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UNIVERSIDADE FEDERAL DE PELOTAS
Faculdade de Agronomia Eliseu Maciel
Programa de Pós-Graduação em Ciência e Tecnologia de Alimentos
Tese
Parâmetros reológicos e resistência térmica de xantana de Xanthomonas
arboricola pv pruni: potencialização por desacetilação, reticulação e troca
iônica
Paula Michele Abentroth Klaic
Pelotas, 2016
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Paula Michele Abentroth Klaic
Parâmetros reológicos e resistência térmica de xantana de Xanthomonas
arboricola pv pruni: potencialização por desacetilação, reticulação e troca
iônica
Tese apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Ciência e Tecnologia de Alimentos da Faculdade de Agronomia Eliseu Maciel da Universidade Federal de Pelotas, como requisito parcial à obtenção do título de Doutora em Ciência e Tecnologia de Alimentos.
Orientadora: Profª. Drª. Angelita da Silveira Moreira
Co-orientadores: Profª. Drª. Claire Tondo Vendruscolo e Profª. Drª. Lígia Furlan
Pelotas, 2016
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Paula Michele Abentroth Klaic
Parâmetros reológicos e resistência térmica de xantana de Xanthomonas arboricola
pv pruni: potencialização por desacetilação, reticulação e troca iônica
Tese aprovada, como requisito parcial, para obtenção do grau de Doutora em Ciência e Tecnologia de Alimentos, Programa de Pós-Graduação em Ciência e Tecnologia de Alimentos, Faculdade de Agronomia Eliseu Maciel, Universidade Federal de Pelotas.
Data da Defesa: 19/08/2016
Banca examinadora:
Profª. Drª. Angelita da Silveira Moreira (Orientadora)
Doutora em Biotecnologia pela Universidade Federal de Pelotas
Prof. Dr. Eduardo Fontes Henriques
Doutor em Ciências pela Universidade de São Paulo
Profª. Drª. Emilene Becker
Doutora em Química pela Universidade Federal de Santa Maria
Profª. Drª. Leidi Daiana Preichardt
Doutora em Ciência e Tecnologia de Alimentos pela Universidade Federal de
Pelotas
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Dedico,
À minha filha Laura, ao meu esposo Éder, e
aos meus pais Nelson e Rute, com amor.
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Agradecimentos
A Deus, que sempre esteve ao meu lado nessa caminhada.
Ao meu esposo Éder por todo amor e compreensão.
Aos meus pais Nelson e Rute e irmãos Carla e Rogério, meus maiores
incentivadores.
Aos meus sogros, Tise e João, pelo apoio.
À Universidade Federal de Pelotas e ao Departamento de Ciência e Tecnologia
Agroindustrial pela oportunidade de realizar o curso de Pós-Graduação.
À minha orientadora professora Drª. Angelita da Silveira Moreira pelos valiosos
ensinamentos e, sobretudo, pela amizade.
Às professoras Claire Tondo Vendruscolo e Lígia Furlan pela co-orientação.
Aos professores do Departamento de Ciência e Tecnologia Agroindustrial pelos
ensinamentos.
Aos membros da banca pelas contribuições dadas a este trabalho.
Aos colegas e amigos do Laboratório de Biopolímeros pelo auxílio, amizade e apoio.
Aos colegas Melissa, Adriana e Lauri pela compreensão e ajuda sempre que
precisei me ausentar do trabalho.
Aos queridos amigos Graciele Daiana Funck, Joyce Borowski, Michele de Aguiar
Vaz e Santhiago dos Santos Vaz, Ana Rita Carboni Ritter e Rafael Ritter, e à querida
“Vó” Neli Ferreira Pereira, pelas várias estadias e principalmente pela amizade.
A todos que de alguma forma colaboraram para o desenvolvimento deste trabalho.
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“Ser feliz não é ter uma vida perfeita, mas deixar de ser vítima
dos problemas e se tornar o autor da própria história”.
Abraham Lincoln
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Resumo
KLAIC, Paula Michele Abentroth. Parâmetros reológicos e resistência térmica de xantana de Xanthomonas arboricola pv pruni: potencialização por desacetilação, reticulação e troca iônica. 2016. 163f. Tese (Doutorado) – Programa de Pós-Graduação em Ciência e Tecnologia de Alimentos. Universidade Federal de Pelotas, Pelotas, 2016. Xantana é a denominação que recebem os heteropolissacarídeos produzidos por bactérias do gênero Xanthomonas; tem sido denominada xantana pruni as xantanas produzidas pela espécie X. arboricola pv pruni. As xantanas, em geral, são polímeros aniônicos cujas propriedades são afetadas por sua composição química, estrutura terciária e quaternária e massa molecular. Portanto, modificações químicas, qualitativas ou quantitativas, realizadas após fermentação, são uma alternativa para conferir ou modificar as propriedades do polímero. As xantanas pruni naturais foram produzidas for fermentação submersa das cepas 101 e 106 de X. arboricola pv pruni. Para avaliar a influência do pH do processo fermentativo na autodesacetilação da xantana pruni, conduziu-se os processos nos pH7 e pH9, obtendo-se um total de 4 xantanas pruni naturais. O pH alcalino reduziu o grau de acetilação das xantanas em relação às obtidas em pH neutro, sendo a autodesacetilação um processo cepa dependente, resultando em polímeros total e parcialmente desacetilados para as cepas 101 e 106, respectivamente. A autodesacetilação, parcial ou total, aumentou a viscosidade e o ponto de fusão dos polímeros. Para cepa 106 a autodesacetilação diminuiu a perda de massa ao passo que para cepa 101 aumentou, sugerindo menor estabilidade térmica. Objetivando avaliar a influência dos parâmetros reagente, tempo e temperatura no processo de desacetilação termoquímica pós-fermentativa, submeteu-se o polímero com maior teor de acetila (cepa 106 em pH7) à reação de desacetilação utilizando-se dois álcalis (NaOH e NH4OH), duas temperaturas (45 e 65ºC) e dois tempos (3 e 6h). A desacetilação foi mais efetiva utilizando-se o álcali mais forte (NaOH), para o qual os parâmetros tempo e temperatura não foram significantes. Assim, selecionou-se, para aplicação nas xantanas pruni Xp 101 pH7 e Xp 106 pH9 NaOH associado aos menores tempo e temperatura, 3h e 45ºC. A desacetilação termoquímica pós-fermentativa não aumentou a viscosidade das xantanas pruni naturais e diminuiu a estabilidade térmica. Para avaliar a influência dos parâmetros do processo de reticulação mediada por glutaraldeído nas propriedades reológicas e térmicas das xantanas pruni, o trabalho foi desenvolvido em três fases. Na primeira fase avaliou-se a influência da concentração de agente reticulante (0,05%; 0,1%; 0,5% e 1%) e
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do tempo de reação (0,5h; 1h e 2h), à temperatura fixa de 25ºC, utilizando a xantana da cepa 101 produzida em pH9 (totalmente autodesacetilada). Selecionou-se o tempo de 2h, a menor e a maior concentração de reticulante, por proporcionarem maior incremento de viscosidade e resistência térmica, respectivamente. A segunda fase foi conduzida com as demais xantanas pruni naturais e desacetiladas termoquimicamente, utilizando os parâmetros selecionados na fase anterior. Para a terceira fase, estudo da influência da temperatura (45 a 100ºC) selecionou-se a concentração de 1% de agente reticulante. O tratamento a 45ºC resultou no maior incremento da viscosidade, enquanto que o tratamento a 25ºC resultou no maior incremento da resistência térmica. A reticulação foi mais efetiva para as xantanas desacetiladas, resultando em xantanas com viscosidades e viscoelasticidades extremamente elevadas, principalmente as xantanas pruni da cepa 106. Apesar da desacetilação termoquímica pós-fermentativa não ter aumentado a viscosidade das xantanas pruni, é uma modificação química importante, uma vez que possibilitou a obtenção dos polímeros com os maiores incrementos nas propriedades reológicas e térmicas após a reticulação. Finalmente, selecionou-se as xantanas de melhor resultado na reticulação, bem como as respectivas xantanas naturais e desacetiladas e realizou-se a comparação e associação das modificações químicas de desacetilação, reticulação e troca iônica. A troca iônica (substituição dos íons naturalmente presentes por Na+) incrementou os parâmetros reológicos de todas as xantanas naturais e desacetiladas, e aumentou a resistência térmica de todas as amostras, com exceção da xantana Xp 106 pH9 natural, mas, como modificação única, foi relevante apenas para as xantanas pruni naturais. As xantanas desacetiladas reticuladas tiveram seus parâmetros reológicos diminuídos após a troca iônica. Assim, conclui-se que os parâmetros reológicos e resistência térmica das xantanas pruni naturais podem ser incrementados por modificações químicas e que associações de modificações químicas podem ou não serem relevantes a esse respeito.
Palavras Chave: xantana pruni, autodesacetilação; desacetilação termoquímica;
álcali; glutaraldeído;
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Abstract
KLAIC, Paula Michele Abentroth. Rheological parameters and thermal stability of xanthan of Xanhomonas arboricola pv pruni: potentialization by deacetylation, crosslinking and ion exchange. 2016. 163f. Tese (Doutorado) – Programa de Pós-Graduação em Ciência e Tecnologia de Alimentos. Universidade Federal de Pelotas, Pelotas. Xanthan is the name given to the heteropolysaccharides produced by bacteria of the genus Xanthomonas; has been called xanthan pruni xanthans produced by the species X. arboricola pv pruni. Xanthans are anionic polymers whose properties are affected by its chemical composition, tertiary and quaternary structure and molecular weight. Therefore, chemical, qualitative or quantitative changes, made after fermentation, are an alternative to confer or modify the polymer properties. The natural xanthan pruni were produced by submerged fermentation of the strains 101 and 106 of X. arboricola pv pruni. To evaluate the influence of the fermentation process pH in the xanthan pruni self deacetylation, the production was carried out at pH7 and pH9, obtaining a total of 4 natural xanthan pruni.The alkaline pH decreased the degree of acetylation of xanthan, compared to those obtained at neutral pH, being self deacetylation a strain dependent process, resulting in fully and partially deacetylated polymers for strain 101 and 106, respectively. The partial or total self deacetylation increased viscosity and the melting point of the polymers. For strain 106 self deacetylation decreased mass loss whereas for strain 101 increased, suggesting lower thermal stability. To evaluate the parameters reagent, time and temperature of the thermochemical process in the degree of post-fermentation deacetylation, we submitted the polymer with higher acetyl content of the reaction using two alkali (NaOH and NH4OH) two temperatures (45 and 65ºC) and two times (3 and 6h). Deacetylation was more effective using strong alkali (NaOH), to which the time and temperature parameters were not significant. Therefore, the optimum condition selected to application in xanthans pruni Xp 101 pH7 and Xp 106 pH9 was 3h at 45°C and NaOH as deacetylation agent. The deacetylation thermochemical post-fermentation not increase the viscosity of naturals xanthan pruni and decreased their thermal stability. To evaluate the influence of the parameters of the crosslinking process mediated by glutaraldehyde, on the rheological and thermal properties of xanthans pruni strains 101 and 106, the study was conducted in three phases. The first phase assessed the influence of the cross-linker concentration (0.05%, 0.1%, 0.5% and 1%) and reaction time (0.5h, 1h and 2h), at the fixed temperature 25°C using xanthan strain 101 produced at pH 9 (self deacetylated). It was selected the
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time 2h, the lowest and the highest crosslinker concentration per provide greater increment of viscosity and thermal resistance, respectively. The second stage was conducted with all natural and thermochemically deacetylated xanthan pruni, using parameters selected in the previous phase. For the third phase, the temperature influence of the study (45 to 100 °C), we selected the concentration of 1% crosslinker. The treatment at 45°C resulted in the greatest increase in viscosity, whereas treatment at 25°C resulted in the greatest increase in thermal resistance. The crosslinking was more effective for deacetylated xanthan, resulting in xanthans with extremely high viscosity and viscoelasticity, especially for xanthans pruni strain 106. Although the post-fermentation thermochemical deacetylation not increase the viscosity of xanthan pruni, it is an important chemical modification, since it allowed the obtaining of polymers with greater increases in the rheological and thermal properties after crosslinking. Finally, we selected xanthans with best result in crosslinking, as well as their natural and deacetylated xanthan, and performed the comparison and combination of chemical modifications of deacetylation, crosslinking and ion Exchange. Ion exchange (replacement of naturally occurring ions for Na+) increased the rheological parameters of all natural and deacetylated xanthan, increased the thermal resistance of all samples with the exception of natural xanthan Xp 106 pH9, but as the single change was relevant only to the natural xanthan pruni. The crosslinked deacetylated xanthans had their rheological parameters decreased after ion exchange. Thus, it is concluded that the rheological parameters and thermal resistance of natural xanthan pruni can be increased by chemical modification and chemical modification associations may or may not be relevant in this respect.
Key words: xanthan pruni; self deacetylation; deacetylation thermochemical; alkali; glutaraldehyde;
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Lista de Figuras
Figura 1 – Unidade de repetição pentassacarídica da goma xantana adaptado de
Viebke (2004). .......................................................................................... 26
Figura 2 – Representação esquemática resumindo a conformação ordem-desordem
de xantana em solução aquosa apresentada na literatura. Adaptado de
Gulrez et al. (2012). .................................................................................. 28
Figura 3 – Esquema representativo da reação de desacetilação. ............................. 42
Figura 4 – Produção de xantana (g L-1) para as duas cepas nas duas condições de
pH. Médias (n=6) com letras diferentes são significativamente diferentes
pelo teste de Tukey ao nível de 5% de significância. ............................... 59
Figura 5 – Espectros de infravermelho das xantanas pruni naturais, com e sem
autodesacetilação. .................................................................................... 69
Figura 6 – Espectros de infravermelho da xantana pruni Xp 106 pH7 natural e
xantanas modificadas por desacetilação termoquímica pós-fermentativa
com NaOH (A) e NH4OH (B). ................................................................... 71
Figura 7 – Espectros de infravermelho das xantanas pruni: (A) Xp 101 e (B) Xp 106
naturais, desacetiladas termoquimicamente e controles a 45ºC. ............. 72
Figura 8 – Cromatografia de camada delgada comparativa das xantanas: Xp 101
pH7 (1); Xp 101 pH9 (2); Xp 106 pH7 (3); Xp 106 pH9 (4); Xp 101 pH7
DESA (5); Xp 106 pH7 DESA (6); Xp 106 pH9 DESA (7); Xp 101 pH7
controle 45ºC (8); Xp 101 pH9 controle 45ºC (9); Xp 106 pH7 controle
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45ºC (10); e Xp 106 pH9 controle 45ºC (11). Padrões: P1 – Manose (M) e
ácido glicurônico (AG); P2 – Ramnose (R) e glicose (G). Sistema – sílica
gel F254; eluente: clorofórmio:metanol:ácido acético:água (40:40:10:10
v/v/v/v); revelador: anisaldeído sulfúrico. .................................................. 76
Figura 9 – Curvas de viscosidade (mPas) versus taxa de deformação (0,01 a 1000s-
1) a 25ºC de soluções aquosas (1% m/v) da xantana pruni Xp 106 pH7
natural e submetidas ao processo termoquímico com NaOH (A) e NH4OH
(B). ............................................................................................................ 78
Figura 10 – Curvas de viscosidade (mPas) versus taxa de deformação (0,01 a
1000s-1) a 25ºC de soluções aquosas (1% m/v) das xantanas pruni: Xp
101 pH7 natural, controle e desacetilada (A); Xp 101 pH9 natural e
controle (B); Xp 106 pH7 natural, controle e desacetilada (C); Xp 106 pH9
natural, controle e desacetilada (D). ......................................................... 80
Figura 11 - Curvas de viscoelasticidade a 25ºC de soluções a 1% (m/v) das xantanas
Xp 101 pH7 (A), Xp 106 pH7 (B) e Xp 106 pH9 (C) naturais e
desacetiladas, na frequência de 1 a 10Hz ................................................ 83
Figura 12 - Análise de calorimetria exploratória diferencial (DSC) das xantanas pruni
naturais e desacetiladas após fermentação; na faixa de temperatura de 25
a 240ºC com taxa de aquecimento de 10ºC/min. ..................................... 84
Figura 13 - Curvas de análise termogravimétrica (TGA) das xantanas pruni, naturais
e desacetiladas termoquimicamente após fermentação, e seus
respectivos percentuais de perda de massa na faixa de temperatura de 30
a 350ºC, com taxa de aquecimento de 10ºC/min. .................................... 86
Figura 14 – Análise de calorimetria exploratória diferencial (DSC) da xantana Xp 101
pH9 natural e submetida à reticulação durante 2h com concentrações de
glutaraldeído de 0,05 e 1%, e respectivo controle, a 25ºC, na faixa de
temperatura de 25 a 240ºC com taxa de aquecimento de 10ºC/min. ....... 97
Figura 15 - Análise termogravimétrica (DTA/TGA e derivada DrTGA) da xantana Xp
101 pH9 natural e submetida à reticulação durante 2h com concentrações
de glutaraldeído de 0,05 e 1%, e respectivo controle, a 25ºC, na faixa de
temperatura de 30 – 350ºC e taxa de aquecimento de 10ºC/min. ............ 98
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Figura 16 – Curvas de viscosidade (mPas) versus taxa de deformação (0,01-1000s-1)
a 25ºC de soluções aquosas (1% m/v) das xantanas pruni Xp 101 e Xp
106 naturais e desacetiladas na condição ótima. ................................... 100
Figura 17 – Curvas de viscosidade (mPas) versus taxa de deformação (0,01-1000s-1)
a 25ºC de soluções aquosas (1% m/v) das xantanas pruni 101 pH7 (A),
101 pH9 (B), 106 pH7 (C) e 106 pH9 (D) naturais e desacetiladas
submetidas à reticulação com GLU a 0,05 e 1% durante 2h a 25ºC, e
respectivos controles. ............................................................................. 102
Figura 18 – Curvas de viscosidade (mPas) versus taxa de deformação (0,01-1000s-1)
a 25ºC de soluções aquosas (1% m/v) das xantanas pruni 101 pH7 (A),
101 pH9 (B), 106 pH7 (C) e 106 pH9 (D) naturais e desacetiladas
submetidas à reticulação com GLU a 1% durante 2h em três
temperaturas. ......................................................................................... 105
Figura 19 – Viscosidade (mPas) a 25ºC e taxa de deformação de 100s-1 de soluções
aquosas a 1% (m/v) das xantanas Xp 101 pH7 e Xp 106 pH7 e pH9
desacetiladas submetidas à reticulação com GLU a 1% durante 2h em
diferentes temperaturas .......................................................................... 107
Figura 20 – Reação de desacetilação da xantana .................................................. 109
Figura 21 – Representação esquemática da reação de reticulação com a
participação do glutaraldeido entre cadeias de xantana com formação de
estruturas de hemiacetal e acetal. .......................................................... 109
Figura 22 – Análise de calorimetria exploratória diferencial (DSC) da xantana Xp 106
pH7 natural; desacetilada; desacetilada e submetida à reticulação com
1% de GLU por 2h nas temperaturas de 25, 45, 65 e 85ºC; na faixa de
temperatura de 25 a 240ºC com taxa de aquecimento de 10ºC/min ...... 110
Figura 23 - Análise termogravimétrica (DTA/TGA e derivada DrTGA) da xantana Xp
106 pH7 natural; desacetilada; desacetilada e submetida à reticulação
com 1% de GLU por 2h nas temperaturas de 25, 45, 65 e 85ºC; na faixa
de temperatura de 30 – 350ºC e taxa de aquecimento de 10ºC/min. ..... 112
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Figura 24 – Curvas de viscosidade (mPas) versus taxa de deformação (0,01-1000s-1)
a 25ºC de soluções aquosas (1% m/v) das xantanas pruni Xp 106 pH7 (A)
e Xp 106 pH9 (B) naturais; desacetiladas; desacetiladas e submetidas à
reticulação na condição selecionada. ..................................................... 114
Figura 25 – Curvas de viscoelasticidade a 25ºC de soluções a 1% (m/v) das
xantanas Xp 106 pH7 (A) e Xp 106 pH9 (B) naturais; desacetiladas;
desacetiladas e submetidas à reticulação, na frequência de 1 a 10Hz. . 117
Figura 26 - Curvas de viscosidade (mPas) versus taxa de deformação (0,01-1000s-1)
a 25ºC, 45ºC e 65ºC de soluções aquosas (1% m/v) das xantanas pruni
Xp 106 pH7 (A) e Xp 106 pH9 (B) naturais, desacetiladas e reticuladas na
melhor condição. .................................................................................... 119
Figura 27 - Curvas de viscoelasticidade a 25ºC, 45ºC e 65ºC de soluções aquosas
(1% m/v) das xantanas pruni Xp 106 pH7 (A) e Xp 106 pH9 (B), naturais,
desacetiladas e reticuladas na melhor condição; na frequência de 1 a
10Hz. ...................................................................................................... 120
Figura 28 – Análise de calorimetria exploratória diferencial (DSC) das xantanas Xp
106 pH7 (A) e Xp 106 pH9 (B), naturais; desacetiladas; desacetiladas e
submetidas à reticulação, na faixa de temperatura de 25 a 240ºC com
taxa de aquecimento de 10ºC/min. ......................................................... 121
Figura 29 – Análise termogravimétrica (DTA/TGA e derivada DrTGA) das xantanas
pruni Xp 106 pH7 e Xp 106 pH9, naturais, desacetiladas; desacetiladas e
submetidas à reticulação, na faixa de temperatura de 30 – 350ºC e taxa
de aquecimento de 10ºC/min. ................................................................ 122
Figura 30 – Curvas de análise termogravimétrica (TGA) das xantanas pruni Xp 106
pH7 e pH9 naturais; desacetiladas; desacetiladas e submetidas à
reticulação e seus respectivos percentuais de perda de massa na faixa de
temperatura de 30 a 350ºC com taxa de aquecimento de 10ºC/min. ..... 124
Figura 31 – Espectros de infravermelho das xantanas pruni: Xp 106 pH7 (A) e Xp
106 pH9 (B), naturais; desacetiladas; desacetiladas e submetidas à
reticulação; e reticulante GLU (C). ......................................................... 126
14
Figura 32 - Curvas de viscosidade (mPas) versus taxa de deformação (0,01-1000s-1)
a 25ºC de soluções aquosas (1% m/v) das xantanas pruni Xp 106 pH7 (A)
e Xp 106 pH9 (B) naturais, desacetiladas, desacetiladas reticuladas,
naturais submetidas a troca iônica, desacetiladas submetidas a troca
iônica e desacetiladas reticulada submetidas a troca iônica. ................. 136
Figura 33 - Curvas de viscoelasticidade a 25ºC de soluções aquosas (1% m/v) das
xantanas pruni Xp 106 pH7 (A) e Xp 106 pH9 (B) naturais, desacetiladas,
desacetiladas reticuladas, naturais submetidas a troca iônica,
desacetiladas submetidas a troca iônica e desacetiladas reticuladas
submetidas a troca iônica, na frequência de 1 a 10Hz. .......................... 138
Figura 34 - Curvas de análise termogravimétrica (TGA) das xantanas pruni Xp 106
pH7 (A) e Xp 106 pH9 (B) naturais, desacetiladas, desacetiladas
reticuladas, naturais submetidas a troca iônica, desacetiladas submetidas
a troca iônica e desacetiladas reticuladas submetidas a troca iônica com
seus respectivos percentuais de perda de massa na faixa de temperatura
de 30 a 350ºC com taxa de aquecimento de 10ºC/min. ......................... 141
Figura 35 - Análise de calorimetria exploratória diferencial (DSC) das xantanas pruni
Xp 106 pH7 (A) e Xp 106 pH9 (B) naturais, desacetiladas, desacetiladas
reticuladas, naturais submetidas a troca iônica, desacetiladas submetidas
a troca iônica e desacetiladas reticuladas submetidas a troca iônica, na
faixa de temperatura de 25 a 240ºC com taxa de aquecimento de
10ºC/min. ................................................................................................ 143
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Lista de Tabelas
Tabela 1 – Teores de nitrogênio, cinzas, umidade e carboxilas (% p/p) das xantanas
pruni Xp 101 e Xp 106 em duas condições de pH ................................... 60
Tabela 2 – Teor de acetila e piruvato (% p/p) das xantanas pruni Xp 101 e Xp 106
em duas condições de pH. ....................................................................... 62
Tabela 3 – Teores de acetila da xantana pruni natural Xp 106 pH7, usada como
referência, e das modificadas por reação de desacetilação termoquímica
pós-fermentativa em diferentes condições. .............................................. 63
Tabela 4 – Teores de acetila da xantana Xp 101 pH9 natural autodesacetilada e
desacetiladas após fermentação em diferentes condições. ..................... 65
Tabela 5 – Teor de acetila e piruvato (% p/p) das xantanas pruni Xp 101 e Xp 106
naturais, modificadas por reação de desacetilação termoquímica após
fermentação na condição ótima – NaOH, 45ºC e 3h – e respectivos
controles. .................................................................................................. 66
Tabela 6 – Teor de piruvato (% p/p) e grau de recuperação (%) das xantanas
controles produzidas a 25ºC e a 45ºC. ..................................................... 67
Tabela 7 – Teores de sódio, potássio, cálcio e magnésio (mg g-1) e sais
monovalentes (% p/p) das xantanas pruni Xp 101 e Xp 106 naturais e
desacetiladas na condição ótima. ............................................................. 74
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Tabela 8 – Viscosidade (mPas) a 25ºC em diferentes taxas de deformação (s-1), de
soluções aquosas a 1% (m/v) das xantanas pruni Xp 101 e Xp 106 com e
sem autodesacetilação. ............................................................................ 76
Tabela 9 – Parâmetros reológicos, índice de consistência (K) e índice de fluxo (n),
para as soluções a 1% (m/v) das xantanas pruni Xp 101 e Xp 106
naturais, desacetiladas na condição ótima e respectivos controles. ........ 82
Tabela 10 – Parâmetros reológicos índice de consistência (K) e índice de fluxo (n)
obtidos das curvas de viscosidade (mPas) versus taxa de deformação (s-
1) a 25ºC, de soluções aquosas a 1% (m/v) da xantana pruni Xp 101 pH9
natural e submetida à reticulação com diferentes concentrações de GLU e
três tempos de reação. ............................................................................. 95
Tabela 11 – Teor de acetila (% p/p), índice de consistência (K), índice de fluxo (n) e
coeficiente de correlação obtidos das curvas de viscosidade (mPas)
versus taxa de deformação (s-1) a 25ºC, de soluções aquosas a 1% (m/v)
das xantanas pruni Xp 101 e Xp 106 naturais e desacetiladas na condição
ótima. ...................................................................................................... 100
Tabela 12 – Parâmetros reológicos índice de consistência (K) e índice de fluxo (n)
obtidos das curvas de viscosidade (mPas) versus taxa de deformação (s-
1) a 25ºC, de soluções aquosas a 1% (m/v) das xantanas pruni naturais e
desacetiladas submetidas à reticulação com GLU a 0,05 e 1% durante 2h
a 25ºC, e respectivos controles. ............................................................. 101
Tabela 13 – Parâmetros reológicos índice de consistência (K) e índice de fluxo (n)
obtidos das curvas de viscosidade (mPas) versus taxa de deformação (s-
1) a 25ºC, de soluções aquosas a 1% (m/v) das xantanas pruni naturais e
desacetiladas submetidas à reticulação com GLU a 1% durante 2h em
três temperaturas e seus respectivos controles. .................................... 104
Tabela 14 – Parâmetros reológicos índice de consistência (K) e índice de fluxo (n)
obtidos das curvas de viscosidade (mPas) versus taxa de deformação (s-
1) a 25ºC, de soluções aquosas a 1% (m/v) das xantanas Xp 101 pH7 e
Xp 106 pH7 e pH9 desacetiladas submetidas à reticulação com GLU a 1%
durante 2h a 75 e 100ºC......................................................................... 107
17
Tabela 15 – Rendimento (%) da síntese das xantanas pruni Xp 106 pH7 e pH9
desacetiladas, reticuladas na condição ótima selecionada, desacetiladas e
reticuladas e controles. ........................................................................... 113
Tabela 16 – Parâmetros reológicos, índice de consistência (K) e índice de fluxo (n),
obtidos das curvas de viscosidade (mPas) versus taxa de deformação (s-
1) a 25ºC de soluções a 1% (m/v) das xantanas pruni Xp 106 pH7 e pH9
naturais; desacetiladas; desacetiladas e submetidas à reticulação na
condição selecionada. ............................................................................ 115
Tabela 17 –Teor de água (%) nos polímeros intumescidos e grau de intumescimento
(gramas de água/gramas de polímero), para as xantanas pruni Xp 106
pH7 e pH9 naturais; desacetiladas; desacetiladas e submetidas à
reticulação na condição selecionada. ..................................................... 127
18
Sumário
1 Introdução ............................................................................................................. 21
1.2 Hipótese ............................................................................................................. 23
1.3 Objetivos ............................................................................................................ 23
2 Revisão de literatura ............................................................................................ 24
2.1 Xantana .............................................................................................................. 24
2.1.1 Estrutura e conformação ............................................................................... 25
2.1.2 Composição química ..................................................................................... 29
2.1.3 Propriedades e aplicações ............................................................................ 32
2.1.3.1 Propriedades reológicas ............................................................................. 34
2.1.3.2 Propriedades térmicas ................................................................................ 37
2.2 Modificações químicas ..................................................................................... 39
2.2.1 Desacetilação ................................................................................................. 41
2.2.2 Reticulação ..................................................................................................... 44
3 Autodesacetilação e desacetilação pós-fermentativa de xantana de
Xanthomonas arboricola pv pruni ......................................................................... 48
3.1 Introdução .......................................................................................................... 48
3.2 Material e métodos ............................................................................................ 50
3.2.1 Micro-organismos .......................................................................................... 50
3.2.2 Produção das xantanas com e sem autodesacetilação .............................. 50
3.2.3 Reação de desacetilação ............................................................................... 51
3.2.4 Análises físicas e químicas das xantanas naturais e modificadas ............ 53
3.2.4.1 Teores de acetila e piruvato ....................................................................... 53
3.2.4.2 Espectroscopia de infravermelho .............................................................. 55
3.2.4.3 Teores de sódio, potássio, cálcio e magnésio ......................................... 55
19
3.2.4.4 Determinação qualitativa de monossacarídeos e ácidos derivados ...... 56
3.2.4.5 Reometria ..................................................................................................... 57
3.2.4.6 Análise térmica ............................................................................................ 58
3.2.5 Análise estatística .......................................................................................... 58
3.3 Resultados e discussão .................................................................................... 58
3.3.1 Caracterização das xantanas naturais ......................................................... 58
3.3.2 Desacetilação ................................................................................................. 61
3.3.2.1 Autodesacetilação ....................................................................................... 61
3.3.2.2 Desacetilação termoquímica ...................................................................... 63
3.3.3 Caracterização das xantanas modificadas .................................................. 66
3.3.3.1 Teores de acetila e piruvato ....................................................................... 66
3.3.3.2 Espectroscopia de infravermelho .............................................................. 68
3.3.3.3 Sódio, potássio, cálcio e magnésio ........................................................... 73
3.3.3.4 Determinação qualitativa de monossacarídeos e ácidos derivados ...... 75
3.3.3.5 Reometria ..................................................................................................... 76
3.3.3.6 Análise térmica ............................................................................................ 84
3.4 Conclusões ........................................................................................................ 87
4 Modificação química de xantana pruni por reticulação parcial mediada por
glutaraldeído: efeito da desacetilação e parâmetros reacionais ........................ 88
4.1 Introdução .......................................................................................................... 88
4.2 Material e métodos ............................................................................................ 89
4.2.1 Xantanas ......................................................................................................... 89
4.2.2 Reticulação ..................................................................................................... 90
4.2.3 Rendimento da síntese das xantanas reticuladas ....................................... 91
4.2.4 Reometria ........................................................................................................ 92
4.2.5 Análise térmica ............................................................................................... 93
4.2.6 Espectroscopia de infravermelho ................................................................. 93
4.2.7 Grau de intumescimento e teor de absorção de água ................................ 93
4.2.8 Teste de dissolução ....................................................................................... 94
4.3 Resultados e discussão .................................................................................... 94
4.3.1 Influência da concentração de agente reticulante e do tempo de reação na
viscosidade e resistência térmica das xantanas reticuladas .............................. 94
4.3.2 Influência da xantana e da temperatura da reação na viscosidade e
resistência térmica das xantanas reticuladas .................................................... 103
20
4.3.2.1 Avaliação dos polímeros de melhor resultado na reticulação .............. 113
4.4 Conclusões ...................................................................................................... 130
5 Associação de modificações químicas em xantana pruni: desacetilação,
reticulação e troca iônica ..................................................................................... 131
5.1 Introdução ........................................................................................................ 131
5.2 Material e Métodos .......................................................................................... 133
5.2.1 Materiais ........................................................................................................ 133
5.2.2 Modificação química das xantanas............................................................. 133
5.2.3 Reometria ...................................................................................................... 134
5.2.4 Análise térmica ............................................................................................. 135
5.3 Resultados e Discussão ................................................................................. 135
5.4 Conclusões ...................................................................................................... 144
Conclusões Gerais ................................................................................................ 145
Referências ............................................................................................................ 147
21
1 Introdução
Cientificamente e tecnologicamente o polissacarídeo extracelular produzido
por bactérias do gênero Xanthomonas é denominado xantana (BECKER et al., 1998;
SHAMA, GAUTAM, WADHAWAN, 2014). Comercialmente, a xantana é produzida
por cepas da bactéria fitopatogênica Xanthomonas campestris pv campestris
(JANSSON; KENNE; LINDBERG, 1975; GALINDO, 1994; ROSS-MURPHY;
MORRIS; MORRIS, 1983). Apresenta amplas possibilidades de aplicação devido às
suas propriedades reológicas (BECKER et al., 1998), sendo utilizada como
espessante, agente suspensivo e estabilizador de emulsões (BECKER et al., 1998;
KATZBAUER, 1998; VUYST; LOO; VANDAMME, 1987). É especialmente atrativa
para a indústria farmacêutica, de alimentos e exploração de petróleo por sua
capacidade de formar soluções viscosas, pseudoplásticas e estáveis frente a
diversas condições de temperatura, pH e concentração iônica, mesmo em baixas
concentrações (MCNELLY; KANG, 1973; ROSALAM; ENGLAND, 2006). Em
alimentos, xantanas de alta viscosidade têm sido utilizadas como espessante,
gelificante e estabilizante em produtos que necessitam manter uma consistência
firme; xantanas de baixa viscosidade tem sido utilizada como estabilizante de sucos
e néctares (KATZBAUER, 1998).
