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UNIVERSIDADE FEDERAL DE PELOTAS Programa de Pós-Graduação em Medicina Veterinária Dissertação DEFEITOS CONGÊNITOS DIAGNOSTICADOS EM RUMINANTES NA REGIÃO SUL DO RIO GRANDE DO SUL Clairton Marcolongo Pereira Pelotas, 2010

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE PELOTAS Programa de Pós-Graduação em Medicina Veterinária

Dissertação

DEFEITOS CONGÊNITOS DIAGNOSTICADOS EM

RUMINANTES NA REGIÃO SUL DO RIO GRANDE DO SUL

Clairton Marcolongo Pereira

Pelotas, 2010

CLAIRTON MARCOLONGO PEREIRA

DEFEITOS CONGÊNITOS DIAGNOSTICADOS EM RUMINANTES NA REGIÃO SUL DO RIO GRANDE DO SUL

Orientadora: Dra. Ana Lucia Schild

Pelotas, fevereiro 2010

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Medicina Veterinária da Universidade Federal de Pelotas, como requisito parcial à obtenção do título de Mestre em Ciências (área de concentração: Patologia Animal).

Dados de catalogação na fonte: ( Marlene Cravo Castillo – CRB-10/744 )

P436d Pereira, Clairton Marcolongo

Defeitos congênitos diagnosticados em ruminantes na região sul do Rio Grande do Sul / Clairton Marcolongo Pereira ; orientador Ana Lucia Schild. - Pelotas,2010.-91f. ; il..- Dissertação ( Mestrado) –Programa de Pós-Graduação em Veterinária. Faculdade de Veterinária . Universidade Federal de Pelotas. Pelotas, 2010.

1. Ruminantes 2.Defeitos congênitos 3.Doenças hereditárias 4.Patologia 5.Epidemiologia I Schild, Ana Lucia(orientador) II .Título.

CDD 636.2089

CLAIRTON MARCOLONGO PEREIRA

DEFEITOS CONGÊNITOS DIAGNOSTICADOS EM RUMINANTES NA REGIÃO SUL DO RIO GRANDE DO SUL

___________________________________ Nome:Ana Lucia Schild (Presidente) Titulação:Doutora Instituição:Universidade Federal de Pelotas ________________________________ Nome: Claudio Severo Lombardo de Barros Titulação: PhD Instituição: Universidade Federal de Santa Maria ________________________________ Nome: Margarida Buss Raffi Titulação: Doutora Instituição: Universidade Federal de Pelotas ________________________________ Nome: Fabiane Borelli Grecco Titulação: Doutora Instituição: Universidade Federal de Pelotas

Dissertação apresentada para obtenção do grau de Mestre em Ciências. Programa de Pós-Graduação em Medicina Veterinária. Universidade Federal de Pelotas Área de concentração: Patologia Animal Orientadora: Dra. Ana Lucia Schild

Banca examinadora:

AGRADECIMENTO

À Deus.

Aos meus pais Airton e Catarina, as minhas irmãs Cleide e Clívia e aos

meus cunhados pelo exemplo, amizade e carinho.

À minha família: Tio Zé, Dindin, tia Néia, tia Madelena, Dindinha, Bidinha

e a meus primos e primas por todo o carinho.

Ao Tio Manny por todo exemplo, amizade e companheirismo.

À minha orientadora Dra. Ana Lucia Schild pelo incentivo, paciência,

amizade, ensinamentos profissionais e pessoais e principalmente por ter

acreditado em mim, mesmo sem me conhecer e ter me concedido a

oportunidade de transformar um sonho em realidade.

Às Professoras/amigas: Elisa Simone Salles, Margarida Raffi e Daniela

Pereira pelo fundamental apoio, carinho, incentivo, ensinamentos profissionais

e pessoais. Por estarem sempre ao meu lado.

Às minhas amigas-irmãs: Fabiane Grecco, Letícia Fiss, Tainã Normaton

e Nathalia Assis Brasil, pelo fundamental auxílio emocional e profissional, pela

amizade, companheirismo e por dividirem as minhas alegrias e tristezas.

Ao João Luiz Ferreira (Nico), por toda paciência, dedicação e carinho ao

me ensinar uma das mais importantes tarefas do LRD.

Aos amigos do LRD: Cauê, Pedro, Sérgio, Pablo, Luciano, Tony,

Daiane, Carla, Silvia, Mauro, Jerônimo, Renata, Bia, Tati, Simone, Michele e

Fernanda pelo apoio, carinho, incentivo e auxílio quando solicitados.

Aos meus amigos de Vitória: Alessandro Fairich (Tico), Thiago Carvalho,

Ricardo Marchesan, Frederico Mangaravite, Leonardo Bittencourt e Frederico

Figner.

Aos amigos que fiz em Pelotas: Ighor, Sérgio, Carla, Márcia, Marcelo,

Matheus, Rafael e Leandro pela confiança, carinho e companheirismo.

Aos demais professores e técnicos do Departamento de Patologia e

LRD, agradeço por todo incentivo e carinho.

À Universidade Federal de Pelotas/Faculdade de Medicina Veterinária

pela oportunidade de realizar o curso de Pós-Graduação.

À Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior

(CAPES) pela concessão da bolsa de estudos.

Por fim, considerando esta dissertação como resultado de uma

caminhada que não começou na UFPel, agradecer pode não ser tarefa fácil,

nem justa. Para não correr o risco de injustiça, agradeço a todos que de

alguma forma passaram pela minha vida e contribuíram para a construção de

quem sou hoje.

Muito obrigado!

RESUMO

MARCOLONGO-PEREIRA, Clairton. Defeitos congênitos diagnosticados em ruminantes na região Sul do Rio Grande do Sul. 2010. 91f. Dissertação (Mestrado em Veterinária) – Laboratório Regional de Diagnóstico, Faculdade de Veterinária, Universidade Federal de Pelotas. Foi realizado um estudo das malformações congênitas/doenças hereditárias diagnosticadas em bovinos, ovinos e bubalinos através da revisão dos protocolos de necropsia do Laboratório Regional de Diagnóstico (LRD) da Faculdade de Veterinária da Universidade Federal de Pelotas (UFPel) entre 1978 e 2009. A ocorrência de defeitos congênitos e/ou doenças hereditárias em bovinos, ovinos e bubalinos representou 0,89%, 0,36% e 7,55% respectivamente, de todos os materiais dessas espécies recebidos. Os defeitos foram classificados de acordo com o sistema afetado. Dos 48 casos de defeitos congênitos e/ou doenças hereditárias diagnosticados em bovinos 21 (43,75%) afetaram o sistema esquelético (condrodisplasia, escoliose, desvio lateral da mandíbula, fenda palatina e malformação não classificada) nove (18,75%) o sistema nervoso central (hipoplasia dos lobos frontais e olfatórios, degeneração cerebelar cortical, espinha bífida, hipomielinogênese congênita, hipermetria hereditária, hipoplasia cerebelar e paquigiria), nove (18,75%) o sistema muscular (artrogripose), três (6,25%) o sistema cardiovascular (persistência do ducto arterioso e malformação não classificada), um (2,08%) o sistema linfático (hipoplasia linfática), um (2,08%) o sistema gastrintestinal (atresia anal) e um (2,08%) o olho (catarata congênita). Em cinco casos (10,42%) vários sistemas estavam afetados (diprosopo e dicéfalo dipos dibráquio). Todos os casos de defeitos congênitos observados em ovinos (gêmeos anômalos e aprosopia) afetaram vários sistemas. Dos oito casos de defeitos congênitos e/ou doenças hereditárias diagnosticados em búfalos três (37,5%) afetaram o sistema muscular (artrogripose e hiperplasia muscular), dois (25%) o sistema tegumentar (dermatose mecânico-bolhosa e albinismo), um (12,5%) o sistema nervoso central (hidranencefalia), um (12,5%) o sistema nervoso central/tegumentar/fotorreceptor (hidranencefalia/albinismo), e um (12,5%) o sistema gastrintestinal (megaesôfago). Concluiu-se que os defeitos congênitos esporádicos têm pouca importância em bovinos. Defeitos congênitos de causas ambientais podem trazer prejuízos econômicos importantes em determinadas regiões ou estabelecimentos. As doenças comprovadamente hereditárias são importantes não só pela mortalidade mas, também, pela possibilidade de disseminação de genes indesejáveis nas diferentes raças, principalmente aquelas criadas em pequenas propriedades rurais da bacia leiteira da região.

Em ovinos os defeitos congênitos são raros. Em bubalinos a alta frequência de doenças hereditárias na raça Murrah foi atribuída a alta consanguinidade do rebanho e medidas de controle devem ser tomadas para evitar-se a contínua disseminação, principalmente dos genes recessivos que são mais difíceis de controlar. Palavras-chave: Defeitos congênitos, doenças hereditárias, ruminantes, patologia, epidemiologia.

ABSTRACT

MARCOLONGO-PEREIRA, Clairton. Congenital defects in ruminants in Southern Brazil. 2010. 91p. MS Dissertation – Laboratório Regional de Diagnóstico, Faculdade de Veterinária, Universidade Federal de Pelotas. Congenital defects and hereditary diseases in cattle, sheep and buffaloes were studied through a review of necropsy files of the Laboratório Regional de Diagnóstico (LRD) of the Faculdade of Veterinária of the Universidade Federal de Pelotas (UFPel) between 1978 and 2009. The occurrence of congenital defects and/or hereditary diseases in cattle, sheep and buffaloes were 0.89%, 0.36% e 7.55% respectively from all received material. The defects were classified according the affected system. From 48 of congenital defects and/or hereditary diseases observed in cattle 21 (43.75%) affected the skeletal system (chondrodysplasia, scoliosis, lateral deviation of mandible, palatoschisis and unclassified malformation) nine (18.75%) the central nervous system (hypoplasia of olfatory and frontal lobes, cerebellar cortical degeneration, spina bifida, congenital hypomielinogenesis, hereditary hypermetria, cerebellar hypoplasia and pachygiria), nine (18.75%) the muscular system (arthrogryposis), three (6.25%) the cardiovascular system (patent ductus arteriosus and unclassified malformation), one (2.08%) the lymphatic system (hereditary lymphatic hypoplasia), one (2.08%) o alimentary system (atresia ani) and one (2.08%) the eye (congenital cataract). In five cases (10.42%) different systems were affected (diprosopus and decephalus dipos dibraqius). In sheep all observed defects affected various systems (anomalous twins and aprosopia). Of eight cases of congenital defects/hereditary diseases diagnosed in buffaloes three (37.5%) affected the muscular system (arthrogriposis and double muscle), two (25%) the integument (mechanobullous dermatosis and albinism), one (12.5%) the central nervous system (hydranencephaly), one (12.5%) the central nervous system/ integument (hydranencephaly/albinism) and one (12.5%) the alimentary system (megaesofagus). It was concluded that the sporadic congenital defects cause little economical losses in cattle. Environmental congenital defects can cause losses in certain localized geographic areas or farms. The hereditary diseases were important by mortality of animals and by spread of undesirable genes in cattle breeding from milk production region in Southern Brazil. In sheep the congenital defects are rare. In water buffaloes the high prevalence of hereditary diseases was a consequence of the high consanguinity of herd and management measures

need to be taken to avoid the spread of recessive genes that are difficult to control. Key words: Congenital defects, hereditary diseases, ruminants, pathology, epidemiology.

GLOSSÁRIO

Abraquia – agenesia dos membros torácicos. Agnatia ou aplasia da mandíbula - ausência ou desenvolvimento insuficiente da mandíbula. Amelia – agenesia de um membro. Anoftalmia - ausência uni ou bilateral dos tecidos oculares. Apodia – agenesia dos membros pélvicos. Aprosopia – defeito congênito em que toda a estrutura da face está ausente. Arrinia – ausência do nariz. Artrogripose - contração permanente dos membros em flexão ou extensão e atrofia muscular. Astomia – ausência congênita da boca. Braquignatia ou hipognatia – protusão do maxilar e mandíbula curta. Campilognatia – desvio lateral da maxilar. Cefalomelia – membro duplicado localizado na cabeça. Ciclopia - uma única órbita ocular mediana contendo um globo ocular. Condrodisplasia – distúrbio generalizado do desenvolvimento dos ossos. Dicéfalo dípigo - duplicação de ambas as regiões cranial e caudal da cabeça. Diplopagos - gemelaridade conjugada igual e simétrica. Dípigos - gemelaridade conjugada incompleta com duplicação caudal. Diprosopo - duplicação quase completa da face. Escoliose – desvio lateral da coluna vertebral. Gêmeos anômalos - gêmeos monozigóticos imperfeitamente separados. Hemimelia tibial – ausência da tíbia. Heterópago - gemelaridade desigual e assimétrica, sendo o gêmeo maior aparentemente normal e o menor incompleto – parasítico. Hidranencefalia - formação de grandes cavidades contendo líquido no cérebro. Lordose – desvio ventral da coluna vertebral. Melodimo - gemelaridade com membros supernumerários. Micromelia – membros curtos. Notomielia - membro duplicado localizado no dorso. Perosomus elumbis - agenesia parcial da medula espinhal e vértebras lombossacrais. Pigomelia – membro duplicado localizado na região pélvica.

Pigópago parasítico - gemelaridade parasítica ligada à região sacral do outro gêmeo. Polidactilia – dedos supranumerários. Polimelia - duplicação de um membro completo. Polimelia heterotópica - um ou dois membros duplicados localizados em diferentes regiões anatômicas do corpo. Prognatia – protusão da madíbula. Sincéfalo dípigo - duplicação de ambas as regiões cranial e caudal com as duas cabeças quase completamente fusionadas. Sindactilia – fusão ou não divisão dos dedos. Sinotia – união das orelhas . Torticolis - desvio lateral do pescoço. Toracomelia – Membro duplicado localizado no tórax. Xifose – desvio dorsal da coluna vertebral.

LISTA DE FIGURAS

Figura 1. Diprosopo tetraoftálmico. Bovino 39. As cabeças estão

unidas na altura dos ossos frontal, parietal e temporal...........

55

Figura 2. Diprosopo tetraoftálmico. Encéfalo do bovino 39. Há dois

hemisférios cerebrais e um cerebelo (A). Ventralmente

observa-se um tronco encefálico ligado aos hemisférios

cerebrais pelo tálamo duplicado (B)........................................ 55

Figura 3. Dicéfalo dipos dibraquio. Bovino 42. A. Há duas cabeças

separadas e artrogripose. B. Dorsalmente observa-se

espinha bífida..........................................................................

