, 2010). Com essa mudança do perfil demográfico,
ocorre o aumento das hospitalizações e, principalmente, internações nas Unidades de Terapia
Intensiva (UTIs) (MENDES, 2012).
É necessário identificar os fatores de risco em uma população de pacientes idosos
admitidos em UTIs. Existem relatos, na literatura, de maior mortalidade em pacientes adultos
não idosos internados em UTI com a hiperglicemia de estresse (EGI, 2008), a ventilação
21
mecânica invasiva (SENTURK, 2011), a insuficiência renal aguda (WIJEWICKRAMA,
2014), o nível de consciência rebaixado (VOSYLIUS, 2005) e o uso de vasopressores (DE
BACKER, 2010).
A hiperglicemia de estresse não tem os níveis de glicose bem definidos no seu
diagnóstico. Pode ser definida por: 1) glicemia na admissão > 126 mg/dL em não diabéticos e
> 200 mg/dL nos diabéticos (PINHEIRO, 2013), 2) um nível glicêmico > 140 mg/dL sem
história prévia de diabetes (SMITH, 2010), 3) a presença de duas ou mais glicemias com
valores entre 140 mg/dL e 199 mg/dL (LERARIO, 2008) e 4) com nível glicêmico > 180
mg/dL em diabéticos e não diabéticos no estudo Normoglycemia in Intensive Care
Evaluation-Survival Using Glucose Algorithm Regulation (NICE-SUGAR), com 6.104
participantes (FINFER, 2009).
A hiperglicemia pode ser um determinante independente do prognóstico de pacientes
graves, ou apenas um marcador da gravidade da doença. Os mecanismos do desenvolvimento
da hiperglicemia na enfermidade grave incluem a liberação de hormônios de estresse
contrarregulatórios (aumento do glucagon, do cortisol e da adrenalina) e mediadores pró-
inflamatórios (diminuição do GLUT-4 e sinalização pós receptor de insulina, aumento de
citocinas como TNF-alfa), assim como administração de terapia glicocorticoide, nutrição
parenteral, nutrição enteral contínua e nível de atividade metabólica diminuído. Ocorre
aumento da gliconeogênese e lipólise, resistência insulínica, diminuição do glicogênio
muscular e aumento do glucagon, os quais levam à hiperglicemia de estresse. A enfermidade
grave também desorganiza o sistema imune e a resposta inflamatória, produzindo estresse
oxidativo, disfunção mitocondrial, morte celular, lesão tissular e, por último, leva à
insuficiência orgânica (DUNGAN, 2009). A hiperglicemia de estresse é comum em pacientes
graves adultos não diabéticos e se associa a maiores taxas de morbidade e mortalidade (EGI,
2008). Segundo Sleiman et al. (2008) nos pacientes idosos a hiperglicemia de estresse está
associada com maior taxa de mortalidade do que naqueles com história prévia de diabetes
melito.
A insuficiência respiratória aguda (IRpA) pode ser definida como a incapacidade do
sistema respiratório de manter a ventilação e/ou a oxigenação do paciente, que se instala
rapidamente (KNOBEL, 1999). Ocorre quando o organismo não é capaz de manter as
pressões parciais dos gases sanguíneos dentro dos limites de normalidade, que se caracteriza
por hipóxia e hipercapnia. As principais causas de insuficiência respiratória aguda são: asma,
Doença Pulmonar Obstrutiva Crônica (DPOC), aspiração de corpo estranho, pneumonia,
22
Síndrome da Angústia Respiratória Aguda (SARA), embolia pulmonar, Edema Agudo de
Pulmão (EAP), doenças do sistema nervoso central e periférico. A IRpA é diagnosticada
quando o sangue venoso que retorna aos pulmões não consegue ser adequadamente
arterializado e sua tradução gasométrica será representada por: Pressão parcial de oxigênio
(PaO2) < 55-60 mmHg e/ou Pressão parcial de gás carbônico (PaCO2) > 50 mmHg com
potencial Hidrogeniônico (pH) < 7,35 (RHODES, 2000). Ray et al. (2006) avaliaram uma
população de pacientes idosos com falência respiratória no departamento de emergência e
observaram que 29% deles necessitaram de internação na UTI nas primeiras 24 horas.
A ventilação mecânica é um método terapêutico utilizado para auxiliar ou substituir a
respiração espontânea. A principal indicação para instalação de ventilação mecânica é a
insuficiência respiratória, que pode ser hipoxêmica (PaO2 < 60 mmHg) e hipercárbica
(PaCO2 > 50mmHg). Existem dois métodos distintos para a ventilação de pacientes:
ventilação não invasiva (VNI), que é realizada com máscara facial ou nasal bem ajustadas, e
ventilação mecânica invasiva (VMI) que é realizada quando se insere um tubo com balonete
na traqueia, para administração de ar condicionado (aquecido, oxigenado e umidificado) às
vias respiratórias e pulmões em pressões acima da atmosférica, segundo as diretrizes
brasileiras de ventilação mecânica (BARBAS, 2014). Segundo Stein et al. (2009) a
necessidade de VMI é um importante fator de risco independente de mortalidade nos idosos.
Já Silva et al. (2009) referem que os pacientes com idade acima de 65 anos em ventilação
mecânica apresentaram pior prognóstico que os pacientes mais jovens.
A lesão renal aguda (LRA), antes conhecida como Insuficiência Renal Aguda (IRA), é
definida pela rápida queda da capacidade dos rins em retirar as escórias do organismo e outros
produtos residuais, o que causa distúrbios hídricos, eletrolíticos e ácido-básicos. As etiologias
da LRA são subdivididas em três grupos gerais: azotemia pré-renal, doença renal
parenquimatosa intrínseca e obstrução pós-renal. Do ponto de vista diagnóstico, a redução da
função renal na IRA está associada ao aumento absoluto de 0,3 mg/dL ou a um aumento
percentual de 50% da creatinina sérica. Além disso, a redução do volume urinário,
constituindo oligúria (< 0,5 mL/Kg/h) por mais de 6 horas, também faz parte dos critérios
diagnósticos da IRA, segundo as diretrizes da Sociedade Brasileira de Nefrologia (BARROS,
2002). Santos et al. (2009) apresentaram, como fatores de risco para a IRA, a idade avançada,
níveis prévios de creatinina, presença de diabetes melito, hipertensão arterial sistêmica,
insuficiência cardíaca congestiva, e o uso crônico de anti-inflamatórios não esteroides
(Aines). Já Bernadina et al. (2008) destacaram, como fatores de risco, eventos isquêmicos,
23
nefrotóxicos, infecciosos e obstrutivos, hipertensão arterial sistêmica, choque, insuficiências
cardiovascular, hepática e respiratória, neoplasias, e tempo médio de internamento superior a
7 dias. A IRA tem incidência elevada nos pacientes de UTI, e os que apresentam este
diagnóstico têm mortalidade mais elevada e maior tempo de permanência nessa unidade
(WIJEWICKRAMA, 2014). Souza et al. (2010) identificaram incidência de IRA de 29% nos
pacientes internados em UTI.
A consciência é o estado que permite ao indivíduo ter a percepção de si mesmo e do
ambiente em que se encontra, podendo responder a perguntas e ou comandos de uma forma
clara, objetiva e orientada. O rebaixamento de nível de consciência (RNC) é um importante
sinal de alteração do funcionamento cerebral, pode acontecer em diferentes intensidades e
sempre está relacionado com anormalidades difusas dos hemisférios cerebrais ou com
atividade reduzida de um sistema de despertar tálamo-cortical especial, denominado sistema
reticular ativador (SRA). O funcionamento apropriado desse sistema, suas projeções
ascendentes para o córtex e o próprio córtex são essenciais para manter a vigília e a coerência
do pensamento (BRADLEY, 2004). A consciência é geralmente considerada uma função
cerebral global. Há um espectro contínuo de estados de redução da vigília, sendo a forma mais
grave o coma, definido como um estado patológico de não resposta, no qual o paciente não
tem alerta comportamental nem reconhecimento, mantendo-se com olhos fechados, e do qual
o paciente não pode ser acordado por estímulos vigorosos (TEASDALE, 2000).
Os pacientes idosos internados na UTI devido a traumatismo, parada
cardiorrespiratória (PCR), ingestão de fármaco ou drogas, doenças hepática, renal, pulmonar,
cardíaca, perturbações metabólicas, infecção, choque ou acidente vascular cerebral (AVC)
podem apresentar comprometimento do Sistema Nervoso Central (SNC) que pode manifestar-
se pelo rebaixamento do nível de consciência. Esse rebaixamento é um fator de risco
independente para a ocorrência de mortalidade (VOSYLIUS, 2005).
O Choque é a síndrome clínica que resulta de hipoperfusão tecidual que leva à
disfunção celular. O diagnóstico é feito na presença de hipotensão, ou seja, pressão arterial
média (PAM) < 60 mmHg em pessoas anteriormente normotensas. Há aumento da atividade
simpática, hiperventilação, colapso dos vasos de capacitância venosos, liberação dos
hormônios do estresse e tentativa de repor a perda de volume intravascular graças ao
recrutamento de líquidos intersticial e intracelular, bem como pela redução do débito urinário
(SIQUEIRA, 2003).
24
O tratamento inicial requer a rápida expansão do volume sanguíneo intravascular
circulante juntamente com intervenções para controlar as perdas contínuas. Na presença de
sepsis, hipovolemia ou baixo débito cardíaco os idosos internados na UTI desenvolvem
choque com hipoperfusão tecidual, havendo necessidade de expansão volêmica e,
posteriormente, da utilização de vasopressores (WESTPHAL, 2011). Para otimizar a perfusão
de órgãos as aminas simpaticomiméticas dobutamina, dopamina e norepinefrina são
amplamente usadas no tratamento de todas as formas de choque. O uso de vasopressores em
doses elevadas aumenta a mortalidade hospitalar e na UTI, em pacientes adultos não idosos
(XING, 2013).
É necessário definir se na população de idosos os fatores de risco são diferentes
daqueles observados na população adulta. No modelo teórico, a seguir, estão demonstrados os
fatores associados à mortalidade em idosos internados em UTI.
26
2.3 JUSTIFICATIVA
Apesar do crescente aumento do número de idosos, há poucos estudos sobre esse
tema, no Brasil, fato que se torna ainda mais relevante quando se buscam dados sobre idosos
hospitalizados nas UTIs e fatores prognósticos de mortalidade nesta população. Assim, os
doentes em estado crítico e com idade avançada mostram-se uma área fértil para futuras
pesquisas.
A necessidade de melhorar o atendimento ao idoso crítico e a baixa frequência de
estudos, na literatura, com populações exclusivamente geriátricas, acerca da avaliação da
gravidade e identificação de fatores associados à mortalidade durante o internamento em
UTIs, justificam esta pesquisa.
27
2.4 OBJETIVOS
2.4.1 Objetivo geral:
Identificar os fatores associados à mortalidade entre idosos internados na UTI do Hospital das
Clínicas da UFPE.
2.4.2 Objetivos específicos
Verificar a hiperglicemia de estresse, a ventilação mecânica invasiva, a insuficiência renal
aguda, o nível de consciência rebaixado e o uso de vasopressores como fatores associados à
mortalidade, em idosos;
Comparar os sistemas prognósticos APACHE II (Acute Physiology and Chronic Health
Evaluation II) e SAPS 3 (Simplified Acute Physiology Score 3) aplicados nos idosos
internados na UTI do Hospital das Clínicas da UFPE.
28
2.5 HIPÓTESE
Os preditores de mortalidade da população idosa internada em UTI são semelhantes àqueles
descritos para a população adulta não idosa.
29
3 CAPÍTULO II
3.1 MÉTODOS
3.1.1 Delineamento da pesquisa
Trata-se de um estudo caso controle aninhado numa coorte.
3.1.2 Local do estudo
O estudo foi realizado na UTI do Hospital das Clínicas da UFPE. A unidade possui dez leitos
destinados ao atendimento de pacientes adultos, clínico-cirúrgicos.
Pacientes internados na UTI – julho de 2014 a junho 2015
Pacientes > 60 anos
Preenchimento da ficha de coleta de dados
estruturado
Escores APACHE II e SAPS 3 ao final das 24 horas na UTI
Óbito Alta hospitalar
Seguimento dos pacientes
30
3.1.3 População do estudo
Pacientes idosos internados consecutivamente de 01/07/14 a 30/06/15 na UTI – HC - UFPE.
3.1.3.1 Critérios de inclusão
Foram incluídos neste estudo todos os indivíduos com idade maior ou igual a 60 anos,
completados até a data da internação, e que tinham permanecido hospitalizados na UTI por
um período igual ou superior a 24 horas. A definição de idoso foi baseada nos critérios
utilizados pela Organização Mundial de Saúde (OMS) e diretrizes da Política Nacional do
Idoso do Ministério da Saúde do Brasil (LIMA-COSTA, 2011).
3.1.3.2 Critérios de exclusão
Foram excluídos os pacientes portadores de doença neoplásica terminal (sem possibilidade
terapêutica, em paliação); para aqueles readmitidos na UTI durante a mesma internação
hospitalar, considerou-se a primeira internação.
3.1.3.3 Tipo de amostragem
A amostra foi de conveniência e obtida por demanda espontânea.
