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6/11/07 iniciei conferencia
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UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS
ESCOLA DE ENFERMAGEM
Sub Grupo História Oral
A História da Escola de Enfermagem Carlos Chagas
LUZIA DA SILVA
Núcleo de Pesquisas e Estudos sobre Quotidiano em Saúde - NUPEQS. Sub-Projeto História Oral. A História da Escola de Enfermagem Carlos Chagas. Arq. do Word for Windows no diretório C:\História Oral\Luzia.doc
Belo HorizonteMinas Gerais
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Núcleo de Pesquisas e Estudos sobre Quotidiano em Saúde - NUPEQS. Sub-Projeto História Oral. A História da Escola de Enfermagem Carlos Chagas. Arq. do Word for Windows no diretório C:\História Oral\Luzia.doc
Traços Biográficos
LUZIA DA SILVA
Nasceu em Campo Belo (oeste de Minas Gerais) em 17 de dezembro de 1940. Filha
única, terminou o curso Normal em 1960. Sua vivência na Escola de Enfermagem Carlos
Chagas (EECC) é a partir de 1962, quando iniciou o cursocurso. 1994.
Foi aluna da primeira turma com exigência de 2º grau completo para ingressar no
curso de enfermagem. Teve as aulas teóricas ministradas pelos professores da faculdade de
medicina e o acompanhamento das professoras de enfermagem, como antes da Lei de
Diretrizes e Bases. Morou no internato por um período de um ano.
A entrevistada descreve as normas rígidas do internato e o relacionamento entre os
alunos. No término do curso em 1964, sendo a turma pequena (apenas três alunas), não
organizaram nenhuma festividade. Apenas se reuniram com a diretoria para colação de grau e
avaliação do curso. Fez estágio no Hospital Municipal e no Hospital das Clínicas.
Foi convidada para ministrar aulas de saúde pública em 1966. Teve uma atuação
marcante como docente, principalmente na área de saúde pública. Atuou como docente nos
hospitais das Clínicas, São Francisco e Odilon Bherens, acompanhando as alunas na
disciplina médico-cirúrgica. Participou de mudanças na estrutura interna da EECC. Em 1972
ocorre a reforma curricular e a disciplina saúde pública é implantada no último ano do curso.
Nessa transição fez especialização em saúde pública na USP (São Paulo). Trabalhou na
Escola Nacional de Saúde Pública, no Rio de Janeiro acompanhando as alunas da EECC. e
posteriormente no centro de saúde pública de Belo Horizonte.
Em 1976 foi coordenadora do centro de extensão e pesquisa (CENEX). Participou da
implantação do programa de desenvolvimento em enfermagem (PRODEN). Relata que tinha
a utopia de capacitar todos os enfermeiros do estado de Minas Gerais. Participou do projeto
trans-setorial de ação comunitária (PTAC).
Em 1976 foi coordenadora do centro de extensão e pesquisa (CENEX). Participou da
implantação do programa de desenvolvimento em enfermagem (PRODEN). Relata que tinha
a utopia de capacitar todos os enfermeiros do estado de Minas Gerais. Participou do projeto
trans-setorial de ação comunitária (PTAC) e da implantação da pós-graduação em saúde
pública, em 1989.
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Aposentou em 1994, deixando de ter uma atuação didática; porém não se afastou da
Escola, permanecendo no PRODEN 2, com o projeto de educação continuada. A entrevistada
diz ter uma vida bastante ativaTrabalhou na implantação da pós-graduação em saúde pública
em 1989 e no desenvolvimento do PRODEN 2.
Aposentou em 1994, deixando de ter uma atuação didática; porém continuou
trabalhando no PRODEN 2, com o projeto de educação continuada. A entrevistada diz ter
uma vida bastante ativa..
Gosta muito de viajar e atualmente faz parte (?) de um grupo de filosofia,
juntamente com outros professores da escola de enfermagem.
RRelata que se considerado o avanço tecnológico,tecnológico, as mudanças ocorridas
na enfermagem são bastante lentas.lentas.
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SUMÁRIO
FITA 1 - LADO A ok, nov 07
Referência a sua origem; a matrícula na Escola de Enfermagem Carlos Chagas (EECC); a
suspensão do curso na Escola de Enfermagem Hugo Werneck; a prova de seleção na EECC; o
primeiro ano do curso superior na EECC; o curso de "pica-couve"; a visão positiva em relação
a enfermagem naquela época; relato da infância e adolescência tranqüilas; o não
preenchimento das vagas devido a exigência do segundo grau completo; a proteção que a
escola proporcionava as cinco alunas do curso superior; o cotidiano no internato da avenida
Alfredo Balena; as aulas prática e teórica; o acompanhamento da professora Carmen Dolores
Messentier Brandão durante as aulas teóricas; as aulas de técnica de enfermagem e o material
didático; a utilização e a localização da biblioteca na EECC; as aulas de patologia; sobre os
diretórios acadêmicos.
FITA 1 - LADO B ok, nov 07
A greve do “1/3” do Diretório Central dos Estudantes (DCE) e a participação dos professores
da parte teórica; o que os alunos ficaram fazendo no hospital durante a greve; a primeira vez
que aplicou injeção intramuscular; o relacionamento de dona Rosa Lima com as alunas; os
estágios nas clínicas especializadas; descrição humorística e detalhada de todas as peças do
uniforme da época; as aulas de Ética e História da Enfermagem; sobre o relacionamento com
a irmã Emília; a reivindicação e justificativas das alunas para mudança da meia e retirada da
touca; o uniforme de Saúde Pública e de gala; o que mudou no quotidiano das alunas após o
curso passar para nível superior; a relação com os alunos da medicina; sobre o internato.
FITA 2 - LADO A
Motivo da suspensão de uma aluna; o dia a dia no internato; a área física do 3º andar; como as
alunas entravam no internato após o horário; horário dos estágios; a rotina “doméstica” no
internato; o local de namoro dentro do internato e demais dependência do segundo andar; a
questão da lavagem das roupas das alunas; o isolamento de uma aluna com hepatite; a capela;
sobre o relacionamento com irmã Clarízia; a interferência da professora Alaíde na questão de
plantão noturno com um paciente; a articulação das alunas para conseguirem fazer curso de
especialização na USP; a participação da funcionária Lygia e a bolsa da CAPES; o estágio de
saúde pública em comparação aos anos anteriores; o período de revolução de 64 e a falta de
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atuação política da escola de enfermagem; sobre estágio extracurricular; as professoras e a
irmã Clarízia; o despreparo das professoras.
FITA 2 - LADO B
FITA 2, LADO B
A bandeja e o papel de radiografia que utilizavam para identificação e distribuição de
medicação e uma medicação administrada erroneamente; os processos de transcrição e de
administração de medicamentos; a obrigação das alunas em ceder o lugar para os médicos
sentarem; a contestação das alunas diante das normas imposta; a reunião de avaliação do
curso com o corpo docente e da irmã Clarízia; o apoio da professora Carmelita e o livro dado
de presente as formandas; a formatura sem solenidades; a insatisfação em relação a anexação
da escola à faculdade de medicina; as condições da entrada da escola; a dificuldade de
relacionamento com a irmã Emília; as normas do internato e o curso de saúde pública na USP;
os estágios estruturados em saúde pública e a integração com o curso de obstetrícia; o estágio
rural; avaliação do curso; referência à professora Salomé Curi;
FITA 3 - LADO A
Sobre o DA da escola de enfermagem e as relações com os presidentes do DA da Medicina e
com o DCE; complementa informações anteriores sobre a convivência com as alunas do 2º e
3º ano de enfermagem; a intensificação das aulas práticas a partir do 2º ano; conteúdos das
aulas de Ética e História da Enfermagem dadas pela irmã Clarízia; o controle sobre as “3” de
sua turma; a união das “3”; o convite para as “3” para lecionarem na Escola de Auxiliar de
Enfermagem do Hospital Sara Kubitschek; o convite para lecionarem na EECC; a
estruturação do 4º ano (opcional) de Saúde Pública; os professores convidados para compor o
corpo docente do curso; a disciplina Didática; a organização do estágio do curso e do estágio
na Fundação SESP, na cidade de Pirapora; financiamento do curso; alunas do curso;
organização do Hospital Municipal de Belo Horizonte e a participação de enfermeiras do
Estado e da EECC; o convênio com a EECC; alunos bolsistas e estágio extracurricular; a
questão administrativa e financeira do convênio; o 4º ano opcional semelhante à Habilitação;
a facilidade que teve em atuar em área hospitalar e o currículo; as primeiras atividades
profissional; as interferências da EECC no Hospital Municipal; a questão administrativa do
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quadro de pessoal; a necessidade de aumentar o quadro de pessoal; a terceirização e as
mudanças ocorridas em relação ao pessoal e às alunas do 3º ano; a 1ª chefe do Serviço de
Enfermagem do Hospital Municipal; a nova estrutura do 4º ano de Enfermagem em Saúde
Pública.
FITA 3 - , LADO B
Continuação sobre as opções do 4º ano: Enfermagem Médico-Cirúrgica e em Saúde Pública;
estágio de saúde pública no Rio de Janeiro na Escola Nacional de Saúde Pública; a
convivência com as alunas durante a hospedagem na Escola de Enfermagem Anna Nery; a
reestruturação da escola em função da Reforma Universitária, de 1968; a batalha pela
desanexação; a formação dos departamentos; vínculos empregatícios com a escola; a
indicação da primeira diretora; saída das freiras da direção da escola; entrada dos primeiros
alunos do sexo masculino na escola, o mandato de segurança para garantirem a permanência
no curso; diminuição da área física do terreno da escola para o Hemominas; retorna às opções
de continuidade do 4º ano e locais de estágios; a reforma curricular de 1972; o término do 4º
ano e a incorporação do conteúdo de saúde pública no novo currículo; a transição da mudança
de currículo e os cursos de atualização para os professores; o Campus Avançado em Barreiras
através do CENEX a partir de 1975; o currículo voltado para a área hospitalar; o contato com
a realidade de saúde; lutas pelo aumento da carga horária de Saúde Pública; as disciplinas e
seus docentes; a marginalização do grupo de docentes de Saúde Pública; as habilitações em
enfermagem; a habilitação em Obstetrícia; as estratégias para contratação de docentes.
FITA 4 - LADO A rever, se derok, nov 07
O curso de Habilitação em Enfermagem em Saúde Pública; os estágios no interior; estágios
integrados entre a Escola de Enfermagem e a Faculdade de Medicina; estágios conveniados
com a Secretaria Municipal e Estadual; a supervisão dos estágios no interior e as dificuldades
encontradas pelos professores; estágios conveniados com a Secretaria Municipal e Estadual; o
término da habilitação; o curso de especialização; módulo básico: a inserção do enfermeiro no
sistema local de saúde; o processo de capacitação do enfermeiro de nível médio; o projeto de
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pós-graduação: a reunião de Barbacena; a especialização de enfermagem em saúde pública; a
proposta de educação continuada na capacitação de enfermeiros no interior de Minas Gerais; a
atuação do PRODEN na revisão do material destinado ao processo de capacitação; PRODEN
II; capacitação de recursos humanos.
FITA 4 -, LADO B ok, nov 07
O projeto de educação continuada; diferença entre do PRODEN II em relação e ao PRODEN
I; o maior envolvimento de docentes; o objetivo do projeto de educação
continuada;continuada; e sua relação com o PRODEN II; a (re)elaboração dos módulos para
formação do atendente de enfermagem e para enfermeiros; as áreas curriculares; a “Luzia”
doméstica e no lazer; o trabalho o trabalho no PRODEN; a aposentadoria; a volta ao vínculo
empregatício no Estado; a disponibilidade para o PRODEN; remunerações; atividades extras;
experiências vivenciadas pela entrevistada e suaprojetos de vida; a evolução da enfermagem
nos últimos tempos; estratégias para capacitação da força de trabalho em enfermagem; a
possibilidade de ensino à distância pela LDB vigente; agradecimentos.realização pessoal.
FITA 5 - , LADO A
A polêmica gerada pela indicação de uma aluna do curso de Habilitação ser contratada como
docente para a graduação; Referência a dificuldades em encontrar enfermeiros no mercado de
contratar para a docênciaprofessores para a Escola de Enfermagem da UFMG; aos; o
impedimento da contratação da ex-aluna; as resistências enfrentadas; as estratégias utilizadas
para iniciar o curso alunos recém formados que iriam fazer habilitação em Enfermagem da
Saúde Pública; o impedimento da contratação de uma ex-aluna da Escola de Enfermagem da
UFMG para a disciplina de Saúde Pública; Alunos que pressionaram a Reitoria da UFMG
para a contratação de professores; ; a suspensão do início do curso por falta de professores; a
contratação de duas as professoras de São Paulo;Marie e Ricco; contratação de outros
professores através de concurso público; os motivos da não aceitação da admissão da tal ex-
aluna; referência à diretora Yole enquanto diretora e, professora; da disciplina Enfermagem
Cirúrgica perfil da ex-aluna; os momentos da habilitação em Enfermagem de Saúde pública; a
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habilitação em Saúde pública Pública no interior de do estadoMG; a inserção do enfermeiro
no interior de MG evolução histórica da enfermagem em saúde pública; a atuação da
Enfermagem de Saúde pública a nível central, intermediário e local; os convênios com as
secretarias municipais de saúde; a falta de mercado de trabalho para o enfermeiro de Saúde
Pública; o estabelecimento de convênios com a Secretária Estadual de Saúde; a estruturação
dos níveis sociais e locais; a política de assistência primária em saúde; a luta da Escola de
Enfermagem da UFMG, para que o governo mudasse a política de saúde; o aumento da carga
horária das habilitações; a reestruturação da habilitação em saúde pública; a reforma da
habilitação; a repercussão nos municípios; o primeiro concurso público para a atuação do
enfermeiro a nível local; a abertura do mercado trabalho para o enfermeiro dos mMunicípios
de MG.
[FITA 5 - , LADO B NÃO FOI GRAVADAO]
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FITA 1 LADO A
Valda.: Luzia, você podia, falar pra gente seu nome completo, onde você
nasceu? Um pouco da sua vida inicial, dados pessoais.
Luzia.: Hum-hum. Bom, eu sou Luzia da Silva, nasci na madrugada do dia
dezessete de dezembro de mil novecentos e quarenta, na cidade de Campo
Belo, oeste de Minas Gerais. Ah! No dia que eu nasci deu uma chuva muito
forte, deu uma enchente muito forte na cidade e levou a ponte da cidade
[risos].
V.: Marcou. [risos] o nascimento, né?
L.: Marcou. Deixa eu ver o que mais. Bom, eu vivi, eu morei nesta cidade até
mil novecentos e sessenta, né? Onde eu fiz todo o ensino fundamental: fiz o
curso de... professora primária, e, quando eu terminei a 8ª série, 8ª série? É.
Porque naquela época não era 8ª série...
Estelina.: ...era o quarto...
L.: ...era o 4º ginasial, né?
V.: Hum- hum.
L.: Eu tinha decidido que eu ia ser enfermeira.
E.: Ah!
L.: E... quando eu levei a questão pra minha casa, pra discutir com os meus
pais eles colocaram que era impossível, que era impossível eu na idade que
eu tinha, de eu ir pra Belo Horizonte pra poder estudar. Que eu tinha que
terminar os meus estudos, que eu tinha que completar até o... fazer o curso o
Normal. E então terminei, fiz o Normal. Em mil novecentos e sessenta eu
terminei o Normal. Depois que eu terminei o Normal falei pra eles: “Olha, eu
não vou trabalhar, eu não vou lecionar, eu não vou trabalhar em grupo escolar
porque eu quero ser enfermeira, tá?.” E eu fiquei um ano, pensando na minha
vida, né, e, quando eu decidi realmente a fazer minha matrícula, foi
interessante que aí eu não, eu tinha programado... um fato interessante é que
eu tinha programado pra eu fazer o curso de enfermagem na Escola Hugo
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Werneck, porque eu estudei a vida inteira no colégio de freira que era a
mesma congregação da Escola Hugo Werneck, as servas do Divino Espírito
Santo. E neste momento, quando eu defini fazer o curso de enfermagem, meu
pai tinha um amigo aqui em Belo Horizonte. Eu pedi que ele fizesse a minha
matrícula na escola e, pra minha tristeza, quando ele foi fazer minha
matrícula, naquele ano não ia ter o curso na escola. O curso da escola tinha
sido suspenso. Então ele ficou preocupado, mas a própria escola encaminhou
para a Escola Carlos Chagas, que eu nem sabia que existia a Escola de
Enfermagem Carlos Chagas. Eu só, a minha relação era só com a Hugo
Werneck, por causa das freiras do colégio, e tudo mais. Então, quando ele
veio fazer minha matrícula, aí era, estava tudo mudado, porque, não tinha, a,
a seleção era do mesmo jeito que era nos anos anteriores, mas... aí eu, ele
fez minha inscrição, não foi matrícula, fez minha inscrição, eu vim fazer a
minha... a, a seleção, já tinha marcado a prova de seleção. A seleção era,
acho que português, matemática, tinha parece que física e química... biologia
e tinha um curso... e tinha um teste, que era feito no SOSP, que era o Serviço
de Orientação Profissional, né, que tinha um teste psicológico, sabe. E, e para
minha surpresa a Escola Hugo Werneck, ela tinha é, suspenso o curso porque
era o primeiro ano do curso superior. Então as escolas, foi nesse período que
grande parte das escolas fecharam realmente pra poder estruturar o curso.
Então, eu fui a primeira turma do, do curso de nível superior. E era a lei, como
que era o número da lei? Dois mil e ...
V.: ...é, lei da LDB, né, de sessenta...i
L.: É, né, que é o...
V.: ... resultado daquela de l949, que custou pra ser...
L.: ...não, a outra, porque a outra, porque a outra que vigorava era a lei 775,
né.
V.: E de quarenta e nove?
L.: É, de quarenta e nove. Então era a nossa primeira turma. Então...
E.: Eu queria fazer só um esclarecimento, porque você fala assim muito
decidida com seu pai que iria fazer enfermagem. O quê foi que você tomou 10
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esta decisão, assim? O quê que te levou a tomar uma decisão e por
enfermagem, e dizer: “eu quero fazer enfermagem”, e não tirou isto da
cabeça?
L.: Olha, eu não lembro, assim, o que, se tinha alguma coisa definida, mas eu
tinha clareza assim, que eu não queria ser professora primária, que eu não
queria continuar morando na minha terra, que eu não queria ficar naquele
lugar pequeno. Eu queria ir pra um lugar maior, sabe. E, parece que assim as
possibilidades que eu tinha na época, decorrente da própria ligação, não tinha
outra possibilidade. Eram dois, dois cursos que discutiam no colégio. Um era
o de enfermagem e o outro era o de Viçosa, que era o “pica couve”.
V.: Pica couve? [risos] Que que é isso?
L.: Porque eles chamavam, que era o curso de pica couve, aqui, é o curso
de...
E.: ...deve ser...
L.: ...extensionista...
E.: ...agrário...
L.: ...é, um negócio desses...
E.: ...é, alguma coisa agrária...
L.: ...de agrária entendeu? Que eram essas duas possibilidades.
V.: Então eles criticavam...
E.: ...um era pica couve. E o outro, era o quê?
L.: É. Não, o outro era enfermeiro [risos], não, não tinha nenhum, não.
[gagueira] falava assim: “Mas você vai ser pica couve, quer dizer, era o curso
que tinha, ainda ti... parece que tem esse curso até hoje, em Viçosa. Não
tenho muita certeza, não. Que o mercado de trabalho era todo voltado pra,
pra, pra Emater, que eu, que antigamente era ACAR, né? Então, era, era, era
mas... era um curso extensionista, lhe dava mais com a questão da educação
pra saúde, orientação alimentar, sabe? São dois cursos bem característicos
de mulher, né? Então, [riso] então era, por exemplo, era os dois cursos que a
gente tinha clareza que tinha. E, e todos dois cursos tinha possibilidade de
internato. Então isso facilitava também o fato da gente sair do interior. Mas, 11
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e... aí eu, não sei, eu não sei não o que aconteceu não [gagueira], pica couve,
eu tinha clareza que não queria ser, que eu não ia mexer com essas, com
essas questões. E eu queria ser era enfermeira mesmo. Eu não sei porque
não, sabe? [risos] Eu queria ser mesmo enfermeira, que eu queria ser.
V.: Seus pais reagiram contra você fazer o curso na época?
L.: O meu pai não, o meu pai não. A minha mãe sim. Minha mãe não queria
que eu fizesse enfermagem.
E.: Mas ela tinha algum argumento pra isso?
L.: Não!
E.: Não. Não queria?
L.: Não queria!
E.: E não dizia porquê?
L.: Não!
V.: Como que era a visão da enfermeira naquela época?
L.: Olha, é muito interessante, porque a visão da enfermeira eu não posso
lhes falar como que era, a visão da enfermeira. Mas que a visão geralmente
que algumas pessoas tinham de enfermagem era através das enfermeira da
minha cidade e era uma visão até legal. Muito boa, porque eram todas
enfermeira, pra você ter uma idéia tinha uma família, a família “Ci” que eram
quatro enfermeiras. E elas fizeram enfermagem no Rio de Janeiro e foram
trabalhar na Fundação SESP [Serviço Especial de Saúde Pública] no
Amazonas, né? Aparecida Ferreira Moura, Aparecida Freire [nome de solteira]
... da mesma, da mesma época, ela foi até colega de uma dessas meninas e
foi também para o Amazonas. E esse pessoal era... essa família morava,
como que era? Na mesma rua que eu morava. Então existia uma ligação,
sabe, familiar! Então, quer dizer, o meu pai tinha uma idéia do que era
enfermagem, né? Quer dizer, pelo menos não era uma coisa tão obscura, né,
tão... sabe?
V.: Não tinha aquela visão negativa da enfermeira?
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L.: Não, não, não, sabe? Agora ao mesmo tempo devia passar uma série de
fantasia, porque saí vim pra cidade maior, é, ficar internada num lugar, morar
no mesmo hospital, entendeu?
V.: Que tipo de fantasia?
L.: Morar no hospital. Devia, não sei...
V.: ...você não acha só...
L.: ...num, num,... eu acredito que devia ter alguma fantasia, agora eu nunca,
nunca foi manifestado pra mim não, entendeu?
V.: Luzia, como é que era a vida antes de você fazer enfermagem, na sua
família, nessa infância e adolescência numa cidade de interior?
L.: Tranqüila. Quer dizer, eu sou filha única, né. Então era os meus pais e eu.
Agora era o contrário porque... a minha casa era muito cheia de gente, meus
amigos, então tudo que acontecia era na minha casa, né? Então, uma vida
tranqüila de, de, de brincar, de minha adolescência, de trabalho, de dançar,
entendeu? De passa férias nas, nas fazendas dos amigos, dos colegas de
escola.
V.: Mas isso ainda não te satisfazia, você queria ir pra uma cidade maior?
L.: Queria.
V.: Buscando?
L.: É. Eu queria, eu queria, eu não queria ficar lá.
V.: Aquilo era pouco?
L.: Era, sabe? Num, num...
V.: Bom, você falou sobre esse início como é que foi a seleção, mais alguma
coisa interessante desse início de curso, de chegada em Belo Horizonte?
Como é que foi a sua chegada aqui em Belo Horizonte pra fazer a seleção?
Você se lembra?
L.: Lembro, foi... foi muito tranqüila porque eu fiquei na casa desse amigo do
meu pai. Quer dizer, um amigo de muitos anos e eu era amiga das filhas dele,
né. Então eles me ajudaram muito foi assim, era referência que, que eu tinha
aqui, né? E na verdade, foi até interessante porque quando depois que eu
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passei... [gagueira] uma coisa que me chamou atenção no processo de
seleção, que nós éramos sete candidatos para trinta vagas.
V.: Era muita gente!
L.: Não. Eram sete candidatos para trinta vagas.
E.: É, ao contrário [dehoje].
V.: Ah! O contrário. É. [riso]
E.: Tinha muitas vagas.
V.: Sobrava vaga!
L.: É, sobrava muita vaga. Porque a turma... de sessenta e um eram trinta e
cinco alunas, me parece, por aí assim, né. Então, de repente a procura caiu
demais, né.
V.: Que, que fator você acha que...
L.: Foi a questão do, do... da exigência..
V.: ...da exigência... segundo grau completo
L.: Do segundo grau completo, né, porque antes era, era mais tranqüilo, né?
E.: Então significa que passaram as sete?
L.: Não, isso que eu que... isso que me chamou atenção. Então eram trintas
vagas e não passaram as sete, né. Passaram cinco! E o peso realmente foi
que, o que eliminava era o SOSP. Eram os testes de inteligência, o teste de
HORSHA também que era de personalidade, então eram estes testes que
eliminava. E passaram cinco! Então nós fizemos o primeiro ano com cinco
alunas. Cinco alunas. E no [gagueira] primeiro ano, dessas cinco duas
desistiram. Uma pediu transferência e a outra trancou matrícula. Então eu,
nós terminamos o curso somente com três alunos.
E.: Agora tinha uma, uma história que a gente ouve contar, de que tinha uma
seleção também assim, que não entrava preto, não entrava feio, não
entrava... outra seleção além do conhecimento mesmo. Se é da sua época,
ou se você ouviu falar nisso?
L.: Não, porque da turma anterior tinha muita gente, tinha mulata!
E.: Hum-hum.
L.: Não acredito, não. Quer dizer, eu nunca percebi...14
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E.: Pode ter sido anterior?
L.:. Bem anterior, né? Agora da minha turma, não tinha. Das sete agora não
tinha ninguém preto, não tinha...
V.: As que perderam, a que perdeu, por exemplo, não ti... você não chegou a
conhecer, num...
L.: Uma eu cheguei, quer dizer, cheguei porque nós fizemos prova juntas, né?
V.: Sim!
L.: E até nós comentamos depois, que pra gente era tranqüilo uma, que uma
não passasse mesmo, porque nós achamos ela muito...
V.: ...fraquinha, mesmo?
L.: Descontrolada, sabe? Assim, em relação, em relação mesmo a, a estado
emocional. Não sei se a situação de prova e tudo mais. Mas ela era bem...!
V.: A outra que foi transferida, ela foi transferida pra onde?
L.: Pro sul. Ela era do sul. Era a mesma história, ela veio pra cá pra fazer o
curso na Hugo Werneck. Aí como não tinha ela, ela ficou na Carlos Chagas,
depois ela foi embora pro sul. Ela é de Santa Catarina.
V.: Terminou o curso lá ou...?
L.: Termi... foi pra terminar o curso lá. Ela foi transferida pa... pra Santa
Catarina. Não sei se terminou, nunca mais tive notícia dela.
E.: Isso significa que você já entrou na escola em sessenta ou sessenta e
um?
L.: Sessenta e dois.
E.: Ah, tá! Você terminou lá em sessenta e entrou em sessenta e dois?
L.: É. Sessenta e dois, né! Porque eu fiquei um ano, sessenta e um eu fiquei...
E.: Ah, tá, refletindo.
L.: Refletindo, né? Convencendo o meu povo que o que eu ia fazer era
enfermagem mesmo e que não adiantava que eu não ia trabalhar em outra
coisa, né?
E.: Nesse período a gente sabe de uma história da Maria Purificação que foi
expulsa. Você ficou conhecendo logo que você entrou essa história?
L.: Não.15
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E.: Não, né. Nem, nem, assim, ouviu falar?
L.: Não, nem sei, até hoje nem sei dessa história. [risos] Entendeu? Quer
dizer, porque depois, mais na frente, a gente pode até voltar o porquê que a
gente não sabia das coisas, tá?
E.: Não, mas se você quiser falar agora.
L.: Ah, então tá!
E.: Pode, pode, pode até já...
L.: Porque é interessante, porque existia uma proteção muito grande entre as
cinco, pras cinco, porque na verdade no terceiro ano eram trinta e cinco
alunas mais ou menos do... era uma média de trinta e cinco no terceiro e trinta
e cinco no segundo. E a mesma história nós, nós também foi, [gagueira]
nesse ano que a escola começou a funcionar aqui, nesse prédio. Porque
antes não funcionava aqui, né?
E.: Hum-hum.
L.: Então, foi também em sessenta e dois. Então, parece que existia uma
proteção muito grande da direção da escola das cinco, em relação ao restante
do, do, do curso, da turma.
E.: E porque essa proteção?
L.: Existia nu... era uma proteção no sentido assim, pra, pra não se misturar,
pra não se contaminar. Porque... devia ter muitos problemas as outras turmas.
E.: Turma grande?
L.: Grande! Né, não tenho a menor dúvida. E, e, e aí ela separando, era mais
fácil dela manipular a gente, né? Era no sentido de manipular a gente,
manipular assim. Mas só que não é todo [cavalo?] que assim era tão forte...
as três eram tão fortes! Que ela nunca imaginou.
V.: Quem eram essas três Luzia?
L.: Noemi [Ferreira Ribeiro], Inês [Lemos da Fonseca] e eu.
V.: Ah! Só você três?
L.: Só.
V.: Já que a gente já começou...
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L.: ...viu! Fomos nós que mudamos um punhado de coisa na escola, as três.
Que eles não esperavam.
V.: Ahn-ahn.
L.: Interessante.
V.: Antes da mudança...[do currículo]
L.: ...é...
V.: ...como que era o cotidiano no internato?
L.: No internato?
V.: É. Vocês já vieram diretamente pra este prédio [Avenida Alfredo Balena, nº
190]?
L.: Pra este prédio. O prédio só tinha... só estava terminado até o terceiro
andar, né? Até aqui, até aqui. Lá fora não tinha mais nada terminado. Aqui era
tudo de, de chão, com uma poeira incrível. E campo de futebol, tinha aqui.
V.: Onde que era o campo?
L.: Onde estão [hoje] as árvores. Este quadrado imenso, aqui nesse
estacionamento. Aí era o campo de futebol, né?
V.: Aberto? Ao público?
L.: Aberto. Tinha pelada. Os próprios meninos da medicina utilizavam, né.
Aberto. Todo campo de futebol, pra pelada, pra final de tarde, pra final de
semana. E era muita poeira, sabe! Tinha muita poeira. E a escola ela
funcionava, nós tínhamos, e uma das coisas interessantes era o seguinte: que
a gente... logo nós percebemos isso, existia um corpo docente na escola de
doze professores, né. E bem determinado quem era do primeiro ano, quem
era do segundo, quem era do terceiro. E, e parece que elas não tinham as
decisões num, num, elas não tinham muita, muita clareza ainda do quê que ia
fazer com a gente, não. Qual que era o nosso currículo, não sabe? Porque, a
experiência delas era com a [Lei] 775, e de todos os professores. Então eles
trabalharam com a 775 mas ao mesmo tempo eles tinham que adaptar, fazer
uma série de modificações. E eles, parecem que eles não tinham muita
clareza. Então, nós estávamos no meio de um beco... né? Era uma turma
que... não podia, nós não podíamos fazer uma, foi reduzido uma série de 17
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coisas, a carga horária, estágio, porque com a Lei 775/49 os alunos faziam
três meses de estágio no ambulatório, três meses de estágio não sei mais
onde; então tinha uma carga, parece, de estágio muito alta. E com, e já com a
nossa turma isso não ia acontecer. Então parecia que o, o, o grupo de
professores estava até meio perdido. Não tinha uma decisão ainda, sabe? E
muitos manifestavam isso pra gente, sabe? Então, muitas vezes, a gente...
sentia muita insegura de saber, “Mas, como que vai ser, nós vamos ser o quê,
nós vamos ficar prejudicada, será que nós vamos saber o mesmo tanto que a
outra turma da 775” sabe? Mas depois, com o andar da carruagem nós
sentimos o seguinte: que não tinha muita diferença não, porque na verdade a
prática era, a prática dos professores, era a prática da 775. Então não tinha
jeito de ser muito diferente.
E.: Será que essa insegurança inicial também tem a ver com ter passado pra
curso superior? E ter exigido segundo grau, será que tinha...?
L.: Podia ter também, sabe? Podia ter. Porque, agora os professores eram os
mesmos, era a mesma história, né. As enfermeiras só davam a parte de
enfermagem, e os médicos é que davam a parte, a parte clínica, né? E a parte
básica também era dada pelos professores da medicina, né? Aliás por
professores ótimos, professores excelentes, sabe?
V.: E esse conteúdo teórico dado pelo pessoal médico era adequado à
enfermagem ou...
L.: Era. Bom, pelo menos a gente sentia que era. Porque na, anatomia a
gente tinha, era, era o [Carlo] Fatini que dava anatomia pra gente. E ele
discutia muito. Discutia muito assim, Alzira [Alzira Souza Melo]. Alzira que era
professora de Fundamentos, então a gente sentia assim. E sempre ele falava
assim: “Isso aqui eu não vou colocar pra vocês porque a Alzira me falou que
vocês não têm necessidade disso.” Então, a gente sentia que existia...
E.: ...uma integração.
L.: Uma integração, né? Pelo menos uma, uma discussão do quê que era
interessante do quê que era... Agora, as coisas pitorescas, que a gente [risos]
tinha aula, a gente tinha aula na medicina e sempre tinha - mais tarde é que 18
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eu vim a saber que era uma professora da escola. Eu não, a gente não sabia
porque ela trabalhava na secretaria, dona Carmen [Carmen Dolores
Messantier]. A dona Carmen. Aí! (...) Você já entrevistou a dona Carmem,
não? Ou procurou pra entrevistar? E a dona Carmen o sobrenome dela eu
não lembro.
V.: Messantier?
L.: É. Mesantier. A dona Carmen acompanhava a gente nas aulas. Ela
assistia a todas as aulas. Ela levava, ficava assistia aula com a gente na
Medicina e voltava. Então ela fazia era isso.
V.: Quê que ela... porque que ela tinha que acompanhar...
L.: ...acompanhar... (...) não me lembro, não.
V.: Tinha alguma condução?
E.: Ela ia com vocês e trazia ?
L.: Levava. Esperava a gente, a gente ia as cinco, ela com o diário de classe
debaixo do braço, né, de, de, uma bata branca, ia, levava pra sala de aula...
V.: ..Ficava?
L.: Ficava.
E.: Assistia às aulas?
L.: Assistia às aulas. Dormia um pouco, né? [risos] Devia ser muito chato para
ela ficar lá, né? Ficava lá e depois voltava com a gente.
E.: Ela era funcionária ou professora?
L.: A gente sem... nós achávamos que ela era funcionária da secretaria mas,
depois que eu vim a descobrir, ela era professora, era docente! Só que ela
nun...
V.: ...não atuava?
L.: Não cumpria esse papel. Não atuava.
V.: Só a turma de vocês que tinha esse acompanhamento durante as aulas
teóricas?
L.: Não, eu tenho a impressão que, que, eu não lem... eu não sei se com a turma da Ana Lúcia...[Magela de Rezende] .e da Eva ela acompanhava,
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sabe? Porque eu não sei, anteriormente... pode ser, eu não sei, isso eu não lembro, não. Mas, nós, é muito interessante.
V.: Tuteladas [riso].
L.: Ah, era, era gozadíssimo [risos].
V.: E os professores da medicina não faziam nenhuma observação por este
acompanhamento?
L.: Não, qualquer coisa, qualquer dúvida que eles tinham eles perguntavam a
dona Carmen, “Dona Carmen, isso assim, assim?” Era, parece que era
tranqüilo aquilo.
V.: Tinha alguma...
L.: ...ela era a intermediária.
V.: Olha! Tinha algum material didático? Livro... pra ajudar nessa parte
teórica?
L.: Tinha. Tinha livro, né, tinha apostila não. Tinha livro. E tinha, anatomia era
material didático era o cadáver mesmo, era tudo no laboratório, né? Era aula
teórico/prática, parte muito de laboratório mesmo. Então a gente era, né, tinha
um cadáver pra nós três, às vezes dois, sabe? Então, muito tranqüilo.
V.: E quando era dado o conteúdo específico de enfermagem?
L.: Conteúdo específico de enfermagem (...). Como que era, o quê que você
coloca?
V.: É, é como a disciplina...
L.: ...se tinha livro alguma coisa?
V.: A disciplina Médico-Cirúrgica, de Obstetrícia, quem que dava, e como é
que era se tinha também material didático?
L.: Olha, quem dava...bom, Fundamentos a gente tinha material, tinha; era
muito em cima de técnicas, as técnicas tinham (...) tinha as técnicas
bonitinhas que a Alzira [de Souza Melo] passava pra gente a gente fazia um
caderninho!
