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UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO CENTRO DE EDUCAÇÃO PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO CURSO DE MESTRADO AS HISTÓRIAS EM QUADRINHOS NA EDUCAÇÃO DO PERU NO SÉCULO XXI ROSA ALICIA NONONE CASELLA RECIFE, 2016

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO

CENTRO DE EDUCAÇÃO

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO

CURSO DE MESTRADO

AS HISTÓRIAS EM QUADRINHOS NA EDUCAÇÃO DO PERU NO SÉCULO XXI

ROSA ALICIA NONONE CASELLA

RECIFE, 2016

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO

CENTRO DE EDUCAÇÃO

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO

CURSO DE MESTRADO

AS HISTÓRIAS EM QUADRINHOS NA EDUCAÇÃO DO PERU NO SÉCULO XXI

Dissertação em curso apresentada por

Rosa Alicia Nonone Casella ao Programa

de Pós-Graduação em Educação da

Universidade Federal de Pernambuco,

como requisito parcial para a qualificação

no Curso de Mestrado no Núcleo de

Teoria e História da Educação sob a

orientação do professor Vilde Gomes de

Menezes

RECIFE, 2016

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Catalogação na fonte

Bibliotecária Andréia Alcântara, CRB-4/1460

C337h Casella, Rosa Alicia Nonone. As histórias em quadrinhos na educação do Peru no século XXI /

Rosa Alicia Nonone Casella. – 2016.

120 f. ; 30 cm.

Orientador: Vilde Gomes de Menezes.

Dissertação (Mestrado) - Universidade Federal de Pernambuco,

CE. Programa de Pós-graduação em Educação, 2016.

Inclui Referências, Apêndices e Anexos.

1. Educação - Peru. 2. Histórias em quadrinhos. 3. UFPE - Pós-

graduação. I. Menezes, Vilde Gomes de. II. Título.

370.985 CDD (22. ed.) UFPE (CE2016-40)

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ROSA ALICIA NONONE CASELLA

AS HISTÓRIAS EM QUADRINHOS NA EDUCAÇÃO DO PERU NO SÉCULO XXI

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-

graduação em Educação da Universidade

Federal de Pernambuco, como requisito final

para obtenção do título de Mestra em Educação.

Aprovada em 31/03/2016

BANCA EXAMINADORA

Prof. Dr. Vilde Gomes de Menezes (Orientador)

Universidade Federal de Pernambuco

Prof. Dr. Amaro Xavier de Braga Júnior (Examinador Externo)

Universidade Federal de Alagoas

Prof.ª Dr.ªAurenéa Maria de Oliveira (Examinadora Interna)

Universidade Federal de Pernambuco

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Dedico a minha dissertação a minha irmã Luisa Carla Maria Nonone Casella por ter

sido uma inspiração para realizar este estudo tão importante para mim. Lembro bem quando

ela era pequena, nos seus momentos de descanso, depois de estudar e de fazer todas as tarefas

da escola, ela sempre tinha o costume de pegar uma folha em branco que depois virou um

caderninho pequeno onde ela criava historinhas em quadrinhos.

Sem nunca ter tido aulas de desenho, ela desenhava todos os personagens que vinham da

mente dela, principalmente com características mangás (Los chinos de siempre en sus

dibujos), com um talento incrivelmente perfeito em todos os seus desenhos de forma bem

minuciosa e cautelosa.

Sempre a via calada e muito concentrada nas suas criações sequencias onde colocava diálogos

entre todos os personagens com muita habilidade, precisão e beleza em cada vinheta criada

por ela. Adorava ver como ela desenhava atentamente. Seu rostinho de criança refletia um

semblante de paz e felicidade por estar fazendo o que ela mais gostava e ainda gosta aos seus

quase 28 anos deidade.

Eu ficava admirada sempre que a minha irmã desenhava. Ela passava horas e horas

desenhando pensativa como se mais nada existisse no mundo para ela. É um nítido flashback

que vem na minha mente agora quando lembro do lugar exato onde ela desenhava, sempre

num cantinho da sua cama e algumas vezes, enquanto desenhava, ela levantava o olhar para

ver os desenhos animados preferidos dela na TV e continuava desenhando até entrar no sono.

Querida irmã mesmo estando distantes e sabendo bem dos teus sonhos que queres concretizar,

quero registrar o carinho imenso que sinto por ti nesta dissertação e com este sentimento tão

precioso e infinito que sinto por você, pelo meu filho Diego, e a toda a nossa família quero

finalizar a minha dedicatória com esta estrofe de uma linda canção:

Eu tenho tanto

paratefalar,Mas com palavras

nãoseidizerComo é grande o meu

amor porvocê!

¡Te quiero mucho manita!

Com carinho,

Rosa Alicia.

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AGRADECIMENTOS

Esta etapa especifica da elaboração da minha dissertação representa para mim uma

fase de extrema importância para expressar os meus mais sinceros agradecimentos por estar

finalizando esta pesquisa com gostinho de conclusão e principalmente por ser um momento

tão especial que ficará eternamente na minha memória e no meucoração.

Ao meu amor eterno Dieguito! Meu filho que me inspira, me alegra e me motiva.

Tudo que para te dar um futuro próspero e seguro com o intuito de te ver feliz sempre.

Ao meu amado esposo Thiago Modenesi que é o meu sorriso e meu sereno bálsamo na

minha vida. Eis a minha guia e fortaleza nos meus despertares diários com quem me sinto

plena, principalmente por ter me dado todo o apoio, suporte, tranquilidade, dicas, conselhos e

conhecimentos valiosos que foram necessários na construção e desenvolvimento na minha

dissertação.

Thiago te admiro imensamente e te agradeço por ser um grande ser humano comigo,

um pai dedicado e carinhoso, por querer me ver sempre feliz e por toda a trajetória dedicada

aos seus estudos nas histórias em quadrinhos que estão presentes na sua biblioteca-quarto

repleta de diversos tipos de gibis que você coleciona desde 1984, aos teus 10 anos de idade

que começasse a colecionar gibis e te guiaram a um caminho profissional investigativo de

sucesso. Neste ano completas 32 anos de puro amor a este ramo de estudo tão enriquecedor de

saberes, lindo artisticamente e gratificante porque sempre te completa e te estimula, a querer

cada vez, continuar com a leitura de HQs. Muito obrigada por tudo meu amor!

Ao meu prezado e querido orientador Professor Dr. Vilde Menezes a quem agradeço

imensamente pelo seu apoio e crescimento intelectual que me brindou nesta etapa crucial da

minha vida acadêmica. Muito obrigado professor Vilde por ter querido me orientar desde um

início por ter considerado o tema da minha dissertação muito interessante e importante para

abrir um novo leque de união de conhecimentos internacionais entre Peru e Brasil no campo

de estudo das histórias em quadrinhos do Peru no núcleo de teoria e história de educação no

mestrado da UFPE e tudo isto me motiva a querer seguir em diante com mais pesquisas sobre

HQs na áreaeducacional.

Aos meus irmãos Carlos, Alfredo e Luísa que são a minha força e porto seguro em

todo momento que preciso. Agradeço a Deus por serem a minha família e Los Quiero Mucho

incondicionalmente.

As minhas queridas cunhadas Maira e Catarine que me apoiaram e torceram pelo meu

sucesso do meu mestrado desde o início.

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A professora peruana Patricia Vilca Díaz por me apoiar na entrevista da minha

dissertação.

A Librería Peruana Contracultura que me ajudou muito com a aquisição de material

para meus estudos.

A Fernando Franco Quiróz por me orientar com a aquisição de historietas educativas

peruanas para a minha dissertação e ao historietista peruano Luis Serrano por me conceder

material de pesquisa para meu mestrado.

A Ricardo (Gargo) da Historieta Wayra por ter me apoiado com a minha investigação

sobre as historietas peruanas com base especifica na história dos Incas.

Ao Instituto Cervantes de Recife por me conceder uma licença temporária para me

dedicar ao meu mestrado e ao meu filhotinho Diego.

A minha querida família que mora no Peru, Estados Unidos e Canadá por toda força e

apoio aos meus estudos por me tornar a única pessoa da família em estar fazendo mestrado.

Vocês estão presente no meu coração, infinitamente!

A minha irmã do coração Angelica Reaño Cortéz por ter me ajudado a conseguir e

enviado ao Brasil duas historietas peruanas Grumete Grau. Muchas gracias mi querida Angie

y a tu primo mis agradecimientos también desdeBrasil!

A minha tia Roxana Maria Casella Oxley por ter-me ajudado e enviado material de

pesquisa da escola do meu primo Angelo desde Peru ao Brasil.

E aos meus pais Luísa e Carlos e a minha tia Rosita Kroetch, que em paz descanse,

que me guiaram com seus sábios conselhos para nunca parar de estudar e me tornar uma

mulher de bons princípios e independente para tudo navida.

Muito obrigada a todos vocês por ser parte da minha vida!

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RESUMO

Esta dissertação tem como principal objetivo estudar as possibilidades educacionais contidas

em histórias em quadrinhos peruanas, as chamadas historietas, que tratam dos Incas e de

figuras heroicas, históricas e da literatura de reconhecido relevo para aquele país na rede de

ensino público e privada do mesmo. Para tanto estudamos as historietas utilizadas nas salas

de aula do ensino regular peruano, historietas publicadas no país e as cartilhas e manuais que

orientam os estudantes na leitura, confecção e elaboração das mesmas. Aqui buscamos

responder a seguinte pergunta: as histórias em quadrinhos são parte relevante da política

educacional que objetiva a preservação da tradição histórica e da construção do homem

peruano civilizado do século XXI? Queremos demonstrar que as histórias em quadrinhos têm

e tiveram relevância no processo educacional peruano, o fazemos a partir do debate da

edificação do processo civilizador daquele país nos apoiando nas teorias de Norbert Elias e

José CarlosMariatégui.

PALAVRAS-CHAVE: Historietas. Processo educacional. História do Peru.

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ABSTRACT

This thesis aims to study the educational possibilities contained in stories from Peruvian

comics, dealing with the Incas and heroic figures of historical and recognized relevant

literature to this country in public and private schools ot the same. For this we have studied

stories used in Peruvian mainstream classrooms, short stories published in the country and

booklets and manuals that guide students in the reading and making of the comics. Here we

seek to answer the following question: Are comics a relevant part of education policy which

aims at preserving the historical tradition and the construction of civilized Peruvian man of

the XXI century? We want to show that comics had and still have a relevance in the Peruvian

educational process, we do it from the debate of the building of the civilizing process of this

country by supporting the theories of Norbert Elias and Jose CarlosMariategui.

KEYWORDS: Comics. Educational Process. History of Peru.

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LISTA DE FIGURAS

Figura 1 – Capa da revista Ayar, la leyenda de los inkas, Editora Tawa (2014)

Figura 2 – Quadrinhos de Ayar, la Leyenda Inka, Editora Tawa (2014)

Figura 3 – Capa dos livros Origen de los Incas – Sketchbook, 2004 e Origen y Fundación de

los Incas – Incary, 2007, editora Art Comics, ambas de autoria de Juan Carlos Silva.

Figura 4 – Página interna do livro Origen de los Incas, de Juan Carlos Silva, 2007, Art

Comics

Figura 5 – Página interna do livro Origen de los Incas, de Juan Carlos Silva, 2007, editora Art

Comics

Figura 6 – Tiras de jornal reproduzindo a historieta El origen de los Incas, de Juan Carlos

Silva, ano 2011.

Figura 7 – Super Juan, o Super herói peruano.

Figura 8 – Imagem de uma entrevista realizada ao historietista e sociólogo peruano Juan

Carlos Silva.

Figura 9 - Capa de 2 edições de Tupac Amaru, ano 1985, aqui construído como personagem

por Juan Acevedo

Figura 10 - Império Incaico no Mapa do Peru.

Figura 11 – Historieta El Mundo de Wayla, publicada na página da rede social Facebook,

retrata detalhes dos Incas e do idioma quipu.

Figura 12 – Campanha de inverno promovida em 2009 no Peru para ajudar as crianças que

faleciam por frio, a mesma foi elaborada na linguagem de historieta.

Figura 13 – Capa da primeira edição de El Tesoro de los Huamachucos, 2011, Gobierno de

Peru.

Figura 14 – Primeira página da historieta El Tesoiro de Los Huamachucos, 2011, Gobierno de

Peru.

Figura 15 – Página 2 da historieta El Tesoro de los Huamachuco, 2011, Gobierno de Perú.

Figura 16 – Revista eletrônica de historietas Characato Comics, na capa jovem com

indumentária caracterísitca do Peru, 2013.

Figura 17 – foto com peruanos lendo historietas, fonte sítio www.arkivperu.com

Figura 18 – página interna de NUEVA CRÓNICA Y BUEN GOBIERNO de Felipe Ayala.

Figura 19 – página interna de NUEVA CRÓNICA Y BUEN GOBIERNO de Felipe Ayala.

Figura 20 – página interna de NUEVA CRÓNICA Y BUEN GOBIERNO de Felipe Ayala

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Figura 21 – página interna de NUEVA CRÓNICA Y BUEN GOBIERNO de Felipe Ayala

Figura 22 – páginas internas de NUEVA CRÓNICA Y BUEN GOBIERNO de Felipe Ayala

Figura 23 – página interna de NUEVA CRÓNICA Y BUEN GOBIERNO de Felipe Ayala

Figura 24 – Página de Nueva Crónica y Buen Gobierno

Figura 25 – Capa e primeira página da primeira versão em historieta do herói de guerra

Miguel Grau. (1979, 90 pg., Ed. Marina de Guerra del Perú). Textos: Octavio Santa Cruz –

Desenhos: Luis Baldoceda E.

Figura 26 – Capa da revista Ayar, la leyenda de los inkas, número 3.

Figura 27 – Capa e primeira página de versão mais recente com o herói de guerra Miguel

Grau. GRAU El Combate de Angamos (2009, 28 pág., Ed. Andares, Sello Comix

Cultura)Texto: Luis Berrios – Desenhos: Ella Bravo.

Figura 28 – Imagem dos Super Heróis Peruanos.

Figura 29 – Capa de Miguel Grau Seminário.

Figura 30 - Capa e página interna de Grumete Grau – el niño de los mares (2004), Editora

Vuk.

Figura 31– Última Hora, ―El periódico de mayor circulación en el Peru‖, em outubro de 1952

anuncia ―personagens 100% nacionais‖.

Figura 32 – desenho de personagem de origem Inca criado por Pablo Marcos, desenhista

peruano reconhecido no mercado norte-americano de histórias em quadrinhos, desenhando

para as editoras Warren e Marvel durante a década de 70 do século XX.

Figura 33 – La Raza - Equipe de super-heróis peruanos, com características culturais do país

representada em suas roupas (Xcorpiona1, Descomunal

2, Chola Power

3, Guachy-man

4 y

Super-Mamacha5

no traço de José Luis Miranda).

Figura 34 – Historieta Super Cholo, publicado inicialmente no diário ―El Comercio‖ em 1957,

escrito por Diodoro Kronos e desenhado pelo austríaco Victor Honigman até 1966.

Figura 35 – capa do caderno dominical de cultura do Jornal El Comercio do Peru, Supercholo

repaginado para o século XXI, ao completar 55 anos, mas mantendo as características

culturais e de vestimentasperuanas.

Figura 36 – Imagens da historieta Pururauca escrita em quéchua.

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Figura 37 - A rebelião em Ollantay na luta pelo amor da princesa inca Cusi Coyllur

Figura 38 - Historieta educativa Historieta educativa sobre a vida do primeiro mestiço do Peru

"EL INCA GARCILASO DE LA VEGA

Figura 39 – Divulgação sobre a Historieta de Garcilaso de la Vega.

Figura 40 - Historieta educativa sobre Túpac Amaru.

Figura 41 – Imagem da divulgação da Historieta sobre o poeta peruano Mariano Melgar.

Figura 42 - Tradiciones Peruanas – Don Dimas Tijeretas

Figura 43 - Historieta baseada na vida e obra literária do grande poeta peruano Cesar Vallejo

Figura 44 - Capa de Paco Yunque adaptada por Juan Acevedo

Figura 45 - Obra de Cesar Vallejo adaptada por Juan Acevedo – Tema: o Bullying nas escolas

Figura 46 - Imagem da Historieta Dioses y hombres de Huarochirí.

Figura 47 – Imagem da reportagem da historieta e divulgação dos criadores do Manuscrito de

Huarochiri.

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SUMÁRIO

1 -INTRODUÇÃO .................................................................................................................. 13

2 – O PROCESSOCIVILIZADORPERUANO. ..................................................................... 19

3 – A HISTÓRIA DO PERU E A SUA EDUCAÇÃO ATÉ O SÉCULO XXI

...................................................................................................................................................34

3.1 – O ATO DE EDUCAR E AS HISTORIETAS..................................................................44

3.2 A EDUCAÇÃO E AS NUANCES PERUANAS QUE ESTAS

ACARRETAM. ........................................................................................................................ 55

4 – AS HISTÓRIAS EM QUADRINHOS E AS HISTORIETASPERUANAS

...................................................................................................................................................61

5 – AS HISTORIETAS E A INFLUENCIA LITERARIA PERUANA..........................,,,.....86

CONCLUSÃO. ...................................................................................................................... 105

REFERÊNCIAS ..................................................................................................................... 109

APÊNDICE. ........................................................................................................................... 114

QUESTIONÁRIOINVESTIGATIVO ................................................................................... 117

ANEXOS ............................................................................................................................... 121

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1. INTRODUÇÃO

O Peru é um dos principais países latino-americanos, possui rica tradição histórica e

uma civilização que já se encontrava bastante consolidada antes dos espanhóis chegarem

àquele país, essa consolidação se apresentava nas edificações dos prédios, nos cultos

religiosos, na organização de sua sociedade e também na educação.

Os Incas já habitavam aquele território, são parte indissociável da história do país,

estão intrinsecamente ligados a suas origens, sendo até anteriores a formalização do Peru

comonação.

O estudo da influência do povo Inca sobre os peruanos na atualidade colabora para

melhor entendermos a força que tal civilização tem até o presente sobre o povo do Peru, em

particular no que diz respeito à educação no século XXI.

Nosso trabalho busca estudar como, mesmo com o passar de séculos, a tradição

incaica se mantém viva e influente na atualidade, pautando desde as refeições diárias que vão

às mesas até o comportamento de todo um país.

O orgulho do passado e da tradição incaica se materializa na história do Peru, esta

prima pelo resgate e valorização dos seus antepassados, seja na cultura, nos hábitos ou nas

figuras históricas de relevo.

A civilização Inca teve relevância para a América, e para o Peru em particular, assim

como os Astecas e os Maias tiveram para México. Destacadamente, a educação na civilização

incaica foi responsável por raízes históricas importantes para esta nação.

Essa história, baseada em figuras incaicas e também nas nacionais de cunho heroico e

proeminente, cumpre função educacional nas escolas peruanas do século XXI, estão na forma

de educar apoiada em figuras de destaque histórico associada a valorização do construído

através da representação destes em histórias em quadrinhos (historietas6) que foram mudando

na forma e linguagem ao passar dos anos, mas preservando a intenção de educar na

ludicidade.

As historietas são vistas aqui em nossa pesquisa como parte integrante de políticas

educacionais que tem a finalidade de preservação da tradição histórica e da constituição do

homem peruano civilizado do século XXI.

6

As histórias em quadrinhos são chamadas por diversos nomes distintos nos mais variados países: tebeo na

Espanha, comics nos Estados Unidos, banda desenhada em Portugal, fumetti na Itália e mangá no Japão, apenas

para citar algunsexemplos.

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Enquanto nação consolidada a partir do processo civilizador que se desenvolveu neste

país, a abordaremos apoiados no uso das histórias em quadrinhos e seu uso nas escolas do

Peru.

Entendemos que as Historias em Quadrinhos não foram o único elemento que

influenciou na construção desse processo histórico que possui relação com a educação, mas

aqui exploraremos as possibilidades que esse instrumento possuiu nesta situação, bem como a

sua evolução como possível ferramenta pedagógica, vinculado a educação peruana.

Entre estas figuras heroicas se destaca na atualidade Miguel Grau, general peruano que

foi considerado um dos principais heróis do século XX deste país e retratado na forma de

histórias em quadrinhos publicadas pelo Centro Naval do Peru e depois por várias outras

editoras. Fato este que detalharemos em capítulo específico, que tratará da relevância do

mesmo como o mais importante vulto histórico adaptado aos quadrinhos com fins

educacionais no Peru.

Justificamos nossa opção de pesquisa por nossa nacionalidade. Sou peruana, estudei

na rede privada de ensino daquele país, vivo no Brasil desde 1989 e também leciono aqui, sou

professora de língua espanhola no Instituto Cervantes e cursei minha graduação e pós-

graduações em instituições de ensinobrasileiras.

A busca de uma análise científica do que vivi como estudante nas salas de aula do

Peru e de como isso deve ter se desdobrado, evoluído e potencializado ao passar dos anos me

motivou a seguir essecaminho.

A forte tradição que os antepassados dos peruanos seguem exercendo sobre aquele

povo se deu e se dá nas mais variadas formas, entre estas tive contato com as histórias em

quadrinhos ainda bem jovem e acho relevante o fato de a mesma seguir sendo uma referência

na área de aprendizado, inclusive tendo ampliado sua influência.

Meu contato não se deu inicialmente com historietas pensadas com fins educacionais

específicos, nem tão pouco com uma publicação originalmente peruana, mas através do título

Condorito, uma historieta chilena distribuída em vários países de língua espanhola latino-

americanos que segue sendo publicada até hoje.

O Condorito, ao lado de Mafalda, uma criação do argentino Quino, são personagens

consagrados e reconhecidos no imaginário dos latino-americanos de língua espanhola até os

dias atuais, tendo participado da formação de gerações.

Essa maneira de chegar ao mundo dos quadrinhos não é exclusiva minha, a maioria

das crianças acabam por encontrar com uma HQ em idade escolar ou até mesmo pré-escolar,

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vão ter contato com a leitura das imagens e com as primeiras letras e cores por esse

instrumento pedagógico não formal e, na maioria das vezes, também não intencionalmente

elaborado com essa finalidade por parte dos seus autores.

Possuímos ligação com o objeto, tenho nacionalidade peruana e vivi a minha infância

e adolescência a situação de habitar um país contagiado em todos os seus aspectos pelo

orgulho de ser parte da civilização e tradição incaica, o processo civilizador peruano tem sua

marca mais forte na presença dos Incas no passado de nosso povo e na defesa dessa herança

em contraposição ao legado do colonizador. Culturalmente, o peruano reivindica a ligação

com os Incas como sua verdadeira origem, maculada pelosespanhóis.

Na escola tive contato com as historietas que retratavam o general Miguel Grau, bem

como o tiveram membros de nossa família, conhecidos, amigos e outros. As histórias em

quadrinhos possuem tradição e importância no Peru, são muito vinculadas a análise e sátira

política e à retratação histórica, literária, e das lendas e/ou construção de personagens que

carregam essa herança.

No desdobramento disso obtive informações de políticas públicas educacionais

apoiadas em histórias em quadrinhos e no aumento do público leitor no Peru, inclusive

através da internet e suas redes sociais com diversas páginas construídas por artistas de meu

país.

Acabei por optar em tentar compreender mais e melhor a influência desse meio de

comunicação de massas entre os peruanos, como participam desse processo educacional e

qual o relevo da sua presença nomesmo.

