uma anÁlise comparativa - lei sarbanes-oxley
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FACULDADE DE ECONOMIA E FINANÇAS IBMEC PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO E PESQUISA EM
ADMINISTRAÇÃO E ECONOMIA
DISSERTAÇÃO DE MESTRADO
PROFISSIONALIZANTE EM ADMINISTRAÇÃO
UMA ANÁLISE COMPARATIVA DAS
REGULAMENTAÇÕES EXISTENTES PARA
EMPRESAS, BANCOS E SEGURADORAS, COM
ÊNFASE NA LEI SARBANES-OXLEY.
CCAARROOLLIINNAA CCAARRVVAALLHHOO ZZAACCHHAARRIIAASS
ORIENTADOR: PROF. DR. ANTÔNIO MARCOS DUARTE JR.
Rio de Janeiro, 21 de novembro de 2006.
UMA ANÁLISE COMPARATIVA DAS REGULAMENTAÇÕES EXISTENTES
PARA EMPRESAS, BANCOS E SEGURADORAS, COM ÊNFASE NA LEI
SARBANES-OXLEY.
CCAARROOLLIINNAA CCAARRVVAALLHHOO ZZAACCHHAARRIIAASS
Dissertação apresentada ao curso de Mestrado Profissionalizante em Administração como requisito parcial para obtenção do Grau de Mestre em Administração. Área de Concentração: Administração Geral
ORIENTADOR: PROF. DR. ANTÔNIO MARCOS DUARTE JR.
Rio de Janeiro, 21 de novembro de 2006.
UMA ANÁLISE COMPARATIVA DAS REGULAMENTAÇÕES EXISTENTES
PARA EMPRESAS, BANCOS E SEGURADORAS, COM ÊNFASE NA LEI
SARBANES-OXLEY.
CCAARROOLLIINNAA CCAARRVVAALLHHOO ZZAACCHHAARRIIAASS
Dissertação apresentada ao curso de Mestrado Profissionalizante em Administração como requisito parcial para obtenção do Grau de Mestre em Administração. Área de Concentração: Administração Geral
Avaliação:
BANCA EXAMINADORA:
_____________________________________________________
PROF. DR. ANTÔNIO MARCOS DUARTE JR. (Orientador) Instituição: IBMEC-RJ _____________________________________________________
PROF. DR. RAIMUNDO NONATO SOUSA DA SILVA Instituição: IBMEC-RJ _____________________________________________________
PROF. DR. CARLOS PATRÍCIO SAMANEZ Instituição: DEI / PUC-RJ
Rio de Janeiro, 21 de novembro de 2006.
332 Z16
Zacharias, Carolina Carvalho. Uma análise comparativa das regulamentações existentes para empresas, bancos e seguradoras, com ênfase na lei Sarbanes-Oxley / Carolina Carvalho Zacharias. - Rio de Janeiro: Faculdades Ibmec. 2006. Dissertação de Mestrado Profissionalizante apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Administração das Faculdades Ibmec, como requisito parcial necessário para a obtenção do título de Mestre em Administração. Área de concentração: Administração Geral. 1. Finanças. 2. Gestão de risco. 3. Relação com investidor. 4. Regulamentação.
5
“Três âncoras deixou Deus ao Homem: o amor da pátria, o amor da liberdade, o amor da verdade.
Cara nos é a pátria, a liberdade mais cara; mas a verdade mais cara que tudo.
Damos a vida pela pátria. Deixamos a pátria pela liberdade. Mas pátria e liberdade renunciamos pela verdade.
Porque este é o mais santo de todos os amores.
Os outros são da terra e do tempo. A verdade vem do céu, e vai à eternidade.”
Rui Barbosa
6
AGRADECIMENTOS
Ao Professor Antonio Marcos Duarte Jr., meu
orientador, pelas diretrizes e orientações que
permitiram a realização deste trabalho de
suma importância para o meu crescimento
profissional.
Aos professores das Faculdades IBMEC pelas
contribuições durante o curso.
Aos meus pais que sempre estão do meu lado,
amigos e familiares que me ajudam direta e
indiretamente sempre.
7
RESUMO
Diante da abrangência de aplicação da Lei Sarbanes-Oxley, a qual tem sua implantação
exigida para todas as empresas que negociam ações na bolsa de valores norte-americana, e
principalmente diante do impacto desta no mercado de capitais mundial, bem como no
ambiente empresarial como um todo, este trabalho procura fazer uma análise comparativa
entre esta e outras regulamentações existentes no mercado de empresas, bancos e
seguradoras. Ao longo da dissertação é realizada uma análise dos pontos da lei, tais como:
controles internos, transparência, comitê de auditoria e responsabilização, de forma a
conhecer as exigências não apenas em termos da lei Sarbanes-Oxley, mas também no
ambiente regulamentar das instituições financeiras, através do Novo Acordo de Capitais da
Basiléia e outras exigências regulamentares aplicáveis, bem como para o mercado de
seguradoras. Este trabalho constata que muitas determinações previstas na Lei Sarbanes-
Oxley já são exigidas no mercado de bancos e seguradoras. O trabalho propõe uma
aproximação entre as exigências regulamentares para empresas, bancos e seguradoras de
forma a simplificar o ambiente regulador e ser mais eficiente, com objetivo de contribuir
para a discussão e aperfeiçoamento dos normativos sobre o assunto. Para tanto foi utilizado
um embasamento teórico das regulamentações existentes no mercado que contemplam as
questões relacionadas a controles internos, transparência, comitê de auditoria e
responsabilização e a percepção é que as exigências já estão muito próximas.
Palavras Chaves: Lei Sarbanes-Oxley, Controles Internos, Transparência, Comitê de
Auditoria e Responsabilização.
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ABSTRACT
Facing the largest application of the Sarbanes-Oxley law, which has its
implantation as an obligation to all the companies that work in the American
stroke market, and mainly with its impact on the world stroke market, as
well as in the business field, this work tries to do a comparative analysis
between this and the other regulations that exists in companies in
general, banks and insurances. During the work an analysis of the law is done in some
aspects: internal controls, transparency, audit committee and corporative
responsibility. On that aspect we could know not only the exigencies of Sarbanes-
Oxley law, but also in the regulations of the financial institutions, through the New Basel
Capital Accord and others regulations, as well to the insurances market. This work
conclusion is that much of the exigencies of Sarbanes-Oxley already exist to banks and
insurances. The work propose a closer exigencies among the regulations for companies,
banks and insurances, so that we would simplify the regulating laws and it would be more
efficient, with the purpose of contributing to the discussion and
perfection of the rules about the subject. So, for that, theoretical bases were used about the
regulations existent in the market which have questions related to the internal controls,
transparency, audit committee, and corporative responsibility and the perception is that the
exigencies are already very close.
Key words: Sarbanes-Oxley law, internal controls, transparency, audit committee and
corporative responsibility.
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LISTA DE FIGURAS
Figura 1: Processo de certificação da seção 404
Figura 2: Diferença entre estruturas Brasil x EUA
Figura 3: Foco do Comitê de Auditoria
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LISTA DE TABELAS
Tabela 1: Auditorias externas e seus problemas
Tabela 2: Resumo da Lei Sarbanes-Oxley
Tabela 3: Resumo sobre Controles Internos
Tabela 4: Resumo sobre Transparência
Tabela 5: Resumo sobre Comitê de Auditoria
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LISTA DE SIGLAS E ABREVIATURAS
Bacen: Banco Central do Brasil
BCBS – Basel Committe on Banking Supervision (Comitê de Supervisão Bancária da
Basiléia)
BIS: Bank for International Settlements (Banco de Compensações Internacionais)
Bovespa: Bolsa de Valores de São Paulo
CEO: Cheef Executive Officer
CFO: Cheef Financial Officer
CNSP: Conselho Nacional de Seguros Privados
COSO: Commitee of Sponsoring Organizations of the Treadway Commission
CVM: Comissão de Valores Mobiliários
EUA: Estados Unidos da América
G-10: Países do grupo dos 10
IBGC: Instituto Brasileiro de Governança Corporativa
NACB: Novo Acordo de Capitais da Basiléia
PCAOB – Public Company Accounting Oversight Board
PLA: Patrimônio Líquido Ajustado
PR: Patrimônio de Referência
SEC: Security and Exchange Commission
SOX: Lei Sarbanes-Oxley
SUSEP: Superintendência de Seguros privados
12
Sumário:
1. Introdução ............................................................................................................... 11
1.1. Motivações para a Lei. ..................................................................................... 14
1.1.1. O caso Enron ......................................................................................... 14
1.1.2. O caso WorldCom ................................................................................ 16
1.1.3. O caso Arthur Andersen ....................................................................... 17
1.2. Objetivo ........................................................................................................... 20
1.2.1. Objetivo Geral ...................................................................................... 20
1.2.2. Objetivos Específicos ........................................................................... 20
1.3. Relevância ou Justificativa .............................................................................. 21
1.4. Estrutura da Dissertação .................................................................................. 24
1.5. Órgãos Regulamentares ................................................................................... 26
1.5.1. SEC (Security and Exchange Commision) .….......…............................ 26
1.5.2. Banco Central do Brasil ..........................................................................27
1.5.3. SUSEP (Superintendência de Seguro Privado) ...................................... 28
1.5.4. CVM (Comissão de Valores Mobiliários) ............................................. 29
2. Lei Sarbanes-Oxley ................................................................................................. 31
2.1. Um sumário da Lei ........................................................................................... 32
3. Controle Interno ....................................................................................................... 38
3.1. Controle Interno na Lei Sarbanes-Oxley .......................................................... 38
3.1.1. Efetividade dos controles internos sobre os relatórios financeiros ....... 40
3.2. Controles Internos nas instituições financeiras ................................................ 42
3.2.1. O Novo Acordo de Capitais da Basiléia ................................................ 42
3.2.1.1.O primeiro pilar ............................................................................... 43
3.2.1.2.O segundo pilar ............................................................................... 43
13
3.2.1.3.O terceiro pilar ................................................................................. 44
3.2.2. Banco Central do Brasil: Comunicado 12.746 ...................................... 45
3.2.3. Banco Central do Brasil: Resolução 2.554 ............................................ 48
3.3. Controles internos para seguradoras ................................................................. 49
3.4. Comentários finais sobre controles internos ..................................................... 50
4. Transparência .......................................................................................................... 54
4.1. Transparência na Lei Sarbanes-Oxley .............................................................. 55
4.1.1. Responsabilidade corporativa pelos relatórios financeiros .................. 56
4.1.2. Divulgação da efetividade dos controles internos ................................ 57
4.2. Transparência nas instituições financeiras ...................................................... 58
4.2.1. O Novo Acordo de Capitais da Basiléia ............................................... 58
4.2.2. Banco Central do Brasil: Comunicado 12.746 ..................................... 60
4.2.3. Banco Central do Brasil: Resolução 2.554 ........................................... 61
4.3. Transparência para seguradoras ........................................................................62
4.4. Transparência na BOVESPA (Bolsa de Valores de São Paulo) ...................... 64
4.5. Comentários finais sobre transparência ........................................................... 65
5. Comitê de Auditoria .................................................................................................68
5.1. Comitê de auditoria na Lei Sarbanes-Oxley .....................................................69
5.1.1. Auditoria Externa .................................................................................. 72
5.1.2. Prestação de serviço de não auditoria e pré-aprovação ......................... 72
5.1.3. Independência do Comitê ...................................................................... 73
5.1.4. Especialista Financeiro .......................................................................... 74
5.1.5. Reclamações e denúncias ...................................................................... 74
5.2. Comitê de auditoria nas instituições financeiras .............................................. 75
5.2.1. Constituição do Comitê ......................................................................... 75
14
5.2.2. Auditoria externa e interna .................................................................... 76
5.2.3. Comunicação ......................................................................................... 77
5.3. Comitê de auditoria para seguradoras .............................................................. 78
5.3.1. Constituição do Comitê ......................................................................... 78
5.3.2. Atribuições do Comitê .......................................................................... 79
5.3.3. Auditoria externa .................................................................................. 80
5.3.4. Comunicação ........................................................................................ 80
5.4. Comentários finais sobre comitê de auditoria ................................................. 81
6. Responsabilização ................................................................................................... 87
6.1. Responsabilização na Lei Sarbanes-Oxley .......................................................87
6.1.1. Responsabilidade corporativa: Certificação das informações ............... 88
6.1.2. Penalidades ............................................................................................ 89
6.2. Responsabilização na legislação brasileira ....................................................... 89
6.3. Comentários finais sobre responsabilização ..................................................... 91
7. Conclusões ................................................................................................................ 94
8. Referências Bibliográficas......................................................................................... 100
15
1. INTRODUÇÃO
A Lei Sarbanes-Oxley, aprovada em julho de 2002, é considerada a
legislação de maior impacto em termos de governança corporativa, ética, auditoria,
declaração financeira e práticas de contabilidade pública desde os anos 30, quando houve a
criação da SEC – Security and Exchange Commission (Comissão de Valores Mobiliários
dos Estados Unidos), instituição que pode ser considerada equivalente à Comissão de
Valores Mobiliários – CVM brasileira.
Em 1933 os objetivos básicos da lei foram:
• Exigência de que as informações financeiras, entre outras relevantes,
fossem oferecidas aos investidores por canais públicos;
• Proibição de enganos, falsidade e outras fraudes na venda de ações.
Em 1934 houve a criação da SEC, sendo esta a maior autoridade na
indústria de títulos, com poder de registrar, regulamentar e transferir agentes. Foi quando
se passou a exigir relatório periódico de informações das empresas abertas1.
Recentemente, com o grande número de empresas que redeclararam ganhos
nos Estados Unidos, foi identificada a fragilidade do sistema financeiro americano com a
constatação de que os casos não são isolados e as falhas acontecem em grandes
corporações o que afeta de forma significativa o interesse público, dos investidores e a
economia como um todo.
Conforme exposto em Paine (2004), entre 1995 e 2001, o número de re-
declarações subiu de 50 para mais de 150 ao ano, num total de 722 reconhecimentos
públicos de que os números estavam errados e que precisariam ser refeitos.
1 Empresas abertas são as empresas que negociam ações nas bolsas de valores.
16
Entre janeiro de 1997 a junho de 2002, aproximadamente 10% das empresas abertas nos Estados Unidos republicaram as suas demonstrações financeiras pelo menos uma vez. Em 1997 foram 92 republicações, em 2001 foram 225 e em 2002, 250 republicações. Sendo que as republicações em 2000, 2001 e 2002 tiveram um efeito significativo no valor de mercado das ações das empresas envolvidas. (KPMG Risk Advisory Services, 2005)
Durante este período, contadores, auditores, analistas, executivos de
empresas e alguns representantes do partido republicano americano tendiam a se oporem à
reforma na regulamentação corporativa. Por outro lado, investidores, principalmente
investidores institucionais, gerentes de fundos de pensão e muitos membros do partido
democrata apoiavam a reforma, que estava sendo muito discutida no congresso americano.
O governo americano, preocupado com o impacto dos escândalos contábeis
no mercado de capitais, e estimulado principalmente pelos escândalos da Enron no final de
2001 e WorldCom em meados de 2002, quando a reforma na regulamentação corporativa
passou a ser prioridade, publicou a Lei Sarbanes-Oxley (Senador Paul Sarbanes –
Democrata e Michael Oxley – Presidente do Comitê Republicano).
A lei foi criada para demonstrar aos investidores o compromisso com a
verdade e integridade nas empresas americanas, restaurar a confiança dos investidores,
designar responsabilidade aos executivos para garantir que eles estejam de acordo com as
operações da empresa, além de restaurar a confiabilidade no processo de contabilidade.
Para tanto, a lei estabelece novos padrões para atuação ao conselho de administração e
comitê de auditoria, para penalidades criminais dos executivos, independência do auditor
externo, e também estabelece o Public Company Accounting Oversight Board (PCAOB),
subordinado à SEC para supervisionar a contabilidade das empresas abertas.
A lei, inicialmente, foi vista como custosa para as empresas, porém, a
adaptação exigida pela SOX, criada para dar transparência e consistência às demonstrações
17
financeiras, começa a ser percebida como uma grande oportunidade para gestão mais
eficiente dos resultados das operações.
Dentro da complexidade dos itens da lei, podemos citar algumas
expectativas de benefícios, como:
• Aumento de confiança e transparência nas declarações financeiras;
• Maior eficiência na alocação de capital;
• Simplificação e padronização de políticas e procedimentos;
• Mudança de controles manuais para automáticos;
• Aumento do ambiente de controle;
• Melhoria em fusões e aquisições;
• Aumento da responsabilidade dos executivos;
• Disponibilidade de fundos e recursos para melhorar controles internos
dos relatórios financeiros.
Além disso, as exigências da lei retratam e complementam as tendências do
mercado em termos de regulamentação e práticas adotadas. Neste trabalho, será abordado
para análise comparativa entre empresas, bancos e seguradoras, com ênfase na Lei
Sarbanes-Oxley: o Novo Acordo de Capitais da Basiléia; os níveis de governança
corporativa adotados pela Bovespa; entre outras regulamentações para bancos e
seguradoras no Brasil que direcionam as empresas e instituições a trabalharem as questões
dos controles internos, transparência, comitê de auditoria e responsabilização.
18
1.1. Motivações para a Lei:
1.1.1. O caso Enron
A Enron, empresa de energia, criada em 1985, conhecida e admirada pela
sua capacidade de inovar, no final de 2001 passou a ser conhecida por ser o maior caso de
falência dos Estados Unidos. Na realidade a criatividade e inovação da Enron estavam
também na capacidade de esconder as perdas e de declarar lucros inexistentes nos
relatórios financeiros. O que se fazia era criar empresas subsidiárias e parceiras, que não
tinham seus balanços publicados, as quais eram usadas para esconder os resultados ruins da
empresa como um todo.
Watkins (2003) descreve a reação do diretor presidente da Enron, Kenneth
Lay, quando questionado sobre os problemas contábeis da empresa. Ele se voltou para seus
executivos esperando uma explicação, foi quando estes argumentaram que, para eles, a
assinatura da Arthur Anderson era como uma certificação das práticas adotadas na empresa
e, portanto, não poderiam ser responsabilizados.
As declarações de Hamilton (2003) retratam a representatividade da Enron
no mundo dos negócios americanos. Sua receita era a 7a maior dos Estados Unidos. Os
leitores da revista Fortune votaram na Enron como uma das empresas mais admiradas nos
EUA. As escolas de negócio usavam a Enron como exemplo de transformação de uma
empresa conservadora de energia em uma empresa global. Em 1999 o diretor financeiro,
Fastow, foi votado pela CFO Magazine como o diretor financeiro mais criativo do ano.
O depoimento de um funcionário descrito em Hamilton (2003) revela que
na Enron os questionamentos não eram encorajados, e dizer coisas como “isso não faz
sentido”, era informalmente proibido.
Salter (2004) ressalta que a Enron possuía ferramentas de gerenciamento de
risco consideradas como as melhores do mercado, havia foco no desenvolvimento de
19
talentos, sistema de controle centralizado, bem como uma equipe de analista de risco
especializada. Porém, nada disso foi suficiente para evitar a quebra.
As conseqüências das operações que levaram a Enron a pedir falência em
dezembro de 2001, começaram a ser divulgadas, conforme exposto em Salter (2004),
quando em outubro de 2001 foram anunciados, 544 milhões de perdas em subsidiárias,
redução de 1,2 bilhões no capital dos acionistas e que suas demonstrações financeiras de
1997 a 2000 seriam revistas em função de erros contábeis nas subsidiárias, sendo revelado
um lucro declarado a mais de 586 milhões e uma dívida declarada a menos de 711 milhões,
gerando quebra total de confiança e fechamento das linhas de crédito para empresa.
O que aconteceu foi que na verdade, suas subsidiárias serviam para
desconsiderar seus ativos, acelerando o crescimento dos lucros nos relatórios, protegendo a
taxa de crédito, tirando parte da dívida da empresa de suas demonstrações financeiras o
que, a longo prazo, não se sustentou e as informações tiveram que ser revistas e
desmascaradas.
