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1 UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO INSTITUTO DE LINGUAGENS PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ESTUDOS DE LINGUAGEM PRISCILA APARECIDA MORAES HENKEMAIER XAVIER A OSTRA SE ABRIU: PERCEPÇÕES DE ALUNOS SURDOS SOBRE SEU PROCESSO DE APRENDIZAGEM DE LÍNGUA INGLESA EM UM CURSO A DISTÂNCIA CUIABÁ-MT 2014

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO

INSTITUTO DE LINGUAGENS

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ESTUDOS DE LINGUAGEM

PRISCILA APARECIDA MORAES HENKEMAIER XAVIER

A OSTRA SE ABRIU: PERCEPÇÕES DE ALUNOS SURDOS SOBRE SEU

PROCESSO DE APRENDIZAGEM DE LÍNGUA INGLESA EM UM CURSO A

DISTÂNCIA

CUIABÁ-MT

2014

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PRISCILA APARECIDA MORAES HENKEMAIER XAVIER

A OSTRA SE ABRIU: PERCEPÇÕES DE ALUNOS SURDOS SOBRE SEU

PROCESSO DE APRENDIZAGEM DE LÍNGUA INGLESA EM UM CURSO A

DISTÂNCIA

CUIABÁ-MT

2014

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PRISCILA APARECIDA MORAES HENKEMAIER XAVIER

A OSTRA SE ABRIU: PERCEPÇÕES DE ALUNOS SURDOS SOBRE SEU

PROCESSO DE APRENDIZAGEM DE LÍNGUA INGLESA EM UM CURSO A

DISTÂNCIA

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em

Estudos de Linguagem da Universidade Federal de Mato

Grosso, como parte dos requisitos para a obtenção do título

de Mestre em Estudos de Linguagem.

Área de Concentração: Paradigmas do Ensino de Línguas

Orientador: Prof. Dr. Dánie Marcelo de Jesus

Instituto de Linguagens

CUIABÁ-MT

2014

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO

INSTITUTO DE LINGUAGENS

COORDENAÇÃO DO PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO

EM ESTUDOS DE LINGUAGEM

DISSERTAÇÃO APRESENTADA À COORDENAÇÃO DO PROGRAMA DE PÓS-

-GRADUAÇÃO - MESTRADO EM ESTUDOS DE LINGUAGEM

____________________________________________

Prof. Dra. Claudia Hilsdorf Rocha (UNICAMP)

Examinadora Externa

____________________________________________

Prof. Dra. Tatiana Wonsik Recompenza Joseph (UFSM)

Examinadora Interna

___________________________________________

Prof. Dr. Dánie Marcelo de Jesus (UFMT)

Orientador

Cuiabá/MT, 09 de Maio de 2014.

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Dedicatória

A meus pais, Sandra e Nelson, pelo

incentivo e apoio em todas as minhas

escolhas e decisões. O carinho deles foi, de

longe, o que eu mais persegui na vida.

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Agradecimento

Agradeço A DEUS por colocar pessoas tão especiais a meu lado, sem as quais certamente não

teria dado conta!

Gostaria de agradecer a todas elas que, direta ou indiretamente, contribuíram para meu

crescimento intelectual e emocional nesta dissertação. Auxiliaram-me na ampliação de minha

percepção dando-me mais sentido à minha vida acadêmica. Em especial a Dánie Marcelo de

Jesus, que aceitou o desafio de me orientar nesta jornada e acreditou em meu potencial, de

uma forma a que eu não acreditava ser capaz de corresponder. Sempre disposto a ajudar,

querendo que eu aproveitasse cada segundo dentro do Mestrado para absorver conhecimento.

Fez-me enxergar que existe mais que pesquisadores e resultados por trás de uma dissertação:

existem vidas humanas... Você foi e é referência profissional e pessoal para meu crescimento.

Obrigada por estar a meu lado e acreditar tanto em mim.

A meus pais, Nelson e Sandra, meu infinito amor. Sempre acreditaram em minha capacidade,

julgando-me GUERREIRA, ainda que não o fosse.

A meu querido esposo, Andrico. Por ser tão significativo em minha vida, pelo

companheirismo, pela amizade, pela paciência, pela compreensão, pelo apoio, alegria e amor,

este trabalho pôde ser concretizado. Obrigada por ter feito de meu sonho o nosso sonho!

A meus irmãos: Kévin e Andrew, pois sempre se orgulharam de mim e confiaram em meu

trabalho.

A meus avós, tão especiais em minha vida. Iluminaram-me, dia após dia, com seu amor e

sempre me aconselharam e incentivaram a pensar positivamente e a acreditar em Deus e suas

Divinas Providências. Ainda, a meus tios, tias, primos e primas, que vibraram comigo desde a

minha aceitação ao mestrado.

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In memoriam de minha segunda mãe, tia Cleuza, bem como a minha prima e irmã de coração,

Pamela. Também de minha madrinha Alayde.

A meus sogros e familiares de meu esposo, pelo incentivo.

Às minhas amigas de infância: Samara e Elaine, pelo crescimento e por nossa luta.

À professora Luíza Mara por ensinar pelo método do amor. Jamais vou esquecer que a

senhora me fez acreditar em meu futuro.

À professora Jane, companheira e mãe dos surdos de Tangará da Serra, que depositou em mim

grandes expectativas. Bem como à todos os Professores da AADATA (Associação de Amigos

dos Deficientes Auditivos de Tangará da Serra).

A meus amigos surdos de Mato Grosso, Rio de Janeiro e Rio Grande do Sul, notadamente

pelo companheirismo. Juntos, aprendemos muito.

A meus colegas do mestrado, pelos momentos partilhados, especialmente à Débora e

Fernanda, que se tornaram verdadeiras amigas com sua ajuda, este trabalho se fez mais leve.

A todos os alunos, professores e diretores do CAS e SEDUC-MT. Com seus ensinamentos e

amizade, pude concretizar este projeto.

À professora e tradutora Juliana, pela paciência e pelo apoio incondicional em momentos de

angústia nessa caminhada. Auxiliou-me em minha autoestima com palavras estimulantes até o

término deste trabalho. Exemplo de profissional. Devotada ao que faz, potencializa o

crescimento educacional.

À minha amiga, Tatiana. Acolheu-me como companheira e aprendiz, por dias proveitosos em

Santa Maria. Sobrelevo sua sensibilidade e seu coração generoso.

À colega Ana Paola, pelo apoio nas atividades didáticas.

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À Universidade Federal de Mato Grosso. Abriu-me as portas para que eu pudesse realizar este

sonho, minha DISSERTAÇÃO DE MESTRADO. Proporcionou-me mais que a busca de

conhecimento técnico e científico: foi-me LIÇÃO DE VIDA.

OBRIGADA A TODOS!

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...os surdos se engajam em uma

prática, um diálogo interno e externo

contínuo. Este diálogo não somente reconhece

que a existência, na condição de pessoa

surda, é na verdade um processo de tornar-se

e manter-se surdo, mas também reflete

diferentes interpretações de deafhood, ou o

que ser uma pessoa surda em uma

comunidade surda pode significar.

(Padd, 2003)

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Resumo

A educação dos surdos tem se transformado significativamente nos últimos trinta anos, com

conquistas fundamentais, entre elas a aceitação do bilinguismo como a condição ideal para a

efetivação da formação do surdo. Desde a criação do Curso de Letras-Libras em 2006, uma

das conquistas recentes na área, discussões linguísticas têm se fomentado, ampliando o

conhecimento tanto teórico quanto prático sobre Linguagem, e a capacidade do surdo em se

comunicar em diversas línguas. Considerando esse cenário, este trabalho se insere no contexto

em que o conceito de letramento deve incluir as perspectivas do Multiletramento e

Letramento Crítico (PERREIRA, 2011; ROJO, 2009; JORDÃO; 2011; CARBONIERI, 2012).

Finalidade é de ampliar o pensamento crítico dos alunos, entreabrindo espaço para reflexões

sobre si próprios e sobre o mundo em que vivem. Igualmente, objetiva analisar quais são os

sentidos produzidos por um grupo de alunos surdos em um curso de inglês na modalidade a

distância, inserindo, nesta análise, discussões sobre ensino de língua estrangeira para surdos e

a modalidade de ensino propriamente dita. O trabalho encontrou suporte teórico nos estudos

de Pereira (2011), Rojo (2009), Sousa (2008) e Aragão & Borba (2012) sobre o conceito de

multiculturalismo, letramento crítico, e em Jesus (2008) sobre as implicações do ensino a

distância, novas tecnologias e multiletramento. As questões que nortearam a pesquisa foram

estas: 1) Como se pode perceber o processo de aprendizagem de alunos surdos em língua

inglesa à distância? 2) Quais as contribuições da modalidade do ensino a distância no

processo de ensino-aprendizagem de língua inglesa escrita para alunos surdos, sobretudo em

relação às estratégias e opções para fomentar o multiletramento? A metodologia de pesquisa

acolheu uma abordagem interpretativa, partindo de descrições críticas, desde a experiência

particular da própria pesquisadora – como surda e aprendiz da língua inglesa em diferentes

cursos – até à experiência coletiva – como professora do curso de inglês a distância, para

surdos. Os dados são gerados por meio de questionários, das atividades desenvolvidas no

curso oferecido, perguntas, interatividade e entrevistas com os participantes. Os resultados

sugerem a necessidade de estratégias didáticas que assumam o conceito de imagem como

fundamental no ensino de inglês para surdos, compreendendo que “imagem” não é a gravura

que acompanha as atividades. Mais que isso: é a estrutura visual da apresentação do texto em

relação à sua sintaxe.

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ABSTRACT

Deaf education has transformed significantly over the last thirty years, with key achievements

as acceptance of bilingualism as an ideal condition for effective education of the deaf. Since

2006 Language Sign Language course has established, one of the recent achievements in the

area, linguistic discussions have increased expanding both theoretical and practical knowledge

about language, and the deaf’s ability to acquire different languages. Considering this

scenario , this work is based on the context in which the concept of literacy must include the

Multiliteracies and Critical Literacy perspectives (PERREIRA, 2011; ROJO, 2009; JORDÃO;

2011; CARBONIERI, 2012) in order to expand students ' critical thinking, providing space

for reflections about themselves and about the world where they live. It aims to analyze what

are the meanings produced by a group of deaf students at an English course in distance

education, adding to these analysis discussions about foreign language education for the deaf

and the teaching method itself. The study has support in theoretical studies Perreira (2011) ,

Rojo (2009), Sousa (2008) and Aragão & Borba (2012) about the concept of multiculturalism,

critical literacy and Jesus (2008 ) on the implications of distance education , new technologies

and multiliteracy. The questions that led the research were the following: 1) How can you see

the deaf students learning process in English in the distance education? 2)What are the

contributions of the distance teaching modality in written English teaching and learning

process for deaf students? (especially in relation to strategies and options to foster

multiliteracy). The research methodology had an interpretive approach starting with critical

descriptions, since the particular experience of the researcher (as deaf and English learner in

different courses) to the corporate experience as a teacher of distance English course for deaf

people. The data are generated by questionnaires, from the developed activities along the

course, questions, interactivity and interviews with participants. The results suggest the need

for teaching strategies which take the concept of image as fundamental in teaching English to

deaf, but realizing that " image " is not the picture that accompanies the activities , but the

visual structure of text presentation in relation to its syntax.

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Sumário

Dedicatória 5

Agradecimento 6

Mensagem 9

Resumo 10

Abstract 11

INTRODUÇÃO: AS PÉROLAS DA VIDA 14

CAPÍTULO 1: GRÃO TEÓRICO 27

1.1 O sentido da língua estrangeira para o surdo 28

1.2 Letramento crítico, multiletramentos e o ensino de inglês para surdos 33

1.3 O que são multiletramentos? 35

1.4 Multiletramento, letramento crítico e o ensino de inglês para surdos 38

CAPÍTULO 2: ENTRADA NA CONCHA: METODOLOGIA DA PESQUISA 43

2.1 Caracterização da pesquisa 45

2.2 O contexto da pesquisa: ambiente virtual 47

2.3 Instrumentos para a geração dos dados 50

2.3.1 Questionários 51

2.3.2 Atividades de escrita e vídeo 51

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2.3.3 Entrevistas 52

2.6 Procedimentos de análise 54

CAPÍTULO 3: ENTRE ALGAS E CORAIS: ANÁLISE DOS DADOS 56

3.1 Perfil dos alunos 56

3.2 Primeiras atividades em inglês: as sementes marinhas 63

3.3 A semente se constitui em algas: dificuldades gradativas 66

3.4 De ostras e algas: a água como espelho 70

3.5 Algas se desmancham na água: o medo da letra 74

CONSIDERAÇÕES FINAIS 77

Referências bibliográficas 82

Anexo I 86

Anexo II 87

Anexo III 88

Anexo IV 90

Apêndice 110

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INTRODUÇÃO

As pérolas da vida

A ostra e a pérola

"Uma ostra que não foi ferida não produz pérolas"...

As pérolas são feridas curadas,

pérolas são produto da dor,

resultado da entrada de uma substância

estranha ou indesejável no interior da ostra,

como um parasita ou um grão de areia.

A parte interna da concha de uma ostra

é uma substância lustrosa chamada nácar.

Quando um grão de areia penetra,

as células do nácar começam a trabalhar

e cobrem o grão de areia com camadas e mais camadas

para proteger o corpo indefeso da ostra.

Como resultado, uma linda pérola é formada.

Uma ostra que não foi ferida de algum modo, não produz pérolas, pois a pérola é uma ferida

cicatrizada:

As pérolas mais belas são geradas nas profundezas do nosso ser.

Autor desconhecido

Esta pesquisa nasce de uma inquietação como discente de língua inglesa,

acrescida da militância na seara da comunidade surda. A trajetória desse grupo em busca de

uma educação mais igualitária é marcada, principalmente, por preconceitos, discriminação e

descaso. A razão dessa posição está centrada na visão estereotipada sobre surdos, que eram

considerados sujeitos destituídos de linguagem (AMARAL, 2008). Daí o entendimento de

que são intelectualmente inferiores aos que tem a capacidade de ouvir. Essa compreensão

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semeou uma série de trabalhos que objetivavam comparar ouvintes a surdos (AMARAL,

2008). Essas pesquisas, contudo, acabaram reforçando o tema de deficiência que norteia, até

hoje, o discurso em torno da surdez. Essa percepção é profundamente marcada pela tentativa

de enquadramento aos padrões de normatização social (SKLIAR, 2005). Em outras palavras,

o sujeito surdo deveria se comportar de acordo com o que a sociedade ouvinte considerava

como ideal – deveria falar. Disso deriva a incessante repetição do mantra do oralismo que

buscava, entre outras coisas, produzir a língua oral. O reflexo se materializa no fracasso

educacional dos surdos (SKLIAR, 2005, p.18), com um número exacerbado de analfabetos

em seu meio, associado à baixa qualificação profissional e diminuto acesso ao ensino

superior.

Atualmente, a proposta bilíngue para educação de surdos, por força da Lei n.

10.4361, busca promover a língua de sinais como idioma de status social igualitário ao

português. Além da obrigatoriedade de um intérprete para aprendizagem da língua portuguesa,

revelou-se significativa conquista política (SÁNCHES, 2005).

Com esses ganhos na área social, percebe-se uma preocupação crescente com a

aprendizagem de alunos surdos, particularmente no tocante ao processo de aquisição da língua

portuguesa. Contudo, diversos trabalhos (SKLIAR, 2005; COUTINHO, 2008) vêm

denunciando o despreparo docente em lidar com esse tipo específico de alunos. Em muitos

casos, discentes surdos são ignorados nas atividades escolares. Em adendo, parece-nos mais

problemático o ensino de língua estrangeira (LE), que conta sempre com a mediação de um

intérprete que não detém conhecimento linguístico (SILVA, 2005; OLIVEIRA, 2007)

suficiente para o ensino de LE. Muitos surdos não se beneficiam de intercâmbio e da

oportunidade de vivenciar novas experiências por causa da barreira que o desconhecimento de

outra língua gera. Embora assim, tal realidade não calou neles o desejo de aprender outro

idioma.

Leve-se em conta que a pessoa surda tem capacidade intelectual para aquisição

de qualquer língua estrangeira, havendo suficiente evidência de que qualquer aprendiz, seja

ele surdo, seja ele ouvinte, vive experiências multimodais providas pelas mídias digitais

(BRITO, 2012). É relevante entender o processo de ensino-aprendizagem na proposta do

multiletramento e do letramento crítico, buscando conhecer o que essa perspectiva teórica

1 Língua Brasileira de Sinais foi oficialmente reconhecida e aceita como segunda língua oficial brasileira, por

meio da Lei 10.436, de 24 de abril de 2002.

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pode contribuir para uma mudança na aprendizagem de língua estrangeira para a comunidade

surda. Sirvo-me aqui da experiência com a comunidade surda à qual pertenço para sublinhar

que, em diversas situações de comunicação entre os surdos, tais como o uso de tecnologias –

Ipad, conversa pela internet, informações gerais, etc – já está presente a recorrência ao inglês

e, em muitas situações informativas, se faz acompanhar da língua de sinais americana (ASL).

Sendo assim, um curso a distancia de língua inglesa nos parece caminho

possível para minimizar a discrepância na formação de professores e na escassez de números

de cursos de inglês para comunidade surda. Essa escassez pode impedir, por exemplo, que

alunos surdos tenham acesso a cursos de pós-graduação, dificultando-lhes a que se

candidatem à bolsa do Programa Ciência sem Fronteiras1, que, anualmente, vem ofertando

bolsas para diversos países onde a língua de comunicação é a inglesa. Por conta disso, propus

um curso de língua inglesa à distância no facebook, que é um sistema destinado à criação de

comunidades on-line voltados à aprendizagem.

Com o intuito de dar melhor visibilidade ao conjunto de fatores encadeados à

escolha do tema desta pesquisa, seguindo parte da metodologia de uma pesquisa qualitativo-

interpretativa, vale a pena recuperar e compartilhar com o leitor a trajetória que me trouxe até

aqui. Nesse andar, faço analogia ao processo de formação da pérola como metáfora

norteadora da construção de minha identidade como pesquisadora e surda, no tocante à

inclusão escolar para surdos.

Meu processo de transformação em pérola ocorreu aos oito meses de idade

quando perdi minha habilidade auditiva. A princípio, meus genitores não perceberam o que

realmente tinha acontecido. Posteriormente, meus pais, na angústia de resolverem meu

problema aparente, adquiriram um aparelho auditivo na esperança de me ver interagindo no

mundo dos sons.

Como pérola, comecei a ser lapidada na dor de intermináveis sessões de

fonoterapia. A despeito do esforço das profissionais que me acompanharam, não conseguia

oralizar com perfeição. Como forma de comunicação, procurava me socorrer de gestos que

me orientassem no cotidiano familiar. Sentia-me como substância estranha no interior de uma

1Ciência sem Fronteiras é um programa que busca promover a consolidação, expansão e internacionalização da

ciência e tecnologia, da inovação e da competitividade brasileira por meio do intercâmbio e da mobilidade

internacional. A iniciativa é fruto de esforço conjunto dos Ministérios da Ciência, Tecnologia e Inovação

(MCTI) e do Ministério da Educação (MEC), por meio de suas respectivas instituições de fomento – CNPq e

Capes–,e Secretarias de Ensino Superior e de Ensino Tecnológico do MEC.

http://www.cienciasemfronteiras.gov.br).

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ostra quase impenetrável no fundo do oceano. Paralelamente, iniciei meu contato com a

cultura surda e seu jeito de construir sentidos. E a escola, que dizer dela?

A escola sempre foi um ambiente hostil para aqueles considerados estranhos. Não obstante ser

uma criança curiosa percebia-me como o grão de areia, diferente, sem voz, sem ter o direito a

me comunicar. As professoras não me compreendiam e, consequentemente, não sabiam como

me ensinar. Por ser diferente, não tinha acesso ao mundo de meus colegas, ainda que fosse

oralizada.

Dessa experiência, trago reflexões a respeito de como professores ignoram a

educação dos surdos e suas necessidades como aprendiz. Esses profissionais da educação

parecem não perceber sua peculiaridade cultural e a necessidade da comunicação por meio da

língua de sinais.

A indignação de meus pais diante do pouco preparo dos profissionais da época

levou-me a frequentar uma escola de surdos no interior do Paraná, próxima à residência de

minha avó paterna. Minha luta solitária pela seara educacional começou aí. A ostra se abriu!

Naquela escola, onde não se usava língua de sinais, conheci outras duas

colegas surdas oralizadas. Deduzi que a ostra também vivia no mar com outras de sua espécie.

A professora, bastante afetuosa, valia-se de recursos visuais. Em decorrência das interações

nesse espaço escolar, meu processo educacional começou a se tornar visível. Aprendi

vocabulário, topei com verbos, depreendi frases simples. Contudo, sentia que algo faltava em

minha essência: minha língua. Não há como não pensar em uma metodologia que não enfoque

a exploração visual na formação educacional de um aluno surdo. A língua de sinais enseja que

ultrapassemos a barreira dos gêneros mais simples para experiências letradas mais

sofisticadas, como é o caso da aprendizagem de uma língua estrangeira.

Após meu estágio na escola de surdos, retornei para uma escola convencional.

Afigurava-me voltar à estaca zero. Nenhum professor sabia como me ensinar. A ostra se

fechou!

Na escola, minha função era apenas a de repetição, tal qual um papagaio, que

repete, mas não sabe o significado daquilo que se está dizendo. Não entendia nada das

disciplinas. Um ou outro professor me estimulava para não desistir da aprendizagem escolar,

mas ainda assim me fugia o fundamental: minha língua.

Meu primeiro contato com a língua de sinais foi por meio de uma vizinha,

também ela surda. Em bom dizer não me ensinava os sinais; ao perceber como se

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comunicava, aos poucos inferi sentidos naquilo que ela sinalizava: a ostra se abriu de novo!

Diante de minha dificuldade, meus pais criaram uma associação, integrada à

escola e à prefeitura. Uma professora capacitada em língua de sinais foi contratada,

reiniciando meus estudos em língua portuguesa e língua de sinais. Nessa altura, vi quanto à

falta da língua de sinais trouxe prejuízo para meu processo de aquisição da linguagem e

quanto minha história poderia ter sido diferente se eu estivesse inserida em um ambiente

linguístico favorável. As areias começaram a entrar na ostra!

Aos 15 anos, fui ao Rio de Janeiro participar de um congresso com a finalidade

de conhecer o Instituto Nacional de Educação dos Surdos (INES)1. Lá tive contato com

muitos surdos e fiquei emocionada, pois percebi finalmente que o mundo poderia pertencer

aos surdos. A ostra continuava aberta!

Senti uma vontade latente de ajudar outros surdos, nessa luta por igualdade

social e pelos direitos educacionais a nós outorgados. Passei a questionar se o modelo

educacional inclusivo tinha, de verdade, alguma eficácia na vida dos surdos. Voltei

transformada para minha cidade. Meus interesses e vontades agora tinham um foco: a

comunidade surda. Comecei a ensinar língua portuguesa e línguas de sinais para outros

surdos.

Nessa experiência, entendi o valor da língua materna, compreendi quanto o

surdo progride depois de ter contato com a língua de sinais. Contudo, travava uma luta dentro

de mim, ainda não assumia minha identidade como surda total. Talvez tal sentimento fosse

decorrente dos inúmeros momentos de zombaria e preconceitos. Sentia-me envergonhada de

usar as mãos para me comunicar.

Sobreleve a criação do Decreto n. 56262, que legitimava Libras como língua de

sinal brasileira, e a criação do profissional intérprete para os surdos. Nesse momento, no

concluir o ensino médio, conscientizei-me efetivamente da necessidade de lutar por meus

direitos.

Segundo dados do IBGE, censo de 2010, entre os 5,7 milhões de brasileiros

com deficiência auditiva, um grupo de 176.067 são incapazes de ouvir.

1 O Instituto dos Surdos-Mudos, hoje Instituto Nacional da Educação de Surdos (INES), foi a primeira escola

para surdos no Brasil, fundada em 1857. 2 Em 2005, através do Decreto 5.626, a Língua brasileira de sinais foi regulamentada como disciplina curricular.

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Em 2006, ingressei na faculdade de Letras-Libras1, e fiz parte da primeira

turma do Brasil. Minha experiência universitária foi fascinante, tenho conhecido surdos

intelectualizados, com identidade surda forte, que lutavam por seus ideais. Na faculdade, vi

que o surdo é capaz de aprender e fazer o que quiser. Compreendi que eu sou capaz de

aprender várias línguas e que minha surdez não se constituiria barreira. Hoje sou mestranda.

Minha escolha de pesquisa é fruto desse tempo de minha vida, dona da convicção de que

qualquer surdo é capaz de aprender quantas línguas ele desejar, e me sinto compromissada

com este processo de ensino-aprendizagem de inglês para surdos.

Daí decorre a natural motivação para a realização deste estudo, oriundo das

inquietações como aprendiz na escola. Minhas experiências, como relatado, levaram-me a

constante reflexão sobre a aprendizagem de línguas para alunos surdos. Percebo que nós,

surdos, somos impedidos de ingressar em cursos de pós-graduação, por exemplo, por não

vivermos situações de ensino significativo de língua estrangeira. Para que possamos conhecer

uma sociedade mais igualitária, devemos incentivar cada vez mais a presença de alunos

surdos na universidade.

Por isso, tornaram-se estimulantes as salas de aulas digitais de aprendizagem

de língua estrangeira. A uma, porque surdos utilizam desse veículo como comunicação2. A

duas, é possível atender um número maior de aprendizes surdos brasileiros. Em adendo, a

internet, pela ênfase dada ao discurso multimodal, revelou-se ambiente rico para ensino

contextualizado a aprendizes surdos. Acredito que essa tecnologia pode estar integrada à

formação da comunidade surda, pois é espaço que faculta selecionar material diverso,

trabalhar em grupos ou individualmente. (WARSCHAUER, 1997, PAIVA, 2001, JESUS,

2007)

Parto da percepção de que as mudanças processadas em nossa sociedade

globalizada descortinam novas formas de operar com nossa subjetividade. Por conta disso,

lancei mão da metáfora da pérola como forma de construir sentidos neste estudo.