V.: Ela dava, ditava no quadro?
L.: Não, ela dava uma aula sobre isso e depois ela passava pra gente copiar.
V.: Ah!20
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L.: Tá. Num, num dava ditado não. Ela demonstrava a técnica. Era, era bem
prática a aula da Alzira, sabe? Depois, e o livro que a gente tinha, ela
mandava a gente estudar no livro de Fundamento... foi a primeira vez, aí que
eu comecei a mexer com espanhol, [Tratado] Fundamentales da Enfermería.
Então, a gente estudou muito naquele livro.
V.: Tinha biblioteca aqui na enfermagem?
L.: Tinha biblioteca. A biblioteca é hoje onde é a Informática.
V.: No terceiro andar?
L.: No terceiro andar. Então tinha esses livros, tinha muita coisa lá!
V.: Quem era da biblioteca na época?
L.: Quem era?
V.: Quem trabalhava lá?
L.: Ninguém! Dona Carmen também ficava na biblioteca, mas não tinha, não
lembro. A gente pegava a chave, a chave ficava no, no onde é hoje o CTE
[Centro de Tecnologia Educacional] [sala 306], onde está o material de
ensino, lá onde o [José] Maciel [Junior]fica.
V.: Onde era a cantina?
L.: Onde era a cantina.
E.: A cozinha.
L.: Ali funcionava uma cozinha. Uma cozinha não, funcionava um, ficava um...
não era cozinha não, ficava uma geladeira, pra lanche, a gente usava ali pra
lanche. Então, a chave ficava pendurada lá perto do armário. Então, a gente
pegava, a gente a noite ia pra biblioteca. A gente descia e ia estudar. A gente
pegava a chave e ficava na biblioteca fazendo trabalho de grupo. E os livros
ficavam lá à disposição da gente. A gente usava os livros depois trancava
bonitinho, sabe?
V.: Todas as alunas de todos os outros períodos também?
L.: Não lembro. Era só na biblioteca, só [gagueira] eu só lembro da gente.
V.: De vocês três?
L.: É, Noemi, Inês e eu. A gente pegava a chave e ia pra biblioteca.
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V.: Era apertado o ensino nessa época? Como é que você vê o ensino desse
período? Em termo de qualidade, de conteúdo... (...)
L.: Era, não era tão, sabe? Ele era bem estruturado, era bem estruturado, ele
não era, não era tão frouxo não, sabe? Porque eles davam trabalhos. A gente
tinha o próprio material que o Fatini. da, da Microbiologia era o Oto Bier que a
gente estudava. O, e, então a gente tinha que estudar muita coisa para as
provas.
E.: Vocês tinham aula manhã e tarde? Ou era só um horário?
L.: Aula, a gente tinha aula o primeiro ano tinha aula manhã e tarde. E logo
depois de dois meses, nós, geralmente de manhã era Fundamentos.
V.: Logo no início?
L.: Logo no início. Nós tivemos Saúde Pública no primeiro ano. Carmelita
[Pinto Rabelo] que deu Saúde Pública pra nós, sabe? No primeiro ano
tivemos Saúde Pública, por isso, foi a, foi a reforma [do ensino] foi nesse
sentido. E, aí, é, como é que era? A gente tinha o professor de Anatomia era
o Fatini, de Microbiologia era o Aluísio da Costa Val, então era o Oto Bier e, e
o livro texto era mesmo Oto Bier!
V.: Mesmo livro do pessoal da medicina?
L.: Mesmo livro do pessoal da medicina. O do, esse que não era o “Tafurão”,
o Celso, Celso Tafuro, não, Celso Tafuro é o irmão, é o “Tafurão” mesmo. Ele
não dava livro não porque, mas era interessante porque ele dava aula ditando
pra gente!
V.: Dava aula de que?
L.: De, de, de... [riso]
E.: [inaudível]
L.: Patologia.
V.: Patologia Clínica.
L.: É. Mas ele era ótimo.
E.: Mas como que era essa história de aula ditando?
L.: Ditando, que eu falo assim, ele falava devagar, [gagueira] acho que a
prática era todo mundo copiar as aulas dele. Então, ele dava assim... ele 22
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falava, então ele ia e falava: “Hoje é infecção tal.” Então ele falava tudo isso,
falava sobre patologia, porque que isso acontecia no interior das células e
falava, e falava, e falava, e falava. Depois dava a aula prática, aí ia pra, pra
[gagueira] pegava as lâminas levava pra junto dos microscópios. Eu lembro
gente, - ô que tristeza que eu tinha disso - , aí ele pegava uma lâmina
daquela, ele sentava no microscópio, ele ia lendo, ia lendo a célula e falava:
“Nessa célula tem isso, tem aquilo outro, tem aquilo outro, tem aquilo outro,
tem isso, tem aquilo outro.” Ele ia descrevendo pra gente a célula, depois
falava: “Olha pra você ver tudo isso.” E queria que a gente enxergasse o que
ele...
E.: ...enxergou?...
L.: ...com o olhar dele de patologista de não sei quantos anos, que a gente
enxergasse. E eu falava assim pra ele: “Mas eu não estou vendo nada. Eu
nem sei o quê que é a célula aqui. O quê que é a célula aqui? Cadê o
núcleo?” [risos] Entendeu? Mas ele tinha paciência de explicar pra gente,
sabe? [risos] Eu achava isso muito engraçado. Eu chamava: “Noemi eu não
estou enxergando nada não. Me ajuda aqui, porque eu não consigo enxergar.”
[risos] [gagueira] e não tinha jeito, né?
V.: Qual foi a disciplina mais marcante, Luzia?
L.: Mais marcante? Do curso inteiro?
V.: Sim.
L.: Ah! Eu gostava de todas, não era...
V.: E uma especial?
L.: Não. Agora o que eu gostava, quer dizer, eu não sei se foi marcante, mas
eu gostava muito de Obstetrícia, sabe? Num, num sei se...
E.: ...quem é que era a professora? Aparecida [Aparecida Ferreira Moura]?
L.: Aparecida. Aparecida, do Mário Dias. Porque sempre tinha a enfermagem,
a parte da enfermagem, mas tinha o médico. E era o Mário Dias é que dava.
V.: Como é que era essa relação dos alunos com os professores médicos?
Tinha alguma...
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L.: Muito interessante. Porque era assim, era as alunas bonitinhas, todas
sentadinhas e o professor lá na frente. Então, ele estava dando aula pra três
enfermeiras, três alunas de enfermagem, tá. Cada uma mais séria do que a
outra, não é? E ele bonitinho lá na frente, não brincava, dava aula toda
magistral bonitinho, sabe?
V.: Não...[inaudível].
E.: Como se estivesse num grande auditório?
L.: É.
E.: Com várias pessoas?
L.: É, é. Inclusive as salas, é, muitas vezes, sabe aquelas salas que tem lá na
medicina?
E.: Hum-hum.
L.: Aque... aquelas salas.
V.: Aquelas salas grandes?
L.: É. E nós três.
E.: De auditório mesmo?
L.: De auditório. E nós três sentadinhas lá. E a dona Carmen do lado. Ela
afastava mais um pouquinho. Acho que ela, ela justamente isso, ficava as três
e a dona Carmen, ou as cinco e a dona Carmen um pouquinho mais afastada,
pra ela, pra num, pra deixar bem claro que ela não fazia parte do grupo, ela
era...
L.: ...professora, né?
V.: Então, nenhum fato interessante com relação aos professores com as
alunas da sua turma ou de outras turmas?
L.: Que eu lembro, não. Assim de... né?
V.: Não tinha nenhum professor assim, que tinha, que era mais arrojado, que
tinha fama assim, de namorador, ou coisa assim?
L.: Com [gagueira] nós três, não.
V.: Períodos anteriores?
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L.: ...pode ser, pode ser que tenha com as outras [riso], né? Mas assim que
eu, que eu esteja lembrando, assim [tosse]. Demais. Nós éramos muito
sérias. Nossa Senhora, que coisa horrorosa!
E.: Você se lembra [risos]... Você se lembra Luzia que nesse ano que você
entrou de sessenta e dois foi a fundação do DA. [diretório acadêmico]? Ele já
existia antes ou foi realmente fundado nessa época? Você se lembra da
história?
L.: Foi o do Marina Rezende, né? Foi. Não é, do DA.?
E.: É, do DA.?
L.: Daqui, foi.
E.: Você lembra...
L.: ...sessenta e dois, quem que foi a primeira [gagueira] foi a Noemi, que foi a
primeira?
V.: Nós não temos esses dados corretos.
L.: Porque na verdade não foi, foi não, não foi em sessenta e dois que foi a
fundação do DA não. Existia, não existia o DA, existia o DA da medicina e, e a
gente tinha, era uma comissão, a gente era ligado ao DA da medicina.
E.: Hum-hum.
L.: Tá? E a gente tinha, tinha, a gente era representante. A Noemi chegou a
ser representante, eu cheguei a ser representante.
E.: No DA da medicina?
L.: Da medicina! Mas não foi sessenta e dois que o DA daqui foi criado não,
foi bem depois disso.
E.: Você não se lembra quando não?
L.: Não!
E.: Mais ou menos? Você ainda era aluna?
L.: Não.
E.: Foi depois?
L.: Foi depois.
E.: E você também não se lembra quem foi a primeira presidente?
L.: Não foi a Iracema Mamede, não gente?25
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V.: Ela chegou a ser, não sei quando. Você participou desse grupo do DA em
algum momento, enquanto aluna?
L.: Não. Eu come...
E.: ...ela participou no da medicina.
L.: Da medicina.
V.: Você?
L.: Com uma comissão, lá. Mas acontece assim, a gente era indicado mas
acontece que as comissões não reuniam...
[FINAL FITA 1, LADO A]
FITA 1, LADO BV.: Bom! Então, como é que é a história do DA?
L.: A greve por um terço, está no sessenta e dois. No primeiro ano. Agora que
eu lembrei, da greve por um terço, né?
V.: O quê que é isso?
L.: Foi a greve dos, a greve do diretório. Como é que fala?
V.: Do DA.?
L.: Do DA, do DA., não! Do, do diretório central dos estudantes, né?
V.: Do DCE!
L.: DCE! Né? De todos os estudantes universitários do Brasil, né? Então, é,
essa greve foi para... a luta era por um terço de representação nos órgãos,
nas representações da universidade. E foi uma greve de quanto tempo?
Durou quanto tempo? Foi um montão, gente! Foram muitos meses de greve.
Não sei se foram três meses de greve.
E.: Isso foi sessenta e dois, não?
L.: Do aluno! Sessenta e dois, sessenta e dois. De aluno realmente. E, e foi
até uma situação meio complicada porque nós não, a escola não... e, e o
interessante é que quem respeitava a greve, os professores respeitavam a
greve. Então, eles não davam aula, sabe. E ao mesmo tempo nós
precisávamos, a gente então, o que nós tínhamos que ter atividade. E a
Escola de Enfermagem ela trabalhava, ela atuava, ela mantinha, ela tinha 26
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aluno em todo o Hospital das Clínicas, tinha no banco de sangue, nas clínicas
cirúrgicas, na ortopedia. Então no período de greve, foi greve de aula, não foi
greve da parte prática. Então, todos os alunos eles trabalhavam no horário de
sete às treze horas, né? Em todos os setores. Agora como nós estávamos no
primeiro ano, nós ainda não tínhamos conhecimento suficiente pra poder fazer
essa parte prática. Porque nós tínhamos tido poucas aulas de Fundamentos,
então, nós, o quê que nós sabíamos fazer, já tinha dado o quê, a unidade do
paciente, é, banho de leito! Então, nós ficamos três meses na enfermaria,
cuidando da unidade do paciente. E o máximo que a gente fazia era banho de
leito.
V.: E vocês ficavam?
L.: Ficamos.
V.: Sem se rebelar?
L.: Não. Eu, Noemi, Inês, Norma e Íris fazíamos [estágio] na Cruz Vermelha,
na clínica do professor Luís Andrés, [inaudível]. Então, nós ficamos, então a
clínica brilhava, porque nós fazíamos desinfecção terminal todos os dias
[risos], sabe?
V.: Quem acompanhava vocês?
L.: Alzira [de Souza Melo]. [risos] Não, nós fazíamos [gagueira] não precisava
de ninguém acompanhar mais não.
V.: Ahn-ahn, claro. [riso]
L.: Era monitora.
E.: PhD, naquilo?
L.: PhD! [risos] Então, nós fazíamos, e fazíamos desinfecção terminal gente,
olha? “Quem está de alta hoje! Epa! Então, vamos limpar, limpar a unidade do
paciente.” E a gente limpando.
V.: E vocês faziam com gosto?
L.: Deixava brilhando! Tudo! E... a clínica, né, sabe? E, e aí teve outro
detalhe, rouparia: nós fizemos compressa, quantidade de compressa. Porque
nessa época era tudo feito na própria clínica ... não comprava compressa
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pronta. Remendávamos algumas luvas de borracha, aprendemos a mexer
com luva. É, fazer compressa, dobrar gaze, tudo isso.
V.: E não tinha discussões entre os alunos pelo motivo da greve, um
acompanhamento?
L.: Muito pouco, muito pouco. Na medicina tinha, mas eles envolviam muito
pouco a enfermagem. Era muito, muito separado, sabe?
V.: E, e o término, como é que foi?
L.: Não lembro. Coisa engraçada, né?
V.: Se teve reposição?
L.: Não! O término como é que foi? Não teve reposição, ah, claro o término,
não teve reposição eu fui, não teve reposição, não teve tempo suficiente pra
poder... e nós tínhamos que cumprir um programa de Fundamentos. Então,
eu lembro que eu fui dar a minha primeira injeção, minha segunda injeção
intramuscular numa prova, porque a Alzira tinha que dar a prova. Então, era a
segunda injeção que eu fazia na minha vida! E por azar meu, e era tudo
sorteado, o mais triste é que era sorteado.
V.: Era tudo sorteado?
L.: Bom, sorteava os pacientes, sorteava eu o meu sor... [gagueira] eu estava
cuidando de um paciente, seu Manoel. Gente, eu não esqueço do seu
Manoel. Depois de muito tempo, mais de um mês internado na clínica, que
foram fazer o diagnóstico dele, ele estava com tuberculose. Ele entrou parece
que ele tinha uma gastrite, ou ele era pra ser operado do estômago. Eu sei
que aí descobriram que ele tinha tuberculose, então o tratamento dele, e eu
fui fazer, aí eu fui fazer a injeção dele era estreptomicina. Você já deu
estreptomicina alguma vez? Gente do céu! Vocês imaginam, eu nunca na
minha vida tinha dado estreptomicina [riso].
V.: Entupia!
L.: Não, você diluía aquilo [risos].
V.: Ficava meia hora pra.... sacolejando assim [risos].
L.: Meia hora sacolejando. E eu tinha que demonstrar técnica bonitinha de
frasco. E era frasco, né?28
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V.: Frasco, era.
L.: E bonitinho. Não! E o pior que eu fiquei, porque você não podia agitar
muito, né, pra não...
E.: [inaudível]...
L.: ...e a estreptomicina, [risos] né? Nessa posição você não consegue fazer.
V.: Não!
L.: E depois que eu consegui diluir a estreptomicina, que eu cheguei perto do
seu Manoel, o seu Manoel tinha tido um ataque de tosse, Valda! E tinha
escarrado todo no chão. Eu lembro que eu cheguei e pisei em cima do
catarro; sabe quando você pisa em cima do catarro escorregando, sabe?
V.: Só faltou cair.
L.: Só faltou... não, escuta! Cair, não caí não. Aí, seu Manoel, eu falei: “Seu
Manoel, eu trouxe aqui uma injeçãozinha pro senhor. O senhor quer tomar?
[risos] Eu não esqueço disso. [risos] Eu perguntei se ele queria tomar injeção.
[risos] Aí ele olhou pra mim assim, e eu já fui com a injeção, o braço dele era
dessa finurinha [gesto]. Na hora que eu bati a injeção, a coisa, porque tinha
que dar mais profunda. A hora que eu bati, bateu no osso, a agulha. Aí, Valda,
que horror quando aquilo bateu no osso. Uma sensação horrível.
V.: Aquele barulho.
L.: Sabe? Aí apliquei a injeção no seu, no seu Manoel. Aí a Alzira me chama,
aí foi pra avaliar comigo a injeção, todos os pontos negativos. Falei: “Ah!
Também é bomba, porque do jeito que a Alzira falou comigo, não resta dúvida
que eu tomei bomba, né?” Porque primeiro não podia jamais perguntar se ele
queria tomar injeção [risos]. Depois, não sei mais o quê [gagueira]. Aí depois
eu [falei:] “Olha primeiro tem que ver o seguinte, eu nunca fiz isso na minha
vida, nunca dei injeção antes. Então, então, como é que você avalia como que
você pede pra, né, você está avaliando uma coisa que não houve prática
daquilo, né?” E foi decorrente da greve, que não teve tempo, quer dizer, não
teve tempo mas também não tiveram cabeça pra reestruturar tudo isso, né?
Tinha os calendários a serem cumpridos...
E.: ...e tinha que cumprir?29
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L.: Tinha que cumprir, não é?
V.: Já que você está falando dessa parte de prática, fala mais um pouco como
é que era o, a partir daí, como é que foi a parte prática? Onde vocês fizeram
estágio?(...)
L.: Bom. O nosso primeiro ano foi terrível, por causa da greve. Então, nós
simplesmente, nós saímos do primeiro ano sem prática quase nenhuma, que
deveria ter acontecido enquanto primeiro ano. Depois nós fomos pro segundo
ano; aí nós fomos fazer estágio de Enfermagem Médica, que era do, com a
dona Rosa [de Lima Moreira]. Aí a gente fazia estágio na, a parte prática era
de, aquele mesmo esquema, a gente passava pelos estágios, de sete às
doze. De sete da manhã às doze. Então era aquele esquema, de segunda a
sexta-feira, não é, e tinha escala, geralmente a gente ficava, um mês, era um
mês, um mês de Enfermagem Médica, um mês de Enfermagem Cirúrgica, um
mês... eu não lembro como que era muito não... e ficava sempre as três. E, na
verdade, em alguns estágios, a gente tinha a sorte da enfermeira de campo
acompanhar a gente, quando a professora era muito... não tinha uma
atuação. Então, muito direta, né? Então, a enfermeira de campo
acompanhava a gente. E, e ajudava muito, sabe, porque ela, todas as
dificuldades que a gente tinha a gente ia atrás da enfermeira de campo, e
também os próprios colegas do terceiro ano, porque eles tinham alunos do
segundo e tinha aluno do terceiro. Então, o próprio aluno do terceiro ano
ajudava a gente, na parte prática.
V.: Dentro da proposta mesmo, como aluna sênior ou... como colega mesmo?
L.: ...não, não, colegas. Tinha nada de proposta. Tá? Ele estava lá,
geralmente, é, muitas vezes ele ficava com tarefas... era de acordo com a...
com aquilo que ele já tinha visto na escola, né? Então, elas, se elas
distribuíam a escala, a gente, se, diante daquilo, diante de Fundamentos, que
a gente já teve Fundamentos, então dava as atividades pra gente fazer, né, e,
(...) ficava na enfermaria X, cuidando; elas não davam era paciente pra gente,
tantos pacientes. Mas às vezes, em determinados pacientes, falavam: “Oh,
tem esta e esta atividade, que eles vão deixar para fulano fazer, que era aluno 30
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do terceiro ano, ou qualquer dúvida que vocês tenham recorrem ao aluno
fulano de tal que é aluno do terceiro ano”.
V.: Algumas pessoas dessa época Luzia, seja de enfermeira, ou de
professor? Você falou assim da dona Rosa, como é que era a relação com a
dona Rosa?
L.: Muito boa, sabe? Dona Rosa era uma mãe pra gente, muito boa. E, ela
tinha uma relação muito boa com os médicos da, da Clínica Médica, e
qualquer caso interessante (riso?) que tinha no hospital, entendeu?
V.: Hum-hum.
L.: Então, às vezes, o diagnóstico do paciente internado, tinha o diagnóstico, o
endereço, qualquer coisa assim, e que os médicos estavam dando aula pros
meninos da medicina, dona Rosa conversava com eles, pedia, eles iam com a
maior atenção, explicava pra gente, sabe? E ela colocava sempre junto.
Então, ela estava sempre participando. Ela era muito, era muito articuladora,
sabe? Buscando assim, é, experiências pra gente, sabe? Conversava com
um, conversava com outro.
V.: Você falou que o local onde a professora não tinha muita atuação, vocês
ficavam por conta da enfermeira da clínica. Que professores eram esses que
não acompanhavam vocês no estágio, você se lembra?
L.: Que não acompanhavam?
V.: É. Que não tinha esta atuação direta e que vocês então ficavam é, com o
enfermeiro do campo?
L.: Não, ele estava lá.
V.: Hum.
L.: Ele estava com a gente, mas a gente ficava mais às vezes com a
enfermeira, sabe? Tinha muitos.
V.: Pois é, vocês ficavam mais com o enfermeiro porque ele não tinha esta
atuação...
L.: Você quer, você quer que eu fale os nomes?
V.: Sim, ou não sei.
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E.: Não, não é necessário isso não. Exemplo, que tipo de atuação era essa
que não, que enfermeiro dava mais assistência, tinha mais conhecimento da
coisa, era assim, não?
L.: Não era conhecimento, não. Depende muito do tipo de pessoa que era,
entendeu?
V.: Ah, sei.
L.: Se a professora era muito estrela...
V.: Ah, sim.
L.: Sabe? Se a professora era muito estrela... tinha muita professora estrela...
tinha pelo menos uma que era muito estrela. Então, ela ficava muito assim,
conversando com os médicos... com os catedráticos.
V.: Ah, sim...
E.: E não dava atenção a vocês...
L.: É.
V.: E aí quem dava assistência era...
L.: [inaudível] quer dizer, nós também achávamos até bom, porque a gente
também num...
V.: ...ficava mais livre...
L.: A gente não acreditava também muito nela não, que a gente [risos] achava
que a gente podia aprender mais, entendeu?
V.: Ahn-ahn.
L.: Quando eu falo assim, você sabe quem que é. [risos]
V.: É, mais onde vocês fizeram estágio? Falou da Cruz Vermelha, do Hospital
de Clínicas...
L.: ...do Hospital de Clínicas... do Hospital de Clínicas nós fizemos estágio, né,
Pediatria que era no São Vicente, ah, uma coisa que aconteceu, que, com,
com a [Lei] 775 [as alunas] tinham todas as especialidades. Passavam
estágio em Otorrino, Ortopedia...
E.: ...Dermatologia...
L.: ...Dermatologia, Oftalmologia, e nós não. Então... as especialidades.
E.: ...ficou mais geral...32
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L.: ...ficou mais geral. Mas, acontece o seguinte, que nós tínhamos otorrino,
mas a gente não passava lá o estágio, a gente passava para ver algumas
atividades no otorrino. Na oftalmologia era a mesma coisa, né. Então a gente
tinha oftalmologia, mas a gente passava mais para, o próprio professor levava
a gente para poder ver, ele operando, ia, a gente assistia a cirurgia de
oftalmologia, mais de observação, né.
V.: E, de dermatologia é que eu não...
L.: Ah, sim, dermatologia, quem deu foi o... nosso professor foi o Josefino
Aleixo. Então, ele era louco por pênfigo foliáceo, então a gente ia para a
Santa Casa, de tarde, ele levava a gente para a Santa Casa para poder ver a
enfermaria de pênfigo, para dar aula. Ele dava aula de pênfigo pra gente, na
enfermaria. E tudo que ele dava de coisa ele levava para o Santa Casa, pra
dar aula prática, sabe? Então, assim, a gente não tinha enfermagem, estágio,
cuidando de paciente nessas situações. Mas, na verdade, por causa da
disciplina, a gente tinha aulas práticas...
V.: Como é que era o uniforme nessa época?
L.: Ah, o uniforme. Bom, então o seguinte: quando nós chegamos na escola,
aí que vem a história todinha: quando nós chegamos na escola, o uniforme
era um vestido branco de fustão, muito bonitinho, um sapato branco e uma
meia branca, naquela, uma meia de helanca, vocês devem, vocês são da
época da helanca? [risos]
V.: Somos [risos]
L.: Uma meia de helanca. E, uma meia de helanca [risos], e tinha um avental,
o avental era de cretone. E tinha de ser de cretone...porque se fosse outro
tecido não dava para fazer o avental, porque ele era godê duplo, ele não tinha
nenhuma emenda. Então o cretone tinha de dois [metros] e vinte de largura...
E.: Duas larguras.
L.: ...então, ele era cortado assim, ó! [desenha a roda do avental] Ele era
aberto assim, ele era aberto assim, ó...
E.: ...dobra...
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L.: ...ó, aqui ó, isso aqui era o avental. Está vendo? Isso aqui era a roda dele,
ó. Então vocês...
V.: ...ficava abertinho, não uma lua...[riso]
L.: ...vocês imaginam, então aqui tinha o cós que abotoava aqui, ele tinha uma
prega, ele dava uma prega aqui assim, e vinha aqui assim, parava aqui e
abotoava aqui atrás. Trespassava e abotoava aqui. Então ele, essa coisa aqui
trespassava aqui. Então vocês imaginam, um vestido, um, um vestido, godê
duplo, engomado, dona Zulmira [Chaves Campos], Tita, [Maria Natividade]
elas é que passavam. Era lavado aqui na escola e passava aqui, então ela
engomava. Então a hora que você vestia, e era aqui ó, o cumprimento
também era aqui, na canela...
V.: ...quem que media, essa...
L.: ...não, eu não sou da época que media não [risos]. Nós éramos, nós não, o
método era esse, a gente não questionava muito não.
E.: ...no meio da canela...
L.: ...no meio da canela, né? Então você ficava dando tiro, e aquilo cê
esbarrava, dependendo dos lugares, sala de cirurgia era uma tragédia, porque
você, se você não abrisse o olho você contaminava as coisas porque você
esbarrava em tudo [risos]...
E.: ...engomada e rodada...
L.: ...engomada e rodada, aí...
E.: E como que vocês vestiam, por exemplo, roupa em centro cirúrgico com
aquele avental, ou tirava o avental?
L.: Não, aí tirava o avental. Aí a gente, aí era o capote, era sem o avental.
E.: Ah!
L.: A gente em centro cirúrgico não usava aquele avental. Era só na
enfermaria. E nós, e o avental, ele ficava...
E.: ...aquilo saía varrendo tudo, saía não?
L.: ...ele ficava lá no hospital. A gente tinha um armário na enfermaria que a
gente deixava o avental lá.
E.: E não saía varrendo tudo, não?34
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L.: Saía. [risos] Agora o melhor do avental, aí escuta, não, o pior, o melhor de
tudo é a meia, [risos] que a, a turma, o terceiro ano e o segundo ano usava
uma meia branca, de helanca, branquinha, e aqui, aqui embaixo, que eu te
falei que era o campo de futebol, era uma terra vermelha. Então, a hora que
elas chegavam, calçavam uma meia branca, a hora que chegavam lá, no, no
hospital, aqui estava vermelhinho já. O sapato ia jogando a terra [risos], sabe
Valda, ficava vermelhinho aqui, atrás, no calcanhar. Gente, era terrível aquilo.
Aí, tinha uma rede, uma rede e uma touca. Touca também vocês lembram da
touca, né? Que tinha, tinha dois... [vozes ao fundo] a touca também tinha o
modelo da touca, a touca era assim, ó, [desenha o modelo da touca] era
assim, assim, assim; aqui ela tinha uma fenda, ó, então você lavava a touca,
passava...
E.: ...tinha algum símbolo, não...
L.: ...não, não, a touca era assim, aqui tinha uma fenda...
E.: ...toda branquinha...
L.: ...toda branquinha. O negócio era dobrar, então a primeira que você tinha
que fazer era aprender dobrar essa touca, que aí você trazia essa ponta aqui
e encostava ela aqui, e essa encostava de cá, aí você dava uma dobrada
para cá, para cima, aqui e aqui você dava uma, aqui você fazia uma dobra
assim, ó. Entendeu? Então aqui ficava para cima, e aqui você juntava essas
pontas aqui. Então na verdade, tinha a fenda aqui, que juntava aqui as pontas
aqui assim, ó, ó, e aqui você dobrava ela pra cima, aqui, ó. Aqui você prendia
um alfinete grandão...
E.: ...era quase parecendo aquele chapéu de irmã de caridade.
L.: ...era melhor que de mim [risos] [inaudível] .E tinha um alfinete, detalhe do
alfinete é que era com uma pérola, tá?
V.: Ah...
L.: E aqui em cima da touca não tinha nada não. Não tinha símbolo nenhum,
não.
V.: A, o alfinete na touca...
V.: ...tinha o friso... pra prender...35
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L.: ...você tinha que botar uma coisa , você tinha que prender. Você comprava
aquele alfinete, que era uma pérola, né? E, a gente tinha o, como é que
chamava o...
V.: ...distintivo...
L.: ...o bóton, o distintivo, distintivo, que no primeiro ano tinha a festa do
distintivo. Mais no final do ano você ganhava o, tinha a festa que você
ganhava o distintivo e você punha ele na, na gola.
E.: Era uma festa só do distintivo ou era das insígnias todas, inclusive da
touca?
L.: Não, não.
E.: ...era só do distintivo...
L.: ...é. E, e, assim mesmo isso era das outras meninas. O nosso já não tinha.
O nosso já não teve muito isso, não. Só foi lá pela entrega do distintivo e
pronto, estava acabado, não teve muita coisa, não.
V.: Braceira... ...não tinha?
L.: Não, não. Porque aí, o que aconteceu, vocês esqueceram que nós éramos
do nível superior?
V.: Ahn-ahn. [risos]
L.: Tá? Aí, aconteceu o seguinte: como nós éramos cinco, três, é, nós éramos
cinco, então, aconteceu o seguinte, que nós começamos a discutir. Quando
foi, nós íamos... a gente só usou o uniforme depois de três meses, né, depois
que recebe o negócio lá, que começa a fazer prática, que ia pro hospital pra
gente... preparar a unidade de internação, unidade de internação. Então,
nesse momento, nós sentamos, foi na verdade foi uma pessoa que liberou,
isso foi a Inês. Nós sentamos e falei assim: “Olha, essa meia branca eu não
vou usar não” ah, “e eu também não vou não”. “Então como é que nós vamos
fazer. Nós vamos ter que dar um jeito”. Falei: “Olha, é um absurdo, porque
você já viu as pernas das meninas? Fica tudo chamuscada de terra vermelha.
Não tem sentido a gente ficar daquele jeito, né”. Aí, fomos discutir. E tinha um
detalhe. Este detalhe é muito importante. Nós tínhamos as aulas teóricas,
tinha (...) as aulas teóricas eram à tarde, com os médicos do primeiro ano lá e 36
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depois tinha também no primeiro ano, à tarde a gente tinha aula com a
Carmelita [Pinto Rabelo}, com a Alzira, e tinha Ética, que era com a diretora,
né, e, isso é que é muito importante. As aulas de ética, na verdade era Ética e
História da Enfermagem, esqueci da História da Enfermagem. Ela dava,
História da Enfermagem ela dava o livrinho da Waleska Paixão. Então nós
estudávamos pelo livrinho. Ela tinha um colecionador, e nós, aí nós
descobrimos, ela tinha um colecionador e que ela, ela punha o livrinho da
Waleska dentro do colecionador... entendeu? Ela colocava assim e é com, a
gente ficava sentadinha ali perto e não via que ele estava lá não. E, ela olhava
aquilo e falava, olhava e falava. Aí nós pensamos: “Mas tem um trem
esquisito”. Aí nós pegamos o livrinho da Waleska, aí nós fomos ver. Falamos:
“Ah, então ela segue o livrinho da Waleska, aquele livrinho, então nós temos
que estudar por esse livrinho...”
E.: ...estava dentro do colecionador...
L.: ...estava dentro do colecionador.
E.: E ela não, não indicou o livro para vocês estudar...
L.: ...não, não indicou o livro não. E a gente feito doida copiando, quer dizer, a
gente não porque quem copiava era a Noemi, eu nunca copiei nada, então...
[risos] Noemi é que copiava e na hora de estudar Noemi tinha tudo, então, a
gente estudava com a Noemi. Então, aí nós descobrimos que ela tinha...
depois, aí, mais no final ela falou que ia pedir um livro pra nós, que nós
queríamos comprar, que era o da Waleska. Aí ela pediu o livro. Inclusive deve
ter sido logo quando ele saiu, porque ele não era nem, era uma brochura,
entendeu, ele era de colecionador sabe? Ele era de colecionador mesmo. Aí
nós começamos a estudar pelo livro da Waleska. Mas o importante das aulas
de ética dela era o seguinte: era Ética e História da Enfermagem, é que, nas
aulas de ética era assim: ela abria espaço pra falar do terceiro ano e do
segundo ano pra nós, né. Pra falar assim, tudo aquilo que era desagradável a
ela e à instituição, então ao invés dela falar pros meninos ela falava pra nós,
ela falava para dar lição de moral, sabe, então nós percebemos isso logo
também e falamos com ela: tem um negócio meio esquisito, o quê que as 37
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meninas fizeram de errado? Não falou nada nós escutávamos também, não
comentávamos, num, sabe, não, não tomávamos muito conhecimento da
aulas dela não.
E.: Pois é, e nisso aí ela não contava as histórias das expulsões que...
L.: ...não...
.E: ...que, que houve nesse período...
L.: ...não...
V.: ...dos mal feitos das outras turmas, quer dizer, das transgressões das
outras turmas...
L.: ...não, não, sabe?
V.: Que isso aí não era para servir de lição não.
L.: Lógico. Ela não colocava e também não devia ter muito porque (...) a
nossa turma era muito forte. Eram cinco somente, mas cinco muito fortes,
então, sabe, é muito difícil isso. Tinha Inês que era um , né, uma pessoa
muito experiente, então era, sabe...
V.: ...quê que ela...
L.: ...era difícil ela manipular a gente. Tanto que ela não conseguiu. Ela tentou
a vida inteira e não conseguiu manipular a gente.
V.: Ela quem? Quem era a diretora na época?
L.: A diretora irmã Emília [Clarízia], sabe. Então, aí nós tínhamos brigas
homéricas, nós tivemos brigas homéricas com ela. Então uma da, a primeira
briga foi essa da meia. Então, é, e tinha que ser tratada na aula de, com a
irmã Emília, e o único momento que a gente, que tinha jeito de encontrar com
ela era na sala de aula porque nós não tínhamos acesso, porque ela não
recebia a gente de grupo. Se eu quisesse conversar com ela, ela me recebia.
V.: Sozinha.
L.: Sozinha.
E.: Em grupo, jamais?
L.: (...) Entendeu. Era estudante de psicologia, estava fazendo uma das
primeiras turmas de psicologia da católica. Então ela não, ela não iria ,era no
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gabinete dela, fechado, quer dizer, na, na hora era ela, Deus e eu. Depois era
só ela e a, né...
V.:.Anh-ahn
L.: ...era só eu e Deus. Então ela não fazia... Aí eu sei que [tosse] nós
discutimos e falamos, discutindo que não tinha cabimento a gente usar
aquela meia. Se todo mundo usava era meia fina, e porque que a gente ia
usar aquele tipo de meia. Inclusive a meia fina, se eu usava meia, a outra
meia tinha dificuldade de secar, nem sempre secava e a meia fina num
instantinho você enxugava, secava até com a toalha. E era muito mais, tinha
uma aparência muito mais interessante, não é? Aí ela falava que ia levar ao
conhecimento do corpo docente, para ver se aprovava, não sei mais o que;
falamos que nós não íamos usar. E, também a touca. Nós falamos que não
íamos usar a touca, que não tinha sentido a toca. Aí nós tivemos que provar
pra elas o que a touca ocasionava: “Olha, nós observamos entre alunas do
terceiro ano tem gente que nunca lavou está touca. Aquilo é uma fonte de
contaminação. Você está num hospital...”
E.: ...vocês foram... pelo, pelo científico? [riso]
L.: Pelo científico, tá. Liderada pela Inês. Porque a Inês ela tinha, ela já, ela
tinha feito visitadora sanitária. Então ela, ela tinha uma noção, porque nós não
tínhamos noção, não entramos no primeiro ano, nem tinha, né. A Inês falou:
“Olha, aquilo é uma fonte de contaminação.” E a gente já também, já tinha
[gagueira]...
E.: ...já tinha conteúdo teórico?