Os executivos da Enron foram julgados e penalizados. Ken Lay, 64 anos,
fundador da empresa, morreu em julho de 2006, sendo condenado culpado em maio de
2006 por todas as seis acusações relacionadas à Enron. As penas contra ele incorreriam em
até 165 anos de prisão e seriam pronunciadas em outubro de 2006. O diretor financeiro
Andrew Fastow, 44 anos, foi condenado em setembro de 2006 a seis anos de prisão mais
dois anos de serviços comunitários pela sua participação no caso de falência da Enron. Sua
pena só não foi maior por ele ter concordado em colaborar com a justiça contra Ken Lay e
Jeffrey Skilling. Skilling, 52 anos, presidente da Enron que se demitiu em agosto de 2001,
foi condenado a vinte e quatro anos e quatro meses de prisão pelo envolvimento na
falência da Enron.
20
1.1.2. O caso Worldcom
No caso da WorldCom, empresa de telecomunicação criada em 1983 com
rendimentos de $30 bilhões, $104 bilhões em ativos e 60.000 empregados, que em julho de
2002 pediu proteção através do código de falência dos Estados Unidos.
A empresa sempre teve como objetivo ser a número 1 entre as ações de
Wall Street. Em 2000 as condições do setor começaram a declinar até que foi decidido usar
a contabilidade para atingir as meta de desempenho, ou seja, manipular dados contábeis
para mostrar resultados inexistentes.
Hoje, a manipulação fraudulenta de resultados contábeis e de
demonstrações contábeis é conhecida como contabilidade criativa. É a decisão de criar
resultados positivos como forma de embelezar as demonstrações contábeis com a
finalidade de atrair investidores no mercado de capitais e ainda possibilitar a distribuição
de lucros a seus executivos. Com esse recurso, diante da crise geral no setor, a WorldCom
era a única empresa na qual os rendimentos divulgados continuavam altos.
“Entende-se, então, por contabilidade criativa o uso de procedimentos por parte dos contadores, que utilizam seus conhecimentos sobre as normas e procedimentos contábeis para manipular valores refletidos nas contas e demonstrações contábeis de uma empresa, porém dentro dos limites da legalidade, ou seja, entre várias alternativas válidas, o Contador decide qual o procedimento que deverá ser utilizado em atendimento aos diversos interesses e opiniões em um determinado momento.” (CARVALHO, 2003)
No caso da WorldCom, o “truque” contábil utilizado pela empresa era
registro dos custos fixos como investimentos. Kaplan (2004) descreve a cultura
organizacional formada por Bernard J. Ebbers como sendo caracterizada por não trabalhar
com práticas e políticas formais. Para Ebbers um código de ética e conduta era perda de
tempo, além disso, bônus e altos salários eram pagos especialmente para o pessoal de
21
finanças, contabilidade e departamento de relação com investidor, os empregados não
deviam questionar seus superiores e sim simplesmente fazer o que eles diziam.
De acordo com Kaplan (2004), o software de gerenciamento de risco da
auditoria externa, Arthur Andersen, entre 1999 e 2001 classificava a WorldCom como
empresa de alto risco de fraude, mas continuavam realizando a auditoria como se fosse
empresa de risco moderado.
Após a falência da WorldCom, os executivos foram julgados e condenados.
No caso de Bernie Ebbers, presidente da WorldCom e uma das figuras corporativas mais
respeitadas da América, antes da quebra da empresa, apesar de negado ter qualquer
conhecimento da fraude em julho de 2002, em julho de 2005 concordou em ter sua fortuna
confiscada em quarenta milhões de dólares, incluindo dinheiro, mansões e negócios. Desta
forma Ebbers transferiu seus ativos para um fundo dos acionistas para colocar em ordem a
ação jurídica, além disso, aos 63 anos recebeu uma pena de 25 anos de prisão. Scott
Sullivan, diretor financeiro da WorldCom, 43 anos e pai de uma menina de 4 anos recebeu
uma pena de 5 anos de prisão por ter sido considerado o arquiteto da fraude que levou a
WorldCom à falência.
A fraude contábil da WorldCom que sucedeu ao caso Enron veio a reforçar
a necessidade de algo bastante rígido em relação a regulamentação das companhias de
capital aberto nos Estados Unidos, resultando na aprovação da Lei Sarbanes-Oxley no final
de julho de 2002.
1.1.3. O caso Arthur Andersen
Arthur Andersen, professor universitário fundou em 1913 a empresa de
auditoria que mais tarde veio a ser a empresa internacional de auditoria e contabilidade,
Arthur Andersen LLP. A empresa fez parte das cinco maiores empresas de auditoria
22
externa do mundo e tinha sua história marcada pela honestidade e integridade, pontos
fortes de seu fundador.
De acordo com Hawkins (2003), o caderno de recrutamento da Arthur
Andersen destacava seus valores como sendo: respeito, integridade, crescimento
profissional e paixão pela excelência.
Em 1947 Leonard Spacek, um parceiro sênior da empresa assumiu o
comando da Andersen. Spacek ajudou a criar o conselho de princípios contábeis,
organização que determina padrões de contabilidade e ética. Como CEO da Arthur
Andersen, em 1954 introduziu o trabalho de consultoria como mais um serviço a ser
prestado aos clientes.
Por volta dos anos 70 as empresas de auditoria sofriam cada vez mais
pressão para reduzir custos e buscar alternativas de faturamento o que favoreceu o
crescimento dos serviços de consultoria. Segundo Hawkins (2003), em 1978 a consultoria
representava 21% do faturamento e em 1984 já era mais lucrativa que a auditoria. Assim, a
auditoria começou a ver vista como uma forma de buscar clientes para a consultoria, mas
as características dos serviços são bem diferentes e podem ser considerados conflitantes
entre si. Enquanto na consultoria o cliente é a própria empresa, na auditoria os clientes são
os investidores e credores que precisam de informações verdadeiras e transparentes
independente da satisfação da empresa, o cliente da consultoria.
A Arthur Andersen era a empresa de auditoria responsável pelas
declarações financeiras da Enron e WorldCom e também prestava serviço de consultoria
para estas. Segundo Hawkins (2003), em 2000 a Enron pagou à Arthur Andersen 25
milhões de dólares referente à auditoria e 27 milhões de dólares referente à consultoria. As
dificuldades e falhas da Enron não eram novidade para a Andersen, dentro dos parâmetros
de classificação de risco, a Enron estava como uma das 70 empresas consideradas de risco
23
máximo. Em fevereiro de 2001 houve uma discussão para decidir sobre manter ou não a
Enron entre os clientes e a decisão foi manter.
Enron e WorldCom não eram os únicos clientes de alto risco da Andersen,
ainda segundo Hawkins (2003), desde 1997 a empresa pagou 600 milhões de dólares para
acertar falhas nas auditorias realizadas em seus clientes. Além disso, a Andersen não era a
única empresa de auditoria com problemas, as outras empresas também pagaram por atos
falhos realizados, conforme pode ser visto no quadro abaixo:
Empresa Cliente Pagamento Data Ernst & Young Cendant $335.0 12/1999
BFA $217.0 04/2002 Sunbeam $110.0 05/2001 Waste Management $95.0 06/2001 Colonial Realty $90.0 07/1997
Arthur Andersen
DeLorean Motors $63.0 05/1999 PricewaterhouseCoopers MicroStrategy $55.0 05/2001 Ernst & Young Informix $34.0 06/1999 KPMG Piper Jaffray $13.9 04/2000
Tabela 1: Auditorias externas e seus problemas
Fonte: HAWKINS, David F. e COHEN, Jacob. Arthur Andersen LLP.
Havard Business School, Fev/2003.
As conseqüências para a Andersen vieram com o anúncio feito pela SEC de
que não aceitaria mais seus pareceres. A Arthur Andersen foi processada por destruir
documentos relevantes para a investigação da Enron. Porém, em Junho de 2005 a empresa
foi absolvida por ter sido provado que ela apenas seguiu seus procedimentos internos de
retenção de documentos e não teve intenção de prejudicar as investigações. A obstrução
judicial, impedindo-a de assinar pareceres de auditoria, acabou com a empresa que estava
no mercado havia 89 anos e empregava 85.000 pessoas em todo o mundo. Será que isso
não poderia ter sido evitado? Por exemplo, o banco de Wall Street, JP Morgan forneceu
24
informações erradas sobre a Enron e também envolvido com a WorldCom, pagou multas
assumindo o erro, mas continua no mercado.
1.2. Objetivo
1.2.1. Objetivo Geral
O trabalho tem como objetivo fazer uma análise comparativa entre a Lei
Sarbanes-Oxley e outras regulamentações do mercado, fazendo um paralelo entre
empresas, bancos e seguradoras. Para realizar esta análise são abordados, entre os diversos
itens da lei, os seguintes pontos: controles internos; transparência; comitê de auditoria; e
responsabilização como forma de identificar, em regulamentações já existentes as
exigências previstas na SOX.
1.2.2. Objetivos Específicos
• Analisar as exigências regulamentares em relação aos controles internos
de forma a identificar as abordagens legais existentes e quais as novas tendências. Verificar
os benefícios destes, que têm como objetivo sistematizar os processos para garantir que leis
e regulamentos estão sendo cumpridos, além de minimizar conflito de interesses,
desentendimentos internos e os riscos corporativos conhecidos.
• Conhecer as regulamentações referentes à transparência, uma vez que
este assunto é uma tendência muito forte no mercado mundial na expectativa de que as
informações sejam adequadamente divulgadas, gerando credibilidade aos relatórios
financeiros, protegendo os investidores e o interesse público que após recentes escândalos
de fraudes contábeis tiveram sua confiabilidade ameaçada;
25
• Identificar as exigências legais sobre a criação de comitê de auditoria a
serviço da qualidade das informações contábeis e financeiras e da certeza de que os
responsáveis cumprem no mínimo as determinações regulamentares;
• Verificar e analisar as leis e regulamentos disponíveis sobre
responsabilização dos executivos das empresas, observando as responsabilidades e
respectivas penalidades.
Assim, este estudo discutirá as exigências da Le i Sarbanes-Oxley em
relação aos pontos acima descritos e principalmente sua inter-relação com práticas,
tendências e regulamentações já existentes, no ambiente de empresas, bancos e
seguradoras.
1.3. Relevância ou Justificativa
A Lei Sarbanes-Oxley é aplicável a todas as empresas que negociam ações
na bolsa de valores de Nova York o maior centro econômico do mundo. Além disso, os
recentes escândalos contábeis geraram desconfiança e tiveram conseqüências negativas
tanto para as pessoas que perderam seus empregos, suas economias aplicadas em fundos de
pensão na empresa, quanto para o mercado quando o sentimento de desconfiança tomou
conta ameaçando a saída de investidores.
Os quatro aspectos da lei a serem abordados de forma mais incisiva neste
trabalho, controle interno, transparência, comitê de auditoria e responsabilização, podem
ser vistos como questões básicas no mundo empresarial, bem como ser consideradas
palavras chaves que descrevem o processo de convergência das regulamentações de
empresas, bancos e seguradoras.
A implantação de controles internos contribui, entre outras questões, no
processo de descentralização nas empresas. Uma vez definidas as regras, procedimentos,
26
leis e regulamentos que devem ser seguidos, bem como sistematizados os processos da
empresa, o poder decisório pode ser disseminado possibilitando, flexibilidade, agilidade e
tomada de decisão descentralizada, garantindo eficácia e eficiência nas operações. Diante
desta visão órgãos regulamentares a algum tempo definem exigências relacionadas aos
controles internos e a Lei Sarbanes-Oxley vem contribuir neste sentido.
A busca de transparência, ética e confiabilidade são fundamentais para o
crescimento da economia e do mercado de capitais uma vez que este depende de
investidores externos à empresa que precisam de informações confiáveis. Para tanto os
órgãos regulamentares vêm se esforçando no sentido de criar uma cultura de divulgação de
informação pelo desejo de informar e não apenas por ser uma exigência legal.
Da criação do comitê de auditoria espera-se questões indispensáveis como o
acompanhamento da gestão de riscos, da auditoria externa e interna e da efetividade dos
controles internos com foco na qualidade e integridade das demonstrações contábeis. O
comitê de auditoria é uma realidade das empresas há algum tempo, porém com a Lei
Sarbanes-Oxley este passa a ter mais responsabilidade e sua atuação é ampliada.
A responsabilização visa garantir o comprometimento das partes
interessadas nas declarações da empresa, evitando afirmação de executivos de que
desconhecem algumas práticas e atividades realizadas na sua empresa. As penalidades são
severas e é obrigação do presidente e do diretor financeiro saber e declarar que sabe tudo
que se passa na empresa.
A lei busca reparar por meios tangíveis a perda de confiança pública nos
líderes empresariais e enfatizar a importância dos padrões éticos nas informações
financeiras declaradas aos investidores. Na verdade a Lei Sarbanes-Oxley é uma forma
encontrada pelo governo norte-americano para estabelecer recursos legais para as práticas
eticamente corretas no mundo empresarial.
27
Em muitos casos a legislação é criticada como mais uma exigência custosa
às empresas, sendo, seus benefícios pouco valorizados. No caso da Sarbanes-Oxley,
certamente seu cumprimento não irá garantir a total correção de falhas identificadas no
mercado, mas irá reduzir a vulnerabilidade das empresas e os riscos conhecidos.
Duarte (2003) define risco como uma medida de incerteza associada aos
retornos esperados de investimentos e podem ser divididos em quatro grandes grupos:
Risco de mercado, relacionado às variações em fatores de mercado como taxas de juros,
taxas de cambio, preços de commodities e ações; risco operacional, possível perda em
função dos sistemas, práticas e medidas de controle não serem capazes de resistir à falhas
humanas ou a situações adversas de mercado; risco de crédito em função de que uma
contraparte em um contrato, ou um emissor de dívida, tenha sua capacidade de honrar suas
obrigações, alterada; risco legal, possível perda caso os contratos não tenham amparo legal.
Desta forma, a lei pode não ser a solução, porém é algo mais austero que
contribui para o gerenciamento de riscos e para garantir ou aumentar a credibilidade das
declarações financeiras, uma vez que o importante é correr riscos sim, mas riscos
conhecidos, além de permitir aos investidores conhecerem e confiarem nas informações,
continuarem investindo e promovendo o crescimento econômico.
Conforme destacado em: Lei Sarbanes-Oxley - Guia para melhorar a
governança corporativa através de eficazes controles internos, Deloitte Touche (2003),
“não só as obrigações estão claras, mas também as oportunidades. O potencial para revisar
e perceber novas visões corporativas e atingir novos níveis de excelência corporativa é
inesgotável”.
Em Finding the Silver Lining, PricewaterhouseCoopers (2005), é descrito
que:
28
As empresas começam a perceber que ao dar importância a certas exigências da SOX encontram benefícios significantes, como melhorar suas habilidades de gerenciar o risco, atrair e manter relacionamento de qualidade com parceiros, melhorar a interação com agências regulamentares, bem como qualificar membros do conselho, além de obter financiamento necessário, detectar fraude, reduzir exposição ao risco, eliminar processos redundantes do negócio e melhorar outros.
De forma sucinta, o trabalho se justifica pelo grande impacto da Lei
Sarbanes-Oxley no mercado como um todo, bem como para verificar quais as exigências
em termos de regulamentação já estão no mercado, quais as propostas e tendências futuras
e então entender e conhecer os desafios propostos pela SOX.
O trabalho se limita a analisar basicamente os pontos anteriormente citados,
referentes a controles internos, transparência, comitê de auditoria e responsabilização em
empresas através da Lei Sarbanes-Oxley, em bancos e seguradoras através de outras
regulamentações. É importante mencionar que não foram abordadas outras
regulamentações para empresas.
1.4. Estrutura da Dissertação
O trabalho está dividido em sete partes. A primeira é dedicada à introdução,
decorrendo sobre a importância, os incentivos para a Lei Sarbanes-Oxley, e os pontos a
serem discutidos ao longo do trabalho, sendo também detalhado o objetivo e justificativa
deste. Nessa parte, a contextualização da lei no mercado se dará através da descrição sobre
a SEC (Security and Exchange Commission), relacionando ao ambiente regulador para as
instituições financeiras na função do Banco Central do Brasil e para as seguradoras pela
SUSEP (Superintendência de Seguros Privados), além da Comissão de Valores Mobiliários
do Brasil, a CVM.
29
A segunda parte é dedicada à própria Lei Sarbanes-Oxley, ou seja, sua
criação e sua abrangência, descrevendo, de forma sucinta, cada tópico da lei, com o
objetivo de apresentá- la como um todo, uma vez que durante o trabalho apenas os itens
relacionados a controles internos, transparência, comitê de auditoria e responsabilização
serão discutidos com mais detalhe.
A terceira parte discorre sobre a questão dos controles internos tratada na
Lei Sarbanes-Oxley principalmente na seção 404 (avaliação do gerenciamento dos
controles internos). Para realizar uma análise comparativa sobre esse assunto, é
considerado também o Novo Acordo de Capitais da Basiléia, pilar 1 (capital mínimo), o
Comunicado 12.746 do Banco Central do Brasil, bem como a Resolução 2.554 do Banco
Central do Brasil, e a Circular 249 da SUSEP (Superintendência de Seguros Privados).
A quarta parte é dedicada à análise da transparência destacada de várias
formas pela Lei Sarbanes-Oxley, principalmente nas seções 302 (responsabilidade
corporativa nos relatórios financeiros) e 404 (avaliação do gerenciamento dos controles
internos). Para análise deste tópico, são considerados também, o Novo Acordo de Capitais
da Basiléia, pilar 2 (supervisão) e pilar 3 (disciplina de mercado), a Resolução 2.554 do
Banco Central do Brasil, bem como a Circular 249 e 280 da SUSEP (Superintendência de
Seguros Privados) e os níveis de governança corporativa criados pela Bovespa.
A quinta parte discorre sobre Comitê de Auditoria, previsto, na seção 301,
entre outras da Lei Sarbanes-Oxley, as quais definem a constituição do comitê,
responsabilidades e sua relação com a auditoria externa. Nesta parte são abordadas também
as resoluções, 3.198 do Banco Central do Brasil, bem como a 118 do CNSP (Conselho
Nacional de Seguros Privados) que regulamentam sobre comitê de auditoria e auditoria
independente nas instituições financeiras e seguradoras respectivamente.
30
A sexta parte é dedicada à análise sobre as exigências e conseqüências para
os responsáveis pelas corporações, ou seja, responsabilidade dos executivos que devem
saber tudo e, além disso, declarar que sabem tudo o que se passa na empresa. Para tanto
são discutidas as seções 302 (responsabilidade corporativa pelos relatórios financeiros),
906 (penalidades em função da responsabilidade corporativa) e 1.102 (penalidades por
alterar, destruir ou ocultar documentos). Neste caso são abordadas também as leis
brasileiras, 10.303, lei das sociedades por ações, 7.492 dos crimes contra o sistema
financeiro conhecida como lei do colarinho branco, bem como a 7.913 dos crimes contra
os investidores.
A sétima parte apresenta as conclusões sobre o assunto, sendo essa a
contribuição do trabalho para o mercado.
1.5. Órgãos Regulamentares
1.5.1. SEC – Security and Exchange Commission
A criação da SEC - Security and Exchange Commission aconteceu após a
quebra de 1929, quando houve um consenso de que para a economia se recuperar a
confiança do público no mercado de capitais deveria ser restaurada. Assim, o congresso
americano aprovou Security Act of 1933 e Security Exchange Act of 1934. Essas leis foram
designadas para restaurar a confiança dos investidores no mercado de capitais americano
através do fornecimento de mais estrutura.
A proposta principal da SEC pode ser resumida em duas idéias:
• As empresas abertas que oferecem ações aos investidores devem
oferecer também transparência na gestão.
• Pessoas que vendem e negociam ações devem tratar os investidores de
forma justa e honesta.
31
A SEC (Comissão de Valores Mobiliários dos Estados Unidos) pode ser
vista como equivalente à Comissão de Valores Mobiliários – CVM brasileira, tendo como
missão proteger os investidores e manter a integridade do mercado de capitais. Para tanto,
as leis e regras nos Estados Unidos tem o conceito de que todos os investidores, de grandes
instituições ou investidor individual, devem ter acesso a fatos básicos sobre o investimento
antes de tomarem suas decisões. Desta forma, a SEC solicita as empresas abertas que
divulguem informações financeiras, entre outras necessárias ao público, e que ofereça uma
possibilidade de conhecimento comum a todos os investidores para que possam julgar se a
empresa é ou não um bom investimento.
