universidade federal de pernambuco · 2019. 10. 25. · ao programa de pós-graduação em...

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO CENTRO DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS BIOLÓGICAS DOUTORADO EM CIÊNCIAS BIOLÓGICAS JULIANA KELLE DE ANDRADE LEMOINE NEVES IMIDAZOLÍDINAS ESQUISTOSSOMICIDAS: AVALIAÇÃO ULTRAESTRUTURAL, ATIVIDADE CITOTÓXICA E IMUNOMODULADORA RECIFE 2010

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  • UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO

    CENTRO DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS

    PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS BIOLÓGICAS

    DOUTORADO EM CIÊNCIAS BIOLÓGICAS

    JULIANA KELLE DE ANDRADE LEMOINE NEVES

    IMIDAZOLÍDINAS ESQUISTOSSOMICIDAS: AVALIAÇÃO

    ULTRAESTRUTURAL, ATIVIDADE CITOTÓXICA E IMUNOMODULADORA

    RECIFE – 2010

  • UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO

    CENTRO DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS

    PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS BIOLÓGICAS

    DOUTORADO EM CIÊNCIAS BIOLÓGICAS

    IMIDAZOLÍDINAS ESQUISTOSSOMICIDAS: AVALIAÇÃO

    ULTRAESTRUTURAL, ATIVIDADE CITOTÓXICA E IMUNOMODULADORA

    Tese apresentada ao Programa de Pós-

    Graduação em Ciências Biológicas –

    Universidade Federal de Pernambuco,

    como parte dos requisitos para a obtenção

    do Título de Doutor em Ciências

    Biológicas.

    Orientadora:

    Dra. Suely Lins Galdino

    Co-orientadora:

    Dra. Mônica Camelo P.A. Albuquerque

    RECIFE – 2010

  • Neves, Juliana Kelle de Andrade Lemoine Imidazolidinas esquistomicidas: avaliação ultraestrutural, atividade citotóxica e imunomoduladora/ Juliana Kelle de Andrade Lemoine Neves. – Recife: O Autor, 2010. 166 folhas : il., fig., tab.

    Orientadora: Suely Lins Galdino Co-orientadora: Mônica Camelo P.A. Albuquerque

    Tese (doutorado) – Universidade Federal de Pernambuco. Centro de

    Ciências Biológicas. Ciências Biológicas, 2010.

    Inclui bibliografia e anexos.

    1. Esquistossomose 2. Imidazolidinas 3. Citotoxicidade I. Título.

    616.963 CDD (22.ed.) UFPE/CCB-2010-102

  • "Aquele que tentou e não conseguiu

    é superior àquele que nada tentou”.

    Arquimedes

  • Dedico a

    Meu esposo e filho

    André Lemoine e Ângelo Lemoine

    Minha mãe

    Maria José

  • AGRADECIMENTOS

    A Deus que me deu oportunidade de vida, pela força e coragem pela caminhada longa que

    foi e será;

    A Professora Dra. Suely Lins Galdino, do Laboratório de Planejamento e Síntese de

    Fármacos, do Departamento de Antibióticos da UFPE, pela orientação e credibilidade;

    A Professora Dra. Mônica Camelo Pessoa Azevedo de Albuquerque, do Departamento de

    Medicina Tropical da UFPE, pela orientação e credibilidade;

    Ao Professor Dr. Ivan da Rocha Pitta, do Laboratório de Planejamento e Síntese de

    Fármacos, do Departamento de Antibióticos da UFPE, pela cooperação para realização

    deste trabalho e credibilidade;

    A Professora Dra. Maria do Carmo Alves de Lima, do Laboratório de Planejamento e

    Síntese de Fármacos, do Departamento de Antibióticos da UFPE, pela orientação,

    incentivo, credibilidade e amizade e por todos momentos de alegria;

    A Professora Dra. Paloma Lys de Medeiros do Departamento de Histologia e Embriologia

    da UFPE, pela cooperação e disponibilidade prestada;

    A Professora Dra. Valéria Rêgo Alves Pereira do Departamento de Imunologia do Centro

    de Pesquisas Aggeu Magalhães pelos grandes incentivos, colaboração e pela atenção

    dispensadas no decorrer da reta final do trabalho e esclarecimentos prestados nos momentos

    de dúvidas;

    A Dra. Cristiane Moutinho Lagos de Melo do Departamento de Imunologia do Centro de

    Pesquisas Aggeu Magalhães, pela grande amizade, colaboração, dedicação e disponibildade

    prestada;

    A Dra. Maira Galdino da Rocha Pitta do Departamento de Antibióticos pela colaboração

    para realização deste trabalho;

  • A Dra. Christina Alves Peixoto do Laboratório de Ultraestrutura do Centro de Pesquisas

    Aggeu Magalhães (FIOCRUZ) e toda sua equipe pela colaboração na realização da

    microscopia eletrônica de varredura.

    A Sandra Botelho do Departamento de Antibióticos pela grande ajuda nas sínteses dos

    compostos;

    A todos do Laboratório de Imunologia do LIKA, pela colaboração e agradável convívio

    durante o período de experimentação;

    Aos colegas do Laboratório de Planejamento e Síntese de Fármacos (GPIT/UFPE);

    Ao Programa de Pós-Graduação em Ciências Biológicas, pela oportunidade do Doutorado;

    A Adenilda Eugênia de Lima, secretária do Curso de Pós-Graduação em Ciências

    Biológicas, pela competência e grande convívio;

    E a minha família, por sempre acreditar em mim e superarem pacientemente os meus

    momentos de ausência.

  • LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

    Cepa BH – Cepa oriunda de Belo Horizonte – MG

    DMSO – Dimetilsulfóxido

    ELISA - Enzyme-Linked Immunosorbent Assay

    ESQ – Esquistossomose

    FIOCRUZ – Fundação Oswaldo Cruz

    FUNASA – Fundação Nacional de Saúde

    GGVS – Gerência Geral de Vigilância à Saúde

    GPIT – Grupo de Pesquisa e Inovação Terapêutica

    IFN- Interferon gama

    IL – Interleucina

    LIKA – Laboratório de Imunopatologia Keizo Asami

    LPSF – Laboratório de Planejamento e Síntese de Fármacos

    MEC - Matriz Extracelular

    MEV – Microscopia Eletrônica de Varredura

    NO – Óxido nítrico

    OMS – Organização Mundial de Saúde

    PECE – Programa Especial de Controle da Esquistossomose

    UFPE – Universidade Federal de Pernambuco

    WHO - World Health Organization

  • LISTA DE FIGURAS

    Figura 1: Medicamentos desenvolvidos entre 1975 a 2004. Fonte: CHIRAC e

    TORREELE, 2006.

    20

    Figura 2: Theodor Bilharz . Fonte: www.yearofscience.org. 21

    Figura 3: Vermes adultos de Schistosoma. (A) Macho e (B) Fêmea. Fonte: PICASA,

    2009.

    23

    Figura 4: Distribuição mundial da esquistossomose. Fonte: GRYSSELS et al, 2006. 24

    Figura 5: Áreas endêmicas da esquistossomose mansônica no Brasil. Fonte:

    AMARAL et al., 2006.

    25

    Figura 6: Prevalência da esquistossomose dos municípios da Zona da Mata no

    estado de Pernambuco. Fonte: BARBOSA et al., 2006.

    27

    Figura 7: Caramujo do gênero Biomphalaria. Fonte: www.york.ac.uk, 2009. 29

    Figura 8: Segmento anterior do corpo do macho (à esquerda) e da fêmea (à

    direita), mostrando os principais órgãos: a-ventosa oral e boca, b-porção

    anterior do intestino, c-acetábulo ou ventosa ventral, d-vesícula seminal,

    e-canal deferente, f-testículos, g-porção média bifurcada do intestino, h-

    ceco, i-orifício genital feminino, j-útero contendo dois ovos, k-um ovo em

    processo de formação da casca no oótipo, l-oviduto, m- ovário, n-

    viteloduto, o-glândulas vitelinas. Fonte: REY, 2001.

    31

    Figura 9: Fígado sem alterações (A); hepatomegalia com o lóbulo esquerdo

    aumentado (B), baço com conformações normais (C); esplenomegalia

    mostrando um crescimento do órgão ultrapassando o ultimo arco costal

    na altura do umbigo (D). Fonte: medlineplus, 2009.

    33

    Figura 10: Composição celular e de componentes da matri extraceular em

    granulomas esquistossómticos hepáticos. (Modificado a partir de

    CARVALHO, et al 2008).

    34

    Figura 11: Tipos de moléculas de adesão, fatores de crescimento e seus receptores

    em granulomas esquistossomóticos. (Modificado a partir de CARVALHO,

    et al 2008).

    34

    Figura 12: Esquema da reação granulomatosa em fígado de camundongo. Fonte:

    HITARA e FUKUMA, 2003.

    35

  • Figura 13: Granuloma esquistossomótico. Fonte:38 PEARCE e MACDONALD, 2002. 36

    Figura 14: Ciclo de vida do Schist45osoma mansoni. Fonte: GRYSSELS et al, 2006. 38

    Figura 15: Desenvolvimento da resposta imune na infecção. Fonte: PEARCE e

    MACDONALD, 2002.

    43

    Figura 16: (I) 5,5-Difenil-imidazolidina-2,4-diona e (II) 5-(p-clorofenil)-5-metil-

    imidazolidina-2,4-diona.

    45

    Figura 17: (I) 5-Benzilideno-2-tioxo-imidazolidin-4-ona e (II) 2-amino-5-

    benzilideno-imidazolidina-2,4-diona

    46

  • LISTA DE TABELAS

    Tabela 1: Grandes editais temáticos na área de doenças negligenciadas. 21

    Tabela 2: As principais espécies que infectam seres humanos, as regiões onde são

    encontradas e seus hospedeiros intermediários.

    22

    Tabela 3: Número de infecções das cidades da Zona da Mata do estado de

    Pernambuco, em destaque as cidades com maior número de infecções.