3.1.3.4 Definição do tamanho amostral
Para este estudo foi dimensionada uma amostra de 167 pacientes. Esse tamanho amostral foi
obtido com o objetivo de identificar, com precisão adequada, do ponto de vista estatístico,
pelo menos cinco preditores da ocorrência de óbito. A literatura especializada sobre a
construção de modelos de regressão múltipla prescreve, no caso de variável com resposta
31
dicotômica, como a do presente estudo, dez desfechos para cada preditor escolhido para
compor o modelo (VITTINGHOFF, 2005). Para um modelo com cinco preditores
dicotômicos, como planejado para este estudo, foram necessários pelo menos 50 desfechos
(óbitos). Admitindo que, durante o tempo de realização do estudo esperou-se observar 30% de
óbitos (STEIN, 2009), (FEIJÓ, 2006), (ALVES, 2009), conclui-se que o número de pacientes
recrutados deveria ser no mínimo 167.
3.1.3.5 Análise epidemiológica
Para a análise dos preditores de mortalidade em pacientes idosos internados em UTI, o estudo
foi analisado como caso-controle aninhado numa coorte. Assim, os casos foram definidos
como óbito (hospitalar e na UTI) e os controles foram os indivíduos que receberam alta
hospitalar. As variáveis do APACHE II, SAPS 3 e aquelas constantes na ficha de coleta dos
dados desta pesquisa foram analisadas como os preditores de mortalidade.
Variáveis do APACHE II, SAPS 3 e da
ficha de coleta de dados da pesquisa
Alta Hospitalar
Controles
Mortalidade
Hospitalar
Casos
32
3.1.4 Definição e categorização das variáveis
3.1.4 Variáveis independentes
Neste estudo foram analisados: presença de hiperglicemia de estresse, utilização de ventilação
mecânica invasiva, presença de insuficiência renal aguda, nível de consciência rebaixado, e
uso de vasopressores. Também foram analisados os dias de ventilação mecânica invasiva,
realização de traqueostomia, dias de traqueostomia, dias de internação na UTI, antecedentes
pessoais (doença pulmonar obstrutiva crônica, hipertensão arterial sistêmica, diabetes melito,
uso de cigarro, ingestão de álcool, insuficiência hepática), pressão arterial média, frequência
respiratória, sódio, potássio, hematócrito, tipo de admissão (programada ou não programada),
tipo de cirurgia (urgência e eletiva), infecção, pressão arterial sistólica, plaquetas e
bilirrubinas.
3.1.4 Variáveis dependentes
Foram os desfechos: óbito ou alta hospitalar.
3.1.4.1 Definição dos termos, operacionalização e categorização das variáveis:
Variáveis
Dependentes
Definição teórica Definição
Operacional
Categorização
Óbito Hospitalar É o que se verifica
após o término da vida
Parada irreversível das
funções cerebrais, ou
seja, morte encefálica
Categórica
Sim
Não
Alta Hospitalar Autorização de saída
do paciente do
ambiente de tratamento
hospitalar
É o ato que configura a
cessação de assistência
prestada ao paciente no
hospital
Categórica
Sim
Não
continua
33
continuação
Variáveis
Independentes
Definição teórica Definição
Operacional
Categorização
Hiperglicemia de
estresse
É caracterizada por
aumento de glicose no
sangue quando a
pessoa está
hospitalizada ou sob
tratamento intensivo
(FINFER, S., 2009)
Valor de glicose > 180
mg/dL, gota de sangue
colocada sobre a área
reagente da fita on Call
Plus
Categórica
Sim
Não
Ventilação Mecânica
Invasiva
É o suporte oferecido
ao paciente por meio
de um aparelho, o
ventilador, auxiliando
em sua ventilação e em
suas trocas gasosas
(BARBAS, 2014)
Utilização de aparelhos
para os pacientes em
insuficiência
respiratória
Categórica
Sim
Não
Insuficiência Renal
Aguda
É a perda súbita da
capacidade dos rins
filtrarem resíduos, sais
e líquidos do sangue
(BARROS, 2002)
Valor de creatinina
sérica > 1,3 mg/dL
Método: Automação
Beckman Coulter
AU680
Categórica
Sim
Não
Nível de consciência
Rebaixado
Redução na percepção
de si mesmo e do
ambiente em que se
encontra e pode
acontecer em
diferentes intensidades
(TEASDALE, 2000)
Valores da escala de
Glasgow < 8 pontos.
Paciente grave com
necessidade de
intubação imediata
Categórica
Sim
Não
Uso de vasopressores São fármacos cuja ação
característica é elevar a
pressão arterial através
da vasoconstricção
arterial e venosa
(WESTPHAL, 2011)
Utilizados nos estados
de choque quando a
hipotensão ou
hipoperfusão é
refratária à reposição
volêmica adequada
Categórica
Sim
Não
34
Dias de Ventilação
Mecânica Invasiva
Número de dias que os
pacientes necessitaram
de suporte ventilatório
Conta-se do primeiro
até o último dia que os
pacientes necessitaram
de VMI
Quantitativa
Número de dias
Traqueostomia Cirurgia de abertura de
um orifício na traqueia
e na colocação de uma
cânula dentro do lúmen
traqueal para a
passagem do ar
(FERREIRA, 2011)
Realizado por cirurgião
quando se excede o
tempo de utilização do
tubo orotraqueal
Categórica
Sim
Não
Dias de
Traqueostomia
Número de dias que os
pacientes permanecem
com o traqueóstomo
Conta-se do primeiro
até o último dia que os
pacientes necessitaram
do traqueóstomo
Quantitativa
Número de dias
Dias de Internação na
UTI
Número de dias que os
pacientes permanecem
na UTI
Conta-se do primeiro
até o último dia que os
pacientes necessitaram
dos cuidados da UTI
Quantitativa
Número de dias
DPOC Caracteriza-se por
obstrução progressiva e
persistente ao fluxo
aéreo e está associada à
inflamação crônica das
vias aéreas às
partículas ou aos gases
nocivos
(MANGUEIRA, 2009)
Grupo de doenças que
incluem Enfisema
Pulmonar e Bronquite
Crônica. Registro do
prontuário ou referido
pelo paciente ou
familiar
Categórica
Sim
Não
HAS Elevação dos níveis de
pressão sanguínea nas
artérias, PA > 140/90
mmHg
(AMODEO, 2010)
Registro do prontuário
ou referido pelo
paciente ou familiar
Categórica
Sim
Não
35
DM Síndrome decorrente
da falta e/ou
incapacidade da
insulina exercer o seu
efeito
(OLIVEIRA, 2014)
Registro do prontuário
ou referido pelo
paciente ou familiar
Categórica
Sim
Não
Uso de cigarro Consumo regular de
produtos de tabaco
Registro do prontuário
ou referido pelo
paciente ou familiar
Categórica
Sim
Não
Ingestão de álcool Consumo regular de
bebida alcoólica
Registro do prontuário
ou referido pelo
paciente ou familiar
Categórica
Sim
Não
Insuficiência
Hepática
Grave deterioração da
função do fígado
(MAIO, 2000)
Registro do prontuário
ou referido pelo
paciente ou familiar
Categórica
Sim
Não
PAM A média da pressão
durante todo o ciclo
cardíaco, aferida pela
medida direta da
pressão
(AMODEO, 2010)
Aferida no exame
físico pelo monitor de
PA e indiretamente
PAM= PAS +
(PADx2) / 3
Quantitativa
(mmHg)
FR O número de
respirações (inalação e
exalação) que um ser
vivo realiza por minuto
Aferida no exame
físico pelo monitor de
FR
Quantitativa
Número de inspirações
por minuto
Sódio Eletrólito encontrado
na corrente sanguínea
tem papel importante
no balanço hídrico da
água corporal
Resultado do
laboratório, colhido
diariamente na rotina
da UTI
Método: Automação
Beckman Coulter
AU680
Quantitativa
mmol/L
(mEq/L)
36
Potássio Eletrólito encontrado
na corrente sanguínea,
exerce um papel
essencial na contração
muscular, condução
nervosa e FC
Resultado do
laboratório, colhido
diariamente na rotina
da UTI
Método: Automação
Beckman Coulter
AU680
Quantitativa
mmol/L
(mEq/L)
Hematócrito Percentagem de
volume ocupada pelos
glóbulos vermelhos no
volume total de sangue
Resultado do
laboratório, colhido
diariamente na rotina
da UTI
Método: Pentra 120
Quantitativa
(%)
Tipo de Admissão É a entrada e
permanência do
paciente no hospital
Programada ou não
programada
Categórica
Sim
Não
Tipo de Cirurgia Cirurgia é quando o
cirurgião realiza uma
intervenção manual ou
instrumental no corpo
do paciente
Urgência ou eletiva Categórica
Sim
Não
Infecção É a invasão de tecidos
corporais de um
organismo hospedeiro
por parte de
organismos capazes de
provocar doenças
(GOLDMAN, 2014)
Definida por
manifestações clínicas
e análises de sangue,
quando da admissão na
UTI, avaliadas pelo
médico de plantão ou
registro de prontuário
Categórica
Sim
Não
PAS Pressão exercida pelo
sangue contra a parede
do vaso arterial
(AMODEO, 2010)
Aferida no exame
físico pelo monitor de
PA
Quantitativa
(mmHg)
37
Plaquetas São células do sangue
que participam da
coagulação sanguínea
Resultado do
laboratório, colhido
diariamente na rotina
da UTI
Método: Pentra 120
Quantitativa
mm3
Bilirrubinas Pigmento
predominante na bile.
É o principal produto
do catabolismo de
hemoglobina
Resultado do
laboratório, colhido
diariamente na rotina
da UTI
Método: Automação
Beckman Coulter
AU680
Quantitativa
(mg/dL)
Acute Physiology and
Chronic Health
Evaluation
(APACHE II)
É uma forma de
avaliação e
classificação do índice
de gravidade da
doença. Quantifica o
grau de disfunção
orgânica de pacientes
gravemente enfermos
(KNAUS, 1985)
É calculado com os
dados das primeiras 24
horas de internação,
variando de 6 a 42
pontos.
Quantitativa
Pontos
Simplified Acute
Physiology Score 3
(SAPS 3)
É composto de 20
diferentes variáveis
facilmente mensuráveis
na admissão do
paciente à UTI. Para
cada uma das variáveis
analisadas confere-se
um peso, conforme a
gravidade do distúrbio
fisiológico
(MORENO, 2005)
É calculado com os
dados das primeiras 24
horas de internação, na
teoria, o menor valor
atribuído pelo escore é
16 e o maior é 217
pontos.
Quantitativa
Pontos
38
3.1.5 Coleta de dados
A coleta de dados foi realizada mediante a análise dos prontuários dos pacientes e entrevista
com os familiares para preencher a ficha de coleta de dados. Os pacientes admitidos e que
preencheram os critérios de inclusão para este estudo tiveram seus dados demográficos e os
exames laboratoriais de rotina da UTI coletados para o cálculo dos escores prognósticos,
considerando-se os piores resultados das primeiras 24 horas da internação, exceção feita à
escala de coma de Glasgow, sendo utilizado o melhor desempenho. O instrumento de aferição
utilizado foi um questionário estruturado (Apêndice C), onde estão as variáveis dependentes e
independentes na tabela de definição dos termos, operacionalização e categorização das
variáveis. Também foram aferidos os escores APACHE II e SAPS 3 com os dados das
primeiras 24 horas da internação e as falências orgânicas definidas conforme critérios de
Knaus et al. (1985). A hiperglicemia de estresse foi diagnosticada com o valor de glicose >
180 mg/dL, conforme o valor definido pelo NICE-SUGAR Study Investigators (FINFER,
2009). A medida da glicemia capilar foi realizada através de punção com lancetas
descartáveis em um dedo da mão, após assepsia com álcool. A gota de sangue obtida foi
colocada sobre a área reagente da fita On Call Plus, lida posteriormente no On Call Plus
Medidor de Glicose no Sangue ACON Laboratories Inc. Foram realizadas seis coletas (uma
coleta de 4 em 4 horas) nas primeiras 24 horas e escolhido o resultado mais elevado deste
período, em mg/dL. Os pacientes que apresentaram insuficiência respiratória aguda
(RHODES, 2000) e necessitaram de ventilação mecânica invasiva utilizaram o Ventilador DX
3012 DIXTAL. Os critérios para intubação orotraqueal e utilização de ventilação mecânica
invasiva seguiram as Diretrizes Brasileiras de Ventilação Mecânica 2013, preconizadas pela
Associação de Medicina Intensiva Brasileira (AMIB) – comitê de ventilação mecânica e pela
Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tissiologia (SBPT) – comissão de terapia intensiva,
ou pela avaliação do médico plantonista. O valor normal para a creatinina foi de 0,6 a 1,3
mg/dL pelo método de automação Beckman Coulter AU 680 utilizado no HC-UFPE. O nível
de consciência foi avaliado pela Escala de Glasgow (Anexo D), exame realizado pelo
pesquisador. Foi considerado nível de consciência rebaixado aquele com valores < 8 pontos
(paciente grave com necessidade de intubação imediata) (TEASDALE, 2000). O diagnóstico
de choque foi feito na presença de hipotensão, ou seja, pressão arterial média (PAM) < 60
mmHg em pessoas anteriormente normotensas (SIQUEIRA, 2003). O tratamento inicial
requeria a rápida expansão do volume sanguíneo intravascular circulante juntamente com
39
intervenções para controlar as perdas contínuas e posteriormente a utilização de
vasopressores. Os critérios para utilização dos vasopressores seguiram as Diretrizes para
tratamento da sepse grave/ choque séptico – ressuscitação hemodinâmica (2010) da
Associação Médica Brasileira (AMB), ou pela avaliação do médico plantonista. Os
vasopressores utilizados na UTI foram adrenalina, dopamina, dobutamina, noradrenalina e
vasopressina.