Pesquisas recentes sobre ensino-aprendizagem de línguas apontam para reflexões

em torno do letramento crítico e multiletramento, podendo ser estendido igualmente para a

1 Em 2006, primeira turma de Curso de Graduação em Letras/libras, com a coordenação da Universidade Federal

de Santa Catarina e com a participação de nove polos, situados em diferentes Estados

brasileiros. http://www.libras.ufsc.br. 2Esta informação é conhecida pelos integrantes da comunidade surda, e aqui deve ser compreendida como parte

da experiência da pesquisadora.

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educação dos surdos (SOUSA, 2008; ARAGÃO & BORBA, 2012; GESUELI & MOURA,

2006; ROJO, 2009; PEREIRA, 2011; JORDÃO, 2011; CARBONIERI, 2012; LEBEDEFF,

2006). Aí se inclui o direito ao ensino da língua estrangeira para o surdo e a importância das

novas tecnologias e acesso aos diferentes textos e processos de leitura no mundo globalizado.

Essas questões serão abordadas nos capítulos da pesquisa, secundadas pela importância e uso

dos recursos visuais pautados nos contextos e imagens no ensino da língua estrangeira –

tendo por enfoque a língua inglesa escrita –, bem assim o uso da língua brasileira de sinais,

fundamental para a mediação do ensino-aprendizagem.

Ao que parece, o ensino de língua estrangeira para surdos esbarra nas políticas

de inclusão que defendem a presença e a educação do surdo nas chamadas “salas inclusivas”,

em que o surdo estaria no ensino regular com ouvintes, apoiado por intérprete (MEDEIROS

& FERREIRA, 2009). No entanto, apesar de o discurso da inclusão haver ganhado força nos

últimos anos, o que ocorre, de fato, é praticamente um “abandono” do aluno surdo na sala de

ouvintes, onde ele não tem seus pares para interagir em língua de sinais, cuja relação

interpessoal com o professor se torna dependente da presença do intérprete, muitas (e muitas!)

vezes sem a formação e o conhecimento necessários para ocupar o cargo de um intérprete

educacional. Mesmo que o intérprete se revele eficiente e bem-formado, a ausência de um

ambiente em que a primeira língua seja comum à coletividade, ocasiona um isolamento

linguístico social, prejudicando o desenvolvimento real do aluno surdo.

Some-se a isto a escassez de recursos adequados na educação do surdo, como

evidencia a conferência mundial sobre necessidades educativas especiais – Declaração em

1994, que alude à tecnologia para surdos:

Tecnologia - o uso de tecnologias deveria ser recorrido quando necessário para

auxiliar e/ou aprimorar o sucesso no currículo escolar. Sobre isso, o PCN-LE

também enfatiza o seu uso (software, internet, hipertexto, salas de bate papo, CD-

ROM, multimídias, entre outros), para que a aquisição da língua inglesa (escrita, no

caso dos alunos surdos) seja facilitada pelo recurso visual, bem como venha

aprimorar as habilidades com a máquina “computador“. (MEDEIROS &

FEREIRA,2009)

No entanto, há considerável número de escolas públicas e privadas que não se

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utilizam de ferramentas tecnológicas, a exemplo da internet, facilitadora no processo de

aprendizagem de alunos surdos no ensino fundamental, médio e superior. As mídias digitais,

por sua natureza multissemiótica, são recursos indispensáveis para o aprimoramento

educacional de qualquer aluno, em especial do surdo.

No atinente ao ensino da língua inglesa, os Parâmetros Curriculares Nacionais

– Língua Estrangeira (PCN-LE, 1998) sinalizam para a garantia e direito de o surdo ter acesso

à disciplina de inglês, extensivo a todos os alunos, mesmo ao terceiro e quarto ciclos do

ensino fundamental. Quanto à situação de inclusão, será que os professores de inglês criam

condições favoráveis para o ensino desse idioma nesse contexto? Como seriam aulas de inglês

ministradas na língua de sinais brasileira (LSB)?

Trata-se de tarefa árdua porque para ela muitos professores não foram

preparados nem tiveram formação, ou não estão munidos de conhecimento suficiente, hábil ao

ensino de uma língua estrangeira para surdos. Uma rara minoria de professores ouvintes, da

língua inglesa, estão em condições de atuar com os surdos e geralmente isto ocorre fora do

contexto da inclusão, porque, além da relação professor-aluno, a relação aluno-aluno é

indispensável para o desenvolvimento e aprendizagem (MEDEIROS & FERREIRA,2009).

Na sala inclusiva, o professor precisa atender a maioria de alunos ouvintes, de tal modo que é

quase impossível dedicar atenção ao surdo de maneira satisfatória.

A falta de compreensão e de produção dos significados da língua oral, o

analfabetismo massivo, a mínima proporção de surdos que têm acesso ao ensino superior, a

falta de qualificação profissional para o trabalho, etc., foram e são motivos para três tipos de

justificações impróprias sobre o fracasso na educação dos surdos. Em primeiro lugar, está a

conotação emprestada aos surdos do fracasso – fracasso, portanto, da surdez, dos dons

biológicos naturais. Num segundo momento, está a culpabilização dos professores ouvintes

por esse fracasso. Num terceiro plano, está a localização do fracasso nas limitações dos

métodos de ensino – o que reforça a necessidade de purificá-los, de sistematizá-los ainda

mais, de torná-los mais rigorosos e impiedosos com relação aos surdos. (SKLIAR, 2005,

p.18)

No que respeita ao direito do aluno surdo de aprender uma língua estrangeira,

deve-se levar em linha de conta quanto à língua estrangeira abre a porta de acesso a outras

culturas, outra visão de mundo, isso sem mencionar os conhecimentos específicos produzidos

nesse idioma. Dessa forma, compreender o discurso de um falante de uma língua estrangeira é

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inserir-se criticamente num contexto global, participando de um grupo de sujeitos que

compartilham experiências e conhecimentos, utilizando-se de um dado sistema linguístico.

O ensino da língua inglesa, parte que é da formação do surdo, oferece um

recurso de inestimável valor ao permitir ao aluno sentir-se incluído em uma sociedade que se

comunica em inglês em diferentes âmbitos, somado ao fato de ser uma língua de relevância

acadêmica, franqueando melhor trânsito e comunicação com importantes pesquisas na área da

surdez e da cultura surda, dado o significado da Universidade Gallaudet1 responsável por

grande influência e produtividade científica no que tange à educação dos surdos.

Também o uso do computador e redes de comunicação, como Facebook,

Facetime, Skype, Youtube e outras, possibilita contato com falantes de diversos países. Além

disso, os surdos podem viajar para qualquer lugar com mais conhecimento, conectando-se

com outros surdos de outras comunidades.

Como os meios de comunicação em rede estimulam os processos de escrita dos

surdos, cabe ressalvar que o trabalho com a escrita deve atentar ao fato de que as estruturas da

Língua de Sinais dos sujeitos surdos influenciam o processo de escrita em segunda língua e

língua estrangeira (SOUSA, 2008). Embora a escrita do aluno surdo seja inteligível e com

poder de interação, não corresponde aos padrões da escrita de um ouvinte. Neste sentido, há

que entender o direito do surdo ao desenvolvimento da escrita da língua portuguesa e da

língua estrangeira, mas não se pode aderir a uma ideologia de obrigação de que o surdo

corresponda à determinada expectativa de desempenho – a não ser que estejam assegurados

todos os seus demais direitos, a exemplo do uso de metodologias adequadas, e que respeitem

sua identidade surda. Ainda assim, há que estabelecer com muita clareza que expectativas de

excelência se estão fazendo quando se pensa em um texto produzido pelo sujeito surdo

(PERLIN & STROBEL, 2006).

Nota-se, nessa esteira, que o interesse deste trabalho se justifica pelo fato de

que a educação para surdos ainda é um tema marcado por polêmicas e conflitos,

1A Universidade Gallaudet (em inglês: Gallaudet University) é a única universidade do mundo cujos programas

são desenvolvidos para pessoas surdas. Está localizada em Washington, D.C., a capital dos Estados Unidos. É

uma instituição privada, que conta com o apoio direto do Congresso desse país. A primeira língua oficial de

Gallaudet é a American Sign Language (ASL), a língua de sinais dos Estados Unidos (o inglês é a segunda).

Nessa língua se comunicam entre si empregados, estudantes e professores, e se dita à maioria dos cursos. Ainda

que se conceda prioridade aos estudantes surdos, a universidade admite, também, um pequeno número de

pessoas ouvintes a cada semestre. A estas se exige o domínio da ASL como requisito para permanecer na

instituição. (www.gallaudet.edu).

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principalmente devido ao conceito, um tanto quanto obscuro, da inclusão, somado à falta de

profissionais qualificados, fluentes na língua de sinais e que tenham identificação e

comprometimento com a cultura surda. Não basta simpatizar-se com a língua de sinais, é

preciso acima de tudo respeitar e compreender a comunidade surda (PERLIN, 1998).

A identidade é algo em questão, em construção, uma construção móvel que

pode frequentemente ser transformada ou estar em movimento, e que empurra o sujeito em

diferenças posições (PERLIN, 2005, p.52).

A falta de professores que busquem metodologia e estratégias de ensino nas

quais o surdo seja contemplado (e não só os ouvintes), considerados os contextos

educacionais, retarda o processo de aprendizagem do discente surdo, pois ele necessita da

língua de sinais como mediadora para o acesso às informações, às interações professor-aluno,

aluno-aluno e ainda de aulas que explorem imageticamente os temas abordados. São raros os

profissionais da área educacional que dominam Libras e que se calcem em métodos e formas

de despertar e atrair o aluno surdo para aprendizagem de língua estrangeira.

Uma das hipóteses para amenizar estes conflitos é a aceitabilidade, por parte do

professor, das especificidades e potencialidades do surdo (PERLIN, 2008). No decurso de

muitos anos, os surdos foram vistos, pela sociedade, como pessoas incapazes, chegando, em

alguns extremos, a serem confundidos com déficit mental. Na interação globalizada, nas

esferas transculturais, no entretenimento, no lazer, nos maquinários tecnológicos, na internet,

entre outros, o surdo ambiciona o acesso a outros idiomas e a tudo que está implícito nesta

prática, porém as maiores dificuldades para que tal acorra estão em encontrar professores

experientes e material que contemple as especificidades do surdo.

Este texto enfatiza a percepção das mudanças na educação e,

consequentemente, na área de línguas estrangeiras, discutindo a necessidade de reforçar o

desenvolvimento da crítica na formação de alunos cidadãos. Entende-se que esses vivem e

convivem em contextos em que o conhecimento é construído cada vez mais através de formas

diferentes daquelas praticadas num modelo convencional; ao mesmo tempo, não se alimenta a

expectativa de que um modelo “novo” suplante ou apague o anterior ou “antigo”. (MÓR,

2012)

Ainda há resistência por parte das instituições educacionais em se adequararem

a metodologia que outorgue a heterogeneidade cultural, social e física dos alunos. Física,

porque, atualmente, não se pode excluir a realidade de que pessoas, ditas “especiais”, têm

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buscado o conhecimento científico, porém há pouca procura por novas metodologias.

Exemplo disso é a trajetória socioeducacional dos surdos. No decorrer de anos, foram tolidos

de usar a língua de sinais. O discurso clínico reforçava que, se usassem os sinais para

comunicar-se, isso atrapalharia a aquisição fonética da língua, o que gerou um prejuízo

incalculável no processo de aprendizagem (QUADROS, 2003). A mudança significativa se

originou na França, onde um abade, após observar o contexto de ensino-aprendizagem dos

alunos surdos, considerou a língua de sinais como língua materna, e a língua oral como

segunda língua, possibilitando que o surdo fosse um cidadão-bilíngue. Isso só foi possível

porque alguém rompeu com um modelo engessado de ensino.

Em decorrência disso, fazem-se necessários cursos que auxiliem aprendizes

surdos a superar esse hiato. Ainda mais relevante é a reduzida existência de cursos a distância

em língua estrangeira para esse público.

Em razão da carência de trabalhos nesta área, procurei investigar a percepção

de aprendizes surdos sobre sua aprendizagem em curso a distância de língua inglesa. Dessa

forma, este trabalho pretende contribuir, ancorado numa perspectiva do letramento crítico e de

uma metodologia interpretativa, com explicações sobre as melhores circunstâncias para o

ensino para esse público.

Alicerçada na perspectiva do Multiletramento e Letramento Crítico

(PEREIRA, 2011; ROJO, 2009), intento pesquisar me socorrendo da observação e da coleta

de dados de um curso de língua inglesa para surdos, na modalidade a distância. Esta escolha

se justifica no estímulo que as salas de aulas digitais de aprendizagem de língua estrangeira

oferecem: primeiro, porque surdos se utilizam da internet como veículo de comunicação;

segundo, porque é possível atender um número maior de aprendizes surdos brasileiros. A

terceira razão se funda na importância da internet, dada a ênfase dada ao discurso multimodal,

o qual se tornou um ambiente rico para ensino contextualizado para aprendizes surdos.

Como o letramento crítico centra sua base no combate à opressão e no

questionamento de qualquer dominação, encartando o papel de desenvolver, em meio aos

estudantes, a percepção de que diferentes culturas apresentam modos de representação

distintos, o ensino do inglês para surdos poderá auxiliar na compreensão das diferenças

culturais não só entre surdos e ouvintes, mas também entre surdos de cultura brasileira com

surdos de cultura inglesa e ouvintes de cultura inglesa.

Ancorado na necessidade de compreender a percepção dos aprendizes surdos,

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foram elaboradas as seguintes perguntas de pesquisa, como forma de balizar as questões

levantadas.

1. Quais percepções de alunos surdos sobre sua aprendizagem de língua

estrangeira a distância?

2. Como os alunos surdos percebem que a língua estrangeira aprendida

modificou sua maneira de compreender o acesso à língua?

Assim, o objetivo geral é compreender a percepção de alunos surdos em

relação à aprendizagem de língua inglesa na modalidade à distância, cujos objetivos

específicos se resumem em:

Descrever o processo de aprendizagem de alunos surdos em língua

inglesa a distância;

Otimizar a aprendizagem do surdo com meios digitais, cujo foco é a

comunicação e a interação social entre surdos de diferentes nacionalidades;

Compreender o processo de ensino-aprendizagem de alunos surdos na

modalidade a distância.

Como procedimento metodológico, lanço mão da pesquisa qualitativa que se

caracteriza por um meio pelo qual os pesquisadores têm maiores condições de se aproximar

de seus autores sociais, valendo-se das descrições ricas do mundo em que estes estão

inseridos, isto é, o pesquisador é responsável pela interpretação dos dados gerados pelos

participantes. Este tipo de estudo faculta ao pesquisador que se guie mediante um conjunto de

crenças e sentimentos em relação ao mundo, utilizando-se de uma comunidade interpretativa

para então traduzir as interações em linguagem. (DENZIN & LINCOLN, 2006)

Os dados serão gerados por meio de um curso a distancia de língua inglesa

para surdos, que visa não apenas promover a interação entre surdos brasileiros e surdos de

outras nacionalidades, bem como facilitar o acesso às novas tecnologias de informação e

comunicação. Seu formato será alicerçado num ambiente virtual, facebook: é um grupo

destinado à criação de comunidades on-line, voltadas à aprendizagem.

Os dados foram coletados através de entrevistas e observações dos

participantes do curso oferecido no facebook, balizado nos preceitos teóricos dos

Multiletramentos e Letramento Crítico, como exposto em passo anterior.

Tive o intuito, nesta introdução de descrever sucintamente minha trajetória

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como cidadã surda. Essa apresentação de minha história de vida é fundamental para entender

minhas preocupações como pesquisadora e militante das causas surdas. Procurei

problematizar a educação ofertada aos estudantes surdos e seus efeitos sociais, culturais e

políticos da escola inclusiva.

No primeiro capítulo, entreabro uma discussão mais detalhada de trabalhos

empíricos com base no Letramento Crítico e Multiletramentos. Posteriormente, discuto a

educação de surdos no Brasil, enfeixando suas dificuldades e avanços. Em seguida, acerco-me

no que diz respeito a aprendizagem de língua estrangeira para a comunidade surda.

No segundo capítulo, exponho o contexto pesquisado e a metodologia de

pesquisa, apontando detalhes da geração dos dados.

Já no terceiro, revelo a análise dos dados, discuto a percepção dos aprendizes

sobre o curso a distância.

Nas reflexões finais, evidencio as limitações deste estudo e aponto algumas

implicações para o ensino e pesquisa em cursos a distância de língua estrangeira para surdos.

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CAPÍTULO 1

GRÃO TEÓRICO

Grão de areia

Entre milhões de palavras

como um grão de areia

está um invisível poema.

Um poema que nunca se escreveu.

Um poema feito grão de areia,

talvez parte de uma construção,

talvez não...

Pequeno grão de areia

em silêncio na beira do mar,

que vai sendo soprado

para um destino incerto,

talvez o mar, talvez o deserto.

Palavras que ao vento se vão

como um pequeno grão a rolar na praia,

procurando a concha da sua vida.

Não tenho pressa, sou como este grão

também sigo a rolar na areia

até renascer na praia ou encontrar o

poema da minha vida...

Sônia Schmorantz

Este capítulo tem por objetivo apresentar as discussões teóricas que embasam

este trabalho. Inicialmente, proponho uma reflexão acerca dos sentidos políticos e sociais que

a língua estrangeira traz para a comunidade surda, com a finalidade de explicitar certos

preconceitos com relação à aprendizagem de uma segunda língua por estudantes surdos. Em

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seguida, trago ponderações no atinente aos estudos de letramento crítico e multiletramentos

para o contexto de aprendizagem de língua estrangeira, sempre tendo a comunidade surda

como foco.

1.1 O sentido da língua estrangeira para o surdo

Embora a História da Educação dos surdos seja, atualmente, conhecida por

muitos, por conta de um movimento de reconhecimento da diferença (SKLIAR, 2005) e

consequente aceitação da língua de sinais como constituinte, formadora e estruturadora da

linguagem do sujeito surdo, ainda existe uma parcela significativa de intelectuais, acadêmicos

e professores que ignoram grandemente, senão por inteiro, algumas importantes

fundamentações desta história. Daí ser, por exemplo, quase normal esperar que, diante de uma

proposta de ensino de língua estrangeira para o surdo, haja a rejeição ou incompreensão por

parte do ouvinte que desconhece a realidade surda, apesar do discurso da inclusão que, por

forças legais, chega à volta dos cursos de formação superior.

Com a intenção de evitar uma lacuna entre a proposta desta pesquisa e o leitor

desavisado, resgato um pouco da História da Educação dos surdos, a qual contribui para a

presente fundamentação teórica que se pauta nos conceitos de Letramento Crítico e

Multiletramentos, cujas abordagens acolhem a ideia de almejar, também para o surdo, um

verdadeiro acesso à sua plena formação.

O discurso ouvintista1 reforça os conceitos referentes à surdez no campo da

audiologia e da medicina, que marcaram a educação dos surdos que se pautou, desde o início

do século XX, por uma versão que “amplifica e exagera os mecanismos da pedagogia

corretiva com mais de cem anos de práticas enceguecidas por tentativas de correção,

normalização e violência institucional” (SKLIAR, 2005).

Assim, na História da Educação dos Surdos, a mudança de uma abordagem

oralista para uma abordagem que apoia a língua de sinais como mediadora do ensino dos

surdos, e como língua natural que deve ser trabalhada em situações de formação do ensino

básico, é referência primordial para qualquer pessoa que queira discutir a propósito do ensino

para o surdo.

1Ouvintista, segundo Skliar, é um conjunto da representações dos ouvintes, a partir do qual o surdo está obrigado

a olhar-se e narrar-se como se fosse ouvinte. (1998, p.15)

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Marca esta história, como se sabe, o Congresso de Milão, de 1880, quando

ganham visibilidade os estudos a respeito da metodologia para o desenvolvimento linguístico

dos surdos, que passam a priorizar as línguas de sinais visando a confirmação das teorias no

tocante à aquisição da linguagem dos surdos.

Já existe, no Brasil, desde a criação do curso Letras-Libras e da Prova Nacional

de Proficiência em Libras (PROLIBRAS)1 em 2006, uma progressiva publicação de trabalhos

que podem ser consultados. Esses vêm divulgando as questões mais significativas em relação

à educação dos surdos, como o respeito e obediência à Lei n. 10.436, que garante o ensino do

português ao surdo, bem como o respeito à Língua de Sinais Brasileira-LSB como sua

primeira língua, a importância do reconhecimento da surdez como diferença, a existência e

características da cultura surda como diferente da cultura ouvinte, a complexidade da

identidade surda, em meio a outros temas de relevância não menor. (ver LACERDA, 2000;

SKLIAR 1999, GOLDFELD, 1997; 2004; SACKS, 1998, entre outros)

Neste contexto, salienta-se o fato de que as atenções dos temas educacionais

para o surdo ainda se voltam quase maciçamente para as falhas educacionais e lacunas

apresentadas na formação dos surdos; estas falhas são apontadas até os dias de hoje, e são

reproduzidas independentemente da política de inclusão. Tais falhas, por sua vez, incidem

preponderantemente nos resultados da produção e compreensão do português escrito (leitura e

produção de texto) dos surdos, a tal ponto que este ainda é o tema central na educação dos

surdos.

A falta de formação dos professores neste quesito leva a uma ausência de

metodologia adequada para o ensino do português como segunda língua em uma abordagem

bilíngue, e se “nem para o português está assegurado o acesso linguístico do surdo”, para o

inglês menos se encontra sentido, por se reforçarem os preconceitos linguísticos referentes às

capacidades cognitivas do sujeito surdo.

A sociedade em geral, fonoaudiólogos, professores e outros que desconhecem a

1O PROLIBRAS é um exame de proficiência que certificará, anualmente, docentes, e tradutores e intérpretes de

Língua Brasileira de Sinais - Libras. Foi criado pelo Ministério da Educação (MEC) do Brasil para cumprir a Lei

10.436/2002 e o Decreto 5626/2005. O MEC nomeou uma comissão, formada por professores de universidades

(UnB, UFRJ, UFSC, UPE), representantes de várias secretarias desse ministério (SEESP, SESU, SETEC,

SEED), da FENEIS e do INES, que tiveram a responsabilidade de elaborar o edital e os manuais do aplicador e

do participante; escolher o conteúdo programático e elaborar as provas.

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realidade do surdo não acreditam que faça sentido ensinar, ao surdo, uma língua estrangeira e

se concentram apenas na importância do ensino da própria língua de sinais e da língua

portuguesa, como se uma terceira língua fosse um esforço sem sentido para o surdo, quando

não um trabalho perdido.

Ainda que os pesquisadores já tenham demonstrado que o padrão de

desenvolvimento do português para os surdos nunca será igual ao padrão de aquisição da

língua portuguesa para os ouvintes, muitos professores insistem em ensinar o português, para

o surdo, com a mesma metodologia e compreensão do ensino do português como língua

materna (LACERDA 2000; QUADROS, 2008; SKLIAR, 1999; GOLDFELD, 1997; SACKS,

1998, entre outros)

Na realidade, cuida-se de compreender o que é um método de ensino pautado

em recursos visuais da língua: a escrita – o que pode ser utilizado tanto para a língua

portuguesa quanto para a língua inglesa.

Trata-se da acessibilidade a um letramento visual que permita a abertura

cultural para o surdo, não apenas do universo do português, necessário para seu

desenvolvimento mais integral como bilíngue, mas também de outros universos, quantos lhes

sejam de interesse e possíveis.

O modelo bilíngue adotado no Brasil é de que a pessoa surda deve ser exposta,

o mais precocemente possível, a uma língua de sinais, e o português como segunda língua, em

sua modalidade oral e/ou escrita, ponderando que será ensinado com base nos conhecimentos

adquiridos por intermédio da língua de sinais (SANTANA, 2007).

Esta perspectiva converge para as propostas do letramento crítico e do

multiletramento: primeiro porque supõe uma compreensão da realidade do educando como

primordial para que a educação faça sentido em sua própria vida e, portanto, seja eficiente e

formadora da cidadania; e segundo, porque permite ao cidadão do futuro uma formação

integrada às demandas da realidade, para além dos textos tradicionais presentes nos livros

didáticos, apostilas e demais materiais impressos, como os textos de outras mídias, do

computador, da informática, da internet.

Como se espera mostrar, o uso da língua inglesa já se faz presente na vida de

boa parte dos surdos que acessam os mais diferentes recursos tecnológicos, com enfoque na

internet que permite a comunicação entre os surdos de todo o mundo, integrando uma

atividade frequente das comunidades surdas e contribuindo, de forma decisiva, para a própria

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cultura surda, que se define, entre outras características, por uma apreensão e produção visual

de informações. Em relação, ainda, à discussão recorrente na educação dos surdos, baseia-se

na diferença entre primeira língua, ou língua materna, e segunda língua ou L2, uma vez que

atualmente se defende a educação bilíngue – ou seja, o surdo pode usar e desfrutar

plenamente de sua L1, a língua de sinais, e aprender, usar e se desenvolver na língua

portuguesa em sua modalidade escrita. (GESUELI, 1998)

Muitas vezes se faz uma confusão a respeito do conceito de língua materna

devido aos surdos, filhos de pais ouvintes, terem, como língua dos pais, a língua oral

(português, no nosso caso). Assim, se é notável o desenvolvimento linguístico em língua de

sinais de surdos, filhos de pais surdos, os surdos, filhos de pais ouvintes, têm um acesso à sua

língua “natural” tardiamente, sendo primeiramente oralizados (QUADROS, 2008).