As propriedades exibidas pela xantana são determinadas por sua composição
química, tipos de ligação, conformação e massa molecular (CASAS; SANTOS;
GARCÍA-OCHOA et al., 2000; CHALLEN, 1994; BORGES et al., 2008; MOREIRA et
al. 2001). Essas características podem ser diferentes entre espécies, patovares ou
cepas, além de serem provocadas por mudanças nas condições de crescimento e
parâmetros do processo fermentativo (BORGES et al., 2009a; BORN;
LANGENDORFF; BOULENGUER, 2002; GARCÍA-OCHOA et al., 2000; MOREIRA,
2002; PAPAGIANNI et al., 2001). Além de modificações no processo, empregando
22
diferentes meios e condições operacionais e selecionando a cepa indicada, para
produção de polímeros com as qualidades desejadas, uma ferramenta para
elaboração de xantanas com propriedades diferenciadas pode ser a modificação
química pós-fermentativa, quantitativa ou qualitativa, realizada durante os processos
de recuperação ou no produto depois de elaborado (BORN; LANGENDORFF;
BOULENGUER, 2002; KLAIC, 2010).
A modificação química de polissacarídeos busca alterar controladamente
suas propriedades e conferir-lhes aplicações mais amplas. Essas modificações
podem resultar em polímeros de alta viscosidade, promover melhoras na
estabilidade e resistência térmica e aumentar a compatibilidade da xantana com
outras gomas e aditivos alimentares.
Dentre as modificações químicas possíveis podemos destacar a
desacetilação, a reticulação e a troca iônica. A desacetilação consiste na remoção
parcial ou total dos ligantes acetila, normalmente por reação termoquímica em álcali
diluído (JEANES; SLONEKER, 1961), contudo não existe um consenso sobre a
influência desses ligantes nas propriedades da xantana. Já a formação de ligações
cruzadas ou reticulação (crosslinking), vem sendo estudada em diversas gomas,
incluindo a xantana, e associações de xantana com outros polímeros (BEJENARIU
et al., 2008; BEJENARIU et al., 2009; SHALVIRI et al., 2010; TAKO; NAKAMURA,
1985). Sua contribuição na formação de uma rede de gel e no incremento da
resistência térmica em polissacarídeos está bem estabelecida (BEJENARIU et al.,
2009; GLIKO-KABIR; PENHASI; RUBENSTEIN,1999; LINDBLAD; ALBERTSSON,
2004; TAKO; NAKAMURA, 1985). A troca iônica busca alterar controladamente o
balanço iônico na molécula, facilitando ligações intra e intermoleculares,
aumentando a viscosidade dos polímeros e melhorando a estabilidade da
conformação ordenada (KLAIC et al., 2016; MOHAMMED et al., 2007).
Baseado nisso, busca-se através deste estudo avaliar os processos de
autodesacetilação e desacetilação termoquímica pós-fermentativa de xantana
sintetizada pelas cepas 101 e 106 de X. arboricola pv pruni, os parâmetros da
reação de reticulação mediada por glutaraldeído e a associação dessas
modificações com a troca iônica; objetivando-se potencializar as propriedades
reológicas da xantana pruni, principalmente elevando sua viscosidade e resistência
térmica.
23
1.2 Hipótese
A modificação química por desacetilação, reticulação e troca iônica da
xantana pruni potencializa suas propriedades reológicas e melhora sua resistência
térmica.
1.3 Objetivos
a) Avaliar a influência do pH do processo fermentativo na autodesacetilação e
a influência dos parâmetros do processo termoquímico no grau de desacetilação
pós-fermentativa.
b) Avaliar a influência dos substituintes acetila nas propriedades reológicas e
térmicas das xantanas pruni produzidas pelas cepas 101 e 106.
c) Avaliar a influência do teor de substituintes acetila e dos parâmetros do
processo de reticulação mediada por glutaraldeído (concentração de reticulante;
tempo e temperatura) nas propriedades reológicas e térmicas da xantana pruni das
cepas 101 e 106 naturais e desacetiladas após fermentação.
d) Avaliar a influência da modificação química por troca-iônica nas
propriedades reológicas e térmicas das xantanas pruni de melhor resposta na
reticulação e respectivas xantanas naturais e desacetiladas.
24
2 Revisão de literatura
2.1 Xantana
Para propósitos industriais, novos polissacarídeos vêm sendo produzidos por
bactérias. Polissacarídeos extracelulares são produzidos em larga escala pela usual
técnica de fermentação que permite um bom controle das características do
polímero, além disso, a purificação desses polissacarídeos é mais fácil do que de
outras fontes naturais (GEREMIA; RINAUDO, 2004).
O polímero extracelular produzido por bactérias do gênero Xanthomonas,
através de processo fermentativo, é comercialmente denominado xantana
(JANSSON; KENNE; LINDBERG, 1975). Trata-se de um polissacarídeo de alta
massa molecular e, devido à presença de ácido glicurônico e pirúvico na cadeia
lateral, é considerado um polieletrólito aniônico (RICHARDSON; ROSS MURPHY,
1987).
Nos anos 50 o departamento de agricultura dos Estados Unidos realizou um
extensivo estudo em sua coleção de culturas para produção de gomas solúveis em
água que tivessem uma possível importância comercial. Durante a pesquisa, dentre
os polissacarídeos biossintetizados, a xantana apresentou as propriedades mais
interessantes para competir com outras gomas naturais e sintéticas (BORN;
LANGENDORFF; BOULENGUER, 2002; MCNEELY; KANG, 1973). A produção em
escala piloto teve início em 1960 e sua produção industrial em 1964 (MCNEELY;
KANG, 1973; ROSALAM; ENGLAND, 2006), porém com aprovação para utilização
em alimentos no Brasil em 1965 (BRASIL, 1965) e pelo FDA (Food and Drug
Administration) apenas em 1969 (ROCKS, 1971). Apesar dos sistemáticos esforços
empreendidos nas últimas décadas na descoberta de novos polímeros microbianos,
25
a xantana, desde a sua descoberta, nos anos 50, continua sendo considerada o
biopolímero mais versátil e completo, liderando o mercado das “gomas”
(SYNDICATE, 2016).
Dentre as numerosas e distintas espécies e patovares do gênero
Xanthomonas, a xantana comercial é produzida por X. campestris pv campestris
(BECKER et al., 1998; CHALLEN, 1994; JANSSON; KENNE; LINDBERG, 1975;
ROCKS, 1971). Porém, extensivos estudos de produção da goma pela espécie
arboricola pv pruni, anteriormente classificada como X. campestris pv pruni, vêm
sendo realizados por pesquisadores do Núcleo de Biotecnologia do Centro de
Desenvolvimento Tecnológico da Universidade Federal de Pelotas (Pelotas/RS –
Brasil) (ANTUNES, 2000; BORGES et al., 2008; BORGES et al., 2009a; BORGES et
al., 2009b; BOROWSKI, 2011; KLAIC, 2010; MOREIRA et al. 2001; MOREIRA,
2002; PREICHARDT, 2009; RODRIGUES, 2010; VENDRUSCOLO et al., 2000),
incluindo estudos de genotoxicidade do polímero (RODRIGUES, 2010), mostrando
grande potencial de produção e comercialização.
2.1.1 Estrutura e conformação
A xantana comercial possui uma cadeia principal linear celulósica formada por
duas unidades de glicose unidas por ligações do tipo β1→4. Resíduos alternados da
cadeia principal são substituídos em C (3) com uma cadeia lateral trissacarídica,
formando uma sequência de repetidas unidades pentassacarídicas. A cadeia lateral
trissacarídica é composta por duas unidades de D-manose alternadas pelo ácido D-
glicurônico. São verificadas também, variável substituição não-estequiométrica de O-
acetato em C (6) na manose interna, e resíduos de ácido pirúvico, ligados nas
posições 4 e 6, em aproximadamente metade da D-manose terminal externa
(CADMUS et al. 1976; JANSSON; KENNE; LINDBERG, 1975; SLONEKER,
JEANES, 1962; MELTO; MINDT; REES; SANDERSON, 1976). Isto torna a goma
xantana um polieletrólito aniônico ramificado (VIEBKE, 2004; RICHARDSON; ROSS
MURPHY, 1987). A figura 1 representa a estrutura da unidade polimérica da
xantana.
26
Figura 1 – Unidade de repetição pentassacarídica da goma xantana adaptado de Viebke (2004).
A molécula da xantana é classificada como regular, exceto nas cadeias
laterais, que apresentam variações na quantidade e posição de substituintes, o que
confere certa irregularidade à estrutura da molécula (BORN; LANGENDORFF;
BOULENGUER, 2002). O grau de substituição de acetila e ácido pirúvico depende
das condições de fermentação e da espécie da bactéria, patovar ou cepa (BORN;
LANGENDORFF; BOULENGUER, 2002; MILAS; RINAUDO, 1984), sendo definido
como a fração do respectivo sítio substituído. Normalmente, devido a alcalinidade
dos meios de produção, os resíduos ácidos encontram-se neutralizados por
contraíons salinos, como Na+ e K+, principalmente, e Ca++ e Mg++, em menor
proporção. Por isso, costuma-se denominar o substituinte pirúvico como piruvato
(MCNEELY; KANG, 1973). Ainda, uma amostra de goma xantana com piruvato = 0,5
tem uma média de 1,5 grupos carboxílicos por unidade de repetição
pentassacarídica (MORRIS et al., 1977).
A goma xantana apresenta massa molar de aproximadamente 1MDa ou entre
4 e 12x106 g.mol-1 (BORN; LANGENDORFF; BOULENGUER, 2002). De acordo com
Sutherland (2001b), as propriedades físicas de qualquer exopolissacarídeo
microbiano dependem de suas estruturas primária, secundária e terciária. A
estrutura ramificada da xantana e sua conformação rígida explicam as propriedades
reológicas superiores da xantana quando comparada a outros polissacarídeos
(DESPLANQUES et al., 2014). A presença da cadeia lateral torna o polímero
solúvel, pois promove desordem conformacional (SUTHERLAND, 2001b), e a
27
estrutura terciária confere alta viscosidade às soluções do polímero (GALINDO,
1994; MORRIS, 1984).
A estrutura secundária depende das condições em que a molécula é
caracterizada (BORN; LANGENDORFF; BOULENGUER, 2002). A molécula
ordenada de xantana pode sofrer uma transição conformacional em aquecimento. A
transição de ordem-desordem é controlada pela temperatura (MILAS; RINAUDO,
1979; MORRIS et al., 1977; NORTON et al., 1984; VIEBKE; WILLIAMS, 2000) e é
reversível, sendo o estado original (ordenado) parcialmente recuperado pelo
resfriamento; nesse estado a xantana é denominada renaturada (BORN;
LANGENDORFF; BOULENGUER, 2002; VIEBKE; WILLIAMS, 2000). No estado
sólido a xantana adota uma conformação helicoidal simples, tendo uma simetria
quíntupla (MOORHOUSE; WALKINSHAW; ARNOTT, 1977), e em solução aquosa,
tanto na forma nativa quanto renaturada, apresenta uma estrutura secundária
ordenada de dupla hélice (BORN; LANGENDORFF; BOULENGUER, 2002;
CAPRON; BRIGAND; MULLER, 1997; GULREZ et al., 2012; MORRIS et al., 1977).
A hélice é estabilizada por ligações não covalentes, tais como ligações de
hidrogênio, interações eletrostáticas e efeitos estéricos (BORN; LANGENDORFF;
BOULENGUER, 2002). Segundo Gulrez et al. (2012), a conformação ordenada da
forma renaturada parece ter dupla hélice parcialmente fundida e é mais flexível que
a forma nativa perfeitamente ordenada (Figura 2).
A molécula de xantana passa para um estado de conformação desordenada
quando a solução aquosa é submetida à aquecimento acima da temperatura de
transição conformacional (Tm) (GULREZ et al.,2012; MILAS; RINAUDO, 1986;
MILAS; RINAUDO, 1979; MORRIS et al., 1977; NORTON et al., 1984). A
temperatura de transição é dependente da força iônica do meio em que a xantana foi
dissolvida (BORN; LANGENDORFF; BOULENGUER, 2002; VIEBKE; WILLIAMS,
2000), podendo ser superior a 100ºC com o aumento da força iônica; além de ser
influenciada pelos substituintes acetila (ou acetato) e piruvato (SMITH et al., 1981;
SUTHERLAND, 2001b). Os grupos acetila tendem a estabilizar a forma ordenada,
possivelmente pela promoção de associações da cadeia lateral com a cadeia
principal através de ligações de hidrogênio; já os grupos piruvato tendem a favorecer
a forma desordenada devido à minimização das repulsões eletrostáticas (VIEBKE,
2004).
28
Figura 2 – Representação esquemática resumindo a conformação ordem-desordem de xantana em
solução aquosa apresentada na literatura. Adaptado de Gulrez et al. (2012).
Segundo Morris et al. (1977), a desordem conformacional leva a um forte
decréscimo nas propriedades reológicas da xantana, como a viscosidade. Já para
Milas e Rinaudo (1986), a viscosidade diminui quando a xantana se encontra no
estado desordenado, porém permanece semelhante a xantana ordenada nativa.
Mas há consenso entre os autores de que ocorre um incremento na viscosidade da
xantana renaturada após o resfriamento abaixo da Tm. Em estudo realizado por
Gulrez e colaboradores (2012), os pesquisadores observaram que o aquecimento da
solução de xantana (85ºC por 2h) leva a desordem da molécula que passa de dupla
hélice para cadeia simples, com diminuição da massa molar (Figura 2); e que, após
aquecimento prolongado (2h a 4h) a 120ºC, ocorre a degradação da xantana.
Diminuição no tamanho molecular e correspondente diminuição na viscosidade da
solução demonstram que a variação na massa molar é associada a mudanças na
conformação (CAPRON; BRIGAND; MULLER, 1997).
29
Segundo Lijima et al. (2007), montagens moleculares em grande escala são
formadas quando o biopolímero é dissolvido em água à temperatura ambiente,
atuando como dispersão coloidal. Por outro lado, quando o polímero é aquecido a
40ºC por 24h uma estrutura homogênea é formada devido a uma mudança estrutural
em meio aquoso. Durante o aquecimento, as montagens moleculares iniciais se
decompõem, e as cadeias moleculares começam a se reorganizar com o decorrer
do tempo e o sistema atinge a homogeneidade. Após o resfriamento de soluções
homogêneas, assim obtidas, formam-se géis firmes devido a uma estrutura de rede
(anelamento) observada nessas soluções de xantana.
Uma estrutura altamente organizada é desenvolvida em soluções de xantana
como resultado do anelamento. A temperatura de anelamento conduz a um aumento
na dimensão das zonas de junção e do módulo elástico dos géis formados após o
resfriamento das soluções (QUINN et al., 1994; YOSHIDA et al., 1998). De acordo
com Iseki et al. (2001), a mudança na viscoelasticidade durante o anelamento da
solução e resfriamento até a temperatura de gelatinização é uma função do tempo e
temperatura de anelamento. Em seu estudo observaram que o módulo de
armazenamento ou elástico (G‟) aumenta com o aumento do tempo e da
temperatura de anelamento. Resultados semelhantes foram encontrados por
Fujiwara et al. (2000) ao estudar a influência do tempo de anelamento realizando o
processo a 40ºC.
A viscosidade de um polímero está diretamente relacionada às propriedades
moleculares fundamentais (conformação molecular, massa molecular e sua
distribuição, interações intramoleculares e intermoleculares). Já as propriedades
viscoelásticas estão relacionadas à organização supramolecular (LEFEBVRE;
DOUBLIER, 2004).
2.1.2 Composição química
Os exopolissacarídeos sintetizados por micro-organismos variam muito em
sua composição. Polissacarídeos bacterianos extracelulares possuem uma ampla
gama de monossacarídeos, sendo comumente encontrados a D-glicose, D-
30
galactose e D-manose; além de conter metil hexoses ou metil pentoses, como L-
fucose e L-ramnose e ácidos derivados dos açúcares, dos quais o D-glicurônico e D-
galacturônico são os mais comuns. Entre os substituintes não carboidratos de
polissacarídeos bacterianos encontramos acetato e piruvato (SUTHERLAND, 2002).
Em função da extensa gama de micro-organismos produtores e da influência
desses na composição química da xantana, estudos relacionados ao tema vêm
sendo desenvolvidos desde sua descoberta. Tanto a espécie, patovar ou cepa do
micro-organismo utilizado quanto o meio de produção e as condições operacionais
do processo fermentativo influenciam na composição química do polímero
(CADMUS et al., 1978; GARCÍA-OCHOA et al., 2000) e, consequentemente, nas
propriedades da goma.
A composição de açúcares de várias espécies do gênero Xanthomonas foi
estudada por Orentas, Sloneker e Jeanes (1963), que verificaram a presença de
glicose, manose e ácido glicurônico na grande maioria das espécies avaliadas, com
exceção de Xanthomonas vesicatoria, que possui galactose em sua composição em
substituição à manose. A xantana produzida por X. arboricola pv pruni, conhecida
como xantana pruni, difere das xantanas comerciais, produzidas por X. campestris
pv campestris, pela presença de ramnose. Diversos estudos demonstraram que
todos os polímeros produzidos por X. arboricola pv pruni são compostos por glicose,
manose, ácido glicurônico e ramnose (BORGES 2008; KLAIC, 2010; MOREIRA et
al. 2001; RODRIGUES, 2010; VENDRUSCOLO et al., 2000).
Estudos têm mostrado que ocorrem maiores variações quantitativas do que
qualitativas com relação aos substituintes acetila e piruvato. As variações nas
quantidades destes substituintes dependem particularmente da cepa utilizada para a
produção da xantana (BORN; LANGENDORFF; BOULENGUER, 2002; CADMUS et
al., 1976; CADMUS et al., 1978), porém também ocorrem em função das condições
de fermentação (BORN; LANGENDORFF; BOULENGUER, 2002; BORGES et al.,
2009a; CADMUS et al., 1978; CASAS; SANTOS; GARCÍA-OCHOA, 2000;
PAPAGIANNI et al., 2001; PSOMAS; LIAKOPOULOU-KYRIAKIDES; KYRIAKIDIS,
2007; TAIT; SUTHERLAND; CLARKE-STURMAN, 1986). Xantanas produzidas por
diferentes espécies possuem piruvato em sua composição variando de 1,0 a 7,4%
(ALVES-GAUTÉRIO, 2012; GARCÍA-OCHOA et al., 2000; ORENTAS; SLONEKER;
JEANES, 1963; BORGES et al. 2009a), com teor médio de aproximadamente 3,0%
31
(MCNEELY; KANG, 1973; ROCKS, 1971). Em estudo realizado por Tait, Sutherland
e Clarke-Sturman (1986), em diferentes meios de cultura e diferentes tempos de
fermentação, foram encontrados teores de acetila variando de 1,9 a 4,5%, mas
valores de até 10,0% já foram relatados (GARCÍA-OCHOA et al. 2000). Para
xantana comercial estima-se um conteúdo médio de 4,7% de acetil (JEANES;
SLONEKER, 1961; MCNEELY; KANG, 1973; ROCKS, 1971).
Um conteúdo maior de acetil pode ser obtido quando o processo de
fermentação é conduzido em condições ácidas (pH5 e pH livre) enquanto maiores
teores de piruvato podem ser obtidos em pH neutro (ALVES-GAUTÉRIO, 2012;
BORGES et al., 2009a; KLAIC, 2010). Quando o processo fermentativo é conduzido
em condições alcalinas (pH9 ou acima) a goma xantana sofre desacetilação
(MCNEELY; KANG, 1973; BORGES et al., 2009a; KLAIC, 2010). Os substituintes
também podem ser influenciados pelos processos pós-fermentativos, como, por
exemplo, a aplicação de tratamento térmico que, em estudo realizado por Borges et
al. (2009a) resultou na degradação parcial do substituinte piruvato.
O teor de sais monovalentes estimado para amostras comerciais de xantana
é de 3,6 a 14,3%, enquanto de sais bivalentes está entre 0,085 e 0,17% (GARCÍA-
OCHOA et al., 2000). A presença de eletrólitos eleva a temperatura de transição de
ordem-desordem da molécula de xantana (CAPRON; BRIGAND; MULLER, 1997;
CLARKE-STURMAN; PEDLEY; STURLA, 1986; XIE; LECOURTIER, 1992),
tornando-a termicamente mais estável (KIERULF; SUTHERLAND, 1988; ROCKS,
1971; SUTHERLAND, 2001b; XIE; LECOURTIER, 1992). Borges et al. (2009b)
observaram que amostras de xantana que possuíam um teor de sais divalentes
superior apresentaram menor queda na viscosidade com o aumento da temperatura.
Ross-Murphy, Morris e Morris (1983) e Klaic et al. (2016) mostraram que a
viscosidade e o comportamento da xantana são substancialmente afetados pela
natureza e quantidade dos cátions associados.
32
2.1.3 Propriedades e aplicações
Uma das principais propriedades apresentadas pela goma xantana é a
capacidade de formar soluções altamente viscosas, mesmo quando utilizada em
baixas concentrações (BORN; LANGENDORFF; BOULENGUER, 2002; GALINDO,
1994; GARCÍA-OCHOA et al., 2000; MCNEELY; KANG, 1973; ROCKS, 1971).
Devido a essa propriedade a xantana é extensivamente utilizada em indústrias
alimentares e não alimentares (BECKER et al., 1998; BURDOCK, 1997). Essa
característica proporciona grande vantagem de utilização em alimentos, pois a
concentração necessária para conferir as propriedades desejadas é pequena, não
afetando o sabor do produto final (ROSALAM; ENGLAND, 2006).
A presença da cadeia lateral e a natureza polieletrolítica da xantana fazem
com que esta seja solúvel tanto em água quente quanto em água fria (BORN;
LANGENDORFF; BOULENGUER, 2002; CHALLEN, 1994; GARCÍA-OCHOA et al.,
2000; SUTHERLAND, 2001b). Assim como a pectina, quando associada a açúcares
de rápida dissolução, tem sua própria dissolução facilitada, permitindo a sua
utilização em misturas secas para posterior aplicação em produtos como molhos,
recheios e sobremesas, devido ao fato de dissolver-se mais facilmente,
proporcionando rápido incremento da viscosidade (BORN; LANGENDORFF;
BOULENGUER, 2002; KATZBAUER, 1998).
A propriedade pseudoplástica da xantana traz benefícios para indústria de
alimentos, uma vez que a viscosidade das soluções decresce com o aumento da
taxa de cisalhamento (GARCÍA-OCHOA et al., 2000; MCNELLY; KANG, 1973),
facilitando a mistura, o bombeamento e a capacidade de escoamento em tubulações
(KATZBAUER, 1998). Segundo Challen (1994), essa propriedade também auxilia na
liberação de sabor pelos alimentos e proporciona sensação não gomosa ao
mastigar, reforçando assim as qualidades sensoriais dos alimentos.
As capacidades gelificante, de manter partículas em suspensão e estabilizar
emulsões também garantem ampla gama de aplicações à xantana (BECKER et al.,
1998; CHALLEN, 1994; KATZBAUER, 1998). Assim, é utilizada para conferir
consistência em xaropes e coberturas de chocolate; estabilizar e suspender polpas
de frutas em bebidas por um longo período (BORN; LANGENDORFF;
33
BOULENGUER, 2002; KATZBAUER, 1998); melhorar a estabilidade de alimentos
congelados através da ligação da água livre, evitando a comum sinérese
(KATZBAUER, 1998); garantir a retenção de ar e estabilizar emulsões ao prevenir a
coalescência das micelas, em produtos como sorvetes e mousses (CHALLEN,
1994); adicionar corpo em géis de frutas, além de proporcionar viscosidade a molhos
utilizados em pizza, inibindo sua absorção pela massa (PRADELLA, 2006).
A solução de xantana é estável em ampla faixa de pH, tanto ácido quanto
alcalino (BORN; LANGENDORFF; BOULENGUER, 2002; CHALLEN, 1994;
GALINDO, 1994; MCNEELY; KANG, 1973). Segundo Challen (1994), a viscosidade
permanece praticamente inalterada na faixa de pH de 1,5 a 11, sendo as maiores
viscosidades alcançadas entre pH6 e 8. Apesar da estabilidade até pH11, acima de
pH9 o polímero sofre desacetilação (BORN; LANGENDORFF; BOULENGUER,
2002; MCNEELY; KANG, 1973). A estabilidade frente ao pH faz com que a xantana
possa ser aplicada em alimentos ácidos como sucos de frutas, molhos para salada
etc., além de favorecer o desenvolvimento de produtos cuja viscosidade não será
alterada por mudanças no pH em função da adição de novos ingredientes
(CHALLEN, 1994; KATZBAUER, 1998).
Além disso, é compatível com vários sais de diferentes forças iônicas e em
concentrações relativamente elevadas (BORN; LANGENDORFF; BOULENGUER,
2002; CHALLEN, 1994; GALINDO, 1994; MCNEELY; KANG, 1973; ROCKS, 1971;
SUTHERLAND, 2001b; XIE; LECOURTIER, 1992). Muitos alimentos possuem sal
em sua formulação, por razões de sabor ou conservação, e o benefício da
estabilidade na viscosidade para sua aplicação é evidente (CHALLEN, 1994;
ROCKS, 1971). Segundo Borges et al. (2009a), McNeely e Kang (1973), Kierulf e
Sutherland (1988), Rocks (1971) e Xie e Lecourtier (1992), a presença de sais
também aumenta a já elevada e notável estabilidade térmica das soluções de
xantana.
Dentre outras importantes aplicações da xantana pode-se destacar seu uso
na indústria petrolífera como viscosificante em fluidos de perfuração de poços de
petróleo (NAVARRETE; SEHEULT; COFFEY, 2000), e também seu uso na
recuperação terciária de petróleo (VUYST; LOO E VANDAMME, 1987); isto porque,
além de possuir excelente capacidade espessante e suspensiva, é bastante
pseudoplástica, pouco tixotrópica (não sujeita à degradação por cisalhamento)
34
(NAVARRETE; SEHEULT; COFFEY, 2000), tem excelente compatibilidade com sais
e é resistente a degradação por temperaturas elevadas (MCNEELY; KANG, 1973;
NAVARRETE; SEHEULT; COFFEY, 2000; ROSALAM; ENGLAND, 2006). Todas
essas características são propriedades essenciais que os polímeros devem
apresentar para garantir fácil injeção, estabilizar as paredes dos poços e manter os
cascalhos em suspensão, facilitando sua remoção (THOMAS, 2004).
Também destaca-se sua aplicação na utilização em produtos farmacêuticos,
impedindo a separação de ingredientes não solúveis em emulsões e suspensões
(BORN; LANGENDORFF; BOULENGUER, 2002; KATZBAUER, 1998). Essa
utilização só é possível graças a não toxicidade do polímero e a compatibilidade com
inúmeras drogas (PARFITT, 1999). Também é utilizada em produtos de higiene e
cosméticos, devido a sua pseudoplasticidade, que proporciona suavidade e maciez
em géis, cremes e xampus (BORN; LANGENDORFF; BOULENGUER, 2002;
KATZBAUER, 1998).
2.1.3.1 Propriedades reológicas
Reologia é a ciência que estuda o fluxo (escoamento) e a deformação da
matéria (STEFFE, 1996). A base das propriedades funcionais apresentadas por
polissacarídeos é a sua capacidade de modificar extensivamente a reologia de
meios aquosos nos quais são inseridos, portanto, a caracterização reológica é
essencial para avaliar as potenciais aplicações de um polissacarídeo em sua forma
natural ou subsequentemente modificado (LEFEBVRE; DOUBLIER, 2004). Sendo
assim, têm-se um indicador da qualidade do polímero por meio da análise reológica,
ou seja, de análises de viscosidade e viscoelasticidade frente a diversos parâmetros
como concentração, tempo e temperatura (MARCOTTE; HOSHAHILI;
RAMASWAMY, 2001).
Os sistemas de xantana podem ser soluções pseudoplásticas ou, ainda,
formarem géis dependendo da concentração do polímero e das condições de meio
(BORN; LANGENDORFF; BOULENGUER, 2002). Segundo Lefebvre e Doublier
(2004) a reologia nos permite investigar a estrutura dos sistemas em diferentes
35
escalas, em condições onde outros métodos físicos são impossíveis ou difíceis de
serem utilizados; sendo considerada uma técnica especialmente útil para monitorar
e investigar mudanças estruturais nos sistemas, como a gelificação.
Todos os alimentos possuem curvas de escoamento únicas e essa
informação é muito útil para um grande número de aplicações industriais (STEFFE,
1996). A pseudoplasticidade é verificada pela mudança na viscosidade aparente
quando diferentes tensões de cisalhamento são aplicadas; quanto maior a taxa de
cisalhamento menor a viscosidade, sendo este um processo reversível (CHALLEN,
1994; GARCÍA-OCHOA et al. 2000; KATZBAUER, 1998; MCNEELY; KANG, 1973;
STEFFE, 1996). O comportamento pseudoplástico das soluções de xantana pode
ser explicado com base na sua massa molecular elevada e nas interações
intramoleculares, formando agregados complexos por meio de ligações de
hidrogênio e entrelaçamento do polímero. A alta viscosidade em baixa taxa de
cisalhamento é atribuída a esses agregados (JEANES; PITTSLEY; SENTI, 1961).