FLUXOGRAMA DE COLETA DOS DADOS
PACIENTES INTERNADOS NA UTI > 60 ANOS
ASSINATURA DO TCLE POR FAMILIARES
PREENCHIMENTO DO QUESTIONÁRIO ESTRUTURADO
E AFERIÇÃO DAS VARIÁVEIS DEPENDENTES E
INDEPENDENTES
AVALIAÇÃO DOS ESCORES APACHE II E
SAPS 3 AO FINAL DAS 24 HORAS NA UTI
ACOMPANHAMENTO DOS PACIENTES
NA UTI E ENFERMARIA
FINAL DA COLETA COM
ÓBITO OU ALTA
HOSPITALAR
40
3.1.5.1 Análise estatística
Para a análise estatística considerou-se inicialmente que os índices prognósticos SAPS 3 e
APACHE II foram correlacionados (Coeficiente de correlação de Pearson: r = 0,83; p <
0.001). Foram realizadas análises separadas para identificar quais fatores, além daqueles já
contemplados na obtenção desses índices, poderiam aliar-se a cada um deles para melhorar a
predição de óbito hospitalar. A análise foi realizada em duas etapas. Na primeira, foi
examinada a associação entre o óbito hospitalar e cada um dos potenciais fatores aliados ao
SAPS 3 e ao APACHE II mediante o ajuste de modelos de regressão logística simples.
Seguindo a recomendação de Hosmer-Lemeshow, os fatores que, nessa primeira etapa,
apresentaram um nível de significância P < 0.25 foram selecionados para inclusão em um
modelo logístico multivariado. Na segunda etapa da análise, foram ajustados dois modelos de
regressão logística múltipla. Um para identificar os fatores associados positivamente ao SAPS
3 e outro para identificar os fatores associados positivamente ao APACHE II. A seleção dos
fatores para cada um desses modelos foi realizada através do método backward stepwise,
adotando-se o nível de 5% para eliminação de variáveis do modelo. Para cada modelo
finalmente ajustado, a bondade do ajuste (calibração) foi avaliada pelo teste de Hosmer-
Lemeshow e a habilidade preditiva (discriminação), pela área sob a curva ROC. Em todos os
testes foi adotado o nível de significância de 5%. A análise estatística foi realizada com o
software Stata 12.1SE (StataCorp, 4905 Lakeway Drive, College Station, Texas 77845 USA).
41
3.1.6 Limitações metodológicas
A possibilidade de viés de seleção no estudo foi minimizada, pois os pacientes eram oriundos
da mesma fonte, ou seja, os pacientes internados na UTI, assim como viés de aferição, pois
todos os dados das fichas de coletas de dados e dos escores foram obtidos e revisados, em três
ocasiões, pelo autor do estudo, além de não ter existido perdas de seguimento (todos os
pacientes foram acompanhados até o desfecho). Houve possibilidade de viés de informação,
pois os antecedentes pessoais foram coletados dos prontuários dos pacientes (viés de
detecção) e entrevistas com os pacientes, quando possível, e familiares (viés de memória).
Não houve utilização de testes diagnósticos (viés de diagnóstico).
3.1.7 Aspectos éticos
Os pacientes estavam internados na UTI do Hospital das Clínicas da UFPE e não houve
mudança na rotina da UTI, mantendo-se o acompanhamento, a terapêutica utilizada e a
realização de exames, tendo seu atendimento e tratamento continuados. Os pacientes não
foram remunerados por participarem do estudo. Não foram previstos benefícios diretos;
todavia como benefícios indiretos este estudo ajudou a compreender os perfis
epidemiológicos e clínicos, além dos fatores de mortalidade dos pacientes idosos internados
na UTI, objetivando melhorar as ações realizadas, para um melhor acompanhamento dos
pacientes. Os pacientes ou, na impossibilidade destes por condição de doença, os responsáveis
pelos pacientes que concordaram em participar da pesquisa assinaram um Termo de
Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE), após serem informados e esclarecidos sobre a
pesquisa. O estudo foi iniciado após a aprovação do TCLE pelo Comitê de Ética em Pesquisa
do Centro de Ciências da Saúde da Universidade Federal de Pernambuco (CEP/CCS/UFPE)
em julho de 2014, CAAE: 31993814.6.0000.5208 e atendeu aos critérios éticos preconizados
pela resolução nº 466, de 12 de dezembro de 2012, do Conselho Nacional de Saúde
(CSN/MS). Os dados coletados nesta pesquisa (na ficha de coleta de dados e nos escores)
estão armazenados em pasta de arquivo, sob a responsabilidade do pesquisador, no endereço:
Rua Santo Elias 450/2002, Espinheiro, CEP 52020090, pelo período de cinco anos.
42
4 CAPÍTULO III
4.1 RESULTADOS
Os resultados da pesquisa encontram-se apresentados em forma de artigos, os quais
estão dispostos nos Apêndices A e B.
43
5 CAPÍTULO IV
5.1 CONCLUSÃO E CONSIDERAÇÕES FINAIS
A necessidade de ventilação mecânica invasiva, a presença de doença pulmonar
obstrutiva crônica e a pressão arterial média < 70 mmHg foram fatores associados à
mortalidade em pacientes idosos internados em unidade de terapia intensiva.
O SAPS 3 e o APACHE II, associados aos pacientes idosos que apresentam
necessidade de ventilação mecânica invasiva e doença pulmonar obstrutiva crônica, têm suas
capacidades preditivas melhoradas. Resultado também encontrado no SAPS 3 associado à
pressão arterial média < 70 mmHg.
Por fim, o desempenho do APACHE II foi semelhante ao do SAPS 3 em pacientes
idosos admitidos em UTI.
De acordo com os dados obtidos nesta pesquisa, os pacientes idosos internados em
UTI com necessidade de VMI, portadores de DPOC e PAM < 70 mmHg constituem aqueles
para os quais os cuidados deveriam ser intensificados devido ao maior risco de mortalidade na
UTI e após alta da UTI.
Sugere-se o uso dos escores APACHE II e SAPS 3 nos pacientes idosos internados em
UTI, para o acompanhamento clínico e prognóstico, pois esses escores apresentam boa
capacidade de prever a mortalidade intra-hospitalar.
44
REFERÊNCIAS
REFERÊNCIAS DO CAPÍTULO 1
BARBAS, C. S.; ÍSOLA, A. M.; FARIAS, A. M., et al. Recomendações brasileiras de
ventilação mecânica 2013. Parte I. Rev Bras Ter Intens, v. 26, n. 2, p. 89-121, 2014.
BARROS, E. J. G.; HOMSI, E.; BURDMANN, E. A., et al. Insuficiência renal aguda: diretriz
da Sociedade Brasileira de Nefrologia, v. 24, n. 1, p. 37-39, 2002.
BERNARDINA, L. D.; DICCINI, S.; BELASCO, A. G. S., et al. Evolução clínica de
pacientes com insuficiência renal aguda em unidade de terapia intensiva. Acta Paul enferm, v.
21, n. spe, p. 174-178, 2008.
BISTON, P.; ALDECOA, C.; DEVRIENDT, J.; MADL, C.; CHOCHRAD, D.; VINCENT, J.
L.; DE BACKER, D. Outcome of elderly patients with circulatory failure. Intens Care Med,
v. 40, n. 1, p. 50-56, 2014.
BRADLEY, W.; DAROFF, R. B.; FENICHEL, G. M.; JANKOVIC, J. Neurology in clinical
practice. Principles of diagnosis and management. Elsevier, v. 4, n. 1, p. 43-64, 2004.
CENSO DEMOGRÁFICO 2010. Características da população e dos domicílios: resultados
do universo. Rio de Janeiro: IBGE, 2011. Disponível em:
HTTP://www.ibge.gov.br/home/estatistica/população/censo2010/caracteristicas_da_populaçã
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DE BACKER, D.; BISTON, P.; DEVRIENDT, J., et al. Comparison of dopamine and
norepinephrine in the treatment of shock. N Engl J Med, v. 362, n. 9, p. 779-789, 2010
DUNGAN, K. M.; BRAITHWAITE S. S.; PREISER J. C. Stress hyperglycaemia. Lancet, v.
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EGI, M.; BELLOMO, R.; STACHOWSKI, E.; FRENCH, C.J.; HART, G.K.; HEGARTY, C.,
Blood glucose concentration and outcome of critical illness: the impact of diabetes. Crit Care
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APÊNDICE A
ARTIGO ORIGINAL 1
FATORES ASSOCIADOS À MORTALIDADE EM PACIENTES IDOSOS
INTERNADOS EM UNIDADE DE TERAPIA INTENSIVA
Marcos Vinícius Ferraz de Lucena
Médico Intensivista – Pós-graduando em Ciências da Saúde – Universidade Federal de
Pernambuco - UFPE.
Sandro Gonçalves de Lima
Prof. Dr. em Ciências - FIOCRUZ
Médico Cardiologista do Serviço de Cardiologia do Hospital das Clínicas - Universidade
Federal de Pernambuco - UFPE.
Brivaldo Markman Filho
Prof. Dr. em Cardiologia – Universidade de São Paulo
Chefe do Serviço de Cardiologia do Hospital de Clínicas – Universidade Federal de
Pernambuco.
Avenida Professor Moraes Rego s/n
Prédio da Pós Graduação 2º andar Centro de Ciências da Saúde
Cidade Universitária Recife Pernambuco Brasil CEP: 50670-091- fone/fax:81-21268517
57
1 Resumo
Introdução: Pacientes idosos internados em Unidades de Terapia Intensiva (UTIs)
apresentam taxas de mortalidade e custos elevados. A mortalidade em curto prazo tem sido
relacionada à gravidade da doença de base, aferida através de escores, entre os quais o
APACHE II e o SAPS 3. O objetivo deste estudo foi identificar os fatores associados à
mortalidade em pacientes idosos internados em UTI. Métodos: Foram consecutivamente
acompanhados 174 pacientes idosos internados em um período de doze meses na UTI e
analisados a presença de hiperglicemia de estresse, necessidade de ventilação mecânica
invasiva, presença de insuficiência renal aguda, nível de consciência rebaixado e uso de
vasopressores, entre outros. A coleta de dados foi realizada através da análise dos prontuários
dos pacientes e entrevista com os familiares, e as informações foram inseridas em ficha
padrão com as variáveis necessárias ao estudo e aferição dos escores APACHE II e SAPS 3.
Os desfechos estudados foram óbito e alta hospitalar. Resultados: A mortalidade na UTI e
hospitalar da população estudada foi, respectivamente, de 17,8% e 29,8%. A análise
multivariada evidenciou que a Ventilação Mecânica Invasiva (VMI), Doença Pulmonar
Obstrutiva Crônica (DPOC) e Pressão Arterial Média (PAM) < 70mmHg foram fatores
associados positivamente ao SAPS 3 e VMI e DPOC foram fatores associados positivamente
ao APACHE II na predição de óbito hospitalar. Conclusão: Nos pacientes idosos internados
na UTI, necessidade de VMI, portadores de DPOC e PAM < 70 mmHg foram preditores de
pior evolução hospitalar.
Palavras-chave: fatores prognósticos; mortalidade; idosos; unidade de terapia intensiva.
58
2 Abstract
Introduction: Older patients admitted to Intensive Care Units (ICUs) present high mortality
rates and costs. Short-term mortality has been related to the severity of the baseline disease,
measured by scores such as APACHE II and SAPS 3. The aim of this study was to identify
the associated factors with mortality in older patients admitted to the ICU. Methods: We
consecutively monitored 174 older patients during a period of twelve months in the ICU, and
analyzed the presence of stress hyperglycemia, the need for invasive mechanical ventilation,
acute renal failure, low levels of consciousness and the use of vasopressors, amongst others.
Data was collected through the analysis of patient records and interviews with family
members. This information was transferred to a standardized form with the variables needed
to study and measure the APACHE II and SAPS 3 scores. The outcomes studied were death
and hospital discharge. Results: ICU and hospital mortality of the studied population was
17.8% and 29.8% respectively. The multivariate analysis indicated that Invasive Mechanical
Ventilation (IMV), Chronic Obstructive Pulmonary Disease (COPD) and Mean Arterial
Pressure (MAP) < 70 mmHg were factors positively associated with SAPS 3, and IMV and
COPD were factors positively associated with APACHE II in predicting hospital mortality.
Conclusion: In older patients admitted to ICU, the need for IMV and those presenting with
COPD and MAP <70 mmHg were predictors of worse hospital outcomes.
Keywords: prognostic factors; mortality; older people; intensive care unit.
