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6/11/07 iniciei conferencia pg 1 23 11 UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS ESCOLA DE ENFERMAGEM Sub Grupo História Oral A História da Escola de Enfermagem Carlos Chagas LUZIA DA SILVA

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6/11/07 iniciei conferencia

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS

ESCOLA DE ENFERMAGEM

Sub Grupo História Oral

A História da Escola de Enfermagem Carlos Chagas

LUZIA DA SILVA

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Núcleo de Pesquisas e Estudos sobre Quotidiano em Saúde - NUPEQS. Sub-Projeto História Oral. A História da Escola de Enfermagem Carlos Chagas. Arq. do Word for Windows no diretório C:\História Oral\Luzia.doc

Belo HorizonteMinas Gerais

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Núcleo de Pesquisas e Estudos sobre Quotidiano em Saúde - NUPEQS. Sub-Projeto História Oral. A História da Escola de Enfermagem Carlos Chagas. Arq. do Word for Windows no diretório C:\História Oral\Luzia.doc

Traços Biográficos

LUZIA DA SILVA

Nasceu em Campo Belo (oeste de Minas Gerais) em 17 de dezembro de 1940. Filha

única, terminou o curso Normal em 1960. Sua vivência na Escola de Enfermagem Carlos

Chagas (EECC) é a partir de 1962, quando iniciou o cursocurso. 1994.

Foi aluna da primeira turma com exigência de 2º grau completo para ingressar no

curso de enfermagem. Teve as aulas teóricas ministradas pelos professores da faculdade de

medicina e o acompanhamento das professoras de enfermagem, como antes da Lei de

Diretrizes e Bases. Morou no internato por um período de um ano.

A entrevistada descreve as normas rígidas do internato e o relacionamento entre os

alunos. No término do curso em 1964, sendo a turma pequena (apenas três alunas), não

organizaram nenhuma festividade. Apenas se reuniram com a diretoria para colação de grau e

avaliação do curso. Fez estágio no Hospital Municipal e no Hospital das Clínicas.

Foi convidada para ministrar aulas de saúde pública em 1966. Teve uma atuação

marcante como docente, principalmente na área de saúde pública. Atuou como docente nos

hospitais das Clínicas, São Francisco e Odilon Bherens, acompanhando as alunas na

disciplina médico-cirúrgica. Participou de mudanças na estrutura interna da EECC. Em 1972

ocorre a reforma curricular e a disciplina saúde pública é implantada no último ano do curso.

Nessa transição fez especialização em saúde pública na USP (São Paulo). Trabalhou na

Escola Nacional de Saúde Pública, no Rio de Janeiro acompanhando as alunas da EECC. e

posteriormente no centro de saúde pública de Belo Horizonte.

Em 1976 foi coordenadora do centro de extensão e pesquisa (CENEX). Participou da

implantação do programa de desenvolvimento em enfermagem (PRODEN). Relata que tinha

a utopia de capacitar todos os enfermeiros do estado de Minas Gerais. Participou do projeto

trans-setorial de ação comunitária (PTAC).

Em 1976 foi coordenadora do centro de extensão e pesquisa (CENEX). Participou da

implantação do programa de desenvolvimento em enfermagem (PRODEN). Relata que tinha

a utopia de capacitar todos os enfermeiros do estado de Minas Gerais. Participou do projeto

trans-setorial de ação comunitária (PTAC) e da implantação da pós-graduação em saúde

pública, em 1989.

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Aposentou em 1994, deixando de ter uma atuação didática; porém não se afastou da

Escola, permanecendo no PRODEN 2, com o projeto de educação continuada. A entrevistada

diz ter uma vida bastante ativaTrabalhou na implantação da pós-graduação em saúde pública

em 1989 e no desenvolvimento do PRODEN 2.

Aposentou em 1994, deixando de ter uma atuação didática; porém continuou

trabalhando no PRODEN 2, com o projeto de educação continuada. A entrevistada diz ter

uma vida bastante ativa..

Gosta muito de viajar e atualmente faz parte (?) de um grupo de filosofia,

juntamente com outros professores da escola de enfermagem.

RRelata que se considerado o avanço tecnológico,tecnológico, as mudanças ocorridas

na enfermagem são bastante lentas.lentas.

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SUMÁRIO

FITA 1 - LADO A ok, nov 07

Referência a sua origem; a matrícula na Escola de Enfermagem Carlos Chagas (EECC); a

suspensão do curso na Escola de Enfermagem Hugo Werneck; a prova de seleção na EECC; o

primeiro ano do curso superior na EECC; o curso de "pica-couve"; a visão positiva em relação

a enfermagem naquela época; relato da infância e adolescência tranqüilas; o não

preenchimento das vagas devido a exigência do segundo grau completo; a proteção que a

escola proporcionava as cinco alunas do curso superior; o cotidiano no internato da avenida

Alfredo Balena; as aulas prática e teórica; o acompanhamento da professora Carmen Dolores

Messentier Brandão durante as aulas teóricas; as aulas de técnica de enfermagem e o material

didático; a utilização e a localização da biblioteca na EECC; as aulas de patologia; sobre os

diretórios acadêmicos.

FITA 1 - LADO B ok, nov 07

A greve do “1/3” do Diretório Central dos Estudantes (DCE) e a participação dos professores

da parte teórica; o que os alunos ficaram fazendo no hospital durante a greve; a primeira vez

que aplicou injeção intramuscular; o relacionamento de dona Rosa Lima com as alunas; os

estágios nas clínicas especializadas; descrição humorística e detalhada de todas as peças do

uniforme da época; as aulas de Ética e História da Enfermagem; sobre o relacionamento com

a irmã Emília; a reivindicação e justificativas das alunas para mudança da meia e retirada da

touca; o uniforme de Saúde Pública e de gala; o que mudou no quotidiano das alunas após o

curso passar para nível superior; a relação com os alunos da medicina; sobre o internato.

FITA 2 - LADO A

Motivo da suspensão de uma aluna; o dia a dia no internato; a área física do 3º andar; como as

alunas entravam no internato após o horário; horário dos estágios; a rotina “doméstica” no

internato; o local de namoro dentro do internato e demais dependência do segundo andar; a

questão da lavagem das roupas das alunas; o isolamento de uma aluna com hepatite; a capela;

sobre o relacionamento com irmã Clarízia; a interferência da professora Alaíde na questão de

plantão noturno com um paciente; a articulação das alunas para conseguirem fazer curso de

especialização na USP; a participação da funcionária Lygia e a bolsa da CAPES; o estágio de

saúde pública em comparação aos anos anteriores; o período de revolução de 64 e a falta de

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atuação política da escola de enfermagem; sobre estágio extracurricular; as professoras e a

irmã Clarízia; o despreparo das professoras.

FITA 2 - LADO B

FITA 2, LADO B

A bandeja e o papel de radiografia que utilizavam para identificação e distribuição de

medicação e uma medicação administrada erroneamente; os processos de transcrição e de

administração de medicamentos; a obrigação das alunas em ceder o lugar para os médicos

sentarem; a contestação das alunas diante das normas imposta; a reunião de avaliação do

curso com o corpo docente e da irmã Clarízia; o apoio da professora Carmelita e o livro dado

de presente as formandas; a formatura sem solenidades; a insatisfação em relação a anexação

da escola à faculdade de medicina; as condições da entrada da escola; a dificuldade de

relacionamento com a irmã Emília; as normas do internato e o curso de saúde pública na USP;

os estágios estruturados em saúde pública e a integração com o curso de obstetrícia; o estágio

rural; avaliação do curso; referência à professora Salomé Curi;

FITA 3 - LADO A

Sobre o DA da escola de enfermagem e as relações com os presidentes do DA da Medicina e

com o DCE; complementa informações anteriores sobre a convivência com as alunas do 2º e

3º ano de enfermagem; a intensificação das aulas práticas a partir do 2º ano; conteúdos das

aulas de Ética e História da Enfermagem dadas pela irmã Clarízia; o controle sobre as “3” de

sua turma; a união das “3”; o convite para as “3” para lecionarem na Escola de Auxiliar de

Enfermagem do Hospital Sara Kubitschek; o convite para lecionarem na EECC; a

estruturação do 4º ano (opcional) de Saúde Pública; os professores convidados para compor o

corpo docente do curso; a disciplina Didática; a organização do estágio do curso e do estágio

na Fundação SESP, na cidade de Pirapora; financiamento do curso; alunas do curso;

organização do Hospital Municipal de Belo Horizonte e a participação de enfermeiras do

Estado e da EECC; o convênio com a EECC; alunos bolsistas e estágio extracurricular; a

questão administrativa e financeira do convênio; o 4º ano opcional semelhante à Habilitação;

a facilidade que teve em atuar em área hospitalar e o currículo; as primeiras atividades

profissional; as interferências da EECC no Hospital Municipal; a questão administrativa do

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quadro de pessoal; a necessidade de aumentar o quadro de pessoal; a terceirização e as

mudanças ocorridas em relação ao pessoal e às alunas do 3º ano; a 1ª chefe do Serviço de

Enfermagem do Hospital Municipal; a nova estrutura do 4º ano de Enfermagem em Saúde

Pública.

FITA 3 - , LADO B

Continuação sobre as opções do 4º ano: Enfermagem Médico-Cirúrgica e em Saúde Pública;

estágio de saúde pública no Rio de Janeiro na Escola Nacional de Saúde Pública; a

convivência com as alunas durante a hospedagem na Escola de Enfermagem Anna Nery; a

reestruturação da escola em função da Reforma Universitária, de 1968; a batalha pela

desanexação; a formação dos departamentos; vínculos empregatícios com a escola; a

indicação da primeira diretora; saída das freiras da direção da escola; entrada dos primeiros

alunos do sexo masculino na escola, o mandato de segurança para garantirem a permanência

no curso; diminuição da área física do terreno da escola para o Hemominas; retorna às opções

de continuidade do 4º ano e locais de estágios; a reforma curricular de 1972; o término do 4º

ano e a incorporação do conteúdo de saúde pública no novo currículo; a transição da mudança

de currículo e os cursos de atualização para os professores; o Campus Avançado em Barreiras

através do CENEX a partir de 1975; o currículo voltado para a área hospitalar; o contato com

a realidade de saúde; lutas pelo aumento da carga horária de Saúde Pública; as disciplinas e

seus docentes; a marginalização do grupo de docentes de Saúde Pública; as habilitações em

enfermagem; a habilitação em Obstetrícia; as estratégias para contratação de docentes.

FITA 4 - LADO A rever, se derok, nov 07

O curso de Habilitação em Enfermagem em Saúde Pública; os estágios no interior; estágios

integrados entre a Escola de Enfermagem e a Faculdade de Medicina; estágios conveniados

com a Secretaria Municipal e Estadual; a supervisão dos estágios no interior e as dificuldades

encontradas pelos professores; estágios conveniados com a Secretaria Municipal e Estadual; o

término da habilitação; o curso de especialização; módulo básico: a inserção do enfermeiro no

sistema local de saúde; o processo de capacitação do enfermeiro de nível médio; o projeto de

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pós-graduação: a reunião de Barbacena; a especialização de enfermagem em saúde pública; a

proposta de educação continuada na capacitação de enfermeiros no interior de Minas Gerais; a

atuação do PRODEN na revisão do material destinado ao processo de capacitação; PRODEN

II; capacitação de recursos humanos.

FITA 4 -, LADO B ok, nov 07

O projeto de educação continuada; diferença entre do PRODEN II em relação e ao PRODEN

I; o maior envolvimento de docentes; o objetivo do projeto de educação

continuada;continuada; e sua relação com o PRODEN II; a (re)elaboração dos módulos para

formação do atendente de enfermagem e para enfermeiros; as áreas curriculares; a “Luzia”

doméstica e no lazer; o trabalho o trabalho no PRODEN; a aposentadoria; a volta ao vínculo

empregatício no Estado; a disponibilidade para o PRODEN; remunerações; atividades extras;

experiências vivenciadas pela entrevistada e suaprojetos de vida; a evolução da enfermagem

nos últimos tempos; estratégias para capacitação da força de trabalho em enfermagem; a

possibilidade de ensino à distância pela LDB vigente; agradecimentos.realização pessoal.

FITA 5 - , LADO A

A polêmica gerada pela indicação de uma aluna do curso de Habilitação ser contratada como

docente para a graduação; Referência a dificuldades em encontrar enfermeiros no mercado de

contratar para a docênciaprofessores para a Escola de Enfermagem da UFMG; aos; o

impedimento da contratação da ex-aluna; as resistências enfrentadas; as estratégias utilizadas

para iniciar o curso alunos recém formados que iriam fazer habilitação em Enfermagem da

Saúde Pública; o impedimento da contratação de uma ex-aluna da Escola de Enfermagem da

UFMG para a disciplina de Saúde Pública; Alunos que pressionaram a Reitoria da UFMG

para a contratação de professores; ; a suspensão do início do curso por falta de professores; a

contratação de duas as professoras de São Paulo;Marie e Ricco; contratação de outros

professores através de concurso público; os motivos da não aceitação da admissão da tal ex-

aluna; referência à diretora Yole enquanto diretora e, professora; da disciplina Enfermagem

Cirúrgica perfil da ex-aluna; os momentos da habilitação em Enfermagem de Saúde pública; a

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habilitação em Saúde pública Pública no interior de do estadoMG; a inserção do enfermeiro

no interior de MG evolução histórica da enfermagem em saúde pública; a atuação da

Enfermagem de Saúde pública a nível central, intermediário e local; os convênios com as

secretarias municipais de saúde; a falta de mercado de trabalho para o enfermeiro de Saúde

Pública; o estabelecimento de convênios com a Secretária Estadual de Saúde; a estruturação

dos níveis sociais e locais; a política de assistência primária em saúde; a luta da Escola de

Enfermagem da UFMG, para que o governo mudasse a política de saúde; o aumento da carga

horária das habilitações; a reestruturação da habilitação em saúde pública; a reforma da

habilitação; a repercussão nos municípios; o primeiro concurso público para a atuação do

enfermeiro a nível local; a abertura do mercado trabalho para o enfermeiro dos mMunicípios

de MG.

[FITA 5 - , LADO B NÃO FOI GRAVADAO]

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FITA 1 LADO A

Valda.: Luzia, você podia, falar pra gente seu nome completo, onde você

nasceu? Um pouco da sua vida inicial, dados pessoais.

Luzia.: Hum-hum. Bom, eu sou Luzia da Silva, nasci na madrugada do dia

dezessete de dezembro de mil novecentos e quarenta, na cidade de Campo

Belo, oeste de Minas Gerais. Ah! No dia que eu nasci deu uma chuva muito

forte, deu uma enchente muito forte na cidade e levou a ponte da cidade

[risos].

V.: Marcou. [risos] o nascimento, né?

L.: Marcou. Deixa eu ver o que mais. Bom, eu vivi, eu morei nesta cidade até

mil novecentos e sessenta, né? Onde eu fiz todo o ensino fundamental: fiz o

curso de... professora primária, e, quando eu terminei a 8ª série, 8ª série? É.

Porque naquela época não era 8ª série...

Estelina.: ...era o quarto...

L.: ...era o 4º ginasial, né?

V.: Hum- hum.

L.: Eu tinha decidido que eu ia ser enfermeira.

E.: Ah!

L.: E... quando eu levei a questão pra minha casa, pra discutir com os meus

pais eles colocaram que era impossível, que era impossível eu na idade que

eu tinha, de eu ir pra Belo Horizonte pra poder estudar. Que eu tinha que

terminar os meus estudos, que eu tinha que completar até o... fazer o curso o

Normal. E então terminei, fiz o Normal. Em mil novecentos e sessenta eu

terminei o Normal. Depois que eu terminei o Normal falei pra eles: “Olha, eu

não vou trabalhar, eu não vou lecionar, eu não vou trabalhar em grupo escolar

porque eu quero ser enfermeira, tá?.” E eu fiquei um ano, pensando na minha

vida, né, e, quando eu decidi realmente a fazer minha matrícula, foi

interessante que aí eu não, eu tinha programado... um fato interessante é que

eu tinha programado pra eu fazer o curso de enfermagem na Escola Hugo

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Werneck, porque eu estudei a vida inteira no colégio de freira que era a

mesma congregação da Escola Hugo Werneck, as servas do Divino Espírito

Santo. E neste momento, quando eu defini fazer o curso de enfermagem, meu

pai tinha um amigo aqui em Belo Horizonte. Eu pedi que ele fizesse a minha

matrícula na escola e, pra minha tristeza, quando ele foi fazer minha

matrícula, naquele ano não ia ter o curso na escola. O curso da escola tinha

sido suspenso. Então ele ficou preocupado, mas a própria escola encaminhou

para a Escola Carlos Chagas, que eu nem sabia que existia a Escola de

Enfermagem Carlos Chagas. Eu só, a minha relação era só com a Hugo

Werneck, por causa das freiras do colégio, e tudo mais. Então, quando ele

veio fazer minha matrícula, aí era, estava tudo mudado, porque, não tinha, a,

a seleção era do mesmo jeito que era nos anos anteriores, mas... aí eu, ele

fez minha inscrição, não foi matrícula, fez minha inscrição, eu vim fazer a

minha... a, a seleção, já tinha marcado a prova de seleção. A seleção era,

acho que português, matemática, tinha parece que física e química... biologia

e tinha um curso... e tinha um teste, que era feito no SOSP, que era o Serviço

de Orientação Profissional, né, que tinha um teste psicológico, sabe. E, e para

minha surpresa a Escola Hugo Werneck, ela tinha é, suspenso o curso porque

era o primeiro ano do curso superior. Então as escolas, foi nesse período que

grande parte das escolas fecharam realmente pra poder estruturar o curso.

Então, eu fui a primeira turma do, do curso de nível superior. E era a lei, como

que era o número da lei? Dois mil e ...

V.: ...é, lei da LDB, né, de sessenta...i

L.: É, né, que é o...

V.: ... resultado daquela de l949, que custou pra ser...

L.: ...não, a outra, porque a outra, porque a outra que vigorava era a lei 775,

né.

V.: E de quarenta e nove?

L.: É, de quarenta e nove. Então era a nossa primeira turma. Então...

E.: Eu queria fazer só um esclarecimento, porque você fala assim muito

decidida com seu pai que iria fazer enfermagem. O quê foi que você tomou 10

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esta decisão, assim? O quê que te levou a tomar uma decisão e por

enfermagem, e dizer: “eu quero fazer enfermagem”, e não tirou isto da

cabeça?

L.: Olha, eu não lembro, assim, o que, se tinha alguma coisa definida, mas eu

tinha clareza assim, que eu não queria ser professora primária, que eu não

queria continuar morando na minha terra, que eu não queria ficar naquele

lugar pequeno. Eu queria ir pra um lugar maior, sabe. E, parece que assim as

possibilidades que eu tinha na época, decorrente da própria ligação, não tinha

outra possibilidade. Eram dois, dois cursos que discutiam no colégio. Um era

o de enfermagem e o outro era o de Viçosa, que era o “pica couve”.

V.: Pica couve? [risos] Que que é isso?

L.: Porque eles chamavam, que era o curso de pica couve, aqui, é o curso

de...

E.: ...deve ser...

L.: ...extensionista...

E.: ...agrário...

L.: ...é, um negócio desses...

E.: ...é, alguma coisa agrária...

L.: ...de agrária entendeu? Que eram essas duas possibilidades.

V.: Então eles criticavam...

E.: ...um era pica couve. E o outro, era o quê?

L.: É. Não, o outro era enfermeiro [risos], não, não tinha nenhum, não.

[gagueira] falava assim: “Mas você vai ser pica couve, quer dizer, era o curso

que tinha, ainda ti... parece que tem esse curso até hoje, em Viçosa. Não

tenho muita certeza, não. Que o mercado de trabalho era todo voltado pra,

pra, pra Emater, que eu, que antigamente era ACAR, né? Então, era, era, era

mas... era um curso extensionista, lhe dava mais com a questão da educação

pra saúde, orientação alimentar, sabe? São dois cursos bem característicos

de mulher, né? Então, [riso] então era, por exemplo, era os dois cursos que a

gente tinha clareza que tinha. E, e todos dois cursos tinha possibilidade de

internato. Então isso facilitava também o fato da gente sair do interior. Mas, 11

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e... aí eu, não sei, eu não sei não o que aconteceu não [gagueira], pica couve,

eu tinha clareza que não queria ser, que eu não ia mexer com essas, com

essas questões. E eu queria ser era enfermeira mesmo. Eu não sei porque

não, sabe? [risos] Eu queria ser mesmo enfermeira, que eu queria ser.

V.: Seus pais reagiram contra você fazer o curso na época?

L.: O meu pai não, o meu pai não. A minha mãe sim. Minha mãe não queria

que eu fizesse enfermagem.

E.: Mas ela tinha algum argumento pra isso?

L.: Não!

E.: Não. Não queria?

L.: Não queria!

E.: E não dizia porquê?

L.: Não!

V.: Como que era a visão da enfermeira naquela época?

L.: Olha, é muito interessante, porque a visão da enfermeira eu não posso

lhes falar como que era, a visão da enfermeira. Mas que a visão geralmente

que algumas pessoas tinham de enfermagem era através das enfermeira da

minha cidade e era uma visão até legal. Muito boa, porque eram todas

enfermeira, pra você ter uma idéia tinha uma família, a família “Ci” que eram

quatro enfermeiras. E elas fizeram enfermagem no Rio de Janeiro e foram

trabalhar na Fundação SESP [Serviço Especial de Saúde Pública] no

Amazonas, né? Aparecida Ferreira Moura, Aparecida Freire [nome de solteira]

... da mesma, da mesma época, ela foi até colega de uma dessas meninas e

foi também para o Amazonas. E esse pessoal era... essa família morava,

como que era? Na mesma rua que eu morava. Então existia uma ligação,

sabe, familiar! Então, quer dizer, o meu pai tinha uma idéia do que era

enfermagem, né? Quer dizer, pelo menos não era uma coisa tão obscura, né,

tão... sabe?

V.: Não tinha aquela visão negativa da enfermeira?

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L.: Não, não, não, sabe? Agora ao mesmo tempo devia passar uma série de

fantasia, porque saí vim pra cidade maior, é, ficar internada num lugar, morar

no mesmo hospital, entendeu?

V.: Que tipo de fantasia?

L.: Morar no hospital. Devia, não sei...

V.: ...você não acha só...

L.: ...num, num,... eu acredito que devia ter alguma fantasia, agora eu nunca,

nunca foi manifestado pra mim não, entendeu?

V.: Luzia, como é que era a vida antes de você fazer enfermagem, na sua

família, nessa infância e adolescência numa cidade de interior?

L.: Tranqüila. Quer dizer, eu sou filha única, né. Então era os meus pais e eu.

Agora era o contrário porque... a minha casa era muito cheia de gente, meus

amigos, então tudo que acontecia era na minha casa, né? Então, uma vida

tranqüila de, de, de brincar, de minha adolescência, de trabalho, de dançar,

entendeu? De passa férias nas, nas fazendas dos amigos, dos colegas de

escola.

V.: Mas isso ainda não te satisfazia, você queria ir pra uma cidade maior?

L.: Queria.

V.: Buscando?

L.: É. Eu queria, eu queria, eu não queria ficar lá.

V.: Aquilo era pouco?

L.: Era, sabe? Num, num...

V.: Bom, você falou sobre esse início como é que foi a seleção, mais alguma

coisa interessante desse início de curso, de chegada em Belo Horizonte?

Como é que foi a sua chegada aqui em Belo Horizonte pra fazer a seleção?

Você se lembra?

L.: Lembro, foi... foi muito tranqüila porque eu fiquei na casa desse amigo do

meu pai. Quer dizer, um amigo de muitos anos e eu era amiga das filhas dele,

né. Então eles me ajudaram muito foi assim, era referência que, que eu tinha

aqui, né? E na verdade, foi até interessante porque quando depois que eu

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passei... [gagueira] uma coisa que me chamou atenção no processo de

seleção, que nós éramos sete candidatos para trinta vagas.

V.: Era muita gente!

L.: Não. Eram sete candidatos para trinta vagas.

E.: É, ao contrário [dehoje].

V.: Ah! O contrário. É. [riso]

E.: Tinha muitas vagas.

V.: Sobrava vaga!

L.: É, sobrava muita vaga. Porque a turma... de sessenta e um eram trinta e

cinco alunas, me parece, por aí assim, né. Então, de repente a procura caiu

demais, né.

V.: Que, que fator você acha que...

L.: Foi a questão do, do... da exigência..

V.: ...da exigência... segundo grau completo

L.: Do segundo grau completo, né, porque antes era, era mais tranqüilo, né?

E.: Então significa que passaram as sete?

L.: Não, isso que eu que... isso que me chamou atenção. Então eram trintas

vagas e não passaram as sete, né. Passaram cinco! E o peso realmente foi

que, o que eliminava era o SOSP. Eram os testes de inteligência, o teste de

HORSHA também que era de personalidade, então eram estes testes que

eliminava. E passaram cinco! Então nós fizemos o primeiro ano com cinco

alunas. Cinco alunas. E no [gagueira] primeiro ano, dessas cinco duas

desistiram. Uma pediu transferência e a outra trancou matrícula. Então eu,

nós terminamos o curso somente com três alunos.

E.: Agora tinha uma, uma história que a gente ouve contar, de que tinha uma

seleção também assim, que não entrava preto, não entrava feio, não

entrava... outra seleção além do conhecimento mesmo. Se é da sua época,

ou se você ouviu falar nisso?

L.: Não, porque da turma anterior tinha muita gente, tinha mulata!

E.: Hum-hum.

L.: Não acredito, não. Quer dizer, eu nunca percebi...14

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E.: Pode ter sido anterior?

L.:. Bem anterior, né? Agora da minha turma, não tinha. Das sete agora não

tinha ninguém preto, não tinha...

V.: As que perderam, a que perdeu, por exemplo, não ti... você não chegou a

conhecer, num...

L.: Uma eu cheguei, quer dizer, cheguei porque nós fizemos prova juntas, né?

V.: Sim!

L.: E até nós comentamos depois, que pra gente era tranqüilo uma, que uma

não passasse mesmo, porque nós achamos ela muito...

V.: ...fraquinha, mesmo?

L.: Descontrolada, sabe? Assim, em relação, em relação mesmo a, a estado

emocional. Não sei se a situação de prova e tudo mais. Mas ela era bem...!

V.: A outra que foi transferida, ela foi transferida pra onde?

L.: Pro sul. Ela era do sul. Era a mesma história, ela veio pra cá pra fazer o

curso na Hugo Werneck. Aí como não tinha ela, ela ficou na Carlos Chagas,

depois ela foi embora pro sul. Ela é de Santa Catarina.

V.: Terminou o curso lá ou...?

L.: Termi... foi pra terminar o curso lá. Ela foi transferida pa... pra Santa

Catarina. Não sei se terminou, nunca mais tive notícia dela.

E.: Isso significa que você já entrou na escola em sessenta ou sessenta e

um?

L.: Sessenta e dois.

E.: Ah, tá! Você terminou lá em sessenta e entrou em sessenta e dois?

L.: É. Sessenta e dois, né! Porque eu fiquei um ano, sessenta e um eu fiquei...

E.: Ah, tá, refletindo.

L.: Refletindo, né? Convencendo o meu povo que o que eu ia fazer era

enfermagem mesmo e que não adiantava que eu não ia trabalhar em outra

coisa, né?

E.: Nesse período a gente sabe de uma história da Maria Purificação que foi

expulsa. Você ficou conhecendo logo que você entrou essa história?

L.: Não.15

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E.: Não, né. Nem, nem, assim, ouviu falar?

L.: Não, nem sei, até hoje nem sei dessa história. [risos] Entendeu? Quer

dizer, porque depois, mais na frente, a gente pode até voltar o porquê que a

gente não sabia das coisas, tá?

E.: Não, mas se você quiser falar agora.

L.: Ah, então tá!

E.: Pode, pode, pode até já...

L.: Porque é interessante, porque existia uma proteção muito grande entre as

cinco, pras cinco, porque na verdade no terceiro ano eram trinta e cinco

alunas mais ou menos do... era uma média de trinta e cinco no terceiro e trinta

e cinco no segundo. E a mesma história nós, nós também foi, [gagueira]

nesse ano que a escola começou a funcionar aqui, nesse prédio. Porque

antes não funcionava aqui, né?

E.: Hum-hum.

L.: Então, foi também em sessenta e dois. Então, parece que existia uma

proteção muito grande da direção da escola das cinco, em relação ao restante

do, do, do curso, da turma.

E.: E porque essa proteção?

L.: Existia nu... era uma proteção no sentido assim, pra, pra não se misturar,

pra não se contaminar. Porque... devia ter muitos problemas as outras turmas.

E.: Turma grande?

L.: Grande! Né, não tenho a menor dúvida. E, e, e aí ela separando, era mais

fácil dela manipular a gente, né? Era no sentido de manipular a gente,

manipular assim. Mas só que não é todo [cavalo?] que assim era tão forte...

as três eram tão fortes! Que ela nunca imaginou.

V.: Quem eram essas três Luzia?

L.: Noemi [Ferreira Ribeiro], Inês [Lemos da Fonseca] e eu.

V.: Ah! Só você três?

L.: Só.

V.: Já que a gente já começou...

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L.: ...viu! Fomos nós que mudamos um punhado de coisa na escola, as três.

Que eles não esperavam.

V.: Ahn-ahn.

L.: Interessante.

V.: Antes da mudança...[do currículo]

L.: ...é...

V.: ...como que era o cotidiano no internato?

L.: No internato?

V.: É. Vocês já vieram diretamente pra este prédio [Avenida Alfredo Balena, nº

190]?

L.: Pra este prédio. O prédio só tinha... só estava terminado até o terceiro

andar, né? Até aqui, até aqui. Lá fora não tinha mais nada terminado. Aqui era

tudo de, de chão, com uma poeira incrível. E campo de futebol, tinha aqui.

V.: Onde que era o campo?

L.: Onde estão [hoje] as árvores. Este quadrado imenso, aqui nesse

estacionamento. Aí era o campo de futebol, né?

V.: Aberto? Ao público?

L.: Aberto. Tinha pelada. Os próprios meninos da medicina utilizavam, né.

Aberto. Todo campo de futebol, pra pelada, pra final de tarde, pra final de

semana. E era muita poeira, sabe! Tinha muita poeira. E a escola ela

funcionava, nós tínhamos, e uma das coisas interessantes era o seguinte: que

a gente... logo nós percebemos isso, existia um corpo docente na escola de

doze professores, né. E bem determinado quem era do primeiro ano, quem

era do segundo, quem era do terceiro. E, e parece que elas não tinham as

decisões num, num, elas não tinham muita, muita clareza ainda do quê que ia

fazer com a gente, não. Qual que era o nosso currículo, não sabe? Porque, a

experiência delas era com a [Lei] 775, e de todos os professores. Então eles

trabalharam com a 775 mas ao mesmo tempo eles tinham que adaptar, fazer

uma série de modificações. E eles, parecem que eles não tinham muita

clareza. Então, nós estávamos no meio de um beco... né? Era uma turma

que... não podia, nós não podíamos fazer uma, foi reduzido uma série de 17

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coisas, a carga horária, estágio, porque com a Lei 775/49 os alunos faziam

três meses de estágio no ambulatório, três meses de estágio não sei mais

onde; então tinha uma carga, parece, de estágio muito alta. E com, e já com a

nossa turma isso não ia acontecer. Então parecia que o, o, o grupo de

professores estava até meio perdido. Não tinha uma decisão ainda, sabe? E

muitos manifestavam isso pra gente, sabe? Então, muitas vezes, a gente...

sentia muita insegura de saber, “Mas, como que vai ser, nós vamos ser o quê,

nós vamos ficar prejudicada, será que nós vamos saber o mesmo tanto que a

outra turma da 775” sabe? Mas depois, com o andar da carruagem nós

sentimos o seguinte: que não tinha muita diferença não, porque na verdade a

prática era, a prática dos professores, era a prática da 775. Então não tinha

jeito de ser muito diferente.

E.: Será que essa insegurança inicial também tem a ver com ter passado pra

curso superior? E ter exigido segundo grau, será que tinha...?

L.: Podia ter também, sabe? Podia ter. Porque, agora os professores eram os

mesmos, era a mesma história, né. As enfermeiras só davam a parte de

enfermagem, e os médicos é que davam a parte, a parte clínica, né? E a parte

básica também era dada pelos professores da medicina, né? Aliás por

professores ótimos, professores excelentes, sabe?

V.: E esse conteúdo teórico dado pelo pessoal médico era adequado à

enfermagem ou...

L.: Era. Bom, pelo menos a gente sentia que era. Porque na, anatomia a

gente tinha, era, era o [Carlo] Fatini que dava anatomia pra gente. E ele

discutia muito. Discutia muito assim, Alzira [Alzira Souza Melo]. Alzira que era

professora de Fundamentos, então a gente sentia assim. E sempre ele falava

assim: “Isso aqui eu não vou colocar pra vocês porque a Alzira me falou que

vocês não têm necessidade disso.” Então, a gente sentia que existia...

E.: ...uma integração.

L.: Uma integração, né? Pelo menos uma, uma discussão do quê que era

interessante do quê que era... Agora, as coisas pitorescas, que a gente [risos]

tinha aula, a gente tinha aula na medicina e sempre tinha - mais tarde é que 18

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eu vim a saber que era uma professora da escola. Eu não, a gente não sabia

porque ela trabalhava na secretaria, dona Carmen [Carmen Dolores

Messantier]. A dona Carmen. Aí! (...) Você já entrevistou a dona Carmem,

não? Ou procurou pra entrevistar? E a dona Carmen o sobrenome dela eu

não lembro.

V.: Messantier?

L.: É. Mesantier. A dona Carmen acompanhava a gente nas aulas. Ela

assistia a todas as aulas. Ela levava, ficava assistia aula com a gente na

Medicina e voltava. Então ela fazia era isso.

V.: Quê que ela... porque que ela tinha que acompanhar...

L.: ...acompanhar... (...) não me lembro, não.

V.: Tinha alguma condução?

E.: Ela ia com vocês e trazia ?

L.: Levava. Esperava a gente, a gente ia as cinco, ela com o diário de classe

debaixo do braço, né, de, de, uma bata branca, ia, levava pra sala de aula...

V.: ..Ficava?

L.: Ficava.

E.: Assistia às aulas?

L.: Assistia às aulas. Dormia um pouco, né? [risos] Devia ser muito chato para

ela ficar lá, né? Ficava lá e depois voltava com a gente.

E.: Ela era funcionária ou professora?

L.: A gente sem... nós achávamos que ela era funcionária da secretaria mas,

depois que eu vim a descobrir, ela era professora, era docente! Só que ela

nun...

V.: ...não atuava?

L.: Não cumpria esse papel. Não atuava.

V.: Só a turma de vocês que tinha esse acompanhamento durante as aulas

teóricas?

L.: Não, eu tenho a impressão que, que, eu não lem... eu não sei se com a turma da Ana Lúcia...[Magela de Rezende] .e da Eva ela acompanhava,

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sabe? Porque eu não sei, anteriormente... pode ser, eu não sei, isso eu não lembro, não. Mas, nós, é muito interessante.

V.: Tuteladas [riso].

L.: Ah, era, era gozadíssimo [risos].

V.: E os professores da medicina não faziam nenhuma observação por este

acompanhamento?

L.: Não, qualquer coisa, qualquer dúvida que eles tinham eles perguntavam a

dona Carmen, “Dona Carmen, isso assim, assim?” Era, parece que era

tranqüilo aquilo.

V.: Tinha alguma...

L.: ...ela era a intermediária.

V.: Olha! Tinha algum material didático? Livro... pra ajudar nessa parte

teórica?

L.: Tinha. Tinha livro, né, tinha apostila não. Tinha livro. E tinha, anatomia era

material didático era o cadáver mesmo, era tudo no laboratório, né? Era aula

teórico/prática, parte muito de laboratório mesmo. Então a gente era, né, tinha

um cadáver pra nós três, às vezes dois, sabe? Então, muito tranqüilo.

V.: E quando era dado o conteúdo específico de enfermagem?

L.: Conteúdo específico de enfermagem (...). Como que era, o quê que você

coloca?

V.: É, é como a disciplina...

L.: ...se tinha livro alguma coisa?

V.: A disciplina Médico-Cirúrgica, de Obstetrícia, quem que dava, e como é

que era se tinha também material didático?