    28

    Tabela 4: Principais fármacos esquistossomicidas desenvolvidos no século XX. 50

    .

  • SUMÁRIO

    LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

    LISTA DE FIGURAS

    LISTA DE TABELAS

    RESUMO

    ABSTRACT

    1 INTRODUÇÃO 15

    2 REVISÃO DA LITERATURA 18

    2.1 Doenças negligenciadas 19

    2.2 Esquistossomose 21

    2.3 Distribuição geográfica e dados epidemiológicos 23

    2.4 Hospedeiro Intermediário 29

    2.5 Classificação e morfologia 30

    2.6 Morbidade, fisiologia e imunopatologia 32

    2.7 Ciclo biológico 37

    2.8 Diagnóstico 38

    2.9 Controle e prevenção quimioterapica 39

    2.10 Resistência ao tratamento 40

    2.11 Imunopatologia 41

  • 2.12 Imidazolidinas bioativas 44

    2.13 Fármacos esquistossomicidas 46

    3-OBJETIVOS 53

    3.1 Geral 54

    3.2 Específicos 54

    4 CONCLUSÃO 55

    5 PERSPECTIVAS 57

    6 REFERÊNCIAS 59

    ANEXOS 74

    Biological and immunological activity of new Imidazolidines front of adult worms of

    Schistosoma mansoni

    Immunological studies and in vitro schistosomicide action of new imidazolidine

    derivatives

    Antischistosomal action of thioxo-imidazolidine compounds: an ultrastructural study

    Comissão de Ética de Experimentação Animal

  • RESUMO

    A esquistossomose é uma doença debilitante e endêmica, distribuída em 74 países, causada

    por parasitas do gênero Schistosoma, onde existem cinco espécies de interesse médico,

    apenas o Schistosoma mansoni é endêmico no Brasil. Existem aproximadamente 207

    milhões de pessoas infectadas pela esquistossomose no mundo, no Brasil estima-se sete

    milhões de portadores de esquistossomose mansônica e é considerada uma endemia em

    franca expansão atingindo aproximadamente 19 estados brasileiros. O praziquantel é o

    único fármaco para o tratamento de todas as esquistossomoses no mundo. O objetivo do

    nosso trabalho foi a busca de novos compostos biologicamente ativos para o combate da

    esquistossomose, através da síntese de derivados imidazolidínicos e avaliação da atividade

    esquistossomicida. Os derivados imidazolidínicos das séries 5-benzilideno-3-benzil-4-

    tioxo-imidazolidin-2-ona e 5-arilazo-4-tioxo-imidazolidin-2-ona foram avaliados in vitro

    frente a vermes adultos de Schistosoma mansoni (Cepa BH). Todos derivados avaliados in

    vitro apresentaram atividade esquistossomicida, sendo que os compostos LPSF/PT05, PT10

    e PT11 provocaram mortalidade de 100% em 24 horas nas concentrações de 320 e 200 M

    e o LPSF/PT09 mortalidade de 100% em 48 horas também na maior concentração 320 M.

    O LPSF/PT05 e LPSF/PT10 foram analisado em microscopia eletrônica de varredura. Os

    derivados também foram avaliados quanto a citotoxicidade e viabilidade celular,

    apresentando uma toxicidade inferior ao praziquantel e uma baixa mortalidade celular

    (apoptose e necrose) em relação ao padrão. Na dosagem de citocinas (IL-10 e IFN- )

    nenhum dos compostos apresentou indução dessas proteínas, porém todos os compostos

    analisados apresentaram uma indução no óxido nítrico estatisticamente significativo.

    Palavras-chave: Esquistossomose, imidazolidinadionas, Ensaios in vitro .

  • ABSTRACT

    Schistosomiasis is a debilitating and endemic, distributed in 74 countries, caused by

    parasites of the genus Schistosoma, which has five species of medical interest, only the

    Schistosoma mansoni is endemic in Brazil. There are approximately 207 million people

    infected with schistosomiasis in the world, in Brazil an estimated seven million people with

    schistosomiasis and is considered an endemic disease on the rise amounting to about 19

    states. The Praziquantel is the main drug for the treatment of schistosomiasis in all the

    world. The aim of our study was the search for new biologically active compounds for the

    fight against schistosomiasis, through the synthesis of imidazolidine. Derivatives

    imidazolidine series 5-benzylidene-3-benzyl-4-thioxo-imidazolidin-2-one and 5-arilazo-4-

    thioxo-imidazolidin-2-one were evaluated in vitro against the adult worms of Schistosoma

    mansoni (strain BH). Derivatives evaluated in vitro all showed schistosomicidal activity

    and the LPSF/PT05, PT10 and PT11 had 100% mortality within 24 hours in higher

    concentrations 320 and 200 M and LPSF/PT09 100% mortality within 48 hours also the

    highest concentration 320 M. The LPSF/PT05 e LPSF/PT10 analyzed in scanning

    electron microscopy. Derivatives were also evaluated for cytotoxicity and cell viability,

    showing a lower toxicity to praziquantel and a low mortality in relation to the cellular

    standard. The measurement of cytokines (IL-10 e IFN- ) none of the compounds showed

    induction, but all the compounds showed an induction analyzes nitric oxide statistically

    significant.

    Keywords: Schistosomiasis, imidazolidinedione, Assay in vitro.

  • INTRODUÇÃO

  • 1. Introdução

    A Química Medicinal estuda as razões moleculares da ação dos fármacos de

    maneira a descrever a relação entre a estrutura química e a atividade farmacológica,

    hierarquizando as diferentes contribuições funcionais. No contexto inverso, inclui-se o

    planejamento e o desenho estrutural de novas substâncias que possuam propriedades

    farmacoterapêuticas úteis, capazes de representarem novas entidades químicas, candidatas a

    protótipos de novos fármacos de uso seguro. A química medicinal é uma disciplina híbrida

    que está no centro de um grande espaço inter e multidisciplinar constituído pela biofísica,

    biologia molecular, bioquímica, clínica médica, físico-química, fisiologia, patologia,

    química biológica, química inorgânica, química orgânica, entre outras. Tratando do

    planejamento racional das drogas, sua síntese, sua elucidação estrutural, o desenvolvimento

    de ensaios farmacológicos e estudos de relações estrutura-atividade farmacológica

    (WILLIAMS e LEMKE, 2002; IUPAC, 2010).

    As doenças infecciosas parasitárias continuam sendo um obstáculo ao

    desenvolvimento social e econômico dos países mais pobres, afetando as populações pobres

    e marginalizadas. As alternativas quimioterápicas para o tratamento da maioria das doenças

    parasitárias são extremamente limitadas. A esquistossomose, doença debilitante causada

    por parasitas do gênero Schistosoma constitui um dos maiores problemas mundiais

    enfrentados na saúde pública, visto que está distribuída em várias regiões geográficas. E

    mundialmente só perde para malária em número de pessoas infectadas (CARVALHO et al,

    2008).

    O Schistosoma é endêmico, afetando, aproximadamente, 76 países tropicais e

    subtropicais, principalmente países da África, Ásia e América Latina, sendo que nas

    Américas, ocorre apenas a espécie S. mansoni. No Brasil, ocorre nas regiões Norte,

    Nordeste, e no Norte das regiões Sul e Sudeste (GREVELDING, 2004).

    Atualmente, estima-se no mundo 207 milhões de pessoas infectadas com as

    esquistossomoses, com um total de 650 milhões expostos ao risco de contrair a doença. Há

    aproximadamente seis a oito milhões de portadores de esquistossomose mansoni no Brasil.

    No mundo o S. mansoni infecta cerca de 70 milhões de indivíduos (CHITSULO et al.,

    2000; CIMERMAN, 2001; WHO, 2008).

  • O ciclo do Schistosoma é complexo, pois exige a presença de hospedeiro

    intermediário, representados por diferentes espécies de moluscos pertencentes ao gênero:

    Bullinus, Biomphalaria, Oncomelania e Neotricula (CARRERA, 1990; NEVES,2005),

    com as seguintes formas evolutivas do S. mansoni: verme adulto (macho e fêmea), ovo,

    miracídio, esporocisto, cercária e esquistossômulo.

    Na dependência de elevadas cargas parasitárias e, conseqüentemente, do número de

    ovos com formações granulomatosas, instala-se, progressivamente, o regime de hipertensão

    portal, com o conseqüente aparecimento de esplenomegalia de caráter congestivo e de

    circulação colateral, inclusive de varizes de esôfago. As fêmeas liberam centenas de ovos

    por dia, um número substancial ficam presos ao intestino e fígado, principalmente. Tem-se,

    assim, a forma hepatoesplênica com hipertensão portal da esquistossomose, definida como

    descompensada quando houver sangramento digestivo alto (GRYSCHEK, 2001; HELMY

    et al., 2009).

    Há relatos de resistência ao praziquantel em cepas de Schistosoma principalmente

    na África, aonde o fármaco vem sendo utilizado agressivamente por longos períodos. Com

    a possível resistência a este fármaco são utilizadas doses maiores para se obter um melhor

    resultado (LIANG, 2001; ISMAIL et al., 1996). Porém, faz-se necessário o

    desenvolvimento de vacinas e o planejamento e síntese de novos fármacos que constituem

    novas alternativas terapêuticas para a parasitose em questão.

    As imidazolidinas tiveram no passado um representante na clínica médica como um

    fármaco de ação comprovada frente a vermes adultos de S. mansoni, o niridazol (CATTO;

    TRACY; WEBSTER, 1984). A propriedade esquistossomicida in vitro frente a vermes

    adultos de S. mansoni dos derivados imidazolidínicos vem sendo relatada por Oliveira e

    colaboradores (2004) e Albuquerque e colaboradores (2006).