Estudar a atualidade da edificação dos heróis, algo recorrente nas historietas, com o

corte específico de peculiaridades educacionais e culturais de hoje, nos ajudará a compreender

melhor o povo do Peru, a influência real que tal civilização tem até hoje nos peruanos e o que

ela mudou nos hábitos, no educar e ser educado, além das suas consequências para aquele país

no século XXI.

Mas não só, buscou também apresentar as políticas educacionais apoiadas em histórias

em quadrinhos que contenha a preservação da memória histórica construída na disciplina da

historia do Peru junto às novas gerações que frequentam as escolas do país.

Aqui buscamos responder a seguinte pergunta: as histórias em quadrinhos são parte

relevante da política educacional que objetiva a preservação da tradição histórica e da

construção do peruano civilizado do século XXI?

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Há uma percepção e ligação maior com o passado, na nossa história, no caso a do

Peru, do que aqui no Brasil a grosso modo, me parece que isso possui mais força, maior vulto

entre os peruanos do que entre osbrasileiros.

Digo isso por um maior culto e reconhecimento das figuras históricas e dos contextos

que antecedem a chegada do colonizador, visto os nativos como heróis e defensores de uma

tradição com o qual até hoje os peruanos se identificam.

Há de se destacar que as histórias em quadrinhos peruanas também apresentam relação

e retratação da literatura daquele país, seja transpondo contos locais ou retratando poemas ou

poetas e escritores daquela nação.

Então, as HQs podem ser parte das expressões culturais (junto com o cinema, a

literatura, o teatro, a música, as roupas e outros) que buscam retratar, valorizar, amplificar e

lembrar a história peruana, as características desse povo e de sua herança cultural.

Suas marcas (a exemplo do Super Cholo7

e La Chola Power8) e traços físicos e

culturais ali são explorados e, às vezes, até amplificados para demonstrar a diferença de ser

peruano em relação ao resto da América e do mundo.

O cholo é o mestiço entre o branco europeu e o índio peruano, ou aquele índio que

adota costumes ocidentais e os miscigena com os peruanos. Nos parece que a primeira

definição é a que está mais próxima ao que consideramos em uso nos dias de hoje do século

XXI no Peru.

Embora isso parta da valorização dos Incas e de sua tradição como a herança mais

expressiva e forte do Peru anterior à chegada dos espanhóis isso não basta, há toda uma

valorização de outros personagens, roupas, idiomas, palavras, expressões, estereótipos,

bebidas e várias outras coisas que os peruanos buscam manter no tempo presente em diálogo e

valorização de seu passado, por toda a força e elaboração que as civilizações anteriores aos

europeus têm e tiveram nesta nação e em seu povo.

Nosso objetivo geral é a construção de um estudo, das diferenças e semelhanças

presentes na civilização incaica e da memória cultural na educação dos dias de hoje no Peru

por meio das historietas.

Faremos isso a partir da análise das historietas, nosso objeto, que tratam sobre o tema.

A relação destas com a evolução da oferta de conhecimentos e idiomas na rede de ensino, em

sintonia com a valorização do passado, considerando que antigamente nem todas as escolas

7 Super Cholo foi criado por Víctor Honigman, con los guiones de Diodoros Kronos (Francisco Miró Quesada

C.), em1957 8

Super Chola foi criada por Martín Espinoza em2008

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peruanas ensinavam, por exemplo, o idioma quéchua, traço de uma herança culturas dos

antepassados peruanos que o tempo foi apagando e o Ministério da Educação daquele país

tem tentado retomar nos dias dehoje.

Partimos do objetivo específico para investigar a evolução da educação dos Incas até

os dias atuais do Peru, nos apoiando no que o Ministério da Educação criou e planejou para as

séries que formam o ensino fundamental e médio, além de fazermos a análise de materiais

didáticos que tenham relação com as histórias em quadrinhosperuanas.

Para responder estas provocações, apresentarei e analisarei no capítulo 1 de nossa

dissertação a construção do processo civilizador peruano e da relação entre os estabelecidos e

os outsiders deste país na sua antiguidade, anterior ao processo de colonização, o impacto da

chegada dos espanhóis e a mudança dessas relações, fizemos isso a partir da teoria de Norbert

Elias.

Aproveitaremos a relação com os povos e as lendas do Peru para ajudar a ampliar os

horizontes de possibilidades de estudos e ao melhor entendimento da profundidade e profusão

cultural herdada naquela nação pelos seus antepassados, isso foi feito aqui a partir dos estudos

e ideias de José Carlos Mariatégui.

Mariatégui nos auxiliou aqui dando um olhar histórico e educacional sobre o Peru dos

séculos anteriores, como por exemplo, no século 16 índio queria dizer no Peru, habitante da

América; depois, a partir do século 17, foi sinônimo de servo ou escravo. Para considerar a

importância dos senhores da terra, não bastava medir apenas a extensão de suas fazendas, mas

sim, sobretudo o número de seus índios.

Depois os índios passaram a ser cholos categoria ainda vigente no Peru de hoje, ainda

que sem a força que tinha em 1928. Nessa concepção, só se tratavam os índios como objetos,

isto nos ajuda a tornar acessível uma análise de conjuntura que embasa o melhor

entendimento de umarealidade.

No capítulo 2 trataremos da relação do processo civilizador com a educação e as

políticas educacionais peruanas do século XX e XXI. Com este fim estudaremos a utilização

das histórias em quadrinhos pelos professores e estudantes, diferenciando as pensadas e

publicadas com fim educacional claro e apoiadas pelo governo, em particular as que se

relacionam com os Incas e com as figuras históricas proeminentes do Peru.

Aqui abrimos um subitem específico para tratar de algumas experiências concretas da

utilização de histórias em quadrinhos na sala de aula, o fazemos através da análise de plano de

aulas de alguns professores e entrevista dos mesmos acerca da referida experiência.

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Tal estudo foi feito a partir de material do governo do Peru e de plano de aulas

adquiridas junto a professores de lá, já a pesquisa foi realizada através de e-mail em formato

de perguntas objetivas, no total de vinte, isso foi associado a análise de cartilhas que orientam

como usar as historias em quadrinhos em sala de aula e estudos sobre a relevância das

historietas no processo educacional desta nação, documentos estes disponíveis na internet e

no sítio do Ministério da Educação doPeru.

Já no capítulo 3 pesquisamos a origem das histórias em quadrinhos, o que são, quais

elementos as constituem e qual sua história, em particular dando destaque e diferenciando as

que são peruanas, as chamadas historietas, fazendo o resgate histórico e da sua memória

construída a partir de pesquisadores da área naquele país.

Aqui analisamos também a obra de Juan Acevedo, quadrinhista ainda vivo e que é

considerado a maior expressão das historietas peruanas, em particular é relevante os seus

trabalhos que possuem ligação com a história e memória cultural do Peru até os dias atuais,

sendo constantemente citado em estudos acadêmicos dessa nação e cultuado pela imprensa

peruana.

Nosso objetivo aqui é tornar acessível aos que não pesquisam histórias em quadrinhos

a linguagem e símbolos da mesma, suas representações e variáveis em que se apresenta para o

público leitor, explicar o que é o sistema que compõe uma história em quadrinhos, como ele é

recebido e digerido pelo leitor, além do impacto dos estudantes produzindo as historietas no

Peru, orientadas pela política educacional daquelanação.

Por fim, no capítulo 4 apresentamos a análise de conteúdo e imagens de várias

histórias em quadrinhos publicadas com foco no personagem histórico Miguel Grau e nas

cartilhas peruanas elaboradas para a utilização de historietas nas escolas daquelanação.

Articular historietas e educação, mostrar suas possibilidades educacionais e como esse

mundo foi ampliado e aprofundado nos últimos anos, acessar um país diferente do Brasil,

analisar e expor sua cultura e sua arte, aqui materializada nas histórias em quadrinhos, é a

contribuição que buscamos dar à história da educação.

O principal foco de nosso trabalho tem em vista o debate teórico e metodológico

envolvido no uso das historietas na educação e a análise da experiência educacional do Peru

vinculada ao uso dos quadrinhos.

Analisar HQs, discutir autores pouco estudados em solo brasileiro, dar acesso a

historietasnunca sequer publicadas no Brasil nos motiva nesse estudo que busca mostrar o

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quão amplo se tornou o universo de publicação de histórias em quadrinhos, bem como da

variedade quase infinita dos temas que estas abrangem nos dias de hoje.

No capítulo 5 que segue busco apresentar na maneira mais simples e objetiva possível

o Peru, a nação em que nasci e cresci, para pesquisadores de educação e histórias em

quadrinhos do mundo todo.

Já no capítulo 6 discutiremos a relação das historias em quadrinhos com a produção

literária peruana, seus pontos de convergência, assuntos e enfoques comuns e a importância

de analisa esta relação pela relevância da literatura peruana para sua história e seupovo.

Não há dúvidas das várias convergências entre Peru e Brasil, nações exploradas por

espanhóis em momentos diferentes de sua história, que viram seus povos terem hábitos,

línguas e religiões soterradas pela do colonizador que impôs seu domínio, não quis colonizar,

se miscigenar, mas conquistar e subjugar.

As histórias desses países se cruzam, por isso também utilizo pesquisadores brasileiros

quando trato da definição de histórias em quadrinhos e de várias facetas do debate

educacional.

Na minha opinião, a qual procuro corroborar cientificamente nas páginas que se

seguem, as historietas peruanas são uma clara representação da história de meu país, de seu

passado, do seu presente e do que pode vir a ser no futuro.

Entender que as mesmas são parte do processo educacional, que educam e formam

numa determinada perspectiva, mesmo quando sequer foram pensadas e desenhadas nesse

rumo, foi o que me motivou a voltar a literatura, a sala de aula e ao imaginário cultural da

nação em que nasci e cresci.

Tudo isso foi feito na intenção de contribuir para o debate acerca das possibilidades

educacionais contido no material pesquisado para o núcleo de Teoria e História da Educação

da Universidade Federal de Pernambuco – UFPE, onde desenvolvi esse trabalho na forma de

dissertação de mestrado sob orientação do Professor Dr. Vilde Menezes nos anos de 2014 a

2016.

2. O PROCESSO CIVILIZADORPERUANO

Aqui vamos analisar elementos na educação que demonstram a forte presença destas

particularidades na atualidade, como por exemplo, o uso das folhas de coca que os incas

consumiam, hoje em dia transformada em bala, chá ou até mesmo a própria folha da planta da

coca para combater o Soroche que é o mal-estar causado pela falta de oxigênio devido à

elevada altitude em Cusco.

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Os Incas são retratados recorrentemente nas histórias em quadrinhos peruanas,

exemplo recente disso é a obra Ayar, la leyenda9

criação de Óscar Barriga, Virginia Borja,

Kaimer Dolmos, Erly Almanza y Christian Ramos que possui alcance internacional e

penetração nas escolas peruanas.

Figura 1 – capa da revista Ayar, la leyenda de los inkas, Editora Tawa (2014)

Os autores peruanos transformaram a referida criação em produto de destaque

internacional, em Ayar representam os Incas como fortes homens, de pele bronzeada,

adereços e roupas elaborados. Há todo um cuidado com a imagem, a mesma apresenta na capa

um homem ereto, sério, mirando o horizonte, com os cabelos ao vento, há o estereótipo do

herói que se desenvolve e aprofunda durante ahistória.

Cabe ressaltar que os irmãos Ayar também fazem parte do imaginário peruano, são

uma lenda ligada à construção da linhagem Inca, antecedendo-a na região de Cusco a partir de

uma pequena comunidade ou tribo:

Esta lenda sobre a linhagem Inca, é mais antiga que a de Manco Cápac e Mama Ocllo e é mais confiável ainda por estar próxima ao pensamento andino.Estafoiselecionadaentreoutros,pelocronistaJuandeBetanzosno

9 O título se tornou uma referência internacional do Peru em HQs, tendo inclusive participado da SanDiego

Comic Con, tradicional evento da área nosEUA.

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ano de 1550 aproximadamente e escrita numa linguagem moderna pelo historiador Luis. E. Valcercely publicada em !984 na Historia do Peru antigo, Antes dos Incas Cusco era um povo que tinha 30 moradias habitadas por 30 ayllus cujo senhor deste povo se chama Alcaviza; os outros terrenos adjacentes eram apenas pântanos e a sete léguas deste encontra-se a colina Tamputoco ou Tambotoco que tem três cavernas. De uma delas... Pacaritambo (―Casa da Produção‖, ―Pousada do Amanhecer‖ ou "Casa do Enconderijo"), sairam quatro casais de irmãos e suas tribus: Ayar Cachi Y Mama Huaco, Ayar Uchu y Mama Ipacura o Cura, Ayar Auca e Mama Raua e Ayar Manco e Mama Ocllo (Sarmiento de Gamboa, 1943.cap.8).

Os Incas e as historietas não educam de hoje, pesquisadores da origem das histórias

em quadrinhos no Peru, a exemplo de Infantas, em seu livro Historietas de ayer...y de hoy,

argumentam que os primeiros a registrarem a história daquele país nos anos de 1500 o fizeram

em parte com representações artísticas que poderiam ser consideradas historietas por conter a

associação entre texto eimagem:

Ao redor do ano 1536, nascia em Ayacucho, Peru, Felipe Huamán Poma de

Ayala, o melhor dos cronistas indígenas da nossa história. Talvez não seja

tão interessante o estudo das 1296 páginas manuscritas que consta na obra de

Huáman, (quem se ocupa desde a pré-história peruana, até o ano 1615, envia

seu trabalho ao Rei de Espanha), como a análise de todos e cada um dos 398

desenhos com que ilustrou sua obra, a que segundo confissão do autor, lhe

tomou 30 anos de sua vida; e um ano mais, para passá-la "a limpo" para

apresentá-la devidamente ao monarca hispano. Tanto respeito tinha pelo Rei,

que não se atreveu a escrever a longa carta de presentação de sua obra, do

seu punho e letra, se não que contratou um experiente calígrafo da época,

que com belíssimos caráteres, copiou o ditado de Huamán, com data 14 de

fevereiro de 1615; carta que está conservada no Arquivo Geral das Índias,

emMadrid.

No seu livro, Huamán informa sobre os usos e costumes do Peru; e

sobretudo, dos abusos que se cometiam contra os indígenas, com a ideia de

que o Rei terminasse com tais injustiças. Por isso, algum cronista chama

Huamán "o Quixote índio"

Os desenhos de Huamán, têm um valor incalculável: não só porque o

cronista autor da " A Primeira Nova Crônica e Bom Governo" estivesse bem

dotado para diagramar corretamente sua obra, mas pelo peculiar estilo dos

seus desenhos, em que observamos curiosos detalhes. Por exemplo. ao

analisar o quadro 3, vemos como esse equivocado personagem chamado

"Felipillo". mostra uma cara de pícaro enganador e sem vergonha que

contrasta com a expressão ingenua de outros indígenas; e assim, cada um dos

seus desenhos merece o mais detalhado olhar, para valorizar devidamente

esta gigantesca obra. (INFANTAS, 1981,p.24)

A partir de tal experiência peruana que remonta mais de 500 de anos de

distanciamento histórico relacionamos com a construção do estereótipo do forte, do

referencialaseguir,datradiçãohistóricaqueprecisavaserlembradaequeémotivode

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orgulho para esse povo descendente dos incas, bem como da revolta histórica do trato violento

com os índios por parte do colonizador espanhol.

Aqui cabe destacar que diferente do Brasil e dos Estados Unidos, os peruanos têm uma

ligação mais sólida com o povo inca que antecede a ocupação de seu território antes da

colonização espanhola do país.

O povo Inca é descrito na literatura e nos livros de história do Peru e mesmo de outros

países como heroico, combatente, trabalhador, visionário e capaz de resistir bravamente à

colonização.

Embora tenha sido sumariamente destruído, possui uma ligação, uma presença sobre o

imaginário do Peru atual que os índios brasileiros e norte-americanos não têm na mesma

proporção em seus referidos países.

A relação de orgulho, reprodução de roupas, de hábitos (mesmo na atualidade), a

referência ao passado anterior a chegada do colonizador não possui semelhante nos países

citados.

Tanto no Brasil como nos Estados Unidos os índios se tornaram minoria (isso ocorreu

no Peru também), mas, diferente do país andino, nos dois não são um exemplo civilizacional

mais largo que seja seguido até a atualidade por seus povos.

Não há com os brasileiros e norte-americanos a busca da identidade com os povos que

ali habitavam antes de suas respectivas colonizações, ao menos não de maneira tão ampla e

enraizada como há no Peru.

As civilizações ali edificadas trabalharam bem a negação do passado e a inculcação de

novos valores, comportamentos, línguas e demais hábitos em geral. A minoria indígena não se

deu apenas na quantidade de sua população, se deu também na quantidade dos que buscam

identidade com esse passado.

A teoria eliasiana corrobora isso na obra Os Estabelecidos e os Outsiders: ―Um grupo

só pode estigmatizar o outro com eficácia quando está bem instaurado em questões de poder

dos quais o grupo estigmatizado é excluído‖. (ELIAS, 2000, p. 23)

E assim se deu o processo de estigmatização dos Incas pelos colonizadores espanhóis,

com os primeiros sendo excluídos da posição de poder da sociedade e tendo seus hábitos e

costumes desmontados, soterrados e combatidos pelos espanhóis.

E prossegue o autor:

A peça central dessa figuração é um equilíbrio instável de poder, com as

tensões que lhe são inerentes. Essa é também a precondição decisivade

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qualquer estigmatização eficaz de um grupo outsider por um grupo

estabelecido. Um grupo só pode estigmatizar outro com eficácia quando está

bem instalado em posições de poder das quais o grupo estigmatizado é

excluído. (ELIAS, 2000, p.23)

Nesse caso, os Incas saem da posição de estabelecidos na sociedade peruana pré-

colonial e se tornam outsiders na nova configuração com o colonizador espanhol ocupando o

papel de estabelecido.

Figura 2 – Quadrinho de Ayar, la Leyenda Inka, Editora Tawa (2014)

A afirmação de suas tradições, a vinculação com a capacidade que os Incas tiveram de

edificar em tempos tão distantes sua civilização, seus hábitos e seus costumes têm uma clara

admiração e uma busca de perpetuação destas características por parte expressiva dos

peruanos do séculoXXI.

Isso tudo pode ser observado na figura 2, a presença de trajes típicos que se

perpetuaram até os dias de hoje: chapéus, poncho que é um grande cobertor ricamente

colorido de lã de alpaca, saias coloridas de lã para as mulheres, casacos e bordados, bem

como o estilo de joias e a utilização de muitas cores nos trajes são heranças inegáveis do

período incaicoperuano.

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Aqui fazemos um estudo nos documentos10

do Ministério da Educação do Peru e nas

publicações que orientam o uso de historietas em ambiente escolar sobre a maneira como se

conduz o ensino sobre o período incaico aos estudantes peruanos na atualidade, entendendo

isso como parte da educação e da formação do processo civilizador de um povo.

Para tanto, levantamos a importância que estes têm para todo um país como referência

de comportamento e espelho de uma tradição que parece pautar os peruanos até o presente,

isso sendo feito através da ludicidade e do fácil acesso proporcionado pelas histórias em

quadrinhos daquele país.

Analisamos o aspecto dos hábitos e costumes peruanos bem como as mudanças das

tradições incas do Peru, materializadas na educação. Aqui cabe uma reflexão sobre a

formulação de Norbert Elias11

que não vê a construção da civilização e suas consequências

necessariamente como algo positivo já que a mesma também pode se prestar a destruir

culturas, costumes e hábitos que a antecedem.

Elias (1990), em particular no seu livro O PROCESSO CIVILIZADOR, estuda e

retrata as relações intraclasse e extraclasse existentes na construção do que hoje chamamos

civilização, neste trabalho se destaca o gesto de situar historicamente o processo civilizador e

a capacidade de estudar as contradições e detalhes que existe dentro de um mesmo setor, uma

mesma classesocial.

A partir deste autor buscamos analisar e entender a edificação da nação inca e seu

entrelace com o processo civilizador peruano, além de discutir os hábitos e costumes de todo

um império, como foram irradiados para além do núcleo de poder maior na sociedade incaica

chegando a influenciar de antes até os dias atuais do povo peruano.

Com isto, vamos estudar o passado e a maneira que os Incas são analisados e

apresentados nas escolas no Peru, formas de aprendizagem, comportamento social de acordo a

10

As Rutas de Aprendizaje são recuros metodológicos para o professor poder se guiar no ensino dediversos

temas através das HistorietasEducativas. 11

NorbertEliasfoiumsociólogoqueteveformaçãodebasenasáreasdamedicina,filosofia,psicologiae

sociologia, lecionou na Universidade de Heidelberg (1924-29) e na Universidade de Frankfurt (1939-33). A obra

Über der Prozess der Zivilisation. O autor analisa a formação e a consolidação dos estados na Europa e inter-

relaciona-a com as alterações nos padrões individuais de comportamento e de personalidade, recorrendo a

interessantes fontes ilustrativas, como sejam as das regras de etiqueta. Esta interdependência entre os indivíduos

e a sociedade em que vivem é recorrente nas obras de Elias e as suas consequências teóricas correspondem à

linha da figurational sociology com a qual o autor se identifica. As influências de Max Weber e de Freud são

detetáveis na sociologia de Elias. As suas obras principais: Über der Prozess der Zivilisation (1939); Die

Höfische Gesellschaft (1969); Was istSoziologie? (1970); The Loneliness of Dying (1982); Involvement and

Detachment (1986); Die Gesellschaft der Individuen; Studien über die Deutschen(1989).

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grau hierárquico entre os Incas e influência cultural incaica na sociedade peruana dentro do

campo educacional nos dias de hoje.

O fazemos dentro dos conceitos eliasianos de relacionamentos como teias que

entrelaçam vários matizes de diferentes aspectos de um povo, que caracterizam toda uma

complexidade e interdependência, como visto na obra Estabelecidos e Outsiders do autor.

(ELIAS, 2000)

Isso é muito marcante numa sociedade complexa como foi a Inca no Peru, com suas

fortes tradições, religiosidade, costumes alimentares e arte. Expressão disso é a construção de

todo um império, inclusive físico, pelos seus membros o que, em nossa opinião, demonstra

uma integração grande em volta de um projeto e de uma civilização que ia sendo edificada.

Elias nos ajuda ao explicar o funcionamento e evolução do que define uma civilização,

da inclusão gradual de conceitos, hábitos e práticas nas sociedades, passando a fazer parte do

cotidiano, da paisagem de cada uma dessas.

Crucial nisso é o sentido do processo civilizador para Elias, segundo Souza (2014), ao

analisar a obra eliasiana em relação ao processo civilizador:

De acordo com Elias, nada pode parecer menos ―incidental‖ ou considerado

como ―meramente histórico‖ 1 na vida social do que a trajetória traçada

pelos indivíduos ao longo do tempo. Na verdade todo esforço de nosso autor

em formular uma teoria dos processos sociais visa exatamente examinar essa

trajetória. De fato, esta problematização e sua compreensão são o

fundamento de toda a sociologia figuracional e foi desenvolvida, por

exemplo, de forma mais clara na sua obra ―A sociedade dos indivíduos‖. As

composições formadas pelas cadeias de acontecimentos, ao invés de

conformarem amontoados históricos, que vão unicamente se sucedendo uns

aos outros, dão início a processos sociais capazes de estabelecer figurações

entre os indivíduos: ―isso porque as estruturas da personalidade e da

sociedade evoluem em uma inter-relação indissolúvel‖ (Elias, 1994, p.221).