L.: Olha, quem dava...bom, Fundamentos a gente tinha material, tinha; era

muito em cima de técnicas, as técnicas tinham (...) tinha as técnicas

bonitinhas que a Alzira [de Souza Melo] passava pra gente a gente fazia um

caderninho!

V.: Ela dava, ditava no quadro?

L.: Não, ela dava uma aula sobre isso e depois ela passava pra gente copiar.

V.: Ah!20

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L.: Tá. Num, num dava ditado não. Ela demonstrava a técnica. Era, era bem

prática a aula da Alzira, sabe? Depois, e o livro que a gente tinha, ela

mandava a gente estudar no livro de Fundamento... foi a primeira vez, aí que

eu comecei a mexer com espanhol, [Tratado] Fundamentales da Enfermería.

Então, a gente estudou muito naquele livro.

V.: Tinha biblioteca aqui na enfermagem?

L.: Tinha biblioteca. A biblioteca é hoje onde é a Informática.

V.: No terceiro andar?

L.: No terceiro andar. Então tinha esses livros, tinha muita coisa lá!

V.: Quem era da biblioteca na época?

L.: Quem era?

V.: Quem trabalhava lá?

L.: Ninguém! Dona Carmen também ficava na biblioteca, mas não tinha, não

lembro. A gente pegava a chave, a chave ficava no, no onde é hoje o CTE

[Centro de Tecnologia Educacional] [sala 306], onde está o material de

ensino, lá onde o [José] Maciel [Junior]fica.

V.: Onde era a cantina?

L.: Onde era a cantina.

E.: A cozinha.

L.: Ali funcionava uma cozinha. Uma cozinha não, funcionava um, ficava um...

não era cozinha não, ficava uma geladeira, pra lanche, a gente usava ali pra

lanche. Então, a chave ficava pendurada lá perto do armário. Então, a gente

pegava, a gente a noite ia pra biblioteca. A gente descia e ia estudar. A gente

pegava a chave e ficava na biblioteca fazendo trabalho de grupo. E os livros

ficavam lá à disposição da gente. A gente usava os livros depois trancava

bonitinho, sabe?

V.: Todas as alunas de todos os outros períodos também?

L.: Não lembro. Era só na biblioteca, só [gagueira] eu só lembro da gente.

V.: De vocês três?

L.: É, Noemi, Inês e eu. A gente pegava a chave e ia pra biblioteca.

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V.: Era apertado o ensino nessa época? Como é que você vê o ensino desse

período? Em termo de qualidade, de conteúdo... (...)

L.: Era, não era tão, sabe? Ele era bem estruturado, era bem estruturado, ele

não era, não era tão frouxo não, sabe? Porque eles davam trabalhos. A gente

tinha o próprio material que o Fatini. da, da Microbiologia era o Oto Bier que a

gente estudava. O, e, então a gente tinha que estudar muita coisa para as

provas.

E.: Vocês tinham aula manhã e tarde? Ou era só um horário?

L.: Aula, a gente tinha aula o primeiro ano tinha aula manhã e tarde. E logo

depois de dois meses, nós, geralmente de manhã era Fundamentos.

V.: Logo no início?

L.: Logo no início. Nós tivemos Saúde Pública no primeiro ano. Carmelita

[Pinto Rabelo] que deu Saúde Pública pra nós, sabe? No primeiro ano

tivemos Saúde Pública, por isso, foi a, foi a reforma [do ensino] foi nesse

sentido. E, aí, é, como é que era? A gente tinha o professor de Anatomia era

o Fatini, de Microbiologia era o Aluísio da Costa Val, então era o Oto Bier e, e

o livro texto era mesmo Oto Bier!

V.: Mesmo livro do pessoal da medicina?

L.: Mesmo livro do pessoal da medicina. O do, esse que não era o “Tafurão”,

o Celso, Celso Tafuro, não, Celso Tafuro é o irmão, é o “Tafurão” mesmo. Ele

não dava livro não porque, mas era interessante porque ele dava aula ditando

pra gente!

V.: Dava aula de que?

L.: De, de, de... [riso]

E.: [inaudível]

L.: Patologia.

V.: Patologia Clínica.

L.: É. Mas ele era ótimo.

E.: Mas como que era essa história de aula ditando?

L.: Ditando, que eu falo assim, ele falava devagar, [gagueira] acho que a

prática era todo mundo copiar as aulas dele. Então, ele dava assim... ele 22

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falava, então ele ia e falava: “Hoje é infecção tal.” Então ele falava tudo isso,

falava sobre patologia, porque que isso acontecia no interior das células e

falava, e falava, e falava, e falava. Depois dava a aula prática, aí ia pra, pra

[gagueira] pegava as lâminas levava pra junto dos microscópios. Eu lembro

gente, - ô que tristeza que eu tinha disso - , aí ele pegava uma lâmina

daquela, ele sentava no microscópio, ele ia lendo, ia lendo a célula e falava:

“Nessa célula tem isso, tem aquilo outro, tem aquilo outro, tem aquilo outro,

tem isso, tem aquilo outro.” Ele ia descrevendo pra gente a célula, depois

falava: “Olha pra você ver tudo isso.” E queria que a gente enxergasse o que

ele...

E.: ...enxergou?...

L.: ...com o olhar dele de patologista de não sei quantos anos, que a gente

enxergasse. E eu falava assim pra ele: “Mas eu não estou vendo nada. Eu

nem sei o quê que é a célula aqui. O quê que é a célula aqui? Cadê o

núcleo?” [risos] Entendeu? Mas ele tinha paciência de explicar pra gente,

sabe? [risos] Eu achava isso muito engraçado. Eu chamava: “Noemi eu não

estou enxergando nada não. Me ajuda aqui, porque eu não consigo enxergar.”

[risos] [gagueira] e não tinha jeito, né?

V.: Qual foi a disciplina mais marcante, Luzia?

L.: Mais marcante? Do curso inteiro?

V.: Sim.

L.: Ah! Eu gostava de todas, não era...

V.: E uma especial?

L.: Não. Agora o que eu gostava, quer dizer, eu não sei se foi marcante, mas

eu gostava muito de Obstetrícia, sabe? Num, num sei se...

E.: ...quem é que era a professora? Aparecida [Aparecida Ferreira Moura]?

L.: Aparecida. Aparecida, do Mário Dias. Porque sempre tinha a enfermagem,

a parte da enfermagem, mas tinha o médico. E era o Mário Dias é que dava.

V.: Como é que era essa relação dos alunos com os professores médicos?

Tinha alguma...

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L.: Muito interessante. Porque era assim, era as alunas bonitinhas, todas

sentadinhas e o professor lá na frente. Então, ele estava dando aula pra três

enfermeiras, três alunas de enfermagem, tá. Cada uma mais séria do que a

outra, não é? E ele bonitinho lá na frente, não brincava, dava aula toda

magistral bonitinho, sabe?

V.: Não...[inaudível].

E.: Como se estivesse num grande auditório?

L.: É.

E.: Com várias pessoas?

L.: É, é. Inclusive as salas, é, muitas vezes, sabe aquelas salas que tem lá na

medicina?

E.: Hum-hum.

L.: Aque... aquelas salas.

V.: Aquelas salas grandes?

L.: É. E nós três.

E.: De auditório mesmo?

L.: De auditório. E nós três sentadinhas lá. E a dona Carmen do lado. Ela

afastava mais um pouquinho. Acho que ela, ela justamente isso, ficava as três

e a dona Carmen, ou as cinco e a dona Carmen um pouquinho mais afastada,

pra ela, pra num, pra deixar bem claro que ela não fazia parte do grupo, ela

era...

L.: ...professora, né?

V.: Então, nenhum fato interessante com relação aos professores com as

alunas da sua turma ou de outras turmas?

L.: Que eu lembro, não. Assim de... né?

V.: Não tinha nenhum professor assim, que tinha, que era mais arrojado, que

tinha fama assim, de namorador, ou coisa assim?

L.: Com [gagueira] nós três, não.

V.: Períodos anteriores?

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L.: ...pode ser, pode ser que tenha com as outras [riso], né? Mas assim que

eu, que eu esteja lembrando, assim [tosse]. Demais. Nós éramos muito

sérias. Nossa Senhora, que coisa horrorosa!

E.: Você se lembra [risos]... Você se lembra Luzia que nesse ano que você

entrou de sessenta e dois foi a fundação do DA. [diretório acadêmico]? Ele já

existia antes ou foi realmente fundado nessa época? Você se lembra da

história?

L.: Foi o do Marina Rezende, né? Foi. Não é, do DA.?

E.: É, do DA.?

L.: Daqui, foi.

E.: Você lembra...

L.: ...sessenta e dois, quem que foi a primeira [gagueira] foi a Noemi, que foi a

primeira?

V.: Nós não temos esses dados corretos.

L.: Porque na verdade não foi, foi não, não foi em sessenta e dois que foi a

fundação do DA não. Existia, não existia o DA, existia o DA da medicina e, e a

gente tinha, era uma comissão, a gente era ligado ao DA da medicina.

E.: Hum-hum.

L.: Tá? E a gente tinha, tinha, a gente era representante. A Noemi chegou a

ser representante, eu cheguei a ser representante.

E.: No DA da medicina?

L.: Da medicina! Mas não foi sessenta e dois que o DA daqui foi criado não,

foi bem depois disso.

E.: Você não se lembra quando não?

L.: Não!

E.: Mais ou menos? Você ainda era aluna?

L.: Não.

E.: Foi depois?

L.: Foi depois.

E.: E você também não se lembra quem foi a primeira presidente?

L.: Não foi a Iracema Mamede, não gente?25

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V.: Ela chegou a ser, não sei quando. Você participou desse grupo do DA em

algum momento, enquanto aluna?

L.: Não. Eu come...

E.: ...ela participou no da medicina.

L.: Da medicina.

V.: Você?

L.: Com uma comissão, lá. Mas acontece assim, a gente era indicado mas

acontece que as comissões não reuniam...

[FINAL FITA 1, LADO A]

FITA 1, LADO BV.: Bom! Então, como é que é a história do DA?

L.: A greve por um terço, está no sessenta e dois. No primeiro ano. Agora que

eu lembrei, da greve por um terço, né?

V.: O quê que é isso?

L.: Foi a greve dos, a greve do diretório. Como é que fala?

V.: Do DA.?

L.: Do DA, do DA., não! Do, do diretório central dos estudantes, né?

V.: Do DCE!

L.: DCE! Né? De todos os estudantes universitários do Brasil, né? Então, é,

essa greve foi para... a luta era por um terço de representação nos órgãos,

nas representações da universidade. E foi uma greve de quanto tempo?

Durou quanto tempo? Foi um montão, gente! Foram muitos meses de greve.

Não sei se foram três meses de greve.

E.: Isso foi sessenta e dois, não?

L.: Do aluno! Sessenta e dois, sessenta e dois. De aluno realmente. E, e foi

até uma situação meio complicada porque nós não, a escola não... e, e o

interessante é que quem respeitava a greve, os professores respeitavam a

greve. Então, eles não davam aula, sabe. E ao mesmo tempo nós

precisávamos, a gente então, o que nós tínhamos que ter atividade. E a

Escola de Enfermagem ela trabalhava, ela atuava, ela mantinha, ela tinha 26

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aluno em todo o Hospital das Clínicas, tinha no banco de sangue, nas clínicas

cirúrgicas, na ortopedia. Então no período de greve, foi greve de aula, não foi

greve da parte prática. Então, todos os alunos eles trabalhavam no horário de

sete às treze horas, né? Em todos os setores. Agora como nós estávamos no

primeiro ano, nós ainda não tínhamos conhecimento suficiente pra poder fazer

essa parte prática. Porque nós tínhamos tido poucas aulas de Fundamentos,

então, nós, o quê que nós sabíamos fazer, já tinha dado o quê, a unidade do

paciente, é, banho de leito! Então, nós ficamos três meses na enfermaria,

cuidando da unidade do paciente. E o máximo que a gente fazia era banho de

leito.

V.: E vocês ficavam?

L.: Ficamos.

V.: Sem se rebelar?

L.: Não. Eu, Noemi, Inês, Norma e Íris fazíamos [estágio] na Cruz Vermelha,

na clínica do professor Luís Andrés, [inaudível]. Então, nós ficamos, então a

clínica brilhava, porque nós fazíamos desinfecção terminal todos os dias

[risos], sabe?

V.: Quem acompanhava vocês?

L.: Alzira [de Souza Melo]. [risos] Não, nós fazíamos [gagueira] não precisava

de ninguém acompanhar mais não.

V.: Ahn-ahn, claro. [riso]

L.: Era monitora.

E.: PhD, naquilo?

L.: PhD! [risos] Então, nós fazíamos, e fazíamos desinfecção terminal gente,

olha? “Quem está de alta hoje! Epa! Então, vamos limpar, limpar a unidade do

paciente.” E a gente limpando.

V.: E vocês faziam com gosto?

L.: Deixava brilhando! Tudo! E... a clínica, né, sabe? E, e aí teve outro

detalhe, rouparia: nós fizemos compressa, quantidade de compressa. Porque

nessa época era tudo feito na própria clínica ... não comprava compressa

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pronta. Remendávamos algumas luvas de borracha, aprendemos a mexer

com luva. É, fazer compressa, dobrar gaze, tudo isso.

V.: E não tinha discussões entre os alunos pelo motivo da greve, um

acompanhamento?

L.: Muito pouco, muito pouco. Na medicina tinha, mas eles envolviam muito

pouco a enfermagem. Era muito, muito separado, sabe?

V.: E, e o término, como é que foi?

L.: Não lembro. Coisa engraçada, né?

V.: Se teve reposição?

L.: Não! O término como é que foi? Não teve reposição, ah, claro o término,

não teve reposição eu fui, não teve reposição, não teve tempo suficiente pra

poder... e nós tínhamos que cumprir um programa de Fundamentos. Então,

eu lembro que eu fui dar a minha primeira injeção, minha segunda injeção

intramuscular numa prova, porque a Alzira tinha que dar a prova. Então, era a

segunda injeção que eu fazia na minha vida! E por azar meu, e era tudo

sorteado, o mais triste é que era sorteado.

V.: Era tudo sorteado?

L.: Bom, sorteava os pacientes, sorteava eu o meu sor... [gagueira] eu estava

cuidando de um paciente, seu Manoel. Gente, eu não esqueço do seu

Manoel. Depois de muito tempo, mais de um mês internado na clínica, que

foram fazer o diagnóstico dele, ele estava com tuberculose. Ele entrou parece

que ele tinha uma gastrite, ou ele era pra ser operado do estômago. Eu sei

que aí descobriram que ele tinha tuberculose, então o tratamento dele, e eu

fui fazer, aí eu fui fazer a injeção dele era estreptomicina. Você já deu

estreptomicina alguma vez? Gente do céu! Vocês imaginam, eu nunca na

minha vida tinha dado estreptomicina [riso].

V.: Entupia!

L.: Não, você diluía aquilo [risos].

V.: Ficava meia hora pra.... sacolejando assim [risos].

L.: Meia hora sacolejando. E eu tinha que demonstrar técnica bonitinha de

frasco. E era frasco, né?28

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V.: Frasco, era.

L.: E bonitinho. Não! E o pior que eu fiquei, porque você não podia agitar

muito, né, pra não...

E.: [inaudível]...

L.: ...e a estreptomicina, [risos] né? Nessa posição você não consegue fazer.

V.: Não!

L.: E depois que eu consegui diluir a estreptomicina, que eu cheguei perto do

seu Manoel, o seu Manoel tinha tido um ataque de tosse, Valda! E tinha

escarrado todo no chão. Eu lembro que eu cheguei e pisei em cima do

catarro; sabe quando você pisa em cima do catarro escorregando, sabe?

V.: Só faltou cair.

L.: Só faltou... não, escuta! Cair, não caí não. Aí, seu Manoel, eu falei: “Seu

Manoel, eu trouxe aqui uma injeçãozinha pro senhor. O senhor quer tomar?

[risos] Eu não esqueço disso. [risos] Eu perguntei se ele queria tomar injeção.

[risos] Aí ele olhou pra mim assim, e eu já fui com a injeção, o braço dele era

dessa finurinha [gesto]. Na hora que eu bati a injeção, a coisa, porque tinha

que dar mais profunda. A hora que eu bati, bateu no osso, a agulha. Aí, Valda,

que horror quando aquilo bateu no osso. Uma sensação horrível.

V.: Aquele barulho.

L.: Sabe? Aí apliquei a injeção no seu, no seu Manoel. Aí a Alzira me chama,

aí foi pra avaliar comigo a injeção, todos os pontos negativos. Falei: “Ah!

Também é bomba, porque do jeito que a Alzira falou comigo, não resta dúvida

que eu tomei bomba, né?” Porque primeiro não podia jamais perguntar se ele

queria tomar injeção [risos]. Depois, não sei mais o quê [gagueira]. Aí depois

eu [falei:] “Olha primeiro tem que ver o seguinte, eu nunca fiz isso na minha

vida, nunca dei injeção antes. Então, então, como é que você avalia como que

você pede pra, né, você está avaliando uma coisa que não houve prática

daquilo, né?” E foi decorrente da greve, que não teve tempo, quer dizer, não

teve tempo mas também não tiveram cabeça pra reestruturar tudo isso, né?

Tinha os calendários a serem cumpridos...

E.: ...e tinha que cumprir?29

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L.: Tinha que cumprir, não é?

V.: Já que você está falando dessa parte de prática, fala mais um pouco como

é que era o, a partir daí, como é que foi a parte prática? Onde vocês fizeram

estágio?(...)

L.: Bom. O nosso primeiro ano foi terrível, por causa da greve. Então, nós

simplesmente, nós saímos do primeiro ano sem prática quase nenhuma, que

deveria ter acontecido enquanto primeiro ano. Depois nós fomos pro segundo

ano; aí nós fomos fazer estágio de Enfermagem Médica, que era do, com a

dona Rosa [de Lima Moreira]. Aí a gente fazia estágio na, a parte prática era

de, aquele mesmo esquema, a gente passava pelos estágios, de sete às

doze. De sete da manhã às doze. Então era aquele esquema, de segunda a

sexta-feira, não é, e tinha escala, geralmente a gente ficava, um mês, era um

mês, um mês de Enfermagem Médica, um mês de Enfermagem Cirúrgica, um

mês... eu não lembro como que era muito não... e ficava sempre as três. E, na

verdade, em alguns estágios, a gente tinha a sorte da enfermeira de campo

acompanhar a gente, quando a professora era muito... não tinha uma

atuação. Então, muito direta, né? Então, a enfermeira de campo

acompanhava a gente. E, e ajudava muito, sabe, porque ela, todas as

dificuldades que a gente tinha a gente ia atrás da enfermeira de campo, e

também os próprios colegas do terceiro ano, porque eles tinham alunos do

segundo e tinha aluno do terceiro. Então, o próprio aluno do terceiro ano

ajudava a gente, na parte prática.

V.: Dentro da proposta mesmo, como aluna sênior ou... como colega mesmo?

L.: ...não, não, colegas. Tinha nada de proposta. Tá? Ele estava lá,

geralmente, é, muitas vezes ele ficava com tarefas... era de acordo com a...

com aquilo que ele já tinha visto na escola, né? Então, elas, se elas

distribuíam a escala, a gente, se, diante daquilo, diante de Fundamentos, que

a gente já teve Fundamentos, então dava as atividades pra gente fazer, né, e,

(...) ficava na enfermaria X, cuidando; elas não davam era paciente pra gente,

tantos pacientes. Mas às vezes, em determinados pacientes, falavam: “Oh,

tem esta e esta atividade, que eles vão deixar para fulano fazer, que era aluno 30

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do terceiro ano, ou qualquer dúvida que vocês tenham recorrem ao aluno

fulano de tal que é aluno do terceiro ano”.

V.: Algumas pessoas dessa época Luzia, seja de enfermeira, ou de

professor? Você falou assim da dona Rosa, como é que era a relação com a

dona Rosa?

L.: Muito boa, sabe? Dona Rosa era uma mãe pra gente, muito boa. E, ela

tinha uma relação muito boa com os médicos da, da Clínica Médica, e

qualquer caso interessante (riso?) que tinha no hospital, entendeu?

V.: Hum-hum.

L.: Então, às vezes, o diagnóstico do paciente internado, tinha o diagnóstico, o

endereço, qualquer coisa assim, e que os médicos estavam dando aula pros

meninos da medicina, dona Rosa conversava com eles, pedia, eles iam com a

maior atenção, explicava pra gente, sabe? E ela colocava sempre junto.

Então, ela estava sempre participando. Ela era muito, era muito articuladora,

sabe? Buscando assim, é, experiências pra gente, sabe? Conversava com

um, conversava com outro.

V.: Você falou que o local onde a professora não tinha muita atuação, vocês

ficavam por conta da enfermeira da clínica. Que professores eram esses que

não acompanhavam vocês no estágio, você se lembra?

L.: Que não acompanhavam?

V.: É. Que não tinha esta atuação direta e que vocês então ficavam é, com o

enfermeiro do campo?

L.: Não, ele estava lá.

V.: Hum.

L.: Ele estava com a gente, mas a gente ficava mais às vezes com a

enfermeira, sabe? Tinha muitos.

V.: Pois é, vocês ficavam mais com o enfermeiro porque ele não tinha esta

atuação...

L.: Você quer, você quer que eu fale os nomes?

V.: Sim, ou não sei.

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E.: Não, não é necessário isso não. Exemplo, que tipo de atuação era essa

que não, que enfermeiro dava mais assistência, tinha mais conhecimento da

coisa, era assim, não?

L.: Não era conhecimento, não. Depende muito do tipo de pessoa que era,

entendeu?

V.: Ah, sei.

L.: Se a professora era muito estrela...

V.: Ah, sim.

L.: Sabe? Se a professora era muito estrela... tinha muita professora estrela...

tinha pelo menos uma que era muito estrela. Então, ela ficava muito assim,

conversando com os médicos... com os catedráticos.

V.: Ah, sim...

E.: E não dava atenção a vocês...

L.: É.

V.: E aí quem dava assistência era...

L.: [inaudível] quer dizer, nós também achávamos até bom, porque a gente

também num...

V.: ...ficava mais livre...

L.: A gente não acreditava também muito nela não, que a gente [risos] achava

que a gente podia aprender mais, entendeu?

V.: Ahn-ahn.

L.: Quando eu falo assim, você sabe quem que é. [risos]

V.: É, mais onde vocês fizeram estágio? Falou da Cruz Vermelha, do Hospital

de Clínicas...

L.: ...do Hospital de Clínicas... do Hospital de Clínicas nós fizemos estágio, né,

Pediatria que era no São Vicente, ah, uma coisa que aconteceu, que, com,

com a [Lei] 775 [as alunas] tinham todas as especialidades. Passavam

estágio em Otorrino, Ortopedia...

E.: ...Dermatologia...

L.: ...Dermatologia, Oftalmologia, e nós não. Então... as especialidades.

E.: ...ficou mais geral...32

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L.: ...ficou mais geral. Mas, acontece o seguinte, que nós tínhamos otorrino,

mas a gente não passava lá o estágio, a gente passava para ver algumas

atividades no otorrino. Na oftalmologia era a mesma coisa, né. Então a gente

tinha oftalmologia, mas a gente passava mais para, o próprio professor levava

a gente para poder ver, ele operando, ia, a gente assistia a cirurgia de

oftalmologia, mais de observação, né.

V.: E, de dermatologia é que eu não...

L.: Ah, sim, dermatologia, quem deu foi o... nosso professor foi o Josefino

Aleixo. Então, ele era louco por pênfigo foliáceo, então a gente ia para a

Santa Casa, de tarde, ele levava a gente para a Santa Casa para poder ver a

enfermaria de pênfigo, para dar aula. Ele dava aula de pênfigo pra gente, na

enfermaria. E tudo que ele dava de coisa ele levava para o Santa Casa, pra

dar aula prática, sabe? Então, assim, a gente não tinha enfermagem, estágio,

cuidando de paciente nessas situações. Mas, na verdade, por causa da

disciplina, a gente tinha aulas práticas...

V.: Como é que era o uniforme nessa época?

L.: Ah, o uniforme. Bom, então o seguinte: quando nós chegamos na escola,

aí que vem a história todinha: quando nós chegamos na escola, o uniforme

era um vestido branco de fustão, muito bonitinho, um sapato branco e uma

meia branca, naquela, uma meia de helanca, vocês devem, vocês são da

época da helanca? [risos]

V.: Somos [risos]

L.: Uma meia de helanca. E, uma meia de helanca [risos], e tinha um avental,

o avental era de cretone. E tinha de ser de cretone...porque se fosse outro

tecido não dava para fazer o avental, porque ele era godê duplo, ele não tinha

nenhuma emenda. Então o cretone tinha de dois [metros] e vinte de largura...

E.: Duas larguras.

L.: ...então, ele era cortado assim, ó! [desenha a roda do avental] Ele era

aberto assim, ele era aberto assim, ó...

E.: ...dobra...

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L.: ...ó, aqui ó, isso aqui era o avental. Está vendo? Isso aqui era a roda dele,

ó. Então vocês...

V.: ...ficava abertinho, não uma lua...[riso]

L.: ...vocês imaginam, então aqui tinha o cós que abotoava aqui, ele tinha uma

prega, ele dava uma prega aqui assim, e vinha aqui assim, parava aqui e

abotoava aqui atrás. Trespassava e abotoava aqui. Então ele, essa coisa aqui

trespassava aqui. Então vocês imaginam, um vestido, um, um vestido, godê

duplo, engomado, dona Zulmira [Chaves Campos], Tita, [Maria Natividade]

elas é que passavam. Era lavado aqui na escola e passava aqui, então ela

engomava. Então a hora que você vestia, e era aqui ó, o cumprimento

também era aqui, na canela...

V.: ...quem que media, essa...

L.: ...não, eu não sou da época que media não [risos]. Nós éramos, nós não, o

método era esse, a gente não questionava muito não.

E.: ...no meio da canela...

L.: ...no meio da canela, né? Então você ficava dando tiro, e aquilo cê

esbarrava, dependendo dos lugares, sala de cirurgia era uma tragédia, porque

você, se você não abrisse o olho você contaminava as coisas porque você

esbarrava em tudo [risos]...

E.: ...engomada e rodada...

L.: ...engomada e rodada, aí...

E.: E como que vocês vestiam, por exemplo, roupa em centro cirúrgico com

aquele avental, ou tirava o avental?

L.: Não, aí tirava o avental. Aí a gente, aí era o capote, era sem o avental.

E.: Ah!

L.: A gente em centro cirúrgico não usava aquele avental. Era só na

enfermaria. E nós, e o avental, ele ficava...

E.: ...aquilo saía varrendo tudo, saía não?

L.: ...ele ficava lá no hospital. A gente tinha um armário na enfermaria que a

gente deixava o avental lá.

E.: E não saía varrendo tudo, não?34

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L.: Saía. [risos] Agora o melhor do avental, aí escuta, não, o pior, o melhor de

tudo é a meia, [risos] que a, a turma, o terceiro ano e o segundo ano usava

uma meia branca, de helanca, branquinha, e aqui, aqui embaixo, que eu te

falei que era o campo de futebol, era uma terra vermelha. Então, a hora que

elas chegavam, calçavam uma meia branca, a hora que chegavam lá, no, no

hospital, aqui estava vermelhinho já. O sapato ia jogando a terra [risos], sabe

Valda, ficava vermelhinho aqui, atrás, no calcanhar. Gente, era terrível aquilo.

Aí, tinha uma rede, uma rede e uma touca. Touca também vocês lembram da

touca, né? Que tinha, tinha dois... [vozes ao fundo] a touca também tinha o

modelo da touca, a touca era assim, ó, [desenha o modelo da touca] era

assim, assim, assim; aqui ela tinha uma fenda, ó, então você lavava a touca,

passava...

E.: ...tinha algum símbolo, não...

L.: ...não, não, a touca era assim, aqui tinha uma fenda...

E.: ...toda branquinha...

L.: ...toda branquinha. O negócio era dobrar, então a primeira que você tinha

que fazer era aprender dobrar essa touca, que aí você trazia essa ponta aqui

e encostava ela aqui, e essa encostava de cá, aí você dava uma dobrada

para cá, para cima, aqui e aqui você dava uma, aqui você fazia uma dobra

assim, ó. Entendeu? Então aqui ficava para cima, e aqui você juntava essas

pontas aqui. Então na verdade, tinha a fenda aqui, que juntava aqui as pontas

aqui assim, ó, ó, e aqui você dobrava ela pra cima, aqui, ó. Aqui você prendia

um alfinete grandão...

E.: ...era quase parecendo aquele chapéu de irmã de caridade.

L.: ...era melhor que de mim [risos] [inaudível] .E tinha um alfinete, detalhe do

alfinete é que era com uma pérola, tá?

V.: Ah...

L.: E aqui em cima da touca não tinha nada não. Não tinha símbolo nenhum,

não.

V.: A, o alfinete na touca...

V.: ...tinha o friso... pra prender...35

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L.: ...você tinha que botar uma coisa , você tinha que prender. Você comprava

aquele alfinete, que era uma pérola, né? E, a gente tinha o, como é que

chamava o...

V.: ...distintivo...

L.: ...o bóton, o distintivo, distintivo, que no primeiro ano tinha a festa do

distintivo. Mais no final do ano você ganhava o, tinha a festa que você

ganhava o distintivo e você punha ele na, na gola.

E.: Era uma festa só do distintivo ou era das insígnias todas, inclusive da

touca?

L.: Não, não.

E.: ...era só do distintivo...

L.: ...é. E, e, assim mesmo isso era das outras meninas. O nosso já não tinha.

O nosso já não teve muito isso, não. Só foi lá pela entrega do distintivo e

pronto, estava acabado, não teve muita coisa, não.

V.: Braceira... ...não tinha?

L.: Não, não. Porque aí, o que aconteceu, vocês esqueceram que nós éramos

do nível superior?

V.: Ahn-ahn. [risos]

L.: Tá? Aí, aconteceu o seguinte: como nós éramos cinco, três, é, nós éramos

cinco, então, aconteceu o seguinte, que nós começamos a discutir. Quando

foi, nós íamos... a gente só usou o uniforme depois de três meses, né, depois

que recebe o negócio lá, que começa a fazer prática, que ia pro hospital pra

gente... preparar a unidade de internação, unidade de internação. Então,

nesse momento, nós sentamos, foi na verdade foi uma pessoa que liberou,

isso foi a Inês. Nós sentamos e falei assim: “Olha, essa meia branca eu não

vou usar não” ah, “e eu também não vou não”. “Então como é que nós vamos

fazer. Nós vamos ter que dar um jeito”. Falei: “Olha, é um absurdo, porque

você já viu as pernas das meninas? Fica tudo chamuscada de terra vermelha.

Não tem sentido a gente ficar daquele jeito, né”. Aí, fomos discutir. E tinha um

detalhe. Este detalhe é muito importante. Nós tínhamos as aulas teóricas,

tinha (...) as aulas teóricas eram à tarde, com os médicos do primeiro ano lá e 36

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depois tinha também no primeiro ano, à tarde a gente tinha aula com a

Carmelita [Pinto Rabelo}, com a Alzira, e tinha Ética, que era com a diretora,

né, e, isso é que é muito importante. As aulas de ética, na verdade era Ética e

História da Enfermagem, esqueci da História da Enfermagem. Ela dava,

História da Enfermagem ela dava o livrinho da Waleska Paixão. Então nós

estudávamos pelo livrinho. Ela tinha um colecionador, e nós, aí nós

descobrimos, ela tinha um colecionador e que ela, ela punha o livrinho da

Waleska dentro do colecionador... entendeu? Ela colocava assim e é com, a

gente ficava sentadinha ali perto e não via que ele estava lá não. E, ela olhava

aquilo e falava, olhava e falava. Aí nós pensamos: “Mas tem um trem

esquisito”. Aí nós pegamos o livrinho da Waleska, aí nós fomos ver. Falamos:

“Ah, então ela segue o livrinho da Waleska, aquele livrinho, então nós temos

que estudar por esse livrinho...”

E.: ...estava dentro do colecionador...

L.: ...estava dentro do colecionador.

E.: E ela não, não indicou o livro para vocês estudar...

L.: ...não, não indicou o livro não. E a gente feito doida copiando, quer dizer, a

gente não porque quem copiava era a Noemi, eu nunca copiei nada, então...

[risos] Noemi é que copiava e na hora de estudar Noemi tinha tudo, então, a

gente estudava com a Noemi. Então, aí nós descobrimos que ela tinha...

depois, aí, mais no final ela falou que ia pedir um livro pra nós, que nós

queríamos comprar, que era o da Waleska. Aí ela pediu o livro. Inclusive deve

ter sido logo quando ele saiu, porque ele não era nem, era uma brochura,

entendeu, ele era de colecionador sabe? Ele era de colecionador mesmo. Aí

nós começamos a estudar pelo livro da Waleska. Mas o importante das aulas

de ética dela era o seguinte: era Ética e História da Enfermagem, é que, nas

aulas de ética era assim: ela abria espaço pra falar do terceiro ano e do

segundo ano pra nós, né. Pra falar assim, tudo aquilo que era desagradável a

ela e à instituição, então ao invés dela falar pros meninos ela falava pra nós,

ela falava para dar lição de moral, sabe, então nós percebemos isso logo

também e falamos com ela: tem um negócio meio esquisito, o quê que as 37

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meninas fizeram de errado? Não falou nada nós escutávamos também, não

comentávamos, num, sabe, não, não tomávamos muito conhecimento da

aulas dela não.

E.: Pois é, e nisso aí ela não contava as histórias das expulsões que...

L.: ...não...

.E: ...que, que houve nesse período...

L.: ...não...

V.: ...dos mal feitos das outras turmas, quer dizer, das transgressões das

outras turmas...

L.: ...não, não, sabe?

V.: Que isso aí não era para servir de lição não.

L.: Lógico. Ela não colocava e também não devia ter muito porque (...) a

nossa turma era muito forte. Eram cinco somente, mas cinco muito fortes,

então, sabe, é muito difícil isso. Tinha Inês que era um , né, uma pessoa

muito experiente, então era, sabe...

V.: ...quê que ela...

L.: ...era difícil ela manipular a gente. Tanto que ela não conseguiu. Ela tentou

a vida inteira e não conseguiu manipular a gente.

V.: Ela quem? Quem era a diretora na época?

L.: A diretora irmã Emília [Clarízia], sabe. Então, aí nós tínhamos brigas

homéricas, nós tivemos brigas homéricas com ela. Então uma da, a primeira

briga foi essa da meia. Então, é, e tinha que ser tratada na aula de, com a

irmã Emília, e o único momento que a gente, que tinha jeito de encontrar com

ela era na sala de aula porque nós não tínhamos acesso, porque ela não

recebia a gente de grupo. Se eu quisesse conversar com ela, ela me recebia.

V.: Sozinha.

L.: Sozinha.

E.: Em grupo, jamais?

L.: (...) Entendeu. Era estudante de psicologia, estava fazendo uma das

primeiras turmas de psicologia da católica. Então ela não, ela não iria ,era no

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gabinete dela, fechado, quer dizer, na, na hora era ela, Deus e eu. Depois era

só ela e a, né...

V.:.Anh-ahn

L.: ...era só eu e Deus. Então ela não fazia... Aí eu sei que [tosse] nós

discutimos e falamos, discutindo que não tinha cabimento a gente usar

aquela meia. Se todo mundo usava era meia fina, e porque que a gente ia

usar aquele tipo de meia. Inclusive a meia fina, se eu usava meia, a outra

meia tinha dificuldade de secar, nem sempre secava e a meia fina num

instantinho você enxugava, secava até com a toalha. E era muito mais, tinha

uma aparência muito mais interessante, não é? Aí ela falava que ia levar ao

conhecimento do corpo docente, para ver se aprovava, não sei mais o que;

falamos que nós não íamos usar. E, também a touca. Nós falamos que não

íamos usar a touca, que não tinha sentido a toca. Aí nós tivemos que provar

pra elas o que a touca ocasionava: “Olha, nós observamos entre alunas do

terceiro ano tem gente que nunca lavou está touca. Aquilo é uma fonte de

contaminação. Você está num hospital...”

E.: ...vocês foram... pelo, pelo científico? [riso]

L.: Pelo científico, tá. Liderada pela Inês. Porque a Inês ela tinha, ela já, ela

tinha feito visitadora sanitária. Então ela, ela tinha uma noção, porque nós não

tínhamos noção, não entramos no primeiro ano, nem tinha, né. A Inês falou:

“Olha, aquilo é uma fonte de contaminação.” E a gente já também, já tinha

[gagueira]...