Do ponto de vista da engenharia, a curva de fluxo constante é o meio mais
valioso para caracterizar o comportamento reológico de fluidos, entretanto, muitos
fenômenos não podem ser descritos em função apenas da viscosidade, e o
comportamento elástico deve ser levado em consideração (STEFFE, 1996). Géis
fracos de biopolímeros são frequentemente utilizados em alimentos. Medidas
reológicas dinâmicas, realizadas em baixa tensão no domínio linear são úteis para
caracterizar as propriedades de rede, por exemplo, gelificação, envelhecimento e
recuperação mecânica após o cisalhamento (MICHONA et al., 2004).
Soluções diluídas, concentradas e géis apresentam comportamentos
distintos. Em soluções diluídas, G” (módulo de perda ou viscoso) é maior que G‟
(módulo de armazenamento ou elástico); já para soluções concentradas ocorre
interceptação de G‟‟ e G‟ no decorrer da faixa de frequência, demostrando
claramente a tendência de comportamento semelhante a sólido a altas frequências;
e, G‟ é significativamente maior que G” em toda a faixa de frequência para gel
(STEFFE, 1996). Segundo Lefebvre e Doublier (2004), as propriedades
viscoelásticas estão relacionadas à organização supramolecular.
A determinação do comportamento reológico da xantana pode ser feita
utilizando-se viscosímetros, através da aplicação de uma taxa de cisalhamento e
medição do estresse de deformação ou viscosidade; tratam-se de equipamentos
36
mais simples. Podem ainda ser utilizados reômetros, equipamentos mais
sofisticados, com taxa de cisalhamento e estresse de deformação controlados para
medir a viscosidade e a viscoelasticidade dinâmica ou fluxo (BORN;
LANGENDORFF; BOULENGUER, 2002).
As propriedades reológicas da xantana são influenciadas pelo meio de
produção, condições operacionais e micro-organismo (BORGES et al., 2008;
BORGES et al., 2009a; CASAS; SANTOS; GARCÍA-OCHOA, 2000; MOREIRA,
2002; TAIT; SUTHERLAND; CLARKE-STURMAN, 1986; VENDRUSCOLO et al,
2000), bem como pela composição química (CADMUS et al., 1978; BORGES et al.,
2008; CASAS; SANTOS; GARCÍA-OCHOA, 2000; MOREIRA, 2002). Segundo
García-Ochoa et al. (2000), a temperatura de dissolução e a temperatura de leitura
também exercem influência na viscosidade das soluções de xantana. Utilizando-se
aquecimento (60ºC) para solubilização das amostras de xantana, durante o preparo
das soluções, maiores viscosidades podem ser alcançadas (DIAZ, 2002).
2.1.3.1.1 Influência dos substituintes acetila e piruvato nas propriedades
reológicas
Não existe um consenso na literatura sobre a influência exercida pelos
substituintes acetila e piruvato no comportamento reológico da xantana. O conteúdo
de piruvato pode influenciar a viscosidade de soluções diluídas de xantana
(CADMUS et al., 1978), sendo considerado um indicador das propriedades da goma;
o aumento do teor de piruvato aumentaria correspondentemente a viscosidade da
xantana (SANDFORD et al.,1977). Em estudo realizado por Sandford et al. (1977),
amostras de xantana com alto teor de piruvato (>4%) tiveram viscosidade
significantemente maior, comparadas a xantanas com baixo conteúdo de piruvato
(2,5-3%). De acordo com Flores Candia e Deckwer (1999), o aumento na
viscosidade pode ser explicado pelo aumento no grau de auto-associação de
moléculas de xantana com maior teor de piruvato (>3%). Essas associações são
promovidas por interações apolares entre os grupos metílicos dos substituintes
pirúvicos; os substituintes acéticos também contém grupos metílicos, porém estão
37
localizados mais próximos ao centro da hélice e são menos propensos a estarem
disponíveis para interações intermoleculares (FLORES; CANDIA; DECKWER, 1999).
Também Smith e Pace (1982) e Taylor e Nasr-El-Din (1993) preconizam que maior
conteúdo de piruvato exerce efeito positivo sobre os parâmetros reológicos da
xantana. Em estudos realizados por Erten e colaboradores (2014) e Borges, Bastos
e Vendruscolo (2007), não foi observada correlação entre o teor de piruvato do
polímero e sua viscosidade. Resultados semelhantes foram encontrados por Borges
et al. (2009a), Bradshaw et al (1983), Pinto, Furlan e Vendruscolo (2011) e
Torrestiana, Fucikovsky e Galindo (1990).
Segundo Sloneker e Jeanes (1962) e Smith e Pace (1982), a remoção dos
grupos acetato da manose interna da cadeia lateral da molécula de xantana causa
mudanças nas propriedades reológicas da xantana, melhorando a viscosidade de
soluções em água destilada ou adicionadas de sais. Estudo realizado por Pinto,
Furlan e Vendruscolo (2011) corrobora com esses autores. Por outro lado, Santos,
Casas e García-Ochoa (2000), relacionaram alta viscosidade com alto teor de
acetato. Para alguns autores (BRADSHAW et al., 1983; CALLET; MILAS; RINAUDO,
1987; MCNEELY; KANG, 1973; SUTHERLAND, 1994) o teor de acetila tem pouco
ou nenhum efeito na viscosidade das soluções.
Em estudo utilizando xantanas preparadas com vários teores de acetila e de
piruvato a partir de uma mesma amostra, Bradshaw e colaboradores (1983)
observaram que a desacetilação tem pequeno efeito na viscosidade das soluções de
xantana. Isto porque, de acordo com Rinaudo (2004), a reologia de soluções
aquosas de polissacarídeos, como a xantana, é controlada pela conformação
(conformação helicoidal) cuja estabilidade não é largamente influenciada pelos
substituintes não carboidratos, como acetila e piruvato.
2.1.3.2 Propriedades térmicas
A análise térmica é o estudo da relação entre uma propriedade da amostra e
a temperatura quando a amostra é aquecida ou resfriada, de forma controlada
(BROWN; GALLAGHER, 2008). Através da técnica de Calorimetria Exploratória
38
Diferencial (DSC) monitora-se a diferença de fluxo de calor (ou de alimentação) para
a amostra e para o material de referência em função do tempo, enquanto as
amostras são expostas a um programa de variação de temperatura, ou seja, mede a
diferença de energia necessária para manter ambos (amostra e referência) à mesma
temperatura enquanto são aquecidas. Já para na técnica de Análise Térmica
Diferencial (DTA), mede-se a diferença entre a temperatura da amostra e de um
material referência, normalmente o próprio material da cápsula utilizada, em função
do tempo ou da temperatura, enquanto ambos são submetidos a uma programação
controlada de temperatura (BILLMEYER, 1984; HAINES; READING; WILBURN,
2008).
Transições térmicas que ocorrem em um polímero, em função de alterações
morfológicas ou químicas, podem ser medidas de forma rápida através da análise
térmica (ASTM, 2013). As reações químicas que causam ou que afetam certas
transições têm sido medidas com o auxílio da técnica de DSC (ASTM, 2013), que
fornece informações úteis sobre possíveis interações do polímero com produtos das
formulações onde é utilizado, e da natureza cristalina ou amorfa da amostra
(RAMASAMY et al., 2011). Um ponto de fusão extra ou inesperado, observado
através de uma varredura térmica de DSC, pode indicar a presença de um segundo
material, misturado intencionalmente ou oriundo de contaminação da amostra
(ASTM, 2013). Através de DSC determina-se comumente a temperatura de transição
vítrea (Tg) e a temperatura de fusão (Tm) e pela técnica de TGA (análise
termogravimétrica), avalia-se a degradação por perda de massa em função da
temperatura; nessa técnica a amostra é submetida a uma variação constante de
temperatura enquanto monitora-se a variação de massa (BILLMEYER, 1984; HORN,
2008). Segundo Zohuriaan e Shokrolahi (2004) a análise termogravimétrica é um
método simples e preciso para estudar a estabilidade térmica de polímeros, bem
como seu padrão de decomposição.
Segundo Brown e Gallagher (2008), a grande dificuldade das técnicas de
análise térmica convencionais, como TGA e DSC, é que elas medem a resposta de
toda a amostra. Quando se observa uma grande alteração no comportamento
durante o aquecimento de uma amostra, esta pode ser o resultado de um efeito
genuíno num sistema homogêneo ou ser devido a uma série de respostas que se
sobrepõem a partir de um sistema heterogêneo.
39
Essas técnicas podem fornecer dados sobre a capacidade de calor,
condutividade térmica, difusividade e emissividade, calores de transição, reação ou
misturas, bem como a cinética e os mecanismos de reação. No entanto, esta
coleção muito ampla de eventos térmicos pode, por vezes, ocorrer em conjunto, de
modo que não temos certeza se o pico é devido a reação, transição, mudanças nas
características térmicas ou no comportamento instrumental. Muitas fases
sobrepostas podem ser resolvidas e interpretadas ao combinar o DTA ou DSC com
uma técnica complementar, como TG. Mas a ocorrência simultânea de dois eventos
térmicos, tais como uma alteração da capacidade de calor e uma reação, pode ser
difícil de separar analiticamente (HAINES; READING; WILBURN, 2008).
Ramasamy et al. (2011) verificaram a temperatura de fusão de xantana
comercial na faixa de 90 a 120ºC com um pico endotérmico observado a 108,9ºC. O
mesmo valor foi encontrado para xantana comercial por Ahuja, Kumar e Singh
(2012). Segundo Horn (2008), que produziu xantana em diferentes condições, a
degradação da xantana inicia-se em torno de 150ºC e termina em 400ºC. Em estudo
realizado por Faria et al. (2011), os autores observaram que a maior perda de massa
ocorreu no segundo estágio de degradação, entre 220 e 320ºC, com mais de 40%
de perda. Para esses pesquisadores vários fatores contribuem, separados ou
simultaneamente, afetando as curvas de TGA/DTA. Nas fases de temperaturas mais
altas geralmente estão envolvidas a desidratação, a despolimerização e a
decomposição pirolítica. A diferença de estrutura e de grupos funcionais entre
diversos polissacarídeos fazem com que estes tenham diferentes vias de
degradação e/ou diferentes fragmentos resultantes. A goma xantana possui grupos
carboxilatos ou ácidos carboxílicos, assim, a cisão térmica desses grupos e a
evolução do CO2 dos carboidratos da cadeia principal pode ser o mecanismo
provável para a decomposição térmica que ocorre no polímero (ZOHURIAAN;
SHOKROLAHI, 2004).
40
2.2 Modificações químicas
A obtenção de polímeros com qualidades específicas e desejadas pode ser
realizada por modificações nos parâmetros do processo, tais como o emprego de
diferentes meios de produção, alterações das condições operacionais e seleção da
cepa indicada. Uma outra perspectiva é a modificação química, que tem sido
bastante aplicada à xantana (BORN; LANGENDORFF; BOULENGUER, 2002;
ERTEN et al., 2014; KLAIC et al., 2011; PINTO; FURLAN; VENDRUSCOLO, 2011).
Um problema importante relacionado à produção de xantana é a variação de
massa molecular que ocorre no polissacarídeo, bem como a variação no grau de
piruvatação e acetilação, como resultado da instabilidade das linhagens de
Xanthomonas utilizadas para produção (PRADELLA, 2006). Dessa forma, o controle
do grau de piruvatação e de acetilação na xantana por métodos químicos parece ser
mais eficiente do que por métodos biotecnológicos (BRADSHAW et al., 1983).
Sendo assim, podemos destacar a desacetilação como método de modificação
química passível de ser aplicada na molécula de xantana, na qual, os ligantes acetila
são quantitativamente removidos da cadeia lateral com base diluída (JEANES;
SLONEKER; 1961). Além da desacetilação, a despiruvatação também é viável
(CALLET; MILAS; RINAUDO, 1987) e pode ser realizada por meio de tratamento
com ácido trifluoroacético (PAZUR; MISKIEL; MARCHETTI, 1995; ROSS-MURPHY
et al., 1996) ou ácido oxálico (CALLET; MILAS; RINAUDO, 1987) em temperaturas
elevadas, reduzindo a massa molar da xantana.
Dentre as potenciais modificações químicas podemos citar ainda a redução
dos resíduos de ácido urônico (grupos carboxil), com carbodiimida e borohidreto de
sódio (BORN; LANGENDORFF; BOULENGUER, 2002; PAZUR; MISKIEL;
MARCHETTI, 1995); oxidação com meta periodato de sódio, caracterizada pela
clivagem específica das ligações C2–C3 dos resíduos, resultando na formação de
grupos aldeídos (GUO et al., 2014); e carboximetilação com ácido monocloroacético
em condições alcalinas (AHUJA; KUMAR; SINGH, 2012).
Outra modificação química passível de aplicação em xantana é a troca
iônica, com a qual se modifica o balanço iônico na molécula. A remoção total ou
parcial dos cátions é realizada utilizando-se resinas denominadas fortemente ácidas
41
ou trocadoras de cátions, e tem sido empregada por diversos autores (KLAIC, 2010;
MOHAMMED et al., 2007; ROSS-MURPHY; MORRIS; MORRIS, 1983) que estudam
a influência desses componentes no comportamento reológico de xantana. Segundo
Klaic (2010), trata-se de um método de modificação química pós-fermentativo muito
simples e de grande efeito, resultando em xantanas com propriedades reológicas e
possibilidades de aplicação diferenciadas.
Já a reticulação é aplicada tradicionalmente a polissacarídeos para alterar
suas propriedades de intumescimento e preparar hidrogéis (LINDBLAD;
ALBERTSSON, 2004). Vários métodos têm sido reportandos para diferentes
polissacarídeos, incluindo xantana, utilizando-se diferentes agentes de reticulação e
diferentes parâmetros para o processo (BEJENARIU et al., 2008; BEJENARIU et al.,
2009; BUENO et al., 2013; MCNEELY; KANG, 1973; SMITH; PACE, 1982).
2.2.1 Desacetilação
A eficiência do processo de desacetilação e sua influência nas propriedades
da xantana vem sendo extensivamente estudadas (ERTEN et al., 2014; JEANES;
SLONEKER, 1961; KHOURYIEH et al., 2007; LOPES et al., 1992; MCNEELY;
KANG, 1973; PAZUR; MISKIEL; MARCHETTI, 1995; PINTO; FURLAN;
VENDRUSCOLO, 2011; ROSS-MURPHY et al., 1996; SHATWELL; SUTHERLAND,
1991; SLONEKER; JEANES, 1962; TAKO; NAKAMURA, 1985; TAKO; NAKAMURA,
1986). A modificação química que permite a remoção dos substituintes acetila da
xantana pela aplicação de base (Figura 3) foi objeto de patente em 1961, onde
Jeanes e Sloneker relatam o processo para obtenção de uma nova substância
desacetilada derivada do polissacarídeo microbiano nativo produzido por
fermentação aeróbica pela bactéria Xanthomonas campestris NRRL B-1459. O
processo foi conduzido com concentração de 0,5% de polímero, 1% de KCl e
0,05mol L-1 de KOH a 25ºC por 2h, com introdução contínua de gás nitrogênio para
excluir o oxigênio; o processo reduziu o teor de acetila de 4,7 para 0,3% (93,6% de
remoção). A referida patente também tem como objeto um método para incrementar
42
a viscosidade da solução de xantana modificada pela adição de sal inorgânico
(JEANES; SLONEKER, 1961).
Figura 3 – Esquema representativo da reação de desacetilação. Fonte: Unidade de repetição adaptada e modificada de Viebke (2004). Esquema da reação: o autor.
Vários métodos vêm sendo reportados na literatura para desacetilação de
xantana. Dentre as bases utilizadas pode-se citar o NaOH (CALLET; MILLAS;
RINAUDO,1987; COVIELLO et al., 1986; GOYCOOLEA; MILAS; RINAUDO, 2001;
LOPES et al., 1992; PINTO; FURLAN; VENDRUSCOLO, 2011), e o KOH
(BRADSHAW et al., 1983; JEANES; SLONEKER, 1961; KHOURYIEH et al., 2007;
TAKO; NAKAMURA, 1986) como os mais frequentes. A utilização de base fraca,
como NH4OH, também tem sido reportada (PINTO, 2005). Além do tipo de base
utilizada, sua concentração também é variada nos estudos que empregam essa
modificação química à xantana. Também podemos observar variações quanto ao
tempo e a temperatura empregados. Pinto, Furlan e Vendruscolo (2011) avaliaram o
grau de desacetilação de uma xantana comercial ao utilizar duas bases (NaOH e
KOH) em três concentrações (0,0025, 0,005 e 0,01mol L-1) e observaram que esse
parâmetro influencia o grau de desacetilação. Callet, Millas e Rinaudo (1987) e
Lopes et al. (1992) utilizaram NaOH a 0,06mol L-1, realizando a reação sob agitação
por 24h a 5ºC; Bradshaw et al. (1983) utilizaram soluções de KOH com
concentrações variando de 0,005 a 0,025mol L-1 e Khouryieh et al. (2007) de
0,025mol L-1, ambos procedendo as reações em temperatura ambiente por 3 e 2,5h,
43
respectivamente. Quanto ao grau de desacetilação, a remoção dos substituintes
acetila nos estudos citados varia de 67,5% a 100% (CALLET; MILLAS;
RINAUDO,1987; PINTO; FURLAN; VENDRUSCOLO, 2011).
Pinto, Furlan e Vendruscolo (2011) observaram, porém, que a concentração
do polímero na solução utilizada na reação de desacetilação não influencia na
viscosidade da xantana resultante, ou na remoção dos substituintes, apresentando
resultados semelhantes para as duas concentrações de xantana em estudo (0,5 e
1%). Os métodos apresentados na literatura para desacetilação empregam
concentrações de polímero de 0,1% (CALLET; MILLAS; RINAUDO,1987; LOPES et
al., 1992), 0,2% (KHOURYIEH et al., 2007), 0,5% (BRADSHAW et al., 1983;
JEANES; SLONEKER, 1961) e 1% (PINTO; FURLAN; VENDRUSCOLO, 2011).
Além da desacetilação pós-fermentativa, a desacetilação também pode
ocorrer durante o processo fermentativo, quando este é conduzido em pH9 ou acima
deste (BORGES et al., 2009a; BORN; LANGENDORFF; BOULENGUER, 2002;
KLAIC, 2010; MCNEELY; KANG, 1973), sendo, nesse caso, a retirada dos grupos
acetila, denominada de “autodesacetilação”.
Apesar de existir controvérsias na literatura sobre a influência da
desacetilação sobre as propriedades reológicas da xantana, essa modificação
química pode ser considerada importante para facilitar outras modificações
posteriores ou resultar em xantanas compatíveis com outras gomas. Está bem
estabelecido na literatura que a desacetilação aumenta a força de interação da
xantana com outras gomas (FITZPATRICK et al., 2013; GOYCOOLEA; MILAS;
RINAUDO, 2001; KHOURYIEH et al., 2007; LOPES et al., 1992; RENOU et al.,
2013; RINAUDO, 2004; SHATWELL; SUTHERLAND, 1991; SUTHERLAND, 1994;
TAKO; NAKAMURA, 1985; TAKO; NAKAMURA, 1986). De acordo com Sutherland
(1994), xantana com ou sem acetilação apresenta diferenças marcantes na
gelificação sinergística com mananas. Para Rinaudo (2004), a interação entre
galactomanana e xantana depende da presença dos substituintes acetila na
xantana, porém, depende também da conformação da xantana. Segundo Renou et
al. (2013), o impacto do conteúdo de acetila nas interações da xantana com outras
gomas está mais relacionado a sua influência na estabilidade da xantana, uma vez
que os grupos acetila tendem a estabilizar a forma ordenada, possivelmente pela
promoção de associações da cadeia lateral com a cadeia principal através de
44
ligações de hidrogênio (VIEBKE, 2004); ou seja, a redução do teor de acetila reduz a
estabilidade da hélice e, assim, um maior número de segmentos desordenados se
tornam disponíveis para interagirem (RENOU et al., 2013). Estudos realizados por
Khouryieh et al. (2007) corroboram com essa proposta. Os autores verificaram que
misturas de xantana nativa com goma guar apresentaram comportamento
“semelhante a líquido” (predominância do módulo viscoso), enquanto que misturas
com xantana desacetilada tiveram comportamento semelhante a gel (predominância
do módulo elástico). Tanto a viscosidade quanto a viscoelasticidade das misturas
com xantana desacetilada foram mais elevadas do que com xantana nativa. Os
autores também atribuíram o aumento da interação sinergística à desacetilação, por
sua contribuição a desestabilização da estrutura helicoidal e consequente
desordenação da molécula de xantana.
2.2.2 Reticulação
A reticulação de polímeros é um processo que ocorre quando cadeias
poliméricas lineares ou ramificadas são interligadas. Esse processo também é
conhecido como crosslinking ou ligação cruzada, ou seja, ligações entre moléculas
lineares produzindo polímeros tridimensionais com alta massa molar (BEJENARIU et
al., 2009). A presença de uma pluralidade de grupos funcionais, tais como OH,
COOH, ou NH2, explica a usual solubilidade em água dos polissacarídeos; e, por
reticulação, estes grupos podem ser usados para a obtenção de redes
macromoleculares estáveis (BEJENARIU et al., 2009). Quando em solução a
xantana tem a capacidade de formar tanto géis físicos, quanto químicos; porém, os
géis físicos podem facilmente serem solubilizados e sua aplicação não é prática
(STOKKE; CHRISTENSEN; SMIDSROD, 1998). Dessa forma, para se obter um
substrato macromolecular que mantenha suas dimensões físicas, a xantana deve
ser quimicamente reticulada (cross-linked) (BEJENARIU et al., 2009).
A reticulação causa alterações físico-químicas nos polímeros, resultando em
modificações de suas propriedades. Diversos estudos relacionam alto grau de
reticulação com a diminuição do grau de intumescimento em polissacarídeos
45
(BEPPU et al., 2007; BUENO et al., 2013; CURY et al., 2009; ENKE et al., 2014;
MATOS, 2008; VIKHOREVA; SHABLYUKOVA; KILL‟DEEVA, 2001), entretanto, as
pesquisas também mostram aumento pronunciado na capacidade de
intumescimento após a reticulação, quando esta ocorre em níveis intermediários
(BEJENARIU et al., 2009; CURY et al., 2009; ENKE et al., 2014; MATOS, 2008).
Alguns estudos também apontam alterações na estabilidade térmica (GLIKO-KABIR;
PENHASI; RUBENSTEIN, 1999; LINDBLAND; ALBERTSSON, 2004) e na
capacidade de dissolução (BILLMEYER, 1984). Com o objetivo de produzirem-se
xantanas modificadas por reticulação, diferentes agentes têm sido utilizados. Smith e
Pace (1982) relatam reticulação de xantana com formaldeído, resultando em uma
mistura complexa estável com viscosidade melhorada. Quando em condições
alcalinas, a xantana também faz reticulação com íons trivalentes, tais como íons
cromo (MCNEELY; KANG, 1973). A utilização de ácido adípico e di-hidrazida
(BEJENARIU et al., 2008), de trimetafosfato de sódio cíclico (STMP) (BEJENARIU et
al., 2009), glutaraldeído (TAKO; NAKAMURA, 1985) e ácido cítrico (BUENO et al.,
2013) também tem sido reportada.
Bejenariu et al. (2009) utilizaram trimetafosfato de sódio cíclico (STMP), como
agente de reticulação, em condições altamente alcalinas (pH13) pela adição de
NaOH, e duas concentrações de xantana (10 e 25g L-1). As soluções foram
aquecidas acima de 90ºC e, depois de 1h, foi realizada a adição de STMP; a mistura
permaneceu em agitação por 24h. A razão molar de STMP:xantana foi de 1:1; 5:1;
10:1; 15:1 e 20:1. O objetivo desse estudo foi avaliar o comportamento do polímero
reticulado para determinar a possibilidade de utilização em sistemas de distribuição
de drogas. De acordo com a pesquisa, após a efetivação da reticulação dois
parâmetros físicos (grau de reticulação e carga do fosfato) estavam manifestando
ações antagônicas, resultando no enrijecimento ou rompimento do conjunto
macromolecular tridimensional. Os autores concluíram que o maior grau de
intumescimento foi obtido usando razões de STMP:xantana intermediárias, condição
em que os efeitos opostos das duas forças atuantes estavam balanceados; para os
autores, as medidas de intumescimento são um bom método para a caracterização
física das redes de polissacarídeos reticulados.
A reticulação também tem sido objeto de estudos relacionando à mistura de
xantana com outras gomas. Shalviri et al. (2010) desenvolveram um novo sistema
46
hidrogel reticulado de amido e goma xantana utilizando diferentes concentrações de
xantana e trimetafosfato de sódio, com a intenção de evitar a separação de fases
que frequentemente ocorre. Tako e Nakamura (1985) estudaram interações entre
xantana e goma guar e observaram uma interação muito mais forte utilizando-se
xantana desacetilada do que xantana nativa. Os autores promoveram uma
desacetilação prévia na xantana e, após, a reticulação com goma guar mediada por
glutaraldeído, um reagente bifuncional, que causa a interligação entre cadeias
poliméricas, tornando o material altamente resistente à temperatura.
O agente reticulante glutaraldeído (GLU), ou 1,5-pentanodial, apresenta a
fórmula molecular OHC-(CH2)3-CHO, com massa molar de 100,11g mol-1 e tem sido
extensivamente utilizado para reticulação em polissacarídeos (BEPPU et al., 2007;
GENTA et al., 1998; LINDBLAD; ALBERTSSON, 2004; POON; WILSON; HEADLEY,
2014; PRATT; WILSON; KOZINSKI, 2013; SANDOLO et al., 2009; TAHTAT et al.,
2013; VIKHOREVA; SHABLYUKOVA; KILL‟DEEVA, 2001; ZHOU et al., 2014).
Forma uma solução límpida incolor a amarelo pálido, viscosa e pungente, que é
solúvel em todas as proporções de água e álcool, bem como em solventes
orgânicos. Seu sucesso se deve à sua disponibilidade comercial, baixo custo e alta
reatividade (MIGNEAULT et al., 2004).
Sandolo et al. (2009) estudaram a formação de ligações cruzadas em goma
guar utilizando glutaraldeído como agente de reticulação, verificando a dependência
da temperatura de preparo da amostra e quantidade desse agente de reação no
nível de ligações cruzadas obtidas. Controlando as condições experimentais para a
gelificação de goma guar induzida por moléculas de glutaraldeído, obtiveram um
material interessante por sua versatilidade, pois permite a preparação de diferentes
tipos de hidrogéis, com um número diferente de ligações cruzadas, e,
consequentemente, com um tamanho de poros diferentes. Para Gliko-Kabir, Penhasi
e Rubenstein (1999), a reticulação da goma guar leva à introdução de novas
ligações covalentes. O glutaraldeído substitui parte dos grupos hidroxila e provoca
uma alteração na estrutura do polímero. Estas alterações físico-químicas são
refletidas no comportamento térmico da goma reticulada. Segundo os autores, a
quantidade de glutaraldeído utilizada influenciou a estabilidade térmica da goma
guar reticulada; eles observaram em seu estudo que um excesso de reticulante
reduz a estabilidade térmica do produto. A reação da goma com o glutaraldeído
47
ocorreu tanto por inter quanto por intrarreticulação, dependendo da quantidade de
reticulante utilizada, e a mudança na estrutura, embora não comprovada
experimentalmente por métodos espectrométricos, foi subentendida por meio da
mudança na estabilidade térmica e na capacidade de se ligar à água (GLIKO-
KABIR; PENHASI; RUBENSTEIN, 1999; LINDBLAND; ALBERTSSON, 2004).
Zhou et al. (2014) estudaram a capacidade de adsorção de corantes
alimentares, cuja presença preocupa por permanecerem nos efluentes das
indústrias e, em concentrações elevadas, possuirem potencial tóxico. Os corantes
em solução aquosa foram adsorvidos por nanopartículas magnéticas de quitosana
reticulada por glutaraldeído. Os autores observaram que, além de excelente
desempenho de adsorção, o agente reticulante glutaraldeído também mostrou baixa
citotoxicidade em concentrações de até 0,5mol L-1 (5%), sendo considerado não
carcinogênico, nas concentrações utilizadas, quando comparado a outros
reticulantes.
Outra aplicação do reticulante glutaraldeído relatado na literatura é na
reticulação de alginato e quitosana, cujo produto pode ser considerado um potencial
meio para administração oral de insulina (TAHTAT et al., 2013), o que demonstra
que sua utilização não compromete a segurança do produto final.
48
3 Autodesacetilação e desacetilação pós-fermentativa de xantana de
Xanthomonas arboricola pv pruni
3.1 Introdução
Atualmente, muitos novos polissacarídeos vêm sendo produzidos em
pequena escala por micro-organismos para propósitos industriais. Alguns
polissacarídeos extracelulares são produzidos em larga escala pela técnica usual de
fermentação, que permite um bom controle das características do polímero
(GEREMIA; RINAUDO, 2004). A xantana está entre o pequeno número de
biopolímeros microbianos produzidos em grande escala (LUVIELMO; SCAMPARINI,
2009), sendo considerado o polissacarídeo bacteriano mais importante
comercialmente (MORRIS; HARDING, 2009).
As xantanas comerciais são produzidas pela bactéria fitopatogênica
Xanthomonas campestris pv campestris (BECKER et al., 1998; CHALLEN, 1994;
JANSSON; KENNE; LINDBERG, 1975; ROCKS, 1971); entretanto, alguns autores
(ANTUNES, 2000; BORGES et al., 2008; BORGES et al., 2009a; BOROWSKI, 2011;
KLAIC, 2010; MOREIRA et al. 2001; MOREIRA, 2002; PREICHARDT, 2009;
RODRIGUES, 2010; VENDRUSCOLO et al., 2000) têm estudado a produção de
xantana pela espécie X. arboricola pv pruni, anteriormente classificada como X.
campestris pv pruni, mostrando seu grande potencial de produção e
comercialização.
Os exopolissacarídeos sintetizados por micro-organismos variam muito em
sua composição e, consequentemente, nas suas propriedades químicas e físicas.
Polissacarídeos bacterianos extracelulares possuem uma ampla gama de
49
monossacarídeos, também contêm hexoses metiladas ou metil pentoses e ácidos
derivados, dos quais o D-glucurônico e D-galacturônico são os mais comuns. Entre
os substituintes não carboidratos destacam-se o acetato e piruvato (SUTHERLAND,
2002). A molécula da xantana é classificada como regular, exceto nas cadeias
laterais, que apresentam variações na quantidade e posição de substituintes acetato
e piruvato, o que confere certa irregularidade à estrutura da molécula (BORN;
LANGENDORFF; BOULENGUER, 2002). O grau de substituição depende das
condições de fermentação e da espécie da bactéria, patovar ou cepa (BORGES et
al., 2009a; BORN; LANGENDORFF; BOULENGUER, 2002; CASAS; SANTOS;
GARCÍA-OCHOA, 2000; MILAS; RINAUDO, 1984). Diversos estudos têm sido
realizados buscando elucidar a influência dos ligantes acetila no comportamento
reológico da xantana (CASAS; SANTOS; GARCÍA-OCHOA, 2000; ERTEN et al.,
2014; MCNEELY; KANG, 1973; PAZUR; MISKIEL; MARCHETTI, 1995; SLONEKER;
JEANES, 1962); entretanto, atualmente não existe um consenso na literatura a esse
respeito, provavelmente porque haja interação desse com outros fatores. Por outro
lado, sabe-se que a desacetilação permite ou facilita a interação da xantana com
outras gomas, sendo utilizada como pré-tratamento para a formação de ligações
cruzadas, num processo denominado reticulação ou cross-linking (LOPES et al.,
1992; SHATWELL; SUTHERLAND,1991; TAKO; NAKAMURA, 1985), capaz de
alterar propriedades como solubilidade e estabilidade térmica.