(SOUZA, 2014, p.5)

Utilizamos aqui o conceito e análise do processo civilizador para sublinhar a

civilização Inca na sociedade peruana e a importância que tiveram os detalhes e as nuances

absorvidas histórico e sociologicamente na construção do tecido social peruano:

Elias tenta captar como pode haver uma mutação civilizadora dos homens

através do estabelecimento de novas regras de comportamento. As formas da

vida cotidiana como comer, dormir, se comportar à mesa, falar em público

são as formas privilegiadas onde os desenvolvimentos das transformações

podem ser vistos de maneira gradual num sentido específico. A elaboração

de uma ampla teoria da civilização se inscreve dentro da teoria eliasiana

como instrumento de pesquisa analítico capaz de conectar civilização a

processos sociais, e fez com que o autor alemão fosse inserido dentro de um

campo disciplinar específico, dos estudos processuais de longa-duração.

(SOUZA, 2014, p.7)

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As regras de comportamento, a mudança civilizadora no Peru se deu com a chegada

do colonizador, sucedida pela introjeção de seus hábitos e costumes e, na sequência, a volta

da admiração e repercussão dos referidos hábitos e costumes incaicos pelos peruanos do

século XXI numa espécie de protesto e negação do colonizadorespanhol.

Aqui destacamos duas passagens de Brandão (2000) que nos ajudam a entender ainda

mais o processo civilizador na visão de Elias e a força dos costumes na construção dos

comportamentos ao passar dos séculos:

Quando visto como um processo de desenvolvimento do indivíduo, o

processo civilizador constitui uma mudança na conduta e sentimentos

humanos rumo a uma direção muito específica‘. Tais mudanças apesar de

não terem sido intencionais ou planejadas, não implicam uma `mera

seqüência de mudanças caóticas‘. Para explicitar a sua teoria dos processos

de civilização, Elias discute as relações sociais existentes nas sociedades

guerreira, feudal, de corte absolutista, terminando com o advento da

sociedade burguesa, sempre mostrando as relações de correspondência

ocorridas entre as transformações sociais e as alterações na estrutura

psicológica dos indivíduos dessas sociedades. (BRANDÃO, 2000,p.122)

Imaginemos aqui o poder da transformação social da chegada do colonizador e a

imposição de seus costumes, seus modos de vida sobre uma civilização já edificada, com

características já muito marcantes e firmes junto a seu povo.

O choque é inevitável, tal tradição e costumes se encontram submersos no povo

peruano, não apagados, mas ocultos pela força do império espanhol que se sobrepôs a cultura

e costumes incaicos já ali existentes. Para Brandão(2000):

O padrão de comportamento de uma dada sociedade é explicitado pelos seus

costumes, o qual pode entender como códigos específicos de

comportamento. Tais códigos surgem, inicialmente, em uma determinada

classe social, geralmente a classe social dominante, expressando a sua auto-

imagem.Progressivamente, esses códigos disseminam-se por extratos sociais

cada vez mais amplos. Concomitantemente à difusão desses códigos,

construindo um padrão psicológico moldado ‗sob pressão da tradição

institucionalizada e da situação vigente‘. (BRANDÃO, 2000,p.125)

Os códigos dos extratos sociais mais elevados dos Incas atingiam o conjunto da

população de seu Império, foram substituídos gradativamente pelos códigos espanhóis, mas se

mantiveram pressionando historicamente por sua volta a partir do sentimento peruano de

violação sofrida pelo colonizador.

Violação esta que ocorreu nos costumes, na cultura, na religião e no idioma, os

peruanos buscam o resgate de rica tradição anterior a invasão, o fazem nos mais variados

aspectos e meios de formação.

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Isso se dá nas tradições atualmente seguidas na sociedade peruana, como no aspecto

dos empréstimos linguísticos do idioma incaico quéchua12

, considerada segunda língua oficial

do Peru.

O uso da papa (um tubérculo oriundo dos incas) na culinária, comemorações de datas

festivas onde se seguem as tradições cerimônias ao Deus Sol, uso de trajes típicos, criações

artísticas no aspecto artesanal e arquitetônico, a domesticação das lhamas, vicunhas e alpacas

que são animais andinos tidos com meios de transporte na civilização incaica até os dias de

hoje.

Com a teoria eliasiana podemos estudar esta experiência que o Império viveu de

incorporar expressões culturais carregadas de significância e com ressonância em parte da

população que teve contato com essas ideias. Podemos analisar seu impacto na elite e nas

camadas populares.

O desafio proposto aqui nesta dissertação é de desvendar se na atualidade do século

XXI o ensino da história do Peru, no que se refere aos incas, os apresenta como uma

referência do ponto de vista comportamental e de hábitos a ser seguida ou negada.

Outro enfoque que buscarmos analisar é se o passado Inca se insere meramente na

cronologia da disciplina de História como algo a ser aprendido, mas não perpetuado, algo em

desuso ou superado no desenvolvimento do Peru dos dias de hoje.

12 Quéchua é um conceito com vários usos, que partem de uma mesma referência: os quéchuas eram aborígenes

que habitavam na zona de Cusco durante o processo de colonização do território que hoje pertence ao Peru.

Quéchua também é a língua que falavam povos do período incaico e que chegou, com distintas variantes, às

populações que hoje se identificam como quéchuas. Pode entender-se que o quéchua é uma família de línguas,

falada por cerca de dez milhões de habitantes da América do Sul. Hoje identifica-se povos quéchuas como sendo

os descendentes daquela etnia. Neste sentido, há populações quéchuas no Peru, Equador, Colômbia, Bolívia,

Chile e na Argentina, afincadas em geral na Cordilheira dosAndes

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Figura 3 – capa dos livros Origen de los Incas – Sketchbook, 2004 e Origen y Fundacion de los Incas –

Incary, 2007, editora Art Comics, ambas de autoria de Juan

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Figura 4 – Página interna do livro Origen de los Incas, de Juan Carlos Silva, 2007, Art Comics

Esta imagem representa a religiosidade dos incas que tinham com base o Deus Sol e a Pachamama que á

mãe terra. Podemos ver os trajes típicos dos homens incas num ambiente de natureza e gestos faciais de

seriedade no cuidado e valorização da terra em Machu Picchu, cidade histórica dos incas.

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Figura 5 – Página interna do livro Origen de los Incas, de Juan Carlos Silva, 2007, editora Art Comic.

Esta imagem representa a cultura, crenças e rituais religiosos dos Incas em Machu Picchu, como também

podemos ver os traços típicos indígenas pelos cabelos pretos lisos, olhos puxados, nariz e lábios grandes

como destaque fisionômicos dos incas.

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Figura 6 – tiras de jornal reproduzindo a historieta El origen de los Incas, de Juan Carlos Silva,

ano 2011.

Figura 7 - Super Juan é o super-herói peruano que veste um traje representando as cores da bandeira do

Peru vermelho que representa o sangue dos incas e dos heróis peruanos que lutaram e fizeram parte da

história do Peru e a cor branca que representa a paz alcançada depois de tempos de lutas pela

independência criado por Juan Carlos Silva

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Figura 8 - Imagem de uma entrevista realizada ao historietista peruano Juan Carlos Silva.

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Figura 9 – Capa de 2 edições de Túpac Amaru, ano 1985, aqui construído como personagem

por Juan Acevedo onde narra a historia do mesmo durante a colonização espanhola no Peru.

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As figuras de 3 a 6 são uma demonstração da produção de historietas peruanas que

tratam da temática anterior a chegada do colonizador espanhol. Retratam a figura do Inca e

dos seus descendentes para os mais variados formatos decomunicação.

A obra de Juan Carlos Silva na figura 3 nos mostra a origem dos Incas em formato de

álbum, cuida de retratá-los física e nas vestimentas tais qual eram, produz uma trama em tom

de aventura, como podemos ver nas figuras 4 e 5 abordando a visão mitológica e a histórica

da construção da cidade de Cuzco, podendo ser viável enquanto obra para a formação do

leitor acerca de seu passado, mas também para informação domesmo.

Já a figura 6 reflete essa proposta no formato chamado no Brasil de tiras, ideal para

publicação seriada em jornais de grande circulação, aqui ofertada em cores e com riqueza de

detalhes sobre lendas e histórias peruanas, atingindo público mais largo.

A obra Túpac Amaru de Juan Acevedo está presente na figura 9, o mito é atualizado,

mas mantendo nuances históricas e culturais, a proposta é chegar a um público maior com um

formato e conteúdo que mescla a história e a cultura com a fantasia.

Marca a obra o detalhismo com os trajes, a retratação de ruas, moradias, animais e

várias outras peculiaridades do período em que viveu Túpac Amaru, bem como a relação

conflitante com o colonizador espanhol.

3. A HISTÓRIA DO PERU E SUA EDUCAÇÃO ATÉ O SÉCULOXXI

Analisamos aqui o processo de ensino-aprendizagem através de seus procedimentos

metodológicos a partir dos documentos do Ministério da Educação do Peru que tratam deste

processo e das teses de José Carlos Mariátegui acerca do tema, bem como cartilhas de ONGs

e órgãos do governoperuano.

Há que se entender que o fato do Peru possuir uma civilização estruturada bem antes

dos demais povos da América Latina, parece ter acabado por ajudar na introjeção de um

orgulho desta herança e na perpetuação de rituais, músicas, artes em geral e hábitos durante

todos estes séculos.

Os Incas viveram no Peru nos anos de 1.100 até 1.532. Este império se estendia desde

as montanhas da Colômbia de hoje para o norte do Chile e Argentina, e da costa do Pacífico

para as florestas da Amazônia. Eles tinham uma civilização avançada, mas não tinham uma

linguagem escrita.

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35

Mariátegui (2010) nos apresenta toda a pujança daquele império, sua dimensão e

força, chegando a rivalizar com a população de um pequeno país na atualidade e o impacto do

colonizador sobre essarealidade:

A população do império incaico, conforme cálculos prudentes, não era

inferior a 10 milhões. A quem a faça subir para 12 e até 15 milhões. A

conquista foi, antes de tudo, uma tremenda carnificina. Os conquistadores

espanhóis, por conta de seu número escasso, não podiam impor seu domínio

senão aterrorizando a população indígena, na qual as armas e os cavalos dos

invasores produziram uma impressão supersticiosa, e esses passaram a ser

vistos como seres sobrenaturais. A organização política e econômica da

colônia, que se seguiu a conquista, não deu fim ao extermínio da raça

indígena. (MARIÁTEGUI, 2010, p. 61)

Aqui é possível entender como os colonizadores fizeram o desmonte de um povo e de

seus costumes, além do destaque que o autor dá a origem indígena, algo que orgulha os

peruanos até os dias de hoje, no século XXI.

Sua capital era em Cusco. Os Incas chamavam seu território Tawantinsuyu, que em

Quechua, a língua Inca, significa as quatro partes (no centro do Império Inca e dominava as

áreas que foram conquistados no comando dos chefes, os curacas).

Acreditava-se que os incas eram chamados pelos deuses para dar conhecimento a sua

civilização. Os pais eram os educadores por excelência entre o povo comum. Os homens

aprendiam a cultivar, caçar, fazer cerâmica e tecer, já as mulheres aprendiam a cozinhar,

limpar, e cuidar dos animais.

Os pais também transmitiam hábitos e atitudes, materializando um comportamento

social majoritário e, consequentemente, tido como o mais adequado devido à sua aceitação

entre a maioria da população. Esta educação tinha dois lados: positivo, de bons conselhos, e

corretivo (ou negativo), castigando-os quando violavam as pautas de comportamento

estabelecidas.

Aqui se estabeleciam relações de poder claras, com referências de comportamento,

conduta e valores a serem seguidos, ou na aplicação de punições aos que se negavam a aceitar

a ordem ali estabelecida.

Depois dos pais, os mais velhos constituíam o segundo nível pedagógico daquela

civilização. Sua influência educativa era enorme porque eram considerados portadores de

valores fundamentais como a experiência e o tempo.

Nessa civilização só os filhos da família real e dos nobres concorriam às escolas.

Acreditava-se que as ciências pertenciam somente a estes. Os mesmos eram a referência de

comportamento e hábito de toda uma sociedade.

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36

Tal configuração nos permite estabelecer relação com as teorias presentes na obra

Estabelecidos e Outsiders, Elias (2000), que analisa justamente essa distribuição desigual de

oportunidades e de saberes, bem como a referência a ser seguida de valores por todo o

conjunto de um povo contido em uma determinada sociedade.

A educação nas escolas se limitava à aprendizagem de conteúdos de memória.

Compreendia um extenso programa de religião, governo, civilidade, arte militar, cronologia,

história, educação dos filhos, poesia, música, filosofia e astrologia.

Os professores eram chamados de amautas, um sinônimo de sábio ou filósofo e eram

muito queridos e referências de comportamento naquela sociedade, cabe aqui um paralelo

com o papel do educador que o pedagogo Paulo Freire discute em sua obra Pedagogia do

Oprimido ressaltando a importância de uma relação de amor entre professores e estudantes no

sentido da devoção do primeiro e seu compromisso em colaborar ativamente para a ampliação

dos horizontes dos seus alunos, ajudando-os a se libertarem dos grilhões não literais que os

prendem nas limitações educacionais esociais.

Os amautas eram a personificação do prestígio educacional e a referência de educação

e civilização para os estudantes, espelhos da sociedade e instrumentos para viabilizar a

aceitação dos alunos junto a esta.

As escolas se concentravam em um bairro de Cusco e eram denominadas Yacha huaci,

ou casa de aprendizagem.Ali viviam os professores amautas e os havarec, ou poetas. Toda

esta aprendizagem era feita somente com a ajuda dos quipus, ou contas de nós, onde

registravam sua história, sua legislação, sua demografia e os depósitos e gastos estatais. No

Estado, a economia inca era acima de tudo agrária e baseada no plantio de batata e milho.

Figura 10 – Império Incaico no Mapa do Peru

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No mapa do Peru podemos observar a divisão territorial do Império Incaico que

conformavam o Estado O Tahuantinsuyo, dividida em quatro regiões e províncias: Amtisuyo,

Chinchaysuyo, Coitasuyo e Contisuyo em Cusco e os principais lideres incas dessas regiões

foram: Pachacutec, Cápac Yupanqui, Tupac Yupanqui e Huayna Cápac.

Essa breve introdução ao que foram os Incas e sua relação com a educação nos ajudará

a apontar o processo civilizador que, a partir da civilização inca, adquiriu forte nuances que

transpuseram os séculos no Peru.

O processo que aqui estudamos formou uma civilização que colaborou na formação de

uma particularidade, uma forma de educar fortemente influenciada pelas tradições incaicas,

exemplo disso foi na Matemática.

O império Inca se originou da junção de grupos indígenas que tiveram em comum

governo, religião e idioma, mas que possuíram origens culturais distintas, este era

heterogêneo. Este fato, não só influenciou o aspecto cultural, mas também o desenvolvimento

da matemática inca.

A grandeza da civilização Inca não se evidenciou apenas em suas técnicas de

engenharia, mas também na maneira como esta civilização organizou seu Estado, criando,

para tanto, um sistema de cordas – os quipus – para registro alfanumérico, usados nos séculos

XV e XVI para codificar suas informações e resolver problemas numéricos. (ASCHER M. &

ASCHER, R.1981).

Os quipus podem ser descritos como um sistema formado pela reunião de cordas de

diversas cores com nós. A análise das cores, do posicionamento das cordas e dos nós

constituem elementos de origem lógico numérica. (ASCHER, M. & ASCHRE R. 1981)

Apesar de não terem usado um sistema de escrita que representasse a palavra falada,

especula-se a existência da escrita Runa Simi na cultura inca, até então considerada

oficialmente como ágrafa, ou seja, não possui escrita ou não possui registro. (ACEVEDO,

1994)

Esta escrita fundamenta-se na tríplice equivalência entre os números, que são

representados por nós (laços) nos quipus, certos caracteres geométricos desenhados em

tecidos e cerâmicas e as dez consoantes do idioma inca, Quechua. (ASCHER M. & ASCHER

R.1981)

Esta hipótese faz desta linguagem, por sua característica alfanumérica, algo

inexplicável até agora e de grande importância na investigação etnomatemática e antropo

histórica, porque permite avançar na decodificação dos quipus (ACEVEDO, 1994)

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Observou-se que um quipu tem uma corda que é mais grossa que as demais,

denominada corda principal e da qual estão suspensas outras cordas. Quando se estende a

corda principal sobre uma superfície plana, a maioria das cordas direcionam-se para baixo,

estas denominam-se cordas pendentes.

O espaçamento de um nó, relativo a outro, indica a diferença de valores entre eles. A

cor das cordas é fator muito importante, pois cores diferentes podem representar diferentes

tipos de dados, esta notação pelas cores assemelha-se à notação matemática de variáveis reais

representadas por letras.

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Figura 11 – Historieta El Mundo de Wayla, publicada na página da rede social Facebook, retrata detalhes

dos Incas e do idioma quipu.

O armazenamento de grande quantidade de dados em quipus poderia, certamente, ter

servido como uma forma de escrita, e tal uso explicaria, parcialmente, a falta de evidentes

formas familiares de escrita. É evidente que o quipu só era inelegível para quem o tinha feito,

ou para quem havia sido transmitido oralmente o significado que se tinha dado a cada um dos

cordões.

Os quipus incaicos possuíam suas características qualitativas pelo uso de cada cordão

horizontal e vertical. Os cordões horizontais representavam grupos contábeis, cuja finalidade

era o registro de fenômenos de mesma natureza, como por exemplo, a cobrança de tributos, os

estoques, os recenseamentos, etc.

A historieta El Mundo de Wayra mostra ao leitor de maneira bem-humorada o passado

pré-colonial peruano, citando inclusive os quipus e retratando figuras religiosas, tradições,

vestimentas e costumes do período.

(Ascher M. & Ascher R, 1981), relata que os quipucamayocs possuíam grande

conhecimento matemático para poder construir, interpretar e transmitir as informações

contidas nos quipus. Estes permitiam registrar qualquer informação de interesse Inca, sendo

usado como uma espécie de banco de dados.

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Cada Ayllu13

Inca era responsável pela confecção de seus quipus, que entregues aos

chefes Kurakas e Tukrikuks eram enviados ao Inca soberano.Estes novos quipus eram então

comparados ao outro, feito anteriormente a este, e somente de posse do novo quipu era

possível analisar o que foi produzido e o que foi consumido neste espaço de tempo.

Também destacamos a importância no nosso trabalho de colaborar na elucidação de

questões de como se transmitiu o conhecimento adquirido na civilização incaica até hoje no

Peru e como era o processo educacional no período Inca e como é transmitida a história e

costumes dessa civilização hoje nas escolas públicas de Lima.

Em função de nossas questões é importante ressaltar que recentemente o quéchua e o

aimara foram declaradas línguas oficiais no Estado de Puno onde 41% da população da

região sudeste de Puno fala quéchua e 30%, aimara. A oficialização de ambas línguas está

prevista na Constituiçãoperuana14

.

Universidades públicas e privadas da região altiplana incorporarão progressivamente o

ensino dos idiomas quéchua e aimara com o objetivo de reivindicar a identidade e tradição sul

do país.

Esta normativa foi promulgada pelo Governo Regional de Puno a través da Portaria

Regional Nº 017-2011-GRP-CRP que abarca não somente as casas de estudo, mas também

para os colégios. Neste sentido se dispõe que seja a Gerência de Desenvolvimento Social, em

coordenação com a Direção Regional de Educação de Puno (DRE) e as universidades

públicas e privadas as que promovam o ensino de ambosidiomas.

O objetivo da portaria é que ambos idiomas sejam valorizados para a sua preservação.

Promover a sua prática nas 13 províncias da região e em entidades públicas sem excluir o

idioma espanhol dentro do curriculum regional.

No tocante à preservação destes idiomas, é determinado dentro do marco do artigo

2do. Inciso 19 da Constituição Política do Estado, cita que toda pessoa tem direito: "a su

identidad étnica y cultural. El Estado reconoce y protege la pluralidad étnica y cultural de la

Nación".(PERU, 1993, p.3)

No dia 18 de novembro de 1985, mediante a Resolução Ministerial No. 1218-85-ED,

foi oficializado o alfabeto quéchua e aimara, assim como, as normas de ortografia e pontuação

para a escrita de ambos idiomas.

13

O ayllu é a forma incaica da ―comunidade‖, constitutida a partit de estruturas deparentesco. 14

Em27demaiode1975,oPresidenteJuanVelascoAlvaradocomDecretoLeiN°21156,declarouoidioma

Quéchua como Idioma Oficial do Peru e com a Lei Nº 25260 em 19 de junho de 1990 foi criada a Academia

Mayor de la Lengua Quechua, com base na Academia Peruana de la Lengua Quéchua

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O estudo do quéchua é obrigatório em algumas escolas e será implantada através de

um projeto educativo institucional que elabore práticas pedagógicas, planejamento de

atividades, execução de projetos docentes, que gerem permanentes espaços para as

comunidades falantes com o intuito de incorporar o uso da línguaindígena.

O Ministério de Cultura, através do Vice ministério de Interculturidade e o Governo

Regional de Puno já estão coordenando uma série de ações para promover as línguas

indígenas no planejamento educativo regional com colaboração do ministério dentro de um

enfoque intercultural para ser implementado nestaregião.

O papel do índio só é retomado na história da construção da independência do Peru, no

ano de 1872, aqui estes foram chamados a participar de maneira auxiliar, e lhes prometeram

direitos e conquistas se a empreitada tivesse êxito, algo que ficou só na promessa mesmo:

A revolução da independência não constituiu, como se sabe, um movimento

indígena. Foi promovida e aproveitada pelos criollos15

e também pelos

espanhóis das colônias. Mas aproveitou o apoio da massa indígena. E, além disso, alguns índios ilustrados como Pumacahua tiveram papel importante na sua gestação. O programa liberal da revolução compreendia logicamente a redenção do índio, consequência automática da aplicação de seus postulados igualitários. E assim, entre os primeiros atos da república, contaram-se várias leis e decretos favoráveis aos índios. Foi ordenada a repartição das terras, a abolição dos trabalhos gratuitos, etc; mas como a

revolução não representou no Peru o advento de uma classe dirigente, todas essas disposições ficaram somente escritas, com a falta de governantes capaz de aplicá-las. A aristocracia latifundiária da colônia, dona do poder, conservou intactos seus direitos feudais sobre a terra e, por consequência, sobre o índio. Todas as disposições aparentemente dirigidas para protegê-lo nada puderam contra o feudalismo subsistente até hoje. (MARIÁTEGUI, 2010, p. 62)

A república não veio a melhorar a condição do indígena, o autor destaca a economia

baseada em moldes feudais até o século XX, apoiada nos latifundiários peruanos, mudou o

regime, mas não quem o dirigia.

Enquanto vice-reinado era um regime medieval e estrangeiro, a república é,

formalmente, um regime peruano e liberal. A república tem, por

conseguinte, deveres que o vice-reinado não tinha. A república devia elevar

a condição do índio. E, contrariando seu dever, a república pauperizou o

índio, agravou sua opressão e exasperou sua miséria. A república significou

para os índios a ascensão da nova classe dominante com costume e alma

agrárias, que se apropriou sistematicamente de suas terras. Em uma raça com

costumeealmaagrárias,comoaraçaindígena,essedespojofoiacausade

15 Criollos cruzamento do invasor com o indígena. O Sangue ibérico e quéchua tinha misturado uma corrente

copiosa de sangue africano. Mais tarde, a importação de cules representaria a essa mistura um pouco de sangue

asiático. Havendo assim vários tipos de criollos, mestiços. A palavra criollo não é nada mais que um termo que

nos serve para designar genericamente uma pluralidade, muito matizada, de mestiços. (MARIÁTEGUI, 2010, p.

