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UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO CENTRO DE EDUCAÇÃO PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO NÚCLEO DE TEORIA E HISTÓRIA ROSEANE SILVA DE SOUZA O GRUPO ESCOLAR OTAVIANO BASÍLIO HERÁCLIO DO RÊGO (1968-1985) RECIFE 2014

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO CENTRO DE EDUCAÇÃO

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO NÚCLEO DE TEORIA E HISTÓRIA

ROSEANE SILVA DE SOUZA

O GRUPO ESCOLAR OTAVIANO BASÍLIO

HERÁCLIO DO RÊGO (1968-1985)

RECIFE

2014

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ROSEANE SILVA DE SOUZA

O GRUPO ESCOLAR OTAVIANO BASÍLIO

HERÁCLIO DO RÊGO (1968-1985)

Dissertação apresentada ao curso de Mestrado em Educação, do Programa de Pós-Graduação em Educação, da Universidade Federal de Pernambuco, como requisito parcial para obtenção do grau de Mestre em Educação.

RECIFE

2014

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Catalogação na fonte

Bibliotecária Andréia Alcântara, CRB-4/1460

S729g Souza, Roseane Silva de.

O grupo escolar Otaviano Basílio Heráclio do Rêgo (1968-1985) /

Roseane Silva de Souza. – Recife: O autor, 2014.

185 f. ; 30 cm.

Orientador: José Luís Simões.

Dissertação (Mestrado) - Universidade Federal de

Pernambuco, CE. Programa de Pós-graduação em Educação, 2014.

Inclui Referências, Anexos e Apêndices.

1. Educação e Estado. 2. Educação - História. 3. UFPE - Pós-

graduação. I. Simões, José Luís. II. Título.

379 CDD (22. ed.) UFPE

(CE2014-37)

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO CENTRO DE EDUCAÇÃO

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO

ROSEANE SILVA DE SOUZA

DISSERTAÇÃO DE MESTRADO

TÍTULO: O GRUPO ESCOLAR OTAVIANO BASÍLIO HERÁCLIO DO RÊGO

(1968-1985)

COMISSÃO EXAMINADORA

_________________________________________________ Prof. Dr. José Luis Simões 1º Examinador/Presidente

_________________________________________________

Profª. Drª. Auxiliadora Maria Martins da Silva 2ª Examinadora

_________________________________________________

Prof. Dr. Edilson Fernandes de Souza 3ºExaminador

MENÇÃO DE APROVAÇÃO: APROVADA

Recife, 30 de maio de 2014.

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Dedico este trabalho a minha mãe, Clarice Almeida da Silva (in memoriam), pela sua

dedicação e amor pelos seus filhos, com quem eu aprendi o verdadeiro significado

de ser mãe, e a meu pai, Severino Cipriano Silva, pelos ensinamentos. Dedico em

especial, a meu esposo Edilson Fernandes de Souza (minha inspiração), que desde

o início da minha vida acadêmica sempre me apoiou e me incentivou a ir cada vez

mais além; a meus filhos Tatyane, Lidiane, Viviane e Edilson. Dedico, ainda, a meus

irmãos Ronaldo, Rinaldo, Romildo, Rosimere, Rivaldo, Rildo, Romero, Renato e

Rejane.

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AGRADECIMENTOS

A construção do conhecimento, mesmo que seja marcada por momentos de solidão,

não seria possível sem a contribuição e colaboração das pessoas.

Diante desse fato, agradeço acima de tudo a Deus, em nome do seu filho Jesus

Cristo, o meu Senhor, por ter permitido a realização desta pesquisa;

A meu esposo, Edilson Fernandes, por seu amor, carinho, compreensão, paciência,

dedicação, incentivo, confiança e colaboração;

A meus filhos Tatyane, Lidiane, Viviane, pelo amor, carinho, admiração e incentivo; e

em especial, a meu filho Edilson, que foi meu ajudante de mídia;

A Tulane, minha enteada, e Tatyane, minha filha, pelos momentos dedicados a

seus irmãos;

A meus irmãos, pelo carinho e amizade;

A meus familiares, pelo apoio;

Ao professor Gilvando Paiva, pela revisão ortográfica;

Aos Professores do curso de licenciatura em Pedagogia, em especial Kátia Cunha e

Lígia Pacheco, pelos ensinamentos;

Aos colegas de curso, aos docentes e funcionários do Programa de Pós-Graduação

em Educação da Universidade Federal de Pernambuco;

À Bolsa Reuni, que viabilizou as minhas idas e vindas a Limoeiro;

A minha a amiga Maria de Lourdes (Lurdinha), meu primo Manoel (in memoriam) e

minha amiga Jaraíne, por me ajudarem nos momentos mais difíceis da minha vida e

terem contribuído para a minha formação escolar;

Ao amigo Laudiélcio, pela revisão da ABNT e por tudo;

Aos amigos, Eduardo e Márcio, pela colaboração;

A minha amiga Rosália Simões, pelos livros, pelo incentivo e por tudo;

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À Professora Rita, que me introduziu no campo de pesquisa, forneceu as primeiras

informações para a construção do objeto e viabilizou o contato com a professora

Josefa;

Ao esposo da professora Rita Hamilton e seus filhos Daniel e Denis, pela

colaboração;

Aos entrevistados que participaram da pesquisa: Josefa de Lima Oliveira Diva

Gomes da Silva, Maria Helena da Silva Azevedo, Maria Isabel Alves de Melo Silva,

Adauto Heráclio Duarte, Silvina Cristiano da Silva, Romildo Cipriano Silva e, em

especial, Sônia Maria Pereira da Costa, que colaborou não só com a entrevista, mas

com alguns materiais que foram utilizados na pesquisa. Por terem, com as suas

memórias, construído junto comigo a história do Grupo Escolar.

A minha primeira Professora Maria das Graças (in memorian), que me ensinou as

primeiras letras e pela sua dedicação e carinho, que me ajudaram na adaptação ao

convívio escolar;

A Pedro Amorim, viúvo da Professora Maria das Graças, por ter me recebido em sua

casa, me concedido fotos da professora e me autorizado a utilizá-las no trabalho em

sua homenagem;

À Professora Neuza Amorim, por ter me concedido foto dos alunos do Grupo

Escolar;

A Ismael, filho da Professora Josefa, pela colaboração;

A meu sobrinho Marquinhos, pela colaboração tecnológica e apoio.

À Fundação Joaquim Nabuco e seus funcionários, por terem viabilizado o acesso ao

arquivo da instituição;

Ao Arquivo Municipal de Limoeiro, especialmente ao funcionário “Mudo”, que

colaborou na procura de documentos que foram utilizados na pesquisa;

À Secretaria de Educação de Limoeiro e seus funcionários, Rosejara Ramos,

Solange Cabral, Gilda Arruda, Adélia, Rosicleide, Selma, Edilelza e Gildo, que se

disponibilizaram em colaborar fornecendo material que foi utilizado na pesquisa;

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À Biblioteca Municipal de Limoeiro, na pessoa da funcionária Maria José, pela sua

disponibilidade em fornecer material para ser pesquisado;

À Gerência Regional de Educação de Limoeiro e à funcionária Janicleide, por terem

concedido o acesso a materiais do arquivo da instituição;

À diretora do Grupo Escolar Otaviano Basílio Heráclio do Rêgo, Sandra Régia

Rodrigues Mendes, e às funcionárias Gerciane e Joana, pela colaboração;

A Renata, funcionária da Agência de Viagens SP Turismo pela sua colaboração;

Ao Professor de Xadrez Carlos Eduardo Pereira e seu primo Humberto, por terem

enviado fotos de Limoeiro;

À Profª Drª Auxiliadora Martins da Silva, por aceitar o convite em participar da

qualificação e defesa e pelas suas contribuições para enriquecimento do trabalho;

Ao Prof. Dr. Edilson Fernandes de Souza, pela honrosa participação como co-

orientador da pesquisa; suas orientações foram valiosas para a construção do objeto

de pesquisa;

Ao Prof. Dr. José Luís Simões, pela sua disponibilidade em orientar a pesquisa e

suas contribuições.

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“Porque o Senhor dá sabedoria; da sua boca procedem o conhecimento e o

entendimento” (BÍBLIA, 2010, p. 720).

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RESUMO

Esta pesquisa se insere no rol dos estudos sobre as instituições escolares e foi norteada pela seguinte questão central: Quais interesses políticos subsidiaram a construção e a inauguração do Grupo Escolar Otaviano Basílio Heráclio do Rêgo, no município de Limoeiro, Pernambuco-Brasil, em 1968? Diante dessa questão, a pesquisa teve por objetivos: a) investigar e compreender alguns aspectos do cenário político e educacional no Brasil, em Pernambuco e no município de Limoeiro, no período entre 1968 e 1985; b) organizar e reconstituir a história e as memórias do Grupo Escolar Otaviano Basílio Heráclio do Rêgo, conhecê-las e disponibilizá-las, contribuindo para a história da educação de Pernambuco, em especial a do município de Limoeiro; c) investigar o processo de instalação do Grupo Escolar Otaviano, em relação à expansão do município de Limoeiro, quando da inauguração da Vila da Cohab; e d) analisar a organização, funcionamento e o Projeto Político Pedagógico do referido Grupo Escolar no período estudado. Para realizar a pesquisa, foram visitadas as seguintes instituições: Arquivo Municipal, Biblioteca Municipal de Limoeiro, Secretaria de Educação do Município, Câmara dos Vereadores e Arquivo da própria escola. Para subsidiar o olhar sobre o objeto de estudo, utilizamos fontes orais, fontes documentais, iconográficas e manuscritos, que serviram de instrumentos valiosos para a minha compreensão do período estudado.

Palavras-chave: instituições escolares; Grupo Escolar Otaviano Basílio Heráclio do

Rêgo; Limoeiro-PE.

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ABSTRACT

This research falls within the list of studies on educational institutions and was guided

by the following central question : Which political interests supported the construction

and inauguration of the School Group Otaviano Basílio Heráclio do Rêgo of the city

of Limoeiro , Pernambuco, Brazil, in 1968 ? Faced with this question the research

aimed to: a) investigate and understand some aspects of the political and educational

scene in Brazil , Pernambuco and in the city of Limoeiro in the period between 1968

and 1985; b) organize and reconstruct the history and memories of the School Group

Otaviano Basílio Heráclio do Rêgo , know them and make them available,

contributing to the history of education of Pernambuco, in particular, the city of

Limoeiro; c ) investigate the process of installing the School Octaviano Group,

regarding the expansion of the city of Limoeiro, at the inauguration of the Vila

COHAB ; d) analyze the organization, functioning and Political Pedagogical Project of

said School Group in the period studied. To conduct the research following

institutions were visited: Municipal Archives, the Municipal Library of Limoeiro,

Department of Education of the City, City Council, In the school itself. To complement

the look on the object of study, we used oral sources, documentary, iconographic

sources and manuscripts, which served as valuable tools to my understanding of the

period studied .

Keywords: educational institutions; School Group Octaviano Basílio Heráclito do

Rêgo; Lemoeiro-PE.

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LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Fotografia 1 O município de Limoeiro na década de 1970 ...................... 43

Mapa 1 Mapa do Estado Pernambuco e o Município de Limoeiro ... 44

Fotografia 2

Histórico 1

Josefa, primeira professora do grupo, em 1969 ..................

Histórico feito pela professora Rita ......................................

47

61

Fotografia 3 A Vila da Cohab recém-inaugurada ..................................... 62

Decreto 1 Lei nº 828 ............................................................................. 63

Decreto 2 Lei nº 838 ............................................................................. 63

Fotografia 4 Ex-prefeito Adauto ............................................................... 64

Fotografia 5 Página da carteira profissional da ex-diretora Sônia

Pereira, assinada pelo ex-prefeito Adauto ...........................

69

Fotografia 6 Ata dos Resultados Finais do Rendimento Escolar de

Alunos do Grupo, da 3ª série, no ano de 1976 ....................

72

Fotografia 7 1ª Comunhão dos alunos do grupo, realizada na Matriz de

Limoeiro, no ano de 1970 ....................................................

73

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LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

ABNT

ADESG

Associação Brasileira de Normas Técnica

Associação dos Diplomados da Escola Superior de Guerra

CAPES Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível

Superior

CPC Centros Populares de Cultura

CNE Conselho Nacional de Educação

CONTAP Conselho de Cooperação Técnica da Aliança para o Progresso

COHAB Conjunto Habitacional

DEOPS Departamento Estadual de Ordem Política e Social

EPB Estudos de Problemas Brasileiros

EJA Educação de Jovens e Adultos

FACAL Faculdade de Ciências da Administração de Limoeiro

FUNDAJ Fundação Joaquim Nabuco

GTRU

GERE

Grupo de Trabalho da Reforma Universitária

Gerência Regional de Educação

GOT Ginásio de Orientação para o Trabalho

IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

LDB Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional

MEC Ministério da Educação e Cultura

MCP Movimento de Cultura Popular

MOBRAL

NAS

Movimento Brasileiro de Alfabetização

Núcleo de Atenção ao Servidor

OSPB Organização Social e Política Brasileira

UNE União Nacional dos Estudantes

USAID United States Agency for International Development

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ...................................................................................................... 11

CAPÍTULO 1 A EDUCAÇÃO NO BRASIL NOS ANOS DE 1968 a 1985 21

1-1 REFORMAS EDUCACIONAIS NA DITADURA

MILITAR .............................................................................

28

1.2. O ENSINO PRIMÁRIO ................................................ 35

CAPÍTULO 2 ASPCETOS GERAIS DE LIMOEIRO E OUTRAS FALAS. 42

2.1. LIMOEIRO: POPULAÇÃO E LOCALIZAÇÃO

GEOGRÁFICA ....................................................................

42

2.2. ENTREVISTA DA PROFESSORA JOSEFA: a

primeira professora do Grupo Escolar Otaviano Basílio

Heráclio do Rêgo, em 1969 ................................................

46

2.3. FALAS CENAS E CENÁRIOS E O GRUPO

ESCOLAR OTAVIANO BASÍLIO HERÁCLIO DO RÊGO

49

CAPÍTULO 3 O GRUPO ESCOLAR OTAVIANO BASÍLIO HERÁCLIO

DO RÊGO ...........................................................................

61

CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................ 78

BIBLIOGRAFIA ............................................................................................. 83

ANEXOS ............................................................................................. 86

APÊNDICES ............................................................................................. 160

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INTRODUÇÃO

No ano de 2011, participei do concurso para professor oferecido pela

prefeitura da cidade de Limoeiro. Fui classificada e, no início de 2012, convocada

pela prefeitura para entregar os documentos necessários e assumir o cargo em uma

das salas de aula do ensino básico.

Ao retornar à cidade com familiares para a entrega dos documentos, meu

irmão nos chamou para irmos ao bairro da Cohab Velha, onde havíamos morado

quando éramos crianças, e também ao bairro do Juá onde a escola em que

havíamos estudado está localizada. Na época, 1970, chamava-se Grupo Escolar

Otaviano Basílio Heráclio do Rêgo. Foi nesse grupo escolar onde tive a minha

primeira experiência como estudante, assim como a maioria dos meus irmãos.

Passado o tempo, o Grupo Escolar elevou-se ao status de Escola Municipal

Otaviano Basílio Heráclio do Rêgo.

Tive boas recordações ao chegar ao bairro onde havíamos morado, mas

rever a escola foi emocionante. Vieram às nossas mentes lembranças de situações

vivenciadas e experimentadas na nossa infância, ocorridas em grande parte na

mesma edificação que estava diante dos nossos olhos. Conforme Bosi, “a

lembrança é a sobrevivência do passado. O Passado, conservando-se no espírito de

cada ser humano, aflora à consciência na forma de imagens-lembranças” (BOSI,

1994, p. 53).

Acrescento, num silêncio e suspiro. Recordamos o nosso passado por meio

de nossas memórias. Do mesmo modo como disse um dos entrevistados: Só

lembranças! (Romildo, ex-estudante).

Essa visita à escola me fez refletir como seria significativo, interessante,

estimulante e prazeroso fazer um estudo sobre a história dessa instituição escolar

no período a partir da sua construção em 1968 até 1985, que comprende um dos

períodos do seu funcionamento como grupo escolar, bem como o advento da

ditadura militar e seus últimos anos. Período marcado por grandes transformações

no sistema educacional brasileiro. Período em que o governo acreditava que a

educação deveria estar a serviço do desenvolvimento econômico do país.

Diante disso, mudei meu projeto de pesquisa elaborado para a seleção do

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Curso de Mestrado em Educação, da Universidade Federal de Pernambuco, no

Núcleo de Teoria e História. De modo que segui as orientações de Bogdan e Biklen

(1994):

[...] Independentemente da forma como surge um tópico, é essencial que ele seja importante e estimulante para si. Em investigação, a autodisciplina só o pode levar até um certo ponto. Sem um toque de paixão pode não ter fôlego para manter o esforço necessário à conclusão do trabalho ou limita-se a realizar um trabalho banal (1994, p. 85,86).

A escola citada tem um significado especial, pois foi a minha primeira escola.

Nela tive o primeiro contato com a educação formal, onde aprendi a ler e escrever as

primeiras palavras. E foi nesse grupo escolar que a maioria dos meus irmãos

estudou, conforme já registrei.

O fato de ter pesquisado no portal da Coordenação de Aperfeiçoamento de

Pessoal de Nível Superior-CAPES trabalhos referentes aos grupos escolares, em

Pernambuco, e não ter obtido êxito aguçou ainda mais a minha curiosidade em

conhecer a história do referido grupo, que teve grande relevância social no período

estudado.

O Grupo Otaviano Basílio Heráclio do Rêgo oportunizou o acesso à educação

de crianças e adultos oriundos da periferia e zona rural do municipio de Limoeiro.

Em 1968, só existia escola no centro da cidade. Antes, apenas uma suposição,

depois confirmada pela professora Josefa, primeira professora do grupo. Por isso,

resolvi pôr em movimento os meus arquivos, conforme Wright Mills (1982).

Após ter feito um breve levantamento bibliográfico sobre as instituições

escolares, dias depois voltei a visitar a escola, mas não como ex-aluna, e sim como

pesquisadora.

Segundo Minayo (2000), o trabalho de campo é a etapa essencial da

pesquisa qualitativa, e a rigor não se pode pensar em pesquisa qualitativa sem o

trabalho de campo. E que na estratégia de entrada no campo o pesquisador tem que

prever os detalhes do primeiro impacto da pesquisa, sua apresentação, a

apresentação do pesquisador, a quem se apresenta, por meio de quem e com quem

estabelecer os primeiros contatos.

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Diante disso, procurei entrar em contato com uma pessoa responsável pela

escola, e, na falta da diretora, fui recebida pela coordenadora. Apresentei-me a ela e

relatei o motivo da visita, ou seja, fiz um breve relato sobre a pesquisa. Ao falar com

a coordenadora sobre a pesquisa, pedi informações sobre documentos existentes

acerca da instituição no período escolhido. Ela, então, mandou falar com a

funcionária na secretaria da escola, e esta me informou que havia somente um

breve histórico feito por uma professora do município.

A informação dava conta, ainda, de que a professora que fez o histórico

morava no bairro da Cohab Velha, na rua Q, e chamava-se Dona Rita. Então, de

imediato, fui ao bairro indicado e procurei a casa de Dona Rita. Ao chegar à casa,

não a encontrei, mas sim o seu filho e seu marido. A ambos expliquei o motivo da

minha visita repentina, e eles me deram o telefone de Dona Rita. Liguei para ela e

agendei outra visita.

No dia marcado, voltei à sua casa. Ela falou do breve histórico que havia feito

sobre a escola a pedido de um professor do Curso de Pedagogia. Pedi, então, para

ver o documento e lhe perguntei qual teria sido a fonte que ela pesquisou.

Ao responder, Dona Rita disse que foi na Secretaria de Educação de Limoeiro

e me entregou uma cópia digitada e um rascunho manuscrito de suas ideias iniciais

sobre o tema. Tudo correspondia apenas a uma lauda, mas de grande importância

para o início desta investigação.

Dona Rita foi uma pessoa fundamental para minha pesquisa, pois, por meio

dela, obtive as primeiras informações do grupo escolar e também acesso à primeira

professora a trabalhar na escola, Dona Josefa, e a outros sujeitos que foram

identificados ao longo da minha trajetória metodológica.

Dona Rita é, para mim, o que Minayo (2000) ressalta sobre a importância da

apresentação do entrevistador ao campo por uma pessoa de confiança do

entrevistado, pessoa que tenha uma representatividade e seja bem aceita na

comunidade, possibilitando, assim, a mediação entre o entrevistado e o pesquisador.

A autora ressalta também a importância da interação do pesquisador com os

sujeitos entrevistados na pesquisa qualitativa. Foi por meio de Dona Rita que

ocorreu a mediação entre o pesquisador e o entrevistado, e isso consequentemente

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facilitou a interação entre eles.

Por intermédio de Dona Rita, eu fui apresentada a alguns sujeitos que fizeram

parte da pesquisa, assim como, a outros, sendo o nome dela usado para

estabelecer o contato e adquirir confiança das pessoas. Um desses personagens foi

a professora Diva, que meio desconfiada hesitou em conceder a entrevista. Porém,

quando falei no nome de Dona Rita e de outras pessoas que conheci por meio dela,

ela aceitou dar a entrevista naquele exato momento, para minha surpresa.

A interação do pesquisador com entrevistado é fundamental no momento da

entrevista, pois por meio dessa interação o pesquisador obtém informações valiosas

para sua pesquisa. Essas informações muitas vezes são desconhecidas, e só

aquele entrevistado as tem, uma vez que nunca foi revelada a alguém. Algumas

professoras revelaram fatos pessoais ocorridos em sala de aula, ficando elas

mesmas envergonhadas em relata-los, pois o seus comportamentos, segundo elas,

não foram comportamentos condizente de um professor. Outros entrevistados

também revelaram segredos e informações importantes para a pesquisa.

Na entrevista, é fundamental a interação, pois, segundo Minayo (2000),

entrevista não é só coleta de dados, mas sempre uma situação de interação, e as

informações dadas pelo sujeito podem ser afetadas dependendo da sua relação com

o entrevistado. Ou seja, dependendo da maneira como a entrevista é conduzida,

algumas informações fundamentais para a pesquisa podem ser ocultadas. Por isso,

é essencial que o pesquisador proporcione uma situação de interação no ato da

entrevista.

Segundo Minayo (2000), dentre os componentes do trabalho de campo duas

categorias são fundamentais: a) a entrevista, que pode ser decomposta em:

entrevista aberta, entrevista estruturada, entrevista semiestrutura, entrevista por

meio de grupos focais e história de vida; b) a observação participante.

Diante do fato de ter feito a opção pelas fontes orais como recurso

metodológico, a leitura das considerações feitas pela autora sobre as categorias

possibilitou a escolha do tipo de entrevista a ser utilizada na pesquisa, vindo a optar

pela entrevista semiestruturada.

Segundo a própria Minayo, a entrevista semiestrurada combina perguntas

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fechadas (ou estruturada) e abertas, onde o entrevistado tem a possibilidade de

discorrer o tema proposto, sem respostas ou condições prefixidas pelo pesquisado.

A entrevista semiestruturada auxilia no estabelecimento da interação do

entrevistador com os seus informantes, devido à composição da sua estrutura.

A escolha pelas fontes orais como recurso metodológico deu-se a partir das

orientações de Montenegro, segundo o qual:

O trabalho da história oral junto aos segmentos populares resgata um nível de historicidade que comumente era conhecida através da versão produzida pelos meios oficiais. À medida que os depoimentos populares são gravados, transcritos e publicados, torna-se possível conhecer a própria visão que os segmentos populares têm das suas vidas e do mundo ao redor (1992, p. 16).

Nessa perspectiva, elaborei um roteiro básico de questões contendo

perguntas abertas e fechadas, o qual sofreu adaptações durante o decorrer das

entrevistas, devido aos diferentes papéis exercidos pelos informantes no Grupo

Escolar. As questões formuladas tiveram como objetivo, a partir das mémorias

trazidas pelos informantes da pesquisa, conhecer a história do Grupo Escolar

Otaviano Basílio Heráclio do Rêgo e analisar os interesses políticos subjacentes da

sua construção e inauguraçãoe seu projeto educacional, entre outros.

Considerando os aspectos acima apresentados, a pergunta central do nosso

estudo é: Quais interesses políticos subsidiaram a construção e a inauguração do

Grupo Escolar Otaviano Basílio Heráclio do Rêgo no município de Limoeiro,

Pernambuco-Brasil, em 1968?

Diante dessa questão, a pesquisa tem por objetivos: a) investigar e

compreender alguns aspectos do cenário político e educacional no Brasil, em

Pernambuco e no município de Limoeiro, no período entre 1968 e 1985; b) organizar

e reconstituir a história e as memórias do Grupo Escolar Otaviano Basílio Heráclio

do Rêgo, entre 1968 e 1985, conhecê-las e disponibilizá-las, contribuindo para a

história da educação em Pernambuco, em especial no do município de Limoeiro.

Além desses, mais dois objetivos se somam como: c) investigar o processo

de instalação do Grupo Escolar Otaviano Basílio Heráclio do Rêgo, em relação à

expansão do município de Limoeiro, quando da inauguração da Vila da Cohab; e d)

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analisar a organização, funcionamento e o Projeto Político e Pedagógico do referido

Grupo Escolar no período estudado.

Para realizar a pesquisa, foram visitados: Arquivo Municipal, Biblioteca

Municipal, Secretaria de Educação do Município, Câmara dos Vereadores e Arquivo

da própria escola. Além das visitas, utilizamos as fontes orais, realizando entrevistas

com ex-diretoras, professoras, estudantes e com o ex-prefeito do ano de 1968.

As entrevistas foram efetuadas em período variado, de acordo com a

disponibilidade dos informantes e as adversidades. Algumas ocorreram de forma

inusitada, foram os caso da ex-professora Josefa e ex-professora e ex-diretora Diva

e do ex-prefeito Adauto, que me concederam as entrevistas no momento em que os

procurei para agendá-las. As demais foram agendadas para horários e locais

determinados pelos sujeitos.

Além das fontes orais, utilizamos as fontes documentais e iconográficas, que

serviram de instrumentos valiosos para a minha compreensão do período estudado.

Essas fontes citadas foram fundamentais para a reconstrução do passado do Grupo

Escolar Otaviano Basílio Heráclio do Rêgo, que “até então se encontra esquecido e

desvalorizado, que está apenas nos documentos e/ou registrado na memória das

pessoas mais velhas” (VALE GATTI; INÁCIO FILHO, 2004, APUD FIRMINO, 2010).

Com a autorização dos entrevistados, as entrevistas foram gravadas em um

celular, tendo a preocupação de posicioná-lo de forma a não perder detalhes das

falas dos colaboradores, as quais foram posteriormente transcritas. Foi também

utilizada uma câmera fotográfica para registrar o momento e tirar fotos dos

participantes e de materiais que foram utilizadas no trabalho.

Na realização da pesquisa empírica, contei com a honrosa participação, como

ajudante de mídia, do meu filho Edilson, que tem apenas 11 anos, carinhosamente

chamado de Dilsinho. Ele me acompanhou nas viagens que fiz a Limoeiro, me

auxiliando nas gravações das entrevistas e fotografando o material que foi utilizado

no trabalho.

Meu filho compartilhou comigo os momentos difíceis, mas prazerosos e

cheios de emoção, que vivi ao longo do processo da construção do trabalho em

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campo. Acredito que os momentos vivenciados foram enriquecedores para ele e

contribuirão futuramente na sua vida acadêmica.

Participaram das entrevistas os ex-estudantes: Romildo Cipriano Silva (meu

irmão) e Silvina Cristiano da Silva; as ex-diretoras Sônia Maria Pereira da Costa e

Maria Isabel Alves de Melo Silva; a ex-professora Josefa de Lima Oliveira; as ex-

diretoras e ex-professoras Diva Gomes da Silva e Maria Helena da Silva Azevedo; e

o ex-prefeito Adauto Heráclio Duarte.

Fundamentada em Bosi (1994), ao argumentar que o pesquisador tem uma

relação com o objeto de pesquisa, devendo ter uma aproximação direta com os

sujeitos informantes, principalmente na história oral, convidei meu irmão Romildo

para participar da pesquisa como sujeito informante.

A participação do meu irmão na pesquisa, como informante, não induziu o

estudo nem interferiu no seu objetivo. Mas foi fundamental, devido à riqueza de

detalhes das suas informações. Os seus relatos, repletos de emoções, assim como

os demais sujeitos, possibilitaram a construção do objeto de pesquisa e

enriqueceram o trabalho.

Após transcrever as entrevistas, me inspirei na análise de conteúdo, de

Laurence Bardin (2007). Esse tipo de análise é compreendida num conjunto de

técnicas de análise das comunicações, que utilizam procedimentos sistemáticos e

objetivos de descrição do conteúdo das mensagens visando à obtenção de

indicadores quantitativos ou qualitativos que permitam a inferência de

conhecimentos relativos às condições variáveis inferidas dessas mensagens

(BARDIN, 2007).

A análise de conteúdo, segundo a autora, é compreendida, ainda, em

diferentes fases, a pré-análise, a exploração do material e o tratamento dos

resultados: inferência e interpretação (BARDIN, 2007).

De posse dessas orientações, iniciamos a análise com os relatos dos

entrevistados para identificarmos os temas, que foram agrupados em diferentes

categorias. As falas dos informantes foram comparadas entre si, com o objetivo de

verificar as que se aproximavam ou se afastavam do conteúdo em questão. De

qualquer modo, considerando as minhas limitações de uma pesquisadora iniciante,

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pude perceber o que continha no conteúdo das falas e as memórias dos que tiveram

experiência no Grupo Escolar Otaviano Basílio Heráclio do Rêgo.

Segundo Miguel (2012), na história da educação existem duas possibilidades

de abordar a relação entre história, memória e instituições escolares. A primeira

estuda as instituições escolares como unidades. Nesse caso, pode-se estudar a

história de um grupo escolar em um determinado período, sua organização, seu

funcionamento, alunos, formação docente e outros componentes que constituem a

sua existência.

A segunda possibilidade é o estudo do processo histórico da construção da

institucionalização escolar ou como determinada sociedade construiu suas escolas,

a partir de necessidades socioeconômicas, e qual valor se atribui a essa instituição

social.

A partir da exposição de Miguel (2012), optamos em realizar um estudo sobre

a história do Grupo Escolar Otaviano Basílio Heráclio do Rêgo na perspectiva de

instituições escolares como unidades. Assim, pretendi fazer um estudo do Grupo

Escolar Otaviano, no período compreendido de 1968 a 1985. Analisaremos,

portanto, sua organização, seu funcionamento e o seu projeto político-pedagógico.

Investigar o projeto político-pedagógico, segundo Firmino (2010), não se

resume ao processo de ensino-aprendizagem, mas vai mais além. Fala-se da

origem, formação docente, alunos, currículo, sua infraestrutura, processo de gestão,

construção arquitetônica, atividades esportivas e culturais, ou seja, razão da

existência da instituição.

O recorte temporal escolhido para fazer o estudo dessa instituição escolar,

está relacionado com a sua construção, fundação e do período em que esse

ambiente de ensino funcionou como grupo escolar. Investigar a origem e a finalidade

da sua criação e compreender como era organizado o processo educacional estão

entre os grandes desafios.

As biografias podem revelar, até certo ponto, muito de um passado glamoroso

ou de insucesso, mas, sobretudo, do que um indivíduo conseguiu guardar sobre

determinadas circunstâncias, a memória de sua vida em várias atividades

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significativas, como o trabalho, o lazer, e a relação com o aprendizado ou com uma

instituição escolar.

Nesse sentido, podemos compreender conforme pensa Ciampa (1996), sobre

a personagem de seu livro, Severina, tentando dizer quem é a partir da articulação

de seu nome próprio. De modo que a memória é puxada pelo referente nominal,

algo que une o indivíduo com a sua história pessoal e coletiva.

Por outro lado, na perspectiva de Ecléa Bosi (1994), a memória cumpre uma

função social muito importante, e, por meio das lembranças, passado e presente são

unidos num gesto, numa fala sobre uma determinada época:

Não há evocação sem uma inteligência do presente, um homem não sabe o que ele é se não for capaz de sair das determinações atuais. (...) Uma lembrança é diamante bruto que precisa ser lapidado pelo espírito. Sem o trabalho da reflexão e da localização, seria uma imagem fugidia (p.81).

Para lembrar, é necessário se transportar para outro cenário e se

desvencilhar das determinações que o presente impõe. E, por outro lado, tentar se

vincular aos objetos e pessoas que circundavam em um determinado período. Esse

aspecto é reforçado por Michel De Certeau (1976), ao considerar que uma pesquisa

em história começa pela garimpagem e seleção, de “... transformar em ‘documentos’

determinados objetos distribuídos de outra forma” (p.30).