59
3 Introdução
O internamento em Unidade de Terapia Intensiva (UTI) apresenta elevadas taxas de
mortalidade.1 A gravidade da doença de base permanece um importante preditor de
mortalidade na UTI e em até seis meses após alta da mesma.2 Os pacientes idosos são
responsáveis por aproximadamente 50% das admissões e quase 60% de todas as diárias de
UTIs nos Estados Unidos da América.3 Os desfechos clínicos na UTI têm sido extensamente
estudados, sendo frequentemente descritos em termos de mortalidade, que em curto prazo é
relacionada à doença de base e é aferida através de escores,4 dentre os quais o Acute
Physiology and Chronic Health Evaluation II (APACHE II)5 e o Simplified Acute Physiology
Score 3 (SAPS 3),6 que fornecem parâmetros para o acompanhamento clínico e prognóstico
dos pacientes.
É necessário identificar os fatores de risco em uma população de pacientes idosos
admitidos em UTIs. Existem relatos, na literatura, que nos pacientes idosos a hiperglicemia de
estresse está mais associada com maior taxa de mortalidade do que naqueles com história
prévia de diabetes melito.7 A associação da idade com Ventilação Mecânica Invasiva (VMI)
está fortemente relacionada à mortalidade hospitalar.8 Doença concomitante e a síndrome de
disfunção de múltiplos órgãos são fatores de risco independentes para a morte de pacientes
idosos com Insuficiência Renal Aguda (IRA), que é uma complicação comum no hospital.9 O
rebaixamento do nível de consciência é um fator independentemente associado com o maior
risco de morte em idosos.10
Choque séptico, escore SAPS 3 elevado na admissão e
necessidade de norepinefrina são preditores independentes de morte na UTI para pacientes
adultos com choque.11
O objetivo deste estudo foi verificar se a hiperglicemia de estresse, ventilação
mecânica invasiva, insuficiência renal aguda, nível de consciência rebaixado e uso de
vasopressores, entre outros; quando analisados em conjunto com os escores APACHE II e
SAPS 3, aumentaram o valor preditivo destes em relação à mortalidade de pacientes idosos
internados em UTI.
60
4 Métodos
Foram consecutivamente acompanhados 174 pacientes idosos admitidos na UTI de um
hospital terciário, de pacientes com patologias clínicas e cirúrgicas, durante o período de 01
de julho de 2014 a 30 de junho de 2015. O estudo recebeu aprovação prévia do Comitê de
Ética em Pesquisa da instituição.
Foram incluídos todos os indivíduos com idade maior ou igual a 60 anos, que tinham
permanecido hospitalizados na UTI por um período igual ou superior a 24 horas. Foram
excluídos os pacientes portadores de doença neoplásica terminal (sem possibilidade
terapêutica, em paliação), no caso daqueles readmitidos na UTI durante a mesma internação
hospitalar, considerou-se a primeira internação. Os pacientes foram acompanhados até a alta
hospitalar ou o óbito.
A coleta de dados foi realizada mediante análise dos prontuários dos pacientes e de
entrevista com os familiares. Os pacientes admitidos e que preencheram os critérios de
inclusão para este estudo tiveram seus dados demográficos e os exames laboratoriais de rotina
da UTI coletados, para o cálculo dos escores prognósticos, considerando-se os piores
resultados das primeiras 24 horas da internação, exceção feita à escala de coma de Glasgow
(sendo utilizado o melhor desempenho). O instrumento de aferição utilizado foi um
questionário estruturado e foram aferidos o APACHE II e o SAPS 3 com dados das primeiras
24 horas da internação e as falências orgânicas definidas conforme critérios de Knaus et al.5
A hiperglicemia de estresse foi diagnosticada com valor de glicose > 180 mg/dL.12
A
medida da glicemia capilar foi realizada através de punção com lancetas descartáveis em um
dedo da mão. Foram realizadas coletas de 4 em 4 horas nas primeiras 24 horas e escolhido o
resultado mais elevado deste período. Os pacientes com o diagnóstico de insuficiência
respiratória aguda foram colocados em ventilação mecânica invasiva.13
Para a insuficiência
renal aguda, a creatinina, cujo valor normal varia de 0,6 a 1,3 mg/dL foi aferida pelo método
de automação Beckman Coulter AU 680. O diagnóstico de IRA foi baseado nos critérios do
RIFLE.14
O nível de consciência foi avaliado pela Escala de Glasgow, sendo considerado
nível de consciência rebaixado valores < 8 pontos.15
Os vasopressores utilizados foram
adrenalina, dopamina, dobutamina, noradrenalina e vasopressina.
Os antecedentes pessoais foram coletados dos prontuários dos pacientes e entrevistas
com os familiares, não sendo realizados testes diagnósticos, o que pode ter causado viés de
informação.
61
Para a análise estatística, considerou-se inicialmente que os índices prognósticos
SAPS 3 e APACHE II são correlacionados (Coeficiente de correlação de Pearson: r = 0,83; p
< 0.001). Foram realizadas análises separadas para identificar quais fatores, além daqueles já
contemplados na obtenção desses índices, poderiam associar-se a cada um deles para
melhorar a predição de óbito hospitalar. A análise foi realizada em duas etapas. Na primeira,
foi examinada a associação entre o óbito hospitalar e cada um dos potenciais fatores
associados ao SAPS 3 e ao APACHE II mediante o ajuste de modelos de regressão logística
simples. Seguindo a recomendação de Hosmer-Lemeshow,16
os fatores que, nessa primeira
etapa, apresentaram um nível de significância p < 0.25 foram selecionados para inclusão em
um modelo logístico multivariado. Na segunda etapa da análise, foram ajustados dois
modelos de regressão logística múltipla: um para identificar fatores associados ao SAPS 3 e
outro para identificar fatores associados ao APACHE II. A seleção dos fatores para cada um
desses modelos foi realizada através do método backward stepwise, adotando-se o nível de
5% para eliminação de variáveis do modelo. Para cada modelo finalmente ajustado, a bondade
do ajuste (calibração) foi avaliada pelo teste de Hosmer-Lemeshow e a habilidade preditiva
(discriminação), pela área sob a curva ROC. Em todos os testes foi adotado o nível de
significância de 5%. A análise estatística foi realizada com o software Stata 12.1SE
(StataCorp, 4905 Lakeway Drive, College Station, Texas 77845 USA).
62
5 Resultados
Diagrama de inclusão e seguimento dos pacientes
Foram incluídos no estudo 174 pacientes, com média de idade de 71,5 anos. A
mortalidade na UTI e hospitalar da população estudada foi, respectivamente, de 17,8% e
29,8%. O APACHE II e o SAPS 3 tiveram médias de 19.1 (16.7 pacientes de alta e 24.9 de
óbito) e 43.6 (38.7 pacientes de alta e 55.0 de óbito) pontos, respectivamente. Os dias de
internamento na UTI e dias totais de internamento hospitalar tiveram médias de 7.2 e 32.0
dias, respectivamente.
587 Admitidos
302 Idosos
174 Incluídos
285 < 60 anos
83 < 24 horas
naNA
44 Readmitidos
1 Terminal
122 Altas
hospitalar
hospitalar
52 Óbitos
21 na Enfermaria 31 na UTI
63
A Tabela 1 apresenta os resultados da análise univariada dos fatores associados ao
óbito hospitalar e que não foram contemplados no método de obtenção do SAPS 3. Os fatores
contemplados para análise multivariada foram VMI, traqueostomia, IRA, vasopressores,
Pressão Arterial Média (PAM), hematócrito, nível de consciência rebaixado, tempo de VMI,
dias de UTI, Hipertensão Arterial Sistêmica (HAS), insuficiência hepática, frequência
respiratória, sódio e Doença Pulmonar Obstrutiva Crônica (DPOC). A análise multivariada
(Tabela 2) mostrou que a VMI, DPOC e PAM foram fatores associados ao SAPS 3 na
predição de óbito hospitalar. O resultado do teste de Hosmer-Lemeshow, com p = 0.472, e a
área sob a curva ROC = 0,80 (IC95%: 0,731 a 0,872) indicaram, respectivamente, uma boa
calibração e uma discriminação entre aceitável e excelente para o modelo composto por estas
quatro características.
A Tabela 3 apresenta os resultados da análise univariada dos fatores associados ao
óbito hospitalar e que não foram contemplados no método de obtenção do APACHE II. Os
fatores contemplados para análise multivariada foram VMI, traqueostomia, IRA, nível de
consciência rebaixado, vasopressores, admissão programada, infecção, PAS, bilirrubinas,
tempo de VMI, dias de UTI, HAS, insuficiência hepática, plaquetas e DPOC. A análise
multivariada (Tabela 4) mostrou que a VMI e DPOC foram fatores associados ao APACHE II
na predição de óbito hospitalar. O resultado do teste de Hosmer-Lemeshow, com p = 0.471, e
a área sob a curva ROC = 0,80 (IC95%: 0,730 a 0,868) indicaram, respectivamente, uma boa
calibração e uma discriminação entre aceitável e excelente para o modelo composto por estas
três características.
64
6 Discussão
Esse estudo demonstrou que, entre os fatores de risco analisados para associação com
o óbito no paciente idoso internado em UTI, a necessidade de VMI foi um importante fator
prognóstico, além da presença de DPOC e da PAM < 70 mmHg.
O SAPS 3, associado à necessidade de VMI, presença de DPOC e a PAM < 70mmHg,
teve melhor capacidade preditiva em comparação aos dados originalmente descritos no SAPS
3. Assim como o APACHE II, associado à necessidade de VMI e à presença de DPOC, teve
melhor capacidade preditiva em comparação aos dados originalmente descritos no APACHE
II. Observamos que, entre estes dois modelos, não houve diferença na capacidade preditiva.
Neste estudo encontrou-se maior mortalidade na UTI do que após a alta da UTI. A
gravidade da doença aguda na admissão, também tem influência na mortalidade hospitalar e
no pós-alta, nos pacientes com idade > 80 anos.17
Foi demonstrado, neste estudo, que a necessidade de VMI esteve associada com a
mortalidade hospitalar. Farfel et al. não consideraram a idade como um fator relacionado para
mortalidade hospitalar de pacientes idosos não requerentes de VMI na UTI.8 Silva et al.
demonstraram que pacientes com idade acima de 65 anos em VMI apresentaram pior
prognóstico, com taxa de mortalidade três vezes maior na UTI e duas vezes no hospital, maior
tempo de VMI, falha de desmame ventilatório e extubação, em comparação a pacientes mais
jovens com as mesmas características clínicas.18
Outros estudos mostraram que a necessidade
de VMI foi um importante fator de risco independente de mortalidade, nos idosos.19,20
Tripp
et al. constataram que as taxas de mortalidade em 2 anos após a alta da UTI, em pacientes
muito idosos (> 80 anos) que necessitaram VMI, foram maiores para aqueles com doença
clínica aguda (78%), seguidos por admissões cirúrgicas de urgência (46%) e admissões
eletivas (35%).21
A DPOC mostrou, neste estudo, estar associada ao óbito hospitalar, em pacientes
idosos. Teixeira et al. observaram que os pacientes com DPOC apresentaram alta mortalidade
na UTI (27%) e, dois anos após a alta hospitalar, (68%).22
Ongel et al. demonstraram que
pacientes com DPOC grave e comorbidades cardíacas deveriam ser cuidadosamente
monitorados em UTI, devido ao seu alto risco de mortalidade na UTI.23
Apesar desse estudo não ter demonstrado que a hiperglicemia de estresse foi um fator
de risco para pior prognóstico nos pacientes idosos, pesquisas recentes demonstraram
65
desfechos desfavoráveis na hiperglicemia de estresse com aumento da mortalidade na UTI
entre adultos,24
idosos19
e muito idosos.25
Hipovolemia, sepse, iatrogenias relacionadas à toxicidade de drogas, nefropatia
induzida por contraste e complicações perioperatórias muitas vezes ocorrem em pacientes
idosos hospitalizados.26
Neste estudo, a IRA não foi um fator de risco na predição de óbito
hospitalar. A literatura tem demonstrado que a IRA tem sido fator de risco independente para
o maior tempo de permanência em UTI e mortalidade.27
A lesão renal aguda foi um preditor
robusto de readmissão hospitalar nos pacientes sob cuidados críticos que sobreviveram à
hospitalização, e nos pacientes com doença grave esteve associada com maiores chances de
mortalidade em até 30 dias após a alta.28
Este estudo, também, não evidenciou que o uso de vasopressores e o nível de
consciência rebaixado representaram fatores de risco para mortalidade de idosos internados na
UTI. Na literatura, encontramos que o uso de vasopressores e a gravidade da doença aguda
foram preditores de mortalidade em pacientes idosos > 90 anos.25
O prognóstico de pacientes
em coma não traumático é considerado grave e depende do nível de consciência na admissão
e da etiologia do coma.29
A inclusão de um número maior de pacientes poderia ter alterado o resultado da
análise multivariada, fazendo com que as associações entre hiperglicemia de estresse, IRA,
uso de vasopressores e nível de consciência rebaixado com os desfechos fossem
significativas.