313)

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uma dissolução material e moral. A terra sempre foi toda a alegria do índio. O índio despossou a terra. Sente que ―a vida vem da terra‖ e volta a terra. Finalmente, o índio pode ser indiferente a tudo, menos a posse da terra que suas mãos e seu alento lavraram e fecundaram religiosamente. O feudalismo criollo se comportou, a esse respeito, de forma mais ávida e dura que o feudalismo espanhol. No geral, o encomendero criollo tem todos os defeitos do plebeu e nenhuma das virtudes do fidalgo. A servidão do índio, em suma, não diminuiu sobre a república. Todas as revoltas, todas as tempestades do índio, foram afogadas em sangue. As reivindicações desesperadas do índio

sempre foram dadas uma resposta marcial. O silêncio da puna16

logo guardou segredo trágico dessas respostas. A república restaurou, finalmente

sob o título de conscrição viária, o regime das mitas17

. (MARIÁTEGUI, 2010, p. 63)

Há mudança do algoz, sai o colonizador que dirigia o vice-reino e entra o criollo, o

mestiço que passa a exercer o papel de opressor na nova configuração dada. O índio segue

oprimido e vai tendo seu espaço cada vez mais diminuído, bem como seus direitos.

A reorganização da economia peruana vai se dando progressivamente após a

proclamação da república no país, ali vai se consolidando o aspecto econômico e o formato de

Estado de tipo capitalista. Segue a visão do autor sobre os primeiros movimentos deste

episódio histórico:

O período de reorganização econômica do país sobre bases civilistas, inaugurado em 1895 pelo governo de Piérola, trouxe um período de revisão do regime e dos métodos de ensino. Recomeçava o trabalho de formação de

uma economia capitalista interrompido pela guerra de 187918

e suas consequências e, portanto, se colocava o problema de adaptar gradualmente a instrução pública às necessidades dessa economia em desenvolvimento. (MARAITÉGUI, 2010, p.125)

Por fim, segue um balanço do começo da república sobre o olhar de Mariátegui,

inclusive tratando do professorado do país e das relações da nação com a população indígena

nesses primeiros cem anos:

O balanço do primeiro século da república se fecha, no que diz respeito à

educação pública, com um enorme passivo. O problema do analfabetismo

indígena está quase intacto. O Estado até hoje não consegue difundir a escola

em todo o território da república. A desproporção entre seus meios e o

tamanho da tarefa é enorme. Para efetivação do modesto programa de

educação popular, autorizado pelo orçamento, não existe quantidade

16

Altiplanos andinos são uma grande extensão de terreno nos Andes, situada a altitude; planalto. Os altiplanos

têm origem a partir da aparição não simultânea de duas serras que são paralelas entre ambas serras, quando

elevadas, geram mesetas mediante a acumulação de sedimentos ou de materiais de tipo vulcânico localizado no

sul peruano, no norte chileno, no oeste boliviano e no noroeste argentino. Com uma altitude em média de 3.800

metros sobre o nível do mar, esta meseta conta com uma transcendência desde o ponto de vista histórico por ter

sido um lugar de assentamento de importantes culturaspré-colombianas. 17

Mita era um tributo obrigatório na sociedade. Era una forma de homenagem ao governo Inca que eraobtido

através do trabalho em comum. 18

Guerra entre o Peru e a Bolívia, de um lado, e o Chile, de outro. Conhecida como Guerra doPacífico.

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suficiente de professores. A porcentagem de normalistas entre o pessoal do ensino primário alcança menos de 20%. Os rendimentos atuais das Escolas Normais não permitem muitas ilusões sobre as possibilidades de resolver esse problema em um prazo mais ou menos curto. A carreira de professor do ensino primário, ainda sujeito no Peru aos vexames e contaminações do

gamonalismo19

e do caciquismo mais estúpidos e prepotentes, é uma carreira

de miséria. Ainda não é assegurada aos professores uma estabilidade nem mesmo relativa. A queixa de um representante no congresso, acostumado a encontrar os professores integrados em seu séquito submisso, pesa no critério oficial mais que a folha de serviços de um professor correto e digno. (MARIÁTEGUI, 2010, p.160)

Curiosamente, os peruanos hoje valorizam e cultuam seu passado indígena, a origem

que historicamente foi combatida e oprimida pelos seus antepassados e, antes disso, pelo

colonizador. Aos poucos vai se fortalecendo uma visão diferenciada, expressa nos

documentos do Ministério da Educação do Peru dianteque:

Os professores utilizarão como materias de apoio As Diretrizes de

aprendizagem distribuidas pelo Ministerio de Educação nas seguintes áreas do

DCN:

Niveis Diretrizes de Aprendizagem

Educação Infantil

Matemática

Comunicação

Ciência e Meio Ambiente

Ensino Fundamental

Matemática

Comunicação

Ensino Médio

Matemática

Comunicação

Ciência, Tecnología e Meio Ambiente

Historia, Geografía e Economía

A equipe directiva supervisiona o uso das diretrizes de aprendizagem, que lhe

corresponde:

- Organizar reuniões com os professores para revisar e analisar as diretrizes

deaprendizagem.

- Orientar aos profesores no planejamento das aprendizagens a partir do uso

das diretrizes deaprendizagem.

19 O gamonalismo é um caciquismo rural e primitivo que se mantém pela influência do dinheiro, por medo ou

ameaça. Trata de controlar o destino político rural de sua comunidade e dos governantes sob qualquer ideologia

com o intuito de obter o poderlocal.

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- Programar as ações de acompanhamento e realimentação que deve realizar

do desempenho docente sobre a incorporação de orientações pedagógicas

e didáticas estabelecidas nas diretrizes deaprendizaje.

- As diretrizes de aprendizagem mencionadas são compatíveis com as

tarefas do currículum da Educação Básica Regular do DCN. Contém

padrões de aprendizagem, as competências por módulo e as capacidades e

indicadores de desempenho por série; além de propostas metodológicas e

exemplos para o planejamento e a condução de sessões de aprendizagem

(MINEDU 2015, p.20),

3.1 O ato de educar e ashistorietas

Do ponto de vista metodológico, a proposta organiza o ensino e a aprendizagem da

língua a partir de suas características semânticas, entendendo que a construção de uma

linguagem está diretamente relacionada com os significados cultural das pessoas que o

utilizam. A proposta visa também a formação de ensino e aprendizagem da língua materna.

No currículo para cada idioma deve se considerar essas particularidades linguísticas,

assumindo a flexibilidade que se exigem em diferentes contextos para a sua implementação

incorporando elementos correspondentes ao conhecimento cultural da língua em estudo.

Aqui trataremos de precisar a alteração, o processo de mudança e transformação na

maneira de educar. Para tanto traçaremos um paralelo entre a escola incaica e a atual,

analisaremos o que se propagou, os recursos educacionais dos incas no modo de educar de

hoje e o peso da influência do orgulho nacional de descender de uma civilização tão

previamente estruturada.

Como dito antes, nosso objetivo geral é o de traçar um paralelo no estudo das

diferenças e similaridades da civilização incaica e a educação atual no Peru a partir da análise

das histórias em quadrinhos que tratam sobre o tema, considerando que no passado nem todas

as escolas peruanas ensinavam o quéchua.

Para tanto, partimos do objetivo específico de estabelecer um paralelo na presença e

alteração da educação oriunda dos incas até a atualidade no Peru apoiado no que o Ministério

da Educação do Peru elabora e planeja para as séries que compõe o ensino fundamental e

médio, bem como a análise de materiais didáticos e paradidáticos que dialoguem com as

historietas peruanas.

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Além disso, analisamos a realidade histórica e experiências pedagógicas práticas

daquele país com o objetivo específico de colaborar na ampliação da compreensão do

contexto em que nossa pesquisa foidesenvolvida.

Tal iniciativa se faz presente também em histórias em quadrinhos que discutem o

quéchua, sua história, aplicação e importância para o povo peruano.As mesmas cumprem o

objetivo de tornar o ensinamento do idioma mais palatável e acessível às parcelas mais

expressivas dos estudantes.

Entendemos isso como parte do processo histórico de uma nação que possui na

atualidade grandes traços de influência e orgulho de serem herdeiros destas tradições,

exemplo disso são algumas escolas peruanas com nomes incaicos: Waricocha, Atahualpa,

YupaYupanqui.

Partindo da análise dos dados (material coletado do Ministério da Educação do Peru,

planos de aula de professores das escolas peruanas e questionários para responder sobre as

suas experiências de ensino com o uso das Historias em quadrinhos em sala de aula com os

mesmos), vamos expor aqui a presença da civilização incaica no período atual na rede de

ensino demonstrando a perpetuação do legado incaico até o século XXI no âmbito da

educação.

Nesse ínterim trabalhamos o estudo de como essa civilização é tratada nas salas de

aula da capital do Peru a partir das histórias em quadrinhos. Considerando a influência

literária incaica cujas características principais foram: a inexistência da escrita, presença de

anonimato na individualização, atitude classista, a poesia unida com a música e dança,

tendências agrarista e coletivista, caráter panteísta e cosmogônico nos gêneros líricos e

teatrais da épocaincaica.

Para efetivar nosso objetivo de pesquisa fizemos um estudo por análise do conteúdo

apoiada nas teorias de Bardin (2009) e das histórias em quadrinhos no conjunto das

disciplinas ministradas nas referidas escolas da capitalperuana.

A autora nos ajuda a compreender que uma pesquisa, para ser exitosa, não precisa

necessariamente analisar todo o corpo documental acerca de um tema, precisa ter foco, não é

qualquer material analisado que viabiliza uma amostragem:

Nem todo o material de análise é susceptível de dar lugar a uma

amostragem, e, nesse caso, mais vale abstermos-nos e reduzir o

próprio universo (e, portanto, o alcance da análise) se este for

demasiado importante (BARD67IN, 2009,p.123).

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Neste caso, mais vale uma mostra precisa, algo que circunscreva a análise, do que um

espectro excessivamente amplo, que distorça seu foco ou apresente elementos que não

possuem a necessária relevância.

Com esse fim selecionamos várias histórias em quadrinhos peruanas (historietas) com

temática ligada as origens históricas e a questão nacional peruana: Miguel Grau/ Grumete

Grau, Ayar, la leyenda inka, Túpac Amaru, Characato Cómics, Nueva Crónica y Buen

Gobierno que são temas educacionais abordados na disciplina de Historia do Peru nas escolas

peruanas nos dias de hoje.

Nosso foco principal recai sobre as historietas, é estimulada sua confecção pelos

estudantes e há políticas educacionais de incentivo a leitura e aquisição das mesmas para as

escolas e para seus estudantes também.

Fizemos também a análise dos planos de aula a partir de um questionário com uma das

autoras dos mesmos. Analisamos a intersecção disso com as historietas peruanas, seu uso em

sala de aula, como esta se insere na escola e como é vista por docentes e discentes na

colaboração da construção da educação e perpetuação das tradições desta nação.

Nos propusemos estudar algumas escolas do Peru com o intuito de analisar a forma e

com quais recursos pedagógico-didáticos se transmitem essas tradições e os conceitos da

civilização incaica e da construção dos heróis contemporâneos a partir dos quadrinhos na

atualidade.

A partir da coleta de dados acreditamos ter a possibilidade de aprofundar o proposto

em nossas análises, buscamos fazê-lo a partir da sistematização das mesmas e do

aprofundamento do estudo da educação peruana no período incaico até a atualidade apoiados

na bibliografia proposta e nos desdobramentos e ampliações possíveis da mesma.

Nos parece fundamental entrelaçar os dados levantados por análise de conteúdo,

estudo e avaliação do que é proposto pelo Ministério da Educação do Peru, assim acreditamos

ter um espectro mais amplo de como as tradições e a educação incaica ainda se apresenta no

séculoXXI.

Exemplo disso é a cartilha Cómo usar la historieta en la escuela, publicada pela

Calandria – Asociación de Comunicadores Sociales do Peru com apoio da Agência

Canadense para o Desenvolvimento Internacional.

O material parte de um artigo de Albarracín publicado sobre o tema em uma revista de

comunicação e aqui sistematizado como cartilha de orientação didática, ajuda na utilização

das historietas no processo de ensino eaprendizagem.

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Este também discute as historietas enquanto aliado do processo pedagógico na

construção do processo de aprendizagem e da reflexão de seus alunos e alunas em sala de aula

nas idades de crianças e adolescentes:

Ademais, a historieta é também um importante aliado de muitos docentes

que buscam gerar processos de aprendizagem a partir da reflexão, a análise e

o relato sobre o mundo que vivem os meninos, meninas e adolescentes.

(ALBARRACÍN, 2008, p.01)

Para o autor as histórias em quadrinhos peruanas facilitam as crianças a expressarem o

que sentem, a externarem sentimentos que não conseguem expor em palavras ou mesmo em

gestos:

Que o garoto e garota conte o que sente numa conversa nem sempre é

possível, pois muitas coisas não podem ser verbalizadas ou expressadas na

presença de testimunhas. Conheçer adolescentes a partir da leitura de suas

criações é uma maneira menos rigorosa e mais ambigua, mas por sua vez

mais rica e profunda de ingressar ao seu mundo pessoal. A criação de

historietas pode ajudar a que o ou a docente se aproxime às subjetividades

dos seus estudantes. (ALBARRACÍN, 2008, p. 02)

A cartilha sobre como usar as historietas em sala de aula elaborada por Albarracín, não

se atem a superfície da discussão da elaboração das historietas pelos estudantes, em particular

os mais novos, este teoriza as possiblidades ali contidas, a ampliação de sentimentos e

expressões contidas em cada criança ou jovem. Além disso, explica e disseca o potencial das

mesmas vinculando ao debate das histórias e seu reflexo nas pessoas:

Porque contar e escuchar historias é uma maneira prazerosa de dar-nos a

conhecer e de conhecer os outros. E a historieta tem a virtude de proteger-

nos da sombra dos nossos medos e sonhos, e ao mesmo tempo, radiar toda

luz que seja preciso para ver a nos mesmos e para que nos vejam, sem correr

riscos. A historieta pode fazer da expressão privada, desenhada na nossa

intimidade, uma comunicação pública exposta em paredes ou passada de

mão em mão, sem que para isso tenhamos que nos expos em lugares

públicos. Ademais, oferece aos meninos, as meninas e adolescentes

possibilidades de criar personagens e encarnar neles suas ideais e sensações,

caricaturizar seres que os atormentem ou idealizar entes que admiram.

Finalmente, é un meio ao alcançe de todos e todas, só é preciso papel e lápis

e vontade de aprender uma linguagem simples. (ALBARRACÍN, 2008, p.2)

Atribui as histórias em quadrinhos a importância de ser um possível instrumento de

análise do seu cotidiano local, um entretenimento com o potencial de ser desdobrado em algo

que seja parte do processo educacionsal, onde o ludico se torna um potencializador da

interpretação do local em que vivem, das coisas ao redor.

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Albarracín propõe que isso esteja vinculado as mais variadas forma de entretenimento

e comunicacao disponiveis no cotidiano do estudante, vincula isso a necessidade de existir um

planejamento permanete dessas ações e destaca que as mesmas não preciosam estar contidas

todo o tempo em salas deaula:

Não é só um meio de comunicação massiva, uma linguagem para

profissionais ou gente com desejos de sê-lo, senão também uma via para a

catarses e o entretenimento da criança de uma vila rural, a adolescente da

escola pública urbana ou o jovem que está para termina o segundo grau na

escola. Porém, é fundamental apresentar-lhes um tema ou uma pergunta que

lhes provoque pensar, reagir, e criar partindo do que vivem e do que veem a

seu redor, procurando que os meninos, meninas e adolescentes, não se olhem

ou pensem isoladamente, senão em relação com seu entorno: família, sua

escola, seu bairro, sua comunidade, seu país. É a chave da criação e

apresentação constante de iniciativas de comunicação na escola que

impliquem num desafio à imaginação e criatividade de meninos, meninas e

adolescentes, tendo em conta a capacidade para aprender e dialogar com

outras pessoas e a capacidade de iniciativa e ação dos mesmos. As iniciativas

podem empregar, de maneira complementaria, uma série de recursos e meios

de comunicação: historietas, vídeos, cartazes, conversas em praças e

mercados e cabines, etc. E é indispensável que as iniciativas sejam flexíveis

e inovadoras, de maneira que sejam enriquecidas na interação com os

estudantes, seus interlocutores e os cidadãos em geral; com o proposito final

que sejam iniciativas apropriadas para eles. (ALBARRACÍN, 2008,p.3)

Aqui podemos remeter também a Freire (1968) na sua Pedagogia do Oprimido,

quando imprime um processo educacional no Brasil a partir da aproximação dos analfabetos

partindo de detalhes de seu cotidiano e vida para que acessem o aprendizado, porexemplo.

O chamado método Paulo Freire parte de palavras geradoras e da proximidade com o o

contexto do estudante, a ideia de formar utilizando o que lhe provém prazer ou lhe remete a

lembranças recentes na lógica da associação como um potencializador da formação.

O contato inicial e direto que estabelecemos com a comunidade é durante a

pesquisa do universo vocabular — etapa realizada no campo e que é a

primeira do Sistema Paulo Freire de Educação de Adultos. . - Não é uma

pesquisa de alto rigor científico, não vamos testar nenhuma hipótese. Trata-

se de uma pesquisa simples que tem como objetivo imediato a obtenção dos

vocábulos mais usados pela população a se alfabetizar‖ (Conscientização e

Alfabetização) (FREIRE, apude BRANDÃO,1981, p.25)

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Figura 12 – campanha de inverno promovida em 2009 no Peru para ajudar as crianças que faleciam por

frio, a mesma foi elaborada na linguagem de historieta.

Voltando a Albarracín, o cuidado que o autor tem em seu artigo transformado em

cartilha quando trata do uso das HQs como uma possível forma de expressão mais livre dos

estudantes enquanto crianças e jovens é algo único. O autor chega a propor que as mesmas,

aquelas que são produzidas pelos estudantes, sejam acolhidas com ampla abertura pelos

adultos, em particular os que estão em posição de governo ou outro posto com poder, como a

igreja e os diretores de escola, o faz na intenção de ajudar num entendimento mais amplo dos

pensamentos e sentimentos dos jovens, mais presentes no papel do que na fala, nos gestos e

noolhar:

Também é fundamental motivar o interesse das autoridades, os diretores de

escolas, as instituições culturais, os pais e as mães de família, os líderes da

comunidade e o público em geral por aquilo que meninos e meninas e

adolescentes expressam em suas historietas. Dessa forma completarão o

círculo comunicativo: as historietas não são o final do processo, senão

também o ponto de partida para um diálogo onde outros adolescentes e

adultos podem comunicar-se a partir das histórias contadas e os sentimentos

expressados. Em síntese, promover na cidadania o interesse pelo que

crianças e adolescente pensam e sentem sobre o país, abrindo espaços de

comunicação e debate ao redor de suas historietas. Isso sim, propiciando um

clima de absoluta liberdade e um olhar tolerante à diversidade de pontos de

vista e estéticas. Por que, como sabemos adolescentes e jovens não são

massa homogênea, senão sujeitos com rostos, ideais sensibilidades e gostos

diversos. (ALBARRACÍN, 2008, p.4)

Outro exemplo é o título El Tesoro de los Huamachucos, parte da coleção Vive tu

Patrimonio publicada pelo Ministério da Cultura do Peru. Criada por Blademiro Yupanqui

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Baca e Pedro Chuquipoma Moreno, a publicação teve sua primeira edição em 2011 com

possibilidade de ser baixada gratuitamente pela internet ou enviada por correio mediante

solicitação.

Com uma apresentação do chefe do departamento de Marcahuamachuco que se propõe

leve a historieta cumpre bem a função de explicar onde está situada a região histórica que

analisa.

Cabe também destacar que foge do formato mais conservador e esquemático de

cartilha, possui textos mais leves e desenhos mais dinâmicos, para além da mera reprodução

de longas citações históricas, embora ora ou outra o faça umpouco.

Ou seja, é mais palatável, mas não sai totalmente do formato educacional. Para nós

parece que não era a proposta sair, não caberia numa produção pensada e direcionada para um

público que é já descrito na apresentação:

Caros leitores,

Nós apresentamos o primeiro número da coleção Viva o seu património e ao

fazê-lo, queremos evitar formalidades desnecessárias. A intenção da equipe

que concebeu esta proposta é que esta historieta seja de agrado a todos, mas

certamente o nosso maior desejo é aos estudantes, trabalhadores e jovens em

geral, porque são vocês, principalmente, que merecem uma estrada plana

para aproximar-se ao mundo do nosso patrimóniocultural.

Uma das virtudes básicas da historieta é entreter seus leitores. Usando este

recurso fantástico no O Tesouro dos Huamachucos (número 1 e seguintes)

quero que vocês saibam que o processo compreende a origem, a ascensão e

declínio de uma cultura que, até hoje, 1500 anos depois, levanta muitas

perguntas mais do que respostas. Assim, nós também queremos compartilhar

o trabalho que realiza a Unidade executora Marcahuamachuco e algumas

recomendações para ajudar os cidadãos do nosso património arqueológico.

Nós não queremos cair em clichês de ressentimento e frustração, mas é

inegável que a sociedade contemporânea, principalmente nas grandes

cidades, ignora ou olha de soslaio para o valor das nossas culturas nativas,

onde surgiu este maravilhoso país e às vezes que tem recebido atenção foi no

geral para o deleite de uma classe ilustrada, certamente, mas também

distante dos ensinamentos do nosso passado. Com esta iniciativa, desta Terra

Clássica de Patriotas, convidamos vocês a ser parte de uma aventura que lhes

permita, ademais de evitar os problemas cotidianos, envolver-se no

conhecimento do nosso passado com profunda raizandina.

Os personagens que habitam nestas páginas são de tinta e papel, mas

acreditam na inteligência e grandeza dos nossos antepassados. Eles estão

orgulhosos desse legado e sabem que devemos valorizá-lo e defendê-lo com

convicção e com alegria.

Aqueles que têm preocupações artísticas, sugerimos que vocês adicionem

alguma cor a esta história. Podem usar como uma orientação as cores da

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capa. Com o seu trabalho, não só mostraram a criatividade de vocês, mas

também o amor e respeito pelo nosso património cultural.

Então vamos, mochila em mão, ao encontro dos nossos antepassados, seu

processo histórico, e o futuro que temos hoje em nossas mãos.

Huamachuco, dezembro de 2011

Guillermo Rebaza Jara

JEFE UNIDAD EJECUTORA

MARCAHUAMACHUCO

Logo na referida apresentação fica proposto que a historieta desenvolvida em preto e

branco poderia ser até colorida por quem a lê, além disso, é ressaltado o papel artístico e de

divertimento.

Figura 13 – capa da primeira edição de El Tesoro de los Huamachucos, 2011. Gobierno de Perú.

Também se propõe a fazer o resgate histórico, curiosamente questiona a memória

recente peruana para com o seu passado histórico e sua preservação, algo que nos parece até

mais forte entre os naturais do Peru do que do Brasil, por exemplo.

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A dinâmica adotada nahistorieta é de quebrar o formato convencional de educação

propondo que o leitor participe da aventura (daí a já citada ideia de até pintá-la), que se sinta

imerso na HQ, parte dela.