Essa fala do autor é muito importante para a nossa pesquisa, porque

pretendemos trazer à lembrança alguns aspectos das atividades desenvolvidas

pelos ex-estudantes, diretoras e professoras do Grupo Escolar Otaviano, por meio

de objetos, tarefas escolares, rabiscos nos cadernos, fotografias, diário de classe e

outros elementos que marcaram a passagem daqueles que experimentaram o

cotidiano do período estudado.

Nessa perspectiva, estudos como o de Souza (2009) ressaltam, também, a

importância de investigação científica sobre modelos e instituições escolares, bem

como a memória de estudantes do interior do Estado de Pernambuco, em sua

trajetória educacional entre o analfabetismo, a leitura e as primeiras letras.

Assim, no primeiro capítulo, com base em Romanelli (2005), Aranha (1996 e

2006), Souza (2004) e Firmino (2010), aponto a concepção de educação difundida

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pelo o regime militar na sociedade brasileira e faço um preâmbulo acerca das

reformas educacionais ocorridas durante esse regime ditatorial, entre os anos de

1968 a 1985, abrangendo os acordos MEC/USAID, que atingiu o Sistema

Educacional Brasileiro, e faço um breve relato histórico sobre os grupos escolares.

O segundo capítulo tem por objetivo apresentar os aspectos gerais do

município de Limoeiro, considerando a sua posição geopolítica no cenário

pernambucano. Além disso, faço um resumo das falas sobre a política limoeirense e

a percepção dos diferentes atores sobre o Grupo Escolar Otaviano Basílio Heráclito

do Rêgo.

Por fim, o terceiro capítulo constitui a parte empírica do estudo, onde trago à

baila as falas que reconstroem parte da história do Grupo Escolar Otaviano Basílio

Heráclito do Rêgo, suas diretoras, estudantes, professoras, a organização interna, a

forma de ensino e suas salas de aula. Após o percurso investigativo do objeto de

estudo em questão, faço as considerações finais.

.

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CAPITULO 1

A EDUCAÇÃO NO BRASIL NOS ANOS DE 1968 a 1985

Neste capitulo, vamos abordar a educação nos anos de 1968 a 1985, como

ela foi empreendida na sociedade brasileira pelo governo do regime militar, os

acordos Mec-Usaid e as reformas educacionais que atingiram o sistema educacional

brasileiro e faço um breve relato histórico sobre os grupos escolares. Como o

capítulo fala sobre educação, vamos antes dissertar um pouco sobre alguns de seus

aspectos.

Segundo Brandão (1995), não existe uma única forma de educação e espaço

definido para que ela ocorra. Pode acontecer nas ruas, nas igrejas ou nas escolas.

Existe educação, mesmo sem a existência do espaço escolar, em qualquer

sociedade ou país, independentemente de suas condições de desenvolvimento.

A educação começa na família, estendendo-se à comunidade, “primeiros, sem classes de alunos, sem livros e sem professores especialistas; mais adiante, com escolas, salas, professores e métodos pedagógicos” (p. 10).

Existem diferentes vertentes da educação. Ela pode de ser de caráter formal,

sendo esta desenvolvida em ambientes educacionais, orientadas por diretrizes e

normas, sendo agentes educadores os professores. A informal que acontece na

família, primeiro espaço de transmissão da cultura, no convívio social, seja nas

atividades de trabalho e lazer e outros espaços de interação social, sendo agentes

educadores, pais, amigos, meios de comunicação e outros. E, por fim, a educação

não-formal, que, segundo Gohn (2010), é realizada em espaços coletivos e

cotidianos com o intuito da formação para a cidadania, e seus agentes formadores

são os educadores sociais.

Nessa perspectiva de a educação ser um meio pelo qual o homem é formado,

não podemos pensá-la sem antes fazermos uma reflexão sobre a existência

humana.

Não podemos construir um ideário educacional sem quem se reflita antes

quem é o homem, quais são seus anseios, necessidades e sem antes definir que

tipo de sujeito se quer formar e para que finalidade. Segundo Firmino (2010), não se

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pode pensar em educação fora das relações entre as pessoas, “sendo está

impregnada de símbolos, de intenções, de padrões culturais e de relações de poder”

(p.42).

Independentemente de onde a educação ocorra e suas formas de existência

e seus agentes formadores, ela deve contribuir com a formação integral,

entendendo-se por formação integral o desenvolvimento físico, intelectual e a

formação cidadã dos indivíduos, para que estes se percebam sujeitos inacabados,

inconclusos, conforme ressalta Freire (1996).

È na consciência da inconclusão que percebemos que a educação é um

processo permanente e que as pessoas se tornam educáveis à medida que se

percebem seres inacabados que devem estar sempre em busca de algo mais.

Acreditando numa educação que esteja a serviço da formação integral do

homem, iniciaremos as nossas reflexões sobre a educação formal e a concepção de

educação defendida durante o regime militar, bem como as reformas que atingiram o

sistema educacional e um breve relato sobre os grupos escolares.

O período de 1968 a 1985 foi marcado pelo advento da ditadura militar. Em

31 de março de 1964, instaura-se no Brasil o regime militar, período marcado pela

repressão violenta do governo autoritário a toda manifestação de oposição ao

regime. Sendo assim, ao povo é negado o direito de participação e de critica. Todo

ato político era considerado subversão pelos ditadores, que reprimiam seus

participantes com violência, por meio de torturas, prisões, exilio e morte.

Para assumir o poder, é criada pelos militares Costa e Silva, Rademaker e

Correia de Mello uma junta militar denominada Supremo Comando Revolucionário, e

promessas de manter a ordem, a segurança nacional e proteger o país dos

comunistas considerados pelos ditadores inimigos. Os ditadores tentam justificar o

golpe, tentando obter apoio de lideranças políticas e do povo brasileiro, para que a

ditadura fosse instaurada sem conflitos.

Imediatamente, a ditadura mostra seu autoritarismo, criando o Ato

Institucional (AI-1), que lhe dava poderes constituintes. Por meio dele, Segundo

Firmino (2010), lança as bases dos interrogatórios policias-militares para serem

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apuradas as responsabilidades de práticas de crime contra o Estado, a ordem

política e social e ações de guerrilha. O autor continua dizendo:

Aniquila, dessa forma, com as atividades sindicais, políticas e estudantis, cerceando, perseguindo prendendo seus líderes e impondo a política do povo ideologicamente ordeiro. (p. 53).

Com o intuito de manter a aparência de uma democracia representativa, o

governo militar mantém o Congresso aberto, porém tendo sido modificado por meio

de cassações e prisões. E é o Congresso que se responsabiliza pela eleição do

novo presidente já previsto no Ato Institucional N º1.

O comando maior das forças armadas escolhe o nome do general Castelo

Branco, que é endossado pelo colégio eleitoral. Outros presidentes militares foram

eleitos durante o regime, enfraquecendo mais o Legislativo, enquanto o Executivo se

fortalecia cada vez mais.

Segundo Aranha (1996), o regime militar faz opção pelo aproveitamento do

capital estrangeiro, aniquilando o nacional-desenvolvimentismo.

A “recuperação” econômica proposta usa o modelo concentrador de renda, que favorece uma camada restrita da população e submete os trabalhadores ao arrocho salarial (p. 211).

Esses fatores levam a uma mobilização por todo o país contrária ao regime. A

população insatisfeita vai às ruas protestar. A UNE (União Nacional dos Estudantes)

junto a outras entidades de classe se responsabilizam pela oposição ao regime. E o

Congresso Nacional também toma posicionamento contrário ao regime.

Diante desse fato, para ter o controle da situação e dar continuidade ao

regime o governo endurece a sua forma de agir. Os ditadores criam, em dezembro

de 1968, o Ato Institucional Nº 5 e, por meio deste, extingue o Congresso, passando

a governar soberanamente o país, retirando todas as garantias de direitos

individuais, público ou privado, e começa a perseguir os opositores do regime.

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A doutrina de segurança nacional justificou todo tipo de repressão. Desde cassação de direitos políticos, censura da mídia, até prisão, torturas, exílio e assassinato. Dessa forma, perderam força os grupos que se faziam ouvir: operários, camponeses, estudantes (ARANHA, 2006, p. 296).

O governo militar, apoiado em atos constitucionais, reprimia todo ato político

violentamente. Dessa forma, o governo conteve e extinguiu os movimentos

populares que reivindicavam diversos direitos sociais, inclusive os educacionais.

Segundo Aranha (1996), a repercussão na educação é sentida na

“reestruturação da representação estudantil”. As organizações como a UNE (União

Nacional dos Estudantes) são consideradas subversivas. A UNE é colocada pela

ditadura na ilegalidade, com o objetivo de evitar representação no âmbito nacional

(ARANHA,1996).

Mesmo assim, a UNE agiu clandestinamente, realizando um congresso, em

outubro de 1968, na cidade de Ibiúna, interior de São Paulo, com a participação de

900 estudantes de todo o país, que foram presos e interrogados. Mas, mesmo com a

repressão, o movimento estudantil reivindicou com urgência reforma universitária.

A ditadura militar desativou movimentos de educação e cultura popular e

penalizou os seus lideres. Um desses lideres foi o educador Paulo Freire, que foi

perseguido politicamente e obrigado a ficar fora do seu país por 16 anos.

Os centros populares de cultura (CPC), que surgiram em 1961 pela iniciativa

da UNE, e o Movimento de Cultura Popular (MCP), criado no Recife, no ano de

1960, sendo pioneiro na mobilização política para reestruturação das campanhas de

alfabetização e de defesa da cultura popular. Paulo Freire foi um dos integrantes do

Movimento de Cultura Popular. A sede do MCP foi invadida, e seus materiais foram

destruídos e apreendidos.

E a Câmara Municipal do Recife, que na época era presidida pelo vereador

Wandenkolk Wanderley, aprovou a Lei 9297, que rescindia todos os contratos da

prefeitura com os MCP, tendo como justificativa que as suas práticas foram

consideradas, pelo governo, como subversivas.

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Esses movimentos apropriavam-se de expressões da cultura popular para o

desenvolvimento dos programas de alfabetização e o diálogo com o povo, tendo

como objetivo o desenvolvimento de uma educação para o enriquecimento cultural e

conscientização política da população. Por esse fato, foram considerados

subversivos, haja vista que suas propostas contrariavam a ideologia de dominação

que o governo objetivava.

Três anos depois da instalação do governo militar, em 15 de dezembro de

1967, com a Lei 5.379, foi instituído o Movimento Brasileiro de Alfabetização

(Mobral), que surgiu com o propósito de minimizar o índice elevado de analfabetos

no país.

Mas suas atividades só foram iniciadas em setembro de 1970, com proposta

pedagógica de cunho ideológico totalmente diferente do que vinha sendo trabalhado

por Paulo Freire e outros educadores, conforme ressalta Aranha (1996).

O programa de alfabetização utiliza o consagrado método de Paulo Freire, só

que esvaziado do conteúdo ideológico considerado subversivo. Há, pois, uma

adulteração indevida do método, impensável sem o processo de conscientização

(ARANHA, 1996, p. 215).

Podemos inferir que o Mobral surgiu para contrapor as ideias de Paulo Freire,

para contrapor a prática educativa libertadora, crítica e problematizadora,

conscientizadora na educação de jovens e adultos.

Assim, o Mobral assumiu a alfabetização desses indivíduos de maneira

funcionalista, apropriando-se de técnicas básicas de leitura, de escrita e de cálculos,

com o objetivo de qualificar a mão de obra para o desenvolvimento da economia, de

forma acrítica.

Com essa perspectiva de alfabetização, o conteúdo era transmitido ao aluno,

e este era visto como sujeito passivo a observar os conteúdos transmitidos pelo

professor, sem que os jovens e adultos tivessem liberdade de escolher o melhor

caminho para sua aprendizagem.

No ano de 1970, devido ao índice elevado de analfabetismo no país, o

governo deu início à campanha de Mobilização Nacional da Educação, liderada pelo

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deputado João Calmon, em face do lançamento do seu plano denominado “Década

da Educação”1. Tinha como objetivo principal criar, nos próximos dez anos,"um

estado d’alma, uma ideia fixa, uma verdadeira obsessão nacional em torno da

necessidade de resolvermos o único problema do Brasil”.

O grande índice de analfabetismo envergonhava o Brasil internacionalmente

e colocava em risco o desenvolvimento econômico do país, tendo em vista que o

objetivo do governo era atingir o desenvolvimento econômico no universo

internacional. Em todo o país, houve uma grande mobilização em apoio à Década da

Educação, inclusive em Pernambuco. Na cidade do Recife, os jornais locais

vinculavam manchetes de instituições que se engajaram nesse projeto educacional.

Entre elas, a da Marinha do Brasil, cujo titulo era: “Marinha intensifica seus

cursos de alfabetização”2. O comando do 3º Distrito Naval, em nota divulgada à

imprensa, expressa seu apoio à campanha afirmando que a alfabetização se tornou

palavra de ordem em nosso país desde a campanha governamental para o

desenvolvimento. E afirma que a Marinha, por meio de Portos e Costas, integrou-se

no plano revolucionário da educação, tendo como uma das metas intensificar seus

cursos de alfabetização.

Os jornais também destacam o apoio da ADESG (Associação dos

Diplomados da Escola Superior de Guerra), com a manchete “Adesguianos

debatem amanhã apoio à Década Educação”3.

Em nota, o professor Eudes de Souza Leão Pinto, na época presidente da

ADESG em Pernambuco, afirma que tem satisfação em expressar todo o empenho

para participar dos esforços desprendidos, que visam alcançar os objetivos da

Década da Educação. Diz ainda que há um estado de guerra declarado ao

analfabetismo, e a ADESG e seus colaboradores encararam a campanha.

(ADESGUIANOS, 1970).

Outra manchete que foi destaque nos jornais do Recife foi a que se referia às

provas do supletivo: “Certe realizará provas do supletivo em todo o Estado”. Na

manchete, constava que o Departamento de Recursos Tecnológicos para a

1Diário de Pernambuco, 25/02/1979, p. 2.

2 Diário de Pernambuco, 02/10/1970, p. 9.

3 Diário de Pernambuco, 1º/09/1970, p. 6

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Educação que englobava, os antigos centros de educação pelo rádio e televisão e

os de recursos audiovisuais, havia realizado provas do supletivo para as quatro

primeiras séries do primeiro grau em 115 radiopostos distribuídos em 60 municípios

de Pernambuco. No Recife, as provas foram realizadas nos radiopostos do Ibura e

da Mustardinha (CERTE, 1974).

As provas foram aplicadas para mais de 3 mil candidatos, nas disciplinas de

Língua Portuguesa, Matemática, Ciências e Estudos Sociais. Nesta foram englobado

conteúdos sobre saúde, moral e civismo.

O Curso Supletivo Dinâmico de Primeiro Grau, para as primeiras séries, havia

sido ministrado pelo Projeto Minerva, que era integrado no Ministério da Educação e

Cultura, teve duração de 9 meses, tendo sido utilizado o sistema de educação pelo

rádio para sua execução.

Os cursos de supletivos foram instituídos para viabilizar os estudos às

pessoas que não tiveram oportunidades de acesso à escola. Mas o objetivo

adjacente era fazer com que esses indivíduos concluíssem o primeiro grau para se

matricularem de imediato em algum curso profissionalizante ofertado pelo governo

ou serem integrados imediatamente no mercado de trabalho, que carecia de mão de

obra qualificada. Alienar os jovens para manipulá-los também fazia parte das

intenções do governo, haja vista que no Curso Supletivo eram trabalhados

conteúdos de moral e civismo.

Os conteúdos das disciplinas deveriam ser trabalhados de forma acrítica, sem

o cunho ideológico de caráter conscientizador pelos professores, seja nas escolas

ou nas universidades. Em todo o país o governo proibiu os professores, alunos e

funcionários das escolas de promoverem ou participarem de qualquer manifestação

de caráter político. E instalou o terrorismo nas universidades: professores eram

demitidos ou aposentados mediante de processos arbitrários, e os que

permaneceram trabalhavam sob forte vigilância.

Antes da instauração da ditadura, destacavam-se ainda vários projetos de

renovação do ensino público, tais como os ginásios e colégios vocacionais, o

Colégio de Aplicação da Universidade de São Paulo, os pluricurriculares, o Grupo

Experimental, os ginásios e os colégios vocacionais.

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Segundo Aranha 1996, em linhas gerais esses projetos tinham como objetivo

incluir o educando no mundo do trabalho e estimular a consciência crítica para

compreensão da realidade. Porém os trabalhos nessas instituições foram

interrompidos pelos ditadores por considera-las subversivas.

Foi proibida pelo governo qualquer tentativa de ação política. As escolas de

grau médio também foram controladas, e seus grêmios transformaram-se em

centros cívicos, tendo como orientadores professores de Educação Moral e Cívica,

os quais teriam de ser de confiança da direção, ou seja, não ter passagem pelo

Departamento Estadual de Ordem Política e Social (DEOPS).

Por meio de decreto-lei, o regime militar torna obrigatório o ensino de

Educação Moral Cívica nas escolas, em seus diversos graus e modalidades de

ensino. Mas, no ensino secundário a nomenclatura é mudada, passando a se

chamar Organização Social e Política Brasileira (OSPB) e no curso superior,

Estudos de Problemas Brasileiros (EPB).

A intenção dos ditadores com a inclusão dessas disciplinas no currículo era

manipular e alienar os jovens, pois elas continham conteúdos de caráter ideológico

manipulador.

Como podemos perceber, a ditadura militar interrompeu o desenvolvimento

do processo educacional, que tinha como objetivo o enriquecimento cultural e a

conscientização política do povo. Desse modo, Extinguiu movimentos educacionais

e interrompeu trabalhos e experiências educacionais, cujo objetivo era instruir e

educar o povo por meio de uma educação conscientizadora que estimulasse o

censo crítico das pessoas, para que elas tivessem a compreensão da realidade a fim

de poderem reivindicar seus direitos de cidadão e contribuir para a transformação da

sociedade.

1.1. Reformas Educacionais na Ditadura Militar

Segundo Romanelli (2005), além de captar recursos mediante a criação de

formas de arrecadação de fundos para expansão do ensino, como, por exemplo, o

salário-educação, que foi instituído pela Lei 4.440, em 27 de outubro de 1964, o

governo ditador tratou desde o início de tomar medidas para que o sistema de

ensino superior se torna mais produtivo, sendo ele o mais oneroso. Para isso, a

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forma de organização desse sistema de ensino sofre modificações, tendo como

objetivo a economia de recursos e sua maior produtividade.

No entanto, a pretensão do governo não era fazer reforma só no sistema de

ensino superior, mas uma reforma na educação brasileira. E assim, o governo

propõe a reforma universitária e a reforma do ensino de 1º e 2º graus, alicerçadas na

Teoria do Capital Humano, colocando a educação a serviço do desenvolvimento

econômico do país.

Para concretização da reforma educacional, o governo militar faz acordos

com agências norte-americanas. São os acordos Mec-Usaid (Ministério da Educação

e Cultura e United States Agency for International Development). Por meio deles, o

Brasil recebe assistência técnica e investimento financeiro para reforma educacional.

Desde o início, esses acordos foram feitos, pois o governo percebia a

necessidade de mudança no sistema educacional devido à crise que este passava.

Ele não só percebe a necessidade de adotar medidas de imediato para amenizar a

crise, mas também adequar o sistema ao modelo de desenvolvimento econômico.

Romanelli (2005) faz um relato desses acordos Mec-Usaid em ordem

cronológica. Destacamos entre eles o de 1964, o primeiro a ser assinado,

denominado Acordo para Aperfeiçoamento do Ensino Primário, que previa a

contratação, por dois anos, de seis assessores americanos. Esse acordo também

dava suplementação de recursos e de pessoal para o ensino primário.

Por sua vez, o acordo Mec-Contap-Usaid (Conselho de Cooperação Técnica

da Aliança para o Progresso), de 1965, estabelecia a melhoria do ensino médio.

Nesse acordo, havia o envolvimento da assessoria técnica americana para fazer o

planejamento do ensino, e técnicos brasileiros iriam para os Estados Unidos para

serem treinados.

Em 1966, o acordo Mec-Contap-Usaid, de Assessoria para Expansão e

Aperfeiçoamento do Quadro de Professores do Ensino Médio no Brasil, mantinha

assessoramento por técnicos americanos e treinamento de técnicos brasileiros nos

Estados Unidos. Nesse acordo, também havia a proposta de reformulação da

Faculdade de Filosofia do Brasil.

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Por outro lado, no acordo Mec-Inep-Contap-Usaid adicionado aos acordos

para o aperfeiçoamento do Ensino Primário, dentre outros objetivos destacava-se o

de “elaborar planos específicos para melhor entrosamento da educação primária

com a secundária e a superior”. (ROMANELLI, 2005, p. 213).

Entre os acordos importantes, estava o do Mec-Sudene-Contap-Usaid, que

criava o Centro de Treinamento Educacional de Pernambuco. E, no ano de 1967, foi

assinadod o acordo Mec-Snel-Usaid de Cooperação para Publicações Técnicas,

Científicas e Educacionais.

Por meio desse contrato, seriam colocados na escola 51 milhões de livros no

prazo de três anos, a contar do ano 1967. Esses livros foram elaborados, ilustrados,

editados e distribuídos pelos técnicos do Usaid.

Nesse contexto, em meio a tantos acordos, o sistema educacional brasileiro é

entregue aos técnicos americanos, que ficam responsáveis por sua reorganização.

Alicerçada por princípios políticos e ideológicos, a reorganização do sistema

educacional visava sua adequação ao modelo de desenvolvimento econômico e à

ideologia de dominação.

A educação, portanto, estava a serviço do desenvolvimento da economia e da

disseminação da ideologia dominante, de caráter manipulador e alienante,

ferramenta usada pelos ditadores para a manutenção no poder.

A crise do sistema educacional serviu de argumento para governo justificar os

acordos Mec-Usaid devido às críticas feitas por alguns segmentos da sociedade

civil. E, para a implantação do projeto educacional proposto pelos tecnocratas, o

governo militar alterou e atualizou a LDB de 1961. Criou a Lei 5.540/68 (referente ao

ensino superior) e a Lei 5.692/71 (referente ao 1º e 2º graus) (ARANHA, 1996).

O projeto de reforma educacional tinha como base os relatórios de Atcon

(Rudolph Atcon, teórico americano) e Meira Matos (coronel da Escola Superior de

Guerra), e não apenas atendia ao ensino primário e médio, mas também ao ensino

superior.

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Assim, um Grupo de Trabalho da Reforma Universitária (GTRU) foi criado, e

seus componentes eram pessoas designadas pelo Presidente da República, o

general Costa e Silva, para a condução da reforma universitária.

Essa reforma extinguiu a Cátedra (cargo de professor universitário, titular em

determinada disciplina), e unificou o vestibular e as faculdades, aglomerando-as em

universidades. Foi instituído, nas faculdades, o curso básico, assim como os cursos

de curta e longa duração e o curso de pós- graduação.

Nessa perspectiva, o sistema de crédito foi instituído devido à nova

composição do currículo, que permitia a matrícula por disciplina. Na análise de

Aranha (2006), as matrículas por disciplina desfez grupos “relativamente estáveis”,

rompendo a interação entre pessoas e grupos, pois o objetivo era diminuir a

conscientização politica dos estudantes.

A reforma também atingiu os setores administrativos das universidades,

porque para a nomeação de reitores e diretores de unidades não havia mais a

exigência que a pessoa pertencesse ao corpo docente universitário. Com isso, elas

seriam administradas por pessoas que não tinham nenhum compromisso com o

processo educacional, “bastando possuir “alto tirocínio da vida pública ou

empresarial” (ARANHA, 2006, p. 214).

Para a reforma do ensino de 1º e 2º graus ocorrida no governo Médici, os

membros do grupo de estudo foram escolhidos pelo ministro da Educação da época,

coronel Jarbas Passarinho. A reforma ampliava a obrigatoriedade escolar de quatro

para oito anos e aglutinava o primário com o ginasial, suprimindo o exame

admissional.

O ensino profissionalizante foi integrado no ensino de 1º e 2º graus,

visavando a qualificação profissional, vez que, ao concluí-lo, o aluno teria uma

profissão e poderia ser inserido no mercado de trabalho, um dos objetivos do

governo no contexto das reformas. E, para as pessoas que não concluíam os

estudos regulares, o ensino supletivo foi oportunizado.

As integrações de primário com ginásio e secundário com o técnico

obedeceram aos princípios de continuidade e terminalidade (ARANHA, 2006). A

continuidade representava a passagem de uma série a outra e a terminalidade. Ao

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concluír os níveis de ensino, era esperado que o aluno estivesse capacitado para

ser inserido no mercado de trabalho.

Novas disciplinas foram criadas nas alterações dos currículos, Educação

Física, Educação Moral e Cívica, Educação Artística, Programa de Saúde e Estudos

Religiosos. História e Geografia são fundidas e se transformam em estudos sociais.

Filosofia e Sociologia foram extintas. E a Escola Normal de formação de professores

também foi igualmente extinta, passando a ter uma nova denominação “Habilitação

para o Magistério” (ARANHA, 1996, p 215). E foi criado o MOBRAL (Movimento

Brasileiro de Alfabetização), com o intuito de amenizar os índices precários de

analfabetismo no país.

Para adequar a escola ao modelo empresarial, o governo adota a tendência

pedagógica tecnicista, que tem como princípio a reprodução do conhecimento e a

centralização em aspectos objetivos e operacionais relacionados ao trabalho

pedagógico. Por meio de treinamento, visava obter mudança de comportamento e o

desenvolvimento de habilidades do educando. “Por isso, privilegiava os recursos da

tecnologia educacional, encontrando no behaviorismo as técnicas de

condicionamento” (ARANHA, 2006, 316).

Sendo assim, a educação alicerçada na tendência pedagógica tecnicista

possibilitaria o desenvolvimento da economia, pois por meio dessa educação seria

possível a formação do capital humano necessário para ser inserido no mercado em

expansão. Essa visão tecnicista da educação desvinculava-a da sua verdadeira

missão, que é a formação integral do homem para o exercício da cidadania.

Segundo Aranha (2006), o ensino foi adaptado ao modelo empresarial

tecnocrático, exigindo o planejamento e a organização racional do trabalho

pedagógico, a operacionalização dos objetivos, divisão do trabalho segundo a

especialidade de funções e a burocratização.

Aos técnicos é dada responsabilidade de planejar e controlar o processo

educativo, submetendo o plano pedagógico ao administrativo. Desse modo, os

diretores escolares passaram a exercer papel de intermediário entre os técnicos e os

professores, e estes passaram a exercerem a função de instrutores, treinadores e

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agentes de controle, que buscam a formação profissional do aluno, por meio de

conteúdos, técnicas, regras e valores estabelecidos pelos acadêmicos especialistas.

Segundo Firmino (2010), a escola foi adaptada as metas do setor

empresarial, que se baseiam em “racionalidade e tecnologia”. O objetivo era

alcançar padrão de qualidade e aumento da produtividade com economia de tempo,

custo e esforço.

A função da escola era preparar a mão de obra qualificada para atender às

necessidades do mercado em expansão e servir de instrumento de propagação da

ideologia do governo militar. Para isso, era necessário que os professores se

tornassem agentes de controle, reprodutores da ideologia dos ditadores e

reprodutores da concepção de escola-empresa.

Assim, de acordo com Firmino (2010), a ação pedagógica docente é

determinista e racionalista, que busca a “performance” enfatizando a repetição, as

cópias, os exercícios mecânicos e a premiação que é oferecida no momento da

avaliação. Sendo assim, aos professores cabia serem agentes de transmissão e

reprodução do conhecimento e aos alunos meros agentes passivos que absorvem o

conhecimento transmitido pelo professor sem questioná-los. Reforçando esse

entendimento Firmino afirma que

A tendência tecnicista em educação ocupa o rol dos paradigmas conservadores que tem como função precípua reproduzir o conhecimento e, por isso, está fadada à repetição e a visão mecanicista do processo de ensino e da aprendizagem (2010, p.60).

Para implantação da reforma educacional baseada na tendência pedagógica

tecnicista, foram criados os ginásios de orientação para o trabalho (GOT). Nas duas

primeiras séries do ginásio, havia as disciplinas de caráter geral e as vocacionais.

Por meio das disciplinas vocacionais buscava-se sondar as aptidões dos alunos.

As disciplinas de artes industriais e de técnicas agrícolas eram ofertadas de

acordo com a economia da região onde estava localizado o ginásio. Nas duas

últimas séries, a carga horária das disciplinas vocacionais aumentava. Os alunos

podiam escolher entre as de artes industriais, técnicas agrícolas, técnicas comerciais

e educação para o lar ou aprofundar-se nos estudos gerais.

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Por meio dessas disciplinas vocacionais, visava-se à sondagem vocacional

dos estudantes bem como fundamentar as suas escolhas nos cursos

profissionalizantes ou gerais no ensino do 2º graus para os que dessem

continuidade aos estudos. E, para os que não fossem adiante, havia a iniciação

profissional por meio de um rápido treinamento numa determinada ocupação, já em

serviço.

Essa preocupação do governo em tornar o ensino do 2º grau

profissionalizante, visando acabar com os cursos clássico científico, que preparavam

para o vestibular, visava conter a procura de vagas nos cursos superiores, formar

mão de obra especializada para ser inserida no mercado de trabalho em expansão e

formar sujeitos alienados.

Para isso, transforma os grêmios das escolas de 2º grau em centros cívicos,

orientados por professores de Moral e Cívica, sendo estes pessoas de confiança dos

ditadores. E obriga todo o sistema de ensino a adotar a disciplina Moral e Cívica,

pois seu conteúdo era de caráter ideológico manipulador.

A alienação da população fortalecia o regime militar e a política ideológica de

manipulação e dominação dos ditadores, que almejavam manter-se no poder.

“Portanto, essa reforma, aparentemente apolítica, foi, de fato, política”

(ARANHA,1996,p 216).

O governo acreditava que a educação deveria estar a serviço do

desenvolvimento econômico, devendo esta ser adequada às exigências da

sociedade industrial e tecnocrata, pois havia uma defasagem de mão de obra

qualificada para aquecer o mercado em expansão, devido à industrialização e o

avanço tecnológico, colocando-se, assim a serviço da disseminação da política

ideológica do governo ditador.

Mas, no início da década de 1980, o regime da ditadura militar começa a

perder suas forças, dando sinais de enfraquecimento, possibilitando, assim, de

forma lenta, o processo de redemocratização. Tentando recuperar os espaços

perdidos, a sociedade civil, as representações estudantis e a classe política

pronunciam-se contra as arbitrariedades, dando início ao surgimento de algumas

mudanças.

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Em termos educacionais, se reconhecia o fracasso da implantação da reforma

feita na LDB, e por meio da Lei 7.044/82 foram dispensadas às escolas a

obrigatoriedade do ensino profissionalizante, mediante do Parecer nº 342/82 do

Conselho Nacional de Educação, a disciplina de Filosofia ressurgiu como optativa.

Os professores reivindicavam, além da reposição das perdas salariais, a

regulamentação da carreira do magistério e melhores condições de trabalho.

No ano de 1985, ainda com resquícios da fase autoritária, tivemos o primeiro

governo civil, o presidente da República, Tancredo Neves, foi eleito de forma

indireta, mesmo com as campanhas dos movimentos populares por diretas- já. Mas,

com a sua morte antes da posse, quem assumiu foi o Presidente José Sarney, eleito

vice-presidente.

A partir dessa abertura política, os partidos que foram extintos pelo governo

voltam à legalidade, bem como a UNE (União Nacional dos Estudantes) e outras

representações estudantis. O debate político volta às ruas e às salas de aula.

1.2.O Ensino Primário

Para compreender a história do Grupo Escolar Otaviano Basílio Heráclio do

Rêgo, é fundamental conhecer um pouco da história do ensino primário no Brasil.

Assim, esse tópico tem por objetivo apresentar alguns aspectos da legislação que

embasava esse nível de ensino no país.

Por meio do Decreto-Lei n.º 8.529 promulgado em 2 de janeiro de 1946,

também chamado de Lei Orgânica do Ensino Primário, o Governo Central traçava

diretrizes para o ensino primário em todo o país.

A incumbência de cuidar do ensino primário era da administração estadual

antes da promulgação daquele decreto-lei, não existindo diretrizes traçadas pelo

Governo Federal para este tipo de ensino. Segundo Romanelli (2005) a ausência de

diretrizes centrais ocasionava uma desordem no sistema, pois os Estados o

inovavam ou o abandonavam de acordo com sua própria política. (ROMANIELLI,

2005, p.160).

O ensino primário estruturado pelos artigos 2º a 9º ficou subdividido em duas

categorias:

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a) o ensino primário fundamental, sendo dividido em elementar com duração de

4 anos, e complementar, de um ano, destinados a crianças de 7 a 12 anos;

b) o ensino primário supletivo com duração de 2 anos destinado atender

adolescente e adultos que não tiveram oportunidade de acesso a esse nível

de ensino na idade adequada.