L.: Já tinha conteúdo teórico pra isso. Então, falou: “Ô, não tinha sentido, tinha
estudado no [livro do] Oto Bier. Então não tinha sentido você usar uma, uma
toca daquela.” E nós, nós passamos a acompanhar quem lavava a touca.
Nós, mesmo do primeiro ano lavamos toca de várias meninas do terceiro, Inês
e eu. Falava: “Fulana, sua touca está horrível. Vou lavar a touca pra você.” A
gente lavava a touca, engomava. Então eu fiquei expert em arrumar touca.
Porque era uma vergonha a touca do pessoal. Mas a gente, a gente queria
argumentar que era e que nós não íamos usar aquela toca, né. E que não 39
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tinha sentido a gente, a meia nós não usamos, nós usamos no prime...
usamos meia fina no primeiro ano. A touca nós conseguimos tirar no segundo.
Nós usamos um, um período de touca.
V.: E o uniforme teve que manter
L.: ...o uniforme sempre. Aí quando foi no segundo ano, nós tiramos a toca,
falamos que a toca também estava abolida. Aí falaram que não era possível,
que não sei mais o que. Então, aí nós aceitamos até a rede pra segurar o
cabelo, pra proteger o cabelo. Mas a touca que não tinha cabimento andar
com aquela touca. Ninguém era babá, ninguém era... e não ia usar aquela
touca mesmo. Aí aceitaram e tiramos a touca também, né. Então que mais
que teve?
V.: Do uniforme mais algum, tinha outro tipo de uniforme além desse...?
L.: Tinha o uniforme de Saúde Pública que era saia azul marinho e blusa
branca e uniforme... só. Uniforme pra assistir aula que era uma bata branca.
Uniforme de Saúde Pública e esse uniforme branco.
V.: Tinha o de gala, não?
L.: Não, eu não fui dessa turma. Essa turma, [gagueira] olha o nível superior
não acompanhou mais procissão. [risos]
V.: Não!
L.: Não acompanhou mais procissão, o nível superior não usou toca!
V.: Não desfilou!
L.: Não desfilou.
E.: Não usou luva!
L.: Não usou luva. [risos] Entendeu? Eu, isso eu só sei das histórias, né,
[risos] de Corpus Christi.
V.: Anh, qual história de Corpus Christi que você sabe?
L.: Não, aquelas mesmas que você sabe! [gagueira] que eles iam pra
procissão de, na [Igreja da] Boa Viagem né, de, com o uniforme de gala, com
a, com a capa, não é? Eu vim a conhecer aquela coisa na [Escola de
Enfermagem] Anna Nery depois enquanto professora da escola, já. Que teve
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um velório na Anna Nery que teve guarda lá de,... fizeram uma escala de
enfermeiras lá pra, no velório com uniforme de gala.
V.: Mas veja, enquanto você era aluna do, assim do primeiro ano você não
chegou a ver as alunas dos outros períodos usando esse uniforme, do
segundo e do terceiro, nestas festividades
L.: Não teve mais não.
V.: Desde que vocês entraram... outras alunas [também] acabaram... .também
não...
L.: ...não teve mais não...
V.: ...não usaram? Hum-hum.
L.: Sabe? Não teve não. Era bem antes isso. Sabe que foi interessante a
mudança que teve, né, em relação ao curso superior. Sabe?
V.: Que outras mudanças você observou além dessas que você já colocou?
(...)
L.: Teve a mudança também, parece que o fato de ter vindo pra cá, [para o
prédio perto da escola de medicina] a gente freqüentava o DA. Então, antes
parece que a comida, eu não sei onde que o pessoal comia, antigamente.
Antes, primeiro e segundo ano. Quando mudou pra cá, então a gente usava o
DA. Então o ambiente de refeição passou a ser o mesmo da medicina, né.
E.: Tinha uma história do DAMAR [Diretório Acadêmico Marina Andrade
Rezende], contabilizar e pagar as refeições; você se lembra disso e pra quê
que era isso, como é que era feito isso?
L.: Não. Isso deve ser bem depois que eu formei, né. Porque... na época...
E.: Você formou quando?
L.: Eu formei em sessenta e quatro. Era anexada ainda.
E.: É, aqui está contando como sendo em sessenta e quatro.
L.: Não!
V.: Talvez essas refeições que vocês faziam lá tivesse uma contabilidade que
vocês ainda não sabiam como que era feito, né?
L.: Não era o DAMAR, [gagueira] isso deve, devia ser... na verdade eu
acredito, eu não sei, isso aí eu nunca, nunca tive acesso a isso aí, nunca tive 41
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informação. Mas eu acredito o seguinte, como o curso de enfermagem era um
curso em que era um curso da medicina, a medicina devia receber verba pra
poder sustentar cada aluno. Então, isso era tudo era pago também pela
medicina, né? Porque a escola era anexada à medicina.
V.: Ô, ô, Luzia, no seu tempo...
L.: ...cada aluno tinha um custo, então aí que...
V.: Pode ser que seja isso mesmo?
L.: É. Mas não era o DAMAR não, porque não tinha o DAMAR ainda nessa
época.
V.: É!
L.: E verba não vinha, quer dizer, na verdade a medicina devia pagar o, o
diretório acadêmico da medicina.
V.: Da própria medicina.
E.: Só voltando ainda nessa história do DAMAR eu tenho uma informação
aqui que a Delba, você se lembra da Delba?
L.: Lembro. Ela foi minha aluna.
E.: Foi candidata a vice-presidência do DA. Significa que foi vice-presidente
do DA da medicina? E perdeu.
L.: Não! Foi não! Foi daqui da escola.
E.: Pois é, isso consta como sessenta e três.
L.: Não, está errado.
E.: Está errado?
L.: Totalmente errado. Ah! A Delba, do terceiro ano!
E.: Em sessenta e três ela foi candidata a vice-presidente e perdeu....
L.: ...foi...Perdeu.
E.: Então o DA. já tinha sido criando.
L.: De lá, do DA. da medicina.
E.: Ela foi candidata no DA da medicina.
L.: De lá, da medicina. A Delba, eu pensei era outra Delba. Não a Delba
moreninha que namorava... ela foi candidata porque ela namorava um
estudante de medicina na época.42
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E.: Ah, sim.
L.: Tinha uma vinculação.
V.: Mais o que da Delba que você sabe? Que você se lembra?
L.: Dessa Delba moreninha?
V.: Delba Nepomuceno. É.(...)
L.: Ô, eu não lembro mais nada não.
E.: Você não ficou sabendo de uma suspensão dela não?
L.: Ah, se lembro! Fiquei.
E.: Você se lembra porque? da história?...
L.: Não lembro...porque não. O quê que foi a história? Foi de namorado não
foi não? Eu não lembro mais não.
V.: Não teve grande repercussão na sua turma, grande discussão da sua
turma, né?
L.: Não! Eu não falei pra você , a gente era protegida.
E.: Desse tipo de informação?
L.: Era.
V.: Protegida no sentido de... escondidas.
L.: ...claro! Protegida pra poder...E, e, e eu desconfio que nós, eu, nós ficamos
sabendo não foi pelas, pelas informações oficiais da escola não, foi por
terceiro. Foi a Inês é que descobriu a história da Delba e passou pra nós, sim
a informação.
E.: Como é que é, e, significava então que, por exemplo, vocês viviam no
internato mas viviam separadas das outras...
L.: ...não, não, não.
E.: ...como é que funcionava o internato?
L.: Porque na verdade, no internato, quando nós entramos no segundo, no
primeiro ano tinha, estava o terceiro ano, mas o terceiro ano...(...)
E.: ...ficava o segundo e o terceiro...[sobreposição de vozes]
L.: ... Não, nós entramos em sessenta e dois...
V.: Hum.
L.: ...em março de sessenta e dois. Aí estava saindo...43
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[FINAL FITA 1, LADO B]
FITA 2, LADO AV.: Bom, retomando a história da Delba.
L.: A Delba, a Delba, ela teve uma suspensão foi por ca... por uma, uma, uma
desobediência, porque de... deixa eu voltar. A questão da desobediência era o
seguinte: o internato você tinha o direito, durante a semana você podia
chegar, acho que até nove horas da noite. A portaria ficava fechada, a portaria
fechava às nove horas. E, e durante a semana ... e no sábado e domingo
você podia parece que dormir fora dois domingos ou dois sábados no mês,
tinha uma história assim, não to... não estou lembrada muito bem. E... como é
que é a história? É agora na verdade a portaria fechava às nove horas, tinha,
quem morava no internato era dona Itália [Clarízia] - que era irmã da diretora -
e dona Itália tomava conta da portaria. Acontece que, muitas vezes, a dona
Itália ia dormir e quem ficava tomando conta da portaria ou era Noemi ou era
Inês ou era eu. Tomando conta, não, a gente ficava na biblioteca estudando
até tarde, então ela passava a chave pra gente. Ela falava assim pra gente...
Lá embaixo tinha um livro e no livro sabia quem estava de fora, então quando
a gente ia fechar a portaria nós olhávamos no livro.
E.: Que pena que este livro ahn... sumiu, né?
L.: A gente tinha que assinar a saída e a chegada. Então, a hora que a gente
voltava, hora que a gente ia fechar a por... fechar a porta a gente dava uma
olhada no livro, quem, quem não chegou ainda a gente checava, então falava:
“Então, tem três pessoas que está na rua ainda.” Então tudo bem. Então a
gente ficava na biblioteca estudando, elas tocavam a campainha a gente
descia e abria. Agora se... era problema delas se elas quisessem colocar que
chegaram às nove horas tudo bem, se elas quisessem colocar que chegou
nove e trinta ou dez horas, nós não tomávamos conhecimento.
V.: Dona Itália já era mais idosa nessa época? Ou é, ou ia dormir cedo
mesmo?44
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L.: Ela ia dormir cedo, dormir cedo assim nove, oito e meia, ela ia pro quarto
dela pra rezar.
V.: As freiras não dormiam aqui, Luzia?
L.: Não, não, não, não. Era só a diretora, que era a irmã Emília, a dona Itália
que é hoje onde é a sala... aquela... quarto que tem aquele banheiro lá, sala
de professor que tem aquela banheira?
V.: Em frente do elevador?
L.: Não.
V.: Ah!
L.: Ali, do elevador, era a irmã Emília. Agora onde é a sala da Mônica
Canhestro[sala 316]?1
V.: Sim.
L.: Ali no DEB [Departamento de Enfermagem Básica].
V.: Sei.
E.: Não. Ali não tem banheiro, não, tem... [gagueira]...
L.: Tem.
V.: Por dentro.
L.: Aquela de dentro.
E.: Ah, tá, esqueci!
V.: É a de dentro, onde era a [gagueira] chefia de... não, sala do... de
secretaria do in... do departamento que tem banheiro.
L.: Não a outra que tem banheiro. Aqui está a sala da secretaria que tem um
banheiro de cá que tem uma janela [mostra desenhando], aqui tem a sala da
[professora] Mônica...
E.: [inaudível].
V.: ...que tem uma banheira.
L.: Que tem uma banheira aqui.
V.: As duas têm.
1 Esta área era, até final dos anos 1990, composta de duas salas contínuas;a segunda tinha instalação sanitária e banheira.No tempo das freira, a primeira era uma sala de visita e segunda era a clausula. Posteriormente foi secretaria e chefia do DEB e sala de professores.
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L.: Uma banheira.
V.: As duas têm banheira, nas duas têm banheira.
L.: Ah tem, tem banheira...
E.: ...as duas têm banheira...
L.: ...tem razão. Mas ali, a dona Itália [Itália Clarízia], aqui, aqui que era o
quarto da dona Itália, no segundo, né, que ali a gente chamava...
V.: ...já era terceiro ano...
L.: ...hoje.
V.: Que é terceiro ano lá hoje...
L.: ...é, é. E, e, e o internato era aqui [toques mostrando o desenho]...
V.: ...no quarto andar...
L.: ...então, quer dizer, num, a gente abria a porta caladinha e, o, o, o, até
pouco tempo eu estava lembrando dessa estória. E muitas vezes a gente
tinha preguiça de descer, então a gente ficava estudando até mais tarde na
biblioteca, então, quando tocava a campainha, elas tocavam a campainha, o
quê que a gente fazia: a gente...
E.: ...jogava a chave...
L.: ...descia, a gente não descia, do terceiro andar, onde é o CTE hoje 2[Centro de Tecnologia Educacional] que era o refeitório da gente, nós
tínhamos uma latinha [risos] nós, botava a chave dentro da latinha, tinha uma
cordinha na latinha, então a gente descia a latinha lá embaixo, elas pegavam
a chave e pronto, e entravam.
V.: Hum-hum.
L.: E aí elas traziam, subiam e botavam a chave, tinha o lugar certo de
guardar a chave também. Era uma mesinha que tinha, ficava debaixo, já tinha
o lugar de guardar esta chave, não estou bem lembrada hoje onde que é.
Então a gente usava isso. E se... porque nós tomávamos conta da portaria?
Porque nós ficávamos na biblioteca até tarde estudando...
V.: ...hum-hum...2 No tempo do internato era utilizado como refeitório; como laboratório de micro?histologia/patologia? na década de 1970, posteriormente co cantina e, nos anos 1990
46
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L.: ...nós não deitávamos cedo.
V.: Hum-hum.
L.: Então dona Itália pedia, geralmente para a Inês ou pra mim ou pra Noemi,
uma das três. Ela pedia, sabe?
V.: [tosse]
E.: E como é que era essa rotina ... noturna ou diurna do, de, de estar no
internato?
L.: De estar no internato? Era interessante. Era bastante confortável.
Confortável assim, para nós era confortável, né? Porque tanto para Noemi,
quanto para Inês, quanto para mim, porque a gente estava aqui para estudar,
então a gente ficava até tarde, a gente tinha acesso à biblioteca, ficava até
tarde na biblioteca, tinha lugar pra gente estudar, e, de manhã era fácil,
porque a gente tinha que levantar muito cedo para poder pegar, a gente
pegava sete horas nas clínicas; quando a gente estava no bloco cirúrgico, às
vezes seis horas da manhã a gente estava na sala de cirurgia, que é preparar
sala, jamais a gente chegava sete, cirurgi... cirurgia que che... começava sete
horas a gente chegava até cinco e meia da manhã pra preparar tudo, né, pra
deixar tudo ok, então, então era fácil, né. Agora, eu fui interna só no primeiro
ano...
V.: ...hum-hum...
E.: ...agora como que elas conseguiam...
V.: ...foi só no primeiro ano?
L:. Foi. Só no primeiro ano. No primeiro e no... não, no primeiro e no terceiro.
(...) É. Foi só. Que aí a minha família veio para cá e eu já saí do internato.
V.: ...no...
E.: ...e como que elas conseguiam manter de alguma forma vocês isoladas
das outras, apesar de habitarem no mesmo lugar?
L.: Não, não, isoladas que eu falo em relação a informação de, de coisa
porque, porque dentro aqui, dentro do, do, do, do internato não, dentro do
internato nós sabíamos de tudo, quer dizer, sabíamos porque os, as, as, as
meninas do segundo ano contaram pra gente. Fa... faziam as fichas como era 47
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o professor, como era, né? história de aluno. Como é que, a gente quando ia
pro, pro estágio como era tal lugar, quê que a gente tinha que fazer lá. A
gente pedia informação. E, e o lugar das informações era na lavanderia onde
é aqui, faz o café [inaudível] ali que a gente lavava roupa. Por isso que tinha
aqueles dois tanques.
V.: Ahn!
L.: Ali que era a lavanderia. Então, geralmente no sábado e no domingo a
gente lavava roupa.
E.: Aqui no quarto andar?
L.: No quarto andar!
V.: E quem que lavava a roupa de vocês, quem...
L.: ...nossa roupa...
V.: ...que roupa lavava?
L.: ...de cama.
V.: Não tinha a Zulmira, as pessoas que lavavam?
L.: Não. Elas lavavam o uniforme.
V.: Ah! E quem, e as...
L.: ...toda a roupa pessoal a gente é que lavava.
V.: Roupa de cama vocês traziam, como que era isso?
L.: Toda a roupa de cama era nossa. Roupa de cama era da gente, trazia
tudo...
V.: ...de casa?
L.: De casa. E a gente lavava a roupa de cama.
V.: O quê que a escola dava pra vocês?
L.: Dava a água.
V.: Oferecia?
L.: Oferecia a água.
V.: E o uniforme?
L.: Não, o uniforme também era a gente que fazia.
V.: Vocês pagavam?
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L.: Pagávamos. A gente já trazia o uniforme pronto. A escola não oferecia,
não.
V.: Dava o modelo e vocês pagavam?
L.: Só o modelo. Ela lavava e passava o uniforme.
V.: Que vocês davam pra elas?
E.: E vocês lavavam a roupa pessoal?
L.: Só a roupa pessoal.
E.: Vocês que passavam?
L.: E passava.
E.: E punha aonde?
L.: Tinha secador.
E.: Ah, sei!
L.: Era lavanderia ali. Todos, todos os andares, se bem que eles fizeram
lavanderia em todos os andares.
E.: Ahn-ahn!
L.: Aqueles, todos os andares que tinham quarto. Que é o quarto e o quinto
[andares].
E.: Certo.
L.: Ali era lavanderia. Tinha, eram dois tanques, era uma pia e um tanque,
eles desmancharam o tanque. O tanque em que a gente deixava balde. A
gente... cada uma tinha um balde, a gente punha a roupa de molho no balde e
lavava. A gente olhava a hora que estava livre a lavanderia, tá. E passava
também. Tinha a mesa de passar do mesmo jeito, uma mesa com, com, a
gente tinha o ferro elétrico. A escola não dava ferro também, não.
E.: Você não tem uma idéia de quantas nessa época que você foi interna, de
quantas tinham, de quantas pessoas tinham no internato?
(...)
L.: Na época que eu fui interna devia ter umas trinta pessoas no máximo,
sabe? Porque depois, depois que eu saí... O internato fechou em que ano?
V.: Sessenta e oito.
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L.: Sessenta e oito, né. Quer dizer, aí eram turmas maiores, já começaram
turmas maiores, né.
V.: A, a, a...
L.: ...primeiro, segundo e terceiro.
V.: Nessa época que você morava aqui não tinha nenhum professor que
morava junto no internato?
L.: Não.
V.: A Carmelita já não morava mais no internato?
L.: Ninguém morava no internato. Apenas Yole [de Carvalho Massoni] e
[Maria] Vitória [da Silva] elas tinham um quarto que elas ficavam aqui até
tarde estudando, sabe? Mas elas não moravam aqui não. Era um quarto que
elas tinham aqui. Elas saiam daqui até tarde, mas a gente nem, nem sabia
que elas estavam aqui. Elas ficavam trabalhando, corrigindo trabalho! Elas
tinham um quarto no finalzinho, aquele quarto onde é hoje, nesse andar
mesmo do lado de lá, era o quarto delas, tá? Aqui no quarto andar.
V.: Ô, ô, ô Luzia, você já falou como era esse cotidiano, né, e, e, e das
meninas saírem pra namorar, mas e como é que vocês faziam...
L.: ...agora sair pra namorar eu não falei não. Sair pra namorar era
interessante, porque era permitido namorar aqui. Tinha uma sala...
V.: ...ah!
L.: Era permitido namorar aqui. Então, assim, tinha uma sala lá embaixo, o
salão, com dois jogos de estofado, uma televisão e um piano.
V.: Onde é a sala...
L.: Então, quem namorava nessa sala, a gente inclusive, a gente ia muito lá
pra sala pra ver televisão, mas quem namorava muito nessa sala era a Delba,
a Delba, a Guiomar [Marques] né. A Guiomar não saía, ela namorava aqui. E
eles ficavam até nove horas, nove e meia. Tinha dia...
V.: ...os namoradinhos?
L.: Os namorados.
V.: Quem, alguém ficava junto, lá olhando? Era livre?
L.: Livre.50
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V.: E o piano, alguém usava?
L.: De vez em quando alguém usava. [gagueira] o piano era lá pra usar.
V.: Essa sala é onde que é o salão, o salão nobre hoje?
L.: Não. Essa sala é onde hoje é o gabinete, é o colegiado de graduação e a
vice-diretoria.
E.: Hum-hum.
V.: Quê que mais tinha nesse segundo pavimento, Luzia?
L.: Ali embaixo, ali embaixo era assim, ô. A onde é, ali era muito interessante.
Era assim, deixa ver se eu lembro [desenha o segundo pavimento], aqui era a
sala de estar, né? Onde é o colegiado, aqui que é a diretoria que tem aquele
corredor aqui, ô, aqui a sala de técnica. Aqui era uma unidade do paciente,
eles fizeram uma sala de técnica como a unidade do paciente, por isso que
tem aqueles três armários aqui, ô. Aqueles três armários que tinha no canto
aqui, é onde que ficava guardado, que é a diretoria hoje, que ficava guardado
o material de... de técnica.
V.: Qual material?
L.: Material de técnica. Aqui, vocês lembram da pia que tinha aqui? Tinha uma
pia, a gente chegava aqui, a gente... aqui era o expurgo, a gente... lava... a
gente desenvolvia vinha aqui e lavava todo o material aqui.
V.: Ah!
L.: Aqui que era o expurgo.
E.: Ainda tem uma pia lá, não tem, não?
V.: Tem, tem, tem, tem.
L.: De dentro. Mais aquela pia de dentro ali é da unidade, era da unidade do
paciente.
L.: Dependendo do material.
E.: É. Debaixo da janela, né?
V.: É.
L.: Material contaminado, acho que a gente levava pra cá, tinha umas divisão
assim, entendeu? Do lado de cá, aqui onde é a secretaria hoje, aqui, ô, era
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um apartamento, vocês lembram que tinha um banheiro aqui, vocês
lembram?
V.: Hum-hum.
L.: É aqui era um apartamento. E aqui, agora eu lembrei o quê que era isso
aqui, era a capela. (...)
V.: Onde que é o...
L.: ...auditório...
V.: ...auditório [Maria Sinno] hoje.
L.: É, tá? Aqui era a capela.
E.: Essa capela, eu acho que quando nós estudávamos, essa capela era aí
não era não?
V.: Do lado de cá.
L.: Aí depois ela passou pra cá.
E.: Ah, era mesmo.
L.: A Yole passou pra cá, pra poder fazer o auditório aqui.
E.: Tá.
L.: Tá? A Yole passou a gabinete dela pra cá. E aqui, o quê que era? Por isso
aqui foi construído pra ser a capela, e isso aqui foi construído pra ser, e que
era realmente, que era o, o, o coisa do, do, do padre.
V.: Do padre.
L.: Um apartamentozinho pro padre. Só que quando, tem um detalhe
importante que eu esqueci de contar. Quando a Noemi, quando no, no
primeiro ano que nós viemos pra cá a Noemi teve hepatite, sabe? Teve
hepatite, e ela ficou nesse apartamento aqui..
V.: Isolada?
L.: Isolada. Quem cuidou dela foi a, a, a, a Noemi, a, a, a, a Noemi, a, a,.
Não... ,não... como que ela chama? (...) Nívea Noemi, que cuidou dela, que
era professora nossa de doenças transmissíveis. Então, a Noemi ficou
internada aqui. E a gente que cuidava dela com toda a técnica de isolamento.
A, a Noemi ficou internada aqui e tinha uma aluna do terceiro ano cuidando
dela; [tinha também] uma do segundo, e a gente ia pra fazer [gagueira] ficar 52
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de companhia porque a gente não tinha ainda, é, é, informação suficiente pra
cuidar.
V.: Cada dia era uma aluna que ficava? Não tinha uma específica, não?
L.: Era. A Guiomar cuidou muito dela. A Delba cuidou muito dela. Era
escalada, pra, pra ficar aqui cuidando dela, sabe? Então, toda a oportunidade
que eles tinham de, de, de, sabe?
V.: A capela ti... vocês tinham alguma missa, tinha alguma atividade religiosa?
L.: Não, não, nenhuma.
V.: Ficava meio parada?
L.: Paradona.
V.: Mesmo com a irmã Emília aqui?
L.: Mesmo com a irmã Emília aqui. Não tinha nada, nada, nada. Eu lembro
que porque não época eu era muito católica e, e a gente ia a missa no
Colégio Arnaldo.
E.: Hum.
L.: Tanto Noemi, Inês e eu, a gente ía a missa no Colégio Arnaldo. A gente
freqüentava lá.
V.: Luzia, como é, como é que era o lazer, né, de vocês alunas? Além desse
espaço que vocês tinham para namorar, que outras atividades de lazer que
vocês tinham?
L.: Tinha... era só isso. Não tinha mais nada não.
V.: Tinha festas, fora, baile...
L.: [inaudível] Tinha baile no DA., né? Era aqui no DA. Falava, mas eu não era
de ir em festa... nós três não éramos de ir em festa. Logo depois, que quem
mais ia em festa, a turma que tem muita festa pra ir, que aí a es... é outra
estória, é da, do DA, é do DA da, da, da, da, da farmácia, aí é ..., das outras
coisas, mais pra frente...
V.: ...mais tarde... né?...
L.: ...mais tarde...
E.: ...teve...
V.: ...pelo... [superposição de vozes] Hum... [riso]53
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E.: ...teve um período, em sessenta e três, que teve uma campanha de
divulgação da profissão junto aos, aos colégios, é, é, onde foram realizados
também shows piqueniques, você lembra disso?
L.: Shows, piqueniques, piqueniques não teve, eu não lembro não...
E.: ...não?...
L.: ...mas, mas divulgação, palestras...lembro...Norma até participou ... de
muitos.
E.: Como é que foi?
L.: Norma... [pausa]
V.: Norma Lúcia [de Matos]...
L.: Norma Lúcia... deixe eu ver se eu lembro... [ pausa]
V.: Alguma atividade ligada à ABEn, nessa época?
L.: Foi ligada à ABEn, sim, foi da ABEn...
E.: ...foi durante a Semana Brasileira de Enfermagem?...
L.: ...foi, foi...
V.: ...quem era da ABEn? Você lembra quem era presidente na época?
L.: A Maria José Silva, não? Eu lembro quem que era, Maria3 José Silva, é,
Dilza [Brito Guimarães] era tesoureira...4
V.: ...irmã Tereza Notarnicola...
L.: ...irmã Tereza Notarnicola...
V.: Depois irmã Cecília Bhering.5
L.: ...irmã Cecília, quem mais? Irmã Tereza Notarnicola, ela era daqui, né, eu
lembro o dia que o po... que a coisa caiu em cima dela, coitada.
E.: O cofre?
L.: O cofre.6
V.: Como é que era a relação com a irmã Tereza, essas outras freiras. Elas
davam aula...
L.: ...não, não, muito ruim...3 Presidente da ABEn de 1980 a 1984 4 Tesoureira da ABEn na gestão da Irmã Maria Tereza Notarnicola, de 1962 a 1964; na gestão de Clélia Luisa Gonçalves Pinto, de 1964 a 19685 Presidente da ABEn de 1957 a 19606 Ela sofreu um acidente; maiores detalhes ver na entrevista da mesma.
54
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V.: ...você não se lembra da irmã Te... da irmã...
L.: ...muito ruim.
V.: Ruim como assim?
L.: Ruim assim, não existia relação pra n... nossa, da no... da no... da nossa
turma não...
V.: ...da sua turma... sua turma não, né?
L.: ...não...
V.: ...hum-hum...
L.: ...entendeu? Nós, nós, nós tínhamos uma, uma imagem, por causa da irmã
Emília, uma imagem muito negativa das freiras, entendeu? A gente, no
hospital a gente corria delas, a gente não dava, o conselho que a gente tinha
das freiras, é que a freiras só estavam no hospital pra botar a chave no bolso,
para trancar tudo e pra criar dificuldade no trabalho da gente. Era essa a
imagem que a gente tinha.
V.: Era essa imagem que a irmã Emília passava pra vocês? Porque é, é, essa
imagem que a irmã Emília passava, como é que era esse relacionamento a
ma... mais com a irmã Emília?
L.: Olha, existe, o relacionamento nosso com a irmã, quan... o nosso
relacionamento com a irmã Emília, ele, ele não, ele era, uma relação de
autoridade, né? Então, era autoridade e a gente não escutava as coisa dela,
não, escut... e nós escutávamos muito, porque muitas vezes ela, na aula de
ética, ela colocava as coisas, através de, de, de, de estórias, sei lá, ela
contava, passava de alguma coisa, ficava falando nisso, não sei mais o quê,
ela dava alguma mensagem pra gente, mas nós não, nós sabíamos que ela
fazia isso, que nó... as alunas do terceiro ano e do segundo já tinham avisado
pra gente isso, então nós não...
V.: ...não ligavam não ...
L.: ...não dávamos confiança, não. Ficávamos caladas, sabe? Agora a gente
sabia que existia uma relação muito ruim, não era uma relação tranqüila, da
irmã Emília com o corpo docente...
V.: ...hum...55
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L.: ...inclusive ela, ela, ela criava muita intriga, a própria irmã Emília. Ela
jogava professores uns contra os outros, ela, ela armava umas coisa dessas,
e a gente ficava sabendo disso. E a gente gostava demais dos professores.
Tinham professores excelentes, entendeu? E a gente sabia que ela fazia isso,
sabia que ela fazia alguns professores sofrerem por causa disso, então. Tem
uma estória nossa que, por causa dessa greve, aquela greve de um terço, nós
estávamos fazendo estágio na Cruz Vermelha e j... teve um paciente nosso, o
paciente, um paciente que a gente, todas, todas as três tinham cuidado dele,
e ele foi pro pós-operatório e parece que nós queríamos cuidar desse
paciente. Só que como nós não tínhamos tido ainda enfermagem cirúrgica, foi
barrado, não foi possível. Então nós pressionamos a professora, que a gente
queria dar plantão no turno com ele. Aí, eu sei que foi conversar com a irmã
Emília, pra irmã Emília ter que autorizar, aquela confusão, sabe, pra ela poder
liberar pra gente poder cuidar desse paciente. Aí nós fomos dar plantão
[inaudível] ...
V.: ...quem que era essa professora na época?
L.: Alaíde [Esteves Lima]. Alaíde é que deu cobertura pra gente, né, Alaíde
que foi conversar com a irmã Emília. E nós fomos cuidar desse paciente, né.
Inclusive Alaíde foi e deu toda a orientação pra nós, né. E outra, outra coisa
também que aconteceu, também nesse mesmo período, foi o pai, o pai de
Norma, foi nessa época que o pai de Norma também foi internado, e muito
grave, também na Cruz Vermelha, lá no lugar que a gente estava, e a gente
queria ajudar cuidar dele. Então Alaíde também que interferiu. Então, assim,
eu falei assim, gente [inaudível] todo mundo foge do plantão noturno, nós
estamos brigando com a direção da escola pra poder dar plantão, pra ter o
direito de dar um plantão noturno, entendeu? Então, ti... tinha, tinha essas
coisas, sabe? Acho que nós éramos muito “Caxias”, sabe? [risos]
V.: Muito certinhas, apesar de não seguir as, as, todas as regras, mas...
L.: ...não, as regras nós, n..., nós, aquilo que era absurdo prá nós, né, a
gente...
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V.: É, Luzia, mais alguma coisa do internato? Onde vocês passavam as
férias? Tinha férias?
L.: Tinha. Férias regulamentares. A, um, nós entramos no, num regime
escolar...
V.: ...sim...
L.: ...sabe? Tinha férias, [risos] quer dizer, até dezembro, de dezembro a jan...
a março, aí que, aí deu aquela lacuna que eu te falei, porque aí a gente não
tinha mais...
E.: ... a cobertura...
L.: ...a cobertura. Tinha as férias de julho, tinha as férias de... encerrava o
período letivo em dezembro...tá?
V.: E nesse período cada um ia para sua casa?
L.: Cada um ia para sua casa.
V.: Ninguém ficava no internato?
L.: Não. Ninguém ficava no internato.... sua casa.
V.: Luzia, é, m... mais alguma coisa, assim, do internato, fato interessante,
que você se lembre agora?
L.: Não. Do internato, né. Não, em relação à alimentação, era muito boa,
tinha, tinha, engraçado que tinha um lanche, ti... tinha o café da manhã, o café
da manhã era servido aqui, né, e ti... bem, um café da manhã bem farto. Tinha
ovo, fruta...
V.: ...quem fazia o café?
L.: Dona Itália. Não. Oh, devia ser a Tita [Maria Natividade Trindade Ovídio],
ou Zulmira [Chaves Campos], ou, ou, o pessoal administrativo.
V.: Quem mais trabalhava, trabalhava aqui além da Tita e da Zulmira?
L.: Era Tita, Zulmira, dona, dona, a mãe do Oscar [da Costa], como é que ela
chamava, gente? Dona Leontina[----]...
E.: ...Leontina...
L.: ...Leontina, a dona, a outra [inaudível] Não sei se era Tita, era uma gorda...
V.: ...Lygia [de Queirós Guimarães?]
L.: ...morena...57
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V.: ...já era daqui, da época? Dona Lygia, da secretaria?
L.: Aí já é da secretaria, é da minha época também. Dona Lygia [inaudível] ,
dona Lygia era outra que dava muita informação pra gente da irmã Emília.
Tem um fato muito interessante, lembrei da dona Lygia agora, quando, porque
na verdade, nosso curso, então, como foram, nós fomos a primeira turma,
então a escola estava estruturada pra dar até o terceiro ano. Ela não estava
estruturada pra dar o quarto ano, porque o quarto ano era opção: ou Saúde
Pública ou Obstetrícia, né? Então o quê que foi feito, então é... nós fizemos,
terminamos o terceiro ano e, só que nós queríamos continuar, né, as três não
iam parar de jeito nenhum. E nós articulamos pra gente fazer o quarto ano em
São Paulo, d... na, na Escola de Enfermagem da, da USP. E pra fazer o curso
na Escola de Enfermagem da USP, na verdade, Inês e eu tínhamos insistido
que íamos fazer Saúde Pública, e não tinha saúde... tinha Saúde Pública, e a
Noemi ia fazer Obstetrícia. Então a Noemi foi pra Paulista, pra fazer lá o, o
quarto ano na Paulista. E, mas só que nós não tínhamos condição. A Inês, a
Inês era funcionária do Estado, então ela ganhava pra poder, ela, que tinha o
salário dela, que era pouco também e eu não tinha condição nenhuma pra
poder ir pra São Paulo, pra me manter em São Paulo. Então tinha que ir para
o mesmo regime, pra poder conseguir ficar inter... no internato de São Paulo,
porque lá também não era todo mundo, o internato não atendia todo mundo, e
nós tínhamos que conseguir alguma coisa. Então don... dona Lygia nos
informou que havia chegado uns papéis da CAPES para bolsa...
V.: ...hum...
L.: ...e estava tudo na mesa da irmã Emília, na secretaria. Só que a irmã
Emília não repassava isso pra ninguém. Aí dona Lygia roubou os formulários
da mesa da irmã Emília e passou pra nós. E foi aí que eu e a Inês
preenchemos os papéis e mandamos pra CAPES, e conseguimos bolsa da
CAPES.
V.: [inaudível]
E.: E irmã Emília não con...
L.: ...não ficou sabendo.58
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E.: Ah! Nem tinha lido...
V.: ...nem tomou conhecimento.
L.: Nem tomou conhecimento, tá? E dona Lygia falou: “Ó, chegou uns
negócios da CAPES, dando bolsa pra aluno, dando bolsa”.
E.: Ela era secretária da Mari... da irmã Emília?
L.: Da es... ela era secretária daí da escola...
V.: ...federal, da escola...
L.: ...entendeu? [riso] Aí ela tirou os papéis, nós preenchemos os papéis,
ninguém ficou sabendo, nós mandamos pra CAPES e fomos embora pra São
Paulo porque a gente... o curso começava. Foi em maio veio a resposta que,
que nós tínhamos conseguido a bolsa, sabe, da CAPES. Então eu fui a
primeira, eu fui bolsista da CAPES em 1965 [riso]. Dos, do, dos formulários
roubados da mesa da irmã Emília. Pra você ver como é... [riso], ela era tão
boazinha que nem...
V.: Ham-ham. Ô, ô, Luzia, tem esse lado da irmã Emília, né, e, e eu, e as
professoras? Tinha algum tipo de boicote em relação às alunas, alguma coisa
assim pra dificultar o relacionamento ou, o, o, o cotidiano das alunas no
internato...
L.: ...não...
V.: ...por parte das professoras?
