universidade federal de pernambuco · 2019. 10. 25. · ao programa de pós-graduação em...
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UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO
CENTRO DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS BIOLÓGICAS
DOUTORADO EM CIÊNCIAS BIOLÓGICAS
JULIANA KELLE DE ANDRADE LEMOINE NEVES
IMIDAZOLÍDINAS ESQUISTOSSOMICIDAS: AVALIAÇÃO
ULTRAESTRUTURAL, ATIVIDADE CITOTÓXICA E IMUNOMODULADORA
RECIFE – 2010
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UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO
CENTRO DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS BIOLÓGICAS
DOUTORADO EM CIÊNCIAS BIOLÓGICAS
IMIDAZOLÍDINAS ESQUISTOSSOMICIDAS: AVALIAÇÃO
ULTRAESTRUTURAL, ATIVIDADE CITOTÓXICA E IMUNOMODULADORA
Tese apresentada ao Programa de Pós-
Graduação em Ciências Biológicas –
Universidade Federal de Pernambuco,
como parte dos requisitos para a obtenção
do Título de Doutor em Ciências
Biológicas.
Orientadora:
Dra. Suely Lins Galdino
Co-orientadora:
Dra. Mônica Camelo P.A. Albuquerque
RECIFE – 2010
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Neves, Juliana Kelle de Andrade Lemoine Imidazolidinas esquistomicidas: avaliação ultraestrutural, atividade citotóxica e imunomoduladora/ Juliana Kelle de Andrade Lemoine Neves. – Recife: O Autor, 2010. 166 folhas : il., fig., tab.
Orientadora: Suely Lins Galdino Co-orientadora: Mônica Camelo P.A. Albuquerque
Tese (doutorado) – Universidade Federal de Pernambuco. Centro de
Ciências Biológicas. Ciências Biológicas, 2010.
Inclui bibliografia e anexos.
1. Esquistossomose 2. Imidazolidinas 3. Citotoxicidade I. Título.
616.963 CDD (22.ed.) UFPE/CCB-2010-102
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"Aquele que tentou e não conseguiu
é superior àquele que nada tentou”.
Arquimedes
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Dedico a
Meu esposo e filho
André Lemoine e Ângelo Lemoine
Minha mãe
Maria José
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AGRADECIMENTOS
A Deus que me deu oportunidade de vida, pela força e coragem pela caminhada longa que
foi e será;
A Professora Dra. Suely Lins Galdino, do Laboratório de Planejamento e Síntese de
Fármacos, do Departamento de Antibióticos da UFPE, pela orientação e credibilidade;
A Professora Dra. Mônica Camelo Pessoa Azevedo de Albuquerque, do Departamento de
Medicina Tropical da UFPE, pela orientação e credibilidade;
Ao Professor Dr. Ivan da Rocha Pitta, do Laboratório de Planejamento e Síntese de
Fármacos, do Departamento de Antibióticos da UFPE, pela cooperação para realização
deste trabalho e credibilidade;
A Professora Dra. Maria do Carmo Alves de Lima, do Laboratório de Planejamento e
Síntese de Fármacos, do Departamento de Antibióticos da UFPE, pela orientação,
incentivo, credibilidade e amizade e por todos momentos de alegria;
A Professora Dra. Paloma Lys de Medeiros do Departamento de Histologia e Embriologia
da UFPE, pela cooperação e disponibilidade prestada;
A Professora Dra. Valéria Rêgo Alves Pereira do Departamento de Imunologia do Centro
de Pesquisas Aggeu Magalhães pelos grandes incentivos, colaboração e pela atenção
dispensadas no decorrer da reta final do trabalho e esclarecimentos prestados nos momentos
de dúvidas;
A Dra. Cristiane Moutinho Lagos de Melo do Departamento de Imunologia do Centro de
Pesquisas Aggeu Magalhães, pela grande amizade, colaboração, dedicação e disponibildade
prestada;
A Dra. Maira Galdino da Rocha Pitta do Departamento de Antibióticos pela colaboração
para realização deste trabalho;
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A Dra. Christina Alves Peixoto do Laboratório de Ultraestrutura do Centro de Pesquisas
Aggeu Magalhães (FIOCRUZ) e toda sua equipe pela colaboração na realização da
microscopia eletrônica de varredura.
A Sandra Botelho do Departamento de Antibióticos pela grande ajuda nas sínteses dos
compostos;
A todos do Laboratório de Imunologia do LIKA, pela colaboração e agradável convívio
durante o período de experimentação;
Aos colegas do Laboratório de Planejamento e Síntese de Fármacos (GPIT/UFPE);
Ao Programa de Pós-Graduação em Ciências Biológicas, pela oportunidade do Doutorado;
A Adenilda Eugênia de Lima, secretária do Curso de Pós-Graduação em Ciências
Biológicas, pela competência e grande convívio;
E a minha família, por sempre acreditar em mim e superarem pacientemente os meus
momentos de ausência.
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LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS
Cepa BH – Cepa oriunda de Belo Horizonte – MG
DMSO – Dimetilsulfóxido
ELISA - Enzyme-Linked Immunosorbent Assay
ESQ – Esquistossomose
FIOCRUZ – Fundação Oswaldo Cruz
FUNASA – Fundação Nacional de Saúde
GGVS – Gerência Geral de Vigilância à Saúde
GPIT – Grupo de Pesquisa e Inovação Terapêutica
IFN- Interferon gama
IL – Interleucina
LIKA – Laboratório de Imunopatologia Keizo Asami
LPSF – Laboratório de Planejamento e Síntese de Fármacos
MEC - Matriz Extracelular
MEV – Microscopia Eletrônica de Varredura
NO – Óxido nítrico
OMS – Organização Mundial de Saúde
PECE – Programa Especial de Controle da Esquistossomose
UFPE – Universidade Federal de Pernambuco
WHO - World Health Organization
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LISTA DE FIGURAS
Figura 1: Medicamentos desenvolvidos entre 1975 a 2004. Fonte: CHIRAC e
TORREELE, 2006.
20
Figura 2: Theodor Bilharz . Fonte: www.yearofscience.org. 21
Figura 3: Vermes adultos de Schistosoma. (A) Macho e (B) Fêmea. Fonte: PICASA,
2009.
23
Figura 4: Distribuição mundial da esquistossomose. Fonte: GRYSSELS et al, 2006. 24
Figura 5: Áreas endêmicas da esquistossomose mansônica no Brasil. Fonte:
AMARAL et al., 2006.
25
Figura 6: Prevalência da esquistossomose dos municípios da Zona da Mata no
estado de Pernambuco. Fonte: BARBOSA et al., 2006.
27
Figura 7: Caramujo do gênero Biomphalaria. Fonte: www.york.ac.uk, 2009. 29
Figura 8: Segmento anterior do corpo do macho (à esquerda) e da fêmea (à
direita), mostrando os principais órgãos: a-ventosa oral e boca, b-porção
anterior do intestino, c-acetábulo ou ventosa ventral, d-vesícula seminal,
e-canal deferente, f-testículos, g-porção média bifurcada do intestino, h-
ceco, i-orifício genital feminino, j-útero contendo dois ovos, k-um ovo em
processo de formação da casca no oótipo, l-oviduto, m- ovário, n-
viteloduto, o-glândulas vitelinas. Fonte: REY, 2001.
31
Figura 9: Fígado sem alterações (A); hepatomegalia com o lóbulo esquerdo
aumentado (B), baço com conformações normais (C); esplenomegalia
mostrando um crescimento do órgão ultrapassando o ultimo arco costal
na altura do umbigo (D). Fonte: medlineplus, 2009.
33
Figura 10: Composição celular e de componentes da matri extraceular em
granulomas esquistossómticos hepáticos. (Modificado a partir de
CARVALHO, et al 2008).
34
Figura 11: Tipos de moléculas de adesão, fatores de crescimento e seus receptores
em granulomas esquistossomóticos. (Modificado a partir de CARVALHO,
et al 2008).
34
Figura 12: Esquema da reação granulomatosa em fígado de camundongo. Fonte:
HITARA e FUKUMA, 2003.
35
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Figura 13: Granuloma esquistossomótico. Fonte:38 PEARCE e MACDONALD, 2002. 36
Figura 14: Ciclo de vida do Schist45osoma mansoni. Fonte: GRYSSELS et al, 2006. 38
Figura 15: Desenvolvimento da resposta imune na infecção. Fonte: PEARCE e
MACDONALD, 2002.
43
Figura 16: (I) 5,5-Difenil-imidazolidina-2,4-diona e (II) 5-(p-clorofenil)-5-metil-
imidazolidina-2,4-diona.
45
Figura 17: (I) 5-Benzilideno-2-tioxo-imidazolidin-4-ona e (II) 2-amino-5-
benzilideno-imidazolidina-2,4-diona
46
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LISTA DE TABELAS
Tabela 1: Grandes editais temáticos na área de doenças negligenciadas. 21
Tabela 2: As principais espécies que infectam seres humanos, as regiões onde são
encontradas e seus hospedeiros intermediários.
22
Tabela 3: Número de infecções das cidades da Zona da Mata do estado de
Pernambuco, em destaque as cidades com maior número de infecções.
28
Tabela 4: Principais fármacos esquistossomicidas desenvolvidos no século XX. 50
.