O currículo para os cursos ficou estruturado dessa forma:

1 - Curso primário elementar:

I – leitura e linguagem oral e escrita;

II- iniciação à Matemática;

III- Geografia e História;

IV- Conhecimentos gerais aplicados à vida social, à educação para

saúde e ao trabalho;

V- Desenhos e trabalhos manuais;

VI- Canto Orfeônico;

VII- Educação Física.

2- Curso primário complementar: neste foram acrescentadas ao

currículo noções de Geografia Geral, História das Américas, Ciências

Naturais e Higiene. E, aos alunos do sexo feminino, noções de economia

doméstica e de puericultura.

3- Curso primário Supletivo:

I. Leitura e linguagem oral e escrita;

II. Aritmética e Geometria;

III. Geografia e História do Brasil;

IV. Ciências Naturais e Higiene;

V. Noções de direito usual (legislação do trabalho, obrigações da vida

civil e militar).

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VI. Desenho.

Aos alunos do sexo feminino acrescentem-se noções de economia doméstica

e puericultura.

O ensino primário supletivo contribui com a diminuição da taxa de

analfabetismo no final da década de 40 e de 50.

O ensino primário fundamental deverá ser norteado pelos seguintes

princípios:

a) desenvolve-se de modo sistemático e graduado, segundo,

os interesses da infância;

b) ter como fundamento didático as atividades dos próprios

discípulos;

c) apoiar-se nas realidades do ambiente em que se exerça,

para que sirva à sua melhor compreensão e mais proveitosa

utilização;

d) desenvolver o espírito de cooperação e sentimento de

solidariedade social;

e) revelar as tendências e aptidões dos alunos, cooperando

para o seu melhor aproveitamento no sentido do bem-estar individual

e coletivo;

f) inspira-se, em todos momentos, no sentido da unidade

nacional e da fraternidade humana”.

A gratuidade e a obrigatoriedade do ensino primário são instituídas nos

artigos 39 e 41. No artigo 25, é determinado aos Estados, Territórios e o Distrito

Federal a organização dos seus respectivos sistemas de ensino primário.

Os estabelecimentos de ensino primário mantidos pelos poderes públicos

serão designados desta forma:

I-Escola isolada (EI), quando possua uma só turma de alunos

entregue a um só docente..

II-Escolas reunidas (ER.), quando houver de duas a quatro

turmas de alunos e número correspondente de professores.

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III-Grupo escolar (GE), quando possua cinco ou mais turmas

de alunos e número igual ou superior de docentes.

IV-Escolas supletivas (ES), quando ministre ensino supletivo,

qualquer que seja o número de turmas e de professores.

Aos grupos escolares era permitido ministrar o curso elementar e o curso

complementar, segundo consta no artigo 29.

Na perspectiva de Romanelli (2005), apesar da vigência da lei orgânica,

constatam-se as dificuldades para a aplicação da legislação do ensino, revelando

sua inadequação diante da realidade. O poder de ação da lei é limitado ante as reais

condições do contexto. E, assim, o ensino primário fundamental acabou sendo

reduzido ao ensino elementar por falta de condições que objetivasse o

funcionamento do ensino complementar.

Na prática, a lei do ensino primário que foi promulgada não vigorou por falta

de condições reais concretas, ficando o ensino primário fundamental sujeito a

modificações estruturais para o seu funcionamento. Nesse contexto, o ensino

primário funcionou nas edificações dos grupos escolares.

Souza (2004) relata como surgiram os grupos escolares e faz um panorama

de como se deram as instalações desses grupos em vários Estados do Brasil,

destacando o de São Paulo como pioneiro. A autora faz referência aos Estados de

Minas Gerais, Espírito Santo, Paraíba, Paraná, Pará, Rio Grande Norte, Mato

Grosso e Santa Catarina. No entanto, não menciona Pernambuco, fazendo

aumentar meu interesse em pesquisar o Grupo Escolar Otaviano Basílio Heráclio do

Rêgo, onde estudei.

Segundo a autora, no final do século XIX, foi implantado pelos republicanos,

no Estado de São Paulo, um sistema de ensino público moderno, cujos princípios,

instituições e organização administrativa e pedagógica serviram de modelo e

motivação para a reorganização do ensino público em vários Estados do Brasil.

Essa reforma teve inicio pela escola normal, em especial pela criação da

escola-modelo que foi criada para que os professores-mestres da escola normal

colocassem em prática seus conhecimentos. Servia também de centro de

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propagação dos novos métodos de ensino, propriamente o método intuitivo ou lições

de coisas, um tipo de ensino que orientava os professores a conduzir os alunos em

sala de aula.

Para isso, elaboram-se manuais segundo uma diretriz que modificou o papel

pedagógico do livro didático que, de material didático utilizado pelos alunos, se

converte em material didático essencial do professor. Dentre esses manuais,

destaca-se como sendo o mais famoso o do americano Norman Allison Calkins,

denominado Primeiras Lições de Coisas. Sua primeira edição é datada de 1861,

reformulado e ampliado no ano de 1870.

Esse manual foi traduzido por Rui Barbosa, no ano de 1881, e teve sua

publicação no Brasil em 1886. Além disso, serviu de referência para organização da

escola primária.

Segundo Souza (2004), os grupos escolares foram criados no Estado de São

Paulo em 1893, a partir da reunião de escolas isoladas agrupadas pela proximidade,

ficando obrigados a adotar o tipo de organização e método de ensino das escolas-

modelos de São Paulo.

Os grupos escolares começaram a funcionar nos centros urbanos,

diferenciando-se de outras escolas primárias existentes no Estado de São Paulo. Os

grupos tinham características da escola graduada, organização escolar que

configurou o final do século XIX, sendo implantada em vários países da Europa e

dos Estados Unidos, tendo como objetivo difundir a educação popular.

A escola graduada fundamentava-se essencialmente na classificação dos

alunos pelo nível de conhecimento em agrupamentos supostamente homogêneos,

implicando a constituição das classes. Pressupunha, também, a adoção do ensino

simultâneo, a racionalização curricular, controle e distribuição ordenada dos

conteúdos e do tempo (graduação dos programas e estabelecimento de horários). E

mais a introdução do sistema de avaliação, a divisão do trabalho docente e um

edifício escolar compreendendo várias salas de aula e vários professores (SOUZA,

2004, p.114).

Nesse modelo de organização escolar, os alunos eram classificados em

grupos homogêneos, o currículo era fragmentado em graus e havia divisão do

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trabalho docente, além da construção de prédios com várias salas de aula e, para

cada uma delas, uma classe referida a uma série e, para cada série, um professor,

que era supervisionado por um diretor.

A escola graduada pressupôs a organização metódica e sistemática do

conhecimento a ser transmitido na escola primária. O estabelecimento de um

programa uniforme e de exames padronizados converteu as primeiras

aprendizagens e outros saberes em matérias de ensino, e a lógica dos conteúdos

passou a presidir a organização das escolas (SOUZA, 2004, p.116).

Os primeiros grupos escolares foram instalados em São Paulo, no final do

século XIX e início do século XX. Diversos edifícios foram construídos com estilos

arquitetônicos neoclássicos e ecléticos. Muitos se destacavam pela sua beleza e

comodidade de suas instalações.

Eles localizavam-se nos centros urbanos e ofereciam melhores condições de

trabalho. O ensino oferecido era o primário completo, ministrado em quatro anos.

Esses grupos escolares tinham prestígio social estendendo-se este a seus

professores.

A primeira constituição republicana promulgada em fevereiro de 1891,

delegou aos Estados legislar e prover o ensino primário. Os Estados, por sua vez,

enfrentaram a questão da difusão da instrução por intermédio da propagação das

escolas primárias.

Ao Estado de São Paulo coube iniciar o processo de organização e

implantação da instrução pública, por ele deter hegemonia econômica e, com a

república, alcançar hegemonia política. A organização e implantação da instrução

pública foram empreendidas mediante uma reforma ampla da instrução herdada do

império. Nesse sentido

[...] embora a reforma promulgada em 1892 abrangesse a totalidade da instrução pública, seu centro localizava-se na escola primária. E a grande inovação consistiu na instituição dos grupos escolares (SAVIANI, 2004, p.24).

As escolas primárias também eram chamadas de primeiras letras. Nessas

escolas, as classes eram isoladas e havia. Um só professor, uma escola

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compreendia uma classe, e um professor ministrava o ensino a um grupo de alunos

de níveis diferentes de aprendizagem. A reunião dessas escolas isoladas deu

origem aos grupos escolares e foram substituídas por eles, conforme afirma Saviani

(2004).

Os grupos escolares reuniam, em um só prédio, de quatro a dez escolas.

Cada grupo escolar tinha seu diretor, e o número de professores era proporcional à

quantidade de escolas que haviam sido reunidas para compor o grupo escolar.

A reunião dessas escolas originou, dentro dos grupos escolares, as classes

que correspondiam às séries anuais. Segundo Saviani (2004), os grupos escolares

eram seriados, enquanto as escolas isoladas eram não-seriadas. Os grupos

escolares, mediante a origem dessas classes no seu interior, eram também

denominados escolas graduadas.

Como afirma Saviani 2004:

[...] o agrupamento dos alunos se dava de acordo com o grau ou série em que se situavam, o que implicava uma progressividade da aprendizagem, isto é, os alunos passavam, gradativamente, da primeira à segunda série e desta à terceira até concluir última série(no quarto ano no caso da instrução pública paulista),com o que concluíam o ensino primário (2004 p.25).

Esse modelo foi disseminado em todo o país com a implantação dos grupos

escolares, permanecendo até os dias atuais na organização pedagógica da escola

elementar, ou seja, nas séries iniciais do ensino fundamental.

O objetivo deste capítulo foi abordar, ainda que de forma sucinta, a educação

nos anos de 1968 a 1985 e de que maneira foram implementadas reformas durante

o regime militar. O próximo capitulo tem por objetivo apresentar aspectos gerais do

município de Limoeiro, bem como o resumo das falas dos entrevistados.

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CAPÍTULO 2

ASPECTOS GERAIS SOBRE LIMOEIRO E OUTRAS FALAS

No capítulo anterior, apresentei de forma genérica, a educação no Brasil entre

os anos de 1968 e 1985, que demarcam a periodização do objeto de estudo. O

objetivo deste segundo capítulo é apresentar o município de Limoeiro e um breve

comentário dos depoimentos de ex- professoras, ex-diretoras e ex-estudantes sobre

o Grupo Escolar Otaviano Basílio Heráclio do Rêgo.

2.1. LIMOEIRO: População e Localização Geográfica

O território ocupado pelo município de Limoeiro, uma sesmaria, onde existia

um aldeamento de índios. Em 1711, o aldeamento era dirigido pelos padres Manuel

dos Santos e João Duarte do Sacramento. A História Eclesiástica de Pernambuco

dá esses padres como fundadores do aldeamento. Em 1730 e 1740, o missionário

responsável pela catequização dos índios era o padre Ponciano Coelho. Devoto da

Nossa Senhora da Apresentação torna-a padroeira da paróquia.

A lenda existente sobre a origem do nome da cidade é que havia um

português chamado Alexandre Moura, religioso e devoto de Nossa Senhora da

Apresentação, que morava a quinze quilômetros a oeste da cidade, num lugar

denominado Poço Pau. Mandou construir uma capela para serem celebradas as

missas e realizar festas para louvar a santa. Isso atraiu muitas pessoas, que vinham

de lugares distantes e muitas delas resolviam morar na localidade fazendo com que

o lugarejo crescesse.

O padre Ponciano era contra o crescimento do lugarejo, pois queria que o ele

ocorresse no pé da serra, local do aldeamento. Fez desaparecer a imagem da

Nossa Senhora da Apresentação da igreja de Poço de Pau, para que ela fosse

encontrada em um limoeiro, local em que atualmente está localizada a Igreja Matriz

da Nossa Senhora da Apresentação.

A imagem foi trazida de volta ao lugarejo. Por várias vezes a imagem era

colocada sob um pé de limão. O padre dizia que aquilo era muito significativo e que

fosse visto como uma revelação, querendo que ali se erguesse uma igreja em que a

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imagem fosse colocada.

A igreja foi construída com a ajuda de todos. O milagre se espalhou, atraindo

para a região várias pessoas, que passaram a residir no local. E, assim, foi fundado

um povoado chamado Limoeiro de Nossa Senhora, que depois passou a ser apenas

Limoeiro.

Limoeiro tornou-se Distrito pela Carta Régia de 16 de junho de 1786, 26 anos

mais tarde foi promovido a Vila, e depois passou a ser Cidade pela Lei Municipal

n°2, de 19 de dezembro de 1892. Veio a tornar-se município autônomo só em 6 de

abril de 1893, data da sua emancipação política.

Fotografia 1- O município de Limoeiro na década de 1970

Fonte: Arquivo pessoal de Umberto, morador de Limoeiro

Esse município é dos que integram a Região de Desenvolvimento do Agreste

Setentrional de Pernambuco, medindo 204 km², fazendo limite com os municípios da

Zona da Mata Norte Pernambucana: a leste, Carpina, Lagoa do Carro e Buenos

Aires; ao norte, Vicência e os municípios do Agreste; a oeste, Salgadinho, João

Alfredo e Belo Jardim; e a o sul, Passira e Feira Nova. O município é formado pelos

distritos de Sede e Urucuba e os povoados de Gameleira, Mendes e Lagoa

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Comprida. Está localizado a 77 km do marco zero do Recife.

Sua população, entre 1970 e início de 1990 decresceu de 57.278 para 54.860

habitantes. A população atual, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e

Estatística (IBGE), é de 56.772 habitantes. Desde meados da década de 1990 até

os dias atuais, Limoeiro alcançou crescimento populacional lento.

Sua rede hidrográfica natural está inserida em duas bacias: a Bacia do Rio

Goiana e a Bacia do Rio Capibaribe. A primeira é constituída de uma área de

aproximadamente 286.300 ha, sendo que 77% estão inseridos na região chamada

Litoral Norte, e os 23% restantes estão localizados na região do Agreste.

Ela é composta por três sub-bacias: a do rio Tracunhaém, do rio Capibaribe-

Mirim e do rio Goiana. É na sub-bacia do rio Tracunhaém que a porção norte de

Limoeiro está inserida. Ocupando cerca de 43% da área do rio Goiana, a sub -bacia

de Tracunhaém estende-se até o municípcio de Orobó, onde nasce o rio

Tracunhaém.

Mapa 1 – Mapa do Estado de Pernambuco e o Município de Limoeiro

Fonte: FIDEM, 20064

O município de Limoeiro é cortado pelo rio Tracunhaém na direção leste-

oeste, e seus principais contribuintes dentro do território de Limoeirense são o rio

Orobó, na margem norte, e os riachos Gabioé e Meu Refúgio, na margem sul. A

4 Disponível em: http://www.limoeiroagora.files.wordpress.com/2012/09/relatc3b3rio-geral-do-plano-

diretor-de-limoeiro.pdf>. Acesso em: 6 jan. 2013.

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bacia hidrográfica do rio Goiana/Tracunhaém, no município de Limoeiro, mede

132,36 km², correspondendo à porção norte do município.

A bacia do rio Capibaribe ocupa uma área de 13.761,36 ha, compondo a rede

hidrográfica da porção sul do município. Em Limoeiro, os principais cursos d’água

são o rio Capibaribe e o rio Catunguba, e seus principais contribuintes são,

respectivamente, os riachos Mangueira, riacho do Jucá, riacho da serra, riacho

Montado, riacho da Praça, riacho das Areias e riacho Maria.

Limoeiro tem como setores de atividade economica formais a indústria de

transformação, que gera 650 empregos, em 73 estabelecimentos; o comércio, com

814 ocupação, em 231 estabelecimento; serviços, com 539 empregos, em 91

estabelecimentos; a administração pública, que ocupa 946 pessoas em 5

estabelecimentos; a agropecuária, extração de vegetais, caça e pesca, com 172

empregados 47 estabelecimentos; e construção civil, com 16 trabalhadores, em 2

estabelecimentos.

No município, ocorreram fatos relevantes que contribuíram para o seu cenário

educacional. No ano de 1968, na gestão do prefeito Adauto Heráclio Duarte, foi

construído e inaugurado o Grupo Escolar Otaviano Basílio Heráclio do Rêgo, que

beneficiou os moradores da Vila da Cohab (atual Cohab Velha) e as suas

redondezas.

No início da década de 1970, o Ginásio deLimoeiropassa a compartilhar suas

instalações com o Ginásio Estadual (atualmente Escola Estadual Padre Adauto

Nicolau Pimentel). E, nesse mesmo ano, no mês de setembro, dando início às

comemorações da semana da patria, o prefeito José Antônio Correia de Paula fez a

abertura do II Jogos Estudantis, patrocinado pela prefeitura e pela Escola de

Educação Física de Pernambuco.

As modalidades oferecidas foram vôlei, basquete, tênis, futebol de salão,

futebol de campo e pedestrianismo. Esses jogos oportunizaram a interação dos

alunos da periferia e zona rural com os da cidade. Entre os alunos que participaram

desses jogos estavam os do Grupo Escolar Otaviano Basílio Heráclio do Rêgo, que

inclusive conquistaram um troféu na modalidade esportiva futebol de salão. E no ano

1971, o Ginásio Estadual, por iniciativa do professor de Ciências Físicas, Plácido da

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Silva Bezerra, e a colaboração da professora Maria Auxiliadora, promove a 1ª Feira

de Ciências do Município.

No ano de 1973, foi concedido pelo governador Eraldo Gueiros Leite a

medalha do Mérito Educacional a Maria Gabrielle Andasche ao Colégio Regina

Coeli,pelos serviços prestados à educação no Estado de Pernambuco.

O Colégio Regina Coeli, que era só para meninas,em 1974 torna-se colégio

misto, estendendo o ensino de referência para os meninos.

Para oportunizar aos limoerenses a educação de nível superiorfoi fundada, no ano

de 1976, a FACAL (Faculdade de Ciências da Administração de Limoeiro), instalada,

provisoriamente no Colégio Regina Coeli. Ela ofercia aos limoeirenses, entre outros

cursos, o de Pedadgogia, que formou vários professores, aumentando o número

dessa categoria com nível superior no município.

E em 1978, o Ginásio Agrícola da Vila Urucuba foi municipalizado pelo

prefeito Adauto, no seu segundo mandato, tornando-se Escola Municipal Cônego

Deusdedith, sendo esta a primeira escola municipal a oferecer o 1º grau completo ao

seu alunado.

Segundo o IBGE (1980), no início da década de 1980, em Limoeiro, o número

de pessoas alfabetizadas correspondia um total 48.970. Dentro dessa totalidade,

25.062 eram pessoas com 5 anos de idade ou mais. As iniciativas do município na

melhoria do acesso à educação contribuíram para o alcance desses números.

Uma das iniciativas do municipio foi a construção do grupo escolar Otaviano

Basílio Heráclio do Rêgo, que teve uma participação significativa nesses

números,pois alfabetizou grande parte das pessoas moradoras da Vila da Cohab e

das suas redondezas, bem como empregou alguns profissionais de ensino naquele

período, conforme veremos nas falas dos entrevistados.

2.2. Entrevista da Professora Josefa: a primeira professora do Grupo Escolar

Otaviano Basílio Heráclio do Rêgo, em 1969

A entrevista com a professora Josefa se deu de forma inusitada. Inicialmente,

tentei entrar em contato com Dona Rita, pessoa que me ajudou a “entrar no campo”,

mas não tive êxito, pois ela, segundo seu filho, estava em Itamaracá. Então, meu

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marido perguntou se eu gostaria de ir a Limoeiro, e eu respondi que sim. E fomos lá

junto com nossos filhos.

Ao chegar à cidade, fui mostrar a escola a meus filhos e aproveitei para tirar

algumas fotos. A professora Josefa mora próximo à escola, na Cohab Velha,

praticamente na mesma rua do antigo Grupo Escolar; então, fui à sua casa. Ao

chegar, encontrei-a sentada no terraço junto com seu filho, Ismael; cumprimentei-os

e perguntei se poderíamos falar uns minutos. Ela respondeu positivamente,

convidando-nos para entrar.

Fotografia 2- Josefa, primeira professora do grupo, em 1969

Fonte: Arquivo pessoal da pesquisadora

Abracei-a e perguntei se lembrava de mim, e ela respondeu que sim.

Começamos a conversar, relembrando o encontro que tivemos há uns meses, eu,

ela e Dona Rita. Pedi desculpas por ter aparecido sem avisar e expliquei que resolvi

ir até sua casa, porque Dona Rita não se encontrava na cidade e não sabia quando

ela iria voltar. Expliquei, ainda, que precisava saber quando poderia fazer a

entrevista.

A professora Josefa disse imediatamente: “Minha filha, vamos fazer logo hoje,

aproveite que você teve a sorte de me encontrar em casa”.

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Fiquei surpresa e atordoada com a sua fala, pois como faria uma entrevista

sem gravador?.

Meu filho, de 10 anos, preparou o seu celular para a gravação e, como

havíamos levado a máquina fotográfica, minha filha filmou e tirou fotos. E as

perguntas que eu havia elaborado para a entrevista com a professora Josefa e ex-

estudantes estavam no diário de campo, dentro da minha bolsa. Rapidamente,

iniciamos o trabalho com “os meus auxiliares”.

Antes de começar a entrevista, a professora Josefa perguntou: “Por que você

quer pesquisar sobre o grupo?” Respondi que foi a minha primeira escola e que já o

havia dito a ela na minha primeira visita. Ela, então, perguntou: “Qual foi o ano e a

série? “

Quando disse que havia estudado na primeira série da década de 70, ela

revelou que seu filho também havia estudado no grupo escolar nesse mesmo

período.

Assim iniciamos a entrevista, que foi feita no terraço da sua casa. No seu

decorrer, filho dela fez algumas interferências, pois percebeu que sua mãe estava

tendo alguns “lapsos” de memória. Depois da entrevista, fiz algumas perguntas a

seu filho, e dessa vez a professora foi quem interferiu na conversa. A entrevista

durou 49 minutos.

A entrevista que planejei foi semiestruturada. Elaborei perguntas abertas e

fechadas para facilitar a interação entre pesquisador e informante. Segundo Minayo

(2000), a entrevista não é só coleta de dados, mas uma situação de interação, que,

dependendo da relação do entrevistador com os sujeitos, as informações dadas

podem ser afetadas.

Com bases nas informações fornecidas pela professora Josefa, conheci um

pouco da história do grupo escolar. Em linhas gerais, faço um resumo da sua fala.

Segundo a professora Josefa, ao Grupo Escolar Otaviano Basílio Heráclio do

Rêgo foi dado esse nome porque Otaviano era avô do prefeito da época, que se

chamava Adauto Heráclio Duarte. O grupo foi construído em 1968, no bairro do Juá,

mas foi inaugurado em 1969, beneficiando as comunidades de Juá, Vila da Cohab

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(conjunto habitacional) e os alunos que moravam em sítios, pois só havia escola na

área urbana da cidade.

No seu primeiro ano de funcionamento, só as séries 1ª, 2ª e 3ª foram

oferecidas, e no segundo ano, a 4ª série. O grupo teve como primeira diretora Dona

Benedita, porém ela nem chegou a assumir o cargo, ficando em seu lugar Dona

Consinha, mulher de Chico Heráclio, que era coronel e líder político de Limoeiro.

A escola era composta por 4 salas de aula, uma secretária, cantina e

banheiro e funcionava em três expedientes, manhã, tarde e noite. O ensino

oferecido era primário, o Mobral (Movimento Brasileiro de Alfabetização) e curso

profissionalizante de pintura e bordado, que era ministrado por uma só professora.

Não tinha educação física e nem qualquer atividade esportiva, pois na escola não

havia quadra nem professor para realizar essas atividades.

No ensino primário, a disciplina de arte era ministrada por uma professora de

educação artística. As primeiras matrículas foram feitas nas casas das pessoas pela

própria professora Josefa. Ela ministrava aulas para a 2ª e 3ª séries, à noite, em

uma só sala, por falta de professores. Os alunos tinham faixa etária variada, o mais

novo tinha 12 anos. A vestimenta dos alunos do grupo era saia para as meninas e

calça comprida para os meninos.

2.3. Falas cenas e cenários e o Grupo Escolar Otaviano Basílio Heráclio do

Rêgo

Maria Helena:ex-professora e ex-diretora

Em entrevista com a professora Josefa, o seu filho Ismael, que foi aluno do

grupo escolar teve uma pequena participação. E, em uma das suas falas, ele

mencionou que havia sido aluno de duas professoras lá no grupo, e uma delas foi

Maria Helena.

Eu perguntei a ele onde ela essa professora morava, e ele logo disse que ela

morava perto do grupo escolar. Disse ainda que o marido dela tinha um armazém de

construção e explicou como chegar ao local. Quando a entrevista terminou, fui à

procura da próxima pessoa a ser entrevistada.

Cheguei ao armazém e perguntei se era o do marido da professora Maria

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Helena e se ela estava, ou ele. A funcionária disse que ele estava, mas a esposa

não e acrescentou que a professora havia saido com a filha. Então, pedir o número

do telefone do armazém, e a funcionária me deu o da filha, alegando que a

professora não ficava no armazém.

Pedi à funcionária para chamar o marido da professora, o cumprimentei-o

falei do motivo da minha visita e perguntei pela sua esposa. Ele disse que ela havia

acabado de sair com sua filha. Então, perguntei qual o dia em que eu poderia voltar

para falar com ela. Ele respondeu que qualquer dia, me mostrando qual era sua

casa. Agradeci-lhe e disse que eu iria ligar para ela e marcar um dia. Então,

prontamente liguei para ela, falei sobre a pesquisa e marcamos a entrevista, que foi

feita na sala da sua casa.

Segundo a professora Maria Helena, o grupo chamava-se Otaviano Basílio

Heráclio do Rêgo em sua homenagem. O grupo era composto por quatro salas, e

uma delas era utilizada para guardar a merenda. O ensino oferecido era o de 1ª a 4ª

série. Não tinha atividade esportiva nem educação física, mas tinha festas

comemorativas. A faixa etária dos alunos variava entre 7 a 14 anos. A vestimenta

dos alunos era saia azul para as meninas e blusa com o escudo branco. O grupo

funcionava com três turmas de manhã e quatro turmas à tarde, sendo 1ª e 2ª série,

de manhã e 3ª e 4ª séries à tarde. O conteúdo trabalhado era as quatros operações,

leitura, escrita, ditado, redação e conhecimento sobre o Município.

O grupo escolar foi criado pela necessidade de se ter uma escola na

comunidade devido à construção da Cohab. Ele foi de grande importância para a

comunidade, pois só havia escola no centro da cidade, e com o grupo os pais

ficavam seguros por ser perto da suas casas. O grupo, localizado no bairro do Juá,

beneficiou também as comunidades da Cohab, Ladeira Vermelha e Ribeiro Fundo. A

Cohab foi inaugurada em 1965. A professora Maria Helena disse que foi trabalhar no

grupo por indicação do secretário de Educação da época.

Sônia Pereira:ex-diretora do Grupo Escolar entre 1974 a 1978

Fui informada que Sônia tinha sido diretora do grupo por intermédio de Maria

Helena, que foi diretora do grupo, tendo sido substituída por Sônia, que por sua vez

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foi indicada pela professora Josefa a primeira mestra do grupo escolar.

Maria Helena disse que Sônia tinha agência de viagens no centro da cidade e

explicou como chegar lá. Então, logo que acabou a sua entrevista, prontamente

peguei uma moto taxi e fui à agência. Ao chegar no local, perguntei se aquela

agência era de Sônia Pereira, e a pessoa que estava lá respondeu que sim. Então

identifiquei-me e disse qual era o motivo da minha visita. A pessoa que me atendeu

disse que Sônia estava viajando com um pessoal pela agência e iria demorar para

voltar. Revelou que ela sempre viaja acompanhando o pessoal em excursão

realizada pela agência.

Perguntei, então, se ela poderia me dar o número do telefone de Sônia,

sendo prontamente atendida. No dia seguinte, telefonei para ela, me identifiquei e

falei sobre a pesquisa. Perguntei se ela poderia participar, concedendo uma

entrevista, com o que concordou e de imediato disse para eu ligar depois para

agendar, pois estava viajando. Acrescentou que era muito difícil encontrà-la em

Limoeiro devido às viagens que faz, mas pediu que eu ligasse novamente depois

para ela ver uma data em que estivesse disponível.

Passados alguns dias, voltei a ligar, e ela continuava viajando. Perguntei

quando ela estaria de em Limoeiro e quando eu poderia ir lá para fazer a entrevista.

Ela me informou a data da sua chegada, mas disse que eu deveria ligar antes de ir,

pois ela poderia ter algum compromisso.

Posteriormente, marcamos a data da entrevista, porém quando cheguei lá

Sônia não estava. Sua secretaria disse que ela estava resolvendo uns problemas e

gentilmente ligou para Sônia e avisou que eu estava lá.

Depois de esperar por algum tempo, Sônia chegou e disse: “Quase que você

não me encontra aqui, porque hoje pensei em ir ao Recife, mas deixei para ir

amanhã”.

Eu falei: “Graças a Deus, a senhora desistiu de ir”.

A entrevista foi feita lá mesmo, na agência, por esse ser o seu local de

trabalho. Em um determinado momento da entrevista, tive de parar, a pedido de

Sônia, por causa de um cliente amigo que chegou e começou a falar com ela.

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Segundo Sônia, o grupo escolar é chamado de Otaviano Basílio Heráclio do

Rêgo porque Otaviano colaborou muito com a educação do Município. Otaviano era

um empresário fazendeiro. O grupo escolar foi criado para atender às necessidades

da comunidade devido ao seu crescimento, pois a Cohab havia sido inaugurada e

tinha o bairro mutirão. A escola beneficiava os aluno do Juá, da Cohab, de Ladeira

Vermelha, de sítios e de Feira Nova.

A inauguração oficial do grupo foi em 1975, na sua gestão. No grupo havia

atividade esportiva. E os alunos do grupo, participaram dos jogos escolares,

promovido pelo núcleo de supervisão pedagógica, o atual GERE. Havia

festascomemorativas. A vestimenta dos alunos era calça azul para os meninos, e

saia azul para as meninas e blusinha branca para ambos.

A forma como as professoras trabalhavam não era 100% tradicional, pois os

alunos participavam de trabalhos em grupo. Eram as chamadas vivências. O grupo

era composto por 4 ou 5 salas, cantina, diretoria, sala de professor e secretaria, na

mesma sala, e banheiro dos professores e dos alunos. Funcionava em três horários

manhã, tarde e noite.

Eram oferecidos cursos da alfabetização até a 4ª série e o Mobral e a faixa

etária dos alunos variava entre 6 e 11 anos, além dos da noite, que eram maiores. O

regimento, as normas e o regulamento da escola eram elaborados pela Secretaria

de Educação. Eram feitos cartazes contendo os direitos e deveres do aluno, como

horário de chegada.

Silvina Cristiano:ex-estudante do Grupo Escolar

A entrevista com Silvina se deu de forma inusitada. Eu fui a Limoeiro para

entrevistar o seu irmão, que conheci por intermédio de Dona Rita, que me levou à

sua casa. Falei-lhe com sobre o estudo e perguntei se ele poderia dar entrevista. Ele

concordou e disse que a sua esposa havia também estudado no grupo escolar.

Então, indaguei quando poderia ser, e ele disse que poderia ser qualquer dia,

porque ele trabalhava em casa.

Diante desse fato, não marquei nenhum dia. Fui a Limoeiro várias vezes para

entrevistar outros pessoas, visitar a Secretaria de Educação e, em uma dessas idas,

resolvi dar uma passada na casa do irmão de Silvina. Perguntei, então, se ele

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poderia dar entrevista naquele momento, mas sua resposta foi que estava ocupado,

porém acrescentou que a irmã dele estudou também no grupo e poderia dar a

entrevista.

Eu disse que, se ela aceitasse, gostaria de entrevistá-la. Então, ele de

imediato ligou para ela e a convidou para dar entrevista no seu lugar. Ela disse que

iria sair, mas ele disse que seria rápido e me deu o telefone para eu falar com ela.

Falei o que havia ocorrido e que a entrevista seria rápida. Ela estava meio

apreensiva, perguntou como seria, eu expliquei e aí ela aceitou.

Com poucos minutos, ela chegou à casa do seu irmão, que havia colocado

duas cadeiras para eu e minha filha sentarmos na frente da sua casa. Então quando

ela chegou me apresentei, falei sobre a pesquisa e fiz a entrevista ali mesmo na

calçada.

Segundo Silvina, o nome de Otaviano Basílio Heráclio do Rêgo foi dado ao

grupo escolar em homenagem a Otaviano, que era um empresário, fazendeiro.

Segundo afirmou, o grupo era composto por quatro salas e as aulas eram

ministradas em três expedientes: manhã, tarde e noite. À noite, funcionava o Mobral.

O Ensino oferecido era o de 1ª a 4ª séries e o Mobral.