L.: Não. Que eu, que eu lembre não. [gagueira] Na nossa turma não. Não
tinha nada de, de boicote não. A nossa relação com as professoras era
relação de salas de aula, sabe...elas n... nessa época elas não tinham muito
acesso, elas ficavam aqui até uma hora da tarde, elas trabalham de sete às
treze, e ficavam somente aquelas que tinham alguma aula pra dar, depois de,
porque elas ficavam mais no estágio, né, elas tinham, elas almoçavam aqui,
eu lembro que, alguma funcionária que arrumava comida pra elas, elas
almoçavam aqui...
E.: ...a mesma comida que vocês almoçavam...
L.: ...não. Não porque a gente almoçava no DA.
V.: Ah, vocês almoçavam no DA.59
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L.: Era, quer dizer, almoçava assim, era alguma co... coisa, porque assim,
elas arrumavam...
E.: ...um lanche...
L.: uma coisa mu... uma comida mais simples, né, e não tinha não. N... nunca,
com a nossa turma não...de boicote, nada disso não, sabe? Era até ao
contrário, assim. Elas ajudavam muito a gente, na relação com a direção, com
a irmã Emília...
V.: ...com a irmã Emília, né?
L.: É.
V.: É algum caso de transferência de aluna para outro curso? Da sua turma
não, mas de, das turmas próximas, que você se lembre?
L.: Não. Nenhum caso de transferência, não.
V.: Tinha, a escola, vocês tinham alguma relação com as alunas da Cruz
Vermelha, o curso de auxiliar da Cruz Vermelha?
L.: Não. Só em estágio.
V.: E como é que era essa relação, que tinha...
L.: [inaudível] coincidia da gente estar junto no estágio, se quisesse fazer
amizade fazia; não era nada formal, tudo informal. Não tinha relação
nenhuma.
V.: Teve um aluno do sexo masculino?
L.: Da minha, antes da minha...
V.: ...até, quando você estudou aqui...
L.: ...que eu saiba, não. Enquanto aluna, não. Tem não.
V.: A escola prestava algum serviço à comunidade?
E.: ...como extensão [inaudível]
V.: ...como extensão? De farmácia, farmacinha, curativo, para o pessoal de
foram aqui na unidade?
L.: Não. Não tinha isso não. Eles não estruturaram nada nesse sentido não. O
que tinha eram os estágios, né? Porque também mudou muito...
V.: ...como que era o estágio de Saúde Pública?
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L.: Pois é, isso que eu ia falar. Mudou muito a relação do es... mudou muito a
relação do estágio de saúde pública, porque antes era o estágio de três
meses, e que as meninas tinham, faziam estágio no Centro de Saúde Tia
Amância, né, lá perto da [Lavanderia] Eureka [atualmente, Colégio Pitágoras,
no bairro Cidade Jardim] . E fazia o trabalho naquela favela lá de perto, com
Carmelita. Então es... es... as alunas, por exemplo, das duas turmas
anteriores, né, elas faziam muita coisa. Agora, nós não. A nossa turma, como
já o estágio de saúde pública ela não era mais de, de, de três meses, ele foi
diluído no primeiro, no segundo e no terceiro ano. Então a nossa relação era
assim, a gente pegava o paciente do hospital, tinha paciente do hospital e que
a gente devia conhecer a família desse paciente.
V.: É assim o estágio de Saúde Pública?
L.: De Saúde Pública, tá? Então muitas vezes tinha, a gente tinha estudo de
caso, então aquele paciente e ia ver. Então a gente ia muito, eu fiz muita visita
domiciliar, em, em vários bairros. Agora, é complicado porque eram o, né,
vários bairros de Belo Horizonte e, e a gente não sabia andar, não tinha, era
com condução, tudo por conta da gente, não tinha nenhum apoio
institucional...
V.: ...tinha mais carro da escola não?
L.: Não. A época da “Coramina” não é da minha época, não [risos]. Eu só sei
as estórias da Coramina, sabe? Porque a Coramina que le... que trazia os
meninos do internato para o hospital...
V.: ...quando o internato era lá em cima...
L.: ...lá em cima, sabe? Então [inaudível] ...
E.: ...você, você formou na época da, da, da revolução de sessenta e quatro.
Você sentiu algum, a, como é que foi a ambiência em relação à revolução de
sessenta e quatro, em termos de escola?
L.: Olha, engraçado, né, porque a, a única coisa, eu lembro do d... do di... do
dia que estourou a revolução eu estava fazendo meu estágio no bloco
cirúrgico, né, e eu não esqueço disso, que no dia que estourou a revolução
que eu não sabia [inaudível] anúncio pro rádio: as tropas estão chegando em 61
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São Paulo, sabe, aquela confusão toda, aí a, eu só lembro que [inaudível]
assim [inaudível] de prontidão. Todo mundo tem que estar de prontidão pra,
pra ver, pra, pra, pra...
V.: ...para o ataque...
L.: ...para o ataque. Para poder, né? [risos] E, mas depois disso, não, porque,
da, a escola na verdade, a escola era muito, muito apagada, muito, sabe?
Sem, sem atuação nenhuma, sem, sem formação, formação nenhuma...
E.: ...sem [inaudível] política...
L.: ...sabe, em relação aos fatos históricos, ao momento, sabe, político da
época.
V.: Não se discutia, não teve nenhuma repressão...
L.: ...não se discutia, não se discutia...
V.: ...na escola?
L.: Teve depois. Aí eu era professora...
V.: ...sim...
L.: ...aí é outra estória.
V.: Antes, an... até, até sessenta e cinco...
L.: ...entendeu?...
V.: ...nada, nenhum envolvimento, porque ses...
L.: ...com as alunas, não, n..., não. Porque sessenta e cinco eu já estava, eu
estava em São Paulo, né...
V.: ...ah, sim. Hum-hum. Política [inaudível]
L.: [inaudível] São Paulo fazer estágio no interior, aí, né...lá na a... na área de
Ribeirão Preto, de Araraquara, sabe, mas aqui ne... nessa época...
V.: ...não...
L.: ...era muito, quer dizer, tudo...
V.: ...tranqüilo [riso].
L.: Tranqüilo, sabe?
V.: Luzia, existia estágio extracurricular no seu período?
L.: Oficialmente não, mas eu acredito que todos os estágios que a gente fazia
por fora eram extracurriculares, viu, porque não... [riso] entendeu?62
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V.: Não [risos]. Não entendi. [risos]
L.: Porque, na verdade, se eu for computar o tanto de estágio que eu dei no
Hospital das Clínicas, foi muito mais do que era exigido por lei.
V.: Ah, sim. Ah, sim. Nesse sentido.
L.: É.
V.: Mas pago, remunerado, fora da escola, não, né?
L.: O meu? Não, não, não. Porque começou o estágio extracurricular pago na,
na escola foi quando eu já era professora, que eu que fui uma das que
participei disso aí, entendeu? Aí é outra estória...
V.: ...é...
L.: ...[inaudível] Hospital Municipal...
V.: ...chegaremos lá [riso].
L.: Isso aí é outra estória. [inaudível]..sabe?
V.: Mais alguma coisa sobre...
L.: ...a minha história na enfermagem é assim: eu, enquanto aluna, eu, na
minha ra... eu e [gagueira]. A minha história ela vai até a irmã Emília e depois
da irmã Emília.
V.: Certo. [risos] Irmã Emília é o marco. [risos]
E.: [inaudível]
L.: Irmã Emília.
V.: Irmã Emília.[risos]
E.: Você teria alguma coisa ainda nesse período, antes de você ir para São
Paulo, pra nos dizer, algum fato que você lembra, alguma coisa que você se
lembre?
L.: Olha, e... eu, interessante, porque, eu acho que a escola, ela era muito, na
verdade ela não estava preparada, os professores não est... não é, não é, não
é preparo técnico, preparo, como é que eu falo?
V.: Teórico?
L.: Teórico não. É, é, elas se, se sentiam que não estavam preparadas, elas
se sentiam assim, que não estavam preparadas teoricamente, para assumir
um curso de nível superior. Isso elas demonstravam isso.63
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E.: As professoras?
L.: As professoras. Mas, na verdade, mas a gente não sentia que elas não
estavam preparadas, que elas eram muito preparadas, elas eram excelentes
enfermeiras... entendeu? Mas o que eu acho que elas não estavam
preparadas ou talvez pelo próprio processo em que elas viviam, porque existia
um, um, um, um, um clima emocional na escola muito ruim, com a direção da
irmã Emília, sabe, era muito ruim isso lá. Então, e, então eu acho assim, que
elas não estavam preparadas em relação a, a, a como lidar com as questões
do ensino propriamente. Elas estavam preparadas...
[FINAL FITA 2, LADO A]
FITA 2, LADO BL.: ...for.. que entraram pra escola pra ser professoras, mesmo porque elas
eram enfermeiras e elas continuavam sendo enfermeiras e elas passavam
isso pra gente, como ser enfermeira, sabe? Então, é, é, é isso era uma
preocupação muito grande. Agora [gagueira] estou colocando isso por causa
do, do, do fato que aconteceu. O seguinte: eu lembro que eu estava na Cruz
Vermelha, foi no meu primeiro ano? Deve ter sido no meu prime... foi no meu
primeiro ano na Cruz Vermelha. E que eu dei uma medicação errada,
aconteceu de eu dar uma medicação errada. E foi a coisa mais interessante,
porque eu dei a medicação errada e quem descobriu que tinha dado a
medicação errada fui eu mesma, sabe? Porque o processo de distribuição de
medicamento é aquele processo... Ah! Tem uma coisa interessantíssima
também que depois eu quero falar. Aquele processo é aquele processo de...
E.: ...então, diz como que é pra eu anotar aqui.
L.: Trans... de transcrever, mas ele vai sair agora. De trans... de transcrição, então era, era, era
por tarefa. [gagueira] A administração de medicamento ela, ela era passada por duas pessoas,
uma transcrevia, então pegava toda a transcri... a prescrição médica e, e fa... fazia e passava
pro (...).
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V.: ...Cardex?
L.: Não. Nessa época não era, não. Era um livro, eram umas folhas de
enfermagem. O Cadex foi bem mais na frente. Eram umas folhas de
enfermagem então você passava aquilo diariamente. Então tinha o nome, o
medicamento, o horário, você riscava as folhas de papel almaço bem...
artesanal; tinha um modelo lá que você fazia isso, os horários, as
observações você tinha que pôr. Se é, observações você punha assim:
medicamento se é tomar com leite, dar nas refeições, essas coisas assim. E,
então isso era... E o sistema de administração, e aí tinha aqui, tinha os
medicamentos os copinhos, tinha... os copinhos pequenininhos e tinha uma
bandeja. A bandeja... [tosse] Essa enfermagem me mata [riso]. Tinha uma
bandeja que tinha um, um, um, sabe aquele negócio de radiografia, aquele
coisa, aquele duro? Ra... radiografia, que elas limpavam aquilo, ele ficava
azulzinho.
E.: Papel da radiografia?
L.: É. E fizeram um, um...
E.: ...um suporte entre a bandeja?
L.: Não. Suporte nada bem! Fizeram...
V.: ...divisória?
L.: Não. Fizeram um papelão assim [desenha o modelo da bandeja], ô, com
um...
E.: ...com radiografia?...
L.: ...dois, três, quatro, cinco, seis, sete, oito, nove, dez, os números dos leitos
da enfermaria.
V.: Isso na bandeja?
L.: É. Coberto com esse envelope, com esse...
V.: Papel de raio X, limpo.
E.: Papel de raio X.
L.: Papel de raio X, tudo...
V.: ...azulzinho?
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L.: Coisa de freira. Azulzinho, coisa de freira. Tudo bordadinho assim em
volta. E punha aquilo papel limpinho na bandeja, no fundo da bandeja. E eu
preparava os medicamento, então o medicamento do paciente do leito um eu
ponha nesse quadradinho aqui, não tem nada separando não, entendeu?
V.: Só o número embaixo?
L.: Só aquele número embaixo. Com aquele negócio de bandeja...
V.: ...balançava...
L.: ...de radiografia, que liso, uma bandeja desse tamanho [mostra com as
mãos] assim, ô, pois se tinha todos os números da enfermaria, dos leitos da
enfermaria, [inaudível]. E você colocava os copinhos ali, então só tinha isso.
Então você levava...
V.: ...copinho de vidro?
L.: Copinho de vidro. Então você colocava o copinho... Copinho de vidro ou
então era tampinha também de medicamento que você punha...
V.: ...em cima?...
L.: ...os remedinhos dentro [inaudível]. Então era isso. Aí eu preparava, então
eu pegava a bandeja no horário, eu pegava a bandeja eu punha aqui e ia pela
lista, fulano de tal vai tomar isso tam, tam, tam. Então eu pegava o
medicamento, cinco vezes ler, né? Tam! Todo aquele esquema, então você
olha o rotulo, prazo de validade, cor tam, tam, tam, tiro está aqui de fulano de
tal, tá? Tá. Tá? Tá. Você tem que guardar o nome de cada paciente desse,
porque você não tem mais nada. Você está levando a bandejinha...
V.: ...com o número do leito, só?
L.: Com o número do leito, né. E ia por tarefa. Quer dizer, eu estou na
medicação de vá...
V.: ...de todo mundo?
L.: Né? Tá. Lá vai eu com a bandejinha, de repente, eu peguei e dei, era uma,
uma novalgina, aí eu, paciente do leito tal, dona fulana de tal. E, e eu
cuidadosa, chamava tudo por nome. Eu lembro que eu chamei dona fulana de
tal, nome dela, falei o nome dela. Eu falei: “Trouxe um remedinho pra
senhora.” Ela falou: “É, mas que coisa boa.” Eu falei: “Está aqui o remedinho 66
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da senhora.” Aí ela falou: “Que coisa boa.” Depois, ela pegou e tomou o
remédio, depois ela falou: “Que coisa boa que lembraram de mim. Porque tem
muito tempo que eu não tomo remédio.” [risos]
V.: Ichi!
E.: Bateu um [medo?]. [risos]
L.: Voltei olhei na folha de prescrição: novalgina, olhei, tá. Mas está aqui
novalgina pra ela, depois eu peguei o prontuário dela, olhei lá, falei assim:
“Uah! Mas ela não é dona Ma... não é dona fulana mesmo não. A papeleta
dela é a de cá!” Aí foi que eu vi que o, que era outra pessoa. Era a outra ao
lado dela, o coisa escorregou. No meio do caminho eu lembro que eu voltei,
eu, eu, eu descobri porque que eu errei porque no meio do caminho quando
escorregou pro outro leito, em vez de eu ir aqui, ô, na folha daqui, eu fui na
papeleta só pra conferir o nome dela. Mas eu olhei na papeleta do, do, do
número...
V.: ...do outro número...
L.: ...do leito, do outro número que estava aqui. Aí bati olhei o nome dela e
voltei, chamei ela pelo nome, entendeu? Aí descobri, falei assim: “Nossa
Senhora! Coitada dela, ela ficou feliz da vida porque ganhou uma novalgina. E
não precisava de tomar essa novalgina. [risos]. Aí saí, fui procurar a
professora. Eu, eu, eu fiquei, eu demorei até pra descobrir o quê que tinha
acontecido, que processo tinha acontecido comigo que eu fiz isso. Aí fui
procurar a professora e falei: “Olha deu pro... dei medicamento errado pra
paciente.” Ela olhou pra mim, acho que ela assustou um tanto, sabe? Se dava
um medicamento errado acho que, acho que...
V.: ...não sabia?...
L.: ...na história dela, né? Ela olhou pra mim, disse assim: “Mas que
medicamento você deu?” Eu falei: “Uma novalgina.” E ela ficou feliz da vida
porque ela [riso] tinha, achou que estava, estava esquecida daquilo. Aí ela
olhou pra mim, falou assim: “Você pode ir pra escola depois a gente
conversa.” Não falou mais nada. Vim pra escola! Aí vim pra escola. Estou
pensando na minha vida e quando foi de tarde a irmã Emília me chama. Olha 67
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pra você ver, você, você faz colo... cometi um erro desses coloca pra
professora, né, esperando que vai discutir porque que você errou, o quê que
aconteceu, né? Aí não, a irmã Emília pega e fala, aí a, a irmã Emília pegou e
falou: “Luzia, eu fiquei sabendo que você deu medicamento errado.” Eu falei:
“Dei. Fui eu que contei que dei o medicamento errado. Porque eu descobri,
dei isso, isso, isso.” Ela falou: “Tudo bem. Amanhã você não vai ao estágio.
Você vai ficar aqui na escola pra você refletir sobre o seu erro.” Mas eu fiquei
puta da vida! Sabe? Era, era o castigo. Era castigo.
E.: Era punição.
L.: Era punição, entendeu? Eu fiquei puta porque eu falei assim: “Gente mas
eu não estou entendendo, tem, tem que des... tem que descobrir, porque... Aí
eu chamei, eu lembro que eu chamei a Yole, foi com a Yole que eu conversei
falei ol... foi com a Alzira falei: “Está errado isso. E dei um medicamento
errado mas muita, muito mais gente dá. Porque daquele jeito, não é jeito de,
de, de dar medicamento. Aquilo escorrega. Eu dei o medicamento errado
porque escorregou, o, o vi... o vidro, o frasco, o vidrinho escorregou naquele
trem liso daquele jeito. Escorregou e passou pra outro lugar. Você não tem
referência nenhuma, aquilo está errado daquele jeito, sabe?” Eu sei que, por
isso que eu falo que, elas tinham, elas tinham um certo respeito da gente
também porque a gente questionava o tempo todo, sabe?
E.: Você falou que tinha um outro fato também que você ia contar. É esse
mesmo?
L.: Ah! É esse outro fato. Aí era assim, [risos] o outro fato era assim, quem
estava na transcrição vai utilizar um balcão de cá, não, era uma mesa e tinha
as papeletas todas penduradas, uma coisa assim, todas as papeletas
penduradas na parede, pendurada, né? E o médico, muitas vezes, ele
chegava [inaudível] pegava as papeletas fazia um monte aqui e ia é, é, é,
passando a prescrição. E a gente ficava sentada na mesinha escrevendo, se
o médico chegasse e, muitas vezes, o médico estava em pé passando a
transcrição, a professora me chamava porque eu tinha que ficar de pé pra
poder dar o lugar pro médico, pra ele fazer a prescrição. Entendeu? Então era 68
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assim o médico chegava se a gente estava escrevendo a gente tinha que ficar
de pé [levanta da cadeira exemplificando]. Ele podia até ficar de pé o tempo
inteiro, mas você tinha que...
E.: ...mas você também tinha que ficar?...
L.: ...que fizer, tinha que ficar de pé. E nós não ficávamos. Eu mesmo não
ficava, falei: “Eu que estou escrevendo, eu tenho mais é que sentar.”
Entendeu? [risos] Aí a Alzira falava assim: “Mas, [inaudível].” “Problema dele,
uai! Eu não vou ficar de pé não professora, como que eu vou fazer o meu
serviço de pé. Não tem sentido, uai!” Entendeu? Então tinha muito disso, de
repente [gagueira] foi uma turma que era de, né, de, de nível superior. De
nível superior na cabeça deles, porque nós não, nem estava preocupada com
isso. mas na verdade era uma turma também, que contestava todas as
normas que a gente tinha. E a gente perguntava: “Mas porquê?” “Porque é
norma.” “Como é? Nós não entendemos. Porque é norma? Norma a gente
tem que, a norma é pra ser mudada, pra ser reformulada. A gente tem que
ana... avaliar até que ponto ela vale, sabe?” Então...
V.: Teve algum fato so... relacionado a esse levantar pra dar lugar ao médico
entre as alunas que tenha tido conseqüência maior, que você saiba?
L.: Isso aí eu não sei não.
V.: Um caso de uma aluna, de uma Cláudia parece. Ficou sabendo alguma
coisa?
L.: Se eu o quê?
V.: De uma aluna chamada Cláudia, que se recusou também a se levantar e
que teve problema de suspensão ou de...
L.: ...não.
V.: De... Você não se lem... não ficou sabendo desse fato?
L.: A Cláudia? a Cláudia quando ela [foi aluna] da escola eu já era professora.
Eu não fiquei sabendo disso não.
V.: Ah! Foi mais tarde?
L.: Bem mais tarde.
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E.: Não será que é essa Cláudia de sessenta e dois?7
V.: É.
E.: Processo de expulsão?
L.: Cláudia de sessenta e dois processo de expulsão?
V.: Você não se lembra?
E.: Aluna Cláudia, é.
V.: Ela chegou em sessenta e três, na escola.
E.: Ela chegou em sessenta e dois [inaudível].
L.: Não. Eu comecei em sessenta e dois. Foi. Cláudia? De que ano ela era?
E.: É, tem expulsão de uma Cláudia, não sei se [inaudível].
V.: Em sessenta e dois.
E.: [inaudível].
L.: De... deve ter sido em março, antes de março.
E.: É pode ter sido. [inaudível].
L.: E foi por esse motivo?
V.: Sim, também.
L.: Porque não levantou?
V.: É. [riso]
L.: Nossa! Nem sabia disso [risos]. [gagueira] por isso que eu falo que...
V.: ...também, já estava mudando a história.
L.: Você entendeu? Por isso é que eu acho, por isso, quer dizer, isso mais
veio a afirmar o que eu estou colocando.
V.: É verdade.
L.: Sabe? Tinha um respeito. A gente estava mudando alguma coisa não
escola. Sabe? Eu acho até que, que era, era, era até um espanto. Porque eu
acredito, por exemplo, quando eu cheguei e falei que eu tinha dado a
medicação errada, a professora assustou tanto que não falou nada pra mim,
mandou eu vir pra escola. Ela não falou nada pra mim, porque acho que ela
não, ela não sabia como, o que fazer numa situação dessa. Porque deve ter
7 Cláudia Rita Santos formou-se em julho de 1969.Mais informações, ver entrevista de Carmelita Pinto Rabaelo.
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sido a primeira pessoa que chegou perto dela e falou um negócio desse pra
ela, sabe? [riso]
V.: Alguma coisa que você se lembre antes da sua, chegar na formatura?
L.: Lembro. A nossa formatura foi, a nossa formatura...
V.: ...antes da formatura?
L.: Não. Foi a nossa formatura.
V.: Ah, sim.
L.: Eu lembro que foi muito interessante. Porque a nossa formatura... Nós
terminamos o curso no dia acho que dez de dezembro de sessenta e quatro.
E nós pedimos que no dia dez de dezembro que a gente estava encerrando o
curso, que a gente fizesse uma reunião com o corpo docente da escola
porque a gente queria avaliar o curso. Sabe? Então, estava as doze, doze
pessoas, as doze professoras do corpo docente, nós três: Noemi, Inês e eu e
mais uma professora, e mais uma enfermeira do Hospital das Clínicas, a irmã
Bernadete que eu não sei porque [gagueira] era enfermeira do sexto andar,
do sétimo andar que a gente fazia estágio. Eu acho que a Yole achou por
bem... a Yole não, a Vitória achou por bem convidá-la. Que era essa freira
que a gente relacionava melhor com ela, a irmã Bernadete, tá? Então nós
resolvemos fazer uma avaliação do curso, o quê que foi de positivo, quê que
foi de negativo, sabe? Aí avaliamos tudo. Sobre quê que ti... de, por cada
período o quê que a gente tinha passado como é que foi e, e, e... Mas no
fundo nosso objetivo era avaliar as relações da irmã Emília [Clarízia] enquanto
diretora da escola.
V.: E a irmã Emília estava presente?
L.: Claro! Não ab... de cabeça baixa, não abriu a boca. Nós falamos tudo que
nós tínhamos vontade de falar. Nós estruturamos, fize... sistematizamos um
pouco o que a gente ia falar, mas depois deixamos um pouco aberto.
Soltamos os cachorros nesse dia. Lavamos a alma [riso].
V.: Saíram satisfeitas?
L.: Aí saiu tudo, saiu, sa... colocamos a relação, aí eu lembro, a relação da
irmã Emília, como ela jogava os alunos uns contra os outros, entendeu? Aí 71
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fo... Eu, eu tenho a impressão, que nós colo... agora que eu lembrei, nós
colocamos até a história da Delba, desse negócio da Delba, da suspensão
também. Colocamos tudo, sabe? E eu lembro que, que foi, que quem
conseguiu isso pra nós foi a Carmelita, sabe? Foi a Carmelita que, nós
falamos que nós [inaudível], a Carmelita falou: “Não, pode deixar que eu vou
conversar.” Porque ela era do corpo docente, né. E foi a Carmelita que
conseguiu fazer essa reunião. E reuniu alguns professores pra, pra nos
cumprimentar pelo término do curso e aí nós aproveitamos pra fazer a
avaliação.
E.: Ah, vocês não, não falaram que iam fazer a avaliação! Vocês usaram da
estratégia de...?
L.: Foi! A Carmelita deve ter usado da estratégia porque se a gente tivesse
falado que ia avaliar o curso...
V.: ...ninguém aparecia?
L.: A irmã Emília, nós tínhamos, nós tínhamos que arrumar uma estratégia
pra, pra puxar o tapete dela.
V.: E as professoras falaram alguma coisa?
L.: Falaram! Nós tivemos o apoio. Todas elas; eu lembro da Yole, da Vitória,
sabe? As professoras eram excelentes professoras, não é? Eu que elas
falaram, nós avaliamos e depois eu lembro que no final, aí cada uma ganhou
um livro. A Carmelita foi que deu o livro pra gente. Há pouco tempo eu achei
esse livro lá em casa [risos]. E mais interessante que todas as professoras... a
Carmelita botou uma dedicatória e todas as professoras assinaram.
V.: Assinaram.
L.: O livro é do... como é que ele chama? Estava muito na moda naquela
época. O livro do, Relações Humanas no Trabalho, do... Como que chama
aquele cara da psicologia que veio pra cá com a psicologia do trabalho, que
ele era do banco da Lavoura. O cara que lançou, fazia psicologia do trabalho,
da terapia de grupo? Ai.
E.: Não sei quem é não.
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L.: Ele tem um livro, esse livro escrito por ele nessa época. Aí nós ganhamos
o livro de presente Relações Humanas no Trabalho, começar nossa vida
profissional [risos].
V.: E da formatura em si?
L.: Não, não teve.
V.: Não teve?
L.: Foi isso. Foi essa a cerimônia.
V.: Não teve, não teve colação de grau?
L.: Nada. Não.
V.: Porque não teve? Não tinha?
L.: Não. Não teve.
V.: Diploma entregue?
L.: Não.
V.: Cada um foi pro seu canto?
L.: Não teve. Não teve.
V.: Porque o curso não considerado terminado ou...?
L.: Não sei. [gagueira] Eu falei que era uma experiência nova pra elas, não
teve nada não.
E.: Pois é, não tinha terminalidade no terceiro ano, tinha? Só no quarto não
era não?
L.: Tinha. Eu tenho o diploma da Carlos Chagas.
E.: Ah, é!
L.: Não, não teve colação de grau. Teve, teve essa reunião.
V.: Se vocês não tivessem so...
L.: ...será que foi, nós colamos grau nessa reunião. Acho que foi nessa
reunião que nós colamos grau. Foi sim. Acho que a irmã Emília depois leu
uma ata. Foi sim.
E.: É bem possível.
L.: Foi sim.
V.: E uma solenidade, nada?
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L.: Imagina, depois de uma reunião dessa você acha que ia fazer solenidade?
Que isso! [riso]
V.: É.
L.: Aí nós fomos pra São Paulo feliz da vida com bolsa da CAPES. Quer dizer,
como, como candidata a bolsa da CAPES.
V.: Luzia, nesse período de aluna você se lembra de alguma luta pela
desanexação da escola da Faculdade de Medicina, ou algumas dificuldades?
L.: Existia insatisfação. Luta realmente concreta de desanexação, não. Era
muita insatisfação que tinha. Muita insatisfação. Ah, outra coisa que eu não...
muita insatisfação dos docentes de como a escola era tratada pelo [Oscar]
Versiani [Caldeira]. Então a gente tinha na verdade a gente tinha [gagueira] as
duas autoridades megeras, era o Versiani8 e a irmã Emília. [risos] Eu esqueci
a do Versiani.
V.: Está em tempo. [risos]
L.: O Versiani durou ainda, né, muito tempo. Mas eu sei que... [inaudível].
V.: É. Mas, é, quê que isso num, que, que, que dificultava que os professores
eram insatisfeitos? Você sabe assim...?
L.: Olha tinha, tinha muita, muita, eu lembro da primeira conversa dos
professores em termo de classificação, porque eram todos professores da
Faculdade de Medicina, né? Eram todos do quadro de pessoal da Faculdade
de Medicina. Então eu lembro assim que eles foram os, os, os de lá, na época
de uma classificação recebe... foram classificados como x, os daqui foram
classificados com y; elas eram instrutoras. Elas não entraram no quadro do
corpo docente na época, elas eram instrutoras. Então, isso demorou demais
pra elas poderem, entrarem como dentro da categoria profissional, sabe?
Então, foi uma luta. Elas lutaram muito nesse sentido.
V.: A construção da escola continuou?
L.: Não. Não.
V.: Quando você mudou estava começando.
L.: Não, não, não, não.8 Ele era diretor da Faculdade de Medicina à época.
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V.: E aí teve alguma re... parou daquele jeito?
L.: Não, não. A escola somente continuou quando [inaudível] foi pra vir pra cá.
V.: Quando o quê?
L.: O ICB [Instituto de Ciências Biológicas].
E.: ICB.
V.: Ah, quando o ICB veio! Não foi na sua época, foi depois?
L.: De aluna, não.
V.: Ah, tá. De aluna não.
L.: Entendeu? Aí foi que terminaram lá pra poder colocar o ICB. Mas antes
não tinha, aqui era, nem, nem aqui fora o acabamento daqui. A escada era de
madeira “caquenta” tudo parado.
E.: Essa escada é bem recente, em setenta e um a escada era de madeira,
quando eu entrei na escola.
L.: É. Depois, foi com quem, com qual diretora da faculdade? Que foi, foi na
gestão da Yole. Que a Yole batalhou demais pra poder arrumar a frente da
escola. Foi na gestão da Yole9 que arrumou isso aqui e plantou essas árvores,
sabe?
V.: Bom, já que você não formou, né? Não teve solenidade?
L.: É. Não eu formei [risos]. Eu não, não teve solenidade. [risos]
V.: Como é que foi, vamos começar a falar então, daí pra frente, né? Como
que foi o seu curso em São Paulo? Que aí você passou?
L.: Passei pra onde? Lá pra São Paulo?
V.: Pra São Paulo. Você foi candidata mas [risos] foi selecionada?
L.: Fui selecionada.
V.: Como foi o curso lá?
L.: Foi ótimo. Foi muito bom, né? [gagueira] o curso também foi baseado na
[inaudível] seis ou sete, dez. Dez, mas também teve duas desistências. Então
foi, foi muito interessante o curso. Aí já éramos três mineiras, era Inês, a
Georgina.
V.: [Gomes] Figueiredo?9 Diretora da Escola de 1973 a 1977.
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L.: É, Figueiredo. E eu, sabe? O curso era de um ano. E...
V.: ...vocês eram internas também?
L.: Também. Alguma diferença do internato?
L.: Muita diferença, apesar de, de cheio de normas , também.
V.: Também?
L.: Umas normas muito interessantes. Primeira diferença, era quarto
individual, né? Então cada uma tinha o seu quarto. É, horário você podia sair,
você podia chegar lá que a gente podia entrar às dez horas, até às dez horas.
Mas você podia, você podia dormir fora. Você podia chegar até às dez horas,
se você não chegasse depois de dez horas o problema era seu.
V.: Não entrava?
L.: Não.
E.: Não entrava?
L.: Não. O problema era seu. Mas acontece que mesmo você chegando
depois de dez horas a gente entrava, só que a gente tinha, eu lembro que nós
chegamos uma vez, nós fomos pra um teatro, e o teatro atrasou terminou
mais tarde e a gente foi bater na porta da diretora da dona Maria Rosa
V.: [Sousa Pinheiro].
L.: Aí nós passamos pelo apartamento dela. Ela falou: “O quê que aconteceu,
que vocês chegaram tão tarde assim?” “Nós fomos assistir um teatro. O teatro
atrasou.” Ela falou: “Da próxima vez é só vocês...” E nós não avisamos... não
colocamos que nós íamos chegar depois de dez horas. Lá tinha que avisar
que ia chegar depois de dez horas, pra portaria, pro cara ficar atento.
Entendeu? Era isso. E nós não, não, não imaginávamos que fosse terminar
depois de dez horas. Então, ela falou: “Da próxima vez vocês não esqueçam
de deixar, ter uma previsão que vão chegar depois de dez horas. Pra ele ficar
atento, pra abrir a porta pra vocês.” Então é diferente, né? Lá tinha pelo
menos algo funcionário; aqui era a gente mesmo é que ficava, o aluno mesmo
é que ficava. Quer dizer, ficavam entre aspas, né? Agora...
V.: Do curso em si?
L.: E do curso foi...76
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V.: ...você fez sobre Saúde Pública?
L.: Saúde Pública. O curso... a mesma história, então, a mesma história, na
verdade nós somos o que? Também...
V.: ...primeira turma?
L.: É. Né? Dum, de uma coisa que estava começando. E o curso de lá
também, de Saúde Pública também não estava estruturado, de Enfermagem
de Saúde Pública. Então, o quê que eles fizeram, eles pegaram toda a parte
teórica do curso de Saúde Pública da Faculdade de Saúde Pública e fizeram
uma negociação com a faculdade, então nós éramos alunos, nós éramos
alunos das disciplinas do curso de Saúde Pública de, para graduados.
V.: Ahm!
L.: Com outros profissionais. Então, quer dizer, nós saímos aqui de uma
situação e fomos cair numa situação em que nós tínhamos colegas da
América Latina inteira.
V.: De várias áreas?
L.: De várias áreas! Da medicina, da odontologia, da, da, da farmácia, da
engenharia e da América Latina. Nós tivemos colegas de, de... da Colômbia,
da Venezuela, sabe?
V.: E, e esse...
L.: Então, o curso na verdade a gente tinha todas as disciplinas do curso da
Faculdade de Saúde Pública. E só a Enfermagem de Saúde Pública que era
na Escola de Enfermagem, que era pelas professoras de Saúde Pública da
Escola de Enfermagem, né? Então, fo... foi uma diferença enorme, sabe?
Inclusive uma diferença enorme, quer dizer, você começa a ver [gagueira]
outras questões da, da, da área de saúde, das questões da Saúde Pública,
sabe? E nesse período a gente tem aula as, os nossos professores também a
mesma história, a gente tem professores com todos os catedráticos da
Faculdade de Saúde Pública, que foi o, o, o, o Guimarães, da obstetrícia, o, o,
o Mascarenhas, o Reinaldo Ramos, todos os, os, os “cobrões” da época, de
lá, sabe?
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V.: Luzia, você se sentiu preparada, o curso que você fez em Belo Horizonte
te deu condições de acompanhar esses alunos de outros cursos?
L.: Deu. Da Saúde Pública deu porque, porque na verdade Carmelita tinha
feito o curso em São Paulo. Esse de, de, de, pós graduados. Então, ela tinha,
ela estava chegando de São Paulo. Então, quando ela estava chegando de
São Paulo quando, muitas coisas que ela deu pra nós dentro da Enfermagem
de Saúde Pública...
E.: ...na graduação?
L.: No primeiro ano, foi o que ela tinha visto lá. Entendeu? Então não era tão
estranho...
V.: ...de teoria, né?
L.: De teoria. Não era tão estranho pra gente, né? E, e nós vivíamos na época
uma realidade em que, era, ela tinha uma experiência grande em
Enfermagem em Saúde Pública aqui. E ela deu, passou, deu um pouco disso
pra gente, também. E na verdade lá nós tivemos situações em que a gente
tinha que pela, pro estágio... O curso era estruturado assim: então, a gente
tinha todas as disciplinas do curso de graduação em Saúde Pública para
todos os profissionais da área de saúde e a parte da Enfermagem em Saúde
Pública. E tinha os estágios, então, nós tínhamos três meses de, nós tivemos
três meses de estágio no Centro de Saúde Paula Souza. E no Centro de
Saúde Paula Souza, foram três meses de estágio só de visita domiciliar.
Então, nós ficamos três...
V.: ...vocês já faziam?