Estudos realizados com xantana têm mostrado que ocorrem maiores
variações quantitativas do que qualitativas dos substituintes acetila e piruvato
(BORN; LANGENDORFF; BOULENGUER, 2002). Alterações quantitativas desses
ligantes também podem ser alcançadas através de modificações químicas pós-
fermentativas, como a desacetilação, que é a remoção dos grupos acetato,
normalmente por processo térmico em base diluída (JEANES; SLONEKER, 1961).
Alguns estudos foram desenvolvidos com o objetivo de estudar os parâmetros
envolvidos no processo de desacetilação após processo fermentativo (BRADSHAW
et al.,1983; JEANES; SLONEKER, 1961; PINTO, 2005; PINTO, FURLAN,
VENDRUSCOLO, 2011).
Sendo assim, neste estudo objetivou-se avaliar a influência do pH do
processo fermentativo na autodesacetilação e a influência dos parâmetros do
processo térmico alcalino no grau de desacetilação pós-fermentativa, bem como a
50
influência dos substituintes acetila nas propriedades reológicas e térmicas da
xantana produzida pelas cepas 101 e 106 de X. arboricola pv pruni.
3.2 Material e métodos
3.2.1 Micro-organismos
Utilizou-se neste estudo as cepas 101 e 106 de Xanthomonas arboricola pv
pruni, isoladas pelo Centro de Pesquisa Agropecuária de Clima Temperado
(CPACT- Embrapa), Pelotas, Brasil, e mantidas no Laboratório de Biopolímeros do
Núcleo de Biotecnologia do Centro de Desenvolvimento Tecnológico (CDTec) da
Universidade Federal de Pelotas, por liofilização e subculturas mensais em meio
sólido SPA (HAYWARD, 1964); estocadas a -8ºC e 4ºC, respectivamente.
3.2.2 Produção das xantanas com e sem autodesacetilação
Produziu-se as xantanas pruni em jarro de 10L com 7L de meio de
fermentação em biorreator (BioStat, B Braun Biotech International®), de acordo com
o pedido de patente WO2006047845 (VENDRUSCOLO et al., 2006). Utilizou-se
duas condições de pH para cada cepa utilizada: controlado a pH7 e a pH9 pela
adição de NaOH 2mol L-1; as demais condições operacionais do processo
fermentativo foram as mesmas para todos os processos realizados, exceto o tempo
de fermentação: utilizou-se 66h para cepa 106 e 72h para cepa 101. Procedeu-se
duas fermentações para cada combinação de pH/cepa utilizada.
Realizou-se a recuperação dos polímeros produzidos por precipitação em
etanol 96% (razão etanol:caldo de 4:1 (v/v)), após a esterilização dos caldos
fermentados a 121ºC por 15min. As xantanas recuperadas foram secas a 56ºC, em
estufa para secagem (Fabbe®), até peso constante e trituradas à granulometria de
51
60 – 150 mesh. Avaliou-se o rendimento de cada fermentação por método
gravimétrico, expressando-se os resultados em gramas de xantana por litro de caldo
fermentado (g L-1) (VENDRUSCOLO et al., 2000). As xantanas naturais, resultantes
dos processos fermentativos, foram assim nomeadas: Xp 101 pH7; Xp 101 pH9; Xp
106 pH7 e Xp 106 pH9. As xantanas obtidas em pH9 foram denominadas
autodesacetiladas.
Para cada fermentação analisou-se a produção e a viscosidade para verificar
a reprodutibilidade do processo fermentativo. As amostras finais consistem na
mistura das xantanas obtidas em duas bateladas.
Caracterizou-se as xantanas naturais pela determinação do teor de nitrogênio
pelo método de Micro-Kjeldahl, de acordo com o método 036/IV proposto pelo
Instituto Adolfo Lutz (2004); análise do teor de cinzas por calcinação e umidade por
gravimetria segundo os métodos 018/IV e 012/IV, respectivamente (INSTITUTO
ADOLFO LUTZ, 2004). A determinação do teor de carboxilas foi realizado de acordo
com Smith (1967). Para tanto, 300mg das amostras foram desmineralizadas com
30mL de HCl 0,1mol L-1, por 30 minutos, os polímeros recuperados e
cuidadosamente lavados com etanol 96%. Após a lavagem, os polímeros foram
dispersos em água ultrapura até o volume de 300mL; procedeu-se a titulação com
NaOH 0,1mol L-1, utilizando fenolftaleína como indicador. As determinações foram
realizadas em triplicada.
3.2.3 Reação de desacetilação
Realizou-se um estudo dos parâmetros envolvidos no processo de
desacetilação termoquímica pós-fermentativa de xantana pruni avaliando-se a
influência do tipo de base utilizada, da temperatura de reação e do tempo. Para isso
utilizou-se a xantana pruni produzida pela cepa 106 em pH controlado a 7 (Xp 106
pH7), por se tratar da xantana natural com maior teor de acetila.
Segundo Jeanes e Sloneker (1961), os ligantes acetila podem ser
quantitativamente removidos da cadeia lateral da molécula de xantana com base
diluída; assim, manteve-se fixa a concentração das bases utilizadas em 0,01mol L-1,
52
avaliando-se a influência do tipo de base. Utilizou-se duas bases, NaOH (Vetec®) e
NH4OH (Synth®), duas temperaturas (45 e 65ºC) e dois tempos (3 e 6h) para
proceder as reações de hidrólise alcalina no polímero.
Hidratou-se as amostras em solução aquosa de base, na proporção de 0,5%
(p/v) de xantana, até o volume final de 300mL (BRADSHAW et al., 1983), utilizando-
se frascos Erlenmeyers de 500mL. As soluções preparadas foram levadas ao
incubador orbital com controle de temperatura (Certomat BS-1, B. Braun Biotech
International®,), conduzindo-se as reações com agitação de 200rpm nos tempos e
temperaturas mencionados. Realizou-se o mesmo procedimento para ambas as
bases. Transcorrido o período de reação, neutralizou-se as soluções com HCl 2mol
L-1 e recuperou-se o polímero pela adição de etanol 96% na proporção de quatro
volumes de etanol para cada volume de solução. As xantanas modificadas foram
secas em estufa de secagem (Fabbe®) a 56ºC e em seguida trituradas até a
granulometria de 60 – 150 mesh.
Os diferentes tratamentos térmicos alcalinos resultaram em oito amostras de
xantanas pruni modificadas, as quais foram denominadas: Xp 106 pH7 NaOH 3h
45ºC; Xp 106 pH7 NaOH 6h 45ºC; Xp 106 pH7 NaOH 3h 65ºC; Xp 106 pH7 NaOH
6h 65ºC; Xp 106 pH7 NH4OH 3h 45ºC; Xp 106 pH7 NH4OH 6h 45ºC; Xp 106 pH7
NH4OH 3h 65ºC e Xp 106 pH7 NH4OH 6h 65ºC. Todos os experimentos foram
realizados em triplicata.
Selecionou-se as duas condições mais severas de reação para utilizar-se na
xantana Xp 101 pH9, amostra autodesacetilada, que naturalmente já apresenta
baixo teor de acetila.
Realizaram-se análises de teor de acetila conforme descrito no item 3.2.4.1 e,
a partir dos resultados obtidos, selecionou-se a condição ótima para desenvolver o
processo de modificação química por desacetilação nas demais xantanas pruni
naturais, aplicando-se também a modificação para as xantanas Xp 106 pH9
(autodesacetilada) e Xp 101 pH7, nomeando todas as xantanas desacetiladas com a
terminação DESA. Nesta condição, para cada xantana conduziu-se uma amostra
controle em água ultra pura, denominando os polímeros resultantes após o
tratamento térmico de Xp 106 pH7 controle 45ºC; Xp 106 pH9 controle 45ºC, Xp 101
pH7 controle 45ºC e Xp 101 pH9 controle 45ºC. Para verificar a influência da
temperatura nos controles, também preparou-se amostras controles para cada
53
xantana em água ultra pura a 25ºC. Para todas as xantanas controles, de ambas as
temperaturas (25 e 45ºC) avaliou-se o grau de recuperação por gravimetria (KLAIC
et al., 2016) e determinou-se o teor de piruvato de acordo com método descrito na
seção 3.2.4.1.
3.2.4 Análises físicas e químicas das xantanas naturais e modificadas
3.2.4.1 Teores de acetila e piruvato
Avaliou-se o conteúdo de acetila, das amostras naturais e de todas as
xantanas modificadas, usando o método colorimétrico do ácido hidroxâmico,
proposto por McComb & McCready (1957). Inicialmente preparou-se a curva de
calibração a partir de uma solução padrão a 0,1% (p/v) de β-D-glicose pentacetato.
Dissolveu-se o padrão em 5mL de etanol P.A., em seguida realizou-se aquecimento
brando da solução em banho-maria a 30°C com o béquer fechado. Após completa
dissolução transferiu-se a solução para balão volumétrico de 100mL e completou-se
o volume com água destilada e deionizada. Essa constituiu a solução padrão, a
partir da qual preparou-se soluções com concentrações de acetato variando de zero
a 420μg, em balão volumétrico de 50mL. Retirou-se 5mL de cada solução e
transferiu-se para balão volumétrico de 25mL; adicionou-se 1mL de cloridrato de
hidroxilamina 3,75% (p/v), 1mL de hidróxido de sódio 9,4% (p/v) e 5mL de solução
metanólica ácida, preparada com ácido perclórico 70% em metanol P.A. na
proporção de 7:93 (v/v); finalmente completou-se o volume com solução de
perclorato férrico. Para construção da curva de calibração realizou-se a leitura da
absorbância das soluções em espectrofotômetro (Ultrospec 2000, Pharmacia
Biotech®), no comprimento de onda de 520nm.
Para o preparo das amostras de xantana pesou-se 0,1g de polímero,
dissolveu-se em 25mL de cloridrato de hidroxilamina 3,75% (p/v), agitou-se por
15min até completa dissolução da amostra; em seguida adicionou-se 25mL de
hidróxido de sódio 9,4% (p/v), mantendo-se a agitação por mais 2h para que
54
ocorresse a completa transformação do acetato em ácido hidroxâmico. Dessa
solução retirou-se 2mL e transferiu-se para balão volumétrico de 25mL, ao qual
adicionou-se 5mL de solução metanólica ácida e completou-se o volume com
solução de perclorato férrico. Nessa etapa ocorreu a transformação do ácido
hidroxâmico em ácido acetohidroxâmico férrico, cuja intensidade da cor é
proporcional ao teor de acetila na amostra. Em seguida realizou-se a leitura da
absorbância em espectrofotômetro nas mesmas condições da curva de calibração.
As reações colorimétricas, bem como as leituras das absorbâncias, foram realizadas
em triplicata.
Nas xantanas naturais e submetidas à condição ótima de desacetilação
determinou-se os teores de piruvato pelo método colorimétrico da 2,4-
dinitrofenilidrazina, segundo Sloneker & Orentas (1962). Preparou-se uma curva de
calibração com soluções de concentrações variando de zero a 0,22mg de piruvato a
partir de uma solução padrão de piruvato de sódio 0,1mol L-1. De cada solução
retirou-se alíquotas de 2mL e transferiu-se para um funil de decantação, ao qual
adicionou-se 1mL de solução de dinitrofenilhidrazina 0,5% (p/v), preparada em HCl
2mol L-1. Transcorridos 5min, adicionou-se 5mL de acetato de etila, agitou-se bem a
mistura e desprezou-se a fase aquosa inferior. Em seguida, adicionou-se três
alíquotas de 5mL de solução de carbonato de sódio 10% (p/v), coletando-se o
extrato da fase inferior para cada alíquota adicionada. Transferiu-se o extrato de
interesse para balões volumétricos de 25mL e completou-se o volume com solução
de carbonato de sódio 10% (p/v). Para construção da curva de calibração realizou-
se a leitura da absorbância das soluções em espectrofotômetro (Ultrospec 2000,
Pharmacia Biotech®), no comprimento de onda de 375nm.
Para determinação do teor de piruvato nas amostras de xantana, preparou-se
uma solução a 0,4% (p/v) de polímero em HCl 2mol L-1 e submeteu-se as soluções à
hidrólise em banho-maria por 16h a 80°C. Retirou-se alíquotas de 2mL de cada
solução e procedeu-se a reação com dinitrofenilhidrazina, conforme descrito
anteriormente para curva de calibração. As reações colorimétricas, bem como as
leituras das absorbâncias, foram realizadas em triplicata.
55
3.2.4.2 Espectroscopia de infravermelho
Obteve-se os espectros de infravermelho, das xantanas naturais e
modificadas, pastilhando-se 2mg das amostras, trituradas (100 mesh) e dessecadas,
em 200mg de brometo de potássio de grau espectroscópico; conduziu-se as
análises em espectrofotômetro (Modelo IR Prestige 21, Shimadzu®), na faixa de
número de onda de 4000 a 400cm-1, no modo de transmitância, com 60 varreduras e
resolução de 4cm-1.
3.2.4.3 Teores de sódio, potássio, cálcio e magnésio
Realizou-se a determinação do teor de sais das xantanas naturais e
modificadas pela condição ótima de desacetilação. As análises de sódio e potássio
foram realizadas em fotômetro de chama (Modelo B462, Micronal®) e as de cálcio e
magnésio em espectrômetro de absorção atômica (Modelo AA – 6300, Shimadzu®),
segundo Klaic et al. (2011).
Preparou-se curvas de calibração para determinação de Na e K com faixa de
concentração de 0,5 a 3mg L-1 e 0,5 a 4mg L-1, respectivamente, e, para Ca e Mg,
faixas de concentração de 0,1 a 0,6mg L-1, para ambos os analitos. Para minimizar
interferências de ionização adicionou-se 0,1% (p/v) de cloreto de césio nas soluções
padrões de calibração e, posteriormente, nas amostras.
Para o preparo das amostras pesou-se 100mg de xantana em tubos de
digestão e adicionou-se 5mL de ácido nítrico purificado. Purificou-se o ácido nítrico
P.A. (Synth®) por bidestilação em sistema de quartzo (modelo MA-075, Marconi®)
para posterior utilização no tratamento das amostras e descontaminação de
vidrarias. As vidrarias e materiais foram descontaminados por imersão em solução
de ácido nítrico 10% (v/v) por 48h e subsequente enxágue com água ultrapura.
Aqueceu-se a mistura em um bloco digestor (modelo MA-4025, Marconi®) a 100ºC
durante 2h. Resfriou-se a mistura à temperatura ambiente e adicionou-se 2mL de
ácido perclórico, aquecendo-se novamente a mistura na mesma temperatura por
56
mais 1h. Depois de resfriadas, transferiu-se as soluções mineralizadas para frascos
volumétricos e avolumou-se para 50mL com água ultra pura. Diluiu-se cada amostra
de modo apropriado para cada analito.
Realizou-se as análises por espectrometria de emissão atômica de chama
sob as seguintes condições: volume de amostra de 5mL min-1, tempo de leitura de
8s, ar comprimido (9L min-1) a uma pressão de 1Kgf cm-2 e chama de gás butano.
Para a espectrometria de absorção atômica utilizou-se chama de ar-acetileno nas
seguintes condições: modo chama com uma lâmpada de cátodo oco de Ca e Mg,
comprimentos de onda de 422,7nm para o Ca e 285,2nm para Mg e passagem na
faixa espectral de 0,7nm para ambos os elementos. A corrente da lâmpada utilizada
foi de 10mA para Ca e 8mA para Mg.
3.2.4.4 Determinação qualitativa de monossacarídeos e ácidos derivados
Identificou-se, pelo método de Cromatografia de Camada Delgada
Comparativa (CCDC), de acordo com Vendruscolo et al. (2000), os
monossacarídeos e ácido derivado nas xantanas naturais, incluindo as
autodesacetiladas, e nas xantanas desacetiladas após fermentação na condição
ótima de reação. Para tal, hidrolisou-se os polímeros em solução de ácido clorídrico
2mol L-1, na proporção de 3% (m/v), em banho-maria por 16h a 80°C. Em seguida,
resfriou-se as soluções à temperatura ambiente e filtrou-se. Preparou-se soluções
de amostras autênticas de glicose (G), ramnose (R), manose (M) e ácido glicurônico
(AG) a 1% (p/v) em metanol P.A. Aplicou-se 3µL dos hidrolisados e das soluções de
amostras autênticas em cromatofolhas de alumínio (suporte) e sílica gel (fase
estacionára) 60 F254 (Merck®), e eluiu-se com clorofórmio:metanol:ácido
acético:água, na proporção de 40:40:10:10 (v/v/v/v). Secou-se as cromatofolhas e,
para o desenvolvimento das colorações típicas, aplicou-se o revelador anisaldeído
sulfúrico e procedeu-se aquecimento com pistola até visualização das manchas. Os
cromatogramas foram registrados através de digitalização em scanner.
57
3.2.4.5 Reometria
Preparou-se soluções de xantana a 1% (p/v) pela hidratação do polímero em
água ultrapura e agitação moderada em agitador magnético em temperatura
ambiente por 2h. Em seguida, submeteu-se as soluções a aquecimento de 60ºC em
banho-maria durante 20min (XUEWU et al., 1996). As amostras permaneceram em
repouso, a 4ºC, durante 24h previamente às análises.
Analisou-se as amostras de xantanas naturais, modificadas e respectivos
controles através de ensaios rotacionais e oscilatórios em reômetro (Haake®
Rheostress 600, modelo RS150) com controlador de temperatura (Peltier, ±0,1 °C).
Determinou-se a viscosidade por meio de curvas de tensão de cisalhamento versus
taxa de deformação a 25ºC, utilizando geometria de cone e placa (sensor C35/1º;
0.052mm gap) e taxa de cisalhamento de 0,01-1000s-1, durante 400s. As medidas
foram realizadas em triplicata, não havendo diferenças maiores que 5% em nenhum
ponto de aquisição para as leituras de uma mesma amostra. Os parâmetros
reológicos índice de consistência (K) e índice de fluxo (n) foram obtidos pelo ajuste
do modelo de Ostwald-de-Waelle segundo as equações:
e
As propriedades viscoelásticas lineares das xantanas foram determinadas
através da medição dos módulos elástico G´(ω) e viscoso G” (ω). Antes das
medidas, realizou-se a verificação da faixa de viscoelasticidade linear (MICHONA et
al., 2004) através da varredura de tensão (0,01 – 50,0Pa), com frequência fixa em
1Hz, e, em seguida, fixando-se a tensão e realizando-se a varredura de frequência
(0,01 a 15Hz). O estresse a ser imposto durante as análises posteriores foi escolhido
dentro do regime de resposta linear observado (0,5Pa de tensão e frequência
variando de 1 a 10Hz).
58
3.2.4.6 Análise térmica
Amostras de 5 a 10mg foram pesadas e alocadas em cápsulas de alumínio
herméticas fechadas; utilizando-se uma cápsula vazia como referência. As análises
termogravimétricas (TGA/DTG) foram realizadas em equipamento Shimadzu® DTG-
60, com rampa de aquecimento de 30 a 350ºC e com taxa de 10°C/min.
As análises de calorimetria exploratória diferencial (DSC) foram conduzidas
em equipamento Shimadzu® DSC-60. O aquecimento foi de 25°C a 240°C, com
taxa de 10°C/min, e resfriamento de 240°C a 25°C, com taxa de 10°C/min; entre
cada etapa foi realizada uma isoterma por 5min. Gás nitrogênio foi utilizado para
garantir uma atmosfera inerte durante as análises.
3.2.5 Análise estatística
Realizou-se todos os experimentos em triplicata, e os resultados obtidos
foram submetidos à análise de variância, com exceção da espectroscopia de
infravermelho, análises térmicas e reometria. As médias foram comparadas pelo
teste de Tukey (p<0,05).
3.3 Resultados e discussão
3.3.1 Caracterização das xantanas naturais
As condições operacionais empregadas no processo fermentativo exercem
influência no rendimento e na qualidade da xantana produzida (GARCÍA-OCHOA et
al., 2000). Os rendimentos obtidos para as cepas 101 e 106, em pH 7,0 e 9,0, estão
dispostos na figura 4.
59
0
2
4
6
8
10
12
14
16
18
20
22
24
Xp 101 pH7 Xp 101 pH9 Xp 106 pH7 Xp 106 pH9
Pro
du
ção
(g
L-1
)
19,17a 0,06
17,69b 0,32 17,63b 0,06
14,44c 0,24
Figura 4 – Produção de xantana (g L-1
) para as duas cepas nas duas condições de pH. Médias (n=6) com letras diferentes são significativamente diferentes pelo teste de Tukey ao nível de 5% de significância.
Observou-se diferença significativa no rendimento de xantana pruni (p<0,05),
tanto em função da cepa quanto do pH utilizado. A produção em condição de
neutralidade (pH7) possibilitou os maiores resultados, para ambas as cepas, em
acordo com diversos autores (CADMUS et al., 1978; FLORES CANDIA; DECKWER,
1999; VUYST; LOO; VANDAMME, 1987). Para cepa 101 os resultados estão de
acordo com os encontrados em estudo prévio (KLAIC, 2010), que foram de 19,16 e
17,49g L-1 para xantanas do pH7 e 9, respectivamente. Os rendimentos de polímero
da cepa 106 estão em concordância com os encontrados por Borges et al. (2009a),
que produziram xantana pruni com a mesma cepa nestas duas condições de pH. A
maior produção foi alcançada pela cepa 101 em pH7 (19,17 ± 0,06), resultados
diferentes dos relatados por Rodrigues (2010), estudo no qual a maior produção de
xantana foi alcançada pela cepa 106 quando comparada com a produção da cepa
101, ambas fermentadas em pH7. Os teores de nitrogênio, cinzas e umidade
verificados nas xantanas naturais estão descritos na tabela 1.
60
Tabela 1 – Teores de nitrogênio, cinzas, umidade e carboxilas (% p/p) das xantanas pruni Xp 101 e Xp 106 em duas condições de pH
Valores = médias ± SD; n = 6. Linhas com letras diferentes são significativamente diferentes pelo teste de Tukey (p<0,05). *Xantanas produzidas em pH 9 são autodesacetilada. **Limites estabelecidos pela FAO (1999).
O teor de cinzas diferiu significativamente entre todas as xantanas
produzidas, com valores abaixo do limite de 16% proposto por Burdock (1997) e pela
FAO (1999). Este resultado está de acordo com estudos prévios realizados com o
patovar pruni (BORGES et al., 2008; BORGES et al., 2009a; KLAIC, 2010;
PREICHARDT, 2009; RODRIGUES, 2010).
Os teores de nitrogênio foram influenciados significativamente (p<0,05)
apenas pela cepa utilizada, não sendo influenciados pelo pH de produção, sendo os
maiores teores encontrados para cepa 106.
Encontrou-se teores de umidade abaixo de 5% para todas as xantanas,
valores bem menores que os reportados na literatura para xantana comercial, que
apresenta normalmente em torno de 10% de água (GARCÍA-OCHOA et al., 2000),
sendo aceitável de 8 a 15% (BORN; LANGENDORFF; BOULENGUER, 2002;
BURDOCK, 1997; GARCÍA-OCHOA et al., 2000). Os polímeros polissacarídeos
apresentam propriedades higroscópicas e, alguns, como a xantana, estão sujeitos à
degradação hidrolítica (GARCÍA-OCHOA et al., 2000; SMITH; PACE, 1982). Sendo
assim, baixos teores de umidade são indicados para garantir a estabilidade e,
consequentemente, a qualidade da xantana.
Xantana Análise
Nitrogênio Cinzas Umidade
Xp 101 pH7 0,96b ± 0,05 14,91
b ±0,02 4,93
a ± 0,06
Xp 101 pH9* 0,91b ± 0,01 15,07
a ± 0,04 4,65
b ± 0,06
Xp 106 pH7 1,16a ± 0,02 12,94
d ± 0,07 4,77
b ± 0,04
Xp 106 pH9* 1,10a ± 0,02 14,04
c ± 0,06 4,46
c ± 0,04
Limite superior* 1,5% 16% 15%
61
3.3.2 Desacetilação
3.3.2.1 Autodesacetilação
O teor de acetila diferiu significativamente (p<0,05) nas xantanas pruni
naturais, variando de 0,28 a 4,09; e foi pH e cepa dependente, como pode ser
observado nos resultados apresentados na tabela 2. A literatura reporta valores de
acetila entre 1,9 e 6,0% (GARCÍA-OCHOA et al., 2000), mas na xantana Xp 101 pH9
verificou-se valor abaixo desta faixa. Comparando-se xantanas pruni obtidas em um
mesmo pH, as produzidas pela cepa 106 tiveram maior quantidade de acetila. A
alcalinização do meio fermentativo resultou em autodesacetilação em níveis
variados, parcial para a xantana Xp 106 pH9 e total para a 101 pH9, com reduções
de 35% e 88% no teor de acetila, respectivamente. Na cepa 101, o resultado foi
equivalente aos das xantanas desacetiladas por processo pós-fermentativo
termoquímico (Tabela 4) (p<0,05). Para piruvato, os maiores valores foram
encontrados em pH 7, para ambas as cepas, não havendo diferença significativa ao
nível de 5% de significância entre as duas xantanas produzidas nessa condição.
Para o pH 9 também não houve diferença entre as duas cepas.
Os teores de carboxilas não foram influenciados significativamente (p<0,05)
pelo pH de produção, apenas pela cepa, sendo os maiores teores,
aproximadamente 4%, encontrados para cepa 106. Os teores de carboxilas para as
xantanas da cepa 101 estão de acordo com resultados obtidos anteriormente em
pH 7 e pH 9 por Klaic (2010), sendo 2,97 e 2,92% respectivamente. Mohammed et
al. (2007) reportam valores superiores, 6,6% de carboxilas para uma amostra de
xantana comercial Kelco®.
62
Tabela 2 – Teor de acetila e piruvato (% p/p) das xantanas pruni Xp 101 e Xp 106 em duas condições de pH.
Xantana Análise
Acetila Piruvato Carboxilas
Xp 101 pH7 2,37c ± 0,06 0,63
a ± 0,04 2,84
b ± 0,09
Xp 101 pH9 0,28d ± 0,02 0,31
b ± 0,02 3,03
b ± 0,15
Xp 106 pH7 4,09a ± 0,04 0,63
a ± 0,02 4,14
a ± 0,09
Xp 106 pH9 2,65b ± 0,05 0,34
b ± 0,03 4,04
a ± 0,15
Limite inferior* 1,9 1,0 -
Valores = médias ± SD; n = 6. Linhas com letras diferentes são significativamente diferentes pelo teste de Tukey (p<0,05). *Limites inferiores relatados para xantana comercial por García-Ochoa et al. (2000).
De acordo com Burdock (1997), o limite inferior para o conteúdo de piruvato
na xantana comercial é de 1,5% e García-Ochoa et al. (2000) indicam valores de 1 a
5,7%. Todas as xantanas produzidas apresentaram valores abaixo dos
especificados.
Diversos pesquisadores produziram xantanas pruni utilizando essas mesmas
cepas de X. arborícola pv pruni, anteriormente denominada de X. campestris pv
pruni. Rodrigues (2010) e Klaic (2010) produziram xantana com a cepa 101 em pH7,
encontrando valores de acetila e piruvato de 2,39 e 1,52% respectivamente. Já Pinto
(2005) obteve teores de acetila de 5,0% e piruvato de 0,8%. Essa mesma cepa
fermentada em pH9 apresentou 0,68% de piruvato (KLAIC, 2010). Para cepa 106,
em pH 7, foram encontrados teores de acetil de: 2,45% (RODRIGUES, 2010); 4,47%
(PREICHARDT, 2009); e 2,9% (BORGES et al. 2009a). Os teores de piruvato
também foram variados: 1,93% (RODRIGUES, 2010); 1,26% (PREICHARDT, 2009)
e 0,79% (BORGES et al. 2009a). Borges et al. (2009a) também produziram xantana
dessa mesma cepa em pH 9, encontrando 0,86% de acetila, confirmando o poder de
desacetilação do pH alcalino durante o bioprocesso.
Smith et al. (1981) verificaram que xantanas comerciais apresentaram
variações no grau de substituição dos grupos acetato e piruvato e, segundo os
pesquisadores, essas variações podem ser observadas entre diferentes lotes de
uma mesma fonte, portanto, o controle do grau de piruvatação e de acetilação na
xantana por métodos químicos parece ser mais eficiente do que por métodos
biotecnológicos (BRADSHAW et al., 1983).
63
Sendo assim, pode-se concluir que a xantana da cepa 101 produzida em
condições alcalinas sofre autodesacetilação, que ocorre durante o processo
fermentativo realizado em pH9 (MCNEELY; KANG, 1973; JEANES; SLONEKER,
1961).
3.3.2.2 Desacetilação termoquímica
Os teores de acetila determinados para a xantana pruni 106 pH7, usada como
referência por ter os maiores níveis de acetila dentre as xantanas naturais deste
estudo, e para as xantanas modificadas por desacetilação termoquímica pós-
fermentativa, em diferentes condições, são apresentados na tabela 3.
Tabela 3 – Teores de acetila da xantana pruni natural Xp 106 pH7, usada como referência, e das modificadas por reação de desacetilação termoquímica pós-fermentativa em diferentes condições.
Xantana
Acetila
(% p/p) Remoção (%)
Xp 106 pH7 4,09a ± 0,04 0
Xp 106 pH7 NaOH 3h 45ºC 0,26d ± 0,03 93,64
Xp 106 pH7 NaOH 6h 45ºC 0,27d ± 0,03 93,40
Xp 106 pH7 NaOH 3h 65ºC 0,25d ± 0,04 93,89
Xp 106 pH7 NaOH 6h 65ºC 0,18d ± 0,003 95,60
Xp 106 pH7 NH4OH 3h 45ºC 3,91a ± 0,04 4,40
Xp 106 pH7 NH4OH 6h 45ºC 3,62b ± 0,05 11,49
Xp 106 pH7 NH4OH 3h 65ºC 3,54b ± 0,06 13,45
Xp 106 pH7 NH4OH 6h 65ºC 3,01c± 0,18 26,40
*Valores = médias ± SD; n = 9. Linhas com letras diferentes são significativamente diferentes pelo teste de Tukey (p<0,05).
Observou-se que as xantanas resultantes de todas as condições utilizadas
para reação de desacetilação apresentaram redução no teor de acetila, com
exceção da xantana submetida à reação mais branda, 3h a 45ºC empregando-se a
64
base fraca NH4OH, que não diferiu significativamente da xantana natural ao nível de
5% de significância. Com NH4OH, se obteve menor % de remoção dos substituintes
acetila, obtendo-se o melhor resultado na condição mais severa, 65°C e 6h, com
redução de 26,4% no teor de acetila. Os melhores resultados foram obtidos com a
base forte, NaOH, com reduções entre 93,4 e 95,6%. Este resultado corrobora com
os autores Pinto (2005) e Pinto, Furlan e Vendruscolo (2011), que, ao estudarem os
parâmetros do processo de desacetilação em xantana comercial, verificaram que o
grau de desacetilação aumenta com o aumento da força da base utilizada, ou seja, a
desacetilação é maior utilizando-se hidróxido de sódio quando comparado a
hidróxido de amônio.
A literatura apresenta várias metodologias empregadas para desacetilação de
xantana; Callet, Millas e Rinaudo (1987) e Lopes et al. (1992) utilizaram xantana a
0,1% (p/v) e NaOH a 0,06mol L-1, realizando a reação sob agitação por 24h a 5ºC,
obtendo 100% de remoção dos grupos acetato; Bradshaw et al. (1983) utilizaram
soluções de xantana a 0,5% e KOH com concentrações variando de 0,005 –
0,025mol L-1 por 3h à temperatura ambiente, alcançando redução de 100% no teor
de acetila; Khouryieh et al. (2007) realizaram a reação de desacetilação utilizando
xantana a 0,2% (p/v) e KOH a 0,025mol L-1, em temperatura ambiente por 2,5h,
reduzindo o teor de acetila em 91%, conforme cálculo realizado por nosso grupo;
Pinto, Furlan e Vendruscolo (2011) estudaram duas concentrações de xantana (0,5
e 1%) e três concentrações de base (0,0025, 0,005 e 0,01mol L-1), conduzindo a
reação a 25ºC durante 3h, e a máxima desacetilação alcançada foi de 67,5%,
utilizando a base NaOH.