56

Figura 4. Dicéfalo dipos dibraquio. Bovino 42. Ambas as cabeças

apresentam fenda palatina e malformação dos incisivos (A e

B). O coração apresenta fenda na base (C). Há uma

cavidade extra entre os ventrículos (D).................................. 56

Figura 5. Condrodisplasia tipo Telemark. Bovinos 13 (A), 43 (B) e 18

(C). Há encurtamento dos membros e rotação dos

anteriores (A e B). Os ossos da cabeça são arredondados,

há exoftalmia e o focinho é curto (A, B e C)........................... 57

Figura 6. Condrodisplasia tipo Telemark. Corte sagital do crânio do

Bovino 43 (A) e do crânio de bovino controle da mesma

raça e idade (B). Observa-se o focinho curto, a cabeça

arredondada e o osso parietal mais espesso. Os ossos da

base do crânio (pré-esfenoide, baso-esfenoide e occipital

são curtos, a cartilagem articular entre o osso baso-

esfenoide e pré esfenoide é espessa (C). Ossos da base do

crânio de um bovino controle (D)............................................ 58

Figura 7. Condrodisplasia tipo Dexter. Bovino 41. O crânio apresenta-

se arredondado, o focinho é curto, há protusão da língua e

dentes malformados voltados para fora (A). Dorsalmente

observa-se o corpo curto e não há pescoço (B).

Ventralmente observa-se exposição das vísceras (C)............ 59

Figura 8. Condrodisplasia tipo Dexter. Bovino 41. Projeção

radiográfica lateral observando-se encurtamento dos ossos

dos membros e vértebras e estreitamento das

costelas................................................................................... 60

Figura 9. Artrogripose. Bovino 24 (A e B). As articulações dos quatro

membros estão fixas em flexão (A), as fibras musculares

são estreitas e estão separadas por tecido conjuntivo (B)

(HE 10x). Bovino 37 (C). As articulações rádio carpianas

estão permanentemente flexionadas. Bovino 40 (D).

Observa-se contração das articulações carpo-metacarpiana,

fêmur-tíbio-rotuliana e tarso-metatarsiana, torticolis

escoliose e braquignatia......................................................... 61

Figura 10. Artrogripose e desvio lateral da mandíbula. Bovino 44. Os

membros apresentam articulações fixas em flexão (A) e a

mandíbula apresenta desvio para a direita (B)....................... 61

Figura 11. Desvio lateral da mandíbula. Bovino 44. A mandíbula está

torcida para o lado e há malformação dos dentes molares

superiores (A) e fenda palatina (B)......................................... 62

Figura 12. Artrogripose. Bovino 48 (A). Há rigidez articular em

extensão dos quatro membros. Xifoescoliose é observada

na coluna vertebral entre a 9ª e 11ª vértebras torácicas (B).. 62

Figura 13. Hipoplasia cerebelar. Bovino 36. Cerebelo. A camada

granular está rarefeita, a camada molecular é estreita e há

ausência de células de Purkinje (HE 10x).............................. 63

Figura 14. Atresia anal. Bovino 38. Observa-se ausência do orifício

anal e cauda parcialmente sem pelos..................................... 64

Figura 15. Paquigiria. Bovino 45. A. O bezerro apresenta cegueira e

aumento de volume das articulações. B. O encéfalo

apresenta os girus espessos e os sulcos escassos e pouco

profundos, o cerebelo apresenta hipoplasia do vermis e

lobos anteriores.......................................................................

64

Figura 16. Paquigiria. Bovino 45. A. Corte transversal do encéfalo na

altura do tálamo (bovino controle superior, bovino afetado

inferior). Observa-se o córtex liso com ausência dos girus e

sulcos, o córtex é espesso e a substância branca é estreita.

B Cortes seriados desde o córtex frontal até a altura do

tálamo (bovino controle à esquerda, bovino afetado à

direita). Observa-se a ausência de sulcos e girus em toda a

extensão do encéfalo.............................................................. 65

Figura 17. Desvio lateral da mandíbula. Bovino 46. A. A mandíbula

apresenta desvio para a direita e há malformação dos

dentes que estão parcialmente inclusos. B. O ramo

ascendente direito da mandíbula apresenta hipoplasia dos

processos coronoide e condilar.............................................. 65

Figura 18. Desvio lateral da mandíbula. Bovino 46. A boca está

lateralmente desviada termina no pavilhão auricular,

observam-se os dentes molares parcialmente inclusos e

defeituosos (A) e fenda palatina (B)........................................

66

Figura 19. Desvio lateral da mandíbula. Bovino 46. Projeção

radiográfica ventro-dorsal observando-se o desvio lateral da

mandíbula (seta) e o maxilar reto (*)....................................... 66

Figura 20. Catarata congênita. Caso 47. Os bezerros andam a esmo

pela mangueira sem conseguir acompanhar as

mães....................................................................................... 67

Figura 21. Catarata congênita. Caso 47. Observa-se mancha branco-

azulada no cristalino............................................................... 67

Figura 22. Gêmeos anômalos. Ovino 2. Observam-se dois corpos

unidos pelo tórax com uma única cabeça. Há quatro pares

de membros............................................................................ 68

Figura 23.

Gêmeos anômalos. Ovino 2. Sistema nervoso central. A.

Ventralmente observa-se o telencéfalo com dois hemisférios

cerebrais e duplicação do tronco encefálico na altura do

tálamo. B. Dorsalmente há dois cerebelos e duas medulas

cervicais..................................................................................

68

Figura 24. Aprosopia. Ovino 3. Não há formação da face e observam-

se áreas alopécicas em várias regiões do corpo, as orelhas

são unidas na base................................................................. 69

Figura 25. Aprosopia. Ovino 3. A. Há uma abertura sem estrutura sob

a pele. B. A glote se abre em uma faringe em fundo de

saco......................................................................................... 69

Figura 26. Hiperplasia muscular. Búfalo 4. A. Há aumento de volume

dos músculos semitendinoso e semimembranoso. B. Búfalo

com contrações e queda após estímulo................................. 70

Figura 27. Hiperplasia muscular. Búfalo 3. A. Observa-se aumento de

volume dos músculos semitendinoso e semimembranoso..... 70

Figura 28. Hiperplasia muscular. Búfalo 4. A. Corte transversal do

músculo semitendinoso apresentando fibras musculares

hipertróficas (HE obj. 20x). B. Corte transversal de músculo

semitendinoso de um búfalo controle. (HE obj. 20x).............. 71

Figura 29. Albinismo. Búfalo 5. Mãe e bezerro com ausência de

pigmentação (Cortesia MV Maria Cecília Damé).................... 71

Figura 30. Albinismo. Búfalo 5. Pele de búfalo afetado (A) e búfalo

controle (B). Observa-se ausência de melanina e

espessamento da epiderme e projeções epidérmicas para o

interior da derme do búfalo albino.............................................. 72

Figura 31. Albinismo e hidranencefalia. Búfalo 8. Observa-se a

pelagem branca, as mucosas rosadas e a cabeça em forma

de cúpula.................................................................................

72

Figura 32. Hidranencefalia. Búfalo 8. O córtex cerebral apresenta-se

com aspecto saculado, mais acentuado na região anterior....

73

Figura 33. Hidranencefalia. Búfalo 8. Corte transversal do encéfalo na altura do tálamo. Há cavidades císticas no tecido nervoso com resquícios de substância branca na forma de delicados cordões, estreitamento da substância cinzenta e ausência da substância branca que foi substituída por liquido.................... 73

LISTA DE TABELAS

Tabela 1. Defeitos congênitos/doenças hereditárias observados em

bovinos na área de influência do Laboratório Regional de

Diagnóstico da Faculdade de Veterinária da Universidade

Federal de Pelotas entre 1978 e 2009.................................... 49

Tabela 2. Defeitos congênitos/doenças hereditárias observados em

ovinos na área de influência do Laboratório Regional de

Diagnóstico da Faculdade de Veterinária da Universidade

Federal de Pelotas entre 1978 e 2009.................................... 52

Tabela 3. Defeitos congênitos/doenças hereditárias observados em

bubalinos na área de influência do Laboratório Regional de

Diagnóstico da Faculdade de Veterinária da Universidade

Federal de Pelotas entre 1978 e 2009.................................... 53

Tabela 4. Número e percentagem de animais obtidos e esperados

para a comprovação da origem hereditária da artrogripose

em bovinos Holandês.............................................................. 54

SUMÁRIO

RESUMO.......................................................................................................................... V

ABSTRACT...................................................................................................................... VII

GLOSSÁRIO..................................................................................................................... IX

1. INTRODUÇÃO ............................................................................................................ 19

2. REVISÃO DE LITERATURA....................................................................................... 21

2.1 DEFINIÇÃO................................................................................................................ 21

2.2 NATUREZA DOS DEFEITOS CONGÊNITOS............................................................ 21

2.3 CAUSAS..................................................................................................................... 22

2.4 FREQUÊNCIA............................................................................................................ 23

2.5 DIAGNÓSTICO........................................................................................................... 24

2.6 CLASSIFICAÇÃO DOS DEFEITOS CONGÊNITOS.................................................. 25

2.7 DEFEITOS CONGÊNITOS ESPECÍFICOS................................................................ 25

2.7.1 SISTEMA ESQUELÉTICO.................................................................................. 25

2.7.1.1 FACE............................................................................................................. 25

2.7.1.2 COLUNA VERTEBRAL................................................................................. 26

2.7.1.3 EXTREMIDADES.......................................................................................... 26

2.7.1.4 DEFEITOS ESQUELÉTICOS SISTÊMICOS................................................ 27

2.7.2 SISTEMA MUSCULAR...................................................................................... 28

2.7.2.1 ARTROGRIPOSE......................................................................................... 28

2.7.2.2 HIPERPLASIA MUSCULAR HEREDITÁRIA................................................ 29

2.7.3 SISTEMA NERVOSO.......................................................................................... 30

2.7.3.1 HIDRANENCEFALIA..................................................................................... 30

2.7.3.2 HIPERMETRIA HEREDITÁRIA..................................................................... 31

2.7.3.3 DEGENERAÇÃO CEREBELAR CORTICAL................................................ 31

2.7.3.4 HIPOPLASIA CEREBELAR.......................................................................... 32

2.7.3.5 DEFICIÊNCIA DE COBRE............................................................................ 33

2.7.4 SISTEMA TEGUMENTAR.................................................................................. 33

2.7.4.1 DERMATÓLISE MECÂNICO-BOLHOSA...................................................... 33

2.7.4.2 ALBINISMO................................................................................................... 34

2.7.5 OLHO.................................................................................................................. 34

2.7.6 SISTEMA GASTRINTESTINAL.......................................................................... 35

2.7.6.1 MEGAESÔFAGO.......................................................................................... 35

2.7.6.2 ATRESIA ANAL............................................................................................. 36

2.7.7 SISTEMA LINFÁTICO......................................................................................... 36

2.7.7.1 HIPOPLASIA LINFÁTICA HEREDITÁRIA.................................................... 36

2.7.8 SISTEMA CARDIOVASCULAR.......................................................................... 37

2.7.8.1 PERSISTÊNCIA DO DUCTO ARTERIOSO.................................................. 37

2.7.9 OUTROS............................................................................................................. 37

2.7.9.1 GÊMEOS ANÔMALOS................................................................................. 37

3. MATERIAL E MÉTODOS............................................................................................. 39

3.1 EPIDEMIOLOGIA................................................................................................... 39

3.2 PATOLOGIA E CLASSIFICAÇÃO DOS DEFEITOS CONGÊNITOS E/OU

DOENÇAS HEREDITÁRIAS................................................................................ 39

4. RESULTADOS............................................................................................................. 41

5. DISCUSSÃO................................................................................................................. 74

6. CONCLUSÕES............................................................................................................. 81

7. REFERÊNCIAS............................................................................................................ 82

1. INTRODUÇÃO

A ocorrência de defeitos congênitos em bovinos e ovinos está estimada

entre 0,2% e 3% e 0,2% e 2%, respectivamente, em todo o mundo e seu

conhecimento depende da freqüência com que esses defeitos são estudados e

descritos (LEIPOLD & DENNIS, 1986). Somente em condições incomuns,

quando um determinado defeito ocorre repetidamente em um mesmo rebanho

ou área geográfica torna-se alvo de investigação e por essa razão a maioria

desses defeitos não é descrita e poucos são os registros de sua ocorrência

(LEIPOLD et al. 1983). No Brasil a informação sobre ocorrência de defeitos

congênitos é escassa a não ser por um ou outro relato de casos individuais,

geralmente apresentados em congressos científicos.

Até o início da década de 1960 os defeitos congênitos em bovinos eram

na sua grande maioria atribuídos a herança genética e a partir daí, com a

descoberta de que a talidomida induzia malformações no homem, houve

consenso na comunidade científica mundial de que os defeitos congênitos nas

diversas espécies animais não eram necessariamente de origem genética

(LEIPOLD et al., 1983).

Trabalhos de revisão realizados na década de 1980 revelaram quatro

principais deficiências com relação ao conhecimento dos defeitos congênitos

nos animais domésticos: 1) informação inadequada, ou seja, poucos casos

relatados; 2) inadequada descrição anátomo-patológica; 3) inadequada análise

genética; e, 4) falha na interpretação dos achados que contribuem para o

entendimento e associação entre os processos embriológicos, patológicos e de

natureza genética (LEIPOLD et al., 1983).

Os objetivos desse trabalho foram descrever os aspectos

epidemiológicos e a patologia dos defeitos congênitos observados em

ruminantes entre 1978 e 2009 na área de influência do Laboratório Regional de

20

Diagnóstico (LRD) da Faculdade de Veterinária da Universidade Federal de

Pelotas (UFPel), bem como classificar estes defeitos com base no sistema

afetado avaliando sua importância econômica. As doenças hereditárias

diagnosticadas no LRD descritas anteriormente serão aqui abordadas apenas

do ponto de vista da classificação.

2. Revisão de Literatura

Animais com defeitos congênitos têm provocado grande curiosidade

através dos tempos e o diagnóstico é um desafio na moderna prática

veterinária. Individualmente, a maioria dos defeitos ocorre raramente.

(LEIPOLD et al., 1972; LEIPOLD et al., 1983). Anomalias congênitas têm

distribuição mundial e podem causar aborto ou morte neonatal levando a

perdas reprodutivas consideráveis (JOLLY, 2002; KHODAKARAM-TAFTI &

IKEDE, 2005).