    Derivados imidazolidínicos sintetizados por nossa equipe no Laboratório de Síntese

    e Planejamento de Fármacos-LSPF, ressaltam a contribuição química do núcleo

    imidazolidínico. Os resultados já obtidos com derivados imidazolidinônicos-3,5-

    dissubstituídos revelam que estas moléculas são portadores de significante atividade

    esquistossomicida (OLIVEIRA et. al., 2004; SOARES, 2004; ALBUQUERQUE et. al.,

    2005; PITTA, 2005).

  • REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

  • 2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

    2.1 Doenças negligenciadas

    Doenças negligenciadas são doenças que não só prevalecem em condições de

    pobreza, mas também contribuem para a manutenção do quadro de desigualdade, já que

    representam forte entrave ao desenvolvimento dos países. Como exemplos de doenças

    negligenciadas, podemos citar: dengue, doença de Chagas, esquistossomose, hanseníase,

    leishmaniose, malária, tuberculose, entre outras. Segundo dados da Organização Mundial

    de Saúde (OMS), mais de um bilhão de pessoas estão infectadas com uma ou mais doenças

    negligenciadas, o que representa um sexto da população mundial (BRASIL, 2010).

    Essas doenças têm sido progressivamente marginalizadas por aqueles encarregados

    pelos programas de pesquisa tanto do setor público quanto do privado, essencialmente

    porque as pessoas que sofrem de doenças negligenciadas são pobres, e não oferecem um

    retorno lucrativo suficiente para que a indústria farmacêutica invista em pesquisa e

    desenvolvimento de novos medicamentos voltados para tais doenças. Fica claro, portanto,

    que a crise na falta de medicamentos para doenças negligenciadas não chegou às atuais

    proporções por falta de conhecimento científico, e nem somente pelo hiato entre a pesquisa

    básica e a pré-clínica. Esta crise é o resultado tanto das insuficientes políticas públicas

    voltadas para P&D de medicamentos de interesse nacional dos países em desenvolvimento,

    quanto da falha de mercado, provocada pelo baixo interesse econômico que esses pacientes

    representam para a indústria (CHIRAC e TORREELE, 2006; MJUR, 2007).

    Entre 1975 e 2004, apenas 21 medicamentos (figura 01) foram registrados para

    doenças tropicais e tuberculose, ainda que estas doenças constituam mais de 11% da carga

    global de doenças. Durante o mesmo período, 1.535 medicamentos foram registrados para

    outras doenças (CHIRAC e TORREELE, 2006).

  • .

    Figura 1: Medicamentos desenvolvidos entre 1975 a 2004. Fonte: CHIRAC e TORREELE,

    2006.

    Um estudo sobre o financiamento mundial de inovação terapêutica para doenças

    negligenciadas revelou que menos de 5% deste financiamento foram investidos no grupo

    das doenças negligenciadas, ou seja, doença do sono, leishmaniose visceral,

    esquistossomose e doença de Chagas, ainda que mais de 500 milhões de pessoas sejam

    ameaçadas por estas quatro doenças parasitárias (MORAN, 2009).

    No intuito de agregar grupos de pesquisa e apoiar atividades de pesquisas

    científicas, tecnológicas e de inovação (tabela 1), em 2008, foram selecionados projetos

    para formação e consolidação de institutos nacionais de ciência e tecnologia (INCT), em

    uma iniciativa do MS, MCT, Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível

    Superior (CAPES), Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e

    das FAP do Amazonas, Minas Gerais, Pará, Rio de Janeiro, São Paulo e Santa Catarina.

    Entre os INCT que tiveram recursos do MS, existem alguns com grande potencial de

    contribuição para a temática de doenças negligenciadas e o combate às doenças: INCT em

    Tuberculose, INCT de Gestão da Inovação em Doenças Negligenciadas, INCT de

    Biotecnologia Estrutural e Química Medicinal em Doenças Infecciosas e INCT de Vacinas

    (BRASIL, 2010).

  • Tabela 1. Grandes editais temáticos na área de doenças negligenciadas.

    ANO EDITAL RECURSOS

    2003 Rede Tuberculose R$ 1,9 milhões

    2004 Dengue R$ 945 mil

    2005 Hanseníase R$ 2,5 milhões

    2006 Doenças negligenciadasa R$ 17 milhões

    2007 Doenças negligenciadas R$ 22 milhões

    2008 Rede Malária R$ 15,4 milhões

    2009 Rede Dengue R$ 22,7 milhões aDiferentemente do edital de 2008, o edital de doenças negligenciadas de 2006 não incluiu

    esquistossomose (BRASIL, 2010).

    2.2 Esquistossomose

    Foi Bilharz (figura 2), em 1852, quem descreveu um parasita intravascular durante

    uma necropsia em um rapaz, para qual deu o nome de Distomum haematobium e

    posteriormente em 1858 Weinland denominou o gênero deste helminto de Schistosoma.

    A doença é popularmente conhecida como “xistose”, “barriga-d’água” ou “mal-do-

    caramujo” o qual foi trazida durante o tráfico de escravos e com os imigrantes orientais e

    asiáticos, entretanto, apenas o S. mansoni se fixou por encontrar bons hospedeiros

    intermediários e pelas condições ambientais semelhantes às da região de origem (figura 06)

    (REY, 2001; NEVES, 2005).

    De acordo com a Organização Mundial da Saúde existem cinco espécies de

    Schistosoma que representam risco a saúde publica devido a sua capacidade de infectar

    humanos (tabela 2).

    Figura 2: Theodor Bilharz. Fonte: www.yearofscience.org

    http://www.yearofscience.org/

  • Tabela 2: Principais espécies que infectam seres humanos, as regiões onde são encontradas

    e seus hospedeiros intermediários.

    Espécies de Schistosoma Regiões Endêmicas Gêneros de caramujo

    Esquistossomose intestinal

    S. mansoni

    África, Oriente Médio e América

    do Sul

    Biomphalaria

    S. intercalatum África (raro, somente no oeste da

    África)

    Bulinus

    S. japonicum Ásia (primeiramente encontrado

    no Japão, hoje ocorre

    principalmente na China).

    Oncomelania

    S. mekongi Ásia (próximo ao rio Mekongi) Neotricula

    Esquistossomose urinária

    S.haematobium

    África e Oriente Médio

    Bulinus

    Fonte: WHO, 2009

    As espécies do gênero Schistosoma, que têm importância epidemiológica em

    medicina humana, são o S. haematobium, S. japonicum, S. mekongi, S. intercalantum e o S.

    mansoni. Os vermes adultos vivem no sistema porta migrando para as veias mesentéricas

    causando lesões em vários órgãos (MALTA, 1994; NEVES, 2005).

  • O Schistosoma é um trematódeo da família Schistosomatidae que compreende

    espécies completamente adaptadas ao parasitismo que se aloja nos vasos sanguíneos. Ao

    contrário de outros trematódeos, os causadores da esquistossomose não são hermafroditas,

    ou seja, possuem sexos separados, os machos são achatados e as fêmeas são finas e

    cilíndricas (figura 03). As espécies diferenciam por sua morfologia, forma de diagnóstico,

    gêneros do hospedeiro intermediário e localização do parasita no hospedeiro.

    Figura 3: Vermes adultos de Schistosoma. (A) Macho e (B) Fêmea. Fonte: PICASA,

    2009.

    2.3 Distribuição geográfica e dados epidemiológicos

    Apesar do sucesso dos programas de controle, estima-se no mundo 207 milhões de

    pessoas infectadas (BLANCHARD, 2004) com 120 milhões sintomáticas e 20 milhões com

    a doença em estado agravado, sendo um total de 650 milhões expostos ao risco de contrair

    a doença de uma das esquistossomoses (CHITSULO et al., 2000; WHO, 2009) (figura 4).

    Entre 207 milhões de pessoas com a doença, 85 % vivem na África, onde a grande maioria

    das fatalidades ocorre devido ao S. haematobium, porém o S. mansoni causa 130.000

    mortes por ano, pela hipertensão portal (WHO, 2007). No mundo, existem

    aproximadamente 70 milhões de infectados pelo S. mansoni (CHITSULO et al., 2004;

    CIMERMAN, 2001).

    A

    B

  • Figura 4: Distribuição Mundial da Esquistossomose. Fonte: GRYSSELS et al, 2006.

    No Brasil, antes da implantação do Programa Especial de Controle da

    Esquistossomose (PECE), a esquistossomose atingia entre dez e doze milhões de pessoas,

    sendo considerada uma das mais importantes áreas de ocorrência da doença (BINA e

    PRATA, 2003). Há cerca de 7,01 milhões de portadores de esquistossomose mansoni

    (CHITSULO et al., 2004; CIMERMAN, 2001) (figura 5).

    No país, a área endêmica para esquistossomose abrange 19 estados com

    aproximadamente 26 milhões de habitantes expostos ao risco. Ocorre de forma endêmica e

    focal desde o estado do Maranhão até Minas Gerais (FUNASA, 2002).

  • Figura 5: Áreas endêmicas da esquistossomose mansônica no Brasil. Fonte: AMARAL et

    al., 2006.

    A esquistossomose é primariamente uma endemia rural e periurbana que, em

    algumas cidades como Belo Horizonte, Salvador e Recife estão tornando-se urbana, devido

    à migração descontrolada e à falta de saneamento básico. No Nordeste vem sendo

    registrado na Região Metropolitana do Recife, imposta por uma mudança na indústria agro-

    açucareira que vem promovendo o deslocamento de trabalhadores para a periferia das

    grandes cidades, onde não há condições básicas de saneamento e moradia, favorecendo o

    surgimento de novos focos urbanos da doença como os registrados em São Lourenço da

    Mata e na Ilha de Itamaracá (IGLÉSIAS, 1997; BARBOSA et al. 2000; XIMENES et al.,

    2000; BERGQUIST, 2002).

  • A esquistossomose é endêmica em 90 dos 185 municípios do Estado de

    Pernambuco. Com uma área total de 98.933 Km², o Estado possui 19.425 Km² de área

    esquistossomótica, sendo 16.693 Km² de área endêmica e área focal de 2.732 Km², os quais

    correspondem a um percentual de 19,63 % da superfície pernambucana. A prevalência

    média foi de 8,7 % e a média anual de internações, de 1999 a 2003, foi de 377, taxa de

    5,12/10 mil internações. O número médio de óbitos, de 1998 a 2002, foi de 139,2 com taxa

    de mortalidade de 1,76/100 mil habitantes (GGVS/LABEND/ESQ, 2001; BRASIL, 2005).