Para tanto os autores tiveram o cuidado de dar forma e conteúdo aos personagens que

preservam os traços físicos, trejeitos, vestimentas e detalhes peruanos, na busca do leitor se

identificando com os personagens.

Figura 14 – Primeira página da historieta El Tesoiro de Los Huamachucos, 2011, Gobierno de Peru.

Além disso, construíram uma narrativa leve, com desenhos mais dinâmicos, próximos

ao estilo dos desenhos para o público pré-adolescente ou adolescente presentes nas histórias

em quadrinhos europeias, por exemplo.

Um passeio de família ao sítio histórico é a prerrogativa que direciona a história,

conduzida por uma mãe e um pai que querem introduzir seus filhos na história do país a partir

do contato com memórias arqueológicas preservadas.

A ideia é mostrar a surpresa perante o sítio visitado, todo seu conteúdo, sua

imponência, a relevância de um passado que possui um destaque histórico que precisa e deve

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ser reconhecido. Aqui isso está estampado no rosto das crianças e também dos adultos logo ao

chegar às ruínas arqueológicas, como podemos ver na figura 13.

A historieta possui 32 páginas mais as apresentações e dados complementares, em

vários momentos os personagens se dirigem ao leitor, por toda obra permeia o formato de

cartilha, de incentivar a formação, embora o faça de maneira mais leve que a grande maioria

das cartilhas publicadas no Peru nas décadas de finais do século XX, e também no Brasil no

período dos governos militares.

Os desenhos são simples, sem sombras, mas bastante detalhista quando reproduz

características tipicamente peruanas, animais, roupas, adereços e artefatos históricos presentes

nas ruínas. O traço está próximo do direcionado ao público infantil, com figuras mais

caricatas e com alguns exageros propositais nasexpressões.

Na nossa avaliação há excesso de texto, a historieta peca ao utilizar muito deles nos

balões e nos recordatórios20

. Este recurso, inclusive, foi sendo gradativamente cada vez menos

presente nas HQs.

20

Exemplo de recordatório é o texto introdutório da página 1, não é vinculado a nenhum personagem, é

como uma voz externa que contextualiza o momento em que se encontra aHQ.

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Figura 15 – Página 2 da historieta El Tesoro de los Huamachuco, 2011, Gobierno de Perú

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Há de se ter um cuidado para não simplificar o que seriam as HQs e como poderiam

ser lidas, de algo sempre simples e quase bobo é equivocada, como bem analisa o professor

Waldomiro Vergueiro(2015):

A ideia de a leitura dos quadrinhos é fácil, não oferece dificuldade ao leitor,

normalmente identificado como uma criança ou uma pessoa que possui nível

cultural ou educativo baixo, é incorreta. Forma narrativa peculiar, a história

em quadrinhos sustenta-se no amálgama sígnico formado pelo sintagma

narrativo imagem-texto, que se representa em escalas diferentes (do

predomínio absoluto do elemento pictórico à preponderância da palavra). O

texto pode explicar o imagético, complementar ou redundar a imagem e esta,

por sua vez, serve de ilustração para o verbal ou, a partir dele, criar mundos,

personagens e situações. O texto pode determinar o fluxo narrativo,

enquanto a imagem assume um papel estético. Por outro lado, a palavra

possui muitas vezes uma função informativa. Essa interação torna-se ainda

mais complexa, uma vez que a palavra e o desenho se encontram em uma

relação de sequencialidade, de complementariedade, seja no espaço unitário

da vinheta, seja no conjunto dos vários quadrinhos que forma a totalidade do

relato, em uma página ou em uma publicação (revista, álbum, graphic novel)

inteira. Dessa forma, a narrativa dos quadrinhos exige vários tipos de leitura

por parte de seu público. (VERGUEIRO, 2015,p.34-35)

Há várias leituras possíveis de serem feitas de uma HQ, a obra aqui ofertada pelo

governo do Peru não foge a essa regra. As possibilidades de interpretá-la e usá-la ou não em

um contexto escolar são um claro exemplo disso.

Por outro lado, consegue manter um tom leve, com humor e desenhos agradáveis

visualmente. Prende a atenção do leitor e se insere próximo dos desenhos e argumentos mais

modernos das histórias em quadrinhos. É uma simbiose no geral exitosa entre cartilha

formativa e boa HQ.

3.2 A educação e as nuances peruanas que estacarrega

Escrever sobre a educação de outro país que não o Brasil já não é uma tarefa fácil,

mais difícil ainda é apresentar o panorama das políticas educacionais e estrutura de ensino

desta outra nação, mesmo sendo uma da qual sou natural, visto que não vivo mais lá e que o

leitor nunca teve contato com aquela realidade distinta em vários aspectos dabrasileira.

Mariátegui (2010) nos apresenta detalhes desse panorama peruano, a origem dessa

educação e quais influências a guiam no processo de sua edificação e consolidação enquanto

política:

Três influências se sucedem no processo de educação na república: a

influência, ou melhor, dito, a herança espanhola, a influência francesa e a

influência estadunidense. Mas só a espanhola alcança, no seu tempo, um

domínio completo. As outras duas se inserem de maneira medíocre no

quadro espanhol, sem alterar demasiado suas linhasfundamentais.

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A história da educação pública no Peru divide-se assim nos três períodos que

assinalam essas três influências. Os limites de cada período não são muito

precisos. Mas no Peru esse é um defeito comum a quase todos os fenômenos

e a quase todas as coisas. Até nos homens é raro se observar um contorno

claro, um perfil categórico. Tudo sempre aparece um pouco apagado, um

pouco confuso.

No processo de educação pública, como em outros aspectos de nossa vida,

constata-se a superposição de elementos estrangeiros combinados,

insuficientemente aclimatados. O problema está nas próprias raízes deste

Peru filho da conquista. Não somos um povo que assimila as ideias e os

homens de outras nacionalidades, impregnando-as de seu sentimento e de

seu ambiente, o que desse modo enriquece sem deformar, seu espírito

nacional. Somos um povo no qual convivem, no entanto, sem fundir ainda,

sem se entender, indígenas e conquistadores. A república se sente e até se

confessa solidária com o vice-reinado. Como o vice-reinado, a república é o

Peru dos colonizadores, mais que dos nativos, O sentimento e o interesse de

quatro quintos da população quase não jogam nenhum papel na formação da

nacionalidade e de suasinstituições.

A educação nacional, por conseguinte, não tem um espírito nacional: em vez

disso tem um espírito colonial e colonizador. Quando, em seus programas de

educação pública, o Estado refere-se aos índios, não se refere a eles como

peruanos iguais aos demais. Considera-os como uma raça inferior. Nesse

terreno, a república não se diferencia do vice-reinado.

A Espanha nos legou, entretanto, um sentido aristocrático e um conceito

eclesiástico e literário do ensino. Dentro desse conceito, que fechava as

portas da universidade aos mestiços, a cultura era um privilégio de casta. O

povo não tinha direito à instrução. O ensino tinha como objetivo formar

clérigos e doutores.

A revolução da independência, alimentada da ideologia jacobina, produziu

temporariamente a adoção dos princípios igualitários. Mas esse igualitarismo

verbal não tinha em vista, realmente, senão o criollo. Ignorava o índio. A

república, além do mais, nascia na miséria. Não podia se permitir o luxo de

uma ampla política educacional.

(...) O governo de 1831, que decretou a gratuidade do ensino, fundamentava

essa medida, que não chegou a ser aplicada, na notória decadência das

fortunas particulares que tinha reduzido inúmeros país de família à amarga

situação de não lhes ser possível dar aos seus filhos a educação ilustrada,

frustrando-se muitos jovens de talentos.

O que preocupava esse governo não era a necessidade de colocar esse grau

de instrução ao alcance do povo. Era, segundo suas próprias palavras, a

urgência de resolver um problema das famílias que haviam sofrido uma

diminuição em sua fortuna. (MARIÁTEGUI, 2010, p. 115 –117)

A relação entre os índios e o governo peruano, seja no vice-reinado ou na república,

sempre é um ponto crucial na análise da realidade peruana. A maneira como foi relegado se

faz presente em vários aspectos, inclusive na educação que se constrói na transição dos

regimes.

O autor retoma o tema quando trata dos privilégios na educação como reflexo dos

privilégios em geral que uma parte minoritária da população tinha em função de sua posição

social e da riqueza que acumulava:

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A herança espanhola não era exclusivamente uma herança psicológica e

intelectual.Era, antes de tudo, uma herança econômica e social. O privilégio

da educação persistia pela simples razão de que persistia o privilégio da

riqueza e da casta. O conceito aristocrático e literário da educação

correspondia integralmente a um regime e a uma economia feudais. A

revolução da independência não tinha liquidado esse regime e essa economia

no Peru.Não podia, portanto, ter cancelado suas ideias peculiares sobre o

ensino. (MARIÁTEGUI, 2010, p. 117)

Mariátegui retoma esse tema do formato feudal persistente na república como

catalisador dos interesses e do comportamento das políticas em relação aos índios no que

tange aos mais variados aspectos, entre estes a educação excludente e focada em uma parcela

restrita dasociedade.

A medida que a república ia se consolidando, ia adquirindo traços capitalistas, buscava

diversificação de referências para a construção de uma educação que servisse a esse novo

momento. O autor nos apresenta isso:

A república herdou do vice-reinado, isto é, de um regime feudal e

aristocrático, suas instituições e métodos de instrução pública, procurou na

França os modelos de reforma do ensino tão logo – esboçada a organização

de uma economia e de uma classe capitalista – a gestão do Estado adquiriu

algum impulso progressista e alguma aptidão ordenadora.

Dessa maneira, aos vícios originais da herança espanhola se acrescentaram

os defeitos da influência francesa que, em vez de atenuar e corrigir a

conceituação literária e retórica do ensino transmitido à república pelo vice-

reinado, veio acomplicá-lo.

(...) A influência francesa ainda não está liquidada. Sobram dela ainda

muitos resíduos nos programas e, sobretudo, no espírito do ensino

secundário e superior. Mas seu ciclo se concluiu com a adoção de modelos

estadunidenses que caracterizam as últimas reformas. Seu balanço, pois,

pode ser feito. Já sabemos com antecipação que apresenta um enorme

passivo. Deve-se colocar na sua conta a responsabilidade pelo predomínio

das profissões liberais. Impotente para preparar uma classe dirigente apta e

sã, o ensino teve, no Peru, para um critério rigorosamente histórico, o vício

fundamental da sua incongruência com as necessidades da evolução da

economia nacional e de seu esquecimento da existência do fator indígena.

Ou seja, o mesmo vício que encontramos em quase todo o processo político

da república. (MARIÁTEGUI, 2010, p. 122,124)

Sendo assim, a proliferação de fontes em que bebeu a recém-proclamada república não

resolveu de imediato os problemas educacionais, mas ao menos sinalizou na busca de um

referencial e de uma alternativa educacional viável, ouve a intenção de ir ordenando a partir

do que ia se edificando no novo regime a partir da consolidação das bases econômicas e do

modelo de naçãocapitalista.

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No ano de 2015 o governo peruano estabeleceu novas orientações acerca de sua

educação, estas foram sistematizadas enquanto documento e se encontram disponíveis no sítio

do Ministério da Educação do Peru.

Há de se destacar a importância de o Ministério fazer a crítica ao formato anterior da

educação peruana, de se dispor a analisar de maneira mais profunda a realidade educacional e

as consequências disso para sua população:

A nova política curricular busca consolidar um caminho, iniciado de várias

décadas, para deixar atrás um ensino memorístico e repetitivo.Se propões

avançar ao alcance de oito aprendizagens fundamentais, que exigem o

desenvolvimento da capacidade de pensar e atuar sobre distintos campos da

realidade. Todos eles demandam competências no âmbito do

desenvolvimento pessoal, a cidadania, a comunicação, a matemática, as

ciências, a arte e o empreendimento, assim como para o desenvolvimento e o

cuidado do corpo. (MINEDU/PERU)

Destacamos também a ênfase dada ao desenvolvimento individual e a cidadania, além

de registrar a presença da arte já no texto de abertura do documento, o que mostra uma

ampliação da visão das possibilidades educacionais.

A comunicação aparece como chave para educação, o que casa bem com o que propõe

Albarracín (2008) referente à cartilha sobre o uso das historias em quadrinhos em sala de aula,

quando discute as possibilidades educacionais nas mesmas como meio de comunicação que

colabora na viabilização de uma maior expressão do sentimento por parte das crianças e

jovens.

As historietas se tornam um mediador da expressão de sentimentos quando os alunos

não conseguem expressar plenamente seus pensamentos a través de palavras ou escritos de

maior complexidade argumentativa, mas o conseguem de maneira expressiva nos desenhos e

textos curtos que compõe uma historia em quadrinhos.

Mais uma vez o Ministério da Educação do Peru destaca a arte, a relação com esta,

seja na produção ou na apreciação, e a necessidade da interação com outras pessoas e com a

ciência para o desenvolvimento pleno do cidadão desde ainfância:

Da mesma forma, têm que aprender a comunicar-se eficientemente através

de distintas linguagens, uma competência indispensável para seu

desenvolvimento pessoal e para a convivência social. Não é menos

importante que consigam expressar-se artisticamente e aproveitar os

produtos da arte, e que saibam usar a ciência e a tecnologia para melhorar a

capacidade de vida das pessoas, assim como, na matemática, na vida

cotidiana, como também, no trabalho e na própria ciência e tecnologia.

(MINEDU/PERU)

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Figura 16 – Revista eletrônica de historietas Characato Comics, na capa jovem com indumentária

caracterísitca do Peru, 2013.

Ainda quando se trata da infância, o Ministério da Educação Peruano expressa toda a

necessidade da relação da arte com o aprendizado, da interpretação da realidade que o cerca a

partir de convivência, leitura e cultura, entendendo essa como diversa e interrelacionada:

Do mesmo modo, estimular a expressão artística será tão importante como

estimular as suas habilidades comunicativas e matemáticas básicas.

Também, será promovido o desenvolvimento e motivação para alcançar

metas, assim como, desenvolver a habilidade para interrogar a realidade e

elaborar explicações aos fenômenos que despertemcuriosidade.

As crianças podem mostrar maiores progressos nas oitos aprendizagens ao

concluir o primeiro grau. Por exemplo, na competência da leitura, eles

podem localizar informações em diversos textos com vários elementos

complexos na sua estrutura e vocabulário variado, poderão construir

organizadores gráficos (mapas conceituais e mapas semânticos) e resumos

do conteúdo desses textos, entre outrasconquistas.

Na competência sobre convivência, poderão explicar, por exemplo, a origem

dos costumes dos companheiros de diferentes culturas, rejeitar situações

onde seus amigos ou ele mesmo tenha feito mal a alguém; e propor ações

para recuperar a confiança quando se tenha perdido, entre outras

realizações..(MINEDU/PERU)

O Ministério também mostra compreender educação como mudança, como uma

alteração na pessoa em função do contato com novas informações, possibilidades e formas

queseapresentamnaescolaenoatodeeducar,fazumainteressanteconsideraçãosobreo

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porquê vários que convivem num mesmo ambiente podem crescer e ter compreensões

diferenciadas:

Em qualquer idade, a aprendizagem é uma mudança relativamente

permanente no comportamento, no pensamento de todas as pessoas, a

consequência da experiência e de sua interação consciente com o entorno em

que vive com outras pessoas. Desde a infância até a maior idade, temos a

aptidão de registrar, analisar, raciocinar e valorizar nossas experiências,

transformado nossas percepções e deduções em reconhecimento.Crianças,

adolescentes, jovens e adultos aprendemos sempre desse modo e o fazemos a

partir das nossas próprias possibilidades, dos saberes que temos colhido

previamente em nossas experiências do mundo e de nossas emoções. Nossa

identidade e nossa colheita representam os filtros através dos quais

selecionamos, valorizamos e incorporamos em cada experiência,

transformando-a em aprendizagem.Nossa própria trajetória e personalidade,

nossos afetos e preferencias, são também filtros importantes, que

influenciam na nossa maneira de raciocinar e valorizar nossas experiências.

É por isto que dois pessoas que incluso pertencem à mesma família, cultura,

grupo social, território e época podem produzir conhecimentos distintos na

mesma experiência.(MINEDU/PERU)

Por fim, o governo peruano apresenta nos documentos do Ministério da Educação a

importância e sua definição de escola, o faz relacionando isso com o todo que o cerca e

defendendo a necessidade de relacionamento entre essas partes:

A escola oferece numerosas oportunidades formais e não formais de

aprendizagem que cruzam distintos âmbitos. Na sala de aula, os processos

pedagógicos que se desenvolvem ao longo do ano escolar apontam

intencionalmente à conquista de determinadas aprendizagens, predefinidos

pelo curriculum. Fora da aula ou dentro das atividades acadêmicas, as

relações cotidianas que configuram a convivência com outros estudantes,

com os docentes e com a equipe de funcionários, são também uma fonte

importante de aprendizagem social (MINEDU/PERU)

A educação é apresentada como algo que se realiza na escola, mas não só ela. Bem

como é feita a defesa de uma educação formal necessária, mas acompanhada de processos não

formais de aprendizagem reconhecidos pelo Ministério como relevante e parte do processo

educacional.

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Figura 17 – Foto com peruanos lendo historietas.

4. AS HISTÓRIAS EM QUADRINHOS E AS HISTORIETASPERUANAS

Os quadrinhos têm tomado um papel de destaque na cultura de nossos dias. Em pleno

século XXI ocupam espaço expressivo na mídia, geram produções cinematográficas, inspiram

roupas e artefatos para casa, se tornaram algo plasmado aos dias que ora vivemos.

Uma interessante definição do que seriam as Histórias em Quadrinhos se faz presente

logo no início da cartilha Cómo usar la historieta en la escuela, produzida a partir de artigo

deAlbarracín:

Materialmente a historieta não é mais que tinta sobre papel, porém sua magia

reside na capacidade para moldar, com esses elementos, um complexo

mundo de representações que tem encantado crianças, jovens e adultos por

mais de 100 anos. A essência de uma historieta é contar uma história através

de uma linguagem composta - como os demais meios gráficos – de imágens

(disenhadas) e, opcionalmente, textos escritos, organizados no espaço que

lhes oferece a página de papel. (ALBARRACÍN, 2008, p.01).

Outra definição que dialoga com as HQs enquanto sistema complexo é a de Vergueiro

e Elísio (2015) na obra A Linguagem dos Quadrinhos: estudos de estética, linguística e

semiótica:

A história em quadrinhos é um sistema narrativo formado de dois códigos de

signos gráficos:

- a imagem, obtida pelosdesenhos;

- a linguagemescrita Essa definição dá conta, por um lado, dos dois códigos que atuam para

compor a linguagem dos quadrinhos, e, por outro, de seu caráter de

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narrativa, aspecto que considera essencial. (VERGUEIRO; ELÍSIO, 2015, p.

15)

Mas como devemos analisá-las, lê-las? Quais os elementos as constituem para além do

binômio imagem e texto, descrito acima? Há várias definições e interpretações do que seria

uma história em quadrinhos, algumas consagradas, porém várias delas refletem o contexto das

HQs no país em que a mesma foi definida.

Nos parece uma análise mais acurada a do professor Cagnin, esta foi revisitada

recentemente na obra dos professores Vergueiro e Elísio (2015) que busca dissecar os

elementos e linguagens constitutivas dessa forma de arte:

Ao se debruçar sobre os elementos constitutivos das histórias em quadrinhos,

Cagnin analisa separadamente os elementos constitutivos da imagem, com

destaque para percepção visual, os contextos, as possibilidades de leitura da

imagem, os meios expressivos (abrangendo planos, os ângulos, as

perspectivas), os estilos de desenhos etc. Não o faz com o sentido de separar

um elemento do outro, mas apenas como estratégia metodológica,

enfatizando que deve-se ter ―sempre em mente a função da

complementaridade que os une‖ (CAGNIN, 1975, p. 32). Dessa forma, ele

dá destaque especial para percepção visual, salientando que ―a imagem

visual é produto de estímulos luminosos que, partindo do objeto, atingem a

retina‖ (CAGNIN, 1975,p.38).

(...) Para Cagnin, outro aspecto que interfere diretamente na leitura de

imagens, especialmente no caso das histórias em quadrinhos, diz respeito aos

contextos, que podem ser intra, inter e extra-icônicos.

O primeiro relaciona-se com os diferentes elementos da imagem; o segundo

envolve a relação entre as imagens associadas e o terceiro relaciona a

imagem específica com elementos de natureza diversa, como tempo, idade,

instrução etc.(...)

(...) Quanto ao papel do texto nas histórias em quadrinhos, Cagnin destaca as

funções do elemento linguístico e as formas de apresentação do texto, que

pode ocorrer nos vários tipos de balão, nas legendas, nas onomatopeias, e no

título. Em relação as funções de linguagem, aponta, baseado em Barthes (a

de fixação, ou seja, a que possibilita a delimitação de um significado único

entre os muitos que a imagem, sozinha, possibilita; e a de ligação, em que

palavra e imagem se encontram em uma situação complementar. Apresenta

também os diversos tipos de balão e as onomatopeias, elementos que

ocupam papel destacado na narrativa quadrinística. (VERGUEIRO; ELÍSIO,

2015, p. 16,17)

Partindo de um sintagma narrativo entre os códigos descritos por Cagnin (1975)

podemos afirmar que o sistema de códigos foi gradativamente sendo criado pelos artistas de

histórias em quadrinhos e aos poucos decodificados pelos leitores que iam tendo contato com

essa modalidade de arte (VERGUEIRO, 2015).

Ainda podemos afirmar que a linguagem das histórias em quadrinhos reserva

peculiaridades no que diz respeito a comunicação e a linguagem:

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Pode-se dizer que o ambiente da linguagem dos quadrinhos gera uma forma

de comunicação específica com o leitor, mas, ao mesmo tempo, essa

linguagem não deixa de ter pontos em comum com outras linguagens

(verbais, não verbais, pictóricas, audiovisuais, etc.). (VERGUEIRO, 2015, p.

27).

Outras características das HQs é a presença do balão, tal código já era encontrado

antes dos quadrinhos nas pinturas medievais, nas imagens impressas que surgiam no século

XV e nas charges e cartuns que iam surgindo junto com a imprensa no mundotodo.

Segue uma boa definição dessa ferramenta muito presente, porém não sempre, nas

histórias em quadrinhos de ontem e de hoje:

Um traço distintivo das histórias em quadrinhos (CAGNIN, 1975, p.120) é o

balão, convenção gráfica onde é inserida a ―fala‖ ou o ―pensamento‖ dos

personagens.Gasca e Gubem (2001, p. 422) consideram que os balões ―são

os recipientes simbólicos ou contenedores das locuções dos personagens

falantes‖.―Mudos‖, os quadrinhos necessitam de um elemento que contenha

os elementos verbais necessários aos diálogos e aos solilóquios interiores. O

balão é indicado por um signo de contorno, a linha que o envolve. O

apêndice que se alonga para fora do balão e aponta para cabeça do

personagem que fala é chamado rabicho. Existem vários tipos de balões,

que assumem significados diferentes. (VERGUEIRO, 2015, p.29)

Já a historieta, nomenclatura das histórias em quadrinhos na visão dos peruanos,

remonta a 1615 com a publicação de NUEVA CRÓNICA Y BUEN GOBIERNO de Felipe

Huamán Poma de Ayala, obra de 1200 páginas e 400 vinhetas desenhadas, depois disso houve

um intervalo razoável segundo os pesquisadores peruanos só havendo registros em 1860 com

a obra do pintor Pancho Ferro que também se enquadrava neste formato de artesequencial.