Estudos recentes também têm utilizado estearases, ou seja, enzimas que
hidrolisam ésteres, para proceder a desacetilação da xantana, promovendo até 57%
de remoção dos grupos acetila, sendo 70% desses localizados nas unidades de
manose interna (KOOL et al., 2014). Entretanto, os autores verificaram que a
xantana só é susceptível à ação enzimática quando a conformação molecular está
no estado desordenado, sendo necessária a utilização de condições de incubação
que permitam a desordem conformacional da molécula de xantana.
Não observou-se diferença significativa (p<0,05) na desacetilação causada
por temperatura ou tempo de reação ao se utilizar NaOH no processo reacional.
Esses resultados diferem daqueles relatados por Pinto (2005), que observou maior
65
desacetilação com o aumento do tempo de reação e da temperatura. Em nosso
estudo, observou-se esse resultado apenas para a base fraca, NH4OH. Alguns
autores estimam que a desacetilação comece a ocorrer em pH9 ou acima deste
(MCNEELY; KANG, 1973), o que somente foi alcançado, ou superado, no processo
pós-fermentativo de desacetilação termoquímica, utilizando-se a base forte NaOH.
Na tabela 4 estão dispostos os resultados obtidos por desacetilação pós-
fermentativa termoquímica para a xantana Xp 101 pH9, que naturalmente apresenta
baixo teor de acetila (0,28 ± 0,02% p/p) em função da autodesacetilação. Empregou-
se NaOH nas duas condições reacionais mais severas (65ºC por 3 e 6h) e o teor de
acetila não diferiu significativamente da xantana natural autodesacetilada.
Tabela 4 – Teores de acetila da xantana Xp 101 pH9 natural autodesacetilada e desacetiladas após fermentação em diferentes condições.
Xantana Teor de Acetila
(% p/p)
Xp 101 pH9 0,28a ± 0,02
Xp 101 pH9 NaOH 3h 65ºC 0,27a ± 0,04
Xp 101 pH9 NaOH 6h 65ºC 0,22a ± 0,00
*Valores = médias ± SD; n = 9. Linhas com letras diferentes são significativamente diferentes pelo teste de Tukey (p<0,05).
Desta forma, a partir da comparação dos resultados obtidos, selecionou-se a
condição de 3h de reação a 45ºC com NaOH como a condição ótima de tratamento
para as demais xantanas, uma vez que proporcionou alto grau de desacetilação,
com menor tempo e temperatura, proporcionando menor gasto de energia e maior
rapidez ao processo. As demais xantanas pruni naturais, com exceção da Xp 101
pH9, foram submetidas à reação termoquímica de desacetilação na condição
selecionada, e os resultados são apresentados na tabela 5 da seção 3.3.3.1.
66
3.3.3 Caracterização das xantanas modificadas
3.3.3.1 Teores de acetila e piruvato
O processo de desacetilação termoquímica reduziu significativamente
(p<0,05) os teores de acetila das xantanas, não havendo diferença significativa entre
elas após o processo (Tabela 5). Os controles não diferiram das respectivas
xantanas pruni naturais quanto ao teor de acetila, com exceção da xantana Xp 106
pH7 cujo controle apresentou pequena, porém significativa, redução de 4,4%.
Tabela 5 – Teor de acetila e piruvato (% p/p) das xantanas pruni Xp 101 e Xp 106 naturais, modificadas por reação de desacetilação termoquímica após fermentação na condição ótima – NaOH, 45ºC e 3h – e respectivos controles.
Xantana
Análise
Acetila Piruvato
Xp 101 pH7 2,37d ± 0,06 0,63
a ± 0,04
Xp 101 pH9* 0,28e ± 0,02 0,31
bcd ± 0,02
Xp 106 pH7 4,09a ± 0,04 0,63
a ± 0,02
Xp 106 pH9* 2,65c ± 0,05 0,34
b ± 0,03
Xp 101 pH7 controle 45ºC 2,34d ± 0,06 0,25
cd ± 0,02
Xp 101 pH9 controle 45ºC 0,25e ± 0,02 0,24
d ± 0,01
Xp 106 pH7 controle 45ºC 3,91b ± 0,03 0,25
cd ± 0,01
Xp 106 pH9 controle 45ºC 2,71c ± 0,02 0,25
cd ± 0,02
Xp 101 pH7 DESA 0,34e ± 0,02 0,30
bcd ± 0,01
Xp 106 pH7 DESA 0,26e ± 0,03 0,32
bc ± 0,02
Xp 106 pH9 DESA 0,23e ± 0,03 0,32
bc ± 0,03
Valores = médias ± SD; n = 6. Linhas com letras diferentes são significativamente diferentes pelo teste de Tukey (p<0,05). *Xantanas autodesacetiladas.
A autodesacetilação, ocorrida durante o processo fermentativo em pH 9 foi
cepa dependente, uma vez que para cepa 101 resultou em uma xantana
naturalmente desacetilada, não necessitando de processo termoquímico alcalino, ao
67
passo que para a cepa 106 a autodesacetilação reduziu a quantidade de acetil em
apenas 35%. O processo de autodesacetilação não pareceu alterar
quantitativamente as cadeias laterais, já que o teor de carboxilas (Tabela 1),
presentes no ácido glicurônico, unidade intermediária das cadeias laterais, manteve-
se constante nos diferentes pH, para a mesma cepa.
O método de desacetilação termoquímica pós-fermentativo selecionado foi
eficiente na remoção dos grupos acetato das xantanas pruni naturais de ambas as
cepas. Os resultados obtidos foram equivalentes ao obtido por autodesacetilação
total, ocorrida na xantana da cepa 101. O processo utilizado (condição ótima)
também reduziu significativamente os teores de piruvato das xantanas obtidas em
pH 7, tornando-os equivalentes aos das xantanas autodesacetiladas. Porém, os
teores de piruvato das xantanas desacetiladas termoquimicamente não são
estatisticamente diferentes dos respectivos controles, obtidos em 45ºC, já que a
dissolução e posterior recuperação das xantanas, para obtenção das xantanas
controle, também reduziu o teor de piruvato.
Com o objetivo de investigar as razões dessa redução no teor de piruvato,
produziu-se amostras controles a 25ºC, determinando-se o teor de piruvato dos
polímeros resultantes, bem como o percentual de polímero recuperado pela
precipitação em etanol em relação ao peso inicial de xantana. Na tabela 6, pode-se
observar os resultados.
Tabela 6 – Teor de piruvato (% p/p) e grau de recuperação (%) das xantanas controles produzidas a 25ºC e a 45ºC.
Xantana
Análise
Piruvato % de recuperação
Xp 101 pH7 controle 25ºC 0,32a ± 0,02 73,8
d ± 2,6
Xp 101 pH9 controle 25ºC 0,30ab
± 0,02 80,8ab
± 1,2
Xp 106 pH7 controle 25ºC 0,33a ± 0,02 78,2
bc ± 0,4
Xp 106 pH9 controle 25ºC 0,32a ± 0,02 79,5
ab ± 0,9
Xp 101 pH7 controle 45ºC 0,25bc
± 0,02 74,1d ± 0,3
Xp 101 pH9 controle 45ºC 0,24c ± 0,01 75,7
cd ± 0,3
Xp 106 pH7 controle 45ºC 0,25bc
± 0,01 80,5ab
± 0,7
Xp 106 pH9 controle 45ºC 0,25bc
± 0,02 81,8a ± 0,4
Valores = médias ± SD; n = 6. Linhas com letras diferentes são significativamente diferentes pelo teste de Tukey (p<0,05).
68
Os teores de piruvato dos controles a 45ºC foram significativamente menores
que os respectivos controles a 25ºC. Os resultados demonstram a influência da
etapa de recuperação extra, utilizada tanto na desacetilação termoquímica quanto
na obtenção dos respectivos controles, na redução dos teores de piruvato. O
aumento de temperatura torna a redução mais intensa.
Borges et al. (2009a) e Silveira et al. (2008) observaram que o tratamento
térmico realizado em temperaturas elevadas (121ºC) reduz os teores de acetila e
piruvato da xantana, provavelmente por hidrólise térmica (CALLET; MILAS;
RINAUDO, 1989; BORGES et al. 2009a). Apesar de estar havendo perda de
material durante o processo, comprovada pelo percentual de recuperação
polimérica, tal perda não parece estar relacionada à redução do piruvato.
3.3.3.2 Espectroscopia de infravermelho
Os resultados de espectroscopia de infravermelho reforçam aqueles
encontrados na análise química de teor de acetila. É possível visualizar, na figura 5,
a ausência de bandas de absorção características da carbonila do grupo acetato na
Xp 101 pH9 (autodesacetilada), ao passo que está presente nas demais xantanas;
com menor intensidade na Xp 106 pH9 (parcialmente desacetilada), em consonância
com a determinação quantitativa.
69
Figura 5 – Espectros de infravermelho das xantanas pruni naturais, com e sem autodesacetilação.
A deformação axial dos ésteres de ligação C=O é caracterizado por uma
banda a 1710 a 1730cm-1, normalmente presente no espectro das xantanas. Essa
banda, entretanto, está ausente na xantana Xp 101 pH9, de baixo teor de acetila
(0,28%), e também aparece com menor intensidade na xantana Xp 106 pH9. Esse
resultado comprova a autodesacetilação e a autodesacetilação parcial que ocorre
nessa condição de pH para cepa 101 e 106, respectivamente.
A desacetilação pós-fermentativa também pôde ser comprovada através da
espectrometria de infravermelho (Figura 6), pela ausência de bandas de absorção
características desses grupos funcionais nas xantanas submetidas à hidrólise com
NaOH, para todos os tempos e temperaturas estudados, no processo de reação
aplicados à xantana Xp 106 pH7. Porém, essa banda pode ser visualizada na
xantana natural e nas xantanas que sofreram processo termoquímico em NH4OH.
Os espectros das amostras de xantana apresentam uma banda de absorção
forte e larga em 3200 a 3450cm-1, referente aos grupos hidroxila (OH) associados
70
por ligações de hidrogênio, e em 2931cm-1, relativa ao estiramento assimétrico do
grupo metileno (CH2). A deformação angular de C–OH de ácido carboxílico
apresentou uma banda em 1395 a 1440cm-1.;em 1259cm-1, verificou-se uma banda
de estiramento da ligação C–O de ácidos carboxílicos e em 1629cm-1, pela
deformação axial de C=O.
Os ésteres metílicos apresentam uma banda em 1250cm-1, que também se
apresenta com menor intensidade na xantana Xp 101 pH9. A diminuição da
intensidade dessa banda também é facilmente visualizada para as xantanas
desacetiladas após fermentação. A figura 7 apresenta os espectros de infravermelho
para as xantanas submetidas à condição ótima de desacetilação e seus respectivos
controles.
71
Figura 6 – Espectros de infravermelho da xantana pruni Xp 106 pH7 natural e xantanas modificadas
por desacetilação termoquímica pós-fermentativa com NaOH (A) e NH4OH (B).
72
Figura 7 – Espectros de infravermelho das xantanas pruni: (A) Xp 101 e (B) Xp 106 naturais,
desacetiladas termoquimicamente e controles a 45ºC.
73
3.3.3.3 Sódio, potássio, cálcio e magnésio
Os íons presentes na xantana são uma consequência tanto das condições
operacionais, como do meio de produção e o uso de soluções para controle do pH,
quanto do processo de recuperação e tratamentos pós-fermentativos (BORGES et
al., 2009a; GARCÍA-OCHOA et al., 2000; KLAIC et al., 2011). Na tabela 7 estão
dispostos os resultados da análise de sais presentes nas xantanas pruni naturais,
desacetiladas e controles. As xantanas naturais diferiram significativamente entre si
ao nível de 5% de significância para sódio e potássio. Todas as xantanas naturais
produzidas tiveram valores bastante próximos de sais monovalentes, dentro da faixa
reportada na literatura.
De acordo com García-Ochoa et al. (2000), a xantana comercial apresenta
entre 3,6 e 14,3% de sais monovalentes. Em estudo realizado por Borges, Bastos e
Vendruscolo (2007), que avaliaram as xantanas comerciais Kelco® e Roeper®,
foram relatados teores de 3,2 e 0,67% de sais monovalentes totais,
respectivamente. Já Klaic et al. (2011) avaliaram o teor de sais monovalentes das
xantanas comerciais embaladas e distribuídas por Farmaquímica Indústria Ltda, com
3,26% e Aksy comercial Ltda com 3,21%, além da produzida pela Sigma-Aldrich®,
que apresentou 10,53% de sais monovalentes.
Para as xantanas da cepa 101 verificaram-se, na xantana produzida em pH7,
valores de sódio e potássio bastante próximos, com predomínio de potássio. Como
esperado, os maiores teores de sódio foram encontrados para xantana produzida
em pH9, uma vez que o controle do pH é realizado pela adição de NaOH (BORGES
et al., 2009a; KLAIC et al., 2011); porém, inesperadamente, as xantanas produzidas
pela cepa 106 tiveram predomínio de potássio, em ambos os pH. Para ambas as
cepas quanto maior o teor de sódio, menor o teor de potássio.
O conteúdo total de íons divalentes para xantana foi estimado na faixa de
0,085 a 0,17% por García-Ochoa et al. (2000). Todas as xantanas pruni tiveram
valores levemente superiores: Xp 101 pH7 com 0,20%; Xp 101 pH9 com 0,27%; Xp
106 pH7 com 0,26% e Xp 106 pH9 com 0,23%. Além disso, tal situação não é uma
desvantagem, visto que, muitas vezes as xantanas comerciais são adicionadas de
sais divalentes, como CaCO3, como um processo pós-fermentativo a fim de
74
aumentar a viscosidade e estabilidade térmica (BERGMANN; FURTH; MAYER,
2008; GARCÍA-OCHOA et al. 2000; SUTHERLAND, 2001a). Alguns autores, por
exemplo, relatam teores de 0,22 a 1,9% de sais divalentes para xantanas comerciais
avaliadas em estudos (BORGES; BASTOS; VENDRUSCOLO, 2007; KLAIC et al.
2011).
Tabela 7 – Teores de sódio, potássio, cálcio e magnésio (mg g-1
) e sais monovalentes (% p/p) das xantanas pruni Xp 101 e Xp 106 naturais e desacetiladas na condição ótima.
*SMV = % sais monovalentes. **SDV= % sais divalentes. Valores = médias ± SD; n = 6. < LD= abaixo do limite de detecção (0,78 mg g
-1). Linhas com letras diferentes são significativamente diferentes
pelo teste de Tukey (p<0,05).
As xantanas desacetiladas e controles apresentaram teores de sódio e
potássio menores do que as xantanas naturais, diferindo significativamente destas.
A maior redução de sais monovalentes ocorreu na desacetilação. Os teores de
magnésio, contrariamente mantiveram-se muito próximos das xantanas naturais,
sendo a maior redução esperadamente observada para as xantanas desacetiladas,
uma vez que esses íons estão ligados aos resíduos ácidos (acetila e ácido pirúvico)
da molécula (MCNEELY; KANG, 1973), que tiveram uma redução após o processo
térmico conforme apresentado na tabela 5. A diminuição nos controles em relação
às xantanas naturais pode ser devido ao fato desses íons estarem em excesso no
Xantana
Análise
sódio Potássio SMV* cálcio Magnésio SDV**
Xp 101 pH7 20,91b ± 0,56 23,67
c ± 0,19 4,46 < LD 2,00
de ± 0,01 0,20
Xp 101 pH9 41,45a ± 0,21 17,24
e ± 0,42 5,86 < LD 2,69
a ± 0,01 0,23
Xp 106 pH7 17,85d ± 0,15 27,33
b ± 0,32 4,51 < LD 2,58
a ± 0,06 0,26
Xp 106 pH9 16,89e ± 0,19 30,22
a ± 0,05 4,71 < LD 2,31
b ± 0,06 0,23
Xp 101 pH7 DESA 12,66f ± 0,26 7,99
i ± 0,33 2,06 < LD 1,86
f ± 0,04 0,19
Xp 106 pH7 DESA 12,74f ± 0,35 9,44
h ± 0,32 2,22 < LD 2,07
cd ± 0,03 0,21
Xp 106 pH9 DESA 10,70g ± 0,18 11,21
g ± 0,12 2,19 < LD 2,01
de ± 0,03 0,20
Xp 101 pH7 controle 45ºC 8,18h ± 0,23 13,20
f ± 0,45 2,14 < LD 1,91
ef ± 0,07 0,19
Xp 101 pH9 controle 45ºC 19,98c ± 0,09 11,45
g ± 0,02 3,14 < LD 2,64
a ± 0,04 0,26
Xp 106 pH7 controle 45ºC 7,46h ± 0,16 19,04
d ± 0,25 2,65 < LD 2,27
b ± 0,03 0,23
Xp 106 pH9 controle 45ºC 7,57h ± 0,28 17,95
e ± 0,29 2,55 < LD 2,14
c ± 0,03 0,21
75
meio reacional e não ligados à molécula. Para o sódio, os controles apresentaram
teores significativamente menores do que as xantanas desacetiladas, o que pode
ser explicado pelo fato da desacetilação ser realizada em NaOH, resultando,
provavelmente, na incorporação de sódio às xantanas.
3.3.3.4 Determinação qualitativa de monossacarídeos e ácidos derivados
Em todas as xantanas produzidas detectou-se glicose (Rf 0,58), manose (Rf
0,59,) ramnose (Rf 0,70) e ácido glicurônico (Rf 0,34) em sua composição, como
esperado para xantanas produzidas por X. arboricola pv pruni (BORGES et al.,
2008; BORGES; VENDRUSCOLO, 2007; MOREIRA et al., 2001; KLAIC, 2010;
RODRIGUES, 2010; VENDRUSCOLO et al., 2000).
A composição qualitativa das xantanas foi semelhante. Diferenças
assinaláveis, entretanto, foram percebidas em relação ao tamanho e intensidade da
mancha relativa ao produto de degradação da glicose. As amostras desacetiladas e
os controles da cepa 106 (Xp 106 pH7 controle 45ºC e Xp 106 pH9 controle 45ºC)
tiveram manchas menores e menos intensas. Nessas amostras controle detectaram-
se os maiores teores de potássio (Tab. 7). Todas as xantanas apresentaram glicose
e manose como unidades de hexose dominantes, seguidas pelo ácido glicurônico. A
presença de ramnose diferencia a xantana de X. arboricola pv pruni da xantana
comercial produzida por X. campestris pv campestris (MOREIRA et al., 2001;
VENDRUSCOLO et al., 2000). As xantanas desacetiladas e os controles
aparentemente não diferiram das respectivas xantanas naturais (Figura 8).
76
Figura 8 – Cromatografia de camada delgada comparativa das xantanas: Xp 101 pH7 (1); Xp 101 pH9 (2); Xp 106 pH7 (3); Xp 106 pH9 (4); Xp 101 pH7 DESA (5); Xp 106 pH7 DESA (6); Xp 106 pH9 DESA (7); Xp 101 pH7 controle 45ºC (8); Xp 101 pH9 controle 45ºC (9); Xp 106 pH7 controle 45ºC (10); e Xp 106 pH9 controle 45ºC (11). Padrões: P1 – Manose (M) e ácido glicurônico (AG); P2 – Ramnose (R) e glicose (G). Sistema – sílica gel F254; eluente: clorofórmio:metanol:ácido acético:água (40:40:10:10 v/v/v/v); revelador: anisaldeído sulfúrico.
3.3.3.5 Reometria
Os valores de viscosidade das xantanas pruni está disposto na tabela 8. As
xantanas produzidas pelas duas cepas na condição de pH9 apresentaram valores
de viscosidade ligeiramente maiores dos que as produzidas em pH7.
Tabela 8 – Viscosidade (mPas) a 25ºC em diferentes taxas de deformação (s-1
), de soluções aquosas a 1% (m/v) das xantanas pruni Xp 101 e Xp 106 com e sem autodesacetilação.
Xantana Taxa de deformação (s
-1)
10 30 60 100 1000
Xp 101 pH7 1740 626 343 226 44
Xp 101 pH9 2100 732 371 234 37
Xp 106 pH7 1990 670 336 208 35
Xp 106 pH9 2340 785 396 255 40
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 P1 P2
AG
M
B
R
G
77
Diversos autores têm relacionado as propriedades reológicas da xantana
com a sua composição química (BORGES et al., 2008; CADMUS et al., 1978;
CASAS; FLORES CANDIA; DECKWER,1999; SANTOS; GARCÍA-OCHOA, 2000;
MOREIRA et al. 2001, MOREIRA, 2002; SANDFORD et al.,1977), porém não existe
um consenso na literatura sobre a influência exercida pelos substituintes acetila e
piruvato no comportamento reológico do polímero.
Segundo Cadmus et al. (1978) e Sandford et al. (1977), o conteúdo de
piruvato pode ser considerado um indicador das propriedades das soluções de
xantana. De acordo com os autores, existe uma correlação direta entre o conteúdo
de piruvato e a viscosidade do polímero, que aumenta com o aumento de teor do
substituinte. Esse aumento na viscosidade foi explicado por Flores, Candia e
Deckwer (1999) que sugerem que xantanas com teor de piruvato superior a 3%
aumentam o grau de autoassociações de moléculas. Segundo os autores essas
associações são promovidas por interações apolares entre os grupos metílicos dos
substituintes pirúvicos.
Por outro lado, diversos autores concluíram em seus estudos que o grau de
piruvatação tem baixa ou nenhuma correlação com a capacidade viscosificante da
xantana (BORGES; BASTOS; VENDRUSCOLO, 2007; BORGES et al., 2009a;
BRADSHAW et al. 1983; ERTEN et al., 2014; TORRESTIANA; FUCIKOVSKY;
GALINDO, 1990). Erten e colaboradores (2014) avaliaram quatro xantanas, sendo
duas com a mesma concentração de piruvato (3,9%), uma com alta concentração
(6,5%) e outra com concentração mais baixa (2,2%). Segundo os autores, as
viscosidades intrínsecas das xantanas são independentes do teor de piruvato. Em
nosso estudo, as xantanas produzidas em pH 9 apresentaram menores teores de
piruvato (0,31 e 0,34%) e viscosidades ligeiramente superiores que as xantanas
produzidas em pH7, para ambas as cepas utilizadas.
Semelhante ao que ocorre em relação a influência de piruvato na
viscosidade da xantana, os estudos referentes à influência exercida pelos
substituintes acetila são controversos. Para muitos pesquisadores a remoção dos
grupos acetato da molécula causa alterações em suas propriedades reológicas, que
são melhoradas (PINTO; FURLAN; VENDRUSCOLO, 2011; SLONEKER; JEANES,
1962; SMITH; PACE, 1982). Já para outros (MCNEELY; KANG, 1973) o teor de
78
acetila tem pouco efeito na viscosidade das soluções. Santos, Casas e García-
Ochoa (2000) relacionaram alta viscosidade com alto teor de acetato.
Para investigar a influência do processo de desacetilação nas propriedades
reológicas das xantanas pruni realizou-se análises de viscosidade para a xantana
submetida às diferentes condições de tempo, temperatura e agente de
desacetilação. Como pode ser observado na figura 9, ocorreu uma pequena
diminuição na viscosidade das xantanas após o processo de desacetilação
termoquímica, independente da redução ou não do teor de acetila; isto indica que há
outros fatores envolvidos.
Figura 9 – Curvas de viscosidade (mPas) versus taxa de deformação (0,01 a 1000s
-1) a 25ºC de
soluções aquosas (1% m/v) da xantana pruni Xp 106 pH7 natural e submetidas ao processo termoquímico com NaOH (A) e NH4OH (B).
A
B
79
O decréscimo na viscosidade parece estar relacionado, se não totalmente, ao
menos parcialmente, à dissolução e recuperação adicional, visto que, as amostras
controle, que passaram apenas por processo de aquecimento sem a presença de
base, tiveram redução na viscosidade (Figura 10) semelhante às xantanas
desacetiladas, porém essa diminuição foi mais pronunciada para a cepa 106. Essa
redução de viscosidade após dissolução e recuperação adicional já havia sido
observada em estudo anterior (KLAIC, 2010) e pode estar relacionada à perda de
moléculas poliméricas de menor tamanho, alterações na conformação da cadeia ou,
ainda, à diminuição no teor de sais.
80
Figura 10 – Curvas de viscosidade (mPas) versus taxa de deformação (0,01 a 1000s
-1) a 25ºC de
soluções aquosas (1% m/v) das xantanas pruni: Xp 101 pH7 natural, controle e desacetilada (A); Xp 101 pH9 natural e controle (B); Xp 106 pH7 natural, controle e desacetilada (C); Xp 106 pH9 natural, controle e desacetilada (D).
A
B
D
C
81
Bradshaw e colaboradores (1983) prepararam xantanas com vários teores de
acetil e de piruvato a partir de uma mesma amostra de xantana. Os pesquisadores
observaram em seu estudo que a desacetilação tem pequeno efeito na viscosidade
das soluções de xantana em taxas de cisalhamento de 8,8 – 88,3s-1. Também
observaram que a pseudoplasticidade ficou inalterada. Resultados semelhantes
foram encontrados por Callet, Milas e Rinaudo (1987), que não verificaram influência
dos teores de acetato e piruvato na viscosidade de soluções diluídas de xantana;
porém, segundo os autores, quando em altas concentrações, algumas diferenças
podem ocorrer devido a interações intermoleculares.
Comparando as xantanas de uma mesma cepa, em nosso estudo, as
xantanas naturalmente autodesacetiladas, produzidas em pH9, apresentaram
menores teores de acetila (Tabela 2) e maiores viscosidades; porém, apenas para a
cepa 101 ocorreu a autodesacetilação total nessa condição. A desacetilação pós-
fermentativa aparentemente não aumentou a viscosidade das xantanas modificadas
(Figura 10). Os parâmetros reológicos índice de consistência (K) e índice de fluxo (n)
das xantanas naturais, submetidas a desacetilação pós-fermentativa e respectivos
controles (Tabela 9) foram obtidos a partir dos resultados de taxa de deformação e
tensão de cisalhamento. Para xantana Xp 101 pH7, o processo de desacetilação
pós-fermentativa incrementou o índice de consistência do polímero modificado. Para
todas as demais xantanas houve diminuição nos valores de K após a desacetilação
termoquímica.
Segundo Flores Candia e Deckwer (1999), as soluções de xantana são
consideradas pseudoplásticas quando apresentam valores de n ≤ 1. A desacetilação
aumentou a pseudoplasticidade das xantanas pruni, sendo a xantana Xp 101 pH7
desacetilada a mais pseudoplástica. Tako e Nakamura (1984) investigaram as
propriedades de fluxo de soluções aquosas de xantana desacetilada. Eles sugeriram
que os grupos acetila contribuem para as interações intramoleculares e que a cadeia
lateral se torna mais flexível após desacetilação.
82
Tabela 9 – Parâmetros reológicos, índice de consistência (K) e índice de fluxo (n), para as soluções a 1% (m/v) das xantanas pruni Xp 101 e Xp 106 naturais, desacetiladas na condição ótima e respectivos controles.
o
Outra determinação importante é o comportamento viscoelástico da xantana
(STEFFE, 1996). De acordo com Steffe (1996), soluções que apresentam o módulo
elástico (G‟) maior que o módulo viscoso (G”) têm característica de gel verdadeiro e
forte. A desacetilação exerce pouco efeito sobre as propriedades viscoelásticas das
soluções de xantana (Figura 11).
Em nosso estudo, todas as xantanas naturais e modificadas por
desacetilação pós-fermentativa apresentaram essa característica, com valores
elevados para ambos os módulos. De maneira geral, a desacetilação reduziu o
módulo elástico para as xantanas pruni modificadas. O módulo elástico permaneceu
maior que o módulo viscoso em toda a faixa de frequência utilizada, indicando que a
solução de xantana tem baixa dependência da frequência para ambos os módulos.
Resultados semelhantes foram observados por Renou et al. (2013).
Xantana K n R2
Xp 101 pH7 5,680 0,3487 0,9998
Xp 101 pH9 6,685 0,3372 0,9998
Xp 106 pH7 6,533 0,3252 0,9998
Xp 106 pH9 7,133 03415 0,9998
Xp 101 pH7 DESA 7,407 0,2816 >0,9999
Xp 106 pH7 DESA 4,427 0,2884 >0,9999
Xp 106 pH9 DESA 3,011 0,3046 >0,9999
Xp 101 pH7 controle 45ºC 4,288 0,3140 >0,9999
Xp 101 pH9 controle 45ºC 5,030 0,3113 >0,9999
Xp 106 pH7 controle 45ºC 2,992 0,3356 >0,9999
Xp 106 pH9 controle 45ºC 3,715 0,3064 >0,9999
83
Figura 11 - Curvas de viscoelasticidade a 25ºC de soluções a 1% (m/v) das xantanas Xp 101 pH7 (A),
Xp 106 pH7 (B) e Xp 106 pH9 (C) naturais e desacetiladas, na frequência de 1 a 10Hz.
84
3.3.3.6 Análise térmica
A análise de DSC das xantanas pruni demostra suas características
endotérmicas. O termograma (Figura 12) mostra que as xantanas naturais
apresentaram picos endotérmicos em temperaturas próximas (168,29 – 170,18ºC),
com exceção da Xp 101 pH7, que apresentou o pico em temperatura mais baixa
(162,58ºC). Esse polímero também apresentou pico endotérmico mais largo, ou seja,
com ampla faixa de fusão, o que indica maior polidispersão. Todas as xantanas
pruni tiveram temperaturas de fusão elevadas, visto que a literatura reporta
temperaturas entre 90 e 120ºC (RAMASAMY et al., 2011; AHUJA; KUMAR; SINGH,
2012).
Figura 12 - Análise de calorimetria exploratória diferencial (DSC) das xantanas pruni naturais e desacetiladas após fermentação; na faixa de temperatura de 25 a 240ºC com taxa de aquecimento de 10ºC/min.
85
A desacetilação diminuiu a temperatura de fusão de todas as xantanas com
exceção da Xp 101 pH7, cujo pico endotérmico passou de 162,58ºC para 173ºC
após modificação por desacetilação termoquímica, porém, com diminuição da
temperatura de início de fusão. De acordo com Viebke (2004) os grupos acetila
tendem a estabilizar a forma ordenada da molécula de xantana, possivelmente pela
promoção de associações da cadeia lateral com a cadeia principal através de
ligações de hidrogênio; sendo assim, sua remoção diminui a temperatura de
transição ordem-desordem (Callet; Milas; Rinaudo, 1987) A desordem
conformacional do polímero leva a um forte decréscimo nas propriedades reológicas
da xantana (MORRIS et al., 1977), e, conforme observado, também decresceu sua
temperatura de fusão.
A curva termogravimétrica (Figura 13) representa a perda de massa em
decorrência da decomposição térmica das amostras de xantana naturais e
desacetiladas por processo pós-fermentativo termoquímico. Dentre as amostras a
Xp 106 pH7 DESA teve a maior labilidade, seguida pela Xp 106 pH7 natural. A
desacetilação teve diferentes efeitos sobre a estabilidade das diferentes xantanas.
Com exceção da Xp 106 pH9, as demais xantanas diminuíram sua estabilidade
térmica após desacetilação termoquímica, uma vez que tiveram maior perda de
massa no mesmo intervalo de temperatura. Diferenças no comportamento térmico
de polissacarídeos não ocorrem apenas devido a diferenças nos grupos funcionais
presentes, mas também em função de diferenças na estrutura do polímero
(ZOHURIAAN; SHOKROLAHI, 2004), massa molar e composição química
(NITSCHKE; THOMAS, 1995), principalmente em relação ao teor de sais ou
contraíons.
86
Figura 13 - Curvas de análise termogravimétrica (TGA) das xantanas pruni, naturais e desacetiladas termoquimicamente após fermentação, e seus respectivos percentuais de perda de massa na faixa de temperatura de 30 a 350ºC, com taxa de aquecimento de 10ºC/min.