Para que a SEC seja efetiva, o ponto fundamental é sua autoridade. A cada
ano a SEC entra com uma média de 400 a 500 ações civis contra empresas e indivíduos
que não seguem as leis. Infrações típicas incluem negociadores internos (Insider trader –
essa atividade é ilegal quando a pessoa negocia a ação enquanto possui informação
material2 não publicada), fraude contábil, ou fornecimento de informações falsas ou
mascaradas3.
1.5.2. Banco Central do Brasil
O Banco Central do Brasil é uma autarquia federal, integrante do Sistema
Financeiro Nacional vinculada ao Ministério da Fazenda, com sede e foro em Brasília, a
Capital da República e atuação em todo território nacional. O Banco Central do Brasil foi
criado em 31/12/1964, com a promulgação da Lei nº 4.595.
Após a criação do Banco Central buscou-se dotar a instituição de
mecanismos voltados para o desempenho do papel de "bancos dos bancos". Em 1985 foi
2 Informação Material: uma informação é considerada material se sua omissão puder mudar ou influenciar a avaliação ou decisão de um usuário. 3 Em www.sec.gov
32
promovido o re-ordenamento financeiro governamental com a separação das contas e das
funções do Banco Central, Banco do Brasil e Tesouro Nacional.
A Constituição Federal de 1988 estabeleceu dispositivos importantes para a
atuação do Banco Central, dentre os quais se destacam o exercício exclusivo da
competência da União para emitir moeda e a exigência de aprovação prévia pelo Senado
Federal, em votação secreta, após argüição pública, dos nomes indicados pelo Presidente
da República, para os cargos de presidente e diretores da instituição.
O Banco Central é responsável por garantir o poder de compra da moeda
nacional, tendo por finalidade zelar pela adequada liquidez da economia, manter as
reservas internacionais em nível adequado, estimular a formação de poupança, zelar pela
estabilidade e promover o permanente aperfeiçoamento do sistema financeiro. O Banco
Central tem como atribuição emitir papel moeda e moeda metálica, executar serviços do
meio circulante, receber recolhimentos compulsórios e voluntários das instituições
financeiras, realizar operações de redesconto e empréstimo, efetuar operações de compra e
venda de títulos públicos federais, autorizar o funcionamento, estabelecer as condições e
exercer a fiscalização das instituições financeiras.
1.5.3. SUSEP – Superintendência de Seguro Privado
A SUSEP é o órgão responsável pelo controle e fiscalização dos mercados
de seguro, previdência privada aberta, capitalização e resseguro. Autarquia vinculada ao
Ministério da Fazenda foi criada pelo Decreto-lei nº 73, de 21 de novembro de 1966, que
também instituiu o Sistema Nacional de Seguros Privados, do qual fazem parte o Conselho
Nacional de Seguros Privados - CNSP, o IRB Brasil Resseguros S.A, as sociedades
autorizadas a operar em seguros privados e capitalização, as entidades de previdência
privada aberta e os corretores habilitados.
33
Dentre as atribuições da SUSEP, estão: fiscalizar a constituição,
organização, funcionamento e operação das Sociedades Seguradoras; atuar no sentido de
proteger a captação de poupança popular que se efetua através das operações de seguro,
previdência privada aberta, de capitalização e resseguro; zelar pela defesa dos interesses
dos consumidores dos mercados supervisionados; promover o aperfeiçoamento das
instituições e dos instrumentos operacionais a eles vinculados; promover a estabilidade dos
mercados sob sua jurisdição, assegurando sua expansão e o funcionamento das entidades
que neles operem; zelar pela liquidez e solvência das sociedades que integram o mercado;
disciplinar e acompanhar os investimentos; cumprir e fazer cumprir as deliberações do
CNSP (Conselho Nacional de Seguro Privado) e exercer as atividades que por este forem
delegadas.
1.5.4. CVM (Comissão de Valores Mobiliários)
A Comissão de Valores Mobiliários (CVM) é uma autarquia vinculada ao
Ministério da Fazenda, criada pela Lei nº 6.385, de 07 de dezembro de 1976, com a
finalidade de disciplinar, fiscalizar e desenvolver o mercado de valores mobiliários,
entendendo-se como tal aquele em que são negociados títulos emitidos pelas empresas para
captar, junto ao público, recursos destinados ao financiamento de suas atividades.
A principal função do mercado de valores mobiliários na economia é o
atendimento às necessidades de financiamento de médio e longo prazos por parte das
empresas. Ou seja, o mercado de valores mobiliários surge como fonte de recurso capaz de
financiar projetos de expansão ou de aperfeiçoamento tecnológico das empresas, na
medida em que reúne condições para oferecer às companhias um volume adequado de
recursos a custos satisfatórios, através de instrumentos atraentes para o público, quanto a
retorno, prazo, liquidez e garantia.
34
Para tanto, a Comissão de Valores Mobiliários exerce as funções de:
assegurar o funcionamento mobiliário; proteger os titulares de valores mobiliários contra
emissões irregulares e atos ilegais; evitar ou coibir modalidades de fraude ou manipulação
no mercado; assegurar o acesso do público às informações; assegurar a observância de
práticas comerciais eqüitativas; estimular a formação de poupança e sua aplicação em
valores mobiliários; promover a expansão e o funcionamento eficiente e regular do
mercado de ações e estimular as aplicações permanentes em ações do capital social das
companhias abertas.
O mercado de valores mobiliários, portanto, estimula a poupança e o
investimento, sendo essencial para o crescimento das economias modernas.
35
2. LEI SARBANES-OXLEY
Irregularidades na contabilidade de várias empresas motivavam, a partir de
maio de 2001, crescentes discussões em Washington sobre a qualidade dos relatórios
financeiros. Em dezembro de 2001 a empresa de energia Enron declarou falência depois de
anos escondendo suas perdas em balaços não divulgados de parceiras. Milhares de
empregados perderam seus trabalhos e suas economias para aposentadoria, enquanto os
executivos da empresa embolsaram milhões.
O colapso da Enron movimentou ainda mais conversas sobre uma reforma
na regulamentação corporativa, mas muitos políticos e executivos viam o caso como sendo
isolado, porém outros pensavam que era apenas o início de grandes problemas. Em Julho
de 2002, a idéia de que era apenas o início de próximas quebras se confirmou com a
falência da empresa de telecomunicações, WorldCom. A reforma corporativa se tornou
prioridade no congresso americano.
Conforme descrito em Paine (2004), Arthur Levvit, Chairman da SEC, fez
um pronunciamento externando sua opinião sobre a visão distorcida do gerenciamento de
lucros. Ele declarou ser testemunha da queda de qualidade nos relatórios financeiros, sendo
que os ganhos relatados refletiam os interesses dos gerentes e não a realidade.
Apesar da SEC exigir que as empresas de capital aberto tenham suas
declarações financeiras auditadas por empresa de contabilidade externa, muitas vezes essas
empresas prestavam também serviços de consultoria para instalação e manutenção de
informações contábeis, sistema de tecnologia da informação, etc. Uma visão sobre a causa
das quebras, apesar das auditorias externas, é que a pressão para manter o cliente satisfeito
na consultoria pode ter levado os auditores a olharem as práticas contábeis de outra forma.
Foi então formado um Comitê de Serviços Financeiros nos Estados Unidos,
composto por senadores, sendo 36 membros do partido republicano, representados por
36
Michael Oxley e 33 membros do partido democrata, representados por Paul Sarbanes, com
objetivo de reformar a regulamentação usando como ferramenta o estudo sobre as quebras
ocorridas na época.
Em 30/07/2002 o presidente norte-americano George W. Bush assinou a Lei
Sarbanes-Oxley com um discurso reforçando que a economia americana dependia da
confiabilidade e honestidade das empresas de capital aberto.
2.1. Um sumário da Lei
A Lei Sarbanes-Oxley foi criada para restaurar a confiança pública e a
integridade do mercado de capitais, definindo novas responsabilidades ao conselho de
diretores e no gerenciamento de empresas de capital aberto, fortalecendo a SEC (Security
and Exchange Commission). A SOX é aplicável às companhias de capital aberto que
negociam ações na bolsa de valores de Nova York.
A lei reescreveu as regras relativas à emissão de relatórios financeiros,
pressupôs aumento da responsabilidade do presidente da empresa, das auditorias internas, e
externas e dos advogados, garantindo maior transparência e confiabilidade às informações,
incluindo punição contra fraude e maior independência às auditorias. Diante de grande
complexidade da lei, há uma premissa simples, as práticas éticas do negócio agora são leis.
A Lei é composta por 11 títulos, podendo ser resumido conforme, Pane
(2004):
I – Public Company Accounting Oversight Board (PCAOB)4 – Criação de
conselho não governamental e sem fins lucrativos para verificar auditores e proteger
investidores. As empresas que conduzem auditorias precisam ser registradas no PCAOB.
4 Recentemente o PCAOB aprovou o Padrão de Auditoria no 2 que discute a importância da tecnologia de informação para definir e manter controles internos. Os auditores externos devem reunir evidências relacionadas à estrutura e operação efetiva dos controles internos incluindo a capacidade para proteger informações eletrônicas.
37
Este é encarregado de regular todas as práticas adotadas pelos auditores independentes de
empresas abertas e de definir como eles devem realizar a avaliação dos controles internos,
determina que o auditor independente considere a eficácia do comitê de auditoria em sua
avaliação.
II – Auditoria independente – Proíbe que as empresas de auditoria realizem
qualquer outra atividade para os clientes. Exige rotatividade de auditor líder e haverá
estudo sobre o impacto de exigir rotatividade entre as empresas de auditoria.
III – Responsabilidade corporativa – Requer que a auditoria seja verificada
por membro independente do conselho da empresa. Exige que o principal executivo
certifique as declarações financeiras. Pode exigir que os executivos percam os bônus
quando a empresa redeclara seus resultados financeiros por não ter cumprido a lei. Exige
que os advogados relatem fraudes aos executivos e ao conselho.
IV – Intensificação da divulgação financeira – Tratar a acuidade dos
relatórios financeiros e transparência quanto aos balanços não publicados. Limita
empréstimos pessoais aos executivos. Exige relatório da efetividade dos controles internos.
Direciona o código de ética para os diretores financeiros.
V – Conflito de interesse dos analistas – Direciona conflitos de interesses
envolvendo analistas de títulos que escrevem relatórios e têm atividades de investimento
com a mesma empresa.
VI – Comissão de reservas e autoridades – Fornece fundos para a SEC
aumentar salários, adicionar “staffs” e melhorar a tecnologia. Aumento de autoridade da
SEC para censurar atividades individuais e proibidas.
VII – Estudos e relatórios – Comissão de estudos sobre a consolidação da
contabilidade da empresa, o papel das agências de classificação de crédito, violação das
leis de títulos por tipo, freqüência e quem violou, além de reforço às ações da SEC e estudo
38
sobre o papel de banqueiros de investidores ou conselheiros financeiros de manipular
ganhos da empresa.
VIII – Fraude corporativa contábil e criminal – Aumento de penalidades
para destruição ou alteração imprópria de documentos. Aumento do estatuto de limitação
para fraude de títulos. Proteção a quem denuncia.
IX – Intensificação de crimes de colarinho branco – Indivíduos que
tentarem cometer crimes serão tratados como se o crime estivesse sido cometido. Aumento
de pena de prisão, 25 anos, e multa para certas fraudes. Criação de exigências adicionais de
certificação para executivos.
X – Corporate tax returns: A restituição de imposto de cada empresa deverá
ser assinada pelo presidente (CEO – Cheef Executive Officer).
XI – Fraude corporativa e contabilidade: Criação de penalidades adicionais
para alteração e destruição de documentos. Permissão à SEC de proibir os indivíduos de
serem executivos ou diretores após cometerem fraude. Proteção adicional a quem
denuncia. Aumento de algumas multas para 25 milhões e pena de prisão para 20 anos.
De forma resumida o desdobramento dos itens acima descritos, ou seja,
todos os itens da lei estão na tabela abaixo:
Item Resumo I Public Company Accounting Oversight Board (PCAOB)
Sec 101 Como formar o PCAOB definindo suas obrigações e regras. Sec 102 Critérios para registro de empresas de contabilidade no PCAOB.
Sec 103 Critérios a serem seguidos pela empresa de contabilidade registrada para emissão dos relatórios de auditoria, referente a controle de qualidade e padrões de independência.
Sec 104 O PCAOB faz inspeção na empresa de contabilidade verificando complacência com a lei, com regras do conselho, regras da SEC, padrão profissional, entre outros.
Sec 105 O PCAOB estabelece procedimentos para investigação e para disciplinar empresa de contabilidade registrada.
Sec 106 Regras para tratamento de empresas estrangeiras são as mesmas, com exceção da Sec 102.
Sec 107 As regras do PCAOB são aprovadas pela SEC.
Sec 108 A SEC define padrões de contabilidade podendo avaliar novos critérios em determinadas situações.
Sec 109 Definição de critérios para orçamento anual do PCAOB, aprovado pela SEC.
39
Item Resumo II Auditoria independente
Sec 201 Proíbe a prestação de vários serviços de não auditoria por parte dos auditores externos.
Sec 202 Serviços realizados por auditores externos, sejam ou não serviços de auditoria, devem ser pré-aprovados pelo comitê de auditoria.
Sec 203 Exigência de rotatividade do auditor líder. Sec 204 A empresa de auditoria externa deve relatar a auditoria realizada ao comitê de auditoria.
Sec 205 Comitê de auditoria é criado pelo, e entre, o conselho de administração para fins de supervisão dos processos de apresentação de relatórios financeiros e contábeis, assim como auditorias das demonstrações financeiras da empresa.
Sec 206 Proibição de prestação de serviço de auditoria por empresa que teve como empregado a menos de um ano, o CEO, o CFO, controller, entre outros, a fim de evitar conflitos de interesse.
Sec 207 Estudo sobre o impacto de exigir rotatividade entre as empresas de auditoria. Sec 208 Define regulamento para restrição quanto à atuação do auditor independente. Sec 209 Define padrões para supervisão de empresas de contabilidade não registradas.
III Responsabilidade corporativa
Sec 301 Implementação de comitê de auditoria por todas as empresas de capital aberto, com registro na SEC.
Sec 302 Certificação trimestral e anual dos controles e procedimentos de divulgação pelos diretores executivo e financeiro, assumindo sua responsabilidade pelos relatórios financeiros.
Sec 303 Proibição de conduta sob influência dos gestores na auditoria das declarações financeiras.
Sec 304 O presidente e diretor financeiro devem reembolsar as perdas causadas por falhas nas declarações financeiras tendo seus bônus e lucros confiscados.
Sec 305 Restrições e penalidades para executivos e diretores. Sec 306 Regulamenta negociação durante período de "apagão" e define penalidades. Sec 307 Define regras para advogados sobre relato de suspeitas ou evidências de irregularidades. Sec 308 Define regras para formação de um fundo que proteja os investidores.
IV Intensificação da divulgação financeira
Sec 401 Determina regras para garantir que as informações divulgadas em relatórios periódicos sejam confiáveis.
Sec 402 Proíbe empréstimo pessoal a executivo, como forma de evitar conflito de interesse. Sec 403 Exige divulgação de transações realizadas por gerentes, acionistas e executivos. Sec 404 Avaliação do gerenciamento dos controles internos divulgados no relatório financeiro. Sec 405 Critérios para isentar o cumprimento das seções 401, 402 e 404. Sec 406 Exigência de direcionamento do código de ética para o executivo financeiro.
Sec 407 Exige que pelo menos um dos membros do comitê de auditoria seja um especialista financeiro.
Sec 408 Revisão sistemática e regular pela SEC das informações divulgadas pelas empresas.
Sec 409 Divulgação de informações materiais em tempo real, relativas às mudanças nas condições financeiras e operacionais.
V Conflito de interesse dos analistas Sec 501 Definição de regras para analistas com objetivo de evitar conflitos de interesses.
VI Comissão de reservas e autoridades Sec 601 Definição de recursos destinados à SEC. Sec 602 A SEC tem autoridade para reprovar, censurar pessoas. Sec 603 Critérios para participação de compra e venda de ações, sujeito a ser afastado do mercado. Sec 604 A SEC tem autoridade para suspender o direito da pessoa em se associar à corretora.
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Item Resumo VII Estudos e relatórios
Sec 701 Estudo para identificar fatores que levaram a consolidação de empresas de contabilidade e conseqüentemente a redução de empresas de auditoria.
Sec 702 Estudo sobre a função das agências de classificação de crédito.
Sec 703 Estudo para determinar o número de profissionais definidos como contadores, banqueiros de investimento, consultores de investimento e corretores envolvidos em violação de lei.
Sec 704 Estudo para identificar as áreas mais propícias a fraude, manipulação ou gerenciamento de ganhos impróprios, bem como para definir tratamento contábil aos off-balance.
Sec 705 Estudo para definição de regras de bancos de investimentos e consultor financeiro. VIII Fraude corporativa contábil e criminal
Sec 801
Sec 802 Definição de penalidades por destruição, alteração ou falsificação de registros ou documentos.
Sec 803 Descrição de quais dívidas não são perdoadas. Sec 804 Prazo limite em que as providências em função de violação podem ser tomadas.
Sec 805 Revisão das diretrizes de sentença federal estabelecendo políticas adequadas para obstrução de justiça.
Sec 806 Proteção a empregados que prestam informações às investigações.
Sec 807 Penalidades criminais por trapacear acionistas de empresas abertas são multa ou prisão por no mínimo 25 anos.
IX Intensificação de crimes de colarinho branco Sec 901
Sec 902 A tentativa de cometer fraude resulta nas mesmas penalidades da fraude efetivamente cometida.
Sec 903 Alteração da pena de cinco para vinte anos por corresponder a fraude.
Sec 904 Definição de multa e prisão por violar os rendimentos de aposentadoria dos empregados na SEC 1934.
Sec 905 A comissão de sentença deve garantir diretrizes e políticas para deter, prevenir e punir fraudes relacionadas a colarinho branco.
Sec 906 Inclusão nos relatórios periódicos de declaração por escrito dos diretores executivo e financeiro certificando as informações. Define multa de até 5 milhões e pena de prisão de até 20 anos.
X Corporate tax returns
Sec 1001 A restituição de imposto deverá ser assinada pelo presidente (CEO – Cheef Executive Officer).
XI Fraude corporativa e contabilidade Sec 1101
Sec 1102 Alterar, destruir, ocultar documentos, registros ou outros objetos com intenção de prejudicar sua integridade gera multa ou prisão de até 20 anos.
Sec 1103 No caso dos devedores começarem a pagar suas dívidas à SEC, suas ações são temporariamente interrompidas.
Sec 1104 Adendo às diretrizes de sentenças federais. Sec 1105 Restrição às pessoas que violaram regras. Sec 1106 Aumento de penalidades criminais em relação à SEC 1934. Sec 1107 Retaliação contra informantes.
Tabela 2: Resumo da Lei Sarbanes-Oxley Fonte: Levantamento feito pela autora.
41
Diante de tamanha complexidade e abrangência da lei, o trabalho se
restringe a realizar uma análise comparativa entre a Lei Sarbanes-Oxley e outras
regulamentações e tendências do mercado de empresas, bancos e seguradoras no que se
refere aos seguintes pontos: controles internos; transparência; comitê de auditoria; e
responsabilização, os quais serão tratados separadamente em cada item do trabalho
conforme a seguir.
42
3. CONTROLE INTERNO
Em Lei Sarbanes-Oxley - Guia para melhorar a governança corporativa
através de eficazes controles internos, Deloitte Touche (2003), é descrito o seguinte
conceito:
“O controle interno é um processo executado pela Diretoria, pelo Conselho de Administração ou por outras pessoas da companhia que impulsionam o sucesso dos negócios em três categorias: eficácia e eficiência das operações; confiabilidade dos relatórios financeiros; cumprimento de leis; e regulamentos aplicáveis”.