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SUMÁRIO
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS
LISTA DE FIGURAS
LISTA DE TABELAS
RESUMO
ABSTRACT
1 INTRODUÇÃO 15
2 REVISÃO DA LITERATURA 18
2.1 Doenças negligenciadas 19
2.2 Esquistossomose 21
2.3 Distribuição geográfica e dados epidemiológicos 23
2.4 Hospedeiro Intermediário 29
2.5 Classificação e morfologia 30
2.6 Morbidade, fisiologia e imunopatologia 32
2.7 Ciclo biológico 37
2.8 Diagnóstico 38
2.9 Controle e prevenção quimioterapica 39
2.10 Resistência ao tratamento 40
2.11 Imunopatologia 41
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2.12 Imidazolidinas bioativas 44
2.13 Fármacos esquistossomicidas 46
3-OBJETIVOS 53
3.1 Geral 54
3.2 Específicos 54
4 CONCLUSÃO 55
5 PERSPECTIVAS 57
6 REFERÊNCIAS 59
ANEXOS 74
Biological and immunological activity of new Imidazolidines front of adult worms of
Schistosoma mansoni
Immunological studies and in vitro schistosomicide action of new imidazolidine
derivatives
Antischistosomal action of thioxo-imidazolidine compounds: an ultrastructural study
Comissão de Ética de Experimentação Animal
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RESUMO
A esquistossomose é uma doença debilitante e endêmica, distribuída em 74 países, causada
por parasitas do gênero Schistosoma, onde existem cinco espécies de interesse médico,
apenas o Schistosoma mansoni é endêmico no Brasil. Existem aproximadamente 207
milhões de pessoas infectadas pela esquistossomose no mundo, no Brasil estima-se sete
milhões de portadores de esquistossomose mansônica e é considerada uma endemia em
franca expansão atingindo aproximadamente 19 estados brasileiros. O praziquantel é o
único fármaco para o tratamento de todas as esquistossomoses no mundo. O objetivo do
nosso trabalho foi a busca de novos compostos biologicamente ativos para o combate da
esquistossomose, através da síntese de derivados imidazolidínicos e avaliação da atividade
esquistossomicida. Os derivados imidazolidínicos das séries 5-benzilideno-3-benzil-4-
tioxo-imidazolidin-2-ona e 5-arilazo-4-tioxo-imidazolidin-2-ona foram avaliados in vitro
frente a vermes adultos de Schistosoma mansoni (Cepa BH). Todos derivados avaliados in
vitro apresentaram atividade esquistossomicida, sendo que os compostos LPSF/PT05, PT10
e PT11 provocaram mortalidade de 100% em 24 horas nas concentrações de 320 e 200 M
e o LPSF/PT09 mortalidade de 100% em 48 horas também na maior concentração 320 M.
O LPSF/PT05 e LPSF/PT10 foram analisado em microscopia eletrônica de varredura. Os
derivados também foram avaliados quanto a citotoxicidade e viabilidade celular,
apresentando uma toxicidade inferior ao praziquantel e uma baixa mortalidade celular
(apoptose e necrose) em relação ao padrão. Na dosagem de citocinas (IL-10 e IFN- )
nenhum dos compostos apresentou indução dessas proteínas, porém todos os compostos
analisados apresentaram uma indução no óxido nítrico estatisticamente significativo.
Palavras-chave: Esquistossomose, imidazolidinadionas, Ensaios in vitro .
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ABSTRACT
Schistosomiasis is a debilitating and endemic, distributed in 74 countries, caused by
parasites of the genus Schistosoma, which has five species of medical interest, only the
Schistosoma mansoni is endemic in Brazil. There are approximately 207 million people
infected with schistosomiasis in the world, in Brazil an estimated seven million people with
schistosomiasis and is considered an endemic disease on the rise amounting to about 19
states. The Praziquantel is the main drug for the treatment of schistosomiasis in all the
world. The aim of our study was the search for new biologically active compounds for the
fight against schistosomiasis, through the synthesis of imidazolidine. Derivatives
imidazolidine series 5-benzylidene-3-benzyl-4-thioxo-imidazolidin-2-one and 5-arilazo-4-
thioxo-imidazolidin-2-one were evaluated in vitro against the adult worms of Schistosoma
mansoni (strain BH). Derivatives evaluated in vitro all showed schistosomicidal activity
and the LPSF/PT05, PT10 and PT11 had 100% mortality within 24 hours in higher
concentrations 320 and 200 M and LPSF/PT09 100% mortality within 48 hours also the
highest concentration 320 M. The LPSF/PT05 e LPSF/PT10 analyzed in scanning
electron microscopy. Derivatives were also evaluated for cytotoxicity and cell viability,
showing a lower toxicity to praziquantel and a low mortality in relation to the cellular
standard. The measurement of cytokines (IL-10 e IFN- ) none of the compounds showed
induction, but all the compounds showed an induction analyzes nitric oxide statistically
significant.
Keywords: Schistosomiasis, imidazolidinedione, Assay in vitro.
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INTRODUÇÃO
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1. Introdução
A Química Medicinal estuda as razões moleculares da ação dos fármacos de
maneira a descrever a relação entre a estrutura química e a atividade farmacológica,
hierarquizando as diferentes contribuições funcionais. No contexto inverso, inclui-se o
planejamento e o desenho estrutural de novas substâncias que possuam propriedades
farmacoterapêuticas úteis, capazes de representarem novas entidades químicas, candidatas a
protótipos de novos fármacos de uso seguro. A química medicinal é uma disciplina híbrida
que está no centro de um grande espaço inter e multidisciplinar constituído pela biofísica,
biologia molecular, bioquímica, clínica médica, físico-química, fisiologia, patologia,
química biológica, química inorgânica, química orgânica, entre outras. Tratando do
planejamento racional das drogas, sua síntese, sua elucidação estrutural, o desenvolvimento
de ensaios farmacológicos e estudos de relações estrutura-atividade farmacológica
(WILLIAMS e LEMKE, 2002; IUPAC, 2010).
As doenças infecciosas parasitárias continuam sendo um obstáculo ao
desenvolvimento social e econômico dos países mais pobres, afetando as populações pobres
e marginalizadas. As alternativas quimioterápicas para o tratamento da maioria das doenças
parasitárias são extremamente limitadas. A esquistossomose, doença debilitante causada
por parasitas do gênero Schistosoma constitui um dos maiores problemas mundiais
enfrentados na saúde pública, visto que está distribuída em várias regiões geográficas. E
mundialmente só perde para malária em número de pessoas infectadas (CARVALHO et al,
2008).
O Schistosoma é endêmico, afetando, aproximadamente, 76 países tropicais e
subtropicais, principalmente países da África, Ásia e América Latina, sendo que nas
Américas, ocorre apenas a espécie S. mansoni. No Brasil, ocorre nas regiões Norte,
Nordeste, e no Norte das regiões Sul e Sudeste (GREVELDING, 2004).
Atualmente, estima-se no mundo 207 milhões de pessoas infectadas com as
esquistossomoses, com um total de 650 milhões expostos ao risco de contrair a doença. Há
aproximadamente seis a oito milhões de portadores de esquistossomose mansoni no Brasil.
No mundo o S. mansoni infecta cerca de 70 milhões de indivíduos (CHITSULO et al.,
2000; CIMERMAN, 2001; WHO, 2008).
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O ciclo do Schistosoma é complexo, pois exige a presença de hospedeiro
intermediário, representados por diferentes espécies de moluscos pertencentes ao gênero:
Bullinus, Biomphalaria, Oncomelania e Neotricula (CARRERA, 1990; NEVES,2005),
com as seguintes formas evolutivas do S. mansoni: verme adulto (macho e fêmea), ovo,
miracídio, esporocisto, cercária e esquistossômulo.
Na dependência de elevadas cargas parasitárias e, conseqüentemente, do número de
ovos com formações granulomatosas, instala-se, progressivamente, o regime de hipertensão
portal, com o conseqüente aparecimento de esplenomegalia de caráter congestivo e de
circulação colateral, inclusive de varizes de esôfago. As fêmeas liberam centenas de ovos
por dia, um número substancial ficam presos ao intestino e fígado, principalmente. Tem-se,
assim, a forma hepatoesplênica com hipertensão portal da esquistossomose, definida como
descompensada quando houver sangramento digestivo alto (GRYSCHEK, 2001; HELMY
et al., 2009).
Há relatos de resistência ao praziquantel em cepas de Schistosoma principalmente
na África, aonde o fármaco vem sendo utilizado agressivamente por longos períodos. Com
a possível resistência a este fármaco são utilizadas doses maiores para se obter um melhor
resultado (LIANG, 2001; ISMAIL et al., 1996). Porém, faz-se necessário o
desenvolvimento de vacinas e o planejamento e síntese de novos fármacos que constituem
novas alternativas terapêuticas para a parasitose em questão.
As imidazolidinas tiveram no passado um representante na clínica médica como um
fármaco de ação comprovada frente a vermes adultos de S. mansoni, o niridazol (CATTO;
TRACY; WEBSTER, 1984). A propriedade esquistossomicida in vitro frente a vermes
adultos de S. mansoni dos derivados imidazolidínicos vem sendo relatada por Oliveira e
colaboradores (2004) e Albuquerque e colaboradores (2006).
Derivados imidazolidínicos sintetizados por nossa equipe no Laboratório de Síntese
e Planejamento de Fármacos-LSPF, ressaltam a contribuição química do núcleo
imidazolidínico. Os resultados já obtidos com derivados imidazolidinônicos-3,5-
dissubstituídos revelam que estas moléculas são portadores de significante atividade
esquistossomicida (OLIVEIRA et. al., 2004; SOARES, 2004; ALBUQUERQUE et. al.,
2005; PITTA, 2005).