A faixa etária dos alunos variava bastante. As crianças só entravam na sala

de aula com sete anos, mas havia muitos alunos fora da faixa, principalmente os dos

sítios. A escola foi criada para suprir a necessidade da comunidade, que estava

crescendo, começando pela Vila da Cohab e depois o bairro do Mutirão, pois não

havia nenhuma escola por perto, a não ser no centro de Limoeiro. O grupo

beneficiou os alunos que moravam na Cohab, em Ribeiro Fundo e em sítios.

No grupo, não havia educação física nem atividade esportiva, havia festas

comemorativas. As vestimentas dos alunos era saia para as meninas e short para os

meninos.

O material usado em sala de aula era caderno, cartilha e caderno de

caligrafia. A forma de os professores trabalharem era muito diferente da atual. Eles

colocavam uma letra no quadro, davam o som e passavam atividade, sem

participação dos alunos, que não faziam nenhum questionamento. Os professores

mandavam estudar em casa palavras da cartilha, para serem lidas na sala de aula, e

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faziam ditado com as elas.

Romildo Cipriano Silva: ex-estudante do Grupo Escolar

Quando entrei no Mestrado, relatei a meus irmãos e também os informei

sobre o objeto da pesquisa. Quando eles souberam que era sobre o grupo escolar

acharam interessante, pois a maioria deles estudou lá.

Em conversa com os que estudaram no grupo percebi que eles guardavam

muitas lembranças dos momentos vividos, principalmente Romildo, que falou sobre

uma cartilha usada pelas professoras em sala de aula. Essa informação foi de

grande importância, me ajudou a elaborar duas perguntas para a pesquisa.

Diante disso, convidei Romildo para ser um dos entrevistados e ele de

imediato aceitou. Pelo fato de ser meu irmão, perguntei ao orientador se seria

possível ele ser uns dos meus informantes, explicando-lhe que Romildo se lembrava

de muitas situações vividas no grupo, o que iria contribuir muito para o trabalho. E

quanto, ao fato de eu ter relação afetiva com o entrevistado, isso não afetaria o

estudo, pois eu já tivera oportunidade de ler trabalho em que um dos informantes

era mãe da pesquisadora (FIGUEIROA, 2012).

A autora justifica a participação da mãe baseada em Bosi (2010) e diz que

segundo ela, o observador deverá ter uma aproximação direta com os sujeitos que

fazem parte da pesquisa. Diante disso, o orientador concordou com a participação

de Romildo como um dos atores a serem entrevistados.

Pelo fato de sempre estar em contato com Romildo, retardei a entrevista, vez

que a minha preocupação era fazê-la logo com os sujeitos que moravam em

Llimoeiro.

A entrevista foi num domingo, pois ele trabalha em Suape e só está em casa

no final de semana. Lembrei que ele ainda não havia sido entrevistado e lhe

telefonei no sábado avisando que no seguinte iria à sua casa para fazer a entrevista.

Ele então, disse: Vem e almoça comigo; eu vou comprar os ingredientes para você

fazer uma lasanha para o almoço.

Ao chegar à sua casa, prontamente fui preparar a lasanha. Depois do almoço

ficamos conversando, e ele disse que teria que dar uma saidinha, mas que depois

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teria que ir para o ensaio do coral da igreja que ele congrega, porém voltaria logo.

Quando retornou, devido o barulho dos meus sobrinhos e do meu filho, que

também estava lá, sua esposa sugeriu que a entrevista fosse feita no quarto dos

meninos. Fomos para lá, mas antes de dá inicio sua filha, que tem problemas de

audição devido a uma meningite, perguntou o que a gente estava fazendo no seu

quarto, e meu irmão explicou: “A sua tia vai arrancar meu dente.” Ela, assustada,

saiu do quarto e então começamos o trabalho.

A entrevista, igualmente às demais foi semiestrutura. Por meio das suas

informações, obtive mais dados sobre o grupo escolar e confirmei outras que já

haviam sido relatadas.

Das as informações dadas, faço aqui um resumo da sua fala.

Segundo Romildo, foi dado o nome Otaviano Basílio Heráclio do Rêgo ao

grupo escolar em homenagem ao senhor de engenho, coronel, fazendeiro e

empresário de mesmo nome. O grupo era composto por seis salas e funcionava em

três expedientes: manhã, tarde e noite. À noite eram ministradas aulas do Mobral. O

ensino oferecido era de 1ª a 4ª série e Mobral.

A diretora da época em que ele estudou era Sônia. A faixa etária dos alunos

variava de 16, 17 e 18, e os menores de 8 a 9 anos. A vestimenta dos alunos era

calça e também short para os meninos e saia para as meninas. Tinha festas

comemorativas, e numa das festa junina ele foi o noivo da quadrilha. O material

didático usado pelas professoras em sala de aula era a cartilha do abc, livro, giz,

quadro, apagador e tabuada.

As atividades trabalhadas em sala de aula eram ditado, questionário e

chamada oral. Lembra que algumas professoras eram bem rudes, davam puxão de

cabelo, tapas e reguadas nos alunos. O grupo escolar foi construído para dar

suporte àquelas pessoas que moravam na Vila da Cohab e nas redondezas

próximas.

Adauto Heráclio Duarte: ex-prefeito de Limoeiro entre 1963 a 1968 em seu

primeiro mandato

Em umas das minhas visitas à Secretaria de Educação de Limoeiro, em

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conversa com a funcionária Solange sobre o grupo disse-lhe que gostaria de

entrevistar o ex-prefeito Adauto e perguntei como eu entraria em contato para

agendar uma entrevista. Ela, então, informou que eu teria de ir à casa dele e

dissesse que foi Solange, da Secretaria de Educação, que falou para eu procurá-lo.

E explicou como chegar à sua residência, dizendo que eu pegasse uma mototáxi e

falasse que queria ir para a casa do ex-prefeito Adauto.

Depois de me despedir de Solange, voltei para o Recife e, no caminho, fiquei

pensando como iria chegar de repente na casa de alguém que nem me conhecia.

Mas, mesmo apreensiva, resolvi dias depois voltar a Limoeiro e fazer uma visita ao

ex-prefeito.

Ao chegar a Limoeiro peguei uma mototáxi e disse que queria ir à casa do ex-

prefeito Adauto. Ao chegar no locaL, o motoqueiro falou: “A casa é essa aí”. Apertei

no interfone, e alguém perguntou quem era. Eu falei meu nome e que vim a mando

de Solange, da Secretaria de Educação, e que gostaria de falar com o ex-prefeito

Adauto.

Um dos seus empregados abriu o portão e foi chamá-lo. Quando o ex-

prefeito se aproximou, cumprimentei-o e me apresentei, dizendo que estava fazendo

uma pesquisa sobre o Grupo Escolar Otaviano Basílio e, em conversa com Solange,

ela disse para vir aqui procurá-lo.

De imediato, perguntei se poderia me conceder uma entrevista e quando, e

ele me pediu para entrar e me levou até o terraço da sua casa. Mandou que me

sentasse e quando eu estava em conversa com ele chega sua esposa e sua

cuidadora.

O ex-prefeito revelou que não tinha muitas lembranças daquela época, mas

eu lhe disse que iria fazer umas perguntas. Pedi que ele não se preocupasse e que

se não soubesse responder não teria nenhum problema. Então, para minha surpresa

apesar de estar preparada, ele aceitou fazer naquele momento, ali mesmo no

terraço.

O ex-prefeito disse que o grupo escolar se chamava Otaviano Basílio Heráclio

do Rêgo em homenagem a seu avô, um agricultor e criador que morava em

Vertentes. Sendo ele o prefeito da época em que o grupo escolar foi construído,

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resolveu homenagear seu avô, que ele nem chegou a conhecer por ter morrido, aos

21 anos, de problemas cardíacos.

Foi o ex-prefeito Adauto que doou o terreno para construir a Vila da Cohab e,

percebendo a necessidade de uma escola na comunidade, construiu o grupo

escolar. E foi em 1969, na gestão do ex-prefeito José Antônio Correa de Paula, que

o grupo começou a funcionar.

O grupo escolar que estar localizado entre os bairros do Juá e Ladeira

Vermelha, foi de grande importância para a Vila da Cohab, porque antes dele só

havia escola no centro da cidade.

Maria Isabel:ex-diretora

Numa das minhas visitas à agência de Sônia Pereira, ela me adiantou que

conhecia uma professora chamada Isabel, que havia sido diretora do grupo.

Perguntei-lhe, então, como poderia entrar em contato com ela. Sônia disse que tinha

o número de seu telefone e prontamente ligou para ela e falou sobre a minha

pesquisa. Logo depois, ela me passou o telefone para eu falar com a professora.

Apresentei-me e comentei sobre a pesquisa. Em seguida, perguntei se ela

poderia me conceder uma entrevista com o que concordou. Marcamos o dia e

horário, e ela me explicou como chegar à sua casa. No dia marcado, fui à casa dela

e quando bati palmas, saio uma mulher. Cumprimentei-a e perguntei se a casa era

da professora Isabel, e ela respondeu que sim e que a professora era sua mãe.

Falei, também do motivo da minha visita, e ela disse que a mãe dela teve que

levar a máquina de lavar roupa para o conserto, em Carpina, mas achava que ela

havia esquecido que tinha marcado comigo. Pediu para eu entrar, pois iria ligar para

a sua mãe e avisar que eu estava lá, além de perguntar a que horas voltaria. Então,

ligou para ela, e a professora disse que só iria chegar mais ou menos às 14 horas.

Quando ela me falou, eu disse não teria nenhum problema e às 14 horas estaria de

volta. Agradeci a sua filha e fui à Secretaria de Educação, depois almocei e, na hora

marcada, voltei à casa da professora.

Quando retornei, sua filha me mandou entrar e sentar em umas das cadeiras

que haviam no terraço, pois iria chamar sua mãe. Depois de poucos minutos, a

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professora veio a meu encontro, e prontamente eu a cumprimento e dei início à

entrevista.

Sobre o nome do grupo escolar, a ex-diretora disse que foi em homenagem a

Otaviano Basílio, que era pai de Otaviano Heráclio Duarte, que era fazendeiro e

industrial. O grupo funcionava de 7 às 10 e pouca e tinha um horário intermediário

até às 14 e pouca. À noite, uma ou duas turmas. Tinha quatro salas, e o ensino

oferecido era o de 1ª a 4ª série, e a faixa etária dos alunos variava a partir de 7 anos

até adulto.

Isabel confirmou outras falas, como, por exemplo, que o grupo foi construído

por causa da Cohab, pois era necessário que se construísse uma escola para

atender àquela clientela. No grupo não havia atividade artística ou esportiva, só

festas comemorativas. Sua criação beneficiou alunos dos bairros do Juá, Ladeira

Vermelha, Cumbi, Areias e Ribeiro Fundo.

O grupo tinha grande importância, porque por meio dele muitas estudantes

deixaram de atravessar o rio para poder ir à escola. Ela foi ser diretora porque seu

pai era amigo de Adauto, e ele conseguiu o cargo para ela.

Diva Gomes da Silva: ex-diretora e ex-professora

Durante a entrevista com a professora Josefa, seu filho Ismael, que foi aluno

do grupo escolar, disse que a professora Diva e a professora Maria Helena haviam

sido suas professoras. Então, perguntei onde elas moravam, e ele respondeu que

Maria Helena morava próximo à Cohab e seu marido tinha um armazém na avenida

junto à sua casa. Quanto à professora Diva ele disse não saber onde morava.

Antes da entrevista com a professora Maria Helena, comentei com ela sobre

professora Diva, perguntando se sabia onde ela morava. Respondeu-me que era no

bairro do Juá, e que quando eu chegasse lá, dissesse que ela tem um filho que mora

também no bairro; com isso, as pessoas iriam me dizer qual era a sua casa.

Logo ao termino da entrevista com a professora Maria Helena, fui ao Juá.

Quando cheguei lá, perguntei a dois moradores que estavam consertando um carro

se eles conheciam a professora Diva que trabalhou no Grupo Escolar Otaviano. Eles

disseram que não a conheciam, mas disseram que eu perguntasse a um morador,

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que é antigo no bairro, e me mostraram sua casa.

Fui à casa indicada e, chegando lá, vi uma senhora que estava na sala,

cumprimentei-a e perguntei se ela conhecia a professora que tinha um filho que

também morava no bairro ela disse que não sabia, mas uma mulher que estava em

outro cômodo da casa escutou a conversa e, aproximando-se, disse que sabia quem

era e que seu filho morava logo ali, me mostrando qual a sua casa.

Dirigi-me à casa do filho de Dona Diva e, chegando lá, fui atendida por um

homem que estava fazendo um serviço para o filho da professora. Perguntei-lhe se o

filho da professora Diva estava, então prontamente o homem disse que sim e foi

chamá-lo.

Quando o filho de Dona Diva se aproximou, me apresentei a ele e falei da

pesquisa perguntando como poderia falar com a sua a sua mãe. Percebendo ele

ficou meio desconfiado, tratei de dizer que tinha vindo da casa da professora Maria

Helena, cujo marido tinha um armazém, e que foi ela que me falou onde a

professora Diva morava.

Depois dessa minha justificativa, ele disse que sua mãe morava lá no final do

bairro e deu o número da casa. Imediatamente, fui à procura da casa. Ao chegar,

bati palmas, e a própria professora me atendeu. Eu me apresentei e expliquei o

porquê da visita, dizendo que já havia feito uma entrevista com a professora Maria

Helena e que tinha vindo da casa do seu filho, que ele que me explicou como chegar

à sua casa.

Ela também ficou meio desconfiada e perguntou para que era a pesquisa,

onde eu estudava, etc. Prontamente, tirei suas dúvidas e perguntei se ela poderia

me conceder uma entrevista. Ainda meio desconfiada, ela para mim de uma forma

que eu pensei como faria para convencê-la a aceitar.

Lembrei-me de Dona Rita e falei, que por intermédio dela havia conhecido a

professora Josefa, a quem, inclusive, já havia entrevistado, e perguntei se ela a

conhecia. Depois da conversa, ela me convidou para entrar, mas eu perguntei se ela

iria dar entrevista e quando seria. Para minha surpresa, ela disse que poderia ser

naquele instante, mas que tinha poucas lembranças daquela época.

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Eu disse que não teria problema algum se ela não soubesse responder a

algumas perguntas. A entrevista foi feita na sala da sua casa. No começo, foi meio

tensa, mas com o decorrer da conversa a professora ficou bem à vontade e me

surpreendeu relatando fatos pessoais referentes à sua prática pedagógica.

A professora, disse que o nome do grupo escolar se chamava Otaviano

Basílio Heráclio do Rêgo era em homenagem ao indústrial de mesmo nome que

extraía o óleo do algodão. Também revelou que no grupo havia quatro salas e seu

funcionamento era de manhã,de tarde e de noite. O ensino oferecido era o de 1ª a 4ª

série e o Mobral.

A faixa etária dos alunos variava, tinha de doze anos, de quatorze, e que a

vestimenta dos alunos era saia e blusa branca para as meninas, com o nome do

grupo, e os meninos short e a mesma camisa.

Ela também confirma outras falas: de que o grupo foi criado por causa da

construção da Vila da Cohab, e que nele não havia atividade artística, esportiva e

educação física, mas tinha as festas comemorativas. O grupo beneficiou os alunos

do bairro do Juá, Ladeira Vermelha e da fazenda Santa Terezinha e está localizado

no bairro do Juá.

Neste capítulo, foi feito uma breve apresentação do município de Limoeiro e

um resumo dos depoimentos de ex-diretoras, ex-professoras e ex-estudantes. No

próximo capítulo, tratarei das fontes encontradas sobre o objeto de estudo, com o

objetivo de entender os aspectos políticos e pedagógicos que deram origem à

instituição escolar sob análise.

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CAPÍTULO 3

O GRUPO ESCOLAR OTAVIANO BASÍLIO HERÁCLIO DO RÊGO

No capítulo anterior, foi feita uma breve apresentação do município de

Limoeiro e um resumo das falas dos entrevistados, no intuito de compreendermos a

contribuição que deram à história do Grupo Escolar Otaviano Basílio Heráclio do

Rêgo.

Neste terceiro capítulo, o objetivo é analisar a documentação encontrada

sobre o grupo, identificar os aspectos políticos e pedagógicos, bem como construir

uma teia de relações que possa oferecer ao leitor uma representação do período de

inauguração do Grupo Escolar e seu funcionamento entre 1968 e 1985.Aqui, falas,

decretos e fotografias estão juntos para dar uma ideia geral sobre o grupo escolar.

As primeiras informações que encontrei sobre o grupo escolar foi por meio de

um breve histórico feito pela professora Rita, moradora da Vila da Cohab.

Histórico 1- Histórico feito pela professora Rita.

Nessa perspectiva, tudo começa quando Adauto Heráclio Duarte morador da

cidade de Limoeiro, é eleito prefeito, no ano de 1963, com 6.092 votos. Um dos

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feitos da sua gestão foi doar um terreno para a construção de um conjunto

habitacional denominado Vila da Cohab, no final da década de 1960.

Fotografia 3- A Vila da Cohab recém-inaugurada

Fonte: Arquivo pessoal do professor Carlos Eduardo Pereira

Após a inauguração da Vila da Cohab, atual Cohab Velha, sendo assim

atualmente denominada pelo fato da inauguração, no ano de 1984, da Cohab Nova.

O prefeito Adauto, devido à necessidade de uma escola para atender aos anseios

educacionais dos moradores da Vila Cohab Velha adquire a posse de um terreno no

bairro do Juá e constrói um grupo escolar no referido bairro.

De fato, consegui localizar no arquivo municipal de Limoeiro, fontes que

comprovam a doação do referido terreno e a verba solicitada para a construção do

Grupo Escolar. Refiro-me ao Decreto-Lei nº 827, de 18 de maio de 1968, e o

Decreto-Lei nº 838 de 19 de julho de 1968. O documento corrobora a fala do próprio

Adauto.

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Decreto 1- Lei nº 827

No artigo 1º desse decreto, ao prefeito é

autorizada a desapropriação de um terreno, com 900

metros quadrado, de propriedade do Sr. Antônio

Ludugério da Cunha e sua esposa, Helena Laubertina

da Cunha. No 2º artigo, consta que o terreno doado

pelos seus proprietários destina-se à construção de um

grupo escolar municipal.

Decreto 2- Lei nº838

Ainda no 1º artigo, ao prefeito Adauto é

autorizada a abertura de crédito no valor de CrN$

74.307,77 (setenta e quatro mil, trezentos e sete

cruzeiros novos e sete centavos). No 2º artigo,

consta a finalidade da importância solicitada, dizendo

que ela será para a construção de um grupo escolar

localizado no local onde foram construídas as casas

da Vila da Cohab e que o grupo escolar será

construído conforme a planta cedida pela prefeitura.

(Nas minhas buscas por documentos, não tive êxito

em relação à planta).

No 3º artigo, consta que a prefeitura contratou, para construir o grupo escolar,

a firma Planejamento e Engenharia do Nordeste Limitada, e que a verba para sua

construção foi proveniente do Fundo de Participação dos Municípios.

O prefeito, para homenagear seu avô, que nem chegou a conher, nomeou o

grupo escolar de Otaviano Basílio Heráclio do Rêgo, conforme entrevista.

Porque Otaviano era meu avô. Eu era prefeito, foi quem doei aquele terreno para construir a Cohab, né? E precisava de um grupo escolar. Eu lutei e botei o nome do meu avô (Adauto, ex-prefeito).

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Otaviano Basílio era filho de João Heráclio do Rêgo e Josefa Duarte do Rêgo.

Natural do município de Belo Jardim, residia na Ffazenda Vertentes. Era agricultor e

criador, tinha onze irmãos, entre eles Francisco Heráclio do Rêgo, mais conhecido

como coronel Chico Heráclio, que foi um líder político no município de Limoeiro.

Curiosamente, todos os seus irmãos foram colocados por seus pais para

estudarem nas escolas do Recife, porém Otaviano Basílio, não frequentou nenhuma

escola da capital pernambucana, pois já estava casado com Teresa Farias Duarte, e

não se sabe ao certo se havia mesmo frequentado alguma escola.

O casal Otaviano Basílio e Josefa, teve três filhos, João, Josefa e Malu. A

filha Josefa casou-se com Manoel Maximiano Duarte e tiveram11, filhos entre eles

Adauto Heráclio Duarte, ex-prefeito de Limoeiro, e Otaviano Heráclio Duarte, famoso

fazendeiro e industrial no referido município.

O fato de Otaviano Heráclio Duarte ter herdado o primeiro nome do seu avô

fez com que a maioria dos entrevistados desse informações equivocadas sobre

Otaviano Basílio.

Os informantes, com exceção da ex-diretora Isabel e do ex-prefeito Adauto,

disseram que Otaviano Basílio Herdáclio do Rêgo era fazendeiro e empresário de

Limoeiro. Entretanto na verdade quem era fazendeiro e empresário era seu neto,

Otaviano Heráclio Duarte, informação confirmada pelo ex-prefeito. Otaviano Basílio

Heráclio do Rêgo morreu prematuramente aos vinte e um anos, de problemas

cardíacos, conforme depoimento do seu neto, o ex-prefeito Adauto.

Fotografia 4- Ex-prefeito Adauto

Meu avô era agricultor e criador, morreu com vinte e um anos, morava em Vertente. Naquele tempo, foi derrame, mas ninguém sabia disso, né? Meu pai disse que ele deu um derrame e adoeceu (ex-prefeito Adauto).

Salão principal da Prefeitura de Limoeiro.

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O Grupo Escolar Otaviano Basílio Heráclio do Rêgo foi construído e

inaugurado no ano de 1968, no final da gestão do prefeito Adauto Heráclio Duarte. O

seu funcionamento teve início no ano de 1969, na administração do prefeito José

Antônio Correa de Paula, conhecido como José Barbosa por causa de seu pai,

Barbosa.

O grupo escolar teve como finalidade atender às necessidades educacionais

dos moradores da Vila da Cohab, atual Cohab Velha, comunidade fundada do outro

lado do rio Capibaribe no final da década de 1960. Apelidada de “Cuba” pelo coronel

e líder político da época, Chico Heráclio, devido ao grande número de oposicionistas

que ali moravam. A construção do grupo acabou beneficiando, também, outras

comunidades como a do Juá, Ladeira Vermelha e adjacências, conforme relatos das

ex-diretoras Isabel e Sônia e do ex-estudante Romildo.

Desde que foi criada, a Cohab, hoje chamada de Cohab Velha, aí a necessidade de uma escola mais próxima para atender aquela clientela, acredito que foi isso aí que levou a ser fundada aquela escola construída. Ladeira Vermelha, Cumbi, Areias, Ribeiro Fundo, Juá. (ex-diretora Isabel).

Para atender à necessidade da comunidade, como havia a Cohab assim há pouco inaugurada, a Cohab inaugurada, então havia o mutirão também ao lado, aí a comunidade cresceu e tinha uma necessidade.(Sônia, ex-diretora).

Pra dar suporte àquelas pessoas pobres que moravam ali naquelas redondezas, que eram muito pobres. Vila da Cohab e as redondezas, aquelas próximas, aqueles lugares próximos todo ele era beneficiados com o grupo (Romildo, ex-estudante).

Percebe-se por meio dos relatos que a construção do grupo foi viabilizada

pela expansão do município com a construção da Vila da Cohab. A construção da

Cohab, além beneficiar várias pessoas com casa própria, viabilizou o acesso à

educação formal de muitos dos seus moradores e os dos bairros vizinhos por meio

da construção do grupo escolar.

O grupo foi fundamental, haja vista que antes dele só havia escola no centro

do município, e várias crianças e adultos da Vila da Cohab e bairros próximos não

tinham acesso à escola. Foi o meu caso e da maioria dos meus irmãos, que antes

do grupo éramos analfabetos, e com o grupo tivemos a oportunidade de acesso às

primeiras letras e primeiras leituras. Por meio do grupo, várias crianças e adultos

foram alfabetizados.

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Nas falas da ex-estudante Silvina, da ex-professora Josefa e do ex-prefeito

Adauto, observa-se a grande importância do grupo escolar para a maioria das

pessoas que moravam naquela localidade.

Assim, ensinar os alunos. Porque era um meio de os alunos irem para escola, a confiança porque se uma criança de sete anos, o pai não queria levar pra rua e aqui pertinho da escola.( Silvina, ex-estudante).

Era porque só tinha ela, só tinha mesmo o grupo. Não tinha outra, só na cidade ou lá ou na cidade (Josefa, ex-professora).

Uma Vila como a da Cohab, com o número de moradores que tinha, distante afastada da cidade, pra vir estudar na cidade era sacrificado (ex-prefeito Adauto).

Esses depoimentos permitem a compreensão de que o grupo foi construído

praticamente dentro da Vila da Cohab. O grupo e a Vila da Cohab estão separados

apenas pela PE- 50, que liga o município de Limoeiro ao de Vitória de Santo Antão.

Inclusive, na Secretaria de Educação de Limoeiro consta que o endereço onde está

localizado o grupo é a PE-50.

Até 1968, só havia escola no centro urbano, e as crianças dessas

comunidades tinham que percorrer um longo e difícil caminho para chegar às

escolas do centro. Por esse fato, muitas delas ficavam fora da escola, vindo a

ingressar numa instituição escolar com idade incompatível com a série, ou seja, fora

da faixa etária ideal para a série.

O Decreto-Lei n.º 8.529, promulgado no ano de 1946, também chamado Lei

Orgânica do Ensino Primário, estabelece que o ensino primário fundamental

elementar, com duração de quatro anos, seria destinado às crianças de 7 a 12 anos.

Algumas crianças da Vila da Cohab e suas redondezas ingressaram no grupo

escolar com idades incompatíveis com a idade estabelecida pela lei, conforme

observamos por meio das falas que se seguem:

Tinha de doze, quatorze, quinze, tinha de todo tipo. Numa Cohab que o povo... nunca tava dentro da faixa etária, sempre tava fora, tinha que dar assistência mesmo (Diva, ex-diretora e ex-professora).

Aluno a partir de sete anos até adulto, porque à noite tinha as turmas. Naquele tempo, não existia faixa etária pra determinar não, quem quisesse estudava com qualquer idade (Isabel, ex-diretora).

Percebe-se nas afirmações que a Lei Orgânica do Ensino Primário, no

aspecto que se refere à idade estabelecida para as crianças se matricularem no

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ensino primário, não era levada em consideração no grupo escolar. Acredito que

esse fato se deu pela necessidade educacional que a comunidade da Cohab tinha e

suas redondezas, haja vista que havia muita criança fora da escola, pois antes do

grupo não havia escolas na Cohab e nas redondezas. Independentemente da faixa

etária, o que importava era proporcionar às crianças e aos jovens acesso à

educação.

A professora Josefa, moradora da Vila da Cohab Velha, foi a primeira

educadora do grupo escolar. As primeiras matrículas foram realizadas por ela, que

saiu de casa em casa para efetuá-las. Essas primeiras matrículas deram origem à

formação das primeiras turmas da 1ª à 3ª série, pois no seu 1º ano de

funcionamento o grupo escolar não ofereceu a 4ª série, vindo a fazê-lo no ano

seguinte.

A professora Josefa lembra com orgulho suas primeiras ações, antes mesmo

das atividades pedagógicas em sala de aula em que atuou durante vários anos.

(...) eu fui a primeira professora, e a primeira matrícula foi feita por mim. Eu saí de casa em casa, porque ele (o grupo escolar) não funcionava ainda. Então, eu saí de casa para fazer a matrícula, em 69 (Josefa, ex-professora).

Ela ministrou aulas para as turmas da 2ª e 3ª séries juntas, numa mesma

sala, no turno da noite, pois não havia professor suficiente para que as turmas

fossem separadas. A faixa etária variava; os alunos tinham entre 6 e 15 anos, no

mínimo. O grupo escolar, depois de alguns anos de funcionamento, passou a

oferecer o Mobral (Movimento Brasileiro de Alfabetização).

No grupo escolar, só havia quatro salas de aula, a secretaria, a sala da

diretora e a dos professores, que eram num só ambiente, um banheiro e uma

cantina e o grupo funcionava em três turnos, manhã, tarde e noite.

A instituição oferecia à população a alfabetização, o ensino primário (1ª a 4ª

série) e o Mobral (Movimento Brasileiro de Alfabetização). As turmas eram formadas,

em média, por 20 à 40 alunos, o que nos leva a concluir que a quantidade de alunos

matriculados no grupo era bem significativa.

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O grupo escolar teve como primeira diretora Dona Benedita, que nem chegou

a assumir o cargo, sendo substituída por Dona Consinha Heráclio, mulher do coronel

Chico Heráclio.

Em uma de suas falas, a ex-professora Josefa relata esse fato:

Dona Consinha foi a primeira diretora, quer dizer não tinha uma coisa oficial não, porque quem primeiro disse que ia ser diretora era uma Benedita, mas ela nem chegou a assumir, saiu logo, chegou Dona Consinha, que era mulher do coronel Chico Heráclio. (Josefa, ex-professora).

Esse evento ocorreu devido à influência política do coronel. Apenas uma

suposição nos primeiros passos da pesquisa, mas depois foi confirmado pela ex-

professora e ex-diretora Maria Helena, que nos relatou:

Foi força política, né? Eu acredito que seja; se é a viúva do coronel, ela ainda não faleceu não, pelo menos eu não escutei. Naquela época, e ainda existe força política, imagine que ele era o último dos coronéis. Então o nome era Otaviano Basílio Heráclio do Rêgo ele deveria ser parente dele pra ter esse nome, o nome dele Francisco Heráclio do Rêgo (Maria Helena, ex-diretora e ex-professora).

Na época estudada, em Limoeiro a prática de indicação política de

profissionais para assumir cargos públicos era comum, pois não havia concurso

público, e alguns cargos eram assumidos por pessoas que tinham um bom

relacionamento com os políticos influentes da cidade ou os amigos e parentes

dessas pessoas e dos próprios políticos. Essa nossa observação é percebida nas

falas das ex-diretoras Isabel e Sônial.

Porque, quando eu me formei, meu pai tinha conhecimento, aí conseguiu

esse trabalho pra mim (Isabel, ex-diretora).

Naquela época não existia eleição, então era por indicação. O prefeito Artur Correia, na época por amizade, essa questão política, eu lá recém-formada, então, ele havia me prometido uma cadeira (um cargo), e o que saiu foi a direção da escola (Sônia, ex-diretora).

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Fotografia 5- Página da carteira profissional da ex-diretora Sônia Pereira assinada pelo ex-prefeito Adauto

Corrobora também essa narrativa a fala da ex-diretora e ex-professora Maria

Helena

Porque, na época política, era indicada politicamente, nê!? E o cargo que tava desocupado no momento era esse (diretora), aí eu aceitei, nê!? Desafio. Foi o secretário de Educação. No caso era...oh...Jesus. O irmão do seu Artur Correia, Luizito não, Luís Correia era. Esqueci o nome dele, mas foi o secretário de Educação. (Maria Helena, ex-diretora e ex-professora).

Como podemos perceber na foto, na carteira está escrito que Sônia exerceria a função de professora. Entretanto, ela assumiu o cargo de diretora.

No grupo, a prática pedagógica era baseada nos fundamentos da concepção

pedagógica tradicional, onde os conteúdos escolares transmitidos pelos professores

são adquiridos por meio da memorização. Sendo assim, a prática pedagógica era

baseada em exercícios repetitivos. Cabia ao aluno memorizar o conteúdo para

mostrar sua capacidade de memorização por meio de prova e alcançar a média

exigida para ser aprovado. Essa concepção tradicionalista é denominada, por Freire

(2005), educação ”bancária.”

Nesse tipo de concepção, o aluno é visto pelo professor, que é o detentor do

saber, como depósito onde são colocados os conhecimentos transmitidos por eles.

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E os conhecimentos depositados devem ser memorizados e repetidos pelos alunos

quando solicitados. Nessa concepção de educação, os educadores não estimulam a

capacidade crítica do aluno, sua curiosidade epistemológica nem os ajuda a

conscientizá-se de que eles são sujeitos da construção e da reconstrução do saber,

e por isso são capazes de também construir o conhecimento e intervir no mundo.

Os alunos eram avaliados pela sua capacidade de reproduzir o conhecimento

transmitido pelo professor por meio de prova, e àquele que tivesse mais

desempenho a ele era atribuída a maior nota. Podemos observara prática

pedagógica tradicionalista adotado no grupo escolar nas falas que se seguem:

Quadro negro pra gente escrever, explicar, a tarefa pra ele levar pra casa, ditado, cópia tinha tudo. Os meninos desenhavam, menino escrever, fazer a prova, usar o caderno de caligrafia pra melhorar a letra (Diva, ex-diretora e ex- professora).

Era muito diferente desse tempo de agora. Porque, assim, agente quando vai dar uma aula hoje prepara uma música, a gente não era muito assim. Muito técnico, chegava lá na frente, colocava a letrinha no quadro e dava o sonzinho da letrinha e já passava atividade e ler (Silvina, ex-estudante).