Este estudo foi realizado em um único centro hospitalar, sujeito então a vieses
relacionados ao tipo de paciente e tratamento recebido, fato que impede emitir conclusão
definitiva sobre o assunto. Todavia, os cálculos mostraram suficiente poder estatístico no
estudo. Dessa forma, mais estudos com desenhos adequados são necessários para confirmar
os achados levantados na presente pesquisa. Os antecedentes pessoais, como o DPOC, foram
coletados dos prontuários dos pacientes e entrevistas com os familiares, não sendo realizados
testes diagnósticos, o que pode ter causado viés de informação.
De acordo com os dados obtidos nesta pesquisa, os pacientes idosos internados em
UTI com necessidade de VMI, portadores de DPOC e PAM < 70 mmHg constituem aqueles
para os quais os cuidados deveriam ser intensificados devido ao maior risco de mortalidade na
UTI e após alta da UTI.
66
7 Potencial conflito de interesse:
Declaramos não haver conflitos de interesses pertinentes.
8 Fontes de financiamento:
O presente estudo não teve fonte de financiamento externa.
9 Vinculação Acadêmica:
Este artigo é parte da dissertação de mestrado de Marcos Vinícius Ferraz de Lucena
pela Pós graduação em Ciências da Saúde da Universidade Federal de Pernambuco.
10 Agradecimentos:
Ao corpo clínico da UTI do Hospital das Clinicas da Universidade Federal de Pernambuco –
Brasil, pela receptividade e apoio a esta pesquisa.
11 Contribuição dos autores:
Concepção e desenho da pesquisa; obtenção, análise e interpretação de dados e redação do
manuscrito realizados por Lucena, M.V.F., e Lima, S.G. Revisão do manuscrito quanto ao
conteúdo científico importante efetuado por Markman Filho, B.
67
12 Tabelas
Tabela 1. Análise univariada dos fatores associados ao óbito hospitalar. Rol de fatores não
componentes do SAPS 3. Variável Amostra Desfecho: óbito
hospitalar
N N (%) OR (IC95%) Valor p
VMI < 0.001
Sim 74 38 (51.4) 6.48(3.14 - 13.40)
Não 100 14 (14.0) 1.0
Traqueostomia 0.047
Sim 15 8 (53.3) 2.99(1.02 - 8.73)
Não 159 44 (27.7) 1.0
DPOC 0.126
Sim 7 4 (57.1) 3.31(0.71 - 15.33)
Não 167 48 (28.7) 1.0
HAS 0.067
Sim 139 37 (26.6) 0.48(0.22 - 1.04)
Não 35 15 (42.9) 1.0
DM 0.508
Sim 87 24 (27.6) 0.80(0.42 - 1.54)
Não 87 28 (32.2) 1.0
Uso de cigarro 0.755
Sim 36 10 (27.8) 0.88(0.39 - 1.99)
Não 138 42 (30.4) 1.0
Ingestão de álcool 0.716
Sim 19 5 (26.3) 0.82(0.28 - 2.41)
Não 155 47 (30.3) 1.0
Insuficiência Hepática 0.051
Sim 8 5 (62.5) 4.22(0.97 - 18.36)
Não 166 47 (28.3) 1.0
Insuficiência renal aguda 0.002
Sim 45 22 (48.9) 3.16(1.55 - 6.44)
Crônica ou ausente 129 30 (23.3) 1.0
Hiperglicemia de estresse 0.439
Sim 108 30 (27.8) 0.77(0.40 - 1.49)
Não 66 22 (33.3) 1.0
Uso de vasopressores 0.005
Sim 79 32 (40.5) 2.55(1.31 - 4.98)
Não 95 20 (21.1) 1.0
PAM < 0.001
< 70 41 21 (51.2) 3.45(1.66 - 7.19)
>=70 133 31 (23.3) 1.0
Frequência Respiratória 0.077
< 25 111 28 (25.2) 0.55(0.28 - 1.07)
>= 25 63 24 (38.1) 1.0
continua
68
Tabela 1. continuação Variável Amostra Desfecho: óbito
hospitalar
N N (%) OR (IC95%) Valor p
Sódio 0.057
< 130 25 8 (32.0) 1.26(0.50 - 3.17)
>= 130 e < 150 140 38 (27.1) 1.0
>= 150 9 6 (66.7) 5.37(1.28 - 22.55)
Potássio 0.999
< 3.5 30 9 (30.0) 1.00(0.42 - 2.39)
>= 3.5 e < 5.5 127 38 (29.9) 1.0
>= 5.5 17 5 (29.4) 0.98(0.32 - 2.96)
Hematócrito 0.046
< 30 87 32 (36.8) 1.95(1.00 - 3.78)
>= 30 87 20 (23.0) 1.0
Nível de consciência 0.007
Rebaixado 40 19 (47.5) 2.77(1.33 - 5.77)
Normal 134 33 (24.6) 1.0
SAPS 3 174 -
Tempo de VMI 174 - 1.13 (1.06 - 1.21) < 0.001
Tempo de traqueo 174 - 1.01 (0.99 - 1.03) 0.570
Dias de UTI 174 - 1.06 (1.01 - 1.10) 0.008 VMI ventilação mecânica invasiva, DPOC doença pulmonar obstrutiva crônica, HAS hipertensão arterial
sistêmica, DM diabetes melito, PAM pressão arterial média
Tabela 2. Modelo final dos fatores de risco para óbito hospitalar, utilizando como preditores:
SAPS 3, VMI, DPOC e PAM Variável Odds Ratio(CI95%) Valor p
SAPS 3 0.027
per unit 1.03 (1.00 to 1.06)
VMI 0.005
Sim 3.83 (1.49 a 9.83)
Não* 1.0
DPOC 0.029
Sim 6.82 (1.22 a 38.18)
Não* 1.0
PAM 0.023
< 70 2.78 (1.15 a 6.74)
>=70* 1.0 *Grupo referência. Teste de Hosmer-Lemeshow: p = 0.472; Área sob a curva ROC = 0.80 (IC95%: 0,73 a 0,87)
VMI ventilação mecânica invasiva, DPOC doença pulmonar obstrutiva crônica, PAM pressão arterial média
69
Tabela 3. Análise univariada dos fatores associados ao óbito hospitalar. Rol de fatores não
componentes do APACHE II. Variável Amostra Desfecho
N N (%) RP (IC95%) Valor p
VMI < 0.001
Sim 74 38 (51.4) 6.48 (3.14 - 13.40)
Não 100 14 (14.0) 1.0
Traqueostomia 0.047
Sim 15 8 (53.3) 2.99 (1.02 - 8.73)
Não 159 44 (27.7) 1.0
DPOC 0.126
Sim 7 4 (57.1) 3.31 (0.71 - 15.33)
Não 167 48 (28.7) 1.0
HAS 0.067
Sim 139 37 (26.6) 0.48 (0.22 - 1.04)
Não 35 15 (42.9) 1.0
DM 0.508
Sim 87 24 (27.6) 0.80(0.42 - 1.54)
Não 87 28 (32.2) 1.0
Uso de cigarro 0.755
Sim 36 10 (27.8) 0.88 (0.39 - 1.99)
Não 138 42 (30.4) 1.0
Ingestão de álcool 0.716
Sim 19 5 (26.3) 0.82 (0.28 - 2.41)
Não 155 47 (30.3) 1.0
Insuficiência Hepática 0.051
Sim 8 5 (62.5) 4.22 (0.97 - 18.36)
Não 166 47 (28.3) 1.0
Insuficiência renal aguda 0.002
Sim 45 22 (48.9) 3.16 (1.55 - 6.44)
Crônica ou ausente 129 30 (23.3) 1.0
Nível de consciência 0.007
Rebaixado 40 19 (47.5) 2.77 (1.33 - 5.77)
Normal 134 33 (24.6) 1.0
Hiperglicemia de estresse 0.439
Sim 108 30 (27.8) 0.77 (0.40 - 1.49)
Não 66 22 (33.3) 1.0
Uso de vasopressores 0.005
Sim 79 32 (40.5) 2.55 (1.31 - 4.98)
Não 95 20 (21.1) 1.0
Admissão programada 0.005
Sim 52 8 (15.4) 0.32 (0.14 - 0.75)
Não 122 44 (36.1) 1.0
Infecção < 0.001
Sim 67 33 (49.3) 4.50 (2.26 - 8.96)
Não 107 19 (17.8) 1.0
PAS 0.007
< 70 10 7 (70.0) 6.17 (1.53 - 24.91)
>=70 164 45 (27.4) 1.0
Plaquetas 0.098
< 100 000 22 10 (45.5) 2.18 (0.88 - 5.43)
>= 100 000 152 42 (27.6) 1.0
continua
70
Tabela 3. continuação Bilirrubinas
< 2
>= 2
Tempo de VMI
159
15
174
43 (27.0)
9 (60.0)
-
0.25 (0.08 - 0.74)
1.0
1.13 (1.06 - 1.21)
0.011
< 0.001
Tempo de traqueostomia 174 - 1.01 (0.99 - 1.03) 0.570
Dias de UTI 174 - 1.06 (1.01 - 1.10) 0.008 VMI ventilação mecânica invasiva, DPOC doença pulmonar obstrutiva crônica, HAS hipertensão arterial
sistêmica, DM diabetes melito, PAS pressão arterial sistólica
Tabela 4. Modelo final dos fatores de risco para óbito hospitalar, utilizando como preditores:
APACHE II, VMI e DPOC. Variável OR (IC95%) Valor p
APACHE II 0.002
Por unidade 1.09 (1.03 - 1.16)
VMI 0.020
Sim 2.98 (1.19 - 7.49)
Não* 1
DPOC 0.033
Sim 6.29 (1.16 - 34.19)
Não*
1 * Grupo referência. Teste de Hosmer-Lemeshow: p = 0.471; Área sob a curva ROC = 0,80 (IC95%: 0,73 a 0,87).
VMI ventilação mecânica invasiva, DPOC doença pulmonar obstrutiva crônica
71
13 Carta de Apresentação
Os idosos têm expressiva utilização dos serviços de saúde, especialmente UTIs, onde
os escores são amplamente utilizados e fornecem parâmetros para o acompanhamento clínico
e prognóstico dos pacientes. Encontramos, na literatura, estudos que têm verificado os fatores
associados à mortalidade em pacientes internados em UTIs, sendo menos frequentes estes
dados em uma população exclusivamente de idosos.
Desenvolvemos um estudo que mostrou uma melhor capacidade preditiva do SAPS 3
quando associado com ventilação mecânica invasiva, doença pulmonar obstrutiva crônica e
pressão arterial média < 70 mmHg e do APACHE II quando associado com ventilação
mecânica invasiva e doença pulmonar obstrutiva crônica. Acreditamos tratar-se de um
importante estudo verificando os fatores prognósticos de mortalidade em pacientes idosos.
A concepção e o desenho da pesquisa, assim como a aquisição de dados, análise e
interpretação foram realizados por Lucena, M. V. F., e Lima S. G. O conteúdo científico do
manuscrito foi revisado por Markman Filho, B.
Os resultados desta pesquisa não foram publicados na sua íntegra ou parcialmente,
nem na forma de resumo, na comunidade científica.
Atenciosamente,
Marcos Vinícius Ferraz de Lucena
72
APÊNDICE B
ARTIGO ORIGINAL 2
COMPARAÇÃO ENTRE OS ESCORES APACHE II E SAPS 3 EM PACIENTES
IDOSOS INTERNADOS EM UNIDADE DE TERAPIA INTENSIVA
Marcos Vinícius Ferraz de Lucena
Médico Intensivista – Pós graduando em Ciências da Saúde – Universidade Federal de
Pernambuco - UFPE.
Sandro Gonçalves de Lima
Prof. Dr. em Ciências - FIOCRUZ
Médico Cardiologista do Serviço de Cardiologia do Hospital das Clínicas - Universidade
Federal de Pernambuco - UFPE.
Brivaldo Markman Filho
Prof. Dr. em Cardiologia – Universidade de São Paulo
Chefe do Serviço de Cardiologia do Hospital de Clínicas – Universidade Federal de
Pernambuco - UFPE.
Avenida Professor Moraes Rego s/n
Prédio da Pós Graduação 2º andar Centro de Ciências da Saúde
Cidade Universitária Recife Pernambuco Brasil CEP: 50670-091- fone/fax:81-21268517
73
1 Resumo
Introdução: Os idosos têm expressiva utilização da Unidade de Terapia Intensiva (UTI). A
mortalidade em curto prazo tem sido relacionada à gravidade da doença de base aferida
através de escores que fornecem parâmetros para o acompanhamento clínico e prognóstico do
paciente. O objetivo deste estudo foi comparar os escores APACHE II e SAPS 3 em pacientes
idosos internados em UTI. Métodos: Foram consecutivamente acompanhados 174 pacientes
idosos internados em um período de doze meses na UTI. A coleta de dados foi realizada
através da análise dos prontuários dos pacientes e entrevista com os familiares e as
informações inseridas em ficha padrão com as variáveis necessárias ao estudo e aferição dos
escores APACHE II e SAPS 3. Os desfechos estudados foram óbito e alta hospitalar.