    A figura 6 mostra a prevalência da esquistossomose nos municípios da Zona da Mata do

    estado de Pernambuco, na parte mais clara com prevalência moderada de 10 a 50% e na

    parte mais escura com prevalência baixa, menor que 10% (BARBOSA et al., 2006), na

    tabela 3 mostra o número de infecções das cidades da Zona da Mata, destacando-se os

    municípios de Aliança, Condado, Escada, Itambé, Itaquitinga, Jaqueira, Rio Fomoso e

    Tracunháem com prevalência alta de número de pessoas infectadas com Schistosoma

    mansoni.

  • Figura 6: Prevalência da esquistossomose dos municípios da Zona da Mata no

    estado de Pernambuco (BARBOSA et al., 2006).

    10%-50% (prevalência

    moderada)

    < 10% (baixa prevalência)

  • Tabela 3: Número de infecções das cidades da Zona da Mata do estado de Pernambuco, em

    destaque as cidades com maior número de infecções.

    (BARBOSA et al., 2006)

    Município Escolas Examinados %SM GM

    epg

  • 2.4 Hospedeiro intermediário

    Em 1913, foi descrito o hospedeiro intermediário da doença: moluscos do gênero

    Biomphalaria (figura 7) com concha espiral plana, que podem medir de 10 a 40 mm.

    Miyaki e Suzuki, autores do feito inédito, demonstraram também que a cercária (larva do

    Schistosoma) transmite a doença ao homem quando penetra em sua pele.

    Os caramujos transmissores da esquistossomose mansoni no Brasil pertencem ao:

    Filo Mollusca

    Classe Gastropoda

    Subclasse Pulmonata

    Ordem Basommatophora

    Família Planorbidae

    Gênero Biomphalaria

    Já foram identificadas dez espécies pertencentes ao gênero Biomphalaria no Brasil.

    São elas: B. glabrata, B. tenagophila, B. straminea, B. amazonica, B. peregrina, B.

    occidentalis, B. intermedia, B. schrammi, B. oligoza e B. kuhniana. Destas, apenas as três

    primeiras foram encontradas eliminando cercárias na natureza, sendo, portanto,

    transmissoras da esquistossomose mansoni nas Américas (BARNES, 1996).

    São moluscos de água doce, conhecidos como planorbídeos e, popularmente, como

    caramujos, têm a concha em espiral, com as voltas ou giros no mesmo plano e, por isso,

    recebem a denominação de planorbídeo. Os caramujos planorbídeos criam-se e vivem na

    água doce de corrégos, riachos, valas, alagados, brejos, açudes, represas ou outros locais

    onde haja pouca correnteza, quando jovens alimentam-se de vegetais em decomposição e

    de folhas verdes e põem ovos, dos quais, depois de alguns dias, nascem novos caramujos

    Figura 7: Caramujo do gênero Biomphalaria. Fonte: www.york.ac.uk, 2009

  • que crescem e tornam-se adultos. O hábitat de preferência do Biomphalaria para

    colonização é de microflora rica, bastante matéria orgânica, boa insolação, temperatura

    média da água entre 20°C e 26°C, pH neutro tendendo a alcalino, salinidade abaixo de 3

    por 1.000, pouca turbidez e velocidade da água inferior a 30cm/s, com leito raso, lodoso ou

    rochoso e vegetação enraizada mais próxima das margens (NEVES, 2005).

    O B. glabrata é o mais importante transmissor de S. mansoni na região neotropical,

    não só pelo alto grau de suscetibilidade de suas populações ao parasito como pela extensão

    de sua distribuição geográfica (CARVALHO, 2008).

    2.5 Classificação e morfologia

    Os parasitas transmissores da esquistossomose pertencem.

    Reino Animalia

    Sub-reino Metazoa

    Filo Platyhelmintes

    Classe Trematoda

    Subclasse Digenea

    Superfamília Schistosomatoidea

    Família Schistosomatidae

    Subfamília Schistosomatinae

    Gênero Schistosoma (BARNES, 1996).

    O S. mansoni macho mede entre 0,6 a 1,4 cm de comprimento por 0,11 cm de

    largura e sua cor é branca. É largo na posição mediana e afilado nas extremidades do corpo.

    Na extremidade anterior traz uma ventosa oral afunilada e logo após uma segunda ventosa,

    a ventral, pedunculada, também denominada de acetábulo e ainda um canal ginecóforo,

    onde fica alojada a fêmea. O aparelho genital masculino compreende de seis a oito massas

    testiculares pequenas, situadas dorso ventralmente, no início do segmento posterior. A

    fêmea tem o corpo cilíndrico comprido e fino medindo cerca de 1,2 a 1,6 cm de

    comprimento por 0,016 cm de largura, sua cor é acinzentada devido ao tubo digestivo

  • conter um pigmento derivado da digestão sanguínea, hemozoína. Em sua região anterior,

    existem estruturas especializadas na fixação do verme ao hospedeiro, as ventosas, estando a

    ventosa acetabular e pedunculada muito perto da oral. O ovário é oblongo e lobado, ficando

    na metade anterior do corpo. Nos dois sexos, o tubo digestivo se inicia na extremidade

    anterior, no fundo da ventosa oral, compreendendo um esôfago sem espessamento

    muscular, o sistema excretor, tem início nos solenócitos, convergindo para dois canais

    longitudinais que desembocam em uma pequena vesícula excretora (BARNES et al., 1996;

    REY, 2001) (figura 8).

    Figura 8: Segmento anterior do corpo do macho (à esquerda) e da fêmea (à direita),

    mostrando os principais órgãos: a-ventosa oral e boca, b-porção anterior do intestino, c-

    acetábulo ou ventosa ventral, d-vesícula seminal, e-canal deferente, f-testículos, g-porção

    média bifurcada do intestino, h-ceco, i-orifício genital feminino, j-útero contendo dois

    ovos, k-um ovo em processo de formação da casca no oótipo, l-oviduto, m-ovário, n-

    viteloduto, o-glândulas vitelinas (REY, 2001).

    Após alguns dias de infecção no hospedeiro definitivo, os esquistossômulos chegam

    ao fígado e alimentam-se de sangue, na terceira semana começa a atração dos sexos por

  • quimiotaxia, iniciando o acasalamento e completam seu desenvolvimento na quarta semana

    e migram para as vênulas, mesentério e plexo hemorroidário. A nutrição deles é feita

    através da ingestão de sangue venoso (REY, 2002; NEVES, 2005).

    2.6 Morbidade, fisiopatologia e imunopatologia

    Embora a parasitose possa resultar em morte, a sua natureza crônica reduz a

    capacidade das pessoas infectadas para o trabalho. Em crianças, pode causar anemia,

    nanismo e de uma reduzida capacidade de aprender (WHO, 2009).

    A principal causa de mortalidade e morbidade na esquistossomose humana são as

    fibroses hepáticas, que envolve o espaço portal, devido a isso a resposta granulomatosa e a

    fibrose hepática vêm sendo intensamente estudadas na patogênese da resposta imune

    celular do S. mansoni. O granuloma tem um papel hepatoprotetor por sequestrar as toxinas

    secretadas pelos ovos (PHILLIPS e COLLEY, 1978).

    A doença é causada principalmente pela deposição dos ovos dos vermes adultos nos

    vasos sanguíneos que rodeiam a bexiga ou intestinos. O sinal clássico da esquistossomose

    urinária é hematúria (sangue na urina). Fibrose ureteral e hidronefrose são achados comuns

    em casos avançados, e o câncer na bexiga também é uma possível complicação em estágio

    final. Na esquistossomose intestinal um quadro clínico de dor abdominal, diarréia, sangue

    nas fezes e fígado aumentado é comum em casos avançados e freqüentemente associada à

    ascite e outros sinais de aumento da pressão portal. Nesses casos, pode haver também

    esplenomegalia (LOPES et al., 2008; WHO, 2008).

    Diante diso, a formação de granuloma associada a fibrose poderá conduzir a

    hipertensão portal, uma das maiores causas de mortalidade e morbidade da esquistossomose

    (LOPES et al., 2008).

    As agressões que ocorrem no organismo parasitado pelo S. mansoni são decorrentes

    das lesões diretas do parasito e da resposta do hospedeiro a tais lesões (PRATA, 1996). A

    maioria das pessoas infectadas permanece assintomáticas. A sintomatologia clínica

    corresponde ao estágio de desenvolvimento do parasito no hospedeiro, podendo ser

    dividida em:

  • a)Dermatite Cercariana, fase de penetração das cercárias através da pele. Varia desde

    assintomática até uma dermatite urticariforme, com erupção papular, eritema, edema e

    prurido, podendo durar até cinco dias após a infecção;

    b)Esquistossomose Aguda caracteriza-se após 3-7 semanas de exposição com febre,

    anorexia, dor abdominal e cefaléia. Com menor freqüência, o paciente pode apresentar

    diarréia, náuseas, vômitos, tosse seca. Também conhecida como febre de KATAYAMA

    (DOHERTY et al., 1996), a esquistossomose aguda é comum em áreas de alta taxa de

    transmissão, que são mediados por formação de imunocomplexos e na maioria do casos

    com a deposição de ovos nos tecidos do hospedeiro. Sintomas respiratórios também foram

    descritos, (70% dos casos) do que em pacientes infectados por S. haematobium

    (BETHLEM et al., 1997; COOKE et al., 1999). As manifestação inflamatória deve-se ao

    processo migratório do parasita, que passa pelos pulmões (pequena circulação), antes de

    atingir o sistema hepático (SCHWARTZ et al., 2000; SALANTRINI et al., 2002; ROSS et

    al., 2002).

    c)Esquistossomose Crônica, fase que se inicia a partir dos seis meses após a infecção,

    podendo durar vários anos. Podendo surgir os sinais de progressão da doença em diversos

    órgãos, atingindo graus extremos de severidade como hipertensão pulmonar e portal, ascite,

    ruptura de varizes do esôfago (figura 10) (REESE et al., 1989; REY, 2002; GRYSSELS et

    al, 2006).