O ex-estudante Romildo e a ex-diretora e ex-professora Maria Helena acrescentam:

Ditado, questionário, só não tinha aquela chamada oral. Tinha. Só que eu nunca cheguei a ir (Romildo, ex-estudante).

Na época eram as quatro operações, saber ler e escrever e dissertar, fazer ditado era o normal e saber as coisas do município (Maria Helena, ex-diretora e ex- professora).

O material didático usado para o desenvolvimento da prática pedagógica era

a cartilha, livro, tabuada e caderno de caligrafia. A régua também fazia parte desse

material. No entanto, muitas vezes era usada para punir e castigar o aluno, ou seja,

a pedagogia do castigo também fazia parte da prática pedagógica de alguns

professores do grupo escolar.

Essas afirmações são confirmadas nas falas dos ex-estudantes Romildo e Silvina.

Caderno e tinha cartilha. Ela trabalhava as letrinhas e tinha a tarefinha e tinha um quadrinho de palavras, pra gente estudar, chegava em casa a gente tinha que estudar essas palavras e quando chegasse o outro dia a gente tinha que ler essas palavras e fazer o ditado. Eu tinha medo de ler em voz alta, me dava um nervoso, dava vontade de chorar, de tremer. Antigamente o aluno respeitava o professor, tinha medo. O jeito de falar, o olhar! (Silvina, ex-estudante).

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Tinha um livro da Editora Ática, tinha a cartilha do abc, tabuada. Tinha uma delas(professora)que era bem rude, puxão de cabelo e até muitas vezes na tapa, primeiro era à base da reguada (Romildo, ex-aluno).

A pedagogia do castigo adotada por muitos professores possivelmente pode

ter influenciado o comportamento dos alunos, fazendo com que a maioria se

comportasse de maneira exemplar. E também porque essa prática autoritária do

professor era apoiada por alguns pais, que transferiam para os professores a

responsabilidade de educar seus filhos. Isso podemos ver nas falas da ex-diretora

ex-professora Diva e os ex-estudantes Romildo e Silvina:

O comportamento dos meus, era bom, tinha que ser bom! (Diva, ex-diretora ex-professora).

Naquela época, tinha os costumes, os professores eram iguais a uma mãe pra gente, os pais autorizavam elas a cuidar dos alunos. Se errou era na base da lei, mas em parte foi bom que educou muita gente através desses atos delas (Romildo, ex-estudante).

Sempre teve alunos danados, e assim é, antigamente, o aluno respeitava o professor, tinha medo (Silvina, ex-estudante).

Reforçando nossa afirmação, a ex-diretora e ex-professora Maria Helena, ressalta:

A figura do professor em casa, olha! O professor é mesmo que uma mãe, o que ele fizer tá feito (Maria Helena, ex-diretora e ex-professora).

Essas falas nos permitem concluir que a prática de punição de alguns

professores era legitimada pelos pais. Acreditavam que dessa forma os filhos, além

de aprender o conteúdo transmitido, também aprendiam a ser pessoas de bom

caráter. Os pais confiavam a educação dos seus filhos aos professores talvez por

acreditarem que eles eram mais capazes por terem uma formação escolar. Haja

vista, também, que muitos pais eram analfabetos ou semianalfabetos.

As disciplinas que faziam parte do currículo escolar eram as de Comunicação

e Expressão, Integração Social, Matemática e Ciências, conforme consta na Ata de

Resultados Finais do Rendimento Escolar de Alunos do Grupo Escola:

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Fotografia 6- Ata de Resultados Finais do Rendimento Escolar de Alunos do Grupo, da 3ª série, no ano de1976

Fonte: Arquivo da Secretaria de Educação de Limoeiro

A ata referente-se aos resultados finais do rendimento escolar de alunos da

3ª série, no ano de 1976. Nela constam as disciplinas que faziam parte do currículo

do ensino primário, as notas dos alunos em cada disciplina e sua aprovação ou

reprovação na série. E ainda o nome da professora e da diretora. O nome da

diretora que consta nessa ata é de Sônia Pereira.

Basicamente, os conteúdos trabalhados por meio dessas disciplinas eram

leitura, escrita das palavras e produção de texto, as quatro operações divisão,

subtração, multiplicação e adição, as dezenas, centenas, História do Brasil, seres

vivos, noções de higiene pessoal e História do Município. Além desses conteúdos

trabalhados por meio das disciplinas de Matemática, Português, Ciência e

Intregação Social (História e Geografia), os alunos do grupo tinham aulas de

desenho, ministrada por uma professora formada em artes, mas artes não eram uma

disciplina.

Os alunos que estudavam no grupo escolar eram oriundos da periferia da

cidade e da zona rural. A comunidade discente do grupo era composta por

trabalhadores rurais, filhos de trabalhadores rurais, filhos de comerciantes, de

empregada doméstica, ou seja, a classe pobre do município. Muitos alunos

realmente eram filhos de comerciantes, inclusive meu pai era comerciante na Vila da

Cohab.

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Fotografia 7 - 1ª Comunhão dos alunos do grupo, realizada na Igreja da Matriz de Limoeiro, no ano de 1970.

Fonte: Arquivo pessoal da ex-professora do grupo, Neuza Amorim

Pela imagem, apreende-se que era uma gente simples que estudava no

grupo escolar. Segundo Saviani (2007), é necessário, em pesquisa sobre

instituições escolares, traçarmos o perfil do seu alunado, pois ele está

correlacionado diretamente com as condições sociais e os contextos histórico-

geográficos em que as instituições emergiram.

“A busca de informações sobre o alunado será pois, um elemento importante na reconstrução histórica das instituições escolares, uma vez que além de ajudar na definição do perfil institucional, trará, também, indicações importantes sobre sua relevância social” (SAVIANI, 2007, p. 25).

As falas das ex-diretoras Isabel e Sônia confirmam a observação feita sobre o

perfil sócio-econômico dos alunos do grupo:

Ali era pobre, pessoas mais simples, o povo da Cohab, porque os que podiam mais iam pra cidade, pro Regina Celi, pro Ginásio de Limoeiro, ia mesmo o povo de lá da zona rural (Isabel, ex-diretora).

Trabalhadores rurais vinham de sítios próximo, ,empregadas domésticas, lavadeiras, comerciante, agricultor (Sônia, ex-diretora).

A ex-diretora e ex-professora Diva em uma de suas falas, também corrobora

no sentido da descrição do perfil dos alunos

Daquele povo que trabalhava na padaria, tocava fogo no pão, fazia o pão, vendia lenha (ex-diretora e professora Diva).

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Acreditamos que é importante traçarmos o perfil do corpo discente como

também o do corpo docente, pois ambo constituem elementos importantes para a

reconstituição da história do grupo escolar.

Algumas professoras moravam na cidade, outras na periferia e na parte rural.

Algumas faziam parte da classe pobre, e outras da classe média da cidade. As

professoras que trabalhavam no grupo não tinham experiência de sala de aula.

Recém-formadas do curso magistério, eram contratadas pela prefeitura, acreditamos

que não só por troca de favores, haja vista que eram contratadas por indicação

política, mas também pela necessidade que havia de professores na escola.

As falas da ex-professora Josefa e da ex-diretora e ex-professora Maria

Helena confirmam essa narrativa:

Naquele tempo, era tudo atrasado, as professoras formadas não tinham estrutura não. Aquilo ali as meninas assim que se formavam entravam logo sem ter nenhuma bagagem, nada, nada. Não eram concursadas, entravam assim, política, o prefeito botava. A minha sala era misturada, juntava as classes segunda e terceira, porque à noite não tinha professor (Josefa, ex-professora).

Sem experiência de nada, não sei como eles aprenderam; tem hora que eu digo que eles foram minhas cobaias (Maria Helena, ex-diretora e professora).

A falta de experiência das professoras, entre outros aspectos, nos leva a

acreditar que a aprendizagem dos alunos foi comprometida.

Nas minhas buscas por materiais do grupo, não tive êxito em encontrar

nenhum documento, inclusive o regimento escolar, onde são estabelecidas normas

e regras a serem cumpridas pelo alunado. Sobre o regimento, obtive só algumas

informações de Sônia, ex-diretora, que relatou:

O regimento era da Secretaria de Educação. A gente fazia (cartaz) porque havia mais disciplina naquela época, onde o aluno tinha seus direitos, porém deveres também, horário de chegada e não chegar atrasado (Sônia, ex-diretora).

Percebe-se na sua fala que o regimento não faz referência ao o fardamento,

porém é comum nos regimentos escolares constar, entre suas normas, a exigência

do vestuário. Apesar de que o fardamento do grupo existia, mas não era exigido

devido às condições sócio-econômicas dos alunos.

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As falas da ex-diretora Sônia e do ex-estudante Romildo confirmam essa

ideia:

Os meninos eram calça e as meninas saia e blusinha branca, azul e branco era o fardamento. Era um bairro pobre e então, mas, assim, a gente não exigia, mas mesmo assim os pais se esforçavam; quando a gente podia promovia alguma campanha, a gente sabia de alguma família a gente ajudava (Sônia, ex-diretora).

Calça comprida, eu cheguei a usar bermuda, short, não era só calça, que nem todo mundo tinha condições de comprar uma calça; as meninas usavam saia azul e camisa branca, com bolso com o nome do grupo, e conga; era escasso o serviço de fardamento, a roupa era usada do jeito que vinha, como podia vestir (Romildo, ex-estudante).

Apesar das condições sócio-econômica dos alunos, procurava-se fazer o

possível para que as crianças usassem o fardamento. Acreditamos que o

fardamento, mesmo não sendo mencionado no regimento da escola por Sônia, fazia

parte de uma das suas normas estabelecidas para o aluno.

Entretanto, não só de ensino-aprendizagem, normas, disciplinas, punições e

castigo viviam os alunos do grupo, também havia momentos de lazer, de interação

entre os alunos por meio das festas comemorativas, como, por exemplo, São João e

os jogos estudantis, que foram abertos pelo ex-prefeito José Antônio de Correia de

Paula, no ano de 1970 com direito a taças e troféus fornecidos pela prefeitura aos

vencedores.

Os alunos do grupo participaram dos jogos com a modalidade esportiva

futebol de salão e, inclusive, ganharam medalhas e troféu. Podemos constatar essa

afirmação nas falas da ex-professora Josefa, do ex-estudante Romildo e da ex-

diretora Sônia.

Os eventos, quando começava São João, festas comemorativas, dia sete de setembro, final de ano, na conclusão do ano letivo (Josefa, ex-professora).

Festa junina tinha. Inclusive eu cheguei a participar, fui o noivo, como chama? Casamento matuto. Arrumaram uma carroça e enfeitaram toda. Eu me lembro que existia uma radiola de pilha, meu pai tinha uma, então foi solicitada que ia parar o ensaio porque não tinha a radiola, aí me lembro que fui em casa arriscada a levar uma pisa para pegar essa radiola Então, a diretora disse: ”Cuidado pra você não quebrar, e seu pai não lhe bater .”Mas a vontade era tanta da gente participar da brincadeira que fui em casa e peguei. Falei com a minha mãe,e ela disse:” Vá, mas cuidado

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pra seu pai não ver, traga antes que ele veja. Essa radiola foi lá e a gente conseguiu fazer a festa (Romildo ex-estudante.).

Nas festas comemorativas, dia de mãe, dia de pai, todos os professores, organização, era poesia, jogral, apresentações assim, e também participávamos do desfile cívico. Na atividade esportiva, o Núcleo de Supervisão Pedagógica convidou as escolas municipais participarem de jogos escolares, e nós participamos. Conseguimos, assim, jogo, o terno dos alunos, treino e tudo e inclusive a gente teve medalhas, e assim recebemos o troféu pela participação, o esporte futebol de salão (Sônia, ex-diretora.)

Infelizmente, não consegui encontrar nenhum dos objetos citados, como

medalhas e troféu nem fotografias, mas, por meio dos relatos, observa-se que os

eventos ocorriam fora da sala de aula e também da escola. Eram de grande

importância, haja vista que, por meio de deles, os alunos tinham outra visão da

escola. Não a via só como um espaço de deveres, obrigações, de cobrança, de

punições, mas de um espaço de lazer, de interação, aconchegante e prazeroso.

Na fala do ex-estudante Romildo, é expressada a importância da participação

dos eventos promovidos pela escola. Momentos valiosos, principalmente para quem

pertencia à classe desfavorecida da cidade, na qual momentos de lazer eram

escassos.

Apesar de as professoras do grupo escolar trabalharem os conteúdos na

concepção tradicionalista e que muitas delas terem atitudes antipedagógicas, como

punir e castigar os alunos para discipliná-los, os conhecimentos e ensinamentos

transmitidos aos alunos contribuíram de alguma forma na sua formação como

sujeitos. Essa afirmação é constatada nas falas dos ex-estudantes Romildo e

Silvina:

Foi onde aprendi o que sei até hoje, feito eu falei foi meu primeiro colégio que estudei. Pra mim, foi um ótimo colégio, espero que ele ensine muita gente que tenha por ali, muita gente que tenha o mesmo aprendizado que a gente teve naquela época (Romildo, ex-estudante).

Assim, a gente sabe que o importante na vida da criança no tempo é aprender a ler e escrever, e pra mim foi uma descoberta muito grande. Assim, contribuiu na minha aprendizagem e nos meus... Hoje sou o que sou. Sou (professora),lá foi plantada a sementinha, foi de lá que foi plantada (Silvina ex-estudante)

Nos relatos de Romildo e Silvina, podemos perceber a grande importância do

grupo escolar e a importância da escola na vida desses sujeitos, principalmente a

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sua primeira escola, onde você tem o primeiro contato com as primeiras letras e

leituras, conforme a minha própria experiência de vida.

Em 1994, o grupo escolar foi extinto e repassado para a rede estadual. E, em

1998, foi municipalizado, sendo denominado Escola Municipal Otaviano Basílio

Heráclio do Rêgo. Em 11 de dezembro de 2002, o secretário de Educação aprovou

a implantação do ensino fundamental da 5ª à 8º série. Atualmente, a escola oferece

o ensino fundamental I, do 1º ao 5º ano, fundamental II, do 6º ao 9º ano, e o EJA

(Educação de Jovens e Adultos).

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

Essa pesquisa se insere no rol das investigações do Núcleo de Teoria e

História da Educação, e tomou como ponto de partida a história das instituições

escolares. E, em uma busca ao portal da Coordenação de Aperfeiçoamento de

Pessoal de Nível Superior (CAPES) não foi encontrado, até o presente momento,

nenhum trabalho referente a grupos escolares em Pernambuco.

A partir desse levantamento, um dos meus interesses foi o de compreender

alguns aspectos do cenário político e educacional no Brasil, especialmente no

município de Limoeiro-PE, entre 1968 e 1985, tomando por objeto de análise o

Grupo Escolar Otaviano Basílio Heráclio do Rêgo, a partir do seguinte

questionamento: Quais os interesses políticos que subsidiavam a construção e

inauguração do grupo escolar no período estudado?

Frente a essa questão, os objetivos foram: organizar e constituir parte da

história e as memórias do Grupo Escolar Otaviano Basílio Heráclio do Rêgo entre

1968 e 1985; investigar o processo de instalação do grupo escolar em relação à

expansão do município de Limoeiro quando da inauguração da Vila da Cohab; e

analisar a organização do Projeto Político Pedagógico do grupo no período

estudado.

Diante desses objetivos e da questão central, fui à procura de respostas

utilizando fontes orais, documentais e iconográficas que foram de fundamental

importância para a nossa pesquisa. Por meio da análise dessas fontes espero ter

conseguido oferecer ao leitor um quadro, ainda que geral, das múltiplas interfaces

que compõem a instituição objeto de estudo.

Para iniciar a pesquisa empírica, fui visitar o Grupo Escolar Otaviano Basílio

Heráclio do Rêgo, e, sem muitas pretensões, procurei obter as primeiras

informações e encontrar algum material referente ao mesmo, e pessoas que

pudessem vir a ser entrevistadas.

Infelizmente no grupo escolar não encontrei nenhum material. A funcionária

que me atendeu falou de um breve histórico feito por uma professora, mas que para

ter acesso ao mesmo só com a diretoria. O fato me deixou perplexa, e me perguntei

como uma escola não tem nenhuma memória impressa sobre a sua inauguração,

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nenhum documento que resgate o seu passado a não ser o pequeno histórico feito

por uma professora, como vimos em análise no último capitulo.

Devido à distância do município em que eu morava para Limoeiro,

disponibilidade dos sujeitos informantes, limitações de tempo, minha falta de

experiência em pesquisa, dificultaram a construção do trabalho em campo. Além

disso, o descaso da gestão municipal na preservação da memória, especialmente

pela Secretaria de Educação de Limoeiro e pelos gestores da própria escola,

dificultaram o avanço em nosso estudo.

Não obstante, funcionários de algumas unidades visitadas, como do arquivo

municipal, deram significativa contribuição. Mas, mesmo encontrando os

documentos oficiais, importantes para o estudo, faltava estrutura adequada, como

por exemplo, documentos fora da ordem de catalogação, mal conservados, falta de

climatização, sem um funcionário especializado no manuseio nesse tipo de acervo.

O arquivo resume-se a um depósito. Para ter acesso ao mesmo é necessário

solicitar a presença do funcionário responsável, o “Mudinho”, pois o arquivo fica

fechado, só ele tem a posse da chave. O funcionário trabalha na prefeitura, quando

é necessária sua presença, ele se desloca da sede da prefeitura até o arquivo.

Em relação aos jogos escolares, citados em algumas falas, por exemplo,

minha procura por fotografias ou troféus, nesse lugar, não teve êxito. Ao procurar o

NAS (Núcleo de Atenção ao Servidor) onde são arquivados materiais sobre esses e

outros eventos, o funcionário que me atendeu na falta do coordenador, falou que o

material sobre os jogos escolares de 1970 não existe, só os de época recente, e que

possivelmente os materiais referentes ao ano de 1970 foram destruídos pela cheia

que ocorreu no município em 1974.

Além de todos esses aspectos, uma das limitações que encontrei, já foi dito

por Souza (2009), ao se referir às pesquisas em História da Educação feita por não

historiadores, ou seja, pedagogos, professores de Educação Física, etc., isso

também foi um dos grandes empecilhos no trato das ferramentas para um

historiador não profissional.

Apesar das adversidades, a realização dessa pesquisa foi prazerosa, pois o

objeto estudado é significativo, fez parte da minha história de vida, da minha

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formação e da maioria dos meus irmãos, como já reafirmei, e construir parte da sua

história era algo almejado por muito tempo.

No decorrer da construção do trabalho, tive a oportunidade de analisar e

compreender mais detalhadamente o momento político que vivia o Brasil, os

conflitos existentes devidos o advento da ditadura militar, a visão do governo em

relação à educação e as reformas ocorridas no sistema educacional brasileiro.

E, nesse contexto, mesmo turbulento, conhecer um pouco da história de

Limoeiro, sua origem, sua geografia e um pouco do que ocorreu na época estudada

em relação ao cenário político e educacional, foi fundamental para minha formação

de educadora.

Descobri, também, que o grupo escolar foi construído por causa da expansão

do município devido a construção da Vila da Cohab. Só havia escolas no centro da

cidade de Limoeiro, e a vila ficava distante do centro urbano o que dificultava o

acesso dessas crianças a escola.

Otaviano Basílio Heráclio do Rêgo era um simples agricultor, natural do

município de Belo Jardim, nem era político, talvez até um semianalfabeto, que só

sabia ler e escrever. Conforme consta no site da Fundaj um histórico que fala da

vida de seu irmão Chico Heráclio. Nesse histórico consta que o pai de Chico

Heráclio colocou seus filhos nas escolas do Recife menos Otaviano Basílio, pois o

mesmo já estava casado.

O grupo foi construído na gestão do então prefeito da época Adauto Heráclio

Duarte, em homenagem a seu avô, colocou o nome do grupo escolar Otaviano

Basílio Heráclio do Rêgo.

Inicialmente, pensei que Otaviano Basílio tinha sido um grande político do

município de Limoeiro devido a ele pertencer à família Heráclio do Rêgo, que na

época, tinha muita influência e prestigio no município, muitas pessoas que dela

faziam parte tinham cargos políticos, eram prefeitos, vereadores.

Um exemplo era o Coronel Francisco Heráclio do Rêgo que foi um líder

político na região. Diante disso, parecia obvio que ao grupo foi dado o nome

Otaviano Basílio Heráclio do Rêgo para que mais um membro da família Heráclio do

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Rêgo fosse eternizado no município, haja vista que no município já existiam algumas

escolas e avenidas com nomes de membros dessa família e que havia alguns

interesses políticos subjacentes na construção do grupo.

Não identificamos nenhum interesse político na construção e inauguração do

grupo. Mas sim, interesse político público. O grupo escolar foi fundamental para a

comunidade da Vila da Cohab e sua redondezas e atualmente como escola

municipal Otaviano Basílio Heráclio do Rêgo continua sendo essencial para essas

comunidades, pois só existe duas escolas públicas próximas da Vila da Cohab, a

municipal Otaviano Basílio Heráclio do Rêgo e uma do Estado.

Tal como o grupo escolar, a escola municipal é muito importante para aquelas

comunidades. Atualmente a escola municipal oferece o ensino fundamental I, o

ensino fundamental II e o EJA (Educação de Jovens e Adultos). Oportunizando as

crianças, jovens e adultos daquelas comunidades, acesso a outros níveis de ensino

que o grupo escolar não oferecia.

Ademais, acredito ser de grande importância a reconstrução do passado de

um grupo escolar e a construção de parte de sua história. Pois além de preservar a

sua memória, dá voz e vez as pessoas que foram essenciais para seu

funcionamento que estão esquecidas e desvalorizadas pela sociedade pelo fato de

não estarem ativas nas funções que exerciam.

Espero que de uma forma ou de outra esse trabalho possa contribuir com o

resgate, valorização e preservação da memória do município de Limoeiro e do grupo

objeto de estudo. Que os gestores da administração pública do município tenham a

preocupação na preservação da memória, não só das instituições escolares, mas de

tudo que faz parte da história do município, preservando assim a história do mesmo.

Apesar dos percalços ocorridos durante a realização deste trabalho de

pesquisa nossos objetivos foram alcançados. Porém, acredito que poderia ter

prolongado o período do estudo, não apenas 1968 até 1985 e, sim, até 1994, pois

neste ano o grupo foi extinto. Mas devido à limitação de tempo para conclusão do

mestrado e a falta de experiência não seria possível o prolongamento do recorte

temporal.

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Finalmente, algumas inquietações ainda persistem, como por exemplo: Por

que o grupo escolar foi extinto em 1994 e repassado para rede estadual de ensino?

Por que no ano de 1998 a escola foi municipalizada, sendo denominado de Escola

Municipal Otaviano Basílio Heráclio do Rêgo? Quando surgiram os primeiros grupos

escolares no Estado de Pernambuco?

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ANEXOS

ENTREVISTA: PROFESSORA JOSEFA DE LIMA OLIVEIRA.

Entrevistadora: Dona Josefa, por que a escola tinha o nome de Otaviano

Basílio Heráclio do Rêgo ?

Dona Josefa: Em homenagem ao avô do prefeito.

Entrevistadora: Quem era Otaviano?

Dona Josefa: Não, era avô do prefeito daquele tempo daquela época.

Entrevistadora: Como era a estrutura de funcionamento da escola?

Dona Josefa: Minha filha, do jeito que eu entrei eu deixei quando saí. Não

teve nenhuma modificação no prédio. Se houve alguma modificação, foi depois da

minha saída, eu não voltei mais lá, nem sei eu nem conheço mais aquele prédio.

Tinha quatro salas, funcionava em três expedientes.

Entrevistadora: Tinha três ou quatro salas?

Dona Josefa: Tinha as quatro, secretaria e tinha cantina banheiro essas

coisas. No mais, tudo normal, permanece tudo hoje.

Entrevistadora: A senhora ficou até mil...?

Dona Josefa: Eu fiquei até sessenta... peraí foi, calma! Foi de sessenta e um

a oitenta e seis, foi vinte e cinco anos.

Ismael (filho de Dona Josefa): A senhora se aposentou lá, não foi?

Dona Josefa: Foi. Eu entrei em sessenta e um; com vinte e cinco anos; eu me

aposentei.

Entrevistadora: Aquela época era a época do regime militar. Tinha alguma

interferência de militares na escola?

Dona Josefa: Ah! Não me pergunte essas coisas que eu não sei. Não sei não.

Ismael: Quem era a diretora, mãe, da época?

Dona Josefa: Tinha tantas, Mael.

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Ismael: Da época da gente?

Entrevistadora: Era Dona Consinha e a outra?

Dona Josefa: Dona Consinha foi a primeira diretora, quer dizer não tinha uma

coisa oficial, não sabe, porque quem primeiro disse que ia ser diretora era uma

Benedita, mas ela nem chegou a assumir, saíu logo, e chegou Dona Consinha, que

era mulher de Chico Heráclio.

Entrevistadora: Mulher do coronel?

Dona Josefa: Olha, eu já dei a informação toda errada. No tempo que ele foi

inaugurado, o prefeito era José Barbosa do Rêgo; agora, depois de José Barbosa foi

seu Adauto.

Dona Josefa: Minha cabeça está oscilando muito. Não dou mais para dar

entrevista.

Entrevistadora: Não. Pense com calma.

Dona Josefa: Porque eu vario muito.

Ismael: Em 1961, quem era o prefeito?

Dona Josefa: Foi a época que eu entrei na escola. Era Serápio de Caprio. Eu

fui nomeada em 69 e aposentada em 86.

Ismael: Tá batendo as Informações não.

Entrevistadora: O grupo escola, segundo Dona Rita, foi inaugurado em 1969.

Dona Josefa: Inaugurado, mas não começou a funcionar.

Entrevistadora: Começou a funcionou em 1969, segundo Dona Rita.

Dona Josefa: E foi.

Ismael: E o que tem a ver 61?

Dona Josefa: Olhe, porque 61 eu fui nomeada...

Ismael: A senhora veio pra cá em 67.

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Dona Josefa: Eu vim pra cá em 68.

Ismael: Em 68 a senhora já ensinava no grupo antes de vir?

Dona Josefa: Não. Eu ensinava em Gameleira.

Ismael: Então, não tá batendo as informações.

Dona Josefa: Tá não. Porque a minha primeira escola não foi aqui.

Entrevistadora: O período em que a senhora ensinou no grupo?

Dona Josefa: O período em que eu ensinei foi em 69.

Ismael: A senhora começou em meia nove?

Dona Josefa: Comeceu em meia nove 69, que você era novinho, completou

um ano aqui em 68, em 69 eu comecei a trabalhar. Em 69 comeceu a trabalhar.

Ismael: Já tinha um ano de existência?

Dona Josefa: Não. Foi a inauguração. Mas foi depois, ele começou a

funcionar antes da inauguração. A vila é que foi inaugurada antes, a vila.

Ismael: Mas o grupo já funcionava?

Dona Josefa: Não. A vila é uma coisa, meu filho, o grupo escolar é outra

coisa.

Ismael: Ela que saber do grupo. Ele começou a funcionar quando, a senhora

lembrar?

Dona Josefa: Eu comecei em 69, mas ele foi inaugurado depois.

Ismael: Mas o primeiro ano de funcionamento dele foi quando a senhora

chegou?

Dona Josefa: Foi. Eu fui a primeira professora, e a primeira matrícula foi feita

por mim. Eu saí de casa em casa, porque ele não funcionava ainda. Então, eu saí

de casa pra fazer a matrícula, em 69.

Entrevistadora: Documentos da primeira pessoa que foi matriculada?

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Dona Josefa: Tenho não. Isso aí fica na secretaria do colégio. Se na

secretaria do colégio não tiver, que eu creio que não tenha aquilo era tudo

desorganizado, pode ser que teja organizado agora.

Entrevistadora: Por que a senhora foi dar aula lá?

Dona Josefa: Porque eu vim morar aqui, eu morava em Gameleira. Eu fui

nomeada lá. Lá eu trabalhei sete anos, de lá vim pra cá.

Entrevistadora: Qual a série, ou quais, a senhora dava aula?

Dona Josefa: Minha filha, eram todas. A minha sala era misturada. Quando eu

comecei a ensinar, mas quando eu vim pra cá...

Entrevistadora: Não, no grupo?

Dona Josefa: Era segunda um ano, outro terceira, outro ano era segunda e

terceira, era sim porque eu ensinava assim...

Entrevistadora: Eram dois horários?

Dona Josefa: Não, porque juntavam as classes segunda e terceira.

Entrevistadora: Por falta de professores?

Dona Josefa: Porque à noite não tinha professor.

Entrevistadora: Mas o pessoal que estudava lá na faixa etária normal, à

noite!?

Dona Josefa: Era tudo adulto, era a maior parte adulto. Não tinha criança não,

o mais novo era 12 anos.

Entrevistadora: A senhora lembra por que a escola foi criada?

Dona Josefa: Por quê? Porque essa vila foi inaugurada não tinha outra escola

então foi criada. Quando ele foi construído foi construído logo, logo construído o

grupo. Quando eu vim prá cá foi que a vila foi inaugurada, já o grupo estava

construído.

Entrevistadora: Estava construído?

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Dona Josefa: Estava.

Entrevistadora: Mas sem funcionar?

Dona Josefa: Mas sem funcionar.

Entrevistadora: Por quando tempo a senhora ensinou?

Dona Josefa: Minha filha, eu comecei de 69 até 86.

Entrevistadora: A senhora lembra de alguma atividade artística?

Dona Josefa: Tinha uma escola profissional; bordado, pintura,mas tudo por

uma professora só.

Entrevistadora: Tinha algum evento cultural na escola? Apresentação de

dança, algo regional?

Dona Josefa: Não. Dando aula?

Entrevistadora: Não. Eventos.

Dona Josefa: Os eventos quando começava São João...

Entrevistadora: Festas comemorativas?

Dona Josefa: É, festas comemorativas dia sete de setembro, final de ano , na

conclusão do ano letivo. Era isso que fazia aquelas animações.

Entrevistadora: Tinha formatura?

Dona Josefa:Tinha; quando o menino gritava, final, primário, aí tinha o seu

diplomazinho né?

Entrevistadora: Tinha festa de formatura?

Dona Josefa: Sempre fazia, sempre comemorava. Mas todo o colégio junto.

Entrevistadora: Como era a vestimenta dos alunos?

Dona Josefa: Era farda.

Entrevistadora: Mas a senhora lembra como era?

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Dona Josefa: Minha filha, farda municipal era azul e branco.

Entrevistadora: Mas era saia para as meninas?

Dona Josefa: Era, e calça para os meninos.

Entrevistadora: A senhora tem alguma foto da época da escola, de sala de

aula?

Dona Josefa: Não.

Entrevistadora: Nem a cartilha? Lembra que tinha uma cartilha?

Dona Josefa: Lembro, mas não sei dizer o nome. Mas essa cartilha era da

alfabetização, nera? A professora da alfabetização é quem sabe dessa cartilha.

Entrevistadora: A senhora sabe como era essa cartilha?

Dona Josefa: Minha filha, eu sei, e não sei porque meus meninos estudaram

nessa cartilha; porque já tinham sido alfabetizados, eles já estavam na primeira

série, já tavam lendo agora eu saber como era o nome da cartilha, não.

Entrevistadora: Nem o que continha na cartilha?

Dona Josefa: Não. Tinha uns desenhozinhos, essas coisas, todinhas as

palavras ilustradas, não era?

Entrevistadora: A escola oferecia que tipo de ensino?

Dona Josefa: Só o primário e arte, né?

Entrevistadora: Essa de arte era uma disciplina?

Dona Josefa: Era uma disciplina, mas não era...o prefeito nomeou essa

professora de arte.

Entrevistadora: Tinha educação física?

Dona Josefa: Tinha não.

Entrevistadora: Quantas turmas?

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Dona Josefa: Bem, era quatro de manhã, quatro à tarde, começou com uma à

noite, depois variava, tinha duas tinha três.

Entrevistadora: À noite, tinha quantas? Era a que a senhora dava aula?

Dona Josefa: Variava, eu dava aula e sempre tinha uma professora duas. Já

dois ou três anos depois.

Entrevistadora: Duas turmas, então?

Dona Josefa: Era mais de duas turmas.

Entrevistadora: A senhora ficava com as duas turmas juntas à noite?

Dona Josefa: Era, eu ficava, porque aí eu passei a terceira série para outra

professora, porque ela era formada eu era leiga, nera? Eu fiquei com a segunda

série e a primeira.

Entrevistadora: Quais eram as séries que tinham na escola?

Dona Josefa: De primeira a quarta e a alfabetização. Pera lá, não tinha a

quarta.

Entrevistadora: Quando iniciou, não tinha a quarta?

Dona Josefa: Só tinha a terceira.

Entrevistadora: Até quando?

Dona Josefa : Minha filha, eu só sei até 68, agora depois que mudou eu não

sei se tem primeiro grau.

Entrevistadora: Quantos turnos havia?

Dona Josefa: Três turnos.