2.1. Definição Defeitos congênitos caracterizam-se por anormalidade na estrutura ou

função de órgãos ou sistemas ou parte destes, estando presentes ao

nascimento. Os defeitos congênitos afetam todas as espécies animais e

ocorrem em consequência de fatores ambientais, genéticos ou pelas suas

interações (LEIPOLD & DENNIS, 1986; LEIPOLD et al., 1972; LEIPOLD et

al.,1983). As lesões podem ser identificadas macroscópica ou histologicamente

ou por ambas as formas. A maioria dos defeitos congênitos é observada ao

nascimento mas em alguns casos os defeitos são reconhecidos somente após

um cuidadoso exame clínico-patológico (SAPERSTEIN et al., 1975). Ocorrem,

ainda, defeitos congênitos que se manifestam algum tempo após o nascimento

(LEIPOLD et al., 1983).

2.2. Natureza dos defeitos congênitos Os defeitos congênitos resultam de eventos ou processos de duração

variável que afetam o feto durante seu desenvolvimento e manifestam-se como

alterações na estrutura ou função dos órgãos ou sistemas. Em consequência

22

muitos animais malformados nascem mortos ou morrem logo após o

nascimento e em muitos casos os defeitos congênitos estão relacionados à

morte fetal ou embrionária, abortos e reabsorção causando perdas econômicas

importantes em uma propriedade ou em uma região (LEIPOLD et al., 1972).

A susceptibilidade aos agentes ambientais ou genéticos varia com o

estágio de desenvolvimento e diminui com o avanço da idade do feto. De modo

geral, em bovinos até o 14° dia da gestação o zigoto é resistente aos agentes

teratogênicos, mas susceptível às mutações genéticas e às aberrações

cromossômicas. Entre o 15° e o 42° dia da gestação (período embrionário) o

embrião é altamente susceptível aos agentes teratogênicos. A partir do 43° dia

o feto torna-se altamente resistente aos agentes que podem causar

malformações. Existem, entretanto, órgãos ou sistemas cujo desenvolvimento é

tardio como o palato, o cerebelo e o sistema urogenital os quais podem ser

afetados por agentes teratogênicos tardiamente na vida fetal. Os defeitos

congênitos podem ser letais, semiletais ou compatíveis com a vida (LEIPOLD

et al., 1983).

2.3 Causas Os defeitos congênitos podem ser conseqüência de fatores ambientais,

genéticos ou pela interação de ambos (SAPERSTEIN et al., 1975; LEIPOLD &

DENNIS, 1986; LEIPOLD et al., 1983). Os fatores genéticos se caracterizam

tanto pelas aberrações cromossômicas, as quais são diagnosticadas

diretamente, ou pelas mutações genéticas que podem ser identificadas

indiretamente pelo padrão de transmissão (SAPERSTEIN et al., 1975). A

maioria dos defeitos hereditários conhecidos em bovinos resulta de

transmissão por genes recessivos, mas transmissão por genes dominantes

bem como herança poligênica também ocorrem (GREENE et al., 1973a).

Dentre os fatores ambientais que podem causar defeitos congênitos

destacam-se as intoxicações por plantas, as infecções por vírus e o uso de

alguns fármacos tais como parbendazol, carbendazol, triclorfon,

organofosforados e outras drogas como cortisona, estradiol, bismuto, selênio e

sulfonamidas (LEIPOLD & DENNIS, 1986; DELATOUR, 1983).

23

Algumas plantas possuem como principio ativo tóxico, substâncias

teratogênicas que ao serem ingeridas pelas fêmeas em gestação causam

alterações nos fetos, como por exemplo as plantas do gênero Lupinus,

Veratrum californicum, Astragalus spp., Oxytropis spp., Nicotiana tabacum, N.

glauca, Conium maculatum (LEIPOLD & DENNIS, 1986), que ao serem

ingeridas em períodos específicos da gestação causam malformações

principalmente no sistema músculo- esquelético. No Nordeste do Brasil Mimosa

tenuiflora conhecida popularmente como jurema preta é causa de

malformações craniofaciais e oculares e artrogripose em ruminantes

(PIMENTEL et al., 2007).

Vários vírus causam malformações em ruminantes tais como o vírus da

diarréia viral bovina (BVDV) (YERUHAM et al., 2001), o vírus de Akabane

(AKAV) (KUROGI et al., 1977), o vírus Aino (AINOV) (TSUDA et al., 2004), o

vírus de língua azul (OSBURN, 1972) e o vírus da doença da fronteira

(SAWYER et al., 1991) que infectam as fêmeas prenhes em período

específicos da gestação e infectam os fetos em desenvolvimento.

2.4 Frequência De modo geral, a frequência de malformações congênitas pode variar

entre as raças, áreas geográficas e estações do ano, dependendo se a origem

do defeito é hereditária ou ambiental. Estima-se uma taxa de prevalência de

malformações variável entre 0,2% e 3% para bovinos e uma taxa entre 0,2% e

2% para a espécie ovina (LEIPOLD & DENNIS, 1986). Entretanto, a freqüência

dos defeitos congênitos tanto em bovinos como em ovinos não tem uma

proporção fixa entre os nascimentos uma vez que os mesmos podem ser

causados por diferentes agentes. Além disso, a freqüência é difícil de estimar

uma vez que muitos defeitos são identificados apenas durante a necropsia que

nem sempre é realizada (LEIPOLD et al., 1972; SAPERSTEIN et al., 1975).

Em levantamento realizado em ovinos nos Estados Unidos de um total

de 21.031 cordeiros da raça Rambouillet nascidos, foram observados 26

animais defeituosos em um período de 15 anos. Neste trabalho os autores

concluíram que a ocorrência de 4,2% de natimortos e 3% de aborto foram as

causas de perdas econômicas mais importantes (SAPERSTEIN et al., 1975).

Em outro estudo de 4.408 nascimentos de cordeiros durante 1963 e 1964 1,6%

24

apresentavam defeitos congênitos graves (HUGHES et al., 1972). Na

Alemanha em um estudo de nove anos foram observados 2.293 bezerros

defeituosos em rebanhos das raças German Black Pied, German Red Pied,

Simmental e cruzas. Neste trabalho a frequência de defeitos congênitos foi

estimada em 0,25% (GREENE et al., 1974).

Em um estudo de 5.258 bovinos nascidos entre 1954 a 1955 nos

Estados Unidos foi observada uma proporção de 2,1 animais com defeitos

congênitos para cada 1000 nascimentos. Em bovinos das raças Angus e

Hereford foi observado em um período de 10 anos, 4,4% de natimortos dos

quais 28% eram animais defeituosos. Em dois estudos realizados na Nova

Zelândia foi relatada prevalência de 3,5% e 2,4% de defeitos congênitos entre

1.000 nascimentos em um período de dois anos consecutivos. Em bovinos de

rebanhos leiteiros da Inglaterra foi observado uma taxa de mortalidade

perinatal de 6,8% e destes 4,9% correspondiam a malformações congênitas

(LEIPOLD et al., 1983).

No Rio Grande do Sul foi demonstrado que abortos causados por

anomalias congênitas são esporádicos, mas podem ocorrer de forma

epidêmica. Em um levantamento retrospectivo realizado no Setor de Patologia

Veterinária (SPV) da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) foi

observado que de 307 casos de aborto em bovinos entre setembro de 2001 e

março de 2007, 10 (3,5%) eram conseqüência de anomalias congênitas

(PAVARINI et al. 2008). Em um estudo retrospectivo realizado na região central

do Estado de um total de 4.220 necropsias de bovinos com diagnóstico

definitivo 0,54% tiveram diagnóstico de anomalias do desenvolvimento

(LUCENA et al., 2009).

2.5 Diagnóstico O diagnóstico dos defeitos congênitos é complexo e vários fatores

limitantes devem ser considerados. Em geral os defeitos congênitos não são

relatados a não ser quando são muito bizarros ou quando ocorrem casos

coletivos. A notificação por parte dos proprietários às associações de criadores

e às centrais de inseminação artificial é essencial para o controle e eliminação

de genes indesejáveis principalmente nas populações de animais de interesse

econômico. Outro fator limitante é o conhecimento dos profissionais ou

25

trabalhadores do campo que muitas vezes devido ao exame incompleto

confundem defeitos congênitos com animais prematuros ou abortos. Mudança

no manejo ou no programa reprodutivo de uma propriedade pode ser eficiente

no controle de teratologias em bovinos. A história inadequada pode ser,

também, um fator limitante para o correto diagnóstico dos defeitos congênitos,

já que o conhecimento sobre a área geográfica, a estação de monta, o manejo,

a forma de criação, a presença de plantas tóxicas, a aplicação de

medicamentos durante a gestação, entre outros, são dados fundamentais para

a correta identificação das causas do defeito e permite a tomada de medidas

eficientes para o seu controle (LEIPOLD & DENNIS, 1986).

2.6 Classificação dos defeitos congênitos Embora seja difícil estabelecer uma classificação para os defeitos

congênitos três principais sistemas têm sido utilizados: a) classificação

etiológica; b) classificação com base no tecido embrionário afetado; e, c) a

classificação baseada no órgão ou sistema afetado (LEIPOLD et al., 1972;

LEIPOLD et al., 1983).

2.7 Defeitos congênitos específicos Qualquer sistema ou órgão é susceptível à ocorrência de defeitos

congênitos, mas alguns são mais frequentemente afetados do que outros. O

sistema músculo-esquelético, o cerebelo e o sistema urogenital são

frequentemente envolvidos em malformações congênitas (LEIPOLD et al.,

1972; LEIPOLD et al., 1983)

2.7.1 Sistema esquelético 2.7.1.1 Face Com exceção de palatosquise (fenda palatina) os defeitos da face não

são frequentes, entretanto algumas malformações são conhecidas como

campilognatia que se caracteriza pelo desvio lateral da face com o

desenvolvimento normal da mandíbula (LEIPOLD et al., 1972).

A protrusão da mandíbula é denominada prognatia enquanto que a

mandíbula curta com protrusão do maxilar é denominada braquignatia ou

26

hipognatia (GELBERG, 2009). Esses defeitos podem ser isolados ou

acompanhados de outras malformações e em alguns casos têm sido

associados à aberrações cromossômicas (LEIPOLD et al., 1972).

Agnatia ou aplasia da mandíbula é um defeito raro em bovinos, mas

pode fazer parte da síndrome mandibulofacial. Este defeito pode envolver o

esqueleto da cabeça e da face e resultar em aprosopia ou ausência da face

que raramente é encontrada em animais domésticos (LEIPOLD et al., 1972).

Três casos de aprosopia em ovinos foram descritos por DENNIS & LEIPOLD

(1972). As lesões caracterizam-se por ausência da mandíbula e do maxilar,

anoftalmia bilateral, astomia, arrinia e sinotia. A faringe apresenta-se como um

divertículo cego e flutuante, os ossos parietal, occipital, temporal, esfenóide e

etmoidal são pequenos e o restante do corpo apresenta aspecto normal.

A displasia crânio-facial tem sido descrita na raça Limousin na França. A

malformação caracteriza-se por deficiente ossificação das suturas frontais, e

outras malformações da cabeça incluindo braquignatia, exoftalmia bilateral,

escoliose do maxilar e macroglossia que podem estar associados a defeitos no

omaso e no coração (LEIPOLD et al., 1972).

2.7.1.2 Coluna Vertebral Defeitos que ocorrem na coluna vertebral incluem “espinha curta letal”

que se caracteriza por fusão das vértebras e costelas sendo causada por um

gene recessivo; perosomus elumbis ou agenesia do segmento caudal da

coluna vertebral; escoliose (desvio lateral), xifose (desvio dorsal), lordose

(desvio ventral) e suas combinações. Espinha bífida está frequentemente

associada ao desenvolvimento anormal da medula espinhal e torticolis refere-

se ao desvio lateral do pescoço (LEIPOLD et al., 1972; LEIPOLD et al., 1983).

Os defeitos no esqueleto axial e a fenda palatina estão frequentemente

associados a outros defeitos, principalmente artrogripose (GREENE et al.,

1974).

2.7.1.3 Extremidades São descritas a polimelia que se caracteriza pela duplicação de um

membro completo e a polimelia heterotópica que resulta em um ou dois

membros duplicados localizados em diferentes regiões anatômicas do corpo. O

27

mais comum é a notomielia, cujos membros duplicados apresentam-se no

dorso. Outras regiões de localização dos membros são a cabeça (cefalomelia),

o tórax (toracomelia) e a região pélvica (pigomelia) (LEIPOLD et al., 1983).

Em contraste com a polimelia tem sido descrito também, a agenesia de

um membro denominada de amelia (abraquia dos membros anteriores e apodia

dos membros posteriores). Quando a agenesia é de um membro é referida

como monobraquia ou monopodia, se o membro é anterior ou posterior,

respectivamente. Bezerros com abraquia/apodia apresentam displasia do

segmento da medula espinhal correspondente ao membro afetado. Na

micromelia os membros estão presentes, porém um ou mais apresentam

hipoplasia (LEIPOLD et al., 1983).

Os defeitos no sistema apendicular frequentemente são hereditários e

alguns podem causar perdas econômicas importantes. Na raça Galloway a

hemimelia tibial é uma malformação comum e os animais em geral nascem

mortos ou morrem pouco tempo depois do nascimento. Esse defeito

frequentemente é acompanhado de outras malformações. Retrocruzamentos

realizados com bovinos selecionados da raça demonstraram a transmissão

hereditária por um gene recessivo autossômico (LEIPOLD et al., 1983).

Polidactilia, o aumento no número de dígitos, é um defeito hereditário

encontrado em várias espécies animais. Em bovinos, a forma de herança é

variável tendo sido descrita transmitida por um gene recessivo ligado ao sexo,

ou por vários pares de genes (herança poligênica). Sindactilia se caracteriza

pela fusão ou não divisão dos dedos funcionais transmitida por um gene

recessivo autossômico de penetrância incompleta e variados graus de

expressividade. É um dos defeitos mais comuns do sistema esquelético

observado em bovinos da raça holandês nos Estados Unidos, mas tem sido

observado também, em bovinos das raças Angus, Chianina, Simmental e

cruzas (LEIPOLD et al., 1983).

2.7.1.4 Defeitos esqueléticos sistêmicos

Condrodisplasias, denominadas também como acrondroplasia,

discondroplasia, nanismo ou bezerros bulldog, são reconhecidas como um

grupo de enfermidades que se caracterizam por distúrbios generalizados no

desenvolvimento dos ossos, muitos deles em conseqüência de uma desordem

28

cartilaginosa primária. A enfermidade tem sido descrita em diversas raças

bovinas, apresentando-se como três síndromes que representam os fenótipos

observados: tipo Dexter; tipo Telemark e tipo braquicefálico. A síndrome de

condrodisplasia descrita na raça Dexter está associada a um gene de

dominância incompleta que em homozigose é letal. Três fenótipos são

reconhecidos nesta forma da enfermidade quando são utilizados cruzamentos

consangüíneos: marcada acondroplasia com aborto antes do 7º mês de

gestação (“monster Dexter”) (homozigotos dominantes); condrodisplasia do

tipo Dexter com encurtamento dos membros (heterozigotos); e, normais

(homozigotos recessivos) (THOMPSON, 2007).