Resultados: A mortalidade na UTI e hospitalar da população estudada foi, respectivamente,
de 17,8% e 29,8%. O APACHE II e o SAPS 3 tiveram médias de 19,1 e 43,6 pontos,
respectivamente. O estudo demonstrou que o APACHE II e o SAPS 3 apresentaram aceitável
discriminação, calibração adequada e a mortalidade observada foi maior que a predita.
Conclusão: O desempenho do APACHE II foi semelhante ao SAPS 3 em pacientes idosos
internados em UTI.
Palavras-chave: APACHE II; SAPS 3; mortalidade; idosos; unidade de terapia intensiva.
74
2 Abstract
Introduction: Admissions to the Intensive Care Unit (ICU) are very expressive in older
people. Short-term mortality has been related to the severity of the baseline disease by
measuring scores that provide parameters for clinical monitoring and patient prognosis. The
aim of this study was to compare the APACHE II and SAPS 3 scores in older patients
admitted to ICU. Methods: We consecutively monitored 174 older patients in ICU during a
period of twelve months. Data was collected through the analysis of patient records and
interviews with family members. This information was transferred to a standardized form
along with the variables needed to study and measure the APACHE II and SAPS 3 scores.
The outcomes studied were death and hospital discharge. Results: ICU and in-hospital
mortality in the population studied was 17.8% and 29.8%., respectively. The APACHE II and
SAPS 3 scores demonstrated mean values of 19.1 and 43.6 points, respectively. The study
indicated that the APACHE II and SAPS 3 presented acceptable discrimination and good
calibration and the mortality rates observed were higher than predicted. Conclusion: The
performance of APACHE II was similar to SAPS 3 in older patients admitted to ICU.
Keywords: APACHE II; SAPS 3; mortality; older people; intensive care unit.
75
3 Introdução
O número de idosos vem crescendo em todo o mundo e também no Brasil. Esse
aumento representa uma expressiva utilização dos serviços de saúde, especialmente em
Unidade de Terapia Intensiva (UTI), onde podem corresponder a mais da metade das
admissões.1 A admissão de pacientes idosos na UTI levanta questões médicas, éticas,
sociológicas e econômicas importantes.
O internamento em UTI apresenta elevadas taxas de mortalidade.2 Os pacientes idosos
são responsáveis por aproximadamente 50% das admissões e quase 60% de todas as diárias de
UTI nos Estados Unidos da América.3 Uma prática introduzida nos anos 80 foi a avaliação da
gravidade e prognóstico de pacientes admitidos em UTIs utilizando escores.4
O escore Acute Physiology and Chronic Health Evaluation II (APACHE II) é o mais
difundido dos índices prognósticos. Quantifica o grau de disfunção orgânica de pacientes
gravemente enfermos e é calculado com os dados das primeiras 24 horas de internação,
variando de 6 a 42 pontos.5
O Simplified Acute Physiology Score 3 (SAPS 3), introduzido mais recentemente,
revela sete equações personalizadas, além de uma equação global, dispõe de equação padrão
para diferentes partes do mundo, entre elas a América Central e do Sul.6 Ele é composto de 20
diferentes variáveis facilmente mensuráveis na admissão do paciente à UTI. Para cada uma
das variáveis analisadas confere-se um peso, conforme a gravidade do distúrbio fisiológico.
Na teoria, o menor valor atribuído pelo escore é 16 e o maior é 217 pontos.7
Em estudo que comparou o APACHE II com o SAPS 3 para predição do óbito em
pacientes internados em UTI, não exclusivamente idosos, a diferença em eficácia não foi
estatisticamente significante e a escolha entre o APACHE II e o SAPS 3 depende da
facilidade de uso e preferências locais.8
Pouco se conhece acerca da real correlação desses índices prognósticos em pacientes
idosos em UTI. O objetivo do presente estudo foi comparar a precisão do APACHE II com a
do SAPS 3 em predizer a mortalidade hospitalar de pacientes idosos internados em UTI.
76
4 Métodos
Foram consecutivamente acompanhados 174 pacientes idosos admitidos na UTI de um
hospital terciário, de pacientes com patologias clínicas e cirúrgicas, durante o período de 01
de julho de 2014 a 30 de junho de 2015.
Foram incluídos todos os indivíduos com idade maior ou igual a 60 anos, que tinham
permanecido hospitalizados na UTI por um período igual ou superior a 24 horas. Foram
excluídos os pacientes portadores de doença neoplásica terminal (sem possibilidade
terapêutica, em paliação); no caso daqueles readmitidos na UTI durante a mesma internação
hospitalar, considerou-se a primeira internação. Os pacientes foram acompanhados até a alta
hospitalar ou o óbito.
A coleta de dados foi realizada mediante análise dos prontuários dos pacientes e de
entrevista com os familiares. Os pacientes admitidos e que preencheram os critérios de
inclusão para este estudo tiveram seus dados demográficos e os exames laboratoriais de rotina
da UTI coletados, para o cálculo dos escores prognósticos, considerando-se os piores
resultados das primeiras 24 horas da internação, exceção feita à escala de coma de Glasgow,
sendo utilizado o melhor desempenho. A gravidade da doença foi avaliada utilizando os
escores Acute Physiology and Chronic Health Evaluation II (APACHE II)5 e Simplified
Acute Physiology Score 3 (SAPS 3).6
As variáveis quantitativas foram resumidas através de médias e desvios padrão e as
qualitativas através de percentagens. As médias foram comparadas pelo teste t de Student. A
capacidade de predição dos índices prognósticos foi avaliada através de três propriedades: 1-
taxa de letalidade padronizada (TLP); 2- calibração e 3- discriminação. A TLP correspondente
a cada índice prognóstico foi obtida dividindo-se a letalidade observada pela predita, esta
tendo sido estimada no ponto médio do índice. Para avaliar a precisão dessas taxas foram
obtidos intervalos de 95% de confiança utilizando-se o método Bootstrap, com 500
repetições. A calibração dos modelos de SAPS 3 e APACHE II foi avaliada através da
inspeção visual de gráficos de calibração e por meio do goodness-of-fit (GOF), teste de
Hosmer-Lemeshow,9 que compara a mortalidade observada com a mortalidade esperada por
intervalos de decis de risco. Nos gráficos de calibração o risco observado é, de fato, o risco
estimado pelo método não-paramétrico lowess.10
A calibração é considerada insatisfatória
quando o teste de Hosmer-Lemeshow apresenta um resultado significante, usualmente com
valor p menor que 5%. No estudo da discriminação, a sensibilidade (verdadeiros positivos) e a
77
especificidade (verdadeiros negativos) de um método foram avaliadas. A capacidade
discriminativa dos dois índices prognósticos foi estimada por meio de curvas ROC (Receiver
Operating Characteristic). As áreas sob as curvas foram calculadas e comparadas por meio do
teste de DeLong, DeLong and Clark-Pearson. Em todos os testes adotou-se o nível de
significância de 0.05. A análise estatística foi realizada com o software Stata 12.1 SE
(StataCorp, College Station, Texas 77845 USA).
78
5 Resultados
Diagrama de inclusão e seguimento dos pacientes
Foram incluídos no estudo 174 pacientes, com média de idade de 71,5 anos. A
mortalidade na UTI e hospitalar da população estudada foi, respectivamente, de 17,8% e
29,8%. O APACHE II e o SAPS 3 tiveram médias de 19.1 (16.7 pacientes de alta e 24.9 de
óbito) e 43.6 (38.7 pacientes de alta e 55.0 de óbito) pontos, respectivamente. Os dias de
internamento na UTI e dias totais de internamento hospitalar tiveram médias de 7.2 e 32.0
dias, respectivamente.
A Tabela 1 apresenta uma descrição numérica dos escores SAPS 3 e APACHE II,
segundo o desfecho hospitalar. A Figura 1 mostra esquematicamente a distribuição dos
escores, tanto dos pacientes que foram a óbito quanto dos que receberam alta. Em relação aos
dois índices prognósticos, os pacientes que foram a óbito apresentaram um escore médio mais
alto do que os que receberam alta (teste t de Student: p < 0,001 para ambos os índices).
587 Admitidos
302 Idosos
285 < 60 anos
83 < 24 horas
naNA
44 Readmitidos
1 Terminal
174 Incluídos
122 Altas
hospitalar
hospitalar
52 Óbitos
31 na UTI 21 na Enfermaria
79
A Tabela 2 apresenta os resultados do ajuste de dois modelos de regressão logística
simples, para avaliar, individualmente, a associação dos escores SAPS 3 e APACHE II com a
ocorrência de óbito. Os resultados expressos na Tabela 2 indicam que os dois índices
prognósticos apresentaram associação estatisticamente significante com a ocorrência de óbito.
Para cada acréscimo de um ponto no escore SAPS 3, estima-se o aumento de 6% na odds de
óbito. Da mesma forma, para cada aumento de um ponto no escore APACHE II, estima-se o
aumento de 13% na odds de óbito.
A calibração dos modelos apresentados na Tabela 2 pode ser visualizada nos gráficos
de calibração (Figura 2). A inspeção visual desses gráficos mostra um comportamento similar
nas duas curvas, com exceção da parte correspondente aos valores de risco estimado menores
que 0.15. A partir do valor 0.50 aproximadamente, observa-se, nas duas curvas, que o risco
estimado foi consistentemente um pouco maior que o risco observado. Entretanto,
globalmente, o teste de Hosmer-Lemeshow indica uma concordância razoável entre a
mortalidade observada e a mortalidade prevista, com valores p = 0.427 (índice SAPS 3) e p
0.779 (índice APACHE II). Ou seja, as probabilidades estimadas pelos modelos refletem
satisfatoriamente as chances de ocorrência de óbito (Tabela 3).
A capacidade discriminativa de cada um dos dois índices prognósticos, avaliada pela
área sob a curva ROC, é apresentada na Tabela 4. A diferença entre as duas áreas não foi
estatisticamente significante (teste de DeLong, DeLong and Clark-Pearson: valor p = 0.982).
A Figura 3 mostra as curvas ROC dos dois índices prognósticos. Numericamente, as duas
áreas ficaram no intervalo 0.7 ROC < 0.8, o que, segundo Hosmer-Lemeshow, indica uma
capacidade discriminativa aceitável, porém no patamar mais baixo de aceitabilidade. Este
resultado pode ser mais facilmente visualizado na Figura 4, que mostra a distribuição das
probabilidades estimadas de óbito, segundo o desfecho hospitalar. Tanto em relação ao SAPS
3 quanto em relação ao APACHE II, percebe-se que os intervalos das probabilidades
estimadas apresentam uma considerável interseção.
A média dos escores de SAPS 3 foi 43.5 (IC95%: 41.0 - 46.1) correspondente a uma
taxa de letalidade padronizada (TLP) de 1.13 (IC95%: 1.06 - 1.28); a média dos escores de
APACHE II foi 19.1 (IC95%: 17.9 – 20.4) correspondente a uma taxa de letalidade
padronizada de 1.11 (IC95%: 1.04 1.30). Os limites dos intervalos de confiança indicam
que, tanto no SAPS 3 quanto no APACHE II, a mortalidade observada foi maior que a
predita.
80
6 Discussão
A média de pontuação do APACHE II encontrada na literatura varia entre 10,4 e 24,0,
para ambos, pacientes adultos 11-14
e pacientes idosos.1, 15-17
Nossa coorte obteve média igual a
19,1 em pacientes > 60 anos, o mesmo valor encontrado por El Said.18
A média de pontuação
do SAPS 3 encontrada na literatura varia entre 36,9 e 65,4, para ambos, pacientes adultos 11-13,
19 e pacientes idosos.
15, 20 Esta coorte obteve média 43,6, em pacientes > 60 anos.
O APACHE II utilizou bancos de dados da população europeia e norte-americana. O
SAPS 3, especialmente a equação elaborada para a América Central e do Sul, envolveu
pacientes brasileiros de vários hospitais de diferentes estados do país, com instituições
públicas e privadas.
Rocco et al. analisaram oito modelos prognósticos utilizando esses mesmos escores e
observaram calibração inadequada, boa discriminação e subestimação da mortalidade para o
APACHE II.21
O SAPS 3 foi avaliado em pacientes oncológicos, a maioria com idade
elevada, tendo apresentado discriminação e calibração adequadas.22
Xing et al. evidenciaram
boa discriminação e capacidade de calibração na predição de mortalidade intra-hospitalar de
pacientes criticamente enfermos com câncer que necessitaram de cuidados intensivos, sendo o
SAPS 3 superior ao APACHE II.11
Em estudos com pacientes adultos internados em UTI cirúrgica Gilani et al.
demonstraram que o APACHE II apresentou capacidade discriminativa excelente, uma boa
calibração e previu adequadamente o risco de mortalidade.23
Sakr et al. observaram que o
desempenho do SAPS 3 foi semelhante ao do APACHE II.13
Os dois escores apresentaram
boa discriminação, pobre calibração e superestimaram a taxa de mortalidade em estudo feito
por Lee et al.24
O SAPS 3 foi superior, com melhor discriminação e calibração, ao APACHE II, em
uma UTI geral de adultos12
e o APACHE II teve excelente capacidade de prever a
mortalidade nas primeiras 24h após a admissão em UTI geriátrica,18
contudo, não existe
comparação exclusivamente entre esses dois escores com pacientes idosos em UTI mista.