Entrevistadora: Como eram distribuídas as séries em relação ao horário?

Dona Josefa: Como a minha classe era de adulto, tinha primeira série, tinha

segunda. Até terceira, porque eu ensinava uma parte, e outra professora ensinava a

outra. Agora, de manhã tinha do pré- primário, sei lá como é o nome.

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Entrevistadora: Pela manhã, tinha que série?

Dona Josefa: Tinha alfabetização, tinha primeira, segunda, parece que era à

tarde, não tô mais lembrada, era uma mistura, só lá mesmo é quem sabe, eu só sei

da minha.

Entrevistadora: Qual a importância do grupo para a comunidade local?

Dona Josefa: Era porque só tinha ele, só tinha mesmo o grupo. Não tinha

outra escola, só na cidade.

Entrevistadora: E quantos alunos?

Dona Josefa: Ah, minha filha, isso não posso lhe dizer; naquele tempo, o que

aparecia tinha que matricular.

Entrevistadora: Havia alguma atividade esportiva?

Dona Josefa: Não.

Entrevistadora: E o comportamento dos alunos?

Dona Josefa: variava.

Entrevistadora: Variava, como?

Dona Josefa: Bons e maus. Como ainda hoje tem.

Entrevistadora: Quais as comunidades que a escola atendia?

Dona Josefa: Minha filha, eu não, sei te dizer não porque essa localidade

todinha vinha gente de criança e adulto, vinha tudo dessa comunidade; essa

comunidade vem por aí afora, não sei nem de onde de Ribeiro Fundo prá cá....

Entrevistadora: O bairro da escola e o bairro do Juá?

Dona Josefa: É.

Entrevistadora: Ela atendia fora Juá e Vila da Cohab?

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Dona Josefa: Esses sítios todo isso aí tudinho vinha gente de lá de Otaviano

Heráclio pra cá eu não sei não eu não conhecia nenhum local eu só conhecia até a

casa de Inacinha.

Entrevistadora: Inacinha era quem?

Dona Josefa: Era uma conhecida.

Entrevistadora: Daqui da Cohab?

Dona Josefa: Não. Da Cohab pra lá.

Marido da entrevistadora: A senhora ensinou à noite, era no Mobral?

Dona Josefa: Não era Mobral. Tinha esse Mobral também.

Entrevistadora:Tinha Mobral nessa época no grupo?

Dona Josefa:Tinha. Mas quando eu saí parece que já tinha se acabado,

porque o Mobral durou pouco, eu até esqueci de dizer isso.

Entrevistadora: No mesmo turno que a senhora ensinava, tinha o Mobral?

Dona Josefa: Era. Mas não começou assim quando eu comecei não, minha

filha. Começou anos depois. Mobral não era antigo, não é?

Entrevistadora a senhora lembra o material didático que era utilizado?

Dona Josefa: Minha filha, material didático era utizado sempre, era utilizado

pela classe infantil, pelo o primário, nera.?

Entrevistadora: Sim, mas uma cartilha, livro alguma coisa assim?

Dona Josefa: Sei que à noite eram livros, e de manhã era cartilha; eu não sei

da classe da manhã nem da tarde porque a minha classe era noturna.

Entrevistadora: A senhora pode dizer a sua idade, teria algum problema?

Dona Josefa: Ochê, minha filha, com todo prazer.Tenho oitenta e nove; vou

fazer noventa agora em setembro.

Entrevistadora: Que dia?

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Dona Josefa: Dia dezesseis de setembro.

Entrevistadora: Que beleza!

Entrevistadora: A senhora tem alguma lembrança a mais da escola? Algo que

a senhora lembre?

Dona Josefa: Eu fico aqui.

Entrevistadora: Eu gostaria de falar com seu filho para saber se ele lembra de

alguma coisa.

Dona Josefa: Lembra não. Ele era muito pequeno. Mael, tu lembra de alguma

coisa do teu tempo?

Ismael: Sobre?

Entrevistadora: Lembra do ano em que estudou?

Ismael: Não.

Entrevistadora: Nenhum ano?

Ismael: O ano certo, lembro não. Não tenho nenhum caderno. Agora,fica fácil

você procurar essa professora que eu lhe falei, porque ela me acompanhou.

Entrevistadora: Helena?

Ismael: Dona Maria Helena.

Dona Josefa: Talvés tenha o nome dele na secretaria.

Entrevistadora: Ela tenha alguma coisa guardada.

Entrevistadora: Mas a série tu lembra, não é?

Ismael: Primeira, segunda e terceira série. Professora, Maria Helena e Dona

Diva.

Ismael: Dona Gracinha foi sua professora também no caso?

Entrevistadora: Foi.

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Ismael: Tu lembras o ano?

Entrevistadora: Não lembro, acho que foi em setenta e quatro; não lembro

direito setenta e cinco, por aí assim.

Entrevistadora: Qual o turno, tu lembras?

Ismael: Sempre manhã.

Entrevistadora: Tu lembras como era o ensino?

Ismael: Era mais bagunça. A professora Dona Maria Helena chorava por

causa de mim.

Entrevistadora: Os alunos tinham mal comportamento?

Ismael: Era. Apesar que as professoras eram bem rígidas, era rígido.

Entrevistadora: Então, o ensino era rígido?

Ismael: Dona Maria Helena, Dona Diva. Eram bem...

Dona Josefa: Elas eram autônomas, né, tinha autoridade da escola, não

deixava eles fazerem o queriam.

Entrevistadora: Os vestimentos, tu lembras?

Ismael: As meninas saia e calça comprida para os meninos, naquela época,

short era proibido.

Ismael: A gente não tinha educação física, a gente não tinha isso.

Marido da entrevistadora: Que brincadeiras vocês faziam?

Ismael: Rapaz, não tinha nem área pra jogar nada, não tinha quadra, não

tinha nada. Tinha um pátio no meio das quatro salas,tinha um patiozinho pra correr,

tinha uma subidacom vários degraus, a gente caia sempre. A escola era muito

precária,muito precária mesmo.

Entrevistadora: Então, não tinha educação física, ou atividade esportiva?

Ismael: Nem atividade esportiva nem educação física.

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Entrevistadora: Por falta de espaço e quadra?

Ismael: Deve ser. Por falta de professores também, na época não tinha isso.

Ismael: Tu lembras de outras escolas que tinham funcionando aqui na época?

O Regina Celi, tu lembras não?

Entrevistradora: Não.

Entrevistadora: Tem alguma foto, caderno?

Ismael: Não. Nada, nada, do Regina Celi eu ainda tenho. Daí não tenho não.

Entrevistadora: Lembra do material didático?

Ismael: A gente recebia algumas coisa; não recebia mãe, do município?

Dona Josefa: Não lembro nada.

Entrevistadora: Em sala de aula?

Ismael: Caderno não sei se era cedido ou agente comprava. Não sei.

Dona Josefa: Tudo era comprado, no começo era comprado.

Entrevistadora: Livros?

Ismael: Livros também.

Dona Josefa: Tudo era comprado. Quando começou tudo era comprado.

Ismael: O que tu tem de dados do colégio?

Entrevistadora: Um pequeno histórico de dona Rita.

Ismael: Dona Rita não foi da época da gente não.

Entrevistadora: Não, mas ela fez por causa de um trabalho que ela precisou

da graduação, ela fazia pedagogia. O professor do curso pediu a ela para fazer um

breve histórico de alguma escola.

Dona Josefa: Será que foi a diretora daquela época?

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Ismael: Não, foi agora há pouco, eu lembro quando ela veio aqui falar com a

senhora. Foi do curso que ela fez e exigiram isso aí dela.

Entrevistadora: Eu agradeço muito, Dona Josefa. Muito Obrigada.

Dona Josefa: Pra nada sirvo.

Entrevistadora: Serve, sim, pra muito.

Dona Josefa: E vai chegar um tempo que nem pra isso vou servir.

Entrevistadora: Memória boa ela tem. Depois ela vai lembrar de mais coisas

quando eu voltar aqui, tenho certeza que ela vai lembrar.

Entrevistadora: O grupo está marcado em sua vida?

Dona Josefa: É. Mas tá tão diferente....

Ismael: Pior que não.

Entrevistadora: A senhora não gostaria de ir lá não, qualquer dia desses pra

rever?

Dona Josefa: Não.

Entrevistadora: Vou mostrar as fotos à senhora.

Entrevistadora: Esta é a entrada de antigamente. Agora, a entrada atual.

Dona Josefa: Essa grade...?

Entrevistadora: Está é a atual entrada.

Dona Josefa: Não tinha muro quando eu ensinava lá.

Dona Josefa: Olhe. Venha cá, não tinha muro.

Entrevistadora: Até quando não tinha muro?

Dona Josefa: Desde o tempo que eu sai.

Entrevistadora: Então, como grupo não tinha muro?

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Ismael: Acredito que desde que passou a ser escola do município que

mudaram.

Dona Josefa: Sabe de uma coisa, se eu passasse eu diria “ochênte, cadê o

grupo?”

Ismael: Na escola não tem nada de foto dessa época?

Entrevistadora: Nada, eu não consegui nada. Dona Rita foi quem disse que

no Regina Celi tem uma foto do Otaviano.

Ismael: Otaviano, o avô?

Entrevistadora: Não, da escola.

Dona Josefa: Minha gente, naquele tempo era tudo atrasado, tempo atrasado,

as professoras formada não tinham estrutura não. Aquilo ali as meninas assim que

se formavam entravam logo sem ter nenhuma bagagem. Nada, nada.

Entrevistadora: Nem o magistério?

Dona Josefa: Não, elas tinham o magistério.

Entrevistadora: As que eram concursadas tinham?

Dona Josefa: Não eram concursadas entravam assim por meio da política o

prefeito butava sabe como era? Eu mesma não entrei concursada, eu era

concursada quando entrei logo mas quando entrei ali não. Não tinha estudo

nenhum reforço nenhum. Mas quando eu comecei lá, em Gamileira, eu devo muito

à prefeitur, porque se interessou muito trazendo aquelas supervisoras, para dar

aquele reforço.

Ismael: A senhora chegou ir um tempo para a secretaria, não foi?

Dona Josefa: Mas fui como reserva. Não tinha mais capacidade de sala de

aula, né? E aí eu pedi oa o prefeito, pedi à Secretaria de Educação porque não tinha

mais condições de sala de aula. Os meninos não tavam mais respeitando, sabe?

Porque a pessoa fica de idade, não respeitavam, tava ficando bagunçada, e eu não

tava dando mais conta de uma sala de aula. Aí me botaram até pra casa, mas eu

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disse não, eu queria ficar na ativa, seja no que for. Ai me colocaram na secretaria

para ajudar a diretora.

Entrevistadora: Obrigada. Desculpe incomodá-la.

Dona Josefa: Já terminou?

Entrevistadora: Já terminei. Mas se a senhora quiser continuar conversando,

converse.

Dona Josefa: Só assim a minha tarde passava bem.

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ENTREVISTA: EX-PROFESSORA E EX-DIRETORA MARIA HELENA DA

SILVA AZEVÊDO

Entrevistadora: Por que a escola tinha nome Otaviano?

Maria Helena: Agora, sim. Por que tem o nome Otaviano? Acho que em

homenagem ao pessoal daqui, porque a maioria das pessoas daqui são Heráclio do

Rêgo. Acho que em homenagem a um dos familiares de Otaviano. É Otaviano

Heráclio do Rêgo.

Entrevistadora: Quem era Otaviano?

Maria Helena: Minha filha, não sei lhe responder.

Entrevistadora: Como era a estrutura de funcionamento da escola? Como

funcionava a escola?

Maria Helena: Veja bem, quando eu fui para lá eu fui assim partidariamente

como dirigente, eu tinha me formado em 72. Veja bem comoa pessoa sai da sala de

aula e vai...mas como eu estava atrás do emprego, então fui né? Mas não me sentia

bem.

Entrevistadora: A senhora foi pra ser diretora?

Maria Helena: Diretora. Na época não era diretora era dirigente. Aí fiquei até

um certo tempo. Porque as pessoa que estava lá, no caso Dona Zefinha, ela sempre

me ajudou, mas as outras pessoas queriam dominar, as mais antigas. Eu morava na

rua, como diz a história, não tinha essa ponte aqui, eu morava no centro da cidade.

Isso aqui agora tá uma cidade, mas era só mato. Os ciganos acampavam por aqui.

Então, eu morava na vila da Paz, só trabalhava a parte da tarde. como é que uma

dirigente trabalhava só um expediente, ela tem que trabalhar dois expedientes,

embora, ela possa ter uma tarde folgada ou uma manhã folgada. Mas sem

conhecimento nenhum, então, moral da historia, eu fui me sentindo....eu não sabia o

que era uma ata eu não sabia o que era nada leiga, leiga.

Entrevistadora: Quem lhe trouxe pra ser diretora?

Maria Helena: Na época, era indicada politicamente,né!? E o cargo que tava

desocupado no momento era esse, aí eu aceitei né!? Desafio.

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Entrevistadora: Quem levou a senhora pra lá? Foi algum vereador, deputado?

Maria Helena: Foi o secretário de Educação. No caso era...oh! Jesus. O irmão

de seu Artur Correia; Luizito, não, Luís Correia era. Esquece o nome dele, mas foi o

secretário de Educação.

Entrevistadora: Funcionava como a escola? Os horários?

Maria Helena: Manhã e tarde.

Entrevistadora: À noite, no seu tempo, não tinha?

Maria Helena: Tinha não.

Entrevistadora: No tempo de Dona Josefa, já tinha à noite. Ela dava aula à

noite.

Maria Helena: Veja bem, eu não lembro nem se tinha à noite, parece que ela

ensinava à noite.

Entrevistadora: Ela disse que tinha até o Mobral, a senhora lembra do

Mobral?

Maria Helena: Lembro.

Entrevistadora: Ela dava aula na 1ª, 2ª e depois 2ª e 3ª séries.

Maria Helena: Sei. Aí uma professora saiu da cidade foi morar noutra cidade,

aí eu aproveitei o ensejo e me candidatei a ser professora, pois ela ensinava a 2ª

série. Isso foi no segundo, semestre no final.

Entrevistadora: E quem ficou no seu lugar?

Maria Helena: Quem ficou no meu lugar foi Sônia Pereira, uma colega

minha. Quer dizer, indicaram outra pessoa, e ela que ficou no meu lugar. Mas

tudo transcorria bem. Tinha só quatro salas mas, só funcionavam três, e uma

era como se fosse a cantina, assim depósito de cantina. Tinha cantina, mas lá

era que guardavam a alimentação da merenda. Naquela época, a merenda

não era tanta quanto agora, mas tinha leite, que era mais importante, tinha

biscoito, essas coisas mais....

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Entrevistadora: Mas as séries?

Maria Helena: 1ª à 4ª.

Entrevistadora: A senhora trabalhou em que ano?

Maria Helena: Em 74.

Entrevistadora: E ficou até quando?

Maria Helena:Só até 74. Depois fui demitida.

Entrevistadora: Aquela época era a época do regime militar. A senhora

lembra se tinha alguma interferencia de militar na escola?

Maria Helena: Não, existia não. Era no regime militar, mas não tinha

não.

Entrevistadora: A senhora lembra de Dona Consinha, que foi a primeira

diretora? Ia ser uma chamada Benedita, mas, Dona Benedita nem assumiu,

quem assumiu no lugar dela foi Dona Consinha mulher de Chico Heráclio.

Maria Helena: Era mulher de Chico Heráclio. Isso aÍ eu sei que era.

Entrevistadora: A senhora lembra quando ela era diretora?

Maria Helena: Eu nem sabia que existia esse grupo, eu nunca vinha

pro lado de cá.

Entrevistadora: Por que a senhora morava na cidade?

Maria Helena: Na cidade.

Entrevistadora: Depois da ponte?

Maria Helena: É. Depois da ponte. Não existia essa ponte, só a outra.

Essa foi construída em 80, 81.

Entrevistadora: O grupo só atendia o pessoal dessas comunidades,

ninguém do pessoal da cidade?

Maria Helena: Não só dessa comunidade.

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Entrevistadora: O grupo escolar foi inaugurado em 68, a senhora

lembra?

Maria Helena: Não sei nada disso.

Entrevistadora: Porque a senhora veio só em 74.

Maria Helena: Só em 74, não sei muita coisa não.

Entrevistadora: A senhora tem alguma foto da escola, da sala de aula?

Maria Helena: Nunca , nunca, nunca a gente imaginou isso.

Entrevistadora: A série que a senhora ensinou?

Maria Helena: Foi a 2ª série que eu ensinei.

Entrevistadora: Em quantos horários o grupo funcionava?

Maria Helena: Olhe, que eu lembre era manhã e tarde, agora no ano

em que Dona Zefinha ensinou...?

Entrevistadora: Ela foi a primeira professora e foi quem fez as

matrículas dos primeiros alunos, indo em casa em casa.

Maria Helena: Fazendo isso. Eu tinha colegas do Seru que ensinaram

lá.

Entrevistadora: Em que período?

Maria Helena: Elas sairam de lá e foram pro Seru; o Seru começou em

78, então elas ensinaram nesse período também.

Entrevistador: Elas moram aqui perto?

Maria Helena: As que eu lembro moramtudo em Carpina e no Recife.

Entrevistadora: A senhora lembra de uma chamada Gracinha, que era

desse período 70 e pouco, em 74 ela já ensinava?

Maria Helena: A Gracinha que eu lembro ensinava na época que eu

ensinava a gente vinha...

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Entrevistadora: Uma do cabelo assim bem grande, preto.

Maria Helena: Não sei se ela tinha cabelo...

Entrevistadora: Não lembra não?

Maria Helena: Não. Ela até já faleceu., a que eu conheço. Pode ser até

que exista outra.

Entrevistadora: É.

Maria Helena: Mas a Gracinha que eu conheço já faleceu, ela ensinava aí.

Entrevistadora: Na 1ª série, essa Gracinha foi minha primeira

professora. Ensinava na 1ª série. Me disseram que ela morava em Carpina.

Maria Helena: Então não era ela não. Ela nunca saiu de Limoeiro.

Entrevistadora: Pode ser que seja a mesma.

Maria Helena: Pode ser.

Entrevistadora: Qual era a faixa etária do alunos?

Maria Helena: De 7 a 14 anos.

Entrevistadora: Fora de faixa?

Maria Helena: É, fora de faixa. O que chegava só tinha 20... acho que não

chegava a 25 não. Dona Zefinha me dava conselho, porque eu achava

que a voz possante mais alta...

Entrevistadora: Ismael disse que a senhora era braba, colocava moral na sala

mas tinha que ser.

Maria Helena: Tá vendo, eu era braba.

Entrevistadora: Mas tinha que ser. Ele disse que os meninos bagunçavam

muito. Tinha hora que se as professoras não dessem uns gritinhos eles

não ficavam quietos.

Maria Helena: Depois de um tempo no Estado, tinha as supervisoras que

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assistiam às aulas da gente, depois chamavam a gente e diziampontos

negativos onde a gente deveria melhorar, e aí alguém dizia “sua aula

tá boa, mas precisava falar mais baixo.” Eu achava que falando mais

alto eles me temiam, mas não é agora, na época Ismael talvéz....tinha

gente travessa, viu, tinha travessa mesmo. Dona Zefinha dizia pra eu

não gritar; ela viu que eu era verdinha na historia me formei em 72 e

passei 73 em casa 74...

Entrevistadora: Sem experiência?

Maria Helena: Sem experiencia de nada, não sei como eles aprenderam. Tem

hora que eu digo que eles foram minhas cobaias. Eu sei que

aprenderam, que osvejo por aí eles dizem que aprenderam. Na época

eram as quatro operações, saber ler e escrever dissertar e fazer ditado

eranormal e saber as coisas do município.

Entrevistadora: A senhora lembra por que criaram a escola?

Maria Helena: Sei Não. Eu acredito que é porque a comunidade tinha a

necessidade de uma escola perto, porque quem morava por aqui tinha

que se deslocar. Foi mesmo na época que inaugurou a Cohab, deve

ter sido aí que criou uma estrutura.

Entrevistadora: A senhora lembra de alguma atividade artística, cultural que

existia na escola, esportiva também?

Maria Helena: Cultural, assim, a gente comemorava o São Jõao.

Entrevistadora: Festas comemorativas?

Maria Helena: Festas comemorativas, São Jõao, sete setembro. Mas outra

atividades lembro não, viu.

Entrevistadora: E as vestimentas dos alunos?

Maria Helena: Saia azul com uma florzinha azul, a menina, com blusa branca

com escudo branco. Fazia um tempo que eu tinha até um broche, mas

com o tempo foi se acabando.

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Entrevistadora: Do tempo que tinha das meninas?

Maria Helena: Dá gente do professor.

Entrevistadora: A senhora perdeu?

Maria Helena: Dei fim.

Entrevistadora: Era pra ter guardado, agora eu iria tirar uma foto dele pra

mostrar lá.

Maria Helena: Eu não tenho nada do Basílio, foi um ano que passou na minha

vida que eu não registrei.

Entrevistadora: O material didático que era usado em sala de aula era livro...?

Maria Helena: Livro, caderno, giz.

Entrevistadora: E tinha alguma cartilha?

Maria Helena: Cada série tinha um livro.

Entrevistadora: Meu irmão estudou no Otaviano e disse que tinha uma

cartilha.

Maria Helena: Tinha um livro de leitura e exercícios. Dali a gente tirava o

ditado e mandava estudar. Aquele ensino precário que a gente acha

precário agora, mas que naquela época não era, era o básico, mas o

básico em que você sáia arrumado.

Entrevistadora: Como era o tipo de ensino oferecido, como era trabalhado

didaticamente, como o professor trabalhava?

Maria Helena : Explanação não é, questionário, na área de estudo sociais,

que no tempo era estudos sociais. Não tinha geografia e história

separados. Ditado formação de frases, assim colocava algumas

palavras para formação de textos. Há 40 anos, o ensino era muito

diferente.

Entrevistadora: O aluno não participava só ficavam olhando o professor falar?

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Maria Helena: Justamente. Quer dizer, ele participava mais era muito

acanhado, a gente fazia perguntas, tinha a tal da tabuada.

Entrevistadora: Mas, eles não faziam?

Maria Helena: Acho que tinha medo.

Entrevistadora: Tinha medo ? A figura do professor era....

Maria Helena: A figura do professor em casa, olha o professor é mesmo que a

mãe o que ele fizer tá feito. Eu não lembro de ter dado nenhum

beliscão em ninguém não, mas, no Seru, fiz algumas besteiras e dei

com uns apagadores na cabeça, e o cabra até desmaiou de mentira no

chão.

Entrevistadora: Tinha educação física?

Maria Helena: Não, tinha educação física não. A educação física era eles

correrem na hora do recreio.

Entrevistadora: Quantas turmas?

Maria Helena: De manhã, 3 turmas, e à tarde 4. Uma ficava livre pra guardar

os canecos, essas coisas, porque a cantina era pequena.

Entrevistadora: A 1ª série era de manhã?

Maria Helena: 1ª e 2ª séries de manhã e 3ª e 4ª à tarde.

Entrevistadora: Qual a importância do grupo pra comunidade naquela época?

Maria Helena: Acredito que a pessoa tinha a segurança de ter onde colocar

seus filhos pra estudar mais próximo.

Entrevistadora: Só tinha na cidade?

Maria Helena: Só tinha na cidade, somente, somente.

Entrevistadora: Quais as comunidades que a escola abrangia?

Maria Helena: Eu acho que Ribeiro Fundo, vinha gente de Ribeiro Fundo,

Ladeira Vermelha, Juá e Cohab. Essa Cohab foi inaugurada em 65, e

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ele foi inaugurado em 68, não foi?

Entrevistadora: Foi.

Maria Helena: Eu acho, por conta disso, politicamente, né? Conseguiram, né?

Que essas coisas é só por política, né?

Entrevistadora: Quantos alunos tinham, no total, na escola?

Maria Helena: Não tinha muito aluno não. Na minha sala eram 23 alunos,

além dos desistentes, que eram mais os idosos.

Entrevistadora: Como os alunos se comportavam ?

Maria Helena: Pra época, acho tão bem. A gente acha que sempre tem uns

traquinos, sempre tem, mas não tinha nada de absurdo não, assim de

tá com briga, com insulto o bulling, que o povo fala agora, não lembro

não. Na minha sala, não, agora sempre tem algum fulano muito

traquino.

Entrevistadora: Qual o bairro em que o grupo estava localizado?

Maria Helena: Eu acho que é Juá.

Entrevistadora: E o Mobral, existia na época?

Maria Helena: Eu não vou lhe dizer que eu não me lembro, minha filha. Dona

Zefinha disse que tinha, então você vai dizer que tem, né? Que ela foi

quem iniciou.

Entrevistadora: A senhora pode dizer a sua idade e o nome completo?

Maria Helena: Posso, sim. Meu nome é Maria Helena da Silva Azevedo.

Entrevistadora: E a idade?

Maria Helena: 61.

Entrevistadora: A senhora lembra mais alguma coisa da escola na época?

Qualquer coisa que vier na sua cabeça ou alguma coisa que não foi

dita.

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Maria Helena: Alguma coisa que não foi dita?

Entrevistadora: Ou que poderia me indicar alguém que eu pudesse...alguma

diretora da época; pronto, essa Sônia ficou quanto tempo lá?

Maria Helena: Eu não sei quanto tempo, mas ela deve ter passado uns....

Entrevistadora: Tem como manter ter contato com ela? Ela mora onde?

Maria Helena: Ela mora na rua...ela tem até uma agência de viagem, agora

que se aposentou.

Entrevistadora: Ela mora em Limoeiro?

Maria Helena: É. Já foi lá em cima no comércio?

Entrevistadora: É depois do Banco do Brasil?

Maria Helena: Depois do banco tem uma entrada e depoistem a Casa Primor.

Pronto, entrando ali entra em outra rua que vai dar em uma padaria.Ali,

perguntando onde fica a agência de viagem de Sônia Pereira, todo

mundo ensina.

Entrevistadora: Eu preciso falar com pelo menos duas diretoras e preciso

saber por que Dona Donsinha ficou no lugar de Dona Benedita.

Maria Helena: Força política, né? Eu acredito que seja. Se ela é a viúva do

coronel, ela ainda não faleceu,pelo menos eu não escutei. Naquela

época, ainda existe força política. imagine que ele era o último dos

coronéis, então o nome era Otaviano Basilio Heráclio do Rêgo, que

deveria ser parente dele pra ter esse nome, o nome dele Francisco

Heráclio do Rêgo.

Entrevistadora: Ela foi a primeira diretora?

Maria Helena: Eu não sei de nada, eu só sei que Sônia ficou no meu lugar.

Em 74 ela foi quem assumiu.

Entrevistadora: A senhora não tem contato com elanem o número do

telefone?

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Maria Helena: Tenho não. Ela mora na agência. A frente da casa ela fez

como apoio.

Entrevistadora: Ela também foi professora do grupo; primeiro, antes de ser

diretora já era professora ou já veio pra ser diretora?

Maria Helena: Não ela foi logo pra ser diretora.

Entrevistadora: Nunca foi professora?

Maria Helena: Se foi, foi depois. Agora, ela ensinou pelo município, onde eu

não sei; ela é aposentada pelo município eaposentada.....

Entrevistadora: Algum aluno que estudou, afora Ismael, até de outra

professora ou algum filho seu?

Maria Helena: Eu tenho assim uma aluna que foi já professora da minha filha.

Entrevistadora: Trabalha no grupo ainda?

Maria Helena : Não sei se ela trabalha no grupo.

Entrevistadora: Como é o nome dela?

Maria Helena: Cláudia.

Entrevistadora: Tem um casal que Dona Rita já me indicou.

Entrevistadora: Obrigada pela sua entrevista e desculpe o incômodo.

Maria Helena: Por nada.

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ENTREVISTA:EX-DIRETORA MARIA ISABEL ALVES DE MELO SILVA

Entrevistadora: Por que escola tem o nome de Otaviano?

Isabel: Porque era pai de Otaviano.

Entrevistadora: Quem era Otaviano?

Isabel: O Otaviano mesmo, o outro que era filho, era um grande fazendeiro,

dono da fazenda Santa Terezinha, que foi vendida pouco tempo depois que ele

morreu.

Entrevistadora : Ele era industrial também?

Isabel: Era um industrial, dono daquela indústria... informática. Depois da

morte, os filhos... a indústria não funciona mais, o prédio pertence a um deles; a

fazenda o outro que era dono, outro dos filhos vendeu.

Entrevistadora: Como era a estrutura de funcionamento da escola?

Isabel: Teve um período que funcionava em três turnos; depois começou a

funcionar assim, começava cedo, sete às dez e pouca, tinha aquele horário

intermediário até duas e pouca, e à noite tinha uma turma ou eram duas, há, eu não

lembro bem; Dona Zefinha ensinava à noite.

Entrevistadora: A senhora ensinava no período de Dona Zefinha?

Isabel: É, Dona Zefinha também ficou, porque ela ficava à noite e aí como eu

não dava todo o expediente durante o dia, porque eu comecei depois a ensinar em

Passira, ficava até 10:40 da manhã e corria pra Passira.

Entrevistadora: Nesse tempo a senhora era só professora?

Isabel: É.

Entrevistadora: A senhora foi diretora também?

Isabel: Fui diretora, mas por pouco tempo.

Entrevistadora: A senhora começou em que ano?

Isabel: Eu acho que em 69 eu comecei na serra; acho que foi em 70, em 72

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eu fui embora pra Passira.

Entrevistadora: E quanto tempo ensinou no grupo?

Isabel: Pouco tempo, dois anos.

Entrevistadora: Naquela época, era época do regime militar. A senhora

lembrar se tinha alguma interferência de militares na escola?

Dona Isabel: Não.

Entrevistadora: Quem era a diretora do período?

Dona Isabel: Mauriceia, que foi diretora.

Entrevistadora: A senhora conheceu Dona Consinha?

Dona Isabel: Não.

Entrevistadora: Uma professora chamada Gracinha, a senhora lembra?

Dona Isabel: Morreu de câncer. O cabelo meio cacheiado, Graça, Maria das

Graças, não sei que morava na Rua da Alegria.

Entrevistadora: O grupo escolar foi inaugurado em 68 e passou a funcionar

em 69, a senhora lembra?

Isabel: Mas como, Consinha foi diretora de lá?

Entrevistadora: Foi. Nesse período de 69, ela foi diretora, foi quando ele

inaugurou.

Entrevistadora: A senhora tem foto da escola, nem um documento, um

caderno de atividade?

Isabel: Nada, nada.

Entrevistadora: Por que a senhora foi dar aula no grupo?

Dona Isabel: Porque quando eu me formei o meu pai tinha conhecimento com

seu Adauto aí conseguiu esse trabalho pra mim.

Entrevistadora: E para ser diretora, por que foi?

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Dona Isabel: Porqueassim que eu me formei eu já era professora mensalista

no sitio onde eu morava, lá em Ladeira Vermelha. Quando eu me formei, conseguir.

Entrevistadora: No grupo, a senhora foi primeiro ser professora ou diretora?

Isabel: Diretora.

Entrevistadora: Mas foi professora também ou só diretora?

Dona Isabel: Só diretora. Depois pra... fiz licenciatura e fui pra Passira

conseguir um contrato com o Estado, aí em 72 eu deixei a prefeitura.

Entrevistadora: Em quantos horários o grupo funcionava?

Dona Isabel: Eram quatro turnos, porque era três de dia e um à noite.

Entrevistadora: Era manhã, tarde e noite?

Isabel: É.

Entrevistadora: Qual a faixa etária dos alunos?

Isabel: Aluno a partir de 7 anos, até adulto, porque à noite tinham as turmas,

naquele tempo não existia faixa etária pra determinar não, quem quisesse estudava

com qualquer idade.

Entrevistadora: Por que a escola foi criada?

Isabel: Desde que foi criada a Cohab hoje chamada de Cohab Velha, aí a

necessidade de uma escola mais próxima para atender àquela clientela. Acredito

que foi isso aÍ que levou a ser fundada aquela escola construída...

Entrevistadora: A senhora lembra se existia alguma atividade esportiva,

artística ou cultural da escola?

Isabel: A gente fazia muito assim na época junina. No São João, tanto

apresentármos as danças típicas da época como também arrecadármos, dinheiro

para melhoramento de coisas da escola.

Entrevistadora: Vocês chamavam a comunidade para assistir, eles pagavam a

para entrar, arrecadação era do que vendia?

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Isabel: Do que vendia.

Entrevistadora: Comidas típicas?

Isabel: É. Exatamente.

Entrevistadora: No caso, era só festa comemorativa?

Isabel: Era.

Entrevistadora: Como era a vestimenta dos alunos?

Isabel: naquele tempo, também não exigia fardamento, cada um ia à vontade.

Entrevistadora: Mas tinha um fardamento, a senhora lembra?

Isabel: Não.

Entrevistadora: Qual o material didático usado em sala?