Na condrodisplasia do tipo Telemark os animais nascem vivos, mas

morrem poucos dias após por paralisia respiratória causada por sua

incapacidade de manterem-se em pé. O fenótipo é uniforme, caracterizando-se

por crânio arredondado e hidrocefalia, braquignatia, fenda palatina, protrusão

da língua, pescoço curto e membros curtos com rotação em vários graus. A

enfermidade apresenta-se geneticamente diferente, sendo transmitida por um

gene recessivo autossômico simples (THOMPSON, 2007).

O tipo braquicefálico tem sido descrito nas raças de corte,

especialmente na raça Hereford e Aberdeen Angus, caracterizando-se pelos

animais apresentarem cabeça pequena e arredondada, focinho curto e

prognatismo inferior. Os olhos apresentam-se proeminentes e lateralmente

colocados. O tipo de herança para este tipo de condrodisplasia não está bem

estabelecido, mas parece ser devido a um gene recessivo autossômico

(THOMPSON, 2007).

2.7.2 Sistema muscular 2.7.2.1 Artrogripose Artrogripose foi descrita em seres humanos, bovinos, ovinos, suínos e

eqüinos. É uma das malformações congênitas mais frequentemente

observadas no sistema muscular de bovinos e possui distribuição mundial

(LEIPOLD et al., 1983; WEISBRODE, 2009). Artrogripose caracteriza-se pela

contração permanente dos membros em flexão ou extensão e atrofia muscular.

O termo artrogripose é usado principalmente quando a rigidez articular

29

apresenta-se em flexão. Em alguns casos a doença é atribuída a um defeito

primário dos músculos ou, mais freqüentemente, a uma lesão primária do

sistema nervoso central, caracterizando-se por atrofia muscular em

consequência da ausência de neurônios nos cornos ventrais da medula, ou

desmielinização dos nervos motores. Pode afetar somente os membros

anteriores ou os membros posteriores (bimélico), como também pode afetar os

quatro membros (tetramélico) (LEIPOLD et al., 1970; GREENE et al., 1973b;

NAWROT et al., 1980; RADOSTITS et al., 2000).

Os animais afetados, geralmente, nascem em partos distócicos,

frequentemente mortos. Quando nascem vivos são incapazes de se manter

em pé ou alimentar-se e morrem em poucos dias; apresentam graus variados

de rigidez articular com flexão ou extensão dos membros e atrofia muscular,

associados, ou não, a outras alterações como xifose, escoliose, torcicolo e

fenda palatina (LEIPOLD et al., 1970).

A malformação tem sido descrita como uma sídrome frequentemente

associada a fenda palatina sendo atribuída a um gene recessivo autossômico

em várias raças bovinas incluindo as raças Charolês, Holandês, Suiça e Red

Danish (VAN VLEET & VALENTINE, 2007). Artrogripose pode ter, também,

causas ambientais como: infecções pelo vírus Akabane (KUROGI et al., 1977),

pelo BVDV (YERUHAM et al., 2001), pelo vírus da língua azul (OSBURN,

1972) e pelo AINOV (TSUDA et al., 2004); pela ingestão de plantas, como

Lupinus sericeus e L. caudatus, Astragalus sp., Nicotiana glauca (LEIPOLD et

al., 1970), Mimosa tenuiflora (PIMENTEL et al., 2007) sorgo, capim sudão e

outras; pela deficiência de vitamina A ou manganês; e, pela administração de

medicamentos como carbendazole e parbendazole (RADOSTITS et al., 2000). 2.7.2.2 Hiperplasia muscular hereditária Esta enfermidade é conhecida desde o século XIX (KIDWELL et al.,

1952; WEST, 1974) e foi descrita em algumas raças bovinas como Shorthorn,

Maine-Anju, Charolês, Aberdeen Angus, Hereford, Belgian Blue, Piedmont e

Devon (BARBOSA et al., 1999). A doença caracteriza-se pelo aumento da

massa muscular (hipertrofia), principalmente na região posterior, escápula e

pescoço devido a um aumento no número total de fibras (hiperplasia) da

musculatura esquelética e está relacionada à mutação do gene MSTN que

30

fornece instruções para produção de miostatina (GOBRET et al., 1997;

BARBOSA et al., 1999; MARTYN et al., 2004; LISTRAT et al., 2005). A

miostatina é uma proteína que faz parte da superfamília do fator transformador

de crescimento beta (TGFβ), que é um grupo de proteínas que ajudam a

controlar o crescimento e o desenvolvimento dos tecidos do corpo

(MCPHERRON & LEE, 1997; KOLLIAS & MCDERMOTT, 2008).

É uma doença que ocorre em vários países da Europa e tem sido

diagnosticada nos Estados Unidos desde a década de 30 (HENDRICKS et al.,

1973). Os animais afetados apresentam ossos diminuídos, espessamento da

pele, menor peso dos órgãos, do tamanho da cabeça e aumento de volume da

maioria dos músculos do corpo. Há redução no desenvolvimento do tecido

adiposo, problemas reprodutivos, distocia, membros esticados quando em pé,

redução na produção de leite e macroglossia (HOLMES & ASHMORE, 1972).

Macroscopicamente, a única alteração observada é a ausência de tecido

adiposo intra e intermuscular e não se observam alterações histológicas

(HOLMES & ASHMORE, 1972; HENDRICKS et al., 1973).

Em búfalos, essa doença foi descrita no Estado do Pará. Os animais

apresentavam menor tamanho, aumento da massa muscular na parte posterior

(músculos semitendinoso e semimembranoso), pele fina e menor quantidade

de tecido adiposo (BARBOSA et al., 1999).

2.7.3 Sistema nervoso 2.7.3.1 Hidranencefalia Hidranencefalia é a formação de grandes cavidades contendo líquido no

cérebro e ocorre no feto durante a gestação (MAXIE & YOUSSEF, 2007;

ZACHARY, 2009). É relatada em todas as espécies, sendo mais comum em

bovinos e se apresenta esporadicamente ou como pequenas epizootias

(MAXIE & YOUSSEF, 2007).

A patogenia da hidranencefalia está associada à infecção por certos

vírus, como o AINOV (TSUDA et al., 2004), o BVDV (YERUHAM et al., 2001), o

vírus da língua azul (OSBURN, 1972), o virus de Akabane (KUROGI et al.,

1977), o vírus da febre do vale do Rift e o da doença da fronteira (border

disease) entre outros (MAXIE & YOUSSEF, 2007). Essas infecções ocorrem

31

num período crítico da gestação e produzem áreas de necrose nos hemisférios

cerebrais em desenvolvimento. Essas áreas de necrose envolvem os

neuroblastos e sua migração e resulta na cavitação pela ausência de neurônios

no córtex. Fatores mecânicos também contribuem para o desenvolvimento de

hidranencefalia. Ocorre expansão compensatória dos ventrículos laterais

(hidrocefalia ex-vacuo) secundária à perda do tecido cerebral (MAXIE &

YOUSSEF, 2007).

Em búfalos a doença foi descrita no sul do Rio Grande do Sul sendo

sugerida a possibilidade de ter origem hereditária e transmissão por um gene

recessivo autossômico. Os sinais clínicos nos búfalos caracterizam-se por

depressão, incoordenação motora, estação em base larga nos animais que

conseguem manter-se em pé, ausência ou diminuição de reflexos, movimentos

ritmados e tremores, principalmente da cabeça e do pescoço, impossibilidade

de mamar e cegueira (FISS, 2009).

2.7.3.2 Hipermetria hereditária Hipermetria hereditária em bovinos Shorthorn é uma doença neurológica

caracterizada por hipermetria simétrica bilateral transmitida por um gene

recessivo autossômico. A enfermidade foi descrita no Rio Grande do Sul em

um rebanho da raça Shorthorn após a introdução de um touro que apresentava

discretos problemas de equilíbrio nascendo cerca de 15 animais afetados de

um total de 2.000 no período de 10 anos (SCHILD et al., 1993). Após a

eliminação dos animais afetados do rebanho a doença não foi mais observada.

2.7.3.3 Degeneração cerebelar cortical Degeneração cerebelar cortical caracteriza-se por degeneração precoce

e progressiva das células de Purkinje do cerebelo. Os sinais clínicos

caracterizam-se por hipermetria, ataxia e quando os animais são excitados ou

movimentados observa-se, também, extensão do pescoço e membros

anteriores, quedas, opistótono e nistagmo. Não são observadas alterações

macroscópicas e histologicamente observa-se degeneração das células de

Purkinje e esferóides axonais na capa granular do cerebelo (SUMMERS et al.,

1995).

32

No Rio Grande do Sul essa enfermidade foi observada em um rebanho

holandês afetando seis animais, de um total de 200, nascidos em um período

de dois anos. Apesar de os animais afetados serem filhos do mesmo touro, o

retrocruzamento deste com suas filhas, demonstrou que, neste caso, esta

enfermidade não é hereditária uma vez que, dos 38 animais nascidos, 29 que

sobreviveram não apresentaram sinais clínicos, e o estudo histológico do

sistema nervoso central de nove animais que nasceram mortos não revelou as

lesões características da enfermidade (RIET-CORREA et al., 1998; SCHILD et

al., 2001a).

2.7.3.4 Hipoplasia cerebelar Este é o defeito congênito do sistema nervoso central mais comum

observado nas espécies domésticas. Pode ocorrer pela infecção do cerebelo

em desenvolvimento por vírus, como o da diarréia viral bovina, da enfermidade

da fronteira, da peste suína, entre outros. Há, também, evidências de ser

geneticamente transmitido em algumas raças bovinas (MAXIE & YOUSSEF,

2007).

Os sinais clínicos observados variam entre ataxia discreta ou quase

imperceptível nos animais recém nascidos, até a completa ausência de

coordenação e inabilidade de manter a postura normal. Os animais mais

afetados são incapazes de se manter em pé e assumem variadas posições,

incluindo opistótono. Tremores da cabeça e nistagmo podem ser, também,

observados. Nas primeiras semanas de vida pode haver melhoras nos sinais

clínicos por mecanismos de compensação. Macroscopicamente ocorre

diminuição do tamanho do cerebelo, dependendo do estágio de

desenvolvimento do sistema nervoso no momento da infecção, porencefalia,

hidranencefalia, e hipomielinização. (DE LAHUNTA, 1983).

Microscopicamente, as alterações são confinadas ao cerebelo com

adelgaçamento das camadas molecular e granular, ausência quase completa

das células de Purkinje e redução na quantidade de substância branca

(LEIPOLD et al., 1972).

Em 2001, no Rio Grande do Sul, foi diagnosticado hipoplasia cerebelar

em dois bezerros da raça Charolês de um total de 128 animais nascidos em um

estabelecimento, apresentando sinais clínicos de incoordenação motora,

33

hipermetria, tremores da cabeça e do pescoço e opistótono tendo sido atribuída

a infecção pelo vírus da diarréia viral bovina (SCHILD et al., 2001b).

2.7.3.5 Deficiência de Cobre O cobre (Cu) é um dos micro-elementos essenciais para os animais e

plantas. Nos animais participa da hematopoiese, metabolismo dos tecidos

conectivos, formação da mielina e dos ossos e pigmentação e formação de lã e

pêlos (RADOSTITS et al., 2000).

A deficiência de cobre pode ser primária, quando a ingestão dietética do

elemento for insuficiente diante dos níveis requeridos pelo animal para os

processos metabólicos dependentes do cobre. Pode, também, ser secundária

quando, apesar da ingestão adequada, sua absorção e utilização pelos tecidos

estiver prejudicada pela presença de antagonistas na dieta, tais como

molibdênio (Mo), enxofre (S) e ferro (Fe) (RADOSTITS et al., 2000).

Em bovinos, diversos quadros clínicos são observados na deficiência de

Cu, podendo ocorrer menor desenvolvimento corporal e baixo desempenho

reprodutivo, anemia, osteoporose, alterações da pigmentação dos pêlos e

diarréia. Ocorrem, também, ataxia neonatal, hipomielogênese congênita e

morte súbita. Em ovinos, a deficiência de Cu pode causar fragilidade e perda

da ondulação da lã ou despigmentação da lã preta, alterações congênitas ou

adquiridas da mielina (ataxia enzoótica), osteoporose, anemia e redução do

crescimento (RIET-CORREA, 2007).

2.7.4 Sistema tegumentar 2.7.4.1 Dermatólise mecânico-bolhosa Dermatólise mecânico-bolhosa pertence a um grupo de enfermidades

hereditárias caracterizada pela formação de bolhas secundárias a fricção

moderada da pele (BASSET, 1987).

O grupo mais importante dessas enfermidades é o das denominadas

epidermólises bolhosas e a enfermidade é transmitida por um gene recessivo

autossômico. As lesões caracterizam-se por desprendimento da epiderme em

conseqüência de um trauma mecânico na pele e as áreas mais afetadas são

34

aquelas mais expostas a traumatismos como o rodete coronário, a face anterior

do carpo e posterior do tarso, regiões escapular e glútea e base e ponta da

cauda (BASSET, 1987).

No Rio Grande do Sul dermatose mecânico-bolhosa foi descrita em

búfalos da raça Murrah, transmitida por um gene recessivo autossômico. Os

sinais clínicos caracterizam-se por fragilidade da pele com desprendimento da

epiderme e pelos, em conseqüência de traumatismos mecânicos na pele

previamente normal. Histologicamente caracteriza-se por acantólise com

separação suprabasilar da epiderme (RIET-CORREA et al., 1994).

2.7.4.2 Albinismo O termo albinismo compreende as doenças genéticas que envolvem a

síntese de melanina. A hipopigmentação cutânea observada nesta doença

varia da completa ausência de melanina a redução mínima da cor da pele e

dos pelos (CARDEN et al., 1998).

As doenças relacionadas com a redução do pigmento podem ter origem

hereditária ou podem ser adquiridas. A hipopigmentação hereditária pode ser

dividida em hipopigmentação melanocitopênica, que se caracteriza pela

ausência de melanócitos ou por hipopigmentação melanopênica em que os

melanócitos estão presentes, mas que apresentam falha ao sintetizar a

melanina (HARGIS & GINN, 2009).