    Figura 9 - Fígado sem alterações (A); hepatomegalia com o lóbulo esquerdo aumentado

    (B), baço com conformações normais (C); esplenomegalia mostrando um crescimento do

    órgão ultrapassando o ultimo arco costal na altura do umbigo (D).

    Fonte:medlineplus, 2009.

  • A esquistossomose humana e experimental é uma doença sistêmica podendo

    comprometer vários órgãos, como fígado, baço, intestino e outros. Porém, a maioria dos

    estudos se concentra nas alterações hepáticas e intestinais. Três alterações patológicas

    merecem mais destaque: presença de granulomas, fibrose de Symmer e alterações

    vasculares, como hipertensão portal, varizes esofágicas (ANDRADE, 2004). Os

    granulomas provocados por ovos de Schistosoma mansoni expressam durante o seu

    desenvolvimento (maturação e involução) vários componentes de matriz extracelular

    (MEC) (figura 11) e várias moléculas de adesão (CAMs) (figura 12), os quais são

    especialmente distribuídos em seu interior e sofrem variações (modulações) temporais, em

    suas expressões.

    Figura 10: Composição celular e de componentes da matri extraceular em

    granulomas esquistossómticos hepáticos (Modificado a partir de CARVALHO, et al 2008).

    Figura 11: Tipos de moléculas de adesão, fatores de crescimento e seus receptores

    em granulomas esquistossomóticos (Modificado a partir de CARVALHO, et al 2008).

    TIPOS DE CÉLULA

    Monócitos/Macrófagos

    Células epitelióides

    Eosinófilos

    Neutrófilos

    Mastócitos

    Linfócitos (T, B, K)

    Fibroblastos

    Miofibroblastos

    COMPONENTES DA MATRIZ

    EXTRACELULAR

    Colágenos

    Fibronectina

    Fibras elásticas

    Laminina

    MOLÉCULAS DE

    ADESÃO

    Integrinas

    Selectinas

    Imunoglobulinas

    Caderina

    Octudinas

    Conexinas

    FATORES DE CRESCIMENTO

    Fator estimulador de colônias (CSF)

    Entropoetina

    Leptina

    Fator transformador de crescimento

    beta (TGF- )

    Interferon gama (IFN- )

  • Com a maturação dos ovos, os neutrófilos começam a infiltra-se em torno deles com

    aproximadamente oito dias de implantação dos ovos. Com o surgimento de uma extensa

    necrose aparecem células como macrófagos, linfócitos, fibroblastos e eosinófilos entorno

    da lesão (10 dias). O aumento da reação do tecido chega ao máximo em duas semanas, com

    necrose dos hepatócitos, rodeados de componentes da matriz extracelular. Em quatro

    semanas a reposta Th1 diminui e a Th2 aumenta juntamente com as IL-4, IL-5, e IL-13 e

    com seis semanas a fibrose hepática (HIRATA e FUKUMA, 2003) (figura 13).

    Figura 12: Esquema da reação granulomatosa em fígado de camundongo. Fonte:

    HITARA e FUKUMA, 2003.

    O granuloma é um nódulo de tecido inflamatório composto de agregado de

    macrófagos ativados e de linfócitos T, muitas vezes com associação de necrose e fibrose

    0 dia 8 dias 10 dias

    2 semanas 4 semanas 6 semanas

  • (figura 14). A inflamação granulomatosa é uma forma de reação de hipersensibilidade

    tardia (TH), frequentemente em resposta aos microrganismos persistentes. Ele é encontrado

    num grupo relativamente pequeno de doenças infecciosas e autoimunes, sendo definido

    como uma área focal de inflamação granulomatosa (WYNN e CHEEVER, 1995).

    Figura 13: Granuloma esquistossomótico. Fonte: PEARCE e MACDONALD, 2002.

    O granuloma atinge o seu maior tamanho durante a fase aguda da infecção,

    diminuindo na fase crônica. Nesse processo são envolvidos vários mecanismos, incluindo

    alterações nos padrões de citocinas produzidas por células Th1 e Th2 (MONTESANO et

    al., 1997).

    Consiste de um agregado microscópico de células epitelióides rodeadas por um

    colar de linfócitos e eventualmente alguns plasmócitos. Sua gênese está fortemente

    relacionada a processos imunes e suas células apresentam, nas preparações de rotina, um

    Hepatócitos

    Ovo

    Colágeno Eosinófilo

    Macrófago

    CD4+ T

    Outras Cél

  • citoplasma rosa-pálido, com grânulos, que aparenta se fundir com o citoplasma das células

    vizinhas. O núcleo é oval ou alongado, menos denso que o de um linfócito e pode

    apresentar dobras na membrana nuclear. Granulomas de idade ”avançada” desenvolvem

    uma cápsula formada por fibroblastos e tecido conectivo (NEVES, 2005).

    O elemento anatopatológico básico do processo esquistossomótico crônico e sua

    lesão típica é o granuloma que se forma do ovo do parasita. Os antígenos secretados no

    interior do ovo maduro atravessam os tecidos e se disseminam nas circunvizinhanças

    destes, que são chamados de antígenos solúveis do ovo (SEA) que são fundamentais para a

    formação da reação granulomatosa, ou seja da doença (REY, 2001; NEVES, 2005).

    2.7 Ciclo Biológico

    O ciclo evolutivo do S. mansoni é do tipo heteroxênico com dois hospedeiros, um

    intermediário (molusco) e um definitivo (vertebrado). Os ovos do S. mansoni são

    eliminados pelas fezes do hospedeiro definitivo (figura 9), homem. Na água, estes eclodem,

    liberando larvas microscópicas, ciliadas, chamadas de miracídio, que completam o seu ciclo

    vital em apenas 48 horas. Se não encontram um hospedeiro intermediário, essas larvas,

    ficam incapazes de infestar o homem e morrem. Mas se encontram os hospedeiros

    apropriados, nele penetram e aí continuam o seu ciclo evolutivo formando esporocistos

    dando origem a novas larvas que retornam ao meio líquido. Após 4-6 semanas os

    caramujos começam a liberar as cercarias, elas nadam através de movimentos vibratórios e

    circulares até encontrar um hospedeiro vertebrado, e penetrar ativamente por sua pele, onde

    perdem a cauda e transformam-se em esquistossômulos (BLANCHARD, 2004).

    Aqueles que não são destruídos pelo sistema imunológico do hospedeiro, seguem

    através da corrente sanguínea, passando pelo coração, pulmões e fígado. Nos vasos do

    sistema porta-hepático, eles alcançam a fase adulta, acasalam-se e migram para as vênulas

    da parede intestinal, onde o ciclo começa novamente (ROSS et al, 2002). Um verme adulto

    vive, em média, 3-5 anos, mas pode alcançar 30 anos. O potencial teórico de reprodução de

    um par de vermes é aproximadamente de 600 bilhões de esquistossomos (GRYSSELS et al,

    2006).

  • Figura 14: Ciclo de vida do Schistosoma mansoni. Fonte: GRYSSELS et al, 2006.

    2.8 Diagnóstico

    No diagnóstico clínico, deve-se levar em conta a fase da doença e o histórico do

    paciente tais como origem, hábitos, contato com água, entre outros. Algumas formas de

    diagnósticos podem ser aplicadas: exame parasitológico das fezes, biópsia ou raspagem da

    mucosa retal, testes sorológicos, ultra-sonografia, palpação do fígado e baço. A

    esquistossomose pode ser confundida com diversas doenças, em função das diferentes

    manifestações que ocorrem durante sua evolução:

    Dermatite cercariana – seu quadro clínico pode ser confundido com manifestações

    exantemáticas como sarampo, rubéola, escarlatina e dermatites causadas por outros tipos de

    cercárias de aves aquáticas.

  • Esquistossomose aguda ou toxêmica – o diagnóstico diferencial deve ser feito com outras

    doenças infecciosas agudas, tais como febre tifóide, malária, hepatite viral anictérica,

    estrongiloidíase, amebíase, mononucleose, tuberculose miliar e ancilostomose aguda.

    Esquistossomose crônica – nessa fase, a doença pode ser confundida com amebíase,

    estrongiloidíase, giardiase e demais parasitoses, além de outras afecções que cursam com

    hepatoesplenomegalia, tais como calazar, leucemia, linfoma, salmonelose prolongada,

    esplenomegalia tropical e cirroses. Para se chegar ao diagnóstico da esquistossomose é

    muito importante não apenas os resultados laboratoriais mas também os dados

    epidemiológicos, como história de banhos em águas com caramujos e procedência do

    doente. A esquistossomose aguda, por exemplo, é mais freqüente em pessoas que não

    vivem em áreas endêmicas (BRASIL, 2005).

    No diagnóstico parasitológico ou exame de fezes pode ser feito utilizando o método

    de Hoffman, que é uma técnica qualitativa de sedimentação espontânea, e pelo o método de

    Kato-Katz que é uma técnica quantitativa que determina o número de ovos por grama de

    fezes indicando a carga parasitária (KATZ et al., 1972).

    A biópsia ou raspagem da mucosa retal, apesar de não fazer parte dos exames de

    rotina, é recomendável em casos suspeitos com parasitológico negativo, além de permitir

    uma verificação mais rápida do efeito da quimioterapia, entretanto o resultado não significa

    necessariamente a cura, pois as fêmeas podem não terem sido mortas, mas somente cessado

    temporariamente a postura de ovos (NEVES, 2005). Os testes sorológicos não possuem

    sensibilidade/especificidade suficiente para sua aplicação. A ultra-sonografia é um dos

    diagnósticos mais importantes, principalmente na fase crônica da doença onde são

    observadas as alterações hepáticas e determinado com precisão o grau de fibrose (REY,

    2001; FUNASA, 2003).