Um fator que pode ter contribuído para a diminuição da estabilidade desses
polímeros é a redução no teor de sais (Tabela 7), que ocorrem após o processo de
desacetilação pós-fermentativa. A conformação ordenada da goma xantana é
estabilizada por sais e se acredita que esta conformação ordenada seja responsável
pela estabilidade térmica do polímero (BORGES et al. 2009b; KIERULF;
SUTHERLAND, 1988; SUTHERLAND, 2001b; XIE; LECOURTIER, 1992).
A maioria das modificações nas características reológicas e térmicas
ocorridas pelo processo de desacetilação termoquímica pós-fermentativa foram
negativas; entretanto o mesmo pode ser considerado uma modificação química
importante na xantana, uma vez que, permite ou facilita outras modificações
químicas posteriores, como a reticulação. Ainda, segundo Shatwell e Sutherland
(1991), a desacetilação aumenta a força de interação física da goma xantana com
outras gomas, do tipo mananas, como por exemplo a goma guar e locusta,
permitindo a obtenção de misturas ou blendas com propriedades de gel. (LOPES et
al., 1992; TAKO; NAKAMURA, 1985; TAKO; NAKAMURA, 1986).
87
3.4 Conclusões
A autodesacetilação da xantana pruni é possível, porém menos eficiente que
o método termoquímico pós-fermentativo proposto. Embora mais simples e
econômica, a autodesacetilação parece ser cepa dependente, uma vez que, apenas
para cepa 101, a fermentação em pH9 resultou em uma xantana com grau máximo
de desacetilação. A força da base utilizada no processo termoquímico de
desacetilação pós-fermentativa influencia positivamente o grau de remoção dos
ligantes acetila. O tempo e a temperatura são significantes apenas para a base
fraca, NH4OH. A condição de 3h de reação com NaOH a 45ºC foi selecionada como
a condição ótima de desacetilação. Esta condição emprega o menor tempo e a
menor temperatura em estudo, gerando maior economia de energia e
proporcionando maior rapidez ao processo.
A desacetilação pós-fermentativa não aumentou a viscosidade das xantanas
pruni e diminuiu sua estabilidade térmica. Já a autodesacetilação, total ou parcial,
aumentou a viscosidade das xantanas produzidas. O controle do grau de
substituição na xantana por grupos acetato, por autodesacetilação e por
desacetilação termoquímica pós-fermentativa, é simples e eficiente, e pode resultar
em xantanas compatíveis com outras gomas e componentes do produto onde serão
utilizadas.
88
4 Modificação química de xantana pruni por reticulação parcial mediada por
glutaraldeído: efeito da desacetilação e parâmetros reacionais
4.1 Introdução
Com a modificação química de polissacarídeos busca-se alterar
controladamente suas propriedades e conferir-lhes aplicações mais amplas. Elevar a
qualidade de um biopolímero, como a xantana, através de modificações químicas
pode ser mais simples e eficaz do que produzir um novo polímero (KLAIC, 2010). É
possível modificar quimicamente a estrutura da molécula da xantana e,
consequentemente, suas propriedades (BORN; LANGENDORFF; BOULENGUER,
2002). Alguns autores vêm estudando a reticulação em xantana (BEJENARIU et al.,
2008; BEJENARIU et al., 2009; BEPPU et al., 2007; BUENO et al., 2013) e outros
polímeros (GLIKO-KABIR; PENHASI; RUBENSTEIN, 1999; POON; WILSON;
HEADLEY, 2014; SHALVIRI et al., 2010). A interligação ou entrecruzamento de
cadeias poliméricas, forma uma estrutura “reticulada”, cujo grau de reticulação é
dependente da concentração do agente reticulante utilizado e, principalmente, da
temperatura de preparo da amostra (SANDOLO et al., 2009). A reticulação é
aplicada a polissacarídeos para alterar suas propriedades de intumescimento e
preparar hidrogéis (LINDBLAD; ALBERTSSON, 2004), tornando o material versátil
(SANDOLO et al., 2009) e altamente resistente à temperatura (GLIKO-KABIR;
PENHASI; RUBENSTEIN, 1999; NAVARRETE; SEHEULT; COFFEY, 2000).
Diferentes agentes de reticulação têm sido utilizados objetivando modificar a
estrutura da xantana. Dentre esses podemos citar o formaldeído (SMITH;
PACE,1982), ácido adípico-di-hidrazida (BEJENARIU et al., 2008), trimetafosfato de
89
sódio cíclico (STMP) (BEJENARIU et al., 2009) e o ácido cítrico (BUENO et al.,
2013). A reticulação de outros polissacarídeos, como goma guar e quitosana, com
glutaraldeído, ou 1,5-pentanodial, também tem sido reportada (BEPPU et al., 2007;
GENTA et al., 1998; LINDBLAD; ALBERTSSON, 2004; POON; WILSON; HEADLEY,
2014; PRATT; WILSON; KOZINSKI, 2013; SANDOLO et al., 2009; TAHTAT et al.,
2013; VIKHOREVA; SHABLYUKOVA; KILL‟DEEVA, 2001; ZHOU et al., 2014). O
glutaraldeído apresenta baixa citotoxicidade em concentrações de até 0,5mol/L,
sendo considerado não carcinogênico (ZHOU et al., 2014). Devido a essa
característica, tem sido avaliado como potencial reticulante em produtos
farmacêuticos (TAHTAT et al., 2013).
Neste estudo objetivou-se avaliar a influência do teor de acetilação do
polímero e dos parâmetros do processo (concentração de reticulante, tempo e
temperatura) na reticulação mediada por glutaraldeído, e a influência da reticulação
nas propriedades reológicas e térmicas da xantana pruni das cepas 101 e 106.
4.2 Material e métodos
4.2.1 Xantanas
Neste estudo utilizou-se as xantanas produzidas pelas cepas 101 e 106 de X.
arboricola pv pruni em duas condições, pH 7 e pH 9, conforme descrito no item
3.2.2; e as xantanas modificadas pela condição ótima de desacetilação selecionada
no item 3.3.2. As xantanas utilizadas foram previamente caracterizadas quanto a
teor de acetil, conforme descrito no item 3.2.4.1.
90
4.2.2 Reticulação
O estudo da modificação química da xantana pruni por reticulação foi
realizado em três fases, sendo a última subdividida em dois experimentos.
Compreenderam a avaliação da influência da concentração do agente reticulante, do
tempo e da temperatura de reação sobre xantanas pruni com diferentes teores de
acetila. Para tanto, utilizou-se o reticulante glutaraldeído (GLU), disponível em
solução a 50% (Vetec®). As amostras resultantes de todos os tratamentos
receberam junto à sua denominação a concentração do agente reticulante, a
temperatura e o tempo de reação empregados na reticulação. Ex.: Xp 101 pH9
0,05% GLU 25ºC 2h.
Na primeira fase estudou-se o efeito do tempo de reação e concentração do
reticulante na viscosidade da xantana pruni natural autodesacetilada produzida pela
cepa 101 de X. arboricola pv pruni em pH9 (Xp 101 pH9), escolhida pelo seu baixo
teor de acetilação. A xantana foi solubilizada na proporção de 0,5% (m/v), em
frascos Erlenmeyers de 250mL. Utilizou-se diferentes concentrações do reticulante
glutaraldeído em água ultra pura, sendo: 0,05; 0,1; 0,5 e 1% (v/v). Conduziram-se as
reações em incubador orbital (B. Braun Biotech International®, modelo Certomat BS-
1) a 25ºC, sob agitação de 200rpm, durante 0,5; 1 e 2h. Após, recuperou-se as
xantanas pela adição de etanol 96% na proporção de quatro volumes de etanol para
cada volume de solução. As xantanas modificadas foram secas em estufa de
secagem (Fabbe®) a 56ºC até peso constante e, em seguida, trituradas até a
granulometria de 60 – 150 mesh. Os tratamentos com glutaraldeído resultaram em
doze amostras de xantanas modificadas. Avaliou-se a viscosidade de todas as
amostras a 25ºC, conforme descrito a seguir no item 4.2.3. Com base nos
resultados, selecionou-se 2h como melhor tempo. Para as amostras obtidas nesse
tempo e com a maior e a menor concentração do agente reticulante, analisou-se o
ponto de fusão por DSC, e resistência térmica por TGA/DTG conforme descrito no
item 4.2.4.
A segunda fase foi realizada com o objetivo de selecionar a melhor
concentração de reticulante. Utilizou-se o tempo e as concentrações selecionadas
anteriormente, 2h e 0,05% e 1% de reticulante, para as demais xantanas naturais
91
com (Xp 106 pH9) e sem autodesacetilação (Xp 101 pH7 e Xp 106 pH7), e
desacetiladas após fermentação na condição ótima. Todas as xantanas resultantes
tiveram a viscosidade a 25ºC analisadas. A partir dos resultados de viscosidade
selecionou-se a melhor concentração, 1% de reticulante, para o tempo utilizado.
A terceira fase foi conduzida utilizando-se todas as xantanas naturais e
desacetiladas após fermentação na condição ótima, com o objetivo de determinar-se
a melhor temperatura para o processo. Realizou-se a reticulação com as condições
de concentração e tempo selecionadas (1% de reticulante e 2h de reação), nas
temperaturas de 45, 65 e 85ºC. As xantanas que apresentaram os melhores
resultados de viscosidade a 25ºC também foram submetidas à reação à 75 e 100ºC.
As amostras de xantana Xp 106 pH7 desacetiladas submetidas à reticulação nas
temperaturas de 25, 45, 65 e 85ºC foram analisadas termicamente por DSC.
Os resultados permitiram a seleção das amostras Xp 106 pH7 e a Xp 106 pH9
desacetiladas submetidas à reticulação a 45ºC. Para essas xantanas realizou-se
análises reométricas determinando-se os valores de K e n e viscoelasticidade
(módulos elástico e viscoso), análises térmicas de DSC, TGA/DTG e sua derivada e
espectroscopia de infravermelho.
Em cada processo reacional fez-se uma reação controle para cada xantana
utilizada, conduzindo-se o aquecimento da amostra em água ultra pura sem a
presença de reticulante, denominando-se os polímeros resultantes após o
tratamento térmico com o respectivo nome do polímero, temperatura e a terminação
controle. Ex.: Xp 101 pH9 autodesa 25ºC RETcontrole.
4.2.3 Rendimento da síntese das xantanas reticuladas
O rendimento da síntese das xantanas reticuladas de melhor resposta foi
calculado de acordo com a equação 3, proposta por Bejenariu et al. (2009):
R (%) = ms x 100 (3) mi
92
onde R(%) é o rendimento da reação, mi é a quantidade de xantana introduzida
inicialmente e ms é a quantidade de xantana seca após a precipitação da xantana
modificada. Para fins de comparação, determinou-se o rendimento da síntese dos
polímeros naturais reticulados, dos desacetilados e dos controles a 45ºC.
4.2.4 Reometria
Preparou-se as soluções de xantana pruni de acordo com o item 3.2.4.5.
Analisou-se todas as amostras submetidas à reticulação através de ensaios
rotacionais em reômetro (Haake® modelo RS150). Determinou-se a viscosidade em
função da concentração por meio de curvas de tensão de cisalhamento versus taxa
de deformação a 25ºC, utilizando geometria de cone, com 35mm de diâmetro e
ângulo de 1º, e placa com taxa de cisalhamento de 0,01-1000s-1, durante 400s e 100
pontos de aquisição. Os parâmetros reológicos, índice de consistência (K) e o índice
de fluxo (n) foram obtidos pelo ajuste do modelo de Ostwald-de-Waelle.
Adicionalmente, foram realizados ensaios oscilatórios (viscosidade versus
elasticidade) para determinar as propriedades viscoelásticas lineares das xantanas
de melhor resultado na reticulação, sendo medidos os módulos elástico G´(ω) e
viscoso G” (ω) a 25ºC. O estresse imposto durante as análises foi escolhido dentro
do regime de resposta linear (0,5 Pa de tensão e frequência variando de 1 a 10 Hz)
conforme descrito no item 3.2.4.5.
As xantanas de melhor resultado na reticulação também tiveram a
viscosidade e a viscoelasticidade mensuradas nas temperaturas de 45 e 65ºC. Para
retardar a evaporação da água foi utilizada uma fina camada de óleo newtoniano ao
redor do cone recobrindo a superfície da amostra exposta.
93
4.2.5 Análise térmica
As análises termogravimétricas (TGA/DTG) foram feitas em equipamento
Shimadzu® DTG-60 e as de calorimetria exploratória diferencial (DSC) foram
conduzidas em equipamento Shimadzu® DSC-60, de acordo com o descrito no item
3.2.5.
4.2.6 Espectroscopia de infravermelho
Os espectros de infravermelho foram obtidos conforme descrito no item
3.2.4.2. Analisou-se o reticulante glutaraldeído e as xantanas que apresentaram as
melhores viscosidades após a reação de reticulação.
4.2.7 Grau de intumescimento e teor de absorção de água
A determinação do grau de intumescimento foi realizada para avaliar a
capacidade de hidratação dos polímeros naturais e reticulados. Para tanto preparou-
se pequenas esferas de xantana, umedecendo 0,1g de pó para moldá-lo. Em
seguida as esferas foram secas em estufa a 56ºC até peso constante e, depois,
imersas em 40mL de água ultra pura à temperatura ambiente, onde permaneceram
por 12h. Após transcorrido o período de intumescimento até o equilíbrio, as esferas
intumescidas foram cuidadosamente retiradas da água, colocadas sobre papel filtro,
onde permaneceram por aproximadamente 5 minutos para remoção do excesso de
água, e em seguida foram pesadas. As esferas intumescidas foram novamente
secas em estufa a 56ºC até peso constante. Os ensaios foram realizados em
triplicata. A capacidade de absorção de água ou grau de intumescimento (GI) das
amostras naturais e reticuladas e o teor de água nas amostras intumescidas foram
calculados de acordo com as equações 1 e 2, respectivamente, onde:
94
GI = mXI – mXS (1) mXS
Teor de água (%) = mXI – mXS x 100 (2) mXI
mXI é a massa do polímero intumescido e mXS é a massa do polímero intumescido
seco (BUENO et al., 2013; CURY et al., 2009; ENKE et al., 2014). A capacidade de
absorção de água é dada em gramas de água absorvida por gramas de amostra
(ENKE et al., 2014).
4.2.8 Teste de dissolução
Preparam-se filmes de 6 cm de diâmetro a partir da secagem em estufa a
56ºC por 24h de 20mL de solução das amostras de xantana a 0,5% em água ultra
pura. Os filmes foram previamente pesados e, em seguida, submetidos à agitação
de 100 rpm durante 30 minutos em 40mL de água ultra pura a 60ºC. Trancorrido
esse período, os filmes restantes foram separados por centrifugação, secos em
estufa a 56ºC e novamente pesados para verificar o percentual de dissolução de
cada amostra.
4.3 Resultados e discussão
4.3.1 Influência da concentração de agente reticulante e do tempo de reação na
viscosidade e resistência térmica das xantanas reticuladas
Procedeu-se as análises de viscosidade da xantana Xp 101 pH9
autodesacetilada e das doze amostras resultantes dos tratamentos de reticulação
95
com diferentes concentrações do reticulante GLU, em diferentes tempos. A partir
dos resultados de taxa de deformação e tensão de cisalhamento obtiveram-se as
curvas de viscosidade versus taxa de deformação bem como os parâmetros
reológicos índice de consistência (K) e índice de fluxo (n). Os resultados dos
parâmetros K e n bem como a viscosidade na taxa de cisalhamento de
aproximadamente 30s-1 estão dispostos na tabela 10. Esta taxa de cisalhamento foi
selecionada por ser importante na indústria de alimentos, em virtude de processos
de mistura e bombeamento (KATZBAUER, 1998).
Tabela 10 – Viscosidade a 30 s-1
e parâmetros reológicos índice de consistência (K) e índice de fluxo (n) obtidos das curvas de viscosidade (mPas) versus taxa de deformação (s
-1), a 25ºC, de soluções
aquosas a 1% (m/v) da xantana pruni Xp 101 pH9 natural e submetida à reticulação com diferentes concentrações de GLU e três tempos de reação.
R2= fator de correlação
Segundo Lefebvre e Doublier (2004), a reologia nos permite investigar a
estrutura dos sistemas em diferentes escalas, sendo considerada uma técnica
especialmente útil para monitorar e investigar mudanças estruturais nos sistemas,
como a gelificação. A resistência de um fluido diante do escoamento é dada pelo
índice de consistência (K), ou seja, quanto maior o valor de K maior é a sua
Xantana η (mPas) K n R2
Xp 101 pH9 autodesa 732 6,68 0,34 >0,9999
Xp 101 pH9 25ºC controle 610 6,14 0,31 >0,9999
Xp 101 pH9 0,05% GLU 25ºC 0,5h 831 7,84 0,32 >0,9999
Xp 101 pH9 0,05% GLU 25ºC 1h 791 7,61 0,33 >0,9999
Xp 101 pH9 0,05% GLU 25ºC 2h 817 7,42 0,34 >0,9999
Xp 101 pH9 0,1% GLU 25ºC 0,5h 845 7,78 0,34 >0,9999
Xp 101 pH9 0,1% GLU 25ºC 1h 695 7,35 0,30 >0,9999
Xp 101 pH9 0,1% GLU 25ºC 2h 890 7,77 0,35 >0,9999
Xp 101 pH9 0,5% GLU 25ºC 0,5h 646 6,59 0,32 >0,9999
Xp 101 pH9 0,5% GLU 25ºC 1h 651 6,91 0,31 >0,9999
Xp 101 pH9 0,5% GLU 25ºC 2h 670 6,77 0,31 >0,9999
Xp 101 pH9 1% GLU 25ºC 0,5h 663 6,82 0,31 >0,9999
Xp 101 pH9 1% GLU 25ºC 1h 683 6,99 0,31 >0,9999
Xp 101 pH9 1% GLU 25ºC 2h 698 7,04 0,31 >0,9999
96
viscosidade. Xantanas com valores de n ≤ 1 são consideradas soluções
pseudoplásticas (FLORES CANDIA; DECKWER, 1999; GARCÍA-OCHOA et al,
2000). Segundo Flores Candia e Deckwer (1999), é conveniente aplicar o modelo
matemático de ajuste da curva de Ostwald-de-Waelle para avaliar o comportamento
reológico de soluções de xantana. Tal modelo considera a totalidade das curvas
para o cálculo dos parâmetros K e n. Todas as condições de reticulação utilizadas
para xantana Xp 101 pH9 ocasionaram alterações na viscosidade dos polímeros.
Verificou-se aumento de viscosidade quando utilizou-se 0,05% e 0,1% de GLU em
todos os tempos testados. Todas as demais condições resultaram em polímeros
com viscosidade semelhante à xantana natural mas superiores à respectiva xantana
controle, que teve redução de viscosidade. De maneira geral, os parâmetros K e n
foram bastante próximos, mas os maiores valores de viscosidade na região entre 10
e 100 s-1, representados na tabela 10 pelo valor em 30 s-1, foram alcançados com o
tempo de 2h de reação.
Para verificar a influência do processo na resistência térmica selecionou-se as
xantanas modificadas pela menor e maior concentração de reticulante (0,05 e 1%)
durante o melhor tempo de reação (2h) para análise de TGA/DTG e DSC. A análise
de DSC nos fornece as temperaturas de fusão e de cristalização, enquanto que a
análise termogravimétrica (TGA) nos permite definir faixas de temperatura nas quais
os produtos podem ser expostos, sem que haja degradação, ou seja, sem
comprometer a estrutura do material (ASTM, 2013). Segundo Wilson e Xue (2013) a
caracterização de polímeros por TGA traz informações sobre sua estabilidade
térmica e nível de reticulação. Para a maioria das aplicações, é importante conhecer
a estabilidade térmica do material a ser utilizado (IQBAL et al., 2013).
Na figura 14 estão dispostas as curvas de DSC das xantanas selecionadas.
Todas as amostras tiveram picos endotérmicos únicos e estreitos, dentro da faixa
citada para xantana (FARIA et.al 2011). Pode ser observado um pequeno aumento
no ponto de fusão da xantana, submetida à reação mais extrema (2h com 1% de
reticulante), ao passo que a xantana tratada na condição mais branda, com a menor
concentração de reticulante (2h com 0,05% GLU) teve redução na temperatura de
fusão, comparada à xantana natural. O tratamento realizado na condição com menor
concentração de reticulante teve, portanto, efeito similar ao tratamento controle, sem
utilização de reticulante.
97
Figura 14 – Análise de calorimetria exploratória diferencial (DSC) da xantana Xp 101 pH9 natural e
submetida à reticulação durante 2h com concentrações de glutaraldeído de 0,05 e 1%, e respectivo controle, a 25ºC, na faixa de temperatura de 25 a 240ºC com taxa de aquecimento de 10ºC/min.
Todas as amostras tiveram picos endotérmicos únicos e estreitos, dentro da
faixa citada para xantana ( FARIA et al., 2011).
As curvas termogravimétricas de TGA-DTA (Figura 15) ilustram o mecanismo
da decomposição térmica das amostras de xantana. A primeira perda de massa
associada ao pico endotérmico (30 a 130ºC) pode ser atribuída a desidratação da
amostra (FARIA et al., 2011). A análise das curvas de TGA e sua derivativa
(TG/DTG) mostram que a taxa máxima de decomposição, para essa primeira
degradação térmica, ocorre, aproximadamente, a 50ºC para xantana Xp 101 pH9
natural, com 13,5% de perda de massa, a 54ºC para Xp 101 pH9 controle 25ºC, com
perda de 12%, e em torno de 52ºC para ambas as xantanas reticuladas, com perdas
de 13 e 14% para menor e maior concentração de agente reticulante,
respectivamente.
O segundo processo de degradação (210 a 350ºC) corresponde à perda de
massa de 34 a 41%, sendo a menor perda a da xantana natural. As demais tiveram
98
perdas semelhantes. A estabilidade pode ser verificada principalmente pela
temperatura de início de degradação, ou seja, quanto maior a temperatura de onset,
maior a estabilidade do polímero. A decomposição das amostras ocorreu em
temperaturas de onset de 258,64ºC para Xp 101 pH9 autodesa natural, 259,8ºC
para o controle e 262,03ºC e 268,42ºC para as xantanas Xp 101 pH9 autodesa
0,05% GLU 25ºC 2h e Xp 101 pH9 autodesa 1% GLU 25ºC 2h, respectivamente.
Esses valores mostram um aumento na estabilidade térmica do polímero pela
reticulação, que foi mais eficiente na maior concentração de agente reticulante em
estudo.
Figura 15 - Análise termogravimétrica (DTA/TGA e derivada DrTGA) da xantana Xp 101 pH9 natural e submetida à reticulação durante 2h com concentrações de glutaraldeído de 0,05 e 1%, e respectivo controle, a 25ºC, na faixa de temperatura de 30 – 350ºC e taxa de aquecimento de 10ºC/min.
99
Está bem estabelecido na literatura que a concentração do agente reticulante
influencia no nível de reticulação obtido (BEJENARIU et al., 2009; GLIKO-KABIR;
PENHASI; RUBENSTEIN, 1999; SANDOLO et al., 2009; SHALVIRI et al., 2010).
Gliko-Kabir, Penhasi e Rubenstein (1999) estudaram reticulação da goma guar
utilizando glutaraldeído, que, segundo os autores, provoca alterações na estrutura
do polímero. Em seu estudo observaram que a quantidade de GLU utilizada
influenciou a estabilidade térmica do polímero. Os autores utilizaram o polímero a
0,5% e 0,1; 1, 3 e 5 equivalentes de glutaraldeído, verificando que o aumento da
quantidade de GLU aumenta a estabilidade térmica da goma guar, porém um
excesso, acima de 3 equivalentes de reticulante, reduz a estabilidade do produto.
Sandolo et al. (2009) corroboram com esses resultados; em sua pesquisa
verificaram que controlando as condições experimentais, como a quantidade de
reticulante, obtem-se um material interessante por sua versatilidade, pois permite a
preparação de diferentes tipos de hidrogéis, com um número diferente de ligações
cruzadas, e, consequentemente, com um tamanho de poros diferentes e diferentes
aplicações.
Tendo em vista que a menor concentração de reticulante em estudo (0,05%),
gerou as maiores viscosidades, e a maior concentração (1%), proporcionou aumento
na estabilidade térmica, selecionou-se as duas concentrações para aplicar nas
demais xantanas, conduzindo a reação por 2h à 25ºC. Para fins de comparação, as
viscosidades de todas as xantanas utilizadas estão dispostas na tabela 11 e na
figura 16 e os resultados dos tratamentos na tabela 12 e figura 17.
100
Tabela 11 – Teor de acetila (% p/p), índice de consistência (K), índice de fluxo (n) e coeficiente de correlação obtidos das curvas de viscosidade (mPas) versus taxa de deformação (s
-1) a 25ºC, de
soluções aquosas a 1% (m/v) das xantanas pruni Xp 101 e Xp 106 naturais e desacetiladas na condição ótima.
Valores = médias ± SD; n = 6. Linhas com letras diferentes são significativamente diferentes pelo
teste de Tukey (p<0,05). *Desacetilação com NaOH durante 3h a 45ºC. **Produzida em pH9,
naturalmente autodesacetilada. R2= fator de correlação.
Figura 16 – Curvas de viscosidade (mPas) versus taxa de deformação (0,01-1000s
-1) a 25ºC de
soluções aquosas (1% m/v) das xantanas pruni Xp 101 e Xp 106 naturais e desacetiladas na condição ótima.
Xantana Teor de acetila
% p/p
K n R2
Xp 101 pH7 2,37c ± 0,06 5,68 0,35 0,9998
Xp 101 pH7 DESA* 0,34d ± 0,02 7,41 0,28 >0,9999
Xp 101 pH9 AUTODESA** 0,28d ± 0,02 6,68 0,34 0,9998
Xp 106 pH7 4,09a ± 0,04 6,53 0,32 0,9998
Xp 106 pH7 DESA* 0,26d ± 0,03 4,43 0,29 >0,9999
Xp 106 pH9 AUTODESA** 2,65b ± 0,05 7,13 0,34 0,9998
Xp 106 pH9 DESA* 0,23d ± 0,03 3,01 0,30 >0,9999
101
Tabela 12 – Parâmetros reológicos índice de consistência (K) e índice de fluxo (n) obtidos das curvas de viscosidade (mPas) versus taxa de deformação (s
-1) a 25ºC, de soluções aquosas a 1% (m/v) das
xantanas pruni naturais e desacetiladas submetidas à reticulação com GLU a 0,05 e 1% durante 2h a 25ºC, e respectivos controles.
R2= fator de correlação
Xantana K n R2
Xp 101 pH7 0,05% GLU 25ºC 2h 5,93 0,31 >0,9999
Xp 101 pH7 1% GLU 25ºC 2h 8,92 0,34 >0,9999
Xp 101 pH7 25ºC controle 5,71 0,30 >0,9999
Xp 101 pH7 DESA 0,05% GLU 25ºC 2h 4,88 0,30 >0,9999
Xp 101 pH7 DESA 1% GLU 25ºC 2h 8,73 0,35 >0,9999
Xp 101 pH7 DESA 25ºC controle 3,38 0,29 >0,9999
Xp 101 pH9 AUTODESA 0,05% GLU 25ºC 2h 7,42 0,34 >0,9999
Xp 101 pH9 AUTODESA 1% GLU 25ºC 2h 7,04 0,31 >0,9999
Xp 101 pH9 AUTODESA 25ºC controle 6,14 0,31 >0,9999
Xp 106 pH7 0,05% GLU 25ºC 2h 3,64 0,33 0,9998
Xp 106 pH7 1% GLU 25ºC 2h 5,53 0,33 >0,9999
Xp 106 pH7 25ºC controle 3,27 0,32 >0,9999
Xp 106 pH7 DESA 0,05% GLU 25ºC 2h 4,51 0,28 >0,9999
Xp 106 pH7 DESA 1% GLU 25ºC 2h 10,34 0,34 >0,9999
Xp 106 pH7 DESA 25ºC controle 3,71 0,30 >0,9999
Xp 106 pH9 AUTODESA 0,05% GLU 25ºC 2h 3,64 0,31 >0,9999
Xp 106 pH9 AUTODESA 1% GLU 25ºC 2h 5,38 0,33 >0,9999
Xp 106 pH9 AUTODESA 25ºC controle 6,17 0,29 >0,9999
Xp 106 pH9 DESA 0,05% GLU 25ºC 2h 5,20 0,29 >0,9999
Xp 106 pH9 DESA 1% GLU 25ºC 2h 11,38 0,36 >0,9999
Xp 106 pH9 DESA 25ºC controle 3,69 0,29 >0,9999
102
Figura 17 – Curvas de viscosidade (mPas) versus taxa de deformação (0,01-1000s-1
) a 25ºC de soluções aquosas (1% m/v) das xantanas pruni 101 pH7 (A), 101 pH9 (B), 106 pH7 (C) e 106 pH9 (D) naturais e desacetiladas submetidas à reticulação com GLU a 0,05 e 1% durante 2h a 25ºC, e respectivos controles.
A reticulação favoreceu a viscosidade para as xantanas Xp 106 pH7 e Xp 106
pH9 autodesa, para as quais a desacetilação foi prejudicial à viscosidade. Para as
demais causou pouco ou nenhum favorecimento. Para todas as xantanas em estudo
observou-se viscosidades superiores aos respectivos controles após a reticulação,
com exceção da Xp 106 pH9 autodesa. Ao utilizar a menor concentração de
reticulante (GLU 0,05%), todas as xantanas apresentaram diminuição na
viscosidade quando comparadas às xantanas originais utilizadas, sendo elas
naturais ou desacetiladas, com exceção da Xp 106 pH9 DESA, para qual observou-
se aumento na viscosidade. Usando a maior concentração (GLU 1%), ocorreu um
103
incremento na viscosidade das xantanas, com exceção da Xp 106 pH9 autodesa e
da Xp 106 pH7 natural (até 100 s-1). Levando em consideração os resultados
obtidos, selecionou-se a concentração de 1% de GLU para dar sequência ao estudo
da influência dos parâmetros de reação de reticulação nas propriedades da xantana
pruni.
4.3.2 Influência da xantana e da temperatura da reação na viscosidade e
resistência térmica das xantanas reticuladas
Na fase 3, realizou-se novamente os tratamentos com GLU na concentração
e tempo selecionados (1%, 2h) na fase 2, avaliando-se a influência da temperatura
de reação de reticulação na viscosidade das xantanas. Os resultados obtidos para
as reações conduzidas a 45, 65 e 85ºC são apresentados na tabela 13. Para fins de
comparação, as viscosidades das xantanas controles nas três temperaturas e o
percentual de redução também foram calculados.
104
Tabela 13 – Parâmetros reológicos índice de consistência (K) e índice de fluxo (n) obtidos das curvas de viscosidade (mPas) versus taxa de deformação (s
-1) a 25ºC, de soluções aquosas a 1% (m/v) das
xantanas pruni naturais e desacetiladas submetidas à reticulação com GLU a 1% durante 2h em três temperaturas e seus respectivos controles.
*% de redução em relação à xantana natural. R2 = fator de correlação.