O albinismo foi descrito em bovinos das raças Holstein, Hereford, Pardo

Suíço entre outras (PETERSEN et al. 1944). Em bubalinos da raça Murrah

albinismo com pigmentação normal dos olhos foi descrito em uma província da

China com uma prevalência de 30%, alguns animais apresentando manchas

brancas nos membros com a coloração normal do restante do corpo (LEVINE,

1925). De acordo com COCKRILL (1974) búfalos malhados são albinoides e

têm sido observados em várias raças de bubalinos.

2.7.5 Olho

Anoftalmia é uma doença rara, caracterizada pela ausência uni ou

bilateral dos tecidos oculares (MORITOMO et al., 1994; WILCOCK, 2007).

Microftalmia caracteriza-se pela presença de algum vestígio de tecido ocular.

35

Geralmente, estas enfermidades estão associadas a defeitos do sistema

esquelético ou do sistema nervoso central (WILCOCK, 2007).

Ciclopia é uma malformação fetal caracterizada por uma única órbita

ocular mediana contendo um globo ocular. Foi descrita em bovinos, ovinos,

aves e cães. Defeitos crânio faciais estão associados à ciclopia, como

ausência ou deformidade das orelhas, fenda palatina, microcefalia,

hidranencefalia e hidrocefalia (WILCOCK, 2007).

Displasia de retina ocorre devido a uma diferenciação anormal da retina

caracterizada pela mistura das camadas da retina e pela proliferação de

células da glia. Pode ocorrer em bovinos, ovinos, caninos e felinos e na

maioria dos casos está associada à infecção pelo vírus da diarréia viral bovina,

o vírus da língua azul, herpesvírus canino e outros (WILCOCK, 2007).

Opacidade de córnea congênita é causada pela malformação da

câmara anterior, ocorrendo aderência das estruturas da câmara ao endotélio

da córnea. Ocorre em bovinos da raça Holstein-Friesian (WILCOCK, 2007).

Defeitos oculares tais como microftalmia, degeneração da retina,

catarata e neurite óptica podem ocorrer na infecção pelo BVDV, em geral

associados a outros defeitos (ROSS et al., 1986; YERUHAM et al., 2001).

2.7.6 Sistema Gastrintestinal 2.7.6.1 Megaesôfago Megaesôfago é uma disfunção esofágica que resulta da atonia da

musculatura do esôfago com flacidez e dilatação luminal, em conseqüência de

uma disfunção motora do corpo esofágico (BROWN et al., 2007). Tem sido

descrita em diversas espécies domésticas, sendo relativamente comum em

cães, raro em bovinos, bubalinos e pequenos ruminantes (GELBERG, 2009).

O megaesôfago pode ser adquirido, também, em conseqüência da

obstrução do esôfago por alimentos, compressão, presença de corpo estranho

e também associado a hérnias de hiato e a trauma faringiano ou por lesão no

nervo vago em bovinos (BROWN et al., 2007).

Os sinais clínicos associados ao megaesôfago adquirido podem

aparecer subitamente e os animais param de se alimentar, apresentam sinais

de ansiedade, inquietação e regurgitação dos alimentos. A enfermidade pode,

36

também, ter curso crônico com sinais clínicos de timpanismo. Em muitos casos

pode ocorrer pneumonia por aspiração (GELBERG, 2009).

No Rio Grande do Sul megaesôfago congênito foi descrito em búfalos da

raça Murrah. A etiologia da enfermidade não foi determinada, entretanto a alta

consanguinidade do rebanho de bubalino afetado sugere que a mesma possa

ser de origem hereditária. Os animais apresentam sinais de crescimento

retardado, timpanismo crônico, regurgitamento e pneumonia por aspiração. Na

necropsia observa-se dilatação acentuada do esôfago, algumas vezes

contendo restos de alimentos parcialmente digeridos no seu interior e sinais de

pneumonia por aspiração e no exame histopatológico não são observadas

lesões significativas (SCHILD, 2007).

2.7.6.2 Atresia anal

Atresia anal é o defeito congênito mais comum do trato gastrintestinal

inferior. Afeta todas as espécies animais e é mais freqüente em bovinos

(ARAÑEZ, 1956; BROWN et al., 2007), suínos (BROWN et al., 2007) e ovinos

(GHANEM et al., 2004). Em ovinos atresia anal parece estar ligada a um gene

recessivo autossômico (GHANEM et al., 2004).

Atresia anal pode ser um defeito congênito isolado ou estar associado a

outras malformações tais como o disrafismo espinhal, agenesia sacral ou

coccígea, fístula retrovaginal, agenesia renal, rins policísticos, criptorquidismo,

duplicação do escroto, atresia intestinal e agenesia do cólon (BROWN et al.,

2007).

2.7.7 Sistema Linfático 2.7.7.1 Hipoplasia linfática hereditária Hipoplasia linfática hereditária é uma doença congênita hereditária do

sistema linfático periférico que afeta várias espécies animais e é caracterizada

por edema que envolve principalmente as extremidades (MORRIS et al., 1954).

Esta enfermidade foi observada em bovinos Hereford no Rio Grande do

Sul, transmitida por um gene dominante de penetrância incompleta e

expressividade variada (SCHILD et al., 1991). Enfermidade semelhante foi

37

observada em bovinos Red Angus cuja transmissão é aparentemente por um

gene autossômico recessivo (MACÊDO et al., 2009).

As lesões macroscópicas observadas caracterizam-se por

engrossamento da pele, principalmente nas regiões onde o edema é mais

proeminente, ulcerações, miíases, linfonodos diminuídos de tamanho. Estudos

radiológicos demonstraram a presença de vasos linfáticos distendidos ou

ausentes (SCHILD et al., 1996). Histologicamente, as lesões observadas no

sistema linfático caracterizaram-se por hipoplasia, edema (SCHILD et al., 1991;

MACÊDO et al., 2009) e esclerose de seios linfáticos dos linfonodos,

dissociação das células do córtex e da região paracortical dando aos linfonodos

aparência hipocelular (SCHILD et al., 1991).

2.7.8 Sistema Cardiovascular

2.7.8.1 Persistência do ducto arterioso O ducto arterioso é um canal vascular entre as artérias aorta e pulmonar

que permite o sangue dos pulmões se desviar do ventrículo esquerdo para o

direito resultando em hipertensão pulmonar (VAN LEET & FERRANS, 2009).

Persistência do ducto arterioso é um dos defeitos cardíacos congênitos

mais comumente observados nos animais domésticos e de causa não

determinada em bovinos (GOPAL et al., 1986; MAXIE & ROBINSON, 2007). No

cão está associada a uma herança poligênica (MAXIE & ROBINSON, 2007).

Em um estudo realizado em bovinos durante 14 anos para identificação de

malformações congênitas, 36 bovinos apresentaram 14 diferentes defeitos

cardíacos, dos quais cinco eram persistência do ducto arterioso, sendo dois

bovinos da raça Hereford e três da raça Holandês (GOPAL et al., 1986). Este

defeito é descrito também por LEE & KIM (2004) em um bovino Holandês.

2.7.9 Outros 2.7.9.1 Gêmeos anômalos Gêmeos anômalos são gêmeos monozigóticos imperfeitamente

separados, estando geralmente unidos pela parte anterior do corpo. Ocorrem

geralmente associados a partos distócicos. São afetados com maior freqüência

38

bovinos, ovinos e suínos, ocasionalmente cães e gatos. A malformação é rara

em eqüinos. A etiologia é desconhecida (DENNIS, 1975).

Gêmeos anômalos podem ser classificados em: diplopagos

(gemelaridade conjugada igual e simétrica); dípigos (gemelaridade conjugada

incompleta com duplicação caudal), diprosopo (duplicação quase completa da

face); dicéfalo dípigo (duplicação de ambas as regiões cranial e caudal da

cabeça); sincéfalo dípigo (duplicação de ambas as regiões cranial e caudal

com as duas cabeças quase completamente fusionadas); heterópago

(gemelaridade desigual e assimétrica, sendo o gêmeo maior aparentemente

normal e o menor incompleto - parasítico); pigópago parasítico (gemelaridade

parasítica ligada à região sacral do outro gêmeo); e, melodimo (gemelaridade

com membros supernumerários) (DENNIS, 1975).

3. MATERIAL E MÉTODOS

Foi realizado um levantamento dos defeitos congênitos e/ou doenças

hereditárias em bovinos, ovinos e bubalinos diagnosticados no Laboratório

Regional de Diagnóstico (LRD) da Faculdade de Medicina Veterinária da

Universidade Federal de Pelotas (UFPel), no período de janeiro de 1978 a

dezembro de 2009.

3.1 Epidemiologia

Para o estudo epidemiológico dos casos observados foi realizada

revisão nos protocolos de necropsia do LRD/UFPel obtendo-se informações

referentes à procedência dos animais, ao tipo de manejo utilizado, técnicas de

reprodução (monta natural, inseminação artificial), tipo de criação (intensiva,

semi-intensiva, extensiva), aplicação de vacinas e medicamentos, e tipo de

alimentação (campo nativo, pastagem, concentrados), quando estes dados

constavam nos protocolos.

3.2 Patologia e classificações dos defeitos congênitos e/ou doenças hereditárias Os diferentes defeitos congênitos observados foram classificados de

acordo com o sistema afetado, resgatando-se dos protocolos de necropsia os

dados relativos aos sinais clínicos, quando os animais sobreviviam após o

nascimento e a patologia macroscópica de cada caso. Foram utilizadas,

também, para este estudo, fotografias existentes no acervo do LRD. Os casos

recebidos a partir de 2008 foram estudados pela realização da necropsia.

Quando dois sistemas estavam afetados em um só indivíduo ambos

eram considerados para o cálculo do percentual de cada sistema afetado.

40

Quando mais de dois sistemas estavam afetados os casos foram incluídos

como uma alteração multissistêmica.

Nos casos em que as lesões afetavam macroscopicamente órgãos ou

tecidos e não a estrutura foi realizado o estudo histológico utilizando-se as

técnicas de rotina. Em dois casos foi feito o estudo radiológico das alterações

esqueléticas observadas.

4. RESULTADOS

Entre janeiro de 1978 e novembro de 2009 foram recebidos 5.409

materiais de bovinos, 843 materiais de ovinos e 106 de bubalinos para análise

no LRD. Desse material 1.121 (20,72%) corresponderam a necropsias em

bovinos, 310 (36,77%) a necropsias em ovinos e 61 (57,54%) a necropsias em

bubalinos.

Dos 1.121 bovinos necropsiados 48 (4,28%) apresentaram

malformações congênitas. Dos 61 bubalinos oito (13,11%) foram

diagnosticados com defeitos congênitos e dos 310 ovinos três (0,97%) foram

diagnosticados com defeitos congênitos.

Os defeitos congênitos e doenças hereditárias observados foram

classificados de acordo com o sistema afetado em bovinos, ovinos e bubalinos

e são apresentados nas Tabelas 1, 2 e 3, respectivamente.

Três bovinos apresentaram defeitos no sistema cardiovascular (casos 1,

32 e 33). No bovino 1 havia coágulos na traquéia e brônquios, hemorragia

nasal, hemopericárdio e dilatação das valvas sigmóides pulmonares com a

presença de uma valva supernumerária. O bovino 32 era uma fêmea da raça

Jersey com 30 dias de idade encontrada morta. Na necropsia apresentava

líquido na cavidade abdominal, fígado aumentado de tamanho com aspecto de

noz moscada. O coração estava aumentado de tamanho com áreas

esbranquiçadas no epicárdio. Ao corte o ventrículo direito apresentava

encurtamento das cordas tendinosas que fixam a valva tricúspide, havia

estenose da aorta após a saída do tronco braquicefálico e persistência do

ducto arterioso. O bovino 33 era uma fêmea da raça Aberdeen, recém nascida,

proveniente de inseminação artificial. Na necropsia observou-se edema da

cabeça, persistência do ducto arterioso e cistos hemáticos nas valvas mitral e

tricúspide, malformação e hipertrofia do músculo papilar da valva tricúspide,

42

displasia valvular e defeito septo-atrial entre as aurículas. Apresentava, ainda,

tireoides aumentadas de tamanho.

O bovino 2 apresentou malformação do sistema nervoso central

caracterizada por hipoplasia dos lobos frontais e olfatórios, com edema

meníngeo e circunvoluções cerebrais dorsal aos lobos olfatórios mais largas.

Cinco bovinos eram gêmeos anômalos e a malformação era

caracterizada por duplicação craniofacial denominada diprosopo (casos 4, 7,

29, 39 e 42). O bovino 4 apresentou, também, defeitos septais cardíacos. O

bovino 39 (diprosopo tetraoftálmico) (Fig.1) apresentava duas cabeças unidas

pelos ossos frontal, parietal e temporal, dois membros anteriores e dois

posteriores. Havia duplicação da face que apresentava quatro olhos, dois

focinhos, duas bocas e duas orelhas, as quais eram localizadas no lado

externo da fusão. Os hemisférios cerebrais eram unidos a um tronco encefálico

comum (Fig. 2 A e B) e havia ainda duas línguas unidas a um esôfago. O

bovino 42 apresentava duas cabeças unidas na altura da terceira vértebra

cervical (dicéfalo dipos dibráquios) e artrogripose (Fig. 3 A e B). Havia

malformação dos dentes e fenda palatina em ambas cabeças (Fig. 4 A e B).

Havia, também, atresia anal e o intestino grosso terminava em fundo de saco.

O coração apresentava uma fenda na base (Fig.4 C) e uma terceira câmara

entre os dois ventrículos (Fig. 4 D).

Degeneração cerebelar cortical (caso 11) foi observada em bovinos da

raça Holandês e descrita anteriormente por Schild et al (2001a), assim como

hipoplasia linfática hereditária em bovinos Hereford (caso 12) (Schild et al.

1991; Schild et al. 1996) e hipermetria hereditária (caso 14) em bovinos da raça

Shorthorn (Schild et al. 1993).

Onze bovinos apresentaram condrodisplasia tipo Telemark (bovinos 6, 9,

13, 15, 16, 17, 18, 19, 27, 28, 43). A principal malformação desses animais

caracterizava-se por encurtamento e rotação dos ossos dos membros

principalmente nas articulações úmero-rádio-cubital e rádio-carpiana (Fig. 5 A e

B); o crânio era arredondado e maior que o normal e havia exoftalmia (Fig. 5 A,

B e C), prognatismo e protrusão da língua. O focinho era achatado e o osso

parietal espesso, os ossos da base do crânio eram curtos e a cartilagem

articular entre o baso-esfenóide e o pré-esfenóide era espessa (Figs. 6 A, B, C

e D). O bovino 13 era filho de vaca primípara e foi feita premunição contra

43

tristeza parasitária na mãe. Apresentou, também, defeitos nos septos cardíacos

e desvio dos principais troncos venosos e arteriais, escoliose e fígado com

áreas de degeneração. Na histologia observou-se congestão hepática. O

bovino 28 apresentou articulações aumentadas, presença de líquido sub-

meningeano e rins com múltiplos infartos. O bovino 43 era oriundo de programa

de inseminação artificial, sem histórico de ocorrência de malformações

anteriores. Com exceção do bovino 15 todos apresentavam fenda palatina.