E.: ...já tinha conteúdo teórico?

L.: Já tinha conteúdo teórico pra isso. Então, falou: “Ô, não tinha sentido, tinha

estudado no [livro do] Oto Bier. Então não tinha sentido você usar uma, uma

toca daquela.” E nós, nós passamos a acompanhar quem lavava a touca.

Nós, mesmo do primeiro ano lavamos toca de várias meninas do terceiro, Inês

e eu. Falava: “Fulana, sua touca está horrível. Vou lavar a touca pra você.” A

gente lavava a touca, engomava. Então eu fiquei expert em arrumar touca.

Porque era uma vergonha a touca do pessoal. Mas a gente, a gente queria

argumentar que era e que nós não íamos usar aquela toca, né. E que não 39

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tinha sentido a gente, a meia nós não usamos, nós usamos no prime...

usamos meia fina no primeiro ano. A touca nós conseguimos tirar no segundo.

Nós usamos um, um período de touca.

V.: E o uniforme teve que manter

L.: ...o uniforme sempre. Aí quando foi no segundo ano, nós tiramos a toca,

falamos que a toca também estava abolida. Aí falaram que não era possível,

que não sei mais o que. Então, aí nós aceitamos até a rede pra segurar o

cabelo, pra proteger o cabelo. Mas a touca que não tinha cabimento andar

com aquela touca. Ninguém era babá, ninguém era... e não ia usar aquela

touca mesmo. Aí aceitaram e tiramos a touca também, né. Então que mais

que teve?

V.: Do uniforme mais algum, tinha outro tipo de uniforme além desse...?

L.: Tinha o uniforme de Saúde Pública que era saia azul marinho e blusa

branca e uniforme... só. Uniforme pra assistir aula que era uma bata branca.

Uniforme de Saúde Pública e esse uniforme branco.

V.: Tinha o de gala, não?

L.: Não, eu não fui dessa turma. Essa turma, [gagueira] olha o nível superior

não acompanhou mais procissão. [risos]

V.: Não!

L.: Não acompanhou mais procissão, o nível superior não usou toca!

V.: Não desfilou!

L.: Não desfilou.

E.: Não usou luva!

L.: Não usou luva. [risos] Entendeu? Eu, isso eu só sei das histórias, né,

[risos] de Corpus Christi.

V.: Anh, qual história de Corpus Christi que você sabe?

L.: Não, aquelas mesmas que você sabe! [gagueira] que eles iam pra

procissão de, na [Igreja da] Boa Viagem né, de, com o uniforme de gala, com

a, com a capa, não é? Eu vim a conhecer aquela coisa na [Escola de

Enfermagem] Anna Nery depois enquanto professora da escola, já. Que teve

40

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um velório na Anna Nery que teve guarda lá de,... fizeram uma escala de

enfermeiras lá pra, no velório com uniforme de gala.

V.: Mas veja, enquanto você era aluna do, assim do primeiro ano você não

chegou a ver as alunas dos outros períodos usando esse uniforme, do

segundo e do terceiro, nestas festividades

L.: Não teve mais não.

V.: Desde que vocês entraram... outras alunas [também] acabaram... .também

não...

L.: ...não teve mais não...

V.: ...não usaram? Hum-hum.

L.: Sabe? Não teve não. Era bem antes isso. Sabe que foi interessante a

mudança que teve, né, em relação ao curso superior. Sabe?

V.: Que outras mudanças você observou além dessas que você já colocou?

(...)

L.: Teve a mudança também, parece que o fato de ter vindo pra cá, [para o

prédio perto da escola de medicina] a gente freqüentava o DA. Então, antes

parece que a comida, eu não sei onde que o pessoal comia, antigamente.

Antes, primeiro e segundo ano. Quando mudou pra cá, então a gente usava o

DA. Então o ambiente de refeição passou a ser o mesmo da medicina, né.

E.: Tinha uma história do DAMAR [Diretório Acadêmico Marina Andrade

Rezende], contabilizar e pagar as refeições; você se lembra disso e pra quê

que era isso, como é que era feito isso?

L.: Não. Isso deve ser bem depois que eu formei, né. Porque... na época...

E.: Você formou quando?

L.: Eu formei em sessenta e quatro. Era anexada ainda.

E.: É, aqui está contando como sendo em sessenta e quatro.

L.: Não!

V.: Talvez essas refeições que vocês faziam lá tivesse uma contabilidade que

vocês ainda não sabiam como que era feito, né?

L.: Não era o DAMAR, [gagueira] isso deve, devia ser... na verdade eu

acredito, eu não sei, isso aí eu nunca, nunca tive acesso a isso aí, nunca tive 41

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informação. Mas eu acredito o seguinte, como o curso de enfermagem era um

curso em que era um curso da medicina, a medicina devia receber verba pra

poder sustentar cada aluno. Então, isso era tudo era pago também pela

medicina, né? Porque a escola era anexada à medicina.

V.: Ô, ô, Luzia, no seu tempo...

L.: ...cada aluno tinha um custo, então aí que...

V.: Pode ser que seja isso mesmo?

L.: É. Mas não era o DAMAR não, porque não tinha o DAMAR ainda nessa

época.

V.: É!

L.: E verba não vinha, quer dizer, na verdade a medicina devia pagar o, o

diretório acadêmico da medicina.

V.: Da própria medicina.

E.: Só voltando ainda nessa história do DAMAR eu tenho uma informação

aqui que a Delba, você se lembra da Delba?

L.: Lembro. Ela foi minha aluna.

E.: Foi candidata a vice-presidência do DA. Significa que foi vice-presidente

do DA da medicina? E perdeu.

L.: Não! Foi não! Foi daqui da escola.

E.: Pois é, isso consta como sessenta e três.

L.: Não, está errado.

E.: Está errado?

L.: Totalmente errado. Ah! A Delba, do terceiro ano!

E.: Em sessenta e três ela foi candidata a vice-presidente e perdeu....

L.: ...foi...Perdeu.

E.: Então o DA. já tinha sido criando.

L.: De lá, do DA. da medicina.

E.: Ela foi candidata no DA da medicina.

L.: De lá, da medicina. A Delba, eu pensei era outra Delba. Não a Delba

moreninha que namorava... ela foi candidata porque ela namorava um

estudante de medicina na época.42

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E.: Ah, sim.

L.: Tinha uma vinculação.

V.: Mais o que da Delba que você sabe? Que você se lembra?

L.: Dessa Delba moreninha?

V.: Delba Nepomuceno. É.(...)

L.: Ô, eu não lembro mais nada não.

E.: Você não ficou sabendo de uma suspensão dela não?

L.: Ah, se lembro! Fiquei.

E.: Você se lembra porque? da história?...

L.: Não lembro...porque não. O quê que foi a história? Foi de namorado não

foi não? Eu não lembro mais não.

V.: Não teve grande repercussão na sua turma, grande discussão da sua

turma, né?

L.: Não! Eu não falei pra você , a gente era protegida.

E.: Desse tipo de informação?

L.: Era.

V.: Protegida no sentido de... escondidas.

L.: ...claro! Protegida pra poder...E, e, e eu desconfio que nós, eu, nós ficamos

sabendo não foi pelas, pelas informações oficiais da escola não, foi por

terceiro. Foi a Inês é que descobriu a história da Delba e passou pra nós, sim

a informação.

E.: Como é que é, e, significava então que, por exemplo, vocês viviam no

internato mas viviam separadas das outras...

L.: ...não, não, não.

E.: ...como é que funcionava o internato?

L.: Porque na verdade, no internato, quando nós entramos no segundo, no

primeiro ano tinha, estava o terceiro ano, mas o terceiro ano...(...)

E.: ...ficava o segundo e o terceiro...[sobreposição de vozes]

L.: ... Não, nós entramos em sessenta e dois...

V.: Hum.

L.: ...em março de sessenta e dois. Aí estava saindo...43

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[FINAL FITA 1, LADO B]

FITA 2, LADO AV.: Bom, retomando a história da Delba.

L.: A Delba, a Delba, ela teve uma suspensão foi por ca... por uma, uma, uma

desobediência, porque de... deixa eu voltar. A questão da desobediência era o

seguinte: o internato você tinha o direito, durante a semana você podia

chegar, acho que até nove horas da noite. A portaria ficava fechada, a portaria

fechava às nove horas. E, e durante a semana ... e no sábado e domingo

você podia parece que dormir fora dois domingos ou dois sábados no mês,

tinha uma história assim, não to... não estou lembrada muito bem. E... como é

que é a história? É agora na verdade a portaria fechava às nove horas, tinha,

quem morava no internato era dona Itália [Clarízia] - que era irmã da diretora -

e dona Itália tomava conta da portaria. Acontece que, muitas vezes, a dona

Itália ia dormir e quem ficava tomando conta da portaria ou era Noemi ou era

Inês ou era eu. Tomando conta, não, a gente ficava na biblioteca estudando

até tarde, então ela passava a chave pra gente. Ela falava assim pra gente...

Lá embaixo tinha um livro e no livro sabia quem estava de fora, então quando

a gente ia fechar a portaria nós olhávamos no livro.

E.: Que pena que este livro ahn... sumiu, né?

L.: A gente tinha que assinar a saída e a chegada. Então, a hora que a gente

voltava, hora que a gente ia fechar a por... fechar a porta a gente dava uma

olhada no livro, quem, quem não chegou ainda a gente checava, então falava:

“Então, tem três pessoas que está na rua ainda.” Então tudo bem. Então a

gente ficava na biblioteca estudando, elas tocavam a campainha a gente

descia e abria. Agora se... era problema delas se elas quisessem colocar que

chegaram às nove horas tudo bem, se elas quisessem colocar que chegou

nove e trinta ou dez horas, nós não tomávamos conhecimento.

V.: Dona Itália já era mais idosa nessa época? Ou é, ou ia dormir cedo

mesmo?44

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L.: Ela ia dormir cedo, dormir cedo assim nove, oito e meia, ela ia pro quarto

dela pra rezar.

V.: As freiras não dormiam aqui, Luzia?

L.: Não, não, não, não. Era só a diretora, que era a irmã Emília, a dona Itália

que é hoje onde é a sala... aquela... quarto que tem aquele banheiro lá, sala

de professor que tem aquela banheira?

V.: Em frente do elevador?

L.: Não.

V.: Ah!

L.: Ali, do elevador, era a irmã Emília. Agora onde é a sala da Mônica

Canhestro[sala 316]?1

V.: Sim.

L.: Ali no DEB [Departamento de Enfermagem Básica].

V.: Sei.

E.: Não. Ali não tem banheiro, não, tem... [gagueira]...

L.: Tem.

V.: Por dentro.

L.: Aquela de dentro.

E.: Ah, tá, esqueci!

V.: É a de dentro, onde era a [gagueira] chefia de... não, sala do... de

secretaria do in... do departamento que tem banheiro.

L.: Não a outra que tem banheiro. Aqui está a sala da secretaria que tem um

banheiro de cá que tem uma janela [mostra desenhando], aqui tem a sala da

[professora] Mônica...

E.: [inaudível].

V.: ...que tem uma banheira.

L.: Que tem uma banheira aqui.

V.: As duas têm.

1 Esta área era, até final dos anos 1990, composta de duas salas contínuas;a segunda tinha instalação sanitária e banheira.No tempo das freira, a primeira era uma sala de visita e segunda era a clausula. Posteriormente foi secretaria e chefia do DEB e sala de professores.

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L.: Uma banheira.

V.: As duas têm banheira, nas duas têm banheira.

L.: Ah tem, tem banheira...

E.: ...as duas têm banheira...

L.: ...tem razão. Mas ali, a dona Itália [Itália Clarízia], aqui, aqui que era o

quarto da dona Itália, no segundo, né, que ali a gente chamava...

V.: ...já era terceiro ano...

L.: ...hoje.

V.: Que é terceiro ano lá hoje...

L.: ...é, é. E, e, e o internato era aqui [toques mostrando o desenho]...

V.: ...no quarto andar...

L.: ...então, quer dizer, num, a gente abria a porta caladinha e, o, o, o, até

pouco tempo eu estava lembrando dessa estória. E muitas vezes a gente

tinha preguiça de descer, então a gente ficava estudando até mais tarde na

biblioteca, então, quando tocava a campainha, elas tocavam a campainha, o

quê que a gente fazia: a gente...

E.: ...jogava a chave...

L.: ...descia, a gente não descia, do terceiro andar, onde é o CTE hoje 2[Centro de Tecnologia Educacional] que era o refeitório da gente, nós

tínhamos uma latinha [risos] nós, botava a chave dentro da latinha, tinha uma

cordinha na latinha, então a gente descia a latinha lá embaixo, elas pegavam

a chave e pronto, e entravam.

V.: Hum-hum.

L.: E aí elas traziam, subiam e botavam a chave, tinha o lugar certo de

guardar a chave também. Era uma mesinha que tinha, ficava debaixo, já tinha

o lugar de guardar esta chave, não estou bem lembrada hoje onde que é.

Então a gente usava isso. E se... porque nós tomávamos conta da portaria?

Porque nós ficávamos na biblioteca até tarde estudando...

V.: ...hum-hum...2 No tempo do internato era utilizado como refeitório; como laboratório de micro?histologia/patologia? na década de 1970, posteriormente co cantina e, nos anos 1990

46

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L.: ...nós não deitávamos cedo.

V.: Hum-hum.

L.: Então dona Itália pedia, geralmente para a Inês ou pra mim ou pra Noemi,

uma das três. Ela pedia, sabe?

V.: [tosse]

E.: E como é que era essa rotina ... noturna ou diurna do, de, de estar no

internato?

L.: De estar no internato? Era interessante. Era bastante confortável.

Confortável assim, para nós era confortável, né? Porque tanto para Noemi,

quanto para Inês, quanto para mim, porque a gente estava aqui para estudar,

então a gente ficava até tarde, a gente tinha acesso à biblioteca, ficava até

tarde na biblioteca, tinha lugar pra gente estudar, e, de manhã era fácil,

porque a gente tinha que levantar muito cedo para poder pegar, a gente

pegava sete horas nas clínicas; quando a gente estava no bloco cirúrgico, às

vezes seis horas da manhã a gente estava na sala de cirurgia, que é preparar

sala, jamais a gente chegava sete, cirurgi... cirurgia que che... começava sete

horas a gente chegava até cinco e meia da manhã pra preparar tudo, né, pra

deixar tudo ok, então, então era fácil, né. Agora, eu fui interna só no primeiro

ano...

V.: ...hum-hum...

E.: ...agora como que elas conseguiam...

V.: ...foi só no primeiro ano?

L:. Foi. Só no primeiro ano. No primeiro e no... não, no primeiro e no terceiro.

(...) É. Foi só. Que aí a minha família veio para cá e eu já saí do internato.

V.: ...no...

E.: ...e como que elas conseguiam manter de alguma forma vocês isoladas

das outras, apesar de habitarem no mesmo lugar?

L.: Não, não, isoladas que eu falo em relação a informação de, de coisa

porque, porque dentro aqui, dentro do, do, do, do internato não, dentro do

internato nós sabíamos de tudo, quer dizer, sabíamos porque os, as, as, as

meninas do segundo ano contaram pra gente. Fa... faziam as fichas como era 47

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o professor, como era, né? história de aluno. Como é que, a gente quando ia

pro, pro estágio como era tal lugar, quê que a gente tinha que fazer lá. A

gente pedia informação. E, e o lugar das informações era na lavanderia onde

é aqui, faz o café [inaudível] ali que a gente lavava roupa. Por isso que tinha

aqueles dois tanques.

V.: Ahn!

L.: Ali que era a lavanderia. Então, geralmente no sábado e no domingo a

gente lavava roupa.

E.: Aqui no quarto andar?

L.: No quarto andar!

V.: E quem que lavava a roupa de vocês, quem...

L.: ...nossa roupa...

V.: ...que roupa lavava?

L.: ...de cama.

V.: Não tinha a Zulmira, as pessoas que lavavam?

L.: Não. Elas lavavam o uniforme.

V.: Ah! E quem, e as...

L.: ...toda a roupa pessoal a gente é que lavava.

V.: Roupa de cama vocês traziam, como que era isso?

L.: Toda a roupa de cama era nossa. Roupa de cama era da gente, trazia

tudo...

V.: ...de casa?

L.: De casa. E a gente lavava a roupa de cama.

V.: O quê que a escola dava pra vocês?

L.: Dava a água.

V.: Oferecia?

L.: Oferecia a água.

V.: E o uniforme?

L.: Não, o uniforme também era a gente que fazia.

V.: Vocês pagavam?

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L.: Pagávamos. A gente já trazia o uniforme pronto. A escola não oferecia,

não.

V.: Dava o modelo e vocês pagavam?

L.: Só o modelo. Ela lavava e passava o uniforme.

V.: Que vocês davam pra elas?

E.: E vocês lavavam a roupa pessoal?

L.: Só a roupa pessoal.

E.: Vocês que passavam?

L.: E passava.

E.: E punha aonde?

L.: Tinha secador.

E.: Ah, sei!

L.: Era lavanderia ali. Todos, todos os andares, se bem que eles fizeram

lavanderia em todos os andares.

E.: Ahn-ahn!

L.: Aqueles, todos os andares que tinham quarto. Que é o quarto e o quinto

[andares].

E.: Certo.

L.: Ali era lavanderia. Tinha, eram dois tanques, era uma pia e um tanque,

eles desmancharam o tanque. O tanque em que a gente deixava balde. A

gente... cada uma tinha um balde, a gente punha a roupa de molho no balde e

lavava. A gente olhava a hora que estava livre a lavanderia, tá. E passava

também. Tinha a mesa de passar do mesmo jeito, uma mesa com, com, a

gente tinha o ferro elétrico. A escola não dava ferro também, não.

E.: Você não tem uma idéia de quantas nessa época que você foi interna, de

quantas tinham, de quantas pessoas tinham no internato?

(...)

L.: Na época que eu fui interna devia ter umas trinta pessoas no máximo,

sabe? Porque depois, depois que eu saí... O internato fechou em que ano?

V.: Sessenta e oito.

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L.: Sessenta e oito, né. Quer dizer, aí eram turmas maiores, já começaram

turmas maiores, né.

V.: A, a, a...

L.: ...primeiro, segundo e terceiro.

V.: Nessa época que você morava aqui não tinha nenhum professor que

morava junto no internato?

L.: Não.

V.: A Carmelita já não morava mais no internato?

L.: Ninguém morava no internato. Apenas Yole [de Carvalho Massoni] e

[Maria] Vitória [da Silva] elas tinham um quarto que elas ficavam aqui até

tarde estudando, sabe? Mas elas não moravam aqui não. Era um quarto que

elas tinham aqui. Elas saiam daqui até tarde, mas a gente nem, nem sabia

que elas estavam aqui. Elas ficavam trabalhando, corrigindo trabalho! Elas

tinham um quarto no finalzinho, aquele quarto onde é hoje, nesse andar

mesmo do lado de lá, era o quarto delas, tá? Aqui no quarto andar.

V.: Ô, ô, ô Luzia, você já falou como era esse cotidiano, né, e, e, e das

meninas saírem pra namorar, mas e como é que vocês faziam...

L.: ...agora sair pra namorar eu não falei não. Sair pra namorar era

interessante, porque era permitido namorar aqui. Tinha uma sala...

V.: ...ah!

L.: Era permitido namorar aqui. Então, assim, tinha uma sala lá embaixo, o

salão, com dois jogos de estofado, uma televisão e um piano.

V.: Onde é a sala...

L.: Então, quem namorava nessa sala, a gente inclusive, a gente ia muito lá

pra sala pra ver televisão, mas quem namorava muito nessa sala era a Delba,

a Delba, a Guiomar [Marques] né. A Guiomar não saía, ela namorava aqui. E

eles ficavam até nove horas, nove e meia. Tinha dia...

V.: ...os namoradinhos?

L.: Os namorados.

V.: Quem, alguém ficava junto, lá olhando? Era livre?

L.: Livre.50

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V.: E o piano, alguém usava?

L.: De vez em quando alguém usava. [gagueira] o piano era lá pra usar.

V.: Essa sala é onde que é o salão, o salão nobre hoje?

L.: Não. Essa sala é onde hoje é o gabinete, é o colegiado de graduação e a

vice-diretoria.

E.: Hum-hum.

V.: Quê que mais tinha nesse segundo pavimento, Luzia?

L.: Ali embaixo, ali embaixo era assim, ô. A onde é, ali era muito interessante.

Era assim, deixa ver se eu lembro [desenha o segundo pavimento], aqui era a

sala de estar, né? Onde é o colegiado, aqui que é a diretoria que tem aquele

corredor aqui, ô, aqui a sala de técnica. Aqui era uma unidade do paciente,

eles fizeram uma sala de técnica como a unidade do paciente, por isso que

tem aqueles três armários aqui, ô. Aqueles três armários que tinha no canto

aqui, é onde que ficava guardado, que é a diretoria hoje, que ficava guardado

o material de... de técnica.

V.: Qual material?

L.: Material de técnica. Aqui, vocês lembram da pia que tinha aqui? Tinha uma

pia, a gente chegava aqui, a gente... aqui era o expurgo, a gente... lava... a

gente desenvolvia vinha aqui e lavava todo o material aqui.

V.: Ah!

L.: Aqui que era o expurgo.

E.: Ainda tem uma pia lá, não tem, não?

V.: Tem, tem, tem, tem.

L.: De dentro. Mais aquela pia de dentro ali é da unidade, era da unidade do

paciente.

L.: Dependendo do material.

E.: É. Debaixo da janela, né?

V.: É.

L.: Material contaminado, acho que a gente levava pra cá, tinha umas divisão

assim, entendeu? Do lado de cá, aqui onde é a secretaria hoje, aqui, ô, era

51

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um apartamento, vocês lembram que tinha um banheiro aqui, vocês

lembram?

V.: Hum-hum.

L.: É aqui era um apartamento. E aqui, agora eu lembrei o quê que era isso

aqui, era a capela. (...)

V.: Onde que é o...

L.: ...auditório...

V.: ...auditório [Maria Sinno] hoje.

L.: É, tá? Aqui era a capela.

E.: Essa capela, eu acho que quando nós estudávamos, essa capela era aí

não era não?

V.: Do lado de cá.

L.: Aí depois ela passou pra cá.

E.: Ah, era mesmo.

L.: A Yole passou pra cá, pra poder fazer o auditório aqui.

E.: Tá.

L.: Tá? A Yole passou a gabinete dela pra cá. E aqui, o quê que era? Por isso

aqui foi construído pra ser a capela, e isso aqui foi construído pra ser, e que

era realmente, que era o, o, o coisa do, do, do padre.

V.: Do padre.

L.: Um apartamentozinho pro padre. Só que quando, tem um detalhe

importante que eu esqueci de contar. Quando a Noemi, quando no, no

primeiro ano que nós viemos pra cá a Noemi teve hepatite, sabe? Teve

hepatite, e ela ficou nesse apartamento aqui..

V.: Isolada?

L.: Isolada. Quem cuidou dela foi a, a, a, a Noemi, a, a, a, a Noemi, a, a,.

Não... ,não... como que ela chama? (...) Nívea Noemi, que cuidou dela, que

era professora nossa de doenças transmissíveis. Então, a Noemi ficou

internada aqui. E a gente que cuidava dela com toda a técnica de isolamento.

A, a Noemi ficou internada aqui e tinha uma aluna do terceiro ano cuidando

dela; [tinha também] uma do segundo, e a gente ia pra fazer [gagueira] ficar 52

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de companhia porque a gente não tinha ainda, é, é, informação suficiente pra

cuidar.

V.: Cada dia era uma aluna que ficava? Não tinha uma específica, não?

L.: Era. A Guiomar cuidou muito dela. A Delba cuidou muito dela. Era

escalada, pra, pra ficar aqui cuidando dela, sabe? Então, toda a oportunidade

que eles tinham de, de, de, sabe?

V.: A capela ti... vocês tinham alguma missa, tinha alguma atividade religiosa?

L.: Não, não, nenhuma.

V.: Ficava meio parada?

L.: Paradona.

V.: Mesmo com a irmã Emília aqui?

L.: Mesmo com a irmã Emília aqui. Não tinha nada, nada, nada. Eu lembro

que porque não época eu era muito católica e, e a gente ia a missa no

Colégio Arnaldo.

E.: Hum.

L.: Tanto Noemi, Inês e eu, a gente ía a missa no Colégio Arnaldo. A gente

freqüentava lá.

V.: Luzia, como é, como é que era o lazer, né, de vocês alunas? Além desse

espaço que vocês tinham para namorar, que outras atividades de lazer que

vocês tinham?

L.: Tinha... era só isso. Não tinha mais nada não.

V.: Tinha festas, fora, baile...

L.: [inaudível] Tinha baile no DA., né? Era aqui no DA. Falava, mas eu não era

de ir em festa... nós três não éramos de ir em festa. Logo depois, que quem

mais ia em festa, a turma que tem muita festa pra ir, que aí a es... é outra

estória, é da, do DA, é do DA da, da, da, da, da farmácia, aí é ..., das outras

coisas, mais pra frente...

V.: ...mais tarde... né?...

L.: ...mais tarde...

E.: ...teve...

V.: ...pelo... [superposição de vozes] Hum... [riso]53

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E.: ...teve um período, em sessenta e três, que teve uma campanha de

divulgação da profissão junto aos, aos colégios, é, é, onde foram realizados

também shows piqueniques, você lembra disso?

L.: Shows, piqueniques, piqueniques não teve, eu não lembro não...

E.: ...não?...

L.: ...mas, mas divulgação, palestras...lembro...Norma até participou ... de

muitos.

E.: Como é que foi?

L.: Norma... [pausa]

V.: Norma Lúcia [de Matos]...

L.: Norma Lúcia... deixe eu ver se eu lembro... [ pausa]

V.: Alguma atividade ligada à ABEn, nessa época?

L.: Foi ligada à ABEn, sim, foi da ABEn...

E.: ...foi durante a Semana Brasileira de Enfermagem?...

L.: ...foi, foi...

V.: ...quem era da ABEn? Você lembra quem era presidente na época?

L.: A Maria José Silva, não? Eu lembro quem que era, Maria3 José Silva, é,

Dilza [Brito Guimarães] era tesoureira...4

V.: ...irmã Tereza Notarnicola...

L.: ...irmã Tereza Notarnicola...

V.: Depois irmã Cecília Bhering.5

L.: ...irmã Cecília, quem mais? Irmã Tereza Notarnicola, ela era daqui, né, eu

lembro o dia que o po... que a coisa caiu em cima dela, coitada.

E.: O cofre?

L.: O cofre.6

V.: Como é que era a relação com a irmã Tereza, essas outras freiras. Elas

davam aula...

L.: ...não, não, muito ruim...3 Presidente da ABEn de 1980 a 1984 4 Tesoureira da ABEn na gestão da Irmã Maria Tereza Notarnicola, de 1962 a 1964; na gestão de Clélia Luisa Gonçalves Pinto, de 1964 a 19685 Presidente da ABEn de 1957 a 19606 Ela sofreu um acidente; maiores detalhes ver na entrevista da mesma.

54

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V.: ...você não se lembra da irmã Te... da irmã...

L.: ...muito ruim.

V.: Ruim como assim?

L.: Ruim assim, não existia relação pra n... nossa, da no... da no... da nossa

turma não...

V.: ...da sua turma... sua turma não, né?

L.: ...não...

V.: ...hum-hum...

L.: ...entendeu? Nós, nós, nós tínhamos uma, uma imagem, por causa da irmã

Emília, uma imagem muito negativa das freiras, entendeu? A gente, no

hospital a gente corria delas, a gente não dava, o conselho que a gente tinha

das freiras, é que a freiras só estavam no hospital pra botar a chave no bolso,

para trancar tudo e pra criar dificuldade no trabalho da gente. Era essa a

imagem que a gente tinha.

V.: Era essa imagem que a irmã Emília passava pra vocês? Porque é, é, essa

imagem que a irmã Emília passava, como é que era esse relacionamento a

ma... mais com a irmã Emília?

L.: Olha, existe, o relacionamento nosso com a irmã, quan... o nosso

relacionamento com a irmã Emília, ele, ele não, ele era, uma relação de

autoridade, né? Então, era autoridade e a gente não escutava as coisa dela,

não, escut... e nós escutávamos muito, porque muitas vezes ela, na aula de

ética, ela colocava as coisas, através de, de, de, de estórias, sei lá, ela

contava, passava de alguma coisa, ficava falando nisso, não sei mais o quê,

ela dava alguma mensagem pra gente, mas nós não, nós sabíamos que ela

fazia isso, que nó... as alunas do terceiro ano e do segundo já tinham avisado

pra gente isso, então nós não...

V.: ...não ligavam não ...

L.: ...não dávamos confiança, não. Ficávamos caladas, sabe? Agora a gente

sabia que existia uma relação muito ruim, não era uma relação tranqüila, da

irmã Emília com o corpo docente...

V.: ...hum...55

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L.: ...inclusive ela, ela, ela criava muita intriga, a própria irmã Emília. Ela

jogava professores uns contra os outros, ela, ela armava umas coisa dessas,

e a gente ficava sabendo disso. E a gente gostava demais dos professores.

Tinham professores excelentes, entendeu? E a gente sabia que ela fazia isso,

sabia que ela fazia alguns professores sofrerem por causa disso, então. Tem

uma estória nossa que, por causa dessa greve, aquela greve de um terço, nós

estávamos fazendo estágio na Cruz Vermelha e j... teve um paciente nosso, o

paciente, um paciente que a gente, todas, todas as três tinham cuidado dele,

e ele foi pro pós-operatório e parece que nós queríamos cuidar desse

paciente. Só que como nós não tínhamos tido ainda enfermagem cirúrgica, foi

barrado, não foi possível. Então nós pressionamos a professora, que a gente

queria dar plantão no turno com ele. Aí, eu sei que foi conversar com a irmã

Emília, pra irmã Emília ter que autorizar, aquela confusão, sabe, pra ela poder

liberar pra gente poder cuidar desse paciente. Aí nós fomos dar plantão

[inaudível] ...

V.: ...quem que era essa professora na época?

L.: Alaíde [Esteves Lima]. Alaíde é que deu cobertura pra gente, né, Alaíde

que foi conversar com a irmã Emília. E nós fomos cuidar desse paciente, né.

Inclusive Alaíde foi e deu toda a orientação pra nós, né. E outra, outra coisa

também que aconteceu, também nesse mesmo período, foi o pai, o pai de

Norma, foi nessa época que o pai de Norma também foi internado, e muito

grave, também na Cruz Vermelha, lá no lugar que a gente estava, e a gente

queria ajudar cuidar dele. Então Alaíde também que interferiu. Então, assim,

eu falei assim, gente [inaudível] todo mundo foge do plantão noturno, nós

estamos brigando com a direção da escola pra poder dar plantão, pra ter o

direito de dar um plantão noturno, entendeu? Então, ti... tinha, tinha essas

coisas, sabe? Acho que nós éramos muito “Caxias”, sabe? [risos]

V.: Muito certinhas, apesar de não seguir as, as, todas as regras, mas...

L.: ...não, as regras nós, n..., nós, aquilo que era absurdo prá nós, né, a

gente...

56

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V.: É, Luzia, mais alguma coisa do internato? Onde vocês passavam as

férias? Tinha férias?

L.: Tinha. Férias regulamentares. A, um, nós entramos no, num regime

escolar...

V.: ...sim...

L.: ...sabe? Tinha férias, [risos] quer dizer, até dezembro, de dezembro a jan...

a março, aí que, aí deu aquela lacuna que eu te falei, porque aí a gente não

tinha mais...

E.: ... a cobertura...

L.: ...a cobertura. Tinha as férias de julho, tinha as férias de... encerrava o

período letivo em dezembro...tá?

V.: E nesse período cada um ia para sua casa?

L.: Cada um ia para sua casa.

V.: Ninguém ficava no internato?

L.: Não. Ninguém ficava no internato.... sua casa.

V.: Luzia, é, m... mais alguma coisa, assim, do internato, fato interessante,

que você se lembre agora?

L.: Não. Do internato, né. Não, em relação à alimentação, era muito boa,

tinha, tinha, engraçado que tinha um lanche, ti... tinha o café da manhã, o café

da manhã era servido aqui, né, e ti... bem, um café da manhã bem farto. Tinha

ovo, fruta...

V.: ...quem fazia o café?

L.: Dona Itália. Não. Oh, devia ser a Tita [Maria Natividade Trindade Ovídio],

ou Zulmira [Chaves Campos], ou, ou, o pessoal administrativo.

V.: Quem mais trabalhava, trabalhava aqui além da Tita e da Zulmira?

L.: Era Tita, Zulmira, dona, dona, a mãe do Oscar [da Costa], como é que ela

chamava, gente? Dona Leontina[----]...

E.: ...Leontina...

L.: ...Leontina, a dona, a outra [inaudível] Não sei se era Tita, era uma gorda...

V.: ...Lygia [de Queirós Guimarães?]

L.: ...morena...57

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V.: ...já era daqui, da época? Dona Lygia, da secretaria?

L.: Aí já é da secretaria, é da minha época também. Dona Lygia [inaudível] ,

dona Lygia era outra que dava muita informação pra gente da irmã Emília.

Tem um fato muito interessante, lembrei da dona Lygia agora, quando, porque

na verdade, nosso curso, então, como foram, nós fomos a primeira turma,

então a escola estava estruturada pra dar até o terceiro ano. Ela não estava

estruturada pra dar o quarto ano, porque o quarto ano era opção: ou Saúde

Pública ou Obstetrícia, né? Então o quê que foi feito, então é... nós fizemos,

terminamos o terceiro ano e, só que nós queríamos continuar, né, as três não

iam parar de jeito nenhum. E nós articulamos pra gente fazer o quarto ano em

São Paulo, d... na, na Escola de Enfermagem da, da USP. E pra fazer o curso

na Escola de Enfermagem da USP, na verdade, Inês e eu tínhamos insistido

que íamos fazer Saúde Pública, e não tinha saúde... tinha Saúde Pública, e a

Noemi ia fazer Obstetrícia. Então a Noemi foi pra Paulista, pra fazer lá o, o

quarto ano na Paulista. E, mas só que nós não tínhamos condição. A Inês, a

Inês era funcionária do Estado, então ela ganhava pra poder, ela, que tinha o

salário dela, que era pouco também e eu não tinha condição nenhuma pra

poder ir pra São Paulo, pra me manter em São Paulo. Então tinha que ir para

o mesmo regime, pra poder conseguir ficar inter... no internato de São Paulo,

porque lá também não era todo mundo, o internato não atendia todo mundo, e

nós tínhamos que conseguir alguma coisa. Então don... dona Lygia nos

informou que havia chegado uns papéis da CAPES para bolsa...

V.: ...hum...

L.: ...e estava tudo na mesa da irmã Emília, na secretaria. Só que a irmã

Emília não repassava isso pra ninguém. Aí dona Lygia roubou os formulários

da mesa da irmã Emília e passou pra nós. E foi aí que eu e a Inês

preenchemos os papéis e mandamos pra CAPES, e conseguimos bolsa da

CAPES.

V.: [inaudível]

E.: E irmã Emília não con...

L.: ...não ficou sabendo.58

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E.: Ah! Nem tinha lido...

V.: ...nem tomou conhecimento.

L.: Nem tomou conhecimento, tá? E dona Lygia falou: “Ó, chegou uns

negócios da CAPES, dando bolsa pra aluno, dando bolsa”.

E.: Ela era secretária da Mari... da irmã Emília?

L.: Da es... ela era secretária daí da escola...

V.: ...federal, da escola...

L.: ...entendeu? [riso] Aí ela tirou os papéis, nós preenchemos os papéis,

ninguém ficou sabendo, nós mandamos pra CAPES e fomos embora pra São

Paulo porque a gente... o curso começava. Foi em maio veio a resposta que,

que nós tínhamos conseguido a bolsa, sabe, da CAPES. Então eu fui a

primeira, eu fui bolsista da CAPES em 1965 [riso]. Dos, do, dos formulários

roubados da mesa da irmã Emília. Pra você ver como é... [riso], ela era tão

boazinha que nem...

V.: Ham-ham. Ô, ô, Luzia, tem esse lado da irmã Emília, né, e, e eu, e as

professoras? Tinha algum tipo de boicote em relação às alunas, alguma coisa

assim pra dificultar o relacionamento ou, o, o, o cotidiano das alunas no

internato...

L.: ...não...

V.: ...por parte das professoras?