No Brasil, a comparação entre esses dois escores em pós-operatório de pacientes
transplantados internados em UTI mostraram baixa precisão na predição de mortalidade intra-
hospitalar.25
A taxa de letalidade padronizada encontrada, neste estudo, do SAPS 3 (1,13) e do
APACHE II (1,11) mostraram que a mortalidade observada foi maior que a predita, resultado
81
também encontrado entre idosos em UTI no Brasil, com SAPS 3 (1,09) e APACHE II
(1,21).15
Este estudo foi realizado em um único centro hospitalar, sujeito então a vieses
relacionados ao tipo de paciente e tratamento recebido, não podendo ser generalizado para
outros centros.
Sugere-se o uso dos escores APACHE II e SAPS 3 nos pacientes idosos internados em
UTI, para o acompanhamento clínico e prognóstico, pois esses escores apresentam boa
capacidade de prever a mortalidade intra-hospitalar.
82
7 Potencial conflito de interesse:
Declaramos não haver conflitos de interesses pertinentes.
8 Fontes de financiamento:
O presente estudo não teve fonte de financiamento externa.
9 Vinculação Acadêmica:
Este artigo é parte da dissertação de mestrado de Marcos Vinícius Ferraz de Lucena,
pela Pós-graduação em Ciências da Saúde da Universidade Federal de Pernambuco.
10 Agradecimentos:
Ao corpo clínico da UTI do Hospital das Clinicas da Universidade Federal de Pernambuco –
Brasil, pela receptividade e apoio nesta pesquisa.
11 Contribuição dos autores:
Concepção e desenho da pesquisa; obtenção, análise e interpretação de dados e redação do
manuscrito realizados por Lucena, M.V.F. e Lima, S.G. Revisão do manuscrito quanto ao
conteúdo científico importante, efetuado por Markman Filho, B.
83
12 Tabelas e Figuras
Tabela 1. Tamanho amostral, média, desvio padrão, valores mínimo e máximo dos escores
SAPS 3 e APACHE II, de acordo com o desfecho hospitalar. Índice prognóstico
SAPS 3 APACHE II
Desfecho hospitalar N Média (DP) Mínimo Máximo Média (DP) Mínimo Máximo
Alta 122 38.7 (15.1) 12.0 92.0 16.7 (7.2) 4.0 37.0
Óbito 52 55.0 (16.3) 23.0 88.0 24.9 (8.8) 11.0 44.0
Total 174 43.6 (17.1) 12.0 92.0 19.1 (8.6) 4.0 44.0
Figura 1. Distribuição dos escores SAPS 3 e APACHE II de acordo com o desfecho hospitalar.
Comparação de alta e óbito no SAPS 3 e APACHE II.
20
40
60
80
10
0
SA
PS
3
Alta Óbito
Desfecho hospitalarTeste t para comparção de médias: p < 0,001
010
20
30
40
AP
AC
HE
II
Alta Óbito
Desfecho hospitalarTeste t para comparção de médias: p < 0,001
84
Tabela 2. Resultados do modelo de regressão logística simples para avaliar a associação entre
SAPS 3, APACHE II e óbito. Índice prognóstico OR IC95% P valor
SAPS 3 1.06 1.04 – 1.09 < 0.001
APACHE II 1.13 1.08 – 1.19 < 0.001
Figura 2. Gráficos de calibração de SAPS 3 e APACHE II.
0
.15
.3.4
5.6
.75
.9
Ris
co o
bse
rva
do
0 .15 .3 .45 .6 .75 .9Risco estimado
Aparente Ideal
Calibração
0
.15
.3.4
5.6
.75
.9
Ris
co o
bse
rva
do
0 .15 .3 .45 .6 .75 .9Risco estimado
Aparente Ideal
Calibração
85
Tabela 3. Número de pacientes, número observado e número esperado de óbitos, segundo os
grupos (decis das probabilidades estimadas) utilizados no teste da bondade de ajuste (Hosmer-
Lemeshow) para os modelos apresentados na Tabela2. Grupo
N
SAPS
3
Número
observado
de óbitos (%)
Número
esperado
óbitos (%)
HL*
N
APACHE
II
Número
observado
de óbitos (%)
Número
esperado
óbitos (%)
HL*
1 23 3 (13.0) 1.8 (7.8) 0.86 18 0 (0.0) 1.5 (8.1) 1.59
2 14 0 (0.0) 1.5 (10.9) 1.72 25 3 (12.0) 3.0 (12.1) 0.00
3 17 1 (5.9) 2.3 (13.5) 0.84 21 3 (14.3) 3.3 (15.5) 0.02
4 17 2 (11.8) 2.9 (17.3) 0.36 16 4 (25.0) 3.1 (19.3) 0.34
5 17 4 (23.5) 3.8 (22.2) 0.02 15 3 (20.0) 3.5 (23.5) 0.10
6 17 7 (41.2) 4.7 (27.4) 1.62 13 5 (38.5) 3.6 (27.7) 0.75
7 18 8 (44.4) 6.1 (34.0) 0.87 17 8 (47.1) 5.9 (34.7) 1.15
8 18 9 (50.0) 7.8 (43.2) 0.34 15 5 (33.3) 6.4 (42.9) 0.56
9 17 7 (41.2) 9.3 (54.6) 1.24 20 11 (55.0) 10.9 (54.5) 0.00
10 16 11 (68.8) 11.8 (73.8) 0.21 14 10 (71.4) 10.8 (77.4) 0.28
Total 174 52 (29.9) 52.0 (29.9) 8.07 174 52 (29.9) 52.0 (29.9) 4.80 * HL: discrepância relativa entre valor observado e valore esperado em cada grupo; Teste de Hosmer-Lemeshow (SAPS 3):
chi-quadrado = 8.07; graus de liberdade = 8; valor p = 0,427; Teste de Hosmer-Lemeshow (APACHE II): chi-quadrado =
4.80; valor p = 0.779.
Figura 3. Curvas ROC dos índices prognósticos SAPS 3 e APACHE II.
0.0
00.2
50.5
00.7
51.0
0
Sen
sib
ilid
ad
e
0.00 0.25 0.50 0.75 1.00
1-Especificidade
SAPS3: área ROC = 0.768 APACHE2: área ROC = 0.768
Comparação das áreas: p = 0.982
86
Tabela 4. Capacidade discriminatória dos índices prognósticos APACHE II e SAPS 3 Escore N Área IC95%
APACHE II 174 0.768 0.695 - 0.841
SAPS 3 174 0.769 0.693 - 0.844
Figura 4. Distribuição das probabilidades estimadas de óbito, segundo o desfecho hospitalar, obtido
através do ajuste de um modelo de regressão logística simples em que a variável explanatória foi o
SAPS 3 (gráfico do lado direito) ou o APACHE II (gráfico do lado esquerdo).
87
13 Carta de Apresentação
Os idosos têm expressiva utilização dos serviços de saúde, especialmente em UTIs,
onde os escores são amplamente utilizados e fornecem parâmetros para o acompanhamento
clínico e prognóstico dos pacientes. Poucos estudos têm comparado os escores APACHE II e
SAPS 3, sendo menos frequente esta comparação em uma população exclusivamente de
idosos.
Desenvolvemos um estudo que consistiu na comparação entre os escores APACHE II
e SAPS 3 em pacientes idosos internados em unidade de terapia intensiva. Acreditamos tratar-
se de um dos primeiros estudos comparando estes escores em pacientes idosos desenvolvidos
no Brasil.
A concepção e o desenho da pesquisa, assim como a aquisição de dados, análise e
interpretação foram realizados por Lucena, M. V. F., e Lima S. G. O conteúdo científico do
manuscrito foi revisado por Markman Filho, B.
Os resultados desta pesquisa não foram publicados na sua íntegra ou parcialmente,
nem na forma de resumo, na comunidade científica.
Atenciosamente,
Marcos Vinícius Ferraz de Lucena
88
APÊNDICE C
´ TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO
(PARA MAIORES DE 18 ANOS OU EMANCIPADOS – Resolução 466/12)
Convidamos o (a) Sr. (a) para participar como voluntário (a) da pesquisa Perfis epidemiológico e
clínico e fatores prognósticos de mortalidade em pacientes idosos internados em unidade de terapia
intensiva, que está sob a responsabilidade do pesquisador Marcos Vinícius Ferraz de Lucena, médico
uteísta, endereço: Rua Santo Elias 450/2002, Espinheiro, CEP 52020090, email: [email protected],
telefones para contato 81-99751899, 81-32416055 (inclusive ligações a cobrar), e está sob a orientação de:
Dr. Brivaldo Markman Filho, médico cardiologista, chefe do serviço de cardiologia HC/UFPE, telefone
para contato: 81-99755461, email: [email protected] e Coorientador Dr. Sandro Gonçalves de
Lima, médico cardiologista, telefone para contato: 81-99757741, email: [email protected].
Este Termo de Consentimento pode conter algumas informações que o/a senhor/a não entenda.
Caso haja alguma dúvida, pergunte à pessoa que está lhe entrevistando, para que o/a senhor/a esteja bem
esclarecido (a) sobre tudo que está sendo explicado. Após ser esclarecido (a) sobre as informações a seguir,
caso aceite fazer parte do estudo, rubrique as folhas e assine ao final deste documento, que está em duas
vias. Uma delas é sua e a outra é do pesquisador responsável. Em caso de recusa o (a) Sr. (a) não será
penalizado (a) de forma alguma. Também garantimos que o (a) Sr. (a) tem o direito de retirar o
consentimento da sua participação em qualquer fase da pesquisa, sem qualquer penalidade.
Estamos realizando uma pesquisa sobre as características pessoais, clínicas e fatores prognósticos
(que possam contribuir ou influenciar) na mortalidade ou na evolução dos pacientes idosos (com 60 anos e
mais) internados nesta UTI. O objetivo é descrever os fatores mais associados à mortalidade entre idosos,
assim como as características pessoais e clínicas destes pacientes internados na UTI do Hospital das
Clínicas. Será também realizada a comparação entre os sistemas prognósticos APACHE II e SAPS 3
(sistemas que avaliam a gravidade da doença inicial e a mortalidade em curto prazo). Será preenchida uma
ficha de coleta de dados (perguntas sobre o paciente), e os pacientes serão acompanhados durante o
internamento na UTI, até a alta hospitalar ou o óbito. Os riscos relacionam-se à coleta de sangue, como dor,
formação de equimoses (manchas roxas) e hematomas no local da punção. Como a coleta de sangue é
realizada diariamente, faz parte da rotina da UTI, serão colhidos 15 ml (uma colher de sopa) por
profissionais qualificados. Não haverá mudança na rotina da UTI (forma de tratamento, realização de
89
exames, assistência, cuidado, ou acompanhamento). Não estão previstos benefícios diretos. Entretanto,
como benefícios indiretos esta pesquisa nos ajudará a compreender as características pessoais e clínicas,
além dos fatores de mortalidade, dos pacientes internados nesta UTI, para podermos melhorar as ações
realizadas, visando um melhor acompanhamento dos pacientes.
As informações desta pesquisa serão confidenciais e divulgadas apenas em eventos ou publicações
científicas, não havendo identificação dos voluntários, a não ser entre os responsáveis pelo estudo, sendo
assegurado o sigilo sobre a sua participação. Os dados coletados nesta pesquisa (na ficha de coleta de
dados), ficarão armazenados em pasta de arquivo, sob a responsabilidade do pesquisador, no endereço
acima informado, pelo período de 5 anos.
O (a) Sr. (a) não pagará nada para participar desta pesquisa. O (a) Sr. (a) não será remunerado por
participar deste estudo.
Em caso de dúvidas relacionadas aos aspectos éticos deste estudo, você poderá consultar o Comitê
de Ética em Pesquisa Envolvendo Seres Humanos da UFPE no endereço: (Avenida da Engenharia s/n – 1º
andar, sala 4 – Cidade Universitária, Recife-PE, CEP: 50740-600, Tel.: 81-21268588 – email:
________________________________________________
(assinatura do pesquisador)
CONSENTIMENTO DA PARTICIPAÇÃO DA PESSOA COMO VOLUNTÁRIO(A)
Eu, _____________________________________________________________________________,
CPF_____________________________, abaixo assinado, após a leitura (ou a escuta da leitura) deste
documento e de ter tido a oportunidade de conversar e ter esclarecido as minhas dúvidas com o pesquisador
responsável, concordo em participar do estudo Perfis epidemiológico e clínico e fatores prognósticos de
mortalidade em pacientes idosos internados em unidade de terapia intensiva, como voluntário (a). Fui
devidamente informado (a) e esclarecido (a) pelo pesquisador sobre a pesquisa, os procedimentos nela
envolvidos, assim como os possíveis riscos e benefícios decorrentes de minha participação. Foi-me
garantido que posso retirar o meu consentimento a qualquer momento, sem que isto leve a qualquer
penalidade ou interrupção de meu acompanhamento/assistência/tratamento.