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REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
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2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
2.1 Doenças negligenciadas
Doenças negligenciadas são doenças que não só prevalecem em condições de
pobreza, mas também contribuem para a manutenção do quadro de desigualdade, já que
representam forte entrave ao desenvolvimento dos países. Como exemplos de doenças
negligenciadas, podemos citar: dengue, doença de Chagas, esquistossomose, hanseníase,
leishmaniose, malária, tuberculose, entre outras. Segundo dados da Organização Mundial
de Saúde (OMS), mais de um bilhão de pessoas estão infectadas com uma ou mais doenças
negligenciadas, o que representa um sexto da população mundial (BRASIL, 2010).
Essas doenças têm sido progressivamente marginalizadas por aqueles encarregados
pelos programas de pesquisa tanto do setor público quanto do privado, essencialmente
porque as pessoas que sofrem de doenças negligenciadas são pobres, e não oferecem um
retorno lucrativo suficiente para que a indústria farmacêutica invista em pesquisa e
desenvolvimento de novos medicamentos voltados para tais doenças. Fica claro, portanto,
que a crise na falta de medicamentos para doenças negligenciadas não chegou às atuais
proporções por falta de conhecimento científico, e nem somente pelo hiato entre a pesquisa
básica e a pré-clínica. Esta crise é o resultado tanto das insuficientes políticas públicas
voltadas para P&D de medicamentos de interesse nacional dos países em desenvolvimento,
quanto da falha de mercado, provocada pelo baixo interesse econômico que esses pacientes
representam para a indústria (CHIRAC e TORREELE, 2006; MJUR, 2007).
Entre 1975 e 2004, apenas 21 medicamentos (figura 01) foram registrados para
doenças tropicais e tuberculose, ainda que estas doenças constituam mais de 11% da carga
global de doenças. Durante o mesmo período, 1.535 medicamentos foram registrados para
outras doenças (CHIRAC e TORREELE, 2006).
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.
Figura 1: Medicamentos desenvolvidos entre 1975 a 2004. Fonte: CHIRAC e TORREELE,
2006.
Um estudo sobre o financiamento mundial de inovação terapêutica para doenças
negligenciadas revelou que menos de 5% deste financiamento foram investidos no grupo
das doenças negligenciadas, ou seja, doença do sono, leishmaniose visceral,
esquistossomose e doença de Chagas, ainda que mais de 500 milhões de pessoas sejam
ameaçadas por estas quatro doenças parasitárias (MORAN, 2009).
No intuito de agregar grupos de pesquisa e apoiar atividades de pesquisas
científicas, tecnológicas e de inovação (tabela 1), em 2008, foram selecionados projetos
para formação e consolidação de institutos nacionais de ciência e tecnologia (INCT), em
uma iniciativa do MS, MCT, Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível
Superior (CAPES), Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e
das FAP do Amazonas, Minas Gerais, Pará, Rio de Janeiro, São Paulo e Santa Catarina.
Entre os INCT que tiveram recursos do MS, existem alguns com grande potencial de
contribuição para a temática de doenças negligenciadas e o combate às doenças: INCT em
Tuberculose, INCT de Gestão da Inovação em Doenças Negligenciadas, INCT de
Biotecnologia Estrutural e Química Medicinal em Doenças Infecciosas e INCT de Vacinas
(BRASIL, 2010).
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Tabela 1. Grandes editais temáticos na área de doenças negligenciadas.
ANO EDITAL RECURSOS
2003 Rede Tuberculose R$ 1,9 milhões
2004 Dengue R$ 945 mil
2005 Hanseníase R$ 2,5 milhões
2006 Doenças negligenciadasa R$ 17 milhões
2007 Doenças negligenciadas R$ 22 milhões
2008 Rede Malária R$ 15,4 milhões
2009 Rede Dengue R$ 22,7 milhões aDiferentemente do edital de 2008, o edital de doenças negligenciadas de 2006 não incluiu
esquistossomose (BRASIL, 2010).
2.2 Esquistossomose
Foi Bilharz (figura 2), em 1852, quem descreveu um parasita intravascular durante
uma necropsia em um rapaz, para qual deu o nome de Distomum haematobium e
posteriormente em 1858 Weinland denominou o gênero deste helminto de Schistosoma.
A doença é popularmente conhecida como “xistose”, “barriga-d’água” ou “mal-do-
caramujo” o qual foi trazida durante o tráfico de escravos e com os imigrantes orientais e
asiáticos, entretanto, apenas o S. mansoni se fixou por encontrar bons hospedeiros
intermediários e pelas condições ambientais semelhantes às da região de origem (figura 06)
(REY, 2001; NEVES, 2005).
De acordo com a Organização Mundial da Saúde existem cinco espécies de
Schistosoma que representam risco a saúde publica devido a sua capacidade de infectar
humanos (tabela 2).
Figura 2: Theodor Bilharz. Fonte: www.yearofscience.org
http://www.yearofscience.org/
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Tabela 2: Principais espécies que infectam seres humanos, as regiões onde são encontradas
e seus hospedeiros intermediários.
Espécies de Schistosoma Regiões Endêmicas Gêneros de caramujo
Esquistossomose intestinal
S. mansoni
África, Oriente Médio e América
do Sul
Biomphalaria
S. intercalatum África (raro, somente no oeste da
África)
Bulinus
S. japonicum Ásia (primeiramente encontrado
no Japão, hoje ocorre
principalmente na China).
Oncomelania
S. mekongi Ásia (próximo ao rio Mekongi) Neotricula
Esquistossomose urinária
S.haematobium
África e Oriente Médio
Bulinus
Fonte: WHO, 2009
As espécies do gênero Schistosoma, que têm importância epidemiológica em
medicina humana, são o S. haematobium, S. japonicum, S. mekongi, S. intercalantum e o S.
mansoni. Os vermes adultos vivem no sistema porta migrando para as veias mesentéricas
causando lesões em vários órgãos (MALTA, 1994; NEVES, 2005).
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O Schistosoma é um trematódeo da família Schistosomatidae que compreende
espécies completamente adaptadas ao parasitismo que se aloja nos vasos sanguíneos. Ao
contrário de outros trematódeos, os causadores da esquistossomose não são hermafroditas,
ou seja, possuem sexos separados, os machos são achatados e as fêmeas são finas e
cilíndricas (figura 03). As espécies diferenciam por sua morfologia, forma de diagnóstico,
gêneros do hospedeiro intermediário e localização do parasita no hospedeiro.
Figura 3: Vermes adultos de Schistosoma. (A) Macho e (B) Fêmea. Fonte: PICASA,
2009.
2.3 Distribuição geográfica e dados epidemiológicos
Apesar do sucesso dos programas de controle, estima-se no mundo 207 milhões de
pessoas infectadas (BLANCHARD, 2004) com 120 milhões sintomáticas e 20 milhões com
a doença em estado agravado, sendo um total de 650 milhões expostos ao risco de contrair
a doença de uma das esquistossomoses (CHITSULO et al., 2000; WHO, 2009) (figura 4).
Entre 207 milhões de pessoas com a doença, 85 % vivem na África, onde a grande maioria
das fatalidades ocorre devido ao S. haematobium, porém o S. mansoni causa 130.000
mortes por ano, pela hipertensão portal (WHO, 2007). No mundo, existem
aproximadamente 70 milhões de infectados pelo S. mansoni (CHITSULO et al., 2004;
CIMERMAN, 2001).
A
B
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Figura 4: Distribuição Mundial da Esquistossomose. Fonte: GRYSSELS et al, 2006.
No Brasil, antes da implantação do Programa Especial de Controle da
Esquistossomose (PECE), a esquistossomose atingia entre dez e doze milhões de pessoas,
sendo considerada uma das mais importantes áreas de ocorrência da doença (BINA e
PRATA, 2003). Há cerca de 7,01 milhões de portadores de esquistossomose mansoni
(CHITSULO et al., 2004; CIMERMAN, 2001) (figura 5).
No país, a área endêmica para esquistossomose abrange 19 estados com
aproximadamente 26 milhões de habitantes expostos ao risco. Ocorre de forma endêmica e
focal desde o estado do Maranhão até Minas Gerais (FUNASA, 2002).
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Figura 5: Áreas endêmicas da esquistossomose mansônica no Brasil. Fonte: AMARAL et
al., 2006.
A esquistossomose é primariamente uma endemia rural e periurbana que, em
algumas cidades como Belo Horizonte, Salvador e Recife estão tornando-se urbana, devido
à migração descontrolada e à falta de saneamento básico. No Nordeste vem sendo
registrado na Região Metropolitana do Recife, imposta por uma mudança na indústria agro-
açucareira que vem promovendo o deslocamento de trabalhadores para a periferia das
grandes cidades, onde não há condições básicas de saneamento e moradia, favorecendo o
surgimento de novos focos urbanos da doença como os registrados em São Lourenço da
Mata e na Ilha de Itamaracá (IGLÉSIAS, 1997; BARBOSA et al. 2000; XIMENES et al.,
2000; BERGQUIST, 2002).
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A esquistossomose é endêmica em 90 dos 185 municípios do Estado de
Pernambuco. Com uma área total de 98.933 Km², o Estado possui 19.425 Km² de área
esquistossomótica, sendo 16.693 Km² de área endêmica e área focal de 2.732 Km², os quais
correspondem a um percentual de 19,63 % da superfície pernambucana. A prevalência
média foi de 8,7 % e a média anual de internações, de 1999 a 2003, foi de 377, taxa de
5,12/10 mil internações. O número médio de óbitos, de 1998 a 2002, foi de 139,2 com taxa
de mortalidade de 1,76/100 mil habitantes (GGVS/LABEND/ESQ, 2001; BRASIL, 2005).