    2.9 Controle e prevenção quimioterápica

    O controle da esquistossomose é um desafio para muitos países endêmicos. Apesar

    dos esforços para controlar a doença ela continua sendo uma das infecções parasitárias mais

    prevalentes do mundo e um problema de saúde pública mundial, perdendo apenas para a

    malária nos países tropicais e subtropicais (SAVIOLI et al., 1997).

  • A nova estratégia coordenada pela Organização Mundial de Saúde (OMS) sobre uso

    de drogas antihelmintica tornará possível o controle da esquistossomose em comunidades

    pobres e marginalizados, por conta do baixo custo e segurança dos medicamentos que agora

    estão amplamente disponíveis (WHO, 2008).

    No combate à esquistossomose várias medidas devem ser adotadas como,

    eliminação sistemática dos hospedeiros intermediários no seu habitat natural, drenagem de

    lagos e córregos ou pelo combate biológico empregando peixes, a tilápia, que se alimenta

    desse molusco. No entanto não é uma medida correta vista o desequilíbrio ecológico. Outra

    medida seria identificar as áreas contaminadas e submetê-las a processos de saneamento.

    Evitando que os excrementos de pessoas portadoras da doença possam ser carregados pela

    água das chuvas. As medidas de profilaxia consistem basicamente em medidas preventivas,

    de fundamental educação sanitária das populações sobre o modo de transmissão da doença.

    Assim como o tratamento da população infectada (OLIVEIRA, 1997; REY, 2002).

    A estratégia para o controle da esquistossomose tem como objetivo reduzir a

    mortalidade através do tratamento com praziquantel, que é a única droga disponível.

    Praziquantel tem sido utilizado com sucesso nos últimos 20 anos para a esquistossomose no

    Brasil, Camboja, China, Egito, Marrocos e Arábia Saudita. Tratamento pelo menos três

    vezes durante a infância para a prevenção da doença na idade adulta. O recente foco e

    consenso sobre doenças tropicais negligenciadas, sublinharam que algumas destas doenças

    podem ser tratadas em larga escala com medicamentos seguros e eficazes, e em intervalos

    regulares. Tal tratamento é feito individualmente, sem diagnóstico, assim que defini a área

    hiperendêmica. O Praziquantel é o fármaco utilizado para o tratamento de todas as

    esquistossomoses, no entanto está havendo falhas em estudos nos laboratórios e no campo

    (CIOLI e PICA-MATTOCCIA, 2004; RENGANATHAN e CIOLI, 1998).

    2.10 Resistência ao Tratamento

    A evolução da resistência dos helmintos é decorrente da inexistência de métodos

    para detectar o seu desenvolvimento. Então, muitos casos não são detectados em estágios

    iniciais, reduzindo ou mesmo anulando, a possibilidade do processo ser revertido. Para

    diminuir os níveis de resistência, recomenda-se prosseguir a terapia com cautela ou retirar

  • totalmente o medicamento. Para os portadores da esquistossomose torna-se impossível,

    pois o Praziquantel representa o único medicamento capaz de combater a doença

    (BENNETT et al., 1997; CIOLI e PICA-MATTOCCIA, 2004).

    Resistência a um determinado fármaco, significa que houve uma redução na

    sensibilidade após ter sido tratada por ele. Tolerância é uma insensibilidade ao fármaco

    inata, onde a população não tinha tido contato prévio com o mesmo (DOENHOFF et al.,

    2002).

    O uso de quimioterápicos no controle de doenças infecciosas ao longo do tempo

    pode ser apontado como fator principal no desenvolvimento de resistências. O uso

    extensivo e doses exageradas de anti-helmínticos poderá resultar na resistência, afetado o

    controle das parasitoses. A resistência aos fármacos tem ocorrido em conseqüência do uso

    abusivo (COLES, 1999; SANGSTER e GILL, 1999).

    Os primeiros relatos da resistência ao praziquantel registrados na literatura vieram

    de um foco no Norte do Senegal na África, onde o fármaco não teria sido eficaz em torno

    de 18-39 % dos casos (GRYSEELS et al., 1994; STELMA et al., 1995), o qual poderia ter

    sido devido a sua epidemiologia, ou seja, de acordo com a imunologia do paciente, a carga

    parasitária, o número de vermes imaturos e a reinfecção (CIOLI e PICA-MATTOCCIA,

    2003). A diminuição da susceptibilidade dos esquistossômulos com a administração do

    Praziquantel foi repentina e a monitoração desse fenômeno deve ser ativa assim como o

    desenvolvimento de novos fármacos esquistossomicida, visto que ao longo do tempo as

    conseqüências podem se agravar (DOENHOFF et al., 2002).

    2.11 Imunopatologia

    A esquistossomose mansônica é basicamente uma doença que decorre da resposta

    inflamatória granulomatosa que ocorre em torno dos ovos vivos do parasito. Os antígenos

    são secretados pela membrana interna da casca do ovo maduro, chamada envelope de Von

    Lichtenberg, que apresenta toda maquinaria de síntese protéica, núcleo próprio, inúmeras

    mitocôndrias e uma extensa rede de retículo endoplasmático rugoso indicando alto nível de

    síntese protéica (NEVES, 2005). Os antígenos induzem a uma resposta imunológica

    humoral e celular que são elementos fundamentais na formação da reação granulomatosa e,

    portanto da doença.

  • O organismo apresenta múltiplas camadas de defesa, pelas quais o organismo se

    defende contra a invasão de patógenos. As mesmas podem ser classificadas em: barreiras

    físicas – que compreendem a pele, a autolimpeza e a microbiota normal do indivíduo;

    imunidade inata e imunidade adaptativa. A pele é a primeira defesa do corpo humano

    contra a infecção armando uma barreira resistente e impenetrável de epitélio protegido por

    camadas de células queratinizadas (PARHAM, 2001).

    Quando a barreira física é rompida e os patógenos penetram nos tecidos moles do

    corpo, entra em ação a imunidade inata, que utiliza mecanismos de reconhecimento

    molecular geral para detectar a presença de microrganismos e não leva à imunidade

    prolongada contra aquele patógeno em particular. A resposta imune adaptativa, em

    contraste, focaliza especificamente o invasor em questão gerando memória imunológica

    para o mesmo, através da seleção clonal de células imunes para esse patógeno. As células

    responsáveis por ambas as respostas imunes, inata e adaptativa, são principalmente os

    leucócitos e as células teciduais relacionadas a eles (BENJAMINE et al., 2002; PARHAM,

    2001).

    A infecção parasitária pode ser particularizada pela alta resistência dos parasitos às

    defesas imunes e pela cronicidade de sua ação. Os parasitos são capazes de sobreviver e de

    replicar-se nos seus hospedeiros, porque são bem adaptados para resistirem às defesas

    imunes. Resistem à fagocitose, multiplicam-se no interior de macrófagos e, em alguns

    casos, resistem a lise mediada pelo complemento. Os helmintos, de uma maneira geral,

    sobrevivem nos tecidos extracelulares e, com freqüência, sua eliminação é dependente de

    tipos especiais de resposta de anticorpo (ABBAS et al. 2003).

    Na infecção pelo S. mansoni tem-se uma resposta Th1 e Th2, o que chamamos de

    uma dicotomia da resposta imune, antes da oviposição ocorre a resposta Th1 e depois da

    oviposição ocorre a resposta Th2 (GRYZCH et al., 1991; WYNN et al., 1993; KUBY,

    2002; PEARCE e MACDONALD, 2002) (figura 15). E é na resposta Th2 que se tem uma

    reação granulomatosa de agregados de leucócitos, linfócitos, eosinófilos e macrófagos

    (PEARCE e MACDONALD, 2002; STADECKER et al., 2004).

  • Figura 15: Desenvolvimento da resposta imune na infecção pelo Schistosoma Fonte: PEARCE e

    MACDONALD, 2002.

    A resposta Th1 é definida pela produção de interferon gama (INF-γ) e está

    associada com a imunidade mediada por células, incluindo reações de hipersensibilidade

    tardia, recrutamento e ativação de macrófagos inflamatórios e leucócitos e respostas

    citotóxicas que levam a proteção contra microrganismos celulares. Os linfócitos Th1

    respondem otimamente aos antígenos apresentados pelas células B, utilizando como co-

    estimulante o CD80 e produzem ainda IL-2, linfotoxinas e fator de necrose tumoral, não

    possuindo receptores para a IL-1 e TNF-β (CHTANOVA e MACKAY, 2001).

    A resposta Th2 é caracterizada pela produção de IL-4 e IL-5 e está associada com a

    imunidade humoral, incluindo a ativação de eosinófilos e mastócitos levando a proteção

    contra microrganismos extracelulares. Os linfócitos Th2 respondem otimamente aos

    antígenos apresentados pelos macrófagos e células dendríticas mielóides, são

    especificamente ativados por sinais gerados pelo CD86 e mediante o estímulo do antígeno

    ou na presença de IL-1, citocina fundamental em seu processo de ativação, produzem IL-4,

    IL-5, IL-6, IL-10, IL-13 (YANG et al., 2005). O subtipo Th3 foi identificado

    posteriormente por produzir elevados níveis do fator de crescimento transformante (TGF-

    , além de IL-4 e IL-10 em quantidades variáveis. As células Th3 apresentam um fenótipo

    imunossupressor de tolerância oral e autoimunidade em modelos experimentais (SING et

    cercária esquistosômulo

    vermes adultos ovos

    Após infecção Aguda Crônica

  • al., 1999). Além das células T CD4+, que deram origem ao paradigma Th1/Th2, outros

    tipos celulares como linfócitos T CD8+, células dendríticas, macrófagos e células NK

    também produzem citocinas de ambos os tipos, ou seja, tipos 1 e 2 (KIM et al., 2002). Isso

    levou a divisão do estudo das respostas imunológicas em resposta do tipo Th1 ou Th2

    intrinsecamente relacionadas aos tipos de citocinas produzidas pelas diferentes populações

    celulares (KOURILSKY e TRUFFA-BACHI, 2001).