A implantação de uma estrutura de controles internos tem o intuito de
assegurar que todos os funcionários trabalhem para alcançar os objetivos da empresa com
eficiência e integridade, sem custos desnecessários e sem levar em consideração os
objetivos e interesses pessoais. Os controles estabelecidos servem para direcionar a
preparação de relatórios financeiros com qualidade suficiente para serem confiáveis; bem
como garantir que todos os negócios estejam de acordo com leis e regulamentos.
Os controles internos são um mecanismo para redução das possibilidades de
fraude, apropriação indébita e erros. Podemos considerar que estão relacionados à: visão
gerencial e cultura de controle; reconhecimento e avaliação de risco; atividades de controle
e segregação de responsabilidades; informação e comunicação; monitoração e correção de
deficiências.
3.1. Controle Interno na Lei Sarbanes-Oxley
O papel dos controles internos na Sarbanes-Oxley pode ser considerado
como uma das exigências mais marcantes da lei. Descrita na seção 404, avaliação do
gerenciamento dos controles internos, as novas regras são de certa forma, complicadas e
43
sua implantação pode ser demorada e custosa. Porém, conforme descrito em Guia para
melhorar a governança corporativa através de eficazes controles internos da Deloitte
Touche, Lei Sarbanes-Oxley, existem alguns atenuantes:
• “Normalmente, todas as companhias de capital aberto já possuem alguma estrutura de controles internos, ainda que de maneira informal e não suficientemente documentada.”
• “Muitas companhias poderão adaptar os processos já existentes
para cumprir as medidas de controles internos determinadas pela Lei Sarbanes-Oxley.”
• “A construção de uma forte estrutura de controles internos para
atender às exigências da Lei Sarbanes-Oxley pode promover benefícios que extrapolam o cumprimento das regras. Na verdade, o potencial para revisar e concretizar novas visões corporativas e atingir novos níveis de excelência corporativa é inesgotável.”
Na Lei Sarbanes-Oxley, as exigências sobre os controles internos podem ser
encontradas também nas seções, 302, 409 e 802. A seção 302, certificação trimestral e
anual dos controles e procedimentos de divulgação, requer que o diretor presidente e o
diretor financeiro certifiquem, em cada relatório anual e trimestral, que não existem
declarações falsas, as condições financeiras estão fielmente apresentadas, controles
internos eficazes são implementados e mantidos para garantir que os funcionários sejam
advertidos sobre todas as informações materiais. A 409, relato de eventos materiais requer
que as empresas tenham procedimentos internos para divulgação pública de mudanças
materiais nas condições financeiras e operacionais de forma rápida e segura. A 802,
destruição de registros de auditoria da empresa requer que a empresa de contabilidade
registrada mantenha por sete anos os documentos de auditoria, sendo que estes devem
conter detalhes suficientes para apoiar as conclusões do auditor.
44
3.1.1. Efetividade dos controles internos sobre os relatórios financeiros
A seção 404 da lei exige que uma estrutura adequada de controles internos
seja implantada e que o gerenciamento desses seja avaliado pela administração da empresa
confirmando sua responsabilidade pela implantação e manutenção. Além disso, o auditor
externo atesta a avaliação dos controles internos feita pela administração, garantindo que
os processos para emissão dos relatórios financeiros tenham adequados controles internos
e, portanto, informações divulgadas confiáveis.
A seção 404 requer ainda, que cada relatório das demonstrações financeiras
anual contenha um relatório dos controles internos, contribuindo para a transparência das
informações. Assim, as exigências podem ser resumidas da seguinte maneira:
• Implantação de uma adequada estrutura de controles internos;
• Avaliação pela administração da efetividade dos controles;
• Certificação do auditor externo sobre a acuidade da avaliação da
administração de que os controles internos estão implantados e são eficazes.
• Relatório de controle interno declarando que a administração é
responsável por uma adequada estrutura de controle interno;
Conforme exposto acima, para cumprir a seção 404 a empresa precisa
selecionar uma apropriada estrutura de controles internos. Apesar de existirem várias
estruturas o que se predomina são as recomendações do Commitee of Sponsoring
Organizations of the Treadway Commission – COSO, que desmembra os controles
internos em cinco: ambiente de controle; avaliação de riscos; atividades de controle;
informação e comunicação; e monitoramento.
O trabalho realizado pela COSO, em setembro de 1992, “Internal Control –
Integrated Framework”, destaca que há muito tempo que executivos seniores vêm
buscando modos de aperfeiçoar o controle das empresas que eles dirigem. Os controles
45
internos são acionados para manter a companhia no curso, rumo às suas metas de
rentabilidade, ao alcance de sua missão e também para minimizar as surpresas ao longo do
caminho. Os controles internos capacitam os gerentes a lidar com ambientes econômicos e
competitivos em constante mudança, a alterar demandas e prioridades dos clientes e a se
reestruturar para futuros crescimentos. Os controles internos promovem a eficácia,
reduzem o risco às perdas de ativos e ajudam a assegurar a confiabilidade das
demonstrações financeiras e a conformidade com as leis e regulamentos.
Os controles internos, apesar de ajudar a minimizar riscos, também têm suas
limitações. Eles podem fornecer alguma segurança de que os objetivos da empresa foram
ou serão alcançados, porém, é importante lembrar que são realizados por pessoas, estando,
assim, sujeitos às limitações dos seres humanos. Os controles internos podem ser
fraudados, enfraquecidos por julgamento equivocado, negligência, distração, ou falhas nos
processos e procedimentos. Assim, os custos e benefícios dos controles internos devem ser
constantemente avaliados.
O processo de certificação da seção 404 da lei pode ser resumido conforme
esquema a seguir:
Figura 1: Processo de certificação da seção 404.
Fonte: Lei Sarbanes-Oxley: Treinamento e Workshop – KPMG, 2006.
Fases 1 e 2Planejamento
Escopo dotrabalho e
Diagnóstico da Estrutura de
Controle Interno
DocumentarProcessos
Avaliação deRiscos eControlesInternos
Testar osControles
Implantarou melhoraros Controles
SelecionarProcessosChaves
Certificação 404CEO / CFO
Elaborar Compliance Programme
Fases 6Processo de Certificação pelo CEO e CFO
Follow-up
MonitoramentoContínuo
Fases 3, 4 e 5Desenvolvimento da Estrutura de Controle Interno
46
3.2. Controles internos nas instituições financeiras
3.2.1. O Novo Acordo de Capitais da Basiléia
Para instituições financeiras, as exigências do Comitê da Basiléia, desde o
acordo de 1988, reforçado pelo Novo Acordo de Capitais da Basiléia (Basiléia 2), têm forte
relação com as exigências da lei Sarbanes-Oxley, tanto no que se refere a controles
internos, transparência, ent re outras.
A Basiléia 2 representa um processo evolutivo iniciado em 1974 com a
criação do Comitê da Basiléia (BCBS – Basel Committe on Banking Supervision) sediado
no Banco de Compensações Internacionais (Bank for International Settlements - BIS),
sendo elaborada para substituir o acordo de capitais que vigora desde 1988.
O acordo de 1988 recomendou a constituição de um capital mínimo por
parte dos bancos, com objetivo manter a estabilidade do sistema financeiro, minimizar o
risco de quebra por problemas de insolvência. Solvência é a capacidade de cumprir todas
as obrigações contraídas através de contratos firmados com os seus clientes. Para garantir
solvência é necessário manter um capital mínimo, uma margem de solvência. Desta forma,
o acordo de 1988 apresentou padrões mínimos a serem aplicados com o objetivo de
fortalecer a saúde do sistema financeiro internacional e promover o desenvolvimento de
critérios para diminuir as desigualdades entre as instituições financeiras.
O Novo Acordo de Capitais da Basiléia, está previsto para entrar em vigor
em 2007 sendo este aplicável às instituições financeiras, com obrigação de implementação
apenas para os países do Grupo dos Dez (G-105), porém os bancos internacionalmente
ativos de outros países, para estarem inseridos no novo contexto de finanças devem
procurar adequar-se às recomendações. 5 Fazem parte do G-10: Alemanha, Bélgica, Canadá, Espanha, Estados Unidos, França, Holanda, Itália, Japão, Luxemburgo, Reino Unido, Suécia e Suíça.
47
O Novo Acordo de Capital pretende ser mais abrangente que o Acordo de 1988, partindo do princípio que o requerimento de capital regulamentar não é o único instrumento para minimizar falências bancárias. A nova proposta é estruturada em um tripé. Enquanto o primeiro compreende os requerimentos mínimos de capital, o segundo baseia-se na avaliação, pela instituição e pela supervisão, dos níveis mínimos adequados de capital, e por fim, o terceiro fundamenta-se na disciplina de mercado por meio da transparência. (GARCIA, 2003)
A Basiléia 2 é composta de três pilares:
3.2.1.1.O primeiro pilar
O primeiro pilar descreve metodologias para o cálculo de requisitos
mínimos de capital para minimizar os riscos. Neste, a metodologia proposta para cálculo
de capital tem objetivo de refletir o perfil de risco de cada instituição. Desta forma o
comitê incentiva a utilização de modelos internos para cálculo de capital, tendo como base
a utilização de sistemas internos de avaliação de risco. A nova proposta procura medir com
bastante precisão o perfil de risco de cada instituição, considerando riscos de crédito,
mercado e operacional, para então determinar o capital mínimo necessário para minimiza-
los.
3.2.1.2.O segundo pilar
O segundo pilar exige uma maior proximidade entre a supervisão bancária e
a diretoria executiva dos bancos. O comitê incentiva o desenvolvimento de ferramentas
para avaliação interna do montante de capital necessário, bem como um papel ativo da
supervisão para determinar os níveis adequados de capital para cada instituição.
“O segundo pilar toma como base quatro princípios relacionados, por um lado, à existência de processos nas instituições financeiras para determinação das necessidades de capital e, por outro, ao papel da supervisão na avaliação desses processos, bem como dos níveis de capital
48
considerados adequados a cada instituição financeira, dando ênfase à importância da supervisão para garantir a manutenção desses níveis de capital.” (GARCIA, 2003).
3.2.1.3.O terceiro pilar
No terceiro pilar é tratada a questão da transparência como a base da
disciplina de mercado. Neste, o comitê exige que as instituições financeiras sejam
transparentes quanto a sua exposição a riscos, com a visão de que quanto maior o nível de
informação disponível aos agentes de mercado menores as perdas decorrentes de falências
bancárias.
O primeiro pilar da Basiléia 2 diz respeito à relação entre capital requerido e
nível de exposição a riscos, o que está diretamente ligado à estrutura de controle interno da
instituição uma vez que os controles internos são ferramentas de gerenciamento de riscos.
Assim, conforme Duarte e Lelis (2004), “o princípio básico a nortear o processo de
alocação de capital deve se originar das exposições de riscos detectadas, exigindo maiores
níveis de capital para aquelas atividades/unidades que apresentem maiores exposições a
riscos”.
Para que o trabalho de alocação de capital seja realizado é necessário
conhecer os riscos da instituição para então criar os controles internos necessários para
minimiza- los. Desta forma o processo se inicia na identificação das principais unidades e
atividades da empresa, passando pela identificação dos riscos envolvidos nessas, para
então chegar à etapa de definição dos controles internos necessários para gerenciá- los.
São cinco os passos necessários para análise dos riscos em unidades das instituições. O primeiro passo envolve a divisão das unidades de negócios ou serviços. O segundo, diz respeito à identificação e descrição das
49
principais atividades da rotina diárias das unidades. O terceiro passo é a identificação dos riscos envolvidos em cada atividade. Em quarto lugar é preciso detalhar todos os controles internos usados para mitigar os riscos. O quinto e último passo está relacionado à verificação da efetividade dos controles internos praticados, o que é feito em conjunto com a auditoria interna. (DUARTE e LÉLIS, 2004)
Para Moreira (2003), o sistema de controles internos do banco é essencial
para o processo de avaliação de risco, devendo atuar de maneira independente, segregada
e, quando apropriado, envolver as auditorias internas e externas. Compete à administração
do banco assegurar o estabelecimento e o cumprimento dos sistemas de controles internos,
verificando, periodicamente, sua adequação à conduta prudente dos negócios do banco.
Segundo Duarte e Lelis (2003) a mensagem mais importante colocada pelo
Novo Acordo de Capitais da Basiléia é que as instituições financeiras devem buscar, de
forma espontânea, avanços em seus controles internos para identificação, quantificação e
gestão de riscos.
De acordo com Xavier (2003), “a nova estrutura pretende aperfeiçoar a
saúde e segurança no sistema financeiro dando mais ênfase nos controles internos e
gerenciamento dos bancos, no processo de revisão da supervisão e na disciplina de
mercado”.
3.2.2. Banco Central do Brasil: Comunicado 12.746
No Brasil, o Banco Central, com comunicado 12.746 de 09/12/2004
divulgou os procedimentos para implantação da nova estrutura de capital tendo em vista as
recomendações do Comitê de Supervisão Bancária da Basiléia, Basiléia 2, que trata do
estabelecimento de critérios mais adequados ao nível de riscos associados às operações
conduzidas pelas instituições financeiras para fins de requerimento de capital
50
regulamentar, tais procedimentos observam as diretrizes do comitê, adaptadas às
peculiaridades do mercado brasileiro.
O Banco Central determina que para cálculo de capital referente a risco de
crédito, não utilizará ratings6 divulgados por empresas externas de classificação de risco de
crédito, considera também que a maioria das instituições brasileiras utilizará a abordagem
padrão simplificada, com exceção das instituições de maior porte que poderá optar pela
utilização de abordagem mais avançada. Quanto a metodologia a ser utilizada para cálculo
de capital para cobrir os riscos operacionais o Bacen divulga que está em estudo e testes.
Para risco de mercado, o requerimento de capital passa a considerar as exposições aos
riscos ainda não contemplados hoje, e será permitida utilização de modelos internos.
Além disso, o Banco Central do Brasil desenvolveu um planejamento, que
direciona as ações primordialmente ao Pilar 1 (Exigências mínimas de capital), porém,
cada ação terá correspondência também ao pilar 2 (Processos de Supervisão) e ao pilar 3
(Transparência e Disciplina de Mercado).
O planejamento para a implementação da nova estrutura vai de 2005 a
2011, conforme descrito abaixo:
• 2005 - será feita uma revisão dos requerimentos de capital para risco de
crédito, introdução de parcelas de requerimento de capital para risco de mercado e estudos
referentes ao risco operacional.
• 2007 - serão estabelecidos critérios de elegibilidade para adoção de
modelos internos para risco de mercado, implementada abordagem para classificação
interna para risco de crédito, bem como estabelecimento de parcela de capital mínimo para
risco operacional.
6 A classificação de risco de um banco, de um país ou de um ativo feita por uma empresa especializada.
51
• 2008-2009 - serão validados modelos internos para risco de mercado,
determinado cronograma para validar classificação interna de risco de crédito e divulgação
de critérios de modelos internos para risco operacional;
• 2009-2010 - serão validados sistemas de classificação interna avançada
para risco de crédito e estabelecimento de cronograma para validar abordagem avançada de
risco operacional;
• 2010-2011 - serão validadas metodologias internas de apuração de
requerimento de capital para risco operacional.
Segundo Gomes (2003), no Brasil com a hiperinflação da década de 80 e
inicio de 90, o processo de reestruturação das instituições financeiras sofreu algum atraso
em relação aos observados nos países mais desenvolvidos. Em contrapartida, após o plano
real, em 94, o aumento de participantes estrangeiros no sistema bancário fez com que o
nível de sofisticação dos controles ficasse muito próximo dos mercados mais
desenvolvidos.
O exemplo da evolução nacional em função das práticas internacionalmente
adotadas é a resolução 2.099 de 1994, criada pelo Banco Central do Brasil como sendo o
ponto inicial de requerimento de capital mínimo, conseqüência do Acordo de Capitais da
Basiléia de 1988, que posteriormente foi alterada por outras resoluções.
“Várias outras resoluções e circulares alteraram, acrescentaram e completaram a 2.099 para o requerimento de capital mínimo, evoluindo em direção a exigências mais rigorosas, refletidas na alteração de fatores de risco, nos níveis de alavancagem e na incorporação de elementos de riscos de mercado. Essa evolução deixa clara não somente a extrema importância do papel do capital nas instituições financeiras brasileiras, como também a existência de um constante monitoramento do ambiente em que as mesmas operam e uma evidente preocupação com a elevação do grau de solidez e fortalecimento do sistema financeiro nacional”.
(DUARTE e LÉLIS, 2003)
52
A grande contribuição do Banco Central para o mercado financeiro
brasileiro em relação ao controles internos está na emissão da resolução 2.554 de
24/09/1998, que trata de implementação de controles internos nas instituições financeiras.
3.2.3. Banco Central do Brasil: Resolução 2.554
No Brasil a resolução 2.554 do Bacen, de 24/09/1998 regulamenta as
instituições financeiras quanto à implantação e implementação de controles internos de
seus sistemas de informações financeiras, operacionais e gerenciais e o cumprimento das
normas legais e regulamentares aplicáveis.
Com a resolução 2.554, o Banco Central do Brasil introduziu o conceito de
controles internos nas instituições financeiras brasileiras, passando a exigir
estabelecimento de estrutura de um sistema de controles de procedimentos internos
consistente com a complexidade e riscos das operações realizadas pela instituição, sendo
estes de responsabilidade da diretoria, tanto na implantação quanto na verificação do
cumprimento.
Os controles internos devem prever forma de identificar fatores internos ou
externos que possam afetar os objetivos da instituição, bem como realização de testes
periódicos de segurança para os sistemas de informação.
A resolução 2.554 ressalta que a atividade de auditoria interna deve fazer
parte do sistema de controle interno, sendo diretamente subordinada ao conselho de
administração, e quando não for executada por unidade da própria instituição ou do mesmo
conglomerado financeiro, poderá ser exercida: por auditor independente registrado na
CVM (Comissão de Valores Mobiliários), desde que não seja o responsável pela auditoria
das demonstrações financeiras; pela auditoria da entidade ou associação de classe ou de
órgão central a que é filiada a instituição; por auditoria de entidade ou associação de classe
53
de outras instituições autorizadas a funcionar pelo Banco Central, mediante convênio,
previamente aprovado.
O acompanhamento das atividades dos controles internos deve gerar
relatório no mínimo semestral, sendo as conclusões e recomendações submetidas ao
conselho de administração e à auditoria externa que fará menção em seus pareceres sobre o
cronograma de implantação dos controles internos.
3.3. Controles Internos para seguradoras
Para as sociedades seguradoras, sociedade de capitalização e entidades
abertas de previdência complementar, a Circular SUSEP (Superintendência de Seguros
Privados) 249 de 20/02/2004, dispõe sobre a implantação e implementação de sistema de
controles internos e os procedimentos de suas atividades, de seus sistemas de informações
e do cumprimento das normas legais e regulamentares a elas aplicáveis.
Para implantação dos controles internos, a 249 exige que sejam consistentes
com a complexidade e risco das operações realizadas pela seguradora, sendo de
responsabilidade da diretoria, tanto a implantação quando o acompanhamento e verificação
do cumprimento destes. Os controles internos devem fornecer meios de identificar e
avaliar fatores internos e externos que possam prejudicar os objetivos da sociedade ou
entidade, bem como prever realização de testes periódicos de segurança para os sistemas
de informação.
A circular 249 acrescenta que a auditoria interna deve fazer parte do sistema
de controles internos, estar diretamente subordinada ao conselho de administração, sendo
que quando não for executada por unidade especifica da própria entidade ou integrante do
mesmo conglomerado financeiro, poderá ser exercida por auditor independente, desde que
não seja aquele responsável pela auditoria das demonstrações financeiras.
54
A circular 249, determina ainda como forma de fortalecer os sistemas de
controles internos, que seja definido um diretor responsável por estes, bem como que as
informações enviadas à SUSEP, constantes de sistemas informatizados, deverão estar
acompanhadas de declaração assinada por dois diretores, atestando a veracidade e a
fidedignidade das mesmas.