A figura 6 mostra a prevalência da esquistossomose nos municípios da Zona da Mata do
estado de Pernambuco, na parte mais clara com prevalência moderada de 10 a 50% e na
parte mais escura com prevalência baixa, menor que 10% (BARBOSA et al., 2006), na
tabela 3 mostra o número de infecções das cidades da Zona da Mata, destacando-se os
municípios de Aliança, Condado, Escada, Itambé, Itaquitinga, Jaqueira, Rio Fomoso e
Tracunháem com prevalência alta de número de pessoas infectadas com Schistosoma
mansoni.
-
Figura 6: Prevalência da esquistossomose dos municípios da Zona da Mata no
estado de Pernambuco (BARBOSA et al., 2006).
10%-50% (prevalência
moderada)
< 10% (baixa prevalência)
-
Tabela 3: Número de infecções das cidades da Zona da Mata do estado de Pernambuco, em
destaque as cidades com maior número de infecções.
(BARBOSA et al., 2006)
Município Escolas Examinados %SM GM
epg
-
2.4 Hospedeiro intermediário
Em 1913, foi descrito o hospedeiro intermediário da doença: moluscos do gênero
Biomphalaria (figura 7) com concha espiral plana, que podem medir de 10 a 40 mm.
Miyaki e Suzuki, autores do feito inédito, demonstraram também que a cercária (larva do
Schistosoma) transmite a doença ao homem quando penetra em sua pele.
Os caramujos transmissores da esquistossomose mansoni no Brasil pertencem ao:
Filo Mollusca
Classe Gastropoda
Subclasse Pulmonata
Ordem Basommatophora
Família Planorbidae
Gênero Biomphalaria
Já foram identificadas dez espécies pertencentes ao gênero Biomphalaria no Brasil.
São elas: B. glabrata, B. tenagophila, B. straminea, B. amazonica, B. peregrina, B.
occidentalis, B. intermedia, B. schrammi, B. oligoza e B. kuhniana. Destas, apenas as três
primeiras foram encontradas eliminando cercárias na natureza, sendo, portanto,
transmissoras da esquistossomose mansoni nas Américas (BARNES, 1996).
São moluscos de água doce, conhecidos como planorbídeos e, popularmente, como
caramujos, têm a concha em espiral, com as voltas ou giros no mesmo plano e, por isso,
recebem a denominação de planorbídeo. Os caramujos planorbídeos criam-se e vivem na
água doce de corrégos, riachos, valas, alagados, brejos, açudes, represas ou outros locais
onde haja pouca correnteza, quando jovens alimentam-se de vegetais em decomposição e
de folhas verdes e põem ovos, dos quais, depois de alguns dias, nascem novos caramujos
Figura 7: Caramujo do gênero Biomphalaria. Fonte: www.york.ac.uk, 2009
-
que crescem e tornam-se adultos. O hábitat de preferência do Biomphalaria para
colonização é de microflora rica, bastante matéria orgânica, boa insolação, temperatura
média da água entre 20°C e 26°C, pH neutro tendendo a alcalino, salinidade abaixo de 3
por 1.000, pouca turbidez e velocidade da água inferior a 30cm/s, com leito raso, lodoso ou
rochoso e vegetação enraizada mais próxima das margens (NEVES, 2005).
O B. glabrata é o mais importante transmissor de S. mansoni na região neotropical,
não só pelo alto grau de suscetibilidade de suas populações ao parasito como pela extensão
de sua distribuição geográfica (CARVALHO, 2008).
2.5 Classificação e morfologia
Os parasitas transmissores da esquistossomose pertencem.
Reino Animalia
Sub-reino Metazoa
Filo Platyhelmintes
Classe Trematoda
Subclasse Digenea
Superfamília Schistosomatoidea
Família Schistosomatidae
Subfamília Schistosomatinae
Gênero Schistosoma (BARNES, 1996).
O S. mansoni macho mede entre 0,6 a 1,4 cm de comprimento por 0,11 cm de
largura e sua cor é branca. É largo na posição mediana e afilado nas extremidades do corpo.
Na extremidade anterior traz uma ventosa oral afunilada e logo após uma segunda ventosa,
a ventral, pedunculada, também denominada de acetábulo e ainda um canal ginecóforo,
onde fica alojada a fêmea. O aparelho genital masculino compreende de seis a oito massas
testiculares pequenas, situadas dorso ventralmente, no início do segmento posterior. A
fêmea tem o corpo cilíndrico comprido e fino medindo cerca de 1,2 a 1,6 cm de
comprimento por 0,016 cm de largura, sua cor é acinzentada devido ao tubo digestivo
-
conter um pigmento derivado da digestão sanguínea, hemozoína. Em sua região anterior,
existem estruturas especializadas na fixação do verme ao hospedeiro, as ventosas, estando a
ventosa acetabular e pedunculada muito perto da oral. O ovário é oblongo e lobado, ficando
na metade anterior do corpo. Nos dois sexos, o tubo digestivo se inicia na extremidade
anterior, no fundo da ventosa oral, compreendendo um esôfago sem espessamento
muscular, o sistema excretor, tem início nos solenócitos, convergindo para dois canais
longitudinais que desembocam em uma pequena vesícula excretora (BARNES et al., 1996;
REY, 2001) (figura 8).
Figura 8: Segmento anterior do corpo do macho (à esquerda) e da fêmea (à direita),
mostrando os principais órgãos: a-ventosa oral e boca, b-porção anterior do intestino, c-
acetábulo ou ventosa ventral, d-vesícula seminal, e-canal deferente, f-testículos, g-porção
média bifurcada do intestino, h-ceco, i-orifício genital feminino, j-útero contendo dois
ovos, k-um ovo em processo de formação da casca no oótipo, l-oviduto, m-ovário, n-
viteloduto, o-glândulas vitelinas (REY, 2001).
Após alguns dias de infecção no hospedeiro definitivo, os esquistossômulos chegam
ao fígado e alimentam-se de sangue, na terceira semana começa a atração dos sexos por
-
quimiotaxia, iniciando o acasalamento e completam seu desenvolvimento na quarta semana
e migram para as vênulas, mesentério e plexo hemorroidário. A nutrição deles é feita
através da ingestão de sangue venoso (REY, 2002; NEVES, 2005).
2.6 Morbidade, fisiopatologia e imunopatologia
Embora a parasitose possa resultar em morte, a sua natureza crônica reduz a
capacidade das pessoas infectadas para o trabalho. Em crianças, pode causar anemia,
nanismo e de uma reduzida capacidade de aprender (WHO, 2009).
A principal causa de mortalidade e morbidade na esquistossomose humana são as
fibroses hepáticas, que envolve o espaço portal, devido a isso a resposta granulomatosa e a
fibrose hepática vêm sendo intensamente estudadas na patogênese da resposta imune
celular do S. mansoni. O granuloma tem um papel hepatoprotetor por sequestrar as toxinas
secretadas pelos ovos (PHILLIPS e COLLEY, 1978).
A doença é causada principalmente pela deposição dos ovos dos vermes adultos nos
vasos sanguíneos que rodeiam a bexiga ou intestinos. O sinal clássico da esquistossomose
urinária é hematúria (sangue na urina). Fibrose ureteral e hidronefrose são achados comuns
em casos avançados, e o câncer na bexiga também é uma possível complicação em estágio
final. Na esquistossomose intestinal um quadro clínico de dor abdominal, diarréia, sangue
nas fezes e fígado aumentado é comum em casos avançados e freqüentemente associada à
ascite e outros sinais de aumento da pressão portal. Nesses casos, pode haver também
esplenomegalia (LOPES et al., 2008; WHO, 2008).
Diante diso, a formação de granuloma associada a fibrose poderá conduzir a
hipertensão portal, uma das maiores causas de mortalidade e morbidade da esquistossomose
(LOPES et al., 2008).
As agressões que ocorrem no organismo parasitado pelo S. mansoni são decorrentes
das lesões diretas do parasito e da resposta do hospedeiro a tais lesões (PRATA, 1996). A
maioria das pessoas infectadas permanece assintomáticas. A sintomatologia clínica
corresponde ao estágio de desenvolvimento do parasito no hospedeiro, podendo ser
dividida em:
-
a)Dermatite Cercariana, fase de penetração das cercárias através da pele. Varia desde
assintomática até uma dermatite urticariforme, com erupção papular, eritema, edema e
prurido, podendo durar até cinco dias após a infecção;
b)Esquistossomose Aguda caracteriza-se após 3-7 semanas de exposição com febre,
anorexia, dor abdominal e cefaléia. Com menor freqüência, o paciente pode apresentar
diarréia, náuseas, vômitos, tosse seca. Também conhecida como febre de KATAYAMA
(DOHERTY et al., 1996), a esquistossomose aguda é comum em áreas de alta taxa de
transmissão, que são mediados por formação de imunocomplexos e na maioria do casos
com a deposição de ovos nos tecidos do hospedeiro. Sintomas respiratórios também foram
descritos, (70% dos casos) do que em pacientes infectados por S. haematobium
(BETHLEM et al., 1997; COOKE et al., 1999). As manifestação inflamatória deve-se ao
processo migratório do parasita, que passa pelos pulmões (pequena circulação), antes de
atingir o sistema hepático (SCHWARTZ et al., 2000; SALANTRINI et al., 2002; ROSS et
al., 2002).
c)Esquistossomose Crônica, fase que se inicia a partir dos seis meses após a infecção,
podendo durar vários anos. Podendo surgir os sinais de progressão da doença em diversos
órgãos, atingindo graus extremos de severidade como hipertensão pulmonar e portal, ascite,
ruptura de varizes do esôfago (figura 10) (REESE et al., 1989; REY, 2002; GRYSSELS et
al, 2006).