L.: Nós já... aqui nós já, [gagueira] visita domiciliar em São Paulo, lá, lá no,
pra, pra, pras, pras necessidades do centro de saúde. E, o, o, o, só uma
diferença que lá nós passamos a visitar a classe média. Porque casos de
sarampo a gente ia visitar e casos de sarampo, o pessoal que estava em casa
era, era de classe média. Rubéola, tá? Então, a gente vi... tinha alguns casos
em que a gente ia pra alguns cortiço, por causa de tuberculose que, que, que
i A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional - LDB - que exigiu a conclusão do segundo grau para o curso de enfermagem é de dezembro de 1961; Lei nº 4.024.
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era em pacientes, em pessoal que morava em cortiço. Então, toda aquela
região ali de Pinheiros, sabe? Da, de Vila Madalena.
V.: E aqui as visitas domiciliares eram da classe...?
L.: Aqui porque [gagueira] lembra que eu te falei que dependendo do, era o
paciente que a gente cuidava no hospital e que a gente ia até o domicílio dele.
V.: É. Pois é. E esse cliente...
L.: ...será que...? Era baixa, [classe] baixa...
V.: ...baixa...
L.: ...baixa. É sabe? De periferia mesmo, sabe? E além disso, nós tínhamos,
nós tivemos estágio dentro das linhas correntes, aí tinha um lá... um estágio
da industria. E outra experiência que foi o Amparo Maternal.10 Também toda a
parte de Obstetrícia nós fizemos no Amparo Maternal. Mas, aí tinha os
plantões, aí a gente po... porque lá era estipulado você tinha que fazer pra
terminar o curso x partos. Aí você tinha que virar, você tinha que ir pro
amparo...
E.: ...mesmo, quer dizer, [gagueira] acabavam fazendo uma integração com a,
com a obstetrícia?
L.: Ti... Saúde Pública tinha, o curso de Saúde Pública era assim: ele era
estruturado, então você tinha o estágio urbano, que era na Faculdade de
Saúde Pública, o, a, parte de obstetrícia que a gente fazia no Amparo, e que a
gente tinha que fazer no mínimo dez partos, porque se não você não, não
colava grau. E, e tinha o estágio rural e o estágio da industria e o estágio
rural. O estágio rural que foi em Araraquara, na verdade era um distrito de
Araraquara, que era Gavião Peixoto. Nós ficamos um mês em Araraquara,
num, num, num distrito de mil e poucos habitantes que tinha médico duas
vezes por semana. E a gente fazia esse trabalho na área rural. A enfermeira
de Araraqua... de, de Gavião Peixoto ela tinha uma Kombi do serviço e ela
que ia pra área rural. Então, a gente saía pras fazendas pra visitar, pra, pra
10 Para maiores detalhes ver entrevista de Carmelita Pinto Rabelo, Irmã Cecília Bhering.
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vacinar os meninos do, dos, dos agregados, sabe? Você trabalhava mais
com, com os empregados das fazendas, sabe? Tudo, tudo...
V.: ...esse curso era a nível de...
L.: ...latifúndio de campo...
V.: pós, de especialização?
L.: Quarto ano!
V.: Era o quarto ano. Não tinha nenhuma titulação?
L.: Qua... é...
V.: Só o quarto ano?
L.: Graduação em Enfermagem de Saúde Pública.
V.: Aqui na Carlos Chagas não teve nenhum curso?
L.: Aí foi quando nós voltamos, que aí Inês e eu nós formamos em sessenta e
cinco lá. E viemos pra cá, pra abrir o daqui, em sessenta e seis.
V.: E aqui antes não tinha o [curso de pós graduação] de obstetrícia?
L.: É, não. Essa é uma outra história. O de obstetrícia...
V.: Que história é essa? [riso]
E.: O e obstetrícia foi uma outra história que eles fun... fizeram o curso de
Enfermagem Obstétrica bem mais, bem antes disso. Que foi, [gagueira] que
funcionou acho que uns dois anos com a Yole e com a Vitória. Na época que
elas trabalhavam no, no, o curso até funcionava eu acho que lá, no hospital
da Policia Militar. Tinha qualquer relação com o hospital da Polícia Militar.
Vocês não conseguiram levantar nada disso não?11
V.: Com a irmã Cecília Bhering.12
L.: Quem...? Vocês entrevistaram a Aparecida Ferreira Moura?
V.: Ainda não.
L.: Ah! Vocês não podem perder não. Porque ela é que tem toda essa história na cabeça.
Quem tinha era Vitória,Yole e ela. Vitória e Yole não tem jeito mais.[Por já terem falecido]
V.: Tem [risos], tem que ser a Aparecida.
11 Não obtivemos nenhuma informação sobre esse curso. Para informações da experiência no Hospital São Francisco, ver entrevista de Gercy Kelles Vieira.12 Maiores informações sobre o curso de especialização em Obstetrícia, ver entrevista de irmã Cecília e de Aparecida Ferreira Moura.
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L.: Tá.
V.: A irmã Cecília falou alguma coisa pra gente... quando a entrevistamos.
L.: É. É. É. Sabe? É, é, isso aí é, é, é da época antes de eu entrar na escola
como aluna.
V.: Sim.
L.: Tá.
V.: Bom, de São Paulo mais alguma coisa?
L.: Bom, de São Paulo, de São Paulo, a experiência foi muito boa... Ahn!
[susto quando copo com água cai à mesa].
V.: Não tem problema.
L.: Foi muito boa a experiência, tá. E... tem papel aí não? Papel almaço.
V.: Pode deixar.
L.: Deixa eu ver o que mais de São Paulo.
V.: Até o seu retorno, pra Belo Horizonte de novo.
L.: Muito bom, muito, muito interessante esse período. Imagina você sair de
uma biblioteca, que era três mesas e três estantes e aí você vai freqüentar a
biblioteca da Faculdade de Saúde Pública, biblioteca da escola, porque da
Escola de Enfermagem era pequena também na época. Era pequena em
relação ao o que é hoje, né?
V.: A Escola de Enfermagem ligada a USP?
L.: É.
V.: A USP?
L.: É. Que era pequena em relação ao que é hoje.
V.: Claro.
L.: Mas vocês imaginem.
V.: Muito maior em relação ao que nós éramos.
L.: É. Então, era pra nós uma maravilha, porque tudo que a gente queria a
gente tinha lá, né? Era muito in... era muito bom mesmo, sabe? E que mais?
Não tem nada assim que eu estou lembrando agora de interessante.
E.: Em relação, por exemplo, [gagueira] o relacionamento com os professores
lá e aqui tinha muita diferença? Mais ou menos a mesma coisa?81
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L.: Da escola?
E.: É.
L.: Da escola?
E.: É. Os professores de enfermagem?
L.: Engraçado os professores de enfermagem tinha, tinha duas professoras,
tinha uma professora de enfermagem que era muito interessante. Ela era uma
mãe assim, era o tempo inteiro no pé da gente, principalmente as de fora.
“Tudo bem, como é que vai, como é que vocês estão, nenhum problema?”
Sabe, sempre procurando acompanhar quê que estava acontecendo, sabe,
quais as dificuldades que a gente tinha, sabe?
V.: Quem era ela? Você se lembra?
L.: Era...
L.: Era... Salomé. Salomé Curi. Salomé. Ela era muito interessante.
V.: Muito bem. Vamos deixar o resto pra outro dia?
L.: Vamos. Quantas horas?
V.: Então, está bom [riso].
[FINAL FITA 2, LADO B]
FITA 3, LADO A
V.: Luzia, é, alguma coisa da primeira parte da nossa entrevista que você
tenha se lembrado e que queira resgatar agora?
LUZIA: Sim. Hou... houve um, um momento em que teve uma abordagem em
relação ao Diretório Acadêmico, né? E, [tosse] na... naquele dia eu, eu não
consegui lembrar o nome, quem era a presidente do Diretório Acadêmico. E
era Zulma [Carmen Viana, presidente do D.A. em 1962]. Então na verdade
existia o Diretório Acadêmico.13 Agora, agora eu não lembro se ele já tinha o
nome da Marina Rezende, sabe? Isso eu não tenho muita certeza, não. Eu
acho que isso foi depois.13 Para maiores informações, ver cap.Organização estudantil,no livro Criação, Quotidiano e Trajetória da Escola de Enfermagem da UFMG: um mergulho no passado.
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V.: Foi depois da morte dela.
L.: Foi depois da morte dela. Né, que, que ocorreu. Mas, já tava, o Diretório já
tava estruturado, ele tava, ele tava, ele já tava consolidando um Diretório mais
independente da, do D.A. da Medicina. Porque antes e... existia uma ligação
muito de dependência, sabe? Então já estava sendo um Diretório bem mais é,
é, desvinculado da Medicina. Apesar de que existia uma, uma, uma relação
de boa vizinhança.
V.: Hum-hum!
L.: Né, porque...
V.: Você, você tinha alguma atividade no DA.?
L.: Não. Eu não lembro não. Depo... eu, eu não lembro se eu tinha atividade.
Eu sei que antes a gente participava de algumas reuniões do DA da Medicina.
E eles dependiam da gente, tinha umas comissões que a gente era
representante, e eles dependiam da gente. Da gente que eu falo das alunas
da Enfermagem, pra poder ter quorum e pra ter voto. Então, muitas vezes, a,
eles vinham até buscar a gente aqui pra poder participar das reuniões, sabe?
Eu tenho uma vaga...
V.: ...lembrança...
L.: ...lembrança disso aí. É, sabe? Agora eu lembro que nessa época quem
era presidente do DA, tinha qualquer coisa, uma ligação, ou era DCE era o
Henrique Santilo. E Zulma era a presidente do DA aqui, então tinha muita
ligação dentre a Zulma, do trabalho conjunto entre a Zulma e o Henrique
Santilo, sabe? Depois, quem que foi o outro, o Silas, esse que já foi mais na
época da Mirthes Versiani [dos Anjos - Vice-presidente do DA em 1962], tá?
V.: Ahn-ahn!
L.: E, e uma outra questão também que, que foi abordada, quer dizer, quando
eu coloquei que a gente não tinha muita, muita ligação entre os alunos, muita
convivência entre os alunos do primeiro ano [barulho de copo de plástico],
aliás, os alunos do segundo ano e do terceiro. Do terceiro era raríssima, a, a,
a, a convivência que a gente tinha com eles, porque não coincidia o local de
estágio da gente. Já com as do segundo não, como a gente estava no
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segundo ano e elas no terceiro a gente já tinha mais uma ligação. E foi aquilo
que eu coloquei, muitas vezes, elas auxiliavam, elas funcionavam até como
instrutoras da gente. Monitora, pra tirar as dúvidas, pra... ajudar no processo
de trabalho, né? E, depois, porque na verdade elas tinham atividades até às
quinze horas, dezesseis horas e nós tínhamos até às cinco [dezessete] horas,
porque as nossas aulas teóricas no início, no primeiro ano, a gente tinha mais
teoria, sabe? E a parte prática realmente era desenvolvi... ela no primeiro ano,
ela era bem, bem suave! Era mais Fundamentos, né? E era intensificava no
segundo e no terceiro ano.
V.: Começava a, a ida ao hospital.
L.: É, ao hospital, sabe? Tudo mais. Ao hospital e, e também ao centro de
saúde, na parte de Saúde Pública. Então a nossa ligação era pequena. Agora
em relação, e as aulas práticas, e as aulas teóricas a gente tinha, como eu
falei, a gente tinha uma aula, uma disciplina que era Ética e História da
Enfermagem, que era a diretora que dava. E muitas vezes...
V.: ...a irmã Clarízia?
L.: É, a irmã Emília Clarízia. E, muitas vezes, ela colocava em sala de aula a,
a, a questões ligadas, à indisciplina, e tudo mais, ligadas aos alunos do
segundo e do terceiro ano. E trazia aquilo como questões de ética [risos],
entendeu? Então, a, a, a questão da disciplina no internato ela era muito,
como é que eu falo? Era muito, muito vigiada, muito, sabe?
V.: Controlada?
L.: Controlada, é.
V.: E vocês três, eram as “pupilas” da irmã Clarízia?
L.: Eram cinco no primeiro ano.
V.: As cinco eram... mais protegidas?
L.: ...as cinco...eram, eram mais protegidas. Não sei se eram mais protegidas,
ou, ou, eu não, não lembro se (...), porque não verdade ela, ela procurava,
não era proteger, ela procurava (...) a sensação que a gente tinha era que ela
queria dar um direcionamento diferente pras cinco, entendeu?
V.: Porque talvez fossem de... tivessem o segundo grau?84
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L.: É. Não sei, sabe? Não sei. Parece que ela deu mesmo, viu! [risos]
V.: Bom, aí você foi a São Paulo, fez o curso...?
L.: Aí, nós fomos né. Das três, como eu coloquei, nós três terminaram o curso
e as três foram pra São Paulo. E quando nós voltamos de São Paulo as três
foram convidadas pra ficar na escola, pra ser professora da escola. Eu lembro
que nós chegamos de São Paulo no dia 26 de dezembro e [gagueira] na
minha situação a Aparecida Ferreira Moura me convidou pra ir pra uma escola
de auxiliar de enfermagem. Que ela queira que eu fosse dar aula no outro dia,
na escola que é do [Hospital] Sara Kubitschek, [Pioneiras Sociais] sabe? Aí eu
comecei em janeiro ou fevereiro na, na escola de auxiliar de enfermagem, que
ela precisava de uma profe... de uma pessoa, de uma enfermeira pra dar a
parte de Saúde Pública. E quando foi em março a Carmelita nos convidou. E
foi muito interessante porque o convite era pra, era pra gente ingressar na
escola em caráter precário, a gente nem sabia como que era o contrato. E, eu
lembro que nós estávamos na Secretária de Saúde, nós tínhamos marcado
uma reunião, porque a gente tinha marcado uma reunião, com Inês e eu na
Secretária de Saúde [gagueira], elas, elas convidaram, isso foi Inês e eu pra
Saúde Pública, pra Enfermagem de Saúde Pública. E, e aí a Carmelita pegou
e falou assim: “Amanhã cedo vocês vão na escola que eu vou dar uma prova
pra vocês. Pra vocês entrarem pra escola.” Nós falamos: “Mas prova, mas
prova como?” Ela falou: “Vou, vou dar um teste lá pra vocês. Pra poder fazer
uma seleção, pra vocês entrarem pra escola.” Sabe, quer dizer, na verdade
ela queria ter alguma coisa documentada. E há pouco tempo quando eu
recebi os meus documentos da universidade, eu recebi a prova, tava
realmente na universidade [risos], sabe? Eu achei muito interessante.
V.: Manteve o, o... o seu...
L.: ...é...
V.: ...a sua pasta.
L.: É, é [gagueira] tudo dentro da minha pasta. Então ela fez essa prova. E, e
nós ficamos, quer dizer, isso foi em sessenta e seis, março de sessenta e
seis, e foi justamente pra gente iniciar o quarto ano de Enfermagem em 85
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Saúde Pública, ta’? Então na verdade nós tínhamos tido a experiência de São
Paulo e nós tínhamos que introduzir o quarto ano aqui, né? E é nós, é lógico
que, [gagueira] tanto a minha experiência quanto a de Inês e a de Carmelita
era, era o mesmo tipo, porque foi tudo na mesma escola.
V.: Hum-hum!
L.: Né? Tudo dentro de uma Saúde Pública, dentro do modelo Jonh Hopinks.
E, então, diante disso, nós estruturamos o curso da mesma maneira que era
da faculdade de Saúde Pública, com as mesmas disciplinas. E nós fomos
buscar quem seriam os docentes. Aqui então, nós, nós tivemos que, que
eleger um corpo de, de docentes que tinha o domínio daquele conhecimento.
Então, eu lembro que nós buscamos foi, durante muito tempo, foi no
professor, é, Pinto Machado, Clóvis Beuchiar. O Pinto Machado dava Saúde
Pública, o Clóvis Beuchiar dava saneamento, que ele tinha sido professor
nosso, inclusive, já era professor da escola de saneamento. Ele que dava
saneamento. O Paulo Lener, Paulo Lener, quem mais? Tinham vários
professores, e a gente buscou nos professores da Medicina Preventiva, eles
eram do tratamento de Medicina Preventiva, né? E ficou na parte de
enfermagem, então ficou Carmelita, Inês e eu. E a gente dava as disciplinas
de enfermagem que a gente dava na época era a Enfermagem em Saúde
Pública, tinha uma disciplina, tinha Didática que não era uma didática aplicada
à enfermagem, mas era uma didática que a gente dava uma série de técnicas
de ensino, metodologia de ensino, tá? E tinha, aliás, essa didática ela era
dada numa disciplina que chamava Educação para a Saúde, dentro da
Educação para a Saúde que a gente dava essa abordagem. E que mais
nessa época? Bom, aí o quarto ano foi em sessenta e seis, sessenta e sete,
sessenta e oito, eu não lembro depois como foi que nós reformulamos esse
quarto ano. Porque na verdade a parte prática, então o que quê aconteceu,
nós não tínhamos dentro da nossa cabeça, dentro de todo o modelo
organizado como era Saúde Pública em São Paulo, como em São Paulo
existia o Centro de Saúde Paula Souza, então nós, nós buscávamos nessa
época um local que os alunos tivessem condição de desenvolver um trabalho 86
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de saúde... de, de, de, de Enfermagem de Saúde Pública mais sistematizado,
e isso não existia aqui, porque Saúde Pública aqui, né, era muito, tinha muito,
tinha muito a desejar. Não existia realmente! Então era mais dentro daquela
história, dentro das campanhas, né?
V.: Não tinha visita domiciliar nesta época?
L.: Aqui não? O trabalho que tinha nessa época era Carmelita que fazia, mas
assim, não tinha, não era, não era, não era um trabalho estruturado do
Serviço de Saúde Pública, não. Era um trabalho e a Carmelita desenvolvia no
Centro de Saúde Tia Amância e lá ela desenvolvia a visita domiciliar, mas
vinculado à escola. Foi uma situação, uma situação criada pra atender as
necessidades do ensino.
V.: Hum!
L.: Não eram atividades já absorvidas pelo sistema, tá? E nós buscávamos,
né, trabalhar já em, buscando mais atividades absorvidas pelo sistema.
Buscando mais a realidade, não criar situações, que era criado somente pela
escola. Isso a gente não queria fazer, isso era claro pra gente. Então, a única
maneira que nós encontramos foi levar os alunos pra Pirapora.
V.: Hum-hum!
L.: Pra fazer estágio de um mês em Pirapora. Então, essa turma que foi a da
Norma [Lúcia de Matos], da Marilda [Silva Pereira]14, da [Maria] Rizoneide
[Negreiros de Araújo]. A Rizoneide foi da segunda turma. Foi. Rizoneide foi da
segunda turma, da Marília [Siqueira Mendes] 15. Aí, nós fomos para Pirapora,
tá? E ficamos acho que um mês em Pirapora. Aí, eu que fui acompanhei as
alunas em Pirapora. Fazendo estágio na Fundação SESP, né? E o curso era
de um ano. Ele funcionava em um horário...
V.: ...tinha muitas alunas?
L.: Eram, não sei se oito alunas.
V.: Essas alunas eram egressas só da nossa escola?
14 Formadas em dezembro de 196615 Formadas em dezembro de 1967
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L.: Só da nossa escola... Espera aí. Eu não sei se tinha alguma de fora nessa
época. Quer dizer, eu acho que era mais da nossa escola, nessa turma. Que
essa turma... que era...
E.: Quem é que financiava isso?
L.: A universidade.
E.: Viagem, estadia lá e tudo?
L.: A universidade.
E.: Tinha algum tipo de bolsa? Para os alunos, não?
L.: Tinha bolsa, a universidade... Eu não sei como, como que era. Bolsa não.
A Carmelita, ela tinha, ela conseguiu... não! A primeira turma cada um pagou.
Eu fui pra universida... pra lá, para o colégio e eu paguei a minha estadia lá.
Ninguém financiou não. O curso lá não. Nós ficamos no colégio de freiras, tá?
Em que ela dava refeição e a gente tinha, tinha um dormitório que dormia todo
mundo nesse [gagueira] os alunos e, e os professores. Inês ficou um período,
depois Inês voltou e eu fiquei. Não! Nós é que pagamos. Agora que eu
lembrei disso. Não teve nada disso não.
E.: Isso no início, só?
L.: No primei... na primeira turma. Tá? E eram quantas alunas? Deixa ver se
eu lembro o nome delas! Olha era a Marilda, a Ana Pio [Valadares], a Norma,
a Maria José Aun, (...). Será que a Silvânia [Del Carrilo]16 era dessa turma? Eu
não lembro se a Silvânia era dessa turma. Silvânia, acho que foi da segunda
turma. Acho que mais umas duas ou três, acho que eram seis. Acho que eram
seis alunas. Não me lembro bem agora.
V.: Esse curso que vocês deram aqui, esse quarto ano, era nos moldes do
que você fez em São Paulo?
L.: Hum-hum! Isso que eu te falei, era o modelo que a gente tinha. Nós
procuramos desenvolver, né? Nós criamos o curso com as mesmas
disciplinas. E inclusive buscando o mesmo conteúdo programático, tá? Nós
tínhamos um conteúdo programático e, e por isso que nós buscamos a, a, a,
pedimos ajuda pra parte de saúde pública no departamento de Medicina 16 Formou-se em 1966
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Preventiva. Depois, já pra segunda turma, também, ele continuou sendo dado
nos mesmos moldes, né? E, era um curso de um ano, no horário da tarde,
porque todo mundo trabalhava no, no, no horário. Então, o curso começava
às quatorze horas. Sendo que nesse período de estágio de um mês era
tempo integral [bate a mão na mesa]. Aí elas tinham que pedir liberação do
serviço pra poder ir pra, pra, pra Fundação SESP. Nós fizemos, nós tivemos
essa experiência na Fundação SESP por dois anos, em Pirapora. A segunda
turma também foi. Depois, a nós passamos, nós fizemos, passamos por mais
uma reestruturação. Ah! Aí foi sessenta e seis e sessenta e sete. Aí em
sessenta e sete nós fomos para Pirapora. Quando foi em sessenta e sete a
escola, a Carmelita era chefe do serviço de enfermagem da Secretaria do
Estado da Saúde. (...) Era Carmelita ou era dona Izaltina [Goulart de
Azevedo]? Eu acho que era... a Carmelita era do estado e a dona Izaltina que
era chefe. Mais quem tinha mais atuação [gagueira] a dona Izaltina tinha mais
um cargo político. Quem tinha mais a, o cargo técnico, quem mais
determinava as diretrizes da enfermagem, era mais a Carmelita. Então, o, o, o
diretor do Hospital Municipal, o atual Odilon Berhens, da prefeitura, né? A
[inaudível] foi pedir ajuda ao estado. Acho que o secretário da saúde naquela
época era o [mesmo] que diretor do, (...) do, do Hospital São Francisco. Como
é que chama, como que é nome daquele pessoal, de lá? Souza Lima!
V.: Souza Lima. Família Souza Lima.
L.: O prefeito era o Souza Lima [bate na mesa]! Era a família Souza Lima que
tava no município, mandando no município nessa época, tá? Então, foi, foram
pedir ajuda ao estado. Então, foi pedir ajuda ao estado e lógico que aí o
secretário da saúde encaminhou para a chefia... para, pra o setor de
enfermagem. E foi nas mãos, caiu nas mãos da Carmelita. Então, o quê que
ele fez: [gagueira] o secretário da saúde colocou cinco enfermeiras do estado
pra poder organizar... à disposição do Hospital Municipal, pra poder organizar
o Hospital Municipal. As enfermeiras do estado que eu lembro era a Ilza
[Domingues e Silva], que era professora aqui da escola, por seis meses, era
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esse período. Era a Ilza, a Carmelita, a Maria José, Maria José da Silva17 e
uma outra... que era, como que ela chamava? Era aqui das Clínicas também.
Esqueci o nome dela agora. Eram essas cinco. Então, elas davam quatro
horas no Hospital Municipal. Aí como o trabalho tava muito lento, eu e, e, e
Inês éramos da escola. Nós trabalhávamos quatro horas na escola. Nosso
contrato precário, quatro horas não, nós tínhamos doze horas semanais,
nosso trabalho, tá? O nosso contrato, era um contrato provisório de doze
horas semanais. Então, porque existia doze horas e vinte horas, mais de...
E.: ...não existia quarenta horas?
L.: Não. Não, tá? Então, aí Carmelita pediu se a gente não podia ir para o
Hospital Municipal para dar uma ajuda, sabe? Então, ficou Inês e eu no
Hospital Municipal. Aí nós entramos em sessenta e sete para o Hospital
Municipal e só saímos de lá em setenta. Só que a nossa ajuda, as
enfermeiras do estado saíram e só ficou Carmelita, Inês e eu. Então, nós
tivemos que reestruturar. Aí o quê que aconteceu, nós pegamos, então, pra
reestruturar o hospital e discutimos com a che... direção do hospital e foi feito
um convênio com a Escola de Enfermagem. Aí é que aparece o convênio da
Escola de Enfermagem com a prefeitura e os alunos entram como bolsistas.
Ta? Então, aí nós tínhamos alunos do primeiro, do segundo e do terceiro ano.
Alunos do primeiro e do segundo... Tinha... tínhamos, nós tínhamos três ti...
três categorias lá. Nós tínhamos alunos, alunos que faziam estágio lá.
V.: Curricular!
L.: Curricular. E tínhamos alunos bolsistas, estagiários, que era fora do seu
lo... fora horário de trabalho.
V.: Consi...
L.: ...eles trabalhavam a tarde e a noite. E quem fazia a supervisão, quem
fazia supervisão no horário da tarde, no horário da manhã era Inês e eu no
horário da tarde. Porque de manhã eu estava na escola. Ou então, quando eu
estava de tarde na escola eu ia de manhã para o hospital.
17Professora da Escola de Enfermagem Hugo Werneck, da PUC MG
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V.: Então esses alunos não tinham essas atividades incorporadas às
atividades da escola?. O currículo da escola?
L.: Os alunos sim.
V.: O segundo? Do segundo?
L.: Não o segundo, não. Eles eram bolsistas...
V.: ...era como uma atividade extracurricular?
L.: Extracurricular.
V.: Acompanhada pela escola?
L.: Pela escola, né?
V.: Que tipo de atividade vocês desenvolviam com ele [gagueira]...
L.: ...de tudo...
V.: ...havia diferenciação... entre os, os bolsistas...
L.: ...havia...
V.: ...e os... os alunos?
L.: Havia, havia.
V.: Como?
L.: Havia diferenciação no seguinte: os alunos no primeiro momento, porque
ele primeiro só passava a ser bolsista depois que ele já tinha passado por
aquele estágio. Depois que ele passou no estágio de Enfermagem Médica, aí
ele seria, poderia ser bolsista, atuando na Enfermagem Médica. Entendeu?
V.: Hum-hum.
L.: A gente fa... fazia assim, eles tinham que ter experiência pra depois ele
passar como, pra ele ser bol... pra ele ser estagiário.
V.: Hum-hum.
L.: E, a diferença era o seguinte: que os alunos enquanto alunos, eles
estavam lá, eles tinham supervisão direta dos professores da escola. Que
tinham três professores que estavam lá, era dona Daura [Pacheco Ribeiro],
dois professores, era a dona Daura e a Marilda, tá? E, e depois [gagueira] nos
outros horários que era os estagiários, então, nós tínhamos estagiários do
primeiro ano, não sei, do primeiro ano, do segundo e do terceiro. Os do
primeiro ano era pela escala de pessoal, eles tinham uma escala diferenciada. 91
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Então, eles tinham aqueles do primeiro ano que desenvolvia mais era cuidado
direto com o paciente, unidade, unidade, cuidar da unidade do paciente, ir pra
farmácia, sabe? Pegar medicamento e essas atividades mais, que, que ele
tinha condições de desenvolver.
V.: E não tinham supervisão direta?
L.: Tinha, a supervisão era, era supervisor do setor. Ele era vinculado a
supervisor do setor. E, muitas vezes, e... Ah! Outra coisa e com ele tinha
aluno, a gente fazia da seguinte maneira, tinha aluno do primeiro ano no
setor, do segundo e do terceiro.
V.: No mesmo setor?
L.: No mesmo setor [riso]. Entendeu?
V.: Então um complementava...
L.: ...é...
V.: ...de uma certa forma?
L.: É.
V.: Orientava o outro...?
L.: É, é. Orientava...e, e a gente ficava, porque nós éramos só duas
enfermeira, era Inês e eu. E a gente fazia supervisão do hospital todo num
horário, então isso...
V.: ...tinha algum funcionário além dos alunos?
L.: Ah não! Além dis... claro que todo processo de organização, e tinha outros
funcionários que a prefeitura só tinha uma enfermeira, o pessoal todinho, na
época que nós entramos, o pessoal que tinha uma série problemas, tudo
mais, foi colocado a disposição, né? O pessoal mais antigo foi colocado para
o ambulatório. E a gente tin... nós ficamos com pouquíssimo, mais na
maternidade, que eram as, as, as parteiras. E nós buscamos a contratar
auxiliar de enfermagem. Aí a prefeitura parece que abriu concurso pra auxiliar
de enfermagem, sabe? Na prefeitura. E depois, aí como, aí a escola
conseguiu manter sessenta e sete, sessenta e oito, sessenta e nove,
sessenta e nove a escola conseguiu ainda manter o convênio. Aí tava
[barulho de sirene] dando, tava tendo uma série de problemas ligados à 92
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prefeitura, que Carmelita é que tem melhores condições pra informar. Porque
quem gerenciava esse convênio, era um convênio com a Escola de
Enfermagem que o dinheiro era passado para a Escola de Enfermagem pra
conta da Escola de Enfermagem, que na época é, é dona Izaltina que era
diretora. E...
V.: ...que dinheiro?
L.: Do convênio.
V.: Ah, a prefeitura pagava a escola um dinheiro?
L.: Porque a prefei... pagava.
V.: E além disso...
L.: ...a, a escola que pagava os alunos.
V.: Ah, sim.
L.: Você entendeu? Porque... [tosse]
V.: ...uma parte pagava para os alunos e uma retia, retia uma parte pra ela?
L.: Isso eu não sei. Isso eu não sei porque tin... existia o convênio [pigarro], e,
porque quem tem condições de responder por isso são os órgãos da
universidade. Que era um convênio legal. Entendeu? É...
V.: ...vocês professores tinham um salário diferenciado porque estavam lá?
L.: Não. Aí, aí, não, [gagueira] nesse caso, não. Diferenciado, não.
E.: Vocês tinham antes um, um contrato precário... de doze horas.
L.: ...nós tínhamos... doze horas.
E.: Ao entrar lá... mudou esse contrato?
L.: [pigarro]Não. O contrato precário de doze horas manteve da mesma forma.
O que acontecia, porque no caso da Inês e o meu caso, aí nós tínhamos pelo
convênio duas bolsas. Nós recebíamos duas bolsas.
E.: Ah!
V.: Complementar ao salário?
L.: É. Pra poder... não, não era complementar ao salário era pra pode atuar lá.
Porque eu tinha, nós tínhamos doze horas pra estar na escola. Porque nós
cumpríamos nosso horário na escola.
E.: E mais...93
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L.: ...e mais o de lá...
V.: ...e mais o de lá.
E.: Ah, tá!
L.: Entendeu? Então, nós tínhamos duas bolsas, tá. Que, que era, quem
pagávamos, quem, quem pagava esse, esse, era feito o pagamento aqui na
secretaria da escola. Era dona Nilza [Andrade Ribeiro] que fazia o pagamento.
Ela tinha a folha de pagamento. Então, a escola que recebia e dona Nilza que
fazia a folha de pagamento. Tá?
E.: Antes de, da gente prosseguir um pouco mais nessa história do, do
convênio eu queria saber o seguinte: quem fazia o terceiro ano podia exercer
a profissão?
L.: Não.
E.: Quer dizer, que tinha necessariamente que fazer até quarto ano? E como
é que fazia antes quando não existia quarto ano?
L.: Ah! Não, claro. Podia, é.
V.: Quem [não] fazia o quarto podia exercer a profissão?
E.: Não. Quem fazia até o terceiro.
L.: Po... podia claro é o...
E.: Podia exercer?
L.: Podia.
E.: O quarto era opcional?
L.: É, é gra... gra... graduação, mas ele graduava no terceiro ano.
E.: Ah, tá! O quarto era opcional?
L.: É.
E.: Não era uma especialização?
L.: Não! É graduação também.
E.: Era graduação.
L.: Era.
E.: É mais ou menos parecido com o que veio posteriormente?
L.: É a mesma coisa. Não é nem parecido é a mesma coisa.
E.: É a mesma coisa né? Tá? É, é, é [risos] uma outra coisa...94
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L.: ...ele só foi regulamentado. Ele foi mais clareado eu acho. Mas não tinha
diferença, não.
E.: Ah! E uma outra coisa, você que tinha uma experiência pelo menos em
São Paulo de Saúde Pública, aí quando você entrou no Hospital Municipal,
como que era isso dessa, dessa transição, ou desse tramitar da, da, da saúde
pública pra assistência hospitalar, como é que se dava isso?
L.: Olha, a coisa mais interessante, porque [gagueira] nós não tivemos muita
dificuldade não. Porque na verdade a formação básica nossa dos três anos
era pra, era da área hospitalar. O currículo da escola todo voltado pra área
hospitalar, né?
E.: [inaudível]
L.: É [riso]. Então foi só o quarto ano, entendeu? Que era de saúde pública.
Quer dizer, justamente aque... aquela [barulho de copo de plástico] parte que
não tinha pelo currículo que não tinha, que é, que né? Que a saúde pública
que não tinha no currículo que nós fomos...
E.: Quer dizer...
L.: ...buscar em São Paulo...
E.: ....que quando você entrou na escola, você não tinha nenhuma experiência
exceto curricular, tanto na área hospitalar como na saúde pública?
L.: Não.
E.:Ahn-ahn.
L.: So... somente curricular.
E.: Tá. Quer dizer, você saiu da escola vamos dizer, e entrou como
professora?
L.: Foi.
V.: Primeiro emprego.
L.: Meu, meu primeiro emprego.
V.: E na, e na Escola de Auxiliar de Enfermagem, do Sara Kubitschek... você
chegou a ficar algum tempo?
L.: Fiquei. Eu fiquei um ano lá.
V.: Concomitante?95
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L.: Con... aqui na escola, [gagueira] no período de sessenta e seis.
V.: Ah, antes de entrar na, no...
L.: ...no Municipal...
V.: ...no Odilon Berhens.
L.: É, tá. Eu fiquei lá, tá? Fiquei, porque aí eu tinha um horário de manhã, eu
tinha um horário que era lá e o horário da tarde, o curso era a tarde aqui, o
curso da escola. Era de quatro às seis.
V.: Hum-hum.
L.: Ah! [estala a língua] De que quatorze às dezoito.
V.: Hum-hum. E como é que acabou essa, esse convênio com a, com o
Odilon?