L.: Não. Que eu, que eu lembre não. [gagueira] Na nossa turma não. Não

tinha nada de, de boicote não. A nossa relação com as professoras era

relação de salas de aula, sabe...elas n... nessa época elas não tinham muito

acesso, elas ficavam aqui até uma hora da tarde, elas trabalham de sete às

treze, e ficavam somente aquelas que tinham alguma aula pra dar, depois de,

porque elas ficavam mais no estágio, né, elas tinham, elas almoçavam aqui,

eu lembro que, alguma funcionária que arrumava comida pra elas, elas

almoçavam aqui...

E.: ...a mesma comida que vocês almoçavam...

L.: ...não. Não porque a gente almoçava no DA.

V.: Ah, vocês almoçavam no DA.59

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L.: Era, quer dizer, almoçava assim, era alguma co... coisa, porque assim,

elas arrumavam...

E.: ...um lanche...

L.: uma coisa mu... uma comida mais simples, né, e não tinha não. N... nunca,

com a nossa turma não...de boicote, nada disso não, sabe? Era até ao

contrário, assim. Elas ajudavam muito a gente, na relação com a direção, com

a irmã Emília...

V.: ...com a irmã Emília, né?

L.: É.

V.: É algum caso de transferência de aluna para outro curso? Da sua turma

não, mas de, das turmas próximas, que você se lembre?

L.: Não. Nenhum caso de transferência, não.

V.: Tinha, a escola, vocês tinham alguma relação com as alunas da Cruz

Vermelha, o curso de auxiliar da Cruz Vermelha?

L.: Não. Só em estágio.

V.: E como é que era essa relação, que tinha...

L.: [inaudível] coincidia da gente estar junto no estágio, se quisesse fazer

amizade fazia; não era nada formal, tudo informal. Não tinha relação

nenhuma.

V.: Teve um aluno do sexo masculino?

L.: Da minha, antes da minha...

V.: ...até, quando você estudou aqui...

L.: ...que eu saiba, não. Enquanto aluna, não. Tem não.

V.: A escola prestava algum serviço à comunidade?

E.: ...como extensão [inaudível]

V.: ...como extensão? De farmácia, farmacinha, curativo, para o pessoal de

foram aqui na unidade?

L.: Não. Não tinha isso não. Eles não estruturaram nada nesse sentido não. O

que tinha eram os estágios, né? Porque também mudou muito...

V.: ...como que era o estágio de Saúde Pública?

60

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L.: Pois é, isso que eu ia falar. Mudou muito a relação do es... mudou muito a

relação do estágio de saúde pública, porque antes era o estágio de três

meses, e que as meninas tinham, faziam estágio no Centro de Saúde Tia

Amância, né, lá perto da [Lavanderia] Eureka [atualmente, Colégio Pitágoras,

no bairro Cidade Jardim] . E fazia o trabalho naquela favela lá de perto, com

Carmelita. Então es... es... as alunas, por exemplo, das duas turmas

anteriores, né, elas faziam muita coisa. Agora, nós não. A nossa turma, como

já o estágio de saúde pública ela não era mais de, de, de três meses, ele foi

diluído no primeiro, no segundo e no terceiro ano. Então a nossa relação era

assim, a gente pegava o paciente do hospital, tinha paciente do hospital e que

a gente devia conhecer a família desse paciente.

V.: É assim o estágio de Saúde Pública?

L.: De Saúde Pública, tá? Então muitas vezes tinha, a gente tinha estudo de

caso, então aquele paciente e ia ver. Então a gente ia muito, eu fiz muita visita

domiciliar, em, em vários bairros. Agora, é complicado porque eram o, né,

vários bairros de Belo Horizonte e, e a gente não sabia andar, não tinha, era

com condução, tudo por conta da gente, não tinha nenhum apoio

institucional...

V.: ...tinha mais carro da escola não?

L.: Não. A época da “Coramina” não é da minha época, não [risos]. Eu só sei

as estórias da Coramina, sabe? Porque a Coramina que le... que trazia os

meninos do internato para o hospital...

V.: ...quando o internato era lá em cima...

L.: ...lá em cima, sabe? Então [inaudível] ...

E.: ...você, você formou na época da, da, da revolução de sessenta e quatro.

Você sentiu algum, a, como é que foi a ambiência em relação à revolução de

sessenta e quatro, em termos de escola?

L.: Olha, engraçado, né, porque a, a única coisa, eu lembro do d... do di... do

dia que estourou a revolução eu estava fazendo meu estágio no bloco

cirúrgico, né, e eu não esqueço disso, que no dia que estourou a revolução

que eu não sabia [inaudível] anúncio pro rádio: as tropas estão chegando em 61

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São Paulo, sabe, aquela confusão toda, aí a, eu só lembro que [inaudível]

assim [inaudível] de prontidão. Todo mundo tem que estar de prontidão pra,

pra ver, pra, pra, pra...

V.: ...para o ataque...

L.: ...para o ataque. Para poder, né? [risos] E, mas depois disso, não, porque,

da, a escola na verdade, a escola era muito, muito apagada, muito, sabe?

Sem, sem atuação nenhuma, sem, sem formação, formação nenhuma...

E.: ...sem [inaudível] política...

L.: ...sabe, em relação aos fatos históricos, ao momento, sabe, político da

época.

V.: Não se discutia, não teve nenhuma repressão...

L.: ...não se discutia, não se discutia...

V.: ...na escola?

L.: Teve depois. Aí eu era professora...

V.: ...sim...

L.: ...aí é outra estória.

V.: Antes, an... até, até sessenta e cinco...

L.: ...entendeu?...

V.: ...nada, nenhum envolvimento, porque ses...

L.: ...com as alunas, não, n..., não. Porque sessenta e cinco eu já estava, eu

estava em São Paulo, né...

V.: ...ah, sim. Hum-hum. Política [inaudível]

L.: [inaudível] São Paulo fazer estágio no interior, aí, né...lá na a... na área de

Ribeirão Preto, de Araraquara, sabe, mas aqui ne... nessa época...

V.: ...não...

L.: ...era muito, quer dizer, tudo...

V.: ...tranqüilo [riso].

L.: Tranqüilo, sabe?

V.: Luzia, existia estágio extracurricular no seu período?

L.: Oficialmente não, mas eu acredito que todos os estágios que a gente fazia

por fora eram extracurriculares, viu, porque não... [riso] entendeu?62

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V.: Não [risos]. Não entendi. [risos]

L.: Porque, na verdade, se eu for computar o tanto de estágio que eu dei no

Hospital das Clínicas, foi muito mais do que era exigido por lei.

V.: Ah, sim. Ah, sim. Nesse sentido.

L.: É.

V.: Mas pago, remunerado, fora da escola, não, né?

L.: O meu? Não, não, não. Porque começou o estágio extracurricular pago na,

na escola foi quando eu já era professora, que eu que fui uma das que

participei disso aí, entendeu? Aí é outra estória...

V.: ...é...

L.: ...[inaudível] Hospital Municipal...

V.: ...chegaremos lá [riso].

L.: Isso aí é outra estória. [inaudível]..sabe?

V.: Mais alguma coisa sobre...

L.: ...a minha história na enfermagem é assim: eu, enquanto aluna, eu, na

minha ra... eu e [gagueira]. A minha história ela vai até a irmã Emília e depois

da irmã Emília.

V.: Certo. [risos] Irmã Emília é o marco. [risos]

E.: [inaudível]

L.: Irmã Emília.

V.: Irmã Emília.[risos]

E.: Você teria alguma coisa ainda nesse período, antes de você ir para São

Paulo, pra nos dizer, algum fato que você lembra, alguma coisa que você se

lembre?

L.: Olha, e... eu, interessante, porque, eu acho que a escola, ela era muito, na

verdade ela não estava preparada, os professores não est... não é, não é, não

é preparo técnico, preparo, como é que eu falo?

V.: Teórico?

L.: Teórico não. É, é, elas se, se sentiam que não estavam preparadas, elas

se sentiam assim, que não estavam preparadas teoricamente, para assumir

um curso de nível superior. Isso elas demonstravam isso.63

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E.: As professoras?

L.: As professoras. Mas, na verdade, mas a gente não sentia que elas não

estavam preparadas, que elas eram muito preparadas, elas eram excelentes

enfermeiras... entendeu? Mas o que eu acho que elas não estavam

preparadas ou talvez pelo próprio processo em que elas viviam, porque existia

um, um, um, um, um clima emocional na escola muito ruim, com a direção da

irmã Emília, sabe, era muito ruim isso lá. Então, e, então eu acho assim, que

elas não estavam preparadas em relação a, a, a como lidar com as questões

do ensino propriamente. Elas estavam preparadas...

[FINAL FITA 2, LADO A]

FITA 2, LADO BL.: ...for.. que entraram pra escola pra ser professoras, mesmo porque elas

eram enfermeiras e elas continuavam sendo enfermeiras e elas passavam

isso pra gente, como ser enfermeira, sabe? Então, é, é, é isso era uma

preocupação muito grande. Agora [gagueira] estou colocando isso por causa

do, do, do fato que aconteceu. O seguinte: eu lembro que eu estava na Cruz

Vermelha, foi no meu primeiro ano? Deve ter sido no meu prime... foi no meu

primeiro ano na Cruz Vermelha. E que eu dei uma medicação errada,

aconteceu de eu dar uma medicação errada. E foi a coisa mais interessante,

porque eu dei a medicação errada e quem descobriu que tinha dado a

medicação errada fui eu mesma, sabe? Porque o processo de distribuição de

medicamento é aquele processo... Ah! Tem uma coisa interessantíssima

também que depois eu quero falar. Aquele processo é aquele processo de...

E.: ...então, diz como que é pra eu anotar aqui.

L.: Trans... de transcrever, mas ele vai sair agora. De trans... de transcrição, então era, era, era

por tarefa. [gagueira] A administração de medicamento ela, ela era passada por duas pessoas,

uma transcrevia, então pegava toda a transcri... a prescrição médica e, e fa... fazia e passava

pro (...).

64

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V.: ...Cardex?

L.: Não. Nessa época não era, não. Era um livro, eram umas folhas de

enfermagem. O Cadex foi bem mais na frente. Eram umas folhas de

enfermagem então você passava aquilo diariamente. Então tinha o nome, o

medicamento, o horário, você riscava as folhas de papel almaço bem...

artesanal; tinha um modelo lá que você fazia isso, os horários, as

observações você tinha que pôr. Se é, observações você punha assim:

medicamento se é tomar com leite, dar nas refeições, essas coisas assim. E,

então isso era... E o sistema de administração, e aí tinha aqui, tinha os

medicamentos os copinhos, tinha... os copinhos pequenininhos e tinha uma

bandeja. A bandeja... [tosse] Essa enfermagem me mata [riso]. Tinha uma

bandeja que tinha um, um, um, sabe aquele negócio de radiografia, aquele

coisa, aquele duro? Ra... radiografia, que elas limpavam aquilo, ele ficava

azulzinho.

E.: Papel da radiografia?

L.: É. E fizeram um, um...

E.: ...um suporte entre a bandeja?

L.: Não. Suporte nada bem! Fizeram...

V.: ...divisória?

L.: Não. Fizeram um papelão assim [desenha o modelo da bandeja], ô, com

um...

E.: ...com radiografia?...

L.: ...dois, três, quatro, cinco, seis, sete, oito, nove, dez, os números dos leitos

da enfermaria.

V.: Isso na bandeja?

L.: É. Coberto com esse envelope, com esse...

V.: Papel de raio X, limpo.

E.: Papel de raio X.

L.: Papel de raio X, tudo...

V.: ...azulzinho?

65

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L.: Coisa de freira. Azulzinho, coisa de freira. Tudo bordadinho assim em

volta. E punha aquilo papel limpinho na bandeja, no fundo da bandeja. E eu

preparava os medicamento, então o medicamento do paciente do leito um eu

ponha nesse quadradinho aqui, não tem nada separando não, entendeu?

V.: Só o número embaixo?

L.: Só aquele número embaixo. Com aquele negócio de bandeja...

V.: ...balançava...

L.: ...de radiografia, que liso, uma bandeja desse tamanho [mostra com as

mãos] assim, ô, pois se tinha todos os números da enfermaria, dos leitos da

enfermaria, [inaudível]. E você colocava os copinhos ali, então só tinha isso.

Então você levava...

V.: ...copinho de vidro?

L.: Copinho de vidro. Então você colocava o copinho... Copinho de vidro ou

então era tampinha também de medicamento que você punha...

V.: ...em cima?...

L.: ...os remedinhos dentro [inaudível]. Então era isso. Aí eu preparava, então

eu pegava a bandeja no horário, eu pegava a bandeja eu punha aqui e ia pela

lista, fulano de tal vai tomar isso tam, tam, tam. Então eu pegava o

medicamento, cinco vezes ler, né? Tam! Todo aquele esquema, então você

olha o rotulo, prazo de validade, cor tam, tam, tam, tiro está aqui de fulano de

tal, tá? Tá. Tá? Tá. Você tem que guardar o nome de cada paciente desse,

porque você não tem mais nada. Você está levando a bandejinha...

V.: ...com o número do leito, só?

L.: Com o número do leito, né. E ia por tarefa. Quer dizer, eu estou na

medicação de vá...

V.: ...de todo mundo?

L.: Né? Tá. Lá vai eu com a bandejinha, de repente, eu peguei e dei, era uma,

uma novalgina, aí eu, paciente do leito tal, dona fulana de tal. E, e eu

cuidadosa, chamava tudo por nome. Eu lembro que eu chamei dona fulana de

tal, nome dela, falei o nome dela. Eu falei: “Trouxe um remedinho pra

senhora.” Ela falou: “É, mas que coisa boa.” Eu falei: “Está aqui o remedinho 66

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da senhora.” Aí ela falou: “Que coisa boa.” Depois, ela pegou e tomou o

remédio, depois ela falou: “Que coisa boa que lembraram de mim. Porque tem

muito tempo que eu não tomo remédio.” [risos]

V.: Ichi!

E.: Bateu um [medo?]. [risos]

L.: Voltei olhei na folha de prescrição: novalgina, olhei, tá. Mas está aqui

novalgina pra ela, depois eu peguei o prontuário dela, olhei lá, falei assim:

“Uah! Mas ela não é dona Ma... não é dona fulana mesmo não. A papeleta

dela é a de cá!” Aí foi que eu vi que o, que era outra pessoa. Era a outra ao

lado dela, o coisa escorregou. No meio do caminho eu lembro que eu voltei,

eu, eu, eu descobri porque que eu errei porque no meio do caminho quando

escorregou pro outro leito, em vez de eu ir aqui, ô, na folha daqui, eu fui na

papeleta só pra conferir o nome dela. Mas eu olhei na papeleta do, do, do

número...

V.: ...do outro número...

L.: ...do leito, do outro número que estava aqui. Aí bati olhei o nome dela e

voltei, chamei ela pelo nome, entendeu? Aí descobri, falei assim: “Nossa

Senhora! Coitada dela, ela ficou feliz da vida porque ganhou uma novalgina. E

não precisava de tomar essa novalgina. [risos]. Aí saí, fui procurar a

professora. Eu, eu, eu fiquei, eu demorei até pra descobrir o quê que tinha

acontecido, que processo tinha acontecido comigo que eu fiz isso. Aí fui

procurar a professora e falei: “Olha deu pro... dei medicamento errado pra

paciente.” Ela olhou pra mim, acho que ela assustou um tanto, sabe? Se dava

um medicamento errado acho que, acho que...

V.: ...não sabia?...

L.: ...na história dela, né? Ela olhou pra mim, disse assim: “Mas que

medicamento você deu?” Eu falei: “Uma novalgina.” E ela ficou feliz da vida

porque ela [riso] tinha, achou que estava, estava esquecida daquilo. Aí ela

olhou pra mim, falou assim: “Você pode ir pra escola depois a gente

conversa.” Não falou mais nada. Vim pra escola! Aí vim pra escola. Estou

pensando na minha vida e quando foi de tarde a irmã Emília me chama. Olha 67

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pra você ver, você, você faz colo... cometi um erro desses coloca pra

professora, né, esperando que vai discutir porque que você errou, o quê que

aconteceu, né? Aí não, a irmã Emília pega e fala, aí a, a irmã Emília pegou e

falou: “Luzia, eu fiquei sabendo que você deu medicamento errado.” Eu falei:

“Dei. Fui eu que contei que dei o medicamento errado. Porque eu descobri,

dei isso, isso, isso.” Ela falou: “Tudo bem. Amanhã você não vai ao estágio.

Você vai ficar aqui na escola pra você refletir sobre o seu erro.” Mas eu fiquei

puta da vida! Sabe? Era, era o castigo. Era castigo.

E.: Era punição.

L.: Era punição, entendeu? Eu fiquei puta porque eu falei assim: “Gente mas

eu não estou entendendo, tem, tem que des... tem que descobrir, porque... Aí

eu chamei, eu lembro que eu chamei a Yole, foi com a Yole que eu conversei

falei ol... foi com a Alzira falei: “Está errado isso. E dei um medicamento

errado mas muita, muito mais gente dá. Porque daquele jeito, não é jeito de,

de, de dar medicamento. Aquilo escorrega. Eu dei o medicamento errado

porque escorregou, o, o vi... o vidro, o frasco, o vidrinho escorregou naquele

trem liso daquele jeito. Escorregou e passou pra outro lugar. Você não tem

referência nenhuma, aquilo está errado daquele jeito, sabe?” Eu sei que, por

isso que eu falo que, elas tinham, elas tinham um certo respeito da gente

também porque a gente questionava o tempo todo, sabe?

E.: Você falou que tinha um outro fato também que você ia contar. É esse

mesmo?

L.: Ah! É esse outro fato. Aí era assim, [risos] o outro fato era assim, quem

estava na transcrição vai utilizar um balcão de cá, não, era uma mesa e tinha

as papeletas todas penduradas, uma coisa assim, todas as papeletas

penduradas na parede, pendurada, né? E o médico, muitas vezes, ele

chegava [inaudível] pegava as papeletas fazia um monte aqui e ia é, é, é,

passando a prescrição. E a gente ficava sentada na mesinha escrevendo, se

o médico chegasse e, muitas vezes, o médico estava em pé passando a

transcrição, a professora me chamava porque eu tinha que ficar de pé pra

poder dar o lugar pro médico, pra ele fazer a prescrição. Entendeu? Então era 68

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assim o médico chegava se a gente estava escrevendo a gente tinha que ficar

de pé [levanta da cadeira exemplificando]. Ele podia até ficar de pé o tempo

inteiro, mas você tinha que...

E.: ...mas você também tinha que ficar?...

L.: ...que fizer, tinha que ficar de pé. E nós não ficávamos. Eu mesmo não

ficava, falei: “Eu que estou escrevendo, eu tenho mais é que sentar.”

Entendeu? [risos] Aí a Alzira falava assim: “Mas, [inaudível].” “Problema dele,

uai! Eu não vou ficar de pé não professora, como que eu vou fazer o meu

serviço de pé. Não tem sentido, uai!” Entendeu? Então tinha muito disso, de

repente [gagueira] foi uma turma que era de, né, de, de nível superior. De

nível superior na cabeça deles, porque nós não, nem estava preocupada com

isso. mas na verdade era uma turma também, que contestava todas as

normas que a gente tinha. E a gente perguntava: “Mas porquê?” “Porque é

norma.” “Como é? Nós não entendemos. Porque é norma? Norma a gente

tem que, a norma é pra ser mudada, pra ser reformulada. A gente tem que

ana... avaliar até que ponto ela vale, sabe?” Então...

V.: Teve algum fato so... relacionado a esse levantar pra dar lugar ao médico

entre as alunas que tenha tido conseqüência maior, que você saiba?

L.: Isso aí eu não sei não.

V.: Um caso de uma aluna, de uma Cláudia parece. Ficou sabendo alguma

coisa?

L.: Se eu o quê?

V.: De uma aluna chamada Cláudia, que se recusou também a se levantar e

que teve problema de suspensão ou de...

L.: ...não.

V.: De... Você não se lem... não ficou sabendo desse fato?

L.: A Cláudia? a Cláudia quando ela [foi aluna] da escola eu já era professora.

Eu não fiquei sabendo disso não.

V.: Ah! Foi mais tarde?

L.: Bem mais tarde.

69

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E.: Não será que é essa Cláudia de sessenta e dois?7

V.: É.

E.: Processo de expulsão?

L.: Cláudia de sessenta e dois processo de expulsão?

V.: Você não se lembra?

E.: Aluna Cláudia, é.

V.: Ela chegou em sessenta e três, na escola.

E.: Ela chegou em sessenta e dois [inaudível].

L.: Não. Eu comecei em sessenta e dois. Foi. Cláudia? De que ano ela era?

E.: É, tem expulsão de uma Cláudia, não sei se [inaudível].

V.: Em sessenta e dois.

E.: [inaudível].

L.: De... deve ter sido em março, antes de março.

E.: É pode ter sido. [inaudível].

L.: E foi por esse motivo?

V.: Sim, também.

L.: Porque não levantou?

V.: É. [riso]

L.: Nossa! Nem sabia disso [risos]. [gagueira] por isso que eu falo que...

V.: ...também, já estava mudando a história.

L.: Você entendeu? Por isso é que eu acho, por isso, quer dizer, isso mais

veio a afirmar o que eu estou colocando.

V.: É verdade.

L.: Sabe? Tinha um respeito. A gente estava mudando alguma coisa não

escola. Sabe? Eu acho até que, que era, era, era até um espanto. Porque eu

acredito, por exemplo, quando eu cheguei e falei que eu tinha dado a

medicação errada, a professora assustou tanto que não falou nada pra mim,

mandou eu vir pra escola. Ela não falou nada pra mim, porque acho que ela

não, ela não sabia como, o que fazer numa situação dessa. Porque deve ter

7 Cláudia Rita Santos formou-se em julho de 1969.Mais informações, ver entrevista de Carmelita Pinto Rabaelo.

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sido a primeira pessoa que chegou perto dela e falou um negócio desse pra

ela, sabe? [riso]

V.: Alguma coisa que você se lembre antes da sua, chegar na formatura?

L.: Lembro. A nossa formatura foi, a nossa formatura...

V.: ...antes da formatura?

L.: Não. Foi a nossa formatura.

V.: Ah, sim.

L.: Eu lembro que foi muito interessante. Porque a nossa formatura... Nós

terminamos o curso no dia acho que dez de dezembro de sessenta e quatro.

E nós pedimos que no dia dez de dezembro que a gente estava encerrando o

curso, que a gente fizesse uma reunião com o corpo docente da escola

porque a gente queria avaliar o curso. Sabe? Então, estava as doze, doze

pessoas, as doze professoras do corpo docente, nós três: Noemi, Inês e eu e

mais uma professora, e mais uma enfermeira do Hospital das Clínicas, a irmã

Bernadete que eu não sei porque [gagueira] era enfermeira do sexto andar,

do sétimo andar que a gente fazia estágio. Eu acho que a Yole achou por

bem... a Yole não, a Vitória achou por bem convidá-la. Que era essa freira

que a gente relacionava melhor com ela, a irmã Bernadete, tá? Então nós

resolvemos fazer uma avaliação do curso, o quê que foi de positivo, quê que

foi de negativo, sabe? Aí avaliamos tudo. Sobre quê que ti... de, por cada

período o quê que a gente tinha passado como é que foi e, e, e... Mas no

fundo nosso objetivo era avaliar as relações da irmã Emília [Clarízia] enquanto

diretora da escola.

V.: E a irmã Emília estava presente?

L.: Claro! Não ab... de cabeça baixa, não abriu a boca. Nós falamos tudo que

nós tínhamos vontade de falar. Nós estruturamos, fize... sistematizamos um

pouco o que a gente ia falar, mas depois deixamos um pouco aberto.

Soltamos os cachorros nesse dia. Lavamos a alma [riso].

V.: Saíram satisfeitas?

L.: Aí saiu tudo, saiu, sa... colocamos a relação, aí eu lembro, a relação da

irmã Emília, como ela jogava os alunos uns contra os outros, entendeu? Aí 71

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fo... Eu, eu tenho a impressão, que nós colo... agora que eu lembrei, nós

colocamos até a história da Delba, desse negócio da Delba, da suspensão

também. Colocamos tudo, sabe? E eu lembro que, que foi, que quem

conseguiu isso pra nós foi a Carmelita, sabe? Foi a Carmelita que, nós

falamos que nós [inaudível], a Carmelita falou: “Não, pode deixar que eu vou

conversar.” Porque ela era do corpo docente, né. E foi a Carmelita que

conseguiu fazer essa reunião. E reuniu alguns professores pra, pra nos

cumprimentar pelo término do curso e aí nós aproveitamos pra fazer a

avaliação.

E.: Ah, vocês não, não falaram que iam fazer a avaliação! Vocês usaram da

estratégia de...?

L.: Foi! A Carmelita deve ter usado da estratégia porque se a gente tivesse

falado que ia avaliar o curso...

V.: ...ninguém aparecia?

L.: A irmã Emília, nós tínhamos, nós tínhamos que arrumar uma estratégia

pra, pra puxar o tapete dela.

V.: E as professoras falaram alguma coisa?

L.: Falaram! Nós tivemos o apoio. Todas elas; eu lembro da Yole, da Vitória,

sabe? As professoras eram excelentes professoras, não é? Eu que elas

falaram, nós avaliamos e depois eu lembro que no final, aí cada uma ganhou

um livro. A Carmelita foi que deu o livro pra gente. Há pouco tempo eu achei

esse livro lá em casa [risos]. E mais interessante que todas as professoras... a

Carmelita botou uma dedicatória e todas as professoras assinaram.

V.: Assinaram.

L.: O livro é do... como é que ele chama? Estava muito na moda naquela

época. O livro do, Relações Humanas no Trabalho, do... Como que chama

aquele cara da psicologia que veio pra cá com a psicologia do trabalho, que

ele era do banco da Lavoura. O cara que lançou, fazia psicologia do trabalho,

da terapia de grupo? Ai.

E.: Não sei quem é não.

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L.: Ele tem um livro, esse livro escrito por ele nessa época. Aí nós ganhamos

o livro de presente Relações Humanas no Trabalho, começar nossa vida

profissional [risos].

V.: E da formatura em si?

L.: Não, não teve.

V.: Não teve?

L.: Foi isso. Foi essa a cerimônia.

V.: Não teve, não teve colação de grau?

L.: Nada. Não.

V.: Porque não teve? Não tinha?

L.: Não. Não teve.

V.: Diploma entregue?

L.: Não.

V.: Cada um foi pro seu canto?

L.: Não teve. Não teve.

V.: Porque o curso não considerado terminado ou...?

L.: Não sei. [gagueira] Eu falei que era uma experiência nova pra elas, não

teve nada não.

E.: Pois é, não tinha terminalidade no terceiro ano, tinha? Só no quarto não

era não?

L.: Tinha. Eu tenho o diploma da Carlos Chagas.

E.: Ah, é!

L.: Não, não teve colação de grau. Teve, teve essa reunião.

V.: Se vocês não tivessem so...

L.: ...será que foi, nós colamos grau nessa reunião. Acho que foi nessa

reunião que nós colamos grau. Foi sim. Acho que a irmã Emília depois leu

uma ata. Foi sim.

E.: É bem possível.

L.: Foi sim.

V.: E uma solenidade, nada?

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L.: Imagina, depois de uma reunião dessa você acha que ia fazer solenidade?

Que isso! [riso]

V.: É.

L.: Aí nós fomos pra São Paulo feliz da vida com bolsa da CAPES. Quer dizer,

como, como candidata a bolsa da CAPES.

V.: Luzia, nesse período de aluna você se lembra de alguma luta pela

desanexação da escola da Faculdade de Medicina, ou algumas dificuldades?

L.: Existia insatisfação. Luta realmente concreta de desanexação, não. Era

muita insatisfação que tinha. Muita insatisfação. Ah, outra coisa que eu não...

muita insatisfação dos docentes de como a escola era tratada pelo [Oscar]

Versiani [Caldeira]. Então a gente tinha na verdade a gente tinha [gagueira] as

duas autoridades megeras, era o Versiani8 e a irmã Emília. [risos] Eu esqueci

a do Versiani.

V.: Está em tempo. [risos]

L.: O Versiani durou ainda, né, muito tempo. Mas eu sei que... [inaudível].

V.: É. Mas, é, quê que isso num, que, que, que dificultava que os professores

eram insatisfeitos? Você sabe assim...?

L.: Olha tinha, tinha muita, muita, eu lembro da primeira conversa dos

professores em termo de classificação, porque eram todos professores da

Faculdade de Medicina, né? Eram todos do quadro de pessoal da Faculdade

de Medicina. Então eu lembro assim que eles foram os, os, os de lá, na época

de uma classificação recebe... foram classificados como x, os daqui foram

classificados com y; elas eram instrutoras. Elas não entraram no quadro do

corpo docente na época, elas eram instrutoras. Então, isso demorou demais

pra elas poderem, entrarem como dentro da categoria profissional, sabe?

Então, foi uma luta. Elas lutaram muito nesse sentido.

V.: A construção da escola continuou?

L.: Não. Não.

V.: Quando você mudou estava começando.

L.: Não, não, não, não.8 Ele era diretor da Faculdade de Medicina à época.

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V.: E aí teve alguma re... parou daquele jeito?

L.: Não, não. A escola somente continuou quando [inaudível] foi pra vir pra cá.

V.: Quando o quê?

L.: O ICB [Instituto de Ciências Biológicas].

E.: ICB.

V.: Ah, quando o ICB veio! Não foi na sua época, foi depois?

L.: De aluna, não.

V.: Ah, tá. De aluna não.

L.: Entendeu? Aí foi que terminaram lá pra poder colocar o ICB. Mas antes

não tinha, aqui era, nem, nem aqui fora o acabamento daqui. A escada era de

madeira “caquenta” tudo parado.

E.: Essa escada é bem recente, em setenta e um a escada era de madeira,

quando eu entrei na escola.

L.: É. Depois, foi com quem, com qual diretora da faculdade? Que foi, foi na

gestão da Yole. Que a Yole batalhou demais pra poder arrumar a frente da

escola. Foi na gestão da Yole9 que arrumou isso aqui e plantou essas árvores,

sabe?

V.: Bom, já que você não formou, né? Não teve solenidade?

L.: É. Não eu formei [risos]. Eu não, não teve solenidade. [risos]

V.: Como é que foi, vamos começar a falar então, daí pra frente, né? Como

que foi o seu curso em São Paulo? Que aí você passou?

L.: Passei pra onde? Lá pra São Paulo?

V.: Pra São Paulo. Você foi candidata mas [risos] foi selecionada?

L.: Fui selecionada.

V.: Como foi o curso lá?

L.: Foi ótimo. Foi muito bom, né? [gagueira] o curso também foi baseado na

[inaudível] seis ou sete, dez. Dez, mas também teve duas desistências. Então

foi, foi muito interessante o curso. Aí já éramos três mineiras, era Inês, a

Georgina.

V.: [Gomes] Figueiredo?9 Diretora da Escola de 1973 a 1977.

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L.: É, Figueiredo. E eu, sabe? O curso era de um ano. E...

V.: ...vocês eram internas também?

L.: Também. Alguma diferença do internato?

L.: Muita diferença, apesar de, de cheio de normas , também.

V.: Também?

L.: Umas normas muito interessantes. Primeira diferença, era quarto

individual, né? Então cada uma tinha o seu quarto. É, horário você podia sair,

você podia chegar lá que a gente podia entrar às dez horas, até às dez horas.

Mas você podia, você podia dormir fora. Você podia chegar até às dez horas,

se você não chegasse depois de dez horas o problema era seu.

V.: Não entrava?

L.: Não.

E.: Não entrava?

L.: Não. O problema era seu. Mas acontece que mesmo você chegando

depois de dez horas a gente entrava, só que a gente tinha, eu lembro que nós

chegamos uma vez, nós fomos pra um teatro, e o teatro atrasou terminou

mais tarde e a gente foi bater na porta da diretora da dona Maria Rosa

V.: [Sousa Pinheiro].

L.: Aí nós passamos pelo apartamento dela. Ela falou: “O quê que aconteceu,

que vocês chegaram tão tarde assim?” “Nós fomos assistir um teatro. O teatro

atrasou.” Ela falou: “Da próxima vez é só vocês...” E nós não avisamos... não

colocamos que nós íamos chegar depois de dez horas. Lá tinha que avisar

que ia chegar depois de dez horas, pra portaria, pro cara ficar atento.

Entendeu? Era isso. E nós não, não, não imaginávamos que fosse terminar

depois de dez horas. Então, ela falou: “Da próxima vez vocês não esqueçam

de deixar, ter uma previsão que vão chegar depois de dez horas. Pra ele ficar

atento, pra abrir a porta pra vocês.” Então é diferente, né? Lá tinha pelo

menos algo funcionário; aqui era a gente mesmo é que ficava, o aluno mesmo

é que ficava. Quer dizer, ficavam entre aspas, né? Agora...

V.: Do curso em si?

L.: E do curso foi...76

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V.: ...você fez sobre Saúde Pública?

L.: Saúde Pública. O curso... a mesma história, então, a mesma história, na

verdade nós somos o que? Também...

V.: ...primeira turma?

L.: É. Né? Dum, de uma coisa que estava começando. E o curso de lá

também, de Saúde Pública também não estava estruturado, de Enfermagem

de Saúde Pública. Então, o quê que eles fizeram, eles pegaram toda a parte

teórica do curso de Saúde Pública da Faculdade de Saúde Pública e fizeram

uma negociação com a faculdade, então nós éramos alunos, nós éramos

alunos das disciplinas do curso de Saúde Pública de, para graduados.

V.: Ahm!

L.: Com outros profissionais. Então, quer dizer, nós saímos aqui de uma

situação e fomos cair numa situação em que nós tínhamos colegas da

América Latina inteira.

V.: De várias áreas?

L.: De várias áreas! Da medicina, da odontologia, da, da, da farmácia, da

engenharia e da América Latina. Nós tivemos colegas de, de... da Colômbia,

da Venezuela, sabe?

V.: E, e esse...

L.: Então, o curso na verdade a gente tinha todas as disciplinas do curso da

Faculdade de Saúde Pública. E só a Enfermagem de Saúde Pública que era

na Escola de Enfermagem, que era pelas professoras de Saúde Pública da

Escola de Enfermagem, né? Então, fo... foi uma diferença enorme, sabe?

Inclusive uma diferença enorme, quer dizer, você começa a ver [gagueira]

outras questões da, da, da área de saúde, das questões da Saúde Pública,

sabe? E nesse período a gente tem aula as, os nossos professores também a

mesma história, a gente tem professores com todos os catedráticos da

Faculdade de Saúde Pública, que foi o, o, o, o Guimarães, da obstetrícia, o, o,

o Mascarenhas, o Reinaldo Ramos, todos os, os, os “cobrões” da época, de

lá, sabe?

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V.: Luzia, você se sentiu preparada, o curso que você fez em Belo Horizonte

te deu condições de acompanhar esses alunos de outros cursos?

L.: Deu. Da Saúde Pública deu porque, porque na verdade Carmelita tinha

feito o curso em São Paulo. Esse de, de, de, pós graduados. Então, ela tinha,

ela estava chegando de São Paulo. Então, quando ela estava chegando de

São Paulo quando, muitas coisas que ela deu pra nós dentro da Enfermagem

de Saúde Pública...

E.: ...na graduação?

L.: No primeiro ano, foi o que ela tinha visto lá. Entendeu? Então não era tão

estranho...

V.: ...de teoria, né?

L.: De teoria. Não era tão estranho pra gente, né? E, e nós vivíamos na época

uma realidade em que, era, ela tinha uma experiência grande em

Enfermagem em Saúde Pública aqui. E ela deu, passou, deu um pouco disso

pra gente, também. E na verdade lá nós tivemos situações em que a gente

tinha que pela, pro estágio... O curso era estruturado assim: então, a gente

tinha todas as disciplinas do curso de graduação em Saúde Pública para

todos os profissionais da área de saúde e a parte da Enfermagem em Saúde

Pública. E tinha os estágios, então, nós tínhamos três meses de, nós tivemos

três meses de estágio no Centro de Saúde Paula Souza. E no Centro de

Saúde Paula Souza, foram três meses de estágio só de visita domiciliar.

Então, nós ficamos três...

V.: ...vocês já faziam?