Figura 9 - Fígado sem alterações (A); hepatomegalia com o lóbulo esquerdo aumentado
(B), baço com conformações normais (C); esplenomegalia mostrando um crescimento do
órgão ultrapassando o ultimo arco costal na altura do umbigo (D).
Fonte:medlineplus, 2009.
-
A esquistossomose humana e experimental é uma doença sistêmica podendo
comprometer vários órgãos, como fígado, baço, intestino e outros. Porém, a maioria dos
estudos se concentra nas alterações hepáticas e intestinais. Três alterações patológicas
merecem mais destaque: presença de granulomas, fibrose de Symmer e alterações
vasculares, como hipertensão portal, varizes esofágicas (ANDRADE, 2004). Os
granulomas provocados por ovos de Schistosoma mansoni expressam durante o seu
desenvolvimento (maturação e involução) vários componentes de matriz extracelular
(MEC) (figura 11) e várias moléculas de adesão (CAMs) (figura 12), os quais são
especialmente distribuídos em seu interior e sofrem variações (modulações) temporais, em
suas expressões.
Figura 10: Composição celular e de componentes da matri extraceular em
granulomas esquistossómticos hepáticos (Modificado a partir de CARVALHO, et al 2008).
Figura 11: Tipos de moléculas de adesão, fatores de crescimento e seus receptores
em granulomas esquistossomóticos (Modificado a partir de CARVALHO, et al 2008).
TIPOS DE CÉLULA
Monócitos/Macrófagos
Células epitelióides
Eosinófilos
Neutrófilos
Mastócitos
Linfócitos (T, B, K)
Fibroblastos
Miofibroblastos
COMPONENTES DA MATRIZ
EXTRACELULAR
Colágenos
Fibronectina
Fibras elásticas
Laminina
MOLÉCULAS DE
ADESÃO
Integrinas
Selectinas
Imunoglobulinas
Caderina
Octudinas
Conexinas
FATORES DE CRESCIMENTO
Fator estimulador de colônias (CSF)
Entropoetina
Leptina
Fator transformador de crescimento
beta (TGF- )
Interferon gama (IFN- )
-
Com a maturação dos ovos, os neutrófilos começam a infiltra-se em torno deles com
aproximadamente oito dias de implantação dos ovos. Com o surgimento de uma extensa
necrose aparecem células como macrófagos, linfócitos, fibroblastos e eosinófilos entorno
da lesão (10 dias). O aumento da reação do tecido chega ao máximo em duas semanas, com
necrose dos hepatócitos, rodeados de componentes da matriz extracelular. Em quatro
semanas a reposta Th1 diminui e a Th2 aumenta juntamente com as IL-4, IL-5, e IL-13 e
com seis semanas a fibrose hepática (HIRATA e FUKUMA, 2003) (figura 13).
Figura 12: Esquema da reação granulomatosa em fígado de camundongo. Fonte:
HITARA e FUKUMA, 2003.
O granuloma é um nódulo de tecido inflamatório composto de agregado de
macrófagos ativados e de linfócitos T, muitas vezes com associação de necrose e fibrose
0 dia 8 dias 10 dias
2 semanas 4 semanas 6 semanas
-
(figura 14). A inflamação granulomatosa é uma forma de reação de hipersensibilidade
tardia (TH), frequentemente em resposta aos microrganismos persistentes. Ele é encontrado
num grupo relativamente pequeno de doenças infecciosas e autoimunes, sendo definido
como uma área focal de inflamação granulomatosa (WYNN e CHEEVER, 1995).
Figura 13: Granuloma esquistossomótico. Fonte: PEARCE e MACDONALD, 2002.
O granuloma atinge o seu maior tamanho durante a fase aguda da infecção,
diminuindo na fase crônica. Nesse processo são envolvidos vários mecanismos, incluindo
alterações nos padrões de citocinas produzidas por células Th1 e Th2 (MONTESANO et
al., 1997).
Consiste de um agregado microscópico de células epitelióides rodeadas por um
colar de linfócitos e eventualmente alguns plasmócitos. Sua gênese está fortemente
relacionada a processos imunes e suas células apresentam, nas preparações de rotina, um
Hepatócitos
Ovo
Colágeno Eosinófilo
Macrófago
CD4+ T
Outras Cél
-
citoplasma rosa-pálido, com grânulos, que aparenta se fundir com o citoplasma das células
vizinhas. O núcleo é oval ou alongado, menos denso que o de um linfócito e pode
apresentar dobras na membrana nuclear. Granulomas de idade ”avançada” desenvolvem
uma cápsula formada por fibroblastos e tecido conectivo (NEVES, 2005).
O elemento anatopatológico básico do processo esquistossomótico crônico e sua
lesão típica é o granuloma que se forma do ovo do parasita. Os antígenos secretados no
interior do ovo maduro atravessam os tecidos e se disseminam nas circunvizinhanças
destes, que são chamados de antígenos solúveis do ovo (SEA) que são fundamentais para a
formação da reação granulomatosa, ou seja da doença (REY, 2001; NEVES, 2005).
2.7 Ciclo Biológico
O ciclo evolutivo do S. mansoni é do tipo heteroxênico com dois hospedeiros, um
intermediário (molusco) e um definitivo (vertebrado). Os ovos do S. mansoni são
eliminados pelas fezes do hospedeiro definitivo (figura 9), homem. Na água, estes eclodem,
liberando larvas microscópicas, ciliadas, chamadas de miracídio, que completam o seu ciclo
vital em apenas 48 horas. Se não encontram um hospedeiro intermediário, essas larvas,
ficam incapazes de infestar o homem e morrem. Mas se encontram os hospedeiros
apropriados, nele penetram e aí continuam o seu ciclo evolutivo formando esporocistos
dando origem a novas larvas que retornam ao meio líquido. Após 4-6 semanas os
caramujos começam a liberar as cercarias, elas nadam através de movimentos vibratórios e
circulares até encontrar um hospedeiro vertebrado, e penetrar ativamente por sua pele, onde
perdem a cauda e transformam-se em esquistossômulos (BLANCHARD, 2004).
Aqueles que não são destruídos pelo sistema imunológico do hospedeiro, seguem
através da corrente sanguínea, passando pelo coração, pulmões e fígado. Nos vasos do
sistema porta-hepático, eles alcançam a fase adulta, acasalam-se e migram para as vênulas
da parede intestinal, onde o ciclo começa novamente (ROSS et al, 2002). Um verme adulto
vive, em média, 3-5 anos, mas pode alcançar 30 anos. O potencial teórico de reprodução de
um par de vermes é aproximadamente de 600 bilhões de esquistossomos (GRYSSELS et al,
2006).
-
Figura 14: Ciclo de vida do Schistosoma mansoni. Fonte: GRYSSELS et al, 2006.
2.8 Diagnóstico
No diagnóstico clínico, deve-se levar em conta a fase da doença e o histórico do
paciente tais como origem, hábitos, contato com água, entre outros. Algumas formas de
diagnósticos podem ser aplicadas: exame parasitológico das fezes, biópsia ou raspagem da
mucosa retal, testes sorológicos, ultra-sonografia, palpação do fígado e baço. A
esquistossomose pode ser confundida com diversas doenças, em função das diferentes
manifestações que ocorrem durante sua evolução:
Dermatite cercariana – seu quadro clínico pode ser confundido com manifestações
exantemáticas como sarampo, rubéola, escarlatina e dermatites causadas por outros tipos de
cercárias de aves aquáticas.
-
Esquistossomose aguda ou toxêmica – o diagnóstico diferencial deve ser feito com outras
doenças infecciosas agudas, tais como febre tifóide, malária, hepatite viral anictérica,
estrongiloidíase, amebíase, mononucleose, tuberculose miliar e ancilostomose aguda.
Esquistossomose crônica – nessa fase, a doença pode ser confundida com amebíase,
estrongiloidíase, giardiase e demais parasitoses, além de outras afecções que cursam com
hepatoesplenomegalia, tais como calazar, leucemia, linfoma, salmonelose prolongada,
esplenomegalia tropical e cirroses. Para se chegar ao diagnóstico da esquistossomose é
muito importante não apenas os resultados laboratoriais mas também os dados
epidemiológicos, como história de banhos em águas com caramujos e procedência do
doente. A esquistossomose aguda, por exemplo, é mais freqüente em pessoas que não
vivem em áreas endêmicas (BRASIL, 2005).
No diagnóstico parasitológico ou exame de fezes pode ser feito utilizando o método
de Hoffman, que é uma técnica qualitativa de sedimentação espontânea, e pelo o método de
Kato-Katz que é uma técnica quantitativa que determina o número de ovos por grama de
fezes indicando a carga parasitária (KATZ et al., 1972).
A biópsia ou raspagem da mucosa retal, apesar de não fazer parte dos exames de
rotina, é recomendável em casos suspeitos com parasitológico negativo, além de permitir
uma verificação mais rápida do efeito da quimioterapia, entretanto o resultado não significa
necessariamente a cura, pois as fêmeas podem não terem sido mortas, mas somente cessado
temporariamente a postura de ovos (NEVES, 2005). Os testes sorológicos não possuem
sensibilidade/especificidade suficiente para sua aplicação. A ultra-sonografia é um dos
diagnósticos mais importantes, principalmente na fase crônica da doença onde são
observadas as alterações hepáticas e determinado com precisão o grau de fibrose (REY,
2001; FUNASA, 2003).