    As interleucinas 5 e 10 desempenham papéis importantes na infecção, quando estão

    ausentes durante a infecção aguda a IL-5 impede a eosinofilia, mas não tem nenhum efeito

    sobre o tamanho e a fibrose do granuloma (SHER, 1990). Sugerindo que a IL-5

    desempenha um papel secundário na patogênese. Contudo, a IL-10 parece desempenhar um

    papel na regulação do tamanho do granuloma (FLORES-VILLANUEVA et al., 1996). Este

    fato levanta indícios de que a IL-10 diminui a quantidade das populações de células Th1

    inflamatórias, ou torna-as anérgicas, levando a um desenvolvimento de uma resposta Th2

    estável (FLORES-VILLANUEVA et al., 1996; REISER e STADECKER 1996).

    As células como os macrófagos possuem funções na imunidade inata e como células

    efetoras atuam na imunidade adquirida. Os macrófagos que são ativados na resposta Th1

    secretam mediadores inflamatórios, como o óxido nítrico (NO) (JORENS et al., 1995;

    MACMICKING et al., 1997).

    Na infecção pelo S. mansoni, a ativação dos macrófagos pelo IFN- e por outros co-

    fatores induz à produção de NO pela reação enzimática. O NO torna-se uma molécula

    efetora, causando a morte do verme (JAMES, 1995).

    O maior aumento na produção de NO é na oviposição dos vermes adultos, no

    entanto, com o início de resposta Th2 por parte do hospedeiro, a produção de NO diminui,

    uma vez que a resposta Th1 foi inibida (BRUNET et al., 1999). Estudos em camundongos

    infectados deficientes em IL-4 demonstraram, através de uma polarização da resposta Th1,

    com alta produção de IFN- e NO após a oviposição, que a citocina IL-4 tem grande

    importância no controle do NO e na produção do granuloma, fazendo assim com que a

    sobrevida do camundongo aumente (PATTON et al., 2002).

    2.12 Imidazolidinas Bioativas

  • As imidazolidinas ou hidantoínas e seus derivados são uma classe de substâncias

    que despertam grande interesse por apresentarem importantes atividades farmacológicas,

    tais como anticonvulsivante, antiarrítmico e no tratamento de complicações diabéticas

    crônicas. Esses compostos também promovem agregação de plaquetas e inibição da aldose

    redutase. As imidazolidinas possuem um grupo metilênico muito reativo no carbono-5, o

    que permite a síntese de inúmeros derivados a partir da condensação com aldeídos

    aromáticos (ROSSI, 2000).

    Luttermoser e Bond (1954) a partir de modificações estrutural no anel

    imidazolidínico, observaram que a 5,5-difenil-imidazolidina-2,4-diona e a 5-(p-clorofenil)-

    5-metil-imidazolidina-2,4-diona obtidas (figura 12) apresentavam atividade frente a vermes

    adultos em S. mansoni de ratos infectados.

    Figura 16: (I) 5,5-Difenil-imidazolidina-2,4-diona e (II) 5-(p-clorofenil)-5-metil-

    imidazolidina-2,4-diona

    A imidazolidina-2,4-diona foi descoberta em 1861 por Bayer durante um trabalho

    com ácido úrico. Em 1875 Bayer sintetizou a imidazolidina-2,4-diona pela primeira vez

    através do aquecimento do bromo-acetiluréia com amônia alcoólica, mais tarde Harries e

    Weiss em 1900 obtiveram a imidazolidina-2,4-diona a partir do éter etílico de glicina e

    cianato de potássio em presença do ácido clorídrico (ELDERFIELD et al., 1957;

    FINKBEINER, 1965).

    Em 1899, Ruhemann e Cunnington obtiveram derivados do 5–benzilideno

    imidazolídínicos pelo aquecimento do fenil proprionato de etila com uréia em solução

    alcoólica na presença de etóxido de sódio, onde substituiu a uréia pela tioúreia e guanidina,

    obtendo o 5–benzilideno-2-tioxo-imidazolidin-2-ona e o 2-amino-5-benzilideno-

    imidazolidin-4-ona (figura 13) (JOHNSON et al., 1915).

    I

    N

    N O

    O H

    H

    N

    N O

    O H

    HH3C

    II

  • Figura 17: (I) 5-Benzilideno-2-tioxo-imidazolidin-4-ona e (II) 2-amino-5-benzilideno-

    imidazolidina-2,4-diona

    Derivados imidazolidínicos sintetizados por nossa equipe no Laboratório de Síntese

    e Planejamento de Fármacos ressaltam a contribuição química do núcleo imidazolidínico.

    Os resultados já obtidos com derivados imidazolidinônicos-3,5-dissubstituídos revelam que

    essas moléculas são portadores de significante atividade esquistossomicida (OLIVEIRA et.

    al., 2004; SOARES, 2004; ALBUQUERQUE et. al., 2005; PITTA, 2005). Alguns desses

    derivados já se encontram patenteados pelo INPI sob o numero de depósito 000362/03, em

    02/10/2003, e vários em fase de desenvolvimento (PITTA et. al, 2003).

    Atualmente observa-se o aparecimento rápido de cepas resistentes aos fármacos

    disponíveis Praziquantel e Oxamniquine, sendo este último não mais incluso dentre os

    medicamentos essenciais (WHO, 2003), porém ainda utilizado na clínica médica em

    Pernambuco.

    Os resultados obtidos em nosso Laboratório de Planejamento e Síntese como os

    derivados imidazolidínicos frente aos vermes adultos de Schistosoma mansoni (OLIVEIRA

    et al., 2004; ALBUQUERQUE et al.,2005), nos impulsionou ao planejamento e a síntese de

    novos derivados 3-benzil-5-benzilideno-4-tioxo-imidazolidin-2-onas e a avaliação da

    atividade esquistossomicida in vitro e in vivo na busca de novos agentes esquistosomicidas.

    2.13 Fármacos esquistossomicidas

    Vários fármacos foram desenvolvidos para o combate do Schistosoma, desde do

    começo do século XX, estas apresentaram graves efeitos colaterais que tornaram a sua

    utilização terapêutica proibida.

    N

    N NH

    O

    CH

    H

    H

    N

    N S

    O

    CH

    H

    H

    I II

  • A história da quimioterapia esquistossomicida representou sempre um desafio no

    encontro de um tratamento eficaz e seguro desde o começo do século XX. Foram utilizados

    vários fármacos para o tratamento da esquistossomose, tais como: Tártaro emético,

    Niridazol, Lucantone, Hicantone, entre outros (COLES, 2002).

    Foram usados na quimioterapia esquistossomicida há aproximadamente 50 anos,

    mas hoje obsoleto por boas razões. O tártaro emético (tabela 4) foi descoberto

    acidentalmente em 1918 por Christopherson, observando uma tribo Berbere que estavam

    sendo tratados com a droga para leishmaniose. Ele percebeu uma interrupção no parasita S.

    hematobium. A droga foi injetada por via intravenosa e com doses crescentes. As maiores

    preocupações foram os efeitos colaterais como, diarréias, cólicas, vômitos, rachaduras na

    pele e até mesmo problema cardiovasculares; sendo mais freqüentes com o uso da terapia e

    por ser uma droga de uso prolongado. Muitos médicos preferiram dar o antimônio somente

    aos pacientes hospitalizados. O tártaro emético é eficaz contra as três espécies de

    Schistosoma o S. haematobium, S. japonicum e S. mansoni com menor índice de eficácia

    para o S. japonicum (CIOLI et al., 1995).

    A emetina (tabela 4) foi usada a partir de 1920 para o tratamento das infecções do S.

    japonicum e seu uso mais tarde foi estendido para o S. mansoni. Seu efeito era satisfatório,

    no entanto as doses eram próximas do limite da toxicidade (CIOLI et al., 1995). Logo após

    introduziu a 2,3 dehidroemetina (tabela 4), que tem as mesmas atividades da emetina, mas

    com metade da toxicidade e com efeitos colaterais modestos sendo necessário o

    acompanhamento dos pacientes. Mas a droga ainda é usada para o tratamento da amebíase

    (CIOLI et al., 1995).

    O niridazol (tabela 4) é um derivado do nitrotiazol que foi introduzido em 1964 por

    Ciba-Geigy com o nome de Ambilhar . A droga recebeu atenção considerável, por ser

    uma das alternativas adiantadas dos antimoniais e por ter vantagens na administração oral

    (CIOLI et al., 1995). O composto não é muito eficaz e apresenta diversos inconvenientes

    sérios, tais como varias doses orais e ocorrência de efeitos colaterais como mutagenicidade,

    carcinogenicidade, embriotoxicidade, imunossupressão (FONTANILLES, 1969). A

    experiência clínica diz que o niridazol é mais eficaz em crianças do que em adultos (CIOLI

    et al., 1995).

  • O metrifonato (tabela 4) é um composto organofosforado, 2,2,2-tricloro-1-

    hidroxietil dimetil fosfanato, que foi introduzido em 1955 com os nomes de DipterexO ou

    Dylox3 (LORENZ et al., 1955). Em 1962, um médico belga, Jaques Cerf observou a

    possibilidade de atividade anticolinesterásica em helmintos e mais tarde observou eficácia

    para o S. haematobium, no entanto comprovou que ele não tinha atividade frente ao S.

    mansoni. Hoje, ele não é mais usado contra esse parasita (CIOLI et al., 1995).