Três bovinos apresentaram condrodisplasia do tipo Dexter (casos 10, 30

e 41), e todos apresentavam malformações generalizadas. A cabeça era

arredondada e o focinho achatado, havia protrusão completa da língua,

braquignatia superior, ausência do palato duro e malformação dos dentes (Fig.

7 A). Dorsalmente observava-se o pescoço e membros curtos (Fig. 7 B). Havia

hérnia abdominal com exposição das vísceras abdominais (Fig. 7 C).

Radiologicamente no bovino 41 observava-se o encurtamento dos membros e

vértebras e as costelas estreitas (Fig. 8).

Em nove casos de malformação congênita em bovinos foi realizado o

diagnóstico de artrogripose (casos 3, 5, 21, 24, 35, 37, 40, 44 e 48). O bovino

21 apresentava ainda espinha bífida e lordose. O bezerro era filho de uma vaca

que teve três abortos e que pariu dois bezerros com defeitos congênitos, todos

filhos do mesmo touro. As lesões se caracterizavam por membros torcidos para

frente, a coluna abria-se ao exterior na altura do púbis expondo a medula, os

ossos do coxal estavam unidos e havia atrofia muscular dos membros

posteriores. Este bovino apresentava também o cerebelo fora da cavidade

craniana. No caso 24 artrogripose afetou quatro de 38 bezerros resultantes de

um acasalamento experimental entre um touro e oito de suas filhas, em um

período de 5 anos, obtendo-se uma freqüência de 10,52% de animais

defeituosos (Tabela 4). Na necropsia os animais apresentavam curvatura dos

membros, rigidez articular múltipla, deformação do externo e atrofia muscular

(Fig. 9 A). As lesões histológicas caracterizaram-se por ausência de neurônios

motores nos cornos inferiores da substância cinzenta da medula espinhal sem

presença de lesões inflamatórias. Os músculos apresentavam marcada falta de

desenvolvimento das fibras que estavam reduzidas de tamanho com espaço

entre elas ocupado por tecido conjuntivo (Fig. 9 B). O bovino 37 nasceu de

parto distócico, era da raça Holandês e não conseguia se manter em pé e nem

44

se alimentar. As lesões caracterizavam-se por flexão das articulações rádio-

carpianas, contratura muscular simétrica e bilateral (Fig. 9 C). O bovino 40, da

raça Jersey, apresentava contração das articulações carpo-metacarpiana,

fêmur-tíbio-rotuliana e tarso-metatarsiana, torticolis, escoliose e braquignatia

(Fig. 9 D). O bovino 44 apresentava além de artrogripose, desvio lateral da

mandíbula (Fig. 10 A e B), fenda palatina, malformação dos dentes molares

superiores (Fig. 11 A e B) e cegueira. Na propriedade nasceram no mesmo

período outros 32 animais normais e era utilizada inseminação artificial e o

sistema de criação era semi-intensivo. O bovino 48 nasceu de parto distócico e

era proveniente da mesma propriedade do bovino 44, porém filho de pai e mãe

diferentes. Apresentava rigidez articular em extensão nas articulações do carpo

e metacarpo falangeana e nas articulações fêmur tíbio-rotuliana e metatarso-

falangeana. Apresentava, ainda, xifoescoliose entre a 9a e a 11a vértebras

torácicas (Fig. 12 A e B).

Os bovinos 22 e 23 tiveram o diagnóstico de hipomielinogênese

congênita. Os animais apresentaram sinais neurológicos de incoordenação

motora, extensão dos quatro membros, sem conseguir manter-se em estação e

opistótono e apresentavam níveis de cobre baixos no fígado. Histologicamente

havia hipomiellinogênese na substânica branca da medula espinhal (Riet-

Correa et al. 1993).

Dois bovinos (25 e 36) apresentaram hipoplasia cerebelar. Hipoplasia

cerebelar em bovinos Charolês (caso 25) foi descrita por Schild et al (2001b). O

bovino 36 não tinha raça definida, sendo o único caso no rebanho no qual era

utilizada inseminação artificial e a criação era extensiva. O animal apresentava

incoordenação dos quatro membros, porém conseguia se alimentar. Aos seis

meses o bovino deixou de se manter em pé e foi eutanaziado.

Macroscopicamente, o cerebelo estava diminuído de tamanho. No estudo

histológico foi observado estreitamento e menor densidade celular na camada

granular do cerebelo e estreitamento da camada molecular e ausência ou

diminuição do número de células de Purkinje (Fig. 13).

Os bovinos 8 e 26 tinham palatosquise ou fenda palatina, sendo que o

bovino 26 apresentava, ainda, protrusão da língua que terminava em forma de

ponta, icterícia generalizada e fígado claro. Além disso, não conseguia levantar

e tampouco mamar. Outros três bezerros, de acordo com relato do proprietário,

45

morreram com os mesmos sinais clínicos, porém não foi confirmado se

apresentavam malformações. Na propriedade foram feitas três aplicações pour-

on de Acatax (Fluazuron) e mebendazole nas novilhas prenhes. Os bovinos

eram criados a campo.

O bovino 34 era da raça Charolês e sobreviveu 3 dias. Não conseguia se

levantar e apresentava desvio da coluna para a esquerda (escoliose) na altura

do osso coxal.

O bovino 38 apresentava atresia anal e a cauda apresentava alopecia

parcial (Fig. 14). Na necropsia observou-se grande quantidade de gás nos

intestinos, com a porção final do intestino grosso rompida com extravasamento

do conteúdo para a cavidade abdominal.

No bovino 45 a malformação foi classificada como paquigiria. O bezerro

apresentava ao nascimento tremores da cabeça e do pescoço, ataxia,

hipermetria, cegueira, aumento de volume das articulações e secreção

purulenta no cordão umbilical. Na propriedade era utilizada monta natural e os

pais do bovino afetado eram irmãos por parte de pai. De 12 animais que

nasceram no período somente este foi afetado. Na necropsia foram observadas

circunvoluções cerebrais achatadas e aumentadas, hipoplasia do vermis

cerebelar e lobos anteriores do cerebelo (Fig. 15 A e B). Ao corte observava-se

o córtex espesso e liso com ausência das circunvoluções (girus e sulcos)

desde o lobo frontal até o occipital (Fig. 16 A e B). Histologicamente havia

espessamento do córtex cerebral e hipoplasia cerebelar.

No bovino 46 a malformação caracterizava-se por torção da mandíbula

para a direita e discreta rotação (Fig. 17 A e B). Os dentes molares estavam

acavalados e parcialmente inclusos, havia fenda palatina e a boca terminava

no pavilhão auricular (Fig 18 A e B). Radiologicamente observava-se o desvio

lateral da mandíbula e o osso maxilar reto (Fig. 19).

Os bovinos do Caso 47 apresentavam catarata congênita, caracterizada

por andar a esmo sem conseguir acompanhar as mães, hipermetria (Fig. 20) e

observava-se mancha branco-azulada no cristalino (Fig. 21). Histologicamente

havia tumefação e vacuolização das fibras do cristalino e presença de

corpúsculos de Morganian. Na propriedade era utilizada inseminação artificial e

os animais eram criados a campo. No ano 2009 de um total de 150 vacas 12

apresentaram crias com o problema. A sorologia revelou infecção das mães

46

pelo vírus da diarréia viral bovina. No sangue dos bovinos afetados não foi

identificada a presença do vírus. No sêmen do touro utilizado na inseminação

artificial do rebanho houve isolamento viral1

Dois bovinos (caso 20 e 31) não tiveram suas malformações

classificadas devido a falta de dados nos protocolos de encaminhamento ao

LRD.

. A mesma malformação ocorreu

em bovinos de outras propriedades e em todos os casos relatados o sêmen

utilizado na reprodução dos rebanhos foi o mesmo (Sérgio Marcheriotto, 2009.

Comunicação pessoal).

Os ovinos com diagnóstico de malformação congênita eram

provenientes de estabelecimentos diferentes e foram os únicos casos ocorridos

nas respectivas propriedades. Foram observados dois casos de gêmeos

anômalos (1 e 2), sendo que não havia descrição no protocolo de necropsia do

ovino 1. Os gêmeos anômalos (Caso 2) estavam unidos pelo esterno e gradil

costal, mantinham duas colunas vertebrais e as cabeças eram quase

completamente fusionadas com uma única face e três orelhas, e apresentavam

quatro pares de membros (sincéfalo dípigos [monocéfalo tetrapos

tetrabráquios]) (Fig. 22). Na cavidade abdominal observou-se a presença de

dois intestinos, dois fígados e um rim. Na cavidade torácica observou-se a

presença de um pulmão, um coração um esôfago, uma traquéia e uma língua.

A abertura da cabeça revelou a presença de um cérebro, dois cerebelos, dois

troncos encefálicos que se continuavam em duas medulas espinhais (Fig. 23 A

e B).

O Ovino 3 apresentava aprosopia, que se caracteriza por ausência da

mandíbula e do maxilar, astomia, arrinia (Fig. 24) e sinotia. Na pele havia áreas

de alopecia. Na necropsia havia sob a pele intacta uma abertura sem estrutura

(Fig. 25 A) que terminava em um fundo de saco no qual observava-se a glote

(Fig. 25 B) seguindo-se a traquéia. A cabeça era pequena, apresentava-se

como um cone. O sistema nervoso central estava em autólise acentuada. Não

havia esôfago. O fígado apresentava ruptura da cápsula e os pré-estômagos

continham líquido. Havia também xifose.

1 Sorologia e isolamento realizados pelo Dr. Eduardo Flores, Setor de Virologia, CCR, UFSM

47

Todas as malformações observadas em búfalos foram diagnosticadas

em um rebanho da raça Murrah pertencente a um estabelcimento no município

de Capão do Leão e em um rebanho da mesma raça de uma propriedade

localizada no município de Pedro Osório. Duas enfermidades (búfalos 1 e 6 )

são transmitidas geneticamente e foram descritas anteriormente: artrogripose

(Schild et al. 2003) e dermatose mecânico-bolhosa (Riet-Correa et al. 1994),

respectivamente. Hidranencefalia (caso 7) foi descrita recentemente havendo

fortes evidências de que seja também uma enfermidade hereditária (Fiss,

2009).

Megaesôfago (Caso 2) observado em dois búfalos caracterizava-se por

retardado no crescimento, timpanismo e regurgitamento com presença de

restos de alimentos nas narinas. Na necropsia observou-se esôfago flácido e

aumentado de volume na altura do terço médio e pneumonia por aspiração.

Hiperplasia muscular (casos 3 e 4) caracterizou-se por aumento de

volume dos músculos semitendinoso e semimembranoso (Figs. 26 A e 27).

Quando recebiam um estímulo apresentavam contrações musculares tônicas

no corpo inteiro que duravam de alguns segundos até um minuto (Fig. 26 B).

Quando tentavam levantar, caiam em decúbito lateral com os membros

contraídos e a cabeça voltada para cima. Nos animais cansados os ataques se

repetiam por várias vezes, sempre que tentavam se locomover.

Histologicamente, as fibras musculares apresentavam aumento de volume

(hipertrofia) (Fig. 28 A e B) e pele mais fina, com menos tecido adiposo

subcutâneo.

Albinismo foi observado em 13 búfalos (Caso 5), caracterizado por

despigmentação dos pelos que eram brancos, da pele e dos olhos, que

apresentavam coloração rosada (Fig. 29). Histologicamente em biopsias de

pele retiradas da região da paleta havia ausência de grânulos de melanina na

epiderme, que era mais espessa e apresentava projeções epidérmicas para o

interior da derme nos animais afetados, quando comparada à biopsias de um

búfalo controle da mesma raça e idade (Fig. 30 A e B). Os animais nasceram

em anos alternados sendo que um deles era filho de pais também albinos.

Todos os animais albinos na propriedade eram filhos de dois búfalos da raça

Murrah importado da Bulgária, utilizados em inseminação artificial. Um búfalo

48

apresentou albinismo e hidranencefalia (Caso 8) (Figs. 31, 32 e 33). O pai

deste bezerro era o mesmo dos demais bovinos hidranencefálicos observados.

49

Quadro 1. Defeitos congênitos/doenças hereditárias observados em bovinos na área de influência do Laboratório Regional de Diagnóstico da Faculdade de Veterinária da Universidade Federal de Pelotas entre 1978 e 2009.