L.: Espere, pois é, [gagueira] essa história foi o seguinte: aí parece que a
escola, eu não lembro das datas, quando é que foi, esse convênio durante
dois anos ou... Aí o quê que aconteceu criou-se uma necessidade de, de
contratar pessoal para o hospital, porque o hospital foi aumen... quer dizer, foi
aumentando, nós abrimos, estava muito fechado, nós abrimos mais
enfermarias, houve uma reforma toda dentro do hospital. Foi reformulado todo
o bloco cirúrgico, então aumentou o número de cirurgia. Então houve a
necessidade de, de aumentar o contingente de enfermagem. E a escola não
tinha jeito de suprir essas necessidades. Aí discutiu, foi discutido na direção
do hospital em buscar uma forma, e o, e ao mesmo tempo a prefeitura não
podia contratar, porque ela não tinha, pelos quadros da prefeitura não era
possível, não tinha, pelos quadros da prefeitura era impossi... não tinha
cargos, entendeu? Era isso. Porque as pessoas que existiam estavam nos
postos de saúde, que eles já tinham colocado à disposição, nos postos de
saúde, estavam com todos os cargos ocupados e da seguinte maneira: tinha
os, os cargos de enfermeira que existiam estavam, estavam ocupados por
pessoal atendente, que entrou no cargo de enfermeira e recebia como
enfermeira. Era uma confusão. Os, os cargos de auxiliar de enfermagem
estavam ocupados pelo pessoal atendente que não eram auxiliar de
enfermagem. Então, [gagueira] o quadro era muito confuso. E não, e não 96
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tinha uma, uma solução pra isso. Aí a melhor maneira foi de encontrar o
caminho de verificar a possibilidade de abrir uma firma, uma prestação de
ser... de terceirizar, na verdade [riso]. Entendeu? E, então o quê que
aconteceu na, nas discussões surgiu, discutiu-se essa oportunidade e teve
uma enfermeira que era enfermeira do INAMPS, ela tin... eu não sei, eu não
lembro, eu acho que ela tinha, ela foi do grupo, ela era do INAMPS, ela era do
estado também. E ela foi, agora que eu lembrei, ela foi do grupo das cinco
que foi para o estado, que foi para o Hospital Municipal e que num, num, não
permaneceu lá, só ficou os seis meses. Então, diante disso ela abriu uma
firma que chamava SEND, serviço de enfermagem, tá? Ela abriu uma firma e
essa firma, ela fez um convênio com a prefeitura. Ela fez uma convênio com a
prefeitura de, de, ela recebia um dinheiro x, dentro do convênio ela tinha um
dinheiro x e que ela tinha que contratar tantos auxiliares, tantos enfermeiros
para o Hospital Municipal, tá? Agora era uma firma legal, como todos os, os
direitos trabalhistas, tudo ok, tudo legalizado. Aí, então, o quê que aconteceu:
nós passamos para essa firma, tá? Aí teve, [gagueira] teve possibilidade de
colocar mais enfermeiros dentro do hospital, aí aquelas enfermeiras, as
alunas do terceiro ano já passaram pra, para o SEND já como enfermeiras e
passaram a ser supervisoras do hospital. Então, quando nós saímos do, fo...
foram várias turmas que passaram pelo Hospital Municipal, quando no... eu
saí de lá em setenta, o hospital ainda continuou e depois quando foi, passou a
prefeitura, a beneficência assumiu, depois teve condições de assumir toda a
estru... toda a parte de enfermagem do hospital, aí a beneficência já contratou
enfermeiras e eram as próprias ex-alunas que tinham passado por lá. E a
primeira chefe de lá eu não sei se foi a, foi a, foi a Iracema, Iracema Mamede,
depois foi a Giga, a, a, a Maria Girlene Martins, tá? Então, teve, teve uma...
V.: ...Francisca!...
L.: ...sabe, teve uma história. Qual Francisca? A Chica?
E.: V.: Eronildes?
L.: Não.
E.: Foi não?97
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V.: Elas não...
L.: [inaudível]
V.: ...chegaram a trabalhar lá com...
L.: ...não...
V.: ... nessa parte da administração, quando a administração tomava... conta
do hospital?
L.: Bem, bem depois, bem depois disso.
V.: Ah, sei!
L.: A história da Francisca, da Francis lá e bem mais tarde. Que ela veio pra
cá, ela veio pra, ela era da Bahia e veio pra cá bem mais tarde, sabe?
V.: Hum-hum! Bom, voltando...
L.: Agora nessa, bom, bom, bom, nessa parte aí, né? Ah! Porque que eu
entrei nessa história toda [gagueira] era justamente por isso, [gagueira] aí foi
diversificado o curso nosso. Antes ele estava voltado somente para
Enfermagem de Saúde Pública, aí o quê que aconteceu, diante de... dos
alunos, aí nós tínhamos mais alunos...
E.: ...quer dizer, isso significa que só tinha o quarto ano de Saúde Pública?
L.: De Saúde Pública, tá?
E.: Não tinha, não tinha quarto ano de outra...
L.: ...de Enfermagem Obstétrica, não.
E.: Tá.
L.: Era, a Noemi veio pra cá pra poder, pra poder [tosse], pra poder acontecer
e, aí é outra história. Essa história eu num, não tenho, é outra vertente, eu
não tenho...
V.: ...pra obstetrícia...
L.: ...é...
V.: você não sabe essa história.
L.: Eu não tenho... eu sei mas é muito pouco, então, num, não convém, né?
V.: Hum-hum, ahn.
L.: Aí, quê que aconteceu, a... aí, aí nós, nós estruturamos o curso diferente.
Aí nós passamos de acordo com as necessidades dos alunos. Eram as, as 98
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turmas já eram de trinta, trinta e cinco alunos, né? Então, nós, nós
estruturamos o curso diferente. Ape... ele tinha uma parte básica de
Enfermagem de Saúde Pública, o curso. Além de uma parte básica ele tinha
uma parte específica, que era de acordo com a, a, a experiência do aluno,
aquilo que ele optava. Aí a gente, gente pegou três ou quatro áreas, aí nós
pegamos Enfermagem em Saúde Pública, Enfermagem Psiquiátrica, (...) qual
é a outra área que tinha? Eu acho que é Médico-cirúrgico. Era. Foram três
áreas.
V.: Isso tudo antes da 04?
L.: É. Eu não lembro se antes da 04 ou se já foi depois da 04.
V.: Setenta e dois?
L.: Já foi depois da 04.
V.: É porque em setenta e dois houve uma nova reforma do ensino onde
foram criadas as habilitações.
L.: É tem razão. Mas aí, aqui as habilitações foram criadas aqui foi só em
setenta...
E.: ...[inaudível] setenta e dois...
L.: ...e só em setenta e cinco.
E.: ...é [inaudível]
L.: Pela [inaudível] de setenta e seis. Então na verdade continuou um pouco
[gagueira] nós, nós mexemos na estrutura interna do curso. O aluno recebia,
ele era graduado em Enfermagem de Saúde Pública, ele tinha uma parte
básica na Enfermagem em Saúde Pública, mas o estágio dele é que era
especializado. Então, aquele que fizesse opção por Psiquiatria ele ia fazer
estágio em Psiquiatria. Então, aí tinha a Terezinha Cardoso, além da
Terezinha Cardoso quem era a outra professora da psiquiatria, também.
Então, eles tinham, eles faziam estágio em Psiquiatria no [Hospital Espírita]
André Luiz, em, em outros lugares. Nos, nos, nos estágios da escola, tá?
Silvéria, não a Silvéria foi das que optou, foi aluna e optou por psiquiatria...
[FINAL FITA 3 LADO A]99
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FITA 3, LADO B
L.: ...tá? [barulho do gravador em contato com a mesa] [tosse] no grupo, aí é
uma outra história. Tinha um grupo da emergência, que aí tinha o [Hospital
de] Pronto Socorro e nós tínhamos os colaboradores do Pronto Socorro,
vários, por exemplo, [médico] o Evilázio Teubner Ferreira dava aula aqui na
escola, o [médico] Célio de Castro dava aula aqui na escola, pra, para o
quarto ano, era o quarto ano mas para o grupo que tinha feito a opção
[gagueira] pra Médico-Cirúrgica. É a mesma história, o grupo que tinha ficado
com Enfermagem de Saúde Pública eram os mesmos professores do
Departamento de Medicina Preventiva e mais a parte da enfermagem, que a
gente dava. E a parte pra Enfermagem em Saúde Pública nós fomos dois
anos para o Rio de Janeiro pra, pra Escola Nacional de Saúde Pública, para o
Centro de Saúde lá de Manguinhos, tá? E é muito interessante essa
passagem porque, aí foi a mesma história: a escola tinha que providenciar
local para os alunos ficarem, eu não sei como a escola... aí escola financiava
o local e a primeira vez, como é que foi a história? A primeira vez as, os
alunos ficaram na Escola de Enfermagem Anna Nery, tá? E eu também fiquei
na Escola de Enfermagem Anna Nery. Mas a minha...
E.: ...porque a saída pra lá?
V.: ...estágio?
L.: ...pra buscar estágio, buscar uma Saúde Pública mais organizada,
entendeu? Um mês de estágio lá. Então elas passaram, aí o estágio eu, eu
lembro que foi eu que fui, aí a mesma história foi eu que financiei toda a
minha ida, também. Passagem, hospedagem, tá? Comida, tudo era por minha
conta e... mais eu só ia, eu só fui no início fiquei uma semana lá, menos de
uma semana, só mesmo pra discutir, porque quem ia acompanhar o estágio
era a enfermeira da, do, do, do Centro de Saúde, tá? Só pra passar todo, dar
toda orientação pra ela. E depois na avaliação, tá?
V.: As alunas ficavam no mesmo local que vocês?
L.: No mesmo local.100
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V.: E, e aí você como professora, era com as alunas, tinha uma
convivência...?
L.: Tinha. Normal.
V.: Sem aquela, aquela...?
L.: Não, sem burocracia nenhuma. Eu, eu dormia no quarto de aluna.
V.: Sem aquela [inaudível]...
L.: ...não...
V.: ...que tinha quando aluna.
L.: Quando, quando eu cheguei que eu fui pra Anna Nery; aí eu fui descobrir
aonde é que eu ia ficar. Aí tinha um quarto, eles me deram uma vaga que era
uma pessoa da pós-graduação. Então, a, a pessoa que me recebeu falou que
ia me colocar com uma aluna da pós-graduação porque achava por bem não
ficar, eu ficar com os alunos. Só que quando eu entrei no quarto, eu voltei e
falei pra ela que ela estava enganada que eu preferia ficar com os alunos do
que ficar com uma pessoa que eu não conhecia, porque o quarto não tinha
condições. Melhor desligar. [risos]
V.: Stop. [risos]
[INTERRUPÇÃO DA FITA]V.: Bom, aí você... preferiu ficar com as alunas?
L.: ...aí...Aí ficamos com as alunas. Eu fiquei no quarto com uma aluna, sabe?
Foi até com a Marisa , Marisa Minas Montes, tá?
V.: Nesse período...
L.: ...e era muito interessante agora você con... é muito interessante porque
quando você for entrevistar alguém que passou por esta experiência, elas têm
muita coisa interessante que elas vivenciaram lá, dentro também de um
internato, né?
V.: Porque você não entrava...
L.: ...dentro do esquema de internato...
V.: ...em contato com as outras internas?
101
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L.: Não, porque eu fiquei pouco tempo. Eu fiquei lá, lá eu devo ter ficado lá
uma semana, nem isso.
V.: Ah, só pra introduzir as alunas?
L.: É.
V.: Depois você voltou?
L.: É. E elas que ficaram um mês, né? Então elas têm, devem ter casos muito
interessantes, [riso] sabe? Da história de lá. Bom, que mais que... quê que
foi? Tá.
V.: Continuar com a questão... do curso, né?
L.: ... aí foi a questão... do curso, né? Foi a, a, a, a, essa, essa opção, né? E
aí ele foi, ele foi dessa maneira, aí que veio a reforma, né? Veio a Reforma
Universitária, [em 1968] nessa época de sessenta e sete eu já tinha[gagueira]
ia começar em sessenta e sete?
V.: Meia oito.
L.: Sessenta e oito, é. Sessenta e oito, aí o curso manteve. Ah, é, o curso
manteve, aí foi, não aí a reforma foi da minha escola. Toda a reforma, né.
Toda a reestruturação da escola.
V.: Como que você se lembra dessa...
L.: ...é, a criação de departamentos.
V.: Como é que era antes da, da reforma universitária? O quê que mudou com
a reforma universitária da estrutura organizacional da escola?
L.: Da estrutura organizacional da escola foi na época, foi, começou, foi a
onde, quem era diretora era dona Izaltina... aí quando eu entrei pra escola
quem era diretora era a irmã Maria Carmem [Teixeira], aí a escola já era
outra, né? A irmã Emília já não estava mais aqui. E depois da irmã Maria
Carmem, quando eu estava, aí [gagueira] aí foi trabalhar no processo de
desanexação.
V.: Isso.
L.: Né? Dentro do processo de desanexação, que foi a Carmelita que
trabalhou arduamente, a Izaltina como sempre comandando a parte política,
também. E eles tiveram vários aliados, primeiro elas trabalharam junto à 102
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universidade. Porque elas tinham trabalhado junto à universidade, tinha uma
pessoa da universidade que dava assessoria pra elas, eu não lembro mais o
nome. Carmelita tem, deve ter essas informações, né? E, e...
V.: ...e os contra?
L.: Os contra devia ser de lá da, os contra...
V.: ...você não conhecia?
L.: ...os contra da medicina. Não, não os contra...
V.: ... não entrava nesse...
L.: ...não. Os contra era, os contra era de gestão da medicina, né? Aí era toda
a congregação dos contras. Então, tinha que trabalhar era junto à
universidade, tinha que trabalhar todo mundo. E da medicina tinha gente a
favor. Por exemplo, aqueles professores que eram daqui, os nossos aliados,
que eram da medicina preventiva eram todos a favor. Professor Pinto
Machado, né? Então tinha gente na universidade que dava esse apoio. Aí
essa história realmente mais de perto eu, eu num, num, não tenho informação
dela porque na verdade no, nem na, na, na, no, no ato de desanexação eu
não participei. Porque nessa época eu estava com a segunda turma em
Pirapora, e eu fui pra Pirapora para Carmelita poder vir pra cá pra poder
participar do, do ato de, de desanexação, sabe?
V.: É, [gagueira] nessas, nessas discussões políticas, digamos assim, os
professores não tinham muita participação era só, era só a direção?
L.: Porque na verdade essas, na verdade a escola não tinha nada. Os, os
professores tinham uma representação junto à medicina, porque a escola era
anexada à medicina. Então ela pertencia a, a, a Congregação da Medicina. E
só tinha assento à Congregação da Medicina, me parece, que era só a
diretora da escola.
V.: Hum! Era só uma pessoa?
L.: Então... Era só uma pessoa. Então, tudo era visto, trazia pra cá, mas sobre
os olhos da direção da escola.
E.: Hum-hum.
V.: Hum-hum.103
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L.: Entendeu? E que, muitas vezes, ela não nem era convidada à participar.
Ela era figurativa, ela não era nem convidada pra participar da Congregação,
tá? Aí, aí vem a desanexação, aí vem a desanexação e vem a reestruturação
da escola, né? Aí vem a discussão de, de criar os departamentos, aí vem a
história todinha como seriam os departamentos, a necessidade de se criar
esses dois depar... três departamentos, que discutia muito a questão de criar
dois departamentos e tinha uma disputa muito grande. Mas, aí no final
realmente foi criados dois departamentos, que foi na época que era o DEB
[Departamento de Enfermagem Básica]e o DEA, né?
V.: Hum-hum!
L.: Então... e com, com isso também veio a, a, a...
E.: ...era assim que chamava o Departamento de Enfermagem Aplicada?
L.: Era, era o DEA. Depois bem mais tarde que criou o DEMISP
[Departamento Materno-Infantil e Saúde Pública], né? Aí depois que criou, aí,
dentro do, do, do DEA as disciplinas... bom até essa data eu era ainda
[professor] colaborador.
V.: Hum-hum!
L.: Né? Eu era colaborador. Então eu fiquei de sessenta e seis a sessenta e
oito enquanto colaborador, com as doze horas semanais. Trabalhava vinte e
quatro, né?
V.: Sim.
L.: Duas horas semanais. Depois de... aí foi que veio o contrato precário, pra
vinte horas semanais. Aí veio esse contrato precário que aí nós passamos a,
foi, aí foi, e esse contrato precário foi na, na gestão da dona Izaltina. Que aí
já, já foram outras professoras contratadas. Aí já foi a Rizoneide, foi a Marília,
né, foi Marília, foram outros professores.
V.: Dona Rosa [Lima Moreira] ainda era desse tempo? Quer dizer, você se
lembra de dona Rosa...
L.: ...até...
V.: ...por exemplo, no Odilon Berhens? Ela ia pra lá na época?
L.: Não, não.104
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V.: Não.
L.: Não, não, não. Odilon Berhens só quem ia, Odilon Berhens enquanto
professor era a dona Daura, dona Rosa tinha aposentado, era dona Daura,
Marilda que já era professora da escola. Marilda ia, acompanhando aluno... e
só.
V.: Hum-hum! Com a, a, a reforma universitária ou com a desanexação você
se lembra da primeira diretora da, da eleição da Carmelita ou da indicação da
Carmelita como primeira professora leiga?
L.: Lembro, lembro sim.
V.: Água?
L.: Não, não. Lembro sim, lembro porque nós, inclusive, nós participamos
muito do lado de fora, com muita ansiedade pra ver, né? Houve uma
indicação da Carmelita, como é que foi a história? Houve uma indicação da
Carmelita, até mesmo porque ela assumiu a diretoria, não foi? Ela assumiu os
trabalhos, porque ela estava conduzindo os trabalhos. Então, ela ficou
respondendo até haver uma, uma, uma eleição. E a eleição, não era uma
eleição, era uma indicação do reitor, não era eleição, né? Era indicação do
reitor. Aí na indicação do reitor eu fiquei sabendo por fontes limpas que foi a
Carmelita que foi indicada, mas dona Izaltina é que queria ser indicada, sabe?
E tal, tamanho foi a decepção de dona Izaltina, que Carmelita não aceitou e
falou que quem devia ser era Izaltina. E a Izaltina assumiu, tá? Mas a indicada
pelo reitor...
V.: ...seria a Carmelita.
L.: ...seria a Carmelita. Pela condição dos trabalhos, sabe? E depois, foi, foi
esse o mandato da Izaltina, né?
V.: É. E você se lembra da, da retomada da construção da escola? Porque foi
logo depois, né, sessenta e oito, é que se, com a desanexação que houve
possibilidade de retomar a construção da escola.
L.: Foi muito lenta, né? Foi muito lenta, a reconstrução da escola. Foi muito
lenta e, e, e me parece que tinha um fator também que ajudou que foi a vinda
do ICB (Instituto de Ciências Biológicas). Então eles tiveram que terminar o 105
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quarto, aliás, o quinto e o sexto andares, porque os, os, os laboratórios todos
do ICB funcionavam lá em cima.
E.: É, vieram pra cá.
L.: É.
V.: Oh, oh, Luzia só um pouco antes, na eleição da Carmelita, é com a
eleição, com a indicação e eleição da Carmelita, é a primeira e a, depois a
dona Izaltina conti... continuando as freiras saíram, você se lembra dessa
saída das freiras da escola e do Hospital das Clínicas? Tem alguma notícia?
Porque saíram? Como foi essa saída?
L.: (...) Já tava, já tinha, parece que um acordo, né, uma vez com a reforma
universitária as, as, as freiras não ficariam mais. Inclusive eu tenho impressão
que, num, num não tinha nem, nem perfil realmente pra poder assumir.
Porque foi com dificuldade que eles conseguiram a irmã Maria Carmem pra
assumir o período aqui. E ela veio somente pra ficar nessa parte de transição
realmente. Eu acho que já tinha uma definição da congregação, que a
congregação não assumiria mais a, a, a, a Escola de Enfermagem Carlos
Chagas.
V.: E ou todas as escolas como um todo?
L.: Eu... isso eu não sei. Porque ela tinha, ela já tinha, ela, ela manteve, ou
mantém até hoje uma escola a, a, a, a Luiza de Marilac, né?
V.: Hum-hum!
L.: No Rio[de Janeiro].
V.: É.
L.: É, sabe? E mesmo aqui a atuação delas, também, no Hospital das Clínicas
também já era um número bem reduzido, também. Acho que elas não tinham
contingente pra poder assumir isso não, né? (...)
V.: Em sessenta e oito teve também o, a extinção do internato. Você se
lembra desse período? Pra onde foram as alunas? Como é que foi a reação
das alunas, por não ter mais internato?
106
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L.: (...) Não eu não lembro [gagueira] já estava definido, também, porque
internato só, entendeu? Ele só terminaria com... foi tudo isso decorrente da
própria reforma universitária.
V.: Hum-hum!
L.: Né? Eu num lembro, eu não lembro se teve reação, não. (...) Nesse
período eu estava no Hospital Municipal. Na verdade a gente ficava vinte e
quatro horas no Hospital Municipal [riso]. Então, a gente ficava longe, muito
longe das questões aqui da escola, sabe? A gente ia direto pra lá, para o
campo, então...
V.: Nós temos um registro aqui também, ainda em sessenta e seis, da, de
dois rapazes, né, que tentaram entrar na escola e não conseguiram e aí
entraram com mandato de segurança. Você se lembra desse fato?
L.: (...) Parece que eu lembro, que teve qualquer coisa assim, dizendo que
tentaram entrar enquanto aluno, né?
V.: Sim!
L.: É, mas...
V.: ...na seleção.
L.: (...) Se eles não foram aprovados na seleção. Eu acho que teve uma
história que eles não foram aprovados, por isso que eles não entraram.
V.: E você se lembra de quando teve o, o primeiro aluno ou os primeiros
alunos aqui na escola? (...) Seu Henrique [Augusto de Melo] foi o primeiro que
se formou [em dezembro de 1966], mas não sei se teve alguém que entrou
antes dele.
L.: Eu não lembro se teve gente antes dele.
V.: Você não se lembra de aluno...
L.: ...não!
V.: Masculino?
L.: Não!
L.: De sexo masculino?
L.: Não! Porque desde, desde que [gagueira] eu entrei na escola eu já fui pa...
pegar aluno de quarto ano. Então eu não tinha muita... ligação...107
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V.: ...quando que você teve alunos você não lembra??...
E.: O primeiro aluno homem?
L.: Aluno homem! Será que foi o... foram dois, né, na época que eu tive. Foi
o... [estalo de língua] aquele que foi pra Pira... pra, pra, pra Barreiras?
E.: Joaquim!
L.: Foi o Joaquim (...) o Irineu também. Acho que o Irineu também fez.
E.: Também fez. O Irineu foi anterior.
L.: Foi! Do Joaquim. Foram, eram os dois...
E.: ...o Irineu formou aqui?
L.: Formou.
E.: Ah, tá!
L.: O Irineu da medicina, formou aqui. Seu Henrique também era da medi...
seu Henrique era do DA.
V.: Seu Henrique foi o primeiro que a gente tem registro.
L.: É. É. Tá? O Irineu, o, o, o Joaquim, né?
V.: Um tal de Antônio Ávila, parece não?
L.: Não. Antônio Ávila! Eu chegou a for... ele entrou?
V.: Não, eles entraram com mandato de segurança. O Joaquim entrou e
formou, mais tarde né?
E.: Bem mais tarde.
V.: Setenta e cinco que o Antô...
E.: ...o Joaquim...
L.: ...o Joaquim, o Joaquim
E.: ...formou em setenta e cinco...
L.: ...mas o Joaquim foi, o Joaquim foi quase jubilado, não foi não?
E.: Foi. Ele entrou parece, a história que eu sei, que ele entrou com vários
mandatos de segurança, não sei porquê motivos. Ele formou na minha turma.
L.: Foi.
E.: Em setenta... em julho de setenta e cinco.
L.: O, a, a dificuldade, era dificuldade mesmo de... ele tinha muita dificuldade.
E.: É, mas eu sabia que [inaudível]...108
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L.: ...dificuldade de estudo...
V.: ...dificuldade intelectual ou dificuldade de...
L.: ...intelectual...
V.: ...da escola, por ser homem?
L.: Não, intelectual mesmo.
E.: Eu sei que ele entrou com alguns mandatos...
L.: ...eu sei que ele foi aluno...
E.: ...mas não sei quais foram e os motivos.
L.: É de dificuldade intelectual mesmo, né? Você lembra, né? Mas era muito
mesmo. [riso]
V.: Luzia, na época de sessenta e seis teve um roubo aqui na escola, você
teve notícia?
L.: Teve o quê?
V.: Um roubo. A escola foi arrombada, ou tentativa de assalto...?
L.: Sessenta e seis?
V.: É. Não... passou desapercebido?
L.: (...) Não, não lembro.
V.: De participação de alunos em congresso brasileiro de enfermagem, você
tema alguma informação nesse período? [barulho de telefone tocando e vozes
gritando no fundo]
L.: (...) Não, eles participavam, uai!
V.: Nada assim de especial que você se lembre?
L.: Não. (...)
V.: Da construção da escola alguma coisa em especial?
L.: (...) Da construção da escola?
V.: É. Da luta pela construção, da...
L.: ...é aquela história tem, estou conseguindo verba. Um processo
burocrático normal, né, igual o de todos.
V.: Hum-hum.
L.: Nada de...
109
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V.: Depois de setenta aí você falou da sua atividade enquanto docente até
setenta...
L.: ...agora a escola perdeu muito, né?
V.: Com quê?
L.: A escola perdeu, ela perdeu, perdeu espaço daqui de trás, o lote daqui de
trás. Ela perdeu muita coisa.
V.: A espa... área física?
L.: Área física.
V.: Pra onde que foi, o quê que aconteceu com essa, com esse espaço que é
agora o Hemominas?
L.: Ele foi negociado... ele era da, da universidade, da medicina, né? Da
medicina e eles iam fazer o ambulatório aqui da medicina, depois eu não sei
como que foi a negociação da universidade com o estado, como é que ficou,
sabe?
V.: E a...
L.: Pode ser até que te... eu não sei, pode ser que tenha alguma negociação
em relação ao [Ambulatório] Bias [Fortes], sabe?
E.: Porque o Bias não é da, da, da...
L.: ...o Bias era do estado.
E.: Ah! Tá!
L.: Era da Secretária da Saúde.
E.: Hum-hum. Mais alguma coisa que você esteja lembrando...?
L.: Sobre o quê?
V.: De sessenta até esse, essa...
E.: ...não esse período seu enquanto professora, até sessenta e oito.
L.: Ah, teria que estruturar... podia parar um pouquinho?
[INTERRUPÇÃO DA FITA]
V.: Então voltando, a sua experiência de docente nesse período até sessenta
e oito...?110
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L.: Ahn-ahn!
V.: Odilon Berhens, Escola de Enfermagem?
L.: Tá. Então, den... aquilo que tinha colocado, que eu coloquei anteriormente:
te... no momento do curso de, de, de, de Enfermagem em Saúde Pública, do
quarto ano, né, em que nós tínhamos o curso e que ele durante dois anos os
alunos faziam estágio, todos os alunos faziam estágio em Enfermagem em
Saúde Pública. Depois nós já reformulamos esse curso. E, esses alunos e eu
continuávamos trabalhando no Odilon Berhens, num horário, né, pela escola
num horário, no horário da manhã e à tarde o, o curso funcionava no horário
da tarde. E na tarde eu continuava com as minhas atividades docentes, né?
Enquanto, na Enfermagem em Saúde Pública, agora como as turmas eram
maiores, eram turmas, como eu havia falado anteriormente, que eram turmas
de, de trinta alunos, vinte e oito, trinta alunos, eles faziam uma opção. Então,
a gente tinha três ou quatro áreas de Enfermagem em Saúde Pública,
Enfermagem Psiquiátrica, Médico-Cirúrgica. Então a Médico-Cirúrgica ia para
o Odilon Berhens. A Enfermagem Psiquiátrica ia para os hospitais
psiquiátricos do, do estado. E Enfermagem em Saúde Pública que nós
passamos então, [gagueira] tinha grupos reduzidos, então esse, e a gente
concentrava essa enfermagem em Saúde Pública em um estágio de um mês,
então nós fomos duas vezes para o Rio de Janeiro.
V.: São Paulo também?
L.: São Paulo não chegamos a ir não. Foi para o Rio de Janeiro, tá. Então,
desse aí, desse aí deve ter dado dois, quatro anos. Sessenta e seis, setenta
mais ou menos a gente estava por volta de setenta. Então, o estágio se dava
dessa maneira. Já depois, depois de nós irmos dois anos para o Rio de
Janeiro nós passamos a fazer os estágios de Enfermagem de Saúde Pública
no Centro de Saúde de Belo Horizonte. E interessante que esses alunos eles
faziam o curso a tarde e de manhã eles eram estagiários do, eles eram
bolsistas do Hospital Odilon Berhens.
V.: Enquanto estágio extracurricular.
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L.: Extracurricular. Mas na verdade eles já eram até enfermeiros porque eles
estavam fazendo o quarto ano.
V.: Ah, sim!
E.: Ahn-ahn.
L.: Então eles eram enfermeiros já, aquilo que você me perguntado antes, se
eles trabalhavam enquanto enfermeiros, sim porque eles já eram graduados
em Enfermagem, em Enfermagem Geral.
V.: Semelhante à experiência da habilitação posteriormente?
L.: Isso. Posteriormente. Então, na verdade toda, toda essa nossa experiência
ela veio consolidar depois pra, na reforma, na reforma curricular. Aí nós
passamos pela reforma curricular em setenta e dois e que o quarto ano
deixou de existir e que nós volta... nós tínhamos Enfermagem em Saúde
Pública no quinto período e no oitavo período. Né?
V.: Esse quarto ano deixou de ser opcional e voltou a fazer parte do currículo
normal?
L.: Voltou a fazer parte do currículo normal. Como, a coisa mais interessante, foi o seguinte:
como nesse período nós íamos demorar dois anos ou dois semestres a voltar a ter aluno no
oitavo período, né? Então, durante esse período eu fui ajudar na Enfermagem Cirúrgica, que
aqui na escola onde precisava a gente ia ajudar. Então na verdade a gente tinha uma
especialidade, tinha uma atuação mas, precisava de gente na Enfermagem Cirúrgica e eu fui
ajudar na Enfermagem Cirúrgica. E eu acompanhei alunos no Hospital das Clínicas e no
Hospital São Francisco, durante um semestre ou dois semestres.
V.: Como?
L.: ...na Enfermagem...
V.: ...na Enfermagem Cirúrgica mas...
L.: ...do outro departamento.
V.: Do outro departamento. Mas enquanto, recebendo aluno do novo
currículo?
L.: É, do novo currículo.
V.: E nessa mudança...
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L.: ...que esse, que depois esse aluno ele chegaria pra mim enquanto na
Enfermagem em Saúde Pública.
V.: Lá, lá trás, lá na frente como habilitação.
L.: Agora a coisa mais interessante, o quê que aconteceu, durante esse
período, o quê que aconteceu, era nesse período de transição que os
professores não tinham disciplinas e que eles aproveitaram pra poder fazer os
cursos fora. Porque a escola não tinha uma política de pós-graduação. Então,
elas, elas aproveitavam essa oportunidade que estava sem disciplina, que era
assim: “Agora como que você vai fazer. Você não tem disciplina nenhuma
para dar?” Então, a gente tinha que batalhar fora, conseguir vaga é, é, é ver
que curso a gente poderia fazer fora e a gente procurar esse, esse momento
pra poder aperfeiçoar. E foi nu... nessa situação que Marília e... em setenta e
um Marília e Rizoneide foram pra São Paulo fazer o curso de Saúde Pública
na Faculdade de Saúde Pública.
V.: De especialização?
L.: De especialização. Porque elas, elas eram professoras da Enfermagem
Médica. E a Enfermagem Médica não tinha, ficou sem aluno primeiro que a
Enfermagem em Saúde Pública. Então eu não tinha condição de ir antes
delas, porque eu tinha alunos na Enfermagem em Saúde Pública.
V.: Elas foram fazer especialização...
L.: ...foi fazer especialização...
V.: ...ou no caso da Marilda, Marília mestrado?
L.: Não. Foi fazer especialização. Elas foram fazer especialização. Elas foram
fazer o curso em setenta e um. E fizeram em setenta e um especialização.
Mari... Rizoneide voltou em setenta e dois Ma... aí Marília conti... ficou pra
fazer mestrado. Tá? Marília ficou pra fazer mestrado. E aí foi em setenta e
três que eu tive oportunidade por não ter... que eu tive oportunidade de ir pra
São Paulo pra fazer o curso de especialização. Porque aí eu não tinha mais
aluno. Porque eu estava com aluno do oitavo período dando Enfermagem em
Saúde Pública, né? E como nós dentro dessa, dessa experiência [gagueira] a
gente ficava com aluno ou aqui e nesse período também surge a questão dos 113
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campos avançado, da universidade junto ao campos avançado e tinha uma
pressão muito grande da universidade pra, para as unidades da saúde em
assumir o campos avançado que é em Barreiras, não é? Que no período de
férias, então a escola que fez a escola via CENEX e através do, via o, o, o
CENEX [Centro de Extensão], do CENEX da escola. Eu fui a primeira
coordenadora do CENEX daqui, primeira não, a segunda, a Terezinha
Cardoso foi a primeira; ficou acho que seis meses e eu assumi o CENEX
depois.
V.: Ainda em setenta e dois então?
L.: Não!
E.: Não, mais na frente.
V.: Mais tarde?
L.: Não, mais na frente. Deve ser quando? Sessenta e quatro. Setenta e três
eu acho. Seten... quando eu voltei...
V.: CENEX foi criado em setenta e dois.
L.: Setenta e dois. Foi setenta e dois. Setenta e três eu fui pra São Paulo. Aí
que eu fui pra São Paulo fazer o curso de especialização em São Paulo, né?
Em setenta e três... você formou em que ano Estelina?
E.: Setenta e cinco. Julho de setenta e cinco...
L.: Então foi, setenta e...quatro. Quando eu voltei aí foi que eu assumi o
CENEX, setenta e quatro. Setenta e cinco, tá? Aí nós tínhamos, nesse
período nós tínhamos alu... tínhamos ainda o quarto ano, aí, não, aí que nós
passamos a receber alunos do quarto ano, do oitavo período com a
Enfermagem em Saúde Pública, né? Passamos a receber e tinha várias
opções, a gente continuava, a gente tinha alunos, a turma, as turmas eram
grandes, eram turmas de trinta e poucos, também, quarenta, né?
E.: A minha foi pequena. A minha eram, nós éramos só quinze.
L.: Quinze. Mas tinha turmas grandes.
E.: Tinha
L.: Tinha turmas grandes também. Tinha turmas grandes. Então, a gente tinha
opção também, aqueles alunos que [gagueira] poderiam ficar em Belo 114
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Horizonte, ou então nós fomos duas vezes para o campus avançado em
Barreiras, sabe? Através da escola.
V.: Como que era essa experiência lá?
L.: Ah, essa experiência, aí nós che... nós che...
E.: A primeira experiência foi em setenta e cinco com a minha turma?
L.: Eu não lembro se é a primeira.
E.: Ou a minha foi a segunda? É foi...
L.: Primeira. A sua foi a primeira, eu acho.
E.: É. Eu acho que teve a minha depois acho, não sei...
L.: ...teve a da Glorinha [Maria da Glória Lafetá]...
E.: ...se foi a da Matilde [Meire Miranda], da Glorinha.18
L.: É, foi! É, a, a, então, a gente, a gente tava buscando dentro, dentro dessa
linha, a gente queria o mais possível colocar os alunos em contato com a
realidade de saúde, né? Porque o, o, a formação do enfermeiro sempre foi
voltada pra, pra área hospitalar, né? E dentro da escola, sempre o currículo
da escola, ele foi sempre voltado pra área hospitalar. O forte dessa escola,
era voltado pra área hospitalar. E na verdade a gente tinha um grupo que
tentava também mostrar o outro lado, né? E, e esse grupo ele era marginal
em relação à escola, né? Marginal que eu falo é no sentido assim: de quê a
força política toda da escola era voltada pra área hospitalar. Então, na, na
disputa por carga horária nas reformas curriculares era uma disputa muito
grande por carga horária. As disputas por carga horária sempre pesava mais
a área hospitalar, sabe? E, então, nesse período, aí nós ficamos levando,
acho que foi du... duas turmas que foram pra Barreiras e aí volta já, aí já volta
Marília e Rizoneide do Rio de Janeiro e incorpora a Enfermagem em Saúde
Pública. A, a Rizoneide foi pra Doenças Transmissíveis e Marília incorpora
Enfermagem em Saúde Pública e fica no, no e pega disciplina do quinto
período. Que foi Saúde da Comunidade, né? Marília fica nessa disciplina e a
gente continua trabalhando pra poder reestruturar a, a, a Habilitação
Enfermagem em Saúde Pública.18 Formadas em dezembro de 1976
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E.: Quando Marília estava pra São Paulo quem deu foi Dôra [Maria
Auxiliadora Córdova Christófaro].
L.: Foi, aí Dôra, Dôra já tinha feito concurso e ela, aí... Ah! Outra história. [gagueira] Nessa
históri... quem deu foi Dora porque assim: nós conseguimos porque eram duas professoras na
escola era Carmelita e eu, aí nós tínhamos conseguido, aí nós conseguimos abrir mais uma
vaga, conseguimos uma vaga, que conseguiu uma vaga pra, pra, pra Enfermagem em Saúde
Pública e era uma vaga e foram duas, duas pessoas. Ge... nós tínhamos uma professora
contratada pra Enfermagem em Saúde Pública, também, que era a, a [Maria] Girlene
[Martins]. Ela também deu aula nesse período. Mas quando conseguimos uma vaga, que foi
com muita dificuldade que nós conseguimos uma vaga pra Enfermagem em Saúde Pública,
Marília, Dôra fez concurso, fez concurso Dôra e, e Girlene. E Dôra que foi aprovada, em
primeiro lugar. Então, Dôra entrou. Aí Dôra assumiu a, a, a, a Saúde da Comunidade, né?