Digo isso, porque há interpretações e fontes que atribuem o surgimento das histórias

em quadrinhos ao século XIX nos Estados Unidos, já outros defendem que foi no Brasil, no

mesmo século. Devido a amplitude e variedade de definições do que seria exatamente uma

HQ variam também as datas de seu surgimento eorigem.

Segundo Modenesi (2012) as Histórias em Quadrinhos no Brasil surgem no século

XIX, no Império do país e com várias características peculiares:

É no período do Império que as charges chegam ao Brasil. Ocorrem às

primeiras publicações em 1837 e as mesmas adquirem força em 1840 na

capital do Império, a cidade do Rio de Janeiro. Em 1868 o imigrante italiano

Ângelo Agostini cria a que seria considerada a primeira história em

quadrinhos do país: As Aventuras de Nhô Quim ou impressões de uma

Viagem a Corte que foi publicada nas revistas Vida Fluminense, O Malho e

Dom Quixote. Agostini caracteriza os personagens como caipiras que

chegaram à cidade vivendo em um mundo que vive à margem da

configuração da Corte, hegemônica no período. As charges e histórias em

quadrinhos dividiam as mesmas páginas das publicações. Não havia

distinção de espaços, sendo tratadas como um só material, e seus autores,no

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geral, eram os mesmos. Nessa época, as revistas tinham a relevância dos

jornais como agentes de propagação de valores culturais, em particular por

serem de leitura fácil pelo seu conteúdo condensado e virem numa

publicação de preço acessível. (MODENESI, 2012, p.21)

O autor destaca a importância das mesmas, em particular numa sociedade de poucas

pessoas letradas, como instrumentos de divulgação e consolidação dos valores culturais do

período junto aos brasileiros, algo que nos parece extremamente palatável junto aos peruanos

de ontem e de hoje.

O surgimento das histórias em quadrinhos no formato mais próximo ao que

conhecemos possui várias interpretações, há uma marca da presença pouco consistente da

mesma nos séculos XIX e XX, inclusive na dúvida se pode-se atribuir a existência de uma

historieta peruana, que em nossa opinião se pode e se deve considerar a existência desta.

Analisemos a citação de Lucini (2001) em artigo sobre a história das historietas

peruanas quando discute a efemeridade das publicações e os desdobramentos dessa forma de

arte naquela nação:

¿Quándo inicia a historieta peruana? Impossível responder sem definir

primeiro «historieta». O centenario de «Yellow Kid» permitiu precisamente

por em dúvida uma certa concepção histórica sobre a origem do meio, através

da redescuberta de suas manifestações –notavelmente avançadas–desde inicios

do século XIX, de Goez y Töpffer em diante, sem que esta dúvida supusesse

ao estabelecimiento de uma nova concepção unitaria. Há tantas como

investigadores. Por isso neste artigo eu queria definir a historieta como um

discurso articulado mediante um dispositivo gráfico de criação do sentido,

baseado essencialmente na coexistência de mais imagens disenhadas. Com

esta definição voluntariamente vaga, elimino dos requisitos que não considero

indispensáveis: o balão e a narrativa. No caso do segundo elemento, porque

considero que muitas historietas no contam una história, senão que comentam

a actualidade, ou realizam reflexões de caráter abstrato: pensando em Rius,

por exemplo. Em tal sentido, as primeras historietas peruanas que se têm

encontrado foram publicadas pelo efímero semanario de caricaturas Don

Quixote em 1873. Uma delas contrasta as metáforas navais do texto («Fragata

suspeita à vista») com a historia de um flirt, um homem que seduz uma

mulher, que culmina com o casal se dirigindo a um lugar mais privado. Em

1873! Mas estas primeiras historietas (tardíasem relação com a popularidade

do gênero em revistas ilustradas na Europa) são un fenômeno isolado. Não

existem outros trabalhos seuuenciais no Perú até 1887, data da fundação de El

PerúIlustrado.

No século XIX: Este periodo supõe o inicio da publicação institucionalizada

de historietas como elemento de entretenimento no interior da imprensa

familiar. Num momento em que a imprensa ilustrada é muito nova, a historieta

forma parte dessa oferta de imágens litografados: retratos, fotos copiadas,

paisagens, e desenhos humorísticos. No El Perú Ilustrado, que inicia esse tipo

de jornalismo, e inspirándo-se em publicações espanholas, alemãs e

estadounidenses, um amplio grupo de litógrafos começaa a domesticar as

diferentes alternativas do novo meio da historieta: narrativas do tipo

folhetinesco se alternam com a encenação de situações situações simple ou de

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histórias abstratas; textos na terceira pessoa ou na primeira pessoa; disposição

vertical o horizontal das seqüências; alguns experimentam com as

onomatopeias no interior das legendas, com os primeiros planejamentos e

outros recursos. O texto assume também a forma referencia, de diálogo o de

reflexão íntima, se une a imágens que representam outro tempo (o pasado ou o

futuro) e incluso alguma vez contradiz o conteúdo das mesmas A nivel

temático, encontramos nestas historietas uma zombaria ao espírito da época,

esse possitivismo que com sua fé na ciência e na capacidade do homem para

dominar a naturaleza, se encarna nestas historietas num dos personagens

ambiciosos e ridículos onde nada termina bem. Neste grupo de desenhistas

destaca Zenón Ramírez, que parece ter tentado vender a ideia de publicar

historietas a todas as editoras de magazines familiares da época. Ele será

praticamente o único que introduza elementos locais no seu trabalho, e que

brinque com maior criatividade com as relações entre texto e imagem. Pode

mencionar-se «Álbum humorístico» (1888), com o roteiro de Zenón Ramírez e

desenho de Garay, onde o primeiro conta através das legendas uma versão de

sucesso de sua vida, enquanto as imagens – que não mentem – nos mosrta a

dura realidade com continuidade... que, inaugurando outra tradição na instável

historieta peruana, não terminará nunca. Esste tipo de historieta termina em

1905, junto à imprensa que lhe servía de suporte. (LUCINI, 2001, p. 60)

Retomo o debate acerca da obra de Ayala pelo caráter sequencial que possuía,

ao analisarmos as quatro ilustrações abaixo temos isso evidenciado. Aqui ele evidencia a

captura do Inca Atahualpa, numa clara ligação com o que chamamos de arte sequencial, o que

é um dos mais importantes atributos de uma história em quadrinhos ou historieta: a sequência

das imagens forma uma história inteligível se lidas assim.

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Figura 18: página interna de NUEVA CRÓNICA Y BUEN GOBIERNO de Felipe Ayala

Esta imagem descreve o exato momento em que o Inca Atahualpa é atacado e sequestrado pelos espanhóis

em Cusco.

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Figura 19: página interna de NUEVA CRÓNICA Y BUEN GOBIERNO de Felipe Ayala.

Esta imagem descreve o momento em que os incas estavam sendo atacados e colonizados pelos

espanhóis.

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Figura 20: página interna de NUEVA CRÓNICA Y BUEN GOBIERNO de Felipe Ayala

Esta imagem descreve o momento em que o Inca Atahualpa tenta ser convencido pelos espanhóis a aceitar

a bíblia como livro sagrado da religião católica para se tornar religião dos incas.

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Figura 21: página interna de NUEVA CRÓNICA Y BUEN GOBIERNO de Felipe Ayala

Esta imagem é o Inca Cápac Yupanqui encarregado pelas construções de edificios e distribuição

de água no imperio incaico.

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Já nas figuras que se seguem podemos ver os costumes do Peru colonial a partir do

texto contido nestas que dialoga e explica os desnsenhios, mostrando vários aspectos dos

costumes e organização do periodo.

Felipe Guama Pomo de Ayla levou 30 anos para acabar sua obra, Nueva Cronica y

Buen Gobierno e depois mais ano para passá-la a limpo e mandar ao rei da Espanha em 1615,

seu original hoje está guardado na Dinamarca.

Figura 22: páginas internas de NUEVA CRÓNICA Y BUEN GOBIERNO de Felipe Ayala

Esta imagem representa o momento da colonização espanhola, a música com o uso do instrumento o

Charango, um tipo de guitarra de cinco cordas e da evangelização dos nativos do Peru.

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Figura 23: página interna de NUEVA CRÓNICA Y BUEN GOBIERNO de Felipe Ayala

Esta imagem representa o Inca fazendo uso dos Quipus que era uma ferramenta para levar a cabo o

sistema de contabilidade dos incas por meios de cordas e nós.

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Figura 24 – Página de Nueva Crónica y Buen Gobierno

Esta imagem descreve o momento em que uma múmia inca é transportada entre os vivos como

ritual sagrado dos incas.

Dito isto, um passo depois os quadrinhos chegaram a escola peruana, apresentam e

perpetuam tradições e hábitos históricos, apresentam heróis que edificaram a civilização do

país e orientam os estudantes nos mais variados aspectos.

É comum no Peru concursos para elaboração de histórias em quadrinhos por

estudantes com focos variados, há um incentivo para criação e elaboração de material artístico

pelos estudantes, educando-os nesse caminho que articula os mais variados aspectos da

escola, levando a arte a sala deaula.

O general Miguel Grau é um exemplo disso, fez parte da marinha de guerra peruana e

lutou na guerra do Pacífico, é uma figura heroica da história do Perú, chegou inclusive a ser

deputado em Paita, Piura e exerceu uma função administrativa na Marinha. Participou das

legislaturas de 1876 e 1878 em representação do Partido Civil; como deputado propus leis de

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ascensos na armada segundo méritos, e a reorganização do Ministério de Guerra e Marinha.

Em 1877 foi nomeado Comandante Geral da Marinha.

Exemplos como o de Miguel Grau ajudam a ilustrar a política de publicação nos

quadrinhos, publicado em 1970 pela Editora da Marinha de Guerra do Peru o personagem

teve várias outras representações nas historietas no passar dos anos, um exemplo mais recente

é um novo enfoque do herói histórico feito pela editora Andares em 2009, ambos com clara

característica pedagógica na maneira que foi construída a história e suanarração.

A evolução do personagem com características educacionais da valorização da história

peruana, seus heróis e seus feitos chegou à construção recente de nova historieta aonde o

general de guerra Miguel Grau ressurge no futuro lutando contra alienígenas, a mesma é

publicam em redes sociais e atinge uma parcela do público diferenciada ao vincular ficção e

fatos históricos, a obra é atualizada periodicamente na página do Facebook.

Figura 25 – Capa e primeira página da primeira versão em historieta do herói de guerra Miguel Grau.

(1979, 90 pg., Ed. Marina de Guerra del Perú). Textos: Octavio Santa Cruz – Desenhos: Luis Baldoceda

E.

A capa da publicação reproduz a figura de Miguel Grau acima de canhões, junto com

outro marinheiro de patente e acima de ambos a bandeira do Peru, vinculando o personagem

ao país.

A historieta nos apresenta o herói desde a infância, se excede na quantidade de texto

explicativo, recurso hoje pouco usual nas histórias em quadrinhos, mas muito presentenas

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que buscavam retratar personagens históricos, isso ocorreu inclusive nas publicações desse

tipo no Brasil.

Figura 26 – Capa da revista Ayar, la leyenda de los inkas, número 3.

Em 2015 foi noticiado pela imprensa peruana a renovação do acervo das bibliotecas

públicas das escolas deste país, tal fato não ocorria há uma década, entre o material adquirido

estavam livros, dicionários e historietas. Uma clara demonstração do status que essa vem

conquistando junto à educação do Peru.

Além disso, manuais de Organizações não-governamentais orientam os estudantes

como desenhar e escrever histórias em quadrinhos, numa clara demonstração de uma tentativa

respaldada pelo governo do Peru de tentar sensibilizar os alunos a exporem seus pensamentos,

dúvidas e angústias.

Exemplo é a obra Cómo usar la historieta en la escola publicada pela Associação dos

Comunicadores Sociais Calandria com apoio internacional do Governo Canadense. A

publicação tenta sistematizar orientações para estimular os estudantes a criarem suas próprias

histórias em quadrinhos e argumenta que tal iniciativa os permitirá expor sensações e opiniões

difíceis de serem verbalizadas, articulando-se para além da palavra e, poderia vir a ser, um

instrumento pedagógico importante articulado ao estudo regular que ocorre nas escolas:

A historieta é um meio de comunicação privilegiado. Nos permite contar

historias da penumbra da nossa timidez, soldando imagens que desenhem

sonhos e cenários com as emoções, situações e pensaento descritos pelas

palavras. Pois há coisas que não se dizem foram do grupo de amigos, e

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muitas vezes nem dentro dele. Há ideias e setimentos que escondemos

depois das frases e aventuras de algum persongem, traçado com a pressa de

um papel qualquer sem destinatário preciso. Há hsitorietas cujas vinhetas

semelham umbrais que nos vão aproximando como leitores, ao mundo mais

íntimo do seu autor ou da sua autora . (Calandria, 2008, p.1)

Na figura que segue mais uma vez Miguel Grau (aqui chamado apenas de Grau) é

representado no Combate de Angamos, localidade onde ocorreu a guerra do Peru com o Chile

em 1879, mais uma vez o general é retratado dando voz de comando a canhões que disparam

contra o inimigo chileno no horizonte.

A página de abertura se foca no conflito naval, não utiliza o recurso recordatório, mas

sim balões com muito texto, descrevendo o confronto entre os peruanos e os chilenos na

referida batalha no Pacífico. Aqui se ressalta também a figura heroica do comandante e sua

voz de comando nesse episódio.

Esta é mais atual, sendo publicada já no século XXI, conta com recursos de texto e

narrativa mais dinâmicos, além de desenho mais próximo a historietas de aventura publicadas

na atualidade no Peru e no mundo.

Na HQ os chilenos buscavam capturar o barco Huáscar, embarcação que era

comandada por Miguel Grau e que na oportunidade defendia a área marítima entre o Peru e o

Chile. Ao final o Chile conseguiu ampliar sua área marítima, mas, mesmo assim, Grau é visto

como o herói que defendeu os interesses de seu país.

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Figura 27 – Capa e primeira página de versão mais recente com o herói de guerra Miguel Grau. GRAU El

Combate de Angamos (2009, 28 pág., Ed. Andares, Sello Comix Cultura)Texto: Luis Berrios – Desenhos:

Ella Bravo

A articulação entre estímulo a criar as histórias em quadrinhos associado a leitura das

mesmas pode colaborar decisivamente numa visão mais multifacetada do mundo que o cerca,

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permitindo a interpretação da realidade ao redor e a introjeção de valores de maneira mais

lúdica e descontraída.

Figura 28 - Imagem dos heróis peruanos de grande destaque na história do Peru que são mencionados nas

aulas das escolas peruanas até os dias de hoje.

José Olaya: Lutou pela independência do Peru. Ele foi o emissário secreto que levava

mensagens entre o governo do Callao e os patriotas de Lima nadando. Foi descoberto, preso,

submetido a torturas e condenado à morte; a pesar das torturas, nunca revelou sua missão e

preferiu engolir as cartas encomendadas para a missão.

Ramón Castilla: Foi um militar e político peruano que foi presidente do Peru em duas

ocasiões: de 1845 a 1863 como presidente constitucional e presidente provisório quando

faleceu Miguel San Román. Governou o Peru por doze anos sendo o presidente que mais

regeu o Perurepublicano.

Miguel Grau foi um marinho peruano, almirante da Marinha de Guerra do Peru e

destacado patriota peruano, máximo orgulho da República do Peru. Conhecido também, como

o Cavalheiro dos mares.

Túpac Amaru II foi um líder indígena da maior rebelião anticolonial da Hispana

américa do século XVIII. Descendia de Túpac Amaru I que foi o último Sapa Inca, que era o

imperador e proprietário de tudo que existia no Império: a água, a terra; os animais; as minas

de prata e ouro e formavam parte da elite incaica. Foi executado pelos espanhóis no século

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XVI e liderou a denominada Grande Rebelião que se desenvolveu no Vice-reinado do Rio de

la Plata e do Vice-reinado do Peru.

Francisco Bolognesi: foi um militar peruano que participou da Guerra do Guano e de

Salitre. Com o grau de coronel, defendeu a praça de Árica enfrentando as forças chilenas

muitos superiores em número e poderio; traz fazer a promessa de lutar até queimar o ultimo

cartucho, onde sucumbiu heroicamente durante a batalha final. É considerado Herói nacional

do Peru. Foi declarado Patrão do Exército do Peru em 1951 e elevado ao grau de Grande

Marechal do Peru pela Lei No 25128 em 30 de novembro de 1989.

Figura 29 – capa da página na internet de Miguel Grau Seminario, nesta obra o histórico general de

guerra da Marinha é posto para lutar contra alienígenas que ameaçam o Peru.

A evolução visual, mudança da idade do personagem representado por Miguel Grau,

outra abordagem na construção do texto, inclusão de humor e de desenhos mais próximos aos

mangás japoneses mostram todo um processo de adaptação do herói dos quadrinhos para o

público jovem dos séculos XX e XXI.

Isso está particularmente presente nas publicações feitas na página da rede social

facebook, aqui o Miguel Grau é apresentado mais esguio, com maior força física e traços de

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personagem gerado por computação gráfica. A ideia é apresentar histórias semanais que

colocam o general para lutar nos mais variados contextos e possibilidades, atingindo públicos

diferentes.

Figura 30 – capa e página interna de Grumete Grau – el niño de los mares (2004), Editora Vuk.

Na figura 26 temos a evolução do personagem, agora retratado com desenhos que

possuem traços próximos aos quadrinhos europeus, isso está presente na composição da

página, distribuição dos quadros, no uso da chamada linha clara21

e no desenho dos

personagens, lembrando as HQs de Tintim, Asterix ou Lucky Luke.

Mais uma vez o personagem vai se moldando ao público e se distanciando do formato

de cartilha dos primeiros anos de Miguel Grau, lá muito mais como a reprodução de uma

biografia, com textos longos e figuras sem traços que dessem sensação de movimento, algo

com intuito de meramente formar, como as edições publicadas pela Editora Ebal22

na década

de 70 do século XX que tratavam das personalidades históricas do Brasil em quadrinhos.

A valorização da nacionalidade, um nacionalismo forte e exacerbado, muito mais

proeminente que o brasileiro no que trata de histórias em quadrinhos, marca presença decisiva

nas historietas, seja nos seus personagens, ou mesmo em seus artistas, cultuados quando

conseguem ter destaque em suas obras ou acessar outros mercados de HQs em países diversos

e de destaque nessa arte, como os Estados Unidos.

21 Estilo europeu, principalmente belga, que valoriza os desenhos claros, semsombras.

22 Editora Brasil América, de grande sucesso até a década de1970.

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Figura 31 - Última Hora, “El periódico de mayor circulación en el Peru”, em outubro de 1952 anuncia

“personagens 100% nacionais”.

A figura 27 mostra a variedade de personagens peruanos e a ênfase de publicar só

personagens do país, a publicação aposta no nacionalismo dos nativos e no consumo dirigido

aos que buscam material que reflita sua realidade.

O jornal registra a frase inclusive: ―¡Ahora somos todos peruanos!‖, mostrando a

mudança do conteúdo da sessão de HQs do jornal, isso se deu ainda na metade do século XX,

uma iniciativa ousada para aquele período histórico em qualquer país do mundo devido ao

domínio dos cómics norte-americanos neste tipo de publicação.

As mais variadas temáticas, abordagens, formas de desenhar, se fazem presentes nos

quadrinhos do Peru. O país passa a contar com ampla produção de historietas, em particular

durante todo o século XX.

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Figura 32 – desenho de personagem de origem Inca criado por Pablo Marcos, desenhista peruano

reconhecido no mercado norte-americano de histórias em quadrinhos, desenhando para as editoras

Warren e Marvel durante a década de 70 do século XX.

Mas não só, como pode ser visto na figura 20 os traços dos desenhistas peruanos

ganha estatura internacional e passam a disputar espaço de trabalho no mercado norte-

americano das HQs. Pablo Marcos é um desses expoentes, se tornou cultuado pelos peruanos

ao acessar essemercado.

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Figura 33 – La Raza - Equipe de super-heróis peruanos, com características culturais do país

representada em suas roupas (Xcorpiona23

, Descomunal24

, Chola Power25

, Guachy-man26

y Super-

Mamacha27

no traço de José Luis Miranda

23

Xcorpiona, de José Luis Miranda, é uma mulher que vem do futuro para evitar que acorde um

alienígena que se encontra oculto no glaciar dos Andes. Seu objetivo é evitar a aniquilação da raça humana e

enfrentar males contemporâneos como a poluição, o esquentamento global,etc. 24

Descomunaléunconversor.CriadoporFranzMontoya,ondeEstebanAltamirano,umpolíticoque

chega à Presidência da República, soberbio e de ética duvidosa, esconde experiências genéticas do seu pai.

Experiências que o converte numa mistura de leão e gorila de quase 3 metros de alto, com temores, incertidao, e

com um desejo gigantesco de ressarcir-se. Se baseia numa lenda de Isnachi, o home macaco da selva peruana. 25

La Chola Power é criação de Martín Espinoza. Esta personagem ganhou um concurso patrocinadopelo

Diário ―Perú21″ em 2008. ―Ela tem as características da mulher peruana, é aguerrida, mestiça, bela, capaz de

destacar num meio hostil. Seu temperamento é uma herança de mulheres como Micaela Bastidas ou María

Parado de Bellido. Sua força vem de um poder interior―, seu criador batizou a esta filha do Sol como Elisa. 26

OGuachy-manéinspiraçãodeLuisMorochoeseuprincipalpoderéque…nãotemsuperpoderes.É

simplesmente um garoto huancavelicano de 19 anos, que estuda num cursinho, e que quer ajudar no que puder

para levar tranquilidade a uma cidade assolada pela insegurança. É um idealista, alguém com aspirações… Um

Kick-Ass de origem andino.

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Para Cagnin (1975) isso não é gratuito, há tudo do artista no desenho que este faz, bem

como do argumentista que constrói a história que se desenrola numa determinada história em

quadrinhos Os desenhos têm o estilo próprio de cada artista, diferem e identificam o seu

autor, sendo possível falar em desenho deste ou daquele desenhista.Percebe-

se a diferença e gosta-se de um e não de outro; definir, no entanto, ou

descrever os estilos e formas, é bem difícil.É o mesmo que definir gosto ou

cores.Além disso, não há uma nomenclatura científica ou uma escala para

medir as diferenças. (CAGNIN, 1975, p. 111)

Em agosto de 2014 Martin Spinoza e José Luiz Miranda decidiram juntar cinco

personagens com traços culturais e físicos peruanos e formar a primeira equipe de super-

heróis daquele país a ganhar uma publicação em banca com edição de uma grande editora,

Med Comics.

Uma tentativa já havia sido feita em 2009 pelos autores, agora retornam com um

projeto mais estruturado e com edições que possuem conteúdo compartilhado entre os

personagens, duas histórias por revista, uma de cada personagem, e algumas edições com o

grupo todo reunido.

Esse espaço de banca de jornal antes era exclusivo dos super-heróis norte-americanos,

a edição prima ao reunir uma equipe e apostar no reconhecimento por parte do leitor dos

traços nacionais dos personagens, acreditar que esses se reconheçam neles e entendam sua

história, hábitos, costumes e detalhes reconhecidosnestes.

A busca da repaginação, atualização de personagens que há cinquenta e sessenta anos

tiveram grande repercussão quando publicados como historietas para o público jovem e

recém-adulto do século XXI é algo chave para entendermos o que os símbolos que as HQs

representam nos trazem na atualidade.