2.9 Controle e prevenção quimioterápica
O controle da esquistossomose é um desafio para muitos países endêmicos. Apesar
dos esforços para controlar a doença ela continua sendo uma das infecções parasitárias mais
prevalentes do mundo e um problema de saúde pública mundial, perdendo apenas para a
malária nos países tropicais e subtropicais (SAVIOLI et al., 1997).
-
A nova estratégia coordenada pela Organização Mundial de Saúde (OMS) sobre uso
de drogas antihelmintica tornará possível o controle da esquistossomose em comunidades
pobres e marginalizados, por conta do baixo custo e segurança dos medicamentos que agora
estão amplamente disponíveis (WHO, 2008).
No combate à esquistossomose várias medidas devem ser adotadas como,
eliminação sistemática dos hospedeiros intermediários no seu habitat natural, drenagem de
lagos e córregos ou pelo combate biológico empregando peixes, a tilápia, que se alimenta
desse molusco. No entanto não é uma medida correta vista o desequilíbrio ecológico. Outra
medida seria identificar as áreas contaminadas e submetê-las a processos de saneamento.
Evitando que os excrementos de pessoas portadoras da doença possam ser carregados pela
água das chuvas. As medidas de profilaxia consistem basicamente em medidas preventivas,
de fundamental educação sanitária das populações sobre o modo de transmissão da doença.
Assim como o tratamento da população infectada (OLIVEIRA, 1997; REY, 2002).
A estratégia para o controle da esquistossomose tem como objetivo reduzir a
mortalidade através do tratamento com praziquantel, que é a única droga disponível.
Praziquantel tem sido utilizado com sucesso nos últimos 20 anos para a esquistossomose no
Brasil, Camboja, China, Egito, Marrocos e Arábia Saudita. Tratamento pelo menos três
vezes durante a infância para a prevenção da doença na idade adulta. O recente foco e
consenso sobre doenças tropicais negligenciadas, sublinharam que algumas destas doenças
podem ser tratadas em larga escala com medicamentos seguros e eficazes, e em intervalos
regulares. Tal tratamento é feito individualmente, sem diagnóstico, assim que defini a área
hiperendêmica. O Praziquantel é o fármaco utilizado para o tratamento de todas as
esquistossomoses, no entanto está havendo falhas em estudos nos laboratórios e no campo
(CIOLI e PICA-MATTOCCIA, 2004; RENGANATHAN e CIOLI, 1998).
2.10 Resistência ao Tratamento
A evolução da resistência dos helmintos é decorrente da inexistência de métodos
para detectar o seu desenvolvimento. Então, muitos casos não são detectados em estágios
iniciais, reduzindo ou mesmo anulando, a possibilidade do processo ser revertido. Para
diminuir os níveis de resistência, recomenda-se prosseguir a terapia com cautela ou retirar
-
totalmente o medicamento. Para os portadores da esquistossomose torna-se impossível,
pois o Praziquantel representa o único medicamento capaz de combater a doença
(BENNETT et al., 1997; CIOLI e PICA-MATTOCCIA, 2004).
Resistência a um determinado fármaco, significa que houve uma redução na
sensibilidade após ter sido tratada por ele. Tolerância é uma insensibilidade ao fármaco
inata, onde a população não tinha tido contato prévio com o mesmo (DOENHOFF et al.,
2002).
O uso de quimioterápicos no controle de doenças infecciosas ao longo do tempo
pode ser apontado como fator principal no desenvolvimento de resistências. O uso
extensivo e doses exageradas de anti-helmínticos poderá resultar na resistência, afetado o
controle das parasitoses. A resistência aos fármacos tem ocorrido em conseqüência do uso
abusivo (COLES, 1999; SANGSTER e GILL, 1999).
Os primeiros relatos da resistência ao praziquantel registrados na literatura vieram
de um foco no Norte do Senegal na África, onde o fármaco não teria sido eficaz em torno
de 18-39 % dos casos (GRYSEELS et al., 1994; STELMA et al., 1995), o qual poderia ter
sido devido a sua epidemiologia, ou seja, de acordo com a imunologia do paciente, a carga
parasitária, o número de vermes imaturos e a reinfecção (CIOLI e PICA-MATTOCCIA,
2003). A diminuição da susceptibilidade dos esquistossômulos com a administração do
Praziquantel foi repentina e a monitoração desse fenômeno deve ser ativa assim como o
desenvolvimento de novos fármacos esquistossomicida, visto que ao longo do tempo as
conseqüências podem se agravar (DOENHOFF et al., 2002).
2.11 Imunopatologia
A esquistossomose mansônica é basicamente uma doença que decorre da resposta
inflamatória granulomatosa que ocorre em torno dos ovos vivos do parasito. Os antígenos
são secretados pela membrana interna da casca do ovo maduro, chamada envelope de Von
Lichtenberg, que apresenta toda maquinaria de síntese protéica, núcleo próprio, inúmeras
mitocôndrias e uma extensa rede de retículo endoplasmático rugoso indicando alto nível de
síntese protéica (NEVES, 2005). Os antígenos induzem a uma resposta imunológica
humoral e celular que são elementos fundamentais na formação da reação granulomatosa e,
portanto da doença.
-
O organismo apresenta múltiplas camadas de defesa, pelas quais o organismo se
defende contra a invasão de patógenos. As mesmas podem ser classificadas em: barreiras
físicas – que compreendem a pele, a autolimpeza e a microbiota normal do indivíduo;
imunidade inata e imunidade adaptativa. A pele é a primeira defesa do corpo humano
contra a infecção armando uma barreira resistente e impenetrável de epitélio protegido por
camadas de células queratinizadas (PARHAM, 2001).
Quando a barreira física é rompida e os patógenos penetram nos tecidos moles do
corpo, entra em ação a imunidade inata, que utiliza mecanismos de reconhecimento
molecular geral para detectar a presença de microrganismos e não leva à imunidade
prolongada contra aquele patógeno em particular. A resposta imune adaptativa, em
contraste, focaliza especificamente o invasor em questão gerando memória imunológica
para o mesmo, através da seleção clonal de células imunes para esse patógeno. As células
responsáveis por ambas as respostas imunes, inata e adaptativa, são principalmente os
leucócitos e as células teciduais relacionadas a eles (BENJAMINE et al., 2002; PARHAM,
2001).
A infecção parasitária pode ser particularizada pela alta resistência dos parasitos às
defesas imunes e pela cronicidade de sua ação. Os parasitos são capazes de sobreviver e de
replicar-se nos seus hospedeiros, porque são bem adaptados para resistirem às defesas
imunes. Resistem à fagocitose, multiplicam-se no interior de macrófagos e, em alguns
casos, resistem a lise mediada pelo complemento. Os helmintos, de uma maneira geral,
sobrevivem nos tecidos extracelulares e, com freqüência, sua eliminação é dependente de
tipos especiais de resposta de anticorpo (ABBAS et al. 2003).
Na infecção pelo S. mansoni tem-se uma resposta Th1 e Th2, o que chamamos de
uma dicotomia da resposta imune, antes da oviposição ocorre a resposta Th1 e depois da
oviposição ocorre a resposta Th2 (GRYZCH et al., 1991; WYNN et al., 1993; KUBY,
2002; PEARCE e MACDONALD, 2002) (figura 15). E é na resposta Th2 que se tem uma
reação granulomatosa de agregados de leucócitos, linfócitos, eosinófilos e macrófagos
(PEARCE e MACDONALD, 2002; STADECKER et al., 2004).
-
Figura 15: Desenvolvimento da resposta imune na infecção pelo Schistosoma Fonte: PEARCE e
MACDONALD, 2002.
A resposta Th1 é definida pela produção de interferon gama (INF-γ) e está
associada com a imunidade mediada por células, incluindo reações de hipersensibilidade
tardia, recrutamento e ativação de macrófagos inflamatórios e leucócitos e respostas
citotóxicas que levam a proteção contra microrganismos celulares. Os linfócitos Th1
respondem otimamente aos antígenos apresentados pelas células B, utilizando como co-
estimulante o CD80 e produzem ainda IL-2, linfotoxinas e fator de necrose tumoral, não
possuindo receptores para a IL-1 e TNF-β (CHTANOVA e MACKAY, 2001).
A resposta Th2 é caracterizada pela produção de IL-4 e IL-5 e está associada com a
imunidade humoral, incluindo a ativação de eosinófilos e mastócitos levando a proteção
contra microrganismos extracelulares. Os linfócitos Th2 respondem otimamente aos
antígenos apresentados pelos macrófagos e células dendríticas mielóides, são
especificamente ativados por sinais gerados pelo CD86 e mediante o estímulo do antígeno
ou na presença de IL-1, citocina fundamental em seu processo de ativação, produzem IL-4,
IL-5, IL-6, IL-10, IL-13 (YANG et al., 2005). O subtipo Th3 foi identificado
posteriormente por produzir elevados níveis do fator de crescimento transformante (TGF-
, além de IL-4 e IL-10 em quantidades variáveis. As células Th3 apresentam um fenótipo
imunossupressor de tolerância oral e autoimunidade em modelos experimentais (SING et
cercária esquistosômulo
vermes adultos ovos
Após infecção Aguda Crônica
-
al., 1999). Além das células T CD4+, que deram origem ao paradigma Th1/Th2, outros
tipos celulares como linfócitos T CD8+, células dendríticas, macrófagos e células NK
também produzem citocinas de ambos os tipos, ou seja, tipos 1 e 2 (KIM et al., 2002). Isso
levou a divisão do estudo das respostas imunológicas em resposta do tipo Th1 ou Th2
intrinsecamente relacionadas aos tipos de citocinas produzidas pelas diferentes populações
celulares (KOURILSKY e TRUFFA-BACHI, 2001).