Número/ Caso

Data Raça Sobrevivência Número de animais afetados

Município Órgãos/ Sistemas afetados

Diagnóstico

1 04-08-1978 NI1 Semanas 1 Pelotas Cardiovascular malformação

cardíaca 2 04-12-1978 Zebú 2 meses 1 Capão do Leão SNC2 hipoplasia dos

lobos frontais e olfatório

3 22-01-1979 Cruza 2 horas 1 Morro Redondo Muscular artrogripose 4 06-10-1979 Hereford 1 dia 1 Herval Multissistêmico diprosopo 5 27-10-1979 Ni Natimorto 1 Pelotas Muscular artrogripose 6 12-03-1980 Ni 10 dias 1 Ni Esquelético condrodisplasia 7 27-06-1980 Holandês-

Devon Natimorto 1 Pedro Osório Multissistêmico diprosopo

8 29-10-1980 Charolês 2 dias 1 Rio Grande Esquelético fenda palatina 9 19-03-1981 Ni Natimorto 1 Pelotas Esquelético condrodisplasia 10 21-07-1981 Cruza aborto 1 Morro Redondo Esquelético condrodisplasia tipo

Dexter 11 09-12-1981 Holandês 3 meses 2 Candiota SNC degeneração

cerebelar cortical 12 10-12-1981 Hereford 10 meses 6 Candiota Linfático hipoplasia linfática 13 30-11-1982 Ni 1 dia 1 Pelotas Esquelético condrodisplasia 14 10-05-1983 Shorthorn Anos 15 Rio Grande SNC hipermetria

hereditária 15 13-10-1983 Jersy 3 dias 1 Pelotas Esquelético condrodisplasia 16 16-11-1983 Jersey 10 dias 2 Pelotas Esquelético condrodisplasia 17 17-12-1984 Jersey Natimorto 1 Pelotas Esquelético condrodisplasia 18 28-12-1985 Jersey 3 meses ROQUE Pelotas Esquelético condrodisplasia

50

Número Data Raça Sobrevivência Número de animais afetados

Município Órgãos/ Sistemas afetados

Diagnóstico

19 06-02-1986 Jersey Ni 1 Pelotas Esquelético condrodisplasia 20 30-09-1988 Cruza Ni 2 Arroio Grande Esquelético malformação não

classificado 21 01-11-1990 Holandês 3 dias 2 Pelotas Muscular, SNC artrogripose e

espinha bífida 22 01-11-1992 Charolês 30 dias 1 Arroio Grande SNC hipolielinogênese

congênita 23 Ni Cruzas 30 dias 8 Sta. Vitória SNC hipolielinogênese

congênita 24 01-07-1991 Holandês 1 dia 4 Candiota Muscular artrogripose 25 05-01-1995 Charolês 3 dias 2 Capão do Leão SNC hipoplasia

cerebelar 26 02-09-1996 Cruza 3 dias 4 Piratini Esquelético fenda palatina 27 04-09-1996 Shorthorn Natimorto 1 Dom Pedrito Esquelético condrodisplasia 28 05-02-1998

Jersey 3 meses 1 Capão do Leão Esquelético condrodisplasia

29 01-10-1998 Charolês Feto 1 Rio Grande Multissistêmico diprosopo 30 01-06-1999 Ni Ni 1 Pinheiro Machado Esquelético condrodisplasia tipo

Dexter 31 02-08-1999 Cruza Zebú 12 meses 1 Canguçu Esquelético malformação não

classificada 32 27-10-1999 Jersey 30 dias 1 Pelotas Cardiovascular persistência do

ducto arterioso 33 09-11-1999 Aberdeen 1 dia 1 Rio Grande Cardiovascular persistência do

ducto arterioso 34 15-11-1999 Charolês 3 dias 1 Capão do Leão Esquelético escoliose 35 01-12-1999 Charolês 2 dias 1 Capão do Leão Muscular artrogripose 36 23-03-2000 Cruza 6 meses 1 Capão do Leão SNC hipoplasia

cerebelar 37 02-07-2001 Holandês 7 dias 1 Pelotas Muscular artrogripose

51

Número Data Raça Sobrevivência Número de animais afetados

Município Órgãos/ Sistemas afetados

Diagnóstico

38 17-09-2001 Holandês 2 dias 1 Pelotas Gastrintestinal atresia anal 39 12-10-2001 Cruza

Holandês 4 dias 1 Hulha Negra Multissistêmico diprosopo

tetraoftálmico 40 05-11-2001 Jersey natimorto 1 Ni Muscular artrogripose 41 17-07-2007 Jersey natimorto 1 Pelotas Esquelético condrodisplasia tipo

Dexter 42 20-07-2007 Braford natimorto 1 Dom Pedrito Multissistêmico dicéfalo dipos

dibráquio, artrogripose

43 04-10-2007 Jersey 6 dias 1 Pedro Osório Esquelético condrodisplasia 44 07-02-2008 cruza Zebu 7 dias 1 Capão do Leão Muscular e

esquelético artrogripose / DLM3

45 13-10-2008 cruza Zebú 34 dias 1 Encruzilhada SNC paquigiria 46 20-04-2009 Holandês 1 dia 1 Rio Grande Esquelético DLM 47 29-09-2009 Cruza 1 mês 12 Encruzilhada do Sul Olho catarata congênita 48 14-12-2009 Holandês 2 dias 1 Rio Grande Muscular artrogripose

1Ni – não informado, 2SNC – Sistema Nervoso Central, 3 DLM- desvio lateral da mandíbula

52

TABELA 2. Defeitos congênitos/doenças hereditárias observados em ovinos na área de influência do Laboratório Regional de Diagnóstico da Faculdade de Veterinária da Universidade Federal de Pelotas entre 1978 e 2009.

Número/ Caso

Data Raça Sobrevivência Número de animais afetados

Município Órgãos/ Sistemas afetados

Diagnóstico

1 04-07-1986 Ni1 Ni 1 Ni Multissistêmico gêmeos anômalos 2 29-10-2001 Corriedale 1 dia 1 Ni Multissistêmico gêmeos anômalos

(sincéfalo dípigo) 3 30-10-2007 Ni Natimorto 1 Capão do Leão Multissistêmico aprosopia

1Ni – não informado

53

TABELA 3. Defeitos congênitos/doenças hereditárias observados em bubalinos na área de influência do Laboratório Regional de Diagnóstico da Faculdade de Veterinária da Universidade Federal de Pelotas entre 1978 e 2009.

Número/ Caso

Data Raça Sobrevivência Animais afetados

Município Órgãos/ Sistemas afetados

Diagnóstico

1 20-10-1995 Murrah Natimorto 3 Capão do Leão

Muscular artrogripose

2 07-12-1995 Murrah 8-10 meses 3 Capão do Leão

Gastrintestinal megaesôfago

3 28-04-1995 Murrah anos 4 Capão do Leão

Muscular hiplerplasia muscular

4 28-03-2003 Murrah anos 25 Pedro Osório

Muscular hiperplasia muscular

5 20-03-2000 Murrah anos 13 Capão do Leão

Tegumentar e fotorreceptor

albinismo

6 22-09-2000 Murrah 3-4 anos 4 Capão do Leão

Tegumentar dermatose mecânico-bolhosa

7 18-02-2004 Murrah 1 a 4 dias 6 Capão do Leão

SNC hidranencefalia

8 19-04-2009 Murrah 1 a 4 dias 1 Capão do Leão

SNC/ Tegumentar e fotorreceptor

hidranencefalia/ albinismo

54

TABELA 4. Número e percentagem de animais obtidos e esperados para a comprovação da origem hereditária da artrogripose em

bovinos Holandês.

Touro transmissor Vacas filhas do touro Total de bezerros

nascidos

Bezerros com

artrogripose

N° %

Frequência esperada

para genes recessivos1

N° %

1 8 38 4 10,52 5 12,50 1 (LEIPOLD & DENNIS, 1986)

55

Figura 1. Diprosopo tetraoftálmico. Bovino 39. As cabeças estão unidas na altura dos ossos frontal, parietal e temporal

Figura 2. Diprosopo tetraoftálmico. Encéfalo do bovino 39. Há dois hemisférios cerebrais e um cerebelo (A). Ventralmente observa-se um tronco encefálico ligado aos hemisférios cerebrais pelo tálamo duplicado (B).

56

Figura 3. Dicéfalo dipos.dibraquio. Bovino 42. A. Há duas cabeças separadas e artrogripose. B. Dorsalmente observa-se espinha bífida.

Figura 4. Diprosopo. Bovino 42. Ambas as cabeças apresentam fenda palatina e malformação dos incisivos (A e B). O coração apresenta fenda na base (C). Há uma cavidade extra entre os ventrículos (D).

57

Figura 5. Condrodisplasia tipo Telemark. Bovinos 13 (A), 43 (B) e 18 (C). Há encurtamento dos membros e rotação dos anteriores (A e B). Os ossos da cabeça são arredondados, há exoftalmia e o focinho é curto (A, B e C).

58

Figura 6. Condrodisplasia tipo Telemark. Corte sagital do crânio do Bovino 43 (A) e do crânio de bovino controle da mesma raça e idade (B). Observa-se o focinho curto, a cabeça arredondada e o osso parietal mais espesso. Os ossos da base do crânio (pré-esfenoide, baso-esfenoide e occipital são curtos, a cartilagem articular entre o osso baso-esfenoide e pré esfenoide é espessa (C). Ossos da base do crânio de um bovino controle (D).

59

Figura 7. Condrodisplasia tipo Dexter. Bovino 41. O crânio apresenta-se arredondado, o focinho é curto, há protusão da língua e dentes malformados voltados para fora (A). Dorsalmente observa-se o corpo curto e não há pescoço (B). Ventralmente observa-se exposição das vísceras (C).

60

Figura 8. Condrodisplasia tipo Dexter. Bovino 41. Projeção radiográfica lateral observando-se encurtamento dos ossos dos membros e vértebras e estreitamento das costelas.

61

Figura 9. Artrogripose. Bovino 24 (A e B). As articulações dos quatro membros estão fixas em flexão (A), as fibras musculares são estreitas e estão separadas por tecido conjuntivo(B) (HE 10x). Bovino 37 (C). As articulações rádio carpianas estão permanentemente flexionadas. Bovino 40 (D). Observa-se contração das articulações carpo-metacarpiana, fêmur-tíbio-rotuliana e tarso-metatarsiana, torticolis escoliose e braquignatia.

Figura 10. Artrogripose e desvio lateral da mandíbula. Bovino 44. Os membros apresentam articulações fixas em flexão (A) e a mandíbula apresenta desvio para a direita (B).

62

Figura 11. Desvio lateral da mandíbula. Bovino 44. A mandíbula está torcida para o lado e há malformação dos dentes molares superiores (A) e fenda palatina (B).

Figura 12. Artrogripose. Bovino 48 (A). Há rigidez articular em extensão dos quatro membros. Xifoescoliose é observada na coluna vertebral entre a 9ª e 11ª vértebras torácicas (B).

63

Figura 13. Hipoplasia cerebelar. Bovino 36. Cerebelo. A camada granular está rarefeita, a camada molecular é estreita e há ausência de células de Purkinje (HE 10x).

64

Figura 14. Atresia anal. Bovino 38. Observa-se ausência do orifício anal e cauda parcialmente sem pelos.

Figura 15. Paquigiria. Bovino 45. A. O bezerro apresenta cegueira e aumento de volume das articulações. B. O encéfalo apresenta os girus espessos e os sulcos escassos e pouco profundos, o cerebelo apresenta hipoplasia do vermis e lobos anteriores.

65

Figura 16. Paquigiria. Bovino 45. A. Corte transversal do encéfalo na altura do tálamo (bovino controle superior, bovino afetado inferior). Observa-se o córtex liso com ausência dos girus e sulcos, o córtex é espesso e a substância branca é estreita. B Cortes seriados desde o córtex frontal até a altura do tálamo (bovino controle à esquerda, bovino afetado à direita. Observa-se a ausência de sulcos e girus em toda a extensão do encéfalo.

Figura 17. Desvio lateral da mandíbula. Bovino 46. A. A mandíbula apresenta desvio para a direita e há malformação dos dentes que estão parcialmente inclusos. B. O ramo ascendente direito da mandíbula apresenta hipoplasia dos processos cornoide e condilar.

66

Figura 18. Desvio lateral da mandíbula. Bovino 46. A boca está lateralmente desviada termina no pavilhão auricular, observam-se os dentes molares parcialmente inclusos e defeituosos (A) e fenda palatina (B).

Figura 19. Desvio lateral da mandíbula. Bovino 46. Projeção radiográfica ventro-dorsal observando-se o desvio lateral da mandíbula (seta) e o maxilar reto (*).

67

Figura 20. Catarata congênita. Caso 47. Os bezerros andam a esmo pela mangueira sem conseguir acompanhar as mães.

Figura 21. Catarata congênita. caso 47. Observa-se mancha branco-azulada no cristalino.

68

Figura 22. Gêmeos anômalos. Ovino 2. Observam-se dois corpos unidos pelo tórax com uma única cabeça. Há quatro pares de membros

Figura 23. Gêmeos anômalos. Ovino 2. Sistema nervoso central. A. Ventralmente observa-se o telencéfalo com dois hemisférios cerebrais e duplicação do tronco encefálico na altura do tálamo. B. Dorsalmente há dois cerebelos e duas medulas cervicais.

69

Figura 24. Aprosopia. Ovino 3. Não há formação da face e observam-se áreas alopécicas em várias regiões do corpo, as orelhas são unidas na base.

Figura 25. Aprosopia. Ovino 3. A. Há uma abertura sem estrutura sob a pele. B. A glote se abre em uma faringe em fundo de saco.

70

Figura 26. Hiperplasia muscular. Búfalo 4. A. Há aumento de volume dos músculos semitendinoso e semimembranoso. B. Búfalo com contrações e queda após estímulo.

Figura 27. Hiperplasia muscular. Búfalo 3. A. Observa-se aumento de volume dos músculos semitendinoso e semimembranoso.

71

Figura 28. Hiperplasia muscular. Búfalo 4. A. Corte transversal do músculo semitendinoso apresentando fibras musculares hipertróficas (HE obj. 20x). B. Corte transversal de músculo semitendinoso de um búfalo controle. (HE obj. 20x).

Figura 29. Albinismo. Búfalo 5. Mãe e bezerro com ausência de pigmentação (Cortesia MV Maria Cecília Damé).

72

Figura 30. Albinismo. Búfalo 5. Pele de búfalo afetado (A) e búfalo controle (B). Observa-se ausência de melanina e espessamento da epiderme e projeções epidérmicas para o interior da derme do búfalo albino.

Figura 31. Albinismo e hidranencefalia. Búfalo 8. Observa-se a pelagem branca, as mucosas rosadas e a cabeça em forma de cúpula.

73

Figura 32. Hidranencefalia. Búfalo 8. O córtex cerebral apresenta-se com aspecto saculado, mais acentuado na região anterior.

Figura 33. Hidranencefalia. Búfalo 8. Corte transversal do encéfalo na altura do tálamo.. Há cavidades císticas no tecido nervoso com resquícios de substância branca na forma de delicados cordões, estreitamento da substância cinzenta e ausência da substância branca que foi substituída por liquido.

5. DISCUSSÃO

A ocorrência de defeitos congênitos e/ou doenças hereditárias em

bovinos, ovinos e bubalinos na área de influência do Laboratório Regional de

Diagnóstico (LRD) da Faculdade de Veterinária da Universidade Federal de

Pelotas (UFPel) representou 0,89%, 0,36% e 7,55% respectivamente, de todos

os materiais dessas espécies recebidos no LRD entre 1978 e 2009. Se

considerarmos somente os animais necropsiados estes percentuais passam

para 4,28% em bovinos, 0,97% em ovinos e 13,11% em bubalinos. A

estimativa de ocorrência de defeitos congênitos para bovinos e ovinos no

mundo todo é de 0,2%-3% e 0,2%-2% respectivamente (LEIPOLD & DENNIS,

1986; RADOSTTIS et al., 2000). Na região central do Rio Grande do Sul, os

defeitos no desenvolvimento representaram 0,54% dos diagnósticos realizados

em bovinos e 0,34% de todos os materiais desta espécie recebidos no

Laboratório de Patologia Veterinária da Universidade Federal de Santa Maria

LPV/UFSM) entre 1964 e 2008 (LUCENA et al., 2009).