Os personagens são postos no formato que o público tem visualizado nas HQs de

outros países, no cinema, na televisão e na internet. Porém, os autores não abrem mão da

representação das características culturais do país, atualizam, mas não mudam o conteúdo da

defesa do legado peruano nos mais diversos componentes.

Podemos ver isso nas 2 figuras que se seguem, o Super Cholo, personagem cultuado

no Peru, criado em 1957 e que comemorou 55 anos de publicação recentemente, o mesmo

também foi reinventado para o século XXI, mas não cedeu em nenhuma de suas vestimentas,

mesmo ao ter adquirido traço e formato de super-herói, o fez com a clara representação do

Peru nos seusdesenhos.

27

Super-Mamacha é outra heroína da série. Criada por Ricardo Orihuela,este a descreve como uma mulher

capaz de entrar en contato com a natureza, mestra do misticismo. Em sua génesis, é abduzida por alienígenas que

lhe dão poderes psíquicos. No mais terrenal, ele se inspirou para criá-la numa mulher anônima a quem via ano

passado na Av. Abancay vendendo ovos de codorna de codorniz para manter aos seus filos pequenos que o

acompanham.

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Figura 34 – Historieta Super Cholo, publicado inicialmente no diário “El Comercio” em 1957, escrito por

Diodoro Kronos e desenhado pelo austríaco Victor Honigman até 1966.

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Figura 35 – capa do caderno dominical de cultura do Jornal El Comercio do Peru, Supercholo repaginado

para o século XXI, ao completar 55 anos, mas mantendo as características culturais e de vestimentas

peruanas.

Tal construção tem um porquê, os comics28

norte-americanos foram publicados

praticamente no mundo todo, acabaram por ditar padrões estéticos, comportamentais também

através das HQs, em particular na disposição dos quadrinhos, dos balões, na figura do herói

nas histórias de super-herói, por exemplo.

Para Vergueiro (2015) ―A difusão de quadrinhos estrangeiros no Brasil, especialmente

os estadunidenses, acostumou os leitores com formas da linguagem que não existem no país‖

(p.58). O mesmo valeu para os peruanos, inundados de comics norte-americanos que

acabaram se mesclando a produção de historietas nacionais na forma, chegando ao ponto de

artistas do país trabalharem para o mercado internacional de HQs como aqui jámencionamos.

28 Maneira como são chamadas as histórias em quadrinhos nos EstadosUnidos.

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Há uma mescla na forma de mostrar o personagem, típica dos cómics, como cor de

pele, trajes, equipamentos, nomes pessoais e dos outros personagens e comportamentos

características de um peruano.

5. As histórias em quadrinhos e a influência literáriaperuana

Sabemos que durante a existência do império incaico os Incas não possuíam uma

escrita. A comunicação destes era meramente verbal. Com a chegada dos espanhóis no

território peruano no século XVI houve uma grande influência dos colonizadores na educação

literária do Peru.

A conquista espanhola não permitiu que identidade nacional peruana se tornasse

fortificada devido a esta divisão cultural que os Incas estavam atravessando naquele

momento.

Com a prisão e morte do último líder Inca Atahualpa, os espanhóis impuseram o

catolicismo e o idioma espanhol foi amplamente implantado em todo território nacional

dividindo a literatura peruana em várias etapas:

O dualismo quéchua espanhol do Peru, ainda não resolvido, faz da

literatura nacional um caso de exceção que não é possível estudar com

o método válido para as literaturas organicamente nacionais, nascidas

e crescidas sem a intervenção de uma conquista. A primeira etapa da

literatura peruana não podia iludir a sorte que lhe era imposta para a

sua origem, A literatura dos espanhóis da colônia não é peruana; é

espanhola. Claro está que não por ser escrita do idioma espanhol, mas,

sim, por ter sido concebida com espírito e sentimento espanhóis.

(MARIÁTEGUI, 2010, p.227)

Portanto, a escrita e a gramática quéchua possuem sentimentos e pensamentos

espanhóis nas suas obras literárias causando assim um dualismo linguístico bilíngue que

provem do interlace de dois idiomas falados, o quéchua e o espanhol na época colonial no

território peruano e com isto, a literatura peruana produziu várias formas artísticas orais

de poesia que estava vinculada às diversas etnias regionais existentes na

época da conquista, como quéchuas, aimaras ou chancas até opresente.

Podemos observar na historieta educativa em quéchua: Pururauca (2009) que trata

sobre a história de uma menina chamada Paola que dorme na aula de matemáticas e acorda

dentro de um contexto totalmente diferente da realidade que tinha a uns minutos atrás e se

encontra no meio de uma guerra entre incas e chancas. Esta historieta está apresentada no

idioma quéchua com subtítulos em espanhol; ideia adequada para contextualizarmos ainda

mais na época incaica. Paola quando dorme é transferida à batalha de Yahuarpampa, luta

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entre incas e chanca. Este conflito teve origem quando os chancas atacaram a cidade de Cusco

e em defesa o príncipe Inca Cusi Yupanqui organizou uma arremetida.

Pururauca é um termo que tem a sua origem na lenda dos soldados Pururaucas, quem

são de uma antiga lenda que magnificou a vitória dos incas contra o exército chanca.

A transferência da história dos incas às historietas teve um acerto por parte de

historietas para tentar resgatar e promover a procura de informação relacionada ao passado do

Peru, como também, como um ponto para iniciar o incentivo para conhecer o nosso passado, e

desta forma, ter mais interesse sobra a história do Peru.

Figura 36 – Imagens da historieta Pururauca escrita em quéchua.

Assim, a literatura no Peru começa a sua fase divisória onde se destaca a

Literatura Andina Pré-hispânica cuja produção artística do período pré-hispânico estava

diretamente vinculado ao Império Inca, teve manifestações em formas poéticas

língua quéchua denominadas harawis (poesia lírica) e hayllis (poesia épica) e as mesmas

formavam parte do trabalho doméstico no cotidiano: funerais, festas, diversão, núpcias,

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brigas, guerras, etc. Estavam enquadrados numa ritualização expressada através da literatura.

(CEPRE, 2015)

El Apu Ollantay é uma obra dramática literária quéchua, a mais antiga da época

colonial escrita por Antonio Valdés em 1857.

Sendo uma obra literária com base a uma história incaica, a mesma foi levada para o

âmbito das histórias em quadrinhos com fins educacionais com o intuito de brindar uma

melhor proposta metodológica para a aprendizagem da literatura andina pré-hispânica.

Ollantay (2011), é um general muito famoso e de grande influência frente ao soberano

Inca Pachacutec. O mesmo está apaixonado de Cusi Coyllur, filha de Pachacutec. Este era um

amor impossível.Ao ficar informado o Inca decreta a proscrição de Ollantay e mandar trancar

a Cusi Coyllur.

Ollantay se revolta. No início ele sai vitorioso, mas no final é derrotado e levado a

Cusco. O novo Inca Tupac Yupanqui, já que Pachacutec tinha falecido, se mostra bondoso

com o general revoltado e o nomeia curaca29

de Cusco, além de liberar a Cusi Coyllur da

prisão e aceita a relação amorosa deles dois.

Figura 37: A rebelião em Ollantay na luta pelo amor da princesa inca Cusi Coyllur

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Outro personagem de grande importância da literatura do Peru dentro da corrente

colonial é El Inca Garcilaso de la Vega considerado o primeiro mestiço peruano, sobretudo é

uma figura solitária na literatura da colônia e é o cronista de maior destaque da história antiga

do Peru por sua individualidade e grandeza:

Garcilaso nasceu do primeiro abraço, do primeiro amplexo fecundo de

duas raças. A conquistadora e a indígena. É, historicamente, o

primeiro ―peruano‖, se entendemos a ―peruanidade‖ como uma

formação social, determinada pela conquista e colonização

espanholas. Garcilaso chama com seu nome e sua obra uma etapa

inteira da literatura peruana. É o primeiro peruano, sem deixar de ser

espanhol.

Sua obra, sob o aspecto histórico-estético, pertence à épica espanhola.

É inseparável da maior epopeia da Espanha: o descobrimento e a

conquista da América. Colonial, espanhola, a literatura peruana assim

aparece, em sua origem, até pelos gêneros e assuntos de sua primeira

época. A infância de toda literatura normalmente desenvolvida é a

lírica.

A literatura oral indígena obedeceu, como todas, a essa lei. A

conquista transplantou o Peru, com o idioma espanhol, uma literatura

já evoluída, que continuou na colônia sua própria trajetória. Os

espanhóis trouxeram um gênero narrativo bem desenvolvido, que do

poema épico já avançava para o romance. E o romance caracteriza a

etapa literária que começa com a Reforma e oRenascimento.

O romance é, uma boa medida, a história do indivíduo da sociedade

burguesa, e desse ponto de vista não deixa de ter razão Ortega y

Gasset quando registra a decadência do romance. O romance

renascerá, sem dúvida, com arte realista, na sociedade proletária; mas

por enquanto, o relato proletário, enquanto expressão de epopeia

revolucionária, tem mais de épica que de romance propriamente dito.

A épica medieval, que decaía na Europa na época da conquista,

encontrava aqui os elementos e estímulos de um renascimento. O

conquistador podia sentir e expressar epicamente a conquista. A obra

de Garcilaso está, sem dúvida, entre a épica e a história.

(MARIÁTEGUI, 2010, págs. 228 e229)

Uma das obras literárias de grande destaque do Inca Garcilaso de la Vega são

Los Comentarios Reales dividida em duas partes, a primeira parte escrita 1609 que

narra sobre o Império Incaico: origem, governo, leis e costumes entre outrosaspectos.

Esta primeira parte foi escrita em lembrança dos seus antepassados pela linha materna

e como forma de admiração de Cusco, lugar natal onde nasceu e capital do Império Inca. A

segunda parte foi publicada no ano seguinte da sua morte em 1617 com o título de História

Geral do Peru e narra o descobrimento e conquista do Peru em forma ordenada e minuciosa.

Los Comentarios Reales está baseado nos relatos que escutou na sua juventude dos seus

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parentes indígenas, das experiências vividas por ele mesmo e das notícias por parte das

testemunhas da conquista do Peru.29

Figura 38 – Historieta sobre a vida de El Inca Garcilaso de la Vega - O primeiro mestiço do

Peru.

29 Curaca: era o chefe ou governador de um ayllu no império incaico. O curaca organizava as tarefas agrícolas,

era juiz ou conselheiro, administrava os bens e comandava rituais e cerimonias e o ayllu era o nome designado

para cada grupo familiar ou comunidade indígena na região andina.

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Figura 39: Divulgação sobre a Historieta de Garcilaso de la Veja.

Posterior à época colonial os peruanos entraram numa nova fase literária denominada

a literatura da emancipação onde a mesma está voltada à realidade política da época, a causa

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da revolução libertadora que expressa três temas principais: A Pátria, a Liberdade e o

Sentimento indígena das quais tinham uma conotação anti-espanhola e separatista. (CEPRE,

2015)

A liberdade era principal e o objetivo prioritário daquela época já que os peruanos

desejavam se libertar da colonização espanhola a qual foi conseguida em 28 de julho de 1821

com o libertador argentino, proclamador da independência peruana Don José de San Martín.

Túpac Amaru também teve um papel importante na história do Peru cuja luta foi para

a libertação da alta imposição de impostos cobrados pela coroa espanhola ao povo peruano e

serviu de inspiração para a criação do poema coral a Túpac Amaru, como também, foram

escritos romances, discursos e hinospatrióticos.

Poema Coral a Túpac Amaru que representa a sua luta pela independência dos

espanhóis e sofrimento quando foi condenado à morte em 1572 escrita por Alejandro

Romualdo:

Lo harán volar con dinamita.

En masa, lo cargarán, lo arrastrarán.

A golpes le llenarán de pólvora la boca,

lo volarán: ¡Y no podrán matarlo!

Le pondrán de

cabeza.Arrancarán sus deseos, sus dientes y

sus gritos.

Lo patearán a toda furia.

Luego lo sangrarán. ¡Y no podrán matarlo!

Coronarán con sangresucabeza;

sus pómulos,congolpes. Y

con clavos,suscostillas. Le

harán morder elpolvo.

Lo golpearán: ¡Y no podrán matarlo!

Le sacarán los sueños y los

ojos.Querrán descuartizarlo grito a

grito.

Lo escupirán.

Y a golpe de matanza lo clavarán:

¡y no podrán matarlo!

Lo pondrán en el centro de la plaza,

boca arriba, mirando al infinito.

Le amarrarán los miembros.

A la mala tirarán: ¡Y no podrán matarlo!

Querrán volarlo y no podrán

volarlo.Querrán romperlo y no podrán

romperlo.Querrán matarlo y no podrán

matarlo.

Querrán descuartizarlo, triturarlo,

mancharlo, pisotearlo, desalmarlo.

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Querrán volarlo y no podrán volarlo.

Querrán romperlo y no podrán

romperlo.Querrán matarlo y no

podrán matarlo.

Al tercer día de los sufrimientos

cuando se crea todo consumado,

gritando ¡LIBERTAD! sobre la tierra,

ha de volver. ¡Y no podrán matar!

Este poema é também retratado artisticamente nas historietas educativas da história do

Peru nas seguintes imagens sequenciais.

Figura 40: Historieta Educativa sobre a vida e luta de Túpac Amaru considerado um herói da

Historia do Peru por ter lutado contra os altos imposto cobrados dos peruanos para a cora

eespanhola.

Por outro lado, o sentimento indígena peruano para muitas pessoas e grupos sociais, a

emancipação significou o ressurgimento da cultura Inca frente ao domínio espanhol. Um dos

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literários mais importante desta época foi Mariano Melgar, ele expõe o profundo patriotismo,

amor à pátria peruana, valor moral, rebeldia e culto pela liberdade:

Melgar é um romântico. Não apenas em sua arte, mas também em

toda a sua vida. O romantismo ainda não tinha oficialmente chegado a

nossas letras, Em Melgar, portanto não é como será mais tarde em

outros, um gesto de imitação, é um impulso espontâneo. E esse é um

dado de sua sensibilidade artística, Já se disse que se deve à sua morte

heroína uma parte de seu renome literário. Mas essa valorização

dissimula mal a desdenhosa antipatia que inspira. A morte criou um

herói, frustrou o artista.Melgar morreu muito jovem. E mesmo que

seja sempre um pouco aventureira qualquer hipótese sobre a trajetória

provável de um artista prematuramente surpreendido pela morte, não é

demais supor que Melgar, maduro, teria produzido uma parte mais

purgada da retórica e do maneirismo clássicos e, por conseguinte,

mais nativo, mais puro. A ruptura com a metrópole terá consequências

particulares em seu espírito e, de qualquer forma, diferentes das que

teve no espírito dos homens de letras de uma cidade tão espanhola, tao

colonial como Lima, Mariano Melgar, segundo o caminho de seu

impulso romântico, teria encontrado uma inspiração cada vez mais

rural, cada vez mais indígena. Esse romântico, finalmente, entrega-se

apaixonadamente à revolução.Nele a revolução não é liberalismo

enciclopedista.É, fundamentalmente, um patriotismo cálido.Como em

Pumacahua, em Melgar o sentimento revolucionário se nutre de nosso

próprio sangue e de nossa história (MARIÁTEGUI, 2010, pgs. 252

e253).

Mariano Melgar ao ser um dos importantes poetas na literatura peruana principalmente

por ser um grande republicano romântico, suas obras literárias de verso e prosa serviram de

inspiração para a valorização do nacionalismo peruano.

Esta historieta foi realizada para o público infantil, a mesm foi distribuída para os

alunos do segundo grau do ensino médio da Instituição Educativa emblemática Independência

de América que consta com sete passagens importantes da vida de Mariano Melgar cuja

finalidade é fazer pátria e que as pessoas conheçam o conhecam de forma atrativa, destacando

assim, a importância dos produtos culturais nacionais peruanos.

O estilo gráfico da historieta de Mariano Melgar é uma nova forma de relato das obras

deste grande poeta peruano que se diferencia da narração tradicional da literatura peruana.

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Figura 41 - Imagem da divulgação da historieta sobre o poeta Mariano Melgar elaborada e

editada por Oscar Barriga e Virginia Borja.

A criação da historieta educativa Mariano Melgar foi elaborada por Tawa

Producciones com o apoio da Comissão Especial Multipartidária do Congresso da República

doPeru.

A literatura da República no Peru segue a corrente do Costumbrismo com origem na

Espanha na primeira etapa da vida republicana que se iniciou depois da independência.

Durante os anos da república houve uma confrontação política e social entre liberais e

conservadores. O Costumbrismo é uma corrente que expressa amor pelo imediato, o que está

presente, o ambiente local e os usos e costumes da época. A literatura costumbrista descreve

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uma sociedade em transição (colônia – independência - república) apresentandos nos inicios

da República. Os escritores costumbristas apresentam as frustrações da ascendente classe

media e a decadente classe alta (aristocracia).

A literatura nesta época está voltada na discrepância e debate ideológico entre estes

grupos por causa do destino do Peru com nação. Nas produções literárias da república

prevaleceram três gêneros nas suas obras: lírico, épico e dramático na poesia, teatro e

jornalismo com uma linguagem clara e simples.

A busca de uma nova sociedade democrática fez com que as obras literárias desta

corrente tivessem um tom crítico, zombador, satírico e irónico rejeitando assim uma mudança

que estava estancada no passado. (CEPRE, 2015)

Na literatura da República surge o Romanticismo que é uma corrente literária vinda

de Europa em 1840, quando a situação política havia alcançado estabilidade e

desenvolvimento econômico. O Romanticismo se caracteriza pelo predomínio do sentimento

sobre a razão, destacando assim o tom intimista, espontâneo e amoroso. Esta literatura ainda

mantém a imitação a Espanha, onde se aprecia um certo sentimento nacionalista e

protesta contra aquele país, o qual é alcançada com o surgimento de um novo

gênero literário: LasTradiciones.

Ricardo Palma Soriano é um dos literários do romanticismo no Peru de renome onde

inicia uma literatura nacional a través da criação de suas famosas Tradiciones.

Ricardo Palma foi um escritor peruano liberal que interveio nas lutas políticas do seu país.

Ricardo Palma como poeta romântico, embora seu verdadeiro caminho literário o encontrou

na narração histórica que é um gênero que mistura a história e a ficção, deu como fruto a sua

obra mais importante e transcendental: Tradições Peruanas onde parte de uma

crónica histórica, recria uma lenda e desde o ponto de vista irónico da história constrói uma

mitologia peruana com una visão nostálgica dopassado:

As Tradições de Palma têm política e socialmente, uma filiação

democrática.Palma interpreta o mestiço. Sua zombaria rói risonhamente

o prestígio do vice-reinado e da aristocracia. Traduz o

descontentamento zombador de demos criollo, A sátira

dasTradicioness não vai muito fundo nem golpeia muito forte. Mas,

precisamente por isso, se identifica com o humor de um demos brando,

sensual e açucarado. Lima não podia produzir outra literatura.As

Tradiciones esgotam suas possibilidades.Às vezes excedem a si

mesmas.(MARIÁTEGUI, 2010, p.237)

O estilo de Ricardo Palma tem como base o humor e usa a linguagem popular do seu

tempo sendo considerado como o representante mais destacado do costumbrismo literário

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peruano. Por ele ter como base humor acredito que muitos historietistas peruanos tenham tido

Ricardo Palma como uma fonte valiosa de inspiração para a criação de Histórias em

quadrinhos educativas baseadas nas obras do mesmo. A historieta Don Dilma Tijeretas é um

exemplo disto com fins educacionais para a disciplina Literatura nas escolas.

Figura 42: Tradiciones Peruanas – Don Dimas Tijeretas

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Tomamos como um exemplo disto, uma adaptação literária de uma das obras literárias de

Ricardo Palma: Tradições Peruanas cuja obra contém várias histórias divertidas, uma delas é a

história de Dom Dilma Tijeretas, adaptada para as HQs que não perde seu sentido poético,

romântico e artístico.

Don Dimas é um homem velho, interesseiro e avaro que se apaixona por uma moça que

não corresponde aos sentimentos dele, mesmo ela aceitando as joias dele, Don Dimas não

consegue ter o amor de Vsitación, consequentemente ele vende a alma ao diabo em troca do

amor da moça.

Podemos perceber que a sequência desta narrativa adaptada para as HQs consegue

transportar o leitor ao cenário desta obra e nos permite entender melhor os acontecimentos

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desta história de caráter humorístico e realístico que se vivia na época da colônia espanhola.

Desta forma, Ricardo Palma usa a sua criatividade para expor e criticar indiretamente os

costumes de uma sociedade com raízes indígenas, mas influenciada de ―valores‖ da educação

espanhola no Peru.

Depois desta corrente, o Realismo outra corrente literária de origem francesa no Peru,

se inicia nas últimas décadas do século XIX quando os peruanos estavam atravessando por

um momento de dor causado pela guerra com Chile. Peru se encontrava em crises pelas

consequências funestas da guerra e pela decomposição política e moral. A produção literária

do realismo peruano se caracterizava em verso e prosa. Os versos são suaves, delicados e

subgerentes.

A poesia é o produto de suas horas de angustia e de tristeza. A temática preferida do

realismo peruano é o amor. A prosa é sonora, acusadora e vigorosa. Os temas são sobre a

análises dos desastres, os vícios e personagens nacionais, a revalorização do índio, a província

e juventude. As obras do realismo peruano estão saturadas de conteúdo social e de protesta.

(CEPRE, 2015)

O maior literário do realismo foi César Vallejo considerado um dos maiores

representantes do Vanguardismo no Peru:

O primeiro livro de César Vallejo, Los Heraldos negros, é a alvorada de

uma nova poesia no Peru. Vallejo é o poeta de uma estirpe, de uma

raça. Em Vallejo se encontra, pela primeira vez em nossa literatura,

sentimento indígena virginalmente expresso.Melgar – signo larvar,

frustrado – em seus yacaríes é ainda um prisioneiro de técnica clássica,

um companheiro da retórica espanhola.Vallejo, ao contrário, consegue

um novo estilo em sua poesia. O sentimento indígena tem em seus

versos uma modulação própria. Seu canto é integralmente seu.Não basta

ao poeta trazer uma nova mensagem.Precisa também trazer uma técnica

e uma linguagem novas. Sua arte não tolera o equívoco e o artificial

dualismo entre a essência e a forma. O sentimento indígena é, em

Melgar algo que vislumbra apenas no fundo de seus versos. Em Vallejo,

é algo que se vê aflorar plenamente no próprio verso, mudando sua

estrutura.Em Melgar não passa de um sotaque.Em Vallejo é o verbo.Em

Melgar, enfim, não é mais que queixa retórica.Em Vallejo é

empreendimento metafísico.Vallejo é um criador absoluto.Los heraldos

negrospodia ter sido sua única obra. Nem por isso Vallejo teria deixado

de instaurar, no processo de nossa literatura, uma nova época. Nesses

versos do pórtico de Los heraldos Negros principia talvez a poesia

peruana (peruana, no sentido indígena). (MARIÁTEGUI, 2010, págs. 290

e 291)

Podemos perceber que o nacionalismo com um toque especial de sentimento indígena

em Melgar e Vallejo é uma das principais características nas suas obras. O amor à pátria

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intensificado nas suas obras, apesar de ainda existir rasgos do espanholismo de ambos

autores, nos permite perceber que Peru atravessou por momentos de mudanças na sociedade

de aqueletempo.