Da mesma forma que na 2.554, a 249 exige que o acompanhamento das
atividades dos controles internos deve ser objeto de relatório no mínimo semestral, sendo
as conclusões e recomendações submetidas ao conselho de administração bem com à
auditoria externa que deverá fazer menção em seus pareceres sobre o cronograma
estabelecido. Para seguradoras os critérios para emissão de relatórios sobre os controles
internos estão previstos na circular SUSEP 280 de 30/12/2004, conforme descrito no item
referente à transparência para seguradoras.
3.4. Comentários finais sobre controles internos
Os controles internos podem ser considerados uma poderosa ferramenta
preventiva que permite as empresas conhecerem melhor seus pontos fracos e vulneráveis
para que os riscos existentes sejam controlados e estejam sempre em níveis adequados. É
através dos controles internos eficazes que as empresas podem gerir seus riscos de forma
efetiva.
Na Lei Sarbanes-Oxley a seção 404 trata diretamente da efetividade dos
controles internos relacionados à emissão dos relatórios financeiros, com destaque para a
definição de responsabilidade sobre a efetividade dos controles ser da administração da
empresa, sendo ainda certificados pelo auditor externo.
As seções 302, 409 e 802 são também relacionadas aos controles internos.
A 302 requer certificação dos controles internos pelo principal executivo e diretor
55
financeiro. A 409 requer procedimentos internos para divulgação rápida de mudanças
materiais nas condições financeiras e operacionais. A 802 requer que a empresa de
contabilidade registrada mantenha por sete anos os documentos de auditoria.
O Novo Acordo de Capitais da Basiléia, mas precisamente no Pilar 1, traz a
abordagem de controles internos ao exigir capital mínimo regulamentar a ser calculado
pela instituição financeira considerando os riscos incorridos pela mesma. Assim a
definição de uma adequada estrutura de controles internos deve ser implementada de forma
a minimizar os riscos conhecidos, de mercado, crédito e nesse novo acordo foi incorporado
o risco operacional como forma de reduzir o montante de capital mínimo exigido.
Conforme exposto por Moreira (2003), o Comitê da Basiléia vem buscando
constantemente, mecanismos de aperfeiçoamento das práticas bancárias, de procedimentos
de supervisão, por meio de redução de riscos, melhoria de controles internos, entre outras
abordagens. Com isso, reforça ainda mais a tendência de investimento nos controles
internos das instituições e empresas, bem como dos órgãos reguladores em exigir cada vez
mais ações neste sentido.
Seguindo as exigências do Novo Acordo de Capitais da Basiléia, o Banco
Central do Brasil com o Comunicado 12.746 define um planejamento para implantação de
critérios que atendem basicamente ao pilar 1. Porém, no Brasil a grande contribuição em
termos de controles internos para instituições financeiras é a resolução 2.554 enquanto para
as seguradoras é aplicável a circular 249.
Com a resolução 2.554 de 24/09/1998 o Bacen passa a exigir que
instituições financeiras possuam sistemas de controles internos com definição de uma
pessoa responsável por estes, reportando-se diretamente ao conselho de administração ou à
diretoria da instituição, separada do órgão de auditoria interna, o que é bastante semelhante
aos procedimentos adotados em alguns países desenvolvidos.
56
Para seguradoras, seis anos depois, em 20/02/2004, foi elaborada a circular
SUSEP (Superintendência de Seguros Privados) 249, com exigências e proposta bem
alinhada com a resolução 2.554.
Fazendo a relação das exigências sobre controles internos entre empresas,
Sarbanes-Oxley, bancos, 2.554, e seguradores 249, podem ser identificadas exigências
comuns, tendo como pontos principais:
• É responsabilidade da diretoria, estabelecer e manter sistema de
controles internos;
• Os diretores avaliam a estrutura de controles internos;
• O auditor externo tem ligação com a implantação dos controles
internos, sendo que este na Sarbanes-Oxley deve atestar a avaliação feita pela
administração;
A Lei Sarbanes-Oxley apresenta ainda as seguintes exigências: elaboração de
procedimentos para divulgar mudanças materiais; manutenção de registros de auditoria por
empresas de contabilidade por sete anos; além de exigir que os diretores assinem os
relatórios das demonstrações financeiras anuais e trimestrais, garantindo que foram
revisadas e que retratam a realidade.
Para a 2.554 e 249 é exigido que a auditoria interna faça parte do sistema de
controle interno, e a 249 exige ainda que informações informatizadas sejam envidas
juntamente com declaração assinada por dois diretores sobre a sua veracidade.
A partir dessas informações percebemos que os controles internos fazem
parte do sistema de gerenciamento de risco das organizações e estão presentes de forma
bem próxima para empresas, bancos e seguradoras, ou seja, as exigências previstas na SOX
aparecem também nas regulamentações dos outros setores analisados.
57
A tabela a seguir resume esquematicamente as conclusões do capítulo.
Empresas SOX 302, 404, 409 e 802
Seguradoras 249 - 20/02/2004
Bancos 2554 - 24/09/1998
Bancos Basiléia 2
Implantação de uma estrutura de controles internos Os diretores são responsáveis pelos controles internos Os diretores avaliam a estrutura de controles internos
O auditor externo tem responsabilidade sobre a implantação dos controles internos Auditoria interna faz parte do sistema de controle
interno
Auditor externo atesta a avaliação dos controles
internos feita pela diretoria
Procedimento interno para divulgar mudanças
Manutenção dos registros de auditoria
Assinatura nos relatórios das demonstrações financeiras
Relatório de controles internos nos relatórios anuais
Informações informatizadas com declaração assinada por
2 diretores
Metodologias para cálculo de capital mínimo
Tabela 3: Resumo sobre Controles Internos
Fonte: Levantamento feito pela autora
58
4. TRANSPARÊNCIA
“Transparência pressupõe que a informação permite uma compreensão das exposições e riscos de uma empresa sem distorções... Transparência desafia os participantes de mercado não apenas a prover informações, mas também a dispor as informações no contexto que as torne significativas. Transparência exige dos participantes de mercado apresentar informações de forma que reflita os risco precisamente.” (BENEDITTO, 2006. Tradução livre de Greenspan, 2003)
A transparência é fundamental para restaurar a confiabilidade nos relatórios
financeiros e incentivar investidores a entrarem e se manterem no mercado. O
desenvolvimento do mercado de capitais é interesse público para que possibilite adequada
transferência de recursos, crescimento econômico e social. Para tanto, é extremamente
importante a credibilidade, sendo que o crescimento do mercado está diretamente
relacionado à confiança, que por sua vez dependente da preocupação das empresas e
órgãos reguladores em fornecer ao investidor acesso às informações necessárias para que
este tenha conhecimento do risco que está incorrendo.
Transparência tem sido o foco atual das empresas em todo o mundo, o
mercado exige cada vez mais e melhores informações e este é um caminho sem volta. Os
recentes escândalos em companhias americanas e em instituições financeiras justificam
esse cuidado. As informações precisam refletir com garantia as condições econômico-
financeiras das empresas, em todos os sentidos, não apenas em função da legislação.
Conforme exposto no Código das Melhores Práticas de Governança
Corporativa, IBGC, mais do que a obrigação de informar, a administração deve disseminar
o desejo de informar, sabendo que a boa comunicação interna e externa, principalmente
quando é espontânea, franca e rápida, resulta um clima de confiança, tanto internamente,
quanto nas relações da empresa com terceiros.
59
O papel de exigir informações fidedignas, tempestivas e amplas não é exclusiva dos órgãos reguladores, os investidores têm instrumentos de pressão capazes de mover eventuais barreiras na direção de um bom entendimento dos riscos. Contudo, cumpre a quem possui o poder de determinar a observação de certos padrões descrever o conjunto de regras que permita a melhor transparência e compreensão dos riscos. (AGUIAR e PARENTE, 2003)
Segundo Moreira (2005), os participantes do mercado tornam-se os maiores
beneficiários dessa transparência, pois podem avaliar melhor o desempenho financeiro de
cada instituição, aumentando sua credibilidade e capacidade em administrar e gerenciar
posições de risco.
Todo investimento nos mercados financeiro e de capital envolve risco.
Conforme destacado por Lobianco (2003), o grau de risco em que incorre o investidor no
mercado de valores mobiliários, vai depender em grande parte do nível de informação de
que ele disponha sobre o tipo de operação de que deseja participar.
4.1. Transparência na Lei Sarbanes-Oxley
Na Lei Sarbanes-Oxley a transparência é enfatizada de várias maneiras,
podendo ser citadas as seções 302 e 404 como as mais enfáticas, as quais tratam
respectivamente de responsabilidade corporativa nos relatórios financeiros e avaliação do
gerenciamento dos controles internos.
Desta forma, a lei intensifica as conferências internas e aumenta a
responsabilidade dos executivos com o simples objetivo de garantir que as empresas sejam
cada vez mais transparentes, garantindo que os investidores tenham mais acesso às
informações em quantidade e qualidade, em tempo hábil para tomar suas decisões.
60
A relação entre transparência e controles internos é bem próxima. Os
controles internos contribuem com o objetivo de garantir maior credibilidade nas
informações divulgadas.
Maior transparência na SOX pode ser traduzida em: responsabilidade da
administração pelas informações financeiras; divulgação imediata de fatos relevantes; mais
informação no que se refere a transações off-balance sheet; e divulgação sobre a existência
de um código de ética ou explicações pela não existência.
4.1.1. Responsabilidade corporativa pelos relatórios financeiros
Na seção 302, certificação trimestral e anual dos controles e procedimentos
de divulgação, é imposto novos níveis de responsabilidade ao presidente e diretor
financeiro. Nesta, é exigindo que certifiquem pessoalmente, assinando os relatórios
declarando que as demonstrações financeiras, anuais e trimestrais, foram revisadas, que
não contêm declarações falsas ou omissões de informações significativas, e que retratam
em todos os sentidos as condições financeiras e os resultados operacionais reais da
empresa.
O diretor presidente e o diretor financeiro são responsáveis por estabelecer e
manter um sistema de controle interno, fazendo avaliação destes trimestralmente
apresentando suas conclusões para a emissão do relatório das demonstrações financeiras.
Quaisquer mudanças significativas nos controles internos ou em outros
fatores que os afetem, incluindo qualquer ação corretiva relacionada com deficiências
significativas e fraquezas materiais devem ser indicadas no relatório. Todas as deficiências
nos controles internos, bem como as fraudes envolvendo funcionários da administração ou
que desempenham papel importante nos controles internos, devem ser divulgadas ao
auditor independente e ao comitê de auditoria.
61
4.1.2. Divulgação da efetividade dos controles internos
A seção 404 da lei exige que a avaliação do gerenciamento dos controles
internos feita pela administração seja divulgada nos relatórios anuais a partir de um
relatório específico. Desta forma, a administração emite relatório da efetividade dos
controles internos, a ser divulgado no relatório financeiro, declarando sua avaliação e
conclusões, o qual deve conter:
• Menção que é de responsabilidade da administração o estabelecimento
e a manutenção de uma estrutura e procedimentos adequados de controles internos para o
relatório financeiro;
• Menção da estrutura de controles internos utilizada pela administração
para avaliar a eficácia dos mesmos para o relatório financeiro (ex: COSO);
• Uma avaliação pela administração, na data do encerramento do
exercício social da empresa, sobre a eficácia dos controles internos relacionados ao
relatório financeiro.
A lei exige ainda que o auditor independente preencha um relatório
individual atestando a avaliação da administração sobre a eficácia dos controles e
procedimentos internos para a emissão dos relatórios financeiros.
Como sugerido em Lei Sarbanes-Oxley, Guia para melhorar a governança
corporativa através de eficazes controles internos da Deloitte Touche (2003), as
determinações das seções 302 e 404 da lei podem ser direcionadas através de uma única
metodologia. Um programa de controles internos que focaliza simultaneamente a
divulgação e a emissão de relatórios financeiros pode atender as exigências trimestrais da
seção 302 e as exigências anuais da seção 404, bem como cumprir as necessidades dos
auditores independentes para executar seus procedimentos de certificação. A reivindicação
para um alinhamento mais próximo das exigências das duas seções tem sido unânime entre
62
a comunicação empresarial e a maioria dos observadores espera que a SEC continue
caminhando nessa direção.
4.2. Transparência nas instituições financeiras
4.2.1. O Novo Acordo de Capitais da Basiléia
Relacionando a importância da transparência na Sarbanes-Oxley com outras
regulamentações do mercado, esta é destacada também pelo Comitê da Basiléia.
Primeiramente, com a divulgação do documento “Enhancing Bank Transparency”,
abordando de forma enfática a questão da transparência nas instituições financeiras, e mais
recentemente com o Novo Acordo de Capitais da Basiléia ou Basiléia 2, que trata da
transparência no pilar 3.
Em 1998, o Comitê divulgou o documento intitulado “Enhancing Bank
Transparency”, cujo objetivo era pontuar os papéis que tanto o órgão supervisor quanto o
mercado deveriam exercer. Exposto em Xavier, 2003 “A publicação deste documento é
baseada no reconhecimento que os mercados contêm mecanismos disciplinares que podem
reforçar os esforços dos supervisores, premiando os bancos que gerenciam seus riscos
eficazmente e penalizando aqueles cujo gerenciamento dos riscos é inepto ou imprudente”.
Nessa publicação, transparência é definida como divulgação pública de informações reais
em tempo oportuno que permitem ao usuário fazer avaliação apurada das condições e
desempenho financeiro do banco, atividades de negócios, perfil de risco e práticas de
gerenciamento de risco.
Essa definição nos faz perceber que a divulgação de informação por si só
não significa transparência, para fornecer transparência, o banco precisa divulgar
informações relevantes com acuidade, no tempo certo e que permitam o usuário tirar suas
próprias conclusões da situação da instituição.
63
A Basiléia 2, conforme exposto anteriormente é composta de três pilares,
sendo que no terceiro pilar é tratada a questão da transparência como a base da disciplina
de mercado. Esse pilar pretende reforçar a importância da disciplina de mercado e de altos
níveis de transparência, gerando maiores níveis de informações aos agentes de mercado e
minimizando as perdas decorrentes de falências bancárias.
“Transparência é, portanto, a palavra-chave da disciplina do mercado. A divulgação pública, confiável e tempestiva de informações, atingindo aspectos qualitativos e quantitativos, que permita a seus usuários uma análise detalhada e completa sobre a performance, atividade, perfil de risco e práticas gerenciais de uma instituição financeira, é, para o Comitê, fundamental para uma supervisão bancária robusta, capaz de antecipar problemas em uma instituição ou no próprio sistema bancário como um todo”.
(MOREIRA, 2003)
De forma geral, o novo acordo aborda a questão da transparência em todos
os pilares, a utilização de modelos internos para definição do capital mínimo (pilar 1),
eleva o grau de transparência uma vez que a metodologia utilizada para cálculo de capital
pretende refletir o perfil de risco de cada instituição. Duarte e Lélis (2004) destacam que
“uma alocação de capital bem realizada traz maior segurança e transparência às atividades
da instituição financeira”. Em relação ao pilar 2, supervisão, o comitê incentiva esforços
dos supervisores para obterem informações de alta qualidade, as quais devem servir de
base para cumprirem sua missão e enriquecerem o público de informações, este é o
caminho para chegar à transparência, pilar 3.
“Para melhor complementar os mecanismos de transparência e divulgação, os supervisores devem exigir estreito cumprimento dos controles internos, mediante cooperação das auditorias internas e externas da instituição financeira, incentivando contínuos aperfeiçoamentos em práticas de auditoria e desenvolvimento de padrões éticos”. (MOREIRA, 2003)
64
Moreira (2003) comenta que a razão para aplicação do pilar 3 é forte o
suficiente para assegurar a aplicação de exigências de divulgações obrigatória, com claras
sanções para a sua não-divulgação. As divulgações de informações devem servir de
ferramenta para sustentar as exigências mínimas de capital do pilar 1 e melhorar o processo
de supervisão bancária do pilar 2. Moreira (2003) ressalta ainda que o descumprimento dos
bancos às recomendações de divulgação do pilar 3 deve exigir, dos supervisores respostas
compatíveis à gravidade da não-observância.
No pilar 2, processo de revisão da supervisão cumpre aos supervisores
garantir que cada banco possua processos internos capazes de aferir a adequação de capital.
O documento afirma ainda que é responsabilidade da alta administração desenvolver e por
em prática metodologias transparentes e compreensíveis, para que o supervisor verifique a
adequação do capital da instituição.
4.2.2. Banco Central do Brasil: Comunicado 12.746
Conforme descrito anteriormente, no Brasil para as instituições financeiras,
o Banco Central, com comunicado 12.746 de 09/12/2004 divulgou os procedimentos para
implantação da nova estrutura de capital tendo em vista as recomendações do Comitê de
Supervisão Bancária da Basiléia, Basiléia 2. Este comunicado contém um planejamento,
que, apesar de as ações estarem focadas no pilar 1 (Exigências mínimas de capital),
também terão impacto no pilar 2 (Supervisão) e no pilar 3 (Disciplina de Mercado).
Conforme exposto por Garcia (2003), “a utilização de modelos internos
para cálculo de capital estará também associada a maiores níveis de transparência”. Então,
apesar das exigências do comunicado estar voltado para ao pilar 1, capital mínimo, este
reflete também na transparência. Porém, percebemos que ainda existe muito a evoluir no
aspecto do Banco Central comunicar procedimentos com foco na transparência em função
65
da Basiléia 2. De certa forma, a resolução 2.554 de 24/09/1998, que trata de controles
internos nas instituições financeiras, contribui com a exigência de questões sobre
transparência para as instituições financeiras.
4.2.3. Banco Central do Brasil: Resolução 2.554
A resolução 2.554 do Bacen, de 24/09/1998 que regulamenta as instituições
financeiras brasileiras quanto à implantação e implementação de controles internos de seus
sistemas de informações financeiras, operacionais e gerenciais e o cumprimento das
normas legais e regulamentares aplicáveis, destaca em alguns aspectos a questão da
transparência.
É exigido que o sistema de controles internos seja estabelecido de maneira
acessível, clara e objetiva, assegurando que seja do conhecimento de todos os funcionários,
com definição de responsabilidade e segregação das atividades, de maneira a evitar
conflitos de interesse. É definida também a necessidade de canais de comunicação que
assegurem informações necessárias aos funcionários para realização de suas tarefas.
Além disso, é obrigatória a emissão de relatório no mínimo semestral,
contendo conclusões e recomendações a respeito dos controles internos, sendo reportado
diretamente ao Conselho de Administração e à auditoria externa que emite em seu parecer
as condições relativas ao cronograma dos controles internos.
Outra questão relacionada à transparência é evidenciada quando a resolução
2.554 cita que a diretoria da instituição é responsável por promover elevados padrões
éticos, de integr idade e de cultura organizacional que demonstre e enfatize a todos os
funcionários a importância dos controles internos e o papel de cada um dentro do processo.
66
Essa iniciativa do Banco Central vem a reforçar a importância da
transparência para assegurar acesso às informações confiáveis e compreensíveis, bem
como o acompanhamento nacional das tendências mundiais.
4.3. Transparência para seguradoras
Para as sociedades seguradoras, sociedade de capitalização e entidades
abertas de previdência complementar, da mesma forma que para as instituições financeiras,
a mesma circular que trata dos sistemas de controles internos destaca pontos que
contribuem para a transparência.
A Circular SUSEP (Superintendência de Seguros Privados) 249 de
20/02/2004, destaca que os controles internos devem ser acessíveis a todos os funcionários,
sendo que as responsabilidades e atividades distribuídas devem ser definidas evitando
conflito de interesses, bem como os canais de comunicação devem assegurar acesso às
informações necessárias ao desempenho de cada função.
As atividades relacionadas ao sistema de controle interno, da mesma forma
que na resolução 2.554, devem ser objeto de relatório no mínimo semestral, contendo
conclusões e recomendações, sendo reportado diretamente ao Conselho de Administração
e à auditoria externa que também faz menção em seu parecer sobre as condições do
cronograma de controles internos. Também, da mesma forma que na resolução 2.554, a
circular 249, ressalta que a diretoria da instituição é responsável por promover elevados
padrões éticos, de integridade e de cultura organizacional que demonstre e enfatize a todos
os funcionários a importância dos controles internos e o papel de cada um dentro do
processo.