As malformações do sistema esquelético, do sistema nervoso central e

do sistema muscular em bovinos foram as mais frequentes e representaram

43,75%, 18,75% e 18,75% do total de casos diagnosticados, respectivamente.

Esses são os sistemas mais frequentemente observados em bovinos

(LEIPOLD & DENNIS, 1986). No estudo realizado no LPV/UFSM dos 23 casos

de malformações congênitas observados 17,39% estavam relacionados ao

sistema nervoso central (LUCENA et al., 2009). Nos animais domésticos as

anormalidades congênitas do SNC são freqüentes e suas variações são mais

numerosas do que as variações nas malformações que ocorrem em outros

sistemas. Isso foi observado também no presente estudo, já que, em nove

casos de defeitos congênitos/doenças hereditárias encontrados no SNC foram

75

diagnosticadas sete diferentes malformações. Aparentemente, isso se deve ao

alto grau de diferenciação e complexidade desse sistema o que aumenta a sua

susceptibilidade ao desenvolvimento de anomalias (MAXIE & YOUSSEF,

2007).

Hipoplasia cerebelar afetou dois bovinos em uma mesma propriedade

(Caso 25) e a doença foi causada provavelmente por infecção materna pelo

vírus da diarréia viral bovina (BVDV) em período crítico da gestação (SCHILD

et al., 2001b). O surto de catarata congênita (caso 47) pode, também, ser

atribuído à infecção pelo BVDV, embora isso não tenha sido definitivamente

confirmado. Os defeitos oculares em conseqüência desta infecção descritos na

literatura são microftalmia, atrofia ou displasia da retina e catarata (ROSS et al.,

1986; YERUHAM et al., 2001). A mesma malformação aparentemente ocorreu

em bovinos de outras propriedades e em todos os casos relatados o sêmen

utilizado na reprodução dos rebanhos foi o mesmo (SERGIO

MARCHERIOTTO, 2009. Comunicação pessoal) e do qual foi isolado o vírus, o

que sugere que a transmissão poderia ter ocorrido através do sêmen

contaminado. Além disso, no Rio Grande do Sul, aproximadamente 35% dos

bovinos e mais de 70% das propriedades já tiveram contato com este vírus

(FLORES & SCHUCH, 2007), demonstrando que o mesmo está disseminado

no rebanho gaúcho. Estes fatos sugerem que os defeitos congênitos induzidos

pela infecção pelo BVDV podem ser mais freqüentes do que se supõe e que a

inseminação artificial, em alguns casos, poderia ser um meio de disseminação

desses defeitos.

Degeneração cerebelar cortical (Caso 11) diagnosticada em bovinos da

raça holandês foi descrita por SCHILD et al. (2001a) não sendo comprovada a

origem hereditária da doença embora os autores não tenham descartado uma

possível interação genética ambiental para a causa da doença. Outros autores

também descreveram essa condição em bovinos da raça holandês

mencionando a falta de evidências de origem hereditária (LEIPOLD et al.,

1983). Hipermetria hereditária dos bovinos Shorthorn (caso 14) (SCHILD et al.

1993) não foi ainda relatada em outras raças bovinas.

Dos onze casos de condrodisplasia tipo Telemark observados, cinco

ocorreram em bovinos da raça Jersey. Este é um defeito congênito descrito

76

nesta raça causado por um gene autossômico recessivo (THOMPSON, 2007).

Estes cinco bovinos eram provenientes de pequenas propriedades produtoras

de leite localizadas na bacia leiteira da região Sul do estado, nas quais,

frequentemente, é utilizado o mesmo touro por vários anos consecutivos,

favorecendo a consanguinidade e, consequentemente, o aparecimento de

defeitos transmitidos por genes recessivos.

Em um caso de artrogripose observado em bovinos da raça holandês

(Caso 24) foi comprovada a origem hereditária com transmissão por um gene

recessivo autossômico, já que de 38 bezerros nascidos de um retrocruzamento

do touro suspeito com suas filhas, a freqüência obtida de 10,52% de animais

afetados foi similar a freqüência esperada para a transmissão por genes

recessivos de 12,50% (LEIPOLD & DENNIS, 1986). Artrogripose de origem

hereditária foi descrita em bovinos da raça charolês e atribuída a um gene

recessivo autossômico em um estudo de 3 anos realizado em rebanhos dessa

raça no Canadá (NAUROT et al., 1980). Artrogripose, em geral associada a

outras malformações, é atribuída a infecção de fêmeas prenhes em

determinado período da gestação por certos vírus como o vírus da língua azul

(BTV), o vírus da doença da fronteira (border disease), o vírus da febre do vale

do Cache, (VAN VLEET & VALENTINE, 2007), o BVDV (PAVARINI et al.,

2008) e o vírus de Akabane (LEIPOLD et al., 1993), dos quais os únicos que

têm sido identificados no Brasil são o BVDV e o BTV. Neste trabalho os demais

casos de artrogripose foram esporádicos e não foi possível determinar suas

causas, no entanto no Caso 35 não se descarta a possibilidade de infecção

viral já que o bezerro afetado era do mesmo rebanho dos bovinos com

hipoplasia cerebelar de provável origem viral (Caso 25) (SCHILD et al., 2001b).

Os quatro casos de gêmeos anômalos caracterizados como diprosopo

(Casos 4, 7, 29 e 39) e dicéfalo dipos dibráquios (Caso 42) ocorreram de forma

esporádica, sendo os bovinos afetados provenientes de propriedades

localizadas em diferentes municípios da área de influência do LRD. Nos poucos

relatos sobre essas malformações em bovinos as causas não têm sido

identificadas e tampouco se sabe se essa anomalia é mais freqüente nas raças

que têm tendência hereditária a produzirem gêmeos (LEIPOLD & DENNIS,

1972). É mencionado, também, em um estudo de 50 casos de gêmeos

77

anômalos que o maior número de animais afetados foi concebido durante o

inverno (LEIPOLD & DENNIS, 1972). Nos casos relatados neste trabalho todos

os bovinos afetados foram concebidos na primavera.

Hipoplasia linfática hereditária (caso 12) foi descrita em bovinos Hereford

causada por um gene dominante de penetrância incompleta e expressividade

variável (SCHILD et al., 1991). Esta mesma doença foi descrita na raça Angus

na região central do Estado causada aparentemente por um gene recessivo

autossômico (MACÊDO et al., 2009).

Hipomielinogênese congênita por deficiência de cobre ocorreu de forma

coletiva em duas propriedades da região sul do Rio Grande do Sul tendo sido

demonstrada a deficiência deste mineral em um dos bovinos afetados (RIET-

CORREA et al., 1993). Ambas as propriedades eram localizadas em áreas

próximas à Lagoa Mirim onde o solo é pobre e comprovadamente carente em

cobre (GAVILLON & QUADROS, 1976).

No presente trabalho apesar de não ter sido confirmada a ocorrência

coletiva de fenda palatina em bovinos (Caso 26) o fato de terem morrido três

outros animais na propriedade no mesmo período com os mesmos sinais

clínicos sugere que o defeito pode ter sido causado pela administração de anti-

helmínticos às fêmeas prenhes. Teratogênese em ruminantes tem sido descrita

pela ação de princípios ativos como mebendazol, parbendazol, albendazol

entre outros causando diferentes malformações como ciclopia, artrogripose,

escoliose, ectopia renal e outros (DELATOUR, 1983).

Os demais defeitos observados em bovinos neste trabalho

caracterizaram-se por ocorrerem de forma esporádica. Persistência do ducto

arterioso representou 4,17% dos diagnósticos de malformações congênitas/

doenças hereditárias observados na área de influência do LRD. Um percentual

de 35,7% de persistência do ducto arterioso foi observado em bovinos Hereford

e Holandês de um total de 14 defeitos cardíacos observados em 36 animais

(GOPAL et al., 1986). No presente estudo os animais com persistência do

ducto arterioso eram das raças Aberdeen e Jersey. Desvio lateral da mandíbula

(casos 44 e 46) representou 4,17% dos casos diagnosticados e não foram

encontradas descrições de defeito similar na literatura consultada. Um dos

defeitos esqueléticos descritos que acomete os ossos da face é a

78

campilognatia; entretanto nesse defeito o desvio ocorre no osso maxilar e a

mandíbula é normal (LEIPOLD & DENNIS, 1983), ao contrário do observado

nos dois bovinos com defeitos nos ossos da face descritos no presente

trabalho.

Na espécie ovina é provável que o número de malformações

congênitas seja maior. Em um estudo para identificar as causas de morte

perinatal em cordeiros na região sul do Rio Grande do Sul foi encontrado 0,8%

de mortes por defeitos no desenvolvimento (MÉNDEZ et al., 1982).

Provavelmente, cordeiros nascidos com malformações congênitas não sejam

remetidos ao laboratório para diagnóstico, principalmente se o percentual de

mortalidade perinatal está dentro do limite esperado, em torno de 10%, nas

condições de criação de ovinos na região Sul do estado (MÉNDEZ et al.,

1982). Essa é uma das causas do pouco conhecimento sobre os defeitos

congênitos que ocorrem nas diversas espécies animais em todo mundo

(LEIPOLD et al., 1972).

Os três casos de malformações congênitas em ovinos descritos no

presente trabalho ocorreram de forma esporádica sem determinação das

causas. Um dos dois gêmeos anômalos observados era do tipo sincéfalo

dípigos (monocéfalo tetrapos tetrabráquios). Esta anomalia em geral está

associada à distocia e o conhecimento sobre suas causas é escasso. Em um

trabalho sobre a ocorrência de duplicação embrionária em ovinos os autores

não observaram evidências de causa ambiental ou genética (DENNIS, 1975).

Aprosopia observada em um ovino tinha características similares aos

casos descritos por DENNIS & LEIPOLD (1972). Essa malformação é rara em

animais domésticos e foi sugerido pelos mesmos autores que seria uma forma

extrema de agnatia, afetando a mandíbula e maxilar.

Frequentemente, os relatos de malformações congênitas em ovinos,

especialmente relacionados ao sistema esquelético, envolvem casos isolados

ou grupos de animais em uma propriedade específica e a indisponibilidade de

dados genealógicos não permite a identificação da origem desses defeitos

(THOMPSON et al., 2008).

Em bubalinos a frequência de defeitos congênitos /doenças hereditárias

de 13,11% é aparentemente alta se considerarmos que a maioria dos casos foi

79

observada em um mesmo rebanho. Os sistemas mais frequentemente afetados

foram o muscular e o tegumentar ambos representando 37,5% dos casos. A

maioria das enfermidades observadas são reconhecidamente hereditárias ou

tiveram a origem hereditária comprovada como dermatose mecânico-bolhosa

(RIET-CORREA et al., 1994) e artrogripose (SCHILD et al., 2003).

Hiperplasia muscular foi observada também no Pará em búfalos da raça

Murrah o que sugere etiologia hereditária, embora isso não tenha sido ainda

totalmente comprovado (BARBOSA et al., 1999). Hidranencefalia/hipoplasia

cerebelar é outra enfermidade descrita em búfalos que apresenta fortes

evidências de ser hereditária (FISS, 2009).

Albinismo (Caso 5) é um defeito congênito hereditário descrito em

diversas espécies domésticas causado por gene recessivo (LEIPOLD &

DENNIS, 1986). Em bubalinos albinismo foi descrito em uma província da

China com uma prevalência de 30% (LEVINE, 1925); entretanto neste caso

aparentemente os búfalos não são albinos verdadeiros uma vez que tinham

pigmentação nos olhos e alguns eram malhados e seriam búfalos albinoides

segundo COCKRILL, (1974). No caso descrito neste estudo os búfalos foram

diagnosticados como albinos verdadeiros (ausência total de pigmentação) e

nasceram em anos alternados, todos originários de dois reprodutores

importados da Bulgária o que sugere fortemente a transmissão hereditária do

defeito.

Megaesôfago afetou 3 búfalos no ano 1995 e posteriormente não foi

mais observada no rebanho, entretanto não se pode descartar completamente

a possibilidade de herança genética como causa, já que genes recessivos

podem se manifestar esporadicamente e, muitas vezes, têm expressividade

variável e penetrância incompleta e os animais apresentam sinais clínicos e/ou

lesões que podem passar despercebidos (LEIPOLD & DENNIS, 1986).

A ocorrência de pelo menos cinco enfermidades hereditárias ou com

fortes evidências de transmissão genética em bubalinos deve-se,

provavelmente, à alta consanguinidade existente no rebanho bubalino

brasileiro, principalmente nos da raça Murrah. As mais de 3.000.000 de

cabeças existentes hoje no Brasil são originárias de aproximadamente 200

animais importados, na sua grande maioria, da Índia na década de 60. A última

80

importação oficial de bubalinos da Ásia ocorreu em 1962, em razão de uma lei

de 1921 que proibia a importação de material genético daquele continente

devido a problemas sanitários (MIRANDA, 1986).

Com base nos resultados obtidos neste trabalho é possível afirmar que

os defeitos congênitos esporádicos cuja etiologia não é identificada têm pouca

importância econômica em bovinos. Por outro lado, as doenças

comprovadamente hereditárias, como a condrodisplasia, que ocorre em

bovinos Jersey em pequenas propriedades rurais da bacia leiteira da região,

são importantes pela mortalidade de animais, e pela possibilidade de

disseminação de genes indesejáveis. Defeitos congênitos induzidos por

infecções virais podem causar importantes prejuízos econômicos em

determinados estabelecimentos ou regiões. Em razão da alta consanguinidade

em búfalos Murrah, devem ser adotadas medidas de controle para evitar-se a

contínua disseminação, principalmente dos genes recessivos que são mais

difíceis de controlar.

6. CONCLUSÕES

1. A freqüência dos defeitos congênitos em bovinos na região sul do Rio

Grande do Sul é similar à observada em outros países.

2. Em bovinos os defeitos congênitos/doenças hereditárias que afetam os

sistemas esquelético, muscular e nervoso são os mais freqüentes.

3. Os defeitos congênitos hereditários têm importância pela possibilidade

de disseminação de genes indesejáveis em rebanhos na região.

4. Os defeitos congênitos de origem ambiental podem ocorrer de forma

coletiva e causar prejuízos econômicos.

5. A baixa freqüência de malformações observada em ovinos

provavelmente deve-se ao fato de que o estudo anual das causas de

mortalidade perinatal de cordeiros não é prática de rotina no Laboratório.

6. Em ovinos as malformações congênitas são esporádicas e não tem

importância econômica.

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