Porém, cognitivamente, a formação linguística do surdo é fundamentada e

desenvolvida sobre os suportes (ou estruturas) visuais, como a compreensão, a leitura e a

reprodução do espaço de maneira diferente do ouvinte – o espaço é um recurso linguístico

importantíssimo para o surdo, sendo partícipe na sua gramática particular –, as imagens,

mídias, conversas entre os surdos que adquirem a linguagem visualmente.

O ensino da segunda língua ocorre de modo diferente, não necessariamente

pleno, podendo ser fragmentado e cheio de lacunas que devem ser preenchidas

continuamente, cujo sucesso depende da metodologia adequada por parte dos professores. A

criatividade, a liberdade de expressão, os sentidos poéticos, a vivência da subjetividade e a

constituição da identidade se dão, para o surdo, plenamente com a língua de sinais.

Já no que alude à segunda língua, seu interesse maior é entendê-la e ter

condições de leitura e compreensão dela, como um meio de inclusão e descoberta linguística,

cujo aprofundamento ou desempenho é variável de indivíduo para indivíduo, mas cujas bases

devem ser garantidas a todos em geral – como a educação básica para o ouvinte.

Atualmente, ainda existem pessoas que pensam no ensino de línguas para

surdos segundo a mesma metodologia usada para ouvintes, refletindo a distância dos ouvintes

em relação aos surdos, sua cultura, seu modus vevendi, seus códigos sociais, sua identidade e

o sentido que eles imprimem em seu percurso como surdo. Para desenvolver uma

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metodologia própria para o ensino de língua para os surdos, é preciso conhecer o “ser surdo1”

– e neste sentido, o sentido da “surdez2” – em profundidade.

A discussão preponderante está centrada no ensino de português para o surdo,

ainda que já se saiba da improbabilidade de que o surdo aprenda a língua portuguesa 100%,

quando comparado aos ouvintes; isto porque as pessoas transferem a expectativa de aquisição

de uma primeira língua para segunda língua, que não é a mesma da primeira língua.

O enfoque dado na educação do surdo sempre recai em sua produção escrita da

língua portuguesa, a qual, se crê, reflete o fracasso em geral da educação dos surdos. É

recorrente e ainda presente o discurso de que “o surdo não aprende”, ou “não quer aprender”,

e se desconsidera, além da falta da metodologia, uma série de outras implicações linguísticas,

como a relação ensino-aprendizagem e realidades psicolinguísticas, emocionais. Este o pensar

de Wanderley (2012, p. 52).

Muitos surdos sabem muito bem explorar essas informações, trazer informações, se

expressar, organizar e o que fazer, mas quando chega à primeira aprendizagem na

alfabetização de português, alimenta a vontade deles que os impende a escrever,

compreender ou interpretar a leitura, mesmo que tenha conhecimento ou capacidades

para saberem o que não sabiam, rotulando-os como preguiçosos, limitados ou com

pouca inteligência. Assim, pode-se observar a importância que a língua de sinais tem,

mas se percebe muitos limites nessa escrita, que é fragmentada, sendo que a abstração

está na primeira língua e o registro é feito na segunda língua. Tudo isso limita este

registro, que não ocorria da L1 para a L1, mas da L1 para a L2.

Desse modo, com as políticas de inclusão, as perspectivas para o surdo não são

boas, porque tendem a repetir a falta de interação entre professor e aluno, já que, em uma sala

inclusiva, a língua de ordem será a língua oral, o português, sendo necessária a presença do

intérprete, cuja formação profissional é um problema à parte, quando se pensa em uma

tradução eficaz, sem lacunas e distorções de sentido – que não corresponde à realidade das

interpretações em sala de aula.

O ideal é a escola bilíngue, que trata de realidade mais completa do que a

1Ser surdo: (...) olhar a identidade surda dentro dos componentes que constituem as identidades essenciais com

as quais se agenciam as dinâmicas de poder. É uma experiência na convivência do ser na diferença. (PERLIN E

MIRANDA, 2003, p. 217). 2 Surdez: Na visão clínica, geralmente categorizam os sujeitos surdos através de graus de surdez, e não por sua

identidade cultural; aqui usa-se surdez no sentido de constituinte da identidade.

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inclusão, uma vez que as reflexões e discussões sobre inclusão se pautam em determinada

ideia de sociedade igualitária, mas desconsidera especificidades da educação.

Neste contexto, torna-se ainda mais difícil compreender a necessidade e o

desejo do surdo em aprender uma terceira língua, pois a discriminação leva a crer que o surdo

não é capaz de ser poliglota ou de ter conhecimento linguístico em outros idiomas.

Aqui, partimos do princípio que o surdo é capaz de aprender qualquer língua,

do ponto de vista cognitivo e linguístico.

1.2 Letramento crítico, multiletramentos e o ensino de inglês para surdos

No tocante à origem do conceito de letramento, Kleiman (1998) e Soares

(2004) pontuam que o uso do termo, no Brasil, foi introduzido por especialistas das áreas de

educação e linguística, como Mary Kato, com sua obra intitulada No mundo da escrita: uma

perspectiva psicolinguística (1986). Nessa obra, levanta a questão de que a língua falada culta

é consequência do letramento.

[...] letramento é o estado ou condição que assume aquele que aprende a ler e escrever.

Implícita nesse conceito está a ideia de que a escrita traz consequências sociais,

culturais, políticas, econômicas, cognitivas, linguísticas, quer para o grupo social em

que seja introduzida, quer para o indivíduo que aprenda a usá-la. (SOARES, 2004,

p. 17apud BORBA & ARAGÃO, 2012, p.229-230)

O conceito de letramento reveste a escrita de importância em uma sociedade

que demanda socialmente dela, encartando fatores funcionais e valores de apropriação da

escrita como aquela que permite consequências de ordem diversificada, quer para o grupo

social onde foi introduzida, quer para o indivíduo que aprende a usá-la. Em outras palavras,

letramento é “...o resultado da ação de ensinar ou de aprender a ler e escrever: o estado ou a

condição que adquire um grupo social ou um indivíduo como consequência de ter-se

apropriado da escrita”. (SOARES, 2004, p. 18)

De acordo com o apontado em outro passo, o termo alfabetização tem por

premissa o ensino dos códigos alfabéticos e numéricos, ao passo que letramento se preocupa

com a questão das práticas sociais (KLEIMAN, 1998).

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MONTE MÓR (2009) sugere que a perspectiva do letramento crítico tem por

premissa uma prática educacional, cujo foco é a relação entre língua e visões de mundo,

pratica social, poder, identidade, cidadania, relações globais/ locais. Cultura é um conjunto

dinâmico de valores que varia de acordo com contextos sociais e grupos sociais. Identidade é

múltipla e varia a depender da formação social, do gênero, da idade e do contexto.

Partindo da premissa que o letramento crítico é um processo que leva em conta

a participação ativa do aluno no processo de construção do conhecimento, através de um

diálogo constante entre professor e aluno, de forma dinâmica, questionando as relações de

poder, discursos e identidades estabelecidas, há que estender a proposta de um letramento

crítico também ao aluno surdo – cuja história é marcada pela opressão e imposição de

determinado modus operandi imposto pelo educador ou professor ouvinte, ainda formado por

uma abordagem clínica da surdez, sem considerar a cultura e as comunidades surdas. “O

letramento crítico envolve o aprendizado da língua como parte do processo de se questionar a

construção social da própria identidade e situação dentro de relações de poder específicas”.

(CARBONIERI, 2012, p.113)

Ainda na direção de um letramento crítico, há que atentar para os textos ou

gêneros textuais que contribuem para a formação do aluno surdo crítico, na situação de

aprendizagem do inglês e, assim como para o ensino de outra língua oral, ou segunda ou

terceira língua, há que relevar os recursos visuais que devem ser compreendidos, aqui, como

texto.

O uso na língua brasileira de sinais para a comunicação com o surdo, o uso das

tecnologias associadas ao ensino à distância e os próprios recursos da cultura surda como

temas de interesse revelam que esta é disciplinada por uma forma de ação e atuação visual. A

cultura surda não se mistura com a ouvinte. Isso rompe o velho status social representado para

o surdo: o surdo tem de ser um ouvinte, afirmação de que o surdo seja um usuário da cultura

ouvinte. Orientam a uma abordagem para o multiletramento como possibilidade de se realizar

a formação de indivíduos voltada para a consciência social, para a criatividade, a mente aberta

para novos conhecimentos, enfim, “uma reforma no modo de pensar e ver o mundo”.

(BRASIL, 2008, p. 90; BORBA, ARAGÃO, 2012 , p.226)

Assim, podemos entender o inglês, como aspecto do letramento crítico do

surdo, e o multiletramento, como abordagem para o ensino do inglês.

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35

1.3 O que são multiletramentos?

De modo bastante sucinto, vale ressaltar que, na acepção aqui defendida, o

processo educativo se pauta por uma perspectiva crítica, histórica e dialogicamente situada do

mundo, do sujeito e da linguagem, preocupando-se com o engajamento discursivo do

indivíduo em um mundo plural e heterogeneamente constituído, em seus múltiplos níveis,

facetas, esferas e campos. (COPE&KALANTZIS, 2000)

É bem verdade que essa acepção de processo educacional ainda está longínqua

de se tornar real. O que se vê ainda são metodologias de ensino estruturado de forma a não

contemplar o discurso pluralizado e multifacetado do sujeito e da linguagem. As esferas

educacionais, em acréscimo, elidam o uso de recursos tecnológicos como ferramentas de

letramento, outrossim desconsideram as práticas sociais como foco de ensino e aprendizagem.

Dos processos de globalização desenfreada, impõem à área conflitos

ontológicos e epistemológicos, que irremediavelmente acabam por acentuar a já fragilizada

situação do ensino de línguas na escola pública. (MONTE MÓR, 2009)

A fragilidade não está somente no ensino de línguas. Tendo a educação do

surdo como pauta, vale fomentar as premissas do sistema educacional denominado inclusão.

A priori, o consenso em Declaração de Salamanca1 era profícuo, educação para todos, sem

acepções. Contudo, evidenciaram lacunas no ensino e na aprendizagem. Os surdos se valeram

da presença de um profissional intermediador (o intérprete), mas continuaram sendo

negligenciados pelo sistema educacional e por metodologias ineficazes. Atribuíram ao surdo a

incapacidade de aquisição da leitura e da escrita, uma vez que as instituições educacionais,

tanto públicas como privadas, utilizam a perspectiva da alfabetização, centrando o foco no

código e na vocalização das letras. Como não sendo o bastante, a língua materna dos surdos,

Língua de Sinais, não foi (é) utilizada em uma perspectiva dialógica, funcional e instrumental.

Ancorada no pensamento de Cox e Assis-Peterson (2001), entende-se que

premissas discursivas, associadas ao ensino de LE, diferem de propostas tradicionais,

1 A Declaração de Salamanca (Salamanca - 1994) é uma resolução das Nações Unidas que trata dos princípios,

política e prática em educação especial. É considerada mundialmente um dos mais importantes documentos que

visam a inclusão social, juntamente com a Convenção sobre os Direitos da Criança (1988) e da Declaração

Mundial sobre Educação para Todos (1990). Faz parte da tendência mundial que vem consolidando a educação

inclusiva. A sua origem é atribuída aos movimentos em favor dos direitos humanos e contra instituições

segregacionistas, movimentos iniciados a partir das décadas de 1960 e 1970.

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funcionais e comunicativas, principalmente porque atentam à dimensão político-ideológica da

linguagem e da educação, geralmente negligenciadas pelas vertentes citadas.

Percebe-se ainda que o acesso aos ambientes digitais tem aumentado de forma

voraz e, de consequência, igualmente a demanda na busca pela aquisição da uma segunda

língua, destaque para língua inglesa, por ser esse o idioma mais utilizado dentro do ambiente

digital. Como já mencionado em passagem outra, a globalização tem sido um dos fatores a

popularizar esse acesso, já que, até bem pouco tempo, somente a classe mais prestigiada tinha

acesso à tecnologia de qualidade. Pautada nesse argumento, há que fomentar propostas para o

ensino de LE contemplando as práticas sociais, inclusive as pertinentes aos ambientes digitais

e tecnológicos. Na perspectiva do Multiletramentos, a aquisição da leitura e escrita, só faz

sentido ao indivíduo se partirem das premissas dos contextos sociais onde ele está inserido.

Diante do exposto, reitero a urgente necessidade de maximização do potencial

de agência dos alunos de inglês para estabelecer bases para a construção de uma educação

assentada nos pilares dos multiletramentos (COPE& KALANTZIS, 2000), respeitando a

pluralidade linguística e cultural dos diversos contextos em que os estudantes se encontram

inseridos.

Diante das premissas expostas, a competência de um falante multilíngue

(ROCHA, 2010) é algo em constante mutação, caracterizando-se, portanto, pelo contínuo

inacabamento. Assim ser competente, nessa perspectiva, significa

saber agir, de modo crítico, em práticas sociais diversas em que a língua-alvo

se faça presente. Grosso modo, ser competente em uma língua é possuir

proficiências múltiplas para a ação em diferentes contextos sociais. Em outras

palavras, é desenvolver letramentos, múltiplos, críticos, multissemióticos, que

permitam o engajamento social e discursivo em diferentes âmbitos e esferas,

sob perspectivas éticas e protagonistas (ROCHA, 2010, p.65).

Ser um falante competente, portanto, segundo Rocha (2010), é desenvolver

multiletramentos adequados para utilizar a língua em múltiplas zonas de contato, apropriando-

se dessa língua para seu próprio uso e interesses, com vista a interagir com pessoas com

diferentes modos de pensar, agir e dizer, histórica e discursivamente marcados.

Sendo assim, o surdo só terá acesso às informações de forma mais igualitária

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quando o processo de aquisição da leitura e escrita for pautado na perspectiva do

multiletramentos, quando os professores não negligenciarem a urgência de uma metodologia

que estimule aspectos visuais dos temas abordados, de tal sorte que o conhecimento trazido

pelo surdo para a agência educacional não seja ignorado pelo desconhecimento, por parte do

educador, da língua de Sinais. Para tanto, são necessárias políticas públicas claras que levem

em linha de conta a formação crítica dos docentes. Para que eles possam desenvolver maior

sensibilidade cultural para entender o processo de aprendizagem de alunos surdos.

Com base no trabalho de Rocha (2010), discuto a proposta da Pedagogia dos

Multiletramentos (COPE & KALANTZIS, 2000), por entendê-la relevante para esta pesquisa,

além de promover novas concepções educacionais. Segundo Rocha (2010), essa perspectiva

teórica legitima a diversidade étnica, linguística e cultural como possibilidade de ressignificar

sentidos em diferente maneira de comunicar. Rocha (2010, p.64) salienta que “essa vertente

crítica reconhece a natureza discursiva e multissemiótica das práticas linguísticas e culturais

na atualidade, bem como o caráter sociocultural situado nas relações humanas e o processo de

construção de conhecimentos”.

A autora sugere que para o ensino de línguas, nessa vertente, pode levar em

linha de conta a variação dos gêneros de discursos, contudo, de forma sistemática.

Objetivando não a reprodução, mas a produção de língua em uso. Rocha (2010) salienta

igualmente que a teoria de discurso que embasa a pedagogia de Multiletramentos advém do

pensamento de Fairclough (1992;1995) que compreende que qualquer atividade semiótica,

relaciona-se com o uso da linguagem, na produção e consumo de textos dentro de um viés que

abarca a noção de construção de significados. Para tanto, a autora, baseada em Cope e

Kalantzis (2000), considera as implicações das transformações sociais no contexto do

trabalho, da cidadania e do civismo na contemporaneidade que possibilitam perceber a relação

entre questões centrais rumo à pluralidade do trabalho, do público e do privado.

Nesse caminho, Rocha (2010) aponta que a ideia de nacionalismo, tão

enfatizado no século XIX, tinha como premissa uma relação homogeneizadora da vida

pública. Dessa forma, a concepção de civismo estava entrelaçada a uma visão de identidade

nacional fortemente determinada por posições opressoras. Já no universo privado, sofria o

efeito de uma cultura de massa que transpunha nos domínios linguísticos a percepção

nacionalista que movimentava no sentido de minimizar as diferenças, padronizando línguas e

culturas. Nessa leva, retomamos o indivíduo surdo e sua marginalizada trajetória, sendo estas

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minorias inseridas em uma sociedade regulada ainda pelos estereótipos, tomando o surdo

como um ser débil: esta mesma sociedade tenta criar um pseudossistema educacional de

inclusão.

Diante dessa situação, concordo com Rocha (2010) que discorre sobre a

necessidade de uma mudança epistemológica que considera que os sujeitos devem transitar

por entre uma diversidade de esferas sociais e suas intersecções, de forma crítica,

possibilitando acesso ao “poder social, às riquezas e aos símbolos de reconhecimentos”,

provocando também mudanças, sem que seja preciso o abandono ou o silenciamento de

“diferentes subjetividades”. (COPE & KALANTZIS, 2000, p. 18, apud ROCHA, 2010, p.75)

Da mesma maneira, Rocha (2010) entende que a percepção de cidadania

necessite ser igualmente repensada, com a finalidade de abraçar a diversidade e a pluralidade,

sob a perspectiva ética e transformadora (COPE& KALANTZIS, 2000, apud Rocha, 2010,

p.75), que se orientem para a cidadania ativa ou participativa. Cabe, portanto, insistir na

delimitação de conhecimentos/letramentos que possam materializar esses objetivos no início

da educação básica, não só nas aulas de língua inglesa, havendo, igualmente, uma valorização

da língua de sinais, a ponto de ser vista e ensinada como qualquer outro idioma e, assim venha

a ensejar ao surdo o acesso a toda e qualquer esfera de forma autônoma e protagonista, sem a

dependente necessidade de um mediador da comunicação.

1.4 Multiletramento, letramento crítico e o ensino de inglês para surdos

O multiletramento, tanto quanto o letramento crítico, não corrobora as formas

tradicionais de ensino, inovando o processo de ensino e ampliando o conceito de letramento

para a inserção de novas tecnologias.

Aragão e Borba (2012), ao discorrerem sobre o ensino de inglês (para

ouvintes), chamam a atenção para a formação de professores na atualidade em face dos

desafios impulsionados pela globalização, e suas linguagens e tecnologias, tendo em vista

questões como diversidade cultural e linguística, inserção das novas tecnologias, novas

práticas de linguagem e outros letramentos, somados à possibilidade de formação voltada para

a cidadania e inclusão social.

Esses autores partem do questionamento alusivo às implicações do conceito de

multiletramento na formação do professor de inglês e recuperam o conceito de alfabetização e

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39

de letramento como precedentes ao conceito de multiletramento, destacando o trabalho

pioneiro do New London Group.

Vale ressaltar que as teorias de letramentos, como projeto de inclusão social,

versam sobre as habilidades de leitura, comunicação oral e prática escrita, tendo em vista, em

primeira instância, a necessidade da promoção da cidadania. Aqui se deve compreender o uso

da língua de sinais, no caso da educação dos surdos, aí incluído o ensino da língua inglesa,

como parte das questões acerca da concepção de língua na qualidade de mediadora de

constituição de profissionais voltados para efetivar propostas de educação pelo ensino de

línguas estrangeiras. Também se valoriza a análise crítica do trabalho na sala de aula, da

aprendizagem como autônoma e contínua ao longo da vida e de preparo do professor para

atuar no contexto das novas tecnologias, igualmente prática pedagógica embasada nas teorias

de letramento.

Se, no âmbito do ensino de língua inglesa para ouvintes, o trabalho com a

leitura e com a escrita deve ser concebido como proposta a ser desenvolvida na condição de

práticas culturais contextualizadas, influenciado pela adoção das teorias de letramento e

multiletramento e – direcionadas a ampliar a visão de mundo dos alunos, com consciência

crítica e cidadania – , o ensino de língua inglesa para surdos pode contemplar não apenas a

modalidade escrita da língua inglesa. Deve-se levar em consideração que muitos sites e

mídias visuais de textos em American Sign Language, por exemplo, vêm acompanhados de

legenda. Esta, no caso do surdo, será o texto a ser usado como objeto de estudo enquanto ele

pode comparar as informações visuais da própria língua de sinais, que lhe vai oferecer as

pistas para entendimento do contexto.

Retome-se, ainda que em rápidas pinceladas, a relação entre os conceitos de

letramento e alfabetização. Conforme Kleiman (1995) e Soares (2004), há uma distinção

entre ser alfabetizado e ser letrado. É tido por sujeito alfabetizado aquele que decodifica as

letras, que domina a tecnologia de ler e de escrever. Por outro lado, uma pessoa, para ser

considerada letrada, deve usar a leitura e a escrita nas práticas sociais. Em outras palavras, a

oposição entre alfabetização e letramento está principalmente na noção de prática social. Essa

diferença se definiu ao se perceber que, da averiguação da capacidade ou habilidade de

escrever o próprio nome, passou-se à averiguação da capacidade de uso da leitura e da escrita

para uma prática social. (ARAGÃO & BORBA, 2012, p. 229)

No que concerne à informação de que pesquisadores começaram a perceber

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que os indivíduos, apesar de escolarizados, não conseguiam utilizar adequadamente seu

conhecimento de leitura e de escrita para interagir socialmente, pode-se levar em linha de

conta que a língua de sinais, para o surdo, seja sua língua materna, seja uma língua

estrangeira, sempre vai ser o meio de interação que lhe amplia as possibilidades de usufruir

dos bens culturais da sociedade letrada, de exercer de maneira autônoma as práticas de leitura

e de escrita. (DESCARDECI, 2002)

Os “letramentos” na língua inglesa oferecem oportunidade de desenvolver

outras habilidades, atinentes ao uso da linguagem tecnológica, que são também exigidas. Seja

exemplo saber redigir e enviar um e-mail, acessar um site, utilizar ferramentas de busca

corretamente, de forma favorável às necessidades de um aluno surdo, e, na mesma esteira,

saber utilizar e compreender a linguagem de blogs, Twitter, Orkut.

No que se denomina Multiletramentos, é característica inerente ao sujeito que

realiza práticas não apenas de ordem do conceito de alfabetização ou de letramento, mas a

necessidade de revelar postura crítica, participativa, reflexiva, que busca aprender

continuamente. Podemos definir Multiletramentos, então, como estado ou condição que

assume aquele que utiliza bem a leitura e a escrita, seja através do suporte impresso, seja

através do suporte digital, atentando à diversidade dos usos da linguagem na construção de

sentidos (SOARES, 2004; COPE& KALANTZIS, 2000; ARAGÃO& BORBA, 2012, p. 231).

Os Multiletramentos também integram outros meios semióticos, como cores, sons, imagens,

que são formas de usar a linguagem para a construção de sentidos hábeis a agir no mundo

social.

Admitir o letramento como um fenômeno complexo que envolve um conjunto

de fatores de significação, os quais, por sua natureza conceitual, são múltiplos, com a

contribuição de interpretação de imagens, interatividade, vídeos e escrita como processos

complementares em um dado contexto, é admitir que o ambiente digital franqueie nova leitura

de práticas sociais, bem como se torna, ele mesmo, uma prática social quase icônica do

multiletramento. Por isso, o ensino a distância conta com uma revolução conceitual de ensino-

aprendizagem, na medida em que estabelece o uso de novas tecnologias em prática interativa

e reflexiva a partir das atividades propostas.

Ao elegermos essa perspectiva como a interpretação das imagens para interagir

nas práticas a serem desenvolvidas no ambiente digital a distância, no Facebook, estamos

delineando alguns princípios que nortearão os encaminhamentos metodológicos aqui

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sugeridos:

– retificando, o multiletramento toma a leitura, a imagem, o vídeo e a escrita

como processos complementares e dependentes dos contextos das práticas sociais e seus

significados;

– a produção de sentido pode ser depreendida com base nas ações interativas

reguladas pelo planejamento e reflexão sobre as respostas dos envolvidos, dependendo das

necessidades do leitor/escritor em seu meio social e cultural.

Muitos professores ouvintes tendem a repetir, com alunos surdos, a

metodologia empregada para o ensino de alunos ouvintes e abordam o letramento só pela fala

(oral); raramente há professores de inglês fluentes de língua de sinais e, some-se a isto, o

currículo orientador segue um modelo de currículo próprio de ouvintes.

O atraso no aprendizado dos alunos surdos pode ser observado no fato de que

chegam a entender algumas relações de significantes e significados, incluindo o sentido de

frases simples e palavras. A falta de convivência e conhecimento dos professores em relação

aos surdos implica a ignorância da cultura surda.

Uma vez que letramento é o processo de formação do aluno, não apenas no

sentido de “decodificar” as letras, mas no de compreender sua leitura em outras facetas, como

a interpretação, a relação com a cultura e as demais informações do mundo, o letramento

crítico permite a transformação da própria realidade (SOARES, 1998, p. 16-37). Para a

alfabetização dos surdos ocorrer, é preciso que esteja inserida em um contexto de letramento

em língua de sinais, a qual é usada na convivência e na vivência dos surdos, dentro e fora das

escolas (QUADROS&SCHIMIEDT, 2006, p. 15).

Quando se integra o ensino da língua inglesa à língua americana de sinais, para

o surdo, consideram-se os vários elementos e fontes possíveis de letramento multissemiótico:

letramento digital, artístico, imagético, visuoespacial e o linguístico. A sociedade tem sido

influenciada com o advento da tecnologia, com a globalização e à multiplicidade cultural.

Sendo assim, os diferentes tipos de mídia, que exploram a cultura imagética e digital, se

tornaram grande fonte de auxílio no que tange ao ensino e à aprendizagem do surdo,

exatamente por explorarem as experiências de forma visuoespacial. A tecnologia também tem

propagado a língua estrangeira, despertado, no surdo, o interesse em aprender as línguas de

outros países.

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Uma das estratégias de ensino na perspectiva dos Multiletramentos é

considerar e valorizar os conhecimentos que alunos já trazem para sala de aula, bem como sua

cultura e sua forma linguística de expressar pensamentos e opiniões.