L.: Nós já... aqui nós já, [gagueira] visita domiciliar em São Paulo, lá, lá no,

pra, pra, pras, pras necessidades do centro de saúde. E, o, o, o, só uma

diferença que lá nós passamos a visitar a classe média. Porque casos de

sarampo a gente ia visitar e casos de sarampo, o pessoal que estava em casa

era, era de classe média. Rubéola, tá? Então, a gente vi... tinha alguns casos

em que a gente ia pra alguns cortiço, por causa de tuberculose que, que, que

i A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional - LDB - que exigiu a conclusão do segundo grau para o curso de enfermagem é de dezembro de 1961; Lei nº 4.024.

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era em pacientes, em pessoal que morava em cortiço. Então, toda aquela

região ali de Pinheiros, sabe? Da, de Vila Madalena.

V.: E aqui as visitas domiciliares eram da classe...?

L.: Aqui porque [gagueira] lembra que eu te falei que dependendo do, era o

paciente que a gente cuidava no hospital e que a gente ia até o domicílio dele.

V.: É. Pois é. E esse cliente...

L.: ...será que...? Era baixa, [classe] baixa...

V.: ...baixa...

L.: ...baixa. É sabe? De periferia mesmo, sabe? E além disso, nós tínhamos,

nós tivemos estágio dentro das linhas correntes, aí tinha um lá... um estágio

da industria. E outra experiência que foi o Amparo Maternal.10 Também toda a

parte de Obstetrícia nós fizemos no Amparo Maternal. Mas, aí tinha os

plantões, aí a gente po... porque lá era estipulado você tinha que fazer pra

terminar o curso x partos. Aí você tinha que virar, você tinha que ir pro

amparo...

E.: ...mesmo, quer dizer, [gagueira] acabavam fazendo uma integração com a,

com a obstetrícia?

L.: Ti... Saúde Pública tinha, o curso de Saúde Pública era assim: ele era

estruturado, então você tinha o estágio urbano, que era na Faculdade de

Saúde Pública, o, a, parte de obstetrícia que a gente fazia no Amparo, e que a

gente tinha que fazer no mínimo dez partos, porque se não você não, não

colava grau. E, e tinha o estágio rural e o estágio da industria e o estágio

rural. O estágio rural que foi em Araraquara, na verdade era um distrito de

Araraquara, que era Gavião Peixoto. Nós ficamos um mês em Araraquara,

num, num, num distrito de mil e poucos habitantes que tinha médico duas

vezes por semana. E a gente fazia esse trabalho na área rural. A enfermeira

de Araraqua... de, de Gavião Peixoto ela tinha uma Kombi do serviço e ela

que ia pra área rural. Então, a gente saía pras fazendas pra visitar, pra, pra

10 Para maiores detalhes ver entrevista de Carmelita Pinto Rabelo, Irmã Cecília Bhering.

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vacinar os meninos do, dos, dos agregados, sabe? Você trabalhava mais

com, com os empregados das fazendas, sabe? Tudo, tudo...

V.: ...esse curso era a nível de...

L.: ...latifúndio de campo...

V.: pós, de especialização?

L.: Quarto ano!

V.: Era o quarto ano. Não tinha nenhuma titulação?

L.: Qua... é...

V.: Só o quarto ano?

L.: Graduação em Enfermagem de Saúde Pública.

V.: Aqui na Carlos Chagas não teve nenhum curso?

L.: Aí foi quando nós voltamos, que aí Inês e eu nós formamos em sessenta e

cinco lá. E viemos pra cá, pra abrir o daqui, em sessenta e seis.

V.: E aqui antes não tinha o [curso de pós graduação] de obstetrícia?

L.: É, não. Essa é uma outra história. O de obstetrícia...

V.: Que história é essa? [riso]

E.: O e obstetrícia foi uma outra história que eles fun... fizeram o curso de

Enfermagem Obstétrica bem mais, bem antes disso. Que foi, [gagueira] que

funcionou acho que uns dois anos com a Yole e com a Vitória. Na época que

elas trabalhavam no, no, o curso até funcionava eu acho que lá, no hospital

da Policia Militar. Tinha qualquer relação com o hospital da Polícia Militar.

Vocês não conseguiram levantar nada disso não?11

V.: Com a irmã Cecília Bhering.12

L.: Quem...? Vocês entrevistaram a Aparecida Ferreira Moura?

V.: Ainda não.

L.: Ah! Vocês não podem perder não. Porque ela é que tem toda essa história na cabeça.

Quem tinha era Vitória,Yole e ela. Vitória e Yole não tem jeito mais.[Por já terem falecido]

V.: Tem [risos], tem que ser a Aparecida.

11 Não obtivemos nenhuma informação sobre esse curso. Para informações da experiência no Hospital São Francisco, ver entrevista de Gercy Kelles Vieira.12 Maiores informações sobre o curso de especialização em Obstetrícia, ver entrevista de irmã Cecília e de Aparecida Ferreira Moura.

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L.: Tá.

V.: A irmã Cecília falou alguma coisa pra gente... quando a entrevistamos.

L.: É. É. É. Sabe? É, é, isso aí é, é, é da época antes de eu entrar na escola

como aluna.

V.: Sim.

L.: Tá.

V.: Bom, de São Paulo mais alguma coisa?

L.: Bom, de São Paulo, de São Paulo, a experiência foi muito boa... Ahn!

[susto quando copo com água cai à mesa].

V.: Não tem problema.

L.: Foi muito boa a experiência, tá. E... tem papel aí não? Papel almaço.

V.: Pode deixar.

L.: Deixa eu ver o que mais de São Paulo.

V.: Até o seu retorno, pra Belo Horizonte de novo.

L.: Muito bom, muito, muito interessante esse período. Imagina você sair de

uma biblioteca, que era três mesas e três estantes e aí você vai freqüentar a

biblioteca da Faculdade de Saúde Pública, biblioteca da escola, porque da

Escola de Enfermagem era pequena também na época. Era pequena em

relação ao o que é hoje, né?

V.: A Escola de Enfermagem ligada a USP?

L.: É.

V.: A USP?

L.: É. Que era pequena em relação ao que é hoje.

V.: Claro.

L.: Mas vocês imaginem.

V.: Muito maior em relação ao que nós éramos.

L.: É. Então, era pra nós uma maravilha, porque tudo que a gente queria a

gente tinha lá, né? Era muito in... era muito bom mesmo, sabe? E que mais?

Não tem nada assim que eu estou lembrando agora de interessante.

E.: Em relação, por exemplo, [gagueira] o relacionamento com os professores

lá e aqui tinha muita diferença? Mais ou menos a mesma coisa?81

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L.: Da escola?

E.: É.

L.: Da escola?

E.: É. Os professores de enfermagem?

L.: Engraçado os professores de enfermagem tinha, tinha duas professoras,

tinha uma professora de enfermagem que era muito interessante. Ela era uma

mãe assim, era o tempo inteiro no pé da gente, principalmente as de fora.

“Tudo bem, como é que vai, como é que vocês estão, nenhum problema?”

Sabe, sempre procurando acompanhar quê que estava acontecendo, sabe,

quais as dificuldades que a gente tinha, sabe?

V.: Quem era ela? Você se lembra?

L.: Era...

L.: Era... Salomé. Salomé Curi. Salomé. Ela era muito interessante.

V.: Muito bem. Vamos deixar o resto pra outro dia?

L.: Vamos. Quantas horas?

V.: Então, está bom [riso].

[FINAL FITA 2, LADO B]

FITA 3, LADO A

V.: Luzia, é, alguma coisa da primeira parte da nossa entrevista que você

tenha se lembrado e que queira resgatar agora?

LUZIA: Sim. Hou... houve um, um momento em que teve uma abordagem em

relação ao Diretório Acadêmico, né? E, [tosse] na... naquele dia eu, eu não

consegui lembrar o nome, quem era a presidente do Diretório Acadêmico. E

era Zulma [Carmen Viana, presidente do D.A. em 1962]. Então na verdade

existia o Diretório Acadêmico.13 Agora, agora eu não lembro se ele já tinha o

nome da Marina Rezende, sabe? Isso eu não tenho muita certeza, não. Eu

acho que isso foi depois.13 Para maiores informações, ver cap.Organização estudantil,no livro Criação, Quotidiano e Trajetória da Escola de Enfermagem da UFMG: um mergulho no passado.

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V.: Foi depois da morte dela.

L.: Foi depois da morte dela. Né, que, que ocorreu. Mas, já tava, o Diretório já

tava estruturado, ele tava, ele tava, ele já tava consolidando um Diretório mais

independente da, do D.A. da Medicina. Porque antes e... existia uma ligação

muito de dependência, sabe? Então já estava sendo um Diretório bem mais é,

é, desvinculado da Medicina. Apesar de que existia uma, uma, uma relação

de boa vizinhança.

V.: Hum-hum!

L.: Né, porque...

V.: Você, você tinha alguma atividade no DA.?

L.: Não. Eu não lembro não. Depo... eu, eu não lembro se eu tinha atividade.

Eu sei que antes a gente participava de algumas reuniões do DA da Medicina.

E eles dependiam da gente, tinha umas comissões que a gente era

representante, e eles dependiam da gente. Da gente que eu falo das alunas

da Enfermagem, pra poder ter quorum e pra ter voto. Então, muitas vezes, a,

eles vinham até buscar a gente aqui pra poder participar das reuniões, sabe?

Eu tenho uma vaga...

V.: ...lembrança...

L.: ...lembrança disso aí. É, sabe? Agora eu lembro que nessa época quem

era presidente do DA, tinha qualquer coisa, uma ligação, ou era DCE era o

Henrique Santilo. E Zulma era a presidente do DA aqui, então tinha muita

ligação dentre a Zulma, do trabalho conjunto entre a Zulma e o Henrique

Santilo, sabe? Depois, quem que foi o outro, o Silas, esse que já foi mais na

época da Mirthes Versiani [dos Anjos - Vice-presidente do DA em 1962], tá?

V.: Ahn-ahn!

L.: E, e uma outra questão também que, que foi abordada, quer dizer, quando

eu coloquei que a gente não tinha muita, muita ligação entre os alunos, muita

convivência entre os alunos do primeiro ano [barulho de copo de plástico],

aliás, os alunos do segundo ano e do terceiro. Do terceiro era raríssima, a, a,

a, a convivência que a gente tinha com eles, porque não coincidia o local de

estágio da gente. Já com as do segundo não, como a gente estava no

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segundo ano e elas no terceiro a gente já tinha mais uma ligação. E foi aquilo

que eu coloquei, muitas vezes, elas auxiliavam, elas funcionavam até como

instrutoras da gente. Monitora, pra tirar as dúvidas, pra... ajudar no processo

de trabalho, né? E, depois, porque na verdade elas tinham atividades até às

quinze horas, dezesseis horas e nós tínhamos até às cinco [dezessete] horas,

porque as nossas aulas teóricas no início, no primeiro ano, a gente tinha mais

teoria, sabe? E a parte prática realmente era desenvolvi... ela no primeiro ano,

ela era bem, bem suave! Era mais Fundamentos, né? E era intensificava no

segundo e no terceiro ano.

V.: Começava a, a ida ao hospital.

L.: É, ao hospital, sabe? Tudo mais. Ao hospital e, e também ao centro de

saúde, na parte de Saúde Pública. Então a nossa ligação era pequena. Agora

em relação, e as aulas práticas, e as aulas teóricas a gente tinha, como eu

falei, a gente tinha uma aula, uma disciplina que era Ética e História da

Enfermagem, que era a diretora que dava. E muitas vezes...

V.: ...a irmã Clarízia?

L.: É, a irmã Emília Clarízia. E, muitas vezes, ela colocava em sala de aula a,

a, a questões ligadas, à indisciplina, e tudo mais, ligadas aos alunos do

segundo e do terceiro ano. E trazia aquilo como questões de ética [risos],

entendeu? Então, a, a, a questão da disciplina no internato ela era muito,

como é que eu falo? Era muito, muito vigiada, muito, sabe?

V.: Controlada?

L.: Controlada, é.

V.: E vocês três, eram as “pupilas” da irmã Clarízia?

L.: Eram cinco no primeiro ano.

V.: As cinco eram... mais protegidas?

L.: ...as cinco...eram, eram mais protegidas. Não sei se eram mais protegidas,

ou, ou, eu não, não lembro se (...), porque não verdade ela, ela procurava,

não era proteger, ela procurava (...) a sensação que a gente tinha era que ela

queria dar um direcionamento diferente pras cinco, entendeu?

V.: Porque talvez fossem de... tivessem o segundo grau?84

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L.: É. Não sei, sabe? Não sei. Parece que ela deu mesmo, viu! [risos]

V.: Bom, aí você foi a São Paulo, fez o curso...?

L.: Aí, nós fomos né. Das três, como eu coloquei, nós três terminaram o curso

e as três foram pra São Paulo. E quando nós voltamos de São Paulo as três

foram convidadas pra ficar na escola, pra ser professora da escola. Eu lembro

que nós chegamos de São Paulo no dia 26 de dezembro e [gagueira] na

minha situação a Aparecida Ferreira Moura me convidou pra ir pra uma escola

de auxiliar de enfermagem. Que ela queira que eu fosse dar aula no outro dia,

na escola que é do [Hospital] Sara Kubitschek, [Pioneiras Sociais] sabe? Aí eu

comecei em janeiro ou fevereiro na, na escola de auxiliar de enfermagem, que

ela precisava de uma profe... de uma pessoa, de uma enfermeira pra dar a

parte de Saúde Pública. E quando foi em março a Carmelita nos convidou. E

foi muito interessante porque o convite era pra, era pra gente ingressar na

escola em caráter precário, a gente nem sabia como que era o contrato. E, eu

lembro que nós estávamos na Secretária de Saúde, nós tínhamos marcado

uma reunião, porque a gente tinha marcado uma reunião, com Inês e eu na

Secretária de Saúde [gagueira], elas, elas convidaram, isso foi Inês e eu pra

Saúde Pública, pra Enfermagem de Saúde Pública. E, e aí a Carmelita pegou

e falou assim: “Amanhã cedo vocês vão na escola que eu vou dar uma prova

pra vocês. Pra vocês entrarem pra escola.” Nós falamos: “Mas prova, mas

prova como?” Ela falou: “Vou, vou dar um teste lá pra vocês. Pra poder fazer

uma seleção, pra vocês entrarem pra escola.” Sabe, quer dizer, na verdade

ela queria ter alguma coisa documentada. E há pouco tempo quando eu

recebi os meus documentos da universidade, eu recebi a prova, tava

realmente na universidade [risos], sabe? Eu achei muito interessante.

V.: Manteve o, o... o seu...

L.: ...é...

V.: ...a sua pasta.

L.: É, é [gagueira] tudo dentro da minha pasta. Então ela fez essa prova. E, e

nós ficamos, quer dizer, isso foi em sessenta e seis, março de sessenta e

seis, e foi justamente pra gente iniciar o quarto ano de Enfermagem em 85

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Saúde Pública, ta’? Então na verdade nós tínhamos tido a experiência de São

Paulo e nós tínhamos que introduzir o quarto ano aqui, né? E é nós, é lógico

que, [gagueira] tanto a minha experiência quanto a de Inês e a de Carmelita

era, era o mesmo tipo, porque foi tudo na mesma escola.

V.: Hum-hum!

L.: Né? Tudo dentro de uma Saúde Pública, dentro do modelo Jonh Hopinks.

E, então, diante disso, nós estruturamos o curso da mesma maneira que era

da faculdade de Saúde Pública, com as mesmas disciplinas. E nós fomos

buscar quem seriam os docentes. Aqui então, nós, nós tivemos que, que

eleger um corpo de, de docentes que tinha o domínio daquele conhecimento.

Então, eu lembro que nós buscamos foi, durante muito tempo, foi no

professor, é, Pinto Machado, Clóvis Beuchiar. O Pinto Machado dava Saúde

Pública, o Clóvis Beuchiar dava saneamento, que ele tinha sido professor

nosso, inclusive, já era professor da escola de saneamento. Ele que dava

saneamento. O Paulo Lener, Paulo Lener, quem mais? Tinham vários

professores, e a gente buscou nos professores da Medicina Preventiva, eles

eram do tratamento de Medicina Preventiva, né? E ficou na parte de

enfermagem, então ficou Carmelita, Inês e eu. E a gente dava as disciplinas

de enfermagem que a gente dava na época era a Enfermagem em Saúde

Pública, tinha uma disciplina, tinha Didática que não era uma didática aplicada

à enfermagem, mas era uma didática que a gente dava uma série de técnicas

de ensino, metodologia de ensino, tá? E tinha, aliás, essa didática ela era

dada numa disciplina que chamava Educação para a Saúde, dentro da

Educação para a Saúde que a gente dava essa abordagem. E que mais

nessa época? Bom, aí o quarto ano foi em sessenta e seis, sessenta e sete,

sessenta e oito, eu não lembro depois como foi que nós reformulamos esse

quarto ano. Porque na verdade a parte prática, então o que quê aconteceu,

nós não tínhamos dentro da nossa cabeça, dentro de todo o modelo

organizado como era Saúde Pública em São Paulo, como em São Paulo

existia o Centro de Saúde Paula Souza, então nós, nós buscávamos nessa

época um local que os alunos tivessem condição de desenvolver um trabalho 86

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de saúde... de, de, de, de Enfermagem de Saúde Pública mais sistematizado,

e isso não existia aqui, porque Saúde Pública aqui, né, era muito, tinha muito,

tinha muito a desejar. Não existia realmente! Então era mais dentro daquela

história, dentro das campanhas, né?

V.: Não tinha visita domiciliar nesta época?

L.: Aqui não? O trabalho que tinha nessa época era Carmelita que fazia, mas

assim, não tinha, não era, não era, não era um trabalho estruturado do

Serviço de Saúde Pública, não. Era um trabalho e a Carmelita desenvolvia no

Centro de Saúde Tia Amância e lá ela desenvolvia a visita domiciliar, mas

vinculado à escola. Foi uma situação, uma situação criada pra atender as

necessidades do ensino.

V.: Hum!

L.: Não eram atividades já absorvidas pelo sistema, tá? E nós buscávamos,

né, trabalhar já em, buscando mais atividades absorvidas pelo sistema.

Buscando mais a realidade, não criar situações, que era criado somente pela

escola. Isso a gente não queria fazer, isso era claro pra gente. Então, a única

maneira que nós encontramos foi levar os alunos pra Pirapora.

V.: Hum-hum!

L.: Pra fazer estágio de um mês em Pirapora. Então, essa turma que foi a da

Norma [Lúcia de Matos], da Marilda [Silva Pereira]14, da [Maria] Rizoneide

[Negreiros de Araújo]. A Rizoneide foi da segunda turma. Foi. Rizoneide foi da

segunda turma, da Marília [Siqueira Mendes] 15. Aí, nós fomos para Pirapora,

tá? E ficamos acho que um mês em Pirapora. Aí, eu que fui acompanhei as

alunas em Pirapora. Fazendo estágio na Fundação SESP, né? E o curso era

de um ano. Ele funcionava em um horário...

V.: ...tinha muitas alunas?

L.: Eram, não sei se oito alunas.

V.: Essas alunas eram egressas só da nossa escola?

14 Formadas em dezembro de 196615 Formadas em dezembro de 1967

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L.: Só da nossa escola... Espera aí. Eu não sei se tinha alguma de fora nessa

época. Quer dizer, eu acho que era mais da nossa escola, nessa turma. Que

essa turma... que era...

E.: Quem é que financiava isso?

L.: A universidade.

E.: Viagem, estadia lá e tudo?

L.: A universidade.

E.: Tinha algum tipo de bolsa? Para os alunos, não?

L.: Tinha bolsa, a universidade... Eu não sei como, como que era. Bolsa não.

A Carmelita, ela tinha, ela conseguiu... não! A primeira turma cada um pagou.

Eu fui pra universida... pra lá, para o colégio e eu paguei a minha estadia lá.

Ninguém financiou não. O curso lá não. Nós ficamos no colégio de freiras, tá?

Em que ela dava refeição e a gente tinha, tinha um dormitório que dormia todo

mundo nesse [gagueira] os alunos e, e os professores. Inês ficou um período,

depois Inês voltou e eu fiquei. Não! Nós é que pagamos. Agora que eu

lembrei disso. Não teve nada disso não.

E.: Isso no início, só?

L.: No primei... na primeira turma. Tá? E eram quantas alunas? Deixa ver se

eu lembro o nome delas! Olha era a Marilda, a Ana Pio [Valadares], a Norma,

a Maria José Aun, (...). Será que a Silvânia [Del Carrilo]16 era dessa turma? Eu

não lembro se a Silvânia era dessa turma. Silvânia, acho que foi da segunda

turma. Acho que mais umas duas ou três, acho que eram seis. Acho que eram

seis alunas. Não me lembro bem agora.

V.: Esse curso que vocês deram aqui, esse quarto ano, era nos moldes do

que você fez em São Paulo?

L.: Hum-hum! Isso que eu te falei, era o modelo que a gente tinha. Nós

procuramos desenvolver, né? Nós criamos o curso com as mesmas

disciplinas. E inclusive buscando o mesmo conteúdo programático, tá? Nós

tínhamos um conteúdo programático e, e por isso que nós buscamos a, a, a,

pedimos ajuda pra parte de saúde pública no departamento de Medicina 16 Formou-se em 1966

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Preventiva. Depois, já pra segunda turma, também, ele continuou sendo dado

nos mesmos moldes, né? E, era um curso de um ano, no horário da tarde,

porque todo mundo trabalhava no, no, no horário. Então, o curso começava

às quatorze horas. Sendo que nesse período de estágio de um mês era

tempo integral [bate a mão na mesa]. Aí elas tinham que pedir liberação do

serviço pra poder ir pra, pra, pra Fundação SESP. Nós fizemos, nós tivemos

essa experiência na Fundação SESP por dois anos, em Pirapora. A segunda

turma também foi. Depois, a nós passamos, nós fizemos, passamos por mais

uma reestruturação. Ah! Aí foi sessenta e seis e sessenta e sete. Aí em

sessenta e sete nós fomos para Pirapora. Quando foi em sessenta e sete a

escola, a Carmelita era chefe do serviço de enfermagem da Secretaria do

Estado da Saúde. (...) Era Carmelita ou era dona Izaltina [Goulart de

Azevedo]? Eu acho que era... a Carmelita era do estado e a dona Izaltina que

era chefe. Mais quem tinha mais atuação [gagueira] a dona Izaltina tinha mais

um cargo político. Quem tinha mais a, o cargo técnico, quem mais

determinava as diretrizes da enfermagem, era mais a Carmelita. Então, o, o, o

diretor do Hospital Municipal, o atual Odilon Berhens, da prefeitura, né? A

[inaudível] foi pedir ajuda ao estado. Acho que o secretário da saúde naquela

época era o [mesmo] que diretor do, (...) do, do Hospital São Francisco. Como

é que chama, como que é nome daquele pessoal, de lá? Souza Lima!

V.: Souza Lima. Família Souza Lima.

L.: O prefeito era o Souza Lima [bate na mesa]! Era a família Souza Lima que

tava no município, mandando no município nessa época, tá? Então, foi, foram

pedir ajuda ao estado. Então, foi pedir ajuda ao estado e lógico que aí o

secretário da saúde encaminhou para a chefia... para, pra o setor de

enfermagem. E foi nas mãos, caiu nas mãos da Carmelita. Então, o quê que

ele fez: [gagueira] o secretário da saúde colocou cinco enfermeiras do estado

pra poder organizar... à disposição do Hospital Municipal, pra poder organizar

o Hospital Municipal. As enfermeiras do estado que eu lembro era a Ilza

[Domingues e Silva], que era professora aqui da escola, por seis meses, era

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esse período. Era a Ilza, a Carmelita, a Maria José, Maria José da Silva17 e

uma outra... que era, como que ela chamava? Era aqui das Clínicas também.

Esqueci o nome dela agora. Eram essas cinco. Então, elas davam quatro

horas no Hospital Municipal. Aí como o trabalho tava muito lento, eu e, e, e

Inês éramos da escola. Nós trabalhávamos quatro horas na escola. Nosso

contrato precário, quatro horas não, nós tínhamos doze horas semanais,

nosso trabalho, tá? O nosso contrato, era um contrato provisório de doze

horas semanais. Então, porque existia doze horas e vinte horas, mais de...

E.: ...não existia quarenta horas?

L.: Não. Não, tá? Então, aí Carmelita pediu se a gente não podia ir para o

Hospital Municipal para dar uma ajuda, sabe? Então, ficou Inês e eu no

Hospital Municipal. Aí nós entramos em sessenta e sete para o Hospital

Municipal e só saímos de lá em setenta. Só que a nossa ajuda, as

enfermeiras do estado saíram e só ficou Carmelita, Inês e eu. Então, nós

tivemos que reestruturar. Aí o quê que aconteceu, nós pegamos, então, pra

reestruturar o hospital e discutimos com a che... direção do hospital e foi feito

um convênio com a Escola de Enfermagem. Aí é que aparece o convênio da

Escola de Enfermagem com a prefeitura e os alunos entram como bolsistas.

Ta? Então, aí nós tínhamos alunos do primeiro, do segundo e do terceiro ano.

Alunos do primeiro e do segundo... Tinha... tínhamos, nós tínhamos três ti...

três categorias lá. Nós tínhamos alunos, alunos que faziam estágio lá.

V.: Curricular!

L.: Curricular. E tínhamos alunos bolsistas, estagiários, que era fora do seu

lo... fora horário de trabalho.

V.: Consi...

L.: ...eles trabalhavam a tarde e a noite. E quem fazia a supervisão, quem

fazia supervisão no horário da tarde, no horário da manhã era Inês e eu no

horário da tarde. Porque de manhã eu estava na escola. Ou então, quando eu

estava de tarde na escola eu ia de manhã para o hospital.

17Professora da Escola de Enfermagem Hugo Werneck, da PUC MG

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V.: Então esses alunos não tinham essas atividades incorporadas às

atividades da escola?. O currículo da escola?

L.: Os alunos sim.

V.: O segundo? Do segundo?

L.: Não o segundo, não. Eles eram bolsistas...

V.: ...era como uma atividade extracurricular?

L.: Extracurricular.

V.: Acompanhada pela escola?

L.: Pela escola, né?

V.: Que tipo de atividade vocês desenvolviam com ele [gagueira]...

L.: ...de tudo...

V.: ...havia diferenciação... entre os, os bolsistas...

L.: ...havia...

V.: ...e os... os alunos?

L.: Havia, havia.

V.: Como?

L.: Havia diferenciação no seguinte: os alunos no primeiro momento, porque

ele primeiro só passava a ser bolsista depois que ele já tinha passado por

aquele estágio. Depois que ele passou no estágio de Enfermagem Médica, aí

ele seria, poderia ser bolsista, atuando na Enfermagem Médica. Entendeu?

V.: Hum-hum.

L.: A gente fa... fazia assim, eles tinham que ter experiência pra depois ele

passar como, pra ele ser bol... pra ele ser estagiário.

V.: Hum-hum.

L.: E, a diferença era o seguinte: que os alunos enquanto alunos, eles

estavam lá, eles tinham supervisão direta dos professores da escola. Que

tinham três professores que estavam lá, era dona Daura [Pacheco Ribeiro],

dois professores, era a dona Daura e a Marilda, tá? E, e depois [gagueira] nos

outros horários que era os estagiários, então, nós tínhamos estagiários do

primeiro ano, não sei, do primeiro ano, do segundo e do terceiro. Os do

primeiro ano era pela escala de pessoal, eles tinham uma escala diferenciada. 91

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Então, eles tinham aqueles do primeiro ano que desenvolvia mais era cuidado

direto com o paciente, unidade, unidade, cuidar da unidade do paciente, ir pra

farmácia, sabe? Pegar medicamento e essas atividades mais, que, que ele

tinha condições de desenvolver.

V.: E não tinham supervisão direta?

L.: Tinha, a supervisão era, era supervisor do setor. Ele era vinculado a

supervisor do setor. E, muitas vezes, e... Ah! Outra coisa e com ele tinha

aluno, a gente fazia da seguinte maneira, tinha aluno do primeiro ano no

setor, do segundo e do terceiro.

V.: No mesmo setor?

L.: No mesmo setor [riso]. Entendeu?

V.: Então um complementava...

L.: ...é...

V.: ...de uma certa forma?

L.: É.

V.: Orientava o outro...?

L.: É, é. Orientava...e, e a gente ficava, porque nós éramos só duas

enfermeira, era Inês e eu. E a gente fazia supervisão do hospital todo num

horário, então isso...

V.: ...tinha algum funcionário além dos alunos?

L.: Ah não! Além dis... claro que todo processo de organização, e tinha outros

funcionários que a prefeitura só tinha uma enfermeira, o pessoal todinho, na

época que nós entramos, o pessoal que tinha uma série problemas, tudo

mais, foi colocado a disposição, né? O pessoal mais antigo foi colocado para

o ambulatório. E a gente tin... nós ficamos com pouquíssimo, mais na

maternidade, que eram as, as, as parteiras. E nós buscamos a contratar

auxiliar de enfermagem. Aí a prefeitura parece que abriu concurso pra auxiliar

de enfermagem, sabe? Na prefeitura. E depois, aí como, aí a escola

conseguiu manter sessenta e sete, sessenta e oito, sessenta e nove,

sessenta e nove a escola conseguiu ainda manter o convênio. Aí tava

[barulho de sirene] dando, tava tendo uma série de problemas ligados à 92

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prefeitura, que Carmelita é que tem melhores condições pra informar. Porque

quem gerenciava esse convênio, era um convênio com a Escola de

Enfermagem que o dinheiro era passado para a Escola de Enfermagem pra

conta da Escola de Enfermagem, que na época é, é dona Izaltina que era

diretora. E...

V.: ...que dinheiro?

L.: Do convênio.

V.: Ah, a prefeitura pagava a escola um dinheiro?

L.: Porque a prefei... pagava.

V.: E além disso...

L.: ...a, a escola que pagava os alunos.

V.: Ah, sim.

L.: Você entendeu? Porque... [tosse]

V.: ...uma parte pagava para os alunos e uma retia, retia uma parte pra ela?

L.: Isso eu não sei. Isso eu não sei porque tin... existia o convênio [pigarro], e,

porque quem tem condições de responder por isso são os órgãos da

universidade. Que era um convênio legal. Entendeu? É...

V.: ...vocês professores tinham um salário diferenciado porque estavam lá?

L.: Não. Aí, aí, não, [gagueira] nesse caso, não. Diferenciado, não.

E.: Vocês tinham antes um, um contrato precário... de doze horas.

L.: ...nós tínhamos... doze horas.

E.: Ao entrar lá... mudou esse contrato?

L.: [pigarro]Não. O contrato precário de doze horas manteve da mesma forma.

O que acontecia, porque no caso da Inês e o meu caso, aí nós tínhamos pelo

convênio duas bolsas. Nós recebíamos duas bolsas.

E.: Ah!

V.: Complementar ao salário?

L.: É. Pra poder... não, não era complementar ao salário era pra pode atuar lá.

Porque eu tinha, nós tínhamos doze horas pra estar na escola. Porque nós

cumpríamos nosso horário na escola.

E.: E mais...93

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L.: ...e mais o de lá...

V.: ...e mais o de lá.

E.: Ah, tá!

L.: Entendeu? Então, nós tínhamos duas bolsas, tá. Que, que era, quem

pagávamos, quem, quem pagava esse, esse, era feito o pagamento aqui na

secretaria da escola. Era dona Nilza [Andrade Ribeiro] que fazia o pagamento.

Ela tinha a folha de pagamento. Então, a escola que recebia e dona Nilza que

fazia a folha de pagamento. Tá?

E.: Antes de, da gente prosseguir um pouco mais nessa história do, do

convênio eu queria saber o seguinte: quem fazia o terceiro ano podia exercer

a profissão?

L.: Não.

E.: Quer dizer, que tinha necessariamente que fazer até quarto ano? E como

é que fazia antes quando não existia quarto ano?

L.: Ah! Não, claro. Podia, é.

V.: Quem [não] fazia o quarto podia exercer a profissão?

E.: Não. Quem fazia até o terceiro.

L.: Po... podia claro é o...

E.: Podia exercer?

L.: Podia.

E.: O quarto era opcional?

L.: É, é gra... gra... graduação, mas ele graduava no terceiro ano.

E.: Ah, tá! O quarto era opcional?

L.: É.

E.: Não era uma especialização?

L.: Não! É graduação também.

E.: Era graduação.

L.: Era.

E.: É mais ou menos parecido com o que veio posteriormente?

L.: É a mesma coisa. Não é nem parecido é a mesma coisa.

E.: É a mesma coisa né? Tá? É, é, é [risos] uma outra coisa...94

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L.: ...ele só foi regulamentado. Ele foi mais clareado eu acho. Mas não tinha

diferença, não.

E.: Ah! E uma outra coisa, você que tinha uma experiência pelo menos em

São Paulo de Saúde Pública, aí quando você entrou no Hospital Municipal,

como que era isso dessa, dessa transição, ou desse tramitar da, da, da saúde

pública pra assistência hospitalar, como é que se dava isso?

L.: Olha, a coisa mais interessante, porque [gagueira] nós não tivemos muita

dificuldade não. Porque na verdade a formação básica nossa dos três anos

era pra, era da área hospitalar. O currículo da escola todo voltado pra área

hospitalar, né?

E.: [inaudível]

L.: É [riso]. Então foi só o quarto ano, entendeu? Que era de saúde pública.

Quer dizer, justamente aque... aquela [barulho de copo de plástico] parte que

não tinha pelo currículo que não tinha, que é, que né? Que a saúde pública

que não tinha no currículo que nós fomos...

E.: Quer dizer...

L.: ...buscar em São Paulo...

E.: ....que quando você entrou na escola, você não tinha nenhuma experiência

exceto curricular, tanto na área hospitalar como na saúde pública?

L.: Não.

E.:Ahn-ahn.

L.: So... somente curricular.

E.: Tá. Quer dizer, você saiu da escola vamos dizer, e entrou como

professora?

L.: Foi.

V.: Primeiro emprego.

L.: Meu, meu primeiro emprego.

V.: E na, e na Escola de Auxiliar de Enfermagem, do Sara Kubitschek... você

chegou a ficar algum tempo?

L.: Fiquei. Eu fiquei um ano lá.

V.: Concomitante?95

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L.: Con... aqui na escola, [gagueira] no período de sessenta e seis.

V.: Ah, antes de entrar na, no...

L.: ...no Municipal...

V.: ...no Odilon Berhens.

L.: É, tá. Eu fiquei lá, tá? Fiquei, porque aí eu tinha um horário de manhã, eu

tinha um horário que era lá e o horário da tarde, o curso era a tarde aqui, o

curso da escola. Era de quatro às seis.

V.: Hum-hum.

L.: Ah! [estala a língua] De que quatorze às dezoito.

V.: Hum-hum. E como é que acabou essa, esse convênio com a, com o

Odilon?