Xantana K n R2 Respectivas xantanas controles
K (% redução)* n R2
Xp 101 pH7 5,68 0,35 0,9998 ---- ---- ----
Xp 101 pH7 1% GLU 45ºC 2h 10,68 0,33 >0,9999 4,29 (24%) 0,31 >0,9999
Xp 101 pH7 1% GLU 65ºC 2h 8,86 0,37 >0,9999 3,84 (32%) 0,26 >0,9999
Xp 101 pH7 1% GLU 85ºC 2h 7,33 0,30 >0,9999 3,47 (39%) 030 0,9998
Xp 101 pH7 DESA 7,41 0,28 >0,9999 ---- ---- ----
Xp 101 pH7 DESA 1% GLU 45ºC 2h 11,10 0,34 >0,9999 3,28 (56%) 0,29 >0,9999
Xp 101 pH7 DESA 1% GLU 65ºC 2h 7,23 0,33 >0,9999 3,52 (47%) 0,29 0,9998
Xp 101 pH7 DESA 1% GLU 85ºC 2h 11,60 0,35 >0,9999 3,22 (56%) 0,29 >0,9999
Xp 101 pH9 AUTODESA 6,68 0,34 0,9998 ---- ---- ----
Xp 101 pH9 AUTODESA 1% GLU 45ºC 2h 10,15 0,33 >0,9999 5,03 (25%) 0,31 >0,9999
Xp 101 pH9 AUTODESA 1% GLU 65ºC 2h 4,75 0,36 >0,9999 5,94 (11%) 0,30 >0,9999
Xp 101 pH9 AUTODESA 1% GLU 85ºC 2h 7,69 0,31 >0,9999 4,19 (37%) 0,33 0,9998
Xp 106 pH7 6,53 0,32 0,9998 ---- ---- ----
Xp 106 pH7 1% GLU 45ºC 2h 7,95 0,36 >0,9999 3,00 (54%) 0,33 >0,9999
Xp 106 pH7 1% GLU 65ºC 2h 5,75 0,35 >0,9999 3,53 (46%) 0,32 >0,9999
Xp 106 pH7 1% GLU 85ºC 2h 4,33 0,31 >0,9999 3,22 (51%) 0,26 >0,9999
Xp 106 pH7 DESA 4,43 0,29 >0,9999 ---- ---- ----
Xp 106 pH7 DESA 1% GLU 45ºC 2h 18,83 0,35 >0,9999 3,61 (19%) 0,31 >0,9999
Xp 106 pH7 DESA 1% GLU 65ºC 2h 8,25 0,35 >0,9999 4,07 (8%) 0,29 >0,9999
Xp 106 pH7 DESA 1% GLU 85ºC 2h 12,37 0,34 >0,9999 3,48 (21%) 0,29 >0,9999
Xp 106 pH9 AUTODESA 7,13 0,34 0,9998 ---- ---- ----
Xp 106 pH9 AUTODESA 1% GLU 45ºC 2h 10,18 0,38 >0,9999 3,71 (48%) 0,31 >0,9999
Xp 106 pH9 AUTODESA 1% GLU 65ºC 2h 4,71 0,33 >0,9999 3,55 (50%) 0,32 0,9998
Xp 106 pH9 AUTODESA 1% GLU 85ºC 2h 5,77 0,35 >0,9999 3,11 (56%) 0,25 >0,9999
Xp 106 pH9 DESA 3,01 0,30 >0,9999 ---- ---- ----
Xp 106 pH9 DESA 1% GLU 45ºC 2h 26,11 0,33 >0,9999 3,63 (--) 0,29 >0,9999
Xp 106 pH9 DESA 1% GLU 65ºC 2h 4,26 0,34 >0,9999 3,53 (--) 0,30 >0,9999
Xp 106 pH9 DESA 1% GLU 85ºC 2h 12,83 0,34 >0,9999 3,42 (--) 0,28 >0,9999
105
Figura 18 – Curvas de viscosidade (mPas) versus taxa de deformação (0,01-1000s-1
) a 25ºC de soluções aquosas (1% m/v) das xantanas pruni 101 pH7 (A), 101 pH9 (B), 106 pH7 (C) e 106 pH9 (D) naturais e desacetiladas submetidas à reticulação com GLU a 1% durante 2h em três temperaturas.
A temperatura a que foram submetidas as xantanas controle em solução
influenciou suas viscosidades posteriormente. De modo geral, a temperatura de
65ºC causou a menor redução e 85ºC e 45ºC as maiores nessa ordem.
A modificação nas propriedades da solução das moléculas de xantana pode
estar associada com a transição de ordem-desordem induzida pela temperatura
(CAPRON; BRIGAND; MULLER, 1997). A temperatura afeta a viscosidade e
influencia a conformação molecular e a estrutura ordenada. Segundo Diaz (2002),
maiores viscosidades podem ser alcançadas utilizando-se aquecimento durante o
preparo das soluções.
106
Ocorreu diminuição na viscosidade para todas as xantanas controle, com
exceção da Xp 106 pH9 desacetilada, cujas viscosidades ficaram ligeiramente
superiores à da xantana original, porém muito menores que as xantanas reticuladas
tratadas com GLU a 1%. A diminuição na viscosidade está provavelmente
relacionada a perda de moléculas de pequena massa molecular, semelhantemente
ao ocorrido para os controles da desacetilação. Não foi verificada relação entre as
viscosidades apresentadas pelas xantanas reticuladas e seus respectivos controles.
Com exceção da xantana pruni Xp 106 pH7 em 85ºC, todos os tratamentos
resultaram em incremento na viscosidade. Os melhores resultados foram alcançados
pela reação em 45ºC para todas as xantanas, exceto para Xp 101 pH7 desacetilada,
a qual apresentou os maiores valores de K em 85ºC. Todas as xantanas
desacetiladas após fermentação tiveram menor viscosidade quando submetidas ao
tratamento de reticulação a 65ºC, sendo verificadas as maiores viscosidades para as
amostras reticuladas a 45 e 85ºC. Em função disso, realizou-se novas reações de
reticulação em temperaturas intermediária (75ºC) e superior (100ºC) nesses
polímeros, mantendo-se as demais condições anteriores (1% de GLU por 2h).
Uma possível explicação para obtenção de melhores resultados de
reticulação a 45ºC pode estar associada à transição conformacional que a xantana
pode sofrer. A influência da temperatura de reticulação na viscosidade das xantanas
reticuladas ficou bastante evidente. A molécula de xantana passa para um estado de
conformação desordenada quando a solução aquosa é submetida ao aquecimento
acima da temperatura de transição conformacional, que gira em torno de 40 - 50ºC
(GULREZ et al.,2012; MILAS; RINAUDO, 1986; MILAS; RINAUDO, 1979; MORRIS
et al., 1977; NORTON et al., 1984), dependendo da força iônica do meio (VIEBKE;
WILLIAMS, 2000) e da composição química do polímero, principalmente
substituintes acetila e piruvato (SMITH et al., 1981; SUTHERLAND, 2001b). A
conformação molecular, massa molecular e sua distribuição e as interações
intramoleculares e intermoleculares influenciam diretamente à viscosidade de um
polímero (LEFEBVRE; DOUBLIER; 2004). Alterações na conformação levam a
alterações nas propriedades reológicas observadas em nosso estudo para os
polímeros reticulados em diferentes temperaturas. Os resultados estão expostos na
tabela 14 e figura 19.
107
Tabela 14 – Parâmetros reológicos índice de consistência (K) e índice de fluxo (n) obtidos das curvas de viscosidade (mPas) versus taxa de deformação (s
-1) a 25ºC, de soluções aquosas a 1% (m/v) das
xantanas Xp 101 pH7 e Xp 106 pH7 e pH9 desacetiladas submetidas à reticulação com GLU a 1% durante 2h a 75 e 100ºC.
R2= fator de correlação
Figura 19 – Viscosidade (mPas) a 25ºC e taxa de deformação de 100s-1
de soluções aquosas a 1% (m/v) das xantanas Xp 101 pH7 e Xp 106 pH7 e pH9 desacetiladas submetidas à reticulação com GLU a 1% durante 2h em diferentes temperaturas.
Xantana K n R2
Xp 101 pH7 DESA 1% GLU 75ºC 2h 5,27 0,33 >0,9999
Xp 101 pH7 DESA 1% GLU 100ºC 2h 6,84 0,35 >0,9999
Xp 101 pH7 DESA 75ºC controle 2,58 0,28 >0,9999
Xp 101 pH7 DESA 100ºC controle 2,15 0,36 0,9996
Xp 106 pH7 DESA 1% GLU 75ºC 2h 9,77 0,36 >0,9999
Xp 106 pH7 DESA 1% GLU 100ºC 2h 11,22 0,32 >0,9999
Xp 106 pH7 DESA 75ºC controle 3,08 0,27 >0,9999
Xp 106 pH7 DESA 100ºC controle 2,66 0,29 >0,9999
Xp 106 pH9 DESA 1% GLU 75ºC 2h 7,73 0,36 >0,9999
Xp 106 pH9 DESA 1% GLU 100ºC 2h 10,83 0,35 >0,9999
Xp 106 pH9 DESA 75ºC controle 2,40 0,27 >0,9999
Xp 106 pH9 DESA 100ºC controle 2,79 0,28 >0,9999
108
Para o parâmetro temperatura verificou-se que o tratamento a 45ºC continuou
resultando nas melhores viscosidades.
Quando a reticulação ocorre entre moléculas de xantana com conformação
desordenada, a densidade de reticulação é maior (BUENO; PETRI, 2014). O estado
conformacional das xantanas a 85ºC pode explicar a semelhança entre elas na
viscosidade em decorrência da densidade de reticulação.
O incremento na viscosidade observado pelos tratamentos de reticulação foi
mais pronunciado nas xantanas desacetiladas, chegando a valores em torno de 3
vezes maiores que os das xantanas originais submetidas ao tratamento. Muitos
pesquisadores têm relatado a influência da desacetilação na interação, ou
reticulação física, da xantana com outras gomas (FITZPATRICK et al., 2013;
GOYCOOLEA; MILAS; RINAUDO, 2001; KHOURYIEH et al., 2007; LOPES et al.,
1992; RENOU et al., 2013; RINAUDO, 2004; SHATWELL; SUTHERLAND, 1991;
SUTHERLAND, 1994; TAKO; NAKAMURA, 1985; TAKO; NAKAMURA, 1986). Para
alguns autores, o impacto do conteúdo de acetato nas interações da xantana está
mais relacionado a sua influência na estabilidade da molécula, ou seja, a redução do
teor de acetila reduz a estabilidade da hélice aumentando o número de segmentos
desordenados disponíveis para interagir (KHOURYIEH et al., 2007; RENOU et al.,
2013; VIEBKE, 2004). Gliko-Kabir, Penhasi e Rubenstein (1999) realizaram
reticulação da goma guar com glutaraldeído e observaram que a reação leva à
introdução de novas ligações covalentes. Segundo os autores, o glutaraldeído
substitui parte dos grupos hidroxila e provoca uma alteração na estrutura do
polímero. Isso pode explicar o grande aumento na viscosidade observado após a
reticulação, principalmente dos polímeros previamente desacetilados. Uma vez que
a desacetilação da xantana retira o grupo acetato e introduz uma hidroxila (OH) na
molécula (Figura 20), o polímero desacetilado passa a ter uma maior disponibilidade
de grupos de substituição para reação com o reticulante (GLU), levando,
provavelmente, a um maior nível de reticulação. Através da reticulação é possível
obter um substrato macromolecular que mantenha suas dimensões físicas
(BEJENARIU et al., 2009), e, dessa forma, um aumento na viscosidade das
soluções pode ser observado; quanto maior o número de ligações cruzadas maior o
incremento na viscosidade, até um determinado nível, quando o material tende a
insolubilização.
109
Figura 20 – Reação de desacetilação da xantana
Um possível e provável mecanismo de reação de reticulação da xantana está
proposto na figura 21. A formação de estruturas de hemiacetal e acetal ocorre pela
reação entre os grupos carbonila do aldeído com os grupos hidroxila (AHMAD;
YUSUF; OOI, 2012; GRABOWSKA et al., 2015), presentes na molécula de xantana.
Figura 21 – Representação esquemática da reação de reticulação com a participação do
glutaraldeido entre cadeias de xantana com formação de estruturas de hemiacetal e acetal.
As diferentes temperaturas de reação também influenciaram o
comportamento térmico dos polímeros resultantes (figura 22 e 23). Para exemplificar
foram selecionadas as xantanas resultantes dos tratamentos da xantana Xp 106 pH7
desacetilada; para fins de comparação, também realizou-se a análise térmica da
xantana natural, não desacetilada.
110
Figura 22 – Análise de calorimetria exploratória diferencial (DSC) da xantana Xp 106 pH7 natural; desacetilada; desacetilada e submetida à reticulação com 1% de GLU por 2h nas temperaturas de 25, 45, 65 e 85ºC; na faixa de temperatura de 25 a 240ºC com taxa de aquecimento de 10ºC/min
A análise térmica nos proporciona medir transições térmicas devido a
alterações morfológicas ou químicas em um polímero. A técnica de DSC tem sido
utilizada para medir certas transições causadas por reações químicas. Uma
varredura térmica de DSC pode ajudar a identificar a pureza de um polímero; a
presença de um segundo material na amostra, misturado intencionalmente ou
oriundo de contaminação, pode ser indicado por um ponto de fusão extra ou
inesperado (ASTM, 2013).
Está bem claro que a reação de desacetilação influenciou a temperatura de
fusão do polímero, cujo pico endotérmico passou de 168,89ºC (Xp 106 pH7) para
141,70ºC (Xp 106 pH7 DESA); da mesma forma, a reticulação também alterou as
propriedades térmicas da xantana pruni, porém, aumentando a temperatura de fusão
para todos os tratamentos quando comparados à xantana original utilizada para a
reação (Xp 106 pH7 DESA). O maior incremento foi alcançado pelo tratamento a
25ºC, que aumentou a temperatura de fusão em 29,9ºC, seguido pelos tratamentos
a 65, 45 e 85ºC, nesta ordem. Entretanto, apenas o polímero resultante da
111
reticulação a 25ºC apresentou temperatura de fusão superior ao polímero natural
(Xp 106 pH7). Apesar da redução do ponto de fusão observado para a amostra
desacetilada, todas as xantanas tiveram temperaturas de fusão maiores do que as
reportadas por Ramasamy et al. (2011) e Ahuja, Kumar e Singh (2012), que
verificaram temperatura de fusão para xantana comercial de 90 a 120ºC com um
pico endotérmico observado a 108,9ºC.
O mecanismo de decomposição das xantanas está ilustrado na figura 23 e
nos fornece dados sobre sua estabilidade térmica. O primeiro estágio de degradação
teve temperaturas máximas de aproximadamente 61ºC para Xp 106 pH7 natural, Xp
106 pH7 DESA e Xp 106 pH7 DESA 1% GLU 45ºC 2h. Para as xantanas Xp 106
pH7 DESA 1% GLU 25ºC 2h e Xp 106 pH7 DESA 1% GLU 85ºC 2h essa
temperatura foi de aproximadamente 70ºC. Já a xantana Xp 106 pH7 DESA 1% GLU
65ºC 2h apresentou a maior temperatura máxima de decomposição nesse primeiro
estágio (78ºC) apresentando também a menor perda (7%), enquanto que as demais
xantanas tiveram perdas de 9 a 11%.
A xantana Xp 106 pH7 DESA 1% GLU 45ºC teve temperatura máxima de
decomposição de 294,94ºC para o segundo estágio de decomposição, enquanto as
demais tiveram temperaturas máximas entre 288ºC-290ºC. As perdas ficaram entre
47% e 58%, sendo as menores perdas para as xantanas desacetiladas reticuladas e
a maior para xantana desacetilada. As temperaturas de onset variaram pouco,
ficando entre 261ºC e 265ºC, sendo o maior valor alcançado pela xantana Xp 106
pH7 DESA 1% GLU 65ºC 2h, seguida pelas xantanas Xp 106 pH7 DESA 1% GLU
25ºC 2h e Xp 106 pH7 DESA 1% GLU 45ºC 2h com temperatura de 263ºC.
Para Gliko-Kabir, Penhasi e Rubenstein (1999), as alterações físico-químicas
provocadas pelo GLU são refletidas no comportamento térmico da goma guar
reticulada, que apresenta maior estabilidade térmica comprovada pelas maiores
temperaturas de decomposição e menores perdas de massa após análise de DTG e
derivada.
112
Figura 23 - Análise termogravimétrica (DTA/TGA e derivada DrTGA) da xantana Xp 106 pH7 natural; desacetilada; desacetilada e submetida à reticulação com 1% de GLU por 2h nas temperaturas de 25, 45, 65 e 85ºC; na faixa de temperatura de 30 – 350ºC e taxa de aquecimento de 10ºC/min.
113
4.3.2.1 Avaliação dos polímeros de melhor resultado na reticulação
Os polímeros Xp 106 pH7 DESA 1% GLU 45ºC 2h e Xp 106 pH9 DESA 1%
GLU 45ºC 2h, por terem apresentado as maiores viscosidades versus taxa de
deformação a 25ºC, foram submetidos à análise de rendimento, análises reológicas
complementares, análises térmicas, espectroscopia de infravermelho, determinação
do grau de intumescimento e teste de dissolução, objetivando comprovar a
reticulação mediante alterações evidenciadas nessas propriedades.
Os resultados referentes ao cálculo de rendimento da síntese após as
modificações isoladas ou combinadas estão dispostos na tabela 15.
Tabela 15 – Rendimento (%) da síntese das xantanas pruni Xp 106 pH7 e pH9 desacetiladas, reticuladas na condição ótima selecionada, desacetiladas e reticuladas e controles.
Xantana Rendimento (%)
Xp 106 pH7 DESA 80,23de
± 0,8
Xp 106 pH7 1% GLU 45ºC 2h 81,13d ± 0,8
Xp 106 pH7 45ºC controle 80,50d ± 0,7
Xp 106 pH7 DESA 1% GLU 45ºC 2h 92,53a ± 0,9
Xp 106 pH7 DESA 45ºC controle 78,23f ± 0,6
Xp 106 pH9 DESA 80,60d ± 0,6
Xp 106 pH9 1% GLU 45ºC 2h 83,50c ± 0,5
Xp 106 pH9 45ºC controle 81,80cd
± 0,4
Xp 106 pH9 DESA 1% GLU 45ºC 2h 89,07b ± 0,9
Xp 106 pH9 DESA 45ºC controle 78,27ef ± 0,3
Valores = médias ± SD; n = 6. Colunas com letras diferentes são significativamente diferentes pelo teste de Tukey (p<0,05).
Ambas as xantanas naturais, Xp 106 pH7 e pH9, utilizadas para as
modificações químicas de acetilação e/ou reticulação, tiveram comportamento
semelhante, com rendimento significativamente maior para os polímeros obtidos
pela reticulação das xantanas previamente desacetiladas. O rendimento está
associado ao nível de reticulação obtido para cada polímero. As xantanas
reticuladas de maior rendimento foram as mesmas para as quais considerou-se o
114
processo de reticulação mais efetivo, a saber as previamente desacetiladas (Tabelas
16 e 17).
O alto rendimento na síntese de um novo polímero é importante, tendo em
vista a questão econômica relacionada às perdas que ocorrem durante o processo.
Os polímeros de melhor resultado obtidos pela reticulação apresentaram perdas de
7,5 a 11%, entretanto, essa perda pode ser considerada pequena quando
comparada a valores relatados na literatura. Em estudo realizado com modificação
química de xantana pruni por troca iônica, Klaic (2010) obteve rendimento de 73 a
76%; Bejenariu et al. (2009), realizou a reticulação de xantana comercial (Rhodia)
com trimetafosfato de sódio e o máximo rendimento obtido foi de 47%, já a
reticulação da xantana realizada com ácido adípico di-hidrazida resultou em no
máximo 78% de rendimento (BEJENARIU et al., 2008).
Figura 24 – Curvas de viscosidade (mPas) versus taxa de deformação (0,01-1000s-1
) a 25ºC de soluções aquosas (1% m/v) das xantanas pruni Xp 106 pH7 (A) e Xp 106 pH9 (B) naturais; desacetiladas; desacetiladas e submetidas à reticulação na condição selecionada (1% GLU, 45ºC, 2h).
115
Através das curvas de viscosidade a 25ºC, pode-se observar que todas as
xantanas apresentaram comportamento não newtoniano e pseudoplástico (Figura
24).
A partir dos resultados de taxa de deformação e tensão de cisalhamento
foram obtidos os parâmetros reológicos índice de consistência (K) e índice de fluxo
(n) das xantanas naturais, desacetiladas após fermentação e desacetiladas
reticuladas (Tabela 16). Os fatores de correlação foram ≥ 0,9998.
Tabela 16 – Parâmetros reológicos, índice de consistência (K) e índice de fluxo (n), obtidos das curvas de viscosidade (mPas) versus taxa de deformação (s
-1) a 25ºC de soluções a 1% (m/v) das
xantanas pruni Xp 106 pH7 e pH9 naturais; desacetiladas; desacetiladas e submetidas à reticulação na condição selecionada (1% GLU, 45ºC, 2h)
R2= Fator de correlação.
Todas as xantanas apresentaram características altamente pseudoplásticas,
com valores de n menores que 0,36. O processo de desacetilação reduziu as
viscosidades e aumentou a pseudoplasticidade em relação a ambas as xantanas
naturais, ao passo que a reticulação das xantanas desacetiladas produziu polímeros
com viscosidades extremamente elevadas, com valores de K chegando a
aproximadamente três vezes maiores aos das xantanas naturais, mas afetou de
modo diferente a pseudoplasticidade; a xantana produzida em pH 7, naturalmente
acetilada, teve a pseudoplasticidade reduzida após essa sucessão de modificações
químicas, enquanto que a xantana produzida em pH 9, parcialmente desacetilada,
teve a pseudoplasticidade aumentada. De acordo com Oviatt e Brant (1994), o
aumento na extensão da estrutura ramificada da xantana por ligações cruzadas
Xantana K n R2
Xp 106 pH7 6,533 0,3252 0,9998
Xp 106 pH7 DESA 4,427 0,2884 >0,9999
Xp 106 pH7 DESA 1% GLU 45ºC 2h 18,830 0,3517 >0,9999
Xp 106 pH7 DESA 45ºC controle 3,607 0,3061 >0,9999
Xp 106 pH9 AUTODESA 7,133 0,3415 0,9998
Xp 106 pH9 DESA 3,011 0,3046 >0,9999
Xp 106 pH9 DESA 1% GLU 45ºC 2h 26,110 0,3344 >0,9999
Xp 106 pH9 DESA 45ºC controle 3,628 0,2883 >0,9999
116
proporciona grande aumento na viscosidade das amostras. O comportamento
pseudoplástico também pode ser explicado com base na sua massa molecular
elevada e nas interações intramoleculares, formando agregados complexos por meio
de ligações de hidrogênio e entrelaçamento do polímero. A alta viscosidade a baixa
taxa de cisalhamento é atribuída a esses agregados (JEANES; PITTSLEY; SENTI,
1961). Muitos fenômenos, entretanto, não podem ser descritos em função apenas da
viscosidade e o comportamento elástico deve ser levado em consideração.
A reticulação exerce efeito positivo sobre as propriedades de semelhança a
gel, tornando a resposta das soluções de xantana predominantemente elástica. À
semelhança do que ocorre com a viscosidade, as propriedades viscoelásticas são
modificadas pela reticulação (Figura 25). Todas as xantanas em estudo têm
característica de gel verdadeiro e forte, uma vez que o módulo elástico (G‟) é
significantemente maior que o módulo viscoso (G”) em toda a faixa de frequência
(STEFFE, 1996), com valores elevados para ambos os módulos.
117
Figura 25 – Curvas de viscoelasticidade a 25ºC, na frequência de 1 a 10Hz, de soluções a 1% (m/v) das xantanas Xp 106 pH7 (A) e Xp 106 pH9 (B) naturais; desacetiladas; desacetiladas e submetidas à reticulação.
Para Lefebvre e Doublier (2004), as propriedades viscoelásticas estão
relacionadas à organização supramolecular. A reticulação proporcionou aumento
nos módulos elástico e viscoso, sendo maior para xantana Xp 106 pH9 DESA 1%
GLU 45ºC 2h. As xantanas naturais apresentaram redução no módulo viscoso com o
aumento da frequência; já as reticuladas apresentaram certa lineariedade. Segundo
Michona et al. (2004), essas medidas reológicas dinâmicas, realizadas em baixa
118
tensão, no domínio linear, são úteis para caracterizar as propriedades de rede, como
a gelificação. A reação de reticulação ocorreu em temperatura baixa (45ºC),
insuficiente para ocasionar a desestruturação conformacional. Como ambos os
módulos tiveram os valores aumentados pela reticulação e o comportamento
elástico sugere a presença da conformação helicoidal (BEJENARIU et al., 2008),
presume-se que a conformação helicoidal da xantana foi estabilizada pela formação
de ligações cruzadas.
Nas figuras 26 e 27 estão dispostos os resultados de viscosidade e
viscoelasticidade em diferentes temperaturas para as xantanas pruni da cepa 106,
naturais, desacetiladas e desacetiladas reticuladas. As xantanas obtidas em pH7 e
pH9 tiveram comportamento semelhante: manutenção da viscosidade das xantanas
naturais com o aumento da temperatura de análise e pequeno aumento na
viscosidade para as amostras desacetiladas. Esse comportamento também foi
observado por Tako e Nakamura (1984) para soluções a 1% de xantanas
desacetiladas. Isso mostra a elevada estabilidade reológica frente ao aquecimento
destas xantanas quando comparadas à maioria das xantanas comerciais, que
apresentam redução em sua viscosidade com o aumento da temperatura (XU et al.,
2013). Da mesma forma, a reticulação também alterou o comportamento das
amostras, que apresentaram, porém, um pequeno decréscimo nos valores de
viscosidade em 45 e 65ºC. Apesar disso, as xantanas reticuladas ainda tiveram
viscosidades muito superiores às das xantanas naturais e desacetiladas. Em estudo
realizado por Oliveira et al. (2013) os autores também observaram decréscimo na
viscosidade e nos módulos elástico e viscoso com o aumento da temperatura de
análise para xantanas pruni e amostras comerciais. O mesmo comportamento foi
observado por Bejenariu et al. (2009). Segundo Xu et al. (2013), soluções de goma
xantana são mais elásticas a baixas temperaturas e mais viscosas do que elásticas
a altas temperaturas. Em nosso estudo os módulos elástico e viscoso tiveram um
acentuado aumento para as xantanas reticuladas quando as análises foram feitas
nas temperaturas de 45ºC, principalmente, e 65ºC. Entretanto, o módulo elástico
permaneceu superior ao módulo viscoso, comportamento típico de gel verdadeiro. O
conhecimento desse comportamento viscoelástico é importante para determinação
de futuras aplicações dos polímeros modificados.
119
Figura 26 - Curvas de viscosidade (mPas) versus taxa de deformação (0,01-1000s-1
) a 25ºC, 45ºC e 65ºC de soluções aquosas (1% m/v) das xantanas pruni Xp 106 pH7 (A) e Xp 106 pH9 (B) naturais, desacetiladas e reticuladas na melhor condição.
120
Figura 27 - Curvas de viscoelasticidade a 25ºC, 45ºC e 65ºC de soluções aquosas (1% m/v) das xantanas pruni Xp 106 pH7 (A) e Xp 106 pH9 (B), naturais, desacetiladas e reticuladas
na melhor condição; na frequência de 1 a 10Hz.
A figura 28 apresenta o comportamento térmico das xantanas naturais Xp 106
pH7 e Xp 106 pH9 AUTODESA, bem como das respectivas xantanas desacetiladas
e desacetiladas reticuladas. Todas as xantanas modificadas quimicamente,
especialmente as provenientes da Xp 106 pH7, tiveram picos mais largos, indicando
maior polidispersão, bem como pontos de fusão menores, comparadas às xantanas
naturais. Como pode ser observado, um pico endotérmico a 141,70ºC foi detectado
para xantana Xp 106 pH7 desacetilada e a 164,84ºC para esta mesma amostra após
a reticulação. À semelhança do que ocorreu com a xantana produzida em pH7, um
incremento no ponto de fusão também foi observado para xantana Xp 106 pH9
121
DESA, que passou de 148,51ºC para 160,02ºC após a reticulação. Segundo
Rinaudo (2001), a estabilidade térmica da xantana aumenta com a formação de uma
extensa rede de ligações intra ou intermoleculares, o que é alcançado através da
reticulação. A hélice da estrutura secundária da xantana é estabilizada por ligações
não covalentes, como as ligações de hidrogênio, interações eletrostáticas e efeitos
estéricos (BORN; LANGENDORFF; BOULENGUER, 2002).
Figura 28 – Análise de calorimetria exploratória diferencial (DSC) das xantanas Xp 106 pH7 (A) e Xp 106 pH9 (B) naturais; desacetiladas; desacetiladas e submetidas à reticulação, na faixa de temperatura de 25 a 240ºC com taxa de aquecimento de 10ºC/min.
122
As curvas termogravimétricas de TGA-DTA (Figuras 29 e 30) ilustram o
mecanismo da decomposição térmica das amostras de xantana em estudo.
Figura 29 – Análise termogravimétrica (DTA/TGA e derivada DrTGA) das xantanas pruni Xp 106 pH7
e Xp 106 pH9 naturais, desacetiladas; desacetiladas e submetidas à reticulação, na faixa de temperatura de 30 – 350ºC e taxa de aquecimento de 10ºC/min.
123
A primeira perda de massa associada ao pico endotérmico (30 a 150ºC)
corresponde a aproximadamente 11% para todas as xantanas, com exceção das
amostras Xp 106 pH9 AUTODESA e Xp 106 pH9 DESA, que, tiveram perda de 7 e
8%, respectivamente. Além da água, outros compostos voláteis podem estar sendo
perdidos nesse primeiro pico, uma vez que a análise de umidade dessas amostras
(Tabela 1, sessão 3.3.1) não correspondeu a esses teores. Adicionalmente, as
xantanas com menor perda de massa no primeiro estágio são justamente as
xantanas desacetiladas, em maior ou menor grau, e os grupos acetila são facilmente
removidos por aquecimento. Para xantanas armazenadas por longos períodos,
observa-se gradativa desacetilação espontânea em decorrência de degradação
hidrolítica, o que corrobora a labilidade do substituinte acetila na molécula de
xantana. Segundo Faria et al. (2011), a adsorção de água pela xantana ocorre
devido à presença de grupos polares na estrutura, especialmente grupos hidroxila
(OH). A análise das curvas de TGA e sua derivativa (TG/DTG) mostra que, para
essa primeira degradação térmica, a taxa máxima de decomposição ocorreu entre
52 e 67ºC. As xantanas 106 pH9 natural e desacetilada reticulada tiveram a taxa
máxima de decomposição na maior e menor temperatura, respectivamente,
enquanto que para as demais xantanas o valor foi de aproximadamente 61ºC.
O segundo processo de degradação (213 a 350ºC) corresponde à perda de
massa de 39 a 58%, sendo a menor perda a da Xp 106 pH9 DESA 1% GLU 45ºC
2h, o que confirma a estabilidade estrutural conferida pela reticulação; e a maior
perda a da Xp 106 pH7 DESA. As duas xantanas reticuladas tiveram perdas
menores que as respectivas xantanas naturais e desacetiladas, além de a
temperatura máxima obtida para o segundo estágio de decomposição ser
ligeiramente superior às demais xantanas, com 294,94ºC e 291,24 para Xp 106 pH7
DESA 1% GLU 45ºC 2h e Xp 106 pH9 DESA 1% GLU 45ºC 2h, nessa ordem. As
demais xantanas tiveram temperaturas máximas de decomposição, nesse estágio,
entre 285 e 289ºC. A diferença é pequena, o que sugere uma estabilidade térmica
similar. As temperaturas de onset confirmaram esse resultado e foram de 259ºC
para Xp 106 pH9 DESA, 262ºC para Xp 106 pH7, Xp 106 pH9 AUTODESA e Xp 106
pH9 DESA 1% GLU 45ºC 2h e de 263ºC para Xp 106 pH7 DESA e Xp 106 pH7
DESA 1% GLU 45ºC 2h. As perdas totais de massa, na faixa de temperatura
utilizada, também foram menores para as xantanas reticuladas (Figura 30). De
124
acordo com Zohuriaan e Shokrolahi (2004), as diferenças no comportamento térmico
de polissacarídeos ocorre devido a diferenças na estrutura e grupos funcionais
presentes.
Figura 30 – Curvas de análise termogravimétrica (TGA) das xantanas pruni Xp 106 pH7 e pH9 naturais; desacetiladas; desacetiladas e submetidas à reticulação e seus respectivos percentuais de perda de massa na faixa de temperatura de 30 a 350ºC com taxa de aquecimento de 10ºC/min.