O surdo necessita de um ambiente linguístico favorável e da interação com

outros surdos para construir sua cultura. Bem manuseadas, as mídias podem ser

instrumento para produzir opinião e instigar uma postura crítica ante os fatos e ocorrências na

sociedade, já que a tecnologia tem constituído um facilitador na vida do surdo, no quesito

interação e autonomia social. Há quem considere o acesso dos surdos a essa tecnologia uma

vitória.

Nessa perspectiva aflora, então, o desejo para que pesquisadores e educadores

compreendem a necessidade de ensinar a língua inglesa para os surdos. Graças a essas

discussões, nasceu o tema desta pesquisa: o ensino a distância da língua inglesa para a

comunidade em questão.

Com a globalização e o advento da internet, a língua inglesa passou a assumir

mais influência do que outrora. Nessa marcha, ao surdo não se pode negar o acesso às

interações sociais estrangeiras, tampouco o acesso às informações e mecanismos tecnológicos

e digitais, uma vez que a internet e todos os recursos virtuais tecnológicos favoreceram a

comunicação, as interações surdo-surdo e surdo-ouvinte, notadamente o registro da Língua de

Sinais.

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43

CAPÍTULO 2

ENTRADA NA CONCHA: METODOLOGIA DA

PESQUISA

Concha

O vai e vem das ondas do mar nos trazem

muitas conchas.

Algumas atiradas na areia nos conquistam

por sua beleza e maestria. Porém, existem

outras que ofuscam nossos olhos e faz com

que interrompemos nossa caminhada para

agacharmos e apreciarmos. E, quando nos

conquistam, a levamos conosco e

colocamos à mostra na mesinha da sala

para exibi-la como um troféu.

Nasce um apego, uma paixão. Então, esta

conchinha começa a fazer parte de nossas

vidas, dia após dia...

No meio de milhares de pessoas, uma me

chamou a atenção, que me fez parar,

conhecer e se deixar conquistar.

Uma conchinha assustadoramente

carismática e encantadora que hoje faz

com que eu deseje levá-la para a mesinha

da minha vida.

Uma pessoa que me faz sonhar, desejar,

viver intensamente e acreditar como a

imensidão do mar.

Alguém que me conquista a cada dia de tal

maneira que nunca fui tão grata às ondas

da vida por terem trazido algo tão especial.

Sou feliz por você fazer parte da minha

vida.

Flavia Tonacci Costa

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Este capítulo tem como objetivo mostrar a entrada na concha: para tanto, é

válido reconhecer os “caminhos percorridos” nesta jornada, o que corresponde às escolhas

metodológicas que dão o suporte para as análises interpretativas. Tratando-se de pesquisa

qualitativa, primeiramente fiz um planejamento para levantar e colher os dados a partir dos

quais pude observar como os surdos que participaram do curso de inglês a distância

receberam e significaram seu próprio desenvolvimento desta língua neste contexto. Vale

ressaltar que a pergunta da presente pesquisa é “como os sentidos são produzidos nas aulas

de língua inglesa para alunos surdos a distância”. A fim de reunir informações nesse sentido,

foram coletados os dados durante um curso de inglês oferecido gratuitamente através do

“facebook”, com direito a certificado emitido pela Universidade Federal de Mato Grosso,

correspondente a curso de 60 horas. A mediação do curso foi feita pela pesquisadora, que é

surda, em língua de sinais. Também foram aplicados questionários e entrevistas para

complementar dados e informações levantados e relacioná-los com a ideia de que o contexto

interativo e multifacetado da própria natureza do curso a distância, mediado em língua de

sinais, compõe uma conjuntura em que processos múltiplos de significação perpassam pela

apreensão linguística, portanto significativa, do aluno em questão. Este, em adendo, passa a

refletir sobre:

– sua própria língua (de sinais);

– as relações de modalidades entre sinalização e escrita;

– as resistências prévias ao aprendizado de uma língua escrita;

– os interesses e desejos por uma segunda ou terceira língua como portas de

novos conhecimentos.

Pode-se supor que estes processos correspondem a um dos aspectos do

letramento crítico, que consiste no ensino voltado para a revelação das ideias tidas como

hegemônicas, ou seja, ideias tidas como comuns a todos, as corretas. Com base nessa

compreensão, cabe aos professores despertar o pensamento crítico nos alunos. O letramento

crítico não trabalha com conceitos de certo e errado. O objetivo é que os alunos desenvolvam

a autocrítica, reflitam sobre si mesmos e sobre o mundo em que vivem. Deve-se despertar

para os diferentes posicionamentos, para a existência de ideias hegemônicas que podem ser

confrontadas e, ainda, para formulação do próprio conhecimento.

Faz parte, assim, do processo de pesquisa identificar em que medida os sentidos

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produzidos pelos alunos correspondiam às suas expectativas como “necessidades e desejos”.

Portanto, procura-se compreender também quais as necessidades educacionais

contemporâneas dos alunos surdos.

Vale lembrar que, enquanto se permite ao pesquisador maiores condições de se

aproximar de seus autores sociais, valendo-se das descrições ricas do mundo social em que

estes estão inseridos, ele é responsável pela interpretação dos dados gerados pelos

participantes. Este tipo de estudo faculta ao pesquisador que se guie por meio de um conjunto

de crenças e sentimentos concernentes ao mundo, utilizando-se de uma comunidade

interpretativa para então traduzir as interações em linguagem (DENZIN & LINCOLN, 2006).

Por isso, entrar na concha significa percorrer dois caminhos imbricados: o caminho da própria

vivência – a língua dentro de si – e os caminhos metodológicos da pesquisa – a língua em

relação viva com o outro.

A fim de melhor explanar a metodologia aqui utilizada, passemos para breve

caracterização da pesquisa.

2.1 Caracterização da pesquisa

Quando a ostra se abre em fresta, inicialmente entra a água do mar, mundo ao

qual pertence, e desta mesma água se reflete a luz entremeada de sombras: ostra e mar são um

mesmo complexo de vida. Analogamente, a pesquisa qualitativa compreende um conjunto de

diferentes técnicas interpretativas que visam descrever e decodificar os componentes de um

sistema complexo de significados.

A ostra se abre pouco a pouco, com o andar dos dias; a pesquisa qualitativa

também, com o tempo, se transforma historicamente. Como o mar tomada a ostra por

referência, a pesquisa qualitativa é uma atividade específica que localiza o observador no

mundo. Consiste em um conjunto de prática materiais e interpretativas que dão visibilidade ao

mundo: da ostra se enxergam aspectos de mar em seu interior, estabelecendo-se relações

únicas e inesperadas. Essas práticas transformam o mundo em uma série de representações,

incluindo as notas de campo, as entrevistas, as conversas, as fotografias, as gravações e os

lembretes. Nesse nível, a pesquisa qualitativa envolve uma abordagem naturalista,

interpretativa, para mundo, o que significa que seus pesquisadores estudam as coisas em seus

cenário natural, tentando entender, ou interpretar, os fenômenos em termos dos significados

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que as pessoas a eles conferem. (DENZIN & LINCOLN, p.17)

É importante destacar a singularidade desta pesquisa, de caráter qualitativo-

interpretativo que, no entender de Denzin e Lincoln (2006), visa “entender, interpretar

fenômenos sociais inseridos em um contexto”, no sentido em que se parte de uma experiência

como próprio sujeito no processo de aprendizagem da língua inglesa como surda: mais uma

vez a ostra vai se deixando percorrer.

Ainda conforme Denzin & Lincoln (2006), a pesquisa qualitativa se

caracteriza por um meio pelo qual os pesquisadores têm maiores condições de se aproximar

de seus autores sociais, valendo-se das descrições ricas do mundo social em que estes estão

inseridos, isto é, o pesquisador é responsável pela interpretação dos dados gerados pelos

participantes.

Como característica da pesquisa de caráter qualitativo e interpretativista, o

pesquisador se guia mediante um conjunto de crenças e sentimentos em relação ao mundo,

utilizando-se de uma comunidade interpretativa para então traduzir as interações em

linguagem (DENZIN & LINCOLN, 2006). Deste modo, se pudesse resumir a percepção de

alguém que, sendo surda, pôde experimentar a aprendizagem da língua inglesa em diferentes

contextos e, tendo como base a especificidade cognitiva da linguagem do surdo, poderia

concluir com a afirmação da importância da fluência em língua de sinais como primordial

para o sucesso do ensino-aprendizagem.

Como esclarecem os autores citados, a pesquisa qualitativa envolve o estudo de

uso e a coleta de uma variedade de material empírico – entre os quais a experiência pessoal, a

introspecção, a história de vida –, problemático na vida dos indivíduos. A intenção é a de

conseguir compreender melhor o contexto de pesquisas e os atores envolvidos, instrumentos

para geração dos dados, procedimentos de análise.

Vale ressaltar, aqui, que a escolha metodológica desta pesquisa se deu após a

reflexão sobre as seguintes experiências distintas (como aluna surda de curso de língua

inglesa):

A experiência em sala de aula com professor ouvinte, brasileiro, no

método oralista (internet, no ano de 2009, em curso de escola de inglês);

A experiência em curso a distância, pela internet, em 2011;

A experiência em sala de aula com professor ouvinte, brasileiro, fluente

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em língua de sinais, no ano de 2012, com uma professora (Aline Sousa), pesquisadora de seu

doutorado;

A experiência com professor surdo, norte americano, no curso de

American Sign Language, recomendo à língua inglesa escrita como parte dos recursos visuais.

Curso de 60 horas em 2012.

Como colocado noutro passo, a experiência (entenda-se vivência) como pessoa surda,

que já passou por um processo de aprendizagem de diferentes línguas (o português, o inglês e a

própria língua de sinais, adquirida tardiamente), fundamentou parte importante do presente

projeto. Este parte das Teorias do Multiletramento e Letramento Crítico expostas no primeiro

capítulo para estruturar as atividades interativas para ensino de inglês a distância. Com a coleta

de dados realizada neste processo, pudemos arriscar a dedução de alguns traços que delineiam a

interpretação para compreender como os sentidos foram produzidos nas aulas ministradas.

Aqui ressaltamos que a pergunta “quais são os sentidos produzidos nas aulas de língua

inglesa no contexto digital” é capciosa, porque pode dar a entender que existiria um controle

sobre esta produção de sentidos quando, na verdade, ela é também múltipla. Na verdade, não

deixa de ser uma pergunta válida quando cede espaço para criar condições de observar quais as

melhores circunstâncias para o ensino do público-alvo, recordando que, em todo o processo

estudado, estão envolvidas quatro línguas: o inglês escrito (e suas relações com “as culturas”

inglesas), a língua de sinais americana, a língua de sinais brasileira e a língua portuguesa, como

uma espécie de “sombra linguística”, já que ela está imbricada em todo o processo do

multiletramento em torno da própria mídia e das experiências dos surdos com os registros desta

língua majoritária na cultura brasileira.

2.2 O contexto da pesquisa: ambiente virtual

Para a realização da coleta de dados desta pesquisa, foi oferecido um curso de

inglês para surdos, de 60 horas, atendendo a 14 surdos através de um grupo fechado no

facebook. Este curso funciona na modalidade ensino a distancia, em ambiente digital.1Dessa

forma, o contexto digital se revela de suma importância como espaço que possibilita a

convivência com os aspectos característicos do multiletramento. Em outras palavras, é um

1 O curso foi gratuito e ofereceu certificado após sua conclusão.

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espaço saturado de informações linguísticas. Vale ressaltar que isto pode ser interpretado tanto

positiva quanto negativamente, daí a importância do professor para fazer do excesso de

informações fontes de possibilidade e não esvaziamento de sentido.

A mídia digital escolhida foi o facebook1 pelo motivo de que, sendo

extremamente divulgado, mesmo entre surdos, acaba por se tornar uma mídia poderosíssima

atualmente. Por isso, demonstrou-se fácil de manuseio, pois os surdos já a conhecem, já têm

prática com as ferramentas de respostas e comentários, montagem de vídeos e imagens,

recurso de bate-papo e interação com outros perfis. Acrescente-se o fato de que dispor de um

ambiente já conhecido pelos alunos e professores pode facilitar a criação de atividades e uso

de informações disponíveis on-line para a produção em língua inglesa escrita, o que

corresponde a um ganho no que respeita a tradicionais procedimentos, em meu modo de ver

principalmente para o aluno surdo. Outra vantagem foi a participação do Grupo de Pesquisa

em Linguagem e Tecnologia (GELTEC) em relação tanto ao planejamento das atividades

quanto às trocas de experiências para futura interpretação de dados.

Vale salientar duas questões envolvidas no contexto do ensino de língua inglesa

a distância: uma referente ao ambiente virtual, outra dizente do ensino de inglês.

De Jesus (2008) observa que, em relação ao ambiente virtual, a Internet

potencializa a disseminação de informações e promove uma espécie de “ruptura” com as

barreiras geográficas, sociais e linguísticas (PAIVA, 2001). O mesmo autor atenta para o fato

de ser “imprescindível que tecnologias disponíveis no mundo virtual façam parte dos recursos

e do cotidiano do professor deste século” e, aqui, sublinhamos o fato de que esta atualização é

o que promove parte significativa do multiletramento. Assim assegura:

Os recursos disponíveis na Web, por serem multidimensionais, estão em

condições de oferecer, aos discentes surdos, um ambiente mais rico na

aquisição da escrita (LIAO, 1999; HO, 2000) e os inúmeros sites e recursos,

expressos em forma de imagem, podem recriar, em nossa mente,

experiências mais próximas às da realidade cotidiana. A aprendizagem pode

se realizar mediante descobertas individuais, de tentativas inúmeras, do fazer

e do refazer, respaldada no estilo individual. Não se deve esquecer de que

1Facebook é um site e serviço de rede social; em média, 316.455 pessoas se cadastram, por dia, desde sua

criação em 4 de fevereiro de 2004. Os usuários podem criar um perfil pessoal, adicionar outros usuários como

amigos e trocar mensagens, participar de grupos de interesse comum de outros utilizadores, organizados por

escola, trabalho ou faculdade.

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esses recursos multidimensionais podem ser espaços ricos para trocas de

ideias, experiências e criações. (JESUS, 2008, p. 20)

No que diz respeito à produção de sentido, ou “como os sentidos são

produzidos nas aulas de língua inglesa no contexto digital”, vale lembrar que como infere De

Jesus, com o uso de material eletrônico, foge ao alcance do professor o poder de previsão das

inúmeras conexões disponíveis que o aluno poderá engendrar:

Novos caminhos podem ser descobertos e gerados. Esses novos parâmetros

educativos, segundo Paiva (2001, p. 272), representam um estímulo e

requerem um ensino mais centrado no aprendiz, sendo que o professor se

torna intermediador das informações selecionadas pelos alunos vivenciando,

assim, os recursos capitalizados por essas tecnologias (PUTNAM, 2000;

PAIVA, 2001).

Assim, abrem-se espaço para diversos textos, com grande variedade de

homepages sobre questões educativas, sociais, políticas, entre outras, ampliando conceitos de

texto e de leitor. No caso do ensino de inglês para surdos, agiganta a possibilidade

comparativa de contextos e significados através de anúncios, jornais e outros textos que

permitam a reflexão ideológica e de construção de diferentes linguagens.

Como ambiente virtual, o facebook substituiu o “Orkut”, mas apresentou

ferramentas muito diferentes. Antes os surdos usavam mais Orkut do que facebook, porque

era o meio de contato mais conhecido. Depois, os surdos começaram a conhecer o facebook e,

como eu, perceberam que as ferramentas estavam mudando, com uma atualização cada vez

melhor, e auxiliava sobremaneira no contato internacional. No começo, o espaço foi uma

espécie de diário para os surdos, um tipo de “ajuda psicológica” e cenário de comentários dos

surdos sobre seu cotidiano, opinião política, educação, etc. Depois, acrescentavam vídeos e

figuras de informação de globalização, multicultura, cultura surda, história, etc. Eu mesma me

transformei muito porque comecei a buscar informações, através do Facebook, em páginas do

exterior e dos “interiores” do Brasil.

Um exemplo foi a efervescência diante da notícia de que o MEC vinha

fechando escolas de surdos e que, até então, não havia sido divulgado, o que revoltou surdos e

ouvintes – entre interpretes, familiares e amigos -, levando a uma manifestação virtual de todo

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o Brasil. Foi quando se soube que o MEC iria obrigar o fechamento do INES, acrescido do

fato de uma comissão de PNE que era contra a proposta do PNE para surdos, segundo a qual

apenas a escola regular deveria ser oferecida. Diante disto, alguns surdos do INES e colegas

publicaram, através do Facebook, a notícia e vídeos que fizeram movimentos para todos do

Brasil e outros países, recomendo a comunidades e milhares de membros que compartilhavam

o rechaço pela notícia. Daí se organizou o movimento “Escola Bilíngue para Surdos” em

Brasília, a que compareceram mais ou menos 2 mil pessoas da comunidade surda.

Esta mídia oferece participação em Grupos de Associações, Comunidades,

Deaf Culture, e o acesso à informação da globalização dos surdos, à educação, à política, à

história e a vários outros que aparecem em inglês, e no American Sign Language, bem assim

em sinais internacionais, com e sem legendas.

Foi assim que o grupo GELTEC opinou que o facebook parecia mais

interessante para oferecer o curso de inglês a distância para surdos, com o que aquiesci, visto

que parte significativa de surdos acessam o facebook, além de isto favorecer a interação entre

diferentes grupos.

Bem por isso, criei um grupo fechado para curso de inglês a distância para

surdos, e postava os vídeos de tradução em LIBRAS das atividades. Somado a tanto, fiz

entrevistas com alguns surdos selecionados através de interação pelo facebook, usando o

recurso do bate-papo em escrita e vídeo “particular”.

2.3 Instrumentos para a geração dos dados

Foram utilizados os seguintes instrumentos para gerar os dados da pesquisa:

Aplicação de entrevistas para seleção de alunos surdos fluentes na língua

de sinais, usuários das ferramentas tecnológicas, que tenham acesso à

internet e que se interessavam por aprender a língua inglesa.

Aplicação de questionários prévios tanto por escrito (alternativas) quanto

em LIBRAS, para identificação do perfil doas alunos;

Atividades de escrita e vídeo com notas de campo das aulas ministradas

aplicadas no início, no meio e no fim do curso;

Entrevistas em LIBRAS para avaliação do curso e autoavaliação dos alunos

envolvidos.

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2.3.1 Questionários

Foram aplicados:

- Um questionário para descrever os sujeitos da pesquisa, aspectos de

identificação pessoal dos surdos, seu grau de escolaridade, formas de comunicação usadas,

práticas de leitura e escrita em português e em inglês, e quais expectativas em relação ao

curso.

– Um questionário de avaliação do curso (vide questionário I), a respeito das

dificuldades encontradas, graus de interesse pelos temas e tratamento dado a esses,

significação afetiva e comunicativa, familiaridade ou estranhamento com os aspectos

linguísticos envolvidos e sugestões;

Os questionários em sua íntegra estão anexos.

Também foram objeto de resposta, mediante registros em vídeos, para aqueles

que escolheram usar a LIBRAS como mediadora das respostas.

2.3.2 Atividades de escrita e vídeo

A proposta do curso foi dividida em seções que descrevem as razões de ordem

educacional, linguística, discursiva e pedagógica para cursos de inglês a alunos surdos.

Quanto a este módulo, objetivo é promover a aprendizagem crítica de língua

inglesa para discentes surdos no contexto brasileiro. Sempre com o apoio de um tutor, o

participante entrou em contato com atividades mediadas por línguas de sinais que possam

auxiliá-lo na criação de ambiente favorável ao processo de reflexão sobre o idioma estudado.

As primeiras atividades, referentes à Unidade 1, lidam com um contexto já

familiar no ambiente virtual, muito próximo à linguagem do próprio Facebook:

apresentação, idade, relacionamento (casado, solteiro), lugar onde mora, profissão, etc. A

intenção é verificar a compreensão e reconhecimento, por parte dos alunos, desses

contextos e de formas de comunicação no âmbito desse mesmo contexto.

Após a apresentação do tema, é solicitada uma atividade relativamente curta,

para produção de um pequeno texto usando os recursos sintáticos já disponíveis pelo próprio

módulo. Ao fim, o aluno deve comentar todo o módulo por escrito, ou em LIBRAS, e enviar

por e-mail para a professora.

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A partir de então, os módulos vão gradativamente se tornando mais extensos do

ponto de vista da solicitação da compreensão de leitura. As atividades do segundo módulo

orbitam em torno de diferentes tipos de texto, ainda curtos, como quadrinhos de jornal,

revistas e histórias em quadrinhos. Aproveita-se para ampliar parte da cultura gráfica dos

surdos, através de comentários sobre os COMICS, COMIC STRIPS AND CARTOONS. As

perguntas que formam as atividades vão aumentando em número, dando espaço para

interpretações e compreensões linguísticas alicerçadas a partir dos quadrinhos selecionados. O

módulo 2 desta unidade trabalha com um quadrinho atinente à temática da “evolução” da

educação em relação aos papéis dos educadores (professores e pais) e do educando.

Posteriormente, traz como novidade um quadrinho com temática surda, já que um dos

personagens é surdo. Após o término do módulo, volta-se a perguntar sobre o interesse

causado por ele, as dificuldades e comentários, o que deve ser respondido por e-mail em

língua portuguesa ou LIBRAS.

A terceira unidade desfila maior complexidade, introduzindo textos mais

longos. O primeiro módulo desta unidade entreabre tabloides e tipos de papel na confecção de

jornais e revistas, levando a uma reflexão sobre o tipo de público-leitor envolvido, classe

social, mercado de consumo. O segundo módulo, partindo das manchetes dos jornais, introduz

uma notícia por inteiro e são feitas perguntas para exercício de leitura, escrita e interpretação

de texto. Por fim, faz-se a pergunta final, a ser respondida e enviada por e-mail, sobre as

dificuldades, percepções e comentários no que respeita às atividades desenvolvidas.

2.3.3 Entrevistas

Após o encerramento do curso, foram realizadas entrevistas com dez

participantes para colher os comentários, dificuldades e sugestões, significado e significações

do curso, bem assim informações a respeito de outras experiências com cursos de inglês.

Perguntas-padrão:

Qual foi sua maior dificuldade para participar das aulas e responder às

atividades?

Você disse no e-mail que gostou das aulas. Mas seja mais especifico: do

que mais você gostou?

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Você conseguiu aprender alguma coisa nesse curto período?

Sinalize algum vocábulo, frase ou expressão que você tinha aprendido no

curso de inglês para surdos a distancia.

Outras perguntas esporádicas, surgidas no decorrer do curso:

Você aprendeu a língua inglesa na escola? No curso de inglês, como eram

as aulas?

Em uma de suas respostas, você menciona a expressão “linguística

ouvinte”. O que seria isso? Você pode falar mais a esse propósito?

No que a variação das LIBRAS dificulta sua aprendizagem?

O curso de inglês a distância estava muito difícil? Quais foram as

atividades mais difíceis?

Tentou procurar traduzir com o dicionário? Você entende as palavras

traduzidas em língua portuguesa?

No curso, as imagens o ajudaram a atender às atividades?

Por que você acha muito importante ter imagens?

O curso de inglês a distancia ajudou seu desenvolvimento de aprendizagem

ou não? Por quê?

No seu passado, como foi sua barreira na escola? Qual sua dificuldade? O

que aconteceu?

Então, você sofreu na escola? Como foi seu processo de aprendizagem?

Você desistiu ou passava direto? Os professores lhe deram as notas sem ter

preocupação com sua aprendizagem, como?

Não aprendeu nada? Nenhuma frase?

Em relação à língua inglesa, como era na escola inclusiva?

Algumas de suas respostas foram por meio do Facebook, mas você preferiu

mandar o e-mail em particular, você sentiu algum constrangimento em

publicar ruas respostas? Em relação a seu passado, já ocorreu algo

semelhante?

Como foi a experiência de usar o Google tradutor?

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Como você aprendeu a língua inglesa na sala de aula?

Você só memorizou as palavras de português sem significado?

Você me falou que já estudou inglês da 5ª série a 8ª série. Como foi essa

experiência?

Era só prestar atenção na oralização do professor, qual foi sua barreira?

O que é mais fácil para você entender: as imagens ou a escrita? Em sua

escolarização, você teve intérprete?

Você memorizou algumas palavras aprendidas na infância?

Você me disse que se sente angustiada com sua dificuldade no curso de

inglês. Qual?

Recebi o seu e-mail sobre unidade 2 – modulo 2, porque você gostou mais

e quer aprender mais?

2.4 Procedimentos de análise

O primeiro questionário foi interpretado com o intuito de identificar quais as

relações entre os sujeitos da pesquisa e suas imagens de língua escrita, quais as significações

afetivas envolvidas nesta experiência e como elas interferem na aprendizagem e no interesse

por uma nova língua. Com base nas respostas, foram construídos alguns gráficos

demonstrativos para melhor visualização delas.

As atividades foram feitas com a intenção de verificar reconhecimento, por

parte do aluno, de conteúdo lexical e contextos gerais, com espécies de “palavras-chave” ou

“construções sintáticas frequentes e presentes em determinados contextos”. O grau de

dificuldade foi progressivo para verificar a dependência ou independência de recursos visuais

que complementam as informações linguísticas. Concomitantemente às aulas, foram feitas

avaliações mediante a observação e o acompanhamento do avanço de cada aluno. O foco

deste material, ainda que, em sua maioria, ocorra na modalidade escrita, explorou, através de

imagens coerentes, o conteúdo selecionado, lembrando que tal curso se enquadra no nível

básico. Sendo assim, o conteúdo foi referente a uma aproximação afetiva e significativa da

língua.

As aulas ocorreram semanalmente, de forma intensiva, e cada unidade era

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postada e deixada em aberto por cerca de quatro dias para que fossem respondidas. Na

semana seguinte, uma nova unidade era postada e deixada por mais quatro dias on-line, e

assim sucessivamente. Traduzidos os textos para a língua de sinais, o próprio ambiente digital

foi utilizado como estratégia pedagógica, já que o mesmo dispõe de recursos como

“comentário”, “curtir”, “perguntar/responder”, “vídeo” e “bate-papo”.