Isabel: Tinha os cartazes, aquele quadro valor de lugar se usava muito que

ele tinha de um a cem as dezenas e as centenas; e tinha o secretario de Educação,

que dava orientação pra todo mundo e toda semana se reunia com os professores

pra planejamento.

Entrevistadora: Tinha alguma cartilha?

Isabel: Não. Tinha livro adotado, só não lembro qual.

Entrevistadora: Tinha educação física?

Isabel: Acho que tinha, coisa simples mas...

Entrevistadora: Havia quantas turmas?

Isabel: A escola, naquela época, deveria ter umas 4 salas, eu acho, umas 16

turmas; tinha os 3 turno do dia, o da noite, à noite parece que só tinha a turma de

Dona Zefinha.

Entrevistadora: A senhora lembra se tinha o Mobral?

Isabel: Não. Talvez tenha tido um ano antes.

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Entrevistadora: Qual as séries?

Isabel: Funcionava de 1ª a 4ª série.

Entrevistadora: Qual era a classe social dos alunos?

Isabel: Ali era pobre, pessoas mais simples, o povo da Cohab, porque os que

podiam mais iam pra cidade, pro Regina Celi, pro Ginásio de Limoeiro. Ali mesmo o

povo de lá e quem vinha da zona rural.

Entrevistadora: O povo da cidade não estudava lá, somente o povo da zona

ruraldali mesmo.

Isabel: Mais pobre mesmo.

Entrevistadora: A senhora sabe como eram distribuídas as séries por turno?

Isabel: À noite, era misturado, tinha todas as séries, porque era adulto de 1ª a

4ª; pela manhã, ficavam as séries menores, e no final do dia as maiores de 3ª a 4ª.

Entrevistadora: Qual a importância do grupo para a comunidade local na

época?

Isabel: Acredito que de muita importância, porque ter uma escola próxima a

eles ali quando surgiu a Cohab as coisas foi bom, né? Quem já vinha de distante, da

zona rural, ficava mais próximo, evitava atravessar o rio, porque não tinha aquela

ponte, que hoje se chama de ponte nova.

Entrevistadora: O pessoal passava por onde?

Dona Isabel: A gente atravessava ou na jangada, meu pai reclamava pra

gente não atravessar na jangada pra não cair dentro do rio e morrer afogada, tinha

que vir pela ponte.

Entrevistadora: A primeira ponte? Aí que ficava longe.

Isabel: Essa ponte velha, aqui, tinha que fazer esse percurso. Quando chovia,

enchia essa parte depois do hospital, porque ele tem umas partes baixas. Aquilo ali,

o rio transbordava pra cá; aquilo ficava sem movimentação, era muito difíci, e por

isso que os pais achavam até bom a escola lá, porque já não tinha esse....

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Entrevistadora: Muita criança ficavam sem estudar por ali?

Isabel: Eu acredito. Estudavam nessas escolinhas mesmo ou ficavam sem

estudar.

Entrevistadora: Havia quantos alunos?

Isabel: Chegavam uns cento e pouco.

Entrevistadora: E por sala?

Isabel: No máximo, uns 20, eram turmas pequenas.

Entrevistadora: Como era o comportamento dos alunos?

Isabel: Muito bem comportados, mas os alunos de hoje... Obedeciam

cumpriam com as determinações.

Entrevistadora: Quais as comunidades que a escola atendia?

Isabel: Ladeira Vermelha, Cumbi, depois de Ladeira Vermelha antes de Feira

Nova, Areias, Ribeiro Fundo, Juá...

Entrevistadora: A escola está localizada em que bairro?

Isabel: Bairro Otácio de Lemos.

Entrevistadora: O nome dele atual é Otácio de Lemos?

Isabel: Acredito que sim.

Entrevistadora: Por que ali é Juá?

Isabel: É. O lado de cá acho que é Otácio de Lemos.

Entrevistadora: Existia o Mobral na sua época?

Isabel: Não. Acho que foi antes de eu entrar que funcionou o Mobral era Diva,

Diva também foi diretora lá.

Entrevistadora: A senhora lembra de um broche que as professoras usavam?

Foi Maria Helena que me falou desse broche ela foi outra professora e diretora em

74.

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Entrevistadora: A senhora foi diretora mais ou menos em 70, por aí?

Isabel: É.

Isabel: Quem tinha esse broche deve ter sido a turma da minha irmã.

Entrevistadora: A senhora lembra mais alguma coisa sobre a escola que

queira acrescentar? A classe social também dos professores? Se eles eram classe

média ou era..?

Isabel: Era.

Entrevistadora: Tinha pobre também?

Isabel: Era.

Entrevistadora: Os professores do grupo eram da cidade?

Dona Isabel: Tinham os da cidade, a gente procurava trabalhar unido, mas

sempre tem aqueles...

Entrevistadora: Obrigada.

Dona Isabel: De nada, filha.

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ENTREVISTA: EX-DIRETORA E EX- PROFESSORA DIVA GOMES DA

SILVA

Entrevistadora: Por que a escola tinha o nome Otaviano?

Diva: Eu não sei. Acho que foi homenagem a ele.

Entrevistadora: Quem era Otaviano?

Diva: Otaviano Basílio era um industrial que tinha aqui. Daquele negócio de

algodão, do óleo que faziam do algodão. Ele também tinha uma fábrica pros lados

de Teresina, parece, eu nem me lembro mais.

Entrevistadora: Ele era o que da família de Chico Heráclio.

Diva: Não sei. Ele era um membro, não sei se era sobrinho, não sei o que ele

era do coronel Chico.

Entrevistadora: Como era estrutura de funcionamento da escola?

Diva: Olha, o turno da tarde, pela manhã, um à tarde, e um à noite.

Entrevistadora: Era o Mobral à noite? Tinha Mobral no seu tempo?

Diva: Teve Mobral também.

Entrevistadora: Mas à noite funcionava, mesmo sem ser o Mobral; tinha as

outras séries normais?

Diva: Era aquele povo que não podia estudar durante o dia e estudava de

noite.

Entrevistadora: E a senhora trabalhou em que ano?

Diva: Ah, tá difício.

Entrevistadora: Sônia foi em 74, a senhora foi antes ou depois dela?

Diva: Sônia Pereira é a Sônia, que o pai dela tinha casa de....e ela foi diretora

também.

Entrevistadora: Foi. Ela falou que Maria Helena foi durante seis meses, depois

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ela saiu; ela ficou no lugar de Maria Helena. Foi em 74.

Diva: Eu não tenho mais lembrança mesmo.

Entrevistadora: A senhora foi professora e diretora também?

Diva: Foi. Eu fui primeiro professora, depois diretora.

Entrevistadora: Lembra pelo menos se foi na década de 70? Não sabe se foi

antes ou depois dela?

Diva: Vivia tudo junto. Sônia, a gente trabalhava tudo junto.

Entrevistadora: Quando a senhora era diretora ela era professora?

Diva: Era.

Entrevistadora: Naquele período da ditadura militar. Havia alguma

interferência de militares na escola?

Diva: Não tinha isso não, só para o prefeito é que a gente prestava conta, a

ele somente. Mas política não.

Entrevistadora: A senhora lembra de Dona Consinha, que foi a primeira

diretora do grupo, que era mulher de Chico Heráclio?

Diva: Olhe, nesse tempo eu não trabalhava na Cohab não. Trabalhava na rua,

no Monsenhor Fabrício.

Entrevistadora: Nem uma chamada Benedita, que foi indicada pra ser a

primeira diretora, que iria assumir, mas Dona Consinha ficou no lugar dela? A

senhora não conhecia também?

Diva: Não. Não lembro mais de Dona Benedita não.

Entrevistadora: O grupo escolar foi inaugurado em 68 e começou a funcionar

em 69. A senhora lembra?

Diva: Quando ele começou a funcionar?

Entrevistadora: Sim.

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Diva: Não. Porque eu não comecei com ele. Eu comecei na rua, ensinei muito

aqui no Juá, tinha uma casa velha embaixo que o prefeito pagava. Nessa altura,

nem lembro quem era o prefeito.

Entrevistadora: A senhora tem fotos daquela época, alguma coisa, algum

evento que teve na escola, alguma formatura, festa de São João?

Diva: Formatura não tinha não, era pobre, tava começando.

Entrevistadora: Uma foto de nada daquele tempo?

Diva: Tinha um retrato por aí que os meninos tava brincando com ele, eu nem

sei onde foi.....

Entrevistadora: Essa foto de que a senhora falou, dizendo que tinha de

menino, é de alguma atividade da escola?

Diva: Não, foi de primeira comunhão.

Entrevistadora: Da escola?

Diva: Foi.

Entrevistadora: A senhora tem ela aí pra eu tirar uma foto?

Diva: Nem sei nem por onde anda; os meninos fizeram uma limpeza aqui em

casa, jogaram muita coisa lá pra detrás. A não ser que você passe aqui depois.

Entrevistadora: Certo. Eu venho outro dia, pois eu preciso de fotos.

Entrevistadora: Por que a senhora foi dar aula ou ser diretora no grupo?

Porque a senhora foi as duas coisas.

Diva: Eu ensinei supletivo.

Entrevistadora: Lá no grupo ?

Diva: Sim. Otaviano Basílio. E ensinei pela manhã a criança, depois eu estava

com uma menina , uma filha muito doente, tava com uma filha muito doente de vez

em quando o povo ia lá buscar, vamos lá que a menina tá morrendo, aí eu corria pra

casa. Aí Adauto me botou pra lá.

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Entrevistadora:Por que senhora estava ensinando na rua?

Diva: Era. Precisei vir pra lá.

Entrevistadora: Por que ficou mais próximo da sua casa?

Diva: Era perto de casa, era mais fácil pra mim, nera?

Entrevistadora: Aí, no caso, a senhora entrou por intermédio do prefeito. A

senhora pediu para trocar?

Diva: Não, eu não pedi; ele viu a minha situação. Seu Adauto era um prefeito

sua excelência; eu gostava muito dele.

Entrevistadora: A senhora ensinou em que série, afora o supletivo?

Diva: No supletivo, não, por que tava começando.

Entrevistadora: Ah, não. No grupo supletivo, não. Foi na outra escola?

Diva: 3ª série, de 1ª a 4ª série.

Entrevistadora: A faixa etária dos alunos a quem a senhora deu aula?

Diva: Eu dei aula 25 anos e 20 dias, eu trabalhei.

Entrevistadora: Tinha menino de sete anos, oito, nove ?

Diva: Tinha de doze, quatorze, quinze, tinha de todo tipo. Numa Cohab onde

o povo...

Entrevistadora: Mesmo de manhã, tinha dessa idade os meninos atrasados?

Diva: Nunca tava dentro da faixa etária, sempre tava fora, tinha que dar

assistência mesmo.

Entrevistadora: E por que o grupo foi criado?

Diva: Por que o grupo foi criado? Acho que foi porque a Cohab foi constuída.

Entrevistadora: Por que, não tinha escola nenhuma por lá?

Diva: Não tinha escola nenhuma; hoje já tem, mas é particular.

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Entrevistadora: A senhora acha que foi por causa da vila da Cohab que foi

construído?

Diva: Eu acho que foi; por conta disso aí o povo já ficava livre, não precisava

ir pra rua.

Entrevistadora: A Cohab foi inaugurada primeiro de que o grupo?

Diva: Foi.

Entrevistadora: A senhora lembra de alguma atividade artística, esportiva,

cultural, se tinha educação física ?

Diva: Lá? Não. Festa de São João, aquele negócio todo.

Entrevistadora: Só festa comemorativa?

Diva: É.

Entrevistadora: Qual era a vestimenta dos alunos?

Diva: A saia azul com blusa branca, com o nome Otaviano Basílio.

Entrevistadora: A senhora lembra-se de um broche? Maria Helena falou que

os professores usavam.

Diva: Não lembro desse broche, só se foi depois que eu saí.

Entrevistadora: E o fardamento dos meninos?

Diva: Era a mesma coisa.

Entrevistadora: Era short ou calça?

Diva: Short.

Entrevistadora: E o material didático usado em sala de aula, se tinha alguma

cartilha, algum livro, material que a senhora usava?

Diva: Material didático?

Entrevistadora: Já teve aluno que disse que tinha uma cartilha. Mas até aqui

duas professoras que eu entrevistei disseram que não lembram.

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Diva: Eu também não lembro não.

Entrevistadora: Usava livro?

Diva: É livro do professor.

Entrevistadora: A cartilha, não tinha?

Diva: Cartilha para criança que estava fazendo alfabetização.

Entrevistadora: O que continha na cartilha?

Diva: Faz 17 anos que eu deixei de ensinar.

Entrevistadora: E como era o tipo de ensino, como era que vocês trabalhavam

em sala de aula?

Diva: Quadro negro pra gente escrever, explicar, tarefa pra ele levar pra casa,

ditado, cópia, tinha tudo.

Entrevistadora: Os alunos não participavam de nada, não faziam perguntas?

Diva: Geralmente, os alunos sempre perguntam e isso assim, assim, aí

professora como é que é.

Entrevistadora: Tinha alguns que perguntavam; naquele tempo os alunos

tinham medo do professor?

Diva: Epa, a senhora era carrasca, a senhora em... é mas você aprendeu? Eu

agradeço à senhora.

Entrevistadora: Quantas turmas tinham no grupo?

Diva: Quatro salões.

Entrevistadora: Quatro salas que tinha?

Diva: Funcionavam todos quatro todo dia; cada salão, uma classe.

Entrevistadora: A senhora só não lembra se era 1ª, 2ª série?

Diva: 1ª, 2ª, 3ª e 4ª série.

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Entrevistadora: Também de manhã todas quatro?

Diva: Sem resposta.

Entrevistadora: Os alunos, a classe social eles eram filhos de agricultores

eram gente pobre, população mais pobre, filhos de comerciantes?

Diva: Daquele povo que trabalhava na padaria, tocava fogo no pão, fazia o

pão, era isso aí, vendiam lenha, iam buscar dentro das matas de Otaviano.

Entrevistadora: Filhos de trabalhadores rurais?

Diva: Era mais isso aí.

Entrevistadora: Qual a importância do grupo para aquela comunidade ali não

só para ela, mas pra outras, já que o grupo abrangeu varias comunidades afora o

Juá?

Diva: Que era, era.

Entrevistadora: A senhora lembra das comunidades?

Diva: Juá, era Fazenda Santa Terezinha, tinha aluno que morava, tinha

Ladeira Vermelha...

Entrevistadora: Essa fazenda fica onde?

Diva: Lá na entrada, quem vai para Caruaru.

Entrevistadora: Muito longe. Então o grupo tinha uma importância para

comunidade?

Diva: É porque quem morava no lado de cá do rio nem precisava ir pra rua,

né.?

Entrevistadora: Muitos nem estudavam pelo fato de ser longe?

Diva: É isso aí.

Entrevistadora: A senhora lembra quantos alunos tinha o grupo?

Diva: Não.

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Entrevistadora: Nem por sala?

Diva: 25, 30, 35.

Entrevistadora: E o comportamento dos alunos?

Diva: O comportamento dos meus era bom, tinha que ser bom.

Entrevistadora: A senhora, como diretora, em geral as professoras

reclamavam dos alunos?

Diva: Reclamavam, colocavam os meninos na secretaria. Você vai ficar um

tempinho, quando você melhorar depois você volta.

Entrevistadora: Quer dizer que tinha uns maus comportamentos?

Diva: Mas isso é do início da época, menino com cara lisa tem de sobra

desde aquele tempo.

Entrevistadora: O grupo fica em que bairro?

Diva: É logo ali. No Juá.

Entrevistadora: O Mobral existia no seu tempo?

Diva: Existia.

Entrevistadora: A senhora lembra do material usado no Mobral?

Diva: Não. Dado pelo governo.

Entrevistadora: A senhora conhece alguma professora que foi do Mobral do

seu tempo que more aqui perto?

Diva: Não. No tempo que eu comecei, só tinha eu.

Entrevistadora: A senhora poderia dizer mais alguma coisa, algum detalhe da

senhora como diretora, sempre tem mais?

Diva: Diretora da cidadeé uma coisa; é como o morador de rua é uma coisa, o

morador dos arredores é outra coisa totalmente diferente, inclusive aquele até povo

que vive melhor que tem um emprego tem aquele negócio, coisa ali é um bagulho.

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Entrevistadora: Quer dizer que diretora do grupo não tinha muito valor porque

era na parte rural?

Diva: Era isso aí, porque tinha pouca comunicação.

Entrevistadora: Era discriminada pelas outras da rua?

Diva: Não. Sofre isso não.

Entrevistadora: Vocês tinham acesso a material igual às outras, tinha

reunião?

Diva: O prefeito dava tudinho direitinho.

Entrevistadora: Todo material didático dos alunos, era dado pela prefeitura?

Diva: O prefeito dava assistência aos alunos, e os professores também.

Entrevistadora: A senhora lembra de alguma atividade que teve importância?

Diva: Os meninos desenhavam, tinham que escrever, fazer a prova, usar o

caderno de caligrafia pra melhorar a letra, é isso aí.

Entrevistadora: Muito obrigada.

Diva: de Nada.

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ENTREVISTA: EX- PREFEITO DE LIMOEIRO ADAUTO HERÁCLIO DUARTE

Entrevistadora: Por que o grupo escolar tinha o nome de Otaviano?

Adauto: Porque Otaviano era meu avô, então eu era o prefeito, foi quem doei

aquele terreno para construir a Cohab né? E precisava de um grupo escolar, eu lutei

e botei o nome do meu avô.

Entrevistadora: O senhor foi prefeito em 68, a partir de 68?

Adauto: Foi em 63 a 68 ou 69, sei que foi quase seis anos.

Entrevistadora: Quem era Otaviano?

Adauto: Meu avô era agricultor e criador, morreu com vinte e um anos,

morava em Vertente. Naquele tempo, foi de derrame, mas ninguém sabia disso, ne?

Meu pai disse que ele deu um derrame e adoeceu.

Entrevistadora: Como funcionava a escola o senhor lembra, quantas salas,

séries?

Adauto: As séries, não lembro qual era mais não, era... lembro não, nem as

séries.

Entrevistadora: As séries eram de 1ª a 4ª ?

Adauto: Lembro não.

Entrevistadora: Foi na sua gestão que foi construído o grupo escolar?

Adauto: Foi.

Entrevistadora: Quando o grupo escolar foi inaugurado era ainda o senhor o

prefeito? Porque ele foi inaugurado em 69, pelo que eu já andei pesquisando. O

senhor acha que ficou até 68?

Adauto: Foi. Foi em 63, não fui a 69, foi 68.

Entrevistadora: O senhor lembra o nome do prefeito que ficou no seu lugar?

Adauto: José Barbosa de Paula

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Entrevistadora: O senhor lembra de Dona Consinha? Que foi a primeira

diretora do grupo, que era mulher de Chico Heráclio.

Adauto: Consinha? Lembro.

Entrevistadora: Ela foi a primeira diretora, o senhor não lembra o ano?

Adauto: Não me lembro não, não foi comigo não, porque inaugurou em 69.

Entrevistadora: Ela foi a primeira diretora, deve ter sido em 69.

Esposa de Adauto: Foi Consinha foi?

Entrevistadora: Foi. Ela foi a primeira diretora do grupo.

Adauto: Não, foi comigo não, porque foi inaugurado em 69.

Entrevistadora: Quem inaugurou foi o outro prefeito?

Adauto: Foi.

Entrevistadora: Eu vou procurar o outro prefeito, para saber se ele pode me

conceder uma entrevista.

Adauto: Esse morreu.

Entrevistadora: Ah! Morreu foi.

Adauto: Foi.

Entrevistadora: Infelismente.

Entrevistadora: O grupo escolar foi construído em 68, e inaugurado em 69. O

senhor lembra?

Adauto: Lembro não.

Entrevistadora: O senhor tem alguma foto do grupo, da construção?

Adauto: Tem não.

Entrevistadora: O senhor sabe de algum lugar que eu possa achar alguma

coisa, alguma secretaria daqui que guarda algum material?

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Adauto: Sei não.

Esposa de Adauto: Adauto, na tem na secretaria?

Adauto: E eu sei....

Entrevistadora: Na secretaria não tem eu já fui lá.

Esposa de Adauto: Não tem não, né?

Entrevistadora: Tem não.

Esposa de Adauto: Minha filha, aqui é muito atrasado. Se tivesse...era prá ter.

Entrevistadora: E o material didático a prefeitura fornecia?

Adauto: Na escola?

Entrevistadora: No grupo escolar.

Adauto: Ali eu não sei, porque já não foi mais comigo, né? Comigo... na minha

administração como ele não foi inaugurado.

Entrevistadora: Com o senhor foi só a construção?

Adauto: Só a construção.

Entrevistadora: A Vila da Cohab foi construída primeiro, o senhor doou o

terreno para ser construída a Vila?

Adauto: A Vila, e daí um terreno pra construir o grupo, precisava de um grupo

escolar ali, não é? Aí eu costruir e botei o nome.

Entrevistadora: A iniciativa de construir o grupo foi sua?

Adauto: Foi.

Entrevistadora: Pela necessidade que o senhor percebeu?

Adauto: Foi. Porque o número de casa da Cohab era grande né? E merecia

uma escola, aí foi que...quando planta... enviou logo o terreno para escola, aí eu

construir.

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Entrevistadora: Qual a importância do grupo para a comunidade?

Adauto: O que falou?

Entrevistadora: Qual a importância do grupo para a comunidade?

Adauto: Tinha.

Entrevistadora: Por que?

Adauto: Uma Vila como a da Cohab com o número de moradores que tinha,

distante, afastado da cidade, pra vir estudar na cidade, era sacrificado.

Entrevistadora: Por que era a única escola que tinha?

Adauto: É.

Entrevistadora: Quais as comunidades que a escola atendia?

Adauto: Eu...porque quando veio a funcionar, eu não estava mais não, né?

Entrevistadora: E o bairro que a escola está localizada?

Adauto: Ali, tenho lembrança mais não.

Entrevistadora: Porque tem o Ladeira....

Adauto: Ladeira Vermelha.

Entrevistadora: É. Ladeira Vermelha e o Juá.

Adauto: É o Juá é aqui em baixo.

Entrevistadora: O senhor acha que a escola está localizada no Juá?

Adauto: No Juá e Ladeira Vermelha.

Entrevistadora: Entre um e o outro?

Adauto: É entre um e outro.

Entrevistadora: O senhor lembra de mais alguma coisa, se teve alguma

dificuldade no tempo que estava sendo construído, quanto tempo passou para ser

construído a escola?

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Adauto: Lembro mais não.

Entrevistadora: Se tem algum lugar que possa estar esses documentos, a

planta? Será que na câmara dos vereadores não tem algum material?

Adauto: Não sei, o terreno foi doado, a doação foi aprovada pela câmara.

Entrevistadora: Deve ter algum material lá, porque é a partir de Decreto-Lei

para poder ser aprovado.

Entrevistadora: Teria alguém que o senhor poderia me indicar, algum amigo

seu?

Adauto: Dessa época?

Entrevistadora: Sim.

Adauto: Vereador, era Maicau Alcante.

Entrevistadora: Ainda está vivo?

Adauto: Tá.

Esposa de Adauto: Mas mora no Recife é?

Adauto: É.

Entrevistadora: E Dona Consinha, o senhor tem lembrança por onde ela

anda?

Adauto: Deve está viva.

Entrevistadora: O senhor chegou a conhecer o coronel, e conhecia ela

também?

Adauto: Conhecir.

Esposa de Adauto: O coronel era tio dele.

Entrevistadora: O senhor teve contato com ela, e não lembra nada da época

que ela era diretora?

Adauto: Ela era como diretora, era?

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Entrevistadora: Ela foi a primeira diretora.

Adauto: Não foi mais comigo, porque quando o grupo veio funcionar eu já

estava fora.

Entrevistadora: O senhor não tinha contato com eles ?

Adauto: Tinha não.

Entrevistadora: Se o senhor lembrar alguma coisa a mais.

Adauto: Tem lembrança não, faz muito tempo.

Entrevistadora: É, realmente, faz muito tempo.

Adauto: Tem dois mandatos, um de 63 a 68 e tem, 76 a 82.

Entrevistadora: Voltou depois de um bom tempo, a escola já funcionava a

alguns anos. Eu morei aqui, quando eu era pequena, e estudei dois anos no grupo.

Adauto: Quem era seu pai?

Entrevistadora: Meu pai... a gente morava na Vila da Cohab, mas não passou

muito tempo. Eu sou do Recife, ele veio para cá passou um tempo e depois voltou.

O que eu lembro e que estudei lá,por isso, estou fazendo a pesquisa sobre ele e

moro no Recife.

Esposa de Adauto: Foi aqui?

Entrevistadora: No Otaviano.

Esposa de Adauto: Otaviano.

Entrevistadora: Obrigada.

Adauto: De nada.

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ENTREVISTA: EX- ESTUDANTE DO GRUPO ESCOLAR ROMILDO CIPRIANO

SILVA

Entrevistadora: Por que a escola tinha o nome Otaviano?

Romildo: Por causa do...como era o nome dele? Deixe eu ver se eu lembro, o

nome dele...Grupo Escolar Otaviano Basílio Heráclio do Rêgo. Mas eu não sei o

motivo porque era, era em homenagem a ele, esse Otaviano.

Entrevistadora: Quem era Otaviano?

Romildo: Um Senhor de engenho, coronel. Naquela época, se dava o nome

de coronel, eu não cheguei a conhecê-lo pessoalmente, mas era muito falado na

região.

Entrevistadora: Ele era empresário, dono de fazenda?

Romildo: Era, tinha fazenda. Naquela época, o povo chamava esse povo da

elite de coronel.

Entrevistadora: Como era a estrutura de funcionamento da escola?

Romildo: Naquela época, eu creio que era seis salas, não sei se não me falhe

a memória, eu acho que não, não era grande, era um colégio pequeno, mas

aconchegante; muito...muito bom praquela nossa época. Era um colégio muito bom,

bom de ensinamento, as pessoasque ensinavam eram muito boas.

Entrevistadora: Aquela época era a época do regime militar. Você lembra se

havia alguma interferência de militares na escola?

Romildo: Não, eu naõ tinha conhecimento não. Agente não se envolvia nisso

não, era muito puxado praquela época.

Entrevistadora: Quem era a diretora?

Romildo: O nome dela era Dona Sônia, uma pessoa muito boa.

Entrevistadora: Sônia de que?

Romildo: Não sei o restante, só lembra que era Sônia.

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Entrevistadora: Dona Consinha foi a primeira diretora da escola?

Romildo: Não cheguei a conhecer não.

Entrevistadora: Seria uma senhora Chamada Benedita, mas Dona Consinha

ficou no lugar dela.

Romildo: Não foi do meu tempo não, inclusive nem lá soube dessa troca,

quando cheguei eraSônia.

Entrevistadora: O Grupo Escolar foi construído em 68 e funcionou a partir de

69. Você lembra?

Romildo: Lembrança muito pouca, agente chegou lá a nossa idade era baixa,

a gente não tinha conhecimento não.

Entrevistadora: Você tem alguma foto da escola daquela época, alguma

coisa?

Romildo: Tenho não, só as lembranças.

Entrevistadora: Qual a série que você estudou?

Romildo: Estudei a 1ª, 2ª e a 3ª séries. Eu não tô bem lembrado se fiz a 4ª lá,

eu acho que...creio que foi até a 4ª série, que não estudei em canto nenhum, foi meu

primeiro colégio e o último. Os ensinamentos muito bom, que até hoje eu me lembro

das coisas que foram, que a gente conseguiu aprender nessa época lá, muito bom o

ensinamento daquela época.

Entrevistadora: Quantos horários o Grupo funcionava?

Romildo: Acho que manhã e tarde, à noite não sei se tinha, não me recordo.

Entrevistadora: Qual era a faixa etária dos alunos?

Romildo: 16,17 e 18... não chegava a 20 não, pelo menos não tinha.

Entrevistado: E os menores?

Romildo: 8 a 9 anos.

Entrevistadora: Por que a escola foi criada?

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Romildo: Pra dá suporte aquelas pessoas pobres moravam ali, naquelas

redondezas, que era pessoas muito pobres. Naquela época, os pais não tinham

condições de estudar, era um escola do governo.

Entrevistadora: Na Vila da Cohab?

Romildo: Vila da Cohab e as redondeza, aquelas próximas, aqueles lugares

próximos, todo ele era beneficiado com o grupo.

Entrevistadora: Você lembra se havia alguma atividade esportiva, cultural na

escola ou festas comemorativas?

Romildo: Cultural, comemorativa, festa junina tinha. Inclusive eu cheguei a

participar da festa que eu fui o novo, como chama? Casamento matuto. Arrumaram

uma carroça e enfeitaram toda. Na época, a gente chegou a fazer essa

comemoração. Eu me lembro que na ocasião existia uma radiola de pilha, meu pai

tinha uma. Então foi solicitada que ia parar o ensaio porque não tinha a radiola, aí eu

me lembro que fui em casa, arriscado a levar uma pisa para pegar essa radiola.

Então, a diretora me disse: “Cuidado pra você não quebrar, e sei pai não lhe bater”.

Mas a vontade era tanta da gente participar da brincadeira, que fui em casa e

peguei. Falei com a minha mãe, e ela disse:” Vá, mas cuidado pra seu pai não ver,

traga antes que ele veja. Essa radiola foi lá e a gente conseguiu fazer a festa.

Entrevistadora: Como era a vestimenta dos alunos?

Romildo: Calça comprida, eu cheguei usar bermuda, short, não era só

calça;nem todo mundo tinha condições de comprar uma calça, as meninas usavam

saia azul e camisa branca com bolso com o nome do grupo e conga, não tinha

fardamento no colégio, era escasso o serviço de fardamento. A roupa era usada do

jeito que vinha, como podia se vestir.

Entrevistadora: Qual era o material didático usado em sala de aula?

Romildo: Um quadro, um giz, um apagador de quadro etabuada.

Entrevistadora: Você lembra mais de alguma coisa?

Romildo: Tinha um livro da Editora Ática.

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Entrevistadora? Tinha alguma cartilha?

Romildo: Tinha a cartilha do abc.

Entrevistadora: O que continha na cartilha?

Romildo: O abc, as vogais, ela era pequena a cartilha, tabuada né?

Entrevistadora: Qual o tipo de ensino era oferecido, didaticamente como as

professoras trabalhavam?

Romildo: Tinha uma delas que era bem rude, puxão de cabelo e até muitas

vezes na tapa, primeiro era na base da reguada.

Entrevistadora: Elas trabalhavam como, trabalhavam com ditado,

questionário?

Romildo: Ditado, questionário, só não tinha aquela chamada oral, tinha, só

que eu nunca cheguei a ir.

Entrevistadora: Tinha educação física?

Romildo: Não me lembro se existia.

Entrevistadora: Quantas turmas havia?

Romildo: Turmas...1ª, 2ª, 3ª e 4ª séries.

Entrevistadora: Como era distribuídas as séries em relação ao horário?

Romildo: 1ª de manhã era, 1ª de manhã, mas não nos outros era só no grupo,

tudo tinha dividido. Outra sala, 2ª, outra sala, 3ª de manhã. Eu creio que à tarde

seria a mesma coisa, só mudava o turno.

Entrevistadora: Quantos alunos havia na sala?

Romildo: Na faixa de uns 40, acho creio, que uns 40.

Entrevistadora: Qual a importância do grupo para a comunidade local?

Romildo: Fez muito bem. É um grupo que como eu creio, como eu aprendir,

muita gente foi beneficiada.

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Entrevistadora: E o comportamento dos alunos?

Romildo: Eram bons, não existia confusão era tudo na regra, era tudo...a

gente, as professoras eram respeitadas, a gente respeitava elas.

Entrevistadora: Quais as comunidades que a escola atendia?

Romildo: Vila da Cohab, aqueles bairros dos arredores, que eu não estou

bem lembrado deles, todos aqueles bairros eram, foram beneficiados.

Entrevistadora: Existia o Mobral na sua época?

Romildo: Existia.

Entrevistadora: Qual o horário?

Romildo: O Mobral sempre à noite. Às oito horas, às vinte horas né?

Entrevistadora: Você lembra se os professores usavam algum broche?

Romildo: Usavam.

Entrevistadora: Você tem alguma lembrança a mais da escola que

vocêgostaria de relatar?

Romildo: Tinha várias. Eu fui é bandeira, jurar bandeira, guarda de honra da

bandeira nacional, a do Brasil, inclusive foi no colégio Regina Celli. Eu fui... não sei

não tô lembrado mais o nome como era? Eu sei que fui jurar bandeira. E foi lá, no

centro de Limoeiro, foi feito lá, o grupo e o Regina Celli, eu e um aluno do Regina

Celli fazia a troca das bandeiras, ele me dava a dele, e eu dava a minha a ele.

Entrevistadora: Você lembra da inauguração da escola?

Romildo: Não. Quando a gente chegou lá, ela já tava inaugurada por aí. Já

havia, ela era nova, mas eu não me lembro, deveria ter uns dois anos de

funcionamento, por aí nessa faixa.