Uhl e colaboradores (2001) investigaram a correlação entre a reticulação e a
estabilidade térmica de polímeros utilizando vários procedimentos de reticulação.
Segundo os autores, pressupõe-se que a reticulação de polímeros aumenta a
estabilidade térmica dos sistemas poliméricos e, em seus estudos, os pesquisadores
corroboraram essa teoria (LEVCHIK et al., 1999; UHL et al., 2001). Segundo Gliko-
Kabir, Penhasi e Rubenstein (1999) que mediram a estabilidade térmica de goma
guar, o efeito do reticulante sobre o polímero modificado pode ser elucidado. Nossos
resultados estão de acordo com a literatura, tendo em vista o incremento nas
temperaturas de fusão e de decomposição e o menor percentual de decomposição
observados para as xantanas submetidas à reticulação.
125
Outra análise que pode atestar a efetividade da reticulação é a
espectroscopia de infravermelho, através da qual se avalia os grupos funcionais
presentes na molécula. Entretanto, comparando os espectros das xantanas
reticuladas com as naturais e as desacetiladas utilizadas para o tratamento, não se
observa variações dignas de nota (Figura 31).
126
Figura 31 – Espectros de infravermelho das xantanas pruni: Xp 106 pH7 (A) e Xp 106 pH9 (B),
naturais; desacetiladas; desacetiladas e submetidas à reticulação; e reticulante GLU (C).
127
Segundo Gliko-Kabir, Penhasi e Rubenstein (1999) o glutaraldeído substitui
parte dos grupos -OH, porém não foi observada diminuição na intensidade das
bandas (3200 – 3450cm-1) correspondentes a esses grupos nas xantanas
reticuladas. O principal indício de modificação em função do glutaraldeído é a
diminuição na intensidade das bandas de absorção em aproximadamente 800cm-1 e
em 1250cm-1, referente a deformação axial da ligação C – O dos ésteres metílicos
nas xantanas reticuladas. Como pode ser observado, essa banda não aparece no
agente reticulante GLU. Apesar disso, semelhantemente ao relatado por Poon,
Wilson e Headley (2014), que avaliaram a reticulação da quitosana com
glutaraldeído, a caracterização detalhada da xantana utilizando FT IR é complicada.
Muitos dos grupos funcionais, tanto das xantanas naturais e desacetiladas, quanto
das xantanas reticuladas correspondentes, além do próprio glutaraldeído, mostram
bandas de absorção com frequência similar. Consequentemente, isso pode significar
que certas regiões espectrais, para as xantanas naturais e desacetiladas e as
reticuladas, resultaram de combinações de bandas de vários grupos funcionais.
Portanto, a espectroscopia de infravermelho sozinha não pode ser considerada
conclusiva, mas indicativa.
Para verificar a influência da reticulação na capacidade de adsorção de água
e na capacidade de dissolução das xantanas pruni, o grau de intumescimento e o
teor de água nos polímeros intumescidos foram determinados para as amostras
naturais, desacetiladas e para as amostras desacetiladas reticuladas na condição
selecionada.
Tabela 17 –Teor de água (%) nos polímeros intumescidos e grau de intumescimento (gramas de água/gramas de polímero), para as xantanas pruni Xp 106 pH7 e pH9 naturais; desacetiladas; desacetiladas e submetidas à reticulação na condição selecionada (1% GLU, 45ºC e 2h).
Valores = médias ± SD; n = 6. Linhas com letras diferentes são significativamente diferentes pelo teste de Tukey (p<0,05)
Xantana % água GI (g/g)
Xp 106 pH7 98,54c ± 0,11 62,33
e ± 4,4
Xp 106 pH7 DESA 99,13ab
± 0,13 104,42c ± 2,3
Xp 106 pH7 DESA 1% GLU 45ºC 2h 99,39a ± 0,09 152,4
a ± 3,3
Xp 106 pH9 AUTODESA 98,88bc
± 0,21 79,64d ± 2,7
Xp 106 pH9 DESA 99,13ab
± 0,16 103,50c ± 2,9
Xp 106 pH9 DESA 1% GLU 45ºC 2h 99,32a ± 0,16 131,36
b ± 12
128
Segundo Bejenariu et al. (2009), hidrogéis são redes tridimensionais
insolúveis, quimicamente ou fisicamente reticuladas, que apresentam a capacidade
de absorver uma grande quantidade de solvente que é retida quando nenhuma
pressão é aplicada sobre elas. Sendo assim, as medições de inchamento são um
bom método para a caracterização física das redes de polissacarídeos reticulados.
O grau de dilatação é um processo influenciado tanto pela densidade de reticulação
quanto pelas repulsões eletrostáticas exercidas entre as cadeias moleculares.
Como se pode observar na tabela 17, os processos de acetilação e
reticulação aumentaram levemente o teor de água nos polímeros intumescidos,
entretanto, não houve diferença significativa entre os polímeros naturais nem entre
as xantanas modificadas quimicamente. Quanto ao GI, com exceção das xantanas
desacetiladas, todas diferiram significativamente, embora o desvio padrão tenha sido
elevado em alguns casos (2,3 – 12%). Bueno et al. (2013), em seu experimento
também verificaram elevado desvio padrão na análise das triplicatas, na ordem de
13%. As duas xantanas naturais, Xp 106 pH7 e pH9, tiveram o mesmo
comportamento, aumento do GI após a desacetilação e, mais ainda, após a
reticulação dos polímeros desacetilados.
Bueno et al. (2013) realizaram a reticulação de goma xantana comercial por
esterificação a 165ºC com ácido cítrico e investigaram o comportamento do
intumescimento em diferentes meios, observando a influência do pH e da presença
de sais. De acordo com a pesquisa, o aumento do pH aumenta o GI devido as
repulsões eletrostáticas e à ruptura das ligações éster, o que ocorre na reação de
desacetilação, explicando o aumento no grau de intumescimento das xantanas pruni
após a desacetilação pós-fermentativa. O equilíbrio do intumescimento também foi
afetado por sais, dependendo da composição do gel e do tipo de sal utilizado. Os
autores observaram, porém, alto grau de reticulação, comprovado pela diminuição
no grau de intumescimento. Diversos estudos relacionam alto grau de reticulação
com a diminuição do grau de intumescimento em polissacarídeos (BEPPU et al.,
2007; BUENO et al., 2013; CURY et al., 2009; ENKE et al., 2014; MATOS, 2008;
VIKHOREVA; SHABLYUKOVA; KILL‟DEEVA, 2001). Entretanto, as pesquisas
também mostram aumento pronunciado na capacidade de intumescimento após a
reticulação parcial, que favorece o aprisionamento das moléculas de solvente na
estrutura polimérica (BEJENARIU et al., 2009; CURY et al., 2009; ENKE et al., 2014;
129
MATOS, 2008). Poon, Wilson e Headley (2014) reticularam o polímero chitosana
com glutaraldeido e também observaram aumento no grau de intumescimento com o
aumento na densidade de reticulação. Segundo os autores, isso pode ser explicado
pelo caráter hidrófilo conferido pelas unidades de glutaraldeído decorrentes do grupo
carbonila pendente, evidenciado pelo comportamento de inchamento dos polímeros
reticulados.
Quanto ao teste de solubilidade realizado, verificou-se que as xantanas 106
pH7 e pH9 naturais e desacetiladas solubilizaram-se totalmente após 30 minutos
sob agitação a 60ºC, ao passo que ambas as xantanas, Xp 106 pH7 DESA 1% GLU
45ºC 2h e Xp pH9 DESA 1% GLU 45ºC 2h, tiveram apenas 47,2% e 39,0% de
polímero solubilizado, respectivamente. A solubilidade e a capacidade de
intumescimento de um polímero não são influenciadas somente pelo grau de
reticulação. Trata-se de um processo complexo que depende da interação polímero-
solvente, que é determinada, primeiramente, pela composição química do polímero,
mas também pela massa molecular (BILLMEYER, 1984). O intumescimento ou
inchamento não pode ser explicado apenas como a penetração de pequenas
moléculas de água na fase do polímero preenchendo seus espaços vazios. Esse
processo também envolve uma mudança no arranjo espacial das cadeias
poliméricas resultando em um aumento no volume da amostra (LUCAS; SOARES;
MONTEIRO, 2001). Segundo Billmeyer (1984), quando as forças intermoleculares
polímero-polímero são altas devido à reticulação, cristalinidade ou fortes ligações de
hidrogênio, muitas vezes apenas o primeiro estágio da dissolução ocorre, que é a
difusão das moléculas de solvente para o polímero, produzindo um gel inchado ou
intumescido. Sendo assim, os polímeros reticulados têm sua dissolução reduzida ou
até mesmo impedida, dependendo do grau de reticulação. Entretanto, sempre
incham ao interagir com o solvente, e o grau dessa interação é dependente da
extensão da reticulação (BILLMEYER, 1984). Se a quantidade de reticulação for
relativamente baixa, as moléculas do solvente podem penetrar na fase do polímero e
este sofre inchamento (LUCAS; SOARES; MONTEIRO, 2001); ainda, se as forças
intermoleculares polímero-polímero forem superadas pela introdução de fortes
interações polímero-solvente o segundo estágio da disolução pode ocorrer, e as
moléculas do polímero se difundem lentamente para o solvente, formando uma
solução homogênea (BILLMEYER, 1984).
130
Essa diminuição da solubilidade nos polímeros reticulados somente foi
observada para os polímeros na forma de filme e pode ser um fator muito positivo
para futuras aplicações. Uma possível e viável aplicação é na produção de filmes e
recobrimentos biodegradáveis à base de xantana ou de xantana combinada com
outras gomas.
4.4 Conclusões
A concentração do agente reticulante, a temperatura e o tempo de reação
afetam a efetividade da reticulação. Os melhores resultados foram alcançados com
1% de GLU, 45ºC e 2h de reação.
A reticulação na melhor condição aumentou significativamente a viscosidade,
viscoelasticidade, resistência térmica e capacidade de absorção de água. As
xantanas previamente desacetiladas por processo termoquímico pós-fermentativo
apresentaram os maiores incrementos nessas propriedades, comparado às
xantanas naturais com ou sem autodesacetilação. Observou-se que a Xp 106 pH7
desacetilada reticulada apresentou maior incremento na resistência térmica,
rendimento e grau de intumescimento, ao passo que, a Xp 106 pH9 desacetilada
reticulada teve maior incremento nas propriedades reológicas (viscosidade e
viscoelasticidade).
A eficácia da reticulação de xantana pruni com glutaraldeído foi confirmada
pelas análises reológicas, térmicas, de rendimento e intumescimento. A reticulação
química da xantana pruni mediada por glutaraldeído é tecnicamente viável, tem bom
rendimento e origina xantanas tecnologicamente superiores e diferenciadas das
naturais.
131
5 Associação de modificações químicas em xantana pruni: desacetilação,
reticulação e troca iônica
5.1 Introdução
As modificações químicas de polissacarídeos naturais são uma importante
ferramenta para produção de polímeros com novas e diferenciadas propriedades e
aplicações. Diversas modificações químicas têm sido aplicadas à xantana, um
biopolímero de grande interesse tecnológico utilizado na indústria de alimentos
(BORN; LANGENDORFF; BOULENGUER, 2002; KATZBAUER, 1998), petrolífera
(NAVARRETE; SEHEULT; COFFEY, 2000), farmacêutica (PARFITT, 1999),
produtos de higiene e cosméticos (BORN; LANGENDORFF; BOULENGUER, 2002)
entre outras. O sucesso de sua utilização baseia-se na estabilidade de suas
soluções frente a alterações de pH, temperatura e força iônica. A xantana possui
capacidade de modificar extensivamente a reologia de meios aquosos nos quais é
inserida, atuando como gelificante, além de agente suspensivo e estabilizador de
emulsões (KATZBAUER, 1998; MCNEELY; KANG, 1973; ROCKS, 1971). Sua
cadeia principal é do tipo celulósica, e resíduos alternados de glicose são
substituídos em C (3) com uma cadeia lateral trissacarídica, que por sua vez, é
variavelmente substituída nos resíduos de manose por grupos acetila e piruvato
(CADMUS et al. 1976; JANSSON; KENNE; LINDBERG, 1975; SLONEKER,
JEANES, 1962; MELTO; MINDT; REES; SANDERSON, 1976). As variações na
quantidade e posição dos substituintes confere certa irregularidade à molécula de
xantana (BORN; LANGENDORFF; BOULENGUER, 2002).
132
A desacetilação é uma modificação química que torna o polímero mais
flexível (TAKO; NAKAMURA, 1984) e favorece a formação de ligações cruzadas ou
reticulação entre moléculas do mesmo polímero ou sua interação com outros
polissacarídeos (LOPES et al., 1992; SHATWELL; SUTHERLAND,1991; TAKO;
NAKAMURA, 1985). A reticulação forma redes macromoleculares estáveis
(BEJENARIU et al., 2009) que alteram as propriedades de intumescimento dos
polímeros, produzindo hidrogéis estáveis (LINDBLAD; ALBERTSSON, 2004), e
aumentam sua resistência térmica (GLIKO-KABIR; PENHASI; RUBENSTEIN, 1999;
NAVARRETE; SEHEULT; COFFEY, 2000). Outra modificação química passível de
aplicação em xantana é a troca iônica, com a qual se modifica o balanço iônico na
molécula (KLAIC, 2010; MOHAMMED et al., 2007; ROSS-MURPHY; MORRIS;
MORRIS, 1983). A presença de eletrólitos na molécula eleva a temperatura de
transição de ordem-desordem da xantana (CAPRON; BRIGAND; MULLER, 1998;
CLARKE-STURMAN; PEDLEY; STURLA, 1986; XIE; LECOURTIER, 1992),
tornando-a termicamente mais estável (KIERULF; SUTHERLAND, 1988; ROCKS,
1971; SUTHERLAND, 2001b; XIE; LECOURTIER, 1992). Ross-Murphy, Morris e
Morris (1983) e Klaic et al. (2016) mostraram que a viscosidade e o comportamento
da xantana também são substancialmente afetados pela natureza e quantidade dos
cátions associados. Klaic et al. (2016) realizaram troca iônica na xantana pruni
produzida pela cepa 101 em pH7. Os autores adicionaram diferentes concentrações
de Ca++ e de Na+ em xantanas livres de sais, observando aumento em sua
viscosidade, principalmente nas concentrações de 5% Na+ e 0,5% Ca++.
Não existem, na literatura atual, estudos associando diferentes modificações
químicas para uma mesma xantana. Sendo assim, objetivamos avaliar o
comportamento da xantana pruni submetida a sucessivas modificações químicas,
como a desacetilação, a reticulação e a troca iônica isoladas e conjuntamente
aplicadas, através do estudo da reologia e das características térmicas dos
polímeros resultantes, comparativamente aos polímeros naturais utilizados.
133
5.2 Material e Métodos
5.2.1 Materiais
Utilizaram-se xantanas produzidas pela cepa 106 de X. arboricola pv pruni em
duas condições de pH, conforme descrito no item 3.2.2, denominadas Xp 106 pH7 e
Xp 106 pH9, com teores de acetila, determinados conforme descrito no item 3.2.4.1,
classificados como elevado (4,09% ± 0,04) e médio (2,65% ± 0,05),
respectivamente. Reagentes de grau analítico foram utilizados em todo o
experimento. Utilizou-se NaOH (Vetec®) para reação de desacetilação termoquímica
e glutaraldeído (GLU) solução a 50% (Vetec®) para proceder a reticulação. A troca
iônica foi realizada em duas etapas, remoção dos cátions metálicos com resina
trocadora de cátions fortemente ácida Amberlite IR 120 H+ (Sigma-Aldrich®), e
adição controlada de Na+ (NaCl Vetec®). Todas as soluções foram preparadas
utilizando água ultra pura obtida em um sistema de purificação de água Direct-Q 3
(Millipore Corporation®,) com uma resistividade de 18,3 MΩcm.
5.2.2 Modificação química das xantanas
A modificação química de desacetilação foi conduzida utilizando-se a
condição ótima de desacetilação selecionada no item 3.3.2. Ou seja, as amostras de
xantana pruni foram submetidas a desacetilação em solução 0,01mol L-1 de NaOH
com 0,5% (m/v) de polímero, procedendo a reação a 45ºC por 3h. Após, as xantanas
foram recuperadas por precipitação em etanol 96%, secas e trituradas, conforme
3.2.2, e os polímeros resultantes nomeados Xp 106 pH7 DESA e Xp 106 pH9 DESA.
A reação de reticulação mediada por GLU foi realizada nas xantanas nas
xantanas pruni desacetiladas, utilizando a concentração, tempo e temperatura de
melhor resultado no estudo realizado no capítulo 4. As condições reacionais foram:
2h de reação a 45ºC utilizando 0,5% (m/v) de xantana e 1% (v/v) de GLU. Após,
134
realizou-se a recuperação dos polímeros, nomeando-se as xantanas: Xp 106 pH7
DESA RET; Xp 106 pH9 DESA RET.
As xantanas naturais, desacetiladas e desacetiladas reticuladas foram
submetidas ao processo de troca iônica. As amostras de xantana foram hidratadas
na proporção de 1:99 (m/v) e estocadas por 24h na temperatura de 4ºC para evitar
crescimento microbiano. Após as misturas foram agitadas por 2h à temperatura
ambiente e submetidas à troca iônica. O processo foi controlado pelo pH e
condutividade das soluções de xantana. Em seguida, as soluções livres de sais
foram adicionadas de 5% de Na+ em relação ao teor de xantana, pela adição de
NaCl, e os polímeros recuperados, secos e triturados (KLAIC et al., 2016). As
xantanas modificadas por troca iônica receberam junto a sua denominação a
terminação TI 5% Na.
5.2.3 Reometria
As análises reológicas foram realizadas conforme descrito no item 3.2.4.5. As
soluções de xantana a 1% (p/v) foram submetidas a ensaios rotacionais e
oscilatórios em reômetro (Haake® Rheostress 600, modelo RS150) com controlador
de temperatura (Peltier, ± 0,1°C). Determinou-se a viscosidade por meio de curvas
de tensão de cisalhamento versus taxa de deformação e as propriedades
viscoelásticas pela medida dos módulos elástico G´(ω) e viscoso G” (ω). As análises
foram realizadas a 25ºC com três medidas para cada amostra, não havendo
diferenças superiores a 5% entre as medidas. Utilizou-se geometria de cone e placa
(sensor C35/1º; 0.052mm gap), com taxa de cisalhamento de 0,01-1000s-1, durante
400s para viscosidade; e 0,5 Pa de tensão e frequência variando de 1 a 10 Hz para
os módulos elástico (G‟) e viscoso (G”).
135
5.2.4 Análise térmica
Realizou-se as análises térmicas de calorimetria exploratória diferencial
(DSC) e termogravimetria (TGA) em equipamento DSC-60 (Shimadzu®) e DTG-60
(Shimadzu®), respectivamente, de acordo com o método descrito no item 3.2.4.6 do
capítulo 3.
5.3 Resultados e Discussão
Em estudos anteriores (KLAIC et al., 2016), verificou-se que a modificação
química de troca iônica, com adição de 5% de Na+, causou um acentuado
incremento na viscosidade das xantanas pruni naturais produzidas pela cepa 101
em pH7 e pH9. O mesmo resultado foi obtido em nosso estudo para as xantanas
pruni produzidas pela cepa 106 nas mesmas condições de pH (Figura 32).
136
Figura 32 - Curvas de viscosidade (mPas) versus taxa de deformação (0,01-1000s
-1) a 25ºC de
soluções aquosas (1% m/v) das xantanas pruni Xp 106 pH7 (A) e Xp 106 pH9 (B) naturais, desacetiladas, desacetiladas reticuladas, naturais submetidas a troca iônica, desacetiladas submetidas a troca iônica e desacetiladas reticulada submetidas à troca iônica.
Conforme discutido no capítulo 3, a realização única da desacetilação reduziu
sensivelmente os valores de viscosidade para as xantanas pruni obtidas em pH 7 e
9. Isso contraria autores como Sloneker e Jeanes (1962) e Pinto, Furlan e
Vendruscolo (2011), que verificaram aumento na viscosidade de xantanas
comerciais causado pela desacetilação. Por outro lado, a desacetilação seguida de
reticulação proporcionou os maiores valores, com aumentos na viscosidade da
ordem de 3 e 3,6 vezes para as xantanas obtidas nos pH 7 e 9, respectivamente.
Diferentes xantanas sofrem efeitos distintos na viscosidade pela adição de
sais. Esta diversidade de efeitos possivelmente reflete diferenças na massa molar,
137
conformação molecular ou composição química (NITSCHKE; THOMAS, 1995). De
acordo com Jeanes e Sloneker (1961), soluções aquosas de xantana na presença
de sais inorgânicos sofrem um modesto incremento na viscosidade, já um grande
aumento é observado para xantana desacetilada. As amostras de xantana pruni
previamente modificadas por desacetilação tiveram suas viscosidades aumentadas
pela troca iônica em proporções levemente maiores que as xantanas pruni naturais.
Já as xantanas pruni desacetiladas reticuladas tiveram suas viscosidades
extremamente reduzidas quando submetidas à troca iônica.
Com base nos resultados pode-se inferir que, em relação à elevação da
viscosidade, a combinação da desacetilação e reticulação resulta nos melhores
resultados e a desacetilação justifica-se apenas como tratamento prévio à
reticulação. Já a troca iônica mostrou-se adequada como modificação única,
realizada nas xantanas naturais. Apesar da associação desacetilação – troca iônica
ter proporcionado os segundos maiores resultados de viscosidades, não se justifica
sua aplicação. Uma vez realizada a desacetilação é mais proveitoso, econômico e
prático a realização subsequente da reticulação.
Em algumas situações a redução da viscosidade pode ser desejável, como
por exemplo na formulação de blendas para produção de filmes biodegradáveis à
base de xantana ou xantana e amido. A menor viscosidade da solução reduz a
formação de bolhas bem como facilita a remoção das bolhas (JIN et al., 2015).
Nessas situações, as xantanas desacetiladas são as mais recomendáveis.
138
Figura 33 - Curvas de viscoelasticidade a 25ºC de soluções aquosas (1% m/v), na frequência de 1 a 10Hz, das xantanas pruni Xp 106 pH7 (A) e Xp 106 pH9 (B) naturais, desacetiladas, desacetiladas reticuladas, naturais submetidas a troca iônica, desacetiladas submetidas a troca iônica e desacetiladas reticuladas submetidas a troca iônica.
De acordo com Ross-Murphy, Morris e Morris (1983), alterações no conteúdo
de polieletrólitos modificam a viscoelasticidade de amostras de xantana. Segundo os
autores, as interações iônicas são modificadas pela concentração e tipo de íon e
pelo teor de piruvato, fazendo com que esses efeitos sejam mais pronunciados do
que seriam quando esperados puramente do caráter polieletrólito das cadeias
laterais. Assim, mudanças no balanço de cátions associados podem induzir
alterações na resposta viscoelástica, sendo que o efeito das interações
intermoleculares é muito maior do que para associações não específicas (ROSS-
MURPHY; MORRIS; MORRIS, 1983).
À semelhança do que ocorreu com a viscosidade, a desacetilação seguida
de reticulação resultou nos maiores valores de módulos elástico e viscoso para as
xantanas obtidas em ambos pH (7 e 9), caracterizando géis mais fortes, enquanto
que a desacetilação causou redução na força do gel (Figura 33). Com exceção das
139
xantanas desacetiladas reticuladas, que apresentaram valores menores após a troca
iônica, essa modificação resultou em incremento nos módulos elástico (G‟) e viscoso
(G”) para todas as xantanas. Para a xantana obtida em pH7, a troca iônica foi mais
efetiva para a xantana natural, enquanto que para a xantana obtida em pH 9 a troca
iônica foi mais efetiva para a xantana previamente desacetilada.
Ao comparar os três métodos de modificação química aplicados à xantana, o
maior incremento nos parâmetros reológicos foi alcançado quando ambas as
xantanas foram submetidas à modificação química de desacetilação seguida de
reticulação. A troca iônica mostrou-se relevante como modificação única apenas
para as xantanas naturais.
Diversas pesquisas têm sido realizadas para estudar os efeitos da força iônica
nas características da xantana relacionando a presença de eletrólitos com a
estabilidade térmica do polímero (BERGMANN; FURTH; MAYER, 2008; GARCÍA-
OCHOA et al. 2000; SUTHERLAND, 2001a). De acordo com Xie e Lecourtier (1992),
a presença de eletrólitos eleva a temperatura de transição de ordem-desordem da
molécula, tornando a xantana termicamente mais estável (KIERULF; SUTHERLAND,
1988; ROCKS, 1971; SUTHERLAND, 2001b; XIE; LECOURTIER, 1992). Na figura
34 estão as curvas termogravimétricas das xantanas modificadas por desacetilação,
reticulação e troca iônica, aplicadas como modificação única ou em associação. As
xantanas naturais, obtidas nos diferentes pH (7 e 9) tiveram comportamento distinto
quanto à estabilidade térmica após as modificações químicas. A troca iônica
aumentou a resistência térmica das xantanas submetidas ao processo, com exceção
da xantana Xp 106 pH9 TI 5% Na. A decomposição da amostra propriamente dita se
inicia no segundo estágio de degradação (200 – 350ºC), e o aumento da resistência
de observa em função da temperatura de início da reação (onset).
Entre as xantanas Xp pH7 e derivadas, as maiores estabilidades térmicas,
determinadas por TGA e DTG, foram observadas para as xantanas submetidas à
troca iônica, nessa ordem: natural (onset~273ºC), desacetilada (onset~271ºC) e
desacetilada reticulada (onset~269ºC). As xantanas natural, desacetilada e
desacetilada reticulada sem troca iônica tiveram comportamento semelhante
(onset~263ºC). Entre as xantanas Xp pH9 e derivadas, as amostras desacetilada e
desacetilada reticulada submetidas à troca iônica tiveram a maior resistência
140
(onset~267ºC). As demais tiveram comportamento semelhante, com temperaturas
de onset entre 259ºC e 262ºC.
Todas as amostras de xantana submetidas à troca iônica tiveram um
comportamento diferenciado, com um estágio de perda de massa significativa entre
200 – 250ºC que não ocorre nas demais. Para Xp 106 pH7 a troca iônica diminuiu o
teor de perda de massa final para todas as amostras submetidas ao processo. Já
para Xp 106 pH9, as xantanas submetidas a troca iônica tiveram maior perda de
massa no intervalo de temperatura utilizado. Para essa xantana, a menor perda de
massa foi observada para a amostra desacetilada reticulada, que também teve
maiores viscosidade e viscoelasticidade.
A diferença no comportamento térmico entre as duas amostras pode estar
relacionada a diferenças na composição química dos polímeros (NITSCHKE;
THOMAS, 1995), uma vez que possuem diferentes teores de acetila e piruvato
(Tabela 2 do capítulo 3) em função da condição de pH utilizada durante o processo
fermentativo para sua produção, sendo ambos os teores maiores para xantana
produzida em pH7. Essas diferenças também resultam em diferentes graus de
incorporação de íons à molécula de xantana (KLAIC et al. 2016), promovendo
efeitos distintos sobre a estabilidade térmica do polímero.
141
Figura 34 - Curvas de análise termogravimétrica (TGA) das xantanas pruni Xp 106 pH7 (A) e Xp 106 pH9 (B) naturais, desacetiladas, desacetiladas reticuladas, naturais submetidas a troca iônica, desacetiladas submetidas a troca iônica e desacetiladas reticuladas submetidas a troca iônica com seus respectivos percentuais de perda de massa na faixa de temperatura de 30 a 350ºC com taxa de aquecimento de 10ºC/min.
142
Através da análise de DSC pode-se observar (Figura 35) que todas as
amostras modificadas, por um ou mais métodos, apresentaram picos endotérmicos
mais largos e em temperaturas mais baixas que as respectivas xantanas naturais.
Para as xantanas derivadas da Xp 106 pH7, a amostra desacetilada seguida de
reticulação teve o maior pico endotérmico, com valor próximo à xantana natural e
significativamente maior do que a xantana submetida apenas à desacetilação. Com
exceção à xantana 106 pH9 DESA TI 5% Na, cujo pico endotérmico foi observado
em temperatura superior ao da xantana desacetilada reticulada, a troca iônica, por
sua vez, resultou nas menores temperaturas de fusão, que foram reduzidas em
cerca de 30 - 40ºC. É importante salientar que o fenômeno de fusão diz respeito
apenas aos polímeros no estado sólido. Portanto, o comportamento observado pelas
análises de TGA e DTG é mais significativo, uma vez que xantana é usada
preponderantemente em solução.
143
Figura 35 - Análise de calorimetria exploratória diferencial (DSC) das xantanas pruni Xp 106 pH7 (A) e Xp 106 pH9 (B) naturais, desacetiladas, desacetiladas reticuladas, naturais submetidas a troca iônica, desacetiladas submetidas a troca iônica e desacetiladas reticuladas submetidas a troca iônica, na faixa de temperatura de 25 a 240ºC com taxa de aquecimento de 10ºC/min.
144
5.4 Conclusões
As xantanas produzidas em pH 7 e 9 resultaram em polímeros diferentes e
com diferentes comportamentos frente às modificações químicas aplicadas.
A desacetilação como modificação única reduz a viscosidade e módulos
elástico e viscoso. A troca iônica, por sua vez, aumenta a viscosidade e os módulos
elástico e viscoso e reduz as temperaturas de fusão. O maior incremento na
resistência térmica é promovido pela troca iônica, enquanto que a desacetilação
seguida de reticulação proporciona melhoria nos parâmetros reológicos.
As modificações produzidas em polímeros naturais podem resultar em
produtos com características específicas para um propósito definido, e a associação
de modificações químicas pode ser uma forma de obter as características
desejadas. A associação da desacetilação com reticulação, por resultar em xantanas
com as maiores viscosidades, é a condição que gera xantanas com a mais ampla
gama de aplicações, de produtos alimentícios à exploração de petróleo.
145
Conclusões Gerais
O pH utilizado durante o processo fermentativo influencia o rendimento, as
características reológicas e a composição química das xantanas pruni. A cepa
utilizada também influencia as características físico-químicas dos polímeros obtidos.
A produção em pH alcalino proporciona a autodesacetilação das xantanas
pruni, sendo um processo cepa dependende, uma vez que gera níveis de
autodesacetilação diferentes para as cepas analisadas. O processo é mais eficiente
para cepa 101, com 88% de remoção dos grupos acetila, do que para cepa 106,
com 35% de remoção.
A efetividade da desacetilação termoquímica pós-fermentativa é proporcional
à força da base utilizada. Os parâmetros de tempo e temperatura influenciam a
eficiência da reação apenas quando a base utilizada é fraca (NH4OH). Embora a
desacetilação termoquímica pós-fermentativa não aumente a viscosidade das
xantanas pruni cepa 101 e 106, é um tratamento prévio importante, uma vez que as
xantanas submetidas à desacetilação pós-fermentativa seguida de reticulação têm
os maiores incrementos nas propriedades reológicas.
A modificação química de reticulação mediada por glutaraldeído é efetiva e
influenciada pelas características da xantana pruni e pelos parâmetros do processo -
concentração do agente reticulante, tempo e, principalmente, temperatura; e resulta
em incremento nas propriedades reológicas, de intumescimento e térmicas das
xantanas pruni estudadas.
A troca iônica incrementa os parâmetros reológicos das xantanas naturais e
desacetiladas, mas em menor escala que a reticulação das xantanas desacetiladas
pós-fermentativamente, além de aumentar a resistência térmica de todas as
amostras (naturais e modificadas) da xantana 106 pH7. A combinação da
146
desacetilação e reticulação resulta na melhor associação de modificações químicas
e a desacetilação justifica-se apenas como tratamento prévio à reticulação; já a troca
iônica é adequada como modificação única para as xantanas naturais.
Sendo assim, a associação de modificações em um mesmo polímero é
importante para obter produtos com características específicas e diferenciadas.
147
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