As entrevistas foram compreendidas como meio complementar, dado que é de

importância singular conhecer a realidade do aluno, as barreiras enfrentadas e os desafios

vencidos, a fim de nos valermos de estratégias que estimulem e gerem prazer neste surdo em

aprender uma nova língua, de forma acessível e sem a pressão social.

Agora que os caminhos por dentro se desenvolveram em formas de percorrer

os caminhos por fora, a ostra aberta está ao alcance de outros tesouros marinhos.

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CAPÍTULO 3

ENTRE ALGAS E CORAIS: ANÁLISE DOS DADOS

Este capítulo se dedica a descrever e interpretar os dados da pesquisa, tal como

alguém que, submergido em meio a algas e corais, destrincha os substratos interpretativos

diante dos dados colhidos. No movimento de “análise” ou organização analítica,

desmembramos nosso caminho em uma descrição do perfil dos alunos, seguida de seu

desenvolvimento linguístico diante das atividades e, por fim, da significação da experiência

do ponto de vista dos sentidos produzidos nas aulas de língua inglesa no contexto digital, para

surdos.

Dessa forma, com a intenção de observar quais sentidos foram produzidos

pelos alunos surdos de um curso de inglês a distância, passamos a olhar com mais atenção,

diante de nós, o quadro de imagens formado por algas e corais muitas vezes multicoloridos e

emaranhados, outras vezes vagamente destacados... Assim nos movimentamos para organizar,

separar ou reunir os dados colhidos como rastros de mar, pistas de língua, marcas de sentidos.

Vamos, nesse mergulho, descrevendo o que se colheu do processo de

aprendizagem de alunos que foram observados, ressaltando aspectos positivos desta

aprendizagem no meio digital e a distância – cujo foco é a comunicação e a interação social

entre surdos de diferentes nacionalidades – e verificando os sentidos que também se

apresentaram como faltantes, de acordo com as atividades sugeridas.

3.1 Perfil dos alunos

Os alunos que participaram do curso de inglês eram todos adultos, com

escolaridade entre o ensino médio completo, ensino superior completo e em andamento, pós-

graduação completa e em andamento, com idade entre 20 e 33 anos. Todos são fluentes em

LIBRAS, alguns são pouco oralizados e, destes, dois são ‘‘plenamente” oralizados. Entre os

que se inscreveram e deram início ao curso, havia:

– Dois cursando o doutorado na área de LIBRAS (tradução e escrita em sinais);

– Um formado em pós-graduação em ensino bilíngue;

– Cinco cursam Graduação (três em Pedagogia, sendo um Pedagogia Bilíngue,

um em Educação Física e um em Direito);

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– Um com ensino médio completo (instrutora surda).

Ao desenvolver esta pesquisa, atentei-me a dois papéis distintos. O primeiro

deles se refere ao papel da professora mediadora das interações ocorridas no facebook, já a

segunda alude ao papel da pesquisadora.

Desses alunos, quatro compareceram aos módulos iniciais e desistiram no

terceiro módulo, alegando motivos diversos (trabalho, problema de saúde e estudos), apesar

de o curso ser totalmente gratuito pelo Facebook. Por esses motivos, contei com a

participação de apenas 10 alunos até o fim da pesquisa.

Antes do início do curso foi feito breve levantamento sobre a experiência

anterior dos alunos com curso de inglês e, levando-se em consideração o uso da língua

portuguesa escrita para algumas respostas por e-mail, bem como algumas ferramentas de uso

da mídia, também se fizeram perguntas sobre esta modalidade (língua portuguesa escrita).

Sobressaíram estas:

Você costuma ler e escrever em português? (carta, e-mail, bilhete, artigo

de jornal, quadrinhos, mensagem de celular...);

Você gosta da língua portuguesa? ( ) sim ( ) não ( ) mais ou menos. Por

quê?

Você já estudou inglês? ( ) sim ( ) não. Se não, por quê? Caso já tenha

estudado, onde foi? Como foi? ( ) escola pública ( ) escola privada ( )

curso livre para ouvintes1

Como a pesquisa é qualitativa e não quantitativa, optou-se por colocar abaixo a

tabela das perguntas e respostas para franquear melhor visualização da relação afetiva com a

língua portuguesa para o surdo que, em princípio, seria sua segunda língua, apesar de ser

tratada como primeira pela sociedade que circunda o surdo.

Questões Você costuma ler e escrever em

português? (carta, e-mail, bilhete,

artigo de jornal, quadrinhos, mensagem

de celular...)

Você gosta da língua portuguesa? ( )

sim ( ) não (x ) mais ou menos

Por quê?

Pouco, mas uso a mensagem de celular

para comunicar, quadrinho e poucas

Não, porque tenho dificuldade de

entender.

1 O questionário e uma tabela sobre faixa etária e escolaridade estão nos anexos.

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P1 leituras por causa do curso de Pedagogia.

Gosto mais de vídeos e imagem.

P2

Mais ou menos, leio as notícias do site,

por ser mais fácil de entender, e utilizo

mensagem de celular e e-mail para me

comunicar.

Não, porque tenho dificuldade de

entender os contextos da interpretação.

P3

Sim, leio alguma coisa quando acho mais

interessante e que vai contribuir para

desenvolver meu conhecimento.

Mais ou menos, porque às vezes acho

difícil, depende muito. A recorrência

de metáforas e outros aspectos da

língua me confundem para

compreender o contexto.

P4

Gosto de ler mensagem, gibi, facebook e

várias redes sociais. E também gosto de

escrever no status do facebook, mensagem

de celular e e-mail.

Mais ou menos, porque é muito difícil

de entender os textos acadêmicos e há

muita exigência com a gramática.

P5

Pouco, gosto de ler o facebook, mensagem

de celular e e-mail para comunicar porque

eu aprendo as palavras.

Não, porque existem muitas regras, o

que torna a compreensão das frases

muito difícil, muitos textos e muitos

verbos.

P6

Costumo ler e escrever diariamente pelo e-

-mail, artigo, jornal, quadrinho, mensagem

de celular e muito livro romântico e ação,

e também muito leitura por causa do

doutorado.

Sim, porque minha família e um

professor particular me estimularam

muito para aprender a ler e escrever.

P7

Sim, e-mail, agenda, artigo, jornal,

mensagem de celular.

Sim, por que eu consigo ler

relativamente bem, mas escrevo menos

devido a ser minha segunda língua.

Sim, costumo mas tenho dificuldades com Sim, gosto e já me acostumei pois

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59

P8

determinados vocabulários, prejudicando

minha compreensão de leitura. Escrevo em

“LIBRAS” (transcrição) só para surdos

que têm dificuldade de entender a

estrutura escrita de português, e respeito a

língua dos surdos. Para quem entende bem

português, escrevo normalmente

português, continuo absorvendo e

enriquecer novos vocabulários.

nasci e adquiri L1 como português que

aprendi na escola especial e também

na escola inclusiva e contato com os

ouvintes.

P9

Mais ou menos, porque leio muito

quadrinho e escrevo as mensagens de

celular.

Não, porque tenho dificuldade de

leitura e de compreensão lexical.

Palavras.

P10

Gosto de ler e escrever carta, e-mail e

celular, mas não gosto muito de leitura

porque para mim é difícil.

Não, porque para mim faltou ensino e,

portanto, parece difícil.

P11

Estou acostumado com netbook e com

digitar textos e ler textos de pesquisa em

língua portuguesa.

Mais ou menos; tenho muitas dúvidas

devido à estrutura do texto e vocábulos

desconhecidos. Necessito de intérprete

para tradução em LIBRAS para

entender o texto.

P12

Estou acostumada a ter contato com a

leitura e a escrever, porque sou professora.

Sim, porque eu aprendi muito desde

criança, com professor na escola

especial e também com meus pais, por

isso eu gosto muito da língua

portuguesa.

P13

Gosto de ler diferentes tipos de textos e

também gosto de escrever.

Sim, porque é bom aprender a ler e

escrever, e conhecer várias palavras

diferentes e gramáticas.

P14

Pouco. Gosto de ler gibi, facebook, e-mail

e mensagem de celular. E também

escrever no facebook, mensagem e bate-

papo.

Não, porque tenho dificuldade com o

significado das palavras e com a

interpretação dos textos.

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60

Entre os surdos que participaram do curso, a maioria respondeu que costuma

ler e escrever em português. Poucos disseram que não costumam ler e escrever em português;

mas a maioria afirmou não gostar de língua portuguesa – ou seja, apenas a minoria parece

apreciar a língua portuguesa. Vejamos como os gráficos se invertem:

Os gráficos acima permitem supor, mediante a pergunta “Você costuma ler e

escrever em português? (carta, e-mail, bilhete, artigo de jornal, quadrinhos, mensagem de

celular...)” que este grupo de surdos apresenta, significativamente, uma experiência de

“costume” com a leitura e escrita em português no seu dia a dia através dos recursos

tecnológicos e midiáticos, estimulados pela interatividade, com ênfase para o próprio

0

2

4

6

8

10

Muito Mais oumenos

Pouco

Você costuma ler e escrever em português?

Você costuma ler eescrever em português?

0

1

2

3

4

5

6

7

Sim Mais ou menos Não

Você gosta da língua portuguesa?

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61

facebook como espaço de produção linguística. No entanto, em relação às significações

afetivas envolvidas na experiência com a língua portuguesa, em sua maioria não é uma

experiência positiva, devido às “barreiras” impostas pelas dificuldades de aprendizagem.

Estas dificuldades são marcadas por um profundo sentimento de frustração e trauma, o que

pode ser constatado por extensa bibliografia de relatos de surdos e de professores de surdos

(COUTINHO, 2008; LACERDA, 2000; GOLDFELD, 1997 e 2004; QUADROS, 2003;

PERLIN, 2008; SKLIAR,1998; SACKS, 1998). De minha parte, existe uma identificação

com este percurso, pois, sendo surda, conheço os obstáculos e as dificuldades como descrito

nos capítulos anteriores. Faz-se óbvio, exatamente por isso, eu já supusesse que haveria

resistência no concernente à língua portuguesa escrita, e enderecei tal pergunta com a

intenção de produzir um sentido nos acontecimentos sucessivos do curso, quando a leitura e

produção de texto em inglês se tornam mais intensas.

Vale afirmar que os alunos que apresentam afeição positiva pela língua

portuguesa são aqueles que receberam estímulo da família, dos professores de escola

particular e das escolas especiais e inclusivas. Ainda assim, demonstram eles terem sido

ensinados principalmente com “palavras e frases” – não com relações verdadeiras com

textos: ler um texto, entrar nele, estudá-lo, conflitá-lo e finalmente se distanciar com algo

extraído de suas ideias mais recônditas.

Assim, o que a língua oferece de convivência social aparenta mais interessante

e convidativo, principalmente para um público marcado pela exclusão, do que aquilo que ela

oferece de desafio interpretativo, o que evoca em muito os traumas com as não significações,

amarrados com os sentimentos de frustração dolorosos havidos em toda uma vida escolar.

No que toca à experiência prévia com a língua inglesa escrita, as perguntas,

como “Você já estudou inglês?”, “No seu dia a dia, você tem contato com a língua inglesa” e

“? Você já estudou inglês a distancia?”, obtiveram estas respostas:

– Apenas dois dos alunos não estudaram inglês antes; todos os demais tinham

experiência de estudo da língua inglesa;

– Cinco dos alunos tinham contato com a língua inglesa através de facebook,

internet, páginas de bate-papo, entre outros;

– Nenhum dos alunos havia feito um curso de inglês a distância.

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Para melhor visualização, vejamos os gráficos:

Percebe-se que alguns alunos têm algum contato com a língua inglesa em seu

dia a dia no ambiente digital como rede social. É importante observar que lança mão dessa

língua inglesa em gêneros digitais da internet. Em relação à pergunta – se os alunos que já

estudaram inglês o fizeram em escola pública ou privada –, apenas três deles fizeram o curso

livre para surdos, com professores que já dominavam a Língua de Sinais. Por isso, sentiram-

se estimulados para aprender inglês, ao passo que a maioria dos alunos surdos que estudaram

na escola pública ou na particular, somados àqueles que fizeram o curso livre para ouvintes

(inclusiva), sem intérprete, conduzidos por metodologia tradicional que leva em consideração

0

0.5

1

1.5

2

2.5

3

escola pública escola privada curso livrepara ouvintes

curso livrepara surdos

Você já estudou inglês? Se sim, onde foi?

7.5

8

8.5

9

Sim Não

Você tem contato com a língua inglesa?

0

2

4

6

8

10

12

14

Sim Não

Você já estudou inglês a distancia?

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63

a pronúncia, esses se sentiram desestimulados.

Diante das respostas ao primeiro questionário, pude reconhecer (aqui,

reconhecer carrega o duplo sentido de “identificar”, e de “conhecer mais uma vez, conhecer

de novo, conhecer por dentro – (me)-reconhecer) que a maioria dos alunos revelavam muitas

dificuldades com a língua portuguesa devido à carga de gramática que fora opressiva em

razão da metodologia tradicional. Ainda assim, leituras de textos em gibis, textos interativos

por meio do facebook, recados e mensagens de celular, entre outros, eram mais presentes e

prazerosos, portanto significativos. Isso também se deve às figuras que dão pistas contextuais,

mas, igualmente, têm o papel de amenizar a resistência ao texto puro. A mediação em língua

de sinais proporciona um conforto e um acolhimento iniciais no contato na inserção com outra

língua, de tal modo que o medo de naufragar entreabre dá espaço ao encanto e à riqueza de

novas paisagens. Nesse sentido, estimula o surdo a continuar no processo de aprendizagem de

uma nova língua. A interatividade, por igual, “dá uma mão” para que ele aprenda a nadar em

novos mares.

3.2 Primeiras atividades em inglês: as sementes marinhas

As primeiras atividades da unidade um, módulo um, feitas com a intenção de

verificar o reconhecimento lexical e contextos gerais, podem ser comparadas ao conteúdo de

“salas de bate-papo” (chats). Aliás, o termo chat, em inglês, já sinaliza a presença progressiva

e intensa de vocábulos em inglês, provenientes destes tipos de situações - chats, site, e-mail1,

facebook, status, este último proveniente do latim, tendo migrado para o inglês. Ressalve-se a

apresentação de algumas frases sequenciadas por imagens. Nomeadamente, a primeira encerra

uma gravura de uma moça tomando café diante do computador:

1 Em geral, utilizamos a grafia “e-mail”, mas, neste caso, com o intuito de enfatizar o empréstimo linguístico,

grafamos em itálico e-mail.

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Hi! I am Jenny.

Imagem retirada do Google imagens com finalidade pedagógica http://www.google.com/imghp?hl=pt-BR

A partir de então, outras informações vão sendo desfiladas para o leitor, que

tem acesso à gravura, ao texto e à língua de sinais, sinalizada que é pelo professor. Em

seguida, sempre tinha a possibilidade de se socorrer de dicionários disponíveis on-line,

também sugeridos nas próprias atividades, bem como de atender à sugestão proposta por

outros “sites”. Após algumas informações, as mesmas são elas reunidas em um pequeno texto,

como o exemplo a seguir:

Hi! My name is Priscila. I am 27 years old. I am from Brazil, from the estate of Mato Grosso. I am married to

_______ and we live in Cuiaba. I am a student in the mastership program of UFMT (Federal University of Mato

Grosso) and also a Brazilian sign teacher at ________________. I am very happy to have you all here.

(os participantes postam os seus textos).

“Curiosamente”, mesmo sem haver sido solicitado, antes desta primeira

atividade, os alunos surdos transformaram as primeiras atividades de leitura em atividade de

leitura e escrita.

Assim, por exemplo, dada a gravura da moça no computador com a frase “Hi! I am

Jenny”, os alunos do curso escreveram, um a um, “Hi! I am ....”. Provavelmente, isto

aconteceu por duas razões: um hábito mecanizado de repetição à maneira como muitas vezes

se “ensinava” a língua portuguesa para o surdo, nas escolas em geral, somado a necessidade

de interagir imediatamente, como geralmente ocorre na “linha do tempo” do facebook.

De qualquer modo, no que diz respeito à primeira atividade, todos a realizaram,

assentadas algumas pequenas diferenças, o que revelou que, neste caso, não foi

Page 65: UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO INSTITUTO DE ... · 1.4 Multiletramento, letramento crítico e o ensino de inglês para surdos 38 CAPÍTULO 2: ENTRADA NA CONCHA: METODOLOGIA DA

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completamente um “copiar e colar”, mas houve, de fato, tentativas válidas, usadas para se

apresentar.

Já a segunda atividade consistia em uma atividade de leitura e interpretação,

jogando sobretudo com implícitos evidenciados pelas letras garrafais para “Brazilian” e pelas

negativas destacadas em outra cor:

O texto é irônico e joga com as imagens que se têm do brasileiro, no exterior.

No entanto, diante da atividade proposta: “De acordo com o texto, qual a imagem que os

estrangeiros, geralmente, têm dos brasileiros?”, apenas três alunos responderam à pergunta.

Ainda assim, a primeira das respostas não estava de acordo com a expectativa da pergunta, ao

passo que as outras duas apenas compreenderam a pergunta após explicações posteriores por

meio de bate-papo, e, então, responderam satisfatoriamente. As respostas (ou ausência de

respostas) evidenciaram que a maioria dos alunos não compreendeu a pergunta feita, pois não

se relacionou a palavra “imagem” como imagem que os estrangeiros têm do brasileiro – vale

dizer caricatura, estereótipo –, mas com a gravura em si: o quadro azul dentro do qual estão

as frases e o desenho abaixo. Os alunos deduziram o que havia sido solicitado, por uma

reunião lexical mais do que por uma compreensão sintática do enunciado em português. De

outra parte, quanto ao texto em inglês, muitos compreenderam o que estava dizendo em

termos de frases; no entanto, não conseguiram interpretar o subentendido, presente na

ambiguidade e nos implícitos.

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Exemplo 1 – interação no curso pelo facebook

Após o término do módulo, no concernente à solicitação para que se

descrevessem as reações quanto à primeira aula, doze enviaram a mensagem. Apenas seis

deles responderam que “gostaram”, com breves palavras, registrando que seis se referiram à

expectativa de aprender American Sign Language como estratégia didática, e sete aludiram ao

conforto oferecido pela presença das imagens.

Em geral, os alunos escreveram que gostaram da forma como foi apresentado o

conteúdo e se sentiram confortáveis com a expectativa de conhecer uma nova língua. Estava

lançada a semente marinha...

3.3 A semente se constitui em alga: dificuldades gradativas

Compreendendo o planejamento do curso, sob uma ótica progressiva no

desenvolvimento das atividades, como uma semente marinha que se destina a constituir

filamentos, a partir da segunda unidade aparecem para os alunos, gradativamente, pequenos e

diferentes tipos de textos em inglês.

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67

Este módulo 1 da unidade 2 apresenta um acréscimo considerável de perguntas

que somam, em sua totalidade, dezessete perguntas divididas em subgrupos de três, três,

quatro e sete. Às perguntas de número 1 e 2, sete pessoas responderam e, destas, uma não

atendeu ao que foi perguntado (A atividade foi apresentada, primeiramente, com uma

explicação sobre a diferença entre “comics”, “cartoons” e “editorial cartoons”, ao modo da

apresentação de um universo gráfico que, devido à sua natureza, já havia sido identificado

como área de interesse pelos surdos. Diante da pergunta “Do you know the difference about a

comic, a cartoon and na editorial cartoon?”, referiu-se a diferentes tipos de publicações e

mídias: “Yes, newspaper, magazines, television, film, publishing”). Apesar de não haver

entendido a pergunta em sua inteireza, esta pessoa fez uma suposição baseada em seu

conhecimento de língua e se aproxima do sentido esperado.

Já no atinente ao quadrinho abaixo, exemplo de “editorial cartoon” que,

segundo explicação prévia em inglês e língua de sinais, geralmente apresenta sátiras políticas,

foi solicitado: 1)Que se descrevesse o que acontecia nas imagens; 2)Qual o objetivo do autor;

3) A opinião a respeito do que era mostrado no editorial cartoon.

Sete pessoas responderam. De notar que as respostas começam a supor

interpretações para as perguntas em inglês, arriscando sentidos diversos, tais como:

– Diante da sentença em inglês “Describe what´s happening in the picture”, há

ocorrência de frases como “It´s oficial photo” demonstrando que a pessoa leu a pergunta

como “What is a Picture” – o que revela uma leitura fragmentada;

– Diante da sentença “Você acredita que os adolescentes mudaram, de acordo

com o editorial carton? Expliquem”, houve ocorrência como “na importante dimensiono for

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youth violence has clearly changed”, a demonstrar que a pessoa supôs que a perguntava

girava em torno do assunto mudança de costume em geral, e não em relação a determinado

comportamento;

– Diante de interação em que se fez uma nova pergunta, on-line, “What is

happening to the newspaper? It is technology or no? Why?”, cinco responderam de acordo

com o sentido da pergunta e fizeram críticas à mudança.

– Propôs-se ainda este quadrinho (comic) da Mônica e Cebolinha:

Foram feitas perguntas sobre o autor dos quadrinhos, sobre o que ocorre nas

cenas (descrever), sobre para quem parece ter sido criado (público-alvo) e sobre se é

engraçado (opinião pessoal). Desta vez não houve problemas com a compreensão das

perguntas, mas, ao descreverem as cenas, pôde-se notar alguns sentidos, ou seus efeitos,

distintos do efeito cômico. Isso se deveria ao fato de que, estaria no fato de, uma vez

solicitada ajuda por parte de Cebolinha a Cascão, este sai correndo e grita com mais ênfase

por socorro – como se a ajuda pedida fosse para gritar por socorro e não para intervir com a

Mônica. Houve doze respostas. É provável que um dos estímulos foi o fato de serem

personagens bastante conhecidos pelos surdos também. Das doze respostas, três descrevem as

cenas da forma esperada; os demais não compreendem ou não demonstram compreender o

sentido cômico da tirinha. Algumas respostas são surpreendentes, como a suposição de haver

um sentido pedagógico para o quadrinho, do ponto de vista da soletração. Esta suposição

evidencia uma prática recorrente nas aulas de língua portuguesa, em que textos são, não raro,

“pretextos” para trabalhar determinados aspectos da gramática normativa com mais ênfase do

que para discutir e desenvolver produções de sentido propriamente ditas. Outra resposta supõe

que, na história, Mônica está perseguindo Cebolinha por ter sido chamada de “Baixinha e

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Gorducha”, e como se o fator cômico estivesse aí, nesta repetição do esperado, e não na

reação de Cascão e no fator linguístico, interpretativo da cena. Ou seja, por um lado transfere

conhecimentos que provêm de fora dos quadrinhos propriamente ditos – nestes quadrinhos

não se sabe o que levou Mônica a perseguir Cebolinha e não é isso o que importa –, e, por

outro, não identifica “onde” estaria a piada.

– Diante da última atividade deste módulo, composta de um grupo mais

extenso de perguntas (7), foi apresentado o seguinte editorial cartoon:

http://www.oakridgenow.com/2010/09/09/editorial-cartoon-of-the-day-september-9-2010/

Onze pessoas responderam as questões relativas à leitura desta tirinha,

pontuando que sete respostas demonstram uma interpretação esperada, e quatro sugerem

outras leituras ou falta de compreensão – declarada, com “não entendi”. As leituras distintas

são:

– Uma resposta que identifica tratar-se do contraste entre duas datas, mas a

expressão linguística não se faz compreensível;

Exemplo 2 – interação no curso pelo facebook

– Uma resposta, para a pergunta “Who is the autor of the cartoon?”, patenteia

falta de entendimento dela: “Parents brave son estudor nothing”. Esta construção é

interessante por explicitar um fenômeno linguístico na tentativa e erro de se expressar o que

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se entendeu: pode-se deduzir que a pessoa compreendeu a crítica feita pela tirinha e, no

momento de reponder à pergunta, equivocadamente relaciona o termo “Who” ou “autor” com

os pais e o fenômeno de estarem “bravos” (braves) por conta de seus filhos - substituindo

theirs por son - não estudarem. Ou seja, no que alude à interpretação da tirinha, não se deu

conta de que a pergunta incidia sobre outra informação, exterior à tirinha (o autor dela

mesmo).

– Sobre a questão relativa sobre quem seriam os supostos leitores desta tirinha,

uma das respostas demonstra a prática de certa dinâmica um tanto mecanizada de perguntas e

respostas em aulas de língua portuguesa: “Who do you think reads editorial cartoons?” –

resposta: ”I think that is the Editorial Cartoons”. Este tipo de resposta “vazia” lembra alguns

exercícios de gramática, propriamente de concordância verbal, em que se repete a informação

da sentença, modificando-se o sujeito ou o verbo para que se complete com a informação

faltante, de acordo com a concordância entre sujeito e verbo).

Em relação à pergunta ao final do módulo, solicitando que se envie, por e-mail,

as reações diante da segunda unidade, dez pessoas responderam e comentaram sobre o tipo de

abordagem dada aos textos como algo próprio da “cultura ouvinte”, que é o que se pode

depreender da expressão “linguística ouvinte”. Provavelmente, esta suposição se infere de um

“tipo” de exercícios interpretativos muito semelhantes a algumas abordagens de tratamento

para textos em português, ainda presentes em material de “língua materna”. Refiro-me a

exercícios de interpretação feitos com ouvintes para compreensão de textos em língua

portuguesa e as informações de cultura geral que aí estão relacionadas - autor, público-alvo,

lugar de publicação, objetivo do “autor”, etc.

Seria interessante se perguntar, aqui, que tipo de “expectativa surda” existia

para um curso de inglês para surdo.