L.: Espere, pois é, [gagueira] essa história foi o seguinte: aí parece que a

escola, eu não lembro das datas, quando é que foi, esse convênio durante

dois anos ou... Aí o quê que aconteceu criou-se uma necessidade de, de

contratar pessoal para o hospital, porque o hospital foi aumen... quer dizer, foi

aumentando, nós abrimos, estava muito fechado, nós abrimos mais

enfermarias, houve uma reforma toda dentro do hospital. Foi reformulado todo

o bloco cirúrgico, então aumentou o número de cirurgia. Então houve a

necessidade de, de aumentar o contingente de enfermagem. E a escola não

tinha jeito de suprir essas necessidades. Aí discutiu, foi discutido na direção

do hospital em buscar uma forma, e o, e ao mesmo tempo a prefeitura não

podia contratar, porque ela não tinha, pelos quadros da prefeitura não era

possível, não tinha, pelos quadros da prefeitura era impossi... não tinha

cargos, entendeu? Era isso. Porque as pessoas que existiam estavam nos

postos de saúde, que eles já tinham colocado à disposição, nos postos de

saúde, estavam com todos os cargos ocupados e da seguinte maneira: tinha

os, os cargos de enfermeira que existiam estavam, estavam ocupados por

pessoal atendente, que entrou no cargo de enfermeira e recebia como

enfermeira. Era uma confusão. Os, os cargos de auxiliar de enfermagem

estavam ocupados pelo pessoal atendente que não eram auxiliar de

enfermagem. Então, [gagueira] o quadro era muito confuso. E não, e não 96

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tinha uma, uma solução pra isso. Aí a melhor maneira foi de encontrar o

caminho de verificar a possibilidade de abrir uma firma, uma prestação de

ser... de terceirizar, na verdade [riso]. Entendeu? E, então o quê que

aconteceu na, nas discussões surgiu, discutiu-se essa oportunidade e teve

uma enfermeira que era enfermeira do INAMPS, ela tin... eu não sei, eu não

lembro, eu acho que ela tinha, ela foi do grupo, ela era do INAMPS, ela era do

estado também. E ela foi, agora que eu lembrei, ela foi do grupo das cinco

que foi para o estado, que foi para o Hospital Municipal e que num, num, não

permaneceu lá, só ficou os seis meses. Então, diante disso ela abriu uma

firma que chamava SEND, serviço de enfermagem, tá? Ela abriu uma firma e

essa firma, ela fez um convênio com a prefeitura. Ela fez uma convênio com a

prefeitura de, de, ela recebia um dinheiro x, dentro do convênio ela tinha um

dinheiro x e que ela tinha que contratar tantos auxiliares, tantos enfermeiros

para o Hospital Municipal, tá? Agora era uma firma legal, como todos os, os

direitos trabalhistas, tudo ok, tudo legalizado. Aí, então, o quê que aconteceu:

nós passamos para essa firma, tá? Aí teve, [gagueira] teve possibilidade de

colocar mais enfermeiros dentro do hospital, aí aquelas enfermeiras, as

alunas do terceiro ano já passaram pra, para o SEND já como enfermeiras e

passaram a ser supervisoras do hospital. Então, quando nós saímos do, fo...

foram várias turmas que passaram pelo Hospital Municipal, quando no... eu

saí de lá em setenta, o hospital ainda continuou e depois quando foi, passou a

prefeitura, a beneficência assumiu, depois teve condições de assumir toda a

estru... toda a parte de enfermagem do hospital, aí a beneficência já contratou

enfermeiras e eram as próprias ex-alunas que tinham passado por lá. E a

primeira chefe de lá eu não sei se foi a, foi a, foi a Iracema, Iracema Mamede,

depois foi a Giga, a, a, a Maria Girlene Martins, tá? Então, teve, teve uma...

V.: ...Francisca!...

L.: ...sabe, teve uma história. Qual Francisca? A Chica?

E.: V.: Eronildes?

L.: Não.

E.: Foi não?97

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V.: Elas não...

L.: [inaudível]

V.: ...chegaram a trabalhar lá com...

L.: ...não...

V.: ... nessa parte da administração, quando a administração tomava... conta

do hospital?

L.: Bem, bem depois, bem depois disso.

V.: Ah, sei!

L.: A história da Francisca, da Francis lá e bem mais tarde. Que ela veio pra

cá, ela veio pra, ela era da Bahia e veio pra cá bem mais tarde, sabe?

V.: Hum-hum! Bom, voltando...

L.: Agora nessa, bom, bom, bom, nessa parte aí, né? Ah! Porque que eu

entrei nessa história toda [gagueira] era justamente por isso, [gagueira] aí foi

diversificado o curso nosso. Antes ele estava voltado somente para

Enfermagem de Saúde Pública, aí o quê que aconteceu, diante de... dos

alunos, aí nós tínhamos mais alunos...

E.: ...quer dizer, isso significa que só tinha o quarto ano de Saúde Pública?

L.: De Saúde Pública, tá?

E.: Não tinha, não tinha quarto ano de outra...

L.: ...de Enfermagem Obstétrica, não.

E.: Tá.

L.: Era, a Noemi veio pra cá pra poder, pra poder [tosse], pra poder acontecer

e, aí é outra história. Essa história eu num, não tenho, é outra vertente, eu

não tenho...

V.: ...pra obstetrícia...

L.: ...é...

V.: você não sabe essa história.

L.: Eu não tenho... eu sei mas é muito pouco, então, num, não convém, né?

V.: Hum-hum, ahn.

L.: Aí, quê que aconteceu, a... aí, aí nós, nós estruturamos o curso diferente.

Aí nós passamos de acordo com as necessidades dos alunos. Eram as, as 98

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turmas já eram de trinta, trinta e cinco alunos, né? Então, nós, nós

estruturamos o curso diferente. Ape... ele tinha uma parte básica de

Enfermagem de Saúde Pública, o curso. Além de uma parte básica ele tinha

uma parte específica, que era de acordo com a, a, a experiência do aluno,

aquilo que ele optava. Aí a gente, gente pegou três ou quatro áreas, aí nós

pegamos Enfermagem em Saúde Pública, Enfermagem Psiquiátrica, (...) qual

é a outra área que tinha? Eu acho que é Médico-cirúrgico. Era. Foram três

áreas.

V.: Isso tudo antes da 04?

L.: É. Eu não lembro se antes da 04 ou se já foi depois da 04.

V.: Setenta e dois?

L.: Já foi depois da 04.

V.: É porque em setenta e dois houve uma nova reforma do ensino onde

foram criadas as habilitações.

L.: É tem razão. Mas aí, aqui as habilitações foram criadas aqui foi só em

setenta...

E.: ...[inaudível] setenta e dois...

L.: ...e só em setenta e cinco.

E.: ...é [inaudível]

L.: Pela [inaudível] de setenta e seis. Então na verdade continuou um pouco

[gagueira] nós, nós mexemos na estrutura interna do curso. O aluno recebia,

ele era graduado em Enfermagem de Saúde Pública, ele tinha uma parte

básica na Enfermagem em Saúde Pública, mas o estágio dele é que era

especializado. Então, aquele que fizesse opção por Psiquiatria ele ia fazer

estágio em Psiquiatria. Então, aí tinha a Terezinha Cardoso, além da

Terezinha Cardoso quem era a outra professora da psiquiatria, também.

Então, eles tinham, eles faziam estágio em Psiquiatria no [Hospital Espírita]

André Luiz, em, em outros lugares. Nos, nos, nos estágios da escola, tá?

Silvéria, não a Silvéria foi das que optou, foi aluna e optou por psiquiatria...

[FINAL FITA 3 LADO A]99

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FITA 3, LADO B

L.: ...tá? [barulho do gravador em contato com a mesa] [tosse] no grupo, aí é

uma outra história. Tinha um grupo da emergência, que aí tinha o [Hospital

de] Pronto Socorro e nós tínhamos os colaboradores do Pronto Socorro,

vários, por exemplo, [médico] o Evilázio Teubner Ferreira dava aula aqui na

escola, o [médico] Célio de Castro dava aula aqui na escola, pra, para o

quarto ano, era o quarto ano mas para o grupo que tinha feito a opção

[gagueira] pra Médico-Cirúrgica. É a mesma história, o grupo que tinha ficado

com Enfermagem de Saúde Pública eram os mesmos professores do

Departamento de Medicina Preventiva e mais a parte da enfermagem, que a

gente dava. E a parte pra Enfermagem em Saúde Pública nós fomos dois

anos para o Rio de Janeiro pra, pra Escola Nacional de Saúde Pública, para o

Centro de Saúde lá de Manguinhos, tá? E é muito interessante essa

passagem porque, aí foi a mesma história: a escola tinha que providenciar

local para os alunos ficarem, eu não sei como a escola... aí escola financiava

o local e a primeira vez, como é que foi a história? A primeira vez as, os

alunos ficaram na Escola de Enfermagem Anna Nery, tá? E eu também fiquei

na Escola de Enfermagem Anna Nery. Mas a minha...

E.: ...porque a saída pra lá?

V.: ...estágio?

L.: ...pra buscar estágio, buscar uma Saúde Pública mais organizada,

entendeu? Um mês de estágio lá. Então elas passaram, aí o estágio eu, eu

lembro que foi eu que fui, aí a mesma história foi eu que financiei toda a

minha ida, também. Passagem, hospedagem, tá? Comida, tudo era por minha

conta e... mais eu só ia, eu só fui no início fiquei uma semana lá, menos de

uma semana, só mesmo pra discutir, porque quem ia acompanhar o estágio

era a enfermeira da, do, do, do Centro de Saúde, tá? Só pra passar todo, dar

toda orientação pra ela. E depois na avaliação, tá?

V.: As alunas ficavam no mesmo local que vocês?

L.: No mesmo local.100

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V.: E, e aí você como professora, era com as alunas, tinha uma

convivência...?

L.: Tinha. Normal.

V.: Sem aquela, aquela...?

L.: Não, sem burocracia nenhuma. Eu, eu dormia no quarto de aluna.

V.: Sem aquela [inaudível]...

L.: ...não...

V.: ...que tinha quando aluna.

L.: Quando, quando eu cheguei que eu fui pra Anna Nery; aí eu fui descobrir

aonde é que eu ia ficar. Aí tinha um quarto, eles me deram uma vaga que era

uma pessoa da pós-graduação. Então, a, a pessoa que me recebeu falou que

ia me colocar com uma aluna da pós-graduação porque achava por bem não

ficar, eu ficar com os alunos. Só que quando eu entrei no quarto, eu voltei e

falei pra ela que ela estava enganada que eu preferia ficar com os alunos do

que ficar com uma pessoa que eu não conhecia, porque o quarto não tinha

condições. Melhor desligar. [risos]

V.: Stop. [risos]

[INTERRUPÇÃO DA FITA]V.: Bom, aí você... preferiu ficar com as alunas?

L.: ...aí...Aí ficamos com as alunas. Eu fiquei no quarto com uma aluna, sabe?

Foi até com a Marisa , Marisa Minas Montes, tá?

V.: Nesse período...

L.: ...e era muito interessante agora você con... é muito interessante porque

quando você for entrevistar alguém que passou por esta experiência, elas têm

muita coisa interessante que elas vivenciaram lá, dentro também de um

internato, né?

V.: Porque você não entrava...

L.: ...dentro do esquema de internato...

V.: ...em contato com as outras internas?

101

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L.: Não, porque eu fiquei pouco tempo. Eu fiquei lá, lá eu devo ter ficado lá

uma semana, nem isso.

V.: Ah, só pra introduzir as alunas?

L.: É.

V.: Depois você voltou?

L.: É. E elas que ficaram um mês, né? Então elas têm, devem ter casos muito

interessantes, [riso] sabe? Da história de lá. Bom, que mais que... quê que

foi? Tá.

V.: Continuar com a questão... do curso, né?

L.: ... aí foi a questão... do curso, né? Foi a, a, a, a, essa, essa opção, né? E

aí ele foi, ele foi dessa maneira, aí que veio a reforma, né? Veio a Reforma

Universitária, [em 1968] nessa época de sessenta e sete eu já tinha[gagueira]

ia começar em sessenta e sete?

V.: Meia oito.

L.: Sessenta e oito, é. Sessenta e oito, aí o curso manteve. Ah, é, o curso

manteve, aí foi, não aí a reforma foi da minha escola. Toda a reforma, né.

Toda a reestruturação da escola.

V.: Como que você se lembra dessa...

L.: ...é, a criação de departamentos.

V.: Como é que era antes da, da reforma universitária? O quê que mudou com

a reforma universitária da estrutura organizacional da escola?

L.: Da estrutura organizacional da escola foi na época, foi, começou, foi a

onde, quem era diretora era dona Izaltina... aí quando eu entrei pra escola

quem era diretora era a irmã Maria Carmem [Teixeira], aí a escola já era

outra, né? A irmã Emília já não estava mais aqui. E depois da irmã Maria

Carmem, quando eu estava, aí [gagueira] aí foi trabalhar no processo de

desanexação.

V.: Isso.

L.: Né? Dentro do processo de desanexação, que foi a Carmelita que

trabalhou arduamente, a Izaltina como sempre comandando a parte política,

também. E eles tiveram vários aliados, primeiro elas trabalharam junto à 102

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universidade. Porque elas tinham trabalhado junto à universidade, tinha uma

pessoa da universidade que dava assessoria pra elas, eu não lembro mais o

nome. Carmelita tem, deve ter essas informações, né? E, e...

V.: ...e os contra?

L.: Os contra devia ser de lá da, os contra...

V.: ...você não conhecia?

L.: ...os contra da medicina. Não, não os contra...

V.: ... não entrava nesse...

L.: ...não. Os contra era, os contra era de gestão da medicina, né? Aí era toda

a congregação dos contras. Então, tinha que trabalhar era junto à

universidade, tinha que trabalhar todo mundo. E da medicina tinha gente a

favor. Por exemplo, aqueles professores que eram daqui, os nossos aliados,

que eram da medicina preventiva eram todos a favor. Professor Pinto

Machado, né? Então tinha gente na universidade que dava esse apoio. Aí

essa história realmente mais de perto eu, eu num, num, não tenho informação

dela porque na verdade no, nem na, na, na, no, no ato de desanexação eu

não participei. Porque nessa época eu estava com a segunda turma em

Pirapora, e eu fui pra Pirapora para Carmelita poder vir pra cá pra poder

participar do, do ato de, de desanexação, sabe?

V.: É, [gagueira] nessas, nessas discussões políticas, digamos assim, os

professores não tinham muita participação era só, era só a direção?

L.: Porque na verdade essas, na verdade a escola não tinha nada. Os, os

professores tinham uma representação junto à medicina, porque a escola era

anexada à medicina. Então ela pertencia a, a, a Congregação da Medicina. E

só tinha assento à Congregação da Medicina, me parece, que era só a

diretora da escola.

V.: Hum! Era só uma pessoa?

L.: Então... Era só uma pessoa. Então, tudo era visto, trazia pra cá, mas sobre

os olhos da direção da escola.

E.: Hum-hum.

V.: Hum-hum.103

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L.: Entendeu? E que, muitas vezes, ela não nem era convidada à participar.

Ela era figurativa, ela não era nem convidada pra participar da Congregação,

tá? Aí, aí vem a desanexação, aí vem a desanexação e vem a reestruturação

da escola, né? Aí vem a discussão de, de criar os departamentos, aí vem a

história todinha como seriam os departamentos, a necessidade de se criar

esses dois depar... três departamentos, que discutia muito a questão de criar

dois departamentos e tinha uma disputa muito grande. Mas, aí no final

realmente foi criados dois departamentos, que foi na época que era o DEB

[Departamento de Enfermagem Básica]e o DEA, né?

V.: Hum-hum!

L.: Então... e com, com isso também veio a, a, a...

E.: ...era assim que chamava o Departamento de Enfermagem Aplicada?

L.: Era, era o DEA. Depois bem mais tarde que criou o DEMISP

[Departamento Materno-Infantil e Saúde Pública], né? Aí depois que criou, aí,

dentro do, do, do DEA as disciplinas... bom até essa data eu era ainda

[professor] colaborador.

V.: Hum-hum!

L.: Né? Eu era colaborador. Então eu fiquei de sessenta e seis a sessenta e

oito enquanto colaborador, com as doze horas semanais. Trabalhava vinte e

quatro, né?

V.: Sim.

L.: Duas horas semanais. Depois de... aí foi que veio o contrato precário, pra

vinte horas semanais. Aí veio esse contrato precário que aí nós passamos a,

foi, aí foi, e esse contrato precário foi na, na gestão da dona Izaltina. Que aí

já, já foram outras professoras contratadas. Aí já foi a Rizoneide, foi a Marília,

né, foi Marília, foram outros professores.

V.: Dona Rosa [Lima Moreira] ainda era desse tempo? Quer dizer, você se

lembra de dona Rosa...

L.: ...até...

V.: ...por exemplo, no Odilon Berhens? Ela ia pra lá na época?

L.: Não, não.104

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V.: Não.

L.: Não, não, não. Odilon Berhens só quem ia, Odilon Berhens enquanto

professor era a dona Daura, dona Rosa tinha aposentado, era dona Daura,

Marilda que já era professora da escola. Marilda ia, acompanhando aluno... e

só.

V.: Hum-hum! Com a, a, a reforma universitária ou com a desanexação você

se lembra da primeira diretora da, da eleição da Carmelita ou da indicação da

Carmelita como primeira professora leiga?

L.: Lembro, lembro sim.

V.: Água?

L.: Não, não. Lembro sim, lembro porque nós, inclusive, nós participamos

muito do lado de fora, com muita ansiedade pra ver, né? Houve uma

indicação da Carmelita, como é que foi a história? Houve uma indicação da

Carmelita, até mesmo porque ela assumiu a diretoria, não foi? Ela assumiu os

trabalhos, porque ela estava conduzindo os trabalhos. Então, ela ficou

respondendo até haver uma, uma, uma eleição. E a eleição, não era uma

eleição, era uma indicação do reitor, não era eleição, né? Era indicação do

reitor. Aí na indicação do reitor eu fiquei sabendo por fontes limpas que foi a

Carmelita que foi indicada, mas dona Izaltina é que queria ser indicada, sabe?

E tal, tamanho foi a decepção de dona Izaltina, que Carmelita não aceitou e

falou que quem devia ser era Izaltina. E a Izaltina assumiu, tá? Mas a indicada

pelo reitor...

V.: ...seria a Carmelita.

L.: ...seria a Carmelita. Pela condição dos trabalhos, sabe? E depois, foi, foi

esse o mandato da Izaltina, né?

V.: É. E você se lembra da, da retomada da construção da escola? Porque foi

logo depois, né, sessenta e oito, é que se, com a desanexação que houve

possibilidade de retomar a construção da escola.

L.: Foi muito lenta, né? Foi muito lenta, a reconstrução da escola. Foi muito

lenta e, e, e me parece que tinha um fator também que ajudou que foi a vinda

do ICB (Instituto de Ciências Biológicas). Então eles tiveram que terminar o 105

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quarto, aliás, o quinto e o sexto andares, porque os, os, os laboratórios todos

do ICB funcionavam lá em cima.

E.: É, vieram pra cá.

L.: É.

V.: Oh, oh, Luzia só um pouco antes, na eleição da Carmelita, é com a

eleição, com a indicação e eleição da Carmelita, é a primeira e a, depois a

dona Izaltina conti... continuando as freiras saíram, você se lembra dessa

saída das freiras da escola e do Hospital das Clínicas? Tem alguma notícia?

Porque saíram? Como foi essa saída?

L.: (...) Já tava, já tinha, parece que um acordo, né, uma vez com a reforma

universitária as, as, as freiras não ficariam mais. Inclusive eu tenho impressão

que, num, num não tinha nem, nem perfil realmente pra poder assumir.

Porque foi com dificuldade que eles conseguiram a irmã Maria Carmem pra

assumir o período aqui. E ela veio somente pra ficar nessa parte de transição

realmente. Eu acho que já tinha uma definição da congregação, que a

congregação não assumiria mais a, a, a, a Escola de Enfermagem Carlos

Chagas.

V.: E ou todas as escolas como um todo?

L.: Eu... isso eu não sei. Porque ela tinha, ela já tinha, ela, ela manteve, ou

mantém até hoje uma escola a, a, a, a Luiza de Marilac, né?

V.: Hum-hum!

L.: No Rio[de Janeiro].

V.: É.

L.: É, sabe? E mesmo aqui a atuação delas, também, no Hospital das Clínicas

também já era um número bem reduzido, também. Acho que elas não tinham

contingente pra poder assumir isso não, né? (...)

V.: Em sessenta e oito teve também o, a extinção do internato. Você se

lembra desse período? Pra onde foram as alunas? Como é que foi a reação

das alunas, por não ter mais internato?

106

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L.: (...) Não eu não lembro [gagueira] já estava definido, também, porque

internato só, entendeu? Ele só terminaria com... foi tudo isso decorrente da

própria reforma universitária.

V.: Hum-hum!

L.: Né? Eu num lembro, eu não lembro se teve reação, não. (...) Nesse

período eu estava no Hospital Municipal. Na verdade a gente ficava vinte e

quatro horas no Hospital Municipal [riso]. Então, a gente ficava longe, muito

longe das questões aqui da escola, sabe? A gente ia direto pra lá, para o

campo, então...

V.: Nós temos um registro aqui também, ainda em sessenta e seis, da, de

dois rapazes, né, que tentaram entrar na escola e não conseguiram e aí

entraram com mandato de segurança. Você se lembra desse fato?

L.: (...) Parece que eu lembro, que teve qualquer coisa assim, dizendo que

tentaram entrar enquanto aluno, né?

V.: Sim!

L.: É, mas...

V.: ...na seleção.

L.: (...) Se eles não foram aprovados na seleção. Eu acho que teve uma

história que eles não foram aprovados, por isso que eles não entraram.

V.: E você se lembra de quando teve o, o primeiro aluno ou os primeiros

alunos aqui na escola? (...) Seu Henrique [Augusto de Melo] foi o primeiro que

se formou [em dezembro de 1966], mas não sei se teve alguém que entrou

antes dele.

L.: Eu não lembro se teve gente antes dele.

V.: Você não se lembra de aluno...

L.: ...não!

V.: Masculino?

L.: Não!

L.: De sexo masculino?

L.: Não! Porque desde, desde que [gagueira] eu entrei na escola eu já fui pa...

pegar aluno de quarto ano. Então eu não tinha muita... ligação...107

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V.: ...quando que você teve alunos você não lembra??...

E.: O primeiro aluno homem?

L.: Aluno homem! Será que foi o... foram dois, né, na época que eu tive. Foi

o... [estalo de língua] aquele que foi pra Pira... pra, pra, pra Barreiras?

E.: Joaquim!

L.: Foi o Joaquim (...) o Irineu também. Acho que o Irineu também fez.

E.: Também fez. O Irineu foi anterior.

L.: Foi! Do Joaquim. Foram, eram os dois...

E.: ...o Irineu formou aqui?

L.: Formou.

E.: Ah, tá!

L.: O Irineu da medicina, formou aqui. Seu Henrique também era da medi...

seu Henrique era do DA.

V.: Seu Henrique foi o primeiro que a gente tem registro.

L.: É. É. Tá? O Irineu, o, o, o Joaquim, né?

V.: Um tal de Antônio Ávila, parece não?

L.: Não. Antônio Ávila! Eu chegou a for... ele entrou?

V.: Não, eles entraram com mandato de segurança. O Joaquim entrou e

formou, mais tarde né?

E.: Bem mais tarde.

V.: Setenta e cinco que o Antô...

E.: ...o Joaquim...

L.: ...o Joaquim, o Joaquim

E.: ...formou em setenta e cinco...

L.: ...mas o Joaquim foi, o Joaquim foi quase jubilado, não foi não?

E.: Foi. Ele entrou parece, a história que eu sei, que ele entrou com vários

mandatos de segurança, não sei porquê motivos. Ele formou na minha turma.

L.: Foi.

E.: Em setenta... em julho de setenta e cinco.

L.: O, a, a dificuldade, era dificuldade mesmo de... ele tinha muita dificuldade.

E.: É, mas eu sabia que [inaudível]...108

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L.: ...dificuldade de estudo...

V.: ...dificuldade intelectual ou dificuldade de...

L.: ...intelectual...

V.: ...da escola, por ser homem?

L.: Não, intelectual mesmo.

E.: Eu sei que ele entrou com alguns mandatos...

L.: ...eu sei que ele foi aluno...

E.: ...mas não sei quais foram e os motivos.

L.: É de dificuldade intelectual mesmo, né? Você lembra, né? Mas era muito

mesmo. [riso]

V.: Luzia, na época de sessenta e seis teve um roubo aqui na escola, você

teve notícia?

L.: Teve o quê?

V.: Um roubo. A escola foi arrombada, ou tentativa de assalto...?

L.: Sessenta e seis?

V.: É. Não... passou desapercebido?

L.: (...) Não, não lembro.

V.: De participação de alunos em congresso brasileiro de enfermagem, você

tema alguma informação nesse período? [barulho de telefone tocando e vozes

gritando no fundo]

L.: (...) Não, eles participavam, uai!

V.: Nada assim de especial que você se lembre?

L.: Não. (...)

V.: Da construção da escola alguma coisa em especial?

L.: (...) Da construção da escola?

V.: É. Da luta pela construção, da...

L.: ...é aquela história tem, estou conseguindo verba. Um processo

burocrático normal, né, igual o de todos.

V.: Hum-hum.

L.: Nada de...

109

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V.: Depois de setenta aí você falou da sua atividade enquanto docente até

setenta...

L.: ...agora a escola perdeu muito, né?

V.: Com quê?

L.: A escola perdeu, ela perdeu, perdeu espaço daqui de trás, o lote daqui de

trás. Ela perdeu muita coisa.

V.: A espa... área física?

L.: Área física.

V.: Pra onde que foi, o quê que aconteceu com essa, com esse espaço que é

agora o Hemominas?

L.: Ele foi negociado... ele era da, da universidade, da medicina, né? Da

medicina e eles iam fazer o ambulatório aqui da medicina, depois eu não sei

como que foi a negociação da universidade com o estado, como é que ficou,

sabe?

V.: E a...

L.: Pode ser até que te... eu não sei, pode ser que tenha alguma negociação

em relação ao [Ambulatório] Bias [Fortes], sabe?

E.: Porque o Bias não é da, da, da...

L.: ...o Bias era do estado.

E.: Ah! Tá!

L.: Era da Secretária da Saúde.

E.: Hum-hum. Mais alguma coisa que você esteja lembrando...?

L.: Sobre o quê?

V.: De sessenta até esse, essa...

E.: ...não esse período seu enquanto professora, até sessenta e oito.

L.: Ah, teria que estruturar... podia parar um pouquinho?

[INTERRUPÇÃO DA FITA]

V.: Então voltando, a sua experiência de docente nesse período até sessenta

e oito...?110

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L.: Ahn-ahn!

V.: Odilon Berhens, Escola de Enfermagem?

L.: Tá. Então, den... aquilo que tinha colocado, que eu coloquei anteriormente:

te... no momento do curso de, de, de, de Enfermagem em Saúde Pública, do

quarto ano, né, em que nós tínhamos o curso e que ele durante dois anos os

alunos faziam estágio, todos os alunos faziam estágio em Enfermagem em

Saúde Pública. Depois nós já reformulamos esse curso. E, esses alunos e eu

continuávamos trabalhando no Odilon Berhens, num horário, né, pela escola

num horário, no horário da manhã e à tarde o, o curso funcionava no horário

da tarde. E na tarde eu continuava com as minhas atividades docentes, né?

Enquanto, na Enfermagem em Saúde Pública, agora como as turmas eram

maiores, eram turmas, como eu havia falado anteriormente, que eram turmas

de, de trinta alunos, vinte e oito, trinta alunos, eles faziam uma opção. Então,

a gente tinha três ou quatro áreas de Enfermagem em Saúde Pública,

Enfermagem Psiquiátrica, Médico-Cirúrgica. Então a Médico-Cirúrgica ia para

o Odilon Berhens. A Enfermagem Psiquiátrica ia para os hospitais

psiquiátricos do, do estado. E Enfermagem em Saúde Pública que nós

passamos então, [gagueira] tinha grupos reduzidos, então esse, e a gente

concentrava essa enfermagem em Saúde Pública em um estágio de um mês,

então nós fomos duas vezes para o Rio de Janeiro.

V.: São Paulo também?

L.: São Paulo não chegamos a ir não. Foi para o Rio de Janeiro, tá. Então,

desse aí, desse aí deve ter dado dois, quatro anos. Sessenta e seis, setenta

mais ou menos a gente estava por volta de setenta. Então, o estágio se dava

dessa maneira. Já depois, depois de nós irmos dois anos para o Rio de

Janeiro nós passamos a fazer os estágios de Enfermagem de Saúde Pública

no Centro de Saúde de Belo Horizonte. E interessante que esses alunos eles

faziam o curso a tarde e de manhã eles eram estagiários do, eles eram

bolsistas do Hospital Odilon Berhens.

V.: Enquanto estágio extracurricular.

111

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L.: Extracurricular. Mas na verdade eles já eram até enfermeiros porque eles

estavam fazendo o quarto ano.

V.: Ah, sim!

E.: Ahn-ahn.

L.: Então eles eram enfermeiros já, aquilo que você me perguntado antes, se

eles trabalhavam enquanto enfermeiros, sim porque eles já eram graduados

em Enfermagem, em Enfermagem Geral.

V.: Semelhante à experiência da habilitação posteriormente?

L.: Isso. Posteriormente. Então, na verdade toda, toda essa nossa experiência

ela veio consolidar depois pra, na reforma, na reforma curricular. Aí nós

passamos pela reforma curricular em setenta e dois e que o quarto ano

deixou de existir e que nós volta... nós tínhamos Enfermagem em Saúde

Pública no quinto período e no oitavo período. Né?

V.: Esse quarto ano deixou de ser opcional e voltou a fazer parte do currículo

normal?

L.: Voltou a fazer parte do currículo normal. Como, a coisa mais interessante, foi o seguinte:

como nesse período nós íamos demorar dois anos ou dois semestres a voltar a ter aluno no

oitavo período, né? Então, durante esse período eu fui ajudar na Enfermagem Cirúrgica, que

aqui na escola onde precisava a gente ia ajudar. Então na verdade a gente tinha uma

especialidade, tinha uma atuação mas, precisava de gente na Enfermagem Cirúrgica e eu fui

ajudar na Enfermagem Cirúrgica. E eu acompanhei alunos no Hospital das Clínicas e no

Hospital São Francisco, durante um semestre ou dois semestres.

V.: Como?

L.: ...na Enfermagem...

V.: ...na Enfermagem Cirúrgica mas...

L.: ...do outro departamento.

V.: Do outro departamento. Mas enquanto, recebendo aluno do novo

currículo?

L.: É, do novo currículo.

V.: E nessa mudança...

112

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L.: ...que esse, que depois esse aluno ele chegaria pra mim enquanto na

Enfermagem em Saúde Pública.

V.: Lá, lá trás, lá na frente como habilitação.

L.: Agora a coisa mais interessante, o quê que aconteceu, durante esse

período, o quê que aconteceu, era nesse período de transição que os

professores não tinham disciplinas e que eles aproveitaram pra poder fazer os

cursos fora. Porque a escola não tinha uma política de pós-graduação. Então,

elas, elas aproveitavam essa oportunidade que estava sem disciplina, que era

assim: “Agora como que você vai fazer. Você não tem disciplina nenhuma

para dar?” Então, a gente tinha que batalhar fora, conseguir vaga é, é, é ver

que curso a gente poderia fazer fora e a gente procurar esse, esse momento

pra poder aperfeiçoar. E foi nu... nessa situação que Marília e... em setenta e

um Marília e Rizoneide foram pra São Paulo fazer o curso de Saúde Pública

na Faculdade de Saúde Pública.

V.: De especialização?

L.: De especialização. Porque elas, elas eram professoras da Enfermagem

Médica. E a Enfermagem Médica não tinha, ficou sem aluno primeiro que a

Enfermagem em Saúde Pública. Então eu não tinha condição de ir antes

delas, porque eu tinha alunos na Enfermagem em Saúde Pública.

V.: Elas foram fazer especialização...

L.: ...foi fazer especialização...

V.: ...ou no caso da Marilda, Marília mestrado?

L.: Não. Foi fazer especialização. Elas foram fazer especialização. Elas foram

fazer o curso em setenta e um. E fizeram em setenta e um especialização.

Mari... Rizoneide voltou em setenta e dois Ma... aí Marília conti... ficou pra

fazer mestrado. Tá? Marília ficou pra fazer mestrado. E aí foi em setenta e

três que eu tive oportunidade por não ter... que eu tive oportunidade de ir pra

São Paulo pra fazer o curso de especialização. Porque aí eu não tinha mais

aluno. Porque eu estava com aluno do oitavo período dando Enfermagem em

Saúde Pública, né? E como nós dentro dessa, dessa experiência [gagueira] a

gente ficava com aluno ou aqui e nesse período também surge a questão dos 113

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campos avançado, da universidade junto ao campos avançado e tinha uma

pressão muito grande da universidade pra, para as unidades da saúde em

assumir o campos avançado que é em Barreiras, não é? Que no período de

férias, então a escola que fez a escola via CENEX e através do, via o, o, o

CENEX [Centro de Extensão], do CENEX da escola. Eu fui a primeira

coordenadora do CENEX daqui, primeira não, a segunda, a Terezinha

Cardoso foi a primeira; ficou acho que seis meses e eu assumi o CENEX

depois.

V.: Ainda em setenta e dois então?

L.: Não!

E.: Não, mais na frente.

V.: Mais tarde?

L.: Não, mais na frente. Deve ser quando? Sessenta e quatro. Setenta e três

eu acho. Seten... quando eu voltei...

V.: CENEX foi criado em setenta e dois.

L.: Setenta e dois. Foi setenta e dois. Setenta e três eu fui pra São Paulo. Aí

que eu fui pra São Paulo fazer o curso de especialização em São Paulo, né?

Em setenta e três... você formou em que ano Estelina?

E.: Setenta e cinco. Julho de setenta e cinco...

L.: Então foi, setenta e...quatro. Quando eu voltei aí foi que eu assumi o

CENEX, setenta e quatro. Setenta e cinco, tá? Aí nós tínhamos, nesse

período nós tínhamos alu... tínhamos ainda o quarto ano, aí, não, aí que nós

passamos a receber alunos do quarto ano, do oitavo período com a

Enfermagem em Saúde Pública, né? Passamos a receber e tinha várias

opções, a gente continuava, a gente tinha alunos, a turma, as turmas eram

grandes, eram turmas de trinta e poucos, também, quarenta, né?

E.: A minha foi pequena. A minha eram, nós éramos só quinze.

L.: Quinze. Mas tinha turmas grandes.

E.: Tinha

L.: Tinha turmas grandes também. Tinha turmas grandes. Então, a gente tinha

opção também, aqueles alunos que [gagueira] poderiam ficar em Belo 114

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Horizonte, ou então nós fomos duas vezes para o campus avançado em

Barreiras, sabe? Através da escola.

V.: Como que era essa experiência lá?

L.: Ah, essa experiência, aí nós che... nós che...

E.: A primeira experiência foi em setenta e cinco com a minha turma?

L.: Eu não lembro se é a primeira.

E.: Ou a minha foi a segunda? É foi...

L.: Primeira. A sua foi a primeira, eu acho.

E.: É. Eu acho que teve a minha depois acho, não sei...

L.: ...teve a da Glorinha [Maria da Glória Lafetá]...

E.: ...se foi a da Matilde [Meire Miranda], da Glorinha.18

L.: É, foi! É, a, a, então, a gente, a gente tava buscando dentro, dentro dessa

linha, a gente queria o mais possível colocar os alunos em contato com a

realidade de saúde, né? Porque o, o, a formação do enfermeiro sempre foi

voltada pra, pra área hospitalar, né? E dentro da escola, sempre o currículo

da escola, ele foi sempre voltado pra área hospitalar. O forte dessa escola,

era voltado pra área hospitalar. E na verdade a gente tinha um grupo que

tentava também mostrar o outro lado, né? E, e esse grupo ele era marginal

em relação à escola, né? Marginal que eu falo é no sentido assim: de quê a

força política toda da escola era voltada pra área hospitalar. Então, na, na

disputa por carga horária nas reformas curriculares era uma disputa muito

grande por carga horária. As disputas por carga horária sempre pesava mais

a área hospitalar, sabe? E, então, nesse período, aí nós ficamos levando,

acho que foi du... duas turmas que foram pra Barreiras e aí volta já, aí já volta

Marília e Rizoneide do Rio de Janeiro e incorpora a Enfermagem em Saúde

Pública. A, a Rizoneide foi pra Doenças Transmissíveis e Marília incorpora

Enfermagem em Saúde Pública e fica no, no e pega disciplina do quinto

período. Que foi Saúde da Comunidade, né? Marília fica nessa disciplina e a

gente continua trabalhando pra poder reestruturar a, a, a Habilitação

Enfermagem em Saúde Pública.18 Formadas em dezembro de 1976

115

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E.: Quando Marília estava pra São Paulo quem deu foi Dôra [Maria

Auxiliadora Córdova Christófaro].

L.: Foi, aí Dôra, Dôra já tinha feito concurso e ela, aí... Ah! Outra história. [gagueira] Nessa

históri... quem deu foi Dora porque assim: nós conseguimos porque eram duas professoras na

escola era Carmelita e eu, aí nós tínhamos conseguido, aí nós conseguimos abrir mais uma

vaga, conseguimos uma vaga, que conseguiu uma vaga pra, pra, pra Enfermagem em Saúde

Pública e era uma vaga e foram duas, duas pessoas. Ge... nós tínhamos uma professora

contratada pra Enfermagem em Saúde Pública, também, que era a, a [Maria] Girlene

[Martins]. Ela também deu aula nesse período. Mas quando conseguimos uma vaga, que foi

com muita dificuldade que nós conseguimos uma vaga pra Enfermagem em Saúde Pública,

Marília, Dôra fez concurso, fez concurso Dôra e, e Girlene. E Dôra que foi aprovada, em

primeiro lugar. Então, Dôra entrou. Aí Dôra assumiu a, a, a, a Saúde da Comunidade, né?