A circular 249, determina ainda que as informações enviadas à SUSEP,
constantes de sistemas informatizados, deverão estar acompanhadas de declaração assinada
67
por dois diretores, atestando a veracidade e a fidedignidade das mesmas. Além disso,
deverá ser indicado o nome do diretor responsável pelos controles internos.
Para seguradoras, existe também a circular SUSEP 280 de 30/12/2004 que
estabelece procedimentos mínimos para a emissão do relatório sobre a adequação dos
controles internos e relatório sobre o descumprimento de dispositivos legais e
regulamentares, quando da auditoria externa.
Este relatório deverá avaliar a eficácia e a eficiência dos controles internos
em relação aos riscos suportados, destacando as deficiências encontradas, levando em
consideração os principais processos existentes na sociedade e abordando o ambiente de
controle, a avaliação de riscos, as atividades e procedimentos de controle, os processos de
informação e comunicação, e a monitoração.
A avaliação do ambiente de controle deverá incluir fatores como integridade
e valores éticos, competência e experiência dos administradores, planejamento estratégico,
aspectos de governança e estrutura organizacional, estilo e filosofia de administração,
atribuição de responsabilidades, práticas e políticas de recursos humanos.
A análise da avaliação de risco deve incluir a capacidade da sociedade
supervisionada na análise de fatores internos e externos, e de levar em consideração a
probabilidade de ocorrência e o impacto nas operações.
Os processos de informação e comunicação devem permitir que todos os
funcionários entendam suas responsabilidades na estrutura de controles internos, e
entendam também como as suas atividades estão relacionadas às dos outros. A avaliação
do monitoramento deve levar em consideração a independência da auditoria interna, a
freqüência das inspeções e a implementação de recomendações pela sociedade
supervisionada.
68
4.4. Transparência na BOVESPA (Bolsa de Valores de São Paulo)
Um outro exemplo do foco na transparência é a criação pela Bovespa dos
vários níveis de governança corporativa, classificando as empresas em Níveis 1, 2 ou no
Novo Mercado, de acordo com seu grau de transparência.
A adesão ao novo mercado está condicionada à emissão somente de ações
ordinárias, um free-float7 mínimo de 25%; adesão à Câmara de Arbitragem do Mercado
para a solução de conflitos; e tag-along8 dentre outras condições. Como as regras para
adesão ao Novo Mercado são bastante restritivas, a Bovespa criou outros dois níveis de
governança denominados Nível 1 e 2.
Com adoção dessas regras, o objetivo é, gradativamente, migrar as
empresas para o Novo Mercado, que é composto por empresas que se comprometem,
voluntariamente, com a adoção de práticas de governança corporativa e transparência
adicional em relação ao que é exigido pela legislação. Sendo assim, a Bovespa abre uma
nova frente de atuação visando o desenvolvimento do mercado de capitais brasileiro,
oferecendo para as empresas uma excelente oportunidade para a captação de recursos a
custos competitivos e para os aplicadores um mercado mais seguro para o investimento de
longo prazo, através de um relacionamento cada vez mais transparente com o investidor.
Segundo Carvalho, 2003 “a migração tem impacto sobre a valorização das
ações (existência de retornos anormais positivos), aumenta o volume de negociação e
aumenta a liquidez”.
7 Quantidade de ações de uma empresa disponível para negociação em mercados organizados. 8 Direito de alienação de ações conferido a acionistas minoritários, em caso de alienação de ações realizada pelos controladores da companhia.
69
4.5. Comentários finais sobre transparência
A maior transparência das informações e a melhor orientação dos
investidores somente podem trazer benefícios ao mercado em geral, tornando-o maior,
mais eficiente e mais desenvolvido. Essa é a cultura que as exigências regulamentares
pretendem incorporar ao mercado, porém o papel de exigir mais e melhores informações
não é apenas dos órgãos regulamentares, cabendo também aos investidores o papel de
reconhecer a valorizar as empresas que adotam prática de transparência na sua gestão.
Essa é a idéia dos níveis de governança corporativa definidos pela Bovespa,
que busca classificar as empresas de acordo com seu nível de transparência, permitindo ao
investidor optar ou não por aquelas que realmente se preocupam em fornecer informações
além do exigido pela legislação, e permitindo às empresas captar recursos a custos
menores.
O Novo Acordo de Capitais da Basiléia traz a transparência como base da
disciplina de mercado, pilar 3. O objetivo neste caso é incentivar as instituições financeiras
a divulgarem além das informações exigidas, com a mentalidade de que mais importante
que a divulgação por força legal é a iniciativa do desejo de informar sem obrigação.
A transparência das informações é base para definição de capital mínimo
(pilar 1) e contribui com a supervisão bancária (pilar 2), além de contribuir com os agentes
de mercado e reduzir perdas por quebra nas instituições financeiras.
Outra demonstração de preocupação com a transparência exposta pelo
Comitê da Basiléia foi em 1998 com a publicação do documento intitulado “Enhancing
Bank Transparency”, o que demonstra que há algum tempo esse tema está em pauta no
mercado e a cada dia as exigências e as práticas são no sentido de fornecer informações
com qualidade.
70
Para a comparação realizada entre os mercados de empresas, bancos e
seguradoras foram analisadas, o Novo Acordo de Capitais da Basiléia, os níveis de
governança da Bovespa, conformes descritos acima. Além das seções 302 e 404 da Lei
Sarbanes-Oxley que direcionou as análises, bem como a resolução 2.554 do Bacen e as
circulares da SUSEP 249 e 280, que têm como pontos em comum, as seguintes exigências:
• Emissão de relatórios sobre os controles internos pelos diretores;
• Acompanhamento pela emissão dos relatórios dos controles internos
pela auditoria externa, sendo que na Sarbanes-Oxley estes devem ainda preencher um
relatório individual atestando a avaliação da administração sobre os controles internos;
• A Lei Sarbanes-Oxley exige a seleção de uma estrutura apropriada de
controles internos, e as resoluções 2.554 e 249, exige que os controles internos sejam
acessíveis, com definição de responsabilidade e separação das atividades, para evitar
conflitos de interesse;
Existe ainda em comum entre a 2.554 e 249: A diretoria da instituição é
responsável por promover elevados padrões éticos, de integridade e de cultura
organizacional que enfatize a importância dos controles internos e o papel de cada um
dentro do processo; além de definição de cana is de comunicação que assegure acesso às
informações necessárias a cada tarefa.
A Lei Sarbanes-Oxley exige ainda, como forma de melhorar a
transparência: Assinatura dos diretores nos relatórios das demonstrações financeiras anuais
e trimestrais, garantindo que foram revisadas e retratam a realidade; divulgação, ao auditor
independente e ao comitê de auditoria, das deficiências nos controles internos, e as fraudes
identificadas; e inclusão nos relatórios anuais de um relatório sobre os controles internos
emitido pelos diretores.
71
A análise comparativa feita em termos da transparência identifica as
iniciativas e o esforço dos órgãos regulamentares que viabilizaram a existência de um
ambiente regulamentar adequado para que se aumentasse o grau de transparência. A
transparência de informações pode ser considerada questão básica para as empresas, uma
realidade que tende a se firmar e direcionar o mercado uma vez que a qualidade e a
quantidade das informações são pré-requisitos essenciais para suportar as decisões e a
administração de riscos.
A tabela a seguir resume esquematicamente as conclusões do capítulo.
Empresas SOX 302, 404, 409 e 802
Seguradoras 249 - 20/02/2004 280 - 30/12/2004
Bancos 2554 - 24/09/1998
Bancos Basiléia 2
Auditoria externa acompanha a emis são dos relatório dos controles internos Auditor externo atesta
avaliação da administração
Relatório de controles internos nos relatórios
anuais
Relatório de controles internos no mínimo semestral
Controles internos acessíveis e claros Diretoria promove padrões éticos Canal de comunicação que assegure informações
necessárias
Assinatura dos diretores nos relatórios financeiros
Informações informatizadas com
declaração assinada por 2 diretores
Divulgação de deficiências nos controles
internos ao comitê de auditoria e auditor
externo
Informações em quantidade e qualidade ao
público
Tabela 4: Resumo sobre Transparência
Fonte: Levantamento feito pela autora.
72
5. COMITÊ DE AUDITORIA
O comitê de auditoria deve contribuir para disseminar e fortalecer uma
cultura de controle, ética, integridade e de melhoria na qualidade das informações
prestadas. Assim, o comitê de auditoria além de selecionar e supervisionar o auditor
independente da empresa deve revisar os relatórios financeiros para ver se estão completos
e precisos e proporcionar discussão entre a administração, auditores independentes e
auditores internos sobre questões relativas à integridade.
“Os comitês de auditoria vieram para ficar. É das coisas mais sérias que já vi serem criadas nesse país a serviço da qualidade dos demonstrativos financeiros e da certeza de que o administrador e / ou o controlador cumprem disposições legais e regulamentares, ou ainda que o auditor externo age com independência e a auditoria interna é efetiva e cumpre seu papel”. (FERREIRA, 2005)
O objetivo do comitê de auditoria deve ser, no mínimo, auxiliar o Conselho
de Administração na supervisão da integridade das demonstrações financeiras, da
adequação da empresa com as exigências de leis e regulamentos, da independência e das
qualificações e do desempenho do auditor independente, e da função de auditoria interna
da empresa. Desta forma, o papel do comitê de auditoria é fundamental para que as
informações divulgadas, e os procedimentos e controles internos utilizados para obtê- las,
atendam à expectativa dos usuários, de confiabilidade e clareza. Esse papel só pode ser
cumprido se os membros do comitê, responsáveis pela fiscalização da administração, estão
tecnicamente preparados para o desempenho de suas funções, conhecem as regras que
disciplinam sua conduta e têm capacidade de perceber a relevância ética de sua atuação.
Um comitê eficaz geralmente apregoa uma relação aberta e cooperativa com
o conselho de administração, a gerência e os auditores internos e externos. Eles recebem
73
informações da administração a respeito de mudanças nos negócios e nos fatores de risco
em um determinado período e analisam outras informações sobre tendência de indústria,
estimativas contábeis e variações de orçamento. Quanto aos auditores internos, o comitê de
auditoria deve estar ativamente envolvido na supervisão, considerando a natureza e o
escopo de seu trabalho, assim como sua qualificação, seu tamanho e seus recursos. O
comitê deve estar a par da coordenação entre o auditor interno e o auditor externo.
“O comitê de auditoria é, indiscutivelmente, um importante instrumento de gestão à disposição do Conselho de Administração, na medida em que engloba atividades relevantes no processo de supervisão, tais como: (i) assegurar a qualidade dos controles internos que suportam as divulgações financeiras prestadas ao mercado; (ii) incentivar uma eficaz comunicação entre os órgãos corporativos internos e externos; (iii) acompanhar a adesão da companhia aos regulamentos aplicáveis, inclusive códigos de ética e conduta; e (iv) proteger os interesses de acionistas e demais partes interessadas.” (ALVES, 2005)
5.1. Comitê de Auditoria na Lei Sarbanes-Oxley
A Lei Sarbanes-Oxley vem trazer uma renovação de foco na atuação dos
comitês de auditoria. Uma renovação, uma vez que a mais de 40 anos, os mercados norte-
americano e europeu já requerem a existência de comitê de auditoria na sua estrutura de
governança, atuando como gestor de risco e meio de comunicação entre o conselho de
administração, auditores externos e internos.
A partir de 2002, com a Lei Sarbanes-Oxley, mas especificamente com a
seção 301, é ampliada a existência do comitê, determinando que todas as empresas de
capital aberto, com registro na SEC, com ações cotadas na bolsa norte-americana,
implementem um comitê de auditoria.
No Brasil, nos últimos 40 anos, as sociedades anônimas, têm na sua
estrutura de supervisão o conselho fiscal. Desta forma, as empresas brasileiras com registro
74
na bolsa de Nova York foram autorizadas a utilizar o conselho fiscal para desempenhar as
funções do comitê de auditoria, conforme definidas na Lei Sarbanes-Oxley.
Porém, ao optarem por não constituírem comitê de auditoria, substituindo-o
pelo conselho fiscal, algumas questões devem ser analisadas, por exemplo, o comitê de
auditoria é um órgão vinculado ao conselho de administração, já o conselho fiscal deve ser
desvinculado à administração, por ter o papel de fiscalizá- la. Desta forma, as empresas
brasileiras que optarem por não constituírem comitê de auditoria devem fazer alguns
ajustes, além disso, os órgãos reguladores norte-americanos exigem que as diferenças entre
o modelo adotado no Brasil e o previsto pela Sarbanes-Oxley sejam mencionados nos
relatórios periódicos. Assim, existem desafios a serem enfrentados:
“Atender aos critérios de independência dos membros dos Conselhos de Administração, exigindo adequação que podem até mesmo determinar a mudança de membros do conselho; identificar um membro com o conhecimento e experiência exigidos para um especialista financeiro; conciliar aspectos da legislação societária com respeito às atribuições do conselho fiscal e do comitê de auditoria, que são determinadas pelas leis norte-americanas; conciliar a cultura empresarial brasileira, cuja estrutura societária é em geral concentrada em blocos de controle nas mãos de poucos acionistas, com delegação de poder ao comitê de auditoria, cujo conceito é focado na cultura norte-americana de controle pulverizado”. (SUTTON, 2005)
As diferenças entre as estruturas exigidas pela Lei Sarbanes-Oxley em
relação à administração das empresas com a presença do comitê de auditoria e a adotada
no Brasil pelas empresas que optam por não implementarem o comitê, podem ser
visualizadas e resumidas conforme a seguir:
75
Figura 2: Diferença entre estruturas Brasil x EUA
Fonte: Lei Sarbanes-Oxley: Treinamento e Workshop – KPMG, 2006.
De forma resumida, os poderes e as responsabilidades do comitê de
auditoria são:
• Nomear os auditores externos;
• Aprovar ou não os serviços de não auditoria a serem contratados dos
auditores externos;
• Receber relatórios periódicos do auditor externo sobre:
ü As políticas contábeis mais significativas;
ü Alternativas à utilização de um princípio contábil; e
ü Discussões relevantes com a diretoria.
• Resolver divergências entre os auditores externos e a diretoria;
Brasil EUA
Acionistas Acionistas
Conselho de Administração
ConselhoFiscal
Conselho de Administração
Auditoria Interna/Externa
Auditoria Interna/Externa
Comitê deAuditoria
Diretoria Diretoria
76
• Estabelecer procedimentos a serem informados e o tratamento a ser
dado às eventuais denúncias contra a administração;
• Ter a autoridade e os recursos necessários para contratar advogados e
consultores, independentemente da diretoria.
Por outro lado os deveres do Conselho Fiscal, no geral, são:
• Fiscalizar os atos dos administradores;
• Opinar sobre o relatório anual da administração, fazendo constar do seu
parecer as informações complementares que julgar necessárias;
• Denunciar, por qualquer de seus membros, erros, fraudes ou crimes que
descobrirem, e sugerir providências úteis, à administração e, se estes não tomarem as
providências necessárias, à assembléia-geral;
• Analisar, ao menos trimestralmente, o balancete e demais
demonstrações financeiras elaboradas periodicamente pela companhia;
• Examinar as demonstrações financeiras do exercício social.
Tanto o comitê de auditoria quanto o conselho fiscal têm como
responsabilidade monitorar a qualidade das demonstrações financeiras da empresa. Porém,
o comitê de auditoria deve ser formado em sua totalidade por membros do conselho de
administração, enquanto as regras no Brasil não permitem que um membro do conselho
fiscal integre simultaneamente ao conselho fiscal.
5.1.1. Auditoria Externa
O comitê de auditoria é diretamente responsável por indicar, manter,
compensar e supervisionar o trabalho do auditor externo, incluindo a administração de
77
desacordos entre a diretoria e o auditor, referente à emissão das demonstrações financeiras,
quando existir. O auditor externo deve reportar-se diretamente ao comitê de auditoria, e
devem se reunir pelo menos trimestralmente.
A seção 204 trata de relatório do auditor externo para o comitê de auditoria,
determinando que toda empresa de auditoria externa contratada deve relatá- la
oportunamente ao comitê de auditoria, expondo todas as políticas e práticas contábeis
usadas, bem como todos os tratamentos alternativos das informações financeiras que foram
discutidos com os diretores da empresa, as ramificações do uso dessas divulgações, os
tratamentos alternativos e o seu tratamento preferido.
A lei determina ainda que o comitê deve estabelecer procedimentos para
recebimento, retenção e tratamento de reclamações do auditor externo a respeito da
contabilidade, controles internos e problemas na auditoria.
As seções 203 e 207 tratam respectivamente de exigência de rotatividade do
auditor líder e do estudo sobre o impacto de exigir rotatividade entre as empresas de
auditoria.
5.1.2. Prestação de serviço de não auditoria e pré-aprovação
A seção 202 da Lei Sarbanes-Oxley, determina que os serviços realizados
por auditores externos, sejam ou não serviços de auditoria, devem ser pré-aprovados pelo
comitê de auditoria. A pré-aprovação não é obrigatória no caso de serviços de não
auditoria, em que o montante deste não é maior que 5% do total pago ao auditor; no caso
de não terem sido considerados de não auditoria na época da contratação; ou se esses
serviços forem aprovados pelo comitê antes da conclusão da auditoria. Os serviços de não
auditoria aprovados pelo comitê devem ser divulgados aos investidores em relatórios
periódicos, bem como os critérios de pré-aprovação.
78
A seção 201 da lei proíbe a prestação de vários serviços de não auditoria por
parte dos auditores externos, tais como, contabilidade e outros serviços relativos aos
registros contábeis ou demonstrações financeiras; serviços de redesenho de processos
financeiros e implantação de sistemas de informações financeiras; laudos de avaliação;
terceirização da auditoria interna; funções gerenciais e serviços de recursos humanos;
serviços financeiros e serviços da área legal.
No Brasil, a CVM, através da instrução no 381, requer a divulgação de
informações sobre a prestação de outros serviços pelo auditor externo que não sejam de
auditoria externa, quando forem superiores a 5% da remuneração pelos serviços de
auditoria externa.
5.1.3. Independência do Comitê
A constituição do comitê de auditoria está condicionada a cada membro
fazer parte do conselho de administração e por outro lado ser independente. Ser membro
independente significa não receber, exceto por prestação de serviços no conselho, qualquer
honorário de consultoria, assessoria ou outro tipo de compensação monetária, e não ser
pessoa associada à auditoria externa ou a qualquer subsidiária. Os membros do comitê de
auditoria têm remuneração fixa e devem estar dispostos a dedicar o tempo assumindo a
responsabilidade de supervisores vigilantes em função do interesse do acionista.
A seção 205 da lei define comitê de auditoria como um comitê criado pelo,
e entre, o conselho de administração para fins de supervisão dos processos de apresentação
de relatórios financeiros e contábeis, assim como auditorias das demonstrações financeiras
da empresa. Caso o comitê de auditoria não exista, todo o conselho de administração da
empresa exerce sua função.
79
5.1.4. Especialista financeiro
A seção 407 da lei determina sobre a competência do comitê de auditoria,
definindo que pelo menos um membro do comitê deve ser um especialista financeiro, o
que significa ter experiência: em contabilidade de empresa aberta ou auditoria, ou como
diretor financeiro; como auditor externo de empresa comparável; em aplicação de
princípios contábeis para estimativas de aumentos e reservas; bem como em controles
internos de contabilidade e entendimento da função do comitê de auditoria. É obrigatória a
divulgação deste, garantindo a sua independência em relação à administração.
Além do especialista financeiro, o comitê de auditoria tem autoridade para
contratar advogados independentes e outros assessores, se necessário para realização de
suas tarefas.
5.1.5. Reclamações e denúncias
De acordo com as exigências da SOX, o comitê de auditoria deve
determinar procedimentos para o recebimento, a retenção e o tratamento de reclamações
recebidas pela empresa, referente à contabilidade, aos controles internos e aos assuntos de
auditoria, além de procedimentos para denúncias confidenciais de funcionários
consideradas questionáveis.
5.2. Comitê de Auditoria nas instituições financeiras
No Brasil para as instituições financeiras a resolução 3.198 de 27/05/2004,
emitida pelo Banco Central do Brasil altera a resolução 3.081 de 2003 e a 3.170 de 2004,
consolidando a regulamentação pertinente à prestação de serviços de auditoria
independente para instituições financeiras e demais instituições autorizadas a funcionar
pelo Banco Central do Brasil.