3.4 De ostras e algas: a água como espelho

O módulo 2 da unidade 2 entremostra um aspecto duplamente interessante. Por

um lado, aparece após as mensagens dos surdos que se referiram à “linguística ouvinte” como

algo presente no módulo anterior. De outro, insere como atividade a leitura e compreensão de

“tirinhas surdas”, aproximando os participantes surdos do contexto a ser o “espaço

linguístico” para as atividades em inglês. Vale dizer que “tirinhas surdas” são como “piadas

surdas”, entre outros artefatos da cultura surda, que despertam total interesse entre os surdos,

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tornando-se “populares” nos meios de transmissão pela internet. É assim que, se nosso

percurso começou como uma concha que se abre pouco a pouco até revelar a pérola

escondida, e migra para um mergulho interior do molusco, em contato com o exterior do mar,

dirigindo-se às algas e corais que são os presentes dados de pesquisa, quando a ostra se depara

com a dificuldade de corais desconhecidos, o fato de espelhar-se em outras ostras, como

reflexo, revigora a viagem da língua cuja escrita remete à modalidade oral e, por fim, a um

complexo exercício mental que é exigido pela leitura em textos de outra língua.

Trata-se de duas tirinhas e, no total, de doze perguntas.

A primeira tirinha – cujo nome é “The deaf guy” - apresenta uma típica

situação entre surdo e ouvinte, em que uma das personagens pergunta através de um bilhete,

em um papel, ao homem surdo: “Você sente falta de ser ouvinte?” Em resposta, o homem

surdo, recorrendo ao mesmo meio – bilhete escrito – diz: “Você sente falta de ser surdo?”. O

homem que havia interpelado o surdo responde: “Não, eu nunca fui surdo”, enfatizando a

negativa temporal em negrito. O homem, então, se dá conta de sua pergunta e, envergonhado,

comenta: “Ah, entendi!”. No desenho, o homem que faz a pergunta para o surdo aparece com

as maçãs do rosto vermelhas, ao final da tirinha, e um sorriso sem jeito, ou seja, há marcas e

recursos gráficos – visuais – que formam a comunicação linguística com as frases. Aquilo que

está sendo comunicado encarta várias pistas de representação:

http://www.thatdeafguy.com/

A segunda tirinha revela uma situação em que the deaf guy está com seu filho

em uma cafeteria, e lhe diz (em sinais) que vai pedir um café, e pergunta a ele se gostaria de

um leite e bolinho, ao que o garoto responde positivamente. No terceiro quadrinho, enquanto

o pai surdo anota o pedido chegam outros clientes esclarecendo o que pretendem comer, sem

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respeitar a ordem de chegada nem de solicitação. O garoto intervém chamando-lhes a atenção,

pedindo-lhes que se mantenham na fila, já que eles haviam chegado depois. Todos, bastante

envergonhados, olham o menino, até mesmo a atendente. Nisso, o pai lhe pergunta, já no

último quadrinho: “o que aconteceu ali atrás”. O menino responde “Estava apenas ensinando

algumas boas maneiras para os adultos”.

Esta tirinha é cheia de detalhes interessantes:

1) Evidencia um comportamento comum entre ouvintes e surdos;

2) A figura da atendente corresponde à expectativa das personagens ouvintes,

aos quais lhes parece natural que sejam atendidos antes, independentemente da chegada;

3) Quem intervém em defesa da injustiça é um terceiro ouvinte, o menino, que

é filho de surdo. Ou seja, não é o próprio surdo, mas quem tem “voz”;

4) A graça final está na inversão de papéis do menino que age como um adulto,

evidenciando que o comportamento dos adultos se assemelha ao de crianças “mal-educadas”.

É de notar a expressão do menino no último quadrinho, sinalizando com seu pai:

http://www.thatdeafguy.com/

Apesar da identificação promovida pelos quadrinhos, as atividades solicitadas

não são “simples”, demandam uma leitura atenta.

Em relação à primeira tirinha, houve oito respostas para as três perguntas – “o

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que o homem de cinza quer saber”; “Por que você acha que ele fez esta pergunta?” e “Você já

passou por esta situação”. Das oito respostas, quatro demonstraram não haverem entendido –

ou a tirinha ou a pergunta –, e outras quatro responderam a contento.

Quanto à segunda tirinha, precisamente quanto às seis perguntas

correspondentes, quatro pessoas responderam e, destas, uma não compreendeu as perguntas.

As outras três atribuíram uma resposta de modo adequado.

Após esta atividade, foram lançadas mais três perguntas em inglês: “Quais são

os maiores problemas que as pessoas surdas enfrentam geralmente?”; “Por que você acha que

ouvintes geralmente consideram pessoas surdas incapazes?” e “Que tipos de coisas você

acredita que pode fazer para ser respeitado como ser humano?”.

Estas perguntas foram explicadas em língua de sinais, como todas as demais

atividades, e obtiveram 100% de respostas, escritas em inglês, a sinalizar que, quando o surdo

se depara com um assunto que lhe oferece significação de vida, enfrenta as dificuldades

comunicativas e linguísticas para se expressar, mesmo que, para tanto, se arrisque a se expor.

Exemplo 3 – interação no curso pelo facebook

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A última atividade consistia em que o aluno criasse uma tirinha com um tema

semelhante, mas não obteve nenhuma resposta.

No que toca à solicitação de que montasse uma mensagem para descrever quais

foram as reações quanto à segunda unidade, módulo 2, oito pessoas o fizeram de modo

elogioso, comentando a “novidade” da “tirinha surda”.

3.5 Algas se desmancham na água: o medo da letra

A última unidade foi composta em dois módulos, tendo orbitado em torno da

temática de notícias extraídas de jornais e revistas. “Últimas notícias”, um jargão conhecido

na divulgação dos jornais, abre o módulo 1 da unidade 3. Inicia-se com uma explicação do

significado para “News”/ notícia, e em seguida se faz uma apresentação de dois tipos de

“News”: tabloids e quality papers. Após as devidas explicações, são lançadas cinco perguntas.

Cinco pessoas responderam, o que demonstra que apenas uma das respostas se relevou

insuficiente.

A segunda atividade, depois da apresentação e explicação das diferenças entre

tabloids e quality papers, à luz de um quadro expositivo, foi procurar na internet um exemplo

de cada, mencionando três das diferenças já descritas em outros passos. Para esta atividade

houve quatro respostas, mas, em princípio, muitos não entenderam aquilo que se pretendia,

ocasionando intensa interação através do bate-papo do facebook, de vídeos enviados e mesmo

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pessoalmente, já que uma aluna procurou ajuda presencial.

A terceira atividade constava de discussões a respeito de notícias e tipos de

jornais. Nesta, nove pessoas responderam, com grande interação sobre temas diversos,

principalmente sobre o alcance das notícias e a ideia de globalização.

Frise-se que, neste momento do curso, houve uma queda perceptível dos

participantes, com oscilação das atividades. Nas mensagens que deveriam descrever a reação

diante deste módulo, apenas duas pessoas enviaram comentários, ambas enfatizando o grau de

dificuldade que sentiram, evidenciando-se, de modo geral, certo declínio no estímulo.

Exemplo 4 – interação no curso pelo facebook

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Este sintoma se agravou quando trabalhamos com o módulo 2, último que

encerrava o curso. O tema deste módulo retratava as manchetes ou headlines. Comenta-se

sobre a importância das manchetes e como elas influenciam na direção que se vai dar à

leitura, indicando até o posicionamento ideológico. Em seguida, são dados vários exemplos

de manchetes. Feito isso, solicita-se uma atividade a respeito de quatro manchetes,

basicamente sobre o lugar em que foram publicadas, o que se pode supor pelos títulos e se

referem a tabloids ou quality paper. Não houve retorno, mesmo após explicação em LIBRAS.

Após, apresenta-se uma definição para LEAD, correspondente ao primeiro parágrafo da

notícia, hábil a situar o leitor no tocante as que ela trata. Por último, estampa-se uma notícia

na íntegra, seguida de perguntas para serem respondidas em Verdadeiro ou Falso. Apenas um

aluno conferiu a resposta solicitada, acertando alguns e outros não, isso recorrendo à

explicação em LIBRAS.

No alusivo à mensagem, após o término do módulo, para comentários e

descrição da reação diante das atividades, apenas uma pessoa respondeu, dizendo que foi bom

poder tirar dúvidas, salientando que sentiu muita dificuldade.

Diante deste quadro, um pouco desolador, percebi que alguns de meus próprios

receios vieram a se confirmar: compreendendo a língua estrangeira, em sua modalidade

escrita, como um grande mar aberto que, por si só, causa temor e interesse, por vezes se corre

o risco de “traçar palavras na água”, caso não se amolde um caminho mais encantador em seu

percurso.

Deduzo, por minha própria experiência, que algumas estratégias de ensino

poderiam ser revistas, pois os sentidos produzidos em uma prática de leitura necessita,

primeiramente, da prática. A reação dos alunos aos textos de jornais expressou o conhecido

“medo da letra”, em uma dinâmica de transferência da experiência com as “entradas” nos

textos em língua portuguesa para as entradas no texto em língua inglesa.

Os dados linguísticos, reunidos no breve apanhado deste curso de inglês a

distância para surdos, confirmam que estes estão interessados numa terceira língua, têm

contato com a língua inglesa, gozam de amizade com pessoas de cultura norte-americana e

com outros estrangeiros que se comunicam em inglês, tendo acesso a contextos de escritas em

inglês. Diante do desafio da produção de textos para verificação de produção de sentido,

pode-se reconhecer que, apesar de haver muito sentido “desviado” do esperado, outros tipos

foram “encontrados” e, mais do que isso, novos sentidos foram gerados.

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Alguns dados apresentam uma singularidade significativa, estando a merecer

destaque: a presença de palavras que foram “construídas” na tentativa de deduzir vocábulos

para escrever as respostas. São palavras originariamente da língua portuguesa, que, no

entanto, foram transformadas em uma tentativa de situá-las como “inglesas”:

“Gotta de inglês”;

“I think mora spain Brazil...”

“I think it was the boy wonder trabava newspaper...”

“Monica wants to will chives trying fungir and asked for help in Cascão”.

Este fenômeno é compreensível, mesmo sendo conhecido entre as pessoas

iniciantes como falantes de uma segunda ou terceira língua (ou mais). SOUSA (2008) explica

que alguns surdos preferem o inglês como segunda língua ao português; este fato poderia ser

compreendido por conta da sintaxe da língua inglesa, que, em seu trabalho, é reconhecida

pelos surdos como mais “flexível”, ao passo que a da língua portuguesa é reconhecida por

eles como mais “rígida”. Embora assim, tendo a acreditar que isto se deve às formas de

tratamento dado à língua e às abordagens de ensino.

Para que das algas venham a ser constituídos corais, entendendo os corais

plurais e multifacetados como os sentidos da língua e seus múltiplos textos, é preciso que a

concha tenha seu tempo de abertura e reconhecimento do mar. Somente após isso, pode

explorá-lo com mais liberdade.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A viagem desta singela concha, recém-submersa nos mares iniciáticos1 da

pesquisa acadêmica, encontra-se em fase de transição. Iniciou-se com um

autorreconhecimento vivencial e com a descoberta da possibilidade de sair de si mesma,

revelando-se em pérola após anos de recolhimento em arenosas dúvidas linguísticas. Ao abrir-

se cuidadosa, e enxergar o mar por diante, começou um percurso de investigação na

expectativa de reconhecer, também, outras produções de sentido do ensino de inglês para

surdos, a distância, contando com uma experiência de aprendizado de inglês, como explicado

1 Usamos a palavra “iniciáticos” com o sentido poético de iniciação ritualística.

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no segundo capítulo. Reporta-se à experiência em sala de aula com professor ouvinte,

brasileiro, no método oralista, à experiência em curso a distancia, pela internet, à experiência

em sala de aula com professor ouvinte, brasileiro, fluente em língua de sinais e, como

arremate, à experiência com professor surdo, norte-americano, no curso de American Sign

Language, com uso da língua inglesa escrita como parte dos recursos visuais.

A “pergunta de pesquisa” que norteou a viagem aqui descrita, relativa a quais

sentidos foram/seriam produzidos nas aulas de língua inglesa para surdos a distância, agora

pode ser desenvolvida em suposições embasadas na coleta e interpretação de dados

apresentada. Pudemos traçar algumas considerações relacionadas com esta pergunta que, na

introdução, se apresentou assim desmembradas:

1. Quais as percepções de alunos surdos sobre sua aprendizagem de língua

estrangeira a distância?

2. Como os alunos surdos percebem que a língua estrangeira aprendida pode

ter modificado sua maneira de compreender o acesso à língua?

As percepções dos alunos surdos envolvidos na pesquisa, sobre sua

aprendizagem de “língua estrangeira”, neste momento, pôde ser verificada através da

entrevista realizada ao final do curso. De seus relatos, destacamos:

–As dificuldades em relação aos textos longos, mais do que em relação à

complexidade interpretativa dos textos em geral;

–O interesse por expressões da cultura surda, como quadrinhos e vídeos – que

não foram explorados nestes módulos;

–O interesse pela língua americana de sinais como estratégia de conforto

linguístico e cultural.

Os alunos demonstraram acreditar que a língua estrangeira aprendida

modificou sua maneira de compreender o acesso à língua inglesa escrita no sentido em que a

mediação em língua de sinais permitiu, desde uma aproximação mais sedutora no que respeita

a uma língua escrita até às estratégicas didáticas das unidades, módulos e atividades? Em um

curso para surdos, de língua escrita, independentemente de qual seja – português, inglês ou

outra –, não se pode perder de vista que não se trata apenas de uma segunda língua, mas,

sobretudo, de uma segunda língua em outra modalidade. É fundamental entender a

complexidade desta realidade, caso contrário não estamos falando de surdos.

Se a língua de sinais “não é tudo”, não substituindo obviamente as demais

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línguas escritas –inclusive o português – e, dada sua natureza, não substituindo as

necessidades de leituras também de textos escritos, é inegável que, sem a língua de sinais,

uma segunda língua tende a “não ser nada”. Raras exceções, de sujeitos ostensivamente

oralizados e “ouvintizados”, podem revelar um ensino bem-sucedido de segunda língua.

Dizemos isto porque não podemos prever até onde alguns interesses particulares podem

chegar na quebra de barreiras linguísticas. No entanto, se deve tomar muito cuidado para não

recair no discurso hegemônico de que esta possibilidade é o ideal.

Deve-se levar em consideração, a partir do próprio conceito de

multiletramento, que seus efeitos e processos tanto cognitivos quanto intelectuais,

formalizados verbalmente, não se limitam à “verbalização ou eloquência da modalidade oral e

escrita”, mas abrangem o letramento em línguas de sinais, também.

Neste contexto, a linguagem é compreendida “como forma de ação que

possibilita aos sujeitos recriar seus espaços sociais e profissionais” (KOCH, 1988).

Encaramos o papel do professor, na linha sugerido por Koch, como mais interlocutor e

facilitador da aprendizagem do que como mero depositante de informações. Minimizamos a

relação assimétrica entre nós e os alunos, promovendo e recriando interação social a todo o

instante por meio de atividades diversas, já que estas não são rotineiras, como ocorre no

discurso típico de sala de aula. Procuramos seguir as sugestões desta professora buscando

oferecer informações compreensíveis para que os alunos possam tê-las sem demasia, não se

sentindo, por este motivo, frustrados. Se bem assim, houve certa frustração quanto aos alunos

que evadiram do curso, diante do grau de dificuldade abrupto que parece ter representado a

notícia mais extensa. Não estamos sozinhos quando temos a “preocupação de observar as

relações atinentes à afetividade dos aprendizes que, em geral, trazem para o seio da sala de

aula atitudes e comportamentos próprios de sua vivência sociocultural” (KOCH, 1988.). Neste

sentido, as histórias, quadrinhos, vídeos, blogs e notícias sobre a história do surdo e sobre as

políticas atuais da comunidade surda parecem despertar sempre o interesse deste sujeito.

Muitos surdos se veem desmotivados a ingressar em um curso de inglês,

devido à falta de acessibilidade em algumas instituições de língua estrangeira. Para que

surdos tenham acesso às tais aulas, há de valer de estratégias de ensino que alcance sua

especificidade, encantando destaque para os aspectos visuais coerentes e compatíveis com os

temas propostos, lançando mão de atividades, piadas e narrativas que, igualmente, podem ser

estimulantes para o aluno surdo.

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80

Percebi que o ambiente virtual é estimulante no curso a distância porque

oferece uma série de recursos que minimizam a ansiedade diante do desconhecido, e

potencializando processos de multiletramento.

Recordando os aspectos visuais para o ensino de língua escrita para o surdo,

denotei que muitos não haviam trabalhado o reconhecimento visual de construções sintáticas

para as marcas temporais – presente, passado e futuro. As figuras de linguagem, metáforas e

mesmo polissemia lexical são obstáculos para a interpretação, pois se ausenta o letramento

crítico que desenvolve a consciência dos processos de leitura e o reconhecimento de jogos de

implícitos, entre outros.

Nesse sentido, tanto as perguntas ao final de cada módulo quanto as entrevistas

finais, bem como a viva interatividade do meio (facebook), foram procedimentos importantes

para a coleta de dados, dado que, através da participação dos alunos, com suas mensagens em

um curso on-line, favoreceu-se o desenvolvimento da reflexão crítica deles. O próprio

processo de escrita para interação por este meio faz com que os alunos sistematizem sua

produtividade por conta da natureza da forma de comunicação de um fórum-discussão, por

exemplo, que requer do produtor do texto maior elaboração linguística.

Ainda sobre os diferentes sentidos despertos nos surdos que participaram do

curso, do ponto de vista afetivo, em geral, foram mais positivos do que negativos. Pode-se

afirmar, seguramente, que a mediação em língua de sinais muito contribuiu para este efeito.

O facebook, como meio, configura fator que merece relevância pelo alcance e

pela potência interativa, revelando-se importante na educação dos surdos com vista ao

processo de autocrítica e autonomia em sua aprendizagem. É um meio extremamente utilizado

pela cultura surda, por promoverem-se, como espaço de convivência, trocas de experiências,

relacionamentos, representação social, compartilhamento de histórias, reflexões sobre sua

realidade, a que se somam diferentes formas de comunicação.

Ao retomarmos os objetivos específicos, pode-se dizer que todos eles foram

atingidos na seguinte medida:

Descrever o processo de aprendizagem de alunos surdos em língua

inglesa a distância – descrição que compreende todo o capítulo terceiro e boa parte das

considerações finais;

Aperfeiçoar a aprendizagem do surdo no que diz respeito aos meios

digitais, cujo foco é a comunicação e a interação social entre surdos de diferentes

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nacionalidades – objetivo alcançado consideravelmente bem, visto que, por um lado, a própria

dinâmica comunicativa do facebook e múltiplas possibilidades da web foram agentes neste

processo de otimização da aprendizagem. De outro lado, parte significativa das respostas dos

surdos, sobretudo as relativas aos temas de seu interesse, demonstra autonomia e iniciativa

neste processo de aprendizagem digital;

Compreender o processo de ensino-aprendizagem de alunos surdos na

modalidade a distância – este objetivo só poderia ser atingido parcialmente, dada sua natureza

complexa. Mas a experiência pôde dar pistas de como o curso, nessa modalidade, oferece

liberdade maior na administração do tempo para a realização das atividades, bem como na

dinâmica interativa tanto entre professor e aluno, quanto entre as pessoas do grupo entre si,

acrescidas das possibilidades de busca de textos e informações complementares, comparações

com outros textos e páginas, acesso a dicionários e outros dispositivos que estimulam a

produção textual.

Enfim, nossa viagem chega a este momento de transição: passagem obrigatória

e salutar para observar os corais resultantes das sementes marinhas uma vez dispersas... corais

ainda tênues, em formação, mas que já desenham nova paisagem, diferente, é verdade, da que

topamos no início desta empreitada.

E a ostra... a ostra que se abriu, já não guarda sua pérola.

A pérola se desprendeu e foi ao mar,

Mar sem conta,

Tornar-se conta de um colar

Futuro ou conta avulsa

A ser levada a outros mares

Conta que conta outros contares.

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ANEXO I

Questionário I

1. Qual sua idade?

2. Sexo: ( ) feminino ( ) masculino

3. Grau de escolaridade:

( ) Ensino médio incompleto – série: ___________

( ) Ensino médio completo

( ) Ensino superior incompleto – semestre: _________

( ) Ensino superior completo

( ) Pós-graduação completo. Qual?

( ) Pós-graduação em andamento. Qual?

5. Você costuma ler e escrever em português? (carta, e-mail, bilhete, artigo de jornal,

quadrinhos, mensagem de celular...)

6. Você gosta da língua portuguesa? ( ) sim ( ) não ( ) mais ou menos

Por quê?

7. Você já estudou inglês? ( ) sim ( ) não. Se não, por quê?

Caso já tenha estudado, onde foi? Como foi?

( ) escola pública

( ) escola privada

( ) curso livre para ouvintes

( ) curso livre para surdos .

8. Você já estudou inglês a distância? ( ) sim ( ) não

9. Em seu dia a dia, você tem contato com a língua inglesa? ( ) sim ( ) não

10. Para que você quer estudar inglês a distância?

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ANEXO II

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ANEXO III

Questões

Você já estudou inglês?

( ) sim ( ) não

Caso já tenha estudado, onde foi?

( ) escola pública

( ) escola privada

( ) curso livre para ouvintes

( ) curso livre para surdos

Em seu dia a dia, você tem contato

com a língua inglesa? (x ) sim ( )

não

Você já estudou

inglês a distancia?

( ) sim ( ) não

P1

Não, porque sem intérprete.

Não Não

P2

Sim, curso livre para surdos. No

FENEIS em Rio de Janeiro, curso

de CCAA e o material que

metodologia igual dos ouvintes.

Sim, já comuniquei pelo escrever o

papel e datilologia só surdos que

vieram aqui no Brasil.

Não

P3

Sim, escola privada. Sim, só a leitura e aprendendo de

comunicar com surdo mora nos

Estados Unidos.

Não

P4

Sim, escola pública inclusão e sem

intérprete. E escola privada onde

aprendi pouco a gramática, mas

sempre oral e escutar e sem

intérprete.

Não Não

P5

Sim, escola pública. Muito difícil

entender, barreira, sem intérprete e

muito oral.

Não Não

P6

Sim, curso livre para surdos. A

pesquisadora (cursando doutorado)

da UFSC criou um curso para

surdos presencial.

Comuniquei pelos mensagem de

celular, facebook com meus amigos

estrangeiros, e também leituras por

causa do mestrado e doutorado.

Não

P7

Sim, curso de livre para surdos. Meus amigos no facebook e pelo e-

mail.

Não

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P8

Sim, escola privada.

Aprendi alguns vocabulários e

gramática.

Não Não

P9

Sim, escola privada.

Por causa do estudo da faculdade.

Sim, aprendendo alguns

vocabulários para comunicar surdo.

Não

P10

Sim, curso livre para ouvintes.

Não gostei porque é obrigação de

falar e escutar.

Não Não

P11

Sim, escola pública.

Porque alguns aprendi palavras de

figuras.

Não Não

P12

Sim, escola pública.

Só aprendi com a professora.

Não Não

P13

Sim, escola privada que aprendi só

leitura.

E curso livre para ouvintes que

aprendi só leitura com quadrinho e

muito figuras quando era infância.

Não Não

P14 Não, porque o curso de particular

só para falar e escutar.

Não Não

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ANEXO IV

Pergunta 1

Qual foi sua maior dificuldade para participar das aulas e responder às atividades?

<Transcrição LIBRAS>

DIFICIL BARREIRA É VERDADE. BARREIRA DIFICIL-muito UNIDADE 3 PORQUE

MUITO TEXTO EU PENSAR UNIDADE 1 UNIDADE 2 UNIDADE 3 BÁSICO POUCO.

DESCULPE(não era) MUITO TEXTO EU VER COMPREENDER(difícil) DIFICIL

ENTENDER-NÃO LER. IR-VER TRADUZIR PORTUGUES ENTENDER-NÃO,

TRADUZIR INGLES AH DESISTIR. DIFICIL PORQUE L1 BRASIL LÍNGUA DE SINAIS

L2 PORTUGUES L3 TENTANDO.

TRADUÇÃO

Tive dificuldade com a unidade 3, teve atividades com textos, eu tentei adaptar para o

Português, mas mesmo assim não consegui compreender, acabei desistindo. Minha L1 é a

LIBRAS, L2 o Português e estou tentando aprender o Inglês como L3, mas é difícil.

Pergunta 2

Você disse no e-mail que gostou das aulas. Mas seja mais especifico; o que mais você gostou?

<Transcrição LIBRAS>

EU GOSTAR MAIS RESPONDER INGLES É UNIDADE 2 EXPLICAR O QUE ANTES

IMAGEM QUADRINHO “VOCE, PORQUE VOCE SURDO? PORQUE NÃO FALAR?

ESSE IGUALACONTECEU AQUI SOCIEDADE GERAL TAMBEM PERGUNTAR-ME

“PORQUE SOU SURDO? PORQUE NÃO FALAR, PORQUE? EU LÍNGUA DE SINAIS

VOCE TAMBEM PORQUE FALAR PORQUE OUVIR” EU COMUNICAR-NÃO.

ACONTECER ACONTECER TODOS. IMAGEM O QUE? MOSTRAR LEGAL

MOSTRAR-ME PAI FILHO SURDO IGUAL SOCIEDADE TAMBEM LEGAL

RELAÇÃO-RESPONDER MAS IMPORTANTE DIVULGAR INFORMAR SOCIEDADE

EXEMPLO COMO ACONTECER.

TRADUÇÃO

Eu gostei mais da unidade que tinha a história em quadradinho que retratava uma situação

bem comum para nós surdos. Muitas vezes nos deparamos com esse tipo de questionamento

“Porque você é surdo?”, e nossa reposta é: “Porque você ouve?”, isso as vezes gera falta de

comunicação. Também achei legal as imagens que retratam de alguma forma o contexto do

surdo.

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Pergunta 3

Você conseguiu aprender alguma coisa neste curto período?