Tempo que demostrou um simbolismo que proveio da cultura social com raízes

incaicas que apesar de destruído na conquista espanhola, continua vivo na interpretação

indígena das obras de Vallejo e de Melgar, mas que especificamente, em Vallejo a sua arte foi

direcionada para uma nova visão indígena onde a sua poesia e sua linguagem emanam de sua

carne e de sua alma.

Figura 43 – Historieta baseada na vida e obra literária do grande poeta peruano Cesar Vallejo.

Dentro de este aspecto artístico literário do realismo peruano é possível também levar

uma das obras de Vallejo numa abordagem diferenciada e visual através das Historietas

Educativas cuja proposta inovadora de aprendizagem onde se destaca o nacionalismo e o

indígenismo peruano. Numa das suas obras, em destaque da coleção do clássico literário

peruano Paco Yunque é adaptada para uma nova visão por Juan Acevedo, para o mundo

sequencial e encantador do mundo dos quadrinhos

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Figura 44: Capa de Paco Yunque adaptada por Juan Acevedo

―Paco Yunque. Tres lecturas‖, da Editorial SM é uma nova reedição do clássico conto

de César Vallejo que contém o relato original, a versão historieta de Juan Acevedo, a versão

historieta e as ilustrações do espanhol Carlos Giménez.

A Coleção Clássicos Peruanos, a editorial SM apresenta uma nova versão do conto

de Paco Yunque, criado por César Vallejo. Paco Yunque. Tres lecturas, título obra literária

nos oferece uma versão comic realizada pelo historietista Juan Acevedo com ilustrações do

artista espanhol CarlosGiménez.

Atualmente conhecida comobullying, mas muito antes que existisse este termo, a

agressão verbal, física e psicológica se havia manifestado nos colégios. Esse é o núcleo da

história que nos apresenta César Vallejo.

O relato transcorre numa escola de um povo peruano durante os primeiros anos do

século XX. A história inicia com no primeiro dia de aula de Paco Yunque, filho de uma

empregada doméstica que trabalha na casa de Dorian Grieve, o gerente inglês das trilhas

dePeruvianCorporationeprefeitodopovo.PacojuntocomHumbertoGrieve,ofilhodo

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patrão tinha a mesma idade de Paco e iam para escola com intuito de participar dos jogos e

estudos. Desde a sua chegada à cidade, Paco Yunque enfrenta a hostilidade de um lugar alheio

ao campo e fica aturdido ao ver tantas crianças juntas que faziam muito barulho na sua

escola: além de sofrer abuso de Humberto Grieve e da maioria dos seus colegas deaula.

O contexto social desta história, que mostra uma realidade não superada totalmente,

tem feitodeste livro um clássico que continua sendo lido nas escolas.

Figura 45 - Obra de Cesar Vallejo adaptada por Juan Acevedo - Tema: o Bullying nas escolas.

Por outro lado, o Indigenismo foi um movimento cultural mais coerente e significativo

do realismo peruano cujo destaque é o mundo indígena e o regime de injustiça onde o aspecto

autóctone foi reivindicado gerando assim um valor místico indigenista nas obras desta

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corrente literaria. José Carlos Mariatégui e José Maria Arguedas foram um dos principais

literários desta corrente literária no Peru. (CEPRE, 2015)

Jose Maria Arguedas traduz o Manuscrito de Huarochirí do quéchua ao espanhol

tornando-a accessível para ser entendida ao ser lida. Esta tradução é utilizada no sentido de

deslocar-se do tempo e no espaço, redimensionando graficamente as diferenças e semelhanças

histórico-culturais (QUELUZ, 2005, p. 128)

Figura 46: Imagem da Historieta Dioses y hombres de Huarochirí

O manuscrito Deuses e homens de Huarochirí reune um conjunto de mitos sobre huacas e

ritos que existiam na região limenha de Huarochirí no século XVI, os quais foram recopilados

pelo sacerdote espanhol Francisco de Àvila com a finalidade de contribuir à extirpação de

idolatrias. Este texto de origem quéchua, traduzido por José María Arguedas em 1966, narra

mitos como o de Cuniraya y Cahuillaca e a origem das ilhas de Pachacámac, as façanhas de

Huatiacuri e o nascimento de Pariacaca, a missão do Inca Hauyna Cápac, entre outros relatos.

A adaptação está dirigida ao leitor escolar, ao docente, aos jovens ou ao público em geral e

sua divulgação está representada nesta entrevista dos criadores desta historieta naatualidade:

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Figura 47: Imagem da reportagem e divulgação dos criadores da Historieta:

El Manuscrito de Huarochorí.

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105

CONCLUSÃO

Educar e formar são duas categorias que caminham juntas, se misturam e dependem

uma da outra. Nosso estudo buscou colaborar no melhor entendimento da influência incaica

sobre o povo peruano no passar dos séculos, com destaque no século XXI.

Apresentamos nesse trabalho a maneira como o povo peruano teve a presença das suas

tradições como algo relevante no seu modo de encarar o mundo atual, como o peso dessa

tradição que está situada séculos distantes no processo civilizador daquele país se faz presente

no cotidiano contemporâneo de todo uma nação, com destaque na força que isso mantém até

hoje na formação dos estudantes nas escolas da cidade de Lima, capital do Peru.

Não há como estudar o passado do Peru e seu processo civilizador pré-colonização e

pós-colonização sem analisar e entender a civilização Inca com toda sua complexidade para o

período em que existiu ali.

Neste momento começou a edificação de uma nação por cima dos escombros de um

povo, se expressou com força parte importante do processo civilizador do Peru. Nosso

trabalho buscou aproximar este passado do Peru nos dias de hoje, entendendo melhor toda

uma nação e seus costumes a partir da educação.

Ter em conta o legado dos Incas como meio de transmissão de conhecimentos dentro

de um aspecto educacional que faz parte de uma estrutura cultural viva, dá a oportunidade que

todos nós possamos valorar a importância dos ensinamentos que deixaram os incas até os dias

de hoje.

Poder levar a cabo o ensino do Peru por meio do uso das historietas educativas se

torna uma forma relevante e diferenciada para a aprendizagem dos alunos, onde os mesmos

farão proveito desta alternativa visual mais atraente, lúdica e objetiva para o que eles precisam

aprender dentro do conteúdo programático estabelecido na grade curricular daescola.

As guias brindadas pelo Ministério de Educação do Peru são fundamentais para a

abordagem metodológica que o docente poderá fazer uso no ensino através do uso da

historieta, cujo propósito é proporcionar ao corpo discente e docente diversas diretrizes de

aprendizagem que permitam desenvolver o raciocínio lógico de maneira mais lúdica numa

narrativa sequencial de um tema especifico que está sendo tratado em sala de aula.

A vantagem de ofertar conhecimento aos alunos por meio de historietas é que as

mesmas podem ser usadas para o ensino de diversos temas educacionais com intuito de

proporcionar um leque de informações aos estudantes, podendo assim, também, despertar

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neste a sua criatividade para criar outras historietas onde ele queira transmitir outras

mensagens no meio social em que convive para outras gerações.

Nesta investigação pude ter a plena convicção de que ter outro recurso metodológico

para a aquisição da aprendizagem com o uso das histórias em quadrinhos é crucial para dar

alternativa relevante de aprendizado para o aluno, para aqueles que inclusive busquem outra

forma de abordagem metodológica para absorver o conteúdo ensinado na aula.

Anteriormente no Peru, as histórias em quadrinhos não eram tidas como um recurso

importante para o aprendizado do aluno, acredito que isto se deva ao fato de que ainda não

existia um despertar para fazer uso das historietas em sala de aula, uma das abordagens que as

mesmas eram o humor na reprodução de temas mais complexos da história e da mitologia, por

exemplo.

Além disso, temos como exemplo as exposições das tiras da ampla produção de

desenhos que foram publicadas em jornais, revistas e livros nos últimos quarenta anos por

Juan Acevedo, onde é explorado as mais diversas possibilidades com destreza na narrativa das

historietas queproduziu.

O campo literário também tem uma forte presença e influência para a criação de

historietas educativas no ensino da história do Peru. Juan Acevedo foi professor da história da

Arte e um dos precursores mais importantes na atualidade na criação de historietas junto com

Juan Carlos Silva Bocanegra.

Ambos historietistas se destacam pelas grandes historietas educativas criadas com

base à história do Peru na atualidade que torna isto relevante para ensino da história do Peru

nas escolas.

Como exemplo específico disto, corroborando tudo que analisamos na dissertação,

aqui citamos a historieta La Historia de Iberoamérica desde los niños criada por Juan

Acevedo, patrocinada pela Organização de Estados Ibero-americanos e da Secretaria de

Cooperação IberoAmérica.

Esta trata de quase toda a história pré-colombiana, desde 40.000 anos atrás, quando

chegaram os primeiros povoados, até a cultura Inca. No meio desta obra encontramos as

culturas matrizes Olmeca e Chavín, assim como as clássicas Teotihuacan, Maya e Mochica,

até o encontro com os espanhóis.

Esta pesquisa realizada por Juan Acevedo se baseia num estudo bibliográfico, assim

como viagens que fez por diversos países do nosso continente, conheceu pessoalmente os

cenários que logo situaria esta aventura.

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Em cada lugar dialogou com especialistas das épocas tratadas: arqueólogos,

historiadores, professores e sociólogos, onde nesta etapa foram realizadas oficinas de leituras

com grupos de crianças e adolescente que serviram como apoio para a elaboração desta

historieta educativa.

Desta forma, o aprendizado se torna acessível para a assimilação de conteúdo e

permite o desenvolvimento cognitivo por partes dos alunos por meio do uso da imaginação,

pois as histórias em quadrinhos contêm uma linguagem, símbolos, representações e variáveis

que facilitam a aquisição do aprendizado sobre um determinado tema educativo como

podemos observar na historieta educativa Miguel Grau a qual está representa uma exposição

de narrativa sequencial de um dos acontecimentos históricos sobre uns dos heróis nacionais de

muito destaque na história do Peru que lutou contra os chilenos no Combate de Angamos que

também analisamos no escopo da dissertação.

As historietas educativas peruanas estão vinculadas com a arte da aprendizagem por

elas serem uma forma de contato com a criatividade cognitiva da mente humana com bases

culturais da história do Peru para a transmissão de conhecimentos adquiridos previamente

sobre as tradições da cultura Inca através de uma linguagem peculiar que se comunica com o

leitor por meio de outras linguagens verbais e não verbais, por imagens ou códigos para a

aquisição do entendimento da mensagem transmitida pelo criador que usa a arte para criar as

historietas com o intuito de expressar pensamentos, estimular na criação de outras destas com

ideais, narrar histórias relevantes e expor aprendizados.

Com esta pesquisa pude comprovar que adquirir conhecimentos é importante para o

ser humano para se desenvolver intelectualmente. A aquisição de conhecimentos pode ser

obtida de diversas formas, a principal deste estudo é por meio do uso das historietas nas

escolas, abordando diversos gêneros literários onde possa articular as mesmas com a educação

dentro de uma política eficiente com abertura à criatividade artística por meio destas, com o

apoio do Ministério de Educação para o seu uso em sala deaula.

Esta analise se torna fundamental para obter uma visão de aprendizagem estratégica no

campo educacional do sistema educativo peruano, tendo em conta que o conhecimento e a

aprendizagem são inerente ao ser humano aprendiz.

Inovar na educação, usar um novo recurso metodológico que integre plenamente a

interação do corpo discente e docente por meio das historietas educativas, expor raciocínios

lógicos, proporcionar uma socialização eficiente entre todos os alunos fazendo uso de novas

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tecnologias na educação ao ler uma historieta através de novas tecnologias, redes sociais,

internet e tablete.

Tudo isso trará conquistas diferenciadas nas aprendizagens do aluno em qualquer faixa

etária da vida porque é isso que a educação pede, ter contato com outras ferramentas de

aprendizagens que torne o aprendizado relevante e flua como outra alternativa dinâmica, a

exemplo de como as historietas educativas peruanas estão sendo usadas em sala de aula nos

dias de hoje nas escolas do Peru.

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109

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14. Sitio Diario El ComercioPeru

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manuscrito-huarochiri-al-comic-noticia-1822533

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Acesso em: 19/11/2015.

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http://es.slideshare.net/elecarbe/paco-yunque-2478734

23. SitioMadeinPeruwordpress

Disponível em: https://madinperu.wordpress.com/2012/09/17/pururauca-la-guerra-inca-

chanca-trasladada-al-comic/

Acesso em: 02/12/2015.

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Disponível em: http://energicentro.blogspot.com.br/2011/04/ollantay-buen-dia-lectores.html

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27. Sitio Tebeosfera. Disponível em:

http://www.tebeosfera.com/documentos/documentos/la_historieta_peruana_1.html

Acesso em:15/02/2016.

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APÊNDICE

1. Plan de Clase de historieta con secuencia didáctica y sigue las Rutas de aprendizaje en una escuela de Lima Barranco

SESIÓN DE APRENDIZAJE

TITULO: ―Nos organizamos en un ambiente saludable y nos comprometemos con la calidad educativo”

I. DATOS INFORMATIVOS

AREA: COMUNICACIÓN GRADO Y SECCIÓN: 6TO D FECHA: 31 marzo

DOCENTE: PATRICIA VILCA DÍAZ

II. COMPETENCIAS, CAPACIDADES E INDICADORES

SITUACION DE

APRENDIZAJE

COMPETENCI

AS

CAPACIDAD

ES

INDICADORES PRECISADOS

Aprendemos sobre la

historieta

COMPRENSIÓ

N DE TEXTOS

PRODUCCIÓN

DE TEXTOS

- Identifica

información en

diversos tipos

de textos según

el propósito.

-Planifica la

producción de

diversos tipos

de textos.

-Deduce el tema central y las ideas principales, conclusiones en textos con varios

elementos complejos en su estructura y con diversidad temática

-Propone de manera autónoma un plan de escritura para organizar sus ideas de acuerdo

con su propósito comunicativo

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Propósito social

III. SECUENCIA DIDÁCTICA:

INIC

IO

Motivación

Se les entrega una pequeña historieta sobre Mafalda

Leen y comentan sobre el tema de la historieta

Responden preguntas sobre ¿Qué es una historieta?

UNA SITUACION DE APRENDIZAJE

Esta historieta muestra como a un niño le agrada la sopa y a su hermana no.

- Se les pregunta : ¿A cuántos les gusta la sopa? (mencionan algunas sopas

que hallan probado)

5

Saberes

previos

5

Conflicto

Cognitivo

5

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CO

NS

TR

UC

CIÓ

N

Proceso de

información

RECEPCIÓN DE LA INFORMACIÓN

Leen el texto discontinuo ―Manteniéndonos sanos‖ pag 38 y 39 del libro

del MED.

ANTES DE LA LECTURA:

¿Para qué leerás esta historieta?

Observa estas páginas. busca palabras y otros elementos, ¿Qué te

adelantan acerca del texto? ¿Algunas palabras te permiten saber de qué

tratará el texto?

DURANTE LA LECTURA:

Observa con atención las imágenes

Ten en cuenta la secuencia

¿Modificastes las anticipaciones en ―Preparo la lectura?

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Aplicación

del

aprendizaje

DESPUÉS DE LA LECTURA (ficha DE LECTURA VER ANEXO)

¿Qué personajes se presentan en la historieta?

¿Dónde ocurre la historieta?

¿Qué oraciones o expresiones señalan el paso del tiempo en la

historieta?

¿Qué elementos o recursos gráficos se utilizan en la historieta? ¿Qué

expresan?

-Escuchan la explicación de la profesora sobre ¿Qué ES UNA

HISTORIETA? Pag 41 del libro del MED

-responden oralmente: ¿Por qué ―Manteniéndonos sanos‖ es un ejemplo

de historieta?

¿Qué información contienen los carteles usados en la historieta?

¿Qué sonidos representan las onomatopeyas empleadas en la historieta?

-Forman grupos de tres y elaboran una historieta (mínimo cuatro viñetas)

sobre la alimentación con imágenes dadas.

C

IER

RE

Meta

cognición

Reconstruimos el proceso: ¿Qué hicimos', ¿Cómo lo hicimos?, ¿Cómo

nos sentimos? ¿Qué es una historieta?

-ficha de observación

Tarea: Elabora una historieta sobre una situación cotidiana en tu escuela

con cuatro viñetas.

5

Evaluación

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IV. EVALUACION DE CAPACIDADES.

CRITERIO INDICADORES PRECISADOS INSTRUMENTO

Responsabilidad

Propone de manera autónoma un plan de escritura

para organizar sus ideas de acuerdo con su

propósito comunicativo

-Deduce el tema central y las ideas principales,

conclusiones en textos con varios elementos

complejos en su estructura y con diversidad

temática

Ficha de observación

V. EVALUACION DE ACTITUDES

ACTITUD CRITERIOS (CONDUCTAS OBSERVABLES) INSTRUMENTO

respeto

Pide la palabra para participar

Mantiene el aula y los demás ambientes de la escuela limpios

Respeta la opinión de los demás

Ficha de observación

VI.BIBLIOGRAFIA:

http://www.historieteca.com.ar/Mafalda/maftiras5.htm

Imagen : http://3.bp.blogspot.com/_v-bPjhIMScA/S6qxe2RjSJI/AAAAAAAAA7Y/kB28zXrSxTU/s320/camp_4.j

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ANEXOS

Questionário Investigativo

A). Preguntas para la obtención de datos comprobatorios para la tesis de mi maestría sobre el

uso de las historietas educativas en las clases de los colegios peruanos:

Nombre completo del Profesor: PATRICIA VILCA DÍAZ

1. ¿Cuál fue el disciplina que usaste el tema de la historieta?

Comunicación

2. ¿Qué libro didáctico fue usado para dar clases sobre la historieta a tus alumnos?

Comunicación 6 Ministerio de Educación. Lima Perú

3. ¿Cómo reaccionaron tus alumnos con este tema del uso de la historieta en la educación?

Muy motivados, despierta su interés y creatividad. Facilita el aprendizaje con el uso de

imágenes

4. ¿Ya habías dado anteriormente alguna clase sobre el uso de la historieta?

Si, en temas del área de Comunicación como la carta, uso de las mayúsculas y en Personal

Social la rebelión de Túpac Amaru.

5. ¿Qué importancia y relevancia hay para ti como profesor usar las historietas en clase?

El uso de historietas es importante porque motiva y capta la atención del estudiante. Puede ser

usado como parte de la motivación de una clase así como en el desarrollo (tema) e incluso en

la aplicación donde el estudiante puede elaborar sus propias historietas,

6. ¿Cuánto alumnos estuvieron presente?

25 estudiantes aproximadamente

7. ¿Por qué se dio el tema de la historieta en clase?

Se dio el tema porque en el área de Comunicación en comprensión de textos se trabaja textos

continuos y discontinuos, estaba de acuerdo a la programación curricular.

8. ¿Cuáles fueron los educadores (teóricos) peruanos que hicieron o trataron el tema de la

importancia de la historieta en el sector educativo?

Mgtr. Gabriela Alcalá docente de la Facultad de Ciencias de la Educación de Piura.

9. ¿En qué universidad te graduaste?

En la Universidad Femenina del Sagrado Corazón UNIFE

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10. ¿Cuál fue el retorno o respuestas de los alumnos de tu clase dada sobre el tema de las

historietas?

Aprendieron fácilmente el tema y desarrollaron sus habilidades lingüísticas y artísticas en la

elaboración de las mismas.

11. ¿En qué colegio trabajas y cuánto tiempo tienes de experiencia con la enseñanza (teniendo

en consideración, también la enseñanza con foco en las historietas educativas en tu clase)?

Trabajo en la Institución Educativa ―Los Precursores‖ Surco Lima Perú, tengo 17 años

trabajando.

12. ¿Qué historietas educativas (teniendo en cuenta los personajes importantes de la historia

de Perú) son importantes para usar en las clases?

He trabajado historietas con personajes históricos como José de San Martín y Simón Bolívar

(libertadores de América), Túpac Amaru II (Precursor de la Independencia), desde mi punto

de vista son importantes porque resaltan valores como patriotismo, valentía, perseverancia,

13. ¿El MINEDU de Perú invierte con materiales para didácticos para los profesores y

alumnos sobre las historietas educativas? ¿Cuáles son?

El MINEDU entrega libros (de las cuatro áreas Comunicación, Personal Social, Matemática y

Ciencia y Ambiente) y cuadernos de trabajo (Matemática y Comunicación). Dentro de los

libros en algunas páginas se pueden encontrar historietas como tema a desarrollar o como

motivación de algún tema.

14. ¿Cómo realizaste tu clase y qué método pedagógico usaste para llevar a cabo la enseñanza

con base en el uso de la historieta en clase?

Planifique mi sesión de acuerdo a la siguiente secuencia:

- Motivación

- Recojo de saberes previos

- Desarrollo (Antes, durante y después de leer la historieta)

- Aplicación (Elaboran una historieta)

- Salida

- Usé el método inductivo

15. ¿Cómo es socializar la historieta en clase?

Socializa a los estudiantes despertando el interés en el curso, promueve la práctica de valores,

propicia la elaboración de historietas.

16. ¿Qué otras ideas tienes para usar historietas educativas en tus clases?

Se puede usar en temas históricos como: la proclamación de la Independencia, la rebelión de

Túpac Amaru, los Incas, las culturas pre-incas.

También se puede usar en el área de Formación Religiosa: las parábolas de Jesús, la vida,

pasión y muerte de Jesús, etc.

17. ¿Qué podrías aportar de tu experiencia sobre el uso de las historietas en clase (como

profesor y por parte del alumnado)?

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Entretiene y despierta el interés del estudiante.

En el alumnado promueve el trabajo en equipo en la elaboración de la historieta.

18. ¿Qué tipo de contacto y qué relación tienes con las historietas?

Las utilizo en algunas clases como motivación, y como aplicación del aprendizaje.

Las utilizo en algunas clases como motivación, y como aplicación del aprendizaje.

19. ¿Cuál es la relevancia del uso de las historietas en el planeamiento general de la disciplina

que enseñas?

Es relevante porque tiene como objetivo entretener, despierta interés y en algunos casos

informa.

20. ¿Qué otras herramientas y alternativas pedagógicas no convencionales usas en tus clases?

Durante las clases deben usarse herramientas y estrategias variadas como: trabajos grupales,

entrevistas, debates, uso de títeres, visuales, así como el uso de vídeos con su respectiva ficha

de observación.

- B). Conclusão da entrevista

Com esta entrevista e com meus estudos posso afirmar que, as respostas da professora Patrícia

Vilca Díaz, confirma a importância e relevância da minha pesquisa, a qual comprova que, de

fato, a historieta educativa usada em sala de aula, como professora que acredita fielmente

nesta valiosa ferramenta, nos ajuda a ter um suporte diferenciado no ensino.

Como professora pesquisadora deste assunto, afirmo que é mais do que possível levar o

conhecimento ao aluno por diversas dinâmicas de aprendizagem em sala de aula. Com as

histórias em quadrinhos, o ensino tudo se torna interessante e objetivo por meio da

imaginação e da leitura.

O Ministério de Educação do Peru ao brindar variados caminhos de aprendizagem para que

aprendizagem seja assimilada com eficiência e lógica proporciona ao aluno a chance de criar

e desenvolver a sua própria historieta em sala de aula e assim usá-la de forma diferenciada em

diversas disciplinas dentro do marco curricular escolar com a finalidade de facilitar a

aprendizagem de forma plena por outras diretrizes metodológicas através das histórias em

quadrinhos como é levado a cabo no processo educativo peruano.

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