    O nitrofurano, em 1960, foi relatado alguma atividade para as infecções do S.

    japonicum em animais e humanos. O furapromidium, derivado do nitrofurano foi usado

    largamente na China, no entanto verificou-se alta toxicidade o que conduziu o abandono

    dos nitrofuranos (tabela 4) (CIOLI et al., 1995). Robinson e colaboradores em 1970,

    demonstraram atividade esquistossomicida em trans-5-amino-3-[2-(5-nitro-2- furil)-vinil]-

    1,2,4-oxadiazole, molécula análogas ao niridazol. Observou-se que a toxicidade aguda era

    baixa, porém mostrou mutações cancerígenas e a substância foi descontinuada para o

    tratamento das esquistossomíases humana (CIOLI et al., 1995).

    Em 1938, descobriu-se um composto ativo chamado de Miracil, outros três

    compostos desta série foram sintetizados e testados o Miracil B, C e D. O Miracil D estava

    pronto para ser experimentado clinicamente, logo seus estudos foram interrompidos devido

    a segunda guerra mundial. Em 1945, foi introduzido na parte clínica com o nome de

    lucantona (tabela 4) ou 1-[2-(dietilamino)etilamino]-4-metil-9H-tioxant-9-one, onde foi

    eficaz frente ao S. mansoni e S. haematobium quando administrados oralmente. Devido aos

    seus efeitos colaterais como problemas no sistema cardiovascular, sistema nervoso central e

    gastrointestinais, não é mais utilizada (CIOLI et al., 1995).

    O hicantona (tabela 4) é análogo do lucantona. O hicantona é ativa frente ao S.

    mansoni e S. haematobium, porém com baixa atividade nos vermes adultos fêmeas e nas

    formas imaturas, nos experimentos in vitro (CIOLI et al., 1995).

    A atividade anti-helmíntica do amoscanato (tabela 4) ou 4-isotiocianato-4'-

    nitrodifenilamino foi relatado, em 1976, por Striebel. O fármaco é uma substância cristalina

    amarela, insolúvel em água e na maioria dos solventes orgânicos (STRIEBEL, 1976). Uma

    característica atrativa do amoscanato é por sua larga atividade para as doenças como

    esquistossomíase, filariose e até nematódeos gastrointestinais. Nos experimentos o

  • amoscanato mostrou-se eficaz a todas as principais espécies de Schistosoma. Com apenas

    uma dose oral, os ratos infectados foram curados, a toxicidade era baixa (CIOLI et al.,

    1995). No entanto ele não consta na lista modelo de medicamentos essenciais da World

    Health Organization (WHO, 2003).

    O oltipraz (tabela 4) é um derivado do ditiol-tiona, sintetizado em 1976 na indústria

    Rhone-Poulenc, na França (BARREAU et al., 1977). É um pó vermelho fino, insolúvel na

    água e solúvel em lipídeos. É ativo frente ao S. mansoni, S. haematobium e S. intercalatum

    e inativo ao S. japonicum. Os efeitos tóxicos em longo prazo não foram relatados. Os

    principais efeitos colaterais são náuseas, vômitos, dores abdominais, sonolência (CIOLI et

    al., 1995).

    A tubericidina (tabela 4) ou 7-deazoadenosina é um análogo da purina que pode ser

    incorporado em ácidos nucléicos do Schistosoma. Seu uso como esquistossomicida foi em

    1971, sendo eficaz na cura de ratos infectados com as principais espécies de Schistosoma,

    nãosendo relatado nenhuma toxicidade aparente (JAFFE et al., 1971; CIOLI et al., 1995).

    A atividade antiparasitária da ciclosporina A (tabela 4) foi descoberta, em 1981, por

    Bueding e colaboradores ao tentar suprimir a formação de granuloma de ratos infectados

    por S. mansoni. Observaram que ratos tratados tiveram uma redução drástica no número

    dos vermes e que esta redução era mais pronunciadas ao tratar de infecções imaturas e os

    mais afetados eram os machos. A ciclosporina A além de atividade contra o Schistosoma

    tem atividade frente ao plasmódio, leishmania, cestodos, filaria entre outros (CIOLI et al.,

    1995).

    A oxamniquine (tabela 4) e o praziquantel (tabela 4), ambas são administradas por

    via oral em dose única, que são relativamente bem toleradas, com baixa toxicidade, e

    apresentam bons percentuais de cura, em torno de 80 % para adultos e de 70 % para

    crianças abaixo de 15 anos (KATZ, 2004).

    Estudos realizados em camundongos infectados experimentalmente por S. mansoni

    e tratados com o oxamniquine mostraram que os vermes machos são mais susceptíveis, o

    fármaco produz edema e necrose do tegumento, com posterior aparecimento de lesão em

    bolhas. O praziquantel, em estudos in vitro, provoca contrações tônicos-clônicas no

    parasito, com posterior parada na postura de ovos. O praziquantel é ativo contra todas as

  • espécies de Schistosoma que parasitam o homem, ao contrário da oxamniquine, que só é

    ativa contra o S. mansoni. Sendo esta a razão principal para a retirada da oxamniquine da

    lista dos medicamentos essenciais da Organização Mundial de Saúde (CIMERMAN, 2001;

    WHO, 2003).

    O praziquantel induz o influxo de cálcio através do tegumento e das células

    musculares do verme causando contração, demonstrando a presença de sítios sensíveis ao

    praziquantel. A eficácia do praziquantel foi constatada em estudos realizados na Zona da

    Mata do Estado de Pernambuco, em 52 povoados, onde a substituição da oxamniquine que

    foi usada durante dois anos pelo praziquantel usado durante um ano, em pessoas infectadas,

    resultou em uma diminuição dos índices de infecção. Verificando-se então a melhor

    eficiência do praziquantel (BECK et al., 2001).

    Tabela 4: Principais fármacos esquistossomicidas desenvolvidos no século XX.

    ANO NOME COMERCIAL ESTRUTURA

    1918 Tártaro emético ou

    Tártaro de antimônio e

    potássio

    1920 Emetina

    1920 2,3 De-hidroemetina

    COOH

    Sb O Sb

    O

    OH

    H

    O C

    C

    H

    H

    COK

    OH

    O

    O

    C

    C

    H

    H

    C

    OH

    O

    O

    KO

    OH

    N

    H

    H

    O

    O H

    HNO

    O

    CH2H

  • 1945 Lucatona

    1945 Hicantona

    1955 Metrifonato

    1964 Ambilhar ou

    Niridazol

    1964 Oxamniquine ou Mansil

    S

    NN

    NH

    OO2N

    P

    O

    OO

    OH

    ClClCl

    S

    O HNN

    O

    NH

    CH2NHCHCH3

    CH3

    NO2

    CH2OH

  • N

    N

    O

    O

    1970 Praziquantel ou Cestox ou

    Cisticid

    1971 Tubericidina

    1976 Amoscanato

    1976 Oltipraz

    1981 Ciclosporina A

    NN

    S

    S

    H3C

    S

    N

    N

    NH2

    N

    O

    OHHO

    HO

    N C CO N C C N

    O

    C CO N C C

    O

    NH3C

    CO

    CH

    N

    C

    HCH2C

    H3C

    O

    H3C

    H3C

    CH N C C

    O

    CH3 H

    N

    CH3

    C

    H

    O

    C

    CH2

    CH

    H3CCH3

    H

    NH C

    O

    C N

    CHH3C CH3

    H H

    CH3CH2

    CH3

    CHCH2

    CO C H

    CH2

    CHH3C CH3

    N CH3

    CO

    CH2

    CCH3

    HCH2

    C

    C

    H

    HH3C

    CH H3C

    CH3H3C

    H3C

    CH

    CH3H3C

  • OBJETIVOS

  • 3. Objetivos

    3.1. Geral

    O presente trabalho pretendeu contribuir, no âmbito da Química Medicinal, no

    desenvolvimento de novos agentes esquistossomicidas 5-arilazo-3-benzil-4-tioxo-

    imidazolidin-2-onas (LPSF/PT) e 3-benzil-5-benzilideno-4-tioxo-imidazolidin-2-onas

    (LPSF/RZS).

    3.2. Específicos

    Síntezar moléculas das séries 5-arilazo-3-benzil-4-tioxo-imidazolidin-2-onas

    (LPSF/PT) e 3-benzil-5-benzilideno-4-tioxo-imidazolidin-2-onas (LPSF/RZS);

    Elucidar e caracterizar as estruturas, através de métodos espectroscópicos

    convencionais (infravermelho, ressonância magnética nuclear de hidrogênio,

    ultravioleta e espectrometria de massas) dos compostos sintetizados;

    Avaliar a suscetibilidade in vitro do Schistosoma mansoni (cepa BH) frente aos

    derivados imidazolidínicos;

    Analisar o tegumento do parasita através da microscopia eletrônica de varredura;

    Avaliar a citotoxicidade, viabilidade celular, óxido nítrico e dosagem de

    citocinas.

  • CONCLUSÃO

  • 4 Conclusão

    Os derivados imidazolidinicos testados tiveram resultados relevantes quanto a

    viabilidade dos vermes apresentando uma mortalidade máxima nas doses maiores e

    medianas, inibição da oviposição dos vermes, alterações tegumentares e descasalamentos.

    Também houve uma indução significativa do óxido nítrico em quatro compostos analisados

    LPSF/PT-9 e PT-10; LPSF/RZS-2 e RZS-5.

    Na apoptose e na necrose celular os compostos imidazolidinicos apresentaram

    valores inferiores ao praziquantel, assim como a citotoxicidade dos derivados

    imidazolidinicos também foi inferior ao praziquantel.

    Na microscopia eletrônica de varredura foi observado danos no tegumento dos

    vermes muito semelhante ao praziquantel, único fármaco de referência para a

    esquistossomose tendo então os compostos imidazolidinicos como possíveis candidatos a

    fármacos.

  • PERSPECTIVAS

  • 5 Perspectivas

    Diante de todos os resultados favoravéis: citotoxicidade, viabilidade celular, análise da

    microscopia eletrônica de varredura, fica claro que os derivados imidazolidínicos são fortes

    candidatos a fármacos esquistossomicidas, fazendo-se necessários estudos mais

    aprofundados no que diz respeito a elucidação do mecanismo de ação dos compostos.

  • REFERÊNCIAS

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