<Transcrição LIBRAS>

EU RESPONDER UNIDADE 1 UNIDADE 2 UNIDADE 3, EU COMECAR RESPONDER

INGLES (unidade 1 e 2) MAIS DIFICIL É UNIDADE 3 DIFICIL. ESSE (unidade 1 e 2)

COMEÇAR APRENDER PALAVRA, TUDO PERFEITO NÃO, POUCO APRENDER

ORGANIZAR RESPONDER GOSTAR FACIL RESPONDER. ESSE ULTIMO UNIDADE 3

DIFICIL RESPONDER DIFICIL DESISTIR .

TRADUÇÃO

Consegui responder as atividades das unidades 1 e 2, sem muitas dificuldades, claro que não

houve perfeição, aprendi algumas poucas palavras, já na unidade 3, a dificuldade foi tamanha

que acabei desistindo de responder.

Pergunta 4

Sinalize algum vocábulo, frase ou expressão que você tinha aprendido no curso de inglês para

surdos à distancia.

<Transcrição LIBRAS>

ALGUMA INGLES POUCO NAME, COOL, LIVE, IS, DEAF, I LIVE STUDY, WHY,

TEACHER, I LOVE YOU, SCHOOL, BEAUTYFUL

TRADUÇÃO

Só alguns: NAME, COOL, LIVE, IS, DEAF, I LIVE STUDY, QHY, TEACHER, I LOVE

YOU, SCHOOL, BEAUTYFUL

Entrevistadora: Voce aprendeu a língua inglesa na escola? No curso de inglês do CCAA,

como eram as aulas?

<Transcrição LIBRAS>

EU ESTUDAR ONDE APRENDER É ESCOLA BÁSICO-POUCO ORAL PROFESSOR

OUVINTE ORAL INGLES DENTRO ESCOLA ESTUDAR SERIES SERIRES

INTERPRETE TER-NÃO. DEPOIS OFICIAL CURSO INGLES CCAA DENTRO FENEIS.

ESSE (FENEIS)PROFESSOR SABER LIBRAS SÓ DATILOLOGIA PORTUGUES

OUVINTE ENSINSAR-ME LIBRA CCAA PORQUE PARCERIA DENTRO(FENEIS)

ENSINAR EU ESCREVER APRENDER NADA NÃO-TER ASL LIBRAS SÓ

DATILOLOGIA. ENSINAR PORTUGUES DATILOLOGIA INGLES NÃO ASSOCIAR

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ENTENDER-NÃO. LIBRO METODOLOGIA OUVINTE.

TRADUÇÃO

Na escola que eu estudava ensinava Inglês básico, mas não aprendi muita coisa, eu não tinha

interprete e as aulas eram oralizados. Posteriormente, fiz um curso particular de Inglês, o

CCAA tinha parceria com a FENEIS (Federação Nacional da Educação e Integrado do

Surdos), e lá eu estudei. O professor era ouvinte, mas sabia LIBRAS, contudo, a metodologia

e o material eram voltados para ouvintes. Outra dificuldade, foi que o professor usava muita

datilologia das palavras em Português, ele não ensinava ASL.

Pergunta 1

Qual foi sua maior barreira para participar das aulas e responder as atividades?

<Transcrição LIBRAS>

BOM DIA! MAIS DIFICIL UNIDADE 2 E 3 PORQUE MUITO ATIVIDADE SEM TEMPO

COMO PORTUGUES TRADUÇÃO PORTUGUES INGLES TRADUÇÃO PORTUGUES

SEM TEMPO

TRADUÇÃO

Tive dificuldade para responder as atividades das Unidades 2 e 3. Eram muitas atividades,

como eu irei traduzir todas aquelas questões para responder, se estou sem tempo.

Pergunta 2

Você disse no e-mail que gostou das aulas. Mas seja mais especifica; o que mais você gostou?

<Transcrição LIBRAS>

EU GOSTAR UNIDADE 1 MAIS FACIL DAR TEMPO FACIL. MINHA OPINIÃO

MELHOR FILMAR LIBRAS EXEMPLO ASLATIVIDADE INGLES TRADUÇÃO SURDO

ENTEDER SURDO DAR IDETIFICAR DAR DAR MELHOR BOM IMGAM BOM

OTIMO.

TRADUÇÃO

Eu gostei mais da unidade 1, pois estava fácil e simples para responder. Achei ótimas as

imagens. Na minha opinião seria melhor ter filmado em ASL as atividades, pois, os surdos se

identificariam mais.

Pergunta 3

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93

Você conseguiu aprender alguma coisa neste curto período?

<Transcrição LIBRAS>

ALGUNS TEM UNIDADE 1 RESPONDER DAR TEMPO MAS UNIDADE 2 3 SEM

TEMPO REPONDER MUITO ATIVIDADE SEM TEMPO MUITO TEXTO DIFICIL

DIFICIL COMO DIFICIL.

TRADUÇÃO

Na unidade 1 conseguir responder, achei fácil e não demandar tanto tempo, já nas unidades 2

e 3 senti muita dificuldade, eram muitas atividades e ainda tinha texto! Eu não tinha tempo.

Pergunta 4

Sinalize algum vocábulo, frase ou expressão que você tinha aprendido no curso de inglês para

surdos à distancia.

<Transcrição LIBRAS>

GOOD MORNING! DEAF, I AM TEACHER, WORK IN CLINICA PHYSIOTHERAPY

AND UNEMAT.

Pergunta 1

Qual foi sua maior barreira para participar das aulas e responder as atividades?

<RESPONDIDO PELO EMAIL>

É que tive que copiar algumas frases, alguns pequenos textos em inglês no google colar no

tradutor para poder passar em português para eu entender o que diz e para eu puder responder

as atividades.

Pergunta 2

Você disse no e-mail que gostou das aulas. Mas seja mais especifica; o que mais você gostou?

<RESPONDIDO PELO EMAIL>

Sim,gostei da aula, o que que gostei mais é que mostrou as imagens no mural (facebook) e

também nos vídeos que vc sinalizou isso me esclareceu bem, e ajudou a entender, e as

apostilas são muito boas, tive que responder em inglês...mas algumas palavras em inglês eu

tinha esquecido.

Pergunta 3

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Você conseguiu aprender alguma coisa neste curto período?

<RESPONDIDO PELO EMAIL>

Sim, consigui pois eu já tinha aprendido a estudar inglês na escola.

Pergunta 4

Sinalize algum vocábulo, frase ou expressão que você tinha aprendido no curso de inglês para

surdos à distancia.

<RESPONDIDO PELO EMAIL>

I am Giselle, teacherdeaf. I amBrazil, Belém/Pará...

Entrevistadora: Em uma das suas respostas você menciona o temo “linguística ouvinte”

o que seria isso? Você pode falar mais sobre isso?

<RESPONDIDO PELO EMAIL>

O que entendo por linguistica dos ouvintes é que os ouvintes sabem e conhecem a estrutura

gramatical de português como por exemplo: metafora, gíria, ditado popular... e ouvem no

rádio, televisão, leitura diversos livros, jornais e também comunicação na vida social é por

isso eles devem saber o que quer dizer.

Pergunta 1

Qual foi sua maior barreira para participar das aulas e responder as atividades?

<RESPONDIDO PELO EMAIL>

Minha barreira são algumas questões são muito pensativos, mas realmente tenho

dificuldade de entender.

TRADUÇÃO

Minha maior barreira (dificuldade) está relacionada com os conceitos abstratos, eu realmente

tenho dificuldade para entender.

Pergunta 2

Você disse no e-mail que gostou das aulas. Mas seja mais especifica; o que mais você gostou?

<RESPONDIDO PELO EMAIL>

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Gostei mais algumas unidades mais fáceis entender do que questões com as figuras me

ajudam a entender o que está interpretado dos quadradinhos.

TRADUÇÃO

Gostei das unidades que tinha imagens, isso ajuda a compreender o conceito que está sendo

mostrado.

Pergunta 3

Você conseguiu aprender alguma coisa neste curto período?

<RESPONDIDO PELO EMAIL>

Consegui algum tempo, mas consegui adaptar.

TRADUÇÃO

Sim, neste curto período consegui assimilar algumas informações.

Pergunta 4

Sinalize algum vocábulo, frase ou expressão que você tinha aprendido no curso de inglês para

surdos à distancia.

<RESPONDIDO PELO EMAIL>

I AM ELAINE, TEACHER, HAVE 27 YEAR OLD, SINGLE, WORLD AT SCHOOL

CHILDREN.

Entrevistadora: No que a variação da LIBRAS dificulta a sua aprendizagem?

<RESPONDIDO PELO EMAIL>

Na verdade, tenho sentindo minha barreira por causa da variação mas eu me esforço entender

o contexto em cada sua variação. Porque sempre vivi aqui minha cidade que nunca sair dos

estados por causa à proibição dos meus pais. Mas sempre pesquiso no youtube e também

comecei contatar com os surdos dos estados por causa da minha área.

TRADUÇÃO

Na verdade, sinto que minha maior dificuldade se dá devido a variação, eu me esforço para

entender o contexto do que você esta sinalizando. Eu não tive liberação dos meus pais, no

decorrer da minha vida, para viajar e conhecer outras comunidades surdas, bem como,

ampliar meu conhecimento da LIBRAS, mas eu sempre pesquiso no Youtube e atualmente

tenho tido oportunidades de ter contato com surdos de outros estados, devido a minha área

profissional.

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Pergunta 1

Qual foi sua maior barreira para participar das aulas e responder as atividades?

<Transcrição LIBRAS>

UNIDADE 3 MUITO DIFICIL ENTENDER PALAVRA PALAVRATRAVADO(barreira)

DIFICIL PROFUNDO PALAVRA DIIFICL FRASE LINGUA INGLES.

TRADUÇÃO

A unidade 3 foi muito difícil para entender, as palavras, as frases estavam muito difíceis.

Pergunta 2

Você disse no e-mail que gostou das aulas. Mas seja mais especifica; o que mais você gostou?

<Transcrição LIBRAS>

EU ENTEDER CLARO MAIS FACIL GOSTAR MAIS UNIDADE 1 2. BOM ENTEDER

CLARO ESTUDAR CONSEGUIR CONSEGUIR CERTO.

TRADUÇÃO

Eu gostei mais das unidades 1 e 2. Foi bom, pois, estavam fáceis de entender e claras. Eu

consegui estudar e responder corretamente.

Pergunta 3

Você conseguiu aprender alguma coisa neste curto período?

<Transcrição LIBRAS>

PRAZO UM MÊS, CONSEGUIR MAS CONSTRUIR-DEVAGAR REDUZIR POUCO

POUCOPOUCO APRENDER PALAVRA DEPOIS PALAVRA CONSEGUIR. QUER

FUTURO APRENDER MAIS.

TRADUÇÃO

Nesse prazo de um mês eu consegui progredir aos poucos, aprendi alguns vocabulários.

Futuramente quero aprender mais.

Pergunta 4

Sinalize algum vocábulo, frase ou expressão que você tinha aprendido no curso de inglês para

surdos à distancia.

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<Transcrição LIBRAS>

FRASE INGLES MEMORIZAR. I LOVE YOU. CURTE. I AM FUNNY AND CUTE. I AM

20 YEAR OLD. I LOVE YOU TOO. WHAT YOUR NAME?. FROM

Entrevistadora: o curso de inglês à distancia estava muito difícil? Quais foram as

atividades mais difíceis?

<Transcrição LIBRAS>

MAIS DIFICL ATIVIDADE PROFUNDO PALAVRA PALAVRA ENTENDER-NÃO.

TRADUÇÃO

Mais difícil foi a atividade da unidade 3, não entendi as palavras.

Entrevistadora: Tentou procurar traduzir com o dicionário, voce entende as palavras

traduzidas em língua portuguesa?

<Transcrição LIBRAS>

USAR DICIONÁRIO TAMBÉM DIFICIL ENTENDER É PALAVRA

TRADUÇÃO

Usar o dicionário também foi difícil porque algumas palavras em Português também não

conheço.

Entrevistadora: Sua experiência no seu passado, como aprendeu?

<Transcrição LIBRAS>

EU PASSADO EXPERIENCIA ANTES CRIANÇA ESTUDAR ESTUDAR CRESCER.

EXPERIENCIA ESTUDAR PORTUGUES DIFICIL MAIS PROFUNDO GRAMATICA

MUITO GRAMATICA DIFICIL DIFICIL COMO. TER-NÃO INTERPRETE NADA EU

COMUNICAR-NÃO.

TRADUÇÃO

A minha experiência com a língua portuguesa foi difícil, principalmente se tratando de

aprender a gramática (regras) e eu não tive interprete e não conseguia me comunicar com as

pessoas.

Entrevistadora: E a língua inglesa?

<Transcrição LIBRAS>

INGLES, MAIS DIFICIL FRASE TER-NÃO DESENHO CONSEGUIR-NÃO ENTENDER-

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NÃO ENTENDER-NÃO, CHAMAR PROFESSOR IDEIA DESENHO APRENDER, ELE-

DAR DESENHO QUADRADINHO IMAGEM LADO-PORTUGUES, ENTENDER

CLARO.

TRADUÇÃO

Com a LE foi ainda mais difícil. Não tenham ilustrações, então, eu não conseguia

compreender. Eu sugeri ao professor que usasse imagens para me ajudar na compreensão, ele

assim o fez e consegui entender com mais clareza as atividades.

Entrevistadora: No curso, as imagens te ajudaram a atender as atividades?

<Transcrição LIBRAS>

TAMBEM, EU ENTENDER MAIS CLARO.

TRADUÇÃO

Sim, entendi com clareza.

Entrevistadora: Porque voce acha muito importante ter imagens?

<Transcrição LIBRAS>

PORQUE PERCEBER VISUAS ENTENDER PALAVRA-COM-FIGURA COMBINAR, AH

ENTENDER. MAS PROFUNDO DENPENDE DIFICIL PROCURAR DICIONÁRIO

TRADUZIR ENTENDER CLARO.

TRADUÇÃO

Porque nossa percepção é visual e se a palavra for acompanhada de uma ilustração,

conseguiremos entender o conceito. O uso do dicionário também auxilia na busca da

compreensão.

Entrevistadora: o curso de inglês à distancia, ajudou o seu desenvolvimento de

aprendizagem ou não? Por que?

<Transcrição LIBRAS>

DESELVOVER SIM AJUDAR MUITO. PORQUE DESENVOLVER EU MEMORIZAR

PENSAR LEMBRAR INFORMAÇÃO. AJUDAR-ME INFORMAÇÃO SURDO DESENHO

QUADRADINHO ENTENDER FACIL.

TRADUÇÃO

Ajudou sim, eu consegui memorizar e lembrar das informações, mas o que mais me auxilia na

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aquisição de uma língua é o recurso visual, ou seja, as imagens.

Pergunta 1

Qual foi sua maior barreira para participar das aulas e responder as atividades?

<Transcrição LIBRAS>

EU BARREIRA DIFICIL DIFICILDIFICIL INGLES PALAVRAS PALAVRAS PALVRAS

PESADO DESISTIR MAIS DIFICIL TEXTO CONSEGUIR FORÇAR POUCO POUCO

POUCO CONSEGUIR . ENTÃO, VONTADE MAIS MAIS APRENDER APRENDER.

TRADUÇÃO

É difícil aprender a Língua Inglesa! Minha maior dificuldade foi o texto, achei pesado e

também não entendi as palavras, me esforcei, mas desisti, porém, quero aprender essa língua.

Pergunta 2

Você disse no e-mail que gostou das aulas. Mas seja mais especifica; o que mais você gostou?

<Transcrição LIBRAS>

GOSTAR MAIS IMAGEM QUADRADINHO VISUAL FACIL SURDO PORQUE

IDENTIFICAÇÃO MOSTRAR A VISUAL FACI FACIL CONSEGUIR.

TRADUÇÃO

Eu gostei mais da história em quadrinho que retratava um contexto da comunidade surda. Me

identifique e as imagens ajudam a compreensão.

Pergunta 3

Você conseguiu aprender alguma coisa neste curto período?

<Transcrição LIBRAS>

VONTADE APRENDER PRAZO DAR MAS TEMPO VONTADE INGLES APRENDER

DAR TEMPO PRAZO DEVAGER CONSEGUIR CONSEGUIR.

TRADUÇÃO

Neste curto período consegui aprender algumas informações. Tenho vontade de aprender

mais.

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Pergunta 4

Sinalize algum vocábulo, frase ou expressão que você tinha aprendido no curso de inglês para

surdos à distancia.

<Transcrição LIBRAS>

I AM DEAF, I AM DARLENE, I LIVE COMIC DEAF, I AM DEAF

Entrevistadora: No seu passado, como foi sua barreira na escola? Qual sua dificuldade?

O que aconteceu?

<Transcrição LIBRAS>

PASSADO BARREIRA BARREIRA SIM MAS PROFESSOR ENSINAR-ME TER-NÃO

ENTENDER-NÃO COMUNICAÇÃO-NÃO SABER-NÃO ESCREVER NÃO TER-NÃO

INTERPRETE TER-NÃO BARREIRA CONSEGUIR-NÃO.

TRADUÇÃO

Tive muitas barreiras: falta de interprete, falta de comunicação, falta de compreensão, falta de

ter sido ensinada, falta de escrita.

Entrevistadora: Mas como você aprendeu a língua portuguesa?

<Transcrição LIBRAS>

POUQUISSIMO APRENDER DIFICIL. VONTADE IMAGEM VER FACIL PORTUGUES

POUCO VONTADE TREINAR PRECISAR.

TRADUÇÃO

Aprendi muito pouco. Minha vontade era que nas aulas usassem mais imagens pra eu ter

acesso ao que estava sendo ensinado. Eu não domino muito a LP, tenho vontade de aprender

mais.

Entrevistadora: Então, você sofreu na escola? Como foi seu processo de aprendizagem.

Você desistiu ou passava direto? Os professores te deram as notas sem ter preocupação

com a sua aprendizagem, como?

<Transcrição LIBRAS>

PORQUE SURDO INCLUSÃO OUVINTE, ENTENDER-NÃO ORAL COMUNICAR-NÃO

, ESCREVER ELE (professor) DAR NOTAS INTERPRETE TER-NÃO.

TRADUÇÃO

Eu estudava com ouvintes, eu não conseguia me comunicar e nem entender o que as pessoas

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oralizavam. Não tinha interprete, o professor me dava nota.

Entrevistadora: Não aprendeu nada? Nenhuma frase?

<Transcrição LIBRAS>

APRENDER NÃO DIFICIL PALAVRA, EXEMPLO POUCO PALAVRA NADA SÓ

APRENDER POUQUISSIMO MAS CONSEGUIR-NÃO, IR MEU IRMAO ENSINAR-ME

AH ENTENDER. PROFESSORE NÃO. SÓ APRENDER PALAVRA NADA FRASE.

TRADUÇÃO

Na escola eu não aprendi muita coisa, somente poucas palavras. Eu recorria ao meu irmão

para me ensinar o que eu aprendia com o professor. Eu aprendi palavras soltas, não aprendia

elaborar frases.

Entrevistadora: em relação a língua inglesa, como era na escola inclusiva?

<Transcrição LIBRAS>

EU INGLES INCLUSÃO EU PASSADO CONSEGUIR PERCEBER É IMAGEM

ENTENDER FACIL VER VISUAL ESCREVER DUVIDA PROCURAR MINHA MAE.

COMO É? APRENDER ENSINAR-ME. MAS LINGUA DE SINAIS TER-NÃO SÓ ORAL

SÓ COPIAR COLAR ESCREVER ESCREVER COPIAR POR ISSO.

TRADUÇÃO

Na escola tinha LI eu só conseguia entender se tivesse imagem, quando eu tinha duvida,

procurava minha mãe, ela me ensinava, mas não tinha língua de sinais, só oralização. Na

escola eu só copiava o que estava escrito.

Pergunta 2

Você disse no e-mail que gostou das aulas. Mas seja mais especifica; o que mais você gostou?

<Transcrição LIBRAS>

GOSTAR MAIS QUADRADINHO IMAGEM GOSTO MAIS TAMBEM UNIDADE 1

TAMBEM 2 GOSTAR MAIS. TAMBEM MAIS DIFICIL UNIDADE 3 MAIS DIFICL

PROCURAR PROCURARPROCURAR UFA PORQUE VONTADE APRENDER MAIS

MAIS.

TRADUÇÃO

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102

eu gostei mais das unidades 1 e 2, onde tinham atividades com história em quadrinhos. A

unidade 3 achei difícil, eu tentei responder, mas foi difícil. Tenho vontade de aprender mais.

Pergunta 3

Você conseguiu aprender alguma coisa neste curto período?

<Transcrição LIBRAS>

UM MÊS DEMORAR MAIS CONSEGUIR APRENDER DEMORAR.

TRADUÇÃO

Para aprender mais demanda mais tempo, um mês não é suficiente.

Pergunta 4

Sinalize algum vocábulo, frase ou expressão que você tinha aprendido no curso de inglês para

surdos à distancia.

<Transcrição LIBRAS>

APRENDER EU-SEI, I LOVE VOY ERRAR DESCULPE I LOVE YOU I’M DEAF. SEI SÓ

CONCLUSÃO.

Entrevistadora: algumas respostas sua foram via facebook mas você preferiu mandar o

email em particular, você sentiu algum constrangimento em publicar ruas respostas?

Em relação ao seu passado, já aconteceu algo semelhante?

<Transcrição LIBRAS>

MAS AMIGO SABE EU POSTAR-COMENTÁRIO SABER. ANTES PRIMEIRA EU

POSTAR-COMENTÁRIO OUTRA PESSOA OLHAR(pensativo “rir não saber responder”)

EU PERCEBER AI FICAR QUIETO OUTRO DIA EU IR FALAR PRECISAR-NÃO

DEIXAR MELHOR ELE VAI ARRENPENDER AZAR. SÓ ISSO. IGUAL PARECIDO

MEU PASSADO.

TRADUÇÃO

Eu iria postar as respostas no Facebook, mas tive receio das pessoas lerem minhas respostas e

debocharem de algum erro que eu tenha cometido. Isso acontecia comigo anteriormente, mas

eu espero que as pessoas que debocham dos erros dos outros se arrependam algum dia.

Entrevistadora: Como foi experiência de usar o google tradutor?

<Transcrição LIBRAS>

DAR DAR FACIL PALAVRA ACOSTUMAR PRIMEIRO MEMORIZAR DEPOIS

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MEMORIZAR. LEMBRAR ESQUECER LEMBRAR ESQUECER LEMBRAR.

TRADUÇÃO

É uma ferramenta fácil de se usar, mas é necessário memorizar os vocábulos para entender os

verbetes, caso contrário se torna um ciclo de “esquecer e lembrar”

Pergunta 1

Qual foi sua maior barreira para participar das aulas e responder as atividades?

<Transcrição LIBRAS>

UNIDADE 1 FACIL UNIDADE 2 MAIS OU MENOS UNIDADE 3 PORQUE TEXTO

EXPLICAR IAMGEM QUADRADINHO EU PERCEBER RACICIONAR ADAPTAR

PERCEBER CONSEGUIR-NÃO RACICIONAR CERTO EU OPINAR ESCREVER.

DIFICIL PARECER PODER RESPOSTA ERRADA VERGONHA PODER MAIS

ESTUDAR NADA. SE ACOSTUMAR INGLES SABER LER POSSIVEL CONSEGUIR

PRODUZIR. DIFICIL DESCULPE CONSEGUIR-NÃO ESTUDAR NÃO SÓ ALGUMA.

TRADUÇÃO

A unidade 1 foi fácil, a unidade 2 também, já a unidade 3 senti muita dificuldade, por ter texto

e história em quadrinho, achei difícil o raciocínio para compreender o que se retratava nas

imagens. Eu não consegui responder, desculpe, sinto vergonha das respostas erradas. Algumas

respostas consegui fazer outras não.

Pergunta 2

Você disse no e-mail que gostou das aulas. Mas seja mais especifica; o que mais você gostou?

<Transcrição LIBRAS>

UNIDADE 1 FACIL EU PENSAR RACCIONAR PERCEBER ENTENDER ESCREVER

FACIL. UNIDADE 2 PERCEBER SABER MAIS FACIL PORQUE EU PERCEBER.

GOSTAR MAIS IMAGEM.

TRADUÇÃO

A unidade 1 foi bem fácil, consegui entender o raciocínio, a unidade 2 eu gostei pois tinham

imagens.

Pergunta 3

Você conseguiu aprender alguma coisa neste curto período?

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<Transcrição LIBRAS>

ALGUMA APRENDER POUCO ANTES GOSTAR INGELS LEMBRAR PALAVRA EU

ENTENDER INGLES MAS PROFUNDO NÃO-CONSEGUIR SÓ TRADUZIR

PORTUGUES ENTENDER POUCO ALGUMA APRENDER CONSEGUIR POUCO.

TRADUÇÃO

Eu consegui aprender poucas coisas. Eu gostava de Ingles, mas nunca tive conhecimento

profundo dessa língua. Recorro ao dicionário para entender as palavras.

Pergunta 4

Sinalize algum vocábulo, frase ou expressão que você tinha aprendido no curso de inglês para

surdos à distancia.

<Transcrição LIBRAS>

SÓ YOU THERE I AM THE ARE DEAF MEMORIZAR TUDO NÃO-CONSEGUIR SÓ

ACOSTUMAR PORTUGUES.

TRADUÇÃO

Eu não consegui memorizar tudo, sou acostumada só com o Português.

Entrevistadora: Como você aprendeu a língua inglesa na sala de aula?

<Transcrição LIBRAS>

EU ACOSTUMAR VER VER COPIAR QUADRO PROFESSOR ESCREVER SÓ.

TRADUÇÃO

O processo era esse: eu copiava o que o professor escrevia.

Entrevistadora: Entao, você só memorizou as palavras de português sem significado?

<Transcrição LIBRAS>

VERDADE, APRENDER PALAVRA FRASE SEM SIGNIFICADO SÓ PENSAR UM

SIGNIFICADO.

TRADUÇÃO

Sim, só aprendi palavras e frases soltas e descontextualizadas, como se a elas fossem

atribuídas um único significado.