V.: Teve problema a entrada da Dôra na escola apesar do problema dela no
período da revolução [de 1964]
L.: Não. Só reforçava, né, a marginalidade do grupo, né? [risos]
V.: Mas ainda bem que ela entrou, né?
L.: Lógico. O importante era ela entrar. Você entendeu? [risos] Só reforçava a
marginalidade do grupo, né? Aí Dôra, Dôra foi concurso público...
V.: ...dava força ao grupo, né? Marginal!
L.: Mas reforçou o grupo, lógico! E ao mesmo tempo [murmúrio], ele
continuava mais marginal.
V.: Marginal.
L.: Né? A enfermagem [inaudível] mais marginal. E depois, quê mais que
teve?
V.: Já aí já havia o curso de habilitação?
L.: Não. Aí foi, aí foi, aí continuou habili... [gagueira] o currículo com, com,
com a Enfermagem em Saúde Pública no oitavo período. E em setenta e
cinco... na verdade nós conseguimos, nós, nós levamos esse tempo todo pra
poder reestruturar a Habilitação em Enfermagem em Saúde Pública que nós
estávamos esperando a Enfermagem Obstétrica, tá? A história foi essa.
Então, porque a Enfermagem Obstétrica nós íamos fazer, era, era
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impraticável a gente tinha já clareza, porque nossa experiência era de
oferecer o curso de Enfermagem em Saúde Pública, do quarto ano, em um
ano e meio período. E a gente tinha clareza que era longo demais e que não
havia necessidade disso. Que a gente podia estruturar em seis meses. Ainda
mais considerando que o curso de enfermagem já era de quatro anos. Então
nós íamos levar, levar cinco anos pra poder ter a, o, o, o enfermeiro no
mercado, né? E, e a Enfermagem Obstétrica batia o pé que ela em seis
meses ela não conseguia dar o curso de Enfermagem Obstétrica.
V.: Enquanto habilitação?
L.: Enquanto habilitação. Que ela queria dar em um ano. Então, e que, ao
mesmo tempo que tinha uma política da gente tentar fazer, ver o quê que,
quais as disciplinas que poderiam ser comuns. Tentar estruturar isso aí. E nós
trabalhamos muito com o grupo de Enfermagem Obstétrica é, mas não
conseguimos, tá? Até chegar um ponto que nós falamos assim: “Olha, nós
temos clareza que, que habilitação que a gente quer, temos clareza disso aí.”
Aí conseguimos [gagueira] implantar o curso em mil novecentos e setenta e
seis. Conseguimos assim:...
E.: ...setenta e seis.
L.: Setenta e seis. Conseguimos assim: com muita dificuldade, tá? Por quê?
E.: E Obstetrícia não saiu?
L.: Não. Nunca saiu.
E.: Saiu Médico-Cirúrgica e Saúde Pública....
L.: ...é... Saúde Pública. Aí, aí o con... aí o quê que aconteceu foi o seguinte:
nós nessa história, nessa época eu era chefe de departamento, já tinha
assumido chefia de departamento. Então a gente tinha realmente como é, é,
é, ma... ma... mais, mais poder de barganha, entendeu? Pra poder, inclusive,
negociar na universidade. Porque na verdade a gente precisava contratar
pessoal pra poder abrir o curso de habilitação, né. E a gente tinha uma
proposta, a gente tinha uma proposta que era de contratar, a proposta nossa
era de contratar (...) enfermeiros como que era a história? A gente de...
contratar docentes para, nós tínhamos as vagas, mas nós íamos contratar, 117
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mas nós num, num tínhamos jeito, no... jeito de contratar pra Enfermagem em
Saúde Pública. Então, a proposta nossa era de contratar enfermeiros pra
assumir algumas disciplinas do departamento que era: Administração,
Enfermagem em Doenças Transmissíveis, ham?
E.: Que entrou Ana Maria Marun (?)
L.: Não.
E.: Não foi nessa época não?
L.: Não. [estalo de língua] Ana Maria já tinha entrado. Entrou na época na
Izaltina.
V.: E saiu [inaudível].
L.: É, é. Administração, Enfe... Doenças Transmissíveis e tinha uma outra, tá?
Então, a política, nós tínhamos conseguido três ou quatro vagas. Nós íamos
contratar o pessoal por vinte horas e toda essa contratação...
[FINAL DA FITA 3 LADO B]
FITA 4, LADO A
V. : Vamos continuar a nossa conversa então, Luzia?
L. : Vamos, então até, até, até o momento técnico nós estávamos falando da
questão do, de um marco que foi um envolvimento da enfermagem de saúde
pública da Escola de Enfermagem, né? Dentro do curso de [habilitação] em
enfermagem de Saúde Pública do, no projeto do, do módulo básico, né?
Então, dentro dessa linha nós desenvolvemos a habilitação da enfermagem
em Saúde Pública até em 1900 (...) acho que 1988, 1987 me parece; e que
nós tínhamos alunos do oitavo (...), do nono, eram dois períodos, do nono e
do décimo período e que nós tínhamos alunos, nós tínhamos convênio com a
Secretaria de Saúde e tínhamos alunos em vários municípios. Na verdade, o
convênio não era com a Secretaria da Saúde, o convênio era com os
municípios, com a prefeitura, com a Secretaria Estadual dos municípios.
Então, nós tínhamos alunos que permaneciam dois semestres no, no, nós
tínhamos alunos no norte, no (...) no norte, no, no Triângulo Mineiro, no Vale
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do Jequitinhonha, na Zona da Mata, na ... Tem hora que me vem uma falha
em Geografia. [riso]. Aqui não é Zona da Mata não, por esse lado aqui Ponte
Nova. Ponte Nova é Zona da Mata, não é ? Sei lá ...
E. : Zona da Mata é Juiz de Fora, né?
L. : Nós tínhamos em Juiz de Fora, é, tínhamos em Juiz de Fora, em várias
regionais de Juiz de Fora. Uma regional de Ponte Nova, no regional de
Uberaba, na regional de Uberlândia, na regional de Teófilo Otoni, na regional
de Montes Claros têm várias, foram várias regionais. Só que os alunos não
ficavam nos regionais, eles ficavam nos municípios e eles tinham uma bolsa
de estudo. Essa bolsa de estudo era dada pelo município, tá, e em muitos
lugares onde tinha internato rural, os alunos ficavam junto com os alunos da
medicina. Então, nós tínhamos alunos de, em Lagoa da Prata...
V. : Desenvolvendo atividades conjuntas?
L. : Desenvolvendo atividades conjuntas e, e a gente tinha um, uma atividade
conjunta também com o supervisor da medicina; então, por exemplo, no caso
em que eu era supervisora da área de Teófilo Otoni, a gente eu tinha junto
com o supervisor da medicina, a gente discutia as questões e, toda vez que
ele vinha fazer a supervisão dos alunos da medicina, era envolvido o pessoal
da enfermagem; toda vez que eu ia fazer a inspeção da enfermagem, a gente
envolvia o pessoal da medicina.
V. : Uma integração ?
L. : É, então a gente era tudo, tudo feito nessa base. E muitas vezes a gente
ia até, ia junto com o supervisor da medicina. E nesses locais os alunos, eles
moravam, a prefeitura alugava, o , o convênio com a prefeitura constava o
seguinte: a prefeitura pagava a residência pra eles, então, na maioria dos
municípios eles alugavam uma casa; e nessa casa, geralmente tinha dois,
dois alunos da enfermagem e dois alunos da medicina, tá? E era muito
interessante, por que era uma relação né estudante, uma relação é ... é,
homem, mulher e que muitas vezes na divisão do trabalho, a gente achava
até engraçado, na divisão do trabalho ...
V. : Na manutenção da casa ? 119
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L.: Na manutenção da casa, eles dividiam né, igualmente. E as mulheres, as
alunas sempre falavam, na hora que chegavam: “Não sei cozinhar [riso]. Até
que eu sei, mas se eu falar que sei cozinhar, eu já sei que a cozinha vai por
conta da gente. Então a gente já fala que não sabe cozinhar, porque ai a
gente divide o trabalho de uma outra forma.” [risos]
V. : Ô Luzia, este, esse morar ...
E. : Vou usar essa estratégia. [risos]
V. : Esse morar juntos, é trouxe, algo ... para a escola, algum tipo de,
envolvimento, algum tipo de problema, de relação do ...
L. : Não.
V. : Entre alunos ?
L. : Não, nunca trouxe.
V. : Como é, como foi em tempos antigos [riso].
L. : Não, não. É interessante que nem no município também. Isso era
problema para o município.
V. : Não havia ti-ti-ti?
L. : Não, sabe. Era, era a casa dos estagiários tá, era casa dos estagiários.
Pelo menos nos, nos municípios em que eu fazia supervisão não tivemos
nenhum problema, era casa dos estagiários e que ...
E. : E a manutenção dessa casa era deles ?!!
L. : Da prefeitura.
E. : Não, manutenção que eu digo.
L. : Alimentação.
E. : [inaudível] e hábito.
L. : Era.
E. : Desde a cozinha até o lavar roupa ... Quer dizer ...
L. : Tudo, não ...
E. : Eles não tinham ninguém disponível para isso.
L. : Há, a prefeitura, muitas vezes a prefeitura pagava uma pessoa, pra
também , pra poder, pagava uma empregada; pra poder cuidar da casa.
V. : Em alguns lugares, né ?120
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L. :É, em alguns lugares.
V. : Eu me lembro, é ...
L. : Sabe ...
V. : [inaudível]
L. : Mas isso não quer dizer que a cozinheira estava todos os dias para fazer
comida.
V. : Pois é.
L. : Eles trocavam experiência ..., eles faziam muita festa também, fazia
jantar, de vez em quando a gente estava lá.
V. : Interação mesmo, né ?
L.: Quando chegava, quando ia chegar supervisor, eles faziam questão da
gente almoçar com eles, de fazer a comida; às vezes a gente dormia lá; por
exemplo, no, no ... uma coisa interessante é o seguinte: que nesse processo
de supervisão eu tirava uma vez por ... uma semana por mês pra cada local.
Então às vezes eu tinha aluno no norte de Minas, eu tinha aluno na Zona da
Mata e, tinha lugares ... Ah!!! Quando nós iniciamos esse processo, é bom
isso, é bom isso salientar em questão da infra-estrutura que a escola dava;
nós não tínhamos infra-estrutura nenhuma da universidade, quando nós
iniciamos esse tipo de projeto. Então a gente fazia viagem, pra chegar a esse
município a gente ia de ônibus e eu tinha município que eu fazia supervisão,
que às vezes eu chegava de carona, porque, a gente parava por exemplo em
Mercedes, era município que tinha ônibus uma vez por dia e eu tinha, eu ia
até, pegava ônibus de Ubá e ficava parada no trevo, e no trevo eu tinha às
vezes de ficar duas horas para esperar o ônibus que passava e muitas vezes
a gente pedia carona; chegava de carona. E pra sair da cidade, eu tinha que
sair procurando carona, para poder conseguir sair da cidade, pra poder ir
para a rodovia, aonde passava ônibus para Belo Horizonte. Então, nós não
tínhamos infra-estrutura nenhuma da instituição, da universidade. Quando nós
iniciamos o processo, né? Depois de, de iniciado o processo foi que, ai nós ...
pegamos uma outra estratégia que era [fazemos deslocar os alunos] aonde
também tinha o internato rural , então isso facilitava um pouco. Aí, a gente 121
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pegava a estrutura do internato rural. E logo depois também a escola já
adquiriu carro, pelo, ai o que que facilitou - é muito importante colocar isso; ai
já foi através do, do Projeto Transetorial de Ação Comunitária [PTAC), que foi
um projeto institucional que envolvia a enfermagem, a medicina, a odontologia
que foi financiada pela fundação ( inaudível ) , né ? Então, foi nesse momento,
é que facilitou um pouco pra gente; por que ai tinha, tinha os carros do PTAC
e que, que facilitava o ... a gente chegar até os locais pra supervisão e que a
gente tinha melhores condições de fazer uma supervisão mais sistematizada,
né ? Tinha, havia uma integração também com o pessoal da medicina, que foi
através do, do PTAC, Projeto Transetorial de Ação Comunitária.
V. : Luzia, esse tipo de supervisão bem diferente da que a escola desenvolvia
até então, teve alguma, vocês tiveram alguma dificuldade no departamento?
Como por exemplo, nós do Departamento de Enfermagem Básica tivemos
quando, tivemos a experiência com a habilitação em médico cirúrgica?
L. : Olha, pra te falar das dificuldades, as dificuldades eram tantas, sabe
Valda, tantas que a gente não tinha recurso, não tinha dinheiro, não tinha
diária, entendeu? Por que à medida que a gente saía aqui de Belo Horizonte,
você pagava até a água, você paga até a água que você bebe, não é?
V. : Eu sei [riso] e muito! [riso]
L. : Então, então era tudo, muitas vezes, por conta da gente, sabe. Você não
tinha recursos pra nada, não é? Já até a escola incorporar isso, né? Ia
começar a pedir diária ... se ... nós, nós fazíamos tudo para o departamento
aceitar, mas era assim ... nós era ... nós éramos marginais no departamento,
né? Então se, o projeto dava sustentação, quer dizer em momento algum o
departamento assumia que aquilo era do departamento. Agora, só que tem
uma diferença; quando você chegava no final pra fazer os relatório, quer
dizer, isso tinha um peso muito grande para os relatórios, porque era o grupo
que captava recursos para a instituição, entendeu? E tudo isso aparecia, mas
na hora realmente de você ter o aval, às vezes você tinha dificuldade; por
exemplo; eu viajava à noite, você viajava a noite inteira pra Uberaba, pra
Uberlândia, de ônibus ...122
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V. : Cansaço heim?!
L. : Pra Montes Claros, viajava a noite inteira, para trabalhar no dia seguinte,
trabalhava aqui durante o dia, viajava a noite toda e às vezes chegava de
viagem; viajando a noite toda, voltava direto pro serviço.
V. : Tinha uma reunião para participar?
L. : Tinha reunião para participar, tinha alguma coisa para ser feita sabe ...
V. : Algum momento você ...
L. : Então, era ... assim, na verdade, eu acho assim que o, no departamento
ele tinha uma, uma fragili ... não era uma fragilidade, uma dificuldade muito
grande de, de entender o que representava isso, porque na verdade, a
veiculação da gente era muito forte com as instituições de serviços, né? Com
as secretarias municipais, com a secretar ... com a secretaria estadual. O
grupo tinha, o grupo participava de comissões da secretaria, de comissões de
docente assistencial, não é? Então, existia um ... uma relação muito forte com
isso ai. Então, e que o departamento não conseguia, ele não conseguia, não
sei o porquê que ele não conseguia isso, mas ele não conseguia ter uma
visão sobre isso. O que que isso representava para o departamento. E a
gente também não tinha tempo de está colocando muito também não, por
que, primeiro, você não tinha nem espaço. Nas assembléias departamentais
quando você começava a falar, você percebia ... pelas caras das pessoas,
você sentia que ninguém estava querendo ouvir, né? Que ninguém ...
V. : É verdade.
L. : Que ninguém, né? Que ninguém estava ai pra isso. Então ...
V. : Nunca, nenhum [departamento] nem o outro]
L. : Nós já tínhamos que lutar para poder fazer o trabalho fora, nós ainda
íamos ficar perdendo tempo também, ainda de colocar dentro da instituição,
né? Era meio complicado.
E. : Ô Luzia, qual seria sua avaliação ao longo dos anos em que você viveu e
sempre tentando fazer um trabalho pioneiro, e sempre encontrando uma certa
dificuldade, uma certa resistência, seja por parte do departamento, seja por
parte da escola, a que você hoje, após tantos anos, atribuiria isso?123
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L. : Olha, eu acredito, isso está muito ligada a relação de poder, sabe. Eu
acho, está muito ligada a relação de poder, né? Porque na verdade o próprio
departamento tinha uma visão da gente, assim, que era um grupo forte, que
era um grupo que tinha poder, você entendeu? Que nem assim ... isso não ...
não correspondia a realidade. Não é, que a gente estava lutando, com tudo
isso. Mas, era ... a rejeição era mais nesse sentido. E, e eu vejo também pela
própria história da enfermagem, como é que caminha a enfermagem: a
enfermagem hospitalar e a enfermagem saúde pública; tem, tem uma questão
também ligada a isso ai, sabe?
E. : E, é. E você está querendo dizer então que seria de alguma forma, um
certo medo do poder, de que esse grupo passasse a ter poder?
L. : É, é. Passasse a ter poder e ... e, outra coisa também... passasse a ter...
poder...
V. : Era um grupo diferenciado, né?
L. : Diferenciado [porque na verdade...]
V. : (inaudível)
L. : A nossa relação de trabalho, e depois, nós trabalhamos demais, quase
que, né? Nós éramos as primeiras a chegar na escola e as últimas a sair da
escola. Se estava de férias, você estava aqui trabalhando, né?
V. : Era um envolvimento assim...
L. : É, então...
V. : ...incrível!!!
L. : ...isso, institucio... uma instituição que, vocês conhecem melhor do que
eu , né? Como que é o esquema, como que é o esquema da carga de... da
carga horária, como que é o esquema da... da carga didática, como que é a
relação, integração, é, é, a relação... extensão, não é? Então, isso é tudo...
[sinal de sirene de carro]
V. : É, e era meio difícil assim, quem é que vai viajar, não é?
L. : É a coisa mais interessante...
V. : “Quem vai viajar?”, “Eu não posso”, ninguém podia.
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L. : É, e outra coisa, ninguém queria... ninguém queria e o nosso
compromisso era assim, você tinha que ir mesmo.
V. : Tinha que cumprir.
L. : Não tinha outro jeito porque eu tinha...
E. : Pois é, mas houve um paradoxo aí Luzia, por que ninguém...
L. : Olha... eu tinha que...
E. : ...queria, mas também não queria deixar que acontecesse.
V.: Claro, é.
L. : Dava muito trabalho; por exemplo, nós tínhamos de, dava, demandava
para a secretaria do departamento, que tinha muito trabalho para ser batido,
tinha muitas coisa, né? Gerava muito trabalho, e, mas... tinha uma outra
questão que... eu ia falar mas esqueci, mas... mas voltando ao, o , o processo
de supervisão que a gente escrevia era o seguinte: nós preparávamos, o
aluno ia, porque ele não estava aqui assis... assistindo aula, não é? Ele
estava inserido no processo de trabalho do município, não é? Seja... ele
trabalhava no centro de saúde na comunidade, no processo de trabalho, né?
É, é, ele participava do, do... participou...de todo o processo [inaudível] depois
do SUS,[sistema único de saúde] não é? Tinha representatividade em
relação ao município, então o aluno , ele tinha uma atuação diferenciada
nesse sentido. E, e, o, o... a gente tinha, fazia o quê, nós tínhamos... deixava
o material didático com os alunos, na casa dos alunos, que eram importantes
pra eles, tinham todo o material é, é, xerox de material, é, de textos, então a
gente tinha uma relação daquele material que ele tinha que fazer a leitura. E a
gente ia durante a semana que estava lá, pra gente discutir o processo que
ele estava vivenciando naquele período, discutir a, é, é aonde que ele
encontrava dentro da literatura o que que tinha aderência naquilo que ele
estava vivenciando né? Como é que, que o material que estava, que poderia
estar subsidiando aquilo, o que ele necessitaria mais e... que... [por que] no
momento, primeiro ele fazia, chegava no município, ele fazia primeiro uma
identificação das necessidades do município para elaborar uma proposta de
trabalho. E no segundo, segundo momento, ele já ia tentar implementar essa 125
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proposta de trabalho. Mas, só que ele fazia isso (boceja e pede desculpa)
junto com, inclusive com o grupo todo do município do centro de saúde, com o
pessoal todo atendente; então, muitas vezes surgia demanda de capacitação
de pessoal, de capacitação de atendente, tá? E discussão da... da (inaudível),
sistema integrado de saúde, do SUS, havia a questão do SUS, de discussão,
de, de, discutir leis, de estudar tudo isso. Foi um processo muito rico, sabe?
Muito rico. Bom... pode falar...
V. : É... pode falar você.
L. : Pode perguntar.
V. : Não, eu ia perguntar assim: quando terminou a habilitação, quais foram os
motivos que, que levou a escola na sua visão, a encerrar as habilitações além
do aspecto legal, né? De não (inaudível).
L. : Na verdade, na verdade, a gente queria, a nossa intenção, nós para...
encerramos a habilitação para dar um salto, para passar para a
especialização, né? Porque era uma experiência muito rica e que na verdade,
a gente analisando o título que o indivíduo tinha, ele tinha um título de
graduação. E, não é só muito em questão do título, e ta... estava um momento
também, de, era um outro marco, era uma outra reforma, né?
V.: Hum-hum.
L.: Que estava, as habilitações iam estar aí, e a gente já estava vivendo um
outro momento que, dentro desse momento, a gente retoma, a gente resgata
a questão do módulo básico, o porquê do módulo básico, daquele projeto, né?
Da inserção do enfermeiro no sistema local de saúde, o porquê que estava
buscando isso dentro da OPAS, [Organização Pan-Americana de Saúde]
dentro do papel que a OPAS estava buscando encontrar que tivesse o aluno
no, no sistema local de saúde; o aluno não, desculpe; o enfermeiro, e que
esse enfermeiro pra ele dar respostas as questões ligadas à capacitação de
pessoal na área de enfermagem. Porque eles tinham ai, o outro, o outro
processo de capacitação que era a formação do pessoal, é de nível médio,
não é? Pra área ambulatorial, né? Então, esse enfermeiro, esperava-se que
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esse enfermeiro tivesse um papel bem diferenciado na capacitação desse
pessoal.
V. : Além desses motivos, vocês tiveram problema, como nós da [Habilitação]
Médico Cirúrgica tivemos, de falta de pessoal, de falta de aluno para
preencher os locais?
L. : Não.
V. : Para cobrir os locais?
L. : Não, não. Porque na verdade, nós tínhamos os alunos (...) que iam para o
interior e só ficavam, a gente tinha, tinha um esquema, né? Dentro do
regimento tinha um esquema que primeiro o aluno só, ele só não ia para o
interior em situações especiais. Então, no ato da matrícula, ele já tinha que
fazer essa opção.
V. : Vocês sempre tiveram um número bom de aluno?
L. : Tinha.
V. : Para cobrir (inaudível).
L. : É, para cobrir (inaudível), tá? Para cobrir isso ai.
V. : Diferente de, de nós da Médico-Cirúrgica.
L. : Diferente de vocês, da Médico-Cirúrgica.
V. : Que nós, a gente tinha, quatro alunos pra cinco professores.
L. : É, é foi diferente. E depois eu lembro que, na ... nessa situação o, o ...
somente ficava aqui em Belo Horizonte aquele que não tinha realmente
condição de ir para o interior, né? E agora, era discutido com os alunos, por
que eles escolhiam os locais, não é? Era tudo,estava tudo discutido, os
alunos escolhiam os locais, nós apresentávamos os locais - “são esses”, né?
E eles escolhiam de acordo com a vontade deles, realmente, né? E...
V. : Terminada, então essa experiência da habilitação...
L.: Ai, ai veio. Essa experiência da habilitação, ela, ela... começou do zero,
ela, ela iniciou, ela iniciou com um projeto, não é? do, da OPAS do módulo
básico, depois ela, ela caminha sem a universidade, como nós lutamos com
muita dificuldade. Depois ela, ela, a gente incorpora essa experiência junto ao
programa transetorial, no PTAC então a gente já tinha recursos, já tinha 127
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condição de viajar e tudo mais, com diária, era mais tranqüilo. A gente, só iria,
muitas vezes, de ônibus, era difícil viajar de ônibus, a gente viajava mais de
carro mesmo. Facilitava bastante. Ai depois vem a questão da... ai vem... a
questão da especialização. Então como é que surge a especialização? Então,
dentro da linha de capacitação de pessoal de nível médio, né? Pra área
ambulatorial, que... parece que eu já falei isso anteriormente, né?
V.: Hum-hum.
L.: A escola era colocada pra... e aqui pra escola...a OPAS coloca .. a
experiência que nasceu, no serviço, não? E faz a proposta pra, pra várias
escolas, né? Pra várias escolas de enfermagem, pra transformar em um curso
de especialização, e a nossa escola foi a primeira que iniciou, né? Que ficou
na nossa escola aqui, é, a Bahia [estado da] foi... ofereceu um ano a
especialização em enfermagem em saúde pública. E dentro da, da
especialização, nós passamos também por vários processos, né? Nós
passamos por vários processos em que no, no início, é muito voltado, de
acordo, é porque a divulgação era feita pra todos os centros regionais. Mas,
dependia muito, por que às vezes a gente tinha aluno mais da área
metropolitana ou, aluno do interior era pouco; então nós passamos por vários
processos. A parte, a integração, que houve em, a parte mesmo em termo da
prática, muitas vezes, era desenvolvido somente aqui em Belo Horizonte nos
períodos de interstício. E, depois, quando, quando ocorria de ter alunos do
interior nós passamos a fazer com que ele se desenvolvesse no local de
trabalho dele e, hoje eu não sei, já falei isso anteriormente, não sei hoje como
está a situação por que eu já me aposentei, em 1994, não é? Então eu não
tenho agora...
V. : E...
L. : Paralelo a isso ai, que eu acho, paralelo a isso ai que foi em oitenta e
nove, parece em oitenta e nove, a escola, oitenta e oito, oitenta e nove; a
escola foi convidada pelo, foi, oferecido à escola pela fundação Kellogg, né?
Considerando toda a experiência da escola que ela já tinha em relação a esse
tipo de trabalho de comunidade, a ... inclusive pela própria experiência dela 128
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com o grupo PTAC, a... a desenvolver um projeto ligada à pós-graduação,
não sei se vocês estão lembradas desse projeto, né? Então dentro desse
projeto Kellogg, ela tinha uma proposta do desenvolvimento da enfermagem
na América Latina, não é? E dentro desse desenvolvimento da enfermagem,
a, estava muito voltado para a questão da pós-graduação. Então, pediu que a
escola elaborasse um projeto pra identificar as necessidades de pós-
graduação, não é? do país, identificar a situação da pós-graduação. Então, a
escola desenvolveu esse trabalho e que culminou com o rigi... com a reunião
de Barbacena. E, a escola então, foi escolhida na época pra desenvolver um
projeto do, de desenvolvimento da enfermagem, então foram várias escolas
na América Latina. Foi a nossa escola, foi a escola do México, né? Da
Universidade de Nuevo Leon, em Monterrey, a escola da Universidade
Nacional a ... o Departamento de Enfermagem de Cali, Colômbia. A Escola
Pontifícia Universidade Católica do Chile, não é? E parece, não sei se tinha
da Argentina também. Pra... para criar os PRODENs, não é? O desen... e ai,
dentro da nossa escola foi desenvolvido então, foi (inaudível)... foi elaborado
um projeto que captou recurso, não é? E, então dentro desse projeto, foi que,
que a gente buscou dar uma continuidade, né? Naquele momento em que...
em que... que... tinha dado o corte pelo PTAC, né? Que foi, volta... dentro das
especializações, e dentro da especialização da Enfermagem em Saúde
Pública, só que dentro do nosso projeto político, nós, nós tínhamos na época,
é, é, um... uma utopia de, de capacitar todos os enfermeiros do Estado de
Minas Gerais.
E. : Quando você “diz nós”, nós quem?
L. : Nós da Enfermagem de Saúde Pública.
E. : Ah, tá. na verdade o que...[tosse]
L. : Que era um grupo de oito pessoas e de cinco realmente atuantes, não é?
V. : E foi esse grupo praticamente que, que fez a proposta do PRODEN I?
[Programa de Desenvolvimento da Enfermagem].
L. : Foi.
V. : Que levou na verdade o PRODEN I?129
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L. : Foi não, o PRODEN I na verdade, foi um grupo maior, um grupo maior
assim: quando ele começa, quando ele começa, que a gente leva os
trabalhos, o trabalho que foi feito em todos os departamentos, no início foi
mais gente, né? E, e, mais e... ai, ai, como é que a gente incorpora dentro
disso ai nós tínhamos, né? A utopia de, de capacitar os enfermeiros do
estado, os enfermeiros do Estado de Minas Gerais pra eles realmente serem
os instrutores, os supervisores do, do processo de capacitação do pessoal
auxiliar. E, só, que, nós tínhamos clareza que, com o curso de especialização,
com trinta vagas (inaudível), né? Até nós conseguirmos isso, era impossível.
Então, nós tínhamos como meta também, de incorporar nesse processo o,
uma proposta de educação continuada; em que a gente desenvolvia de uma
maneira isolada os módulos, não é? Dentro de cada área. E que ele poderia
ter a possibilidade de da... de chegar à titulação de especialista, uma vez que
ele completasse o total de módulos. Ai, já fazendo dois fora, pelo processo de
educação continuada, que parece que pela lei, eram dois que, que permitia
fazer o restante depois aqui, já matriculado no curso da especialização. Seria
uma forma de poder agilizar o processo, né? E ai, foi ai que nasce, foi ai que
surge a questão de Ipatinga, Monlevade né? Que surge toda, toda essa
questão da capacitação dos enfermeiros de Ipatinga, dos enfermeiros de
Monlevade, e, outros módulos que foram dado isolado, né?
V. : E essa “utopia”, como é que está hoje?
L. : Ela continua por que uto... utopia e a gente tá, né? A gente ta...
V. : Buscando?
L. : Buscando ela até hoje, né? Ela está caminhando, ela não tá... a gente já
avançou um pouco nesse processo. Por que... outra coisa também , que
estava, que está... na incorporação, que quando nós começamos o curso de
especialização, nós na verdade, quando a [enfermeira] Isabel [dos] Santos19
colocou que, tava entregando para universidade pra, pra assumir o processo
de capacitação dos enfermeiros, ela só tinha o material, o material não estava
completo, não é? Então, o grupo assumiu inclusive, terminar o material e 19 Referência nacional no setor saúde em recursos humanos.
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elaborar o que estava faltando. Então, o [módulo da área] de administração foi
elaborado aqui e foi feito a revisão de, dos outros materiais, do enfermeiro da
área ambulatorial, não é? E o do, da área pro auxiliar de enfermagem da área
ambulatorial já estava pronto, não tinha...estava tranqüilo. Ai, então, diante,
nesse processo todo o PRODEN incorpora esse trabalho, não é? O PRODEN
incorpora, aí agora o, por que o PRODEN incorpora? Porque eram as
mesmas pessoas que estavam na especialização. Então é por isso...
E. : Esse material que você está citando...
L. : Então, é por isso na verdade, não é? É o PRODEN que incorpora, mas é
porque as pessoas que estavam responsáveis, por isso que está... que
continuaram fazendo.
V. : Dando uma continuidade ao trabalho.
L. : É. O grupo é o mesmo.
E.: Eu acho que seria importante você situar que material é esse, por que...
L.: É um material instrucional para a capacitação do enfermeiro, da área...
E: Da área...
L.: Da área ambulatorial.
V. :Mas esse não é o que está pronto, Luzia?
L. : Não é, na área de doenças transmissíveis ,na área de saú... na saúde da
mulher e da criança e do adolescente. Por exemplo, do adolescente foi feito
aqui na escola.
V. : Ah, sim! Ainda da saúde pública.
L. : Da saúde pública.
V. : Depois vem da hospitalar que é outro momento.
L.: Outro momento, né? Mas, do, da saúde pública, por exemplo o da
administração da saúde pública, não estava pronto. O da administração, ele
foi feito, ele foi dado , ele tinha um módulo , tinha um modelo, tinha um
material , mas dentro de um... dentro do [constituinte normativo] muito,
muito... muito fora da realidade e que ele... tinha estudado uma vez em
Brasília e foi dado pra nós aqui em Belo Horizonte, né? E depois que ele foi
dado pra nós aqui em BH; aí nós, o grupo que fez, nós assumirmos que a 131
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gente não iria dar esse material pra, pra, pra, próxima turma; por que quem
fez foram os professores, então, nós iríamos reformular ele todinho, é, mudar
a lógica dele, né? Virar a mesa. Ai, nós fizemos, elaboramos todo o material
primeiro e capacitamos o pessoal. E ai, tem a história também da atuação do
grupo, né? Em capacitar outros docentes de outras instituições, por que... na
verdade... nesse processo todos nós, docentes, fomos capacitados e ai, é
incorporados no processo a Faculdade de Saúde Pública, o pessoal de
enfermagem, a Faculdade de Saúde Pública, é, alguns docentes da, Escola
de Enfermagem de Ribeirão Preto (SP), alguns docentes da Escola de
Enfermagem da Universidade da Bahia, alguns docentes da Escola da
Enfermagem, não, alguns enfermeiros de, da Secretaria de Estado de Saúde
do Rio Grande do Norte, da Paraíba e de Maceió. Eles vieram aqui para, fazer
o curso, para poder reproduzir, não é? E, e depois, o grupo também daqui, o
grupo do, esse mesmo grupo que levavam todo esse processo já foi em
outros locais para poder reproduzir o, a capacitação do pessoal, né? E...
V. : E como é que está hoje a especialização?
L. : Hoje, eu não sei, eu só sei até 1994.
V. : 94? [riso] o que aconteceu em 9 4, você...
L. : Eu me aposentei em 94.
V. : E ai?
L. : Né? Então, eu me aposentei em 94 e, continuei no PRODEN, né? Por que
ai o PRODEN, terminou o PRODEN, PRODEN I, e o PRODEN era um projeto
dessa escola com as escolas de enfermagem do Estado de Minas Gerais.
Quando encerra o PRODEN I, e que , que eu era da coordenação do
PRODEN, e, além do mais traba... levava também o projeto de educação
continuada, então, ai, esse... o grupo do PRODEN elaborou o PRODEN II e
dentro da linha de educação, de, de capacitação de recursos humanos. Foi, ai
a gente já passou a trabalhar, ele já seria um projeto não só dessa escola,
mas um projeto realmente das oito Escolas de Enfermagem de Minas Gerais.,
quer dizer, hoje nove, já, né? Com Diamantina já incorporado. V. : Diamantina
ou Montes Claros?132
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L. : Diamantina também.
V. : Também?!
L. : Dez já.
V. : Então, dez.
L. : Dez.
E. : É.
L. : Porque, quando nós iniciamos o PRODEN II, a gente tinha como meta
avançar pro norte de Minas, norte e nordeste, né? De Minas, que é o Vale do
Jequitinhonha, norte de Minas, que é o lugar descoberto, né? Então, hoje, já
tem a escola de enfermagem de Montes Claros, que o PRODEN tem uma
atuação também, junto a escola de enfermagem de Montes Claros e, agora,
Diamantina que está na fase de autorização; não é, que a Maria Lúcia
[Cardoso, diretora do curso de enfermagem] de Uberaba, que já estava dentro
do PRODEN I e ela continua agora, só que ela saiu de Uberaba e já foi pra,
pra Diamantina?
V. : Diamantina?
L. : Maria Lúcia é outra bandeirante, né, outra (...), vai desbravando ai . Bom
(...) então, dentro da... dentro... bom... ai eu me aposentei em 95, 94, eu deixo
de ter uma atuação didática na escola de enfermagem, didática, mas continuo
trabalhando no PRODEN.
V. : Só uma pergunta: você se sentiu aposentada ai nessa escola?
L. : Não! [risos]
V. : Eu estou perguntando isso, porque assim, você saiu e não saiu, não é?
Você deixou de dar aula, mas continuou, é... vindo aqui quase todos os dias,
né? Eu, por mim, digo a mesma coisa, é como se a gente não tivesse saído.20
[FINAL DA FITA 4 LADO A]
FITA 4, LADO BV. : Aí, continuando...
20 Professora também aposentada em 1994.
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L.: Tá. Você não tem muitas vezes, quer dizer, você não tem mais que passar
por, pelos processos burocráticos da instituição e, de, de suportar coisas que
às vezes é um, um não que você recebe de pessoas que não está
entendendo nada ; o processo que está vivendo, não é? Então, isso é muito
desagradável e muitas vezes, a gente tem que fazer um trabalho com a gente,
para engolir isso... tudo isso.
V. : Verdade.
L.: Não é? Então é muito, muito mais prazeroso. E, e, eu fiquei quer dizer, eu
fiquei... e na verdade, coisa mais interessante, que hoje o meu projeto, o
projeto que eu coordeno dentro do PRODEN, ele é um projeto que ele
trabalha mais ou menos com, com umas, uns trinta docentes dentro dessa
instituição, trinta a quarenta docentes, é muita coisa, você pensando, como
uma instituição de quanto? De oitenta docentes, né? Então, é um grande
número de, de docentes.