80
A resolução 3.198 determina que as instituições que tenham apresentado no
encerramento dos dois últimos exercícios sociais, Patrimônio de Referência (PR) igual ou
superior a R$ 1.000.000.000,00 (um bilhão de reais); ou administração de recursos de
terceiros em montante igual ou superior a R$ 1.000.000.000,00 (um bilhão de reais); ou
somatório das captações de depósitos e de administração de recursos de terceiros em
montante igual ou superior a R$ 5.000.000.000,00 (cinco bilhões de reais) devem constituir
comitê de auditoria. A resolução 3.198 define os requisitos e atribuições do comitê de
auditoria, conforme descrito nos subitens a seguir.
5.2.1. Constituição do comitê
Quanto à constituição do comitê, é exigido que este seja composto por, no
mínimo, três integrantes, com mandato máximo de cinco anos desde que não tenha tido nos
últimos 12 meses relação de integrante na instituição. Além disso, pelo menos um deve ter
comprovado conhecimento nas áreas de contabilidade e auditoria, bem como para voltar a
integrar o comitê após um mandato, deve-se esperar pelo menos três anos.
O comitê de auditoria tem como função, estabelecer as regras operacionais
para seu funcionamento, as quais devem ser aprovadas pelo conselho de administração,
formalizadas por escrito e colocadas à disposição dos respectivos acionistas ou cotistas.
5.2.2. Auditoria externa e interna
O comitê é responsável por recomendar, à administração, a empresa a ser
contratada para prestação dos serviços de auditoria externa, bem como revisar, antes da
publicação, as demonstrações contábeis semestrais.
O comitê deve ainda avaliar a efetividade das auditorias externas e internas;
avaliar o cumprimento, pela administração, das recomendações feitas pelos auditores;
81
estabelecer e divulgar procedimentos para recepção e tratamento de informações sobre o
descumprimento de dispositivos legais e normativos aplicáveis à instituição, garantindo
proteção ao prestador e confidencialidade da informação.
A resolução 3.198 trata também de aprimoramentos e consolidação dos
procedimentos aplicáveis à prestação de serviços de auditoria independente. Assim, as
instituições devem designar diretor tecnicamente qualificado para responder junto ao
Banco Central, pelo acompanhamento, supervisão e cumprimento de normas e
procedimentos de contabilidade, sendo que este, nas instituições que não possuem comitê
de auditoria, responderão também pelo acompanhamento, supervisão e cumprimento das
normas e procedimentos de auditoria externa. O diretor designado será responsável pelas
informações prestadas e pela ocorrência de situações que indiquem fraude, negligência,
imprudência ou imperícia.
O auditor externo deve ser registrado na CVM, e tem como atribuição
elaborar e manter documentada sua política de independência, que deve ficar à disposição
do Bacen e do comitê de auditoria, incluindo os procedimentos de controles internos
adotados com vistas a monitorar, identificar e evitar as ocorrências.
A resolução 3.198 determina ainda que o auditor externo deve ser
substituído depois de emitidos pareceres relativos a cinco exercícios, podendo ser re-
contratado após três anos. Porém, a resolução 3.332 do Banco Central do Brasil, de
22/12/05 suspende o prazo para substituição periódica do auditor independente, até
31/12/07.
É parte do trabalho do auditor externo elaboração de relatórios, de auditoria
com suas opiniões sobre as demonstrações contábeis; de avaliação da qualidade e
adequação do sistema de controles internos, de descumprimento de dispositivos legais e
regulamentares.
82
5.2.3. Comunicação
A resolução 3.198 determina que o comitê de auditoria deve se reunir, no
mínimo trimestralmente, com a diretoria da instituição, com a auditoria independente e
com a auditoria interna para verificar o cumprimento de suas recomendações ou
indagações, inclusive no que se refere ao planejamento dos trabalhos de auditoria. O
comitê se reporta diretamente ao conselho de administração e deve se reunir com este para
discutir acerca de políticas, práticas e procedimentos identificados no âmbito das suas
respectivas competências. É responsabilidade do comitê de auditoria elaborar, ao final dos
semestres, um relatório que ficará a disposição do Banco Central por cinco anos, e seu
resumo será publicado junto com as demonstrações contábeis semestrais.
É exigido que o auditor externo e o comitê de auditoria devem comunicar
formalmente ao Banco Central do Brasil, no prazo máximo de três dias úteis, a
identificação, a existência ou as evidênc ias de erro ou fraude. Além disso, o auditor
independente, a auditoria interna e o comitê de auditoria, devem manter, entre si,
comunicação imediata da identificação dos eventos previstos neste artigo.
5.3. Comitê de Auditoria para seguradoras
No caso de seguradoras, a resolução CNSP (Conselho Nacional de Seguros
Privados) No 118 de 22/12/2004 dispõe sobre a prestação de serviços de auditoria
independente e sobre comitê de auditoria para as sociedades seguradoras, de capitalização
e entidades abertas de previdência complementar.
A resolução 118 determina que as demonstrações contábeis devem ser
auditadas por auditor independente devidamente registrado na CVM, sendo necessário,
designar um diretor tecnicamente qualificado para responder, junto à SUSEP, pelo
acompanhamento, supervisão e cumprimento das normas e procedimentos de contabilidade
83
e auditoria. Quando não há comitê de auditoria, este tem também a responsabilidade pelas
informações prestadas e pela ocorrência de situações que indiquem fraude, negligência,
imprudência ou imperícia.
A resolução 118 determina ainda que as sociedades supervisionadas devem
constituir comitê de auditoria no caso de terem apresentado nos dois últimos exercícios
sociais pelo menos uma das condições:
• Patrimônio Líquido Ajustado (PLA) igual ou superior a R$
500.000.000,00 (quinhentos milhões de reais); ou
• Provisões técnicas em montante igual ou superior a R$ 700.000.000,00
(setecentos milhões de reais)
5.3.1. Constituição do comitê
O comitê de auditoria deve ter no mínimo três integrantes com pelo menos
um dos integrantes possuindo conhecimentos comprovados na área de contabilidade e
auditoria, podendo ter mandato máximo de cinco anos, e retornando somente após três
exercícios afastados. Além disso, para ser integrante do comitê não é permitido que a
pessoa seja ou tenha sido diretor, funcionário, membro do conselho fiscal ou envolvida nos
serviços de auditoria. O comitê de auditoria se reporta diretamente ao conselho de
administração.
5.3.2. Atribuições do comitê
As atribuições do comitê de auditoria definidas na resolução 118 são
bastante parecidas com as exigências da resolução 3.198 para as instituições financeiras.
O comitê de auditoria para as sociedades seguradoras também tem como
responsabilidade, recomendar a entidade a ser contratada para prestação de serviços de
84
auditoria independente; revisar as demonstrações contábeis antes da publicação; avaliar
auditorias externa e interna; avaliar o cumprimento ou a justificativa do não cumprimento
pela administração das recomendações feitas pelos auditores independentes ou internos.
Além disso, o comitê deve definir e divulgar procedimentos para receber e
tratar informações sobre descumprimento de dispositivos legais e normativos, além de
regulamentos e códigos internos, inclusive com previsão para proteção ao prestador e
confidencialidade da informação.
É responsabilidade do comitê de auditoria, elaborar, ao final do semestre,
relatório contendo informações sobre as atividades exercidas; avaliação da efetividade dos
controles internos, auditoria independente, auditoria interna, qualidade das demonstrações
contábeis; descrição das recomendações apresentadas ao diretor presidente, com descrição
das não acatadas e as justificativas, ficando este a disposição da SUSEP por no mínimo
cinco anos.
5.3.3. Auditoria externa
Para a contratação de auditor externo é primordial que se observem diversas
questões na qual proíbem a contratação, entre elas no caso de prestação de serviço de
auditoria e consultoria concomitantemente. Além disso, o auditor deve ser substituído no
máximo depois de emitidos pareceres relativos a cinco exercícios sociais completos,
podendo ser re-contratado depois de decorridos três exercícios sociais completos.
Para o auditor externo, a resolução 118 determina que este deve emitir
parecer de auditoria expressando sua opinião quanto às demonstrações contábeis, se foram
elaboradas de acordo com as práticas contábeis adotadas no Brasil; bem como quanto à
adequação dos controles internos aos riscos suportados pela sociedade supervisionada,
devendo comunicar a SUSEP qualquer irregularidade considerada falta grave. A
85
contratação ou manutenção de auditor independente depende da aprovação do responsável
técnico, diretor, gerente, supervisor ou integrante com função de gerência.
5.3.4. Comunicação
A resolução 118, também determina que o comitê de auditoria deve se
reunir, no mínimo trimestralmente, com a administração, auditoria independente e
auditoria interna para verificar o cumprimento de suas recomendações ou indagações,
inclusive no que se refere ao planejamento dos respectivos trabalhos de auditoria. Devendo
se reunir também com o conselho fiscal e com o conselho de administração para discutir
acerca de políticas, práticas e procedimentos identificados no âmbito das suas respectivas
competências.
O auditor independente e comitê de auditoria, quando existente, e o diretor
responsável, devem individualmente ou em conjunto, comunicar formalmente à SUSEP,
no prazo máximo de três dias úteis da identificação, a existência ou as evidências de erros
ou fraudes representadas por: inobservância de normas legais e regulamentares, que
coloquem em risco a continuidade da sociedade supervisionada; fraudes, de qualquer valor,
cometidas pela administração; fraudes relevantes praticadas por funcionários; e erros que
resultem em incorreções relevantes nas demonstrações contábeis.
5.4. Comentários finais sobre comitê de auditoria
Com a Lei Sarbanes-Oxley, desde 2002, as empresas abertas com ações
negociadas na bolsa de valores americana se preocupam com a criação ou adequação de
comitês de auditoria. Apesar da existência do comitê de auditoria não ser uma novidade, a
lei amplia seus poderes e responsabilidade.
86
Além de todas as exigências atribuídas diretamente ao comitê de auditoria,
na Lei Sarbanes-Oxley os novos padrões estabelecidos sobre responsabilidade corporativa,
também geram impacto nas responsabilidades do comitê de auditoria. Por exemplo, a seção
404, ao exigir do auditor externo, opinião sobre os controles internos que apóiam o
processo de divulgação das informações financeiras, está gerando impacto ao comitê de
auditoria uma vez que o auditor externo é supervisionado e indicado por este.
No Brasil, nos últimos 40 anos, as sociedades anônimas, têm na sua
estrutura de supervisão o conselho fiscal. Desta forma, as empresas brasileiras com registro
na bolsa de Nova York foram autorizadas a utilizar o conselho fiscal para desempenhar as
funções do comitê de auditoria, conforme definidas na Lei Sarbanes-Oxley.
No Brasil, para instituições financeiras, a resolução 3.170 de 30/01/2004,
alterada pela 3.198 de 27/05/2004 do Banco Central do Brasil, regulamentou a
obrigatoriedade da constituição de comitês de auditoria em instituições financeiras. Porém,
exige que os bancos, dentro de alguns parâmetros, tenham comitê de auditoria, mas não
que sejam independentes, inclusive exigindo que um dos membros faça parte da
administração da empresa, o que contradiz as exigências da Sarbanes-Oxley que exige
membros independentes.
Para a realização do trabalho, a análise comparativa foi realizada entre os
mercados de empresas, bancos e seguradoras. Em relação às empresas, a Lei Sarbanes-
Oxley, mais precisamente as seções 301 que amplia a existência do comitê de auditoria; a
204 que trata do relatório do auditor externo para o comitê de auditoria; a 203 que exige
rotatividade do auditor líder; a 207 sobre estudo do impacto de exigir rotatividade das
empresas de auditoria; a 202 que determina que os serviços realizados por auditores
externos, sejam pré-aprovados pelo comitê de auditoria; a 201 proíbe a prestação de vários
serviços de não auditoria por parte dos auditores externos; a 205 define o comitê de
87
auditoria; e a 407 que exige pelo menos um especialista financeiro como membro do
comitê. Quanto à regulamentação aplicável no Brasil aos bancos e seguradoras foram
analisadas a resolução 3.198 de 27/05/2004 do Bacen e a resolução 118 de 22/12/04 do
CNSP, respectivamente.
Desta forma, em relação a comitê de auditoria, os pontos comparados e
analisados que merecem destaque e são exigências comuns são:
• O comitê é responsável por avaliar a efetividade das auditorias internas
e externas;
• O comitê revisa os relatórios financeiros;
• O comitê é responsável por indicar o auditor externo. Na Sarbanes-
Oxley também inclui a responsabilidade de manter, compensar e supervisionar esse
trabalho;
• O comitê se reúne pelo menos trimestralmente com a auditoria externa.
Para bancos e seguradoras se reúne também com a diretoria e auditoria interna;
• O comitê te autoridade para contratar especialistas para auxiliá- lo;
• O auditor externo deve ser substituído periodicamente. Para instituições
financeiras essa exigência está suspensa pela resolução 3.332 do Bacen de 22/12/05;
• Na SOX, o comitê administra desacordos e promove discussão entre a
administração e o auditor externo, referente à emissão das demonstrações financeiras. Para
bancos e seguradoras, o comitê verifica o cumprimento das recomendações feitas pela
auditorias externa e interna à administração;
• Pelo menos um membro do comitê deve ter comprovado conhecimento
nas áreas de contabilidade e auditoria. A Sarbanes-Oxley exige que este seja divulgado e
independente à administração;
88
• O comitê determina procedimentos para o recebimento, a retenção e o
tratamento de reclamações, referente à contabilidade, aos controles internos e aos assuntos
de auditoria e sobre o descumprimento de dispositivos legais e regulamentares;
• Na Sarbanes-Oxley o comitê determina procedimentos para denúncias
confidenciais de funcionários relacionados a assuntos contábeis e de auditoria, bem como
de reclamações da auditoria externa. Para bancos e seguradoras é destacada a necessidade
de proteger o prestador da informação;
• Na Sarbanes-Oxley o membro do comitê deve ser independente.
Enquanto que para instituições financeiras e seguradoras, as exigências são de o comitê
deve ter no mínimo três integrantes; que não tenha sido diretor, funcionário, membro do
conselho fiscal ou envolvida nos serviços de auditoria na empresa; com mandato máximo
de cinco anos e retornando somente após três exercícios afastados; se reportam diretamente
ao conselho de administração.
• Na Sarbanes-Oxley o auditor externo se reporta diretamente ao comitê
de auditoria e se reúnem no mínimo trimestralmente. Para bancos e seguradoras se reúnem
também com a diretoria da instituição e a auditoria interna.
Nas resoluções 3.198 e 118 existem ainda as seguintes determinações: as
instituições devem designar diretor tecnicamente qualificado para responder pelo
acompanhamento, supervisão e cumprimento de normas e procedimentos de contabilidade;
comitê elabora, ao final dos semestres, um relatório que ficará a disposição dos órgãos
regulamentares por cinco anos, e seu resumo será publicado junto com as demonstrações
contábeis semestrais; e o auditor externo e o comitê de auditoria devem, comunicar
formalmente aos órgãos reguladores, no prazo máximo de três dias úteis, a identificação, a
existência ou as evidências de erro ou fraude.
89
A Sarbanes-Oxley prevê ainda que o comitê de auditoria deve pré-aprovar
serviços de não auditoria a serem realizados pelo aud itor externo e divulga- los aos
investidores.
Os critérios para implantação do comitê de auditoria variam. Na lei
Sarbanes-Oxley é exigido para todas as empresas que negociam ações na bolsa de valores
americana. Para instituições financeiras as exigências estão condicionadas ao patrimônio
de referência; administração de recursos de terceiros; e captações de depósitos. Para
seguradoras as condições são relativas ao patrimônio líquido ajustado e provisões técnicas.
O mais importante para todas as partes interessadas nas empresas de capital
aberto é assegurar que o comitê de auditoria agregue valor. Para tanto, devem ter foco no
código de ética e conduta, leis e regulamentos, gestão de riscos, sistemas de controles
internos, processo de auditoria e processo de divulgação de informações financeiras,
conforme ilustrado na figura a seguir:
Figura 3: Foco do Comitê de Auditoria
Fonte: Comitê de Auditoria no Brasil: Melhores Prática de Governança
Corporativa - 2005, PricewaterhouseCoopers.
A existência de comitês de auditoria tanto para empresas, bancos e
seguradoras, apesar de não ser uma prática muito nova, está presente nas regulamentações
analisadas e as responsabilidades e exigências para este em todas as áreas apresentam
bastante similaridade e estão em constante adaptação.
Código de ética e
conduta
Leis e regulamentos
Gestão de Riscos
Sistemas de controles internos
Processo de auditoria (externa e interna)
Processo de divulgação de informações financeiras
90
A tabela a seguir resume esquematicamente as conclusões do capítulo.
Empresas Bancos Seguradoras SOX 3.198 - 27/05/2004 CNSP 118 - 22/12/04
Implantação de comitê de auditoria Comitê avalia auditorias externa e interna
Comitê indica, mantém e recompensa o auditor externo Recomenda à administração a contratação do auditor externo
Comitê revisa os relatórios financeiros Substituição periódica do auditor externo
Suspensão do prazo para
substituição do auditor externo
Estudo sobre o impacto de exigir rotatividade das empresas de auditoria
Comitê administra desacordos entre a administração e o auditor externo
Comitê avalia o cumprimento, pela administração, das recomendações feitas pelos auditores externos e internos
Reunião no mínimo trimestral entre o comitê e a auditoria externa Pelo menos 1 membro do comitê ser um especialista
Divulgação do especialista financeiro
Procedimentos para o comitê receber e tratar reclamações e informações materiais Membros do comitê independentes Mínimo 3 integrantes com mandato máximo de 5 anos Pré aprovação de serviços de não
auditoria
Divulgar os serviços de não auditoria aprovados pelo comitê.
Proíbe prestação de alguns serviços pelos auditores externos
Proíbe prestação de serviço de auditoria e consultoria pelo auditor
externo Empresas Bancos Seguradoras
SOX 3.198 - 27/05/2004 CNSP 118 - 22/12/04
O comitê de auditoria pode contratar especialistas para auxiliá-lo
Diretor responsável por acompanhar e supervisionar os procedimentos
de contabilidade.
Comitê elabora relatório com resumo publicado nas demonstrações
contábeis semestrais.
Comunicação ao órgão supervisor pelo auditor externo e comitê sobre a
identificação de erro.
Tabela 5: Resumo sobre Comitê de Auditoria
Fonte: Levantamento feito pela autora
91
6. RESPONSABILIZAÇÃO
É importante ponderar que regras de governança corporativa são
imprescindíveis para dar credibilidade ao mercado de capitais e segurança ao investidor em
qualquer país. O mercado com as crescentes situações de desconfiança e no interesse de
estimular o investimento no mercado de capitais, exige, cada vez mais, regras que
transmitam ao investidor clareza, segurança e disponibilidade das informações. O objetivo
é de que os administradores das corporações escolhidas para receber investimento atuem
de forma profissional, sem contaminar a gestão com interesses pessoais, principalmente
quando há uma tendência de vincular cada vez mais a remuneração ao desempenho da
empresa.
A responsabilização é a definição de responsabilidade e devidas punições
pelo não cumprimento destas pelos administradores, que têm como dever se
responsabilizar por qualquer ação dentro da empresa, pelos relatórios financeiros ou
qualquer informação divulgada aos investidores.
6.1. Responsabilização na Lei Sarbanes-Oxley
Promulgada como reação aos escândalos contábeis que sacudiram Wall
Street nos últimos anos, a Lei Sarbanes-Oxley aumentou de forma significativa a
responsabilidade da administração das companhias. O objetivo principal é procurar
garantir a confiança dos investidores nas empresas de capital aberto por meio de maior
transparência na divulgação dos atos da administração, uma vez que as ações tomadas nas
empresas são sempre em função da administração, ou seja, são eles que ditam as regras.