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Pergunta 1

Qual foi sua maior barreira para participar das aulas e responder as atividades?

<Transcrição LIBRAS>

JORNAL OUTRO BRASIL PENSAR PAÍS DELE DIFICL COMO EXPLICAR EU AH

ENTENDER APREDER ME-ENSINAR FRASE DIFICIL FRASE. PRISCILA ME-

AJUDAR EXPLICAR AH ENTENDER.

TRADUÇÃO

Minha maior dificuldade foi na unidade que falava sobre jornais etc...eu senti dificuldade para

explicar minha opinião, mas com ajuda da Priscila, consegui entender um pouco mais claro.

Pergunta 2

Você disse no e-mail que gostou das aulas. Mas seja mais especifica; o que mais você gostou?

<Transcrição LIBRAS>

GOSTAR TODOS LIBRAS E LETRAS MUITO BOM UNIDADE 1 E 2 TAMBEM BOM.

UNIDADE 3 JORNAL DIFICIL ESTUDAR COMO EXPLICAR.

TRADUÇÃO

Eu gostei de todas as unidades, foram muito boas, só a atividade sobre jornal da unidade 3

que achei difícil, e achei difícil responder essa atividade.

Pergunta 3

Você conseguiu aprender alguma coisa neste curto período?

<Transcrição LIBRAS>

APRENDER POUCO POUCOPOUCO PALAVRA CONHECER AJ ENTENDER

DECORAR DECORAR DECORAR POUCO POUCO POUCO. TRABALHAR ESTUDAR

TRABALHAR. COMO APRENDER POUCO MAS BOM APRENDER INGLES BOM.

TRADUÇÃO

Eu aprendi poucas palavras, decorei algumas. Eu estava divida entre trabalho e estudo, então

com aprenderia? Mas foi bom a experiência, estudar inglês é bom!

Pergunta 4

Sinalize algum vocábulo, frase ou expressão que você tinha aprendido no curso de inglês para

surdos à distancia.

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<Transcrição LIBRAS>

BEAUTIFUL, FUNNY, LOVE, HELLO, SORRY, SMILL, LEMBRAR-NÃO, DEAF

Entrevistadora: Você me falou que já estudou inglês na 5ª serie até 8ª serie. Como foi

essa experiência?

<Transcrição LIBRAS>

ANTES ESTUDAR PROFESSOR ENSINAR-ME PALAVRA PALAVRA ESCREVER

QUADRO EU ENTENDER DESENHO AH ENTENDER CONSTRUIR. EU COPIAR

COPIAR DEPOIS PALAVRAS TROCA PALAVRA LIVRE FRASE. SEMPRE EU SER

BOM DEPOIS ESTUDAR JUNTO PROFESSOR ENSINAR-ME

TRADUÇÃO

O professor sempre me ensinava algumas palavras, eu as copiava, também recorria à desenhos

para compreender melhor as informações.

Entrevistadora: Era só prestar atenção na oralização do professor, qual foi sua

barreira?

<Transcrição LIBRAS>

SIM, ORALIZADA SEMPRE. MAS INICIO ERA COMPLICADO ORALIZADO DIFICIL

DEPOIS COMEÇAR ACOSTUMAR FACIL FACE SÉRIE.

TRADUÇÃO

Sim, a oralização sempre foi meu meio de comunicação, no inicio foi complicado oralizar

dentro da escola, mas com o passar do tempo eu me acostumei.

Entrevistadora: Qual é o mais fácil para você entender, as imagens ou a escrita? Na sua

escolarização, você teve interprete?

<Transcrição LIBRAS>

EU CRIANÇA MAIS APRENDER É DESENHO. NADA INTERPRETE. PORQUE EU

DUVIDAR DUVIDARDUVIDAR CHAMAR CHAMARCHAMAR COMO É?

PROFESSOR ENSINA-ME ENTENDER CLARA SEMPRE.

TRADUÇÃO

Na infância eu aprendia mais através de desenho, não tive interprete. Quando eu tinha dúvida,

eu chamava e o professor me explicava até eu compreender a explicação.

Entrevistadora: você memorizou algumas palavras aprendidas na infância?

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<Transcrição LIBRAS>

JÁ, MUITO TEMPO PASSADO ESQUECER PASSADO. AGORA PARAR.

TRADUÇÃO

Já sim, como isso foi no passado, não me recordo das palavras.

Entrevistadora: Voce me falou que sente angustiada com sua dificuldade no curso de

inglês, qual?

<Transcrição LIBRAS>

PORQUE PASSADO COMERÇAR ESTUDAR APRENDER APRENDERDEPOIS PARAR

ESQUECER. DE NOVO, SENTIR DIFICIL FALTA ESTUDAR MAIS. MINHA

DIFICULDADE SÓ PALAVRA PALAVRA CONHECER-NÃO PALAVRA MAS SEMPRE

PROCURAR EU DUVIDAR SERMPRE CHARMAR COMO EXPLICAR EXEMPLO AH

ENTENDER CLARO.

TRADUÇÃO

Eu senti muita dificuldade para entender as palavras que eu não conhecia, eu sei que é preciso

esforço para aprender e muito estudo, mas é complicado esse processo de aprendizagem, pois,

se parar de estudar, esquece e tem que estudar tudo de novo.

Pergunta 1

Qual foi sua maior barreira para participar das aulas e responder as atividades?

<Transcrição LIBRAS>

ENTÃO, UNIDADE 3 MUITO DIFICIL BARREIRA DUVIDA PORQUE DUVIDA

CONHECER-NÃO PALAVRA DIFICIL-muitoTEXTO OBRIGAÇÃO DIFICIL. DICICIL

CONSEGUIR-NÃO, MELHOR ASL EU GOSTAR MAIS ASL UNIDADE. SÓ ESSA

BARREIRA UNIDADE 3.

TRADUÇÃO

Minha maior dificuldade foi na unidade 3, não consegui responder, tinha texto, senti muitas

dúvidas, eu não conhecia as palavras. Eu prefiro ASL.

Pergunta 2

Você disse no e-mail que gostou das aulas. Mas seja mais especifica; o que mais você gostou?

<Transcrição LIBRAS>

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108

EU GOSTAR SENTIR(CHEIRAR) IMAGEM É SURDO FACIL VISUAL VISUAL AH

ENTENDER FACIL COLOCAR DIGITAR(escrever) SENTIR(CHEIRAR) IDENTIFICAR

GOSTAR-muito SENTIR (CHEIRAR). SÓ SEGUNDO CEBOLA, MONICA, CASÇÃO

VER ENTENDER FACIL PORQUE PRINCIPAL VISUAL PERCERBER CONHECER

ENTENDER EXEMPLO “CEBOLINHA CORRER CORRER GRITAR GRITAR (socorro)”

PERCEBER ENTENDER TAMBEM “SURDO QUIETO PEDINDO E FILHO ESCUTAR

OUVINTE PEDINDO HOMEM”, FILHO “EI, PRIMEIRO MEU PAI PAGAR SURDO”,

ELES FICAR QUIETO. VER VISUAL DAR ENTENDER CLARO FACIL.

TRADUÇÃO

As minhas atividades preferidas foram as que tinham história em quadrinho, eu gosto muito

da turma da Monica, então quando vi que nas aulas tinham imagens, gostei muito, pois,

somos visuais e ainda se a história em quadrinho for com personagens já conhecidos, fica

ainda melhor.

Pergunta 3

Você conseguiu aprender alguma coisa neste curto período?

<Transcrição LIBRAS>

CONSEGUIR MAS PRAZO SÓ INICIO CALMA ESTUDAR PESQUISAR CALMO SÓ

UM MÊS CONSEGUI APRENDER, MAS TEMPO RÁPIDO PRAZO TEMPO RAPDO

DUAS SEMANAS, AH NÃO!, MAS SÓ IMAGEM VER DECORAR FACIL IMAGEM SÓ.

TRADUÇÃO

Consegui no inicio absorver mais informações, depois foi ficando mais curto o prazo, quando

vi que restavam somente duas semanas, pensei: ah, não! O tempo foi pouco mesmo, mas com

ajuda das imagens consegui decorar algumas informações.

Pergunta 4

Sinalize algum vocábulo, frase ou expressão que você tinha aprendido no curso de inglês para

surdos à distancia.

<Transcrição LIBRAS>

VOCABULÁRIO PALAVRA TEACHER, SINGLE, BOY FRIENDY, MY NAME IS

STEFANY, BRAZILIAN. I LIFE COMIC DEAF. FRASE I LIFE STUDY LINGUA DE

SINAIS GOSTAR MAIS IMAGEM.

TRADUÇÃO

Algumas palavras: ..................................................... . eu gosto mais de imagens e língua de

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sinais.

Entrevistadora: Recebi o seu e-mail sobre unidade 2 – modulo 2, porque você gostou

mais e quer aprender mais?

<Transcrição LIBRAS>

PORQUE VISUAL VER IMAGEM VER ENTENDER EXEMPLO “PAI FILHO ANDAR,

PAI CONVERSAR HOMEM PAGAR ALGUM COISA CAFÉ PERAI ESCREVER PAPEL,

FILHO QUER CAFÉ?. OUVINTES FALAR HOMEM, FILHO ESCUTAR “EI, PODER-

NÃO PRIMEIRO MEU PAI RESPEITE SURDO”. PRECISA IMAGEM IMPORTANTE

VISUAL ENTENDER CLARO FACIL.

TRADUÇÃO

Eu gostei pois retratava de um contexto vivido por um surdo, e isso foi mostrado com

imagens. As explorações das imagens nos auxiliam e muito na compreensão.

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110

APÊNDICE

Apêndice 1

UNIDADE 1

MODULO 1

GETTING TO KNOW EACH OTHER

I. Profile: Getting to know each other.

Como este é nosso primeiro contato, precisamos conhecer um pouco mais nossos colegas.

Assim, vamos aprender como nos apresentar. (em língua de sinais).

1. Hi! I am Jenny. (língua de sinais)

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2. Olá, meu nome é Scott (língua de sinais)

3. Eu tenho 8 anos de idade (língua de sinais)

I am 8 years old.

4. Eu sou do Brasil (língua de sinais)

5. Eu sou de Mato Grosso (língua de sinais)

I AM FROM

BRAZIL

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6. Eu moro na Califórnia. (língua de sinais)

7. Eu sou casado/casada (língua de sinais)

I AM FROM

MATO GROSSO

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8. Eu sou solteiro/solteira (língua de sinais)

9. Eu sou uma secretária (língua de sinais)

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Vamos aprender algumas profissões?

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Nos links abaixo, você encontra mais informações sobre as profissões (línguas de

sinais)

http://www.vocabulary.cl/Basic/Professions.htm

http://www.solinguainglesa.com.br/conteudo/Occupations1.php

http://www.mes-english.com/flashcards/people.php

http://usefulenglish.ru/vocabulary/jobs-professions-occupations

Aqui você encontra dicionários on-line, para auxiliá-los com os estudos:

https://translate.google.com.br/?q=dicion%C3%A1rio+on+line+portugues+ingles&bav=on.2,

or.r_qf.&bvm=bv.52434380,d.eWU,pv.xjs.s.en_US.RJfod4swqLE.O&biw=1024&bih=509&d

pr=1&um=1&ie=UTF-8&hl=pt-BR&sa=N&tab=wT#en/pt/

http://www.wordreference.com/pten/

http://pt.bab.la/dicionario/portugues-ingles/

AGORA QUE VOCÊ JÁ APRENDEU ALGUMAS FRASES PARA SE APRESENTAR,

ELABORE UM PEQUENO TEXTO, SE APRESENTANDO. VOCÊ PODE UTILIZAR

O TEXTO ABAIXO COMO EXEMPLO (língua de sinais).

Hi! My name is Priscila. I am 27 years old. I am from Brazil, from the estate of Mato

Grosso. I am married to _______ and we live in Cuiaba. I am a student in the

mastership program of UFMT (Federal University of Mato Grosso) and also a Brazilian

sign teacher at ________________. I am very happy to have you all here.

(os participantes postam os seus textos).

Critical Thinking

Observe a imagem abaixo e o texto. Você pode utilizar um dos dicionários on-line e/ou

tradutor para auxiliá-los a compreender o texto (língua de sinais)

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116

De acordo com o texto, qual a imagem que os estrangeiros, geralmente, têm dos brasileiros?

Você concorda com o texto? Explique (em português ou em língua de sinais)

Descreva, em forma de texto, em português ou em língua de sinais, quais foram as suas

reações quanto à primeira aula (expectativas, o que realmente aconteceu, dificuldades, o

que foi fácil, o que não foi, etc). O texto ou o vídeo deve ser enviado para o e-mail

[email protected](língua de sinais ).

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Apêndice 2

UNIDADE 2

COMICS, COMIC STRIPS AND CARTOONS

MÓDULO 1

Nesta unidade, falaremos sobre histórias em quadrinhos. Você sabia que elas são conhecidas

como HD em português. E inglês?

Você pode utilizar os dicionários on-line e os tradutores para auxiliá-lo na compreensão e

execução das atividades (língua de sinais)

http://www.wordreference.com/pten/

http://pt.bab.la/dicionario/portugues-ingles/

https://translate.google.com.br/?hl=pt-BR&tab=wT

I. ANSWER THESE QUESTIONS:

1. Do you like reading comics?

2. Do you know the difference about a comic, a cartoon and an editorial cartoon?

EDITORIAL CARTOON is a representation of people and actions through humor. The

editorial cartoon is generally a satire of political aspects. Take a look at the example:

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COMIC is a magazine for children that tells a story using comic strips. Look at the example:

COMIC STRIPS is a series of drawn pictures inside boxes which tell a story.

Look:

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3. How are comics, comic strips and editorial cartoons called in Portuguese?

Vamos analisar novamente o editorial cartoon e a comic strip? (língua de sinais)

1. Describe what’s happening in the pictures.

2. What is the objective of the author?

3. Do you believe teens have changed according to what is shown in the editorial

cartoon? Explain.

O comic strip abaixo já é mais divertido. Vamos analisá-lo (língua de sinais).

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1. Who is the author of the cartoon?

2. Describe what’s happening in the pictures.

3. Who do you think the strips were created to?

4. Do you think they are funny?

Vamos analisar a história em quadrinhos abaixo e responder às perguntas que seguem (língua

de sinais)

http://www.oakridgenow.com/2010/09/09/editorial-cartoon-of-the-day-september-9-2010/

ANSWER THESE QUESTIONS:

5. Who is the author of the cartoon?

6. Where was it published?

7. Who do you think reads editorial cartoons?

8. When was it published?

9. What is the objective of the author?

10. Describe what’s happening in the pictures.

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11. Do you believe the public educational system in Brazil can be represented by the

images? Explain.

Descreva, em forma de texto, em português ou em língua de sinais, quais foram as suas

reações quanto à segunda unidade (expectativas, o que realmente aconteceu, dificuldades, o

que foi fácil, o que não foi, etc). O texto ou o vídeo deve ser enviado para o e-mail

[email protected](língua de sinais ).

Apêndice 3

UNIDADE 2

COMICS, COMIC STRIPS AND CARTOONS

MÓDULO 2

No módulo anterior, vimos a diferença entre comics, comic strips e editorial cartoons. Neste

módulo, iremos trabalhar com mais alguns comic strips, mas vocês irão elaborar um editorial

cartoon ou um comic strip também. (língua de sinais).

Let’s work?

Os textos abaixo são chamados de THAT DEAF GUY. Com a ajuda dos dicionários on-line,

leia os textos e sem seguida, responda às perguntas (língua de sinais).

What is the meaning of deaf?

Who is the deaf guy: the man in green, the man in gray or the boy?

Text1

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What does the man in gray wants to know?

Why do you think he asked such a question?

Have you ever gone through this kind of situation? What did you do?

Text2

Where is the man and his son?

What did they order?

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What happened while they were ordering?

What did the deaf man’s son do?

Why do you think listeners treat deaf people like that?

Have you ever gone through this kind of situation? What did you do?

Agora, quero que vocês pensem nas seguintes perguntas. Não se esqueçam de utilizar os

dicionários on-line para auxiliá-los nos estudos (línguas de sinais)

http://www.wordreference.com/pten/

http://pt.bab.la/dicionario/portugues-ingles/

https://translate.google.com.br/?hl=pt-BR&tab=wT#en/pt/

What are the biggest problems deaf people usually face?

Why do you think listeners generally consider deaf people as dumb?

What kinds of things do you believe you can do in order to be respected as a human

being?

Baseados nas perguntas acima, gostaria que vocês elaborassem um comic strip, com

personagens, tentando explicar aos ouvintes que os surdos não são idiotas/bobos e que eles

merecem ser respeitados. Lembrem-se de que os comic strips devem ser elaborados em inglês

(língua de sinais).

Aqui vocês encontram alguns comic strips do para consulta e também diversão (língua de

sinais).

http://www.thatdeafguy.com/

http://www.thecomicstrips.com/store/add.php?iid=87829

Não se esqueçam de consultar os dicionários on-line! (língua de sinais)

Descreva, em forma de texto, em português ou em língua de sinais, quais foram suas

reações quanto à segunda unidade, módulo 2 (expectativas, o que realmente aconteceu,

dificuldades, o que foi fácil, o que não foi, etc). O texto ou o vídeo deve ser enviado para o e-

mail [email protected]

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Apêndice 4

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UNIDADE 3

MÓDULO 1

NEWS

1- Nesta unidade, veremos aspectos relacionados com notícias de jornais e revistas

What’s the meaning of news?

.

1. a report of a recent event; intelligence; information: His family has had no news of his

whereabouts for months.

2. the presentation of a report on recent or new events in a newspaper or other periodical or on

radio or television.

3. such reports taken collectively; information reported: There's good news tonight.

Source: http://dictionary.reference.com/browse/news?s=t

Vamos conhecer agora dois tipos de jornais, de onde retiramos News:

TABLOIDS

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QUALITY PAPERS:

2 - ANSWER THESE QUESTIONS:

1. What information can you get from these two different kinds of newspapers?

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2. Do you know the difference between a tabloid and a quality newspaper?

3. Where were they produced?

4. Who are the readers of those papers?

5. What are the differences between them?

Para responder as perguntas acima, utilize os dicionários on-line e/ou o tradutor:

http://www.wordreference.com/pten/

http://pt.bab.la/dicionario/portugues-ingles/

https://translate.google.com.br/?hl=pt-BR&tab=wT#en/pt/

3 - Podemos afirmar que a diferença entre os dois tipos de jornais está na notícia veiculada

em cada um deles, na confiabilidade, na linguagem utilizada, e também na qualidade da

informação. Vamos observar o quadro a seguir.

DIFFERENCES:

TABLOIDS QUALITY PAPER

Size small Big

Frequency weekly Daily

Content entertainment

gossip

local stories

junk food News

stars

scandalous

sensational crimes

stories

political events

crime

business

society

sports

personal writers

opinions

editorial

supplementary sections

international issues

Price free Charged

Format many pictures and big

letters

more written words than

pictures

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Readers low class middle and high classes

News format superficial and local specialized, deep and

global

Agora que você sabe a diferença entre os dois tipos de jornais, baseando-se nas diferenças

apresentadas no quadro acima, procure na internet um exemplo de um tabloid e um exemplo

de um quality paper, mencionando 3 das diferenças elencadas acima. Lembre-se de colocar as

diferenças encontradas, em inglês, abaixo de cada imagem.

4 - Vamos discutir com o grupo as perguntas abaixo?

1. Do you like reading the News?

2. Which of those two papers do you generally read? Why?

3. Is it important to read the News? Why?

5 - Descreva, em forma de texto, em português ou em língua de sinais, quais foram suas

reações quanto à terceira unidade, módulo 1 (expectativas, o que realmente aconteceu,

dificuldades, o que foi fácil, o que não foi, etc.). O texto ou o vídeo deve ser enviado para o e-

mail [email protected]

Apêndice 5

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UNIDADE 3

MÓDULO 2

NEWSPAPER HEADLINES

1- Já aprendemos no módulo anterior a diferenciar os tipos de jornais. Assim que escolhemos

ler um tipo de jornal, geralmente lemos, em primeiro lugar, o título da notícia. Alguém sabe

dizer como falamos “manchetes” em inglês? Bem, quem disse HEADLINES, acertou! Vamos

estudar um pouco a respeito das headlines?

The title of a news report is also called a HEADLINE. Headlines are always short but they

can tell us a lot. Reading a headline requires a lot of guessing from the reader to figure out

what the news is about.

2- Let’s take a look at some headlines.

Deaf man cycling for cause injured in Fla.

crash

Posted Monday, Sep. 23, 2013

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Read more here: http://www.star-telegram.com/2013/09/23/5187916/deaf-man-cycling-for-cause-

injured.html#storylink=cpy

Deaf comedian Steve Day headlines at

Alexander's

Posted at: http://www.thomsenyoung.com/2013/09/deaf-comedian-steve-day-headlines-

at.html

Even deaf theatre wants to be heard

Posted on July 28, 2013RT .

http://rbth.ru/multimedia/video/2013/07/28/even_deaf_theatre_wants_to_be_heard_28395.ht

ml

RIVERSIDE: Two deaf men open comics

store

Posted on Friday, July 19, 2013. http://www.pe.com/business/business-headlines/20130719-

riverside-two-deaf-men-open-comics-store.ece

QUESTIONS HEADLINE1 HEADLINE2 HEADLINE3 HEADLINE4

When were

the news

published?

What may be

inferred from

the titles?

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Which

information

do the

headlines

present?

Is the news

from a tabloid

or from a

quality paper?

Lembre-se de consultar os dicionários on-line para responder o quadro acima.

http://www.wordreference.com/pten/

http://pt.bab.la/dicionario/portugues-ingles/

https://translate.google.com.br/?hl=pt-BR&tab=wT#en/pt/

3- HEADLINES have some special features in terms of language. They are written to grab

your attention, but don’t tell you everything. If you want to know more about a news report

without reading the whole article, start with the first paragraph: the LEAD.

LEAD: é o primeiro parágrafo da notícia, ou artigo do jornal. É o elemento mais importante

da matéria e enfoca as cinco perguntas: Quem são os envolvidos?

1. O que aconteceu?

2. Onde aconteceu?

3. Como?

4. Por quê? (língua de sinais)

4- Vamos ver a notícia completa:

Mikey Marts and Craig Herman knew they were destined to be business partners. Since childhood,

Marts buried himself in comic books; Herman never stopped collecting sports figures and cards. After

three years of research and planning, the two men combined their passions and expertise to open a

Riverside store called Sphinx Comics, Cards and Collectibles.

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What makes their venture unusual is that Marts, 49, and Herman, 46, are totally deaf — and less than

1 percent of all businesses in the country are deaf-owned. But they’ve chosen an exploding industry.

Estimated overall comic shop sales in 2013 through June were nearly $250 million, up 12 percent

from a year ago, according to data site Comichron (The Comics Chronicles).

Marts and Herman scrambled to unpack boxes and display merchandise on opening day, Friday, July

19, in their new digs at 7000 Indiana Ave., pausing for an interview.

Through American Sign Language interpreter Gloria Daniels, neither man said he’s worried about or

afraid of working in the hearing world. “We’ll use iPads or note pads with customers,” Marts said.

Besides, Herman’s wife, Joelle Herman, 45, who has partial hearing and speaks, helps out in the store.

Both of their children, Jared, 12, and Brady, 4, are completely deaf.

The men met several years ago when Herman and his family moved to Riverside so that his children

could attend the California School for the Deaf. Marts’ wife, Darlene Wadler, 41, is a social worker

there. Their three children, ages 10 through 14, all have normal hearing.

Marts lost his hearing at five to spinal meningitis; Herman was born deaf. From the time Marts was

six, he escaped into the comic book worlds of Spiderman, The Punisher and Wolverine. “I thank

comic books for helping me with my education,” Marts said. “Remember, I’m deaf. My ears are

closed. I need to rely on the pictures with the words above them in bubbles. The comics helped with

my reading and with visualization.”

He’s still a huge comic book fan, especially of the popular Walking Dead. “It’s my favorite because

it’s noir, dark, depressing, chaos. The drama is so good it’s almost real.”

Marts and Herman never considered themselves disabled. High achievers, they graduated from

Gallaudet University in Washington, D.C. with degrees in business administration. Marts, an

entrepreneur for 25 years, owned a successful online catalog company specializing in items for the

deaf and hearing-impaired community. For 19 years, Herman sold comics and sports memorabilia

over the Internet.

However, the two were frustrated at a recent gaming trade show in Anaheim where organizers refused

to provide interpreters, forcing Marts and Herman to bring their own. “It’s our hopes that next year,

the organizers will recognize the value of having certified interpreters available for people like us, who

are serious collectors and a run a business in the field,” Marts said.

With the help of their families and savings, Marts and Herman were able to realize their dream of

owning a brick-and-mortar store, 1,600 square feet in a strip mall. The partners invested more than

$80,000 into remodeling and buying inventory — with new items coming every Wednesday —

including sports action figures, games, comic books and vintage candy.

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“We’re not worried about competition,” Marts said. “We go beyond comics. We think we’ve got the

most variety.”

After reading the text, mark T (true) or F (false):

1. ( ) Mark and Craig are partners since childhood.

2. ( ) Less than 10% of all businesses in the USA is deaf-owned.

3. ( ) Mickey and Craig are both very worried about running their business in the

hearing world.

4. ( ) They’ll use iPads or note pads to communicate with their hearing customers.

5. ( ) Their families are all constituted by hearing people, who help in the store.

6. ( ) The two guys were born deaf.

7. ( ) Mickey Marts says the comic books helped him with his education.

8. ( ) Mickey Marts is a big fano f “Walking Dead” comics.

9. ( ) There are interpreters at every event organized in the USA.

5 - Descreva, em forma de texto, em português ou em língua de sinais, quais foram suas

reações quanto à terceira unidade, módulo 2 (expectativas, o que realmente aconteceu,

dificuldades, o que foi fácil, o que não foi, etc.). O texto ou o vídeo deve ser enviado para o e-

mail [email protected]

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