E. : Qual que é o projeto?
L. : O de educação continuada, não é? Dentro da elaboração da modelagem
institucional. E...
V. : Luzia...
L. : Todo mundo gosta porque quem está no projeto é porque quer estar,
sabe?
V. : ...você vê o PRODEN II, mais que envolvendo a escola como um todo,
mais que o PRODEN I (...) com participação de pessoas de outros
departamentos, de outro grupo, além da Saúde Pública.
L.: Não. Por que, na verdade, o, o, o mo... o que eu vejo é o seguinte: que o
momento da escola hoje, ele é outro de... devido as, o grande número de... de
aposentadoria que houve, né? Então, por exemplo, o contexto que entra o
PRODEN II, ele é um contexto bem diferente do PRODEN I, né? Então, pode
até ser que as pessoas estão envolvidas e também pelo tipo de trabalho, pelo
tipo de trabalho que hoje, hoje está sendo, está sendo por exemplo, esse
mesmo projeto hoje de educação continuada, que na época a gente não tinha
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esse tipo de atividade que era a elaboração de módulos, de material
instrucional, é um tipo de trabalho que dá condição de envolver mais gente.
V. : O de agora, né?
L. : O de agora.
V. : Agora o material que...
L. : Sabe...
V. : ...o PRODEN está elaborando é o ...
L. : ...agora, nesse momento, a gente está; aí o PRODEN, o projeto, mesmo
dentro do PRODEN I a gente tinha assumido fazer a revisão do, do material
instrucional para a formação do auxiliar de enfermagem para a área
hospitalar, né? E que, teve a participação da escola. Esse, esse material, ele
foi, ele começou a ser elaborado por um grupo do Rio de Janeiro (RJ) durou
uns dez anos isso ai, até vir para cá, e aqui, quer dizer, ele, ele, foi feito a
revisão desse material aqui, que na verdade, foi revisão e muita, muita
construção também, não foi só revisão.
V. : Reconstrução, né?
L. : Reconstrução. Mas ele foi, foi elaborado de acordo com o ritmo das pessoas, não é? Então
porque... não tinha outro jeito porque todas as pessoas estão envolvidas com a parte de
didática, com a parte de extensão, então foi realmente com, com o ritmo das pessoas, então
ele foi, foi bem demorado mais foi um trabalho bonito porque ao mesmo tempo inclusive ele,
ele (...), como é que eu falo, ele... não é que ele capacitou, ele proporcionou a própria
capacitação da docente no, no processo.
V. : É, além do envolvimento do docente de todo, de...de outros
departamentos?
L. : De outros departamentos, claro. Eu acho que foi isso muito importante
isso. Muito importante mesmo. E. inclusive com metodologia nova, que pra
muitos, para muitos docentes, inclusive docentes novas na instituição, né?
Uma metodologia diferenciada, que eles ainda não tinha oportunidade de
participar, né? Não sei, então foi muito, muito interessante. Está sendo muito
interessante.
V. : Está sendo? Não acabou ainda?
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L. : Não, acabou. Porque que... nós, nós terminamos a parte do pessoal
auxiliar e, ao mesmo... agora iniciamos a parte dos enfermeiros, né? E nessa,
nesses enfermeiros é que têm um número de docentes, né? Um número
significativo, de docentes, desta instituição, e também um número significativo
de enfermeiros das instituições de serviços, né? Que, que está contribuindo
pra, pra esse, pra esse trabalho. Agora...
E. : Esse trabalho terminado, é, qual é a utilização dele?
L. : Este trabalho terminado, bom, primeiro ele tem, tem, né? Depe...
dependendo de qual, quais estratégias você irá adotar, ele vai poder ser
utilizado, o objetivo dele é capacitar os enfermeiros pra, pra participar do
processo de capacitação do pessoal de nível médio na utilização do grupo
integrado que ele trabalha, com o grupo integrado, né? Então, essa capitação
dos enfermeiros é que a instituição, ela pode utilizar esse material e criar
cursos de especialização em cima desse material , como nós fizemos, sabe.
E, e ele pode ser utilizado também dentro do processo de educação
continuada, pelo, de acordo com a necessidade através do, das áreas
isoladas, porque são cinco áreas, ele pega a enfermagem médica, a
enfermagem cirúrgica, o controle do, da [infecção de doenças], a assistência à
mulher no ciclo gravídico-puerperal, a assistência a criança e ao adolescente;
é, todo, toda essa clientela hospitalizada, de modo que...
V. : E administração?
L. : É, é administração, administração da assistência, é. Que mais, Valda?
V. : E quem sabe, um pouquinho da Luzia fora da escola. Além de todo esse
trabalho na escola, né? Dentro da (inaudível) como que é a Luzia lá fora?
L. : Será que tem lá fora, nem sei [riso], está tão misturada, né?
V. : Você falou muito dela só trabalhando, na Saúde Pública [riso].
L. : Será que tem lá fora?
V. : Não sei!
L. : Não sei, lá fora o que que é, eu sou Luzia.
V. : Você é solteira?
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L. : Solteira, 56 anos bem vividos, se possível quero viver mais cinqüenta e
seis.
V. : Você tem algum projeto, assim, de trabalho, de atividade fora deste aqui
da escola? Você tem outra atividade lá fora, além desta?
L. : Tenho.
V. : Então, é isso, o que você faz lá fora, além daqui?
L. : Tenho, eu tenho. Além de, daqui, quer dizer, eu sou “Maria”, eu sou dona
de casa, não é?
V. : É! Cozinheira?! [riso]
L. : Cozinheira, engraçado, né? Você volta às origens, eu adoro de manhã
estar em casa, fazer comida (trovão, chuva) sabe aquela comida, aquela
comida, naquela panela de ferro, fazer comida aquele arroz soltinho, bem
mineiro, né? Fazer angu, jiló, quiabo, não é todo dia também, não é? [riso]
V. : De vez em quando?
L. : De vez em quando [riso]. E, eu, deixe ver o que mais, além das atividades
domésticas, eu faço, faço parte de um grupo de [filosofia]. Então, a gente tem
um trabalho também.
V. : Esse trabalho é com alguma finalidade ou só no grupo, enquanto grupo
de estudo.
L. : Não, enquanto grupo de estudo, né? É grupo de estudo de capacitação de
pessoal também do, dos, grupo de estu... esse grupo tem uma pessoa que dá
curso. Então, a gente participa no sentido de, de... de proporcionar infra-
estrutura pra isso.
V. : Esse curso tem outras pessoas da escola ,que sejam da escola, e que faz
parte?.
L. : Tem, todas as pessoas da escola
V. : Carmelita tá junto, nesse curso?
L. : Carmelita, tem outras pessoas, de outros departamentos também, várias
pessoas,sabe? É bem interessante, sabe? É muito bom quando a gente sai
do mundo da escola e passa pro mundo, né? Pro mundo, [pega
cosmo],sabe?. Então é muito interessante, isso. 137
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V.: (riso)
L.: Não né? Vai para outras galáxias [riso] [riso]. É muito bom.
V.: Voa [risos] .
L.: Sabe, muito bom mesmo.
V. : Alguma pergunta?
L. : Bom, espera aí, tinha uma outra coisa, do estado, da secretária...
E.: É a história da secretária
V. : Bom, da Luzia fora da escola seria isso. E como é que a Luzia se diverte
lá fora?
L. : Como é que eu me divirto?
V.: É!!!
L.: Ah! De várias maneiras!!!
V. : Serestas? [riso]
L. : Serestas, pros buteco da vida.
V. : É uma vida ativa também, né?
L. : Dançando, dançando, né? Tão bom dançar! Que mais? Viajando, adoro
viajar, Nossa Senhora! Agora, como estou sem dinheiro, porque tem três...
mais de três anos, tem três anos que nós não temos aumentado, não é?
Então, está difícil viajar não é? Aí eu descobrir, então, eu fico vendo pela
televisão o, TV a cabo, então tem um canal que tem um punhado... ai eu viajo
pelo mundo inteiro. Ai é ótimo, que eu conheço os lugares e já posso fazer
minhas fichas e eu penso, porque eu planejo, assim ó: tal época eu vou em tal
lugar, né? Então eu falo, ai eu fico revendo coisas que eu já fui, lugares que
eu já fui e ainda fico planejando: eu quero ir em tal lugar assim, assim.
(inaudível).
V. : Luzia, você, você está no PRODEN, continua na escola pelo PRODEN
não. Você continua no PRODEN porque, voluntariamente?
L. : Não, eu tenho um vínculo institucional, né? Na verdade, primeiro porque
eu quero, né?
V. : É.
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L. : Isso ai; não tem dúvida disso. Mas, existe, tem um vínculo institucional o
seguinte: quando eu me aposentei, eu, aquilo que eu falei, em sessen...
setenta e dois, eu fiz concurso pro Estado, não é? Então eu fiquei no Estado
um período e na escola um período. Depois eu deixei o Estado pra ser
dedicação exclusiva na escola e quando eu me aposentei, eu retornei ao
Estado, e retornando ao Estado, eu discuti lá, e pedi, [na área de recursos
humanos] para ficar a disposição do PRODEN, para trabalhar nesse material
institucional, por que é interesse do Estado, né? Em relação à capacitação de
pessoal, a formação de recursos humanos. Então eu fiquei...
V. : O tempo que você ficou afastada, você ficou afastada sem vencimento?
L. : Sem vencimento, sem vencimento!
V. : E agora, com vencimento...
L. : E agora com vencimento. Na verdade, eu ganho, eu trabalho, é, é, eu
tenho quatro horas, legalmente, quatro horas de atividade e, e, só
remunerada pelo cargo que eu tenho no Estado que é de trezentos e pouco
reais por mês.
V. : É, muito bom, bastante, né? [riso]
L. : [riso]
V. : É o líquido? [riso]
L. : Não, com os qüinqüênios, são... que eu fiz [vinte cinco anos de
[Estadoestágio], então, eu tenho os quinquêniosqüinqüênios, acho que ele tá
líquido, quatrocentos e sessenta [riso] com os quinquêniosqüinqüênios, com
o prêmio de vinte e cinco anos de, de vinculação.
V. : No PRODEN, não tem uma remuneração, porque você é
de...coordenadora.
L. : Tem, tem. O PRODEN, o PRODEN ele dá uma remuneração pra todos os
coordenadores, né? É uma remuneração da... da instituição, de acordo com
os cargos; então a remuneração do PRODEN é mesmo, mesma relação do
CENEX, [é o UR, não sei o que lá, acho que F1] é, cento e quatro [reais] por
mês.
V. : E esse dinheiro vem do, da, do, do projeto?139
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L. : Vem do projeto.
V. : Não da universidade?
L. : Não da universidade, mas é, é, é o mesmo valor, valor estipulado pela...
de acordo com, com os cargos que tem...
V. : Da tabela da universidade?
L. : Da tabela da universidade. Então, é a gratificação de cento, e acho que
cento e quatro por mês. Só que a gente recebe, por exemplo no meu caso, as
outras pessoas que não são aposentadas recebem em forma de bolsa,
recebe todo mês. O meu, eu só posso receber três vezes por ano, então eu
recebi de quatro em quatro mês.
V. : Ah! Ótimo! [riso]
L. : [riso] (inaudível) de quatro em quatro meses eu recebo quatrocentos e
pouco reais, pelos trabalhos.
V. : Muito bem, mais alguma coisa Luzia, importante?.
L. : Não, bom...
V. : (inaudível)
L. : Importante, deve ter muitas...
V. : Importante muitas, com certeza.
L. : Da minha cabeça, agora que a gente vai...
V. : Alguma coisa do passado mais longínquo ou desse mais recente que
você queira, ainda, ressaltar de interessante...
L. : Não.
V. : Ou de você como pessoa?
L. : Não, acho que não. No momento agora, não tem nada não.
V. : Seu futuro está vivendo hoje.
L. : Meu futuro... eu não tenho futuro não. Meu futuro é hoje [riso]
V. : Seu futuro, você está vivendo hoje! [riso]
E. : É nossa linha, né?
V. : É, é nossa linha de pensamento
L. : É, não tem jeito não!
V. : Bom, então a gente só tem que te agradecer140
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L. : Ah! Eu também, que bom, foi muito bom pra mim. Foi bom ter lembrado
de muitas coisas, né? De outras coisas... agora, a gente vai chegando em
uma certa idade, que, é, que a natureza é sábia mesmo, chega uma certa
idade que a gente passa a lembrar só o que é agradável, né? Então, aquilo
que é...
V. : Marcou, sofreur...
L. : Marcou, sofreu...
V. : ...dDeixa pra lá.
L. : D...deixa pra lá, deixa pra lá, né? Pronto, né? Passou, né? Mas o que eu
sinto, na verdade, é que dentro do meu projeto político, dentro do meu projeto
de vida, ele tem muita coisa ainda pra ser feito, né?
V. : Você tem uma caminhada....
L. : Tenhom.
V. : ...pPela frente ainda.
L. : Tem, tem muita coisa pra ser feito, né? Então...
V. : Tem a haver com a enfermagem?
L. : Eu falo dentro da enfermagem, não é? Dentro da enfermagem.
V. : Dentro da enfermagem, né?
E. : Quais são esses projetos? Pode-se adiantar alguma coisa?
L. : Porque... não, porque eu, eu luto pra uma enfermagem de qualidade, né?
Então, realmente pra uma enfermagem de qualidade. Então eu fico pensando
de como eu entrei na enfermagem, quando eu entrei na enfermagem e como
que a enfermagem está hoje, não é? Como, quando, eu lembro que quando
nós entramos... quando eu entrei não existia enfermeiro no centro de saúde,
era só o pessoal atendente. E, o, o que que a gente fazia? A escola, nós
enquanto professores da escola, nós assumimos, muitas vezes, em capacitar
os atendentes do centro de saúde da... buscando a melhoria da qualidade,
não é? Então, hoje nós estamos buscando o quê? Qualificar esses
atendentes, né? Na melhoria da qualidade. Então, tem muita coisa para ser
feita, né?
E. : como é que você...141
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L. : Considerando que 63, 63% da força de trabalho da enfermagem é de
pessoal não qualificado, né?
E. : Como que você vê, você que, que esses, esses dias teve uma chance de
recordar um pouco e rever um pouco a enfermagem, como que você percebe
essa evolução de quando você entrou como aluna até hoje?
L. : É, muito lenta. Pe... se a gente considerar, se a gente considerar o, o
avanço tecnológico, eu acho... a questão da enfermagem, ela é muito lenta,
as mudanças da enfermagem. Então, eu fico pensando se hoje nós temos,
né? Não tinha clareza sessenta e tantos, sessenta e três por cento da força
de trabalho da enfermagem é de pessoal não qualificado, eu não estou nem
questionando se é pessoal titulado ou não; a gente sabe que ele é um pessoal
não qualificado, a gente conhece a história de como que o pessoal entra na
enfermagem, né? Então, se a gente busca uma qualificação desse pessoal,
então a gente teria que avançar e, e, em estratégias que, , que capacitasse
esse pessoal no maior número possível, né? Estratégias, estratégia
(inaudível), nem que pegasse ensino à distância, sabe, o ensino
despolarizado, ensino centralizado, sabe? No entanto, a enfermagem é muito
resistente a isso, sabe? Muito resistente. Agora pelo menos a gente tem a
grande vantagem da aprovação da LDB, né? Então pelo menos você garante
a educação à distância pela LDB; que a própria universidade, a própria
universidade estava negando, porque ela não tinha o, o, o aval formal uma
vez que no... que não era aprovado a educação à distância, né? Então eu
acho que... tem muita coisa para ser feito e eu acho que pode avançar
demais, sabe? Uma vez que, que o pessoal que faz enfermagem, o pessoal
que faz enfermagem, faz enfermagem, tem uma, um certo conhecimento. Eu
acho que precisa é buscar sistematizar esse conhecimento, não é? Por isso
que eu acho que... né?
V. : Tem muita coisa para ser feita, né?!
L. : Muita coisa, mas coisa é demais, né?
V. : Estamos ai.
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L. : E, eu me sinto engajada nesse processo, não é? E quero continuar
trabalhando, enquanto eu tiver viva, né?
V. : Vamos em frente.
L. : Vamos em frente, tá? Então eu agradeço tá? Essa oportunidade de, de
lembrar um pouco das coisas da escola. Hoje... hoje, a hora que eu entrei
nessa sala eu fiquei vendo essa mesa que era da biblioteca, aqui da escola...
V. : É ? [risos].
L. : Toda.
V. : [Sombrenhada, né]?
E. : Sombrenhada. Eu estudei muito nessa mesa. Eu gostava dela, por que
tinha um lugarzinho pra botar o pé ali em cima, [riso] então você descansava
o pé.[riso] [risos].É!
V. : Bem, eu acho que sua, sua entrevista foi importante [vozes de criança]
porque além de, de lembrar a Eescola Carlos Chagas, você deu muitas
informações sobre a Escola de Enfermagem da UFMG, né?
L. : É.
V. : Espero que alguém mais, pra frente faça essa complementação, né? de
sessenta e oito pra cá.
L. : É, é claro. Tá bom. Muito obrigada.
[FINAL FITA 4 LADO B]
FITA 5, LADO A
Va.: Continuando...
L.S.: Nós, nós já tínhamos as pessoas indicadas porque nós, nós íamos pegar
alunos recém formados que haviam tido, sido representando destaque
durante o curso de graduação. É, alunos recém formados prá fazer, prá ser
professores no horário da manhã e eles iriam fazer a habilitação em
Enfermagem em Saúde Pública no horário da tarde , entendeu: porque na
verz...Ah, outra coisa, eu enquanto minha experiência, enquanto, enquanto 143
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chefe de departamento, a gente tinha maior dificuldade. Nós tínhamos as
vagas para profe...nós tínhamos necessidade de, de, de docente, tínhamos a,
a autorização da uUniversidade para contratar em caráter precário, mas não
conseguimos a pessoa.
Va.: Por que?
L.S.: Não tinha gente no mercado, e.
Va.: Hum...
L.S.: Entendeu?. As pessoas que, que tinham, os enfermeiros que tinham,
todos estavam trabalhando na área hospitalar, e para ficar oito, vinte
horas...pagando a uUniversidade... sempre pagou mal, né. Teve um período
muito ruim...igual está agora né.
Va..: Continua, né. [risos]
L.S.: Então, ninguém queria correr o risco de passar de prá uma atividade de
enfermeira para docente, né. Não queria correr o risco.
Va.: Ainda mais numa situação precária, né?
L.S.: Precária, é. Então nós tínhamos muita dificuldade de conseguir gente no
mercado, né. Eu mesmo, enquanto chefe de departamento, passei assim de
disciplina que vai começar o mês que vêm, vai começar amanhã, depois de
amanhã, hoje de tarde, e eu não tenho gente prá poder...entendeu, pra
poder ; e a gente tentava, buscava em São Paulo -SP. Depois eu fui prá São
Paulo tentar, e foi na minha gestão no departamento que nós conseguimos
contratar várias pessoas, que estão aqui até hoje, nestas condições. Aí,
conclusão, tava tudo O.k ok., já tinha tudo, tudo acertado no planejamento, né
na Uuniversidade, quem seriam as pessoas. Tínhamos discutido está
possibilidade, tudo okOK, conversado com as pessoas...as pessoas, as
enfermeiras tinham aceitado, né. E quando nós fomos levar o nome; aí, aí
houve o impedimento. Quando nós fomos oficializar, teve impedimento da
direção da escola. Uma pessoa não, não admitia que fosse contratada.
Va.: Quem era?
L.S.: Uma pessoa, uma, uma aluna, uma...aluna assim...que seria aluna.
Va.: Ex aluna?144
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L.S.: É, ex aluna. Essa, jamais ela era permitida, se ela não entrar ninguém
mais entra. Então na verdade, foi uma relação de poder entre a chefia de
dDepartamento e a chefia de... a direção da escola. Falei: “Sse ela não entrar
nós vamos mudar a estratégia se ela não, se não for possível entrar, ninguém
mais entra.” Então ela falou : “Eela não entra.” Não entra, aí ela criou o maior
caso, foi no planejamento, o planejamento criou, começou a criar uma série
de caso na contratação, entendeu?
Va.: Secretária de planejamento?
Es.: ..dDa universidade...
L.S.: Da Universidade, né. Aí falei: então a estratégia vai ter que ser outra.
Então a estratégia, nós vamos contratar então pessoal...aí não ia contratar
mais ninguém. E o curso estava para ser começado no mês seguinte. Aí falei:
“”sSe a única forma, a única forma , é de colocar os alunos que já estão
matriculados a pressionar a Reitoria”. Aí, os alunos foram para a rReitoria,
para pressionar a rReitoria, elaes já estavam matriculados, aí eu falei : “”Aí,
nós suspendemos o curso, não temos professores, é impossível dar o curso”.
Porque eles, os alunos iam entrar, né. Eles iam entrar para assumir a
graduação, enquanto os professores que estavam na graduação passariam
para a...
Es.: Habilitação.
L.S.: Habilitação em Enfermagem em Saúde Pública. Essa era a estratégia.
Va.: Unhum.
L.S.: Aí, como a direção da escola barrou, falou que essa pessoa, ela não
entraria né, então inviabilizou, então diante disso foi começado ttodas as
negociações...
Va.: A diretora era a YIoley (de Carvalho YMazzonni) nesse período?
L.S.: É, era. Todas as negociações, tá. E...diante disso ai por, não sei, se por
coincidência tinha essas duas vagas, por coincidência apareceram,
apareceram -foi isso mesmo- duas professoras de São Paulo -SP, estavam
vindo prá cá, duas enfermeiras, que foi a Marrie [Azuma Rodrigues] e a R eiko
[Kawamura]. icco. 145
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Va.: Unhum.
L.S.: Entenderam. Bateram na minha porta, na minha casa. Sabiam que eu
era chefe do departamento, eu falei: “” Ttudo bem”, e fui conversar com elas.
Por sorte elas, uma era da Faculdade Paulista de Medicina e a outra era da,
da Universidade de São Paulo -USP. E todas duas na área, de, de com
experiência em Enfermagem em Saúde Pública. Aí que foi, que nós, que foi
possível a gente começar a , a habilitação.
Va.: E a pessoa, não foi admitida?
L.S.: Não, foi admitida. As outras gradativamente entraram, por concurso.
Depois essa pessoa, ela fez o concurso, público para, prá, prá depois mais
tarde, já quando tinha ouns três departamentos, ela entrou prá escola por
concurso público, ficou um pouco mas depois, também saiu da escola, não
quis ficar.
Es.: E qual era a alegação, na época, da diretora de não aceitá-la?
L.S.: Essa pessoa, ela tinha uma liderança muito forte. E ela tinha uma
representação uUniversitária. Ela era membro da representação
uUniversitária. Então ela era “pedra no sapato” da direção da escola e do
Reitor.
Va.: Ahn!Unhum .
L.S.: Então, ela teve um respaldo da, da rReitoria; porque ela era “pedra no
sapato do rReitor”. Ela levantava o dedo no nariz do Rreitor. Entendeu?
Va.: Ela era terrível?[risos].
L.S.: Aí sabe, aí ela, não foi possível, então nós mudamos a estratégia. A
gente tinha, tinha uma direcionalidade. A gente sabia por onde queria
caminhar dentro da enfermagem em Ssaúde Ppública, então por isso que a
gente buscava, e para poderem, sendo a sSaúde Ppública como ela sempre
foi vista. A gente tinha que procurar colocar pessoas realmente...
Va.: ...eExperientes...
L.S.:...f Fortes; entendeu?. Por que se não...
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Va.: O fato da Yole ser da Oobbstetrícia e ser diretora, isso é que você acha
que contribuiu para aquela dificuldade de abrir o curso de Saúde Pública?
L.S.: Não, não, não...Porque a Yole nesse período, a Yole, ela, ela não tinha
um perfil, ela não tinha um perfil de, de enfermeira obstetra não, e.
Entendeu?.
Va.: Confundi ela com a NoemNoemiia.
L.S.: É. Ela não tinha um perfil. Porque a Yole foi professora da Enfermagem
Obstetrícia, daquele curso lá... da (Escola de Enfermagem) Carlos Chagas
(Escola de Enfermagem), lá... onde tem aquela outra escola.
Va.: Certo.
L.S.: Tá, mais a Yole não tinha esse perfil, ela, ela dava Enfermagem
Cirúrgica.
Va.: UmhumHum-hum.
L.S.: Tá. Ela não tinha esse perfil, ela não tinha nesse ponto, nesse ponto a
Yole era muito...ela busca... procurava ser muito justa, muito justa em relação
sabe? Era muito forte, a gente discuti...conversa...discutia muito com ela mas
ela, ela procurava ser legal e não influenciava nisso não. Só nesse caso
dessa, dessa contratação aí...
Va.: ...qQue ela...
L.S.: É. Ela não falou categoricamente mas, ela mostrou que inclusive não
tinha nenhum respaldo do reitor. Ela alegava, que não tinha nenhum respaldo
do rReitor, por isso...e colocava todas as questões que tinham acontecido.
Va.: É, essa aluna foi muito rebelde, muito revindicadorareivindicadora, né?
L.S.: É. Rebelde eu não sei, revindicadorareivindicadora...
Va.: RevindicadoraReivindicadora, brigava pelos direitos, né?
L.S.: É, também, ela foi uma aluna militante, entendeu?
Va.: Bom, e o resto da Saúde Pública, e você foi a professora da Saúde
Pública na habilitação, quando a habilitação terminou o que que aconteceu
com a...
L.S.: Aí dentro da, da habilitação em Enfermagem emda Saúde Pública, aí
acho que tem vários momentos, né?147
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Va.: AhHá, sim.
L.S.: Dentro da própria Enfermagem...
Va.: ...eEnquanto habilitação.
L.S.: Né, enquanto habilitação, foi...foi a gente procurou desenvolver mas, a
gente passou por várias reestruturaçãovárias reestruturações, reestruturações
da habilitação. Ela teve um momento em que a gente tinha toda, toda a parte
teórica e prática no cCentro de saúde, daqui (em Belo Horizonte- Mg), depois
ela passou por um momento em que...da habilitação ela continuou por vários
períodos né, depois ela teve por um outro momento em que nós fomos para o
interior, não é. E como a gente tava sempre voltada para as políticas de
saúde e a gente tinha uma, uma ligação assim bem forte com o Ministério da
Saúde. Porque, nos passamos por um momento de incorporar na habilitação
um projeto próprio do Ministério da saúde, que, que foi a inserção de
enfermeiro no interior. Porque a gente atuava somente na, na em Belo
Horizonte, aí diante desse projeto, esse projeto, ele buscava inserir o
enfermeiro em municípios geralmente de médio porte, né. Porque a enfer... na
verdade, porque a história da Enfermagem em Saúde pública ela começa com
uma força total na história da enfermagem, né. Depois ela entra em
decadência, né. Aí tem a acessão toda da enfermagem hospitalar. E na
enfermagem de sSaúde pPública... depois, dela ter um papel bem claro, aí ela
se perde. Ela passa a ter uma atuação muito mais a nível intermediário e a
nível central, né. A história da enfermagem na sSaúde pPública, e aí então a
gente buscava retomar isso daí. E volta a eEnfermagem em Saúde saúde
Pública pública para um nível local, né. E esse trabalho já estava sendo
desenvolvido desde que eu fui para São Paulo -SP, para fazer o quarto ano.
Porque o que a gente buscava, era uma definição do papel do enfermeiro a
nível local. E mas, que era difícil, porque a nível de serviço público não tinha
nada estruturado e não tinha cargos. Então na verdade não existia mercado
de trabalho, você formava o enfermeiro de Saúde Publica, ele saía preparado
para atuar a nível local, porém ele ia trabalhar na área hospitalar, porque não
tinha mercado de trabalho. O mercado de trabalho [barulho de água]} eram as 148
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instituições públicas e não tinha, né, não tinha é, é vagas. Então...(eu também
aceito água, viu?)
Va..: [Risos]
L.S.: Aí obrigada...[risos]. Aí quando foi...Onde que eu parei?
Va..: Não tinha política...de Saúde saúde Públicapública.
L.S.: Ah, tá. Aí, aí vem toda a história. E esse período todo a gente estava
todos na política da integração [ docente-assistenciala política social] né. E
dentro da política de integração[ de docente docente-assistente] a gente já
tinha estabelecido convênios, dentro da habilitação, nós já tínhamos
estabelecido convênios com a Secretária Estadual de Saúde, e a gente já
tinha tido a experiência do, do Centroplano Mmetropolitano em que nós
tínhamos alunos da habilitação, que fazia a parte prática em Centros centros
de Saúdesaúde, mas que eram bolsistas da Secretária de Saúde, né. Então, a
gente vem, pela nossa linha, a gente vem sempre trabalhando com bolsistas
né, sempre incorporando o enfermeiro...então, ele enquanto bolsista da
Secretária da sSaúde, atuando na área metropolitana. Aí a gente tenta
avançar um pouco mais. Então, tenta entrar nesse projeto do, do Ministério da
Saúde, e era um projeto que era o Ministério da Saúde e a AOPAS,(
), e que buscava é... eles estavam buscando um modelo de um indivíduo que
fosse o intermediário, que atuasse no papel de supervisor entre o nível, entre
o nível, regional e o nível local. E eles queriam testar que achava que era
pelo perfil do enfermeiro, era ele que respondia mais as necessidades.
Porque na verdade, o que estava acontecendo com, com a Saúde saúde
Públicapública, é que já havia depois do decreto 200, com toda a, a
regeneralização né. Então tinha o nível central da Secretaria Estadual já
estava estruturado os regionais já estavam estruturados, eles estavam já
buscando uma forma de estruturar o nível local. E dentro do nível regional
eles tinham um sistema de supervisão, e que era uma supervisão polivalente.
Então tinha vários profissionais da área de saúde e dependendo de quem
indicava na época tinha de outras áreas também, tinha historiadores,
sociólogos...149
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Es.: Pessoal da [Faculdade de] Letras(faculdade)...
L.S.: Da Lletras, né. Aí dependia de quem tinha o Q.I mais forte, qual o
deputado majoritário da região...[risos].
Es.: Quem indicava?
L.S.: Quem indicava. Era o Q.I, quem indica, que prevalece. Toda essa
política - clientelista da década de quanto?; foi da década de setenta, né?. Aí
vem toda, isso está incorporado em outro discurso da, da...da assistência
primaria à saúde, né. Toda, toda a reforma.
Va.: Quer dizer, na verdade, a enfermagem é... participava tentando
acompanhar e lutar por todas essas...
L.S.: Justamente, na sSaúde pPública nos três níveis ela participava, tanto no
nível local, como regional e como no nível central.
Va.: Pois é, na luta é para definir as políticas de saúde a nível governamental.
L.S.: Quando eu falo dos três níveis, eu falo da Enfermagem em Saúde
Pública da Escola de Enfermagem da Universidade.
Va.: Sim, unhumhum-hum. Pois é, eu quero dizer assim: a Escola de
Enfermagem lutando para que o governo mudasse a política de saúde em
relação aà S saúde Públicapública?
L.S. É, unhumhum-hum. Então a gente, a gente incorporava todos os
movimentos, a gente estava incorporado a todos os movimentos, né. Em
todos os movimentos da saúde comunitária, né, da assistência primária à
saúde, todos os movimentos. Aí bom, onde que eu parei?
Va.: Interiorizarão?
L.S.: Interiorizarão. Aí veio então, a proposta do Ministério da Saúde, que era
a gente trabalhar em oito municípios, e que o aluno ficaria, ele era aluno da
escola e estava fazendo o quarto ano...
Va.: Não, habilitação.
L.S.: Habilitação. Aí a nossa... esqueci de falar um detalhe, quando nós
reformamos a habilitação. Aí nós, naquele período que a gente, que nós
tivemos habilitação de seis meses, aí acabamos com a habilitação de seis
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meses e passamos a habilitação para um ano; por causa da Enfermagem
Obstetrícia. Lembra que eu falei da história da Enfermagem Obstetrícia?
Va.: UnhumHum-hum.
L.S.: Porque era para igualar as habilitações, para obter o mesmo número de
carga horária, aquela história toda. Só que a Enfermagem Obstetrícia também
não saiu. Nós tínhamos, já tínhamos tido experiência, passamos para outra.
Então era o que nós tínhamos, era o oitavo, era o nono e o décimo período,
não é?. E então diante disso aí, nós tínhamos, nós íamos colocar a gen...o
décimo período dentro da habilitação é que nós, os alunos eram bolsistas da
Secretária de Saúde, então o décimo período ele fazia praticamente em
Centro centro de Saúdesaúde, na área metropolitana, né. Tinha em Nova
Lima (MG), tinha em Sabará (MG), na área metropolitana. Aí a gente
incorpora o modulo básico, incorpora o interior. Então a gente coloca os
alunos e a proposta, a nossa a nossa experiência era de seis meses o aluno
ficar na prática, no Serviço serviço de Saúdesaúde. Já essa proposta, ele
teria de ficar um ano lá. Então nós tínhamos que reformular um pouco, aí nós
reformulamos, um pouco, começamos com essa outra experiência, que era de
colocar o aluno do nono período também, entendeu?. Então aí o que que nós
passamos, nós passamos a fazer, a desenvolver o mesmo conteúdo
programático para ele. Só que a gente tinha um roteiro e montamos pastas,
em que a gente tinha na supervisão mensal que a gente dava para ele, a
gente tinha um roteiro para discutir porque ele, ele não tinha aula teórica mais,
entendeu?.
Va.: Já era experiência dele?
L.S.: Era experiência dele.
Va.: Mais independente da Escola.(de Enfermagem de MG)
L.S.: No Mmunicípio mais independente. Então a gente, o que nós fizemos,
nós privatizamos vários assuntos, dentro daquilo que era importante para ele,
dentro do possível e muitos até aumentavam de acordo com a necessidade
com a vivência deles. Porque eram Municípios municípios diferenciados né,
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tinha aluno em Município município de quatro mil habitantes e tinha aluno em
Mmunicípio de quarenta mil habitantes e até mais, táta?
Va.: Desses lugares do interior algum mais marcante?
L.S.: Aí esse, essa experiência foi de um ano, né. E com essa experiência,
essa experiência ela foi acompanhada com o Ministério da Saúde e com a
secretária da Saúdesaúde, né. Então de acordo com essa experiência, aí que
o Estado de Minas Gerais, estava em discussão de aumentar os cargos, aí
isso houve uma demanda dos Municípios municípios que tinham tido
enfermeiros, de reivindicar enfermeiro para aquele local. A própria
comunidade reivindicando o enfermeiro, e o Estado de Minas Gerais, dentro
da política de, de... Recursos recursos Humanos humanos do Estado de
Minas Gerais, por [foi na época de Juarez Tavares] [como secretário de
saúde], eles estavam reeistruturando e haveria um concurso. Então foi aí que
foi alocado o primeiro concurso, depois que eu entrei para o Estado, foi o
primeiro concurso do Estado, que tinha um número bem significativo de
enfermeiros nos níveis locais. Porque antes era só para a Regional regional
que tinha enfermeiros, tá.
Va.: UnhumHum-hum.
L.s.: Então é um outro marco prá gente, né?. Que aí, já há uma abertura de
um mercado de trabalho para os enfermeiros nos Municípios municípios do
Estado de Minas Gerais.
Va.: Como fruto desse trabalho da Saúde saúde pPúblicaública, né.
L.S.: É, desse trabalho da Saúde saúde Públicapública. Bom, acho melhor
parar não?
Va.: Você quem sabe [risos].
L.S.: Acho melhor.[inaudível].
[FINAL FITA 5 LADO A]
[FITA 5 LADO B NÃO FOI GRAVADO]
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[FINAL DA ENTREVISTA]
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FICHA TÉCNICA
Datas das Entrevistas: 24/01/1997, 30/01/199, 21/02/1997
Local: Escola de Enfermagem da UFMG
Número de Fitas: 05
Duração: cerca de 520 minutos
Entrevistadores: Valda da Penha Caldeira
Estelina Souto do Nascimento
Adriana Ferreira Pereira
Conferência de Fidelidade: Sílvia Elisângela Silva Fernandes
Valda da Penha Caldeira
Luciana
Traços Biográficos e Sumário: Valda da Penha Caldeira
Luciana....
Conferência de Fidelidade: Sílvia Elisângela
Silva Fernandes
Valda da Penha Caldeira
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