V.: Teve problema a entrada da Dôra na escola apesar do problema dela no

período da revolução [de 1964]

L.: Não. Só reforçava, né, a marginalidade do grupo, né? [risos]

V.: Mas ainda bem que ela entrou, né?

L.: Lógico. O importante era ela entrar. Você entendeu? [risos] Só reforçava a

marginalidade do grupo, né? Aí Dôra, Dôra foi concurso público...

V.: ...dava força ao grupo, né? Marginal!

L.: Mas reforçou o grupo, lógico! E ao mesmo tempo [murmúrio], ele

continuava mais marginal.

V.: Marginal.

L.: Né? A enfermagem [inaudível] mais marginal. E depois, quê mais que

teve?

V.: Já aí já havia o curso de habilitação?

L.: Não. Aí foi, aí foi, aí continuou habili... [gagueira] o currículo com, com,

com a Enfermagem em Saúde Pública no oitavo período. E em setenta e

cinco... na verdade nós conseguimos, nós, nós levamos esse tempo todo pra

poder reestruturar a Habilitação em Enfermagem em Saúde Pública que nós

estávamos esperando a Enfermagem Obstétrica, tá? A história foi essa.

Então, porque a Enfermagem Obstétrica nós íamos fazer, era, era

116

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impraticável a gente tinha já clareza, porque nossa experiência era de

oferecer o curso de Enfermagem em Saúde Pública, do quarto ano, em um

ano e meio período. E a gente tinha clareza que era longo demais e que não

havia necessidade disso. Que a gente podia estruturar em seis meses. Ainda

mais considerando que o curso de enfermagem já era de quatro anos. Então

nós íamos levar, levar cinco anos pra poder ter a, o, o, o enfermeiro no

mercado, né? E, e a Enfermagem Obstétrica batia o pé que ela em seis

meses ela não conseguia dar o curso de Enfermagem Obstétrica.

V.: Enquanto habilitação?

L.: Enquanto habilitação. Que ela queria dar em um ano. Então, e que, ao

mesmo tempo que tinha uma política da gente tentar fazer, ver o quê que,

quais as disciplinas que poderiam ser comuns. Tentar estruturar isso aí. E nós

trabalhamos muito com o grupo de Enfermagem Obstétrica é, mas não

conseguimos, tá? Até chegar um ponto que nós falamos assim: “Olha, nós

temos clareza que, que habilitação que a gente quer, temos clareza disso aí.”

Aí conseguimos [gagueira] implantar o curso em mil novecentos e setenta e

seis. Conseguimos assim:...

E.: ...setenta e seis.

L.: Setenta e seis. Conseguimos assim: com muita dificuldade, tá? Por quê?

E.: E Obstetrícia não saiu?

L.: Não. Nunca saiu.

E.: Saiu Médico-Cirúrgica e Saúde Pública....

L.: ...é... Saúde Pública. Aí, aí o con... aí o quê que aconteceu foi o seguinte:

nós nessa história, nessa época eu era chefe de departamento, já tinha

assumido chefia de departamento. Então a gente tinha realmente como é, é,

é, ma... ma... mais, mais poder de barganha, entendeu? Pra poder, inclusive,

negociar na universidade. Porque na verdade a gente precisava contratar

pessoal pra poder abrir o curso de habilitação, né. E a gente tinha uma

proposta, a gente tinha uma proposta que era de contratar, a proposta nossa

era de contratar (...) enfermeiros como que era a história? A gente de...

contratar docentes para, nós tínhamos as vagas, mas nós íamos contratar, 117

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mas nós num, num tínhamos jeito, no... jeito de contratar pra Enfermagem em

Saúde Pública. Então, a proposta nossa era de contratar enfermeiros pra

assumir algumas disciplinas do departamento que era: Administração,

Enfermagem em Doenças Transmissíveis, ham?

E.: Que entrou Ana Maria Marun (?)

L.: Não.

E.: Não foi nessa época não?

L.: Não. [estalo de língua] Ana Maria já tinha entrado. Entrou na época na

Izaltina.

V.: E saiu [inaudível].

L.: É, é. Administração, Enfe... Doenças Transmissíveis e tinha uma outra, tá?

Então, a política, nós tínhamos conseguido três ou quatro vagas. Nós íamos

contratar o pessoal por vinte horas e toda essa contratação...

[FINAL DA FITA 3 LADO B]

FITA 4, LADO A

V. : Vamos continuar a nossa conversa então, Luzia?

L. : Vamos, então até, até, até o momento técnico nós estávamos falando da

questão do, de um marco que foi um envolvimento da enfermagem de saúde

pública da Escola de Enfermagem, né? Dentro do curso de [habilitação] em

enfermagem de Saúde Pública do, no projeto do, do módulo básico, né?

Então, dentro dessa linha nós desenvolvemos a habilitação da enfermagem

em Saúde Pública até em 1900 (...) acho que 1988, 1987 me parece; e que

nós tínhamos alunos do oitavo (...), do nono, eram dois períodos, do nono e

do décimo período e que nós tínhamos alunos, nós tínhamos convênio com a

Secretaria de Saúde e tínhamos alunos em vários municípios. Na verdade, o

convênio não era com a Secretaria da Saúde, o convênio era com os

municípios, com a prefeitura, com a Secretaria Estadual dos municípios.

Então, nós tínhamos alunos que permaneciam dois semestres no, no, nós

tínhamos alunos no norte, no (...) no norte, no, no Triângulo Mineiro, no Vale

118

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do Jequitinhonha, na Zona da Mata, na ... Tem hora que me vem uma falha

em Geografia. [riso]. Aqui não é Zona da Mata não, por esse lado aqui Ponte

Nova. Ponte Nova é Zona da Mata, não é ? Sei lá ...

E. : Zona da Mata é Juiz de Fora, né?

L. : Nós tínhamos em Juiz de Fora, é, tínhamos em Juiz de Fora, em várias

regionais de Juiz de Fora. Uma regional de Ponte Nova, no regional de

Uberaba, na regional de Uberlândia, na regional de Teófilo Otoni, na regional

de Montes Claros têm várias, foram várias regionais. Só que os alunos não

ficavam nos regionais, eles ficavam nos municípios e eles tinham uma bolsa

de estudo. Essa bolsa de estudo era dada pelo município, tá, e em muitos

lugares onde tinha internato rural, os alunos ficavam junto com os alunos da

medicina. Então, nós tínhamos alunos de, em Lagoa da Prata...

V. : Desenvolvendo atividades conjuntas?

L. : Desenvolvendo atividades conjuntas e, e a gente tinha um, uma atividade

conjunta também com o supervisor da medicina; então, por exemplo, no caso

em que eu era supervisora da área de Teófilo Otoni, a gente eu tinha junto

com o supervisor da medicina, a gente discutia as questões e, toda vez que

ele vinha fazer a supervisão dos alunos da medicina, era envolvido o pessoal

da enfermagem; toda vez que eu ia fazer a inspeção da enfermagem, a gente

envolvia o pessoal da medicina.

V. : Uma integração ?

L. : É, então a gente era tudo, tudo feito nessa base. E muitas vezes a gente

ia até, ia junto com o supervisor da medicina. E nesses locais os alunos, eles

moravam, a prefeitura alugava, o , o convênio com a prefeitura constava o

seguinte: a prefeitura pagava a residência pra eles, então, na maioria dos

municípios eles alugavam uma casa; e nessa casa, geralmente tinha dois,

dois alunos da enfermagem e dois alunos da medicina, tá? E era muito

interessante, por que era uma relação né estudante, uma relação é ... é,

homem, mulher e que muitas vezes na divisão do trabalho, a gente achava

até engraçado, na divisão do trabalho ...

V. : Na manutenção da casa ? 119

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L.: Na manutenção da casa, eles dividiam né, igualmente. E as mulheres, as

alunas sempre falavam, na hora que chegavam: “Não sei cozinhar [riso]. Até

que eu sei, mas se eu falar que sei cozinhar, eu já sei que a cozinha vai por

conta da gente. Então a gente já fala que não sabe cozinhar, porque ai a

gente divide o trabalho de uma outra forma.” [risos]

V. : Ô Luzia, este, esse morar ...

E. : Vou usar essa estratégia. [risos]

V. : Esse morar juntos, é trouxe, algo ... para a escola, algum tipo de,

envolvimento, algum tipo de problema, de relação do ...

L. : Não.

V. : Entre alunos ?

L. : Não, nunca trouxe.

V. : Como é, como foi em tempos antigos [riso].

L. : Não, não. É interessante que nem no município também. Isso era

problema para o município.

V. : Não havia ti-ti-ti?

L. : Não, sabe. Era, era a casa dos estagiários tá, era casa dos estagiários.

Pelo menos nos, nos municípios em que eu fazia supervisão não tivemos

nenhum problema, era casa dos estagiários e que ...

E. : E a manutenção dessa casa era deles ?!!

L. : Da prefeitura.

E. : Não, manutenção que eu digo.

L. : Alimentação.

E. : [inaudível] e hábito.

L. : Era.

E. : Desde a cozinha até o lavar roupa ... Quer dizer ...

L. : Tudo, não ...

E. : Eles não tinham ninguém disponível para isso.

L. : Há, a prefeitura, muitas vezes a prefeitura pagava uma pessoa, pra

também , pra poder, pagava uma empregada; pra poder cuidar da casa.

V. : Em alguns lugares, né ?120

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L. :É, em alguns lugares.

V. : Eu me lembro, é ...

L. : Sabe ...

V. : [inaudível]

L. : Mas isso não quer dizer que a cozinheira estava todos os dias para fazer

comida.

V. : Pois é.

L. : Eles trocavam experiência ..., eles faziam muita festa também, fazia

jantar, de vez em quando a gente estava lá.

V. : Interação mesmo, né ?

L.: Quando chegava, quando ia chegar supervisor, eles faziam questão da

gente almoçar com eles, de fazer a comida; às vezes a gente dormia lá; por

exemplo, no, no ... uma coisa interessante é o seguinte: que nesse processo

de supervisão eu tirava uma vez por ... uma semana por mês pra cada local.

Então às vezes eu tinha aluno no norte de Minas, eu tinha aluno na Zona da

Mata e, tinha lugares ... Ah!!! Quando nós iniciamos esse processo, é bom

isso, é bom isso salientar em questão da infra-estrutura que a escola dava;

nós não tínhamos infra-estrutura nenhuma da universidade, quando nós

iniciamos esse tipo de projeto. Então a gente fazia viagem, pra chegar a esse

município a gente ia de ônibus e eu tinha município que eu fazia supervisão,

que às vezes eu chegava de carona, porque, a gente parava por exemplo em

Mercedes, era município que tinha ônibus uma vez por dia e eu tinha, eu ia

até, pegava ônibus de Ubá e ficava parada no trevo, e no trevo eu tinha às

vezes de ficar duas horas para esperar o ônibus que passava e muitas vezes

a gente pedia carona; chegava de carona. E pra sair da cidade, eu tinha que

sair procurando carona, para poder conseguir sair da cidade, pra poder ir

para a rodovia, aonde passava ônibus para Belo Horizonte. Então, nós não

tínhamos infra-estrutura nenhuma da instituição, da universidade. Quando nós

iniciamos o processo, né? Depois de, de iniciado o processo foi que, ai nós ...

pegamos uma outra estratégia que era [fazemos deslocar os alunos] aonde

também tinha o internato rural , então isso facilitava um pouco. Aí, a gente 121

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pegava a estrutura do internato rural. E logo depois também a escola já

adquiriu carro, pelo, ai o que que facilitou - é muito importante colocar isso; ai

já foi através do, do Projeto Transetorial de Ação Comunitária [PTAC), que foi

um projeto institucional que envolvia a enfermagem, a medicina, a odontologia

que foi financiada pela fundação ( inaudível ) , né ? Então, foi nesse momento,

é que facilitou um pouco pra gente; por que ai tinha, tinha os carros do PTAC

e que, que facilitava o ... a gente chegar até os locais pra supervisão e que a

gente tinha melhores condições de fazer uma supervisão mais sistematizada,

né ? Tinha, havia uma integração também com o pessoal da medicina, que foi

através do, do PTAC, Projeto Transetorial de Ação Comunitária.

V. : Luzia, esse tipo de supervisão bem diferente da que a escola desenvolvia

até então, teve alguma, vocês tiveram alguma dificuldade no departamento?

Como por exemplo, nós do Departamento de Enfermagem Básica tivemos

quando, tivemos a experiência com a habilitação em médico cirúrgica?

L. : Olha, pra te falar das dificuldades, as dificuldades eram tantas, sabe

Valda, tantas que a gente não tinha recurso, não tinha dinheiro, não tinha

diária, entendeu? Por que à medida que a gente saía aqui de Belo Horizonte,

você pagava até a água, você paga até a água que você bebe, não é?

V. : Eu sei [riso] e muito! [riso]

L. : Então, então era tudo, muitas vezes, por conta da gente, sabe. Você não

tinha recursos pra nada, não é? Já até a escola incorporar isso, né? Ia

começar a pedir diária ... se ... nós, nós fazíamos tudo para o departamento

aceitar, mas era assim ... nós era ... nós éramos marginais no departamento,

né? Então se, o projeto dava sustentação, quer dizer em momento algum o

departamento assumia que aquilo era do departamento. Agora, só que tem

uma diferença; quando você chegava no final pra fazer os relatório, quer

dizer, isso tinha um peso muito grande para os relatórios, porque era o grupo

que captava recursos para a instituição, entendeu? E tudo isso aparecia, mas

na hora realmente de você ter o aval, às vezes você tinha dificuldade; por

exemplo; eu viajava à noite, você viajava a noite inteira pra Uberaba, pra

Uberlândia, de ônibus ...122

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V. : Cansaço heim?!

L. : Pra Montes Claros, viajava a noite inteira, para trabalhar no dia seguinte,

trabalhava aqui durante o dia, viajava a noite toda e às vezes chegava de

viagem; viajando a noite toda, voltava direto pro serviço.

V. : Tinha uma reunião para participar?

L. : Tinha reunião para participar, tinha alguma coisa para ser feita sabe ...

V. : Algum momento você ...

L. : Então, era ... assim, na verdade, eu acho assim que o, no departamento

ele tinha uma, uma fragili ... não era uma fragilidade, uma dificuldade muito

grande de, de entender o que representava isso, porque na verdade, a

veiculação da gente era muito forte com as instituições de serviços, né? Com

as secretarias municipais, com a secretar ... com a secretaria estadual. O

grupo tinha, o grupo participava de comissões da secretaria, de comissões de

docente assistencial, não é? Então, existia um ... uma relação muito forte com

isso ai. Então, e que o departamento não conseguia, ele não conseguia, não

sei o porquê que ele não conseguia isso, mas ele não conseguia ter uma

visão sobre isso. O que que isso representava para o departamento. E a

gente também não tinha tempo de está colocando muito também não, por

que, primeiro, você não tinha nem espaço. Nas assembléias departamentais

quando você começava a falar, você percebia ... pelas caras das pessoas,

você sentia que ninguém estava querendo ouvir, né? Que ninguém ...

V. : É verdade.

L. : Que ninguém, né? Que ninguém estava ai pra isso. Então ...

V. : Nunca, nenhum [departamento] nem o outro]

L. : Nós já tínhamos que lutar para poder fazer o trabalho fora, nós ainda

íamos ficar perdendo tempo também, ainda de colocar dentro da instituição,

né? Era meio complicado.

E. : Ô Luzia, qual seria sua avaliação ao longo dos anos em que você viveu e

sempre tentando fazer um trabalho pioneiro, e sempre encontrando uma certa

dificuldade, uma certa resistência, seja por parte do departamento, seja por

parte da escola, a que você hoje, após tantos anos, atribuiria isso?123

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L. : Olha, eu acredito, isso está muito ligada a relação de poder, sabe. Eu

acho, está muito ligada a relação de poder, né? Porque na verdade o próprio

departamento tinha uma visão da gente, assim, que era um grupo forte, que

era um grupo que tinha poder, você entendeu? Que nem assim ... isso não ...

não correspondia a realidade. Não é, que a gente estava lutando, com tudo

isso. Mas, era ... a rejeição era mais nesse sentido. E, e eu vejo também pela

própria história da enfermagem, como é que caminha a enfermagem: a

enfermagem hospitalar e a enfermagem saúde pública; tem, tem uma questão

também ligada a isso ai, sabe?

E. : E, é. E você está querendo dizer então que seria de alguma forma, um

certo medo do poder, de que esse grupo passasse a ter poder?

L. : É, é. Passasse a ter poder e ... e, outra coisa também... passasse a ter...

poder...

V. : Era um grupo diferenciado, né?

L. : Diferenciado [porque na verdade...]

V. : (inaudível)

L. : A nossa relação de trabalho, e depois, nós trabalhamos demais, quase

que, né? Nós éramos as primeiras a chegar na escola e as últimas a sair da

escola. Se estava de férias, você estava aqui trabalhando, né?

V. : Era um envolvimento assim...

L. : É, então...

V. : ...incrível!!!

L. : ...isso, institucio... uma instituição que, vocês conhecem melhor do que

eu , né? Como que é o esquema, como que é o esquema da carga de... da

carga horária, como que é o esquema da... da carga didática, como que é a

relação, integração, é, é, a relação... extensão, não é? Então, isso é tudo...

[sinal de sirene de carro]

V. : É, e era meio difícil assim, quem é que vai viajar, não é?

L. : É a coisa mais interessante...

V. : “Quem vai viajar?”, “Eu não posso”, ninguém podia.

124

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L. : É, e outra coisa, ninguém queria... ninguém queria e o nosso

compromisso era assim, você tinha que ir mesmo.

V. : Tinha que cumprir.

L. : Não tinha outro jeito porque eu tinha...

E. : Pois é, mas houve um paradoxo aí Luzia, por que ninguém...

L. : Olha... eu tinha que...

E. : ...queria, mas também não queria deixar que acontecesse.

V.: Claro, é.

L. : Dava muito trabalho; por exemplo, nós tínhamos de, dava, demandava

para a secretaria do departamento, que tinha muito trabalho para ser batido,

tinha muitas coisa, né? Gerava muito trabalho, e, mas... tinha uma outra

questão que... eu ia falar mas esqueci, mas... mas voltando ao, o , o processo

de supervisão que a gente escrevia era o seguinte: nós preparávamos, o

aluno ia, porque ele não estava aqui assis... assistindo aula, não é? Ele

estava inserido no processo de trabalho do município, não é? Seja... ele

trabalhava no centro de saúde na comunidade, no processo de trabalho, né?

É, é, ele participava do, do... participou...de todo o processo [inaudível] depois

do SUS,[sistema único de saúde] não é? Tinha representatividade em

relação ao município, então o aluno , ele tinha uma atuação diferenciada

nesse sentido. E, e, o, o... a gente tinha, fazia o quê, nós tínhamos... deixava

o material didático com os alunos, na casa dos alunos, que eram importantes

pra eles, tinham todo o material é, é, xerox de material, é, de textos, então a

gente tinha uma relação daquele material que ele tinha que fazer a leitura. E a

gente ia durante a semana que estava lá, pra gente discutir o processo que

ele estava vivenciando naquele período, discutir a, é, é aonde que ele

encontrava dentro da literatura o que que tinha aderência naquilo que ele

estava vivenciando né? Como é que, que o material que estava, que poderia

estar subsidiando aquilo, o que ele necessitaria mais e... que... [por que] no

momento, primeiro ele fazia, chegava no município, ele fazia primeiro uma

identificação das necessidades do município para elaborar uma proposta de

trabalho. E no segundo, segundo momento, ele já ia tentar implementar essa 125

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proposta de trabalho. Mas, só que ele fazia isso (boceja e pede desculpa)

junto com, inclusive com o grupo todo do município do centro de saúde, com o

pessoal todo atendente; então, muitas vezes surgia demanda de capacitação

de pessoal, de capacitação de atendente, tá? E discussão da... da (inaudível),

sistema integrado de saúde, do SUS, havia a questão do SUS, de discussão,

de, de, discutir leis, de estudar tudo isso. Foi um processo muito rico, sabe?

Muito rico. Bom... pode falar...

V. : É... pode falar você.

L. : Pode perguntar.

V. : Não, eu ia perguntar assim: quando terminou a habilitação, quais foram os

motivos que, que levou a escola na sua visão, a encerrar as habilitações além

do aspecto legal, né? De não (inaudível).

L. : Na verdade, na verdade, a gente queria, a nossa intenção, nós para...

encerramos a habilitação para dar um salto, para passar para a

especialização, né? Porque era uma experiência muito rica e que na verdade,

a gente analisando o título que o indivíduo tinha, ele tinha um título de

graduação. E, não é só muito em questão do título, e ta... estava um momento

também, de, era um outro marco, era uma outra reforma, né?

V.: Hum-hum.

L.: Que estava, as habilitações iam estar aí, e a gente já estava vivendo um

outro momento que, dentro desse momento, a gente retoma, a gente resgata

a questão do módulo básico, o porquê do módulo básico, daquele projeto, né?

Da inserção do enfermeiro no sistema local de saúde, o porquê que estava

buscando isso dentro da OPAS, [Organização Pan-Americana de Saúde]

dentro do papel que a OPAS estava buscando encontrar que tivesse o aluno

no, no sistema local de saúde; o aluno não, desculpe; o enfermeiro, e que

esse enfermeiro pra ele dar respostas as questões ligadas à capacitação de

pessoal na área de enfermagem. Porque eles tinham ai, o outro, o outro

processo de capacitação que era a formação do pessoal, é de nível médio,

não é? Pra área ambulatorial, né? Então, esse enfermeiro, esperava-se que

126

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esse enfermeiro tivesse um papel bem diferenciado na capacitação desse

pessoal.

V. : Além desses motivos, vocês tiveram problema, como nós da [Habilitação]

Médico Cirúrgica tivemos, de falta de pessoal, de falta de aluno para

preencher os locais?

L. : Não.

V. : Para cobrir os locais?

L. : Não, não. Porque na verdade, nós tínhamos os alunos (...) que iam para o

interior e só ficavam, a gente tinha, tinha um esquema, né? Dentro do

regimento tinha um esquema que primeiro o aluno só, ele só não ia para o

interior em situações especiais. Então, no ato da matrícula, ele já tinha que

fazer essa opção.

V. : Vocês sempre tiveram um número bom de aluno?

L. : Tinha.

V. : Para cobrir (inaudível).

L. : É, para cobrir (inaudível), tá? Para cobrir isso ai.

V. : Diferente de, de nós da Médico-Cirúrgica.

L. : Diferente de vocês, da Médico-Cirúrgica.

V. : Que nós, a gente tinha, quatro alunos pra cinco professores.

L. : É, é foi diferente. E depois eu lembro que, na ... nessa situação o, o ...

somente ficava aqui em Belo Horizonte aquele que não tinha realmente

condição de ir para o interior, né? E agora, era discutido com os alunos, por

que eles escolhiam os locais, não é? Era tudo,estava tudo discutido, os

alunos escolhiam os locais, nós apresentávamos os locais - “são esses”, né?

E eles escolhiam de acordo com a vontade deles, realmente, né? E...

V. : Terminada, então essa experiência da habilitação...

L.: Ai, ai veio. Essa experiência da habilitação, ela, ela... começou do zero,

ela, ela iniciou, ela iniciou com um projeto, não é? do, da OPAS do módulo

básico, depois ela, ela caminha sem a universidade, como nós lutamos com

muita dificuldade. Depois ela, ela, a gente incorpora essa experiência junto ao

programa transetorial, no PTAC então a gente já tinha recursos, já tinha 127

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condição de viajar e tudo mais, com diária, era mais tranqüilo. A gente, só iria,

muitas vezes, de ônibus, era difícil viajar de ônibus, a gente viajava mais de

carro mesmo. Facilitava bastante. Ai depois vem a questão da... ai vem... a

questão da especialização. Então como é que surge a especialização? Então,

dentro da linha de capacitação de pessoal de nível médio, né? Pra área

ambulatorial, que... parece que eu já falei isso anteriormente, né?

V.: Hum-hum.

L.: A escola era colocada pra... e aqui pra escola...a OPAS coloca .. a

experiência que nasceu, no serviço, não? E faz a proposta pra, pra várias

escolas, né? Pra várias escolas de enfermagem, pra transformar em um curso

de especialização, e a nossa escola foi a primeira que iniciou, né? Que ficou

na nossa escola aqui, é, a Bahia [estado da] foi... ofereceu um ano a

especialização em enfermagem em saúde pública. E dentro da, da

especialização, nós passamos também por vários processos, né? Nós

passamos por vários processos em que no, no início, é muito voltado, de

acordo, é porque a divulgação era feita pra todos os centros regionais. Mas,

dependia muito, por que às vezes a gente tinha aluno mais da área

metropolitana ou, aluno do interior era pouco; então nós passamos por vários

processos. A parte, a integração, que houve em, a parte mesmo em termo da

prática, muitas vezes, era desenvolvido somente aqui em Belo Horizonte nos

períodos de interstício. E, depois, quando, quando ocorria de ter alunos do

interior nós passamos a fazer com que ele se desenvolvesse no local de

trabalho dele e, hoje eu não sei, já falei isso anteriormente, não sei hoje como

está a situação por que eu já me aposentei, em 1994, não é? Então eu não

tenho agora...

V. : E...

L. : Paralelo a isso ai, que eu acho, paralelo a isso ai que foi em oitenta e

nove, parece em oitenta e nove, a escola, oitenta e oito, oitenta e nove; a

escola foi convidada pelo, foi, oferecido à escola pela fundação Kellogg, né?

Considerando toda a experiência da escola que ela já tinha em relação a esse

tipo de trabalho de comunidade, a ... inclusive pela própria experiência dela 128

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com o grupo PTAC, a... a desenvolver um projeto ligada à pós-graduação,

não sei se vocês estão lembradas desse projeto, né? Então dentro desse

projeto Kellogg, ela tinha uma proposta do desenvolvimento da enfermagem

na América Latina, não é? E dentro desse desenvolvimento da enfermagem,

a, estava muito voltado para a questão da pós-graduação. Então, pediu que a

escola elaborasse um projeto pra identificar as necessidades de pós-

graduação, não é? do país, identificar a situação da pós-graduação. Então, a

escola desenvolveu esse trabalho e que culminou com o rigi... com a reunião

de Barbacena. E, a escola então, foi escolhida na época pra desenvolver um

projeto do, de desenvolvimento da enfermagem, então foram várias escolas

na América Latina. Foi a nossa escola, foi a escola do México, né? Da

Universidade de Nuevo Leon, em Monterrey, a escola da Universidade

Nacional a ... o Departamento de Enfermagem de Cali, Colômbia. A Escola

Pontifícia Universidade Católica do Chile, não é? E parece, não sei se tinha

da Argentina também. Pra... para criar os PRODENs, não é? O desen... e ai,

dentro da nossa escola foi desenvolvido então, foi (inaudível)... foi elaborado

um projeto que captou recurso, não é? E, então dentro desse projeto, foi que,

que a gente buscou dar uma continuidade, né? Naquele momento em que...

em que... que... tinha dado o corte pelo PTAC, né? Que foi, volta... dentro das

especializações, e dentro da especialização da Enfermagem em Saúde

Pública, só que dentro do nosso projeto político, nós, nós tínhamos na época,

é, é, um... uma utopia de, de capacitar todos os enfermeiros do Estado de

Minas Gerais.

E. : Quando você “diz nós”, nós quem?

L. : Nós da Enfermagem de Saúde Pública.

E. : Ah, tá. na verdade o que...[tosse]

L. : Que era um grupo de oito pessoas e de cinco realmente atuantes, não é?

V. : E foi esse grupo praticamente que, que fez a proposta do PRODEN I?

[Programa de Desenvolvimento da Enfermagem].

L. : Foi.

V. : Que levou na verdade o PRODEN I?129

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L. : Foi não, o PRODEN I na verdade, foi um grupo maior, um grupo maior

assim: quando ele começa, quando ele começa, que a gente leva os

trabalhos, o trabalho que foi feito em todos os departamentos, no início foi

mais gente, né? E, e, mais e... ai, ai, como é que a gente incorpora dentro

disso ai nós tínhamos, né? A utopia de, de capacitar os enfermeiros do

estado, os enfermeiros do Estado de Minas Gerais pra eles realmente serem

os instrutores, os supervisores do, do processo de capacitação do pessoal

auxiliar. E, só, que, nós tínhamos clareza que, com o curso de especialização,

com trinta vagas (inaudível), né? Até nós conseguirmos isso, era impossível.

Então, nós tínhamos como meta também, de incorporar nesse processo o,

uma proposta de educação continuada; em que a gente desenvolvia de uma

maneira isolada os módulos, não é? Dentro de cada área. E que ele poderia

ter a possibilidade de da... de chegar à titulação de especialista, uma vez que

ele completasse o total de módulos. Ai, já fazendo dois fora, pelo processo de

educação continuada, que parece que pela lei, eram dois que, que permitia

fazer o restante depois aqui, já matriculado no curso da especialização. Seria

uma forma de poder agilizar o processo, né? E ai, foi ai que nasce, foi ai que

surge a questão de Ipatinga, Monlevade né? Que surge toda, toda essa

questão da capacitação dos enfermeiros de Ipatinga, dos enfermeiros de

Monlevade, e, outros módulos que foram dado isolado, né?

V. : E essa “utopia”, como é que está hoje?

L. : Ela continua por que uto... utopia e a gente tá, né? A gente ta...

V. : Buscando?

L. : Buscando ela até hoje, né? Ela está caminhando, ela não tá... a gente já

avançou um pouco nesse processo. Por que... outra coisa também , que

estava, que está... na incorporação, que quando nós começamos o curso de

especialização, nós na verdade, quando a [enfermeira] Isabel [dos] Santos19

colocou que, tava entregando para universidade pra, pra assumir o processo

de capacitação dos enfermeiros, ela só tinha o material, o material não estava

completo, não é? Então, o grupo assumiu inclusive, terminar o material e 19 Referência nacional no setor saúde em recursos humanos.

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elaborar o que estava faltando. Então, o [módulo da área] de administração foi

elaborado aqui e foi feito a revisão de, dos outros materiais, do enfermeiro da

área ambulatorial, não é? E o do, da área pro auxiliar de enfermagem da área

ambulatorial já estava pronto, não tinha...estava tranqüilo. Ai, então, diante,

nesse processo todo o PRODEN incorpora esse trabalho, não é? O PRODEN

incorpora, aí agora o, por que o PRODEN incorpora? Porque eram as

mesmas pessoas que estavam na especialização. Então é por isso...

E. : Esse material que você está citando...

L. : Então, é por isso na verdade, não é? É o PRODEN que incorpora, mas é

porque as pessoas que estavam responsáveis, por isso que está... que

continuaram fazendo.

V. : Dando uma continuidade ao trabalho.

L. : É. O grupo é o mesmo.

E.: Eu acho que seria importante você situar que material é esse, por que...

L.: É um material instrucional para a capacitação do enfermeiro, da área...

E: Da área...

L.: Da área ambulatorial.

V. :Mas esse não é o que está pronto, Luzia?

L. : Não é, na área de doenças transmissíveis ,na área de saú... na saúde da

mulher e da criança e do adolescente. Por exemplo, do adolescente foi feito

aqui na escola.

V. : Ah, sim! Ainda da saúde pública.

L. : Da saúde pública.

V. : Depois vem da hospitalar que é outro momento.

L.: Outro momento, né? Mas, do, da saúde pública, por exemplo o da

administração da saúde pública, não estava pronto. O da administração, ele

foi feito, ele foi dado , ele tinha um módulo , tinha um modelo, tinha um

material , mas dentro de um... dentro do [constituinte normativo] muito,

muito... muito fora da realidade e que ele... tinha estudado uma vez em

Brasília e foi dado pra nós aqui em Belo Horizonte, né? E depois que ele foi

dado pra nós aqui em BH; aí nós, o grupo que fez, nós assumirmos que a 131

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gente não iria dar esse material pra, pra, pra, próxima turma; por que quem

fez foram os professores, então, nós iríamos reformular ele todinho, é, mudar

a lógica dele, né? Virar a mesa. Ai, nós fizemos, elaboramos todo o material

primeiro e capacitamos o pessoal. E ai, tem a história também da atuação do

grupo, né? Em capacitar outros docentes de outras instituições, por que... na

verdade... nesse processo todos nós, docentes, fomos capacitados e ai, é

incorporados no processo a Faculdade de Saúde Pública, o pessoal de

enfermagem, a Faculdade de Saúde Pública, é, alguns docentes da, Escola

de Enfermagem de Ribeirão Preto (SP), alguns docentes da Escola de

Enfermagem da Universidade da Bahia, alguns docentes da Escola da

Enfermagem, não, alguns enfermeiros de, da Secretaria de Estado de Saúde

do Rio Grande do Norte, da Paraíba e de Maceió. Eles vieram aqui para, fazer

o curso, para poder reproduzir, não é? E, e depois, o grupo também daqui, o

grupo do, esse mesmo grupo que levavam todo esse processo já foi em

outros locais para poder reproduzir o, a capacitação do pessoal, né? E...

V. : E como é que está hoje a especialização?

L. : Hoje, eu não sei, eu só sei até 1994.

V. : 94? [riso] o que aconteceu em 9 4, você...

L. : Eu me aposentei em 94.

V. : E ai?

L. : Né? Então, eu me aposentei em 94 e, continuei no PRODEN, né? Por que

ai o PRODEN, terminou o PRODEN, PRODEN I, e o PRODEN era um projeto

dessa escola com as escolas de enfermagem do Estado de Minas Gerais.

Quando encerra o PRODEN I, e que , que eu era da coordenação do

PRODEN, e, além do mais traba... levava também o projeto de educação

continuada, então, ai, esse... o grupo do PRODEN elaborou o PRODEN II e

dentro da linha de educação, de, de capacitação de recursos humanos. Foi, ai

a gente já passou a trabalhar, ele já seria um projeto não só dessa escola,

mas um projeto realmente das oito Escolas de Enfermagem de Minas Gerais.,

quer dizer, hoje nove, já, né? Com Diamantina já incorporado. V. : Diamantina

ou Montes Claros?132

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L. : Diamantina também.

V. : Também?!

L. : Dez já.

V. : Então, dez.

L. : Dez.

E. : É.

L. : Porque, quando nós iniciamos o PRODEN II, a gente tinha como meta

avançar pro norte de Minas, norte e nordeste, né? De Minas, que é o Vale do

Jequitinhonha, norte de Minas, que é o lugar descoberto, né? Então, hoje, já

tem a escola de enfermagem de Montes Claros, que o PRODEN tem uma

atuação também, junto a escola de enfermagem de Montes Claros e, agora,

Diamantina que está na fase de autorização; não é, que a Maria Lúcia

[Cardoso, diretora do curso de enfermagem] de Uberaba, que já estava dentro

do PRODEN I e ela continua agora, só que ela saiu de Uberaba e já foi pra,

pra Diamantina?

V. : Diamantina?

L. : Maria Lúcia é outra bandeirante, né, outra (...), vai desbravando ai . Bom

(...) então, dentro da... dentro... bom... ai eu me aposentei em 95, 94, eu deixo

de ter uma atuação didática na escola de enfermagem, didática, mas continuo

trabalhando no PRODEN.

V. : Só uma pergunta: você se sentiu aposentada ai nessa escola?

L. : Não! [risos]

V. : Eu estou perguntando isso, porque assim, você saiu e não saiu, não é?

Você deixou de dar aula, mas continuou, é... vindo aqui quase todos os dias,

né? Eu, por mim, digo a mesma coisa, é como se a gente não tivesse saído.20

[FINAL DA FITA 4 LADO A]

FITA 4, LADO BV. : Aí, continuando...

20 Professora também aposentada em 1994.

133

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L.: Tá. Você não tem muitas vezes, quer dizer, você não tem mais que passar

por, pelos processos burocráticos da instituição e, de, de suportar coisas que

às vezes é um, um não que você recebe de pessoas que não está

entendendo nada ; o processo que está vivendo, não é? Então, isso é muito

desagradável e muitas vezes, a gente tem que fazer um trabalho com a gente,

para engolir isso... tudo isso.

V. : Verdade.

L.: Não é? Então é muito, muito mais prazeroso. E, e, eu fiquei quer dizer, eu

fiquei... e na verdade, coisa mais interessante, que hoje o meu projeto, o

projeto que eu coordeno dentro do PRODEN, ele é um projeto que ele

trabalha mais ou menos com, com umas, uns trinta docentes dentro dessa

instituição, trinta a quarenta docentes, é muita coisa, você pensando, como

uma instituição de quanto? De oitenta docentes, né? Então, é um grande

número de, de docentes.