As interleucinas 5 e 10 desempenham papéis importantes na infecção, quando estão
ausentes durante a infecção aguda a IL-5 impede a eosinofilia, mas não tem nenhum efeito
sobre o tamanho e a fibrose do granuloma (SHER, 1990). Sugerindo que a IL-5
desempenha um papel secundário na patogênese. Contudo, a IL-10 parece desempenhar um
papel na regulação do tamanho do granuloma (FLORES-VILLANUEVA et al., 1996). Este
fato levanta indícios de que a IL-10 diminui a quantidade das populações de células Th1
inflamatórias, ou torna-as anérgicas, levando a um desenvolvimento de uma resposta Th2
estável (FLORES-VILLANUEVA et al., 1996; REISER e STADECKER 1996).
As células como os macrófagos possuem funções na imunidade inata e como células
efetoras atuam na imunidade adquirida. Os macrófagos que são ativados na resposta Th1
secretam mediadores inflamatórios, como o óxido nítrico (NO) (JORENS et al., 1995;
MACMICKING et al., 1997).
Na infecção pelo S. mansoni, a ativação dos macrófagos pelo IFN- e por outros co-
fatores induz à produção de NO pela reação enzimática. O NO torna-se uma molécula
efetora, causando a morte do verme (JAMES, 1995).
O maior aumento na produção de NO é na oviposição dos vermes adultos, no
entanto, com o início de resposta Th2 por parte do hospedeiro, a produção de NO diminui,
uma vez que a resposta Th1 foi inibida (BRUNET et al., 1999). Estudos em camundongos
infectados deficientes em IL-4 demonstraram, através de uma polarização da resposta Th1,
com alta produção de IFN- e NO após a oviposição, que a citocina IL-4 tem grande
importância no controle do NO e na produção do granuloma, fazendo assim com que a
sobrevida do camundongo aumente (PATTON et al., 2002).
2.12 Imidazolidinas Bioativas
-
As imidazolidinas ou hidantoínas e seus derivados são uma classe de substâncias
que despertam grande interesse por apresentarem importantes atividades farmacológicas,
tais como anticonvulsivante, antiarrítmico e no tratamento de complicações diabéticas
crônicas. Esses compostos também promovem agregação de plaquetas e inibição da aldose
redutase. As imidazolidinas possuem um grupo metilênico muito reativo no carbono-5, o
que permite a síntese de inúmeros derivados a partir da condensação com aldeídos
aromáticos (ROSSI, 2000).
Luttermoser e Bond (1954) a partir de modificações estrutural no anel
imidazolidínico, observaram que a 5,5-difenil-imidazolidina-2,4-diona e a 5-(p-clorofenil)-
5-metil-imidazolidina-2,4-diona obtidas (figura 12) apresentavam atividade frente a vermes
adultos em S. mansoni de ratos infectados.
Figura 16: (I) 5,5-Difenil-imidazolidina-2,4-diona e (II) 5-(p-clorofenil)-5-metil-
imidazolidina-2,4-diona
A imidazolidina-2,4-diona foi descoberta em 1861 por Bayer durante um trabalho
com ácido úrico. Em 1875 Bayer sintetizou a imidazolidina-2,4-diona pela primeira vez
através do aquecimento do bromo-acetiluréia com amônia alcoólica, mais tarde Harries e
Weiss em 1900 obtiveram a imidazolidina-2,4-diona a partir do éter etílico de glicina e
cianato de potássio em presença do ácido clorídrico (ELDERFIELD et al., 1957;
FINKBEINER, 1965).
Em 1899, Ruhemann e Cunnington obtiveram derivados do 5–benzilideno
imidazolídínicos pelo aquecimento do fenil proprionato de etila com uréia em solução
alcoólica na presença de etóxido de sódio, onde substituiu a uréia pela tioúreia e guanidina,
obtendo o 5–benzilideno-2-tioxo-imidazolidin-2-ona e o 2-amino-5-benzilideno-
imidazolidin-4-ona (figura 13) (JOHNSON et al., 1915).
I
N
N O
O H
H
N
N O
O H
HH3C
II
-
Figura 17: (I) 5-Benzilideno-2-tioxo-imidazolidin-4-ona e (II) 2-amino-5-benzilideno-
imidazolidina-2,4-diona
Derivados imidazolidínicos sintetizados por nossa equipe no Laboratório de Síntese
e Planejamento de Fármacos ressaltam a contribuição química do núcleo imidazolidínico.
Os resultados já obtidos com derivados imidazolidinônicos-3,5-dissubstituídos revelam que
essas moléculas são portadores de significante atividade esquistossomicida (OLIVEIRA et.
al., 2004; SOARES, 2004; ALBUQUERQUE et. al., 2005; PITTA, 2005). Alguns desses
derivados já se encontram patenteados pelo INPI sob o numero de depósito 000362/03, em
02/10/2003, e vários em fase de desenvolvimento (PITTA et. al, 2003).
Atualmente observa-se o aparecimento rápido de cepas resistentes aos fármacos
disponíveis Praziquantel e Oxamniquine, sendo este último não mais incluso dentre os
medicamentos essenciais (WHO, 2003), porém ainda utilizado na clínica médica em
Pernambuco.
Os resultados obtidos em nosso Laboratório de Planejamento e Síntese como os
derivados imidazolidínicos frente aos vermes adultos de Schistosoma mansoni (OLIVEIRA
et al., 2004; ALBUQUERQUE et al.,2005), nos impulsionou ao planejamento e a síntese de
novos derivados 3-benzil-5-benzilideno-4-tioxo-imidazolidin-2-onas e a avaliação da
atividade esquistossomicida in vitro e in vivo na busca de novos agentes esquistosomicidas.
2.13 Fármacos esquistossomicidas
Vários fármacos foram desenvolvidos para o combate do Schistosoma, desde do
começo do século XX, estas apresentaram graves efeitos colaterais que tornaram a sua
utilização terapêutica proibida.
N
N NH
O
CH
H
H
N
N S
O
CH
H
H
I II
-
A história da quimioterapia esquistossomicida representou sempre um desafio no
encontro de um tratamento eficaz e seguro desde o começo do século XX. Foram utilizados
vários fármacos para o tratamento da esquistossomose, tais como: Tártaro emético,
Niridazol, Lucantone, Hicantone, entre outros (COLES, 2002).
Foram usados na quimioterapia esquistossomicida há aproximadamente 50 anos,
mas hoje obsoleto por boas razões. O tártaro emético (tabela 4) foi descoberto
acidentalmente em 1918 por Christopherson, observando uma tribo Berbere que estavam
sendo tratados com a droga para leishmaniose. Ele percebeu uma interrupção no parasita S.
hematobium. A droga foi injetada por via intravenosa e com doses crescentes. As maiores
preocupações foram os efeitos colaterais como, diarréias, cólicas, vômitos, rachaduras na
pele e até mesmo problema cardiovasculares; sendo mais freqüentes com o uso da terapia e
por ser uma droga de uso prolongado. Muitos médicos preferiram dar o antimônio somente
aos pacientes hospitalizados. O tártaro emético é eficaz contra as três espécies de
Schistosoma o S. haematobium, S. japonicum e S. mansoni com menor índice de eficácia
para o S. japonicum (CIOLI et al., 1995).
A emetina (tabela 4) foi usada a partir de 1920 para o tratamento das infecções do S.
japonicum e seu uso mais tarde foi estendido para o S. mansoni. Seu efeito era satisfatório,
no entanto as doses eram próximas do limite da toxicidade (CIOLI et al., 1995). Logo após
introduziu a 2,3 dehidroemetina (tabela 4), que tem as mesmas atividades da emetina, mas
com metade da toxicidade e com efeitos colaterais modestos sendo necessário o
acompanhamento dos pacientes. Mas a droga ainda é usada para o tratamento da amebíase
(CIOLI et al., 1995).
O niridazol (tabela 4) é um derivado do nitrotiazol que foi introduzido em 1964 por
Ciba-Geigy com o nome de Ambilhar . A droga recebeu atenção considerável, por ser
uma das alternativas adiantadas dos antimoniais e por ter vantagens na administração oral
(CIOLI et al., 1995). O composto não é muito eficaz e apresenta diversos inconvenientes
sérios, tais como varias doses orais e ocorrência de efeitos colaterais como mutagenicidade,
carcinogenicidade, embriotoxicidade, imunossupressão (FONTANILLES, 1969). A
experiência clínica diz que o niridazol é mais eficaz em crianças do que em adultos (CIOLI
et al., 1995).
-
O metrifonato (tabela 4) é um composto organofosforado, 2,2,2-tricloro-1-
hidroxietil dimetil fosfanato, que foi introduzido em 1955 com os nomes de DipterexO ou
Dylox3 (LORENZ et al., 1955). Em 1962, um médico belga, Jaques Cerf observou a
possibilidade de atividade anticolinesterásica em helmintos e mais tarde observou eficácia
para o S. haematobium, no entanto comprovou que ele não tinha atividade frente ao S.
mansoni. Hoje, ele não é mais usado contra esse parasita (CIOLI et al., 1995).