Os recentes escândalos já citados que ocorreram no mundo dos negócios
vieram com declarações de executivos de que não tinham conhecimento das práticas e
ações suspeitas de sua empresa, como, participações não registradas nos balanços, receitas
92
impróprias, entre outras. Desta forma, a Lei Sarbanes-Oxley contribui também para
desencorajar esse tipo de alegação através de medidas que intensificam as conferências
internas e aumentam a responsabilidade dos executivos.
O rigor da lei em relação à responsabilidade da administração surgiu para
permitir que a prática da remuneração variável fosse mantida nos Estados Unidos, desde
que as regras e punições rigorosas permitissem sua aplicação de forma honesta e adequada.
A revista KPMG, Business Magazine 03 (2005), faz menção de que a remuneração
variável é aplicada em vários outros países, inclusive o Brasil, mas nos Estados Unidos
esta corresponde a maior parte dos salários dos executivos. Assim, fica mais fácil entender
por que os administradores nortes americanos, de vez em quando, têm uma vontade
incontrolável de mexer nos números do balanço em favor de seus bônus e suas opções de
ações e por que a necessidade de uma lei tão rigorosa quando a Sarbanes-Oxley.
6.1.1. Responsabilidade corporativa: Certificação das informações
A seção 302 da lei determina que o presidente e diretor financeiro devem
declarar pessoalmente que são responsáveis pelos controles e procedimentos de
divulgação, ou seja, devem assinar os relatórios. O papel dos diretores é o de reconhecer a
responsabilidade de assegurar o cumprimento das regras e transmitir as informações à alta
administração e aos funcionários, além de garantir que as informações publicamente
divulgadas retratam exatamente a realidade.
A seção 307 define responsabilidade aos advogados, sendo estes obrigados
a relatar ao superior de assuntos legais, qualquer evidência material de violação da lei pela
empresa ou qualquer pessoa. Caso o chefe de assuntos legais não responda de forma
apropriada, o fato deve ser relatado ao comitê de auditoria ou ao conselho. Tanto os
93
advogados quanto os contadores têm canal aberto para denunciar diretamente à SEC
qualquer fraude e não podem ser demitidos.
6.1.2. Penalidades
A seção 906 da lei dispõe sobre responsabilidade corporativa pelos
relatórios financeiros determinando que os relatórios periódicos devem vir acompanhados
pela declaração por escrito do diretor presidente e diretor financeiro certificando que as
informações do relatório certamente apresentam em todos os sentidos materiais as
condições financeiras e resultados operacionais.
Nesta seção, é definida penalidade de até 20 anos de prisão e/ou multa de
até US$ 5.000.000 (cinco milhões de dólares), no caso do diretor presidente e diretor
financeiro certificarem declarações financeiras sabendo que não está de acordo com todos
os requisitos definidos, ou seja, sendo negligente.
A seção 1.102 da Lei Sarbanes-Oxley trata de alteração de registros e
dificuldade ou impedimento de procedimentos oficiais, definindo que alterar, destruir,
ocultar documentos, registros ou outros objetos com intenção de prejudicar sua integridade
gera multa ou prisão até 20 anos.
6.2. Responsabilização na legislação brasileira
A Lei n. 10.303 de 31/10/2001 que dispões sobre sociedades por ações,
descreve sobre os crimes contra o mercado de capitais, determinando penalidades.
• Pena de reclusão de um a oito anos, e multa de 3 vezes o valor da
vantagem ilícita obtida em decorrência de realização de operações fraudulentas com a
finalidade de obter vantagem indevida ou lucro ou causar dano a terceiro, alterando o
94
funcionamento dos mercados de valores mobiliários em bolsa de valores, de mercadorias e
futuros, no mercado de balcão ou no mercado de balcão organizado;
• Pena de reclusão de um a cinco anos, e multa de até três vezes o
montante da vantagem ilícita obtida em função do uso indevido de informação
privilegiada9;
• Detenção de seis meses a dois anos, e multa pelo exercício irregular de
cargo, profissão, atividade ou função, atuando, mesmo que gratuitamente, no mercado de
valores mobiliários, como instituição integrante do sistema de distribuição, administrador
de carteira coletiva ou individual, agente autônomo de investimento, auditor independente,
analista de valores mobiliários, agente fiduciário ou exercer qualquer cargo, profissão,
atividade ou função, sem estar, para esse fim, autorizado ou registrado junto à autoridade
administrativa competente, quando exigido por lei ou regulamento.
A Lei nº 7.492/86, que define os crimes contra o sistema financeiro
nacional, estabelece:
• Pena de reclusão de dois a seis anos, e multa, no caso de divulgar
informação falsa ou prejudicialmente incompleta sobre instituição financeira;
• Pena de reclusão de três a doze anos, e multa se gerir fraudulentamente
a instituição;
• Pena de reclusão de dois a seis anos, e multa para quem induzir ou
manter em erro, sócio, investidor ou repartição pública competente, relativamente à
operação ou situação financeira, sonegando-lhe informação ou prestando-a falsamente;
• Pena de reclusão de um a cinco anos, e multa para quem fraudar a
fiscalização ou o investidor, inserindo ou fazendo inserir, em documento comprobatório de
9 Informação relevante ainda não divulgada ao mercado, de que tenha conhecimento e da qual deva manter sigilo, capaz de propiciar vantagem indevida.
95
investimento em títulos ou valores mobiliários, declaração falsa ou diversa da que dele
deveria consta;
• Pena de reclusão de um a cinco anos, para quem fizer inserir elemento
falso ou omitir, elemento exigido pela legislação, em demonstrativos contábeis de
instituição financeira, seguradora ou instituição integrante do sistema de distribuição de
títulos de valores mobiliários;
Além disso, a Lei nº 7.913/89, dos crimes sobre investidores, prevê que, o
Ministério Público pode adotar as medidas judiciais necessárias para evitar prejuízos ou
obter ressarcimento de danos causados aos investidores do mercado, especialmente quando
decorrerem de operação fraudulenta, prática não eqüitativa, manipulação de preços ou
criação de condições artificiais; uso de informação privilegiada; ou omissão de informação
relevante, bem como sua prestação de forma incompleta, falsa ou tendenciosa.
6.3. Comentários finais sobre responsabilização
Os assuntos referentes à responsabilização, ética e integridade estão em
foco no mundo dos negócios hoje, quando há uma tendência das empresas oferecerem cada
vez maior parte do salário dos executivos em forma de remuneração variável, então, ações
com objetivo de evitar conflitos de interesses devem ser definidas e intensificadas. Não
pode haver sucesso no sistema capitalista sem a verdade. É necessário honestidade nos
negócios diários e os investidores precisam confiar que os líderes empresariais são éticos e
seguem as leis e regulamentações, além de trabalharem em prol de seus interesses em
primeiro lugar.
No estudo analítico sobre responsabilização nas regulamentações existentes,
a Lei Sarbanes-Oxley veio nortear as exigências uma vez que um dos pontos críticos da lei
é justamente a responsabilidade e penalidades definidas para os presidentes e diretores
96
financeiros das empresas abertas, com intuito de evitar declarações de que as práticas
adotadas na empresa não eram de conhecimento da administração. Ou seja, a partir da lei,
os executivos além de saberem tudo que acontece na empresa devem declarar que sabem
tudo e as informações são extremamente confiáveis. O objetivo principal é procurar
garantir a confiança dos investidores nas empresas de capital aberto por meio de maior
transparência na divulgação dos atos da administração.
A Lei Sarbanes-Oxley trata da questão de responsabilização através das
seções: 302, que exige assinatura do presidente e diretor financeiro nos relatórios; 307
definindo responsabilidade para os advogados, registrando que tanto os advogados quanto
os contadores têm canal aberto para denunciar diretamente à SEC qualquer fraude e não
podem ser demitidos. Além disso, as penalidades relativas às responsabilidades são
definidas na seção 906 com pena para declaração falsa e na seção 1.102 com penalidades
relativas à alteração e destruição de registros.
As seções 302 e 404 da Lei Sarbanes-Oxley exige que o presidente e o
diretor financeiro em conjunto com a administração devem fornecer, por escrito, as
seguintes declarações sobre os relatórios das demonstrações financeiras, afirmando que:
• As pessoas que assinam revisaram o relatório com base no melhor de
seus conhecimentos;
• O relatório não contém nenhuma afirmação falsa ou omite qualquer fato
relevante;
• As demonstrações financeiras apresentam adequadamente, em todos os
aspectos relevantes, a situação financeira e os resultados das operações da empresa.
O diretor presidente e o diretor financeiro são responsáveis ainda pelo
estabelecimento, pela manutenção e avaliação dos controles internos, sendo que estes
devem assegurar que a informação material relativa à empresa e a suas subsidiárias
97
consolidadas foram fornecidas, bem como elaborar relatório com suas conclusões sobre os
controles internos. São responsáveis ainda por divulgar aos auditores e ao comitê de
auditoria, todas as deficiências materiais nos controles internos e qualquer fraude, seja
material ou não, que envolva pessoas do nível da administração ou outros funcionários que
façam parte, de forma significativa, dos controles internos.
No Brasil a responsabilização é tratada na Lei n. 10.303 de 31/10/2001 que
dispõe sobre sociedades por ações, descreve sobre os crimes contra o mercado de capitais,
determinando penalidades, bem como na Lei nº 7.492/86, que define os crimes contra o
sistema financeiro nacional. Além disso, a Lei nº 7.913/89, dos crimes sobre investidores,
prevê que, o Ministério Público pode adotar as medidas judiciais necessárias para evitar
prejuízos ou obter ressarcimento de danos causados aos investidores do mercado.
Na verdade a legislação brasileira já prevê punições a crimes de colarinho
branco a algum tempo, enquanto a lei americana através da Lei Sarbanes-Oxley passa a
definir penalidades efetivas a esse tipo de crime e faz com que a preocupação com a ética e
a integridade dos presidentes das empresas, estejam em primeiro plano.
Não há mais como argumentar que alguma informação ou ação realizada
não era de seu conhecimento, é claro hoje, que os presidentes e diretores financeiros das
empresas com ações negociadas na bolsa de valores americana são responsáveis por todas
as informações divulgadas nos relatórios financeiros e por qualquer omissão ou informação
falsa, estando assim sujeitos às penalidades da lei.
98
7. CONCLUSÕES
A Lei Sarbanes-Oxley é considerada a lei de maior impacto sobre os
mercados de capitais norte-americanos e mundiais desde a legislação de 1933 e 1934, que
criou a SEC (Security and Exchange Commission), com amplos poderes para regular e
policiar o mercado de ações nos Estados Unidos.
Nos últimos anos, após os escândalos contábeis estampados em manchetes
de todo o mundo, a legislação norte-americana, com rapidez extraordinária e um apoio
quase unânime implementou a Lei Sarbanes-Oxley que ampliou os poderes da SEC e
aumentou consideravelmente a responsabilidade da administração das empresas.
Os efeitos da lei são bastante significativos tanto nos Estados Unidos quanto
para empresas estrangeiras que possuem ações cotadas na bolsa de valores norte-
americana. Além disso, as exigências da lei refletem em todo mercado uma vez que mesmo
não fazendo parte do grupo de empresas obrigadas a adotarem a lei, a importância e os
benefícios são reconhecidos e influenciam em todas as áreas e setores que estão dentro do
contexto de finanças mundial.
As mudanças introduzidas pela SOX nas práticas das empresas, de forma
geral, incluem:
• Responsabilidade do presidente, do diretor financeiro e de toda
administração nos processos de certificação das seções 302 e 404;
• Transferência de diversos poderes e responsabilidades que eram
anteriormente dos diretores executivos para um comitê de auditoria, composto de membros
não executivos do Conselho da Administração; e
• Maior transparência na divulgação das informações financeiras e dos
atos da administração.
99
A Lei Sarbanes-Oxley exige que os executivos, conselhos, comitês e
auditores independentes executem tarefas específicas para alcançar os objetivos da lei
quanto à divulgação de informações corporativas confiáveis. Os executivos devem
reafirmar que a responsabilidade primária pelos relatórios entregues à SEC é do presidente
e do diretor financeiro.
De forma resumida podemos concluir que a lei foi criada para:
• Demonstrar ao investidor comprometimento com confiabilidade e
integridade nas empresas americanas;
• Deter a má conduta nas empresas e restaurar a confiança
primordialmente através de investimento na governança corporativa, melhorando a
transparência e a confiança nas auditorias financeiras;
• Definir e clarear as responsabilidades para os executivos para garantir
que eles estão de acordo com as operações das empresas as quais trabalham;
• Aumentar a responsabilidade dos executivos por suas decisões;
• Restaurar a confiança no processo de contabilidade para emissão de
relatórios.
As reformas regulamentares ou práticas empresariais acabam seguindo o
exemplo do maior centro econômico do mundo, os Estados Unidos, adotando medidas que
contribuem para aumentar a credibilidade e a confiança nos relatórios financeiros, ou seja,
minimizando os riscos, através do aprimoramento de sua gestão.
A lei pode ser vista como uma exigência americana que reflete diretamente
no mercado brasileiro e de outros países que possuem alguma empresa sujeita às
exigências da Sarbanes-Oxley. As empresas sujeitas à SOX influenciarão naturalmente o
seu setor de atuação de forma que as empresas brasileiras ou de qualquer outro país,
mesmo não tendo ações negociadas na bolsa de valores americanas, sejam pressionadas a
100
adotar medidas relativas ao nível de transparência, conforme as exigidas na SOX de forma
que o investidor e os analistas de mercado as valorizem tanto quanto as que já têm as
exigências implantadas por força legal.
Esse é um caminho sem volta. Gradativamente as empresas passarão a se
adaptar às determinações da Lei Sarbanes-Oxley até por que há evidências concretas de
que muitas das exigências da SOX estão previstas nas regulamentações de bancos e
seguradoras, isso ficou claro durante o trabalho nas análises realizadas. Esta constatação
demonstra que as exigências não são novidades e sim que já vêm sendo demandadas há
algum tempo, é um caminho lógico, natural e único. O próprio Novo Mercado definido
pela Bovespa é um exemplo de que o mercado tende a ter cada vez maiores níveis de
transparência e ações de governança corporativa como forma de valorizar o investidor.
O fato dos órgãos regulamentares para bancos e seguradoras já possuírem
normas e procedimentos bem próximos às exigências da SOX facilita e desmistifica, de
certa forma, a complexidade da lei. Quando se fala em instituições financeiras o Novo
Acordo de Capitais da Basiléia adota medidas claramente direcionadas para a transparência
das informações internas, através da supervisão, com o propósito de divulgação confiável
de informações externamente através da disciplina de mercado. Por outro lado fortalece as
exigências de capital mínimo, adotando essas ações com objetivo de gerenciar os riscos
corporativos tanto no que se refere aos riscos de mercado, operacional e de crédito. O
Comitê da Basiléia desde 1998 com a publicação do documento intitulado “Enhancing
Bank Transparency”, demonstra preocupação com a transparência.
No Brasil as medidas são direcionadas em função do mercado mundial. No
que se refere aos bancos, o Banco Central do Brasil se carrega de direcionar as
regulamentações, por outro lado o mercado segurador fica a cargo da SUSEP
(Superintendência de Seguros Privados). O Novo Acordo de Capitais da Basiléia influencia
101
muito tanto as medidas adotadas no Brasil para instituições financeiras, quanto às adotadas
mundialmente no setor de seguros, entre outros.
Além das exigências para bancos e seguradoras, muito do que é
recomendado hoje pela cartilha de governança corporativa da Comissão de Valores
Mobiliários (CVM) e também pelo código das melhores práticas de governança
corporativa do IBGC (Instituto Brasileiro de Governança Corporativa) está muito próximo
de algumas das exigências da SOX. Na cartilha da CVM, por exemplo, há sugestão de que
devem ocorrer reuniões sem a presença da diretoria e que os auditores devem emitir
relatório de recomendações diretamente encaminhado ao Conselho.
Conforme descrito na cartilha da CVM, a adoção de boas práticas de
governança corporativa é um mecanismo, através do qual, investidores, inclusive
controladores se protegem contra desvios de ativos. Essas práticas também contribuem
para aumentar o valor da empresa uma vez que o custo de capital é reduzido o que aumenta
a viabilidade de capitalização no mercado.
A cartilha da CVM foi elaborada em junho de 2002 com objetivo de adaptar
alguns conceitos internacionais à realidade brasileira. Desta forma são tratados os assuntos:
• Transparência: Assembléias, Estrutura Acionária e Grupo de Controle;
• Estrutura e Responsabilidade do Conselho de Administração;
• Proteção a Acionistas Minoritários;
• Auditoria e Demonstrações Financeiras.
Essas questões são também expostas no código das melhores práticas de
governança corporativa do IBGC. Mais uma vez há evidência de que o mercado brasileiro
adota cada vez mais práticas, normas e regulamentações relacionadas aos assuntos
internacionalmente discutidos e regulamentados, mais precisamente bem próximos das
exigências da SOX.
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No geral, as reformas nas exigências legais e regulamentares são
influenciadas pelas próprias empresas que ao evoluírem em suas ferramentas de gestão
com práticas cada vez mais inovadoras, exigem maiores mecanismos de controle seja por
parte da supervisão, auditoria externa ou órgãos regulamentares. Essa idéia é
compartilhada com o exposto em Garcia (2003):
“A partir do início da década de 80, verifica-se o aumento das atividades internacionais das instituições financeiras, inovações de práticas e instrumentos financeiros como derivativos e swaps, além de diversos tipos de atividades especulativas (associadas por exemplo à volatilidade da taxa de câmbio). Nesse cenário, a existência de ferramentas para gerenciamento de ativos e passivos passou a ser condição necessária para a sobrevivência das instituições financeiras e a solidez dos sistemas financeiros nacionais e internacionais. A evolução dos instrumentos de regulação e supervisão de instituições financeiras é resultado natural da evolução dos mercados, operações e atividades dessas instituições. Assim, ao mesmo tempo em que a intensificação da internacionalização das instituições financeiras implicou a necessidade de padronização da supervisão bancária mundial, foi necessário também o estabelecimento de regras prudenciais compatíveis com a sofisticação das atividades bancárias. Neste contexto o Comitê da Basiléia assumiu papel de destaque no cenário mundial.” A conclusão que se chega é que muito mais do que uma lei composta por
normas rígidas, complexas e abrangentes, a Lei Sarbanes-Oxley é um grande desafio. Para
as empresas abertas o futuro exige muito investimento nos profissionais e processos de
forma a criar um ambiente de negócios confiáveis o suficiente para manter os investidores
atraídos por esse mercado. Para os bancos e seguradoras o trabalho será de adaptação às
exigências já existentes, sendo que a Sarbanes-Oxley vem complementar e apoiar as
determinações dos órgãos reguladores destes setores.
Atualmente com o estímulo da Sarbanes-Oxley e a evolução da governança
corporativa as mudanças exigidas passam a ser vistas muito além do que uma filosofia de
prestação de contas e de transparência para o investidor, passa a ser matéria-prima para
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uma condução mais eficiente do negócio. Os exemplos de quebras em função de fraudes
contábeis, descritos durante o trabalho, não deixam espaço para improviso e manutenção
de antigas práticas.
Como já foi mencionado, é fato que as exigências, ao menos referentes aos
itens abordados neste estudo, controles internos, transparência, comitê de auditoria e
responsabilização estão muito próximas em todos os setores analisados. Desta forma, pode
ser sugerida maior aproximação entre as exigências regulamentares existentes para
empresas, bancos e seguradoras.
A existência de regulamentação padronizada facilita muito as análises
comparativas entres os participantes do mercado, permitindo, tanto ao órgão supervisor
quanto aos investidores e aplicadores, uma melhor percepção da relação às opções de
investimento no mercado.
Segundo Duarte e Lelis (2003), há uma forte tendência internacional de
unificação nas formas de identificação e quantificação de riscos presentes nas atividades de
bancos e seguradoras.
Com base neste argumento é interessante que as novas propostas para
desenvolvimento das regulamentações direcionadas a gestão de risco, como abordados
neste trabalho através das análises de controles internos, transparência, comitê de auditoria
e responsabilização para os mercados de empresas, bancos e seguradoras estejam alinhadas
entre si. O objetivo é simplificar o ambiente regulador e ser mais eficiente contribuindo
para a discussão e aperfeiçoamento dos normativos sobre o assunto.
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8. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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