Local e data __________________________________________________________
Assinatura do participante _______________________________________________
Ou responsável (Grau de parentesco) ______________________________________
Presenciamos a solicitação de consentimento, esclarecimentos sobre a pesquisa e o aceite do voluntário em
participar. (02 testemunhas não ligadas à equipe de pesquisadores):
Nome: _________________________________________________________________________
Assinatura: ______________________________________________________________________
Nome: _________________________________________________________________________
Assinatura:______________________________________________________________________
Impressão
digital
(opcional)
90
APÊNDICE D
CARTA DE ANUÊNCIA
Declaramos, para os devidos fins, que concordamos que o mestrando Marcos Vinícius
Ferraz de Lucena, desenvolva a pesquisa PERFIS EPIDEMIOLÓGICO E CLÍNICO E FATORES
PROGNÓSTICOS DE MORTALIDADE EM PACIENTES IDOSOS INTERNADOS EM UNIDADE
DE TERAPIA INTENSIVA, sob a orientação do Prof. Brivaldo Markman Filho e Co-orientação do
Dr. Sandro Gonçalves de Lima, entre os idosos internados na UTI do Hospital das Clínicas da UFPE,
conforme o protocolo de pesquisa em anexo.
A aceitação está condicionada ao cumprimento por parte do pesquisador dos requisitos da
Resolução 466/12 e suas complementares, comprometendo-se a utilizar os dados e materiais coletados,
exclusivamente para os fins da pesquisa.
Recife, em 05 / 05 / 2014
Dra. Michele Maria Gonçalves de Godoy
Chefe da UTI
91
APÊNDICE E
FICHA DE COLETA DE DADOS
1- Nome: __________________________________________Registro ________________
2- Idade: ______ anos
3- Sexo: masculino feminino
4- Cor da pele: branco não branco
5- Situação conjugal: solteiro casado viúvo separado
6- Escolaridade em anos completos: sem escolaridade fundamental I - 1ª a 4ª série
Fundamental II - 5ª a 8ª série médio superior incompleto superior completo
7- Disfunção orgânica que motivou internação na UTI: neurológica cardiovascular
8- respiratória gastrointestinal renal/metabólica
9- Motivo de admissão na UTI: pós-operatório de alto risco insuficiência respiratória
alteração do nível de consciência choque doença coronariana sepse
distúrbio metabólico pancreatite distúrbio do ritmo cardíaco
hemorragia digestiva outro (qual)_____________________
10- Procedência: centro cirúrgico enfermaria pronto socorro
hemodinâmica outro hospital
11- Tipo de internação: clínica cirúrgica
12- Tipo de cirurgia: de urgência eletiva
13- Ventilação mecânica invasiva: sim não Tempo de VMI em dias:___
14- Traqueostomia: sim não Tempo de traqueostomia em dias:___
15- Uso de vasopressores: sim não
16- Dias de internação hospitalar antes da admissão na UTI: ___
17- Dias de internação na UTI: ___
18- Dias de internação hospitalar: ___ alta óbito
19- Antecedentes pessoais: hipertensão arterial sistêmica (HAS) diabetes melito (DM)
doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC) tabagismo alcoolismo
insuficiência hepática insuficiência renal câncer outro(s)
20- APACHE II:____
21- SAPS 3:____
22- Data: / /
23- Glicemia:______
24- Creatinina:______
96
ANEXO B
APACHE - Acute Physiologic and Chronic Health Evaluation
APACHE II - Atualizado em 1985, utiliza 13 variáveis fisiológicas, o escore
fisiológico agudo, idade e doença crônica. Utiliza uma equação de regressão
logística, transformando os pontos em probabilidade de óbito.
o Crítica - os pontos atribuídos às variáveis foram feitos de forma
arbitrária
Uso:
o Comparar a eficácia de novas drogas
o Comparar o desempenho de UTIs diferentes
o Talvez estabelecer prognóstico no paciente individual na admissão
Escore APACHE II
a) ESCORE FISIOLÓGICO AGUDO
Variáveis fisiológicas +4 +3 +2 +1 0 +1 +2 +3 +4
Temperatura axilar (C) > 41 39-40,9 38,5-38,9 36-38,4 34-35,9 32-33,9 30-31,9 < 29,9
Pressão arterial média mmHg >160 139-
159 110-
129 70-109 50-69 < 40
Frequência cardíaca bpm > 180 140-
179 110-
139 70-109 55-69 40-54 < 39
Frequência respiratória
irpm (ventilados ou não) > 50 35-49 25-34 12-24 10-11 6-9 < 5
Oxigenação A-aDO2
a) FiO2 > 0,5 A-aDO2 >500 350-
499 200-
349 < 200
b) FiO2< 0,5 PaO2 >70 61-70 55-60 < 55
pH Arterial > 7,7 7,6-
7,69 7,5-7,59 7,33-7,49 7,25-7,32 7,15-7,24 < 7,15
Sódio sérico (mEq/L) > 180 160-
179 155-
159 150-154 130-149 120-129 111-119 < 110
Potássio sérico (mEq/L) > 7 6-6,9 5,5-5,9 3,5-5,4 3-3,4 2,5-2,9 < 2,5
Creatinina sérica (mg/dL)
dobrar pontos se IRA > 3,5 2-3,4 1,5-1,9 0,6-1,4 < 0,6
Hematócrito (%) > 60 50-50,9 46-49,9 30-45,9 20-29,9 < 20
Número de leucócitos > 40 20-39,9 15-19,9 3-14,9 1-2,9 < 1
Escala de Glasgow para o
coma Escore = (15-escore
atual)
Total do escore fisiológico
agudo
97
Bicarbonato sérico (mEq/L)
(usar se não coletar
gasometria) > 52 41-51,9 32-40,9 22-31,9 18-21,9 15-17,9 < 15
b) PONTOS PARA A IDADE
Pontos 0 2 3 5 6
idade (anos) < 44 45-54 55-64 65-74 > 75
C) PONTOS PARA DOENÇA CRÔNICA
Se o paciente tem uma história de insuficiência grave de órgãos ou é imunocomprometido; assinale pontos como se
segue:
a) Para pacientes não-cirúrgicos ou pós-operatórios de emergência: 5 pontos
b) Para pacientes de pós-orperatórios eletivos: 2 pontos
Definições: a insuficiência de órgão ou o estado de imunodepressão deve ser evidente antes da admissão hospitalar e
deve obedecer o seguinte critério:
Fígado: Cirrose comprovada por biópsia, hipertensão portal documentada; episódios passados de hemorragia
gastrintestinal atribuídos à hipertensão portal; episódios anteriores de insuficiência hepática, encefalopatia ou coma
Cardiovascular: New York Association classe IV
Respiratória: Doença crônica restritiva, obstrutiva ou vascular resultando em grave restrição ao exercício, isto é,
incapaz de subir escadas ou fazer serviços domésticos; hipóxia crônica documentada, hipercapnia, policitemia
secundária, hipertensão pulmonar grave (> 40 mmHg); dependência de prótese ventilatória
Renal: Recebendo diálise cronicamente
Imunocomprometido: Paciente tem recebido terapia que suprime a resistência à infecção, isto é,
imunossupressores, quimioterapia, radioterapia, corticóides cronicamente ou recente em altas doses; doença que é
suficientemente avançada para suprimir a resistência à infecção, isto é, leucemia, linfoma, AIDS
ESCORE APACHE II = A + B + C
Avaliação da mortalidade
Escore
(pontos) Risco de mortalidade
0-4 aproximadamente 4 % não op, 1% pos-op
5-9 aproximadamente 8% não op, 3% pos-op
10-14 aproximadamente 15% não op, 7% pos-op
15-19 aproximadamente 24% não op, 12% pos-op
20-24 aproximadamente 40% não op, 30% pos-op
25-29 aproximadamente 55% não op, 35% pos-op
30-34 aproximadamente 73% ambos
> 35 aproximadamente 85% não op, 88% pos-op
98
Coeficientes
Pacientes não-operatórios
Insuficiência respiratória
Asma/alergia -2,108
DPOC -0,367
SDRA (SARA) -0,215
Parada respiraória -0,168
Aspiração/envenenamento/tóxico -0,142
Embolia pulmonar -0,3120
Infecção 0
Neoplasia 0,891
Insuficiência cardiovascular:
Hipertensão -1,798
Distúrbio do ritmo -1,368
Insuficiência cardíaca congestiva -0,424
Choque hemorrágico/hipovolemia 0,493
Doença coronariana arterial -0,191
Sepse 0,113
Choque cardiogênico -0,259
Aneurisma dissecante torácico ou abdominal 0,731
Parada cardíaca 0
Trauma
Trauma múltiplo -1,228
Trauma craniano -0,517
Neurológico
Desordens convulsivas -0,584
Hemorragia cerebral 0,723
Outras
Overdose de drogas -3,353
Cetoacidose diabética -1,507
Hemorragia gastrintestinal 0,334
IMOS
Metabólico/renal -0,885
Respiratório -0,890
Neurológico -0,759
Cardiovascular 0,470
99
Gastrintestinal 0,501
Pacientes pós-operatórios
Trauma múltiplo -1,684
Admissão devida à doença cardiovascular crônica -1,376
Cirurgia vascular periférica -1,315
Cirurgia cardíaca valvular -1,261
Craniotomia por neoplasia -1,245
Cirurgia renal por neoplasia -1,204
Transplante renal -1,042
Traumatismo craniano -0,955
Cirurgia torácica por neoplasia -0,802
Craniotomia por hemorragia cerebral -0,788
Laminectomia e outras cirurgias da coluna vertebral -0,699
Choque hemorrágico -0,682
Hemorragia gastrintestinal -0,617
Cirurgia gastrintestinal por neoplasia -0,248
Insuficiência respiratória pós-cirurgia -0,140
Perfuração/obstrução abdominal 0,060
Sepse 0,113
Parada cardíaca 0,393
Parada respiratória -0,168
Outros
Cardiovascular - 0,797
Respiratório -0,610
Gastrintestinal -0,613
Metabólico/renal -0,196
Neurológico -1,150
Valor preditivo do APACHE II - Grupos do APACHE II
Grupo 1 Grupo 2 Grupo 3 Grupo 4
A – 0-4 pontos A – 10-14 pontos A – 20-24 pontos > 30 pontos
B – 5-9 pontos B – 15-19 pontos B – 25 – 29 pontos
100
Erro na coleta de dados do APACHE II
a. Os dados registrados devem ser os piores nas primeiras 24 horas de
UTI. Os erros de coleta de dados podem ser de até 18%
b. Outro problema grave é a omissão de dados, pois se não se dispõe de um
determinado dado deve ser considerado como normal, que induz a um
erro metodológico e uma subestimação da mortalidade.
Recomendações para o uso do APACHE II
a. A determinação do APACHE II somente deverá ser realizada nos
pacientes que permanecerem por, pelo menos, 8 horas na terapia
intensiva
b. Por não se dispor de valores específicos, deverão ser utilizados os
valores descritos por Knaus
c. Os dados do APACHE serão coletados do prontuário do paciente, dos
resultados de exames laboratoriais e colocados em formulário próprio
d. Os dados serão coletados ao final das primeiras 24 horas, sendo o
melhor valor da escala de Glasgow e o pior valor das demais variáveis
e. Nos pacientes sem lesão do SNC e fazendo uso de sedativos e/ou
relaxantes musculares, deverá ser considerado o Glasgow como normal.
f. Para aferição da temperatura sempre se usará temperatura axilar (é
usado a temperatura retal no texto original, mas mudamos, por não ser
a rotina na UTI do HC/UFPE)
101
g. Se faltar algum exame laboratorial deverá ser considerado como normal
h. Se o paciente se encontra em ventilação mecânica por insuficiência
respiratória, seja qual for a causa, assinalar 4 pontos no item frequência
respiratória
i. Para o uso da PaO2 e A-aDO2, deverá ser usada a PaO2 se a FiO2 for
menor que 50, usar a A-aDO2 se for maior que 50
j. Na presença de insuficiência renal aguda a pontuação da creatinina
deverá ser multiplicada por 2
k. Na valorização do estado prévio de saúde, serão assinalados 5 pontos
para pacientes clínicos e em pós-operatório imediato de cirurgia de
emergência e 2 pontos para cirurgias eletivas
104
ANEXO E
Mar 24 2016 11:32:32:375AM
Dear MD Lucena,
Your submission entitled "PROGNOSTIC FACTORS FOR MORTALITY IN OLDER
PATIENTS HOSPITALIZED IN THE INTENSIVE CARE UNIT" has been assigned the
following manuscript number: CCMED-D-16-00582.
You will be able to check on the progress of your paper by logging on to Editorial Manager as
an author.
http://ccmed.edmgr.com/
Your username is: mvflucena
Your password is: available at this link
Thank you for submitting your work to Critical Care Medicine.
Kind Regards,
Sophie Tosta
Managing Editor
Critical Care Medicine
105
ANEXO F
Mar 28 2016 09:13:10:264AM
Dear MD Lucena,
Your submission entitled "PROGNOSTIC FACTORS FOR MORTALITY IN OLDER
PATIENTS HOSPITALIZED IN THE INTENSIVE CARE UNIT" has been assigned the
following manuscript number: CCMED-D-16-00598.
You will be able to check on the progress of your paper by logging on to Editorial Manager as
an author.
http://ccmed.edmgr.com/
Your username is: mvflucena
Your password is: available at this link
Thank you for submitting your work to Critical Care Medicine.
Kind Regards,
Sophie Tosta
Managing Editor
Critical Care Medicine