O nitrofurano, em 1960, foi relatado alguma atividade para as infecções do S.
japonicum em animais e humanos. O furapromidium, derivado do nitrofurano foi usado
largamente na China, no entanto verificou-se alta toxicidade o que conduziu o abandono
dos nitrofuranos (tabela 4) (CIOLI et al., 1995). Robinson e colaboradores em 1970,
demonstraram atividade esquistossomicida em trans-5-amino-3-[2-(5-nitro-2- furil)-vinil]-
1,2,4-oxadiazole, molécula análogas ao niridazol. Observou-se que a toxicidade aguda era
baixa, porém mostrou mutações cancerígenas e a substância foi descontinuada para o
tratamento das esquistossomíases humana (CIOLI et al., 1995).
Em 1938, descobriu-se um composto ativo chamado de Miracil, outros três
compostos desta série foram sintetizados e testados o Miracil B, C e D. O Miracil D estava
pronto para ser experimentado clinicamente, logo seus estudos foram interrompidos devido
a segunda guerra mundial. Em 1945, foi introduzido na parte clínica com o nome de
lucantona (tabela 4) ou 1-[2-(dietilamino)etilamino]-4-metil-9H-tioxant-9-one, onde foi
eficaz frente ao S. mansoni e S. haematobium quando administrados oralmente. Devido aos
seus efeitos colaterais como problemas no sistema cardiovascular, sistema nervoso central e
gastrointestinais, não é mais utilizada (CIOLI et al., 1995).
O hicantona (tabela 4) é análogo do lucantona. O hicantona é ativa frente ao S.
mansoni e S. haematobium, porém com baixa atividade nos vermes adultos fêmeas e nas
formas imaturas, nos experimentos in vitro (CIOLI et al., 1995).
A atividade anti-helmíntica do amoscanato (tabela 4) ou 4-isotiocianato-4'-
nitrodifenilamino foi relatado, em 1976, por Striebel. O fármaco é uma substância cristalina
amarela, insolúvel em água e na maioria dos solventes orgânicos (STRIEBEL, 1976). Uma
característica atrativa do amoscanato é por sua larga atividade para as doenças como
esquistossomíase, filariose e até nematódeos gastrointestinais. Nos experimentos o
-
amoscanato mostrou-se eficaz a todas as principais espécies de Schistosoma. Com apenas
uma dose oral, os ratos infectados foram curados, a toxicidade era baixa (CIOLI et al.,
1995). No entanto ele não consta na lista modelo de medicamentos essenciais da World
Health Organization (WHO, 2003).
O oltipraz (tabela 4) é um derivado do ditiol-tiona, sintetizado em 1976 na indústria
Rhone-Poulenc, na França (BARREAU et al., 1977). É um pó vermelho fino, insolúvel na
água e solúvel em lipídeos. É ativo frente ao S. mansoni, S. haematobium e S. intercalatum
e inativo ao S. japonicum. Os efeitos tóxicos em longo prazo não foram relatados. Os
principais efeitos colaterais são náuseas, vômitos, dores abdominais, sonolência (CIOLI et
al., 1995).
A tubericidina (tabela 4) ou 7-deazoadenosina é um análogo da purina que pode ser
incorporado em ácidos nucléicos do Schistosoma. Seu uso como esquistossomicida foi em
1971, sendo eficaz na cura de ratos infectados com as principais espécies de Schistosoma,
nãosendo relatado nenhuma toxicidade aparente (JAFFE et al., 1971; CIOLI et al., 1995).
A atividade antiparasitária da ciclosporina A (tabela 4) foi descoberta, em 1981, por
Bueding e colaboradores ao tentar suprimir a formação de granuloma de ratos infectados
por S. mansoni. Observaram que ratos tratados tiveram uma redução drástica no número
dos vermes e que esta redução era mais pronunciadas ao tratar de infecções imaturas e os
mais afetados eram os machos. A ciclosporina A além de atividade contra o Schistosoma
tem atividade frente ao plasmódio, leishmania, cestodos, filaria entre outros (CIOLI et al.,
1995).
A oxamniquine (tabela 4) e o praziquantel (tabela 4), ambas são administradas por
via oral em dose única, que são relativamente bem toleradas, com baixa toxicidade, e
apresentam bons percentuais de cura, em torno de 80 % para adultos e de 70 % para
crianças abaixo de 15 anos (KATZ, 2004).
Estudos realizados em camundongos infectados experimentalmente por S. mansoni
e tratados com o oxamniquine mostraram que os vermes machos são mais susceptíveis, o
fármaco produz edema e necrose do tegumento, com posterior aparecimento de lesão em
bolhas. O praziquantel, em estudos in vitro, provoca contrações tônicos-clônicas no
parasito, com posterior parada na postura de ovos. O praziquantel é ativo contra todas as
-
espécies de Schistosoma que parasitam o homem, ao contrário da oxamniquine, que só é
ativa contra o S. mansoni. Sendo esta a razão principal para a retirada da oxamniquine da
lista dos medicamentos essenciais da Organização Mundial de Saúde (CIMERMAN, 2001;
WHO, 2003).
O praziquantel induz o influxo de cálcio através do tegumento e das células
musculares do verme causando contração, demonstrando a presença de sítios sensíveis ao
praziquantel. A eficácia do praziquantel foi constatada em estudos realizados na Zona da
Mata do Estado de Pernambuco, em 52 povoados, onde a substituição da oxamniquine que
foi usada durante dois anos pelo praziquantel usado durante um ano, em pessoas infectadas,
resultou em uma diminuição dos índices de infecção. Verificando-se então a melhor
eficiência do praziquantel (BECK et al., 2001).
Tabela 4: Principais fármacos esquistossomicidas desenvolvidos no século XX.
ANO NOME COMERCIAL ESTRUTURA
1918 Tártaro emético ou
Tártaro de antimônio e
potássio
1920 Emetina
1920 2,3 De-hidroemetina
COOH
Sb O Sb
O
OH
H
O C
C
H
H
COK
OH
O
O
C
C
H
H
C
OH
O
O
KO
OH
N
H
H
O
O H
HNO
O
CH2H
-
1945 Lucatona
1945 Hicantona
1955 Metrifonato
1964 Ambilhar ou
Niridazol
1964 Oxamniquine ou Mansil
S
NN
NH
OO2N
P
O
OO
OH
ClClCl
S
O HNN
O
NH
CH2NHCHCH3
CH3
NO2
CH2OH
-
N
N
O
O
1970 Praziquantel ou Cestox ou
Cisticid
1971 Tubericidina
1976 Amoscanato
1976 Oltipraz
1981 Ciclosporina A
NN
S
S
H3C
S
N
N
NH2
N
O
OHHO
HO
N C CO N C C N
O
C CO N C C
O
NH3C
CO
CH
N
C
HCH2C
H3C
O
H3C
H3C
CH N C C
O
CH3 H
N
CH3
C
H
O
C
CH2
CH
H3CCH3
H
NH C
O
C N
CHH3C CH3
H H
CH3CH2
CH3
CHCH2
CO C H
CH2
CHH3C CH3
N CH3
CO
CH2
CCH3
HCH2
C
C
H
HH3C
CH H3C
CH3H3C
H3C
CH
CH3H3C
-
OBJETIVOS
-
3. Objetivos
3.1. Geral
O presente trabalho pretendeu contribuir, no âmbito da Química Medicinal, no
desenvolvimento de novos agentes esquistossomicidas 5-arilazo-3-benzil-4-tioxo-
imidazolidin-2-onas (LPSF/PT) e 3-benzil-5-benzilideno-4-tioxo-imidazolidin-2-onas
(LPSF/RZS).
3.2. Específicos
Síntezar moléculas das séries 5-arilazo-3-benzil-4-tioxo-imidazolidin-2-onas
(LPSF/PT) e 3-benzil-5-benzilideno-4-tioxo-imidazolidin-2-onas (LPSF/RZS);
Elucidar e caracterizar as estruturas, através de métodos espectroscópicos
convencionais (infravermelho, ressonância magnética nuclear de hidrogênio,
ultravioleta e espectrometria de massas) dos compostos sintetizados;
Avaliar a suscetibilidade in vitro do Schistosoma mansoni (cepa BH) frente aos
derivados imidazolidínicos;
Analisar o tegumento do parasita através da microscopia eletrônica de varredura;
Avaliar a citotoxicidade, viabilidade celular, óxido nítrico e dosagem de
citocinas.
-
CONCLUSÃO
-
4 Conclusão
Os derivados imidazolidinicos testados tiveram resultados relevantes quanto a
viabilidade dos vermes apresentando uma mortalidade máxima nas doses maiores e
medianas, inibição da oviposição dos vermes, alterações tegumentares e descasalamentos.
Também houve uma indução significativa do óxido nítrico em quatro compostos analisados
LPSF/PT-9 e PT-10; LPSF/RZS-2 e RZS-5.
Na apoptose e na necrose celular os compostos imidazolidinicos apresentaram
valores inferiores ao praziquantel, assim como a citotoxicidade dos derivados
imidazolidinicos também foi inferior ao praziquantel.
Na microscopia eletrônica de varredura foi observado danos no tegumento dos
vermes muito semelhante ao praziquantel, único fármaco de referência para a
esquistossomose tendo então os compostos imidazolidinicos como possíveis candidatos a
fármacos.
-
PERSPECTIVAS
-
5 Perspectivas
Diante de todos os resultados favoravéis: citotoxicidade, viabilidade celular, análise da
microscopia eletrônica de varredura, fica claro que os derivados imidazolidínicos são fortes
candidatos a fármacos esquistossomicidas, fazendo-se necessários estudos mais
aprofundados no que diz respeito a elucidação do mecanismo de ação dos compostos.
-
REFERÊNCIAS
-
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