E. : Qual que é o projeto?

L. : O de educação continuada, não é? Dentro da elaboração da modelagem

institucional. E...

V. : Luzia...

L. : Todo mundo gosta porque quem está no projeto é porque quer estar,

sabe?

V. : ...você vê o PRODEN II, mais que envolvendo a escola como um todo,

mais que o PRODEN I (...) com participação de pessoas de outros

departamentos, de outro grupo, além da Saúde Pública.

L.: Não. Por que, na verdade, o, o, o mo... o que eu vejo é o seguinte: que o

momento da escola hoje, ele é outro de... devido as, o grande número de... de

aposentadoria que houve, né? Então, por exemplo, o contexto que entra o

PRODEN II, ele é um contexto bem diferente do PRODEN I, né? Então, pode

até ser que as pessoas estão envolvidas e também pelo tipo de trabalho, pelo

tipo de trabalho que hoje, hoje está sendo, está sendo por exemplo, esse

mesmo projeto hoje de educação continuada, que na época a gente não tinha

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esse tipo de atividade que era a elaboração de módulos, de material

instrucional, é um tipo de trabalho que dá condição de envolver mais gente.

V. : O de agora, né?

L. : O de agora.

V. : Agora o material que...

L. : Sabe...

V. : ...o PRODEN está elaborando é o ...

L. : ...agora, nesse momento, a gente está; aí o PRODEN, o projeto, mesmo

dentro do PRODEN I a gente tinha assumido fazer a revisão do, do material

instrucional para a formação do auxiliar de enfermagem para a área

hospitalar, né? E que, teve a participação da escola. Esse, esse material, ele

foi, ele começou a ser elaborado por um grupo do Rio de Janeiro (RJ) durou

uns dez anos isso ai, até vir para cá, e aqui, quer dizer, ele, ele, foi feito a

revisão desse material aqui, que na verdade, foi revisão e muita, muita

construção também, não foi só revisão.

V. : Reconstrução, né?

L. : Reconstrução. Mas ele foi, foi elaborado de acordo com o ritmo das pessoas, não é? Então

porque... não tinha outro jeito porque todas as pessoas estão envolvidas com a parte de

didática, com a parte de extensão, então foi realmente com, com o ritmo das pessoas, então

ele foi, foi bem demorado mais foi um trabalho bonito porque ao mesmo tempo inclusive ele,

ele (...), como é que eu falo, ele... não é que ele capacitou, ele proporcionou a própria

capacitação da docente no, no processo.

V. : É, além do envolvimento do docente de todo, de...de outros

departamentos?

L. : De outros departamentos, claro. Eu acho que foi isso muito importante

isso. Muito importante mesmo. E. inclusive com metodologia nova, que pra

muitos, para muitos docentes, inclusive docentes novas na instituição, né?

Uma metodologia diferenciada, que eles ainda não tinha oportunidade de

participar, né? Não sei, então foi muito, muito interessante. Está sendo muito

interessante.

V. : Está sendo? Não acabou ainda?

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L. : Não, acabou. Porque que... nós, nós terminamos a parte do pessoal

auxiliar e, ao mesmo... agora iniciamos a parte dos enfermeiros, né? E nessa,

nesses enfermeiros é que têm um número de docentes, né? Um número

significativo, de docentes, desta instituição, e também um número significativo

de enfermeiros das instituições de serviços, né? Que, que está contribuindo

pra, pra esse, pra esse trabalho. Agora...

E. : Esse trabalho terminado, é, qual é a utilização dele?

L. : Este trabalho terminado, bom, primeiro ele tem, tem, né? Depe...

dependendo de qual, quais estratégias você irá adotar, ele vai poder ser

utilizado, o objetivo dele é capacitar os enfermeiros pra, pra participar do

processo de capacitação do pessoal de nível médio na utilização do grupo

integrado que ele trabalha, com o grupo integrado, né? Então, essa capitação

dos enfermeiros é que a instituição, ela pode utilizar esse material e criar

cursos de especialização em cima desse material , como nós fizemos, sabe.

E, e ele pode ser utilizado também dentro do processo de educação

continuada, pelo, de acordo com a necessidade através do, das áreas

isoladas, porque são cinco áreas, ele pega a enfermagem médica, a

enfermagem cirúrgica, o controle do, da [infecção de doenças], a assistência à

mulher no ciclo gravídico-puerperal, a assistência a criança e ao adolescente;

é, todo, toda essa clientela hospitalizada, de modo que...

V. : E administração?

L. : É, é administração, administração da assistência, é. Que mais, Valda?

V. : E quem sabe, um pouquinho da Luzia fora da escola. Além de todo esse

trabalho na escola, né? Dentro da (inaudível) como que é a Luzia lá fora?

L. : Será que tem lá fora, nem sei [riso], está tão misturada, né?

V. : Você falou muito dela só trabalhando, na Saúde Pública [riso].

L. : Será que tem lá fora?

V. : Não sei!

L. : Não sei, lá fora o que que é, eu sou Luzia.

V. : Você é solteira?

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L. : Solteira, 56 anos bem vividos, se possível quero viver mais cinqüenta e

seis.

V. : Você tem algum projeto, assim, de trabalho, de atividade fora deste aqui

da escola? Você tem outra atividade lá fora, além desta?

L. : Tenho.

V. : Então, é isso, o que você faz lá fora, além daqui?

L. : Tenho, eu tenho. Além de, daqui, quer dizer, eu sou “Maria”, eu sou dona

de casa, não é?

V. : É! Cozinheira?! [riso]

L. : Cozinheira, engraçado, né? Você volta às origens, eu adoro de manhã

estar em casa, fazer comida (trovão, chuva) sabe aquela comida, aquela

comida, naquela panela de ferro, fazer comida aquele arroz soltinho, bem

mineiro, né? Fazer angu, jiló, quiabo, não é todo dia também, não é? [riso]

V. : De vez em quando?

L. : De vez em quando [riso]. E, eu, deixe ver o que mais, além das atividades

domésticas, eu faço, faço parte de um grupo de [filosofia]. Então, a gente tem

um trabalho também.

V. : Esse trabalho é com alguma finalidade ou só no grupo, enquanto grupo

de estudo.

L. : Não, enquanto grupo de estudo, né? É grupo de estudo de capacitação de

pessoal também do, dos, grupo de estu... esse grupo tem uma pessoa que dá

curso. Então, a gente participa no sentido de, de... de proporcionar infra-

estrutura pra isso.

V. : Esse curso tem outras pessoas da escola ,que sejam da escola, e que faz

parte?.

L. : Tem, todas as pessoas da escola

V. : Carmelita tá junto, nesse curso?

L. : Carmelita, tem outras pessoas, de outros departamentos também, várias

pessoas,sabe? É bem interessante, sabe? É muito bom quando a gente sai

do mundo da escola e passa pro mundo, né? Pro mundo, [pega

cosmo],sabe?. Então é muito interessante, isso. 137

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V.: (riso)

L.: Não né? Vai para outras galáxias [riso] [riso]. É muito bom.

V.: Voa [risos] .

L.: Sabe, muito bom mesmo.

V. : Alguma pergunta?

L. : Bom, espera aí, tinha uma outra coisa, do estado, da secretária...

E.: É a história da secretária

V. : Bom, da Luzia fora da escola seria isso. E como é que a Luzia se diverte

lá fora?

L. : Como é que eu me divirto?

V.: É!!!

L.: Ah! De várias maneiras!!!

V. : Serestas? [riso]

L. : Serestas, pros buteco da vida.

V. : É uma vida ativa também, né?

L. : Dançando, dançando, né? Tão bom dançar! Que mais? Viajando, adoro

viajar, Nossa Senhora! Agora, como estou sem dinheiro, porque tem três...

mais de três anos, tem três anos que nós não temos aumentado, não é?

Então, está difícil viajar não é? Aí eu descobrir, então, eu fico vendo pela

televisão o, TV a cabo, então tem um canal que tem um punhado... ai eu viajo

pelo mundo inteiro. Ai é ótimo, que eu conheço os lugares e já posso fazer

minhas fichas e eu penso, porque eu planejo, assim ó: tal época eu vou em tal

lugar, né? Então eu falo, ai eu fico revendo coisas que eu já fui, lugares que

eu já fui e ainda fico planejando: eu quero ir em tal lugar assim, assim.

(inaudível).

V. : Luzia, você, você está no PRODEN, continua na escola pelo PRODEN

não. Você continua no PRODEN porque, voluntariamente?

L. : Não, eu tenho um vínculo institucional, né? Na verdade, primeiro porque

eu quero, né?

V. : É.

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L. : Isso ai; não tem dúvida disso. Mas, existe, tem um vínculo institucional o

seguinte: quando eu me aposentei, eu, aquilo que eu falei, em sessen...

setenta e dois, eu fiz concurso pro Estado, não é? Então eu fiquei no Estado

um período e na escola um período. Depois eu deixei o Estado pra ser

dedicação exclusiva na escola e quando eu me aposentei, eu retornei ao

Estado, e retornando ao Estado, eu discuti lá, e pedi, [na área de recursos

humanos] para ficar a disposição do PRODEN, para trabalhar nesse material

institucional, por que é interesse do Estado, né? Em relação à capacitação de

pessoal, a formação de recursos humanos. Então eu fiquei...

V. : O tempo que você ficou afastada, você ficou afastada sem vencimento?

L. : Sem vencimento, sem vencimento!

V. : E agora, com vencimento...

L. : E agora com vencimento. Na verdade, eu ganho, eu trabalho, é, é, eu

tenho quatro horas, legalmente, quatro horas de atividade e, e, só

remunerada pelo cargo que eu tenho no Estado que é de trezentos e pouco

reais por mês.

V. : É, muito bom, bastante, né? [riso]

L. : [riso]

V. : É o líquido? [riso]

L. : Não, com os qüinqüênios, são... que eu fiz [vinte cinco anos de

[Estadoestágio], então, eu tenho os quinquêniosqüinqüênios, acho que ele tá

líquido, quatrocentos e sessenta [riso] com os quinquêniosqüinqüênios, com

o prêmio de vinte e cinco anos de, de vinculação.

V. : No PRODEN, não tem uma remuneração, porque você é

de...coordenadora.

L. : Tem, tem. O PRODEN, o PRODEN ele dá uma remuneração pra todos os

coordenadores, né? É uma remuneração da... da instituição, de acordo com

os cargos; então a remuneração do PRODEN é mesmo, mesma relação do

CENEX, [é o UR, não sei o que lá, acho que F1] é, cento e quatro [reais] por

mês.

V. : E esse dinheiro vem do, da, do, do projeto?139

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L. : Vem do projeto.

V. : Não da universidade?

L. : Não da universidade, mas é, é, é o mesmo valor, valor estipulado pela...

de acordo com, com os cargos que tem...

V. : Da tabela da universidade?

L. : Da tabela da universidade. Então, é a gratificação de cento, e acho que

cento e quatro por mês. Só que a gente recebe, por exemplo no meu caso, as

outras pessoas que não são aposentadas recebem em forma de bolsa,

recebe todo mês. O meu, eu só posso receber três vezes por ano, então eu

recebi de quatro em quatro mês.

V. : Ah! Ótimo! [riso]

L. : [riso] (inaudível) de quatro em quatro meses eu recebo quatrocentos e

pouco reais, pelos trabalhos.

V. : Muito bem, mais alguma coisa Luzia, importante?.

L. : Não, bom...

V. : (inaudível)

L. : Importante, deve ter muitas...

V. : Importante muitas, com certeza.

L. : Da minha cabeça, agora que a gente vai...

V. : Alguma coisa do passado mais longínquo ou desse mais recente que

você queira, ainda, ressaltar de interessante...

L. : Não.

V. : Ou de você como pessoa?

L. : Não, acho que não. No momento agora, não tem nada não.

V. : Seu futuro está vivendo hoje.

L. : Meu futuro... eu não tenho futuro não. Meu futuro é hoje [riso]

V. : Seu futuro, você está vivendo hoje! [riso]

E. : É nossa linha, né?

V. : É, é nossa linha de pensamento

L. : É, não tem jeito não!

V. : Bom, então a gente só tem que te agradecer140

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L. : Ah! Eu também, que bom, foi muito bom pra mim. Foi bom ter lembrado

de muitas coisas, né? De outras coisas... agora, a gente vai chegando em

uma certa idade, que, é, que a natureza é sábia mesmo, chega uma certa

idade que a gente passa a lembrar só o que é agradável, né? Então, aquilo

que é...

V. : Marcou, sofreur...

L. : Marcou, sofreu...

V. : ...dDeixa pra lá.

L. : D...deixa pra lá, deixa pra lá, né? Pronto, né? Passou, né? Mas o que eu

sinto, na verdade, é que dentro do meu projeto político, dentro do meu projeto

de vida, ele tem muita coisa ainda pra ser feito, né?

V. : Você tem uma caminhada....

L. : Tenhom.

V. : ...pPela frente ainda.

L. : Tem, tem muita coisa pra ser feito, né? Então...

V. : Tem a haver com a enfermagem?

L. : Eu falo dentro da enfermagem, não é? Dentro da enfermagem.

V. : Dentro da enfermagem, né?

E. : Quais são esses projetos? Pode-se adiantar alguma coisa?

L. : Porque... não, porque eu, eu luto pra uma enfermagem de qualidade, né?

Então, realmente pra uma enfermagem de qualidade. Então eu fico pensando

de como eu entrei na enfermagem, quando eu entrei na enfermagem e como

que a enfermagem está hoje, não é? Como, quando, eu lembro que quando

nós entramos... quando eu entrei não existia enfermeiro no centro de saúde,

era só o pessoal atendente. E, o, o que que a gente fazia? A escola, nós

enquanto professores da escola, nós assumimos, muitas vezes, em capacitar

os atendentes do centro de saúde da... buscando a melhoria da qualidade,

não é? Então, hoje nós estamos buscando o quê? Qualificar esses

atendentes, né? Na melhoria da qualidade. Então, tem muita coisa para ser

feita, né?

E. : como é que você...141

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L. : Considerando que 63, 63% da força de trabalho da enfermagem é de

pessoal não qualificado, né?

E. : Como que você vê, você que, que esses, esses dias teve uma chance de

recordar um pouco e rever um pouco a enfermagem, como que você percebe

essa evolução de quando você entrou como aluna até hoje?

L. : É, muito lenta. Pe... se a gente considerar, se a gente considerar o, o

avanço tecnológico, eu acho... a questão da enfermagem, ela é muito lenta,

as mudanças da enfermagem. Então, eu fico pensando se hoje nós temos,

né? Não tinha clareza sessenta e tantos, sessenta e três por cento da força

de trabalho da enfermagem é de pessoal não qualificado, eu não estou nem

questionando se é pessoal titulado ou não; a gente sabe que ele é um pessoal

não qualificado, a gente conhece a história de como que o pessoal entra na

enfermagem, né? Então, se a gente busca uma qualificação desse pessoal,

então a gente teria que avançar e, e, em estratégias que, , que capacitasse

esse pessoal no maior número possível, né? Estratégias, estratégia

(inaudível), nem que pegasse ensino à distância, sabe, o ensino

despolarizado, ensino centralizado, sabe? No entanto, a enfermagem é muito

resistente a isso, sabe? Muito resistente. Agora pelo menos a gente tem a

grande vantagem da aprovação da LDB, né? Então pelo menos você garante

a educação à distância pela LDB; que a própria universidade, a própria

universidade estava negando, porque ela não tinha o, o, o aval formal uma

vez que no... que não era aprovado a educação à distância, né? Então eu

acho que... tem muita coisa para ser feito e eu acho que pode avançar

demais, sabe? Uma vez que, que o pessoal que faz enfermagem, o pessoal

que faz enfermagem, faz enfermagem, tem uma, um certo conhecimento. Eu

acho que precisa é buscar sistematizar esse conhecimento, não é? Por isso

que eu acho que... né?

V. : Tem muita coisa para ser feita, né?!

L. : Muita coisa, mas coisa é demais, né?

V. : Estamos ai.

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L. : E, eu me sinto engajada nesse processo, não é? E quero continuar

trabalhando, enquanto eu tiver viva, né?

V. : Vamos em frente.

L. : Vamos em frente, tá? Então eu agradeço tá? Essa oportunidade de, de

lembrar um pouco das coisas da escola. Hoje... hoje, a hora que eu entrei

nessa sala eu fiquei vendo essa mesa que era da biblioteca, aqui da escola...

V. : É ? [risos].

L. : Toda.

V. : [Sombrenhada, né]?

E. : Sombrenhada. Eu estudei muito nessa mesa. Eu gostava dela, por que

tinha um lugarzinho pra botar o pé ali em cima, [riso] então você descansava

o pé.[riso] [risos].É!

V. : Bem, eu acho que sua, sua entrevista foi importante [vozes de criança]

porque além de, de lembrar a Eescola Carlos Chagas, você deu muitas

informações sobre a Escola de Enfermagem da UFMG, né?

L. : É.

V. : Espero que alguém mais, pra frente faça essa complementação, né? de

sessenta e oito pra cá.

L. : É, é claro. Tá bom. Muito obrigada.

[FINAL FITA 4 LADO B]

FITA 5, LADO A

Va.: Continuando...

L.S.: Nós, nós já tínhamos as pessoas indicadas porque nós, nós íamos pegar

alunos recém formados que haviam tido, sido representando destaque

durante o curso de graduação. É, alunos recém formados prá fazer, prá ser

professores no horário da manhã e eles iriam fazer a habilitação em

Enfermagem em Saúde Pública no horário da tarde , entendeu: porque na

verz...Ah, outra coisa, eu enquanto minha experiência, enquanto, enquanto 143

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chefe de departamento, a gente tinha maior dificuldade. Nós tínhamos as

vagas para profe...nós tínhamos necessidade de, de, de docente, tínhamos a,

a autorização da uUniversidade para contratar em caráter precário, mas não

conseguimos a pessoa.

Va.: Por que?

L.S.: Não tinha gente no mercado, e.

Va.: Hum...

L.S.: Entendeu?. As pessoas que, que tinham, os enfermeiros que tinham,

todos estavam trabalhando na área hospitalar, e para ficar oito, vinte

horas...pagando a uUniversidade... sempre pagou mal, né. Teve um período

muito ruim...igual está agora né.

Va..: Continua, né. [risos]

L.S.: Então, ninguém queria correr o risco de passar de prá uma atividade de

enfermeira para docente, né. Não queria correr o risco.

Va.: Ainda mais numa situação precária, né?

L.S.: Precária, é. Então nós tínhamos muita dificuldade de conseguir gente no

mercado, né. Eu mesmo, enquanto chefe de departamento, passei assim de

disciplina que vai começar o mês que vêm, vai começar amanhã, depois de

amanhã, hoje de tarde, e eu não tenho gente prá poder...entendeu, pra

poder ; e a gente tentava, buscava em São Paulo -SP. Depois eu fui prá São

Paulo tentar, e foi na minha gestão no departamento que nós conseguimos

contratar várias pessoas, que estão aqui até hoje, nestas condições. Aí,

conclusão, tava tudo O.k ok., já tinha tudo, tudo acertado no planejamento, né

na Uuniversidade, quem seriam as pessoas. Tínhamos discutido está

possibilidade, tudo okOK, conversado com as pessoas...as pessoas, as

enfermeiras tinham aceitado, né. E quando nós fomos levar o nome; aí, aí

houve o impedimento. Quando nós fomos oficializar, teve impedimento da

direção da escola. Uma pessoa não, não admitia que fosse contratada.

Va.: Quem era?

L.S.: Uma pessoa, uma, uma aluna, uma...aluna assim...que seria aluna.

Va.: Ex aluna?144

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L.S.: É, ex aluna. Essa, jamais ela era permitida, se ela não entrar ninguém

mais entra. Então na verdade, foi uma relação de poder entre a chefia de

dDepartamento e a chefia de... a direção da escola. Falei: “Sse ela não entrar

nós vamos mudar a estratégia se ela não, se não for possível entrar, ninguém

mais entra.” Então ela falou : “Eela não entra.” Não entra, aí ela criou o maior

caso, foi no planejamento, o planejamento criou, começou a criar uma série

de caso na contratação, entendeu?

Va.: Secretária de planejamento?

Es.: ..dDa universidade...

L.S.: Da Universidade, né. Aí falei: então a estratégia vai ter que ser outra.

Então a estratégia, nós vamos contratar então pessoal...aí não ia contratar

mais ninguém. E o curso estava para ser começado no mês seguinte. Aí falei:

“”sSe a única forma, a única forma , é de colocar os alunos que já estão

matriculados a pressionar a Reitoria”. Aí, os alunos foram para a rReitoria,

para pressionar a rReitoria, elaes já estavam matriculados, aí eu falei : “”Aí,

nós suspendemos o curso, não temos professores, é impossível dar o curso”.

Porque eles, os alunos iam entrar, né. Eles iam entrar para assumir a

graduação, enquanto os professores que estavam na graduação passariam

para a...

Es.: Habilitação.

L.S.: Habilitação em Enfermagem em Saúde Pública. Essa era a estratégia.

Va.: Unhum.

L.S.: Aí, como a direção da escola barrou, falou que essa pessoa, ela não

entraria né, então inviabilizou, então diante disso foi começado ttodas as

negociações...

Va.: A diretora era a YIoley (de Carvalho YMazzonni) nesse período?

L.S.: É, era. Todas as negociações, tá. E...diante disso ai por, não sei, se por

coincidência tinha essas duas vagas, por coincidência apareceram,

apareceram -foi isso mesmo- duas professoras de São Paulo -SP, estavam

vindo prá cá, duas enfermeiras, que foi a Marrie [Azuma Rodrigues] e a R eiko

[Kawamura]. icco. 145

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Va.: Unhum.

L.S.: Entenderam. Bateram na minha porta, na minha casa. Sabiam que eu

era chefe do departamento, eu falei: “” Ttudo bem”, e fui conversar com elas.

Por sorte elas, uma era da Faculdade Paulista de Medicina e a outra era da,

da Universidade de São Paulo -USP. E todas duas na área, de, de com

experiência em Enfermagem em Saúde Pública. Aí que foi, que nós, que foi

possível a gente começar a , a habilitação.

Va.: E a pessoa, não foi admitida?

L.S.: Não, foi admitida. As outras gradativamente entraram, por concurso.

Depois essa pessoa, ela fez o concurso, público para, prá, prá depois mais

tarde, já quando tinha ouns três departamentos, ela entrou prá escola por

concurso público, ficou um pouco mas depois, também saiu da escola, não

quis ficar.

Es.: E qual era a alegação, na época, da diretora de não aceitá-la?

L.S.: Essa pessoa, ela tinha uma liderança muito forte. E ela tinha uma

representação uUniversitária. Ela era membro da representação

uUniversitária. Então ela era “pedra no sapato” da direção da escola e do

Reitor.

Va.: Ahn!Unhum .

L.S.: Então, ela teve um respaldo da, da rReitoria; porque ela era “pedra no

sapato do rReitor”. Ela levantava o dedo no nariz do Rreitor. Entendeu?

Va.: Ela era terrível?[risos].

L.S.: Aí sabe, aí ela, não foi possível, então nós mudamos a estratégia. A

gente tinha, tinha uma direcionalidade. A gente sabia por onde queria

caminhar dentro da enfermagem em Ssaúde Ppública, então por isso que a

gente buscava, e para poderem, sendo a sSaúde Ppública como ela sempre

foi vista. A gente tinha que procurar colocar pessoas realmente...

Va.: ...eExperientes...

L.S.:...f Fortes; entendeu?. Por que se não...

146

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Va.: O fato da Yole ser da Oobbstetrícia e ser diretora, isso é que você acha

que contribuiu para aquela dificuldade de abrir o curso de Saúde Pública?

L.S.: Não, não, não...Porque a Yole nesse período, a Yole, ela, ela não tinha

um perfil, ela não tinha um perfil de, de enfermeira obstetra não, e.

Entendeu?.

Va.: Confundi ela com a NoemNoemiia.

L.S.: É. Ela não tinha um perfil. Porque a Yole foi professora da Enfermagem

Obstetrícia, daquele curso lá... da (Escola de Enfermagem) Carlos Chagas

(Escola de Enfermagem), lá... onde tem aquela outra escola.

Va.: Certo.

L.S.: Tá, mais a Yole não tinha esse perfil, ela, ela dava Enfermagem

Cirúrgica.

Va.: UmhumHum-hum.

L.S.: Tá. Ela não tinha esse perfil, ela não tinha nesse ponto, nesse ponto a

Yole era muito...ela busca... procurava ser muito justa, muito justa em relação

sabe? Era muito forte, a gente discuti...conversa...discutia muito com ela mas

ela, ela procurava ser legal e não influenciava nisso não. Só nesse caso

dessa, dessa contratação aí...

Va.: ...qQue ela...

L.S.: É. Ela não falou categoricamente mas, ela mostrou que inclusive não

tinha nenhum respaldo do reitor. Ela alegava, que não tinha nenhum respaldo

do rReitor, por isso...e colocava todas as questões que tinham acontecido.

Va.: É, essa aluna foi muito rebelde, muito revindicadorareivindicadora, né?

L.S.: É. Rebelde eu não sei, revindicadorareivindicadora...

Va.: RevindicadoraReivindicadora, brigava pelos direitos, né?

L.S.: É, também, ela foi uma aluna militante, entendeu?

Va.: Bom, e o resto da Saúde Pública, e você foi a professora da Saúde

Pública na habilitação, quando a habilitação terminou o que que aconteceu

com a...

L.S.: Aí dentro da, da habilitação em Enfermagem emda Saúde Pública, aí

acho que tem vários momentos, né?147

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Va.: AhHá, sim.

L.S.: Dentro da própria Enfermagem...

Va.: ...eEnquanto habilitação.

L.S.: Né, enquanto habilitação, foi...foi a gente procurou desenvolver mas, a

gente passou por várias reestruturaçãovárias reestruturações, reestruturações

da habilitação. Ela teve um momento em que a gente tinha toda, toda a parte

teórica e prática no cCentro de saúde, daqui (em Belo Horizonte- Mg), depois

ela passou por um momento em que...da habilitação ela continuou por vários

períodos né, depois ela teve por um outro momento em que nós fomos para o

interior, não é. E como a gente tava sempre voltada para as políticas de

saúde e a gente tinha uma, uma ligação assim bem forte com o Ministério da

Saúde. Porque, nos passamos por um momento de incorporar na habilitação

um projeto próprio do Ministério da saúde, que, que foi a inserção de

enfermeiro no interior. Porque a gente atuava somente na, na em Belo

Horizonte, aí diante desse projeto, esse projeto, ele buscava inserir o

enfermeiro em municípios geralmente de médio porte, né. Porque a enfer... na

verdade, porque a história da Enfermagem em Saúde pública ela começa com

uma força total na história da enfermagem, né. Depois ela entra em

decadência, né. Aí tem a acessão toda da enfermagem hospitalar. E na

enfermagem de sSaúde pPública... depois, dela ter um papel bem claro, aí ela

se perde. Ela passa a ter uma atuação muito mais a nível intermediário e a

nível central, né. A história da enfermagem na sSaúde pPública, e aí então a

gente buscava retomar isso daí. E volta a eEnfermagem em Saúde saúde

Pública pública para um nível local, né. E esse trabalho já estava sendo

desenvolvido desde que eu fui para São Paulo -SP, para fazer o quarto ano.

Porque o que a gente buscava, era uma definição do papel do enfermeiro a

nível local. E mas, que era difícil, porque a nível de serviço público não tinha

nada estruturado e não tinha cargos. Então na verdade não existia mercado

de trabalho, você formava o enfermeiro de Saúde Publica, ele saía preparado

para atuar a nível local, porém ele ia trabalhar na área hospitalar, porque não

tinha mercado de trabalho. O mercado de trabalho [barulho de água]} eram as 148

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instituições públicas e não tinha, né, não tinha é, é vagas. Então...(eu também

aceito água, viu?)

Va..: [Risos]

L.S.: Aí obrigada...[risos]. Aí quando foi...Onde que eu parei?

Va..: Não tinha política...de Saúde saúde Públicapública.

L.S.: Ah, tá. Aí, aí vem toda a história. E esse período todo a gente estava

todos na política da integração [ docente-assistenciala política social] né. E

dentro da política de integração[ de docente docente-assistente] a gente já

tinha estabelecido convênios, dentro da habilitação, nós já tínhamos

estabelecido convênios com a Secretária Estadual de Saúde, e a gente já

tinha tido a experiência do, do Centroplano Mmetropolitano em que nós

tínhamos alunos da habilitação, que fazia a parte prática em Centros centros

de Saúdesaúde, mas que eram bolsistas da Secretária de Saúde, né. Então, a

gente vem, pela nossa linha, a gente vem sempre trabalhando com bolsistas

né, sempre incorporando o enfermeiro...então, ele enquanto bolsista da

Secretária da sSaúde, atuando na área metropolitana. Aí a gente tenta

avançar um pouco mais. Então, tenta entrar nesse projeto do, do Ministério da

Saúde, e era um projeto que era o Ministério da Saúde e a AOPAS,(

), e que buscava é... eles estavam buscando um modelo de um indivíduo que

fosse o intermediário, que atuasse no papel de supervisor entre o nível, entre

o nível, regional e o nível local. E eles queriam testar que achava que era

pelo perfil do enfermeiro, era ele que respondia mais as necessidades.

Porque na verdade, o que estava acontecendo com, com a Saúde saúde

Públicapública, é que já havia depois do decreto 200, com toda a, a

regeneralização né. Então tinha o nível central da Secretaria Estadual já

estava estruturado os regionais já estavam estruturados, eles estavam já

buscando uma forma de estruturar o nível local. E dentro do nível regional

eles tinham um sistema de supervisão, e que era uma supervisão polivalente.

Então tinha vários profissionais da área de saúde e dependendo de quem

indicava na época tinha de outras áreas também, tinha historiadores,

sociólogos...149

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Es.: Pessoal da [Faculdade de] Letras(faculdade)...

L.S.: Da Lletras, né. Aí dependia de quem tinha o Q.I mais forte, qual o

deputado majoritário da região...[risos].

Es.: Quem indicava?

L.S.: Quem indicava. Era o Q.I, quem indica, que prevalece. Toda essa

política - clientelista da década de quanto?; foi da década de setenta, né?. Aí

vem toda, isso está incorporado em outro discurso da, da...da assistência

primaria à saúde, né. Toda, toda a reforma.

Va.: Quer dizer, na verdade, a enfermagem é... participava tentando

acompanhar e lutar por todas essas...

L.S.: Justamente, na sSaúde pPública nos três níveis ela participava, tanto no

nível local, como regional e como no nível central.

Va.: Pois é, na luta é para definir as políticas de saúde a nível governamental.

L.S.: Quando eu falo dos três níveis, eu falo da Enfermagem em Saúde

Pública da Escola de Enfermagem da Universidade.

Va.: Sim, unhumhum-hum. Pois é, eu quero dizer assim: a Escola de

Enfermagem lutando para que o governo mudasse a política de saúde em

relação aà S saúde Públicapública?

L.S. É, unhumhum-hum. Então a gente, a gente incorporava todos os

movimentos, a gente estava incorporado a todos os movimentos, né. Em

todos os movimentos da saúde comunitária, né, da assistência primária à

saúde, todos os movimentos. Aí bom, onde que eu parei?

Va.: Interiorizarão?

L.S.: Interiorizarão. Aí veio então, a proposta do Ministério da Saúde, que era

a gente trabalhar em oito municípios, e que o aluno ficaria, ele era aluno da

escola e estava fazendo o quarto ano...

Va.: Não, habilitação.

L.S.: Habilitação. Aí a nossa... esqueci de falar um detalhe, quando nós

reformamos a habilitação. Aí nós, naquele período que a gente, que nós

tivemos habilitação de seis meses, aí acabamos com a habilitação de seis

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meses e passamos a habilitação para um ano; por causa da Enfermagem

Obstetrícia. Lembra que eu falei da história da Enfermagem Obstetrícia?

Va.: UnhumHum-hum.

L.S.: Porque era para igualar as habilitações, para obter o mesmo número de

carga horária, aquela história toda. Só que a Enfermagem Obstetrícia também

não saiu. Nós tínhamos, já tínhamos tido experiência, passamos para outra.

Então era o que nós tínhamos, era o oitavo, era o nono e o décimo período,

não é?. E então diante disso aí, nós tínhamos, nós íamos colocar a gen...o

décimo período dentro da habilitação é que nós, os alunos eram bolsistas da

Secretária de Saúde, então o décimo período ele fazia praticamente em

Centro centro de Saúdesaúde, na área metropolitana, né. Tinha em Nova

Lima (MG), tinha em Sabará (MG), na área metropolitana. Aí a gente

incorpora o modulo básico, incorpora o interior. Então a gente coloca os

alunos e a proposta, a nossa a nossa experiência era de seis meses o aluno

ficar na prática, no Serviço serviço de Saúdesaúde. Já essa proposta, ele

teria de ficar um ano lá. Então nós tínhamos que reformular um pouco, aí nós

reformulamos, um pouco, começamos com essa outra experiência, que era de

colocar o aluno do nono período também, entendeu?. Então aí o que que nós

passamos, nós passamos a fazer, a desenvolver o mesmo conteúdo

programático para ele. Só que a gente tinha um roteiro e montamos pastas,

em que a gente tinha na supervisão mensal que a gente dava para ele, a

gente tinha um roteiro para discutir porque ele, ele não tinha aula teórica mais,

entendeu?.

Va.: Já era experiência dele?

L.S.: Era experiência dele.

Va.: Mais independente da Escola.(de Enfermagem de MG)

L.S.: No Mmunicípio mais independente. Então a gente, o que nós fizemos,

nós privatizamos vários assuntos, dentro daquilo que era importante para ele,

dentro do possível e muitos até aumentavam de acordo com a necessidade

com a vivência deles. Porque eram Municípios municípios diferenciados né,

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tinha aluno em Município município de quatro mil habitantes e tinha aluno em

Mmunicípio de quarenta mil habitantes e até mais, táta?

Va.: Desses lugares do interior algum mais marcante?

L.S.: Aí esse, essa experiência foi de um ano, né. E com essa experiência,

essa experiência ela foi acompanhada com o Ministério da Saúde e com a

secretária da Saúdesaúde, né. Então de acordo com essa experiência, aí que

o Estado de Minas Gerais, estava em discussão de aumentar os cargos, aí

isso houve uma demanda dos Municípios municípios que tinham tido

enfermeiros, de reivindicar enfermeiro para aquele local. A própria

comunidade reivindicando o enfermeiro, e o Estado de Minas Gerais, dentro

da política de, de... Recursos recursos Humanos humanos do Estado de

Minas Gerais, por [foi na época de Juarez Tavares] [como secretário de

saúde], eles estavam reeistruturando e haveria um concurso. Então foi aí que

foi alocado o primeiro concurso, depois que eu entrei para o Estado, foi o

primeiro concurso do Estado, que tinha um número bem significativo de

enfermeiros nos níveis locais. Porque antes era só para a Regional regional

que tinha enfermeiros, tá.

Va.: UnhumHum-hum.

L.s.: Então é um outro marco prá gente, né?. Que aí, já há uma abertura de

um mercado de trabalho para os enfermeiros nos Municípios municípios do

Estado de Minas Gerais.

Va.: Como fruto desse trabalho da Saúde saúde pPúblicaública, né.

L.S.: É, desse trabalho da Saúde saúde Públicapública. Bom, acho melhor

parar não?

Va.: Você quem sabe [risos].

L.S.: Acho melhor.[inaudível].

[FINAL FITA 5 LADO A]

[FITA 5 LADO B NÃO FOI GRAVADO]

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[FINAL DA ENTREVISTA]

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FICHA TÉCNICA

Datas das Entrevistas: 24/01/1997, 30/01/199, 21/02/1997

Local: Escola de Enfermagem da UFMG

Número de Fitas: 05

Duração: cerca de 520 minutos

Entrevistadores: Valda da Penha Caldeira

Estelina Souto do Nascimento

Adriana Ferreira Pereira

Conferência de Fidelidade: Sílvia Elisângela Silva Fernandes

Valda da Penha Caldeira

Luciana

Traços Biográficos e Sumário: Valda da Penha Caldeira

Luciana....

Conferência de Fidelidade: Sílvia Elisângela

Silva Fernandes

Valda da Penha Caldeira

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