Entrevistadora: Você estudou em que ano?

Romildo: 72.

Entrevistadora: Até que ano lembra?

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Romildo: 72,73,74,75 ou 76.

Entrevistadora: Obrigada pela entrevista.

Romildo: De nada, disponha. Dê um abraço na diretora quando você vê-la,

mande minhas lembranças pra ela. Inclusive também tinha uma professora na

época, que não sei o nome dela, mas foi uma boa professora, apesar que naquela

época, tinha os costumes da época. As professoras eram iguais a uma mãe pra

gente, os pais autorizavam elas cuidar dos alunos. Se errou, era na base da lei da

que era época, hoje em dia já não se fazem mais isso, mas em parte foi bom que

educou muita gente através desses atos dela.

Entrevistadora: As professoras eram muito respeitadas pelos alunos?

Romildo: Muito respeitadas, muito respeito. Eu me lembro numa época,

botaram, deram susto na professora, não sei qual foi delas, não fui eu, não lembro

mais quem foi, botaram uma rã no birô da professora. Isso gerou quase a classe

toda de castigo um bom tempo. Por causa de um, pagaram todos; mas ninguém

disse quem era ou não viu.

Entrevistadora: Que falar mais alguma coisa?

Romildo: Só lembrança mesmo. Inclusive tinha uma professora que e era

deficiente de um braço, ela morava na região ali por perto, não sei o nome dela, mas

era uma ótima pessoa boa professora. Inclusive ela tinha uma irmã que lecionava lá,

mas eu não consigo lembrar o nome dela. Eu lembro eu, e meu irmão Rinaldo,

estávamos brincando de pião na hora do recreio, e por acidente, o pião bateu na

cabeça de um menino e bateu na janela do grupo, que era de vidro; e quebrou.

Fomos para secretaria e ficamos de castigo, eu e meu irmão.

Entrevistadora: Qual a importância do grupo na sua vida?

Romildo: Foi onde eu aprendi o que sei até hoje, feito eu falei, foi meu

primeiro colégio que estudei. Hoje eu não estudo em canto nenhum, não conseguir

mais estudar, porque na época, tive que trabalhar, ou estudava ou trabalhava e eu...

não foi opção minha. mas eu tive que trabalhar pra poder sobreviver. Pra mim foi um

ótimo colégio. Espero que ele ensine muita gente que tem que mora por ali. Muita

gente que tenha o mesmo aprendizado que a gente teve naquela época.

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Entrevistadora: Obrigada.

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ENTREVISTA:EX-ESTUDANTE SILVINA CRISTIANO DA SILVA

Entrevistadora: Por que a escola tinha o nome Otaviano?

Silvina: Eu acho que foi em homenagem a Otaviano. Porque não tinha um

homem mais rico aqui de Limoeiro, que era Otaviano? Antigamente não, até hoje

também às vezes se coloca o nome de escola em homenagem a alguém que fez

alguma coisa pela comunidade.

Entrevistadora: Quem era Otaviano?

Silvina: Era um empresário e fazendeiro. Tinha muitas...tinha fazenda, muitos

gados, muitos bens, muitas terras, essas terras por aqui era tudo dele e depois que

ele morreu os filhos saíram vendendo.

Entrevistadora: Você lembra como funcionava a escola, quantas salas tinham,

quantas séries?

Silvina: Eram quatro salas.

Entrevistadora: As quatros funcionavam?

Silvina: Todas funcionavam.

Entrevistadora: Você lembra o ano que estudou?

Silvina: O ano não lembro não.

Entrevistadora: Nem as séries?

Silvina: Não, eu estudei 1ª série, 2ª série, 3ª série e 4ª série.

Entrevistadora: Você pode dizer a tua idade? Aí eu tenho uma ideia.

Silvina: Eu tenho 41 anos.

Entrevistadora: Mais nova do que eu, eu estudei... mais acho... que foi quase

nesse período mesmo, acho que foi quando inaugurou logo, não é?

Silvina: É.

Entrevistadora: por que no caso você nunca tinha estudado?

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Silvina: Nunca tinha estudado, foi minha primeira escola.

Entrevistadora: Então deve ter sido no década de 70.

Silvina: Vamos dizer, 78, 79, porque no ano a gente entrava lá, com sete

anos, 79...

Entrevistadora: Era, era.

Entrevistadora: Você lembra se tinha alguma intervenção de militares na

escola? Porque naquela época tinha a ditadura militar.

Silvina: Não lembro.

Entrevistadora: A diretora da época, você lembra quem era?

Silvina: Era Dona Zefinha.

Entrevistadora: Foi diretora também?

Silvina: Eu acho que foi.

Entrevistadora: Ela foi professora.

Silvina: Professora.

Entrevistadora: Mas não diretora?

Silvina: Diretora não, me lembro não.

Entrevistadora: Você lembra de Dona Consinha, mulher de Chico Héraclio?

Silvina: Não lembro não, eu me lembro no tempo de Dona Elza.

Entrevistadora: Era o que? Professora?

Silvina: Professora, Dona Fátima.

Entrevistadora: Fátima, eu acho que já vir o nome dela na secretaria.

Entrevistadora: Você lembra quando ele foi inaugurado?

Silvina: Lembro também não.

Entrevistadora: E o primeiro ano de funcionamento?

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Silvina: Também não.

Silvina: Tu não fosse lá não?

Entrevistadora: Não eu sei. E só pra confirir.

Silvina: Só pra confirir.

Entrevistadora: Você tem alguma foto?

Silvina: Tenho não.

Entrevistradora: Nada que te lembre a escola?

Silvina: Não, porque naquela tempo mal se tirava foto. Meus pais analfabetos,

só botava na escola e pronto.

Entrevistradora: Nenhum caderno, nada de lembrança.

Silvina: Nada de lembrança. Veja também quantos anos já faz.

Entrevistradora: Quantos horários funcionava? Se era manhã, tarde, noite?

Silvina: De manhã e de tarde.

Entrevistradora:`A noite não tinha no seu tempo?

Silvina: Eu acho que à noite tinha o mobral.

Entrevistradora: Você lembra dos alunos? A faixa etária dos alunos? Que

idade mais ou menos eles tinham?

Silvina: Porque assim, no tempo que a gente estudava, a gente não entrava

na sala de aula com seis anos não, era sete anos, oito anos.....

Entrevistradora: Você lembra se na sua sala, tinha algum menino com

faixaetária avançado pra série?

Silvina: Tinha, principalmente os meninos do sítio, que moravam no sítio.

Entrevistradora: Esse sítio era onde?

Silvina: De Limoeiro, Ribeiro Fundo.

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Entrevistadora: Por que a escola foi criada?

Silvina: Eu acho que foi para suprir a necessidade da comunidade que estava

crescendo, porque primeiro começou a Cohab Velha, depois o mutirão....

Entrevistadora: Mutirão era um bairro?

Silvina: Era.

Entrevistadora: Não havia nenhuma escola aqui, nessa parte rural? Aqui é a

parte rural?

Silvina: Não tinha escola nenhuma, depois surgiu o Seru.

Entrevistadora: Quem queria estudar teria que ir para cidade?

Silvina: Era.

Entrevistadora: Você lembra se tinha alguma atividade esportiva, artística,

educação física?

Silvina: Era só a cartilha para aprender a lê naquele tempo.

Entrevistadora: Mas não comemorava nada? Nenhuma festa?

Silvina: Comemorava dia das crianças, dia do professor, a gente se juntava e

fazia festa para os professores, isso eu me lembro porque era eu quem fazia os

bolos.

Entrevistadora: E as festas comemorativas?

Silvina: Tinha.

Entrevistadora: Você lembra como se vestia os alunos? A farda como era?

Silvina: Era azul e branco.

Entrevistadora: Mas, era o que saia...?

Silvina: Bermuda. Não, era saia para as meninas, e short para os meninos.

Entrevistadora: E o material usado na sala de aula?

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Silvina: Caderno, e tinha cartilha também.

Entrevistadora: fale-me dessa cartilha, o que tinha nela?

Silvina: Ela trabalhava, trabalhava as letrinhas e tinha a tarefinha todinha da

letrinha e tinha um quadrinho. Me lembro como se fosse hoje, tinha um quadrinho de

palavras pra gente estudar, chegava em casa a gente tinha que estudar essas

palavras e quando chegasse no outro dia a gente tinha que lê essas palavras e fazer

o ditado.

Entrevistadora: Então era boa essa cartilha, interessante? E o caderno de

caligrafia tinha também?

Silvinha: tinha.

Entrevistadora: A cartilha tinha todas as lições?

Silvina: Todas lições.

Entrevistadora: A professora usava todo dia na sala de aula?

Silvina: Sempre. Eu tinha medo de lê em voz alta, me dava um nervoso, dava

vontade de chorar, de tremer.

Entrevistadora: Essa cartilha eu já tinha perguntado a Dona Zefinha, eu a

entrevistei e ela disse que não lembrava. Eu tenho um irmão que estudou lá

também, um não, cinco ou seis. Eu morei aqui pequenininha, eu nasci no Recife e

vir pra cá, passei uns três anos, depois voltei. Meu irmão lembra dessa cartilha, ele

disse que no final tem até parabenizando quem tinha terminado. Você lembra?

Silvina: Era uma cartinha aos estudantes. Nera? Porque na frente da cartilha

também tinha, assim, um biletizinho pro aluno estudar se esforçar e no final tinha

uma parte. Né?

Entrevistadora: Você sabe de alguma colega que tenha essa cartilha? Alguma

coisa da escola?

Silvina: Não.

Entrevistadora: Você lembra como as professoras ensinavam, a forma como

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ensinavam, o que elas faziam em sala de aula?

Silvina: Era muito diferente desse tempo de agora. Porque, assim, a gente

quando vai dar uma aula hoje prepara uma música, a gente...não era muito assim.

Muito técnico. Chegava lá na frente, colocava a letrinha no quadro e dava o

sonzinho da letrinha e já passava atividade e ler.

Entrevistadora: Os alunos nem participavam? Nem faziam perguntas?

Silvina: Não.

Entrevistadora: Quantas turmas lembra?

Silvina: Porque eram quatro turmas de manhã, quatro à tarde. Mas sempre

era assim, de 1ª a 4ª série de manhã, e de 1ª a 4ª série de tarde.

Entrevistadora: E à noite?

Silvina: O Mobral.

Entrevistadora: Qual a importância do grupo para a comunidade?

Silvina: Assim, ensinar os alunos. Porque era um meio dos alunos irem para

escola, a confiança porque se uma criança de sete anos, o pai não queria levar pra

rua e aqui pertinho da escola.

Entrevistadora: As crianças iam só?

Silvina: Não, eles levavam mais mesmo assim, levava aqui pertinho sentiam

mais seguro, agora apesar que no tempo que a gente estudava lá era aberto não

tinha muro.

Entrevistadora: As crianças que moravam aqui não estudavam antes do

grupo?

Silvina: Não.

Entrevistadora: O comportamento de aluno dentro de sala de aula ou quantos

tinham por sala?

Silvania: Lembro não. E o comportamento sempre teve alunos danados que

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não queriam nada com a vida, e assim é, antigamente o aluno respeitava o

professor, tinha medo.

Entrevistadora: Pela forma como ele trabalhava também tinha muita

autoridade em sala de aula?

Silvina: Era.

Entrevistadora: Muitos professores metiam medo nos alunos?

Silvina: Muitos.

Entrevistadora: Pela forma de agir?

Silvina: O jeito de falar, o olhar!

Entrevistadora: Você lembra se alguma professora usava um broche?

Silvina: Não.

Entrevistadora: Você tem alguma lembrança a mais, qualquer coisa

interessante, o prefeito da época por exemplo?

Silvina: Não.

Entrevistadora: Tem alguém daqui que estudou também lá até 85?

Silvina: Aqui não.

Entrevistadora: Tá bom, tá ótimo. Obrigada Silvina.

Silvina: Por nada. Porque faz tanto tempo. Tem muita gente formada que foi

embora tá em São Paulo, tá em...cada um tomou um destino.

Entrevistadora: A escola contribuiu em que na sua vida?

Silvina: Assim, a gente sabe que o importante na vida da criança no tempo é

aprender a lê e escrever, e pra mim foi uma descoberta muito grande. Porque no

tempo meu pai e minha mãe nunca souberam ler, eu aprendi porque eu tinha um

irmão que também estudava e assim, contribuiu na minha aprendizagem e no

meu....se hoje eu sou o que sou....

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Entrevistadora: Você é professora hoje?

Silvina: Sou. Lá foi plantada uma sementinha, foi de lá que foi plantada.

Entrevistadora: Então foi muito importante o grupo pra você?

Silvina: Foi, foi muito importante. Porque hoje, antigamente eu falo assim, o

grupo antigamente era outra coisa pra vista de hoje.

Entrevistadora: Por que você acha que era mais organizado naquele tempo?

Silvina: Eu acho que era mesmo naquele tempo.

Entrevistadora: Mais compromisso?

Silvina: É.

Entrevistadora: Obrigada.

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ENTREVISTA: EX- DIRETORA SÔNIA MARIA PEREIRA DA COSTA

Entrevistadora: Por que a escola tinha o nome Otaviano?

Sônia: Porque o nome de um grande empresário aqui de Limoeiro, que

colaborava muito na questão da educação.

Entrevistadora: Quem era Otaviano?

Sônia: Um empresário, um homem assim que amava muito a sua cidade, e

que dentro da questão política da época,foi um homem atuante.

Entrevistadora: Qual empresa que ele tinha?

Sônia: Era agropecuária, algodão, gado, era desse ramo.

Entrevistadora: Era fazendeiro também?

Sônia: Era.

Entrevistadora: Em que ano a senhora trabalhou?

Sônia: 1974.

Entrevistadora: Como diretora?

Sônia: Já como diretora.

Entrevistadora: Foi professora da escola?

Sônia: Não, já entrei como diretora, como era uma escola municipal, aí

na época, o prefeito Artur Correia já me nomeiou diretora, então já entrei

como diretora.

Entrevistadora: Naquele época havia o Regime militar, você percebeu

alguma interferência de militares na escola?

Sônia: Não, não, não percebemos não.

Entrevistadora: Alguma interferência na proposta pedagógica, alguma

interferência no trabalho?

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Sônia: Não, não, não percebemos não. Não de jeito nenhum, de forma

nenhuma. Assim, a gente tinha muita liberdade de trabalhar desde que favorecesse

a questão do ensino aprendizagem, a gente tinha uma certa liberdade, um apoio da

secretaria de Educação. Na época, todos assim, que hoje a gente chama muito de

projeto, mas tudo que a gente organizava,assim, a gente tinha o apoio. E de tal

forma, que realmente o ensino daquele grupo escolar era um ensino de qualidade.

Entrevistadora: E Dona Consinha que foi a primeira diretora, a senhora a

conheceu?

Sônia: Não, não, infelismente não. Eu não alcancei, quando cheguei ela não

estava mais, então não tive nenhum contato com Dona Consinha, a esse respeito eu

tive não.

Entrevistadora: A senhora tem alguma ideia por onde ela possa estar se estar

viva?

Sônia: Não, eu poderia até perguntar a uma sobrinha por afinidade, eu

poderia perguntar e li dá essa resposta ainda hoje.

Entrevistadora: O grupo escolar foi construído em 68 e inaugurado em 69, a

senhora lembra?

Sônia: Não, porque eu não estava lá certo, agora em 70... eu entrei em 74,

acredito que em 75 nós fizemos realmente a inauguração oficial com a placa.

Entrevistadora: Foi a partir de 75 que teve a inauguração oficial?

Sônia: Foi, já funcionava normal. Toda aquela cerimônia que o padre foi, na

época, seu Adauto, o prefeito e até Otaviano, irmão do atual prefeito, que também

se chamava Otaviano.

Entrevistadora: Por que só em 75 foi inaugurado?

Sônia: Eu não sei lhe dizer, quando eu cheguei na escola eu encontrei a placa

e as pessoas que trabalhavam lá, as professoras Diva Gomes e outras que estavam,

Neuza, e aí disseram que nunca houve inauguração e realmente não tinha, não

houve, eu lembro que foi na nossa gestão.

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Entrevistadora: A iniciativa foi sua de promover a inauguração?

Sônia: Foi , foi, eu falei com o prefeito, e com o padre e tudo. Nós

organizamos a cerimônia e foi um dia festivo, e que marcou realmente naquela

época, foi muito bom.

Entrevistadora: Tem fotos?

Sônia: Acredito. Não sei aonde anda, mas deve ter fotos.

Entrevistadora: Mas com a senhora?

Sônia: Não. Talvéz, algum ex-aluno.

Entrevistadora: Nenhum foto, nada daquela época, do seu período, alguma

coisa relacionada?

Sônia: Como eu prometi vou procurar, eu encontrei foto de aluno de festa de

São João, até me lembrei é Francisco.

Entrevistadora: Da sua época?

Sônia: Sim, na época que eu estava lá.

Entrevistadora: Estão com a senhora?

Sônia: Estar comigo, eu encontrei. Agora eu tenho que ver onde estão

novamente essas fotos, eu acredito que vou encontrar.

Entrevistadora: Por que a senhora foi ser diretora do grupo?

Sônia: Naquela época, não existia eleição, então era por indicação. Oprefeito

Artur Correia na época, por amizade, essa questão política, eu lá recém formada,

então ele havia me prometido uma cadeira e o que saiu foi a direção da escola,

lógico inicialmente a gente fica assustada, mas graças a Deus eu sou professora

por vocação; cheguei no grupo e nós fizemos um bom trabalho, nós trabalhamos,

procuramos, assim. Então eu fui , eu me identifiquei e fizemos um bom trabalho,

posso dizer que foi um bom trabalho.

Entrevistadora: Quantos horários o grupo funcionava?

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Sônia: Funcionava os três horários, manhã, tarde e noite, de primeiro naquela

época, da alfabetização à 4ª série.

Entrevistadora: E a faixa etária dos alunos?

Sônia: Era de 6 anos a 11 anos em média, os da noite sempre são mais

maiores, um pouco mais de idade.

Entrevistadora: Naquele período entrava com 6 anos por causa da

alfabetização e com 7 na 1ª série?

Sônia: Exatamente.

Entrevistadora: Por que a escola foi criada?

Sônia: Para atender a necessidade da comunidade, como havia a Cohab,

assim, a pouco ali inaugurada, a Cohab inaugurada, então havia o mutirão também

ao lado, aí a comunidade cresceu e tinha uma necessidade.

Entrevistadora: Mutirão é outro bairro?

Sônia: É um outro bairro semelhante a Cohab, e então precisava de uma

escola para atender a demanda, aquelas crianças que ali morava devido a distância

do centro, das outras escolas.

Entrevistadora: E o regimento da escola, a senhora lembra se havia?

Sônia: Porque naquela época, era com assim, o regimento era da Secretaria

de Educação. Nós tínhamos os encontros sistemáticos com a secretaria de

educação, e tinha toda assim, o regimento, as normas, o regulamento e então a

gente seguia certo e tinha também orientação e apoio pedagógico.

Entrevistadora: Era as normas para os alunos, tinha alguma coisa escrita por

exemplo cartaz, alguma coisa na escola?

Sônia: Sim, a gente fazia. Porque havia mais disciplina naquela época, onde o

aluno tinha seus direito, porém deveres também. Horário de chegada e não chegar

atrasado.

Entrevistadora: Era estabelecido pela Secretaria de Educação?

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Sônia: Isso. Até por questão da aprendizagem, porque o aluno que falta

muito, o aluno que chega atrasado, a gente sabe que atrapalha. Então, a gente na

reunião dos pais também a gente passava, e eles sabiam e realmente eles

cumpriam, assim, a gente tinha poucos casos em geral.

Entrevistadora: A senhora lembra de alguma atividade artística, esportiva,

cultural no grupo?

Sônia: Na atividade esportiva, assim que as GRE, os GRES que passou a ser

GERE, Núcleo de supervisão pedagógica que passou a ser DERE, GERE. Então, na

época, forami convidadas as escolas municipais a participarem de jogos escolares e

nós participamos. Conseguimos, assim, jogo, o terno dos alunos, treino e tudo e

inclusive a gente teve medalha, e assim recebemos o troféu pela participação, tudo.

Entrevistadora: Qual era o esporte?

Sônia: Futebol, futebol de salão, e tivemos a questão e o que mais?

Entrevistadora: Artística, cultural?

Sônia: A questão artística os alunos participavam, a questão artística era só

nas festas, eles tinham apresentações.

Entrevistadora: Nas festas comemorativas?

Sônia: Nas festas comemorativas. Dia de mãe, dia de pai, todos professores

organizavam, era poesia, jogral, apresentações e também participávamos do desfile

cívico também, chegamos a participar também do desfile cívico.

Entrevistadora: Qual era a vestimenta dos alunos?

Sônia: A vestimenta era as crianças, os meninos, eram calça, e as meninas

saia e blusinha branca. Azul e branco era o fardamento, era assim. Agora o tênis

não era obrigatório porque nem todos podiam, ou tênis ou sapatinho, na época,

conga ou sandália, mais em geral eles tinham o fardazinha.

Entrevistadora: Em termos econômicos eles não eram bem favorecidos?

Sônia: Não, não, era um bairro pobre. E, então, mas assim, a gente não

exigia, dava um tempo, mesmo assim os pais se esforçavam e a gente não tinha

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grandes problemas não, quando a gente podia a escola tinha condições, promovia

alguma campanha, a gente sabia de alguma família que tinha muitoa gente ajudava

dependendo, mas eles vinham com a farda, vinha com a farda.

Entrevistadora: E o material didático usado em sala de aula?

Sônia: O material a Secretaria de Educação fornecia, a gente eu não lembro

bem, não sei se era bimestral, sei que nós pedíamos. A gente recebia material,

cartolina, papel ofício, na época, era mimiógrafo, a gente recebia material de limpeza

para a escola o que as professoras precisavam. Assim, a gente tinha, sempre vinha

alguma coisa pro aluno, mais a gente tinha.

Entrevistadora: A senhora lembra de uma cartilha usada em sala de aula?

Sônia: Uma cartilha? Agora você me pegou, eu não lembro dessa cartilha, eu

não lembro de cartilha.

Entrevistadora: Teve uma aluna que lembrou, eu entrevistei a aluna na Cohab

ela disse que continha atividades e que o professor dizia:” Estude essa atividade que

na próxima aula vai ser ditado.”

Sônia: É, porque tinha toda aquela questão, a gente exigia muito.

Entrevistadora: Qual tipo de ensino oferecido, e como era trabalhado em sala

de aula?

Sônia: Nós tínhamos professores além de serem, assim, terem tudo uma

formação muito boa do Regina Celi,nosso professorado era bem capacitado, bem

capacitado, tínhamos também orientação da Secretaria de Educação e o ensino era

também de interação, não sei como te dizer mais.

Entrevistadora: Naquela época o ensino era muito tradicional?

Sônia: Tinha também, era mesclado, tinha alguma coisa tradicional tinha,

porém é, não era 100% não, até por conta da formação dos professores porque no

Regina Celi muito avançado, tudo que a gente ver hoje, a irmã Gabriela e as demais

irmãs, já passaram pra gente e a Secretaria da Educação, e as pessoas também

foram formadas lá e elas sempre se atualizavam, então não era aquela coisa, tinha a

questão da tabuada, a escrita no quadro, tinha isso, existia também mas já se usava

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mimiógrafo.

Entrevistadora: Os alunos participavam de trabalhos em grupos?

Sônia: Participava, participava, tinha de acordo com o mês tinha vivência

daquele mês eles participavam, muitas vezes a culminância era uma salada de fruta,

eu lembro bem, a gente não pode...a maioria dos professores eles trabalhavam

dessa forma, todo mês tinha uma vivência, e assim, próximo do final do mês tinha

uma culminância do que foi trabalhado.

Entrevistadora: Eles tinham teoria e prática?

Sônia: Teoria e prática eles tinham de plantar o milhinho sabe, de ver a

questão da fruta quando estava estudando e até na merenda também, as vezes

pediam e a gente fazia.

Entrevistadora: Tinha educação física?

Sônia: Educação física, educação física...eu sei que os professores na sexta-

feira tinha um horário que eles faziam exercícios com as crianças.

Entrevistadora: O próprio professor que está em sala de aula, não um

professor de educação física?

Sônia: Não, não, mas eles tinham recreação sim, eles tinham.

Entrevistadora: Quantas turmas havia no grupo?

Sônia: Duas, três, quatro, oito...ôchente parece que eram cinco, ou seis salas

alí, então, era completo. De manhã, á tarde, agora à noite funcionava alí geralmente

duas ou três, nunca era completo, eram duas ou três turmas à noite, duas turmas a

média. Agora durante o dia me parece que era seis ou cinco, já se diminuia a

quantidade de aluno.

Entrevistadora: Total das turmas a senhora lembra?

Sônia: Não, acho dava 12 turmas por ano, 12 turmas.

Entrevistadora: Quantas séries?

Sônia: De alfabetização até à 4ª série.

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Entrevistadora: Qual era a classe social dos alunos?

Sônia: Na faixa pode dizer assim, era bem...era baixa.

Entrevistadora: Eram filhos de trabalhadores rurais?

Sônia: Trabalhadores rurais, empregadas domésticas, porque era justamente

os alunos daquela área.

Entrevistadora: Comerciantes?

Sônia: Comerciantes, que vinham de sítios próximos, eram mais assim,

lavadeiras, na maioria, empregadas domésticas, agricultores, algum era que fazia

alguma coisa assim.

Entrevistadora: A senhora conhece algum aluno que ascendeu socialmente?

Sônia: Tem a professora Cláudia, que é uma grande professora, tem a irmã

dela Aparecida, tem o irmão dela, que é hoje... que trabalha no posto que hoje já é

chefe de lá, tem, tem professores do Estado excelente que ocupa cargos bons, já

não moram mais aqui, tem o filho de Dona Zefinha, que é professor também, de

eletrotécnica, então ascendeu. Tem, tem muito alunos que se destacaram tem

outros que foram embora que trabalham e estão bem sucedidos em diversos ramos.

A gente sempre encontra os ex alunos e eles estão muito bem ascenderam mesmo,

tem assim, são muitos, um número grande de comerciantes que tem seu próprio

negócio a gente tem.

Entrevistadora: Qual a importância do grupo para a comunidade local na

época?

Sônia: Na época, a importânciaprimeiro, o ensino para os filhos próximo de

casa. Era um espaço de educação mais também de lazer, onde a reunião de pais

eram boas, era um espaço de...que muitas vezes a comunidade pedia pra realizar

algum encontro, assim, foi muito importante pra aquela comunidade aquele grupo.

Entrevistadora: Não havia nenhuma escola por ali?

Sônia: Não, só depois que começou o Seru, a escola Seru que hoje....

Entrevistadora: Quais as comunidades que a escola atendia?

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Sônia: Atendia a Cohab, Ladeira Vermelha, e até a divisa ali, alguns sítios, o

Juá e... até o sítio ali próximo, a Feira Nova naquela divisão, a gente atendia ali.

Entrevistadora: A escola está localizada em que bairro?

Sônia: É no bairro da Cohab, no bairro da Cohab. Não sei se tem outro nome

agora.

Entrevistadora: Ali não é o Juá?

Sônia: Será que pega o Juá? Não sei até onde vai, só indo a Secretaria de

Educação e pegando o endereço.

Entrevistadora: Havia quantos alunos no geral na escola e em sala de aula?

Sônia: Quantos botaram? A gente coloca uma média de 30, dá 320, uma

média de sala 30, 35 essa média assim, era turmas muito grandes não era nessa

faixa.

Entrevistadora: Como os alunos se comportavam?

Sônia: Na maioria muito bem, agora em toda classe sempre aparecia alguns

mais brincalhões, mas era o caso, assim, que a gente chamava os pais e logo se

resolvia. De tal forma, que a gente tinha ali naquele grupo, as janelas eram de vidro

todas eram de vidro, às vezes alguém da noite, algum desocupado, ali quebrava

uma ou outra e os alunos na sua maioria se comportava direitinho mas toda janela

era de vidro na época que a gente trabalhava ali.

Entrevistadora: Existia o Mobral na sua época?

Sônia: O Mobral começou antes, agora se teve o Mobral eu não lembro, se

teve esse curso de alfabetização eu não lembro.

Entrevistadora: A senhora lembra de um broche que as professoras usavam?

Sônia: Broche? Lembro não. Eu lembro que nós fizemos a primeira farda

juntos, foi na inauguração do grupo.

Entrevistadora: Os professores usavam farda?

Sônia: Farda. Eu lembro bem que a saia foi azul... verde, e a blusa se não me

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engano foi xadrezinha, combinando com a saia, nós fizemos para a inauguração que

anteriormente eu falei, agora, do broche não lembro não. Mas, nós tínhamos farda,

todo ano fazíamos farda.

Entrevistadora: Quantas salas havia no grupo?

Sônia: Porque nós tínhamos lá quando nós chegamos, porque depois a

cozinha sofreu uma reforma, criou aquele balcão para as crianças serem atendidas,

receberem a merenda, dois, três, quatro, se não estou enganada. Eram cinco salas

e tinha diretoria, a sala que era a diretoria e a sala de professor, porque não existia

secretaria, então era secretaria, diretoria e sala de professor, o banheiro dos

professores existia bem organizado, tudo, a cantina e também o banheiro dos alunos

áreas para eles brincarem.

Entrevistadora: Seriam quatro turmas de manhã?

Sônia: Se eu não estou enganada, quatro ou cinco salas, eu lembro bem de

quatro.

Entrevistadora: Por que em uma ficava a merenda?

Sônia: Tinha, tinha, e dentro na cantina era boa a cantina. A gente

providenciou lá um tipo de armário pra guardar a merenda e alguma coisa de

merenda a gente guardava até na secretaria, chegava aqueles fardos de charque,

eu lembro bem.

Entrevistadora: Da sua época pra cá, houve muita mudança em termos

estruturais?

Sônia: Sim, houve. Houve porque a escola cresceu e agora tem até me

parece que tem o primeiro grau completo e o grupo não, não, e ficou pequeno, tem

uma extensão e é lá no Centro Social Urbano, então a escola cresceu muito.

Entrevistadora: O Centro Social serve de sala de aula para o grupo?

Sônia: Porque lá não comportava, então algumas salas foram pra lá e assim

cresceu, houve mudanças, porque também houve mudanças na política que o

município é responsável pelo ensino fundamental.

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Entrevistadora: Na época que ele foi para o Estado, a senhora estava lá?

Sônia: Não.

Entrevistadora: A senhora tem alguma lembrança a mais da escola?

Sônia: É... A gente tem assim, que nós pedimos elaboramos assim, fizemos a

bandeira do grupo, porque não existia, e para o desfile para os jogos. Então, tinha

que desfilar com a bandeira, foi uma coisa assim, muito importante que nós pedimos

ajuda, agora não lembro quem foi que desenhou, eu sei que nós confeccionamos,

eu e a diretora de outra escola aqui do grupo, aqui Monsenhor Fabrício. Ela fez a

dela, nós trabalhávamos muito juntos, assim nós fizemos essa bandeira e aí foi algo

muito interessante, muito importante para nós, dentro do município, principalmente

naquela época como era visto, e coisa assim que o grupo ascendeu. E o grupo,

coisas importantes aqui. Os nossos alunos quando saíam pra fazer o exame de

admissão na escola do estado, porque naquela época existia pra entrar na escola do

Estado, os alunos faziam aquela prova. Os alunos do grupo se saíam muito bem,

eram sempre bem classificados. Eram interessantes também nossas festas juninas,

nossas comemorações, eram assim bem participativas, eram muito boas mesmo,

rainha do milho... Apesar de ser uma comunidade carente, mas quando o povo

decidia, se fazia as coisas muito bem organizadas, sempre tinha um pouco de apoio

da Secretaria de Educação.

Entrevistadora: Verbas para as festas?

Sônia: Era, tinha também a merenda, a merenda era de qualidade, era uma

coisa muito boa, a merenda era de qualidade, nós tínhamos uma cantina bem

organizada, nós almoçávamos lá também com as crianças e tinha.

Entrevistadora: Obrigada.

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APÊNDICES

Termo de Consentimento Livre e Esclarecido da Professora Joséfa de Lima Oliveira

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Termo de Consentimento Livre e Esclarecido da ex-Professora Maria Helena da

Silva Azevêdo

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Termo de Consentimento Livre e Esclarecido da ex-Diretora Maria Isabel Alves de

Melo Silva

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Termo de Consentimento Livre e Esclarecido da ex-Professora e ex-Diretora Diva

Gomes da Silva

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Termo de Consentimento Livre e Esclarecido do ex-Prefeito de Limoeiro Adauto

Heráclio Duarte

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Termo de Consentimento Livre e Esclarecido do ex-aluno Romildo Cipriano

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Termo de Consentimento Livre e Esclarecido da ex-estudante Silvina Cristiano da

Silva

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Termo de Consentimento Livre e Esclarecido da ex-diretora Sônia Maria Pereira da

Costa